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PUC - SP
SÃO PAULO
2008
BANCA EXAMINADORA
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DEDICATÓRIA
Muitas são as pessoas que passam por nossa vida e sob diferentes aspectos,
deixam conosco sua marca; nessa trajetória de pesquisador não foi diferente; muitas
dando-me forças para superar as dificuldades e chegar até aqui sem me entregar às
dificuldades.
Agradeço ao Evaldo, hoje meu noivo, brevemente meu esposo, mas sempre
meu companheiro e amigo, que nunca deixou de me incentivar. Sinto muito orgulho
de você!
À minha mãe que sempre foi capaz de enfrentar qualquer dificuldade para
também são responsáveis por essa conquista. De forma especial a Prof.ª Dr.ª Maria
Fernanda Teixeira Branco Costa, que acreditou em mim, leu meu projeto e me deu
segurança para iniciar o mestrado; à Prof.ª Dr.ª Maria Teresa dos Santos, exemplo
de pessoa e profissional, gostaria de estar mais perto dela e sei que sempre poderei
À Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Martinelli, por me acolher e incentivar. Ela muitas
vezes repetiu algo que tem me ajudado profundamente em minhas escolhas da vida,
uma forma fincada na realidade. Intelectual que admiro, possui a capacidade de com
transparência como pessoa e por tratar a nós alunos de forma tão íntima.
país, enfrentando os desafios que esta atividade impõe. Ressalto o apoio que
especial, agradeço à secretária Kátia pela atenção que dispensa aos alunos.
When society changes, a new way of life begins, and with it new human needs arise;
in order to deal with them, professionals reorganise themselves and seek new
strategies for a more effective role. This research starts from the fact that it is time to
rethink about the social worker space and seeks to contribute to the professional
exercise, particularly in the “third sector”, a field which has grown notably in the last
decade, despite being little studied. To better know the social workers' work
possibilities in the third sector, we have adopted a quantitative research with four
carers representing such sector. As results we have reached the profile limits of
those entities, defined by Law as Social Care entities, and have found the trace of
religiosity and a remarkable dedication in attending to children and teenagers. During
this research, financial resources were given priority, in which we have found that tha
State is the major investor to the development of these activities; we have also
examined other factors such as management, resource funds and volunteers
participation. Analysing the social workers professional performance in the third
sector and its peculiarities, we have thought about topics such as activities, planning,
autonomy and work value, enhancing the social care network and the citizen's view
about private and public spaces. We have studied the professionals' capacity and
their political interest as an answer to the labour market difficulties, however we have
noticed that this participation is only seen in the legal counselling sector. These
professionals highlight a good relation with the council social care network and their
local knowledge, which helps to further the institutional space, resulting from the
necessity for better care and appliance of rights.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10
Metodologia de Pesquisa ...................................................................................... 16
INTRODUÇÃO
• Perfil geral dos profissionais entrevistados: sexo feminino, com idade entre
45 a 59 anos, formado a partir da década de 90 (na Universidade de
Taubaté), relativamente há pouco tempo trabalhando no “terceiro setor”,
comparado a seu tempo de atuação profissional, apresentando apenas a
graduação.
Metodologia da Pesquisa
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Trecho extraído da proposta de trabalho do NIC - Núcleo de Estudo e Pesquisa Identidade, Cultura
e Historia Oral do Departamento de Serviço Social da Universidade de Taubaté, sob a coordenação
da Prof.ª Dr.ª Maria Fernanda Teixeira Branco Costa.
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senão, pelo caráter singular de cada pessoa. Assim, os sujeitos sempre revelam
respostas singulares, como explica Portelli (1997, p. 16):
É por meio da fala dos sujeitos que podemos apreender os sentidos que ele
constrói, cotidianamente, para exercer sua profissão. Isto é possível por que as
palavras são carregadas de sentido, elas são geradas pelos desejos e necessidades
humanas para depois, no pensamento, adquirir significados e ser exteriorizadas
constituindo-se em palavras.
A História Oral, enquanto metodologia, permite por meio da coleta dos relatos
orais, identificar os elementos que compõem a experiência profissional, bem como a
percepção dos profissionais acerca de seu espaço de trabalho.
região, abrigando empresas como Volkswagen, Ford, LG, Alstom e Usiminas, dentre
outras, além da Aviação do Exército.
O Conselho Municipal de Taubaté foi criado pela Lei nº 4.046, de 04 de abril
de 2007, tem como competência, dentre outras, zelar pela efetivação do sistema
descentralizado e participativo da assistência social, atuar na formulação de
estratégias e controlar a execução da política de assistência social; aprovar o Plano
Municipal da Assistência Social, inscrever as entidades e organizações de
assistência social que prestem serviços no Município para os efeitos da Lei Orgânica
de Assistência Social, divulgar e promover a defesa dos direitos sócio-assistenciais,
etc. A posse do Conselho se deu em 27 de junho de 2007.
(...) a História Oral não se concentra nas pessoas médias, mas não
raro considera mais representativas aquelas que são extraordinárias
ou incomparáveis. (...) o escravo que foi punido com cem chibatadas
pode esclarecer mais a instituição da escravatura do que aqueles
que chicoteados 0,7 vezes por ano.(...) Além disso, um contador de
histórias criativo ou um brilhante artista da palavra constituem fonte
de conhecimento tão rica quanto qualquer conjunto de estatísticas.
22
Para Anderson (2002), Hayek acreditava que o capitalismo corria perigos por
dois motivos principais: os gastos trazidos pelo Estado intervencionista, que
relativamente eliminava as diferenças sociais e, nessa compreensão, desestimulava
a moralidade do trabalho e, conseqüentemente, diminuía a prosperidade, pois esta
dependeria da concorrência. Também, segundo Hayek, a intervenção/ regulação do
23
3
“A estratégia de organização – taylorista/fordista do processo produtivo implica a produção em série
e em massa para o consumo massivo, uma rígida divisão de tarefas entre os executores e
planejadores, o trabalho parcelar e fragmentado e a constituição da figura do operário-massa. Essa
base de organização do processo de trabalho demarca o padrão industrial do pós-guerra,
complementando com políticas anti-cíclicas levadas a efeito pelo Estado, impulsionadoras do
crescimento econômico. (IAMAMOTO, 2001, p. 115).
25
Assim, quando o trabalhador sente que não atingiu seu objetivo, ele sente que
seu fracasso é individual. Além desse discurso, na busca por novos mercados o
28
4
“Fala-se cada vez mais em qualidade total, que é apresentada como qualidade das condições de
trabalho e qualidade de vida, mas visa, de fato, a rentabilidade do capital investido, voltada ao
trabalhador produzir mais com menos custo, tendo em vista maior lucratividade. (IAMAMOTO, 1999,
p.116).
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período; e, por fim, porque os serviços prestados pela empresas privatizadas caíram
em qualidade e aumentaram os preços, como nos casos da energia elétrica e
telecomunicações. No Brasil, estas últimas têm sido recordistas em reclamações
registradas contra elas nos serviços de defesa do direito de consumidor. Além disso,
reduziram os empregos, por meio de processo de enxugamento e terceirização.
(LESBAUPIN; MINEIRO, 2002).
Segundo Gaudêncio Frigotto (2001), vemos que nesse período, quem dirige a
vida social são os grandes organismos do capital. O Consenso de Washington5 e
suas conseqüências demonstram claramente essa dominação. O Fundo Monetário
Internacional, o Banco Mundial e a Organização Internacional do Trabalho interferem
no nosso cotidiano adaptando-o aos seus interesses privados. Cada vez mais o
capital está se reproduzindo por si mesmo, através de dois elementos de
importância: o conhecimento e a tecnologia, que fazem com que o capital vá se
desprendendo da força de trabalho. Ficamos à mercê dos interesses do capital que,
por estar se tornando independente da mão-de-obra, de fronteiras e de mercado,
acabam minimizando seus gastos, ao mesmo tempo em que maximizam seu lucro.
5
Consenso de Washington refere-se a uma reunião realizada em “em novembro de 1989 (...) entre os
organismos de financiamento internacional de Bretton Woods (FMI, BID, Banco Mundial), funcionários
do governo americano e economistas latinos-americanos, para avaliar reformas econômicas da
América Latina, o que ficou conhecido como Consenso de Washington”. (MONTAÑO, 2002, p. 29).
Nesta reunião definiu os caminhos que os países subdesenvolvidos deveriam trilhar para alcançar o
desenvolvimento.
32
Então, concluímos que estamos diante de uma pobreza globalizada. No entanto, não
podemos deixar de considerar que a globalização não é um processo que pretende
ser homogêneo, pelo contrário, aumenta a exclusão social6, ao mesmo tempo em
que acumula riquezas para os setores dominantes. Neste sentido, é verdadeira a
afirmação de Mattoso (2002, p. 35) que:
6
(...) a noção de exclusão social estende a noção de capacidade aquisitiva relacionando a pobreza a
outras condições atitudinais, comportamentais, que não se referem tão-só à capacidade de retenção
de bens. Conseqüentemente, pobre é o que não tem, enquanto excluído pode ser rico, mas
discriminado em razão da cor negra, opção sexual, gênero, idade etc. (SPOSATI, 1999, p. 66).
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Borón (SADER; GENTILLI, 1999, p. 38) chama a atenção para o poderio das
empresas privadas, que além de assumirem um tamanho estatal, interferem em
seus mecanismos decisórios, a favor de seus interesses particulares.
O Plano Diretor que orientou a reforma do Estado tinha por base que o
Estado deveria estar fora do setor produtivo e de que a crise do Estado relacionava-
se aos gastos sociais.
Sabemos que os custos das demandas sociais é argumento clássico das
reformas neoliberais, utilizado desde a década de 1970 até os dias de hoje. Por isso,
mesmo com a Constituição Federal de 1988, a Política Social ficou aquém do
necessário, devido às exigências do Banco Mundial.
Foi uma reforma do papel do Estado, na qual reformar significou transferir
para o setor privado tudo que fosse possível.
Fernando Henrique afirmou ser contra a tese do Estado mínimo, o esforço do
seu governo era no sentido de fortalecer o Estado, centralizando o poder na esfera
federal. Então, na verdade, FHC não fortaleceu o Estado, apenas o reestruturou.
40
No Plano Diretor, o cidadão passou a ser visto como cliente, o que demonstra
a isenção do sentido político. A propaganda ideológica do governo FHC foi para
justificar a reestruturação na máquina estatal, utilizou-se da bandeira do ajuste de
caixa, sem esclarecer os efeitos sociais dessa medida, apenas a demonstrou como
um sistema que acabaria com os privilégios do funcionalismo público.
A reforma da Previdência Social é parte importante do processo de ajuste
fiscal; outro ponto importante é a sua privatização.
Ocorre que as camadas médias não reivindicam o acesso aos serviços, por
serem vistos como de má qualidade, reforçando a tese do Banco Mundial de que o
Estado deve atender apenas aos mais pobres.
Certamente, nivelar o governo Lula com base nos governos anteriores, como
a mídia vem fazendo, utilizando o discurso de que este governo é mera continuidade
de seu antecessor, é um equívoco ou falta de atenção. Muitas mudanças ocorreram
e outras estão em processo. Observando algumas ações do atual governo, vemos
que embora o neoliberalismo esteja presente, existe a preocupação de não afastar
totalmente o Estado da vida social.
7
O tema institucionalização do Serviço Social será retomado e melhor trabalhado no próximo
capítulo.
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É importante, deixar claro que “terceiro setor” e “sociedade civil”8 não são
sinônimos; fortalecer a sociedade civil é fortalecer seu espaço decisório dentro do
âmbito estatal, pois é neste espaço que se pode exigir os direitos.
8
“A sociedade civil é constituída de variados organismos, ou seja, ela é o conjunto complexo; o seu
campo é muito extenso e sua vocação para dirigir o bloco histórico implica uma adaptação de seu
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conteúdo, segundo as categorias sociais que atinge. Assim, a sociedade civil pode ser considerada
sob três aspectos complementares.
• Como ideologia de classe dirigente, ela abrange todos os ramos da ideologia, da arte à
ciência, incluindo a economia, o direito etc;
• Como concepção de mundo difundida em todas as camadas sociais para vinculá-las à classe
dirigente, ela se adapta a todos os grupos; advém daí diferentes graus qualitativos: filosofia,
religião, senso comum, folclore;
Como direção ideológica da sociedade, articula-se com três níveis essenciais: A ideologia
propriamente dita, a “estrutura ideológica”, isto é, as organizações que a criavam e defendem – e , o
“material ideológico”, ou seja, os instrumentos técnicos de difusão da ideologia (sistema escolar,
mídia, bibliotecas, etc)” (PORTELLI, 1997, p. 22 apud NASCIMENTO, 2004, p. 04).
9
Conforme a autora abrevia “terceiro setor”.
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que nele encontramos atores diferenciados tanto por sua natureza, quanto por seus
interesses e objetivos sociais.
Mesmo que hoje esse termo (sociedade civil) tenha sido apropriado pelo
projeto neoliberal e, neste cenário, signifique justamente o contrário, o
enfraquecimento das responsabilidades do Estado, atualmente, o espaço da
sociedade civil pode significar tanto a arena de luta pela hegemonia, na concepção
gramsciana10, quanto um espaço despolitizado que usa a filantropia para ser
funcional ao neoliberalismo e abre um espaço para a privatização das políticas
públicas.
10
“A hegemonia expressa a direção e o consenso ideológico (de concepção de mundo) que uma
classe consegue obter dos grupos próximos e aliados. A conquista progressiva de uma unidade
político-ideológica – de uma direção de classe – requer a busca do consenso dos grupos sociais
aliados, alargando e articulando seus interesses e necessidades”. (DURIGUETTO, 2005, p. 85).
11
É por meio da ideologia que “o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais –
dominante e dirigente – tornam-se o ponto de vista e opinião de todas as classes e de toda
sociedade. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-
lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos.” (CHAUÍ, 2002, p.
174).
12
No pacto keynesiano “coube ao Estado viabilizar salários indiretos por meio das políticas sociais
públicas, operando uma rede de serviços sociais, que permitisse liberar parte da renda monetária da
população para o consumo de massa e conseqüente dinamização da produção. Esse acordo entre
Estado, empresariado e sindicatos envolveu uma ampliação das políticas públicas, que passaram a
dispor de ampla abrangência, permitindo que fosse liberada parcela da renda familiar para o
consumo.” (IAMAMOTO, 2001, p. 115).
49
processo. Por conta disso, este debate soa aos ouvidos de Ulisses
como um sedutor ‘canto de sereia’, que o empurra às profundezas do
mar. (MONTAÑO, 2002, p. 23).
Podemos inferir, conforme Montaño, que não existe uma parceria entre o
Estado e a sociedade civil. O Estado apenas repassa uma determinada verba às
instituições, mas são elas que prestam serviço à população, não existe um rigoroso
acompanhamento ou uma sistemática avaliação desses serviços. Fica claro que o
próprio Estado procura minimizar suas responsabilidades, justamente por isso não
podemos acreditar na idéia de parceria, porque vemos que na realidade o que existe
no lugar das chamadas parcerias é a substituição da responsabilidade estatal pela
responsabilidade civil.
Por outro lado, não podemos esquecer que esta não é a realidade da
maioria dos projetos pertencentes ao “terceiro setor”, pois no caso das parcerias,
como já diz o ditado, “quem banca a banda, escolhe a música”, ou seja, ao serem
parceiras, as empresas privadas interferem no caráter dos projetos e em seus
55
É importante que exista na sociedade civil uma discussão maior sobre qual é
o papel do Estado e o das empresas privadas, já que existe uma penetração entre
as funções do Estado e do setor privado, traduzida na fusão do capital privado com
o capital público, com o objetivo de reproduzir o capital privado. Assim, o Estado
está passando a servir às empresas privadas, como financiador das próprias,
injetando capital para que elas possam se movimentar no mercado. De outro lado,
as empresas dizem assumir um outro papel: essas “servem” à população, via
filantropia empresarial ou responsabilidade social. Claro que o grande financiador do
“terceiro setor” é o Estado, como veremos na pesquisa, mas, da forma como tudo
isso é apresentado, a opinião pública não consegue ver de forma clara quais são os
papéis pertencentes a cada setor, visto que a estrutura da relação entre setor
público e privado se mostra de forma confusa e obscura. Assim, não podemos
esquecer que:
(...) Em 1989, teve um surto de meningite em São José e seis crianças da Igreja
Evangélica foram acometidas pela meningite e ficaram surdas; não existia fonoaudiólogo em
São José, nada que se direcionasse a surdez, até porque a maioria dos surdos, quando
conseguiam desenvolver a fala, tavam em alguma escola; por outro lado os que não
conseguiam, tavam dentro de casa, sendo confundidos até com deficientes mentais; é um
histórico muito sério do surdo, é esse. Aí, esse grupo de pais se uniu e começou:
contrataram uma fono de Jacareí, uma educadora de São Jose que tava se especializando
em deficiência pra trabalhar com essas crianças. Então, era uma escolinha, aí com o passar
do tempo a coisa foi tomando proporção e divulgação que as pessoas da comunidade de
São Jose começou a procurar. A partir disso, foi um momento de boom também dentro da
profissão de fonoaudiologia, aí começaram as fonos se formarem, montarem consultórios,
então como essas pessoas tinham uma condição socioeconômica mais elevada, eles
acabaram pondo seus filhos em fonoaudiólogo particular e se desvinculando da AADA. Aí, a
Igreja continuou cedendo o espaço, mas na verdade já não ficou mais nenhuma criança da
própria Igreja, só da sociedade de São Jose, e foi aumentando de seis, foi para 12, 15, 25 e
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nós temos um fluxo, já que passou pela AADA de mais de 300 crianças. Hoje o espaço não
tem mais nada a ver com a Igreja. Ao longo desses dezoito anos a AADA foi se
desvinculando e formando personalidade, ou seja, ela se tornou dentro da realidade do
município, e das necessidades dos deficientes auditivos e surdos, um modelo de trabalho,
não há de se descartar que a AADA seja uma escola especializada de surdos, de formação
do ensino fundamental, mas até então a AADA ta baseada num programa alternativo de
atendimento ao surdo, que é o mix de atendimento. (Sujeito I).
A creche Santo Antônio funciona no município há mais de vinte e cinco anos. Nesse
prédio novo faz dez anos, antes funcionava numa casa mais precária. E esse prédio novo, é
um sonho do Monsenhor Teodomiro. Ele era pároco da Paróquia Nossa Senhora D’Ajuda e
o sonho dele era construir uma creche, num espaço maior, mais adequado, pra então,
atender as crianças carentes do município. E ele queria que essa instituição fosse
administrada por uma instituição religiosa, então ele solicitou ao Instituto das Apóstolas do
Sagrado Coração de Jesus, elas vieram para Caçapava e assumiram a obra há dez anos.
(Sujeito II).
A entidade já está aqui há quinze anos. A pessoa que idealizou, a Maria Francisca,
na realidade, a intenção dela era um orfanato e isso mudou com o tempo. A gente passou
por questão de 1990, em adequação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, passou pro
trabalho sócio-educacional em meio aberto, que são as atividades sócio-educacionais. (...)
Nós trabalhamos com quatro educadores, o eixo do nosso trabalho é a informação, e
informação da melhor qualidade, em todos os aspectos, que se refere à vida dessas
crianças e adolescente, que isso interfira de alguma forma na reflexão da vidinha deles lá no
mundo.(Sujeito III).
É uma entidade que existe há 107 anos, bem antiga em Taubaté. O início dela foi
com o Frei, uma congregação franciscana, a princípio quem começou a trabalhar eram os
freis franciscanos. (...) Aí eles passaram pras irmãs franciscanas. A fundadora é a Madre
Cecília. Então assim, eles começaram em Piracicaba, mas agora a Congregação tá
localizada em Campinas. Então a mantenedora da congregação é em Campinas, e as casas
atendidas eles chamam de mantidas. Então a organização tem a presidência, a parte
administrativa da Cúpula da Congregação está em Campinas, aqui tem uma pessoa que é
responsável. São irmãs, uma na parte administrativa, e uma que é da parte pedagógica,
diretora pedagógica daqui, porque o trabalho que é feito com as crianças na parte da
educação. (Sujeito IV).
(...) ela tem um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Social de São Jose
dos Campos, que é a SDS, esse convênio banca 40% do custo de 50 atendidos, então na
verdade ele é menos, porque é caro o atendimento especializado e os outros atendidos são
da contrapartida da AADA. A contrapartida da AADA são cursos de libras, assessoria que a
gente faz. Nós temos uma equipe técnica especializada, então a gente dá assessoria para
empresas, para as escolas, pra outras instituições, pra grupos de profissionais e damos
cursos também, fora isso a gente vende camisetas, produtos promocionais, feitos na própria
oficina de pais. (Sujeito I).
Nós temos recursos próprios pela mantenedora, que é o Instituto das Apóstolas do
Sagrado Coração de Jesus, e nós temos três convênios. O convênio federal e nós temos
dois convênios municipais, um da secretaria de educação e outro da secretaria de cidadania
e desenvolvimento social; temos contribuições voluntárias e eventos. (Sujeito II).
(...) hoje nós temos um projeto que é bancado pela Secretaria de Desenvolvimento
Social. E, temos o Cecoi13, que é Educação. (Sujeito III).
13
CECOI significa Centro Comunitário de Convivência Infantil, é um programa da Prefeitura de São
José dos Campos, que funciona em parceria com as entidades sem fins lucrativos. “Seu principal
objetivo é atender crianças de 0 a 6 anos de idade em período integral, filhos de mães trabalhadoras”
(Guia de Programas Sociais, 2005, p. 27).
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14 “A CPI das ONGs é o nome dado para investigações sobre repasses de dinheiro para ONGs,
entre 1999 a 2006. Após o estouro do Escândalo do Dossiê em 15 de setembro de 2006 e de que a
ONG Unitrabalho, que tem como colaborador o petista Jorge Lorenzetti, teria recebido mais de R$ 18
milhões da União desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, como denuncia a ONG Contas
Abertas. (...) Desde o final de setembro de 2007, há possibilidade desta CPI entrar em funcionamento
antes do fim do ano, pois atinge muitos governistas e oposicionistas.” Fonte: Wikipédia.
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Por outro (lado) a gente tem vivido situações delicada por conta de muitas formações
de “terceiro setor” que vieram pra tirar vantagem. Organizações não sérias, não idôneas, ou
com atitudes duvidosas. Aí estremeceu um pouco, porque, infelizmente, a sociedade acaba
desconfiando, nivelando todo mundo, né. Então, essa foi a desvantagem. (Sujeito I).
O controle externo não pode ficar por conta da própria entidade. Se a verba é
pública, a fiscalização deve ser efetiva e de caráter público, não burocrática, de
forma que não gere dificuldades para as entidades. Assim, não é ao acaso que a
regulamentação do artigo 3º da Loas traga em seu texto a importância da
transparência das ações e a aplicação de recursos exclusivos para atender aos
objetivos institucionais, como uma característica essencial das entidades e
organizações de assistência social.
No que se refere ao financiamento, há outro dado interessante. Embora os
convênios sejam a principal fonte de recursos dessas entidades, todas, de alguma
forma, têm sua contrapartida, seja pelas mantenedoras ou por outras formas de
captação de recursos. Perguntamos aos sujeitos se existe captação de recursos,
atividade típica dessas entidades, e se o Serviço Social seria responsável por essa
atividade e obtivemos as seguintes respostas:
É de todos, diretoria, voluntários, associados, equipe técnica, a gente vai atrás. Tem
aí um grupo de senhoras que todo ano faz bazar, aí conhece a pessoa, ficou sabendo. Olha
70
aqui a AADA, se puderem colaborar, vai conhecer o nosso trabalho, então tá, essas
pessoas passaram anualmente a fazer doação financeira, ou então, fazem em material. Tem
voluntários na parte de informática, manutenção, é isso. (Sujeito I).
Ativamente, toda parte de captação de recursos é o Serviço Social que faz, toma
frente, na parte de eventos, toda programação que tem que fazer, na celebração de
convênios é o Serviço Social que faz. (Sujeito II).
Não temos ainda, o que a gente faz proporciona em alguns momentos, alguns
eventos durantes o ano, como a nossa feijoada, vamos ter a macarronada nesse final de
semana, e a festa junina. E é a Serviço Social que coordena esses eventos? Isso na
realidade, não necessariamente, é a equipe. (...) Quando há esses eventos, todos os
funcionários da casa vêm. (...) Em alguns momentos, a macarronada é como voluntário,
mas a festa junina e a feijoada é na realidade um acordo que a gente paga os feriados,
emendas. (Sujeito III).
Tem alguns eventos... É, tem o bazar toda segunda e quinta feira abre também para
captação de recursos. Festa Junina tem também... A receita Federal também faz doações
de material de apreensão, aí eles também doam para entidade. (...) O meu trabalho ele é
para atendimento das crianças e da família. (...) Essas coisas assim elas (as irmãs
religiosas) que fazem. Olha, eu não gosto. Eu não sei como você estudou, mais quando eu
estudei, essas atividades não são da nossa área. Então assim, eu não me envolvo, porque
não há necessidade, não é minha área, até para não ficar misturando muito. O que é da
minha área eu não passo para ninguém, então, o que não é da minha área, também não
assumo. (Sujeito IV).
Foi uma grata surpresa encontrar uma profissional que não participa de
eventos de captação de recursos por entender que isso não faz parte do trabalho do
Serviço Social; concordamos plenamente com seu posicionamento, a surpresa deu-
se pelo fato das três entrevistadas anteriores participarem dessas atividades. Bom
também saber, que ao menos, essas atividades, nem sempre são coordenadas pelo
serviço social, mas por toda equipe, o que faz com que o profissional não assuma
essa responsabilidade de forma integral, e não gere mais atribuições fora de sua
área. O fato dessas atividades serem aos finais de semana e não remuneradas,
voluntárias mesmo, conforme as falas abaixo, impressionou-nos muito.
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Aí é minha parte de voluntária, não faz parte da minha função. Porque existe uma
voluntária em marketing, que é responsável por isso, então a gente só discute, por exemplo,
vai ter um encontro numa empresa tal, a gente foi convidado. Vale a pena ir, ou não vale a
pena. E, quais são as pessoas, aí entram os profissionais enquanto voluntários. Aí vai fora
do horário de trabalho. E a gente faz, todo mundo vai. Quem tá aqui na AADA, é porque
realmente tem o mesmo propósito, tá envolvido. Trabalho institucional é muito disso. (...)
Sabe, não é só a capacitação técnica do profissional, é também, aqui todos nós temos pelo
menos pós-graduação, mas a gente tem essa proposta de voluntariado também. (...) Então,
final de semana, vamos supor, a gente vai vender sorvete no Parque da Cidade, como já
aconteceu. Quais são as pessoas que podem ir? Fulana, então, vamo fazer uma escala, a
gente faz essa escala, pra não pesar pra todo mundo, todo mundo participa. Não sente
uma obrigação? Não, não, a gente se diverte, aqui, a gente se diverte muito. Como você
mesmo citou, o ambiente daqui é gostoso, é tranqüilo. A assistente social como teve uma
reunião, ligou que ia atrasar, vai ter uma reunião agora à tarde, as mães tão lá, tão
conversando, elas vão pegando as coisas que tem para fazer da oficina e vão fazendo, já
tem uma linha, entendeu? Já tem um fluxo. (Sujeito I).
Aqui na creche Santo Antonio final de semana é muito difícil a gente trabalhar, a não
ser quando a faz algum evento, alguma festividade especial, dia dos pais, dia das mães, que
daí a gente procura fazer no sábado, ou quando tem algum evento pra angariar fundos, aí
sim, aí a gente vem pra trabalhar. Todo trabalho é voluntário. Tudo que passa do seu
horário de trabalho é voluntário? Algumas vezes sim, outras vezes a gente faz banco de
horas, então, a irmã fala tal terça você pega folga, e isso e aquilo, mas remunerado mesmo,
esses trabalhos não são não. Todos os funcionários trabalham nesse sentido.(...) eu venho
porque eu gosto, a gente e outros profissionais aqui dentro, não vem porque foi solicitado,
vem por amor a causa. Vão fazer dez anos que eu estou aqui na Creche Santo Antonio,
então todo processo de formação, de construção, eu presenciei, vivenciei, então a gente
acaba criando um vínculo muito grande, e eu gosto muito do trabalho que é realizado aqui, a
pesar de ter muitas dificuldades. As irmãs que administram elas têm uma consciência em
relação ao trabalho, em terceiro setor, elas até que valorizam muito. Então, quando a gente
é solicitado para trabalho voluntário, ou até pra formação, a gente tem formação interna, eu
venho por livre e espontânea vontade mesmo, porque eu gosto. Mas assim, outros lugares
que eu fui solicitada para ir e tudo mais, eu já me senti assim um pouco..., mas aí quando
você chega vê o trabalho você até muda um pouco de opinião. Mas a questão do
voluntariado pra mim é muito importante, a gente cresce e aprende muito. Essa outra
instituição que eu trabalhei, fui como voluntária, ia todos os sábados, era com dependência
72
química, mas assim, eu só não continuei por conta da direção, porque a direção não
valorizava o trabalho do Serviço Social, só queria você para assinar documento, e aí esse
não é o meu objetivo. No meu objetivo, assinar papel é o de menos. O trabalho que você
desenvolve com eles, a confiança que conquista ali, eu fiquei seis meses lá, e quando eu
saí... é até hoje alguns da administração até pedem, volta seu trabalho tava ficando bom,
isso e aquilo. Mas quando você se esbarra com uma diretoria que só quer que você faça
aquilo que é do interesse deles, e o diretor é político, aí a coisa não caminha, então aí não é
pra mim não. Mas o voluntariado também é algo muito gratificante de se fazer. (Sujeito II).
É o vestir a camisa daquilo que eu faço. A gente vem, vem com muito prazer, não
tem essa preocupação da questão com banco de horas, com valor esse ou não seja lá o
que for. A gente vem, se doa da mesma forma como se nós tivéssemos na execução do
trabalho. E tem uma equipe que é muito boa aí pela frente. Tudo isso colabora. (Sujeito
III).Na verdade no primeiro caso, não é a assistente social que participa dos eventos,
mas a pessoa; ela sabe que não é função do Serviço Social, dessa forma,
respeitamos seu propósito pessoal e acreditamos que essa distinção tem
importância, principalmente, se for reconhecida pela equipe de profissionais.
Nessa pesquisa não conseguimos saber até que ponto isso realmente é uma
escolha totalmente livre para essas profissionais. Pelas falas, parece-nos que sim,
mas no primeiro caso, percebemos que o voluntariado é um direcionamento da
entidade; fica, então, um questionamento se o ato é tão voluntário assim.
Apenas na segunda entidade o serviço social é responsável por toda essa
parte, talvez, por ter uma característica mais tradicional, dirigida por irmãs. Mas, se
compararmos com a última entidade, que possui essa mesma característica,
podemos entender que também depende da postura profissional. Na segunda
entidade, também parece que o ato voluntário é um direcionamento, já que atinge a
todos os profissionais, além do que, até a formação interna é realizada no final de
semana e sem remuneração.
Uma reflexão que fazemos é como ficarão os/as próximos/as profissionais
que ocuparem o lugar de assistente social nessas entidades? Será que poderão se
recusar a trabalhar finais de semana voluntariamente? Bem, fica a dúvida.
O assistente social pode colaborar na captação de recurso, mas dentro do
horário dele e se for algo combinado, que faça parte da relação contratual entre
entidade e profissional. Por outro lado, é bonito ver o envolvimento dessas
73
Sabe o que acontece, eu tenho um horário para cumprir, se eu, por exemplo, falar
amanhã eu não posso vir por causa disso, também não tem problema. Eu tenho uma
liberdade com relação a isso, que até agora, então eu não tenho muito isso, quando é
preciso fazer alguma coisa e sair 11h eu saio tranqüilamente. (...) Eu tenho essa flexibilidade
porque se você começa também deu meio dia eu vou embora. Agora qual que é o meu
compromisso profissional? Você tem que levar em consideração isso. Se eu amanhã
começar a chegar depois da hora, aí muda de figura, e nesses anos eu não tive esse
problema. Se eu precisar sair eu saio, se eu precisar chegar mais tarde, sempre procuro
avisar, evidente, sem problemas. Eu não tenho problema com relação a isso, é bem flexível.
Então tem voluntário que trabalha na área de marketing, serviços gerais e na própria
oficina também tem alguns voluntários que devem ensinar algum tipo de habilidade. (...) O
75
Serviço Social tem essa função aqui dentro, dentro da hierarquia, do organograma da
AADA, o Serviço Social tá ligado diretamente à Coordenação Técnica, que hoje passou a
ser da fonoaudióloga. (Sujeito I).
Temos, mas nós temos dificuldade com o voluntariado, porque a gente acaba não
podendo contar muito com eles. Atualmente, nós temos somente três voluntários. (...) Não, a
questão do voluntariado fica para parte administrativa, o primeiro contato até é feito pelo
Serviço Social, mas a conversa mesmo, o contrato de voluntariados, que é feito com eles e
tudo mais, isso é feito pela irmã responsável. (Sujeito II).
Então, nós temos hoje o voluntário da oficina de artesanato, duas voluntárias para
oficina de artesanato, uma realiza terça-feira, e uma quinta-feira. (...) Então, isso a gente
tem acompanhado. Na realidade a gente não adotou ainda a questão do voluntariado aqui
na entidade, porque nós tivemos algumas experiências que não foram positivas. Porque o
voluntário geralmente são pessoas que de alguma forma estão desempregadas. E, aí o que
acontece, eles entram começam um trabalho, daqui a pouco desistem, no meio do caminho.
Então, isso não foi positivo, nós tivemos uma voluntária que foi de psicologia, não foi bom, a
experiência não foi boa. A de inglês também, nós tivemos o mesmo problema: na hora que
conseguiu um trabalho, saiu. A gente sentiu assim, que a gente ficou abandonado, por eles,
e mais que nós, foram as crianças. Então, a gente não adotou ainda, por essa questão da
responsabilização, do comprometimento, porque acho assim, não sei se é próprio da região,
mas é difícil, ou por conta da questão da espiritualidade que a organização adota, não sei. A
gente ainda, não chegou a um consenso em relação a isso. (...) uma experiência que não foi
positiva pra nós aqui. As duas que se propuseram de artesanato, a gente tentou porque são
pessoas que na realidade, já são aposentadas, tem uma outra renda, não depende do
trabalho específico. Então, para nós, foi mais tranqüilo. Elas dão oficina de artesanato pro
Centro de Convivência às terças e quintas-feiras. (Sujeito III).
Olha com as crianças a gente evita trabalho de voluntário, porque, até quando eu
entrei tinha, mas o trabalho voluntário ainda é difícil até aqui mesmo. O trabalho do
voluntário eu admiro, eu trabalhei como voluntária, sei que a pessoa faz uma doação, quem
ganha mais, normalmente, é o voluntário, mas ele também tem que ser tratado com
respeito, porque uma coisa é você ter um funcionário, ele tem hora pra chegar, hora pra sair
e o voluntário, não. Então assim, como não se aprendeu a lidar bem ainda, eu,
normalmente, não recomendo voluntário, pra trabalhar com as crianças. Porque assim, você
olha pras crianças, as crianças são bonitinhas, o voluntário ele se apega àquela criança em
76
detrimento das outras, isso aí tem que ser muito bem trabalhado. Toda a direção pra
trabalhar isso tipo de coisa, não dá pra você se apaixonar por uma criança. (Sujeito IV).
Nós atendemos crianças carentes do município, a gente coloca como um critério pra
tá entrando na creche a mãe estar trabalhando fora, mas a gente não segue muito à risca
esse critério, porque a creche é direito da criança, o Estatuto dá essa garantia, e o que
importa pra gente é a criança estar realmente na creche. E, como a demanda é muito
grande, a gente acaba tendo que selecionar um pouco. Nós temos vários projetos na
instituição, nós temos projetos na área educacional, na área da saúde, nós temos projeto de
lazer e recreação, nós temos projetos de música, e tem o projeto do Serviço Social. (Sujeito
II).
Nós temos um dia no mês que acontece as inscrições, a gente vai pelas famílias que
efetivamente trabalham e que tem uma per capita baixa. Serviço Social é que define, que
faz a visita, que verifica toda questão socioeconômica dessa família para entrar. (Sujeito III).
A educação infantil a mãe deve estar trabalhando, pra criança ficar o dia todo na
creche. E aqui, como nós estamos numa realidade bem diferente dos bairros, nós também
temos um período parcial, porque o Estatuto contempla que a criança tem direito à creche,
ela não fala se é carente ou se não é carente. O direito é para todas as crianças do
79
município, então, nós temos o atendimento parcial atendendo até essa criança da região. A
condição sócio-econômica deles é um pouco mais alta, também não é aquela coisa
exagerada; às vezes a mãe não trabalha, a mãe não precisa trabalhar, às vezes o marido
tem um salário um pouco melhor, por cultura, ou dificuldade de emprego mesmo, a mãe não
trabalha. Ela traz a criança aqui, sem problema, nós atendemos prioritariamente as crianças
da região, nesse período parcial. E as crianças, mesmo que seja um pouco mais distante,
mas se a mãe trabalha aqui na região, nós atendemos também, mas a prioridade para o
atendimento de período integral é de que a mãe esteja trabalhando. Até porque se trabalha
para o fortalecimento do direito de família, pra mãe deixar aqui, tem casos também que a
mãe não trabalha, mas aí é onde entra então, no caso, o Serviço Social; nós atendemos
individualmente, sabemos que as situações são diferentes, que cada caso realmente é um
caso, então, mesmo que a mãe não trabalha, existe uma série de coisas: questão de
dependência química, alcoolismo, uma questão de vulnerabilidade social, às vezes o pai tá
preso, a mãe tá presa; nós temos tudo isso, então a gente também não esquece, você tem
também que contemplar essa criança, independente de tá trabalhando ou não estar
trabalhando. Essa área diz respeito ao social, grosso modo, a mãe trabalha, é simples. Mas
você vê, atende cada um na sua necessidade, é esse o trabalho que a gente tenta fazer
aqui. Aí os critérios acabam. São casos especiais, nós temos alguns assim, então essas
crianças também. Vai falar, mas sua mãe tá trabalhando, daí eu acho que choca. Quando a
gente na abordagem, na entrevista, na triagem que a gente faz, você percebe isso, no caso
visita; tudo, constata a necessidade da crianças, é ela que é priorizada. A questão familiar
daí é trabalho num outro momento, o atendimento imediato é para as crianças para que ela
tenha os seus direitos preservados. (Sujeito IV).
O sujeito I apresentou uma discussão importante que faz nos espaços em que
participa: os conselhos de direito, uma luta em torno dos direitos da pessoa com
deficiência, na qual a maior dificuldade encontrada é justamente a interpretação do
81
poder público sobre a legislação social, gerando uma exclusão que vai à contra mão
dessa mesma legislação.
Vale lembrar, que o terceiro setor é formado por múltiplos atores de natureza
diferente, assim, embora possua características gerais, há exceções de sujeitos que,
ao seu modo, estão lutando pela ampliação dos direitos sociais.
Nesse capítulo fizemos uma discussão acerca da noção de “terceiro setor”
que serviu de base para caracterizarmos as entidades de assistência social que
pesquisamos, as quais possuem a marca da religiosidade e dedicam-se ao
atendimento de crianças e adolescentes. Procuramos analisar pontos que refletem o
processo de crescimento do “terceiro setor”, como voluntariado, captação de
recursos e critérios de atendimento para que se compreenda o espaço em que
nossos sujeitos, assistentes sociais, estão inseridos. Deste modo, propomos para o
terceiro capítulo, aprofundarmo-nos nos impactos desse processo para o Serviço
Social.
82
15
Segundo Netto (1996), no processo de renovação do Serviço Social houve duas outras direções,
além da que já citamos. A primeira chamada perspectiva modernizadora, procura modernizar os
instrumentos de intervenção do Serviço Social adequando-os às exigências do desenvolvimento
capitalista, visando atribuir ao Serviço Social o cariz tecnocrático, sob inspiração estrutural-
funcionalista. A outra perspectiva, reatualização conservadora, repudia a tradição positivista, porém o
que opera na verdade é sua reatualização, pois se beneficia do acúmulo do Serviço Social com base
na ajuda psicossocial, se apresentando como de inspiração fenomenológica. É importante, ressaltar
que a perspectiva que ganha hegemonia ideológica no Serviço Social é a intenção ruptura; esta é a
única que realmente propõe ruptura com o Serviço Social “tradicional”.
84
traz de forma contundente em seu código ética a “opção por um projeto profissional
vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem
dominação da exploração de classe, etnia e gênero”. Conquista, também, a lei
8.662/93 que dispõe sobre a regulamentação e delimitação do exercício profissional
do assistente social, reafirmando os direitos do usuário e assistente social.
Sabemos que quem lucra com essa política social e econômica contra a qual
nossa categoria se posiciona são as multinacionais, os países que recebem juros da
dívida do país e, principalmente, o setor financeiro. Já a classe trabalhadora, com a
qual somos comprometidos, é quem paga por esse lucro, de forma direta por meio
dos impostos e indireta na precarização dos serviços públicos de que necessita.
Desse modo, essa carta também acaba possuindo o papel de colaborar para o
entendimento do projeto ético-político do contingente de assistentes sociais, já que
diante de tal conjuntura16 ele precisa ser reafirmado por todos os profissionais que
formam esta categoria.
16
Em outubro de 2002, os brasileiros foram às urnas e elegeram um governo popular e democrático;
para o Serviço Social abriam-se perspectivas para a realização do projeto ético-político que
defendemos. No ano de 2005, o Brasil passou a vivenciar um período de turbulência política,
marcado por acusações, denúncias e CPIs, tempo propício para críticas do atual governo e ideal
como palanque para oportunistas.
85
A realidade social traz muitos desafios para trabalharmos, mas também pelo
próprio movimento dialético coloca possibilidades que precisamos desenvolver em
frentes de trabalho. A partir da década de 1980, a classe trabalhadora pode avançar
em suas conquistas, como a Constituição de 1988, com a qual se deu início a um
processo de gestão democrática, que mesmo não se efetivando como desejado,
criou um espaço de participação popular nas decisões que lhes dizem respeito.
Esses espaços são conhecidos como Conselhos de Gestão Democrática e existem
em várias áreas na saúde, educação, habitação, alimentação, assistência social,
criança e adolescente e idoso. Esses espaços estão se alargando, multiplicando-se
e se estendendo a novas áreas, de forma que comportam novos atores sociais,
novos fóruns de representação. O assistente social também colabora nesse
processo enquanto membro desses conselhos ou divulgando informações que
possam garantir maior autonomia da sociedade civil dentro desses espaços.
17
“O capitalista compra o direito de explorar a força de trabalho durante uma jornada, na qual o
trabalhador não só produz o trabalho necessário para sua subsistência, mas um trabalho excedente
ou um valor excedente. Assim, o capitalista que compra a força de trabalho a faz funcionar por mais
tempo que o necessário para reproduzir o seu preço; caso contrário só obteria o tempo de trabalho
socialmente necessário equivalente ao salário, não se apropriando de qualquer trabalho excedente.
Sem trabalho excedente não haveria mais-valia, e a continuidade da produção estaria comprometida,
já que esta é seu impulso e finalidade básica.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1988, p. 49).
88
O Serviço Social não deixa de ser um trabalho concreto, porque tem uma
utilidade social; o trabalho do assistente social tem um efeito direto sobre a classe
trabalhadora. É a reprodução da força de trabalho, sua mercadoria, que por sua vez
irá produzir a mais-valia.
Embora, não seja objeto de nossa pesquisa, é interessante observar que para
esta profissional não cabe ao Serviço Social administrar as finanças da entidade;
sua gestão tem a característica de normalizar.
A diretoria, a gestão que eu fiz até hoje, eu não mexo com um centavo, é normatizar.
O Serviço Social não tem que mexer com dinheiro, eu sou formada há 25 anos e tenho
muito claro, a linha de Serviço Social. E pra mim isso não tem nada a ver. (Sujeito I).
No final do ano a gente faz inscrições, pra turma nova, essas inscrições, a gente
realiza visitas domiciliares, pra ta verificando a veracidade das informações. É a gente que
92
faz a triagem, toda parte de matrícula, entrevista, e depois no dia-a-dia, a gente faz o
acompanhamento das famílias, trabalha com a família e não somente com a criança, pra
gente poder atingir nossos objetivos tem que trabalhar com a família, ter todo um
acompanhamento com a família. A gente também dá ajuda material, cesta básica,
medicamentos, quando a gente percebe a necessidade da família. (Sujeito II).
Sempre terceiro setor. Meu primeiro trabalho foi com famílias de adolescente autor
de ato infracional, a gente trabalhava diretamente, buscava tornar as famílias interlocutoras
na busca dos direitos delas. Saí desse trabalho, fui trabalhar no CEDECA, Centro dos
direitos da criança e do adolescente, autor de ato irracional, aí já não era mais da família,
93
porque na realidade, era com a mãe diretamente e com os adolescentes não. No CEDECA
eu trabalhava diretamente com os adolescentes autores de ato infracional, que também é
um trabalho sócio-educacional e depois que eu vim para cá. (Sujeito III).
trabalha “n” situações, todas as temáticas, que são discutidas com os grupos de
adolescentes, desde disciplina, a questão da sexualidade, todos os temas preventivos,
gravidez precoce, “DST”, todas as temáticas que a gente trabalha de alguma forma com os
pais também, para que a gente possa orientá-los de alguma forma. Os meninos têm
orientação aqui, mas a gente dá o suporte, para que eles possam ta acompanhando isso, e
possam ta orientando também. A gente tem essa prática, todos os profissionais, foram
capacitados fora, pra discussão dessas temáticas. Nós estamos num processo, a gente tem
buscado essas alternativas, pra que a gente possa aprimorar, no sentido do atendimento a
essas crianças e com a melhor qualidade possível. Como o nosso eixo é informação,
informação e informação, e essa informação sempre da melhor qualidade, pra que eles
possam decidir sobre tudo que venha a acontecer na vidinha deles, e que eles possam fazer
a melhor escolha. (Sujeito III).
Entrei em julho de 2000, nesse projeto alternativo das crianças que estão no
convênio do estado. Ele exige que tenha um técnico da área de serviço social. Pra você vê
que não é pedagógico e não pede o professor e não pede pedagogo. (Sujeito IV).
Interessante que em outros momentos de sua fala, ela fala da inserção das
crianças na creche ou no projeto alternativo. Mas, na hora de falar sobre seu
cotidiano, destaca que seu trabalho não se resume ao público-alvo da entidade,
crianças e suas famílias, ou seja, é um trabalho estendido à sociedade.
família, dentro do âmbito dela, para que eu possa entrar um pouquinho dentro e
tentar ajudá-la na questão da estrutura, mudar algumas coisas dentro, eu tenho que
conhecer muito a realidade dela e você respeitando ela como ela é. (Sujeito III).
Sem dúvidas, o trabalho com famílias não é área exclusiva do Serviço Social,
mas, conforme podemos observar na fala da assistente social I, o assistente social
pode dar a esse trabalho um direcionamento próprio, utilizando seu conhecimento
para atender às famílias, construindo um vínculo com elas. Conforme a assistente
social III, em um acompanhamento que respeita e conhece sua realidade no
trabalho institucional das entidades de assistência, existe um relacionamento estreito
entre as famílias e o profissional; já que é um acompanhamento que se realiza ao
longo do ano, não tem a característica emergencial de atendimento.
Uma atividade que compõe e ao mesmo tempo norteia o trabalho do
assistente social é o planejamento. Percebemos que todos os sujeitos relatam
planejarem suas atividades, desde um planejamento maior, dos projetos que
realizam, desde a temática, a metodologia a ser definida e outros aspectos
essenciais a um projeto, até o planejamento do dia-a-dia, embora este tenha sido
menos citado. A primeira fala traz algo interessante: a importância do estudo
contínuo para o planejamento, como forma de melhorar o atendimento.
Nosso trabalho é todo planejado. Nós estamos renovando. Essa semana, a gente
inicia a gestão do projeto 2008/2009 e a gente já tem toda uma programação pro ano que
vem já, de tudo que nós vamos realizar. O que acontece, no próprio processo de
desenvolvimento, é óbvio que, enquanto temática que é proposta no projeto, tem aquelas
que venham de encontro com a realidade da criança, que vão surgindo. E a nossa proposta
é essa trabalhar aquilo que eles nos trazem, dentro daquilo da possibilidade dele, não aquilo
que a gente impõe, nós não impomos nada aqui. A gente sugere algumas temáticas,
algumas situações, mas a gente trabalha dentro da realidade deles, porque eu acho que a
gente só vai mudar a partir daquilo que eles, eles (repetiu dando ênfase à palavra) nos
trazem, tanto a família, quanto as crianças e adolescentes. Senão, a gente não anda pra
lugar nenhum. (Sujeito III).
você vê, tem planejamento nesse sentido. Mas, não sei dizer para você, por exemplo, outro
dia eu atendi 52 pessoas. Eu atendo aqui das oito às dez, porque depois eu procuro
organizar, guardando, depois arquivar, daí também vou visitar a creche, dar uma olhada,
uma acompanhada nas crianças. Saio um pouco da rotina, quando tem alguma doença.
(Sujeito IV).
O nosso perfil aqui são crianças de baixa renda; a maioria das mães trabalha como
doméstica, diarista, faxineira, outras nem trabalham, e nem vão conseguir entrar mesmo no
mercado de trabalho. Nós temos uma demanda muito grande da Vila Paraíso, que é uma
favela aqui do município de Caçapava. E a maioria é realmente de baixa renda e com uma
vulnerabilidade social muito grande. A gente ainda não conseguiu colocar isso no papel, isso
a gente ainda está em processo, porque como faz dois anos que realmente a gente
conseguiu implantar o Serviço Social na creche, então a gente ainda não conseguiu colocar
esses dados no papel, têm no relatório, as fichas dos educadores, relatórios dos
educadores, uma série de documentos, mas ainda no papel nós não conseguimos colocar.
(Sujeito II).
99
Hoje eu não tenho isso, para dizer para você exato, eu não tenho, mas eu posso
dizer que esses dias, eu tava conversando com a nossa a administradora e tava falando
isso. Há quinze anos, eu tô aqui, há quatro, quatro anos e meio, houveram outras
profissionais, mas a gente tem um índice assim muito baixo de gravidez na adolescência e a
questão da inserção nas drogas um número extremamente baixo, pelo número de crianças
que foram atendidas. (Sujeito III).
Olha pelos pais você sente bastante. A gente esbarra muito nas vaidades. Eu não sei
por que todo mundo se acha assistente social. E daí o que não é técnico, vocês podem
fazer, o que é técnico é meu. Isso aí causa certa, justamente, para você não ter que fazer
festinha junina, negócio de pizza, ficar vendendo carninha. Então eu acho que você tem que
ser respeitada por isso. (Sujeito IV).
Tenho, até porque eu cheguei antes da própria diretoria, sou a profissional mais
antiga, já passou dos treze anos. Então assim, essa confiança foi crescendo. E hoje,
conforme a decisão que tem que ser tomada por telefone, eu me comunico com os
responsáveis e OK. Já houve situações de eu ter que tomar decisão sozinha, depois prestar
contas junto com relatório, nunca fui barrada, de forma alguma, sempre fui muito respeitada
(Sujeito I).
102
Olha! Eu vou te falar uma coisa bem crítica, ta. O assistente social dá o volume que
ele quer, dentro da ação institucional. Se ele é uma pessoa de visão, uma pessoa atuante,
ele consegue ramificar o trabalho do Serviço Social de tal forma que o resultado sempre vai
ser valorizante e valorizado. Agora, se ele for um profissional que se limita a fazer
orientação e encaminhamento, ele vai passar e a instituição não vai desenvolver. Eu acho
que o Serviço Social, nós temos assim um número imenso de profissionais, que,
infelizmente, poderiam tá fazendo muito mais. (Sujeito I).
Tenho (respondeu com voz firme e rápido). Nesse aspecto sou muito respeitada,
tenho muito agradecer a entidade, a gente conseguiu um espaço, um espaço muito legal. Eu
sou muito respeitada no desenvolvimento do meu trabalho. A gente discute, senta pra
conversar situações. Mas assim, nunca houve intervenção no sentido de, não faça, ou a
gente não permite, nunca houve isso em momento nenhum. A gente tem uma autonomia
aqui em termos de desenvolvimento. Valorização do serviço social. (Sujeito III).
(...) hoje o Serviço Social consegue ter essa autonomia aqui na creche Santo
Antônio, mas, antigamente, nós não tínhamos não. O Serviço Social era o último a ser
procurado; mas há dois anos, que posso dizer agora sim, que o Serviço Social consegue ter
uma autonomia na creche. A gente sabe que não é uma autonomia muito grande ainda, mas
103
já é uma grande conquista. Eles respeitam o sigilo? Isso sim. É antigamente nem sala, a
gente tinha. Você atendia aqui, atendia lá, entra um, entrava outro não respeitava. Hoje não,
a gente já tem uma sala pra atendimento. Todos os recursos físicos que a gente precisa a
administração acata, na medida do possível, tenta solucionar o problema. E a parte do sigilo
é fundamental, e isso eu consegui também através de construção mesmo, e de mostrar a
importância desse sigilo também com a parte pedagógica. Que daí eu tenho que tá
trabalhando com os educadores, quando a criança apresenta algum problema, alguma
dificuldade, eu chamo o educador pra relatar essa situação da família. Se a criança não
apresenta nenhuma dificuldade, nenhum problema, então também não tem necessidade de
estar falando, se o pai ta preso, essas coisas, só mesmo em último caso, que a gente
chama e fala. (Sujeito II).
É afinal de contas, não temos essa de falar modelo de família, já não existe mais
isso. (...) se você conversar com cada profissional aqui da AADA, principalmente, os chefes
de setores, você vai ver que tem uma visão social, todos eles. Porque assim, a minha
104
(...) Mas tem algumas vezes que eles até trazem problemas que realmente não é do
Serviço Social, mas aí eu oriento e encaminho para onde deve ser levado aquele
determinado problema. Mas ainda falta muito, para eles compreenderem, saberem, um
pouco por falta de interesse deles mesmo, e outro também porque a gente faz um trabalho
de formiguinha, ainda tem muito que fazer e acontecer. (Sujeito II).
Sim, porque aí fica mais fácil e você consegue atingir o seu objetivo. Não adianta,
por exemplo, o Serviço Social querer dá um de pedagogo e fazer um projeto, não funciona.
Você realmente não tem a visão que o pedagogo tem, nem o conhecimento que ele tem.
Então, os projetos são feitos assim, até mesmo com a parte administrativa, a gente não
deixa de fora a parte administrativa. A responsável ela também vem, conversa, então, a
gente cria um projeto em conjunto. Mais difícil. É muito mais fácil você sentar sozinho e
fazer o que você quer, do que quando você tem outras pessoas do seu lado dando idéias,
sugestões, e cada um pensa de um jeito, então até chegar num consenso. Mas o projeto
fica mais pé no chão, fica uma coisa mais objetiva. (Sujeito II).
(...) Então assim as orientações para os professores e seu sempre faço no que diz
respeito às crianças. Elas também no que diz respeito às crianças, também me passam, nós
trabalhamos juntas nesse sentido. Mas também não envolvo na parte de conteúdo
pedagógico porque não é minha área. Se não está de acordo com o que está acontecendo
na sala com a área da criança aí sim eu intervenho, caso contrário, não. Até porque existe
um supervisor do departamento de educação e o conteúdo pedagógico é do departamento
de educação. (Sujeito IV).
(...) Agora, por aqui ser bem voltado para área de educação, eu vejo pouca
participação nas reuniões com os professores e todas as observações e sugestões não é
acatada por eles. Então eu não quero mais participar. (Sujeito IV).
Andrade (2006) cita uma pesquisa que realizou em 1999 sobre as demandas
postas às Ongs; entendemos por dedução, que estas demandas também atingem
aos profissionais inseridos nessas organizações, entre eles o assistente social.
Nesta percebemos que a solicitação de recursos é a demanda que aparece com
mais freqüência.
107
Nº de Demandas Freqüência
ordem
01 Recursos financeiros / auxílio transporte/ remédios / 13
alimentação / vestuário / auxílio na obtenção de benefícios
02 Encaminhamentos na área de saúde 05
03 Emprego / capacitação profissional / encaminhamentos 06
para estágio
04 Informações diversas 05
05 Acompanhamento às famílias 04
06 Ações educativas variadas 02
07 Assessoria e consultoria à diretoria da entidade 02
08 Distúrbios psicológicos / carências afetivas 02
09 Acompanhamento escolar 01
10 Atividades esportivas 01
11 Assistência jurídica 01
12 Projetos para captação de recursos para a entidade 01
Total 43
Então como a gente tem convênio com a prefeitura, então todos os problemas
levantados na Secretaria de Cidadania, eles também encaminham pra gente. Conselho
Tutelar quando tem alguma dificuldade, algum problema, também encaminha aqui pra nós.
E quando a criança atinge a idade de seis anos e onze meses, aí a gente faz o
encaminhamento pra outras instituições que atende essa outra faixa etária. Mas, a maioria
mesmo da nossa demanda são as próprias famílias que procuram, eles vêm porque
precisam trabalhar fora, são mães que ao mesmo tempo, são mães e pais dentro da casa.
Então, a maioria da nossa demanda é a nossa família que procura. (Sujeito II).
A assistente social IV recebe demanda que nem sempre vem das famílias que
atende na entidade; pelo que relata, são demandas por informações. Ela realiza um
trabalho de publicização da informação que dispensa procedimentos burocráticos,
como ter a informação e negá-la por não ser do seu espaço; ao ser um canal de
informações, sem dúvidas, ela está facilitando para que essas pessoas alcancem
seus direitos.
Por outro lado também, eu acho assim, não é sua obrigação, mas como munícipe
que eu vejo que é. Porque se você pode colaborar para que outro em vez de ele ir lá. Eu
acho que tudo que diz respeito ao município. (Sujeito IV).
(...) eu procuro me informar o mais que eu posso, justamente para orientar, não só as
mães aqui, elas também porque eu tô constantemente, agora as pessoas que passam. Você
conhece uma pessoa, a pessoas: Ah, não, eu sei que você sabe, então vou passar seu
telefone, aí a pessoa liga. Então tem tudo isso. Eu acho isso interessante, porque nós
estamos falando em termos de município, e não só da entidade. (Sujeito IV)
Autores de referência para o Serviço Social iniciam suas análises a partir dos
riscos que sofrem os postos de trabalho na esfera pública; estes possuem uma
posição sobre a abertura do mercado de trabalho no “terceiro setor” e a condição
que este oferece para a categoria. Podemos considerar suas análises ponderadas
quanto à qualidade do emprego no “terceiro setor”.
18
Lembramos que com os processos descentralizadores das políticas e, particularmente, da
Assistência Social, crescem as demandas para o trabalho do assistente social na esfera pública
municipal. A Norma Operacional Básica de Recursos Humanos- NOB-RH/SUAS, documento
aprovado em 2006, já reivindicado na PNAS/2004, prevê que todos os CRAS contarão com dois
assistentes sociais, independentemente, do porte populacional do município, aumento dos postos de
trabalho para estes profissionais e trazendo mais qualidade à população demandante desses
serviços.
19
Segundo Yazbek (2000, p.29), a refilantropização refere-se ao “avanço de uma onda de incentivo
do ideário da sociedade solidária, que implica o deslocamento para a sociedade das tarefas de
enfrentar a pobreza e a exclusão social”; essa prática escamoteia o pensamento neoliberal de
transformar direitos em favor.
112
tem sido feita, assim como no público, salvo exceções em ambos, sem a efetiva
participação da sociedade civil no controle e na fiscalização desses serviços.
Tipo de vinculo
Carga horária
onde trabalha
Nº de vínculo
empregatício
Condições
Emprego
Salariais
anterior
Sujeito
Reside
físicas
Cargo
SS
Um outro profissional destacou que, embora exista toda a condição, “não foi
nada fácil, foi uma luta intensa, hoje tenho total autonomia no exercício da minha
profissão sem interferência da Diretoria que apóia todas as minhas iniciativas,
graças a Deus consegui que o Serviço Social tivesse o espaço desejado”. (Sujeito
F).
13% 13%
25%
49%
Até 3 S/M
4 a 6 S/M
S/ remuneração
+ 9 S/M
3 Nº de
vínculos
empregadí
2 cios
1 Nº de
vínculos
empregadí
0 cios em
A B C D E F G H I Serviço
Social
Sujeitos
11% Celestista
11%
56% Voluntário
22%
Serv. Prestado
1 1 20 h
1
40 h
3
3 + 40 h
30 h
Variável
A grande maioria (67%) dos assistentes sociais possui uma carga horária de
40 horas ou mais, considerando 33,5% com carga horária semanal de até 40 horas
e 33,5% indefinida, sendo mais que 40 horas. O mesmo sujeito que não possui
vínculo empregatício possui um horário flexível. Dois sujeitos pesquisados possuem
uma carga horária de 20h e recebem de 4 a 6 s/m (salário mínimo) e 30h com um
salário menor na faixa de até 3 s/m.
89%
Sim
11% Não
11%
33%
56%
Publ. Mun.
Privada
Publ. Est.
Redes
20
“O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS é uma unidade pública estatal de base
territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social, que abrange um total de até 1.000
famílias/ano. Executa serviços de proteção básica, organiza e coordena a rede de serviços sócio-
assistenciais locais da política de assistência social”. (BRASIL, 2004, p. 35).
121
Whitaker (2002, p. 03) traz uma esclarecedora explicação sobre a estrutura da rede:
é horizontal, em oposição à estrutura piramidal caracterizada por níveis hierárquicos - de
cima para baixo ou de baixo para cima. Para ele, numa rede, todos têm o mesmo poder de
decisão e o mesmo nível de responsabilidade, à medida em que são co-responsáveis pela
realização dos objetivos da rede.
No município de São José dos Campos fica claro que as duas profissionais
entrevistadas têm a mesma visão a respeito da rede no município, e que a grande
dificuldade que encontram é, justamente, com o poder público, que é quem deveria
ser o articulador do processo. Já as entidades do “terceiro setor” estão bem
122
articuladas, formando até uma sub-rede para o atendimento das pessoas com
deficiências.
A rede privada tem um vínculo muito grande, principalmente a PCD, a gente fala
rede PCD, são as instituições que atendem a pessoas com deficiência; existe uma relação
muito estreita mesmo, de apoio. A gente tem mensalmente a nossa reunião, não é que nós
segmentamos, mas infelizmente, não tem ninguém acima de nós pra nos orientar. Somos
nós que definimos, e inclusive a discussão junto à rede pública, a própria Secretaria de
Desenvolvimento Social é muito dificultosa, porque eles não têm o conhecimento do que é a
atuação em si das instituições de PCD. Quando nós fizemos uma discussão, ano passado,
eles classificaram todas as instituições PCD como básica, eu tomei a frente numa discussão
de mostrar que não. A AADA, por exemplo, não tem nenhuma proteção básica, ela toda é
média complexidade, e eu provei. Existem instituições que são média e básica, mas a AADA
é a única das 11 instituições que é estritamente média complexidade. Assim como existe
uma que é abrigo que é alta complexidade. (Sujeito I).
São José é considerado como gestão plena, tem quatro CRAS bem formados, tava
na formação do CREAS. Na verdade, quando a gente vai, enquanto conselho, nas
capacitações e discussões com a regional, que a gente pertence, que é formada por 39
cidades aqui da região. É até ruim, porque sabe dá aquela sensação de...Ah, mas e isso?
Tem. Tem lugar que o Serviço Social ainda ta junto com a Secretaria de Saúde, com a
Educação, então, você vê que o Serviço Social ele é subordinado à Saúde, subordinado à
Educação. É um assistente social que atua naquela região toda, às vezes é uma cidade
muito pequena, mas a extensão demográfica dela é grande. Então, o Serviço Social um dia
ta na região “tal”, um dia na região rural, e aí vai indo. Então é muito difícil pro profissional
conseguir desenvolver algo, até porque ele precisa de uma equipe pra que ele possa se
colocar, enquanto profissional, enquanto SUAS, o que é competência dele. (Sujeito I).
Você acha que o SUAS já alterou alguma coisa no município? Ou para a instituição?
Não, eu acho que não, ainda não. Que dê assim para perceber isso, não. Que você possa
sentir isso, ainda não. Eu acho que quando nós tivermos os CRAS, quando o atendimento
começar efetivamente nos CRAS, com a equipe multidisciplinar como é proposto, aí pode
ser que a gente comece, mas assim tá muito no pequeno ainda. A única coisa que a gente
124
vê, o município ele já começou o processo, taí tá caminhando, tá tentando caminhar dentro
do que prever tudo isso, dessa mudança, tá se adequando a essa mudança. (Sujeito III).
O sujeito III aponta para uma questão que se relaciona diretamente com as
redes, a intersetorialidade. A falta de unificação das áreas do poder público, essa
segmentação, não permite o atendimento do cidadão na sua totalidade por meio da
integralidade das ações. Conforme o sujeito III colocou, existe no SUAS e na PNAS,
a proposta de superar as ações segmentadas.
Mas outras instituições a gente acaba, às vezes, sem ter muito contato. Um trabalho em
rede é uma coisa que hoje a gente fala muito, ainda mais agora com a implantação do
SUAS. A gente sabe que esse trabalho em rede tem que ser muito bem articulado e tal, pro
negócio funcionar e fluir bem, mas ainda é muito precário aqui no nosso município. A gente
não tem um trabalho de rede bem articulado, não. (Sujeito II).
(...) é bem individual, essas outras instituições do município também têm convênio com a
prefeitura, mas entre instituições não. A gente já tentou organizar, reunir as instituições, mas
é muito difícil, o individualismo ainda fala muito mais alto. Não existe uma reunião entre as
instituições? Não. A gente também já tentou fazer, quando faz, a gente convida, a gente
não consegue atingir todos não, vão sempre aquelas mesmas pessoas, a maioria das vezes
vai só o técnico, o pessoal da diretoria mesmo, que precisa ta envolvido não vai. Às vezes, a
instituições ta passando por grandes dificuldades, a gente só descobre isso quando o
problema já foi resolvido. Não tem esse trabalho de parceria, infelizmente, aqui em
Caçapava a gente não tem isso não. Até no Conselho, que a gente tem que fazer as
eleições, que as entidades têm que ta participando, na sociedade civil a gente tem muita
dificuldade de participação. É quando tem evento na cidade, a gente vê, que é cada um por
si mesmo, às vezes até coincide festas com as mesmas datas de outras instituições, por
falta de diálogo mesmo, falta desse trabalho em parceria. (Sujeito II).
No município de Caçapava o SUAS ainda não foi implantado, nem CRAS a gente
têm. Então ainda, a proposta da Secretaria de Cidadania é de estar implantando um CRAS
no município nesse final de ano, que eu acredito que não vá acontecer, mais pro ano de
2008, mais ainda não tem nada articulado. Ainda assim, a gente vê no município que a
questão do SUAS é muito distante de muitas instituições, até mesmo de muitos
127
profissionais, até mesmo profissionais de terceiro setor. Porque quem ta na prefeitura, são
funcionários de organização governamental, eles estão muito mais em contato com a
questão e nós de terceiro setor, se você não for pesquisar, procurar, se interar, você acaba
ficando distante. Então a gente percebe que aqui no município a questão do SUAS ta bem,
bem devagar, bem distante. (Sujeito II).
(..) faz três meses que nós conseguimos psicólogos para instituição, então, hoje, os
nossos encaminhamentos para psicólogos ficam aqui dentro mesmo, não precisa da rede
pública, que demora muito para ser atendido. (Sujeito II).
Olha, eu tenho visto isso no conselho, essa questão de proteção básica, aquela
coisa, não é bem clara para o município, principalmente no poder público. Agora a rede, eu
particularmente não tenho dificuldade talvez por que justamente você conhece um pouco.
Daí agora mesmo a menina ligou, você conhece um pouco do que tem, eu acho que isso
facilita bastante. É o que eu falei da importância da gente conhecer o que tem no município.
Agora eu acho também que as entidades, e esse é o objetivo dessa rede social Senac, é de
fortalecer o terceiro setor, porque por muitos anos ainda a gente sente muito isso, as
entidades ficaram na dependência do poder público. É como dizia uma pessoa que
trabalhou na secretaria de assistência: a entidade tava sempre com chapéu na mão, ela não
se posicionava e algumas ainda não se posicionam, por isso que eu falei a entidade ela é
parceira no atendimento. Então nesse caso é uma troca a entidade vai participar com isso e
em contrapartida o poder público com outra coisa. (Sujeito IV).
128
E mesmo que entidade ela faz uma parceria, mas o poder público manda, você está
sempre dependente. Eu não posso fazer isso. Por que não? A prefeitura não quer, já que é
da prefeitura, não, não é da prefeitura. Então eu acho que nesse sentido, quando elas
tomarem consciência do papel delas, eu acho que muda um pouco. Você tem que perceber
que cada um tenha sua contribuição, então, se você estiver sempre dependente deles. Por
daí, fulana é a favor da entidade, aí libera verba essa é a briga nossa no conselho. É uma
questão de justiça e é para todas as pessoas, a verba vai de acordo com projeto que você
tem para a entidade. Então por que você dá cesta básica, por que você levou médico, por
que você dá uma cadeira, empresto uma cadeira de rodas, não é isso. Por exemplo, a
criança da escola, ela vai para comer quando se fala em política pública não tem nada a ver,
a criança não vai na escola para comer, pensa bem. Então é essa consciência que eu penso
que precisa que haja na entidade sim. A gente percebe que tá havendo uma mudança sim,
ela é lenta, as pessoas elas têm que dar um passo para frente e perceber que elas não vão
sofrer represália, que elas não vão sofrer perseguição, porque sempre é que isso. É sempre
e isso que se tem! Então eu acho essa questão maior. (Sujeito IV).
Não, aqui não tem SUAS. Não aqui. Em termos de, com a criação do conselho é que
nós estamos tentando. É lento porque o desconhecimento é. Tem pessoas que conhecem
tem, é evidente, mas o poder público ainda desconhece. Tem capacitação? Olha, (risos) e
isso aí quem vai fazer, que nós nos propusemos, é o próprio conselho, nós vamos fazer
para as entidades. Para você ver, ontem nós fomos na audiência pública, numa discussão a
respeito de orçamento, verbas que devem vir pro conselho. Nós tomamos posse em junho,
de lá para cá nós já tivemos tempo de fazer a conferência, estamos fazendo as visitas,
então o processo é lento. Sabe para gente poder fazer alguma coisa. (Sujeito IV).
As entidades ainda não conhecem? Olha, não. Numa reunião que nós tivemos com as
entidades, tivemos essa proposta de fazer a capacitação, mas ainda não foi possível fazer.
(Sujeito IV).
(...) Depois de formada, fui funcionária pública no COSENT, que hoje é a FUNDHAS.
Aí não me fez bem trabalhar subordinada a uma gestão pública. Aí saí, trabalhei numa
empresa, voltei a trabalhar naquele hospital que eu fui estagiária, depois eu trabalhei numa
outra empresa. (Sujeito III).
Mas qual foi sua dificuldade com o público? (...) eu sempre fui uma pessoa muito
criativa, sempre gostei muito de desenvolver projetos. E assim, tudo pra mim, sempre teve
um início, um meio e um fim. Eu peguei uma fase transitória de governo municipal, e você
era transferida de um setor pra outro. Sabe, o trabalho que você montava, o projeto que
você guiava, acabava saindo com o nome de outras pessoas. Ora você tava numa situação
legal de trabalho, ora você tava... E aí, depois que eu saí, eu vi mais claramente isso, que
assim quando eu vim pra instituição pra área... (Sujeito i).
Olha o que eu vejo é assim, no setor público você tem muito mais
estabilidade, muito mais vantagem, mas o trabalho também fica um pouco amarrado
por conta de toda uma estrutura. No terceiro setor, financeiramente, às vezes, você
não é tão valorizado (..). Por exemplo, no poder público, plantão social, você vê a
cara da pessoa uma vez ou outra, daqui a pouco ela desaparece, depois volta de
novo, então aquela freqüência, aquele acompanhamento... Aqui no terceiro setor a
gente até faz um acompanhamento melhor das famílias. Então eu vejo, apesar da
gente não ser a nível financeiro bem remunerado, o trabalho até que, eu,
particularmente, gosto muito de trabalhar no terceiro setor. Eu fiz estágio no setor
público também gostei da experiência, mas eu gosto bastante do trabalho no terceiro
setor. É mais íntimo... Muito mais, você criando outros vínculos, a questão da
confiança com o usuário. Então, isso é muito mais gratificante do que no poder
público. (Sujeito II).
Eu acho assim, o terceiro setor veio em boa hora, veio até mostrar que a sociedade
civil não ta brincando. Veio pra contradizer aquela coisa da ajuda e cresceu. Ele não ficou
meramente no suporte do assistencialismo, ele desenvolveu. (...) não fosse a iniciativa da
sociedade civil, nos não teríamos, por exemplo, aqui no município de São José, uma
equiparação social tão grande. Aqui em São José são, oficiais, quarenta e oito instituições,
organizadas, conveniadas, fora as demais. (...) Hoje ta um pouquinho enfraquecido, nós por
muitos anos tivemos um fórum social, chamado Fórum Ampliado da Assistência Social, ele
ta um pouco enfraquecido, por causa das visões que muitos participantes têm. E mesmo
esses arranjos com os órgãos públicos, enfraqueceram bem o Fórum Ampliado, e até o
momento que o próprio órgão público era um fortalecedor nesse órgão, ele era participativo
enquanto políticas públicas. Nossa! São José tava indo de vento e poupa. A partir do
135
momento que o órgão público passou a desenvolver uma postura de política partidária, aí,
teve quebra. Que é o que ta hoje, eu por exemplo, particularmente não faço parte do Fórum
Ampliado, dificilmente participo, eu coordenei durante três anos o Fórum Ampliado,
enquanto era do CMDCA. (Sujeito I).
Hoje eu vejo que o terceiro setor cresceu muito, a gente ouvia muito pouco a questão
de outras organizações, a gente sempre falava muito do poder público. Agora hoje, a gente
já percebe que o terceiro setor cresceu muito, e começou a ter mais valor. As instituições
procuram, na medida do possível, fazer seu trabalho com transparência; a gente já teve
muita dificuldade, por problemas irregulares, pessoas desonestas, que acaba até
atrapalhando também o trabalho da gente. Mas eu vejo que hoje o terceiro setor tá
caminhando para uma consciência muito maior das questões, hoje se fala muito mais em
terceiro setor, se consegue mais financiamento, até o próprio poder público hoje investe em
terceiro setor, como parceiro. Cresceu bastante. (Sujeito II).
um trabalho voltado à raiz dos problemas, com uma complexidade maior, que
dispensa o imediatismo. Deste modo, a contribuição dada abaixo pela assistente
social é valorosa para conseguirmos que as entidades colaborem no trabalho de
prevenção.
Primeiro assim, para uma ONG abrir, ela devia ter uma fiscalização. Por que assim,
eu da minha casa vou começar a trabalhar com idosos, suponhamos. Aí de repente, eu
começo arrecadar, tem que pegar isso e pegar aquilo. Mas eu não tenho contrapartida, eu
só quero receber. E o que é que eu vou oferecer? Porque, para você trabalhar com idoso, o
idoso tem estatuto, eles têm um direito deles que tem que ser preservado. Será que é só
eles ficarem lá o tempo todo, no atendimento ali? Então ele vai lá, daí encaminha para o
médico, mas não precisa disso. O CRAS veio aí que vai isso. Então se adequar o plano ao
município, eu acho que nós vamos assim, acredito que vai se restringir essa criação da
ONG, por que você vai ter os lugares certos de atendimento de uma forma adequada e
digna também. É isso que precisa, por que abre-se, quando você ta abrindo uma Ong, mas
sem os requisitos necessários pra aquilo. E até a falta de preparo mesmo das pessoas para
fazer aquilo, só de boa vontade eu acho que não. (Sujeito IV).
A gente trabalha muito com o Estatuto da Criança e do Adolescente, por ser uma
instituição. A gente trabalha muito com o Código de Ética do Serviço Social, da nossa
profissão. E procuro assim através da internet que veio facilitar muito, então todos os sites
que tem coisas de Serviço Social. Tudo que vem do federal, eu procuro ao máximo ta
estudando e se interando da questão. Mesmo a questão do SUAS, tudo isso eu venho
aprendendo, apostilas, material, tiro tudo da internet. (Sujeito II).
Você fez pós-graduação? Não, minha filha ta terminando fisioterapia é muito gasto.
Eu pretendo fazer, mas agora não tenho condições. (Sujeito IV).
Eu fiz outros cursos, não fiz pós-graduação por motivo financeiro. Agora internet, leio
bastante, procuro me informar dessa outra forma. E mesmo aqui no município a gente tá
tentado assim, é através da Secretaria de Cidadania, através dos Conselhos, solicitando
cursos de capacitação. Mas, me formei na Universidade não consegui fazer pós, mestrado,
mas não deixei de sonhar. (Sujeito II).
(...) Nesses treze anos que eu estou na AADA, eu fiz muitos cursos, inclusive eu
participei de Congressos Internacionais a AADA bancando, por eles verem que era coisa
para eu trazer de suporte pra instituição. Noutra instituição que eu trabalhei, paralelo à
AADA, eu consegui trazer assessoria de fora para os funcionários da instituição. Porque a
gente mostra, quando eles acreditam no trabalho da gente, e nos resultados que a gente
apresenta, tem muita instituição que vê, que realmente aquilo é importante. (Sujeito I).
Hoje, a gente ta dando, assim, uma atenção especial, pra questão da sexualidade
das nossas crianças, que assim, é o que estão trazendo com uma freqüência maior, em
termos de como lidar com isso, tanto os de CECOI quanto os daqui. Então a gente tem
trabalhado, tem buscado alternativas de todas as formas, em termos de literatura, tanto em
pesquisa de internet, como as literaturas que estão aí hoje. (Sujeito III).
140
O que você costuma ler? (...) tudo que diz respeito à área que estou atuando hoje,
a criança ao adolescente, a educação, questão, sempre dos direitos. Então tudo o que eu tô
atuando é que eu procuro ficar mais atualizada possível, justamente para orientar porque
senão não adianta você pegar uma coisa. A educação muda bastante, então tudo isso a
gente procura se atualizar para poder atuar. (Sujeito IV).
Olha, Taubaté não tem em movimento social. Partido político eu não me engajo,
porque eu tenho as minhas preferências, é evidente, mas eu procuro não me envolver. (...)
Todo abaixo-assinado que tem aí, eu procuro trazer, o que a gente faz na igreja, eu procuro
trazer para cá. Mas sem envolvimento de partido, sem me filiar. Eu procuro ficar à parte
disso, pra não me envolver. Mesmo na questão religiosa. Ah, é católica. Nós trabalhamos, o
que tem de gente de outra denominação, então se eu for ver, por exemplo, só aquele lado
ali como única salvação, eu deixo de respeitar o outro, a forma de pensar do outro. Então eu
procuro assim, essas coisas que levam muita discussão, eu procuro deixar de lado, tenho as
minhas discussões lá fora, mas com os grupos. Não misturo, nesse ano eleitoral todo
mundo fica atrás. Todo mundo quer aparecer perto de qualquer pessoa que tá envolvido
com muita gente. Várias passam por aqui, é como se de repente, aqui fosse um instrumento
para a eleição, então eu gosto de separar. (Sujeito IV).
141
(...) É difícil encontrar profissionais que quererem se abrir, aqui em Caçapava a gente
até tentou formar um grupo de profissionais. A gente não consegue, vai uma vez, vai outra,
daqui a pouco ninguém quer saber de nada. (Sujeito II).
Eles me indicam pra tudo que eu mostro que é importante; eu trago pra cá os
resultados, assim como eu passo a reunião do grupo do PCD. (Sujeito I).
Isso vai fazer dois anos que eu to participando desse conselho. Dos outros
conselhos eu participei, mas não era conselheira, eu participava pra tá sabendo o que ia
acontecer e tal. Mas conselho mesmo, aqui no nosso município, ainda não tá muito bem
estruturado, ainda falta muita orientação, muita informação pra que as pessoas se
conscientizem. Que conselho ainda não quer dizer muita coisa pro nosso município, não.
Existem porque é uma necessidade, uma obrigatoriedade, mas não tem aquela valorização.
Já crescemos bastante, mas ainda falta bastante. (Sujeito II).
Até um tempo atrás, eu não podia nem me candidatar à conselheira, tinha essa
dificuldade. Agora não, agora essa outra administração me deu total liberdade, então fui me
candidatar nessa gestão 2005-2007, nessa nova gestão 2007-2009 também pude me
candidatar. Então, hoje eu já consegui conquistar mais esse espaço aqui dentro, posso sair
para as reuniões, para as atividades, ela me libera sempre, sem problemas. Claro que eu
procuro assim, diante de todos esses trabalhos, de ter que sair, participar de outras coisas.
Eu procuro não prejudicar o meu trabalho, que aí sim, eu consigo mostrar que apesar de ter
esse outro compromisso, meu trabalho aqui dentro não fica prejudicado. (Sujeito II).
Quando a gente vai pro Conselho, hoje, por exemplo, a gente tem uma consciência
maior do que é ser conselheiro, do papel da gente lá dentro. Aí a gente acaba conquistando
143
um espaço maior para nossa área. Então quem vai pro conselho, vai porque tem
consciência do seu trabalho. (Sujeito III).
(...) Porque eu acho que o assistente social, ele tem que mostrar um pouco daquilo,
que é o Serviço Social, é isso que você precisa fazer. Porque de repente se perde, não
consegue mostrar o que é o trabalho, como é realizado esse trabalho, às vezes até a não
permissão acontece pelo equívoco do não conhecimento mesmo. Porque acaba não vendo
a importância que o Serviço Social tem dentro dá instituição. (...) Eu acho que é importante,
extremamente importante, no momento que, a gente vai participando e conhecendo,
conhecendo o processo todo que ta imposto, e como que a gente vai atuar pra melhorar
toda condição. Eu acho que assim, vai abrindo as possibilidades no sentido de intervenção.
(Sujeito III).
Explicou que existe o apoio, e foi muito honesta ao reconhecer que existem
pontos que são interessantes para a entidade de forma individual.
CONCLUSÃO
O leitor pode até mesmo perceber uma mudança em nossa visão a respeito
desse tema; acreditamos que essa se deva às esperanças que o SUAS e a PNAS
trouxeram, ao afirmar o Estado como gestor da rede. Uma vez que as entidades
existem e irão continuar existindo, qual seria a melhor forma de fazerem parte da
política de assistência social, pautadas nos direitos sociais? Foi a PNAS que trouxe
as diretrizes dessa inserção.
Outra coisa importante na nossa área é exatamente isso, que você no mínimo
conheça os recursos que tem o município, pra daí você poder falar em políticas públicas.
Porque não adianta ficar sentado aqui falando, falando o que precisa, mas eu não tenha
atuação fora daqui. Você tem um tempo aqui, mas a atuação de sua tem que ser realmente
mais lá fora, para trabalhar mesmo essa questão das políticas públicas, porque as pessoas
daqui também serão beneficiadas. O meu olhar sempre em termos de município e não só da
entidade, porque as crianças estão por um tempo aqui, mas elas estão inseridas no contexto
do município. Então a como você consegue? Você pode conseguir, mas não pode ser
pontual, as coisas têm que ser de direito. Porque falam: Ah, eu não consigo tal coisa. Então
você faz para mim? Você consegue, você pode ligar, você pode tentar marcar sabe, uma
consulta essas coisas assim. Política pública também isso, se ela é pública é para mim, é
para você, é para todo mundo, então eu não preciso da intervenção de alguém. Então
assim, cada vez que eu preciso de alguém para intervir numa coisa que é de direito, ela não
pode ser política pública. Eu acho que trabalho nosso tem que ser exatamente nesse
sentido que todos tenham direito, que todos tenham acesso a todas as políticas e não
determinadas pessoas. Essa é a briga. (Sujeito IV).
Por fim, esclareço o quão importante foi o contato com os sujeitos e com a
realidade por eles apresentada. Isto possibilitou repensar teorias, sendo até mesmo
possível, uma mudança em nossa visão após as entrevistas. Hoje a ponderação faz-
se mais presente em nossas análises e entendemos que ainda falte muito estudo
para compreensão desse fenômeno e, mais do que negá-lo, também é preciso fazer
o exercício de refletir sobre suas possibilidades. Acreditamos que encontramos
profissionais que estão fazendo isso. Envolvidas com o trabalho institucional,
descobriram pontos positivos a serem explorados no atendimento aos usuários que
buscam o Serviço Social, ou seja, estão na direção de superar as dificuldades e
construir os caminhos.
154
Essa dissertação tem inúmeras e evidentes limitações, justificadas pelo seu próprio
objeto. Primeiramente, destaco que se tratou de um tema extenso, que exigiu a abordagem
de vários temas a fim de que conseguíssemos situar nosso objeto na contemporaneidade.
Houve, ainda, temas que abarcam inúmeras questões, como o “terceiro setor”, seja pela sua
complexidade que, como analisado, está imbricada na sua heterogeneidade, ou até mesmo
pelas opiniões dos pesquisadores que divergem a seu respeito, porque esse espaço não
permite apresentá-las de modo satisfatório, mas cuidou-se para que estas estivessem
apenas representadas pelos seus principais pensadores. Além do que, creio que, na
verdade, meu objeto contém em si, ao menos, dois grandes temas: o terceiro setor e o
trabalho do assistente social. Ambos, isoladamente, poderiam ser o meu objeto de pesquisa.
Mas eu só encontraria as respostas que procuro e só seria possível realizar esse estudo, se
pudesse olhá-los em sua relação e, assim, deleitar nas questões que nos desafiaram e
ainda desafiam.
155
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http://integracao.fgvsp.br
http://www.sjc.sp.gov.br
http://www.wikipedia.org
http://www.ibge.org.br
162
Anexos
Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não
remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou
a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais,
educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.
CAPÍTULO I
Seção I
Da Qualificação
Art. 1o O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de
direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa
científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à
cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
Art. 2o São requisitos específicos para que as entidades privadas referidas no artigo anterior
habilitem-se à qualificação como organização social:
i) previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações que lhe foram
destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades, em caso
de extinção ou desqualificação, ao patrimônio de outra organização social qualificada no
âmbito da União, da mesma área de atuação, ou ao patrimônio da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios, na proporção dos recursos e bens por estes alocados;
Seção II
Do Conselho de Administração
Art. 3o O conselho de administração deve estar estruturado nos termos que dispuser o
respectivo estatuto, observados, para os fins de atendimento dos requisitos de qualificação, os
seguintes critérios básicos:
166
a) 20 a 40% (vinte a quarenta por cento) de membros natos representantes do Poder Público,
definidos pelo estatuto da entidade;
c) até 10% (dez por cento), no caso de associação civil, de membros eleitos dentre os
membros ou os associados;
d) 10 a 30% (dez a trinta por cento) de membros eleitos pelos demais integrantes do conselho,
dentre pessoas de notória capacidade profissional e reconhecida idoneidade moral;
e) até 10% (dez por cento) de membros indicados ou eleitos na forma estabelecida pelo
estatuto;
II - os membros eleitos ou indicados para compor o Conselho devem ter mandato de quatro
anos, admitida uma recondução;
III - os representantes de entidades previstos nas alíneas "a" e "b" do inciso I devem
corresponder a mais de 50% (cinqüenta por cento) do Conselho;
IV - o primeiro mandato de metade dos membros eleitos ou indicados deve ser de dois anos,
segundo critérios estabelecidos no estatuto;
V - o dirigente máximo da entidade deve participar das reuniões do conselho, sem direito a
voto;
VII - os conselheiros não devem receber remuneração pelos serviços que, nesta condição,
prestarem à organização social, ressalvada a ajuda de custo por reunião da qual participem;
Art. 4o Para os fins de atendimento dos requisitos de qualificação, devem ser atribuições
privativas do Conselho de Administração, dentre outras:
VI - aprovar e dispor sobre a alteração dos estatutos e a extinção da entidade por maioria, no
mínimo, de dois terços de seus membros;
VII - aprovar o regimento interno da entidade, que deve dispor, no mínimo, sobre a estrutura,
forma de gerenciamento, os cargos e respectivas competências;
VIII - aprovar por maioria, no mínimo, de dois terços de seus membros, o regulamento próprio
contendo os procedimentos que deve adotar para a contratação de obras, serviços, compras e
alienações e o plano de cargos, salários e benefícios dos empregados da entidade;
Seção III
Do Contrato de Gestão
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de gestão o instrumento firmado
entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à
formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às
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Parágrafo único. O contrato de gestão deve ser submetido, após aprovação pelo Conselho de
Administração da entidade, ao Ministro de Estado ou autoridade supervisora da área
correspondente à atividade fomentada.
Seção IV
Art. 8o A execução do contrato de gestão celebrado por organização social será fiscalizada
pelo órgão ou entidade supervisora da área de atuação correspondente à atividade
fomentada.
Art. 10. Sem prejuízo da medida a que se refere o artigo anterior, quando assim exigir a
gravidade dos fatos ou o interesse público, havendo indícios fundados de malversação de
bens ou recursos de origem pública, os responsáveis pela fiscalização representarão ao
Ministério Público, à Advocacia-Geral da União ou à Procuradoria da entidade para que
requeira ao juízo competente a decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o
seqüestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam
ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.
§ 1o O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do
Código de Processo Civil.
§ 3o Até o término da ação, o Poder Público permanecerá como depositário e gestor dos bens
e valores seqüestrados ou indisponíveis e velará pela continuidade das atividades sociais da
entidade.
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Seção V
Art. 11. As entidades qualificadas como organizações sociais são declaradas como entidades
de interesse social e utilidade pública, para todos os efeitos legais.
Art. 12. Às organizações sociais poderão ser destinados recursos orçamentários e bens
públicos necessários ao cumprimento do contrato de gestão.
§ 3o Os bens de que trata este artigo serão destinados às organizações sociais, dispensada
licitação, mediante permissão de uso, consoante cláusula expressa do contrato de gestão.
Art. 13. Os bens móveis públicos permitidos para uso poderão ser permutados por outros de
igual ou maior valor, condicionado a que os novos bens integrem o patrimônio da União.
Parágrafo único. A permuta de que trata este artigo dependerá de prévia avaliação do bem e
expressa autorização do Poder Público.
Art. 14. É facultado ao Poder Executivo a cessão especial de servidor para as organizações
sociais, com ônus para a origem.
§ 3o O servidor cedido perceberá as vantagens do cargo a que fizer juz no órgão de origem,
quando ocupante de cargo de primeiro ou de segundo escalão na organização social.
Art. 15. São extensíveis, no âmbito da União, os efeitos dos arts. 11 e 12, § 3o, para as
entidades qualificadas como organizações sociais pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Municípios, quando houver reciprocidade e desde que a legislação local não contrarie os
preceitos desta Lei e a legislação específica de âmbito federal.
Seção VI
Da Desqualificação
Art. 16. O Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade como organização
social, quando constatado o descumprimento das disposições contidas no contrato de gestão.
CAPÍTULO II
Art. 17. A organização social fará publicar, no prazo máximo de noventa dias contado da
assinatura do contrato de gestão, regulamento próprio contendo os procedimentos que
adotará para a contratação de obras e serviços, bem como para compras com emprego de
recursos provenientes do Poder Público.
Art. 18. A organização social que absorver atividades de entidade federal extinta no âmbito da
área de saúde deverá considerar no contrato de gestão, quanto ao atendimento da
comunidade, os princípios do Sistema Único de Saúde, expressos no art. 198 da Constituição
Federal e no art. 7o da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990.
Art. 19. As entidades que absorverem atividades de rádio e televisão educativa poderão
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Art. 20. Será criado, mediante decreto do Poder Executivo, o Programa Nacional de
Publicização - PNP, com o objetivo de estabelecer diretrizes e critérios para a qualificação de
organizações sociais, a fim de assegurar a absorção de atividades desenvolvidas por
entidades ou órgãos públicos da União, que atuem nas atividades referidas no art. 1o, por
organizações sociais, qualificadas na forma desta Lei, observadas as seguintes diretrizes:
Art. 21. São extintos o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, integrante da estrutura do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, e a Fundação
Roquette Pinto, entidade vinculada à Presidência da República.
§ 3o É o Poder Executivo autorizado a qualificar como organizações sociais, nos termos desta
Lei, as pessoas jurídicas de direito privado indicadas no Anexo I, bem assim a permitir a
absorção de atividades desempenhadas pelas entidades extintas por este artigo.
Art. 22. As extinções e a absorção de atividades e serviços por organizações sociais de que
trata esta Lei observarão os seguintes preceitos:
I - os servidores integrantes dos quadros permanentes dos órgãos e das entidades extintos
terão garantidos todos os direitos e vantagens decorrentes do respectivo cargo ou emprego e
integrarão quadro em extinção nos órgãos ou nas entidades indicados no Anexo II, sendo
facultada aos órgãos e entidades supervisoras, ao seu critério exclusivo, a cessão de servidor,
irrecusável para este, com ônus para a origem, à organização social que vier a absorver as
correspondentes atividades, observados os §§ 1o e 2o do art. 14;
II - a desativação das unidades extintas será realizada mediante inventário de seus bens
imóveis e de seu acervo físico, documental e material, bem como dos contratos e convênios,
com a adoção de providências dirigidas à manutenção e ao prosseguimento das atividades
sociais a cargo dessas unidades, nos termos da legislação aplicável em cada caso;
VI - a organização social que tiver absorvido as atribuições das unidades extintas poderá
adotar os símbolos designativos destes, seguidos da identificação "OS".
§ 1o A absorção pelas organizações sociais das atividades das unidades extintas efetivar-se-á
mediante a celebração de contrato de gestão, na forma dos arts. 6o e 7o.
recursos decorrentes da economia de despesa incorrida pela União com os cargos e funções
comissionados existentes nas unidades extintas.
Art. 24. São convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória no 1.648-7, de 23
de abril de 1998.
CAPÍTULO I
DE INTERESSE PÚBLICO
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica de
direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores,
empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos,
bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de
suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social.
I - as sociedades comerciais;
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VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras;
IX - as organizações sociais;
X - as cooperativas;
XI - as fundações públicas;
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por órgão
público ou por fundações públicas;
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema
financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituição Federal.
Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da
universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente
será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos
sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas
configura-se mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas,
por meio da doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de
serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor
público que atuem em áreas afins.
Art. 4o Atendido o disposto no art. 3o, exige-se ainda, para qualificarem-se como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, que as pessoas jurídicas interessadas
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qualquer cidadão;
Art. 5o Cumpridos os requisitos dos arts. 3o e 4o desta Lei, a pessoa jurídica de direito
privado sem fins lucrativos, interessada em obter a qualificação instituída por esta Lei, deverá
formular requerimento escrito ao Ministério da Justiça, instruído com cópias autenticadas dos
seguintes documentos:
II - a requerente não atender aos requisitos descritos nos arts. 3o e 4o desta Lei;
Art. 8o Vedado o anonimato, e desde que amparado por fundadas evidências de erro ou
fraude, qualquer cidadão, respeitadas as prerrogativas do Ministério Público, é parte legítima
para requerer, judicial ou administrativamente, a perda da qualificação instituída por esta Lei.
CAPÍTULO II
DO TERMO DE PARCERIA
Art. 10. O Termo de Parceria firmado de comum acordo entre o Poder Público e as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos, responsabilidades
e obrigações das partes signatárias.
Art. 11. A execução do objeto do Termo de Parceria será acompanhada e fiscalizada por
órgão do Poder Público da área de atuação correspondente à atividade fomentada, e pelos
Conselhos de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, em cada
nível de governo.
Art. 13. Sem prejuízo da medida a que se refere o art. 12 desta Lei, havendo indícios
fundados de malversação de bens ou recursos de origem pública, os responsáveis pela
fiscalização representarão ao Ministério Público, à Advocacia-Geral da União, para que
requeiram ao juízo competente a decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o
seqüestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam
ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público, além de outras medidas
consubstanciadas na Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, e na Lei Complementar no 64, de 18
de maio de 1990.
§ 1o O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e
825 do Código de Processo Civil.
§ 3o Até o término da ação, o Poder Público permanecerá como depositário e gestor dos
bens e valores seqüestrados ou indisponíveis e velará pela continuidade das atividades
sociais da organização parceira.
Art. 14. A organização parceira fará publicar, no prazo máximo de trinta dias, contado da
assinatura do Termo de Parceria, regulamento próprio contendo os procedimentos que
adotará para a contratação de obras e serviços, bem como para compras com emprego de
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Art. 15. Caso a organização adquira bem imóvel com recursos provenientes da
celebração do Termo de Parceria, este será gravado com cláusula de inalienabilidade.
CAPÍTULO III
Art. 17. O Ministério da Justiça permitirá, mediante requerimento dos interessados, livre
acesso público a todas as informações pertinentes às Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público.
Art. 18. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, qualificadas com base
em outros diplomas legais, poderão qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, desde que atendidos os requisitos para tanto exigidos, sendo-lhes
assegurada a manutenção simultânea dessas qualificações, até dois anos contados da data
de vigência desta Lei. (Vide Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)
§ 2o Caso não seja feita a opção prevista no parágrafo anterior, a pessoa jurídica perderá
automaticamente a qualificação obtida nos termos desta Lei.
Art. 19. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de trinta dias.