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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Arqueologia e Antropologia

Licenciatura em Antropologia

Sociologia do crime

Tema:

Métodos e técnicas de investigação em sociologia do crime

Docente: Discentes:

Baltazar Muianga Inocêncio Chovela

Maputo, Abril de 2020

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1. Introdução

Este trabalho enquadra-se na cadeira de sociologia do crime e debruça em torno dos


métodos e técnicas de investigação em sociologia do crime com o objectivo de mostrar
as principais metodologias e técnicas de investigação social no domínio do crime,
apontando as principais potencialidades e lacunas. Primeiro faremos uma breve
triangulação metodológica onde são inclusos vários campos que estudam sobre o crime.
No segundo momento traremos a os métodos usados na sociologia do crime como o
método qualitativo e quantitativo. No terceiro ponto traremos as técnicas de
investigação com mais destaque aos inquéritos sociais. Por último traremos as
vantagens e desvantagens das técnicas de investigação em sociologia do crime.

2. A triangulação metodológica

O estudo científico do crime exige uma perspectiva interdisciplinar e de integração


metodológica, no entanto, a definição de fronteiras entre as diversas ciências que
estudam o crime torna-se mais ténue e indefinida, pelo que o crime é cada vez mais
perspectivado como sendo um fenómeno social total que invoca factores vários factores
que exigem a análise da vertente individual e a compreensão das estruturas sociais mais
amplas em que se insere. Contudo, as ciências que se implantaram no campo
criminológico devem operar atendendo ao peso dos factores sociais e culturais
estudados pela Sociologia. No entanto, não se pode falar de métodos e de técnicas de
investigação que sejam específicos da abordagem sociológica do crime (Machado 2008:
52-53).

2.1. Métodos de investigação usados na sociologia do crime

Na perspectivas de (Sumariva 2015), a sociologia do crime usa o método empírico que


visa na observação da realidade, que parte do método indutivo baseando-se nos métodos
biológicos e sociológicos. No entanto, a escola positiva introduziu a fase cientifica da
criminologia e generalizou-se a utilização do método empírico na análise do fenómeno
criminal, o método empírico tem como o seu objecto, caracterizar os tipos de crime,
criminoso, vítima e controle social inseridos na realidade social, do verificável e do
mensurável, assim sendo a criminologia quer conhecer primeiro a realidade e

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posteriormente explicá-la, sendo necessário mais do que conhecimento dos fatos em se
tratando de seres humanos (Sumariva 2015: 16).

Os métodos da sociologia do crime dividem-se em quatro partes, método experimental


ou empírico, método indutivo, método biológico e método sociológico. O método
empírico analisa o universo do ser baseando-se na análise de casos concretos e na
experiência, o método indutivo trabalha em casos concretos partindo de características
especificas para posteriormente fixar conclusões gerais, primeiro conhece a realidade
para depois explica-lá, o método biológico faz analises de factores orgânicos e
individuais do ser humano e o método sociológico faz a análise dos factores sociais, tais
como costumes relações coletivas, culturais e opinião pública (Pureza 2018: 9).

Assim sendo em sociologia do crime os métodos mais usados são os métodos


qualitativos e quantitativos que estão associados a distintos paradigmas teóricos, no
entanto os métodos qualitativos enquanto constituinte das correntes interaccionistas têm
privilegiado as técnicas de pesquisa que permitem o acesso e compreensão dos
universos simbólicos dos actores sociais e das suas práticas quotidianas, não só, as
correntes funcionalistas tendem a utilizar técnicas de recolha de informação que
permitam conclusões extensíveis à análise ampla e extensiva das estruturas sociais
enquanto que os objectivos da investigação quantitativa consistem em encontrar
relações entre variáveis, testar teorias e fazer descrições recorrendo ao tratamento
estatístico dos dados recolhidos, ela chega à compreensão dos fenómenos de forma
indutiva, procurando compreender os sujeitos a partir dos seus quadros de referência
(Machado 2008: 52-53).

3. Técnicas de investigação na sociologia do crime

Existem quatro técnicas de investigação na sociologia do crime, o primeiro é o inquérito


social e seus subtipos que consistem em técnicas de investigação que procedem a uma
recolha sistematizada de dados susceptíveis de poder ser comparados. Seja sob a forma
de entrevista ou de questionário os inquéritos sociais tendem a apresentar perguntas
fechadas, de duração tendencialmente curta, que se caracteriza por um número de
perguntas em regra elevado, com uma ordenação rigorosa, focadas dominantemente nos
conhecimentos e opiniões do entrevistado. O uso desta técnica de investigação visa
revelar e medir as atitudes colectivas dos cidadãos face ao crime e à justiça criminal e
apurar a situação económica, familiar e habitacional de criminosos e delinquentes,

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assim como medir a propensão para o crime com base em factores como a classe social
(Machado 2008: 54).

Os inquéritos sociais dividem-se em dois tipos a saber: os inquéritos de auto-denúncia


(self-reported studies) e os inquéritos à vitimação (victimization surveys) que tem como
objectivo estudarem o volume e a estrutura da criminalidade oculta e as suas relações
com a criminalidade oficial. No entanto o primeiro tipo pergunta-se às pessoas que
crimes terão cometido num determinado período de tempo e no segundo tipo colocam-
se questões sobre as experiências como vítimas de crimes: pergunta-se se durante um
determinado período de tempo, as pessoas foram vítimas de crimes, quantos e de que
tipo e quais os motivos que conduziram as vítimas a renunciar à sua participação às
instâncias formais (Machado 2008: 54-55).

Os estudos de caso é aquela feita pelo recurso a várias técnicas, sobretudo a entrevista
em profundidade, a observação participante e a análise documental, orientada para uma
perspectiva fenomenológica e compreensiva, interessada em compreender a conduta
humana a partir dos próprios pontos de vista do sujeito ou grupos estudados (Machado
apud Carmo e Ferreira, 1997: 177).

A terceira técnica é a observação participante é caracterizada pelo facto do investigador


participar activamente na vida do grupo é uma ferramenta usada na sociologia do crime
como ferramenta exploratória quer como técnica principal de recolha de dados
(Machado 2008: 57).

A quarta e última é a técnica de follow up tem maior tradição na psicologia e psiquiatria


por estarem centrados principalmente no tratamento da delinquência e correspondente
monitorização do paciente. A origem dos estudos de follow-up deve-se aos estudos
sobre a reincidência, pelo que um dos campos privilegiados da sua aplicação seja o
acompanhamento das carreiras delinquentes, sobretudo após o termo de um
determinado tratamento institucional (Machado 2008: 58).

3.1. Potencialidades e limitações das técnicas de investigação em


sociologia do crime

Nos inquéritos sociais podemos encontrar vantagens e desvantagens a partir da sua


subdivisão onde os inquéritos de vitimação permitem salientar o papel criminológico da
vítima, nomeadamente o seu papel de selecção, na medida em que a maioria da

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criminalidade oficial é criada pela própria vítima, que a relata às instâncias formais de
controlo; consegue-se analisar a extensão e profundidade do conhecimento dos
entrevistados sobre as vítimas de crime identificar sentimentos característicos das
vítimas de crime e analisar sentimentos de segurança e insegurança e permitem aferir
modelos de intervenção, ao nível da prevenção local, nacional e regional da
criminalidade (Machado 2008: 56)

Nos inquéritos à vitimação as principais limitações consistem na opacidade revelada em


relação a determinados crimes; comprometem a aproximação à criminalidade real com
base nos inquéritos de vitimação, designadamente os processos de auto-selecção da
informação da parte das próprias vítimas por medo de represálias ou por solidariedade
com o autor do crime e da não avaliação como crime de determinadas actividades. As
limitações dos inquéritos de auto-denúncia são as resistências em admitir a prática de
crime, assim como as próprias falhas de memória (Machado 2008: 56).

Nos estudos de caso, tem como vantagem a obtenção de dados aprofundados e próximos
da realidade estudada, traduzidos em relatos muitas vezes densamente emocionais. A
sua limitação é o facto dos dados apurados não serem generalizáveis e da fiabilidade da
informação depender muito do próprio investigador que se torna o próprio instrumento
de recolha empírica (Machado 2008: 57).

4. Conclusão

Partindo das abordagens destes autores Machado (2008); (Sumariva 2015); e (Pureza
2018), nota-se que a sociologia do crime enquanto campo cientifico basea-se nos
pressupostos empíricos de experimentação e verificação dos diferentes actores sociais e
das suas práticas quotidianas relativamente a questão do crime. A sociologia
diferentemente das outras disciplinas que estudam sobre o crime, vai se interessar na
análise do fenómeno criminal e controle social inseridos na realidade social tendo em
conta os factores sociais e culturais.

Quanto a técnicas de investigação, é notório e a relativização do tipo de pesquisa que


cada investigador vais usar, no entanto podemos afirmar que nos métodos de índole
qualitativa pode-se melhor encaixar a técnica de observação participante por participar
directamente na compreensão do crime, mas isso não significa que seja exclusivo como

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acima foi arrolado são dois tipos de métodos e quatro tipos de técnicas que todas servem
na pesquisa sociológica do crime.

Referências Bibliográficas

Machado, Helena. 2008. Manual de Sociologia do Crime. Porto: Afrontamento.

Pureza, Diego. 2018. Conceito, cientificidade, métodos, objectos e finalidades da


criminologia. S/E. pp: 1-37.

Sumariva, Paulo. 2015. Criminologia: teoria e prática. Niterói: Impetus.

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