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São Paulo
2015
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São Paulo
2015
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CDU 342.722(816.1)
4
Data de Aprovação:
Banca Examinadora:
__________________________________
AGRADECIMENTOS
Eu não poderia deixar de agradecer às pessoas que colaboraram com o meu trabalho
por meio das entrevistas, em especial: Pedro Aguerre, muito obrigada por ter me recebido e
ter me dado uma verdadeira aula. Eu aprendo muito com você. André Kehdi, muito obrigada
pela sua simpatia e pelo amor que nutre pelo trabalho que você faz: isso é realmente
inspirador.
Aos professores e amigos do Curso de Controle Social e Fiscalização de Políticas
Públicas da CGU-Ministério da Fazenda, obrigada pela força e pelo constante estímulo.
Finalmente eu gostaria de agradecer à minha família, em especial à minha mãe Lucy
ao meu irmão Bruno e às minhas três filhas de quatro patas: Lola, Penélope e Branca (Branca
agora in memorian) por compreenderem a minha ausência durante a elaboração da dissertação
e por acreditarem em mim sempre. Eu amo vocês.
8
“We always hear about the rights of democracy, but the major responsability of it is participation.”
Wynton Marsalis
9
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to study the Cycles of Conferences promoted by the Public Defender
of São Paulo State to understand what the role they play in relation to public participation in
the management of the Public Defender. The research problem is whether and how they
contribute to guarantee public involvement in the management of the Defender, taking into
account the study on the implementation or not of guidelines developed by the population
during the conduct of I, II and III Cycles of Conferences and understanding the different
voices that the actors have in relation to the Conferences. The conclusion is that the
Conferences were not absorbed evenly by the institution as an important mechanism guiding
institutional priorities, able to vocalize people's wishes, airing the institution, and
collaborating with the construction of public policies aligned to the demands of the
population. It´s musty to be agreed and clarified the nature of the proposals made in the
Conferences (deliberative or consultative) under penalty of participatory mechanism in
question losing the popular adherence.
Keywords: Cycles of Conferences, Public Defender of the State of São Paulo, Participation,
Social Control, Accountability.
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12
Objetivos do Trabalho.....................................................................................................13
Problema de Pesquisa.....................................................................................................14
Estrutura da Dissertação..................................................................................................18
4.1 As Entrevistas.....................................................................................................................75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................106
APÊNDICE............................................................................................................................114
12
INTRODUÇÃO
Com a nova Constituição, houve também uma reforma política, onde cada poder teve
a sua atribuição muito bem definida: ao Poder Executivo coube a Administração do Estado,
ao Poder Legislativo coube a elaboração das Leis e ao Poder Judiciário coube exercer a
aplicação das Leis. É interessante observar que a nova Constituição previu a participação e o
controle social dentro do Poder Executivo, por meio dos Orçamentos Participativos e dos
Conselhos, dentro do Poder Legislativo através do voto direto e secreto, no qual os cidadãos
elegem os membros do Legislativo, ou seja, as pessoas que irão elaborar as leis. Porém, a
Constituição Federal não prevê expressamente a participação social dentro do Poder
Judiciário. Ao contrário de países de alguns países onde os membros do Poder Judiciário são
eleitos pelo povo, no Brasil os membros do Poder Judiciário (servidores, Juízes, Defensores
Públicos e Promotores de Justiça) tomam posse de um cargo de caráter vitalício, através de
concurso público. Já no Supremo Tribunal Federal, o órgão que tem a atribuição de garantir o
respeito aos preceitos da Constituição Federal, os Ministros são nomeados pelo Presidente e
aprovados pelo Senado, por meio de um processo sem participação social e sem transparência.
1
Sabemos que a questão conceitual sobre a “Sociedade Civil” é muito importante, mas por não ser o foco deste
trabalho, não iremos debatê-la. É importante saber que, quando a DPESP se refere à sociedade civil, ela se refere
às pessoas que não são vinculadas ou não trabalham em nenhuma esfera de governo, podendo ser participantes
de movimentos sociais ou não.
2
A criação da Defensoria Pública está prevista na Constituição Federal no artigo 5º, inciso LXXIV. Em 1994 foi
publicada a Lei Complementar nº. 80 que disciplinou a organização das Defensorias Públicas na União, no
Distrito Federal e dos Territórios e prescreveu normas gerais para a sua organização nos Estados.
14
a participação social foi determinante tanto para a criação da DPESP, como para a garantia de
participação social dentro da DPESP, que deve ocorrer, dentre outras formas3, por meio das
Conferências. Nota-se então, que a DPESP cria, através da incorporação da vontade popular
no seu Plano de Atuação um modelo participativo dentro do sistema de Justiça, dentro do
Poder Judiciário, que até então era estanque, hermético à participação social.
A DPESP pode ser considerada uma instituição sui generis e inovadora no aspecto
democrático pois é a primeira instituição do sistema de Justiça que possui mecanismos de
participação social institucionalizados, como os Ciclos de Conferências que é o foco do
presente trabalho. Este mecanismo aproxima a sociedade civil da instituição, e permite que os
destinatários dos serviços da Defensoria possam elaborar propostas que possam servir de base
para a elaboração de políticas públicas na área da Justiça.
Objetivos do Trabalho
A pesquisa foi orientada pela seguinte hipótese: os Ciclos de Conferências são mecanismos de
participação que garantem a participação e o controle social na gestão da Defensoria Pública
do Estado de São Paulo, à medida que contribuem com a construção de diretrizes que devem
pautar a atuação da DPESP.
A pergunta de pesquisa que nos levou à realização do presente trabalho foi: Qual é o
papel dos Ciclos de Conferências quanto à participação e ao controle social da Defensoria
Pública no que diz respeito à definição de suas diretrizes e à incorporação no Plano Anual de
Atuação?
Problema de Pesquisa
4
Os dispositivos legais que utilizamos são: a Constituição Federal; a Lei Complementar n. 80 de 1994 (que
dispõe sobre a organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal, e dos Territórios e prescreve
normas gerais para a sua organização nos Estados; a Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado de São
Paulo, Lei Complementar Estadual n. 988, de 09 de Janeiro de 2006 e a Lei Complementar Federal n. 132, de 07
de Outubro de 2009.
16
5
Para informações sobre os Ciclos de Conferências, acesse: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2963>.
6
Caderno de Monitoramento dos Ciclos I, II e III, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 01 de Outubro de 2014.
7
Implementadas, Parcialmente Implementadas e Não Implementadas são os termos que são usados pela própria
DPESP para se referir ao estágio de efetivação das propostas. Optamos por utilizar os mesmos termos para que a
pesquisa fosse replicável (Epstein e King, p. 35, 2013).
17
Após a coleta dos dados, foram elaborados gráficos para que pudéssemos extrair o
máximo de informações possíveis e observáveis8 (EPSTEIN E KING, p. 62, 2013).
Uma das maiores preocupações com relação às entrevistas foi no que se refere à
multiplicidade das vozes. Para que pudéssemos ter uma noção mais ampla das críticas sobre a
dinâmica dos Ciclos de Conferências, um dos critérios para a escolha dos entrevistados foi o
critério da multiplicidade dos lugares de onde eles se encontram no processo dos Ciclos de
Conferências.
Os entrevistados foram escolhidos com base nos seguintes critérios: i) ter participado
do processo da Conferência (seja como ouvinte ou delegado); ii) fazer parte dos quadros de
servidores da Ouvidoria Geral da DPESP; iii) fazer parte do Comitê Organizador da
Conferência Estadual; iv) fazer parte da Comissão de Monitoramento v) ser membro da
Administração Superior da DPESP; vi) ser membro do Conselho Consultivo da Ouvidoria
Geral da DPESP; vii) pertencer a alguma instituição que atua em parceria com a DPESP; e
viii) ser Defensor Público que atua em um dos Núcleos Especializado11da DPESP.
8
“(...) acadêmicos não devem parar com uma ou duas implicações ou previsões. Ao invés disso, eles devem
desenvolver tantas quanto forem possíveis, até mesmo se elas estiverem apenas indiretamente conectadas com a
específica hipótese de interesse.”
9
A etapa das entrevistas foi de extrema importância para que pudéssemos captar informações e impressões que
não foram possíveis serem levantadas apenas através do levantamento bibliográfico e documental. Se por um
lado o levantamento nos ajudou a verificar em números se as propostas formuladas pela sociedade civil nos
Ciclos de Conferências são colocadas no Plano Anual de Atuação e implementadas, com o intuito de nortear a
atuação da DPESP, por outro lado as entrevistas nos ajudam a entender quem participa dos Ciclos e a captar a
dinâmica destas Conferências, bem como observar críticas a este mecanismo de participação.
10
O trabalho tinha a pretensão de fazer, além do levantamento social, o levantamento do investimento financeiro
que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo faz para a realização dos Ciclos de Conferências. Fizemos uma
solicitação informal sobre estes dados para um servidor do Gabinete da primeira subdefensoria mas fomos
informados de que a Defensoria Pública não sistematizou estes dados. Mesmo se fosse realizado o pedido de
dados pela Lei de Acesso à Informação (LAI) a resposta não chegaria a tempo para a inclusão no presente
trabalho.
11
Os Núcleos Especializados são espaços de natureza permanente, coordenados por dois Defensores Públicos,
sendo um Coordenador e o outro Coordenador Auxiliar. Os Núcleos Especializados estão previstos no artigo 52
da LCE 988/2006, e as suas principais atribuições são: promover a atuação estratégica da instituição, coordenar
18
A minuta de entrevista para as duas pessoas oriundas da sociedade civil foi organizada
em cinco tópicos: i) Perfil Social, ii) Relação com a Defensoria Pública, iii) Relação com a
Ouvidoria da Defensoria Pública, iv) Relação com os Ciclos de Conferências e v) Relação
com os Movimentos Sociais.
1-) Qual a sua relação com a Defensoria Pública? Qual o seu cargo? Qual a sua função?
4-) Qual a sua visão sobre o caráter das propostas? É vinculativo ou não?
os debates sobre os temas vinculados ao Núcleo, realizar a preparação de materiais em sua respectiva área,
propor medidas judiciais e extrajudiciais para a tutela de interesses individuais, coletivos e difusos, atuar e
representar junto ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos; promover e realizar o intercâmbio entre os
Defensores, para a uniformização dos entendimentos ou teses jurídicas, dentre outras atribuições.
12
Dentre as 14 entrevistas, apenas 3 entrevistas não foram gravadas e nestes mesmos 3 casos os entrevistados
não assinaram um documento que autorizasse a utilização dos dados e informações fornecidas por eles, embora
tenham consentido de forma verbal a utilização de seu nome e de todas as informações fornecidas na entrevista.
Todas as outras 11 entrevistas foram gravadas, integralmente transcritas e nestas, os entrevistados assinaram um
termo permitindo a divulgação e utilização das informações fornecidas durante a entrevista. Embora 13
entrevistados tenham permitido a sua identificação, optei por suprimir a identificação de algumas pessoas por
entender que a divulgação de sua identidade poderia expor de forma inconveniente os entrevistados.
19
Estrutura da Dissertação
O Brasil viveu uma ditadura de 1964 a 1984. Este período foi marcado por
arbitrariedades, usurpação de liberdades, onde os direitos políticos e os direitos da cidadania
foram suspensos.
Mas, mesmo diante deste quadro de forte repressão, a partir dos anos 70 ocorreu o
ressurgimento da sociedade civil brasileira (AVRITZER, 1994). Houve a organização dos
movimentos sociais, da sociedade civil e de alguns partidos políticos a favor da
redemocratização do país e a reivindicação de uma maior presença de instituições
encarregadas da deliberação de políticas públicas nas áreas de saúde, assistência social e
políticas urbanas (COELHO, 2004, CUNHA, 2006 e AVRITZER, 2007).
Após a abertura política do Brasil com as eleições indiretas, houve uma intensa
movimentação para que fosse eleita uma Assembleia Constituinte, encarregada de elaborar
uma nova constituição (FAUSTO, 1995)
mecanismos que fizessem com que o cidadão pudesse participar das decisões estatais.
(ROCHA, 2008).
Quando a Constituição Federal de 1988 foi promulgada, o seu texto foi muito criticado
pois ele tecnicamente entrou em assuntos que não eram de natureza constitucional, e refletiu
as pressões dos diferentes grupos da sociedade (FAUSTO, 1995, p. 524).
Segundo Silva, (2009); Ferrarezi; Oliveira (2010) e Souza (2011), citados por Cunha
(2012):
Segundo Cunha (2012, p. 18) existe ainda uma terceira diferença, esta diferença que
diz respeito aos participantes das conferências: as novas conferências recebem pessoas ligadas
ao governo, sociedade civil, participantes de movimentos sociais, não apenas participantes de
notório saber como as antigas conferências.
demandas impostas pela sociedade13. É neste momento propício a mudanças que ocorre a
previsão legal de participação do cidadão na gestão pública. Neste aspecto, destaca-se o artigo
37, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988, que prescreve que “ a lei disciplinará as
formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta”. Ainda na
Constituição Federal de 1988 podemos citar o artigo 193 que trata das normas gerais da
Seguridade Social e o artigo 194, inciso VII, que destaca o caráter democrático e
descentralizado da administração, estabelecendo uma gestão quadripartite, com a participação
dos trabalhadores, empregadores dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. O
artigo 198 que trata das ações e dos serviços públicos de saúde coloca como uma das
diretrizes gerais do sistema de saúde a “participação da comunidade”. E o artigo 204 da
Constituição Federal de 1988 (que trata da Assistência Social) prevê, por meio de instituições
representativas a “participação da população, por meio de organizações representativas na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis”.
13
Não existe apenas uma ou a melhor definição sobre o termo “Políticas Públicas”. Uma das definições
encontradas e que nos parece ser bem didática é a de que a Política Pública é a soma das atividades dos
Governos, que agem diretamente ou por delegação e que influenciam a vida dos cidadãos” (PETERS, 1986).
Para um pequeno aprofundamento sobre o surgimento, definições e importância das Políticas Públicas sugerimos
o artigo “Políticas Públicas: uma revisão de bibliografia”, de Celina Souza (2006), disponível em: <
www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16>.
25
Observa-se que no Brasil, como resultado do movimento de alguns setores da sociedade por
maior participação, foi criada uma verdadeira “estrutura participativa”. Esta estrutura é bem
variada e estimula a participação social em diversas áreas (saúde, educação, segurança
pública) e níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal). A este respeito, Viviane
Petinelli tece os seguintes comentários:
Luciana Tatagiba explica de que forma a participação social via mecanismos de participação
influenciou na democratização de políticas públicas no Brasil:14
Desta forma, podemos entender que o processo engendrado pela participação social é
cíclico: as instituições públicas, ao incentivarem a participação social podem causar uma
tensão e esta tensão faz com que estas mesmas instituições se aprimorem e se tornem mais
suscetíveis ao controle por parte da sociedade.
Outro fator que pode contribuir para que a sociedade civil busque, construa e se
aproprie dos espaços públicos é a questão da demora das instituições públicas em se
adequarem às mudanças e de fornecerem respostas à altura das necessidades/demandas da
população. É necessário que o Estado tenha a capacidade de observar as mudanças que
ocorrem na sociedade, se adequando a estas mudanças sob o risco de insegurança e descrédito
de suas próprias instituições.
14
Embora Luciana Tatagiba se refira ao mecanismo de participação denominado: Conselhos Municipais e
Políticas Sociais, podemos utilizar este exemplo para fazer uma analogia com os Ciclos de Conferências da
DPESP no que se refere ao potencial deste mecanismo de participação para a realização de políticas públicas.
27
Além dos fatores apontados por Tatagiba (2002) para a formação dos espaços
participativos, podemos apontar outros possíveis problemas, como a crise do sistema de
representação no Estado. Enquanto o sistema representativo brasileiro está calcado no
partidarismo político e estes partidos estão voltados para a satisfação dos seus próprios
interesses, a sociedade não se vê representada por eles. Este é um dos fatores que podem
fazer com que a sociedade civil busque alternativas, busque novos espaços onde ela possa
representar perante ao Estado as suas necessidades e vontades.15 Nesse sentido, Marco
Aurélio Nogueira entende que as transformações da sociedade capitalista fizeram com que a
representação fosse posta em xeque, deixando-a defasada e com sérias dificuldades
operacionais (NOGUEIRA, 2014, p. 1).
[...]os sinais que alguns chamam de crise, podem simplesmente indicar uma
mudança na forma pela qual a representação política se manifesta [...] Se as
novas práticas participativas ampliam a participação direta dos cidadãos,
isso não significa que as instituições políticas tradicionais tenham se tornado
menos aptas a representá-los [...] o surgimento de novos espaços
democráticos, assim como de novos atores envolvidos na gestão da coisa
pública , pode, por outro lado, ser encarado como uma forma de
fortalecimento da representação política e não como um sinal de
enfraquecimento de suas instituições. (POGREBINSCHI; SANTOS, 2011, p.
259- 261)
A nota extraída do texto de Pogrebinschi e Santos (2011) revela que existem novos
modelos de participação surgindo, e que o seu surgimento não pressupõe a destruição ou crise
das instituições políticas tradicionais, mas que estas novas práticas participativas podem
15
Evelina Dagnino, em seu artigo “Sociedade Civil, Espaços Públicos e a Construção Democrática do Brasil:
Limites e Possibilidades”(2002, p. 279), descreve em poucas linhas, alguns aspectos que podem nos levar a
entender a crise de representação pela qual passamos: Nessa vocação pendular que é sua característica inerente,
os partidos políticos no Brasil historicamente se inclinaram sempre na direção do Estado (com exceções, por
isso mesmo notórias), limitando sua busca de representatividade na sociedade civil aos momentos eleitorais e
aos mecanismos vistos como os mais eficazes: o clientelismo, as relações de favor, o personalismo etc. A
distância entre os partidos, a insatisfação generalizada com a política partidária assinalada também pelos
estudos realizados em outros países da América Latina indicam a precariedade desta função mediadora.
28
fortalecer a representação política. Em artigo mais recente, Pogrebinschi vai mais longe e
entende que não há representação sem participação social (Pogrebinschi apud Araújo 2014).
Para Cézar Britto (ex-Presidente da OAB), este decreto é apenas uma forma de
ratificar um controle de políticas públicas no país e esta oposição contra o decreto ocorre
devido à uma dualidade política (HAUBERT, 2014).
Alguns políticos entendem que o decreto é inconstitucional, alegando que, pelo fato
do decreto prever a consulta de conselhos populares nas decisões do Governo, feriria a
Constituição e a livre separação dos poderes (HAUBERT, 2014).
16
O Decreto n. 8.243/2014 que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional
de Participação Social (SNPS) está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Decreto/D8243.htm, acesso em 01 de Julho de 2015.
29
Constituição Federal assegurou a criação de leis para a instalação das Ouvidorias em seu
artigo 37, parágrafo 3º, inciso I. 17
Em 2006, por meio da Lei 988/2006 foi instituída a Defensoria Pública do Estado de
São Paulo, a sua Ouvidoria Externa (que compõe o rol de órgãos da Administração Superior
da DPESP) e os Ciclos de Conferências.
17
Constituição Federal, artigo 37, §3º, caput e inciso I: “ A Lei disciplinará as formas de participação do usuário
na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: As declarações relativas à prestação dos
serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviço de atendimento ao usuário e a avaliação
periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços.
31
18
“A Ouvidoria Pública deve ser compreendida como uma instituição que auxilia o cidadão em suas relações
com o Estado. Deve atuar no processo de interlocução entre o cidadão e a Administração Pública, de modo que
as manifestações decorrentes do exercício da cidadania provoquem a melhoria dos serviços públicos prestados”
(Controladoria Geral da União, Ouvidoria Geral da União, 2012a, p.7)
32
De acordo com a leitura do artigo de Ana Maria Campos (1990), podemos depreender
que accountability é o controle sobre o Estado, o qual só pode ser exercido quando uma
sociedade é capaz de organizar seus interesses públicos com os interesses privados.
Na área do Direito foi realizada uma pesquisa para determinar os usos do termo
accountability nos Tribunais Superiores Brasileiros. Foram coletadas todas as decisões nas
quais a palavra accountability havia sido citada e as conclusões que os autores chegaram
foram a de que não havia unanimidade no uso da palavra accountability em cada Tribunal.
Quando alguns tribunais se referiam a accountability, eles o fizeram dando a entender que
accountability é um processo que se inicia com a "prestação de contas" e desencadeia em
“responsabilização” e “sanção” dos agentes por descumprimento de deveres. Na maioria das
33
decisões analisadas pelo estudo, a palavra accountability foi utilizada como sinônimo de
“fiscalização”. (AUGUSTO; RIZZARDI, 2014, p. 20).
Talvez a palavra accountability ainda não tenha tradução para o português pois não se
trata de uma palavra que denota apenas um substantivo, apenas uma coisa: talvez
accountability denote um processo ou uma sequência de ações a serem tomadas pelo órgão
responsável pela aplicação da accountability. Após inúmeras pesquisas, chegamos à
conclusão do possível significado do termo accountability: é um processo que envolve
algumas etapas e estas etapas são fiscalização, controle e responsabilização. É importante
salientar que este processo pode ou não ser encerrado com a responsabilização, o ideal é que
sim, para que cada órgão que esteja sujeito à accountability seja responsabilizado caso ocorra
alguma falha.
Desta forma, o marco legal para a criação das Defensorias Públicas dos Estados foi a
Constituição Federal de 1988, que por meio do artigo 134 estabeleceu que “A Defensoria
Pública é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado (...)”.
Seis anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi sancionada a Lei
Complementar Federal nº 80 de 1994 (LCF 80/1994), que organiza a Defensoria Pública da
União, do Distrito Federal e Territórios e estabelece normas gerais para a sua organização nos
Estados.
Ressalta-se, que, nas comarcas onde a PAJ não estava presente, a assistência
judiciária era prestada através do convênio firmado entre a PGE com a OAB, o que fez com
que a OAB exercesse forte resistência contra a implantação da Defensoria Pública no Estado
de São Paulo: em tese, este novo modelo de assistência judiciária acabaria com o convênio
entre a OAB e a PAJ.
19
A Assistência Jurídica é um conceito amplo: abrange todo e qualquer auxílio jurídico voltado ao sujeito
necessitado, inclusive no que diz respeito ao aconselhamento preventivo.
20
A Assistência Judiciária é um conceito mais restrito que o da assistência jurídica: ele envolve apenas os atos
do processo, apresentação de defesas, pagamento de custas, entre outros.
21
Lei 478/1986, artigos 28 e 29. A PAJ era formada pela Procuradoria de Assistência Judiciária Civil e pela
Procuradoria de Assistência Criminal. As suas atribuições eram a de prestar assistência judiciária e de orientação
jurídica extrajudicial aos necessitados.
35
Embora o marco legal para a criação das Defensorias Públicas seja a Constituição
Federal de 1988, no Estado de São Paulo foi apenas em 2001 que iniciou de fato uma
organização a favor da criação das Ouvidorias.
O MPDP foi liderado inicialmente pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa
Humana (CONDEPE) e pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos (CTV) e foi
importante no sentido de informar a sociedade civil sobre a importância da Defensoria
Pública, conclamar diversos setores da sociedade civil e pressionar o Governo do Estado de
São Paulo pela criação e instalação da DPESP.
36
Planilha 1
22
Texto baseado em informações do site da DPESP – Disponível em: < http://www.defensoria.sp.gov.br>,
acessado em 16/05/2014.
37
da Capital
23
O Padre Valdir João Silveira é Membro de Notório Saber do Conselho Consultivo da DPESP (mandato 2013-
2015) e membro da Pastoral Carcerária. Ele participou ativamente do MPDP.
39
Como vimos, a DPESP foi criada em 2006, por meio da Lei Complementar Estadual
n. 988/2006 (LCE 988/06) que incorporou algumas das propostas do MPDP. Dentre essas
propostas fazia parte a instalação de uma Ouvidoria independente. Assim é que em seu artigo
11, a LCE 988/2006 garantiu não somente a existência de uma Ouvidoria-Geral externa, como
também a sua participação como órgão integrante da Administração Superior, juntamente
com a Defensoria Pública-Geral, o Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado e a
Corregedoria-Geral da Defensoria Pública do Estado, entre outros. Ainda de acordo com a
LCE 988/06, garantiu a participação do Ouvidor-Geral como membro nato no Conselho
Superior da Defensoria Pública, órgão máximo da administração da Defensoria Pública.
A mesma lei prevê ainda a publicação de relatórios semestrais, que devem conter as
medidas propostas aos órgãos competentes, bem como descrever a forma de resolução
adotada para cada caso.
40
O fato do Ouvidor-Geral ser pessoa externa aos quadros da DPESP é importante pois
duas importantes funções da Ouvidoria-Geral são: i) de realizar o controle da Defensoria
Pública e ii) de possibilitar a participação da sociedade civil dentro da gestão da Ouvidoria.
Ora, para que estas atribuições sejam exercidas da melhor forma possível é necessário que a
Ouvidoria seja autônoma e mantenha uma independência funcional, ou seja, ela não deve ser
suscetível a pressões oriundas da carreira. Este é um dos motivos pelos quais a lista tríplice24
deve ser composta por candidatos oriundos da sociedade civil e não integrantes da carreira de
defensor público.
24
A Lista Tríplice é uma lista que deve ser elaborada pelo CONDEPE, contendo o nome de três pessoas
indicadas para o cargo de Ouvidor-Geral.
41
O fato do cargo de Ouvidor ser ocupado por pessoa que não é membro da DPESP faz
com que ele consiga se colocar no lugar do usuário dos serviços, sem pensar apenas no lado
da perspectiva do prestador do serviço. Assim, ele consegue captar da melhor forma as
demandas da sociedade, e levá-las para as instâncias decisórias, garantindo que estas decisões
levem em conta as demandas da população que usa os serviços da DPESP.
Nesta fala, a Ex Ouvidora-Geral explicita que o fato do Ouvidor ser externo, ou seja,
não ser membro da DPESP além de ajudar no controle social, faz com que haja um
arejamento institucional a partir de seu olhar que não é apenas jurídico: a Ouvidoria externa
que é a porta de entrada do sistema de justiça torna-se mais democrática, à medida em que
42
leva em consideração novos olhares, novos pontos de vista e não somente o ponto de vista do
Direito.
[...] eu acho que uma coisa muito importante e que tem que ser valorizada é
o contato com os movimentos sociais... não só com os movimentos sociais
relacionados à moradia e população de rua com os quais eu tenho muito
contato, mas com todos os movimentos, a própria comunicação foi um
grande aprendizado na OCAS, que me ajudou a manter contatos com
movimentos sociais e a fazer a articulação desses movimentos. ( Alderon
Costa, Diário de entrevista, 15/02/2015).
Outro aspecto importante do perfil para o cargo de Ouvidor externo apontado por
Alderon Costa, é o fato do Ouvidor ter contato e ter facilidade em articular diferentes
movimentos sociais.
25
Alderon Costa, foi eleito para o cargo de Ouvidor Geral da DPESP na gestão 2014-2016. Ele é formado em
Filosofia e Comunicação Social com especialização em jornalismo. Ele foi fundador e editor do Jornal ‘O
Trecheiro”. Foi sócio fundador da Organização Civil de Ação Social (OCAS) e participa desde 1983 de um
movimento que está se construindo com a população de rua. Sua candidatura para o cargo de Ouvidor Geral teve
o apoio da Rede Rua, entidade que trabalha na defesa dos direitos das pessoas em situação de rua.
26
O Conselho Consultivo é composto por 11 (onze) membros efetivos e 11 (onze) suplentes, todos
representantes de entidades e organizações sociais comprometidas com os princípios e atribuições da Defensoria
Pública, conforme o §2º, artigo 39 da LC 988/2006.
43
Em 2009 foi sancionada a Lei Complementar Federal (LCF 132/2009). Esta Lei
alterou dispositivos da Lei Federal nº 1.060/1950 (que estabelecia normas para a assistência
judiciária aos necessitados) e da LCF 80/1994 (que organizou a Defensoria Pública da União,
do Distrito Federal e dos Territórios) e prescreveu normas gerais para a sua organização nos
Estados. A LCF 132/2009 foi importante para as Ouvidorias de todo o Brasil, pois incorporou
o modelo externo de Ouvidoria capitaneado pelo Estado de São Paulo, estendendo o modelo
externo para todo o país ao dispor sobre o perfil do Ouvidor-Geral. De acordo com o artigo
105-B, o Ouvidor-Geral deverá ser pessoa de reputação ilibada e não integrante da carreira.
Este aspecto da escolha ser feita pelo Conselho Superior e não pelo Governador é
relevante, pois evita que a pessoa a tomar o cargo de Ouvidor-Geral seja escolhida de forma
política, ou ocupe o cargo para atender aos anseios ou fins políticos.
Como vimos, o Estado de São Paulo foi o primeiro Estado a implementar o modelo
externo de Ouvidorias no âmbito da Defensoria Pública.
Os Estados que não seguem o modelo externo de Ouvidoria nas suas Defensorias
Públicas, previsto na LC 132/2009, é o estado da Paraíba.
Cabe, desta forma, concluir que o modelo de Ouvidoria Externa descortina um novo
conceito de instituições do sistema de justiça no Brasil: um modelo de gestão democrática,
baseado na participação da sociedade civil.
Podemos destacar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 45/09. Esta PEC que
tramita no Senado, foi proposta pelo Senador Renato Casagrande, com 31 Senadores
signatários. Ela já foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) e
27
A lista dos Estados que possuem Ouvidoria Externa está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5485>, acessado em 23 de setembro de 2014.
45
Os dois trechos destacados da PEC são contrários aos anseios da sociedade civil à
própria razão de ser da Ouvidoria Externa da DPESP à medida em que: i) descaracteriza sua
função precípua que é a de controle externo sobre a Instituição da qual faz parte (no caso em
tela, a Defensoria Pública) e ii) nega o direito à sociedade civil de indicar seu representante (o
Ouvidor-Geral), na medida em que aduz que essas funções devem ser desempenhadas por
“servidores organizados em carreiras específicas, na forma da lei”. Ora, se o modelo externo
de Ouvidorias é sustentado justamente por Ouvidor “de reputação ilibada, não integrante da
Carreira”29, para não haver interferências de ordem corporativa nos trabalhos da Ouvidoria, a
inclusão de um servidor concursado da instituição como Ouvidor-Geral, certamente acabaria
com o modelo de gestão independente e autônoma das Ouvidorias.
28
O Conteúdo da PEC 45/09 está disponível em: <
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=93534>, acessado em 24 de setembro de
29
Artigo 105-B, Lei Complementar 132/2009, disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp132.htm>, acessado em 24 de setembro de 2014.
30
O Conteúdo da PEC 45/09 está disponível em: <
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=93534>, acessado em 24 de setembro de
2014.
46
Concluímos, no entanto, que a aprovação da PEC, da forma como foi elaborada, seria
catastrófica para o modelo externo de Ouvidorias, uma vez que: transformaria as Ouvidorias
em órgãos de controle interno, negando à sociedade civil o direito de escolher o Ouvidor-
Geral, acabaria com a autonomia do Ouvidor, fato que certamente acabaria com o modelo
externo, independente e autônomo de Ouvidorias.
Os efeitos vislumbrados para as Defensorias Públicas caso a PEC seja aprovada seriam
a diminuição da participação popular dentro da Instituição, acarretando também na perda de
um importante meio de controle social e de fiscalização sobre a atividade das Defensorias e a
perda da capacidade de inovação, reestruturação, e de compreensão das
demandas/necessidades do público alvo.
Ainda sobre essa mesma questão, tramita no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta
de Inconstitucionalidade ADI nº 4.60831 contra o modelo externo de Ouvidoria. A ação foi
proposta pelo Partido Social Liberal (PSL). O PSL questiona a legalidade do modelo externo
de Ouvidorias e pede que seja declarada a ilegalidade dos artigos 105-B e 105-C da LC
80/1994, com a nova redação dada pela LC 132/2009.
O Requerente da ação postula que não cabe à União Federal estabelecer normas de
competência dos Estados, dentre elas, normas referentes à Defensoria Pública. A Requerente
alega ainda que cabe à União apenas a fixação de normas e de princípios gerais, cabendo aos
Estados, Municípios e Distrito Federal apenas a aplicação dessas normas. No tocante ao cargo
de Ouvidor-Geral (que pela Lei 132/2009) deve ser exercida por “pessoa com reputação
ilibada e não integrante dos quadros da Defensoria”, o postulante alega que o cargo é de
origem técnica e não política, e defende que os artigos em questão são inconstitucionais.
31
Ação Direta de Inconstitucionalidade, disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp?id=1195667&tipo=TP&descricao=ADI%2F4608,
acessado em 24 de setembro de 2014.
47
razoável. Desde outubro de 2014 a ADI 4.608 está aguardando julgamento; ela está conclusa
ao Relator, que é o ministro Gilmar Mendes.
48
32
Sobre a competência de deliberação do Conselho Superior da DPESP, ver LCE 988/2006, artigo 31.
33
As sessões do Conselho Superior podem ser vistas ao vivo no canal do Youtube “Ouvidoria-Geral Defensoria
Pública de São Paulo”.
34
O endereço do site da DPESP para acessar as sessões do Conselho Superior ao vivo por streaming ou
gravadas é: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2877>, acesso em 15 de janeiro de
2015.
49
instituição, fazendo com que haja um canal aberto com o Conselho Superior para o
encaminhamento das demandas, críticas, sugestões e assuntos de interesse do público alvo da
população atendida pela DPESP.
Embora o Momento Aberto seja de extrema importância para que a sociedade civil
acompanhe as deliberações sobre processos de seu interesse, fiscalize e dialogue diretamente
com o Conselho Superior - que é o órgão deliberativo máximo da DPESP, recentemente
entrou na pauta para debate um processo que trouxe a questão da transparência das
deliberações nas sessões do Conselho Superior.
35
No Julgamento Virtual dos processos não haverá a necessidade dos membros do Conselho Superior se
reunirem para deliberar sobre uma matéria que está sob votação, eles deverão proferir o voto por meio
eletrônico. Não dispomos de informações de como seria esta votação (se um turno ou dois, se haveria sessão de
votação) se a decisão deveria ser fundamentada, se o conteúdo dos processos a serem votados, e as decisões
seriam abertas ao público, se haveria prazo para recorrer, dentre outras informações relevantes, pois o processo
Administrativo que propõe a Regulamentação de Julgamentos Virtuais não nos fornece maiores informações
neste sentido. Sabe-se que, se ele for aprovado, o Conselho Superior vai deliberar sobre a Regulamentação do
Julgamento Virtual, mas não se sabe de que forma isso deverá ocorrer (com ou sem a participação social).
50
[...] a gente tem que restringir o momento aberto, porque a sessão acaba
ficando meio improdutiva. Sabe, passa muito tempo, e as pessoas não sabem
muito bem e ficam falando... e não dá tempo pra gente apreciar a nossa
pauta. (Entrevistado (i), Diário de Entrevista, 06/01/2015).
Gráfico 1
149
110
58 65 57
43 49
36 29
13 2 14 17 22 9 17
6
Fonte: Relatório de Gestão da Ouvidoria da DPESP 2010-2014 (os dados relativos ao ano de 2014
são referentes a três meses).
Defensoras no Momento Aberto superou a participação tanto da sociedade civil quanto dos
servidores.
durante um período de tempo para que a população possa participar. Essa participação deve
ser formalizada por meio de cartas ou e-mails.
Existem ainda as Audiências Públicas que são reuniões promovidas pela Defensoria Pública,
onde ela convoca a população, integrantes dos Núcleos Especializados, profissionais e
especialistas sobre o tema da audiência para discutir aspectos práticos e sugestões de atuação
para a DPESP. Podemos citar como exemplo de audiência pública, a reunião que foi realizada
em Novembro de 2014 sobre a Violência Obstétrica.36 Nesta ocasião, houve uma audiência
pública com integrantes da Ouvidoria-Geral, da EDEPE, do Núcleo de Promoção e Defesa
dos Direitos da Mulher da DPESP, da Escola Superior do Ministério Público do Estado de
São Paulo (ESMPSP), de associações de proteção às mulheres, de profissionais da área
médica, e de mulheres vítimas de violência obstétrica. Esta audiência pretendeu informar a
população sobre este tipo de violência que ocorre com as mulheres durante o parto, discutindo
diversos temas relacionados, tais como direitos reprodutivos da mulher, o excesso de
cesarianas no país, o parto humanizado e como as mulheres podem garantir seus direitos com
a ajuda da DPESP e do MP.
36
A chamada para a Audiência Pública está disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Conteudos/Noticias/NoticiaMostra.aspx?idItem=52711&idPagina=1&fla
Destaque=V>, acessado em 22 de novembro de 2014.
37
A Tese Institucional n. 45/2008 está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5144>, acessado em 22 de novembro de 2014.
53
a ser acionada judicialmente e procure a DPESP, os Defensores, de posse dessa tese, saberão
previamente como lidar com este caso, uniformizando os atendimentos e, de certa forma,
criando um protocolo de atendimento.
Embora não haja previsão legal que fundamente a participação social na definição das
teses institucionais, é importante dizer que a proposição de teses institucionais não está
restrita apenas aos defensores públicos: a Ouvidoria-Geral fomenta a participação popular
neste tipo de proposição. Desta forma, a DPESP, por meio da Deliberação CSDP n. 120,
artigo 4º, §1º38 instituiu participação popular para a definição das teses institucionais. As
entidades, movimentos e organizações da sociedade civil poderão, por sua vez, elaborar
propostas de teses institucionais por meio da Ouvidoria-Geral, que deverá analisar o aspecto
formal e material das propostas e então, encaminhá-las para a EDEPE. Este fato denota uma
tentativa de alinhamento institucional da DPESP com a participação social.
38
A Deliberação CSDP n. 120, está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Conteudos/Materia/MateriaMostra.aspx?idItem=30317&idModulo=8410
>, acessado em 22 de novembro de 2014.
54
suas diretrizes institucionais, bem como na fiscalização e das atividades e condutas dos
membros e servidores da DPESP. O §3º do artigo 6° da LCE 988/2006 complementa que o
direito de participar das diretrizes da instituição será efetivado através da Conferência
Estadual e das Pré-Conferências Regionais da Defensoria Pública, do Plano Anual de
Atuação da Defensoria Pública e da Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública. Nesse sentido, as
Pré-Conferências e a Conferência Estadual têm o objetivo de:
39
Relatório de Gestão da Ouvidoria da Defensoria Pública - 2010-2014, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf>,
acessado em 01 de outubro de 2014.
55
A realização dos Ciclos de Conferências da DPESP completou (8) oito anos. No ano
de 2015 será realizado o V Ciclo de Conferências da DPESP. É interessante observar que o
formato dos Ciclos de Conferências, no que refere às etapas de realização sempre foi o
mesmo. Os Ciclos de Conferência congregam a sociedade civil (movimentos sociais e
cidadãos), Advogados, Agentes Públicos, membros e servidores da DPESP e são divididos
em: (i) Pré-Conferências (que acontecem no nível regional) e (ii) Conferência Estadual (que
ocorre na cidade de São Paulo) e
Porém, com relação à metodologia utilizada nos Ciclos (quanto aos grupos temáticos,
números de propostas aprovadas por eixo), ela sofreu alterações desde a sua primeira versão
em 2010. De acordo com as entrevistas realizadas com servidores que faziam parte da
estrutura da DPESP na época da implantação dos Ciclos de Conferências, houve uma grande
evolução do I e II para o III e IV Ciclos no que se refere a metodologia dos Ciclos, vejamos:
Com base nos trechos das entrevistas acima, podemos verificar que pelo fato da
instituição ser recente, o primeiro Ciclo foi marcado por uma metodologia muito simples, e
pela presença dos esforços e disposição das pessoas presentes para tirar do papel e concretizar
os Ciclos de Conferências.
A partir do terceiro Ciclo podemos observar que houve um avanço na metodologia dos
Ciclos de Conferências da DPESP e o desenho da metodologia que é utilizada hoje em dia.
Vejamos:
desta Plenária são enviadas ao Conselho Superior, que deve analisar e aprovar as propostas
que farão parte do Plano de atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
40
A Deliberação CSDP nº 36/2007, está disponível em:
<Http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/Delibera%C3%A7%C3%A3o%20CSDP
%20n%C2%BA%2036_02.03.2007%20%28Consolidada%29.pdf, acessada em 01 de outubro de 2014>.
41
A Deliberação CSDP nº 36/2007 sofreu alterações em diversos artigos pela Deliberação CSDP n.º 116 de
Março de 2009, que modificou e atualizou a metodologia dos Ciclos de Conferências.
58
de formulário específico, onde o participante indica o eixo temático que irá participar, de
acordo com o seu interesse.
De acordo com a Deliberação CSDP n.º 36/2007 a regra é que após a etapa de
inscrição, deve ser realizada a abertura da Pré-Conferência. Neste momento é formada a mesa
diretora. As autoridades componentes da mesa diretora darão as boas-vindas aos presentes e
indicarão a metodologia a ser empregada nos trabalhos a serem realizados.
42
De acordo com a Deliberação CSDP nº 36/2007, Capítulo II, artigo 2º, §1º: “ Participam da Conferência
delegados, observadores e convidados, sendo considerado: a) Delegados: aqueles que forem eleitos nas pré-
conferências, e, portanto, tem direito a voz e voto; b) Observadores: qualquer pessoa que tenha efetuado a
inscrição nesta modalidade, observado o número de vagas definidos pela Comissão Organizadora, tempo apenas
direito a voz; c) Convidados: aqueles que forem convidados pela Comissão Organizadora, tendo apenas direito a
voz.” Grifos nossos.
43
O eixo temático “Direito do Consumidor” foi criado no início do III Ciclo de Conferências.
44
O eixo temático “Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência” foi formado no início do III Ciclo de
Conferências, com a junção dos grupos: “Idoso” com “Direitos Humanos, Saúde e Pessoas com Deficiência”, em
virtude das demandas destes grupos serem muito similares. Paralelamente a isso foi criado o grupo temático
“Cidadania, Direitos Humanos e Meio Ambiente”.
45
No início do III Ciclo de Conferências foi realizada a junção do grupo temático “Políticas Institucionais” com
o grupo “Educação em Direitos”, formando apenas um grupo temático denominado “Política Institucional e
Educação em Direitos”.
59
escolher e votar nas propostas. Deverão ser aprovadas 20 propostas, sendo que é garantida a
aprovação de pelo menos uma proposta por eixo temático.
Após a votação das propostas, é realizada uma nova plenária. Nesta nova plenária
deverão ser escolhidos os Delegados que participarão da Conferência Estadual. Conforme a
deliberação do CSDP nº 36/2007, havendo mais interessados do que o número de vagas, o
preenchimento das vagas deverá seguir o critério de 60% (sessenta por cento) de vagas serão
destinadas para membros da sociedade civil e 40% para pessoas da área pública. A eleição é
feita mediante votação entre todos os participantes da Pré-conferência. O Delegado que for
eleito deverá participar da Conferência Estadual, terá direito a voz e a voto nos grupos de
trabalho e na plenária final de votação das propostas.
46
Página 46 do Relatório de Gestão da Ouvidoria da Defensoria Pública - 2010-2014, disponível em
<http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf>,
acessado em 01 de outubro de 2014.
60
Os Grupos de Trabalho são divididos de acordo com os eixos temáticos que são os
mesmos das Pré-Conferências, sendo coordenados e moderados por dois Defensores Públicos
e a relatoria das propostas será realizada por dois servidores da DPESP, tanto os Defensores
como os Servidores serão escolhidos pela Comissão Organizadora da Defensoria Pública e
deverão, preferencialmente, fazer parte do Núcleo Especializado da DPESP49 correspondente
ao Eixo Temático que irão participar.
Entendemos que é interessante fazer uma consulta com a sociedade civil e com os
movimentos organizados para verificar até que ponto é interessante a participação dos
Defensores Públicos nos grupos de trabalho: por um lado, a participação dos Defensores
Públicos pode ser benéfica, eles podem aproveitar este momento no grupo de trabalho para
contribuir com as discussões das propostas, agregando à discussão um olhar interno, o olhar
de quem trabalha dentro da DPESP; este momento é importante também para que o Defensor
Público se aproxime da sociedade e possivelmente se sensibilize com as demandas da
população que necessita dos serviços da DPESP. Por outro lado, é possível que a presença do
Defensor Público possa afetar os trabalhos, de forma que haja algum tipo de direcionamento
na escolha das propostas ou interferências nos debates.
47
O Regimento Interno do III Ciclo de Conferência está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/Regimento%20III%20Confer%C3%AAncia.pdf>, acessado
em 01 de outubro de 2014.
48
Grupos de Trabalho nesse caso tem o mesmo sentido que Grupo Temático, ambos são usados nos documentos
dos Ciclos de Conferências como sinônimos. Podemos verificar que em muitos documentos observa-se também
o uso da expressão “eixo temático”.
49
Uma das atribuições da Defensoria Pública de São Paulo é realizar a prevenção de conflitos mediante
atividades pedagógicas voltadas à transferência de conhecimento jurídico à população, é o que a instituição
chama de “Educação em Direitos”. Para isso, a DPESP criou os Núcleos Especializados de caráter permanente,
em áreas temáticas com maior grau de vulnerabilidade no que se refere à violação de direitos. Estes Núcleos
além de trabalharem em projetos ligados à Educação em Direitos, e outras atribuições legais, são responsáveis
por organizar e implementar as propostas aprovadas nos seus respectivos eixos temáticos. Atualmente a DPESP
conta com nove (9) Núcleos Especializados, são eles: Cidadania e Direitos Humanos; Infância e Juventude;
Habitação e Urbanismo; Segunda Instância e Tribunais Superiores; Situação Carcerária; Combate à
Discriminação Racismo e Preconceito; Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher; Direitos do Idoso e Direitos
do Consumidor.
61
Cada Grupo de Trabalho escolhe, por meio de votação, 10 (dez) propostas, dentre
todas as propostas aprovadas nas Pré-Conferências. Ao final da escolha das 10 (dez)
propostas, o Grupo de Trabalho deverá eleger, dentre os Delegados, um Relator, cuja função
será a de apresentar as propostas aprovadas na Plenária.
Após a abertura da Plenária pela mesa Diretora, o Relator de cada Grupo de Trabalho
realiza a leitura das 10 (dez) propostas aprovadas por seu respectivo grupo.
50
Os participantes e observadores terão direito a voz e não terão direito a voto, conforme a deliberação CSDP nº
36/2007, artigo 25, parágrafo único
51
Artigo 6º, § 2º do Regimento Interno do III Ciclo de Conferência.
52
Artigo 18, inciso IX, da Deliberação CSDP nº 36/2007.
53
O Regimento Interno, Artigo 22, §1, aduz que a rejeição pode se dar por inconstitucionalidade ou por afronta
às normas da DPESP.
62
elaborem moções.54 A moção é uma das formas através das quais os participantes presentes
na Conferência Estadual podem informar a Ouvidoria Geral da DPESP quantos aos problemas
e falhas na organização do evento. As moções podem ser de propositura também, onde o
participante pode propor que seja realizada determinada melhoria nos Ciclos de Conferências,
contribuindo assim, para o aperfeiçoamento deste mecanismo de participação social.
O Artigo 7º da LCE 988/2006, prevê que a DPESP deverá publicar Plano Anual de
Atuação (PAA), cuja elaboração deverá ser precedida pela realização de Conferência Estadual
e de Conferências Regionais, realizadas a cada dois anos.
54
Moção: Qualquer manifestação que envolva estrutura, funcionamento e a organização dos Ciclos de
Conferências da Defensoria Pública do Estado, conforme artigo 27, §3 do Regimento Interno da Conferência
Estadual da DPESP.
55
Artigo 6º, inciso III, da Lei Complementar 988/2006.
63
O Plano Anual de Atuação – Incorporação das Propostas Elaboradas pela Sociedade Civil
nos Ciclos de Conferências.
56
Deliberação CSDP nº 49, disponível em:< http://bit.ly/CSDP-49>, acessado em 25 de setembro de 2014.
57
Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2- CSDP 1060-09
I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 9 de outubro de 2014.
58
Os Planos Anuais de Atuação 2007/2008 e 2009/2011, foram obtidos por meio de solicitação em formulário
(SIC) disponível no site da Ouvidoria, com fundamento na LAI – Lei de Acesso à Informação (12.527/2011) e
disponibilizados dentro do prazo legal.
59
Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em 09 de
outubro de 2014.
64
60
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
61
Página 65, do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2- CSDP
1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 9 de outubro de 2014.
62
Página 65 e 66 do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em< Plano de atuação 2009 - 2- CSDP
1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 09 de outubro de 2014.
65
Aqui é interessante observar que no próprio PAA nota-se a clara divisão entre as
demandas formuladas pela Administração Pública e as demandas formuladas pela sociedade a
partir dos Ciclos de Conferências.
63
Páginas 65 e 66 do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2-
CSDP 1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 09 de outubro de 2014.
64
Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em 09 de
outubro de 2014.
65
Página 1, do Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em
09 de outubro de 2014
66
66
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
67
Sobre a fixação no número de propostas aprovadas ver artigo 26 do Regimento Interno do III Ciclo de
Conferências, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/Regimento%20III%20Confer%C3%AAncia.pdf>, acessado
em 10 de outubro de 2014.
67
Os estudos da implementação das propostas aprovadas foram feitos com base nos
dados brutos do Relatório de Monitoramento produzido pela Comissão Permanente de
Monitoramento da Conferências71. Nos gráficos, as propostas são denominadas como:
Propostas Implementadas, que agrupa as propostas/enunciados já efetivados; Parcialmente
Implementadas (refere-se a propostas sobre questões permanentes, que já sofreram
68
Luciana Zaffalon foi Ouvidora Geral na gestão 2010-2012 e 2012-2014 e atualmente é Conselheira do
Conselho Consultivo da DPESP, mandato 2015-2016.
69
O processo 1.060/2009 versava sobre a Aprovação do Plano Anual de Atuação.
70
Relatório de gestão 2012, disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2013.04.03_Relatorio2012_Final_OG.pdf,
acesso em 14 de Janeiro de 2015.
71
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
68
Gráfico 2
I Ciclo de Conferências
160
140
140
120
100
100
80
60 44
40 28 33 31,42
20 16
20 13 9 3 9 8 12 9 6 7
0 5 6
0
Aprovadas Implementadas
72
Os gráficos foram elaborados a partir dos dados brutos extraídos do Relatório de Monitoramento elaborado
pela Comissão Permanente de Monitoramento das Propostas das Conferências.
69
Gráfico 3
II Ciclo de Conferências
200
180 172
160
140
120 100
100
80 72
60 42 41,86
40 26 29 22 29
19 13 12
20 9 2 11 9 8 9 3 1
0
Aprovadas Implementadas
Gráfico 4
80
60 50
40 28
20 14
7 4 0 8 5 8 8 7 4 2
0 2 1 3 3 2 0 0
0
Aprovadas Implementadas
A Comparação dos Gráficos 2,3 e 4 nos permite observar, em um primeiro momento que:
- do Ciclo II para o Ciclo III, houve uma diminuição de aproximadamente 14% no número de
propostas aprovadas.
Gráfico 5:
60 56
Número de Propostas
10
0
Ciclo I Ciclo II Ciclo III
Ciclos de Conferências
Gráfico 6:
69
130
163
aprovadas nos três Ciclos de Conferências sejam efetivamente implementadas ou seja, que
sejam colocadas em prática, mas não é isso o que foi evidenciado pelos gráficos.
Este documento aponta que o total das pessoas inscritas do Ciclo III para o Ciclo IV
aumentou de 1.437 para 1.513. Porém, quando se compara o desempenho individual de cada
uma das regionais, observa-se que houve refluxo de participação em 12 regionais. (Relatório
de Gestão da Ouvidoria da DPESP, 2010-2014, p. 49).
73
Nos Ciclos I e II não havia uma organização da DPESP no sentido de haver um monitoramento de quem
participava dos Ciclos. A partir do III Ciclo a metodologia foi aperfeiçoada e as pessoas que participam dos
Ciclos de Conferências devem preencher uma ficha com nome, profissão, se faz parte de movimentos sociais ou
não, entre outros dados relevantes.
74
Relatório de Gestão 2010-2014 está disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf,
acesso em 15 de janeiro de 2015.
75
4.1 As Entrevistas
Quem participa ou participou dos Ciclos de Conferências? Quais são suas críticas ao processo
das Conferências?
Conforme aludido na introdução, este capítulo tem como intuito identificar alguns
atores que participam das Conferências seja no âmbito da Sociedade Civil, dos Movimentos
Sociais, seja no âmbito das associações e institutos, tal como IBCCRIM e CONECTAS ou no
âmbito institucional da DPESP (tanto na Ouvidoria Geral, seja no âmbito da Administração
Superior), e identificar através das entrevistas críticas ou apontamentos com relação à
dinâmica dos Ciclos.
Optou-se por sistematizar o conteúdo das entrevistas de acordo com tópicos abordados
pelos entrevistados. De forma a facilitar a leitura e compreensão, nós separamos os tópicos de
forma que seja possível compreender as críticas realizadas.
Uma entrevista foi realizada sob a condição de anonimato, por este motivo, quaisquer
dados que possam identificar o entrevistado foram omitidos. Os dados de outros três outros
77
Ele participou de todo o último Ciclo de Conferências (Ciclo IV), atuou como
Delegado no Eixo de Política Institucional e Educação em Direitos. O que o motivou a
participar foi ter conhecidos pessoas que utilizaram os serviços da DPESP e relataram que não
foram atendidas com humanidade. Ele elaborou uma proposta que foi aprovada na pré-
Conferência mas não foi aprovada na Conferência Final do IV Ciclo, a proposta que ele
elaborou versava sobre a Humanização do Atendimento nas Unidades da DPESP.
Mesmo sua proposta não tendo sido aprovada, ele acompanha pela internet a
implantação das propostas aprovadas no IV Ciclo e informou que recebe informativos da
Ouvidoria da DPESP sobre a implantação das propostas. Quando perguntado sobre o que ele
acha da implantação das propostas, ele informa que não tem conhecimento ainda sobre o
procedimento de implantação, por isso não possui dados para elaborar críticas.
Quando perguntado sobre o que ele acha sobre os Ciclos de Conferências, ele diz: “O
Ciclos são espaços convenientes para o exercício da cidadania, com foco na efetiva
participação do cidadão e empoderamento da instância de decisão, os Ciclos trazem uma
evolução, a melhoria da Defensoria e da Ouvidoria para o bem comum”, (Entrevistado (vi),
Diário de Entrevista, 26/01/2015).
O entrevistado (vii) é Gestor Ambiental e Social e Doutorando. Ele trabalha com
diversas ONGS e projetos, em especial com o Coletivo de Mulheres, de Travestis e de
78
Mulheres Negras. Ele nunca trabalhou na DPESP e nem na Ouvidoria da DPESP. Ele
participou dos Ciclos III e IV sempre como Ouvinte, nunca se inscreveu para Delegado. Ele
participou dos Eixos do Meio Ambiente e Cidadania e Combate à Discriminação, Racismo e
Preconceito. Em uma pré-Conferência, coletivamente ele chegou a colaborar com a
elaboração de uma proposta que foi aprovada na Conferência Estadual do IV Ciclo.
Quando perguntado sobre como ele avalia os serviços da Defensoria, ele diz: Muito
bom! O Núcleo de Direitos Humanos é um dos mais eficientes. A Dra. Daniela Scromov, hoje
de licença maternidade e o Dr. Carlos Weiss, foram eficientíssimos e decisivos na ação da
SUTACO (artesãos e artesãs contra o Governo). (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista,
26/01/2015).
Ele acompanha a implantação das propostas aprovadas nos Ciclos por meio das
reuniões do Conselho.
Quando perguntada sobre o que ele pensa sobre as propostas elaboradas, sobre seu
caráter obrigatório ou vinculativo ela diz: Não, as propostas são maravilhosas, porém
algumas inatingíveis...por exemplo diminuir a letalidade da Polícia, no quesito do modus
operandi, balas de borracha, truculência, violação de direitos, aumento da morte de jovens
pobres, pretos e periféricos..., (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).
O entrevistado (vii) mantém contato permanente com a Ouvidoria e com a DPESP, por
todos os meios disponíveis, e-mail, site, telefone.
convocações para reuniões abertas e para os Ciclos de Conferências. Porém, notei que o e-
mail de convocação para os Ciclos de Conferências não estava claro o suficiente: havia a
simples descrição: “vai começar o IV Ciclo de Conferências” e uma lista com as datas e as
Regionais que iriam receber a sociedade civil para os Ciclos. Alguns itens no mailing de
convocação não estavam claros, tais como: O que são os Ciclos de Conferências? Quais são
os objetivos dos Ciclos de Conferências, a quem se dirige a convocação e para qual regional o
participante deve se dirigir. Acredito que o mailing deveria ser mais didático no sentido de
perceber que nem todas as pessoas que são inscritas para recebê-lo sabem o que são os Ciclos
e para que eles servem.
A gente não sabe porque que teve esse aumento de participação na Regional
Leste. A hipótese levantada é a seguinte: na véspera da pré-Conferência ela
estava marcada para ser na USP Leste - que teve indícios de contaminação.
Então, o que aconteceu: ia mudar o lugar da pré conferência, e a DPESP
soltou mil comunicados, ligaram para as pessoas comunicando que iria
mudar o lugar das pré-Conferências, e que a conferência não iria mais ser
na USP Leste e que ia ser na própria Defensoria. Eu acho que este contato
ativo foi mais convidativo para as pessoas participarem. Geralmente as
divulgações semanais são assim: “Essa semana vai ter tal pré- Conferência
em Itu, Sorocaba e em Santo Amaro.” Até você sacar que é a sua é diferente
de você ligar para a pessoa e avisar: olha, a pré-Conferência vai ser em tal
lugar, ou seja, você lembra a pessoa da conferência e eu acho que isso fez
muita diferença e coincidentemente foi uma regional que subiu a
participação e em todas as outras caiu a participação. (Entrevistado (i),
Diário de Entrevista, 06/01/2015.)
importância, pois afeta todo o processo dos Ciclos de Conferências, desde a etapa de
mobilização, que influencia diretamente no número de participantes, até a etapa de
monitoramento. Quando perguntamos ao membro do Conselho Consultivo Pedro Aguerre
sobre as reuniões de apresentação do Monitoramento dos Ciclos, a questão da divulgação é
aventada novamente:
Ficou muito patente que foi uma apresentação muito ligeira e muito mal
elaborada; houve pouca aderência dos Conselheiros nas regionais e isso
expressa um problema orgânico- institucional. Isso nos faz pensar no papel
das Regionais e no setor de poder da DPESP que articula as Conferências:
eles não se sentem empoderados de interferir nessa outra relação
institucional que é a relação da Defensoria com as Regionais, ou porque
não interessa ou porquê tem alguns problema de falta de um fluxo
institucional de poder emanar diretrizes, de poder manter um diálogo com
as regionais e de manter um monitoramento no sentido de ver quais são as
ações ao longo do ano no que tange a mobilização, formação e o
empoderamento dos representantes, dos Delegados. Nós temos que ter uma
devolutiva do que estas Regionais estão fazendo com relação a implantação
das propostas, então esse foi um ponto muito duro, muito pesado, pois
mostra que a DPESP não tem vontade política de associar o padrão de
desempenho e a boa performance das Regionais à participação...então isso
é um desastre. Onde tem um Defensor que tem essa visão isso vai acontecer
lindamente, por exemplo Vale do Ribeira e Vale do Paraíba são duas
regionais cuja as lideranças da Defensoria Pública já geram toda essa
participação. E outras menos ou estão até mesmo de costas para a DPESP.
(Pedro Aguerre, Diário de Entrevista, 18/01/2015).
Por meio da fala do Conselheiro, notamos mais uma vez a associação entre o papel
ativo, entre o desempenho das Regionais com a participação social. Outro ponto importante e
brilhantemente levantado pelo Conselheiro Pedro Aguerre, é o fato das Regionais serem
importantes para o empoderamento75 dos Delegados. Por que é importante? Temos que ter em
mente o fato de que não há mecanismos de participação no Sistema Judiciário Brasileiro: os
Ciclos de Conferências são pioneiros no que se refere à participação social dentro do Sistema
de Justiça Brasileiro, portanto, é necessário que a DPESP como instituição do sistema de
75
O termo empoderamento é derivado da palavra inglesa empowerment e significa: ação coletiva desenvolvida
pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisão, de consciência social dos direitos
sociais. O empoderamento possibilita a aquisição da emancipação individual e da consciência coletiva necessária
para a superação da dependência social e política. Fonte: Dicionário Online Significados.com, disponível em:<
http://www.significados.com.br/empoderamento/>, acesso em 20 de Outubro de 2014.
83
Por meio do estudo realizado no Capítulo II verificamos que cerca de 99% das
propostas aprovadas nos Ciclos de Conferências (I, II e III) são viáveis, ou seja, se coadunam
com as atribuições da DPESP, são passíveis de serem implementadas e foram efetivamente
inseridas no Plano Anual de Atuação. Porém, um fato muito interessante foi observado nas
entrevistas: cerca de 1% das propostas aprovadas nas Conferências são inviáveis, e mesmo
que este número seja baixo, as propostas inviáveis acabaram sendo alvo de observações
espontâneas por mais de 50% dos entrevistados.
Tem um monte de coisa que dá para resolver e se não der para resolver:
para tudo tem uma ação. Então, concordo que existe uma gama muito
grande de pedidos, a gente que faz direito vê direitinho: poxa, isso não é
atribuição da DPESP. Até o Alderon falou assim: está faltando agua em tal
presidio. Eu falei: Isso não é tema para falar em reunião do Conselho. [...]
É assim, as pessoas falam mesmo. Tem pessoas da Defensoria na sala para
explicar como é feita a proposta, e isso deve ser explicado dentro do que o
participante está pedindo. Tem que explicar: isso dá, isso não dá. E me
desculpa, quando você chega na plenária, quase nenhuma proposta é
proposta só da Defensoria, todas envolvem o poder executivo. O processo já
está amadurecendo, então, não vem dizer que não dá, eles usam a exceção
como regra aí. As pessoas usam o argumento das propostas inviáveis como
regra, usam porquê? Usam porque estão fechadas, porque não querem
ouvir. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015).
76
Podemos citar como exemplo de proposta inviável a proposta contida no Plano Anual de Atuação de 2009 sob
a seguinte redação: “ atuar nas regiões de assentamentos, especialmente nos problemas relacionados às linhas de
crédito rural. “
85
[...] isso vai ocasionar uma maior maturidade do outro lado até para que as
pessoas possam selecionar melhor as suas propostas, e trabalharem no
sentido de formularem propostas que estão alinhadas com a atribuição
estratégica da instituição, porquê como são poucas as propostas que podem
ser aprovadas, as pessoas vão selecionar melhor, até porque há uma
mensagem simbólica. As pessoas olham a falam “olha, vamos aprovar isso
porque é legal” e vai ter outro grupo que vai falar: “não, vamos elaborar
propostas que eles vão conseguir cumprir do ponto de vista estratégico
orçamentário!” Então eu acho que vai haver um processo evolutivo das
nossas pré-Conferências e consequentemente da nossa Instituição. (Douglas
Magami, Diário de Entrevista, 20/02/2015)
77
A Primeira Subdefensoria é um órgão de planejamento técnico da DPESP e de interlocução com diversos
outros órgãos e com a sociedade civil. Uma das atribuições da Primeira Subdefensoria é o Planejamento, a
Organização e a Execução dos Ciclos de Conferências em conjunto com a Ouvidoria Geral.
86
inviabilidade de algumas propostas por não fazer parte da atribuição da DPESP e teceu
comentários também sobre a qualidade da redação das propostas:
Uma das missões que a Defensoria tem e ela não cumpre é a formação
extrajudicial, essa é uma das questões que estamos discutindo e queremos
ver se nós trazemos isso à tona e remodelamos. Todas a unidades deveriam
ter um curso de Defensor Popular, todas as unidades deveriam ter um curso
de Direitos Humanos, todas a unidades deveriam ter um curso de Direitos
da Mulher, de Direitos da Criança e do Adolescente. Eu acho que é um
desafio para nós com a questão da formação, essa formação empodera, essa
formação prepara as pessoas e é claro que isso volta para a Defensoria, e é
claro que é missão da Defensoria. Temos muitos Defensores que sonham
com isso também e a instituição deve cultivar isso nas Unidades. Isso com
certeza vai reverter em uma melhoria da qualidade nos ciclos de
Conferências, na melhoria da elaboração das propostas e na qualidade dos
questionamentos. (Alderon Costa, Diário de Entrevista, 15/01/2015).
Por vezes são construídas propostas que vão além das atribuições da
Defensoria e que a gente sabe que se for daquela maneira (com intervenção,
ou filtro institucional) ela nunca vai ser construída. Não é porque as vezes
nós não consigamos cumpri-la na sua integralidade que ela não tenha que
servir de norte. (Ana Paula, Diário de Entrevista, 03/02/2015)
87
O Entrevistado (i) levanta a questão das propostas genéricas, ou seja, propostas amplas e que
geralmente abrangem atribuições que não são apenas da DPESP:
[...] E gente nova ou não nova sempre vai olhar e depositar as suas
expectativas, as suas esperanças em cima da Defensoria. Então ela vai
chegar aqui e pedir isso, isso e isso. Ela vai chegar falando: “Eu quero que
vocês resolvam o meu problema.”
88
No mesmo sentido, André Kehdi entende que é natural que a população traga demandas
que não são de atribuição da DPESP ou que dependem de apoio de outras instituições ou
esferas de Governo para se concretizar, mas isso pode ser resolvido ou pode ser minimizado
por meio da presença dos Defensores nas pré-Conferências78:
Tem um monte de coisa que dá para resolver e se não resolver, para tudo
tem uma ação. Então, concordo que existe uma gama muito grande de
pedidos, a gente que faz Direito vê direitinho: “poxa, isso não é atribuição
da DPESP” [...] É assim, as pessoas falam mesmo, tem pessoas da
Defensoria na sala para explicar como é feita a proposta, e isso deve ser
explicado dentro do que o cara está pedindo. Deve ser explicado para o
participante o que dá que o que não dá para colocar na proposta. E me
desculpa! Quando você chega na plenária, quase nenhuma proposta é
proposta só da Defensoria, todas envolvem o poder executivo. O processo já
está amadurecendo, então, não vem dizer que não dá, eles usam a exceção
como regra aí. As pessoas usam o argumento das propostas inviáveis como
regra, usam porquê? Por que a instituição está fechada, por que não quer
ouvir. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015)
Por outro lado, a participação do Defensor na etapa de elaboração das propostas pode
ter um efeito não desejado no sentido de que o Defensor possa vir a oferecer alguma
resistência, intimidar ou tolher a liberdade dos participantes de elaborarem as propostas.
Vejamos a observação do Conselheiro Pedro Aguerre com relação a este ponto:
não raro, em regra de um jovem de menos de trinta anos, que tem uma
capacidade de oratória muito grande, mas que tem uma fala que está vindo
de cima para baixo. Uma fala da instituição, não do Direito e não da
Justiça. Esse é um problema sério. E isso dá margem para que haja
acordos, para decidir até onde vamos, que tipo de proposta vamos fazer!
(Pedro Aguerre, Diário de Entrevista, 18/01/2015)
É imperativo que a DPESP, que é um órgão que surgiu a partir da luta social,
portanto, da busca por participação social dentro do sistema de Justiça reveja esta forma de
condução dos trabalhos de elaboração das propostas, sob pena de que os Ciclos de
Conferências percam a aderência dos Movimentos Sociais.
Embora esta problemática das propostas inviáveis possa denotar um problema mais
grave, qual seja o fechamento das instituições do sistema de Justiça Brasileiro à participação
social, talvez a solução para a questão das propostas inviáveis esteja próxima.
É bom salientar que, caso nenhuma medida venha a ser tomada no que se refere à
elaboração das propostas inviáveis e estas venham ser aprovadas na Conferência Final, é
79
Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia da OAB, disponível em:<
http://www.oab.org.br/Content/pdf/LegislacaoOab/RegulamentoGeral.pdf>, acesso em 10 de Outubro de 2014.
80
Lei Federal n. 8.906 de 4 de Julho de 1994, disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>, acesso em 10 de Outubro de 2014.
92
primordial que a que DPESP explique de forma clara e transparente, através dos meios
adequados, tais como as reuniões de monitoramento dos Ciclos, os motivos daquelas
propostas não serem inseridas no Plano de Atuação e utilizar as informações/problemas
levantados através destes tipos de propostas para agir de forma preventiva e estratégica.
O que importa é que aprendamos com estas experiências e com estas vivências trazidas
pela sociedade civil e possamos enxergar que em vez de maléficas estas propostas podem
ocasionar o aperfeiçoamento dos Ciclos de Conferências e que possa haver uma maior
transparência no processo de elaboração do Plano de Atuação da DPESP.
81
Consta na Assembleia Legislativa de São Paulo – ALESP, um projeto de Lei que visa alterar o Plano Anual da
DPESP de um para dois anos, no caso, este Plano se tornaria Bianual. Esta mudança seria muito boa do ponto de
vista da gestão institucional, pois além de estar coerente com o período de mandato da Gestão da Administração
Superior, estaria coerente também com a realização dos Ciclos de Conferências, que acontece bianualmente.
94
acordo com o que a gente achava adequado, mas nós chegamos ao cúmulo
de fazer uma ponderação nos seguintes termos: mais a pena vale aprovar
esse PAA, nessa composição do Conselho Superior mesmo que com um ano
de atraso, ou vale a pena postergarmos ainda mais, para que aguardemos
uma nova composição do Conselho, para que este processo seja
redistribuído e para que os membros do conselho possam se apropriar desse
processo e poder votar...
Nos pareceu numa deliberação compartilhada com as entidades que
estavam acompanhando a votação que, com muito custo pra gente, custo no
sentido de ter que fazer uma escolha dessa natureza com algo que era tão
importante pra gente e nós acabamos optando por não inviabilizar no tempo
a aprovação do PAA e abrimos mão do pedido de vista. (Luciana Zafallon,
Diário de Entrevista, 17/01/2015).
De fato, não há como entender de que maneira uma instituição consegue se organizar
sem alinhar as suas metas ao orçamento: sejam metas relacionadas aos Ciclos de
Conferências, sejam metas relacionadas à atuação estratégica da DPESP.
A Dra. Ana Rita, Vice-Coordenadora do Núcleo da Mulher entende que deve ser
realizada uma ampliação no período entre os Ciclos de Conferências.
Sobre o caráter vinculante das propostas, é interessante observar que não há uma
posição majoritária. Sobre isso, Luciana Zaffalon tece algumas considerações:
Sobre o caráter vinculatório das propostas aprovadas nas Conferências, André Kehdi aduz:
De acordo com as entrevistas realizadas, fica claro que não há uma posição unanime
sobre o caráter vinculativo ou consultivo das propostas elaboradas pela sociedade civil nos
Ciclos de Conferências da DPESP. A Lei Complementar Estadual é clara, o artigo 6º garante
às pessoas que buscam atendimento na Defensoria Pública a participação na definição de
diretrizes institucionais, e esta participação deve se concretizar através das Conferências.
Concordamos no sentido de que não se deve inserir no Plano Anual de Atuação propostas que
não fazem parte da atribuição da DPESP, mas acreditamos que as propostas aprovadas tem
caráter mandatório sim, a partir do momento em que é realizada deliberação pública sobre as
políticas públicas na área de acesso à Justiça a serem implementadas pela DPESP. É
imperativo que as propostas sejam conhecidas como legítimas justamente por terem sido
elaboradas e escolhidas democrática e racionalmente por meio da Plenária Final pelos
destinatários dos serviços da DPESP.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a análise dos Planos de Atuação, juntamente com levantamento das
propostas aprovadas, implementadas, parcialmente implementadas, restou-se evidenciado que
os Ciclos de Conferências são mecanismos que tem um grande potencial para promover o
incremento da participação social na definição de diretrizes de atuação da Defensoria Pública.
De acordo com a pesquisa, não há um consenso sobre o caráter vinculante ou não das
propostas, mas é imperativo que esta questão seja resolvida o quanto antes: é necessário que
tanto a Defensoria Pública de São Paulo quanto a Sociedade Civil estejam cientes do caráter
das propostas: caráter consultivo ou deliberativo. Esta diferença é crucial para o
equacionamento das expectativas da sociedade civil com as possibilidades de implementação
das propostas pela DPESP.
Mesmo diante deste impasse (se é consultivo ou deliberativo) é necessário que sejam
realizados esforços para que as propostas aprovadas nos Ciclos anteriores sejam totalmente
implementadas, sob o risco da instituição e dos Ciclos de Conferências caírem em descrédito.
Uma questão que norteia este trabalho deve ser levantada: a realização dos Ciclos de
Conferências garantem a participação social dentro da gestão da DPESP? Resposta: A
realização dos Ciclos de Conferências por si só não é capaz de garantir a participação social
dentro da gestão da DPESP. Para que possa haver participação social dentro da DPESP é
necessário que alguns fatores sejam levados em consideração: É necessário que a DPESP
esteja pronta para reconhecer o direito das pessoas que buscam os seus serviços: que é o de
direito de participar na definição de diretrizes que pautem a instituição.
101
É necessário que haja um diálogo e que seja esclarecido e reafirmado qual é o papel
dos Ciclos de Conferências: para que serve, qual o caráter das propostas aprovadas (caráter
consultivo, ou vinculativo das propostas) para que haja transparência na relação entre a
DPESP e os destinatários de seus serviços e para que haja um equacionamento nas
expectativas destes com a capacidade de realização e de implementação das propostas pela
DPESP.
essa ferramenta deve ser fortalecida sob pena de seu esvaziamento: esvaziamento tanto no
sentido literal: no que se refere à perda de participação, perda de aderência dos movimentos
sociais, como esvaziamento no que se refere ao seu sentido, ou seja: os Ciclos tem o intuito de
trazer a sociedade civil e os movimentos sociais para dentro da DPESP, eles devem congregar
a sociedade civil para elaborar propostas de atuação alinhadas às suas necessidades, com
vistas à servir de base para o PAA. Se estas propostas não estão sendo colocadas em prática,
ou seja, não estão sendo implementadas, os Ciclos de Conferências perdem o seu sentido.
Notou-se que, embora a pesquisa tenha confirmado a efetiva presença no PAA das
propostas aprovadas nas Conferências dos Ciclos I, II e III, algumas ressalvas devem ser
feitas quanto ao IV Ciclo. Embora tenha havido diminuição no número de propostas
aprovadas (como já dito, foi fixado o número máximo de 50 propostas a serem aprovadas na
Plenária Final), notou-se que a partir do Ciclo IV de Conferências, está havendo uma grande
dificuldade da DPESP em estabelecer as metas para as propostas aprovadas neste Ciclo de
Conferências, e acrescentá-las no PAA.82 O IV Ciclo de Conferências ocorreu em 2013, e
apenas em junho de 2015 foi publicado o novo Plano de Atuação.83
Proponho algumas medidas que devem ser tomadas no sentido de reduzir ou eliminar
estes descompassos que pode ser causar importantes impactos na implementação das
propostas/diretrizes:
que seja verificado se o Plano de fato contempla as diretrizes aprovadas pela sociedade nos
Ciclos de Conferências, ou seja, o processo de aprovação e publicação do Plano Anual de
Atuação no Conselho Superior é muito complexo e demorado.
Neste sentido, é muito importante que seja realizada a alteração do dispositivo legal,
no sentido de transformar a publicação do PAA em Plano de Atuação Bienal e que seja
imposto um prazo máximo para a publicação deste Plano Bienal de Atuação (PBA).
Para que o mecanismo dos Ciclos de Conferências seja fortalecido e que realmente
seja utilizado no sentido de fortalecer a participação social e o controle da DPESP, é
necessário que haja reuniões periódicas de acompanhamento da implementação das propostas.
Estas reuniões teriam uma dupla finalidade: (i) a de fornecer uma devolutiva para a sociedade
105
civil sobre a implementação das propostas, portanto, fornecendo um retorno para a sociedade,
como uma espécie de prestação de contas; (ii) para que a sociedade civil ajude na construção
de alternativas para a implementação das propostas e mantenha um contato contínuo com a
DPESP, não apenas no momento em que ocorrem os Ciclos de Conferências.
De acordo com a minha análise (baseada nos meus estudos dentro da DPESP) fica
inviável promover estas audiências, ou reuniões periódicas dentro de um espaço de tempo tão
curto (de três meses). Isso porquê a Defensoria Pública tem outras atribuições que não apenas
a organização dos ciclos: para que sejam feitas estas reuniões seria necessário tirar os
funcionários de suas funções habituais e mobilizá-los para que eles estejam presentes na sede
da DPESP. Deve-se também levar em consideração os recursos financeiros84. Em caso de
mobilização ou convocação dos Delegados, haveria o pagamento de diárias em hotéis (pois
muitos delegados convocados são de outras cidades), haveria contratação (via processo
licitatório) de empresas de transporte para cuidar do traslado, de empresa para fornecimento
de alimentação, dentre outros custos.
84
Estes custos financeiros envolvem: Pagamento de horas extras para servidores e membros da DPESP,
traslados e hospedagens para os Delegados de outras cidades, disponibilização de alimentação, dentre outros
custos.
106
Por isso a minha proposta de reuniões periódicas é no sentido de que continue sendo
reuniões trimestrais mas que os Delegados eleitos sejam convocados para participarem a
partir de suas respectivas regionais via vídeo conferência. Na impossibilidade de ser feita
reunião mesmo que via vídeo conferência, que ao menos sejam emitidos e publicados no site
da DPESP, com a periodicidade trimestral, os relatórios de monitoramento das propostas nos
últimos ciclos.
85
Embora o Conselho Superior já tenha se manifestado no sentido de entender que “existem medidas de
execução contínua e perene”, e que não cabe a fixação de prazos para estas medidas, sugiro que seja necessária a
reavaliação por parte do Conselho Superior, ou até mesmo a realização de uma Audiência ou Consulta Pública
para verificar as formas de melhoria para a implantação das propostas.
86
Compareci à Pré-Conferência do V Ciclo de Conferências da DPESP no eixo de Política Institucional e
Educação em Direitos, elaborei uma proposta justamente sobre a implementação de uma metodologia para a
mensuração da implementação das propostas. A proposta foi aprovada e seguirá para a Conferência Estadual da
DPESP. Como fui eleita Delegada defenderei esta proposta junto à Plenária Final para que seja aprovada e
inserida no Plano Anual de Atuação.
87
Passível de ser fiscalizado, controlado e responsabilizado.
107
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http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/10/camara-derruba-decreto-de-dilma-que-
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112
SOUZA, C.H.L. Conferências e os desafios metodológicos de seu estudo. In: Pires, R.R.C.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp132.htm>, acesso em 14 de Fevereiro de
2015.
APÊNDICE 1
(iv)
Pedro Aguerre Membro do Conselho Diário de Entrevista,
(v) Consultivo da Ouvidoria 18/01/2015
88
Esta entrevista foi concedida sob anonimato, por esta razão, a única informação que poderemos fornecer é a de
que esta pessoa trabalhou na DPESP.
117
(xii) Humanos
Rafael Moraes Primeiro SubDefensor Diário de Entrevista,
Português de Público Geral 20/02/2015
Souza
(xiii)
Douglas Defensor Público Assessor Diário de Entrevista,
Tadashi Magami da Primeira Subdefensoria 20/02/2015
(xiv) (Comissão de
Monitoramento)