Você está na página 1de 8

PARTE I – CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

1. TEORIAS DE NÍVEL INDIVIDUAL (O HOMEM DELINQUENTE)


Podem ser divididas em 2 grupos:
a) Teorias biológicas (bioantropológicas) → explicam a prática do crime a partir da estrutura
orgânica do criminoso, distinguindo, com base em caracteres biológicos;
b) Teorias psicológicas → explicam as causas do fenômeno criminal a partir dos processos
psíquicos do indivíduo.

2. TEORIAS MACROSOCIOLÓGICAS (A SOCIEDADE CRIMINÓGENA)


Explicam a criminalidade como um fenômeno social nas perspectivas etiológicas (causas) ou
interacionistas (reações sociais).
Classificam-se em:
a) Teoria do consenso, funcionalista ou de integração → centra sua análise nas consequências
do delito. Defendem que a finalidade da sociedade é atingida quando as pessoas partilham
objetivos comuns e aceitam as normas vigentes na sociedade, havendo o perfeito
funcionamento das instituições, assegurando a harmonia social. Ex: Escola de Chicago, Teoria
da Associação diferencial, teoria da subcultura delinquente e teoria da anomia.
b) Teoria do conflito social → sustentam que a sociedade está sujeita a mudanças contínuas,
pois há dentro da sociedade uma luta permanente pelo poder, razão pela qual seus elementos
cooperam para a dissolução, de modo que caberá ao controle social a partir da força e da
coerção, e não da voluntariedade dos personagens, promover a harmonização social. Ex.:
Teoria Crítica ou radical e Teoria do Etiquetamento ou da rotulação social (labelling approach).
PARTE 2 – TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

1. ESCOLA DE CHICAGO (1920-1940)


Origem na década 20-30, através dos estudos acerca da “sociologia das grandes cidades”, apontou
a influência do entorno urbano sobre a conduta humana, atribuindo as causas do fenômeno criminal
à sociedade e não ao indivíduo.
A partir da antropologia urbana e sob uma perspectiva transdisciplinar, estuda, de forma empírica e
com finalidade pragmática a influência do meio ambiente na conduta delituosa, traçando um paralelo
entre o crescimento populacional e o aumento da criminalidade nas cidades: a cidade produz a
delinquência.
Da Escola de Chicago, originou-se outras teorias: Ecológica, Espacial, das Janelas Quebradas,
Tolerância Zero e dos Testículos Despedaçados.
1.1 Teoria Ecológica ou da Desorganização Social: atribui o incremento da criminalidade nas
grandes cidades à debilidade do controle social informal, à desordem e à falta de integração e
sentimento de solidariedade entre seus membros.
Ernest Burgess formulou a teoria das zonas concêntricas, estabelecendo um modelo de crescimento
das cidades norte-americanas estruturado em círculos concêntricos, pelo qual as cidades tendem a
se expandir a partir do seu centro, com a formação de zonas concêntricas, que são assim
estruturadas:
a) Zona I (loop) → parte central, situavam-se as atividades burocráticas, financeiras e
profissionais;
b) Zona II (zona em transição ou zona de transição) → área contígua à zona central, zona de
transição do distrito comercial para os bairros residenciais, normalmente ocupadas por pobres
e minorias. Local propício para o desenvolvimento de cortiços e guetos, uma área indesejada
para moradia;
c) Zona III → área limítrofe à anterior, contêm residências de trabalhadores que conseguiram
escapar das péssimas condições de vida da zona II;
d) Zona IV (suburbia) → bairros residenciais, contemplando as casas e apartamentos de luxo;
e) Zona V (exurbia) → encontra-se fora dos limites da cidade e contempla as áreas suburbanas
e cidades-satélites, habitadas por pessoas de classe média e alta.
A estatísticas indicavam maior incidência de crime na Zona II, a concentração de crime e
delinquência nessa região eram consideradas sinais do processo de desorganização social.
1.2 Teoria Espacial: defende como medida preventiva da criminalidade a restruturação arquitetônica
e urbanística das grandes cidades.
Oscar Newman, defende a prevenção situacional do crime por meio da construção de modelos
arquitetônicos adequados: o espaço defensável seria aquele que permitisse maior vigilância pelas
pessoas e fomentasse a autodefesa.
1.3 Teoria das Janelas Quebradas (The Broken Windows Theory): estabelece uma relação de
causalidade entre a criminalidade e a desordem.
Se uma janela de um prédio for quebrada e não houver o imediato reparo, as pessoas que passarem
pelo local concluirão que ninguém cuida do imóvel e, em pouco tempo, as demais janelas também
serão quebradas.
A ausência de cuidado acarreta o rompimento dos controles da comunidade, tornando a área
vulnerável à invasão criminal, por acreditarem os delinquentes serem reduzidas as chances de
serem presos ou identificados em tais circunstâncias.
Procurou-se demonstrar uma relação direta de causalidade entre a criminalidade violenta e a não
repressão a pequenos e leves delitos. Deve-se punir com severidade os pequenos delitos, a fim de
impedir a prática de delitos mais graves.
1.4 Teoria da tolerância zero: filosofia jurídico-política, decorrente do Movimento de Lei e Ordem, que
sustenta, baseada na Teoria das Janelas Quebradas, a necessidade de ser punir com severidade os
pequenos delitos, como forma de se evitar o crescimento da criminalidade.
1.5 Teoria dos Testículos Despedaçados ou Testículos Quebrados: pauta-se na ideia de combate às
pequenas infrações, apresentando relação direta com a Teoria das Janelas Quebradas.
Os criminosos, ao serem perseguidos eficazmente pela polícia em razão da prática de pequenos
delitos, via de regra, são afugentados para outras localidades mais distantes, onde tentarão dar
continuidade às práticas criminosas, livres de controle estatal.

2. TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL OU SOCIAL LERANING


Surgem no Séc. XIX, nas décadas de 60 e 70, defendendo a aprendizagem das técnicas para o
cometimento do crime, bem como dos mecanismos psicológicos de neutralização.
Negam a vinculação do crime à pobreza, sendo que qualquer pessoa pode aprender a delinquir.
Estruturam-se em 4 vertentes: Associação diferencial, identificação diferencial, reforço diferencial,
condicionamento operante e da neutralização.
2.1 Teoria da Associação Diferencial: Segundo Sutherland, o delito é estabelecido com base nos
valores dominantes de um grupo e o indivíduo torna-se delinquente ao aprender o comportamento
criminoso e se associar à conduta desviante, por julgar que as considerações favoráveis superam as
considerações desfavoráveis à prática criminosa.
Gabriel Tarde sustentou a transmissão dos dogmas, dos sentidos, da moral e dos costumes pela
imitação, afirmando a influência social sobre a criminalidade e sendo o primeiro a desenvolver o
estudo da criminalidade em razão da origem social, formulando 3 leis gerais da imitação:
a) Primeira lei da imitação → imitação se desenvolve de forma diretamente proporcional à
intensidade do contato e inversamente proporcional à distância;
b) Segunda lei da imitação → os indivíduos de classes inferiores imitam as crenças, ideias e
necessidades dos de classes superiores;
c) Terceira lei da imitação → Em caso de conflito entre dois modelos comportamentais, o novo
se sobrepõe ao mais antigo.
2.2 Teoria da Identificação Diferencial: a aprendizagem da conduta delitiva a partir da identificação
diferencial com os criminosos tomados como referência, e não pela comunicação ou interação,
conforme defendido pela teoria da associação diferencial.
A identificação pode se dar com indivíduos reais ou fictícios, próximos ou distantes. Critica a exibição
de cenas em filmes e programas televisivos em que haja abuso de drogas e condutas delituosas e
seus protagonistas gozem do status de heróis ou justiceiros, influenciando o comportamento de
outras pessoas, sobretudo, de jovens.
2.3 Teoria do Condicionamento Operante: a conduta criminosa deriva de uma série de estímulos
contínuos na vida do indivíduo, sendo produto de suas experiências passadas.
O processo de aprendizagem é otimizado pelos princípios psicológicos de condicionamento
operante, operacionalizando-se por meio das consequências da própria ação, de molde a subordinar
o comportamento criminoso ao grau de vantagens e desvantagens a ele associadas.
2.4 Teoria do Reforço Diferencial: o comportamento delitivo é um comportamento operante, que está
em um processo contínuo de interação com o meio, norteado pelo condicionamento, notadamente
pelas ideias de privação e saciedade.
O crime ocorre em função da não punição de crimes passados.
2.5 Teoria da Neutralização: a partir dos estudos da delinquência juvenil compreendeu-se a
racionalização da conduta delitiva pelo emprego de técnicas de neutralização pelo delinquente com
o escopo de justificar sua conduta desviante (autojustificação).
O criminoso se vê como vítima das circunstâncias sociais e enxerga seu agir como proibido, mas
não criminoso. Entende que a vítima é merecedora do mal a que é submetida e, portanto, culpada
pelo delito, critica os órgãos de controle social e enaltece os grupos marginais a que pertence.
Eduardo Viana sumariza as 5 técnicas de neutralização:
a) Negação da responsabilidade → criminoso percebe conduta desviante como algo acidental,
resultado das circunstâncias que o atravessam. “Não foi culpa minha”.
b) Negação da lesão (negação da ilicitude) → autor parte da premissa que sua lesão não
causou dano à vítima. “Eu imaginei que minha conduta não faria mal a ninguém”.
c) Negação da vítima → o autor julga que o dano seria uma punição à vítima, merecedora do
castigo. “Ele teve o que merecia”.
d) Condenação dos condenadores → conduta de reprovar quem reprova. “Todo mundo pega
no meu pé”.
e) Apelo à lealdade → justifica-se o comportamento desviante com base em valores éticos
superiores ou de uma subcultura. “Eu não fiz isto por mim mesmo”.

3. TEORIA DA ANOMIA
Estudo para indicar a situação de ausência ou decomposição das normas sociais, ante o fracasso
dos mecanismos reguladores da vida em sociedade.
Durkheim afirma que, em razão da complexidade social, o crime é considerado normal, necessário e
útil para o equilíbrio e desenvolvimento sociocultural.
Normalidade do desvio como fenômeno social.
A pena ostenta a finalidade precípua de satisfação da consciência coletiva e preservação da
sociedade.
A escassez dos meios institucionalizados e o consequente abandono das regras sociais importarão
na denominada anomia.
Merton cunhou 5 formas de adaptação do indivíduo aos meios institucionalizados e metas culturais:
a) Conformidade ou comportamento modal → o indivíduo aceita as metas culturais e os meios
institucionalizados considerados legítimos para alcança-las.
b) Inovação → O indivíduo aceita as metas culturais, mas não os meios institucionalizados.
Rompe com o sistema, por meio de um comportamento desviado, para alcançar as metas
culturais.
c) Ritualismo → O indivíduo renuncia às metas culturais, por acreditar ser incapaz de realiza-
las, mas, em uma postura conformista, continua respeitando as regras sociais, agindo como
uma espécie de ritual.
d) Evasão ou retraimento → o indivíduo renuncia às metas culturais e meios
institucionalizados, apresentando postura derrotista e de resignação.
e) Rebelião → o indivíduo rejeita às metas culturais e meios institucionalizados, procurando,
por inconformismo e revolta, estabelecer uma nova ordem social.

4. TEORIA DA SUBCULTURA DELIQUENTE


Concebido por Albert Cohen, em 1955, da obra Delinquent Boys, indicando a existência de
subculturas que retratam os sentimentos e valores de determinado subgrupo social, das quais a
conduta delitiva seria produto.
Paulo Sumariva apresenta 3 preceitos fundamentais:
1) Caráter pluralista e atomizado da ordem social;
2) Cobertura normativa da conduta desviada;
3) Semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular.
José César Naves de Lima Jr. Explica os seguintes termos:
a) Cultura → conjunto da valores, crença, tradições, gostos e hábitos de um grupo social
transmitido de geração em geração;
b) Subcultura → cultura dentro de outra cultura que, embora aceite os valores predominantes
da sociedade tradicional, expressa sentimentos e valores de seu próprio grupo;
c) Contracultura → conjunto de valores e comportamentos que se contrapõem ao modelo da
sociedade tradicional.
As subculturas surgiram, na década de 60 nos EUA, com uma espécie de reação das minorias
menos favorecidas para sobrevivência em uma sociedade competitiva e com escassez de
possibilidade.
A subcultura delinquente caracteriza por 3 fatores:
I. Não utilitarismo da ação: ausência de motivação racional;
II. Malícia na conduta: prazer em prejudicar o outro;
III. Negativismo da conduta: oposição aos padrões da sociedade.

5. TEORIA DA ROTULAÇÃO SOCIAL, ETIQUETAMENTO, REAÇÃO SOCIAL, INTERACIONISMO


SIMBÓLICO OU LABELLING APPROACH
Trata-se de teoria do conflito surgida nos EUA, em 1960, por Erving Goffman, Edwin Lemert e
Howard Becker, abandonado o paradigma etiológico-determinista, sustenta que a criminalidade é
resultado de um processo social de interação, seletivo e discriminatório, que atribui a qualidade de
conduta desviada a determinado comportamento e etiqueta seu autor como delinquente no interesse
de um sistema social.
Tanto o crime quanto a reação social, são manifestações de processos de interação social, seletivos
e discriminatórios. O status de delinquente pressupões a atuação das instâncias oficiais de controle
social.
A etiqueta ou rótulo social de delinquente produzida pela criminalização primária sujeita o condenado
à uma reação social, dando ensejo a um processo de estigmatização com sua consequente
marginalização dos meios sociais.
Há uma aproximação dos diversos indivíduos rotulados como delinquentes e gera-se a expectativa
social de que a conduta desviante torne a ser praticada, fazendo com que o próprio indivíduo assim
rotulado também se conceba como tal, perpetuando o comportamento criminoso, de modo a resultar
na criminalização secundária (reincidência).
Busca a teoria compreender os processos de criminalização (e estigmatização) a partir dos
comportamentos definidos como crime, da seletividade penal e dos meios de reação social ao delito.

6. TEORIA CRÍTICA, RADICAL, MARXISTA OU NOVA CRIMINOLOGIA


Surge na década de 1970, na Inglaterra, Itália e EUA, compreendendo o delito, a partir de uma
perspectiva marxista, como um fenômeno decorrente do sistema de produção capitalista, cuja
definição atende aos interesses da classe social dominante.
Inglaterra → nasce com National Deviance Conference com a obra The New Criminology:
for a social theory deviance (1973) e Critical Criminology (1975), de Ian Taylor, Paul
Walton e Jock Young;
Itália → principal expoente Alessandro Baratta junto com Franco Bricola funda em 1975 a
revista La Questione Criminale;
EUA → a partir da escola criminologia de Berkley, com Paul Takagi, Herman e Julia
Schwendiger, Richard Quinney, Wiliam J. Chamblisss e Tony Platt com a criação da
organização Union of Radical Crminoilogists e a revista Crime and Social Justice;
América Latina → Lola Aniyar, Rosa del Omo e Zaffaroni.
Como origem mediata, com a obra Punishmente and Social Structure de George Rusche e Otto
Kierchheimer, relaciona o nascimento da prisão ao surgimento do capitalismo mercantil, forma
específica de punição burguesa, ante a necessidade de disciplina da mão-de-obra em benefício dos
interesses econômicos.
As condições de vida no cárcere devem ser inferiores às das categorias mais baixas dos
trabalhadores livres (less elegibility), de modo a constranger ao trabalho e garantir os efeitos
dissuasivos da pena.
Nega o livre-arbítrio do indivíduo e considera a criminalidade um problema insolúvel na sociedade
capitalista.
A divisão de classes no sistema capitalista gera desigualdades e violência, a norma penal tem
finalidade de controle social e assegura estabilidade provisória de confrontações violentas entre os
grupamentos sociais.
Visa a redução das desigualdades sociais e sustenta uma mudança de paradigma da criminalização,
com a intervenção mínima em ralações às infrações das classes sociais menos favorecidas e uma
ampliação da responsabilização das classes dominantes.
Deu azo a 3 tendências da criminologia: abolicionismo criminal, minimalismo penal e o neorrealismo.

7. TEORIA DO DELITO COMO ELEIÇÃO


Teoria perfilhada pela Escola Clássica do Século XVIII, sustenta o livre-arbítrio do indivíduo em
relação à prática delituosa.
Atribui uma finalidade preventiva à pena com efeito dissuasório sobre as pessoas.

8. TEORIA DAS PREDISPOSIÇÕES AGRESSIVAS


Defendida pela Escola Positivista, principal expoente Cesare Lombroso, baseado no positivismo
antropológico, nega o livre-arbítrio e sustenta o determinismo biológico e a figura do criminoso nato,
atribuindo ao atavismo a etiologia do delito.

9. TEORIA BEHAVIORISTA OU DO COMPOTAMENTALISMO


Surgiu nos EUA, século XX sob influência Descartes, Pavlov, Loeb e Comte, defendida pelo
psicólogo John Broadus Watson.
Estuda os comportamentos de forma funcional e reacional, por estímulos e respostas, com a
finalidade de prevê-lo e controla-lo.
Ciência do comportamento de natureza objetiva e empírica, observa as condutas e suas descrição
com base em estímulos e respostas.
Considera o ser humano e os animais se adaptam ao meio ambiente pelo hábito e por fatores
hereditários e que alguns estímulos fazem com que os organismos apresentem respostas e,
conhecendo as respostas, pode-se prever o estímulo e, com isso, controlar o comportamento.
Procura modificar a conduta dos criminosos por meio de reforços positivos. Manifesta-se na fase da
execução penal por meio do esquema de recompensas e punições.
Paulo Sumariva aponta o behaviorismo radical, defendeu ser o meio ambiente o responsável pela
conduta humana, sustentando que mudando o ambiente seria possível modificar o indivíduo.

10. TEORIA DOS INSTINTOS


Teoria freudiana do delito por sentimento de culpa, defende que os instintos delituosos, embora
reprimidos pelo superego, permanece latentes no inconsciente, onde são acompanhados por um
sentimento de culpa e uma tendência a confessar.

Você também pode gostar