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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES

Criminologia
Paulo Sumariva
Aula 01

ROTEIRO DE AULA

CRIMINOLOGIA

O que é Criminologia?

A criminologia é a ciência que estuda a criminalidade. Sem desejar transformar-se em mera fonte de dados, a
criminologia, como ciência empírica, baseada na realidade, e interdisciplinar, ou seja, somando ensinamentos da
sociologia, psicologia, medicina legal e o próprio direito, apresenta como objeto de estudo o crime, o criminoso, a vítima
e o controle social.

A criminologia não se confunde com o direito penal, traz ensinamentos importantes ao direito penal e ao processo
penal. O crime é um entendido como um fenômeno social, e a sociedade deve conhecê-lo e combatê-lo. A criminologia
cria mecanismos para que a conduta tida como desviada pela sociedade seja entendida como crime.

A criminologia é a ciência empírica e interdisciplinar que estuda o crime, o criminoso, a vítima e o controle social,
tendo como finalidade combater a criminalidade por meio de métodos preventivos. Vê o crime como um problema
social, isto é, um fenômeno comunitário que envolve quatro vertentes:

a) O crime como fatos ilícitos reiterados na sociedade.


b) O crime como causador de dor à vítima e à sociedade.
c) O crime deve ocorrer reiteradamente por um período juridicamente relevante de tempo e no mesmo território.
d) A criminalização de condutas deve incidir após uma análise detalhada quanto aos seus elementos e sua
repercussão na sociedade.

 Cifra negra – situação em que a vítima do crime não leva a comunicação do crime ao estado, a comunidade deixa
de colaborar com o Estado na persecução criminal.

Objetos da Criminologia:

▪ Crime
▪ Criminoso
▪ Vítima

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▪ Controle Social

CRIME

Crime é objeto de estudo de diversas searas, as quais buscam conceituá-lo da melhor maneira.

▪ Direito Penal: O crime para o direito penal tem uma abordagem legal e normativa. O conceito de crime tem
limites normativos, só é crime aquilo que está definido pela própria lei como tal, não se pode ir além do que a
norma definiu como sendo crime. O crime para o direito penal é toda conduta prevista na lei penal com sua
respectiva sanção. Fatos novos, enquanto não estiverem definidos na lei como crime não podem ser
combatidos e não terão sanção legal.

▪ Segurança Pública: A segurança pública faz uma abordagem fática do crime. Para a segurança pública deve ser
analisados os fatos. O crime é toda perturbação da ordem pública e da paz social que exigirá do estado a
aplicação de uma coerção. A segurança pública tem função preventiva da ordem social, faz a manutenção da
ordem e da paz.

▪ Sociologia: Na sociologia a abordagem do crime é social. O termo “conduta desviada” está intimamente ligado a
sociologia. Analisa as condutas desviadas. O delito para a sociologia é a conduta desviada, levando-se como
critério de referência aquilo que se desvia da expectativa social. Ex: pichação, moradores de rua.

▪ Criminologia: Trabalha dentro de uma abordagem global. O crime para a criminologia é um problema social e
comunitário. O combate não é mera responsabilidade do sistema estatal, mas é responsabilidade da própria
sociedade. O crime surge na sociedade e a sociedade é quem deve combate-la.

Ex: Prostituição

 Ligada a prostituição pode haver tráfico de drogas, receptação e etc. O direito penal não se preocupa com a
prostituição pois ela não é crime (crime é a casa de prostituição). Ao direito penal só importa o que for crime
formalmente definido como tal. A criminologia já se preocupa com a prostituição, acompanha a repercussão
desse fato na sociedade, por ser uma conduta desviante.

Direito Penal

Criminologia

CRIMINOSO

Na criminologia moderna, o criminoso passa de figura central para um segundo plano. Quando analisado, o
criminoso tende a ser examinado como unidade biopsicossocial e não mais como unidade biopsicopatológica.

Evolução do criminoso:

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▪ Na escola Clássica – Na escola clássica o criminoso era um pecador, aquele que escolheu fazer o mal ao invés
de praticar o bem.
▪ Na escola positiva – na escola positiva era o chamado ser atávico (aquilo que passa de pai para filho). O
criminoso já nascia criminoso, estava preso a suas deformações patológicas.
▪ Na escola correcionalista – Foi influenciada pela escola espanhola e o criminoso era visto como um ser
inferior incapaz de se autocoordenar.
▪ Na escola Maxista - O criminoso é um vítima da sociedade, vítima das estruturas econômica, o estado é
quem cria o criminoso.

Atualmente o criminoso é uma pessoa normal que deve seguir regras mas que por algum motivo ele descumpre
as regras sociais passando a se enquadrar como um criminoso. É uma pessoa imputável, normal e que descumpriu as
regras penais.

Criminoso – é um homem real, normal que se submete a regras podendo ou não cumpri-las.

VÍTIMA

Os estudos criminológicos da vítima ganharam destaque logo após a 2a Guerra Mundial, em razão do sofrimento
imposto por Adolf Hitler aos judeus nos campos de concentração. Nasce, assim, a vitimologia.

A particularidade essencial da vitimologia reside em questionar a aparente simplicidade em relação à vítima e


mostrar, ao mesmo tempo, que o estudo da mesma é complexo, seja na esfera do indivíduo, seja na inter-relação
existente entre autor e vítima.

Pontos importantes dentro da criminologia:

- Síndrome de Stocolmo- a vítima se apaixonando pelo sequestrador.


- Síndrome da mulher de Potifar – a rejeição da vítima faz com que ela crie uma situação para incriminar alguém.

CONTROLE SOCIAL

Toda sociedade necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a convivência interna de seus membros, razão
pela qual se vê obrigada a criar uma gama de instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano
social.

Nesse contexto é que podemos definir controle social como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais
que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas de convivência social.

Temos dois sistemas de controle social na sociedade: controle social formal e controle social informal.

▪ Controle Social Formal - O estado necessita intervir em razão de falha do controle social informal. É o
trabalho da polícia, do MP, do Poder judiciário, etc.

3 seleções:

- 1ª seleção – Atuação dos órgãos de repressão desenvolvido pela polícia judiciária (início da persecução
penal, e identificação do criminoso).
- 2ª seleção – Atuação do Ministério Público (início da ação penal – acusação do criminoso).
- 3ª seleção – Atuação do poder judiciário – tramitação do processo. O Estado irá julgar o criminoso impondo
uma sanção penal).

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▪ Controle Social Informal - É aquele que a pessoa aprende no meio social, como na escola, na igreja, na
família, em casa, ele é reproduzido por todos e imposto moralmente.

Funções da Criminologia:

A função linear da criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o criminoso, a vítima e o
controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros que permita compreender cientificamente o problema
criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem criminoso.

A criminologia vai orientar a política criminal e a política social. A política criminal é prevenção especial (combate a
crimes relevantes). A política social é a prevenção geral.

O trabalho da criminologia não se resume ao mero levantamento de dados estatísticos, ela trabalha com estatística
mas esses dados são interpretados por estudiosos da criminologia para traçar estratégias que corrija as condutas
desviantes e o criminoso.

MÉTODO CRIMINOLÓGICO:

A criminologia é uma ciência do ser, empírica (observação da realidade), que se vale do método indutivo, utilizando-
se de métodos biológico e sociológico.

A criminologia trabalha com a realidade social e pretende conhecer essa realidade para posteriormente explicá-la. A
realidade é alheia ao jurista que parte a agir da criação da norma. A criminologia estuda e explica todo o contexto social
em que está inserido o criminoso

▪ O direito – ciência cultural normativa do DEVER-SER. A partir da infração da norma é que parte o jurista.
Trabalha com o método lógico, abstrato e dedutivo. É alheio as condutas desviantes.

▪ Criminologia - é a ciência do SER, analisa a realidade. É uma ciência empírica, trabalha com o métodos
empíricos, sociológicos e biológicos.

Evolução Histórica da Criminologia:

- Período pré-científico – É o que abrange desde a antiguidade (textos esparsos) e vai a até o surgimento do trabalho
de Beccaria e de Lombroso. Neste período analisamos dois enfoques: o da criminologia clássica e o da criminologia
empírica.

• Criminologia clássica - Ideias do iluminismo, reformadores e através do direito peal clássico.


• Criminologia empírica - Trabalho feito pelos fisionomistas, pelos frenólogos, antropólogos e psiquiatras onde
ocorre a substituição da especulação pela dedução, trabalhasse com o método intuitivo e não mais com o
método formal.

- Período científico - É o que veio logo após as obras de lombroso.

ANTIGUIDADE:
- Código de Hamurabi: Pobres e Ricos com julgamentos distintos
- Ausência de estudo sistematizado sobre o crime e o criminoso.
- Explicações sobrenaturais ou religiosas sobre o mal e o crime.
- Crime como tabu ou pecado, avaliado em termos éticos e morais.

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- Demonismo: o criminoso como uma personalidade diabólica. Procurou-se a explicação do mal
por intermédio da existência do demônio.

SÉCULO XVI

Thomas Morus, em sua obra Utopia, considerava o crime como reflexo da própria sociedade, isto é, relacionava a
desorganização social e a pobreza com a delinquência. Afirmava que o ouro é a causa de todos os males.

SÉCULO XVIII

Os pensadores Della Porta (1535-1616) e Kaspar Lavater (1741-1801) se preocupavam com a fisionomia, isto é, com
o estudo da aparência externa do indivíduo, que tinha inter-relação entre o corpo e o psíquico.

Os fisionomistas utilizavam, ainda, o juízo de valor proposto pelo imperador romano de nome Valério, que reinou no
século IV, denominado “Édito de Valério”, e que consistia em: “quando houvesse dúvida entre dois indivíduos
presumidamente culpados, haveria de ser condenado o mais feio”.

A fisionomia deu origem à cranioscopia, que foi difundida por Franz Joseph Gall (1758-1828) e Jonh Gaspar Spurzhem
(1776-1832).

Posteriormente, os estudos evoluíram para uma análise interna da mente, dando origem à frenologia, precursora da
moderna neurofisiologia e da neuropsiquiatria.

ESCOLA CLÁSSICA:

A escola clássica surgiu no final do século XVIII e formou-se por um conjunto de ideias, teorias políticas, filosóficas e
jurídicas, sobre as principais questões penais. Teve como pensadores Cesare Beccaria (1764), que escreveu a obra “Dos
delitos e das penas”, bem como Francesco Carrara e Giovanni Carmignani.

A escola clássica traça a responsabilidade penal que se fundamenta no livre arbítrio. Por isso a ação do inimputável
ser penalmente irrelevante.

A pena pé um mal justo que se contrapõe a um mal injusto (crime).

SÉCULO XIX:

Aspectos relevantes:

1 . A Escola Moral - o criminoso era uma pessoa com alterações nas suas faculdades afetivas, emotivas e de senso
moral. Representantes : Jean Etienne Esquirol – obra “ Alucinação”; médico inglês – James Pritichard.

2 . Philipp Pinel e Felix Volsin: criminalidade se manifestava por alterações no sistema nervoso central dos indivíduos.

3. Criminologia socialista – o crime é produto das condições econômicas dos indivíduos (Marx e Engels).

Escola Positiva Italiana: Os indivíduos são condicionados em sua forma de agir de modo interno e externo. O
criminoso é assemelhado a um doente. Usava o método de investigação experimental indutivo. Considera o crime como
um fato humano e social.

Seus precursores:

▪ Cesare Lombroso

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Classificação do criminoso:

✓ Nato – antropologicamente diferente dos demais – bioantropologia criminal.

Algumas teses:

1. A epilepsia era fator predominante na origem da criminalidade.


2 . Defendia a ideia do atavismo (criminoso já nasce criminoso).
3. A prostituição feminina era equivalente a criminalidade masculina.

Obra: Homem delinquente – surge com essa obra a bioantropologia criminal. Antropometria – é
o estudo das medidas e proporções do organismo humano para fins de estatísticas e
comparação.

Era pós lombrosiana – desenvolveram estudos biotipológicos, endocrinológicos e


psicopatológicos, é a chamada criminologia clínica. A análise feita a partir do DNA.

✓ Louco
✓ De ocasião
✓ Por paixão

▪ Rafaele Garofalo

Escreveu a obra criminologia (1885).

Teses:

1 . O crime é um anomalia moral ou psíquica do indivíduo.


2. Os criminosos possuem características fisionômicas especiais que o distingue dos demais.
3 . Crime é lesão do sentimento mais profundo dos sentimentos humanos, o senso moral.

Sua Classificação de criminoso:

✓ Assassino
✓ Violente
✓ Ladrão
✓ Lascivo -

▪ Enrico Ferri

Pensador da escola positiva que classificava o criminoso como:

✓ Nato
✓ Louco
✓ Passional
✓ Ocasional
✓ Habitual

Para Ferri o crime é o resultado de três fatores:

• Antropológico: constituição orgânica do indivíduo;

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• Físico ou telúrico – se relaciona a interferência da temperatura ou o clima.

• Fator social – a interferência dos fatores sociais como índice populacional, alcoolismo, religião,
família, educação, etc. Para Ferri esse era o fator que mais tinha relevância.

Terceira Escola Italiana: Surge no sec. XX. Seus idealistas eram: Bernardino Alimena, Jhosep Impallomeni e Manoel
Carnevalle.

Aspectos relevantes:

1. O crime era um fenômeno social e individual


2. Defendia a liberdade moral baseada no determinismo;
3. Defendia aplicação da pena ou medida de segurança – já fazia a distinção entre imputáveis e inimputáveis;
4. Não admitia a ideia do tipo criminal antropológico, o crime era fundamentado na causalidade e não na fatalidade.

Escola Francesa de Lyon: radicalmente oposta as teses lombrosianas, crítica ao positivismo. Também era chamada de
escola atroposocial. Sofreu influência do químico Pasteur.

Inaugura uma nova abordagem criminológica compara o micróbio com o criminoso. O criminoso só vai agir quando
encontrar um campo fértil. Fala de fatores predispostos e de fatores determinantes.

Defensor: Lacassagne

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