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CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

DISCIPLINA: CRIMINOLOGIA APLICADA A SEGURANÇA PÚBLICA


PROFESSOR: ROBERTO VIDAL FONSECA
E-MAIL: rvfo@ig.com.br

1) EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA

Desde o amanhecer da humanidade, o homem tende a reagir contra qualquer


forma de agressão. “Se tentarmos colocar o dedo nos olhos de uma criança de
30 dias, ela se defenderá fechando-os instintivamente”. Romeu Falconi na sua
obra intitulada Lineamentos de Direito Penal, (2002, p.33)
Nascemos, vivemos e morremos num ciclo existencial sob o manto da
violência e do direito.
O nascer em decorrência dos traumas do ato em si (parto e dor). A
morte pelo desaparecimento e sofrimento que gera . O viver decorrente
do exercício da vida em si
A historia da humanidade esteve permeada pela violência . Há registro
de guerras, perseguições, disputas, preconceitos, desigualdades,
terrorismo,
Essa modalidade de violência era entendida e definida por valores de
determinados grupos sociais organizados, trata-se dos fatos
considerados criminosos, da criminalidade e dos processos de
criminalização.
O incesto e o homicídio são os crimes mais antigos. A perda da paz
(exclusão do grupo) e a vingança de sangue as sanções mais antiga
sociamente organizadas . ( Hans Kelsen).

Estabelece uma distinção entre o Bem e o Mal.


O incomum, o que fugia as regras passou a ser visto com encarnação do
mal ( os outros) em detrimento dos Bons (nós). (tese de H. Becker
chamada de outsiders)
Até o século XIX o cárcere servia de meio de retenção do criminoso. Sanção:
morte, açoites, mutilações. Trabalhos forçados, banimentos...etc...
A privação de liberdade em cárcere, antes de ter sentido de pena não era
considerado castigo, prevaleciam, neste período, as penas corporais. A mais
comum a pena de morte. ( Farias, A ineficácia de pena de prisão).

Os defensores da pena de morte alegavam que é a medida mais eficaz.


Durante o reinado de Henrique VIII ( 1509 -1541) – 72.000 pessoas foram
executadas – roubo e furto – proporção de 2000 por ano.

Na Alemanha – um só juiz ( 1620 à 1666) decretou 20.000 condenações a


morte ( Farias,1999)

“... um executor tomou umas tenazes de aço (...) atenazou-lhe primeiro a


barriga da perna direita, depois a coxa, daí passando às duas partes da barriga
do braço direito; em seguida os mamilos... o mesmo carrasco tirou com uma
colher de ferro do caldeirão daquela droga fervente e derramou-a fartamente
sobre cada ferida...” (Execução de Damiens pelo crime de parricídio em 1757.
Publicada na Gazeta de Amsterdam da época).

“O suplício faz correlacionar o tipo de ferimento físico, a qualidade, a


intensidade, o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do
criminoso, o nível social de suas vítimas.” Michel Foucault (Vigiar e Punir.
Petrópolis: Vozes, 2000).

Brasil – Colônia de Portugal – regido pelas ordenações filipinas – Previsão -


pena de morte na forca ou fogueira
Pena dos hereges e apóstatas, a queima dos cadáveres, se não fossem
convictos. Se o fossem eram queimados vivos.

A sentença dizia “ MORRA MORTE NATURAL DE FOGO , o réu teria que ser
queimado vivo. A sentença ordenava “ MORRA MORTE NATURAL NA
FORCA PARA SEMPRE -onde estivesse sofreria a morte ( Basileu Garcia –
Instituições do Direito Penal)

O Crime de lesa majestade era dos mais graves – Tirandentes- a sentença


atingiu até seus filhos e netos

Em meados do século XVIII, há o desenvolvimento de um conjunto de críticas a


esse sistema punitivo cruel e irracional, momentos em que se clamou pelo
humanismo e por um necessário limite ao Estado.

Trata-se de um movimento que teve como base o Contratualismo,


desenvolvido por Rousseau, Hobbes e Locke, e que influenciou autores dentro
do direito penal.

Beccaria (1764) “ Quem poderia ter dado a homens o direito de degolar seus
semelhantes?
“ A experiência de todos os séculos prova que a pena de morte nunca deteve
celerados determinados a fazer mal”
“ A pena de morte á ainda funesta à sociedade pelos exemplos de crueldade
que dá aos homens´ Beccaria

Beccaria procurou fundamentar a legitimidade do direito de punir , definindo


critério da sua utilidade , a partir do postulado contrato social. Instituiu a
Reserva Legal( Jorge de Fiqueredo Dias O Homem delinqüente e a sociedade
criminógena)

A origem da Penitenciária
Durante a idade média predominavam as prisões eclesiásticas para fins
penitenciais e a expiação dos hereges e apóstatas. Esses estabelecimentos
eram chamados de penitenciários.

Assim, a crise das punições até então adotadas acabou originando uma nova
forma de sanção: a pena privativa de liberdade.
Resumo

a)Período da Vingança Privada – Reação da vítima, dos parentes ou dos


grupos;
b)Período da Vingança Divina - A punição aplicava-se em nome da
divindade;
c)Período da Vingança Pública – O crime era uma ofensa a autoridade
pública.
d)Período Humanitário – A aparecimento da pena de prisão, evitando-se
assim as penais cruéis.

2 ) TEORIAS SOBRE OS FINS DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE


O início da formulação das teorias da pena se deu com advento da Escola Clássica.
As teorias que tentam justificar a aplicação da pena foram divididas em duas
grandes vertentes: as Teorias Absolutas e as Teorias Relativas. (BITENCOURT,
Cezar Roberto. Manual de Direito Penal

TEORIA ABSOLUTA

Pauta-se na idéia de que a pena teria um fim em si mesma. Não haveria, segundo
seus defensores, qualquer elemento externo (finalidade) a justificar a sua aplicação,
a legitimação deveria ser encontrada na própria punição, como medida de justiça.

Com o passar dos tempos, o pensar absoluto passou a abrigar duas correntes
distintas: A corrente expiatória e a retributiva.
No âmbito da expiação, o isolamento a que o condenado estaria submetido com a
aplicação da pena, permitiria que este alcançasse o arrependimento perante Deus,
atingindo a sua redenção moral.

A teoria da retribuição ou retributiva pautou o seu estudo na ética e na ordem


jurídica, conforme formuladas por Kant e Hegel, respectivamente.
Segundo os ensinamentos de Kant, a única razão a ser apontada para se penalizar
uma pessoa é o fato desta ter desrespeitado a lei, como medida de justiça. Jamais
poderia ser ela aplicada como forma de obter-se outro bem, vez que o homem não
poderia ser instrumento dos desígnios de outro homem.
Hegel, adotando uma postura mais jurídica defende que quando ocorre a prática
delituosa, há, simultaneamente, a negação da ordem jurídica posta. A pena assim
deveria ser aplicada de modo a reprovar a conduta criminosa e reafirmar esta ordem
negada.
Destes ensinamentos a sua mais conhecida proposição: “a pena é a negação da
negação do direito”.

TEORIAS RELATIVAS. (Juarez Cirino)

. PREVENÇÃO GERAL POSITIVA


No final do século XX, a prevenção geral adquiriu uma forma positiva, onde
expressaria um ideal retributivo modificativo, considerando que se fundamenta na
afirmação da validade das normas, obtida por meio de uma justa punição ao
delinqüente.
A pena deve “atuar social e pedagogicamente sobre a coletividade, contribuindo
para o fortalecimento da consciência jurídica, à medida que se procura satisfazer o
sentimento de justiça do mundo que esta em torno do delinqüente “ (Roxin)

PREVENÇÃO GERAL NEGATIVA


De acordo com a teoria da prevenção geral negativa, a pena deve produzir efeitos
de intimidação sobre a generalidade das pessoas, atemorizando os possíveis
infratores a fim de que estes não cometam quaisquer delitos. (Prof. Paulo de Souza)

PREVENÇÃO ESPECIAL
A teoria da prevenção especial visa o delinqüente tendo por objetivo que este não
volte a praticar novos delitos. A prevenção especial ocorre em dois caminhos: a
prevenção especial positiva e a prevenção especial negativa.

PREVENÇÃO ESPECIAL POSITIVA


A prevenção especial positiva representa o intento ressocializador, a reeducação e a
correção do delinqüente, realizado pelo trabalho de psicólogos, sociólogos,
assistentes sociais entre outros, visando com a aplicação da pena, a readaptação
do sujeito à vida em sociedade.

PREVENÇÃO ESPECIAL NEGATIVA


Trata de evitar que o agente criminoso expresse sua maior ou menor periculosidade
nas relações sociais. Fala-se em maior ou menor grau numa espécie de
neutralização. Esta pode ter um caráter temporal,quando com pena se aparta o
sentenciado de forma perpetua, ou por um determinado período da vida social,
custodiando-o. ( Prof. Alberto Zacharias Toron)

A prevenção especial negativa é “baseada na premissa de que a privação de


liberdade do condenado produz segurança social, parece obvia: a chamada
incapacitação seletiva de indivíduos considerados perigosos constitui efeito evidente
da execução da pena, porque impede a pratica de crimes fora dos limites da prisão -
e assim a neutralização do condenado seria uma das funções manifestas e
declaradas cumpridas pela pena criminal”. Juarez Cirino

3) MANIFESTAÇÕES FAVORÁVEIS DE ALGUNS ESCRITORES SOBRE A


FINALIDADE DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

A teoria da expiação, adotada também por Kant e Hegel como "retribuição",


pressupõe que ao condenado deve ser imposto o mesmo mal que ele causou a
sociedade. Desta forma, de acordo com esta corrente teórica, o criminoso deve
reparar o erro que cometeu sendo castigado e submetido à mesma intensidade da
dor que provocou. (ISABEL POJO DO REGO (2004), doutora em Sociologia)

A pena é a reafirmação da vontade racional sobre a vontade irracional, servindo a


pena para restaurar uma idéia, precisamente para restaurar a razão do direito,
anulando a razão do delito. HEGEL
O Fim último da pena é o bem social, representado pela ordem que se diligencia
graças à tutela da lei jurídica: e o efeito do fato penal se conjuga à causa que o
legitima”. CARRARA, Francesco. Programa de direito criminal: parte geral.,( 2002)

A teoria da “coação psicológica”, que tem como defensor Beccaria preconiza que “a
pena aplicada ao autor da infração penal tende a repercutir, junto à sociedade,
evitando-se que as demais pessoas que se encontram com os olhos voltados na
condenação de um de seus membros possam refletir antes da prática de qualquer
delito”.

A aplicação da pena de prisão exerce dupla intimidação: “uma, que incide sobre as
pessoas, para que não cometam delitos e, outra, que, dirigida a coletividade,
buscaria inibir a existência de reações sociais contra o delinqüente, em sua garantia.
( LUIGI FERRAJOLI 2002 ).

A pena privativa de liberdade consiste numa medida destinada a ressocializar o


indivíduo que violou a lei. DAMÁSIO DE JESUS (1998)

As penas de prisão também se legitimam porque são um fator de prevenção e


controle da criminalidade, já que é inegável que muitos espíritos se deixam intimidar
por elas. Em quarto, diga-se que a pena de prisão, para a maioria da população,
resolve, sim. E muito! Enquanto estão segregados, os delinqüentes não estão
atormentando a vida dos cidadãos de bem, que querem apenas trabalhar e levar
suas vidas em paz”. LEIRIA, Cláudio da Silva. Considerações sobre a pena de
prisão.2010

4) RESUMO Finalidade da Pena Privativa de liberdade

a) Prevenção Geral Positiva – Visa a integração e harmonia


b) Prevenção Geral Negativa – Visa a intimidação

Ambas atuam na coletividade

c) Prevenção Especial Positiva – Visa a Ressocialização


d) Prevenção especial Negativa – Visa a Neutralização

5) CRÍTICAS AS TEORIAS DAS FINALIDADES DA PENA DE PRISÃO

Teoria absoluta
No âmbito retributivo, fica claro notar que em nosso atual estágio de
desenvolvimento, onde cada vez mais se reclama medidas eficazes, capazes de
coibir o aumento da criminalidade, falar em “retribuição” sem qualquer fim social útil
seria retroceder no tempo.
Não obstante tais ponderações, é apropriado destacar um fenômeno que a
Criminologia Crítica chama de seletividade do sistema penal.
CRÍTICA A PREVENÇÃO GERAL POSITIVA
A critica que se faz a teoria preventiva geral positiva é a total, ou melhor, a ausência
de eficácia, pois não há estudos que demonstrem o poder da pena de motivar a
fidelidade ao Direito, consequentemente emprestando a pena criminal um caráter de
instrumentalização de opressão social, legitimando a seletividade do sistema, vez
que a resposta penal depende estreitamente do grau de visibilidade social dos
conflitos de desviação existentes numa sociedade.

CRÍTICA JURÍDICA DA PREVENCÃO GERAL NEGATIVA


A critica jurídica a prevenção geral negativa aborda diferentes facetas na sua
abordagem o que a torna insuperáveis, a primeira e a sua ineficácia inibidora de
comportamentos anti-sociais da ameaça estatal, pois não é a gravidade da pena ou
rigor da execução penal que desestimularia o autor de praticar crimes, mas sim a
certeza ou a probabilidade e/ou risco da punição.

A segunda critica esta fundada na falta de um critério limitador da pena transforma


esta prevenção em um terrorismo estatal e por outro lado a exemplaridade incutida
nesta prevenção afronta a dignidade humana, uma vez que os acusados reais são
punidos de forma exemplar para influenciar a conduta dos acusados em potenciais.

CRÍTICAS A PREVENÇÃO ESPECIAL POSITIVA


Claus Roxin criticando a legitimidade desta corrente questiona alguns aspectos: “o
que legitima a maioria da população a obrigar a minoria a adaptar-se aos modos de
vida que lhe são gratos? De onde nos vem o direito de poder educar e submeter à
tratamento contra a sua vontade pessoas adultas? Por que não hão de poder viver
conforme desejam os que o fazem a margem da sociedade – quer se pense em
mendigos,prostitutas ou homossexuais?Será a circunstancia de serem incômodos
ou indesejáveis para muitos concidadãos ,causa suficiente para contra eles
proceder com penas discriminatórias?

CRÍTICA A PREVENÇÃO ESPECIAL NEGATIVA


A critica a essa espécie de prevenção especial deve ser analisada sobre dois
prismas, o primeiro em relação à inocuização, pois a irracionalidade entre o fato e a
sanção faz sucumbir o próprio Estado democrático de direito que apresenta suas
premissas nas garantias e direitos fundamentais do individuo preconizado na Carta
de 1988, assim a eliminação do homem ou de suas eventuais potencialidades fere o
pluralismo ínsito da democracia.

6) MANIFESTAÇÕES DE ALGUNS ESCRITORES FAVORÁVEIS AS CRITICAS


SOBRE A FINALIDADE DA P PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
Seja qual for o fim atribuído à pena, a prisão é contraproducente. Nem intimida, nem
regenera. Embrutece e perverte. Insensibiliza ou revolta. Descaracteriza e
desambienta. Priva de funções. Inverte a natureza. Gera cínico ou hipócrita. A
prisão, fábrica a escola de reincidência, habitualidade, profissionalidade, produz e
reproduz criminosos. Funes (1953)

Nem todo delito cometido é perseguido; nem todo delito perseguido é registrado;
nem todo delito registrado é averiguado pela polícia; nem todo delito averiguado é
denunciado; nem toda denúncia é recebida; nem todo recebimento termina em
condenação. (ANDRADE, 1999, )

A vida na prisão impõe que o individuo se agregue a uma subcultura, ou seja, à


sociedade carcerária, sob pena de sofrer sanções impostas pelos próprios
companheiros (isolamento, maus tratos e morte), cujo processo de adaptação à vida
carcerária segue em sentido inverso ao que pretende o tratamento ressocializador,
gerando uma desculturação ou enculturação, ao que Clemmer denominou
prisionização, através do qual o preso adota, em maior ou menor grau, os usos e
costumes, tradições, e cultura do estabelecimento penitenciário onde se encontra.
Bissoli Filho (1998)

Os presos recebem uma espécie de transfusão de influxos deletérios, que têm o


poder de transformá-los para pior. Em geral vai se desadaptando dos
condicionamentos sociais extramuros na medida em que vai se adaptando aos
condicionamentos sociais intramuros. A prisionização leva à desorganização da
personalidade, à deformação do caráter, à degradação do comportamento e ao
abandono dos padrões de conduta da vida extramuro.( Farias Júnior 1996),

Toda vida forçada dentro da prisão sofre uma profunda arregimentação e não há
como a interna rebelar-se contra a mesma ou contestar sua autoridade. (Lemgruber,
1983)

O dominador explora o dominador: quer transformando-o em sua mulher, quer


tomando-lhe os bens (os assaltos nos pátios são freqüentes), quer forçando-o a
conduzir-lhe o estoque (de sorte que tenha sempre à mão, para qualquer
eventualidade e sem correr o risco de portá-lo pessoalmente), quer obrigando-o a
fazer a distribuição da mercadoria proibida (cachaça, maconha) livrando-se do
perigo de ser encontrado na posse do contrabando (os grandes traficantes jamais
botam a mão no objeto do comércio, sendo literalmente impossível puni-los
disciplinarmente, por uma atividade que lhes rende grandes lucros. Thompson
(1980, )

Privação de relação heterossexual é um dos problemas mais sérios e graves


enfrentados no meio prisional, tanto nas prisões masculinas quanto nas femininas. A
falta de realização de atos sexuais normais causa grande frustração nos presos de
ambos os sexos, resultando, para aplacar tais situações, a prática de outros tipos de
relacionamentos, como o homossexualismo, o lesbianismo´ etc ( Vera Regina
Andrade)
O condenado à pena privativa de liberdade, ao ser trancafiado em cela, resta
impossibilidade de sustentar sua família ou obter recursos para tanto, de tomar
decisões ou de exercer seus direitos, de usar seu próprio nome, de escolher suas
roupas, de usufruir da posse ou propriedade de seus bens e coisas e de manter
relações heterossexuais. ( Oliveira 2003)

“O direito de punir deslocou-se da vingança do soberano à defesa da sociedade.


Mas ele se encontra então recomposto com elementos tão fortes que se torna quase
mais temível. O malfeitor foi arrancado a uma ameaça, por natureza, excessiva, mas
é exposto a uma pena que não se vê o que pudesse limitar. Volta de um terrível
superpoder e necessidade de colocar um princípio de moderação ao poder do
castigo”. FOCAULT. Michel. Vigiar e punir 2002:

Se afasto do meu jardim os obstáculos que impedem o sol e a água de fertilizar a


terra, logo surgirão plantas de cuja existência eu sequer suspeitava. Louk Hulsman,
penas perdidas (1993),

RESUMO – das Críticas das teorias Pena Privativa de Liberdade

a) Prevenção Geral Positiva - ( integração) Nao integra, legitima a seletividade do


sistema.
b) Prevenção Geral Negativa – (intimidação) A ausência de eficácia, pois não há
estudos que demonstrem o poder da pena de motivar a fidelidade ao Direito,
c) Prevenção Especial Positiva – ( ressocialização) Claus Roxin. Não há
legitimidade: “o que legitima a maioria da população a obrigar a minoria a adaptar-se
aos modos de vida que lhe são gratos? Por que não hão de poder viver conforme
desejam os que o fazem a margem da sociedade
d) Prevenção especial Negativa - ( Neutralização) A eliminação do homem ou de
suas eventuais potencialidades fere o pluralismo ínsito da democracia, ademais, o
atual sistema não neutraliza.

7) CRIMINOLOGIA

Criminologia
Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen (crimen, delito) e do
grego logo (tratado), sendo o antropólogo francês Topinard (1830-1911) o primeiro a
utilizar este termo., Reconhecimento oficial e aceito internacionalmente graças à
obra de Garofalo, e seus compatriotas italianos: Lombroso[3](que fala de
Antropologia Criminal) e Ferri (que evoluciona em direção a Sociologia Criminal). Os
fundadores da Criminologia científica. Lélio Braga Calahu ( Promotor)

Academicamente a Criminologia começa com a publicação da obra de Cesare


Lombroso chamada "L'Uomo Delinquente", em 1876. Sua tese principal era a
do delinqüente nato

CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
Ciência que estuda o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do
delinqüente e sua conduta delituosa, e a maneira de ressocializá-lo. ( Edwin
Sutherland).

Ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do


infrator, da vítima, do controle social e do comportamento delitivo, buscando
informações sobre a gênese, a dinâmica e as variáveis do crime, a fim de
embasar programas de prevenção criminal e técnicas de intervenção positiva no
homem delinqüente (Luiz Flávio Gomes).

OBJETOS DA CRIMINOLOGIA:
O objeto da Criminologia é o crime, suas circunstâncias, seu autor, sua vítima,
controle social e tudo mais que o cerca.

MÉTODO:
Empírico – observação da realidade.

Relacionamento da Criminologia com as demais ciências( Criminologia


é interdisciplinar)
a) Filosofia – Nenhum conhecimento é absoluto;
b) Sociologia – O crime é um fenômeno social
c) Biologia – O crime depende do fator genético
d) Psicologia – O crime é um conflito interno
e) Antropologia - Estudo do homem, dos povos e das raças nos
aspectos, biológicos e genéticos.
f) Direito – É uma conduta, que a lei atribui uma pena.

Importante salientar que as definições ainda necessitam de uma interpretação.

Históricos sobre o pensamento criminológico

Código de Hamurabi ( 1726 – 1686) – Olho por olho e dente por dente
Confúcio (551 – 478 Tem cuidado de evitar os crimes par depois não
ver-te obrigado a castigar
Protágoras ( 485 -415 a.c) sustentou o caráter preventivo da pena
Sócrates ( 470 -399 ac Que se devia ensinar aos indivíduos que se
tornaram criminosos como não reincidirem no crime.
Platão ( 427 -347 ac ) o ouro do homem sempre foi motivo de seus males.
Aristóteles – a miséria engendra rebelião e delito
Sêneca em Roma ( 4 ac – 65 d.c ) A ira a mola propulsora do crime

FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA:
Informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinqüente, a vítima
e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros que permita
compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com
eficácia e de modo positivo no homem delinqüente.
08) CRIMINOLOGIA TRADICIONAL
Estuda as causas do crime, como é possível prevenir sua ocorrência.

09) CRMINIOLOGIA CRÍTICA – Ao indagar as causas do crime, a Criminologia


Crítica pesquisa a reação social, ampliando, assim, o campo de investigação para
abranger as instâncias formais de controle como fator criminógeno (as leis, a
Polícia, o Ministério Público e os Tribunais). Buscando a resposta sob o ângulo de
uma problemática maior.

10. TEORIAS CIENTÍFICAS SOBRE O PROBLEMA DO CRIME

Criminologia tradicional
Escola clássica
Escola positiva
a) Teorias bioantropológicas
b). Teorias psicodinâmicas
c). Teorias psico-sociológicas
Sociologia criminal
a). Teorias ecológicas
b) Teorias da subcultura
c). Teorias da anomia

Escola Clássica –(séc XVII e XIX) – A ordem social resulta de um consenso em


torno de valores fundamentais, visando um bem-estar de todos (contrato social). A
conduta criminosa é uma escolha racional. (LIVRE ARBÍTRIO). A pena é um
castigo necessário para acabar com a criminalidade. Investiga-se o fato delituoso.

Denomina-se Escola Clássica o conjunto de escritores, pensadores, filósofos e


doutrinadores que adotaram as teses ideológicas básicas do iluminismo, que
foram expostas magistralmente por Beccaria.

Concebe o Direito Penal como um direito natural, imutável e anterior às


convenções humanas, que deve ser exercido mediante a punição dos delitos
passados para impedir o perigo dos crimes futuros.( Romagnosi, Italiano)

Jeremias Bentham ( Inglaterra) considerava que a pena se justificava por sua


utilidade: impedir que o réu cometa novos crimes, intimidá-lo, protegendo, assim a
coletividade.

Anselmo Von Feuerbach ( Alemanha) opina que o fim do Estado é a convivência


dos homens conforme as leis jurídicas. A pena, segundo ele, coagiria física e
psicologicamente para punir e evitar o crime.

No que tange à finalmente da pena, havia no âmago da Escola Clássica, três


teorias:
Absoluta – que entendia a pena como exigência de justiça.
Relativa – que assinalava a ela um fim prático, de prevenção geral e especial;
Mista – que, resultando da fusão de ambas, mostrava a pena como utilidade e
ao mesmo tempo como exigência de justiça.

Na Escola Clássica, dois grandes períodos se distinguiram: o filósofo ou


teórico e o jurídico ou prático. No primeiro destaca-se a incontestável figura de
Beccaria. Já no segundo, aparece o mestre de Pisa, Francisco Carrara, que
tornou-se o maior vulto da Escola Clássica.

Carrara defende a concepção do delito como ente jurídico, constituído por duas
forças: a física (movimento corpóreo e dano causado pelo crime) e a
moral (vontade livre e consciente do delinqüente).

Define o crime como sendo "a infração da lei do Estado, promulgada para proteger
a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou
negativo, moralmente imputável e politicamente danoso".

RESUMO - Escola Clássica


(séc XVII e XIX) – A ordem social resulta de um consenso em torno de valores
fundamentais, visando um bem-estar de todos (contrato social). A conduta
criminosa é uma escolha racional. (LIVRE ARBÍTRIO). A pena é um castigo
necessário para acabar com a criminalidade. Investiga-se o fato delituoso.

ESCOLA POSITIVISTA

O movimento naturalista do século XVIII, que pregava a supremacia da


investigação experimental em oposição à indagação puramente racional,
influenciou o Direito Penal. Numa época de franco domínio do pensamento
positivista no campo da filosofia (Augusto Comte) e das teorias evolucionistas
de Darwin e Lamark, das idéias de John Stuart e Spencer, surgiu a chamada
Escola Positiva.

A nova Escola proclamava outra concepção do Direito. Enquanto para a


Clássica ele preexistia ao Homem (era transcendental, visto que lhe fora dado
pelo criador, para poder cumprir seus destinos), para os positivistas, ele é o
resultado da vida em sociedade e sujeito a variações no tempo e no espaço,
consoante a lei da evolução.

Desmentem logo a teoria do livre arbítrio cientificamente. São, portanto,


adeptos do determinismo psicológico, onde o homem está à mercê da
causalidade, sendo as suas ações fruto de fatores externos e internos que
influenciam a vontade, o que faz o homem buscar aquilo que tem razões mais
poderosas para fazer. ARAGÃO, Antônio Moniz Sodré de. Curso de Direito
Criminal.
TEORIAS BIOANTROPOLÓGICAS

O crime é um “fenômeno de atavismo orgânico e psíquico.” O criminoso,


portanto, é o aparecimento de um ser selvagem no meio civilizado moderno,
com os mesmo “instintos bárbaros” do selvagem.

Tem características infantis, já que a criança representa, por analogia, o estado


mais primitivo da humanidade. É a doutrina do infantilismo. Mas a
generalização atavística de Lombroso é contestada, já que ela impede de
compreender cada caso individualmente.

Devido a essas críticas, Lombroso mudou a sua teoria, associando, então, o


atavismo à epilepsia. Identifica loucura moral com delinqüência nata. É nesse
momento que ele conclui que todo crime é acarretado por uma natureza
epilética e que e essa natureza forma “o fundo comum de todas as formas de
delinqüência”. ARAGÃO, Antônio Moniz Sodré de. Curso de Direito Criminal.

Para médico psiquiatra César Lombroso Lombroso a causa é biologia,


descrevendo o criminoso nato.

Assimetria craniana e, fronte fugida, zigomas salientes, face ampla e larga,


cabelos abundantes, barba escassa, orelhas mal formadas, dentes irregulares,
insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro,
moralmente impulsivo, insensível, vaidoso e preguiçoso.

O Homem Criminoso de Lombroso

11) A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS BIOANTROPOLÓGICAS NAS


POLÍTICAS CRIMINAIS:

A partir da repercussão da teoria lombrosiana do criminoso nato, diversos


criminólogos ocuparam-se do estudo da biotipologia do infrator, criando a
antropologia criminal. Para este novo ramo, o crime era um fenômeno
biossocial que revelava um biotipo anormal, perigoso e irresponsável.

Além disso, pesquisadores de outras áreas começaram a relacionar


características físicas com o delito cometido. Surgiram, então, as teorias
endocrinológicas (explicavam as causas do crime a partir do estudo das
glândulas), as teorias genéticas (estudavam o crime a partir de anomalias
cromossômicas) e as teorias psicológicas (estudavam o comportamento do
delinqüente a partir do funcionamento do sistema nervoso, especialmente o
cerebral).

Cada país procurou adaptar e desenvolver políticas criminais voltadas às


últimas descobertas de Lombroso e às novas teorias criminológicas. Ainda que
cada teoria desse ênfase a um aspecto orgânico, como o tipo, os gens, o
cérebro ou as glândulas, a nova ciência criminológica possuía um objetivo
muito claro: o aperfeiçoamento da raça, ou em outras palavras, a eugenia.

Diverso do caráter punitivo das penas, as teorias seguidoras da bioantropologia


procuravam a “cura” dos delinqüentes, daí porque o sistema penal deveria
promover políticas criminais eugênicas voltadas ao melhoramento das
características físicas e psíquicas da raça.

As políticas eugênicas foram desenvolvidas a partir da realidade sociocriminal


de cada país, variando desde a endogamia com o fito de evitar a transmissão
de doenças hereditárias, até o uso de meios cirúrgicos. Nos Estados Unidos e
na África do Sul (mesmo não havendo mais escravatura) foram proibidos os
casamentos inter-raciais, para a preservação da raça e contenção da
criminalidade. Já na Austrália, os filhos de aborígines com brancos ficavam sob
a tutela do Estado – o objetivo era que os mestiços se casassem somente com
indivíduos brancos, para ocorrer o embranquecimento da raça.

A preocupação na transmissão de doenças hereditárias era tamanha que


cientistas em todo o mundo passaram a defender a adoção da esterilização e,
em alguns casos, da castração e da pena de morte.

A Alemanha foi um dos países que mais absorveu as teorias eugênicas. Em 24


de novembro de 1933, foi introduzida a lei de castração como medida de
segurança aos delinqüentes culpados de crimes sexuais graves e reincidentes
de crime contra os costumes, sendo seguida pela aprovação da lei que previa a
esterilização a todos os indivíduos degenerados. Nos dizeres de Aureliano
Araújo, o intuito dessas normas era impedir a propagação das características
psicopatológicas aos descendentes

12) Positivismo no Brasil

Como os estudos positivistas tinham como objeto o criminoso, o melhor e mais


seguro local para encontrá-los seria na cadeia.

Assim, essa teoria ajudou a concretizar a imagem do negro como marginal,


conferindo o aval da ciência de que a raça negra era inferior e voltada para o
crime, reforçando o estereótipo do criminoso.(mais negros na cadeia)
Autores brasileiros

O escritor Euclides da Cunha, apesar de contrário a Lombroso, defendeu a


inferioridade da raça nordestina pelo meio.

O legista Nina Rodrigues defendeu a responsabilidade diferenciada para cada


raça.

Moniz Sodré negava a igualdade entre os homens e entendia que a pena


deveria ser proporcional não ao delito, mas à inadaptação do sujeito à vida
social.

Também, ainda presente nos dias de hoje, a análise da personalidade do réu é


usada para cálculo e definição de pena, assim como seus antecedentes,
culpabilidade e sua conduta social (art. 59 do CP), o que vai de encontro a um
“direito penal do fato”, mais compatível com um Estado democrático de direito,
que pune o sujeito pelo fato praticado e não pelo o que ele é.

TEORIAS PSICODINÂMICAS
O criminoso é diferente do não-criminoso, mas essa diferença não é congênita.
Decorre de falhas no processo de aprendizado e socialização do criminoso,
uma vez que o ser humano é, por natureza, um ser a-social. Para
compreender as causas do crime, investiga porque a generalidade das
pessoas não comete crimes. O crime decorre do conflito interior entre os
impulsos naturais e as resistências adquiridas pela aprendizagem de um
sistema de normas. Lélio Braga Calhau Criminólogo.( GAROFALO)

TEORIAS PSICO-SOCIOLÓGICAS.
Predomínio dos elementos sociais e situacionais sobre a personalidade.

Insuficiência dessas explicações biológicas


• Segundo Ferri, no entanto, nenhuma das explicações biológicas é completa,
pois cada uma se restringe a um determinado grupo de delinqüentes, sem
explicar os outros e nem por que a causa para a criminalidade se manifesta de
diferentes maneiras nas diversas pessoas. Ele diz que mesmo que haja uma
pequena diferença de meio entre dois indivíduos que vivam numa mesma
família, isso não explica a enorme diferença de comportamento entre eles,
sendo um honesto, o outro homicida. O fator biológico que gera essa diferença
ainda não foi determinado.

ESCOLA DA SOCIOLOGIA CRIMINAL


(séc. XIX / XX), por sua vez, busca as causas do crime na sociedade. O crime
é analisado como um fenômeno coletivo, sujeito às leis do determinismo
sociológico e, por isso, previsível. A sociedade contém em si os germes de
todos os crimes. O criminoso é mero instrumento no comportamento criminoso.
A solução para o problema do crime está na reforma das estruturas sociais.

Atualmente, as teorias que analisam a sociedade criminógena, privilegiando a


dimensão causalista na conduta desviada, são denominadas de teorias
etiológicas e se subdividem em:

TEORIAS ECOLÓGICAS OU DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL – (1930)

Enfoque pragmático diretamente voltado para os problemas de urbanização do


início do século XX – preocupação com a “perda dos valores tradicionais -
“Sociologia da grande cidade” (Chicago: explosão urbana no início do século
XX: 1860 – 110.000 habitantes, 1870 – 300.000; 1900 – 800.000, 1910 –
2.000.000. Em 50 anos, aumentou em 20 vezes sua população);
- Crime é lidado como problema social e não patologia individual,
fundamentalmente ligado ao conceito de espaço (crime não é uma resposta
anormal, mas resposta normal a ambiente anormal);

A cidade moderna caracteriza-se pela ruptura dos mecanismos tradicionais de


controle (família, vizinhança, religião, escola) e pela pluralidade das alternativas
de conduta.
Primeira Escola de Chicago', que vigorou entre 1915 e 1940 e trouxe ao mundo
as teorias da Ecologia Humana, de Robert Park, e das Zonas Concêntricas, de
Ernest Burgess

A expansão das cidades e suas modificações sob o efeito da industrialização,


representando um contexto dentro do qual são visíveis novos fenômenos
sociais, que abarcam desde mudanças nas ordens econômica, demográfica e
espacial, até alterações dos costumes, e também das formas de interação e de
controle social. É desse turbilhão que emerge um novo ambiente que, marcado
por grandes desigualdades, apresenta-se propício ao surgimento de desvios de
conduta, muitos deles caracterizados como crimes.

A gangue é outro fenômeno explicado pela cidade grande, especialmente entre


os jovens das áreas e classes menos favorecidas. Ela se configurou em ponto
de estudo dos sociólogos de Chicago, destacando-se, dentre eles, Frederic
Trasher.

Nesse contexto de emergência de novos fenômenos sociais que surge


uma modificação nas formas tradicionais de controle social. A igreja,
a escola e a família desvanecem, cedendo espaço para um controle
público, no qual é imprescindível o papel exercido pela lei. Emergem,
então, outras instituições de controle, como a escola pública
(instrumento de reprodução da ordem social) e a polícia (instrumento
de repressão dos que desafiarem essa ordem). Espaço Urbano e
Criminalidade: Lições da Escola de Chicago (Wagner Cinelli de Paula
Freitas)
Freitas afirma que essa teoria entende o crime como algo não
determinado pelas pessoas, mas sim, pelo grupo a que pertencem.
Park propõe uma analogia entre a organização da vida vegetal e a da
vida humana em sociedade.

O comportamento humano seria modelado e limitado pelas condições


sociais presentes nos meios físico e social. Em sua ótica, Freitas
considera que a teoria de Park propõe que as pessoas sejam vistas
como conformistas, uma vez que agem de acordo com os valores e
normas do grupo.

Freitas comenta que, em 1929, Clifford Shaw (um dos sociólogos de


Chicago) empreendeu um teste da hipótese de Park e Burgess. Sua
conclusão apontava que quanto mais próxima fosse a localização da
zona em relação ao centro da cidade, maior a sua taxa de
criminalidade. Além disso, constatou que as taxas mais altas
indicavam os locais nos quais havia maior deterioração do espaço
físico e população em declínio; e, por último, que, mesmo com as
modificações da Zona II, as taxas de crimes permaneciam elevadas.

Park criou a idéia do playground:

Áreas de lazer, mas que estariam voltadas para a formação de associações


permanentes entre as crianças e seriam administradas ou monitoradas por
agências que formam o caráter, como a escola, a igreja ou outras instituições
locais, o que seria uma maneira de se criar vínculos positivos entre as pessoas
a partir da infância, numa tentativa de preencher o espaço formador que antes
era ocupado pela família, já que as condições da vida urbana fizeram com que
muitos lares fossem transformados em pouco mais do que meros dormitórios

TEORIAS DA SUBCULTURA (1966) - Wolfgang e Ferracuti

Desenvolvida por Wolfgang e Ferracuti (1967), Ao lado de uma


cultura nacional, com valores morais e normas de conduta fundamentais, existe
uma “subcultura”, como uma sua parte formado a sociedade marginal, que
apresenta um sistema de valores especiais, como que à margem da cultura
geral e na qual a delinqüência, principalmente a juvenil, encontra o seu campo
natural ou é típica forma de manifestação.

A cultura geral seria opressiva, dominadora, como que marginalizando os


valores da subcultura, o que resultaria em conflito, surgindo, dessa forma, a
conduta delituosa, principalmente a violenta (homicídio e lesões corporais,
etc.). a subcultura violenta tamém pune com o ostracismo, o desdém ou a
indiferença os indivíduos que não se adaptam aos padrões do grupo.
O mundo atual evolui constantemente, fazendo nascer novas formas
de condutas anti-sociais e criminosas desconhecidas anteriormente. O jovem
que está à margem dessa evolução da sociedade, que é uma sociedade
criminógena, tenta buscar o prazer, a realização pessoal, como se adulto fosse.

A revista “TIME”, de julho de 1977, num artigo sobre “Criminalidade Juvenil”,


nos Estados Unidos, afirmou que os jovens de idade entre 10 e 17 anos agem
agressiva e violentamente, não pela pobreza ou necessidade, mas pelo
simples desejo de “fazer um jogo

Argumentam Wolfgang e Ferracuti em seus estudos, incluiria: (i) a aceitação da


violência como processo de resolução de conflitos por indivíduos daquele perfil
demográfico; (ii) ênfase na “defesa da masculinidade”; (iii) valorização da
habilidade em obter sucesso através da violência e (iv) tendência ao porte e
uso de armas.

TEORIAS DA ANOMIA OU DA ESTRUTURA DA OPORTUNIDADE


(anomia –ausência de lei) - Emile Durkhein - Robert King Merton

A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade provocado


pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. A partir
do surgimento da sociedade consumista, houve um brusco rompimento com
valores tradicionais.

Este termo usado Emile Durkhein (1910) em seu livro o Suicídio . Durkheim
emprega este termo para mostrar que algo não funciona na sociedade de
forma harmônica

Segundo Robert King Merton anomia significa uma incapacidade de atingir os


fins culturais. Para ele, ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais,
devido à insuficiência dos meios institucionalizados, gera conduta desviante.
Seu pensamento popularizou-se em 1949 com seu livro: Estrutura Social e
Anomia

Merton declara que toda humanidade partilha de estrutura cultural (objetivo


individual) promete-se a todos a ascensão na sociedade (american dream)
contudo,a estrutura social vai distribuir, diferentemente, os recursos para atingir
os objetivos. Marton diz que é mais provável que ocorra desvio quando há
objetivos mas não meio para atingir, por isso quando a maioria da população
partilha o mesmo objetivo mas os maiôs estão desproporcionalmente
distribuídos, há mais probabilidade de ocorrer o crime.
RESUMO

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL

A – Escola Clássica –(séc XVII e XIX) –. A conduta criminosa é uma escolha


racional. (LIVRE ARBÍTRIO). A pena é um castigo necessário para acabar com a
criminalidade. Investiga-se o fato delituoso.

B – Escola Positiva – Nega o livre arbítrio e afirma a previsibilidade do


comportamento humano. Investiga o criminoso.

B.1 – teorias bioantropológicas – Há pessoas predispostas para o crime. O


criminoso é um ser organicamente diferente do cidadão normal.

B.2 – teorias psicodinâmicas – A diferença não é congênita. Decorre de falhas no


processo de aprendizado e da socialização do criminoso.
B.3 – teorias psico-sociológicas – predomina elementos sociais e situacionais da
personalidade.

C- Escola da Sociologia Criminal – busca as causas do crime na sociedade. O


criminoso é só instrumento.

C.1 Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social (Escola de


Chicago) – 1920/1940:. o crime como algo não determinado pelas pessoas,
mas sim, pelo grupo a que pertencem
C.2 – Teorias da Subcultura – Os delinqüentes são as culturas e não as
pessoas. A delinqüência é um sistema de crenças e valores.

C.3 – Teorias da estrutura da oportunidade (anomia –ausência de lei) –Essa


abordagem, a motivação para a delinqüência decorre da impossibilidade de o
indivíduo atingir metas desejadas por ele.

13) CRIMINOLOGIA NOVA OU CRÍTICA

Nasceu nos EUA, com a obra The New Criminology de Lan Taylor, Paul Walton e
Jock Young, no inicio da década de 70, uma reação aos conceitos neocapitalistas.
Seguiu uma linha socialista.
Essa nova criminologia está centrada na dinâmica dos movimentos sociais,
entretanto, vai além do determinismo presente no positivismo e se preocupa com a
reação social ante o crime, buscando elucidar o motivo de determinadas pessoas
serem tachadas de criminosas ao passo que outras não o são.

A sociedade seleciona determinados indivíduos que feriram o bem jurídico tutelado


penalmente e a eles atribui o rótulo de criminoso. Quais as conseqüências desta
seleção e como ela é efetivada? São indagações que ampliam o campo da
investigação para abranger as instâncias formais de controle como fator
criminógeno (as leis, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário).

TEORIA DA ROTULAÇÃO OU LABELING APPROACH (Etiquetamento social) .


Alessandro Barrata (Os principais representantes do labelling approach são: Garfinkel,
Goffman, Erikson, Cicourel, Becker, Schur, Sack,)
O crime não é uma qualidade ontológica da ação, mas o resultado de uma reação
social. O crime não existe. O criminoso apenas se distingue do homem normal
devido à rotulação que recebe de criminoso pelas instâncias formais de controle. A
sociedade é que rotula (etiqueta ou carimba) as condutas criminosas.“A sociedade
tem os criminosos que quer.” Lan Taylor (sociólogo –Britânico )
O labelling approach (ou enfoque da reação social) surgiu na Criminologia Crítica
e tem o controle social como seu principal objeto de estudo, isto é, o sistema
penal e o fenômeno do controle, pois estes criam a criminalidade através dos
agentes do controle social formal que estão a serviço de uma sociedade desigual.

Os defensores do labelling approach não perguntam “quem é o criminoso?” ou


“como ele se torna desviante?”, mas sim “ quem é definido como desviante?”, “que
efeito decorre desta definição sobre o indivíduo?”, “em que condições este
indivíduo pode se tornar objeto de uma definição?” e enfim, “quem define quem?”.

Estas perguntas conduziram a dois tipos de pesquisa:


1- estudo da formação da identidade desviante e do desvio secundário, ou seja, o
efeito da aplicação da etiqueta de criminoso sobre a pessoa na qual essa etiqueta
é aplicada;

2- estudo dos que detêm, em maior medida, na sociedade o poder de definição,


isto é, estudo das agências de controle social.

A prática de crimes não rotula ninguém, porque não é a qualidade negativa que
pertence a certos delitos o fator determinante do etiquetamento, e sim depende de
certos mecanismos e procedimentos sociais de definição e seleção, pois para a
sociedade delinquente não é todo aquele que infringe a lei, isto é, o delinquente é
aquele que preenche certos requisitos e é etiquetado pelas instâncias
criminalizadoras como tal.

O desvio primário é consequência de uma série de fatores sócio-econômico


culturais e psicológicos, enquanto que os desvios subsequentes são resultados de
um etiquetamento que é atribuído ao indivíduo pela sociedade e tem como
finalidade a estigmatização, pois trata-se de um sistema desigual de atribuições de
estereótipos. Isso ocorre porque a intervenção do sistema penal, nas penas
detentivas, ao invés de reeducar para o convívio na sociedade acaba por
consolidar uma identidade desviante do condenado e o seu ingresso em uma
verdadeira carreira criminal.

A idéia do direito penal do inimigo foi introduzida nas discussões jurídicas por
Jakobs, através do paradoxo “direito penal do cidadão versus direito penal do
inimigo”. Segundo Jakobs, o cidadão é aquele que delinque ocasionalmente, e por
isso para ele deve ser aplicada a norma, baseada no fato, no desvio cometido. Já
o inimigo delinque por essência, é um ser socialmente nocivo e representa um
risco para a sociedade, e por isso é necessário colocá-lo à margem como forma de
contê-lo, aplicando-lhe um direito penal prospectivo (o importante não é a
ocorrência do fato criminoso e sim sua identificação e rotulação do possível autor
antes mesmo da prática do delito). Günther Jakobs (1973)

TEORIA DA ETNOMETODOLOGIA

Considera-se seu principal teórico Harold Garfinkel publicou o livro Estudos


sobre Etnometodologia, em 1967,

A Etnometodologia é uma corrente sociológica desenvolvida primeiramente


nos Estados Unidos a partir da década de 1960. Alguns anos depois, chegou
à Europa. Trabalha com uma perspectiva de pesquisa compreensiva, em
oposição à noção explicativa.

A Etnometodologia considera que a realidade socialmente construída está


presente na vivência cotidiana de cada um e que em todos os momentos
podemos compreender as construções sociais que permeiam nossa conversa,
nossos gestos, nossa comunicação etc.

Garfinkel vai concentrar suas críticas é em relação ao processo de


comunicação que desenvolvemos através do uso da linguagem. Os símbolos
utilizados para nossa comunicação não se encontram estabelecidos em
conjuntos de regras e normas de comunicação preexistentes, mas são
construídos e produzidos por processos de interpretação.

os indivíduos produzem os símbolos e códigos utilizados para estabelecer uma


comunicação inteligível, interpretando as ações daqueles com quem
estabelecem relação. Tais símbolos são reinventados e adaptados a cada novo
encontro

Enquanto a sociologia tradicional despreza as descrições que os atores fazem


dos fatos sociais que os cercam, entendendo que essas descrições são por
demais vagas, a etnometodologia valoriza exatamente essas interpretações
que passam a ser o objeto essencial da pesquisa.

CRIMINOLOGIA RADICAL –( Taylor, Walton e Young, "Juarez Cirino dos Santos )

A "Criminologia Radical", como já ficou dito, é uma tendência nova na


criminologia, que tem origem com o trabalho de Taylor, Walton e Young, "The
New Criminology" em 1973. É também chamada de "Criminologia Crítica",
"Nova Criminologia" como é o título do livro dos precursores, "Criminologia da
Reação Social", entre outros.
Essa criminologia, também considerada anti-criminologia pelos positivistas, tem
sua base teórica na crítica aos componentes ideológicos fundamentais da
criminologia dominante, com fundamentos da doutrina marxista.

No livro "Criminologia Radical", de Juarez Cirino dos Santos, temos a definição


de duas tendências na "Criminologia Radical". A primeira, de cunho
revolucionário, que não se conforma com o estado atual da sociedade e que é
denominada de "idealismo de esquerda" e a segunda, denominada de
"reformista" e caracterizada como "marxismo bem-educado", pois visa e crê
numa dissolução do capitalismo como ordem natural das coisas, crê na
possibilidade de uma mudança por intermédio do estado.

Se a criminologia positivista assume um papel de classe, propagando a


ideologia dominante, e portanto um papel de classe dominante, a "Criminologia
Radical" assume o papel da classe trabalhadora, da classe explorada e passa
a criticar o modo de produção capitalista, bem como os meios de reprodução
dos modos de produção.

Critica-se o modo de produção capitalista, baseado na mais-valia, por ser uma


forma de exploração da mão de obra e provocar injustiças sociais,
desigualdades ocasionadoras dos altos índices de criminalidade.

A "Criminologia Radical" entende que não há neutralidade na realidade,


contribuição essa que nos faz ver todo o processo de estigmatizacão da
população marginalizada e que se estende à classe trabalhadora, como alvo
preferencial do sistema punitivo, e que visa criar um temor da criminalização e
da prisão para manter a estabilidade da produção e da ordem social.

Uns criticam a "Criminologia Radical" por não observar a criminalidade


existente nos países socialistas, concentrando-se apenas em criticar a
criminologia tradicional e colocar a culpa da criminalidade no regime capitalista.

CRIMINOLOGIA MINIMALISTA (Anos 90) –

Sustenta que é preciso limitar o Direito Penal, que está a serviço de grupos
minoritários, tornando-o mínimo, porque a pena, representada em sua
manifestação mais drástica pelo Sistema Penitenciário, é uma violência
institucional que limita os direitos e reprime necessidades fundamentais das
pessoas, mediante a ação legal ou ilegal de servidores do poder, legítima ou
ilegitimamente investidos na função.

. CRIMINOLOGIA ABOLICIONISTA (Anos 90) - Louk Hulsman, - Zaffaroni


Apresenta a proposta de acabar com as prisões e abolir o próprio Direito Penal,
substituindo ambos por uma profilaxia de remédios para as situações—
problemas com base no diálogo, na concórdia e na solidariedade dos grupos
sociais.

A proposta abolicionista, de um modo geral, procura satisfazer diversas


expectativas sociais durante a solução do problema criminal, tais como a
conciliação entre os envolvidos, a reparação do dano causado tanto à vítima
como à comunidade e, principalmente, a pacificação das relações sociais.

Pretende-se substituir o sistema penal por instâncias intermediárias ou


individualizadas de solução de conflitos que atendam às necessidades reais
das pessoas envolvidas, redefinindo as categorias de "crime" e "criminalidade",
que passariam a ser entendidas como "situações problemáticas" para
possibilitar o ajuste efetivo entre elas.

Exemplo "situação problemática", Hulsman : cinco estudantes moram juntos


e, num determinado momento, um deles se arremessa contra a televisão e a
danifica, quebrando também alguns pratos. Como reagem seus companheiros?

Cada um, poderá adotar uma atitude diferente. O estudante número dois,
furioso, dirá que não quer morar com o primeiro e fala em expulsá-lo da casa; o
terceiro declarará: "O que se tem que fazer é comprar uma nova televisão e
outros pratos e ele que pague". O quarto estudante, traumatizado com o que
acabou de presenciar, grita: "Ele está evidentemente doente; é preciso procurar
um médico, levá-lo a um psiquiatra, etc.". O último ainda sussurra: "A gente
achava que se entendia bem, mas alguma coisa deve estar errada em nossa
comunidade, para permitir um gesto como esse. Vamos fazer juntos um exame
de consciência".

Ao formular o exemplo retro transcrito, o autor pretende demonstrar que se


deixarmos a solução de um conflito para as pessoas diretamente envolvidas
vários estilos de controle social surgirão ao lado do modelo punitivo, tal como
medidas terapêuticas, educativas, de assistência material ou psicológica,
reparatórias, etc.

14) VITIMOLOGIA: ( MENDELSOHN)

No final da Segunda Guerra Mundial, um advogado de origem israelita


chamado Benjamin Mendelsohn, também vítima da guerra, começou a pensar
em sistematizar uma nova ciência ou desenvolver um ramo da criminologia que
foi a vitimologia.Sua obra ‘Horizonte Novo na ciência Bio-psicosocial – A
Vitimologia’, publicada em 1956 passou a ser um marco no assunto

Vitimologia É o estudo da vítima no que se refere à sua personalidade, quer do


ponto de vista biológico, psicológico e social, quer o de sua proteção social e
jurídica, bem como dos meios de vitimização, sua inter-relação com o
vitimizador e aspectos interdisciplinares e comparativos”. (Eduardo Mayr,)
“O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se manifesta em
todos os âmbitos: no Direito Penal (material e processual), na Política Criminal,
na Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o campo da
Sociologia e da Psicologia social, diversos autores, têm denunciado esse
abandono: o Direito Penal contemporâneo – advertem – acha-se unilateral e
equivocadamente voltado para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma
posição marginal, no âmbito da previsão social e do Direto civil material e
processual”. (GOMES & MOLINA, 2000, p.73)[3]

CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS

Vítima inocente é aquela que não tem nenhuma culpa ou partição no delito, o
delinqüente é o único culpado, pois a vítima nada colaborou. Exemplo:
seqüestro, vítima de bala perdida, calúnia , infanticídio, etc.
Vítima menos culpada é aquela que a vítima por pura ignorância é que
contribui de alguma forma para o resultado do delito, como freqüentar lugares
reconhecidamente perigosos ou expor seus bens materiais sem preocupação e
cuidados que deveria ter .
Vítima tão culpada quanto o delinqüente é aquela provocadora, o crime é
consumado com sua participação ativa, sem sua participação não haveria
crime, põe exemplo: homicídio privilegiado, rixa etc. Onde a vítima também é a
causador do delito.
Vítima mais culpada é aquela que causa o delito, a vítima faz com que o
agente provoque o delito, o caso mais freqüente são o de lesão corporal que é
cometido após injusta provocação da vítima ao agente.
Vítima como única culpada é aquela onde o agente provocador da ação
Vítimas Acidentais: São aquelas que surgem no caminho do delinqüente
Vítimas Falsas: Casos de denunciação caluniosa
Vítima Imaginária ou Putativa : A pessoa não foi vítima, mas, diferentemente
do caso anterior, não sabe disso. Acredita fielmente ter sido vitimada por erro
ou alienação mental
Vítima Latente ou por Tendência (Von Hentig) : Aquela que tem uma
disposição permanente e inconsciente para ser vítima, vindo dessa forma a
atrair os delinqüentes
Vítima Intra-familiar: Aquela que sofre a vitimização no seio familiar

NO BRASIL

A Lei n.º 7.209/84 que veio modificar a Parte Geral do Código Penal, cujo texto
contido no Capítulo III – Da aplicação da pena, art. 59 caput, passou a
estabelecer, o seguinte:
“ O juiz atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
crime, bem como o comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
“... a lei 9.099/95, no âmbito da criminalidade pequena e média, introduziu no
Brasil o chamado modelo consensual de Justiça Criminal. A prioridade agora
não é o castigo do infrator, senão sobretudo a indenização dos danos e
prejuízo causados pelo delito em favor da vítima (Luiz Flávio Gomes –
Reparação do Dano)

15 ) CRIME E IDEOLOGIA ( Jorge da Silva)

Ideologia da chamada criminologia radical – prega que o capitalismo é a raiz


de todos os males

- o problema do crime é Fome;


- o problema é a miséria;
- fruto do capitalismo selvagem;
- necessidade do pobre roubar para comer;
- jovem comete crime por estar sem perspectiva de vida;
- - a competição estimula o crime;
- o criminoso é vitima da sociedade;

Ideologia da criminologia tradicional que fundada no positivismo uma patologia


para a qual devem ser tem mecanismo de controle e de intimidação. Velar pela
ordem estabelecida..

- o problema do crime é a falta de repressão;


- bandido tem que morrer;
- pena de morte já;
- As favelas são antros de criminosos;
- È preciso construir mais cadeia;
- É preciso aumentar o número de policiais;
- É preciso dar mais força à polícia

16 ) POLÍTICAS CRIMINAIS

Busca fornecer orientação aos legisladores para que o combate à criminalidade se


faça racionalmente, com o emprego de meios adequados. (ZAFFARONI, 1999)

Movimentos da lei e ordem


O Movimento da Lei e Ordem tem origem nos Estados Unidos da América onde
ficou conhecido como "law and order". Sua orientação de reação ao fenômeno
criminal tem sentido, absolutamente oposto ao da Defesa Social. (1970)

É um movimento que defende uma ideologia da repressão para conter um


inimigo criado através do medo. A Política Criminal ditada por este movimento
é assim descrita por João Marcello de Araújo Junior :

a)a pena se justifica como castigo e retribuição;


b) os chamados crimes atrozes sejam punidos com penas severas e
duradouras (morte e privação de liberdade de longa duração);
c)as penas privativas de liberdade impostas por crimes violentos sejam
cumpridas em estabelecimentos penais de segurança máxima e o condenado
deve ser submetido a um excepcional regime de severidade, diverso daquele
destinados aos demais condenados;
d)a prisão provisória deve ser ampliada, de maneira a representar uma
resposta imediata ao crime;
e)que haja diminuição dos poderes do juiz e menor controle judicial da
execução, que deverá ficar a cargo, quase exclusivamente, das autoridades
penitenciárias.

Os efeitos dos Movimentos de Lei e Ordem


Itália - Operação Mãos Limpas
Brasil servem de exemplo a Lei nº 8.072/90 (Crimes Hediondos), bem como a
Lei nº 10.792/02 (Regime Disciplinar Diferenciado – RDD)
Estados Unidos o movimento Tolerância Zero

O resultado é a aprovação pela política do endurecimento das leis,


encarceramento em massa, a indiferença com relação ao extermínio de jovens
pertencentes a comunidades carentes. Jovens totalmente excluídos,
principalmente, pela falta de escolaridade e desemprego. Importante frisar que,
outros componentes, também, estão presentes no etiquetamento social: cor da
pele, uso de gírias, presença nos arquivos policiais, uso de droga, corte de
cabelo, tatuagens, freqüentar bailes funks etc.(João Marcello de Araújo Junior)

NOVA DEFESA SOCIAL

Este movimento de política criminal surgiu após a Segunda Grande Guerra


Mundial. Iniciado em 1945, graças aos esforços intelectuais e lutas de Fillipo
Gramatica. A princípio, este movimento foi denominado Defesa Social, tendo,
em 1954, recebido o novo nome de Nova Defesa Social,

As idéias principais da Nova Defesa Social estão inseridas no denominado


Programa Mínimo, estabelecido pela Sociedade Internacional de Defesa Social,
fundada em 1949.

As características fundamentais da Nova Defesa Social são ( Roberto Lyra)


- . O movimento está voltado para a reforma das instituições jurídico-penais e
da própria estrutura social;
- o movimento tem caráter universal, pois está acima das peculiaridades das
legislações nacionais.
- realizar permanente exame crítico das instituições vigentes, objetivando
atualizar, melhorar e humanizar a atividade punitiva, bem como reformar ou,
até mesmo, abolir essas instituições.
- adotar uma vinculação a todos os ramos do conhecimento humano
(interdisciplinaridade) , capazes de contribuir para uma visão total e completa
do fenômeno criminal.
- Arquiteta um sistema de política criminal, garantindo os direitos do homem
e promovendo os valores essenciais da humanidade.
- Rejeita o sistema neoclássico que adota uma postura punitivo-retributiva.
- Para os ilícitos de pequena monta, estabelece o caminho da
descriminalização, enquanto que, para as novas e graves infrações à economia
e contra os demais direitos difusos, bem como para a criminalidade estatal
(abuso de poder, corrupção etc.), recomenda a via oposta, isto é, a da
criminalização.)

Observa-se que a Nova Defesa Social ou Novíssima Defesa Social, como


denominava Roberto Lyra, é um movimento com traços de uma política criminal
humanista, na busca de um Direito Penal de caráter preventivo e protetor da
dignidade humana.

No Brasil, a legislação que trata a matéria :


Lei nº 1.521/51 (crimes contra a economia popular);
Lei nº 8.137/90 (crimes contra a ordem tributária);
Lei nº 7.492/86 (crimes contra o Sistema Financeiro Nacional);
Lei nº 9.605/98 (crimes ambientais);
Lei 9.613/98 (lavagem de dinheiro);
Lei nº 11.101/05 (crimes falimentares, recuperação judicial e
extrajudicial) e outras Leis que regulam o Direito Penal Econômico.

Alteração no Código Penal de 1984, instituindo


Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 9.714,
de 1998)
I - prestação pecuniária; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
II - perda de bens e valores; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984 , renumerado com alteração pela Lei nº 9.714,
de 25.11.1998)
V - interdição temporária de direitos; (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984 , renumerado com alteração pela Lei nº 9.714, de 25.11.1998)
VI - limitação de fim de semana. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984 ,
renumerado com alteração pela Lei nº 9.714, de 25.11.1998)
A Lei 9.099/95, infrações de menor potencial ofensivo

17) PREVENÇÃO CRIMINAL PRIMÁRIA , SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA (


Antonio GarciaPablos de Molina),
PRIMÁRIA – Age nas raízes do conflito criminal, a fim de neutraliz´-lo,
evitando que o problema ocorra. Utiliza ações socioeconomicio-culturais,
como educação, política habitacional, lazer, trabalho, melhoria de qualidade
de vida. Atua a médio e longo prazo.

SECUNDÁRIA – Direciona-se aos chamados grupos de risco, ou seja,


setores da sociedade mais propícios a padecer ou protagonizar o problema
criminal. Age a curto e médio prazos. Visa seletivamente a determinados
grupos.
TERCIÁRIA – Objetiva única e exclusivamente o produto final da desordem
e da violência: o recluso. Opera no sistema penitenciário. Visa evitar a
reincidência. È a mais controvertida, pois não atua nas bases do problema
delitivo , e seus efeitos ressocializadores e reabilitadores são muito
discutidos, considerando os altos indices de reincidêcia. (Jorge Luuiz
Bezerra, Segurança Pública: Uma perspectiva politico criminal)

17) TEORIA DA JANELA QUEBRADA E TOLERÂNCIA ZERO (James Wilson


, George Kelling e Catherine Coles,

Dois criminologistas da Universidade de Harvard, James Wilson e George


Kelling, publicaram a teoria das "janelas quebradas" em The Atlantic, em março
de 1982. A teoria baseia-se num experimento realizado por Philip Zimbardo,
psicólogo da Universidade de Stanford, com um automóvel deixado em um
bairro de classe alta de Palo Alto (Califórnia). Durante a primeira semana de
teste, o carro não foi danificado. Porém, após o pesquisador quebrar uma das
janelas, o carro foi completamente destroçado e roubado por grupos vândalos,
em poucas horas.

De acordo com os autores, caso se quebre uma janela de um edifício e não


haja imediato conserto, logo todas as outras serão quebradas. Algo semelhante
ocorre com a delinqüencia.

A teoria começou a ser aplicada em Boston, onde Kelling, assessor da polícia


local, recebeu a incumbência de reduzir a criminalidade no metrô - um
problema que afastava muitos passageiros, gerando um prejuízo de milhões de
dólares. Contudo, o programa não chegou a ser concluído por causa de uma
redução orçamentária.

Em 1990, Kelling e Wilson Bratton, foram destinados a Nova Iorque e


começaram a trabalhar novamente. O metrô foi o primeiro laboratório para
provar que, se "arrumassem as janelas quebradas", a delinqüencia seria
reduzida. A polícia começou a combater os delitos menores. Aqueles que
entravam sem pagar, urinavam ou ingeriam bebidas alcoólicas em público,
mendigavam de forma agressiva ou que pichavam as paredes e trens eram
detidos, fichados e interrogados.

Em razão da imagem das Janelas Quebradas, o estudo ficou conhecido


como broken windows, e veio a lançar os fundamentos da política criminal
americana que, em meados da década de noventa, foi implantada em Nova
Iorque, sob o nome de "tolerência zero". Rudolph Giuliani (um ex-Promotor
Federal que viria a ser eleito)
18 ) CRÍTICAS A POLÍTICA DE TOLERÂNCIA ZERO (Miranda Coutinho,
Jacinto Nelson,e Rocha de Carvalho)

A teoria da "tolerância zero", implementada em Nova York, deveria ser chamada


de "intolerância máxima. A teoria chega aprovar penas para pequenos atos, e
não alcança reduzir as taxas da criminalidade mais grave, como os crimes de
corrupção, os delitos violentos, o tráfico de drogas, etc., apenas reprime os
delitos convencionais, de rua, Entretanto, a taxa de homicídios em Nova
York vem aumentando desde 1998, de 633 para 671 em 1999, um
acréscimo de 6% (Relatório Preliminar Anual Uniforme de Crimes,
1999, p. 5).

A queda do crime em Nova York é apontada como prova irrefutável


de que a teoria funciona. Entretanto, outras grandes cidades ao
longo dos EUA experimentaram uma queda da criminalidade ao
longo dos anos 90. Muitas delas — incluindo Boston, Houston, Los
Angeles, St. Louis, San Diego, San Antonio, San Francisco e
Washington, D.C. — com índices maiores que os de Nova York, sem
que tivessem implementado a mesma política.

Nova York teve uma queda de 51% na taxa de homicídios no período


de 1991 a 1996; Houston, 69%; Pittsburgh, 61%; Nova York ficou
em quinto lugar (Joanes, 1999, p. 303). O que é marcante é que
nenhuma dessas cidades implantou a política Wilson e Kelling.
Algumas, aliás, fizeram o contrário.

19) DIREITO PENAL DO INIMIGO( Gunter Jakobs )

A expressão Direito Penal do Inimigo foi utilizada pelo Alemão Jakobs


primeiramente em 1985, mas o desenvolvimento teórico e filosófico do tema
somente foi levado a cabo a partir da década de 1990.

Segundo Jakobs o pressuposto necessário para a admissão de um Direito


Penal do Inimigo consiste na possibilidade de se tratar um indivíduo como tal e
não como pessoa. Nesse sentido, Jakobs inspira-se em autores que elaboram
uma fundamentação "contratualista" do Estado (em especial, Hobbes e Kant).

Para Hobbes, o delinqüente deve ser mantido em seu status de pessoa (ou de
cidadão), a não ser que cometa delitos de "alta traição", os quais
representariam uma negação absoluta à submissão estatal, então resultando
que esse indivíduo não deveria ser tratado como "súdito", mas como inimigo.
Kant admitia reações "hostis" contra seres humanos que, de modo persistente,
se recusassem a participar da vida "comunitário-legal", pois não pode ser
considerada uma "pessoa" o indivíduo que ameaça alguém constantemente

Na prática de um Direito Penal que separaria os delinqüentes e criminosos em


duas categorias: os primeiros continuariam a ter o status de cidadão e, uma
vez que infringissem a lei, teriam ainda o direito ao julgamento dentro do
ordenamento jurídico estabelecido e a voltar a ajustar-se à sociedade; os
outros, no entanto, seriam chamados de inimigos do Estado e seriam
adversários, representantes do mal, cabendo a estes um tratamento rígido e
diferenciado.

Os inimigos perderiam o direito às garantias legais. Não sendo capazes de


adaptar-se às regras da sociedade, deverão ser afastado, ficando sob a tutela
do Estado, perdendo o status de cidadão.

AS CRÍTICAS DE CANCIO MELIÁ AO DIREITO PENAL DO INIMIGO PODEM


ASSIM SER SINTETIZADAS:

O Direito Penal do Inimigo ofende a Constituição, pois esta não admite


que alguém seja tratado pelo Direito como mero objeto de coação, despido de
sua condição de pessoa (ou de sujeito de direitos.

A melhor forma de reagir contra o "inimigo" e confirmar a vigência do


ordenamento jurídico é demonstrar que, independentemente da gravidade do
ato praticado, jamais se abandonarão os princípios e as regras jurídicas,
inclusive em face do autor, que continuará sendo tratado como pessoa (ou
"cidadão").

O Direito Penal do Inimigo ao retroceder excessivamente na punição


de determinados comportamentos, contraria um dos princípios basilares
do Direito Penal:
20) PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA (Brasil)
Plano Federal
- Combate ao narcotráfico e ao crime organizado
- Desarmamento e controle de armas
- Repressão ao roubo de cargas e melhoria de segurança nas estrelas,
- Implantação do subsistema de inteligencia de segurança pública,
Ampliação do Programa de Proteção e Testemunha e Vítimas de Crime,
Midia x violência: regulamentação

Plano Estadual ( Em cooperação com os governos estaduais)


- Redução da violência urbana,
- Inibição de gangues e combate à desordem,
- Eliminação de chacinas e execuções sumárias
- Comabate à violência rural
- Intensificação das ações do Programa dos Direitos Humanos,
- Capacitação profissional e reaparelhamento das policias,
- Aperfeiçoamento do sistema penitenciário

21) CRIMINOLOGIA DA VIOLÊNCIA - PROFESSOR: EVANDRO


ANDRADE DA SILVA

A desnutrição, a fome e a violência estrutural da sociedade capitalista, em


concomitância com a criminalidade.

A desnutrição, por sua vez, pode acarretar graves conseqüências. Em Menores


e Loucos afirmou Tobias Barreto: "O homem é o que come". George
Guilhermet asseverou: "Sem ir até a dizer com Brillat Savarin - dize-me o que
comes e dir-te-ei quem és - a alimentação exerce influência fisiológica,
psicológica e social" (apud Roberto Lyra Novíssimas Escolas Penais, ps. 13 e
176).

Num livro candente - Geopolítica da Fome - escreve Josué de Castro:


"Fustigado pela necessidade imperiosa de comer, o homem esfomeado pode
exibir a mais desconcertante conduta mental. Seu comportamento transforma-
se como o de qualquer outro animal submetido aos efeitos da fome." E lembra
que cerca de 2/3 da humanidade vive sob regime de fome crônica, subnutrida,
contando-se dentre milhões de criaturas as que têm morrido em conseqüência
desse flagelo, pois, sinistramente, conforme o adágio popular: A mesa do pobre
é escassa mas o leito da miséria é fecundo (ob. cit., ps. 6, 34, 60 e 95).

Nunca é demais recordar a célebre decisão absolutória, proferida pelo tribunal


francês de Chateau- Thierry, presidido pelo juiz Magnaud, magistrado que
passou à posteridade como o "bom juiz", ocasião em que foi absolvida a
inditosa Luiza Menard, num caso de furto famélico, por ter-se apropriado dum
pão, pois se encontrava com fome, sem trabalho e dinheiro, tendo a seu cargo
um filho, como lembramos alhures (Justiça e Criminalidade, ps. 79 e segs.).

As doenças mentais, por exemplo - uma porta larga para os desvios de


conduta, especialmente de natureza criminosa -, têm múltiplas causas, a
começar pelas carências alimentares, desde o período de gestação, agra-
vando-se naturalmente com a subnutrição nos primeiros anos de vida, como
lembramos noutro trabalho (Extinção das Prisões e dos Hospitais
Psiquiátricos, p. 140).

A propósito, como observou Antônio Alfredo Fernandes, de "um contingente


pré-escolar de 22 milhões e 500 mil crianças, apenas 20% recebem assistência
das áreas de saúde e nutrição; 70% são subnutridas e desnutridas, com as
células nervosas do cérebro irremediavelmente afetadas", sugerindo inclusive a
abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal para
investigar o assunto e criar uma legislação para a área pré-escolar, "única
saída para que o Brasil deixe de ser um país de não inteligentes" (Jornal do
Brasil, 14.04.78).

Ora, em tais casos, a tendência é no sentido de que essas crianças, se


sobreviverem, constituirão no futuro, como adultos, débeis mentais, im-
prestáveis para o trabalho útil e fecundo, enfim; um peso social morto.

Observa Hans von Hentig, com lógica irretorquível: já que três-quartos de todos
os crimes são crimes contra a propriedade, torna-se clara a importância da
condição econômica individual. Muitos outros crimes são causados
indiretamente por dificuldades econômicas, pois a fome, o frio, ou a vida dos
cortiços não melhoram o controle dos nossos atos (Crime, Causes and
Conditions, p. 96).

Daí a advertência de von Liszí: "A influência das circunstâncias sociais e,


sobretudo, econômicas sobre a vida dos indivíduos começa muito tempo antes
do seu nascimento.

Remediai as circunstâncias econômicas desfavoráveis e salvareis, ao


mesmo tempo, o futuro das novas gerações.

É, pois, evidente que as circunstâncias sociais e, especialmente, econômicas


determinam a marcha da criminalidade" (apud Roberto Lyra Novíssimas
Escolas Penais, p. 171).

Por seu turno, a violência estrutural e institucional dos regimes políticos


autoritários, ditatoriais, ao impor um modelo econômico elitista, no interesse
das multinacionais - com o objetivo de privilegiar uns poucos, com salários
principescos, a fim de que constituam a clientela consumidora de produtos
supérfluos - acabam gerando desigualdades sociais e injustiças escandalosas,
provocando agitação social, greves, descontentamento e inconformismo
generalizado, situação essa que é aproveitada pelas forças conservadoras e
dominantes da sociedade, para justificar o desencadeamento da repressão
político-social, aplicação de medidas de exceção, decretação de estado de
sítio, suspensão dos direitos e garantias constitucionais, como ocorreu no
Brasil, pós-1964.

Daí por que, acerca do chamado crime político-social, salientou Crispigni que
as maiores conquistas no sentido do aprimoramento das instituições
democráticas terem sido alcançadas justamente por essa espécie de crimes.

Não se pode ignorar que a queda das tiranias, a abolição da servidão da gleba,
a igualdade civil e política, os direitos do homem, a melhoria das condições de
vida do proletariado etc. não teriam sido possíveis sem o ímpeto dos crimes
político-sociais (apud Nélson Hungria - Comentários ao Código
Penal, voI. I, Tomo 1 °, p. 185).

Características próprias da violência no meio urbano e no rural

No tocante ao proletariado urbano brasileiro, submetido à violência


permanente do modo de produção capitalista, estima-se o seu número em
12.500.000 de trabalhadores, enquanto o proletariado rural, submetido a essa
violência estrutural, é estimado em 4,9 milhões, ou seja, 1/3 da forma de
trabalho agrícola, segundo dados da década de 1980.

Na área rural, devem ser acrescentados os assalariados temporários,


chamados "bóias-frias", trabalhadores rurais esses que vivem nas periferias
dos centros urbanos, sendo que a sua integração nos processos produtivos é
eventual, ocorrendo somente nas épocas de maior atividade agrícola
(geralmente nas colheitas), e que correspondem à categoria mais aniquilada da
classe trabalhadora brasileira, atingindo, aproximadamente, 10 milhões de
pessoas; esses trabalhadores estão, ainda, sujeitos à expropriação por parte
dos intermediários ou contratadores dos serviços, junto aos empresários
agrícolas, intermediários esses cuja alcunha - "gatos" - bem identifica a sua
ação rapinante (Juarez Cirino - ob. cit., ps. 92 e 93).

Cumpre salientar que as alterações desordenadas no meio rural, a


substituição das culturas agrícolas, de subsistência, pela criação intensiva de
gado, destinado à exportação, provocam, dentre outras conseqüências, o
êxodo rural, isto é, a migração do homem do campo em direção às cidades,
onde se espera melhor sorte, para não acabar morrendo de fome; mas no meio
urbano há .outras adversidades, tais como dificuldade em dispor do solo, para
construção de moradia, até mesmo na zona de favelas, já supercongestionada,
sem falar .na falta de ocupação, escolaridade, assistência médica, condições
mínimas de higiene e alimentação.

, O fato é que são crescentes os índices de violência no Brasil, como assinalou


o senador Geraldo Cândido, bastando citar o fato de que no primeiro trimestre
de 1999 registraram-se 23 mil homicídios no País, o que permite estimar que
esse número deverá ultrapassar 50 mil por ano, futuramente.

Tal fato pode ser comparado com o que ocorre na Colômbia, em conseqüência
da guerra civil nesse país (Jornal do Senado,08.06.2001, p. 5).
O gigantismo das cidades como fator criminógeno. Favelização

Em resumo, todo um elenco de dificuldades angustiantes, faz com que grande


número de pessoas acabe buscando refúgio sob viadutos, nas galerias de
edifícios e embaixo de marquises, constituindo os chamados "dormidores de
rua", sem teto, encontrados nas grandes cidades, onde perambulam durante o
dia, fazendo pequenos biscates, com minguados ganhos, caminho esse que
leva fatalmente à prática criminosa, inclusive por parte dos menores, que vivem
sob essas condições de existência, como lembramos noutro trabalho(Causas
da Criminalidade e Fatores Criminógenos, ps. 52 e segs.).

Ademais, os políticos demagogos têm objetivos exclusivamente eleitoreiros,


imediatistas, tais como a criação dos chamados "currais eleitorais", urbanos e
rurais, consistentes na concentração de eleitores em determinadas áreas, na
condição de "clientela cativa", favorecida com algumas construções,
especialmente habitacionais.

Daí, por exemplo, a absurda substituição de favelas em áreas impróprias -


mangues e alagadiços -, compostas de barracos construí dos com pedaços de
folha de zinco e papelão, por outras habitações de alvenaria, como foi o caso
da denominada "favela da maré", às margens da Baía de Guanabara, no Rio
de Janeiro, ao longo da via expressa Linha Vermelha, área essa cuja fetidez e
insalubridade atingem limites insuportáveis, devido sobretudo ao fato de a
região constituir um desaguadouro de esgotos, com elevados índices de
poluição.

Acontece que ali é uma região de intenso trânsito rodoviário, despertando


assim os olhares daqueles que circulam, em automóveis e ônibus, podendo
desse modo revelar admiração por aquelas novas construções, obra de
determinado político, sem considerar as inconveniências acima apontadas.

Ora, o que o bom senso e a coerência recomendavam era um entrosamento


entre os governos municipais, estaduais e federal, no sentido de construções
habitacionais, prioritariamente, em áreas rurais, próximas aos centros urbanos,
de modo que as mesmas se destinassem ao cultivo de hortigranjeiros e criação
de animais de pequeno porte, destinados à alimentação, quer dos moradores
desses conjuntos, quer para efeito de venda a terceiros.

Em suma, a construção de conjuntos habitacionais, destinados a populações


carentes, nos moldes acima expostos, agrava a problemática do
congestionamento e superpopulação urbana, ou seja, o chamado gigantismo
das cidades, um dos fatores criminógenos, como ressaltamos noutros trabalhos
("O gigantismo das cidades como fator criminógeno", in Rev. do Curso de
Direito da UF de Uberlândia,voI. 17, 1988; Incorporações Imobiliárias e
Condomínio de Apartamentos, ps. 15 e segs.).

Com efeito, boa parte da população de alguns desses conjuntos habitacionais


se compõe de adolescentes, jovens ,que não têm ocupação nem habilitação
profissional, não dispondo de renda própria, mas, sobretudo devido à
promiscuidade em que vivem, mantêm relações sexuais precoces, procriando
numerosos seres humanos, débeis, doentios, com insuficiência de peso, com
sombrias perspectivas de vida.

O abuso de poder do ponto de vista da criminalidade econômico-


financeira .

Em sentido genérico, a expressão abuso de poder equivale a abuso de


autoridade, isto é, o uso imoderado ou exorbitante do poder público, por parte
de um dos seus agentes, quando no exercício das funções próprias do seu
cargo, situação essa que, no Brasil, é disciplinada pela Lei n° 4.898, de
09.12.1965, que regulou o direito de representação e o processo de respon-
sabilidade administrativa civil e penal, nos casos de abuso de autoridade,
disposições legais essas que, aliás, jamais tiveram qualquer eficácia, em face
do autoritarismo político reinante, que, pela sua própria natureza, violenta de
maneira permanente a legalidade democrática.

Entretanto, para efeito de estudos criminológicos, mais precisamente, no


esforço da construção da Teoria Crítica do Controle Social na América Latina, a
expressão abuso de poder assume conotações particulares e específicas,
como veremos adiante.

De fato, as concepções tradicionais acerca da idéia de poder têm sido objeto


de várias considerações, nos últimos anos, sobretudo após a Reunião Inter-
regional de Expertos das Nações Unidas sobre "Delitos e Delinqüentes fora do
Alcance da Lei", em Nova Iorque, em 1979, como salienta Lola Aniyar de
Castro (La Realidad Contra Los Mitos, Maracaibo, 1982).

Por sua vez, o poder opera em vários níveis ou esferas; há centros de poder
político, como assembléias, administração, exército, polícia, magistratura,
municípios, partidos políticos, assim como existem também centros de poder
econômico e centros de poder ideológico.

Daí, "todo abuso de poder forma parte do mesmo exercício do poder que se
encontra dentro de uma formação social determinada, e obedece aos seus
mecanismos" (Lola Aniyar - ob. cit., ps. 127 a 133).

Nesse contexto, ao versar sobre o tema Direito Penal Econômico e Direito


Penal dos Negócios, salientou Heleno Fragoso que, no Brasil, o Direito Penal
tem sido amargo privilégio dos pobres e desfavorecidos, que povoam nossas
prisões horríveis e que constituem a clientela do sistema. A estrutura geral de
nosso direito punitivo, em todos os seus mecanismos de aplicação, deixa
inteiramente acima da lei os que têm poder econômico ou político, pois estes
se livram com facilidade, pela corrupção e pelo tráfico de influência (Rev. de
Direito Penal e Criminologia, ps. 122 a 129, Forense, n° 33).
O tráfico de influência e a impunidade das multinacionais ou trans-
nacionais

A América Latina se caracteriza, como se afirmou na Conferência de Puebla,


por uma escandalosa distância crescente entre pobres e ricos e a desumana
pobreza de extensas faixas da população. Há fome e desnutrição, salários
aviltados, desemprego e subemprego, enfermidade crônicas, analfabetismo,
mortalidade infantil, falta de morada adequada, injustiça nas relações
internacionais, especialmente nas transações comerciais, situações de
neocolonialismo econômico e cultural, por vezes tão cruel como o colonialismo
político.

Nosso direito tem permanecido fiel à regra segundo a qual a responsabilidade


criminal é pessoal e subjetiva. As pessoas jurídicas não podem cometer
crimes. Segundo Brícola, no entanto, num estudo luminoso, essa regra não tem
valor ontológico e é apenas expressão da força das leis do poder econômico.
Se se pretende permanecer fiel à regra da responsabilidade penal subjetiva, é
indispensável prever, para as pessoas jurídicas, sanções administrativas
comparáveis às sanções penais.

Constitui um dos fatos mais destacados do mundo contemporâneo a evolução


fantástica das empresas transnacionais, que operam largamente na América
Latina. Convém, assim, examinar em que medida é necessária e possível a
repressão penal dos abusos cometidos por essas sociedades. Os atos de
corrupção realizados em Lockheed na Itália, na Holanda e no Japão, que
alcançaram repercussão internacional, são apenas um dos exemplos de ações
delituosas. Sugere-se a elaboração pelos órgãos internacionais de códigos de
conduta, que regulem a atividade dessas empresas, embora os seus efeitos
sejam bem limitados (Rev. de Direito Penal e Criminologia,Forense, n° 33, ps.
122 a 129).

As imunidades diplomáticas, como vimos, têm servido de disfarce para um


sem-número de crimes, relacionados ao tráfico de drogas, armas, aliciamento
de mercenários, espionagem industrial e comercial, corrupção, suborno. Nesse
sentido, tornou-se particularmente escandaloso o episódio ocorrido, por longo
período, na embaixada brasileira na França, em que o seu titular recebeu a
alcunha de "embaixador dez por cento", pelo fato de perceber esse percentual,
em decorrência dos negócios realizados pelo seu país, fato esse denunciado
pelo célebre Relatório Saraiva, jamais, porém, divulgado ou apurado em suas
últimas conseqüências, apesar de iniciativas, nesse sentido, na Câmara dos
Deputados, em Brasília.

Evidentemente, dispomos de instrumentos legais que reprimem os crimes de


natureza econômico-financeira, como a Lei n° 1.521, de 26.12.1951 (Altera
dispositivos da legislação vigente sobre crimes contra a economia popular),
bem como órgãos específicos, como o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (CADE), criado pela Lei n° 4.137, de
10.09.1962 (Regula a repressão ao abuso do Poder Econômico), instrumentos
esses, porém, que se revelaram inócuos, sobretudo pós-1964, a partir de
quando as multinacionais impuseram o seu alvedrio à economia nacional. A
propósito, oferecemos a Indicação de n° 61/84, ao Instituto dos Advogados
Brasileiros, apresentando projeto de lei que modifica a composição do CADE,
para nele incluir representante dos advogados e de outros segmentos de nossa
sociedade, proposta essa rejeitada.

O frenesi ou delírio da era do automóvel. Motocicleta

O fenômeno, que denominamos frenesi do automóvel, por exemplo, é um caso


típico de fator criminógeno.
Observe-se que falamos em frenesi do automóvel, uma vez que, é lógico, o
automóvel, por si só, não constitui fator criminógeno.

Entretanto, afigura-se como fator criminógeno o modelo econômico elitista,


baseado na ênfase da produção e propagação do consumo do automóvel,
como privilégio duns poucos, em detrimento dos interesses coletivos, devido à
destinação de recursos públicos para esse esforço de produção, através de
incentivos fiscais, remessa de lucros para o exterior,

juros, royalties, provocando com isso o agravamento do endividamento ex-


terno, exigindo em conseqüência a exportação de gêneros alimentícios es-
senciais ao consumo da população - como, no caso do Brasil: café, soja, feijão,
arroz, milho, carnes, frangos, frutas -, deixando aqui mesas vazias e bocas
famintas.

Em resumo, esse conjunto de fatos assume o aspecto de fator criminógeno,


pois daí resultam injustiças e tensões sociais, elevação dos índices de
acidentes de trânsito, sobretudo devido ao mal uso do automóvel, com
numerosas vítimas, mortas, com deformação fisica, invalidez, sem falar nas
neuroses urbanas, em conseqüência do ruído aterrador e da insegurança
coletiva, provocada pelo próprio ritmo de velocidade desses veículos, pa-
norama esse que se pretende justificar em vão, sob a inconsistente alegação
de "preço do progresso", como lembramos noutro trabalho (Causas da Cri-
minalidade e Fatores Criminógenos, ps. 69 e segs.).

Em geral, nos países subdesenvolvidos, submetidos a regimes políticos


autoritários, de exceção, o povo não dispõe de liberdade política para
organizar-se em sindicatos atuantes, associações de defesa do consumidor e
outros órgãos de proteção da comunidade (J. M. Othon Sidou - Proteção ao
Consumidor, Rio, 1977; Nina Ribeiro - O Que Podemos Fazer, Brasília, 1978;
Ester Kefauver - Em Poucas Mãos- O Poder de Monopólio na América do
Norte, Rio, 1967).

Sob esse aspecto o Brasil se encontra completamente desprovido, à mercê do


alvedrio das multinacionais, que controlam os principais setores de nossa
economia: alimentos, medicamentos, transportes, tratamento da saúde, poder
publicitário e de marketing (Mercadologia), através dos meios de comunicação
social, a denominada mídia, que introjetam nos cidadãos a concepção segundo
a qual quem não possui automóvel é infeliz. Haja vista que numa pesquisa
realizada nos EUA, acerca do significado individual do automóvel, muitos dos
entrevistados declararam que "amam os seus veículos" e "conversam com
eles", enquanto outros revelaram que o "automóvel está acima da própria
família, mulher e filhos" (cf. Central Brasileira de Notícias - CBN, 09.02.2002).

O mesmo se pode dizer em relação a motocicletas, sendo que alguns tipos das
mesmas poluem dez vezes mais do que os automóveis.

Os descalabros no trânsito de veículos rodoviários. Automóvel: símbolo


de desabaladas corridas. Criminalidade típica

No setor de trânsito, por exemplo, grassam a insegurança e impunidade, a


começar pela inexistência dum mínimo de requisitos nos automóveis aqui
produzidos e que circulam em nossas cidades e rodovias, Basta dizer que
esses veículos não dispõem de padrões de segurança que os habilitem a
circular em países da Europa, nos EUA e Japão, como ficou apurado por
ocasião dos trabalhos realizados pela Câmara dos Deputados, em Brasília
(Nina Ribeiro - Em Defesa do Consumidor, Brasília, 1974).

Somos perenes recordistas mundiais em acidente de trânsito e parece haver


certo orgulho disso no subconsciente de muitos, pois sustenta-se que tal fato
representa o "preço do progresso", quer dizer, sinal de que somos um país em
desenvolvimento, na senda da prosperidade.

As multinacionais da indústria automobilística, do petróleo, do seguro de


acidentes e do tratamento da saúde se sentem à vontade no Brasil, pois re-
presentamos um pasto fértil para as suas lucrativas e crescentes atividades.

A fraude, corrupção, permissividade e complacência da legislação e dos órgãos


do trânsito, bem como a tolerância da justiça penal, se harmonizam e
satisfazem ao status quo existente, deixando satisfeitas as multinacionais, que
nos bastidores manobram eficientemente no sentido de que não ocorram
mudanças.

De acordo com os dados coligidos por Genoveva Miranda, enquanto em São


Paulo, em 1980, ocorreram 15.193 atropelamentos, ou seja, cerca de 40 por
dia, em 1981 se verificaram cerca de 26 mil acidentes dessa espécie, o que dá
u'a média de um a cada 22 minutos.

Por outro lado, dados do Programa de Redução de Acidentes - com a


sugestiva sigla Pare -, vinculado ao Ministério dos Transportes, indicam que,
em nível nacional, cerca de 350 mil pessoas são acidentadas anualmente no
trânsito rodoviário, sendo que do total de acidentados, aproximadamente 40 mil
correspondem a casos fatais (cf. pronunciamento do senador Mauro
Miranda, in Jornal do Senado,16.08.2001, p. 10).
Os técnicos afirmam que em 1981 chegaram a 34 bilhões de cruzeiros os
custos de socorro e hospitalização das vítimas. Segundo eles, um em cada 4
atropelados tinha mais de 50 anos.

Em grande parte, tudo isso se deve ao sistema de aprovação de novos


motoristas. De acordo com o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, são muitas as
facilidades para obtenção de carteira de habilitação no Brasil: "Aqui, para ser
considerado apto, basta ter visão razoável, provar que não é analfabeto,
conhecer os sinais de trânsito e colocar o carro em movimento. E pronto!
Depois de algumas ladeiras, a carta."

Uma das sugestões do psicólogo é a aplicação de testes psicotécnicos para


todos, a cada 3 anos, e o uso de eletroencefalograma nos exames, para
eliminar motoristas com problemas mentais.

Outra sugestão do referido especialista diz respeito à falta de condições de


trabalho dos motoristas profissionais: excesso de carga horária, alto nível de
ruído e calor. Tudo isso, mais os longos turnos - em média de 12 a 14 horas -
provoca a fadiga, uma das causas dos acidentes.

Em 1973, por exemplo, de acordo com estatísticas oficiais, apurou-se que 12%
dos motoristas de ônibus apresentavam disritmia, e todos dirigiam mais de 12
horas por dia, transportando u'a média de cem pessoas por viagem. Dois anos
mais tarde, uma pesquisa também oficial constatou que 15% dos motoristas de
uma empresa particular eram portadores de sífilis e verminose. Isso, quando
não tinham problemas de hipertensão arterial e surdez, como lembramos
alhures (Criminologia, ps. 115 e segs.).

Os acidentes no trânsito, em virtude de os motoristas dirigirem


alcoolizados. Bandidos do volante

Por outro lado, os países mais desenvolvidos possuem leis severas, no que
diz respeito aos motoristas que tenham tomado bebidas alcoólicas. Na
Alemanha, por exemplo, é considerada como infração grave e embriaguez no
volante. Bastam 2 copos de cerveja, apenas, para que o motorista seja
considerado alcoolizado e, no caso, a medida tomada é a cassação imediata e,
na maioria das vezes, definitiva, da carteira de motorista.

No Brasil, há um misto de sentimentalismo e escrúpulo, no que diz respeito à


cassação da carteira de habilitação, ora sob a alegação de que isso
representaria a perda do emprego, ora sob o fundamento de que o trânsito
implica num risco razoável. Com isso, um mesmo infrator ocasiona sucessivos
desastres, causando lesões corporais e morte, e enquanto responde aos
processos, continua de posse de duas carteira, sem ser molestado, ensejando
novos desastres, provocados pelos que denominamos "bandidos do
volante" (Comentários ao Código de Processo Civil, art. 275, vol. I).

O emprego do álcool, como combustível automobilístico, trouxe novos


complicadores em relação à poluição ambiental, como veremos adiante, ao que
se soma ao fato de o motorista dirigir embriagado. É que, de acordo com a
estimativa duma Delegacia Especializada em Acidentes de Trânsito, cerca de
metade dos motoristas paulistanos, homens e mulheres, dirigem seus carros
em estado de embriaguez.

Conforme uma pesquisa realizada no Brasil, intitulada "A Influência do Etanol


nas Atividades Psicomotoras Envolvidas no Ato de Dirigir Veículos", constatou-
se que o álcool é rapidamente absorvido pelo aparelho gastrintestinal- cerca de
90% - em uma hora. Sua solubilidade alta na água permite a passagem rápida
por qualquer membrana humana e, uma vez diluído no sangue, entra
imediatamente em contato com o cérebro. A princípio a pessoa entra num
estado de excitação e, logo após, vem a depressão, quando, segundo Kalant,
ocorre "uma diminuição da reação de alerta e a atividade dos centros
regulatórios autônomos adquire um padrão bastante aproximado do estado de
sono". Ou seja, começou a surgir os sintomas do sono, com a perda da
capacidade de concentração e dispersão dos sentidos.

São os seguintes os distúrbios causados pela ingestão excessiva de bebidas


alcoólicas: visuais, sonolência patológica, reflexos retardados, hipoglicemia
severa e disritmias epileptiformes, na crise de abstinência de álcool.

Diante desse quadro é que se pode avaliar a extensão da impostoria e o


descabido regozijo da fala ministerial, ou seja, o teor dos discursos pro-
nunciados por ocasião da solenidade de comemoração do alcance da meta de
produção de 10,7 bilhões de litros de álcool e da comercialização do
milionésimo veículo a álcool, no Brasil (Publicação da Comissão Executiva
Nacional do Álcool- Secretaria Executiva, Brasília, 19.09.1983).

O que se escamoteou, nessa ocasião, foi a verdade acerca da poluição


causada ao meio ambiente, principalmente com o lançamento do
vinhoto (resíduo da cana-de-açúcar, com elevado teor tóxico) em nossos
rios, ocasionando a destruição da fauna aquática, com igual reflexo nos
oceanos; o agravamento da dívida externa, pois essas empresas
automobilísticas remeterão, com esse aumento de produção de veículos, mais
dividendos, juros e royalties para as suas matrizes no exterior, e assim por
diante, resultando mais esfomeação e miséria para as camadas sociais
carentes de nosso povo.

Em Israel, por exemplo, no que diz respeito à severidade das leis de trânsito,
há um critério para a perda da carteira de habilitação: basta que o motorista
some 8 pontos em inftações cometidas. Para o excesso de velocidade a
punição é 1 mês sem licença. Andar sem seguro são 8 pontos - e um juiz
decide o tempo de cassação. O motorista surpreendido sem documentos tem o
prazo de 24 horas para apresentá-los. Sendo alguém que estava suspenso,
temporariamente, a perda é às vezes duplicada de 1 para 3 anos.

Quanto ao Brasil, com o advento do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n°


9.503, de 23.09.1997), adotaram-se regras similares.
Na Itália, no caso de grave responsabilidade pessoal em acidente de trânsito
com vítimas fatais, a carteira pode ser cassada, provisoriamente, até uma
decisão judicial (Vida e Saúde, SP, 1984).

Enquanto se observa esse quadro, em relação ao transporte individual, o setor


de transportes coletivos de tração elétrica, como convém ao Brasil, se encontra
em completo abandono. .

No capítulo intitulado O Delírio do Automóvel, do livro que publicou, o


engenheiro Renê Fernandes Schoppa demonstra, com argumentos e fatos
irrespondíveis, o absurdo da política de expansão da indústria automobilística,
mesmo em relação aos EUA, acarretando um elevado custo social, com a
aplicação de recursos em planos viários elitistas, para facilitar o transporte
individual, poluição ambiental, e danos à saúde pública (Para Onde Caminham
Nossas Ferrovias? ps. 87 e segs.).

O consumismo como fator criminógeno

Por sua vez, o consumismo representa outro decisivo fator criminógeno, na


sociedade capitalista.

Como é notório, os chamados estímulos publicitários da sociedade capitalista


têm como único objetivo o lucro individual, sem que importem os meios
empregados e as conseqüências que daí possam advir.

Cria-se, assim, uma sensação artificial de progresso e fantasias, através do


intenso sugestionamento do público, no sentido de consumo dos bens
produzidos e oferecidos, através dos meios de comunicação social, produtos
esses tantas vezes supérfluos e nocivos à saúde, sem qualquer controle por
parte das autoridades públicas, quer se trate de alimentos, medicamentos,
cosméticos e outros artigos, como, por exemplo, a publicidade insidiosa em
torno do cigarro e das bebidas alcoólicas.

Nesse contexto, até o abundante oferecimento nos supermercados gera ânsia


de adquirir o supérfluo; quando muitas vezes não é possível realizar esse
desejo, então é estimulada a prática de furtos, comO lembra Hans von
Hentig (El Delito, voI. III, p. 43).

Partindo dessa linha de raciocínio, chega-se à conclusão de que a atual


síndrome de violência, característica da sociedade capitalista em geral, so-
bretudo no tocante à criminalidade patrimonial, não representa outra coisa
senão a resultante generalizada da maciça publicidade em tomo do consu-
mismo, que transborda pelos meios de comunicação. Ora, com a recessão
econômica, desemprego e carestia dominantes, sob o capitalismo, não se po-
deria esperar outra reação coletiva, que se observa: o incontrolável número de
furtos, assaltos, seqüestros, sem falar nas práticas estelionatárias.
A fabricação de armas, seu tráfico e as polícias particulares, como
fatores de violência e criminalidade

Some-se a isso o fenômeno do tráfico de armas de fogo, a propagação de sua


fabricação e venda; a existência de polícias particulares, firmas de segurança
bancária, cujo pessoal, em sua maioria, é recrutado dentre as camadas mais
carentes da população, sendo freqüente o extravio de seu armamento,
inclusive o de armas de grosso calibre, consideradas de uso privativo das
Forças Armadas.

Lembram muitos observadores que o ano de 1968, no Brasil, representou o


momento de transição entre o crime habilidoso para o violento, porque foi
justamente nesse ano que o nefando "Esquadrão da Morte" começou a atuar,
institucionalizando a violência, sugestionando assim igual atuação violenta por
parte dos criminosos em geral, mostrando-lhes que o assalto à mão armada é
muito mais proveitoso e eficaz, sendo a surpresa um importante elemento para
o êxito do assalto, como lembra Nélson Pizzotti Mendes (Criminologia,ps. 320 e
323).

Em seu livro Agressão e Violência no Mundo Moderno, assim se manifesta o


autor norte-americano Friedrich Hackker: "Como compreender que um mesmo
ato, quando cometido por um é autorizado e legítimo, e quando cometido por
outro, proibido e repreensível?"

A propósito, observe-se a marcha das discussões, travadas no Senado


Federal, durante o ano de 2000, acerca da proibição e da regulamentação do
porte de arma do fogo, quando então vieram à tona argumentos patéticos a
respeito, contrários à proibição em exame(Jornal do Senado).

Aliás, é bastante significativo o fato de o ex-presidente estadunidense Ronald


Reagan, apesar de baleado no pulmão, no atentado que sofreu no dia 30 de
março de 1981, ter-se recusado a adotar qualquer medida, em relação ao
controle de venda de armas de fogo a particulares, nos EUA.

É evidente que a fabricação e o comércio dessas armas representam um


bilionário negócio, além de expandir o crime organizado.

Reflexos da problemática capitalista sobre o comportamento da criança e


do adolescente

Como é notório, o sistema capitalista vive inexoravelmente sujeito a crises


cíc1icas, crises essas de natureza complexa, isto é, social, política, econômica,
familiar, devido a diversas causas e múltiplos fatores, inerentes ao próprio
capitalismo, e que se manifestam através do desemprego, recessão,
especulação desenfreada, fome, miséria, impunidade da corrupção ad-
ministrativa, ambição de lucros, utilização nociva dos meios de comunicação
social (rádio, televisão, filmes, jornais, revistas, escritos e impressos
pornográficos), exploração sexual, erotização, tráfico de drogas e de armas,
bem como numerosos outros aspectos.

Ora, tudo isso se reflete sobre a estrutura familiar, sobre o comportamento


humano, a moralidade pública, os costumes. Em conseqüência disso: "A
sociedade familiar decai. Crianças de oito, dez e doze anos se dedicam à
prostituição na Inglaterra. Jamais presenciei um comércio de sexo infantil como
agora", disse Arthur Nixon, delegado à Reunião Anual da Associação Britânica
de Diretores de Colégio em 1981.

Hungria sentenciou: "O delinqüente juvenil é, na grande maioria dos casos, um


corolário do menor socialmente abandonado, e a sociedade, perdendo-o e
procurando, no mesmo passo, reabilitá-Io para a vida, resgata o que é, em
elevada proporção, sua própria culpa"(Comentários ao Código Penal, voI. I,
Tomo 2°, ps. 353 e 354).

Note-se que a Lei n° 8.069/1990, assim considera e distingue a criança do


adolescente, para os efeitos legais.

"Art. 2° - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este


Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Cabe lembrar
que a adolescência é o período de vida caracterizado por amplas e profundas
modificações psicossomáticas, em que se completa o desenvolvimento
morfológico-funcional do ser humano.

Durante essa fase da existência humana, definem-se os caracteres sexuais


secundários, avivam-se os processos intelectuais, a sensibilidade, e toda uma
nova problemática, de ordem biopsicológica, sócio-cultural e político-
econômica, situação essa que repercute na esfera jurídica, daí por exemplo o
fato de que aos dezoito anos completos o indivíduo está sujeito à convocação
para efeito de prestação do serviço militar, direito de voto e ser votado (arts. 14,
§ 1°, I, e 143, da Constituição de 1988), assim como o homem contrair
matrimônio, mediante consentimento dos pais ou de representante legal (arts.
183, XII, e 185 e segs. do Código Civil de 1916).

Quanto à mulher, pode a mesma consorciar-se após completar dezesseis


anos, observadas as formalidades para o consentimento, acima referidas.

Terminologia adequada acerca dos desvios de comportamento da


criança e do adolescente

A expressão delinqüência juvenil foi usada pela primeira vez na Inglaterra, em


1815, por ocasião do julgamento de cinco meninos de 8 a 12 anos de idade.
Atualmente, essa expressão tem suscitado várias críticas, como assinalamos
acima, sendo empregada com diferentes sentidos, conforme a opinião dos
autores, para exprimir os seguintes conceitos, principalmente:

a) a delinqüência juvenil compreende os comportamentos anti-sociais


praticados por menores e que sejam tipificados nas leis penais;

b) a delinqüência juvenil não deve ser encarada sob uma perspectiva


meramente jurídica, devendo incluir também os comportamentos anormais,
irregulares ou indesejáveis;

c) a delinqüência juvenil abrange, além do que foi assinalado nas teorias


anteriores, aqueles menores que, por força de certas circunstâncias
ou condutas, necessitam de reeducação, cuidado, proteção.

Salienta ainda César Barros Leal que, por ocasião do Segundo Congresso das
Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratame_to do Delinqüente,
realizado em Londres, em 1960, foi aprovada recomendação no sentido de que
o significado da expressão delinqüência juvenil deve restringir-se o mais
possível às infrações do Direito Penal.

Em muitos países confunde-se delinqüência juvenil com inadaptação, cujo


conceito não apenas compreende menores autores de infrações penais, como
também retardados, neuróticos, desequilibrados, abandonados, órfãos,
vagabundos etc. (A Delinqüência Juvenil: Seus Fatores Exóge-
nos e Prevenção, ps. 43 e segs.).

Aliás, o. Segundo Seminário dos Estados Árabes sobre Prevenção e


Tratamento do Delinqüente, realizado sob os auspícios das Nações Unidas, em
Copenhague, em 1959,jáhavia concluído que os termos delinqüência e
inadaptação não são equivalentes, pois, os dois problemas são diversos, eis
que a delinqüência de menores abrange somente os atos que, pratiCados por
adultos, seriam considerados delitos.

Por sua vez, o Seminário Latino-Americano sobre Prevenção do Delito e


Tratamento do Delinqüente, realizado no Rio de Janeiro, em 1953, embora
concluísse que a expressão delinqüência juvenil "era tecnicamente
inadequada" ("por não reunir os elementos essenciais do conceito doutrinário
do delito"), reconheceu, contudo, que pela inexistência de expressões
substitutivas apropriadas, poderia continuar a ser utilizada.

Casas dos desvios de comportamento da criança e do adolescente. As


associações em bandos para fins criminosos

Da mesma forma que em relação aos adultos, diversas causa,s - endógenas e


exógenas - influem sobre a conduta delituosa do menor.

Essas causas podem ser de natureza genética, psicológica, patológica,


econômica, sociológica, familiar.
As condições de vida miseráveis dos pais, fome, subnutrição, alcoolismo,
consumo de drogas, falta de condições mínimas de higiene, ausência de
qualquer exame pré-natal e hábito de fumar da gestante, enfermidades
crônicas e outros aspectos, marcam a vida do novo ser antes do seu
nascimento.

No período de zero a sete anos, em que a criança mais necessita de as-


sistência sanitária e de nutrição, ocorrendo a falta desta, os neurônios (células
nervosas com os seus prolongamentos) do menor serão fatalmente atingidos, e
o trabalho de recuperação, mesmo usando-se os mais sofisticados métodos,
não surte efeito, como salientou Antônio Alfredo Fernandes (Jornal do
Brasil, 14.04.1978).

Segundo o relatório da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura,


órgão da ONU), divulgado em 1978, o consumo médio de calorias nos países
ricos subiu para 3.380, contra 2 mil calorias consumidas em média nos países
subdesenvolvidos.

Essas disparidades, segundo a F AO, provocam males, sob um duplo aspecto,


isto é, tanto ocasionam doenças por subnutrição como pelo consumo excessivo
de alimentos ou a adoção de dietas inadequadas nos países ricos.

Está fora de dúvida, porém, que os males resultantes da fome são des-
proporcionalmente maiores para os pobres, até porque estas condições lhes
são impostas, como conseqüência das desigualdades internacionais e da
exploração exercida pelas potências imperialistas, através do controle de
preço, açambarcamento e distribuição de alimentos, nos diversos países
capitalistas.

A subnutrição não é apenas um mal em si: todos os anos cem mil crianças
ficam cegas por causa daquela; 40% das mulheres adultas dos países
subdesenvolvidos são anêmicas.

Na América Latina, mais da metade das mortes entre as crianças de menos de


dois anos é atribuída a alimentação deficiente.

De acordo com as previsões de luan Pablo Terra, consultor da UNICEF (Fundo


das Nações Unidas para a Infância), se persistirem as condições atuais na
América Latina, morrerão nos próximos 20 anos, cerca de 30 milhões de
crianças e outras tantas sofrerão desnutrição grave (Rev. Bras. de Ciênc.
Jurídicas, n° 1, ps. 76 e segs.).

Na década de 1980, a UNICEF divulgou um relatório específico acerca da


situação da criança no Brasil, registrando elevados índices de mortalidade
infantil, devido, entre outras causas, à falta de assistência pré-natal e cuidados
médicos, durante o parto; dito relatório salientou também aspectos
relacionados à deficiência mental da criança, em razão da subnutrição das
mães, bem como do próprio menor, nos primeiros meses de vida, com a
conseqüente atrofia das células cerebrais, insuficiência de peso, propensão a
doenças etc. (Jornal Nacional, Brasília, 07.06.1984).
Ora, esse conjunto de causas e fatores enseja inexoravelmente a formação de
crianças deficientes e futuros adultos débeis mentais, por conseguinte, uma
porta larga para os desvios de comportamento, inclusive condutas delituosas,
tomando tais seres humanos um peso morto, uma carga inútil e nociva ao meio
social em que vivem. Paradoxalmente, esse mesmo meio social - através de
seus órgãos punitivos - acaba de liquidá-Ios, moral e fisicamente, nos seus
estabelecimentos prisionais: as mundialmente conhecidas "casas de horrores".

Fatores criminógenos que atuam sobre a criança e o


adolescente. Bandos juvenis

Quanto aos fatores criminógenos, de natureza exógena, relacionados ao meio


social, aos aspectos psicológicos e psiquiátricos, que atuam
negativamente sobre a criança e o adolescente, destacam os autores os
seguintes:

a) disciplina mais rígida ou descontínua da parte do pai; b) supervisão


não adequada da parte da mãe;
c) pai delinqüente e hostil;
d) mãe indiferente e hostil;
e) família sem coesão;
f) desejo marcante de afirmação pessoal na sociedade; g) atitude
marcante de desprezo e desafio;
h) marcante destrutividade;
i) aventureirismo;
j) instabilidade emotiva;
1) procedentes familiares de vício ou delinqüência; m) falta de ocupação;
n) influências extrafamiliares, más companhias;
o) famílias numerosas com problemas econômicos etc.

Segundo estudos realizados na extinta Alemanha Federal, cerca de metade


das crianças estava crescendo em meio a um ambiente em que devem contar,
a cada instante, com uma surra ou bofetada, ou seja, hábitos violentos por
parte dos pais.

O relatório publicado a respeito informa que grande número de ocorrências


permaneciam ocultas, pois havia interesse em disfarçá-Ias, dificultando-se as
sindicâncias. Apesar disso, suponha-se como realista a cifra de 15.000 a
18.000 casos anuais de maus tratos fisicos a crianças, com reflexos negativos
sobre a sua personalidade, conduta e reação emotiva TribunaIAlemQ., agosto,
1982).

No Brasil, embora não existam estudos a respeito, há indícios do mesmo


fenômeno, resultando inclusive, em alguns casos, fraturas em crianças, sob o
disfarce de quedas, acidentes.

No que tange às associações em bandos juvenis, elas existem de forma mais


estruturada e em maior número nos EUA, onde, por coincidência, é também
maior o índice de crime organizado (organized crime), embora ditas
associações sejam universalmente conhecidas, inclusive no Brasil, como
salientamos noutra parte deste trabalho.

As denominações dessas associações variam nos diferentes países, a saber:


gamberros (Espanha), vitelloni (Itália), teddy-boys (Inglaterra), blousons noirs
(França), Halbstarker (Alemanha), nosem (Holanda), anderujmer (Dinamarca),
pasek (Tchecoslováquia), hooligans (URSS e Polônia), pavitos (Venezuela),
zazous (África), bodgies (Austrália), taizo-zoke (Japão) e Tai-Pao (China),
como assinala César Barros Leal (ob. cit., p. 39).

No Brasil, inexistem estudos específicos, a respeito das associações em


bandos juvenis, com o objetivo de práticas delituosas; contudo, são flagrantes e
exuberantes os indícios e provas, quanto a existência desses bandos, sendo os
menores denominados, individualmente, de "trombadinhas" (São Paulo) e
"pivetes" (Rio de Janeiro).

Mutatis mutandis, da mesma forma que em relação aos adultos, existem cifras
douradas (em relação aos menores pertencentes às classes sociais
privilegiadas), cifras negras (práticas delituosas não detectadas, ou que
escapam ao controle oficial) e as práticas delituosas reprimidas, em
conformidade com a legislação aplicável em cada país.

Discernimento e inteligência em função da idade do ser humano

Como seres humanos, embora com tenra idade, as crianças são também
suscetíveis de degenerescência, seja por fatores ou causas hereditárias,
genéticas, biológicas, sociais, econômicas, psicológicas, familiares, que podem
exercer influência maléfica sobre aquelas, a ponto de transformá-Ias em
verdadeiros monstros, entes perversos, insensíveis, cruéis, torpes, assassinos,
sangüinários.

Daí a expressão criança-monstro, cujos casos concretos são conhecidos desde


a Antigüidade, constituindo objeto de estudos psiquiátricos (cr. Philip Solomon
e Vemon D. Patch, Manual de Psiquiatria, ps.530 e segs.; Arthur Ramos, A
Criança Problema, ps. 31 e segs.).

Seja como for, o tema em apreço relaciona-se à problemática de natureza


psicológica, concemente ao discemimento e inteligência, que devem servir de
fundamento para a fixação da idade de responsabilidade penal.

Em síntese, discernimento é a faculdade que tem o indivíduo de distinguir


perfeitamente os atos que pratica, assim como calcular os seus efeitos.

Por sua vez, J. Alves Garcia assim conceitua a inteligência: "Chamamos


inteligência ao conjunto constituído por todos os dons, talentos ou instrumentos
que nos permitem adaptar às circunstâncias e desencumbir das tarefas que
nos propõe a existência.

Enquanto o desenvolvimento do corpo se opera até aos 20 ou mais anos, o da


inteligênCia detém-se aos 15 anos, ou mais geralmente nos 13 'ij anos, após o
que crescem a experiência e a educação, somente" (Psicopatologia
Forense, ps. 91 e segs.).

Concluindo, a problemática em apreço está intimamente relacionada ao fator


decisivo à afirmação individual, ou seja, o quociente da inteligência (QI)
focalizado noutra parte da presente obra.

Agora, a problemática da inteligência interessa como fundamento e critério


para a fixação da idade, para efeito de responsabilidade penal do indivíduo,
como veremos adiante.

Cabe lembrar ainda que, de acordo com os estudos sobre o assunto, o menor
ou maior quociente de inteligência, assim como o fenômeno do indi-" víduo
superdotado não resultam da hereditariedade, constituindo sim características
individuais, da mesma forma, por exemplo, como os dotes vocais, a bela voz, o
talento artístico.

Fundamento psicológico para afixação da idade, para efeito de


responsabilidade penal, aos quatorze anos

Como vimos anteriormente, de acordo com Nélson Hungria, nosso legislador


não "cuidou da maior ou menor precocidade psíquica" dos menores de dezoito
anos, simplesmente "declarou-os por presunção absoluta, desprovidos das
condições da responsabilidade penal, isto é, o entendimento ético-jurídico e a
faculdade de auto governo" (Comentários ao Código Penal, art. 23, voI. 2°,
1955).

Acontece que, de acordo com os estudos e as conclusões da Psicologia, o


desenvolvimento da inteligência no indivíduo se desenrola até aos 15 anos, ou
mais geralmente aos 13 Y2 anos, após o que conta somente o crescimento da
experiência e da educação (cf. J. Alves Garcia, Psicopatologia Forense, ps. 91
e 93).

Quer dizer, aos 15 anos o indivíduo já se encontra com suficientes dis-


cernimento e inteligência para se desencumbir das tarefas lhe propõe a exis-
tência, inclusive o entendimento ético-jurídico, a faculdade de auto-governo,
enfim a capacidade para entendimento acerca dos atos ilícitos penais.

Em face das considerações acima expostas e da realidade brasileira, toma-se


imperiosa a reflexão acerca da fixação da idade em quatorze anos, para efeito
de responsabilidade penal, como ressaltamos na Indicação n° 187/1995,
oferecida ao Instituto dos Advogados Brasileiros.

Isso se justifica em face da incontrolável violência, por parte dos menores de


15 anos no Brasil, e dos elevados indices de infrações penais por eles
praticadas; por outro lado, os mesmos competem ombro a ombro, em matéria
de ferocidade, com os delinqüentes adultos, no que diz respeito aos sangrentos
motins e rebeliões, ocorridos nos estabelecimentos correcionais, conforme o
noticiário divulgado pelos meios de comunicação social, freqüentemente,
resultando daí várias mortes.
CRIMINALIDADE FEMININA E MASCULINA

Da criminalidade sexual. Erotização ou sexismo. Contágio venéreo

Considera-se criminalidade sexual o conjunto de ações anti-sociais, praticadas


para satisfazer o impulso erótico ou as tendências libidinosas do indivíduo. A
propósito, observa Nélson Hungria:

"A disciplina jurídica de satisfação da libido ou apetite sexual, reclama, como


condição precípua, a faculdade de livre escolha ou livre consentimento nas
relações sexuais" (Comentários ao Código Penal,voI. VIII, p. 111).

Desse modo, do ponto de vista jurídico-penal, considera-se liberdade sexual "a


liberdade de disposição do próprio corpo no tocante aos fins sexuais", cuja
violação consiste em vencer, mediante violência (fisica ou moral)

ou iludir, mediante fraude, a oposição da vítima(idem, ibidem).

Daí as diversas modalidades delituosas dessa espécie, COITO prevê o Código


Penal, sob o título de crimes contra os costumes, a saber: crimes contra a
liberdade sexual; sedução e corrupção de menores; rapto; lenocínio e tráfico de
mulheres; ultraje público ao pudor (arts. 213 e segs.), como lembramos
alhures (Sexologia Forense, ps. 144 e segs.).

Cabe ressaltar a influência deletéria, exercida sobretudo pela televisão, quanto


à exaltação da erotização, ou seja, o chamado sexismo, como fator
criminógeno, como lembramos alhures (Comentários à Constituição da
República Federativa do Brasil, lIa edição).

Por outro lado, sob o título de periclitação da vida e da saúde prevê o art. 130
do Código Penal a figura delituosa consistente emperigo de contágio
venéreo, ou seja, as denominadas Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST).

A propósito, a Corte de Justiça de Los Angeles condenou o espólio do ator


Rock Hudson, ao pagamento da importância de US$ 14,5 milhões de dólares
(NCz$ 14,5 milhões), em favor do ex-amante dele, Marc Christian, com quem
conviveu durante cerca de dois anos, a partir de 1982. Em 1984, o
relacionamento entre eles começou a deteriorar-se porque Marc revelou ao seu
amante, que se prostituíra com outro indivíduo. Diante da iminência de um
rompimento, o amante de Hudson ameaçou revelar publicamente o
homossexualismo do galã, arruinando assim sua máscula reputação, construí
da ao longo de muitos beijos, trocados com mocinhas, nas telas dos cinemas.

Os membros do júri daquela Corte norte-americana entenderam que Marc


Christian "sofreu um choque emocional", porque, até pouco antes da morte de
Hudson (1985), ignorava ser este portador de AIDS, sujeitando-o, assim, ao
perigo de contágio (O Globo, 17.02.1989).
Por outro lado, em 1987, na Califómia (EUA), o cidadão Joseph Markowski foi
denunciado, por tentativa de homicídio, por ter doado sangue, mediante
pagamento, sendo portador de AIDS, além do fato de manter relações sexuais
com cinco pessoas. Surgiu então a polêmica, acerca da violação do princípio
da reserva legal, visto que não há lei penal específica sobre a matéria, em que
se pudesse amparar tal imputação penal (Fantástico,19.07.l987).

Versando sobre o ressarcimento, José de Aguiar Dias não deixa dúvida acerca
do caráter ilícito e do dever de indenizar, no caso de transmissão de doença
venérea, em face dos princípios que regem o ordenamento jurídico pátrio,
nessa esfera (Da Responsabilidade Civil,voI. lI, p. 445).

Recorrendo-se à opinião de Nélson Hungria, verifica-se que nosso Código


Penal de 1940 não previu "a hipótese de superveniência da morte da vítima,
conseqüente ao efetivo contágio. Como resolver tal hipótese? Se o agente
procedeu com dolo de perigo ou dolo de dano, o fato ser-lhe-á imputado a título
de "lesão corporal seguida de morte" ou "homicídio preterintencional" (art. 129,
§ 1°). Se o antecedente,porém, era simplesmente culposo, responderá
por homicídio culposo (art. 121, § 3°)" (Comentários ao Código Penal, voI. V, p.
396).

Até que ponto a falta de condições higiênicas essenciais, a promiscuidade


sexual, debilitamento orgânico, estresse e outros aspectos, são responsáveis
pelos elevados índices de incidência da AIDS, nos diversos países?

Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde, a China, por


exemplo, com mais de um bilhão de habitantes, não registrava casos de AIDS,
salvo os de 13 estrangeiros, lá residentes, que se encontravam então sob
tratamento, hospitalizados (Jornal do Brasil, 02.03.1988).

A criminalidade passional. Sadismo. Masoquismo. Sadomasoquismo

Do latim passionalis, de passis (paixão), passional é o vocábulo empregado na


terminologia jurídica, especialmente no Direito Penal para designar o que se
faz por uma exaltação ou irreflexão, ciúmes ou amor ofendido, desencadeando
emoções, violências, como ressaltamos alhures (Sexologia Forense, ps. 175 e
segs.).

Para Aftânio Peixoto, paixão é a "emoção crônica", em tempo, por prolongada,


e aguda em manifestação, por violenta".

Segundo Nélson Hungria, emoção é um estado de ânimo ou de consciência


caracterizado por um viva excitação do sentimento. É uma forte e transitória
perturbação da afetividade, a que estão ligadas certas variações somáticas ou
modificações particulares das funções da vida orgânica (pulsar precipite do
coração, alterações térmicas, aumento da irrigação cerebral, aceleração do
ritmo respiratório, alterações vasomotoras, intensa palidez ou intenso rubor,
tremores, fenômenos musculares, alteração das secreções, suor, lágrimas e
outras manifestações.

Há certa diferença entre emoção e paixão, embora esta seja originária daquela.
Kant dizia que a emoção é como "uma torrente que rompe o dique da
continência", enquanto a paixão é o "charco que cava o próprio leito, infiltrando-
se, paulatinamente, no solo".

Conclui Hungria: "Pode dizer-se que a paixão é a emoção que protrai no


tempo, incubando-se, introvertendo-se, criando um estado contínuo e
duradouro de perturbação afetiva em torno de uma idéia fixa, de um
pensamento obsidente. A emoção dá e passa; a paixão permanece,
alimentando-se de si própria" (Comentários ao Código Penal, voI. I, Tom. 2°,
ps. 360 a 363).

O Código Penal de 1940 não transigiu, no terreno da responsabilidade penal,


com os emotivos ou passionais, que não exorbitam da Psicologia normal.

Ao contrário, o Código Penal de 1890 ensejou escandalosas absolvições,


sobretudo no âmbito do Tribunal do Júri, em face da norma estabelecida no art.
27, que consideravam não ser criminosos: "Os que se acharem em estado de
completa privação de sentidos e de inteligência no ato de cometer o crime",
como lembramos alhures (Comentários ao Código Penal, ps. 125 e segs.).

Para Léon Rabinowicz, há um aspecto do amor sexual que é bastante


característico: o ódio que o acompanha. "Entre os dois amorosos só existe a
carne: nenhuma ternura, nenhum sentimento os retém, além do prazer carnal;
por isso, entre dois momentos de desejo, o ódio mistura-se com a volúpia".

Em suma, o crime passional culmina com a paixão homicida, enquanto o


suicídio é um sucedâneo do crime passional (O Crime Passional, ps. 60,95 e
142).

O interesse que a humanidade sente pelo homicídio, escreve Hans von Hentig,
reside no fato de que o matar ou ser morto fere suas fibras mais íntimas.

Embora, muitas vezes, sejam ignorados os motivos dos homicídios, a


Estatística Criminal tem que limitar-se a uma casuística desses motivos, assim
agrupados: por lucros; para encobrir outras ações ou crime; por conflito; de
natureza sexual.

O chamado homicídio sádico, por exemplo, comporta numerosas variantes,


envolvendo ódio, mistério, sangue, erotismo, crueldade e homossexualismo.
Certo médico introduziu na vagina e no reto de sua amante, "vaselina, goma e
estrofantina, sendo que esta queima". Desesperada, a vítima procurou uma
clínica, onde foi atendida, cujo clínico de plantão diagnosticou apenas: "forte
estado de excitação". Pouco depois, falecia a vítima (Estudos de Psicologia
Criminal, voI. lI, ps. 9 e segs.).
Nesse contexto se inserem sadismo (preversão sexual em que a satisfação
erótica advém da prática de atos de violência ou crueldade), o masoquismo
(preversão sexual em que a pessoa só tem prazer ao ser maltratada física e
moralmente) e o sadomasoquismo (preversão sexual que consiste na
conjugação do sadismo e do masoquismo), podendo em consqüência resultar
lesões corporais ou morte, temas esses que abordamos noutro
trabalho (Sexologia Forense, ps. 140 e segs.).

A criminalidade passional em face da eloqüência forense

Os arquivos judiciários, nos diferentes países, estão repletos de casos,


relacionados à violência sexual, crime passional, duplo suicídio, homicídio
seguido de suicídio frustrado, e outros, envoltos em sensacionalismo, que
lograram escandalosas absolvições, nos Tribunais do Júri, daí afinnar-se que
um dos vícios da instituição do júri resulta da influência da oratório sobre os
jurados, quer dizer, os jurados decidem segundo a eloqüência, fantasia e
astúcia dos defensores, como lembramos alhures (Curso de Direito Processual
Penal, ps. 315 e 316).

Por sua vez, Enrique Ferri, que foi um gigante da oratória forense, obteve
retumbantes vitórias nos Tribunais do Júri, em memoráveis defesas penais,
obras-primas de literatura jurídica, em que o romanesco se confunde com as
construções legais, do maior rigor científico.

A defesa, por exemplo, de Carlos Cienfuegos, assassino da condessa


Hamilton, mereceu o título de Amor e Morte, uma apaixonante leitura, para os
que se encantam com as obras de espírito.

À certa altura, desse belo texto literário, assim se expressa o autor: "Estamos
perante um caso de homicídio, seguido de suicídio frustrado, em seguida ao
amplexo de amor, depois da febre e do frenesi que produzem, no momento
fugitivo da volúpia, o esquecimento da dor que atormenta, do destino
inelutável".

E adiante: "Por amor se bate na pessoa amada, e até, por vezes, esta gosta de
ser batida. Mas pessoas menos cultas como regra geral, nas pessoas
intelectualmente mais elevadas como fenômeno ocasional e patológico - o
amor, em vez de diminuir, aumenta com as sevícias e os maus-tratos, e assim,
as misérias do masoquismo levam às violências do sadismo, que são as
doenças do amor e a sua gangrena."

Prossegue:

"O amor nasceu com a violência. Nas florestas da humanidade primi-


tiva, o macho impunha-se, violentamente, à fêmea esquiva e possuía-a pela
força. E só a lenta e tormentosa elevação moral, de geração para geração, do
Oriente místico até a Grécia bela, até a poderosa Roma, conseguiu purificar e
imprimir uma certa delicadeza ao sentimento do amor, no qual, porém, palpita
sempre, bem viva, a recordação nostálgica da violência primitiva" (Discursos de
Defesa, ps. 12 e 22).
Sob a ótica fascinante da arte, do canto e da literatura, escreve Ferri:
"A Cavalheira Rusticana passou do fraco êxito do conto aos triunfos de
uma drama onde se sucedem rapidamente, em cenas emocionantes, o aban-
dono da amorosa, o adultério, o duelo de morte, onde um marido vinga a sua
honra e um amante paga com a vida a vileza do abandono e a sua boa sorte,
onde enfim, os principais personagens são criminosos passionais.

E o triunfo toma-se uma apoteose universal da arte italiana quando Mascagni


empresta a essas paixões, mas ou menos criminosas, a mágica beleza da sua
música nervosa é inspirada" (Os Criminosos na Arte e na Literatura, p. 86).

A prostituição masculina e feminina como fator criminógeno

O panorama legal, nos dias atuais, com relação à prostituição feminina revela
o seguinte quadro, nos diferentes países capitalistas:

a) proibicionismo: a prostituição era considerada um delito na extinta URSS,


países do leste europeu, EUA, países escandinavos);
b) abolicionismo: não há qualquer restrição à atividade prostitucional
(Brasil, Itália, Índia, Japão);
c) regulamentarismo: as prostitutas devem ser inscritas, submetidas com
maior ou menor rigor a medidas condicionantes de sua atividade (Tailândia,
Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Venezuela, Peru, Uruguai).

Segundo o testemunho de Jean-Gabriel Mancini, há tanta prostituição nos


países que a proíbem quanto nos que a permitem.

O fato é que, para certas mulheres, dificilmente outra atividade além da


prostitucional-lhes renderia tantos ganhos, como o declarou uma delas, perante
um magistrado francês, que a processava criminalmente (Waldir de Abreu -
O Submundo da Prostituição, Vadiagem, Jogo-da-Bicho, ps. 17 a 38).

A prostituição masculina, nos diversos países capitalistas, grassa largamente,


tanto para satisfazer à lascívia feminina como masculina, de homossexuais
ativos e passivos; nos EUA, por exemplo, são impressos catálogos, com
endereço, telefone e demais indicações, acerca da prostituição masculina,
constituindo um rendoso negócio.

Antes do desmoronamento ou desmascaramento do denominado socialismo


real na extinta URSS, as autoridades soviéticas alegavam que o incremento do
turismo de estrangeiros havia provocado o aparecimento da prostituição
naquele país, versão essa desacreditada, após estudos e pesquisas divulgados
a respeito.

A prostituição, como fator criminógeno, pode decorrer ou conduzir ao vício por


drogas, alcoolismo, chantagens, assaltos, escândalo, adultério, estando
intimamente ligada ao crime organizado.
Tanto a prostituta, ou prostituto, como o cliente podem ser infectados por
doenças venéreas, mas estas estão atualmente mais difundidas pelo amor
livre, homossexualismo e adultério do que pela própria prostituição (Philip
Solomon e Vernon D. Path - Manual de Psiquiatria, ps. 301 e 302).

A matéria comporta vários enfoques, como lembramos noutro trabalho (Direito


Penal - O Crime - O Processo - As Penas, ps. 109 e segs.).

Efeitos do propalado liberacionismo sexual

Segundo Wilhelm Reich, na URSS, após a Revolução Socialista (1917), a


legislação soviética simplesmente riscou a velha cláusula tzarista sobre o
homossexualismo, que castigava a atividade homossexual, com pesadas
penas de privação de liberdade.

Com esse ato, o governo soviético deu um largo passo no sentido da


liberalização do movimento sexual-político, em relação à Europa ocidental e
América, partindo do princípio segundo o qual a homossexualidade, quer seja
concebida como inata, quer como resultado duma inibição do desenvolvimento
psicossomático, é uma atividade que não prejudica a ninguém.

Tais concepções geraram certa tolerância em relação às práticas ho-


mossexuais, de tal forma que estas se propagaram em diversas camadas so-
ciais, na juventude, no seio das Forças Armadas, inclusive no meio operário. .

Por volta de 1925, no Turquestão, foi criada uma cláusula adicional ao Código
Penal da extinta União Soviética, que já previa penalidades pesadas para os
homossexuais. Surgiram espionagens e delações, desprezo por parte dos
comitês do Partido Comunista inclusive expurgos.

Em 1934, foi publicado um diploma legal assinado por Kalinin, declarando que
as relações sexuais entre homens eram consideradas como "crime social", com
penas de cinco a oito anos.

Entrementes, na Alemanha praticava-se em larga escala o homossexualismo,


envolvendo figuras de proa do nazismo; até Hitler caiu sob suspeita de práticas
homossexuais.

A imprensa soviética encetou então vigorosa campanha contra a ho-


mossexualidade, considerando-a "um fenômeno de desnaturação da burguesia
fascista", segundo o lema: "Exterminai os homossexuais e o fascismo
desaparecerá".

Por sua vez, Wilhelm Reich formula interessante concepção acerca do que
denominou de "economia sexual", ou seja, aquilo que diz respeito à maneira de
regulação da energia sexual, isto é, a economia das energias sexuais do
indivíduo, a maneira pela qual o ser humano manobra a sua energia biológica,
quanta energia ele represa e quanta ele descarrega organasticamente. Os
fatores que influem nessa regulação são de natureza sociológica, psicológica e
biológica, que devem ser objeto de estudo e sistematização científica, em
relação às práticas e manifestações humanas (A Revolução Sexual, ps.
245a315).

A propósito, a República Popular da China, nos dias atuais, com uma


população de cerca de 1 bilhão de habitantes, obrigada que foi a estabelecer
um rigoroso controle populacional, está enfrentando sérios problemas de
ordem sexual, ocorrendo ali numerosos casos de violência dessa natureza, e
estupros, com severas punições.

A criminalidade feminina. Aspectos psicossomáticos de natureza


darwinística. A mulher como instrumento de troca. O cérebro feminino

A questão da criminalidade feminina tem suscitado uma série de debates, em


tomo dos quais aparecem curiosos aspectos de natureza histórica, romântica,
preconceituosa, discriminatória, sentimental, psicológica, fantasiosa que
precisam ser examinados, sob o ângulo cientifico, para que daí se tirem
conclusões práticas sobre o tema.

Nessa linha de raciocínio, a Psicologia desenvolve esforços no sentido da


distinguir aspectos peculiares, relativos à conduta delituosa masculina e
feminina.

Num trabalho notável, polêmico, com profundo teor científico, publicado no


Brasil, em 1894, pela Imprensa da Casa da Moeda, sob.os auspícios do
Governo da República, lembra Tito Lívio de Castro que os primeiros seres
humanos - homem e mulher - apareceram como os outros animais em geral,
isto é, feras; à medida que se desenvolveu a inteligência humana, a par de
outros fatores, passou a haver predomínio masculino, sobretudo devido à força
física deste.

Por outro lado, o tipo de atividade, os exercícios físicos, a luta pela


sobrevivência e outros aspectos fizeram com que o tipo masculino passasse
por mais variadas transformações e adaptações cerebrais que o feminino.

Daí, sustenta, "a maior evolução cerebral é um caráter perfeitamente distintivo


em relação ao sexo; caracteriza quase tanto o sexo masculino, como as
glândulas mamárias o sexo feminino".

Em outras palavras, o autor parte do princípio segundo o qual, com base em


numerosas observações, o volume do crânio feminino é inferior ao masculino.

Salienta ainda que a mulher, pelo seu todo orgânico, se aproxima mais da
criança do que do homem, porquanto ela é menos cérebro do que este.

Histórica, política, econômica e sociologicamente, isso se deve, principalmente,


ao fato de que as tarefas executadas pela mulher, o seu esforço pela
sobrevivência, a sua participação na vida comunitária enfim, a sua ati vidade
cerebral e a sua própria alimentação foram inferiores, em quantidade e
qualidade, em relação ao homem.

Lembra que, segundo a crença popular, a mulher é mais coração do que


cérebro; isso, porém, é equívoco, pois o músculo cardíaco não se contrai mais
rapidamente e de modo mais enérgico; não é maior, não é mais ativo, não se
altera mais por excesso dinâmico na mulher do que no homem.

Todos os órgãos do corpo humano estão em relação íntima com o cérebro, por
meio de seus filetes de comunicação nervosa; domina, assim, o princípio da
simpatia no organismo, não havendo antipatias, sendo o cérebro o órgão da
cenestesia, e, portanto, da personalidade.

Conclui então que o homem é cerebral, a criança e a mulher são medulares,


pois o homem possui mais cérebro, enquanto a mulher e a criança possuem
mais medula espinhal (parte do sistema nervoso central (parte do sistema
nervoso central contida na coluna vertebral).

Nesse contexto, o tipo de desenvolvimento social, de civilização, as relações


de produção e os costumes fizeram da mulher um instrumento de troca, um ser
semelhante ao escravo, podendo ser praticado o homicídio contra ela,
impunemente, dentre alguns povos.

Ela podia ser emprestada a um amigo, aliado ou estrangeiro; em alguns casos,


onde se praticava a antropofagia (como no Egito antigo), ela servia de
alimento.

Dentre alguns povos, o cavalo e o cão tinham maior valor que a mulher. Entre
outros, que admitiam a poligamia, o adultério da mulher era considerado um
roubo, porque ela era propriedade do marido.

Durante a longa evolução humana, a mulher não foi mais do que objeto do
homem, em função das concepções políticas, econômicas, filosóficas, jurídicas,
religiosas e demais instituições dominantes.

A organização familiar, patriarcal, se resumia à noção de "grupo de escravos


de um mesmo senhor ou co-escravidão", e não "simpatias de con-
sangüinidade", como atualmente.

Em resumo, a mulher pouco precisou do cérebro, pouco serviu-se dele, por


isso não se desenvolveu cerebralmente. A biologia nos ensina o mecanismo
das atrofias por inanição.

Daí resulta que a mulher tem um cérebro e uma psique infantil, porque e só
porque foi submetida a uma existência que, pelas próprias contingências,
buscou esse resultado.
A instituição da escravidão e da família não são apenas análogas, e sim
idênticas, provindo do direito de conquista, sendo o escravo e a mulher
submetidos, como parte venci da e mais fraca, ao jugo do mais forte.

Assim, o cérebro da mulher não foi criado "para" ser o que tem sido e somente
isso. Podemos dizer que a sua organização cerebral está de acordo com o tipo
de civilização existente, as necessidades e aspirações femininas verificadas
até agora, com ilimitadas possibilidades de transformação, conclui Tito Lívio de
Castro (A Mulher e a Sociogenia).

Como se vê, trata-se duma visão acerca da mulher, afinada com os


fundamentos do darwinismo social.

A publicidade enganosa sobre a mulher na sociedade capitalista.


Peculiaridades somáticas: menstruação e puerpério

Nos dias atuais, sob pretextos estéticos, a publicidade capitalista continua


insistindo na recomendação, acerca de regimes alimentares especiais para as
mulheres, objetivando a pouca ingestão de alimentos, para que assim elas
mantenham a esbelteza, cintura fina, porte esguio, daí resultando a languidez,
pouca resistência fisica, desinteresse pelos exercícios, como ocorre há
milênios, embora sob outra motivação.

Podemos concluir que o tipo de organização social ainda existente sob o


capitalismo -, de predomínio masculino, centrado nas diversas esferas do
poder, isto é, do ponto de vista econômico, jurídico, cultural, ideológico, com
arraigadas tradições de ascendência masculina, não quer a evolução mental da
mulher, por vários motivos, dentre eles, o mais forte: porque o estado atual da
mulher é o mais conveniente ao regime vigorante, às concepções econômicas,
políticas, jurídicas, religiosas, filosóficas e assim por diante, que mantêm os
privilégios de classe e o elitismo dominante. Daí por que se procura confundir e
sabotar o movimento pela emancipação da mulher, apresentando-o como algo
ridículo, fútil, como se fosse uma iniciativa de lésbicas (embora possa haver
segmentos desse movimento, com essas tendências), algo semelhante aos
propósitos e manifestações dos homossexuais, com os seus desfiles e
demonstrações escandalosos.

Seja como for, a ilusória luta pela conquista do socialismo abriu novas e
amplas perspectivas para o movimento feminino e a emancipação da mulher.
Na verdade, a emancipação da mulher só se toma possível quando ela pode
participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o
trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante. Esta condição só
pode ser alcançada com a grande indústria moderna, que não apenas permite
o trabalho da mulher em grande escala, mas até o exige, e tende cada vez
mais a transformar o trabalho doméstico privado em uma indústria pú blica
(através não só das grandes empresas industriais mas também da organização
de creches, restaurantes, lavanderias, indústrias alimentícias).

Desse modo, a luta pela sobrevivência e o crescente desenvolvimento


capitalista impeliram a mulher à participação direta na produção social, através
da grande indústria mecanizada, que acelerou o processo de ascensão e
independência das operárias, ampliando-Ihes as perspectivas e criando novas
condições de existência, infinitamente superiores ao confinamento patriarcal e
artesanal, pré-capitalista (Lênin - O Socialismo e a Emancipação da
Mulher, Rio, 1956).

Por outro lado, como observa Alexandra Kollontai, a monogamia, o amor


livre, as uniões temporárias e a própria liberdade opcional de ser mãe solteira,
sem que isso seja necessário unir-se ao homem pelo casamento, são formas
de existência que coexistirão no futuro, pois, afinal, a mulher passou a ver no
prazer, na variação sexual descomprometida, como o homem, a maneira válida
e espontânea de se satisfazer; o mais deve constituir-se de trabalho e êxito
profissional. De resto, o amor e o prazer sexual não são tudo na vida (A Nova
Mulher e a Moral Sexual, ps. 69 e segs.).

São curiosos, no entanto, certos aspectos legais, com relação ao com-


portamento psicossomático feminino.
O Código Penal cubano, por exemplo, prevê a hipótese de que a menstruação
possa representar um fator de agressividade feminina, nos crimes contra a
pessoa, constituindo assim uma atenuante da pena.

Por outro lado, o estado puerperal, segundo o Código Penal brasileiro, de


1940, pode determinar a alteração do psiquismo da mulher normal, ensejando
situações, teoricamente consideradas como "transitória conturbação da
consciência", ou "loucura emotiva", cabendo ao juiz invocar o parecer dos
peritos-médicos, a fim de que estes informem se a infanticida, ainda que isenta
de taras psicopáticas, francas ou latentes, teve a contribuir para o seu ato
criminoso as desordens fisicas e psíquicas derivadas do parto (Nélson Hungria
- Comentários ao Código Penal, art. 123, vol. V, ps. 233 e segs.).

. A mulher e a criminalidade passional

Freqüentemente, nos crimes passionais, o assassinato se mescla com o


sadomasoquismo. Há casos de cônjuges, marido ou mulher, ou de amantes,
que logo após liquidarem o seu par, muitas vezes de maneira brutal, recebem
de imediato cartas com temas declarações amorosas e propostas matrimoniais,
de missivistas desconhecidos, demonstrando com isso sensibilidade e
admiração, pelo autor ou autora de homicídio (Hans Von Hentig, ob. cit.,
voI. lI, ps. 9 e segs.).
Segundo León Rabinowicz, a mulher traída nem sempre se vinga sobre o
marido ou sobre a sua cúmplice. Com freqüência perdoa, por vezes suicida-se
de desespero, quando se vê abandonada para sempre, mas quando toma a
decisão de se vingar, a sua vingança é atroz. É um traço característico da
psicologia da mulher. Exasperada, passa a ser um monstro de ferocidade, que
só respira vingança e só pensa em submeter a sua vítima aos mais atrozes
sofrimentos.
O mesmo autor, citando Paul Bourget, agrupa três tipos de mulheres que
se vingam: a envenenadora, que se vinga friamente, demoradamente; a
revolverizadora, felina, de nervos desarranjados (O Crime Passional, ps. 134 a
151).
Como decorrência da atividade, é mundialmente conhecida a atuação das
chamadas "gateiras" (autores de furtos) ,nos hotéis, onde exercem as funções
de faxineiras, arrumadeiras, copeiras.
A prostituição feminina constitui um dos mais graves fatores criminógenos,
propiciando escândalos, fraudes, corrupção, ameaças, furtos, roubos,
agressões fisicas, morte, transmissão de moléstias venéreas e outras práticas
criminosas. Há países, como vimos, em que a prostituição écrimlnalizada e
penalmente reprimida; outros a liberam ou regulamentam. Em qualquer caso,
ela representa um elo com a criminalidade.
Evidentemente, o quadro, com os seus diferentes aspectos, acima descritos,
não esgota a problemática em tomo da criminalidade feminina.

Tal quadro retrata apenas as contingências, isto é, as condições adversas, os


preconceitos, enfim, toda uma estrutura sócio-político-econômica obscurantista,
com a incidência de numerosos fatores criminógenos, tipicamente
característicos do capitalismo, influenciando negativamente a conduta feminina,
direcionando mesmo o sentido de certas práticas delituosas, imputadas à
mulher, ao fazê-Ia crer, por exemplo, que a sua plástica, seus atributos fisicos
são tudo, ou quase isso, para a obtenção de sucesso na vida.

Naturalmente, sob uma nova ordem social, sem a influência negativa desse
conjunto de fatores, acima examinados, a conduta feminina terá outro sentido a
direção, pois até então, como afirmou Afrânio Peixoto, a civilização fez da
mulher máquina de prazer: a mulher vadia, a cavalo de corrida, os gatos
peludos e os cãezinhos de luxo; e, somente numa sociedade onde todos
trabalhem e sejam remunerados apenas pelo seu trabalho, não haverá tempo a
perder, nem riqueza a acumular, e assim:

"O homem amará a mulher, simplesmente, decentemente, sem luxo, sem


punhal, sem perversões, sem morfina, sem revólveres, sem adultérios, sem
profanações, sem crimes passionais. Será uma função da vida, como as outras
(...)" (Criminologia, p. 121).

Enfoque histórico-sociológico acerca da criminalidade feminina

Lembra Julita Lemgruber que, quando se discutem temas, acerca dos


índices de criminalidade, meios de combater a violência, situação peniten-
ciária:, as pessoas parecem visualizar antes o homem criminoso, o homem
preso, enquanto que a figura da mulher criminosa e da presidiária não costuma
preocupar tanto, ou sequer vir à baila, embora a questão tenha a sua
especificidade.
Nesse contexto, é significativo o fato de os dados relacionados à dis-
tribuição de inquéritos policiais ou processos criminais, não indicarem os
protagonistas dos mesmos, isto é, se são homens ou mulheres.
Contudo, tomando-se o ano de 1976 como ponto de referência, observa-
se que na época havia no Rio de Janeiro 310 mulheres e 8.511 homens, re-
colhidos nos diversos estabelecimentos prisionais do Sistema Penitenciário,
seja cumprindo pena ou aguardando julgamento, o que então significava uma
proporção de 3,5% mulheres e 96,5% homens para o total de detentos.
Considerando-se, em termos totais, a distribuição da população masculina
e da feminina na época, verifica-se uma flagrante discrepância, em matéria de
percentuais sobre criminalidade, ou seja, para uma população de 5.249.000
homens e 5.455.000 mulheres (isto é, 49% homens e 51% mulheres), a
proporção de 3,5% mulheres e 96,5% homens, respectivamente, acima
indicada, causa impressão ( Criminalidade Feminina, in Rev. da OAB-RJ, Ano
VI, voI. VIII, 1980, ps. 28 e segs.).
Para Lombroso, as mulheres seriam organicamente mais conservadoras do
que os homens, devido sobretudo à imobilidade do óvulo, comparada à
mobilidade do espermatozóide; mais passivas, tenderiam menos ao crime do
que os homens.

Por seu turno, Freud entendia que o crime feminino representa uma rebelião
contra o natural papel biológico da mulher e evidencia um "complexo de
masculinidade".
Entretanto, em 1950, Otto Pollack surge com uma nova idéia: a mulher é tão
criminosa quanto o homem; a diferença nas taxas de criminalidade reflete, tão-
somente, o fato de que os crimes cometidos por mulheres são em geral menos
detectáveis do que aqueles cometidos por homens. Ademais, mesmo quando
descobertos, os crimes femininos são menos freqüentemente relatados às
autoridades e, quando relatados, há menor chance de que as mulheres sejam
levadas a tribunais e consideradas culpadas, não oferecendo, porém, o
mencionado autor, dados estatísticos confiáveis, para a comprovação de suas
assertivas.
Estudos mais recentes, entretanto, trouxeram à baixa fatores sócio-estruturais,
com argumentos e dados plausíveis.
Em geral, sustenta-se que as mulheres cometem menos crimes porque o seu
estilo de vida apresenta-Ihes menos oportunidades para delinqüir: mais afeitas
às lides domésticas e menos expostas às pressões econômicas, já que a
responsabilidade pela obtenção de recursos necessários à manutenção da
família tende a recair mais sobre os homens, as mulheres estão menos sujeitas
ao crime. Além disso, verificou-se também que na faixa de idade em que,
hipoteticamente, as mulheres estariam ocupadas com os cuidados de seus
filhos menores, há menor incidência na prática de delitos.

Nessa ordem de idéias, as análises das tendências verificadas nas taxas


de criminalidade nos últimos anos parecem indicar que, à medida que há maior
participação feminina na força de trabalho e maior igualdade juridico-política
entre os sexos, a participação da mulher nas estatísticas criminais tende a
crescer. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre 1960 e 1972, o número de
detenções para mulheres aumentou três vezes mais rapidamente do que para
os homens. No Canadá, essas detenções duplicaram, num período de nove
anos. Na Índia, o número de presidiárias quadruplicou entre 1962 e 1965. No
Brasil, entre 1957 e 1971, as condenações de mulheres cresceram duas vezes
mais rapidamente do que as de homens, e, paralelamente, a participação da
mulher brasileira na população economicamente ativa passa de 14,7% em
1950, para 17,9% em 1960, e finalmente, 21,0% em 1970 (Julita Lemgruber )
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Bibliografias auxiliares

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SEDICIOSOS: crime, direito e sociedade. Rio de Janeiro:Freitas Bastos, 2000.
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ZAFFARONI, Eugenio Raúl. MANUAL DE DIREITO PENAL BRASILEIRO:
PARTE GERAL. /Eugenio Raúl Zaffaroni, José Henrique Pierangeli. 2ª ed.
Revista e atualizada. São Paulo:Revista dos Tribunais, 1999 – (RT Didáticos).
LEITURAS COMPLEMENTARES

ARTIGOS

1) AS VERTENTES DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA


Edmundo Oliveira

2) REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA CRIMINAL


Silena Jaime

3)O PAPEL DO CONFLITO, DA COERÇÃO E DO CONSENSO NA


ESTRUTURAÇÃO DA SOCIEDADE
Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro

4)POLÍTICA CRIMINAL, CONSTITUIÇÃO E PROCESSO PENAL: RAZÕES


DA CAMINHADA BRASILEIRA PARA A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO
CAOS”
Maurício Zanoide de Moraes

5) TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS: E SE A PEDRA VEM DE


DENTRO?
Lélio Braga Calhau

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