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CRIMINOLOGIA PMCE

VETORIAL CONCUROS
Criminologia

O CRIME COMO FATO SOCIAL.

Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e

interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo,

da vítima e o controle social das condutas criminosas.

(ESCRIVÃO DE POLÍCIA – PCSP – VUNESP) São objetos de estudo da Criminologia moderna

______________, o criminoso, _____________ e o controle social. Assinale a alternativa que completa, correta

e respectivamente, as lacunas do texto.

a) a desigualdade social - o Estado

b) a conduta - o castigo

c) o direito - a ressocialização

d) a sociedade - o bem jurídico

e) o crime - a vítima

(DESENHISTA TÉCNICO PERICIAL – PCSP – VUNESP) A criminologia é conceituada como uma ciência

a) jurídica (baseada nos estudos dos crimes e nas leis) e monodisciplinar.

b) empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar.

c) social (baseada somente nos estudos do comportamento social do criminoso) e unidisciplinar.

d) exata (baseada nas estatísticas da criminalidade) e multidisciplinar.

e) humana (baseada na observação do criminoso e da vítima e unidisciplinar.

A Criminologia tem por objeto de estudo o delinquente, o delito, a vítima e o controle social.

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(VUNESP - PCSP - Agente de Polícia) É correto afirmar que a Criminologia

A) é uma ciência do dever-ser.

B) não é uma ciência interdisciplinar.

C) não é uma ciência multidisciplinar.

D) é uma ciência normativa.

E) é uma ciência empírica

Com a criminologia moderna o núcleo investigativo migrou do homem delinquente para a conduta criminosa,

a vítima e o controle social. Consiste em ciência explicativa do crime como fenômeno individual e social,

examinando o criminoso por sua unidade biopsicossocial. São as principais características da criminologia

moderna:

➢ caracterização do crime como problema;

➢ ampliação do objeto do estudo da criminologia (examinando não só o crime e o criminoso, mas também

a vítima e o controle social);

➢ o saber criminológico tem seu enfoque na prevenção e não exclusivamente na obsessão de repressão;

➢ preocupação com tratamento é substituída pela intervenção, por consistir em noção mais dinâmica e

complexa do fenômeno delitivo;

➢ não renuncia a uma análise etiológica do delito (de investigação da criminogênese, ou seja, das causas

do delito).

- Crime: pode ser entendido como fato típico, antijurídico e culpável. O agente só pode ser condenado

por uma conduta que seja perfeitamente adequada a um tipo penal. Essa conduta é chamada de típica. Se
não houver correspondência entre o fato praticado e a descrição legal, a conduta será atípica e portanto, não

será considerado crime;

- Delinquente: é a pessoa que infringe a norma penal, sem justificação e de forma reprovável. Aos

delinquentes condenados e submetidos a um devido processo legal aplica-se uma sanção criminal, uma pena

(privativa de liberdade, restritiva de direitos, multa) que tem como função prevenir e também a repressão do

delito;

- Vítima: a criminologia busca descobrir as consequências da pratica do crime em relação a pessoa da

vítima. Vítima é a pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões físicas ou

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mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais,

como consequências de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente, nos Estados membros,

incluída a que prescreve o abuso de poder. A vítima é entendida como um sujeito capaz de influir

significativamente no fato delituoso, em sua estrutura, dinâmica e prevenção. São apontados algumas

variáveis que intervêm nos processos de vitimização, como por exemplo a cor, raça, sexo, condição social;

- Controle social: é o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover à

obediência dos indivíduos aos modelos e regras comunitárias. Encontra-se dividido em: 1. Controle social

formal: polícia, judiciário, administração penitenciária etc.; 2. Controle social informal: família, escola, igreja.

(FCC – TRT 15ª REGIÃO) Sobre a criminologia é INCORRETO afirmar:

A) estuda crimes socialmente relevantes, tendo interesse em estudar homicídios dolosos e roubos.

B) moderna tem como meta erradicar as causas do crime, pois desta forma também se estará

eliminando os seus efeitos

C) tem como um dos objetivos orientar a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes

socialmente relevantes

D) é uma ciência que trata do delito, do delinquente e da pena

E) é um conjunto de conhecimentos que estuda o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade

do delinquente e sua conduta delituosa, incluindo também a maneira de ressocializá-lo

Enrico Ferri, advogado, discípulo de Lombroso consagrado pai da sociologia criminal e pelo juiz de direito

Rafael Garófalo, que, na fase denominada jurídica, reconheceu e difundiu a criminologia como ciência diversa

do direito penal.

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(AUXILIAR DE NECROPSIA – VUNESP - PCSP) Dos autores a seguir, o que pertenceu à Escola Positiva da

criminologia e foi chamado de “discípulo de Lombroso” foi

a) James Wilson.

b) Hans Gross.

c) Francesco Carrara.

d) Enrico Ferri.

e) Giovanni Carmignani.

Ferri defendia também, a teoria dos “substitutivos penais”, pois para ele a pena, por si só, seria ineficaz,

se não viesse precedida ou acompanhada das oportunas reformas econômicas, sociais, etc., orientadas por

uma analise cientifica e etimológica do delito. Ele foi além dos estudos e conclusões de Lombroso (que focava

nos aspectos antropológicos do delinquente), defendendo a tese de que a delinquência decorria também de
fatores sociais e físicos (além dos fatores antropológicos).

Sendo assim, segundo Ferri, são causas do crime: Causas Antropológicas: organismo individual, psique,

idade, raça, sexo etc.; Causas Físicas: estações do ano, temperatura etc.; Causas Sociais: religião, família,

trabalho, círculo de amizade, opinião pública, densidade demográfica etc. Enrico Ferri foi o idealizador da

chamada Lei da Saturação Criminal!

(PAPILOSCOPISTA POLICIAL – VUNESP - PCSP) Este autor foi o criador da chamada “sociologia criminal”. Para

ele, a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Trata-se de

a) Francesco Carrara.

b) Cesare Lombroso.

c) Rafael Garófalo.

d) Enrico Ferri.

e) Franz von Lizst

Segundo Émile Durkheim os fatos sociais mostram a maneira de agir das pessoas pela influência que eles

exercem sobre elas

Os fatos sociais são conjuntos de hábitos pessoais, por meio de suas ações, que permitem a identificação de

uma consciência coletiva, a qual age por trás dos indivíduos, influenciando as suas ações de alguma maneira.

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A educação é um fenômeno sociológico que molda o indivíduo de acordo com a consciência coletiva.

O intuito da educação formal não é somente ensinar ao aluno as ciências, mas também a cultura e as normas

sociais esperadas de um indivíduo que vive em determinada sociedade, a fim de que ele consiga integrar-se

ao grupo social. A educação é um fato social.

Quando uma sociedade vê-se tomada pela criminalidade e pela violência, é possível dizer que há o efeito de

um fato social patológico, que foge da normalidade esperada por uma sociedade. A violência e a

criminalidade generalizadas são sintomas de uma patologia social.

O fato social doentio ou patológico é aquele que se desenvolve fora da norma, como uma doença. Ele é

perigoso, e quando atinge uma dimensão maior, pode afetar negativamente a sociedade. Os fatos sociais

patológicos podem ser, por exemplo, o homicídio, infanticídio, etc.

Há, segundo estudiosos, vários fatores sociais que podem desencadear a criminalidade, são eles:

✓ sistema econômico;

✓ pobreza;

✓ miséria;

✓ mal vivência;

✓ fome e desnutrição;

✓ civilização;

✓ cultura;

✓ educação; ✓ escola; ✓ analfabetismo; ✓ migração e imigração; ✓ política; ✓ etc.

A migração e a imigração sempre trazem consequências para a convivência social. Tanto para aqueles

que chegam, quantos para aqueles que já estão situados no lugar escolhido pelos imigrados e migrados.

Esse convívio pode gerar conflitos sociais, pois novos costumes, usos, valores e hábitos são trazidos para

dentro da nova coletividade escolhida. A dificuldade de absorver novos imigrantes e migrantes no mercado

de trabalho provoca o aumento da pobreza e da miséria, sendo fatores que desencadeiam a criminalidade.

A mobilidade de um grupo de pessoas de um país a outro, influi na criminalidade da segunda geração de

imigrantes, estatisticamente é maior nos filhos de pais de nacionalidades diferentes. Há um conflito de

cultura, pois são obrigados a viver duas vidas distintas: uma em casa e outra no trabalho, na rua ou na escola.

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Segundo estudos, as mulheres cometem menos crimes que os homens. Entretanto, quando delinque,

costuma ser mais cruel que o homem.

(Polícia Civil - SP - 2013 - Auxiliar de Papiloscopista Policial - VUNESP) Assinale a alternativa correta quanto

aos fatores condicionantes e desencadeantes da criminalidade.

A) A migração pode causar dificuldades de adaptação em face das diferenças culturais, hábitos e

valores, bem como um excedente de mão de obra, propiciando uma alta taxa de desemprego, o que

influencia na criminalidade.

B) O desrespeito entre as pessoas quanto a raça, cor, sexo e etnia não são fatores relevantes que propiciam

a criminalidade na sociedade.

C) O crescimento populacional ordenado ou planejado, a presença do poder público em todas as áreas sociais

e a educação de qualidade são fatores desencadeantes da criminalidade.

D) As condições desfavoráveis de habitação e moradia propiciam a promiscuidade, o desaparecimento de

valores, o desrespeito ao próximo e a baixa autoestima, portanto, não são fatores desencadeantes da

criminalidade.

E) A distribuição de renda adequada, a mão de obra qualificada e um sistema de ensino de qualidade

favorecem a criminalidade.

(2014 - VUNESP - PC-SP - Atendente de Necrotério Policial) A respeito dos fatores condicionantes e

desencadeantes da criminalidade, é correto afirmar que

A) apenas os jovens pobres cometem crimes, o que não é o caso dos jovens de classes sociais mais abastadas.

B) a desagregação familiar vivida por uma criança ou adolescente necessariamente o conduzirá a uma carreira

criminosa na vida adulta.

C) de acordo com as estatísticas, a mulher comete menos crimes que o homem.

D) não há qualquer constatação de aumento na prática de crimes em períodos de guerras ou revoluções.

E) a baixa produtividade escolar, o analfabetismo e o precoce abandono escolar são características raramente

observadas nos criminosos de classes sociais baixas.

(2014 - VUNESP - PC-SP) Pode-se citar como um dos fatores sociais desencadeantes da criminalidade:

A) as condições favoráveis de habitação ou moradia.

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B) o desemprego, no caso dos crimes do colarinho branco.

C) a migração, pela facilidade de adaptação em hábitos e culturas locais.

D) o crescimento populacional ordenado e planejado.

E) a pobreza, no caso dos crimes contra o patrimônio.

Mal vivência é classificado como fenômeno criminológico caracterizado por indivíduos considerados

parasitas sociais, ou seja, aqueles que vivem à margem da sociedade em situação vegetativa, como por

exemplo os mendigos.

(VUNESP - PC-SP) Entende-se por mal vivência:

A) o jovem que sai de casa antes de completar dezoito anos.

B) o grupo polimorfo de indivíduos que vivem à margem da sociedade.

C) a família que discute constantemente.

D) o homem que bate na mulher.

E) o filho que agride os pais.

Instituições sociais relacionadas com o crime: as Polícias, o Poder Judiciário, o Ministério Público, os

sistemas penitenciários etc

Controle social é o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e
garantir a submissão do indivíduo aos modelos e normas comunitários. O controle social se materializa por
meio de instâncias formais e informais. Agentes informais são a família, escola, profissão, opinião pública.
Agentes formais são a polícia, a justiça, a administração penitenciária.

O controle informal é o do dia-a-dia das pessoas dentro de suas famílias, escola, profissão, opinião pública
etc. O sistema informal vai socializando a pessoa desde a sua infância (ex: âmbito familiar), e ele é, em geral,
sutil e não possui uma pena, além de ser mais ágil na resolução dos conflitos que os mecanismos públicos.

O controle social formal é formado pelos órgãos estatais: polícia judiciária, Judiciário, Ministério
Público, Administração Penitenciária, etc. Os agentes do Estado atuam de forma subsidiária (ultima ratio),
quando o controle informal não foi capaz de evitar o crime.

O controle formal organiza-se em 3 seleções, conforme a função que desempenham:

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1ª seleção: Polícia judiciária (investigação)

2ª seleção: Ministério Público (acusação)

3ª seleção: Judiciário (julgamento)

(VUNESP)A polícia, o ministério público, o poder judiciário e o sistema penitenciário são instituições
encarregadas de exercer o controle social
a)primário
b)formal
c)informal
d)terciário
e)secundário

Em termos gerais, polícia é a atividade de vigiar, policiar. Muitos governos têm uma instituição policial

para aplicação de leis. Por extensão, o termo "polícia" é, também, utilizado para designar as corporações e as

pessoas que têm, como principal função, o exercício daquela atividade.

Polícia preventiva

A polícia preventiva constitui o ramo da polícia encarregado de prevenir a infração à lei, através
do patrulhamento ostensivo e da resposta a situações de emergência ou outros incidentes. Este ramo
também é conhecido por termos como "polícia administrativa", "polícia uniformizada", "polícia de segurança"
, "polícia de ordem" ou "polícia de bandidos"

Na maioria dos casos, os membros da polícia preventiva prestam serviço uniformizados de modo a serem
facilmente identificados como tal pelo público. Em termos de número de efetivos, a polícia preventiva
constitui normalmente o grosso dos serviços policiais de um país.

Polícia judiciária

A polícia judiciária destina-se essencialmente a investigar os crimes depois dos mesmos ocorrerem, com
o objetivo de descobrir os culpados e levá-los à justiça. Normalmente, atua depois de uma atuação inicial
por parte da polícia preventiva, a qual é geralmente encarregue de realizar a primeira resposta a um incidente.
Este ramo policial é também referido como "polícia de investigação criminal".

Ao contrário dos membros da polícia preventiva, os agentes da Polícia Judiciária não atuam normalmente
uniformizados, mas somente usam distintivos policiais e roupas que não caracterizam serviço policial, uma

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vez que, dada a natureza do trabalho de investigação, é conveniente uma atuação discreta e pouco
intimidante.

A polícia judiciária está muitas vezes incumbida de funções de recolha de informações, o que implica muitas
vezes a atuação de agentes infiltrados, que escondem a sua identidade policial.

Ministério Público

O Ministério Público (por vezes chamado também de Procuradoria-Geral, Ministério Fiscal e Promotoria
Geral) é um organismo público, geralmente estatal, ao que se atribui, dentro de um Estado de
direito democrático, a representação dos interesses da sociedade mediante o exercício das faculdades de
direção da investigação dos fatos que revestem os caracteres de delito, de proteção
às vítimas e testemunhas, e de titularidade e sustento da ação penal pública.

Da mesma forma, está encarregado de contribuir para o estabelecimento dos critérios da política
criminal ou da persecução penal dentro do Estado, à luz dos princípios orientadores do Direito
penal moderno (como o de mínima intervenção e de seletividade).

Por sua qualidade no procedimento e sua vinculação com os demais intervenientes no processo penal, é um
sujeito processual e parte no mesmo, por sustentar uma posição oposta ao imputado e exercer a ação penal
(em alguns países em forma monopólica). No entanto, é parte formal e não material, por carecer de interesse
parcial (como um simples particular) e por possuir uma parcialidade que encarna à coletividade (ao Estado)
e que exige, para tanto, que seja um fiel reflexo da máxima probidade e virtude cívica no exercício de suas
atribuições e no cumprimento de seus deveres.

Princípios de atuação

Dado o caráter de órgão público que possui o Ministério Público, suas atuações – desde as máximas
autoridades do mesmo até os agentes que o representam na cada caso – devem estar adequadas a certos
princípios básicos, próprios do Estado de direito, contidos na maioria das legislações, entre os que se
encontram os seguintes:

• Princípio da legalidade: rege como outro qualquer órgão público. Este tem as seguintes
manifestações, ao menos: a necessidade de perseguir todas e a cada uma das condutas delitivas,
e o respeito ao corpo completo das normas que conformam o ordenamento jurídico (tratados
internacionais, a Constituição, as leis, os regulamentos administrativos, etc.);

• Princípio da oportunidade: morigera a aplicação do princípio da legalidade, lhe permitindo não


iniciar uma persecução penal ou abandonar a já iniciada, sob certos parâmetros objetivos;

• Princípio da objetividade: consiste em que, no exercício de suas faculdades, deve adequar-se a


um critério objetivo, velando unicamente pela correta aplicação do Direito. Assim lhe é imposta a

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obrigação de investigar com igual zelo, não só os antecedentes que permitem sustentar a
persecução ou acusação, como também os antecedentes que permitam apoiar
a defesa do imputado ou acusado (isto é, o material rosário e a evidência brady, respectivamente,
do sistema estadunidense);

• Princípio da responsabilidade: constitui o equilíbrio necessário às importantes competências,


atribuições e faculdades que exerce. Em geral, seus servidores públicos são concebidos como
responsáveis civil, penal e administrativamente e o órgão, como civilmente responsável, pelas
atuações no exercício de suas funções;

• Princípio da indivisibilidade: no sentido de que a instituição é única e indivisível, já que


os procuradores e promotores atuam exclusivamente em seu nome. Isso obriga estes a atuar
como um só corpo, tanto na atuação material como nas decisões jurídicas que adotem,
por segurança jurídica;

• Princípio do respeito aos atos próprios: pelas expectativas legítimas que gera sua conduta, os
promotores, que o representam, devem respeitar seus atos próprios em juízo ou judiciais,
suas próprias instruções fiscais e ordens dos comandos superiores do Ministério Público em favor
dos cidadãos, em proteção da segurança jurídica. Isto implica a oponibilidade em favor dos
cidadãos, não na contramão, de ditos atos, instruções e ordens, sendo efetivos ante os tribunais
de justiça. A sanção da conduta em contrário dá-se, em geral, mediante uma solução processual:
a inadmissibilidade do meio, ação ou recurso processual.

Poder Judiciário

O Poder Judiciário é um dos três poderes do Estado moderno, porém não cabe atribuir
a Montesquieu a teoria da separação dos poderes que prevê o Judiciário como poder, afinal, no livro O
espírito das leis, Montesquieu escreve: "Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder legislativo, o
poder executivo das coisas que emendem do direito das gentes e o poder executivo daquelas que dependem
do direito civil". É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de julgar, de acordo com
as regras constitucionais e leis criadas pelo poder legislativo em determinado país.

Segundo a Constituição Federal Brasileira, em seu 2º artigo, são poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. No ranking de eficiência na justiça no mundo, o
Brasil ficou em 67ª posição.

A principal função do Poder Judiciário é defender os direitos de cada cidadão, promovendo a justiça e
resolvendo os prováveis conflitos que possam surgir na sociedade, através da investigação, apuração,
julgamento e punição.

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Eficiência do Judiciário

O Poder Judiciário brasileiro enfrenta problemas como a enorme quantidade de processos em tramitação,
onde para cada dois habitantes há um processo. Entre 2009 e 2016, os processos aumentaram 31%, sem
apresentação de tendência de redução futura. A maior parte do gasto com pessoal é destinado ao corpo de
servidores, assessores, terceirizados, cedidos e afins, não aos magistrados propriamente ditos. Embora os
magistrados sejam individualmente responsáveis por mais casos novos por ano no Brasil do que em outras
países do mundo, recebem o auxílio de uma força de trabalho significativamente maior para tanto.

Um delito de colarinho branco é aquele cometido por pessoa de posição social alta no exercício de suas
atribuições profissionais. Até os dias atuais este é o conceito utilizado por quem discute esta espécie de crime,
podendo haver algumas críticas, mas não houve quem conseguisse superá-lo, até porque poucos tentaram.

A “nova” Criminologia, sob o enfoque macrossociológico, analisando os sistemas penais vigentes, verifica
as condições estruturais e funcionais que, na sociedade capitalista, originam o fenômeno do desvio,
distinguindo claramente e criticando a diferenciação que existe no tratamento
das condutas das classes menos favorecidas e daquelas praticadas pelos detentores do capital, do
poder, inclusive a criminalidade de colarinho branco,

Sistema carcerário no Brasil

O sistema carcerário no Brasil é conhecido especialmente por suas deficiências, por exemplo, a
insalubridade e superlotação das celas, fatores que auxiliam na proliferação de epidemias e ao contágio de
doenças, dentre elas o HIV, uma vez que estima-se que cerca de 20% dos presos brasileiros sejam portadores
da doença. O sistema carcereiro brasileiro tem sido apontado por especialistas como o responsável pela
criação de criminosos no Brasil.

Em 2017 foi divulgado que o Brasil gasta cerca de 20 bilhões de reais por ano para manter os detentos nos
sistemas prisionais. No primeiro semestre de 2020, por exemplo, apenas o sistema penitenciário paulista
possuía cerca de 223 mil presos e 35 mil funcionários, que contava então com 176 penitenciárias e centros
espalhados pelo Estado.

Em 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU), através do Conselho de Direitos Humanos (UNHRC),
publicou um relatório com diversas críticas sobre o sistema carcerário brasileiro, com algumas delas

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dizendo que os presos são mantidos de formas "cruéis, desumanas ou degradantes". Em 2017, o Brasil
alcançou a terceira maior população carcerária do mundo, com prisões em estado de superlotação. Dados
do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), apontavam que os presídios
necessitavam de dobrar o número de vagas.

Presos sem condenação

Segundo o advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho, um dos fundadores do Instituto Direito de
Defesa (IDDD) e conselheiro da Human Rights Watch e da Ong Innocence Project Brasil:

“ O ponto número um é que o Brasil prende muito e prende mal. O ponto dois é que temos um
número elevadíssimo de presos provisórios que são aqueles presos que não tiveram condenação.
Cerca de 35% dos presos do sistema prisional é formada por pessoas que não foram condenadas
ainda.
(…)
Qual a necessidade de deixar presas pessoas que ainda não foram condenadas? É preciso analisar
caso a caso. Você também tem a questão de termos uma mentalidade punitivista grave no Brasil de
achar que a resposta para o aumento da criminalidade se dá apenas por prisão e não por penas
alternativas.
(…)
Essa é uma questão de mentalidade mesmo do legislador, da opinião pública e muitas vezes do
sistema judiciário de que essa é a única solução. E não é. Existem soluções mais baratas e eficazes
para combater e se punir crimes.

(...) O maior desafio do sistema carcerário é conseguir, além da punição, a ressocialização do detento
(...) [Em casos de crimes hediondos] Temos que ter a visão clara de que a vítima é sempre a vítima e o
agressor é e sempre será o agressor.

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Aumento da criminalidade no Brasil

Segundo o pesquisador Bruno Paes Manso, doutor em Ciência Política e integrante do NEV, o
encarceramento de pessoas em massa e a violência policial são responsáveis pela expansão das
gangues criminosas no Brasil:

Tudo isso que a gente vive hoje, essa situação que parece fora de controle, é um efeito desse erro
de estratégia de políticas públicas. Não adianta só prisão, endurecimento de penas e polícia
violenta nos bairros pobres. Isso produziu as gangues (...) Essa guerra produziu a frustração que
alimentou o discurso das gangues nas prisões lotadas para arregimentar jovens com raiva, dispostos
a bater de frente com o sistema que eles viam como violento, que os exterminava ou trancafiava nas
prisões.

Em maio 2019, o Estado de S. Paulo criticou o tratamento dos diferentes governos dado ao sistema
prisional brasileiro ao longo das décadas.

A relação entre a precariedade do sistema prisional e os problemas de segurança pública no Brasil é


clara e direta. Cadeias em que o crime organizado possui o controle são uma forma de
recrutamento e treinamento de mão de obra para o crime organizado. Não é possível combater
uma organização criminosa fora das cadeias sem acabar com o seu poder quase absoluto dentro do
cárcere.
O sistema prisional brasileiro é um deserto de novas ideias e práticas inovadoras. Os diferentes
governos insistem na mesma forma de pensar há décadas. A questão do trabalho do apenado é

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sempre colocada como uma das necessidades para se retirar os presos dos tentáculos do crime
organizado.

Classificação de tipos criminosos: criminoso nato; criminoso ocasional; criminoso habitual ou


profissional; criminoso passional; criminoso alienado; criminoso menor (delinquência juvenil); a
mulher criminosa

Enrico Ferri apresenta a classificação de criminosos como:

Criminoso nato: é o criminoso sórdido com deficiência do senso moral.

Criminoso ocasional: esse tipo de criminoso ocasionalmente pratica crimes, para Ferri, é o delito quem
procura o sujeito.

Criminoso habitual: esse tipo de criminoso faz do crime seu meio de vida, normalmente estes são
reincidentes na ação criminosa.

Criminoso passional: estes agem pelo impulso, durante o transtorno psíquico

Loucos: Criminosos: São pessoas que possuem doença mental que compromete completamente sua
autodeterminação. Em geral agem sozinhos, impulsivamente, sem premeditação ou remorso. Em face da lei
penal, são considerados inimputáveis.

A expressão menores infratores se refere aos menores situados abaixo da idade penal,
geralmente adolescentes, que praticam algum ato classificado como crime.

No Brasil, o termo "menores infratores" é de origem jurídica, e acabou ganhando amplo uso nos meios
de comunicação. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) , os crimes praticados por tais
menores são chamados de infrações ou “atos infracionais”, e as penalidades de medidas socioeducativas.

O ECA estabelece uma diferenciação entre crianças infratoras – definidas como indivíduos até os 12 anos de
idade incompletos – e adolescentes infratores, que são aqueles dos 12 aos 18 anos. Estes são julgados na
Vara dos Juizados da Infância e Juventude.

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Jovens infratores

As crianças infratoras estão sujeitas a medidas de proteção e não podem ser internadas. Segundo os artigos
101 e 105 do ECA, essas medidas incluem, entre outras:

• o encaminhamento aos pais;


• orientação;
• matrícula e frequência obrigatórias em escola da rede pública;
• inclusão em programa comunitário;
• requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico;
• inclusão em programa de tratamento de alcoólatras e toxicômanos;
• abrigo em entidade;

• colocação em família substituta.

Adolescentes infratores

Os adolescentes infratores estão sujeitos às medidas sócioeducativas listadas no Capítulo IV do ECA, entre
as quais está a internação forçada (detenção física) por um período de no máximo 3 (três) anos, conforme
artigo 121, § 3º, do referido Estatuto.

Esta limitação em três anos tem sido objeto de controvérsias e debates no campo da opinião pública,
inclusive entre políticos, e diversas propostas no sentido de se aumentar o tempo máximo de internação para
o adolescente infrator já foram apresentadas ou discutidas, geralmente como alternativa para a redução da
maioridade penal no Brasil.

Além da internação, outras possíveis medidas socioeducativas, listadas no artigo 112 do ECA, preveem:

• advertência – consiste na repreensão verbal e assinatura de um termo (art.115);

• obrigação de reparar o dano – caso o adolescente tenha condições financeiras (art.116);

• prestação de serviços à comunidade – tarefas gratuitas de interesse geral, junto a entidades,


hospitais, escolas etc., pelo tempo máximo de seis meses e até oito horas por semana (art.117);

• liberdade assistida – acompanhamento do infrator por um orientador, por no mínimo seis meses,
para supervisionar a promoção social do adolescente e de sua família; sua matrícula, frequência e
aproveitamento escolares; e sua profissionalização e inserção no mercado de trabalho (arts.118 e
119);

• regime de semiliberdade – sem prazo fixo, mas com liberação compulsória aos 21 anos, o regime
permite a realização de tarefas externas, sem precisar de autorização judicial; são obrigatórias a
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escolarização e a profissionalização; pode ser usado também como fase de transição entre a
medida de internação (regime fechado) e a liberdade completa (art.120).

Os menores infratores e a população carcerária do país.

Do total de 560 mil menores infratores e adultos criminosos no Brasil, 3,6%% são crianças e adolescentes
com menos de 18 anos que estão internados em estabelecimentos de correção ou cumprindo medidas
em regime de liberdade assistida.

Segundo dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos levantados pelo Globo, há 60 mil adolescentes
cumprindo medidas socioeducativas no Brasil, sendo 20 mil em regime de internação e os demais em regime
aberto. O Departamento Penitenciário Nacional registra 543 mil adultos presos no país.

A diferença está no tipo de punição. Entre os adultos há 159 mil presos em regime fechado — incluindo os
ainda não sentenciados, detidos em cadeias e presídios— e 97 mil em regime semiaberto ou aberto.

Entre os adolescentes infratores, a maioria cumpre as chamadas medidas de meio aberto: liberdade
assistida, prestação de serviços, reparação de danos ou apenas advertência. Mesmo entre os 20 mil
internos, há três mil em regime de semi-liberdade. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, cerca de 43%
desses adolescentes acabam se tornando reincidentes, ou seja, cometendo novos crimes ao deixar os
institutos. Com relação ao sistema prisional, a reincidência é de cerca de 70%.

São internados os adolescentes que cometem os crimes mais graves, como homicídio, latrocínio ou
assalto à mão armada. Nesses casos, de acordo com dados da subsecretaria, o tempo médio de
internação de adolescentes infratores é de um ano e meio.

A delinquência juvenil refere-se aos atos criminosos cometidos por menores de idade. Muitos países
possuem procedimentos legais e punições diferentes (no geral mais atenuados) aos delinquentes juvenis, em
relação a criminosos maiores de idade.

A delinquência juvenil, só pelo fato de ter como base os jovens, também vê-se como causas, o abandono
dos familiares. Os jovens por não encontrarem o que no seio familiar não têm, partem para a rua
procurando coisas que no qual irão se apoderar. Em alguns casos eles acabam por prejudicar a sociedade.

A mulher criminosa

O Brasil tinha uma característica particular por estar, na virada do século, saindo de uma sociedade escravista
para execução do projeto de "modernidade". De acordo com COSTA e SCHWARCZ (2000, p. 11/12), Não se
passa impunemente pelo fato de ter sido a última nação a abolir o cativeiro, já que até maio de 1888 era
possível garantir a posse de um homem por outro. Era difícil a convivência entre o projeto republicano - que,
recém-inaugurado em novembro de 1889, vendia uma imagem de modernidade - e a lembrança recente do

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sistema escravocrata, que levava à conformação de uma sociedade patriarcal, marcada pelas relações de
ordem pessoal, violenta e na qual vigorava um profundo preconceito em relação ao trabalho braçal O início
do século XX no Brasil é um período rico para o estudo da construção das relações sociais. No que diz respeito
à criminologia foi quando se deu a recepção das ideias positivistas que buscavam como principal objetivo
classificar os criminosos identificando os chamados estigmas atávicos. Nesse contexto, a mulher também
foi alvo de estudos e igualmente classificada. No campo psicanalíco, foi quando se deu a emergência do
discurso sobre a sexualidade. No campo social e religioso, foi o período em que o "ideal feminino" foi
fortalecido e delimitado com o apoio de políticas públicas, inclusive as sanitárias e eugênicas e quando o
movimento feminista aponta seus primeiros manifestos com figuras importantes como Patrícia Rehder
Galvão (1910-1962), mais conhecida como PAGU. É importante perceber também de que forma a
criminologia, com sua classificação de pessoas contribuiu para a deslegitimação do movimento feminista que
era representado por mulheres que romperam com os padrões de normalidade estabelecidos socialmente e
pela criminologia. As mulheres, ao longo da história, têm sido vítimas de uma armadilha social que as coloca
numa posição de fragilidade e de docilidade, características responsáveis por uma construção de um
estereótipo de pessoas menos capazes. Em matéria criminal, as mulheres também eram consideradas, fruto
da tão aclamada docilidade, muito menos capazes de cometer crimes que os homens e quando os cometia ,
seria sempre sob a influência de um homem ou por motivos de paixão . Essa suposta incapacidade para
o mundo do crime é um dos elementos que ajuda a fortalecer o universo feminino como inferior nos diversos
campos sociais. Segundo LIMA (2007:317,318), Parece que não é dado ao universo feminino o direito à
violência, somente podendo atingir seus fins maléficos com a malícia. Não lhes é permitida a prática de
condutas que demonstrem a capacidade de inverter o papel social de inferioridade que lhes é imposto, o uso
de violência por parte das mulheres choca, pois demonstra, em verdade, a equivalência dos seres na espécie
humana A criminalidade da mulher sempre foi vista em relação ao homem, da mesma forma ocorria com
relação ao comportamento criminoso. A docilidade "inerente" à mulher poderia ser responsável pelo
aumento da sua periculosidade e, ao mesmo tempo, pela dificuldade de determinar uma conduta
criminosa à mulher. Os mitos da santa e da puta permeavam nas determinações do comportamento
feminino. Segundo LIMA (1983: 37): Por ela ser mãe e esposa, é alvo de especial deferência da lei
masculina, e por ser ela um fato doméstico, encontra pouca oportunidade de agir criminalmente. Assim, sua
condição feminina age duplamente no sentido de garantir sua inocência e 'santidade'. Fica exposta a boa
face de Eva. Eva contem a Virgem Maria. No estudo da mulher criminosa, a beleza e a capacidade de sedução
eram constantemente evocadas para justificar a periculosidade e a capacidade de cometer determinados
delitos. Ou seja, no caso das mulheres, a depender do crime, associava-se a beleza ao perigo, uma vez que
as mulheres mais atraentes teriam uma capacidade muito maior de ludibriar e enganar pessoas. As
prostitutas eram consideradas parte de um grupo com o maior índice de criminosas, muito estudadas pelos
teóricos da época e muito temidas por grande parte da sociedade, sobretudo pelo seu poder de
"enganação" e sedução. Ainda segundo Lombroso (1980: 107) a mulher criminosa tem a aparência normal,
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diferente do homem criminoso, por isso a maior dificuldade em identificá-la. Outro tipo de criminosa é o
oposto da considerada mulher atraente, seria aquela com características físicas e comportamentais
masculinas. Ela seria perigosa então pela sua semelhança com o homem ou seja por ter rompido com o
padrão de comportamento tradicional feminino. Vê-se então que o chamado "desvio sexual", seja ele
quando a mulher apresentava comportamento masculino ou quando tinha uma erotização exacerbada
para os padrões sociais, representava um sinal de periculosidade . Segundo LIMA (1934:57): Não passara
desapercebido ao gênio fulgurante de Lombroso, quando estudou, magnificamente, a mulher criminosa, que
esta, embora encarcerada, excluída, por completo, do convívio social, não deixa nunca de encontrar
oportunidade para mostrar ao visitante, ao diretor do presidio, ou á sentinela de serviço, a madeixa mais
graciosa de sua cabeça

Na discussão sobre o perigo da mulher atraente e bela a figura da prostituta era sempre ressaltada e
estudada pelos teóricos criminais. O interessante é notar que as prostitutas eram normalmente estudadas
como uma categoria a parte das mulheres. Lombroso, por exemplo, pesquisava a presença dos estigmas
atávicos em grupos de mulheres e em grupos e prostitutas e sempre encontrava os maiores índices no
segundo. Não levava em consideração, no entanto, assim como não o fez no estudo do homem criminoso, a
carga de estigmas preconceituosos, a exclusão social que eram vítimas as prostitutas e sobretudo a
possibilidade da existência de outros comportamentos, inclusive sexuais que não seguissem os padrões
estabelecidos para as mulheres. Segundo ARAÚJO (2007:45): Das leis do Estado e da Igreja, com freqüência
bastante duras, à vigilância inquieta de pais, irmãos, tios, tutores, e à coerção informal, mas forte, de velhos
costumes misóginos, tudo confluía para o mesmo objetivo: abafar a sexualidade feminina que, ao rebentar
as amarras, ameaçava o equilíbrio doméstico, a segurança do grupo social e a própria ordem das instituições
civis e eclesiásticas A mulher tinha um conjunto de regras a serem seguidas para obedecer aos padrões
principalmente de esposa e mãe. A prostituta era vista como uma grande ameaça social porquanto
disseminava um modelo de liberdade e sexualidade que deveriam ser eliminados para evitar a
repetição por outras mulheres. De acordo com COSTA (2004:265)

A corrupção da moral feminina pela mulher perdida fazia-se, em primeiro lugar, pela exibição de seu
comportamento sexualmente descontrolado. Mantendo relações sexuais por dinheiro e entregando-se à
masturbação, à sodomia, e práticas antinaturais do gênero, a perdida era um manual vivo da forma anti-
higiênica de ser mulher A questão da criminalidade feminina era tão ligada à prostituição que,
sobretudo durante a virada do século XIX para o XX o controle penal era voltado com muito mais
ênfase para esse grupo de mulheres, restando para as demais o controle social e familiar. No Brasil, a
partir da década de 30, esse controle pode ser confirmado pela nova legislação penal e pelas características
das internas que frequentaram o primeiro cárcere de mulheres. De acordo com o Código Penal de 40,
estabeleceu-se o delito de Vadiagem, art. 59 "Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade sendo válido
para o trabalho sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria

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subsistência mediante ocupação ilícita". A pena prevista era de detenção de 15 dias a 3 meses. Em realidade,
apesar da prostituição não ser considerada crime, não era uma atividade lícita, razão pela qual era dada a
legitimidade ao Estado de prender as mulheres que estivesses exercendo a prostituição em razão do delito
de vadiagem. Nas décadas de 30 e 40 foi intenso, no Brasil, o combate à prostituição e a defesa dos ideais
femininos. Outro crime que vale a pena ser citado é o de Contágio Venéreo que se consuma "com o simples
fato da exposição a perigo de contágio". Pena de detenção de 3 meses a um ano ou multa. Não resta dúvidas
da relação desse crime com a atividade de prostituição, por essa razão, esses dois crimes foram os grandes
responsáveis pela entrada de mulheres, a maioria prostitutas, na penitenciária recém inaugurada. Segundo
Lemos de Brito, o ideólogo por excelência da prisão feminina (Lima, 1983:31), no relatório do Conselho
Penitenciário e da Inspetoria Geral Penitenciária (1942): A campanha contra os antros de prostituição levado
a cabo pelo Chefe de Polícia com apreciável energia (...) acabando por criar a necessidade de se por à
disposição dessa alta autoridade um local em que recolhessem as recalcitrantes ou aquelas que não tivessem
para onde ir, voltando o coronel Etchegoyen suas vistas para a Penitenciária de Mulheres recém inaugurada
em Bangu.

As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de


criminalidade

A criminalidade no Brasil é um problema persistente que atinge direta ou indiretamente a população. O


país tem níveis acima da média mundial no que se refere a crimes violentos, com níveis particularmente altos
no tocante a violência armada e homicídios. Em 2017, o Brasil alcançou a marca histórica de 63.880
homicídios. Isso equivale a uma taxa de 31.6 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das mais altas taxas
de homicídios intencionais do mundo. Em 2020 o país teve 43.892 homicídios e uma taxa de homicídios de
19.7 por 100 mil habitantes,[8] tendo caído desde 2017, o ano com maior número de homicídios já
registrado. O limite considerado como suportável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 10
homicídios por 100 mil habitantes.

Causas:

1.1Fatores socioeconômicos

1.2Infraestrutura precária

1.3Polícia e justiça

1.4Explosão demográfica

1.5Globalização

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A Constituição do Brasil estabelece 6 instituições policiais diferentes para a execução da lei: a Polícia
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, a Polícia Militar e a Polícia Civil do Estado e
agora as polícias penitenciarias. Todas as instituições policiais fazem parte do Poder Executivo de qualquer
um dos governos federal ou estadual.

Atividades para a redução da violência

COORDENAR INSTITUIÇÕES DA SEGURANÇA PÚBLICA EM NÍVEL FEDERAL E ESTADUAL

O quê? Articular Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, sistema
prisional, assistência social e prefeituras gera eficiência, assim como coordenar, numa instância nacional de
cooperação, agentes de segurança federais, estaduais e municipais.

Como? Por meio de lei que estabeleça instâncias e mecanismos de cooperação nacional e estaduais. Na falta
de uma lei, convênios poderiam ser estabelecidos dentro dos estados e entre eles;

INTEGRAR BANCOS DE DADOS E CRIAR INDICADORES E MÉTRICAS PARA AVALIAÇÃO DE


PROGRAMAS E POLÍTICAS

Criar sistemas nacionais de dados sobre os crimes e seus autores, sobre a circulação de armas e sobre
características balísticas dos disparos facilita o trabalho policial e a elaboração de políticas pública baseadas
em evidências. Um instituto nacional, a exemplo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), que padronize registros e integre dados, facilitaria essa gestão.

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CRIAR SISTEMA DE METAS DE ELUCIDAÇÃO DE CRIMES VIOLENTOS POR ESTADO

Incentivar o incremento da baixa taxa de elucidação de homicídios do Brasil (15% em média) pode reverter a
sensação de impunidade e a desconfiança em relação às instituições de segurança pública. Fixar critérios de
repasses de verbas federais tendo indicadores e metas como contrapartida é um dos caminhos possíveis.

CAPACITAR AS POLÍCIAS PARA A GESTÃO DE INFORMAÇÃO E ANÁLISE CRIMINAL E VOLTÁ-LAS PARA


RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

A formação policial hoje no país é desigual, assim como o uso de dados para orientação dos trabalhos e de
tecnologia para facilitá-lo. Há casos em que existem instrumentos disponíveis, mas ninguém sabe operá-los

IMPLEMENTAR POLÍTICAS PARA JUVENTUDE, REDUZIR A EVASÃO ESCOLAR E DIMINUIR


VULNERABILIDADES

Jovens pobres e negros são as principais vítimas de homicídios, mas também maioria entre os presos.
Políticas sociais voltadas para os jovens, com foco na redução da evasão escolar, têm se provado eficazes na
reversão desse quadro. Investimento em educação e redução das desigualdades, mesmo no longo prazo, é
considerado redutor da criminalidade.

Estados e municípios investem em estratégias de prevenção da evasão escolar e de recuperação de jovens


que abandonaram a escola, além de criar programas de acompanhamento de jovens tidos como
problemáticos e daqueles egressos do sistema de medidas socioeducativas.

APLICAR PENAS ALTERNATIVAS E RESERVAR PRISÃO PARA OS CRIMES VIOLENTOS

É crescente o entendimento de que prisão deve ser reservada a criminosos violentos. Delitos menos
graves, como furtos ou pequeno tráfico de drogas, podem ser punidos com penas alternativas, como
prestação de serviços comunitários.

União e estados investem em sistemas de monitoramento eletrônico e em sua fiscalização, e Conselho


Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público definem regras para a implementação dessas
medidas cautelares e para sua fiscalização, formando redes de ONGs e empresas que acolham estes serviços
prestados.

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ELIMINAR SUBJETIVIDADE NA APLICAÇÃO DA LEI DE DROGAS

Por não estabelecer quantidades para diferenciar uso de tráfico, a Lei de Drogas aumentou a condenação
por tráfico, inclusive de usuários. Mais complexa é a discussão sobre a legalização progressiva das drogas,
iniciada em unidades federativas dos EUA, no Uruguai e no Canadá. Embora vozes de peso levantem o tema,
as circunstâncias políticas trabalham para interditá-lo no Brasil.

ELEVAÇÃO DE PENAS PARA CRIMES VIOLENTOS E REDUÇÃO DE SUA PROGRESSÃO DE REGIME

O simples aumento de penas tem pouco ou nenhum efeito sobre a criminalidade. É a certeza de punição
que torna a prática do crime um mau negócio. No entanto, penas muito baixas e excesso de atenuantes
podem ter impacto negativo se contribuírem para a sensação de impunidade.

ELABORAR E IMPLEMENTAR PROTOCOLOS DE USO DA FORÇA PARA AS POLÍCIAS COM METAS E


MECANISMOS DE AVALIAÇÃO

O uso excessivo da força letal promove o contexto de guerra entre policiais e criminosos, vitimando
ambos. Em 2014, a polícia britânica matou 1 pessoa; a sul-africana, 331; a norte-americana, 1.000; a brasileira,
3.022. Programas que retiram das ruas policiais envolvidos em trocas de tiros e oferecem assistência
psicológica já se mostraram eficazes.

Como? As próprias polícias precisam criar esses protocolos e o Ministério Público deve fiscalizar seu
cumprimento

EFETIVAR O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO E POR


INSTÂNCIA FEDERAL

O MP é responsável constitucional pelo controle externo das polícias e precisa criar comissões para
efetivar essa função, com foco na letalidade e na corrupção policiais. Na esfera nacional, uma inspetoria civil
para fiscalizar as polícias e uma ouvidoria melhorariam este controle.

O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime


organizado
Diuturnamente, a criminalidade de massa afeta a vida do cidadão comum, através de inúmeras infrações
perpetradas por criminosos que, não necessariamente, possuem vínculos organizacionais com facções ou
associações criminosas.

Criminalidade de massa compreende assaltos, invasões de apartamentos, estelionatos, roubos e outros tipos
de violência contra os mais fracos e oprimidos. Esta criminalidade afeta diretamente a toda a coletividade,

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quer como vítimas reais, quer como vítimas potenciais. Os efeitos desta forma de criminalidade são violentos
e imediatos: não são apenas econômicos ou físicos, mas atingem o equilíbrio emocional da população e
geram uma sensação de insegurança. A definição conhecida de criminalidade organizada é
extremamente abrangente e vaga, e ao invés de definir um objeto, aponta uma direção.

Narcotráfico

Narcotráfico ou tráfico de drogas é o comércio de substâncias consideradas ilícitas pela maioria dos

governos.

O mandado de criminalização presente no artigo quinto, inciso XLIII da Constituição Federal de 1988[1] dá
um comando para que o Poder Legislativo crie lei(s) criminalizando o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins e considerando-o inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Em outras palavras, o
ordenamento jurídico equipara o tráfico de drogas a crime hediondo.

A lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas -
SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, ao social de usuários e dependentes de drogas,
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, define crimes e
dá outras providências. No parágrafo único do seu primeiro artigo, vê-se que as partes penais da lei
constituem normas penais em branco. Isso porque a definição do que é "droga" depende de especificações
legais ou de "listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União". As drogas ilícitas estão
atualmente listadas na Portaria 344 de 1998 do Ministério da Saúde.

O tráfico internacional de drogas, em alta escala, começou a expandir-se a partir da década de 1970, tendo
tido o seu ápice na década de 1980. Esse desenvolvimento está estreitamente ligado à crise econômica
mundial. O narcotráfico determina as economias dos países produtores de cocaína, cujos principais produtos
de exportação têm sofrido sucessivas quedas em seus preços (ainda que a maior parte dos lucros não fique
nesses países) e, ao mesmo tempo, favorece principalmente o sistema financeiro mundial. O dinheiro
oriundo da droga corresponde à lógica do sistema financeiro, que é eminentemente especulativo. Este
necessita, cada vez mais, de capital "livre" para girar, e o tráfico de drogas promove o "aparecimento
mágico" desse capital que se acumula muito rápido e se move velozmente.

O narcotráfico é produzido em escala global, desde o cultivo em países subdesenvolvidos até seu consumo,
principalmente nos países ocidentais, nos quais o produto final atinge um alto valor no mercado negro.

O tráfico surge da ilegalidade das drogas e a mesma ilegalidade acarreta importantes consequências
sociais: crime, violência, corrupção, marginalidade, além de taxas maiores de intoxicação por produtos
químicos adulterantes dos entorpecentes, etc. As penas oriundas da repressão às drogas são mais danosos
que os efeitos das drogas em si. Vários países possuem experiências bem sucedidas no âmbito da

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descriminalização/legalização de drogas leves. Cada vez mais países adotam posturas liberais para driblar os
danos causados pela ilegalidade das drogas.

Em muitos países, inclusive no Brasil, existem movimentos sociais pró-legalização da cannabis sativa,
uma substância declarada ilícita pelas leis do país. A Marcha da Maconha é um exemplo disso, pessoas
de vários lugares do país vão para as ruas gritar, buzinar, mostrar cartazes e ensinar a respeito da maconha,
mostrando o lado do usuário de drogas.

A maioria dos entorpecentes são produzidos em países da América do Sul, do Sudeste Asiático e

do Oriente Médio, entrando nos países consumidores através de contrabando. Tradicionalmente,

os Estados Unidos, o México , a União Europeia, o Japão e especialmente Singapura (onde o tráfico e o

consumo de drogas são punidos com a morte) têm imposto uma política de tolerância zero aos países

produtores. Entretanto, em muitos desses países, a cultura de coca, e maconha é uma importante fonte de

subsistência, à qual não estão dispostos a abdicar. Por outro lado, substâncias psicotrópicas como o LSD,

as anfetaminas e outras substâncias sintéticas como o ecstasy são produzidas em países desenvolvidos.

O Narcotráfico arrecada por ano em todo o mundo $ 900 Bilhões de dólares. Estudo efetuado pela Secretaria
de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, efetuado em dezembro de 2008, estimou que o tráfico de drogas

no Rio de Janeiro (maconha, cocaína e crack) fatura entre 316 e 633 milhões de reais por ano, mas lucra algo

em torno de 130 milhões, sendo menos rentável do que aparenta. Entre os altos custos suportados pelos

traficantes, estão o de logística de fornecimento e autoproteção e as perdas decorrentes das apreensões

policiais. Além dos gastos com mão de obra, haveria gastos entre 121 e 218 milhões de reais por ano com a

reposição de armas e a compra de produtos.

Terrorismo

Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou
instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter
efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do
território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como
organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.

Segundo especialistas da área, existem centenas de definições da palavra terrorismo. A inexistência de


um conceito amplamente aceito pela comunidade internacional e pelos estudiosos do tema significa que o
terrorismo não é um fenômeno entendido da mesma forma, por todos os indivíduos, independentemente
do contexto histórico, geográfico, social e político. Segundo Walter Laqueur.

Ações terroristas típicas incluem assassinatos, sequestros, explosões de bombas, matanças


indiscriminadas, raptos, aparelhamento e linchamentos. É uma estratégia política e não militar, e é levada

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a cabo por grupos que não são fortes o suficiente para efetuar ataques abertos, sendo utilizada em época de
paz, conflito e guerra. A intenção mais comum do terrorismo é causar um estado de medo na população ou
em setores específicos da população, com o objetivo de provocar num inimigo (ou seu governo) uma
mudança de comportamento.

Podemos, assim, dar as seguintes definições sucintas de terrorismo:[carece de fontes]

1. Terrorismo físico - Uso de violência, assassinato e tortura para impor seus interesses;

2. Terrorismo psicológico - Indução do medo por meio da divulgação de noticias em


benefício próprio (ver: guerra psicológica);

3. Terrorismo de Estado - Recurso usado por governos ou grupos para manipular uma
população conforme seus interesses;

4. Terrorismo econômico - Subjugar economicamente uma população por


conveniência própria (ver: embargo econômico);

5. Terrorismo religioso - Quando o incentivo do terrorismo vem de alguma religião


(ver: Terrorismo cristão e Terrorismo Islâmico).

Segundo Baudrillard, os atentados de 11 de setembro de 2001 foram "um ato fundador do novo século, um
acontecimento simbólico de imensa importância porque de certa forma consagrou o império mundial e sua
banalidade. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas introduziram uma forma alternativa de violência
que se dissemina em alta velocidade. A nova modalidade está gerando uma visão de realidade que o homem
desconhecia. O terrorismo funda o admirável mundo novo. Bom ou mau, é o que há de novo em filosofia. O
terrorismo está alterando a realidade e a visão de mundo. Para lidar com um fato de tamanha envergadura,
precisamos assimilar suas lições por meio do pensamento.

Entretanto o uso sistemático de terror como recurso de controle social e político tem acompanhado a
humanidade por milênios. O historiador Xenofonte (430-349 a.C.) conta que o terrorismo era praticado
pelos governos das Pólis (cidades-Estado gregas) como forma de guerra psicológica contra populações
inimigas. Também semearam o terror os imperadores romanos Tibério e Calígula, os membros da Santa
Inquisição, Robespierre e seus adeptos, os integrantes da Ku Klux Klan, as milícias nazistas e muitos outros.

Segundo a advogada Luciana Worms, os conceitos de terrorismo usados no Brasil são pautados
pela Organização dos Estados Americanos (OEA). A partir desse viés, no passado, durante a Guerra Fria, o
terrorista podia ser um comunista (luta armada); atualmente, é um jihadista (terrorista islâmico) ou membro
de uma organização de narcotráfico (narcoterrorista). Segundo Worms, ações bárbaras, que resultem
em assassinato em massa, nem sempre são consideradas como atos de terrorismo: a União Nacional para a
Independência Total de Angola (UNITA), organização aliada dos Estados Unidos, apesar de ter
plantado minas terrestres no país, nunca foi qualificada como terrorista. Do mesmo modo, segundo a

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professora, Baruch Goldstein - um fanático judeu que, nos anos 1990, invadiu uma mesquita e matou
27 muçulmanos que estavam rezando - não foi classificado como terrorista mas como louco, pelo governo
de Israel.

Crime organizado

Crime organizado ou organização criminosa são termos que caracterizam grupos transnacionais, nacionais
ou locais altamente centralizados e geridos por criminosos, que pretendem se envolver em atividades
ilegais, geralmente com o objetivo de lucro monetário. Algumas organizações criminosas, tais
como organizações terroristas, são motivadas politicamente. Às vezes, essas organizações forçam as pessoas
a estabelecer negócios com elas, como quando uma quadrilha extorque dinheiro de comerciantes por
"proteção".[1]

Outros tipos de organizações — incluindo Estados, militares, forças policiais e empresas — podem, por vezes,
usar métodos do crime organizado para alcançar seus interesses, mas seus poderes derivam de sua condição
de instituições sociais formais. Há uma tendência para distinguir o crime organizado de outras formas
de crimes, como crimes financeiros, políticos, de guerra, governamentais, entre outros. Esta distinção nem
sempre é evidente e ainda há debate acadêmico sobre o assunto. Por exemplo, em Estados falidos, que não
podem mais realizar funções sociais básicas, como infraestrutura, educação ou segurança — geralmente
devido a grupos rebeldes ou extrema pobreza — o crime organizado, a governança e a guerra são muitas
vezes fatores complementares entre si. O termo "mafiocracia parlamentar" é muitas vezes atribuído a
países democráticos cujas instituições políticas, sociais e econômicas estão sob o controle de poucas famílias
e/ou oligarquias empresariais.

Nos Estados Unidos, a Lei de Controle do Crime Organizado (1970) define o crime organizado como
"atividades ilegais de [...] uma associação altamente organizada e disciplinada [...]". No Reino Unido, a
polícia estima que o crime organizado envolva até 38 mil pessoas que operam em mais de seis mil
grupos. Além disso, devido à escalada de violência da guerra contra o narcotráfico no México,
os cartéis locais são considerados a "maior ameaça do crime organizado para os Estados Unidos", de acordo
com um relatório divulgado pelo Departamento de Justiça norte-americano.[6] No Brasil, a maior
organização criminosa é o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua principalmente no estado de São
Paulo.[7]

Em cada país as facções do crime organizado costumam receber um nome próprio. Assim costuma-se
chamar de Máfia (aportuguesamento do italiano maffia) ao crime organizado italiano e ítalo-
americano; Tríade ao chinês; Yakuza ao japonês; Cartel ao colombiano e mexicano e Bratva ao russo e
ucraniano. A versão brasileira mais próxima disso são os Comandos e/ou Falanges, facções criminosas
sustentadas pelo tráfico de drogas, sequestros e comércio de automóveis roubados seja através de esquema

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de exportação/importação ou comércio de sua peças em lojas de sucata socialmente reconhecidas e
valorizadas.

Juridicamente falamos do crime de formação de quadrilha seja qual for a atividade à qual o crime organizado
se dedique. Uma importante observação, baseada em pesquisas empíricas realizadas na Europa (Ruggiero,
2008 [8]) é que os mercados de ilícitos, que sustentam tais atividades criminosas, são relativamente
intercambiáveis e praticados por distintos grupos como normas éticas próprias. Por exemplo,
algumas prostitutas vendem drogas mas não se permitem práticas que consideram antinaturais, vendedores
de roupas de marca falsificas comercializam filmes pornográficos excluindo pedofilia, ou não, vendedores de
armas não incluem bebidas e cigarros contrabandeados no seu comércio, etc. Segundo esse autor em várias
cidades europeias as atividades criminais, inclusive, mesclam-se com a atividade econômica regular.

Outra característica desse fenômeno social é que esses grupos, sempre enfrentarão, além do combate
das forças policiais de sua região de atuação, a oposição de outras facções ilegais . Para manter suas
ações ilícitas, os membros de organizações criminosas armam-se pesadamente, logo pode-se dizer que as
armas – e os assassinatos – são o sustentáculo do crime organizado. Entretanto, os maiores instrumentos das
organizações criminosas é a ocultação de informações sobre suas atividades. Para tanto, elas contam com
destruições de provas, subornos, falhas nos sistemas de segurança etc, Nesse sentido suas ações se
assemelham aos processos revolucionários subversivos sendo que completamente desprovido das nobres
ideais de combate a miséria construção de um mundo melhor ideias Segundo Lyndon Johnson o crime
organizado não é nada mais do que uma guerra de guerrilha contra a sociedade.

As teorias que aproximam o banditismo social do como proposto por Eric Hobsbawm à ausência e/ou
ineficiência da burocracia administrativa do estado (leia-se políticas públicas) analisando as formações
históricas onde conviveram os bandidos reais ou imaginários que estudou, tais como: Robin
Hood, Lampião, Pancho Villa e outros, no seu livro Bandidos[9] decerto encontra na concentração de
renda e estrutura de classes o cerne da explicação da persistência dessas formas de organização social e
crescimento da criminalidade simultaneamente à produção de riquezas nos distintos países onde essas
organizações internacionais atuam.

Muitas organizações surgem de oportunidades geradas pelas sociedades em termos de poder e lucro.
Sua constituição inicial pode derivar de qualquer membro da sociedade. Pode se estruturar hierarquicamente
e se associar com vários setores como nos meios políticos, forças armadas, comunicação, financeiro etc.
Podem também exercer influências em fenômenos como guerras, fome, "dívidas" e eleições públicas. O
modelo que essa organização assume tem sido objeto da psicologia social desde as origens
da criminologia enquanto ciência do final do séc. XIX, tais modelos explicativos somente dão conta do
processo de aliciamento e de alguns aspectos de sua lógica para-militar contudo somente uma abordagem
sócio-econômica pode elucidar suas raízes e alvo de combate: o lucro fácil e sem escrúpulos.

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A teoria econômica do crime proposta a partir dos estudos de Gary Becker prêmio Nobel de Economia (1992)
por seus estudos sobre análise econômica do comportamento nos permite supor que os indivíduos optam
pelo delito caso em que o retorno esperado seja maior que o custo associado à escolha onde a
associação criminosa diminui os riscos desse custo e/ou os custos desse risco favorecido pela impunidade e
esta por sua vez determinada pela corrupção política.

Pinheiro, em sua avaliação de instituições encarregadas do controle da violência como a Polícia, o Judiciário
e o Ministério Público, revela uma grande inconsistência entre o desempenho dessas instituições na controle
do crime e os resultados esperados o que, segundo ele inclusive compromete a estabilidade das democracias
latino-americanas que por não conseguirem controlar a polícia faz com que persistam as práticas abusivas
contra suspeitos e prisioneiros e as formas autoritárias que mantiveram as iniquidades sociais nesses países.
Como exemplo aponta os índices de criminalidade crescente (homicídios sobretudo) e a incapacidade dos
judiciários latino-americanos de investigarem e processarem os responsáveis por graves violações de direitos
humanos é o exemplo da incompetência do sistema legal dessa região. Segundo esse autor no Brasil, o
sistema da justiça criminal não investigou e nem processou numerosos casos de violência rural contra os
pobres. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os 1.730 casos de assassinatos de trabalhadores
rurais, de líderes sindicais e religiosos e de advogados, entre 1964 e 1992, apenas 30 tinham ido à julgamento
em 1992 e, dentre eles, só 18 foram condenados. No Chile, nem sequer um dos 1.542 casos dos sindicalistas
assassinados foi processado até 1986. Por todo o continente prevalece a impunidade para aqueles que são
considerados “indesejáveis” ou “sub-humanos”.

Segundo Santos existem dois discursos sobre crime organizado estruturados nos polos americano e europeu
do sistema capitalista globalizado: o discurso americano sobre crime organizado, definido como conspiração
nacional de etnias estrangeiras, e o discurso italiano sobre crimine organizzato, que tem por objeto de estudo
original a Máfia siciliana. Ainda segundo esse autor a expressão organize crime tem origem
na criminologia americana para designar os fenômenos delituosos atribuídos às organizações criminosas
formadas em consequência da “lei seca” (Volstead Act) tais atividades bem como sua lógica explicativa estão
permeadas dos conceitos de subcultura e guerras étnicas da formação do estado americano. Ainda esse autor
contrapondo os estudos italianos, do crimine organizzato, situa estes no plano de análise da luta de
classes ao propor que as organizações italianas de tipo mafioso eram originalmente dirigidas à repressão de
camponeses em luta contra o latifúndio, donde teriam evoluído para empreendimentos urbanos, atuando na
áreas lícitas e ilícitas simultaneamente, articulando-se com o poder estabelecido (de onde tem origem)
assumido progressivamente, características financeiro-empresariais e inserção no circuito social político,
(religioso) financeiro internacional para lavagem do dinheiro ilícito.

"Apesar de haver muitos estudos sobre violência urbana e outros aspectos criminais, como serial killers,
roubos, assassinatos, corrupção e estupro, as pesquisas sobre como o Crime Organizado é estruturado, como
funciona ou como se dão suas conexões são muito poucas e, na vasta maioria, baseadas quase que

28
integralmente em literatura estrangeira — mesmo com uma atividade enorme de gangues e do Crime
Organizado, que poderiam ser um campo gigante de pesquisas. Além disso, a maioria desses estudos estão
concentrados na área do Direito, que, por sua vez, discute os procedimentos legais, não trazendo grande
esclarecimento ao que realmente é Crime Organizado no Brasil, e sequer chegando perto de um
entendimento da realidade. Também, se há poucos estudos sobre Crime Organizado no contexto brasileiro,
há ainda menos pesquisas de caráter sociológico, porque a maioria dos pesquisadores, como anteriormente
observado, usam referências estrangeiras e notícias como fontes primárias (e às vezes exclusivas) de pesquisa.
Há raros casos de pesquisadores que saíram a campo para elaborar pesquisas empíricas sobre o tema —
ousamos dizer que isso é quase que tecnicamente inexistente no Brasil."

Albanese:

• hierarquia organizada;
• lucro racionalizado por meio do crime;
• uso da força ou da ameaça;
• manutenção de sua imunidade por meio da corrupção;
• demanda pública por seus serviços;
• monopólio de mercado em particular;
• associação restrita;
• falta de ideologia;
• especialização;
• algum código secreto.

O crime como fenômeno isolado: estudo do homicídio

• O Crime organizado é responsável por 19% dos homicídios


• As taxas de homicídio variam muito nas regiões
• A maioria das vítimas de homicídio são homens, mas as mulheres são mais frequentemente assassinadas
por seus parceiros ou membros da família

29
Pensamos o crime de homicídio como um dos que mais violência impinge à vítima, além de ser um
dos crimes que impossibilite ao agressor qualquer tipo de tentativa de reparação. O homicídio é, em
suma, um atentado contra o valor culturalmente elevado ao topo da pirâmide axiológica pela sociedade
contemporânea, tanto sob o aspecto social, quanto sob o prisma moral, que é o valor da vida.

Segundo La Taille (2002b), a palavra moral vem do latim (moris), ao passo que a palavra ética vem do grego
(êthos), ambas se referindo, no entanto, aos costumes. Ao discutir essa questão, o autor ressalta a
diferenciação que Aristóteles faz entre os significados de moral e ética. No primeiro caso, moral, temos um
conjunto de regras que implicam obrigações, ou seja, um conjunto de deveres que são incondicionais e que
restringem a liberdade, como, por exemplo, a regra de não matar. Dessa forma, as regras são impostas aos
sujeitos. Já no caso da ética, vemos que há uma ligação com a moral, mas o sujeito posicionar-se-á em função
de um ideal, de um projeto próprio ou daquilo que considerar desejável para si mesmo e, nesse sentido,
deixa de ter um caráter de imposição. É o que ocorre, por exemplo, quando se questiona a respeito do próprio
modo de viver ou ainda do tipo de vida que vale a pena.

Sabemos que nem todos os valores são morais, como o dinheiro, a beleza e o agir pela honra, por exemplo,
e sabemos também que entre os valores morais (justiça, honestidade, fidelidade, respeito à vida, etc.), nem
todos passam a fazer parte de nosso universo moral.

Um exemplo que ilustra a situação de agir pela honra seria o caso no qual um sujeito cometesse um
homicídio porque sofreu uma agressão física e entendesse que, se não matasse seu agressor, poderia
ser desvalorizado como homem. Assim, o sujeito teria agido pela honra, sendo que o valor que estaria
associado e que o teria motivado à sua ação não teria tido um caráter moral.

30
Homicídio (do latim hominis excidium) é o ato que consiste em uma pessoa matar a outra. O homicídio
pode ser dividido em diferentes subcategorias, como o infanticídio, a eutanásia, a pena de morte e a legítima
defesa; que dependem da circunstância em que ocorreu a morte. Estas espécies de homicídio são tratadas
diferentemente entre as sociedades, que considera crime a maioria delas. No entanto, o homicídio pode
deixar de ser punido, por exemplo nos casos excludentes de ilicitude e culpabilidade como por exemplo o
estado de necessidade e a legítima defesa; ou até mesmo ser incentivado e ordenado pelo Estado, no caso
da pena de morte.

Inegavelmente, o homicídio doloso é a mais chocante violação do senso moral médio da humanidade
civilizada, segundo ensina Nelson Hungria. Conforme lembra o mesmo, mencionando a definição de
Carmignani, caracteriza-se pela "violenta hominis caedes ab hominis injuste patrata", ocisão violenta de um
homem injustamente praticada por outro homem (vale lembrar que alguns homicídios são "justos" do ponto
de vista legal, por exemplo, se decorrente de defesa pessoal).

Homicídio é a morte de um homem provocada por outro homem. É a eliminação da vida de uma pessoa
praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência. “Como dizia Impallomeni, todos os direitos partem
do direito de viver, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos bens é o bem vida. O homicídio tem a
primazia entre os crimes mais graves, pois é o atentado contra a fonte mesma da ordem e segurança geral,
sabendo-se que todos os bens públicos e privados, todas as instituições se fundam sobre o respeito à
existência dos indivíduos que compõem o agregado social”.

Ademais, a Constituição da República, tanto a portuguesa quanto a Brasileira, insere o Direito a proteção do
Direito à vida como um dos fundamentos do Estado de Direito. Dessa forma o poder público tem como
dever primordial proteger este direito.

O Sujeito ativo deste delito é sempre uma pessoa física, trata-se de crime comum, o qual pode ser praticado
por qualquer pessoa.[3] As pessoa jurídica (fundações e corporações) ou um objeto jamais poderão ser
punidos por homicídio de acordo com a legislação brasileira, assim também como com a portuguesa.

Ninguém poderá ser condenado como incurso nas sanções do artigo 121/CPB quando for o
responsável por matar um animal ou tirar qualquer outro tipo de vida por falta de tipicidade.

O dolo do tipo consiste duma vontade livre e consciente ao passo que o culposo ocorre quando se tem
a responsabilidade mas não a intenção de matar. Não comete um homicídio, por exemplo, o agente que
mata outrem com o fim de subtrair seus pertences (no caso, comete um latrocínio).

31
Pode ser levado a efeito tanto com uma ação, como por uma omissão (ex: deixar de alimentar o filho,
causando-lhe a morte). No primeiro caso, classifica-se como crime comissivo; no último, como omissivo
impróprio. Também pode ser realizado de forma direta ou indireta e usando meio físico ou psíquico.

O bem jurídico protegido é a vida humana extrauterina. Evidentemente o conceito de vida e morte variam
de acordo com as descobertas da Medicina e a posição filosófica dominante. Atualmente, o Brasil considera
como morto aquele que não mais apresenta atividade cerebral, a chamada morte encefálica, não mais
prevalecendo a antiga noção que estaria configurado o quadro morte com a parada cardíaca ou
respiratória.

A morte não se presume, particularmente porque o homicídio é um crime material, ou seja, crime que
exige o exame de corpo de delito.

Embora a regra é pela não presunção da morte, casos há em que a prova se torna de difícil execução, razão
pela qual o próprio código de processo penal, estabelece no artigo 167, "Não sendo possível o exame de
corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta". Há
casos em que o corpo pode não ser localizado, em virtude de ter sido o crime cometido com a ocultação do
cadáver, para dificultar a investigação. Dessa forma o Juiz deverá avaliar as provas carreadas nos autos, e
tendo convicção de que houve o homicídio, poderá julgar o homicídio.

Homicídio simples

Será simples todo homicídio que não for qualificado ou privilegiado, ou seja, que é cometido buscando o
resultado morte, sem qualquer agravante no crime. Um homicídio cometido pelas costas da vitima ou com
ela dormindo, por exemplo, deixa de ser simples, por não ter sido dado a ela chance de defesa.

Causas de aumento de pena

No Direito Penal Brasileiro, é causa de aumento de pena se a vítima for menor de 14 anos de idade ou
maior de 60 anos de idade, conforme estipulações do ECA e do Estatuto do idoso, respectivamente. Critica-
se o termo menor pela sua imprecisão terminológica, sendo que a legislação deveria adotar o termo "não
mais de 14 anos" para delimitar, em respeito ao princípio da tipicidade, o momento inicial da aplicação desta
qualificadora.

Homicídio qualificado

O Homicídio em sua forma qualificada é o crime com a maior pena (12 a 30 anos) no direito penal brasileiro
e é considerado hediondo (juntamente com o homicídio praticado em grupo de extermínio) inserindo-se
no mesmo rol em que se encontram o estupro, o latrocínio, a extorsão mediante sequestro, etc.. Está previsto
no § 2º do art. 121 do Código Penal brasileiro.

São estes os elementos que qualificam o homicídio:

32
• cometer o crime mediante paga ou promessa de recompensa, o chamado assassínio ou
homicídio mercenário. A recompensa não precisa ser real ou financeira (corrente minoritária). Para
a corrente majoritária, essa promessa de recompensa deve ter caráter econômico e, mesmo que
não seja efetivada, o homicídio permanece qualificado, pois o que importa é a motivação do
crime;

• cometer o crime por motivo torpe;

• cometer o crime por motivo fútil, que caracteriza-se pelo homicídio como resposta a uma
situação desproporcionalmente pequena, como por exemplo, matar alguém porque a vitima
estava falando alto;

• empregar veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum. Ressalte-se que existe a tortura com morte preterdolosa, que
não é um tipo de homicídio qualificado;

• cometer homicídio à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

• cometer o crime para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro


crime, o chamado homicídio por conexão;

• Feminicídio (incluído pela Lei nº 13.104, de 2015): previsto no inciso VI do § 2º, ocorre quando o
crime é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, quais sejam:
• I - violência doméstica e familiar;
• II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

• Homicídio Funcional (incluído pela Lei nº 13.142, de 2015): previsto no inciso VII do § 2º, ocorre
quando o crime é cometido contra membros das Forças Armadas, segurança pública, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição[7].

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Nota: diferentemente do que ocorre em outros países, a premeditação não é circunstância
qualificadora na medida em que pode demonstrar, inclusive, resistência do agente a cometer crime.

Homicídio privilegiado

Por outro lado, se a prática da infração é motivada por relevante valor social ou moral, ou se esta é
cometida logo após injusta provocação por parte da vítima, a pena pode ser minorada de 1/6 até 1/3 da
pena. Embora a Lei diga que é apenas uma possibilidade, tem prevalecido a tese da obrigatoriedade da
redução da pena, em virtude da aplicação dos princípios gerais de Direito Penal, que compelem ao intérprete
da Lei a fazê-lo da forma mais favorável ao réu.

O valor social que torna o homicídio privilegiado é aquele percebido pela moralidade comum, e não do
agente. Assim, embora o homicida acredite estar operando sob forte princípio ético, este deve ser compatível
com a moralidade média, objetivamente verificável, sob pena de não ser aplicável a diminuição de pena.

É importante destacar que quando as circunstâncias de privilégio são de caráter subjetivo, estas não
se comunicam ao coautor do crime.

Os Tribunais brasileiros têm enquadrado, embora esta não seja ainda jurisprudência pacífica,
a eutanásia como homicídio privilegiado.

Também ocorre homicídio privilegiado quando as circunstâncias fáticas diminuíram a capacidade de


autocontrole e reflexão do agente. Nos termos da Lei, deve o homicídio ocorrer logo em seguida a uma
injusta provocação da vítima que deixe o agente sob o domínio de violenta emoção.

• Não será privilegiado, portanto, o homicídio decorrente de ódio antigo, ou que venha a ser
cometido tempos depois da agressão da vítima, pois isto retira a suposição de que o agente estava
com suas faculdades mentais diminuídas em decorrência de violenta emoção.

Nada impede que um homicídio privilegiado seja também qualificado. Por exemplo, é o caso do agente que
utiliza meio cruel para realizar o homicídio sob violenta emoção logo em seguida de injusta provocação da
vítima.

Homicídio culposo

Este delito pode, da mesma maneira, ser provocado em razão de falta de cuidado objetivo do agente,
imprudência, imperícia ou negligência. Nesses casos, em que não há a intenção de matar, é culposo o
homicídio, é o que ocorre sem animus necandi.

A culpa pode ser consciente, quando o resultado morte é previsto pelo autor do crime mas ele acreditou
verdadeiramente que não aconteceria esse resultado ou que ele poderia impedi-lo , ou inconsciente, quando
a morte era previsível, mas o agente não a previu, agindo sem sequer imaginar o resultado morte.

34
Há também o homicídio culposo impróprio o qual o autor do mesmo o comete com intenção de faze-
lo devido as circunstâncias que o envolviam e, por exemplo, o levaram a crer que estava em legítima
defesa.

O Direito brasileiro não admite tentativa de homicídio culposo.

A culpa pressupõe a previsibilidade do resultado. "Existe previsibilidade quando o agente, nas circunstâncias
em que se encontrou, podia, segundo a experiência geral, ter-se presentado, como possíveis, as
consequências do seu ato. Previsível é o fato cuja possível superveniência não escapa à perspicácia
comum".[8]

Causas de aumento de pena

Nos termos do Código Penal Brasileiro, são estas as seguintes causas de aumento de pena no homicídio
culposo:

• inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. Difere da imperícia na medida em que
a imperícia é a falta de conhecimento técnico. Neste caso o agente havia sido suficientemente
qualificado, mas deixou de observar os conhecimentos técnicos que adquiriu;
• omissão de socorro. Somente deixa de ser causa de aumento de pena quando é possível perceber
de imediato a inutilidade do socorro. Em alguns casos, como nos acidentes de trânsito, mesmo
que o socorro venha a ser prestado por terceiro, continua persistindo o aumento da pena, nos
termos do código de trânsito brasileiro;
• não procurar diminuir as consequências do ato;
• fuga para evitar prisão em flagrante, sendo que não se caracteriza se havia sério risco de
linchamento do autor do crime.

Hipóteses de exclusão do crime

Existem algumas hipóteses em que, mesmo estando claro que o agente infligiu dano letal em outro indivíduo,
não se configura o homicídio:

• Morte causada por fato superveniente, porém absolutamente independente.

Ex: A, desfere um tiro em B. Esse disparo seria suficiente para causar sua morte. No entanto,
imediatamente após ser acertado, cai um raio na cabeça de B, sendo esse o fato causador de sua
morte. (art. 13 do Código Penal)

• Crime Impossível.

35
Ex: A invade um hospital e desfere um tiro em B, o qual lá estava internado. B, entretanto, já havia
falecido fazia algumas horas, em razão de uma infecção que contraíra. (art. 17 do Código Penal)

• Erro (inevitável) sobre os elementos do tipo.

Ex: A, em plena temporada de caça, acerta B, o qual estava fantasiado de urso. (art. 20 do Código
Penal)

• Arrependimento eficaz.

Ex: A, objetivando matar B, ministra-lhe uma dose de veneno, sem que este percebe-se. Alguns
instantes depois, porém, arrepende-se, dando a B o antídoto. (art. 15 do Código Penal)

• Coação irresistível.

Ex: A é coagido a matar B por C. (art. 22 do Código Penal)

• Legítima defesa.

Ex: A, imediatamente após ser atingido por B, o qual buscava tirar-lhe a vida a facadas, desfere
um tiro de revólver neste. (art. 23 e 25 do Código Penal)

• Estado de necessidade.

Ex: A, depois de um naufrágio, mata B, a fim de apropriar-se de seu colete salva-vidas. (art. 23 e
24 do Código Penal)

• Agente inimputável.

Ex: A, doente mental, absolutamente incapaz, retira a vida de B. (art. 26 do Código Penal). É
importante lembrar que, nessa hipótese, embora a conduta não seja tecnicamente considerada
criminosa, ainda é passível de resposta estatal. A, neste caso, será submetido à medida de
segurança, que pode consistir em tratamento ambulatorial ou internação em hospital psiquiátrico
(art. 97 do Código Penal).

• Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior. Ex: A cai em um tonel de
bebida ou lá é jogado, saindo embriagado, sem ser por sua vontade, e retira a vida de B. (art. 28,
§ 1º do Código Penal)

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De acordo com as regras processuais penais brasileiras, a competência para julgar os crimes dolosos contra
a vida são de competência do Júri popular. O homicídio culposo é julgado por juiz singular.

No Brasil, a competência do Tribunal do Júri, por ter previsão constitucional, se prevalece sobre demais regras
de competência, exceto aquelas previstas na própria Constituição Federal de 1988.

A extensão da criminalidade no mundo e no Brasil

Entender o que leva as pessoas a cometer crimes é uma tarefa árdua. Afinal, não há consenso sobre uma
verdade universal (ainda que seja uma meia verdade temporária1), mesmo que esta se refira a uma
determinada cultura, em um dado momento histórico. Como explicar que em uma comunidade onde haja
dois irmãos gêmeos, um deles enverede pela via do narcotráfico, ao passo que o outro prefira seguir o
caminho da legalidade?

Os estudos sobre as causas da criminalidade têm se desenvolvido em duas direções: naquela das
motivações individuais e na dos processos que levariam as pessoas a se tornarem criminosas. Por outro
lado, tem-se estudado as relações entre as taxas de crime em face das variações nas culturas e nas
organizações sociais. Tais arcabouços teóricos vêm sendo desenvolvidos, principalmente, a partir de meados
do século passado.

As teorias que explicam o comportamento criminoso a partir de patologias individuais poderiam ser
divididas em três grupos: de natureza biológica, psicológica e psiquiátrica. Esses desenvolvimentos se
encontram no limiar da criminologia, sendo uma das abordagens mais conhecidas, conforme já salientado,
aquela de Lombroso (1968), na qual a formação óssea do crânio e o formato das orelhas, entre outras
características, constituiriam indicadores da patologia criminosa. Essa perspectiva lombrosiana inspirou ainda
trabalhos no campo da psiquiatria, cuja hipótese era que criminosos seriam um tipo de indivíduo inferior,
que se caracterizaria por desordens mentais, alcoolismo, neuroses, entre outras particularidades (Hakeem,
1958). Healy (1915), em The Individual Delinquent, acentuou uma série desses traços e fatores, considerados
também por Glueck (1918) em um estudo com 608 detentos da prisão de Sing Sing. Sob a ótica psicológica,
muitos trabalhos foram desenvolvidos logo após a Primeira Guerra, nos quais se tentava medir objetivamente
o grau em que criminosos eram psicologicamente diferentes de não-criminosos. Supunha-se, então, que a
baixa inteligência seria uma importante causa da criminalidade

Criminalidade no Brasil

A criminalidade no Brasil é um problema persistente que atinge direta ou indiretamente a população. O


país tem níveis acima da média mundial no que se refere a crimes violentos, com níveis particularmente altos

37
no tocante a violência armada e homicídios. Em 2017, o Brasil alcançou a marca histórica de 63.880
homicídios. Isso equivale a uma taxa de 31.6 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das mais altas taxas de
homicídios intencionais do mundo. Em 2020 o país teve 43.892 homicídios e uma taxa de homicídios de 19.7
por 100 mil habitantes, tendo caído desde 2017, o ano com maior número de homicídios já registrado. O
limite considerado como suportável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 10 homicídios por 100 mil
habitantes.

Observa-se, no entanto, que há diferenças entre os índices de criminalidade dentro do país. Enquanto
em Santa Catarina a taxa de homicídios registrada em 2010 foi de 12,9 mortes por 100 mil habitantes,
em Alagoas esse índice foi de 66,8 homicídios.

Em maio de 2017, uma pesquisa do instituto Datafolha indicou que aproximadamente um em cada três
brasileiros já teve um parente ou amigo que foi assassinado. Outra pesquisa do instituto indica também que
três em cada quatro brasileiros afirmam ter medo de serem assassinados.

Causas

A sociedade brasileira é uma das mais desiguais e estratificadas do planeta, podendo-se encontrar
extrema pobreza ao lado de grande riqueza.

O sistema escolar brasileiro é notoriamente deficitário. As crianças muitas vezes ficam entregues à própria
sorte, pois tanto o pai quanto a mãe precisam trabalhar para garantir a subsistência, já que a moradia é cara
e falta creches. Os professores são mal pagos e desmotivados e um grande número de crianças vai à escola
só para comer, pois é dada uma refeição. O ensino privado tem qualidade superior, mas só é acessível para
poucos. A discrepância entre o ensino público e privado amplia a segregação social, o que novamente
remete aos fatores socioeconômicos.

Ter uma moradia confere segurança e dignidade. Os aluguéis no Brasil após o Plano Real atingiram um nível
fora do alcance de muitos da classe pobre e mesmo da classe média. Essa população desenraizada é
simultaneamente ameaçada e ameaçadora, além de ser facilmente manipulável pelos chefes do tráfico e do
crime que dela se servem para o roubo, para a venda de drogas, entre outras atividades. Garotos de rua são
presa fácil desses chefes que, em troca de proteção, os exploram em proveito próprio, corrompendo-
os.

Nos hospitais faltam equipamentos e remédios e as filas de espera por atendimento são longas. São
precisamente nos bairros mais pobres onde patologias tem mais chances de se propagarem. Esse sentimento
de vulnerabilidade biológica modifica a percepção que se tem do próprio corpo e tende a diminuir o valor
da vida humana, gerando uma atitude de indiferença perante o sofrimento e a morte. "A saúde é
condicionante da esperança, da produtividade, do investimento e do desenvolvimento", diz o estudo.
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Para o morador da periferia, trabalhar no centro significa longas jornadas desconfortáveis passadas
no transporte público para receber um baixo salário. Essa situação desencoraja o trabalho, pois torna mais
vantajoso o trabalho informal ou mesmo o crime.

Os salários da polícia são baixos, o que aumenta a facilidade de eles serem corrompidos. A Polícia
Militar é considerada violenta e é protegida por seus próprios tribunais. A existência de quatro polícias
públicas (Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Municipal) atrapalha a eficiência da atuação. A
justiça é lenta e ineficaz, além de ser inacessível a muitos devido aos altos honorários dos advogados. As
penitenciárias são precárias e, frequentemente, superlotadas, o que não favorece a reabilitação.

A explosão demográfica entre os anos 1950 e 1970, juntamente com a queda da mortalidade infantil,
representou uma pressão sobre a infraestrutura e a disputa por empregos. A Grande São Paulo, em 1895,
tinha uma população de apenas 200 mil habitantes. Um século mais tarde, em 1995, subiu para 16 milhões.
Entre 1970 e 1995, o número de habitantes dobrou, passando de 8 para 16 milhões. Segundo o estudo, os
bairros que tinham uma taxa de crescimento da população maior (tanto por fecundidade quanto
por imigração) eram justamente os bairros mais violentos. É nessas áreas onde a população tem dificuldade
de achar trabalho e moradia e que a polícia tem mais dificuldade de controlar o narcotráfico e outros crimes.

O processo de globalização da economia tenta derrubar fronteiras. Em um país como o Brasil, que faz
fronteira com vários países e tem um enorme território que precisa de vigilância, esse processo facilita a
proliferação de atividades ilícitas e do crime organizado, bem como o comércio de carros roubados, drogas
e tráfico de armas. Paralelamente, a partir de meados dos anos 1980, o narcotráfico se fortaleceu, e o Brasil
passou a ser não apenas um país de trânsito para a cocaína (vinda de países vizinhos para ser enviada
aos Estados Unidos e à Europa), mas, também, um consumidor da droga. O comércio de drogas é lucrativo
e tem efeito devastador, pois gera um clima de guerra civil, caracterizado pela rivalidade entre chefes de
cartéis, polícia, acerto de contas, etc.

Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que 40%
das pessoas entrevistadas se sentem seguras para andarem sozinhas na rua à noite, menos do que a média
de 67% dos países membros da OCDE. O relatório também diz que 8% dos entrevistados relataram que foram
vítimas de assalto nos últimos doze meses.

Os roubos de carga custaram incríveis 6,1 bilhões de reais à economia brasileira entre os anos de 2011 e
2016, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Um exemplo deste problema
é o fato de as transportadoras terem exigido taxas extras nos casos de produtos com destino ao Rio de

39
Janeiro. Outras transportadoras pensaram inclusive em desistir de chegar ao estado. O presidente da Firjan
afirmou que "chegamos a níveis intoleráveis, cifras vergonhosas. Ano passado batemos todos os recordes."

Crimes violentos cresceram na maior parte dos estados desde 2005, segundo o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). O Brasil é um país grande e diverso, com diferenças socioeconômicas significativas
entre as diferentes regiões. Enquanto em estados como São Paulo e Rio de Janeiro (região sudeste) se
observou queda nos crimes violentos nesse período, o aumento da criminalidade nos estados da região norte
e nordeste cresceram de forma muito mais significativa, fazendo a média de crimes no país aumentar de
forma significativa.

As principais facções criminosas do Brasil, de fato, surgiram a partir da ingerência do sistema carcerário no
Brasil, contextualizada por uma prática estatal leniente ao tratar das causas das desigualdades sociais, mas
brutalmente paternalista e punitivo quando se trata de assumir as consequências.[35] Outrossim, Teixeira
disserta sobre a origem do PCC, uma das maiores facções criminosas atuantes em território nacional:

Para além, contudo, das medidas que importariam no extermínio de centenas de indivíduos encarcerados
entre os anos de 1987-1994, foi também nesse período que se assistiu ao incremento da tortura e do arbítrio
nos espaços preferenciais de exceção dentro do sistema penitenciário concebidos numa zona de indistinção
entre a lei e a norma, para operarem a lógica da excelência disciplinar. De modo bastante sintomático, seria
justamente em tais espaços e por essa consagrada orientação política que a organização
criminosa PCC surgiria, em 1993, e se fortaleceria para além do próprio sistema carcerário.

Assim, Shimizu defende que as facções surgem como fruto de um sistema penal traumatizante, com o
propósito de mitigar a violência entre os próprios presos e resistir à violência institucional, a violações
à dignidade da pessoa humana e a constantes humilhações propiciadas pelos excessos ilegais na execução.

Principais atividades das Organizações Criminosas

As organizações criminosas foram criadas no Brasil com a função primordial de defesa dos interesses da
comunidade carcerária. Elas têm como meio de atuação principal a prática, dentro ou fora dos presídios, de
atos tipificados em lei.

Segundo Luiz Flávio Gomes há dois tipos de atuação do crime organizado:

o “mercantilista”, expresso nas atividades de venda, contrabando, troca de determinadas “matérias-primas”,


e o “dourado”, pelo fato de igualmente ser cometido por pessoas de colarinho branco, mediante corrupção,
favorecimentos ilegais, evasão de divisas, sonegação fiscal, delitos contra a concorrência pública, entre outras
condutas ilícitas.

40
No lado dourado das organizações criminosas, uma de suas principais atuações está relacionada à prática
de crimes do colarinho branco, segundo Edwin Sutherland, o crime de colarinho branco é aquele praticado
por uma pessoa respeitada em seu meio profissional, com alto status social. Nem sempre o cometimento de
ilícito por parte das organizações criminosas é praticado sobre uso de grave ameaça ou violência. A realização
dos crimes de colarinho branco, por exemplo, é executada por meios diversos. Essa afirmação é evidenciada
pela seguinte definição de crimes do colarinho branco como:

[…] atos ilegais que usam fraude e ocultação – em vez da utilização ou ameaça de força física ou violência –
para obter dinheiro, bens ou serviço; para evitar o pagamento ou perda de dinheiro; ou para assegurar um
negócio ou vantagem profissional. Criminosos de colarinho branco ocupam posições de responsabilidade e
confiança no governo, na indústria, nas profissões e organizações cívicas.

O crime de colarinho branco e as organizações criminosas se relacionam, principalmente, de duas maneiras:


a organização criminosa utiliza-se de um negócio legítimo como fachada para a prática de infrações penais
(golpe) ou a organização criminosa age como um parasita, escamoteando parte do lucro da empresa
(corrupção).

A perscrutação e punição das organizações criminosas é um trabalho difícil, pois as constantes e atuais
relações entre organizações criminosas e o poder público são utilizadas para mascarar e inibir a fiscalização
sobre seus atos criminosos. Por esses e outros motivos, as organizações criminosas são ótimos instrumentos
de ligação entre o submundo e suas práticas ilegais com os negócios legítimos, fornecendo a atos criminosos
o ar de legalidade.

Homossexuais e transexuais
Em abril de 2009, o Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou um levantamento sobre os casos de violência
verificados no ano anterior, apontando que foram assassinadas 190 pessoas LGBT no Brasil, sendo 64% gays,
32% travestis e 4% lésbicas. Foi registrado um aumento de 55% sobre os números de 2007, mantendo o país
como o que mais registra crimes de natureza homofóbica. Desde que iniciou a pesquisa, em 1980, o grupo
já registrou 2 998 assassinatos. A pesquisa realizada pelo GGB também indicou que a maioria das vítimas
tinha idade entre 20 e 40 anos e que 80% dos homossexuais foram mortos dentro de casa. Também de
acordo com a pesquisa, o Nordeste é a região brasileira com o maior número de crimes homofóbicos
registrados, sendo os estados da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas os que mais
registraram crimes homofóbicos no Brasil em 2007.

Jovens e negros

Entre as vítimas de crimes violentos, os jovens e os negros são a maioria. Segundo o estudo do Ipea, de um
total de 59 080 homicídios registrados em 2015, 31 264 foram de jovens (53 por cento). De acordo com o

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mesmo estudo, a cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negros. Eles possuem chances 23,5 por
cento maiores de serem assassinados do que brasileiros de outras raças.

Segundo o Mapa da Violência de 2013, dos 467,7 mil homicídios contabilizados entre 2002 e 2010, 307,6 mil,
ou seja, 65,8 por cento foram de pessoas negras. Houve uma tendência de redução de homicídios de
brancos em 26,4 por cento e o aumento de homicídios de pessoas negras de 30,6 por cento. Isso se observa
na população em geral e principalmente nos jovens. Conforme o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, autor
do estudo, há um mecanismo de culpabilização da vítima que incentiva a tolerância à violência contra grupos
mais vulneráveis, fazendo com que o Estado não tome medidas para solucionar muitos desses casos.

Mulheres

Em 2006, foi promulgada a Lei Maria da Penha, que aumenta o rigor das punições de agressões contra a
mulher quando ocorridas dentro do ambiente doméstico. Após a promulgação, as denúncias de violência
contra a mulher aumentaram em 600 por cento. No entanto, o Brasil ainda possui altos índices de violência
doméstica, tanto contra crianças quanto contra mulheres. As principais causas
são alcoolismo e vício em drogas, além de pobreza e baixa escolaridade. As mulheres de baixa renda que
sofrem com o problema têm acesso limitado à Justiça. O contato com o sistema de justiça criminal muitas
vezes resulta em maus-tratos e intimidações. Estatísticas divulgadas pelo Departamento Penitenciário
Nacional em 2008 indicaram aumento de 77 por cento na população carcerária feminina nos últimos oito
anos – uma taxa de crescimento maior do que a masculina. As mulheres detentas enfrentam maus-tratos,
assistência inadequada durante o parto e falta de condições para cuidar das crianças.[53]

O assédio sexual é um problema global, e o Brasil lidera o ranking de mulheres mais assediadas do
planeta, segundo seus próprios relatos, junto com a Tailândia. Uma pesquisa de 2016 mostra que 86%
das mulheres brasileiras ouvidas já sofreram assédio em público em suas cidades. O Brasil foi apontado como
um dos destinos mais perigosos do mundo para turistas mulheres. Segundo coletânea do jornal
britânico Daily Mail, o Brasil perde apenas para a Índia.

Combate

A Constituição do Brasil estabelece 6 instituições policiais diferentes para a execução da lei: a Polícia
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, a Polícia Militar , a Polícia
Civil do Estado e as polícias penais. Destas, as três primeiras são filiadas às autoridades federais, e as duas
últimas subordinadas aos governos estaduais. Todas as instituições policiais fazem parte do Poder
Executivo de qualquer um dos governos federal ou estadual.

De acordo com um levantamento de 2012, apenas 5% a 8% dos homicídios registrados no país são elucidados
pelas forças policiais. O 3.° Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil (2007) aponta falhas nos
sistemas policial e penitenciário e denuncia a participação de autoridades em violações aos direitos humanos.

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Segundo o Relatório, a maioria dos homicídios é precariamente investigada e uma "ínfima parte dos
responsáveis é denunciada e condenada". A conclusão é de que houve retrocesso nesse aspecto, entre 2002
e 2005.

Por outro lado, o Brasil tem a terceira maior população penitenciária do mundo e uma das maiores
taxas de encarceramento. Em junho de 2014, havia 711 463 presos em todo o país, segundo o Conselho
Nacional de Justiça. Dois anos antes, em julho de 2012, havia 550.000 detentos, ou seja, a população prisional
teve um incremento de 30% em dois anos, enquanto a população total do país cresceu menos de 1,8% no
mesmo período, segundo estimativas do IBGE.] Se também fosse computado o número
de mandados de prisão em aberto em 2014 (373 991, de acordo com o Banco Nacional de Mandados de
Prisão), a população prisional ultrapassaria um milhão de pessoas, com aproximadamente 535 presos para
cada 100 mil habitantes, e teria havido um incremento de 94% em relação à taxa de encarceramento de
2012, que era de 276 presos para cada 100 mil habitantes. O índice de 2012, por sua vez, já mostrava um
aumento de 258% em relação ao índice de 1992. Em 1992, o Brasil tinha um total de 114 377 presos ou
aproximadamente 77 presos por cem mil habitantes.

O crescimento exponencial da população carcerária levou o sistema prisional brasileiro a uma situação
crítica, com um déficit estimado entre 200 mil e 350 mil vagas nas prisões do país

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