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Criminologia

Conceito
criminologia como a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e
interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do
comportamento delitivo e da vítima, e o controle social das condutas criminosas.
influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o
direito, a medicina legal etc.
a ciência recebeu seus primeiros contornos a partir das contribuições de Cesare
Lombroso com a sua Teoria do Delinquente Nato.
O desenvolvimento desta ciência recebeu constantes aperfeiçoamentos ao longo do
tempo, e seu conceito atual mais famoso foi cunhado de acordo com os estudos de
Edwin H. Sutherland, que define a Criminologia como “um conjunto de
conhecimentos que estuda o fenômeno e as causas da criminalidade, a
personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo”.
“ciência autônoma que estuda o criminoso, o crime, a vítima, os controles sociais
formais e informais que atuam na sociedade, bem como a forma de prevenção da
criminalidade”

Método
ciência voltada para o “ser” e, portanto, empírica, na medida em que seu objeto
(crime, criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos
valores, como ocorre com o campo do Direito Penal, voltado para a percepção
científica do “dever-ser”, portanto normativo e valorativo.
dever do criminólogo não consiste apenas em encontrar respostas prontas que sejam
capazes de trazer proposições conclusivas para o seu estudo, ele também deve
observar o conjunto de fenômenos sociais que norteia a criminalidade e, a partir desta
perspectiva, encontrar uma solução para o caso concreto.
“cada caso concreto terá uma solução diferente, o que deixa claro que o método
aplicado é também conhecido como indutivo

Objeto da criminologia
ciência que apresenta uma multiplicidade de objetos, os quais iniciam no crime, mas
perpassam pela figura do criminoso e da vítima, bem como pelas instâncias de
controle social.
Elementos que integram o objeto de estudo da Criminologia:
• O crime
No que se refere ao delito, a criminologia tem toda uma atividade
verificativa, que analisa a conduta antissocial, suas causas geradoras, o
efetivo tratamento dado ao delinquente visando sua não reincidência, bem
como as falhas de sua profilaxia preventiva.
para a criminologia, o crime é um fenômeno social, comunitário.
a criminologia vê o crime como um problema social abrangendo quatro
elementos constitutivos, a saber:
o incidência massiva na população (não se pode tipificar como crime um
fato isolado);
o incidência aflitiva do fato praticado (o crime deve causar dor à vítima e
à comunidade);
o persistência espaço temporal do fato delituoso (é preciso que o delito
ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no
mesmo território);
o e consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção
eficazes (a criminalização de condutas depende de uma análise
minuciosa desses elementos e sua repercussão na sociedade).
• O criminoso
os estudos iniciais voltados para a Criminologia, principalmente na época da
Escola Clássica, consideravam o crime como o centro dos interesses
investigativos, sendo caracterizado como um ente jurídico. A partir das
contribuições decorrentes dos estudos desenvolvidos na Escola Positiva, os
quais direcionaram totalmente o enfoque para a figura do criminoso, surgiu a
dicotomia CRIME x CRIMINOSO.
A Vítima
a inserção da “vítima” no conceito remonta ao estudo acerca da evolução histórica da
pena, cujo início é marcado pela VINGANÇA PRIVADA, penalidade cuja execução era
realizada pelo próprio ofendido ou sua família. Atualmente, em muitos casos o
comportamento da vítima pode influenciar na prática criminosa. Em situações
diversas, a vítima pode incitar o agente no cometimento do crime, fato que demanda a
consideração deste fator nos estudos relacionados à criminalidade.
A vitimologia consiste em uma ramificação da Criminologia, trazendo por objeto o
estudo da vítima, de sua personalidade, de suas características, de suas relações com o
delinquente e do papel que assumiu na gênese do delito. Posto de outra forma, temos
o estudo voltado para o comportamento da vítima na origem do crime e do criminoso.
De acordo com Mendelsohn, épossível indicar três grupos principais de vítimas:
a inocente, a provocadora e a agressora.

• As VÍTIMAS INOCENTES, ou ideais, são aquelas que não têm participação ou, se
tiverem, será ínfima na produção do resultado.
• A VÍTIMA PROVOCADORA é responsável pelo resultado e pode ser
caracterizada como provocadora direta, imprudente, voluntária ou ignorante.
• A VÍTIMA AGRESSORA pode ser considerada uma falsa vítima em razão de sua
participação consciente, casos em que ela cria a vontade criminosa no agente,
como os exemplos de legítima defesa.
as vítimas são classificadas como:

• Vítima completamente inocente ou chamada de vítima ideal: É aquela que


não tem nenhuma participação no evento criminoso, o delinquente é o único
culpado.

• Vítima menos culpada que o delinquente: Conhecida como vítima por


ignorância. Trata-se daquela que contribui de alguma forma para o resultado
danoso do evento, por exemplo, a pessoa que frequenta locais perigosos
expondo a risco seus objetos de valor.

• Vítima tão culpada quanto o delinquente: Chamada de provocadora, pois, sem


a participação ativa dela, o crime não teria ocorrido.

• Vítima mais culpada que o delinquente: Nesse caso, a participação da vítima


foi maior ou mais intensa do que a do próprio autor, por exemplo, lesões
corporais e homicídios privilegiados cometidos após injusta provocação da
vítima.

• Vítima como única culpada: Aqui, a vítima constitui-se a única pessoa culpada
do evento criminoso, tendo em vista o seu comportamento imprudente ou
negligente, por exemplo, indivíduo embriagado que atravessa avenida
movimentada e vem a ser morto por algum veículo automotor.

Criminologia também se ocupa do estudo voltado para a vitimização, que significa a


própria condição de vítima diante da prática de uma infração penal.
as três espécies de vitimização recorrentes na sociedade: primária, secundária e
terciária

• Vitimização primária é aquela que se relaciona ao indivíduo atingido


diretamente pela conduta criminosa. vislumbra-se uma decorrência dos efeitos
do crime na vítima, ou seja, os danos que ele causa nela, como físicos, psíquicos
e materiais.
A vitimização primária se materializa a partir do primeiro contato da vítima com
o crime, em que ela sofre a violação direta ao seu bem jurídico.
• Vitimização secundária é uma consequência das relações entre as vítimas
primárias e o Estado, em face da burocratização de seu aparelho repressivo
(Polícia, Ministério Público etc.)
é sentida pela atuação das instituições estatais diante de um crime, e ocorre
quando a vítima vai procurar ajuda estatal diante da prática da infração penal
sofrida por ela.
• Vitimização terciária é aquela decorrente de um excesso de sofrimento, que
extrapola os limites da lei do país, quando a vítima é abandonada, em certos
delitos, pelo Estado e estigmatizada pela comunidade, incentivando a cifra
negra (crimes que não são levados ao conhecimento das autoridades).
isolamento que a sociedade impõe à vítima diante da prática do crime.
O Controle Social: conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam submeter os
indivíduos às normas de convivência social.
Há dois sistemas de controle que coexistem na sociedade: o controle social informal
(família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc.), com nítida visão preventiva
e educacional, e o controle social formal (Polícia, Ministério Público, Forças Armadas,
Justiça, Administração Penitenciária etc.), mais rigoroso que aquele e de conotação
político criminal.
“O controle social é entendido, assim, como o conjunto de instituições, estratégias e
sanções sociais que pretendem promover e garantir referido submetimento do
indivíduo aos modelos e normas comunitários”.

não só analisamos as características que circundam o conceito do delito, mas também


precisamos nos deter nas razões que podem trazer as origens de determinada conduta
delituosa, e, além disso, o objeto de estudo da Criminologia propõe o desenvolvimento
e a reformulação de políticas direcionadas para a revisão e a atualização de práticas
criminalizadoras e descriminalizadoras.
o Direito Penal apresenta enfoque voltado para a repressão social ao crime, através de
regras punitivas que integram o ordenamento jurídico. E a criminologia é uma ciência
empírica interdisciplinar que estuda o crime, o criminoso a vítima e o controlo social
do comportamento delitivo.

FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA
papel central de caracterizar e apresentar a realidade criminal.
os autores consideram que há uma tríplice função, consubstanciada em explicar e
prevenir o crime; intervir na pessoa do infrator; e avaliar os diferentes modelos de
resposta ao crime.
Além destas, também são funções da Criminologia:
a) Informar à sociedade e aos poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima
e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos que permita compreender,
cientificamente, o problema criminal, prevenindo e intervindo de modo positivo e
eficaz no homem delinquente;
b) Intervir como central de informações sobre o crime, minimizando as cifras negras da
criminalidade;
c) Buscar critérios e soluções para os problemas sociais relacionados com a
criminalidade;
d) Formular modelos explicativos sobre o comportamento criminal;
e) Prevenir, de forma eficaz, os delitos.

RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS


1. Ciências Jurídicas
◆ Direito Penal: tipifica, em determinada sociedade, os comportamentos mais graves
para ela, com o intuito de punir aqueles que os cometem, definindo a reação social
contra o crime.
Aponta de modo relevante as condutas delitivas de maior gravidade para a sociedade,
com o fim de reprimir seus autores e vindo a definir a reação social contra o delito.
◆ Direito Processual Penal: regula as formas pelas quais o estado exerce a tutela
penal, como disciplina de aplicabilidade do Direito Penal, material em que a tutela
penal é exercida, iniciando-se com o inquérito policial (que cuida da investigação
provisória), a ação penal (com a produção da prova do fato e sua materialidade, o
modo de execução, os motivos, as circunstâncias), a sentença (com a aplicação do
direito ao caso) e na execução da pena (notadamente na ressocialização do criminoso
como apto ao retorno social).
◆ Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas reguladoras da
atividade jurídico-carcerária. A execução da pena serve a Criminologia na preparação
do condenado não só para cumprir a pena, mas para tornar-se apto a voltar ao
convívio social após a execução, influenciado em sua personalidade.
◆ Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de segurança e da
funcionalidade das instituições destinadas à readaptação dos egressos dos presídios. A
Penologia alberga ainda o estudo das medidas de segurança e a funcionalidade das
instituições que se propõem a servir na realização dos egressos como reintegrantes da
sociedade.
2.Ciências não jurídicas (médicas)
◆ Psicologia Criminal: Trata do estudo do diagnóstico e prognóstico criminais no que
se preocupa com as condições psicológicas do homem na formação do ato criminoso,
incluindo o dolo, a culpa, a periculosidade, mesmo até o problema objetivo da
aplicação da pena e das medidas de segurança.
◆ Psicanálise Criminal: Tem-se como o ramo da Psicanálise (análise da psique) que se
dedica ao estudo da personalidade do infrator, seus conflitos e frustrações, o processo
de motivação do delinquente e a própria interpretação da conduta delitiva à luz do
inconsciente do seu autor e de uma análise introspectiva.
◆ Sociologia Criminal: É a ciência que estuda o fenômeno crime do ponto de vista da
influência do meio social sobre a conduta humana. Entendem que a mesma tem por
objeto o estudo das causas sociais do crime, ou seja, o crime é estudado como
fenômeno social.
◆ Antropologia Criminal: A Antropologia é a ciência do homem, como ser social e
animal, dividindo-se em dois campos de estudo: Antropologia Física (refere-se à forma
física do homem) e Antropologia Cultural (o comportamento aprendido pelo homem).
Os antropólogos físicos estudam as influências do ambiente natural sobre o homem.
Os antropólogos culturais estudam os processos elaborados pelo homem para viver e
sobreviver em sociedade e, ainda, como eles aprendem, conservam e transmitem às
gerações futuras certos costumes.
◆ Política Criminal: Tem por finalidade a análise e a crítica das leis penais a partir de
propostas criminológicas.
Estuda a função do Estado diante da problemática do crime dando os meios
necessários para realizá-la.
São aspectos da Política Criminal o Sociológico (melhoria de vida do cidadão: nível
educacional, extinção de favelas, fim do desemprego), o Preventivo (policiamento mais
ostensivo nas épocas festivas, principalmente) e o Repressivo (melhoria do aparelho
policial para prender e investigar os agentes).
Como coadjuvante da Criminologia vem a definir os fins do Estado em face da
problemática do crime e da criminalidade, elaborando e apontando os meios precisos
para melhorar e eficazmente proceder a defesa social, que constitui a finalidade da
Criminologia.
◆ Medicina Legal: Tem o propósito de auxiliar a Justiça Criminal por meio de exames
como o de corpo de delito e necrópsias.
Contribui para a Criminologia no momento em que executa exames periciais que
possam em suas conclusões contribuir na elucidação da conduta do delinquente, como
agente do delito e da vítima, como ser passivo.
◆ Criminalística: Investiga as formas como se cometem os delitos, cuidando da
aplicação dos recursos técnicos para sua constatação.
Reúne contribuições de várias ciências e indica meios para desvendar crimes e
identificar seus autores.
1. PRIMEIROS ESTUDOS
as tentativas de desvendar e classificar os fatores que influenciam na delinquência
tiveram início na Grécia Antiga, a partir das contribuições de Sócrates, Platão e
Aristóteles.
1.1. Escola Clássica
A Escola Clássica foi o primeiro modelo criminológico que buscou consolidar uma
teoria capaz de explicar o fenômeno da criminalidade.
iniciaram com as abordagens de Cesare Beccaria (1738-1794) sobre a finalidade
preventiva da pena.
Seu objetivo consistiu em romper com a aplicação de penas cruéis e infamantes,
apresentando a ideia de um tratamento humanitário ao preso e demonstrando a
ineficácia em se aplicar uma pena desproporcional ao preso.
Após os estudos de Beccaria, autor do livro “Dos delitos e das Penas” (1763 -
1764), a política criminal sofreu mudanças assinaláveis.
Entendia-se, então, que, com a severidade adequada e proporcional do castigo ao
crime e com a eficácia e a certeza da pena que seria aplicável ao infrator, o
fenômeno da criminalidade tenderia a baixar. Porém, essa previsão na redução do
crime revelar-se-ia ilusória.
Francesco Carrara (1805-1888). Para esse estudioso, a Escola Clássica apresenta
forte relação com a análise do crime como um ente jurídico, ou seja, como uma
construção abstrata que se encontra no ordenamento jurídico.
O crime seria, então, realizado a partir da ação de um indivíduo com liberdade de
escolha; as causas do crime estariam relacionadas com o livre arbítrio, com a
escolha que cada indivíduo faria entre as vantagens resultantes da prática do
crime e a pena que este teria a certeza de vir a sofrer; pena que, em termos
relativos, seria suficiente para prevenir, sendo graduada em função das vantagens
obtidas pela conduta do criminoso.

1.2. Escola Positivista


É comum se datar o aparecimento da Criminologia como ciência em 1876, ano em
que foi publicado o famoso “O homem delinquente” da autoria de Cesare
Lombroso (1835-1909).
influenciada no campo das ideias pelos princípios desenvolvidos pelos fisiocratas e
iluministas
Nomes como o de Enrico Ferri e Raffael Garofalo.
iniciadores do estudo da delinquência em bases científicas, na medida em que
partiam de dados concretos baseados na verificação empírica.
se opuseram à Escola Clássica, porquanto afirmavam que Beccaria e os seus
seguidores sustentavam opiniões imbuídas de caráter metafísico para explicar o
crime.
A Escola Positiva Italiana se contrapõe à visão clássica do livre arbítrio e do
indeterminismo ao defender a ideia de que as pessoas são fortemente
condicionadas na sua forma de agir por razões de ordem interna e externa, de tal
forma que o criminoso é um indivíduo que se assemelha a um doente e, como tal,
deve ser encarado.
conduz-nos à questão da “teoria dos fins das penas”. Se o indivíduo é alguém
doente, não fará muito sentido serem-lhe aplicadas penas, pois o que interessa
não é tanto a prevenção geral e retributiva, mas a ideia da prevenção especial, de
internamento, direcionada a um conjunto específico de pessoas, os criminosos.
Seria possível reconhecer o criminoso mediante certos traços fisionômicos
detectáveis por um simples exame físico.
Lombroso é considerado o pai da “Antropologia Criminal”, retirou algumas ideias
dos fisionomistas para traçar um perfil dos criminosos.
Lombroso buscando as motivações das práticas criminosas, concentrou-se no
estudo da essência do criminoso, desenvolvendo uma extensa pesquisa empírica
de traços físicos e mentais com indivíduos encarcerados, doentes mentais e
soldados, denominada Antropologia Criminal.
Considerando tais elementos, a pesquisa de Lombroso estabeleceu esses traços em
“estigmas” passíveis de determinação de um potencial delitivo. Neste sentido,
despida de qualquer tipo de livre arbítrio, a prática criminosa estaria sujeita
apenas às características patológicas do indivíduo.
O autor restringiu sua pesquisa à caracterização e dedução de tendências
criminosas conforme a figura do delinquente, focando a análise empírica de
diferentes fatores: composição física (como fisionomia, sensibilidade, agilidade,
sexualidade, peso e idade), anomalias cranianas, composição biológica (como
hereditariedade, reação etílica) e psicológica (como senso moral, inteligência,
vaidade, preguiça e astúcia).
A estigmatização do criminoso opera-se no patamar da própria constituição
biológica, indo ao ponto, segundo Lombroso, de que o homem nasce criminoso,
sendo ineficaz qualquer solução para combater o crime, salvo aquelas que,
obviamente, professassem ideias eugênicas.
Com o passar do tempo, Lombroso redirecionará as suas teorias colocando um
maior enfoque nas causas ambientais e sociais para explicar o crime.

Para Enrico Ferri (1856-1929), o fenômeno da criminalidade estava concatenado


com a ambiência social.
O fenômeno da miséria e as condições sociais a ela associadas seriam
propiciadoras ao aparecimento do crime. À explicação puramente antropológica e
biológica de Lombroso, Ferri contrapunha a dimensão social.
Ao responsabilizar a sociedade, Ferri considerava que o criminoso não era
moralmente culpado da sua conduta, dado que atribuía às condições de vida a
razão de ser do comportamento delituoso.
O crime ocorre como resultado de fatores sociais que determinam que os
indivíduos ultrapassem os limites legalmente estabelecidos. Deste modo, Ferri
coloca o crime como responsabilidade social, e não como a responsabilidade moral
decorrente do livre arbítrio.
Raffaelle Garófalo (1852-1934). Este representante da Escola Positiva Italiana
tendia a valorizar o ponto de vista psicológico na abordagem às causas do crime.
Pretendia encontrar aquilo a que chamava de delito natural, dizendo que o crime é
um ato que viola os sentimentos geralmente considerados na comunidade,
sentimentos que seriam a piedade e o sentido de propriedade. Acreditava também
que as pessoas tinham como certos e universais estes valores altruístas e só por
razão de ordem psíquica seria possível explicar a sua ausência
A Escola Positiva Italiana deixou uma assinalável herança. A ideologia do
tratamento ou da correção do criminoso; a tentativa de explicar etiologicamente o
crime centrada na visão antropológica, psíquica e social.

1.2.1. A origem da tese do criminoso nato de Lombroso


Ao fazer a necropsia do bandido calabrês Vilela, Lombroso identificou nele a
existência de uma fosseta média da crista occipital, que até então se sabia existir
apenas em raças antigas e em algumas espécies de animais. Foi o bastante para
Lombroso associar o delinquente à figura do homem primitivo, parecido
fisicamente com um macaco.

No Brasil, podemos destacar a figura do mestre Hilário Veiga de Carvalho como


sendo o primeiro que se dedicou ao tema da classificação de criminosos (1950).
Segundo Hilário, para falar em classificação de homens, é preciso conhecê-los bem
e, para conhecê-los, é preciso examiná-los da forma mais completa quanto
possível.
Hilário Veiga vai mais além ao afirmar que nunca o homem pode conhecer outro
homem 100%, nem mesmo com as melhores técnicas científicas, pois a mente
humana sempre tem espaços indecifráveis. Não obstante, muito se pode conhecer
do homem infrator através da análise de sua mente, às vezes coisas que nem
mesmo o infrator conhecia a seu respeito.

Os quatro “eus” da Psicologia


Segundo uma corrente de doutrinadores da Psicologia, esta ciência teria, dentre muitas
outras, a chamada teoria dos quatro “eus”, ou seja, toda pessoa possuiria dentro de si
quatro seres diferentes:
1°) o “eu” aberto: eu sei como sou e todos sabem, porque percebem isso em mim;
2°) o “eu” oculto: eu sei como sou, mas os outros não sabem, não conseguem perceber;
3°) o “eu” cego: eu não sei como sou, mas os outros sabem, pois eles me veem bem;
4°) o “eu” desconhecido: nem eu sei nem ninguém sabe como sou.
Assim, o exame criminológico visa conhecer ao máximo o infrator por meio da
exploração desses “quatro eus” para que assim se possa compreender melhor as
razões da prática do delito, aplicar àquele a sanção ou o tratamento adequado e,
ainda, prevenir a prática da mesma conduta por outras pessoas.
Para a realização de um exame criminológico ideal, é preciso se utilizar de
conhecimentos e técnicas de várias ciências, como a psicologia, a psiquiatria
(medicina), a criminologia, dentre outras.
Para que, com o exame criminológico, se alcance todos os resultados positivos
pretendidos, o ideal seria que o delinquente fosse estudado logo após a prática do
delito e antes de seu julgamento, o que não tem ocorrido, senão com relação a alguns
doentes mentais, pois o CPP prevê a possibilidade de se realizar exame de sanidade
mental no suspeito ainda durante o IPL.
Quando o jurista se detém muito ao fato (Direito Penal do fato) e se esquece do
infrator, julgará com superficialidade, o que a doutrina costuma denominar de
charlatanismo jurídico.

1.3. Escola Interacionista ou Labelling Approach


A perspectiva do Labelling Approach vai buscar uma explicação para os fatores que
influenciam na criminalidade a partir do estudo do aspecto social do criminoso.
a sociedade tem grande parcela de contribuição na formatação do criminoso, não
sendo o livre-arbítrio sozinho uma vertente capaz de causar o surgimento do crime e
do criminoso (GONZAGA, 2018, p. 56).
o Modelo Interacionista foi desenvolvido mais recentemente, na década de 1960 nos
Estados Unidos, a partir das contribuições de Erving Goffman e Howard Becker.
ideia defendida aqui é que a criminalidade surge a partir de um processo de
estigmatização, e o criminoso é individualizado em decorrência do “rótulo” que
recebe.
A criminalidade não é uma propriedade essencial de um sujeito, um fenômeno
ontológico, mas é resultado de um processo de uma “etiquetamento” atribuída a
certos indivíduos que toda a sociedade considera como “delinquentes”. Assim,
sustenta que as instâncias de controle estigmatizam o indivíduo que não se enquadra
na sociedade, fazendo com que ele se torne um desviante.
essa teoria infere que, a partir da caracterização das formas de controle social informal
indicam o que a sociedade define ou rotula como conduta desviante. Desta forma, não
só o criminoso é rotulado pela sua conduta, como também se distancia do
agrupamento social a partir da aplicação da pena.
Defende-se aqui a falha do Estado em prover a chamada prevenção primária do crime,
provendo o mínimo existencial ligado à educação, saúde e outras necessidades
inerentes à existência digna do indivíduo que, caso tenha o acesso adequado, não vai
optar em enveredar no caminho da delinquência.
1.4. Escola de Chicago
a Escola de Chicago, por sua vez, associa a delinquência com a arquitetura da cidade.
A ideia defendida aqui partiu do estudo realizado por Clifford Shaw, em 1929, na
cidade de Chicago.
O autor realizou uma análise da delinquência juvenil na cidade decorrente do
crescimento desordenado na cidade e da possível existência de áreas criminais ou
guetos. Esse crescimento desordenado aliado à falta de recursos de prevenção
primária por parte do estado e maior foco nas formas de controle social foram
fatores que influenciaram no aumento dos índices de criminalidade da cidade.
podemos compreender melhor a percepção do autor a partir das seguintes questões:
deve-se tomar por base a formação da cidade a partir de três círculos concêntricos,
sendo o primeiro deles o centro cívico, representado pela Prefeitura, Polícia e órgãos
do Poder Judiciário; o segundo círculo está relacionado com a moradia ou o núcleo
onde se encontram os dormitórios daqueles indivíduos que laboram no centro cívico.
Por fim, o terceiro e último círculo é formado pelos guetos, periferias e/ou favelas,
representando o grande catalisador da criminalidade.

1.5. Escola Crítica


O estudo da Escola Crítica remonta a uma caracterização marxista no que concerne ao
cenário da luta de classes, representando a máxima “de que o crime e o criminoso
surgem diante da interação entre dois grupos bem antagônicos, quais sejam, os
pobres e os ricos.”
a contribuição marxista menciona que esse segmento social estigmatizado representa
justamente a classe trabalhadora, alvo mais vislumbrado pelo sistema punitivo.
O Direito Penal é visto aqui como um instrumento de dominação social,
principalmente, das classes economicamente menos favorecidas.
A partir do cenário apresentado, a Escola Crítica desenvolveu a tese de que uma vez
que a classe trabalhadora percebe a posição desfavorável na qual se encontra em
relação ao diagnóstico da conduta criminosa e respectiva aplicação da pena, o
encarceramento deixa de ser uma ferramenta de prevenção do crime e ressocialização
do criminoso e passa a funcionar como causa de retaliação por parte do criminoso
que, uma vez livre do encarceramento, terá como objetivo devolver à sociedade todo
o mal sofrido no cárcere.

A doutrina majoritária tece uma abordagem complementar sobre algumas das escolas
que acabamos de estudar. A esse respeito, existe uma classificação que distingue a
teoria do consenso ou funcionalista da teoria do conflito.
A Escola de Chicago é um exemplo que representa muito bem a teoria do consenso; ela
retrata um cenário que denota uma convergência de vontades no mesmo sentido, de
forma que todas elas são compostas de pessoas que pregam o mesmo pensamento,
havendo uma interação social entre seus componentes, mas sem a força estatal para
usar da força e impor o seu modo de pensar (GONZAGA, 2018, p. 126).

A teoria do conflito, por sua vez, já apresenta um cunho mais argumentativo ou uma
caracterização argumentativa entre dominantes e dominados. Aqui, a pacificação social
não decorre da unanimidade de vontades, mas sim, da coerção de um grupo de
indivíduos sobre outro. A Escola Crítica apresenta uma padronização muito fidedigna a
essa teoria.

Cesare Lombroso, da Escola Positiva Italiana, teorizou uma verdadeira estética do mal,
sustentando que a própria fisionomia do sujeito poderia nos indicar a sua tendência
delitiva.
Segundo Zaffaroni (2011), o delinquente descrito por Lombroso era um ser atávico, um
europeu que não culminava seu desenvolvimento embriofetal, ou seja, um europeu que
nascia mal terminado e por isso se parecia a um selvagem colonizado. Não tinha moral,
se parecia fisicamente ao índio ou ao negro, era insensível à dor, infantil e perverso etc.
A esses delinquentes caracterizados como atávicos ou selvagens, por sugestão de Ferri,
o chamou “delinquente nato”.
Em 1872, Lombroso publica um livro denominado Memória sobre os Manicômios
Criminais, o qual diz que há necessidade de que existam manicômios para criminosos e
a necessidade de que os loucos não estejam nas prisões senão que entrem em
instituições especiais.
Conforme seu pensamento foi evoluindo, Lombroso passou a considerar novas
tipologias de delinquentes, bem como a influência de fatores exógenos. São tipos de
delinquentes: nato, por paixão, louco, de ocasião e o epilético.
a contribuição principal de Lombroso para a Criminologia não reside tanto em sua
famosa tipologia, na qual destaca a categoria do delinquente nato ou em sua teoria
criminológica, senão no método empírico que utilizou em suas investigações.
Lombroso exerceu ainda por muito tempo, importante influência no Direito Penal do
mundo, sendo dos primeiros a defender a implantação de medidas preventivas ao
crime, tais como a educação, a iluminação pública, o policiamento ostensivo - além de
outras tantas ideias inovadoras referentes à aplicação das penas.

Hodiernamente, o bom senso recomenda aos cientistas que o crime é uma resultante
não só do fator pessoal, mas também do social. No fator pessoal entra a parcela de
tendência para o mal que todos nós temos. Se esta parcela de maldade vai se
desenvolver mais em uma pessoa do que noutra dependerá do meio em que esta viverá.
Aí devem estar inclusas as condições de vida na família (afeto, respeito, boa educação,
boas maneiras etc.), as amizades, as escolas, as diversas experiências de vida. A soma
desses elementos vai moldando a personalidade e, sobretudo, o caráter do homem.

1. PSIQUIATRIA FORENSE: NOÇÕES PRELIMINARES


Podemos compreender a psiquiatria forense como o ponto de encontro entre a
Medicina e o Direito, pois temos aqui a justiça amparada por comprovações que apenas
o conhecimento médico pode proporcionar.

campo de atuação que incide sobre os casos que suscitam dúvidas acerca da integridade
ou da saúde mental dos indivíduos em qualquer área do Direito, buscando esclarecer à
justiça se há ou não a presença de um transtorno ou enfermidade mental e quais as
implicações da existência ou não de um diagnóstico psiquiátrico.

Os psiquiatras forenses trabalham com tribunais, onde, a pedido da justiça, avaliam a


sua capacidade para atos da vida civil e também de sua capacidade de serem
responsabilizados criminalmente (quando não, são chamados "inimputáveis"),
baseando-se no estado mental do indivíduo avaliado e determinando recomendações.

1.1. Criminologia clínica X Psiquiatria criminal


A Psiquiatria Criminal, por sua vez, pode ser considerada como uma área mais específica
da
psiquiatria forense, na medida em que se volta, especialmente, para a perícia
psiquiátrica e para a verificação da responsabilidade delinquencial (culpabilidade),
identificando a doença ou o distúrbio do qual o indivíduo é portador.
Criminologia clínica é a ciência que, valendo-se dos conceitos, princípios e métodos de
investigação médico-psicológicos (e sociofamiliares), se ocupa do indivíduo condenado,
para nele investigar a dinâmica de sua conduta criminosa, sua personalidade, seu
“estado
perigoso” (diagnóstico) e suas perspectivas de desdobramentos futuros (prognóstico)
para, assim, propor estratégias de intervenção, com vistas à superação ou contenção de
uma possível tendência criminal e a evitar a reincidência (tratamento).

Criminologia clínica é uma ciência interdisciplinar que visa analisar o comportamento


criminoso e estudar estratégias de intervenção junto ao encarcerado, às pessoas
envolvidas com ele e com a execução de sua pena.
Area cuja preocupação enfoca no estudo dos fatores endógenos da criminalidade, na
análise das causa internas, intrínsecas ao indivíduo na causalidade do delito, destinando-
se a estabelecer um tratamento carcerário adequado a cada caso concreto.

2. GENÉTICA E CRIMINALIDADE
Não há um consenso na Criminologia acerca da transmissão ou não do gene da
criminalidade de ascendentes para descendentes.
Os estudos a esse respeito têm-se dado, ao longo dos tempos, de diversas formas: pela
análise do comportamento de grupos sociais, de aglomerados étnicos e de grandes
famílias, identificando indivíduos delinquentes nestes grupos e investigando se o crime
passaria de uma pessoa para outra como se fosse uma doença, sobretudo em indivíduos
de uma mesma família.

O que se tem admitido modernamente, porém, de forma não-unânime, é a existência


da herança de uma predisposição, de uma inclinação que em condições ou
circunstâncias externas favoráveis ou desfavoráveis poderão levar ou não ao crime,
pois a tendência à prática do crime não pode ser transmitida como se uma doença
fosse.

2.1. Herança Patológica


Mesmo o meio ambiente não sendo capaz de criar, por si só, um criminoso, ele tem sua
importante contribuição na formação deste, podendo acelerar, retardar ou desviar os
influxos da bagagem hereditária.
Sobre caracteres psicológicos (tendências, aptidões e temperamento) ainda não há um
entendimento pacífico. Uns entendem que apenas alguns podem ser transmitidos,
outros que isso depende completamente do meio em que será criado o indivíduo.
o meio ambiente sempre exercerá uma influência, o que pode, muitas vezes, ser a
diferença entre delinquir ou não.

3. PSICOPATIA
a psicopatia não é considerada uma doença mental, mas sim, um transtorno de
personalidade normalmente submetido a medida de segurança.

“Trata-se de um transtorno que muitas vezes é motivado por alguma ruptura familiar
ou social, ocorrendo anomalias no desenvolvimento psíquico, o que a psiquiatria
forense chama de perturbação mental.”

Os transtornos de personalidade não são tecnicamente doenças, mas anomalias do


desenvolvimento psíquico, sendo consideradas, em psiquiatria criminal, perturbações
da saúde mental.
A conduta do psicopata, no entanto, nem sempre é toda psicopática, existindo
momentos, fases e circunstâncias de condutas adaptadas, as quais permitem que ele
passe desapercebido em muitas áreas do desempenho social. Essa dissimulação garante
sua sobrevivência social.

Esse tipo de transtorno específico de personalidade é sinalizado por insensibilidade aos


sentimentos alheios. Quando o grau de insensibilidade se apresenta extremado
(ausência total de remorso), levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afetiva,
este pode assumir um Comportamento delituoso recorrente, e o diagnóstico é de
psicopatia (transtorno de personalidade antissocial, sociopatia, transtorno de caráter,
transtorno sociopático ou transtorno dissocial).

3.1. O que é um psicopata?


psicopatia nem sempre está associada à violência e, ao contrário do que se imagina,
pode ser tratada.
a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade
específicos.

3.2. Características
• Eloquente e superficial – geralmente são agradáveis, divertidos e envolventes
• Egocêntrico e grandioso – os psicopatas consideram-se o centro do universo,
são exageradamente vaidosos e narcisistas acerca de seu próprio valor,
geralmente são arrogantes e vaidosos, sem nenhum traço de vergonha, de
opinião firme, dominadores e convencidos.
• Ausência de remorso ou culpa – os psicopatas têm uma incrível falta de
preocupação com as consequências terríveis de suas ações e condutas sobre as
outras pessoas.
• Falta de empatia – os psicopatas são incapazes de se colocar no lugar do outro.
São
indiferentes aos direitos e sofrimentos alheios, quer de estranhos, quer de seus
próprios familiares.
• Enganador e manipulador – psicopatas têm um talento espantoso para mentir,
enganar, falsear e manipular.
• Emoções rasas – os psicopatas parecem ostentar uma pobreza emocional que
restringe a amplitude e profundidade de seus sentimentos
• Impulsivo – agem por impulso, de forma precipitada, porque os psicopatas
geralmente não pesam os prós e contras de seus atos.
• Controles comportamentais pobres – além de agirem impulsivamente,
psicopatas são muito reativos ao que percebem como insultos ou menosprezo.
Possuem os freios inibitórios muito fracos.
• Necessidade de excitação – os psicopatas não toleram a rotina e a monotonia.
• Problemas precoces de comportamento.

Os psicopatas têm condutas criminais sem nenhum sentimento de culpa, mantendo


plena consciência dos seus crimes ou das suas intenções criminais. Perceba, no
entanto, que para o CP não basta ter consciência da ilicitude do fato, é preciso poder se
determinar segundo esta consciência.
3.3. O diagnóstico
O instrumento mais usado entre os especialistas para diagnosticar a psicopatia é o teste
Psychopathy checklist-revised (PCL-R).

O método inclui uma entrevista padronizada com os pacientes e o levantamento do seu


histórico pessoal, inclusive dos antecedentes criminais.

O PCL-R revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem


sobrepostas, mas podem ser analisadas separadamente: deficiências de caráter (como
sentimento de superioridade e megalomania), ausência de culpa ou empatia e
comportamentos impulsivos ou criminosos (incluindo promiscuidade sexual e prática
de furtos).

3.4. Três mitos sobre os psicopatas


1º Mito – Todos os psicopatas são violentos. Isso não é verdade.

de fato, é comum que essas pessoas recorram à violência física e sexual.

Além disso, alguns assassinos em série já acompanhados manifestavam muitos traços


psicopáticos.
No entanto, a maioria dos psicopatas não é violenta e grande parte das pessoas
violentas não é psicopata.

2º Mito - Todos os psicopatas sofrem de paranoia.

Eles sabem muito bem que suas ações imprudentes ou ilegais são condenáveis pela
sociedade, mas desconsideram tal fato com uma indiferença assustadora. Além disso,
os indivíduos paranoicos raramente são psicopatas

3º Mito – A psicopatia é um problema sem tratamento.


Embora os psicopatas raramente se sintam motivados para buscar tratamento, uma
pesquisa feita pela psicóloga Jennifer Skeem, da Universidade da Califórnia em Irvine,
sugere que essas pessoas podem se beneficiar da psicoterapia como qualquer outra

3.5. Estatísticas
Não é de surpreender, portanto, que haja muitos psicopatas nas prisões.

Estudos indicam que cerca de 25% dos prisioneiros americanos se enquadram nos
critérios diagnósticos para psicopatia.

No entanto, pesquisas sugerem também que uma quantidade considerável dessas


pessoas está livre.

Alguns pesquisadores acreditam que muitos sejam bem-sucedidos profissionalmente e


ocupem posições de destaque na política, nos negócios ou nas artes.

A maioria dos psicopatas é homem, A frequência na população é aparentemente a


mesma no Ocidente e no Oriente.

3.6. Assassinos em série


Um assassino em série (muitas vezes conhecido pelo termo serial killer, do inglês) é um
tipo de criminoso de perfil psicopatológico que comete crimes com uma certa
frequência, geralmente seguindo um modus operandi e às vezes deixando sua
“assinatura”.

Muitos dos que foram capturados pareciam cidadãos respeitados – atraentes, bem-
sucedidos, membros ativos da comunidade – até que seus crimes foram descobertos.
Os serial killers, diferentemente de outros assassinos, preferem matar com as mãos
ou através de outros métodos que não as armas de fogo.

A melhor definição de assassinato serial foi publicada pelo Instituto Nacional de Justiça
em 1988:
“Uma série de dois ou mais assassinatos cometidos como eventos separados,
normalmente, mas nem sempre, por um infrator atuando isolado.
Os crimes podem ocorrer durante um período de tempo que varia desde horas até
anos. Quase sempre o motivo é psicológico, e o comportamento do infrator e a
evidência física observada nas cenas dos crimes refletiram nuanças sádicas e sexuais.”

Existem basicamente dois tipos de serial killers:


• “tipo organizado” - são sujeitos que normalmente exibem inteligência normal e
conseguem se inserir bem à sociedade. São muito mais difíceis de serem pegos,
visto que planejam seus crimes. Não costumam deixar provas e podem ter uma
vida aparentemente normal.
• tipo desorganizado - são impulsivos, não planejam seus atos, costumam usar
objetos que encontram no local do crime e, muitas vezes, deixam bastante
provas.

4. ESQUIZOFRENIA
Tratando agora das enfermidades mentais propriamente ditas, a Esquizofrenia é uma
doença mental que se caracteriza por uma desorganização ampla dos processos
mentais.
Essa desorganização ampla de processos mentais é classicamente representada por uma
coleção de sintomas, dentre eles, alterações do pensamento, alucinações e
embotamento emocional com perda de contato com a realidade, podendo causar um
desfuncionamento social crônico.

O curso dessa doença é sempre crônico com marcada tendência à deterioração da


personalidade do indivíduo.
A sua prevalência atinge 1% da população mundial, manifestando-se habitualmente
entre os 15 e os 25 anos, nos homens e nas mulheres, podendo igualmente ocorrer na
infância ou na meia-idade.
Quando doente, a pessoa perde o sentido de realidade, ficando incapaz de distinguir a
experiência real da imaginária.
A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena que se caracteriza pela perda do
contato com a realidade.
Dr. Dráuzio ainda afirma que existe um componente genético importante. O risco sobe
para 13% se um parente de primeiro grau é portador da doença.

4.1. Sintomas
Os sintomas desta enfermidade não se manifestam da mesma forma em todos os
indivíduos, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual em uns ou, pelo contrário,
manifestar-se de forma explosiva e instantânea em outros.
A doutrina divide a manifestação destes sintomas em duas grandes categorias: sintomas
positivos e negativos.

Sintomas positivos
Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença
e são as perturbações mentais “muito fora” do normal, como que “acrescentadas” às
funções psicológicas do indivíduo. Entende-se como sintomas positivos os delírios —
ideias delirantes, pensamentos irreais, “ideias individuais do doente que não são
partilhadas por um grande grupo”.

Sintomas negativos
Os sintomas negativos são o resultado da perda ou diminuição das capacidades
mentais, que fazem parte da evolução da enfermidade e demonstram a condição
deficitária do enfermo, principalmente na motivação, no discurso, emoções e relações
interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia;
indiferença emocional; pobreza do pensamento. Estes sinais não se manifestam todos
no indivíduo esquizofrênico.

4.2. Diagnóstico
O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das manifestações da
doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório para confirmar a doença.

4.3. Tratamento
O tratamento da esquizofrenia visa manter o controle dos sintomas e reintegração do
paciente. Trata-se de uma intervenção que requer duas abordagens: medicamentosa e
psicossocial.
O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou
neurolépticos. As abordagens psicossociais são necessárias para promover a
reintegração do paciente à família e à sociedade.
A esquizofrenia não tem cura total, mas o tratamento, desde que eficiente e tempestivo,
pode fazer com que os seus sintomas praticamente desapareçam e o paciente possa
voltar a ter uma vida normal.

4.4. Relação com a criminalidade


Os esquizofrênicos que manifestam a doença em estágio mais avançado podem praticar
crimes, os quais quase sempre são graves, cruéis e repulsivos.

A característica principal dos delitos de autoria de um indivíduo esquizofrênico, é que


se tratam de crimes chamados “sem história” e “sem sentido”.
O esquizofrênico delinque só, sem cúmplices.

Os estudos até hoje realizados não demonstram que os esquizofrênicos estejam mais
propensos a delinquir do que uma pessoa normal. Podem delinquir, eventualmente,
de acordo com o grau da doença, e se outros fatores influenciarem.

4.5. Delitos mais comuns


Os delitos mais comuns entre os esquizofrênicos são contra a integridade física e
psíquica das pessoas (lesões corporais, ameaças e crimes contra a vida) e, depois, crimes
contra o patrimônio.
As estatísticas demonstram que a maioria dos crimes de homicídio praticados por
esquizofrênicos tiveram como meios de execução instrumentos corto-contundentes,
tais como materiais de trabalho, enxada, pá, machado, facão e foice, tendo como foco
a cabeça e membros superiores da vítima, sendo local preferencial da prática do
crime o ambiente familiar.

4.6. Causas: teoria genética e teoria neurobiológica


Sabe-se atualmente que não existe uma única causa, mas sim várias que concorrem
entre si para o seu aparecimento.

a) Teoria genética
A teoria genética admite que vários genes podem estar envolvidos, contribuindo com
os fatores ambientais para o eclodir da doença.
Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se
houver um caso desta doença na família.
mesmo na ausência de história familiar, a doença pode ainda ocorrer.

b) Teoria neurobiológica
As teorias neurobiológicas defendem que a esquizofrenia é essencialmente causada
por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção
dopaminérgica, embora alterações noutros neurotransmissores estejam também
envolvidas.

5. TRANSTORNO BIPOLAR
O transtorno bipolar é uma forma de transtorno de humor caracterizado pela variação
extrema do humor entre uma fase de maníaca ou hipomania, hiperatividade e grande
imaginação, e uma fase de depressão de inibição, lentidão para conceber ideias e
realizar, e ansiedade ou tristeza. Juntos estes sintomas são comumente conhecidos
como depressão maníaca.

5.1. Psicose bipolar ou transtorno afetivo bipolar?


O transtorno afetivo bipolar era denominado de psicose maníaco-depressiva. Esse
nome foi abandonado porque esse transtorno não apresenta necessariamente
sintomas psicóticos.
Com a mudança de nome, esse transtorno deixou de ser considerado uma perturbação
psicótica para ser considerado uma perturbação afetiva.

O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou


neurolépticos.
As abordagens psicossociais são necessárias para promover a reintegração do paciente
à família e à sociedade.

5.2. Características principais da doença


O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade, mas
pode começar mesmo após os 70.
O início pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando
gradualmente ao longo de semanas, meses ou abruptamente em poucos dias, já com
alguns sintomas das psicoses.
Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os quadros mistos (sintomas
depressivos simultâneos aos maníacos), o que muitas vezes também confunde os
médicos, retardando o diagnóstico da fase em atividade.

5.3. Classificação da enfermidade


Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II.
Tipo I: é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania
alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser
seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas.
Tipo II: caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com
depressão.

5.3.1. Fase maníaca


Nesta fase, o estado de humor é elevado, podendo desencadear uma alegria
contagiante ou uma irritação agressiva.
Junto a essa elevação se encontram alguns outros sintomas como elevação da
autoestima, sentimentos de grandiosidade, aumento da atividade motora
apresentando grande vigor físico e uma diminuição da necessidade de sono.
O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, porém perde a
habilidade de concluir raciocínios, materializando o que a doutrina denomina como
“fuga de ideias”.
Há ainda outros sintomas: o paciente apresenta uma elevação da percepção de
estímulos externos, apresenta também aumento do interesse e da atividade sexual,
bem como perda da consciência a respeito de sua própria condição patológica,
tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável.
Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia, o que não significa uma
mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.

5.3.2. Fase depressiva


O humor está depressivo, a autoestima em baixa, com sentimentos de inferioridade,
comprometimento da capacidade física, déficit de atenção e construção de ideias.
Se a doença se mantiver apenas nesta fase não há predisposição maior do enfermo à
criminalidade, e, se delinquir, muito provavelmente será classificado, após o exame
criminológico, como imputável.

5.4. Causa da doença


A causa propriamente dita é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que
precipitem seu surgimento, como parentes que apresentem esse problema, traumas,
incidentes ou acontecimentos fortes
80 a 90% dos casos, os pacientes apresentam algum parente na família com transtorno
bipolar (herança genética).
5.5. Tratamento
Assim como na esquizofrenia, o tratamento para o transtorno bipolar deve apresentar
via medicamentosa e psicoterapêutica.
Nas fases mais intensas de mania, pode-se usar de forma temporária os antipsicóticos.

1. O TRATAMENTO INSTITUCIONALIZADO
1.1. Surgimento das prisões
Os estudos sobre o surgimento da pena remontam ao surgimento da civilização, em
específico na Grécia e na Roma Antiga, onde prevaleciam as penas corporais e de morte,
e a prisão constituía apenas meio para encarcerar os acusados até o julgamento ou
execução.
Com a crise do sistema feudal, a fuga dos campos para as cidades e o cenário de
pobreza e miséria na Europa, o aumento da criminalidade foi inevitável e forçou a
construção de várias prisões para segregar mendigos, prostitutas e vagabundos, com o
fim de disciplinar e corrigir por meio do trabalho, especialmente, pelos crimes
cometidos contra o patrimônio. Nessa época, a prisão mais antiga foi a House of
Correction, inaugurada em 1552 na cidade de Bridewell, na Inglaterra, a qual possuía
disciplina extremamente rígida para emenda dos delinquentes.

prisão, ficou claro que a alternativa foi adotada como uma forma de segregar determinada
parcela da sociedade formada por mendigos, prostitutas e vagabundos, fato sociológico que
merece registro pela atualidade da problemática da população carcerária atual, não se
olvidando da sua finalidade: corrigir por meio do labor.

A partir dessa época, surgiu a preocupação em desenvolver um sistema penitenciário, com


nuances mais humanitárias, destacando-se dentre os mais importantes: a obra Reflexões,
sobre as prisões monásticas de Jean Mabillon (1695), o clássico revolucionário Dos Delitos
e das Penas, de Cesare Beccaria (1764) e O Estado das Prisões na Inglaterra e no País de
Gales, de John Howard (1776).

surgiu no século XIX, por intermédio de Jeremy Bentham, o modelo panóptico merece
consideração especial no desenvolvimento da arquitetura prisional.

1.2. Evolução do Sistema penitenciário

O Direito Penal moderno tem uma corrente política chamada Direito Penal Mínimo, que se
opõe à Corrente Retribucionista ou da Lei e Ordem.
A corrente retribucionista teve sua origem nos Estados Unidos, nos anos 80, e sua
principal filosofia era a aplicação do Direito Penal para tudo, ou seja, para resolver todos os
problemas sociais. A pena privativa de liberdade é a regra no movimento retribucionista, o
que fez dos EUA o maior encarcerador do mundo.

Já o movimento do Direito Penal Mínimo tem como principais postulados os princípios da


subsidiariedade e da fragmentariedade, sendo a pena privativa de liberdade utilizada
apenas de maneira excepcional.

No Brasil, adotou-se a corrente do Direito Penal Mínimo, de maneira que a pena privativa
de liberdade é uma exceção.
Embora adote o encarceramento como exceção (e, consequentemente, apresentando menos
encarcerados), se comparado aos EUA, os governos brasileiros não têm obtido êxito em
fazer com que o sistema carcerário cumpra o seu papel fundamental: a ressocialização.
E se não há recuperação do preso, seu retorno à sociedade se concretiza com a
caracterização de comportamento igual ou pior do que quando entrou no cárcere.

1.3. Evolução dos sistemas penitenciários


As primeiras contribuições acerca da evolução do sistema prisional começaram com John
Howard (1720-1790), que preconizava a caracterização de um sistema penitenciário
moldado no trabalho diário, no recolhimento celular, na reforma moral pela religião,
bem como nas condições favoráveis de higiene e alimentação.
Graças às suas ideias, de 1775 a 1781, foram construídos, na forma que ele desejava, os
primeiros estabelecimentos penitenciários, chamados de “Penitenciary-house”.

I. Sistema Panóptico
Idealizado por John Howard e posto em prática por Jeremy Bentham, o sistema panóptico
era um tipo de prisão celular, caracterizada pela forma radial, em que uma só pessoa podia
exercer em qualquer momento, de um posto de observação, a vigilância dos interiores das
celas. Acreditava-se que, com esse sistema, que se caracterizava pela falta de contato físico
com outros presos, evitava-se fugas, projetos de novos crimes, contágios, roubos,
motins e violências.
Para Bentham, a prevenção dos crimes era de vital importância.
Ele pregava o fim dos castigos corporais nas prisões e o trabalho obrigatório.

Características principais, segundo FARIAS JÚNIOR:


1ª) Prévia de uma progressão de dois estágios: trabalho durante o dia e isolamento durante a
noite; e liberdade transitória, que foi chamada por Bentham de “meia liberdade”;
2ª) Imprimia a instrução moral religiosa, preocupando-se sempre com a prevenção do crime
e com a reforma do delinquente;
3ª) Para facilitar o trabalho de socialização do criminoso, só permitia que este tivesse
relacionamento social com pessoas de sã moral e selecionadas da sociedade, para que não
houvesse o contágio malsão.
4ª) Mantinha o criminoso sob vigilância e sob labor intenso, não permitindo que presos
mantivessem contato entre si;
5ª) Para a satisfação desses requisitos e princípios, idealizou Bentham uma penitenciária de
construção rotulada, com celas individuais voltadas para o centro comum, onde se situavam
a sala da direção e a torre de vigilância.
Daí o nome da penitenciária ser composto de Pan e Óptico, que quer dizer visualização
ampla, total, ao mesmo tempo.

II. Sistema da Filadélfia


Em 1790, na cidade americana da Filadélfia, baseado na influência religiosa e católica dos
cárceres: características de isolamento absoluto; exibição do prisioneiro ao público. A
solidão era tão cruel que muitos foram vítimas de enfermidades mentais.
Tinha como objetivos: o trabalho ser feito dentro da própria cela; fazer com que os presos
meditassem sobre seus crimes em busca da melhora pessoal.
Os encarcerados não tinham direito a visitas e só podiam ler a Bíblia.
III. Sistema de Auburn (ou Auburniano)
Conhecido nos EUA por ser o “Silent System”, obrigava o trabalho diário, punia com
castigos qualquer tentativa de comunicação entre os detentos e pregava o silêncio
absoluto.
O preso devia obediência cega e irrefletida às ordens do diretor.
A meta desse sistema era condicionar o detento ao trabalho e à disciplina.
tanto o Sistema da Filadélfia, o qual predominou inclusive na Europa (mormente na
Alemanha, Inglaterra e Bélgica) quanto o Sistema de Auburn, predominante nos EUA, apenas
degeneravam o homem e foram sempre criticados pelos juristas da época.
O Sistema Auburniano veio com o propósito de suavizar as duras regras do sistema
anterior. Nasceu também nos EUA, no Presídio de Auburn, em New York.
Sua principal característica é combinar o isolamento celular à noite com a convivência
coletiva durante o dia. Também permite o trabalho coletivo, mas em silêncio.

A pena nesse sistema ainda é retributiva e intimidativa, mas também ganha natureza
ressocializadora, ainda que leve. Ainda é utilizada nos EUA, em alguns Estados, e também
em algumas penitenciárias japonesas.

IV. Sistema Progressivo Inglês


Em 1846, motivado pelas deficiências correcionais e reformadoras dos modelos Auburniano
e da Filadélfia, surge, na Inglaterra, por meio de um capitão da Marinha Real Inglesa,
Alexander Maconochie, o sistema denominado Progressivo.
O sistema, conhecido como “Mark System”, estabeleceu que a pena não era determinada
exclusivamente pela sentença condenatória, mas dependia de outros fatores, como a boa
conduta do condenado, da produção de seu trabalho e da gravidade de seus delitos.

Com base nesses três fatores, eram atribuídas marcas ou vales, diariamente, que poderiam
ser retiradas em função das faltas praticadas; o condenado recebia vales quando possuía
bom comportamento e poderia sair em liberdade condicional.
O tempo de pena era medido pelo comportamento do preso.

V. Sistema Progressivo
Concebido inicialmente em 1854, na Irlanda, sua principal característica é tornar o
cumprimento da pena mais brando à medida que sua execução vai chegando ao final.
A base do sistema está fundada no binômio conduta-trabalho, ou seja, na boa conduta e
no trabalho desenvolvido pelo apenado.
que esse sistema permite que o preso possa progredir no regime prisional conforme seu
merecimento e sua reintegração às boas normas de conduta social. Foi concebido para que
efetivamente o sistema possa preparar o preso para retornar à sociedade corrigido.

VI. Sistema de Montesinos


Está classificado no sistema progressivo. Surgido na Espanha, em um estabelecimento de
Valência, em 1835

Características:
• Tratamento penal mais humanitário;
• Enfatizava o sentido regenerador da pena;
• Os detentos trabalhavam e recebiam por isso;
• Sua forma de tratamento dos detentos reduzia o número de evasões;
• Não permitia o isolamento absoluto;
• Menos castigo e mais disciplina;
• Observância dos princípios constitucionais;
• Ocupava o detento com trabalho;
• Estabeleceu a concessão de licença para saída temporária para presos de bom
comportamento; e
• Foi um marco penitenciário na Espanha e no mundo.

1.4. O sistema adotado pelo Brasil


O Brasil adotou o sistema progressivo, decorrente do Sistema Irlandês, conforme
dispõe parágrafo 2º do Art. 33 do Código Penal e o Art. 112 da Lei de Execução Penal,
onde estabelece que a execução penal deve ser feita de modo progressivo, “segundo o
mérito do condenado”.

No Brasil as medidas de segurança pessoais podem ser das seguintes espécies:


Detentiva: internação em manicômio judiciário, internação em casa de custódia,
internação em colônia agrícola.
Não-detentivas: liberdade vigiada e proibição de frequentar determinados lugares.

2. AS ALTERNATIVAS
2.1. Falência da Pena Privativa de Liberdade
Os autores Newton Fernandes e Valter Fernandes, dentre outros, afirmam que “erram
aqueles que pretendem combater o fenômeno delinquencial com a exasperação das penas
privativas de liberdade”, pois, além de não terem o efeito inibitório esperado, ainda
trazem os males do cárcere, dentre eles a reincidência.

Assim, por esses e outros motivos, o encarceramento deve ser sempre a exceção

Acerca da falência da pena privativa de liberdade, assevera Carnelutti que o ser humano não
nasceu para ser preso, pois isso afeta o seu lado psicológico.

Há, portanto, que se admitir que as alternativas à pena de prisão só podem ser consideradas
para os delitos de pouca ou mediana gravidade, cometidos por delinquentes primários, com
prognóstico favorável a respeito de uma vida futura sem delitos. Para todos os demais
delitos de maior gravidade ou de mesma gravidade, mas com autores reincidentes ou
habituais, ou com prognóstico ressocializador desfavorável, a pena de prisão ocupa o lugar
principal, sem maiores possibilidades alternativas que a de reduzir sua duração nos casos
em que se proceda à aplicação da liberdade condicional.

o Direito Penal moderno prevê diversas alternativas à pena privativa de liberdade.

A suspensão condicional da pena foi adotada pelo Brasil desde 1924 e consiste em ações
como limitação de fim de semana, prestação de serviços à comunidade, interdição
temporária de direitos, reparação do dano, pagamento de cestas básicas às vítimas ou às
instituições filantrópicas, exílio local, mudança de residência ou bairro, monitoramento
eletrônico, expulsão do território...

3. NOVOS RUMOS DO DIREITO PENAL E DO DIREITO PENITENCIÁRIO


3.1. A Penitenciária Modelo
O que vamos tratar nesse tópico está longe de corresponder à descoberta da pólvora. Apenas
pelo método empírico é possível se chegar à conclusão de qual seria a penitenciária ideal para
fazer cumprir com as finalidades da pena no sistema progressivo: retribuir e, sobretudo,
ressocializar. Esta penitenciária ideal teria as seguintes características, dentre outras:
Quadro de funcionários contendo criminólogos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e
psiquiatras, todos voltados a dar um atendimento diferenciado e individual aos apenados,
visando à recuperação dos mesmos;
Os centros de correção deveriam estar situados em áreas compatíveis com a sua finalidade
legal, vale dizer, penitenciárias em áreas distantes das cidades, as colônias agrícolas e
industriais em áreas que permitam um bom desenvolvimento de suas atividades fins, e, as
casas de albergado nos centros urbanos;
População carcerária fixada conforme recomendam os padrões internacionais, respeitados
os limites de cada unidade;
Rigorosa classificação e triagem dos apenados;
Implantação do trabalho remunerado em todas as unidades;
Adoção de células individuais;
Efetiva assistência judiciária aos apenados;
Utilização de agentes prisionais especializados e bem remunerados;
Subsídios fiscais às empresas que contratarem egressos;
Acompanhamento dos apenados em liberdade condicional e que se encontram no regime
aberto.

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