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CRIMINOLOGIA
1. DISPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS
A criminologia integra os três pilares de sustentação das ciências criminais: direito penal, criminologia e
política criminal.
Esta palavra vem do latim crimen (crime) + grego logo (tratado) = estudo do crime.
Para Paulo Sumariva, “a função linear da criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos
sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros que
permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo
positivo no homem criminoso. A função da criminologia é indicar um diagnóstico qualificado e conjuntural
sobre o crime.“
De forma bem resumida, os três pilares das ciências criminais são:
→ DIREITO PENAL: tipifica modelos abstratos de comportamento, modela o dever ser, usa o método
dedutivo, partindo de uma situação geral, para chegar ao comportamento individual, particular. Crime
enquanto norma. É a ciência do dever ser.
→ POLÍTICA CRIMINAL: são as diretrizes, ações práticas para a prevenção da criminalidade, utilizadas
por razões de política pública. Exemplo: aumentar a iluminação em local que estava no foco de
estupradores. Ela não tem autonomia de ciência, pois não tem metodologia própria. Crime enquanto
valor.
Zafaroni: diz que a criminologia é uma ciência apolítica. E que no modelo latino americano não se
consegue separar criminologia de política pública.
CONCEITO: ciência empírica e interdisciplinar (métodos), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do
infrator, da vítima e do controle social (objetos de estudo) do comportamento delitivo, e que trata de
subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime –
contemplado este como problema individual e como problema social - , assim como sobre os programas de
prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções da criminologia) (Antonio García- Pablos de Molina).
Veja que neste conceito de Molina, mostra que a criminologia também visa buscar informações
relacionadas à prevenção. Sobre este tema, há uma classificação:
PREVENÇÃO:
a) PRIMÁRIA: medidas a médio e longo prazo. Investir na base, na estrutura, na raiz do conflito, como saúde,
educação, lazer e bem-estar. Programas político-sociais, intervenção comunitária, trazer qualidade de vida para
o cidadão, neutralizando o crime antes que ocorra.
b) SECUNDÁRIA: atuação onde o crime se manifesta, onde o crime se exterioriza. Determinar as zonas de
criminalidade. A principal forma de atuação é a policial. Porém, segundo a doutrina, existem outras formas,
como medidas de ordenação urbana, melhoria no aspecto visual das obras, controle dos meios de comunicação,
etc.
c) TERCIÁRIA: tem um destinatário específico, o preso. O objetivo é a ressocialização, para evitar a
reincidência.
MÉTODOS:
- EMPÍRICO: análise e observação da realidade. O criminólogo é o curioso. Em alguns casos alia o método
empírico com o experimental.
- INDUTIVO: parte de uma situação particular para ao final estabelecer uma conclusão geral. A criminologia é
a ciência do ser, a realidade nua e crua.
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- INTERDISCIPLINAR: faz uso de diversas outras ciências para formular seu conhecimento próprio, por
exemplo, biologia criminal, sociologia criminal, geografia criminal, psicologia criminal.
2.1 DELITO
Não é o mesmo conceito de direito penal, vai além da ideia de que delito é aquilo que viola a lei,
esqueça o conceito analítico de crime. É a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor,
aflição e angústia, persistente no espaço e no tempo.
Incidência massiva na população: não pode ser um fato isolado, deve ocorrer com especificidade na
população. Com base neste requisito, Sergio Salomão Schecaria critica a criação de leis que criminalizam
condutas que não são de incidência massiva na população, e cita o exemplo do crime de molestar cetáceo,
criado por conta de um sujeito que, ao encontrar um golfinho preso na praia, introduziu um palito de picolé nas
suas narinas, vindo o cetáceo a morrer.
Incidência aflitiva: causar dor, angustia, sofrimento. Conduta que incomode, quer uma vítima individualizada,
quer a sociedade como um todo. Sérgio Salomão Schecaria também critica nossa legislação com base neste
requisito, com relação a um crime que tipifica a conduta daquele que usa a expressão “couro sintético”. Usar
esta expressão causa prejuízo?
Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo de certo
período de tempo. Furar fila da vacina, faria sentido criminalizar, considerando este critério?
Inequívoco consenso: consenso acerca da necessidade de punir esta conduta que tenha as características
anteriores. Veja que este requisito não está no conceito acima descrito. Mas a doutrina traz também este
requisito, o que também não torna o conceito anterior como errado.
2.2 DELIQUENTE
→ ESCOLA CLÁSSICA: auge no século XVIII, influenciada pela revolução francesa e ideais iluministas.
O delinquente é o pecador que optou pelo mal, livre-arbítrio. O homem tem vontade racional, então pode
escolher seguir ou não as leis. O crime é um ente jurídico, pois decorre de uma violação de um direito,
realizada pela vontade humana. Quando o homem comete crime ele quebra o contrato social (contrato social
de Rousseau). Ao reunir em sociedade, é como se assinássemos um contrato para viver em sociedade e um ente
controlar a sociedade, que é o Estado.
A pena deveria ter um caráter retributivo, de castigo, reparação, por tempo certo e determinado, até que
haja a reparação do mal causado pelo criminoso.
→ ESCOLA POSITIVA: Começa com CESARE LOMBROSO, seguida por ENRICO FERRI e
RAFAELLE GAROFALO. Lombroso queria dar uma explicação biológica para o crime, ele dizia que o
criminoso era um ser selvagem, ser atávico, o crime estava no seu DNA, no seu gene, acreditava que o homem
já nascia predisposto a ser criminoso.
De acordo com os estudos de Lombroso, os criminosos seriam mais altos que a média (e isso significava
1,69m na Veneza e 1,70 na Inglaterra), teriam crânios menores que os dos homens “normais” e maiores do que
os crânios dos “loucos”, além de uma aparência desagradável, mas não deformada, sendo que estupradores e
sodomitas teriam feições feminilizadas.
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Outras características comuns seriam orelhas de abano, nariz adunco, queixo protuberante, maxilar
largo, maçãs do rosto proeminentes, barba rala, cabelos revoltos, caninos bem desenvolvidos, cabelos e olhos
escuros. Ladrões teriam olhar esquivo, já os assassinos um olhar firme e vidrado. Seriam ainda especialmente
insensíveis à dor. Socialmente, criminosos teriam preferência por tatuagens o que provaria sua insensibilidade à
dor.
Entre as mulheres, o que denotaria o potencial criminoso seria uma certa masculinidade nos traços e na
voz, causados por um excesso de pelos corporais, verrugas, cordas vocais grossas com relação à laringe,
mamilos pequenos ou muito grandes e mesmo sua forma de escrever. As mulheres criminosas seriam em geral
mais cruéis que os homens, e possuiriam vitalidade, reflexos e força incomuns.
FERRI contraria um pouco Lombroso quanto a esta ideia de criminoso nato, trazendo a figura dos
criminosos eventuais, passionais, habituais, etc. dizendo que várias circunstâncias podem influenciar o crime de
alguma forma. Ele aproveita um pouco a ideia de Lombroso, mas aperfeiçoa.
Para GAROFALO, o homem tem uma anomalia psíquica ou moral.
Ponto em comum entre os três: O PROBLEMA DO CRIME É DO HOMEM.
Conceito de delinquente para esta escola positivista: Delinquente é o prisioneiro de sua própria patologia
ou de processos causais alheios.
A pena deveria ter caráter curativo. O que assemelha à medida de segurança hoje usada. Como tem
caráter curativo, a pena poderia ser imposta por prazo indeterminado, até que haja a cura.
→ ESCOLA CORRECIONALISTA: não teve profunda influência no Brasil. O criminoso era um ser
inferior, um ser débil, que precisa de ajuda, pois não teve oportunidade na vida. Assim, o estado deve adotar
uma postura de orientação e proteção. O Estado deve ter uma atitude de piedade e pedagógica para com o
criminoso. Pode-se dizer que o ECA reflete esta escola, quando se trata de menor infrator.
→ MARXISMO: o culpado para o criminoso é a própria sociedade. A própria sociedade é culpada pelo
crime, motivada pelo capitalismo. O criminoso é vitima inocente das estruturas econômicas.
→ CONCEITO ATUAL DE DELINQUENTE: indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não as
seguir por razões multifatoriais, e nem sempre assimiladas por outras pessoas. Um ser normal, homem real que
se submete às leis e pode não cumpri-las por razões que nem sempre são compreendidas (Paulo Sumariva).
2.3 VÍTIMA
Vitimização é um sofrimento suportado pela vitima devido a um evento traumático, neste caso, o crime.
a) VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA: efeitos diretos e indiretos da conduta criminal. EX: efeito direito de um
roubo, ficar sem o objeto roubado, efeito indireto, ficar com medo de andar na rua, efeitos psicológicos. Esta
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vitimização se relaciona ao indivíduo diretamente atingido pela conduta criminosa, podendo ser de ordem
física, material ou psicológica.
OBS: Síndrome da Barbie e Síndrome de mulher de Potifar: a primeira síndrome demonstra a ideia de
coisificação da mulher, a mulher que é criada para ser objeto de desejo e, de fato, tratada como objeto pelos
homens. Este pensamento internalizado na mulher faz com ela veja como naturais e corretas algumas condutas
que são praticadas contra ela e, em certos casos, não se veem como sujeitas de direitos, mas sim como objetos
de direito dos outros, o que faz surgir as cifras negras, pois crimes podem estar sendo cometidos contra elas e
elas nada fazem, por achar normal.
A segunda síndrome decorre da histórica bíblica que envolve José e a mulher de Potifar. Esta, ao ser
rejeitada por José, ficou irada, assim, passou a acusar José de tê-la violentado sexualmente, levantando falsas
acusações contra José, o que configura, em tese, crime de denunciação caluniosa.
Síndrome de Estocolmo: um estado psicológico particular desenvolvido por algumas pessoas que são
vítimas de sequestro ou detidas contra sua vontade, criando laços afetivos com o seu raptor (Paulo Sumariva, p.
142).
Síndrome de Londres: os reféns passam a discutir e discordar do comportamento dos sequestradores,
gerando assim uma antipatia que, não raras vezes, poderá ser fatal (Paulo Sumariva, p. 143).
a) Vítima completamente inocente (vítima ideal): Trata-se da vítima completamente estranha à ação do
criminoso, não provocando nem colaborando de alguma forma para a realização do delito. Como exemplo, uma
senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua.
b) Vítima de culpabilidade menor (vítima por ignorância): Ocorre quando há um impulso não voluntário ao
delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. É a vitima descuidada.
Pessoa descuidada andando em rua deserta e escura e falando ao celular.
c) Vítima voluntária ou tão culpada: Ambos podem ser o criminoso ou a vítima. Como exemplo, temos
uma Roleta Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o tambor até um se matar).
Sem a contribuição da vitima o crime não teria ocorrido, como na corrupção, aborto consentido, rixa.
d) Vítima mais culpada que o infrator: Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam
o autor do crime, as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja
uma parcela de culpa do autor. Exemplo, lesão corporal ou homicídio privilegiado cometidos por conta da
injusta provocação da vitima.
e) Vítima unicamente culpada: Vítima infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim se torna
vítima, como ocorre no caso do homicídio por legítima defesa; Vítima Simuladora, que por meio de uma
premeditação irresponsável induz um indivíduo a ser acusado de um delito, gerando, dessa forma, um erro
judiciário; ou ainda Vítima imaginária, que se trata de uma pessoa portadora de um grave transtorno mental
que, em decorrência de tal distúrbio leva o judiciário a erro, podendo se passar por vítima de um crime,
acusando uma pessoa de ser o autor, sendo que tal delito nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma
imaginação da vítima.
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Os índices informam que quanto mais fortes forem os controles informais, os índices de criminalidade
são menores.
Tinha como presunção a racionalidade do homem. Logo, ele era tido como um ser livre, racional e
que podia optar entre seguir ou não seguir as leis.
Vislumbra o contrato social de Rousseau – que foi assinado pelo povo para que pudessem viver em
sociedade. O crime é uma quebra do pacto, do contrato social. A aplicação da pena é salvaguardar este contrato.
São ilegítimas todas as penas que não revelem uma salvaguarda do contrato social.
O criminoso assim se torna por conta do seu livre-arbítrio, inerente ao ser humano. O delito surge da
livre vontade do indivíduo. Ele que escolhe seguir ou não as leis.
GIANDOMENICO ROMAGNOSI: A pena constitui um contraestimulo ao impulso criminoso.
Princípios fundamentais da Escola Clássica são:
a) O delito não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico, pois ele decorre da violação de um direito e essa
violação decorre da vontade racional do homem, pois ele tem vontade, livre arbitrário. (FRANCESCO
CARRARA).
b) A pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente (maldade), de modo a prevenir o
delito com certeza, rapidez e severidade e a restaurar a ordem externa social.
“A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função essencial da pena”.
Para CARRARA a função essencial da pena é a eliminação do perigo social.
BECCACIA sustentava que a pena deve ser proporcional ao mal causado pelo criminoso, sem visar
apenas seu sofrimento.
c) se preocupa com o fato criminoso, não com o criminoso.
A grande contribuição da escola clássica para a criminologia foi o Princípio da Legalidade. Por conta
disso, não se preocupou tanto com as causas da criminalidade, mas se preocupou apenas com o crime, como
este é previsto abstrativamente pela lei penal.
Crítica a esta escola: entendia que as causas da criminalidade não eram importantes, mas sendo relevante tão
somente o estudo das leis abstratas, colocando em segundo plano o estudo do delinquente e o que o levou a
praticar delitos.
“O foco era o homem delinquente, considerado como um indivíduo diferente e, como tal, clinicamente
observável” (Alessandro Baratta).
Modelo positivista da criminologia: estudo das causas ou dos atos da criminalidade (paradigma etiológico), a
fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los, intervindo, sobretudo, no sujeito criminoso. O
foco é o delinqüente, através de estudos empíricos, experimentais.
Lombroso: “O homem e o delinquente” (obra) – realizou estudos com criminosos, utilizando-se do método
empírico de pesquisa, estudando a realidade, in locu, entrevistou mais de 25 mil presos, realizou autópsias em
mais de 400 corpos. O ponto de partida de Lombroso foram pesquisas craniométricas de criminosos, analisando
fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.
Conceito de criminoso para Lombroso: ser atávico, um animal impulsivo, um animal selvagem.
Algumas circunstâncias externas servem apenas como pavio para estourar algo que o homem já tem dentro
dele, uma vez que ele já nasce criminoso. Para ele o crime não é uma entidade jurídica, mas sim um fenômeno
biológico. Trouxe a concepção do criminoso nato, de que certas pessoas já nasceriam para o crime, de acordo
com algumas características biológicas, o que poderia ser evitado, buscando tais pessoas na sociedade e as
retirando do convívio social. Não haveria a ideia de livre-arbítrio, o homem não é livre de sua carga genética e
não consegue evitar e lutar contra a sua natureza criminógena e predisposta para o crime.
Segundo a doutrina, a principal contribuição de Lombroso para a criminologia é a adoção do método
empírico – analisando e observando a realidade. Buscava, mediante uma regra particular, uma hipótese geral.
Crítica: A noção de criminoso que ele tinha era o preso, ou seja, ele estudava o criminoso em situações
extremas de prisões degradantes, uma pesquisa totalmente contaminada, pois o criminoso não estava inserido
no seu real ambiente, mas estava sendo influenciado por um ambiente de prisão. A grande falha de Lombroso
foi desconsiderar estes fatores da prisão. Além disso, Lombroso ignorava as cifras negras, ou seja, aqueles
crimes que não eram relatados para as autoridades.
Enrico Ferri, genro de Lombroso, que veio para criticar as teorias de Lombroso. Diferente do sogro,
Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais alargada da criminalidade, evitando-se o
reducionismo antropológico de Lombroso, ou seja, evitando dar apenas uma explicação biológica para o
criminoso.
Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais.
- Antropológicos: constituição orgânica e psíquica do indivíduo (raça, idade, sexo, estado civil, etc).
- Físicos: clima, estações, temperaturas, etc. pesquisas apontam que lugares mais quentes tendem a ter maiores
registros de crimes.
- Sociais: densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação, etc.
Ferri cria a classificação de 05 tipos de criminosos:
1. Nato: é o animal selvagem de Lombroso. Ferri concorda com Lombroso, de que existe este animal
predisposto ao crime, mas para ele existem outros tipos de criminosos.
2. Louco: tem uma deficiência mental ou uma atrofia do senso moral, não consegue distinguir o que é certo ou
errado. O crime deve ser motivado por esta deficiência ou atrofia.
3. Habitual: o crime sempre fez parte da sua realidade, sobretudo por estar inserido em um contexto de pobreza
e criminalidade. Este criminoso tem alta periculosidade e baixa readaptabilidade.
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4. Ocasional: pratica o crime por uma situação emergencial e temporal. Exemplo, cometer crime para dar de
comer ao filho. Este criminoso tem baixa periculosidade e alta readaptabilidade.
5. Passional: aquele que comete o crime impelido por paixões pessoais. Essas paixões podem derivar de vários
fatores, como fanatismo religioso, político, social, etc.
Ferri prima pela defesa social a todo custo, em detrimento dos direitos individuais do criminoso, uma
vez que vale mais a proteção social do que a liberdade de um criminoso. Assim, ele aposta nas medidas de
segurança, sem prazo determinado de encerramento e sem a necessidade de se passar por um procedimento
legalista demorado.
Raffaele Garofalo – Era um jurista, por isso esta fase é conhecida como fase jurídica.
O crime sempre está no individuo, e que é uma revelação de uma natureza degenerativa, sejam as causas
antigas ou recentes. Ele também entendia que o crime estava no indivíduo.
Para Garofalo, o crime está fundamentado em uma anomalia – não patológica – mas psíquica ou moral
(déficit na esfera moral da personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica, transmissível
hereditariamente).
Utilizava o termo TEMIBILIDADE (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do
mal previsto que se deve temer por parte deste delinquente). É como se fosse um grau de perversidade que se
pode esperar daquele individuo, o que a gente pode esperar de mau deste individuo.
A principal contribuição de Garofalo foi a filosofia de castigo. A ideia dele é fazer uma seleção dos
melhores seres, eliminando um criminoso que não se adapta à sociedade, seja por extradição ou pena de morte.
Ele entende ser possível pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladrões profissionais e
criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral, exemplo, envio de um criminoso por
tempo indeterminado para colônias agrícolas.
O foco agora será a sociologia criminal, não se limitando à análise do delito segundo uma visão do
indivíduo ou de pequenos grupos, mas sim da sociedade como um todo. O problema agora é da sociedade, não
mais um desvio moral (clássica) ou um defeito congênito (positivista). A vítima e o controle social passam a ser
analisados e não apenas o delito e o delinquente, como ocorria nas duas escolas anteriores (clássica e
positivista), ou seja, há uma ampliação do objeto de estudo.
As teorias sociológicas se dividem em teorias de consenso e teorias de conflito:
Teorias de consenso (FUNCIONALISTA): Para Nestor Sampaio, as teorias de consenso entendem que os
objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os
indivíduos convivendo e compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio.
Aqui os sistemas sociais dependem da voluntariedade de pessoas e instituições, que dividem os mesmos
valores. A divergência social entre valores e regras favorece o surgimento de práticas criminais e aumento de
delinqüentes. O crime seria uma afronta a esses valores comuns, comprometendo a saúde de determinada
sociedade.
Teorias de conflito (ARGUMENTATIVA): a harmonia social decorre da força e da coerção, em que há uma
relação entre dominantes e dominados. Não há voluntariedade entre os personagens para a pacificação social,
mas esta é decorrente da imposição ou coerção. A ordem social é imposta por uma minoria, não é consensual.
Para estas teorias, o crime pode ser visto não como uma patologia, mas como uma forma de protesto contra as
imposições, podendo citar como exemplo os revolucionários que lutam contra o sistema, que, muitas vezes, são
considerados como criminosos, por estarem conflitando com as regras impostas coercitivamente.
Dependendo da área que se estuda, pode-se ter maior incidência de determinado fato criminoso ou de
um tipo de delinquente específico.
A escola de Chicago também tem relação com uma limpeza da sociedade, reprimindo rapidamente os
pequenos delitos, a fim de, desde o início, já repelir este tipo de pessoas da sociedade, inibindo condutas mais
grave.
RESUMO: Passa a atribuir também à sociedade e não apenas ao criminoso as causas do fenômeno criminal –
análise do contexto social no qual o indivíduo está inserido.
→ Relação com a ausência de controle social informal;
→ Desorganização;
→ Deterioração de grupos primários, por exemplo, família;
→ Modificação das relações interpessoais, ficando mais superficiais;
→ Perda das raízes no local de vivência;
→ Crise de valores, tradições;
→ Superpopulação.
De acordo com Lélio Braga Calhau, “é um mosaico de grupos, subgrupos, fragmentado, conflitivo; cada
grupo ou subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os valores
majoritários e oficiais, e todos cuidam de fazê-lo valer diante dos restantes, ocupando o correspondente espaço
oficial”.
Exemplos: gangues de lutadores na década de 90 que saiam pela rua para bater em pessoas. Entravam
em festas e agrediam pessoas.
Pichadores de prédios sem qualquer mensagem, sem produzir nada.
Morte do índio no ponto de ônibus em Brasília, jovens o queimou enquanto dormia.
Alguns membros de torcida organizada.
Esta é a primeira teoria contenciosa e, talvez, uma das mais importantes. De acordo com Zaffaroni, a
tese desta teoria pode ser definida pela seguinte afirmação: cada um de nós se torna aquilo que os outros vêem
em nós. De acordo com essa sistemática, a prisão cumpre função reprodutora, ou seja, a pessoa rotulada como
delinqüente assume o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo.
Esta teoria também é chamada de teoria do etiquetamento, da rotulação, da reação social ou
interacionista. Esta rotulação cria um processo de estigma para os condenados, funcionando a pena como
geradora de desigualdades.
Consoante as lições de Nestor Sampaio, a criminalização primária, ou seja, a primeira vez que o sujeito
delinque, gera a etiqueta ou rótulo, o que produz a criminalização secundária, ou seja, a reincidência.
Esta etiqueta fica impregnada no sujeito, de modo que a sociedade sempre espera que a conduta venha a
ser praticada mais uma vez, rejeitando o criminoso após cumprir a sua pena. Desta forma, perpetua o
comportamento criminoso, fazendo com que este delinquente se aproxime dos demais indivíduos rotulados.
A teoria do Labelling Approach trabalha com as “cerimônias degradantes” – O Estado pratica uma série
de cerimônias degradantes na reação social formal. Ex: indivíduo criminoso comete um furto, é preso em
flagrante e sua prisão convertida em preventiva, sendo encaminhado ao sistema penitenciário. Chegando lá, seu
cabelo é raspado, barba feita, uniforme dado e nome substituído por um número de identificação –
“etiquetamento”.
O controle social é conceitual, é definitorial de crime, é ele que decide quem entra e quem sai.
Esta teoria não se preocupa com as causas do primeiro crime, mas se debruça sobre as consequências do
rótulo lançado sobre o criminoso após a prática do crime. Só recebem estes rótulos aqueles que forem atingidos
pelo sistema, assim, embora ele possa cometer condutas criminosas, se ele não for atingido pelas atividades das
instâncias oficiais, ele não receberá o estigma de delinqüente.
Pode-se dizer que o Brasil sofre influência desta teoria ao trazer os institutos despenalizadores na Lei
dos Juizados Especiais, considerando a papel estigmatizador das penas privativas de liberdade.
A teoria critica busca deslocar o paradigma de criminalização, através da redução das desigualdades
sociais e penalização da classe dominante (punindo a prática de crimes de colarinho branco, crimes financeiros,
tributários etc) ao mesmo tempo em que busca a intervenção mínima nas práticas criminosas das classes menos
favorecidas.
Pergunta-se será que nos modelos socialistas não haveria criminalidade?
A partir da década de 80/90 há um amadurecimento desta criminologia crítica, surgindo três tendências
da criminologia crítica:
a) NEORREALISMO DE ESQUERDA: surge como uma resposta à política de tolerância zero, policia de
direito penal máximo, de inflação legislativa, do direito penal simbólico. Esta tendência neorrealista de
esquerda concorda que o cárcere é interessante, importante, mas apenas para crimes mais graves e mais
específicos, pois, como regra, deveria evitar o cárcere.
Sumariva diz que “esta teoria admite que as frágeis condições econômicas dos pobres na sociedade
capitalista fazem com que a pobreza tenha seus reflexos na criminalidade (...). A criminologia neorrealista
defende que só uma política social ampla pode promover o justo e eficaz controle das zonas de delinquência
(...)” (p. 97).
b) DIREITO PENAL MÍNIMO: a aplicação irracional da pena gera mais violência do que o próprio crime,
então o direito penal tem que ser aplicado de forma absolutamente excepcional e racionalizada. Tem que deixar
de dar relevo à criminalidade de massa (praticados pela classe menos favorecida), para pensar na chamada
criminalidade de oprimidos (crimes de colarinho branco, racismo, corrupção, etc). Faz mais sentido aplicar o
direito penal aos crimes contra os oprimidos do que aos crimes de massa. Direito penal com caráter
fragmentário, como acessório, subsidiário.
c) ABOLICIONISMO PENAL: já que o direito penal não cumpre a sua função ideal, já que existe só para
causar desigualdades e assegurar o modelo capitalista, já que só serve a um senhor e produz marginalização, o
direito penal deve acabar. A forma mais radical.
Paulo Sumariva diz: “a criminologia abolicionista apresentava a proposta de acabar com as prisões e
abolir o próprio direito penal, substituindo ambos por uma profilaxia de remédios para as situações: problemas
com base no diálogo, na concórdia e na solidariedade dos grupos sociais, para que sejam decididas as questões
das diferenças, choques e desigualdades, mediante o uso de instrumentos que podem conduzir à privatização
dos conflitos transformando o juiz penal em juiz cível” (p. 92).
REFERÊNCIAS:
CALHAU, Lélio Braga.
GONZAGA, Christiano.
OLIVEIRA, Arnaldo Bruno.
RIBEIRO, Murilo.
SHECAIRA, Sérgio Salomão.
SUMARIVA, Paulo
TERSI, Gabriel.