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Não se trata de quando, como ou porque punir; é quando, como e porque proibir. O que
é esta proibição (o NÃO jurídico criminal).
Introdução histórica
Ordenações Filipinas – criminalização de condutas de ordem sexual (sodomia, sexo
entre homossexuais), benzer um animal, pecados contra a natureza. Marca do tempo.
Moral cristã. Segregação de classes e credos (uma cristã que casasse com um “infiel”).
Por outro lado, novas condutas surgem com o passar do tempo: meio ambiente, crimes
cibernéticos, concorrência desleal. A condição de imigrante pode ser criminalizada?
Agravar um crime (roubo, furto, etc.)? Há um denominador comum para essa
realidade? É possível achar um elo entre realidades tão distintas?
Conceito formal não é conceito legal. O último é definido pela legislação penal. Mas o
conceito formal não resolve o problema do conteúdo do crime, ou seja, o que é o crime.
Há alguma limitação?
O crime não é algo in natura, um dado. É um constructo cultural e historicamente
datado. Logo, o crime também é marcado pelo tempo. Mas há limites! O exercício de
poder no Estado Democrático de Direito que venha a limitar comportamentos deve
possuir justificativa racional (razão piu forti), construída em volta dos parâmetros
(constitucionais) que valoram o Estado.
Crime é ofensa culpável a um bem jurídico penal -> conceito comprometido em nível
dogmático, sistemático, ideológico e principiológico.
Christian Thomasius e Cezare Beccaria. Não deve haver espaço para a punição da
dimensão interna, só externa. À religião cabe o controle da intensão/inclinação/pecado.
Ao Estado caberia apenas as condutas que se projetassem para fora e produzissem
efeitos danosos à sociedade. Não mais a vontade, mas o dano social passa a ser o núcleo
do desvalor. “A única e verdadeira medida dos ilícitos é o dano causado à nação, e
portanto erraram aqueles que acreditaram como verdadeira medida dos delitos a
intenção daqueles que os cometem.” A vontade TEM relevo quando há resultado!
Dano
Quando há, o que é o dano? Violação ao direito subjetivo. FEUERBACH. “Crime é a
ofensa contida em uma lei penal ou em uma ação que, sancionada por uma lei penal,
contraria o direito de outrem.” É ilegítimo para o direito Penal a instrumentalização do
homem sem que haja ofensa a um direito de terceiro. Harm principle (MILL). “A minha
liberdade só pode ser limitada quando vou de encontro à liberdade do outro. Uma
autolesão não pode ser punida”. Limites ao poder de incriminação.
O bem jurídico
Quando uma sociedade desvalora uma conduta, por que ela o faz? Eu só chego a um
desvalor se eu partir de uma valoração positiva. O homicídio é um desvalor porque eu
valoro a vida. E nós enquanto comunidade histórica valoramos comportamentos.
Primeiro eu reconheço um valor positivo, para depois desvalorar.
Transcendência: um bem jurídico não pode ser um valor criado pelo Direito. O
direito apenas pode reconhece-lo, dá-lo um valor de bem jurídico, mas o valor já existe,
transcende ao Direito. Para a realização do tipo, era visto como necessário um dano à
comunidade (teoria comunista - substancialista).
Objeto de tutela nem sempre é o problema, mas a forma de tutela. Ex.: art. 25 da LCP
“ter alguém em seu poder depois de condenado por furto ou roubo, chaves falsas, etc.”.
O bem jurídico tutelado é o patrimônio (legítimo), mas e a forma de tutela? Possuir as
chaves? Ex.: homicídio x atos preparatórios (planos de matar alguém x terrorismo).
Criminalização de atos preparatórios a bem jurídico futuro (lei de drogas, desobediência
nos crimes ambientais). Mera violação a uma norma administrativa pode ser
criminalizada?
O perigo pode ser lido de três formas: subjetiva, objetiva e realidade normativa.
Para a teoria da ofensividade, o perigo deve representar uma forma de desvalor. Para
que seja ofensa, teria o perigo efetivo desvalor? A comunidade é capaz de perceber o
perigo como desvalor em si. O perigo é uma realidade indesejada pela comunidade, e
portanto, efetivo desvalor de resultado.
Crimes de perigo (concreto e abstrato) são técnicas de tutela. Perigo concreto trazem o
perigo na redação típica: “Expor a perigo a vida de alguém”, “Causar incêndio, expondo
a perigo a vida de alguém” – elementares do tipo. Perigo abstrato: “Envenenar água
potável destinada a consumo”, “arremessar projétil contra veículo em movimento,
destinado a transporte público”. Não traz o perigo como elementar do tipo. Perigo
presumido.
Resumindo
Klaus Roxin (2014, p. 74-75) buscou criar uma teoria do bem jurídico crítico ao
legislador, impendido que este pudesse obrar de maneira arbitrária e violadora das
liberdades individuais a partir da criminalização ilegítima de condutas que nadam
afetam a vida em sociedade.
É dizer, Roxin buscou impor limites à atuação legislativa. Com efeito, a criminalização
de uma conduta, para o penalista alemão, apenas seria viável e legítima se esta atentasse
contra um bem jurídico digno de proteção, não sendo tarefa do direito penal reprovar
condutas que tão somente ataquem a moral coletiva ou atinjam valores políticos e
religiosos individuais ou de determinados grupos.
A teoria do penalista alemão parte do princípio de que o direito penal detém uma
missão. Esta missão imposta ao direito penal seria a de proteger bens jurídicos,
garantindo, assim, a toda coletividade que goze de todas as condições necessárias para
um desenvolvimento livre e pacífico, quando nenhum outro ramo do ordenamento
jurídico fosse suficiente para realizar tal desiderato.
Em suma, seria a proteção subsidiária de bens jurídicos. Com base nisso, o legislador
estaria limitado em sua atuação, no que se refere à criminalização de condutas, ao
âmbito de proteção de bens jurídicos. O que quer dizer, na verdade, que se for
vislumbrado que uma conduta apenas atenta contra a moral ou contra valores sociais,
não pode ser criminalizada.