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1

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO

MAÍRA MARTINELLI RIZZARDI

OS CICLOS DE CONFERÊNCIAS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO


DE SÃO PAULO: CONTROLE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

São Paulo
2015
2

MAÍRA MARTINELLI RIZZARDI

OS CICLOS DE CONFERÊNCIAS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE


SÃO PAULO: CONTROLE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Acadêmico da Escola de Direito de São
Paulo da Fundação Getulio Vargas, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Direito.

Campo de Conhecimento: Direito e


Desenvolvimento, Subárea: Instituições do
Estado Democrático de Direito e
Desenvolvimento Político e Social.

Orientadora: Profª. Dra. Luciana Gross Cunha

São Paulo
2015
3

Rizzardi, Maíra Martinelli.


Os Ciclos de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São Paulo:
Controle e Participação Social/ Maíra Martinelli Rizzardi - 2015.
117 f.

Orientador: Luciana Gross Cunha


Dissertação (mestrado) - Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio
Vargas.

1. Defensores públicos – São Paulo (Estado). 2. Assistência judiciária. 3.


Participação popular. 4. São Paulo (Estado) – Defensoria pública. I. Cunha, Luciana
Gross. II. Dissertação (mestrado) - Escola de Direito de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas. III. Título.

CDU 342.722(816.1)
4

MAÍRA MARTINELLI RIZZARDI

OS CICLOS DE CONFERÊNCIAS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE


SÃO PAULO: CONTROLE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Acadêmico da Escola de Direito de São
Paulo da Fundação Getulio Vargas, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Direito e Desenvolvimento.

Campo de Conhecimento: Direito e


Desenvolvimento, Subárea: Instituições do
Estado Democrático de Direito e
Desenvolvimento Político e Social.

Data de Aprovação:

São Paulo, __/__/____

Banca Examinadora:

Prof.ª Dra. Luciana Gross Cunha (Orientadora) –


FGV – DIREITO SP

__________________________________

Prof. Dra. Marta Machado - FGV - DIREITO SP


__________________________________

Prof. Dr. Marco Antônio Carvalho Teixeira -


EAESP - DIREITO SP
___________________________________
5

Para Lucy, Bruno e para as minhas filhas de quatro patas.


Obrigada pelo apoio, pelo amor e por ajudar a tornar este trabalho possível.
6

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer à FGV Direito SP por ter me acolhido


como aluna em um ambiente acadêmico tão rico e tão propício para o aprofundamento do
conhecimento. Eu gostaria de agradecer à Fundação Getulio Vargas por ter me agraciado com
a Bolsa Mário Henrique Simonsen, sem a qual o sonho da realização do Mestrado não teria
sido possível. Eu gostaria de agradecer também à Fundação Carlos Chagas pela concessão da
Bolsa Auxílio, que permitiu que eu me dedicasse integralmente às atividades do Mestrado
Acadêmico.
Minha profunda gratidão à minha orientadora a Professora Doutora Luciana Gross
Siqueira Cunha, pelas inúmeras horas de troca e dedicação, pela sua humildade, pela sua
sabedoria e pela sua paciência em me ensinar e me escutar, muito obrigada, você é uma
pessoa e uma profissional incrível. Muito obrigada por ter acreditado em mim e me
apresentado um ramo do conhecimento pelo qual nutro profunda admiração e vontade de
conhecer cada vez mais: a Ciência Política.
Um agradecimento especial ao Professor Doutor Marco Antônio Teixeira Carvalho e
para a Professora Doutora Marta Machado, pelos preciosos e precisos comentários e pela
leitura atenta e cuidadosa da minha dissertação.
Agradeço à Cristiane Samária Gomes e Lígia Cunha da Secretaria do Mestrado
Acadêmico, pelo seu tratamento tão gentil comigo, tão humano e pela sua amizade, saibam
que vocês são muito valiosas para mim. Agradeço à Fayolla Cajuella por nossos cafés e por
tantas oportunidades de aprendizado que você me proporcionou.
Agradeço a Sophia de Compostela, pela parceria na disciplina de Geografia do
Cursinho FGV e pela amizade que nasceu e que certamente será eterna. Agradeço ainda a
todos os meus alunos do Cursinho FGV pela força, pelo estímulo, pelo conhecimento
compartilhado e pela amizade.
Eu gostaria de agradecer a Luciana Zaffalon pelos preciosos momentos de conversa
sobre os temas concernentes à dissertação e a toda a equipe da Ouvidoria Geral da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, em especial à Cristina Uchôa, cuja colaboração foi
imprescindível para o sucesso deste trabalho (Cris, muito obrigada de verdade!), agradeço
também à Raquel Taveira e Alderon Costa, que sempre me receberam com muito carinho,
respeito e atenção.
7

Eu não poderia deixar de agradecer às pessoas que colaboraram com o meu trabalho
por meio das entrevistas, em especial: Pedro Aguerre, muito obrigada por ter me recebido e
ter me dado uma verdadeira aula. Eu aprendo muito com você. André Kehdi, muito obrigada
pela sua simpatia e pelo amor que nutre pelo trabalho que você faz: isso é realmente
inspirador.
Aos professores e amigos do Curso de Controle Social e Fiscalização de Políticas
Públicas da CGU-Ministério da Fazenda, obrigada pela força e pelo constante estímulo.
Finalmente eu gostaria de agradecer à minha família, em especial à minha mãe Lucy
ao meu irmão Bruno e às minhas três filhas de quatro patas: Lola, Penélope e Branca (Branca
agora in memorian) por compreenderem a minha ausência durante a elaboração da dissertação
e por acreditarem em mim sempre. Eu amo vocês.
8

Durante a Conferência Estadual do IV Ciclo de Conferências da DPESP um colaborador de uma


Associação de Catadores de Lixo, e Delegado do Eixo temático Meio Ambiente levantou e disse:
- “Companheiros, eu gostaria de pedir a licença pra vocês, de fazer uma correção na proposta n. [...] eu
gostaria de pedir pra vocês chamarem o nosso carro, o carro onde levamos o lixo reciclável de
“carrinho” e não de carroça. Nós não somos cavalos para levarmos carroças.”
- Ouvidora-Geral: Companheirxs, tendo em vista que a questão trata do Princípio Constitucional da
Dignidade da Pessoa Humana, vamos acatar a sugestão do Companheiro que trabalha com reciclagem
e chamar seu veículo de trabalho de “carrinho”.

“We always hear about the rights of democracy, but the major responsability of it is participation.”
Wynton Marsalis
9

RESUMO

O objetivo desta dissertação é estudar os Ciclos de Conferências da Defensoria Pública do


Estado de São Paulo para entender qual papel eles desempenham em relação a participação
popular na gestão da Defensoria Pública. O problema de pesquisa consiste em verificar se e
como elas contribuem para garantir a participação social dentro da gestão da Defensoria,
levando em consideração o estudo sobre a implementação ou não das diretrizes elaboradas
pela população durante a realização dos I, II e III Ciclos de Conferências e a compreensão das
diferentes falas que os atores tem em relação aos Ciclos de Conferências. A conclusão é a de
que os Ciclos de Conferências não foram absorvidos de forma homogênea pela instituição
como um importante mecanismo orientador das prioridades institucionais, capaz de vocalizar
os anseios da população, arejando a instituição, e colaborando com a construção de políticas
públicas alinhadas às demandas da população. É necessário que seja pactuado e esclarecido o
caráter das propostas elaboradas nas Conferências (caráter deliberativo ou consultivo) sob
pena do mecanismo participativo em questão perder aderência popular.

Palavras-Chave: Ciclos de Conferências, Defensoria Pública do Estado de São Paulo,


Participação, Controle Social, Accountability.
10

ABSTRACT

The aim of this work is to study the Cycles of Conferences promoted by the Public Defender
of São Paulo State to understand what the role they play in relation to public participation in
the management of the Public Defender. The research problem is whether and how they
contribute to guarantee public involvement in the management of the Defender, taking into
account the study on the implementation or not of guidelines developed by the population
during the conduct of I, II and III Cycles of Conferences and understanding the different
voices that the actors have in relation to the Conferences. The conclusion is that the
Conferences were not absorbed evenly by the institution as an important mechanism guiding
institutional priorities, able to vocalize people's wishes, airing the institution, and
collaborating with the construction of public policies aligned to the demands of the
population. It´s musty to be agreed and clarified the nature of the proposals made in the
Conferences (deliberative or consultative) under penalty of participatory mechanism in
question losing the popular adherence.

Keywords: Cycles of Conferences, Public Defender of the State of São Paulo, Participation,
Social Control, Accountability.
11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12

Tema a ser desenvolvido.................................................................................................12

Objetivos do Trabalho.....................................................................................................13

Problema de Pesquisa.....................................................................................................14

Metodologia de Fontes Utilizadas....................................................................................14

Estrutura da Dissertação..................................................................................................18

Capítulo 1: Breve Histórico da Participação e do Controle Social no Brasil...................20

1.2 A Participação e o Controle Social dentro do Sistema de Justiça ..................................28

Capítulo 2: A criação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo............................33

2.1 A Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.................................38

2.2 A Defesa do Modelo Externo de Ouvidoria – A PEC 45/2009 e a ADI 4.608..................43

Capítulo 3: Os Ciclos de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

3.1 Mecanismos de Participação.....................................................................................47

3.2 Os Ciclos de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São Paulo....................52

3.3 A Construção da Metodologia dos Ciclos de Conferências...........................................54

3.4 As Pré-Conferências Regionais.................................................................................55

3.5 A Conferência Estadual............................................................................................58

3.6 Os Ciclos de Conferências e a Implementação das Propostas Aprovadas.......................61

3.7 A Pesquisa Empírica................................................................................................62


12

Capítulo 4: A Participação Social no III e no IV Ciclos de Conferências.........................73

4.1 As Entrevistas.....................................................................................................................75

4.2 O Perfil dos Entrevistados..................................................................................................75

4.3 A Sociedade Civil e a Participação nos Ciclos...................................................................76

4.4 A Organização e Divulgação dos Ciclos de Conferências e a sua Repercussão na


Participação Social........................................................................................................78

4.5 A Qualidade das Propostas e as Propostas Inviáveis: um problema mais complexo........ 82

4.6 Descompassos: Diretrizes Aprovadas nos Ciclos de Conferências, Publicação do Plano de


Atuação e Votação do Orçamento Anual da DPESP...............................................................91

4.7 Críticas à Metodologia dos Ciclos de Conferências da DPESP.........................................93


4.8 Caráter Vinculante das Propostas dos Ciclos de Conferências..........................................95

Capítulo 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................106

APÊNDICE............................................................................................................................114
12

INTRODUÇÃO

Tema a ser Desenvolvido

A Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã,


inovou ao prever inúmeros direitos sociais, dentre eles, a participação social no Estado. A
inclusão dos Direitos Sociais aconteceu por meio de muita luta, onde inúmeros grupos e
entidades organizadas, movimentos e a sociedade civil1se articularam para que a nova
Constituição pudesse contemplar seus anseios.

Com a nova Constituição, houve também uma reforma política, onde cada poder teve
a sua atribuição muito bem definida: ao Poder Executivo coube a Administração do Estado,
ao Poder Legislativo coube a elaboração das Leis e ao Poder Judiciário coube exercer a
aplicação das Leis. É interessante observar que a nova Constituição previu a participação e o
controle social dentro do Poder Executivo, por meio dos Orçamentos Participativos e dos
Conselhos, dentro do Poder Legislativo através do voto direto e secreto, no qual os cidadãos
elegem os membros do Legislativo, ou seja, as pessoas que irão elaborar as leis. Porém, a
Constituição Federal não prevê expressamente a participação social dentro do Poder
Judiciário. Ao contrário de países de alguns países onde os membros do Poder Judiciário são
eleitos pelo povo, no Brasil os membros do Poder Judiciário (servidores, Juízes, Defensores
Públicos e Promotores de Justiça) tomam posse de um cargo de caráter vitalício, através de
concurso público. Já no Supremo Tribunal Federal, o órgão que tem a atribuição de garantir o
respeito aos preceitos da Constituição Federal, os Ministros são nomeados pelo Presidente e
aprovados pelo Senado, por meio de um processo sem participação social e sem transparência.

É curioso notar que, mesmo após a promulgação da Constituição em 1988, com a


previsão da criação da Defensoria Pública2 apenas em 2006 houve a efetiva implantação da
Defensoria Pública no Estado de São Paulo. Dois aspectos importantes devem ser levantados:

1
Sabemos que a questão conceitual sobre a “Sociedade Civil” é muito importante, mas por não ser o foco deste
trabalho, não iremos debatê-la. É importante saber que, quando a DPESP se refere à sociedade civil, ela se refere
às pessoas que não são vinculadas ou não trabalham em nenhuma esfera de governo, podendo ser participantes
de movimentos sociais ou não.
2
A criação da Defensoria Pública está prevista na Constituição Federal no artigo 5º, inciso LXXIV. Em 1994 foi
publicada a Lei Complementar nº. 80 que disciplinou a organização das Defensorias Públicas na União, no
Distrito Federal e dos Territórios e prescreveu normas gerais para a sua organização nos Estados.
14

a participação social foi determinante tanto para a criação da DPESP, como para a garantia de
participação social dentro da DPESP, que deve ocorrer, dentre outras formas3, por meio das
Conferências. Nota-se então, que a DPESP cria, através da incorporação da vontade popular
no seu Plano de Atuação um modelo participativo dentro do sistema de Justiça, dentro do
Poder Judiciário, que até então era estanque, hermético à participação social.

A DPESP pode ser considerada uma instituição sui generis e inovadora no aspecto
democrático pois é a primeira instituição do sistema de Justiça que possui mecanismos de
participação social institucionalizados, como os Ciclos de Conferências que é o foco do
presente trabalho. Este mecanismo aproxima a sociedade civil da instituição, e permite que os
destinatários dos serviços da Defensoria possam elaborar propostas que possam servir de base
para a elaboração de políticas públicas na área da Justiça.

Objetivos do Trabalho

O presente trabalho é resultado de pesquisa empírica realizada na Defensoria Pública de São


Paulo com o objetivo de estudar os Ciclos de Conferências para entender qual papel eles
desempenham no que se refere à participação social na Defensoria Pública.

A pesquisa foi orientada pela seguinte hipótese: os Ciclos de Conferências são mecanismos de
participação que garantem a participação e o controle social na gestão da Defensoria Pública
do Estado de São Paulo, à medida que contribuem com a construção de diretrizes que devem
pautar a atuação da DPESP.

A pergunta de pesquisa que nos levou à realização do presente trabalho foi: Qual é o
papel dos Ciclos de Conferências quanto à participação e ao controle social da Defensoria
Pública no que diz respeito à definição de suas diretrizes e à incorporação no Plano Anual de
Atuação?

Em virtude da riqueza e amplitude do tema do presente trabalho, o nosso recorte


recairá sobre dois aspectos dos Ciclos de Conferências: i) Quem participa dos Ciclos de
conferência e ii) Como são implementadas as diretrizes aprovadas nos Ciclos de
Conferências?
3
As outras formas de participação social dentro da DPESP são: o Momento Aberto do Conselho Superior da
DPESP, as Audiências, as Consultas Públicas e ainda, a Definição das Teses Institucionais.
15

Problema de Pesquisa

O problema de pesquisa do presente trabalho consiste em levantar as propostas


aprovadas nos Ciclos I, II e III da Defensoria Pública de São Paulo, com a finalidade de
verificar se estas propostas estão efetivamente sendo incorporadas no Plano Anual de Atuação
( PAA) e se estão sendo implementadas. Como o levantamento da implementação das
propostas por si só não é capaz de abarcar a dimensão da participação e controle social dentro
da DPESP, optamos pela realização de entrevistas com os atores envolvidos no processo para
captar a dinâmica e críticas a este modelo de participação.

Metodologia e Fontes Utilizadas

A primeira etapa da pesquisa consistiu no levantamento e estudo das


propostas/diretrizes aprovadas no I, II e III Ciclos de Conferências da Defensoria Pública.
Este levantamento tem o intuito de ajudar a testar a hipótese deste trabalho, verificando se de
fato as propostas elaboradas pela sociedade civil nos Ciclos de Conferências são incorporadas
no Plano de Atuação e colocadas em prática, fazendo com que a sociedade civil participe da
elaboração das diretrizes que pautam a atuação da instituição.

Desta forma, foram utilizadas as seguintes fontes documentais: i) dispositivos legais


vinculados à criação da DPESP4; ii) Relatórios dos Ciclos de Conferências I, II e III,
disponíveis no sítio eletrônico da instituição; iii) Cadernos de Monitoramento; iv) Relatórios
de Gestão e v) Planos de Atuação da DPESP, disponibilizados através de pedido em
formulário eletrônico, por meio do link disponível no próprio site da DPESP, com
fundamento na LAI (Lei de Acesso à Informação).

4
Os dispositivos legais que utilizamos são: a Constituição Federal; a Lei Complementar n. 80 de 1994 (que
dispõe sobre a organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal, e dos Territórios e prescreve
normas gerais para a sua organização nos Estados; a Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado de São
Paulo, Lei Complementar Estadual n. 988, de 09 de Janeiro de 2006 e a Lei Complementar Federal n. 132, de 07
de Outubro de 2009.
16

Nesse sentido, foi realizado o levantamento, organização, tabulação e análise


quantitativa e qualitativa das propostas aprovadas nos I, II e III Ciclos de Conferências. 5 Esta
etapa da pesquisa foi realizada com base no Caderno de Monitoramento, disponível no site da
Ouvidoria-Geral da DPESP.6 Este caderno contém os dados brutos de 362 propostas que
foram aprovadas nas Plenárias Estaduais dos Ciclos de Conferências I, II e III, e o
posicionamento da sua implementação.

Procuramos trabalhar com os dados da seguinte maneira: primeiramente, separamos


as propostas aprovadas por Ciclos (Ciclo I, Ciclo II e Ciclo III). Depois, separamos as
propostas de acordo com os seus respectivos eixos temáticos, nove no total, sendo (Cidadania
e Direitos Humanos; Combate à Discriminação; Racismo e Preconceito; Defesa do
Consumidor; Habitação e Urbanismo; Idoso e Pessoa com Deficiência; Infância e Juventude;
Política Institucional e Educação em Direitos; Promoção dos Direitos da Mulher e Situação
Carcerária). Depois, separamos as propostas aprovadas de acordo com o seu estágio de
implementação em três grupos7: Implementadas (que agrupa os as propostas/enunciados já
colocados em prática); Parcialmente Implementadas (refere-se a propostas sobre questões
permanentes, que já sofreram intervenções institucionais porém demandam ações contínuas) e
Não Implementadas (propostas não colocadas em prática).

Até o presente momento ocorreram precisamente 4 (quatro) Ciclos de Conferências. O


presente trabalho abrange as propostas/diretrizes dos Ciclos I, II e III. Não foi possível
acrescentar as propostas do IV Ciclo pois até o fechamento deste trabalho, ainda não havia
sido elaborado o Relatório de Monitoramento relativo à implementação das
propostas/diretrizes aprovadas na Conferência Estadual do IV Ciclo, que ocorreu em
Dezembro de 2013.

Realizamos o levantamento dos Relatórios de Gestão, com a finalidade de obter


informações sobre a quantidade e o perfil de quem participa dos Ciclos de Conferências.

5
Para informações sobre os Ciclos de Conferências, acesse: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2963>.
6
Caderno de Monitoramento dos Ciclos I, II e III, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 01 de Outubro de 2014.
7
Implementadas, Parcialmente Implementadas e Não Implementadas são os termos que são usados pela própria
DPESP para se referir ao estágio de efetivação das propostas. Optamos por utilizar os mesmos termos para que a
pesquisa fosse replicável (Epstein e King, p. 35, 2013).
17

Após a coleta dos dados, foram elaborados gráficos para que pudéssemos extrair o
máximo de informações possíveis e observáveis8 (EPSTEIN E KING, p. 62, 2013).

A segunda etapa da pesquisa empírica consistiu na realização de entrevistas9 com


atores de fundamental importância na dinâmica dos Ciclos de Conferências. Optamos pela
realização das entrevistas para que pudéssemos: i) verificar qual capital social os Ciclos
mobilizam10, ii) captar diferentes olhares sobre a dinâmica dos Ciclos de Conferências a partir
das experiências de vida, formações e ocupações dos entrevistados (HARAWAY,1995) e iii)
coletar informações não disponíveis em documentos, sobre o histórico da implantação dos
ciclos de conferências.

Uma das maiores preocupações com relação às entrevistas foi no que se refere à
multiplicidade das vozes. Para que pudéssemos ter uma noção mais ampla das críticas sobre a
dinâmica dos Ciclos de Conferências, um dos critérios para a escolha dos entrevistados foi o
critério da multiplicidade dos lugares de onde eles se encontram no processo dos Ciclos de
Conferências.

Os entrevistados foram escolhidos com base nos seguintes critérios: i) ter participado
do processo da Conferência (seja como ouvinte ou delegado); ii) fazer parte dos quadros de
servidores da Ouvidoria Geral da DPESP; iii) fazer parte do Comitê Organizador da
Conferência Estadual; iv) fazer parte da Comissão de Monitoramento v) ser membro da
Administração Superior da DPESP; vi) ser membro do Conselho Consultivo da Ouvidoria
Geral da DPESP; vii) pertencer a alguma instituição que atua em parceria com a DPESP; e
viii) ser Defensor Público que atua em um dos Núcleos Especializado11da DPESP.

8
“(...) acadêmicos não devem parar com uma ou duas implicações ou previsões. Ao invés disso, eles devem
desenvolver tantas quanto forem possíveis, até mesmo se elas estiverem apenas indiretamente conectadas com a
específica hipótese de interesse.”
9
A etapa das entrevistas foi de extrema importância para que pudéssemos captar informações e impressões que
não foram possíveis serem levantadas apenas através do levantamento bibliográfico e documental. Se por um
lado o levantamento nos ajudou a verificar em números se as propostas formuladas pela sociedade civil nos
Ciclos de Conferências são colocadas no Plano Anual de Atuação e implementadas, com o intuito de nortear a
atuação da DPESP, por outro lado as entrevistas nos ajudam a entender quem participa dos Ciclos e a captar a
dinâmica destas Conferências, bem como observar críticas a este mecanismo de participação.
10
O trabalho tinha a pretensão de fazer, além do levantamento social, o levantamento do investimento financeiro
que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo faz para a realização dos Ciclos de Conferências. Fizemos uma
solicitação informal sobre estes dados para um servidor do Gabinete da primeira subdefensoria mas fomos
informados de que a Defensoria Pública não sistematizou estes dados. Mesmo se fosse realizado o pedido de
dados pela Lei de Acesso à Informação (LAI) a resposta não chegaria a tempo para a inclusão no presente
trabalho.
11
Os Núcleos Especializados são espaços de natureza permanente, coordenados por dois Defensores Públicos,
sendo um Coordenador e o outro Coordenador Auxiliar. Os Núcleos Especializados estão previstos no artigo 52
da LCE 988/2006, e as suas principais atribuições são: promover a atuação estratégica da instituição, coordenar
18

Foram realizadas ao todo 14 entrevistas, no período de 04 de janeiro de 2015 a 20 de


Fevereiro de 2015, todas em caráter formal12, sendo que uma (1) entrevista foi realizada sob
condição de anonimato. A lista dos atores entrevistados pode ser encontrada no Apêndice ao
final deste trabalho.

A minuta de entrevista para as duas pessoas oriundas da sociedade civil foi organizada
em cinco tópicos: i) Perfil Social, ii) Relação com a Defensoria Pública, iii) Relação com a
Ouvidoria da Defensoria Pública, iv) Relação com os Ciclos de Conferências e v) Relação
com os Movimentos Sociais.

Com relação às outras entrevistas, de acordo com o perfil e cargo do entrevistado


foram realizadas perguntas mais específicas sobre determinado assunto relevante para a
pesquisa. Foi o caso das perguntas realizadas sobre o perfil dos candidatos a Ouvidor Geral da
Ouvidoria da DPESP que foram realizadas para o entrevistado Alderon Costa que atualmente
ocupa o cargo de Ouvidor Geral e para Luciana Zaffalon que foi Ouvidora da Defensoria
Pública nas gestões 2010-2012 e 2012-2014 e atualmente ocupa o cargo de Conselheira no
Conselho Consultivo da DPESP (mandato 2015-2017).

As entrevistas foram semi-estruturadas e as perguntas não foram necessariamente


formuladas de forma idêntica e nem na mesma sequência, mas se concentraram em torno das
seguintes questões:

1-) Qual a sua relação com a Defensoria Pública? Qual o seu cargo? Qual a sua função?

2-) Qual a sua relação com os Ciclos de Conferências?

3-) O que você acha sobre a implementação das propostas?

4-) Qual a sua visão sobre o caráter das propostas? É vinculativo ou não?

5-) Qual a sua opinião sobre os Ciclos de Conferências da DPESP?

os debates sobre os temas vinculados ao Núcleo, realizar a preparação de materiais em sua respectiva área,
propor medidas judiciais e extrajudiciais para a tutela de interesses individuais, coletivos e difusos, atuar e
representar junto ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos; promover e realizar o intercâmbio entre os
Defensores, para a uniformização dos entendimentos ou teses jurídicas, dentre outras atribuições.
12
Dentre as 14 entrevistas, apenas 3 entrevistas não foram gravadas e nestes mesmos 3 casos os entrevistados
não assinaram um documento que autorizasse a utilização dos dados e informações fornecidas por eles, embora
tenham consentido de forma verbal a utilização de seu nome e de todas as informações fornecidas na entrevista.
Todas as outras 11 entrevistas foram gravadas, integralmente transcritas e nestas, os entrevistados assinaram um
termo permitindo a divulgação e utilização das informações fornecidas durante a entrevista. Embora 13
entrevistados tenham permitido a sua identificação, optei por suprimir a identificação de algumas pessoas por
entender que a divulgação de sua identidade poderia expor de forma inconveniente os entrevistados.
19

Como as entrevistas e a pesquisa empírica foram muito produtivas, além das


conclusões extraídas dos dados coletados e organizados, iremos propor formas de melhoria no
processo de realização dos Ciclos de Conferências, bem como procedimentos desejáveis para
a inclusão das propostas/diretrizes aprovadas no Plano de Atuação, bem como para o
monitoramento destas propostas.

Estrutura da Dissertação

O trabalho será dividido em cinco capítulos:

No Capítulo 1 faremos uma revisão de bibliografia para remontar o histórico da


participação social no Brasil desde a Promulgação da Constituição Federal de 1988. Iremos
abordar a questão das Conferências como ferramentas de participação social (neste caso os
referenciais teóricos serão: Viviane Petinelli (2003), Luciana Tatagiba (2001), Evelina
Dagnino (2002), Thamy Pogrebinschi (2001) e Fabiano Santos (2001), que trabalham com o
conceito de Conferências, participação social e democracia. Abordaremos a questão da
criação da Defensoria Pública de São Paulo que inovou ao conceber a ouvidoria externa e os
mecanismos de participação. Trabalharemos com o conceito de controle social e
accountability, tomando como referenciais alguns teóricos do campo de estudos das ciências
sociais, tais como Guilhermo O´Donnel (1998), Ana Maria Campos (1990), Fernando
Abrucio (2004) e Maria Rita Loureiro (2004).

No Capítulo 2, abordaremos o histórico da criação da DPESP e da Ouvidoria-Geral, e


a luta pela defesa da Ouvidoria Externa da DPESP.

No Capítulo 3 abordaremos os Ciclos de Conferências da DPESP, buscando descrever


de que forma estes Ciclos acontecem, desde o momento da mobilização da população,
passando pelas pré-conferências até a Conferência Estadual. Mostraremos também o
levantamento das propostas/diretrizes, com a finalidade de verificar de forma qualitativa e
quantitativa, quais propostas/diretrizes foram implementadas, parcialmente implementadas e
não implementadas. Ainda neste capítulo será apresentado o perfil dos entrevistados, qual a
relação dos entrevistados com os Ciclos de Conferências e qual é a dinâmica de sua
participação, incluindo as suas impressões pessoais acerca deste importante meio de
participação e controle social.
20

No Capítulo 4, com a finalidade de organizar e sistematizar as entrevistas, optamos


por apresenta-las de acordo com os temas e com as principais questões abordadas.

No Capítulo 5 faremos as proposições de algumas medidas para aperfeiçoamento


deste importante mecanismo de participação que são os Ciclos de Conferências da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo e a conclusão da presente pesquisa.
21

Capítulo 1: Breve Histórico da Participação e do Controle Social no Brasil

O Brasil viveu uma ditadura de 1964 a 1984. Este período foi marcado por
arbitrariedades, usurpação de liberdades, onde os direitos políticos e os direitos da cidadania
foram suspensos.

Neste contexto, de acordo com Ciconello (2008, p. 1) os movimentos sociais e grupos


organizados que ousassem lutar pelas suas causas sofriam represálias: a participação dos
cidadãos na esfera pública era limitada e desencorajada pelo Estado.

Mas, mesmo diante deste quadro de forte repressão, a partir dos anos 70 ocorreu o
ressurgimento da sociedade civil brasileira (AVRITZER, 1994). Houve a organização dos
movimentos sociais, da sociedade civil e de alguns partidos políticos a favor da
redemocratização do país e a reivindicação de uma maior presença de instituições
encarregadas da deliberação de políticas públicas nas áreas de saúde, assistência social e
políticas urbanas (COELHO, 2004, CUNHA, 2006 e AVRITZER, 2007).

Após a abertura política do Brasil com as eleições indiretas, houve uma intensa
movimentação para que fosse eleita uma Assembleia Constituinte, encarregada de elaborar
uma nova constituição (FAUSTO, 1995)

À época da formação da Assembleia Constituinte para as discussões sobre a


elaboração da nova constituição, foi entregue ao Presidente da Assembleia Nacional
Constituinte, Ulysses Guimarães, um Manifesto com cerca de quatrocentas mil assinaturas:
este manifesto reivindicava a participação popular na elaboração da nova Constituição
(ROCHA, 2008).

Desta forma, o Regimento Interno da Assembleia Constituinte adotou as emendas


populares como parte do processo de elaboração da Constituição. Foi por meio destas
emendas que a sociedade civil pode apresentar propostas ao texto Constitucional, participando
de maneira ativa na construção da Constituição Federal (ROCHA, 2008).

À medida em que foi garantida a participação popular na elaboração da nova


Constituição, ela acabou por absorver as reivindicações dos movimentos sociais e da
sociedade civil organizada no sentido de institucionalizar a participação social, construindo
22

mecanismos que fizessem com que o cidadão pudesse participar das decisões estatais.
(ROCHA, 2008).

Quando a Constituição Federal de 1988 foi promulgada, o seu texto foi muito criticado
pois ele tecnicamente entrou em assuntos que não eram de natureza constitucional, e refletiu
as pressões dos diferentes grupos da sociedade (FAUSTO, 1995, p. 524).

Além do reconhecimento da existência de direitos e deveres, a Constituição Federal de


1988 institucionalizou diversas formas de participação social. Com referência à participação
direta, a Constituição previu no artigo 14, que a população pode exercê-la por meio do voto,
do referendo e da iniciativa popular. Como referência à participação social a Constituição
prevê a criação de Conselhos de Políticas Públicas, as Audiências Públicas, as Conferências e
as Ouvidoria Públicas.

Com relação à Constituição e a criação de instâncias participativas, Ciconello explica:

A Constituição Federal de 1988 [...] promulgou uma série de princípios e


diretrizes sobre a participação dos cidadãos no desenho, na implementação
e no controle social das políticas públicas que, posteriormente, foram
regulamentados e operacionalizados em diversos mecanismos institucionais
nas três esferas da federação (União, Estados e Municípios). A Constituição
também reconheceu novas atribuições para as organizações da sociedade
civil dentro do sistema político brasileiro, destacando seu papel como
protagonista na condução da “coisa pública” [...] Assim, os principais
mecanismos de deliberação coletiva que foram criados ou reconfigurados a
partir das diretrizes constitucionais de participação cidadã nas políticas
públicas do Estado Brasileiro são os Conselhos de Políticas Públicas e as
Conferências. (CICONELLO, 2008, p. 4, grifos nossos).

É interessante observar que a previsão da realização das conferências não é uma


novidade da recente democracia brasileira (CUNHA, 2012, p. 17). O Governo de Getúlio
Vargas instituiu as Conferências Nacionais de Educação e de Saúde no ano de 1937, sendo
que a primeira conferência a ser realizada foi a de saúde em 1941. Na Conferência de Saúde
participaram representantes dos três níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal) e
especialistas da área de saúde. Esta Conferência teve como objetivo unir forças para
contribuir com o Governo Federal na produção de conhecimento sobre a área, e orientá-lo na
execução de serviços locais, concessões de auxílios e subvenções federais (PINHEIRO,
WESTPHAL e AKERMAN, 2005; BRASIL, 2009).
23

Segundo Silva, (2009); Ferrarezi; Oliveira (2010) e Souza (2011), citados por Cunha
(2012):

“há diferenças significativas entre essas “novas” conferências, realizadas a


partir da redemocratização brasileira, e as “antigas”, que ocorreram
anteriormente. Uma primeira é que algumas delas são espaços
institucionalizados, previstas nas leis que regulamentam as políticas públicas,
como nas áreas de saúde e da assistência social, que independem de decisão
governamental. Outras são de iniciativa dos governos, podendo ser
regulamentadas por decreto ou não. Uma segunda diferença está nos seus
objetivos: avaliar a política pública em questão e propor diretrizes que
deverão compor as agendas governamentais, dando a algumas delas (32%)
caráter deliberativo e não apenas consultivo.”(CUNHA, 2012, p.18)

Segundo Cunha (2012, p. 18) existe ainda uma terceira diferença, esta diferença que
diz respeito aos participantes das conferências: as novas conferências recebem pessoas ligadas
ao governo, sociedade civil, participantes de movimentos sociais, não apenas participantes de
notório saber como as antigas conferências.

Embora a Constituição Federal de 1988 tenha previsto desde a sua criação, a


implantação de mecanismos de participação, foi ao longo dos últimos vinte anos que houve
um movimento mais intenso de atores e forças sociais, com o intuito de tirar do papel e
construir espaços públicos de participação. Luciana Tatagiba contextualiza o momento em
que se abre espaço para a participação, no início dos anos 2000:

O agravamento dos problemas sociais e a crise que tem caracterizado o


setor público – ao lado de uma demanda cada vez mais crescente dos
setores sociais pelo controle do Estado e suas políticas – têm levado ao
questionamento tanto do padrão centralizador, autoritário e excludente que
vem marcando a relação entre as agências estatais e os beneficiários das
políticas públicas (enfatizando a necessidade da democratização do
processo), quanto ao questionamento da capacidade do Estado de responder
às demandas sociais (enfatizando a questão da eficácia dos resultados).
(TATAGIBA, 2002, p. 47)

Seguindo esse diagnóstico, houve o aumento da demanda de atores sociais pelo


controle do Estado, questionando a forma como as políticas públicas eram feitas, o grau de
democratização que existia neste processo e se o Estado era realmente capaz de responder às
24

demandas impostas pela sociedade13. É neste momento propício a mudanças que ocorre a
previsão legal de participação do cidadão na gestão pública. Neste aspecto, destaca-se o artigo
37, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988, que prescreve que “ a lei disciplinará as
formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta”. Ainda na
Constituição Federal de 1988 podemos citar o artigo 193 que trata das normas gerais da
Seguridade Social e o artigo 194, inciso VII, que destaca o caráter democrático e
descentralizado da administração, estabelecendo uma gestão quadripartite, com a participação
dos trabalhadores, empregadores dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. O
artigo 198 que trata das ações e dos serviços públicos de saúde coloca como uma das
diretrizes gerais do sistema de saúde a “participação da comunidade”. E o artigo 204 da
Constituição Federal de 1988 (que trata da Assistência Social) prevê, por meio de instituições
representativas a “participação da população, por meio de organizações representativas na
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis”.

A partir da abertura Constitucional à participação, observa-se a criação de normas


infraconstitucionais, e à partir destas a criação de diversos espaços públicos de participação,
como conselhos de políticas públicas e conferências. É importante destacar que cada espaço
público de participação tem uma forma diferente de funcionamento em razão dos temas que
são tratados.

A partir da década de 2000 houve um aumento significativo na realização de


Conferências no nível federal: desde 1937, data em que ocorreu a primeira Conferência até o
ano de 2010 ocorreram 102 Conferências, sendo que 66% delas ocorreram no período de 2003
a 2010 demonstrando a importância destes espaços e o uso destes espaços como estratégia do
governo federal para fomentar a participação social (SILVA, 2009; SOUZA, 2011 E
CUNHA, 2012).

Em 2008 estimou-se a existência de mais de quarenta mil Conselhos de Políticas


Públicas, relacionadas às diversas estruturas do Governo (Federal, Estadual e Municipal) que
contam com a participação de inúmeras organizações da Sociedade Civil em todo país
(CICONELLO, 2008, p. 1).

13
Não existe apenas uma ou a melhor definição sobre o termo “Políticas Públicas”. Uma das definições
encontradas e que nos parece ser bem didática é a de que a Política Pública é a soma das atividades dos
Governos, que agem diretamente ou por delegação e que influenciam a vida dos cidadãos” (PETERS, 1986).
Para um pequeno aprofundamento sobre o surgimento, definições e importância das Políticas Públicas sugerimos
o artigo “Políticas Públicas: uma revisão de bibliografia”, de Celina Souza (2006), disponível em: <
www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16>.
25

Observa-se que no Brasil, como resultado do movimento de alguns setores da sociedade por
maior participação, foi criada uma verdadeira “estrutura participativa”. Esta estrutura é bem
variada e estimula a participação social em diversas áreas (saúde, educação, segurança
pública) e níveis de governo (Municipal, Estadual e Federal). A este respeito, Viviane
Petinelli tece os seguintes comentários:

Observa-se a formação de uma estrutura participativa inovadora, variada e


ampla, instituída no âmbito de diversas áreas de políticas públicas, no nível
local e nacional. Esta estrutura combina instrumentos tradicionais de
representação e participação direta, como o voto e o referendo, com canais
de participação, tais como as audiências públicas e as ouvidorias, e
práticas democráticas inovadoras, como os Orçamentos Participativos
(OPs) e os Planos Diretores Municipais (PDM) no nível local, e os
Conselhos Gestores de Políticas Públicas e as Conferências de Políticas
Públicas no nível subnacional e nacional. (PETINELLI, 2013, p.13, grifos
nossos).

Petinelli ressalta as características desta nova estrutura participativa: ela contém


elementos tradicionais de representação e participação direta (voto e o referendo), com canais
de participação (audiências públicas e Ouvidoria) com práticas democráticas inovadoras,
como Orçamentos Participativos, Planos Diretores Municipais (no nível local) e as
Conferências Públicas no nível subnacional e nacional.

Os mecanismos de participação que começam a se multiplicar marcam uma nova etapa


da participação social dentro do contexto do Estado Brasileiro: se antes a participação do
cidadão restringia-se apenas ao voto, hoje a participação ganha outras conotações e outros
pesos: a participação é valorizada também no sentido de ajudar na elaboração, implementação
e controle social de políticas públicas mais alinhadas com as demandas dos destinatários,
facilitando o arejamento e constante aperfeiçoamento das instituições.

Portanto, podemos dizer que os mecanismos de participação social são espaços


importantes pois podem estimular a participação dos cidadãos na esfera pública, fortalecendo
a democracia ao articulando os cidadãos com o Estado, na busca de uma parceria estratégica
no processo de elaboração de políticas públicas (POGREBINSCHI; SANTOS, 2011, p. 261).
26

Luciana Tatagiba explica de que forma a participação social via mecanismos de participação
influenciou na democratização de políticas públicas no Brasil:14

[...] A década de 1990 se caracterizou por um movimento muito intenso de


atores e forças sociais envolvidos com a invenção partilhada de novos
formatos e desenhos de políticas. O agravamento dos problemas sociais e a
crise que tem caracterizado o setor público – ao lado de uma demanda mais
crescente dos setores sociais pelo controle do Estado e suas políticas – tem
levado ao questionamento tanto do padrão centralizador, autoritário e
excludente que vem marcando a relação entre as agências estatais e os
beneficiários das políticas públicas (enfatizando e necessidade de
democratização do processo), quanto ao questionamento da capacidade do
Estado de responder às demandas sociais (enfatizando a questão da eficácia
dos resultados). [...] Esperava-se reverter os padrões de planejamento e
execução das políticas públicas no Brasil. A mudança desse padrão seria
possível porque a participação provocaria um tensionamento nas agências
estatais, tornando-se mais transparentes, mais responsáveis e mais suscetíveis
ao controle da sociedade. (TATAGIBA, 2002, pág. 47).

Desta forma, podemos entender que o processo engendrado pela participação social é
cíclico: as instituições públicas, ao incentivarem a participação social podem causar uma
tensão e esta tensão faz com que estas mesmas instituições se aprimorem e se tornem mais
suscetíveis ao controle por parte da sociedade.

Outro fator que pode contribuir para que a sociedade civil busque, construa e se
aproprie dos espaços públicos é a questão da demora das instituições públicas em se
adequarem às mudanças e de fornecerem respostas à altura das necessidades/demandas da
população. É necessário que o Estado tenha a capacidade de observar as mudanças que
ocorrem na sociedade, se adequando a estas mudanças sob o risco de insegurança e descrédito
de suas próprias instituições.

A Participação Social pode contribuir com as instituições no sentido de proporcionar


a elas um arejamento institucional, pode aperfeiçoar a capacidade de escuta e de interlocução
do Estado, alinhando as diretrizes de determinada instituição aos anseios da população,
favorecendo a elaboração de políticas públicas que estejam próximas da realidade e das
necessidades dos seus destinatários. Sob esta ótica a participação social mostra-se necessária
para a transformação do Estado e para o aprimoramento dos serviços públicos prestados.

14
Embora Luciana Tatagiba se refira ao mecanismo de participação denominado: Conselhos Municipais e
Políticas Sociais, podemos utilizar este exemplo para fazer uma analogia com os Ciclos de Conferências da
DPESP no que se refere ao potencial deste mecanismo de participação para a realização de políticas públicas.
27

Além dos fatores apontados por Tatagiba (2002) para a formação dos espaços
participativos, podemos apontar outros possíveis problemas, como a crise do sistema de
representação no Estado. Enquanto o sistema representativo brasileiro está calcado no
partidarismo político e estes partidos estão voltados para a satisfação dos seus próprios
interesses, a sociedade não se vê representada por eles. Este é um dos fatores que podem
fazer com que a sociedade civil busque alternativas, busque novos espaços onde ela possa
representar perante ao Estado as suas necessidades e vontades.15 Nesse sentido, Marco
Aurélio Nogueira entende que as transformações da sociedade capitalista fizeram com que a
representação fosse posta em xeque, deixando-a defasada e com sérias dificuldades
operacionais (NOGUEIRA, 2014, p. 1).

Os autores Thamy Pogrebinschi e Fabiano Santos (2011) não compartilham da ideia


de que há uma “Crise de Representação”. Eles entendem que a criação dos novos espaços
participativos não surgiu em detrimento do sistema representativo, mas como um meio do
cidadão ampliar a sua participação para além do momento do voto.

[...]os sinais que alguns chamam de crise, podem simplesmente indicar uma
mudança na forma pela qual a representação política se manifesta [...] Se as
novas práticas participativas ampliam a participação direta dos cidadãos,
isso não significa que as instituições políticas tradicionais tenham se tornado
menos aptas a representá-los [...] o surgimento de novos espaços
democráticos, assim como de novos atores envolvidos na gestão da coisa
pública , pode, por outro lado, ser encarado como uma forma de
fortalecimento da representação política e não como um sinal de
enfraquecimento de suas instituições. (POGREBINSCHI; SANTOS, 2011, p.
259- 261)

A nota extraída do texto de Pogrebinschi e Santos (2011) revela que existem novos
modelos de participação surgindo, e que o seu surgimento não pressupõe a destruição ou crise
das instituições políticas tradicionais, mas que estas novas práticas participativas podem

15
Evelina Dagnino, em seu artigo “Sociedade Civil, Espaços Públicos e a Construção Democrática do Brasil:
Limites e Possibilidades”(2002, p. 279), descreve em poucas linhas, alguns aspectos que podem nos levar a
entender a crise de representação pela qual passamos: Nessa vocação pendular que é sua característica inerente,
os partidos políticos no Brasil historicamente se inclinaram sempre na direção do Estado (com exceções, por
isso mesmo notórias), limitando sua busca de representatividade na sociedade civil aos momentos eleitorais e
aos mecanismos vistos como os mais eficazes: o clientelismo, as relações de favor, o personalismo etc. A
distância entre os partidos, a insatisfação generalizada com a política partidária assinalada também pelos
estudos realizados em outros países da América Latina indicam a precariedade desta função mediadora.
28

fortalecer a representação política. Em artigo mais recente, Pogrebinschi vai mais longe e
entende que não há representação sem participação social (Pogrebinschi apud Araújo 2014).

Não obstante, é interessante destacar que estes novos modelos de participação


podem coexistir, abrindo novos espaços para a democracia participativa e dando novos
contornos às práticas democráticas.

Em maio de 2014, a Presidência da República publicou o decreto n. 8.243/201416. O


decreto popularmente conhecido como “o decreto da Participação Social” instituiu a Política
Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS).
De acordo com o artigo 3º, inciso III do decreto, as diretrizes gerais do PNPS são a
complementariedade, transversalidade e integração entre mecanismos e instâncias da
democracia representativa, participativa e direta. Um de seus objetivos, constantes no artigo
4º, inciso (?), é o de consolidar a participação social como método de governo.

Na prática, este decreto não cria, apenas sistematiza os mecanismos e instâncias


democráticas de diálogo que já estavam previstos na Constituição de 1988, estimulando a
articulação das instâncias e dos mecanismos de participação social e incentivando a
participação social nos entes federados. Assim que foi publicado, o decreto sofreu inúmeros
ataques por parte da imprensa e por parte dos partidos de oposição ao partido da Presidência.
Não há uma unanimidade de opiniões sobre o decreto, alguns estudiosos do Direito entendem
que o decreto pode ser usado como forma de manipulação por parte do governo. De acordo
com Caros Ary Sundfeld, em entrevista para o Jornal O Estado de São Paulo, a Política
Nacional de Participação Social, (...) gera uma sociedade civil chapa branca, como o
sindicalismo da Era Vargas, que fala por meio de instâncias sob o controle oficial,
(MANZANO, 2014).

Para Cézar Britto (ex-Presidente da OAB), este decreto é apenas uma forma de
ratificar um controle de políticas públicas no país e esta oposição contra o decreto ocorre
devido à uma dualidade política (HAUBERT, 2014).

Alguns políticos entendem que o decreto é inconstitucional, alegando que, pelo fato
do decreto prever a consulta de conselhos populares nas decisões do Governo, feriria a
Constituição e a livre separação dos poderes (HAUBERT, 2014).

16
O Decreto n. 8.243/2014 que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional
de Participação Social (SNPS) está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Decreto/D8243.htm, acesso em 01 de Julho de 2015.
29

É importante esclarecer que o decreto n. 8.243/2014 não prevê nenhum tipo de


subtração dos poderes do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário. Supostamente este
decreto foi publicado em resposta às manifestações de Junho de 2013, com o único intuito de
sistematizar e organizar as instâncias participativas já previstas na Constituição de 1988.
Sobre isso, Tamy Pogrebinschi é bem clara:

A Constituição de 1988 estabeleceu, em seu texto original, as bases de uma


democracia mais participativa, a qual vem sendo institucionalizada por
meio de diversos atos administrativos e legislativos, inclusive sucessivas
emendas constitucionais. [...] Exatamente as duas principais instâncias
participativas regulamentadas pelo decreto e atacadas pela mídia
conservadora, os conselhos e as conferências, não são nenhuma novidade e
nem foram criados por uma canetada do Executivo. O próprio Poder
Legislativo, ao longo de diversas legislaturas e governos, vem contribuindo
para consolidar o que o decreto tenta apenas organizar. No caso, é um
sistema nacional de participação. [...] Esses espaços permitem a construção
de uma agenda compartilhada, possibilitam uma convergência de
preferências e opiniões, e quando o Legislativo também indica convergir
com as diretrizes ali confeccionadas, propondo e aprovando leis cujo
conteúdo reflete tais debates, tem-se um aprofundamento democrático
importante. (POGREBINSCHI, apud ARAÚJO, 2014).

Em defesa do decreto, em junho de 2014 um grupo de aproximadamente 150 (cento e


cinquenta) pessoas, dentre elas intelectuais, acadêmicos e líderes de movimentos sociais
redigiram um documento entitulado “Manifesto à Democracia”. Este Manifesto traduz o
entendimento deste grupo, de que o decreto é uma forma de contribuir com a cidadania,
aprofundando as práticas democráticas (HAUBERT, 2014)

Em 28 de Outubro de 2014, os partidos não aliados ao partido da Presidência, em


votação na Câmara dos Deputados rejeitaram o decreto n. 8.243/2014, mas o texto ainda
precisa ser votado pelo Senado para que o decreto perca a sua validade.

1.2 A Participação e o Controle Social dentro do Sistema de Justiça

Até o ano de 2006, a única forma de participação e controle social no Sistema de


Justiça era por meio das Ouvidorias instaladas em algumas instituições de Justiça do país. A
30

Constituição Federal assegurou a criação de leis para a instalação das Ouvidorias em seu
artigo 37, parágrafo 3º, inciso I. 17

Em 2006, por meio da Lei 988/2006 foi instituída a Defensoria Pública do Estado de
São Paulo, a sua Ouvidoria Externa (que compõe o rol de órgãos da Administração Superior
da DPESP) e os Ciclos de Conferências.

De acordo com Luciana Zaffalon:

(...) a Lei 988/2006 preconizou a criação de uma Defensoria legal e


institucionalmente comprometida com o princípio da participação social e
do combate às desigualdades sociais como fundamento de suas funções,
criando a oportunidade de se imprimir um novo modelo de gestão dentro do
Sistema de Justiça Nacional. A criação de Ouvidoria externa e os processos
de Conferências, por exemplo, podem representar uma oportunidade de se
rever a forma pela qual as instituições que fazem parte do Sistema de
Justiça Brasileiro se abrem às opiniões dos atores sociais, à participação
popular. E o sucesso dessa experiência poderá se transformar em um
catalisador de iniciativas nesse sentido, como uma chancela, um atestado de
que é possível uma outra forma de se construir e aplicar justiça.
(CARDOSO, 2015, p.2)

Os mecanismos de participação que a DPESP disponibiliza são as Audiências e as


Consultas Públicas, o Momento Aberto, a possibilidade de Definição das Teses Institucionais
e os Ciclos de Conferências.

Embora os mecanismos de participação sejam da DPESP e para fortalecer a


participação dentro da DPESP, a Ouvidoria-Geral da DPESP tem uma função primordial ao
lado destes mecanismos: ela é um canal institucionalizado de participação, de diálogo e de
escuta: ela abre espaço para que o cidadão avalie a qualidade dos serviços prestados pela
DPESP e incentiva a participação social dentro da gestão da DPESP.

Nesse sentido, podemos observar que a Ouvidoria-Geral da DPESP é um órgão


notável, pois: i) ela possui um caráter híbrido já que é um órgão que faz parte do governo,
pois foi criada dentro da estrutura estatal e, ao mesmo tempo é mecanismo de escuta social; ii)
um instrumento de controle interno, à medida em que o artigo 36 da Lei 988/2006 estipula

17
Constituição Federal, artigo 37, §3º, caput e inciso I: “ A Lei disciplinará as formas de participação do usuário
na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: As declarações relativas à prestação dos
serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviço de atendimento ao usuário e a avaliação
periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços.
31

que a Ouvidoria é um Órgão Superior da Defensoria Pública do Estado, devendo participar


da gestão e da fiscalização da instituição, de seus membros e servidores; iii).ela é também
um instrumento de controle externo, por ser dirigida por um representante da sociedade civil,
que não faz parte do quadro de membros e servidores da DPESP.

A importância das Ouvidoria-Geral se dá pelo fato de que, ao lado dos outros


mecanismos institucionalizados de participação presentes na DPESP, incluindo os Ciclos de
Conferências que são o tema deste trabalho, ela busca promover a interlocução entre o Estado
e cidadão18, operacionalizando os princípios da democracia participativa resguardada pela
Constituição Federal, promovendo o adensamento da democracia e um certo grau de
accountability.

O termo accountability é de origem inglesa e até hoje é tema de muitas discussões a


respeito de sua tradução e de seu significado para o português. Para Mainwaring (2003) o
termo accountability está longe de ter um conceito consensual. De acordo com Ceneviva
(2006), além da falta de tradução do termo accountability falta definição conceitual e
delimitação teórica acerca do seu significado, já que as definições encontradas tentem a variar
não apenas de autor para autor, varia também de acordo com a disciplina na qual este termo se
insere.

Para Guilhermo O´Donnel (1998) accountability é um conceito bidimensional que


pode ser dividido em horizontal e vertical. A classificação de O´Donnel foi feita de acordo
com a posição que o agente ocupa. Assim, A accountability horizontal é a existência de
agências estatais que tem o direito e o poder legal e que estão de fato dispostas e capacitadas
para realizar ações, que vão desde a supervisão de rotina a sanções legais ou até
impeachment contra ações ou omissões de outros agentes ou agências do Estado que podem
ser classificadas como delituosas (O´DONNEL, 1998, p. 40). Já a accountability vertical
inclui as eleições, reivindicações sociais que possam ser normalmente proferidas, sem que se
corra o risco de coerção, a cobertura regular pela mídia ao menos da mais visíveis dessas
reivindicações e de atos supostamente ilícitos de autoridades públicas (O´DONNEL, 1998, p.
28).

18
“A Ouvidoria Pública deve ser compreendida como uma instituição que auxilia o cidadão em suas relações
com o Estado. Deve atuar no processo de interlocução entre o cidadão e a Administração Pública, de modo que
as manifestações decorrentes do exercício da cidadania provoquem a melhoria dos serviços públicos prestados”
(Controladoria Geral da União, Ouvidoria Geral da União, 2012a, p.7)
32

De acordo com Arantes et al (2010) existem três formas de accountability


democrática: a primeira diz respeito ao processo eleitoral, a segunda forma de accountability
trata dos conjuntos de instituições de controle intraestatal (os chamados checks and
balances) que fornecem os mecanismos de fiscalização contínua dos representantes eleitos, a
terceira forma de accountability democrática diz respeito a regras intertemporais que limitam
o poder do governo ao seu escopo de atuação. (ARANTES, LOUREIRO, COUTO E
TEIXEIRA, 2010, p. 113).

Abrucio e Loureiro (2004) observam que a literatura vem utilizando o termo


accountability como sinônimo de transparência e responsabilização.

De acordo com a leitura do artigo de Ana Maria Campos (1990), podemos depreender
que accountability é o controle sobre o Estado, o qual só pode ser exercido quando uma
sociedade é capaz de organizar seus interesses públicos com os interesses privados.

Para Schedler (1999), a accountability é bidimensional, e agrega dois momentos: o


momento da answerability e o momento do enforcement.

Tendo em vista a ausência de tradução e a ausência de consenso sobre o uso do termo


accountability no Brasil, foi realizado um estudo com o objetivo de identificar os usos do
termo accountability nos periódicos nas áreas de Administração, Admistração Pública,
Ciência Política e Ciências Sociais. As pesquisadoras Medeiros, Crantschaninov e Silva
(2013) notaram que o uso da palavra accountability se relaciona com os seguintes termos:
responsabilização, prestação de contas, transparência, sanções, controle político e
responsabilidade. As autoras do estudo concluíram que apesar dessa variedade de termos
usados como sinônimos para accountability, pode-se afirmar que na literatura brasileira este
termo está relacionado principalmente às ideias de responsabilidade e de prestação de contas.
(CRANTSCHANINOV, MEDEIROS e SILVA, 2013, p.763).

Na área do Direito foi realizada uma pesquisa para determinar os usos do termo
accountability nos Tribunais Superiores Brasileiros. Foram coletadas todas as decisões nas
quais a palavra accountability havia sido citada e as conclusões que os autores chegaram
foram a de que não havia unanimidade no uso da palavra accountability em cada Tribunal.
Quando alguns tribunais se referiam a accountability, eles o fizeram dando a entender que
accountability é um processo que se inicia com a "prestação de contas" e desencadeia em
“responsabilização” e “sanção” dos agentes por descumprimento de deveres. Na maioria das
33

decisões analisadas pelo estudo, a palavra accountability foi utilizada como sinônimo de
“fiscalização”. (AUGUSTO; RIZZARDI, 2014, p. 20).

Pinho e Sacramento (2009) entendem que estamos perto da tradução de accountability


mas ainda muito longe de construir uma verdadeira cultura de accountability.

Talvez a palavra accountability ainda não tenha tradução para o português pois não se
trata de uma palavra que denota apenas um substantivo, apenas uma coisa: talvez
accountability denote um processo ou uma sequência de ações a serem tomadas pelo órgão
responsável pela aplicação da accountability. Após inúmeras pesquisas, chegamos à
conclusão do possível significado do termo accountability: é um processo que envolve
algumas etapas e estas etapas são fiscalização, controle e responsabilização. É importante
salientar que este processo pode ou não ser encerrado com a responsabilização, o ideal é que
sim, para que cada órgão que esteja sujeito à accountability seja responsabilizado caso ocorra
alguma falha.

Se pudéssemos classificar a Ouvidoria-Geral sob a ótica da accountability, a


Ouvidoria-Geral seria um órgão responsável por fiscalizar e controlar a gestão da DPESP,
portanto, ela seria um órgão que promoveria a accountability horizontal. Horizontal porque
ambas fazem parte do governo. Nota-se claramente a carência, no caso da relação entre
Ouvidoria-Geral e DPESP, da última etapa do processo de accountability que é a
responsabilização.

Além de promover a accountability horizontal, a Ouvidoria-Geral é responsável pelo


controle social externo da DPESP. Este controle social se dá através da própria natureza da
Ouvidoria: este canal de escuta e de participação proporciona uma abertura da instituição à
participação da sociedade, fomentando a participação não apenas nos Ciclos de Conferências
(que iremos focar neste trabalho) mas também nos outros mecanismos de participação como o
momento aberto, as audiências e consultas públicas, e a participação na definição das teses
institucionais.
34

Capítulo 2. A Criação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

A Constituição Federal de 1988 consagrou a garantia de assistência jurídica19 gratuita


e integral aos necessitados, em seu artigo 5º, inciso LXXIV. Antes da promulgação da
Constituição, a Lei Federal 1.060/1950 resguardava a concessão de assistência judiciária20
aos necessitados. Para que o Estado pudesse cumprir com esta garantia constitucional, ele
previu na Constituição Federal de 1988 a criação das Defensorias Públicas.

Desta forma, o marco legal para a criação das Defensorias Públicas dos Estados foi a
Constituição Federal de 1988, que por meio do artigo 134 estabeleceu que “A Defensoria
Pública é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado (...)”.

Seis anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi sancionada a Lei
Complementar Federal nº 80 de 1994 (LCF 80/1994), que organiza a Defensoria Pública da
União, do Distrito Federal e Territórios e estabelece normas gerais para a sua organização nos
Estados.

Antes da instalação da DPESP, o órgão responsável pela assistência judiciária no


Estado de São Paulo era a Procuradoria de Assistência Judiciária (PAJ)21. Este órgão, era
vinculado à Procuradoria Geral do Estado (PGE) que, por sua vez tem como função prestar
consultoria jurídica e promover a defesa Judicial do Estado. Naquele modelo, a PAJ muitas
vezes atuava contra o Estado, quando incumbido do papel de assistente judiciário dos
necessitados (CARDOSO, 2010, p. 63).

Ressalta-se, que, nas comarcas onde a PAJ não estava presente, a assistência
judiciária era prestada através do convênio firmado entre a PGE com a OAB, o que fez com
que a OAB exercesse forte resistência contra a implantação da Defensoria Pública no Estado
de São Paulo: em tese, este novo modelo de assistência judiciária acabaria com o convênio
entre a OAB e a PAJ.

19
A Assistência Jurídica é um conceito amplo: abrange todo e qualquer auxílio jurídico voltado ao sujeito
necessitado, inclusive no que diz respeito ao aconselhamento preventivo.
20
A Assistência Judiciária é um conceito mais restrito que o da assistência jurídica: ele envolve apenas os atos
do processo, apresentação de defesas, pagamento de custas, entre outros.
21
Lei 478/1986, artigos 28 e 29. A PAJ era formada pela Procuradoria de Assistência Judiciária Civil e pela
Procuradoria de Assistência Criminal. As suas atribuições eram a de prestar assistência judiciária e de orientação
jurídica extrajudicial aos necessitados.
35

Com a criação da DPESP, foi aventada também a questão de que os Defensores


Públicos não teriam independência funcional, visto que possivelmente não se sentiriam
confortáveis em atuar contra o Estado se fosse necessário (HADDAD, 2011).

Embora o marco legal para a criação das Defensorias Públicas seja a Constituição
Federal de 1988, no Estado de São Paulo foi apenas em 2001 que iniciou de fato uma
organização a favor da criação das Ouvidorias.

Em 2001, o Sindicato dos Procuradores do Estado, das Autarquias, das Fundações


das Universidades Públicas do Estado de São Paulo (SINDPROESP) apresentou um
anteprojeto de Lei Orgânica na Assembleia Legislativa do Estado para a criação da
Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Após a apresentação do anteprojeto de Defensoria Pública pelo SINPROESP houve a


realização de audiências públicas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, de
seminários organizados por entidades de Defesa dos Direitos Humanos e pelo Núcleo de
Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, que tinham por objetivo informar a
população sobre a importância da instalação das Defensorias.

Estas audiências públicas impulsionaram a criação do Movimento pela Defensoria


Pública (MPDP). Esse movimento tinha o objetivo de conclamar e promover a articulação da
sociedade civil, entidades organizadas, movimentos sociais, organizações não
governamentais, operadores do direito, intelectuais e membros da Administração Pública para
que fossem realizados debates para o aprimoramento do anteprojeto da DPESP.

O MPDP foi liderado inicialmente pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa
Humana (CONDEPE) e pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos (CTV) e foi
importante no sentido de informar a sociedade civil sobre a importância da Defensoria
Pública, conclamar diversos setores da sociedade civil e pressionar o Governo do Estado de
São Paulo pela criação e instalação da DPESP.
36

Em 2002 a mobilização pela criação da Defensoria Pública já contava com a


participação de aproximadamente 440 entidades da sociedade civil organizada22, dos mais
diversos seguimentos de atuação, dentre eles: associações de bairro, dos trabalhadores, grupos
das áreas de educação, saúde, moradia, direitos humanos, religiosas, partidos políticos; além
das defensorias públicas dos estados do Pará, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Sul; da
Associação Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP); do Colégio Nacional dos
Defensores Públicos Gerais (CONDEGE); da Associação dos Defensores Públicos da União
(ADPU) e das associações dos defensores públicos dos estados da Bahia, de Minas Gerais, de
Roraima, do Ceará, do Rio de Janeiro e de Rondônia. Com todos esses apoios, em 24 de
junho de 2002 foi lançado oficialmente o Movimento pela Defensoria Pública (MPDP).

Cerca de quatro anos após o ato de lançamento do MPDP, em 09 de janeiro de 2006


foi sancionada a Lei Complementar Estadual nº 988 (LCE 988/2006), que dispõe sobre a
Organização da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e instituiu o regime jurídico de
Defensor Público.

A publicação da Lei Orgânica da DPESP (LCE 988/2006) representou uma vitória,


tanto para o Movimento pela Defensoria Pública, quanto para a população do Estado de São
Paulo, dependente da assistência jurídica.

Pode-se observar o tamanho do impacto que o MPDP teve na criação da DPESP,


comparando-se o Anteprojeto do MPDP com o Anteprojeto Oficial:

Planilha 1

Anteprojeto do Movimento Anteprojeto Oficial


(Características Fundamentais)
Prestar, de forma descentralizada, Presente, embora inexistam critérios
assistência jurídica integral às pessoas para a descentralização, que mantém a
carentes, no campo judicial e extrajudicial divisão estanque entre Capital e Interior,
desconsiderando as semelhanças das
diversas áreas da Região Metropolitana

22
Texto baseado em informações do site da DPESP – Disponível em: < http://www.defensoria.sp.gov.br>,
acessado em 16/05/2014.
37

da Capital

Defender os interesses difusos e coletivos Presente


das pessoas carentes.
Promover a difusão do conhecimento sobre Presente
os direitos humanos, a cidadania e o
ordenamento jurídico.
Assessorar juridicamente, através de núcleos Presente
especializados, grupos, entidades e
organizações não-governamentais,
especialmente aquelas de defesa dos direitos
humanos, do direito das vítimas de
violência, das crianças e adolescentes, das
mulheres, dos idosos, das pessoas
portadoras de deficiência, dos povos
indígenas, da raça negra, das minorias
sexuais e de luta pela moradia e pela terra.
Prestar atendimento interdisciplinar Presente
realizado por defensores, psicólogos e
assistentes sociais. Estes profissionais
também devem ser responsáveis pelo
assessoramento técnico aos defensores, bem
como pelo acompanhamento jurídico e
psicossocial das vítimas de violência.
Promover a participação da sociedade civil Ausente
na formulação do seu Plano Anual de
Atuação, por meio de conferências abertas à
participação de todas as pessoas.
Implantar Ouvidoria Independente, com Presente
representação no Conselho Superior, como
mecanismo de controle e participação da
sociedade civil na gestão da Instituição.
38

Estabelecer critérios que, no concurso do Ausente


ingresso e no treinamento dos defensores,
realizado durante todo o estágio probatório,
garantam a seleção de profissionais
vocacionados para o atendimento
qualificado às pessoas carentes.
Ter autonomia administrativa, com a eleição Presente
do Defensor Público Geral para mandato por
tempo determinado
Ter autonomia orçamentária e financeira, Presente
utilizando-se dos recursos do FAJ.
Fonte: Movimento pela Defensoria, disponível em: <
http://www.movimentopeladefensoriapublica.hpg.com.br/manifesto.htm>, acesso em 06 de Outubro de
2014.

Comparando o anteprojeto do MPDP com o anteprojeto final, é possível concluir,


que muitas propostas elaboradas pelo Movimento pela Defensoria Pública foram incorporadas
no anteprojeto final, e que houve uma significativa colaboração do Movimento na criação da
DPESP. Nas palavras do Padre Valdir João Silveira23, as propostas realizadas pelo MPDP
“impulsionaram a criação de uma Defensoria democrática, autônoma, descentralizada e
transparente” (Relatório de Gestão 2010-2014, p.4)

O MPDP colaborou com a criação da DPESP nos seguintes sentidos: na mobilização


social com a organização de forças para a luta pela DPESP; no aperfeiçoamento do
anteprojeto, cobrando o Governador do Estado de São Paulo que instituísse a DPESP; ao
propor uma Ouvidoria Independente, ao incorporar a participação social na DPESP com a
elaboração do Plano Anual de Atuação e com a criação de novos espaços públicos, como as
Conferências.

Os aspectos mais inovadores propostos pelo Movimento pela Defensoria são: a


Ouvidoria independente e autônoma e a participação social nas diretrizes da DPESP. Veremos
estes aspectos de forma mais detida no próximo capítulo.

23
O Padre Valdir João Silveira é Membro de Notório Saber do Conselho Consultivo da DPESP (mandato 2013-
2015) e membro da Pastoral Carcerária. Ele participou ativamente do MPDP.
39

2.2 A Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Como vimos, a DPESP foi criada em 2006, por meio da Lei Complementar Estadual
n. 988/2006 (LCE 988/06) que incorporou algumas das propostas do MPDP. Dentre essas
propostas fazia parte a instalação de uma Ouvidoria independente. Assim é que em seu artigo
11, a LCE 988/2006 garantiu não somente a existência de uma Ouvidoria-Geral externa, como
também a sua participação como órgão integrante da Administração Superior, juntamente
com a Defensoria Pública-Geral, o Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado e a
Corregedoria-Geral da Defensoria Pública do Estado, entre outros. Ainda de acordo com a
LCE 988/06, garantiu a participação do Ouvidor-Geral como membro nato no Conselho
Superior da Defensoria Pública, órgão máximo da administração da Defensoria Pública.

A existência da Ouvidoria-Geral, como órgão da Administração Superior da


Defensoria Pública do Estado de São Paulo indica que existia, no momento de criação da
Defensoria Pública, a preocupação em estabelecer um diálogo com a população: seja no que
diz respeito aos serviços prestados pelos defensores públicos, seja contribuindo para
elaboração de políticas de atuação da Defensoria Pública que sejam capazes de atender os
anseios da sociedade civil.

As funções da Ouvidoria-Geral estão previstas no artigo 42 da LCE 988/2006. De


acordo com esse artigo, a Ouvidoria-Geral tem como função essencial garantir a qualidade
dos serviços públicos prestados pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, sob o ponto
de vista do cidadão que é atendido pela instituição. Para cumprir essa função, a Ouvidoria-
Geral recebe reclamações e/ou sugestões da população, as encaminha aos órgãos competentes,
garantindo o retorno de tais solicitações de forma rápida. A Ouvidoria-Geral não tem
competência para instaurar processos administrativos, civis ou criminais para apurar
responsabilidades dos funcionários públicos da Defensoria, ela apenas pode solicitar, quando
considerar cabível, que os órgãos responsáveis pela instauração de processos dessa natureza,
assim o façam.

A mesma lei prevê ainda a publicação de relatórios semestrais, que devem conter as
medidas propostas aos órgãos competentes, bem como descrever a forma de resolução
adotada para cada caso.
40

Cabe ainda à Ouvidoria-Geral, estimular a participação do cidadão na identificação


de problemas, na fiscalização e no planejamento dos serviços prestados pela DPESP.

A atividade mais importante da Ouvidoria-Geral é a de incrementar a aproximação


da sociedade civil com a DPESP, contribuindo, estimulando e disseminando todas as formas
de participação popular na Defensoria Pública.

A Ouvidoria-Geral da Defensoria compreende o Conselho Consultivo e o Grupo de


Apoio Administrativo.

O Conselho Consultivo é presidido pelo Ouvidor Geral e é composto por 11 (onze)


membros que são designados pelo Defensor Público Geral do Estado. As finalidades
principais do Conselho Consultivo são as de acompanhar os trabalhos da Ouvidoria Geral e de
formular críticas e sugestões para o aprimoramento de seus serviços.

O Grupo de Apoio Administrativo tem o intuito de desenvolver as atividades


administrativas da Ouvidoria Geral, tais como receber, registrar e acompanhar as queixas,
denúncias e reclamações enviadas ao órgão.

A Ouvidoria-Geral da DPESP foi a primeira Ouvidoria do Brasil a contar com o


modelo de gestão “externa”. Como vimos, a previsão de “Ouvidoria independente” foi feita
pelo MPDP no anteprojeto da criação da DPESP e foi incorporado no Anteprojeto Final.

Duas características presentes na LCE 988/2006 fazem com que a Ouvidoria da


DPESP seja considerada uma Ouvidoria Externa: a exigência de caráter externo do Ouvidor-
Geral, que não pode ser membro da DPESP e o fato da Ouvidoria contar com um Conselho
Consultivo externo, ou seja, formado por pessoas que não são membros da DPESP.

O fato do Ouvidor-Geral ser pessoa externa aos quadros da DPESP é importante pois
duas importantes funções da Ouvidoria-Geral são: i) de realizar o controle da Defensoria
Pública e ii) de possibilitar a participação da sociedade civil dentro da gestão da Ouvidoria.
Ora, para que estas atribuições sejam exercidas da melhor forma possível é necessário que a
Ouvidoria seja autônoma e mantenha uma independência funcional, ou seja, ela não deve ser
suscetível a pressões oriundas da carreira. Este é um dos motivos pelos quais a lista tríplice24
deve ser composta por candidatos oriundos da sociedade civil e não integrantes da carreira de
defensor público.

24
A Lista Tríplice é uma lista que deve ser elaborada pelo CONDEPE, contendo o nome de três pessoas
indicadas para o cargo de Ouvidor-Geral.
41

Quando perguntada sobre a importância do caráter externo do Ouvidor Geral, a Ex


Ouvidora-Geral (gestão 2010-2012 e 2012 e 2014) diz:

[...] As decisões sobre políticas de acesso à Justiça são tomadas por um


colegiado. Você ter alguém que ali representa a voz dos destinatários do
serviço público e não do prestador do serviço é um caminho fundamental
para que estas decisões possam espelhar o que de fato interessa ao
destinatário sem passar pela análise de que reflexo pode causar na vida
profissional daquele que deve servir ao público. [...] O papel do Ouvidor
externo é o de vocalização das aspirações dos destinatários dos serviços
públicos e pensando no espírito de democratização eu não acredito em
políticas públicas pensadas sem a perspectiva do destinatário. E o papel o
Ouvidor externo é exatamente este. Garantir que nenhuma tomada de
decisão aconteça sem levar em conta as aspirações da população. (Luciana
Zaffalon, Diário de Entrevista, 17/01/2015).

O fato do cargo de Ouvidor ser ocupado por pessoa que não é membro da DPESP faz
com que ele consiga se colocar no lugar do usuário dos serviços, sem pensar apenas no lado
da perspectiva do prestador do serviço. Assim, ele consegue captar da melhor forma as
demandas da sociedade, e levá-las para as instâncias decisórias, garantindo que estas decisões
levem em conta as demandas da população que usa os serviços da DPESP.

E sobre a importância da Ouvidoria externa, Luciana Zaffalon diz:

Eu digo que a Ouvidoria Externa deveria ser um pleonasmo. Pelos mais


diversos aspectos, eu digo tanto do ponto de vista do controle social
propriamente dito, até a democratização desse espaço de tomada de decisão
sobre a porta de entrada do sistema de justiça. Eu acredito no modelo
externo de Ouvidoria para qualquer instituição pública. [...] isso vai desde a
efetiva possibilidade de desencastelamento e da criação de alternativas
institucionais a partir de novas referências que não apenas o Jurídico.
Então a gente passa a ter o planejamento institucional a partir de novas
vivências de mundo muito mais atreladas ao cotidiano real das pessoas que
buscam aquela instituição do que a ordem jurídica posta seja nas
instituições, sejam na faculdade de Direito. (Luciana Zaffalon, Diário de
Entrevista, 17/01/2015).

Nesta fala, a Ex Ouvidora-Geral explicita que o fato do Ouvidor ser externo, ou seja,
não ser membro da DPESP além de ajudar no controle social, faz com que haja um
arejamento institucional a partir de seu olhar que não é apenas jurídico: a Ouvidoria externa
que é a porta de entrada do sistema de justiça torna-se mais democrática, à medida em que
42

leva em consideração novos olhares, novos pontos de vista e não somente o ponto de vista do
Direito.

Na mesma linha de raciocínio, Alderon Costa25, que é o atual Ouvidor Geral da


DPESP, diz:

Um aspecto importante é que o fato do Ouvidor não ser do sistema de


justiça faz com que ele tenha capacidade de entender melhor o usuário não
pela via jurídica, mas pela via social, da necessidade, por outras vias, é
importante a gente frisar isso em algum momento. (Alderon Costa, Diário de
entrevista, 15/02/2015)

Ao ser questionado sobre a importância do caráter externo do Ouvidor Geral, diz:

[...] eu acho que uma coisa muito importante e que tem que ser valorizada é
o contato com os movimentos sociais... não só com os movimentos sociais
relacionados à moradia e população de rua com os quais eu tenho muito
contato, mas com todos os movimentos, a própria comunicação foi um
grande aprendizado na OCAS, que me ajudou a manter contatos com
movimentos sociais e a fazer a articulação desses movimentos. ( Alderon
Costa, Diário de entrevista, 15/02/2015).

Outro aspecto importante do perfil para o cargo de Ouvidor externo apontado por
Alderon Costa, é o fato do Ouvidor ter contato e ter facilidade em articular diferentes
movimentos sociais.

Outra característica do modelo externo de Ouvidoria é o Conselho Consultivo que é


formado por representantes de entidades e organizações sociais comprometidas com os
princípios norteadores da DPESP. Desta forma, podemos concluir que o Conselho Consultivo
da Ouvidoria-Geral, da forma como é integrado26, oferece um olhar externo à DPESP,
facilitando assim, a escuta e o acolhimento das demandas levadas pela sociedade civil à
Instituição.

25
Alderon Costa, foi eleito para o cargo de Ouvidor Geral da DPESP na gestão 2014-2016. Ele é formado em
Filosofia e Comunicação Social com especialização em jornalismo. Ele foi fundador e editor do Jornal ‘O
Trecheiro”. Foi sócio fundador da Organização Civil de Ação Social (OCAS) e participa desde 1983 de um
movimento que está se construindo com a população de rua. Sua candidatura para o cargo de Ouvidor Geral teve
o apoio da Rede Rua, entidade que trabalha na defesa dos direitos das pessoas em situação de rua.
26
O Conselho Consultivo é composto por 11 (onze) membros efetivos e 11 (onze) suplentes, todos
representantes de entidades e organizações sociais comprometidas com os princípios e atribuições da Defensoria
Pública, conforme o §2º, artigo 39 da LC 988/2006.
43

Em 2009 foi sancionada a Lei Complementar Federal (LCF 132/2009). Esta Lei
alterou dispositivos da Lei Federal nº 1.060/1950 (que estabelecia normas para a assistência
judiciária aos necessitados) e da LCF 80/1994 (que organizou a Defensoria Pública da União,
do Distrito Federal e dos Territórios) e prescreveu normas gerais para a sua organização nos
Estados. A LCF 132/2009 foi importante para as Ouvidorias de todo o Brasil, pois incorporou
o modelo externo de Ouvidoria capitaneado pelo Estado de São Paulo, estendendo o modelo
externo para todo o país ao dispor sobre o perfil do Ouvidor-Geral. De acordo com o artigo
105-B, o Ouvidor-Geral deverá ser pessoa de reputação ilibada e não integrante da carreira.

Além da alteração do perfil do Ouvidor-Geral, se compararmos a LCE 988/2006 com


a LCF 132/2009, nota-se mais um avanço: há mudanças na forma de escolha do Ouvidor
Geral. A LCE 988/2006 previa que a escolha do Ouvidor-Geral seria feita em duas etapas: a
primeira etapa, com a elaboração da listra tríplice e a segunda etapa com a escolha do Ouvidor
pelo Governador. A LCF 132/2009 inovou ao alterar a forma de escolha do Ouvidor-Geral ao
estabelecer que ela seria realizada em três etapas: formação da lista tríplice, escolha do
Ouvidor-Geral pelo Conselho Superior da Defensoria Pública e a nomeação que deve ser
realizada pelo Defensor Público Geral do Estado.

Este aspecto da escolha ser feita pelo Conselho Superior e não pelo Governador é
relevante, pois evita que a pessoa a tomar o cargo de Ouvidor-Geral seja escolhida de forma
política, ou ocupe o cargo para atender aos anseios ou fins políticos.

É importante observar que, embora haja um avanço da LCF 132/2009 ao incorporar


o perfil externo de Ouvidor-Geral para as Defensorias e alterar a sua forma de escolha, não há
nenhuma menção nesta Lei, quanto à implantação do Conselho Consultivo.

No que se refere ao lugar ocupado pela Ouvidoria-Geral dentro da estrutura da


DPSP, houve um retrocesso. A LCE 988/2006, prevê no artigo 36, que a Ouvidoria-Geral é
órgão superior da DPSP. Já a LCF 132/2009 prevê no artigo 105-A que a Ouvidoria-Geral é
órgão auxiliar da Defensoria Pública.

Quanto à posição que a Ouvidoria-Geral deve ocupar na Defensoria Pública,


acreditamos que, a LCF 132/2009, embora seja uma Lei Federal, ela apenas prescreve normas
gerais de funcionamento para as Defensorias Públicas, e como a LCE 988/2006 é anterior e
mais específica, não há que se falar em conflito de normas. Neste caso, a Ouvidoria-Geral
deverá prevalecer como Órgão da Administração Superior da DPESP.
44

Como vimos, o Estado de São Paulo foi o primeiro Estado a implementar o modelo
externo de Ouvidorias no âmbito da Defensoria Pública.

De acordo com o site da DPESP27 os Estados que adotaram o modelo externo de


Ouvidoria no âmbito da Defensoria Pública são: Acre, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso,
Paraná, Rio Grande do Sul, e o Distrito Federal.

Os Estados que não seguem o modelo externo de Ouvidoria nas suas Defensorias
Públicas, previsto na LC 132/2009, é o estado da Paraíba.

De acordo com Cardoso (2013, p. 1), se compararmos as instituições do sistema de


Justiça no Brasil com as instituições dos poderes executivo e legislativo, podemos verificar
que o público alvo da prestação jurisdicional nunca contou com qualquer espaço de diálogo
ou possibilidade de fiscalização das funções do Estado nesta seara. Neste sentido, a criação da
Ouvidoria-Geral da DPESP foi de extrema importância para a promoção da participação
social dentro da gestão da DPESP. A esse respeito, Cardoso (2014, p. 3) é bastante explícita:
a função primeira da Ouvidoria Externa é incrementar a aproximação da sociedade civil com
a Defensoria Pública.

Cabe, desta forma, concluir que o modelo de Ouvidoria Externa descortina um novo
conceito de instituições do sistema de justiça no Brasil: um modelo de gestão democrática,
baseado na participação da sociedade civil.

2.3 A Defesa do Modelo Externo de Ouvidoria – A PEC 45/2009 e a ADI 4.608

Ao examinarmos as características do modelo externo de Ouvidoria, podemos


verificar que, embora este modelo pareça, de certa forma, promissor no sentido de ampliar a
participação social dentro das Defensorias Públicas, nota-se o surgimento de algumas ações
judiciais movidas contra este modelo.

Podemos destacar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 45/09. Esta PEC que
tramita no Senado, foi proposta pelo Senador Renato Casagrande, com 31 Senadores
signatários. Ela já foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) e

27
A lista dos Estados que possuem Ouvidoria Externa está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5485>, acessado em 23 de setembro de 2014.
45

as discussões já foram encerradas em primeiro turno. Atualmente a PEC encontra-se na CCJC


para apreciação das novas emendas incorporadas nos debates do primeiro turno.

O texto da PEC acrescenta o inciso XXIII ao artigo 37 da Constituição Federal. Caso a


PEC seja aprovada, o artigo 37 terá a seguinte redação:

Art. 37, XXIII – As atividades do sistema de controle interno da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a que faz
referência o art. 74, essenciais ao funcionamento da administração
pública, contemplarão em especial as funções de ouvidoria,
controladoria, auditoria governamental e correição, e serão
desempenhadas por órgãos de natureza permanente, e exercidas por
servidores organizados em carreiras específicas na forma da lei.28
(Grifos nossos)

Os dois trechos destacados da PEC são contrários aos anseios da sociedade civil à
própria razão de ser da Ouvidoria Externa da DPESP à medida em que: i) descaracteriza sua
função precípua que é a de controle externo sobre a Instituição da qual faz parte (no caso em
tela, a Defensoria Pública) e ii) nega o direito à sociedade civil de indicar seu representante (o
Ouvidor-Geral), na medida em que aduz que essas funções devem ser desempenhadas por
“servidores organizados em carreiras específicas, na forma da lei”. Ora, se o modelo externo
de Ouvidorias é sustentado justamente por Ouvidor “de reputação ilibada, não integrante da
Carreira”29, para não haver interferências de ordem corporativa nos trabalhos da Ouvidoria, a
inclusão de um servidor concursado da instituição como Ouvidor-Geral, certamente acabaria
com o modelo de gestão independente e autônoma das Ouvidorias.

A justificativa apresentada pelos senadores para a elaboração da PEC é a de que “as


frequentes irregularidades e ineficiências denunciadas na Administração Pública nacional tem
como uma de suas causas mais essenciais a ausência de um mecanismo estruturado e eficaz de
controle”.30

28
O Conteúdo da PEC 45/09 está disponível em: <
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=93534>, acessado em 24 de setembro de
29
Artigo 105-B, Lei Complementar 132/2009, disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp132.htm>, acessado em 24 de setembro de 2014.
30
O Conteúdo da PEC 45/09 está disponível em: <
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=93534>, acessado em 24 de setembro de
2014.
46

Pode-se depreender, de acordo com a justificativa apresentada para a elaboração da


PEC 45/09, que os senadores ignoram ou talvez desprezem a eficiência dos órgãos de controle
externo.

Concluímos, no entanto, que a aprovação da PEC, da forma como foi elaborada, seria
catastrófica para o modelo externo de Ouvidorias, uma vez que: transformaria as Ouvidorias
em órgãos de controle interno, negando à sociedade civil o direito de escolher o Ouvidor-
Geral, acabaria com a autonomia do Ouvidor, fato que certamente acabaria com o modelo
externo, independente e autônomo de Ouvidorias.

Os efeitos vislumbrados para as Defensorias Públicas caso a PEC seja aprovada seriam
a diminuição da participação popular dentro da Instituição, acarretando também na perda de
um importante meio de controle social e de fiscalização sobre a atividade das Defensorias e a
perda da capacidade de inovação, reestruturação, e de compreensão das
demandas/necessidades do público alvo.

Ainda sobre essa mesma questão, tramita no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta
de Inconstitucionalidade ADI nº 4.60831 contra o modelo externo de Ouvidoria. A ação foi
proposta pelo Partido Social Liberal (PSL). O PSL questiona a legalidade do modelo externo
de Ouvidorias e pede que seja declarada a ilegalidade dos artigos 105-B e 105-C da LC
80/1994, com a nova redação dada pela LC 132/2009.

O Requerente da ação postula que não cabe à União Federal estabelecer normas de
competência dos Estados, dentre elas, normas referentes à Defensoria Pública. A Requerente
alega ainda que cabe à União apenas a fixação de normas e de princípios gerais, cabendo aos
Estados, Municípios e Distrito Federal apenas a aplicação dessas normas. No tocante ao cargo
de Ouvidor-Geral (que pela Lei 132/2009) deve ser exercida por “pessoa com reputação
ilibada e não integrante dos quadros da Defensoria”, o postulante alega que o cargo é de
origem técnica e não política, e defende que os artigos em questão são inconstitucionais.

O posicionamento da Advocacia Geral da União na ADI 4.608 é de que uma das


características atinentes ao cargo de Ouvidor-Geral é a imparcialidade, sendo assim, a escolha
do Ouvidor-Geral, realizada pela formação da lista tríplice pela sociedade civil se mostra

31
Ação Direta de Inconstitucionalidade, disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp?id=1195667&tipo=TP&descricao=ADI%2F4608,
acessado em 24 de setembro de 2014.
47

razoável. Desde outubro de 2014 a ADI 4.608 está aguardando julgamento; ela está conclusa
ao Relator, que é o ministro Gilmar Mendes.
48

CAPÍTULO 3. Os Ciclos de Conferências da Ouvidoria da Defensoria Pública de São


Paulo

3.1 Mecanismos de Participação da DPESP

Observamos que a preocupação com os mecanismos de participação e controle social


acompanham a DPESP desde a sua criação. Esses mecanismos de participação social existem
em diferentes formas no dia-a-dia da DPESP.

Uma dessas formas de participação social é o momento aberto, que acontece em


todas as reuniões do Conselho Superior da DPESP. Nas reuniões do Conselho Superior
acontecem comunicados de atos realizados por Defensores, como participação em Congressos
e Simpósios; acontecem as votações de processos administrativos da DPESP, processos que
versam desde pedidos de afastamento de servidores, pedidos de aprovação de estágios
probatórios de Defensores Públicos até a aprovação do Plano Anual da DPESP, desde que,
garantida a participação popular, conforme artigo 31, inciso XIX da LCE 988/2006. 32

O momento aberto é um espaço de participação que é disponibilizado para que as


pessoas se manifestem, depois da abertura de cada sessão do Conselho Superior da Defensoria
Pública. As pessoas que quiserem se manifestar sobre as políticas, sobre as pautas ou
processos que serão discutidos naquela sessão ou quaisquer atividades da instituição devem
realizar a sua inscrição e terão direito de se manifestar durante cinco minutos. As reuniões são
semanais, e acontecem todas as sextas-feiras, são transmitidas ao vivo pelo canal da
Ouvidoria Geral da Defensoria Pública de São Paulo no Youtube33 e as gravações podem ser
acessadas tanto no canal do Youtube quanto no site da DPESP34. A realização do momento
aberto está prevista no artigo no artigo 29, inciso V do Regimento Interno do Conselho
Superior da DPESP e no artigo 29, §4º da LCE 988/2006, onde se lê “nas sessões públicas
será franqueada a palavra a qualquer pessoa ou membro ou servidor da Defensoria Pública”.

A Ouvidoria-Geral estimula a participação popular no momento aberto que é uma


importante ferramenta de participação social dentro da DPESP, pois aproxima a população da

32
Sobre a competência de deliberação do Conselho Superior da DPESP, ver LCE 988/2006, artigo 31.
33
As sessões do Conselho Superior podem ser vistas ao vivo no canal do Youtube “Ouvidoria-Geral Defensoria
Pública de São Paulo”.
34
O endereço do site da DPESP para acessar as sessões do Conselho Superior ao vivo por streaming ou
gravadas é: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2877>, acesso em 15 de janeiro de
2015.
49

instituição, fazendo com que haja um canal aberto com o Conselho Superior para o
encaminhamento das demandas, críticas, sugestões e assuntos de interesse do público alvo da
população atendida pela DPESP.

O momento aberto, foi, recentemente, palco de uma grande conquista: a pedido do


Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito, do Instituto Luiz Gama e da
própria Ouvidoria-Geral após inúmeros debates, houve a aprovação, pelo Conselho Superior,
da política de cotas étnico-raciais nos Concursos da DPESP: 20% (vinte por cento) das vagas
nos concursos para ingresso na carreira de Defensor Público serão reservadas para negros e
indígenas.

Embora o Momento Aberto seja de extrema importância para que a sociedade civil
acompanhe as deliberações sobre processos de seu interesse, fiscalize e dialogue diretamente
com o Conselho Superior - que é o órgão deliberativo máximo da DPESP, recentemente
entrou na pauta para debate um processo que trouxe a questão da transparência das
deliberações nas sessões do Conselho Superior.

Trata-se do Processo Administrativo de nº 5001/1 de 2014 em 12/09/2014, que


propõe a Regulamentação de Julgamentos Virtuais de Processos Administrativos no âmbito
do Conselho Superior da DPESP. O proponente do processo é Bruno Ricardo Miragaia
Souza, membro do Conselho Superior da DPESP. O proponente aduz que grande parte da
pauta das sessões do Conselho Superior são tomadas por processos administrativos que não
demandam grandes discussões, tais como pedidos de afastamento ou aprovação de estágios
35
probatórios, e que o Julgamento Virtual destes processos aceleraria as pautas do Conselho
Superior, garantindo a duração razoável do processo. Na prática, o Julgamento Virtual faria
com que alguns processos não fossem analisados nas sessões abertas do Conselho Superior da
DPESP, o que poderia resultar na falta de transparência do processo de votação das pautas e
na dificuldade dos cidadãos e da própria Ouvidoria Externa em realizar a accountability das
decisões e atos da DPESP.

35
No Julgamento Virtual dos processos não haverá a necessidade dos membros do Conselho Superior se
reunirem para deliberar sobre uma matéria que está sob votação, eles deverão proferir o voto por meio
eletrônico. Não dispomos de informações de como seria esta votação (se um turno ou dois, se haveria sessão de
votação) se a decisão deveria ser fundamentada, se o conteúdo dos processos a serem votados, e as decisões
seriam abertas ao público, se haveria prazo para recorrer, dentre outras informações relevantes, pois o processo
Administrativo que propõe a Regulamentação de Julgamentos Virtuais não nos fornece maiores informações
neste sentido. Sabe-se que, se ele for aprovado, o Conselho Superior vai deliberar sobre a Regulamentação do
Julgamento Virtual, mas não se sabe de que forma isso deverá ocorrer (com ou sem a participação social).
50

Antes mesmo deste processo Administrativo entrar em pauta, eu já havia verificado


por meio das entrevistas realizadas que o Momento Aberto estava correndo o risco de sofrer
restrições:

[...] a gente tem que restringir o momento aberto, porque a sessão acaba
ficando meio improdutiva. Sabe, passa muito tempo, e as pessoas não sabem
muito bem e ficam falando... e não dá tempo pra gente apreciar a nossa
pauta. (Entrevistado (i), Diário de Entrevista, 06/01/2015).

Com base no Relato do Entrevistado (i), procurei dados sobre a participação no


Momento Aberto para verificar quem participa deste mecanismo de participação. Os dados
disponíveis correspondem ao período de 2010 à 2014. Vejamos:

Gráfico 1

Participações no Momento Aberto


284

149

110

58 65 57
43 49
36 29
13 2 14 17 22 9 17
6

2010 2011 2012 2013 2014 Total

Sociedade Civil Servidoras e Servidores Defensoras e Defensores

Fonte: Relatório de Gestão da Ouvidoria da DPESP 2010-2014 (os dados relativos ao ano de 2014
são referentes a três meses).

Como podemos verificar, o gráfico expressa a participação no Momento Aberto nos


anos de 2010 a 2014. Observando ano a ano, o único ano em que a participação da sociedade
civil ultrapassou a participação dos servidores e dos Membros (Defensoras e Defensores) da
DPESP foi no ano de 2012. Em todos os outros anos a participação dos Defensores e
51

Defensoras no Momento Aberto superou a participação tanto da sociedade civil quanto dos
servidores.

Caso este processo seja aprovado haverá a relativização da transparência na votação


dos processos pelo Conselho Superior. Hoje, todas as deliberações do Conselho acontecem de
forma transparente, em caráter público, com o acompanhamento da sociedade civil nas
sessões, seja pessoalmente, seja através da internet. Caso este processo seja aprovado, alguns
processos irão passar a ser votados de forma virtual, dificultando o acesso para que a
sociedade possa acompanhar ou fiscalizar, ou seja, sem que a sociedade possa fazer vista
destes processos ou até mesmo participar de sua votação.

Outro problema é o fato de se abrir margem para uma discricionariedade no sentido


do Conselho Superior definir quais processos serão votados por meio virtual ou não. A priori,
a petição aduz que apenas os processos que dependem de requisitos objetivos para serem
votados devem ser objeto de Julgamento Virtual. Porém, permitir que alguns processos
entrem na pauta de julgamento virtual pode abrir precedentes para que processos de maior
envergadura, que demandam maiores discussões ou de grande interesse social também
entrem, inclusive processos como este, que versam sobre a transparência dos atos e
deliberações do Conselho Superior.

O Processo Administrativo de nº 5001/1 de 2014 indicado acima foi para a pauta no


dia 16/01/2015 e nesta ocasião eu e mais três pessoas utilizamos o Momento Aberto para
requerermos o indeferimento deste processo ou a abertura de consultas públicas para o debate
do assunto. Porém, este processo não foi debatido porquê o Conselheiro Relator estava de
férias e até agora este processo não retornou para a pauta do Conselho Superior, e ainda não
há previsão de retorno à pauta.

Outra forma de participação da sociedade civil é a Consulta Pública. A Consulta Pública


consiste na abertura de um espaço pelo Conselho Superior, para que o público possa
contribuir com sugestões sobre temas e sobre propostas de atuação elaboradas pela DPESP.
Podemos citar como exemplo de Consulta Pública a consulta que fora realizada pela DPESP
no mês de julho de 2014, sobre a possibilidade de criação da função de Coordenador (a) de
Habitação, Urbanismo e Questões Agrárias nas Unidades da Defensoria. A Consulta Pública
é divulgada pela nas unidades da DPESP, pela internet, no sítio eletrônico da DPESP (no
campo Ouvidoria-Geral) e nas redes sociais da DPESP. A Consulta Pública fica aberta
52

durante um período de tempo para que a população possa participar. Essa participação deve
ser formalizada por meio de cartas ou e-mails.

Existem ainda as Audiências Públicas que são reuniões promovidas pela Defensoria Pública,
onde ela convoca a população, integrantes dos Núcleos Especializados, profissionais e
especialistas sobre o tema da audiência para discutir aspectos práticos e sugestões de atuação
para a DPESP. Podemos citar como exemplo de audiência pública, a reunião que foi realizada
em Novembro de 2014 sobre a Violência Obstétrica.36 Nesta ocasião, houve uma audiência
pública com integrantes da Ouvidoria-Geral, da EDEPE, do Núcleo de Promoção e Defesa
dos Direitos da Mulher da DPESP, da Escola Superior do Ministério Público do Estado de
São Paulo (ESMPSP), de associações de proteção às mulheres, de profissionais da área
médica, e de mulheres vítimas de violência obstétrica. Esta audiência pretendeu informar a
população sobre este tipo de violência que ocorre com as mulheres durante o parto, discutindo
diversos temas relacionados, tais como direitos reprodutivos da mulher, o excesso de
cesarianas no país, o parto humanizado e como as mulheres podem garantir seus direitos com
a ajuda da DPESP e do MP.

A LCE 988/2006 prevê a realização de encontros anuais de Defensores para a definição de


teses institucionais. As teses institucionais abrangem estratégias de atendimento e lembram
súmulas de Tribunais: tem o propósito de aprimorar as atribuições institucionais e uniformizar
os entendimentos ou teses jurídicas. A LCE 988/2006 prevê, ainda, que cabe aos Núcleos
Especializados da DPESP, além de outras atribuições, estimular a troca de
experiências/intercâmbio entre os Defensores Públicos, para a elaboração dessas teses. A
competência para a organização do encontro anual dos Defensores para a leitura, debate e
definição das teses institucionais é da Escola da Defensoria Pública (EDEPE), órgão auxiliar
da DPESP. Como exemplo de tese institucional, podemos citar a tese nº 45/200837, que foi
proposta pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Essa tese fixa o
entendimento na DPESP sobre a “Impossibilidade de utilização de ações possessórias em caso
de não cumprimento da função social da propriedade”. A tese acima pode ser ilustrada com
um caso hipotético, no qual uma comunidade tenha se apropriado de um terreno vago, sem
uso, há mais de um ano e um dia para a construção de moradias: caso esta comunidade venha

36
A chamada para a Audiência Pública está disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Conteudos/Noticias/NoticiaMostra.aspx?idItem=52711&idPagina=1&fla
Destaque=V>, acessado em 22 de novembro de 2014.
37
A Tese Institucional n. 45/2008 está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5144>, acessado em 22 de novembro de 2014.
53

a ser acionada judicialmente e procure a DPESP, os Defensores, de posse dessa tese, saberão
previamente como lidar com este caso, uniformizando os atendimentos e, de certa forma,
criando um protocolo de atendimento.

Embora não haja previsão legal que fundamente a participação social na definição das
teses institucionais, é importante dizer que a proposição de teses institucionais não está
restrita apenas aos defensores públicos: a Ouvidoria-Geral fomenta a participação popular
neste tipo de proposição. Desta forma, a DPESP, por meio da Deliberação CSDP n. 120,
artigo 4º, §1º38 instituiu participação popular para a definição das teses institucionais. As
entidades, movimentos e organizações da sociedade civil poderão, por sua vez, elaborar
propostas de teses institucionais por meio da Ouvidoria-Geral, que deverá analisar o aspecto
formal e material das propostas e então, encaminhá-las para a EDEPE. Este fato denota uma
tentativa de alinhamento institucional da DPESP com a participação social.

Desde o ano de 2007 a Defensoria Pública realiza Conferências. Estas Conferências


acontecem a cada dois anos e elas tem o objetivo de receber as pessoas interessadas em
propor e discutir propostas de atuação para a Defensoria Pública. Estas Conferências são
realizadas em Ciclos que são compostos por duas fases: primeiramente são realizadas as Pré-
Conferências. As pré-conferências são regionais e em cada sessão é eleito um certo número de
pessoas (designados como Delegados) e estes delegados deverão participar da segunda etapa,
que consiste na Conferência Estadual, onde poderão votar em um determinado número de
propostas que irão compor o Plano de Atuação da Defensoria Pública.

No próximo subcapítulo trataremos de forma mais detida os Ciclos de Conferências,


que é o objeto de estudo do presente trabalho.

3.2 Os Ciclos de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

A realização dos Ciclos de Conferências promovidos pela Defensoria Pública está


prevista no artigo 6º, inciso III da LCE 988/2006. Este artigo prescreve que um dos direitos
das pessoas que buscam atendimento na Defensoria Pública é o de participar na definição de

38
A Deliberação CSDP n. 120, está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Conteudos/Materia/MateriaMostra.aspx?idItem=30317&idModulo=8410
>, acessado em 22 de novembro de 2014.
54

suas diretrizes institucionais, bem como na fiscalização e das atividades e condutas dos
membros e servidores da DPESP. O §3º do artigo 6° da LCE 988/2006 complementa que o
direito de participar das diretrizes da instituição será efetivado através da Conferência
Estadual e das Pré-Conferências Regionais da Defensoria Pública, do Plano Anual de
Atuação da Defensoria Pública e da Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública. Nesse sentido, as
Pré-Conferências e a Conferência Estadual têm o objetivo de:

garantir às Cidadãs, aos Cidadãos e aos Movimentos Sociais e populares a


participação na definição das diretrizes institucionais da Defensoria e o
acompanhamento das ações e projetos desenvolvidos pela Instituição, bem
como garantir a elaboração participativa de seus planos anuais.39

Dessa forma, os Ciclos de Conferências são ferramentas que promovem a abertura de


espaços democráticos de diálogo, favorecendo participação dos destinatários dos serviços da
Defensoria Pública, tais como: sociedade civil, movimentos sociais organizados, ativistas,
fundações, pesquisadores e acadêmicos para que estes possam debater de forma coletiva sobre
as diretrizes que irão guiar a atuação da Instituição, sugerindo melhorias e contribuindo para
a elaboração de propostas que devem servir de base para a elaboração do Plano Anual de
Atuação da Defensoria.

É interessante observar que, além dos Ciclos de Conferências se apresentarem como


espaços democráticos de participação, eles têm a prerrogativa de agir como mecanismos de
controle social, à medida que devem favorecer a fiscalização e o monitoramento das ações da
DPESP.

Os Ciclos de Conferências são iniciados pelas Pré-Conferências, que são regionais, ou


seja, são realizadas nas cidades do Estado de São Paulo onde a Defensoria Pública está
organizada. No próximo capítulo veremos de forma mais detida o funcionamento das Pré-
Conferências e como acontece na prática a participação, fiscalização e o monitoramento das
ações da DPESP.

39
Relatório de Gestão da Ouvidoria da Defensoria Pública - 2010-2014, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf>,
acessado em 01 de outubro de 2014.
55

3.3 A Construção da Metodologia dos Ciclos de Conferências

A realização dos Ciclos de Conferências da DPESP completou (8) oito anos. No ano
de 2015 será realizado o V Ciclo de Conferências da DPESP. É interessante observar que o
formato dos Ciclos de Conferências, no que refere às etapas de realização sempre foi o
mesmo. Os Ciclos de Conferência congregam a sociedade civil (movimentos sociais e
cidadãos), Advogados, Agentes Públicos, membros e servidores da DPESP e são divididos
em: (i) Pré-Conferências (que acontecem no nível regional) e (ii) Conferência Estadual (que
ocorre na cidade de São Paulo) e

Porém, com relação à metodologia utilizada nos Ciclos (quanto aos grupos temáticos,
números de propostas aprovadas por eixo), ela sofreu alterações desde a sua primeira versão
em 2010. De acordo com as entrevistas realizadas com servidores que faziam parte da
estrutura da DPESP na época da implantação dos Ciclos de Conferências, houve uma grande
evolução do I e II para o III e IV Ciclos no que se refere a metodologia dos Ciclos, vejamos:

[...] eu nunca tinha trabalhado no Estado, eu cheguei lá e tinha umas


demandas para atender, mas a instituição tinha três, quatro meses de
criação. Eu cheguei lá e a primeira coisa que eu fiz foi ir num sábado para a
Conferência Estadual e não tinha gente. Chegaram em mim e falaram: você
ajuda e você organiza o que tem que organizar. Eu estava há muito pouco
tempo na DPESP, e eu nem sabia muito bem o que estava acontecendo. Sem
entender a função daquilo. E a Participação Social sempre foi vista como
um ponto chave da Defensoria. Então criamos uma marca ali, mas só que
esta primeira foi um teste, pelo pouco que eu vi, nós não tínhamos um
método, você tinha uma ânsia, uma vontade de fazer as coisas e falamos:
“nós estamos aqui abertos para receber as demandas da população.
(Entrevistado (ii), Diário de Entrevista, 14/01/2015).

Segundo Luciana Zaffalon:

O que aconteceu no primeiro Ciclo é que na primeira Conferência a


Defensoria ainda era muito novinha, então foi uma congregação de esforços
de pessoas e foi uma realização muito mais orgânica, que dependeu muito
dos esforços, da disposição e da energia de todos ali presentes. Mas
aconteceu e foi muito produtivo. (Luciana Zaffalon, Diário de Entrevista,
17/01/2015).
56

Com base nos trechos das entrevistas acima, podemos verificar que pelo fato da
instituição ser recente, o primeiro Ciclo foi marcado por uma metodologia muito simples, e
pela presença dos esforços e disposição das pessoas presentes para tirar do papel e concretizar
os Ciclos de Conferências.

Já no segundo ciclo pode-se observar o início da construção de uma metodologia mais


clara baseada nos Ciclos de Conferências de Direitos Humanos promovidas pelo Governo
Federal.

No segundo Ciclo você começa a ter um acúmulo maior de experiências e


informações para a melhoria da metodologia, inclusive por conta das
experiências dos Ciclos Nacionais das Conferências de Direitos Humanos,
então o segundo Ciclo dialoga com os Ciclos de Conferências de Direitos
Humanos promovidos pelo Governo Federal. Luciana Zaffalon, Ouvidora
Geral (Gestão 2010-2012 e 2012 e 2014, Diário de Entrevista, 17/01/2015).

A partir do terceiro Ciclo podemos observar que houve um avanço na metodologia dos
Ciclos de Conferências da DPESP e o desenho da metodologia que é utilizada hoje em dia.
Vejamos:

[...] eu acompanhei mais de perto o terceiro e o quarto ciclo, esses dois


ciclos já tiveram uma metodologia reformulada com base nas experiências
metodológicas dos Ciclos de Conferências de Segurança Pública, ou seja,
nós tivemos não só nos Ciclos da Defensoria, mas no país como um todo um
avanço na metodologia dos Ciclos de Conferências e a Defensoria
acompanhou esse avanço e dialogando na terceira e quarta conferências
com o segundo Ciclo de Conferências de Segurança Pública. Luciana
Zaffalon, Diário de Entrevista, 17/01/2015).

3.4 As Pré-Conferências Regionais

A realização da Conferência Estadual é precedida pela realização das Pré-


Conferências. Estas Pré-Conferências são realizadas nas unidades regionais da DPESP, e são
importantes na medida em que acolhem as propostas elaboradas de acordo com a realidade de
cada região. As propostas que são aprovadas nas Pré-Conferências Regionais, são remetidas à
Conferência Estadual, onde passam por uma plenária final. As propostas aprovadas ao fim
57

desta Plenária são enviadas ao Conselho Superior, que deve analisar e aprovar as propostas
que farão parte do Plano de atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

De acordo com a Deliberação do Conselho Superior da Defensoria Pública - CSDP nº


36/200740, artigo 2º, §5º: “sugere-se a participação de pelo menos 50% (cinquenta por cento)
dos municípios abrangidos pela área geográfica das Defensorias Públicas Regionais”. De
acordo com Rosier Batista Custórdio, Assessora Técnica do Gabinete da Primeira
SubDefensoria (Rosier Batista Custódio, Diário de Entrevista, p. 01, 06/02/2015) na prática,
atualmente todas as Regionais estão realizando as pré-Conferências, ou seja, 100% da área
Geográfica é abrangida pelas Pré-Conferências. De acordo com a CSDP 36/2006, artigo 3º,
§1, cabe à Comissão Organizadora da Conferência Estadual (COCE) articular com cada
Defensoria Regional do Estado a realização das pré-Conferências; de acordo com a CSDP,
artigo 2º, §7, o local deve ser de fácil acesso e contar com boa infraestrutura.

Após a definição dos locais em que serão sediadas as Pré-Conferências, é realizado um


trabalho de divulgação da Defensoria Pública e do Ciclo de Conferências, onde a instituição
busca a mobilização da sociedade para que a mesma participe das Conferências. Na prática,
esta divulgação é feita pelo próprio Defensor Coordenador de cada unidade. Nota-se que não
há uma uniformização de divulgação nas Regionais, e a Assessoria de Imprensa da DPESP
quase não participa desta divulgação, a não ser pelo fato de colocar as informações das Pré-
Conferências no site da DPESP e preparar os materiais (como cartazes e folhetos) que devem
ser distribuídos pelo Coordenador de cada Regional.

Antes de das Pré-Conferências começarem a DPESP manda um mailing com as datas


e locais das reuniões das Pré-Conferências, mas nota-se que é difícil para o cidadão entender
qual é a Regional para qual ele deve ir.

As Pré-Conferências seguem uma metodologia estabelecida na Deliberação do CSDP


n.º 36/200741, e, para entendermos melhor como ocorre cada Pré-Conferência, explicaremos
etapa por etapa.

No dia agendado para ocorrer a Pré-Conferência, a primeira etapa é a de acolhimento


42
dos participantes. Este acolhimento é feito por meio da inscrição, que é realizada por meio

40
A Deliberação CSDP nº 36/2007, está disponível em:
<Http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/Delibera%C3%A7%C3%A3o%20CSDP
%20n%C2%BA%2036_02.03.2007%20%28Consolidada%29.pdf, acessada em 01 de outubro de 2014>.
41
A Deliberação CSDP nº 36/2007 sofreu alterações em diversos artigos pela Deliberação CSDP n.º 116 de
Março de 2009, que modificou e atualizou a metodologia dos Ciclos de Conferências.
58

de formulário específico, onde o participante indica o eixo temático que irá participar, de
acordo com o seu interesse.

De acordo com a Deliberação CSDP n.º 36/2007 a regra é que após a etapa de
inscrição, deve ser realizada a abertura da Pré-Conferência. Neste momento é formada a mesa
diretora. As autoridades componentes da mesa diretora darão as boas-vindas aos presentes e
indicarão a metodologia a ser empregada nos trabalhos a serem realizados.

Depois da abertura da Pré-Conferência, é realizada a divisão dos participantes em


eixos temáticos, para que os trabalhos possam ser feitos de forma organizada e para que cada
grupo possa discutir, formular, priorizar e encaminhar suas propostas para votação. Os eixos
temáticos foram divididos em: Cidadania, Direitos Humanos e Meio Ambiente; Combate à
Discriminação, Racismo e Preconceito; Direitos do Consumidor43; Direitos do Idoso e da
Pessoa com Deficiência44; Habitação, Urbanismo e Conflitos Agrários; Infância e Juventude;
Política Institucional e Educação em Direitos45; Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher e
Situação Carcerária.

Após a elaboração de propostas pelos grupos de trabalhos, os participantes


interessados poderão se inscrever para concorrer ao cargo de Delegado. A tarefa do Delegado
é a de participar da Conferência Estadual, mais especificamente nos grupos de trabalho e na
Plenária final, onde terá direito a voz e voto.

Depois da etapa de inscrição dos Delegados, há a reunião plenária de apresentação e


votação das propostas, onde um representante de cada eixo temático irá expor as propostas
que foram elaboradas por seu grupo e estas propostas serão fixadas em um painel visível a
todos os participantes da Pré-Conferência. Neste momento, de acordo com a metodologia
apresentada no momento da abertura dos trabalhos, os participantes da plenária poderão

42
De acordo com a Deliberação CSDP nº 36/2007, Capítulo II, artigo 2º, §1º: “ Participam da Conferência
delegados, observadores e convidados, sendo considerado: a) Delegados: aqueles que forem eleitos nas pré-
conferências, e, portanto, tem direito a voz e voto; b) Observadores: qualquer pessoa que tenha efetuado a
inscrição nesta modalidade, observado o número de vagas definidos pela Comissão Organizadora, tempo apenas
direito a voz; c) Convidados: aqueles que forem convidados pela Comissão Organizadora, tendo apenas direito a
voz.” Grifos nossos.
43
O eixo temático “Direito do Consumidor” foi criado no início do III Ciclo de Conferências.
44
O eixo temático “Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência” foi formado no início do III Ciclo de
Conferências, com a junção dos grupos: “Idoso” com “Direitos Humanos, Saúde e Pessoas com Deficiência”, em
virtude das demandas destes grupos serem muito similares. Paralelamente a isso foi criado o grupo temático
“Cidadania, Direitos Humanos e Meio Ambiente”.
45
No início do III Ciclo de Conferências foi realizada a junção do grupo temático “Políticas Institucionais” com
o grupo “Educação em Direitos”, formando apenas um grupo temático denominado “Política Institucional e
Educação em Direitos”.
59

escolher e votar nas propostas. Deverão ser aprovadas 20 propostas, sendo que é garantida a
aprovação de pelo menos uma proposta por eixo temático.

Após a votação das propostas, é realizada uma nova plenária. Nesta nova plenária
deverão ser escolhidos os Delegados que participarão da Conferência Estadual. Conforme a
deliberação do CSDP nº 36/2007, havendo mais interessados do que o número de vagas, o
preenchimento das vagas deverá seguir o critério de 60% (sessenta por cento) de vagas serão
destinadas para membros da sociedade civil e 40% para pessoas da área pública. A eleição é
feita mediante votação entre todos os participantes da Pré-conferência. O Delegado que for
eleito deverá participar da Conferência Estadual, terá direito a voz e a voto nos grupos de
trabalho e na plenária final de votação das propostas.

Depois da eleição dos Delegados é realizado o encerramento da Pré-Conferência. As


autoridades da mesa diretora deverão, obrigatoriamente, redigir um relatório consolidando
todas as propostas aprovadas nesta pré-conferência, juntamente com os nomes dos delegados
eleitos e remetê-las para a COCE, de acordo com os prazos estipulados, e servirá de subsídio
para a realização da Conferência Estadual.

3.5 A Conferência Estadual

A Conferência Estadual encerra o Ciclo de Conferências, ou seja, é a conferência final


do Ciclo de Conferências. Todas as propostas que foram aprovadas nas Pré-Conferências “são
submetidas à ratificação pela plenária da Conferência Estadual, sujeitas a eventuais
ressalvas”.46

O funcionamento da Conferência Estadual é disciplinado em um documento


intitulado: “Regimento Interno dos Ciclos de Conferências”. O Regimento Interno é na
verdade um documento que compila alguns trechos da Deliberação CSDP nº36/2007, com o
intuito de disciplinar o andamento da Conferência. A cada nova Conferência este documento
é reeditado sob os mesmos moldes, a única coisa alterada é o número do Ciclo de Conferência
a que o documento se refere.

46
Página 46 do Relatório de Gestão da Ouvidoria da Defensoria Pública - 2010-2014, disponível em
<http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf>,
acessado em 01 de outubro de 2014.
60

De acordo com o Regimento Interno47, devem participar da Conferência Estadual os


Delegados eleitos nas pré-conferências, observadores, servidores e membros da Defensoria
Pública de São Paulo.

A Conferência Estadual divide-se em dois momentos complementares: Grupos de


Trabalho48 e Plenária.

Os Grupos de Trabalho são divididos de acordo com os eixos temáticos que são os
mesmos das Pré-Conferências, sendo coordenados e moderados por dois Defensores Públicos
e a relatoria das propostas será realizada por dois servidores da DPESP, tanto os Defensores
como os Servidores serão escolhidos pela Comissão Organizadora da Defensoria Pública e
deverão, preferencialmente, fazer parte do Núcleo Especializado da DPESP49 correspondente
ao Eixo Temático que irão participar.

Entendemos que é interessante fazer uma consulta com a sociedade civil e com os
movimentos organizados para verificar até que ponto é interessante a participação dos
Defensores Públicos nos grupos de trabalho: por um lado, a participação dos Defensores
Públicos pode ser benéfica, eles podem aproveitar este momento no grupo de trabalho para
contribuir com as discussões das propostas, agregando à discussão um olhar interno, o olhar
de quem trabalha dentro da DPESP; este momento é importante também para que o Defensor
Público se aproxime da sociedade e possivelmente se sensibilize com as demandas da
população que necessita dos serviços da DPESP. Por outro lado, é possível que a presença do
Defensor Público possa afetar os trabalhos, de forma que haja algum tipo de direcionamento
na escolha das propostas ou interferências nos debates.

47
O Regimento Interno do III Ciclo de Conferência está disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/Regimento%20III%20Confer%C3%AAncia.pdf>, acessado
em 01 de outubro de 2014.
48
Grupos de Trabalho nesse caso tem o mesmo sentido que Grupo Temático, ambos são usados nos documentos
dos Ciclos de Conferências como sinônimos. Podemos verificar que em muitos documentos observa-se também
o uso da expressão “eixo temático”.
49
Uma das atribuições da Defensoria Pública de São Paulo é realizar a prevenção de conflitos mediante
atividades pedagógicas voltadas à transferência de conhecimento jurídico à população, é o que a instituição
chama de “Educação em Direitos”. Para isso, a DPESP criou os Núcleos Especializados de caráter permanente,
em áreas temáticas com maior grau de vulnerabilidade no que se refere à violação de direitos. Estes Núcleos
além de trabalharem em projetos ligados à Educação em Direitos, e outras atribuições legais, são responsáveis
por organizar e implementar as propostas aprovadas nos seus respectivos eixos temáticos. Atualmente a DPESP
conta com nove (9) Núcleos Especializados, são eles: Cidadania e Direitos Humanos; Infância e Juventude;
Habitação e Urbanismo; Segunda Instância e Tribunais Superiores; Situação Carcerária; Combate à
Discriminação Racismo e Preconceito; Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher; Direitos do Idoso e Direitos
do Consumidor.
61

Os Grupos de Trabalho são compostos por participantes50, observadores, delegados,


servidores e membros da DPESP. O objetivo destes grupos é o de discutir as propostas
aprovadas nas Pré-Conferências, não sendo possível a alteração do conteúdo das propostas,
apenas “a reformulação na forma dos textos”51

Cada Grupo de Trabalho escolhe, por meio de votação, 10 (dez) propostas, dentre
todas as propostas aprovadas nas Pré-Conferências. Ao final da escolha das 10 (dez)
propostas, o Grupo de Trabalho deverá eleger, dentre os Delegados, um Relator, cuja função
será a de apresentar as propostas aprovadas na Plenária.

A Plenária da Conferência Estadual é constituída por todos os delegados,


observadores, servidores, membros da DPESP e será presidida pelo Defensor Público Geral
do Estado, auxiliado pelos Subdefensores Públicos-Gerais, pelo Diretor da Defensoria Pública
e pelo Ouvidor-Geral da Defensoria Pública que exercerá a vice-presidência dos trabalhos,
auxiliados por representantes da Sociedade Civil (que deverão ser indicados pelo Conselho
Consultivo da Defensoria Pública).52

Após a abertura da Plenária pela mesa Diretora, o Relator de cada Grupo de Trabalho
realiza a leitura das 10 (dez) propostas aprovadas por seu respectivo grupo.

Depois da apresentação das propostas, os interessados poderão argumentar no sentido


de rejeitar53 qualquer proposta. Cada Grupo de Trabalho poderá apresentar até 4 (quatro)
manifestações de rejeição.

Após as manifestações, cada Delegado poderá votar em até 9 (nove) propostas, do


total de 90 apresentadas pelos Grupos de Trabalho.

O resultado final da votação será composto por 50 (cinquenta) propostas classificadas


de acordo com a votação.

É importante observar que, durante o intervalo entre as duas Etapas da Conferência


(Grupos de Trabalho e Plenária) são disponibilizados formulários para que os participantes

50
Os participantes e observadores terão direito a voz e não terão direito a voto, conforme a deliberação CSDP nº
36/2007, artigo 25, parágrafo único
51
Artigo 6º, § 2º do Regimento Interno do III Ciclo de Conferência.
52
Artigo 18, inciso IX, da Deliberação CSDP nº 36/2007.
53
O Regimento Interno, Artigo 22, §1, aduz que a rejeição pode se dar por inconstitucionalidade ou por afronta
às normas da DPESP.
62

elaborem moções.54 A moção é uma das formas através das quais os participantes presentes
na Conferência Estadual podem informar a Ouvidoria Geral da DPESP quantos aos problemas
e falhas na organização do evento. As moções podem ser de propositura também, onde o
participante pode propor que seja realizada determinada melhoria nos Ciclos de Conferências,
contribuindo assim, para o aperfeiçoamento deste mecanismo de participação social.

3.6 Os Ciclos de Conferências e a Implementação das Propostas Aprovadas

Como vimos anteriormente, os destinatários dos serviços da Ouvidoria, possuem o


direito “à participação na definição das diretrizes institucionais da Defensoria Pública”. 55 E
esta participação, de acordo com a LCE 988/2006, deverá se efetivar por meio da realização
das Pré-conferências e da Conferência Estadual.

O Artigo 7º da LCE 988/2006, prevê que a DPESP deverá publicar Plano Anual de
Atuação (PAA), cuja elaboração deverá ser precedida pela realização de Conferência Estadual
e de Conferências Regionais, realizadas a cada dois anos.

O artigo 31 da LCE 988/2006, reforça a importância dos Ciclos de Conferências, à


medida em que garante a ampla participação popular, em especial de representantes de todos
os conselhos estaduais, municipais e comunitários, de entidades, organizações não
governamentais e movimentos populares na elaboração de propostas que servirão de subsídio
para o PAA.

As Conferências são de extrema importância para as Diretrizes da DPESP, pois elas


conclamam a sociedade civil para que sejam elaboradas propostas de atuação para a DPESP.
Ao final de cada Ciclo de Conferências são colhidas as propostas aprovadas e estas propostas
devem ser encaminhadas ao Conselho Superior, que irá deliberar e aprovar o PAA, devendo
levar em consideração as conclusões e reivindicações advindas dos Ciclos de Conferências.
Assim que o PAA é aprovado, cabe aos Órgãos da DPESP, tais como os Núcleos
Especializados e a Ouvidoria-Geral cuidarem para que as diretrizes propostas nele, sejam
implementadas.

54
Moção: Qualquer manifestação que envolva estrutura, funcionamento e a organização dos Ciclos de
Conferências da Defensoria Pública do Estado, conforme artigo 27, §3 do Regimento Interno da Conferência
Estadual da DPESP.
55
Artigo 6º, inciso III, da Lei Complementar 988/2006.
63

Percebe-se, desta forma, o esforço da DPESP e da Ouvidoria-Geral em


instrumentalizar a participação dos destinatários dos serviços da DPESP no processo de
construção do plano de atuação, legitimando-o perante a sociedade civil.

Após a aprovação das propostas e posterior aprovação do Plano de Atuação da


DPESP, a deliberação CSDP nº 4956 prevê que a Comissão Permanente de Monitoramento
das Conferências (CPMC) averigue as ações concretas, reúna documentos e produza
relatórios sobre a implementação das propostas e diretrizes aprovadas.

Cabe também à sociedade civil participar do monitoramento da implantação das


propostas, exercendo seu direito e dever de controle como cidadão.

3.7 A Pesquisa Empírica

Neste tópico relataremos os resultados da pesquisa empírica. A pesquisa quantitativa


foi realizada para que se pudesse ter uma dimensão da participação e do controle social na
elaboração de políticas institucionais da Defensoria Pública de São Paulo. A primeira parte da
pesquisa comparou os resultados – as propostas aprovadas - dos Ciclos I, II e III com os
Planos Anuais de Atuação 2007/200957, 2009/201158 e 2012/201359. O intuito é o de verificar
se as propostas estão sendo efetivamente inseridas nos PAA. A segunda parte da pesquisa
empírica comtempla o levantamento de todas as 362 propostas aprovadas nos 3 ciclos de
Conferências e levanta dados sobre a implementação das propostas.

O Plano Anual de Atuação – Incorporação das Propostas Elaboradas pela Sociedade Civil
nos Ciclos de Conferências.

Foi realizado o levantamento dos PAAs elaborados desde a realização do primeiro


Ciclo de Conferências, quais sejam: 2007/2009, 2009/2011 e 2012/2013. Em paralelo a isso,

56
Deliberação CSDP nº 49, disponível em:< http://bit.ly/CSDP-49>, acessado em 25 de setembro de 2014.
57
Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2- CSDP 1060-09
I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 9 de outubro de 2014.
58
Os Planos Anuais de Atuação 2007/2008 e 2009/2011, foram obtidos por meio de solicitação em formulário
(SIC) disponível no site da Ouvidoria, com fundamento na LAI – Lei de Acesso à Informação (12.527/2011) e
disponibilizados dentro do prazo legal.
59
Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em 09 de
outubro de 2014.
64

fizemos o levantamento de todas as propostas aprovadas nos I, II e III Ciclos de


Conferências.60 Como resultado da análise conjunta dos PAAs com as Propostas Aprovadas
nos Três Ciclos de Conferências realizados, foi observado que houve de fato a incorporação
de todas as propostas das Conferências pelos PAAs. No que se refere ao PAA de 2007/2009,
há que se ressaltar que houve a inclusão de 99% das propostas aprovadas no Ciclo I de
Conferências, sem, no entanto, que fosse realizada qualquer alteração no conteúdo das
propostas. As propostas que não foram inseridas no PAA foram as propostas inviáveis. Por
inviáveis, entende-se que são as propostas que versam sobre ações que não fazem parte da
atribuição da DPESP.

No que se refere ao PAA de 2009/2011, que contemplou as propostas aprovadas no


II Ciclo de Conferências, “houve a necessidade da realização da compilação dos enunciados,
para que fossem transformadas em metas institucionais”.61 O referido Plano de Atuação
explica passo a passo a metodologia utilizada para a compilação:

[...] a compilação se deu de forma a se reunir as propostas semelhantes,


agrupamento de propostas em anunciados principal mais subtópicos;
transferência de uma área para outra por motivos de pertinência temática
(...). Supressão de sugestões extremamente pontuais, limitadas ao território
ou comunidade específica, bem como daquelas consideradas inviáveis em
razão de escaparem às atribuições legais da Defensoria Pública de São
Paulo. Foi realizada, ainda, alteração na redação de boa parte das
proposições, inclusive para conferir ao documento coerência, concisão e
unidade [...]62

No entanto, faz uma ressalva:

[...] não obstante as significativas alterações, cumpre ressaltar que a


definição das metas abaixo não representa a desconsideração das propostas
iniciais [...] cabe insistir que não houve a exclusão das propostas, mas tão

60
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
61
Página 65, do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2- CSDP
1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 9 de outubro de 2014.
62
Página 65 e 66 do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em< Plano de atuação 2009 - 2- CSDP
1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 09 de outubro de 2014.
65

somente a sistematização das conclusões extraídas do II Ciclo, para permitir


melhor compreensão e monitoramento.63

Percebe-se, comparando-se as propostas aprovadas no II Ciclo de Conferências com


o PAA de 2009/2011, que realmente houve uma significativa alteração na redação das
propostas, com a aglutinação das propostas sobre o mesmo tema. Conclui-se, no entanto, que
1% (um por cento) das propostas aprovadas não foram inseridas no PAA por serem
consideradas inviáveis.

Quanto ao PAA de 2012/201364, que agregou as propostas do III Ciclo de


Conferências, observou-se que houve uma maior organização na sua apresentação. Isso
porque, esse PAA apresenta dois capítulos. O primeiro com as propostas elaboradas no III
Ciclo de Conferências, separados por eixos temáticos, que conta com a as ações a serem
realizadas para a implementação de cada proposta. O segundo, agrega todas as propostas
formuladas diretamente pela Administração Superior da DPESP, destinadas à melhor
estruturação, aperfeiçoamento e ampliação da atuação jurisdicional.65

Aqui é interessante observar que no próprio PAA nota-se a clara divisão entre as
demandas formuladas pela Administração Pública e as demandas formuladas pela sociedade a
partir dos Ciclos de Conferências.

De acordo com a pesquisa realizada, comparando-se as propostas aprovadas nos


Ciclos de Conferências I, II e III com os seus respectivos Planos de Atuação de 2007/2009,
2009/2011 e 2012/2013, concluímos que os PAAs agregam 99% das propostas (diretrizes)
elaboradas pela sociedade civil através do I, II e III Ciclos de Conferências. Houve a exclusão
das propostas de ações que não fazem parte da atribuição da DPESP, ou seja, propostas
consideradas inviáveis.

63
Páginas 65 e 66 do Plano de Atuação da DPESP, 2007/2009, disponível em: < Plano de atuação 2009 - 2-
CSDP 1060-09 I_DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL Copy.pdf>, acesso em 09 de outubro de 2014.
64
Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em 09 de
outubro de 2014.
65
Página 1, do Plano de Atuação 2012/2013, disponível em: < Plano de Atuação - 2012-2013.pdf>, acessado em
09 de outubro de 2014
66

A Implementação das Propostas

Como explicitado no Capítulo Metodológico, os dados para a elaboração dos gráficos


de monitoramento de implantação das propostas foram extraídos do Relatório de
Monitoramento.66

O Relatório de Monitoramento é um documento elaborado pela Comissão Permanente


de Monitoramento das Conferências (CPMC), e a sua elaboração é obrigatória, estando
prevista no artigo 105 C, inciso III, da LCF 132/2009.

De acordo com o Relatório de Monitoramento, o total de propostas aprovadas nos


Ciclos I, II e III foi 362, sendo que elas estão divididas em: 140 propostas aprovadas no Ciclo
I, 172 propostas aprovadas no Ciclo II e 50 propostas aprovadas no Ciclo III.

Observa-se uma grande diferença no número de propostas aprovadas em cada Ciclo de


Conferência, comparando-se os ciclos I, II e III. É importante observar que a notável
diferença entre o número de propostas aprovadas no Ciclo I e II para o Ciclo III, não se deve à
diminuição no número de propostas elaboradas nas Conferências, mas sim à imposição de um
limite no número de propostas a serem aprovadas nas Plenárias Finais das Conferências
Estaduais. De acordo com a presente pesquisa, nos Ciclos I e II não havia um limite de
propostas a serem aprovadas na Plenária Final da Conferência Estadual. A partir do III Ciclo
houve a limitação no número total de propostas a serem escolhidas na Plenária final. O
número de propostas foi fixado em 50. A fixação no número de propostas foi realizada no
Regimento Interno do III Ciclo de Conferências67 e já foi colocada em prática na Plenária
final da Conferência Estadual deste Ciclo. Por meio de entrevista realizada com Servidor da
DPESP, pudemos verificar que uma das causas para a fixação no número de propostas a
serem aprovadas na Conferência Estadual para 50 propostas foi o tempo e aplicabilidade
destas propostas. Vejamos:

[...] quando a Luciana entrou como Ouvidora e quando chegou o Ciclo de


2011 a Administração já estava com mais de duzentas propostas
acumuladas....então ficou aquela dúvida: então só vale agora as propostas

66
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
67
Sobre a fixação no número de propostas aprovadas ver artigo 26 do Regimento Interno do III Ciclo de
Conferências, disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/Regimento%20III%20Confer%C3%AAncia.pdf>, acessado
em 10 de outubro de 2014.
67

do segundo Ciclo, pois do primeiro já passou? Porquê para eles começou a


ficar impraticável! Daí veio a Administração Superior dizendo: não dá pra
gente cumprir todas as propostas! Daí a Luciana Zaffalon68 e a Paula
Balesteros falaram: “A Sociedade Civil é Soberana o que aprovou está
aprovado! A Defensoria vai ter que prestar contas sobre o que se cumpriu e
o que não se cumpriu. Precisamos ver de fato que para este próximo Ciclo
não dá para se comprometer com tanta proposta....a Defensoria não vai ter
pernas para isso, a sociedade civil tem que compreender isso, mas então a
gente vai pactuar, vai limitar? (Entrevistado (i), Diário de Entrevista,
06/01/2015).

De acordo com a nossa pesquisa encontramos também uma manifestação da Ex-


Ouvidora Geral no processo do Conselho Superior de n.º 1.060 de 200969 sugerindo a
participação da sociedade para a reavaliação da metodologia a ser utilizada na construção de
novas propostas e no encaminhamento das propostas já elaboradas. No Relatório de Gestão de
201270, consta que a fixação no número de propostas para 50, foi realizada com base nas
Conferências Nacionais de Segurança Pública (CONSEGS), que trouxeram para os Ciclos de
Conferências da DPESP um maior refinamento metodológico.

Tanto a manifestação da ex Ouvidora-Geral, como o relato do Servidor da DPESP


sugerem que partiu da Ouvidoria Geral a iniciativa de propor a alteração na Metodologia dos
Ciclos de Conferências. Restou claro que o número de propostas a serem aprovadas na
Conferência Estadual foi fixado em 50 para viabilizar e garantir a implantação das propostas
aprovadas, dentro do período de dois anos, que é o prazo entre uma realização de um Ciclo de
Conferência para o outro.

Os estudos da implementação das propostas aprovadas foram feitos com base nos
dados brutos do Relatório de Monitoramento produzido pela Comissão Permanente de
Monitoramento da Conferências71. Nos gráficos, as propostas são denominadas como:
Propostas Implementadas, que agrupa as propostas/enunciados já efetivados; Parcialmente
Implementadas (refere-se a propostas sobre questões permanentes, que já sofreram

68
Luciana Zaffalon foi Ouvidora Geral na gestão 2010-2012 e 2012-2014 e atualmente é Conselheira do
Conselho Consultivo da DPESP, mandato 2015-2016.
69
O processo 1.060/2009 versava sobre a Aprovação do Plano Anual de Atuação.
70
Relatório de gestão 2012, disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2013.04.03_Relatorio2012_Final_OG.pdf,
acesso em 14 de Janeiro de 2015.
71
Relatório de Monitoramento dos Ciclos I, II e III disponível em: <
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=5619>, acessado em 25 de setembro de 2014.
68

intervenções institucionais, porém demandam ações contínuas) e Não Implementadas


(propostas não efetivadas, não colocadas em prática).

Gráfico 2

I Ciclo de Conferências
160
140
140
120
100
100
80
60 44
40 28 33 31,42
20 16
20 13 9 3 9 8 12 9 6 7
0 5 6
0

Aprovadas Implementadas

Fonte: Elaboração própria, com base no Relatório de Monitoramento. 72

O Gráfico 2 mostra o número de propostas aprovadas e o número de propostas


implementadas por grupo temático do Ciclo I. Observa-se que de um total de 144 propostas,
44 ou 31,42% foram implementadas. Cabe salientar que o grupo temático “Direitos do
Consumidor” não foi representado no gráfico pois este Grupo Temático ainda não havia sido
criado.

72
Os gráficos foram elaborados a partir dos dados brutos extraídos do Relatório de Monitoramento elaborado
pela Comissão Permanente de Monitoramento das Propostas das Conferências.
69

Gráfico 3

II Ciclo de Conferências
200
180 172
160
140
120 100
100
80 72
60 42 41,86
40 26 29 22 29
19 13 12
20 9 2 11 9 8 9 3 1
0

Aprovadas Implementadas

Fonte: Elaboração própria, com base no Relatório de Monitoramento.

O Gráfico 3 mostra o número de propostas aprovadas e o número de propostas


implementadas por grupo temático do Ciclo II. Observa-se, que do total de 172 propostas
aprovadas, 72 propostas foram implementadas, ou seja, 41,86%. Da mesma forma que no
caso anterior, não há menção no gráfico sobre o Grupo Temático “Direitos do Consumidor”,
pois este Núcleo ainda não havia sido criado.
70

Gráfico 4

III Ciclo de Conferências


120
100
100

80

60 50

40 28
20 14
7 4 0 8 5 8 8 7 4 2
0 2 1 3 3 2 0 0
0

Aprovadas Implementadas

Fonte: Elaboração própria, com base no Relatório de Monitoramento.

O Gráfico 4 mostra o número de propostas aprovadas e o número de propostas


implementadas por grupo temático do Ciclo III. Observa-se, que do total de 50 propostas
aprovadas, 14 propostas foram implementadas, ou seja, 28%.

A Comparação dos Gráficos 2,3 e 4 nos permite observar, em um primeiro momento que:

- do Ciclo I para o Ciclo II houve um aumento de aproximadamente 10% no número de


propostas implementadas;

- do Ciclo II para o Ciclo III, houve uma diminuição de aproximadamente 14% no número de
propostas aprovadas.

O Gráfico a seguir, apresenta, comparativamente e em porcentagem, as propostas


implementadas, parcialmente implementadas e não implementadas dos 3 Ciclos de
Conferências, vejamos:
71

Gráfico 5:

Monitoramento da Implementação das


Propostas (Porcentagem %)

60 56
Número de Propostas

50 43,57 41,86 43,02


40 31,42
28
30 25
20 15,11 16

10
0
Ciclo I Ciclo II Ciclo III
Ciclos de Conferências

Implementadas Parcialmente Implementadas Não Implementadas

Fonte: Elaboração própria, com base no Relatório de Monitoramento.

Pode-se observar que o número de propostas parcialmente implantadas se manteve


estável do Ciclo I para o Ciclo II, mas do Ciclo II para o Ciclo III houve um aumento no
número de propostas parcialmente implantadas da ordem de 13%.

Em contrapartida o número de propostas não implementadas caiu, se compararmos o


Ciclo I (25%) com o Ciclo II (15,11%). O Ciclo III apresentou uma taxa de propostas não
implementadas da ordem de (16%), portanto, se mantendo estável se comparado com o Ciclo
III.

No Gráfico 6, foi realizado um panorama das propostas implementadas, parcialmente


implementadas e não implementadas dos três Ciclos de Conferências, vejamos:
72

Gráfico 6:

Panorama dos Ciclos I, II e III:


Distribuição das 362 Propostas
0

69

130

163

Implementadas Parcialmente Implementadas Não Implementadas

Fonte: Elaboração própria, com base no Relatório de Monitoramento.

Vejamos em porcentagem, para termos uma clareza melhor do cenário atual de


implantação das propostas:

Das 362 propostas aprovadas nos Ciclos de Conferências:

- 130 propostas ou 35,91 % foram implementadas

- 163 propostas ou 45,02% das propostas foram parcialmente implementadas;

- 69 propostas ou 19,06% das propostas não foram implementadas.

Podemos verificar que, embora o número de propostas aprovadas (em comparação


do Ciclo I com o Ciclo III) tenha sofrido drástica diminuição (de 140 propostas para 50),
houve um aumento no número de propostas parcialmente implementadas. O número de
propostas não implementadas se manteve estável, se compararmos os Ciclos II e III.

Em se tratando de garantia de participação da sociedade civil na definição de


diretrizes institucionais da DPESP o cenário ideal é o de que todas as propostas que foram
73

aprovadas nos três Ciclos de Conferências sejam efetivamente implementadas ou seja, que
sejam colocadas em prática, mas não é isso o que foi evidenciado pelos gráficos.

Se somarmos o número de propostas parcialmente implementadas, com o número de


propostas não implementadas, temos o total 232 ou aproximadamente 64,08%, ou seja,
apenas 35,91% das propostas foram efetivamente implementadas, um pouco mais de um terço
de todas as propostas aprovadas.
74

4. A Participação Social no III e no IV Ciclos de Conferências

Embora no que se refere ao estudo da implementação das propostas, não tenhamos


inserido as propostas referentes ao IV Ciclo, utilizaremos os dados de participação do III e do
IV Ciclo73 para traçarmos o perfil dos participantes e se houve aumento ou diminuição na
participação nos Ciclos. Usaremos como base para a análise da participação social nas
Conferências o Relatório de Gestão74.

Este documento aponta que o total das pessoas inscritas do Ciclo III para o Ciclo IV
aumentou de 1.437 para 1.513. Porém, quando se compara o desempenho individual de cada
uma das regionais, observa-se que houve refluxo de participação em 12 regionais. (Relatório
de Gestão da Ouvidoria da DPESP, 2010-2014, p. 49).

Apenas 3 Regionais apresentaram aumento na participação. As Pré-Conferências que


apresentaram aumento na participação foram as que congregam as Regionais: Central
Criminal e Infância e Juventude da Capital, a Regional Leste da Capital, e no interior a
Regional do Vale do Ribeira. (Relatório de Gestão da Ouvidoria da DPESP, 2010-2014, p.
50). Quando indaguei o Entrevistado (i) sobre as possíveis causas do aumento de participação
nestas três Regionais, ele diz:

Na Regional do Vale do Ribeira nós temos um Defensor que faz um trabalho


maravilhoso de divulgação. Já na Regional Leste a gente não sabe porque
que teve esse aumento de participação. Supomos que seja porque na véspera
da pré-Conferência (que estava marcada para ser na USP-Leste) teve um
problema de contaminação. Então o que aconteceu: como iria mudar o
lugar da pré conferência, soltaram mil comunicados, ligaram para as
pessoas comunicando que ia mudar o lugar das pré conferências, e que a
conferêcia não ia mais ser na USP leste e que ia ser na própria Defensoria.
Eu acho que este contato ativo foi mais convidativo para as pessoas
participarem. (Entrevistado (i), Diário de entrevista, 06/01/2015).

73
Nos Ciclos I e II não havia uma organização da DPESP no sentido de haver um monitoramento de quem
participava dos Ciclos. A partir do III Ciclo a metodologia foi aperfeiçoada e as pessoas que participam dos
Ciclos de Conferências devem preencher uma ficha com nome, profissão, se faz parte de movimentos sociais ou
não, entre outros dados relevantes.
74
Relatório de Gestão 2010-2014 está disponível em:
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Repositorio/23/Documentos/2014_06_05_Relatorio-OG-2010-14.pdf,
acesso em 15 de janeiro de 2015.
75

Quanto ao aumento de participação no Vale do Ribeira, André Kehdi, membro do


Conselho Consultivo e Presidente do IBCCRIM, salienta: O Defensor Coordenador dessa
Regional faz um trabalho fantástico junto à comunidade, ele faz um trabalho bem forte de
divulgação, e isso fez toda a diferença na participação (André Kehdi, Diário de Entrevista,
06/01/2015).

No Ciclo III o número de participantes da sociedade civil foi inferior ao número de


agentes da Defensoria em 5 Regionais; já no IV Ciclo o número de participantes da sociedade
civil foi inferior ao número de agentes da Defensoria em apenas 2 Regionais; (Relatório de
Gestão da Ouvidoria da DPESP, 2010-2014, p. 57).

O Número de Delegados eleitos procedentes da Sociedade Civil ficou abaixo do


número previsto em 4 Regionais no Ciclo III, e em 4 Regionais no Ciclo IV. (Relatório de
Gestão da Ouvidoria da DPESP, p. 2010-2014, p. 54).

No III Ciclo o número de Delegados eleitos seguiu o número previsto em cada


regional, já no IV Ciclo a Regional Norte-Oeste da Capital elegeu dois Delegados a menos do
que deveria: era prevista a eleição de nove Delegados e foram eleitos sete. (Relatório de
Gestão da Ouvidoria da DPESP, 2010-2014, p. 54).

Nota-se ainda no Relatório que há a sugestão de que seja revisto o número de


delegados a serem eleitos em cada regional. (Relatório de Gestão da Ouvidoria da DPESP, p.
58-60, 2010-2014). O número de Delegados a serem eleitos em cada regional é fixado pela
Deliberação CSDP n. 36/2007. O número de delegados é fixado com base na população de
uma determinada região, e como a deliberação que fixa o número de delegados foi publicada
em 2007, supõe-se que ela não está atualizada nem de acordo com o censo populacional de
2010.

Ao fim do Relatório de Gestão da Ouvidoria da DPESP, frisou-se que em apenas 3


regionais houve aumento de participação, mas que se isolarmos as regionais em que houve o
aumento da participação das regionais restantes, no cômputo geral houve um claro refluxo na
participação social do III para o IV Ciclos de Conferências (Relatório de Gestão da Ouvidoria
da DPESP, 2010-2014, p. 71).
76

4.1 As Entrevistas

Quem participa ou participou dos Ciclos de Conferências? Quais são suas críticas ao processo
das Conferências?

Conforme aludido na introdução, este capítulo tem como intuito identificar alguns
atores que participam das Conferências seja no âmbito da Sociedade Civil, dos Movimentos
Sociais, seja no âmbito das associações e institutos, tal como IBCCRIM e CONECTAS ou no
âmbito institucional da DPESP (tanto na Ouvidoria Geral, seja no âmbito da Administração
Superior), e identificar através das entrevistas críticas ou apontamentos com relação à
dinâmica dos Ciclos.

Optou-se por sistematizar o conteúdo das entrevistas de acordo com tópicos abordados
pelos entrevistados. De forma a facilitar a leitura e compreensão, nós separamos os tópicos de
forma que seja possível compreender as críticas realizadas.

4.2 O perfil dos Entrevistados

Conforme informado no capítulo introdutório, foram realizadas entrevistas com 14


atores que participam ou participaram dos Ciclos de Conferências. O fator diversidade foi
muito importante na questão das entrevistas, para que se pudesse captar diferentes olhares,
diferentes pontos de vista sobre o objeto estudado, neste caso, os Ciclos de Conferências.
Optei por mapear os atores, traçando a seguinte estratégia: observando os Ciclos de
Conferências e o seu capital social envolvido, foram escolhidos seis perfis de pessoas que são
chaves no processo de realização dos Ciclos de Conferências, são elas: a Sociedade Civil;
Membros da Ouvidoria (nesta posição se enquadram Ouvidores e membros do Conselho
Consultivo); Servidores da DPESP ligados à organização dos Ciclos; Membros da
Administração Superior (Defensor Público Geral e Assessor Técnico); Defensores Públicos
vinculados as Núcleos Especializados e Pessoas que ocupam cargo em Instituições que são
parceiras da DPESP (como Conectas e IBCCRIM).

Uma entrevista foi realizada sob a condição de anonimato, por este motivo, quaisquer
dados que possam identificar o entrevistado foram omitidos. Os dados de outros três outros
77

entrevistados foram omitidos, com o intuito de não os expor de forma inconveniente.

4.3 A Sociedade Civil e a Participação nos Ciclos

Foram entrevistadas duas pessoas oriundas da sociedade civil. Daremos a elas as


seguintes designações: Entrevistado (vi) e Entrevistado (vii).

O entrevistado (vi) é Advogado e Professor Universitário, pós-graduado em Direito e nunca


trabalhou na DPESP, nem na Ouvidoria da DPESP. Ele nunca utilizou os serviços da DPESP
e nunca encaminhou nenhum tipo de solicitação para a Ouvidoria. Ele é membro do Conselho
Nacional do Laicato no Brasil, e as atividades desta Associação convergem com as atividades
da Ouvidoria da DPESP.

Ele nunca participou de outro mecanismo de participação promovido pela DPESP,


pois ele mora no interior e fica difícil conciliar a agenda, por conta das suas atividades
profissionais e da distância.

Ele participou de todo o último Ciclo de Conferências (Ciclo IV), atuou como
Delegado no Eixo de Política Institucional e Educação em Direitos. O que o motivou a
participar foi ter conhecidos pessoas que utilizaram os serviços da DPESP e relataram que não
foram atendidas com humanidade. Ele elaborou uma proposta que foi aprovada na pré-
Conferência mas não foi aprovada na Conferência Final do IV Ciclo, a proposta que ele
elaborou versava sobre a Humanização do Atendimento nas Unidades da DPESP.

Mesmo sua proposta não tendo sido aprovada, ele acompanha pela internet a
implantação das propostas aprovadas no IV Ciclo e informou que recebe informativos da
Ouvidoria da DPESP sobre a implantação das propostas. Quando perguntado sobre o que ele
acha da implantação das propostas, ele informa que não tem conhecimento ainda sobre o
procedimento de implantação, por isso não possui dados para elaborar críticas.
Quando perguntado sobre o que ele acha sobre os Ciclos de Conferências, ele diz: “O
Ciclos são espaços convenientes para o exercício da cidadania, com foco na efetiva
participação do cidadão e empoderamento da instância de decisão, os Ciclos trazem uma
evolução, a melhoria da Defensoria e da Ouvidoria para o bem comum”, (Entrevistado (vi),
Diário de Entrevista, 26/01/2015).
O entrevistado (vii) é Gestor Ambiental e Social e Doutorando. Ele trabalha com
diversas ONGS e projetos, em especial com o Coletivo de Mulheres, de Travestis e de
78

Mulheres Negras. Ele nunca trabalhou na DPESP e nem na Ouvidoria da DPESP. Ele
participou dos Ciclos III e IV sempre como Ouvinte, nunca se inscreveu para Delegado. Ele
participou dos Eixos do Meio Ambiente e Cidadania e Combate à Discriminação, Racismo e
Preconceito. Em uma pré-Conferência, coletivamente ele chegou a colaborar com a
elaboração de uma proposta que foi aprovada na Conferência Estadual do IV Ciclo.

Ele conhece a Ouvidoria da DPESP, e já levou demandas de diversos grupos, como o


dos artesãos, mulheres, catadores, negros e LGBT, ela informou que ficou satisfeito com a
resposta, e quando perguntado sobre a sua relação com a Ouvidoria, ele diz: temos portas
abertas na Ouvidoria! [...] a Ouvidoria é nota mil, é um canal aberto para os movimentos
sociais, (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).
Ele participa de todos os mecanismos de participação disponíveis na DPESP, desde
reuniões, audiências públicas, momento aberto até os Ciclos de Conferências, quando
perguntado sobre sua participação no Momento Aberto ele diz: Sim, quando posso
compareço, e gosto de ter contato com o Defensor Geral do Estado, porém esta gestão é
muito engessada, (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).

Quando perguntado sobre como ele avalia os serviços da Defensoria, ele diz: Muito
bom! O Núcleo de Direitos Humanos é um dos mais eficientes. A Dra. Daniela Scromov, hoje
de licença maternidade e o Dr. Carlos Weiss, foram eficientíssimos e decisivos na ação da
SUTACO (artesãos e artesãs contra o Governo). (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista,
26/01/2015).

O entrevistado mantém relações com diversas associações e movimentos sociais, mas


se considera um ativista autônomo. A ligação dele com a Ouvidoria acontece por meio de
uma parceria, onde ele promove ações afirmativas em parceria com vários movimentos
sociais.

Ele acompanha a implantação das propostas aprovadas nos Ciclos por meio das
reuniões do Conselho.

Quando perguntado se ele tem conhecimento do processo de implantação das


propostas e se ele tem críticas a este processo, ele diz: O papel aceita tudo! A nossa militância
deve organizar-se e tira-las do papel, sem nós nada acontecerá!, (Entrevistado (vii), Diário
de Entrevista, 26/01/2015).
79

Quando perguntada sobre o que ele pensa sobre as propostas elaboradas, sobre seu
caráter obrigatório ou vinculativo ela diz: Não, as propostas são maravilhosas, porém
algumas inatingíveis...por exemplo diminuir a letalidade da Polícia, no quesito do modus
operandi, balas de borracha, truculência, violação de direitos, aumento da morte de jovens
pobres, pretos e periféricos..., (Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).

O entrevistado (vii) mantém contato permanente com a Ouvidoria e com a DPESP, por
todos os meios disponíveis, e-mail, site, telefone.

Quando perguntado sobre a importância do trabalho da Ouvidoria, ele diz: é um


trabalho muito importante, temos alguém que nos representa e que cobra o Estado,
(Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).

Quando perguntado sobre a importância dos Ciclos de Conferências, ele diz:


Imprescindível e importantíssimo, pois é o canal de interlocução entre o povo e o Estado
(Entrevistado (vii), Diário de Entrevista, 26/01/2015).

4.3 A Organização e Divulgação dos Ciclos de Conferências e a sua Repercussão na


Participação Social

As entrevistas foram semi-estruturadas e para que não houvesse um direcionamento do


entrevistado no sentido de fazer com que ele necessariamente critique a metodologia dos
Ciclos de Conferências, a pergunta realizada foi aberta: Qual a sua opinião sobre os Ciclos de
Conferências da DPESP?

Dentro desta pergunta aberta os entrevistados fizeram observações sobre a


metodologia dos ciclos, tais como a forma de convocação da sociedade civil, a participação
social, o prazo para a realização dos Ciclos (a cada dois anos), sobre o número de propostas
aprovadas na Conferência Estadual, dentre outras observações. Dependendo da resposta
oferecida pelo entrevistado, foram feitas perguntas adicionais para tentarmos extrair o
máximo de informações e impressões sobre o assunto abordado espontaneamente pelos
entrevistados.

Como acadêmica e estudante dos Ciclos de Conferências sou inscrita no mailing da


DPESP. Recebo sempre e-mails sobre os trabalhos da DPESP e da Ouvidoria Geral, avisos e
80

convocações para reuniões abertas e para os Ciclos de Conferências. Porém, notei que o e-
mail de convocação para os Ciclos de Conferências não estava claro o suficiente: havia a
simples descrição: “vai começar o IV Ciclo de Conferências” e uma lista com as datas e as
Regionais que iriam receber a sociedade civil para os Ciclos. Alguns itens no mailing de
convocação não estavam claros, tais como: O que são os Ciclos de Conferências? Quais são
os objetivos dos Ciclos de Conferências, a quem se dirige a convocação e para qual regional o
participante deve se dirigir. Acredito que o mailing deveria ser mais didático no sentido de
perceber que nem todas as pessoas que são inscritas para recebê-lo sabem o que são os Ciclos
e para que eles servem.

A partir da minha percepção sobre a fraca divulgação dos Ciclos de Conferências,


indaguei o Entrevistado (i) sobre como era realizada a divulgação dos Ciclos de
Conferências. Segundo ele: cabe à Coordenação local (ao Defensor de cada Regional)
promover a divulgação dos Ciclos de Conferências, (Entrevistado (i), Diário de entrevista,
06/01/2015).

É interessante observar que, teoricamente, a quem caberia auxiliar dos Defensores e


até mesmo a Ouvidoria Externa para a realização da publicidade dos Ciclos de Conferências
é a Coordenadoria de Comunicação Social, que é um órgão que possui um corpo técnico, e
que pode contribuir com a divulgação, com ajuda técnica no sentido de verificar se cada
Coordenador tem um mailing, mandar uma rotina sugestiva para auxiliar os Defensores
Coordenadores a fazer a divulgação, a publicidade dos Ciclos de Conferências. De acordo
com o Entrevistado (i), (...) ficou pactuado na última reunião de monitoramento que a
Ouvidoria e a Coordenadoria de Comunicação irão conversar para verificar estratégias para
estimular os Coordenadores a fazerem a comunicação, para que eles façam uma
comunicação melhor, (Entrevistado (i), Diário de Entrevista, 06/01/2015).

A Ouvidora da Gestão 2010-2012 e 2012-2014 e atual Conselheira do Conselho


Consultivo da DPESP Luciana Zaffalon, traça uma relação muito importante e que deve ser
levada em consideração, qual seja, a relação da dinâmica do Defensor com a Divulgação dos
Ciclos de Conferências e a articulação dos movimentos e a participação social:

[...] Me parecia na verdade que a participação da sociedade civil era


sintoma de um problema que diz assim: esse grupo de Defensores está de
fato dialogando com os usuários de uma determinada região ou ele está se
encastelando? Na medida que nós percebemos um refluxo da participação
81

social a gente pode verificar o afastamento de uma unidade da Defensoria


de políticas sociais de uma determinada região. (Luciana Zaffalon, Diário
de Entrevista, 17/01/2015)

De fato, se formos observar os índices de participação no IV Ciclo, das três Regionais


que apresentaram aumento na participação, duas apresentam esse aumento supostamente com
base na forma de divulgação: a Regional do Vale do Ribeira foi citada por diversas vezes nas
entrevistas realizadas e é reconhecida por fazer um bom trabalho de divulgação dos Ciclos de
Conferências. Outra Regional que apresentou aumento de participação foi a Regional da Zona
Leste. Uma das hipóteses possíveis para o aumento do número de participantes foi o fato de
que, na véspera da realização da pré-Conferência na Zona Leste, foi constatada a
contaminação do Campus da USP Leste, local onde iria ser realizada a pré-Conferência. Pelo
fato do Campus ter sido interditado, foi necessário alterar o local de realização da Pré-
Conferência há poucos dias para a realização da mesma. Houve a necessidade de divulgar o
novo endereço para garantir a presença da população: além de e-mail para avisar as pessoas
sobre a alteração do local da realização da Pré Conferência, os responsáveis pela divulgação
entraram em contato telefônico com os movimentos sociais e com a sociedade civil para
informar o novo endereço. O contato telefônico da DPESP foi uma das hipóteses levantadas
pelo entrevistado (i) para justificar o aumento da participação social na Regional da Zona
Leste:

A gente não sabe porque que teve esse aumento de participação na Regional
Leste. A hipótese levantada é a seguinte: na véspera da pré-Conferência ela
estava marcada para ser na USP Leste - que teve indícios de contaminação.
Então, o que aconteceu: ia mudar o lugar da pré conferência, e a DPESP
soltou mil comunicados, ligaram para as pessoas comunicando que iria
mudar o lugar das pré-Conferências, e que a conferência não iria mais ser
na USP Leste e que ia ser na própria Defensoria. Eu acho que este contato
ativo foi mais convidativo para as pessoas participarem. Geralmente as
divulgações semanais são assim: “Essa semana vai ter tal pré- Conferência
em Itu, Sorocaba e em Santo Amaro.” Até você sacar que é a sua é diferente
de você ligar para a pessoa e avisar: olha, a pré-Conferência vai ser em tal
lugar, ou seja, você lembra a pessoa da conferência e eu acho que isso fez
muita diferença e coincidentemente foi uma regional que subiu a
participação e em todas as outras caiu a participação. (Entrevistado (i),
Diário de Entrevista, 06/01/2015.)

É interessante observar que a questão da divulgação dos Ciclos de Conferências não


parece obter atenção adequada por parte da DPESP. A questão da divulgação é de suma
82

importância, pois afeta todo o processo dos Ciclos de Conferências, desde a etapa de
mobilização, que influencia diretamente no número de participantes, até a etapa de
monitoramento. Quando perguntamos ao membro do Conselho Consultivo Pedro Aguerre
sobre as reuniões de apresentação do Monitoramento dos Ciclos, a questão da divulgação é
aventada novamente:

Ficou muito patente que foi uma apresentação muito ligeira e muito mal
elaborada; houve pouca aderência dos Conselheiros nas regionais e isso
expressa um problema orgânico- institucional. Isso nos faz pensar no papel
das Regionais e no setor de poder da DPESP que articula as Conferências:
eles não se sentem empoderados de interferir nessa outra relação
institucional que é a relação da Defensoria com as Regionais, ou porque
não interessa ou porquê tem alguns problema de falta de um fluxo
institucional de poder emanar diretrizes, de poder manter um diálogo com
as regionais e de manter um monitoramento no sentido de ver quais são as
ações ao longo do ano no que tange a mobilização, formação e o
empoderamento dos representantes, dos Delegados. Nós temos que ter uma
devolutiva do que estas Regionais estão fazendo com relação a implantação
das propostas, então esse foi um ponto muito duro, muito pesado, pois
mostra que a DPESP não tem vontade política de associar o padrão de
desempenho e a boa performance das Regionais à participação...então isso
é um desastre. Onde tem um Defensor que tem essa visão isso vai acontecer
lindamente, por exemplo Vale do Ribeira e Vale do Paraíba são duas
regionais cuja as lideranças da Defensoria Pública já geram toda essa
participação. E outras menos ou estão até mesmo de costas para a DPESP.
(Pedro Aguerre, Diário de Entrevista, 18/01/2015).

Nesta ocasião, o Conselheiro se referiu à participação dos Delegados e da Sociedade


Civil na reunião que ocorreu em dezembro de 2014, até então era a única reunião de
monitoramento que foi realizada após o IV Ciclo.

Por meio da fala do Conselheiro, notamos mais uma vez a associação entre o papel
ativo, entre o desempenho das Regionais com a participação social. Outro ponto importante e
brilhantemente levantado pelo Conselheiro Pedro Aguerre, é o fato das Regionais serem
importantes para o empoderamento75 dos Delegados. Por que é importante? Temos que ter em
mente o fato de que não há mecanismos de participação no Sistema Judiciário Brasileiro: os
Ciclos de Conferências são pioneiros no que se refere à participação social dentro do Sistema
de Justiça Brasileiro, portanto, é necessário que a DPESP como instituição do sistema de

75
O termo empoderamento é derivado da palavra inglesa empowerment e significa: ação coletiva desenvolvida
pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisão, de consciência social dos direitos
sociais. O empoderamento possibilita a aquisição da emancipação individual e da consciência coletiva necessária
para a superação da dependência social e política. Fonte: Dicionário Online Significados.com, disponível em:<
http://www.significados.com.br/empoderamento/>, acesso em 20 de Outubro de 2014.
83

Justiça e promotora do acesso à Justiça incorpore e compreenda a importância da participação


social e esteja disposta a receber as pessoas que querem, podem e devem participar deste
processo. Neste sentido, a importância das Regionais reside no fato de divulgar, conclamar e
mobilizar as pessoas para participarem, apresentando os Ciclos de Conferências como um
mecanismo de participação, explicando qual a sua finalidade e como as pessoas devem se
organizar para participar. André Kehdi, membro do Conselho Consultivo da DPESP e
Presidente do IBCCRIM, reitera a importância do papel das Regionais na questão da
divulgação e participação nos Ciclos:

Eu já participei de muita conferência vazia e de muita conferência lotada.


Então você percebe que faz muita diferença quem está organizando a Pré
Conferência ou seja, quem está convidando. A Unidade de Registro por
exemplo, esta unidade humilha nos números porque tem um Defensor
Público que é muito bom, ele está totalmente articulado com as
comunidades de lá, com os quilombolas. Ele é um cara que trabalha para a
sociedade e com a sociedade [...] O problema de comunicação dos Ciclos de
Conferências é muito sério. Você vê que depende muito do Defensor que
está lá na ponta. Então deveria haver uma outra forma de comunicação, não
só comunicação como convocação para os Ciclos de Conferências. A
Conferência tudo bem, mas a Pré Conferência tem que ter uma melhor
convocação. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015)

4.5 A Qualidade das Propostas e as Propostas Inviáveis: um problema mais complexo

Por meio do estudo realizado no Capítulo II verificamos que cerca de 99% das
propostas aprovadas nos Ciclos de Conferências (I, II e III) são viáveis, ou seja, se coadunam
com as atribuições da DPESP, são passíveis de serem implementadas e foram efetivamente
inseridas no Plano Anual de Atuação. Porém, um fato muito interessante foi observado nas
entrevistas: cerca de 1% das propostas aprovadas nas Conferências são inviáveis, e mesmo
que este número seja baixo, as propostas inviáveis acabaram sendo alvo de observações
espontâneas por mais de 50% dos entrevistados.

Quando perguntei ao Entrevistado (vii) sobre a implementação das propostas dos


Ciclos, o que mais chamou a sua atenção são as propostas inviáveis, vejamos: As propostas
são maravilhosas, porém algumas inatingíveis! Por exemplo: diminuir a letalidade da
Policia, no quesito do modus operandi... balas de borracha, truculência, violação de direitos,
84

aumento da morte de jovens pobres, pretos e periféricos... (Entrevistado (ii), Diário de


Entrevista, 27/01/2015).

O fato das propostas inviáveis serem comentadas durante algumas entrevistas é


interessante porquê como já dito, estas propostas correspondem a apenas 1% do total de
propostas aprovadas nas Conferências Estaduais dos Ciclos.

Não há um consenso ou definição formal da DPESP sobre o que são “propostas


inviáveis”, mas, analisando as falas dos entrevistados, os materiais publicados pela DPESP,
tanto Relatórios como os Planos de Atuação, pude depreender que dois tipos de propostas
podem ser consideradas “inviáveis”: são aquelas propostas que foram aprovadas nos Ciclos de
Conferências, mas que por não versarem sobre assuntos ou questões que fazem parte da
atribuição da DPESP elas não podem ser inseridas no PAA e nem implementadas. Dentro da
seara de “propostas inviáveis”, podemos enquadrar também as propostas genéricas, ou seja,
propostas muito amplas e que não necessariamente fazem parte do rol de atribuições da
DPESP ou de acordo com a sua própria natureza não podem ser implementadas.76

Sobre a questão das propostas inviáveis ou genéricas, André Kehdi, pondera:

Tem um monte de coisa que dá para resolver e se não der para resolver:
para tudo tem uma ação. Então, concordo que existe uma gama muito
grande de pedidos, a gente que faz direito vê direitinho: poxa, isso não é
atribuição da DPESP. Até o Alderon falou assim: está faltando agua em tal
presidio. Eu falei: Isso não é tema para falar em reunião do Conselho. [...]
É assim, as pessoas falam mesmo. Tem pessoas da Defensoria na sala para
explicar como é feita a proposta, e isso deve ser explicado dentro do que o
participante está pedindo. Tem que explicar: isso dá, isso não dá. E me
desculpa, quando você chega na plenária, quase nenhuma proposta é
proposta só da Defensoria, todas envolvem o poder executivo. O processo já
está amadurecendo, então, não vem dizer que não dá, eles usam a exceção
como regra aí. As pessoas usam o argumento das propostas inviáveis como
regra, usam porquê? Usam porque estão fechadas, porque não querem
ouvir. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015).

76
Podemos citar como exemplo de proposta inviável a proposta contida no Plano Anual de Atuação de 2009 sob
a seguinte redação: “ atuar nas regiões de assentamentos, especialmente nos problemas relacionados às linhas de
crédito rural. “
85

Conforme observado, a questão das propostas inviáveis foi muito corrente na


entrevista, por este motivo questionei o Primeiro Defensor Público Geral77, Rafael Português
sobre esta questão:

A própria Instituição como é muito nova, acaba abarcando diversas


expectativas da sociedade civil em relação a vários temas que ela não é
diretamente responsável de acordo com a Constituição: por um lado, se
formos tolher as propostas, isso pode acabar num represamento do debate e
até uma interferência da Instituição neste debate. Por outro lado, me parece
mais razoável deixar este debate correr livremente e após os Ciclos de
Conferências a Instituição prestar um feedback para os Delegados no que se
refere às propostas das Conferências explicando quais propostas podem ser
implantadas e quais propostas não podem. É ideal haver um debate franco
com os delegados para que a gente possa discutir, avançar e evoluir para as
próximas Conferências, e essa evolução se refere tanto a Instituição, na
forma como ela recebe estas propostas, e como aplica, e para o próprio
Delegado, aqueles que já participaram de algumas conferências podem
contribuir na memória das demais conferências. Acho que a construção
dessa memória e estas intercorrências são naturais, e seria pior a gente
enfrentar estes problemas do que deixar como está. (Rafael Português,
Diário de Entrevista, 20/02/2015).

O Assessor Técnico e Membro da Comissão de Monitoramento dos Ciclos de


Conferências Douglas Magami, salientou um ponto importante do processo dos Ciclos de
Conferências com relação às propostas inviáveis:

[...] isso vai ocasionar uma maior maturidade do outro lado até para que as
pessoas possam selecionar melhor as suas propostas, e trabalharem no
sentido de formularem propostas que estão alinhadas com a atribuição
estratégica da instituição, porquê como são poucas as propostas que podem
ser aprovadas, as pessoas vão selecionar melhor, até porque há uma
mensagem simbólica. As pessoas olham a falam “olha, vamos aprovar isso
porque é legal” e vai ter outro grupo que vai falar: “não, vamos elaborar
propostas que eles vão conseguir cumprir do ponto de vista estratégico
orçamentário!” Então eu acho que vai haver um processo evolutivo das
nossas pré-Conferências e consequentemente da nossa Instituição. (Douglas
Magami, Diário de Entrevista, 20/02/2015)

O Entrevistado (ii) ocupou um cargo de Assessor Técnico na Primeira Subdefensoria,


a sua função era a de elaborar os relatórios da Conferência Final, comentou a questão da

77
A Primeira Subdefensoria é um órgão de planejamento técnico da DPESP e de interlocução com diversos
outros órgãos e com a sociedade civil. Uma das atribuições da Primeira Subdefensoria é o Planejamento, a
Organização e a Execução dos Ciclos de Conferências em conjunto com a Ouvidoria Geral.
86

inviabilidade de algumas propostas por não fazer parte da atribuição da DPESP e teceu
comentários também sobre a qualidade da redação das propostas:

Chegou aquela documentação na minha mão e eu falei: Mas tem questões


aqui que não são de atribuição da Defensoria, tem questões aqui que são de
atribuição de outros poderes ou de outras esferas de governo, tem questões
que talvez não sejam reconhecidas pelo gabinete como prioritárias, tem
questões de redação. (Entrevistado (ii), Diário de Entrevista, 14/01/2015)

No que se refere à questão da qualidade da redação das propostas, o atual Ouvidor


Geral da DPESP relaciona uma das atribuições da DPESP que é a educação em Direitos com
a melhoria na qualidade das propostas e dos debates nos Ciclos de Conferências:

Uma das missões que a Defensoria tem e ela não cumpre é a formação
extrajudicial, essa é uma das questões que estamos discutindo e queremos
ver se nós trazemos isso à tona e remodelamos. Todas a unidades deveriam
ter um curso de Defensor Popular, todas as unidades deveriam ter um curso
de Direitos Humanos, todas a unidades deveriam ter um curso de Direitos
da Mulher, de Direitos da Criança e do Adolescente. Eu acho que é um
desafio para nós com a questão da formação, essa formação empodera, essa
formação prepara as pessoas e é claro que isso volta para a Defensoria, e é
claro que é missão da Defensoria. Temos muitos Defensores que sonham
com isso também e a instituição deve cultivar isso nas Unidades. Isso com
certeza vai reverter em uma melhoria da qualidade nos ciclos de
Conferências, na melhoria da elaboração das propostas e na qualidade dos
questionamentos. (Alderon Costa, Diário de Entrevista, 15/01/2015).

A Coordenadora do Núcleo de Promoção dos Direitos da Mulher, Ana Paula, entende


que muitas vezes são construídas propostas que não fazem parte da atribuição da Defensoria,
mas entende que, mesmo que as propostas inviáveis não possam ser cumpridas, elas podem
ajudar de alguma forma a DPESP, vejamos:

Por vezes são construídas propostas que vão além das atribuições da
Defensoria e que a gente sabe que se for daquela maneira (com intervenção,
ou filtro institucional) ela nunca vai ser construída. Não é porque as vezes
nós não consigamos cumpri-la na sua integralidade que ela não tenha que
servir de norte. (Ana Paula, Diário de Entrevista, 03/02/2015)
87

A questão da inviabilidade e da qualidade dos questionamentos é muito importante e


traz consigo uma dura realidade: ela pode denotar a falta de abertura participativa das
instituições do sistema de Justiça. O cidadão não elabora propostas que não são de atribuição
da DPESP ou propostas genéricas por que ele não tem informação: uma das possibilidades é
de que o cidadão elabora propostas que não são de atribuição da DPESP por que ele observa
que há uma abertura deste órgão à participação e ele acaba levando para a DPESP propostas
de atuação que fogem do raio de atribuição desta instituição, ou que não dependem apenas da
DPESP para serem realizadas, envolvendo mais de uma esfera de governo.

O Conselheiro do Conselho Consultivo e Presidente do IBCCRIM faz uma observação


importante com relação à questão da abertura participativa das instituições do sistema de
Justiça:

Você vê o Movimento das Mães de Maio pedindo para a Defensoria atuar


como assistente de acusação nos casos de violência policial, de assassinato
cometidos por policiais militares... olha só o que elas estão fazendo! Elas
desistiram de conversar com o Ministério Público que é o órgão que tem
atribuição de acusar para pedir para a Defensoria, para que a Defensoria
faça a assistência da acusação! A pauta é delas, se elas acham que elas
devem defender isso eu respeito, mas irem falar com a Defensoria é
consequência do quê? Que o Ministério Público não ouve, então elas
procuram a Defensoria, e a Defensoria por que quer ouvir vai fazer um
papel que não é dela, e vai fazer para inglês ver, por que não tem estrutura
pra fazer isso sistematicamente, mesmo por que ela não é acusadora, ela é
Defensora mesmo. E se você vai na Conferência, as pessoas reclamam
milhares de coisas que não é atribuição da Defensoria, por que? Porque as
outras instituições não ouvem.
É desesperador ouvir a sociedade civil falando enquanto ninguém ouve,
porque ninguém ouve. A sociedade civil não tem foco, mas também não
podemos exigir isso dela. O Estado tem que ouvir, o Estado deve se
organizar. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015)

O Entrevistado (i) levanta a questão das propostas genéricas, ou seja, propostas amplas e que
geralmente abrangem atribuições que não são apenas da DPESP:

[...] E gente nova ou não nova sempre vai olhar e depositar as suas
expectativas, as suas esperanças em cima da Defensoria. Então ela vai
chegar aqui e pedir isso, isso e isso. Ela vai chegar falando: “Eu quero que
vocês resolvam o meu problema.”
88

Ela sempre vai trazer expectativas genéricas e o papel da Defensoria é


colocar essa proposta no seu Plano de Atuação e verificar como isso vai ser
resolvido ou não, ou justificar por que não vai ser resolvido. Esse diálogo
faz parte e eles não gostam muito disso.
Quando a gente fala isso para a Administração Superior, eles respondem
que a sociedade civil é que têm a obrigação de aprender a participar. Eles
(a sociedade civil) sabem participar, eles participam de conferências há
anos e é assim que se faz e as outras instituições aprenderam a lidar com
isso e é assim que tem que fazer. (Entrevistado (i), Diário de Entrevista,
06/01/2016)

No mesmo sentido, André Kehdi entende que é natural que a população traga demandas
que não são de atribuição da DPESP ou que dependem de apoio de outras instituições ou
esferas de Governo para se concretizar, mas isso pode ser resolvido ou pode ser minimizado
por meio da presença dos Defensores nas pré-Conferências78:

Tem um monte de coisa que dá para resolver e se não resolver, para tudo
tem uma ação. Então, concordo que existe uma gama muito grande de
pedidos, a gente que faz Direito vê direitinho: “poxa, isso não é atribuição
da DPESP” [...] É assim, as pessoas falam mesmo, tem pessoas da
Defensoria na sala para explicar como é feita a proposta, e isso deve ser
explicado dentro do que o cara está pedindo. Deve ser explicado para o
participante o que dá que o que não dá para colocar na proposta. E me
desculpa! Quando você chega na plenária, quase nenhuma proposta é
proposta só da Defensoria, todas envolvem o poder executivo. O processo já
está amadurecendo, então, não vem dizer que não dá, eles usam a exceção
como regra aí. As pessoas usam o argumento das propostas inviáveis como
regra, usam porquê? Por que a instituição está fechada, por que não quer
ouvir. (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015)

Vivian Calderoni, Advogada da Área de Direitos Humanos da Conectas Direitos


Humanos, diz que a posição da Conectas quanto as propostas inviáveis é no sentido de que os
Defensores devem orientar os participantes e informarem se a proposta faz parte ou não das
atribuições da DPESP ou não, vejamos:

A posição da Conectas é de que as diretrizes são vinculantes sim, mas que


para isso tem que ter um controle prévio. No momento da Conferência deve
ser dito: isso não é de competência da Defensoria, como por exemplo:
descriminalizar o aborto, isso não é de competência da Defensoria, e então,
78
Atualmente os Defensores e Servidores participam tanto das pré-Conferências (fase em que as propostas são
elaboradas) como da Conferência Final (fase de votação das propostas que devem fazer parte do Plano de
atuação).
89

lá na Conferência deve ser explicado que na hora para os participantes que


isso não é função da Defensoria. Incidir politicamente sobre a
descriminalização do aborto, isso pode ser feito, e neste sentido pode-se
cobrar uma atuação da Defensoria. Por exemplo, participação em
congresso, palestras, nesse caso é viável.
Agora deve ser explicado o que é realmente atribuição da Defensoria e o
que é realizável dentro dos orçamentos e quantidade de pessoas dentro da
Defensoria.
Isso tem que ser feito ali, na hora, uma vez dentro do livro, passado por uma
análise de realidade, vamos dizer assim, e tem a questão de não poder ser
diretrizes conflitantes e uma outra coisa que a gente pensa é de que deveria
ter uma análise na hora , ou a escolha deveria ser feita apenas outro dia ,
alguma outra forma de organizar este momento das Conferência e daí
passadas por esta análise, por esta peneira vamos dizer assim, se tornariam
vinculantes, para isso, muita coisa precisa mudar né, outra coisa que nos
preocupa é o acúmulo de diretrizes nestes quatro Ciclos, pois são diretrizes
amplas, de longa duração para serem atingidas, ou médio prazo e não
apenas dois anos. E daí se acumulam mais “X” diretrizes...logo, esse
processo precisa ser reorganizado para que estas propostas sejam de fato,
vinculantes. (Vivian Calderoni, Diário de Entrevista, 13/02/2015)

Esta questão da intervenção da instituição na elaboração das propostas é muito


controversa: por um lado, é interessante e desejável que o Defensor Público participe dos
Ciclos de Conferências, é desejável que ele se aproprie dos mecanismos de participação e que
ele participe ativamente dos Ciclos de Conferências, amparando os participantes dos Ciclos
com seus conhecimentos técnicos, e os auxiliando a entenderem o que faz parte e o que não
faz parte das atribuições da Defensoria, garantindo que todas as propostas elaboradas sejam
viáveis.

Por outro lado, a participação do Defensor na etapa de elaboração das propostas pode
ter um efeito não desejado no sentido de que o Defensor possa vir a oferecer alguma
resistência, intimidar ou tolher a liberdade dos participantes de elaborarem as propostas.
Vejamos a observação do Conselheiro Pedro Aguerre com relação a este ponto:

[...] os Defensores se dividem em grupos, grupos que estão na ponta do


atendimento todo dia. Como esse Defensor opera? Ele opera dialogando
com o movimento do mesmo modo que ele dialoga com o movimento no
cotidiano: ele dialoga assim: por exemplo “você lembra que eu te disse que
nós não poderíamos entrar com o pedido de usucapião, por tal motivo?
Então, vamos pensar a partir daí”. Ele opera a partir do mundo, digamos,
das pautas tais como a Defensoria se apropria das pautas sociais e não
como os movimentos sociais se apropriam da Defensoria. É muito binário. E
o movimento se sente infantilizado, apequenado por esta discussão, vindo,
90

não raro, em regra de um jovem de menos de trinta anos, que tem uma
capacidade de oratória muito grande, mas que tem uma fala que está vindo
de cima para baixo. Uma fala da instituição, não do Direito e não da
Justiça. Esse é um problema sério. E isso dá margem para que haja
acordos, para decidir até onde vamos, que tipo de proposta vamos fazer!
(Pedro Aguerre, Diário de Entrevista, 18/01/2015)

É imperativo que a DPESP, que é um órgão que surgiu a partir da luta social,
portanto, da busca por participação social dentro do sistema de Justiça reveja esta forma de
condução dos trabalhos de elaboração das propostas, sob pena de que os Ciclos de
Conferências percam a aderência dos Movimentos Sociais.

Existe uma grande probabilidade de que os Movimentos e a Sociedade Civil se


sintam desconfortáveis no sentido de não conseguirem traduzir as suas demandas em
propostas e esvaziem os Ciclos de Conferências.

O Entrevistado (i) entende que a presença do Defensor pode prejudicar a liberdade


dos participantes em formular as propostas, mas realça alguns pontos positivos da
participação dos Defensores:

Ele interfere nos debates! Eu já vi isso acontecer e me incomoda. Inclusive a


gente já conversou sobre isso e falou: “ Não dá, ele acaba filtrando a
proposta na raiz as vezes!” Teve Defensor que falou na pré-Conferência que
a Defensoria tem que fazer tal coisa, tem que considerar que a
Defensoria...Bom, ela faz o discurso da falta de estrutura, o discurso da
vitimização da Defensoria e teve gente que retirou proposta e falou: “não,
deixa pra lá, não é o caso mesmo agora.”
Mas também é importante que o Defensor esteja lá e participe desse
momento que é uma atribuição da Defensoria. [...] As pessoas pensam que a
Defensoria é um lugar para se trazer demandas. É importante a figura do
Defensor para tirar dúvidas e dizer qual é o papel da Defensoria mas eles
precisavam de alguma maneira... eu não sei se daria para alguém da
comissão organizadora estar junto ou garantir que haveria alguém da
sociedade civil ou do Conselho Consultivo e garantir que haja uma
fiscalização da Conferência para garantir que haja uma imparcialidade.
Talvez ele (o Defensor) não seja a melhor pessoa para fazer a mediação.
Tem defensor que vai lá para participar do debate e se defender! [...] Eu
acho saudável que ele participe! Que ele participe legitimamente do
processo de deliberação. Se você está disposto a participar de igual para
igual é muito legal isso, diferentemente de estar lá disposto a dar
carteirada! A gente precisa pensar em como resolver isso. É um problema já
verificado. Mas eu particularmente não sei como resolver. (Entrevistado (i),
Diário de Entrevista, 06/01/2015.)
91

Embora esta problemática das propostas inviáveis possa denotar um problema mais
grave, qual seja o fechamento das instituições do sistema de Justiça Brasileiro à participação
social, talvez a solução para a questão das propostas inviáveis esteja próxima.

Podemos somar as sugestões de todos os entrevistados e trabalhar em várias frentes,


tais como Educação em Direitos nas Regionais, por meio de um Curso sobre a Defensoria e
sua Missão; treinamento dos Defensores sobre Participação Social dentro do Sistema de
Justiça para que eles ajudem os participantes dos Ciclos no sentido de explicar se a proposta
faz parte da atribuição da DPESP ou não (com base na Constituição e na Lei Orgânica) mas
sem tolher o Direito dos participantes de formularem propostas. Outra sugestão importante foi
a do atual Ouvidor Externo, Alderon Costa, que sugeriu cursos de capacitação para a
formação de Defensores Populares, que não necessariamente fossem do ramo do Direito. Eu
acredito que a operacionalização dos Defensores Populares seria muito interessante do ponto
de vista da participação social, da democracia e do acesso à Justiça. Porém sua
operacionalização seria um pouco difícil por conta de forças contrárias tais como entidades de
classe a exemplo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

No artigo 4º de seu Regulamento Geral79 consta que o exercício de atos privativos da


Advocacia, por pessoa não inscrita na OAB constitui exercício ilegal da profissão. A Lei
Federal n. 8.906 de 4 de Julho de 199480, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem
dos Advogados do Brasil, no artigo 2º, §2, considera que os Defensores exercem atividades de
Advocacia, sendo assim, é obrigatório que o Defensor Público seja Bacharel em Direito e
seja inscrito na OAB.

Uma sugestão interessante seria a de reformular o Concurso Público para ingresso na


carreira de Defensor Público na DPESP. Seria muito importante, analisando sob a ótica da
participação social, do acesso à justiça, da democracia e até mesmo para o desenvolvimento
do país que o Defensor Público fosse realmente vocacionado para o exercício da função de
Defensor Público ou já tenha tido contato com movimentos sociais ou com o público alvo da
Defensoria.

É bom salientar que, caso nenhuma medida venha a ser tomada no que se refere à
elaboração das propostas inviáveis e estas venham ser aprovadas na Conferência Final, é

79
Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia da OAB, disponível em:<
http://www.oab.org.br/Content/pdf/LegislacaoOab/RegulamentoGeral.pdf>, acesso em 10 de Outubro de 2014.
80
Lei Federal n. 8.906 de 4 de Julho de 1994, disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>, acesso em 10 de Outubro de 2014.
92

primordial que a que DPESP explique de forma clara e transparente, através dos meios
adequados, tais como as reuniões de monitoramento dos Ciclos, os motivos daquelas
propostas não serem inseridas no Plano de Atuação e utilizar as informações/problemas
levantados através destes tipos de propostas para agir de forma preventiva e estratégica.

O que importa é que aprendamos com estas experiências e com estas vivências trazidas
pela sociedade civil e possamos enxergar que em vez de maléficas estas propostas podem
ocasionar o aperfeiçoamento dos Ciclos de Conferências e que possa haver uma maior
transparência no processo de elaboração do Plano de Atuação da DPESP.

4.6 Descompassos: Diretrizes Aprovadas nos Ciclos de Conferências, Publicação do


Plano de Atuação e Votação do Orçamento Anual da DPESP.

Ao longo de três anos estudando os Ciclos de Conferências, um assunto em especial


me chamou a atenção: eu queria entender como se dava o processamento das propostas
aprovadas nos Ciclos de Conferências – desde a aprovação das propostas/diretrizes aprovadas
até a aprovação do Plano Anual da DPESP.

Diversos descompassos estruturais foram observados. O primeiro se refere à data em


que ocorre a Conferência Final. A Conferência Final tem acontecido, nos últimos dois Ciclos,
no mês de dezembro. De acordo com o Calendário, os Ciclos de Conferências acontecem em
anos ímpares. As eleições, com a consequente troca da Administração Superior e do Conselho
Superior da DPESP ocorrem de Abril a Maio de anos pares. Se por um lado, é desejável que
a gestão que está acabando o seu mandato aprove e publique o PAA para que a próxima
gestão possa executá-lo, por outro lado, o fato da Conferência Final ser realizada ao final do
mandato de uma determinada gestão pode acarretar na falta de interesse da gestão atual em
aprovar e publicar o PAA.

O órgão da DPESP responsável legalmente pela elaboração da minuta do PAA é a


Primeira Subdefensoria. O PAA deve conter as metas traçadas com base nas propostas
elaboradas nos Ciclos de Conferências e outras metas alinhadas com a atuação estratégica da
Instituição. A aprovação do PAA é realizada no Conselho Superior da Defensoria Pública e
geralmente é um processo complexo, que envolve não apenas uma, mas diversas reuniões no
93

Conselho Superior, com a possibilidade de vista do processo do PAA pelos Conselheiros,


inclusive pelo Conselheiro Ouvidor Geral.

No que se refere ao orçamento, é nítido que nos anos anteriores houve um


descompasso na publicação do PAA com a aprovação do orçamento da DPESP. A Publicação
do orçamento anual da DPESP ocorre em junho/julho, a Conferência Final acontece em
dezembro e o Plano Anual não tem data para ser aprovado.81 Sobre este descompasso, o
Conselheiro Pedro Aguerre tece as seguintes considerações:

A Administração Superior alega que existe prazo para os processos


licitatórios, que estes devem ser feitos no segundo semestre e que por este
motivo as Conferências são realizadas no final do ano. Existe um delay de
quatro meses entre a peça orçamentária da DPESP e as Conferências que
acontecem depois do fechamento do orçamento. E quando vai virar Plano
de Atuação vira um Plano de Atuação descolado do orçamento. Uma
verdadeira esquizofrenia com essa alegação conveniente de um outro
interesse, que é não fazer o processo casado com o orçamento e de não
assumir a participação como fundamento do Plano de Atuação. Isso nos
leva a um tensionamento que deve ser dirimido antes de consolidar o Plano
de Atuação. (Pedro Aguerre, Diário de Entrevista, 18/01/2015)

Quando perguntada sobre o descompasso entre o Plano de Atuação e o Orçamento da


DPESP, Luciana Zafallon responde:

[...] Se você olhar o lapso temporal de qualquer um dos Ciclos de


Conferências até a data de aprovação do Plano Anual você vai ver que
praticamente não foi/ não é viável que se execute. Eu me recordo que o
último Plano de Atuação, o Ciclo de Conferência aconteceu em junho de
2011 e somente na última sessão daquela composição do Conselho Superior,
só no final de 2012 o PAA foi aprovado.
Os Ciclos de Conferências acontecem no Final do semestre em uma
determinada legislatura do conselho Superior, que é o órgão responsável
pela aprovação do PAA, à custa de muita pressão da Ouvidoria e da
Conectas Direitos Humanos, a gente conseguiu garantir a aprovação do
Plano de atuação na última sessão daquela composição do Conselho
Superior.
Por que a tendência era que se postergasse, tanto que a Ouvidoria abriu
mão de dar vista no PAA, coisa que nunca aconteceu, pois não estava de

81
Consta na Assembleia Legislativa de São Paulo – ALESP, um projeto de Lei que visa alterar o Plano Anual da
DPESP de um para dois anos, no caso, este Plano se tornaria Bianual. Esta mudança seria muito boa do ponto de
vista da gestão institucional, pois além de estar coerente com o período de mandato da Gestão da Administração
Superior, estaria coerente também com a realização dos Ciclos de Conferências, que acontece bianualmente.
94

acordo com o que a gente achava adequado, mas nós chegamos ao cúmulo
de fazer uma ponderação nos seguintes termos: mais a pena vale aprovar
esse PAA, nessa composição do Conselho Superior mesmo que com um ano
de atraso, ou vale a pena postergarmos ainda mais, para que aguardemos
uma nova composição do Conselho, para que este processo seja
redistribuído e para que os membros do conselho possam se apropriar desse
processo e poder votar...
Nos pareceu numa deliberação compartilhada com as entidades que
estavam acompanhando a votação que, com muito custo pra gente, custo no
sentido de ter que fazer uma escolha dessa natureza com algo que era tão
importante pra gente e nós acabamos optando por não inviabilizar no tempo
a aprovação do PAA e abrimos mão do pedido de vista. (Luciana Zafallon,
Diário de Entrevista, 17/01/2015).

De fato, não há como entender de que maneira uma instituição consegue se organizar
sem alinhar as suas metas ao orçamento: sejam metas relacionadas aos Ciclos de
Conferências, sejam metas relacionadas à atuação estratégica da DPESP.

Vejamos o posicionamento da Primeira Subdefensoria quanto ao desajuste entre o


Plano de Atuação e o orçamento:

(Maíra – Entrevistadora): Eu notei que o orçamento é aprovado no meio do


ano e não há data para a publicação do PAA. A Lei diz que o PAA é Anual,
porém ano passado não houve publicação deste Plano...eu noto que há um
distanciamento entre a aprovação do Plano Anual e o Orçamento...
Rafael: Sim, o orçamento tem que estar de acordo com o PAA e este ano o
orçamento já vai estar de acordo com o PAA. O orçamento sempre vai
acompanhar o último PAA aprovado. No aspecto orçamentário o PAA
interfere muito pouco, porque ele na verdade se refere à preponderância da
nossa atuação fim e não exatamente vamos comprar mais papel, certo? Mas
ele abrange aspectos importantes como por exemplo a expansão da
instituição, que é levado em consideração o nosso projeto de ampliação de
cargos, por exemplo, nós não colocamos no orçamento vamos abrir cinco
unidades em tal lugar! Mas nós colocamos vamos abrir cinco unidades,
existem mecanismos orçamentários para contemplar isso, mas naturalmente
o orçamento vai acompanhar o último PAA aprovado. [...] Mas é uma coisa
que realmente precisa de um ajuste de calendário, principalmente sendo um
Plano Plurianual. (Rafael Português, Diário de Entrevista, 20/02/2015).
95

4.7 Críticas à Metodologia dos Ciclos de Conferências da DPESP

Como vimos no capítulo 3, o número de propostas que devem ser aprovadas na


Conferência Final dos Ciclos de Conferência é de 50 (cinquenta propostas).

Durante as entrevistas, foram realizadas por parte dos entrevistados algumas


observações sobre a Metodologia dos Ciclos de Conferências. Uma delas se refere ao prazo de
realização dos Ciclos (que atualmente é a cada dois anos), outra se refere ao número de
propostas aprovadas.

Vejamos o entendimento da Dra. Ana Paula, coordenado do Núcleo da Mulher, sobre


a implementação das propostas:

[...] As propostas aprovadas nas pré Conferências, propostas que visam a


problemática da Mulher são aprovadas quase em sua maioria. O Eixo
temático da Mulher é sempre um eixo que sempre tem muitas propostas
aprovadas, mas a maioria delas sempre se repetem. São propostas voltadas
para a questão do aborto, da violência doméstica contra a mulher, e essa da
violência doméstica contra a mulher se desdobra das mais diversas formas,
desde a nossa própria atuação institucional, até a atuação de outras
instituições. [...] Eu acho que é possível que as propostas sejam cumpridas,
mas com foco no que a instituição tem que ter, mas não como proposta em
si. Em seu conteúdo inteiro é impossível de ser cumprido. (Ana Paula, Diário
de Entrevista,03/02/2015)

A Dra. Ana Rita, Vice-Coordenadora do Núcleo da Mulher entende que deve ser
realizada uma ampliação no período entre os Ciclos de Conferências.

[...] Seria interessante aumentar o período entre os Ciclos de Conferências


até da questão burocrática. A nossa opção aqui no Núcleo é tão logo as
propostas sejam aprovadas na Conferência a gente toma como plano, mas
do ponto de vista legal, ele só se torna plano a partir do momento em que é
votado no Conselho da Defensoria, coisa que não acontece. Então essa
discussão está sendo feita com a sociedade, com a participação da
sociedade para justamente não criar esta expectativa frustrada né!
Frustrada porque a gente sabe que em dois anos a gente não vai conseguir
implementar totalmente todas a propostas, até mesmo as propostas que
dependem exclusivamente da Defensoria. (Ana Rita, Diário de Entrevista,
03/02/2015).

Rosier Batista Custódio, ex-servidora da DPESP, concorda com a ampliação de tempo


entre um Ciclo e outro, vejamos:
96

Tem um intervalo muito pequeno entre um Ciclo e outro, eu nunca discuti


isso com o Alderon mas já discuti isso com a Luciana Zaffalon e ela
concordava com isso. A gente tinha ideia de mandar uma proposta de
alteração da Lei, mas acabou não acontecendo, quando ocorreu a reforma
da Lei da DPESP a Administração acabou tirando esse ponto, o ponto para
transformar os Ciclos de 2 (dois) em 2 anos para 4 (quatro) em 4 anos.
Porquê na verdade é um período muito curto, você acaba de fazer um ciclo e
daqui há pouco você já tem que preparar para o outro. [...] Acabam os
Ciclos de Conferências e depois tem todo aquele tramite interno com a
Administração Superior, que é pegar as propostas e transformar aquilo em
Plano de Atuação, ou seja, a primeira sub prepara o Plano, ele vai pro
Conselho, tem toda aquela tramitação no Conselho, depois é aprovado,
depois a gente passa para os Núcleos, depois a gente passa pra Comissão de
Monitoramento e depois a gente vê como vai organizar.
Eu me lembro que você mesma fez uma consulta sobre o monitoramento
pelo SIC e essa consulta veio para mim, e então a gente não para, e a gente
fica só cuidando disso, ao mesmo tempo que estamos cuidando do
monitoramento, estamos cuidando da organização. (Rosier Batista Custódio,
Diário de Entrevista, 06/02/2015).

4.8 O Caráter Vinculante das Propostas dos Ciclos de Conferências

Por vinculante, entendemos que as propostas são de cumprimento obrigatório, ou seja,


que a DPESP deve, obrigatoriamente as colocar em prática.

Sobre o caráter vinculante das propostas, é interessante observar que não há uma
posição majoritária. Sobre isso, Luciana Zaffalon tece algumas considerações:

(Maíra – Entrevistadora): Você acha que estas resoluções têm caráter


vinculante?
Luciana: Eu não acho que isso seja uma questão pacificada. Acho que é
uma questão que está em aberto, o que é muito complicado. Como é que nós
vamos para um Ciclo de Conferências sem ter clareza disso?
O que prevalecia, muitas vezes a duras penas na Instituição era o
entendimento de que o resultado das Conferências por si só não era
vinculante, mas o PAA sim. Ressalvado, caso a caso, o caso em concreto,
que poderia eventualmente na busca do interesse público não ser respeitado.
Eu defendo que ele é vinculante, mas eu não tenho certeza se essa leitura é
majoritária na Instituição e que para mim existe uma linha tênue que
precisa ser desvendada quanto à autonomia funcional. Para mim, a
autonomia funcional só pode ser alegada quando na busca do interesse
público. A autonomia funcional serve ao exercício pleno da função pública
97

do Defensor Público. Jamais do indivíduo Defensor Público. Então, eu


tenho essa dificuldade de dar esse ponto como controverso. Nós temos uma
previsão legal que diz que as Conferências devem fundamentar o Plano de
Atuação. O Plano de atuação está posto. Como é que a gente vai bloquear
este plano de tantas maneiras? O que me parece é que existe um desafio
posto de dar a importância concreta que ele tem e deve ter.
O que temos hoje é que o Plano é vinculante mas o resultado das
Conferências não. Mas eu não tenho certeza se esse entendimento é
majoritário. Se você fizer essa pergunta para diferentes atores você terá
diferentes respostas. (Luciana Zaffalon, Diário de Entrevista, 17/01/2015)

Sobre o caráter vinculatório das propostas aprovadas nas Conferências, André Kehdi aduz:

Eu participei do Terceiro Ciclo de Conferências e naquela Plenária eu


perguntei: Todas as teses aprovadas aqui são vinculativas? Ou seja, o
Defensor tem que cumprir? O Defensor Público que estava lá representando
o Defensor Público Geral (DPG) na época, não lembro quem foi,
respondeu: “sim, vincula, as decisões da sociedade civil, a sociedade civil é
quem manda na Defensoria Pública. A Defensoria realiza um serviço
público e a sociedade civil é quem escolhe o caminho, a Constituição pauta
e a sociedade civil dá as prioridades. A gente vai e cumpre.
Eu falei, tá bom. E depois assim, foi tudo aprovado, levado para o Conselho
e ninguém passava pra frente, aquilo não andava, não andava, não andava.
Por exemplo, a gente aprovou uma diretriz que era de pedir liberdade
provisória em todos os casos. O que era óbvio, não precisa de diretriz para
isso, mas mesmo assim no desespero a gente aprovou. E mesmo assim eles
não faziam. Aí a gente levou pro Conselho Superior e falou: E aí, como
fica? Daí a resposta foi: Não, não, isso precisamos ver porquê a gente
precisa passar para o nosso PAA. Daí a gente falou: Peraí, vocês acham
que vocês tem escolha ou não de passar pro Plano Anual? Vocês estão
vinculados! Foi dito isso lá, isso é meio evidente, porque os Ciclos de
Conferências é um mecanismo onde a sociedade civil escolhe o que é pauta,
o que é prioridade! (André Kehdi, Diário de Entrevista, 09/02/2015).

Quando perguntei para a Coordenadora do Núcleo da Mulher, Dra. Ana Paula se as


propostas tinham caráter vinculatório e seu entendimento é de que as propostas aprovadas
tem um caráter norteador das ações da DPESP, mas não caráter vinculatório (Ana Paula,
Diário de Entrevista, 03/02/2015).
Quando indagado sobre o papel vinculante da proposta aprovada nos Ciclos de
Conferências, o Primeiro Subdefensor da DPESP Rafael Português entende que ela é
vinculante mas com ressalvas:

Ela é vinculante no seguinte sentido de que ela vincula a análise estratégica


da Instituição, todas as diretrizes aprovadas nos Ciclos são contempladas
no sentido de que cabe à instituição dizer o motivo daquela diretriz ser
aprovada ou não. Cabe a instituição verificar a viabilidade técnica daquilo,
98

a viabilidade orçamentária ou mesmo a viabilidade institucional. Pode ser


algo que não seja abarcado por uma atribuição da DPESP. Por exemplo
atuar no desaçoreamento do Rio Tietê, digo de forma dramatizada, mas ela
vincula a nossa análise do planejamento, eu e o Douglas que assessora a
primeira Sub e trabalha diretamente com este tema, nós temos o
entendimento de que todas as propostas devem ser analisadas e cabe a nós
explicarmos a viabilidade ou não destas propostas, debatermos, darmos o
feedback de todas as proposições. (Rafael Português, Diário de Entrevista,
20/02/2015)

Da mesma forma, a posição da ONG Conectas Direitos Humanos, representada na


entrevista por Vivian Calderoni é a de que as propostas são vinculantes, porém devem passar
por um controle prévio, vejamos:

A posição da Conectas é de que as diretrizes são vinculantes sim, mas que


para isso tem que ter um controle prévio. Por exemplo, no momento da
Conferência deve ser feito: tipo: isso não é de competência da Defensoria,
como por exemplo: descriminalizar o aborto, isso não é de competência da
Defensoria, e então deve ser explicado na hora para os participantes que
isso não é função da Defensoria. Incidir politicamente sobre a
descriminalização do aborto, isso pode ser feito! E neste sentido pode-se
cobrar uma atuação da Defensoria. (Vivian Calderoni, Diário de Entrevista,
13/02/2015)

De acordo com as entrevistas realizadas, fica claro que não há uma posição unanime
sobre o caráter vinculativo ou consultivo das propostas elaboradas pela sociedade civil nos
Ciclos de Conferências da DPESP. A Lei Complementar Estadual é clara, o artigo 6º garante
às pessoas que buscam atendimento na Defensoria Pública a participação na definição de
diretrizes institucionais, e esta participação deve se concretizar através das Conferências.
Concordamos no sentido de que não se deve inserir no Plano Anual de Atuação propostas que
não fazem parte da atribuição da DPESP, mas acreditamos que as propostas aprovadas tem
caráter mandatório sim, a partir do momento em que é realizada deliberação pública sobre as
políticas públicas na área de acesso à Justiça a serem implementadas pela DPESP. É
imperativo que as propostas sejam conhecidas como legítimas justamente por terem sido
elaboradas e escolhidas democrática e racionalmente por meio da Plenária Final pelos
destinatários dos serviços da DPESP.

Ao se estabelecer um consenso sobre o caráter vinculante ou não das propostas, haverá a


estabilização das expectativas dos usuários da DPESP. (HABERMAS, 1998).
99

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a análise dos Planos de Atuação, juntamente com levantamento das
propostas aprovadas, implementadas, parcialmente implementadas, restou-se evidenciado que
os Ciclos de Conferências são mecanismos que tem um grande potencial para promover o
incremento da participação social na definição de diretrizes de atuação da Defensoria Pública.

Porém, há ressalvas a se fazer: os Ciclos de Conferências, apesar de serem de suma


importância no que se refere à participação social dentro da DPESP e um mecanismo que
pode contribuir brilhantemente para a elaboração de políticas públicas na área de acesso à
Justiça é um mecanismo subvalorizado e subaproveitado.

Podemos dizer que os Ciclos de Conferências são um mecanismo subvalorizado e


subaproveitado pois não se observa um cuidado, um zelo, a vontade por parte da
Administração Superior da DPESP em aperfeiçoar este mecanismpo e de implementar as
propostas aprovadas em sua totalidade. Como foi bem observado pela Luciana Zaffallon
(Diário de Entrevista, 17/01/2015): O combinado não é caro e muitas vezes o que me
preocupa é que eu ouvia muitas vezes nos debates do Conselho Superior era a tentativa de
repensar o instrumento de maneira a restringi-lo sem que ele tenha sido empregado na sua
total potencialidade.

Em conversas informais com alguns Servidores da DPESP, obtive uma informação


que foi praticamente uníssona: eles entendem que dois anos é um período muito curto para a
realização das Conferências. Também foi comentado por alguns servidores que implementar
50 propostas a cada dois anos é inviável.

Acontece que, tomando por base a Lei Orgânica da Defensoria, é importante


salientarmos que os Ciclos de Conferências possibilitam que a sociedade civil participe da
gestão da DPESP a partir da elaboração de propostas que devem ter caráter norteador das
ações da DPESP.
100

De acordo com a pesquisa, não há um consenso sobre o caráter vinculante ou não das
propostas, mas é imperativo que esta questão seja resolvida o quanto antes: é necessário que
tanto a Defensoria Pública de São Paulo quanto a Sociedade Civil estejam cientes do caráter
das propostas: caráter consultivo ou deliberativo. Esta diferença é crucial para o
equacionamento das expectativas da sociedade civil com as possibilidades de implementação
das propostas pela DPESP.

De acordo com as entrevistas realizadas (formais e informais) e de acordo com a


pesquisa acadêmica realizada, diferentemente de outras Conferências, como as Conferências
de Políticas Públicas no nível Federal, no caso específico dos Ciclos de Conferências da
DPESP não há um consenso sobre o caráter vinculante/mandatório das propostas aprovadas.
Embora não haja uma unanimidade, é interessante notar que as opiniões se dividem em um
padrão interessante: os entrevistados que são membros da DPESP, tais como as Defensoras
Públicas, ex- servidores, servidores e o Primeiro Defensor Público Geral (a quem cumpre
elaborar o PAA contendo as diretrizes aprovadas nos Ciclos) possuem o entendimento de que
as propostas não são mandatórias, mas tem um caráter norteador do trabalho da DPESP.

Já entre os entrevistados que não são membros da DPESP, as opiniões variam:


alguns entendem que as propostas são mandatórias e devem ser implementadas e outros
entendem que, ressalvados os casos de propostas muito pontuais ou propostas contrárias às
atribuições da DPESP, as propostas em geral são vinculantes/mandatórias e devem ser
implementadas.

Mesmo diante deste impasse (se é consultivo ou deliberativo) é necessário que sejam
realizados esforços para que as propostas aprovadas nos Ciclos anteriores sejam totalmente
implementadas, sob o risco da instituição e dos Ciclos de Conferências caírem em descrédito.

Uma questão que norteia este trabalho deve ser levantada: a realização dos Ciclos de
Conferências garantem a participação social dentro da gestão da DPESP? Resposta: A
realização dos Ciclos de Conferências por si só não é capaz de garantir a participação social
dentro da gestão da DPESP. Para que possa haver participação social dentro da DPESP é
necessário que alguns fatores sejam levados em consideração: É necessário que a DPESP
esteja pronta para reconhecer o direito das pessoas que buscam os seus serviços: que é o de
direito de participar na definição de diretrizes que pautem a instituição.
101

A Gestão da DPESP deve aproveitar e utilizar as importantes ferramentas de


participação social e de accountability que é são os Ciclos de Conferências e a Ouvidoria-
Geral e se preparar para fortalecer seu poder de escuta e de interlocução com os destinatários.
A DPESP deve se unir e trabalhar junto com a Ouvidoria-Geral para que haja o fortalecimento
da instituição através da abertura democrática patrocinada justamente pelos mecanismos de
participação disponíveis. Atualmente o que vemos é praticamente uma luta entre a Gestão da
DPESP e da Ouvidoria-Geral: enquanto os Defensores Públicos utilizam aproximadamente
90% do tempo das sessões do Conselho Superior para deliberarem sobre aumento de
subsídios, colocação de aparelhos de ar condicionado nas suas salas, dentre outras melhorias,
a Ouvidoria-Geral luta para que as reivindicações legítimas dos destinatários da DPESP sejam
implementadas.

Quase dez anos se passaram desde a criação da DPESP, da Ouvidoria-Geral e dos


Ciclos de Conferências, mas a impressão que temos é a de que a DPESP, embora tenha sido
criada por meio da luta social pode estar perdendo a batalha e se tornando mais uma
instituição modelo do sistema de Justiça: sem transparência, sem participação social e
totalmente alheia aos problemas da população. Uma hipótese levantada por um entrevistado
nos faz entender que o perfil dos Defensores Públicos está mudando e talvez seja necessário
rever a forma de contratação dos Defensores Públicos, reformulando o Concurso de ingresso
tanto dos Defensores quanto dos servidores da DPESP, para que sejam contratadas pessoas
que estejam alinhadas com os direitos da coletividade e que estejam abertos à governança
democrática e aos mecanismos de participação social.

É necessário que haja um diálogo e que seja esclarecido e reafirmado qual é o papel
dos Ciclos de Conferências: para que serve, qual o caráter das propostas aprovadas (caráter
consultivo, ou vinculativo das propostas) para que haja transparência na relação entre a
DPESP e os destinatários de seus serviços e para que haja um equacionamento nas
expectativas destes com a capacidade de realização e de implementação das propostas pela
DPESP.

A participação social dentro da gestão da DPESP só acontecerá se a DPESP


incorporar de fato os valores de participativos e se souber utilizar os mecanismos de
participação instituídos.

Os Ciclos de Conferências são ferramentas que tem grande capacidade de promover a


participação e o controle social dentro da DPESP, mas, de acordo com a pesquisa elaborada,
102

essa ferramenta deve ser fortalecida sob pena de seu esvaziamento: esvaziamento tanto no
sentido literal: no que se refere à perda de participação, perda de aderência dos movimentos
sociais, como esvaziamento no que se refere ao seu sentido, ou seja: os Ciclos tem o intuito de
trazer a sociedade civil e os movimentos sociais para dentro da DPESP, eles devem congregar
a sociedade civil para elaborar propostas de atuação alinhadas às suas necessidades, com
vistas à servir de base para o PAA. Se estas propostas não estão sendo colocadas em prática,
ou seja, não estão sendo implementadas, os Ciclos de Conferências perdem o seu sentido.

Como já dito anteriormente, este mecanismo de participação deve ser fortalecido.


Sseguem agora, algumas sugestões pontuais para a melhoria dos Ciclos de Conferências.

No que se refere ao momento de mobilização, deve-se ser feita urgentemente uma


alteração na forma de divulgação e publicidade dos Ciclos de Conferências. A sugestão é de
que o próprio setor de imprensa e comunicação da DPESP participe ativamente neste projeto,
já que é um órgão que já existe dentro da instituição. O setor de imprensa e comunicação pode
contribuir disponibilizando sugestões de rotinas de publicidade dos Ciclos, fazendo pesquisas
de impacto da publicidade e estudando formas de melhorar a comunicação entre os
Defensores/DPESP

Notou-se que, embora a pesquisa tenha confirmado a efetiva presença no PAA das
propostas aprovadas nas Conferências dos Ciclos I, II e III, algumas ressalvas devem ser
feitas quanto ao IV Ciclo. Embora tenha havido diminuição no número de propostas
aprovadas (como já dito, foi fixado o número máximo de 50 propostas a serem aprovadas na
Plenária Final), notou-se que a partir do Ciclo IV de Conferências, está havendo uma grande
dificuldade da DPESP em estabelecer as metas para as propostas aprovadas neste Ciclo de
Conferências, e acrescentá-las no PAA.82 O IV Ciclo de Conferências ocorreu em 2013, e
apenas em junho de 2015 foi publicado o novo Plano de Atuação.83

Em breve irá iniciar o V Ciclo de Conferências, e as únicas devolutivas que tivemos


sobre a implementação das propostas do IV Ciclo foram duas reuniões, marcadas às pressas e
sem organização, onde foram descritos, de forma muito sucinta as ações tomadas por parte da
DPESP para a implementação das propostas. Porém, não há até o presente momento qualquer
documento escrito, ou relatório da Comissão de Monitoramento disponível no site da DPESP
fornecendo uma devolutiva formal sobre a implementação do IV Ciclo de Conferências.
82
Embora o IV Ciclo de Conferências não tenha integrado a pesquisa empírica quantitativa, podemos traçar
alguns panoramas diante da não Publicação do PAA que deveriam conter as suas diretivas.
83
Informação disponível em: < www.defensoria.sp.gov.br>, acesso em 20 de Julho de 2015.
103

No momento existem 232 propostas/diretrizes construídas pela sociedade civil, de


forma democrática nos Ciclos I, II e III por um mecanismo de participação legalmente
institucionalizado e que ainda não foram implementadas.

Nota-se claramente, que há existem alguns descompassos dentro da própria estrutura


da DPESP e estes descompassos devem ser sanados, são eles: (i) o descompasso entre o
número de propostas aprovadas nos Ciclos de Conferências e a capacidade da DPESP em
estabelecer as metas para implementação dessas propostas e inseri-las no PAA. (ii) Outro
descompasso é o fato da publicação do PAA dever ser anual em virtude de Lei e o Mandato
dos Membros da Administração Superior ser de dois anos; (iii) outro descompasso é a data da
Conferência com a publicação do PAA e a Publicação do PAA com a Aprovação
Orçamentária da Defensoria Pública.

Proponho algumas medidas que devem ser tomadas no sentido de reduzir ou eliminar
estes descompassos que pode ser causar importantes impactos na implementação das
propostas/diretrizes:

No que se refere ao descompasso (i): Deve-se adequar a data de eleição da nova


Gestão da Administração Superior com o a realização dos Ciclos de Conferências:
Atualmente as eleições da Gestão da Administração Superior ocorrem no mês de maio de ano
par. As conferências ocorrem em anos ímpares. Sendo que a gestão vigente tem praticamente
um ano para implementar as propostas (propostas que foram aprovadas no Ciclo anterior, na
gestão anterior). Este problema de agenda deve ser sanado por dois motivos: (a) este
descompasso na agenda pode ser eventualmente usado de forma deliberada pela gestão da
Administração Superior que por ventura não estiver muito bem alinhada com a participação
social dentro da DPESP com o intuito de atrasar ou até mesmo dificultar a implantação das
propostas aprovadas, bem como a elaboração de novas propostas; (b) À medida em que a
nova gestão entra e participa dos Ciclos de Conferências ela cria vínculos com a sociedade
civil e fortalece a própria instituição, tendo em vista que os Ciclos de Conferências são
espaços férteis para a criação de subsídios orientadores de políticas públicas na área da
Justiça, em especial de acesso à justiça, como é o caso da Defensoria Pública de São Paulo.

No que se refere ao descompasso (ii): É importante que seja feita a alteração no


dispositivo da LCE no sentido de alterar a vigência do Plano de Atuação de um ano, para dois
anos. O processo de aprovação do Plano de Atuação é longo: passa pelas vistas dos
Conselheiros do Conselho Superior da DPESP, inclusive do Conselheiro-Ouvidor Geral para
104

que seja verificado se o Plano de fato contempla as diretrizes aprovadas pela sociedade nos
Ciclos de Conferências, ou seja, o processo de aprovação e publicação do Plano Anual de
Atuação no Conselho Superior é muito complexo e demorado.

Observa-se que o que vem acontecido na prática, de forma tácita, já é a publicação de


um Plano de atuação contemplando o período de dois anos para implementação. Porém,
verificou-se que no ano de 2014 não foi publicado o Plano de Atuação. O último PAA
publicado foi o de 2012/2013, portanto, o resultado do VI Ciclo de Conferências só vai
constar no PAA de 2015 (se for publicado o Plano de Atuação de 2015) ou seja, com atraso de
dois anos, o que pode impactar na implantação das propostas.

Neste sentido, é muito importante que seja realizada a alteração do dispositivo legal,
no sentido de transformar a publicação do PAA em Plano de Atuação Bienal e que seja
imposto um prazo máximo para a publicação deste Plano Bienal de Atuação (PBA).

Outro aspecto a ser considerado é de que por motivo de transparência e accountability,


é importante que a Gestão da Administração Superior que está saindo cuide da publicação do
PBA que irá pautar a atuação da próxima gestão. Foi observado que as Conferências
acontecem em anos ímpares e a eleição de nova gestão em ano par, é imperativo que haja a
imposição de data para a publicação do novo PAA.

No que se refere ao descompasso (iii): Observa-se hoje que a aprovação orçamentária


da DPESP ocorre no mês de junho e as Conferências Estaduais (Ciclo III e Ciclo IV) estão
acontecendo em dezembro, ou seja, após a aprovação orçamentária. Há claramente um
descompasso e um descolamento entre a aprovação da proposta orçamentária e realização da
Conferência Estadual. Como podemos colocar em prática as diretrizes que dependem de
recursos financeiros e que foram aprovadas após a proposta orçamentária daquele exercício?
Para sanar este problema é necessário que a Conferência Regional do Ciclo de Conferências
aconteça no primeiro semestre do ano, para que haja tempo de incluir suas diretrizes no Plano
Anual de Atuação para que assim, este Plano com seu respectivo orçamento possa ser
aprovado.

Para que o mecanismo dos Ciclos de Conferências seja fortalecido e que realmente
seja utilizado no sentido de fortalecer a participação social e o controle da DPESP, é
necessário que haja reuniões periódicas de acompanhamento da implementação das propostas.
Estas reuniões teriam uma dupla finalidade: (i) a de fornecer uma devolutiva para a sociedade
105

civil sobre a implementação das propostas, portanto, fornecendo um retorno para a sociedade,
como uma espécie de prestação de contas; (ii) para que a sociedade civil ajude na construção
de alternativas para a implementação das propostas e mantenha um contato contínuo com a
DPESP, não apenas no momento em que ocorrem os Ciclos de Conferências.

Uma das propostas aprovadas no IV Ciclo (Eixo Temático Política Institucional e


Educação em Direitos) foi a de que deveriam ser realizadas audiências públicas trimestrais
com convocação obrigatória dos Delegados das Conferências da DPESP para a prestação de
contas e monitoramento das diretrizes aprovadas nos Ciclos de Conferências, a contar do
último dia do Ciclo. Esta proposta não foi implementada. Desde a última Conferência
Estadual (realizada em dezembro de 2013) foram realizadas apenas duas reuniões de
monitoramento (a primeira em dezembro de 2014 e a segunda em Julho de 2015). A respeito
desta proposta, em entrevista com o Defensor Douglas Magami, fui informada de que por
motivos de logística as reuniões seriam realizadas de forma semestral e que o site da DPESP
conteria um espaço onde as pessoas poderiam acompanhar o resultado da implementação das
propostas (este espaço seria atualizado de três em três meses). Porém, até a segunda reunião
de monitoramento, realizada no dia 17/07/2015 na sede da DPESP, além deste sistema ainda
não ter sido implementado, os Delegados foram convocados para a “devolutiva do IV Ciclo
de Conferências” sem ao menos terem um documento formal sobre o posicionamento da
implementação das propostas.

De acordo com a minha análise (baseada nos meus estudos dentro da DPESP) fica
inviável promover estas audiências, ou reuniões periódicas dentro de um espaço de tempo tão
curto (de três meses). Isso porquê a Defensoria Pública tem outras atribuições que não apenas
a organização dos ciclos: para que sejam feitas estas reuniões seria necessário tirar os
funcionários de suas funções habituais e mobilizá-los para que eles estejam presentes na sede
da DPESP. Deve-se também levar em consideração os recursos financeiros84. Em caso de
mobilização ou convocação dos Delegados, haveria o pagamento de diárias em hotéis (pois
muitos delegados convocados são de outras cidades), haveria contratação (via processo
licitatório) de empresas de transporte para cuidar do traslado, de empresa para fornecimento
de alimentação, dentre outros custos.

84
Estes custos financeiros envolvem: Pagamento de horas extras para servidores e membros da DPESP,
traslados e hospedagens para os Delegados de outras cidades, disponibilização de alimentação, dentre outros
custos.
106

Por isso a minha proposta de reuniões periódicas é no sentido de que continue sendo
reuniões trimestrais mas que os Delegados eleitos sejam convocados para participarem a
partir de suas respectivas regionais via vídeo conferência. Na impossibilidade de ser feita
reunião mesmo que via vídeo conferência, que ao menos sejam emitidos e publicados no site
da DPESP, com a periodicidade trimestral, os relatórios de monitoramento das propostas nos
últimos ciclos.

Outra solução para fortalecer a implantação e monitoramento das propostas seria a de


que fossem realizados esforços no sentido da atribuição de prazos para cada proposta, sendo
que o limite de prazo para implantação seria de 2 (dois) anos, em consonância com o Plano de
Atuação.85 Neste caso, as propostas seriam divididas em: Proposta de Implantação para Curto
Prazo, Proposta de Implantação de Médio Prazo e Proposta de Implantação para Longo Prazo.

Outro apontamento importante é no sentido de que deve ser elaborado um


método/critério para a verificação/medição da implantação das propostas.86 Por exemplo,
existe uma proposta do primeiro Ciclo, do eixo Cidadania e Direitos Humanos, que trata sobre
a atuação na fiscalização das violações aos Direitos Humanos, com o objetivo de eliminar
toda forma de violência policial. No Relatório esta proposta consta como ‘Parcialmente
Implementada”. Mas a dúvida que surge é: Com base em que, em quais critérios quantitativos
ou qualitativos a DPESP indica que esta proposta foi Parcialmente Implementada? As únicas
informações que os Relatórios de Monitoramento nos trazem é se a proposta foi
implementada e quais ações foram realizadas até o momento. Este é um ponto crucial que
deve ser revisto pela Comissão de Monitoramento e pela DPESP para tornar o processo de
monitoramento transparente e accountable.87

Os dados da pesquisa realizada sobre a implementação das propostas, apontam no


sentido de que as propostas elaboradas pela sociedade civil estão sendo inseridas no PAA,
documento que estipula as diretrizes de atuação da DPESP, mas que não estão sendo
implementadas em sua totalidade.

85
Embora o Conselho Superior já tenha se manifestado no sentido de entender que “existem medidas de
execução contínua e perene”, e que não cabe a fixação de prazos para estas medidas, sugiro que seja necessária a
reavaliação por parte do Conselho Superior, ou até mesmo a realização de uma Audiência ou Consulta Pública
para verificar as formas de melhoria para a implantação das propostas.
86
Compareci à Pré-Conferência do V Ciclo de Conferências da DPESP no eixo de Política Institucional e
Educação em Direitos, elaborei uma proposta justamente sobre a implementação de uma metodologia para a
mensuração da implementação das propostas. A proposta foi aprovada e seguirá para a Conferência Estadual da
DPESP. Como fui eleita Delegada defenderei esta proposta junto à Plenária Final para que seja aprovada e
inserida no Plano Anual de Atuação.
87
Passível de ser fiscalizado, controlado e responsabilizado.
107

Mas apontam que há problemas a serem solucionados no sentido de que há urgência


em se aperfeiçoar os mecanismos de implementação e monitoramento das propostas
aprovadas nos Ciclos de Conferências da DPESP, para que haja uma adequação das demandas
aprovadas à capacidade institucional para efetivá-las, sob pena de que haja um possível
esvaziamento da função dos Ciclos de Conferências, tendo em vista a fragilidade e a fluidez
das relações que se estabelecem nestes “tempos líquidos” (BAUMAN, 2007) ou até mesmo
descrédito dos mecanismos de participação social e de controle da instituição por parte da
Sociedade Civil.
108

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Defensora Pública-Geral.

Relatório de Gestão 2012, disponível em:<


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Relatório de Gestão da Ouvidoria da Defensoria Pública - 2010-2014, disponível em: <


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Legislação e Demais Documentos Consultados:

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de Fevereiro de 2015.

BRASIL. Lei Complementar n. 80, de 12 de Janeiro de 1994. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm>, acesso em 14 de Fevereiro de
2015.

BRASIL. Lei Complementar Federal n. 132, de 7 de Outubro de 2009. Disponível em: <
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BRASIL. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.608. Disponível em:<


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MOVIMENTO PELA DEFENSORIA PÚBLICA. Disponível em:


<www.movimentopeladefensoriapublica.hpg.com.br>. Acesso em 02 fev. 2014.
116

APÊNDICE 1

Quadro 1: Atores Entrevistados

Ator Posição que ocupa Referência Bibliográfica e


Data da Entrevista
Entrevistado DPESP88 Diário de Entrevista,
(i) 06/01/2015

Entrevistado Ex Servidor do Gabinete da Diário de Entrevista,


(ii) Primeira Subdefensoria 14/01/2015

Alderon Costa Ouvidor Geral da DPESP Diário de Entrevista,


(iii) 15/01/2015

Luciana Ex Ouvidora Geral – Gestão Diário de Entrevista,


Zaffalon 2010-2012 e 2012-2014 17/01/2015

(iv)
Pedro Aguerre Membro do Conselho Diário de Entrevista,
(v) Consultivo da Ouvidoria 18/01/2015

Entrevistado Membro da Sociedade Civil Diário de Entrevista,


(vi) /Atuou como Delegado 26/01/2015

Entrevistado Membro da Sociedade Civil/ Diário de Entrevista,


(vii) Atuou como Participante 26/01/2015

(Ouvinte) nos Ciclos de


Conferências
Ana Paula de Coordenadora do Núcleo de Diário de Entrevista,
Oliveira Castro Promoção e Defesa dos 03/02/2015

Meirelles Lewin Direitos da Mulher


(viii)
Ana Rita de Coordenadora Auxiliar do Diário de Entrevista,
Souza Prata Núcleo de Promoção e 03/02/2015

(ix) Defesa dos Direitos da


Mulher

88
Esta entrevista foi concedida sob anonimato, por esta razão, a única informação que poderemos fornecer é a de
que esta pessoa trabalhou na DPESP.
117

Rosier Assessora Técnica no Diário de Entrevista,


Custódio Batista gabinete do Primeiro 06/02/2015

(x) Subdefensor Público Geral


da Defensoria e Membro do
Comitê de Organização da
Conferência Estadual
André Pires de Membro do Conselho Diário de Entrevista,
Andrade Kehdi Consultivo e Presidente do 09/02/2015

(xi) Instituto Brasileiro de


Ciências Criminais -
IBCCRIM
Vivian Advogada do Programa de Diário de Entrevista,
Calderoni Justiça da Conectas Direitos 13/02/2015

(xii) Humanos
Rafael Moraes Primeiro SubDefensor Diário de Entrevista,
Português de Público Geral 20/02/2015

Souza
(xiii)
Douglas Defensor Público Assessor Diário de Entrevista,
Tadashi Magami da Primeira Subdefensoria 20/02/2015

(xiv) (Comissão de
Monitoramento)

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