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Referência bibliográfica

Evans-Pritchard. 2012 (1970). A Inversão Sexual entre os Azande. pp. 15-30.

Segundo o autor, a população masculina adulta de cada reino era organizada em


companhias militares de abakumba (homens casados) e aparanga (homens solteiros).
Pra além da actividade militar, viviam integralmente nas cabanas dos reinos para
trabalhar nas lavouras dos reis e dos príncipes. Nesse contexto, praticava-se a
homossexualidade masculina por homens solteiros por falta de mulheres para casar.

No caso da população jovem masculina, as meninas eram predeterminadas pelos


casamentos arranjados, e por consequência, os jovens só podiam envolver-se em riscos
adúlteros com as meninas casadas e, devido o perigo de pai pagar com as próprias
mulheres caso o filho fosse descoberto, os casamentos homossexuais foram alternativas
correctas para os jovens casarem-se aos 30 anos como forma de satisfação sexual.

O autor nota que a prática da homossexualidade por mais considerada “costume antigo”
não notou um desagrado pelos seus informantes e, esses casais tinham uma vida normal
sem julgamento, no sentido moderno, tal igual aos casamentos heterossexuais. De todas
as formas, tratava-se de casamentos legais nos modelos de um casamento normal. Os
casamentos eram realizados da mesma forma, porém, os pais do rapaz-esposa podiam
substitui-lo por uma mulher caso o homem provasse ser um bom marido. Os rapazes se
assumiam como mulheres e cumpriam obrigações de género como tal.

No mesmo contexto, a homossexualidade era praticada por membros da nobreza


reinante. Trata-se dos príncipes que tomavam rapazes plebeus como serviçais de tanto
permanecerem na corte até que os pais permitissem a hora ter esposas e distritos para
sua administração. Mesmo com muitas esposas, praticavam eventualmente.

Por outro, praticava-se a homossexualidade feminina (o lesbianismo) nas casas


poligâmicas, sobretudo nas filhas e irmãs da nobreza reinante. O acto sexual não se
difere tanto com as práticas culturais modernas concernentes ao uso de objectos em
forma de pénis para a satisfação sexual feminina. Trata-se de práticas sexuais de
inversão de papéis entre indivíduos do mesmo sexo, mulheres neste caso. Porém, o
lesbianismo era condenado a quem praticasse nessa sociedade, mas fazia-se a qualquer
custo porque existiam mulheres mesmo casadas sentiam todo prazer sexual ao
estabelecer orientação sexual com outras do que com maridos, homens. Concluindo,
essas são as formas institucionais prevalentes na sociedade Zande e as atitudes
masculinas direccionadas a elas.

O texto convida-nos a questionar o não aceitamento da homossexualidade, procurando


nos mostrar que esta prática não é nova, e como tal, ela foi aceite de todas as formas
assim como os casamentos heterossexuais. Se o texto mostra que a homossexualidade
masculina era praticada por carência, porque não se pode aceitar agora que ela é
praticada por desejos e escolhas individuais? Não obstante, nos textos anteriores vimos
como esses comportamentos tidos como desviantes se manifestam, e o avanço científico
prova-nos as razões dessa diversidade sexual. Por mim, esse texto explica bem no que
tange a limitação discriminatória dos homossexuais na sociedade moderna.

Porém, há um ponto negativo que se pode levantar nesse texto concernente a submissão
feminina. Os homens eram permitidos a praticar a poligamia e era interdita para as
mulheres. Ao mesmo tempo, os casamentos homossexuais masculinos eram legais mas,
era proibida a prática do lesbianismo. O texto trás aspectos estereotipados passíveis de
serem questionados: porque sim para o sexo masculino e não para o sexo feminino?).

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