Você está na página 1de 104

Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Formação de Conselheiros Nacionais


Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO DE CONTAGEM/MG

Pedro Schettini Cunha

BELO HORIZONTE
2010
PEDRO SCHETTINI CUNHA

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO DE CONTAGEM/MG

Monografia apresentada como requisito para


titulação do Curso de Especialização em
Democracia, República e Movimentos Sociais,
da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
- UFMG.

Orientador: Prof. Roberto Rocha Coelho Pires.


Tutor: Prof. Sandro Amadeu Cerveira

BELO HORIZONTE
2010
PEDRO SCHETTINI CUNHA

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO DE CONTAGEM/MG

Monografia apresentada à Faculdade de


Filosofia e Ciências Humanas da UFMG,
como requisito parcial para obtenção do Título
de Especialista em Democracia, República e
Movimentos Sociais.

Orientador: Prof. Roberto Rocha Coelho Pires.


Tutor: Prof. Sandro Amadeu Cerveira

Aprovado em 28 de abril de 2010

BANCA EXAMINADORA

Prof. Leonardo Avritzer – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Prof. Roberto Rocha Coelho Pires – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos colegas Gil, Dalbo e Lena do OP de Contagem, pela dedicação e empenho em
levantar e disponibilizar os dados utilizados nesse trabalho, o que foi essencial à concisão e
veracidade dos elementos e análises desenvolvidos. Exprimo ainda meu reconhecimento à
Prefeita Marília Campos que possibilitou, através da execução de seu projeto de governo, o
oferecimento à comunidade acadêmica de um objeto de pesquisa riquíssimo na área da ciência
política. Agradeço também ao Roberto pelo apoio, orientação e reconhecimento, ao longo
dessa etapa de elaboração e apresentação do estudo de caso de Contagem, cujos conselhos e
recomendações elevaram consideravelmente a qualidade e a precisão do trabalho
desenvolvido. Por fim, agradeço aos meus pais, que colaboraram com meus estudos, com
ensinamentos e dicas valiosos para realizar o curso de pós-graduação de forma satisfatória, e
certamente à Priscila e ao Theo, que no meio desse turbilhão de acontecimentos ao longo de
quase dois anos de estudos me compreenderam, incentivaram e abriram mão de alguns
momentos familiares para que eu pudesse alcançar mais esta vitória.
“O OP corresponde à constituição de fóruns deliberativos, em nível público e local,
para alocação de recursos orçamentários municipais, em que são apresentadas as
demandas dos setores desfavorecidos por uma distribuição mais justa dos bens
públicos nas cidades” (AVRITZER apud MARQUETTI, CAMPOS E PIRES. 2008.
P-56).
RESUMO

Trata-se de um estudo que busca identificar os elementos teóricos da democracia participativa


no estudo de caso realizado sobre o Orçamento Participativo (OP) do Município de Contagem
(Minas Gerais – Brasil), identificando ainda o OP adequadamente como uma ferramenta de
gestão pública, e sua capacidade em auxiliar o Estado na efetiva solução de problemas sociais.
Complementarmente, busca-se identificar na experiência participativa de Contagem, sua
contribuição para a busca de uma justiça social ampliada e no atendimento dos anseios sociais
por igualdade. Para isso foi levantado o histórico político, social e econômico da cidade em
que ocorre a experiência, apresentando ainda a conjuntura atual, e suas influências sobre essa
experiência participativa, em seguida detalhou-se a estrutura formal de existência e de
funcionamento do OP, analisando-se em seguida impactos dos fatores internos e externos ao
OP em seus resultados redistributivos, para enfim debater a contribuição desse caso estudado
para o resultado das relações democráticas desejadas pela sociedade.

Palavras-chave: Democracia Participativa. Orçamento Participativo. Contagem. Processo


Deliberativo. Justiça Social Ampliada. Redistribuição de Recursos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos


Deliberados (2005). .................................................................................................................. 61

Figura 2 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos


Disponibilizados (2007). .......................................................................................................... 64

Figura 3 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos


Deliberados (2007). .................................................................................................................. 64

Figura 4 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos


Disponibilizados (2009). .......................................................................................................... 65

Figura 5 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos


Deliberados (2009). .................................................................................................................. 65

Figura 6 – Mapa das Unidades de Planejamento do Município de Contagem. Fonte: Caderno


de Obras - Orçamento Participativo de Contagem 2005 .......................................................... 89

Figura 7 – Mapa das Regiões Administrativas do Município de Contagem. Fonte: Caderno de


Metodologia - Orçamento Participativo de Contagem 2010/2011 ........................................... 90

Figura 8 - Mapa de renda per capita dos municípios próximos a Contagem. Fonte: Servidor de
Mapas. Observatório das Metrópoles. ...................................................................................... 91

Figura 9 - Mapa de quantidade de habitantes dos municípios próximos a Contagem. Fonte:


Servidor de Mapas. Observatório das Metrópoles.................................................................... 92

Figura 10 - Mapa de Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios próximos a


Contagem. Fonte: Servidor de Mapas. Observatório das Metrópoles. ..................................... 93

Figura 11 - Mapa de Renda Per Capita do Município de Contagem. Fonte: ADH-RMBH.


Fundação João Pinheiro ............................................................................................................ 94

Figura 12 - Mapa de densidade demográfica do município de Contagem. Fonte: ADH-RMBH.


Fundação João Pinheiro ............................................................................................................ 95

Figura 13 - Mapa de Índice de Desenvolvimento Humano do Município de Contagem,


conforme critérios do ADH-RMBH da Fundação João Pinheiro. ............................................ 96
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do Município de Contagem. Fonte:


IBGE ......................................................................................................................................... 28

Quadro 2 - Posição do Município de Contagem em Ranking Nacional. Fonte: IBGE ............ 29

Quadro 3 – Estrutura Geográfica em que se aplicaram os critérios de participação e


redistribuição de recursos. ........................................................................................................ 32

Quadro 4 – Regras gerais de Funcionamento do OP. ............................................................... 43

Quadro 5 – Regras e Bases de funcionamento das representações nas dinâmicas do OP. ....... 44

Quadro 6 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 1ª Rodada de


reuniões. .................................................................................................................................... 46

Quadro 7 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 2ª Rodada de


reuniões. .................................................................................................................................... 47

Quadro 8 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 3ª Rodada de


reuniões. .................................................................................................................................... 48

Quadro 9 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: Congresso do


Orçamento Participativo, posteriormente chamado de Encontro Municipal de Prioridades
Orçamentárias. .......................................................................................................................... 49

Quadro 10 – Valores de referência da análise estatística para aceitação do modelo de


regressão: .................................................................................................................................. 60

Quadro 11 – Informações Orçamentárias Municipais Totais em Reais (R$). Fonte: LOAS e


Relatórios de Prestação de Contas Anuais de 2006 a 2010. ..................................................... 67

Quadro 12 – Informações do Orçamento Municipal de Investimentos em Reais (R$). Fonte:


LOAS e Relatórios de Prestação de Contas Anuais de 2006 a 2010. ....................................... 68

Quadro 13 – Desdobramento do Orçamento Municipal de Investimentos nas ações correlatas


às do OP em Reais (R$). Fonte: LOAS e Relatórios de Prestação de Contas Anuais de 2006 a
2010. ......................................................................................................................................... 68

Quadro 14 – Informações orçamentárias resumidas do OP – Destinação de Recursos. Fonte:


Cadernos de Intervenções do OP e Portaria 002/2005 da Secretaria Municipal de
Planejamento. ........................................................................................................................... 69

Quadro 15 – Informações orçamentárias resumidas do OP – Deliberação de Recursos. Fonte:


Cadernos de Intervenções do OP e Portaria 002/2005 da Secretaria Municipal de
Planejamento. ........................................................................................................................... 70

Quadro 16 – Recursos deliberados por área de política pública............................................... 71


8

Quadro 17 – Distribuição regional dos recursos previamente disponibilizados para o OP em


Reais (R$). ................................................................................................................................ 72

Quadro 18 – Distribuição regional dos recursos deliberados no OP em Reais (R$). ............... 72

Quadro 19 - Recursos deliberados na 1ª edição do OP geridos pela Secretaria Municipal de


Obras. ........................................................................................................................................ 74
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de Habitantes e Renda Percapita das Regiões Administrativas ........... 51

Tabela 2 – Correlação entre as vaiáveis analisadas na fase de disponibilização ...................... 58

Tabela 3 – Correlação entre as vaiáveis analisadas na fase de deliberação .............................. 58

Tabela 4 - Coeficientes de Regressão para explicação dos recursos distribuídos nas edições do
OP em Contagem. ..................................................................................................................... 61

Tabela 5 – Resumo dos resultados de regressões lineares múltiplas de recursos previamente


destinados. ................................................................................................................................ 62

Tabela 6 – Resumo dos resultados de regressões lineares múltiplas de recursos deliberados . 63

Tabela 7 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre o Orçamento


Municipal Total. ........................................................................................................................ 68

Tabela 8 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre o Orçamento


Municipal de Investimentos. .................................................................................................... 69

Tabela 9 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre as ações correlatas


ao Orçamento Municipal de investimentos, cujo desdobramento envolve obras, instalações,
aquisições de imóveis, equipamentos e material permanente. ................................................. 69

Tabela 10 – Intervenções deliberadas por área de política pública .......................................... 70

Tabela 11 – Distribuição do equipamento público – Área da Educação. Fonte: Fundação de


Ensino de Contagem e Portal da Prefeitura Municipal de Contagem. ..................................... 89

Tabela 12 – Distribuição do equipamento público – Área da Saúde I. .................................... 97

Tabela 13 – Distribuição do equipamento público – Área da Saúde 2. .................................... 97

Tabela 14 – Resumo da regressão linear simples entre recursos disponibilizados e IQVP na 2ª


edição do OP ............................................................................................................................. 98

Tabela 15 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados e IQVP na 2ª edição do


OP. ............................................................................................................................................ 98

Tabela 16 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados e


IQVP na 2ª edição do OP. ......................................................................................................... 98

Tabela 17 – Resumo da regressão linear simples entre recursos disponibilizados e IQVP na 3ª


edição do OP ............................................................................................................................. 98

Tabela 18 - Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados e IQVP na 3ª edição do


OP. ............................................................................................................................................ 99

Tabela 19 - Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados e


IQVP na 3ª edição do OP. ......................................................................................................... 99
10

Tabela 20 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos disponibilizados, Número de


Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP ................................................................. 99

Tabela 21 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e


Renda Per Capita, na 3ª edição do OP ...................................................................................... 99

Tabela 22 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados,


Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP ............................................ 100

Tabela 23 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos disponibilizados, Número de


Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP ............................................................... 100

Tabela 24 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e


Renda Per Capita, na 2ª edição do OP .................................................................................... 100

Tabela 25 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados,


Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP ............................................ 100

Tabela 26 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de


Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP ............................................................... 101

Tabela 27 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e


Renda Per Capita, na 3ª edição do OP .................................................................................... 101

Tabela 28 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número
de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP .......................................................... 101

Tabela 29 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de


Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP ............................................................... 102

Tabela 30 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e


Renda Per Capita, na 2ª edição do OP .................................................................................... 102

Tabela 31 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número
de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP .......................................................... 102

Tabela 32 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de


Habitantes e Renda Per Capita, na 1ª edição do OP ............................................................... 103

Tabela 33 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e


Renda Per Capita, na 1ª edição do OP .................................................................................... 103

Tabela 34 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número
de Habitantes e Renda Per Capita, na 1ª edição do OP .......................................................... 103
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12

2. O CONTEXTO DE INSERÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM CONTAGEM. .... 16

2.1. HISTÓRIA POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL DO MUNICÍPIO. .................................. 16

2.2. ESTRUTURA SÓCIO-ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE CONTAGEM. .......................... 28

2.3. CARACTERÍSTICAS DAS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE CONTAGEM ................... 33

3. INSTITUIÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM CONTGEM. ................................ 37

3.1. ESTRUTURAS DE SUPORTE AO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO PROMOVIDA


PELA PREFEITURA. ............................................................................................................... 37

3.2. REGRAS DE FUNCIONAMENTO DO OP.......................................................................... 42

4. A IMPORTÂNCIA DO PAPEL REDISTRIBUTIVO NA DEFINIÇÃO DO GRAU DE


PARTICIPATIVIDADE DO OP. ................................................................................................ 54

4.1. FATORES INTERNOS AO PROCESSO DO OP QUE INFLUENCIAM NA


REDISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS. ..................................................................................... 57

4.2. FATORES EXTERNOS AO PROCESSO DO OP QUE INFLUENCIAM NA


REDISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS. ..................................................................................... 66

5. O OP PODE PROMOVER A JUSTIÇA SOCIAL? .................................................................. 77

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 84

APÊNDICE ............................................................................................................................... 89
12

1. INTRODUÇÃO

As experiências de Orçamento Participativo (OP) em Porto Alegre e em Belo


Horizonte foram introduzidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com as entradas do partido
nos Poderes Executivos Municipais após a ditadura militar. Em Porto Alegre, iniciou-se em
1989 e em Belo Horizonte, em 1993. Ambas as experiências ainda continuam sendo as
principais marcas das gestões municipais petistas nessas cidades e já foram objeto de vários
estudos científicos, tornando-se referências para estudos em outras capitais, ou cidades
menores, ou mesmo, para comparações com outras formas de participação no Brasil e em
outros países.

Dentre as características estudadas encontram-se: prioridades de investimentos;


recursos financeiros; forma de escolha dos delegados e seu perfil socioeconômico;
organização administrativa das prefeituras e as mudanças nela promovidas por força do OP;
papel da burocracia; papel dos delegados do OP ante o dos vereadores; relação da Câmara de
Vereadores com as prefeituras; pesquisas de opinião sobre o OP; efeitos do OP sobre questões
como transparência e accountability dos governos locais e dos gestores públicos; e ainda, a
relação com outras formas de participação envolvendo setores da comunidade que não
participam do OP. (SOUZA, 2009)

A participação pode ter diversos significados para pessoas ou grupos diferentes que
utilizam o termo. Para alguns, a participação é uma ferramenta eficiente de exercício dos
governos; para outros, ela implica na ampliação da justiça social, ou seja, o acesso de pessoas
e grupos historicamente excluídos do processo decisório. Há, ainda, os que consideram a
participação uma retórica de políticos e governantes. O significado da participação, portanto,
é tão diverso como o próprio conceito de participação. Neste trabalho, a postura adotada é
favorável à instrumentalização do Orçamento Participativo, desta forma, o significado mais
próximo aos objetivos traçados é aquele em que a participação é uma ferramenta de exercício
dos governos, cuja eficiência, pode ou não ser ampliada em decorrência das forças políticas
que atuam junto e dentro do OP. Complementarmente, buscar-se-á identificar ao longo do
trabalho o caráter de ampliação da justiça social, que compõe uma dessas definições.

Segundo Grazia de Grazia as variáveis que influenciam na análise dos OPs são:
13

projetos partidários que orientam os governos locais; nível de organização, politização e


mobilização da sociedade civil; contexto sócio-econômico e volume da população local; nível
técnico e complexidade da máquina administrativa; grau de envolvimento do conjunto do
governo; recursos arrecadados pelo município; metodologia aplicada; e relação entre
Executivo e Legislativo locais (2003, p.21). Além destas há outras variáveis, de difícil
mensuração, mas que devem estar em mente para uma ponderação sadia sobre a situação dos
OPs, dentre elas, os históricos de preservação do conhecimento técnico de planejamento, de
resistência à participação social, de disponibilidades orçamentárias, de carências sociais
acumuladas e de impacto na sua confiabilidade devido à interrupção dos ciclos de
participação.

Os estudos sobre participação, no Brasil, giram em torno principalmente das


experiências classificadas cientifica e consensualmente como participativas. Para o
desenvolvimento destes estudos, a ampliação de informações geradas no campo prático é
essencial, visto que as experiências são tão diversas entre si e ocorrem sobre contextos
também diversos. Os OPs encontram-se entre as experiências de participação mais relevantes
e mais estudadas, e, portanto, a ampliação de informações dos vários OPs tem sido uma
ferramenta útil no desenvolvimento e aprimoramento dos estudos sobre participação.

Por isso, justifica-se o estudo de caso do OP de Contagem, que visa colaborar com
esse desenvolvimento e esse aprimoramento dos estudos sobre participação, ampliando assim,
o leque de informações disponíveis no meio acadêmico sobre as experiências participativas
brasileiras.

A proposta deste trabalho é buscar e estruturar e analisar informações sobre o


Orçamento Participativo do Município de Contagem (Minas Gerais) que contribuam para os
atuais e futuros estudos sobre participação no Brasil. Para isso, a metodologia utilizada é
inspirada naquela utilizada para coleta de informações sobre o Orçamento Participativo de
Belo Horizonte, realizada pelo pesquisador Roberto Pires (MARQUETI, CAMPOS e PIRES.
2008. P 55-76). O estudo é baseado em uma análise documental e dialoga com a
fundamentação teórica e com outros estudos de caso levantados em pesquisa bibliográfica.
São realizados ainda testes estatísticos, entrevistas e analises conjunturais para auxiliar na
interpretação dos fenômenos que se ligam ao OP de Contagem.

Em detrimento da eficácia ou eficiência que podem ser pesquisadas sobre o OP, o


objetivo amplo deste estudo é avaliar a efetividade do Orçamento Participativo como
14

ferramenta de gestão pública. Ou seja, verificar se o OP auxilia o Estado no atendimento das


necessidades da sociedade independentemente dele realizar todas as obras e intervenções a
que se propõem ou dele maximizar o aproveitamento dos recursos públicos que mobiliza.
Para isso, buscar-se-á especificamente:

a) apresentar a heterogeneidade e a influência do contexto político, social e econômico


em que se realiza a experiência participativa, bem como o peso, nesse contexto participativo,
da história dessas relações políticas, sociais e econômicas ao longo da formação da sociedade
de Contagem;

b) descrever o funcionamento estrutural do OP de Contagem, com isso, identificando


as relações de dependência e cooperação com a estrutura estatal, identificando como isso afeta
as relações de poder na sociedade que experimenta a participação através do OP;

c) identificar a eficácia redistributiva do OP, avaliando dessa forma o impacto real


sobre os recursos públicos, os critérios adotados, as forças políticas mensuráveis e a relação
entre os resultados redistributivos e a formação cidadã;

d) apresentar o OP como uma ferramenta essencialmente participativa, promotora do


exercício da cidadania e da educação cidadã. Verificando se atende ao anseio de igualdade
social, contrapondo-se às necessidades das elites capitalistas ou se são adaptações às relações
sociais sem mudanças significativas na estrutura do sistema social.

e) Identificar se a experiência de Contagem corrobora com a idéia de que a


participação é uma impulsionadora da sociedade em busca do ideal democrático.

O trabalho inicia-se apresentando o contexto político, econômico e social em que se


insere o OP de Contagem, remontando a história desses elementos na cidade de Contagem até
os dias atuais, e como esses fatores influenciam na experimentação do OP pela população
local. Em seguida verifica-se a organização administrativa do município em regiões e quais
são as principais características dessas regiões, que batalham pelos recursos disponibilizados
através do OP.

Em um segundo momento é apresentada a estrutura de suporte ao OP, como a


Prefeitura promove seu funcionamento e estimula a participação dos cidadãos. Em seguida
são apresentadas as regras de funcionamento do OP e analisados quais elementos desse OP
contribuem para a ampliação da participação.

No terceiro momento, são analisados os efeitos redistributivos do OP de Contagem,


15

verificando os elementos internos (regras, estrutura própria e outros) e externos (contexto,


outras estruturas da prefeitura etc.) que culminam nessa redistribuição e que benefícios ou
malefícios trazem ou podem trazer para a sociedade.

Por fim discute-se a contribuição da experiência participativa de contagem para a


ampliação da justiça social e o atendimento do anseio de igualdade que existe na sociedade
democrática, dialogando-se com a literatura selecionada e com os resultados obtidos nesse
estudo de caso.
16

2. O CONTEXTO DE INSERÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM


CONTAGEM.

2.1. HISTÓRIA POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL DO MUNICÍPIO.

Para entender o contexto funcional da experiência do OP no Município de Contagem é


essencial compreender o contexto político em que o município está inserido, bem como a
carga histórica das relações políticas que acarretaram em uma série de características, próprias
dos cidadãos locais. Estas características são relevantes para a compreensão das ações e
reações da população diante de propostas inovadoras no seu relacionamento com o Estado,
propostas essas que acarretam mudança no papel de cidadão, que antes era o alvo das políticas
públicas, passando então, ainda que de forma limitada, a ser co-autor.
A história política, econômica e social de Contagem tem sido marcada, desde sua
criação, pela forte influência de alguns grupos familiares. Ainda na época do Império, com
escriturações que datam de 1716, foi instalado o Posto de Registro Fiscal, na região do atual
município de Contagem, no Sítio das Abóboras (onde fica a atual Região Administrativa
Sede), por Dom Brás Baltasar. O Posto tinha a função de controlar as mercadorias e o ouro
que circulavam na sesmaria do capitão João de Sousa Souto Maior. A sesmaria se situava na
Comarca do Rio das Velhas, cuja sede era a Vila de Sabará (que se tornaria Município mais
tarde, com o mesmo nome), comarca esta criada logo após a Guerra dos Emboabas (1707-
1709). Sua extensão territorial era a maior da Capitania das Minas, atingindo o que hoje seria
o triângulo Mineiro e, ainda, o município de Paracatu, no então chamado Grande Sertão
Brasileiro (FOLHA DE CONTAGEM 06/09/2006 e CONTAGEM, Atlas 2009). No entanto,
com a descoberta de novos caminhos de comércio, houve a desativação do Registro em 1759,
interrompendo o ciclo desenvolvimentista da área, sem impedir que o Arraial de São Gonçalo
de Contagem continuasse existindo.
Em 1838, inaugurou-se a educação formal no arraial de São Gonçalo de Contagem,
quando foi construída a primeira escola pública1, dirigida pelo pioneiro da família Camargos
(que daria início a aristocracia local), o Padre Antônio de Sousa Camargos, que teria chegado

1
Mas foi somente em 1872 que as mulheres do arraial começaram a ter algum direito à cidadania, com a
primeira "Cadeira de Inscrição Primária para o Sexo Feminino", figurando o ingresso das mulheres no mundo
escolar.
17

cinco anos antes. Em 1848, o primeiro médico que se instalou no arraial, Cassiano Nunes
Moreira, se elegeu vereador, representando Contagem na Câmara de Sabará, e posteriormente
foi deputado da província2 por duas legislaturas, sendo um político importante na luta pela
emancipação de Contagem.
Em 1854, o arraial foi elevado à categoria de paróquia, desmembrando-se da paróquia
do Curral Del Rey, à qual se reportava anteriormente, sendo que o Padre Antônio de Sousa
Camargos se tornou Pároco de Contagem.
Em 1880, nascia Arthur Camilo Silvério, filho de escravos e cidadão livre nos termos
da Lei do Ventre Livre, que seria mais tarde o patriarca da comunidade quilombola dos
Arturos, o que foi possível com a aquisição, em 1888 (ano da abolição da escravatura), de 6,5
hectares de terras a poucos quilômetros do arraial de Contagem com as economias de seu pai.
Mesmo livres, os Arturos foram vítimas de violência física e continuaram marginalizados da
política e da economia de Contagem, situação que perdura veladamente até os dias atuais
(Comissão Pró-Índio de São Paulo s/d).
Em 1890, um ano após a Proclamação da República, com o crescimento da atividade
pecuarista, a paróquia do Curral Del Rey ganha destaque e influência política, enquanto a
sede mineradora de Sabará entrava em decadência com o esgotamento das minas, o que deu
mais poder aos pecuaristas que propuseram a mudança de nome do arraial para Belo
Horizonte. O entreposto de Contagem, que antes se ocupava do trânsito dos escravos, do ouro
e de outros minérios, passou a se ocupar com o gado que transitava entre Belo Horizonte e
São Paulo. Essa mudança de nome do arraial foi acompanhada da mudança na vida política da
região mineradora de Sabará para a região pecuarista do antigo Curral Del Rey, aproximando
Contagem de um dos principais centros políticos das Minas Gerais. No mesmo ano, é
emancipado o Município de Santa Quitéria (atual Esmeraldas) e o distrito de Contagem é

2
Após 1821, com a proclamação da Independência, a população brasileira passou a eleger 72 representantes que
compunham uma Câmara junto à Corte Portuguesa no Brasil, transferida de Portugal 13 anos antes. Até então, só
existia voto para as Câmaras de cada Comarca, que eram “órgãos fundamentais no gerenciamento de boa parcela
senão do comércio, ao menos da defesa e das rendas - tributos e donativos - impostos pela metrópole, [ou seja,
Portugal]” (Bicalho, 1998). As eleições locais ocorriam em quatro graus: os cidadãos (até os analfabetos) das
províncias votavam em outros eleitores, os compromissários, que elegiam os eleitores da Paróquia, que, por sua
vez, escolhiam os eleitores da Comarca. Estes, finalmente, elegiam os deputados membros das Câmaras de cada
Comarca. As Câmaras tinham atribuições conferidas ao atual Poder Executivo na gestão das coisas públicas, e
mesmo ao do atual Poder Legislativo no tratante exclusivo da matéria de impostos que não fossem os imperiais.
Mas havia fidalgos (governadores, procuradores, ouvidores, juízes locais, almotacéis e até mesmo membros das
Câmaras, além de outros), que eram mandatários do Rei e realizavam atividades públicas, cujo principal papel,
identificado por Bicalho (1998), era fiscalizar a arrecadação das Câmaras e o recolhimento aos cofres imperiais,
além de realizar a Justiça Real. Em 1881, as eleições para deputados em todas as comarcas do Brasil passaram a
ser por voto direto, com a criação do título de eleitor, o que não finalizou com práticas fraudulentas que ocorriam
anteriormente.
18

também desmembrado de Sabará, sendo incorporado à Santa Quitéria, juntamente com os


distritos de Capela Nova (atual Betim) e Várzea do Pantanal (atual Ibirité).
Com o advento da República, as capitais dos Estados passaram a ocupar papel mais
relevante no cenário político e mesmo econômico nacional, junto com o surgimento do voto
de cabresto3. A aristocracia mineira se empoderou e enriqueceu rapidamente, emergindo a
necessidade de se mudar a capital das Minas Gerais, até então Ouro Preto, para uma região
em que a geografia possibilitasse melhores condições de desenvolvimento urbano e
econômico. Com isso, em 1893, Belo Horizonte se tornou capital, acelerando seu
desenvolvimento urbano e de seus distritos, exceto a região mineira de Sabará que estava em
certa estagnação urbana e econômica, de forma que acabou sendo rapidamente emancipada, já
no ano seguinte, acelerando seu processo de pauperização, gerando o grande abismo social
entre as cidades vizinhas.
A nova capital, que contava com quase nenhuma área urbana, pôde ser
minuciosamente planejada e, conseqüentemente, sua construção trouxe muitos recursos e
mão-de-obra para que pudesse receber o aparato administrativo que sairia de Ouro Preto. Esse
período de aceleração econômica e de grandes gastos públicos foi seguido de forte crise
financeira na região, superada na década de 1920, sendo retomado o crescimento, somente na
década de 1930 com a Revolução do Estado Novo, mas, sem o acompanhamento da oferta de
serviços públicos, setor que ainda se recuperava do esgotamento devido aos grandes
investimentos feitos.
A mudança da capital mineira no início do século foi uma promessa de crescimento
para os distritos e cidades próximas e, com isso, várias emancipações começaram a se
processar. A emancipação do município de Contagem ocorreu logo em 1911, desmembrando-
se da capital, e levando consigo quatro distritos4, dentre eles a atual Região Administrativa de
Venda Nova que, muitas décadas depois, foi desanexada, voltando a ser parte do território de
Belo Horizonte. No ano seguinte à emancipação, foi instalada a Câmara de Contagem (poder

3
Voto de cabresto: voto dado pelo eleitor aos candidatos que lhe são inculcados por um chefe político ou cabo
eleitoral, sem que o votante saiba exatamente em quem vota, ou por que vota (FARHAT, Saïd. Dicionário
parlamentar e político: o processo político e legislativo no Brasil. São Paulo: Melhoramentos; Fundação
Peirópolis, 1996. p. 970)
4
Em 1923, a região que hoje é o município de Ribeirão das Neves, e que na época pertencia à Contagem, foi
elevada à categoria de distrito, e no ano seguinte, a Penitenciária da Câmara de Contagem sugeriria ao Secretário
de Agricultura que se instalasse naquele distrito a Colônia Agrícola Penal, que só foi inaugurada durante a
ditadura getulista, em 1938. O distrito foi desanexado em favor do município de Pedro Leopoldo e, emancipado
só no ano de 1953. Com a migração de famílias dos detentos para a região próxima, o município vizinho, ao
longo dos anos, foi se tornando um bolsão de pobreza integrado à região metropolitana de Belo Horizonte.
19

executivo) e, no mesmo ano, nomeado seu intendente, um Coronel da família Mattos (Matos).
Esse foi sucedido por outro Coronel da família Camargos (Camargo), ambos do Partido
Republicano, seguindo a tradição aristocrática dos Coronéis e Majores da República Velha,
dominando e revezando-se entre si, posições nos Poderes locais, por mais de três décadas5.
Com o objetivo de não desmantelar o patrimônio entre os herdeiros, as famílias da
aristocracia casavam seus descendentes entre si, prática que se prolongou até o final do século
XX, ocasionando grande concentração de bens e de poder entre as famílias.
Em 1924, a família Camargos estava no comando do Executivo e
“o então governador do Estado, Benedito Valadares, aborrecido por não ter sido
recebido pelo chefe do Executivo, coronel Augusto Teixeira de Camargos, na
estação de Bernardo Monteiro, decretou o rebaixamento de Contagem à condição
de Distrito, sendo anexado ao Município de Betim” [ 6 ] (Folha de Contagem
06/09/2006).

Em 1949, após 11 anos sem uma Câmara e sem Chefe do Executivo, houve nova
emancipação de Contagem em relação à Betim, sendo nomeado novo intendente que
governaria por apenas três meses, quando então o primeiro prefeito de Contagem da família
Cunha foi eleito pelo voto direto7, já durante o regime militar de exceção brasileiro,
representando a União Democrática Nacional – UDN.
Apesar de a Câmara ser composta por membros da UDN e do Partido Social
Democrático – PSD, a grande maioria era de herdeiros da antiga aristocracia dos coronéis e
majores (cuja composição encontrava membros das famílias Camargo, Diniz, Mattos, Rocha,
Cunha, Belém etc.). Esses eram os que compunham ambos os partidos, e descendiam de
famílias com longo histórico de atuação política, desde antes da emancipação, na Câmara da
antiga Sabará, e continuaram atuando até o período do regime militar, quando passam a perder
força frente à nova aristocracia (desvinculada da esfera municipal e mais vinculada às esferas
estadual e federal), cujos integrantes eram dirigentes das indústrias transnacionais que se
instalariam no município.
5
Este período foi marcado por inovações tecnológicas no Município de Contagem: em 1915 surgiu a imprensa
local, cuja tipografia pertencia ao vigário da cidade, o mesmo que trouxe a primeira sala de cinema, objetivando
converter os recursos arrecadados em reforma da Igreja Matriz e obras sociais; o telefone chegou em 1916, o
primeiro clube social em 1917 e os primeiros automóveis em 1924 (Folha de Contagem 06/09/2006).
6
No entanto, somente depois do fim da República Velha e da política do café-com-leite, em 1938 durante o
regime ditatorial getulista, o Decreto-Lei do governo federal oficializou o rebaixamento, com o texto que criava
o município de Betim e tirava a autonomia de Contagem, rebaixamento concluído com decreto estadual de 1943,
em que se desanexava de Contagem também o distrito de Ibiritê (atual município de Ibirité).
7
Essa primeira eleição, em que já podiam participar as mulheres que tinham conquistado este direto em 1932,
mas até então não puderam exercê-lo, acusou menos de 800 eleitores na cidade, sendo 461 votos do vencedor
contra 307 votos de seu oponente, agora secretos.
20

A proposta de criar um pólo industrial no Estado foi feita durante o IV Congresso


Comercial, Industrial e Agrícola, realizado em Belo Horizonte, em 1935, acompanhando o
ânimo desenvolvimentista que se apresentava no âmbito nacional. Em 1941, com o apoio do
então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, o governador Israel Pinheiro
inaugurou o Sistema de Distritos Industriais de Minas Gerais que seria expandido nas décadas
seguintes, com a chegada de Kubitschek ao governo do estado e em seguida à presidência da
República. A criação do Parque Industrial, mais tarde denominado Cidade Industrial (atual
Região Administrativa do Industrial), em Contagem, próximo à capital, foi a primeira e
principal medida resultante dessa nova política.
Uma das mais importantes indústrias que se instalou no município, já durante a
ditadura militar, foi a Fábrica de Cimentos Itaú Portland, em 1946, e em seguida a Fábrica de
Refratários Magnesita, consolidando a imagem de cidade das indústrias que é a característica
principal do município até hoje. Os trabalhadores que começaram a chegar à região, para
atender à necessidade de mão-de-obra das indústrias, foram se instalando na região próxima
(atuais Regiões Administrativas Riacho e Eldorado que começariam a receber pequenos
comerciantes e industriais nas cercanias das grandes empresas). Neste período8 surgiu o
primeiro Código de Posturas do Município, bem como foi autorizada a elaboração do
primeiro Plano Diretor da Cidade e da primeira planta cadastral.
Por volta dos anos sessenta9, a revolução tecnológica se iniciou e a disponibilidade de
informação aumentou consideravelmente, com isso, as pessoas ao redor do mundo
começaram a se tornar mais críticas quanto ao sistema político e às ações dos governantes, de
forma que a proposta democrática puramente representativa começou a entrar em crise. Isso
possibilitou ainda que indivíduos com interesses comuns aprendessem a se organizar e
mobilizar em movimentos de lutas por vários direitos, criar sociedades civis e outras
estruturas com objetivo de se inserirem no sistema político. Surge então, no seio desses
movimentos, uma nova proposta da teoria participativa articulada com a representação,

8
No que se refere à vida política da cidade, o PSD assumiu a prefeitura em 1953, com Evaristo Belém. Este foi
um "mandato tampão" e um fato notável ocorreu no Legislativo contagense: um violento protesto contra
modificações no território do município, que a Câmara enviou aos membros da Comissão de Divisão
Administrativa e Judiciária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, presidida pelo deputado Heli Figueiredo.
9
O Livro de Atas da Câmara referente ao período de 1956 até 1959 bem como os de 1925 a 1937 extraviou-se,
deixando uma grande lacuna na história local. Mas sabe-se que de 1955 a 1959 a prefeitura estava nas mãos dos
Mattos e de 1959 a 1963 dos Diniz. Os Camargos retornaram ao executivo em 1963, com o Partido Republicano,
e em 1965 ocorre a primeira cassação de mandato de um vereador acusado de participar de reuniões do Partido
Comunista Brasileiro – PCB.
21

justamente para apresentar aqueles espaços e viabilizar ao povo a possibilidade de ação cada
vez mais institucionalizada, retomando parte do poder delegado aos representantes no
momento da eleição. Mesmo enfrentando o problema da escala (pois o Brasil tem proporções
continentais e uma imensa quantidade de cidadãos), da vontade de participar do cidadão (já
que este ocupa muita parte do seu tempo com questões privadas inerentes ao mundo
capitalista), ou mesmo da intensidade da participação (já que mesmo os que participam têm
mais interesse em certos assuntos em detrimento de outros), a proposta da participação intenta
trazer de volta ao povo outras capacidades de exercício da soberania além da eleição.
O mandato de prefeito municipal de Contagem, iniciado em 1967 ficou na mão da
família Matos (Mattos), período em que ocorreu uma grande greve10 (1968), em pleno regime
militar, quando o oposicionista do regime, o presidente eleito do sindicato dos metalúrgicos,
Ênio Seabra, e sua diretoria foram destituídos pelo Ministério do Trabalho antes mesmo de
tomarem posse. A greve tinha sido coordenada através de uma intrincada rede de
relacionamentos entre movimentos sociais de Minas Gerais, São Paulo e da França, de forma
que no mesmo período estourou greve no município de Osasco, além da grande greve
francesa que atingiu todos os seus setores.
Enquanto isso, no mesmo período, o município vizinho de Betim recebia a instalação
da Refinaria Gabriel Passos, novo pólo de concentração populacional, atingindo a fronteira
com Contagem. Nessa região fronteiriça, um loteamento privado cresceu desordenadamente
englobando os dois municípios (atual Região Administrativa Petrolândia).
Os Camargos, através do Partido Republicano reassumiram o Executivo de Contagem
em 1971, como “mandato tampão” expandindo as redes de água e luz na cidade e trazendo
outra grande onda desenvolvimentista impulsionada pelos militares. No município, surgiu
uma fundação pública chamada Centro Industrial de Contagem – CINCO (instalado na
Região Administrativa Eldorado), cujo objetivo era incentivar e apoiar a instalação de
empresas no seu entorno. Esperava-se instalar no município 100 novas fábricas e gerar mais
de 20 mil novos empregos, iniciando um movimento de transformação no centro de comércio
e serviços no município, com 40% dos recursos repassados pelo então Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico – BNDE (Atual Banco Nacional de Desenvolvimento

10
A greve se iniciou no setor de trefilação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, com cerca de 1.200
trabalhadores. A paralisação se expandiu às demais seções da Belgo-Mineira e chegou a outras indústrias de
Contagem e expandiu para outros municípios, atingindo indústrias como a Mannesmann, a SBE, a Belgo de João
Monlevade e a Acesita. No total, a mobilização envolveu aproximadamente 16 mil trabalhadores, acabando cerca
de dez dias depois, com acordo de aumento salarial fechado com o Ministro Trabalho, Jarbas Passarinho, depois
da intervenção policial-militar na cidade e de ameaças de “guerra” do governo. Dois meses depois, o aumento foi
estendido a todos os trabalhadores do país (Revista Fórum, edição 67, abril/2008).
22

Econômico e Social – BNDES) e 60% da própria Prefeitura de Contagem. No mesmo ano, o


governo do Estado criou o entreposto das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais -
CEAM (atual CEASA - Minas, localizada na atual Região Administrativa Ressaca), empresa
de economia mista responsável por oferecer suporte ao comércio de hortigranjeiros e principal
Centro de Distribuição do Estado, cujo funcionamento se iniciou em 1974, e hoje responde
sozinha por um PIB próximo ao do 7º maior município do Estado.
Este é o período em que os movimentos sociais começam a se consolidar e ganhar
força, os quais, independentemente de suas lutas e reivindicações específicas, passaram a ter
um “inimigo” em comum: o regime militar. Houve, no Município, articulação entre
Associações de Moradores, Grupos de Jovens, Movimentos da Igreja Católica, Movimentos
por regularização e construção de moradias populares e os movimentos considerados, nesta
época, como subversivos, como o Movimento de Emancipação do Proletariado e o Partido
Comunista.
O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) chega ao Executivo municipal, em
1973, com Newton Cardoso11, quebrando parcialmente o ciclo das famílias aristocráticas
locais (parcialmente, pois entrou no poder em aliança com algumas dessas famílias).
De 1973 até 1989, Newton Cardoso revezou com seus correligionários (da família
Mattos) no comando da Prefeitura e na presidência da Companhia Urbanizadora de Contagem
(CUCO), Empresa Pública criada com a finalidade de oferecer infra-estrutura urbana, e
especialmente vender terrenos para as indústrias, no intervalo entre os dois mandatos que teve
à época. A relação entre a Administração Municipal e os movimentos sociais foi conturbada,
sendo um período truculento, em que a população era retirada de locais invadidos para ser
realocada em porções territoriais desprovidos de equipamento público, como gado que é
manejado de uma área de pasto para outra que seja mais conveniente ao seu proprietário
fazendeiro (entrevistas com servidores da Secretaria Adjunta do Orçamento Participativo de

11
Oriundo da aristocracia baiana, tinha sido Assessor dos Camargos, com atribuições de Secretário de Obras,
durante a criação do CINCO. Sua vida política foi cunhada dentro de movimentos estudantis e da gigante
Magnesita, tornando-se um grande empresário. A formação de sua fortuna acompanhou o período em que
comandou o Executivo de Contagem e, em seguida, o Executivo estadual (série de reportagens do jornal Estado
de Minas junho de 1989). Na sua gestão, Cardoso criou a Fundação de Ensino de Contagem (FUNEC), cujo
objetivo era promover o ensino técnico profissionalizante para atender a necessidade de mão-de-obra
especializada da grande área industrial. Na área da Saúde, criou a Fundação de Assistência Médica de Contagem
(FAMUC), enquanto na Urbanização, criou a grande Avenida João César de Oliveira, ligando a sede
administrativa à região industrial e ao longo da qual se estabeleceu a mais importante zona de comércio e
serviços do município. Por volta de 1974 o bairro Eldorado se tornou o principal centro comercial e de serviços
(atual Região Administrativa do Eldorado), situado entre a sede administrativa e a região em que se instalaram as
recém chegadas indústrias (entre as atuais Regiões Administrativas Sede e Industrial).
23

Contagem, 2009).
O período político seguinte é comandado por Ademir Lucas, do Partido da Social-
Democracia Brasileira (PSDB), ex-advogado de Newton Cardoso, que rompeu com ele após
divergências políticas e pessoais. Cumprindo promessa de campanha eleitoral, extinguiu o
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), com conseqüente prejuízo anual estimado aos
cofres municipais de setenta milhões de reais. Extremamente populista, o governo Ademir foi
marcado por uma grande atenção dada aos cidadãos, que eram recebidos e visitados pelo
próprio prefeito. A relação desenvolvida entre administração e cidadãos contou com aspectos
clientelistas e no envolvimento pessoal entre cidadãos e políticos, em especial com o próprio
prefeito. Ademir Lucas retornou logo após o mandato de seu sucessor do próprio PSDB,
Altamir José Ferreira, garantindo o poder dos tucanos até 1996 (entrevistas com servidores da
Secretaria Adjunta do Orçamento Participativo de Contagem, 2009).
As décadas de 1980 e de 1990 foram marcadas no mundo inteiro pela revolução dos
meios de comunicação e de produção, com acelerado desenvolvimento tecnológico e um
impacto muito forte nas relações de trabalho. Além dessa revolução, o Brasil passava pelo
período de redemocratização, e o “inimigo” comum que unia os movimentos sociais deixava
de existir. Foi um período de desarticulação, mas ao mesmo tempo, de inserção de alguns
atores desses movimentos no ciclo decisório. Abriu-se espaço para novas formas de expressão
popular, as Organizações Não Governamentais ganharam espaço, e o tema do meio ambiente
passou a dominar a transversalidade daqueles movimentos sociais que continuaram a possuir
alguma força.
Passada a euforia da redemocratização e com a nova Constituição Federal em vigor,
Newton Cardoso não contava com uma ideologia e apoio popular fortes ao seu favor. Então,
em 1997, reatou os laços com as famílias da aristocracia local que propiciaram sua primeira
inserção política, voltando ao comando do Executivo pelo PMDB. Em 2001, Ademir Lucas
volta com o PSDB ao poder, dessa vez estabelecendo aliança com as famílias da antiga
aristocracia (Diniz), permanecendo até 2004. Esse mandato foi marcado por denúncias de
nepotismo, beneficiamento de empresas em contratações públicas e de depreciação da
máquina e dos servidores públicos. Foi no meio do último ano de seu governo, que
influenciado pelo sucesso do OP de Belo Horizonte que existia desde 1993 (Orçamento
Participativo de Belo Horizonte 15 Anos, Prefeitura de Belo Horizonte, 2008), instituiu o
Decreto Municipal 11.311, criando o Pró-Contagem, um programa de Orçamento
Participativo Municipal, que não chegou a ser executado pela sua equipe.
24

O ano seguinte foi aquele em que o PT ganhou enorme projeção nacional, tendo
empossado o sindicalista Lula como Presidente da República e conquistando as prefeituras de
diversos municípios pelo país, inclusive Contagem, com Marília Campos. Sua reeleição,
quatro anos depois, foi assegurada também através de alianças estabelecidas com
descendentes das antigas famílias aristocráticas (famílias Mattos e Diniz) e da nova classe de
políticos, tanto de esquerda quanto de direita, que passaram a compartilhar os Poderes
Executivo e Legislativo (Guedes, Filaretti, Antunes, Chiodi etc.) (Portal da Prefeitura de
Contagem).
A chegada de Marília Campos ao poder Executivo foi marcada por iniciativas de
alteração no padrão de administração municipal, no sentido de implantar iniciativas que
propiciassem maior envolvimento da população com a gestão pública. Em decorrência desse
contexto, a Administração petista tem buscado durante esses anos, fortalecer os meios de
controle social e a articulação entre os atores das bases sociais. Dentre suas propostas,
encontra-se cursos de formação de delegados e conselheiros, capacitação de membros de
conselhos e divulgação dos mecanismos de funcionamento da máquina pública objetivando a
promoção da cidadania. As medidas já efetivadas são a criação de uma enorme gama de
conselhos municipais (de gestão, de fiscalização, consultivos e normativos), além do “Jogo do
OP” e do Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e Cultural do Município de Contagem, ambos
distribuído nas escolas públicas. São realizados, ainda, fóruns municipais de políticas públicas
em suas áreas temáticas, além da criação de canais de comunicação facilitada entre cidadãos e
os setores de prestação de serviços públicos municipais.
No Poder Legislativo, observou-se uma renovação na Câmara que se iniciou nas
eleições de 1992, com a entrada de sindicalistas e representantes oriundos de movimentos
estudantis que se destacaram durante a ditadura militar, iniciando a formação de uma nova
classe política desvinculada da propriedade de terras e de indústrias. A vereadora Letícia da
Penha, articuladora dos movimentos sociais na década anterior, iniciou um movimento de
modificação no Poder Legislativo, acompanhada de outros vereadores que compartilhavam
essa visão, inseriram projetos de leis com caráter participativo e que permitiram mais controle
social, em parte cumprindo determinações da recém Constituição de 1988 e em parte
exprimindo as bandeiras de lutas da classe política que os elegeram.
Ao longo das eleições que se seguiram até 2008 quase não se viu representação das
famílias da antiga aristocracia na Câmara, apenas dos Diniz, além de um ou outro herdeiro
que não deu continuidade aos antigos nomes das famílias. Por outro lado, as famílias da nova
25

classe de políticos, passaram a lutar para se manter em cadeiras da Câmara através de


gerações. No entanto, como o Brasil de hoje possui regras mais democráticas de ocupação do
poder, esta luta é mais árdua, ocorrendo importantes ondas de renovação ao longo destas duas
décadas de eleições (TSE e TRE-MG).
Com a força corporativista adquirida pelo PT em todo o país ao longo da década de 90,
e com um longo histórico de ideologias políticas solidificadas e bem fundamentadas
(trabalhistas, sociais, econômicas e assistenciais), a consolidação do PT nos poderes das
diversas esferas (chefia do Executivo e maiorias nos Legislativos de vários estados e
municípios), possibilitou a colocação em prática de uma enormidade de propostas, com maior
potencial de empoderamento popular em consonância com as concepções contra-
hegemônicas12 de democracia, trazendo para o cotidiano termos como participação,
transparência, governança, accountability, e reascendendo discussões como listas abertas e
fechadas de votos para o Legislativo, o voto distrital, equidade e composição tripartite de
institutos deliberativos sobre políticas públicas e outras de cunho essencialmente
democráticas.
No que se refere aos processos de mobilização popular, desde o ano de 2000 já se
observava a descontinuidade nas articulações dos movimentos sociais, perda de força das
classes operárias (com exceção dos correligionários do PT) e atuação solitária das
Associações de Bairro junto às suas comunidades e nas relações com a Administração
Pública. Com a sociedade pouco articulada e muito influenciada pelo histórico coronelista e
de relações clientelistas, o terreno para a implantação do Orçamento Participativo estava
muito tortuoso, sendo necessária a remobilização da sociedade, desta vez por iniciativa da
Administração Pública, incentivando para que novas bases populares surgissem e
interagissem para criação de um ambiente favorável à deliberação participativa (entrevistas
com servidores da Secretaria Adjunta do Orçamento Participativo de Contagem, 2009).
Em todo esse período de urbanização e de crescimento populacional, a zona rural do
município (atual Região Administrativa Vargem das Flores) foi parcialmente resguardada
como uma tentativa de preservação de um aqüífero estratégico para a metrópole, com uma
barragem, que ocupa o papel de reguladora de enchentes e de reservatório. Mas, ao longo dos

12
A concepção hegemônica de democracia, que dominou o primeiro século das grandes democracias modernas,
possui os seguintes elementos: contradição entre mobilização e institucionalização da expressão popular;
valorização positiva da apatia política, em que o povo é incentivado a se manter distanciado das decisões
públicas; cidadão comum sem capacidade ou interesse político senão para escolher os líderes; concentração do
debate democrático nos desenhos eleitorais; pluralismo como incorporação partidária e disputa entre as elites;
problema da baixa participação solucionado pela discussão de escala e complexidade (Avritzer e Santos, 2003).
26

anos, famílias de posseiros que eram retiradas de áreas de invasões próximas às indústrias
passaram a ser assentadas na extremidade mais setentrional dessa região, que, em 1998,
receberia a Penitenciária Nelson Hungria, a primeira de Segurança Máxima do Estado (Folha
de Contagem 18/04/2008 e Atlas 2009). Assim como a Colônia Agrícola Rural, da vizinha
Ribeirão das Neves, a região atraiu, além dos ex-posseiros, os familiares de detentos, criando
mais um grande bolsão de pobreza. As outras áreas de maior pobreza no município, como das
Regiões do Nacional e do Ressaca, se formaram com a expansão das periferias pobres de Belo
Horizonte (da região da Pampulha), que atingiram o território de Contagem, sendo expansões
em direção a CEASA - Minas (Atlas, 2009).
Já a favelização ocorrida em invasões de terrenos do CINCO e da Cidade Industrial, se
deu pela incapacidade do Município de Contagem em gerenciar a urbanização de forma
adequada, em decorrência da própria dinâmica econômico-social da região e da imensa
quantidade de áreas desocupadas e improdutivas entre as indústrias instaladas, além de áreas
desvalorizadas próximas a antigos lixões. A Região Administrativa Petrolândia iniciou sua
formação com muitos nichos de pobreza, na chegada da Refinaria Gabriel Passos na vizinha
Betim. No entanto, é uma Região Administrativa que está com a renda per capita cada vez
melhor.
As Regiões Administrativas Riacho e Sede, que não possuem bolsões e sim pequenos
nichos de pobreza, têm históricos diferentes em relação à formação das suas respectivas ilhas
de pobreza: a primeira, em decorrência do infortúnio de famílias proletárias que se instalaram
próximas às indústrias, mas não conseguiram prosperar, e a segunda, em decorrência da longa
história de relações entre coronéis e escravos (Atlas, 2009). As marcas da dívida moral e
patrimonial com a população negra ainda são muito grandes, de forma que os descendentes de
escravos, mesmo configurando dentre as mais antigas e tradicionais famílias do município,
ainda hoje ocupam cargos subalternos na Administração Pública, possuem pouquíssima
acumulação de riquezas e dificuldade de inserção nos extratos mais “politizados” que
comandam a vida política do município.
A negligência da classe política (tanto do Poder Executivo quanto do Legislativo) tem
sido a grande responsável pelas concentrações de pobreza e de insegurança urbana, pois
muitas vezes negociou e promoveu a retirada de invasores de áreas particulares para sua
recolocação em áreas públicas, sem qualquer regularização fundiária, sem oferta suficiente de
serviços e longe dos equipamentos públicos, áreas sem loteamento adequado para receber as
famílias, próximas a áreas de encostas ou alagamentos e cuja expansão que se seguiu foi mais
27

desordenada ainda.
Os desafios encontrados para a promoção de políticas urbanas através de uma
metodologia participativa são bastante amplos, mas é nesse contexto que o PT iniciou no
município uma ação da administração pública em direção aos cidadãos com intuito de trazê-
los para a esfera decisória, estimulando a disseminação de informações e conduzindo o
processo deliberativo a fim de que a população externe as reivindicações suprimidas.
A participação integrada ao sistema representativo é a proposta alternativa ao elitismo
democrático, desenvolvida por teóricos contemporâneos. Os arranjos deliberativos,
experimentados nesta conjugação teórica, seriam formas de quebrar com paradigmas
estabelecidos pelos teóricos clássicos, assim, a heterogeneidade de interesses, valores e
concepções morais deixariam de ser empecilho ao passo que enriquecem e amadurecem o
debate político (Avritzer, 2000). Os problemas que a democracia precisaria enfrentar não
teriam a ver com homogeneidade, e estariam mais voltados à socialização da informação e
experimentações que acomodem os novos arranjos administrativos, com espaços
flexibilizados e cedidos pelo Estado.
Ou seja, a ampliação desses espaços de participação seria capaz de reduzir o elitismo
democrático, ao passo que melhoraria a qualidade do processo de argumentação e do discurso
(Avritzer, 1996), já que esta é a verdade objetiva no campo da política proposta por Jürgen
Habermas13 para avaliação e maximização da prática democrática. Portanto, os procedimentos
que se desenvolvem em um processo deliberativo de uma estrutura participativa ampla,
tornam as decisões mais legítimas do que os procedimentos em uma estrutura de participação
menos ampla.
Apesar de ser um grande progresso na em relação à democratização das instituições
públicas, o OP de Contagem é, como os demais OPs, um movimento de iniciativa da gestão
pública e não da sociedade, e conseqüentemente mantêm-se a cargo dessa administração, sua
condução, organização, mobilização e finalmente implementação dos objetos deliberados.
Isso implica uma série de estímulos e contra-estímulos no papel participativo do cidadão,
especialmente no que se refere à sua dependência organizativa, subordinação às regras das
quais participa pouco da definição e outros que serão vistos mais adiante.

13
Para este autor, a democracia é uma forma de aperfeiçoamento da convivência humana e os arranjos de
deliberação societária estariam estabelecidos no chamado princípio D, em que somente são válidas as normas-
ações que contam com o assentimento de todos os participantes de um discurso racional (Avritzer e Santos,
2003).
28

2.2. ESTRUTURA SÓCIO-ECONÔMICA DO MUNICÍPIO DE CONTAGEM.

Trata-se de um município da região sudeste brasileira, com população estimada de


617.749 no ano de 2008, território de 195 Km2, dos quais cerca de 194 Km2 são de área
urbana e 62 Km2 de área rural, integra a Região Metropolitana de Belo Horizonte, sendo
ainda, uma das mais importantes cidades dessa aglomeração urbana principalmente pelo seu
grande parque industrial. Seu sistema viário comporta um grande fluxo de veículos de carga, e
é atravessado por importantes rodovias do país como a BR 381 (Fernão Dias - acesso a São
Paulo), a BR 262 (que dá acesso a Vitória e Triângulo Mineiro) e a BR 040 (que dá acesso à
Brasília e Rio de Janeiro). A cidade oferecer muita mão-de-obra atendendo às suas indústrias
e complementarmente ao mercado de trabalho da capital mineira, principalmente em seus
postos de trabalho da área de serviços e comércio. (portal das cidades, IBGE e Folha de
Contagem. Edição Especial, setembro/1997).
O Censo de 2000 apontou 538.208 habitantes, dos quais 3,98% com menos de um ano
de estudo ou nenhuma instrução. A percentagem de habitantes com renda mensal era de
aproximadamente 49,67%, sendo que 9,77% dos habitantes com rendimento nominal mensal
de até um salário mínimo, enquanto 2,14% com rendimento nominal mensal de 10 a 20
salários mínimos e somente 0,63% com rendimento nominal mensal de mais de 20 salários
mínimos. No outro extremo, o município apresentava 32,32% de habitantes sem qualquer
rendimento, a maioria dependente da população economicamente ativa. Estes dados são
relativos às pessoas maiores de 10 anos de idade.
O crescimento anual do PIB de 11,4%, não foi acompanhado pelo crescimento anual
da população próximo de zero, de forma que o município atingiu o 27º maior PIB do país em
2006, representando 0,47% do nacional. Ainda sobre o Produto Interno Bruto, era o 18º maior
da região sudeste, contribuindo com 0,84% do PIB da região, o terceiro maior de Minas
Gerais.

2003 2004 2005 2006


PIB total R$ 7.582.402 R$ 8.446.349 R$ 9.735.097 R$ 11.241.163
PIB per capita R$ 13.224 R$ 14.478 R$ 16.405 R$ 18.630
Quadro 1 - Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do Município de Contagem. Fonte: IBGE

Em 2006, ano seguinte ao que se iniciaram as atividades do OP, o município estava


entre os 100 maiores municípios do país em vários critérios de classificação:
29

Colocação Contribuição
Critério Valor
nacional nacional
O valor agregado Bruto da
$ 3.332.601.073,00 29º 0,57%
atividade industrial no município
O valor agregado Bruto dos
R$ 6.073.431.817,00 27º 0,45%
serviços no município
O valor agregado Bruto da
administração pública no R$ 800.665.394,00 30º 0,26%
município
Quadro 2 - Posição do Município de Contagem em Ranking Nacional. Fonte: IBGE

Por outro lado, no censo realizado em 2000, o município apresentava 11,08% de


Incidência da Pobreza e um índice de Gini de 0,37 demonstrando grande desigualdade da
distribuição de renda.
Em 2008 a estrutura administrativa do município contava com 19.016 servidores
municipais ativos, dos quais, 7,4% sem instrução, 7% com somente o ensino fundamental,
47,5% com o ensino médio, 30,4% com o ensino superior e 7,7% com algum tipo de pós-
graduação. Estes servidores são 57,9% de estatutários, 20,7% de regidos pela CLT, 4,9% de
comissionados, 2% de estagiários e 14,5% de contratados temporariamente.
Segundo registro atual do IBGE, não aparece o Conselho Municipal de Política
Urbana14, que surgiu somente em julho deste ano (Lei municipal 4179/08), pois ainda não há
registros de reuniões realizadas. O município conta ainda com Plano Diretor, Código
Municipal de Obras, normas de Uso e Parcelamento do Solo, Impacto de Vizinhança e Solo
Criado. Por outro lado não foram instituídas Contribuições de Melhoria ou regras para
operações de Consórcio Urbano.
Apesar de ainda não existir Plano Municipal de Habitação, ou legislação que disponha
sobre regularização fundiária, e de o município não participar de consórcios intermunicipais
de habitação, há o Conselho de Habitação ativo e paritário, que apesar de não fiscalizar, ele
delibera, cria normas e emite opiniões na política de habitação. Há ainda comissão que
gerencia o Fundo Municipal de Habitação, integrado por repasses federais e estaduais além de
recursos próprios.
O cadastro de interessados no programa habitacional é informatizado, tendo, até 2008,
sido contempladas famílias em assentamentos exclusivamente de áreas urbanas. Foram

14
Uma peculiaridade do OP de Contagem é que este deve indicar um de seus membros para compor uma das
vinte e quatro cadeiras do Conselho Municipal de Política Urbana, que acompanha as questões urbanas
correlatas ao Plano Diretor do Município, e opina sobre as Obras contidas no Plano Plurianual do Município.
(Lei 4179/08)
30

utilizados recursos para aquisição de terrenos, construção e reforma de unidades habitacionais


e de conjuntos habitacionais, bem como fornecimento de materiais de construção às famílias e
regularização fundiárias de áreas invadidas, favelas e outros.
O município não conta com um Plano Municipal de Transportes ou com um Fundo
Municipal de Transportes. No entanto, as políticas públicas de transporte e trânsito são
dirigidas por Autarquia empossada de poder de fiscalização e controle do trânsito e de
transportes municipais, desenvolvendo melhorias e manutenção de vias públicas, além de
desenvolver ações de educação para o trânsito e de inclusão social de deficientes físicos.
Conta com Conselho Municipal de Transporte, de caráter deliberativo, normativo e paritário.
Não há serviços de transportes aquáticos, pois o município não possui bacias
navegáveis e não há regularização dos serviços de mototaxi. Mas conta com metrô, táxi
municipal, táxi metropolitano, ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais, vans
escolares e de aluguel. Apesar de trens de carga e passageiro cruzarem o município através da
ferrovia centro-atlântica, não há estações de passageiros, somente um ponto de carga e
descarga em seu território, mas a vizinha Belo Horizonte atende à sua demanda de passageiros
com a integração com o metrô urbano (site da Ferrovia Centro-Atlântica). O aeroporto
Internacional Presidente Tancredo Neves, Confins, está a aproximadamente 35 quilômetros do
centro da cidade de Contagem.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente só foi criada em 2009, mas a Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano acumulava as atividades ambientais desde antes do
aparecimento do Orçamento Participativo, contando com Conselho Municipal de Meio
Ambiente desde 1993, de caráter deliberativo, consultivo, normativo e paritário, além do
Fundo Municipal de Meio Ambiente, constituído de taxas de fiscalização e licenciamento,
royalties, multas, ICMS ecológico e outros.
Por estar dentro de uma metrópole, participa de cooperação intermunicipal nas áreas
de resíduos sólidos, tratamento de esgotos, recursos hídricos, áreas degradadas etc. E por ser
um município muito urbanizado, de caráter altamente industrial e com muitas vias de
circulação e escoamento de mercadorias, tem grande potencial poluidor atmosférico, hídrico,
assoreador de cursos d’água, degradador de matas e outros.
Na Administração Pública Municipal, o território é dividido para melhor promoção de
políticas públicas e realização dos serviços públicos, no entanto estas divisões não se dão de
formas não coincidentes. Para fins de ocupação e uso do solo, as divisões se dão em zona
rural e urbana, esta classificada em critérios de expansão urbana, ocupação restrita, usos
31

incômodos, especial interesse turístico e adensabilidade. O zoneamento urbano se aglutina em


Unidades de Análise, que por sua vez se aglutinam em Unidades de Planejamento. A
Secretaria Municipal de Governo utilizou estes agrupamentos como regra para definir as
Regiões Administrativas (cujo papel pretendido que cumpram é o de subprefeituras), que
englobam Unidades de Planejamento, e têm a finalidade de melhor planejar, executar e
controlar os serviços públicos oferecidos.
A fundamentação utilizada para a gestão municipal através dessa estrutura é o art. 34
da sua Lei Orgânica, que preconiza que “a ação administrativa do Poder Executivo será
organizada segundo os critérios de descentralização, regionalização e participação popular”
[grifo nosso]. Sendo, portanto, uma estrutura com objetivos compatíveis com os do
Orçamento Participativo, que necessita de descentralização não só da gestão como da
capacidade deliberativa para que ocorra maior participação popular.
As Administrações Regionais possuem cada uma um Distrito Sanitário (exceto Região
Administrativa Riacho, pois a estrutura ainda não se adequou à nova configuração após sua
criação em 2009). As Regiões Administrativas realizam atendimentos odontológicos nas
Unidades Odontológicas e em mais sete postos situados em Centros de Saúde Pública ou, em
alguns casos, clínicas conveniadas. Há ainda o controle de zoonoses, o centro de referência à
saúde do trabalhador, a vigilância sanitária, a vigilância epidemiológica, o controle de
zoonoses, a vigilância em saúde ambiental, o transporte sanitário e o serviço de atendimento
móvel de urgência, distribuídas entre as Regiões Administrativas Sede, Eldorado, Riacho e
Industrial, que atendem todo o município. As demais máquinas públicas de atendimento da
saúde estão expostas no quadro do Apêndice.
O critério de divisão da área da saúde inicialmente era definido com base na
capacidade de mobilidade das equipes de saúde, dos atendimentos de urgência, das áreas com
características favoráveis ou desfavoráveis a endemias e da localização dos equipamentos da
área da saúde. No entanto, esforços foram realizados na tentativa de coincidir os distritos
sanitários com as Unidades de Planejamento, para a definição das Regiões Administrativas.
Por outro lado, os Núcleos Regionais de Educação estão divididos de acordo com a
distribuição dos equipamentos da área da educação e da capacidade de atendimento de alunos,
cujo esforço de organização nas Regiões Administrativas ainda está se processando. Sua
distribuição pode ser mais bem identificada nos quadros do Apêndice.
Com uma grande gama de critérios de divisão territorial, participam dos esforços de
unificação diversos órgão prestadores de serviços municipais, em especial no que tange a
32

defesa civil, a guarda patrimonial, a assistência social, o suporte aos esportes e à cultura e
outros.
REGIÃO
1ª edição 2ª edição 3ª edição
ADMINISTRATIVA
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa.
Administrativa. Administrativa
Vargem das Flores 2 Unidades de
2 Unidades de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
2 Unidades de Análise
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa
Administrativa Administrativa
Ressaca 1 Unidade de
2 Unidades de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
7 Unidades de Análise
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa
Administrativa Administrativa
Industrial 3 Unidades de
3 Unidades de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
5 Unidades de Análise
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa
Administrativa Administrativa
Nacional 1 Unidade de
2 Unidades de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
3 Unidades de Análise
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa
Administrativa Administrativa
Sede (Perobas) 15 1 Unidade de
2 Unidades de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
3 Unidades de Análise
1 Região
Administrativa
Eldorado (Perobas)15 1 Região 1 Região
2 Unidades de
Administrativa Administrativa
Planejamento
4 Unidades de 3 Unidades de
1 Região
Planejamento Planejamento
Administrativa
Riacho 7 Unidades de Análise
2 Unidades de
Planejamento
1 Região
1 Região 1 Região
Administrativa
Administrativa Administrativa
Petrolândia 1 Unidade de
1 Unidade de 2 Unidades de
Planejamento
Planejamento Planejamento
1 Unidade de Análise
Quadro 3 – Estrutura Geográfica em que se aplicaram os critérios de participação e redistribuição de recursos.

Na primeira edição do OP ocorrida em 2005, para execução nos anos de 2006 e 2007,

15
A Unidade de Planejamento Perobas migrou da Região Administrativa do Eldorado para a Região
Administrativa Sede entre 2006 e 2007.
33

o OP ainda não se baseava em Regiões Administrativas, pois elas ainda não contavam com
seu pleno funcionamento. Elas passaram a ser a nova lógica organizativa somente a partir da
segunda edição, e através do quadro acima, verifica-se que a estrutura é dinâmica, mudando a
cada nova edição. Isso implica que comparações temporais pormenorizadas são mais
complexas de serem realizadas, pois o conjunto de características de uma Unidade de
Planejamento utilizada em uma edição é diferente daqueles presentes nesta Unidade na edição
seguinte, principalmente quando, se funde com outra, agrega ou desagrega bairros nesse
período.
Com o objetivo de permitir uma melhor interpretação dos dados históricos, as análises
neste trabalho foram processadas no nível de agrupamento Região Administrativa. As
limitações e implicações dessa escolha metodológica serão apresentadas no momento
apropriado.

2.3. CARACTERÍSTICAS DAS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE CONTAGEM

Os gestores públicos, assim como a população envolvida no processo deliberativo do


OP utilizam algumas informações técnicas geralmente apresentados pela Prefeitura que
auxiliam nesse processo, no entanto boa parte do conhecimento acumulado por ambos os
lados não se fundamenta somente nessas informações. A experimentação cotidiana da
dinâmica urbana que cada um possui gera as principais informações necessárias para a
oralização das demandas que existem na sociedade.
Como exemplo, os moradores de uma região mais central, pouco sabem sobre as
necessidades de uma região mais periférica, por outro lado, vivencia mais os transtornos do
grande fluxo de veículos. Além disso, cada cidadão realiza trajetos diferentes entre seus locais
de compromissos, tendo diferentes pontos de vista sobre o mesmo sistema de tráfego. Essas
informações trazidas pelos participantes do OP são, portanto, complementares, de forma que a
arena do OP se torna o palco de troca dessas informações, elaboração de argumentações e
principalmente de exercício da solidariedade, em que todos podem construir, em conjunto, um
plano de prioridades das demandas, a fim de possibilitar ao governo que coordene as suas
atividades em consonância com os anseios da população.
Para se ter idéia das características urbanísticas e sócio-econômicas dessas Regiões
34

Administrativas, de onde nascem e se desenvolvem as demandas da população, é importante


conhecer um pouco das realidades que os participantes vivem e quais são as principais
características dessas distintas realidades que os pressionam a oralizar as demandas nos fóruns
de que participam. Segue, portanto, um breve apanhado de distintas características regionais,
para demonstrar que os anseios da população não são homogêneos.
A Região Administrativa do Industrial conta com terrenos desocupados e uma
relevante concentração de órgãos públicos federais, municipais e estaduais. Possuía em 2000
uma população composta essencialmente de operários, cujas maiores concentrações de
especialistas dava-se em alguns bairros mais centrais da região enquanto os com menos
qualificação concentravam-se nas regiões fronteiriças com os municípios vizinhos. Há
trabalhadores informais em toda a região, e de forma geral, a década de 90 ficou caracterizada
por uma redução no número de habitantes. Essa Região Administrativa conta com uma grande
quantidade de pequenas favelas, geralmente ocupações irregulares de terrenos que sofreram
especulação imobiliária na época da criação da Cidade Industrial e de terrenos públicos como
a linha férrea e margens de córregos. As pirâmides etárias dessas pequenas favelas são
caracterizadas por possuírem muitas crianças e pouquíssimos idosos, além de uma drástica
redução de homens em relação às mulheres adolescentes. De uma forma geral, os indicadores
educacionais da região como um todo apresentaram melhora nesta década.
A região Administrativa do Eldorado concentra intensa atividade comercial e de
serviços no seu núcleo, onde é urbanisticamente planejada, dispondo de completa infra-
estrutura física e urbana, como o terminal de metrô, praças, templos religiosos, o Big
Shopping e equipamentos escolares e de saúde. Possui várias aglomerações residenciais e
órgãos públicos que atendem diretamente à população, como Meio Ambiente, Serviços
Urbanos, PROCON, Identificação Civil e Central de Atendimento ao Contribuinte. Suas
extremidades contam com áreas de lazer, conjuntos residenciais e imóveis de padrão mais
elevado. Suas pequenas favelas são distantes dos equipamentos públicos e apresentaram
queda ou pequeno crescimento demográfico em alguns casos e melhora ou estabilização nos
indicadores educacionais ao longo da década passada. Em direção a Ceasa - MG encontra-se
uma grande área de expansão populacional, com algumas indústrias e prestadoras de serviços,
residências de classe média predominante.
A Região Administrativa do Nacional contempla a zona limítrofe com o Município de
Ribeirão das Neves, em que há um baixíssimo índice de ocupação do solo, mas com
verdadeira explosão demográfica, devido à velocidade do aumento dessa ocupação. A pobreza
35

urbana é bastante aguda, sem serviços públicos suficientes, sofre pressões de ocupação vindos
da Sede de Contagem, da região da CEASA- MG e das periferias de Belo Horizonte, todas em
direção à Ribeirão das Neves. Por outro lado áreas mais próximas as grandes vias de ligação
já oferecem mais serviços e melhor parcelamento do solo.
A Região Administrativa do Petrolândia é composta por grande número de bairros
extensos. Localizada no limites com o Município de Betim. A oeste há grande vazio
demográfico entre estes municípios e ao sul, há uma área amplamente ocupada, conjugando
os municípios. As vias de trânsito local são pouco ordenadas e as de acesso à região são
deficitárias. Apesar de relativamente pobre, não configura bolsão de miséria, contando com
uma densa ocupação residencial e um desenvolvido comércio. A região é bastante
heterogênea, com bairros de loteamento antigo, e outros novos, sendo alguns bem
estruturados e outros com divisões mais irregulares.
A Região Administrativa do Ressaca conta com a CEASA-MG, que atrai grande fluxo
de pessoas e de mercadorias, consolidando um razoável dinamismo econômico regional
contrastante com as condições de vida de alguns bairros que surgem e se mantêm na
dependência deste entreposto e da BR-040. Inicialmente a maior parte da ocupação foi
clandestina, principalmente na década de 40, se tornando mais regular nas décadas seguintes.
A Região conta com grande conflito entre uso comercial e residencial, devido aos prestadores
de serviços que se estabeleceram à sombra da CEASA. É uma região com população pobre e
empresas ricas, já as demais características são bastante semelhantes às da Região
Administrativa do Nacional, exceto em relação à taxa de ocupação que é um pouco menor,
pois a quantidade de solo desocupado também é menor. Alguns bairros dessa região estão
sofrendo processo de elitização com escolaridade e renda crescendo muito acima da média
municipal.
A Região Administrativa do Riacho é cortada pela Rodovia Fernão Dias, fazendo
divisa com os Municípios de Ibirité e de Betim. Com característica predominantemente
residencial, conta com vários conjuntos habitacionais e uma pequena área de grandes
indústrias e prestadoras de serviços, sendo que as construções locais sofrem constantes
reformas e melhorias, sem conseqüente aumento demográfico. Na porção próxima ao vizinho
Eldorado, apresenta padrão de moradias um pouco mais elevado, com população
predominantemente de classe média.
A Região Administrativa Sede, abrange as sedes dos Poderes Executivo e Legislativo
Municipais, além do centro histórico do Município, com população predominantemente de
36

classe média e classe média baixa, formada por industriais, funcionários públicos e antigos
proprietários de terras, passa por um processo de elitização. Ocorre verticalização nessa
região, principalmente em áreas residenciais. Há ainda diversas áreas de vazio demográfico e
parcelamento do solo irregular. A taxa de crescimento demográfico é explosiva
principalmente nos bairros menos centrais, sendo bem servida de equipamentos públicos.
A Região Administrativa Vargem das Flores é a que compreende o maior vazio
populacional do município, é onde se encontra a zona rural do município, contando com
fraquíssimo sistema viário local e vias de acesso muito deficitárias. Possui uma grande área
de mananciais protegida pela legislação ambiental. Configura uma das regiões mais pobres,
cuja ocupação é completamente desordenada e os dados sócio-econômicos estão muito abaixo
da média municipal. Sua ocupação é pressionada pelo Município vizinho de Esmeraldas. A
principal conurbação urbana, Nova Contagem, conta com apenas uma via de acesso ao centro
do município, completamente isolada pela zona rural, possui muitas ocorrências de invasões e
abriga a penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, configurando o maior bolsão de
pobreza do município.
As regiões são, como se vê, bastante distintas entre si, e por isso, a existência de
experiências como as dos fóruns do OP, traz para a vida da sociedade o exercício da
solidariedade e da empatia, aproximando mais os cidadãos, como um movimento inverso do
verificado ao longo do processo de urbanização do século passado, em que os condomínios
fechados e a verticalização afastaram as pessoas umas das outras e reduziram sua consciência
das dinâmicas urbanas que afetam a sua vida.
37

3. INSTITUIÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM CONTGEM.

3.1. ESTRUTURAS DE SUPORTE AO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO


PROMOVIDA PELA PREFEITURA.

O povo de Contagem conferiu à estrutura administrativa municipal a atribuição de


“elaborar o plano plurianual [PPA], as diretrizes orçamentárias e o orçamento, garantido
[...] ampla participação [à] popular na elaboração da programação anual” (Art. 6º, inciso
VIII da Lei Orgânica do Município). Assim, o OP é uma ferramenta, dentre várias, de
viabilização dessa vontade soberana, pois, mesmo que existam outras ferramentas com menor
amplitude de participação (como a consulta através de audiências públicas), ou que surjam
outras com amplitude maior, essa é uma ferramenta de planejamento que consegue na
atualidade, de forma a gerar resultado satisfatório, conjugar duas forças contrárias dentro da
administração pública: o tempo de resposta e a legitimidade de implementação das decisões.
Para um tempo de resposta mais curto, a amplitude da participação (quantidade de
pessoas envolvidas no processo decisório) deve ser mínima. Por outro lado, para implementar
decisões com maior legitimidade, a amplitude deve ser máxima.
Tradicionalmente, a Administração Pública das democracias ao redor do mundo têm
optado por desenvolver estruturas que privilegiam os processos que geram respostas mais
rápidas. Isso é decorrente de uma visão mais economicista que nasceu com a revolução
industrial e se desenvolveu através do ramo das ciências sociais aplicadas, em especial,
através da Administração e da Economia, o que culminou em uma democracia de baixa
intensidade (Avritzer, 1996). No entanto, nas últimas décadas, a democracia elitista tradicional
tem perdido espaço para grupos políticos de origens mais populares que passaram a ocupar
elevados cargos que eram tradicionalmente ocupados pela aristocracia tradicional.
Concomitantemente, essas mesmas ciências têm desenvolvido teorias mais alinhadas com a
promoção de uma democracia de alta intensidade.
O Brasil é um dos países que vivenciam esse momento histórico, reavaliando seus
modelos de gestão pública, que anteriormente eram focados na eficiência da resposta, e que
agora colocam em foco a efetividade da resposta. Ou seja, nesse novo modo de pensar, as
conseqüências do resultado alcançado são mais relevantes do que a primazia no processo que
leva ao resultado, ou mesmo, mais relevante do que o resultado em si.
38

Por isso, o OP se encaixa em um modelo que privilegia uma amplitude um pouco


maior de participação, conferindo mais legitimidade às decisões em detrimento de alguma
velocidade de resposta. Ao mesmo tempo, acredita-se que a perda na eficiência do processo
deverá ser recompensada por soluções mais efetivas para os problemas da sociedade, ou seja,
uma praça pode demorar mais para ser construída, mas quando o for, atenderá melhor às
necessidades de lazer daquela região.
Ao longo dos dois mandatos em que o PT comanda a Prefeitura de Contagem foi
desenvolvida uma estrutura física e administrativa objetivando promover a proposta
participativa elaborada em seu plano de governo. A seguir apresentam-se a base normativa e
também a descrição das condições em que ocorrem as atividades de suporte do OP.
A Lei Orgânica do Município e os dois Planos Plurianuais dos mandatos de 2005 e de
2009 prevêem a promoção da participação popular na gestão administrativa municipal e
destinam explicitamente recursos para cada uma das intervenções deliberadas no processo do
OP, nos termos exatos constantes de cada Caderno de Intervenções. A Existência do
Orçamento Participativo está prevista nas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) desde o
primeiro mandato do governo petista em 2005 e perdura atualmente. No entanto, não há lei
que institua o Conselho do Orçamento Participativo, diferentemente de outros Conselhos de
Políticas Públicas Municipais, cujas criações através de Lei são impostas pela Constituição ou
por legislação federal, como o de Assistência Social, o de Saúde e o de Meio Ambiente. O
instrumento que criou o Conselho Municipal de Prioridades Orçamentárias (COMPOR) foi a
Portaria nº 002/2005 da Secretaria Municipal de Planejamento, mas o Município conta com
outras leis que mencionam o Conselho do OP, como a que define a estrutura da Secretaria de
Planejamento, a do Conselho Municipal de Políticas Urbanas e outros decretos que nomeiam
membros do governo para o COMPOR, que de fato é o Conselho Municipal de Orçamento
Participativo.
A eleição de seus membros ocorre na terceira rodada de reuniões, e seu papel principal
é o acompanhamento da execução das obras, além de acompanhar Audiências Públicas,
prestação de contas junto aos Fóruns Regionais de Delegados, execução orçamentária anual,
debates sobre o orçamento na Câmara Municipal. O conselho também possui outras
atribuições, como o de deliberar sobre metodologia de estudos e de execução do OP, emitir
opinião sobre a Lei Orçamentária Anual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano
Plurianual e elaborar o seu Regimento Interno.
No início o Conselho era formado pelos 39 membros eleitos, mais sete representantes
39

do Poder Executivo16, mas após o ciclo deliberativo da primeira edição do OP realizada, o


conselho não chegou a se reunir, ao contrário, dividiu-se em pequenos grupos regionais, cada
qual acompanhando e fiscalizando as obras de sua região e cujo contato não se dava com os
outros sete representantes do governo, e sim com funcionários da coordenadoria do OP. Em
conseqüência não houve aprovação do regimento interno, portanto, impossibilitando
estruturação hierárquica entre os Conselheiros, além disso, quem detêm e exerce o poder de
estabelecer as regras, a agenda, o calendário, a estrutura e a as metodologias de
funcionamento do OP são os gestores, tornando o Conselho pouco autônomo e com fraco
poder de auto-regulação.
“De acordo com os autores [Avritzer e Santos], para que a autonomia decisória dos
participantes seja preservada em arenas em que a participação de cidadãos é
regulada por critérios técnicos, é necessários que os próprios participantes se
envolvam na definição de regras e critérios por meio de instâncias de auto-
regulação”. (MARQUETTI, CAMPOS e PIRES. 2008. P 57)

Nas duas primeiras edições, os conselheiros eleitos se organizaram em comissões


distintas atuantes em cada Região Administrativa e assim, exerciam a fiscalização de forma
mais próxima. Em conseqüência, acabaram se dissociando de forma a esvaziar a atuação
conjunta, passando as comissões regionais a atuarem separadamente. Na terceira edição cujas
rodadas deliberativas ocorreram em 2009, o COMPOR foi completamente desmembrado,
formando Conselhos Regionais independentes, inclusive nos seus relacionamentos com o
governo, gerando conseqüências favoráveis e desfavoráveis para a experiência participativa
vivenciada.
Essa baixa a intensidade de atividades do Conselho Municipal foi percebida pelos
gestores que decidiram desmembrar o COMPOR em oito Conselhos Regionais, objetivando
minimizar os ruídos de comunicação entre a população e os gestores, que ocorria devido à
longa cadeia de subordinação, entre conselheiros, delegados, lideranças locais e moradores,
aumentando a autonomia de cada conselho. Por outro lado, o poder auto-organizativo do
COMPOR que já era baixo, diminuiu mais, já que o efeito colateral decorrente da dissipação é
uma maior dificuldade na articulação entre os vários conselhos, em conseqüência, reduzindo a
possibilidade de a população participar da definição das regras gerais de funcionamento do
OP.
Os Fóruns Regionais foram propostos na primeira edição do OP em forma de
Assembléias Populares, ocorrem em várias rodadas de reuniões nas Unidades de

16
Não há cadeiras previstas para os Membros do Poder Legislativo.
40

Planejamento ou Regiões Administrativas, composto pelos cidadãos residentes destas


unidades. Em determinado momento destes fóruns, ocorre a eleição de Delegados, que têm o
papel de propor obras, acompanhar a execução das obras, eleger e revogar o mandato dos
Conselheiros, além de opinar sobre as regras e metodologia do OP.
Dentro da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral, encontra-se a Secretaria
Adjunta de Planejamento do Orçamento Participativo. Esta secretaria adjunta possui a
Coordenadoria de Planejamento do Orçamento Participativo, com dois diretores e dois
gerentes. A Gerência de Mobilização submetida à Diretoria de Organização do Orçamento
Participativo, e a Gerência de Apoio e Suporte submetida à Diretoria de Acompanhamento de
Obras e Projetos do Orçamento Participativo.
A Coordenadoria de Planejamento do Orçamento Participativo responde pela
Comissão Executiva do COMPOR, ou seja, é quem realiza a ligação entre as deliberações
trazidas pelo Conselho para dentro da estrutura da Administração Pública, e também organiza
os fóruns gerais do Orçamento Participativo e eventos correlatos. Ela articula com as demais
Secretarias Municipais responsáveis pela execução dos empreendimentos aprovados, ou com
os grupos de trabalho designados para esta finalidade, objetivando organizar o monitoramento
da execução física dos empreendimentos aprovados, acompanhando ainda a execução
orçamentária atentando às prioridades definidas nas reuniões do OP.
Outro papel que executa, em conjunto com as Secretarias Municipais responsáveis, é a
avaliação dos planos e projetos básicos e executivos necessários à execução dos
empreendimentos aprovados, bem como das solicitações de aditivos e verbas complementares
aos recursos aprovados no Orçamento Participativo. Além disso, subsidia os conselheiros nas
questões referentes ao controle físico e financeiro do Orçamento Participativo, fornecendo-
lhes as informações técnicas que a Administração domina.

A Diretoria de Organização do Orçamento Participativo planeja, em conjunto com a


Comissão Executiva do COMPOR, como funcionará o Orçamento Participativo e o
calendário de atividades do Conselho. É ainda o setor técnico que relata o andamento da
execução dos investimentos aprovados nos fóruns de prioridades orçamentárias para o
Conselho Municipal do Orçamento Participativo. Ela também desenvolve estratégias de
promoção de maior participação popular nas atividades do OP, sendo que a Gerência de
Mobilização planeja e coordena a campanha e as atividades de mobilização social, elaborando
material educativo e distribuindo folhetos informativos, com visitas orientadas à comunidade
e contatos com lideranças locais.
41

Já a Diretoria de Acompanhamento de Obras e Projetos do Orçamento Participativo


acompanha a elaboração dos projetos de empreendimentos do Orçamento Participativo,
participa da elaboração dos cronogramas físico-financeiro, dos termos de referência e
solicitações de contratação, dos projetos e obras do Orçamento Participativo em colaboração
com as Secretarias Municipais. Sendo, ainda, responsável por controlar os custos das obras do
OP e acompanhar a prestação de contas.

Por fim, a gerência de Apoio e Suporte é quem atende à diretoria com informações que
compõem o controle de custos e a prestação de contas, dando o suporte técnico e
administrativo necessário. Está envolvida também com o suporte de infra-estrutura para
realização das reuniões, para o funcionamento do Conselho, para a ocorrência das visitas
orientadas à comunidade, além de desenvolver atividades administrativas correlatas (Decreto
1134/09).

A Comissão de Mobilização do Orçamento Participativo é composta por


representantes das Secretarias de Educação, Esportes e Cultura, Planejamento, Administração,
Trabalho e Desenvolvimento Social, Saúde, Comunicação Social e do Gabinete do Prefeito.
Ela é responsável por posicionar as visões governistas sobre as prioridades do OP, bem como
por desenvolver agentes multiplicadores entre as comunidades e entre servidores públicos
(Decreto 723/07). Dentro da estrutura da Secretaria de Obras, a Coordenadoria de Obras é a
responsável por oferecer o apoio técnico ao processo do Orçamento Participativo (Decreto
1105/09).

A Comissão para Acompanhamento e Avaliação dos Empreendimentos do Orçamento


Participativo é composta por representantes das Secretarias Planejamento, Obras e Serviços
Urbanos, Educação, Esportes e Cultura, Saúde, Trabalho e Desenvolvimento Social,
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e da Autarquia Municipal de Trânsito e
Transportes de Contagem. Ela tem o papel de analisar e emitir parecer técnico sobre
adequação das demandas apresentadas durante o OP, tendo em vista as diretrizes municipais
de planejamento e do Plano Diretor. E também, é ela quem promove a pré-orçamentação dos
empreendimentos indicados no OP, a fim de subsidiar o processo de decisão nas assembléias
populares, e depois acompanha, fiscaliza e auxilia a prestação de contas dos projetos
executados (Decreto 725/2007).

Apesar de toda essa estrutura definida em normas, na prática, nem sempre os


representantes mencionados participam efetivamente nos órgão colegiados em que foram
42

alocados, além de que, não são comuns as reuniões gerais destes órgãos, tampouco o registro
documental das decisões tomadas ou dos trabalhos executados. Ou seja, formalmente a
estrutura se apresenta bastante concisa, na prática, são comuns as falhas e desencontros, pois
estes representantes citados não cumprem exclusivamente o papel de membros dos órgãos
colegiados, tendo que conjugar dentro das suas próprias limitações as demais funções e papéis
que desempenham.

Os espaços físicos escolhidos em que ocorrem as reuniões de mobilização prévias às


rodadas de deliberação do OP, bem como essas rodadas, são preferencialmente escolas
municipais, auditórios de órgãos públicos ou ginásios, pois considerados “terrenos neutros”,
que não favoreceriam algum dos demandantes. Secundariamente, na impossibilidade de
ocorrer em um dos citados, podem ser escolhidos igrejas ou salões das associações de bairro.
Neste caso, a “neutralidade” defendida é entre as forças populares que disputam a distribuição
de recursos e não em relação às verdadeiras forças divergentes no processo que são os
governados e o governante.

Para viabilizar as reuniões, a prefeitura disponibiliza, ainda, equipamentos de projeção


de slides, microfones, caixas de som e outros de suporte aos eventos, além de divulgar a
agenda e promover os eventos através da mídia, panfletos, cartazes e outros. Sendo que dentre
todos, o papel mais importante praticado pelos organizadores é a mobilização “boca-a-boca”,
em que funcionários da Prefeitura são responsáveis por alcançar as lideranças e os moradores
que participarão do processo deliberativo.

3.2. REGRAS DE FUNCIONAMENTO DO OP

A Portaria n° 002 de 06 de maio de 2005, da Secretaria Municipal de Planejamento,


estabeleceu inicialmente as regras de funcionamento do OP, que ao longo das edições
sofreram alterações através de outros instrumentos de inferior grau normativo hierárquico,
publicados pela Administração, como os Cadernos de Critérios, de Metodologia e de
Intervenções.
Houve três edições do OP, com reuniões presenciais nos anos de 2005, 2007 e 2009.
Todas as edições foram compostas de três rodadas de reuniões, um evento de visitação dos
locais em que ocorreriam as intervenções propostas e um evento de encerramento das
43

rodadas. Houve, também, uma edição on-line em 200817, que objetivava atingir um público
menos presente nas reuniões presenciais (classe média e jovens), sendo que nessa edição
diferenciada, as obras propostas foram todas de iniciativa da própria Administração. As
rodadas de reuniões ocorrem ao longo do segundo semestre, nos anos ímpares, e as
deliberações impactariam os biênios seguintes ao ano em que ocorreram os eventos.

Para formulação dos quadros de regras que seguem, foram extraídas informações da
Portaria 002/2005 da Secretaria Municipal de Planejamento, dos Cadernos de Critérios,
Metodologia e Intervenções das três adições do OP, e nos casos omissos, quando possível, de
entrevistas com servidores da Secretaria Adjunta do OP.

REGRA 1ª Edição do OP 2ª Edição do OP 3ª Edição do OP


Execução
2006/2007 18 2008/2009 2010/2011
prevista para
28 Unidades de Análise 15 Unidades de 16 Unidades de
Base territorial
em Planejamento em Planejamento em
para
13 Unidades de 7 Regiões 8 Regiões
participação
Planejamento. Administrativas. Administrativas.
Diretamente
proporcional ao
Regra Calculado a partir do
número de habitantes
redistributiva IQVP – Índice de Não Divulgada
por Região.
dos recursos Qualidade de Vida da explicitamente
Inversamente
orçamentários População.
proporcional à renda
média da população.
Formulário de Formulário de
Instrumento de Indicação da Indicação da
levantamento Nenhum padronizado Intervenção, assinado Intervenção, assinado
de demandas por 10 moradores, por 10 moradores,
entregue na 1ª rodada. entregue na 1ª rodada.
Quadro 4 – Regras gerais de Funcionamento do OP.

As regras definidas na Portaria 002/2005 procuraram auferir um maior poder à


instância dos delegados, que são os que participam da última etapa de votações das
intervenções que serão executadas, os que poderiam eleger e destituir os conselheiros e os que

17
O OP on-line teve pouca abrangência devido às dificuldades de divulgação, pois não houve campanha
televisiva, tão pouco radio-difusiva. Ele não esteve em foco neste estudo em decorrência da grande disparidade
de características, procedimentos e resultados em relação ao OP tradicional, não constando, portanto, seus dados
nas análises realizadas.

18
Inicialmente, os gestores previam uma estrutura de rodadas anuais, com execução das intervenções da primeira
edição do OP somente em 2006, no entanto diante da inviabilidade resolveram transformar o calendário que seria
anual em um calendário bienal de atividades do OP, adaptando-se como o OP de Belo Horizonte tinha feito a
partir de 1999 (Revista OP 15 anos, Prefeitura de Belo Horizonte, 2008).
44

devem acompanhar toda a dinâmica do processo e da execução das intervenções deliberadas.


O COMPOR, por outro lado, teria o papel mais fiscalizador e consultivo, mas com o poder de
decidir sobre a metodologia e os critérios de funcionamento do OP. Os membros
representantes da Administração Pública não são atuantes dentro do Conselho.

REGRA 1ª Edição do OP 2ª Edição do OP 3ª Edição do OP


Representação Representação por Representação por Representação por
dos delegados Unidade de Análise. Região Administrativa Região Administrativa
1 titular e 1 suplente
para cada dez
Proporcional aos A definição de 1 titular
participantes e mais 1
presentes na 2ª rodada. e 1 suplente para cada
Regra eletiva de para cada entidade
Sendo 1 delegado para 10 presentes na 2ª
delegados legalmente constituída
cada 10 presentes, rodada estava prevista
da sociedade civil,
conforme portaria. no caderno de critérios.
conforme caderno de
critérios.
Residente na Unidade
Residente na Região Residente na Região
de Planejamento onde
Administrativa onde Administrativa onde
será candidato. Maior
será candidato. Maior será candidato. Maior
de 16 anos de idade.
de 16 anos de idade. de 16 anos de idade.
Não exercer cargo de
Limitação à Não exercer cargo de Não exercer cargo de
representação política
candidatura para representação política representação política
em qualquer órgão do
delegado em qualquer órgão do em qualquer órgão do
Legislativo e
Legislativo e Legislativo e
Executivo. Não
Executivo. Não Executivo. Não
represente outra
represente outra Região represente outra Região
Unidade de
Administrativa. Administrativa.
Planejamento.
Critério interno do
Representação Representação por Representação por Conselho Regional,
dos conselheiros Unidade de Análise. Região Administrativa. geralmente por obra
eleita.
1 Conselheiro Regional
para cada 10 votos em
3 conselheiros
uma obra da região,
municipais por
sendo que não-
Unidade de 5 conselheiros
delegados podem
Regra eletiva de Planejamento eleitos municipais por região
candidatar desde que
conselheiros dentre os delegados. 7 eleitos dentre os
tenham participado de
representantes do delegados.
alguma rodada e
Executivo indicados
respeitem as limitações
pela Prefeita.
de candidatura de
delegado.
Quadro 5 – Regras e Bases de funcionamento das representações nas dinâmicas do OP.
45

Uma grande contribuição para a experiência participativa nesta última edição foi a
liberdade obtida por cada Conselho Regional em estabelecer seu próprio critério de eleição de
conselheiros, de forma que eles apresentavam a lista de nomes já encerrada à comitiva
organizadora dos eventos, e, a única limitação externa foi a quantidade de representantes
conquistada pela quantidade de votos em suas intervenções. Nesta lógica adotada, quanto
maior o número de participantes votantes ao longo das reuniões, maior é o número de voto
recebido por cada intervenção, e maior também é a quantidade de delegados e de
conselheiros. Essa última regra eletiva aproximou, inclusive, a quantidade total de
conselheiros elegíveis a quantidade total dos delegados eleitos, favorecendo a transferência de
atribuições anteriormente citada.

Na mesma edição do OP, tornou-se tênue a separação entre Delegados e Conselheiros.


Não necessariamente todos os delegados se tornaram conselheiros, mas de fato, depois de
deliberadas as intervenções, os primeiros passaram a transferir todas as suas atribuições aos
seguintes, pois a maioria dos delegados se tornou conselheiro nesta última edição, com
exceção de alguns casos em que os delegados tiveram suas propostas derrotadas ou de casos
mais raros ainda, em que algum delegado não esteve presente na rodada definidora ou abriu
mão da vaga por outro motivo não sabido.

A portaria que regula o OP definiu inicialmente que seriam aceitas três intervenções
prioritárias por Unidade de Análise na fase de avaliação da viabilidade técnica, além disso,
essa análise de viabilidade técnica contaria com técnicos do governo e representantes de cada
uma das 28 Unidades de Analise. Conseqüentemente, estas regras não encontraram meios de
serem seguidas devido ao grande número de intervenções propostas, ao baixo quantitativo de
servidores públicos capacitados a realizarem as analises e à dificuldade de envolver grande
número de representantes da população em uma curta etapa técnica.

Antes de iniciarem as rodadas de votações, a SEPLAN realiza reuniões regionais


prévias com lideranças e representantes da sociedade civil. Estes são convocados a partir de
cadastros conseguidos nas administrações regionais do município, nos distritos de saúde e nos
núcleos de educação, que são órgãos do poder público que possuem maior contato com a
sociedade organizada. A maior parte das pessoas cadastradas são líderes religiosos,
associações de moradores, ONGs e alguns líderes comunitários de movimentos não
institucionalizados (entrevistas com servidores da Secretaria Adjunta do Orçamento
Participativo, outubro/2009).
46

Características
1ª edição 2ª edição 3ª edição
da 1ª rodada
Há prestação de Não havia OP
Sim. Sim
contas? anteriormente
Distribuição dos Cadernos de
Critérios e Metodologia com
Distribuição do
orientações pormenorizadas
Formulário de
de todo o processo.
proposição de
Distribuição do Formulário
Como são os Indicação de 3 intervenções e
de proposição de
critérios de prioridades por caderno de
intervenções. Preenchimento
indicação das Unidade de orientação.
dos Formulários de
obras? Planejamento. Preenchimento dos
proposição com direito de
Formulários de
substituição caso haja
proposição e
impedimento técnico
devolução em 7dias.
apontado pelos técnicos da
prefeitura.
Como é o
Uma assembléia por Unidade de Planejamento.
evento?
Quem participa? Participam cidadãos interessados.
Participantes As negociações sobre regras de funcionamento não ocorrem nos fóruns
constroem as gerais. Neles ocorre somente a exposição, pela Administração das regras e
regras gerais? diretrizes do OP, critérios de eleição de obras e delegados.
Quadro 6 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 1ª Rodada de reuniões.

O Formulário de Identificação das Intervenções foi criado em 2007 e distribuídos na


primeira rodada para as lideranças de cada região. Esse documento foi inspirado na
metodologia utilizada pelo OP de Belo Horizonte, com objetivo de fornecer informações mais
detalhadas e precisas das propostas populares, para que os técnicos da prefeitura pudessem
interpretar melhor as demandas e os motivos que levaram àquela propositura e pudessem
realizar uma análise mais consistente e detalhada da solução proposta.

A flexibilidade na regra de quantidade de obras selecionadas demonstra a importância


e necessidade de o processo contar com espaço de negociação mais amplo, cujo objeto
deliberado não seja só as prioridades, mas também as próprias regras que definirão quais
serão essas prioridades.

O quadro comparativo das dinâmicas na segunda rodada de reuniões reflete a


dificuldade de executar a termo todas as intervenções eleitas, pois inicialmente não havia
limite de quantidade de intervenções pré-determinado nos documentos oficiais, esse limite era
negociável. Nas edições seguintes ocorreram sucessivas limitações e reduções nos
47

quantitativos, em uma tentativa de restabelecer o compasso entre deliberação e execução das


intervenções. Ainda com essas limitações, a prefeitura tem enfrentado grandes dificuldades
em encontrar este equilíbrio, o que será confirmado na seção de análise da execução das obras
da prefeitura mais adiante.

Características
1ª edição 2ª edição 3ª edição
da 2ª rodada
Indicação das Seleção de 6 obras por
Seleção de 6 obras por
prioridades por região, sendo uma por
Eleição de obras região (critério
Unidade de Análise ou bairro ou vila (critério
flexível).
Planejamento flexível).19
Como é o Uma assembléia por Uma assembléia por Uma assembléia por
evento? Unidade de Análise.20 Região. Região.
Participam cidadãos
Quem Participam cidadãos Participam cidadãos
interessados maiores de
participa? interessados. interessados.
16 anos.
Há eleição de
Não. Sim. Sim.
delegados?
Qual o Papel
dos técnicos da Análise de viabilidade técnica e financeira dos técnicos da Prefeitura.
Prefeitura?
Quadro 7 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 2ª Rodada de reuniões.

A Caravana das Prioridades é outra importante ferramenta democrática que compõe o


processo deliberativo do OP, pois promove o sentimento de fraternidade e a solidariedade
entre os participantes. Esse evento sensibiliza as pessoas que vivem realidades diferentes,
moram em regiões diferentes, e são expostas aos problemas uns dos outros de forma que
possam ser comparados, e elencados em um grau de prioridade definido por critérios não só
técnicos, mas também emocionais entre os que participam do processo. O principal elemento
promovido pela Caravana é a empatia, já que participantes podem se colocar mais facilmente
no papel do seu próximo antes de consolidar seu argumento que será utilizado no processo
deliberativo.

Em fevereiro de 2006 ocorreu a primeira caravana do OP referente à primeira edição,


contando com engenheiros da prefeitura que puderam, ao longo do percurso, complementar as

19
Na segunda rodada da 3ª edição cada representante de uma obra teve um minuto para argumentar defesa.

20
Apesar de essa ser a regra constante nos documentos, foi verificado no cronograma de eventos que algumas
localidades receberam mais de um evento nesta fase.
48

informações técnicas aos participantes da caravana.

A Caravana, assim como os formulários de proposição, a utilização de índices de


qualidade de vida como critério redistributivo, a estrutura das rodadas deliberativas e muitas
outras características do OP de Contagem são adaptações da experiência participativa de Belo
Horizonte. A proximidade das cidades, o alinhamento entre as propostas de governo dos dois
prefeitos petistas e o constante o volumoso trânsito de pessoas e informações entre as duas
são os principais elementos que tornaram o OP de Contagem uma adaptação, bem sucedida
em alguns aspectos e nem tanto em outros, do OP de Belo Horizonte.

Características
1ª edição 2ª edição 3ª edição
da 3ª rodada
Aprovação de 3
Aprovação dos Aprovação de 5
empreendimentos por
Eleição de obras empreendimentos a empreendimentos por
Região Administrativa
serem executados. Região Administrativa.
(sendo uma por bairro).
Eleição do Conselho Eleição dos Conselhos
Não, nesta etapa
Eleição de Municipal do Regionais do
ocorre a Eleição dos
Conselheiros? Orçamento Orçamento
Delegados.
Participativo. Participativo.
Uma assembléia por
Como é o Uma assembléia por U ma assembléia por
Unidade de
evento? Região. Região.
Planejamento.
Participam os
Participam cidadãos Participam os
Quem participa? delegados e
interessados. delegados.
convidados.
Preparação para
Caravana Regional de Prioridades (delegados visitam os locais dos
votação e
empreendimentos pré-selecionados antes de votarem).21
defesa?
Quadro 8 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: 3ª Rodada de reuniões.

O evento de encerramento mudou de foco entre a primeira e as edições seguintes, pois


inicialmente ocorria parte do processo deliberativo, mas posteriormente, passou a ser mais
uma solenidade de posse. Não obstante, essa é uma fase importante, em que são entregues à
população, os Cadernos de Intervenções, que servirão de parâmetros para que ocorra o
controle social das intervenções deliberadas, além de configurarem o subproduto mais

21
O §3º do art. 11 da portaria 002/2005 alterou a regra de preparação para votação somente para a primeira
edição: “Excepcionalmente neste primeiro ano, a Coordenação do OP poderá substituir as visitas às indicações
das UAs por relatório: textos, fotos e imagens, a ser apresentado no Congresso”.
49

importante do processo, em que a prefeitura se compromete formalmente com a sociedade em


realizar as intervenções registradas.
A composição da mesa demonstra a relação de dominação do processo, em momento
algum se verifica a ocupação de cadeira por cidadão comum ou mesmo por conselheiro eleito.
Em conseqüência dessa forma organizativa, perdura a baixa capacidade de os participantes
intervirem na definição das regras gerais. Mantendo, conseqüentemente, o distanciamento
relativo entre administrador e administrado de forma a reproduzir o clientelismo histórico de
menos intenso do que nas relações sem o elemento participativo, mas ainda um
relacionamento clientelista, em que a população pede e o governante fornece o que se foi
pedido.

Características
do evento de 1ª edição 2ª edição 3ª edição
encerramento
Participam os Participam os
Quem Participam os Delegados e
Delegados e Delegados e
participa? convidados.
convidados. convidados.
Eleição dos
Conselheiros e
Eleição de Tomam posse os Tomam posse os
Aprovação do
Conselheiros? Conselheiros. Conselheiros.
Regimento do
Congresso.
Apresentação dos Entrega do Caderno de
Entrega do Caderno de
Como o relatórios das Empreendimentos
Empreendimentos
processo é reuniões Regionais aos
Regionais aos delgados,
registrado? (substituem as atas) delgados, para
22 para acompanhamento.
acompanhamento.
Prefeita, Vice-
Prefeita, Secretária de
Prefeito, 1
Planejamento, Secretária
Como é a representante do
Informação Não de Adjunta do OP, mais 1
composição da Legislativo,
Disponível secretário indicado pela
Mesa? Secretário de
prefeita e 1 representante
Planejamento e
do Legislativo.
Coordenador do OP
Quadro 9 – Comparativo da Dinâmica dos Eventos entre as edições ocorridas: Congresso do Orçamento
Participativo, posteriormente chamado de Encontro Municipal de Prioridades Orçamentárias.

Dentre as regras estabelecidas pela portaria 002/2005, a que gera maior quantidade de

22
O OP de Contagem não desenvolveu a prática de elaborar atas de reuniões e aprová-las antes das etapas
seguintes, por outro lado os servidores públicos designados para oferecerem suporte aos eventos elaboram
relatórios das reuniões, que devem ser aprovados pelo Conselho no evento de encerramento da edição.
50

problemas é a da distribuição de recursos e obedece à seguinte fórmula:

O IQVP é o Índice de Qualidade de Vida Populacional23. Tem-se Hi sendo o Número


de Habitantes e Ri sendo a Renda Per Capita, ambos relativos à Unidade de Planejamento em
questão, enquanto, HT é o Número total de Habitantes e RT é a Renda Per Capita total
relativos ao Município como um todo.

Esta portaria determina que o IQVP de cada Unidade de Planejamento seja


multiplicado pelo total de recursos disponibilizados pela Prefeitura, obtendo-se, por fim,
quanto será destinado para a respectiva Unidade de Planejamento ou, adaptando-se a regra
para a estrutura territorial das duas últimas edições, para a respectiva Região Administrativa.

A maior dificuldade de cálculo do IQVP na primeira edição decorreu de não existirem


registros sobre quantidade de habitantes e renda per capita agrupadas por Unidade de Análise
ou mesmo por Unidade de Planejamento, pois os institutos de coleta e tratamento de dados
demográficos possuíam parâmetros de agrupamento de dados distintos dos agrupamentos
utilizados no OP, além disso, a prefeitura não contava com recursos e tecnologia de
tratamento dos dados brutos para conciliá-los com seu próprio método de agrupamento.

Nas duas últimas edições do OP, cujos ciclos deliberativos ocorreram respectivamente
em 2007 e 2009, o IQVP deveria ser calculado por Regiões Administrativas e não por
Unidades de Análise, acompanhando as alterações estruturais que se processaram na dinâmica
do OP para estes ciclos. No entanto, devido aos mesmos problemas já mencionados, essa
regra foi sendo aos poucos abandonada de forma que acabou nem havendo reformulação
explícita para essas edições com nova divisão territorial.

Especificamente em relação à fórmula desenvolvida, o principal problema identificado


é que a soma dos IQVPs das Regiões Administrativas ultrapassam uma unidade, ou seja, a
aplicação da fórmula força a uma distribuição de recursos maior do que o montante
disponibilizado. Analisando-se os dados obtidos através do Atlas do Desenvolvimento

23
Inspirado no IQVU – Índice de Qualidade de Vida Urbana, utilizado pelo OP de Belo Horizonte, experiência
que inspirou também a primeira segmentação territorial utilizada pelo OP de Contagem, as Unidades de
Planejamento.
51

Humano da Região Metropolitana de Belo Horizonte disponibilizado pela Fundação João


Pinheiro (ADH-RMBH), verifica-se uma extrapolação de 7,7% dos recursos disponibilizados
aplicando-se a fórmula por Região Administrativa. Essa extrapolação seria maior se fosse
possível realizar o cálculo por Unidade de Planejamento, pois elas são em maior número do
que Regiões Administrativas. A causa do problema é que a portaria 002/2005 erra em
determinar que os recursos sejam função de uma simples multiplicação de cada índice pelo
total de recursos disponibilizados em vez de utilizar critério de proporcionalidade distributiva
entre os índices das unidades territoriais.

No entanto, na prática, essa distorção pôde ser parcialmente corrigida readequando-se


o montante global deliberado ao destinado, devido ao § 3º do Art. 4º da portaria, que informa
que os valores poderão “... ser ajustados a partir de discussão política da coordenação do OP
a ser referendada no Congresso”. Este Mesmo dispositivo apresenta outro indício da
inviabilidade de utilização o IQVP, pois cita o anexo IV da portaria, que apresentaria a relação
de IQVP por Unidade de Planejamento, e acabou não sendo publicado com esta no Diário
Oficial do Município, ou seja, a não existência de uma tabela de IQVP pode ser devida a
impossibilidade ou inviabilidade de realizar seu cálculo.

Tabela 1 – Quantidade de Habitantes e Renda Percapita das Regiões Administrativas


Região Quantidade de Habitantes Renda percapita IQVP
Administrativa 2000 2000 calculado
Vargem das Flores 61.137 R$ 131,40 0,0742
Ressaca 77.630 R$ 244,16 0,1277
Industrial 95.696 R$ 292,15 0,1855
Nacional 53.418 R$ 204,20 0,0780
Sede 70.944 R$ 313,05 0,1491
Eldorado 99.385 R$ 370,03 0,2712
Riacho 59.213 R$ 368,93 0,1606
Petrolândia 20.594 R$ 211,01 0,0307
TOTAL do
538.017 R$ 280,59 1,0770
Município
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana de Belo Horizonte da Fundação João
Pinheiro.

Para elaborar este estudo apresentado, foram solicitadas informações sobre quantidade
de população e renda per capita das Regiões Administrativas analisadas, mas diante da
incapacidade da Prefeitura em fornecer estas informações, foi necessária a adoção de
metodologia de aproximação de variáveis para realizar as análises relativas ao verdadeiro
52

efeito redistributivo do OP. Em conseqüência disto foi desenvolvida através dos dados brutos
disponibilizados no ADH-RMBH, a tabela agrupada por Região Administrativa apresentada.
A elaboração dessa análise por Unidade de Planejamento se mostrou inviável em
decorrência da forma de agrupamento de dados adotados pelo ADH-RMBH, portanto, optou-
se por trabalhar com Regiões Administrativas não só nas duas últimas edições, mas também
na primeira, apesar dessa não ser a estrutura existente durante as rodadas deliberativas da
primeira edição.
Há algumas distorções de difícil mensuração na tabela apresentada, pois a
configuração geográfica do ADH-RMBH, em que as delimitações e o agrupamento de bairros
ocorrem de acordo com características semelhantes em relação ao desenvolvimento humano,
não coincide perfeitamente com a configuração geográfica adotada pela Prefeitura explicada
em capítulo anterior. Como exemplo, os bairros Sapucaias e Santa Helena estão, segundo a
classificação da FJP, nas Regiões Administrativas Vargem das Flores e Sede respectivamente,
enquanto na classificação utilizada pela Prefeitura estão ambos na Região Administrativa
Petrolândia24.
Além disso, a eficiência da redistribuição de recursos não pode ser medida através da
tabela desenvolvida, pois os dados intra-regionais podem conter alta disparidade,
especialmente tratando-se da renda per capita. Como exemplo, os Índices de Gini (que aponta
a desigualdade da distribuição de renda) de bairros vizinhos, dentro de uma mesma Região
Administrativa se mostram completamente distintos, como os bairros Chácara Boa Vista, com
0,52, e Parque São João, com 0,43 (Fonte: ADH-RMBH). Isso ocorre porque há Regiões
Administrativas de alta renda per capita que possuem pequenas favelas em seu território com
grande disparidade de renda em relação ao restante da região, mas que por possuírem um
percentual pequeno de moradores em relação a toda a região administrativa, os dados sobre
renda são forçados para cima quando agrupados em medidas de tendência central como é o
caso dos apresentados neste estudo.
Diferentemente do estudo do OP de Belo Horizonte desenvolvido por Pires
(MARQUETI, CAMPOS e PIRES. 2008, p. 55-76). Não houve possibilidade de identificar
quantas intervenções do OP de Contagem se deram em vilas ou favelas, impossibilitando
ainda a análise de correlação com outros índices como de Gini ou de pobreza.
Como último ponto de ponderação para as análises que seguirão, verificou-se que a
quantidade de habitantes total apresentada pela FJP está com uma leve diferença de nove

24
Mapas constantes do Apêndice possibilitam melhor visualização das distorções.
53

habitantes em relação à população apresentada pelo IBGE. Sendo assim, optou-se por não
utilizar os dados do IBGE para as análises que envolvem número de habitantes e renda per
capita.
54

4. A IMPORTÂNCIA DO PAPEL REDISTRIBUTIVO NA DEFINIÇÃO DO GRAU DE


PARTICIPATIVIDADE DO OP.

O OP pode ter maior ou menor grau de participatividade, e para fazer esta verificação
é necessária profunda análise sobre as características que o definem comparando-as com os
casos concretos. Avritzer (2003, p.14-15) caracteriza o OP através de quatro elementos cuja
verificação prática está condicionada a interdependências situacionais capazes ou não de
viabilizá-los:

“... a primeira característica do OP é a cessão da soberania por aqueles que a


detêm como resultado de um processo representativo local. A soberania é cedida a
um conjunto de assembléias regionais e temáticas que operam a partir de critérios
de universalidade participativa. Todos os cidadãos são tornados, automaticamente,
membros das assembléias regionais e temáticas com igual poder de deliberação”;
O primeiro elemento, portanto, derivará na verificação da legitimidade da
deliberação em decorrência da soberania cedida pelos governantes de volta aos cidadãos
como caminho inverso do processo de eleição. Na prática, esta legitimidade pode estar
distorcida de várias formas, como exemplo, uma reunião regional cujo número de
participantes que residem e trabalham em outra região é sobrepujante ao número daqueles que
residem e trabalham nesta região apresenta elementos democráticos deturpados, pois o natural
conflito de interesses penderá em desfavor dos que legitimamente decidiriam sobre a sua
região. Esta situação já foi verificada com fenômenos como a utilização de “vans e ônibus do
OP”, em que cidadãos mais politicamente engajados de outras regiões, aparecem em maior
número nas reuniões de uma região diferente, influenciando significantemente o resultado das
deliberações. Em Contagem, não há registros sobre este fenômeno.

Outro questionamento de legitimidade do processo deliberativo ocorre quando o


número de representantes da administração pública é demasiado em relação aos demais
cidadãos na composição do Conselho do Orçamento Participativo, ou se aqueles
representantes são os únicos a comporem a mesa ou ainda se são maioria na mesa. Em
Contagem, os membros do governo e servidores públicos possuem participação vedada nas
etapas de votação sobre intervenções, ou na escolha de delegados e conselheiros, no entanto, a
mesa dos eventos é composta somente por membros do governo, bem como a definição da
agenda e dos critérios não se dá de forma participativa.

O nível de legitimidade da deliberação também deve ser ponderado ao se considerar


55

todos os cidadãos como membros automáticos das assembléias, pois sua participação efetiva
muitas vezes não se processa devido à desigualdade de oportunidade ou capacidade de
participação, e não pela opção de não participação que legitimaria as decisões das
assembléias. Essa situação ocorre principalmente em assembléias temáticas, em que a
assimetria de informações desequilibra o natural conflito de interesses em desfavor dos que
não obtiveram acesso isonômico aos dados e informações referentes ao tema de seu interesse.
O estudo desenvolvido sobre o OP de Contagem não permite mensurar este fenômeno da
assimetria da informação e suas conseqüências sobre a oportunidade ou capacidade
participativa de indivíduos no processo.
“... em segundo lugar, o OP implica a reintrodução de elementos de participação
local, tal como as assembléias regionais, e de elementos de delegação, tal como os
conselhos, a nível municipal, representando, portanto, uma combinação dos
métodos de democracia participativa;” (Avritzer. 2003, p.14-15).

A reintrodução de elementos de participação e delegação, por si só não são


suficientes para levar a cabo os resultados efetivos do que se foi deliberado. A experiência de
Blumenau apresentada por Reidy Rolim de Moura (2007) demonstra que a falta de
compromisso e de vontade política por parte da administração pública degradam os elementos
de delegação, ou seja, de fato a efetividade das deliberações não foi plenamente alcançada, as
ações não foram implementadas, e as atividades de participação por infrutíferas
descaracterizam-se como tal, tornando esta experiência de OP pouco próxima da proposta
original de promoção da democracia participativa.
Assim, elementos de participação e delegação só se efetivam com o constante
incentivo e adequação dos governantes que as promovem, como verificado em Contagem,
pois a mobilização e promoção dos eventos realizados pela prefeitura alavancam os elementos
de participação e de delegação.
Gerenciar um modelo participativo de planejamento público implica em fomentar,
mobilizar, receber e processar tensões externas e, por fim, executar o plano desenvolvido. A
vontade política do gestor é fator-chave no sucesso de um processo participativo, visto que
este é o portador de todo o poder a ele conferido pelo povo através do voto, e uma vez com o
poder, cabe a ele decidir como e quando compartilhá-lo novamente com àqueles que o
empoderaram.

“em terceiro lugar, o OP baseia-se no princípio da auto-regulação soberana, ou


seja, a participação envolve um conjunto de regras que são definidas pelos próprios
participantes, vinculando o OP a uma tradição de reconstituição de uma gramática
social participativa na qual as regras de deliberação são determinadas pelos
próprios participantes;” (Avritzer. 2003, p. 14-15).
56

Dentre todas as características esta é a mais complexa de se analisar, pois desde o


processo de formação do Estado e criação das Leis até a definição das formas de participação
no Brasil se encaixam perfeitamente no princípio da auto-regulação soberana, já que em
momento nenhum outro Estado ou outro povo que não o brasileiro intervém diretamente
nestes processos. Cabe ressaltar que a definição das regras pelos próprios participantes, não
significa necessariamente que todos os participantes são ativos no processo, pois há aqueles
que possuem uma atuação passiva, mas participam deste de qualquer forma, mesmo em
desvantagem ou desigualdade. Assim, mesmo que as regras do OP ou do Conselho do OP
sejam definidas por Decreto ou Lei municipal, sua determinação continua a basear-se no
princípio da auto-regulação soberana, pois o Prefeito e/ou Vereadores que participaram da
definição das regras foram democraticamente eleitos pelo exercício da vontade soberana do
povo que os elegeram.

Por outro lado, vê-se que o autor apresentou esta característica, com a intenção de
tratar da autonomia organizativa do OP, ou seja, quanto mais liberdade os participantes do OP
tiverem para decidir sobre sua estrutura e funcionamento, mais forte será a reconstituição de
uma gramática social participativa. Neste caso, o OP pode passar por fases mais ou menos
autônomas, envolvendo estágios de maturidade ou até mesmo de ruptura com a participação.
Em conseqüência desta última linha interpretativa, pode-se considerar que no caso de
Contagem a autonomia do OP é muito baixa.

“em quarto lugar, o OP se caracteriza por uma reversão das prioridades de


distribuição de recursos públicos a nível local através de uma fórmula técnica (que
varia de cidade para cidade) de determinação das prioridades orçamentárias que
privilegia os setores mais carentes da população. As principais experiências de OP
associam o princípio da carência prévia no acesso a bens públicos a um maior
acesso a esses mesmos bens.” (Avritzer. 2003, p. 14-15).
A última característica apresentada é a que melhor pode vincular a proposta de uma
estrutura de democracia participativa a um resultado de justiça social ampliado. Histórica e
conceitualmente, todos os governos municipais atuam em prol de melhorias em todos os
níveis de estrutura das cidades administradas, sendo que as prioridades são definidas quando
da elaboração dos Planos de Governo ou são redesenhadas através de diálogos e embates com
grupos de interesses, setores da sociedade e/ou movimentos sociais. O OP altera esta
dinâmica, trazendo segmentos tradicionalmente excluídos para esses diálogos e embates
através de uma estrutura institucionalizada, buscando conceder pesos iguais aos indivíduos
que participam do processo deliberativo e melhorando sua condição de negociação no
universo político em que atuam os segmentos melhores estruturados. Esta alteração de
57

estrutura decisória dentro do Estado seria, portanto, responsável por alterar a distribuição de
recursos públicos entre as regiões do município em questão ou entre os públicos alvos das
políticas públicas em questão.

O que se têm revelado é que o perfil dos participantes e as regras formais (critérios
técnicos e definição de indicadores) na indução de resultados distributivos exercem um papel-
chave no aumento desta quarta característica dos OPs, além disso, a maturidade (tempo de
existência e de experiências) dos OPs também é relevante na consolidação do papel
redistributivo. Há também diversos fatores que influenciam diretamente esta característica,
como o volume de recursos que são objeto de deliberação no OP, a variabilidade na oferta
desses recursos ao longo do tempo, a proporcionalidade destes em relação ao orçamento
global do município, eventuais crises econômicas e alterações na arrecadação municipal, além
da eficiência da máquina administrativa em reproduzir as condições de participação popular e
de executar as decisões resultantes do processo (MARQUETTI, CAMPOS e PIRES, 2008).

Assim, esta quarta característica pode ser estudada através da verificação dos
recursos que são redistribuídos através do processo do OP, identificando e mensurando o
impacto dos diversos fatores com potencial de alterar esse efeito redistributivo. As sessões
que seguem se dedicam a esse trabalho, para tentar estabelecer em seguida, a relação entre a
redistribuição de recursos através do OP e a busca uma justiça social ampliada, sob o contexto
histórico vivenciado em Contagem.

4.1. FATORES INTERNOS AO PROCESSO DO OP QUE INFLUENCIAM NA


REDISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS.

Ao serem analisados os dados sobre os recursos efetivamente deliberados, foram


percebidas discrepâncias entre eles e as regras redistributivas anunciadas, em especial na
terceira edição do OP. Aparentemente, na primeira edição, os recursos pareciam ser
distribuídos em maior ou menor quantidade para cada Região Administrativa, no entanto, a
diferença entre o total de cada Região parecia se tornar cada vez mais insignificantes, até que
na terceira edição, parecia não haver nenhuma diferença entre o total de cada Região.
Essa tendência observada, atrelada aos já mencionados problemas sobre a
aplicabilidade da fórmula do IQVP, levam ao questionamento sobre a confiabilidade da
58

redistribuição com base nessa regra. A dificuldade em se aplicar uma fórmula pode ter levado
a Prefeitura a abandonar este critério.

Por isso, surgiu a necessidade de identificar se, na prática, as variações nas


distribuições dos recursos seguiam as variações existentes nas quantidades de habitantes e
renda per capita, ou no IQVP de cada Região Administrativa, pois essa redistribuição poderia
não estar sendo feita de acordo com os critérios formalmente estabelecidos.

O Coeficiente de Correlação Linear de Pearson é uma medida estatística que tenta


identificar a influência mútua na variação de dois ou mais conjuntos de dados, o que no caso
apresentado seria a influência mútua na variação dos recursos distribuídos por Região, em
relação à renda per capita, à quantidade de habitantes ou ao IQVP dessas Regiões. Verificou-
se coeficientes de correlação de duas variáveis entre uma das citadas e os recursos
redistribuídos, que diminuem modularmente na maioria dos casos ao longo das edições,
enquanto o esperado seria aumento modular (positivo com número de habitantes e IQVP, e
negativo com a renda per capita) em decorrência do aprimoramento ou readequação do
critério ao longo das edições:

Tabela 2 – Correlação entre as vaiáveis analisadas na fase de disponibilização


Correlação com a
Recursos Correlação com a Correlação
quantidade de
disponibilizados renda per capita com IQVP
habitantes
2ª edição 16,70% 64,40% 58,48%
3ª edição -1,90% 55,99% 26,17%

Tabela 3 – Correlação entre as vaiáveis analisadas na fase de deliberação


Recursos Correlação com a Correlação com a Correlação com
deliberados renda per capita quantidade de habitantes IQVP
1ª edição 54,73% 78,65% 75,85%
2ª edição 23,39% 71,78% 65,10%
3ª edição -26,64% 9,80% -16,92%

Os valores de referência modulares para uma fraca correlação são os inferiores a 50%,
enquanto os superiores a 95% indicam correlação muito forte. As variáveis que apresentam
coeficiente entre 75% e 95% são consideradas fortemente, enquanto entre 50% e 75% são
consideradas moderadamente correlacionadas.

De forma geral, as variações na distribuição ou destinação de recursos se


59

correlacionam na primeira edição de forma moderada a forte, mas na seguinte, se


correlacionam de maneira fraca e eventualmente moderada. A correlação com a renda per
capita foi negativa somente na última edição, mas ainda fraca, enquanto nas outras edições, a
correlação positiva indica uma grave incoerência entre a proposta e os fatos, já que se deseja
que quanto menor a renda per capita da região, maior seja a quantidade de recursos
destinados. Já em relação á quantidade de habitantes, a correlação se mostrou mais forte
principalmente na fase de deliberação, sendo o provável responsável pelos conseqüentes
resultados de correlação entre os recursos e o IQVP, já que esse índice é composto por aquela
variável, mas ao longo do tempo, a queda na correlação também foi significativa.

O comportamento verificado sugere que estes critérios foram sendo esquecidos ou


relegados ao longo das edições. Tal comportamento é qualitativamente reforçado ao serem
analisados os documentos que definem as regras de destinação dos recursos, sendo que na
primeira edição criou-se a regra, mas não foi publicado seu quadro de disponibilização dos
recursos, enquanto nos documentos da segunda edição não há qualquer menção a tais regras, e
por fim, na terceira edição a menção é superficial, relatando apenas que seriam considerados a
proporcionalidade direta com a renda per capita e a proporcionalidade inversa com a
quantidade de habitantes das Regiões Administrativas.

Diante deste contraste entre os dados, foi necessário analisar profundamente as


informações obtidas em entrevista com servidores da Secretaria Adjunta do Orçamento
Participativo, bem como a regra estipulada pela portaria 002/2005 e documentos posteriores,
sobre o critério técnico redistributivo adotado. Para isso, procedeu-se às regressões lineares
múltiplas e simples, em um nível de confiança de 90% com os dados disponíveis de todas as
edições do OP. Diante da indisponibilidade dos dados sobre os recursos destinados ao OP na
primeira edição, optou-se por realizar uma análise suplementar com os dados sobre os
recursos deliberados, visto que estes guardam proximidade com o que teria sido previamente
destinado.
Adotou-se como variável dependente a prévia disponibilização de recursos pela
prefeitura em um primeiro momento e, devido à indisponibilidade citada, no segundo
momento foram utilizados como variável dependente os recursos deliberados em uma análise
suplementar. Em ambos os momentos as variáveis independentes testadas foram: quantidade
de habitantes e renda per capita, na regressão múltipla e IQVP, na regressão simples.
Partindo da regressão linear simples com apenas uma variável independente, sabemos
que o coeficiente de determinação R2 (R-quadrado) dá a porcentagem de variações na variável
60

dependente explicadas pela variável independente na regressão, mas ao adicionar uma nova
variável independente, o valor de R2 não pode diminuir, aumentando em alguns casos. O
coeficiente de determinação ajustado, portanto, tenta compensar o aumento natural de
explicação R2 ao aumentar o numero de variáveis independentes. O R2 ajustado (R-quadrado
ajustado) é, assim, o coeficiente de determinação ajustado, medida usada em regressão linear
múltipla (LAPPONI, 1997, p. 371).
O Teste F de Fisher-Snedecor verifica se as variáveis independentes explicam
conjuntamente, de maneira adequada, a as variações na variável dependente, com certo grau
de confiabilidade. (LAPPONI, 1997, p. 372). A hipótese testada é de que pelo menos uma
variável independente não explica as variações na variável dependente, ou seja, que pelo
menos um coeficiente angular seja nulo.
Já o Teste t bicaudal é realizado com objetivo similar ao Teste F, no entanto, com ele
analisam-se os coeficientes angulares de cada variável separadamente, através da hipótese de
que estes sejam nulos. Por fim, o Valor-p é utilizado principalmente quando o número de
observações é pequeno e pode distorcer o resultado do Teste t, e ele representa a probabilidade
de que o coeficiente angular testado seja nulo, de forma que não pode ser maior do que 10%,
dado o nível de confiança estabelecido nesta análise.

Estatística de teste para aceitação 1ª edição e 2ª edição 3ª edição


Estatística F observada > tabelado de: 4,325 3,78
Estatística t observada > tabelado de: 1,943 1,895
Quadro 10 – Valores de referência da análise estatística para aceitação do modelo de regressão:

Tendo por base o coeficiente de determinação R2 para as regressões simples e R2


ajustado para as regressões múltiplas, verificou-se que não há continuidade de explicação nas
variações dos recursos distribuídos ao longo das edições, já que a cada momento, um modelo
de regressão obteve melhor êxito na capacidade de explicar a redistribuição dos recursos,
como será visto adiante. Bem como, nenhum dos modelos consegue explicar pelo menos 60%
das variações, o que torna qualquer um deles pouco satisfatório. Além disso, o modelo de
regressão linear simples em que o IQVP explica os recursos deliberados foi o único aprovado
em todos os testes estatísticos, e ainda assim, somente em relação à primeira edição, em que
mesmo com uma capacidade explicativa de apenas 57,54%, não pôde ser extrapolado para
explicar a fase de destinação dos recursos (fase na qual se esperava maior explicação do que a
61

de deliberação, já que se trata de um critério técnico) 25.

Tabela 4 - Coeficientes de Regressão para explicação dos recursos distribuídos nas edições do
OP em Contagem.
Coeficiente de Regressão
Coeficiente de Regressão
Múltipla - R2 ajustado,
Recursos Linear Simples - R2 para
para Renda per capita e
IQVP
Quantidade de Habitantes
Disponibilizados na 2ª edição 0,46657 0,34198
Disponibilizados na 3ª edição 0,20718 0,06848
Deliberados na 1ª edição 0,43429 0,57535
Deliberados na 2ª edição 0,59250 0,42381
Deliberados na 3ª edição -0,20028 0,02864

Foi na segunda edição do OP que se encontrou o modelo de regressão que apresentou


melhor desempenho em explicar os critérios de distribuição dos recursos através da regressão
linear múltipla, com as variáveis independentes Renda Per Capita e Quantidade de Habitantes.
Isso porque 46,66% dos recursos disponibilizados foram explicados por esse modelo e,
através da análise suplementar foi verificado que 59,25% dos recursos deliberados puderam
ser explicados pela regressão múltipla.

Figura 1 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos Deliberados (2005).

Como não há registro dos dados sobre os recursos disponibilizados pela prefeitura ao
OP em 2005, a análise suplementar dos recursos deliberados apontou que os modelos lineares

25
Tabelas com todos os resultados dos testes estatísticos encontram-se no Apêndice.
62

de regressão não se saíram bem o suficiente. O modelo de regressão polinomial de uma


variável independente (IQVP) explicou 58,6% das variações ocorridas nesses recursos
deliberados, enquanto no modelo linear múltiplo 43,4% são explicados pela renda per capita e
pela quantidade de habitantes simultaneamente, e no modelo linear simples, apenas 57,5%
desses recursos são explicados pelo IQVP, conforme gráfico comparativo anterior.

Em relação aos modelos de regressão múltipla de todas as edições, os coeficientes


angulares calculados apresentaram possibilidade de nulidade, o que invalidaria a regressão,
exceto nos casos que serão comentados mais adiante. Para tanto, foi identificada se as
probabilidades de nulidade estariam abaixo de 10%, dada a confiança definida no início dos
testes.

Dessa forma, na regressão múltipla, o Teste F apontou que somente a segunda edição
do OP apresentou variáveis independentes satisfatoriamente explicativas dos recursos
deliberados. Em todos os outros casos, os valores calculados de F foram menores do que os
tabelados, indicando que em cada modelo pelo menos uma variável não estava adequada.

Partindo para a análise individual das variáveis independentes sobre a dependente, o


Teste t bicaudal apresentou valores calculados menores do que os tabelados para a variável
Renda Per Capita em todos os conjuntos de dados, indicando que esta variável não é
explicativa de nenhum dos casos. Para a variável Quantidade de Habitantes, o teste mostra
que a variável explica tanto os recursos destinados quanto os deliberados somente na segunda
edição, enquanto na terceira a explicação se dá somente para a fase de destinação, que é a fase
em que se procura a explicação mais relevante, já que a outra fase é aqui utilizada somente
para uma análise suplementar.

Tabela 5 – Resumo dos resultados de regressões lineares múltiplas de recursos previamente


destinados.
2ª edição 3ª edição
Estatística F 3,623995 1,914623
F de significação 0,1264 0,2413
Estatística t referente ao coeficiente angular da variável
2,633302724 1,95603212
quantidade de habitantes
Estatística t referente ao coeficiente angular da variável
-1,607015216 -1,030078816
renda per capita
Valor-p referente ao coeficiente angular da variável
0,057985 0,107834
quantidade de habitantes
Valor-p referente ao coeficiente angular da variável renda
0,183328 0,3502
per capita
63

Tabela 6 – Resumo dos resultados de regressões lineares múltiplas de recursos deliberados


1ª edição 2ª edição 3ª edição
Estatística F 3,303066 5,361936 0,415992
F de significação 0,1422 0,0693 0,6806
Estatística t referente ao coeficiente angular da
1,851713 3,149353 0,646675
variável quantidade de habitantes
Estatística t referente ao coeficiente angular da
-0,21275 -1,77159 -0,88088
variável renda per capita
Valor-p referente ao coeficiente angular da variável
0,137716 0,034535 0,546351
quantidade de habitantes
Valor-p referente ao coeficiente angular da variável
0,841928 0,151159 0,418705
renda per capita

Como tanto o Teste F quanto o Teste t foram realizados em um número muito reduzido
de observações, são verificados os Valores-p para eliminar as decorrentes distorções geradas.
Este quesito refuta os resultados de todos os modelos, com apenas uma ressalva sobre
segunda edição do OP em que a variável Quantidade de Habitantes apresenta explicação
relevante sobre a destinação e, também, sobre a deliberação de recursos (como comprovado
na análise suplementar).

Foi realizada regressão linear simples para o modelo em que o IQVP é a variável
explicativa dos recursos distribuídos, e em analise suplementar, dos recursos deliberados. Em
todas as edições, o modelo foi rejeitado tanto no Teste F, quanto no Teste t e no Valor-p. A
exceção ocorreu na primeira edição, sobre a fase de deliberação de recursos (em a explicação
é somente suplementar, já que o critério técnico é para destinação e não para esta fase), em
que o modelo poderia ser aceito, já que seus Testes F e t foram respectivamente 6,77 e 2,60,
ambos maiores do que os tabelados, convalidados por um Valor-p de apenas 4,8%, se
posicionando dentro do limite de 10% relativos à confiança de 90% estabelecida.

Por outro lado, como foi apontada anteriormente, a regressão polinomial se saiu
melhor para explicar esta edição. De qualquer forma, não há segurança suficiente para
aproximar os resultados do modelo que explica os recursos deliberados de um modelo que
explicaria os recursos destinados nesta edição.

Apesar da regressão linear não excluir a hipótese de que existam regressões não-
lineares aplicáveis, sabe-se que o excesso de coeficientes prejudica a capacidade de
explicação do modelo, já que uma maior quantidade de coeficientes é capaz de gerar padrão
até mesmo na mais aleatória das distribuições (tendência comum na distribuição polinomial,
64

por exemplo), e que, ainda que existam, tais modelagens só são possíveis, quando padrões de
distribuição são identificáveis com mais segurança do que a obtida com reduzido número de
observações como as deste estudo. A título de simples verificação processou-se avaliação de
outros modelos de regressão sobre os dados da segunda e terceira edições explicáveis pelo
IQVP, assim como foi feito com a primeira. Resumidamente seguem as Figuras abaixo
representando as regressões, todos com baixos índices R2, de capacidade explicativa.

Figura 2 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos Disponibilizados
(2007).

Figura 3 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos Deliberados (2007).
65

Figura 4 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos Disponibilizados
(2009).

Figura 5 - Comparativo de modelos de regressão com uma variável explicativa – Recursos Deliberados (2009).

Assim, sobre a primeira edição do OP, se pode afirmar que o IQVP foi importante na
definição dos recursos a serem redistribuídos, mesmo não se tendo conseguido utilizar a regra
de forma plena, por incongruências na concepção e aplicabilidade da fórmula. Nas demais
edições, como comprovado, o IQVP foi rejeitado como variável explicativa, indicando a
existência de outras variáveis não conhecidas.
66

Restou comprovado também que a Renda Per Capita, sozinha, não tem papel relevante
no processo de distribuição em nenhuma das edições enquanto a Quantidade de Habitantes
teve papel relevante, mas somente na segunda edição. Com isso, confirma-se que os recursos
redistribuídos às Regiões Administrativas de Contagem sofrem influência de outras variáveis
mais importantes do que as informadas nos documentos oficiais. Dentre as possíveis
variáveis, cabe destacar as derivadas de relações políticas não explícitas, e portanto, sutis de
mais para serem medidas com confiabilidade suficiente, como por exemplo uma tentativa de
amenizar a dificuldade de se aplicar o método do IQVP ou uma negociação extra oficial com
lideranças que participam do processo deliberativo. São variáveis decorrentes de arranjos,
alianças e estratégias derivadas da configuração e da dinâmica dessas relações políticas, cujo
mapeamento não foi objeto deste estudo.
O único critério adotado, que de fato vincula uma característica de fragilidade social à
redistribuição de recursos é, durante a fase deliberativa, o peso de 1,4 no voto26 em
intervenções cuja área seja considerada de situação de risco. No entanto, este critério não é
utilizado na fase de destinação dos recursos para as Regiões Administrativas, trata-se apenas
de um critério eletivo de intervenções, o que sozinho não permite mensurar a redistribuição
em âmbito municipal, somente no âmbito de cada Região Administrativa, o que não foi foco
de investigação neste estudo.

4.2. FATORES EXTERNOS AO PROCESSO DO OP QUE INFLUENCIAM NA


REDISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS.

Assim como os fatores internos, há fatores externos que influenciam, ou deveriam


influenciar as atividades do OP. Um sistema bem adaptado deve possuir a capacidade de
assimilar fatos que ocorrem em suas fronteiras para não ser eventualmente “engolido” por

26
Os votos para intervenções em áreas em situação de risco são acrescidos de 40% em relação àquele das demais
obras fora dessas áreas. Estudos técnicos desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Habitação definem as áreas
em situação de risco que passam a ser monitoradas pelo Comitê Gestor de Área de Risco (Decreto 1249/2009).
Elas se constituem geralmente em encostas, áreas inundáveis, margens dos cursos d’água e terrenos de
tratamento de resíduos sólidos. Como são áreas impróprias para a habitação padrão, sua ocupação se dá
irregularmente por famílias pobres, que não têm as condições necessárias para manipular e adequar o terreno à
construção civil, tornando-se assim, regiões isoladas e excluídas, carentes de serviços públicos, saneamento
básico, segurança pública, além do risco natural que já apresentam. Esse critério é uma tentativa mais
simplificada de adaptar o critério técnico utilizado pelo OP de Belo Horizonte, em que também é dado peso
especial aos votos em intervenções nas áreas de inclusão urbano-social, caracterizadas por indicadores de
pobreza, analfabetismo, risco à saúde e de saneamento básico.
67

adversidades sobre as quais não se tem domínio. O OP, portanto, deve se adaptar ao contexto
sócio-econômico em que está inserido, em relação aos demais recursos públicos disponíveis,
níveis de arrecadação, crise econômica e tendências de gestão pública.
A execução orçamentária anual do município vinha crescendo nos primeiros anos de
existência do OP, em torno de 20% ao ano, mas em 2009, a crise econômica global gerou
impactos sobre o Orçamento Municipal (OM), de forma que sua execução nesse ano foi 5%
menor do que o do ano anterior. Não obstante, os recursos destinados ao OP para este biênio
pós-crise foram 74,1% superiores ao destinado para o biênio anterior.
Para a análise da relação entre os recursos do OP e do OM, os dados foram agrupados
bienalmente, em consonância com a proposta de execução do OP. Da primeira para a segunda
edição do OP não houve nenhuma alteração no montante de recursos destinados a ele, ao
passo que no mesmo período a execução orçamentária municipal foi 27,5% superior,
indicando certo grau de desvinculação entre as características que impactam o orçamento
municipal e as que impactam o OP.

Orçamento
1ª Edição do OP 2ª Edição do OP 3ª Edição do OP
Municipal
Autorizado 2006 581.388.504,00 2008 849.507.209,00 2010 998.099.477,00
pelo 2007 657.358.605,00 2009 1.015.445.006,00 2011 Não previsto
Legislativo Total 1.238.747.109,00 Total 1.864.952.215,00 Total Não previsto
2006 544.779.801,46 2008 799.243.539,10
Executado
2007 675.690.136,35 2009 756.442.203,09 Não executado
(Empenhado)
Total 1.220.469.937,81 Total 1.555.685.742,19
2006 533.428.828,64 2008 779.131.711,64
Liquidado 2007 653.094.083,06 2009 719.405.154,32 Não liquidado
Total 1.186.522.911,70 Total 1.498.536.865,96
Quadro 11 – Informações Orçamentárias Municipais Totais em Reais (R$). Fonte: LOAS e Relatórios de
Prestação de Contas Anuais de 2006 a 2010.

Com isso, conclui-se que tanto a crise econômica como a variação da arrecadação
municipal não influenciaram diretamente na disponibilização de recursos ao OP, o que não
significa que conforme amadureça esta experiência participativa, esses elementos não
passarão a se refletir no OP futuramente. Acredita-se que o OP é uma experiência em que não
só a população aprende a exercer sua cidadania como os próprios governantes aprendem
como melhor utilizar esses instrumentos na sua gestão.
Sob outro viés de verificação, a crise poderia sim ter afetado o OP, não na etapa de
destinação de recursos, mas na etapa de execução das intervenções estendendo-as além do
tempo previsto, o que contribuiria na protelação de suas finalizações e entregas aos cidadãos.
68

No entanto, essa influência também não foi muito relevante sobre as intervenções entregues
até o momento, como será verificado mais adiante.

Orçamento de
1ª Edição do OP 2ª Edição do OP 3ª Edição do OP
Investimentos
2006 94.599.275,00 2008 258.034.547,00 2010 198.572.966,00
Autorizado pelo
2007 94.599.275,00 2009 214.523.309,00 2011 Não previsto
Legislativo
Total 189.198.550,00 Total 472.557.856,00 Total Não previsto
2006 22.772.489,17 2008 111.605.419,06
Executado
2007 70.201.256,37 2009 59.335.632,42 Não executado
(Empenhado)
Total 92973745,54 Total 170941051,48
2006 20.661.995,32 2008 103.476.054,80
Liquidado 2007 61.592.897,88 2009 47.610.420,48 Não liquidado
Total 82.254.893,20 Total 151.086.475,28
Quadro 12 – Informações do Orçamento Municipal de Investimentos em Reais (R$). Fonte: LOAS e Relatórios
de Prestação de Contas Anuais de 2006 a 2010.

Orçamento de
Obras e
Instalações,
aquisição de
1ª Edição do OP 2ª Edição do OP 3ª Edição do OP
imóveis,
equipamentos e
material
permanente
2006 75.641.048,00 2008 186.594.281,00 2010 160.219.923,00
Autorizado pelo
2007 75.641.048,00 2009 19.2874.575,00 2011 Não previsto
Legislativo
Total 151.282.096,00 Total 379.468.856,00 Total Não previsto
2006 18.957.564,08 2008 95.565.370,37
Executado
2007 64.568.831,78 2009 51.115.281,14 Não executado
(Empenhado)
Total 83.526.395,86 Total 146.680.651,51
2006 16.876.255,73 2008 87.711.802,54
Liquidado 2007 55.996.023,29 2009 39.557.727,31 Não liquidado
Total 72.872.279,02 Total 127.269.529,85
Quadro 13 – Desdobramento do Orçamento Municipal de Investimentos nas ações correlatas às do OP em Reais
(R$). Fonte: LOAS e Relatórios de Prestação de Contas Anuais de 2006 a 2010.

Tabela 7 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre o Orçamento


Municipal Total.
OP/Orçamento Municipal 1ª edição 2ª edição 3ª edição
Deliberado/Autorizado 0,5575% 0,3047% Não previsto
Deliberado/Empenhado 0,5658% 0,3653% Não executado
Deliberado/Liquidado 0,5820% 0,3792% Não liquidado
69

Tabela 8 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre o Orçamento


Municipal de Investimentos.
OP/Orçamento Municipal de
1ª edição 2ª edição 3ª edição
Investimentos
Deliberado/Autorizado 3,6501% 1,2025% Não previsto
Deliberado/Empenhado 7,4279% 3,3242% Não executado
Deliberado/Liquidado 8,3959% 3,7611% Não liquidado

Tabela 9 – Relação percentual entre os Recursos deliberados no OP sobre as ações correlatas


ao Orçamento Municipal de investimentos, cujo desdobramento envolve obras, instalações,
aquisições de imóveis, equipamentos e material permanente.
OP/ Orçamento de Obras e
Instalações, aquisição de
1ª edição 2ª edição 3ª edição
imóveis, equipamentos e
material permanente
Deliberado/Autorizado 4,565% 1,4975% Não previsto
Deliberado/Empenhado 8,2680% 3,8740% Não executado
Deliberado/Liquidado 9,4769% 4,4649% Não liquidado

O volume de recursos deliberados no OP e sua proporção sobre o orçamento são


características capazes de demonstrar a amplitude e a relevância do caráter participativo no
processo de planejamento público. Em relação aos resultados redistributivos, o OP de
Contagem mostra perda de relevância ao longo das edições, pois os recursos mobilizados no
processo são de pouca significância. O volume de recursos destinado ao OP passaram a ser na
segunda edição menos da metade do que eram na edição anterior em relação ao Orçamento de
Investimentos.
A mesma característica se repete ao serem analisadas somente os investimentos do
grupo em que se enquadram as intervenções do OP. Por outro lado, há uma tendência de
ajuste nessa significância na terceira edição, pois o volume de recursos destinados é muito
maior do que nas edições anteriores (Nesta análise, não foram considerados os recursos
destinados ao OP digital, cuja dinâmica participativa é essencialmente diferente daquela
adotada no OP tradicional, especialmente no que tange ao levantamento de demandas e à
propositura de intervenções).

Destinação dos Recursos 1ª edição 2ª edição 3ª edição


ao OP tradicional 7 milhões de reais 5,6 milhões de reais 12 milhões de reais
ao OP digital Não houve 1,4 milhões de reais Não houve
Quadro 14 – Informações orçamentárias resumidas do OP – Destinação de Recursos. Fonte: Cadernos de
Intervenções do OP e Portaria 002/2005 da Secretaria Municipal de Planejamento.
70

Deliberação dos Recursos 1ª edição 2ª edição 3ª edição


Total dos recursos Deliberados no
R$ 6.906.000,0027 R$ 5.682.450,00 R$ 12.260.074,36
OP tradicional
Quadro 15 – Informações orçamentárias resumidas do OP – Deliberação de Recursos. Fonte: Cadernos de
Intervenções do OP e Portaria 002/2005 da Secretaria Municipal de Planejamento.

Mesmo sem serem conhecidos os dados do orçamento de 2011, e utilizando uma


projeção simplificada baseada na última variância dos orçamentos autorizados em Lei
Orçamentária Anual (LOA), espera-se que os recursos destinados ao OP em sua terceira
edição, apesar de 71,4% maiores do que os das edições anteriores, representem entre 3% e
3,2% do Orçamento de Investimentos autorizado para o Biênio, o que continuará sendo
menos do que a relação oferecida na primeira edição.

O OP tem espaço para ampliar seus recursos, pois mesmo existindo os limites legais
com Folha de Pagamento e Endividamento (Lei Complementar Federal 101/2000), além dos
mínimos constitucionais com Educação e Saúde, não há limitações em se criar regras
similares no OP, estabelecendo mínimos para a Saúde ou para a Educação, ou proibindo
aumentos na Folha de Pagamento. Como exemplo, poderia ser estabelecido, em consonância
com a legislação vigente, que 25% dos recursos destinados ao OP fossem para Educação e
13% para a Saúde, e ainda, que seriam vetadas intervenções que ampliassem o quadro de
servidores.

Tabela 10 – Intervenções deliberadas por área de política pública


Área de Política Pública 1ª edição 2ª edição 3ª edição
Educação 0 1 9
Saúde 0 5 2
Esporte, Cultura e Lazer 12 4 6
Urbanização 26 29 3
Reassentamento 0 2 0
Assistência Social 0 1 1

Por outro lado, não necessariamente os participantes podem entender essas áreas como
prioritárias, já que um dos papéis do OP em seu efeito redistributivo é a inversão de

27
Além destes recursos deliberados, houve intervenções que não foram agraciadas na última rodada deliberativa
do OP, mas que foram incorporados no Planejamento Público, sendo executados. O OP é também um
instrumento de gerenciamento de demandas. A essas obras, que estariam em segunda escala de prioridades foram
destinados R$ 5.924.000,00, as quais eram 22 intervenções na área da saúde e 6 na área da educação. O conjunto
das intervenções originadas no processo referente à primeira edição do OP chega a 12,83 milhões de reais.
71

prioridades. Os quadros de intervenções por área de política pública mostram que em


Contagem, a primeira prioridade do OP ao longo de duas edições foi Urbanização, tornando-
se a mesma, segunda prioridade somente na terceira edição, quando os participantes
entenderam como primeira prioridade as intervenções na área da educação.
O que não se tem como avaliar é se caso houvesse um maior volume de recursos
disponibilizados, as prioridades teriam permanecido nas mesmas áreas ou se teriam mudado,
já que prioridades mais urgentes não são necessariamente as que geram mais mobilização de
recursos. Ou seja, poderiam ser mais urgentes pavimentos asfálticos e drenagem pluvial em
vários bairros, movimentando um volume menor de recursos, enquanto a construção de um
único hospital em segundo grau de urgência movimentaria volume maior de recursos.
O quadro que segue demonstra um desses casos, pois na segunda edição, mais
recursos foram deliberados na aplicação em Esporte, Cultura e Lazer do que em Saúde, no
entanto, a quantidade de intervenções na área da Saúde foi maior, como visto no quadro
anterior.

Área de Política 1ª edição 2ª edição 3ª edição


Pública R$ % R$ % R$ %
Educação 0,00 0,0% 252.000,00 4,4% 5.848.865,00 38,3%
Saúde 0,00 0,0% 622.000,00 11,0% 717.000,00 4,7%
Esporte, Cultura e
2.296.000,00 33,2% 797.000,00 14,0% 1.658.115,14 10,9%
Lazer
Urbanização28 4.610.000,00 66,8% 3.516.950,00 61,9% 3.812.794,22 25,0%
Reassentamento 0,00 0,0% 340.000,00 6,0% 0,00 0,0%
Assistência Social 0,00 0,0% 150.500,00 2,7% 223.300,00 1,5%
TOTAL 6.906.000,00 100,0% 5.678.450,00 100,0% 15.260.074,36 100,0%
Quadro 16 – Recursos deliberados por área de política pública.

A ampliação das áreas das políticas contempladas pelo OP é parte do processo de


amadurecimento desse instituto participativo, que se desenvolve juntamente com seus
participantes. Eles aprendem ao longo das edições que os problemas do seu bairro e mesmo
da sua cidade não estão restritos à urbanização. A evolução percebida nos quadros anteriores
sugere o importante papel educador do OP, com capacidade de reintroduzir na sociedade a

28
Urbanização contempla infra-estrutura de tráfego, saneamento básico, contenção de encostas em área de risco
habitadas, paisagismo, segurança pública. A separação destas áreas é inviável devido, principalmente às obras de
intervenção integrada, em que as áreas de políticas sociais contempladas são muito diversas.
72

vivência da cidadania consciente, politizada e bem informada, ou seja, o OP tem capacidade


de formar cidadãos.
Apesar das dificuldades enfrentadas por Contagem em definir seus critérios técnicos
de redistribuição dos recursos (demonstradas no capítulo anterior), ela se processou
inicialmente por uma proximidade ao critério de IQVP, que foi aos poucos abandonado,
chegando a uma quase homogeneização da distribuição entre as Regiões Administrativas. Os
quadros dos recursos disponibilizados e deliberados, que seguem, foram utilizados para as
avaliações do critério redistributivo e demonstram a afirmação anterior.

1ª edição 2ª edição 3ª edição


Região Administrativa
R$ % R$ % R$ %
Vargem das Flores 868.000,00 15,5%
1.465.000,00 12,2%
Ressaca 773.000,00 13,8%
1.550.000,00 12,9%
Industrial 805.000,00 14,4%
1.555.000,00 13,0%
Informação
Nacional 745.000,00 13,3%
1.535.000,00 12,8%
Não
Sede 795.000,00 14,2%
1.480.000,00 12,3%
Disponível
Eldorado 1.505.000,00 12,5%
863.000,00 15,4%
Riacho 1.450.000,00 12,1%
Petrolândia 751.000,00 13,4% 1.460.000,00 12,2%
TOTAL 7.000.000,00 5.600.000,00 100% 12.000.000,00 100%
Quadro 17 – Distribuição regional dos recursos previamente disponibilizados para o OP em Reais (R$).

Região
1ª edição 2ª edição 3ª edição
Administrativa
Vargem das Flores 920.000,00 13,3% 883.500,00 15,5%
1.515.096,22 12,4%
Ressaca 700.000,00 10,1% 820.500,00 14,4%
1.592.590,14 13,0%
Industrial 1.620.000,00 23,5% 816.000,00 14,4%
1.578.240,00 12,9%
Nacional 700.000,00 10,1% 722.950,00 12,7%
1.519.979,00 12,4%
Sede 650.000,00 9,4% 783.000,00 13,8%
1.499.519,00 12,2%
Eldorado 1.504.650,00 12,3%
1.616.000,00 23,4% 905.000,00 15,9%
Riacho 1.500.000,00 12,2%
Petrolândia 700.000,00 10,1% 751.500,00 13,2% 1.550.000,00 12,6%
TOTAL 6.906.000,00 100% 5.682.450,00 100% 12.260.074,36 100%
Quadro 18 – Distribuição regional dos recursos deliberados no OP em Reais (R$).

A correlação (Índice de Correlação de Pearson) entre recursos destinados ao OP e


deliberados no OP sugere que na segunda edição se manteve mais alinhada (93,91%) do que
na terceira (65,87%). Este estudo não conta com elementos suficientes para se analisar os
motivos que levaram a essa maior flexibilização na fase de deliberação da terceira edição. Os
motivos podem ser desde um afrouxamento na condução do processo pelos gestores
organizadores, que poderia ser reflexo de características pessoais desses gestores, ou um
73

resultado das dinâmicas de negociação interna no processo, entre representantes de


intervenções em Regiões Administrativas distintas, indicando maior maturidade no OP, ou
ainda, pode ser decorrente de alguma outra característica não conhecida, fincando o encargo
de identificar a dinâmica dessas relações para estudos futuros.

Os custos totais das intervenções do OP são compostos por aqueles relativos à


execução, elaboração de Projeto Básico, aquisição e desapropriação de equipamentos e
terrenos, ou ainda aluguel de imóvel em alguns casos. Nem sempre é possível mapear todos
os custos envolvidos em um conjunto de intervenções, especialmente quando há
desapropriações cujo valor da indenização está ajuizado, ou quando a empresa que realiza
projetos básicos não é remunerada por projeto, ou quando não há registro individualizado por
projeto do pagamento à empresa. Outro fator que compromete o custeio, principalmente no
setor público (que já não tem a prática de se valer de métodos de custeio) é a utilização de um
mesmo lote de materiais em um amplo conjunto de obras, quando realizadas com mão-de-
obra própria, não sendo possível, assim, alocar corretamente cada custo à sua obra.

Com isso, a possibilidade de análises da execução das intervenções do OP fica


comprometida. Pode-se, no entanto, tentar verificar o cumprimento de prazo de execução
previsto, ou no caso de obras terceirizadas, quando se estende sua execução, é possível
analisar o impacto disso sobre os OMs dos biênios seguintes. Outra possibilidade de
verificação, pendente da coleta de informações posteriores à entrega das obras, poderia ser
referente à efetividade das intervenções, ou seja, se aquelas soluções atenderam aos
problemas para as quais foram propostas.

Apesar das limitações, a variedade de análises possíveis é infindável, como analisar se


houve de fato fiscalização dos delegados e conselheiros ao longo da execução das
intervenções, ou ainda, existe a possibilidade de se verificar se a intervenção aprovada serviu
de ignição de um processo de melhoramento das condições locais em decorrência de
desdobramentos da etapa de execução dessa intervenção. De qualquer forma, o que não se
pode é verificar de forma conclusiva a eficiência, ou ainda a economicidade de aplicação dos
recursos, nem se pode confirmar se os recursos deliberados de fato se traduziram em recursos
aplicados, pois eles podem ter sido maiores ou menores.

Dentre estas possibilidades de verificação, optou-se por focar nos cumprimentos de


prazo, impactos sobre orçamentos futuros e a sucessão de melhoramentos decorrentes da
intervenção antes de sua finalização (existência do efeito multiplicador), pois a verificação
74

dos melhoramentos posteriores dependeria de uma análise sobre a efetividade das


intervenções (capacidade dessas soluções adotadas em resolver os problemas geradores da
demanda).

Das 33 intervenções aprovadas na primeira edição do OP realizada em 2005, 13 foram


terceirizadas e geridas pela Secretaria Municipal de Obras (SEMOBS), e puderam ser
medidas individualmente, atingindo R$ 2.566.000,00, ou 36,66% do total deliberado. As
demais intervenções dessa edição foram realizadas com mão-de-obra e materiais próprios da
prefeitura, ou foram incluídas em grandes contratos estruturantes da cidade, cujos valores não
podem ser dissociados e categoricamente vinculados somente às deliberações do OP, e ainda,
há 6 intervenções cuja execução não foi iniciada. Além disso, alguns custos não foram
adequadamente apropriados, em especial os referentes à elaboração de Projetos Básicos,
aluguéis e desapropriações.

Biênio 2006/2007 Biênio 2008/2009


2006 R$ 74.884,30 2008 R$ 3.248.989,63
Empenhado Empenhado
2007 R$ 5.504.645,10 2009 R$29.022,66
TOTAL EMPENHADO R$ 5.579.529,40 TOTAL EMPENHADO R$ 3.278.012,29
2006 R$ 74.884,30 2008 R$ 3.926.948,65
Liquidado Liquidado
2007 R$ 3.926.544,88 2009 R$ 107.251,62
TOTAL LIQUIDADO R$ 4.001.429,18 TOTAL LIQUIDADO R$ 4.034.200,27
Quadro 19 - Recursos deliberados na 1ª edição do OP geridos pela Secretaria Municipal de Obras.

Os recursos do OP geridos pela SEMOBS, foram portanto

A primeira e importante informação extraída do quadro de recursos do OP geridos pela


SEMOBS é sobre o efeito multiplicador do OP, em que as melhorias promovidas durante a
execução são maiores do que as propostas nas atividades de deliberação. Os recursos
empenhados pela prefeitura são três vezes e meia maiores do que os deliberados inicialmente,
dos quais parte pode ser referente à subavaliação do empreendimento na fase de projeto, parte
pouco representativa pode ser referente à inflação do período (que foi pequena) e o restante é
certamente decorrente de ampliações da proposta original (o que, infelizmente, não pôde ser
medido quantitativamente, mas será exemplificado). Esse fenômeno se dá por vários motivos,
dentre eles elencam-se os seguintes verificados.

A atual legislação das diversas esferas de governo não permite abertura de ruas sem
que conjuntamente seja executado apropriado sistema de drenagem pluvial, que
75

necessariamente deve adequar-se ao sistema de saneamento básico (para que não contamine
as bacias hidrográficas da região), às vezes exigindo galerias pluviais maiores do que
inicialmente previstas ou mesmo tratamento de fundo de vale mais dispendioso por causa das
características geológicas. Além disso, as margens dos córregos necessitam de estrutura
especial que evite assoreamento, e, portanto, o asfaltamento e a pavimentação são apenas uma
das etapas do tratamento dos córregos urbanos. Com isso as obras inicialmente previstas
ganham volume e, muitas vezes, aproveita-se a mobilização necessária para a intervenção
para que sejam oferecidas opções de lazer nessas áreas como os parques lineares.

Em Contagem, essas grandes intervenções compõem o Plano de Intervenção Integrada


(PIIN), em que se aproveitam os custos da mobilização da máquina pública em determinado
local para realizar outras benfeitorias, otimizando o processo de intervenção. Exemplos desse
tipo foram verificados quanto à revitalização do Córrego Vila Paris, no Bairro Água Branca
(Região Administrativa do Eldorado) e quanto aos asfaltamentos na Vila Barraginha (Região
Administrativa do Industrial) que foram deliberados, mas na fase de execução, se ampliaram,
transformando em obras do PIIN.

Na fase de proposição das intervenções, os técnicos podem subestimar a obra que será
executada, pois muitas vezes ele não conhece a composição do solo ou não têm todos os
detalhes da topografia. Nestes casos, o efeito multiplicador não ocorre, pois o aumento dos
gastos não se reflete em mais melhorias do que as inicialmente previstas.

O envolvimento comunitário na fase de elaboração do Projeto Básico ou mesmo na


execução das obras também potencializa o efeito multiplicador. Como exemplo, na a Praça
Glória (Região Administrativa do Eldorado) foi deliberado a construção de vestiários, reforma
da quadra e construção de sua cobertura, mas, com o envolvimento dos moradores do entorno,
foi realizada reforma em toda a praça, com troca de mobiliário e renovação dos jardins. Outro
exemplo foi a construção da Quadra de Hockey Coberta no Jardim Califórnia (Região
Administrativa do Riacho), em que tinha sido deliberada inicialmente somente a reforma da
quadra descampada que já existia.

Por último, o efeito multiplicativo pode ser notado ainda, quando se verifica a
utilização das demandas levantadas no processo deliberativo pelos gestores como fonte de
planejamento complementar. Os gestores mantêm arquivos de todas as demandas levantadas
nas rodadas do OP e das propostas derrotadas na escalada das intervenções ao longo das
rodadas deliberativas. Em seguida estes arquivos são estudados e, a medida da oportunidade e
76

conveniência, são readequados e utilizados na programação das atividades do governo. Não


obstante, os gestores classificam estas outras intervenções como “obras do OP”, fazendo
alusão ao processo deliberativo da qual se desmembraram, sendo, portanto, um subproduto
importante do processo, mas que não devem ser confundidas com aquelas, pois não foram
eleitas a termo justamente em conseqüência da inversão de prioridades inerente ao processo,
e, portanto não são equivalentes àquelas prioritárias.

A segunda e importante verificação sobre o quadro dos recursos do OP geridos


pela SEMOBS é a protelação da execução das intervenções equivalentes a 37% dos recursos,
para o biênio seguinte, afetando a execução das edições posteriores do OP. Comprova essa
conclusão o fato de que a Secretaria de Obras iniciou a gestão terceirizada da segunda edição
do OP somente em 2009, empenhando apenas R$ 20.000,00 referente a uma única obra, que
ainda não foi entregue. A administração municipal encontra dificuldades em gerenciar a
execução das intervenções e os atrasos podem se tornar fatores desmotivantes da participação
popular em edições futuras do OP.

É importante verificar que até 2008, dentre as obras terceirizadas da primeira edição
do OP, só duas foram iniciadas no ano de 2006, enquanto dez foram iniciadas no ano de 2007
e uma foi iniciada no ano de 2008. Sete dentre todas ainda não haviam sido finalizadas
quando se iniciou a terceira edição do OP em 2009.

“... se os empreendimentos são aprovados não são executados, todo o processo tem
sua credibilidade posta em xeque e a população tende a não participar. A capacidade
da Prefeitura de executar [a termo] as obras decididas é de fundamental importância
para o OP continuar a realizar seu potencial distributivo” (MARQUETTI, CAMPOS
e PIRES. 2008. P-64).

O atraso no início da execução das intervenções da segunda edição não está atrelado à crise
econômica de 2009, pois sua deliberação foi em 2007, com início de execução previsto para
2008. Ainda não tem como saber os efeitos da crise econômica sobre a execução das
intervenções do OP, mas, se somados à dificuldade inerente à Administração Pública em
gerenciar seus compromissos causarem um atraso muito significativo na entrega das
intervenções, a instituição do OP de Contagem poderá sofrer com o descrédito do processo.
77

5. O OP PODE PROMOVER A JUSTIÇA SOCIAL?

Pires alerta para os riscos de “tecnificação” do processo participativo no OP, ao


longo de seu amadurecimento como modelo de gerenciamento e redistribuição dos recursos
públicos (MARQUETTI, CAMPOS e PIRES. 2008), mesmo quando a participação da
população na definição dessas regras redistributivas é muito relevante. Essa tendência, por um
lado beneficiaria a criação de investimentos em políticas de longo prazo, por outro lado,
frustraria a autonomia decisória dos participantes do OP e sua característica de flexibilidade
para inversão de prioridades. Mas o que se questiona então é: maior participação contribui
para promover uma justiça social ampliada?

Segundo Grazia (2003), as experiências de Orçamento Participativo possibilitam a


descoberta de novas concepções de Estado, em que prevalecem os princípios de co-gestão e
participação social no trato da coisa pública, pois o regime de Representação Democrática não
é capaz, sozinho, de permitir a superação das práticas administrativas que segregam e
excluem as camadas populares da arena decisória.

O desenvolvimento das atividades práticas do OP nos municípios tem se dado em


ambientes e conjunturas muito diferentes entre si, por isso, adotar critérios uniformes a
processos desiguais de OP pode não levá-los a alcançar seus objetivos. Isso significa que cada
localidade deve encontrar seu próprio caminho para desenvolver um OP visando à
redistribuição de recursos, inclusão social no processo decisório e buscando uma maior justiça
social. Este viés trata o OP como uma experiência de socialização de um instrumento de
poder, o qual era tradicionalmente controlado pelas classes dominantes e “responsável pela
reprodução de exclusões sociais do espaço público e da experiência política” (GRAZIA.
2003. P-19).

Por isso, nem todo processo participativo obtém sucesso em atingir esses objetivos
redistributivos, inclusivos e promotores da justiça social. Cada OP poderá, assim como as
demais experiências de gestão pública, encontrar-se em uma gradação maior ou menor em
relação a esses objetivos. Além disso, não necessariamente uma ferramenta de gestão mais
redistributiva será automaticamente mais inclusiva, ou uma mais inclusiva ampliará a justiça
social. Por isso, as experiências participativas obterão mais sucesso em um ou outro aspecto,
mas não necessariamente em todos.
78

Algumas dessas experiências levarão à ilusão do sucesso, quando na verdade os


efeitos serão relevantes somente para os participantes, mas não para o conjunto da sociedade.
Por outro lado, o verdadeiro sucesso de outras experiências de OP no Brasil levou a torná-las
referências em exercício da cidadania, em decorrência disso, se tornaram temática para o
estimulo à formação cidadã. O caso de Contagem é estimulado por esses exemplos de
sucesso29.

Mas, por ser uma ferramenta de gestão, assim como o é qualquer ferramenta de um
profissional, o OP serve prioritariamente para atingir o objetivo de quem o utiliza, o gestor.
Esse objetivo pode ser altruísta, o que seria excelente para a promoção de uma democracia
mais justa, mas também pode ser egoísta, deturpando a proposta de democratização para a
qual surgiu o OP. Ainda assim, por ser ferramenta, ela está sempre sujeita a ser manipulada
pelo seu condutor, e independente de atingir, com isso, esse ou aquele objetivo, resta a
percepção de que o poder originado do gestor e compartilhado através dessa ferramenta não é
suficiente para alterar o status quo, ainda que obtenha sucessos em minimizar as mazelas
sociais.

Por isso, as experiências participativas existentes hoje continuam sendo todas


dependentes das estruturas elitistas de Estado. Os governos de tendências sociais, que
implantaram experiências mais amplas de participação, compartilham com os cidadãos uma
pequena parte do poder delegado e estabiliza a relação de poder, mantendo o controle pelas
elites e satisfazendo anseios democráticos das massas.
O Orçamento Participativo e os Conselhos de Políticas Públicas não se encontram em
uma posição mais alta do que o governante na estrutura hierárquica da máquina estatal e não
têm o poder da decisão final, logo suas “deliberações” só se transformam em ações efetivas se
houver a aprovação e a ordem do governante. No caso dos Conselhos, em que há nomeação
de conselheiros pelo próprio governante, o clientelismo se estabelece com mais facilidade e
contamina o processo deliberativo.
O governante com menos tendências sociais que assume governos em que as
experiências participativas já se consolidaram, continua a apoiá-las independente de sua
convicção política, pois isso reforça uma imagem populista e mantém o clientelismo,

29
Um dos exemplos é o Jogo do OP, que além de método de divulgação do próprio OP, é uma metodologia de
politização dos cidadãos. Trata-se de um jogo de tabuleiro que ensina às crianças informações sobre a Cidade e
ao mesmo tempo, presta conta das obras do OP. Em 2009 foram distribuídos 40 mil jogos para os alunos das
escolas municipais.
79

aumentando a aprovação do seu governo e, portanto, o poder que ele exerce no contexto
político. Ou seja, apesar de objetivar uma “deselitização” da democracia, a ampliação da
participação através destas experiências nem sempre consegue ser efetiva em se refletir em
uma justiça social ampliada, mesmo sendo certo que a legitimidade das decisões é maior e
que o povo passa a estar novamente um pouco mais próximo do poder.
Há ainda outra situação importante nas instâncias participativas, que afeta a igualdade
de condições entre os participantes, que é referente à assimetria de informação e ao grau de
adaptação do participante ao processo deliberativo. Aqueles que já estão a mais tempo no
processo e já aprenderam mais com ele, utilizam “as melhores cartas” para que melhor seja
seu desempenho no jogo político, e assim, eles acabam promovendo a desigualdade nas
posições em um processo que apregoa a igualdade.
A reprodução das estruturas hierárquicas centralizadoras de poder se reflete nas
instâncias participativas, como exemplo, os Conselhos de Políticas possuem presidentes e os
OPs possuem delegados. Ou seja, essas posições mais privilegiadas, assim como a dos
governantes, em que há concentração de poder se tornam reprodutoras de uma democracia
elitista, só que mais divisionada, em uma estrutura mais ramificada como a militar, com
tropas, divisões e batalhões.
Por vezes, as propostas participativas, assumem um papel distorcido e se transformam
em out doors promocionais, em que pouco espaço é efetivamente utilizado para discussão
corrompendo-se em palanques para divulgar os benfeitores da iniciativa democrática. Essa
situação é mais comum nos fóruns em que a mesa é composta somente por membros do
governo, e a agenda é totalmente controlada por eles. Ao final, o cidadão sai com a impressão
de que as Autoridades Públicas prestam contas da sua política e se dispõem a ouvir o povo, no
entanto, a realidade é que o povo permanece durante todo o momento em posição e condições
inferiores para inserir suas idéias no debate político, e termina suprimido sem se dar conta
disto.
Com as pressões da população e a aclamação de mais igualdade, a elite sempre se
adapta e com isso, atende muitas das demandas e questionamentos do restante do povo a fim
de permanecer no poder, dividindo um pouco das riquezas e deste poder quando necessário,
mas nunca mais do que o suficiente para que possa se manter no controle.
Sob a visão habermasiana, os atores dominados não teriam acesso ao poder político,
eles teriam apenas influência política (Avritzer, 2000), eliminando a possibilidade de arranjos
deliberativos. Fato é que, sendo o poder político efetivamente acessado, ou somente
80

influenciado pela população, isso não é suficiente para se processar maior justiça e igualdade
social com efetividade sobre os problemas enfrentados por estes atores. A situação-problema
melhora, mas, muitas vezes, não se resolve. Dentro de uma democracia de alta intensidade
como a atual, a amplitude do poder acessado ou influenciado pela grande maioria dos atores
ainda é baixa.
Ao analisar a democracia dentro do Sistema Capitalista, é possível observar que o
controle sobre os meios de produção, que é um dos principais diferenciais daqueles que
dominam o debate público, torna o jogo político desigual e a balança entre os atores
envolvidos no cenário decisório sempre terá mais força do lado de quem já acumula poder.
Esta já era uma das incompatibilidades verificadas por Karl Marx (Avritzer, 1996), e que não
é capaz de ser alterada, mesmo com a proposição da ampliação da participação democrática.
As ferramentas democráticas são, portanto, utilizadas não em favor do povo, mas sim
dos dominadores. Estes se aproveitam da estrutura do Poder Legislativo para aprovar suas
leis, criar seu sistema prisional, reduzir a assistência social a óbolo e manipular os bens
públicos de forma a facilitar o seu próprio progresso. Justiça e igualdade são secundárias nas
ferramentas de gestão, quando atingem diretamente os interesses dominantes.
É por isso que nem sempre experiências de OP serão suficientes para se atingir uma
justiça social ampliada. O caso de Contagem mostra o sucesso da inclusão dos cidadãos no
processo, pois eles foram historicamente excluídos da vida política pelos coronéis (e ainda
são, como no caso da comunidade dos Arturos), mas com a vontade política dos governantes,
aos poucos passaram de um papel de objeto de políticas públicas para o papel de sujeitos de
políticas públicas. Por outro lado, a complexidade técnica na definição dos critérios
redistributivos impede uma avaliação de sua efetividade para resolver problemas sociais mais
urgentes ou mesmo para se verificar se a maior parte dos recursos foi realmente destinada aos
mais necessitados.

A baixa capacidade auto-reguladora do OP de Contagem indica ainda que a inclusão


no processo decisório não seja sinônimo de amplo compartilhamento de poder, sendo esse
ainda concentrado entre as elites dominantes e melhor articuladas com a estrutura de Estado.

O OP de Contagem é, portanto, uma iniciativa para tentar se atingir uma justiça social
ampliada, mas, no estágio em que se encontra, por si só não configura esta ampliação. Com a
maturidade e com uma formação cidadã mais consciente, espera-se que possa em fim ser a
expressão de relações sociais mais justas e igualitárias.
81

7. CONCLUSÕES

O que se percebe hoje é que o espaço para participação só acontece pela vontade
política dos representantes eleitos, que estruturam e sistematizam a forma e os critérios em
que haverá a participação, e, sem esse empenho dos representantes, a institucionalização
destes espaços seria gravemente prejudicada. A decisão participativa passa a ser então um
processo, em que a argumentação decorre e envolve os dirigentes do Estado e os cidadãos
diretamente interessados ou não naquele tema, passando por um consentimento sobre os
próximos passos de execução da política pública, e que a máquina estatal se encarregará da
execução.
A participação é, portanto, uma forma de treinamento da própria democracia, em que o
cidadão tem a oportunidade de desenvolver seu civismo e capacidade argumentativa, e com
isso, tentar se imunizar de certas manipulações que sofre dentro do sistema político, tornando-
se mais exigente na cobrança das ações do representante. As barreiras históricas de exclusão e
dominação não são facilmente transpostas, sendo que para conseguir isso, os cidadãos devem
ir além do que os governantes propõem, e então, exercerem um papel político incisivo na
definição das regras e na utilização dos recursos públicos aos quais têm direito.
O melhor ambiente para desenvolver estes espaços participativos é a localidade onde
residem os cidadãos, a vila, cidade ou microrregião. O fracionamento da soberania em esferas
de atuação, no contexto participativo, apesar de aparentemente contrariar a teoria da
indivisibilidade do poder de Rousseau, é na verdade uma forma de tornar mais efetivo o seu
exercício por aquele de direito, o povo, que por deter mais informações sobre o seu contexto,
se torna mais apto a decidir sobre os problemas locais.
Uma boa estruturação formal do OP não garante uma adequada transposição para as
relações reais que permeiam o processo. Os representantes do governo, tal qual qualquer outra
pessoa, cometem equívocos, muitas vezes não correspondendo ao devido esforço exigido por
ferramentas de gestão participativas como o OP. Além disso, nem sempre a população se
encontra em um nível de mobilização suficiente para assimilar rapidamente o processo
participativo.
Os processos participativos são mais lentos e algumas vezes mais burocráticos, no
entanto, sua legitimidade pode ser considerada maior do que nos processos em que a consulta
82

pública realizada pelo representante é reduzida ou nula. O próprio processo da consulta


pública pode ser mais ou menos participativo, de acordo com a estrutura que o Estado define
para a realização desta consulta, como é o caso das Comissões de Participação Popular das
casas legislativas, em que o cidadão é ouvido diretamente pelo representante.
A experiência de Contagem mostra que deficiências na máquina administrativa podem
prejudicar o sucesso de experiências participativas, tanto ao se definir critérios redistributivos
pouco robustos, quanto ao tardar na execução das intervenções deliberadas, ou mesmo ao
assimilar de forma inadequada fatores externos ao processo que o influenciam.
Em um contexto de progresso econômico e de bem estar social, realmente a população
se sente menos impelida a participar das questões coletivas, pois os problemas são menos
relevantes para si e com isso, podem se dedicar mais às questões particulares (por isso os
jovens e a classe média são um público bastante ausente dos fóruns populares).
As questões levadas ao debate público, quando não afetam fortemente a redistribuição
de riquezas ou qualquer outra pedra fundamental capitalista, são bem vindas por todas as
partes, e com isso, a massa dominada também sai ganhando, pois seus anseios serão
minimamente atendidos e não haverá detrimento dos anseios da classe dominante. Assim a
tensão entre democracia e capitalismo se mantém estabilizada através dessa modificação na
forma sem necessariamente alterar a substância democrática, por isso são comuns cooptações
nas relações entre sociedade civil e Estado ou entre sociedade civil e corporações (SANTOS,
2002. P 59-65) .
Ou seja, as experiências participativas não se constituem em desilusões. Há ganhos
para a sociedade, apesar desta manipulação elitista das ferramentas democráticas. O
capitalismo não será destruído pela ampliação da participação, as relações entre dominantes e
dominados não cessará, no entanto, o ambiente social tenderá a se tornar cada vez mais ameno
e pacífico, já que o método de resolução dos conflitos adotado, apesar de possuir efetividade
limitada, é mais civilizado. Com esse método, a parte do poder decisório usufruído pelas
massas é suficiente para satisfazê-las quando vêem suas deliberações levadas a cabo.
As configurações democráticas viáveis não conseguem solucionar em definitivo os
grandes problemas sociais existentes, como os de segurança, saúde, educação, moradia,
justiça, pobreza etc., mas a ampliação da participação certamente reduz parte deles e mostra
ao povo que ele pode exercer papéis decisórios, em conjunto com os representantes eleitos. A
participação não é a melhor das soluções para alcançar o ideal democrático, já que ela só é
tolerável pelas elites enquanto as maiores partes do poder e das riquezas permanecerem sob o
83

seu controle. Repartir um pouco é a estratégia utilizada para “manter a dominação sobre o
gigante sem despertar sua fúria”, em que todos saem ganhando, mas como sempre, uns mais
do que outros.
Por outro lado, mesmo não sendo a solução, a participação consegue ser efetiva em
muitos aspectos essenciais da democracia, e a sua ampliação pode não tornar a sociedade mais
justa ou igualitária, no entanto a torna mais civilizada, e, mesmo enfrentando severas
restrições quanto ao debate de problemas de grande relevância como a justiça e igualdade,
cria um espaço em que se pode tentar trazê-los para uma mesa de discussões, na qual espadas
e espingardas são efetivamente trocadas por microfones e canetas a fim de se buscar soluções
de forma organizada e pacífica.
As propostas teóricas existentes sobre ampliação da participação para o exercício do
poder, bem como os tipos de exercício de cidadania experimentados necessitam de um
redirecionamento nos ramos das ciências humanas e sociais, a fim de desenvolver uma
proposta de ampliação do poder exercido pelo povo que atinja os ideais de igualdade e justiça,
e efetivamente desenvolva uma alternativa viável ao elitismo democrático.
84

BIBLIOGRAFIA

Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Portal das Eleições. Disponível em


<http://www.al.rs.gov.br/portaleleicoes> Acesso: 20/11/2009.

AVRITZER, Leonardo. Teoria democrática e deliberação pública. Lua Nova, São Paulo, v
49: 25-46, 2000.

______. A moralidade da democracia: ensaios em teoria habermasiana e teoria


democrática. Belo Horizonte: Ed. UFMG; São Paulo: Ed. Perspectiva, 1996. Capítulo 5.

______ e NAVARRO, Zander. A inovação democrática no Brasil: o orçamento participativo.


Cortez. São Paulo. 2003.

______ e SANTOS, Boaventura de Sousa. Para ampliar o cânone democrático. 2003.


Disponível em <www.eurozine.com>. Acesso: 12/11/2009.

BICALHO, Maria Fernanda. As Câmaras Municipais no Império Português: O Exemplo


do Rio de Janeiro. Universidade Federal Fluminense. Rev. bras. Hist. vol. 18 n. 36 São
Paulo 1998.

CAMPOS, Adalgisa Arantes e ANASTASIA, Carla M. J. Contagem: Origens. Belo


Horizonte, Mozza Edições, 1991.

CARLOS Euzineia. Participação e cultura política no Orçamento Participativo. Civitas -


Revista de Ciências Sociais Vol. 6, No 1 Cidadania, regulação e participação jan-jun. 2006 p.
131-154.. FFCH-PUCRS. Porto Alegre, 2006. Disponível em
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/viewFile/26/1589> Acesso:
05/02/2010.

CEASA - Minas. História. Disponível em <http://www.ceasaminas.com.br> Acesso:


02/12/2009.

Comissão Pró-Índio de São Paulo CPI-SP. Comunidades Quilombolas no Brasil: Estado de


Minas Gerais. Disponível em
<http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/brasil/mg/home_mg.html> Acesso: 01/02/2010.
85

CONTAGEM. Lei Orgânica do Município. Contagem. Março de 1990.

______. Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e Cultural do Município de Contagem.


Contagem. 2009.

______. Caderno de Critérios. Orçamento Participativo 2010/2011. Contagem. 2009.

______. Caderno de Intervenções do Orçamento Participativo 2008/2009. Contagem.


2007.

______. Caderno de Intervenções do Orçamento Participativo 2010/2011. Contagem.


2009.

______. Caderno de Metodologia. Orçamento Participativo 2010/2011. Contagem. 2009.

______. Caderno de Obras. 1º Congresso do Orçamento Participativo. Contagem. 2005.

______. Decreto Municipal 11.311/2004. Cria o Pró-Contagem - Programa de


Orçamento e Planejamento Participativo de Contagem e dá outras providências.
Contagem. 2004.

______. Decreto Municipal 1.105/2009. Dispõe sobre alocação, denominação e


atribuições dos órgãos que compõem a estrutura organizacional da Secretaria Municipal
de Obras e Serviços Urbanos e dá outras providências. Contagem. 2009.

______. Decreto Municipal 723/2007. Nomeia Secretário Municipal de Desenvolvimento


Econômico e dá outras providências. Contagem. 2007.

______. Decreto Municipal 725/2007. Institui Comissão para Acompanhamento e


Avaliação dos Empreendimentos do Orçamento Participativo e dá outras providências.
Contagem. 2007.

______. Diário Oficial de Contagem, 2005-2009. Disponível em


<http://www.contagem.mg.gov.br/> Acesso: 01/01/2010.

______. Leis de Diretrizes Orçamentárias dos anos de 2006 a 2010. Contagem.


86

______. Lei Municipal 4179/2008. Dispõe sobre o Conselho Municipal de Política


Urbana - COMPUR e a Conferência Municipal de Política Urbana e dá outras
providências. Contagem. 2008.

______. Leis Orçamentárias Anuais dos anos de 2006 a 2010. Contagem.

______. Planos Plurianuais dos anos de 2005 e 2009. Contagem.

______. Portaria SEPLAN 002/2005. Regulamenta o funcionamento do Orçamento


Participativo – Fórum Popular para consultas e discussões das leis orçamentárias e
deliberações dos investimentos do Município de Contagem. Contagem. 2005

______. Relatórios de Encerramento de Exercício do Município dos anos de 2006 a 2009.


Contagem.

DURKHEIM, Emile. A divisão do trabalho social. Lisboa: Presença; Brasília: Martins


Fontes, 1977.

FARIA, Cláudia Feres. Democracia deliberativa: Habermas, Cohen e Bohman. Lua Nova,
São Paulo, v 49: 47-68, 2000.

Ferrovia Centro-Atlântica. História. Disponível em <http://www.fcasa.com.br> Acesso:


12/12/2009.

Folha de Contagem. Edições Especiais. 2005-2008. Disponível em


<http://www.folhadecontagem.com.br/site/modules.php?name=Edicoes_Especiais> Acesso:
12/11/2009.

FONSECA, Geraldo. Contagem Perante a História 1716 – 1978. Edição da Assessoria de


Imprensa e Relações Públicas da Prefeitura Municipal de Contagem, 1978.

Fundação João Pinheiro. Atlas do Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana de


Belo Horizonte. Disponível em <http://www.fjp.gov.br/> Acesso: 01/11/2009.

GOULART, Jefferson O. Orçamento participativo e gestão democrática no poder local.


Lua Nova, São Paulo, n. 69, 2006. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452006000400004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso: 06/05/09.
87

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Cidades@. Disponível em


<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso: 01/11/2009

Jusbrasil Notícias Jurídicas. Notícias. Disponível em <http://www.jusbrasil.com.br> Acesso:


12/12/2009.

GRAZIA DE GRAZIA, Ana Clara Torres Ribeiro. Experiências de Orçamento


Participativo no Brasil: Período de 1997 a 2000. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2003.

LAPPONI, Juan Carlos. Estatística usando Excel 5 e 7. São Paulo: Treinamento e Editora,
1997.

LÜCHMANN Lígia Helena Hahn. A representação no interior das experiências de


participação. Lua Nova, São Paulo, v 70: 139-170, 2007.

MARQUETTI Adalmir, CAMPOS, Geraldo Adriano de e PIRES, Roberto (orgs.).


Democracia participativa e redistribuição: análise de experiências de orçamento
participativo, Xamã, São Paulo, 2008.

MIGUEL, Luis Felipe. Representação política em 3-D: Elementos para uma teoria
ampliada da representação política. RBCS, São Paulo, v 18 nº. 51: 123-193, 2003.

MOURA, Reidy Rolim de. Compromisso governamental e orçamento participativo:


estudo comparativo das experiências em Blumenau e Chapecó, Santa Catarina. Rev.
katálysis, Florianópolis, v. 10, n. 2, dez. 2007. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802007000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso: 20/11/2009.

Revista Fórum. Edições 2005-2009. Disponível em <http://www.revistaforum.com.br>


Acesso: 12/12/2009

Revista do Orçamento Participativo de Belo Horizonte – 15 anos. Prefeitura Municipal de


Belo Horizonte, 2008.

Ribeirão das Neves. Absolutamente tudo Sobre Ribeirão das Neves. Disponível em
<http://ribeiraodasneves.net> Acesso: 12/12/2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O futuro da democracia. Publicado na Visão em 31 de


88

Agosto de 2006, Disponível em <http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/164.php> Acesso:


24/09/2008.

______. (org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa.


Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. 2002.

SANTOS, Carla Inês Costa e BRASIL, Eliete Mari Doncato. Elaboração De Trabalhos
Técnico-Científicos. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, Biblioteca da
UNISINOS, Setor de Multimeios e Comut. São Leopoldo, 2007.

Servidor de Mapas. Faça seu próprio mapa. Observatório das Metrópoles. Disponível em:
<http://mapas.observatoriodasmetropoles.net/> Acesso em: 23/02/2010

SILVA, Glauco Peres da; CARVALHO, Carlos Eduardo. Referenciais teóricos para
desenvolver instrumentos de avaliação do Orçamento Participativo. Nova econ., Belo
Horizonte, v. 16, n. 3, dez. 2006. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
63512006000300003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01/12/2009.

Site do Meu Parlamentar 2008. Deputada Federal Maria Lúcia Cardoso


<http://www.meuparlamentar.com.br/mp2008/> Acesso: 20/11/2009

SOUZA, CELINA. Construção e consolidação de instituições democráticas: papel do


orçamento participativo. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 15, n. 4, dez. 2001 . Disponível
em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392001000400010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01/12/2009

Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia. Conheça a história do voto no Brasil. Disponível


em <http://www.tre-
ro.gov.br/eleitordofuturo/administrador/home/docs/ConhecaahistoriadovotonoBrasil.doc>.
Acesso: 02/01/2010.

TOSTA, Sandra de Fátima Pereira. A missa e o culto vistos do lado de fora do altar:
religião e vivências cotidianas em duas comunidades eclesiais de base do bairro Petrolândia,
Contagem - MG. 1997. (Doutorado em Antropologia Social). Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFCH-USP). São Paulo.
89

Apêndice

Tabela 11 – Distribuição do equipamento público – Área da Educação. Fonte: Fundação de


Ensino de Contagem e Portal da Prefeitura Municipal de Contagem.

Creche, Instituto de Unidade de Ensino


REGIÃO Escola
Maternal, ensino de médio e
ADMINISTRATIVA Municipal
Pré-escola oficinas profissionalizante
Vargem das Flores 8 6 0 1
Ressaca/Nacional 11 7 0 6
Industrial/Riacho 16 6 0 6
Sede 11 5 0 3
Eldorado 15 6 1 3
Petrolândia 7 4 0 3
TOTAL 68 34 1 22
Fonte: Fundação de Ensino de Contagem e Portal da Prefeitura Municipal de Contagem.

Figura 6 – Mapa das Unidades de Planejamento do Município de Contagem. Fonte: Caderno de Obras -
Orçamento Participativo de Contagem 2005
90

Figura 7 – Mapa das Regiões Administrativas do Município de Contagem. Fonte: Caderno de Metodologia -
Orçamento Participativo de Contagem 2010/2011
91

Figura 8 - Mapa de renda per capita dos municípios próximos a Contagem. Fonte: Servidor de Mapas. Observatório das Metrópoles.
92

Figura 9 - Mapa de quantidade de habitantes dos municípios próximos a Contagem. Fonte: Servidor de Mapas. Observatório das Metrópoles.
93

Figura 10 - Mapa de Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios próximos a Contagem. Fonte: Servidor de Mapas. Observatório das Metrópoles.
94

Figura 11 - Mapa de Renda Per Capita do Município de Contagem. Fonte: ADH-RMBH. Fundação João Pinheiro
95

Figura 12 - Mapa de densidade demográfica do município de Contagem. Fonte: ADH-RMBH. Fundação João Pinheiro
96

Figura 13 - Mapa de Índice de Desenvolvimento Humano do Município de Contagem, conforme critérios do ADH-RMBH da Fundação João Pinheiro.
97

Tabela 12 – Distribuição do equipamento público – Área da Saúde I.


Centro de
Unid. de Ref. Unidade de Centro Centro de Centro de
REGIÃO Ref. em Centro de
em saúde da Atendimento de Atenção Consultas Hospital
ADMINISTRATIVA Saúde da Convivência
família Imediato Saúde Psicossocial Especializadas
Mulher
Vargem das Flores 1 0 1 0 0 0 0 0
Ressaca 0 1 1 1 0 0 0 0
Industrial 1 0 0 0 0 0 0 0
Nacional 1 0 0 0 0 0 0 0
Sede 0 0 0 0 1 0 0 1
Eldorado/Riacho 1 0 0 1 0 1 1 0
Petrolândia 1 0 1 0 0 0 0 0
TOTAL 5 1 3 2 1 1 1 1
Fonte: Portal da Prefeitura acesso: 24/11/2009.

Tabela 13 – Distribuição do equipamento público – Área da Saúde 2.


Unidade Central de Unidades de
REGIÃO Unidade de Unidade Farmácia
Básica de Abastecimento Maternidade Saúde da Asilo
ADMINISTRATIVA Imunização Odontológica distrital
Saúde Farmacêutico Família
Vargem das Flores 0 0 0 0 0 16 1 0
Ressaca 0 1 0 0 1 22 2 0
Industrial 1 8 0 1 2 9 2 0
Nacional 0 0 0 0 0 14 2 0
Sede 0 2 0 0 1 6 1 1
Eldorado/Riacho 0 5 1 0 5 7 3 0
Petrolândia 0 1 0 0 0 15 1 0
TOTAL 1 17 1 1 9 89 12 1
Fonte: Portal da Prefeitura acesso: 24/11/2009.
98

Tabela 14 – Resumo da regressão linear simples entre recursos disponibilizados e IQVP na 2ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,584794
R-Quadrado 0,341984
R-quadrado ajustado 0,21038
Erro padrão 44130,1
Observações 7

Tabela 15 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados e IQVP na 2ª edição do OP.
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
9 9
Regressão 1 5,06 5,06 2,598594 0,167876
9 9
Resíduo 5 9,74 1,95
Total 6 1,4810

Tabela 16 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados e IQVP na 2ª edição do OP.
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 766399,1 26696,13 28,70825 9,61-7 697774,5 835023,7 712605,1 820193,1
iqvp 218450,7 135514 1,612016 0,167876 -129899 566800,5 -54616,6 491517,9

Tabela 17 – Resumo da regressão linear simples entre recursos disponibilizados e IQVP na 3ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,261678
R-Quadrado 0,068476
R-quadrado ajustado -0,08678
Erro padrão 44053,1
Observações 8
99

Tabela 18 - Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados e IQVP na 3ª edição do OP.
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
8 8
Regressão 1 8,56 8,56 0,441055 0,531291
10 9
Resíduo 6 1,16 1,94
Total 7 1,2510

Tabela 19 - Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados e IQVP na 3ª edição do OP.
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 1480263 33552,75 44,11749 9,08-9 1398163 1562364 1415064 1545462
IQVP 146603,1 220747,9 0,66412 0,531291 -393548 686753,7 -282350 575556

Tabela 20 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,658559162
R-Quadrado 0,43370017
R-quadrado ajustado 0,207180239
Erro padrão 37626,4478
Observações 8

Tabela 21 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
Regressão 2 5421252131 2710626065 1,914623 0,241332648
Resíduo 5 7078747869 1415749574
Total 7 1,2510
100

Tabela 22 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição
do OP
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 1467674,442 50214,7963 29,22792785 8,79-7 1338593,199 1596755,685 1366489,198 1568859,685
Número de Hab. 1,277786851 0,65325453 1,95603212 0,107834 -0,401457387 2,957031089 -0,038552634 2,594126336
Renda Per Cap. -200,8808635 195,015042 -1,030078816 0,3502 -702,182988 300,421261 -593,8456065 192,0838794

Tabela 23 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,802733398
R-Quadrado 0,644380909
R-quadrado ajustado 0,466571363
Erro padrão 36271,37753
Observações 7

Tabela 24 – Resumo do Teste Anova entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
9
Regressão 2 9,54 4767774344 3,623995 0,126464938
Resíduo 4 5,269 1315612828
Total 6 1,4810

Tabela 25 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos disponibilizados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição
do OP
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 808803,1686 50848,59 15,90610916 9,13-5 667624,8593 949981,4778 700401,773 917204,5642
Número de Hab. 1,376510074 0,522731 2,633302724 0,057985 -0,07482502 2,827845168 0,262126777 2,490893371
Renda Per Cap. -454,3929313 282,7558 -1,607015216 0,183328 -1239,448989 330,6631263 -1057,185051 148,3991884
101

Tabela 26 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,377702
R-Quadrado 0,142659
R-quadrado ajustado -0,20028
Erro padrão 40122,7
Observações 8

Tabela 27 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do OP
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
9 8
Regressão 2 1,3 6,7 0,415992 0,680588
9 9
Resíduo 5 8,05 1,61
Total 7 9,399

Tabela 28 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 3ª edição do
OP
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 1551099 53546,19 28,9675 9,19-7 1413454 1688744 1443201 1658998
Número de Hab. 0,450469 0,696593 0,646675 0,546351 -1,34018 2,24112 -0,9532 1,854139
Renda Per Cap. -183,182 207,9529 -0,88088 0,418705 -717,742 351,3781 -602,217 235,8533
102

Tabela 29 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,853424
R-Quadrado 0,728332
R-quadrado ajustado 0,592499
Erro padrão 42247,81
Observações 7

Tabela 30 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do OP
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
10 9
Regressão 2 1,91 9,57 5,361936 0,073803
Resíduo 4 7,149 1,789
Total 6 2,6310

Tabela 31 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 2ª edição do
OP
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 811553 59226,91 13,70244 0,000164 647112,7 975993,2 685290,3 937815,7
Número de Hab. 1,917521 0,608862 3,149353 0,034535 0,22705 3,607992 0,619521 3,215521
Renda Per Cap. -583,466 329,3455 -1,77159 0,151159 -1497,88 330,9439 -1285,58 118,6483
103

Tabela 32 – Resumo da regressão linear múltipla entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 1ª edição do OP
Estatística de regressão
R múltiplo 0,789215
R-Quadrado 0,62286
R-quadrado ajustado 0,43429
Erro padrão 330925,3
Observações 7

Tabela 33 – Resumo do Teste Anova entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 1ª edição do OP
ANOVA gl SQ MQ F F de significação
11 11
Regressão 2 7,23 3,62 3,303066 0,142235
11 11
Resíduo 4 4,38 1,1
Total 6 1,1612

Tabela 34 – Resumo dos Testes Estatísticos da regressão entre recursos deliberados, Número de Habitantes e Renda Per Capita, na 1ª edição do
OP
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores Inferior 90,0% Superior 90,0%
Interseção 446230,5 463921,8 0,961866 0,390587 -841823 1734284 -542780 1435241
Número de Hab. 8,831167 4,769188 1,851713 0,137716 -4,41022 22,07256 -1,33601 18,99835
Renda Per Cap. -548,83 2579,749 -0,21275 0,841928 -7711,36 6613,702 -6048,46 4950,8

Você também pode gostar