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DISCIPLINA: Fundamentos do Direito Penal e Criminologia

PROFESSOR: Jander da Cunha Teixeira

MATERIAL DE APOIO (aula 01)

Introdução à Criminologia

CIÊNCIAS
CIÊNCIAS CRIMINAIS
CRIMINAIS

Direito
Criminologia
Política Penal
Criminal

CONCEITO: A palavra criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego


logos (estudo). Logo, significa estudo do crime.
Para Antonio García-Pablos de Molina, a criminologia é uma ciência
empírica e interdisciplinar (método), que se ocupa do estudo do crime, da
pessoa do infrator, da vítima e do controle social (objeto) do
comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida,
contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime –
contemplado este como problema individual e como problema social -, assim
como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de
intervenção positiva no homem delinquente (finalidade).
Raffaele Garófolo foi quem aplicou internacionalmente a palavra
criminologia, através da publicação do livro (CRIMINOLOGIA-1885).

CARACTERÍSTICAS:
• O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e
dolorosa.
• Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima
e as instâncias de controle social.
• Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão
dos modelos tradicionais.
• Substitui o conceito de “tratamento” (conotação clínica e individual) por
“intervenção” (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da
realidade social).
• Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos
objetos da criminologia.
• Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário).

OBJETO:
Crime: No direito penal o objeto se ocupa das características normativas e
valorativas, conceituando o crime como conduta (ação/omissão) típica, ilícita e
culpável. Portanto, o direito penal está voltado para o estudo do
comportamento do indivíduo.
Por sua vez, a criminologia analisa o crime como um problema social, ou
seja, um fenômeno comunitário, caracterizando-se através de quatro
elementos:
1- Incidência massiva na população: Não se pode tipificar e criminalizar uma
conduta isolada.
Portanto, se o fato não se reitera, torna-se desnecessário tê-lo como
delituoso.
Um exemplo disso aconteceu, anos atrás, no litoral do Rio de Janeiro.
Houve um encalhe de um filhote de baleia em uma praia carioca e um dos
banhistas, que por ali passava, introduziu um palito de sorvete no orifício de
respiração do animal. Pouco tempo depois, por pressão de entidades
ambientalistas, o Congresso Nacional aprovou uma lei de cinco artigos (Lei
7.643/1987) em que se descrevia a suposta conduta praticada por aquele
banhista: molestamento intencional de cetáceo (art. 1.° com a atribuição de
uma pena de 2 a 5 anos).
Diante disso, a pergunta que se deve fazer é qual a probabilidade de
outra pessoa praticar esse tipo de conduta contra um filhote de baleia?
Caso a probabilidade seja baixa, há necessidade de criar um tipo penal
criminalizado a conduta?

2 – Incidência aflitiva do fato praticado: O crime deverá causar dor à vítima e à


comunidade. Caso a conduta não seja minimamente relevante perante a
sociedade, não há porque ser punido criminalmente.
Exemplo é a lei que pune todos aqueles que utilizam de forma incorreta a
expressão “couro”, para produtos que não sejam obtidos exclusivamente de
pele animal.
Lei 4.888/65. Art. 1º Fica proibido pôr à venda ou vender, sob o nome de
couro, produtos que não sejam obtidos exclusivamente de pele animal.
Evidentemente que, no caso dessa lei, o objetivo da punição tinha muito
mais interesse e pressão econômica daqueles empresários que trabalham
nesse setor do que relevância jurídica.

3 – Persistência espaço-temporal do fato delituoso: É preciso que o delito


ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no mesmo
território.
Exemplo: Nos anos 60, a geração era muito influenciada pela música e
pelos cantores populares da época. Certo dia, um cantor apresenta-se com um
“anel de brucutu”: tratava-se de um pequeno material, parecido com um rosto,
que era retirado dos para-brisas dos velhos dos fuscas e que tinham a
finalidade de direcionar a água para a limpeza dos para-brisas. Foi uma
verdadeira febre. Muitas pessoas passaram a desatarraxar os brucutus dos
carros parados, causando grande desconforto aos proprietários daqueles
veículos. No entanto, por não haver persistência espaço-temporal, ninguém
imaginou ampliar a pena para tal conduta, como se fez com o furto dos
veículos, mais recentemente.
4 – Consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção
eficazes: A criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa
desses elementos e sua repercussão.
Exemplo é o álcool, não se tem dúvidas dos malefícios que o álcool causa
tanto para o dependente quanto para todos aqueles que se relacionam com tal
pessoa. Contudo, mesmo causando consequência mássica, aflitivas e com
persistência espeço-temporal, não há um consenso em relação a
criminalização da conduta.

Criminoso: Agente cometedor do crime.


Em relação ao estudo do delinquente, é fundamental a compreensão das
escolas para análise.
ESCOLA CLÁSSICA: O criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal,
embora pudesse e devesse escolher o bem. O criminoso é um ser humano
normal.
ESCOLA POSITIVA: (Lombroso, Ferri, Garofalo) O criminoso era um ser
atávico, que possuía traços e patologias que faziam criminosos, como se o
indivíduo nascesse criminoso. O criminoso é um ser anormal, ou seja, era
prisioneiro de sua própria patologia.
ESCOLA CORRECIONALISTA: O criminoso era um sujeito inferior e incapaz
de se governar sozinho, por isso, o Estado deverá adotar medidas pedagógica
e de piedade (Exemplo no Brasil, o menor infrator).
ESCOLA MARXISTA: O criminoso era uma vítima da sociedade em razão da
estrutura econômica. Logo, o infrator é um inocente e o culpado era a
sociedade.

Vítima: A pessoa que sofreu e foi atingida pelo crime.


Períodos históricos:
1- Idade de ouro (Protagonismo da vítima): Época da vingança privada.
Predominou até o fim da Alta Idade Média (Lei de Talião).
2 – Neutralização da vítima: O Estado tinha o monopólio do poder punitivo.
Surgi a partir do processo inquisitivo (sistema processual que será aprofundado
na disciplina de processo penal).
3 – Revalorização da vítima (Atual): Em tese, a vítima ganha maior importância
em tal período, inclusive recebendo mais destaque no processo.

PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO:
Primária: Efeitos direitos (crime sexual: lesão e violação do próprio corpo e
danos psicológicos) e indiretos (vergonha perante a sociedade, dificuldade de
ter relacionamento) da própria conduta criminal.
Secundária: Efeitos causados pela vítima através das fases da persecução
penal (inquérito e processo)
Terciária: Ausência de receptividade social e omissão estatal. Não recebe
nenhum tratamento e acolhimento para superar os danos provocados pelo
crime.

Controle Social: São instituições responsáveis por fiscalizar e moldar o


comportamento do indivíduo. Divide-se em (i) controle formal (coercitivos) e (ii)
controle informal (educativos).
Controle informal: Família, amigos, trabalho, clube, igreja e sociedade como um
todo. (Não coercitivo e extremamente importante para afastar os indivíduos em
formação do crime e valorizar os princípios de convivência).
Quanto mais reduzido for o ambiente e menos complexa for a sociedade
em que o sujeito estiver integrado, maior será a eficácia o controle informal, em
razão do fortalecimento dos laços comunitários. Por consequência, a perda dos
lações comunitários e o fracasso com controle informal exige a atuação do
controle formal.

Controle formal: Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário, Sistema Prisional,


Forças Armadas etc. (São os órgãos oficiais de coerção do Estado).
Este controle social é seletivo e discriminatório.
Além disso, a efetividade do controle formal é muito menor do que o
controle informal, basta verificar a grande atuação de órgãos estatais de
repressão presentes nas grandes cidades, mas sem reduzir os números da
criminalidade. Já nas cidades de interior, a presença dos órgãos estatais é
menos presente, mas as instâncias informais são mais fortalecidas, sendo que
o número de delitos em cidades pequenas é baixíssimo, comparados aos
indicies dos grandes centros urbanos.

Estrutura/fluxograma do objeto da criminologia:

MÉTODO: Utiliza-se dos métodos biológico e sociológico, visando tanto o


estudo de delinquente quanto do meio social em que convive.

Empírica: Baseia-se na observação e na experiência, por isso, que os


estudo da criminologia são realizados em in loco, a pesquisa é visível no
mundo real, sendo que o pesquisador possui contato com o crime, criminoso,
vítima e controle social (pesquisador frequenta o local do crime, frequenta o
ambiente carcerário, faz pesquisas com a população, faz levantamento de
dados).
Mas nem sempre experimental, porque pode se tornar inviável ou ilícita
(uso de droga) o modo experimental.
Diferentemente do direito penal, a criminologia pretende conhecer a
realidade para explicá-la, enquanto aquela ciência valora, ordena e orienta a
realidade, com o apoio de uma série de critérios axiológicos. A criminologia
aproxima-se do fenômeno delitivo sem prejuízos, sem mediações, procurando
obter uma informação direta deste fenômeno.
Indutivo: Parte de uma análise particular para atingir uma conclusão
geral.
Interdisciplinar: Utiliza-se de diversas áreas para atingir seus objetivos,
por exemplo, sociologia, história, psicanálise, antropologia, medicina legal,
estatísticos e filosofia.
Funções:
Através do estudo interdisciplinar e coleta de dados, encontra-se
resultados mais seguros em relação aos fatores envolvendo o crime, o
criminoso, à vítima e controle social. Assim, é possível compreender o
problema criminal e, por consequência, preservar a sociedade e interferir no
criminoso.
1º Informar: Informar a sociedade sobre o crime, o criminoso, a vítima e o
controle social.
2º Controle + Prevenção Criminal: Fundamental para criação de políticas
criminais.
A criminologia fornece o substrato empírico do sistema, seu fundamento
científico. A política criminal, por seu turno, incumbe-se de transformar a
experiência criminológica em opções e estratégias concretas assumíveis pelo
legislador e pelos poderes públicos. O direito penal deve se encarregar de
converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias o saber criminológico
esgrimido pela política criminal.
Contudo, importante destacar que, a criminologia não é uma ciência
exata, por isso, não é capaz de afirmar com certeza as causas e os efeitos do
crime.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
PENTADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 10. Ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 8. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.

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