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SERVIÇO SOCIAL E

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE
CIVIL - PARTICIPAÇÃO EM
CONSELHOS GESTORES
Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza
REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima
DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini
DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel
SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira
Bruna de Lima Ramos
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S729s Souza, Leonardo Carvalho de


Serviço social e organização da sociedade civil / Leonardo
Carvalho de Souza. Paranavaí: EduFatecie, 2023.
71 p.: il. Color.

Serviço social. 2. Assistentes sociais. I. Centro Universitário


UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23 ed. 363.1


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza

Sou doutorando em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de


Mesquita Filho” (UNESP) - Campus de Franca. Mestre em Sociedade e Desenvolvimento
pelo Programa de Pós-graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento - PPGSeD/
UNESPAR (2019). Especialista em Gestão Social: Políticas Públicas e Rede de defesa de
direitos pela UNOPAR, em Educação Especial e Inclusiva pela UNIFCV e em Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas e Mundo do Trabalho pela UFPI. Licenciado em Pedagogia
pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR (2017). Bacharel em Serviço Social
pela Faculdade União de Campo Mourão - UNICAMPO. Bolsista Capes durante o mestrado
(2017-2018). Dedica-se aos temas da formação universitária e das políticas públicas volta-
das às infância(s) e juventude(s). Foi membro do Grupo de Pesquisa Cultura e Relações de
Poder - UNESPAR. Atuou como Orientador Social no Centro da Juventude Itachir Tagliari
de Campo Mourão/PR. E como Assistente Social da equipe de Medidas Socioeducativas
do CREAS de Cianorte/PR. Integrou o Grupo de Orientação e Sensibilização aos Autores
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da comarca de Cianorte/PR. Foi con-
selheiro municipal do CMDCA e CMAS de Cianorte/PR. Membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Políticas Públicas para a Infância e Adolescência (GEPPIA) da Unesp/
Franca. Pesquisador colaborador do Projeto de Pesquisa: Sistemas de Proteção e Garantia
dos Direitos Humanos voltados à Infância e Juventude em Portugal, Angola, Moçambique e
Brasil (2020/2022). Docente no curso de Serviço Social da Unespar - Campus de Paranavaí/
PR e no curso de Especialização em Aprendizagem e Desenvolvimento nos anos iniciais da
Educação Básica da Unespar - Campus de Campo Mourão. E no curso de Serviço Social
da Unifatecie. Realiza formações que tratam sobre políticas públicas infantojuvenis.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/6790983784284836

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado(a) estudante, na disciplina “Serviço Social e Organizações da Socieda-


de Civil - Participação em Conselhos Gestores” tem-se por objetivo geral: Compreender
o Serviço Social em sua relação com a gênese, desenvolvimento e atualidade das Organi-
zações da Sociedade Civil (OSC), sua relação com o Estado e a gestão democrática nos
conselhos gestores e de direitos. A partir disso, buscaremos compreender o Serviço Social
e sua genealogia no Brasil, a partir de pressupostos históricos, econômicos e sociais. O
estudo da disciplina foca-se na relação da profissão com a sociedade capitalista e com o
Estado brasileiro, bem como com algumas instituições religiosas. Em seguida, busca-se
apreender como as crises econômicas e os contextos neoliberais influenciam nas entidades
do terceiro setor e no Serviço Social de entidades do terceiro setor com o Serviço Social.
Também se compreenderá as contradições que envolvem as Organizações da Sociedade
Civil, o Terceiro Setor, o Serviço Social e os Conselhos Gestores e de Direitos.
Para tanto, partiremos de algumas problematizações como as seguintes: O que é
o Serviço Social? Qual é a relação do Serviço Social com o capitalismo? Com o Estado e
com a Igreja? O que é o Terceiro Setor? O que são entidades do Terceiro Setor? Como elas
funcionam? Quais são suas contribuições? Quais são os desafios atuais institucionais e da
profissão dos(as) assistentes sociais nessas instituições? Quais são as leis que embasam
a oferta de serviços no Terceiro Setor? O que são conselhos gestores? Quais são suas
funções, atribuições e desafios no cumprimento ao princípio da participação democrática
e demais prescrições constitucionais e institucionais? Portanto, a projeção da disciplina é
que ao final possamos responder e debater com fundamentos teóricos, metodológicos e
legislativos a respeito das problematizações colocadas.
Em relação à organização, nossa disciplina se organiza em quatro unidades. Na
primeira unidade temos por objetivo estudar a respeito do Serviço Social e sua relação com
o Terceiro Setor a fim de entender a gênese, desenvolvimento e atualidade das Organiza-
ções da Sociedade Civil (OSC). Na segunda unidade, buscaremos entender a criação das
Organizações da Sociedade Civil do Terceiro Setor no contexto brasileiro. Na terceira uni-
dade objetiva-se discutir a respeito das Organizações da Sociedade Civil (OSC) enquanto
respostas à gestão neoliberal. E por fim, na quarta unidade o intento é analisar os trabalhos,

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desafios e contradições que envolvem os conselhos gestores e de direitos no âmbito das
políticas públicas e sociais.
Desde já, é preciso registrar que as Organizações da Sociedade Civil (OSC) são,
depois das instituições públicas, as instituições que mais empregam assistentes sociais no
Brasil, por isso, compreender e entender sobre o Terceiro Setor, Organizações da Socie-
dade Civil (OSC), suas contribuições, desafios e contradições é catedrático no processo
formativo. Ademais, seja atuando no setor público ou no Terceiro Setor, é muito comum a
participação de profissionais do Serviço Social nos conselhos gestores e de direitos, por-
tanto esse também é um âmbito que precisa ser por nós, estudado e compreendido a fim
de que possamos participar dos conselhos gestores de modo qualificado, crítico e criativo,
sempre afinados ao Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social e na defesa dos
direitos humanos e sociais.

Muito obrigado e bom estudo!

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SUMÁRIO

UNIDADE 1
Serviço Social e Organizações da
Sociedade Civil (OSC)

UNIDADE 2
Organizações da Sociedade Civil e
Terceiro Setor no Contexto Brasileiro

UNIDADE 3
Estado, Neoliberalismo e Organizações
da Sociedade Civil (OSC)

UNIDADE 4
Regulamentações das Organizações
da Sociedade Civil (OSC)

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UNIDADE

SERVIÇO SOCIAL E
ORGANIZAÇÕES DA
SOCIEDADE CIVIL (OSC)
Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza

Plano de Estudos
• Conceituando o Serviço Social.
• Serviço Social e a sociabilidade capitalista;
• Serviço Social, o Estado brasileiro e as entidades socioassistenciais.

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar o Serviço Social;
• Compreender a inserção do Serviço Social na sociabilidade capi-
talista e suas relações com a Igreja Católica e com o Estado;
• Entender as entidades socioassistenciais enquanto resposta ao
capitalismo e seu aparecimento.
INTRODUÇÃO
Na unidade I: “Serviço Social e Organizações da Sociedade Civil (OSC)” vamos
recapitular elementos que caracterizam nossa profissão, sua genealogia no contexto do
capitalismo, sua relação com a Igreja e a legitimação da profissão por meio de aparatos do
Estado brasileiro, vamos finalizar com a discussão de entidades religiosas que prestavam
caridade à população, a fim de entender como algumas destas mais tarde vão se tornar
OSC e seguir as prescrições e regulamentações do Terceiro Setor.

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 8


1
TÓPICO

SERVIÇO SOCIAL E
ORGANIZAÇÕES DA
SOCIEDADE CIVIL (OSC)

O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que


utiliza instrumentos científicos das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas
diversas expressões da Questão Social1. É uma profissão demandada pela burguesia e pen-
sada, inicialmente, pela igreja católica, tinha caráter conservador até o movimento de ruptura e
reestruturação, em 1979, nesse processo de ruptura com o conservadorismo, o Serviço Social
começou tratar as políticas públicas e sociais como meio de acesso aos direitos sociais e de-
fesa da democracia, e compreendendo as contradições da sociedade capitalista enraizada nas
expressões da questão social que desafiam cotidianamente os (as) assistentes sociais, para
pensarem, projetarem, executarem e avaliarem políticas sociais para responder às situações
que precarizam a vida da população vulnerável (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014).
Já existe uma produção considerável que demarca que a gênese do Serviço So-
cial se dá em um contexto de aprofundamento do capitalismo monopolista na sociedade
brasileira, por exemplo, a urbanização e a industrialização são outros processos também
presentes em sociedades que demandaram o Serviço Social e sua atuação junto às cama-
das populares que passaram a reivindicar direitos e melhores condições de vida.
Nesse ínterim e na história do Brasil foram criadas muitas instituições religiosas,
que faziam caridade, doação e benemerências. Contudo, de forma alguma o Serviço Social
é uma evolução dessas práticas e instituições de caridade. Ao contrário dessa ideia, o
1 A questão social é aqui entendida como um conjunto de expressões de desigualdades sociais que se
desdobram por meio do embate entre o capital e o trabalho, se materializa e se reproduz na dinâmica entre
as classes e a resistência da classe trabalhadora contra o processo de exploração. Segundo Iamamoto e
Carvalho (2014), a formação da classe trabalhadora e seu ingresso no cenário político por meio de lutas e
reivindicações também dá parâmetro para percepção da questão social.

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Serviço Social é demandado pelo advento de inúmeras desigualdades que passaram a se
processar com a expansão da economia capitalista. Portanto, podemos pensar que a lei
geral da acumulação capitalista está intrinsecamente conectada à questão social e ao ad-
vento do Serviço Social no Brasil. E em outros países esse processo guarda semelhanças,
especialmente em relação à presença de alguns elementos, tais como o avanço capitalista,
a industrialização, a urbanização e a organização das classes populares (IAMAMOTO e
CARVALHO, 2014; NETTO, 2015; MARTINELLI, 2000).
Portanto, entender a estrutura e funcionamento do capitalismo é outra demanda
que se apresenta aos (às) assistentes sociais. Além disso, ainda nos cabe a compreensão
das particularidades brasileiras, compreender o todo do sistema econômico e suas reper-
cussões e também como suas características se apresentam no cotidiano das pessoas e
das instituições, dos conselhos gestores e de direitos como é o objetivo dessa disciplina.

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2
TÓPICO

SERVIÇO SOCIAL
E SOCIABILIDADE
CAPITALISTA

Nesse sentido, aos assistentes sociais é preciso saber falar, explicar e escrever sobre
esses assuntos, sobre a lei geral da acumulação capitalista e suas implicações, sobre a ques-
tão social e suas expressões e sobre as particularidades do capitalismo brasileiro. Quando
vocês estudarem tais conceitos, lembrem-se sempre de buscar responder três questões
epistêmicas importantes, o que é cada um deles? Como é? E o porquê? Por exemplo, o que é
o capitalismo? Como ele é? E o porquê dessa estrutura social? Óbvio que há mais elementos
para compreender a totalidade de um assunto. Entretanto, você perceberá que ter condições
de responder tais questões evidenciam uma compreensão razoável sobre os assuntos, os
quais vocês estão estudando. Sobre as categorias apresentadas vamos buscar aprofundá-las.
O capitalismo é então, em resumo, uma forma de organização social, por meio
da qual a população se estabelece para produzir e reproduzir a vida social. Tal sistema
econômico, social e político se estrutura a partir de uma lei geral da acumulação capitalista,
que promove um processo de reprodução do capital em escala ampliada, ele se torna
permanentemente valorizado por um viés de mais valor que se dá por meio de trabalho
explorado. Sendo assim, a acumulação se baseia no processo pelo qual o capital é sempre
capitalizado pelo trabalho excedente e que não é remunerado à classe trabalhadora (IAMA-
MOTO e CARVALHO, 2014; NETTO, 2015; MARTINELLI, 2000).
Quanto mais concentração de capital, maior é a sua capacidade material de
investimento e aplicação na força do trabalho e nos meios de produção, bem como de
apropriação da riqueza produzida por toda a população. Foi por produzir e não ter acesso
a bens sociais essenciais, que a classe trabalhadora começou a demandar e reivindicar

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melhores condições. Em resposta, a burguesia, o Estado e a Igreja criam o Serviço Social a
fim de amortecer essas relações de conflito postas pelas camadas populares (IAMAMOTO
e CARVALHO, 2014; NETTO, 2015; MARTINELLI, 2000).
A questão social é então, conforme Iamamoto e Carvalho (2014), um conjunto de
expressões de desigualdades sociais que se desdobram por meio do embate entre o capital
e o trabalho, se materializa e se reproduz na dinâmica entre as classes e a resistência
da classe trabalhadora contra o processo de exploração. Nela há essa contradição, se no
feudalismo não havia condições de produzir os bens materiais sociais essenciais para todos
(as), no capitalismo isso não acontece. Há uma produção muito elevada de todos os pro-
dutos necessários (alimentação, roupas, remédios, etc.), mas muitos sujeitos não possuem
acesso a tais bens, devido à lei geral de acumulação e a estrutura desigual de classes, entre
os (as) produtores (as) e os (as) que se apropriam e concentram a produção social.
Portanto, na sociedade capitalista quanto maior é o crescimento do capital maior
se torna a sua capacidade de obter meios para explorar a força de trabalho, pois há uma
centralidade da reprodução do capital. Isso vai demandar o direito, à educação e um campo
da moral para regular as relações de produção e sociais. Pois, quanto mais valorizado o
capital, mais os (as) trabalhadores (as) serão explorados (as) e assim sendo, mais valoriza-
do o capital fica. Em outros termos, as classes dominantes se apropriam de todo o produto
do trabalho e o salário corresponde somente a parte desse todo apropriado, não se recebe
pelo trabalho, mas por parte do tempo de venda da força de trabalho.
Existem lutas das classes subalternas que vão contribuir para a melhoria das condi-
ções de vida das pessoas, como as lutas por meio de pautas da sociedade civil organizada,
como veremos mais adiante na disciplina, ou mesmo por meio de conselhos de direitos.
Contudo, a tendência social é que a democratização da tecnologia e da produção como um
todo não aconteça na sociabilidade do capital. É possível mencionar que o crescimento da
riqueza por vezes, não se democratiza na mesma proporção e a miserabilidade de uma
maioria é produzida de modo paralelo à acumulação de riqueza por uma minoria.
O desenvolvimento dado da acumulação encaminha-se a transformar a estrutura
produtiva do capital que se altera a sua composição orgânica, desvalorizando o valor da força
de trabalho por meio da apropriação dos valores e aumentando, a superprodução relativa
com surgimento de uma quantidade excessiva de desempregados(as), com a produção que
se passa por uma onda de automatização, a partir da contradição estrutural que se descreve
a lei geral com enriquecimento do capital que pode ocorrer a partir da pauperização dos(as)
trabalhadores (as), quanto mais vigorosa estável e acelerada é a acumulação do capital,

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assim os mais prejudicados são os (as) trabalhadores (as) que se tornam vítimas de instru-
mentos mais eficazes com o efeito dessa massa do valor que produzem.
Desse modo, “a acumulação de riqueza num polo é, ao mesmo tempo, a acumulação
de miséria, o suplício do trabalho, a escravidão, a ignorância, a brutalização e a degradação
moral no polo oposto” (MARX, 2017, p. 721). A relação do capital e trabalho se dá somente
por meio da exploração, pois é uma contradição inconciliável a mesma exploração que
arruína a classe trabalhadora é para o capital um mecanismo que valoriza e amplia ainda
mais a sua riqueza, a exploração é, portanto, um órgão de dominação econômica e política
de uma classe sobre a outra (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014).
O capitalismo tem em relação a sua estrutura, três dimensões pertinentes e funda-
mentais, tudo se organiza para a continuidade da produção, circulação e consumo de mer-
cadorias, estas três dimensões precisam continuar para que o capitalismo se reproduza, por
isso, por exemplo, somos estimulados ao consumismo, por esse motivo, muitos produtos são
feitos com qualidade muito inferior ao que a humanidade já alcançou de tecnologia e padrão
de produção, pois se alguns produtos durarem menos isso contribui para que esse movimen-
to continue, alguns autores chamam isso de obsolescência programada, que é quando um
produto vem com um prazo de validade determinado, por exemplo, bateria de celulares que
duram pouco tempo, ou mesmo algumas lâmpadas que deixam de funcionar muito rapida-
mente, essa tendência é muito fomentada no capitalismo (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014).
Considerando que a força de trabalho se torna uma mercadoria para o modo de produ-
ção capitalista, no qual o (a) trabalhador (a) vende sua força de trabalho. Nesse movimento é
possível a exploração do mais valor. O (a) trabalhador (a) é explorado (a) porque a sua jornada
de trabalho e produção excedem ao valor que lhe é remunerado, sendo assim, compreende-se
que sem a acumulação capitalista o modo de produção capitalista estaria inviabilizado. Além
disso, podemos inferir que o salário pode oscilar de inúmeras maneiras, mas ele nunca pode
corresponder ao produto do trabalho, ele sempre será inferior ao valor produzido. Ademais, a
força de trabalho, os (as) trabalhadores (as) são os (as) agentes que produzem valores, que
criam os meios necessários para a produção e reprodução da vida na sociabilidade capitalista.
Segundo Iamamoto e Carvalho (2014), a produção material é a produção da vida e
nessas relações de produção que os homens estabelecem vínculos e relações mútuas, dentro
dessa dimensão por intermédio da qual exercem uma ação transformadora na/da natureza, ou
seja, realizam a produção e de modo concomitante transformam a natureza, produzindo um
mundo social, ao passo que se também se transformam e a passam a serem seres sociais.
O processo capitalista de produção se expressa de maneira que historicamente
determina os homens em produzirem e reproduzirem condições materiais da existência
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humana. E as relações sociais as quais levam a efeito a produção, que não se trata apenas
de produções de objetos materiais, mas na relação social entre pessoas, classes sociais
que personificam determinadas categorias econômicas, isto é, os seres sociais produzem
material e simbólico, objetivo e subjetivamente ao mundo dos homens. Portanto, o capital
é a relação social, a qual determina e implica na dinâmica e a inteligibilidade da vida em
sua totalidade (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014; MARX, 2017).
A partir das premissas postas, podemos pensar que o capital não é uma coisa ma-
terial, mas sim uma determinada relação social de produção e reprodução da vida social,
correspondente a uma determinada formação histórica da sociedade, que toma corpo em uma
coisa material e lhe infunde um caráter social específico. Portanto, o capitalismo é um sistema
social e o capital é uma relação econômica e social. Nesse sistema social e nessas relações de
produção os meios de produção são monopolizados por uma determinada parte da sociedade,
bem como os produtos forjados nas relações de produção (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014).
O capital se expressa sob forma de mercadoria meios de produção como: matérias-
-primas, auxiliares e instrumentos de trabalho e meios de vida necessários à reprodução da
força de trabalho. As mercadorias (roupas, comida, remédios, tecnologias, etc.) são aqueles
objetos úteis, produtos de trabalho com qualidade específica que atendem as necessidades
sociais, esses objetos úteis e de qualidades materiais diferenciadas, são determinados
valores de uso (IAMAMOTO e CARVALHO, 2014).
Portanto, o valor do capital se expressa por meio de mercadorias: meios de produção
e de subsistência, porém nem toda soma de mercadoria é capital. O capital supõe o monopólio
dos meios de produção pela classe burguesa. Nesse sentido, a classe burguesa entra em con-
fronto com a classe trabalhadora, que não tem condições materiais necessárias à manutenção
da vida de forma digna, dá-se uma falsa ilusão de que o (a) trabalhador (a) para sobreviver só
consegue vender a sua força de trabalho. Contudo, mesmo aos (as) que vendem, as condições
de vida não são adequadas e garantidas. Em resumo, por essas tendências e determinações
que o Serviço Social é demandado, e, também por esses motivos, que as instituições religiosas
e de caridade vão atuar, porque o cerne do capital produz desigualdade. Portanto, já temos um
modelo explicativo da genealogia da desigualdade e da exploração.

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 14


3
TÓPICO

SERVIÇO SOCIAL, O ESTADO


BRASILEIRO E AS ENTIDADES
SOCIOASSISTENCIAIS

O que nos interessa é que o Serviço Social faz uma atuação concomitante com a
caridade, mas foi se apartando dessas intervenções de cunho caritativo e religioso com o pro-
cesso de profissionalização. Martinelli (2000), Iamamoto e Carvalho (2014), trazem inúmeras
contribuições para entendermos esse percurso do Serviço Social na história. Acrescentam
que inicialmente o Serviço Social não tinha uma identidade própria, mas uma identidade
criada pela burguesia e pelo Estado Brasileiro, pois era uma espécie de braço dessas insti-
tuições. Contudo, com determinadas alterações econômicas, políticas e sociais da história o
Serviço Social vai passando por mudanças internas, que o darão as características que estão
hoje em seu projeto ético político profissional, como a defesa da democracia, dos direitos
humanos, da socialização da riqueza e da expansão dos sujeitos sociais (BRASIL, 2012).
Outra obra recentemente publicada é “História pelo Avesso: a reconceituação do Serviço
Social na América Latina e interlocuções internacionais”, organizada pelas professoras Marilda
Iamamoto e Cláudia Mônica dos Santos (2021), seus textos também contribuem por meio dos
seus capítulos para pensarmos o Serviço Social e seu desenvolvimento na história, sua trans-
formação de um braço da Igreja e do Estado para uma profissão permeada por contradições
que atualmente se posiciona a favor da democracia e da classe trabalhadora primordialmente.
A referida obra trata da reconceituação do Serviço Social. Há contribuições para
pensar o Brasil, outros países da América Latina. Além de apresentar sobre tendências
do Serviço Social em diferentes países. Sobre o trabalho do assistente social em países
como Argentina, Chile, Colômbia. E especialmente, no Brasil. Dado que o Brasil foi pioneiro
em algumas alterações, foi o Serviço Social brasileiro que primeiro conceituou/consolidou

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 15


uma obra mais significativa a respeito do Serviço Social crítico. Iamamoto e Santos et al.
(2021), se constitui em uma produção mais adensada sobre o Serviço Social crítico. A obra
também apresenta capítulos sobre Espanha, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos. E
ainda apresenta uma filmografia. Então, em síntese, essa obra se constitui em um material
interessante para retomar elementos dos fundamentos da gênese e desenvolvimento da
profissão do Serviço Social no Brasil e em outros países também e tem novidades de temas
que não haviam sido tratados com o mesmo rigor apresentado. Contudo, nosso objetivo
aqui falando do Serviço Social é com fins de recapitulação para que se possa compreender
a relação com as organizações da sociedade civil.
Em resumo, é preciso ficar nítido que o Serviço Social não é a evolução dessas
organizações, das instituições vinculadas às igrejas, seja de qualquer denominação. Ao
contrário, o Serviço Social, tem sua gênese muito relacionada à atuação do Estado. Mesmo
que a Igreja tenha desempenhado um papel fundamental, sendo a formação das primeiras
assistentes sociais, tendo sido responsável pelas primeiras escolas. Iamamoto e Carvalho
(2014), discutem essas questões no livro “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
esboço de uma interpretação teórico-metodológica”. Portanto, há uma particularidade do
Serviço Social, muito mais vinculada ao Estado e como essa instituição vai atuar junto a
demandas das camadas populares. É por meio do Estado que o Serviço Social vai sendo
regulamentado. Algumas instituições vinculadas às igrejas continuam existindo. Muitas
delas são fundadas a partir das décadas de 1940 e 1950.
Então, a gente precisa abarcar uma compreensão do Estado, Iamamoto e Carvalho
(2014), já trazem uma discussão pertinente a respeito do Estado. E entender o Estado no
Brasil demanda pensar em suas relações, uma delas é sem dúvida com a Igreja Católica,
que desde o processo de colonização vai desempenhar influências, no sentido do contro-
le ideológico, político e econômico em nosso país, essas inserções vão se alterando no
percurso da história do país, mas foram muito intensas. A partir do estado novo há uma
articulação dessas instituições. Há interesses do Estado em vincular-se com a Igreja e
reciprocidade por parte da igreja.

[...] Igreja e Estado, unidos pela preocupação comum de resguardar e con-


solidar a ordem e a disciplina social, se mobilizarão para, a partir de distin-
tos projetos corporativos, estabelecer mecanismos de influência e controle a
partir das posições da Sociedade Civil que o regime anterior não fora capaz
de preencher. A Igreja se lançará à mobilização da opinião pública católica e
à reorganização em escala ampliada do movimento católico leigo. Será tam-
bém nesse período que a intelectualidade católica formulará um projeto de
cristianização da ordem burguesa, para reorganizá-las sob o imperativo ético
do comunitarismo cristão, exorcizando seu conteúdo liberal. (IAMAMOTO e
CARVALHO, 2014, p. 166, grifo nosso).

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As relações entre Estado e Igreja no Brasil podem ser pensadas em diferentes prismas,
por exemplo, Nossa Senhora se tornou padroeira do Brasil em 1930. Em 1931 é inaugurado o
Cristo Redentor. Em 1931 o ensino religioso passa a ser oficial nos currículos escolares. Tais
obras e processo legitimam essa relação e influência da Igreja junto ao Estado brasileiro.
Outra discussão pertinente a respeito do Estado brasileiro, é feita por Carvalho
(2021), no livro “Cidadania no Brasil: o longo caminho”, no qual o autor recupera aspectos
da história do Brasil (colonial, imperial, republicano). E discute como e quando se dá a
construção dos direitos no Brasil. Como se dá a construção da cidadania. Por isso, o autor
utiliza “longo caminho” no título do livro e vai dizer que foi um período mais longo de percur-
so para se identificar os primeiros direitos sociais no Brasil.
Portanto, a cidadania no Brasil é tardia, digamos assim, comparando com outros
países, com outras sociedades, por exemplo, alguns países europeus houve alguns marcos
civilizatórios, como a democratização da educação já na primeira metade do Século XX.
Contrariamente, no Brasil se passa a contar com a efetivação de direitos com esses marcos
civilizatórios, somente no final do século XX e alguns somente no século XXI. E ainda, devido
à formação de um Estado de via colonial2, e a modernização desigual e combinada pela qual
passamos, ainda há inúmeras violações de direitos que permeiam a sociedade brasileira.
É, especialmente no final do século XX, com a Constituição Federal de 1988, por
isso que a gente tanto fala da Constituição federal de 1988, porque essa Constituição ela
vai representar uma cisão entre um período em que os direitos não eram democratizados
para toda a população e o pós 1988, quando muitos direitos são democratizados, por exem-
plo, o direito à educação, à saúde, à previdência, à assistência social. E outros serviços e
atendimentos que passam a ser amplificados para a população brasileira no geral.
Além disso, Carvalho (2021), também argumenta que os direitos sociais foram
praticamente os primeiros a serem efetivados no Brasil, não amplamente como já dito. Em
contramão de outros países em que primeiro se teve os direitos civis, depois os políticos
e depois sociais3, no Brasil não. A gente teve os direitos sociais inicialmente, para tanto o
autor usa os exemplos do governo de Getúlio Vargas4 na década de 1930/40, nas quais já
se garantem alguns direitos sociais. Mas lembrem-se que o Vargas ainda teve um período
ditatorial (1937-1945). Depois tem-se um período democrático (1946-1963). E em seguida,
outra ditadura (1964-1984). Então, os direitos civis e políticos não estavam garantidos. O
século XX no Brasil é marcado por longos períodos e governos ditatoriais. Mesmo que a
população tivesse alguns direitos sociais já previstos nas constituições anteriores a de 1988.
Há contribuições sobre o Estado e os direitos no Brasil em: Tejadas (2020), na obra
intitulada “Avaliação de políticas públicas e garantia de direitos”5, na referida discussão, a
2 Para entender melhor sobre a formação do Estado em vias clássica, prussiana e colonial e suas
diferenças, leiam Chasin (1978).
3 Trindade (2012), faz uma discussão sobre essas concepções de direitos humanos, essa ideia de linearidade.
4 Há um documentário com acesso público sobre a trajetória de vida de Getúlio Vargas, que
apresenta aspectos da vida pessoal e política desse político. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=Mcu4MtLtemE. Acesso em: nov. 2022.
5 Há uma live, intitulada “Avaliação de Políticas Públicas com Silvia Tejadas” sobre o livro que
pode servir de modo introdutório ao conteúdo debatido na obra. Disponível em: https://www.youtube.com/

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 17


autora traz análises sobre o Estado brasileiro e sua formação, faz uma crítica ao Estado
brasileiro por seu caráter elitista, racista e estruturador de hierarquias de poder e de desi-
gualdades. A autora também, em alguma medida, reconstrói no plano teórico a evolução
das políticas públicas no Brasil no século XX.
Ademais, Tejadas (2020), contribui com diretrizes e subsídios teóricos e metodoló-
gicos para análise e reflexão de políticas públicas, nesse sentido contribuirá também para
fundamentar as reflexões sobre os serviços, projetos e programas que vamos tratar adian-
te. A Lei n. 13.019/2014, que regula parcerias celebradas junto ao terceiro setor prevê a
existência de comissões de monitoramento e avaliação, portanto, cabe aos/as profissionais
se apropriarem de subsídios teóricos e metodológicos para terem condições de atuarem
nessas comissões contemplando desde processos mais documentais e burocráticos até
questões mais cotidianas e do atendimento.
Em resumo, Iamamoto e Carvalho (2014), Carvalho (2021), e Tejadas (2020), de
modo didático, oferecem subsídios para entendermos mais sobre o Estado, demarcar os
processos trilhados pelo Estado brasileiro, seus avanços, retrocessos e a atualidade na
condução de políticas públicas. A partir das desigualdades operadas na industrialização e
urbanização, o Estado atuará de modo a conter as demandas dos(as) trabalhadores(as)
e para tanto criar instituições e elaborar legislações. Na década de 1930, por exemplo,
tem-se a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, por meio do decreto
n. 19.433, de 26 de novembro de 1930. Em 1940 tem-se a criação do salário mínimo e
do Serviço de Alimentação de Previdência Social (SAPS), é também instituído o imposto
sindical. Portanto, o Estado brasileiro por meio do governo varguista faz concessões e ao
mesmo tempo controla a população e legitima os canais por meio dos quais as pautas e
mobilizações das camadas populares são captadas. É no decorrer do século XX que o
Estado formulará suas interferências na previdência, saúde, menores, etc.
Concomitantemente aos amplos avanços do Estado no exercício e controle de
grandes questões da sociedade brasileira, nós teremos atuação de instituições religiosas e
filantrópicas. A fim de exemplificar uma instituição religiosa que atuava/atua no sentido da
caridade, pode-se mencionar a “Caritas Internacional” que é uma entidade humanitária vincu-
lada a Igreja Católica, fundada em 1897, que atua junto a grupos vulneráveis como imigrantes,
crianças, idosos, mulheres, refugiados e outros em alguma situação de vulnerabilidade.
Há um número elevado de entidades de cunho religioso que atuam junto às diferen-
tes mazelas sociais produzidas pela dinâmica capitalista. Além da Cáritas que menciona-
mos anteriormente e é histórica, com mais de 100 anos de existência, podemos pensar em
outras fundadas mais recentemente, como por exemplo a Associação Assistencial e Pro-
mocional Rainha da Paz, criada em 10 de agosto de 1992, enfatiza e foca no atendimento
ao público infantojuvenil em situação de vulnerabilidade e risco social. Tal entidade embora
fosse mantida com doações e ações mais conectadas com a própria Igreja Católica, hoje
em dia recebe recursos públicos e portanto, atende às prescrições legais para tanto.

watch?v=f9EQfV-iXSI. Acesso em nov. 2022.

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 18


Você sabia que até 2020 o Brasil contava com mais de 815.676 mil Organizações Não Governamentais
(ONGs)? Esses foram dados apresentados no Mapa das Organizações da Sociedade Civil, produzido pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do governo federal. Busque lembrar se em sua cidade
existem ONGs ou Organizações da Sociedade Civil (OSC). No site do mapa das OSCs mencionado, você
pode encontrar mais informações sobre essas instituições pelo Brasil, como indicadores, áreas de atuação,
características e muito mais.

Link: https://mapaosc.ipea.gov.br/

Você pensa que entidades religiosas ou ONGs e OSCs são capazes de resolver os problemas sociais com
os quais nos deparamos atualmente? Busque refletir sobre a contribuição e os limites dessas instituições.

Fonte: o autor, 2023.

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 19


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, nesta primeira unidade refletimos sobre a sociabilidade capitalista,
suas estruturas de funcionamento e como tais estruturas forjaram e demandaram a criação
do Serviço Social, brevemente vimos como a Igreja contribuiu para emersão dessa pro-
fissão e como o Estado legitimou e demandou a profissão conforme avançou no controle
social e político, especialmente nas décadas de 1940/50.
Além disso, explicamos que muitas entidades religiosas são antigas e atuam junto
às mazelas da sociedade de classes. Nas próximas unidades vamos retomar essas enti-
dades e ver como as mesmas passam a atender critérios e regulamentações estatais a fim
de pleitear recursos públicos. Bem como veremos como as mesmas prestam atendimentos
de interesse público.

UNIDADE 1 SERVIÇO SOCIAL E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 20


LEITURA COMPLEMENTAR
O livro A História pelo avesso: a reconceituação do Serviço Social na América La-
tina e interlocuções internacionais lhe ajudará a compreender mais sobre o Serviço Social
e seus percursos em diferentes países.
O livro está com acesso público no seguinte link: https://books.google.com.br/
books?id=hnkrEAAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&-
cad=0#v=onepage&q&f=false

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MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO

• Título: Terceiro Setor e Questão Social: Crítica ao padrão Emer-


gente de intervenção Social

• Autor: Carlos Montanõ.

• Editora: Cortez.

• Sinopse: A obra resulta de estudos realizados pelo autor em seu


processo de doutoramento, faz uma discussão do capitalismo e
suas características no final do século XX, no qual a crise estrutural
demanda respostas políticas à continuidade da acumulação de lu-
cros, que têm reduções. As respostas são neoliberais e fomentam
ainda mais o desemprego e a desregulamentação e precarização
das condições de trabalho. Concomitantemente, privatizações
e terceirizações das funções do Estado como a oferta de saúde,
educação, previdência social entre outras, passam a ser a regra.
No campo socioassistencial, as Organizações não-governamentais
serão a resposta do Estado. O autor faz justamente a crítica a essa
terceirização das funções do Estado e aponta seus limites.

FILME

• Título: História da Assistência Social no Brasil

• Ano: 2010.
• Sinopse: O documentário conta a história da assistência social
no Brasil, mostra como a desigualdade praticamente acompanha
a própria história do país. Evidencia como entidades religiosas
contribuem para atender as pessoas mais vulneráveis. Em seguida,
menciona a Legião Brasileira de Assistência (LBA), o Sistema “S” e
outras instituições criadas no governo de Getúlio Vargas que atuavam
nessa dimensão social. A Ditadura Militar (1964-1984) não implicou
em grandes alterações no processo desigual que marcava a vida das
pessoas, mesmo que algumas legislações trabalhistas tenham sido
implementadas nesse período. Por fim, trata-se da Constituição Fede-
ral de 1988 e como a mesma funda um novo contexto de garantia de
direitos, implementação de políticas públicas e participação popular.

• Link do vídeo: Especial apresenta história da Assistência Social no Brasil

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UNIDADE

ORGANIZAÇÕES DA
SOCIEDADE CIVIL E
TERCEIRO SETOR NO
CONTEXTO BRASILEIRO
Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza

Plano de Estudos
• Crises do capital e respostas neoliberais
• Estado, direitos constitucionais e participação democrática

Objetivos da Aprendizagem
• Entender o contexto de criação das Organizações da Sociedade
Civil do Terceiro Setor no contexto brasileiro;
• Compreender a crise estrutural do capitalismo e suas implicações
nas políticas públicas;
• Perquirir as principais características do contexto econômico
brasileiro de 1990, do neoliberalismo e seus rebatimentos nas
políticas públicas e sociais;
• Estabelecer as conexões entre crise do capitalismo, neoliberalismo
e terceiro setor;
INTRODUÇÃO
Caros(as) estudantes, se na Unidade I, recapitulamos aspectos do Serviço Social en-
quanto resposta às mazelas e desigualdades produzidas pela sociabilidade capitalista, e sobre
o papel do Estado e da Igreja junto a questão social, na unidade II, temos por objetivo entender
a criação das Organizações da Sociedade Civil do Terceiro Setor no contexto brasileiro.
Tendo recuperado algumas características do Serviço Social e das políticas públi-
cas brasileiras no século XX. Podemos pensar melhor sobre a caracterização da década
de 1990 e especialmente, como o marco constitucional impacta na relação do Estado com
as instituições socioassistenciais e como essas antigas entidades e organizações religiosas
que ofertavam atendimentos por meio de caridade, benemerência e benesses vão prestar
serviços, agora, de interesse público de modo legal, regulamentado a fim de atender pres-
crições que vão sendo elaboradas em diferentes segmentos.
Para exemplificar, a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em
1990 trouxe prescrições para o atendimento ao público infantojuvenil. Então, as Organiza-
ções da Sociedade Civil (OSC) precisaram passar a seguir prescrições legais e jurídicas.
Isso também acontece com o caso das pessoas com deficiência, pessoas idosas, etc. Mas
antes de aprofundarmos essa discussão vamos começar pelo contexto de 1990 quando
houve o aumento e intensa demanda por tais instituições e pelo terceiro setor.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 24


1
TÓPICO

CRISES DO CAPITAL E
RESPOSTAS NEOLIBERAIS

Para entender a década de 1990 nos cabe recuar um pouco, no mínimo, os marcos
de 1973. Neste ano, o mundo foi marcado por uma crise econômica, a chamada crise do
petróleo. A economia internacional já havia passado por outras crises, como por exemplo,
1929, a chamada grande depressão, e outras de menor intensidade e repercussão. Essas
crises tinham um caráter cíclico. Contudo, para autores como Mészáros (2011) e Alves
(2013), a crise de 1973 deixa de ter um caráter cíclico, isto é, com altas e baixas, períodos
longos entre cada depressão, sendo que após cada baixa, o sistema logo voltava a crescer
e acumular, e no qual um setor sempre era o setor mais responsável.
Diferentemente, a crise de 1973 têm um caráter estrutural, ou seja, o crescimento
não volta de modo rápido, e todas as esferas da economia são radicalmente afetadas (pro-
dução, circulação e consumo de mercadorias). Ademais, as quedas passam acontecer em
um período menor, ao passo que, podemos visualizar crises em 1973, 1980, 1990, 2002,
2008, 2012. Ou seja, os períodos de crescimento entre as crises diminuem. E hoje é impos-
sível afirmar que não estamos em uma crise, a crise é evidente. Carcanholo (2010) entende
que as crises são inerentes ao sistema capitalista1, pelo modo como se produz a lei geral
de acumulação capitalista é que elas se produzem e se reproduzem. A própria pandemia
contribuiu para acirrar a crise econômica internacional, contudo, a pandemia não é a causa
da crise, essa explicação faz parte de modelos explicativos que não focam na historicidade.

1 Nesse vídeo, de 2021, o pesquisador e professor Marcelo Dias Carcanholo contribui para compreensão
das crises e faz conexões da mesma com a pandemia da Covid-19, evidenciando que a pandemia não é
causadora da crise atual, mas contribui ao seu aprofundamento. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=z03k28tWRgc. Acesso em 20 nov. 2022.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 25


Carcanholo (2010) exemplifica bem as alterações nas principais economias no
período a partir de quatro destaques.

Em primeiro lugar, Estados Unidos em 1970 e Alemanha Ocidental em 1971


já mostravam fortes retrações econômicas. Em segundo lugar, a principal
economia do centro da acumulação capitalista, os Estados Unidos, apresenta
taxas negativas de crescimento em dois anos (-0,9% em 1974 e -0,8% em
1975). Em terceiro lugar, o Reino Unido apresenta a mais abrupta retração
em 1974 (-7,0%), depois de apresentar um (aparente) forte crescimento no
ano anterior (7,6%). Por último, merece destaque a forte retração no conjun-
to dos países da OCDE que cresceu 6,0% em 1973, apenas 0,7% em 1974 e
retrocede 0,2% em 1975. (CARCANHOLO, 2010, p. 3, grifos nossos).

A crise de 1973 repercutiu por vários anos, implicou na redução da produção fomen-
tada no pós-guerra, desse modo, pode-se pensar que o desemprego, inflação, alta no valor
dos produtos, diminuição do poder aquisitivo da população foram imbricados nesse período.
A estagnação do crescimento começa a marcar a economia nos anos subsequentes aos da
crise de 1973. As inúmeras mudanças vão permitir que passemos a falar de um capitalismo
contemporâneo, pois a ideia de produção e consumo em massa, de hegemonia do capital
produtivo passam a ceder lugar para um modelo de produção Just In Time (na hora certa),
sendo que os produtos são fabricados quando já se tem um comprador(a) ou sua demanda.
Além disso, passamos a ter uma hegemonia do capital financeiro, para exemplificar,
podemos dizer que os bancos e instituições financeiras passam a ter mais poder econômi-
co e político do que o setor da indústria. Obviamente, que não se pode esquecer que tais
dimensões se conectam e se relacionam. A economia na perspectiva que adotamos aqui é
uma totalidade conectada. Ademais, enquanto resposta à crise, os países de capitalismo
central (Estados Unidos, China, Inglaterra, França, Alemanha, Japão, etc) desenvolvem
inúmeros mecanismos para se apropriarem da produção dos países de capitalismo perifé-
rico (Índia, Chile, Brasil, Argentina, etc.), bem como de lucros.
O ciclo do capital (produção, circulação, consumo), precisa ser acelerado, espe-
cialmente, em momentos de crise, e fundamentalmente para realização do capital fictício,
que é um capital num sentido abstrato. Para exemplificar podemos supor que você faz um
investimento de 1000 reais e receberá 100 reais por mês se mantiver esse investimento,
a priori esse montante de capital que você receberá não existe. Mas podemos perguntar,
como ele passa a existir? É prudente pensar que não é o dinheiro que faz dinheiro como
se diz popularmente, e, também que o mais valor, que criará o lucro, só pode ser obtido
por meio da exploração da força de trabalho, pois só o trabalho cria valor. Portanto, seu
investimento de 1000 reais irá para algum fundo, ou empresa, a Vale, por exemplo, que irá
produzir determinada quantidade de minério e com o valor expropriado do trabalho alheio

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 26


lhe pagará o rendimento pelo seu dinheiro investido. É comum a pessoa que investe pensar
que dinheiro faz dinheiro, porque ele simplesmente investiu e recebeu um montante maior,
mas por trás dos investimentos esse ciclo (produção, circulação, consumo) precisa ser
contemplado. Quando, por algum motivo, há problemas nesse ciclo, por exemplo muita
produção e pouco consumo, tem-se um contexto para a crise.
As crises são, portanto, sintomas do não funcionamento do capital e ao mesmo tempo
inerente a ele, porque fazem parte de sua natureza, Mészáros (2011) chama esse processo
de produção e reprodução do capital de sociometabolismo do capital, pois por meio dessa
analogia com um metabolismo podemos entender melhor o funcionamento da sociedade
e das crises estruturais que se apresentam nesse modelo de sociabilidade. Afinal, o nosso
metabolismo precisa fazer os ciclos de alimentação, apropriação de vitaminas, nutrientes,
etc.; para funcionar, assim como o capitalismo, é por excelência um sistema que precisa
produzir mercadorias e nesse processo, cada vez mais, criar vontades, desejos e consumos.
Compreender as crises econômicas nos interessa, porque os momentos de crise vão
trazer implicações às políticas públicas e sociais, para as organizações da sociedade civil e
para os conselhos de direitos. É bem comum que governantes, políticos, empresários busquem
sempre apontar os(as) culpados(as) pelas crises econômicas, por exemplo, nos Estados Uni-
dos, o ex-presidente Donald Trump já acusou os(as) imigrantes como responsáveis pela crise,
países da Europa também fazem isso recorrentemente. Por vezes, a política de atendimento à
população vulnerável é centralizada como a vilã, como a causadora das crises. Mas como te-
mos buscado debater, a crise é inerente ao capitalismo e produção de um modelo de produção,
que envolve inúmeras esferas (produção, circulação e consumo de mercadorias).
Ademais, é comum que os Estados sejam demandados em momentos de crise para
que salvem o mercado, ou seja, para que salvem as empresas, indústrias, etc. Lembrem
por exemplo, quando a presidenta Dilma Rousseff realizou parte do pagamento dos funcio-
nários de algumas empresas a fim de que não houvesse demissão em massa, processos
semelhantes ocorreram em outros governos. No decorrer da pandemia da Covid-19, por
exemplo, inúmeros países promoveram o pagamento de auxílios aos sujeitos que ficaram
desempregados ou mesmo sem acesso à renda. Portanto, Estado e mercado estão mais
conectados do que parece, bem como o terceiro setor. Nossa missão, portanto, é captar e
compreender as relações entre o primeiro setor (Estado), segundo setor (Mercado) e o ter-
ceiro setor (Organizações da Sociedade Civil), bem como as conexões que se processam
entre essas esferas e as instituições que as compõem.
Retomando a discussão sobre crise que iniciamos, frisamos que as crises terão
repercussão nos três setores da sociedade (primeiro, segundo e terceiro), tendo rebati-

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 27


mentos em diversos serviços, programas, projetos, etc. Nas áreas da educação e da saúde
podemos pensar nas privatizações e Parcerias Público Privadas (PPP) que vão ser muito
utilizadas. Já em relação à política de assistência social e atendimento à população vulne-
rável, há uma tendência de fomentar o terceiro setor como âmbito de atendimento dessas
demandas em detrimento do Estado. Portanto, privatização e terceirização são conceitos
catedráticos para entender a década de 1990, bem como a atualidade econômica e social
do país (CARCANHOLO, 2010; RIBEIRO JUNIOR, 2012).
A privatização no contexto pós 1990 também foi muito defendida em relação a
empresas estatais. Uma obra interessante para aprofundar essa discussão é o livro “A
Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Júnior de 2012, na obra o autor documenta e relata
processo de privatização de empresas, especialmente nos governos de Fernando Henri-
que Cardoso, mas também trata sobre escândalos de corrupção e estratégias privatistas
adotadas no período posterior, a obra oferta muitos elementos para se entender o contexto
neoliberal, meandros dos embates políticos do Brasil de 1990 e do Brasil contemporâneo.
É nesse ínterim que emerge outro assunto importante, o neoliberalismo2, que em
resumo, podemos definir como uma política econômica adotada no contexto da crise de 1970
em países de capitalismo central como Estados Unidos e Inglaterra, e ao final de 1980 e 1990
em países de capitalismo periférico como o Chile, Brasil e Argentina. “Neo” significa novo, e
liberalismo é uma tendência econômica, então neoliberalismo corresponde a novo liberalismo,
é a retomada do liberalismo em outro contexto, portanto, as teses são atualizadas. Em síntese,
o neoliberalismo se caracteriza principalmente pela retirada do Estado em algumas de suas
funções e ofertas de serviços públicos ou o seu reordenamento, como dissemos anteriormen-
te, terceirização, privatização e parcerias entre setores serão as marcas desse contexto.
As implicações do neoliberalismo são múltiplas, e vão desde a privatização de inúmeros
setores como dito anteriormente até a fomentação de parcerias entre o público e privado, e o
público e o terceiro setor. Uma ideia forte do neoliberalismo é a de que o Estado interfere muito
na economia e isso deve ser evitado, além disso, o Estado não deve ofertar serviços gratuitos,
o Estado deve deixar ao mercado essas funções, como, por exemplo, a oferta de educação,
de saúde, de segurança, enfim, de vários serviços. Essa é uma tese neoliberal, a defesa do
mercado como âmbito de resolução dos problemas sociais e oferta dos serviços necessários.
Vamos avançar na explicação e debate sobre exemplos a fim de que se compreenda melhor o
que é neoliberalismo? Como ele é? E o porquê essa política econômica é fomentada?
Autores como Dardot e Laval (2016) ao tratarem sobre o neoliberalismo explicam
que a partir dessa política econômica o:

2 Moraes (2001, p. 13, grifo nosso) entende o Neoliberalismo da seguinte forma: “Aquilo que se tem
chamado de neoliberalismo, como dissemos, constitui em primeiro lugar uma ideologia, uma forma de ver o
mundo social, uma corrente de pensamento. Desde o início do século XX podemos ver tudo isso apresentado
por um de seus profetas, o austríaco Ludwig von Mises (1881-1973). Mas é um discípulo dele, o também
austríaco Friedrich von Hayek, que terá o papel de líder e patrono da causa”.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 28


Estado é obrigado a ver a si mesmo como uma empresa, tanto em seu funcio-
namento interno como em sua relação com os outros Estados. Assim, o Esta-
do, ao qual compete construir o mercado, tem ao mesmo tempo de construir-
-se de acordo com as normas do mercado. (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 372).

Nesse sentido, se reforça a lógica da governabilidade empresarial e a concepção


de empreendedorismo que passam a orientar políticas de Estado e se popularizam por
meio da mídia, cultura, etc. Dardot e Laval (2016, p. 373) ainda acrescentam que há uma
“extensão da racionalidade mercantil a todas as esferas da existência humana e que fazem
da razão neoliberal uma verdadeira razão-mundo”. Então, o neoliberalismo implica em uma
cultura, um modo de pensar e agir, a meritocracia é defendida pelo modelo neoliberal, pois
cada indivíduo deve ser responsável pelo seu sustento, pela sua qualidade de vida, enfim,
em alguma medida a individualização faz parte do conjunto de teses do neoliberalismo.
O neoliberalismo se apresenta então, como contraposição a todas as vertentes que
defendem o intervencionismo do Estado na regulação das relações econômicas e sociais e
também de cunho socialistas. Alguns autores(as) vão dizer que o neoliberalismo é uma ideo-
logia que encobre algumas questões e que na verdade, defende a não intervenção social do
Estado, mas quando a intervenção do Estado vai beneficiar o mercado, os neoliberais fazem
a defesa. É comum também neoliberais passarem a ocupar cargos políticos e no Estado
para que possam imprimir um sentido mais neoliberal nas políticas e decisões.
Nesse sentido, na educação vários programas e projetos estão conectados com
esse movimento neoliberal, que por vezes, é sutil, e não se declara de modo explícito. Insti-
tuições internacionais como o Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI) e
outras, vão elaborar as orientações para lidar com a crise e conduzir as políticas públicas.
Na educação superior, as orientações dessas instituições possuem um caráter privatista,
ao passo que a defesa seria por programas como o Fundo de Financiamento Estudantil
(FIES)3, a fim de desonerar o Estado da responsabilidade de oferta a esse nível de ensino.
Conjuntamente, outro programa fomentado nessa lógica é o Programa Universidade para
Todos (PROUNI)4, voltado aos estudantes com menos recursos econômicos. Nessa linha
de reflexão fica evidente que aos poucos, o Estado vai deixando de ser o responsável

3 O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) foi instituído pela Lei n. 10.260, de 12 de julho de
2001, possibilita a concessão de financiamentos a estudantes de cursos superiores não gratuitos, que deve
contar com uma avaliação do Ministério da Educação, tanto referente a disponibilidade de recursos quanto o
reconhecimento do curso mediante o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que
devem possuir conceito mínimo de 3 pontos. A destinação dos financiamentos deverá priorizar estudantes
que não possuam curso de ensino superior e/ou que tenham iniciado um processo de financiamento e não o
tenham quitado (BRASIL, 2001).
4 O Programa Universidade para Todos (PROUNI) foi instituído pela Lei n. 11.096, de 13 de janeiro
de 2005, e possibilita a concessão de bolsas em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas, de 25, 50 e
100% do valor a estudantes em situação de vulnerabilidade, que possuam renda mensal per capita inferior a
três salários mínimos, sendo as bolsas integrais concedidas apenas a estudantes que não possuam diploma
de curso superior e renda inferior a 1 salário mínimo e meio. Como contrapartida às instituições de ensino
superior são isentas de parte dos impostos, o que reduz a arrecadação do governo, assim como montantes
de dinheiro que poderiam ser investidos nas IES públicas (BRASIL, 2005).

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 29


exclusivo na oferta aos direitos constitucionais e interesses de empresas e instituições
vinculadas ao mercado passam a ser atendidas por meio de políticas públicas e sociais.
As orientações privatistas do BM, não são novas, visto que, desde 1994, já haviam
publicações com esse teor voltadas ao ensino superior, como a seguir:

• Fomentar à maior diferenciação das instituições, incluindo o desenvolvi-


mento de instituições privadas;
• Proporcionar incentivos para que as instituições públicas diversifiquem as
fontes de financiamento, por exemplo, a participação dos estudantes nos
gastos e a estreita vinculação entre financiamento fiscal e os resultados;
• Redefinir a função do governo no ensino superior;
• Adotar políticas que estejam destinadas a outorgar prioridade aos objetivos
da qualidade e da equidade. (BM, 1994, p. 4, grifos nossos, tradução do
professor da disciplina).

Portanto, vê-se que as saídas apontadas e sugeridas por instituições internacionais


para educação são estratégias vinculadas ao fomento do mercado e o processo de priva-
tização e terceirização. A ideia de o Estado repassar um valor em dinheiro ao estudante
ou à família e a mesma buscar por conta a educação é o mesmo processo de fomentar e
estimular programas como o FIES, que operam nessa lógica, e modelos para educação
básica dessa mesma forma também são defendidos pelo pensamento liberal e neoliberal.
Ao analisarem e refletirem sobre os mecanismos utilizados para guiar as políticas
educacionais, Shiroma Moraes e Evangelista (2002), pontuam que o Consenso de Washin-
gton foi um evento internacional no qual se defendeu e disseminou a nova liberalização
econômica para os países em desenvolvimento, isto é, os países de capitalismo periférico
se tornam laboratórios e modelos nos quais se visa a implantação de políticas, serviços,
programas, projetos de cunho neoliberal. Esse movimento se dá de maneira transvestida
em discursos de verniz de justiça social. Alguns termos passam a ser muito utilizados,
“parcerias público-privadas”, “projetos sociais”, “pacto social”, “economia solidária”, “serviço
de interesse público”, que na perspectiva das autoras contribuem para encobrir e perpetuar
a dominação imperialista do mercado na educação e demais relações estabelecidas.
No Brasil para se referir ao período da década de 1990 se utiliza o conceito de Re-
forma do Estado, o governo federal elaborou e implementou um Plano Diretor da Reforma
do Estado, no qual estavam projetadas todas as alterações previstas, embora o referido
plano conte com um linguajar de suposta qualificação dos serviços prestados, defesa da
eficácia e eficiência, o plano fundamentou a privatização demasiada de empresas estatais.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 30


2
TÓPICO

ESTADO, DIREITOS
CONSTITUCIONAIS E
PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

A área da saúde também contou com intensa privatização nesse período, grandes
planos de saúde foram criados na década de 1980/90. Até aqui a saúde não era amplamen-
te democratizada. Contudo, em meio ao avanço privatista e neoliberalizante como resposta
à crise, não podemos esquecer que partimos de uma concepção que considera a luta
de classes. Portanto, precisamos pensar que grupos vão disputar na arena social, quais
projetos serão inscritos na agenda política. O contexto da redemocratização e constituinte
será excelente para entender esses embates e visões de mundo em disputa.
Nas explicações de Bravo e Matos (2004):

No que tange ao modelo de proteção social, a Constituição Federal de 1988


é uma das mais progressistas, onde a Saúde, conjuntamente com a As-
sistência Social e a Previdência Social integra a Seguridade Social. À
saúde coube cinco artigos (Art. 196 - 200) e nestes está inscrito que esta é
um direito de todos e dever do Estado, e a integração dos serviços de saú-
de de forma regionalizada e hierárquica, constituindo um sistema único. É
evidente que esta conquista não foi dada, na medida em que no processo
constituinte foi visível a polarização da discussão da saúde em dois blo-
cos antagônicos: um formado pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH)
e pela Associação das indústrias farmacêuticas (internacionais) que defendia
a privatização dos serviços de saúde, e outro denominado Plenária Nacional
da Saúde, que defendia os ideais da Reforma Sanitária, que podem ser re-
sumidos como: a democratização do acesso, a universalidade das ações e
a descentralização com controle social. A premissa básica é a compreensão
de que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. A vitória das
proposições da reforma sanitária deveu-se à eficácia da Plenária, via sua ca-
pacidade técnica, pressão sobre os constituintes e mobilização da sociedade,
e à Emenda Popular assinada por cinquenta mil eleitores e cento e sessenta
e sete entidades. (BRAVO e MATOS, 2004, p. 7).

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 31


Vê-se, portanto, projetos de sociedade em disputa, um de caráter mais privatista e
elitista e um da Reforma Sanitária, mas democratizante e vinculado ao campo dos direitos
humanos e sociais. A Constituição Federal de 1988 se constitui como um marco de registro dos
direitos humanos e sociais que foram historicamente negados e também a constituição será
um ponto final a um período de ditadura militar (1964-1984). Colocando no lugar o princípio da
gestão democrática e participativa. Nesse sentido, a defesa dos direitos humanos, da cidada-
nia, pluralismo político. E a meta por construir uma sociedade justa e solidária, um projeto de
desenvolvimento nacional, a erradicação de pobreza e mazelas sociais são todas contempladas
na carta constitucional que é chamada de constituição cidadã por ter esse caráter.
O Serviço Social brasileiro vai se conectar com as lutas democratizantes e constitu-
cionais do final da década de 1980, portanto, nosso projeto profissional se afina e combina
com os preceitos constitucionais, com a defesa por direitos que será promovida neste pe-
ríodo. Bravo e Correia (2012) compreendem a contradição da gestão das políticas públicas
e sociais no Brasil iniciada nesse período, que sofre com a investida neoliberal e retirada da
responsabilidade estatal frente às demandas sociais, as chamadas contrarreformas, mas
que também se vêm discutindo quem compõe a sociedade civil, sobre o controle social, o
que é cidadania e como democratizar os processos decisórios. Assim, aos que por tempos
foi negada a participação, agora deve-se fomentar.
Com a constituição, o campo legislativo é ressignificado e são criados três dispo-
sitivos principais de participação direta, como o plebiscito: que se refere ao processo de
consulta popular na tomada de decisões sobre determinada temática. O referendo, que se
trata de um momento no qual a sociedade é chamada para referendar, ou seja, legitimar
uma lei ou decisão. E por fim, a proposta de lei por iniciativa popular, que é o processo
por meio do qual a população capta uma quantidade de assinaturas e propõem uma lei para
tramitar e ser votada no legislativo.
Além disso, junto com os direitos constitucionais são criados os Conselhos Gesto-
res de Políticas Públicas, que são canais institucionais, plurais, permanentes, autônomos,
formados por representação paritária, entre sociedade civil e poder público. Portanto, saúde,
educação, cultura, assistência social, todos os setores das políticas públicas vão contar com
seus respectivos conselhos, que são compostos por um grupo responsável por propor dire-
trizes das políticas públicas, fiscalizá-las, controlá-las e deliberar sobre elas, sendo órgãos
vinculados à gestão pública. Portanto, cada secretaria deste segmento convoca reuniões
oficializa os conselhos gestores por meio de portarias com as nomeações, informa a popula-
ção sobre as reuniões que são livres e qualquer cidadão interessado pode participar.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 32


Os conselhos gestores e direitos acontecem nas três esferas, ou seja, há conselhos
municipais, estaduais e federais. Esses conselhos são permanentes, organizam as con-
ferências também nas três esferas de governo. As conferências são espaços nos quais a
população consegue participar de modo mais amplo e efetivo na elaboração de propostas,
bem como nos processos de conferência do cumprimento das propostas que foram apro-
vadas nas conferências anteriores. As conferências são então, momentos para o debate
sobre os direitos de determinado segmento social ou área (crianças, mulheres, pessoas com
deficiência, juventude educação, assistência social), bem como para a projeção, definição
do que precisa ser feito para atender e garantir os direitos constitucionalmente previstos para
cada público. Essa participação é o chamado controle social, ou seja, tudo que o Estado faz
passa pelo crivo do controle social da população organizada (BRAVO; CORREIA, 2012).
Esses novos modelos de participação (Conselhos, conferências referendos, ple-
biscitos) corroboram com o processo de democratização da gestão pública na década de
1990 até os dias de hoje, e teve como foco o diálogo entre os atores sociais que eram
principalmente pautados nos conceitos de participação social, controle social ao Estado
e na realização de parcerias entre o Estado e a sociedade civil. Nesse cenário, diferentes
sujeitos reivindicam seus direitos a participar desses espaços, valendo retomar que após
o regime militar a eleição direta ocorreu apenas em 1989 com a eleição do ex-presidente
Fernando Collor de Mello, o qual posteriormente foi deposto com o apoio dos brasileiros,
por meio dos movimentos das caras pintadas. Nesse sentido, é importante recordar que em
um período ditatorial nem mesmo os representantes do país são escolhidos, tão pouco, há
participação da população em processos decisórios (BRAVO; CORREIA, 2012).
Todavia, mesmo com a participação desses sujeitos sociais o Estado brasileiro
manteve algumas de suas características do passado, por exemplo, continua a apresentar
o seu caráter clientelista, privatista e burocrático, ou seja, a certo grau manteve o favoreci-
mento a grupos particulares principalmente e a defesa dos interesses particulares, se faz
importante frisar a criação dos Conselhos Gestores também como espaços pensados
para aproximar os sujeitos sociais e combater o histórico autoritário e ditador do
Estado Brasileiro (CARVALHO, 2021; TEJADAS, 2020).
Bravo e Correia (2012) entendem que o controle social assume uma nova perspec-
tiva a partir do processo de redemocratização do país, que tem por objetivo a fiscalização
das ações do Estado. Há muitas dificuldades desse controle a partir da participação social,
que são burocratizadas e, por vezes, engessadas nos Conselhos Gestores, ao passo que
a cultura política existente da não participação da comunidade e o seu não reconhecimento
enquanto sujeitos políticos necessários a esses processos, bem como o modelo adotado, no

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 33


qual o Estado gesta e executa as políticas públicas e sociais enquanto a população constitui-
-se apenas como clientes daquilo que vos é oferecido ainda é um tanto problemático.
Por fim, para além da participação efetiva se faz necessário que os representantes
sociais não estejam subordinados aos interesses do próprio Estado, mas sim próximos da
base popular, a qual respondem, nesse sentido entende-se que a gestão social ainda está
em processo de construção, é portanto, processual e dialética. Cabe a nós entendermos os
fios que tecem as disputas, embates e polêmicas que envolvem a gestão e os interesses
que se processam no cotidiano das políticas públicas.
Outro ponto a ser abordado é a dicotomia implantada no imaginário social de que
tudo que vem do Estado é precário, corrupto e burocrático, enquanto as ações de entidades
da sociedade civil são portadoras da moral, eficiência e eficácia, está que também pode ser
compreendida como uma estratégia do neoliberalismo para desresponsabilizar o Estado
frente às demandas sociais. Cabe aqui mencionar que as atividades realizadas pelo terceiro
setor acabam possuindo um caráter assistencialista e imediatista, que a grosso modo não
atingem as raízes das problemáticas sociais, o que não significa que não sejam necessárias,
apenas que esse trabalho deve ser pensado a fim de complementar as políticas públicas e
sociais na perspectiva de garantia de direitos (BRAVO; CORREIA, 2012; TEJADAS, 2020).

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 34


Você sabia que no decorrer da pandemia da Covid-19 muitas conferências de direitos aconteceram de
modo remoto, com a impossibilidade de reuniões e eventos presenciais, muitos conselhos gestores orga-
nizam suas reuniões e atividades por meio de plataformas digitais a fim de realizarem os trabalhos que são
muito importantes para defesa dos direitos. No link a seguir você encontra um documento orientador so-
bre a realização da 12ª Conferência Estadual dos Direitos das Crianças e Adolescentes, que acontecerá em
2023. Para os(as) assistentes sociais é importante ter noções sobre a organização desses eventos, porque
com frequência somos mobilizados para isso.

Link: https://sedh.es.gov.br/Media/Sedh/Documentos2022/DOCUMENTO%20ORIENTADOR%20PARA%20
%20XII%20CONFER%C3%8ANCIA%20ESTADUAL.pdf

Você já participou de algum conselho gestor na cidade em que você reside? Se não participou, reflita sobre
como isso pode ser produtivo e como sua participação pode propiciar acesso aos direitos e políticas públicas
à população. Além disso, pense sobre qual segmento você teria mais vontade de participar (mulheres,
igualdade racial, juventude, criança e adolescente, educação, assistência social).

Fonte: o autor, 2023.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 35


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, cabe mencionar sobre a pertinência da participação social conforme apre-
sentada pelos autores(as) trazidos(as), que argumentam que por meio da unificação da luta
de diferentes atores sociais que tornou possível a conquista de espaços decisórios e a des-
centralização da gestão pública, ainda que a mesma esteja em processo de aprimoramento,
nesse sentido, a elaboração de políticas públicas e sociais, teve como ponto relevante as
intervenções realizadas pelos movimentos sociais, Organizações da Sociedade Civil (OSC)
e pela população nesses espaços decisórios existentes, que só foram e são possíveis por
meio das lutas coletivas e sociais travadas pela população a fim de materializar os direitos
previstos na constituição federal e estatutos decorrentes.
Foram essas construções que propiciaram a legitimação do princípio da gestão
democrática em todas as políticas públicas. O princípio da universalização, que se orienta
pelo fortalecimento e expansão de todos os direitos para todos os cidadãos e cidadãs,
como é o caso da saúde pública. A descentralização que prevê a corresponsabilização de
municípios, estados e união na oferta de serviços, projetos e programas que atendam a
população em suas mais diversas demandas. Tudo isso permeado pelo princípio da parti-
cipação política que deve permear a elaboração, desenvolvimento, oferta e avaliação, pois
qualificam e afinam tais processos aos interesses da classe trabalhadora.

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 36


LEITURA COMPLEMENTAR
Recentemente, em 2022, o Conselho Regional de Serviço Social do Paraná CRES-
S-PR lançou uma cartilha intitulada: “Participação das/os assistentes sociais nas instâncias
de controle social”. A cartilha oferece a explicação de inúmeros conceitos referentes aos
conselhos, à participação e aos desafios dessa participação. Ademais, podemos acessar
a concepção de conselhos, contextualização da implantação e ampliação dos conselhos
gestores e de direitos e as contribuições da nossa profissão aos conselhos. No link abaixo
está disponível o acesso à cartilha.

Link: https://cresspr.org.br/2022/08/25/cress-pr-publica-material-sobre-participacao-
-de-assistentes-sociais-nas-instancias-de-controle-social/

UNIDADE 2 ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E TERCEIRO SETOR NO CONTEXTO BRASILEIRO 37


MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
• Título: Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado
• Autor: Ricardo Antunes
• Editora: Boitempo
• Sinopse: A eclosão do coronavírus é consequência de uma simbio-
se letal entre a crise estrutural do capital, em curso há vários anos, à
qual se somam uma avassaladora crise social e uma profunda crise
política de consequências inimagináveis. Quando a prática tem sido a
sistemática destruição da legislação social protetora do trabalho, por
imposição de um capitalismo de predação e seu estado-gendarme
em sua variante mais primitiva, o resultado que se colhe é a expansão
exponencial de uma enorme massa trabalhadora desempregada,
subempregada, na informalidade, na intermitência, precarizada e que
só encontra “emprego” nos trabalhos uberizados, aqueles que burlam
completamente a legislação trabalhista. O que se pode esperar, en-
tão, em relação ao presente e ao futuro do trabalho, nesta era trágica
do capital pandêmico? CORONAVÍRUS: O trabalho sob fogo cruzado
procura oferecer algumas pistas para responder estas indagações.
Pandemia Capital é uma série especial de obras curtas, objetivas e
com preços acessíveis, que aborda a crise atual do novo coronavírus
e suas implicações na sociedade, na psicologia e na economia. Os
direitos autorais das obras serão revertidos para movimentos sociais
e organizações dedicadas a oferecer apoio humanitário a populações
em situações de emergência no Brasil e no mundo.

FILME
• Título: Capitalismo: uma história de amor
• Ano: 2009
• Sinopse: Michael Moore apresenta uma análise de como o capi-
talismo corrompeu os ideais de liberdade previstos na Constituição
dos Estados Unidos, visando gerar lucros cada vez maiores para
um grupo seleto da sociedade, enquanto que a maioria perde cada
vez mais direitos. O autor acompanha famílias que perderam suas
casas ao fazerem hipotecas durante a crise de 2008.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=FaMRSjiL4IE

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3
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UNIDADE

ESTADO, NEOLIBERALISMO
E ORGANIZAÇÕES DA
SOCIEDADE CIVIL (OSC)

Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza

Plano de Estudos
• Conceitos e Definições de Conselhos Gestores, Sociedade Civil,
Controle Social.
• Controle social, organizações da sociedade civil e suas contradições.

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar os conselhos gestores de direitos;
• Compreender os tipos de atendimentos e focos prestados nas
Organizações da Sociedade Civil e suas relações com os conselhos;
• Estabelecer a importância do controle social para o monitoramento
do financiamento das políticas públicas e sociais.
INTRODUÇÃO
Na Unidade II, tratamos sobre a crise estrutural do capitalismo, suas implicações e
como o neoliberalismo, enquanto política econômica, apresenta resposta às crises. Vimos
também que o aumento do Terceiro Setor pode ser entendido como uma resposta neoliberal
para a crise e também uma alternativa à democratização de direitos das camadas populares.
Contudo, as décadas de 1980 e 1990 apresentam muitas contradições, pois, ao
mesmo tempo que constatamos a emersão de elementos do neoliberalismo que contribui
para a negação de direitos, buscando privilegiar o mercado, também tivemos marcos perti-
nentes no campo dos direitos sociais, como a redemocratização do país.
A promulgação da Constituição Federal de 1988, que prescreve direitos, bem como
serve de tese para criação de outras legislações, decretos e resoluções que desenvolvem a
visão de mundo fundada e legitimada com ela repercutindo nos serviços e políticas públicas pos-
teriores, como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
É prudente considerar que mesmo com a Constituição Federal muitos direitos ainda
não se apresentam imediatamente no real, no cotidiano das famílias brasileiras. Contudo,
não se pode ignorar seus avanços, em especial, em relação à participação política e demo-
crática, que foram muito fomentadas após e em meio à redemocratização e promulgação da
Constituição Federal de 1988, por meio dos conselhos gestores de direitos, conferências,
plebiscitos, referendos, audiências públicas, etc.
Para ter essa dimensão, podemos pensar na 8ª Conferência Nacional de Saúde
(CNS), de 1986, que é considerada um marco na história das conferências, pois foi a pri-
meira Conferência Nacional da Saúde aberta à população e suas discussões e propostas
deram base e para efetivação da saúde como direito universal e para criação do SUS
(SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
A partir disso, na Unidade III temos por objetivo: discutir a respeito das Organizações
da Sociedade Civil (OSC) enquanto respostas à gestão neoliberal. Entenderemos mais
sobre essas contradições do período estudado e também sobre o financiamento de OSCs,
sobre deliberações, execução de recursos e o papel dos conselhos nesses processos.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 40


1
TÓPICO
GESTÃO DEMOCRÁTICA,
CONTROLE SOCIAL, CONSELHOS
GESTORES E O SERVIÇO SOCIAL

A Constituição Federal de 1988, ao fundar legalmente o princípio da gestão de-


mocrática, permitiu uma nova forma de relação com o Estado e com as políticas públicas
que vemos até hoje. Exemplo disso, se tivermos dúvidas sobre a execução de recursos do
Estado, seja do governo federal, estadual ou mesmo no nosso município, podemos conferir
o site de cada esfera e verificar o portal da transparência, no qual se encontram disponíveis
as informações sobre os gastos, recursos públicos executados, salários de todos os(as)
servidores(as) públicos(as).
Não obstante, é uma obrigação dos entes públicos prestar contas e disponibilizar
publicamente esses dados à população para que possamos conferir. A facilitação e disponi-
bilidade dos dados não funcionava assim em períodos ditatoriais, como na última ditadura,
que o Brasil passou entre 1964 e 1984.
Para exemplificar, podemos lembrar que em períodos eleitorais é muito comum
serem divulgados os valores que os políticos gastam com o cartão corporativo e qual a
natureza e empresas em que se deram os gastos (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
Essa cultura de transparência na gestão dos recursos públicos permeia várias legis-
lações brasileiras, precisa ser efetiva nos serviços públicos de todas as esferas e de todas as
áreas. Contudo, mesmo com diversos mecanismos de fiscalização e acompanhamento, ainda
existem vários problemas como a complexidade das informações, a manipulação de informa-
ções e dados, além da própria corrupção e burocratização que aparecem de diferentes formas.
A obra “A Privataria Tucana” de Ribeiro Junior (2012) é uma denúncia de mecanis-
mos de corrupção como a lavagem de dinheiro, a propina, o nepotismo, entre outras. Nesse
sentido, nos é demandado mais estudo para compreender esses meandros, o funciona-
mento do Estado Moderno e contemporâneo, para que possamos qualificar a democracia,

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 41


a lisura e a transparência dos serviços públicos. E inclusive, criar mecanismos que regulam
as atividades e prestações de serviços de empresas privadas.
A fim de combater e prevenir a corrupção no Estado, foram criadas inúmeras insti-
tuições e mecanismos como, por exemplo, o Ministério Público (MP), que é uma instituição
cuja função prevista pela Constituição Federal é a defesa da ordem jurídica, da democracia
e dos interesses sociais e individuais. Portanto, é bastante comum que se realizem denún-
cias ao MP sobre casos de corrupção e/ou irregularidades nos serviços públicos.
E também, é comum o MP obrigar o poder público executivo na oferta de políticas
públicas, serviços, programas e projetos que materializam os direitos sociais previstos e
as demandas trazidas pelos conselhos gestores e de direitos, nesse sentido, os(as) assis-
tentes sociais trabalham muito em parceria com o MP, mesmo quando estão alocados em
outras instituições e serviços.
Outra instituição estatal é a Controladoria-Geral da União (CGU), que é um órgão
de controle interno do Governo Federal responsável por defender o patrimônio público e
implementar ações e mecanismos de transparência da gestão, por meio de ações de audi-
torias públicas, prevenção e combate à corrupção e ouvidoria. Nesse sentido, é prudente
conhecer mais sobre essas instituições e seus trabalhos, também existem nos estados.
Uma instituição mais próxima do nosso cotidiano que nos auxilia a compreender a regula-
ção estatal seria o Procon, é um instituto que presta atendimento pessoal a todo(a) consumidor(a)
que encontre problemas ou dúvidas no mercado de consumo. Tal atuação serve para regular a
oferta de serviços e preços. Para fazermos um paralelo, os conselhos gestores têm essa missão
de contribuir para regular e fiscalizar a oferta de serviços voltadas a determinados segmentos.
Outro ponto a ser destacado é que por vezes, além do próprio Estado e de suas
instituições, há Organizações da Sociedade Civil que atuam com esse objetivo de cobrar e
demandar a transparência, eficácia na gestão de recursos públicos.
Uma destas instituições são os observatórios1, as quais são instituições não gover-
namentais e se constituem enquanto espaços ao exercício da cidadania, geralmente são
democráticos, apartidários e reúnem entidades representativas da sociedade civil a fim de
contribuírem com a melhoria da gestão pública, podem existir por segmento específico.
Como exemplo, podemos mencionar o Observatório Nacional da Juventude, que
visa congregar entidades que se dedicam a monitorar os direitos da juventude e como os
recursos e políticas públicas são pensadas para esse público, há observatórios focados
nos direitos da infância, das mulheres, do público LGBTQIANP+, enfim, são diversas as
atuações por meio de observatórios.
1 Consulte e leia sobre o Observatório Social do Brasil (OSB), perceba que tal instituição tem
contribuições para educação fiscal, ao passo que ensina sobre como são executados nossos recursos
públicos arrecadados por meio dos impostos. Ademais, também contribuem para elaboração de indicadores
da Gestão Pública, ou seja, a construção de dados que permitem identificar problemas ou mesmo como a
gestão destina e investe os recursos, em resumos os observatórios se constituem em mais um mecanismo de
aprofundamento da democracia e de participação dos cidadãos. Disponível em: https://osbrasil.org.br/como-
funciona/. Acesso em 20 nov. 2022.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 42


Podemos ainda mencionar outras iniciativas que também corroboram com essa
ótica de fiscalizar e monitorar os gastos públicos, entre as quais, as Associações, uma
delas a Associação pela Auditoria Cidadã da Dívida Pública2, tal iniciativa tem, entre alguns
de seus objetivos, os seguintes:

I – Realizar, de forma cidadã, auditoria da dívida pública brasileira, interna e


externa, federal, estaduais e municipais.
II – Demonstrar a necessidade do cumprimento do disposto no artigo 26 do
ADCT da Constituição Federal de 1988, que prevê a realização da auditoria
da dívida externa.
III – Exigir a devida transparência no processo de endividamento brasileiro,
de forma que os cidadãos conheçam a natureza da dívida, os montantes
recebidos e pagos, a destinação dos recursos e os beneficiários dos paga-
mentos de juros, amortizações, comissões e demais gastos.
IV – Exigir a devida transparência do orçamento fiscal, de forma que os cida-
dãos conheçam detalhadamente todas as fontes de recursos públicos e sua
respectiva destinação.
V – Mobilizar a sociedade em ações coordenadas para a exigência do cum-
primento do dispositivo constitucional que determina a realização da auditoria
da dívida (AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA, disponível em: https://auditoria-
cidada.org.br/quem-somos/. Acesso em: 10 jan. 2023, grifos nossos).

Portanto, conforme os destaques feitos na citação dos objetivos da auditoria, vemos


que a participação da população é estimulada para estarmos cientes das grandes questões
e problemáticas, por exemplo, a dívida pública, que afetam a nossa sociedade e o nosso
país. Nesse sentido, compreender o que são instituições como o Controladoria-Geral da
União (CGU), Ministério Público (MP), os Observatórios, as Associações Não Governamen-
tais que atuam na linha de monitoramento e fiscalização da arrecadação e execução de
recursos públicos, contribui para qualificar nossa possível atuação em conselhos gestores,
pois assim, teremos fundamentos históricos, compreensão acerca de dados, enfim, uma
gama de conhecimentos e informações que auxiliam nas tomadas de decisões, no cumpri-
mento de leis e prescrições jurídicas que precisam ser consideradas.
Portanto, quando ouvimos o termo controle social, é a esse conjunto de inicia-
tivas de participação popular, esses mecanismos de prestação de conta, os eventos de
conferências, o exercício de transparência. São todos esses elementos que possibilitam o
controle social, ou seja, a população controlar coletiva e democraticamente a arrecadação,
destinação e execução de recursos públicos.
E quando falamos sobre a atuação em conselhos gestores e da necessidade de
participarmos e estimularmos a participação, encontramos essa demanda listada no código
de ética profissional dos(as) assistentes sociais, como, por exemplo, em dois de nossos
princípios, o IV e o VI, que trazem o seguinte:
2 O site da auditoria cidadã da dívida pública disponibiliza vários materiais para entendermos desde
a gênese da dívida pública nacional e dos estados, bem como sobre o funcionamento da mesma, como ela
privilegia grupos rentistas e prejudica os investimentos em políticas públicas e sociais. Disponível em: https://
auditoriacidada.org.br/. Acesso em: 20 de nov. 2022.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 43


IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida; VI. Empenho na
eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à di-
versidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão
das diferenças (BRASIL, 2012, p. 23, grifo nosso).

A partir dos princípios mencionados, podemos perceber que a participação faz


parte da nossa categoria profissional e as votações nas câmaras municipais, estaduais
e federais, os conselhos gestores, as conferências, as audiências são espaços nos quais
podemos exercer esses direitos de participação.
Esse processo deve começar desde cedo, a política de educação também se orienta
pelo princípio da Gestão Democrática, e a participação infantojuvenil é prevista em várias legis-
lações, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que prevê processos
de participação nos diferentes níveis e modalidades de ensino ou mesmo o Estatuto da Criança
e do Adolescente e outros estatutos fomentam e estimulam a participação democrática de
diferentes públicos.
Com base no código de ética do(a) assistente social, podemos destacar um de
seus direitos, quando demarca o direito de “participação na elaboração e gerenciamento
das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais” (BRASIL,
2012, p. 26, grifo nosso).
Além do direito de “apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações
populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de
cidadania” (BRASIL, 2012, p. 34, grifo nosso).
Nesse ínterim, é possível perceber que desde relações pessoais, institucionais e
organizativas, cabe ao(a) assistente social buscar participar, bem como estimular a partici-
pação popular em todos os processos e percursos decisórios possíveis.
Tem-se, então, a participação política como princípio, como direito, como dever,
quando temos de “contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuá-
ria nas decisões institucionais” (BRASIL, 2012, p. 29). E como competência profissional
dos(as) assistentes sociais.
Em síntese, precisamos reter desse bloco que a Constituição Federal de 1988
possibilitou uma nova forma de relação da população com política, pois estimulou a partici-
pação e isso foi uma conquista em um país que viveu tantos períodos ditatoriais (BRASIL,
1988; CARVALHO, 2021).
A partir dos marcos constitucionais inúmeras iniciativas se protagonizaram, seja no
setor público, no setor privado ou no terceiro setor, que visam a qualificação dos serviços
públicos e a transparência em sua prestação. O controle social se resume, então, a esse
processo de possibilitar a população em acompanhar e opinar nas decisões, ser consultada
e ter suas demandas atendidas e materializadas. Mas esse processo é complexo e contra-
ditório como veremos a seguir (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 44


2
TÓPICO
CONTROLE SOCIAL,
ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE
CIVIL E SUAS CONTRADIÇÕES

A participação popular garantida com a constituição é um marco histórico. Contudo,


várias críticas são realizadas às formas de atuação política na contemporaneidade. Nossa
democracia é representativa, ou seja, nós escolhemos pessoas para nos representar e po-
demos nos candidatar para sermos representantes nas três esferas de governo (Municipal,
Estadual e Federal).
E nesse modelo, problemas podem existir, por exemplo, quando um(a) represen-
tante não vota de acordo com as demandas do público que o elegeu, ou quando um repre-
sentante vota por uma lei de acordo com interesses de determinados grupos econômicos
que o(a) privilegiaram nas campanhas políticas. Enfim, com todas as qualidades, há muitas
problemáticas no sistema democrático.
Esses fatos são responsáveis por desanimar algumas pessoas de acompanhar
e debater temas políticos. Quem nunca escutou aquele jargão “política não se discute”?
Contudo, certamente esse entendimento prejudica bastante a potencialidade do exercício
do controle social que a população pode exercer e o avanço das lutas da sociedade civil.
Além de desestimular a população a atuar de modo a pressionar o poder público na
viabilização de serviços, projetos, programas e políticas públicas que atendam a população.
Para Becker (2010) no interior das disputas e debates da sociedade civil e que se avança
na construção da hegemonia de um grupo. Portanto, participar é buscar meios de legitimar
pautas, demandas e reivindicações. Há outro jargão que diz: “Se você não faz políticas, há
sempre alguém fazendo por você”
Outra problemática que podemos identificar é que em nosso país, historicamente,
fomos governados por grupos de grande poder aquisitivo, ou seja, por sujeitos advindos
das classes dominantes, esse fato é discutido por autores como Souza (2018), Oliveira
(2012) e por Boudrieu (2011) quando fala do campo político.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 45


Para Bourdieu (2011) existem formas de acumular poder e cada campo tem formas
particulares (político, religioso, científico, artístico, etc.). Esse poder acumulado em cada cam-
po se dá mediante a posse de capitais, por exemplo, o capital econômico, ajuda a comprar
o capital educacional (cursos universitários, cursos de idiomas, etc), e ao ter o capital eco-
nômico, educacional, é tendencial que o sujeito adquira o capital social de relações sociais,
que é o fato de conhecer pessoas que podem lhe conferir mais vantagens e privilégios. Uma
passagem do livro “Helena” de Machado de Assis é significativa para entender esse processo:

D. Úrsula retirou-se para casa; os dois ficaram sós. Uma vez sós, Camargo
pousou a mão no ombro de Estácio, fitou-o paternalmente, enfim perguntou-
-lhe se queria ser deputado. Estácio não pôde reprimir um gesto de surpresa.
— Era isso? Disse ele.
— Creio que não se trata de um suplício. Uma cadeira na câmara! Não é a
mesma coisa que um quarto no aljube...
— Mas a que propósito...
— Esta ideia apoquentava-me há algumas semanas. Doía-me vê-lo vegetar
os seus mais belos anos numa obscuridade relativa. A política é a melhor
carreira para um homem em suas condições; tem instrução, caráter, riqueza;
pode subir a posições invejáveis. (ASSIS, 1911, p. 27).

Embora seja um texto literário e do início do século XX, podemos ainda fazer analogias
com as hierarquias e privilégios que marcam a política em nosso país. Portanto, o reconhe-
cimento do controle social, da sociedade civil e os mecanismos fundados com a Constituição
Federal propicia inúmeras leis que prescrevem a participação política como regra, como algo
a ser respeitado e contemplado em todos os processos políticos (MAAR, 2000).
Portanto, as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) também precisam contem-
plar a participação política e são reguladas por inúmeras leis. Uma resolução importante,
que regula os serviços do âmbito das OSCs é a n. 109 de novembro de 2009, a chamada
Tipificação dos Serviços Socioassistenciais3. A referida tipificação apresenta quais são os
serviços e prevê critérios para ofertas dos serviços. Na mesma identificamos o seguinte:

Art. 1º. Aprovar a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, con-


forme anexos, organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção
Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, de
acordo com a disposição abaixo:

I - Serviços de Proteção Social Básica:


a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); b) Serviço
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; c) Serviço de Proteção Social
Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.

II - Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade:


a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
(PAEFI); b) Serviço Especializado em Abordagem Social; c) Serviço de Pro-
teção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de
3 A tipificação ainda apresenta o nome dos serviços, descrição, usuários, objetivos, provisões, condições
e formas de acesso, impacto esperado Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf. Acesso em nov. 2022.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 46


Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC);
d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas
e suas Famílias; e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

III - Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade: a) Serviço


de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: - Abrigo institucio-
nal; - Casa-Lar; - Casa de Passagem; - Residência Inclusiva. b) Serviço de
Acolhimento em República; c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhe-
dora; d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de
Emergências (BRASIL, 2009).

A partir do exposto na tipificação temos listado todos os serviços existentes, muitos


dos quais são executados por OSCs, que junto de instituições como o Centro de Referência
de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) ofertam os atendimentos previstos na resolução.
Portanto, cabe aos(às) profissionais compreenderem a resolução e os serviços
mencionados para que possam atuar nessas instituições, de modo multidisciplinar e inter-
setorial, bem como para participarem de comissões e/ou conselhos gestores de direitos.
A fim de entendermos mais sobre as Organizações da Sociedade Civil, que pres-
tam serviços públicos, é interessante pensar sobre algumas delas. A Cáritas Brasileira4, é
uma entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tem por
finalidade, especialmente, atender imigrantes que vêm para o Brasil por diferentes motivos.
A Cáritas é uma organização humanitária global que trabalha com públicos vulnerá-
veis em todo o mundo, nesse sentido, presta assistência humanitária e de desenvolvimento
a pessoas afetadas por desastres naturais, conflitos armados, pobreza e exclusão social.
Além disso, a organização trabalha em parceria com comunidades locais, governos
e outras organizações para fornecer assistência alimentar, água potável, abrigo, assistência
médica e educacional, além de apoio para a construção de fontes de renda sustentáveis.
Portanto, eventualmente, enquanto assistente social, você pode vir a trabalhar nessa ins-
tituição ou outras de natureza semelhante. E provavelmente, poderá ser indicado(a) para
participação nos conselhos de direitos.
Outra instituição que também é uma OSC presente em muitos lugares é a Aldeias
SOS5, uma organização humanitária internacional que trabalha focada na garantia dos direi-
tos de crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade e risco social. Fundada em
1949 na Áustria, a organização se expandiu para mais de 130 países, prestando assistência
a crianças que perderam suas famílias ou que estão em risco de perder seu cuidado parental.
A Aldeias SOS tem como objetivo fornecer um ambiente seguro para as crianças, no
qual elas possam crescer e se desenvolver com dignidade e respeito. A organização trabalha
em parceria com as comunidades locais, governos e outras organizações para fornecer cuida-
dos de qualidade para as crianças, incluindo educação, cuidados de saúde e apoio emocional.

4 Sobre a história e contribuições da instituição leia mais em: https://caritas.org.br/. Acesso em: jan. 2023.
5 Para saber mais sobre essa organização, sua estrutura e funcionamento, leia em: https://www.
aldeiasinfantis.org.br/?gclid=EAIaIQobChMI0YrRrreS_gIV4eBcCh01DgfmEAAYASAAEgImsvD_BwE.
Acesso em: jan de 2023.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 47


Uma das principais iniciativas da Aldeias SOS é a construção de aldeias infantis
SOS, ou instituições de acolhimento institucional, nos quais crianças e adolescentes órfãs,
abandonadas ou que foram acolhidas por alguma violação de direito são acolhidas.
Além das aldeias infantis SOS, a organização também fornece serviços de assis-
tência à juventude, incluindo programas de treinamento e emprego, orientação, bem como
assistência a famílias com foco no restabelecimento de vínculos e manutenção da guarda
de seus filhos e a superar seus desafios.
Por fim, a título de exemplificação, podemos pensar na Associação de Pais e Ami-
gos dos Excepcionais (APAE)6, que é uma organização sem fins lucrativos, com objetivo
de promover e defender os direitos das pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Foi
fundada em 1954, está presente em todo o território brasileiro e desenvolve uma série de
ações para a inclusão social e escolarização e atendimento de pessoas com deficiências.
A instituição atua em três áreas principais como saúde, educação e assistência social,
contribuindo em todo processo de atendimento e acompanhamento do público alvo, desde o
diagnóstico, prevenção e tratamento de deficiências intelectuais e múltiplas, a orientação e
capacitação de profissionais da área de saúde e educação, o desenvolvimento de programas
de inclusão social e escolar, a promoção de campanhas e sensibilização sobre deficiências.
Compreender sobre os conselhos gestores, seu funcionamento, suas relações
com as Organizações da Sociedade Civil é pertinente aos(às) assistentes sociais, pois
como argumentamos, é bem comum estes profissionais atuarem no setor público ou em
entidades do terceiro setor.

Você sabia que boa parte dos recursos da união são consumidos pelos juros da dívida pública? O pagamento
da dívida pública retira recursos que poderiam ser investidos em serviços, projetos e programas dentro das
inúmeras políticas públicas. Portanto, cabe aos(às) conselheiros(as) de direitos se informarem sobre orça-
mento e financiamento de políticas públicas e sociais. No site da auditoria você poderá ter acesso às infor-
mações pertinentes sobre esses aspectos.Disponível: https://auditoriacidada.org.br/. Acesso em: fev. 2023.

6 Para saber mais sobre essa instituição leia em: https://apaebrasil.org.br/. Acesso em: jan. 2023.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 48


No portal de cursos do Ministério da Cidadania você pode encontrar inúmeros cursos que tratam sobre os
assuntos que estamos tratando na disciplina, como por exemplo, sobre o controle social, organizações da
sociedade civil e sobre o marco regulatório do terceiro setor.

Disponível em: https://novoead.cidadania.gov.br/index. Acesso em: fev. 2023.

Busque refletir sobre como o controle social contribui para estimular a participação política da comunidade
no que se refere às políticas públicas. Quais seriam os limites? O que precisa ser melhorado na participação
da população?

Fonte: o autor, 2023.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 49


CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso dessa unidade compreendemos como as auditorias são importantes
ao exercício do controle social. Vimos como os Observatórios podem auxiliar no moni-
toramento e fiscalização da materialização dos direitos sociais. Ademais, tratamos sobre
como a profissão do Serviço Social se relaciona com a participação política em conselhos
gestores de direitos, refletimos como tal participação é permeada por relações de poder,
conflitos de ideias e lutas pela hegemonia de visões de mundo. Por fim, apresentou-se a
estrutura da tipificação dos serviços socioassistenciais, que precisa ser considerada pelas
Organizações da Sociedade Civil.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 50


LEITURA COMPLEMENTAR
O Estado é muito criticado por alguns(mas) autores(as), porque expressaria uma
visão de classe, interesses de classe, nesse sentido, é possível pensar o conceito de esta-
do como um conceito em disputa. Em seu texto “Direitos Humanos: uma crítica marxista”,
Alysson Leandro Mascaro trata sobre essas disputas interpretativas e políticas.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/QFXz4jWqFYVs88Sn6FVtd7R/?lang=p-
t&format=pdf. Acesso em: fev. 2023.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 51


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: A formação das almas: O imaginário da República no Brasil
• Autor: José Murilo de Carvalho
• Editora: Companhia das Letras
• Sinopse: A legitimação da República pela elaboração artística e social
de seus símbolos. Passando em revista textos e ilustrações, o autor re-
vela como os mitos de origem criados pelos republicanos traduzem com
fidelidade as batalhas travadas pela construção de um rosto nacional. O
que dizem sobre a história de um país os monumentos erguidos em pra-
ça pública? Ou as bandeiras e hinos nacionais? Ou, ainda, caricaturas
e charges retiradas das páginas de um jornal? José Murilo de Carvalho
mostra, com a sensibilidade característica dos bons pesquisadores,
como esse material pode ser de grande utilidade para se decifrar a
mitologia e a simbologia de um sistema político. Por meio de imagens,
o autor nos oferece um curioso passeio pelo momento de implantação
do regime republicano. Entre texto e ilustrações, aprendemos como
os mitos de origem criados para a República, seus heróis, a bandeira
verde-amarela e o nosso hino traduzem com fidelidade as batalhas
travadas pela construção de um rosto para a República brasileira.

FILME/VIDEO
• Título: Adeus, Lenin!
• Ano: 2003
• Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra.
Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada
durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quan-
do ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental,
está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl),
temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa
lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos.
Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos
problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa
contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.

UNIDADE 3 ESTADO, NEOLIBERALISMO E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 52


4
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UNIDADE

REGULAMENTAÇÕES
DAS ORGANIZAÇÕES
DA SOCIEDADE CIVIL
(OSC)
Professor Me. Leonardo Carvalho de Souza

Plano de Estudos
• Conceitos e Definições de Marco Regulatório do Terceiro Setor;
• Breve histórico da Lei 13.019/2014;
• Atualizações do Marco Regulatório a partir da lei n.º 13.204/2015;
• Conselhos de direitos e suas comissões (CMDCA, CMAS, CMDPI).

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar o Marco Regulatório do Terceiro Setor
a partir da lei 13.019/2014 e 13.204/2015;
• Compreender os tipos de parcerias e colaboração entre o Estado e
as OSC;
• Estabelecer a importância dos conselhos gestores nas relações
entre políticas públicas e OSC.
INTRODUÇÃO
Na Unidade III, tratamos sobre as Organizações da Sociedade Civil (OSC) enquan-
to respostas à gestão neoliberal. Na Unidade IV, temos por objetivo “analisar os trabalhos,
desafios e contradições que envolvem os conselhos gestores e de direitos no âmbito das
Organizações da Sociedade Civil (OSC) e das políticas públicas e sociais; apresentamos
a respeito da Lei do Marco Regulatório do Terceiro Setor, n.º 13.019/2014, as atualizações
trazidas pela lei n.º 13.204/2015, bem como se trata sobre as comissões dos conselhos
de direitos (CMDCA, CMAS, CMDPI), as quais são conselhos de direitos destacados por
serem alguns dos mais fomentados no âmbito da assistência social. Espera-se que ao final
da unidade você compreenda mais sobre as prescrições que precisam ser atendidas pelas
OSCs e pelos conselhos de direitos.

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 54


1
TÓPICO
MARCO REGULATÓRIO DO TERCEIRO
SETOR: LEI N.º 13.019/2014: SEUS
PRINCIPAIS CONCEITOS E PRESCRIÇÕES

Se os serviços, projetos e programas de interesse público foram realizados de manei-


ra informal, descontinuada ou sem o devido monitoramento, o Marco Regulatório do Terceiro
Setor representou o fim de tal informalidade. Esse marco é um conjunto de leis e regulamentos
que estabelecem regras para as organizações sem fins lucrativos, como associações, funda-
ções, Organizações da Sociedade Civil (OSC) e Organizações não Governamentais (ONGs).
Com a finalidade de garantir transparência, essas leis visam responsabilidade e
eficiência na gestão dessas entidades, bem como promover a segurança jurídica e o de-
senvolvimento sustentável do setor (BRASIL, 2014, 2015).
O Marco Regulatório do Terceiro Setor no Brasil foi estabelecido pela Lei n.°
13.019/2014, que estabelece normas gerais para as parcerias entre a administração pública
e as Organizações da Sociedade Civil. Essa Lei, também conhecida como Lei das Parcerias,
estabelece critérios para a seleção de projetos e entidades, além de definir procedimentos
para a celebração, execução e prestação de contas das parcerias. É nesse sentido que
cabe a nós enquanto assistentes sociais conhecermos tal lei e suas prescrições, pois é a
mesma que dá o tom ao terceiro setor atualmente (BRASIL, 2014, 2015).
Além disso, o Marco Regulatório do Terceiro Setor também abrange outras leis e
regulamentos, como o Código civil brasileiro, que estabelece as regras para a constituição e
gestão das associações e fundações, e a Lei n. 9.790/1999, que dispõe sobre a qualificação
de entidades como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs). Nesse
sentido, essas novas leis contribuem para a diferenciação de empresas de OSC. Contudo, é
preciso saber que estas instituições de naturezas jurídicas interagem, por exemplo, existem

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 55


muitas empresas que prestam serviço ao poder público, por meio de formações, capacita-
ções, assessorias, etc. E nos termos da lei, é preciso saber o que cada instituição pode e
não pode fazer, pode e não pode ofertar. Quais editais se pode ou não pode concorrer.
No geral, o Marco Regulatório do Terceiro Setor tem como objetivo garantir a trans-
parência e a eficiência na gestão das organizações sem fins lucrativos, além de promover
a sua sustentabilidade financeira e a sua contribuição para o desenvolvimento social e eco-
nômico do país. Portanto, as instituições como os conselhos gestores de direitos, Ministério
Público e outras entidades de monitoramento de direitos estão sempre próximas das OSCs.
A Lei n.º 13.019/2014, também conhecida como Lei das Parcerias, estabelece
normas gerais para as parcerias entre a administração pública e as Organizações da So-
ciedade Civil (OSCs). Entre os seus principais componentes, podemos destacar:

1. Definição das modalidades de parceria: a lei estabelece


duas modalidades de parceria entre a administração pública e
as organizações da sociedade civil: o termo de colaboração e o
termo de fomento.
2. Critérios para a seleção de projetos e entidades: a lei
estabelece critérios objetivos para a seleção de projetos e en-
tidades que poderão celebrar parcerias com a administração pú-
blica, tais como: capacidade técnica e operacional, experiência
prévia na execução de projetos semelhantes, idoneidade fiscal
e financeira, entre outros.
3. Procedimentos para a celebração, execução e prestação
de contas das parcerias: a lei estabelece procedimentos claros
e objetivos para a celebração, execução e prestação de contas
das parcerias, tais como: prazos, obrigações das partes, fiscali-
zação e monitoramento, entre outros.
4. Transparência e controle social: a lei prevê a obrigação
das organizações da sociedade civil manterem seus dados atua-
lizados em sistemas de cadastro disponibilizados pela adminis-
tração pública, além de garantir a participação da sociedade civil
na fiscalização e controle das parcerias.
5. Responsabilização das partes: a lei estabelece que tanto
a administração pública quanto as organizações da sociedade
civil são responsáveis pela execução das parcerias, podendo
ser responsabilizadas em caso de irregularidades ou desvios.
6. Proibição de transferência de recursos para entidades pri-
vadas com fins lucrativos: a lei estabelece que os recursos trans-
feridos pela administração pública devem ser destinados exclusi-
vamente para as atividades previstas na parceria, sendo proibida
a transferência para entidades privadas com fins lucrativos.

Esses componentes da Lei n.º 13.019/2014 contribuem para garantir a transparên-


cia, a eficiência e a qualidade das parcerias entre a administração pública e as Organiza-
ções da Sociedade Civil (OSCs), que estimulam o desenvolvimento social e econômico do
país (BRASIL, 2014, 2015).

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 56


Nesse sentido, podemos dizer que atualmente há muito rigor na celebração de
parcerias entre as OSCs e o poder público. Muitas vezes, muitos desses mecanismos são
entendidos como reprodutores de uma burocratização, mas outros entendimentos com-
preendem tais mecanismos como meio de romper com irregularidades, favorecimentos e
mau uso de recursos públicos (BRASIL, 2014, 2015).
A Lei n.º 13.204/2015 promoveu alterações na Lei n.º 13.019/2014, também conhe-
cida como Lei das Parcerias. Entre as principais alterações, podemos destacar:

1. Prazo de vigência: a Lei n.º 13.204/2015 alterou o pra-


zo de vigência das parcerias celebradas com base na Lei n.º
13.019/2014, que passou a ser de até 60 meses, podendo ser
prorrogado por igual período.
2. Dispensa de chamamento público: a Lei n.º 13.204/2015
estabeleceu novas hipóteses de dispensa de chamamento pú-
blico para celebração de parcerias, como nos casos de emer-
gência ou de calamidade pública, e nos casos em que houver
inviabilidade de competição entre as organizações da sociedade
civil.
3. Prestação de contas simplificada: a Lei n.º 13.204/2015 criou
a possibilidade de prestação de contas simplificada para as par-
cerias de valor igual ou inferior a R$ 600.000,00, desde que não
haja irregularidades ou falhas na execução do objeto.
4. Incentivos fiscais: a Lei n.º 13.204/2015 permitiu que as em-
presas que patrocinam projetos realizados por organizações da
sociedade civil possam deduzir o valor patrocinado do imposto
de renda devido.
5. Pagamento antecipado: a Lei n.º 13.204/2015 permitiu que a
administração pública realizasse pagamento antecipado às or-
ganizações da sociedade civil, desde que previsto no edital ou
no termo de parceria.
6. Formalização de parcerias: a Lei n.º 13.204/2015 estabeleceu
que a formalização das parcerias deve ser realizada por meio
de instrumento jurídico único, que deverá conter as cláusulas
essenciais previstas em lei.

Essas são algumas das principais alterações promovidas pela Lei n.º 13.204/2015
na Lei das Parcerias. O objetivo das alterações é aprimorar a gestão das parcerias entre
a administração pública e as organizações da sociedade civil, garantindo a eficiência e a
transparência na utilização dos recursos públicos.

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 57


2
TÓPICO

TRABALHO, DESAFIOS E
CONTRADIÇÕES QUE ENVOLVEM OS
CONSELHOS GESTORES E DE DIREITOS

Os Conselhos de Direitos são órgãos colegiados que têm como objetivo promover a
participação da sociedade civil na formulação, fiscalização e acompanhamento das políticas
públicas em diversos setores, como saúde, assistência social, educação, meio ambiente, cul-
tura, entre outros, a fim de qualificar a oferta de serviços e a execução dos recursos públicos.
O trabalho dos Conselhos de Direitos geralmente envolve reuniões periódicas, nas
quais os membros discutem e deliberam sobre temas relacionados à área em que atuam,
como por exemplo, a elaboração de planos e programas, a definição de prioridades, a
avaliação de políticas públicas em vigor, entre outras questões (LUÍS, 2010).
Além disso, os Conselhos de Direitos também podem realizar audiências públicas,
seminários, consultas populares e outras atividades de mobilização social com o objetivo de
ampliar a participação da sociedade na formulação das políticas públicas. Entre 2022 e 2023
estão ocorrendo, por exemplo, as conferências municipais, estaduais e nacional dos direitos
de crianças e adolescentes. E em 2023, as conferências de assistência social e de saúde.
Os Conselhos de Direitos são compostos por representantes da sociedade civil
e do poder público, sendo que a proporção de cada grupo pode variar de acordo com a
legislação específica de cada setor. Em geral, a participação da sociedade civil é majoritária
nos Conselhos de Direitos, garantindo assim a maior participação e influência popular nas
decisões tomadas (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
Conforme Souza Filho e Gurgel (2016) os Conselhos de Direitos enfrentam diversos
desafios em seu trabalho, dentre os quais podemos destacar:

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 58


1. Falta de recursos: muitos Conselhos de Direitos enfrentam dificuldades financei-
ras para realizar suas atividades, o que pode comprometer a efetividade do seu trabalho;
2. Falta de engajamento da sociedade civil: apesar de a participação da sociedade
civil ser uma das principais características dos Conselhos de Direitos, muitas vezes é difícil
mobilizar as pessoas e garantir sua presença nas reuniões e atividades do Conselho; 3.
Conflitos internos: por reunir pessoas com diferentes opiniões e interesses, é comum que
os Conselhos de Direitos enfrentem conflitos internos, que podem dificultar a tomada de
decisões e comprometer a efetividade do Conselho. Por vezes, isso se acirra na decisão
sobre destinação de recursos, aprovação de projetos, etc.;
4. Falta de transparência e prestação de contas: é fundamental que os Conselhos
de Direitos sejam transparentes em suas ações e prestem contas à sociedade civil sobre o
uso dos recursos públicos, mas nem sempre isso acontece de forma efetiva.
5. Falta de autonomia: em alguns casos, os Conselhos de Direitos podem ter sua
autonomia limitada pelo poder público, o que pode comprometer sua independência e ca-
pacidade de atuação.
6. Dificuldade de articulação com outros órgãos públicos: muitas vezes, os Conse-
lhos de Direitos enfrentam dificuldades em se articular com outros órgãos públicos e com o
poder executivo, o que pode dificultar a implementação de suas decisões e ações.

Esses são apenas alguns dos desafios enfrentados pelos Conselhos de Direitos
em seu trabalho, e é importante que sejam identificados e enfrentados de forma a garantir
a efetividade do trabalho desses órgãos. A partir das experiências em conselhos de direitos
de diferentes áreas é possível identificar com mais intensidade, um ou outros desses proble-
mas e mesmo com tais imposições é prudente lembrar que os conselhos são mecanismos
fundamentais da garantia da democracia (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
Nesse sentido, é prudente refletir sobre alguns conselhos nos quais há maior in-
serção e participação de assistentes sociais. Um deles é o Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente (CMDCA), que é um órgão colegiado de caráter deliberativo
e fiscalizador, com a finalidade de formular e deliberar políticas públicas voltadas para a
promoção e proteção dos direitos de crianças e adolescentes. O CMDCA é responsável por
garantir que as políticas públicas voltadas para a infância e juventude sejam implementadas
de forma adequada, fiscalizando e monitorando as ações do poder público e da sociedade
civil organizada, bem como estimulando serviços, programas e projetos que sejam neces-
sários à garantia dos direitos humanos infantojuvenis (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016).
Dentre as principais competências do CMDCA, podemos destacar:

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 59


• Elaboração do Plano Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente;

• Definição de critérios e diretrizes para a destinação de recursos públicos para


projetos e programas voltados para a infância e juventude;

• Acompanhamento e fiscalização das políticas públicas voltadas para a infância


e juventude;

• Promover a mobilização e participação da sociedade na defesa dos direitos da


criança e do adolescente (BRASIL, 1990).

O CMDCA é composto por representantes do poder público e da sociedade civil


organizada, sendo que a maioria dos membros deve ser da sociedade civil. O Conselho é
presidido por um representante da sociedade civil eleito pelos seus pares. Cabe destacar
que o CMDCA é um órgão fundamental na defesa dos direitos da criança e do adolescente,
e seu trabalho é fundamental para garantir que esses direitos sejam respeitados e efetiva-
dos em todo o território municipal.
Outro conselho central aos que trabalham nas políticas públicas é o Conselho Munici-
pal da Pessoa Idosa (CMPI), que é um órgão colegiado de caráter deliberativo e fiscalizador,
com a finalidade de formular e acompanhar as políticas públicas voltadas para a pessoa idosa
no âmbito municipal. Cabe lembrar que estamos pensando sobre os conselhos gestores em
âmbito municipal, mas os mesmos existem em âmbito municipal, estadual e federal.
O CMPI é responsável por garantir a participação da sociedade civil na formulação,
implementação e avaliação das políticas públicas voltadas para a pessoa idosa, visando
assegurar o cumprimento dos direitos e a promoção da qualidade de vida desse público.
Dentre as principais competências do CMPI, podemos destacar:

• Acompanhar a elaboração do Plano Municipal da Pessoa Idosa;

• Fiscalizar e monitorar a execução das políticas públicas voltadas para a pessoa


idosa;

• Propor medidas que visem a promoção da qualidade de vida da pessoa idosa;

• Receber denúncias de violações aos direitos da pessoa idosa e encaminhá-las


aos órgãos competentes;

• Estimular a participação da sociedade civil na defesa dos direitos da pessoa


idosa (BRASIL, 2003).

O CMPI é composto por representantes do poder público e da sociedade civil organi-


zada, sendo que a maioria dos membros deve ser da sociedade civil. O Conselho é presidido

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 60


por um representante da sociedade civil eleito pelos seus pares. É importante destacar que
o CMPI é um órgão fundamental na defesa dos direitos da pessoa idosa, e seu trabalho
é fundamental para garantir que esses direitos sejam respeitados e efetivados em todo o
território municipal. Ademais, sabe-se que a população idosa vem aumentando no Brasil e
isso estimula a demanda pela ampliação de oferta de serviços voltados a esse público.
E por fim, podemos exemplificar um terceiro conselho municipal. O Conselho Municipal
de Assistência Social (CMAS), que é a instância municipal deliberativa do sistema descentraliza-
do e participativo, de caráter normativo e permanente e encarregado de fiscalizar, acompanhar,
monitorar e avaliar a política pública de assistência social, bem como zelar pela ampliação e
qualidade da rede de serviços socioassistenciais em cada município (BRASIL, 1993).
Dentre as principais competências do CMAS, podemos destacar:

• Discutir metas e prioridades orçamentárias, no âmbito do Plano Plurianual, da


Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual, podendo para isso
realizar audiências públicas.
• Planejar suas ações de forma a garantir a consecução das suas atribuições e o
exercício do controle social, primando pela efetividade e transparência das suas
atividades;
• Aprovar a Política Municipal de Assistência Social, elaborada em consonância
com a PNAS – Política Nacional de Assistência Social, na perspectiva do SUAS
– Sistema Único de Assistência Social, e com as diretrizes estabelecidas pelas
Conferências de Assistência Social, podendo contribuir nos diferentes estágios
de sua formulação;
• Convocar, em conformidade com a Conferência Nacional, a Conferência Muni-
cipal de Assistência Social, bem como aprovar as normas de funcionamento das
mesmas e constituir a comissão organizadora e o respectivo Regimento Interno;
• Encaminhar as deliberações da Conferência aos órgãos competentes e moni-
torar seus desdobramentos;
• Acompanhar, avaliar e fiscalizar a gestão dos recursos, bem como os ganhos
sociais e o desempenho dos benefícios, rendas, serviços sócio-assistenciais,
programas e projetos aprovados no Município;

Essas são algumas das atribuições do CMAS, que trazemos com finalidade de
exemplificar, contudo, há mais atribuições que você estudante pode conferir na Lei Orgâni-
ca da Assistência Social, buscando as partes que tratam do conselho (BRASIL, 1993).

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 61


Você sabia que entre as Organizações da Sociedade Civil (OSC) há atuações em diferentes segmentos como
educação, cultura, esporte, lazer, assistência social, saúde. E algumas dessas desempenham atividades de
interesse público, por exemplo, acolher pessoas idosas, atender pessoas em situação de rua, acolher e
atender pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas, são atividades que podemos inserir nesse con-
junto de ações de interesse público. Portanto, tais entidades podem captar e receber recursos públicos por
trazerem contribuições nesse sentido. Contudo, há algumas polêmicas, por exemplo, se o Estado deve ser o
responsável na oferta desses serviços ou se o mesmo deve passar essas atividades às OSCs e ONGs. Para sa-
ber mais sobre esse assunto e polêmicas leia o texto “O que são as Organizações da Sociedade Civil (OSC)?”
no seguinte link: https://www.politize.com.br/organizacoes-da-sociedade-civil/. Acesso em: março. 2023.

Você pensa que o Estado deve assumir por meio de instituições públicas todos os direitos previstos na
Constituição Federal de 1988? Ou terceirizar essas atividades, ou ainda mesclar entre instituições públicas
e o terceiro setor? A partir das leituras realizadas busque refletir sobre as responsabilidades do Estado e do
Terceiro Setor na efetivação dos direitos constitucionais.

Fonte: o autor, 2023.

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 62


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dos conteúdos da unidade IV, passamos a compreender mais sobre a
regulamentação das Organizações da Sociedade Civil, o marco regulatório, sobre os con-
selhos gestores de direitos, suas atribuições, desafios e contribuições. Vimos que existem
conselhos com objetivos diferentes, focados em segmentos específicos da população,
como foi exemplificado por meio do CMDCA, CMPI e CMAS.

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 63


LEITURA COMPLEMENTAR
O artigo “Conselhos gestores e gestão pública” de Maria da Glória Gohn apresenta
um histórico sobre os conselhos, mostra como os mesmos, embora muito fomentados nos
anos 1990, são mais antigos que isso, sendo que podemos visualizar diferentes exemplos na
história, como o caso da Comuna de Paris, os Sovietes russos, os conselhos na Alemanha
nos anos 1920 entre outros. Ademais, o texto, embora de 2006, aborda questões sobre os
conselhos que ainda são pertinentes e atuais em relação à participação política da sociedade
civil e dos movimentos sociais e populares. O referido texto pode ser acessado em: https://
revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/6008. Acesso em mar. 2023.

UNIDADE 4 REGULAMENTAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) 64


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO

• Título: Conselhos gestores e Participação Sociopolítica

• Autor: Maria da Glória Gohn

• Editora: Cortez

• Sinopse: A obra propõe um estudo sobre a forma “conselho”


na sociedade brasileira, destacando-se os conselhos gestores
e sua presença na gestão das políticas públicas. Os conselhos
são analisados como agentes de inovação nas políticas públicas
porque, ao realizarem a mediação entre a sociedade civil orga-
nizada e os organismos governamentais, eles estão construindo
uma nova esfera pública de poder e de controle social. Como
tal, representam forças sociais organizadas e contribuem para
o fortalecimento de novos sujeitos políticos. Esta nova edição
apresenta um Posfácio que atualiza o quadro do associativismo
no Brasil, situando os conselhos neste novo cenário.

FILME/VIDEO

• Título: Em Movimento: 20 anos de Investimento Social no Brasil

• Ano: 2015

• Sinopse: O documentário “Em Movimento: 20 anos de Investi-


mento Social no Brasil”, produzido pelo Grupo de Institutos, Fun-
dações e Empresas (GIFE), faz parte das comemorações pelo 20º
aniversário do grupo e aborda eventos importantes para a história
do país desde a época da Ditadura Militar (1964-1985), mostrando
como a sociedade civil se porta diante das adversidades, sem-
pre na busca por um Brasil melhor. Além disso, mostra como o
investimento na área social pode contribuir para a resolução de
problemas econômicos, educacionais, culturais, políticos e sociais.

• Link do vídeo: Em Movimento: 20 anos de Investimento Social no Brasil

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CONCLUSÃO GERAL
Prezados(as) estudantes, chegamos ao final de nossa disciplina de “Serviço Social
e Organizações da Sociedade Civil - Participação em Conselhos Gestores”. Nesse
percurso, estudamos sobre o Serviço Social e sua relação com a gênese, desenvolvimento
e atualidade das Organizações da Sociedade Civil (OSC), além de sua relação com o
Estado e com a gestão democrática nos conselhos gestores e de direitos. Além de estudos
históricos sobre gênese e das OSCs no Brasil, vimos que o terceiro setor aumentou signifi-
cativamente a partir da década de 1990, momento de crise econômica, sendo demandado
para atender às funções que os Estados terceirizam. Nesse sentido, entender sobre as
crises capitalistas e suas relações com os Estados, bem como suas repercussões é uma
demanda contínua aos(às) profissionais do Serviço Social (MONTANÕ, 2014).
Durante o processo, captamos que o Serviço Social é uma profissão oriunda da divisão
social e técnica do trabalho e da desigualdade, promovida pela lei geral de acumulação, em tem-
pos de capitalismo monopolista. Nosso sistema social, concentra capital e renda nas mãos de
poucos e socializa os problemas intrínsecos às crises econômicas. Por esse motivo, o terceiro
setor emerge como elemento que contribui para amortecer as relações de classe e conflitos so-
ciais. Contudo, também vimos que este setor é contraditório, pois concomitantemente, contribui
para a melhoria de vida de muitas pessoas, por meio dos projetos, serviços e atendimentos que
realiza, portanto o terceiro setor é ambíguo (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014).
Na primeira unidade, “Serviço Social e Organizações da Sociedade Civil (Osc)” é
preciso reter as conexões do Serviço Social com o terceiro setor, considerando sua gênese,
desenvolvimento e desafios atuais dentro das Organizações da Sociedade Civil (OSC). Refleti-
mos sobre a sociabilidade capitalista, suas estruturas de funcionamento e como tais estruturas
forjaram e demandaram a criação do Serviço Social. Brevemente, vimos como a Igreja con-
tribuiu para a emersão dessa profissão e como o Estado legitimou e demandou a profissão
conforme avançou no controle social e político, especialmente, no decorrer das décadas de
1940/50. Recapitulamos, que muitas entidades religiosas são antigas e atuam junto às mazelas
da sociedade de classes. Sendo a década de 1950 o período em que muitas foram criadas.
Na segunda unidade, “Organizações da Sociedade Civil e Terceiro Setor no con-
texto brasileiro” é preciso reter as discussões realizadas sobre a criação das Organizações
da Sociedade Civil do Terceiro Setor no contexto brasileiro e as contradições que permearam
esse processo. Tratamos sobre a pertinência da participação social na elaboração de políticas
públicas e sociais, que tem como ponto relevante as intervenções realizadas pelos movimentos
sociais, Organizações da Sociedade Civil (OSC) e pela população em espaços decisórios exis-
tentes. Discutimos sobre a legitimação do princípio da gestão democrática em todas as políticas

66
públicas. Tratamos ainda, a respeito das implicações da Constituição Federal de 1988, que
estimulou a descentralização e corresponsabilização de municípios, estados e união na oferta
de serviços, projetos e programas que atendam a população em suas mais diversas demandas.
Na terceira unidade, “Estado, neoliberalismo e Organizações da Sociedade Civil
(OSC)”, precisamos reter a discussão a respeito das Organizações da Sociedade Civil (OSC)
enquanto respostas da gestão neoliberal. Também compreendemos como as auditorias são
importantes ao exercício do controle social. Vimos como os observatórios podem auxiliar no
monitoramento e fiscalização da materialização dos direitos sociais. Tratamos sobre como a
profissão do Serviço Social se relaciona com a participação política em conselhos gestores
de direitos, refletimos como tal participação é permeada por relações de poder, conflitos de
ideias e lutas pela hegemonia de visões de mundo e projetos societários. Destaca-se tam-
bém, o debate realizado a respeito da estrutura da tipificação dos serviços socioassistenciais.
Na quarta unidade, “Regulamentações das Organizações Da Sociedade Civil
(Osc)” é preciso fixar a relevância do Marco Regulatório do Terceiro Setor, que por meio das
leis n. 13.019/2014 e n. 13.204/2015, contribui para reforçar uma atuação técnica, embasada
em regulamentações e nos princípios democráticos, bem como a defesa pela qualidade dos
serviços prestados. Tais regulamentações evitam práticas caritativas e pouco organizadas.
Nesse sentido, conhecer em detalhes o Marco Regulatório do Terceiro Setor é uma demanda
seja para trabalhar em tais instituições, ou mesmo, para quem pode compor comissões de
servidores(as) que atuam no monitoramento e fiscalização destas entidades, ou junto aos
conselhos gestores. Também foi apresentado, a estrutura de alguns conselhos gestores de
direitos, suas atribuições, desafios e contribuições. Vimos que existem conselhos com objeti-
vos diferentes, focados em segmentos específicos da população, como foi exemplificado por
meio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho
Municipal da Pessoa Idosa (CMPI) e Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS).
Em síntese, percorremos por conhecimentos que envolvem as Organizações da
Sociedade Civil (OSCs), instituições que empregam muitos(as) assistentes sociais no Brasil.
Portanto, compreender sobre o Terceiro Setor, sobre as Organizações da Sociedade Civil
(OSCs), suas contribuições, desafios e contradições é relevante ao processo formativo em
Serviço Social. Ademais, é muito comum a participação de profissionais do Serviço Social
nos conselhos gestores e de direitos, sendo o estudo sobre assuntos que os envolvem uma
demanda para que se possa atuar nos diversos conselhos de direitos de modo qualificado,
crítico e criativo, sempre conectado(a) ao Projeto Ético-Político Profissional (PEP) do Ser-
viço Social e à defesa dos direitos humanos e sociais.

Tenham uma ótima continuidade nos estudos! Abraço!

67
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