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CRIMINALIDADE
PATRIMONIAL E
DAS EMPRESAS
Docente: André Lamas Leite
Mestranda:
Joana Falcão Sobral
07/02/2024
TEMAS DE CRIMINOLOGIA
(prof. Margarida Santos)
Email: asantos@direito.up.pt
O que é a Criminologia?
É o reflexo dos conflitos que existem na sociedade e é a ciência que estuda
as causas do crime (estuda igualmente o criminoso/ delinquente e a vítima).
Assim, os 4 objetos da criminologia são os seguintes:
® Crime;
® Delinquentes;
® Vítimas;
® Controlo e reação social (feita pelo Estado na representação do MP): esta
reação social é concretizada pelos polícias, pelos Tribunais e pelas
prisões (mecanismos estratégicos que se aplicam para controlar, reagir e,
eventualmente, diminuir a criminalidade). Aqui também se estuda a
eficácia da pena.
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14/02/2024
O que é a Criminologia?
A Criminologia é a ciência que estuda os crimes (comportamentos
tipificados como crime no Código Penal). Isto seria uma definição jurídico-
legal de Criminologia. Para COSTA ANDRADE e FIGUEIREDO DIAS, a
Criminologia traduz-se em “todo o comportamento que a lei criminal tipifica
como tal”. Esta é uma definição restritiva que não se pode aceitar. As
vantagens desta definição são as seguintes:
1. Precisão e consistência face a conceitos alternativos que são vagos e
difusos – no Código Penal encontram-se muitas definições precisas dos
comportamentos que estão tipificados como crimes, embora não haja
uma precisão muito conceptual acerca de muitos conceitos (o bullying é
um crime?);
2. Recolha sistemática de dados a partir de estatísticas oficiais –
instituições como a Polícia, os Tribunais ou as prisões produzem
estatísticas sobre a quantidade de crimes, a quantidade de criminosos,
etc., o que reflete uma criminalidade muito mais objetiva. A forma
privilegiada de estudar a delinquência é através dos inquéritos de
delinquência auto-regulada ou de vitimação.
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Uma vez que a definição legal de Criminologia não é adequada,
importa atender a uma definição sociológica de Criminologia. O delito
natural existe na sociedade humana independentemente das circunstâncias e
exigências de dada época ou conceção particular. Considera-se delito
natural qualquer comportamento que atende contra a piedade ou a probidade
das pessoas (contra os direitos de propriedade ou contra a vida das pessoas)
– em todas as sociedades há valores que são comuns (ex.: matar alguém é
um crime) e que, por isso, consubstanciam delitos naturais.
Uma sociedade é pautada por um conjunto de valores que fazem parte
de uma consciência coletiva. Para DURKEIM, qualquer lesão de
sentimentos coletivos, definidos na consciência coletiva, configura um ato
universalmente reprovado pelos membros de cada sociedade.
O conceito de universalidade é cada vez mais posto em causa. Vive-
se numa sociedade altamente fragmentada e polarizada, ainda que haja um
núcleo duro de valores que devem ser protegidos. Não obstante, e
simultaneamente, veem-se diferentes grupos sociais, ou seja, não há um
consenso sobre aquilo que realmente deve ser protegido. Exemplo: não é
possível haver uma posição universal em relação à pena de morte ou à
eutanásia ou à adoção gay. Então cada vez menos há uma universalidade.
Em suma, os criminólogos não estudam o crime do ponto de vista
jurídico nem o delito do ponto de vista sociológico: estudam o
comportamento desviante. O desvio corresponde a tudo o que se afasta das
normas sociais partilhadas em determinado grupo. Por norma pensa-se o
desvio como algo negativo ou disfuncional (exs.: ir para a escola de pijama;
ir a um casamento de fato de treino), mas a verdade é que o desvio despoleta
uma reação por parte das pessoas e essa reação é que é negativa. ROBERT
definiu o desvio como a “transgressão das normas de comportamento de um
grupo social”.
O comportamento criminoso é o núcleo duro dos desvios. Todos os
crimes são desvios, mas nem todos os desvios são crime. Portanto, o
comportamento desviante é um conjunto mais amplo que o
comportamento criminoso. Para CUSSON, o desvio é o conjunto de
comportamentos e de situações que os membros de um grupo consideram
não conformes às suas expetativas, normas ou valores e que, por isso, correm
o risco de suscitar condenações e sanções da sua parte. Existem três
abordagens que definem aquilo que pode ser um comportamento
desviante:
® Definição normativa: “A desviância constitui desvios nas normas que
desencadeiam desaprovação social de tal modo que as variações
provocam, ou têm a probabilidade de provocar, se detetadas, sanções
negativas”. (Clinard, 2001, p.7). De acordo com esta definição, é desvio
tudo o que for uma transgressão de uma norma legal, social ou moral.
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® Definição estatística: desviância como uma variação da média
(considera-se desvio todo o comportamento que se afasta da média).
Enfatiza o comportamento que difere da experiência habitual ou média.
Estão em causa fenómenos raros ou infrequentes. Assume que o que a
maioria das pessoas faz determina as formas corretas de agir (se a maioria
das pessoas adotar um determinado comportamento, este não é
considerado um desvio, mas uma normalidade), embora nem sempre
aquilo que a maioria das pessoas faz seja considerado não desviante.
Crime e desvio:
1. O crime envolve sempre a violação de uma lei, enquanto que a maior
parte dos desvios não são crime (ex.: juntar-se a um culto);
2. O crime é a violação de uma norma formal, enquanto o desvio pode
decorrer da violação de uma norma informal. O crime está sujeito a pena
de prisão, multa ou outras punições por agentes do controlo formal. O
desvio está sujeito à crítica, à rejeição ou a outras reações de agentes de
controlo informal;
3. O número e variedade de desvios são muito maiores do que os dos
crimes. O crime é comportamental na sua natureza. Os desvios incluem
comportamentos, crenças e atitudes (crenças face à violência, racismo,
desigualdade de género);
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4. Nem todos os desvios são crimes, mas quase todos os crimes são
desvios (exs.: o roubo, a violação e o homicídio são desviantes porque
violam normas informais e formais). Poucos crimes são não desviantes
porque são aceitáveis na sociedade (exs.: jogo ilegal, downloads), ou
seja, uma vez que são muito comuns raramente levantam preocupação.
No entanto, são comportamentos criminais (ex.: beber antes dos 21 anos
em determinados países).
Controlo social:
Para ROSS (1901), o controlo social traduz-se em “processos que
induzem os indivíduos a comportarem-se em conformidade com as normas
e valores da sua sociedade” – processo de socialização (agir em
conformidade com um conjunto de regras sociais).
Para COHEN (1985), o controlo social traduz-se em “modos
organizados através dos quais a sociedade responde ao comportamento e às
pessoas vistas como desviantes, problemáticas, ameaçadoras ou
indesejavéis”. De acordo com este conceito, já não se exerce controlo social
sobre todas as pessoas, mas apenas sobre os comportamentos que estão a
criar um desagrado do ponto de vista desviante.
Para CUSSON, o controlo social consiste no “conjunto de meios
implementados pelos membros de uma sociedade com o objetivo específico
de conter ou reduzir o número e a gravidade dos delitos”.
Quando se fala em controlo social, fala-se no conjunto de mecanismos
que a própria sociedade impõe. O controlo social é, assim, um controlo
externo. As formas de controlo têm o objetivo de prevenir ou reagir para
diminuir o comportamento desviante.
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Por seu turno, o controlo social é a capacidade de uma comunidade
controlar, detetar e reagir a comportamentos indesejados para aquela
comunidade, o que só é possível se os membros dessa comunidade
partilharem um conjunto de valores e expetativas acerca do que é ou não
aceitável. Do estudo levado a cabo através da teoria da eficácia relativa
concluiu-se que zonas muito pobres da cidade de Chicago (cidade com taxas
de criminalidade muito elevadas) tinham altas taxas de eficácia coletiva
(tinham pouquíssimo crime, pese embora fossem muito pobres).
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A autonomia de uma disciplina é reconhecível quando a disciplina tem
uma estrutura própria e uma forma de se apresentar institucionalizada. Ou
seja, a partir do momento em que existem jornais de Criminologia para
publicar, faculdades com Professores de Criminologia, fóruns, associações e
congressos de Criminologia, assiste-se à autonomização de uma disciplina.
Pelo contrário, a Vitimologia é um exemplo de uma disciplina que não é
autónoma, mas uma área disciplinar subjacente à Criminologia e à
Psicologia.
21/02/2024
Como é que se distingue a Criminologia do Direito Penal e do Direito
Processual Penal?
A Criminologia, o Direito Penal e o Direito Processual Penal são
disciplinas que se alimentam de forma recíproca e que partilham muitos
objetos de estudo (como o crime e o criminoso). A Criminologia produz
estudos científicos que podem, em muita medida, enformar políticas
criminais, a formulação das leis e a forma como se aplicam as sanções
(reações para dissuadir a pessoa e a comunidade em geral de cometerem
novos crimes). A origem da teoria da dissuasão (teoria utilitarista sobre a
finalidade das penas) remonta à Escola clássica do Direito Penal. Em
muitos estudos feitos por criminólogos verificou-se que a severidade e a
proporcionalidade da pena são elementos que realmente levam as pessoas a
deixar de cometer crimes.
O Direito Penal ajuda a Criminologia a delimitar o que é crime. O
Direito Penal está mais preocupado com os comportamentos do que com os
delinquentes, mas também tem um objetivo de prevenção especial ou
dissuasão específica. Além disso, o Direito Penal é o grande fundador das
reações sociais mais formais.
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Quanto ao crime, cada vez mais se associa e representa os criminosos
à sua nacionalidade (ex.: o caso dos imigrantes que praticam crimes), o que
se relaciona com o fenómeno da criminalização racial/ criminalização da
pobreza.
O SURGIMENTO DA CRIMINOLOGIA
A Criminologia etimológica responde às questões de saber quem é o
criminoso, porque é que ele faz o que faz e como prevenir/castigar os seus
comportamentos. A necessidade de resposta a estas questões remonta ao
século XVIII, século do Iluminismo enquanto movimento social, político,
jurídico e filosófico. As bandeiras do iluminismo foram a liberdade, a
igualdade e a fraternidade. Enquanto as pessoas lutavam contra o
absolutismo/ o Antigo Regime, no qual havia regras e punições, os
iluministas argumentavam que o sancionamento da transgressão a essas
regras configurava um abuso de poder.
Dentro do iluminismo existiu a Escola Clássica do Direito Penal
encabeçada por Beccaria. Em forma de crítica ao chamado “suplício”
(designação que tomavam as penas do Antigo Regime), cujo caráter era
eminentemente retributivo, corporal, público, atroz e violento, a Escola
Clássica insurgiu-se (as penas tinham por principal objeto o corpo das
pessoas).
Ao longo da passagem dos séculos, assistiu-se a muitas outras
transformações que alteraram a forma como se percecionava o próprio crime,
o que se deveu à mudança em alguns tipos de criminalidade. Houve um
aumento da riqueza, o advento do capitalismo, uma maior importância
atribuída à economia das pessoas, etc.
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Há um aumento da delinquência hábil e habilitada, muito limitada à
propriedade das pessoas e há uma diminuição dos crimes de sangue. Mais
importante, há a necessidade de começar a controlar e a gerir a população,
sendo para isso importante ter técnicas ao serviço desse controlo – é aqui que
progressivamente começam a aparecer espaços, instituições, regras e
horários que colocam as pessoas em determinado local e hora (até lá o
sistema era anárquico e não se registava nada). Estas transformações vieram
explicar o porquê de a Escola Clássica do Direito Penal ter tido tanto sucesso.
Tendo a Escola criticado os abusos de poder, cria-se a metáfora do
contrato social, o qual institui um sistema judicial, Códigos, etc. O contrato
social tem por finalidade as pessoas reconhecerem a legitimidade do Estado
para poder aplicar sanções a comportamentos que constituem uma violação
das regras/ leis. Só assim é que esse poder se pode tornar legítimo. Em troca
desse reconhecimento de legitimidade, as pessoas recebem segurança. As
pessoas de uma sociedade abdicam de uma pequena porção da sua liberdade,
não agindo já como pessoas selvagens, e em troca têm segurança, não apenas
contra atentados individuais dos outros, mas contra o abuso de poder.
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• A punição deve ter sempre um mínimo: o mínimo tem de tornar a pena
justa para aquela pessoa e ter um efeito dissuasor do comportamento;
• A punição deve servir para causar um pouco de dor às pessoas de modo
a desmotivá-las de praticar novos crimes.
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A teoria dissuasora de afastar a pessoa do cometimento do crime faz
muita alusão à gravidade do crime, mas muita pouca alusão ao delinquente.
Apesar de a Escola Clássica do Direito Penal ter sido um grande empurrão
para se poder criar a Criminologia (foram os primeiros pensadores do
fenómeno criminal), o nascimento da Criminologia é normalmente situado
com a Escola Positivista italiana (escola opositora do Direito Penal), que
surge no século XIX e é a primeira a fazer estudos científicos sobre o
delinquente (o delinquente era só uma das muitas figuras que se
marginalizava). Assim, a instituição da prisão e o advento da pena de prisão
foram o resultado da junção das condições para o desenvolvimento do
conhecimento científico sobre a figura do delinquente. É aqui que surgem as
respostas às questões de saber quem é o criminoso e porque é que o
criminoso faz o que faz. A Escola Positivista italiana debruça-se sobre a
criminologia biológica/positivista.
Chama-se a este conjunto de conhecimentos os saberes pré-científicos,
que contribuíram para o surgimento das ciências:
• Positivismo (de Auguste Comte): estudam-se os fenómenos através de
um método científico com o objetivo de criar leis gerais. É aplicado ao
estudo dos seres humanos e aos comportamentos sociais;
• Fisionomia (de Lavater): acreditava que era possível prever o
comportamento das pessoas com base na sua aparência física;
• Frenologia (de Gall): estudam-se os crânios das pessoas mortas, pois
havia a crença de que a partir da análise desses crânios era possível
prever quais eram as faculdades mentais, intelectuais e emocionais
dessas pessoas;
• Evolucionismo (de Darwin): para esta teoria da evolução, o Homem não
foi criado por Deus, porque ele é fruto de um processo evolutivo,
segundo o qual sobrevive a espécie que consegue adaptar-se.
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No desenvolvimento dos seus estudos, LOMBROSO chega à
conclusão que, graças à frenologia e à fisionomia, é possível diferenciar
delinquentes e não delinquentes com base nas suas características físicas ou
antropológicas. Um delinquente é uma pessoa que não conclui o seu
processo de evolução enquanto ser humano, ou seja, que não adquire uma
natureza moral e intelectual, ou competências mentais que lhe permita
resistir à tentação de cometer crimes. Assim, para LOMBROSO, a natureza
das pessoas é violenta, devendo aprender-se a regular as emoções. Através
da observação é possível registar que o delinquente é um ser atávico
(atavismo), degenerado do ponto de vista biológico.
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FERRI, penalista, refere que, pelo menos para os delinquentes de
ocasião, é possível prevenir o crime e, portanto, para esses era bom haver
estratégias de prevenção. Propõe inclusive os “substitutos penais”, como as
reparações, as indemnizações, etc., em alternativa a cumprirem uma pena
efetiva. GAROFALO, outro penalista, refere que o sistema judicial devia
tratar as pessoas como a natureza trata as espécies ou os animais que não se
adaptam, propondo a pena de morte para os casos que não têm solução. É
aqui que nasce o ideal reabilitador.
Na Escola Positivista italiana parte-se para as teorias da
personalidade, as quais abrem espaço para todo um novo modelo de
justiça: o modelo reabilitador. A pena deixa de ter uma finalidade
proeminentemente dissuasora e corretora e passa a querer reabilitar as
pessoas (= ressocializar as pessoas). Este modelo teve um grande peso até
meados dos anos 70 do século XX, mas começou a ser posto em causa
quando surgiram estudos avaliativos que dizem que não é possível reabilitar
tão bem as pessoas. A partir de então é claro um aumento da severidade das
penas com o neoretribucionismo.
28/02/2024
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• Há muitas ideologias em torno de como é que o crime deve ser
punido e que comportamentos é que devem ser considerados crime;
• A maioria das pessoa ou já foi vítima ou agente do crime ou até os
dois (é uma experiência quotidiana);
• Os políticos de hoje em dia, normalmente, incluem sempre o crime e
o controlo do crime nas agendas políticas (acting out – fenómeno
mediático em torno desse tema, que é quase uma resposta das
instâncias governativas à ansiedade da população de resolver alguma
coisa)
Estudar o crime também é muito difícil devido a um conjunto muito
grande de questões éticas – exemplo: quando não se confessa um crime, o
inquérito continua, o MP investiga e profere um despacho de acusação,
sendo que até à decisão transitada em julgado a pessoa é inocente, uma vez
que ninguém pode obrigar ninguém a confessar um crime que não confessou
ou que esta não quer confessar. Portanto, é preciso perceber o limite ético
quando se está a lidar com alguém vulnerável, pois é possível ter que lidar
com as consequências de saber se a pessoa vai ou não noticiar o crime que
praticou. Exemplo: um investigador científico coloca-se num dilema ético
quando o investigado lhe confessa que cometeu um homicídio. Apesar de o
investigador não ser criminal, ele pode dar notícia do crime, mas para isso
colocaria em causa a relação de confiança que estabeleceu com o
investigado na participação na investigação.
Outra área da Criminologia que levanta muitos problemas do ponto de
vista ético são os estudos experimentais (ex.: o efeito placebo dos
medicamentos – uma parte da população é medicada sem o saber e outra
parte não é medicada sem o saber, sendo que depois tiram-se as conclusões).
Coloca-se a questão de saber quais os benefícios que essa investigação traz
comparada aos danos que ela pode causar às pessoas. Estes estudos existem
por causa do ciclo de investigação científica, que corresponde a um
conjunto de fases que começam pela escolha de um tema, depois passam pela
delimitação do problema de investigação e, por fim, pelo desenho de um
estudo empírico em que se recolhem dados.
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Como é um objeto de estudo ainda pouco delimitado, se se quisesse testar a
eficácia poder-se-ia fazer um estudo quantitativo experimental; se se
quisesse saber a opinião dos juristas acerca do crime ambiental, fazia-se um
estudo qualitativo. De qualquer forma, ter-se-ia de criar instrumentos de
medição do crime.
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® Alterações nas formas de registo (e.g. categorias de crime) – o mesmo
acontece com as qualificações do crime, no sentido de determinar se ele
é ou não qualificado.
® Alterações na sensibilidade da opinião pública – quando se está
preocupado com um determinado tipo de crime, ele é denunciado mais.
® Imperfeições das estatísticas – as estatísticas são feitas por seres
humanos e, por isso, estão sempre sujeitas a lapsos e a erros criados pelos
próprios seres humanos.
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2. A não denúncia por parte das vítimas: quando estão em causa bagatelas
penais, as vítimas nem sequer têm interesse em passar tempo na esquadra
da polícia quando sabem que não vai acontecer nada (descrença no
próprio sistema). Noutro tipo de crimes podem ter vergonha ou medo de
represálias, etc. (motivos pessoais e psicológicos).
3. Queixas não registadas pela polícia: muitas vezes a polícia incentiva a
pessoa a não apresentar queixa porque sabe que não vão conseguir
solucionar nada.
4. A polícia é a instância de seleção da própria criminalidade (o polícia é
um “porteiro da criminalidade”): cada polícia tem os seus estereótipos e
as suas prioridades de investigação. Há muitos estereótipos raciais
baseados no estatuto socioeconómico das pessoas ou na seleção do crime
e tudo isto influencia os crimes que são registados e que fazem parte do
conceito de criminalidade aparente.
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® Carreiras criminais: se estes inquéritos fossem apresentados com
bastante frequência durante um largo período de tempo, seria possível
identificar uma carreira criminal;
® Contexto do crime: é possível perceber se os crimes são cometidos com
os amigos, com o consumo de álcool ou de drogas.
® Comportamentos desviantes: uma vez que o desvio explica em grande
parte o crime em si, é possível perceber o crime através das atitudes
relativamente à violência, ao racismo, etc.
Dificuldades:
• Populações adultas – desejabilidade social: estes inquéritos são menos
eficazes quando se recolhem os dados nas populações adultas (que têm
tendência para responder de acordo com o que acham expectável);
• Prevalência e incidência – Kto habitual: quando o comportamento
desviante é habitual, a pessoa tem dificuldade em referir o que fez e
quantas vezes fez (quanto mais vezes a pessoa fez, mais difícil é ela
reportar quantas vezes fez);
• Localização no tempo – telescoping: as pessoas só se lembram
normalmente das coisas que aconteceram mais recentemente. Uma
técnica para superar este problema é, em vez de perguntar se alguma vez
já se praticou determinado crime, perguntar se nos últimos 12 meses se
praticou determinado crime.
• Contexto de aplicação (e.g. presencial; acompanhado etc.): as pessoas
não respondem da mesma forma se estiverem acompanhados e sozinhos
(há muitas coisas que se gostava de esconder). Basta ter uma companhia
ao lado para responder de forma diferente, mesmo sabendo que o
inquérito é anónimo. Por isso é que se utiliza muitas vezes a recolha
online para evitar o enviesamento das respostas.
• Redação das questões: a construção das questões e das escalas de
resposta é muito importante.
• Ambiguidade do vivido: as experiências das pessoas podem ser
ambíguas.
CONCLUSÃO:
o O crime é um fenómeno normal: a maior parte das pessoas comete
crimes.
o Minoria de pessoas responsável por uma maioria de crimes: estes são
os delinquentes crónicos, de carreira ou persistentes. São as pessoas que
normalmente se encontram na prisão porque cometem tantos crimes que
acabam por ser detetados.
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Bibliogafia da 1ª parte da matéria (conceptualização da criminologia)
Maurice Cusson, Criminologia. Cota 343.9
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