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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E POLÍTICAS
PÚBLICAS

CLAUDIA CAROLINA GUADAGNIN

O PAPEL DO RESSENTIMENTO NO DESMONTE DE DIREITOS E POLÍTICAS


SOCIOAMBIENTAIS NO GOVERNO BOLSONARO

CURITIBA
2022
CLAUDIA CAROLINA GUADAGNIN

O PAPEL DO RESSENTIMENTO NO DESMONTE DE DIREITOS E POLÍTICAS


SOCIOAMBIENTAIS NO GOVERNO BOLSONARO

Dissertação apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Mestre
em Direitos Humanos e Políticas Públicas,
no Programa de Pós-Graduação em
Direitos Humanos e Políticas Públicas da
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR)

Orientador: Prof. Dr. Rudolf von Sinner

Linha de Pesquisa: Políticas Públicas,


Democracia e Educação em Direitos
Humanos

CURITIBA
2022
Dados da Catalogação na Publicação
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR
Biblioteca Central
Luci Eduarda Wielganczuk – CRB 9/1118

Gadagnin, Claudia Carolina


G897p O papel do ressentimento no desmonte de direitos e políticas socioambientais
2022 no governo Bolsonaro / Claudia Carolina Guadagnin; orientador:
Rudolf von Sinner. – 2022.
206 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba,


2022
Bibliografia: f. 166-206

1. Brasil – Política e governo – 2919-2022. 2. Ressentimento. 3. Desinformação.


4. Brasil – Política social – 2019-2022. 5. Política ambiental – Brasil – 2019-2022.
6. Fake News. I. Sinner, Rudolf von. II. Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas públicas. III. Título.

CDD 20. ed. – 320.981


A todas as pessoas que se ressentem por
não terem tido seus direitos básicos
atendidos com responsabilidade, que não
acreditem que a vingança contra seus
iguais é a solução para a alteração de um
cenário de desmonte de direitos,
calculadamente, planejado por um projeto
de poder neoliberal, elitista e excludente.
AGRADECIMENTOS

A meus mentores e protetores espirituais que, com suas inspirações e


interseções “invisíveis”, me estimularam a prosseguir na conclusão deste trabalho,
mesmo quando o mundo terreno se revelou difícil, pesado e desestimulante demais
para os sonhadores.
A meus pais, Tânia Molinari e Rubens Guadagnin, que, nem por um segundo,
deixaram de acreditar na importância de minhas intenções e esforços em favor do
bem comum, da defesa da natureza, dos que não têm ou têm menos voz, e da
harmonia entre as diferentes formas de vida. Por dedicarem todos os dias de suas
vidas, com tanta entrega, a me fazerem acreditar em mim mesma. Por nunca
soltarem a minha mão e me concederem o direito de estudar. Por me estimularem,
sempre com embasamento, a defender minhas convicções e a não me dobrar a
interesses que não forem fiéis à minha essência.
A meu orientador, professor Rudolf von Sinner, que, desde o primeiro
momento, foi tão gentil, acolhedor e compreensivo sobre os desafios de se produzir
uma dissertação de Mestrado em um período de pandemia, que gerou tanta
angústia e instabilidade, principalmente, nos meses em que anulava tantas vidas de
pessoas no Brasil e no mundo. Gratidão por todas as trocas e pela segurança que
sempre me passou. Ao meu coorientador, Rodrigo Alvarenga, cujas aulas foram
admiráveis e riquíssimas em conteúdos, e que também sempre foi preciso em seus
apontamentos, buscando a melhoria permanente do trabalho para um bom
resultado. Meu agradecimento também a todas e todos os professores e demais
colaboradores envolvidos no programa de Mestrado da PUC-PR.
A Clóvis Borges e Mônica Borges, fundadores e diretores da SPVS
(Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), que tive o
privilégio de conhecer mais profundamente a partir de 2012 e, de lá para cá, me
acolheu profissionalmente nos momentos mais determinantes da minha vida. Quem
sabe um dia eu possa ser capaz de retribuir tudo de bom que vocês já fizeram por
mim, sem nem saber o quanto faziam. Trabalhar com esta instituição é uma honra,
não só pela seriedade de cada trabalho desenvolvido, mas também pela excelência
que todos os envolvidos demonstram quando o assunto é liderança, respeito,
valorização de talentos e de habilidades e empatia. Não por acaso, a SPVS é
referência global em esforços em prol da conservação da biodiversidade no Brasil.
Meu agradecimento a todas as pessoas que integram essa instituição e me
apoiaram, especialmente, durante a conclusão desta dissertação.
Aos meus amigos, amigas, familiares e colegas que, de formas diferentes,
foram capazes de me estimular e encorajar durante o processo do Mestrado.
Nominar a todos incorreria no risco de cometer a grave falha de esquecer alguém
importante. Mas cada um de vocês sabe como foi importante durante o andamento
deste processo. Muito obrigada.
Agradeço também às pessoas que passaram pela minha vida, me
empoderaram enquanto estiveram presentes, mas não permaneceram por escolha
ou definições do destino. Vocês também foram importantes em algum momento
deste caminhar, mesmo que não participem mais dele.
Por fim, agradeço à minha capacidade de não desistir de acreditar que,
mesmo diante de tantas injustiças e incoerências terrenas, ainda vale a pena
conservar a disposição para contribuir com a construção de uma realidade melhor,
seja por meio da prática e do exemplo nos convívios diários e individuais, seja por
um legado, mesmo que simbólico, que possa ser deixado no campo da reflexão e da
ação.
“A verdade ocupa posição instável no
mundo porque são as opiniões – o que
pensam as multidões – que costumam
predominar em relação à ideia de
verdade”.

Hannah Arendt, em Origens do


Totalitarismo (1989, p. 29).
RESUMO

A presente dissertação de Mestrado investiga o papel do ressentimento no


desmonte de direitos e políticas socioambientais no Governo Bolsonaro. Busca
identificar, a partir do conceito teórico de ressentimento, os principais elementos
que, associados, colaboraram para a construção de um cenário de polarização
política no Brasil e contribuíram para a eleição de Jair Messias Bolsonaro (PL) à
presidência da República, em 28 de outubro de 2018, lançando mão do maior
desmonte de políticas socioambientais da história do Brasil. Valendo-se de análises
bibliográficas, históricas, de fatos atuais e dados numéricos, com natureza
qualitativa e método indutivo, inserido numa perspectiva interdisciplinar, o trabalho
lança luz aos desmontes em ampla escala de políticas públicas relacionadas a
direitos socioambientais que ocorreram no Brasil, mais intensamente, desde a
eleição de Bolsonaro. E objetiva indicar de que modo o problema contribui para um
intenso comprometimento do bem-estar coletivo da sociedade brasileira e mundial
de diferentes gerações, já que todo ser humano, independentemente da
nacionalidade, depende da provisão dos serviços ecossistêmicos, que são os
serviços que a sociedade obtém direta ou indiretamente da natureza, para
sobreviver. A dissertação também ambiciona compreender como o cenário atual se
consolidou, fortalecido por narrativas e construções históricas e ideológicas, em
grande parte fabricadas – por meio de notícias falsas, mais conhecidas como fake
news –, e o papel do processo colonizador, escravocrata, do conservadorismo e da
figura arquetípica do “herói”, personificada por Bolsonaro, que pareceu assumir no
Brasil a função do “salvador” dos ressentidos. O trabalho fornece, ainda, uma visão
panorâmica sobre as principais políticas públicas referentes a direitos
socioambientais conquistados pelos brasileiros, especialmente, desde o período de
redemocratização do Brasil, marcado pela promulgação da Constituição nacional,
em 1988, e recorda seus desmontes mais expressivos, mais especificamente na
área ambiental, desde que a gestão Bolsonaro assumiu o Governo Federal, em
janeiro de 2019. Ao longo dos capítulos, a dissertação confirma, portanto, com base
em referências teóricas, históricas e em fatos atuais, que o ressentimento se
configurou como suporte à política de desmontes de políticas socioambientais que a
sociedade brasileira experimenta com grande intensidade desde que Bolsonaro foi
eleito. O ressentimento, portanto, teve papel fundamental na eleição do presidente
pela sociedade brasileira, fato que chancelou o maior desmonte de políticas
socioambientais da história do Brasil.

Palavras-chave: Ressentimento. Governo Bolsonaro. Desmonte de políticas


socioambientais. Serviços Ecossistêmicos. Desinformação.
ABSTRACT

The present Master's thesis investigates the role of resentment in the dismantling of
socio-environmental rights and policies in the Bolsonaro government. It seeks to
identify, based on the theoretical concept of resentment, the main elements that,
together, contributed to the construction of a political polarization scenario in Brazil
leading to the election of Jair Messias Bolsonaro (PL) as president of the Republic,
on October 28th 2018, giving rise to the biggest dismantling of socio-environmental
policies in the history of Brazil. Based on bibliographic and historical analysis, current
facts and numerical data, interpreted with a qualitative and inductive method,
inserted in an interdisciplinary perspective, the work shows the large-scale
dismantling of public policies related to socio-environmental rights that occurred in
Brazil, more intensely since Bolsonaro's election. It aims to indicate how the problem
intensely compromises the well-being of different generations of the Brazilian
population and world society, since every human being, regardless of their
nationality, depends on ecosystem services to survive. The thesis also aims at
understanding how the current scenario was consolidated, strengthened by historical
and ideological building and narratives, largely produced through fake news, and the
role of the colonizing and enslaving conservatism and the archetypal “hero” figure,
personified by Bolsonaro, who seemed to assume the role of “savior” for the resentful
in Brazil. The work also provides a panoramic view of the main public policies
regarding socio-environmental rights conquered by Brazilians, especially since the
period of redemocratization in Brazil, marked by the promulgation of the national
Constitution in 1988, and recalls its most expressive dismantling, most specifically in
the environmental area, since the Bolsonaro administration took over Federal
Government in January 2019. Throughout the chapters, the dissertation confirms,
therefore, based on theoretical, historical and current facts, that resentment has been
configured as a support for the policy of dismantling socio-environmental policies that
Brazilian society has been experiencing with great intensity since Bolsonaro was
elected. Resentment, therefore, played a fundamental role in the presidential election
by Brazilian society, a fact that chanced the greatest dismantling of socio-
environmental policies in the history of Brazil.

Keywords: Resentment. Bolsonaro Government. Social-environmental policies


dismantling. Ecosystem services. Misinformation.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11

2 CAPÍTULO 1 – A CONSTRUÇÃO DO RESSENTIMENTO SOCIAL NO


BRASIL ..................................................................................................................... 18

2.1 RESSENTIMENTO E A LUTA POR UM “LUGAR AO SOL” ........................... 18


2.2 A “RALÉ” E O RESSENTIMENTO .................................................................. 35
2.3 PROGRESSOS MENSURADOS .................................................................... 42
2.4 IMPEACHMENT, PRISÃO E ABSOLVIÇÃO .................................................. 48
2.5 SUCESSÃO DE DESMONTES ...................................................................... 49
2.6 NECROPOLÍTICA E VIDAS NUAS ................................................................ 53

3 CAPÍTULO 2 – NOTÍCIAS FALSAS, CONSERVADORISMO E CHAGAS


COLONIAIS: COMBINAÇÃO IDEAL PARA A SUCESSÃO DE DESMONTES ...... 62

3.1 RESQUÍCIOS COLONIAIS E CHAGAS EDUCACIONAIS ............................. 62


3.2 FAKE NEWS E MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO ..................................... 65
3.3 A “EVANGELIZAÇÃO” DA POLÍTICA BRASILEIRA ...................................... 76
3.4 O ARQUÉTIPO DO “SALVADOR DOS RESSENTIDOS” .............................. 87

4 CAPÍTULO 3 – DO PAÍS REFERÊNCIA EM LEGISLAÇÃO AO DESMONTE


DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS NO GOVERNO BOLSONARO .............................. 92

4.1 UM HISTÓRICO DE DESMONTES E DESTRUIÇÕES QUE SÓ AVANÇA ... 92


4.2 A NATUREZA COMO OBJETO HISTÓRICO E ATUAL DE EXPLORAÇÃO117
4.3 DIREITO HUMANO DE CONTAR COM UM MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO AINDA É DIARIAMENTE VIOLADO............ 137

5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 156

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 170


11

1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação de Mestrado busca identificar – a partir do conceito de


ressentimento – os principais elementos que, associados, colaboraram para a
construção de um cenário de polarização política no Brasil e contribuíram para a
eleição do presidente da república, Jair Messias Bolsonaro (PL), em 28 de outubro
de 2018. Também será dada ênfase aos desmontes em ampla escala de políticas
públicas relacionadas a direitos socioambientais que ocorreram no Brasil na
sequência, alcançados por meio de narrativas e construções históricas e
ideológicas, em grande parte fabricadas (por meio de notícias falsas, mais
conhecidas pelo termo fake news, por exemplo), e à figura arquetípica do “herói”,
personificada por Bolsonaro, que pareceu assumir no Brasil a função do “salvador”
dos ressentidos.
Esse cenário de desmontes vem contribuindo para um intenso
comprometimento do bem-estar coletivo da sociedade brasileira e mundial, já que
todo ser humano, independentemente da nacionalidade, depende da provisão dos
serviços ecossistêmicos para sobreviver (EQUIPE ECYLE, 2021). Eles são os bens
ou serviços que as pessoas obtêm, de forma direta ou indireta, dos diferentes
ecossistemas para manter a vida na Terra da forma como hoje a conhecemos.
A dissertação pretende fornecer uma visão panorâmica sobre as principais
políticas públicas referentes a direitos socioambientais conquistados pelos
brasileiros especialmente desde o período de redemocratização do Brasil, marcado
pela promulgação da Constituição nacional, em 1988, e recordar seus desmontes
mais expressivos, especialmente na área ambiental, desde que a gestão Bolsonaro
assumiu o Governo Federal, em janeiro de 2019. Também objetiva avaliar o papel
que as fake news, as notícias falsas, e o conservadorismo da população,
principalmente, exerceram na consolidação e no fortalecimento de um cenário de
ressentimento e intensos desmontes de direitos e políticas públicas, incluindo as
ambientais, no país.
A interdisciplinaridade será prestigiada no estudo, buscando evidenciar, por
meio da análise histórica e da memória (ARENDT, 1989) da filosofia (CONTI, 2013;
NIETZSCHE 1887; DIAS, 2013) e de conceitos da psicologia arquetípica de Jung
(FREUD, 2006; JUNG, 2000; KEHL, 2011), por exemplo, os elementos que
estimularam a criação do atual cenário federal brasileiro, no qual a propagação das
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chamadas fake news (KAKUTANI, 2018; MELLO, 2020) contribuiu para a eleição do
presidente Jair Bolsonaro, que culminou em um amplo desmonte de políticas
públicas referentes à direitos ambientais no país. A condição tende a afetar mais
fortemente cidadãos definidos por padrões normativos e pelo sistema neoliberal
(HAN, 2000; NAOMI, 2008) como menos adaptados, adequados ou rentáveis para o
sistema de produção e lucro a qualquer custo. A dissertação pretende recordar em
seu andamento, ainda que mais superficialmente, o processo colonizador,
escravocrata e também ditatorial que atingiu o Brasil (RIBEIRO, 2008; SOUZA,
2017a), pela polarização política e pelo ressentimento, chegando aos efeitos
extremos que um cenário de intensa violação de direitos essenciais – como os
relacionados ao direito a um meio ambiente equilibrado ecologicamente, conforme
previsto pela Constituição Federal – podem impor de modo irreparável a incontáveis
gerações (AVRITZER, 2019; LEVITSKY; ZIBLATT, 2018; ZWEIG, 2014). Para tanto,
além da leitura de livros e artigos acadêmicos, a presente dissertação analisou
reportagens veiculadas na imprensa brasileira, e, em alguns casos, estrangeira,
mais especificamente em sites de notícias online, que facilitaram o entendimento
dos aspectos analisados pela dissertação. Em paralelo aos elementos factuais
trazidos pelas reportagens, referências bibliográficas de livros e artigos e demais
referenciais históricos, por exemplo, também enriqueceram a qualidade das
análises.
A pandemia causada pelo novo Coronavírus a partir de dezembro de 2019,
quando teve início em Wuhan, na China, é a mais recente demonstração de que o
desequilíbrio da relação entre os seres humanos e o meio ambiente gera
consequências gravíssimas para a mobilidade social numa sociedade cada vez mais
globalizada e interconectada. Não são poucas as análises científicas que indicam
que o surgimento de pandemias, como a causada pela Covid-19, está relacionado a
uma “complexidade de fatores, como densidade populacional humana, mudanças
antropogênicas, desmatamento e expansão de terras agrícolas, intensificação da
produção animal e aumento da caça e do comércio da vida selvagem”, por exemplo,
como explica a pesquisadora da Fiocruz Bahia, Nelzair Vianna (2020), em uma
entrevista disponível no site da Fiocruz da Bahia.
Apesar de existirem divergências sobre as reais origens do vírus – porque
ainda há dúvidas apontadas por parte dos cientistas sobre se ele se originou mesmo
na China ou apenas se aproveitou da aglomeração no mercado de animais vivos
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(uma tradição local do país) para se disseminar – são diversas as análises


científicas feitas até o momento, que indicam que as sequências de RNA (ácido
ribonucleico) do novo Coronavírus se assemelham às dos vírus que circulam nos
morcegos, os quais infectaram espécies de animais vendidos nesses mercados da
China (MARIZ, 2020). Uma das possibilidades que podem explicar a propagação do
Coronavírus para os seres humanos indica que pode ter sido por meio da
manipulação dos morcegos nesses comércios de animais, associada à falta de
condições sanitárias, que os seres humanos foram contaminados. A Covid-19 é a
doença causada pelo novo Coronavírus, cientificamente chamado de SARS-CoV-2.
“Se você me pergunta qual é a maior possibilidade, digo que o vírus veio de
mercados que vendem animais selvagens”, afirmou Yuen Kwok-Yung (2020, online),
microbiologista da Universidade de Hong Kong, à BBC.

Os cientistas estimam que cerca de 70% das doenças infecciosas


emergentes surgem da interação entre o homem e o meio ambiente,
principalmente pela manipulação inadequada de animais silvestres e pelo
impacto nos habitats naturais. É por isso que doenças como HIV, ebola,
dengue, zika e chikungunya, assim como a Covid-19, são conhecidas como
zoonoses, pois eram originalmente patógenos que circulavam apenas em
animais, vertebrados ou invertebrados.
‘Vivemos a Era do Antropoceno, caracterizado, sobretudo, pelo impacto que
o ser humano tem causado nos ecossistemas. Estamos observando um
desenvolvimento econômico que tem modificado de forma alarmante as
condições climáticas no planeta, num movimento de globalização e
exploração do ambiente que não tem considerado os limites das fronteiras
planetárias’ (VIANNA, 2020).

Um estudo publicado em março de 2021 na revista acadêmica Frontiers in


Veterinary Science (MORAND; LAJAUNIE, 2021), trouxe um importante alerta sobre
o impacto do desmatamento e das monoculturas na saúde da população mundial.
Segundo os pesquisadores da Universidade de Montpellier, na França, surtos de
doenças infecciosas são mais prováveis de acontecerem onde desmatamentos e
monoculturas predominam e as epidemias tendem a aumentar à medida em que a
biodiversidade declina (EPIDEMIAS..., 2021).
A atuação do Governo Federal diante da pandemia é alvo de duras críticas
desde que o problema alcançou publicamente o Brasil, em março de 2020 (NA
ÍNTEGRA..., 2021). A ineficiência da gestão federal passou pela negação sobre a
gravidade da contaminação, sobre a efetividade da vacinação e da adesão às
máscaras e ao isolamento social, além da promoção e do estímulo a aglomerações,
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defesa de “tratamentos precoces” sem comprovações científicas e do lento ritmo da


vacinação no país, por exemplo (OLIVEIRA, 2020).
Assumir que a pandemia poderia ter sido resultado de um histórico e contínuo
desrespeito à natureza, seria reconhecer à população e a diferentes autoridades
nacionais e internacionais a necessidade de proteção e conservação da
biodiversidade. Caso a gestão de Bolsonaro reconhecesse essa possibilidade, o
desmonte das políticas públicas relacionadas a direitos ambientais no país
enfrentaria mais dificuldades para se efetivar. A questão da pandemia causada pelo
novo Coronavírus, portanto, desde o início, mostrou-se maior e muito mais complexa
que um assunto restrito apenas ao âmbito da saúde pública.
Manifestações de ressentimento podem ter início em indivíduos, grupos,
partidos políticos, instituições religiosas ou em outros coletivos humanos.
Historicamente, elas encontram espaços na vida social para, em alguns momentos,
mais que em outros, imporem-se com mais vigor nas sociedades. Dependendo da
proporção que alcancem, são capazes de definir os rumos políticos e sociais de toda
uma nação, além de estimular reproduções semelhantes em outras. Se não tiverem
suas origens bem compreendidas e seus caminhos acompanhados, as condições
para que sejam bem administradas e conduzidas se enfraquecem
consideravelmente (KEHL, 2011). Esse cenário pode alcançar proporções altamente
perigosas para a saúde de qualquer estado democrático de direito, a ponto de afetar
povos inteiros, dificultando, e até impossibilitando, o convívio social, político e
democrático entre os membros de uma mesma nação. O ressentimento pode
transformar-se em ódio e o ódio em desejo por vingança ao diferente (JUNGES,
2018; KEHL, 2011). Essa combinação tem mais chances de encontrar terreno fértil
para se consolidar e crescer, especialmente, em momentos de crise econômica ou
durante períodos eleitorais (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018).
Calamidades públicas podem ocorrer quando decisões importantes e que
afetam países ou o mundo inteiro são tomadas por idealismos inflamados por
convicções pessoais ou pela valorização de ideias pré-concebidas em detrimento da
ciência ou de evidências anteriormente comprovadas. A fragilização de políticas que
beneficiem a coletividade, portanto, tendem a criar uma lógica de intensificação dos
desmontes. Isso contribui para o estímulo crescente da descrença na política, para a
ruptura social, a intolerância contra o diferente – que tende a ser visto como ameaça
– e para a conivência com a perpetuação dessas fragilizações sociais, que
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alimentam um permanente histórico de violação de direitos e de extrema


desigualdade e exploração social (KAKUTANI, 2018).
A discriminação contra o diferente, o desconhecido ou ao que é visto como
“ameaçador”, costuma estimular a resolução de conflitos e dificuldades, por meio da
violência. Essas dificuldades são intrínsecas a um país plural e a um mundo
globalizado (SOUZA, 2017a). A falta do entendimento e do aproveitamento dos
Direitos Humanos também costuma promover discursos e práticas altamente
condenatórias, desrespeitosas e punitivas no Brasil (TIBURI, 2019). Essa condição
favorece a polarização, a divisão social e o afastamento da sociedade da cobrança
coletiva de políticas públicas ambientais que, se asseguradas, garantiriam condições
de vida saudável melhores e mais dignas a todas as pessoas (BONETTI, 2018).
Se não compreendida e controlada, a polarização – e o consequente conflito
e distanciamento sociais que ela provoca – pode aumentar tão expressivamente,
que intensificaria, de maneira ainda mais problemática, o enfraquecimento de
políticas públicas sociais e ambientais brasileiras, o afastamento da sociedade sobre
a compreensão e da cobrança de Direitos Humanos essenciais e geraria retrocessos
para o estado democrático de direito com consequências gravíssimas,
transgeracionais e incalculáveis (KAKUTANI, 2018).
Quando se fala em “metodologia”, a teoria a define como “o caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (MINAYO, 2009, p.
16). Por meio da metodologia, integram-se técnicas, métodos, estratégias e a
experiência e capacidade individuais do pesquisador para que se alcancem os
resultados necessários da investigação (MINAYO, 2009). O presente projeto
envolve, principalmente, pesquisas bibliográfica, teórica e documental.
No primeiro capítulo, busca-se contextualizar o conceito de ressentimento e
oferecer uma visão panorâmica sobre a relação do comportamento com a formação
de três principais grupos que podem ser apresentados como alguns dos que reúnem
boa parcela da sociedade brasileira: um público que sente que não tem seus direitos
básicos assegurados, outro que se frustrou com promessas públicas não cumpridas
por gestões anteriores que prometeram cenários socioeconômicos melhores, e de
mais um, que nutre historicamente o medo da perda do status quo. Pretende-se no
capítulo também investigar quais foram os elementos que se associaram para a
formação de uma “ralé” política no Brasil, contribuindo para a criação do atual
cenário político federal no país e de um intenso desmonte de políticas públicas e
16

Direitos Humanos que, se assegurados, beneficiariam a coletividade e evitariam


tantas violações de prerrogativas básicas. No capítulo, também são mencionadas
algumas das consequências mais nocivas do Neoliberalismo e da Necropolítica para
a sociedade.
Com o segundo capítulo, busca-se analisar quais foram algumas das
principais estratégias utilizadas pela chamada “fábrica de fake news” que
contribuíram, a nível internacional, com a eleição do ex-presidente norte-americano,
Donald Trump e com o crescimento de conceitos, ideias, partidos e figuras políticas
de extrema-direita também em países europeus, por exemplo. Em um movimento
sinérgico aos movimentos globais, Jair Bolsonaro foi eleito no Brasil, fato que
ocasionou o que indica ter sido o maior desmonte de direitos e políticas
socioambientais da história do país. Objetiva-se analisar, ainda que
superficialmente, como a figura arquetípica do “herói” contribuiu para o
fortalecimento da imagem de Bolsonaro como “salvador dos ressentidos”.
No terceiro capítulo, pretende-se apresentar uma breve rememoração
histórica de como a natureza é tratada no Brasil desde a colonização do país, em
1500, e lembrar como a Constituição de 1988, e seu artigo 225 – que se refere ao
direito de todo brasileiro poder contar com um meio ambiente ecologicamente
equilibrado – representou um marco em termos de conquistas legais relacionadas à
proteção do meio ambiente no país. Neste capítulo, também busca-se refletir os
motivos para que os Direitos Humanos ainda sejam vistos como privilégios pela
sociedade brasileira e indicar como os desmontes socioambientais, intensificados
pela atual gestão federal, associados ao ressentimento, distanciam ainda mais o
brasileiro do aproveitamento de direitos fundamentais e constitucionais, gerando
consequências e prejuízos ainda incalculáveis e transgeracionais. Neste capítulo, é
analisado, de que modo o cenário afeta e precariza, especialmente, a saúde das
atuais, novas e futuras gerações, das comunidades tradicionais, indígenas e dos
públicos mais vulneráveis ou que estejam fora de padrões definidos historicamente
como normativos ou mais adequados aos interesses da lógica neoliberal. Nele,
aborda-se, por fim, caminhos importantes que deveriam ser considerados pela
humanidade, que compreendem o ser humano como parte, e dependente, da
natureza. Também são apresentados caminhos propositivos, com base, por
exemplo, na inspiração do constitucionalismo latino-americano, que vê a natureza
como sujeito e portadora de direitos, como fonte de vida, geradora de recursos,
17

oportunidades, negócios e produtora de serviços ecossistêmicos indispensáveis à


manutenção da vida na Terra.
Nas considerações finais, são recordados os principais fatos trazidos no
decorrer dos capítulos acerca do intenso desmonte de políticas socioambientais
vividos pela sociedade brasileira desde que a gestão Bolsonaro assumiu a
presidência. Por fim, é feito um convite para que abandonemos a rota autodestrutiva,
viabilizada pela existência e pela manutenção do ressentimento, que tanto assombra
e compromete a espécie humana, as relações sociais e democráticas e a conexão
interdependente e saudável que precisa ocorrer entre as diferentes formas de vida
que habitam a Terra.
Ao longo dos capítulos, a presente dissertação busca questionar se o
ressentimento se configura como suporte, tácito ou implícito, à política de desmontes
de políticas socioambientais que a sociedade brasileira experimenta com
intensidade ainda maior desde que Jair Bolsonaro se elegeu, em dezembro de 2018.
A resposta, inicialmente hipotética, mas comprovada ao fim de forma tácita a partir
das conexões feitas entre teoria, história e atualidade, é de que, sim, o
ressentimento teve papel fundamental na eleição de Bolsonaro pela sociedade
brasileira, fato que chancelou o maior desmonte de políticas socioambientais da
história do Brasil.
18

2 CAPÍTULO 1 – A CONSTRUÇÃO DO RESSENTIMENTO SOCIAL NO BRASIL

2.1 RESSENTIMENTO E A LUTA POR UM “LUGAR AO SOL”

No livro Origens do Totalitarismo, a filósofa Hannah Arendt (1989, p. 29)


defende que “a verdade ocupa posição instável no mundo porque são as opiniões –
o que pensam as multidões – que costumam predominar em relação à ideia de
verdade”. No livro A Morte da Verdade, a jornalista Michiko Kakutani (2018)
complementa ao argumentar que:

O nacionalismo, o tribalismo, a sensação de estranhamento, o medo de


mudanças sociais e o ódio aos estrangeiros ascendem em diferentes países
do mundo à medida em que as pessoas, trancadas nos seus grupos
partidários e protegidas pelo filtro de suas bolhas, vêm perdendo a noção de
realidade compartilhada e a habilidade de se comunicar com as diversas
linhas sociais e sectárias (KAKUTANI, 2018, p. 10).

Essa tendência, segundo ela, estimula a proliferação de notícias falsas em um


cenário em que a sociedade tende a se sentir mais protegida e segura ao ter contato
apenas com informações que validem as percepções e opiniões individuais de seus
integrantes. O descaso pelos fatos, a insegurança na credibilidade da imprensa
(NOBREGA, 2020) e a desconfiança em relação a comprovações, inclusive
científicas, aliado à substituição da razão pela emoção, vêm diminuindo a
valorização da verdade (FREUD, 2006) em diferentes nações do mundo, entre elas,
o Brasil. Ocorre que a verdade é um dos pilares da democracia. E quando o valor
atribuído à primeira diminui a segunda colapsa (KAKUTANI, 2018).

Outro processo opera de modo mais energético e completo. Considera a


realidade como a única inimiga e a fonte de todo sofrimento, com a qual é
impossível viver, de maneira que, se quisermos ser, de algum modo felizes,
temos de romper todas as relações com ela. Pode-se tentar recriar o mundo
e, em seu lugar, construir um outro mundo, no qual os seus aspectos mais
insuportáveis sejam eliminados e substituídos por outros mais adequados
aos nossos próprios desejos (FREUD, 2006, p. 88-89).

O antissemitismo, lembra Arendt (1989) em Origens do Totalitarismo, foi um


dos primeiros elementos a contribuir com a escalada da permissividade social que,
mais tarde, possibilitaria a ascensão do regime nazista e o sequencial Holocausto (o
genocídio, ou assassinato, de cerca de seis milhões de pessoas, sendo a maioria
19

delas judias, durante a Segunda Guerra Mundial), na Alemanha, no século XX.


Naquela época, os principais alvos foram os judeus. Hoje, os “inimigos que precisam
ser combatidos” são, por exemplo, imigrantes, pessoas que integram minorias,
classes economicamente menos favorecidas, indivíduos que conservam
posicionamento políticos divergentes da maioria, não se limitam a padrões sociais
normativos apontados historicamente como hegemônicos ou não são vistos como
“adequados” o suficiente para a dinâmica das economias neoliberais, que prega a
menor participação possível do Estado na economia (SOUZA, 2017a).
O conceito de Neoliberalismo, mesmo tendo sido registrado em alguns
escritos dos séculos XVIII e XIX, começou a aparecer com mais expressão na
literatura acadêmica no final dos anos 1980, como forma de classificar o que seria
um ressurgimento do liberalismo – a doutrina baseada na defesa da liberdade
individual nos campos econômico, político, religioso e intelectual, por exemplo,
contra influências ou imposições do poder estatal – como ideologia predominante na
política e economia internacionais.

A partir dos anos 1970, o mundo passou a vivenciar um declínio do modelo


do Estado de bem-estar social, o que deu espaço para que ideias liberais
aos poucos voltassem a ter preferência na política. Uma das primeiras
experiências consideradas neoliberais no mundo foi levada a cabo pelo
Chile. Em 1975, o ditador chileno Augusto Pinochet entrou em contato com
acadêmicos da Escola de Chicago, que recomendaram medidas pró-
liberalização do mercado e diminuição do Estado. Entre tais medidas
estavam a drástica redução do gasto público, demissão em massa de
servidores públicos e privatização de empresas estatais. As eleições de
Margaret Thatcher no Reino Unido e de Ronald Reagan nos Estados
Unidos, no início dos anos 1980, também foram indicativos desse
fenômeno. Ambos são considerados até hoje líderes neoliberais.
Mas o conjunto mais claro de ideias chamadas de neoliberais veio no ano
de 1989, quando o economista John Williamson publicou um artigo
apresentando um conjunto de regras econômicas acordadas por
economistas de grandes instituições financeiras. Essas regras, que ficariam
conhecidas como Consenso de Washington, seriam o mínimo denominador
comum, os pontos com que todas as principais instituições financeiras do
mundo concordavam. Nos anos seguintes, esse ideário neoliberal orientaria
a elaboração das políticas econômicas recomendadas por grandes
agências internacionais, e, de fato, foram implementadas em vários países
em desenvolvimento a partir do início dos anos 1990 – inclusive no Brasil.
(BLUME, 2016, online).

No livro Liberalismo – Entre civilização e barbárie, o professor italiano


Domenico Losurdo (2006, p. 93) lembra que Ludwig Heinrich Edler von Mises,
economista teórico austríaco que foi membro da Escola Austríaca de pensamento
econômico, defendia que, no capitalismo “a posição social de cada um depende da
20

própria ação”, de modo que para o eventual ‘fracasso’ o indivíduo não tem mais
espaço para ‘desculpas’ e só pode culpar a si mesmo (VON MISES, 1988). A
tradição liberal, portanto, como também recorda Domenico, apesar de variantes
ideológicas, enxerga a miséria como resultado do demérito individual, “da falta de
sorte e do acaso, da ordem natural e inclusive providencial das coisas, mas, de
forma alguma, questiona as relações econômicas co-sociais ou as instituições
políticas” (LOSURDO, 2006, p. 96).
O filósofo contemporâneo sul-coreano, Byung-Chul Han, no livro Psicopolítica
– o Neoliberalismo e as novas técnicas de poder (2018, p. 14), destaca a defesa do
conceito de meritocracia imposto na argumentação de Mises, ao recordar que, hoje,
no século XXI, cada pessoa atua no mundo como um explorador de si mesmo.

[...] trabalhador que explora a si mesmo para a sua própria empresa. Cada
um é senhor e servo de si em uma única pessoa [...] Quem fracassa na
sociedade neoliberal de desempenho, em vez de questionar a sociedade ou
o sistema, considera a si mesmo como responsável e se envergonha por
isso. Aí está a inteligência do sistema neoliberal: não permite que emerja
resistência ao sistema. (HAN, 2018, p. 14, 16).

Ele aponta que o regime neoliberal atribui responsabilidades unicamente


individuais. “A agressão acaba dirigida a nós mesmos. Ele não transforma
explorados em revolucionários ou protagonistas da resistência diante das opressões;
cria depressivos” (HAN, 2000, p. 16). Faz isso porque indica ser o fracasso um
elemento da escolha individual dos que talvez se revelem “menos adaptados” (HAN,
2000).
A meritocracia, vale lembrar, defende que, em uma sociedade, devem
predominar e dominar àqueles que têm mais méritos, que tenham sido mais
trabalhadores, dedicados ou mais bem-dotados intelectualmente. O conceito
despreza as diferenças entre pontos de partida de cada indivíduo e ignora estruturas
e processos históricos que não asseguraram igualdade de oportunidade a todas as
pessoas (SANDEL, 2020).

A arrogância meritocrática reflete a tendência de vencedores a respirar


fundo o sucesso e a esquecer a sorte e a sina que os ajudaram ao longo do
caminho. É a convicção presunçosa de pessoas que chegam ao topo que
elas merecem esse destino e que aqueles embaixo merecem o deles
também. Esse comportamento é o companheiro moral da política tecnocrata
(SANDEL, 2020, p. 38).
21

Antes do predomínio dos valores neoliberais, nas primeiras décadas do


século XX, principalmente, no ano de 1929 – a partir da crise financeira que ficou
conhecida como “A Grande Depressão” – surgiu e predominou por alguns anos uma
nova teoria econômica, desenvolvida pelo economista John Maynard Keynes, que
ficou conhecida como Keynesianismo. De acordo com essa teoria, o Estado deveria
intervir na economia sempre que necessário, a fim de evitar a retratação econômica
e garantir o pleno emprego à população. Para Keynes, a teoria liberal-capitalista não
fornecia elementos, mecanismo e ferramentas capazes de garantir a estabilidade
empregatícia de um país e, por isso, o poder público deveria investir em áreas que
as empresas privadas negligenciavam (HENRIQUE, 2019).

Com a “grande depressão”, ficou claro que o liberalismo clássico, sozinho,


não foi capaz de garantir o pleno emprego. Em 1932, com a quebra da
bolsa de valores e com uma grande crise financeira, o presidente Franklin
Delano Roosevelt, baseado nos princípios defendidos por John,
implementou o famoso plano “New Deal”, visando tirar o EUA da retração
econômica. De fato, o plano funcionou. Além da intervenção estatal, o plano
estabelecia o controle na emissão de valores monetários, o investimento em
setores básicos da indústria e, claro, políticas de criação de emprego. Com
a implementação de uma série de ações que conciliaram as questões
econômicas e sociais, foram criadas as bases do chamado welfare state
(Estado de Bem-Estar Social).
Bons resultados foram alcançados através do new deal. Porém, ele perdeu
espaço no final de década de 1970 quando o neoliberalismo surgiu com
novas propostas, como a abertura comercial internacional e a privatização
de empresas estatais. Estados Unidos, Chile e Reino Unido foram os
primeiros países a adotarem o neoliberalismo.
Os preceitos defendidos por Keynes só voltaram aos holofotes com a
grande crise de 2008, ocasião em que as principais economias do mundo
se viram diante da necessidade de evitar uma situação semelhante à
recessão americana de 1929 (HENRIQUE, 2019).

Retomando às demonstrações de antissemitismo no mundo e ao livro A Morte


da Verdade, Kakutani (2018) lembra que o austríaco Stefan Zweig, em sua
autobiografia de 1942, O Mundo de Ontem, menciona que o comportamento, por
exemplo, de “jovens ameaçadores perto da fronteira da Alemanha – que diziam que
qualquer pessoa que não se juntasse a eles pagaria mais tarde” (KAKUTANI, 2018,
p. 45) – revelava que “as fendas subterrâneas entre raças e classes que a era da
conciliação fechara às custas de tanto esforço, estavam se abrindo mais uma vez” ”
(KAKUTANI, 2018, p. 45). A autora Hannah Arendt (1989, p. 425) compartilha da
percepção e ainda complementa, lembrando que o movimento nazista mostrou suas
intenções aos poucos, “uma dose de cada vez, esperando as reações da sociedade
para verificar se a dose aplicada não era forte demais”. A “solução final” – quando
22

Hitler decidiu que exterminaria a maior quantidade de judeus possível – foi definida
após anos de ausência de reações da comunidade internacional e da sociedade
alemã. “Até mesmo Himmler ficou horrorizado quando recebeu a incumbência da
‘solução final’ da questão judaica”, lembra Arendt (1989, p. 425). Tanto Zweig quanto
Arendt recordam que a sociedade alemã, e a comunidade internacional, relutaram
em abandonar as vidas a que estavam acostumadas, seus hábitos e rotinas diários,
para perceber a velocidade com que seus direitos eram sumariamente retirados.
Aquele rompante de loucura de Hitler, acreditavam, não vingaria em pleno século
XX. As lembranças reforçam a necessidade de haver sempre, e diante de qualquer
movimento opressor, resistência frente a tentativas de desmonte de políticas
públicas e violações dos direitos da coletividade (ARENDT, 1989).
No livro Eichmann em Jerusalém, Arendt apresentou o conceito de
“banalidade do mal”, ao observar detalhes de um famoso julgamento de um oficial
nazista em Jerusalém, em 1960 (ARENDT, 1999). Adolf Eichmann era um oficial do
serviço secreto nazista, responsável por organizar a logística para a chamada
“solução final”, o plano nazista para a exterminação dos judeus na Alemanha e nos
territórios ocupados na época. No livro, Hannah Arendt defende que Eichmann seria
um homem absolutamente comum, e não uma figura estigmatizada como sendo um
“monstro”, porque, a todo momento, ele se defendia dizendo que estava apenas
“cumprindo ordens”. Ele foi apresentado por ela apenas como um burocrata zeloso
incapaz de resistir às ordens que recebia. Na análise que fez, e foi bastante criticada
na época em que foi apresentada às autoridades e sociedade, Hannah defende que
Adolf Eichmann era desprovido de um senso de pensamento crítico, no sentido de
não questionar nada, apenas executar, e de não refletir sobre seus atos. Segundo
ela, o acusado, como grande parte das pessoas, era um cidadão desprovido de
ética, moral e senso crítico e suas ações buscavam executar ordens superiores sem
as questionar. No mesmo livro, a autora diz que em razão da massificação da
sociedade, criou-se uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, razão que
explica por que essa parcela social, que é bastante significativa ainda em diversos
lugares do mundo, cumpre ordens sem questionar. O conceito continua bastante
atual, quando se analisa a existência de indivíduos massificados, incapazes de
pensar por si, fazer reflexões e construir noções éticas individuais. Dessa forma, se
tornam uma ferramenta de fácil manipulação nas mãos de pessoas em funções e
poderes, como o da imprensa hegemônica, por exemplo, de dominação.
23

A psicanalista Maria Rita Kehl, no livro Ressentimento (2011, p. 13), recorda


que “ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz
sofrer” e que o ressentido não se reconhece nas consequências de seus atos (ou
em sua hesitação em agir). “Ele espera que alguém seja culpado de seu sofrimento.
Culpar o outro, escreve o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, é uma característica
dos doentes” (KEHL, 2011, p. 129). E comenta que patologias sociais – como o
racismo, o fascismo, ou o chauvinismo nacionalista – podem ser “formas de
compensação narcísica do sentimento de insignificância dos homens anônimos e
infames; modos ressentidos de negação das condições da modernidade
democrática, nascidas dos impasses criados por essas mesmas condições” (KEHL,
2011, p. 303).

Volto ao caso do ressentimento que se alastrou entre as classes médias


alemãs contra os judeus ‘arrivistas’, que cresciam e progrediam no início do
século XX. Norbert Elias, em um texto autobiográfico no qual analisa o
‘antissemitismo’, refere-se à ‘amargura quase fanática’ que tomou conta da
Alemanha sob a crise da década de 1930. Elias observa que, para os que
se sentem injustiçados, é possível tolerar a convivência com um grupo
marginalizado que se mostra impotente e se concentra em ocupar as fileiras
inferiores da sociedade, não representando ameaça de rivalidade. Mas para
estes mesmos grupos que lutam para não cair ainda mais na hierarquia
social, é intolerável ter de entrar em concorrência com os membros de outro
grupo marginal desprezado que, vivendo em condições semelhantes,
também buscam conquistar alguma ascensão (KEHL, 2011, p. 303).

Kehl (2011) explica que as classes decadentes que se sentem humilhadas


com a perda de sua posição se ressentem, acima de tudo, contra os que, situados
em um lugar inferior a eles na hierarquia social, não se deixam humilhar. “Em vez de
tomá-los como aliados em uma empreitada pela recuperação da dignidade perdida,
procuram afastá-los e assegurar os mais ínfimos sinais de distinção e
respeitabilidade, como se perguntassem: ‘quem eles pensam que são?’ [...]” (KEHL,
2011, p. 304). “O ressentido traduz a falta como prejuízo cuja responsabilidade é
sempre de um outro contra quem ele dirige insistentemente um rosário de queixas e
de acusações” (KEHL, 2011, p. 43). Para a autora, ressentir-se significa atribuir ao
outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. “O ressentido não é alguém
incapaz de se esquecer ou de perdoar, é alguém que não quer esquecer, perdoar,
nem superar o mal que o vitimou” (KEHL, 2011, p. 14). O ressentido, portanto, seria
uma pessoa disposta a “sentir de novo”, alguém vingativo, mas que não se
reconhece como tal. Ela diz também que, no ressentimento, o tempo da vingança
24

nunca chega, e que “[...] o ressentido é tão incapaz de vingar-se quanto foi
impotente em reagir imediatamente aos agravos e às injustiças sofridos” (KEHL,
2011, p. 14). Para que se instale, a autora destaca, é preciso que a vítima não se
sinta à altura de responder ao agressor, que se sinta fraca ou inferior a ele. É por
isso que Nietzsche o considera como qualidade dos “escravos” (KEHL, 2011).
Foi Friedrich Nietzsche o grande teórico do ressentimento. Ele desenvolveu
amplamente o conceito de ressentimento em sua obra emblemática, Genealogia da
Moral (NIETZSCHE, 1887). O termo já havia sido utilizado em 1865 por Eugen
Dühring em um livro intitulado Der Werth des Lebens (O valor da vida). Mas foi
Nietzsche quem forneceu ao conceito contornos e papeis muito particulares na
construção de sua filosofia.

Na segunda metade do século XIX, não se encontrava em língua alemã


uma palavra cunhada especialmente para expressar a ideia de
ressentimento. Filósofos como Nietzsche e Dühring lançam mão, então, do
termo francês “ressentiment” para cumprir essa tarefa. O termo, cuja
utilização na língua francesa remonta ao século XVI, deriva do verbo
“ressentir”, o qual, embora possa ter uma conotação neutra, significando a
possibilidade de reviver um sentimento ou sensação anteriormente
experimentada, ou mesmo positiva, considerando a possibilidade de tal
sensação ser boa ou agradável, via de regra, possui um acento negativo,
designando uma “renovação de um mal sofrido, de uma dor que se
ressente”, ou então a “persistência de um sentimento suscitado por uma
injúria, uma injustiça, acompanhado de um desejo de vingança” (QUILLET,
1970), ou ainda: “o fato de se recordar com amargor ou o desejo de se
vingar de um mal sofrido, ódio, rancor, amargura”.

No artigo As formas do ressentimento na filosofia de Nietzsche, de autoria


Antonio Edmilson Paschoal, é lembrado que Nietzsche utiliza o termo ressentimento,

associando-o à ideia de um auto envenenamento por meio de sentimentos


como inveja, rancor e ódio. Um envenenamento que ocorre quando esses
sentimentos não podem ser descarregados para fora e se voltam para o
interior do homem, onde – não digeridos – ficam sendo ressentidos
(PASCHOAL, 2008, p. 14).

No livro Genealogia da Moral, como recorda Kehl (2011), ele defende que o
ressentimento é uma característica dos fracos. “Em vez de fortalecer-se e lutar,
sente-se moralmente autorizado a demandar de seu opressor que não seja forte”
(KEHL, 2011, p. 33). Ela diz que uma das características principais do ressentimento
é a necessidade do estabelecimento de uma relação de “dependência infantil com
25

um outro supostamente poderoso, a quem caberia protegê-lo, premiar seus


esforços, reconhecer seu valor” (KEHL, 2011, p. 18).

O ressentimento também expressa a recusa do sujeito em sair da


dependência: ele prefere ser ‘protegido’ – ainda que prejudicado – a ser
livre, mas desamparado. O ‘Outro’ é representado pelas figuras que, na
infância, tinham poder efetivo para proteger, premiar e punir a criança
(KEHL, 2011, p. 18).

Para Nietzsche, o ressentido, assim como o melancólico, mantém uma atitude


amarga e pouco esperançosa diante da vida, e parece tão preso ao passado quanto
aquele, impossibilitado de esquecer as supostas causas de sua infelicidade: “Não
temos nenhum interesse na verdade, a não ser quando ela nos convém” (KEHL,
2011, p. 111). O ressentimento social, segundo o filósofo, teria origem nos casos em
que a desigualdade é sentida como injusta diante de uma ordem simbólica fundada
sobre o pressuposto da igualdade. No dizer de Kehl, Nietzsche defende que “o
ressentimento é a patologia desses homens enfraquecidos, que perderam a
coragem de lutar e delegaram toda vontade de potência ao Estado ao qual, em
contrapartida, submete-se voluntariamente” (KEHL, 2011, p. 285).
No artigo Ressentimento e Esquecimento em Nietzsche, o autor Rodrigo
Hayasi Pinto (2019, p. 125) recorda que “[...] o ressentimento é considerado por
Nietzsche como uma força reativa, pois o tipo ressentido é aquele que não canaliza
seu ódio para fora, mas para si mesmo, construindo uma espécie de vingança
imaginária”. Ele escreve que, segundo Nietzsche, a existência humana também
pode estar atrelada a forças reativas que, de acordo o filósofo, são aquelas “que se
voltam para o interior do próprio indivíduo, e ao operarem desse modo, impedem-no
de externalizar seus impulsos vitais, gerando um modo de existência chamado por
ele de doentio” (PINTO, 2019, p. 127).

O ressentimento, por exemplo, seria uma dessas forças reativas. A


dimensão do ressentimento, por estar vinculada a certa postura vingativa,
surge quando o indivíduo, ao ser acometido por alguma ofensa ou violência
externa causada pelo outro, que nesse caso, atua como uma força
contrária, interioriza seu ódio na forma de um desejo de vingança. Desse
modo, o homem, alvo dessa violência, é acometido por um ressentimento
tão grande que se torna impossível resistir. ‘Minado pela bílis infecciosa da
vingança, debilita-se no sofredor o fôlego que ainda restava para a força
defensiva, capaz de repelir o que prejudica’. [...] o desejo de vingança deve
ser encarado como uma forma encontrada pelo indivíduo para canalizar
esse ódio. Ironicamente, o desejo de vingança se faz necessário para
narcotizar a consciência do próprio sofrimento, que é causado justamente
26

quando o próprio indivíduo sente o aguilhão dessa força reativa, que ecoa
dentro de si na forma do ódio interiorizado. Desse modo, se faz necessário,
que ele encontre alguém ou algo como culpado daquilo que padece, com o
objetivo de aliviar essa energia contida e interiorizada por ele mesmo
(PINTO, 2019, p. 127-128).

No artigo Entre a Memória e a Política: Nietzsche e Arendt na Atualidade, os


autores Miguel Angel de Barrenechea e Mário José Dias (2013, p. 323), dizem que,
“tanto Nietzsche quanto Arendt, cada um ao seu modo, lutaram contra uma política
do rebanho, da anulação individual, da supressão da singularidade”
(BARRENECHEA; DIAS, 2013, p. 323).

Ambos, inspirados no ágon grego, exaltaram o confronto respeitável, a


diversidade, a multiplicidade de perspectivas. Ambos repararam que na
construção da memória e da política a violência tem um papel fundamental.
Eles sustentaram igualmente que a política pode ser modelada para além
da violência e da negação da memória.
Arendt defende a preservação das lembranças do passado da comunidade,
não como forma de fixação no tempo que passou, mas como um lançar-se
para o futuro capaz de inibir a presença de regimes totalitários, cerceadores
da liberdade e singularidade do indivíduo, e a valorização da ação conjunta
e o diálogo interpares; Nietzsche exalta uma memória que possa ser
limitada nos seus excessos, na qual o esquecimento também atue como
força salutar. Já no âmbito da sociedade, na sua concepção de grande
política, ele também pensa para além do rebanho e nessa questão
encontramos um ponto nodal de contato que aproxima ambos os filósofos:
Nietzsche, assim como Arendt, afirma que é preciso exercer a
singularidade, é preciso ultrapassar a mediocridade dos homens
domesticados, anestesiados e esquecidos de sua própria condição criadora
(BARRENECHEA; DIAS, 2013, p. 323).

Em As formas do ressentimento na filosofia de Nietzsche, Paschoal reforça


que, segundo Nietzsche, “quando o ressentimento extrapola a mera descrição de
uma fraqueza fisiológica, ele não se caracteriza mais pela inação, como se tem no
homem fraco e incapaz de reagir frente às injúrias sofridas, mas, ao contrário, por
uma forma de ação” (PASCHOAL, 2014, p. 16). E isso acontece porque o indivíduo
acometido por ele se mostra incapaz de esquecer ou processar o dano sofrido
“frente às intempéries da vida e que também não consegue digerir os sentimentos
ruins que produz” (PASCHOAL, 2014, p. 33).

No caso de uma moral, por exemplo, mesmo em se tratando de uma forma


de valorar que se constitui a partir da fraqueza, ela se faz justamente para
criar as condições favoráveis para a expansão e predomínio desse homem
fraco sobre os outros tipos de homem. Nesses termos, embora postule uma
negação do caráter expansivo da vida, paradoxalmente, nas mãos dos
impotentes, essa moral não deixa de ser uma forma de vida que pretende
se expandir e se impor sobre as demais. Assim, ao lado do ressentimento
27

entendido como uma inibição da ação, tem-se também o ressentimento que


designa uma vontade de poder operante. O que permite levantar a hipótese
de que, mais do que elaborar uma peça de uma nosografia, interessa a
Nietzsche tipificar uma vontade de poder que se manifesta no direito, na
política, na religião, na moral, e isto como um meio de contrapor-se a ela
tanto em termos individuais quanto coletivos (PASCHOAL, 2014, p. 16).

Ao analisar o cenário político norte-americano – cujos elementos


conservadores e ressentidos que elegeram o atual presidente Donald Trump em
2016 são bastante semelhantes em alguns aspectos aos que levaram o presidente
Jair Bolsonaro ao poder no Brasil – o jornalista e escritor inglês Andrew Sullivan
(2017a) escreveu em um artigo veiculado na revista New York Magazine,
defendendo que o que ocorre em momentos políticos que criam cenários como
esses, não é uma simples polarização política, mas “[...] uma ruptura na nação em
duas tribos lutando, não pelo avanço de seu próprio lado, mas para provocar,
condenar e derrotar o outro” (SULLIVAN, 2017a, online, tradução livre). Em
momentos assim, diz ele, outro comportamento social tende a ganhar espaço: a
defesa do próprio território. Nessas horas, as pessoas manifestam maior tendência a
produzir respostas emocionais ao invés de intelectuais e demonstram grande
dificuldade em examinar as evidências ao serem questionadas. O comportamento –
que poderia ser mais bem compreendido pela psicanálise, por exemplo, – segundo
Sullivan (2017b, online, tradução livre), “[...] pode ser associado a uma parte mais
rudimentar de nossos cérebros, ligada a emoções, como medo, raiva, ódio e o
próprio ressentimento”. Para Maria Rita Kehl (2011), é o espírito de pessoas que se
sentem “passadas para trás” na luta por “um lugar ao sol” que caracteriza a vida
ressentida profissional e social nas sociedades capitalistas. O ressentimento surge e
cresce, portanto, quando o indivíduo que se considera “perdedor”, se vê prejudicado.

A insatisfação transforma-se em ressentimento coletivo contra aqueles que


representam, ao mesmo tempo, tanto os opressores quanto os ideais com
os quais os de baixo se identificam. É provável que nesses casos a
insatisfação se desloque e, em vez de atingir a classe governante, se volte
contra os da mesma classe. Se a elite dominante ocupa o lugar do ideal, os
membros das classes subalternas interpretam sua própria miséria como
fracasso; nessa lógica, é mais fácil culpar os companheiros da mesma
condição social, vistos como concorrentes, do que questionar as regras do
jogo (KEHL, 2011, p. 291).

Outro aspecto fundamental na análise do problema foi lembrado por Roberto


Romano da Silva, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da
28

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o artigo Bolsonaro e o


Ressentimento (2019), que escreveu à edição on-line do Jornal da Universidade.
Nele, o acadêmico lembra que todas as pessoas têm direito de aproveitar direitos
comuns e iguais, mas, caso estejam distantes desse aproveitamento – vivendo as
duras consequências que a ausência da oferta deles costumam impor à vida
humana e percebendo que apenas alguns membros da sociedade os aproveitam –
“[...] nascem em nossos corpos paixões tristes, reativas, ressentidas” (ROMANO,
2019, online).
Romano (2019) lembra que os Direitos Humanos não são assegurados a
todas as pessoas no Brasil e, justamente por isso, surgem hordas ressentidas
(grande parte vindas das camadas mais carentes da sociedade) ou entre pessoas
que não desejam a igualdade de classes e defendem a manutenção do status quo.
A fragilização de políticas que beneficiem a coletividade também figura como
estratégias que buscam semear, cultivar e manter na população esse
comportamento ressentido, que intensifica a descrença na política, a ruptura social,
a intolerância contra o diferente – que tende a ser visto como ameaça – e a
conivência com a perpetuação desses desmontes, gerando um permanente histórico
de extrema desigualdade e exploração dessas sociedades.

Uma das condições centrais do ressentimento é que o sujeito estabeleça


uma relação de dependência infantil com o outro, supostamente poderoso,
a quem caberia protegê-lo, premiar seus esforços, reconhecer seu valor. O
ressentimento também expressa a recusa do sujeito em sair da
dependência: ele prefere ser “protegido” – ainda que prejudicado – a ser
livre, mas desamparado (KEHL, 2011, p. 18).

A falta do entendimento e do aproveitamento dos Direitos Humanos também


costuma estimular discursos e práticas altamente condenatórias, desrespeitosas e
punitivas no Brasil. Essa condição favorece a polarização, a divisão social e o
afastamento da sociedade da cobrança coletiva de políticas públicas sociais e
ambientais que, se asseguradas, garantiriam condições de vida melhores e mais
dignas a todas as pessoas (BONETTI, 2018). A discriminação contra o diferente, ou
ao que é visto como “ameaçador”, tende a estimular, por meio da violência, a
resolução de conflitos e dificuldades que, na verdade, são naturais e intrínsecas a
um país plural e a um mundo globalizado (BARBOSA, 2019).
29

Os agentes de poder são pessoas que possuem o privilégio de decidir na


elaboração das políticas públicas, no investimento do dinheiro público. Não
são, necessariamente, os representantes do povo, mas os que detém as
regras do jogo, o domínio da legislação, da política, do capital (BONETTI,
2018, p. 53).

Joaquín Herrera Flores, em A (re) invenção dos Direitos Humanos (2009),


trata das diferenças entre os conceitos de “localismo” e “multiculturalismo”. Segundo
o autor, enquanto o primeiro fecha-se em si mesmo e resiste à tendência
universalista e despreza distinções culturais com o objetivo de impor uma só forma
de ver o mundo, o segundo respeita as diferenças atenuando as relações entre
hierárquicas entre dominados e dominantes, que ocorrem entre elas. No entanto, é
preciso cuidar com o conceito de “multiculturalismo conservador” , que considera
que existem muitas culturas, mas somente uma pode considerar o padrão-ouro do
universal.
Outro aspecto que pode indicar as raízes do ressentimento diz respeito a
promessas não cumpridas por líderes políticos eleitos, o que também se relaciona à
ineficiência do poder público. O ensaísta indiano Pankaj Mishra (2017), autor do livro
Age of Anger – A History of The Present, ou, na tradução para o português, Era da
raiva – Uma História do Presente, diz que, se um líder político surge fazendo
promessas que depois não entrega, isso gera uma reação social violenta. Ele conta
que fenômeno assim ocorreu no fim do século XIX, quando a economia global se
expandiu e os países começaram a se industrializar. Na época, as promessas
públicas eram de prosperidade coletiva, mas o que ocorreu foi que muitas pessoas
perderam seus antigos empregos. Naquela fase, e por conta disso também, o
antissemitismo (que é a forma de preconceito contra povos semitas, especialmente,
os judeus), se intensificou e se disseminou baseado na raiva das pessoas; no
sentimento de terem sido deixadas para trás, de terem sido condescendentes com
as elites liberais, entre elas, as que eram integradas por grandes banqueiros judeus.


O localismo reforça a categoria de distinção, de diferença radical, com o que, em última instância,
acaba defendendo o mesmo que visão abstrata do mundo: a separação entre nós e eles, o
desprezo ao outro, a ignorância do fato de que a nossa relação com os outros é a única coisa que
nos faz idênticos; a contaminação da alteridade. A visão localista conduz a um multiculturalismo
liberal de tendência progressista: todas as culturas são iguais e não há mais necessidade de
estabelecer um sistema de cotas para que ‘inferiores’ ou ‘patológicas’ possam se aproximar à
hegemônica, mas, em nome do politicamente correto, deve-se respeitar sempre a hierarquia
dominante (FLORES, 2009, p. 156-157).
30

Aquele ressentimento os fez sentir que precisavam colocar a culpa de suas


insatisfações, decepções e sofrimentos em alguém (MISHRA, 2017).

O ressentimento social também viceja entre grupos ou classes que


perderam seus privilégios históricos, sobretudo em se tratando dos
herdeiros da geração dos conquistadores, que consideram seus privilégios
como direitos adquiridos. Os ressentidos que perdem seus privilégios
julgam a nova classe em ascensão. Como usurpadores de seus direitos
naturais, repetindo, de maneira caricata e inconsciente o ressentimento da
criança que se vê deslocada do lugar de único objeto de amor dos pais,
diante do nascimento de um novo irmão (KEHL, 2011, p. 304).

Uma das teses expostas por Nietzsche no livro Genealogia da Moral, é de


que a memória vinculada a certas promessas surge da violência e da dor. Para fazer
essa defesa, ele analisa a história do gênero humano (PINTO, 2019).

O homem na antiguidade acabou contraindo dívidas de uns para com os


outros, e o não pagamento dessas dívidas resultava numa punição contra o
infrator. A partir daí, ele passou a autogerenciar o pagamento dessas
dívidas, evitando, desse modo, a punição. Esse autogerenciamento, esse
cuidado consigo, foi levado a efeito pela memória, responsável pela
lembrança da dívida a ser paga (PINTO, 2019, p. 131).

Em momentos de crises econômicas, especialmente – em que as economias


diminuem o ritmo de crescimento, empregos desaparecem e o mundo do trabalho se
transforma – ainda segundo Pankaj Mishra, alguns grupos sociais podem achar que
apenas um número de pessoas pode sobreviver a essa nova realidade e aproveitar
as melhores oportunidades. Daí vem a raiva contra quem possa ser visto como
“concorrente” dessa “disputa. Segundo o Mishra (2017), de um modo geral, as
eleições mais recentes mostraram pessoas fazendo escolhas políticas “terríveis,
mas que são emotivas” e nascem desse medo, do ressentimento ou do ódio contra
os que enxergam como competição. Ele defende que esse processo é globalizado
porque atualmente habitamos um mesmo universo de ideias, ideologias e medos.
Atualmente, isso tudo é mais compartilhado culturalmente do que antes, como
lembra Boaventura de Souza Santos, em Por Uma Concepção Multicultural de
Direitos Humanos (1997a):

A primeira forma de globalização, é o localismo globalizado. Consiste no


processo pelo qual determinado fenômeno é globalizado com sucesso, seja
a atividade mundial das multinacionais, a transformação da língua inglesa
em língua franca, a globalização do fast food americano ou da sua música
31

popular, ou a adoção mundial das leis de propriedade intelectual ou


telecomunicações dos EUA.
A segunda forma de globalização, chamo globalismo localizado. Consiste
no impacto específico de práticas e imperativos transacionais nas condições
locais, as quais são, por essa via, desestruturadas e estruturadas de modo
a responder a esses imperativos transacionais. Tais globalismos
localizados, incluem: enclaves de comércio livre ou zonas francas;
desflorestação e destruição maciça dos recursos naturais para pagamento
da dívida externa; uso turístico de tesouros históricos, lugares ou cerimonias
religiosos; artesanato e vida selvagem; dumping ecológico (compra pelos
países de terceiro mundo de lixos tóxicos produzidos nos países capitalistas
centrais para gerar divisas externas), conversão da agricultura de
subsistência em agricultura para exportação como parte do ajustamento
estrutural e desvalorização do salário pelo fato de o trabalhador ser de um
grupo étnico considerado ‘inferior’ ou menos exigente (SANTOS, 1997a, p.
16-17).

“No passado, os países não viviam todos no mesmo mundo, já, hoje, vivemos
o mesmo presente”, pontua Mishra (2017, online). Nesse cenário, a disposição
social para a aceitação e o compartilhamento de notícias falsas – mas que
propaguem ou validem nossas opiniões individuais – tende a crescer mais
facilmente. Considerando as consequências que essa condição pode gerar, vale
lembrar dos resultados de um estudo da Universidade de Oxford, que observou que,
quando partidos políticos ou candidatos manipulam as redes sociais como parte de
uma estratégia de campanha, a tática continua quando vencem as eleições e
assumem o poder.

Aquilo que, habitualmente, designamos por globalização são, de facto,


conjuntos diferenciados de relações sociais; diferentes conjuntos de
relações sociais são origem a diferentes fenômenos de globalização. Nestes
termos, não existe estritamente uma entidade única chamada globalização;
existem, em vez disso, globalizações; em rigor, este termo só deveria ser
usado no plural. As globalizações envolvem conflitos e, por isso,
vencedores e vencidos (SANTOS, 1997b, p. 107).

No Brasil, desde que a atual gestão federal assumiu, em janeiro de 2019,


ocorre algo muito semelhante. Uma campanha eleitoral baseada na disseminação
de notícias falsas, as fake news, no medo, na ausência de debate de ideias e no
predomínio do ressentimento continua gerando o compartilhamento e a proliferação
de notícias falsas, polarização política e social e o consequente enfraquecimento de
Direitos Humanos e da democracia (BARBOSA, 2019). Um detalhamento mais sobre
o papel das notícias falsas para a construção deste cenário será fornecido no
segundo capítulo.
32

A eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, do Partido dos


Trabalhadores (PT), em outubro de 2002, marcou a história do Brasil pelo fato de
Lula ter sido o primeiro líder político populista a vencer as eleições federais, após
anos de eleições indiretas, de um período ditatorial e de um histórico de presidentes
mais alinhados à direita e a políticas neoliberais a governarem o Brasil. O incômodo
de membros da sociedade – temerosos com a ascensão das classes populares ou
revoltados com as denúncias de corrupção que envolveram Lula, e também a ex-
presidente Dilma Rousseff (PT), – contribuiu para o fortalecimento do presidente Jair
Bolsonaro, que se elegeu com uma “campanha baseada na promoção da
intolerância, na ausência de debate e na mão em forma de arma”, conforme a
jornalista Letícia Fernandes escreveu em um texto veiculado em julho de 2018 no
jornal O Globo.

O ressentimento é o avesso da política. Ele é o fruto da combinação entre


promessas não cumpridas e a passividade que elas promovem. Os
ressentidos, na política, são aqueles que abriram mão de sua condição de
agentes de transformação social para esperar por direitos e benesses
garantidos por antecipação. Dessa forma, o ressentimento é agravado pelo
paternalismo, caso em que o direito à igualdade de oportunidades associa-
se, não às conquistas das lutas populares e sim à boa vontade de um
governante amoroso. Por isso o ressentimento não é, como pode parecer, o
primeiro passo para uma efetiva virada no jogo de poder. A passividade da
posição ressentida não permite que as pessoas se percebam como agentes
do jogo de forças que determinam suas vidas. O ressentimento é o terreno
dos afetos reativos, da vingança imaginária e adiada, da memória que só
serve à manutenção de uma queixa repetitiva e estéril (KEHL, 2011, p. 340).

Aparentemente, Bolsonaro se oportunizou eleitoralmente desse ressentimento


e desejo de vingança, do qual ele também parece ser vítima (GHIRALDELLI, 2019).
O que o ressentido quer, portanto, como reforça Maria Rita Kehl (2011, p. 327), é
uma espécie de “vingança”: “Concebemos nossos problemas sociais como
insuficiências que nos parecem sempre injustas, de responsabilidade de um outro,
de alguém que teria o poder de remediar nossas mazelas, mas não o fez”, destaca a
autora. Ela também diz que a sociedade brasileira costuma “deixar barato” o resgate
das grandes injustiças de sua história para não manchar sua reputação de “último
povo feliz” do planeta.

Mas que preço caro pagamos por esta felicidade para inglês ver!” [...] “Não
passamos nada a limpo, não elaboramos nossos traumas nem valorizamos
nossas conquistas. Por isso mesmo, nós, brasileiros, não nos
33

reconhecemos no discurso que produzimos, e sim naquele que o


estrangeiro produz sobre nós (KEHL, 2011, p. 327).

Ainda conforme a autora:

O ressentido não se acusa a si mesmo nem reconhece sua


responsabilidade diante da perda sofrida. Seu valor não parece estar em
questão para ele: o que o ressentido reivindica é o reconhecimento desse
suposto valor, ou o exercício de um direito do qual acredita ter sido privado
por alguém: no horizonte fantasmático do ressentido está sempre a figura
de um usurpador.
Não se pode dizer exatamente que o ressentido tenha perdido um objeto; o
que ele perdeu foi um lugar. A posição de vítima passiva desde onde ele
formula suas queixas sugere que o lugar perdido não teria sido, a seu ver,
um lugar conquistado e sim um lugar que, de direito, deveria ser seu (KEHL,
2011, p. 57-58).

Por meses, e ainda mais intensamente ao longo da campanha eleitoral em


2018, os brasileiros foram expostos a uma sucessão de mensagens dirigidas a
hordas ressentidas, grande parte delas falsas, tendenciosas ou manipuladas: as
fake news. O Brasil parece ainda experimentar resquícios expressivos do processo
colonizador que conduziu a criação do país e dos 21 anos de ditadura militar que
enfrentou. Darcy Ribeiro, no livro O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do
Brasil (1997), pontua:

O ruim aqui, e efetivo fator causal do atraso, é o modo de ordenação da


sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre
sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus. Não há, nunca
houve, aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria
prosperidade. O que houve e o que há é uma massa de trabalhadores
explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante,
espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto
de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da
ordem social vigente (RIBEIRO, 1997, p. 452).

Tomemos como exemplo do ressentimento camuflado na sociedade


brasileira, a rapidez com que a grande parte da população pareceu
esquecer, ou perdoar, os crimes da ditadura militar, como se tivessem
atingido apenas uma pequena parcela de militantes de esquerda, jovens
‘radicais’ que não representavam os interesses da maioria. Ao referir-se ao
corte que o golpe de 1964 efetuou sobre a ordem democrática na sociedade
brasileira, o professor Paulo Arantes cita Paul Virilio, que classificou as
ditaduras latino-americanas daquele período como um laboratório onde se
gestava um novo tipo de sociedade, a ‘sociedade do desaparecimento’.
Depois da anistia, a ausência de um processo judicial que condenasse os
autores dos crimes cometidos sob a salvaguarda do Estado brasileiro,
contribuiu para que ainda hoje uma parte da sociedade brasileira viva sob
uma espécie de regime de exceção, onde abusos policiais contra os
cidadãos são tolerados e rapidamente ‘esquecidos’. Em outro artigo,
Vladimir Safatle comenta a existência de um ‘desejo de desaparecimento’
34

que perdura ainda hoje, ao comparar o Brasil com a Argentina e o Chile,


países que julgaram e puniram seus torturadores (KEHL, 2011, p. 324).

Antonio Escrivão Filho e José Geraldo de Sousa Júnior, autores do livro Para
Um Debate Teórico-conceitual E Político Sobre os Direitos Humanos (2016),
defendem que o processo de colonização passa pela negação da cultura política,
econômica, social e cultural das civilizações que ocupavam um território invadido.

[...] Direitos Humanos que ainda não tiveram força econômica, política e
social para emergir ante um sistema de opressão em determinada
sociedade ordem legal, não são sequer considerados direitos, ao passo em
que as lutas emergentes pela sua conquista passam a ser consideradas
ilegais (ESCRIVÃO FILHO; SOUSA JUNIOR, 2016, p. 26).

Essa condição, portanto, contribuiria para a negação existencial de uma


parcela da sociedade brasileira e pelo encobrimento de um histórico crescente de
violações a Direitos Humanos e a políticas públicas coletivas. Maria Rita Kehl (2011,
p. 123) destaca que “o ressentido é um escravo de sua impossibilidade de esquecer.
Vive em função de sua vingança adiada, de modo que sua vida não é possível abrir
lugar para o novo”. Ela ainda recorda que, no caso da política brasileira, o
ressentimento pode ser encontrado em, pelo menos, dois aspectos: como efeito de
séculos de autoritarismo paternalista que gerou em grande parte da população a
dificuldade de engajar-se como agente de ação política – o que colocaria na conta
dos governantes a responsabilidade por tudo o que poderia, mas não foi feito – e ao
“afã das pessoas em esquecer as injustiças de que foram vítimas, à pressa em
‘perdoar’ corruptos, ditadores e políticos irresponsáveis” (KEHL, 2011, p. 36). A
autora diz que, mesmo perdoando e esquecendo rápido demais, “não deixamos de
nos ressentir contra nossa condição de vítimas de nossa própria omissão” (KEHL,
2011, p. 37).
Hoje, mais da metade dos brasileiros acham que Direitos Humanos
beneficiam quem não merece. A informação vem de um levantamento do Instituto
Ipsos, divulgado pela BBC. A pesquisa foi feita em 28 países, incluindo o Brasil, com
23,2 mil entrevistados, entre os dias 25 de maio e 8 de junho de 2018. Ela mostrou
que, na opinião de seis em cada dez brasileiros, “os Direitos Humanos apenas
beneficiam pessoas que não merecem, como criminosos e terroristas”. Ainda de
acordo com o levantamento, 74% dos entrevistados acreditam que algumas pessoas
tiram vantagem injusta sobre eles. Os brasileiros, segundo a pesquisa, estão entre
35

os que mais concordam com a frase "Direitos Humanos não significam nada no meu
cotidiano" (28%), atrás apenas dos ouvidos na Arábia Saudita e na Índia. Entretanto,
vale lembrar que, na definição da ONU, Direitos Humanos são aqueles aos quais
todas as pessoas, sem distinção, deveriam ter acesso: direito à vida, à segurança, à
liberdade, à saúde, à moradia, alimentação, liberdade de expressão. Por outro lado,
a pesquisa também indica que, mesmo achando que os Direitos Humanos não os
beneficiam, a maioria reconhece que é necessário defendê-los. 69% dos brasileiros
consideram que é importante que haja uma lei para protegê-los. Os brasileiros,
portanto, acham que os Direitos Humanos não são aplicados às pessoas que os
mereceriam, como eles mesmos, inclusive, e são aproveitados pelos que “não
merecem”, segundo a mesma pesquisa.

2.2 A “RALÉ” E O RESSENTIMENTO

Ao tratar do poder da influência da chamada “ralé” para que líderes políticos


de perfil totalitários cheguem ao poder, Hannah Arendt (1989) faz outro alerta. Ela
comenta em Origens do Totalitarismo, que essa parcela social tem apreço pela
violência, é contra partidos e não gosta de política. Define culpados e brada sempre
pelo “homem forte”, pelo “grande líder”. “O ressentido deseja a ordem, por isso, é
compatível com o conservadorismo – contanto que possa beneficiar-se dela, nem
que seja na condição de vítima” (KEHL, 2011, p. 288).
Arendt (1989) defende que o mal e o crime geralmente exercem forte
influência e poder na mentalidade da ralé e que o que ela espera é ter acesso à
história, mesmo que, para isso, haja o preço da destruição. Hannah diz que, logo
que o movimento no mundo fictício que as abrigou é destruído, essas massas
retornam ao seu antigo status de indivíduos isolados que aceitam de bom grado uma
nova função em um mundo novo ou mergulham novamente em sua antiga e
desesperada superfluidade. “Abandonam calmamente o movimento como algo que
não deu certo e procuram em torno de si outra ficção que recupere força suficiente
para criar um novo movimento de massa” (ARENDT, 1989, p. 413).

O ressentimento, neste caso, pode ser base afetiva para a criação de um


forte sentimento identitário – o que põe em causa o caráter pretensamente
progressista das atuais micropolíticas indenitárias surgidas na segunda
metade do século XX. Mas sua face mais nefasta é a que promove a
adesão dos indivíduos a sistemas totalitários, na esperança de que a
36

adesão e a participação nas tarefas exigidas pela máquina do poder os


fortaleçam e lhes garantam a segurança de um sentimento de identidade
pelo pertencimento a um sistema forte. O totalitarismo promove nos homens
do ressentimento uma forte paixão pela servidão, a mesma que faz, em
menor grau, que um empregado se orgulhe de obedecer às ordens de um
patrão importante. Servir voluntariamente ao totalitarismo é uma forma de
participar do poder sem ter de se responsabilizar por suas consequências.
Colocar-se à disposição do tirano na esperança de se tornar seu preferido é
uma forma de sustentar o ideal individualista sem pagar o preço do
desamparo.
Uma das origens do ressentimento social é a insatisfação dos grupos
sociais que não se reconhecem em suas reais condições de classe, pois
estão identificados com padrões e ideais que se lhes apresentam como
acessíveis. As políticas do ressentimento são soluções de compromisso
entre a insatisfação coletiva de grupos que se consideram prejudicados e as
pretensões individuais de seus membros (KEHL, 2011, p. 305-306).

Caso não haja a devida compreensão de que um movimento muito


semelhante ganha corpo e força no Brasil, a impossibilidade de reversão dessa
tendência pode conduzir o país a retrocessos, perdas e prejuízos sociais e
ambientais transgeracionais imensuráveis.
Para o doutor em sociologia Jessé de Souza (2017b), o conceito de “ralé” se
refere mais à definição de uma classe que é subalternizada e historicamente
explorada. Ele explica que a intenção do termo não é insultar pessoas que já são
humilhadas em seus cotidianos, mas chamar a atenção e tornar visível o abandono
social de uma classe de excluídos, que nunca foram percebidos como uma classe.
“O ódio ao pobre só pode ser explicado pelo ódio ao escravo. Temos o assassinato
indiscriminado ao pobre no Brasil. Quem morre no país é a ralé”, disse ele em uma
entrevista disponível no YouTube, concedida ao canal da Editora Contracorrente, em
dezembro de 2017. Ele recorda que, com a abolição da escravatura das pessoas
negras no Brasil, os escravos foram “deixados ao próprio azar”, obrigados a entrar
em um novo mundo sem nenhum aparelhamento e, portanto, sem oportunidades de
aproveitar autoestima ou autoconfiança, por exemplo (SOUZA, 2017b, online). O
Brasil foi último país do Ocidente a acabar com escravidão. A prática se manteve
legalmente aceita até́ o ano de 1888, inclusive, anos depois da Independência do
país, em 1822. Depois da abolição, os negros não tiveram nunca acesso a terras, a
bons empregos, moradias decentes, educação, assistência de saúde e outras
oportunidades disponíveis para os brancos. Nunca foram tratados como cidadãos.
Negros e pardos atualmente representam mais que a metade da população
brasileira, mas sua participação entre os 10% mais pobres é muito maior: de 78%.
37

Na faixa dos 1% mais ricos da população brasileira, somente 17,8% são


descendentes de africanos (MADEIRO, 2019).
Jessé Souza, em A Elite do Atraso: Da Escravidão a Bolsonaro (2019),
menciona que foi o sociólogo Florestan Fernandes, em seu clássico A Integração do
Negro na Sociedade de Classes, o primeiro a investigar o que ele, mais tarde,
passou a chamar, provocativamente, de “ralé brasileira”, para denunciar seu
abandono:

Tudo aquilo que o culturalismo racista busca esclarecer como decorrência


de uma herança maldita luso-brasileira para a corrupção decorre, na
verdade, do abandono dessa classe [ex-escravos]. Como a tornamos
invisível, o trabalho dos intelectuais conservadores fica facilitado (SOUZA,
2019, p. 79).

No livro A Filosofia Explica Bolsonaro, Paulo Ghiraldelli (2019) lembra um


caso muito chocante, que sua bisavó, de 107 anos, costumava contar.

O negro livre parou de apanhar no Pelourinho da praça para ser


massacrado nas prisões das delegacias de todo o país. Ela lembrava
sempre da peregrinação do negro José, um homem forte que, por seis
meses, andou pela cidade de Nova Europa, no interior de São Paulo,
tentando arrumar um terreno para carpir, sem sucesso. Foi então que ele, já́
à míngua, deitou-se na praça e escutou do guarda da esquina: ‘Está preso
por vagabundagem’. Espancado na cadeia, José morreu de hemorragia
interna. Durante a escravidão, durante mais de 30 anos, José havia sido o
carregador de fezes da casa paroquial. Trazia para as fossas o cocô dos
padres que, depois da escravidão, passaram a ir eles mesmos às fossas –
que ‘degradante’, diziam, xingando a imperatriz. Eles mesmos tinham que
defecar sem a ajuda dos pretos. Era horrível, diziam. O negro foi tornado
trabalhador livre para, em seguida, receber o nome que, hoje, alguns
policiais usam: ‘vagabundo’. Eis aí a origem do preconceito (GHIRALDELLI,
2019, p. 72-73).

Até hoje, a conquista pela igualdade plena da população negra ainda não
aconteceu no Brasil, nem no mundo de forma geral. A violência contra pessoas
negras, em vários níveis e sentidos, continua expressiva e preocupante. Conforme
Jessé Souza (2019):

Termos como ‘trombadinhas’, ‘marginais’, ‘meninos de rua’, ‘de menor’,


entre outros, são alguns rótulos ou estigmas impostos por um regime
racista, que favorece o controle social seletivo, que vai da segregação ao
extermínio do povo negro, quilombolas, sem-teto, sem-terra, de praticantes
de cultos de matriz africana, trabalhadores, etc” [...]
38

O ex-escravo é jogado dentro de uma ordem social competitiva, como diz


Florestan, que ele não conhecia e para a qual ele não havia sido preparado.
Para os grandes senhores de terra, a libertação foi uma dádiva: não apenas
se viram livres de qualquer obrigação com os ex-escravos que antes
exploravam, mas puderam “escolher” entre a absorção dos ex-escravos o
uso de mão de obra estrangeira que chegava de modo abundante ao país
[...] (SOUZA, 2019, p. 75).

No Brasil e nos Estados Unidos, negros correm muito mais risco de serem
mortos pela polícia. Só no Rio de Janeiro, a polícia matou quase o dobro do número
de mortos por policiais americanos em todo o país ao longo de 2019. Uma
reportagem de outubro de 2020 mostrou que, em 15 anos, a proporção de negros no
sistema carcerário cresceu 14%, enquanto a de brancos diminuiu 19%. Hoje, no
país, de cada três presos, dois são negros. Os dados são do 14º Anuário Brasileiro
de Segurança Pública, divulgado em outubro pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. “Dos 657,8 mil presos em que há a informação da cor/raça disponível, 438,7
mil são negros (ou 66,7%). Os dados são referentes a 2019”, diz a matéria
(ACAYABA; REIS, 2020, online). O anuário lembra, ainda, que, no Brasil, se prende
cada vez mais, sobretudo, pessoas negras. Atualmente, dos 657,8 mil presos em
que há́ informações sobre a cor ou raça, mais de 438 mil são negros, o que
representa cerca de 66%, ou dois a cada três integrantes do sistema prisional do
Brasil. Oito em cada dez mortes por policiais também são de pessoas negras,
segundo o Anuário (GONÇALVES, 2019). Jessé Souza, no livro A Elite do Atraso –
Da Escravidão a Bolsonaro (2019), pontua:

Um brasileiro de classe média que não seja abertamente racista, também


se sente, em relação às camadas populares do próprio país, como um
alemão ou um americano se sente em relação a um brasileiro: ele se
esforça para tratar as pessoas como se fossem gente igual a ele (SOUZA,
2019, p. 22).

Existe, dessa forma, uma forte desigualdade racial no sistema prisional, que
pode ser percebida concretamente na maior severidade de tratamento e sanções
punitivas direcionadas aos negros no Brasil. Aliado a isso, conforme indica a
reportagem da Veja (GONÇALVES, 2019), as chances diferenciais a que negros
estão submetidos socialmente e as condições de pobreza que enfrentam no
cotidiano fazem com que se tornem os alvos preferenciais das políticas de
encarceramento do país.
39

Ao mencionar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que governou o país em


dois mandatos (2003 até 2006, e de 2007 até 2011), Souza (2017b, online) fala que
“o grande mérito social do ‘lulismo’ foi ter tocado na ralé, que nunca havia sido
contemplada politicamente”. O autor comenta que a classe média é capaz de
“comprar” o tempo livre dos filhos, quando consegue permitir que eles apenas
estudem e se preparem para competir com mais condições educacionais e
profissionais no mercado de trabalho. E são esses indivíduos, segundo ele, que
ficam com os grandes cargos do Estado. São advogados, desembargadores, juízes,
médicos, políticos, formadores de opinião, professores universitários, etc. Uma
parcela social que não ultrapassa os 20%. Os outros, que não pertencem à classe
média brasileira, são desprivilegiados. A chamada “ralé”, ele defende,
diferentemente da classe trabalhadora, não tem estímulo nem para ter um bom
rendimento escolar. São analfabetos ou analfabetos funcionais, que precisam
vender sua energia muscular, como os escravos. Essa classe social fica ainda
abaixo da classe trabalhadora e termina ainda mais invisibilizada, oprimida e
condenada à miséria eterna (SOUZA, 2017). “O dinheiro, que é uma mera
convenção, só pode exercer seus efeitos porque está ancorado em acordos políticos
e jurídicos que refletem o poder relativo de certos extratos sociais”, diz o autor no
livro A Elite do Atraso – Da Escravidão a Bolsonaro (2019, p. 12).
Lucas Ferraz, autor de A República Brasileira, lembra que o êxito da
economia e do combate à pobreza nos anos Lula levou o presidente a conquistar
prestígio mundial. “O arquiteto [Lula] foi um ex-líder operário capaz de orientar o
Estado na direção das necessidades dos mais pobres sem causar convulsões e sem
deixar que os mais ricos continuassem a ser beneficiados”, escreveu Ferraz (apud
HADDAD, 2020, online). Para ele, isso se deve a três fatores:

O boom das commodities, sustentado sobretudo pela China, onda que


beneficiou países emergentes, como o Brasil; 2) a manutenção da bem-
sucedida política econômica de FHC, seu antecessor; 3) a adoção de
programas sociais capazes de diminuir a desigualdade social no país
(FERRAZ, 2020 apud HADDAD, 2020, online).

Em maio de 2010, o presidente Lula foi condecorado pela Organização das


Nações Unidas (ONU) com o título de “Campeão Mundial na Luta Contra a Fome”
(PASSARINHO, 2010). Em 2014, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome. Os dados
foram revelados pelo relatório o Estado da Insegurança Alimentar no Mundo da
40

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que


considerou dois períodos distintos para analisar a subalimentação no mundo: de
2002 a 2013 e de 1990 a 2014. Segundo os dados analisados, entre 2002 e 2013 o
número de brasileiros em situação de subalimentação caiu 82%. Entre 1990 e 2014,
segundo a FAO, o percentual de queda foi de 84,7%. Entre as ações que
contribuíram para o alcance desse objetivo estiveram, ainda segundo a instituição,
“[...] políticas de segurança alimentar e nutricional como a transferência condicional
de renda tendo como exemplos o programa Bolsa Família e o benefício da
prestação continuada” (FAO, 2021, online). De acordo com a FAO (2021), o apoio à
agricultura familiar com ações de facilitação de acesso ao crédito e maior assistência
e segurança aos agricultores familiares também contribuíram com a melhora nos
índices do país.
Casos de corrupção envolvendo o governo do PT surgiram ao longo do
primeiro mandato de Lula. O maior deles, revelado ao público em junho de 2005, foi
o mensalão, um esquema de pagamentos de propinas a parlamentares para que
votassem pelas propostas do governo federal (DARIE, 2018). Segundo a denúncia,
o então tesoureiro do PT, destinava uma mesada de R$ 30 mil para
congressistas apoiarem o governo Lula (RELEMBRE..., 2012). Mesmo com os
apontamentos sobre as práticas de corrupção, Lula foi reeleito em outubro de 2006
(LULA..., 2006). Em 2010, ele deixou o Planalto como o presidente mais bem
avaliado da história do Brasil (ACIMA..., 2010).
Em 7 de abril de 2018, o ex-presidente foi preso após se entregar à Polícia
Federal (PF), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo,
na Grande São Paulo (LULA..., 2018). Sua prisão durou até o dia 8 de novembro de
2019, depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar a prisão de condenados
até a segunda instância, ou seja, de pessoas que ainda não tiveram todos seus
direitos à defesa esgotados – o chamado “trânsito em julgado” (STF..., 2019). Lula
permaneceu preso por 580 dias, o que o impossibilitou de concorrer às eleições à
presidência do Brasil em 2018. Ele cumpriu pena após ter sido condenado
inicialmente pelo juiz federal de primeira instância, Sérgio Moro a nove anos e seis
meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva na ação
envolvendo um tríplex do Guarujá (FONSECA et al., 2017), investigados pela
Operação Lava Jato, fortemente apoiada por parte da imprensa brasileira
(MENSAGENS..., 2021). Em 8 de março de 2021, o ministro do STF, Edson Fachin,
41

anulou as condenações de Lula pela Lava Jato (QUAIS..., 2021) por considerar que
a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar os processos
envolvendo o ex-presidente (FALCÃO; VIVAS, 2021), porque os fatos apresentados
não tinham relação direta com o esquema de desvios na Petrobras, alvo da
Operação Lava Jato originalmente (CEOLIN; BLUME, 2016). Ainda segundo o
ministro, desde o início da Operação Lava Jato, vários processos deixaram a Vara
do Paraná pelo mesmo motivo. A falta de provas para as acusações também anulou
todas as denúncias sobre crimes que poderiam manter o ex-presidente na prisão
(JIMÉNEZ, 2021). Com isso, Lula recuperou seus direitos políticos e os processos
judiciais contra o ex-presidente foram transferidos para a Seção Judiciária do Distrito
Federal, que integra o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Ao analisar a
Lava Jato em A Elite do Atraso: Da Escravidão a Bolsonaro, Jessé Souza (2019) faz
críticas às reais intenções da Operação:

O que a Lava Jato e seus cúmplices na mídia e no aparelho de Estado


fazem, é o jogo de um capitalismo financeiro internacional e nacional ávido
por ‘privatizar’ a riqueza social em seu bolso. Destruir a Petrobrás, como o
consórcio Lava Jato e grande mídia, a mando da elite do atraso, fez,
significa empobrecer o país inteiro de um recurso fundamental,
apresentando, em troca, resultados de recuperação de recursos ridículos de
tão pequenos e principalmente levando à eliminação de qualquer estratégia
de reerguimento internacional do país. Essas ideias do Estado e da política
corrupta servem para que se repasse, a baixo custo, empresas estatais e
nossas riquezas do subsolo para nacionais e estrangeiros que se apropriam
privadamente da riqueza que deveria ser de todos. Essa é a corrupção real.
Uma corrupção legitimada e tornada invisível por uma leitura distorcida e
superficial de como a sociedade e seus mecanismos de poder funcionam.
[...]
O imbecil perfeito é criado quando ele, o cidadão espoliado, passa a apoiar
a venda subfaturada desses recursos a agentes privados imaginando que,
assim, evita a corrupção estatal. Como se a maior corrupção – no sentido
de enganar os outros para auferir vantagens ilícitas não fosse precisamente
permitir que uma meia dúzia de super-ricos ponha no bolso a riqueza de
todos, deixando o restante na miséria. Essa foi a história da Vale, que paga
royalties ridículos para se apropriar da riqueza que deveria ser de todos, e
essa será, muito provavelmente, a história da Petrobrás. Esse é o poder
real que rapina trilhões e ninguém percebe a tramoia porque foi criado o
espantalho perfeito com a ideia de Estado como único corrupto (SOUZA,
2019, p. 12, 14).

Souza (2017a) também questiona o caráter tendencioso da operação:

Quando a mídia, como sempre aconteceu – seja com Getúlio, com Jango e
depois com Lula e Dilma – joga casos seletivos de corrupção só contra o
PT, quando a gente sabe que não é o único caso, aí, então, a classe média
sai [em protesto]. Mas sai contra a política do PT, de reduzir minimamente
as diferenças de classe? Ou sai contra a corrupção? Se não era a
42

corrupção que estava por trás do ódio ao PT, o que estava por trás? O ódio
ao PT é o ódio à ralé. E o ódio à ralé é hoje tributário e filho do mesmo ódio
que se devotava ao escravo antes. O escravismo no Brasil é um contínuo
(SOUZA, 2017b, online).

2.3 PROGRESSOS MENSURADOS

Nos oito anos de governo Lula, foram criadas 15 milhões de vagas de


emprego com carteira assinada (LUPI..., 2010), o que elevou para 43,6 milhões o
número de trabalhadores no mercado formal (de 40,5% para 46,7% entre 2002 e
2010). No mesmo período, o salário-mínimo teve aumento real de 73,7%, o que
garantiu ainda mais inclusão social da população. Em janeiro de 2003, quando Lula
assumiu a gestão federal, o índice de desemprego calculado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) em seis capitais estava em 11,2% e chegou a 13%
poucos meses depois (O PAÍS..., 2011). Em 2010, foram criados 2,52 milhões de
novos postos de trabalho, batendo um recorde histórico (MARTELLO, 2011). No
mesmo ano, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrava
que 92% das empresas do setor diziam planejar investir no Brasil em 2011 (CNI...,
2010). Em 2002, o Brasil ocupava a 13ª posição no ranking global de economias
medido pelo PIB em dólar, segundo dados do Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional (FMI). Chegou a ser o 6º em 2011, desbancando a Grã-Bretanha
(COSTAS, 2016). O fato foi lembrado em uma reportagem da BBC, que também
recordou que, em 2000 – primeiro ano em que o Brasil fez parte do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) – o país estava em último lugar entre 32
nações.

Em um relatório publicado no final de 2013, com dados de 65 países, alguns


ricos, como Japão, Suíça e Alemanha, o Brasil ocupou a posição 55 no
ranking de leitura, 58 no de matemática e 59 no de ciências.
Comparativamente avançou em relação ao 2000, mesmo que pouco. Isso
porque o acesso à escola e universidades foi visto como prioridade para o
país (COSTAS, 2016, online).

Marcelo Curado, doutor em economia pela Unicamp, no artigo Uma avaliação


da economia brasileira no governo Lula (2011), analisa a evolução da economia
brasileira entre os anos de 2003 e 2010, e lembra que aquele período foi marcado
pela retomada do desenvolvimento econômico no país. Entre 2007 e 2010, ele diz,
43

excluindo 2009, as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foram


superiores a 5% ao ano. E os efeitos sobre a pobreza também foram significativos.
As taxas de extrema-pobreza foram reduzidas de 11,49% em 2005, para 7,28% em
2009, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Enquanto
a taxa de pobreza em 2005 era de 30,82%, em 2009 o valor atingiu o percentual de
21,42%. O Bolsa Família – o programa de transferência de renda destinado a
famílias em condição de pobreza ou extrema pobreza – beneficiou 12,7 milhões de
famílias só em 2010 e injetou em torno de R$ 13 bilhões na economia (CURADO,
2011). Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) mostraram o Bolsa Família reduziu em 16% a mortalidade
de crianças de um a quatro anos entre a população mais pobre, principalmente filhos
de mães negras e bebês prematuros (MARETTI, 2021).
Na gestão Bolsonaro, mais especificamente em novembro de 2021, o Bolsa
Família, depois de 18 anos de existência, foi substituído pelo programa chamado
“Auxílio Brasil”, criado pela Lei 14.236 e previsto para vigorar até dezembro de 2022,
pouco mais de um mês após as eleições presidenciais. Um dos aspectos que mais
chama a atenção no novo programa é a valorização da chamada “meritocracia”, a
linha de pensamento que defende que qualquer objetivo pode ser atingido por
aqueles que se dedicam e se esforçam mais que os demais. Só terá acesso ao
Auxílio Esporte, por exemplo, o estudante que se destacar em jogos oficiais do
sistema de jogos escolares brasileiros. “Ser bom no seu estado ou cidade, não será
suficiente. Nessa lógica, o benefício não vai garantir condições de desenvolvimento
menos desiguais, muitos menos acesso ao esporte, saúde ou educação” (LOPES,
2021, online). No caso das bolsas de pesquisa, para ter acesso a uma, o estudante
precisa se destacar em competições acadêmicas e científicas de alcance nacional.
Para receber o recurso do programa, a pessoa também precisa comprovar algum
vínculo com um emprego formal. A exigência não faz sentido, se a realidade atual do
país foi levada em conta. Hoje, mais da metade dos trabalhadores brasileiros estão
no mercado informal, sem vínculo formal oficializado. Seria, principalmente, essa
parcela da população, ou a que ainda não conseguiu espaço no mercado de
trabalho, que deveria ter acesso facilitado ao benefício.
Ao analisar os critérios do novo programa, a lembrança sobre o conceito de
“darwinismo social” se faz presente. Ele foi bastante considerado por regimes que
cometeram grandes atrocidades na história, como o Nazismo, na Alemanha, entre
44

1933 e 1945, e parece ganhar cada vez mais espaço por aqui. Para o filósofo
Norberto Bobbio, em Dicionário da Política, o “Estado Mínimo” é a noção corrente
para representar o limite das funções do estado dentro da perspectiva da doutrina
liberal. (BOBBIO, 1998). Em outras palavras, prevê a existência de um Estado que
intervenha o mínimo possível na economia de um país.
A confusão do conceito biológico do naturalista britânico Charles Darwin
(darwinismo social) (DARWIN, 1859) – de que apenas os exemplares mais
adaptados de cada espécie sobrevivem – procura adaptar um fato científico para
defender a sobrevivência de seres humanos “mais fortes” até mesmo durante a
pandemia causada pela covid-19. Ele foi aceito por uma parcela da sociedade, que
indicou enxergar como “necessária” a aceitação da perda de algumas vidas em
nome da economia e da manutenção da lógica de mercado. Falas de empresários
brasileiros e do próprio presidente simbolizaram isso. “Mortes que não podem ser
evitadas”; “mortes que não podem prejudicar a economia”, “mortes que vão
acontecer, sim”, como disseram. Em uma reunião que ocorreu neste ano com
Bolsonaro e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli outro
empresário chegou a dizer que, se nada fosse feito para salvar a economia durante
a pandemia, “haverá mortes de CNPJs”. Nessa lógica impessoal, como na lógica
neoliberal que tanto considera o conceito da “meritocracia” – o sistema de
hierarquização e premiação baseado nos méritos de cada indivíduo – pessoas que
foram mais capazes a se “adaptar”, naturalmente, já teriam conquistado melhores
espaços na vida pública. Isso implicaria no aproveitamento de melhores trabalhos e,
consequentemente, no “mérito” de contarem com melhores oportunidades de forma
geral.
No que se refere à Educação, o economista Róber Iturriet Avila (2018),
professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicou um artigo em que mostra que os
investimentos do Brasil no ensino básico também triplicaram entre 2000 e 2014:

O investimento em educação por aluno quase triplicou em termos reais


entre 2000 e 2014, derrubando o mito de que não houve avanço em
investimento público no Brasil. Mais do que isso, o investimento cresceu
mais na educação básica, com o triplo de recursos por aluno, tanto na
educação infantil, quanto na fundamental e no ensino médio (AVILA, 2018,
online).
45

Tabela 1 – Perceptual do investimento público em educação em % do PIB 2000-2014

Fonte: adaptado de Avila (2018).

O número de matrículas no ensino superior dobrou nos governos de Lula e de


Dilma Rousseff, também do PT: passou de 3,5 milhões em 2002 para mais de 7,1
milhões de matrículas em 2014. Dilma assumiu a presidência do Brasil entre os anos
de janeiro de 2011 a agosto de 2016, quando foi afastada do cargo por um processo
de impeachment. Ela foi eleita em 2010, após os oito anos da gestão Lula.
Além do Programa Universidade Para Todos (ProUni), criado em 2004 pela
Lei nº 11.096/2005, outras ferramentas foram usadas para colocar cada vez mais
brasileiros nos bancos das universidades durante essas duas gestões. O Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a ser o caminho de entrada dos jovens no
ensino superior por meio do Sistema de Seleção Unificada, o Sisu. “Alternativa ao
vestibular, o exame democratizou o acesso ao ensino superior: 95% das
universidades federais utilizam suas notas como mecanismo de seleção” (O
PRESIDENTE..., 2016, online). O Enem é critério também para ingresso no ProUni,
acesso ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e ao Ciência sem Fronteiras
(programa de bolsas para intercâmbio em universidades estrangeiras de ponta) (O
PRESIDENTE..., 2016).
46

Gráfico 1 – Mais vagas para estudantes nas universidades públicas e privadas

Fonte: adaptado de O Presidente... (2016).

Durante os 13 anos dos governos de Lula e Dilma, de acordo com o site do


Instituto Lula, os investimentos com ações e serviços públicos de Saúde também
cresceram; o equivalente a 86% acima da inflação. Teriam, segundo o portal,
passado dos R$ 64,8 bilhões investidos em 2003, no primeiro ano da gestão de
Lula, para R$ 120,4 bilhões, no último ano do governo Dilma (COM LULA..., 2020).
O Brasil foi o país que mais vacinou contra a H1N1 pelo Sistema Único de Saúde, o
SUS, em 2010. Em apenas três meses, 80 milhões de brasileiros foram vacinados
contra a chamada Gripe A, responsável por uma pandemia global que, no Brasil,
anulou 2.098 vidas (GIOVANAZ, 2020). De acordo com o deputado federal
Alexandre Padilha, os governos petistas foram os que mais criaram leitos em
unidades de tratamento intensivo (UTI), tendo sido responsáveis pela maioria dos
22,6 mil leitos em UTI’s que o Brasil tem hoje na rede pública (FRAGÃO, 2021).
Com o programa Mais Médicos, lançado em julho de 2013, – que levou mais
de 15 mil médicos, a maior parte cubanos, para regiões do Brasil onde havia
escassez ou ausência desses profissionais – entre comunidades indígenas,
quilombolas, periféricas e populações ribeirinhas e que residem no Sertão
Nordestino, por exemplo, – 63 milhões de brasileiros e brasileiras teriam sido
beneficiados. Até a chegada dos médicos cubanos, o Brasil tinha mais de 400
municípios sem nenhum médico cadastrado no SUS. O programa foi desmontado
em novembro de 2018 pelo atual presidente Jair Bolsonaro, depois que o governo
cubano anunciou a saída do Mais Médicos, alegando que os profissionais
47

estrangeiros foram alvo de “declarações ameaçadoras e depreciativas” de


Bolsonaro. Cerca de oito mil médicos voltaram à Cuba na época, deixando
descobertas áreas periféricas e vulneráveis no Brasil, onde, a partir de 2020, a
covid-19 se mostraria ainda mais letal em virtude da precariedade do sistema de
saúde no país (GIOVANAZ, 2021). Foi pelo SUS que mais de 176 milhões de
brasileiros – mais de 80% da população do país – foram vacinados (G1, 2022). O
SUS foi, portanto, uma das mais claras expressões de resistência de uma política
pública eficiente durante a gestão Bolsonaro.

Até 2016, os 18.240 mil profissionais contratados pelo programa


fortaleceram o alicerce principal da atenção básica no Brasil, a Estratégia
Saúde da Família. Assim, elevou-se para mais de 40,3 mil o número das
equipes preparadas para acompanhar a saúde das populações nas
periferias das grandes cidades e municípios médios e pequenos do interior.
Com o governo Bolsonaro, no entanto, o programa Mais Médicos foi alvo de
desmonte e chegou ao fim. De 2003 a 2016, as ações de saúde se
tornaram parte de uma estratégia de inclusão social para milhões de
brasileiros em todos os cantos do país. No entanto, desde a Emenda do
Teto de Gastos, que entrou em vigor no Brasil em 2017 e congelou os
investimentos em saúde e educação por 20 anos, o SUS já perdeu mais de
R$ 20 bilhões do orçamento federal. O desinvestimento pode chegar em
média a R$ 400 bilhões em 20 anos (COM LULA..., 2020, online).

No que se refere à Segurança Pública, entre 2003 e 2009, os investimentos


na área mais que dobraram no Brasil. De acordo com o 4º Anuário do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, os investimentos em Segurança feitos pela União
passaram de R$ 22,5 bilhões em 2003, para R$ 47,6 bilhões em 2009. Mesmo com
o aumento, no entanto, os índices de criminalidade no país não demonstraram
expressivas melhoras, segundo os dados do Anuário. As mortes por agressão no
Brasil passaram de 28,9 em cada grupo de 100 mil habitantes, em 2003, para 25,6,
em 2008. O consumo e o tráfico de drogas ainda é o grande responsável pelos altos
índices de violência. “Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios
(CNM) revelou que 98% das cidades brasileiras apresentam problemas de
circulação de drogas, com registro de consumo de substâncias entorpecentes. O
fato foi destacado pela reportagem da Agência Brasil, que também apresentou os
outros dados mencionados (JINKINGS, 2010). Entre 2004 e 2011, os recursos
federais destinados à defesa e à segurança aumentaram de R$ 80.667.420.968 para
R$ 129.725.070.628 – uma elevação de 61% (PT..., 2019).
48

2.4 IMPEACHMENT, PRISÃO E ABSOLVIÇÃO

Em dezembro de 2015, um movimento que teve início com o presidente da


Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizou a abertura de um processo de
impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, eleita nas eleições de 2010. A
decisão foi tomada no mesmo dia em que a bancada do PT na câmara anunciou que
votaria a continuidade do processo de cassação de Eduardo Cunha no Conselho de
Ética, acirrando ainda mais um conflito que já estava latente no Brasil (KOKAY;
CAULYT, 2016). O pedido de impeachment havia sido apresentado em outubro
daquele ano pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.
Ele se baseava na acusação de a presidente ter cometido crime de responsabilidade
fiscal e improbidade administrativa com base na reprovação das contas do governo
de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU). As chamadas “pedaladas fiscais”
teriam sido praticadas para atrasar de modo proposital o repasse de dinheiro ao
Banco do Brasil, a fim de favorecer a oferta de crédito subsidiado para agricultores
familiares e melhorar artificialmente as contas federais para análise do TCU
(PASSARINHO, 2016). O atraso das parcelas, com vencimento entre os meses de
janeiro e novembro de 2015, foram pagas com atraso, em dezembro de 2015, o que,
segundo a oposição, gerou um prejuízo de mais de R$ 450 milhões aos cofres
públicos. Dia 31 de agosto de 2016, o Senado afastou em definitivo Dilma da
Presidência da República. Foram 61 votos favoráveis ao impeachment e 20
contrários. Eram necessários 54 para a cassação. O total de 81 senadores
participaram da sessão (SENADO..., 2016).
Uma pesquisa realizada em março de 2018 pelo Instituto da Democracia e da
Democratização da Comunicação, braço do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia (INTC), e publicada pelo Valor Econômico indicou que, naquele ano, pelo
menos 47,9% dos brasileiros consideravam que a ex-presidente havia sido vítima de
um Golpe de Estado quando foi afastada do cargo em 2016. Já 43,5% entendiam
que o impeachment foi um evento “normal”, que faz parte do processo democrático.
Outros 8,6% não souberam responder (MENDONÇA, 2018).
Uma perícia feita por especialistas do Senado Federal para a comissão que
avalia o processo de afastamento da ex-presidente, entretanto, afirmou, em junho de
2016, que não existem dados ou documentos suficientes que tenham sido
apresentados pela acusação e pela defesa de Dilma Rousseff capazes de
49

comprovar que ela “tenha contribuído direta ou indiretamente para que ocorressem
os atrasos nos pagamentos”. Para a perícia, a pedalada ocorreu, mas não existem
provas para afirmar que foi por interferência direta dela. Dilma, no entanto, teria sido
responsável por editar três decretos sem a avaliação do Congresso Nacional, o que
contraria a Constituição Federal. “A perícia afirma que três deles promoveram
alterações na programação orçamentária "incompatíveis com a obtenção da meta de
resultado primário vigentes à época". Dois deles seriam dos dias 27 de julho de 2015
– nos valores de 1,7 bilhão de reais e de 29,92 milhões de reais – e um terceiro em
20 de agosto de 2015, no valor de 600,26 milhões de reais (BEDINELLI, 2016).
Em setembro de 2019, a deputada federal Janaína Paschoal (Partido Social
Liberal – PSL), uma das autoras do processo de impeachment, admitiu publicamente
em um post em sua conta do Twitter, que não acreditava que a ex-presidente fora
derrubada do cargo por conta das “pedaladas fiscais”, como anteriormente havia a
acusado. “Alguém acha que Dilma caiu por um problema contábil? As fraudes
contábeis foram praticadas para encobrir o rombo gerado pelos desvios! Em outras
palavras: a bonança na economia, com os peculatos continuados, fica prejudicada!”,
disse Janaína na rede social (JANAÍNA..., 2019). A denúncia que motivou o pedido
do impeachment foi encomendada a ela, na época pelo PSDB, que pagou à
advogada R$ 45 mil pelo trabalho (JANAÍNA..., 2016). Seu desempenho no
processo que levou à queda de Dilma levou Janaína a ser eleita deputada federal
nas eleições de 2018, com cerca de 2 milhões de votos. Ela foi apontada como a
deputada mais votada na história do país (JANAÍNA..., 2018). Mesmo diante da falta
de provas mais contundentes do ponto de vista da legalidade, como os fatos mais
tarde provaram, o apoio de grande parte da população ao impeachment da ex-
presidente Dilma escancarou não só o machismo presente na sociedade brasileira,
mas o ressentimento dos que não conseguiram aceitar a eleição democrática
daquela figura política. No caso de Lula, o ressentimento veio da revolta da ralé que
se incomodou demais pela figura que ele representava e pelas pautas sociais que
defendia.

2.5 SUCESSÃO DE DESMONTES

Buscando estabelecer um paralelo entre as áreas de geração de renda,


trabalho, educação, saúde e segurança durante a gestão do PT, a última antes da
50

atual, em relação à atual do presidente Jair Bolsonaro, é possível perceber uma


discrepância bastante significativa nos resultados.
A taxa de desempregados no Brasil, de janeiro a março de 2021, chegou a
14,7%, o maior percentual desde 2012. A população desempregada no país foi de
14,8 milhões de pessoas, aumentando 63% em relação ao quarto trimestre de 2020,
o que representa o volume de 880 mil pessoas. Além disso, em 2021, mais de 33
milhões de pessoas sofrem por estarem desempregadas, subocupadas ou
desalentadas (NALIN; BRAGA, 2021). Cerca de 40% dos desempregados buscam
emprego há mais de um ano (QUASE..., 2019). Os dados são do IBGE
(FAGUNDES, 2021).
Em setembro de 2019, os dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), propagandearam a existência de 157 mil novos postos de
emprego com carteira assinada (CRIADAS..., 2021). O índice chegou a ser
comemorado por Bolsonaro (NUNES, 2019). Ocorre que uma alteração
metodológica feita pelo Ministério da Economia em janeiro de 2020 impossibilita a
comparação dos dados com a série histórica e agrava ainda mais o drama da
geração de emprego e renda no país. “O cálculo do novo Caged passou a
considerar outras fontes de informações. O sistema também puxa dados do eSocial
e do empregadorWeb, sistema no qual são registrados pedidos de seguro-
desemprego”, com isso, o Novo Caged teria gerado resultados maiores ao considerar
esses vínculos subdeclarados no sistema antigo, conforme mostrou uma reportagem do
portal G1 (MARTELLO; GERBELLI, 2021, online). De 2007 a 2018, vale lembrar, a
geração de empregos, mesmo sem a manipulação nos números do Caged, sempre
esteve acima dos 200 mil ao ano. Em setembro de 2008, o melhor período da série
histórica, foram criados 282 mil empregos com carteira assinada. Naquele ano, a
taxa de desemprego ficou em 6,8, quase 8% a menos que em 2021 (RAMIRES,
2021).
A precariedade no setor do trabalho levou o Brasil, novamente, ao Mapa da
Fome. A insegurança alimentar praticamente dobrou, segundo a FAO, a ONU e a
Organização Mundial da Saúde (OMS) (INSEGURANÇA..., 2021). Entre 2017 e
2018, já eram mais de 84 milhões de brasileiros em situação de insegurança
alimentar, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
(GUIMARÃES, 2021). Entre as famílias chefiadas por pessoas pretas ou pardas,
segundo a análise, a insegurança alimentar é ainda maior: de 41% da população
51

sem acesso à alimentação básica, 12,1% são pessoas negras ou pardas. Pelo
menos metade da população que vive em lares chefiados por pessoas apenas com
Ensino Fundamental incompleto também está submetida a condições impostas pela
insegurança alimentar (MARENCO, 2021).
Já são mais de 33 milhões de brasileiros em situação de fome no Brasil. E
mais da metade da população do país (58,7%) está em insegurança alimentar, o que
significa que de cada dez famílias, seis enfrentam dificuldades para comer. São mais
de 125 milhões de brasileiros que não têm comida garantida todo dia. Nem em
quantidade, nem em qualidade. Os números do levantamento são da rede Penssan,
que reúne pesquisadores de universidades e instituições de todo o país. É uma
referência no monitoramento da fome no Brasil e reconhecida pelas Nações Unidas.
Desde a última pesquisa, em 2020, aumentou em 14 milhões o número de
brasileiros que enfrentam esse flagelo. A condição é ainda pior em lares chefiados
por mulheres (JORNAL NACIONAL, 2022).
O cenário é resultado do “fim ou do esvaziamento de programas voltados ao
estímulo da agricultura familiar e combate à fome, além de defasagem na cobertura
e nos valores do Bolsa Família” (ALEGRETTI, 2021, online). A região do Nordeste,
por exemplo, segundo a reportagem, mesmo sendo líder em demanda reprimida,
sofreu uma redução no número de beneficiários do Bolsa Família de mais de 48 mil
famílias entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, no governo Bolsonaro. A
região Norte do país também viveu uma redução em termos de famílias
beneficiadas, com mais de 13 mil pessoas a menos no período. Uma reportagem do
UOL mostrou que há uma fila de 1,8 milhão de famílias aguardando para ingressar
no programa. Só no Nordeste, seriam 685 mil famílias aguardando os benefícios do
programa (MADEIRO, 2021a). Podem fazer parte do programa famílias com renda
por pessoa de até R$ 89,00 mensais e famílias com renda por pessoa entre R$
89,01 e R$ 178,00 mensais, desde que tenham crianças ou adolescentes de 0 a 17
anos (BOLSA..., 2021).
A pandemia causada pela Covid-19 contribuiu ainda mais com o agravamento
do cenário da precariedade no Brasil. Além da redução na oferta do benefício do
Bolsa Família a muitas pessoas, a demora no fornecimento do auxílio emergencial à
população, e a limitação dos valores ofertados, pioraram a condição (AUXÍLIO...,
2021). Depois de muita pressão da opinião pública, Bolsonaro e o ministro da
Economia, Paulo Guedes, tinham a intenção de fornecer apenas R$ 200 aos
52

brasileiros no início da pandemia. Foi o Congresso Nacional que garantiu o auxílio


emergencial de R$ 600 pago em cinco parcelas (POZZEBOM, 2020). Depois, foram
mais quatro de R$ 300,00. A quinta, sexta e sétimas parcelas, no entanto, foram
definidas em valores mais baixos: R$ 150,00 para famílias de uma só pessoa, R$
250 para famílias de até duas pessoas e R$ 375,00 para mães chefes de família
monoparental (PERGUNTAS..., 2021).
No livro Psicopolítica – o neoliberalismo e as novas técnicas de poder, o
filósofo sul-coreano Byung-Chul Han diz que o regime neoliberal não transforma
explorados em revolucionários ou protagonistas da resistência diante das opressões;
cria depressivos” (HAN, 2000, p. 16). Faz isso porque indica ser o fracasso um
elemento da escolha individual dos que talvez se revelem “menos adaptados”. Em
uma lógica neoliberal eficiente, o autor defende, a economia se reduz à efetivação
da luta competitiva entre indivíduos que, atomizados e egoístas, são estimulados a
trabalhar pelo máximo desempenho e, preferencialmente de modo competitivo, pela
conquista do maior pedaço de bolo do qual nem todos podem comer (HAN, 2000). O
ser humano, termina reduzido a uma engrenagem do mercado e submetido a uma
lógica utilitarista, na qual a importância da acumulação de capital predomina acima
das necessidades e dos valores individuais. As liberdades funcionais do mercado
viriam antes de políticas públicas capazes de assegurar mais igualdade social,
econômica e cultural às pessoas. Em uma lógica neoliberal “perfeita”, os direitos
essenciais são considerados custos sociais altos demais para empresas que
desejam suprimi-los em nome da competitividade e em defesa da “flexibilidade” para
o trabalhador. Em uma lógica neoliberal que dá certo, a garantia da dignidade
humana parece incompatível demais para o eficiente acúmulo de capital. Nesse
cenário, a ganância seria assumida como norma de atuação e a lógica da chamada
“Uberização do trabalho” – a informalização das atividades profissionais – ganharia
ainda mais espaço para ser construída e consolidada (A UBERIZAÇÃO..., 2019). Um
fenômeno que envolve a exploração da mão de obra de trabalhadores por poucas e,
normalmente, grandes empresas que concentram o mercado global de aplicativos e
plataformas digitais, por exemplo. Elas têm como característica a ausência de
responsabilidades ou obrigações com os que chamam de “parceiros cadastrados”. O
modelo vem junto com argumentos de venda de que ele é bom por favorecer a
autonomia, oferecer flexibilidade e independência e até estimular o
empreendedorismo, além de gerar retornos financeiros mais rapidamente. A ilusão
53

trazida com o pacote de promessas já faz esse mercado crescer global e


rapidamente em relação aos modelos formais de emprego (ANDRADA, 2019).

2.6 NECROPOLÍTICA E VIDAS NUAS

O filósofo camaronês Achille Mbembe, criador do termo “Necropolítica”,


defende que o sistema neoliberal se baseia na distribuição desigual da oportunidade
de viver e morrer. “Podemos chamar de ‘necroliberalismo’ esse sistema que opera
com a ideia de que algumas vidas valem mais do que outras e, as que não têm tanto
valor para essa lógica de mercado, podem ser descartadas”, disse em entrevista ao
jornal Folha de São Paulo, em março deste ano (FOLHA DE SÃO PAULO, 2020).
Para Mbembe, a “Necropolítica” é uma estratégia destinada a permitir o
exercício do “biopoder”, termo criado pelo filósofo francês Michel Foucault para se
referir à prática dos estados modernos e sua regulação dos que a ele estão sujeitos
por meio de uma "explosão de técnicas numerosas e diversas para obter a
subjugação dos corpos e o controle de populações".
Foucault usou-o em seus cursos no Collège de France, mas ele apareceu
pela primeira vez em A vontade de saber, primeiro volume do livro História da
Sexualidade (FOUCAULT, 1988). Segundo Foucault, o biopoder se manifesta no
período da modernidade como uma forma de exercício do poder soberano para
controlar e disciplinar as pessoas sem o uso da força. Para ele, o dispositivo
“disciplinar” – em que a lei se associa aos mecanismos de vigilância e
punição/correção – atende a um poder exercido “positivamente” sobre a vida.
“Positivamente” porque, ao invés de exigir a morte dos súditos, como fazia o
soberano, o “poder disciplinar” vai atingir seu auge com o fordismo/taylorismo, com o
estímulo à produção em massa.
Na época, entre os séculos XIX e XX, a vida humana passou a ser vista como
importante para a lógica produtiva e a “sociedade disciplinar” considerada como uma
“máquina de produzir”, por meio dos esforços dos trabalhadores das fábricas, por
exemplo. Com o declínio da era fordista, quando a produção se dava a partir da
fábrica e da relação salarial (emprego), entramos no tempo da “sociedade de
controle”, em que o poder – que antes estava no centro, no “interior” da fábrica, do
hospital ou da escola, por exemplo – sai desse local central e se espalha, agregando
o tempo todo novos elementos de controle. Nessa lógica, que predomina até os dias
54

de hoje, indivíduos considerados menos produtivos tendem a ser apontados como


menos importantes e rentáveis para o sistema. A fala, em março deste ano, da
economista Solange Vieira, pessoa próxima ao ministro da economia Paulo Guedes
e uma das figuras centrais na Reforma da Previdência no Brasil, indica isso. “É bom
que as mortes se concentrem entre os idosos. Isso melhorará nosso desempenho
econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário”, disse ela, que comanda a
Superintendência de Seguros Privados por indicação de Guedes e chegou a ser
cotada para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).
No Brasil, somente de 2019 a 2020, quase 13 milhões de brasileiros
passaram a viver sem renda do trabalho. O número total de cidadãos nessa
condição já chega a 43 milhões, o que equivale a 21% de toda a população. O fato
de que cerca de 90% dos brasileiros com mais de 25 anos não poupam dinheiro
pensando na aposentadoria é outro agravante que preocupa quando se pensa no
futuro dos idosos no país. Em países como Nova Zelândia e Estados Unidos, esse
percentual cai para 30% e 40%, respectivamente. O Brasil se assemelha aos
números de locais como Argentina e Egito, onde 95% das pessoas nessa faixa
etária diz não conseguir guardar dinheiro para o futuro (SUTTO; SANTANA, 2020).
A situação também nos leva a pensar sobre outro conceito: o de “vida nua”,
proposto pelo filósofo italiano Giorgio Agamben (AGAMBEN, 2002, p. 207). Para ele,
“vidas nuas” se referem aos espaços artificiais que as estruturas de poder criam ao
excluir da proteção jurídica as formas de vida, que não se submetem ao que foi
definido como suas ordens. O conceito refere-se à experiência de desproteção e ao
estado de ilegalidade que experimentam indivíduos que estejam submetidos a viver
em “estado de exceção”. Para o filósofo, os campos de concentração do regime
Nazista, entre 1933 e 1945, simbolizam o momento em que o conceito de “estado de
exceção” deixa de ser uma situação externa e provisória para se confundir à norma,
tornando-se regra (AGAMBEN, 2008, p. 142). A definição se assemelha bastante ao
conceito de “homo sacer”, uma expressão latina que significa “homem sagrado”, isto
é, “homem a ser julgado pelos deuses” (AGAMBEN, 2002). É uma figura abstrata do
direito romano arcaico que fazia referência a um indivíduo julgado e condenado por
um delito e que, por conta dessa condenação, acabava banido da sociedade. Uma
vez banido da lei humana, ele poderia ser morto por qualquer um sem que isso
fosse considerado crime e, da mesma forma, tendo sido excluído da Lei Divina, não
55

podia também ser sacrificado ritualisticamente. Por isso, essa vida passava a existir
fora de qualquer jurisdição humana e não era mais reconhecida pela comunidade. A
vida humana, portanto, no contexto do “estado de exceção”, reveste-se de
fragilidade e se torna objeto de controle, suscetível à suspensão de direitos
humanos e à aplicação de medidas opressoras e violadoras de direitos.
Em março de 2020, logo que a pandemia trouxe mais preocupações ao Brasil,
com o argumento de combater os efeitos negativos da epidemia sobre o sistema
financeiro, o Banco Central anunciou a disponibilidade de R$ 1,216 trilhão para os
bancos brasileiros. A cifra equivale a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O setor
do agronegócio foi um dos maiores beneficiados. A conversão da MP do Agro em lei
(Lei 13.986/2020) também trouxe mudanças relevantes para o crédito e
financiamento de produtores rurais no país. As concessões de empréstimos às
empresas cresceram mais de 40% em março após a liberação de depósitos
compulsórios pelo Banco Central (BC). Segundo a Bancada Ruralista no Congresso,
a lei pode ampliar em R$ cinco bilhões as receitas de financiamento para o agro no
Brasil. Os interesses do agro atravessam governos. Historicamente, é um grupo que
se beneficia de vantagens orçamentárias e do poder de influência que exerce diante
de grupos e partidos políticos.
Enquanto isso, dados divulgados em 24 de junho pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em maio, 19 milhões de trabalhadores
estavam afastados do trabalho e, entre estes, 9,7 milhões ficaram sem
remuneração. Os dados são da Pnad Covid19, Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua, que mede a taxa de desemprego oficial do país. Segundo o
estudo, entre a população branca, o rendimento médio efetivamente recebido foi de
R$ 2.381,37, enquanto o da população preta ou parda foi de R$ 1.460,11. Os
números não deixam margens para muitas dúvidas sobre o fato de que a conta no
bolso do contribuinte parece ser a condição para um estado cada vez mais mínimo,
especialmente, em tempos de pandemia.
Em uma live de outubro de 2018, Bolsonaro anunciou a intenção de privatizar,
no mínimo, 50 estatais brasileiras já em seu primeiro ano de mandato. Entre 2019 e
2021, o Governo Federal já recolheu R$ 148,3 bilhões com outorgas e bônus de
vendas, leilões e concessões de portos e aeroportos, rodovias e ferrovias, parques e
florestas, incluindo o leilão das faixas de telefonia 5G. Outras privatizações, que
podem incluir até empresas como a Petrobrás, podem ocorrer até o fim da gestão.
56

Esse projeto, associado à falta de habilidade que a gestão Bolsonaro demonstrou


para gerir crises – econômicas, sociais, ambientais e até sanitárias, considerando a
pandemia causada pela Covid-19, que afetou fortemente o Brasil desde março de
2020 – afastou investidores estrangeiros, assustou a comunidade internacional e fez
o país recuperar problemas que já pareciam superados. Só entre janeiro e agosto de
2020, U$ 15,2 bilhões deixaram o Brasil. Foi o maior volume desde 1982, quando o
Banco Central começou a fazer a mensuração. Entre janeiro e setembro de 2020, os
investidores estrangeiros retiraram R$ 87,3 bilhões da Bolsa brasileira, o que
corresponde a quase o dobro dos R$ 44,5 bilhões que saíram durante 2019. É o
maior índice desde 2008. A falta de controle da pandemia causada pela pandemia e
os danos ao patrimônio natural foram alguns dos principais motivos para o cenário.
Atualmente, a desigualdade social está ainda mais acentuada. Mais de 19 milhões
de brasileiros passam fome, mais de 14 milhões estão desempregados e a correção
dos salários está muito abaixo da inflação, o que reduz significativamente, e cada
dia mais, o poder de compra da população. O custo de vida é cada dia mais alto e a
ponta mais prejudicada é a do trabalhador menos favorecido economicamente
(GANDRA, 2021).
O geógrafo marxista David Harvey, em um artigo publicado em março de
2020 no portal Jacobin Brasil defende que “quarenta anos de neoliberalismo na
América do Norte e do Sul e na Europa deixaram o público totalmente exposto e mal
preparado para enfrentar uma crise de saúde pública desse calibre”. Ele argumenta,
ainda, que a Covid-19 poderia representar a “vingança da natureza por mais de
quarenta anos de maus-tratos e abuso nas mãos de um extrativismo neoliberal
violento e não regulamentado” (HARVEY, 2020).
Essa lógica se apresenta com muita clareza nas decisões da atual gestão
federal brasileira. Depois da Reforma Trabalhista – em vigor desde 2017, realizada
pelo Governo de Michel Temer e que retira diversos direitos dos trabalhadores
(APROVADA..., 2017) – o Governo Federal também anunciou a ideia da nova
Carteira Verde e Amarela digital, que permitiria o registro por hora trabalhada de
serviços prestados pelo trabalhador para vários empregadores. No modelo, não
haveria cobrança de encargos trabalhistas, do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) e da contribuição previdenciária. O trabalhador demitido sem justa
causa também deixaria de ter direito à metade do salário correspondente até o fim
do contrato, como previsto pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Medida
57

Provisória (MP) 905, conhecida como “MP da Carteira Verde e Amarela” foi
aprovada pela Câmara dos Deputados, por 313 votos a 21, dia 15 de abril deste
ano. Assinada por Bolsonaro em novembro do ano passado, ela cria ainda mais
condições que distanciam o trabalhador de qualquer segurança trabalhista ou de
condições para aproveitar uma aposentadoria. A modalidade de contratação seria
voltada a jovens com idade entre 18 e 29 anos e coleciona reduções de direitos
trabalhistas em relação às regras atuais aplicadas pelo mercado. Também valeria
para trabalhadores com mais de 55 anos, desempregados há, pelo menos, 12
meses. Trabalhadores rurais também estariam compreendidos. A medida valeria
para pessoas que recebem até um salário-mínimo e meio, ou seja, o equivalente a
R$ 1.567,50 por mês (CARTEIRA..., 2020).
No que se refere à Educação, os desmontes também são dramáticos. Sob a
gestão de Bolsonaro, os gastos com Educação nos primeiros dois anos do governo
foram os menores desde 2015. A situação impactou fortemente as instituições de
ensino superior e técnicas federais. No primeiro ano da gestão, em 2019, o
Ministério da Educação utilizou apenas R$ 39 milhões – equivalente a 6% do
orçamento previsto – para investimentos nas dez maiores universidades federais do
Brasil (PORTINARI, 2019). Para 2021, reduziu em quase R$ 5 bilhões o orçamento
do Ministério da Educação (MEC) para o ano. Foram bloqueados R$ 2,7 bilhões do
MEC. De 2020 a 2021, houve um encolhimento no orçamento do MEC de,
aproximadamente, R$ 27 bilhões (EDUCAÇÃO..., 2021). 2020, aliás, foi o ano com o
menor gasto do MEC com Educação Básica desde 2010. “A educação básica fechou
o ano com R$ 42,8 bilhões de investimentos. É 10,2% menos do que em 2019.
Efetivamente o valor pago foi de R$ 32,5 bilhões”, mostrou uma reportagem do UOL
Educação (RELATÓRIO..., 2021). A Educação foi a área mais atingida pelos cortes
orçamentários de Bolsonaro para 2021, conforme o decreto de número 10.686 no
fim de abril de 2021 (BRASIL, 2021). “O Ministério da Educação teve R$ 2,7 bilhões
bloqueados, o equivalente a 30% do total bloqueado, que corresponde a R$ 9,2
bilhões. E teve R$ 2,2 bilhões vetados. Ao todo, quase R$ 5 bilhões a menos”,
mostrou uma reportagem da Rede Brasil Atual (EDUCAÇÃO..., 2021).
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência
(Unicef), a gestão Bolsonaro falhou, ainda, na garantia de educação para mais de
cinco milhões de crianças e adolescentes no Brasil. A situação é a pior do Brasil em
duas décadas. De acordo com o órgão, 80% dos alunos entre 6 e 17 anos, mesmo
58

matriculados, não conseguiram ter acesso ao ensino à distância ou a aulas


presenciais em 2020. O impacto teria sido ainda maior entre pessoas negras, de
baixa renda e indígenas. Um controle mais efetivo da pandemia causada pela Covid-
19, poderia ter alterado o cenário, segundo especialistas. Em 2020, de acordo com o
Unicef, dos R$ 48,2 bilhões do orçamento para a educação básica em 2020, o MEC
usou apenas R$ 32,5 bilhões (TOUEG, 2021).
No livro Como o Fascismo Funciona – As políticas do nós e eles, Jason
Stanley (2018) aponta estratégias adotadas por governos com características
totalitárias ou fascistas, que buscam o cultivo do autoritarismo e da dominação. O
anti-intelectualismo é uma delas. Nessa estratégia, sistemas educacionais como um
todo são atacados, de modo que sejam enfraquecidos e descredibilizados perante a
sociedade. A intenção disso, seria, segundo Stanley (2018), silenciar qualquer
contestação que ameace a implementação de pautas ultranacionalistas. A defesa de
Stanley (2018) também recorda uma das mais conhecidas frases do sociólogo e
educador Darcy Ribeiro. Ele dizia que “a crise da educação no Brasil não é uma
crise; é um projeto”. Darcy Ribeiro foi vice-governador do Rio de Janeiro na primeira
gestão de Leonel Brizola (1983 a 1987) e secretário de Educação na segunda (1991
e 1994). Ele implementou os Centros Integrados de Ensino Público (CIEPs),
consideradas uma das principais tentativas políticas de educação integral do país.
Tinham a intenção de proporcional educação de qualidade para a população carente
(MENEZES, 2001). O projeto não foi adiante porque não houve compromisso de
continuidade por parte dos governos posteriores ao de Brizola (COSTA, 2012).
Em 2020, os homicídios também voltaram a subir após dois anos de queda,
segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mais de 50 mil pessoas
morreram naquele ano, vítimas de mortes violentas ou intencionais. Isso equivale a
uma morte contabilizada a cada dez segundos. As disputas do crime organizado,
que também cresceu no país, e o aumento de armas de fogo nas mãos de civis
foram apontadas pelo Fórum como alguns dos responsáveis pelo problema (RESK,
2021). O país praticamente dobrou em um ano o número de armas registradas em
posse de cidadãos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública,
publicado em julho de 2021 pelo Fórum de Segurança Pública. “Segundo os dados
do Sinarm, sistema da Polícia Federal que cadastra posse, transferência e
comercialização de armas de fogo, houve 186.071 novos registros em 2020, um
59

aumento de 97,1% em um ano”, mostrou uma reportagem da BBC (MACHADO;


IDOETA, 2021, online).
Na área da Saúde, os indicadores são igualmente preocupantes. Segundo
uma pesquisa do Data Folha divulgada em 2019, a atuação do governo em relação
à saúde foi citada como o principal problema do Brasil. “Segundo os dados, 18% dos
entrevistados consideram que os programas para a área são os que trazem as
maiores incertezas. Em seguida aparecem educação e desemprego, com 15%
cada”, conforme mostrou uma matéria da Folha de São Paulo (SAÚDE..., 2019,
online). Em outubro de 2020, Bolsonaro chegou a emitir um decreto autorizando a
criação de grupos de estudos para a concessão de Unidades Básicas de Saúde
(UBS) à iniciativa privada por meio do Programa de Parcerias de Investimentos da
Presidência da República. O Decreto 10.530 foi assinado por Bolsonaro e pelo
ministro da economia, Paulo Guedes e representa uma grande ameaça ao SUS, que
poderia ser privatizado. Na época, o Ministério da Saúde não chegou nem a ser
consultado pela antes da assinatura do decreto (DESMONTE..., 2020).
A ineficiência do governo no controle da pandemia causada pelo novo
coronavírus também contribuiu para a soma de mais de 600 mil mortes no Brasil. Em
outubro de 2021, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid analisou as
responsabilidades do diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
Paulo Rebello, que, atendendo ao plano de Bolsonaro de promover a chamada
“imunidade de rebanho” (AO BUSCAR..., 2021), contribuiu com a contaminação e as
mortes pela doença no Brasil. Bolsonaro chegou a afirmar, em mais de uma
oportunidade (MATOSO; GOMES, 2021). que a contaminação pelo vírus de grande
parcela da sociedade deixaria a maior parte da população imunizada. Ocorre que, no
processo, muitas pessoas morreram ou foram reinfectadas. A ineficiência da agência
reguladora no controle das atividades da operadora de saúde Prevent Senior, por
suas práticas negacionistas, também foi um dos maiores escândalos investigados
pela CPI. Segundo as denúncias, o plano de saúde teria pressionado médicos a
receitarem o “kit covid”, sem comprovações científicas sobre sua eficácia, e também
teria retirado o tratamento de pacientes graves, ocasionando a morte de muitos
usurários (JUCÁ, 2021).
A violação de Direitos Humanos promovida pela gestão de Bolsonaro, na
verdade, passa por praticamente todas as áreas. Uma análise feita pelo jornal Folha
de São Paulo em mostrou em agosto de 2021 que, após dois anos e meio da gestão
60

de Bolsonaro, o país não avançou em nenhuma área. Nos 30 primeiros meses de


governo, os índices avaliados, na verdade, só pioraram (MAIORIA..., 2021). Dos 12
indicadores de meio ambiente e das áreas social, agrária e indígena analisados, por
exemplo, 11 apresentaram piora. O descontrole do desmatamento, das queimadas,
o desmonte dos órgãos ambientais e de fiscalização ambiental, e a crescente
violação de direitos de povos tradicionais e indígenas, por exemplo, fizeram com que
o Brasil ganhasse, inclusive, notoriedade negativa internacional. Bolsonaro chegou a
ser denunciado ao Tribunal Penal Internacional (TPI), a corte de Haia, pela
organização não governamental (ONG) austríaca AllRise, que o acusa de crimes
contra a humanidade causados pelo desmatamento induzido por seu governo. Foi a
terceira vez que Bolsonaro foi denunciado em Haia por conta de sua política de
destruição dos recursos naturais (ROSSI, 2021). O desmonte ambiental foi um dos
mais graves da história do Brasil desde que o governo Bolsonaro assumiu a
presidência. O detalhamento do problema será feito no terceiro capítulo do presente
trabalho.
Como resposta às críticas que vem recebendo em relação à má gestão,
Bolsonaro disse, em setembro de 2021, que “nada está tão ruim que não possa
piorar” (FERNANDES, 2021, online). Mesmo com rejeição da maior parte da
população brasileira – acumulando 55% de desaprovação segundo uma pesquisa do
Ipespe, encomendada pela XP e divulgada em setembro de 2021 – 23% da
população ainda enxerga o governo como “bom ou ótimo” e 18% como “regular”
(REJEIÇÃO..., 2021).
Em se tratando de desmontes de políticas públicas sociais, um dos mais
graves que merece ser mencionado, é a aprovação em 2016 da Emenda
Constitucional 95, ou PEC 241, uma das medidas mais drásticas da gestão Temer,
mantida pela de Bolsonaro, que inviabiliza por completo a garantia do bom
aproveitamento de direitos sociais e ambientais. Ela congela as despesas do
Governo Federal, apenas considerando cifras corrigidas pela inflação, por 20 anos.
Com as contas públicas no vermelho, Temer viu a medida, considerada umas das
maiores mudanças fiscais em décadas, como uma saída para sinalizar a contenção
do rombo nas contas e tentar superar a crise econômica. O texto da Emenda foi
incorporado à Constituição e afeta reajustes no valor do salário-mínimo,
investimentos em saúde, segurança, educação e compromete a manutenção de
programas sociais, por exemplo (ALESSI, 2016).
61

Diante dos fatos expostos e relacionados neste primeiro capítulo, não seria,
portanto, precipitado, indicar que o aumento da expressividade da extrema direita no
Brasil pode estar relacionado ao fortalecimento da manifestação das insatisfações
de três principais grupos sociais fortemente ressentidos: o que sente que não tem
seus direitos básicos assegurados; o que nutre o medo da perda do status quo; e do
que se frustrou com promessas públicas não cumpridas. Todos os grupos podem
tender a se apegar mais a valores tradicionais e conservadores por medo da
mudança e da alteração de realidades que os possa fazer perder o que enxergam
como conquistas adquiridas e acumuladas ao longo da vida ou por meio de esforços
das gerações que os antecederam (KAKUTANI, 2018).

Freud oferecesse-nos mais uma pista para entender as contradições dessa


‘revolta submissa’: a identificação dos oprimidos com aqueles que oprimem,
da qual participam não apenas os afetos e a necessidade de proteção
quanto ao fato – que Nietzsche desconsidera – de que ambas as classes
compartilham de ideais comuns. São os ideais presentes em uma cultura
que possibilitam a costura entre classes, o sentimento dos vários grupos
sociais pertencerem a uma mesma coletividade, modernamente chamada
de nação.
A identificação dos oprimidos com seus opressores por meio da adesão aos
ideais comuns talvez explique por que impulsos de revolta se transformam
em ruminações ressentidas. Ou, como perguntou Wilhelm Reich, por que,
ao contrário do que seria de se esperar, a maior parte dos explorados
continua a trabalhar por salários de fome sem entrar em greve e a grande
maioria dos famintos respeita a propriedade privada (KEHL, 2011, p. 289-
290).

O ressentimento social, portanto, “teria origem nos casos em que a


desigualdade é sentida como injusta diante de uma ordem simbólica fundada sobre
o pressuposto da igualdade”, completa Maria Rita Kehl na obra Ressentimento
(2011, p. 284). No próximo capítulo, serão abordadas as principais estratégias das
chamadas fake news, as notícias falsas, associadas às chagas coloniais que ainda
assombram o Brasil, que contribuíram com a ascenção do conservadorismo no
Brasil e com a eleição de Jair Bolsonaro, facilitando o maior desmonte de políticas
socioambientais da história do país.
62

3 CAPÍTULO 2 – NOTÍCIAS FALSAS, CONSERVADORISMO E CHAGAS


COLONIAIS: COMBINAÇÃO IDEAL PARA A SUCESSÃO DE DESMONTES

No segundo capítulo, a presente dissertação busca analisar algumas das


principais estratégias utilizadas pelas notícias falsas, as chamadas “fake news”, que
contribuíram, a nível internacional, com a eleição do ex-presidente norte-americano,
Donald Trump e com o crescimento de conceitos, ideias, partidos e figuras políticas
de extrema-direita também em países europeus, por exemplo. Ele próprio foi o
criador do termo. Em um movimento sinérgico aos movimentos globais, Jair
Bolsonaro também foi eleito no Brasil, fato que ocasionou o que indica ter sido o
maior desmonte de direitos e políticas ambientais da história do país. O
detalhamento deste prejuízo ambiental será abordado no terceiro capítulo. Ao longo
deste segundo capítulo, ainda, objetiva-se compreender como as chagas coloniais
exerceram forte influência para o crescimento do conservadorismo e das fake news
no Brasil. Neste capítulo, pretende-se, também, analisar, mesmo que
superficialmente, como a figura arquetípica do “herói” contribuiu para o
fortalecimento da imagem de Bolsonaro como “salvador dos ressentidos”.

3.1 RESQUÍCIOS COLONIAIS E CHAGAS EDUCACIONAIS

Os resquícios dos períodos colonial e ditatorial vividos pelo Brasil – entre os


anos, respectivamente, de 1530 a 1822 e 1964 a 1985 – parecem ser chagas ainda
não superadas (SOUZA, 2017a). Eles tendem a estimular, historicamente, a
desinformação, a desunião social, o conservadorismo e a intolerância, prejudicando,
fragilizando e violentando, de maneira grave e impactante, a democracia e o
aproveitamento das garantias previstas pela Constituição Federal do país e de
códigos internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, dos
quais o país é signatário.
De acordo com o IBGE, em 2018, havia 11,3 milhões de pessoas analfabetas
com 15 anos ou mais no Brasil. Se todos morassem na mesma cidade, ela só seria
menos populosa que São Paulo, que reúne 12,2 milhões de habitantes. A taxa do
chamado “analfabetismo absoluto” no país é de 6,8%. E o problema atinge mais
pessoas pretas. Enquanto em 2018, 3,9% das pessoas de 15 anos ou mais de cor
branca eram analfabetas, o percentual de pessoas pretas ou pardas chega a 9,1%.
63

No grupo etário de 60 anos ou mais, a taxa de analfabetismo das pessoas de cor


branca alcança 10,3% e, entre as pessoas pretas ou pardas, amplia-se para 27,5%
(COSTA, 2019).
Ao analisarmos a condição dos analfabetos funcionais (pessoas que têm
dificuldades para entender e se expressar por meio de letras e números em
situações cotidianas), os números também são preocupantes. Três entre cada dez
brasileiros têm limitação para ler, interpretar textos, identificar ironias e fazer
operações matemáticas em situações da vida cotidiana e, por isso, são
considerados analfabetos funcionais. Os dados são do Indicador do Analfabetismo
Funcional (Inaf) de 2018. O Instituto classifica os níveis de alfabetismo em cinco
faixas: analfabeto (8%) e rudimentar (22%) (que formam o grupo dos analfabetos
funcionais); e elementar (34%), intermediário (25%) e proficiente (12%) (que ficam
na classificação de alfabetizados). Para a pesquisa, foram entrevistadas 2.002
pessoas entre 15 e 64 anos de idade, residentes em zonas urbanas e rurais de
todas as regiões do Brasil (TRÊS..., 2018). De acordo com o Inaf, mesmo com suas
dificuldades, os analfabetos funcionais são usuários assíduos das redes sociais.
Entre eles, 86% usam WhatsApp, 72% são adeptos do Facebook e 31% têm conta
no Instagram (FAJARDO, 2018). Entre os considerados proficientes, por exemplo,
89% usam o Facebook. De acordo com o estudo, entre os analfabetos funcionais,
12% enviam mensagens escritas e escrevem comentários em publicações do
Facebook, 14% leem mensagens escritas e 13% curtem publicações. Para efeito de
comparação, entre os que têm nível de alfabetização proficiente, 44% enviam
mensagens escritas, 43% escrevem comentários em publicações, 47% leem
mensagens escritas e curtem publicações. No WhatsApp, quase não foi identificada
diferença de uso entre os grupos divididos por nível de alfabetização. Enquanto 92%
dos analfabetos funcionais enviam mensagens escritas, o índice é de 99% entre os
alfabetizados; 84% dos analfabetos funcionais compartilham textos que outros
usuários enviaram e 82% dos alfabetizados fazem isso (FAJARDO, 2018).
Segundo o IBGE, também, 116 milhões de brasileiros estão conectados à
internet, o que equivale a 64,7% da população (GOMES, 2018). Se relacionarmos
essa informação com os dados já mencionados sobre analfabetismo e analfabetismo
funcional no Brasil, é possível estabelecer uma forte e provável relação entre
carência educacional e propagação de notícias falsas no país. No ranking da
Unesco sobre a educação de 2012, o Brasil ocupou o 88º lugar – o penúltimo entre
64

os 40 países analisados (PINHO, 2011). De lá para cá, não houve muitos avanços.
Um estudo elaborado pelo IMD Competitiveness Center analisou o ambiente
econômico e social para gerar inovação e destaque no cenário global de 64
nações. No eixo que avalia a educação, o Brasil teve a pior avaliação entre todos
os países analisados, ficando na 64ª posição. A falta de investimento público foi
apontada pela pesquisa como a responsável pelo cenário. Enquanto o mundo
investe, em média, US$ 6.837 (cerca de R$ 34,5 mil) por estudante a cada ano,
segundo o levantamento, o Brasil investe apenas US$ 2.110, ou cerca de R$ 10,6
mil anualmente (MAIA; HERÉDIA; COELHO, 2021).
O professor Ivan Paganotti (2020), explica que o baixo letramento dos
brasileiros acaba comprometendo diretamente a capacidade de reconhecer o
funcionamento dos meios de comunicação, uma prática que poderia ser estimulada
pela educomunicação – que é o método de ensino no qual a comunicação em
massa e a mídia em geral são usadas como elemento de educação. Segundo o
professor, ainda há muita dificuldade de interpretação dos conteúdos entre os
brasileiros, em razão de uma educação básica que é bastante problemática.
A deficiência da qualidade do ensino nas escolas (CARÊNCIA..., 2010) e o
alto índice de pessoas que não chegam até o fim do Ensino Médio no país (mais da
metade dos adultos brasileiros, segundo a OCDE) (MAIS..., 2017) estão entre os
principais responsáveis para o problema da deseducação. O IBGE também indica
que mais da metade dos brasileiros acima dos 25 anos não concluiu o Ensino
Médio. Isso equivale a 69,5 milhões de pessoas que não têm essa etapa concluída
(RIOS, 2020). Além disso, o piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais
do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados em um estudo da
OCDE, divulgado em setembro de 2021. Enquanto os professores brasileiros têm
salário inicial de US$ 13,9 mil anuais, na Alemanha, por exemplo, o valor passa de
US$ 70 mil (PISO..., 2021). Em setembro, a imprensa noticiou que o Brasil está na
lista dos países mais afetados com o fechamento de escolas durante a pandemia,
com 178 dias em que as escolas do país ficaram completamente fechadas
(OLIVEIRA, 2021c).
65

3.2 FAKE NEWS E MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO

A eleição do atual presidente da república, Jair Bolsonaro – que tomou posse


oficialmente do cargo no dia 01 de janeiro de 2019 – foi marcada por polêmicas
envolvendo fake news amplamente divulgadas por diferentes canais de
comunicação, como o WhatsApp (ARAÚJO, 2017), principalmente, e pelas redes
sociais, representando um elemento fundamental para a vitória do então candidato
(GILMAR..., 2020). Um estudo da organização Avaaz, plataforma de mobilização
online, apontou que 98,21% dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro foram
expostos a uma ou mais notícias falsas durante a eleição, e 89,77% acreditaram que
os fatos eram verdade. A pesquisa foi feita pela IDEA Big Data, de 26 a 29 de
outubro de 2018, com 1.491 pessoas no país, e analisou as redes Facebook e
Twitter. De acordo com o levantamento, 93,1% dos eleitores de Bolsonaro
entrevistados consumiram notícias sobre a fraude nas urnas eletrônicas e 74%
acreditaram nelas (PASQUINI, 2018). Bolsonaro, vale lembrar, concorreu à
presidência por um micropartido – na época, o PSL – “gastou pouco mais do que
alguns deputados federais gastaram e, no primeiro turno, dispôs do menor tempo no
horário eleitoral gratuito que um candidato competitivo já teve em uma disputa para
presidente” (NICOLAU, 2020, p. 11).
A jornalista Patrícia Campos Mello, no livro A Máquina do Ódio – notas de
uma repórter sobre fake news e Violência Digital (2020), lembra que, em dezembro
de 2018, escreveu, junto do repórter Artur Rodrigues, uma reportagem que mostrava
como CPFs e chips de celular eram fraudados para efetuar disparos em massa de
mensagens políticas via WhatsApp durante o período eleitoral. Segundo a
reportagem, entre as agências envolvidas no esquema está a Yacows, especializada
em marketing digital. Ela prestou serviços a diversos políticos, de acordo com as
investigações, e fora subcontratada pela AM4, produtora que trabalhou para a
campanha de Bolsonaro (RODRIGUES; MELLO, 2018).
O acesso à smartphones por parte de grande parte da população brasileira
nos últimos anos indica ser outro um importante elemento a favorecer a propagação
das notícias falsas no país. Outra pesquisa da Avaaz revelou que os brasileiros são
os que mais acreditam em fake news no mundo. Segundo a plataforma, sete em
cada dez brasileiros se informam pelas redes sociais e 62% já acreditaram em
alguma notícia falsa (MACIEL, 2019). Por dinamizar as comunicações e ser de uso
66

gratuito, o WhatsApp caiu no gosto dos brasileiros. O aplicativo está instalado em


99% dos aparelhos ativos no país (LIMA, 2020) e a maior parte das empresas de
telefonia oferecem planos e pacotes de internet, que garantem uso ilimitado do app.
Patrícia Campos Mello (2020, P. 22) comenta no livro que, “no Brasil de hoje, com
210 milhões de habitantes, há, segundo estimativa oficial de 2017, a única
disponível, mais de 120 milhões de usuários de WhatsApp. Na realidade a cifra deve
estar mais próxima de 136 milhões”. Neste cenário, segundo ela, mais de 60% dos
brasileiros utilizam o aplicativo de mensagens, a imensa maioria, diariamente. Ainda
de acordo com dados apresentados, o Brasil é o segundo maior mercado do mundo
em uso do WhatsApp, ficando atrás somente da Índia, que soma 400 milhões de
usuários.
Apesar de o déficit educacional brasileiro (FOLHAPRESS, 2018) ser o
principal entrave para o combate das fake news, ele não é o único fator que facilita a
ocorrência do problema. Um estudo de pesquisadores da Universidade de Nova
York e Princeton concluiu que pessoas com mais de 65 anos são as que mais
compartilham notícias falsas. E isso independe de gênero, nível de escolaridade,
renda ou quantidade de links postados, por exemplo. O estudo analisou o
comportamento de 3.500 pessoas. Os participantes instalavam um aplicativo feito
pela empresa de pesquisas YouGov, que permitia a eles divulgar com os membros
da pesquisa, informações como dados públicos do perfil, visões políticas e
religiosas, postagens na timeline e páginas que seguiam.

Os dados levantados pelo aplicativo foram cruzados com uma lista


elaborada pelo Buzzfeed de sites que historicamente compartilham fake
news. Depois, os links foram cruzados com mais quatro outras listas de
sites que compartilham notícias falsas. Os resultados mostraram que a
divulgação deste tipo de notícia é algo relativamente raro, com apenas 8,5
do total dos participantes tendo compartilhado um link falso durante o
período da pesquisa. No corte de preferências políticas, 18% dos
republicanos divulgaram fake news antes 4% de democratas. Porém, o
resultado mais assertivo veio com o corte por idade, com 11% dos
participantes com mais de 65 anos tendo compartilhado fake news, número
que cai para 3% com o público entre 18 e 29 anos. No total, o público com
mais de 65 anos compartilhou mais que o dobro de notícias falsa em
relação ao segundo grupo mais velho (entre 45 e 65 anos), e sete vezes
mais que participantes do grupo mais novo, de 18 a 29 anos (ISTOÉ, 2019,
online).

Segundo o estudo, o grupo está mais suscetível a compartilhar informações


falsas por terem sido introduzidos à convivência na rede de maneira mais tardia que
67

os jovens, o que os impede de ter a devida “alfabetização” no ambiente. A


capacidade cognitiva de pessoas mais velhas, afetada pela idade, também as
tornariam mais suscetíveis a caírem nas fake news. Para piorar, as notícias falsas se
espalham até 70% mais rápido do que as verdadeiras. A afirmação vem de um
estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos
Estados Unidos, publicado na revista Science (FAKE NEWS..., 2018). Por outro
lado, muitas pessoas também tendem a compartilhar fake news que reforcem suas
opiniões individuais e, com isso, demonstram que as compartilham de forma
consciente. Isso foi o que revelou um estudo na Universidade de Regina, no
Canadá. “Para chegar à conclusão, os pesquisadores apresentaram uma série de
manchetes reais a mais de 2.500 pessoas dos Estados Unidos. Na lista, havia
chamadas retiradas das principais notícias de jornais, mas também um conjunto de
histórias que eram inteiramente falsas”, mostrou uma reportagem veiculada no portal
da revista Superinteressante (LUISA, 2019).

Na primeira parte do estudo, os participantes foram solicitados a indicar


quais manchetes compartilhariam nas redes sociais. Foi aí que despontou
um comportamento curioso: o critério utilizado por muitos não era averiguar
a veracidade das histórias, mas seu conteúdo. Se o que o texto dizia
concordasse com uma opinião pré-estabelecida da pessoa, pouco
importava a fonte: ela tinha mais chances de compartilhar de qualquer
forma (LUISA, 2019).

De acordo com uma análise do Reuters Institute Digital News Report, “em
países onde os níveis de alfabetização noticiosa são altos, as pessoas são mais
propensas a identificar conteúdo satírico, mentiras e exemplos de jornalismo pobre”
(DOZE..., 2018, online). Segundo o estudo, que foi feito com 74 mil pessoas em 37
países diferentes, a Turquia é a campeã do mundo no consumo de notícias falsas.
Por lá, 49% dos entrevistados disseram que já consumiram informações mentirosas
na internet. Em segundo lugar, ficou o México, com 43% e, em terceiro, o Brasil com
35%. Logo depois, vieram os Estados Unidos, com 31%. O dado não surpreende,
considerando a forte influência que as fake news exerceram durante as eleições
presidenciais que culminaram com a vitória do ex-presidente republicano norte-
americano Donald Trump (MARZ, 2018). Trump, aliás, chegou a afirmar que foi o
criador do termo fake news, quando concedeu, em outubro de 2017, uma entrevista
à emissora cristã Trinity Broadcasting Network. Mas foi desmentido pela equipe do
Merriam-Webster, principal dicionário de inglês norte-americano, que foi atrás da
68

origem do termo e descobriu que ele foi utilizado pela primeira vez no contexto
político ainda no século 19 (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2017).
Uma pesquisa feita por cientistas do Instituto de Tecnologia de
Massachussetts, nos Estados Unidos, mostrou que as notícias falsas têm 70% mais
chances de viralizar do que uma notícia real (CASTRO, 2018). O filósofo Friedrich
Nietzsche explicaria os índices com a defesa que fez – lembrada pela psicanalista
Maria Rita Kehl (2011, p. 111), no livro Ressentimento – de que “não temos nenhum
interesse na verdade, a não ser quando ela nos convém”.

Tradicionalmente, regimes autoritários tentam controlar o fluxo de


informação. Durante a Guerra Fria, a União Soviética gastava milhões para
interceptar o sinal da BBC World Service. Hoje a china bloqueia uma série
de sites e de redes sociais e permite apenas as versões locais do
Facebook, do Twitter e do WhatsApp. Em Cuba, muitos cidadãos comuns
não têm acesso à internet, cara e rara, e recorrem a outras formas de trocas
de informações em rede, como a circulação de filmes e músicas gravados
em pen drives. Na versão moderna do autoritarismo – em que governantes
não rasgam a constituição nem dão golpes de Estado clássicos, mas
corroem as instituições por dentro –, não é necessário censurar a internet.
Nas “democracias iliberais”, segundo o vernáculo do primeiro-ministro
húngaro Viktor Orbán, basta inundar as redes sociais e os grupos de
WhatsApp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que ela se
torne verdade – e abafe as outras narrativas, inclusive e sobretudo as reais
(MELLO, 2020, p. 22-23).

Além da deficiência no aprendizado da educomunicação e da forte adesão da


sociedade a aplicativos que favorecem a disseminação de notícias falsas, o
crescimento do conservadorismo no Brasil – significativamente estimulado pela
ascensão do movimento evangélico neopentecostal (ROCHA, 2020) – pode ser
apontado como outro elemento a exercer forte influência para a eleição de
Bolsonaro (ALMEIDA, 2019). Uma reportagem da Agência Pública mostrou, em
agosto de 2021, que um levantamento inédito da Universidade Federal do Rio de
Janeiro revelou que o uso intenso do WhatsApp para a prática religiosa favorece
redes de desinformação no segmento evangélico, estimulando e facilitando a
propagação de notícias falsas. A pesquisa mostrou que 49% dos evangélicos
analisados receberam mensagens de conteúdo falso ou enganoso em grupos
relacionados à religião. Praticamente a metade dos evangélicos entrevistados,
portanto, receberam fake news enviadas nos grupos que participam. A pesquisa
também mostrou que, entre os evangélicos, 92% participam de grupos ligados à
religião no WhatsApp. No caso dos católicos, são 71%, 57% dos espíritas e 66,7%
69

de fiéis de outras religiões (CORREIA, 2021). O percentual de 31% da população


brasileira se declara evangélica, segundo Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB),
realizado em 2018. Entre os respondentes da pesquisa, 23,6% dos evangélicos
disseram não ter o costume de checar notícias e quase 30% dos entrevistados
admitiram que já compartilham notícias falsas. Além disso, 8,1% fizeram o mesmo,
“mesmo sabendo que era mentira, mas por concordarem com a abordagem”,
conforme revelou o estudo divulgado pela Agência Pública.
Bolsonaro entrou para a carreira pública em 1988, quando se candidatou ao
cargo de Vereador pelo Rio de Janeiro. Eleito, disputou dois anos depois uma vaga
para Deputado Federal, para a qual também se elegeu e atuou por 28 anos como
parlamentar, até se tornar presidente, em 2019 (MANSO, 2021). Em quase três
décadas como deputado federal, apresentou cerca de 170 projetos de lei, mas
apenas dois foram aprovados (BASTIAN, 2018). Um deles estende a isenção do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre bens de informática e
automação produzidos nas regiões de influência da Sudam, Sudene e Região
Centro-Oeste até 2003 (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1996) e o outro autoriza o
uso da fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”, que, até hoje, não teve a
eficiência comprovada pela ciência e já esteve no centro de muita polêmica
(FERNANDES; GUIMARÃES, 2018).
No livro O Brasil dobrou à Direita – Uma radiografia da eleição de Bolsonaro
em 2018 (2020), o cientista político Jairo Nicolau diz que Bolsonaro é o político
brasileiro de ultradireita que se tornou mais conhecido em âmbito nacional.

Em dois temas de sua agenda (conservadorismo no campo dos costumes e


política dura de combate à criminalidade), ele não se diferencia de outros
políticos brasileiros. Mas em um assunto ele é praticamente solitário: elogio
à ditadura militar (que não reconhece como sendo uma ditadura)
(NICOLAU, 2020, p. 10).

Nicolau (2020) recorda ainda que, nos anos de 1980,

[...] nem políticos do PDS (herdeiro da maioria dos quadros que pertenciam
à Arena – legenda que apoiava o governo militar – ousavam defender o
regime. Bolsonaro é o primeiro político de expressão nacional, e talvez o
único, que faz elogio aberto desse período da história brasileira (NICOLAU,
2020, p. 10).
Como sabemos, o improvável acabou acontecendo. Ele saiu do seu nicho e
avançou sobre o tradicional eleitorado moderado do país, vencendo em
todos os estados da região Sul e Sudeste, conquistando os eleitores de alta
70

escolaridade e os moradores dos bairros e cidades de maior renda no país.


Bolsonaro também venceu entre os eleitores de baixa escolaridade e nos
grandes centros urbanos. Um dos grandes desafios dos estudiosos das
eleições no Brasil é tentar entender como, mesmo fazendo uma campanha
na qual em nenhum momento moderou seu discurso e tentou falar para um
eleitor centrista, Bolsonaro conseguiu ter amplo apoio desse segmento
(NICOLAU, 2020, p. 11).

No livro República das Milícias – Dos esquadrões da morte à Era Bolsonaro,


Bruno Paes Manso (2021, p. 34) comenta que “desde a redemocratização do Brasil,
em 1985, alguns grupos militares se ressentiram da perda de protagonismo e se
uniram em torno de ideias que só vieram à tona depois da eleição de Bolsonaro em
2018”. O autor comenta que durante o processo de redemocratização, muitos
militares se ressentiram com as críticas de que foram alvo. Entendiam a volta da
democracia como um retrocesso, “como um espaço para que esquerdistas
tomassem o poder, justamente, o grupo que miliares e policiais haviam se dedicado
tanto a combater” (MANSO, 2021, p. 258). Manso (2021) também recorda que, em
suas trajetórias políticas, Bolsonaro e os filhos eleitos que também ocupavam cargos
públicos:

[...] se dedicaram a defender grupos que compartilhavam com eles esses e


outros ressentimentos e revoltas [...] Mesmo diante de várias manifestações
de apologia ao crime, seus colegas parlamentares evitavam puni-los,
permitindo impropérios cada vez mais radicais (MANSO, 2021, p. 57-58).

Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional da Universidade de


Harvard, ao escrever sobre a “política do ressentimento” diz que há cerca de vinte
anos já era possível prever que o descuido de políticos não populistas diante de
desigualdades sociais ou econômicas ajudaria a impulsionar governos como o de
Donald Trump, nos Estados Unidos, e outros semelhantes na Europa e em outros
países do mundo, como o Brasil. Ele lembra que, sempre que os governos deram
mais importância aos elos econômicos internacionais, cresceram ondas de
nacionalismo entre os setores prejudicados. E para fazer resistência a esse cenário,
duas estratégias teriam surgido na Alemanha antes do nazismo, por exemplo. “A
primeira, a dos socialistas e comunistas, seguia para as mudanças sociais. A
segunda, a nazista, enfatizou a questão nacional” (RODRIK apud ROMANO, 2019,
online).
71

No vazio estabelecido entre os privilegiados que ainda têm acesso aos


empregos e a massa dos sem meios de sobreviver (imenso, monstruoso e
despreparado exército de reserva, sem ao menos o movimento das mãos
para a boca) erguem-se os demagogos da extrema direita. E aí temos os
conhecidos slogans: “sem emprego?”. Culpa dos chineses. Sofre com a
criminalidade? Culpa dos mexicanos que invadem nossa terra. Terrorismo?
A causa encontra-se nos muçulmanos. Economia fraca? Culpa dos
nordestinos e assim vai. E temos o dado essencial: os demagogos trazem à
tona o ressentimento dos realmente excluídos ou que se imaginam
ameaçados pelo “outro” (ROMANO, 2019, online).

A União Europeia foi criada em 1993 e, na época, foram lançadas as bases


para a criação do euro, uma moeda única europeia. Um ano antes, em 1992, o
Tratado de Maastricht era assinado, em 7 de fevereiro, pelos membros da
Comunidade Europeia, na cidade de Maastricht, nos Países Baixos. Em dezembro
de 1991, a mesma cidade havia hospedado o Conselho Europeu, que elaborou o
tratado. Ele fixou a integração econômica e a unificação política e estabeleceu
metas para facilitar a circulação de pessoas, produtos, serviços e capital pelo
continente europeu. A estratégia buscava contribuir com uma maior estabilidade na
Europa, após tantos períodos conturbados, ocasionados por eventos dramáticos,
como as guerras. Em resumo, a criação da União Europeia buscava uma união cada
vez mais estreita entre os povos da Europa, para que decisões fossem tomadas ao
nível mais próximo dos cidadãos (SILVA; PARROCK, 2021). Foi, portanto, baseada
nos princípios de “cooperação, não discriminação, solidariedade e democracia”
(CARVALHO, 2018). Hoje, no entanto, esses valores conquistados com base em
diferentes esforços sociais vêm sendo questionados por alguns movimentos e
partidos de extrema direita na Europa. Estimulados por insatisfações sentidas e
apontadas por grande parte da população, eles recuperam discursos e práticas
nacionalistas, que incluem a defesa do controle das fronteiras e o protecionismo
econômico, por exemplo. Na Europa, novos partidos de direta criados nas últimas
décadas vêm crescendo e, em alguns casos, chegando ao poder. Em novembro de
2019, nas eleições que ocorreram na Espanha, o Vox – partido ultradireitista
espanhol – se tornou o terceiro maior partido do Congresso, ao duplicar para 52
cadeiras a bancada que conquistou apenas seis meses antes. Os 15% de apoio
popular obtidos pelo partido nacionalista espanhol podem ser comparados a outros
partidos de extrema-direita, como o Alternativa para a Alemanha, que obteve 12%
nas últimas eleições legislativas em 2017, a Liga Norte, da Itália, com 17% em 2018,
ou o Partido da Liberdade, na Áustria, com 16% em setembro de 2018, por exemplo.
72

Finlândia, Suécia e Holanda também são nações que viram crescimentos em termos
de apoio aos partidos de extrema-direita ocorrerem nos últimos anos, com os
percentuais, respectivamente, de 17% no caso das duas primeiras e 15% na
terceira.
A nova direita é o tema estudado pelo professor alemão, Thomas Poguntke,
diretor do Düsseldorf Party Research Institute. Para ele, esses partidos não podem
ser considerados integrantes de um único movimento, mas apresentam elementos
unificadores, como uma agenda anti-imigração e o ressentimento com
o establishment político de seus países. Na tradução para o português,
“establishment” se refere a um conjunto de forças e agentes com larga influência
decisória dentro de uma sociedade. Segundo Poguntke (2018), o crescimento de
movimentos, partidos e políticos de extrema-direita tem relação direta com o
ressentimento.

Vem de um sentimento que não pode ser exatamente estratificado, mas é


especialmente particular de setores da classe média que temem perder
mais com a globalização do que ganhar. A globalização é um termo muito
amplo, mas do sentimento de estar sendo mais afetado pelos vários tipos
de competição. E não é necessariamente apenas na questão
socioeconômica, mas de estilo de vida também. No meu país, dependendo
da área que você vive, você nunca vê imigrantes ou metade da escola é de
crianças que não falam alemão como primeira língua. Então, o
ressentimento pode ter várias razões, por isso é tão difícil encontrar algo
que possa ser considerado como uma ideologia coerente entre os
populistas. Eles são muito melhores em dizer o que não gostam, sobre o
que se ressentem, do que o que querem. Um colega nosso chama isso de
‘ideologia magra’, é um populismo ‘mais alguma coisa’ e esse ‘mais alguma
coisa’ pode ser bem diferente em cada país. Ressentimento tem muito a ver
com o medo, e notamos isso nos EUA, de que os filhos não terão a mesma
qualidade de vida que os pais tiveram. Estamos em uma trajetória
descendente, não há um futuro melhor para as nossas crianças ou para
nós, então precisamos nos segurar ao que temos e nos defender. Eu acho
que esse é o espírito. E, de certo modo, você vê isso em muitas partes do
mundo. Você pode ir para o Brasil ou para a Indonésia e verá similaridades.
Há grandes diferenças em termos de estrutura social, mas parece haver um
tema unificador, e isso é o ressentimento (POGUNTKE, 2018, online).

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump também venceu as


eleições de 2016 graças ao apoio de setores mais conservadores da sociedade e da
veiculação e eficácia das fake news. Um estudo de pesquisadores da Universidade
Cornell, nos Estados Unidos, mostrou que o papel do presidente americano na
disseminação de informações falsas sobre o Coronavírus é maior do que se
imaginava. A Universidade em Ithaca, no estado de Nova Iorque, avaliou 38 milhões
73

de reportagens em inglês em todo o mundo, publicadas entre 1º de janeiro e 26 de


maio de 2020, e verificou que em mais de 522 mil dessas notícias, foram
disseminadas notícias falsas sobre o vírus. Trump foi mencionado em 37,9% dos
casos de desinformação. De acordo com os pesquisadores “o presidente dos EUA
foi provavelmente o maior impulsionador da desinformação em torno da covid-19”
(RIEKMANN, 2020, online). Foram analisadas mais de 7 milhões de mídias
impressas, televisivas e online. “Segundo os cientistas, 1,1 milhão de artigos
continham informações falsas sobre a covid-19, o que corresponde a cerca de 3%
do total de artigos examinados” (RIEKMANN, 2020, online). O The Washington Post
chegou a calcular que Trump fez 2.140 alegações falsas ou enganosas no seu
primeiro ano de governo – uma média de quase 5,9 por dia. Durante todo o período
em que ocupou o cargo de presidente, fez 20 mil alegações falsas ou incorretas,
segundo o jornal (TRUMP..., 2020).
Outro elemento que conecta a eleição de Trump com a de Bolsonaro, por
exemplo, é que as duas figuras apresentaram como diferenciais nos períodos de
campanha o fato de não serem “políticos profissionais”. Há quem atribua a vitória de
Trump em 2016 a uma descrença generalizada no “sistema” (GARMAN; YOUNG,
2017).

O fato é que a agenda conservadora retrocedeu, e esse processo reforçou a


ojeriza dos republicanos a políticos tradicionais. É aqui que entra Donald
Trump, cujas principais virtudes estão alinhadas às expectativas mais
conservadoras: ser um homem do mercado e um outsider da política
partidária. Sua fortuna provém de negócios imobiliários e está estimada em
US$ 4,5 bilhões pela Forbes. Isso lhe confere liberdade para financiar sua
própria campanha, sem dever favores. Sua fama de bom administrador
cresceu a partir do reality show O Aprendiz (no Brasil, estrelado por Roberto
Justus), no qual se mostrava implacável ao avaliar o desempenho de jovens
ambiciosos que competiam em tarefas preparatórias para uma carreira de
empreendedor. A fama de empresário durão e bem-sucedido, alheio ao
mundo político, lhe permitiu inclusive contestar as credenciais militares de
John McCain, cacique republicano, senador e ex-vice-presidente do país,
que passou anos como prisioneiro na Guerra do Vietnã. Para completar,
sua plataforma política se baseia na construção de um muro na fronteira
com o México, a ser pago pelos mexicanos, e na deportação de 11 milhões
de latinos vivendo ilegalmente em território americano; no fim do
Obamacare e na desregulamentação do setor da saúde, de modo que a
iniciativa privada e o mercado sepultem a intervenção estatal; e na defesa
do direito dos americanos de comprar e portar armas de fogo. Trump
também é contrário à legalidade do casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Qualquer semelhança, às avessas, com a agenda política do governo
Obama, não é mera coincidência (MIELNICZUK, 2016, online).
74

No livro A Tirania do Mérito – O que aconteceu com o bem comum?, o filósofo


Michael J. Sandel (2020, p. 30), lembra que “os eleitores brancos, da classe
trabalhadora, que apoiaram Trump sentem-se ameaçados pela perspectiva de se
tronarem minoria no país ‘deles’, ‘estranhos na própria nação’”. Sandel (2020, p. 31)
complementa: “essas elites agora estão alarmadas, e com razão, pela ameaça às
normas democráticas apresentadas por Trump e outros autocratas populistas”. No
entanto, segundo o autor, não reconhecem o papel que tiveram ao instigar o
ressentimento que levou à repercussão populista.

Eles sentem que, mais do que as mulheres e as minorias raciais, são


discriminados; e se sentem oprimidos pelas demandas do discurso público
‘politicamente correto’. Esse diagnóstico de um estrato social prejudicado
destaca características execráveis do sentimento populista: nativismo,
misoginia e racismo, verbalizados por Trump e outros populistas
nacionalistas. O segundo diagnóstico atribui o ressentimento da classe
trabalhadora à perplexidade e ao deslocamento criados pelo ritmo
acelerado da mudança em uma era de globalização e tecnologia. Na nova
ordem econômica, a noção de trabalho atrelada a uma carreira vitalícia
acabou; o que importa agora é inovação, flexibilidade, empreendedorismo e
uma constante disponibilidade para aprender novas habilidades. Mas de
acordo com essa consideração, vários trabalhadores demonstram sentirem-
se ofendidos com a demanda de se reinventarem, enquanto o emprego que
outrora tiveram é terceirizado para países de mão de obra barata ou é
designado a robôs. Anseiam, como quem sente saudades, pelas
comunidades estáveis e pelas carreiras do passado. Sentindo-se
deslocados perante as forças inexoráveis da globalização e da tecnologia,
esses trabalhadores atacam imigrantes, o livre-comércio e elites
governantes. No entanto, a fúria deles é mal direcionada, porque não
percebem que protestam contra forças tão incapazes de serem alteradas
quanto o clima (SANDEL, 2020, p. 30-31).

Nos cenários da Europa e nos maiores países da América Latina, a realidade


não é diferente. Emmanuel Macron, eleito presidente da França em maio de 2017
também representou a derrota da política tradicional (COM TODAS..., 2017). No
segundo turno francês, a disputa pela presidência só incluiu candidatos não
tradicionais. Uma pesquisa feita pela Ipsos em 22 países mostrou que apenas 14%
dos entrevistados disseram, em média, confiar nos partidos políticos (GARMAN;
YOUNG, 2017). No caso do Brasil, o cenário é muito semelhante. Além da sinergia
com as pautas ultraconservadoras políticas de Trump e do fato de Bolsonaro
também ter se apresentado como uma alternativa ao cenário político tradicional
(BORGES, 2018), a falta de confiança da população na política foi outro fator que
contribuiu com a eleição do ex-deputado. O brasileiro é o povo que menos confia em
seus políticos na comparação com outras grandes economias do mundo. Uma
75

pesquisa da organização GfK Verein revelou que apenas 6% dos brasileiros indicam
ter confiança nos políticos. O país fica na última colocação, bem próximo da França
e da Espanha (CHADE, 2016). Em julho de 2013, um relatório da organização
Transparência Internacional sobre percepção de corrupção apontou que 81% dos
brasileiros acreditam que os partidos políticos são corruptos. Para 72% dos
brasileiros ouvidos pela pesquisa, os partidos são vistos como as instituições mais
corruptas em 51 países. Para 72% dos brasileiros, depois dos partidos, o Congresso
Nacional é a instituição mais corrupta, seguido pela Polícia (70%), serviços médicos
e de saúde (55%) e pelo Judiciário (50%) (PARA..., 2013).
O distanciamento popular do entendimento, compreensão e cobrança dos
Direitos Humanos no Brasil é mais um fator que tende a afastar ainda mais a
população do aproveitamento desses direitos, de acordos internacionais – dos quais
o país é signatário – e de garantias previstas pela própria Constituição Federal,
instituída em 1988, e conquistadas mais intensamente a partir do período de
redemocratização do país, em 1989. Para se ter uma ideia, mais da metade dos
brasileiros acham que Direitos Humanos beneficiam quem não merece. A
informação vem de um levantamento do Instituto Ipsos, divulgado pela BBC. A
pesquisa Human Rights in 2018 - Global Advisor, da Ipsos, foi feita em 28 países,
incluindo o Brasil, com 23,2 mil entrevistados, entre os dias 25 de maio e 8 de junho
de 2018. Ela mostrou que, na opinião de seis em cada dez brasileiros, “os Direitos
Humanos apenas beneficiam pessoas que não merecem, como criminosos e
terroristas” (PULSO BRASIL, 2018, online). Ainda de acordo com o levantamento,
74% dos entrevistados acreditam que algumas pessoas tiram vantagem injusta
sobre eles. Os brasileiros, segundo a pesquisa, estão entre os que mais concordam
com a frase "Direitos Humanos não significam nada no meu cotidiano" (28%), atrás
apenas dos ouvidos na Arábia Saudita e na Índia (FRANCO, 2018). Entretanto, vale
lembrar que, na definição da ONU, Direitos Humanos são aqueles aos quais todas
as pessoas, sem distinção, deveriam ter acesso: direito à vida, à segurança, à
liberdade, à saúde, à moradia, alimentação, liberdade de expressão (DIREITOS...,
2021). Por outro lado, a pesquisa também indica que, mesmo achando que os
Direitos Humanos não os beneficiam, a maioria reconhece que é necessário
defendê-los. 69% dos brasileiros consideram que é importante que haja uma lei para
protegê-los. Os brasileiros, portanto, acham que os Direitos Humanos não são
aplicados às pessoas que os mereceriam, como eles mesmos, inclusive, e são
76

aproveitados pelos que “não merecem”. Foi citada, em primeiro lugar, a


necessidade de garantia desses direitos às crianças (56%), idosos (55%), pessoas
com deficiência (46%), mulheres (39%) e pessoas de baixa renda (38%). Os direitos
que merecem defesa mais citados globalmente foram liberdade de expressão (32%),
direito à vida (31%), direito à liberdade (27%), direito à igualdade de tratamento
perante a lei (26%) e direito de não ser discriminado (26%) (FRANCO, 2018). Para a
psicanalista Maria Rita Kehl (2011), no livro Ressentimento:

[...] o ressentido não acusa a si mesmo nem reconhece sua


responsabilidade diante da perda sofrida. O que o ressentido reivindica é o
reconhecimento desse suposto valor, ou o exercício de um direito do qual
acredita ter sido privado por alguém: no horizonte fantasmático do
ressentido, está sempre a figura de um usurpador (KEHL, 2011, p. 57).

A autora complementa ainda: “O ressentido deseja a ordem – por isso é


compatível com o conservadorismo – contanto que possa beneficiar-se dela, nem
que seja na condição de vítima” (KEHL, 2011, p. 288).

3.3 A “EVANGELIZAÇÃO” DA POLÍTICA BRASILEIRA

O ressentimento e o desejo de vingança contra quem pensa diferente são


capazes de surgir e se fortalecer em diversas épocas e comunidades. Nos últimos
anos, os fatos indicam, esses sentimentos ocuparam o Brasil com mais expressão. A
“evangelização” da política brasileira, que começou há pelo menos uma década com
a ascensão das igrejas pentecostais e, especialmente, neopentecostais no Brasil, foi
mais um elemento importante para o crescimento de um “populismo teocrático com
aceno militar” no país. Esse conceito foi apresentado pela escritora e documentarista
Débora Diniz (2018) em uma entrevista que ela concedeu em 2018 ao jornal Estado
de Minas. Novamente, um fenômeno com bases muito semelhantes às do cenário
norte-americano, onde Donald Trump também contou com uma importante base de
apoio evangélica para se eleger (EUA..., 2020).
No artigo Bolsonaro Presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise
brasileira, Ronaldo de Almeida (2019), da Unicamp, analisa a articulação entre
evangélicos e conservadorismo na crise brasileira. Ele apresenta uma tabela com
números de distribuição do eleitorado brasileiro por tipo de religião, com dados de
uma pesquisa do Data Folha, divulgada em 25 de outubro de 2018. De acordo com
77

ela, o número de católicos que votaram em Bolsonaro ficou em 29.795.232,


enquanto 29.630.786 votaram no candidato da oposição (PT), Fernando Haddad.
Bolsonaro saiu na frente na comparação pela diferença de 164.446 votos. No caso
dos evangélicos que votaram em Bolsonaro, o número foi de 21.595.284, enquanto
o número dos que votaram em Haddad, ficou em 10.042.504 – ou seja, dois terços
dos evangélicos votaram em Bolsonaro. Para Almeida, impressiona o equilíbrio na
religião católica em números absolutos. A defesa do conservadorismo durante toda
a campanha política explica muito do apoio que ele recebeu de movimentos
religiosos, como o catolicismo (FERRAZ; BARROS, 2021). De acordo com o artigo,
ainda, cabe ressaltar que um terço dos evangélicos votou em Fernando Haddad, o
que revela um universo religioso com diversidade interna, apesar de existirem
vetores predominantes.

Tendo em vista a média geral dos candidatos, o universo católico


representou uma leve contracorrente da opinião mais generalizada pró-
Bolsonaro, mesmo tendo votado mais nele. O catolicismo ainda é, apesar
do declínio contínuo, o grande mediador cultural deste país. Entretanto,
quem fez, de fato, a diferença a favor de Bolsonaro em números absolutos
foram os evangélicos. Mobilizados pelas pautas dos costumes, pelo medo
da ameaça comunista e pelo apelo à honestidade das pessoas de bem,
muitos evangélicos votaram nele. Outras razões também estavam em jogo
e eram do interesse mais amplo da população: a crise econômica, a
demanda por um ‘novo’ e uma ‘nova política’, o antipetismo cujas raízes
antecedem a crise e a insegurança diante da crescente violência são alguns
exemplos. No entanto, a tabela sugere que se configurou em Bolsonaro um
‘voto evangélico’, qual seja: aquele mobilizado em torno de identidades,
interesses, atores, pautas em congregações de fiéis-eleitores. [...]
A candidatura de Haddad mobilizou o discurso pela democracia ante a
ameaça de um governo de militares; a defesa dos Direitos humanos e das
diferenças; a menor desigualdade social; a importância do Estado para
aquecer a economia e oferecer proteção social; entre outros. Porém, a
articulação dessas correntes de opinião, sobretudo pelo passivo criminal
dos seus representantes políticos, foi derrotada pelo voto e Bolsonaro
tornou-se presidente do Brasil (ALMEIDA, 2019, p. 206).

Um estudo do demógrafo José Eustáquio Alves, professor aposentado da


Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE mostrou que o número de
brasileiros adeptos da religião evangélica cresce, em média, 0,8% ao ano desde
2010, enquanto a quantidade de católicos diminui 1,2% no mesmo período. Segundo
a análise, a progressão geométrica com base nos dados indica que “a população
que se declara evangélica deve ultrapassar, pela primeira vez o total de católicos no
país a partir de 2032, quando o número absoluto de seguidores de cada uma das
duas religiões deve ficar em torno de 90 milhões” (ZYLBERKAN, 2020, online). Os
78

últimos dados oficiais apontam que hoje existem, aproximadamente, 22 milhões de


evangélicos (22% da população) contra 125 milhões de adeptos do catolicismo
(64%). De acordo com José Eustáquio, a alteração mais emblemática no quadro
religioso do Brasil deve ser confirmada em 2022, quando os católicos podem passar
a representar, pela primeira vez na história do Brasil, menos de 50% da população.
De 2000 a 2010, o número de evangélicos no Brasil já havia aumentado 61%, de
acordo com o IBGE. Em 2000, cerca de 26,2 milhões se disseram evangélicos, ou
15,4% da população. Em 2010, eles passaram a ser 42,3 milhões, ou 22,2% dos
brasileiros (ZYLBERKAN, 2020).

Conforme os Censos Demográficos do IBGE, os evangélicos perfaziam


apenas 2,6% da população brasileira na década de 1940. Avançaram para
3,4% em 1950, 4% em 1960, 5,2% em 1970, 6,6% em 1980, 9% em 1991 e
15,4% em 2000, ano em que somava 26.184.941 de pessoas. O aumento
de 6,4 pontos percentuais e a taxa de crescimento médio anual de 7,9% do
conjunto dos evangélicos entre 1991 e 2000 (taxa superior às obtidas nas
décadas anteriores) indicam que a expansão evangélica se acelerou ainda
mais no último decênio do século XX. Os evangélicos estão distribuídos
desigualmente pelas regiões brasileiras. O Nordeste, com apenas 10,4% de
evangélicos, continua sendo o principal reduto católico e, por isso, a região
de mais difícil penetração protestante, enquanto o Norte e o Centro-Oeste,
com 18,3% e 19,1%, respectivamente, constituem as regiões em que esses
religiosos mais se expandem. Apesar de reproduzir a média brasileira, o
Sul, onde se concentra o luteranismo, tem apresentado os mais baixos
índices de crescimento evangélico, sendo que em alguns estados ocorre
perda relativa de crentes na população. O Sudeste, com 17,7%, mantém-se
como um dos mais importantes polos da expansão evangélica (MARIANO,
2004, p. 121).

Em 1991, o percentual de evangélicos era de 9% e, em 1980, de 6,6%”


(NÚMERO..., 2012). Para José Eustáquio Alves, a ampliação da presença de
evangélicos no Congresso, é o reflexo mais direto deste fenômeno no Brasil. Uma
reportagem de setembro de 2020 no portal Congresso em Foco expõe que a
bancada evangélica no Congresso Nacional está cada vez mais numerosa e, com
isso, ocupando mais poder e cargos relevantes para a definição de políticas públicas
que afetam toda a sociedade. “Em 1994, eram 21 deputados federais evangélicos,
hoje já são 105 deputados e 15 senadores, o que equivale a 20% de todo o
Congresso”, diz a matéria (VEJA..., 2020, online). No mesmo mês, o portal divulgou,
ainda, uma reportagem que revela o fato de dez igrejas evangélicas deverem R$
132 milhões os cofres públicos da União, segundo a Fazenda Nacional. “A maior
parte dos débitos devidos pelas organizações religiosas estão ligadas a contribuição
79

previdenciária – tributo do qual passam a ser definitivamente isentas após a sanção


da lei 14.057”, lembra o texto (VEJA..., 2020, online).
Magali do Nascimento Cunha, jornalista, doutora em ciências da comunicação
e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), em artigo veiculado na
Carta Capital, lembra que, “segundo os dados do IBGE, boa parte dos evangélicos
vive em áreas urbanas e periféricas e em grande medida entre a população pobre e
de baixa renda” (CARTA CAPITAL, 2018). Para ela, nesse contexto,
independentemente de religião, está o sofrimento consequente das ações violentas
de facções do crime organizado, das milícias e das polícias e as propostas
imediatistas e vingativas da campanha de Bolsonaro para colocar fim à violência
urbana encontraram espaço entre essa população sofrida. A defesa da moralidade
sexual, a condenação da homossexualidade, a defesa do conservadorismo, das
tradições e a busca pela dominação feminina, por exemplo, fora, outras pautas que
seduziram boa parte do eleitorado brasileiro.

Este aspecto está relacionado a outro muito fortemente presente no


imaginário evangélico, o combate a inimigos. A teologia de um Deus
guerreiro e belicoso, o Senhor dos Exércitos, sempre esteve presente na
formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros compondo o seu
imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem
combatidos. Exércitos precisam de inimigos. Historicamente a Igreja
Católica Romana sempre foi identificada como tal e combatida no campo
simbólico e também no físico-geográfico. Da mesma forma, as religiões
afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente no imaginário
dos grupos pentecostais. O comunismo e seus derivativos são outra forte
expressão inimiga desde os anos 1940, com altos e baixos na escala
imaginária.
Desde 2010, quando emergiu intensa oposição de líderes evangélicos à
candidatura de Dilma Rousseff, muito por conta das pautas progressistas
que ela defendia e que integravam a terceira versão do Plano Nacional de
Direitos Humanos, aprovado em 2009, estava atualizado o grande inimigo a
ser combatido: cidadãos, grupos e partidos defensores da justiça de gênero,
considerados ameaças à família e à moralidade sexual evangélica. Somam-
se a este elemento os quase 30 anos de cultura gospel, construída via
tríade música, mercado e entretenimento, disseminada pelas mídias
religiosas e seculares, que tem como uma de suas âncoras teológicas e
doutrinárias a “guerra espiritual”.

A Agência Pública divulgou outro levantamento em 2019 mostrando que,


baseado em dados que teve acesso por meio da Lei de Acesso à Informação, 1.283
organizações religiosas devem R$ 460 milhões à Receita Federal. Desse total, 23 de
igrejas somam dívidas de mais de R$ 1 milhão cada. Mesmo assim, a arrecadação
80

dessas entidades alcançou R$ 674 milhões em 2018, crescendo, em dez anos,


cerca de 40% (FONSECA, 2019).

A maior devedora entre as entidades religiosas ativas é a Associação das


Famílias para Unificação e Paz Mundial Brasil, ligada à Igreja da Unificação
do reverendo sul-coreano Sun Myung-Moon, morto em 2012. A associação
cristã deve R$ 99,2 milhões à União, em débitos não especificados. A
segunda da lista é a Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada em 1998
pelo apóstolo Valdomiro Santiago. O CNPJ da igreja é ligado a R$ 91,4
milhões em débitos tributários, sendo que R$ 55,5 milhões deste total diz
sobre pendências relativas à contribuição previdenciária.
A igreja de Santiago ainda consta como irregular em outras obrigações
enquanto empresa: a Mundial deve, segundo a PGFN, R$ 5,9 milhões em
FGTS não recolhidos, R$ 4,2 milhões em multas trabalhistas não pagas, e
R$ 25,7 milhões em débitos tributários não especificados. O top 10 de
desfalque aos cofres públicos conta também com a Igreja Internacional da
Graça de Deus (R$ 37,8 milhões), Associação Vitória em Cristo (R$ 35,9
milhões), Igreja Renascer em Cristo (R$ 33,4 milhões), Centro Islâmico
Brasileiro (R$32,7 milhões), Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de
São Benedito dos Homens Pretos (R$ 18 milhões), Mosteiro de São Bento
da Bahia (R$ 13,4 milhões) e Igreja da Lagoinha (R$ 10,1 milhões). O
Centro Islâmico é o único devedor na lista dos 100 maiores devedores a
não pertencer à matriz cristã. A soma de toda a dívida de atividades
religiosas com a Fazenda Nacional é de R$ 1,5 bilhão – apesar de mais de
8.800 empresas estarem listadas, apenas 39 devem mais de R$ 1 milhão. A
lista inclui também atividades desenvolvidas por estas religiões, tais como
serviços educacionais, de publicação de livros e gerenciamento de hospitais
(MENDES, 2019, online).

No Brasil, diferentemente da maioria das pessoas físicas ou jurídicas, as


igrejas contam com imunidade tributária. O benefício foi garantido como direito pela
Constituição de 1988, que proíbe a União, Estados e Municípios de cobrarem
qualquer imposto que incida sobre patrimônio, renda ou serviços prestados por
entidades religiosas. Em alguns países europeus e nos Estados Unidos, políticas
similares também existem. Com os serviços que ofertam à população, como missas
e cultos, por exemplo, as igrejas arrecadam expressivos valores financeiros por meio
do dízimo e contribuições, que viabilizam a construção de templos e a expansão das
igrejas em território nacional e até internacional (CORBI; SANCHES, 2021). Hoje,
apesar de não estarem sujeitas ao pagamento de impostos, as igrejas ainda
precisam pagar contribuições como a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) e a contribuição previdenciária. Algumas instituições religiosas tentam driblar
a legislação e são autuadas pela Receita Federal. Elas distribuírem parte da
arrecadação entre os principais dirigentes e lideranças sem pagar os tributos
obrigatórios (PROJETO..., 2020).
81

As dívidas das igrejas — que podem somar até R$ 1 bilhão — são resultado
de multas (e encargos) aplicadas pela Receita Federal após fiscalizações
mostrarem que algumas igrejas haviam feito pagamentos a pastores e
líderes sem recolher os tributos devidos, o que foi considerado como
manobras para distribuir lucros, tecnicamente chamada de distribuição
disfarçada de lucros o que evitaria o pagamento do tributo (MORI, 2020,
online).

Em setembro de 2020, foi aprovado pelo Congresso Nacional um projeto de


lei (1581/2020), que pode anular todas as dívidas tributárias das igrejas com a
Receita Federal. O PL regulariza descontos em pagamentos de precatórios, que são
os valores devidos depois da sentença definitiva na Justiça. O texto ainda aguarda a
sanção do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o Estado de São Paulo, o valor
que seria “perdoado” caso o projeto de lei fosse aprovado, seria de quase R$ 1
bilhão (TOMAZZELI, 2020). A medida vinha sendo discutida na bancada evangélica
desde 2020 e foi incluída no projeto de lei pelo deputado federal David Soares, do
Democratas de São Paulo (DEM-SP), filho do pastor R.R. Soares, líder da igreja
evangélica Internacional da Graça de Deus — que tem uma dívida tributária de pelo
menos R$ 37 milhões (MORI, 2020).
Uma reportagem veiculada na Agência Pública em junho de 2020 mostrou
que o Governo Bolsonaro gastou mais de R$ 30 milhões em rádios e TVs de
pastores que o apoiam (FONSECA; CORREIA, 2020). O valor, segundo a matéria, é
equivalente a 10% de todos os gastos da Secretaria de Comunicação do Governo
Federal. O pagamento teria sido feito com verba pública de ações publicitárias entre
janeiro de 2019 e maio de 2020. A reportagem revelou que a maior parte dos
recursos foi para campanhas na rádio e TV Record, controlada pelo bispo Edir
Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. Foram mais de R$ 28 milhões pagos
para financiar campanhas publicitárias veiculadas na rádio e na TV da emissora e na
Record News. “Desse total, R$ 25,1 milhões foram pagos diretamente aos veículos
para custear os anúncios publicitários”, apontou a reportagem (FONSECA;
CORREIA, 2020, online). “A Secom pagou também cerca de R$ 30 mil em
campanhas em emissoras afiliadas à Record. A TV Pajuçara, afiliada em Alagoas,
recebeu R$ 12 mil”. A maior parte da verba pública gasta na Record, também
segundo a reportagem, foi para promover a reforma da Previdência (FONSECA;
CORREIA, 2020, online).
82

Figura 1 – Gastos da Secom em emissoras de pastores da “comitiva com Bolsonaro”

Fonte: Fonseca e Correia (2020).


83

Ainda de acordo com a reportagem:

O governo contratou cerca de R$ 11 milhões em ações apenas na emissora


de Edir Macedo, cerca de 15% de tudo que a Secom gastou para promover
a reforma. A campanha é a mais cara já realizada desde a posse de
Bolsonaro, com mais de R$ 70 milhões contratados ao todo. Além de
promover as mudanças na aposentadoria dos brasileiros, a Secom usou
verba pública na Record para veicular campanhas de prestação de contas
do governo, sobre segurança pública, no combate à violência contra a
mulher e ações para divulgar uma imagem favorável do governo federal,
como a ‘Agenda Positiva’. A reportagem encontrou mais mais de R$ 700 mil
gastos pela Secom para veicular a campanha na Record, cerca de 12% de
tudo que a secretaria já contratou para a ação, feita para mostrar ‘como
cada ato do governo beneficia diretamente o cidadão e faz mudar seu dia a
dia para melhor’. A Pública havia revelado que o governo já gastou R$ 14,5
milhões com a Agenda Positiva e manteve gastos milionários mesmo
durante a pandemia do novo coronavírus. A reportagem encontrou R$ 510
mil gastos na campanha “Dia da Amazônia” apenas em veiculações na
Record. A ação foi anunciada em setembro de 2019, após críticas
internacionais sobre queimadas na floresta amazônica. Segundo o governo,
a campanha, que já custa mais de R$ 3,1 milhões, serve para reafirmar
‘soberania do Brasil em relação ao território’ e ‘mostrar como o Brasil
defende e conserva o bioma’ (FONSECA; CORREIA, 2020, online).

Na eleição de 2016 nos EUA, segundo o site Five Thirty Eight, 81% das
pessoas que se definem como evangélicas votaram em Trump, contra 16% em
Hillary. Trump venceu em todos os Estados do chamado Cinturão Bíblico (Bible Belt)
– Carolina do Sul, Alabama, Geórgia, Mississipi, Tennessee, Kentucky, Arkansas e
na decisiva Carolina do Norte. O conservadorismo, como no caso de Bolsonaro,
amplamente evidenciado em sua campanha política, foi um aspecto determinante
para o resultado.

Os evangélicos brancos formam o grupo religioso que mais se identifica


com o Partido Republicano, e 76% deles dizem que são republicanos ou
simpatizam com o partido, segundo uma pesquisa conduzida em 2014.
Enquanto grupo, os evangélicos brancos compõem 1/5 de todos os eleitores
registrados e cerca de 1/3 de todos os eleitores que se identificam como
republicanos ou simpatizam com a sigla. O apoio a Trump dado pelos
evangélicos pode ser explicado, pelo menos em parte, pela profunda
aversão que eles possuem para com a candidata democrata. Segundo uma
pesquisa de opinião feita pelo Post-ABC em outubro, 70% dos evangélicos
brancos tinham uma opinião desfavorável de Hillary Clinton, em
comparação com os 55% do público geral que diz a mesma coisa. Hillary
Clinton simbolizou grande parte daquilo que os evangélicos tendem a se
opor, incluindo a defesa ao direito ao aborto e o feminismo. Como primeira-
dama, ela é associada à perda cristã conservadora nas batalhas culturais
durante a era Bill Clinton (EVANGÉLICOS..., 2016, online, grifo no original).
84

No Brasil, Bolsonaro foi o primeiro presidente cristão com discurso evangélico


pentecostal a chegar ao Palácio do Planalto pelo voto popular. Os presidentes Café
Filho – que era presbiteriano – e Ernesto Geisel – que era luterano – chegaram à
Presidência da República por via indireta (O VOTO..., 2018). O filósofo Paulo
Ghiraldelli lembra no livro A filosofia explica Bolsonaro (2019, p. 78) que “são 42
milhões de evangélicos no Brasil. A votação de Bolsonaro foi de 57 milhões”. Mesmo
o conservadorismo sendo presente no Brasil desde a sua formação como nação,
com fortíssimas influências católicas desde a origem do país, o crescimento de uma
forte onda conservadora foi ainda mais expressivo com a ascensão evangélica no
Brasil, como aponta Ghiraldelli (2019).

A direita ligada a tais movimentos pode, quando quiser, eleger o presidente


da República. A onda conservadora de costumes no Brasil tem a ver com o
crescimento dessas igrejas. Bolsonaro é, em grande parte, a expressão
política de tais igrejas, e colabora para a disseminação do pensamento
mágico e infantil que tais pastores disseminam entre seus fiéis. O atraso
cultural desse movimento é um líquido com o qual Bolsonaro adora banhar-
se (GHIRALDELLI, 2019, p. 78).

Conservadorismo é um conceito associado a processos e contextos


históricos específicos, todavia, o termo tornou‐se comum nos debates
públicos brasileiro e mundial contemporâneos, sendo constantemente
acionado nos noticiários de televisão, na imprensa escrita e nas redes
sociais digitais com uma profusão de sentidos razoavelmente elásticos; por
vezes, é identificado de modo excessivo e impreciso com fascistas, se na
política, ou com fundamentalistas, quando na religião. Parafraseando
Geertz, quando escreveu que no mundo contemporâneo “há coisas demais
a que se quer dar o nome de ‘religiosas’” (Geertz, 2001, p. 151), muitas
coisas são chamadas de conservadoras ou arroladas enquanto tais em um
mesmo grande movimento (ALMEIDA, 2019, p. 186).

Outro aspecto do cenário brasileiro que chama atenção é o lugar que as


chamadas “milícias evangélicas” passaram a ocupar. No artigo Expansão
Pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal, o autor Ricardo Mariano (2004)
sugere que o amplo crescimento dos evangélicos no Brasil ao longo das últimas
décadas indica que

[...] as igrejas pentecostais souberam aproveitar e explorar eficientemente,


em benefício próprio, os contextos socioeconômico, cultural, político e
religioso do último quarto de século no Brasil [...] A agudização das crises
social e econômica, o aumento do desemprego, o recrudescimento da
violência e da criminalidade, o enfraquecimento da Igreja Católica, a
liberdade e o pluralismo religiosos, a abertura política e a redemocratização
do Brasil, a rápida difusão dos meios de comunicação de massa”, foram
elementos importantes para a construção desse cenário (MARIANO, 2004,
p. 122).
85

Christina Vital da Cunha é professora da Universidade Federal Fluminense e,


há duas décadas, estuda a parceria entre tráfico, milícias e igrejas pentecostais na
periferia do Rio de Janeiro. Em uma entrevista à revista Carta Capital, ela explicou por
que essas alianças representam uma “forma de demonstração de força para além do
conteúdo espiritual, que emanam dessas aproximações criminosas nas redes
religiosas” (CUNHA, 2021a, online).

O que houve foi um crescimento paulatino de evangélicos, principalmente


em favelas e periferias no Brasil. Os traficantes, pela influência direta de
familiares, por suas passagens em presídios, aderiram às igrejas. Com os
milicianos se observa um fenômeno similar. Grande parte é nascida e criada
em localidades que têm seus valores morais fincados nas doutrinas
pentecostais. Todos estão envoltos nesse mesmo universo. Mas a
experiência de ser ou se identificar com um universo religioso e exercer
atividade criminosa não é novo nem exclusivo em relação aos evangélicos.
Há, inclusive, uma questão sociológica. Muitos tomam esse grupo religioso
com uma moralidade superior. Os evangélicos apresentam-se como
“santos”, biblicamente separados do mundo. Com essa interface política,
midiática e posteriormente com o crime, ficou em suspenso, no entanto,
muito daquilo que se projetava em relação ao grupo religioso. (CUNHA,
2021a, online).

Para a pesquisadora, o fato de o Estado estar presente em realidades


periféricas de modo bastante precário, em alguns casos ausente, reforça
sentimentos de desconfiança na sociedade, o que, segundo ela, é um elemento
fortemente corrosivo da vida social. “Estado esse que também está à frente da
gestão do sistema carcerário, mas que, mais uma vez, deixa lacunas que, na
prática, só são preenchidas por ações como as das igrejas evangélicas” (CUNHA,
2021b, online, grifo no original).
Christina Vital da Cunha, no artigo “Traficantes Evangélicos”: novas formas de
expressão do sagrado em favelas cariocas, destaca que ocorreu um esvaziamento
político, social e religioso das lideranças afro nas favelas cariocas e, com isso, os
traficantes deixaram, em sua maioria, de frequentar os terreiros e adotaram a
proteção do “Deus dos exércitos” anunciado pelos evangélicos (CUNHA, 2008).
Segundo ela, a valorização pentecostal da “guerra contra o inimigo” e promoção da
Teologia da Prosperidade, que é a doutrina religiosa cristã que defende que a
bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos de fé, estão em plena
consonância com o triângulo de interesses dos traficantes: guerra, inimigo, dinheiro
(CUNHA, 2018, p. 43).
86

De acordo com uma pesquisa feita pelo Grupo de Estudos dos Novos
Ilegalismos, datalab Fogo Cruzado; Núcleo de Estudos da Violência da USP;
plataforma digital Pista News e o Disque-Denúncia considerando dados de 2019,
as milícias cariocas já controlam 25,5% dos bairros do Rio de Janeiro, em um total
de 57,5% do território da cidade. As três principais facções criminosas do tráfico de
drogas – Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos – detêm,
juntas, o domínio de 34,2% dos bairros e 15,4% do território. Ao todo, 3,7 milhões de
pessoas vivem em local controlado por algum grupo criminoso, ou o equivalente a
57,1% da população. Os pesquisadores envolvidos no estudo disseram se
impressionar com o rápido crescimento dos grupos milicianos, que só começaram a
se articular no início dos anos 2000 (REBELLO, 2020).
José Cláudio Souza Alves, sociólogo, ex-pró-reitor de Extensão da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro Dos Barões
ao Extermínio – A história de violência na baixada fluminense, em uma entrevista
que forneceu ao portal Agência Pública, defende que, no Rio de Janeiro, por
exemplo, a milícia não é um poder paralelo: é o Estado. “Cinco décadas de grupo de
extermínio resultaram em 70% de votação em Bolsonaro na Baixada”, diz ele, ao se
referir à Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro (ALVES, 2019, online). Uma
reportagem de junho de 2021 no portal EXTRA mostrou que “o perfil conservador
das 13 cidades da Baixada Fluminense se transformou em um território fértil para o
crescimento do bolsonarismo e o apoio de políticos eleitos pela região” (REMIGIO,
2021, online). Segundo a matéria, “do total de municípios, pelo menos 11 são
governados por prefeitos que defendem o presidente Jair Bolsonaro ou seguem
alinhados com o governo federal” (REMIGIO, 2021, online). Já outra entrevista – no
portal DW com o antropólogo Juliano Spyer (2020) – outro aspecto essencial é
reforçado. Para ele, as igrejas evangélicas são um “estado de bem-estar social
informal”:

Essas igrejas produzem um serviço que o Estado não dá conta ou para os


quais a sociedade brasileira não se mobiliza. [...] Há uma rede de ajuda
mútua: quando o marido fica desempregado e se arruma emprego, o filho
se envolve com drogas e encontra um lugar para ser tratado, o marido que
batia na mulher encontra caminhos para negociar uma harmonia em casa. É
um estado de bem-estar social informal (SPYER, 2020, online).
87

A pesquisa “Viver em São Paulo – qualidade de vida”, realizada pelo Ibope a


pedido da Rede Nossa São Paulo, e divulgada em janeiro de 2019, mostrou que,
para grande parte da população que vive nas periferias de São Paulo, por exemplo,
as igrejas são vistas como a instituição que mais contribui para a qualidade de vida
na cidade, por serem locais que oferecem cursos, serviços e atuam onde há
ausência de Estado. A Igreja foi a resposta de 19% dos entrevistados, na frente da
prefeitura de São Paulo, com 17%, e dos meios de comunicação, com 15% (VELOSO,
2019).

3.4 O ARQUÉTIPO DO “SALVADOR DOS RESSENTIDOS”

Outro elemento importante a se considerar na análise dos discursos e


narrativas da política de Bolsonaro é a existência da construção de uma figura
arquetípica do “herói”, que representaria a função de um “messias salvador da
pátria” e “protetor dos ressentidos” na imagem de Bolsonaro. Para isso, é importante
recordar de Carl Gustav Jung, o psiquiatra suíço nascido em 1875 e fundador da
psicologia analítica. Foi Jung quem desenvolveu os conceitos das personalidades
extrovertidas e introvertidas, arquétipo e inconsciente coletivo (FRAZÃO, 2019). No
que se refere ao conceito do arquétipo (ABDO, 2017), segundo Jung, todas as
pessoas têm figuras fixadas em seus imaginários desde a infância. Essas imagens
estariam presentes em mitos, fábulas, lendas, histórias e seriam formadas,
independentemente do país, cultura, religião ou costumes de uma sociedade, por
meio da repetição progressivas de experiências da vida humana, e que ficam
enraizadas no inconsciente coletivo de todos. Os arquétipos nasceriam, portanto, na
renovação de vivências experimentadas ao longo de várias gerações.
Jung (2000) defende que existem arquétipos em todas as pessoas, alguns
com capacidade para se manifestar mais ou menos nas diferentes personalidades.
Eles seriam mecanismos utilizados para satisfazer necessidades humanas, como
segurança, realização, pertencimento, independência e estabilidade, por exemplo.
Em suas teorias, Jung afirma que a psique humana é munida de um consciente
individual, onde reside o ego (o centro da consciência) e um inconsciente pessoal, o
Id (no qual ficam conteúdos reprimidos pelo ego). A integralidade entre ego e Id
seria o chamado Self. Além disso, haveria também o chamado “inconsciente
coletivo”, que é uma estrutura compartilhada de maneira universal entre todos os
88

seres humanos e deve sua existência à hereditariedade. Ao falar do inconsciente


pessoal, o Id, que acaba sendo bastante reprimido na existência humana, o
psiquiatra classificou como “Sombra’ um dos principais arquétipos desse
inconsciente. Ela representaria o lado “sombrio”, não positivo, de todas as
personalidades.
No artigo O Uso do Arquétipo do Herói por Jair Bolsonaro na Campanha
Presidencial de 2018 e Sua Influência ao Público Eleitor, os autores Maria Eduarda
Petek de Figueiredo e Juremir Machado da Silva (2020), da Pontifícia Universidade
Católica de Porto Alegre (PUC-RS), por meio da análise do discurso da campanha
do então candidato à presidência, discorrem sobre as “ferramentas psico-discursivas
possivelmente exploradas, de forma inconsciente ou consciente, na construção da
narrativa eleitoral de Bolsonaro” (FIGUEIREDO; SILVA, 2020, p. 1). Eles explicam
que, para fazer isso, utilizaram como metodologia de pesquisa a “Abordagem
Discurso Mitológica (DMA), apresentada pelo professor e pesquisador britânico
Darren Kelsey (2017) no livro Media and Affective Mythologies: Discourse,
Archetypes and Ideology in Contemporary Politics” (FIGUEIREDO; SILVA, 2020, p.
2). De acordo com os autores, a metodologia “[...] tem por base as teorias sobre
mitologia, arquétipo e inconsciente coletivo segundo o conceito trabalhado por Carl
Jung (1976, 2000), e explorado posteriormente por Joseph Campbell (1949, 1990)”
(FIGUEIREDO; SILVA, 2020, p. 2). No artigo, eles analisam um dos vídeos
publicados por Bolsonaro em sua página do Facebook no dia 16 de setembro de
2018 (EM ‘LIVE’..., 2018), depois de ter sofrido o que foi apontado como um
“atentado” com uma faca, dias antes, em Juiz de Fora (MG), durante um comício de
sua campanha eleitoral. O episódio foi apontado como responsável por “mudar os
rumos da história” da campanha de Bolsonaro. Márcio Gonçalves (2018), professor
de marketing do Ibmec-RJ, disse em uma entrevista ao Estadão:

Nessa hora, quem mais contribuiu foram os opositores. Eles que, quanto
mais mencionavam Bolsonaro, mais volume de informação era gerado para
movimentar os motores de busca na internet. Esqueceram que Bolsonaro é
fruto das estratégias de marketing mais obscuras da internet (GONÇALVES,
2018, online).

Em setembro de 2021, um documentário da TV 247 apontou o episódio como


uma estratégia mentirosa usada por Bolsonaro para fugir dos debates à presidência
(DOCUMENTÁRIO..., 2021). Depois de receber alta do Hospital Albert Einstein, em
89

29 de setembro de 2018, Bolsonaro não participou de quatro debates marcados para


o segundo turno, em outubro daquele ano. Mas fez sete transmissões ao vivo nas
redes sociais, deu nove entrevistas à imprensa, gravou programas eleitorais e
participou de eventos com apoiadores no Rio de Janeiro (BOLSONARO..., 2018).

Este conteúdo é visto como o mais carregado de características


arquetípicas do herói, tendo em vista sua carga emocional, e a extensão da
narrativa, que é a mais longa entre os vídeos publicados na plataforma no
período da disputa pela presidência.
Analisando a live, o próprio atentado, inserido na narrativa de forma indireta
e ambiental, é uma etapa da jornada do herói, podendo ser comparada ao
momento do ‘ventre da baleia’, o qual fala de uma morte-e-ressurreição.
Campbell (1949) inclui neste tema inclusive uma ligação com a
automutilação como forma de superação do ego pelo bem de todos, como
na crucificação de Jesus Cristo, pelo perdão dos pecados da humanidade,
ou o esquartejamento de Osíris, para o nascimento de um novo mundo. A
live começa com Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, atualizando os viwers do
estado de saúde do pai. Ao enquadrar o candidato para que possa
conversar com seus eleitores, o cenário é dramático. Bolsonaro está
deitado, usando uma sonda nasogástrica, com o rosto pálido e cansado. A
situação se opõe a sua imagem de homem vigoroso e de falas energéticas.
Ele é colocado como homem comum e atingível, aproximando-o do povo e
distanciando-o da imagem de entidade divina ou política. Essa primeira
situação é um importante mecanismo do discurso populista, no caso de
Bolsonaro, um discurso populista de direita. Em questões mitológicas,
Campbell (1949) destaca também a importância dessa aproximação ao
público, ou ao ‘povo’, adaptada aos anseios do homem ao longo de sua
modernização, que já não precisa de heróis divinos, mas um modelo vivo a
ser contemplado, uma lenda viva. O seu sofrimento reforça o auto sacrifício
para salvar o ‘povo’. Em seu objetivo de defender os interesses e a
integridade desse conjunto de pessoas que o apoiam e se sentem
representadas por ele, Bolsonaro coloca seus interesses e integridade
pessoal de lado. Essa é uma tarefa essencial para que o personagem
central de um monomito atinja o seu valor como herói. O tema é recorrente
em seus pronunciamentos. No vídeo analisado, essa percepção é reforçada
ao explicar seu procedimento de emergência, o qual ‘durou
aproximadamente três horas, onde dois litros de sangue foram drenados’.
Ele segue sua narrativa, criando a ameaçadora figura de Lula como um
carcerário revoltado, pronto para executar uma forma de golpe, discurso
que evoca o medo nos eleitores. A criação do ‘inimigo nacional’, como se
refere a Lula, projetando nele a sombra coletiva da sociedade de
condenação da corrupção, é uma importante ferramenta do discurso
populista, reforçada por, e que no mesmo momento também reforça, a
narrativa mitológica do herói. A missão do salvador é muitas vezes
‘destronar’ um líder que já foi libertador e agora é tirano. O herói vem trazer
mudança para o mundo cristalizado pelos caprichos e interesses pessoais
daquele que acredita ser sua a força da qual dispõe, e não do ser divino
responsável pelo destino.
No discurso de Bolsonaro, o ‘outro’ é considerado a classe política que mina
os direitos do ‘povo’, os políticos corruptos, representados principalmente
pelo PT. ‘Eles’, além de roubarem, protegem ‘delinquentes’, ‘criminosos’ e
‘estupradores’ pela sua política de esquerda, e por isso, o ‘povo’ de bem
que apoia Bolsonaro é aquele que se sente ameaçado pela insegurança do
país e que se sente extorquidos pela classe política. São famílias de cultura
cristã que abominam certos traços culturais representados pelas minorias
de esquerda; e/ou empresários que se sentem castrados pelo excesso de
90

burocracia e taxações, enquanto os políticos gozam do enriquecimento


corrupto; pais de classe média e média alta que temem pela segurança de
seus filhos nas ruas, ameaçados pelos ‘delinquentes protegidos pela
esquerda’. Esse heterogêneo ‘inimigo nacional’ é do que Bolsonaro tem a
missão heroica de proteger o ‘seu povo’ de forma messiânica, e que foi
centrado na figura da esquerda política (FIGUEIREDO; SILVA, 2020, p. 8-
10).

Santina Rodrigues (2021), psicóloga clínica e mestre pelo Instituto de


Psicologia da USP, em uma entrevista publicada no portal Estadão, faz uma relação
entre a teoria de Jung, o conceito de “sombra” e o atual cenário político brasileiro:

O inconsciente brasileiro é um inconsciente que guarda a marca da


violência. Não é à toa que elegemos Jair Bolsonaro, que é de uma violência
escandalosa. Isso, em termos junguianos, diríamos que é a ‘sombra’ do
Brasil, a ‘sombra’ coletiva, algo que estava recalcado e vem à tona
(RODRIGUES, 2021, online).

Santina Rodrigues (2021) também comenta que alguns aspectos inevitáveis à


nossa cultura passam pela violência de nossa herança e origem, e que produz
sintomas, como o racismo e as violências contra minorias e povos tradicionais e
originários, por exemplo. A psicóloga recorda que “[...] tudo aquilo que é temido
demais se torna reprimido. A força com a qual o recalcado volta é sempre marcada
pela violência” (RODRIGUES, 2021, online).
Em Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt (1989, p. 401) lembra na obra
que, “[...] as massas são obcecadas pelo desejo de fugirem da realidade porque,
privadas de um lugar no mundo, já não podem suportar os aspectos acidentais e
incompreensíveis dessa situação”. Ela explica que, fugindo à realidade, essas
massas “[...] pronunciam um veredicto contra um mundo no qual são forçadas a viver
e onde não podem existir” (ARENDT, 1989, p. 401).
Diante dos elementos expostos até aqui, portanto, não seria prematuro
afirmar que a propagação de notícias falsas (CERIONI, 2018) – tão decisivas para o
resultado da construção do atual cenário político federal brasileiro (GRAGNANI,
2018) – encontraram terreno fértil para crescer e se disseminar com alta velocidade
e intensidade no Brasil. O ressentimento da população com a história política,
econômica e social do país, e o medo da perda do status quo, foram fenômenos que
registram crescimento significativo não só no país, como também em outras nações
do mundo, especialmente nos últimos anos (GALARRAGA GORTÁZAR; ALESSI,
2018), conforme mencionado no primeiro capítulo. A descrença da sociedade
91

brasileira com o cenário político, o conservadorismo, um eleitorado mal informado –


resultado da falta histórica de estrutura e qualidade na educação formal pública – a
democratização do acesso à tecnologia aproveitada pelo brasileiro nos últimos anos,
a “evangelização” da política nacional, que começou há, pelo menos, uma década
com a ascensão das religiões neopentecostais no Brasil, o crescimento dos
movimentos de extrema-direita a nível global e a construção de uma narrativa
política que criou a figura arquetípica do “herói”, que poderia representar a função de
um “messias salvador da pátria” na imagem de Bolsonaro, foram elementos
fundamentais para a fragilização das bases democráticas no país, sob a égide da
“proteção aos ressentidos”. Uma combinação fortemente nociva, que foi capaz de
viabilizar o que ainda será comprovado pela história como maior desmonte de
Direitos Humanos e políticas públicas sociais e ambientais da história do Brasil.
Como resultado, a sociedade experimenta um enfraquecimento ainda maior de
práticas e condutas democráticas que deveriam ser protegidas e defendidas por
todas as pessoas para que fosse possível fornecer às atuais e às futuras gerações
condições de vida digna e saudável na Terra.
No próximo capítulo, será feita uma breve rememoração histórica sobre como
o meio ambiente é tratado no Brasil desde a colonização do país e de que modo a
constituição de 1988, e seu artigo 225 – que se refere ao direito de todo brasileiro
poder contar com um meio ambiente ecologicamente equilibrado – ainda é
fortemente desrespeitada. Além disso, são fornecidos exemplos claros que indicam
como esse cenário de desrespeito ao patrimônio natural afeta a precariza todas as
formas de vida, especialmente, a humana, muito menos resiliente a fenômenos
climáticos extremos.
92

4 CAPÍTULO 3 – DO PAÍS REFERÊNCIA EM LEGISLAÇÃO AO DESMONTE DAS


POLÍTICAS AMBIENTAIS NO GOVERNO BOLSONARO

No terceiro capítulo, pretende-se apresentar uma breve rememoração


histórica sobre como o meio ambiente é tratado no Brasil desde a colonização do
país que começou em 1500, e lembrar como a Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 225 – que se refere ao direito de todo brasileiro poder contar com um
meio ambiente ecologicamente equilibrado – representou um marco em termos de
conquistas legais relacionadas à proteção do meio ambiente no país, mas que mais
de três décadas depois de sua criação, é fortemente desrespeitada e violada. É
mencionado de que modo o cenário de intenso desmonte ambiental afeta e
precariza especialmente a saúde das atuais, novas e futuras gerações, das
comunidades tradicionais, indígenas e dos públicos mais vulneráveis ou que estejam
fora de padrões definidos historicamente como normativos ou vistos como mais
adequados aos interesses da lógica neoliberal.
Com ele, busca-se refletir como os desmontes das políticas ambientais no
Brasil – estimulados ao longo da história do país, mas fortemente intensificados pela
atual gestão federal – distanciam ainda mais as pessoas do aproveitamento de
direitos fundamentais, constitucionais e universais, gerando consequências e
prejuízos incalculáveis e transgeracionais. Na sequência, nas considerações finais
do presente trabalho, são indicados caminhos – que passam pela ética, pela
moralidade, pelo respeito à toda forma de vida e por princípios da legalidade – que
poderiam ser capazes de alterar esse cenário, que, se não modificado, promete
comprometer drástica e irreversivelmente todas as formas de vida que habitam a
Terra, inclusive e especialmente – por nossa baixa resiliência como a fenômenos
climáticos extremos – a humana.

4.1 UM HISTÓRICO DE DESMONTES E DESTRUIÇÕES QUE SÓ AVANÇA

O Brasil é alvo histórico de ações predatórias contra o meio ambiente e a


biodiversidade desde a época da colonização, a partir de 1500. Na verdade, a ação
predatória do ser humano sobre o meio natural é tão antiga quanto a própria história
da humanidade. Faz muito tempo que os recursos naturais são explorados como
fonte de subsistência. A conquista de territórios – tida historicamente como caminho
93

para a aquisição de poder político e econômico – foi um dos principais fatores para a
degradação dos recursos naturais no mundo (BORGES; REZENDE; PEREIRA,
2009). Veio, no entanto, acompanhada de queimadas, desmatamento, usos
extensivos do solo e explorações desenfreadas de modo geral. Ocorre que a
exploração da natureza não só precariza, como é capaz de extinguir todas as
condições mínimas para a existência da vida na Terra. Antes disso, as
consequências para todas as espécies, e os efeitos sociais e econômicos serão
gravíssimos, tendendo a afetar antes, e ainda mais fortemente, pessoas em situação
de vulnerabilidade social e minorias, que acabam ficando completamente expostas
aos efeitos causados pelo esgotamento dos recursos naturais.
O relatório Parem de Queimar nossos Direitos, lançado em agosto de 2021
pela Anistia Internacional, revela como a crise climática aprofunda as desigualdades
e viola os Direitos Humanos no mundo (DIRETORIA EXECUTIVA DE DIREITOS
HUMANOS, [s.d.]). Em alguns países, a situação compromete diretamente o direito
à vida, à água potável, moradia, saúde, segurança alimentar, ao trabalho, entre
outros. De acordo com o documento, mais de 20 milhões de pessoas foram
deslocadas internamente em média, a cada ano, apenas entre 2008 e 2019, por
conta de eventos relacionados ao clima, como secas e queimadas. No relatório, a
ONG também reforça a necessidade da redução de emissão de carbono no planeta,
considerada a principal responsável pela elevação da temperatura global. O
levantamento mostra que desde os tempos pré-industriais, a temperatura no globo
subiu cerca de 1,1% e, se essa marca chegar a 1,5%, levaria o mundo a enfrentar
catástrofes naturais ainda mais severas e extremas (UOL, 2021). Enquanto os
países mais ricos, que concentram a metade da população do planeta, são
responsáveis por 86% das emissões mundiais, as nações mais pobres liberam
apenas 14% dos gases poluentes (BBC, 2021). Embora pesquisas revelem que as
mudanças climáticas afetem, no mínimo, 80% do mundo (AFP, 2021), todos os
sistemas e continentes, as nações mais pobres são, e serão sempre, as mais
afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas. As pessoas que vivem na pobreza,
muitas vezes, são forçadas a morar em casas improvisadas, em terras propensas a
inundações, enfrentam deslizamentos de terras tempestades, ficam mais vulneráveis
a incêndios ou contam com pouca ou nenhuma economia para usar em caso de
emergência. Além disso, quando desastres ambientais acontecem, má alimentação,
94

falta de saneamento, ausência de assistência médica e doenças se espalham mais


rapidamente em locais precários (OXFAM, 2019).
A legislação ambiental no Brasil é apontada uma das mais completas e
avançadas do mundo, quando comparada às de outras nações globais. No entanto,
o país é também o que mais desmata no planeta. Segundo a Global Forest Watch, o
Brasil liderou o desmatamento de florestas primárias no globo em 2018. Cerca de 12
milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram só naquele ano. O volume
é equivalente a 30 campos de futebol de florestas devastadas a cada minuto
(ALVES, 2019). Em 2020, o cenário foi ainda pior: o Brasil passou a perder, pelo
menos, 24 árvores por segundo, enquanto os alertas de desmatamento também
explodiam. As informações são do projeto MapBiomas, a rede colaborativa de
especialistas brasileiros que analisa esses alertas e acompanha a evolução do
desmatamento no país.

Entre meados de 2018 e o início de 2021, apenas 5% da área desmatada


teve alguma ação do Ibama (multas ou embargos, por exemplo), um
número que correspondeu a apenas 2% dos avisos de desmatamento em
todo o país. A organização estima ainda que 99% dos desmates feitos
desde 2018 têm indícios ou evidências de ilegalidade, não tem autorização,
estão em áreas protegidas ou desrespeitam o Código Florestal. No ano
passado, o desmatamento cresceu 13,6%, levando a uma perda média
estimada de 3.795 hectares por dia, ou 24 árvores a cada segundo
(OLIVEIRA, 2021, online).

Quando a pandemia causada pela covid-19 desacelerou a atividade produtiva


no mundo a partir de 2019, muito se falou sobre a criação de condições para uma
regeneração do ambiente natural no globo (CLAUDIA, 2021). Em março de 2020,
por exemplo, imagens divulgadas pela Nasa (Agência Espacial Americana),
mostravam uma queda significativa da poluição na China causada pela
desaceleração econômica e pelo declínio da atividade industrial provocada pela
disseminação do Coronavírus. A redução nos níveis de dióxido de nitrogênio ocorreu
primeiro em locais próximos à cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, mas depois
se espalhou por todo o país e por outras nações (BBC, 2020). Entretanto, durante
esse período, o mundo registrou um aumento substancial na perda das florestas
tropicais. A Global Forest Watch também revelou que o ritmo de destruição cresceu
12% em 2020, com uma perda de 4,2 milhões de hectares de floresta primária
tropical. A área seria equivalente ao território dos Países Baixos, que tem pouco
mais de 41 mil quilômetros quadrados. A flexibilização das ações de fiscalização de
95

ilícitos contribuiu para o alcance do índice. “Esse volume de desmatamento teria


sido responsável pela liberação de 2,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono,
um volume de poluição igual àquela emitida em um ano por uma frota de 570
milhões de automóveis, dez vezes maior do que a frota brasileira”, comparou uma
reportagem no portal Global Forest Watch (WEISSE; GOLDMAN, 2021). O
enfraquecimento da fiscalização e as crises sanitária, econômica e política causadas
pela pandemia contribuíram bastante para o cenário.
Em 2020, o Brasil liderou a lista de países com as maiores perdas florestais
em 2020, com alta de 25% em relação a 2019. A maior parte da área de floresta
perdida ocorreu na Amazônia, com a derrubada de 1,5 milhão de hectares de
vegetação nativa só naquele ano. A abertura de novas áreas para a produção
de commodities (bens de consumo mundial), de acordo com a pesquisa, foi a
principal causa da perda de cobertura arbórea na América Latina e no Sudeste
Asiático (CLIMA INFO, 2021). No caso do Brasil, para se ter ideia, o agronegócio
bateu em 2021 recorde de exportações, com receita de U$ 110,7 bilhões até
novembro daquele ano. Foi o melhor resultado do setor, ultrapassando o recorde
anterior, alcançado em 2018, de U$ 101,2 bilhões. Os dados são da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária, a CNA (CAMARGO, 2022). O Brasil é um dos
maiores exportadores do mundo de commodities como soja, minérios, cereais e
carnes. Para a produção desses insumos, por sua vez, indiretamente, também
exporta água, luz solar, qualidade da terra e outros elementos relacionados às boas
condições naturais do país para as produções. A alta dos preços das matérias-
primas no mercado internacional, a escassez de produtos primários em outras
nações e a retomada econômica, que promete ser ainda mais estimulada na medida
em que a pandemia causada pela covid-19 vá sendo controlada no mundo,
aquecem o mercado de venda para o público externo. O faturamento com a venda
dos alimentos para o exterior cresceu 25% em junho de 2021, na comparação com o
mesmo mês de 2020. Enquanto isso, naquele mês, a inflação em maio foi a maior
em 25 anos no Brasil (MONTEIRO, 2021).
Por outro lado, especialistas indicam que a alta das commodities já gera mais
danos que benefícios por favorecerem as exportações, mas reduzirem a oferta dos
produtos no mercado interno, o que faz a conta dos brasileiros encarecer. Segundo
a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil é o segundo país do mundo
que mais exporta alimentos, atendendo 800 milhões de pessoas em todo o planeta e
96

ficando atrás somente dos Estados Unidos (CONTINI; ARAGÃO, 2021).


Ironicamente, ao mesmo tempo, a fome no Brasil hoje já atinge cerca de 33 milhões
de pessoas. A população brasileira é estimada em 213,6 milhões de habitantes. Os
dados foram divulgados pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no
Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado em junho de 2022. Isso
significa que seis em cada dez lares brasileiros têm preocupações com a falta de
alimentos. E o Norte e o Nordeste são as regiões mais impactadas (ANDRADE;
RESENDE, 2022).
No início dos anos 1990, 18,6 milhões de pessoas eram consideradas
subnutridas no Brasil e quase 15% da população do país passava fome (CANZIAN,
2003). Entre os anos de 2002 e 2013, caiu em 82% o índice de brasileiros em
situação de subalimentação (BRASIL, 2014) mas, desde abril de 2021, pela primeira
vez em 17 anos, mais da metade da população brasileira passou a não ter garantia
de comida na mesa (ALMEIDA, 2021). A segurança alimentar é um direito de todo
cidadão assegurado pela Constituição, como consta no artigo 6º (BRASIL, [s.d.]),
mas ele também é bastante violado no Brasil.

Diz o artigo 6º da Constituição Federal de 1988, modificado pela Emenda


Constitucional no 64/2010: “São direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2010, grifo
meu/nosso).
A Emenda Constitucional no 64, de 4 de fevereiro de 2010, altera o artigo 6º
da Constituição Federal, incluindo o direito à alimentação como mais um
direito social. Tal iniciativa é resultado de um longo processo de lutas que
se iniciou muito antes, uma vez que a garantia constitucional expressa é um
importante componente que fortalece a construção social de um sistema
público de segurança alimentar e nutricional (NATH FINANÇAS, 2021,
online).

Somado a isso, a alta do dólar que eleva continuamente os custos dos


produtos nos mercados brasileiros e os valores do combustível, por exemplo, violam
ainda mais o direito a uma vida digna. “A falta de alimento não se dá por escassez,
mas pela desigualdade dessa divisão, pela má administração. Só se alimenta no
mundo quem pode pagar por esse alimento. E o pior: quem pode pagar um valor
alto”, explica Nathália Rodrigues, especialista em educação financeira, em um artigo
veiculado no portal EXTRA.
97

Na prática, o que se vê é que a alta dos preços dos alimentos impacta


gravemente a conjuntura brasileira: pressiona a inflação elevada, de acima
de 8% e se aproximando dos dois dígitos, um recorde em 21 anos, e leva os
juros a subirem de novo. O desemprego ultrapassa 14% e a aumento da
pobreza segue preocupante. Somam-se a isso a crise política e energética
e a seca prolongada, e alta das commodities acaba por resultar em mais
danos do que benefícios. O aumento dos preços do petróleo, por exemplo,
prejudica a economia como um todo (RFI, 2021, online).

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelaram, em


dezembro de 2021, que a inflação oficial alcançou a marca de 10,74% no acumulado
de 12 meses até novembro daquele ano. Isso significa que o IPCA (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo) no governo de Bolsonaro superou a alta de preços
registrada na gestão de Dilma Rousseff. No segundo mandato da petista, a inflação
no Brasil também disparou, alcançando 10,71% em 12 meses, até janeiro de 2016.
“Os 10,74% até novembro de 2021 representam o maior acumulado desde
novembro de 2003, ano inicial do primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À
época, o IPCA chegou a 11,02%”, destacou uma reportagem do jornal Estado de
Minas (VIECELI, 2021). O registro de tensões e indefinições na área política é
apontado por economistas como uma das principais razões para o cenário.
Questionado sobre os problemas econômicos associados ao governo,
sobretudo à inflação no preço dos combustíveis – o litro da gasolina, por exemplo, já
chegou a custar R$ 9,00 em algumas capitais brasileiras, como Curitiba (MORAIS,
2021) – Bolsonaro disse que “nada é tão ruim que não possa piorar” (O GLOBO,
2021, online). De dezembro de 2015 a setembro de 2021, o valor do combustível
aumentou exponencialmente. Foi de R$ 3,64, em média, no governo Dilma para R$
7,00 no governo Bolsonaro. Em 2022, o crescimento continuou. A Política de Preços
Internacionais (PPI) impacta toda a cadeia produtiva e de distribuição da Petrobras.
Ela ajusta os preços dos combustíveis de acordo com o valor do barril de petróleo,
que tem a sua variação no preço internacional, cotado em dólar. Com a pandemia
em 2020, o preço caiu, mas, com a retomada da atividade econômica, o momento é
de alta, e o brasileiro acaba pagando mais pelo combustível em função do preço
internacional do barril de petróleo combinado com a desvalorização do real frente ao
dólar. Foi no governo Temer, em outubro de 2016, cinco meses após o
Impeachment contra Dilma, que a PPI foi instituída no Brasil. Ela continuou ativa na
gestão de Bolsonaro (ROCHA, 2021).
98

Só de março de 2020 a fevereiro de 2021, em um ano de pandemia, a


inflação sentida pelas famílias brasileiras mais pobres foi de 6,75%, uma taxa que
representa o dobro do impacto vivido pelas mais ricas, de 3,43% no mesmo período.
Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A diferença é
explicada por economistas pelo fato de que, antes da pandemia, a inflação era mais
parecida entre as diferenças faixas de renda, com variações mensais mais
distribuídas entre diferentes itens. No cenário brasileiro, entretanto, o preço dos
alimentos, por exemplo, explodiu para cima e o dos serviços despencou para baixo.
Enquanto as famílias mais pobres gastam 25% de seu orçamento com alimentos em
domicílio, os mais ricos gastam menos de 10% com essa categoria. A explicação foi
dada pela economista Maria Andreia Lameiras, em uma entrevista concedida à BBC.
“Quando a gente fala de aumento de inflação, falamos que a situação das famílias
mais pobres está piorando", disse ela (ALEGRETTI, 2021, online). No Brasil, a
parcela mais rica da população, que detinha 58,6% da renda nacional em 2019
depois da pandemia passou a concentrar 59%, segundo o relatório The World
Inequality Report 2022 (CHANCEL et al., 2022). De acordo com o documento, o
Brasil é o segundo país mais desigual da América Latina, ficando atrás somente do
Chile. David Deccache, diretor do Instituto de Finanças Funcionais para o
Desenvolvimento, doutorando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e
assessor na Câmara dos Deputados, afirmou que as expectativas são de
aprofundamento das desigualdades, especialmente no Brasil, por conta da
“combinação entre altas de desemprego, inflação, taxas de juros e implementação
de políticas neoliberais”. A receita cria a “tempestade perfeita para o agigantamento
das distâncias entre as classes sociais”, segundo ele (OLIVEIRA, 2021b). Em 2021
no Brasil, enquanto parte da população fazia filas para receber ossos no açougue
(PEREIRA, 2021) ou disputava restos de alimentos em caminhões de lixo (XEREZ,
2021), outra parcela, bem menos, aguardava na fila para comprar um helicóptero ou
um Porche (CARRANÇA, 2022).
Em 2020 e 2021, quando ocorreram incêndios de grandes proporções no
Pantanal brasileiro, um levantamento da Global Forest Watch destacou os graves
impactos do problema. O estudo lembrou que Pantanal é considerado o maior bioma
úmido do mundo, a maior planície alagada do planeta, e soma 150 mil km² de
território brasileiro. Fica localizado entre os Estados de Mato Grosso (35%) e Mato
Grosso do Sul (65%). Partes dele também podem ser encontradas no norte do
99

Paraguai e no Leste da Bolívia. Somadas, essas áreas podem atingir cerca de 250
km² (ESTADÃO, 2020) e as consequências da destruição são incalculáveis. Em
2020, o número de incêndios no Pantanal já havia sido 440% maior que a média dos
últimos anos, conforme mostrou um estudo conduzido pelo professor Pedro Luiz
Côrtes, da escola de Comunicação e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP (CÔRTES,
2020). Segundo ele, a tragédia, que se agravou ainda mais a partir de 2021, pode
ser explicada pelo desmonte das estruturas políticas e de fiscalização no Ministério
do Meio Ambiente, especialmente durante a gestão Bolsonaro, pela ineficiência das
ações de combate que envolveram o governo e pela questão climática peculiar,
“com uma seca muito forte, provocada pela transição entre os fenômenos El Niño e
La Niña, que favorece a proliferação do fogo”, conforme o especialista em uma
matéria veiculada no portal Jornal da USP (RADIO USP, 2020).
Mais de 17 milhões de animais teriam morrido queimados em decorrência do
incêndio no bioma, segundo estimativas. Cobras, pássaros, macacos e jacarés
foram os mais dizimados. O número, no entanto, é ainda maior se forem
considerados os impactos posteriores aos incêndios. Muitos animais morreram de
fome ou foram queimados e morreram longe das principais áreas analisadas pelos
pesquisadores que chegaram ao volume de 17 milhões. “Isso é só a ponta do
iceberg”, disse Thiago Semedo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas do
Pantanal (INPP) em uma entrevista fornecida à imprensa (BRUNETTO, 2021). O
artigo científico O Pantanal está em chamas e só uma agenda sustentável pode
salvar a maior área úmida do mundo, na tradução para o português, escrito em
inglês por pesquisadores de três instituições brasileiras: Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi publicado no Brazilian Journal of Biology em
junho de 2021 (BERLINCK, 2020) e mostra um cenário ainda mais desolador. Ele
indica que cerca de 65 milhões de animais nativos vertebrados e quatro bilhões de
invertebrados, com base em densidades de espécies, foram dizimados pelas
queimadas. “As espécies afetadas incluem as ameaçadas de extinção onça-
pintada (Panthera onca), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), cervo do
pântano (Blastocerus dichotomus), coroado águia solitária (Buteogallus coronatus) e
arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus). Os impactos nessas espécies podem ser
100

direto, por ferimentos e morte, ou indireto, devido à perda de habitat e escassez de


recursos”, afirmaram os pesquisadores (BERLINCK, 2020). O estudo considerou o
intervalo de tempo entre janeiro de 2020 e 11 de junho de 2021 e, de acordo com
ele, o número de animais mortos e do bioma destruído “ocasiona impactos
imprevisíveis sobre a biodiversidade, os serviços ecológicos e a saúde humana”. Os
episódios, combinados com as previsões que indicam que até 2030 pode ocorrer a
perda de até 74% da vegetação nativa aumentam ainda mais a probabilidade de
secas severas no Pantanal e de novos incêndios florestais catastróficos. Esse
cenário, ainda de acordo com o levantamento, causaria impactos cumulativos sobre
os ecossistemas e os serviços ambientais, além de danos econômicos bastante
indesejáveis.
Segundo o Instituto Centro de Vida (ICV), a área do Pantanal afetada pelos
incêndios pode levar pelo menos 50 anos para se regenerar, mas, dependendo da
gravidade de cada área, ainda mais tempo (ESTADÃO, 2020). De acordo com uma
reportagem do portal Repórter Brasil, parte do fogo que devastou o Pantanal mato-
grossense teve origem em fazendas de pecuaristas que vendem gado para o grupo
Amaggi, de propriedade do ex-senador e ex-ministro da Agricultura Pecuária e
Abastecimento do governo de Michel Temer, Blairo Maggi, e para o grupo Bom
Futuro, de Eraí Maggi, considerado o maior produtor de soja do mundo. Esses dois
grupos empresariais são fornecedores das gigantes multinacionais JBS, Minerva e
Marfring. Em agosto de 2021, o relatório Map Biomas Fogo revelou que, em média,
150 mil quilômetros quadrados do Pantanal queimam todos os anos no Brasil, o que
representa 1,8% do território nacional. De acordo com o estudo, o bioma Pantanal
foi o que mais queimou proporcionalmente no Brasil, com 57% de sua área
consumida pelo fogo pelo menos uma vez nos últimos 36 anos. Desse total, 65%
dos incêndios ocorreram em área de vegetação nativa (OBSERVATÓRIO
PANTANAL, 2021). A área destruída – pelo menos quatro milhões de hectares –
equivale ao tamanho da Holanda (ROSATI, 2020).
Ainda tratando de incêndios, em 10 de outubro de 2019, o Brasil foi marcado
pelas consequências de um dos piores crimes contra a natureza e contra a
Amazônia já cometidos no país. Na data, produtores rurais do entorno da BR-163,
na região norte do Brasil, iniciaram um movimento em conjunto para incendiar áreas
da maior floresta tropical do mundo. O ato fez o número de focos de calor aumentar
em 300% de um dia para o outro na principal cidade da região, Novo Progresso, no
101

Pará (BARBOSA, 2020). Dias depois, a fumaça alcançou a cidade de São Paulo,
localizada a mais de dois mil quilômetros de distância, e transformou o dia em noite,
afetando fortemente a respiração e a saúde de milhares de pessoas (TURBIANI,
2019). O fato revelou a profunda conexão entre territórios e consequências dos
efeitos climáticos (VEJA, 2019). Outro exemplo de como a afetação a uma área
natural compromete diretamente todas as formas de vida veio alguns meses depois
do “dia do fogo” e do crescimento de 51% do desmatamento na Amazônia somente
de agosto de 2020 a junho de 2021. Só em 2020, o desmatamento na Amazônia
atingiu 10.551 km2, a maior taxa em 12 anos (PRIZIBISCZKI, 2020). No governo
Bolsonaro, o desmatamento no bioma, facilitado pelo desmonte dos órgãos de
fiscalização ambiental na gestão Bolsonaro cresceu 56,6%, segundo dados do IPAM
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) (ALENCAR et al., 2022).
Foi também cientificamente comprovado o prejuízo direto que as queimadas
geraram aos chamados “rios voadores”, que passaram a sofrer alterações
significativas e afetar o abastecimento hídrico de diversas regiões brasileiras. O
fenômeno – formado pelo vapor de água que se transforma em nuvens a partir da
devolução em forma de vapor da água pelas árvores da chuva absorvida pela
floresta – leva massas de ar úmido da bacia amazônica a outras várias regiões do
país (OBSERVATÓRIO DE JUSTIÇA E CONSERVAÇÃO, 2020). Com a devastação
da região, no entanto, o funcionamento dessa “bomba de água” natural, segundo
explicam meteorologistas e especialistas em conservação da biodiversidade, a
amenização da sensação de calor e a oferta hídrica em forma de chuva que cai em
outras regiões do país terminam diretamente afetadas. Não por acaso, o Brasil
registrou em 2021 a experiência de viver a pior crise hídrica dos últimos 91 anos,
com importantes reservatórios de água do Sudeste e Centro-Oeste, que fornecem
70% da energia gerada no Brasil, extremamente afetados pela falta de chuvas
(RIBEIRO, 2021). O resultado disso, novamente, foi um prejuízo a toda a sociedade
em pleno auge da pandemia causada pela covid-19, que exigia cuidados redobrados
com a higienização. E gerou danos ainda maiores às pessoas em situação que
vivem, por exemplo, em periferias ou comunidades (MIRANDA, 2020).
Um ano depois às queimadas, o Greenpeace sobrevoou as áreas que
sofreram com o fogo e constatou que boa parte da região devastada havia sido
transformada em pasto para bois (GREENPEACE BRASIL, 2019). Segundo a ONG,
os incêndios ocorreram em 478 propriedades e, pelo menos metade delas, são
102

áreas que contam com Cadastro Ambiental Rural (CAR). Dessa forma, os
responsáveis pelo ato poderiam ser facilmente identificados, mas, mesmo assim, em
agosto de 2020, um ano depois do “dia do fogo”, somente 5% dos envolvidos
receberam algum tipo de punição por parte dos órgãos de fiscalização ambiental
(JORNAL NACIONAL, 2020). A falta de responsabilização dos envolvidos faz parte
de um projeto planejado de destruição da natureza que segue em curso no Brasil,
intensificado pela atual gestão federal, e continua gerando ainda mais destruição,
conforme revelam dados divulgados pelo Instituto Socioambiental (ISA).

Nos municípios paraenses de Altamira, Novo Progresso e São Félix do


Xingu, que concentraram boa parte dos incêndios de agosto de 2019, os
alertas de desmatamento do sistema Deter (Inpe) registrados nos meses
anteriores (abril a junho) ao período das queimadas de 2020 apresentaram
aumentos de 71%, 31% e 63%, respectivamente, em comparação com o
mesmo período de 2019. Ou seja, depois do "Dia do Fogo", o patamar da
destruição não mudou. Se os incêndios já foram assustadores em 2019,
com o aumento no desmatamento, os municípios de Altamira, Novo
Progresso e São Félix do Xingu registraram em 2020 índices ainda mais
alarmantes de queimadas, com aumentos de 48%, 15% e 60%,
respectivamente, conforme o sensor VIIRS (NASA).
Em 2020, foram 41.173 focos de incêndios em Altamira, 17.691 em Novo
Progresso e 39.626 em São Félix do Xingu. E, em 2021, o desmatamento
continua a apresentar taxas elevadas nos municípios, desenhando um
cenário que pode ser igual ou pior ao de 2019. Em Novo Progresso, o
desmatamento nos meses anteriores (abril a junho) à estação seca
aumentou 91% em comparação com o mesmo período de 2020. Em
Altamira, a taxa de desmatamento está muito próxima ao período de 2019,
com aumento de 2%, enquanto em São Félix do Xingu houve redução de
7% (ARAGÃO, 2021, online).

Um dos indicadores de como o desmonte ativo ou a simples inércia


(presumivelmente consciente) facilitam a exploração do meio ambiente no Brasil é
que a efetividade do pagamento de multas ambientais é calamitosa e piorou ainda
mais na gestão Bolsonaro. Segundo um levantamento feito pelo portal De Olho nos
Ruralistas, nos últimos 25 anos, o Ibama aplicou R$ 34,8 bilhões em multas por
desmatamento em todo o Brasil, mas somente 1,4%, em média, desse valor – o
equivalente a R$ 492 milhões – foi efetivamente pago. O volume restante, segundo
o a pesquisa, ou prescreveu ou ainda está sendo discutido na Justiça. Carlos Minc,
Ministro do Meio Ambiente entre 2008 e 2010, na gestão Lula, período em que a
aplicação das multas atingiram o ápice, lembrou em entrevista a uma reportagem do
De Olho nos Ruralistas que a tática dos multados em recorrer à Justiça depois das
multas e a morosidade dos processos são os principais fatores para o cenário
problemático no país. “Grandes empresas contratam os melhores escritórios de
103

advocacia do País para recorrer às infrações. “Por vezes, há fraude. Quem faz o
processo pode deixar alguma brecha para facilitar um recurso futuro”, disse o ex-
ministro. A fala foi destacada na reportagem do De Olho nos Ruralistas
(PAGENOTTO; ARROYO, 2020, online).

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, recordista em número de


multas, quitava-se mais. Em muitos anos o percentual superava 10%. Foi
um período em que os valores das autuações ainda eram baixos, raramente
acima de R$ 1 milhão. Durante as duas gestões de Luiz Inácio Lula da
Silva, a quitação das multas ficou entre 1% e 10%. Foi nesse período que o
valor das autuações foi crescendo e chegou ao ápice, em 2008. Mas já se
prenunciava a situação atual: desde 2010, em nenhum ano — pelo critério
do valor das multas — o índice de quitação chegou a 1% do total. A
tendência (até pela procrastinação dos pagamentos) é a de diminuição ao
longo dos anos, até se chegar ao recorde negativo, durante o governo
Bolsonaro: 0,13% em 2019.

Só o Sul do Brasil, em 25 anos, soma mais de R$ 3 bilhões de multas


ambientais não pagas. O valor seria suficiente para regularizar praticamente todos
os processos de desapropriação das unidades de conservação ambientais
brasileiras criadas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As
informações são de uma reportagem do Observatório de Justiça e Conservação
(OJC), publicada no portal O ECO, em março de 2020.

Somente uma pequena parcela do valor dessas multas retornou aos cofres
públicos. Apenas 25.933 foram quitadas de alguma maneira por pessoas e
empresas autuadas pelo órgão. Isso representa 43,7% do total das
penalizações registradas no sul do Brasil, ou seja: menos da metade das
multas foi paga pelos infratores. As informações constam no Banco de
Dados Abertos do Ibama. A última atualização é de fevereiro de 2020
(OBSERVATÓRIO DE JUSTIÇA E CONSERVAÇÃO, 2020, online).

Nos dois primeiros anos do Governo Bolsonaro, as multas pagas por crimes
ambientais nos estados da Amazônia Legal caíram 93% comparados aos quatro
anos anteriores. O valor arrecadado pelo governo é o menor em 21 anos. Os dados
são do Centro de Sensoriamento Remoto e do Laboratório de Gestão dos Serviços
Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e foram divulgados
em junho de 2021. Segundo o estudo, os entraves à fiscalização ambiental impostos
pela gestão Bolsonaro pioraram ainda mais o que já estava ruim. “Mudanças nas
regras internas do Ministério do Meio Ambiente e na legislação entre 2019 e 2020
burocratizaram mais o trabalho de campo dos fiscais e o andamento interno de
processos ligados à apuração de infrações ambientais, como desmate e extração de
104

madeira irregular”, destacou uma reportagem sobre o tema no portal Brasil de Fato.
“2013 foi o ano com a maior valor pago: quase R$ 25 milhões. De lá para cá, os
valores pagos oscilaram. E, no governo Bolsonaro, sofreram uma queda brusca: no
ano passado, chegou a apenas R$ 66 mil. Em 2020, apenas 13 autos de infração
foram pagos”, destacou uma reportagem no portal G1 (JORNAL HOJE, 2021,
online). Segundo o estudo da Universidade, existem hoje em torno de 99 mil
processos de infração ambiental pendentes de julgamento no Ibama. Um
levantamento feito em pelo Observatório do Clima a partir de dados obtidos via Lei
de Acesso à Informação (LAI) e divulgado em outubro de 2020 no portal UOL
revelou que um decreto publicado em 2019 por Bolsonaro instituiu os chamados
“núcleos de conciliação” para avaliar multas do Ibama e do ICMBio antes de elas
serem contestadas judicialmente.

O decreto 9.760, de abril de 2019, suspendeu a cobrança da multa até que


seja realizada a audiência de conciliação. O mecanismo, criado pelo
1
ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles foi justificado como uma
tentativa de fazer órgãos fiscalizadores chegarem a um acordo, sem a
necessidade de contestação judicial. Mas o levantamento revelou que,
desde então, o Ibama realizou apenas cinco audiências de um total de
7.205 agendadas. O ICMBio não fez nenhuma. Na prática, nenhuma multa
foi aplicada desde quando o decreto entrou em vigor, até agosto passado
(data do acesso aos documentos) (AGÊNCIA ESTADO, 2020, online).

Uma matéria do portal The Intercept Brasil revelou que, uma análise nas
bases oficiais do Ibama, mostrou que de janeiro de 1980 a agosto de 2019, foram
aplicadas 603,4 mil penalidades, que somam quase R$ 75 bilhões, em valores
atualizados pelo IPCA, o índice oficial da inflação. “Desse total, R$ 59,3 bilhões
são de multas ativas — ou seja, não foram pagas, nem prescreveram e nem foram
anuladas pelo órgão ou pela justiça, até o final de agosto de 2019”
(BOURSCHEIT, 2019, online). Segundo a reportagem, o valor seria suficiente para
sustentar o Ministério do Meio Ambiente inteiro por 21 anos e equivale a mais de
174 anos de doações ao Fundo Amazônia, considerando a média histórica dos
valores recebidos desde que foi implementado, em 2008.
Em setembro de 2020, ignorando as claras evidências sobre as origens dos
incêndios na Amazônia e no Pantanal, em seu discurso na Organização das Nações
Unidas, a ONU, Bolsonaro chegou a acusar os indígenas de serem os responsáveis
pelo fogo. “Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo. Os
105

incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da


floresta, onde caboclos e o índio queimam seus roçados em busca de sobrevivência
em áreas já desmatadas” (LEITÃO, 2020, online). Os episódios de destruição do
patrimônio natural aqui mencionados são apenas alguns, entre outros que serão
recordados ao longo do capítulo, agravados pela ausência de efetividade das ações
da gestão Bolsonaro em favor da natureza. O desmonte porque passaram os órgãos
ambientais brasileiros é uma das principais razões para a calamidade do cenário.
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente de janeiro de 2019 a junho de
2021, foi autor de outra acusação infundada e sem provas com a intenção de
desqualificar pessoas e instituições que atuam em defesa da proteção da natureza.
No fim de agosto de 2019, mais de mil localidades e três mil quilômetros em 130
municípios do Maranhão ao litoral norte do Rio de Janeiro foram afetadas pelo
derramamento de mais de quatro mil toneladas de óleo de um navio petroleiro grego
(PLATONOW, 2021). Mais de R$ 188 milhões de recursos públicos foram gastos
pelos poderes públicos municipal, estadual e federal na tentativa de limpeza das
praias e do oceano e, mesmo assim, o prejuízo ao ecossistema foi irreparável
(PLATONOW, 2021).

Mais de 80% da biodiversidade de invertebrados foi perdida na área


estudada. O branqueamento dos corais atingiu quase 90% da população.
Houve redução de 85% de animais vivos por m² de praia. Este é um
prejuízo muito significativo para a natureza, especialmente para os
invertebrados sésseis, aquelas espécies que, diante do perigo, no têm como
'correr' (MADEIRO, 2021b, online).

Na ocasião, quando a fala de Bolsonaro que acusava as ONGs de serem


responsáveis pelas queimadas na Amazônia ainda repercutia (BRAGANÇA, 2019),
Salles utilizou sua conta no Twitter para acusar, sem qualquer mínima evidência
nem muito menos, provas, o Greenpeace de ser o responsável pelo derramamento
de óleo. “Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe
estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro
bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”, escreveu em outubro de
2019 (RODRIGUES, 2019, online).
De acordo com oceanógrafos, os danos causados pelo desastre, muitos,
efeitos da contaminação química, vão durar décadas e causar contaminações nos
seres humanos ainda por muito tempo, já que um animal marinho contaminado pelo
106

óleo, se ingerido por uma pessoa, a contamina também. A demora do governo


federal em agir em relação ao problema agravou ainda mais a criticidade da
situação. O Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo
(PNC), criado em 2013, por exemplo, foi acionado somente 41 dias depois de terem
surgido as primeiras manchas no litoral do Nordeste e, com isso, responsabilidades
e atribuições federais previstas em lei pelo Plano não foram, sequer, consideradas
(ESTADÃO, 2019). Áreas ainda mais sensíveis, que poderiam ter sido protegidas
prioritariamente, também não foram levadas em conta (GRAGNANI, 2019). Além de
acusar o Greenpeace pelo derramamento, Salles também chegou a afirmar,
novamente sem qualquer prova, que o óleo “muito provavelmente” vinha da
Venezuela (CAMPOS, 2019).
O ex-ministro ainda exonerou, em fevereiro de 2019, 21 dos 27
superintendentes do Ibama. Em 30 anos de história do órgão, nunca havia ocorrido
uma exoneração coletiva tão grande quanto esta (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019).
Dois meses depois, afastou do cargo José Olímpio Augusto Morelli, servidor do
Instituto, que havia cumprido a lei e multado Bolsonaro, na época deputado federal,
por pescar em uma unidade de conservação de proteção integral em Angra dos Reis
(G1, 2019a). Em maio de 2020, o ICMBio (responsável pela gestão das as unidades
de conservação federal, regularizações fundiárias e apoio à implementação do
SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) no Brasil, teve suas 11
coordenações regionais fechadas (G1, 2020). Sobrou apenas uma gerência para
cada região do país. Na região Norte, por exemplo, restou somente uma das quatro
coordenações existentes anteriormente para atender 130 unidades de conservação
(SEGALLO, 2020). Cinco meses após o início da gestão, o governo anunciou, como
algo positivo, uma redução de 34% o número de multas aplicadas por
desmatamento ilegal no país, o pior índice em mais de duas décadas, evidenciando
o retrocesso em progressos anteriormente registrados (BRANT, 2020).
Cientistas, universidades, institutos aeroespaciais, como o Inpe e a própria
Nasa, além de especialistas em alterações climáticas, já avisavam em 2019 que o
ano de 2020 viveria uma seca ainda mais rigorosa e que medidas de prevenção a
incêndios florestais precisavam ser tomadas. Como resposta, Ricardo Salles
encerrou o ano de 2019 deixando de executar 3,3 bilhões do orçamento de sua
pasta, o que representou somente 39% do volume total disponível para ser utilizado
(SAMPAIO, 2019). Em 2021, a estratégia se manteve e, mesmo podendo dedicar ao
107

Ibama R$ 219 milhões, a gestão federal direcionou apenas R$ 88 milhões, o


equivalente a 41% da verba total disponível para o órgão naquele ano. A conclusão
foi divulgada pelo Observatório do Clima (CBN, 2022).

Em seu primeiro mês de gabinete, Salles ainda suspendeu por 90 dias todos
os contratos e parcerias que existiam entre o Governo Federal e ONGs
(Organizações Não-Governamentais), alegando necessidade de reexaminar os
contratos, mas sem explicar as razões para isso. “A perseguição de Salles com as
ONGs ganhou contornos ainda mais dramáticos com a paralisação do Fundo
Amazônia – o maior programa de pagamento por serviços ambientais do país – sob
a alegação, nunca comprovada, de que existiriam irregularidades e “inconsistências”
no uso dos recursos”, lembrou uma reportagem do portal O ECO (BRAGANÇA,
2021). O Fundo Amazônia foi criado em 2008 por meio de um decreto presidencial,
na época do governo Lula, com a intenção de captar dinheiro para ações de
prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e, consequentemente, ao
agravamento do efeito estufa. Durante quase 12 anos, R$ 1,86 bilhão foi destinado
pelo Fundo para apoiar uma centena de projetos no Brasil. A paralização do Fundo
foi feita por Salles sem qualquer consulta ou anuência da Noruega e da Alemanha,
os principais países financiadores. Até o início de 2022, o Fundo segue paralisado
(SINAL DE FUMAÇA, 2021).
Foi Salles, ainda, quem afirmou em uma reunião ministerial que estava sendo
gravada, em 22 de abril de 2020, que a pandemia causada pela covid-19 era a
oportunidade ideal para ir “passando a boiada” e fragilizando todo o regramento
ambiental. “Estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura da
imprensa, porque só se fala de Covid” (PODE 360, 2020, online), disse ele,
defendendo a oportunidade de aprovar reformas infralegais de desregulamentação e
deixando ainda mais evidente o alinhamento de suas condutas com interesses de
grileiros, madeireiros, caçadores e desmatadores, por exemplo (ALESSI, 2020).
Após dois anos e meio em frente à pasta ambiental, Salles colecionou práticas de
abuso contra o patrimônio natural e contra o artigo 225 da Constituição Federal, que
garante o direito a todas as pessoas de contarem com um meio ambiente
equilibrado ecologicamente. A reportagem do portal O ECO mencionou alguns dos
prejuízos impostos pela gestão do ministro. A matéria fez um balanço sobre algumas
das principais ações de Salles.
108

Resumir a jornada de Ricardo Salles como ministro do Meio Ambiente entre


2019 e junho de 2021 é falar das dezenas de ações taxadas de retrocesso.
É lembrar o estrangulamento dos órgãos ambientais sob tutela do MMA;
esvaziamento dos colegiados; a asfixia dos mecanismos de fiscalização e
dos fiscais; o avanço recorde do desmatamento na Amazônia; a tentativa de
esvaziar normas de proteção mais rígidas como a Lei da Mata Atlântica e do
estabelecimento de Áreas de Preservação Permanente; a contínua defesa
de madeireiras e do agronegócio; a reestruturação profunda no Ministério
do Meio Ambiente e das autarquias vinculadas e a tentativa de extinguir o
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Salles
promoveu a maior e mais profunda desregulamentação do setor ambiental
do país e por isso já tem seu lugar garantido na história (BRAGANÇA, 2021,
online).

A reportagem lembrou outros episódios envolvendo abusos cometidos pelo


ex-ministro. Entre os exemplos, estão a extinção da comissão que aprovaria um
Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (AMARAL, 2019), o desmonte de
conselhos, comissões e colegiados que contavam com a participação da sociedade
civil e freavam a aprovação de propostas abusivas contra o meio ambiente e o
cerceamento e a tentativa de desmoralização dos trabalhos do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), que chegou a ter seu presidente, Ricardo Galvão
exonerado por Bolsonaro após as críticas que ele fez, por duas semanas
consecutivas, sobre a alta dos desmatamentos na Amazônia. Segundo cientistas,
ultrapassou a marca de 40% em um ano (GIRARDI, 2019). Galvão recebeu em
fevereiro de 2021 um reconhecimento da Associação para o Avanço da Ciência
(AAAS) por liberdade e responsabilidade científica (G1, 2021).
Destacou a reportagem:

Em janeiro de 2019, o ministro chegou a anunciar que criaria um sistema de


monitoramento em tempo real para ajudar na fiscalização do Ibama, pela
bagatela de 100 milhões, que sairia do Fundo Amazônia. O sistema já
existe desde 2004, realizado pelo INPE (BRAGANÇA, 2021).

Em se tratando dos conselhos, em maio de 2019, uma mudança drástica na


composição do colegiado do Conama – o Conselho Nacional do Meio Ambiente – foi
feita pelo governo federal. Além de o número de integrantes ter caído de 96 para 23,
a proporção de representantes do governo federal nele aumentou em relação aos
nomes indicados por governos estaduais e ONGs ambientalistas. Também foram
retirados dele representantes sem direito a voto, indicados pelo Ministério Público
109

Federal, pelos Ministérios Públicos dos Estados e pela Comissão de Meio Ambiente
da Câmara dos Deputados.
A militarização dos órgãos ambientais, como o Ibama e o ICMBio, com
policiais militares nomeados para comandar superintendências estaduais e chefiar
Unidades de Conservação, foi outra característica da gestão Salles/Bolsonaro. O
estudo A militarização da Administração Pública no Brasil: projeto de nação ou
projeto de poder?, do cientista político Willian Nozaki (2021), revelou que o critério
para as escolhas em momento algum esteve necessariamente relacionado à
capacidade técnica dos profissionais.
As tentativas de censura do atual governo também já marcaram a gestão
Bolsonaro. “A lei da mordaça, como ficou conhecida, centralizou a comunicação das
autarquias nas mãos do Ministério do Meio Ambiente e proibiu que servidores
falassem com a imprensa sem autorização prévia” (BRAGANÇA, 2021, online),
recordou a matéria, que também destacou que, em março de 2021, uma portaria
determinou que toda a produção científica dos servidores do ICMBio passasse a ser
autorizada por superiores antes de ser tornada pública. Em maio daquele ano,
Bolsonaro e Salles assinaram um decreto transferindo do Ministério do Meio
Ambiente para o da Agricultura o poder de concessão das florestas nacionais a
empresas privadas que passariam a deter o direito de explorar uma área de floresta
por meio da prática conhecida como “manejo” em troca de algum tipo de
contrapartida. O concessionário pode usar, por exemplo, a área para cortar madeira
de forma sustentável ou para a prática do turismo. A Justiça Federal interveio no
assunto e suspendeu o decreto. O juiz federal Henrique Jorge Dantas da Cruz, que
analisou o caso, argumentou que a mudança não poderia ocorrer por decreto,
porque seria necessária a aprovação do Congresso Nacional, que foi ignorada por
Salles e Bolsonaro na época. “Da mesma forma como as atribuições de cada
ministério são definidas em lei, também é preciso uma lei aprovada pelo Congresso
para mudá-las, e não um simples decreto do Executivo, entendeu o magistrado”,
destacou uma reportagem da BBC (SHALDERS, 2020). Um mês antes, em abril,
Salles publicou um despacho aprovando um parecer da Advocacia-Geral da União
(AGU) sobre a Lei da Mata Atlântica. O despacho obrigava os órgãos ambientais do
governo federal, como Ibama e ICMBio, a adotar o entendimento presente no
Código Florestal, mais brando e menos restritivo do que a Lei da Mata Atlântica. A
mudança possibilitava a regularização de desmatamentos ilegais em áreas de
110

preservação permanente (APPs) na Mata Atlântica, entre outras fragilizações


ambientais. Dois meses depois, em junho, o próprio Salles revogou a despacho, que
estava sendo contestado na Justiça pelo Ministério Público Federal e por órgãos da
área ambiental. Ao desistir do despacho, o governo ingressou com uma ação direta
de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal, em busca de evitar
futuros questionamentos jurídicos. Novamente, a força de órgãos como o Ministério
Público e a pressão da sociedade civil evitaram prejuízos ainda maiores ao
patrimônio natural brasileiro.
Também em abril, Salles demitiu o então coordenador-geral da fiscalização
ambiental do Ibama, Renê Luiz de Oliveira, e o coordenador de operações de
fiscalização, Hugo Ferreira Netto Loss. Pouco antes, havia demitido o diretor de
Proteção Ambiental do órgão, Olivaldi Azevedo. “As demissões foram feitas logo
depois que o Ibama realizou operações bem-sucedidas contra garimpeiros ilegais
em terras indígenas no Pará” (SHALDERS, 2020, online), destacou a reportagem da
BBC. Entre janeiro e abril de 2020, diversas operações em quatro terras indígenas
do Estado foram organizadas e foram destruídos uma centena de equipamentos
usados por garimpeiros, como serras, tratores e veículos. Antes de as demissões
ocorrerem, 16 fiscais do Instituto chegaram a enviar uma carta ao governo pedindo a
manutenção de Renê Oliveira e Hugo Ferreira em seus cargos, mas isso não
aconteceu, em mais uma demonstração de autoritarismo e desprezo aos interesses
da coletividade.
Além de tentativas de desmontes da política ambiental nacional como essas,
o documento Brasil, 1000 Dias de Destruição, lançado pelo Observatório do Clima
em novembro de 2021, recordou outros diversos prejuízos que a gestão Bolsonaro
impôs à natureza. De lá para cá, a coleção só aumenta. “Desde que Bolsonaro
assumiu o cargo, uma área de floresta do tamanho da Bélgica virou cinza só na
Amazônia”, destacou a publicação logo nas primeiras páginas. O documento
também lembra que “o Brasil foi provavelmente o único país do G20 a aumentar
suas emissões de carbono no ano pandêmico de 2020” e que as “políticas racistas
de Bolsonaro em relação aos povos indígenas o tornaram o único presidente
brasileiro a ser denunciado no Tribunal Penal Internacional” (WERNECK; ANGELO,
2021, online).
111

Nenhuma promessa de bom comportamento pode corrigir a NDC do Brasil,


que retrocede na ambição e é questionada nos tribunais; ou reverter três
anos de um desmonte sistemático e eficiente de regulamentos ambientais e
das agências de fiscalização. Mais importante ainda, nada que o regime
brasileiro possa dizer à comunidade internacional em Glasgow obsta o fato
de que uma série de projetos de lei apoiados pelo governo e apresentados
para votação no Congresso pode dizimar povos tradicionais e a floresta
amazônica, sem a qual o Acordo de Paris vira letra morta (WERNECK;
ANGELO, 2021, online).

Em abril de 2021, professores universitários, pesquisadores, economistas e


lideranças indígenas assinaram uma carta enviada à Cúpula do Clima, denunciando
diversas ações de enfraquecimento da política ambiental brasileira. O documento
reforça que os atos e palavras do governo Bolsonaro estimula agentes da
devastação, desperdiça recursos públicos já escassos e representam “uma ruptura
nos esforços do Brasil na área ambiental promovidos desde a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), realizada no
Rio de Janeiro em 1992”.
De acordo com uma análise feita pelo Instituto Socioambiental (ISA) com
dados extraídos do INPE e do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na
Amazônia Legal por Satélite (Prodes), e divulgada pelo portal G1 em dezembro de
2021, o desmatamento durante 2019 a 2021, na gestão Bolsonaro, aumentou 79%
em comparação com os três anos anteriores – de 2016 a 2018 – nas áreas que
deveriam ser protegidas na Amazônia (Unidades de Conservação e terras
indígenas). No mesmo período, também segundo a análise, as Unidades de
Conservação federais perderam uma área de floresta 130% maior do que no mesmo
período anterior. Como consequência direta, conforme uma pesquisa feita pela
engenheira ambiental brasileira Fernanda Massaro Leonardis e orientada por
cientistas das universidades de São Paulo (USP) e do Porto (Portugal), a derrubada
de floresta reduziu vazão de água e geração de energia em hidrelétricas no Centro-
Oeste e Sudeste do país.

Com a vegetação encolhendo, ventos que sopram do Atlântico carregam


menos umidade lançada pela floresta na atmosfera para o Brasil e países
vizinhos, os chamados “RIOS VOADORES”. Com essa “fábrica de chuvas”
debilitada, falta água para agricultura, indústria e geração de energia.
Fenômenos como EL NIÑO E LA NIÑA e o desmate em outros biomas também
influem nas chuvas e nas estiagens na América do Sul. A escassez de água
reduziu a produção de energia nas 11 usinas escolhidas para o estudo:
Mascarenhas de Moraes, Furnas, Água Vermelha, Marimbondo, Três
Marias, Serra da Mesa, Emborcação, Nova Ponte, Itumbiara, Corumbá e
Queimado. Elas somam 70% da geração no subsistema Centro-Oeste e
112

Sudeste. Como estão próximas às cabeceiras dos rios, o nível de seus


reservatórios depende, sobretudo, das chuvas reforçadas pela umidade da
Amazônia (BOURSCHEIT, 2022).

Em abril de 2019, Bolsonaro reivindicou um repasse bilionário com juros


reduzidos ao setor agropecuário (ARIOCH, 2019a), um dos maiores responsáveis
pelo desmatamento em vários biomas brasileiros e, em dezembro do mesmo ano,
chegou a dizer que o Brasil precisava “criar mais boi para diminuir o preço da carne”
(ARIOCH, 2019b, online), incentivando ainda mais uma produção que hoje já
extrapola, e muito, os limites da sustentabilidade. Só na Amazônia Legal, o rebanho
bovino cresceu 20 vezes mais que no restante do país. De acordo com o
InfoAmazônia, “desde 1974, quando o IBGE começou o monitoramento, a boiada
aumentou 984% nos municípios dos estados amazônicos, enquanto cresceu 49%
nas demais cidades brasileiras”. Essa realidade, a entidade complementa,

Desafia o acordo firmado pelo Brasil e outra centena de países na COP26


para reduzir as emissões do metano até o fim da década. A pecuária no
país é a maior fonte do potente gás de efeito estufa, que amplia o
aquecimento do planeta.
Os dados do IBGE analisados pelo InfoAmazonia mostram que o rebanho
atual no Brasil soma 218 milhões de cabeças no, mais que os 213 milhões
de brasileiros. Na Amazônia Legal, o rebanho saltou de 8,5 milhões em
1974 para 93 milhões de animais em 2020, o que representa quase 43% do
rebanho nacional. Entre 2004 e 2020, o rebanho aumentou 30% na
Amazônia Legal, enquanto nas outras regiões do Brasil encolheu 6%.
Nessas duas décadas, a Amazônia brasileira perdeu 197 mil km² de
florestas, área equivalente à do Paraná, sobretudo pela abertura de
pastagens (BOURSCHEIT, 2021, online).

“Agradeço aqui o nosso prezado Rubem Novaes, presidente do Banco do


Brasil, que traz um bilhão de reais para investir nessa área”, disse Bolsonaro durante
o discurso na cerimonia de abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). “Eu
apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros,
tendo em vista você parecer um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais.
Tenho certeza que as nossas orações tocarão o seu coração”, disse (ARIOCH,
2019a).
Em junho de 2021, depois de muitos escândalos e ações irreparáveis contra o
patrimônio natural, Ricardo Salles, o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro,
deixou o cargo de Ministro do Meio Ambiente para escapar da prisão, por ser alvo de
inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga um esquema ilegal de
retirada e venda de madeira ilegal na Amazônia (JORNAL NACIONAL, 2021). No
113

entanto, seguindo as regras das políticas de desmonte da gestão federal, sua


política foi mantida pelo sucessor, Joaquim Leite, um de seus principais assessores
desde 2019 (RBA, 2022).
Com a ausência de um estado efetivo no cumprimento da legislação e atuante
no estímulo a projetos para legalizar a grilagem de terras e o garimpo ilegal, por
exemplo, também aumentaram os conflitos e as invasões de terras públicas,
principalmente, de comunidades indígenas e tradicionais. O Brasil foi o quarto país
do mundo que mais somou ataques contra defensores do meio ambiente e do direito
à terra em 2020. Foram 20 assassinatos naquele ano, sendo a maioria na
Amazônia. “Em 2019, o Brasil registrou 24 mortes, quatro a mais do que em 2018,
tendo passado do quarto ao terceiro lugar na lista internacional naquele ano”,
destacou a publicação Última Linha de Defesa, da ONG Global Witness (MADEIRO,
2021c, online).
Logo em seu primeiro dia no cargo de presidente, Bolsonaro transferiu a
responsabilidade pela demarcação e regulação dos territórios indígenas da
Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura (G1, 2019b). A
estratégia teve a clara intenção de impedir qualquer proteção adicional de terras
indígenas. A ministra da Agricultura do Governo, desde o início da gestão, é Tereza
Cristina Corrêa da Costa Dias, ex-líder da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA),
conhecida como a “bancada ruralista”, o maior grupo em defesa do agronegócio no
Congresso Nacional. Foi acusada de ter aceitado uma doação de campanha de um
fazendeiro, apontado de ordenar o assassinato de um líder indígena
(MAISONNAVE, 2018). Tereza também á ferrenha defensora do uso indiscriminado
de agrotóxicos em sua gestão. Em sua primeira entrevista como ministra, disse que
a pauta de alteração das regras para o uso de agrotóxicos no país teria “muito
espaço” (MAZUI, 2018). De fato, a promessa foi cumprida. Dia 31 de dezembro de
2021, o governo de Bolsonaro liberou mais 550 rótulos novos de agrotóxicos para
uso no país (FORTES, 2022). Com isso, desde o início da sua gestão, já foram mais
de 1550 produtos venenosos utilizados na agricultura, contaminando a água, o solo,
o meio ambiente e a biodiversidade como um todo. Em outubro de 2021, Bolsonaro
alterou, via decreto, a Lei dos Agrotóxicos, em vigor desde 1989. O texto defendia
que pesticidas que causam doenças, como o câncer, fossem liberados no país
apenas no caso de existirem “limites seguros de exposição” (GRIGORI; FREITAS,
2021). Atualmente, o Brasil é o segundo maior comprador de agrotóxicos fabricados
114

em solo europeu, mas proibidos para uso na União Europeia e na Inglaterra


(CABETTE; FREITAS, 2020).

Um estudo publicado na revista Nature (OUTHWAITE; MCCANN; NEWBOLD,


2022) foi o primeiro a identificar que a relação entre o aumento da temperatura
global e as mudanças no uso da terra, com o uso extensivo de agrotóxicos, vem
causando perdas generalizadas em vários grupos de insetos em todo o mundo
((OUTHWAITE; MCCANN; NEWBOLD, 2022). “Eles descobriram que em áreas com
agricultura de alta intensidade e aquecimento climático substancial, o número de
insetos foi 49% menor do que na maioria dos habitats naturais sem aquecimento
climático registrado” (OUTHWAITE; MCCANN; NEWBOLD, 2022, online). Já um
estudo feito pela Fundação de Amparo à Pesquisa no estado de São Paulo
(Fapesp), mostrou que um tipo de inseticida, mesmo quando utilizado em doses não
letais, encurtou o tempo de vida dos insetos em até 40%. Além disso, eles
observaram que uma substância fungicida considerada inofensiva para as abelhas
mudou o comportamento delas, deixando-as letárgicas, o que comprometeu o
funcionamento de toda a colônia (BOEHM, 2019). Em todo mundo, o
desaparecimento de abelhas vem sendo registrado. Só no Brasil, o fenômeno tem
sido observado pelo menos de 2005 e está diretamente ligado ao uso de
agrotóxicos, de acordo com pesquisadores. Em janeiro de 2019, cerca de 50
milhões de abelhas morreram envenenadas por agrotóxicos que já haviam sido
proibidos em locais como Vietnã, Uruguai e África do Sul após pesquisas
comprovarem que as substâncias seriam letais para as abelhas (TORRES, 2019).
Além disso, um relatório publicado dia 28 de abril pela rede de organizações
ambientais Friends of the Earth Europe faz uma denúncia grave: a cada dois dias,
uma pessoa morre de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, e cerca de 20% dessas
vítimas são crianças e adolescentes de até 19 anos (EU pharma..., 2022). De acordo
com a denúncia, essa catástrofe é consequência da ação de empresas
agroquímicas europeias – como Bayer e Basf – com apoio do lobby do agronegócio
brasileiro. O documento acusa essas corporações europeias, em conjunto com a
Syngenta, hoje de propriedade da estatal chinesa ChemChina, de terem gastado
cerca de 2 milhões de euros (o equivalente a R$ 10,5 milhões) para "aumentar o
acesso ao mercado de alguns de seus agrotóxicos mais nocivos ao unir forças com
associações do agronegócio brasileiro” (MARIN, 2022).
115

Quando o assunto são os direitos de indígenas e comunidades tradicionais,


vale lembrar que o encarregado das questões fundiárias do governo Bolsonaro é
Nabhan Garcia, ex-presidente da União Democrática Ruralista. Ele lutou contra as
demarcações do território indígena durante décadas (WATSON, 2019). Em outubro
de 2021, durante uma cerimônia de distribuição de títulos de terras em São Paulo,
Bolsonaro se orgulhou de não ter demarcado nenhuma terra indígena ou quilombola,
ou aumentado áreas de proteção ambiental durante sua gestão. “Nosso governo
demarcou uma só terra de reserva indígena? Demarcou um só quilombola? Ampliou
algum parque nacional? Criou uma área de proteção ambiental?”, questionou o
presidente ao ser perguntando por uma apoiadora (VERENICZ, 2021, online). Desde
1985, período da redemocratização do Brasil, somente Temer e Bolsonaro não
demarcaram territórios indígenas no país (AUGUSTO, 2020).
De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2010, mais de um terço
dos indígenas brasileiros – 315 mil indivíduos – vivem em áreas urbanas e são
invisibilizados. “Enquanto nas áreas rurais e remotas da Amazônia os povos
indígenas são ameaçados por invasões de terras, mineração e uma ampla gama de
projetos de infraestrutura, nas cidades eles enfrentam constantemente invisibilização
e preconceito”, destacou uma reportagem do portal Mongabay, veiculada em abril de
2021. Warren Dean, em um dos trechos do livro A Ferro e Fogo – a história da
devastação da Mata Atlântica brasileira, lembra que a condição de exclusão e
preconceito contra essa população tem origem histórica e data do período colonial.

O desaparecimento dos povos nativos da Mata Atlântica, íntimos da floresta


e naturalmente familiarizados com sua utilidade, não consternava os não-
europeus. Os nativos tinham sido ingratos, inconstantes, desleais e
invejosos”, segundo Antonio Muniz de Souza, um observador brasileiro sem
papas na língua, como outros do século XIX, que escreveu um livro de
memórias de suas viagens pelo interior. Insistia que os índios eram
naturalmente “preguiçosos, desorganizados, fiéis a todos os vícios,
principalmente, ao de beber aguardente”. Muitos outros atores concordavam
com ele (DEAN, 2018, p. 175).

O historiador Laurentino Gomes, no livro Escravidão I – Do primeiro leilão de


cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares, lembra que, na época da
chegada de Cabral ao Brasil, havia entre três e quatro milhões de indígenas no país,
distribuídos em centenas de tribos. Eles falavam mais de mil línguas e
representavam uma das maiores diversidades culturais e linguísticas do mundo.
Porém, durante o período colonial, o Brasil exterminou, em média, um milhão de
116

índios a cada cem anos. Hoje, os 900 mil índios restantes representam menos de
meio por cento da população brasileira, de cerca de 210 milhões de pessoas.

Há diversas explicações para o malogro da escravidão indígena. A primeira


foram as doenças, que rapidamente dizimaram a população nativa. A
segunda, as guerras de conquista dos portugueses, que reduziram
significativamente o número de índios nas regiões próximas aos engenhos.
Os indígenas, além disso, estavam pouco adaptados ao trabalho exaustivo
nas lavouras de cana, rebelavam-se e fugiam com frequência. A causa
preponderante da preferência por escravos africanos, no entanto, estava na
inexistência de um mercado organizado de escravos na América na época
da chegada dos europeus. Havia, sim, escravidão em pequena escala entre
os índios, resultado das guerras entre tribos rivais. Mas nada se comparava
à África, onde já funcionavam, desde muitos séculos antes da chegada dos
portugueses, centros fornecedores e rotas de transporte de cativos que
cruzavam o deserto do Saara nas caravanas dos muçulmanos ou
embarcavam escravos no Oceano Índico. Nenhuma comunidade indígena
se firmou no horizonte da América Portuguesa como fornecedora de
cativos, ao menos em quantidades suficientes para satisfazer as
necessidades dos moradores. Diferentemente dos índios, os cativos negros
que chegavam ao Brasil, além de serem abundantes e relativamente
baratos na África, estavam bem adaptados a doenças que dizimavam os
nativos. Além disso, muitos cativos africanos vinham de regiões que já
praticavam agricultura em larga escala, mediante o uso de enxadas e outras
ferramentas (GOMES, 2019, p. 129-130).

Ainda em relação à violação dos povos originários, é importante mencionar


que, sob o governo Bolsonaro, os Yanomami – que são 0,013% da população
brasileira – tiveram o maior índice de mortes por desnutrição infantil do país. As
regiões mais afetadas pelo garimpo são também as que mais sofrem com o
problema da desnutrição. “Em 2019 e 2020, nos dois primeiros anos do governo de
Bolsonaro, pelo menos 24 crianças Yanomami com menos de 5 anos morreram por
desnutrição, de acordo com dados obtidos pela Agência Pública na Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI)”
(OLIVEIRA, 2021, online). Além da fome, os Yanomami foram vitimados pela covid-
19 e vêm sendo cada vez mais alvos da invasão às suas terras por garimpeiros
ilegais. Sobre o garimpo ilegal, a prática se tornou uma das principais indutoras da
violência no campo. A atividade foi responsável por 92% das mortes por conflitos
registradas pela Comissão Pastoral da Terra em 2021. “No decorrer de 2020, a
entidade identificou nove mortes por conflitos no campo em todo o território nacional.
Em 2021, o número saltou para 109, um aumento de 1.110%. Desse total, 101
mortes foram de indígenas Yanomami provocadas por ações de garimpeiros”,
revelou o documento. Dia 25 de abril, uma grave denúncia contra os Yanomamis
117

desencadeou uma série de questionamentos da sociedade civil e apuração da


Polícia Federal. Uma menina de 12 anos da comunidade foi morta, depois de ser
estuprada por garimpeiros que exploram ilegalmente a região. Durante as buscas, a
comunidade foi encontrada queimada e não havia ninguém nela (G1, 2022).

4.2 A NATUREZA COMO OBJETO HISTÓRICO E ATUAL DE EXPLORAÇÃO

Mesmo os dados de afetação ao ambiente natural tendo piorado


significativamente desde que a gestão Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil,
em janeiro de 2019, como se comprova no decorrer deste capítulo, a destruição da
biodiversidade no país é histórica. Os efeitos das mudanças climáticas, mas também
as ações criminosas e que visam o lucro individual de predação do ambiente natural,
estão entre as principais causas para o problema.
Desde a colonização do Brasil pelos portugueses, a natureza vem sendo
tratada como objeto de exploração para fins econômicos, a exemplo do comércio
internacional de pau-brasil. A madeira da árvore foi amplamente explorada para
extração de seus pigmentos como corante, um ensinamento transmitido pelos
indígenas na época. A atividade esgotou, em poucas décadas, as matas costeiras
do país (PRADO JUNIOR, 2018). O controle do acesso às terras era feito pelo
sistema de Sesmarias, realizado pela Corte Portuguesa. Terras públicas passaram a
ficar sujeitas a políticas de controle do uso da água subterrânea e para a exploração
de recursos minerais e de madeiras, principalmente do pau-brasil, que crescia na
Mata Atlântica entre o Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro. O comércio da
árvore foi a principal atividade econômica dos portugueses na América até cerca de
1530, mas sua exploração continuou ativa durante todo o período colonial, figurando
com destaque nas exportações brasileiras ainda na segunda metade do século XIX
(DOMINGUES, 2017).

O livro A Ferro e Fogo – a história da devastação da Mata Atlântica brasileira,


de Warren Dean, professor de História da Universidade de Nova Iorque, destaca que
os europeus iniciaram a exploração do bioma, que cobria 15% do que atualmente é
o território nacional, espalhando-se por, aproximadamente 1,3 milhão de km² na
área litorânea do Brasil, do Rio Grande do Norte ao litoral de Santa Catarina. A
maior devastação da Mata Atlântica, no entanto, teve início na segunda metade do
118

século XIX, quando o espaço passou a ser ocupado pela lavoura de café,
implantação da pecuária, exploração de ouro, madeira, carvão vegetal, produção de
papel e celulose, e assim por diante (DEAN, 2018). O comércio do café, por exemplo,
induziu o crescimento demográfico, a urbanização e a implantação de ferrovias.
“Consequências indiretas da prosperidade fabril baseada numa única mercadoria de
exploração, exerceram pressão sobre uma área mais ampla da Mata Atlântica,
dando início ao que agora pode ser considerado como danos irreversíveis a
paisagens antropomorfizadas”, destaca o autor (DEAN, 2018, p. 206). A obra
recorda, de maneira crítica e baseada em fatos, que a história econômica do Brasil
foi movida “às vezes por necessidade, mas, quase sempre, pela ganância irrefreável
com pouca ou nenhuma preocupação com a mata, símbolo do atraso, do
subdesenvolvimento, do selvagem”, nas palavras de Stuart Schwartz, da
Universidade de Minnesota, que prefaciou o livro (DEAN, 2018, p. 15).
A obra Saudade do Matão – Relembrando a História da Conservação da
Natureza no Brasil, da jornalista e ambientalista Teresa Urban, lembra que um dos
primeiros atos dos portugueses ao desembarcar ao Brasil em 1500 foi cortar uma
árvore. Ela recorda que “Warren Dean atribui a este gesto um forte conteúdo
premonitório”: “Do tronco desse sacrifício ao machado de aço, confeccionaram uma
cruz rústica – para eles, símbolo da salvação da humanidade”, recorda a jornalista,
no capítulo A Devastação (DEAN, 2018, p. 37). O mesmo livro também lembra que,
a partir da vinda da Família Real para o Brasil, no século XIX, “houve grande
emprenho do governo imperial para estimular a exportação de madeiras nobres para
a Europa” (URBAN, 1998, p. 42).

Na Exposição de Vienna, realizada em 1873, o Brasil recebeu dois grandes


diplomas de honra: um, pelo café (implantado sobre os escombros da
floresta), e outro dado à Companhia Florestal Paranaense, que levou para a
exposição, entre outras amostras, um pinheiro (Araucaria angustifolia) de 33
metros de altura, que foi remontado com a ajuda de grandes andaimes (da
mesma madeira). O objetivo da exposição era mostrar aos europeus as
vantagens desta extraordinária árvore que produzia tábuas, frutos, resina e
carvão. A Companhia Florestal Paranaense foi a primeira empresa provada
especializada no corte de madeira, que recebeu da Princesa Izabel Regente
uma autorização de funcionamento. Na autorização, constava a obrigação
de “respeitar os direitos dos proprietários e a solicitar licença para o corte de
madeiras”. Instalada “em meio à vastos pinheirais, à beira da estrada da
Graciosa” a caminho da Serra do Mar, a Companhia apresentava, num
folheto de 1872, uma tabela de preços para diferentes madeiras e cortes,
com uma observação: “os preços de cedro e imbuia são elevados pela
raridade que há destas madeiras em Curitiba e por isso afastam a ideia de
exportá-las”. O empreendimento não teve o sucesso esperado,
119

possivelmente porque não poderia competir com o saque de madeira que


ocorria sem o menor controle (URBAN, 1998, p. 42-43).

João Batista Drummond Câmara, autor do artigo Governança Ambiental no


Brasil: ecos do passado, recorda que o sistema de Sesmarias de terras (lote de
terras distribuído a um beneficiário em nome do rei de Portugal com a intenção de
povoar o novo território) perdurou no Brasil até 17 de julho de 1822. Durante todo o
período colonial, os recursos naturais eram considerados de propriedade do Estado,
que mantinha restrições legais à sua exploração (CÂMARA, 2013). Um exemplo,
segundo o autor, é o das políticas de proteção da fauna. Animais que estivessem
dentro de terras privadas não poderiam ser caçados, nem pescados, por serem de
propriedade do dono da área. “Quando não se encontravam em alguma propriedade
territorial definida ou não possuíam qualquer marca que indicasse seu dono, eram
considerados ‘cousas achadas ao vento” (CÂMARA, 2013, p.). Tais princípios legais,
associados ao poder de polícia, asseguravam a governabilidade do Estado sobre os
recursos naturais, restringindo a liberdade para explorá-los. Mesmo assim, apesar
da existência da legislação, o governo a ignorava, agindo de modo a “favorecer o
processo de uso e ocupação dos territórios e a assegurar a colonização portuguesa
e seus meios de produção, altamente predatórios, tendo em vista os altos
rendimentos resultantes da exploração madeireira” (CÂMARA, 2013, p.).
Warren Dean destaca que uma causa importante da destruição histórica da
Mata Atlântica foi que o governo não dava qualquer valor às terras que concedia
gratuitamente. “Tendo consumido toda a floresta primária mais promissora em dada
Sesmaria, um donatário costumava vende-la por uma ninharia e pedia outra, que,
normalmente, obtinha sem dificuldade” (DEAN, 2018, p. 163). As Sesmarias, vale
lembrar, originaram os grandes latifúndios no Brasil, já que a distribuição de grandes
extensões de terras a um único sesmeiro, por exemplo, teria sido um dos fatores a
contribuir para a desigual distribuição de terras no Brasil. As consequências da
política resultam, até hoje, no cenário de extrema desigualdade social ainda vigente
no país (PINTO, [s.d.]). A desigualdade da distribuição de terras no Brasil é uma das
mais altas do mundo. Um estudo divulgado em maio de 2020, mostrou que a
pontuação brasileira na divisão de terras do país é de 0,73 (PINTO et al., 2020). O
maior desequilíbrio ocorre em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Bahia e na
região produtora conhecida por Matopiba – a parte do Maranhão, Tocantins e Bahia.
Para chegar às conclusões, o estudo se valeu do Índice de Gini, que é um
120

instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele


aponta a diferença dos rendimentos entre as pessoas mais pobres e mais ricas,
variando de zero a um. Um cenário de igualdade, em que todos teriam a mesma
quantidade de terra, é expresso pelo “zero”. No extremo oposto, está o “um”, quando
uma só pessoa é dona de tudo. O estudo Quem são os poucos donos das terras
agrícolas no Brasil – o Mapa da Desigualdade, foi feito por 15 autores de nove
universidades e institutos de pesquisa por meio da análise de dados do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do CAR (Cadastro
Ambiental Rural). De acordo com o agrônomo Luís Fernando Guedes Pinto,
pesquisador do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola),
líder do projeto, “a América Latina é a região onde a desigualdade da terra é a maior
do mundo, e o Brasil é um dos líderes” (BEEFPOINT, 2020, online). De acordo com
o portal Oxfam, menos de 1% das propriedades rurais concentram quase metade de
toda a área rural do Brasil. Por outro lado, no entanto, quase 50% das propriedades
do país têm tamanho inferior a 10 hectares, e ocupam apenas 2,3% da área rural
total. A Oxfam é uma confederação internacional que luta contra a pobreza e a
desigualdade em mais de 90 países (OXAFM, 2019). No artigo A questão agrária no
Governo Bolsonaro: pós-fascismo e resistência, a administração de Bolsonaro é
apresentada como uma política pautada na defesa incondicional da propriedade
privada e estratégias que facilitam o avanço abusivo do agronegócio no Brasil, o que
favorece ainda mais a criticidade da desigual distribuição de terras no Brasil e a
continuidade do cenário colonial do país. “Concluímos que o primeiro ano do
governo Bolsonaro foi caracterizado pela promoção de uma política ultra neoliberal
com alguns elementos próximos do pós-fascismo, onde o latifúndio tem a total
liberdade para praticar a violência”, destaca o artigo, de autoria dos pesquisadores
Bernardo Mançano Fernandes, João Cleps Júnior, José Sobreiro Filho, Acácio Leite
e Lorena Izá Pereira (FERNANDES et al., 2020).
Ainda tratando de reforma agrária, vale lembrar que o governo de Bolsonaro
havia paralisado, de março de 2019 ao fim de 2020, 413 processos de reforma
agrária no Brasil, ao interromper vistorias e análises de desapropriação de imóveis
rurais para a criação de assentamentos para famílias sem terra. A paralisia foi alvo
de investigações do Ministério Público Federal (MPF) (SASSINE, 2020). Não por
acaso, na gestão de Bolsonaro, o número de conflitos no campo é o maior dos
últimos 10 anos, com um total de 1.833 ocorrências somente até abril de 2020, bem
121

como o número de assassinato de indígenas. Dos nove indígenas assassinados em


conflitos no campo em 2019, por exemplo, sete eram lideranças. Os dados são do
relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) (BARBOSA, 2020) e reforçam a
relação estreita e direta entre intolerância e violência.
Em 1826, por conta do processo predatório das áreas naturais, já se falava na
escassez de pau-brasil, fato que estimulou o Estado a tomar medidas para a
proteção da espécie, como, por exemplo, a “determinação à Junta da Fazenda
Pública de Pernambuco de reproduzir árvores da espécie, numa tentativa de evitar a
falta da madeira” (MAGALHÃES, 2002, p.). A intenção, porém, não garantiu que
práticas realmente comprometidas com a conservação da espécie alterassem o
cenário de destruição.

O crescimento econômico do Brasil foi ecologicamente incorreto desde a


exploração do pau-brasil e assim se manteve durante o desenvolvimento de
monoculturas tais como os que embasaram os ciclos da cana-de-açúcar e
do café, em processos que devastaram florestas como a Mata Atlântica
(SÉGUIN; CARRERA, 1999).

Nas Sesmarias praticava-se o método de corte e queima da floresta para a


fertilização do solo e limpeza do terreno, levando à necessidade da
expansão das propriedades sempre que os senhores das terras fizessem
solicitação à Coroa Portuguesa (PÁDUA, 1987). Portanto, o
desenvolvimento de lavouras no Brasil, no Período Colonial, baseou-se
fortemente na expansão da fronteira agrícola sobre a vegetação natural,
com pouca ou nenhuma preocupação com o uso racional, em longo prazo,
das áreas agrícolas já instituídas. Naquela época, pouco valiam as leis que
visavam à conservação das florestas, pois parecia não haver
conscientização da sua importância. Isso se dava, possivelmente, pela falta
de raízes dos colonizadores com o Brasil, o que fazia com que
predominasse um caráter utilitarista e predatório das oligarquias rurais
latifundiárias que visavam ao lucro de curto prazo.
Assim, as terras eram levadas à degradação e exaustão, sem que houvesse
qualquer preocupação em introduzir novas técnicas mais apropriadas para
evitar o desgaste do solo, possivelmente devido ao sentimento de
abundância inesgotável dos recursos naturais (WAINER, 1991). Nas
colônias nas quais os europeus se fixaram foram desenvolvidas instituições
políticas com o controle eficaz das elites. Já nas colônias com alta
densidade de população, sistemas extrativos de produção e poucos
europeus, colocaram o poder nas mãos das elites e construíram um aparato
estatal concebido para utilizar a coerção contra a maioria da população
(ACEMOGLU, JOHNSON & ROBINSON, 2004) (CÂMARA, 2013, p.).

Um dos aspectos mais irônicos da nossa história, é que o negócio do pau-


brasil estimulou a fundação de feitorias em toda a costa brasileira onde, ao longo do
ano, ficavam três ou quatro homens, que eram chamadas de “brasileiros”. O nome
dado a esses traficantes ou coletores de pau-brasil acabou estendido a todas as
122

pessoas nascidas no futuro país. O fato foi lembrado por Joelza Ester Domingues,
em seu livro Ensinar História, lançado em 2017.

No tempo colonial, ‘brasileiro’ era adjetivo que indicava profissão: tirador de


pau-brasil. Como tal, sendo esses homens criminosos, banidos para o
nosso país por Portugal, o adjetivo tinha significado pejorativo e por isto
ninguém queria chamar-se ‘brasileiro’. Foi o franciscano Frei Vicente do
Salvador o primeiro que teve a coragem de usar ‘brasileiro’, não já na antiga
significação de tirador de pau-brasil, mas na de originário, oriundo, nascido
no Brasil. Assim procedeu Frei Vicente do Salvador ao escrever a sua
“História da Custódia Franciscana do Brasil” (RODRIGUES, 2020, online).

Ainda de acordo com a obra, no total, a floresta cobria uma área superior a
1,3 milhão de km² do território nacional. Esse complexo, chamado de Mata Atlântica
brasileira, associado a outro maior, a Floresta Amazônica, formava uma zona
biogeográfica diferente e mais rica em espécies que as outras florestas tropicais do
mundo situadas na África e no Sudeste Asiático. Um dos aspectos da Mata Atlântica
que sempre chamou a atenção foi a diversidade extraordinária da floresta, levando-
se em conta seu tamanho relativamente modesto. A impressionante quantidade de
exemplares, muitos endêmicos – isto é, que só ocorrem naquele lugar – tornava o
bioma ainda mais particular. Atualmente, a Mata Atlântica passa por 17 estados
brasileiros e abriga 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 200 de répteis e 280
de anfíbios, sendo que 567 espécies são endêmicas. Sua flora é representada por
cerca de 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais oito mil são endêmicas
(WWF, c2022). Mesmo sendo o lar de 72% dos brasileiros, uma pesquisa de opinião
feita em 1987 mostrou que 90% dos brasileiros que vivem nos antigos domínios da
Mata Atlântica nunca haviam ouvido falar nela. A falta de conhecimento histórico,
portanto, certamente é um agente facilitador para que a degradação da floresta
ocorra até hoje e seja permitida nos níveis percebidos até então.

O modo de seu desaparecimento foi apagado. Do banco de memória até de


sua classe média: apenas 2,6% de uma amostra de estudantes
universitários do Paraná, da cidade de Maringá, foram capazes, em 1983,
de lembrar que, 20 anos antes, sua região havia passado por seca, geada,
incêndios catastróficos que destruíram 21 mil km2 das florestas de seu
estado. Não deveria esse holocausto produzido pelo homem ser relatado de
geração para geração? (DEAN, 2018, p. 379).

Dean também recorda que muitas espécies da Mata Atlântica foram extintas
antes de, sequer, serem descobertas e catalogadas. Isso porque, segundo ele, as
123

catalogações biológicas começaram somente 300 anos depois de iniciadas a


agricultura de plantação, a pecuária bovina e a mineração. Neste cenário, ele
destaca o Paraná, por exemplo, que não pôde ser conhecido a fundo pelos
cientistas antes de a devastação das matas ocorrer. “A devastação era maior que as
oportunidades de que dispunham os pesquisadores para realizar os estudos
necessários para que se tenha, hoje, todas as informações sobre a flora e a fauna
do Paraná” (DEAN, 2018, p. 367). O autor ainda lembra que de todos os continentes
tropicais, a América do Sul foi o último a ser invadido pelo ser humano, e o domínio
humano de suas florestas foi muito menos intenso e duradouro que o da Ásia, África
e Austrália. “Por isso, os europeus em seu Novo Mundo encontraram uma natureza
mais pura que a de outros pontos dos trópicos, e, assim, uma parte muito maior do
processo de degradação ocorreu em uma era de registros escritos” (DEAN, 2018, p.
163).

Durante 500 anos, a Mata Atlântica propiciou lucros fáceis: papagaios,


corantes, escravos, ouro, orquídeas e madeira para o proveito de seus
senhores coloniais e, queimada e devastada, uma cama imensamente fértil
de cinzas que possibilitavam uma agricultura passiva, imprudente e
insustentável. A população crescia cada vez mais, o capital “se acumulava”,
enquanto as florestas desapareciam; mais capital, então, “se acumulava” –
em barreiras à erosão de terras de lavoura, em aquedutos, controle de
fluxos e enchentes de rios, equipamentos de dragagem terras de mata
plantada e industrialização de sucedâneos para centena de produtos
outrora apanhados de graça na floresta. Nenhuma restrição se observou
durante esse meio milênio de gula, muito embora, quase desde o início,
fossem entoadas intermitentes interdições solenes que, nos dias atuais, são
contínuas e frenéticas (DEAN, 2018, p. 380).

No livro Saudade do Matão – Relembrando a história da Conservação da


Natureza no Brasil, Teresa Urban também recorda uma defesa de Alberto Torres,
advogado e jornalista, ativista do movimento abolicionista e republicano. Ele dizia
que a civilização humana, movida pela cobiça, é inevitavelmente devastadora. “O
Homem tem sido um destruidor implacável e voraz das riquezas da terra”, escreveu
(URBAN, 1998, p. 83). A história reitera essa afirmação. Atualmente, restam apenas
7% da cobertura original da Mata Atlântica que um dia ocupou o Brasil, segundo a
Organização Não Governamental WWF (c2022). Outros dados, como os da SOS
Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indicam o
percentual atual de 12,4% de remanescentes dessa floresta (JORNAL DA GLOBO,
2021). De toda forma, ambos os indicadores são bastante preocupantes, ainda mais,
124

considerando o crescimento ascendente do desmatamento no Brasil. Segundo o


último relatório sobre o assunto divulgado pelas duas instituições, só entre os anos
de 2019 e 2020, o município de Bonito, por exemplo, em Mato Grosso do Sul,
conhecido pelas belezas naturais e pelo forte apelo turístico, perdeu 416 hectares de
floresta, o equivalente a um campo de futebol por dia. De acordo com a análise,
Bonito ficou no topo do ranking do desmatamento no país. A expansão
indiscriminada do agronegócio na região, que desrespeita até mesmos limites mais
básicos para atividades agrícolas às margens dos rios, por exemplo, afeta
diretamente a qualidade das águas, que acabam contaminadas por agrotóxicos e
outros resíduos poluidores, impactando a saúde de todo o ecossistema marítimo
(THUSWOHL, 2015). De acordo com a SOS Mata Atlântica, Bonito foi a cidade
brasileira que mais desmatou área de Mata Atlântica no país. Os 416 hectares
perdidos no intervalo de um ano correspondem a um aumento da taxa de
desflorestamento de 150% de 2019 para 2020. Fernando Guedes Pinto, diretor de
conhecimento da SOS Mata Atlântica, em entrevista ao G1, destacou que:

Além de fazer com que as cidades se tornem cada vez mais quentes, a
redução das áreas verdes ameaça a disponibilidade e a qualidade da água.
A crise hídrica que vivemos hoje é reflexo disso. No caso de Bonito, os
danos podem ser ainda mais graves, pois coloca em risco o turismo que
move a economia da cidade (CÂMARA, 2021, online).

A situação é ainda mais lamentável quando se analisam dados sobre as


possibilidades de crescimento do turismo de natureza no Brasil e as vantagens
econômicas que ele é capaz de gerar ao país. Dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua do Turismo, divulgados em
agosto de 2020 pelo Ministério do Turismo e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), revelaram que a cultura e turismo motivou mais de 50% das viagens
de lazer ao longo de 2019. A procura por passeios de ecoturismo ou aventura no
país representou mais de 25% desse total (FECOMÉRCIO, 2020). Segundo o
Ministério do Turismo, o Brasil foi o destino escolhido por cerca de 19 milhões de
estrangeiros entre 2018 e 2020 para a prática do turismo ecológico. Ele foi motivo de
viagem de 18,6% dos turismos que buscaram cenários paradisíacos com fauna e
flora particulares do país, que tem uma das maiores biodiversidades do mundo
(ECOTURISMO NO..., 2021). Em 2017, quando a visitação em unidades de
conservação federais brasileiras alcançou a marca de 10,7 milhões de visitas, os
125

resultados econômicos foram significativos. Foram gastos mais de R$ 2 bilhões nos


municípios de acesso às unidades, gerando cerca de 80 mil empregos, R$ 2,2
bilhões em renda, R$ 3,1 bilhões em valor agregado ao PIB (Produto Interno Bruto)
e R$ 8,6 bilhões em vendas, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente e
ICMBIO (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2019). Dramaticamente, no entanto,
em 2021, nada menos que 892 mil hectares foram queimados em unidades de
conservação federais. Em 2020, um ano antes, já haviam sido destruídos 1,18
milhão de hectares, segundo dados do ICMBio (MARTINS, 2022). Os prejuízos do
cenário, evidentemente, afetam diretamente desempenho do turismo.
De acordo com o Índice de Competitividade Turística, documento elaborado
pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil lidera o ranking dos países com recursos
naturais de beleza cênica, ficando atrás somente do México. Estados Unidos ficam
em quinto lugar. Lá, os parques nacionais chegam a receber mais de 300 milhões de
visitantes ao ano. “Só em 2019, o Serviço de Parques Nacionais Norte Americano
registrou 328 milhões de visitantes, que gastaram cerca de US$ 21,0 bilhões nas
regiões onde os parques estão inseridos, gerando 341 mil empregos, US$ 14,1
bilhões em renda do trabalho e US$ 24,3 bilhões em valor agregado”, destacou uma
reportagem no portal Turismo Spot (VALLE, 2020).
Ainda segundo a matéria, o Canadá, que ocupa a décima primeira posição na
lista dos países com mais territórios protegidos por unidades de conservação, viu os
anos de 2016 e 2017 registrarem 24,9 milhões de visitantes, gerando mais de 40 mil
empregos, US$ 2,5 bilhões em renda e contribuindo com mais de US$ 4 bilhões na
economia canadense. A reportagem também menciona a Costa Rica, conhecida
como um dos destinos pioneiros do ecoturismo no mundo. “Seu território, que
corresponde a menos de 1% do brasileiro, possui 25% de sua área coberta por
áreas naturais protegidas”, destaca a reportagem, que lembra que dados do Instituto
Costarricense de Turismo apontam que a visitação em áreas naturais saltou de 500
mil em 1990 para 2,2 milhões em 2018.
Se o potencial de geração de renda e receita que o ambiente natural bem
protegido e conservado é capaz de gerar fosse, de fato, levado em consideração no
Brasil, as oportunidades de ascensão de novos negócios cresceriam
exponencialmente. De modo diametralmente oposto, o que se vê no atual cenário
brasileiro são as oportunidades cada vez mais escassas. Para se ter ideia, cerca de
1,38 mil quilômetros quadrados foram desmatados somente em Unidades de
126

Conservação localizadas na Amazônia Legal ao longo de 2021, de acordo com o


Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. A área equivale a uma cidade do
tamanho de Teresina, no Piauí, segundo uma reportagem sobre o assunto no portal
Metrópoles. O índice representou um aumento de 16,8% em relação a 2020. “Desde
o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, o desmate tem crescido”, apontou a
matéria (LORRAN, 2021). Segundo um estudo recente liderado por uma pesquisadora do
Inpe, e publicado em junho de 2021 na revista Nature, o avanço nos desmatamentos
vem fazendo com que partes da Amazônia vão perdendo a capacidade de absorver
carbono devido aos efeitos combinados do desmatamento e das mudanças
climáticas (CORRÁ, 2021). Outro estudo, publicado em março de 2022, este no
jornal científico Nature Climate Change (BOULTON; LENTON, 2021), revelou que as
queimadas e a extração de madeira fazem com que mais de três quartos da
Amazônia Legal venham perdendo a capacidade de regeneração desde 2003. Os
resultados reforçam a necessidade de urgente redução do uso da terra na região
amazônica e mais controle nas emissões de gases de efeito estufa em todo o
mundo.
Em completo desalinhamento a esse cenário, o Governo Bolsonaro
abandonou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na
Amazônia Legal (PPCDAm), criado em 2004 no governo Lula. Ele foi o principal
responsável pela redução de 83% do desmate entre 2004 e 2012
(FACEBOOK.ECO, 2020). Em janeiro de 2019, a gestão federal também paralisou o
Fundo Amazônia, a maior iniciativa de Redd+ (sigla para Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação florestal) do mundo. Criado em 2008 com doações da
Noruega e da Alemanha, ele foi pensado para financiar projetos de governos e
organizações que estimulassem a redução do desmatamento no Brasil. Neste
momento, quase R$ 3 bilhões estão parados no fundo, sem uso, na conta do
governo federal (BORGES, 2021).
A maior incoerência que envolve a condição do patrimônio natural brasileiro
está no fato de que, mesmo com tamanha escassez da floresta, com os contínuos
ataques a ela, ano após ano, a Mata Atlântica, por exemplo, é considerada o bioma
mais bem protegido pela legislação do país. Em 1988, a Constituição Federal
reconheceu a Mata Atlântica como Patrimônio Nacional. Quase duas décadas mais
tarde, em 2006, foi aprovada a chamada Lei da Mata Atlântica (11.428/2006), graças
à intensa mobilização da sociedade e de representantes do poder público junto ao
127

Congresso Nacional para a construção da legislação. Dia 22 de dezembro de 2006,


foi sancionada a Lei da Mata Atlântica, para regulamentar a proteção e o uso de sua
biodiversidade e recursos naturais, buscando assegurar direitos e deveres dos
cidadãos e dos órgãos públicos no que se refere ao que deveria ser a exploração
consciente dos recursos do bioma, para que não houvesse prejuízos aos
ecossistemas que o integram.
Os Campos Naturais e a Floresta com Araucária – ou Floresta Ombrófila
Mista, na definição técnica –, são dois exemplos de ecossistemas associados à
Mata Atlântica. No caso da Floresta com Araucária, que originalmente dominava
vastas extensões dos planaltos das regiões Sul e pontos da Serra da Mantiqueira,
nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, estima-se que nos
últimos 70 anos tenham sido derrubados pelo menos 100 milhões de pinheiros
(Araucária angustifolia) para a fabricação de móveis. O prejuízo ao ecossistema
como um todo é incalculável. Embora o pinheiro represente a floresta, ela é formada
a partir da associação complexa de milhares de outras espécies de animais e
vegetais que se adaptaram a condições climáticas históricas para existir com a
riqueza que podem apresentar. Foi somente em 2001 que uma resolução do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) proibiu a extração e a
comercialização de espécies da Mata Atlântica ameaçadas. Especialistas em
conservação da natureza chegam a indicar que, hoje, restam menos de 1% de
Floresta com Araucária em todo o Brasil em bom estado de conservação. No caso
dos Campos Naturais – caracterizados por serem formados por vegetação rasteira,
herbáceas, gramíneas e pequenos arbustos com características diversas e
encontrados na região Sul do Brasil e no norte da Amazônia (FRANCISCO, [s.d.]) –
a condição é ainda mais dramática. Originalmente eles ocupavam 13% de todo o
território paranaense, caracterizando as paisagens de maior altitude do planalto
estadual. Análises indicam que teria sobrado apenas 0,1% de áreas em bom estado
de conservação (BRITEZ, 2016).

Após passar por diferentes ciclos de desenvolvimento, o Paraná teve a


maior parte de sua cobertura florestal retirada. Os remanescentes que
restaram estão em áreas com menor aptidão para a agricultura. As porções
mais significativas sofreram violentas pressões motivadas pela extração
seletiva de madeira, pelo manejo para plantio de erva-mate, criação de
gado e outras intervenções. Todas descaracterizaram o que seria a
condição natural do espaço. Hoje, a floresta com araucária e de campos
naturais estão bastante prejudicados em sua ampla variabilidade de
128

associações, formando um mosaico florestal com diferentes características,


conforme os níveis de intervenção a que já foram submetidas.
Por outro lado, existem locais que sofreram com o corte raso, mas nos
quais as florestas lutam para se recuperar naturalmente. Essa é a chamada
“sucessão secundária”. Caso não sofra com mais intervenções e tenha seus
remanescentes protegidos, gradativamente, o espaço se recupera, mesmo
levando centenas de anos para alcançar um status semelhante ao dos
espaços primitivos.
A fragmentação da biodiversidade é outro fator que contribui, e muito, com o
empobrecimento genético da floresta com araucária e dos campos naturais.
Remanescentes isolados são gradativamente comprometidos pela falta de
conexão entre as diferentes espécies. Isso compromete gravemente a
variabilidade genética dos exemplares, porque impede que populações de
animais e plantas com caraterísticas genéticas distintas se comuniquem.
Quando isso acontece, as espécies começam a praticar a autogamia – que
é a prática de cruzar com membros de uma mesma população com
características genéticas similares. A tendência dessa situação é que
algumas populações tenham dificuldade para se adaptar a modificações
ambientais por falta de algum atributo genético, podendo desaparecer de
alguns locais (BRITEZ, 2016, online).

A defesa acima foi fornecida em um artigo de opinião escrito pelo biólogo,


mestre em ciências do solo, doutor em engenharia florestal e consultor da SPVS
(Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), Ricardo
Miranda Britez e veiculado no site da Época. Ao falar de fragmentação da
biodiversidade, ele faz referência ao empobrecimento genético, também chamado
de “erosão genética”, causado pela degradação ambiental. “A redução da
variabilidade genética do ecossistema está ligada à diminuição da produção agrícola
e ao aumento da suscetibilidade das plantas a pragas e doenças”, segundo
descreve o artigo Erosão Genética e Segurança Alimentar”, dos autores Valter Luis
Barbosa, Rosângela Cristina Vidotto e Tatiane Pascoto Arruda.

As causas da erosão genética são os processos de transformação das


práticas e dos sistemas agropecuários tradicionais, tais transformações
provocam a perda de conhecimento sobre espécies nativas e variedades
locais e bem como seus usos tradicionais. Com essas mudanças bruscas o
acervo mantido por agricultores familiares vai sendo reduzido,
gradualmente, onde o fator de exigências do meio inserido, e dar início à
produção de cultivares comercial (BARBOSA; VIDOTTO; ARRUDA, 2015,
p.)

Como os fatos mostram, a legislação, mesmo sendo referência do ponto de


vista jurídico e formal, ainda é violentamente ignorada e desrespeitada no Brasil e
não evita que o empobrecimento das florestas ocorra em virtude da intensa
influência das ações humanas sobre o meio natural. “Hoje, a Mata Atlântica agoniza
na região de maior desenvolvimento do país, e ainda é responsável pela produção e
129

conservação de recursos hídricos para abastecer a quase 110 milhões de


brasileiros”, destaca uma publicação da WWF (c2022).
Em agosto de 2021, a ONG Map Biomas divulgou um estudo sobre as
variações nos recursos hídricos no Brasil entre os anos de 1985 e 2020, revelando
que a crise climática desempenhou papel central para que chegássemos a este
quadro (MAP BIOMAS, c2022). Segundo a análise, entre os biomas brasileiros mais
atingidos pela seca das últimas décadas está o Pantanal, na região central do país.
Entre 1991 e 2020, o Brasil perdeu 15,7% da superfície de água que tinha, o
equivalente a 3,1 milhões de hectares, apenas no Pantanal. No mesmo período,
71% da área do bioma passou de alagada para seca. “Os dados impressionaram até
os analistas, que refizeram as contas algumas vezes para checar se havia erros.
Mas os números estavam certos” (GERARQUE, 2021, online). A seca e as ondas de
calor no Sul e no Centro-Oeste geraram perdas também ao agronegócio, na ordem
de R$ 45 bilhões somente nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa
Catarina e Mato Grosso do Sul, segundo estudo da Federação das Cooperativas
Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Feco-Agro) (ESTADÃO, 2022).
O autor de A Ferro e Fogo – a história da devastação da Mata Atlântica
brasileira, reforça a preocupação ao lembrar que a destruição das florestas tropicais
é irreversível no âmbito de qualquer escala temporal humana. “Quando a floresta
tropical é destruída, a perda em termos de biodiversidade, complexidade e
originalidade não é apenas maior que a de outros ecossistemas: é incalculável. O
desaparecimento de uma floresta tropical, portanto, é uma tragédia cujas proporções
ultrapassam a compreensão ou concepção humanas”, destaca Dean (2018, p. 23).
A Amazônia é outro bioma fortemente afetado pelas sucessivas ações de
destruição do patrimônio natural. Ela abrange seis países: Brasil, Peru, Bolívia,
Equador, Colômbia e Venezuela e, no Brasil, atualmente inclui os estados do
Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Goiás
e Tocantins. Em 1966, foi criado pelo Governo Federal o conceito de “Amazônia
Legal” (Lei 5173), que é a área de mais de cinco milhões de quilômetros quadrados,
que abrange os estados acima mencionados e corresponde a 61% de todo o
território nacional. É nessa região que vive a maioria da população indígena
brasileira, com cerca de 250 mil pessoas, ou 55,9% dessa população, segundo a
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) (O QUE É..., 2014).
130

Nela também está a Bacia Amazônica, a maior bacia hidrográfica do


mundo, com cerca de um quinto do volume total de água doce do planeta.
Por abranger 3 biomas, exibe a elevada biodiversidade dos mesmos. Na
Amazônia são aproximadamente 40 mil espécies de plantas e mais de 400
de mamíferos. Os pássaros somam quase 1.300, e os insetos chegam a
milhões. Os rios amazônicos guardam outras 3 mil espécies de peixes.

Para integrar uma região sempre pouco povoada e pouco desenvolvida, a


Lei 1.806, de 06/01/1953 criou a (hoje extinta) Superintendência do Plano
de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e anexou à Amazônia
Brasileira, os estados do Maranhão, Goiás e Mato Grosso. Aquele
dispositivo legal também definiu que esta área seria chamada de Amazônia
Legal, e através dela se concentrariam os esforços para combater o
subdesenvolvimento econômico daquela parte do país. Em 1966, a SPVEA
foi substituída pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM), órgão que além de coordenar e supervisionar programas e
planos de outros órgãos federais, muitas vezes mesmo os elaborava e
executava.

Os limites da Amazônia Legal foram estendidos várias vezes em


consequência de mudanças na divisão política do país. A sua forma atual foi
definida pela Constituição de 1988, que incluiu Tocantins, Roraima e
Amapá. Atualmente a região é responsabilidade por uma nova versão
da SUDAM, autarquia federal criada pela LEI COMPLEMENTAR N°124, DE 3 DE
JANEIRO DE 2007 e vinculada ao Ministério da Integração Nacional. A
campanha para integrar a região à economia nacional, entretanto, teve
impactos ao meio ambiente que ainda são sentidos e combatidos. Como
uma das últimas grandes reservas de madeira tropical do planeta, a região
amazônica enfrenta um acelerado processo de degradação graças à
exploração predatória e ilegal do produto. Outro problema é a expansiva
agropecuária, com modelo de produção ainda antiquado que requer
enormes extensões de terra. Há ainda os projetos de desenvolvimento que
avançam pelos rios, na forma de grandes hidrelétricas, e pelas províncias
minerais, em forma de garimpo legal e ilegal. Tudo isto ocorre, inclusive, em
áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação (O
QUE É..., 2014, online).

Os fatos mostram como a ocupação e o desenvolvimento da região vieram


acompanhadas da destruição da Amazônia, assim como aconteceu com a Mata
Atlântica. Uma linha do tempo sobre a destruição da Amazônia produzida pelo
Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), estimou que, na
década de 1970, a destruição tenha atingido 14 milhões de hectares, um índice que
deve chegar a 70 milhões de hectares nos dias de hoje (IMAZON, 2013).
Na década de 1970, vale lembrar, houve um forte incentivo à colonização pelo
Governo Federal e pelos governos estaduais também. Grandes obras de
infraestrutura, ocupação fundiária desordenada e abertura de rodovias e ferrovias,
por exemplo, estiveram entre os motivos para a intensa degradação ambiental.
Durante toda a década de 1970 foram os militares que governaram o Brasil. “Foi
neste período que o regime atingiu seu auge popular, graças ao 'milagre econômico',
coincidindo com o momento que aplicava censura em todos os meios de
131

comunicação, torturava e exilava” (LUIZ, 2019, online). A escala e o


desenvolvimento dos projetos do Governo Militar não resultaram apenas em uma
forte crise econômica para o Brasil, mas também causou uma sucessão de graves
desastres ambientais. Nos anos 1970, apenas pequenos trechos adicionais de Mata
Atlântica foram colocados sob proteção federal na época, por exemplo (DEAN,
2018).

Nas décadas de 1970 e 1980, os incentivos fiscais oferecidos pelo governo


brasileiro foram um dos principais fatores que motivaram o desmatamento
por grandes pecuaristas. Os incentivos incluíam o direito de investir em
fazendas amazônicas aprovadas o dinheiro que as empresas, de outra
forma, pagariam como imposto sobre os lucros das suas atividades em
outras partes do país. Também foram oferecidos empréstimos generosos a
taxas de juros muito abaixo da taxa de inflação e isenção de impostos sobre
a sua renda na Amazônia (FEARNSIDE, 2020, online).

No livro A Ferro e Fogo, Warren Dean recorda que os “militares e seus


simpatizantes reagiram com arrogância diante das questões levantadas na primeira
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada
em Estocolmo em 1972” (DEAN, 2018, p. 309).

Que venha a poluição, desde que as fábricas venham com elas, exultava
José Sarney, um senador do Nordeste que se tornaria presidente uma
década depois. O representante do governo na conferência apresentou uma
fórmula paulista dissimulada a qual constantemente seria repetida: “A pior
forma de poluição é a pobreza”. O diretor das imprudentes obras de
drenagem na região de Campos sentiu-se autorizado a descrever as lagoas
como “um desastre ecológico, biologicamente desequilibrado e inútil e a
caracterizar sua missão como a de “corrigir as aberrações da natureza
(DEAN, 2018, p. 309).

Especialistas defendem que o governo militar, iniciado com o decreto do Ato


Institucional 5 (AI5), em 1968, deixou para o Brasil uma “herança maldita” financeira,
que é, até hoje, bastante responsável por problemas atuais nacionais, como o
endividamento do setor público e o aumento da desigualdade social. Até 1985, a
taxa média de crescimento no país gerou em torno de 10% ao ano. A ascensão,
entretanto, veio acompanhada de uma forte desorganização na economia, da
formação e do crescimento da dívida externa em mais de 30 vezes para o
crescimento da indústria, do desequilíbrio fiscal e dos altos índices de inflação e
desemprego. Esses apontamentos foram feitos, por exemplo, pelo professor de
história econômica do Insper, Vinicius Muller, à BBC News Brasil (BARRUCHO,
132

2018). “Se o PIB cresceu como nunca, a repressão limitou o poder de barganha dos
sindicatos, e o salário dos trabalhadores amargou duas décadas de reajustes abaixo
da inflação” (BARRUCHO, 2018, online), disse ele na entrevista.
Após Jair Bolsonaro assumir a presidência em janeiro de 2019, a condição da
Mata Atlântica, da Amazônia, e de outros biomas brasileiros, só agravou-se ainda
mais. Entre 2018 e 2019, por exemplo, a Mata Atlântica perdeu 145 quilômetros
quadrados, um aumento de quase 30% em comparação ao período anterior,
segundo dados da SOS Mata Atlântica. “Os números de desmatamento do bioma
vinham caindo desde 2016, e entre 2017 e 2018, 113 quilômetros quadrados foram
devastados, a menor área registrada desde 1985” (PONTES, 2020, online). Já no
caso da Amazônia, também no intervalo de um ano, foram perdidos 13.235
quilômetros quadrados de árvores. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, o
desmatamento ilegal aumentou 22% em relação ao período anterior, quando somou
10.851 quilômetros quadrados. Foi a maior marca registrada nos últimos 15 anos. O
balanço foi elaborado com medições de satélites do Instituo Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) (GORTÁZAR, 2021).
Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal, os outros biomas nacionais além da
Amazônia e da Mata Atlântica, também vêm sofrendo com a política da gestão
Bolsonaro. No caso, do Cerrado, considerada a savana mais biodiversa do planeta e
o segundo maior bioma brasileiro, o desmatamento avançou em quase 8% em
apenas 12 meses. Foram mais de 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação
nativa perdidas; uma área equivalente à cidade de São Paulo. A extensão é a mais
alta desde 2016, impulsionada pelo crescimento da pecuária e da agricultura para a
exportação na região (PAJOLLA, 2022). Só em 2020, foram desmatados 7.340 km2,
a maior taxa em cinco anos. Em relação a 2019, houve aumento de 12,3% da
destruição em áreas de expansão da soja (WERNECK; ANGELO, 2021). Entretanto,
a destruição do Cerrado no Brasil não vem de hoje. De acordo com o Map Biomas, o
Cerrado já perdeu 26,5 milhões de hectares de vegetação nativa de 1985 a 2020 e a
agropecuária foi responsável por 98,8% desse desmatamento, sendo mais uma
prova do desrespeito histórico das autoridades brasileiras em relação ao patrimônio
natural. O Cerrado, vale lembrar, tem papel fundamental no abastecimento de água
no país, já que o bioma é responsável pela nascente de importantes rios brasileiros:
Rio Xingu, Rio Tocantins, Rio Araguaia, Rio São Francisco, Rio Parnaíba, Rio
Gurupi, Rio Jequitinhonha, Rio Paraná e Rio Paraguai. As águas do Cerrado
133

também são importantes para o abastecimento de aquíferos como o Guarani, que


possui uma vasta área na América do Sul (PENA, c2022).
A Caatinga, bioma presente em nove estados do Nordeste e em porções do
norte de Minas Gerais, foi o terceiro bioma mais desmatado no Brasil em 2020,
segundo o Map Biomas. A Caatinga perdeu 61.373 hectares para o desmatamento
somente naquele ano, o que representa um aumento de 405% em relação a 2019
(LEITE, 2021). O combate à desertificação da Caatinga foi uma das prioridades do
Governo Federal até 2018, por meio do Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação (PAN-Brasil), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Com a
eleição de Bolsonaro, no entanto, a coordenadoria foi extinta.
A condição do Pampa gaúcho é tão ou ainda mais grave. Presente apenas no
Rio Grande do Sul, o Pampa é o segundo bioma mais desmatado do Brasil (PAMPA
GAÚCHO..., 2012), ficando atrás somente da Mata Atlântica. De acordo com o
MapBiomas, o Pampa perdeu 2,5 bilhões de hectares de áreas nativas de 1885 a
2020, um decréscimo de 21,4% só nesse intervalo de tempo. No mesmo período, a
agricultura avançou mais de 1,9 milhão de hectares. Atualmente, a atividade agrícola
abrange quase 40% do território (PAMPA É..., 2021). Em 2020, segundo o
MapBiomas também, houve aumento de 99% nos alertas de desmatamento no
Pampa em 2020. O sistema ainda identificou em 2020 aumento de 125% na
realidade da Mata Atlântica, 43% no Pantanal, 9% na Amazônia e 6% no Cerrado
(SISTEMA MAPBIOMAS..., 2021).
Em se tratando de Amazônia, vale lembrar, o assassinato do líder sindical
Chico Mendes, em 1988, foi considerado um marco determinante na história do
bioma. Ele foi morto aos 44 anos, em uma emboscada por sua luta contra o
desmatamento e por melhores condições de trabalho para os seringueiros
(BARBOSA, 2019). Foi a partir desse crime que o governo brasileiro passou a sofrer
pressões, a maioria internacional, a respeito de suas políticas de omissão em
relação a destruição da natureza. Até hoje, a pressão estrangeira em relação às
políticas brasileiras em relação ao meio ambiente se faz necessária. Em setembro
de 2020, por exemplo, oito países europeus demonstraram preocupação em relação
ao aumento do desmatamento na Floresta Amazônica. Alemanha, Dinamarca,
França, Itália, Holanda, Noruega e Reino Unido afirmaram ao vice-presidente
Hamilton Mourão que o desmatamento dificulta a compra dos produtos brasileiros
(RADIO CULTURA, 2020). Ao falar de Chico Mendes, o ex-ministro do Meio
134

Ambiente do Governo Bolsonaro que ficou no cargo por anos e meio (entre 2019 e
junho de 2021), Ricardo Salles, afirmou que não conhecia Chico Mendes em uma
entrevista concedida em fevereiro de 2019 ao programa Roda Viva, e demonstrou
desprezo pela atuação do seringueiro em defesa da natureza e das causas
humanitárias. “É irrelevante, que diferença faz quem é Chico Mendes nesse
momento?”, disse (CERIONI, 2019, online).
Mesmo com grande exposição internacional, as políticas de desmonte
ambiental seguem em curso. Mais de três décadas depois do assassinato de Chico
Mendes, o Brasil ainda é um dos países que mais mata ativistas ambientais no
mundo. O relatório Last line of defence lançado em setembro de 2021 pela ONG de
direitos humanos Global Witness (2021), coleta desde 2012 dados sobre o
assassinato de ativistas no mundo e revelou que o país ocupa a 4ª colocação do
mundo entre as nações que mais matam ativistas ambientais. No cenário da
América Latina, o Brasil figura na terceira posição. Segundo o levantamento, 227
homicídios foram registrados no mundo em 2020, o equivalente a mais de quatro
mortes por semana. Cerca de três quartos dos crimes contra ativistas brasileiros e
do Peru ocorreram na Amazônia. “A exploração madeireira é apontada pelo relatório
como a principal causa dos assassinatos: 23 episódios foram associados à
atividade. O AGRONEGÓCIO e a mineração estiveram ligados a 17 homicídios”
(GALILEU, 2021, online), mostrou uma reportagem sobre o assunto veiculada na
revista Galileu.
Além de ser uma das nações que mais anula vidas de defensores ambientais,
o Brasil figura no topo do ranking dos países que mais maltratam a fauna no mundo.
O país é um dos que mais trafica animais silvestres. A prática representa 15% de
todo o tráfico de animais silvestres no mundo. Os dados são da Renctas (Rede
Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres). De acordo com a Rede,
mais de 38 milhões de animais são retirados todos os anos da natureza no Brasil de
forma ilegal e, na última década, foram lucrados mais de R$ 7 bilhões com o tráfico
de animais. Para cada dez animais retirados da natureza, no entanto, apenas um
sobrevive. A maioria dos animais traficados são vendidos ilegalmente para pet
shops, que não informam com transparência a procedência da espécie no momento
da compra. Colecionadores, zoológicos e a biopirataria – que inclui a
comercialização de espécies que produzem substâncias químicas para o
desenvolvimento de cosméticos e medicamentos – também estão entre os maiores
135

responsáveis pelo mercado ilegal no Brasil e no mundo. Papagaios, tucanos, araras,


peixes e cobras são as espécies que mais sofrem com a prática. Segundo a
Renctas, “o tráfico de animais silvestres é o terceiro comércio ilegal do mundo,
ficando atrás somente do mercado das drogas e das armas. Movimenta cerca de U$
10 bilhões por ano e responde por 10% do mercado mundial” (RENCTAS, 2002).
Os maus tratos à fauna também têm origem histórica. Ainda de acordo com a
Renctas, nos primeiros 30 anos de colonização, os navios carregavam uma média
de três mil peles de onças e 600 papagaios para a Europa. Em Saudade do Matão,
Teresa Urban recorda os abusos que envolviam a prática da exportação de animais,
ou de partes deles, para países europeus. Ela lembra, por exemplo, que entre 1901
e 1905, o Brasil exportou, a maioria para a Inglaterra, mais de 600 quilos de penas
de aves, como garça, arara, papagaio, tucano, beija-flor e surucuás (URBAN, 1998).
Ela também conta que as plumas e peles tinham grande aceitação na Europa.
Apenas em 1905, 118 mil quilos de peles de veado e 85 quilos de plumas de garça
foram exportadas (URBAN, 1998).

Os estados da região Amazônica respondiam pelo maior volume de penas


exportados, mas as espécies da Mata Atlântica ainda tinham boa cotação
no mercado. Araras, papagaios, beija-flores, tucanos e saracuras
continuavam sendo capturados para que suas penas pudessem adornar as
damas da Europa, quanto a ema enfrentava a perseguição implacável dos
fabricantes de espanadores.
Havia quem preferisse animais vivos e, neste mercado, as aves e alguns
primatas tinham ótima aceitação: papagaios, araras, periquitos, sabiás,
bicudos, graúnas, tucanos, araçari, arapongas, tiês, macacos-leão ou
micos-leão, macacos de cheiro, saguis, quatis e pacas. Essa forma de
exploração, sutil e incessante, deixou profundas marcas na floresta e
facilitou a degradação e a devastação absoluta das áreas naturais, cada vez
mais alteradas e modificadas pela ação humana (URBAN, 1998, p. 55).

Um aspecto importante de ser lembrado que envolve o tráfico de animais e


tem relação com prejuízos da prática para a saúde humana se refere ao fato de que
o problema também contribui para o surgimento de novas epidemias e pandemias.
De acordo com um relatório divulgado em julho de 2020 pelo Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), quando animais selvagens são retirados do
habitat, aumenta-se o risco de transmissão de doenças zoonóticas causadas por
patógenos que são transmitidos aos seres humanos pelos animais, como foi o caso
da covid-19. Esse tipo de enfermidade, segundo o UNODC, representa até 75% das
doenças infecciosas emergentes. Uma reportagem do jornal Correio Braziliense
136

lembrou que os pangolins, apontados como os mamíferos selvagens mais traficados


do mundo e como um possível vetor do Coronavírus, passaram a ter suas escamas
dez vezes mais comercializadas entre os anos de 2014 e 2018.
Destacou a matéria:

Elas são altamente valorizadas na medicina tradicional chinesa, embora os


cientistas afirmem não existir comprovação de efeitos terapêuticos. Devido
à possível relação com a transmissão do vírus, no mês passado, o governo
chinês removeu o pangolim da lista oficial de ingredientes para remédios
tradicionais (CORREIO BRAZILIENSE, 2020, online).

Durante a gestão Bolsonaro, além de crimes como o tráfico de animais não


viverem qualquer redução, a caça se tornou outro tema envolto em mais esforços
para flexibilizações e retrocessos. Mesmo proibida no Brasil desde 1967, com a Lei
da Fauna, a prática é historicamente exercida no país. De 1930 a 1960, por
exemplo, a caça foi uma das principais atividades extrativistas da Amazônia. Um
artigo publicado na revista Science Advances indicou que durante o auge do
comércio de pele das espécies mais exploradas, que incluíam jacarés, peixes-boi,
veados, porcos-do-mato, capivaras e ariranhas, cerca de R$ 500 milhões, em
valores atuais, foram movimentados. De 1904 a 1969, algo em torno de 23 milhões
de animais silvestres de, pelo menos, 20 espécies foram mortos para suprir o
consumo de couros e peles. De acordo com o artigo, os números referem-se apenas
ao que ocorreu nos estados de Rondônia, Acre, Roraima e Amazônia. Na época em
que ainda estava em campanha eleitoral para a presidência, Bolsonaro apareceu em
um vídeo apoiando a caça e a definindo como um “esporte saudável” (GOUVEIA,
2018). Depois de eleito, ele não só manteve a postura de apoio à prática e à projetos
de lei que buscam flexibilizá-la, como trabalhou para facilitar o acesso de armas para
caçadores (SENADO NOTÍCIAS, 2021). Também chegou a defender como
“manifestações esportivas e culturais” práticas de rodeios, vaquejadas e provas de
laço (ANDA, 2018, online), todas apontadas por defensores do bem-estar animal
como responsáveis por gerar profundo sofrimento e maus tratos aos animais
envolvidos (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2015) . Ainda sobre a caça, vale
lembrar, uma das maiores ameaças de piora desse cenário envolve o projeto de lei
5544/20, que, se aprovado, legalizaria a perseguição, a captura e o abate de
animais silvestres no Brasil (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2021). Atualmente,
por ser uma espécie exótica invasora e com grande poder reprodutivo, adaptativo e
137

predatório, apenas o javali pode ser caçado no Brasil. A proposta de expandir a


liberação para animais silvestres também é de autoria do deputado federal Nilson
Stainsack e foi retirada da pauta da Câmara dos Deputados em 2021 por forte
pressão popular. Em 2022, no entanto, a discussão sobre o assunto será retomada
(SOUSA, 2021).
Vinte países já reconhecem o tráfico de animais silvestres como crime
organizado e assinaram a Declaração de Lima, um acordo internacional que
apresenta 21 ações para combater essa atividade ilegal (ROMO, 2019). O Brasil, por
outro lado, caminha na contramão do progresso. Desde que Bolsonaro assumiu a
presidência, a situação dos animais e do meio ambiente só piorou. Ele sancionou a
criação do Dia Nacional do Rodeio na mesma data do Dia Mundial dos Animais
(UOL, 2019), apoiou a prática (ARIOCH, 2019), e estabeleceu uma portaria
autorizando o uso de armas brancas e cães na caça de espécies consideradas
exóticas ou nativas (SENADO NOTÍCIAS, 2021). Também defendeu a liberação da
caça no Brasil, ao aparecer em um vídeo, em 2018, durante uma passagem por
Goiás, ao lado de um filiado da Associação Nacional de Caça e Conservação,
dizendo “parabéns pela forma como encaram este esporte saudável” (OLHAR
ANIMAL, c2022).
Desde 2019, a gestão federal ainda ampliou a lista de países para onde o
Brasil exporta gado em pé e negociou o aumento do volume das exportações de
animais vivos para países como Egito, Turquia, Jordânia, Iraque, Líbano e Irã
(ARIOCH, 2020). A prática gera intenso sofrimento aos animais transportados, já
que passam dias espremidos nos espaços de transporte, mal alimentados,
desidratados e, muitas vezes, machucados (OLIVEIRA, 2018).

4.3 DIREITO HUMANO DE CONTAR COM UM MEIO AMBIENTE


ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO AINDA É DIARIAMENTE VIOLADO

Uma reportagem publicada em novembro de 2021 pela revista Aventuras na


História, fez um resumo sobre as diversas tentativas que existem desde o século
XVII para criar mecanismos no Brasil que responsabilizassem e punissem quem
destruísse a natureza de maneira criminosa. Apesar dos esforços, pouquíssimas
vezes até hoje as punições foram proporcionais à gravidade dos crimes cometidos.
A matéria apresentou a seguinte linha do tempo:
138

1605 – Promulgada a primeira lei de cunho ambiental no Brasil. Tratou-se do


“Regimento do Pau-Brasil”, que visava à proteção das florestas e exigia
uma autorização da Corte para a derrubada dessa árvore.
1797 – Uma carta régia reforça a necessidade de proteção a rios, nascentes
e encostas, que passaram a ser declarados propriedades da Coroa. Dois
anos depois, cria-se o Regimento de Cortes de Madeiras, estabelecendo
regras para a derrubada de árvores.
1830 – O Brasil passa a ter o seu primeiro Código Criminal, que tipificou
como crime o corte ilegal de madeira. Já em 1850, é promulgada a primeira
Lei de Terras do Brasil, que considerava a derrubada de matos ou o
ateamento de fogo crimes puníveis, com prisão de dois a seis meses, além
de multa.
1911 – Cria-se a primeira reserva florestal do Brasil, localizada no antigo
Território do Acre. Porém, não foi implantada. O Código Civil de 1916 trouxe
vários elementos ambientais.
1967 – São editados os Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração, bem
como a Lei de Proteção à Fauna, que tipificou como crime a captura de
animais silvestres, caça profissional, comércio de espécies da fauna
silvestre e produtos originários de sua caça.
1965 – Passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal. Os conceitos
de Reserva Legal (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APPs) são
oficializados na legislação. Os 25% que constavam no código anterior
passam a figurar como reservas legais.
1934 – É implantado o primeiro Código Florestal Brasileiro, que obrigava os
donos de terras a manterem 25% da área de seus imóveis com a cobertura
de mata original e criava a figura das florestas protetoras para garantir a
preservação de rios e lagos e de áreas de risco. No mesmo ano é colocado
em vigor o Código das Águas, que proibiu “construções capazes de poluir
ou inutilizar para o uso ordinário a água do poço ou nascente alheia a elas
preexistentes”.
1921 – Em 28 de dezembro é criado o Serviço Florestal do Brasil, sucedido
pelo Departamento de Recursos Naturais Renováveis, depois pelo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e, atualmente, pelo Instituto
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
1981 – Editada a Lei 6.938, que estabeleceu a Política Nacional de Meio
Ambiente. Considerada a primeira lei específica sobre meio ambiente no
Brasil, é criada com o objetivo de preservar e recuperar a qualidade
ambiental no país, e de reconhecer o meio ambiente como um bem jurídico.
1988 – É promulgada a atual Constituição Brasileira. Com ela, o Direito
Ambiental foi consolidado no país. O artigo 225 trata o meio ambiente como
um bem de uso coletivo. Impõe ao Poder Público e à sociedade o dever de
defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e
futuras. No ano seguinte, é criado o Ibama.
1998 – Publicada a Lei 9.605 que dispõe sobre crimes ambientais, prevendo
sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente.
2012 – Implantado o novo Código Florestal Brasileiro que levanta pontos
polêmicos entre os interesses ruralistas e ambientalistas. O Código Florestal
define o que deve ser preservado e restaurado nas propriedades rurais no
país. Entre os pontos mais discutidos está a lei que anistia crimes
ambientais cometidos antes de 2008. Ainda prevê que a retirada de
vegetação em APPs e em área de Reserva Legal para atividades
consideradas como “eventuais” ou de “baixo impacto” ambiental
dependerão de uma simples declaração ao órgão ambiental competente
(ANTONELLI, 2021, online).
139

A linha do tempo destaca a promulgação da Constituição Federal de 1988.


No artigo 225, ela determina que é direito de todo ser humano contar com um meio
ambiente ecologicamente equilibrado. “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (AMBITO JURÍDICO,
2007, online), diz ele. Um capítulo inteiro foi dedicado às questões ecológicas. O
artigo Governança Ambiental no Brasil: ecos do passado, de autoria de João Batista
Drummond Câmara, lembra que “seu texto aborda a Política Nacional do Meio
Ambiente e foi oficializado logo após a publicação, em 1987, do relatório O Nosso
Futuro Comum, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento”
(CÂMARA, 2013, p.). Essa comissão, ele recorda, era presidida pela Primeira-
Ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland, e “tratava da necessidade de buscar o
equilíbrio entre desenvolvimento e preservação dos recursos naturais
(BRUNDTLAND, 1988)” (CÂMARA, 2013, p.).

A Constituição Federal brasileira, de 1988, trouxe o meio ambiente para o


foco das decisões políticas, reconhecendo a ligação entre desenvolvimento
social e econômico e a qualidade do meio ambiente. Aos poucos, começou
a se delinear uma abordagem integradora que se opõe à visão
desenvolvimentista clássica adotada até então. Foram feitas algumas
alterações relevantes na legislação referente à fauna e à flora nesse
período. A Lei nº 9.605, de 12/2/1998, ao definir os animais silvestres,
aumentou o campo de abrangência no tocante à fauna silvestre (art. 29, §
3º), tendo elevado à categoria de crime o que antes era contravenção
(NETO, 1999).

Ainda em 1989, o Código Florestal teve alguns de seus artigos alterados


pela Lei nº 7.803, assim como foram acrescentados outros artigos visando
melhorar a gestão florestal. Foi instituída a Reserva Florestal Legal (RL),
assim como a exigência de ela ser averbada à margem da matrícula do
imóvel, no cartório de registro, tendo ficado proibida sua alteração nos
casos de desmembramento e transmissão da propriedade a qualquer título
(BRASIL, 1989). A Medida Provisória nº 1.551 (28/5/1997) também alterou o
Código Florestal, tendo como uma das principais mudanças a utilização de
apenas 20% da área em propriedade localizada na Amazônia, aumentando
a porcentagem da reserva legal, antes definida em 50% da propriedade
(NETO, 1999).

Outra ação de Governo que visava à consolidação das bases institucionais


para a gestão ambiental no Brasil foi a criação do Ibama, por meio da Lei
Federal nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, que é uma entidade
autárquica de regime especial, com autonomia administrativa e financeira, e
personalidade jurídica de direito público, com sede em Brasília, vinculada,
então, à extinta Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República
(posteriormente, Ministério do Meio Ambiente). O Ibama foi criado com a
finalidade principal de executar as políticas nacionais de meio ambiente
referentes às atribuições federais permanentes, relativas à preservação, à
140

conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais, sua fiscalização


e controle, e executar as ações supletivas da União em conformidade com a
legislação em vigor e as diretrizes daquele Ministério, de acordo com o
Decreto nº 3.833/2001 (CÂMARA, 2013, p.).

Warren Dean, autor de A Ferro e Fogo – a História da Devastação da Mata


Atlântica, destaca que a Constituição brasileira declarou toda a Mata Atlântica como
“patrimônio nacional”, juntamente com a Floresta Amazônica e o Pantanal” (DEAN,
2018, p. 354). A violação desse direito, portanto, não só é praticada desde a
colonização do país, até os dias atuais, mesmo diante da existência de uma
legislação que promete punir seu descumprimento e garantir direitos básicos à todas
as pessoas.
Como já mencionado, a legislação ambiental no Brasil é uma das mais
modernas e rígidas do mundo. A nação foi uma das primeiras a fortalecer a
legislação ambiental e o primeiro país na América do Sul a ter uma política nacional
do meio ambiente. Ela foi estabelecida pela lei 6.938 de 1981, ainda durante o
regime militar, para redimir erros grosseiros que haviam sido cometidos em termos
de planejamento territorial. Depois da Rio 92 – a conferência sediada no Rio de
Janeiro que estimulou a criação de leis, ministérios e agências dedicadas ao meio
ambiente – parecia que o Brasil reunia as condições ideais para se tornar uma
referência na conservação da biodiversidade (BOCUHY, 2021). Mas o país é um dos
que mais falha historicamente na aplicação das leis. E ainda não garante proteção a
cidadãos que trabalham para cumpri-la. Um estudo global lançado em janeiro de
2019 pelas Nações Unidas chamado Relatório sobre o Estado do Direito Ambiental,
da ONU Meio Ambiente, mostrou que, só entre 2000 e 2015, 527 ambientalistas
foram mortos no Brasil. "O que impressiona é que o Brasil não tem sido capaz de
frear e punir esses ataques com rigor", afirmou Carl Bruch, um dos autores do
Relatório, a uma entrevista ao portal DW Brasil (PONTES, 2019).
Os desastres ambientais nos municípios de Brumadinho e Mariana, ambos
em Minas Gerais, ocorridos, respectivamente, em 2015 e 2019, representaram dois
dos maiores desastres ambientais da história do Brasil. A tragédia Brumadinho
causou o maior impacto socioambiental já registrado na história do Brasil
(PASSARINHO, 2020). A barragem B1 da mineradora Vale, na mina do Córrego do
Feijão, rompeu dia 25 de janeiro de 2019. Foram quase 300 mortes formalmente
reconhecidas, mas muitos corpos até hoje não foram encontrados. Houve enorme
141

perda de casas, pousadas, aldeias indígenas de índios Pataxós, além de um


irreparável impacto ambiental à bacia do Rio Paraopeba, um dos afluentes do Rio
São Francisco, que perdeu a condição de importante manancial de abastecimento
públicos e usos múltiplos da água (SOS MATA ATLÂNTICA, 2019). Além disso, um
estudo feito por 15 cientistas do Instituto Butantã e da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), provou que embriões de peixes “paulistinha” morrem ou têm
anomalias quando colocados em contato com as águas do Paroeba. Do ponto de
vista genético, os pesquisadores mostraram que eles têm 70% de semelhança com
a espécie humana. A condição reforça os graves prejuízos à saúde que as pessoas
também podem ter quando em contato com as águas do rio ou com espécies de
animais que tiveram contato com ela (STROPASOLAS, 2020).
Em novembro de 2015, a barragem de Fundão, em Mariana, de propriedade
da empresa Samarco, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton,
também já havia se rompido, provocando a morte de 19 pessoas e despejando uma
avalanche de metais pesados na bacia do Rio Doce. Mais de 30 milhões de m³ de
rejeitos tóxicos foram lançados ao meio ambiente. Foram 663,2 quilômetros de
recursos hídricos afetados nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, passando
por 40 municípios. O turismo de subsistência de milhares de pessoas foi condenado
(BIAZON, 2018) e, de acordo com o Ibama, mais de 770 mil hectares de áreas de
preservação permanentes (APPs) acabaram completamente afetadas pelo desastre
(COSTA, 2015).

Em qualquer país sério, agentes públicos responsáveis e os executivos da


empresa estariam presos. No mínimo a companhia já deveria ter pago
multas bilionárias, o que não ocorreu. Aqui os envolvidos posam como se
uma tragédia anterior não tivesse ocorrido. Dão entrevistas como se eles
fossem também as vítimas do acidente. Ao invés de buscar soluções reais,
a Vale aproveitou da tragédia para lucrar. Usou a Renova para ganhar
tempo com as autoridades, recusando-se a cumprir o acordo fechado com o
Ministério Público Estadual e levando a disputa para o lento caminho
judicial. O objetivo era deixar as ações da Samarco despencarem de valor
para comprar a parte da sócia. Ironicamente, apesar do desastre ter
acontecido aqui no Brasil, a BHP Billiton está sofrendo consequências das
duras leis ambientais em seus países de origem, REINO UNIDO e Austrália.
Com a Vale, porém, não foi o que aconteceu. Em matéria assinada por José
Casado, veiculada em O Globo, o jornalista informa que a Vale concluiu a
compra da parte da sócia estrangeira, mas as empresas não confirmaram o
negócio. A Samarco continua fechada, o que facilita para a Vale não pagar
indenizações e valorizar sua produção em Carajás.
142

Até hoje, o julgamento do caso não foi marcado e ninguém foi preso. As
vítimas não foram totalmente indenizadas pela Vale e, muito menos, os danos
ambientais foram reparados. Das 68 multas cobradas da Vale, que totalizariam R$
552 milhões, apenas a entrada de uma, parcelada em 59 vezes, que corresponde a
1% do total, está sendo paga. O restante, a Vale recorre na Justiça. Até a população
de outras cidades afetadas pela tragédia sentem, ainda hoje, os efeitos da
contaminação por metais pesados, como doenças respiratórias e de pele (MOTA,
2019).
Em setembro de 2020, um relatório feito pela ONU após a visita de uma
comitiva do Conselho de Direitos Humanos da organização ao Brasil, afirmou que a
Vale teve uma conduta “criminosa imprudente” diante do rompimento das barragens.
O texto também denuncia a permissividade do governo brasileiro, que em nada
contribuiu para exigir o cumprimento da Lei e a reparação dos danos, tanto às
pessoas atingidas, quanto à natureza impactada. Os representantes da ONU
disseram ser “espantoso” que uma segunda barragem tenha rompido menos de
quatro anos após o desastre de Mariana. O relatório também aponta que a Vale
pressionou auditores externos a falsamente certificar a “estabilidade” da barragem
de Brumadinho e ignorou alertas sobre os riscos que as estruturas corriam nos dois
casos, incluindo também a negligência de executivos da BHP em Mariana. “Após os
desastres de Mariana e Brumadinho, nenhum executivo corporativo da Vale, BHP ou
Samarco foi condenado por conduta criminosa, uma farsa de justiça sugerindo que
alguns no Brasil estão de fato acima da lei” (ANGELO, 2020, online).
Entre 1995 e 2014, o Banco Mundial fez um estudo para calcular quanto o
Brasil perde ao não fornecer respostas adequadas a desastres naturais. Os
prejuízos apontados pelo levantamento foram na ordem de R$ 800 milhões por mês.
De acordo com o relatório, os danos econômicos acabam ainda mais agravados
quanto é a população pobre a mais afetada pelas catástrofes. "Quando a população
pobre é vítima de uma catástrofe, a perda proporcional de riqueza é de duas a três
vezes maior do que entre a não-pobre, devido à natureza e à vulnerabilidade dos
seus bens e meios de subsistência" (INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS, 2017),
destacou o Banco Mundial na pesquisa, reforçando a máxima de que é sempre a
população mais vulnerável social e economicamente, menos adequadas aos
interesses da lógica neoliberal, que mais perde diante de catástrofes e perdas do
patrimônio natural.
143

No livro A Doutrina do Choque, a jornalista Naomi Klein revela como


diferentes tragédias – naturais ou construídas – favorecem o processo de ascensão
do “capitalismo do desastre”, a forma como o neoliberalismo encontrou para se
tornar hegemônico em lugares onde, até então, não era. Em Nova Orlens, por
exemplo, após o furacão Katrina, em agosto de 2005 – com base em “conselhos” do
economista neoliberal Milton Friedman – a educação foi reformulada e as escolas
públicas privatizadas. Na obra, ela lembra que, como muitos desses projetos de
poder do capitalismo são impopulares, dependem de “choques” para serem
implementados ou impostos. Guerras, ditaduras, tragédias ambientais, pandemias,
ou períodos de extrema supressão de direitos favorecem esse plano, posto em
prática enquanto a sociedade se recupera dos choques vividos pelos traumas
inesperados (KLEIN, 2008). Também nesse sentido, o cenário do Brasil no período
“pós-pandemia” pode ser mais dramático do que parece.
É uma realidade cientificamente inegável que as mudanças climáticas já
afetam todas as partes do mundo e, se não reduzirmos as emissões de gases que
intensificam o efeito estufa ainda nesta década, os impactos serão cada dia ainda
mais severos e as consequências absolutamente irreversíveis. E vão ser as novas e
futuras gerações as que mais vão sofrer com as consequências do problema. Secas
e inundações devastadoras, calor extremo, crise hídrica, problemas de saúde
ocasionados pela falta de qualidade do ar, riscos à segurança alimentar e aumento
da fome no mundo, morte de florestas, extinção de espécies e o aumento das
condições para que novos vírus e doenças mortais sejam transmitidas são alguns
dos exemplos.
De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) (2022), ao longo ainda da próxima década, as
mudanças climáticas vão colocar entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas na
pobreza extrema. O relatório mostra que cada décimo de grau de aquecimento faz
com que também aumentem as ameaças às pessoas, espécies e ecossistemas.
Mesmo o limite de 1,5°C – uma meta global do Acordo de Paris –, segundo o
estudo, não é seguro para todos. Com esse índice de 1,5°C de aquecimento,
diversas geleiras em todo o mundo vão desaparecer por completo ou perder a maior
parte de seus volumes, mais de 350 milhões de pessoas enfrentarão escassez de
água até 2030 e até 14% das espécies terrestres vão correr risco de extinção.
Considerando o nível de respeito global histórico a acordos internacionais em prol da
144

saúde do planeta, dificilmente a marca será respeitada, o que aponta para a


configuração de um cenário realmente calamitoso se nada for feito. Hoje, o mundo já
vive um aumento de 1,1°C (LEVIN et al., 2022).
A ativista socioambiental sueca, Greta Thunberg inspirou uma greve global
pelo clima a partir de maio de 2018, com apenas 15 anos, quando passou a deixar
de comparecer às aulas todas as sextas-feiras para ir até a frente do parlamento
sueco protestar, pelo menos até as eleições no país, que aconteceriam em setembro
daquele ano. Na primeira sexta-feira de greve, ela permaneceu no local o dia inteiro
sozinha. Chamou a atenção de pessoas que passavam pela rua e de alguns
veículos de comunicação. Na segunda vez, algumas pessoas se juntaram a ela e,
depois, a cada sexta-feira, mais e mais pessoas se uniam, formando, em pouco
tempo, uma multidão. Ao longo das semanas, a greve de Greta foi se tornando
conhecida também por outros países e, assim, nasceu a organização global Fridays
For Future (Sextas-feiras Pelo Futuro, na tradução para o português). Greta se
tornou uma das principais vozes de uma geração, que exige ver seus líderes
atuando em prol do planeta. Hoje, o movimento está presente em mais de sete mil
cidades em todos os continentes, e conta com a participação de mais de 14 milhões
de pessoas (FOLTER, 2022). Em 2018, Greta participou da COP 24, a conferência
do clima da ONU em Nova York. Em 2019, foi parte da Cúpula de Ação Climática,
onde proferiu seu famoso discurso “How dare you?”, “Como se atrevem?”, traduzido
para o português, que viralizou.

“Como ousam! Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas
palavras vazias. E, no entanto, sou uma das pessoas sortudas. As pessoas
estão sofrendo. As pessoas estão morrendo. Ecossistemas inteiros estão
em colapso. Estamos no início de uma extinção em massa, e vocês só
falam de dinheiro e contos de fadas de crescimento econômico eterno.
Como se atrevem! Por mais de 30 anos, a ciência tem sido clara. Como
ousam continuar a olhar para o lado e vir aqui dizendo que estão fazendo o
suficiente, quando a política e as soluções necessárias ainda não estão à
vista.” (Fragmento do discurso de Greta Thunberg na Cúpula de Ação
Climática de 2019) (FOLTER, 2022, online).

Greta, assim como outros tantos ativistas socioambientais que viveram e


ainda vivem exigindo que governos tomem decisões drásticas e efetivas para reduzir
a emissão de gases de efeito estufa, insistentemente, deixam claro a todos os que
têm olhos para ver e ouvidos para escutar que a violação dos direitos da natureza é
também a violação de Direitos Humanos e constitucionais. O desrespeito histórico
145

de muitos países à pactos internacionais e à todas as formas de vida não vão parar
de gerar consequências altamente nocivas para as pessoas e o meio ambiente
como um todo.
A esperança para alguma alteração de cenário, além de se manifestar nas
figuras de ativistas, vem também de exemplos de países, estados e municípios que
já reconhecem a natureza como detentora de direitos, como um sujeito. O
movimento representa uma nova tendência no direito mundial, que trata a natureza
como ente passível de representação judicial. O desastre de Mariana, em Minas
Gerais ocorrido em 2015, a partir do rompimento de uma barragem da Samarco,
como já mencionado na presente dissertação, levou um mar de lama tóxica até o
Rio Doce, responsável pelo abastecimento de vários municípios da região. Dois
anos depois, de modo inédito no Brasil, o próprio rio entrou na justiça, exigindo a
prevenção a novos desastres e proteção à população (LOPES, 2017). A ação é um
exemplo de esforço que ganha grande força na América Latina, e considera a
natureza também sujeito de direito, o que garante a ela capacidade de
representação judicial.
O assunto é foco das pesquisas da juíza e professora Germana Moraes
(2018), do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará. Ela é autora do livro
“Harmonia com a Natureza e Direitos de Pachamama” e já representou o Brasil em
assembleia da ONU, quando o tema foi discutido. A professora sugere que, por não
ser uma criação humana, a Terra é algo anterior ao ser humano, portanto, dotada de
vida própria (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2017). Outro exemplo similar
veio, em 2018, do município de Bonito, em Pernambuco, que alterou a legislação
local para conferir direitos próprios aos recursos naturais da região (LOBEL, 2018).
Em Fortaleza e São Paulo também existem projetos de lei para que o mesmo seja
feito, o que imporia maior rigidez contra crimes ambientais e fortalecimento da
proteção dos recursos naturais. As constituições do Equador, em 2008, e da Bolívia,
em 2009, buscaram desconstruir o pensamento antropocêntrico ao trazer ao capítulo
sobre o meio ambiente um nome que ficou conhecido internacionalmente:
“Pachamama”, da língua indígena quíchua que, em uma tradução mais simples,
poderia ser traduzido pelo conceito de “mãe terra” ou “mãe natureza”. O artigo 72 da
Constituição Equatoriana diz:
146

A natureza ou Pachamama onde se reproduz e se realiza a vida, tem direito


a que se respeite integralmente sua existência e a manutenção e
regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos
(FREITAS, 2008, online).

Na Constituição Boliviana, a referência está no preâmbulo: Cumpliendo el


mandato de nuestros pueblos, con la fortaleza de nuestra Pachamama y gracias a
Dios, refundamos Bolivia. Em seu art. 30, inciso I, ela também reconhece a
necessidade de garantia de direitos às nações e povos indígenas originários
campesinos e toda coletividade humana que compartilhe identidade cultural, idioma,
tradição histórica, instituições, territorialidade e cosmovisão, cuja existência seja
anterior à invasão colonial espanhola. O país declarou o dia 22 de abril como o Dia
da Mãe Terra. No Equador, em 2011, o rio Vilcabamba já havia sido tratado como
sujeito de direito, após ação movida em razão do depósito de grande quantidade de
pedras e material de escavação causado por uma obra de alargamento de uma
estrada próxima, realizada sem os devidos estudos ambientais (MALISKA, 2017).
Essa nova doutrina também chegou à Nova Zelândia, onde um conflito entre o
governo do país e os maoris foi resolvido após a edição de um ato legislativo que
reconhecia a interdependência entre aqueles povos e o rio à beira do qual viviam.
Na ocasião, o rio Whanganui também foi declarado como sujeito de direito
(PRESSE, 2017).
A professora Germana Moraes (2017) lembra que, na África, por exemplo,
uma concepção similar é a do ubuntu, espécie de filosofia baseada na solidariedade
e convivência harmônica entre natureza e ser humano. Na América do Norte, há a
chamada jurisprudência da Terra (JORNAL DA UFC, c2022) e, na Europa, a
ecologia profunda (CABETTE, 2014). “São paradigmas que priorizam a vida, tanto a
nossa quanto a vida em sentido mais amplo, considerando-se que a comunidade do
planeta envolve humanos e outros seres, todos dependentes uns dos outros”, disse
ela a uma entrevista concedida ao Jornal da UFC (c2022). Todos esses movimentos
globais, portanto, surgem a partir da superação da ideia de que o ser humano deve
estar no centro de todo e qualquer interesse e da adesão da noção de harmonia
com a natureza, mais centrada na convivência saudável entre as diferentes formas
de vida. “O desenvolvimento nos levou até onde estamos, com ecocídios
anunciados. A harmonia com a natureza vem como proposta neutralizadora da ação
negativa do ser humano sobre a Terra”, defende a professora (JORNAL DA UFC,
147

c2022). Para que esse pensamento avance com cada vez mais expressão, é
necessário reconhecer que somos parte, e não temos controle nem somos
superiores à natureza e que, por isso, a conexão e a integralidade entre ser humano
e ambiente natural são mais estreitas e necessárias do que se imagina, já que a
sobrevivência de uma parte depende da saúde de todos na teia da vida.
O livro “Qual o valor da natureza? Uma introdução à ética ambiental”, de
Daniel Braga Lourenço, músico, teólogo e médico, destaca, logo no início, que:

Fundamentalmente, tudo o que é humano, é ecológico, e tudo o que é


ecológico é humano. Não há lugar para uma ruptura. A demarcação de uma
fronteira neste ponto inaugura a própria crise ambiental original que cinde
sujeito e objeto, homem e natureza, em um projeto prometeico de
supervalorização (LOURENÇO, 2019, p. 25).

Ele reforça que o antropocentrismo, do ponto de vista de uma proposta de


ética aplicada à natureza, se revela “insuficiente no sentido de traduzir uma ética
normativa minimamente sustentável” (LOURENÇO, 2019, p. 75). Já o biocentrismo,
que indica que todos os organismos vivos possuem valor intrínseco, são fins em si
mesmos.

Não somente seres humanos, mas todos os seres vivos, animais, vegetais e
até mesmo micro-organismos, pelo mero fato de serem vivos (o critério
fundamental é a essência biológica), possuiriam um interesse fundamental
em realizar suas potencialidades biológicas. Seriam centros teleológicos de
vida (LOURENÇO, 2019, p. 77).

No livro, Daniel Braga lembra Albert Schweitzer, ganhador do prêmio Nobel


da Paz e um dos precursores do conceito de biocentrismo para ampliação dos
horizontes morais. Para Schweitzer, a sociedade moderna, com o advento da
industrialização e da Revolução Científica, afastou-se decisivamente da visão que
conectava a boa vida ao equilíbrio natural, gerando, com isso, uma “polarização
indevida entre o homem e a natureza” (LOURENÇO, 2019, p. 78).

Um homem é realmente ético quando obedece ao dever de ajudar a todas


as formas de vida que puder, e quando se conduz no sentido de evitar lesar
qualquer ser vivente. Ao assim proceder, ele não indaga sobre o quão longe
esses seres vão em sua capacidade de sofrer. Para ele, a vida, pelo mero
fato de ser vida, é sagrada. Não quebra nenhum cristal de gelo que reluz ao
Sol, não arranca folha alguma das árvores, não pisoteia as flores do campo
ou os insetos ao caminhar. Se trabalha sob a luz de lamparina em uma
noite de verão, prefere manter as janelas fechadas a ver insetos caírem um
148

após o outro em sua mesa com as asas queimadas (LOURENÇO, 2019, p.


79).

Daniel Braga também menciona Bryan Norton, filosofo e especialista em ética


do meio ambiente, que afirma que:

as políticas que servem aos propósitos da espécie humana como um todo,


a longo prazo tenderão a favorecer os ‘interesses’ da natureza, e vice-versa,
pois nenhum valor humano pode ser protegido, sem que seja também
protegido também o contexto no qual se desenvolve (LOURENÇO, 2019, p.
240).

Até as florestas e as espécies que a compõe vêm sendo objeto de estudos,


por revelarem uma inteligência para a interação, a cooperação e a comunicação
entre elas que reforça a ideia de uma consciência existente em todas as formas de
vida. O livro “A vida secreta das árvores”, de Peter Wohlleben, engenheiro florestal e
cientista alemão, por exemplo, de traz evidências seguras de que elas mantêm
relacionamentos, se comunicam, forma famílias, tem memória, defendem-se de
agressores e competem com outras espécies, até com outras árvores da mesma
espécie. O físico austríaco Fritjof Capra (1996, p.26), como também recorda Daniel
Braga em “Qual o Valor da Natureza – Uma introdução à ética ambiental”, vai além e
ressalta a ligação entre ecologia, vida humana e espiritualidade.

Em última análise, a percepção da ecologia profunda é percepção espiritual


ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendida como o
modo de consciência no qual o individuo tem a percepção de pertinência, de
conexão como cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção
ecológica é espiritual na sua essência mais profunda. Não é, pois, de
surpreender o fato de que a nova visão emergente da realidade baseada na
percepção da ecologia profunda seja consistente com a chamada filosofia
perene das tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade
dos místicos cristãos, da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia
subjacentes às tradições nativas norte-americanas (LOURENÇO, 2019, p.
301).

O livro ainda recorda que, na década de 1960, a Nasa pediu a James


Lovelock, um químico inglês, para pensar nos tipos de experimentos que poderiam
ser incluídos na espaçonave Vicking para testar a presença de vida em Marte. Ele,
no entanto, sugeriu que seria possível inferir a existência de vida no planeta
vermelho sem ter que ir até lá. Bastava analisar os processos químicos que abrigam
a vida.
149

A ideia geral da teoria que ele propôs, é que a biosfera, como um todo,
tende a homeostase, produzindo e mantendo condições propícias para a
sua própria existência. A conclusão dele traduz um caminho para a
afirmação de que a biosfera poderia ser vista, não só metaforicamente, mas
de fato, como um organismo individual. Em sua visão, a Terra estaria “viva”,
pois “todo o espectro da vida na Terra, das baleias aos vírus, dos carvalhos
às algas, pode ser considerado como constituindo uma única entidade viva,
capaz de manipular a atmosfera da Terra para acomodar suas demandas e
possuidora de faculdades. E poderes muito superiores aos de suas partes
constituintes”.
A hipótese Gaia, que consiste em tratar a biosfera como um organismo vivo,
autônomo, recupera a intuição holista com uma pitada espiritual, na medida
em que há referência a uma entidade divina, Gaia. A tese envolve a ideia de
que a biosfera (Gaia) é muito mais resiliente que a maior parte dos
ambientalistas normalmente imaginam. A mensagem, por mais paradoxal
que possa soar, é de que a natureza como um todo não seria frágil, e que
muitas das nossas medidas de salvaguarda, atualmente presentes no
âmbito do direito ambiental, seriam desnecessárias. Todavia, Gaia teria
“órgãos vitais”, e esses órgãos seriam o seu ponto fraco. As áreas
pantanosas., as florestas tropicais e as plataformas continentes, para
Lovelock, seriam exemplos de sistemas que poderiam colocarem risco a
estabilidade do todo.
Gaia não seria apenas mais um organismo qualquer, ela possuiria
demandas, interesses e formas específicas de interação que a qualificariam
praticamente como um autêntico sujeito moral. Na mitologia grega, Gaia
representa a mãe universal de todos os seres. Com o desenvolvimento do
mito, passou a ser confundida com Vênus, Ceres, Cibele ou Juno. É
normalmente representada pela figura de uma mulher gigantesca, de
formas pronunciadas e seios volumosos.
O filósofo Anthony Weston diz que Gaia não é somente um organismo. Está
mais para uma pessoa. A biosfera pode ser vista como um ser integrado de
acordo com a hipótese Gaia, e ela monitora seus próprios estados e se
adapta de acordo com as suas necessidades. Personificá-la, chamando-a
por um nome, pode, portanto, ser totalmente apropriado. Se esse for o caso,
podemos invocar em sua defesa a já estabelecida defesa do valor inerente
das pessoas. Podemos ser chamados a repensar nossa concepção acerca
do conceito de pessoa e a presunção de que somente seres humanos (ou
organismos que se assemelham a nós) contam como pessoas
(LOURENÇO, 2019, p. 384-386).

O conceito de One Health – ou Saúde Única, na tradução para o português,


vem ganhando cada vez mais espaço em discussões científicas que tratam de
questões ligadas à saúde e à epidemiologia. Ele se refere à integração entre saúde
humana, animal, conservação da natureza e adoção de políticas públicas efetivas
para a prevenção e o controle de enfermidades nos níveis local, regional, nacional e
mundial. O nome é novo, mas a lógica do conceito é mais antiga. O médico
patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902) já afirmava no século 19 que não
deveria haver divisórias entre animais e a medicina humana. Foi ele o responsável
por cunhar o termo “zoonose”, que se refere a doenças e/ou infecções transmitidas
para o ser humano através dos animais. Mais tarde, em 1984, o médico veterinário
150

norte-americano Calvin W. Schwabe (1984), com o lançamento da obra “Veterinary


Medicine and Human Health”, discutiu e reforçou a importância da junção entre
saúde humana, animal e meio ambiente. No livro, ele adota a expressão “One
Medicine”, que, mais tarde, passou a ser conhecida como “One Health”.
Enquanto as pessoas viverem próximas ou junto de animais, seja de
estimação, na pecuária ou de animais selvagens – que se aproximam cada vez mais
com a degradação das florestas – a iminência de doenças é crescente. Com a
interconexão entre as populações e os países, portanto, a necessidade de
considerar e aplicar efetivamente o conceito One Health aumenta, para proteger
pessoas e animais de doenças ou impedir cortes de interações e prejuízos
econômicos que podem acompanhar esses surtos de doenças, como ocorreu no
caso da pandemia causada pela covid-19.
Em 2019, médicos escoceses passaram a receitar o contato com a natureza
para contribuir com o tratamento de doenças. As recomendações foram adotadas
pelo sistema de saúde público no país, que criou o programa chamado Nature
Prescriptions, em parceria com a Royal Society for Protection of Birds (RSPB). A
iniciativa convida os pacientes dos hospitais a realizar atividades no arquipélago de
Shetland. A recomendação é de que as pessoas passem de 20 minutos a duas
horas por dia ao ar livre. A conduta não substitui os remédios, que continuam a ser
receitados pelos médicos (ALVES, 2019). No Canadá, a iniciativa chamada Park
Prescriptions prescreve o mesmo. Segundo a médica Melissa Lem, entrevistada
pelo portal GreenMe, a natureza deve ser considerada o 4° pilar da saúde, tendo a
alimentação, exercícios e o sono como os outros três.
Para que essa necessidade seja cada vez mais democratizada, e também
prescrita por médicos de outros países, como o Brasil, é fundamental que o poder
público e o setor privado entendam a necessidade de designar condições para a
criação e o aproveitamento de áreas naturais como parte essencial do sistema de
saúde. Já existem iniciativas sólidas e significativas no Brasil e no mundo, que
geram resultados extremamente expressivos para a conservação da natureza e a
qualidade de vida da população. No caso do Brasil, uma das iniciativas que merece
ser lembrada é a conduzida desde a década de 1990 pela Sociedade de Pesquisa
em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Na época, a SPVS comprou e
restaurou 19 mil hectares de área de florestas e pastagens para restaurar os
espaços, que estavam significativamente degradados por conta do extensivo plantio
151

de espécies exóticas e da criação de búfalos na região. Nos anos 70, a ditadura


militar estimulou o corte de madeira nativa e a criação de búfalos em regiões de
mata das cidades de Antonina e Guaraqueçaba. As reservas das Águas, Guaricica,
ambas em Antonina, e a Papagaio-de-cara-roxa, em Guaraqueçaba, foram criadas
com o apoio de recursos de três multinacionais norte-americanas que, na década de
90, estavam interessadas.
O dinheiro para comprar as terras foi doado pela American Electric Power, do
setor de energia, pela petrolífera Chevron-Texaco e pela montadora General Motors.
A intermediação para o repasse do dinheiro à SPVS foi feita pela ONG ambiental
também norte-americana The Nature Conservancy (TNC), que tinha experiência em
captar recursos de grandes empresas poluidoras no mundo. Na época, a Texaco
havia sido acusada de despejar bilhões de litros de água tóxica e mais de 60
milhões de litros de óleo no interior do Equador, matando integrantes de povos
originários locais. Até hoje, os processos e as acusações contra a empresa tramitam
nas Cortes equatorianas e pela América Latina. O objetivo das corporações, além de
trabalhar para compensar parte dos danos causados, era sair na frente das outras
companhias. Elas temiam ser obrigadas a assumir grandes ações ambientais para
cumprir tratados internacionais que contribuíssem com a redução dos gases
causadores do efeito estufa, como o Protocolo de Kyoto.
As reservas abrigam milhares de espécies de fauna e flora da Mata Atlântica,
muitas que só existem na região, chamadas “endêmicas”, como, por exemplo, o
papagaio-de-cara-roxa, que pode ser encontrado somente nos litorais dos estados
do Paraná e São Paulo. Abrigam também diversas espécies ameaçadas de
extinção, como a onça-pintada, jacutinga, onça-parda e o palmito. Na época da
aquisição das áreas, as empresas investiram US$ 18 milhões, quase R$ 100
milhões no cambio atual, para comprar as terras, recuperá-las e mantê-las por uma
média de 40 anos. O fundo para a manutenção das reservas dura mais alguns
poucos anos, o que significa que a SPVS agora tem urgência de encontrar outras
corporações, ou mesmo contar com o investimento do poder público para aportar
recursos nas áreas que, depois de recuperadas, agora precisam ser mantidas para
as próximas décadas e gerações. Elas garantem incontáveis serviços
ecossistêmicos, que são os benefícios que a sociedade obtém direta ou
indiretamente da natureza. A Reserva Papagaio-de-cara-roxa, por exemplo, abriga a
fonte onde é captada água para abastecer a população de quatro comunidades –
152

perto de 600 habitantes – que vivem na Ilha Rasa. A área é contígua à Estação
Ecológica de Guaraqueçaba, a primeira Unidade de Conservação pública criada na
região, em 1982, e que abriga os manguezais mais bem conservados do Atlântico
Sul. A Guaricica, em Antonina, também abriga outra importante fonte de água que
abastece regiões vizinhas. No caso da Reserva Natural das Águas, também em
Antonina, ela é responsável por disponibilizar. Água captada por uma empresa
municipal, que garante o abastecimento de toda a população urbana de Antonina,
estimada em 19.420 habitantes, segundo dados do IBGE de 2017. No caso de
Antonina, com cerca de 80% de seu espaço constituído de áreas naturais, muitas
delas em áreas de proteção estaduais ou federais.
A SPVS é uma das maiores apoiadoras de outra iniciativa, que busca a
proteção de um remanescente de Mata Atlântica ainda mais significativo: a Grande
Reserva Mata Atlântica. As três reservas da SPVS ficam localizadas neste território,
que compreende mais de 2,7 milhões de hectares de Mata Atlântica somados a mais
de 2,2 milhões de hectares de ecossistemas marinhos ainda preservados,
localizados entre os estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A Grande
Reserva é compartilhada por 60 municípios e abriga uma enorme e diversa vida
selvagem, montanhas, cavernas, cachoeiras, baías, manguezais, unidades de
conservação e praias do oceano Atlântico, além de cidades coloniais das mais
antigas do Brasil e comunidades indígenas e históricas. A iniciativa da Grande
Reserva foi lançada no segundo semestre de 2018, a partir da inspiração de um
exemplo que veio do Parque Iberá, na província de Corrientes, na Argentina. Ao
longo de 13 anos, o biólogo espanhol Ignácio Jiménez-Pérez trabalhou pela
Conservation Land Trust (CLT) no projeto de Esteros Del Iberá, na Argentina, para
recuperar a região, que sofria com a degradação ambiental de décadas de
exploração desenfreada.

Junto ao governo argentino e à província de Corrientes, o biólogo participou


da criação do maior Parque Natural do país, recuperando espécies
selvagens extintas, como veado-campeiro, tamanduá-bandeira, cateto, anta,
arara e a onça-pintada. Além do impacto ambiental positivo sobre a
biodiversidade, a experiência de Iberá serviu para gerar novas opções de
desenvolvimento para a economia e a política argentinas. A criação do
Grande Parque Iberá não só gerou novas oportunidades de emprego como
também promoveu a valorização da cultura local e a criação de uma nova
Secretaria de Turismo em uma província que antes não se via como
turística. Em paralelo, a mídia internacional começou a falar sobre a região,
o que fez com que o The New York Times e a revista National Geographic
elegessem Iberá como um dos 50 principais lugares de natureza no mundo
153

para se visitar, expondo-o como um destino turístico e como um exemplo de


restauração ecológica e cultural (SOU ECOLÓGICO, 2019, online).

Depois do sucesso argentino, foi a vez de trazer as experiências reunidas


para serem aplicadas no Brasil, na proposta da Grande Reserva. Por meio do
conceito de “produção de natureza”, criado por ele e aplicado no exemplo da
Argentina e agora na proposta da Grande Reserva, Ignácio defende que seja essa a
base para o desenvolvimento econômico e social de áreas que preservam
importantes patrimônios naturais. Dessa forma, a natureza passa a oferecer
produtos e atrativos para serem comercializados de forma sustentável pelo
ecoturismo. A proposta se relaciona diretamente com o conceito dos serviços
ecossistêmicos fornecidos pela natureza. Sem eles, não existem possibilidades de
manutenção de qualquer negócio, nem mesmo para. o agronegócio, por exemplo.
Alguns estudos, como um feito por pesquisadores das Universidades
Federais de Minas Gerais e Viçosa, projetam perdas de produtividade causadas pelo
desmatamento e pelas mudanças climáticas para os próximos 30 anos. A maior
parte da produção agrícola brasileira depende das chuvas. Só 5% da produção total
e 10% da produção de grãos são irrigados, o que significa que mudanças no volume
de chuvas afetam diretamente a produção do país. Já análises sobre os Efeitos do
Desmatamento Tropical no Clima e na Agricultura, das cientistas americanas
Deborah Lawrence e Karen Vandecar, afirmam que, quando o desmatamento na
Amazônia atingir 40% do território (atualmente ele está em 20%), a redução das
chuvas será sentida a mais de 3,2 mil km de distância, na bacia do Rio da Prata. A
Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), em 2019, acumulou uma perda
demais de 16 milhões de toneladas na safra de soja daquele ano em virtude da seca
que atingiu as principais regiões produtoras desde o fim de 2018. As ondas de calor
e a seca que afetaram diferentes áreas do Brasil geraram, em alguns estados,
prejuízos de R$ 45,3 bilhões. Foi o caso do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa
Catarina e Mato Grosso do Sul. Em algumas regiões, em janeiro de 2022, os
termômetros alcançaram 36ºC em cidades como Uruguaiana e Bagé (RS), de acordo
com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No Paraná, o prejuízo foi calculado
em R$ 22,5 bilhões, enquanto Santa Catarina perdeu R$ 1,5 bilhão. No Mato Grosso
do Sul, apenas a quebra na soja já custou R$ 1,6 bilhão e a tendência é de que o
cenário se agrave (CANAL RURAL, 2022).
154

É inquestionável que todos os negócios precisarão estar cada vez mais


alinhados a preocupações climáticas, caso contrário, a crise hídrica, por exemplo, já
sentida com mais intensidade entre os anos de 2020 e 2021, promete gerar impactos
ainda maiores. Em um tempo em que o conceito de ESG, por exemplo, vem
crescendo significativamente (Environmental, Social and Corporate Governance), ou,
na tradução para o português, práticas “ambientais, sociais e de governança”
adotadas de forma eficiente por uma corporação, algumas empresas vêm saindo na
frente ao aderirem aa ações realmente efetivas em prol do meio ambiente e da
mitigação de seus impactos. A Certificação Life, por exemplo, é uma ferramenta
criada pelo Instituto Life em 2009, que propõe uma avaliação dos impactos à
biodiversidade por parte de uma organização e a subsequente mitigação ou
compensação desses danos por meio de um leque de ações concretas para a
conservação, contempladas com base nas prioridades de cada empresa. A
metodologia da certificação possibilita uma avaliação dos impactos da organização à
natureza, ao mesmo tempo em que avalia e pontua ações de conservação
implementadas pela corporação. Atualmente, são as primeiras do mundo a contar
com a certificação as empresas Itaipu Binacional, Grupo Boticário, Gráfica e Editora
Posigraf, C-Pack, líder na América Latina em produção de bisnagas plásticas para a
indústria de cosméticos, e o escritório de advocacia Gaia, Silva, Gaede &
Associados.
É também fato que a pandemia causada pela Covid-19 causou um
agravamento do cenário de instabilidade emocional e de saúde na sociedade global.
Ainda não se sabe ao certo a multiplicidade e a intensidade das sequelas geradas
pelo vírus no corpo humano. Mas também é evidente que, mais do que nunca, é
latente a necessidade do cuidado integral com a saúde de todas as formas de vida.
Só conhecendo nosso passado como sociedade, nossas dores, os problemas
históricos e atuais e curando o nosso emocional – e o ressentimento que ainda
domina boa parte da população brasileira e global – é que vamos nos conectar com
nós mesmos e curar tantas dores ressentidas. Quanto mais distantes da natureza e
da nossa própria essência e fonte de vida estivermos, mais distantes de nós
mesmos estaremos. Ao longo dos séculos, a natureza vem sendo muito resiliente
com todos os impactos impostos pelas ações humanas, mas, com o tempo, a
tendência é de que se proteja, com cada vez mais intensidade, das agressões
sofridas. Para todas as ações, existem consequências. E se permitirmos, como
155

sociedade brasileira e nacional, a permanências de líderes políticos que caminham


na contramão dessas evidências por ainda mais anos no poder, elas serão
absolutamente incontornáveis, insuperáveis e drasticamente nocivas à qualquer
condição mínima que garanta a existência de vida na Terra.
156

5 CONCLUSÃO

Em 31 de dezembro de 2022, termina o mandato de Jair Bolsonaro. Isso, se


não houver reeleição do atual presidente. Nos quatro anos em que ocupou o mais
alto cargo do poder Executivo Federal, Bolsonaro deixa um cenário de terra
arrasada ao Brasil, que promete prejudicar o país por muitos anos e impactar
diretamente atuais e futuras gerações inteiras.
Os efeitos da política bolsonarista ainda são incalculáveis e imensuráveis,
mas serão sentidos por toda a nação por muitos anos. Algumas consequências, são
completamente irreparáveis, como às relacionadas aos danos sociais e ambientais.
Estruturas de Estado foram desmontadas, políticas públicas sociais e ambientais
construídas a partir de muita luta da sociedade civil acabaram desfeitas, direitos
humanos e ambientais foram, todos os dias, por mais de 1.400 dias, violados. Como
mencionado na presente dissertação, o governo criou obstáculos para o bom
desempenho e o progresso das áreas da saúde, educação, economia, ciência,
previdência, comunicação, transparência e natureza, por exemplo.
Para se eleger, Bolsonaro se aproveitou do sentimento de profundo
ressentimento que domina a maioria dos brasileiros. Convenceu de que seria a
melhor opção para um público que sente que não tem seus direitos básicos
assegurados, para outro que se frustrou com promessas públicas não cumpridas,
para mais um que nutre historicamente o medo da perda do status quo e para outro,
que vê o conservadorismo, a intolerância, o conflito e métodos punitivos e vingativos
como caminhos para a resolução dos problemas sociais. Bolsonaro personificou, em
uma figura, e em sua forma de governar, com o apoio de ministros e outros atores
alinhados ideologicamente a seus valores, ideais machistas, misóginos, violentos,
racistas, preconceituosos, excludentes, classistas e elitistas.
A eleição da atual gestão federal também teve a seu favor um terreno fértil
criado pela carência educacional do brasileiro e pela ausência de estímulos ao
conhecimento da educomunicação – que é o método de ensino no qual a
comunicação em massa e a mídia são usadas como elemento de educação para
facilitar a correta interpretação dos conteúdos entre os cidadãos. Neste campo, em
que a presença do conservadorismo foi essencial, a chamada “fábrica de fake news”
encontrou amplo espaço para se desenvolver. A nível internacional, já havia
contribuído com a eleição do ex-presidente norte-americano, Donald Trump e com o
157

crescimento de conceitos, ideias, partidos e figuras políticas de extrema-direita em


países europeus. Em um movimento sinérgico às tendências globais, Jair Bolsonaro
foi eleito no Brasil em 2019, com uma política capaz de provocar o maior desmonte
de direitos e políticas socioambientais da história do país.
Bolsonaro viabilizou as condições ideais para que o projeto ultraliberal do
economista e ministro da economia em sua gestão, Paulo Guedes – formado pela
famosa Escola de Economia de Chicago, tradicional pela promoção do extremo
liberalismo econômico – promovesse enorme estímulo à privatização, à venda de
ativos públicos e à consolidação de um Estado mínimo no Brasil, adequado aos
critérios do Neoliberalismo. Teorias produzidas nessa escola serviram de base para
políticas econômicas de governos militares, como o de Pinochet, no Chile, que
promoveu privatizações de várias empresas e, em 1981, o desmonte absoluto da
previdência social. Hoje, metade dos idosos chilenos não tem aposentadoria e
muitos estão em situação de miséria, sem qualquer tipo de seguridade social.
Um estudo feito pela consultoria IDados em fevereiro de 2022, indicou que a
taxa de desemprego no Brasil deve atingir 11,2% da população brasileira até o final
de 2022. Em valores absolutos, o número de ocupados no Brasil pode aumentar em
cerca de 500 mil, mas pelo menos 12 milhões de pessoas continuarão desocupadas
no país. De acordo com o IBGE, quase 40 milhões de brasileiros trabalham hoje na
informalidade, sem carteira de trabalho assinada. Isso significa que, da força total de
trabalho do país – estimada em 105 milhões de brasileiros –, 41% desse total não
conta com qualquer proteção social, porque não faz contribuições para a
Previdência. Com isso, essa parcela social acaba impedida de receber quaisquer
auxílios previstos no âmbito da seguridade social, além de não garantir direito à
aposentadoria. Esse cenário ampliou significativamente depois da Reforma
Trabalhista, promovida pelo governo Temer. A Lei nº 13.467 foi sancionada em 11
de novembro de 2017 e, além de alterar mais de cem pontos da CLT, as mudanças
dificultaram o acesso à Justiça do Trabalho e aumentaram o número de demissões
por acordos fora dos sindicatos, o que representou ainda menos direitos aos
trabalhadores e trabalhadoras. Houve, também, queda abrupta do volume de ações
na Justiça do Trabalho, porque, o trabalhador que teve seu direito violado passou a
ter de arcar com as custas processuais em caso de o juiz dar ganho de causa ao
empregador. A Reforma Trabalhista oficializou um projeto de precarização do
trabalho com consequências sociais ainda inimagináveis, mas bastante
158

preocupantes. Junto com a reforma, foram propostas alterações profundas no


sistema previdenciário brasileiro, que, a exemplo do que ocorreu no Chile a partir de
Pinochet, promete criar no Brasil um caos social sem precedentes.
O constante crescimento da inflação é outro problema que agrava muito a
condição econômica do país. Em março de 2022, o Brasil completou seis meses
com a inflação ao consumidor acumulada acima dos 10%, segundo o IBGE. A
alteração das cadeias produtivas globais causada pela pandemia e o aumento do
dólar, do petróleo, das commodities agrícolas e a crise hídrica, somados aos
diversos episódios de tensões políticas, resultaram em aumentos finais sobre os
preços de combustíveis e alimentos.
No livro A Doutrina do Choque, a jornalista Naomi Klein revela como
diferentes tragédias – naturais ou construídas – favorecem o processo de ascensão
do “capitalismo do desastre”, a forma como o neoliberalismo encontrou para se
tornar hegemônico em lugares onde, até então, não era. Em Nova Orlens, por
exemplo, após o furacão Katrina, em agosto de 2005 – com base em “conselhos” do
economista neoliberal Milton Friedman – a educação foi reformulada e as escolas
públicas privatizadas. No livro, ela lembra que, como muitos desses projetos de
poder do capitalismo são impopulares, dependem de “choques” para serem
implementados ou impostos. Guerras, ditaduras, tragédias ambientais, pandemias,
ou períodos de extrema supressão de direitos favorecem esse plano, posto em
prática enquanto a sociedade se recupera dos choques vividos pelos traumas
inesperados. Também nesse sentido, o cenário do Brasil no período “pós-pandemia”
deve ser mais dramático do que parece.
De 2020 a maio de 2022, mais de 660 mil pessoas morreram em decorrência
da Covid-19, de acordo com dados oficiais. O Brasil ocupa o terceiro lugar entre
todos os países do mundo com mais mortes causadas pela pandemia, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.
Se o governo federal tivesse adotado postura diferente – incentivando o uso de
máscaras, medidas de isolamento social, promovendo campanhas de educação e
esclarecimento sobre a doença, valorizando a ciência e a academia e acelerando a
aquisição das vacinas no país – o número de mortes teria sido muito menor. Pedro
Hallal, epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, afirmou
em uma audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, que
quatro em cada cinco mortes pela doença no país poderiam ter sido evitadas se
159

medidas como essas tivessem sido tomadas desde o início da crise sanitária. Além
disso, o setor da saúde foi outro fortemente prejudicado pela gestão Bolsonaro. Só
em 2019, com a aprovação em dezembro de 2016 da Emenda Constitucional 95, a
Saúde perdeu R$ 20 bilhões em investimentos. Na gestão de Bolsonaro, a ocupação
de cargos técnicos por militares e indicações políticas sem qualificação ocorreram
como nunca desde a criação do Sistema Único de Saúde, o SUS. O desmonte do
programa Mais Médicos, que levou mais de 15 mil médicos, a maior parte cubanos,
para regiões do Brasil onde havia escassez ou ausência desses profissionais,
também prejudicou o acesso à saúde dos menos favorecidos.
No Brasil de Bolsonaro, flagrantes de pessoas lutando contra a fome também
entraram para a história. Elas foram filmadas em frente ao Mercadão Municipal de
São Paulo, buscando ossos de carne na caçamba de descarte do local. No país em
que a fome avança a passos largos, são registrados índices igualmente significativos
em exportação de alimentos. Muito do que se produz hoje no país, utilizando solo,
água, sol e outros serviços ecossistêmicos, é vendido ao mercado internacional. A
política cambial da gestão Bolsonaro incentiva as exportações, promovendo uma
acelerada concentração de renda no país.
Na área da Educação, os desmontes também foram dramáticos. Os gastos
com o setor nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro foram os menores desde
2015. A situação impactou fortemente as instituições de ensino superior e técnicas
federais. No primeiro ano da gestão, em 2019, o Ministério da Educação utilizou
apenas R$ 39 milhões – equivalente a 6% do orçamento previsto – para
investimentos nas dez maiores universidades federais do Brasil. Para 2021, reduziu
em quase R$ 5 bilhões o orçamento do Ministério da Educação (MEC) para o ano.
Foram bloqueados R$ 2,7 bilhões do MEC. De 2020 a 2021, houve um encolhimento
no orçamento do MEC de, aproximadamente, R$ 27 bilhões. 2020, aliás, foi o ano
com o menor gasto do MEC com Educação Básica desde 2010. A Educação foi a
área mais atingida pelos cortes orçamentários de Bolsonaro para 2021. O Ministério
da Educação contou com quase R$ 5 bilhões a menos em recursos para
investimentos na área. A gestão Bolsonaro também falhou na garantia de educação
para mais de cinco milhões de crianças e adolescentes no país. A situação é a pior
do Brasil em duas décadas. Cerca de 80% dos alunos entre 6 e 17 anos, mesmo
matriculados, não conseguiram ter acesso ao ensino à distância ou a aulas
presenciais em 2020, durante a pandemia. O impacto foi ainda maior entre pessoas
160

negras, de baixa renda e indígenas. O chamado Novo Ensino Médio, uma proposta
surgida na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), ainda durante o governo de
Michel Temer, por meio da Medida Provisória (MP) 746/2016, acabou aprovada e
ganhou mais destaque no governo Bolsonaro. A proposta tem, entre seus objetivos,
a promessa de uma educação técnica profissionalizante, mas, na verdade, substitui
a formação escolar ampla por cursos de baixa complexidade que passam a ser
ofertados por atores privados, e não mais pelas escolas públicas. A solução
distancia ainda mais os jovens de estudos de áreas relacionadas às ciências
humanas, como, por exemplo, história, sociologia, ciência, filosofia e política.
Bolsonaro também não foi responsável pela gestão mais aberta às práticas
democráticas de relativas à liberdade de opinião, expressão e cobrança da
transparência. O desmonte de conselhos, comissões e colegiados que contavam
com a participação da sociedade civil e freavam a aprovação de propostas abusivas
contra desmontes socioambientais, por exemplo, foi uma constante durante a
gestão. A chamada “lei da mordaça, como ficou conhecida, também proibiu, em
março de 2021, que servidores do ICMBio falassem com a imprensa sem
autorização prévia e determinou que toda a produção científica dos servidores do
Instituto passasse a ser autorizada por superiores antes de ser tornada pública. O
primeiro semestre de 2020 já havia encerrado com o pior índice da história em
termos de concessão de dados públicos pela LAI. Entre janeiro e junho daquele ano,
órgãos federais decidiram abrir as informações em apenas pouco mais da metade
das 86.656 solicitações recebidas (54%). A lei entrou em vigor em 2012 e, desde
então, o índice de acessos concedidos nunca tinha ficado abaixo de 65%.
No que se refere à segurança, em 2020, os homicídios também voltaram a
subir após dois anos de queda, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Mais de 50 mil pessoas morreram naquele ano, vítimas de mortes violentas ou
intencionais. Isso equivale a uma morte contabilizada a cada dez segundos. As
disputas do crime organizado, que também cresceu no país, e o aumento de armas
de fogo nas mãos de civis são alguns dos responsáveis pelo problema. O país
praticamente dobrou em um ano o número de armas registradas em posse de
cidadãos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em
julho de 2021 pelo Fórum de Segurança Pública. Houve 186.071 novos registros em
2020, um aumento de 97,1% em um ano. Bolsonaro sempre foi um dos maiores
incentivadores da posse de armas de fogo.
161

O estímulo à posse de armas também colocou o tema da caça de animais


envolto em mais esforços para flexibilizações e retrocessos. Mesmo proibida no
Brasil desde 1967, com a Lei da Fauna, a prática é historicamente exercida no país
e, na gestão Bolsonaro, ganhou apoio. Uma das maiores atuais ameaças de piora
desse cenário envolve o projeto de lei 5544/20, que, se aprovado, legalizaria a
perseguição, a captura e o abate de animais silvestres no Brasil. Atualmente, por ser
uma espécie exótica invasora e com grande poder reprodutivo, adaptativo e
predatório, apenas o javali pode ser caçado no Brasil. A proposta de expandir a
liberação para animais silvestres também é de autoria do deputado federal Nilson
Stainsack e foi retirada da pauta da Câmara dos Deputados em 2021 por forte
pressão popular. A qualquer momento, no entanto, a discussão sobre o assunto será
retomada. Desde que Bolsonaro assumiu a presidência, a situação dos animais e do
meio ambiente só piorou. Ele sancionou a criação do Dia Nacional do Rodeio na
mesma data do Dia Mundial dos Animais, apoiou a prática e estabeleceu uma
portaria autorizando o uso de armas brancas e cães na caça de espécies
consideradas exóticas ou nativas. Também defendeu a liberação da caça no Brasil,
ao aparecer em um vídeo, em 2018, durante uma passagem por Goiás, ao lado de
um filiado da Associação Nacional de Caça e Conservação, dizendo “parabéns pela
forma como encaram este esporte saudável”.
A legislação ambiental no Brasil é uma das mais modernas e rígidas do
mundo. A nação foi uma das primeiras a fortalecer a legislação ambiental e a
primeira na América do Sul a ter uma política nacional do meio ambiente. Por outro
lado, é também uma das mais desrespeitadas do planeta. São autuações sobre
infrações ambientais não feitas, multas não cobradas, impunidades que predominam
e isentam corporações por danos causados ao patrimônio natural, redução de
profissionais nas funções de fiscalização, desmonte de fundos internacionais
ambientais, extinção de conselhos atuantes em prol da natureza, militarização de
órgãos ambientais, tentativas de censura e limitação da transparência, retirada de
direitos básicos de comunidades indígenas e tradicionais, assassinatos de líderes
indígenas e alterações em leis que visam estimular ainda mais o uso de agrotóxicos
no país, por exemplo.
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2019,
uma área de floresta do tamanho da Bélgica virou cinza só na Amazônia e o Brasil
foi o único país do G20 a aumentar suas emissões de carbono no ano pandêmico de
162

2020. O desmatamento durante 2019 a 2021 aumentou 79% em comparação com


os três anos anteriores – de 2016 a 2018 – nas áreas que deveriam ser protegidas
na Amazônia (Unidades de Conservação e terras indígenas).
Em 2020 o Brasil também passou a perder, pelo menos, 24 árvores por
segundo, enquanto os alertas de desmatamento também explodiam. O ritmo de
destruição cresceu 12% em 2020, com uma perda de 4,2 milhões de hectares de
floresta primária tropical, uma área seria equivalente ao território dos Países Baixos.
Em 2020, o número de incêndios no Pantanal já havia sido 440% maior que a média
dos últimos anos e o desmatamento na Amazônia atingiu 10.551 km2, a maior taxa
em 12 anos. Nos últimos 25 anos, o Ibama aplicou R$ 34,8 bilhões em multas por
desmatamento em todo o Brasil, mas somente 1,4%, em média, desse valor – o
equivalente a R$ 492 milhões – foi efetivamente pago. Só o Sul do Brasil, em 25
anos, soma mais de R$ 3 bilhões de multas ambientais não pagas. O valor seria
suficiente para regularizar praticamente todos os processos de desapropriação das
unidades de conservação ambientais brasileiras criadas nos estados do Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nos dois primeiros anos do Governo
Bolsonaro, as multas pagas por crimes ambientais nos estados da Amazônia Legal
caíram 93% comparados aos quatro anos anteriores.
Entraves à fiscalização ambiental impostos pela gestão Bolsonaro pioraram
ainda mais o que já estava ruim. Mudanças nas regras internas do Ministério do
Meio Ambiente e na legislação entre 2019 e 2020 burocratizaram mais o trabalho de
campo dos fiscais e o andamento interno de processos ligados à apuração de
infrações ambientais, como desmate e extração de madeira irregular e, hoje, existem
hoje cerca de 99 mil processos de infração ambiental pendentes de julgamento no
Ibama.
Mais de 20 milhões de pessoas foram deslocadas internamente em média, a
cada ano, apenas entre 2008 e 2019, por conta de eventos relacionados ao clima,
como secas e queimadas, por exemplo. Entre 1995 e 2014, o Banco Mundial fez um
estudo para calcular quanto o Brasil perde ao não fornecer respostas adequadas a
desastres naturais. Os prejuízos apontados pelo levantamento foram na ordem de
R$ 800 milhões por mês. De acordo com o relatório, os danos econômicos acabam
ainda mais agravados quanto é a população pobre a mais afetada pelas catástrofes.
Quanto mais afetamos a saúde do ecossistema, portanto, mais estamos
163

condenando oportunidades de negócios, renda e as condições para a garantia da


vida na Terra destas e das futuras gerações.
Ao eleger Bolsonaro, o brasileiro se apegou a uma figura arquetípica do
“herói”, que representaria a função de um “messias salvador da pátria” e “protetor
dos ressentidos”. Segundo Jung, o psiquiatra suíço nascido em 1875 e fundador da
psicologia analítica, todas as pessoas têm figuras fixadas em seus imaginários
desde a infância. Essas imagens estariam presentes em mitos, fábulas, lendas,
histórias e seriam formadas, independentemente do país, cultura, religião ou
costumes de uma sociedade, por meio da repetição progressivas de experiências da
vida humana, e que ficam enraizadas no inconsciente coletivo de todos. No caso de
Bolsonaro, ferramentas psico-discursivas foram exploradas desde a época da
campanha eleitoral, de forma inconsciente ou consciente, na construção da narrativa
eleitoral do então candidato. Associado a isso, o ressentimento da população
brasileira com a história política, econômica e social do país, o conservadorismo e o
medo da perda do status quo, foram fenômenos que registram crescimento
significativo, junto com a descrença da sociedade com o cenário político. O brasileiro
é o povo que menos confia em seus políticos na comparação com outras grandes
economias do mundo. Uma pesquisa da organização GfK Verein revelou que
apenas 6% dos brasileiros indicam ter confiança nos políticos. O país fica na última
colocação, bem próximo da França e da Espanha (CHADE, 2016). Em julho de
2013, um relatório da organização Transparência Internacional sobre percepção de
corrupção apontou que 81% dos brasileiros acreditam que os partidos políticos são
corruptos. Para 72% dos brasileiros ouvidos pela pesquisa, os partidos são vistos
como as instituições mais corruptas em 51 países. Para 72%, depois dos partidos, o
Congresso Nacional é a instituição mais corrupta, seguido pela Polícia (70%),
serviços médicos e de saúde (55%) e pelo Judiciário (50%).
Um eleitorado mal informado – resultado da falta histórica de estrutura e
qualidade na educação formal pública – a democratização do acesso à tecnologia
aproveitada pelo brasileiro nos últimos anos, mas sem o conhecimento necessário
para interpretar com qualidade uma notícia, a ascensão das religiões
neopentecostais no Brasil e o crescimento dos movimentos de extrema-direita a
nível global foram elementos fundamentais para a fragilização das bases
democráticas no país por meio da atuação de Bolsonaro como presidente. Uma
combinação fortemente nociva, que foi capaz de viabilizar o que ainda será
164

comprovado pela história como maior desmonte de Direitos Humanos e políticas


públicas sociais e ambientais da história do Brasil. Como resultado, a sociedade hoje
já experimenta um enfraquecimento ainda maior de práticas, condutas e instituições
democráticas, que deveriam ser protegidas e defendidas por todas as pessoas para
que fosse possível fornecer às atuais e futuras gerações condições de vida digna e
saudável na Terra.
Se o potencial de geração de renda e a receita que o ambiente natural bem
protegido e conservado é capaz de gerar fosse levado em consideração no Brasil,
as oportunidades de ascenção de novos negócios cresceriam exponencialmente. De
modo diametralmente oposto, o que se vê no atual cenário brasileiro são as
oportunidades cada vez mais escassas. Cerca de 1,38 mil quilômetros quadrados
foram desmatados somente em Unidades de Conservação localizadas na Amazônia
Legal ao longo de 2021, de acordo com o Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais. A área equivale a uma cidade do tamanho de Teresina. O índice
representou um aumento de 16,8% em relação a 2020. De acordo com o Índice de
Competitividade Turística, documento elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o
Brasil lidera o ranking dos países com recursos naturais de beleza cênica, ficando
atrás somente do México. Estados Unidos ficam atrás, em quinto lugar. Lá, os
parques nacionais chegam a receber mais de 300 milhões de visitantes ao ano. Só
em 2019, o Serviço de Parques Nacionais norte-americano registrou 328 milhões de
visitantes, que gastaram cerca de US$ 21,0 bilhões nas regiões onde os parques
estão inseridos, gerando 341 mil empregos, US$ 14,1 bilhões em renda do trabalho
e US$ 24,3 bilhões em valor agregado.
É uma realidade cientificamente inegável que as mudanças climáticas já
afetam todas as partes do mundo e, se não reduzirmos as emissões de gases que
intensificam o efeito estufa ainda nesta década, os impactos serão cada dia ainda
mais severos e as consequências absolutamente irreversíveis. E vão ser as novas e
futuras gerações as que mais vão sofrer com as consequências do problema. Secas
e inundações devastadoras, calor extremo, crise hídrica, problemas de saúde
ocasionados pela falta de qualidade do ar, riscos à segurança alimentar e aumento
da fome no mundo, morte de florestas, extinção de espécies e o aumento das
condições para que novos vírus e doenças mortais sejam transmitidas são alguns
dos exemplos.
165

De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças


Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), ao longo ainda da próxima década, as
mudanças climáticas vão colocar entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas na
pobreza extrema. O relatório mostra que cada décimo de grau de aquecimento faz
com que também aumentem as ameaças às pessoas, espécies e ecossistemas.
Mesmo o limite de 1,5°C – uma meta global do Acordo de Paris –, segundo o
estudo, não é seguro para todos. Com esse índice de 1,5°C de aquecimento,
diversas geleiras em todo o mundo vão desaparecer por completo ou perder a maior
parte de seus volumes, mais de 350 milhões de pessoas enfrentarão escassez de
água até 2030 e até 14% das espécies terrestres vão correr risco de extinção.
A esperança para alguma alteração de cenário, além de se manifestar nas
figuras de ativistas, vem também de exemplos de países, estados e municípios que
já reconhecem a natureza como detentora de direitos, como um sujeito. O
movimento representa uma nova tendência no direito mundial, que trata a natureza
como ente passível de representação judicial. Já existem bons exemplos em alguns
países do mundo e no Brasil. Mas é preciso que, cada vez mais a harmonia com a
natureza se apresente como proposta neutralizadora da ação negativa do ser
humano sobre a Terra.
O conceito de One Health – ou Saúde Única, na tradução para o português –
se refere à integração entre saúde humana, animal, conservação da natureza e
adoção de políticas públicas efetivas para a prevenção e o controle de enfermidades
nos níveis local, regional, nacional e mundial e precisa predominar para proteger
pessoas e animais de doenças ou impedir cortes de interações e prejuízos
econômicos que podem acompanhar esses surtos de doenças, como ocorreu no
caso da pandemia causada pela Covid-19.
É também inquestionável que todos os negócios precisarão estar cada vez
mais alinhados a preocupações climáticas, caso contrário, a crise hídrica, por
exemplo, já sentida com mais intensidade entre os anos de 2020 e 2021, promete
gerar impactos ainda maiores. Em um tempo em que o conceito de ESG, por
exemplo, vem crescendo significativamente (Environmental, Social and Corporate
Governance), ou, na tradução para o português, práticas “ambientais, sociais e de
governança” adotadas de forma eficiente por uma corporação, algumas empresas
vêm saindo na frente ao aderirem a ações realmente efetivas em prol do meio
ambiente e da mitigação de seus impactos.
166

A pandemia causada pela Covid-19 causou um agravamento do cenário de


instabilidade emocional e de saúde na sociedade global. Ainda não se sabe ao certo
a multiplicidade e a intensidade das sequelas geradas pelo vírus no corpo humano.
Mas também é evidente que, mais do que nunca, é latente a necessidade do
cuidado integral com a saúde de todas as formas de vida. Só conhecendo nosso
passado como sociedade, nossas dores, os problemas históricos e atuais e curando
o nosso emocional – e o ressentimento que ainda domina boa parte da população
brasileira e global – é que vamos nos conectar com nós mesmos e curar tantas
dores mal superadas. Quanto mais distantes da natureza e da nossa própria
essência e fonte de vida estivermos, mais longe de nós mesmos estaremos. Ao
longo dos séculos, a natureza vem sendo muito resiliente com todos os impactos
impostos pelas ações humanas, mas, com o tempo, a tendência é de que se proteja,
com cada vez mais intensidade, das agressões sofridas. Para todas as ações,
existem consequências. E se permitirmos, como sociedade brasileira e nacional, a
permanências de líderes políticos que caminham na contramão dessas evidências
por ainda mais anos no poder, elas serão absolutamente incontornáveis,
insuperáveis e drasticamente nocivas a qualquer condição mínima que garanta a
existência de vida na Terra.
Diante de um cenário com essas tendências e necessidades, não há espaço
para ainda mais perdas. Os desmontes socioambientais, intensificados pela atual
gestão federal, associados ao ressentimento, distanciam ainda mais o brasileiro do
aproveitamento de direitos fundamentais e constitucionais, gerando consequências e
prejuízos ainda incalculáveis e transgeracionais. Estamos atualmente ainda mais
distantes de aproveitar Direitos Humanos essenciais em igualdade.
Essa situação estabelece vínculo direto com nossa necessidade de
superação do ressentimento. O incômodo de membros da sociedade – temerosos
com a ascensão das classes populares ou revoltados com as denúncias de
corrupção que envolveram Lula, em 2005, e favoráveis ao impeachment da ex-
presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, – contribuiu para o fortalecimento do
presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu com uma campanha baseada na promoção
da intolerância e na ausência de debate. Bolsonaro se oportunizou eleitoralmente
desse ressentimento e desejo de vingança, do qual ele também parece ser vítima. O
que o ressentido quer, portanto, como reforça Maria Rita Kehl, autora do livro
Ressentimento, é uma espécie de “vingança”. “Concebemos nossos problemas
167

sociais como insuficiências que nos parecem sempre injustas, de responsabilidade


de um outro, de alguém que teria o poder de remediar nossas mazelas, mas não o
fez”, destaca a autora. Ela também diz que a sociedade brasileira costuma “deixar
barato” o resgate das grandes injustiças de sua história para não manchar sua
reputação de “último povo feliz” do planeta.
O processo de impeachment contra Dilma se baseou na acusação de a ex-
presidente ter cometido crime de responsabilidade fiscal e improbidade
administrativa com base na reprovação das contas do governo de 2014 pelo
Tribunal de Contas da União (TCU). As chamadas “pedaladas fiscais” teriam sido
praticadas para atrasar de modo proposital o repasse de dinheiro ao Banco do
Brasil, a fim de favorecer a oferta de crédito subsidiado para agricultores familiares e
melhorar artificialmente as contas federais para análise do TCU. O atraso das
parcelas, com vencimento entre os meses de janeiro e novembro de 2015, foram
pagas com atraso, em dezembro de 2015, o que, segundo a oposição, gerou um
prejuízo de mais de R$ 450 milhões aos cofres públicos. Dia 31 de agosto de 2016,
o Senado afastou em definitivo Dilma da Presidência da República. Dilma caiu por
uma acusação de pedalada fiscal. Bolsonaro, mesmo envolto em incontáveis
suspeitas e denúncias envolvendo práticas ilícitas e questionáveis, e tendo mais de
1550 pessoas e mais de 550 organizações assinando pedidos de impeachment
contra ele, continuou no exercício da presidência. Mesmo acusado de crime de
responsabilidade fiscal, no caso da ineficiência na gestão da pandemia causada no
Brasil pela Covid-19, ou apoio protestos antidemocráticos, por exemplo, Bolsonaro
continuou ocupando a cadeira do Executivo Federal.
Para o eleger, uma enorme parcela da população brasileira alegou que “tudo
menos o PT” seria a justificativa para permitir a ocupação da presidência por
Bolsonaro, a fim de evitar que mais casos de corrupção dominassem o país. No
entanto, a prática, associada a crimes de responsabilidade, continuam caminhando
a passos largos e não são poucas as denúncias e evidências em relação a isso. A
sociedade brasileira nunca aceitou um ex-metalúrgico ocupando o mais alto cargo
do Executivo. O ressentimento social contra isso cobrou hoje seu preço.
Hoje, precisamos, como sociedade, confessar que era impossível não saber o
que ele faria e o que sua gestão deixaria de consequências para o Brasil. Seu
histórico político – em quase três décadas como deputado federal, apresentando
cerca de 170 projetos de lei, mas tendo apenas dois inexpressivos aprovados, era
168

uma clara evidência. Um estendia a isenção do Imposto sobre Produtos


Industrializados (IPI) sobre bens de informática e automação produzidos nas regiões
de influência da Sudam, Sudene e Região Centro-Oeste até 2003 e outro autorizava
o uso da fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”, que, até hoje, não teve a
eficiência comprovada pela ciência e já esteve no centro de muita polêmica. Suas
falas radicais em incontáveis entrevistas, durante o tempo em que foi deputado
federal e na campanha política, também já mostravam muito do que seria a gestão
federal que pretendia fazer. Ocorre que, mesmo diante de todas as evidências, não
quisemos enxergar. A maior parte da sociedade brasileira optou por eleger o que
parecia ser o “homem forte”, “o grande líder”, como Hannah Arendt indicou ser o
comportamento da chamada “ralé”, que contribui para que líderes políticos de perfil
totalitários cheguem ao poder. Essa parcela social, segundo a autora, tem apreço
pela violência, é contra partidos e não gosta de política. Define culpados, deseja a
ordem e, por isso, é compatível com o conservadorismo – contanto que possa
beneficiar-se dela, nem que seja na condição de vítima. E o que ela espera é ter
acesso à história, mesmo que, para isso, haja o preço da destruição. Hannah diz
que, logo que o movimento no mundo fictício que as abrigou é destruído, essas
massas retornam ao seu antigo status de indivíduos isolados que aceitam de bom
grado uma nova função em um mundo novo ou mergulham novamente em sua
antiga e desesperada superfluidade. “Abandonam calmamente o movimento como
algo que não deu certo e procuram em torno de si outra ficção que recupere força
suficiente para criar um novo movimento de massa”, diz ela, no livro Origens do
Totalitarismo.
Se quisermos, portanto, evoluir como nação democrática, precisamos para de
buscar em uma única figura o grande messias e salvador da sociedade. Devemos
olhar para as instituições políticas e buscar fortalecê-las. Conhecer o histórico
político dos candidatos, aprender com a história e ter mais criticidade na absorção
de informações. Estamos diante da oportunidade de evoluir como sociedade,
superando ressentimentos, preconceitos, sensos comuns e valorizando o bem
coletivo, que inclui, principalmente, a natureza, o patrimônio natural.
Para. sobreviver com mais dignidade, e permitir que as novas e futuras
gerações também o façam, precisamos pensar mais no coletivo e manifestar menos
egoísmo. Abandonar a rota autodestrutiva viabilizada pela existência e manutenção
do ressentimento, que tanto assombra e ainda compromete a espécie humana, as
169

relações sociais, políticas e a conexão interdependente e saudável que precisa


ocorrer entre as diferentes formas de vida que habitam a Terra. Precisamos, de uma
vez por todas, compreender que somos parte desse sistema inteligente e
interconectado. Não superiores. Apenas parte. Mas que, sendo parte, podemos
mudar tudo. E para melhor. Ainda dá tempo.
170

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