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PROF.

THANIGGIA PETZOLD FONSECA 1


TOP. D. PENAL E PROC. PENAL – 2021-1

CRIMINOLOGIA

1. DISPOSIÇÕES INTRODUTÓRIAS

A criminologia integra os três pilares de sustentação das ciências criminais: direito penal, criminologia e
política criminal.
Esta palavra vem do latim crimen (crime) + grego logo (tratado) = estudo do crime.
Para Paulo Sumariva, “a função linear da criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos
sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros que
permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo
positivo no homem criminoso. A função da criminologia é indicar um diagnóstico qualificado e conjuntural
sobre o crime.“
De forma bem resumida, os três pilares das ciências criminais são:
→ DIREITO PENAL: tipifica modelos abstratos de comportamento, modela o dever ser, usa o método
dedutivo, partindo de uma situação geral, para chegar ao comportamento individual, particular. Crime
enquanto norma. É a ciência do dever ser.

→ CRIMINOLOGIA: objetivo de estudar o fenômeno do crime. Método indutivo, começa analisando a


realidade, para se chegar a regras gerais. Crime enquanto fato. É a ciência do ser.

→ POLÍTICA CRIMINAL: são as diretrizes, ações práticas para a prevenção da criminalidade, utilizadas
por razões de política pública. Exemplo: aumentar a iluminação em local que estava no foco de
estupradores. Ela não tem autonomia de ciência, pois não tem metodologia própria. Crime enquanto
valor.

Zafaroni: diz que a criminologia é uma ciência apolítica. E que no modelo latino americano não se
consegue separar criminologia de política pública.

CONCEITO: ciência empírica e interdisciplinar (métodos), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do
infrator, da vítima e do controle social (objetos de estudo) do comportamento delitivo, e que trata de
subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime –
contemplado este como problema individual e como problema social - , assim como sobre os programas de
prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções da criminologia) (Antonio García- Pablos de Molina).

Veja que neste conceito de Molina, mostra que a criminologia também visa buscar informações
relacionadas à prevenção. Sobre este tema, há uma classificação:
PREVENÇÃO:
a) PRIMÁRIA: medidas a médio e longo prazo. Investir na base, na estrutura, na raiz do conflito, como saúde,
educação, lazer e bem-estar. Programas político-sociais, intervenção comunitária, trazer qualidade de vida para
o cidadão, neutralizando o crime antes que ocorra.
b) SECUNDÁRIA: atuação onde o crime se manifesta, onde o crime se exterioriza. Determinar as zonas de
criminalidade. A principal forma de atuação é a policial. Porém, segundo a doutrina, existem outras formas,
como medidas de ordenação urbana, melhoria no aspecto visual das obras, controle dos meios de comunicação,
etc.
c) TERCIÁRIA: tem um destinatário específico, o preso. O objetivo é a ressocialização, para evitar a
reincidência.

MÉTODOS:
- EMPÍRICO: análise e observação da realidade. O criminólogo é o curioso. Em alguns casos alia o método
empírico com o experimental.
- INDUTIVO: parte de uma situação particular para ao final estabelecer uma conclusão geral. A criminologia é
a ciência do ser, a realidade nua e crua.
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- INTERDISCIPLINAR: faz uso de diversas outras ciências para formular seu conhecimento próprio, por
exemplo, biologia criminal, sociologia criminal, geografia criminal, psicologia criminal.

2. OBJETOS DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA ATUAL

Até o século XX tinham apenas dois objetos: crime e criminoso.


Atualmente: delito, delinquente, vítima e controle social.

2.1 DELITO

Não é o mesmo conceito de direito penal, vai além da ideia de que delito é aquilo que viola a lei,
esqueça o conceito analítico de crime. É a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor,
aflição e angústia, persistente no espaço e no tempo.

Incidência massiva na população: não pode ser um fato isolado, deve ocorrer com especificidade na
população. Com base neste requisito, Sergio Salomão Schecaria critica a criação de leis que criminalizam
condutas que não são de incidência massiva na população, e cita o exemplo do crime de molestar cetáceo,
criado por conta de um sujeito que, ao encontrar um golfinho preso na praia, introduziu um palito de picolé nas
suas narinas, vindo o cetáceo a morrer.

Incidência aflitiva: causar dor, angustia, sofrimento. Conduta que incomode, quer uma vítima individualizada,
quer a sociedade como um todo. Sérgio Salomão Schecaria também critica nossa legislação com base neste
requisito, com relação a um crime que tipifica a conduta daquele que usa a expressão “couro sintético”. Usar
esta expressão causa prejuízo?

Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo de certo
período de tempo. Furar fila da vacina, faria sentido criminalizar, considerando este critério?

Inequívoco consenso: consenso acerca da necessidade de punir esta conduta que tenha as características
anteriores. Veja que este requisito não está no conceito acima descrito. Mas a doutrina traz também este
requisito, o que também não torna o conceito anterior como errado.

2.2 DELIQUENTE

→ ESCOLA CLÁSSICA: auge no século XVIII, influenciada pela revolução francesa e ideais iluministas.
O delinquente é o pecador que optou pelo mal, livre-arbítrio. O homem tem vontade racional, então pode
escolher seguir ou não as leis. O crime é um ente jurídico, pois decorre de uma violação de um direito,
realizada pela vontade humana. Quando o homem comete crime ele quebra o contrato social (contrato social
de Rousseau). Ao reunir em sociedade, é como se assinássemos um contrato para viver em sociedade e um ente
controlar a sociedade, que é o Estado.
A pena deveria ter um caráter retributivo, de castigo, reparação, por tempo certo e determinado, até que
haja a reparação do mal causado pelo criminoso.

→ ESCOLA POSITIVA: Começa com CESARE LOMBROSO, seguida por ENRICO FERRI e
RAFAELLE GAROFALO. Lombroso queria dar uma explicação biológica para o crime, ele dizia que o
criminoso era um ser selvagem, ser atávico, o crime estava no seu DNA, no seu gene, acreditava que o homem
já nascia predisposto a ser criminoso.

De acordo com os estudos de Lombroso, os criminosos seriam mais altos que a média (e isso significava
1,69m na Veneza e 1,70 na Inglaterra), teriam crânios menores que os dos homens “normais” e maiores do que
os crânios dos “loucos”, além de uma aparência desagradável, mas não deformada, sendo que estupradores e
sodomitas teriam feições feminilizadas.
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Outras características comuns seriam orelhas de abano, nariz adunco, queixo protuberante, maxilar
largo, maçãs do rosto proeminentes, barba rala, cabelos revoltos, caninos bem desenvolvidos, cabelos e olhos
escuros. Ladrões teriam olhar esquivo, já os assassinos um olhar firme e vidrado. Seriam ainda especialmente
insensíveis à dor. Socialmente, criminosos teriam preferência por tatuagens o que provaria sua insensibilidade à
dor.
Entre as mulheres, o que denotaria o potencial criminoso seria uma certa masculinidade nos traços e na
voz, causados por um excesso de pelos corporais, verrugas, cordas vocais grossas com relação à laringe,
mamilos pequenos ou muito grandes e mesmo sua forma de escrever. As mulheres criminosas seriam em geral
mais cruéis que os homens, e possuiriam vitalidade, reflexos e força incomuns.

FERRI contraria um pouco Lombroso quanto a esta ideia de criminoso nato, trazendo a figura dos
criminosos eventuais, passionais, habituais, etc. dizendo que várias circunstâncias podem influenciar o crime de
alguma forma. Ele aproveita um pouco a ideia de Lombroso, mas aperfeiçoa.
Para GAROFALO, o homem tem uma anomalia psíquica ou moral.
Ponto em comum entre os três: O PROBLEMA DO CRIME É DO HOMEM.
Conceito de delinquente para esta escola positivista: Delinquente é o prisioneiro de sua própria patologia
ou de processos causais alheios.
A pena deveria ter caráter curativo. O que assemelha à medida de segurança hoje usada. Como tem
caráter curativo, a pena poderia ser imposta por prazo indeterminado, até que haja a cura.

→ ESCOLA CORRECIONALISTA: não teve profunda influência no Brasil. O criminoso era um ser
inferior, um ser débil, que precisa de ajuda, pois não teve oportunidade na vida. Assim, o estado deve adotar
uma postura de orientação e proteção. O Estado deve ter uma atitude de piedade e pedagógica para com o
criminoso. Pode-se dizer que o ECA reflete esta escola, quando se trata de menor infrator.

→ MARXISMO: o culpado para o criminoso é a própria sociedade. A própria sociedade é culpada pelo
crime, motivada pelo capitalismo. O criminoso é vitima inocente das estruturas econômicas.

→ CONCEITO ATUAL DE DELINQUENTE: indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não as
seguir por razões multifatoriais, e nem sempre assimiladas por outras pessoas. Um ser normal, homem real que
se submete às leis e pode não cumpri-las por razões que nem sempre são compreendidas (Paulo Sumariva).

2.3 VÍTIMA

Historicamente, a figura da vítima observou 03 fases bem delineadas:


a) PROTAGONISMO (IDADE DE OURO): vingança privada, autotutela, lei do talião. A vítima tinha a
persecução penal em suas mãos. Na idade média. Exemplo, duelos em filmes de faroeste.
b) NEUTRALIZAÇÃO (ESQUECIMENTO): o estado chama para si a punição. A polícia (polis = cidade) é
que irá manter a ordem na cidade. A vítima deixa de ser o centro, sendo abandonada do conflito criminal,
sendo neutralizada, inclusive, a legitima defesa. Não olhava o trauma das vítimas, mas a esquecia.
c) REDESCOBRIMENTO (REVALORIZAÇÃO): após a segunda guerra mundial surgiu a ideia de
vitimologia, em decorrência do tratamento dado aos judeus, assim, revalorizou a vítima, dando um contorno
mais humano para ela.
Houve a criação da vitimologia, preocupando com a vontade da vítima, reparar o dano da vítima,
perceber o envolvimento da vítima. A lei 9099/95 trouxe esta ideia de valorização da vitima, com a necessidade
da representação para a ação penal pública condicionada, a transação penal, suspensão condicional do processo,
compensação dos danos da vitima. A vítima não tem a mesma autonomia da primeira fase, a fase de ouro, mas
foi redescoberta.

2.3.1 TIPOS DE VITIMIZAÇÃO:

Vitimização é um sofrimento suportado pela vitima devido a um evento traumático, neste caso, o crime.
a) VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA: efeitos diretos e indiretos da conduta criminal. EX: efeito direito de um
roubo, ficar sem o objeto roubado, efeito indireto, ficar com medo de andar na rua, efeitos psicológicos. Esta
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vitimização se relaciona ao indivíduo diretamente atingido pela conduta criminosa, podendo ser de ordem
física, material ou psicológica.

b) VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA: é reviver os fatos passados pela vítima ou ser revitimizada em


inquérito, processo, por exemplo, ser caçoada por ter sido besta e ter caído em golpes. É uma consequência das
relações entre as vítimas primárias e o Estado, em face da burocratização do aparelho repressivo, como polícia,
MP, etc. É uma consequência do processo.
Nas palavras de Lélio Braga Calhau é o sofrimento adicional que a dinâmica de Justiça Criminal, com suas
mazelas, provoca normalmente nas vítimas.

c) VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA: ausência de receptividade social, omissão estatal. Exemplo: um marido


abandonar a esposa que foi estuprada; ser vista com dó pela sociedade. É a vitimização decorrente de um
excesso de sofrimento, quando a vitima é abandonada, em certos delitos, pelo Estado e estigmatizada pela
comunidade, incentivando a cifra negra. Ocorre apenas em alguns delitos.

OBS: Síndrome da Barbie e Síndrome de mulher de Potifar: a primeira síndrome demonstra a ideia de
coisificação da mulher, a mulher que é criada para ser objeto de desejo e, de fato, tratada como objeto pelos
homens. Este pensamento internalizado na mulher faz com ela veja como naturais e corretas algumas condutas
que são praticadas contra ela e, em certos casos, não se veem como sujeitas de direitos, mas sim como objetos
de direito dos outros, o que faz surgir as cifras negras, pois crimes podem estar sendo cometidos contra elas e
elas nada fazem, por achar normal.
A segunda síndrome decorre da histórica bíblica que envolve José e a mulher de Potifar. Esta, ao ser
rejeitada por José, ficou irada, assim, passou a acusar José de tê-la violentado sexualmente, levantando falsas
acusações contra José, o que configura, em tese, crime de denunciação caluniosa.
Síndrome de Estocolmo: um estado psicológico particular desenvolvido por algumas pessoas que são
vítimas de sequestro ou detidas contra sua vontade, criando laços afetivos com o seu raptor (Paulo Sumariva, p.
142).
Síndrome de Londres: os reféns passam a discutir e discordar do comportamento dos sequestradores,
gerando assim uma antipatia que, não raras vezes, poderá ser fatal (Paulo Sumariva, p. 143).

2.3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS ( Benjamin Mendelsohn – pai da vitimologia)

a) Vítima completamente inocente (vítima ideal): Trata-se da vítima completamente estranha à ação do
criminoso, não provocando nem colaborando de alguma forma para a realização do delito. Como exemplo, uma
senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua.
b) Vítima de culpabilidade menor (vítima por ignorância): Ocorre quando há um impulso não voluntário ao
delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. É a vitima descuidada.
Pessoa descuidada andando em rua deserta e escura e falando ao celular.
c) Vítima voluntária ou tão culpada: Ambos podem ser o criminoso ou a vítima. Como exemplo, temos
uma Roleta Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o tambor até um se matar).
Sem a contribuição da vitima o crime não teria ocorrido, como na corrupção, aborto consentido, rixa.
d) Vítima mais culpada que o infrator: Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam
o autor do crime, as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja
uma parcela de culpa do autor. Exemplo, lesão corporal ou homicídio privilegiado cometidos por conta da
injusta provocação da vitima.
e) Vítima unicamente culpada: Vítima infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim se torna
vítima, como ocorre no caso do homicídio por legítima defesa; Vítima Simuladora, que por meio de uma
premeditação irresponsável induz um indivíduo a ser acusado de um delito, gerando, dessa forma, um erro
judiciário; ou ainda Vítima imaginária, que se trata de uma pessoa portadora de um grave transtorno mental
que, em decorrência de tal distúrbio leva o judiciário a erro, podendo se passar por vítima de um crime,
acusando uma pessoa de ser o autor, sendo que tal delito nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma
imaginação da vítima.
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2.4 CONTROLE SOCIAL

Constitui em um conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às


normas de convivência social (Shecaira). Comportamento social dominante, que visa garantir a convivência
harmônica e pacifica. Através do controle social, o sujeito irá sofrer as penas do sistema penal, mas também as
sanções da sociedade, por exemplo, estigmatização. Existem dois sistemas de controle na sociedade:
- INFORMAL: É o controle realizado por amigos, sogra, vizinhos, escola, igreja, ambiente de trabalho.
Quando estas instituições de controle social informal falham, entram as instituições de controle formal.
- FORMAL: Polícia, MP, judiciário, sistema prisional.

Os índices informam que quanto mais fortes forem os controles informais, os índices de criminalidade
são menores.

3. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS (MODELOS TEÓRICOS DE CRIMINOLOGIA)

3.1 ESCOLA CLÁSSICA

Autores: Cesare Beccaria Bonesana, Giandomenico Romagnosi e Francesco Carrara.


Período: século XVIII e início do século XIX
Paradigma histórico: Foi influenciada pelos ideais iluministas.

Tinha como presunção a racionalidade do homem. Logo, ele era tido como um ser livre, racional e
que podia optar entre seguir ou não seguir as leis.
Vislumbra o contrato social de Rousseau – que foi assinado pelo povo para que pudessem viver em
sociedade. O crime é uma quebra do pacto, do contrato social. A aplicação da pena é salvaguardar este contrato.
São ilegítimas todas as penas que não revelem uma salvaguarda do contrato social.
O criminoso assim se torna por conta do seu livre-arbítrio, inerente ao ser humano. O delito surge da
livre vontade do indivíduo. Ele que escolhe seguir ou não as leis.
GIANDOMENICO ROMAGNOSI: A pena constitui um contraestimulo ao impulso criminoso.
Princípios fundamentais da Escola Clássica são:
a) O delito não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico, pois ele decorre da violação de um direito e essa
violação decorre da vontade racional do homem, pois ele tem vontade, livre arbitrário. (FRANCESCO
CARRARA).
b) A pena deve ter caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente (maldade), de modo a prevenir o
delito com certeza, rapidez e severidade e a restaurar a ordem externa social.
“A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função essencial da pena”.
Para CARRARA a função essencial da pena é a eliminação do perigo social.
BECCACIA sustentava que a pena deve ser proporcional ao mal causado pelo criminoso, sem visar
apenas seu sofrimento.
c) se preocupa com o fato criminoso, não com o criminoso.

A grande contribuição da escola clássica para a criminologia foi o Princípio da Legalidade. Por conta
disso, não se preocupou tanto com as causas da criminalidade, mas se preocupou apenas com o crime, como
este é previsto abstrativamente pela lei penal.

RESUMO DA ESCOLA CLÁSSICA:


. Beccaria
. Romagnosi
. Carrara
. Ideais Iluministas
. Contrato social
. Vontade racional do homem.
. Se preocupa com o fato praticado pelo homem, não com o criminoso.
. Pena deve ter prazo certo e determinado.
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Crítica a esta escola: entendia que as causas da criminalidade não eram importantes, mas sendo relevante tão
somente o estudo das leis abstratas, colocando em segundo plano o estudo do delinquente e o que o levou a
praticar delitos.

3.2 ESCOLA POSITIVA OU POSITIVISTA

Período: século XIX e início do século XX


Principais autores: Cesare Lombroso (fase biológica), Enrico Ferri (fase sociológica) e Raffaele Garofalo (fase
jurídica).

“O foco era o homem delinquente, considerado como um indivíduo diferente e, como tal, clinicamente
observável” (Alessandro Baratta).

Modelo positivista da criminologia: estudo das causas ou dos atos da criminalidade (paradigma etiológico), a
fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los, intervindo, sobretudo, no sujeito criminoso. O
foco é o delinqüente, através de estudos empíricos, experimentais.

Lombroso: “O homem e o delinquente” (obra) – realizou estudos com criminosos, utilizando-se do método
empírico de pesquisa, estudando a realidade, in locu, entrevistou mais de 25 mil presos, realizou autópsias em
mais de 400 corpos. O ponto de partida de Lombroso foram pesquisas craniométricas de criminosos, analisando
fatores anatômicos, fisiológicos e mentais.
Conceito de criminoso para Lombroso: ser atávico, um animal impulsivo, um animal selvagem.
Algumas circunstâncias externas servem apenas como pavio para estourar algo que o homem já tem dentro
dele, uma vez que ele já nasce criminoso. Para ele o crime não é uma entidade jurídica, mas sim um fenômeno
biológico. Trouxe a concepção do criminoso nato, de que certas pessoas já nasceriam para o crime, de acordo
com algumas características biológicas, o que poderia ser evitado, buscando tais pessoas na sociedade e as
retirando do convívio social. Não haveria a ideia de livre-arbítrio, o homem não é livre de sua carga genética e
não consegue evitar e lutar contra a sua natureza criminógena e predisposta para o crime.
Segundo a doutrina, a principal contribuição de Lombroso para a criminologia é a adoção do método
empírico – analisando e observando a realidade. Buscava, mediante uma regra particular, uma hipótese geral.
Crítica: A noção de criminoso que ele tinha era o preso, ou seja, ele estudava o criminoso em situações
extremas de prisões degradantes, uma pesquisa totalmente contaminada, pois o criminoso não estava inserido
no seu real ambiente, mas estava sendo influenciado por um ambiente de prisão. A grande falha de Lombroso
foi desconsiderar estes fatores da prisão. Além disso, Lombroso ignorava as cifras negras, ou seja, aqueles
crimes que não eram relatados para as autoridades.

Enrico Ferri, genro de Lombroso, que veio para criticar as teorias de Lombroso. Diferente do sogro,
Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais alargada da criminalidade, evitando-se o
reducionismo antropológico de Lombroso, ou seja, evitando dar apenas uma explicação biológica para o
criminoso.
Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais.
- Antropológicos: constituição orgânica e psíquica do indivíduo (raça, idade, sexo, estado civil, etc).
- Físicos: clima, estações, temperaturas, etc. pesquisas apontam que lugares mais quentes tendem a ter maiores
registros de crimes.
- Sociais: densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação, etc.
Ferri cria a classificação de 05 tipos de criminosos:
1. Nato: é o animal selvagem de Lombroso. Ferri concorda com Lombroso, de que existe este animal
predisposto ao crime, mas para ele existem outros tipos de criminosos.
2. Louco: tem uma deficiência mental ou uma atrofia do senso moral, não consegue distinguir o que é certo ou
errado. O crime deve ser motivado por esta deficiência ou atrofia.
3. Habitual: o crime sempre fez parte da sua realidade, sobretudo por estar inserido em um contexto de pobreza
e criminalidade. Este criminoso tem alta periculosidade e baixa readaptabilidade.
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4. Ocasional: pratica o crime por uma situação emergencial e temporal. Exemplo, cometer crime para dar de
comer ao filho. Este criminoso tem baixa periculosidade e alta readaptabilidade.
5. Passional: aquele que comete o crime impelido por paixões pessoais. Essas paixões podem derivar de vários
fatores, como fanatismo religioso, político, social, etc.
Ferri prima pela defesa social a todo custo, em detrimento dos direitos individuais do criminoso, uma
vez que vale mais a proteção social do que a liberdade de um criminoso. Assim, ele aposta nas medidas de
segurança, sem prazo determinado de encerramento e sem a necessidade de se passar por um procedimento
legalista demorado.

Raffaele Garofalo – Era um jurista, por isso esta fase é conhecida como fase jurídica.
O crime sempre está no individuo, e que é uma revelação de uma natureza degenerativa, sejam as causas
antigas ou recentes. Ele também entendia que o crime estava no indivíduo.
Para Garofalo, o crime está fundamentado em uma anomalia – não patológica – mas psíquica ou moral
(déficit na esfera moral da personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica, transmissível
hereditariamente).
Utilizava o termo TEMIBILIDADE (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do
mal previsto que se deve temer por parte deste delinquente). É como se fosse um grau de perversidade que se
pode esperar daquele individuo, o que a gente pode esperar de mau deste individuo.
A principal contribuição de Garofalo foi a filosofia de castigo. A ideia dele é fazer uma seleção dos
melhores seres, eliminando um criminoso que não se adapta à sociedade, seja por extradição ou pena de morte.
Ele entende ser possível pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladrões profissionais e
criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral, exemplo, envio de um criminoso por
tempo indeterminado para colônias agrícolas.

RESUMO DA ESCOLA POSITIVISTA


- Adoção do método empírico (Lombroso);
- Pena como medida de defesa social, para recuperação do criminoso, por tempo indeterminado, até obtida a
recuperação;
- O critério de medição da pena está ligado ao indivíduo;
- A duração da pena deve ser medida em relação aos seus efeitos – melhoria e reeducação;
“O delito é, também para a Escola POSITIVA, um ente jurídico, mas o direito que qualifica este fato humano
não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural (biológica e psicológica) e social” (Baratta).

ESCOLA CLÁSSICA X ESCOLA POSITIVISTA


- pré-científica - científica
- método do d. penal - método empírico
- Séc. XVIII e inicio do - final do séc XIX e séc XX
Sec XIX
- Delinquente normal - Delinquente anormal
- Pena de prazo certo - Pena de prazo indeterminado
- Beccaria, Romagnosi, Carrara - Lombroso, Ferri e Garofalo.

4. A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA (ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS MODERNAS,


TEORIAS MACROSSOCIOLÓGICAS)

As teorias macrossociológicas analisam diversas opiniões justificadoras do crime, com foco na


sociedade como um todo.
Nesta moderna criminologia científica se destacam três modelos explicativos do comportamento
criminal:
- Biologia criminal
- Psicologia criminal
- Sociologia criminal – segunda metade do século XX, ou seja, as próximas correntes surgidas se pautam na
sociologia criminal. Dá-se um giro sociológico na criminologia. Com essa mudança, a atenção se volta para os
EUA, iniciando com a Escola de Chicago.
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O foco agora será a sociologia criminal, não se limitando à análise do delito segundo uma visão do
indivíduo ou de pequenos grupos, mas sim da sociedade como um todo. O problema agora é da sociedade, não
mais um desvio moral (clássica) ou um defeito congênito (positivista). A vítima e o controle social passam a ser
analisados e não apenas o delito e o delinquente, como ocorria nas duas escolas anteriores (clássica e
positivista), ou seja, há uma ampliação do objeto de estudo.
As teorias sociológicas se dividem em teorias de consenso e teorias de conflito:

Teorias de consenso X Teorias de conflito


- Escola de Chicago - Labelling Approach
- Teoria da Anomia - Criminologia crítica
- Teoria da Associação Diferencial
- Teoria das subculturas delinqüentes.

Teorias de consenso (FUNCIONALISTA): Para Nestor Sampaio, as teorias de consenso entendem que os
objetivos da sociedade são atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os
indivíduos convivendo e compartilhando as metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio.
Aqui os sistemas sociais dependem da voluntariedade de pessoas e instituições, que dividem os mesmos
valores. A divergência social entre valores e regras favorece o surgimento de práticas criminais e aumento de
delinqüentes. O crime seria uma afronta a esses valores comuns, comprometendo a saúde de determinada
sociedade.

Teorias de conflito (ARGUMENTATIVA): a harmonia social decorre da força e da coerção, em que há uma
relação entre dominantes e dominados. Não há voluntariedade entre os personagens para a pacificação social,
mas esta é decorrente da imposição ou coerção. A ordem social é imposta por uma minoria, não é consensual.
Para estas teorias, o crime pode ser visto não como uma patologia, mas como uma forma de protesto contra as
imposições, podendo citar como exemplo os revolucionários que lutam contra o sistema, que, muitas vezes, são
considerados como criminosos, por estarem conflitando com as regras impostas coercitivamente.

4.1 ESCOLA DE CHICAGO (TEORIA ECOLÓGICA OU ECOLOGIA CRIMINAL)

“A cidade produz delinqüência”.


Sinônimos desta escola – teoria ecológica ou teoria da ecologia criminal. Ecológica porque tem ligação
com ambiente, a influência do ambiente para a criminalidade. Passou a atribuir a sociedade as causas do
fenômeno criminal, houve uma análise do contexto social no qual o individuo estava inserido.
Após vários estudos, a Escola de Chicago chegou à conclusão de que as zonas ou regiões urbanas que se
encontravam em estado de deterioração, desorganização e carentes de serviços públicos básicos eram os
habitats propícios para o surgimento e ação das gangues de rua e bandos de delinquentes juvenis.
Entendeu-se que a cidade de Chicago tinha áreas sociais que geravam o crime, espaço urbano degradado
condicionava a quebra das regras e instituições sociais, determinando o comportamento desviante.
A região central é onde funciona grande parte da atividade comercial. As pessoas que trabalham na
região central, menos favorecidas, não possuem condições de morar em áreas mais afastadas, mais ricas e
residenciais, e acabam ficando amontoadas na região central. Já as pessoas ricas podem morar em outras
regiões, em bairros organizados.
A escola de Chicago diz que estas áreas centrais e mais povoadas são áreas desorganizadas, criando área
de delinquências, locais onde os crimes são praticados com mais frequência.
O enfraquecimento do controle social é um fator importante para a escola de Chicago. A omissão do
estado gera na população a potencialidade de justiceiros, milícias, etc.
Com isso, a sugestão da escola de Chicago foi tornar as áreas mais distantes e periféricas como áreas
praticamente independentes, em que os cidadãos encontrem tudo ao seu redor. Além disso, melhorar o aspecto
arquitetônico. Visa à prevenção, tirando as condições que favoreciam as práticas delitivas, de forma planejada,
com a participação da sociedade (chamada como Teoria Espacial, que decorre da escola de Chicago).
Criticas a esta escola: não conseguiu explicar a razão da existência de crimes nas regiões mais
burguesas. Teve uma visão limitada da criminalidade. Perspectiva limitada da criminalidade.
A criminalização da pichação é influenciada por esta escola.
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Dependendo da área que se estuda, pode-se ter maior incidência de determinado fato criminoso ou de
um tipo de delinquente específico.
A escola de Chicago também tem relação com uma limpeza da sociedade, reprimindo rapidamente os
pequenos delitos, a fim de, desde o início, já repelir este tipo de pessoas da sociedade, inibindo condutas mais
grave.

RESUMO: Passa a atribuir também à sociedade e não apenas ao criminoso as causas do fenômeno criminal –
análise do contexto social no qual o indivíduo está inserido.
→ Relação com a ausência de controle social informal;
→ Desorganização;
→ Deterioração de grupos primários, por exemplo, família;
→ Modificação das relações interpessoais, ficando mais superficiais;
→ Perda das raízes no local de vivência;
→ Crise de valores, tradições;
→ Superpopulação.

4.2 ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL (TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL OU TEORIA DO


APRENDIZADO)

Principal autor: Edwin H. Sutherland


Faz uma crítica à escola de Chicago, ao dizer que o crime não pode ser definido apenas como disfunção
ou inadaptação das pessoas de classe menos favorecidas, pois, alguns comportamentos desviantes requerem
conhecimento especializado, ou ainda habilidade de seu agente, o qual aprende tal conduta desviada e associa-
se a ela.
O homem aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela. Crime é um processo de
aprendizado. A depender das pessoas com que você convive, você pode aprender sobre o crime ou não. O
comportamento criminoso não é hereditário, mas é aprendido no meio, através de um processo de imitação,
“todos fazem, por que não farei?”.
Por ser um comportamento aceito dentro do grupo social que ele vive, para ele é como se inexistisse
controle social, pois ele não será reprimido em sua conduta, na verdade, muitas vezes será estimulado.
Assim, o comportamento criminal é aprendido e não fruto da carga hereditária. O individuo é convertido
em criminoso, independentemente da classe social, quando os valores predominantes no grupo social do qual
faz parte se coadunam com o crime.
Pense em um indivíduo que mora em uma comunidade carente, local onde o Estado não chegue, falta
infraestrutura, falta saúde, falta educação. Por outro lado, ele observa o traficante, que tem dinheiro, que ajuda a
comunidade, que pode lhe oferecer um emprego de fogueteiro do tráfico, ganhando mais que o dobro de um
salário mínimo. Qual modelo este sujeito está mais tendente a se associar?
Outro exemplo, um filho que sempre vê o pai empresário sonegando impostos para ter lucros na
atividade. Ele também pode aprender com o pai a também agir assim, aprender a ser criminoso.
O processo de criminalização é acentuado quando as considerações favoráveis ao cometimento de
ilícitos superam as desfavoráveis gerando o aprendizado do crime.
Este autor conceitua os crimes de colarinho branco, como sendo crime cometido no âmbito de sua
profissão por pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social.
Nomenclatura associação diferencial: os princípios do processo de associação pelo qual se desenvolve o
comportamento criminoso são os mesmos que os princípios do processo pelo qual se desenvolve o
comportamento legal, mas os conteúdos dos padrões apresentados na associação diferem.
Esta teoria coloca em descrédito várias teorias, como as positivistas, as antropológicas, ao dizer que o
crime é um aprendizado, e não uma patologia, algo psicológico.

4.3 TEORIA DA ANOMIA

Principais autores: Émile Durkheim e Merton.


Anomia = sem lei, injustiça, desordem.
Paradigma histórico da anomia: American Dream (consumo e dinheiro como prestigio).
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Para esta teoria, o comportamento desviante é um sintoma de dissociação entre as aspirações


socioculturais e os meios desenvolvidos para alcançar tais aspirações.
Na sociedade são desenvolvidas metas culturais, modelos de sucesso, exemplo, ter uma boa vida com
dinheiro, acúmulo de patrimônio, qualidade de vida, isso em uma sociedade capitalista. O insucesso em atingir
tais metas devido à insuficiência dos meios institucionalizados também pode produzir a manifestação de um
comportamento no qual as regras do jogo social são abandonadas e contornadas.
Para Merton, a anomia é, quando o que eu tenho disponível não é suficiente para eu atingir o modelo de
sucesso, eu tenho um desajuste. Exemplo, o salário mínimo não é suficiente para atingir estas metas culturais.
Para ele, esta anomia fomenta a criminalidade. Existem indivíduos que não se conformam por não atingir o
modelo de sucesso, então partem para os meios ilegais.
Merton criou cinco tipos de adaptação individual, para explicar as diferentes maneiras que as pessoas
lidam com estes desajustes:
- Conformidade: Ocorre a perfeita harmonia, o que eu tenho disponível é suficiente para atingir o modelo de
sucesso. O indivíduo aceita os meios sociais institucionais para alcançar suas metas culturais, ele adere ao
comportamento aceito e esperado pela sociedade e não apresenta comportamento desviante (Lélio Braga
Calhau)
- Ritualismo: É o que a maior parte da população faz. Renuncia à meta de sucesso, mas segue com as normas
sociais. Continua vivendo normal e se conformando com o que tem.
- Retraimento/ apatia: Há renúncia a ambos, tanto ao modelo de sucesso, como as normas sociais de referência.
Não fazem mais questão de conviver em sociedade e seguir as regras. Exemplos, mendigos e viciados em
drogas. Vejam que eles não se importam em adequar aos padrões.
- Inovação: Meios ilegais para atingir a meta de sucesso. É o atalho. O indivíduo aceita as metas culturais, mas
não os meios institucionalizados, ele rompe com o sistema para atingir suas metas culturais.
- Rebelião: As pessoas questionam a própria meta de sucesso, refutam os padrões vigentes. Redefinição da meta
de sucesso e dos meios de sucesso. A conduta da rebelião busca uma nova ordem social, tendo como exemplo
os movimentos de revolução social.
Trabalho mal remunerado X dinheiro fácil oriundo do tráfico, roubo, furto, etc. Empresário diante do fracasso
do sistema em não reverter os tributos para o bem comum: continuar pagando diariamente a pesada carga
tributária X sonegar.

Anomia para Durkheim: ausência, desintegração, desmoronamento, de normas sociais de referência,


ocasionando a crise de valores. Para ele o crime fere a consciência coletiva, o que gera a crise de valores.
Estando no estado de anomia, há uma potencialização da prática de atos criminosos.
Criação de um ambiente de anomia – a impunidade X aumento da criminalidade. O individuo passa a
agir de forma criminosa, livre de regramento e dos vínculos com a sociedade a que pertence, livre da ideia de
controle social, diante da impunidade. Ex: ocorrência de saques em Vitória durante a greve da PM. Era uma
ideia de impunidade e o momento para satisfazer as suas metas e anseios. Foram 144 mortes, 300 lojas
saqueadas, sendo 200 roubos/furtos de veículos só no dia 06/02/17, em Vitória.

4.4 TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE

Teórico: Albert Cohen, com o livro Deliquent boys, de 1955.


Subcultura: enfrentamento desviante de jovens em relação à sociedade adulta tradicional. As subculturas
aceitam certos aspectos dos sistemas de valores predominantes, mas também expressam sentimentos e crenças
exclusivas de seu próprio grupo. Exemplo, gangues de periferia, rebeldia de jovens contra os valores
dominantes, skin heads.
Critica a escola Chicago, dizendo que, quando o estado é omisso, não quer dizer que vá levar a uma
desorganização social, pelo contrário, pode fazer surgir grupos que visem defender normas e regras próprias.
Características:
- não-utilitarismo da ação: os crimes são realizados por puro prazer, sem um fim utilitarista.
- malícia da conduta: as condutas são realizadas para causar desconforto alheio. Exemplo, hostilidade gratuita
contra jovens que não pertencem a gangues.
- negativismo: objetivo de mostrar o rechaço deliberado dos valores da classe dominante.
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De acordo com Lélio Braga Calhau, “é um mosaico de grupos, subgrupos, fragmentado, conflitivo; cada
grupo ou subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os valores
majoritários e oficiais, e todos cuidam de fazê-lo valer diante dos restantes, ocupando o correspondente espaço
oficial”.

Exemplos: gangues de lutadores na década de 90 que saiam pela rua para bater em pessoas. Entravam
em festas e agrediam pessoas.
Pichadores de prédios sem qualquer mensagem, sem produzir nada.
Morte do índio no ponto de ônibus em Brasília, jovens o queimou enquanto dormia.
Alguns membros de torcida organizada.

4.5 TEORIA DO LABELLING APPROACH

Esta é a primeira teoria contenciosa e, talvez, uma das mais importantes. De acordo com Zaffaroni, a
tese desta teoria pode ser definida pela seguinte afirmação: cada um de nós se torna aquilo que os outros vêem
em nós. De acordo com essa sistemática, a prisão cumpre função reprodutora, ou seja, a pessoa rotulada como
delinqüente assume o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo.
Esta teoria também é chamada de teoria do etiquetamento, da rotulação, da reação social ou
interacionista. Esta rotulação cria um processo de estigma para os condenados, funcionando a pena como
geradora de desigualdades.
Consoante as lições de Nestor Sampaio, a criminalização primária, ou seja, a primeira vez que o sujeito
delinque, gera a etiqueta ou rótulo, o que produz a criminalização secundária, ou seja, a reincidência.
Esta etiqueta fica impregnada no sujeito, de modo que a sociedade sempre espera que a conduta venha a
ser praticada mais uma vez, rejeitando o criminoso após cumprir a sua pena. Desta forma, perpetua o
comportamento criminoso, fazendo com que este delinquente se aproxime dos demais indivíduos rotulados.
A teoria do Labelling Approach trabalha com as “cerimônias degradantes” – O Estado pratica uma série
de cerimônias degradantes na reação social formal. Ex: indivíduo criminoso comete um furto, é preso em
flagrante e sua prisão convertida em preventiva, sendo encaminhado ao sistema penitenciário. Chegando lá, seu
cabelo é raspado, barba feita, uniforme dado e nome substituído por um número de identificação –
“etiquetamento”.
O controle social é conceitual, é definitorial de crime, é ele que decide quem entra e quem sai.
Esta teoria não se preocupa com as causas do primeiro crime, mas se debruça sobre as consequências do
rótulo lançado sobre o criminoso após a prática do crime. Só recebem estes rótulos aqueles que forem atingidos
pelo sistema, assim, embora ele possa cometer condutas criminosas, se ele não for atingido pelas atividades das
instâncias oficiais, ele não receberá o estigma de delinqüente.
Pode-se dizer que o Brasil sofre influência desta teoria ao trazer os institutos despenalizadores na Lei
dos Juizados Especiais, considerando a papel estigmatizador das penas privativas de liberdade.

4.6 TEORIA CRÍTICA, RADICAL OU NOVA CRIMINOLOGIA

A criminologia crítica é a crítica final de todas as outras correntes criminológicas,


fundamentalmente por recusar assumir este papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o
problema criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista.
De acordo com Paulo Sumariva, a criminologia crítica amplia o campo de investigação para abranger as
instâncias formais de controle como fator criminógeno (leis, polícia, ministério público e tribunais).
Os atos são criminosos porque é de interesse de uma elite considerar os atos criminosos, as condutas
delitivas dos menos favorecidos são perseguidas, ao contrário do que ocorre com a criminalidade dos
poderosos. As leis penais são aprovadas para gerar uma estabilidade temporária, encobrindo confrontações
violentas entre as classes sociais.
Observe que esta é uma teoria pautada no pensamento Marxista, uma vez que acredita que o modelo
econômico adotado em certo local é o principal fator gerador da criminalidade, o delito é visto como um
fenômeno proveniente do sistema de produção capitalista.
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Características desta teoria:


- O direito penal se ocupa de proteger os interesses do grupo dominante. Se chama também de teoria crítica,
pois vem para criticar o papel da lei penal no sistema de produção capitalista, considerando o delinqüente como
vitima do capitalismo e o direito penal é criado para atender aos interesses da classe dominante.
- Reclama compreensão e até apreço pelo criminoso;
- O capitalismo é a base da criminalidade;
- Propõe reformar na sociedade para a redução da desigualdade e, consequentemente, da criminalidade.

A teoria critica busca deslocar o paradigma de criminalização, através da redução das desigualdades
sociais e penalização da classe dominante (punindo a prática de crimes de colarinho branco, crimes financeiros,
tributários etc) ao mesmo tempo em que busca a intervenção mínima nas práticas criminosas das classes menos
favorecidas.
Pergunta-se será que nos modelos socialistas não haveria criminalidade?

A partir da década de 80/90 há um amadurecimento desta criminologia crítica, surgindo três tendências
da criminologia crítica:

a) NEORREALISMO DE ESQUERDA: surge como uma resposta à política de tolerância zero, policia de
direito penal máximo, de inflação legislativa, do direito penal simbólico. Esta tendência neorrealista de
esquerda concorda que o cárcere é interessante, importante, mas apenas para crimes mais graves e mais
específicos, pois, como regra, deveria evitar o cárcere.
Sumariva diz que “esta teoria admite que as frágeis condições econômicas dos pobres na sociedade
capitalista fazem com que a pobreza tenha seus reflexos na criminalidade (...). A criminologia neorrealista
defende que só uma política social ampla pode promover o justo e eficaz controle das zonas de delinquência
(...)” (p. 97).

b) DIREITO PENAL MÍNIMO: a aplicação irracional da pena gera mais violência do que o próprio crime,
então o direito penal tem que ser aplicado de forma absolutamente excepcional e racionalizada. Tem que deixar
de dar relevo à criminalidade de massa (praticados pela classe menos favorecida), para pensar na chamada
criminalidade de oprimidos (crimes de colarinho branco, racismo, corrupção, etc). Faz mais sentido aplicar o
direito penal aos crimes contra os oprimidos do que aos crimes de massa. Direito penal com caráter
fragmentário, como acessório, subsidiário.

c) ABOLICIONISMO PENAL: já que o direito penal não cumpre a sua função ideal, já que existe só para
causar desigualdades e assegurar o modelo capitalista, já que só serve a um senhor e produz marginalização, o
direito penal deve acabar. A forma mais radical.
Paulo Sumariva diz: “a criminologia abolicionista apresentava a proposta de acabar com as prisões e
abolir o próprio direito penal, substituindo ambos por uma profilaxia de remédios para as situações: problemas
com base no diálogo, na concórdia e na solidariedade dos grupos sociais, para que sejam decididas as questões
das diferenças, choques e desigualdades, mediante o uso de instrumentos que podem conduzir à privatização
dos conflitos transformando o juiz penal em juiz cível” (p. 92).

REFERÊNCIAS:
CALHAU, Lélio Braga.
GONZAGA, Christiano.
OLIVEIRA, Arnaldo Bruno.
RIBEIRO, Murilo.
SHECAIRA, Sérgio Salomão.
SUMARIVA, Paulo
TERSI, Gabriel.

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