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REALE JÚNIOR, Miguel. Teoria do delito. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

AÇÃO, TIPO E ANTIJURIDICIDADE

1. DIREITO E HISTÓRIA
1.1. Direito e concepção do mundo
• Relações entre direito e cultura, reveladoras de uma antijuridicidade pré-normativa
• Há uma consciência jurídica relativa a cada momento histórico
o Direito é um instrumento orientador e condicionador da realização in concreto
de valores e fins últimos próprios de cada “mundo circundante”
• A cada sociedade, corresponde um tipo de direito e crime
o Situação cultural é variável
• O direito institucionaliza, via comandos normativos, o proibido e o permitido, que in-
conscientemente e em latência já atuavam de certo modo no meio social
• Problema da antijuridicidade é inseparável do conjunto de concepções e valores de cada
época histórica
1.2. O direito penal segundo a escola positiva
• Fé inabalável na razão e nos métodos empíricos
• Função do direito: descobrir, através da análise dos fatos empiricamente verificáveis, as
leis que regem as condutas humanas
• Garofalo: delito é o fato que se revista de crueldade ou impubidade
o Conceito sociológico, não jurídico
• Criminoso é merecedor da reação própria de um organismo que se autodefende
• Antijuridicidade se infere da personalidade do criminoso
o Resume-se à periculosidade
▪ Existência de causas de justificação revelam tal fato
1.3. A escola de Kiel
• Führer diz o direito e a lei é sua vontade
• Aplicação das normas penais segundo o “são sentimento do povo”
• Lei penal seria expressão do querer comunitário
o Configuração do delito não depende da estrita legalidade, mas sim do “espírito da
lei” ou do “são sentimento do povo”
• Enfraquecimento da certeza jurídica: juiz tem maior atuação criadora
• Pune-se a vontade delituosa do agente, que viola o dever de fidelidade que liga o indiví-
duo ao Estado
1.4. O direito penal comunista
• Estado e Direito sustentam o conflito de classes
• Periculosidade social da ação constitui o cerne do crime
• Delito é definido como “ação socialmente perigosa e culpável prevista como delito pela
lei penal”
• Antijuridicidade é definida pela periculosidade
1.5. Análise a ser feita
• Examinar o modo pelo qual se instaura o direito, como construção normativa
2. TIPICIDADE E ANTIJURIDICIDADE CONCRETAS
2.1. Estrutura da ação e do tipo
• Legislador deve construir objetivações normativas que estejam em correspondência
com o modo de ser e de sentir da sociedade, que ele visa regular em dado momento
• Normatividade: expressa objetivações resultantes da incidência valorativa sobre dados
fáticos
• Caráter finalístico da ação soma-se à causalidade
• Estruturas: dados pré-conceituais, que condicionam apriorística e materialmente o di-
reito
• Tipo penal como estrutura: decorre do real, submetido a uma valoração
o Estrutura normativa: ordena fatos segundo valores numa qualificação tipológica
de comportamentos futuros a que se ligam determinadas consequências
o Construção normativa sempre orientada na direção do significado da ação
o Tipo penal assume a estrutura da ação
2.2. Relações entre tipicidade e antijuridicidade
• Beling: tipo é a descrição objetiva do crime, realizada pela norma penal
• Tipicidade: diferencia e especifica as condutas criminais em seu aspecto objetivo
o Identidade do fato ao que é descrito pelo tipo penal
o Indício de antijuridicidade
• Antijuridicidade: juízo de valor que atribui ao fato o caráter contrário à ordem jurídica
o Tendência danosa de uma conduta
o Mezger: elemento do crime, não da tipicidade
• Elementos normativos: integram a antijuridicidade
• Tipicidade negativa: causas de justificação; se inexiste, o fato é antijurídico
• Tipicidade positiva: tipificação da periculosidade social do ato
2.3. Compreensão axiológica da ação e do tipo
• Ação: estrutura lógico-objetiva
• Intenção é parte integrante da ação típica
o Nexo psicológico entre agente e ação é intrínseco à própria ação
• Dolo: não é apenas querer, mas querer com uma intenção axiologicamente significativa,
no sentido de diminuir um valor
• Tipo tem um conteúdo valorativo, que se infere através de todos os seus elementos: ob-
jetivos, subjetivos e normativos
• Tipo revela um modo de ação
o Toda ação é dotada de um sentido, integrando o tipo o sentido da ação incrimi-
nada
o Intenção axiologicamente significativa integra obrigatoriamente a ação
• Adequação típica: adequação de uma ação concreta a um tipo de injusto
• Afirma que toda ação típica é antijurídica
o Ocorrendo uma causa de justificação, não há adequação típica
o Não existiria negação do valor tutelado e materialmente ofendido
2.4. Ação socialmente adequada
• Adequação típica não é suficiente para a tipicidade da ação
• Se a ação não se dirige em menosprezo a um valor tutelado, apesar de materialmente
lesiva não será típica
• Se o significado da ação se adequa às exigências sociais, à ação não pertence o desvalor
que a caracterizaria como típica
3. ANTIJURIDICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA
3.1. A corrente objetiva
• Von Hippel: ação é objetivamente antijurídica quando ofende a um interesse, pene-
trando na esfera dos bens garantidos por uma consequência penal
• Mezger: antijuridicidade se põe como a valoração objetiva de uma situação tida como
contrária ao ordenamento
• Toda ação pressupõe um elemento psicológico, uma voluntariedade
o Mecanicismos são excluídos do conceito de ação e não são antijurídicos
• Elementos subjetivos: condicionamento da antijuridicidade pelo aspecto psicológico do
fato
3.2. A corrente subjetiva
• Antijuridicidade não pode ser entendida sem referência ao desrespeito ao comando emi-
tido pela norma
• Comando apenas pode se dirigir àqueles capazes de serem motivados e de responderem
às exigências da ordem
• Ao direito penal compete incidir sobre os fatos enquanto suas consequências sejam fruto
da conduta daqueles que possam responder às exigências e valorações impostas pelo
Direito
3.3. Subjetivistas e objetivistas em contraste
• Crítica à objetiva: resquício da responsabilidade objetiva, sem culpa
• Crítica à subjetiva: não protege os bens jurídicos
• Medida de segurança não é imposta em razão do caráter antijurídico do fato
• Bricola: excludente de ilicitude incide em momento anterior ao da culpabilidade
o Inimputável poderia agir em legítima defesa
• Injusto não é sinônimo de antijurídico
o Agressão do inimputável é injusta, embora possa não ser antijurídica
• Responsabilidade objetiva não é mais compatível com o direito penal
3.4. O ilícito pessoal
• Welzel: necessidade de distinção do desvalor do resultado e da ação, do injusto e da an-
tijuridicidade
o Injusto: desvalor do resultado e da ação; objeto valorado mais valoração
o Antijuridicidade: una para o ordenamento; contradição entre o comportamento
concreto e o ordenamento
3.5. Compreensão subjetivo-objetiva
• Imputabilidade é pressuposto da contrariedade ao direito
• Só age antijuridicamente aquele que pode optar
• Só é antijurídica a ação realizada com conhecimento e querer de um fim
• Imputabilidade é pressuposto da ação, não só da culpabilidade, mas do crime como um
todo
3.6. Antijuridicidade e culpabilidade
• Culpabilidade: juízo de valor em razão do qual se reprova o autor pela ação cometida
o Reprova-se o agente porque não se motivou segundo as exigências do direito
• Antijuridicidade: caráter do comportamento dotado de sentido axiológico negativo
• Ação é reprovável quando exigível que a vontade se forme diferentemente, sendo possí-
vel ao agente optar por outro comportamento
4. ANTIJURIDICIDADE MATERIAL
4.1. Origens do tema
• Von Liszt: injusto criminal é o ataque a bens jurídicos
o Formalmente antijurídico é o fato enquanto contrário a uma proibição legal
▪ Desrespeito à norma
o Materialmente antijurídico é o fato por implicar na lesão ou perigo a um bem ju-
rídico
▪ Ataque a interesses
• Estado de necessidade deu origem à elaboração da teoria da antijuridicidade material e
da culpabilidade normativa
4.2. Antijuridicidade e caráter anti-social da ação
• Von Liszt: antijuridicidade material se revela quando a lesão ao bem jurídico consiste
em uma contraposição aos fins da ordem jurídica
4.3. Critério formal do meio justo para fim justo
• Ilicitude não é consequência da sanção penal, mas seu pressuposto
• Ação concreta, apesar de adequada ao tipo, será lícita se constituir meio justo para um
fim justo
4.4. O injusto e as normas de cultura
• Cultura é uma unidade de realidade e valor
• Norma de cultura tem função educativa, porque regula os comportamentos
• Cada norma de direito deve ter uma correspondente norma de cultura
4.5. Utilidade e justiça
• É antijurídico o que é mais danoso à comunidade do que útil
• Juiz exerce função legislativa na hipótese de lacunas
4.6. Lacunas e valoração de bens
• A licitude de algumas ações que lesam um bem jurídico para salvação de outro pode ser
verificada através do princípio da valoração de bens
4.7. Conceitualismo jurídico
• Tecnicismo jurídico exacerbado levou a um empobrecimento do direito penal
o Reduzir o direito ao fenômeno normativo levou a uma compreensão formalista,
que restringiu o jurista à manipulação de fórmulas abstratas
4.8. Realismo jurídico
• Os conceitos devem ser somente meios para a compreensão da vida social, a partir da
própria realidade social
• Antolisei: admite uma única antijuridicidade; valoração do fato como contrário ao di-
reito
o Causas de justificação: ausência de dano social
• Necessidade de reconhecer a antijuridicidade como lesão danosa a um interesse prote-
gido
4.9. Teleologismo jurídico
• Bettiol: antijuridicidade é uma qualidade atribuída ao fato, mediante juízo de desapro-
vação
o Fato é antijurídico quando contraria a norma; juiz não pode passar da norma
4.10. Axiologismo normativo e concreto
• Antijuridicidade constitui o caráter próprio da ação concreta; conteúdo do tipo
• Valorações jurídicas mudam de acordo com as necessidades e o espírito de cada mo-
mento histórico
• O que define o caráter antijurídico da ação é o sentido que a anima
o Na ação adequada inexiste o sentido negativo que o tipo revela como determi-
nante de caráter antijurídico

CULPABILIDADE
1. TEORIAS DA CULPABILIDADE
1.1. Teoria causal da ação e culpabilidade psicológica
• Teoria causal da ação: resultado é fruto de um movimento muscular dominado pela
força psíquica que o impele
o Separa a realização da vontade do conteúdo da vontade
• Teoria naturalista: conteúdo da vontade não integra a ação
o Dolo seria uma qualidade atribuída à ação posteriormente
o Culpabilidade: vínculo psicológico que une o autor ao delito
o Imputabilidade é condição da culpabilidade
• Teoria psicológica: dolo é querer um ato e seu resultado
• Teoria tradicional: dolo é a intenção voltada para o evento lesivo, com compreensão de
suas consequências e seu caráter antijurídico
1.2. O dolo integrante da ação
• Intencionalidade integra o comportamento
• Culpabilidade não é constituída por dolo e culpa, que são formas do comportamento de-
lituoso
2. CULPABILIDADE NORMATIVA E INEXIGIBILIDADE DE OUTRA CONDUTA
2.1. Origem histórico-cultural da culpabilidade normativa
• Dolo e culpa: elemento normativo comum; contrariedade à vontade da lei
• Culpabilidade normativa: estabelecer um juízo de reprovação; graduar a pena, determi-
nando a censurabilidade e exigibilidade do ato
• Uma normal motivação obriga o agente a conduzir-se de conformidade com o ordena-
mento
2.2. Culpabilidade como desrespeito à norma de dever
• Norma de direito x norma de dever
o De direito: dirige-se à conduta exterior, entendida como causalidade
o De dever: dirige-se à conduta interior, à motivação
o Motivação passa a ter cunho normativo, desde que referida à norma de dever
• Goldschmidt: toda motivação é reprovável quando não seja produto de instinto de con-
servação
• A norma se dirige ao comportamento como um todo, não à exterioridade da ação
o Tem atribuição valorativa e imperativa, distintas, mas não autônomas
2.3. Reprovação pelo poder de agir diversamente
• Freudenthal: culpabilidade é reprovação ao agente por ter agido contra o direito quando
poderia não o ter feito
2.4. Culpabilidade normativa, em termos objetivos
• Delitala: antijuridicidade é o contraste entre o fato objetivamente considerado e o orde-
namento
o Confunde culpabilidade com antijuridicidade
2.5. Culpabilidade normativa, em termos subjetivos
• Maggiore: culpabilidade é juízo de valor
o Antijuridicidade: sobre a ação
o Culpabilidade: sobre a vontade
o Culpabilidade seria subjetivação da antijuridicidade
o Dolo e culpa seriam formas de culpabilidade
2.6. Culpabilidade como desaprovação social
• Musotto: culpabilidade abrange Imputabilidade; Dolo e culpa; exigibilidade
o Culpabilidade inexiste quando o comportamento se realiza sob impacto de deter-
minadas circunstâncias exteriores, que não permitem se exija comportamento
adequado ao direito
2.7. Vontade ilícita e imperatividade da norma
• Bettiol: dolo não integra a ação, mas é nexo psicológico, pressuposto da culpabilidade
o Reprovabilidade é um juízo sobre uma ação
o Dolo é a voluntariedade de um fato conhecido como contrário ao dever
• Contraste entre a vontade do agente e da lei só pode existir quando há possibilidade de
consciência desse contraste
2.8. Possibilidade da consciência da ilicitude como elemento da culpabilidade
• Anibal Bruno: culpabilidade é imputabilidade; elemento psicológico-normativo (dolo e
culpa); exigibilidade
2.9. Resumo das dificuldades das teorias retroexaminadas
• Culpabilidade: juízo de valor que incide sobre a formação do querer do comportamento
o Dolo e culpa não são elementos ou condições, mas objeto de incidência dela
o Reprovabilidade da vontade da ação
• Culpabilidade finalista: poder agir diversamente
• Juízo de antijuridicidade: contrariedade ao dever
• Juízo de culpabilidade: reprova o desvalor que animou e formou a vontade da ação,
quando poderia agir conforme o direito
• Culpável é a ação antijurídica que podia ter sido omitida
2.10. Os elementos em razão dos quais se reprova ação ilícita
• Conhecimento do tipo: conhecer a ação e o seu significado é elemento do dolo
• Possibilidade de consciência da ilicitude: se era impossível ao agente conhecer a antiju-
ridicidade de seu atuar, não poderia conformar sua vontade à da norma
• Exigibilidade: poder de optar diversamente da escolha feita
• Imputabilidade: pressuposto da ação
2.11. Inexigibilidade de outra conduta
• Goldschmidt: ação de conservação e homem médio
o Não podem ser aceitos
• Inexigibilidade: juízo de valor sobre a formação do querer o agente
• Juiz, mediante suas condições pessoais, valora se seria possível exigir do agente que omi-
tisse sua ação, assumindo as consequências de omiti-la
• Comportamento antijurídico culpável: desvalor do comportamento e da formação do
querer
2.12. Culpabilidade e personalidade do agente
• Culpabilidade normativa estende sua apreciação à personalidade do autor
o Relação existente entre o comportamento e a personalidade do agente
• Personalidade do agente, como objeto de culpabilidade, depende do comportamento
concreto
• Não há culpa da personalidade, mas pela formação da personalidade

A TIPICIDADE NA PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL

1. LEGALIDADE, PARTE GERAL E TIPICIDADE


1.1. O princípio da legalidade na codificação
• Codificação é filha do Iluminismo, que coloca a legalidade como proteção da liberdade
individual do cidadão frente ao Estado
1.2. Ordenação sistemática e princípio da legalidade
• Princípio da legalidade como segurança da liberdade e igualdade individual
o Sistematização racional da lei penal decorre do mesmo sentido
1.3. Parte geral e princípio da legalidade
• Ordenação leva à elaboração de uma parte que regula a aplicação de todos os dispositi-
vos incriminadores
• Corolário do princípio da legalidade, pois fixa limites de incidência das normas incrimi-
nadoras e das sanções
1.4. Parte geral e elaboração científica do direito penal
• Juristas passaram a se concentrar no desenvolvimento de teorias dogmáticas, que reti-
ram consequências não evidentes no texto legal
• Teoria da tipicidade: modelo dogmático; estrutura compreensiva das normas jurídicas
o Elaboração científica e técnica do nullum crimen sine lege
• Tipicidade: congruência entre ação concreta e paradigma legal
• Tipo legal: modelo; formulação geral e abstrata de ação possível à qual se comina pena
1.5. Parte geral e tipicidade
• Construção típica, de estruturas normativas, indicando que a tipicidade, enquanto con-
gruência da realidade ao modelo, é uma característica também da parte geral
2. TIPICIDADE E NEXO CAUSAL
2.1. Relevância do nexo causal
• Importância para delitos cujo resultado é naturalístico
2.2. A causalidade adequada
• Um determinado evento será produto de uma ação humana quando esta tiver sido idô-
nea à sua produção
• Verificação da idoneidade causal deve ser feita posteriormente, mas através de um juízo
ex ante com base no conhecimento comum das leis da causalidade natural
2.3. Equivalência das condições
• Todas as condições consideram-se causa do resultado, desde que imprescindíveis à sua
produção
• Se, hipoteticamente, suprimindo-se uma condição suprime-se o resultado, essa conditio
sine qua non é causa desse resultado
2.4. Análise das teorias
• Crítica à equivalência: regresso ad infinitum
o Verificação da ação como conditio sine qua non do resultado + redução do âmbito
de relevância causal pelo exame do aspecto psicológico
• Crítica à causalidade adequada: abstração; prognose póstuma da normal eficácia causal
apreensível ao homem médio
o Situa o nexo de causalidade em um plano abstrato e objetivo
• Verificação do elo causal entre conduta-evento e valoração desse nexo em relação ao
direito
o Somam-se ao elemento subjetivo, para determinar como causa
2.5. Tipicidade e condicionalidade adequada
• Superveniência de causa relativamente independente: afasta a imputação se, por si só,
produziu o resultado
• Deve ser reconhecida a interrupção da causalidade, mantendo imputação pelos resulta-
dos causados
3. TIPICIDADE E CRIMES COMISSIVOS POR OMISSÃO
3.1. Omissão
• Omissão possui um substrato naturalístico, estando sua relevância penal condicionada
a um enfoque normativo
• Causalidade é relevante nos crimes comissivos por omissão
3.2. Qualificação penal da omissão
• Relevância da omissão depende do dever e do poder de agir
3.3. O dever de agir
• Requisitos do Código Penal
• Refere-se à relevância da omissão com relação ao resultado, oriundo do curso causal em
desenvolvimento
o Torna a omissão causa desse resultado e o omitente seu autor
o Omissão torna-se elemento do tipo penal
• Dado tipificador, elemento normativo do tipo comissivo por omissão
3.4. O poder agir
• Seria desnecessário ou conduziria à análise da “não exigibilidade” criando causa de ex-
culpação para os crimes comissivos por omissão, não aplicável às demais formas de prá-
tica delitiva
4. TIPICIDADE E TENTATIVA
4.1. Configuração típica
• Consumado: ação inteiramente adequada ao tipo penal, em todos os seus aspectos
o É o típico para o legislador
• Tentado: ação parcialmente adequada ao tipo penal, no que toca ao aspecto objetivo
o Interrompe o processo de execução da ação delituosa ou este se findam sem o
resultado desejado
4.2. Elemento subjetivo
• Intenção de consumação deve integrar a tentativa
• Relação necessária entre intenção de consumação e atos de execução praticados
o Atos de execução devem ser idôneos e inequívocos
4.3. Idoneidade e univocidade dos meios
• Idoneidade: ato que possa causar o resultado previsto no tipo
• Inequívocos: prova da intenção a partir dos atos de execução
4.4. Atos preparatórios e de execução
• Momento de deliberação, preparação para dar início à execução da deliberação e o início
da execução
4.5. Reserva legal e limites de relevância
• Distinção entre atos preparatórios e de execução é um limite de relevância penal
o Assegura ao indivíduo a incriminação apenas de atos de comissão de um delito
• Carmignani: ato preparatório é início da execução ou fato inocente; univocidade da di-
reção para o crime é executivo
• Carrara: ato preparatório permanece no âmbito de ação do agente; ato de execução in-
terfere na esfera jurídica do sujeito passivo
• Apenas será relevante a utilização idônea de meios capazes de consumar o crime e que,
no conjunto das circunstâncias, se revelam convergentes à consecução do resultado
• Ato de execução: quando é parte do processo de desenvolvimento de uma ação típica, de
modo a se criar uma situação de perigo ao bem jurídico que se pretendia lesar
• Ato preparatório: quando não chega a ser criada situação de perigo ao bem jurídico
4.6. Fundamento
• Tentativa coloca o bem jurídico em perigo, através de atitudes univocamente dirigidas a
um resultado delituoso
5. TIPICIDADE, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
5.1. Destipificação da tentativa
• Tentativa: interferência de causa independente da vontade do agente
• Desistência voluntária: agente interrompe voluntariamente o processo de execução que
deu início, mas não se esgotou
• Arrependimento eficaz: após o completo desenvolvimento do processo de execução,
agente evita eficazmente a consumação do resultado
• Ambos fazem desaparecer a tentativa, pois o agente responde pelos atos já praticados
5.2. Fundamento
• Destipificação da tentativa
• Razão da incriminação do delito tentado é a mesma do consumado: desvalor da ação
típica lesiva ou perigosa ao bem jurídico
• Desistência e arrependimento: manifestação inequívoca da intenção de que não ocorra
o resultado
5.3. Natureza jurídica
• Atipicidade da conduta tentada
5.4. Voluntariedade
• Se involuntários, não há relevância penal
• Paralisação do iter criminis ou uma atuação eficiente para evitar a consumação do delito,
fundadas em uma posição axiológica positiva
• Ausência de tipicidade da forma em casos-limite
6. TIPICIDADE E CRIME IMPOSSÍVEL
6.1. Destipificação da tentativa
• Inidoneidade dos meios e inexistência do objeto
• Consumação jamais ocorrerá
• Tentativa: resultado não se alcança não por inidoneidade do meio ou objeto, mas por
interferência indesejada de algum fato, que interrompe o processo de execução
• Impossível: inexiste tentativa, pois esta pressupõe a utilização de meios idôneos e a exis-
tência de objeto material
o Não há perigo ao bem jurídico
6.2. Critério da inidoneidade
• Inidoneidade dos meios
o Absoluta: por sua natureza, não poderiam produzir o resultado
o Relativa: são eficazes, mas pela forma como utilizados, tornam-se inidôneos
• Impropriedade do objeto
o Absoluta: não existe ou não tem as condições necessárias para que ocorra o re-
sultado
o Relativa: existe ou poderia existir, mas não estava ao alcance da ação realizada
• Se os meios ou objeto tornam-se inidôneos concomitantemente ou após o início da exe-
cução, tipifica-se a tentativa
o Interferência no processo de execução por razão alheia à vontade do agente
• Teoria objetiva: relevância à adequação típica e à exposição do bem jurídico a perigo
6.3. Teoria subjetiva
• Tentativa puniria a vontade delituosa do agente, independente da idoneidade
7. TIPICIDADE E LEGÍTIMA DEFESA
7.1. Elementos constitutivos da legítima defesa
• Agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou alheio e reação com uso moderado
dos meios necessários
7.2. Natureza da legítima defesa
• Ausência de um dos elementos constitutivos impede a adequação típica da legítima de-
fesa
• Direito de reação encontra limites que decorrem do reconhecimento do valor de pro-
porção
8. TIPICIDADE E ESTADO DE NECESSIDADE
8.1. Requisitos da figura
• Existência de um perigo certo e atual
• Perigo não ser provocado pelo agente
• Dano inevitável
8.2. Conceito de perigo
• Subjetiva: falha do conhecimento
• Objetiva: possibilidade de dano que não se concretiza
• Diferenciadora: concilia ambos
• Rocco: possibilidade de dano; dano é diminuição de um bem ou sacrifício e restrição de
um interesse
• Possibilidade: juízo que se funda no mundo real, verificação objetiva de um aconteci-
mento
• Elemento subjetivo: a intenção de salvar constitui a exigência da representação do pe-
rigo
• Perigo é possibilidade objetiva de dano, subjetivamente representada pelo temor
8.3. Atualidade e probabilidade do perigo
• Perigo: possibilidade provável de dano
• Atual: presente, subsiste e persiste
• Iminente: prestes a ser atual
• Perigo atual: possibilidade de dano; dano é iminente
8.4. Sentido da expressão “não provocou”
• Excluir do campo de licitude o agente que voluntariamente deu origem ao perigo
o Perigo intencionalmente causado
• Tem como escopo coibir que, por vontade do agente, bens sejam postos em perigo
o Agente deve evitar provocar o perigo
8.5. Inevitabilidade
• Meios disponíveis para salvar o bem, livrando-o do perigo
• Exigência de ser o único meio ou o meio menos prejudicial para evitar o dano
8.6. Inexigibilidade de conduta diversa
• Critério normativo e judicial
• Conduta diversa exigível é a abstenção do comportamento
8.7. Inexigibilidade razoável
• Razoabilidade é um limite
• Inexigibilidade encontra seu limite na existência de certa proporcionalidade entre os
dois bens
• Sacrifício é exigível, a não ser quando para se salvar, o agente sacrifique ao menos direito
igual ou relativamente superior
8.8. Duas dificuldades: intervenção de terceiro e dever de arrostar o perigo
• O comportamento do terceiro deve ser limitado pelo balanço de bens, sob pena de se
legitimarem comportamentos injustificados
• Terceiro pode agir em favor do provocador do perigo
• É incoerente considerar como circunstância objetiva para a atuação da não exigibilidade
a inexistência de dever legal de sofrer o sacrifício
8.9. Socorro necessário
• Só é legítimo quando age o terceiro em prejuízo de bem que não seja manifestamente
inferior ao bem salvaguardado
• Funda-se na não exigibilidade a permissão para parentes ou amigos
8.10. Minorante do art. 24, §2º do Código Penal
• Se exigível o agente a omissão do comportamento lesivo, com o consequente sofrimento
do dano, pode o juiz atenuar a pena
• Culpa na formação da personalidade
9. BALANÇO DE BENS COMO FUNDAMENTO DE CAUSA DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE:
O ABORTO TERAPÊUTICO
9.1. O balanço de bens na doutrina e jurisprudência estrangeiras
• Hegel: é legítima a prática de um crime como meio para um fim bom
• Diverso valor: decisão legítima é em favor do bem superior; condiz com o interesse so-
cial
o Em favor do menor, inexiste legitimidade; não condiz com o interesse social
• Valor idêntico: sociedade neutra
• Inclusão de excludente supralegal pois a previsão legal era para si próprio ou parente
• Constitui justo meio para um fim justo o comportamento que causa um mal para evitar
a ocorrência de um maior
9.2. O balanço de bens na legislação brasileira
• Fundamento do estado de necessidade é a não exigibilidade, considerada como causa
excludente de antijuridicidade
9.3. Critérios de apreciação do balanço de bens
• Critério ético-social: atenta para a situação concreta na qual se realiza o conflito
o Efetua uma valoração objetiva, a fim de determinar a prevalência de um bem so-
bre outro
o Critério legal serve de diretriz, à qual se somam as considerações qualitativas
9.4. Aborto terapêutico
• Estado de necessidade excludente da antijuridicidade fundado no balanceamento de
bens, não na inexigibilidade de outra conduta
• Vida da mãe tem maior valor que a do feto
10. TIPICIDADE E COAÇÃO IRRESISTÍVEL
10.1. Insuficiência descritiva
• Coação: compelir, obrigar, constranger à prática ou não de algum ato
• Irresistível: impossível de resistir, invencível
• Tipicidade mínima no instituto
10.2. A coação irresistível na legislação estrangeira
• Exigência de configuração do mal ameaçado:
o Igual ou superior
o Perigo de morte inevitável
o Ameaça de morte ou mutilação
o Perigo contra o corpo e a vida
o Perigo de dano grave à pessoa
10.3. A coação irresistível na doutrina brasileira
• Meios físicos que tirem ao paciente a capacidade de proceder de modo diferente
10.4. Fundamento da coação irresistível
• Constrangimento à prática de um delito, sob ameaça de um mal
• Teoria da culpabilidade normativa: reverso é a “não exigibilidade de conduta diversa”
o Coação moral: caso de não exigibilidade de outra conduta
• O valor que centraliza o tipo é a não exigibilidade, e o tipo deve ser construído a partir
da realidade
• Perigo atual ou iminente, mal grave, ameaça de mal certo, ou seja, ameaça de mal gravís-
simo e certo de execução imediata
10.5. Tipicidade e coação irresistível
• A opção em favor do delito é incensurável se ocorre em situação iminente e de lesão
certa, na qual haja ameaça grave à pessoa do agente ou a próximo, não sendo razoável
exigir do agente conduta diversa
• Não é punível o fato cometido sob ameaça de sofrer ofensa certa, iminente e grave a
direito seu, ou de alguém ligado, não sendo razoável exigir-se conduta diversa
o Pune-se o autor da ameaça

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