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SOCIOLOGIA ECONÔMICA

Professor Mestre Wilian D’Agostini Ayres


REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima
DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini
DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel
SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

A985s Ayres, Wilson D’Agostini


Sociologia econômica / Wilson D’Agostini Ayres.
Paranavaí: EduFatecie, 2023.
76 p.: il. Color.

1. Economia – Aspectos sociológicos. I. Centro Universitário


UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23. ed. 306.3


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR
Profº Me. Wilian D’Agostini Ayres

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2016/2018);


Especialista em Docência no Ensino Superior: Novas Tecnologias Educacionais e Inovação
- UNICESUMAR (2018/2020); Especialista em Empreendedorismo e Inovação Social
nas Organizações - UNICESUMAR (2018/2020); MBA em Coaching aplicado à Gestão
de Pessoas - UNICESUMAR (2018/2020); MBA em Marketing, Criatividade e Inovação
- UNICESUMAR (2021/2022); Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade
Federal da Grande Dourados - UFGD (2011/2014); Tecnólogo em Processos Gerenciais -
UNICESUMAR (2022); Bacharel em Administração - UNICESUMAR (2022/em andamento).
Tem experiência acadêmica na área de Gestão e Inovação de Processos com ênfase em
Sociologia do Desenvolvimento, atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão,
Administração, Conferências, Participação Social, Meio Ambiente, Políticas Públicas e
Desenvolvimento Sustentável. Atualmente é Professor dos cursos de Administração e
Ciências Contábeis em regime presencial na UniFatecie (Campus Paranavaí), e Professor
Formador da Universidade Unicesumar - UNICESUMAR, desenvolvendo as atividades na
modalidade de educação a distância - EAD.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/2256384963174260

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Olá, aluno (a). Seja bem-vindo (a)!

Ao iniciar seus estudos para esta disciplina, jogue luz ao olhar sociológico que neste
momento será analisado juntamente a suas nuances econômicas. Dentro do seu processo
de aprendizagem, você poderá perceber os inúmeros elementos que nos cercam e são
descritos no decorrer deste material, ao vincular duas áreas do conhecimento tão específicas
como a sociologia e a economia. Esta disciplina busca realizar uma retomada da evolução
social no que diz respeito aos fatores econômicos, utilizando de objetos de estudo amplos,
e em alguns casos muito específicos, como é o caso do trabalho e o consumo.
Este material de estudos apresenta fatores como os elementos mercadológicos, que
influenciam as interações sociais em seus mais diversos níveis. Desta forma, o trabalho é
um dos primeiros conectivos que trazem a economia como um fator de impacto no campo
da sociologia. Além disso, estudaremos a projeção futura que este tipo de relação causal
gera no contexto sócio cultural e mercadológico, modificando as formas de consumo e
convívio social, ressignificando as expressões culturais e estabelecendo novos padrões
valorativos para a sociedade atual e futura.
A Unidade I tem a finalidade de apresentar os autores clássicos da área da sociologia,
dado que é o ponto de partida para a compreensão dos cenários que se desenvolveram
com a identificação das influências econômicas nas expressões sociais. Assim, como há
a necessidade de compreendermos os conceitos apresentados por tais autores como
também identificá-los no contexto social.
Se o trabalho é o objeto de estudos inicial da análise socioeconômica, os demais
elementos que foram incorporados a essa análise são o consumo e o status social. Desta
forma, nas Unidades II e III são apresentados os conceitos de sociedade do consumo,
Status Social e Classe Social como um fator econômico estruturante que influencia a
forma de convivência e expressão da sociedade moderna, que também será tratada como
sociedade capitalista. Ou seja, capitalismo este que também é parte de nossa explanação
ao incorporarmos elementos causais desse vínculo entre as duas ciências.
Por fim, na Unidade IV fecharemos as nossas análises com base nos conceitos
atuais da área que projetam uma visão futura para este ramo da ciência, como é o caso
consumerismo, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social.

Bons Estudos!

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SUMÁRIO

UNIDADE 1
Autores Clássicos da Sociologia: O Caminho até a Sociologia
Econômica

UNIDADE 2
Sociologia e Economia: O Surgimento e Consolidação
do Campo Teórico da Sociologia Econômica

UNIDADE 3
Sociologia Econômica: Sociedade do
Consumo e Distinção Social

UNIDADE 4
Perspectivas da Sociologia Econômica e a
Proposta do Desenvolvimento Sustentável

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UNIDADE

AUTORES CLÁSSICOS
DA SOCIOLOGIA:
O CAMINHO ATÉ A
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SOCIOLOGIA ECONÔMICA

Professor Mestre Wilian D’Agostini Ayres

Plano de Estudos
● As Contribuições de Karl Marx para a Sociologia;
● As Contribuições de Émile Durkheim para a Sociologia;
● As Contribuições de Max Weber para a Sociologia;
● As Contribuições da Sociologia para a Economia.
Objetivos da Aprendizagem
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● Conceituar e contextualizar as Ciências Sociais, em especial a


Sociologia;
● Compreender os tipos de objetos de estudo da sociologia de
acordo com os autores;
● Estabelecer a importância dos significados sociais estabelecidos
nos ritos e objetos.
INTRODUÇÃO
Olá, aluno (a)! Seja bem-vindo (a) a nossa primeira unidade da disciplina de Sociologia
Econômica. Neste momento inicial, conheceremos os principais autores da área e seus
objetos de estudos, assim como os conceitos criados por cada um deles, para explicar cada
uma das ações realizadas pelos indivíduos em um contexto social.
A área da sociologia dispõe de uma série de autores renomados, todavia para o
nosso material poder ter um desenvolvimento mais profícuo, foram selecionados apenas os
autores clássicos, que acabam por impactar nesta área tão específica que é a Sociologia
Econômica. Três foram os autores escolhidos para esta introdução, são eles: Karl Marx,
Émile Durkheim e Max Weber.
O primeiro autor que será Karl Marx, este é conhecido pelos conceitos de mais-valia,
lutas de classes, materialismo, sistema capitalista e meios de produção. Mas principalmente,
foi aquele que nos apresentou a análise social baseada na luta de classes, o primeiro insight
que viria a dar início a análise social econômica. A teoria de Marx ficou conhecida como
Marxismo, e até os dias atuais é conhecida por nos apresentar a proposta do comunismo.
Nosso segundo autor é Émile Durkheim, conhecido principalmente pelo conceito de
Fato Social. Mas além deste, também nos apresentou a coesão social, anomia, consciência
coletiva, solidariedade mecânica e orgânica. Conhecido por suas análises baseadas no
senso causal entre economia e sociedade, através dos meios de consumo e do simbolismo
atribuído ao processo de consumo na sociedade.
O nosso terceiro autor é Max Weber, que foi quem concebeu o conceito de Ação
Social. Além disso, também foram importantíssimos os conceitos de Relação social,
dominação e racionalização. Weber ficou amplamente conhecido por trabalhar em suas
obras as questões relacionadas ao poder, e como iremos compreender neste material, o
poder faz parte da relação causal entre sociologia e a economia, os pilares fundadores
dessa disciplina.
Esses três autores por si só concentram as bases fundamentais para compreender-
mos o papel da sociologia como fonte de alimentação da economia.

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TÓPICO
AS CONTRIBUIÇÕES DE
KARL MARX PARA A
SOCIOLOGIA

Karl Marx (1818-1883), autor alemão, com formação nas áreas de Direito e Filosofia,
conhecido por suas concepções sobre classes sociais, sendo elas a classe operária e
burguesa, além de desenvolver obras com análises sobre o capitalismo e socialismo, como
foi o caso da obra “O Capital”. É comum encontrarmos a menção de seu nome vinculado
diretamente ao também autor Friedrich Engels, com o qual estudou e desenvolveu grande
parte dos seus materiais (DURAND, 2017).
Como o autor se trata de um representante da militância social, estabelece seu
discurso baseado em uma lógica de disputa de classes, como já dito, de um lado o operariado
e do outro a burguesia. Essa ambiguidade do modelo econômico já era exposta em 1844,
com a obra “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, em que Marx apresenta sua
análise sobre o cotidiano do operariado das fábricas de Manchester, em uma época no qual
a revolução industrial enfim estava consolidada. Nesse contexto, surgiu um dos principais
termos apresentados por Marx, o conceito de mais-valia, que pode ser descrito da seguinte
forma:

Uma vez sabendo que é o trabalho assalariado dos homens que proporciona lucros
ao capitalista, como demonstrá-lo? Ou seja, como mostrar o processo pelo qual um
valor A (antes da jornada de trabalho) dá lugar a um valor A (A maior que A) depois
da jornada do trabalho? Para fazê-lo, Marx propõe-se a expor primeiro o que é mer-
cadoria, sendo o capitalismo um “insumo acúmulo da mercadoria” (DURAND, 2017,
p. 18).

Com essa lógica apresentada, podemos compreender que a mercadoria supracitada


se trata do trabalho do operariado para proporcionar “o valor”, ou seja, capital aos burgue-
ses, que aqui são chamados pelo autor de capitalistas. Ou seja, o trabalhador oferece seu
tempo e mão-de-obra em troca de um determinado valor, chamado de salário. Todavia,
esse valor é muito maior para os detentores das forças de trabalho que subtraem apenas
com percentual do investimento agregado no processo produtivo, em uma analogia simplis-
ta, de todo o montante ganho pela produção, apenas uma parte era repassada através do
salário, o restante pertence ao empresário.

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 8


Essa relação de dependência ou troca de interesses entre operários e burgueses era
condicionada pelo valor, dessa forma é uma codependente, em que a força de trabalho se
torna mercadoria, baseada em dois pilares a capacidade de física e intelectual do trabalha-
dor, e que é convertida em valor através do salário (DURAND, 2017). Além disso, no decor-
rer da análise de Marx, há sempre um questionamento sobre o motivo da classe operária
se submeter a tal exploração, e como forma de explicar tal questão, o autor apresenta os
conceitos de Infraestrutura e Superestrutura, uma é condicionada à disputa entre classes a
outra considera os demais fatores sociais, como explica:

O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da


sociedade, a base concreta sobre a qual se erige uma superestrutura jurídica e
política e à qual correspondem formas de consciências sociais determinadas. O
modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política
e intelectual em geral [...] A mudança na base econômica altera mais ou menos
rapidamente toda e enorme superestrutura. Ao considerar essas alterações, é
preciso sempre fazer a distinção entre a alteração material- que se pode constatar
de maneira cientificamente rigorosa - das condições de produção econômica e as
formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas (MARX apud DURAND,
2017, p. 41).

Essa relação determina que a mais-valia gera valor através da força de trabalho,
o excedente dessa quantidade é condicionado por fatores propriamente culturais. Agora,
é pertinente enfatizar que a sociologia (tema central deste material) é uma das ciências
sociais, sendo as outras a Antropologia e a Ciência Política, ambas serão mencionadas
inúmeras vezes por sempre estarem impactando os aspectos sociais do objeto de análise.
Por sua vez, a Economia é uma área da ciência independente e tem sua relação com a
sociologia no tangente ao trabalho, como demonstrado até esse momento.
O contexto inicial, apresentado por Marx nas relações de conflito entre classes so-
ciais, foi tratado como “Teoria de Exploração”, e após a consolidação dos conceitos que o
autor defendia (como o de Mais-Valia), surge uma nova fase dos estudos, que daria início
à Sociologia do Trabalho. Que trouxe os significados (DURAND, 2017):

● Trabalho: É considerada que os seres humanos moldam a natureza e organizar


seus elementos, para adequar às suas necessidades, por um fator condicionante
chamado razão;
● Dialética: Também conhecido como Materialismo Dialético, defende que a mudança
é um fator baseado nas relações humanas, e que a história surge como fruto de tais
relações. Ou seja, tudo é transitório e baseado no dinamismo das interações sociais,
como fruto dos aspectos culturais e políticos;
● Dominação: É um dos fatores que promovem a mudança, em detrimento de uma
estratégia de interação social baseada no poder. Como no caso da burguesia que
domina sobre o operariado, por ser o detentor dos meios produtivos;
● Concorrência: Outro fator de mudança que pertence ao conceito de Mais-Valia, e
considera o impacto da disputa do operariado pelos postos de trabalho, por considerar
a oferta de vagas menor que a quantidade de mão-de-obra;

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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● Cooperação: Mais um fator de mudança que está atrelado ao trabalho, e considera
que os indivíduos conseguem maiores resultados se unidos e trabalhando em equipe;
● Técnica: Um termo utilizado dentro da forma de se desenvolver um trabalho, e
retrata o nível de especialização do trabalhador. Neste cenário, o trabalhador que
antes fazia várias atividades, agora faz apenas uma, e o trabalho é dividido entre
vários para acelerar o processo, já que se pressupõe que o trabalhador que tem
maior especialidade na sua etapa, o fará mais rápido e com maior maestria.

Trazendo estes conceitos de Marx para os dias atuais, temos a Mecanização e Au-
tomação que se tornam uma consequência do aumento da tecnologia e do processo con-
tínuo de aceleração da produção. O primeiro, é uma consequência direta da substituição
de processos simples por máquinas, para auxiliar os operários nas atividades e acelerar a
produção. Já o segundo é a reunião de um processo ou mais em uma abordagem ampla-
mente tecnológica que não só auxilia na produção, mas também toma o lugar dos homens
no processo produtivo (DURAND, 2017).
Com uma consideração polêmica e enfática, que gera uma dicotomia, a substituição
dos homens pelas máquinas gera um efeito contrário, dado que o haveria uma condição
de trabalho baseada na produção e o conflito de classes se intensifica rompendo o fator
de tempo. Ou seja, o salário não ficaria mais condicionado às horas trabalhadas, e sim a
quantidade produzida.
O Comunismo foi o modelo proposto por Marx para romper os padrões de disputa
entre as classes e promover homogeneidade no regime de trabalho. Dado que o Estado
deveria interferir na economia e proporcionar equiparidade nos meios de produção. Tal
concepção surgiu com base na contraposição à ideologia, pois “como a ideologia é a ex-
pressão ou manifestação da dominação de uma classe, o fim do antagonismo de classes,
ou seja, o comunismo, acaba com a ideologia” (DURAND, 2017, p. 114). Essa ideia com-
plementa a disfuncionalidade, promovida por fatores baseados no espiritualismo, ou seja,
as concepções religiosas que contrapõem a naturalidade dos processos, em que o trabalho
é o fator de mudança que vai contra as forças naturais.

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TÓPICO
AS CONTRIBUIÇÕES
DE ÉMILE DURKHEIM
PARA A SOCIOLOGIA

David Émile Durkheim (1858-1917), filósofo e psicólogo francês, que viveu no século
XIX, juntamente com Marx e Weber, se tornou um dos três autores clássicos das ciências
sociais. Como dito, este autor desenvolveu estudos e apresentou conceitos nas três ciên-
cias sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política), mas como este material se trata
de um robusto ensaio sobre a sociologia econômica, será realizado um recorte para seu
mais importante objeto de estudos, “o trabalho”, pelo qual, seria conhecido como pai da
sociologia.
Durkheim desempenhou uma intensa atividade acadêmica, com a publicação de
inúmeras obras, como “Da Divisão do Trabalho Social”, importante instrumento de pesqui-
sa para a sociologia econômica, enquanto ramo de ciência em ascensão. Porém, sua vida
não ficaria restrita à academia, pois se analisar o período que o autor viveu, perceberá que
foi durante a Primeira Grande Guerra, e o mesmo, se vinculou a partidarismo socialistas,
e instaurou a análise sobre socialismo de classes e assim como o autor anterior, realizava
uma análise do operariado (STEINER, 2016).
Inúmeras foram as críticas do autor relacionadas à sociedade para economia, como,
por exemplo: “O Estado deve ser ocupar das funções econômicas, mas, antes, que elas
não podem continuar do seu estado presente de desorganização e que elas devem ser
relegadas entre si, coordenadas, por intermédio da ação refletida do Estado” (STEINER,
2016, p. 24). Além disso, Durkheim defende a estruturação das análises sociais e econômi-
cas amparadas em diversas disciplinas como:

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 11


1) Estudos Gerais, método;
2) Sistemas econômicos;
3) Tipos de produção;
4) Regimes da produção;
5) Formas da produção;
6) Valor, Preço e Moeda;
7) Classes econômicas (da distribuição);
8) Órgãos da distribuição;
9) Morfologia da distribuição;
10) Elementos da distribuição;
11) Relações entre os fenômenos econômicos e os fenômenos sociais de outras cate-
gorias;
12) Economias Especiais, agrícola, comercial e industrial” (STEINER, 2016, p. 24);

Perceba com esse sequenciamento de disciplinas não compõe a análise atual acer-
ca da disciplina, por mais que os autores clássicos tenham uma análise inicial dos fatos,
o passar do tempo trouxe novas pautas e estes temas são vistos nos dias atuais apenas
como um objeto de estudos da economia, ciência este que ganhou independência e tomou
forma para os estudos contemporâneos. Todavia, o ponto central da obra de Durkheim que
ainda se mantém vivo no discurso da sociologia econômica é o trabalho e suas nuances,
como é o caso da divisão (ou distribuição) do trabalho. O autor defende que o trabalho é
distribuído de acordo com um senso moral presente nos indivíduos, que promove pertenci-
mento a um meio coletivo, a sociedade, este fator é denominado solidariedade.
O conceito de solidariedade foi estruturado em dois modelos, para delimitar a rela-
ção entre o indivíduo e a sociedade, sendo: 1) Solidariedade Orgânica, que é baseada nos
fatores de hábito, como a moral e os costumes, e representada facilmente pela rotina/co-
tidiano; 2) Solidariedade Mecânica, que é estruturada no capitalismo moderno e expressa
basicamente pela especialização do trabalho (STEINER, 2016).
O conceito mais marcante de Durkheim foi o de Fato Social, que distinguia dos
demais Fatos (Psicológico e Biológico). Este tem por função explicar que o indivíduo se
comporta, sente e pensa de acordo com as influências sofridas pelo contexto social, dife-
rente do fato psicológico que é consequência dos fatores individuais, e únicos do indivíduo.
Enquanto o Fato Biológico é uma consequência das necessidades físicas, como a alimen-
tação (STEINER, 2016).
Perceba que o Fato Social é uma consequência da coerção no indivíduo que está
em sociedade, ou seja, é pressionado a agir sobre uma determinada conduta para cor-
responder aos anseios do coletivo. Dessa forma, é pertinente estruturar alguns conceitos
relacionados ao mesmo, são eles (STEINER, 2016): 1) Coerção, que é uma forma de poder
despótico que visa constranger e conduzir os indivíduos a agirem segundo o esperado, ou
contrário da coação que é baseada na força, a coerção é ancorada na força das leis, ou va-
lores compartilhados pelo grupo; 2) Autoridade Moral, que complementa a coerção, quando
desempenha força de controle sobre a forma de agir do indivíduo, com base em uma série
de princípios éticos e morais. Além disso, o autor defende que os Fatos Sociais surgem não
somem pela influência, mas também como consequência de alguns fatores, como (STEI-
NER, 2016):

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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● Observação: Como o nome indica, os indivíduos aprendem de maneira quase que
simbiótica, através da convivência e troca de informações, observando os demais, e
promovem significado para aquela conduta;
● Classificação: Com base em um senso crítico analítico, e uma visão temporal dos
fatos, o indivíduo replica ou elimina certas condutas, atribuindo um sendo de valor
ao processo de construção do Fato Social;
● Explicação: Baseado na coerção, utiliza das explicações lógicas e morais para in-
duzir os indivíduos, ou legitimar uma ação do ponto de vista ético e moral. consoli-
dando um Fato Social;
● Administração da Prova: A comprovação é a melhor estratégia de uma defesa;
dessa forma, ao apresentar dados plausíveis para a realização e efetivação do Fato
Social, se torna um formato legítimo de salvaguarda.

Por fim, ao analisar as regras do método sociológico, para fundamentar as concep-


ções de Fato Social, Durkheim defenderia as inúmeras formas de interação social, como
o consumo e a produção. Para além dos fatores iniciais, que se concentrava apenas no
trabalho e suas consequências sociológicas.

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AS CONTRIBUIÇÕES DE
TÓPICO

MAX WEBER PARA A


SOCIOLOGIA

Quando o assunto é sociologia ou ciências sociais como um todo, é impossível


não tratar da Tríade clássica de autores, que reúne os dois acima e Max Weber, jurista e
economista, alemão que pleiteou o status de sociólogo como parte do seu louvável currículo.
Seu nome completo era Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920), e foi dito que recebeu o
título de sociólogo, além de ser considerado um dos fundadores da ciência.
Weber foi colocado como último nesta sequência para enfatizar o seu papel central
na consolidação da área de sociologia econômica, dado a um material que trabalhou por
anos, porém não conseguiu finalizar, chamado de Economia e Sociedade. Todavia, as
obras desse autor foram para além das suas áreas de formação, incorporando temas como
religião, história e política (LIMA e SILVA, 2012).
O principal termo que o autor deixa de legado para a área de sociologia foi Ação
Social, que se contrapõe em vários aspectos o estruturalismo social tratado pelos autores
anteriores e traz luz aos aspectos comportamentais em sociedade. Desta forma, “ação
social é toda aquela em que o indivíduo age pensando em outro por referência” (LIMA e
SILVA, 2012, p. 76). Ou seja, é um comportamento condicionado por uma influência do
grupo, e o papel do sociólogo é compreender os fatores que influenciaram seu início e as
consequências que terão após a realização.
O processo de Ação Social é permeado por uma característica que vincula o
significado à prática, chamada por autor de “Tipo Ideal”, pois explica que toda consciência
é condicionada por uma análise de um modelo previamente concebido pela sociedade. Ou
seja, para conseguirmos alcançar uma meta ou essência, é necessário uma visão do que
se espera (LIMA e SILVA, 2012).
Para se tornar mais palpável a análise da Ação Social, é necessário compreendê-la,
para tal, Weber determina uma série de formas para compreender a realidade. São elas
(LIMA e SILVA, 2012):

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 14


● Compreensão direta: Modelo que considera a lógica como fator de escolha para
ser realizada a ação, ou seja, ao observar o desenrolar de uma situação, o indivíduo
toma frente para realizar a ação, com base em sua interpretação;
● Compreensão Explicativa: Esse modelo, ao contrário do anterior, é baseado no fa-
tor empírico, em que o indivíduo é ensinado desempenhar tais ações, com base em
explicações que consideram algum fator científico ou exemplo dado;
● Motivo: Toda ação tem uma motivação, dessa forma, independente ou consequente
as compreensões acima as “ações sociais” também são desenvolvidas com base em
um pressuposto que acaba por motivá-las.

As análises de Weber vão para além de um objeto de estudo, pois concentram análises
das mais diversas formas de análise social, como o próprio comportamento dos indivíduos.
Neste caso, as ações sociais são influenciadas pelas compreensões e motivações, dessa
forma (LIMA e SILVA, 2012, p. 89):

Sua constatação era a de que as ações humanas podem apresentar um alto


grau de regularidade, o que possibilita a constituição de relações permanentes,
hábitos, tradições, formas de pensamento, instituições, conferindo um alto grau de
previsibilidade a muitas das ações humanas e permitindo a sua compreensão e a
determinação de possibilidades e tendências na história.

Com base nessa afirmação, surge o conceito de Relação Social, que “consiste
fundamentalmente na probabilidade de que vários agentes orientem a sua conduta em um
sentido reciprocamente compartilhado” (LIMA e SILVA, 2012, p. 90). Tal conceito, considera
que as ações são baseadas no senso de reciprocidade/devolutiva, com base em estímulos.
Como, por exemplo, se presenteio alguém, espero em troca gratidão ou afeto.
Qualquer tipo de barganha (como é o caso da reciprocidade) remete a formatos de
dominação, e este é um conceito amplamente utilizado e difundido por Weber em suas
obras. Se a ação social é compreendida e motivada, e a relação social é baseada na forma
como a conduta é orientada , ou seja, como se promove tal comportamento, há diversos
meios de análise para que a ação social deve ser condicionada, como a dominação é um
dos meios de alcançar esses resultados. Para tal, as ações sociais podem ser delimitadas
em até 4 (quatro) formas diferentes, são eles (LIMA e SILVA, 2012):

● Ação Social Afetiva: Assim como o nome indica, o fator condicionante deste tipo de
ação é o afeto, em que impera as emoções e a barganha acontece por um estímulo
que é sentimental;
● Ação Social Tradicional: Esse tipo de ação é conduzida pelas tradições, em que
é possível identificar os hábitos, costumes e cultura, que acabam por impactar um
comportamento de um indivíduo ou grupo, o qual compartilha dos mesmos padrões
cotidianos;
● Ação Social racional com relação a valores: Muito confundida com a anterior,

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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esse, por sua vez, distingue-se com base no senso moral, ético e valorativo do in-
divíduo que desempenha tal ação. Podendo sim ser impactado pelas questões de
tradição, ou não, quando suas concepções éticas forem diferenciadas;
● Ação Social racional com relação a fins: O destaque desse último é baseado na
expressão “os fins justificam os meios”, de Nicolau Maquiavel, ao retratar que as
ações sociais são uma consequência da meta/objetivo almejado pelo indivíduo que a
realiza. Dessa forma, os meios podem ser controversos, porém justificados, quando
analisamos a finalidade.

Para finalizar com as contribuições de Weber, vinculado com os modelos apresen-


tados acima, temos a racionalização. Conceito defendido por Weber, para fundamentar as
formas de agir da sociedade, seja em aspectos das ciências sociais ou economia. Baseado
no pressuposto que todas as ações sociais são racionalizadas com base em um método de
análise, e não partem de um estímulo meramente instintivo.

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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AS CONTRIBUIÇÕES DA
TÓPICO

SOCIOLOGIA PARA A
ECONOMIA

Em uma análise clara, é impossível analisar a Sociologia sem acessar aos autores
clássicos da área, e ao abraçar plenamente o positivismo, seria negar a história e embarcar
em um emaranhado de conceitos que são pertinentes apenas a alguns casos. Para tal, a
valorização dos autores da sociologia é pertinente, dado que, cada um deles tenha descrito:

Teorias-modelos das quais nos servimos continuamente para compreender a rea-


lidade, até mesmo uma realidade diferente daquela a partir da qual tenha derivado
e à qual as tenha aplicado, e que se tornaram ao longo dos anos, verdadeiras e
próprias categorias mentais (SELL, 2015, p. 157).

Por mais que suas teorias não possam ser consideradas atemporais, principalmente
no tangente à sociologia econômica, uma área ainda em construção e que carece de
estudos amplos e constantes. Os conceitos apresentados nas apresentações devem ser
considerados enquanto a sua aplicabilidade no objeto de estudos a serem analisados.
Como é o caso da modernidade, que se torna um marco teórico e temporal, para a análise
sociológica, definindo o momento que as ações humanas são condicionadas pelo raciocínio,
ou razão, como dito por Weber (SELL, 2015).
A ruptura dos padrões hermenêuticos, que consolidaram os padrões dos autores
aqui trabalhados, e uma nova análise dos conceitos concebidos e aplicados a novos objetos
de estudos geram emancipação dos poderes condicionantes dos comportamentos sociais,
e inauguram uma nova era do conhecimento, chamada de “Pós-modernismo”, que é onde
se encontra a disciplina de sociologia econômica. E é para a qual utilizaremos os conceitos
iniciais destes autores para compreender novos modelos de comportamento e interação
social (SELL, 2015).

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 17


A sociologia econômica pode ser definida de modo conciso como a aplicação de ideias, conceitos e méto-
dos sociológicos aos fenômenos econômicos, mercados, empresas, lojas, sindicatos, e assim por diante.
Apoiando-se no enfoque de Max Weber, a sociologia econômica estuda tanto o setor econômico na so-
ciedade (“fenômenos econômicos”) como a maneira pela qual esses fenômenos influenciam o resto da
sociedade (“fenômenos economicamente condicionados”) e o modo pelo qual o restante da sociedade os
influencia (“fenômenos economicamente relevantes”) (cf. Weber, 1949).

Fonte: SWEDBERG, Richard.Sociologia econômica: hoje e amanhã. Balanços, 2004. Disponível em: https://
www.scielo.br/j/ts/a/dvSxLM8hKX5dKCQzK6xtQbq/?format
=pdf&lang=pt. Acesso em: 12 jul. 2022.

“A sociologia econômica estuda tanto o setor econômico na sociedade (“fenômenos econômicos”) como
a maneira pela qual esses fenômenos influenciam o resto da sociedade (“fenômenos economicamente
condicionados”) e o modo pelo qual o restante da sociedade os influencia (“fenômenos economicamente
relevantes”)”.

Fonte: Eber apud Swedberg (2004, p. 07).

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 18


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim da nossa primeira unidade da disciplina de Sociologia Econômica.
Como é possível compreender até esse momento, voltamos aos princípios da sociologia
que acabam por impactar a análise econômica dos dias atuais. Passando por uma análise
social do trabalho e seu impacto nas questões econômicas, como é o caso da luta de classes
narrada por Marx, e da distribuição do trabalho social de Durkheim, que demonstraram que
as forças produtivas e as forças do trabalho, são quase que indissociáveis.
Conclui-se que a área da sociologia dispõe de uma série de autores renomados,
que apresentaram uma série de termos e conceitos que se tornaram perenes para a área
e para todas as demais que beberem dessa mesma fonte. Também foi possível chegar
à conclusão, que nem todos os elementos apresentados pelos autores são úteis ou
podem ser utilizados para as análises, e foi necessário um amplo recorte dos materiais e
produção desses autores, para sintetizar apenas o que seria necessário e aplicável para o
desenvolvimento deste material.
No caso de Karl Marx, foram tratados apenas conceitos-chave para a compreensão
de valores entre as classes sociais. O Marxismo como um todo tem diversos elementos
econômicos, porém, em sua maioria são questões sociais que concentram nuances
simbólicas e afetivas dos indivíduos, e não se tornam pertinentes aqui. Por isso, o foco foi
o modelo econômico e o motivo de receber tal nome, para relembrar os burgueses também
chamados de capitalistas, por serem detentores do capital.
Também é possível concluir que os conceitos de Durkheim tem uma forte presença
das questões psicológicas que impactam o comportamento da sociedade, fazendo com que
as classes sociais mantenham seus comportamentos de dominação ou subordinação, por
forças que vão além das tratadas pela sociologia, chamadas pelo autor de coesão social,
e a solidariedade. Por fim, Weber nos apresenta as motivações das ações sociais e nos
proporciona um insight, das formas de analisar os comportamentos sociais dentro de um
contexto econômico, e vice-versa.

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 19


LEITURA COMPLEMENTAR
Artigo: A Construção Social do Mercado em Durkheim e Weber
Autor: Cécile Raud- Mattedi
Link: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/ywLXNRHwynqrzdP9qNL66kn/?format=pdf&
lang=pt

Resenha: Este texto pretende resgatar, de maneira exploratória, algumas reflexões pioneiras
de Durkheim e Weber a respeito do mercado a fim de poder tomar posição no quadro desse
debate. Não pretendemos discutir a existência de uma continuidade ou de uma ruptura
entre a nova e a velha sociologia econômica. Gostaríamos apenas de argumentar, contra
Swedberg (1994), que Durkheim e Weber iniciaram o estudo sociológico do mercado em
termos de construção social, contribuindo assim diretamente para a emergência da nova
sociologia econômica na década de 1970. Ambos refletiram sobre o papel das instituições
na orientação do comportamento do ator econômico e, portanto, na regulação do mercado,
com conclusões frequentemente semelhantes.

Fonte: RAUD-MATTEDI, Cécile. A Construção Social do Mercado em Durkheim e Weber. Revista Bra-
sileira de Ciências Sociais, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/ywLXNRHwynqrzdP9qN-
L66kn/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 12 jul. 2022.

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 20


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber
Autor: Carlos Eduardo Sell.
Editora: Vozes.
Sinopse: Este livro apresenta o pensamento dos fundadores
da sociologia a partir de três eixos básicos: teoria sociológica;
teoria da modernidade; teoria política: problemas e desafios
da realidade social. Este método, além de permitir uma análise
comparativa das teorias de Marx, Durkheim e Weber, possibilita
também uma compreensão da sociologia enquanto ciência e
uma reflexão sobre a natureza e as perspectivas da vida social
em tempos modernos. Retomando a visão destes autores, o lei-
tor é convidado a exercitar sua “imaginação sociológica”, aden-
trando, assim, no rico debate sociológico sobre as diferentes
maneiras, métodos e perspectivas de pesquisa e interpretação
da sociedade.

FILME/VÍDEO
Título: Tempos Modernos
Ano: 1936.
Sinopse: Carlitos é um personagem baseado na obra de Char-
lie Chaplin, e nesta obra clássica representa a rotina de um
operário de chão de fábrica que realiza todos os dias a mesma
atividade. Porém, seu maior sonho é conhecer todas as etapas
do processo, além da sua. De uma forma icônica e leve, lança
luz ao modelo fabril.

UNIDADE 1 AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA: O CAMINHO ATÉ A SOCIOLOGIA ECONÔMICA 21


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UNIDADE
SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O
SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO
CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA
ECONÔMICA
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Professor Mestre Wilian D’Agostini Ayres

Plano de Estudos
• A Sociologia Econômica na atualidade, e suas perspectivas;
• Sociologia e Economia: O Trabalho como ponto de encontro;
• Mercado de Trabalho: O objetivo dos estudos atuais;
• Mercados e Capitais: Instrumentos de consolidação da área.

Objetivos da Aprendizagem
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• Conceituar e contextualizar a sociologia econômica como área de


estudos;
• Conhecer as diferenças das duas ciências e seu ponto de intersecção;
• Compreender a importância do Mercado como campo de interação
entre as ciências;
INTRODUÇÃO
Olá, aluno (a)! Seja bem-vindo (a) de volta. Essa é a nossa segunda unidade da
disciplina de Sociologia Econômica. Aqui trabalharemos para além da retomada histórica e
conceitual da unidade anterior, será necessário se debruçar sobre os objetos específicos da
área e compreender como esse ramo da ciência tem se desenvolvido através dos insights
recebidos pela sociedade.
A meta inicial é compreender a forma como se constrangem os atores ou fatores
ponderantes do processo, como é caso da interação inicial da sociologia e economia atra-
vés dos estudos que demonstram a indissociação entre ambas. Pensando nisso, temos os
elementos que interligam estes campos de atuação, como no caso das convenções, que
trabalharemos a seguir.
No primeiro momento, trabalharemos os frutos da escola americana e europeia de
autores, que construíram as metodologias de análise e consequentemente os conceitos
que serão norteadores para nossos estudos. Feito isso, teremos uma análise do contexto
que foi trilhado até aqui, e uma perspectiva dos próximos influenciadores que viram, ou já
estão acontecendo.
Na sequência, será retratado o papel do trabalho com as novas ponderações da
economia, já que na unidade anterior tivemos as contribuições dos sociólogos em sua
maioria. Busca-se assim trazer um novo olhar para as funções do trabalho na análise
socioeconômica, com suas faces burocráticas e estruturalistas, comuns na área de
economia, administração e contábil.
Mas, ao mergulhar em águas mais profundas, faz-se necessário compreender o
cenário como um todo, e para isso, temos a importância de uma análise mercadológica na
composição dos elementos que compõem todos o arcabouço técnico e científico estudado.
Dessa forma, compreenderemos quais os impactos do mercado e quais suas características
que são influenciadas pela sociedade.
Será desembarcado nas questões do lucro e na influência causal entre mercado
e capitais, estes como meio formal que determina a relação entre indivíduos e meios
produtivos, como forma de construção do objeto de estudos da sociologia política.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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A SOCIOLOGIA ECONÔMICA
TÓPICO

NA ATUALIDADE E SUAS
PERSPECTIVAS

Em nossa unidade anterior, foi possível vislumbrar o papel dos autores da área da
sociologia e seus primeiros insights para a sociologia econômica. Ao nos apresentar os
primeiros conceitos que dariam início a essa área que é permeável por suas ciências e tem
ganhado relevância como instrumento de análise para diversos cenários e problemáticas.
Neste segundo momento do nosso material, trabalharemos essas especificidades
de uma forma que o passado e o futuro dialoguem. Pensando nisso, Swedberg (2004), já
dizia que era necessário um olhar especializado para a sociologia econômica brasileira,
quiçá global, dado que essa área já tinha sido consolidada para os Estados Unidos e Eu-
ropa, e como é possível deduzir, cada país tem uma especialidade ou particularidade de
mercado que o torna único em uma análise empírica.
O conceito de Sociologia Econômica, que foi construído na unidade anterior, teve
como ponto de partida a sociologia e suas influências. Porém, pode ser apresentado de
forma sintética, como “pode ser definida de modo conciso como a aplicação de ideias, con-
ceitos e métodos sociológicos aos fenômenos econômicos – mercados, empresas, lojas,
sindicatos, e assim por diante” (SWEDBERG, 2004, p. 07). Ao considerar tal afirmação, é
possível perceber que essa relação causal é capaz de influenciar em inúmeras esferas da
vida cotidiana, como é o caso da cultura.
Se relembrarmos sobre o destaque que Max Weber deu para essa área, temos
três análises utilizadas constantemente, são elas (LIMA e SILVA, 2002 apud SWEDBERG,
2004):

1) Fenômenos econômicos: São os impactos da economia na sociedade;


2) Fenômenos economicamente condicionados: São os impactos da economia
na sociedade, de forma planejada;
3) Fenômenos economicamente relevantes: São as influências da sociedade nos
demais aspectos da vida cotidiana.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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Essas análises cunharam um conflito de interpretação com um dos mais famosos
conceitos de Weber, o “homo economicus”, que representa a interdependência dos seres
humanos com o capital, através da venda da sua força de trabalho (LIMA e SILVA, 2012). É
contradito pela visão de que não são os homens que constroem a sociedade e economia, e
sim as estruturas criadas, que influenciam o comportamento humano (SWEDBERG, 2004).
As chamadas estruturas são trabalhadas nas várias relações sociais, fundamentadas por
hábitos e replicações de comportamento, que são explicados como:

A ideia básica é a de que os atores econômicos desenvolvem as assim chamadas


convenções, como parte de seus esforços para coordenar ações econômicas; e
que tais convenções consistem em alguns poucos modos padronizados de pensar
a realidade e justificar por que certas ações deveriam ocorrer (CF. STOPER e SA-
LAIS, 1997, apud SWEDBERG, 2004, p. 12).

A padronização dos comportamentos em consequência das chamadas convenções


é um reflexo das mudanças que o próprio modelo capitalista vem sofrendo nos últimos
anos. Tais mutações ocorreram de forma sutil e ainda não foram tratadas com relevância
o suficiente para que seja denominado um novo modelo social e/ou econômico. Porém,
autores como Eve Chiapello e Boltanski alertam para a concepção de uma variante do
Capitalismo, que chamaram de Capitalismo de Redes, se referindo às redes que surgem
com as construções das mencionadas convenções, essas podem ser de natureza social ou
econômica (SWEDBERG, 2004).
Para tal, “a análise de redes tem sido usada, por exemplo, para explorar diversos
tipos de interações econômicas que não podem ser classificadas nem como costumes nem
como alguns tipos de organização econômica'' (SWEDBERG, 2004, p. 18). São sistemas
de influências que reúnem elementos sociais e econômicos, como é o caso das compras
de alto custo e acaba incorporando a opinião de diversos indivíduos no processo, para que
então o comprador decida por adquirir o produto e/ou serviço, como, por exemplo, a aqui-
sição de uma casa.
Creio que deve estar se perguntando, onde entra o mercado nesse contexto, como
esse termo é quase que uma consequência dos estudos na área de economia, o chamado
“mercado econômico” é o cenário ou contexto onde acontecem todas as interações econô-
micas. E para a sociologia econômica, esse termo não é menos importante que para outras
áreas, dado que é no mercado que acontecem todas as interações sociais e econômicas.
Todavia, falaremos desse conceito, logo mais adiante, em outro tópico.
Antes de compreendermos como o “jogo é jogado”, é relevante entender quais as
regras do jogo. Dessa forma, outra área acaba por impactar o comportamento econômico e
social, o direito, responsável pelos instrumentos jurídicos que constrangem o comportamento
das organizações e até mesmo as formas de interação dos indivíduos. Como, por exemplo, a
formulação dos contratos para registrar o andamento ou fechamento de uma negociação, ou
mais específico com a consolidação das leis trabalhistas. Assim, se “enfatizou em particular a
necessidade de vincular o estudo de organizações ao direito; e um de seus primeiros estudos
nessa direção lida com tal processo no lugar de trabalho” (SWEDBERG, 2004, p. 22).

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICACA


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Recapitulando as apresentações dos autores da sociologia, feita anteriormente, o
objeto de estudos de todos acabava por desembarcar no foco principal, o trabalho. Esse,
por sua vez, é o meio de barganha entre indivíduos e empresas em busca da proliferação
de riquezas, através do lucro. Além desses influenciadores, a área é constantemente atua-
lizada com novas questões históricas e culturais, como é o caso recente das finanças, que
tem demonstrado a falta de cultura de investimento entre a sociedade, reflexos que são
nítidos na fluidez dos mercados em momentos de crise (SWEDBERG, 2004).
Outro tempo muito presente nos debates atuais da área é a quebra do paradigma da
“Mais-Valia”, conceito cunhado por Marx, que tem sofrido questionamento com o crescente
movimento de automação das atividades trabalhistas. O crescimento da tecnologia é algo
inevitável para a humanidade, porém a substituição das atividades operacionais, e con-
sequente perda da mão-de-obra humana pelas máquinas, tem desencadeado uma nova
reconstrução sócio econômica baseada no trabalho (SWEDBERG, 2004).
Algo que já tinha acontecido em uma proporção muito menor com a entrada das
mulheres no mercado de trabalho, e as distribuições de tarefas, que acaba por trazer o de-
bate sobre gênero para análise dentro desse contexto. Dessa forma, “a metáfora básica é
pouco nítida e insinua uma linha divisória muito abrupta entre o que é “econômico” e o que
é “social” (SWEDBERG, 2004, p. 25).

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2
TÓPICO
SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O
TRABALHO COMO PONTO DE
ENCONTRO

A análise macro dos aspectos socioeconômicos feitas até aqui são uma forma de
demonstrar as características principais desse ramo da ciência. Todavia, a partir daqui se
faz necessário a análise aprofundada dos aspectos do trabalho, como já dito é o principal
elemento que constrange as questões interseccionais de ambas as ciências aqui tratadas e
a medida que sofre modificações, também faz mudanças no cenário existente, veja o caso
das revoluções, que acabaram por impactar aspectos econômicos, sociais, políticos e até
mesmo estruturais. Como é o caso das seguintes (MARTINS, 2017):

- Revolução Industrial: Rompeu os paradigmas produtivos, acelerou os processos


de produção, transicionando entre as manufaturas para a industrialização, represen-
ta a especialização do trabalho e atividades repetitivas;
- Revolução Francesa: Essa com impacto muito mais político que econômico, porém
como acabou por refletir nas mais diversas castas sociais, gerou uma profunda mu-
dança na sociedade;
- Revolução Científica: Também conhecida como Revolução do conhecimento, aca-
bou por impactar as formas de interação social, promoveu novos valores e represen-
tatividade trabalhista;
- Revolução Cultural: Não teve um marco concreto como algumas das anteriores,
dado que foi um reflexo direto de algumas delas, que dado a proliferação e valoriza-
ção de novas condutas trouxeram mudanças nos hábitos e costumes da sociedade.

Outro objetivo de estudos da sociologia do trabalho são as Instituições, que têm um


papel crucial na promoção das mudanças e condicionamento das questões econômicas.
Como, por exemplo, no que tange ao social, temos a família, a igreja, as escolas, e até mes-
mo o Estado, que é uma instituição ampla, e de alto impacto, que pode ser representado

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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pelos seus sistemas, como o judiciário e legislativo, ou por demais instituições independen-
tes, com as de comunicação, movimentos sociais e até as financeiras, como é o caso dos
bancos (MARTINS, 2017).
A principal função das instituições é exatamente o fato de condicionar o comporta-
mento social, promovendo valores e deveres compartilhados, e como vimos, no caso do
Estado, podem refletir nos inúmeros aspectos da sociedade. Dito isso, é pertinente ressal-
tar que cada tipo de instituição tem seu papel e podem permear a área de outra, ou não.
Veja o caso da família, que promove a educação antes mesmo da escola fazer parte do
cotidiano de um indivíduo (MARTINS, 2017). Seria então o trabalho uma das formas das
instituições influenciarem o comportamento social? Veja a seguinte afirmação:

O trabalho é importante mecanismo de análise social, pois ajuda a compreender o


funcionamento da sociedade, incluindo suas relações sociais e de produção. Por
isso, a categoria trabalho tornou-se central no pensamento social, ocupando um
espaço importante desde o surgimento da sociologia (e mesmo antes), o que permi-
tiu essa ciência compreender e classificar as complexas manifestações do âmbito
Social (CARDOSO, 2008 apud MARTINS, 2017, p. 39).

Com tal indagação, remete às formas como o trabalho foi tratado no contexto histó-
rico, até as eras medievais era considerada uma forma de subsistência, inclusive os deten-
tores de posses, tinham seus escravos ou vassalos, que por sua vez realizavam o trabalho.
Em contrapartida, a partir da revolução industrial, e com a necessidade de sobrevivência,
os trabalhadores passaram a vender a sua mão-de-obra, tornando-a mercadoria no contex-
to capitalista (MARTINS, 2017).
Quando retomamos o papel das revoluções, que é a ruptura de um modelo para
que outro surja, se faz necessário retomar os modos de produção que influenciaram nossa
sociedade através das eras, e promoviam um modo de trabalho específico para cada estilo,
de acordo com o senso de organização do trabalho, para atingir suas necessidades. São
eles (MARTINS, 2017):

- Primitivo: Creio que muitos devem confundir esse modelo com o extrativista, porém
como o extrativismo era a ausência de modelo, ao contrário do primitivo, que é o
início da parametrização das atividades produtivas, no qual surgiram a agricultura e
pecuária, como base em métodos e práticas;
- Asiático: O modelo asiático reúne os princípios básicos da agricultura, dado que era
a base da economia nestes territórios. Porém, tinha como particularidade da servi-
dão que detinham sobre um espaço de terra comunitário;
- Escravista: Esse modelo, como o nome indica, é baseado no senso de posse sobre
os indivíduos e seu poder de trabalho. Comumente baseado no domínio das terras
como meio produtivo e no poder como forma de controlar a força de trabalho, as
atividades eram realizadas em sua maioria pelos escravos que sustentavam a sub-
sistência da sociedade;
- Feudal: No Feudalismo o regime de trabalho era similar ao modelo asiático, porém

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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as terras não eram comunitárias, e pertenciam ao senhor feudal, o papel dos servos
era produzir nessas terras pagando tributos ao seu senhor;
- Socialista: Por fim, o modelo socialista demonstrou a proposta de que os meios de
produção pertenceriam a todos e estes seriam responsáveis pela produção dos bens
e serviços. Todavia, os resultados finais do trabalho conjunto seria a distribuição
igualitária dos ganhos entre todos os envolvidos;
- Comunismo: Seria o outro extremo do capitalismo, em que todos devem ser de-
tentores dos meios produtivos, ao mesmo tempo que têm direito aos frutos dessa
produção. Ao contrário do socialismo, que ainda aceita a propriedade privada, o
comunismo defende a interferência direta do Estado como único detentor e adminis-
trador dos sistemas produtivos.
- Capitalismo: Este é um modelo de livre empreendedorismo, em que todos podem
ser detentores das propriedades privadas, em escalas diferentes. E o trabalho faz
parte da manutenção desses meios.

Este último é uma representação do nosso atual modelo econômico e influenciador


do trabalho. Todavia, nos dias atuais encontramos algumas nuances que distinguem as
formas como a interação econômica impacta a social, como é o caso do pré-capitalismo,
o capitalismo comercial, industrial e financeiro. Vamos entender melhor cada uma dessas
etapas? Veja (SANTA CATARINA, 2012, apud MARTINS, 2017, p. 105):

● Pré-capitalismo (séculos XII a XV): O modo de produção feudal ainda predomina,


mas já se desenvolvem as relações capitalistas;
● Capitalismo comercial (XV a XVIII): A maior parte do lucro concentra-se nas mãos
dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o trabalho
assalariado torna-se mais comum;
● Capitalismo industrial (XVII a XX): com a Revolução Industrial, o capital passa a
ser investido basicamente nas indústrias, que se torna a atividade econômica mais
importante. o trabalho assalariado firma-se definitivamente;
● Capitalismo financeiro (século XX): os bancos e outras instituições financeiras pas-
sam a controlar as demais atividades econômicas, por meio de financiamentos à
agricultura, à indústria, à pecuária e ao comércio.

O modelo capitalista é o que tem perdurado por mais tempo, além de ser tido como
o mais complexo. Essa afirmação é pautada na lógica que o capitalismo necessita de um
complexo relacionamento entre meios de produção e o Estado (detentor do poder), então
as relações são institucionalizadas com base em um sistema jurídico e administrativo que
permeia as questões socioeconômicas e as mantêm funcionando.
O liberalismo econômico é uma proposta ousada e que supriria a maior parte das
necessidades do modelo econômico, porém as questões sociais seriam negligenciadas
pelo fato da alta competitividade dos detentores dos meios produtivos, com os detentores
da força de trabalho (MARTINS, 2017).
Com o advento da globalização, as empresas passaram a compreender que seus
padrões não estavam mais restritos a um modelo regional ou local, e sim que estavam à
mercê de um sistema global que acaba por impactar todos os formatos de produção a uma

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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escala impensável antes da Revolução Industrial. Esse processo ficaria conhecido como
“Capitalismo em Redes”, em que todas as economias nacionais estariam interligadas por
processos produtivos e econômicos, e esses impactos acabariam por influenciar as ques-
tões sociais também.
Em decorrência da competitividade em escala global, as empresas começaram a
pensar nas em formas de aumentar a sua produtividade, porém como a tecnologia ainda
não dispunha de atualizações com a mesma celeridade dos dias atuais, os responsáveis
pelas estratégias baseiam suas decisões em questões humanas. Alguns autores e res-
ponsáveis por mudanças estruturais nos processos produtivos ficaram conhecidos mun-
dialmente, como é o caso dos clássicos, Ford, Toyota e Taylor. Este último, ao contrário
dos demais, foi enfático na área acadêmica, e ficou conhecido como pai da administração
científica. Vamos conhecer melhor sobre as contribuições de cada um (MARTINS, 2017):

- Taylorismo: Foi a teoria criada pelo norte-americano Frederick Taylor (1856 - 1915)
que apresentou os princípios da administração científica, como base de sua obra,
que se foca no aumento da produtividade e lucratividade. A produção era tida como
o principal elemento de mudança social, pois os salários estavam condicionados ao
quantitativo que o indivíduo produzia, enquanto que a lucratividade era o elemento
econômico vinculado à eficiência dos processos. Culminando na alienação dos tra-
balhadores e especialização das atividades produtivas;
- Fordismo: Fruto das estratégias de Henry Ford (1863 - 1947) fundador da Ford
Motor Company, almejando melhorar a produtividade da empresa e produzir mais
em menor tempo, proporcionou mudanças profundas nas estruturas produtivas ao
padronizar os produtos, com base em características chave. Enquanto isso, as mu-
danças sociais no trabalho eram firmadas em pilares, como a especialização do
trabalho, repetição das atividades e ciclos produtivos;
- Toyotismo: Similar ao modelo do norte-americano Ford, o modelo japonês funda-
do pelos engenheiros Taiichi Ohno (1912-1990), Shingeo Shingo (1909-1990) e Eiji
Toyoda (1913-2013), buscava melhorar os aspectos produtivos inspirados no For-
dismo, porém com foco na qualidade e flexibilidade das tarefas. Como no Japão
as empresas não dispõem de grandes espaços físicos para estoque, foi o primeiro
elemento modificador do ponto de vista econômico, enquanto na perspectiva social,
a principal mudança foi na efetividade produtiva, reduzindo os desperdícios produti-
vos, com base nas mudanças ocorridas no desempenho do trabalho.

As mudanças nos sistemas produtivos impactaram, positivamente, os aspectos eco-


nômicos, com melhorias estruturais nos processos produtivos, que desde meados dos anos
20 até os dias atuais, têm influenciado as empresas a promover a assegurar sua sustenta-
bilidade econômica. Todavia, os reflexos no campo do trabalho nem sempre foram vistos
com bons olhos, pois aceleraram as atividades a um ponto humanamente incapaz de ser
sustentado pelos trabalhadores.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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TÓPICO
MERCADO DE TRABALHO:
O OBJETIVO DOS ESTUDOS
ATUAIS

O caminho trilhado até aqui é claro, muitos foram os impactos da economia na so-
ciedade, e as áreas acabam por se tornar uma área de influências constantes, em que a
economia e sociologia medem esforços para melhorias constantes em seus respectivos
cenários. Esse embate se tornaria uma nova área de estudos, a sociologia econômica, que
também tem suas fases e atores de acordo com o momento histórico vivido. Dessa forma:

De fato, a sociologia econômica surge no final do século XIX em reação à hege-


monia da teoria econômica marginalista e aos limites evidentes de seu programa
de pesquisa. Teóricos da envergadura de Durkheim, Weber, Simmel ou Veblen, por
exemplo, tentam denunciar os pressupostos teóricos e metodológicos de uma ciên-
cia social que se reivindica independente do meio social (RAUD-MATTEDI, 2005,
p. 127-128).

Para além das questões históricas, a área é influenciada pelos comportamentos do


Mercado, que se trata de uma instituição, e também se aproxima ao fato social, elemento
apresentado por Durkheim. Consiste em comportamentos econômicos que moldam as
interações sociais, com base no sistema de compra e venda, e é tido como uma estrutura
estruturante que condiciona as formas de socialização com base no consumo. Dessa
forma, molda os comportamentos com estruturas de comportamento, e “Durkheim identifica
o mercado como uma das ‘instituições relativas à troca’, no quadro de sua definição da
sociologia econômica como sociologia específica que analisa as instituições relativas à
produção de riquezas, à troca e à distribuição” (DURKHEIM, 1975, apud RAUD-MATTEDI,
2005, p. 128).
A sociedade atual é moldada pela consciência coletiva dos comportamentos que
são influenciados pelas instituições, e isso não é diferente com o Mercado, que constrange
a divisão e execução do trabalho com base nas necessidades das trocas, orientadas pelo

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


31
consumo. Porém, o vínculo criado na troca, não se extingue no ato, indo para além das
fronteiras da economia, criando novos padrões de comportamento e interação social. Com-
portamento este baseado na luta ou conflito de interesses entre os envolvidos, que buscam
maximizar seus benefícios de acordo com a ótica interacionista, firmada pelo contrato, que
pode ser um instrumento jurídico ou social, que estabelece um vínculo institucional entre os
envolvidos (RAUD-MATTEDI, 2005).
Os contratos não são o único formato de instrumento que molda as interações so-
ciais, talvez seja esse o modelo mais utilizado pela economia, todavia, nas questões so-
ciais os formatos são muito mais amplos e antigos, como é o caso dos hábitos, costumes
e tradições. Esses, por sua vez, estabelecem níveis de análise para as questões sociais
direcionadas ao consumo, como frequência nos casos dos hábitos, as ações involuntárias
dos costumes e os significados e motivações para a valorização das práticas nas tradições.
Já nos explicava Weber com as convenções sociais, que as tradições são baseadas
em um senso de aprovação, em casos de discordância de um determinado comportamen-
to, o indivíduo sofre retaliações sociais, como a desaprovação. Da mesma forma que as
empresas buscam constantemente a alta lucratividade e a expansão de seus negócios, a
sociedade valoriza fortemente um senso ético que distingue as questões meramente eco-
nômicas direcionadas ao lucro, das questões sociais baseadas nas necessidades materiais
(RAUD-MATTEDI, 2005).
Em meio a essa dicotomia de interesses, surge o papel do Estado, como meio re-
gulador dos interesses sociais e econômicos. Através das suas atribuições mediadas por
suas instituições, o Estado utiliza a política para constranger o papel da economia e seu
funcionamento, fazendo assim que o liberalismo econômico não subjugue as questões so-
ciais, mantendo a ordem econômica e social. Para isso, o Estado cria uma série de padrões
burocráticos que norteiam o funcionamento das atividades econômicas, como, por exem-
plo, as leis.
O arcabouço jurídico do Estado é baseado em uma série de leis que consideram
comportamentos éticos e morais, que impedem e condicionam as empresas que compõem
o mercado, a prezam pelo bem-estar da sociedade e seus integrantes, sejam esses clientes
ou colaboradores da própria empresa, acima do lucro. Afinal, o Estado é o representante
direto da coletividade, em que os interesses do povo devem ser priorizados e defendidos
por ele, para que assim o capitalismo predatório, representado por interesses individuais,
não se sobreponha aos interesses coletivos (RAUD-MATTEDI, 2005).

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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4
TÓPICO
MERCADOS E CAPITAIS:
INSTRUMENTOS DE
CONSOLIDAÇÃO DA ÁREA

O termo Mercado foi criado para demonstrar a relevância nas interações econô-
micas, em um formato sequencial, similar e uma cronologia. Todavia, quando levado em
consideração que a globalização moldou uma série de interações socioeconômicas e que
dessa forma não existe apenas uma linha e sim várias, representadas pelas redes, o Mer-
cado deverá ser tratado no plural, para que seja possível compreender sua plenitude.
A fluidez dos mercados é amparada nas trocas, que permanece o já menciona-
do jogo de interesses, em que os produtores e consumidores colocam em pauta as suas
necessidades. Os produtores dependentes da disponibilidade de recursos são orientados
pelas instituições para participarem da competição que ocorre no mercado, enquanto os
consumidores desempenham seus papéis de acordo com a cultura que promovem “signi-
ficados comumente compartilhados sobre o produto, sua moralidade e sua utilidade” (FLI-
GSTEIN e DAUTER, 2013, p. 484).
As mudanças sociais acontecem constantemente, seja pela vontade do estado ou
dos mercados. Este paradigma é quase que um questionamento de prioridades, seja por
quem influencia quem, ou por quem é influenciado, tendo assim uma complexa estrutura
estruturante e estruturada no processo contínuo de mudanças dos mercados. Para tal, é
comum que o mercado passe por períodos de oscilação, em alguns momentos estável e
em outros de confusão, seria essa a forma de promover as mudanças substanciais no de-
correr do processo.
As dinâmicas de mercado acontecem com base no senso de valor, em que entre
o papel dos capitais, que acabam por promover uma estrutura social complexa, e assim
ambos encontram equilíbrio. Se as empresas estão vivendo em um mundo que não con-
seguem replicar suas posições no mercado, nesse caso as relações sociais tornam-se ar-
ranjos temporários de informação ou predispostos para a evolução da modernidade. Como
a variabilidade é constante, os parceiros são selecionados com base em sua utilidade e,

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


33
caso não sejam mais considerados úteis, se faz necessário a busca de novos candidatos
(FLIGSTEIN e DAUTER, 2013).
Como dito anteriormente, os atores se influenciam constantemente, em suma é difícil
identificar qual é “o momento de cada um no cenário”. Como as relações sociais presentes
nos mercados são complexas, é possível afirmar que cada qual se torna responsável por
auxiliar os mercados em suas tomadas de decisão. Assim, até mesmo a interação entre os
mercados são profícuas com base em um sistema de redes e/ou instituições que promovem
suporte para que as relações permaneçam e frutifiquem (FLIGSTEIN e DAUTER, 2013).
Séries de interações acontecem em um espaço/ambiente chamado campo, similar à
lógica de um jogo, que acontece de acordo com um padrão de regras dentro de um campo,
com seus respectivos espaços compartilhados. Para isso, a sociologia econômica tem uma
série de elementos que a tornam uma complexa ciência que se destaca com autonomia e
valor; vale ressaltar a economia política, a sociologia de mercado, ou sociologia do trabalho,
tão aprofundada até esse momento, e outros elementos que continuam sendo permeados
por outras áreas, como é o caso da teoria organizacional, herdada da administração e que
será futuramente trabalhada neste material.
Coloca-se em check a capacidade dos Estados em influenciar os Mercados, consi-
derando tantos atores condicionantes, que impactam nos processos constantemente me-
dindo forças com as ordens institucionais criadas. Como é o caso do capital, que se torna
princípio e fim, inicialmente como financiador de meios produtivos e custeio de mão de
obra, e fim, expresso pelo lucro criado com a multiplicação dos valores. Dessa forma, os
Estados teriam o poder de controlar os mercados em suas complexidades? Dado que:

Os governos deveriam intervir nos mercados de modo a estabilizá-los e prover


proteção social aos trabalhadores, assim como regras para guiar a interação entre
os grupos capitalistas. As formas de fazê-lo seriam necessariamente contingentes,
de modo que a variação institucional histórica poderia explicar a variação entre na-
ções nas estruturas dos mercados (FLIGSTEIN e DAUTER, 2013, p. 486).

Para tal afirmação, é pertinente dizer que os mercados, compostos por seus atores
e cenários, são constantemente influenciados por múltiplos aspectos, sejam institucionais
ou não. Cabendo aos estudiosos da área analisar um recorte ou característica da complexa
gama da sociologia econômica, para que então cheguemos a uma análise causal.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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Mercado deve ser entendido como o “local” onde operam as forças da oferta e demanda, por meio de
vendedores e compradores, de tal forma que ocorra a transferência de propriedade da mercadoria por
intermédio de operações de compra e venda.

Fonte: EMATER. Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – SEAPA-DF. Distrito Federal.
Disponível em: https://www.ufrb.edu.br/proext/images/conceitosmercado.pdf. Acesso em: 29 set. 2022.

“O futuro do mercado de trabalho é tecnológico. É o que apontam diversas pesquisas e especialistas ao


redor do mundo, após a pandemia da covid-19 ter acelerado processos mercadológicos que já estavam em
andamento, mas agora fazem parte da rotina dos trabalhadores. Um exemplo é a adoção do home office,
possibilitado pela tecnologia, junto com as reuniões online e videochamadas”.

Fonte: VAZ, E. Tecnologia é o futuro do mercado de trabalho. O Liberal. 2022.


Disponível em:
www.oliberal.com/emprego/tecnologia-e-o-futuro-do-mercado-de-trabalho-1.485574. Acesso em: 29 set.
2022.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá, aluno (a)! Fechando nossa segunda unidade da disciplina de Sociologia
Econômica. Após uma análise, dos principais fatores que influenciaram o surgimento da
área, podemos perceber que existem muitas outras disciplinas que servem como fonte de
análise para as problemáticas encontradas no decorrer da fusão de duas grandes ciências,
que destacam uma possível autonomia nesse ponto de intersecção.
Compreende-se que a sociologia iniciou o processo de construção desse campo tão
vasto de debate, estabelecendo debates com as questões econômicas, na defesa dos objetos
sociais. Conhecemos as convenções como formas institucionalizadas de comportamento
que aprovam ou desaprovam as ações econômicas que impactam as questões sociais.
Também conhecemos as redes de interação que tornam as ações econômicas fluídas e as
mantêm em funcionamento, por meio de inúmeros relacionamentos que buscam assegurar
a competitividade entre as organizações.
Conclui-se que as revoluções são as responsáveis pelas amplas rupturas, promovendo
mudanças profundas nos aspectos econômicos e sociais, da época que ocorreram e após
elas. E que para além das revoluções, as instituições são as responsáveis por assegurar tais
rupturas, condicionando o comportamento social, seja por meio de hábitos e/ou costumes,
ou perpetuando tradições, até mesmo reformulando essas.
Compreendemos que os modelos de produção são mutáveis de acordo com local de
perpetuação, época e cultura. São influenciados por valores sociais que possibilitam sua
proliferação ou extinção, como é o caso do modelo capitalista, que se difundiu e se tornou
tão complexo que deve ser estudado em suas particularidades, para melhor compreensão.
Por fim, compreendemos o papel do mercado, ou mercados, que é o espaço de
atuação de atores econômicos e sociais, em prol do atingimento de interesses individuais
e coletivos. São nos mercados, que as dinâmicas funcionais acontecem, e a disputa de
interesses é travada, seja entre empresas, ou entre empresas e empregados. Além disso,
os mercados são influenciados por uma instituição reguladora, o Estado, que proporciona
regras burocráticas para que se mantenha o equilíbrio entre as questões econômicas e
sociais.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA 36


LEITURA COMPLEMENTAR
Material: Mercado de trabalho: conjuntura e análise.
Autor: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA 2020.
Resenha: Em 26 de fevereiro de 2020, foi oficialmente registrado o primeiro caso da Covid-19
no Brasil. A partir de então, a adoção do isolamento social como principal instrumento de
combate à disseminação da doença passou a ser adotado em maior ou menor grau e
em tempos diferentes por todo o país. Do ponto de vista econômico, o mais expressivo
efeito dessa medida é que inúmeros estabelecimentos – especialmente aqueles que lidam
diretamente com atendimento aos clientes – são obrigados a interromperem suas atividades.
A esses, seguem-se, em efeito cascata, estabelecimentos de atividades que integram suas
cadeias de produção e consumo. Desdobra-se, então, o vigoroso impacto desse processo
no mundo do trabalho. No âmbito dos autônomos, micro e pequenos empresários, há a
cessação – ou redução drástica – da renda; no contexto dos trabalhadores com vínculos
empregatícios (formais ou informais), demissões e reduções salariais.

Fonte: IPEA. MINISTÉRIO DO TRABALHO. Mercado de trabalho: conjuntura e análise/Instituto de Pesqui-


sa Econômica Aplicada; Ministério do Trabalho, Brasília, v.1, n. 0, mar. 1996. Disponível em: http://repositorio.
ipea.gov.br/bitstream/11058/10408/1/bmt_70_trabalho.pdf. Acesso em: 20 ago. 2022.

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA 37


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Economia e Mercado.
Organizador: Cleyton Izidoro.
Editora: Editora Pearson.
Sinopse: Considerando que há muitas obras sobre economia e
suas articulações, o intuito dese livro é transformar uma lingua-
gem que nem sempre é de fácil entendimento em um conteúdo
mais simples, sem perder, no entanto, a qualidade. Seu foco
são as nuances da área econômica como o papel do Mercado.

FILME
Título: O Lobo de Wall Street
Ano: 2014.
Sinopse: Durante seis meses, Jordan Belfort (Leonardo DiCa-
prio) trabalhou duro em uma corretora de Wall Street, seguindo
os ensinamentos de seu mentor Mark Hanna (Matthew McCo-
naughey). Quando finalmente consegue ser contratado como
corretor da firma, acontece o Black Monday, que faz com que as
bolsas de vários países caiam repentinamente. Sem emprego e
bastante ambicioso, ele acaba trabalhando para uma empresa
de fundo de quintal que lida com papéis de baixo valor, que não
estão na bolsa de valores. É lá que Belfort tem a ideia de mon-
tar uma empresa focada neste tipo de negócio, cujas vendas
são de valores mais baixos, mas, em compensação, o retorno
para o corretor é bem mais vantajoso. Ao lado de Donnie (Jo-
nah Hill) e outros amigos dos velhos tempos, ele cria a Stratton
Oakmont, uma empresa que faz com que todos enriqueçam
rapidamente e, também, levem uma vida dedicada ao prazer
(ADORO CINEMA).

UNIDADE 2 SOCIOLOGIA E ECONOMIA: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO CAMPO TEÓRICO DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA 38


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UNIDADE

SOCIOLOGIA ECONÔMICA:
SOCIEDADE DO CONSUMO
E DISTINÇÃO SOCIAL
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Professor Mestre Wilian D’Agostini Ayres

Plano de Estudos
• Os Impactos da Sociologia na Economia;
• O papel das organizações no campo da Sociologia;
• O campo de atuação da Sociologia Econômica;
• O Capital e as Organizações.
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Objetivos da Aprendizagem
• Contextualizar os aspectos sociológicos no campo da economia;
• Compreender os aspectos individuais da Sociologia das Organizações;
• Compreender o papel das organizações na Sociologia Econômica.
INTRODUÇÃO
Olá, aluno (a)! Seja bem-vindo (a) de volta. Essa é a nossa terceira unidade da
disciplina de Sociologia Econômica. Após realizar uma retomada epistemológica dos autores
e suas contribuições para a área, e uma análise estrutural no campo da ciência, se faz
necessário adentrarmos aos objetos propriamente ditos, ou seja, quais são os elementos
que corroboram para a análise de uma problemática social econômica.
Inicia-se com os impactos diretos e indiretos que a sociologia desempenha na
economia, novamente separam-se as ciências para compreensão de seus devidos
posicionamentos, para depois juntá-las em uma relação de estruturas que poderiam ser
denominadas como únicas. Demonstra-se que a sociologia é uma ciência que detém
autonomia em inúmeros aspectos, porém que demonstra flexibilidade para atuar em outros
campos, pois é quase onipresente.
Em um segundo momento, se utiliza de cenário de análise as organizações que
representam os interesses econômicos, do outro lado a sociedade (representada pelos
indivíduos que a compõem), com seus comportamentos e formas de consumo, que são
desenvolvidos por padrões sociais. Apresenta-se formados econômicos inovadores e tipos
de organizações que consideram valores econômicos e sociais em sua concepção, esta-
belecendo um formato misto que incorpora modelos econômicos que comumente estão em
disputa como capitalismo e socialismo.
O terceiro tópico trata do campo de atuação da sociologia econômica, como é o
cenário em que ocorrem as interações, e encontrará princípios econômicos como a
economia monetária, seguidos por questões sociais como a representatividade das
questões individuais no processo de defesa dos interesses, e associação como motivação
para agrupamentos que defendem objetivos compartilhados entre indivíduos.
Por fim, o papel das moedas e seu senso de valor simbólico, ou seja, um objeto
econômico atribuído de perspectivas sociais e culturais que determinam o famigerado
“valor”. Será relembrado conceitos - chave como status social e consumo como forma de
determinação de papéis sociais. Vamos lá?

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 40


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1
TÓPICO

OS IMPACTOS DA
SOCIOLOGIA NA
ECONOMIA
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Nos capítulos anteriores trabalhamos as características do trabalho, do ponto de


vista estrutural, a partir daqui começa uma abordagem trilhada nas relações sociais com
base nos modelos econômicos, mais precisamente o capitalismo. Partindo do pressuposto
que a Industrialização rompeu com os padrões socioculturais e trouxe uma nova forma de
relacionamento entre instituições econômicas e sociais.
A princípio, a sociedade capitalista promove algumas particularidades, como a
aceleração dos meios produtivos como reflexo da industrialização; dessa forma, o trabalho
se molda às necessidades fabris. Com a globalização o consumo também é impactado,
acarretando novas formas de interação entre os meios produtivos e a sociedade. Por
fim, uma consequência dessas mudanças estruturais é a desigualdade social, que se faz
presente nos mais diversos modelos sociais, como consequência do capitalismo. Dessa
forma, surge a indagação, se realmente compreendemos o contexto capitalista?
O capitalismo é um modelo econômico que teve como marco histórico a Revolu-
ção Industrial inglesa no século XVIII, baseado na relação causal entre empregadores e
empregados, se expandiu ao nível global. Hoje, é o modelo econômico que predomina a
nível mundial, e influencia diretamente as relações humanas, baseadas no consumo. Sua
máxima, no que tange ao trabalho, é que as pessoas devem ser autônomas e livres para
a negociação de sua força de trabalho, e também é o principal motivo das desigualdades
sociais presentes na exploração de massa (DIAS, 2014).
Ao analisar o cenário capitalista a partir do ponto inicial, a Revolução Industrial, é
possível identificar alguns pontos de análise, para compreensão das mudanças sociais
ocorridas, consequência desse modelo produtivo, são elas (DIAS, 2014, p. 74):

[...] a) substituição progressiva do trabalho humano por máquinas b) a “divisão do


trabalho” e a necessidade de sua coordenação; c) as mudanças culturais no traba-
lho; d) a produção maciça de bens; e) surgimento de novas funções (empresários e
operários); entre outros.

O primeiro ponto destaca uma realidade que não está muito distante da atual, na
Revolução Industrial os homens perderam espaço para as máquinas, enquanto na atual

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 41


revolução técnico-científica, vemos a perda dos cargos e trabalhos para a automação. A
sociedade passa por um processo de inovação tecnológica impulsionada pela tendência
de super produtividade, para que as organizações consigam progredir, e até mesmo, se
manter no mercado é necessário um ritmo produtivo que nem sempre o trabalho humano
é capaz de suprir.
A divisão do trabalho começou a ser mutável desde o início do capitalismo, é quase
que uma relação de causa e consequência, os cargos e atividades são temporários e ten-
dem a não perdurar por muito tempo. Porém, atualmente essa fluidez dos processos está
impactando as relações sociais em um ritmo antes nunca visto (DIAS, 2014). Por exemplo,
antes o trabalho era dividido em funções ou especialidades, clássico de um ambiente fabril,
mas nos dias atuais, como a automação tem ganhado o espaço no lugar dos operários, a
mão-de-obra humana está restrita a atividades analíticas e criativas. Ficam dependentes as
habilidades nata e inatas dos indivíduos.
Já no ambiente de trabalho, se fez necessário mudanças estruturais e principal-
mente culturais. Dado que os trabalhadores que migraram do modelo de trabalho rural para
o industrial traziam consigo hábitos que não eram perpetuados dentro de uma indústria. O
impacto era claro no que tange a higiene e saúde, em pequenas áreas os hábitos foram
reformulados, dada a necessidade de estreitamentos sociais baseados no respeito aos
espaços compartilhados. A alimentação também passou por mudanças, pois o que antes
era produzido, agora precisava ser comprado, pois o trabalho era especializado por nicho
de mercado (DIAS, 2014).
A disciplina seria a resposta para as mudanças substanciais no local de trabalho e
nas residências, pois a rotina se faz necessária para que as relações sociais (inclusive o
trabalho) sejam profícuos. Outro impacto do êxodo rural foi o baixo índice de profissionali-
zação, o grau de desenvolvimento intelectual dos trabalhadores só passou por melhorias
após décadas da revolução industrial, em consequência na necessidade do trabalhador de
melhorar de cargos e trabalhos, e do mercado por demandar mão-de-obra qualificada para
suas necessidades, reflexo das melhorias tecnológicas.
A Revolução Industrial aconteceu como consequência da necessidade de produção
em massa de bens e serviços, ao contrário do antigo modelo manufaturista, em que um úni-
co trabalhador era responsável pela produção na íntegra de um produto. Nesse novo mode-
lo, os produtos seriam feitos em etapas, em um ritmo acelerado, em que antes era produzi-
do um item, hoje seriam produzidos muitas vezes mais, dado a agilidade das máquinas. Em
contrapartida, os produtos e serviços se tornaram mais homogêneos, a personalização não
seria uma opção neste primeiro momento, pós-revolução industrial (DIAS, 2014).
Dessa forma, os papéis econômicos e sociais estavam estabelecidos, os empresários
(capitalistas) e os trabalhadores (operários), como já trabalhado em unidades anteriores.
Nesse momento, também é estabelecido mais um segmento de mercado, o “mercado de
trabalho”, em que o produto comercializado é a mão-de-obra, baseados em capacitação e
profissionalização, além de disponibilidade de tempo e disciplina. Dado que as jornadas de
trabalho poderiam ir de 14 até 16 horas, e as condições de trabalho eram até insalubres,
também eram permitidos outros padrões como a inserção das crianças no trabalho, além
de tarefas muito repetitivas (DIAS, 2014).

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 42


O trabalho se tornaria o princípio e fim da existência humana, baseado em princípios
como sobrevivência e substituindo o pilar “família”, que reinava antes da revolução indus-
trial. Os grupos sociais também se mesclam e homogeneizaram, como já trabalhamos,
surge aqui a luta de classes, entre os detentores dos meios produtivos (capitalistas) e os
trabalhadores (operários), a partir desse ponto, as relações seriam restritas (ou em sua
maioria) entre estas duas classes, baseadas no senso de exploração da mão-de-obra.
Mas aí vem o questionamento: E nos dias atuais, qual o papel das organizações
(empresas) e do trabalhador? O autor Reinaldo Dias (2014, p. 101), fez as seguintes con-
siderações a respeito:

A organização burocrática e mecânica, rígida, típica da atividade industrial, vai sen-


do substituída por uma nova forma pós-industrial. A nova organização que surge é
dinâmica, flexível, facilmente adaptável às novas situações e ainda pressupõe que
o indivíduo, do nível operacional ao do quadro dirigente, assume um papel decisivo,
intervindo nos processos. [...] O trabalhador tem seu perfil completamente modifica-
do em relação àquele exigido no período Industrial. Agora, o profissional deve ser
flexível, adaptável, crítico, criativo e bem formado, além de ter domínio da informá-
tica e das tecnologias de informação, bem como uma visão multidisciplinar ou do
sistema como um todo. O conhecimento passa a ser a matéria-prima fundamental,
e não mais apenas as habilidades técnicas.

Com as mudanças ocorridas nas relações sociais do trabalho, surgiram novas ins-
tituições, com a finalidade de promover a cobrança nas empresas, mas não de caráter
financeiro, e sim social. Com o advento das ONG’s (Organizações Não Governamentais),
que no Brasil também são conhecidas como OSC’s (Organizações da Sociedade Civil), que
visa gerar pressão nas Organizações Privadas com fins lucrativos, junto ao poder legislati-
vo que assegura direitos trabalhistas, para que as empresas não acabem por sobrepujar o
lucro acima do bem-estar dos trabalhadores.
As referidas pressões exercidas por estes tipos de organizações, com caráter social
é reduzir, talvez eliminar, questões como o trabalho exaustivo e/ou infantil, até fatores mais
extremos como a escravidão. Além disso, temos as questões de proteção ao meio ambien-
te, a diversidade cultural nas empresas (DIAS, 2014). Essas pautas se tornaram prioridade
no pós-revolução industrial, dado a elevada incidência de indústrias que utilizavam méto-
dos ilícitos para ter elevada lucratividade.
Com as pressões exercidas, as empresas aumentaram a diversidade nas organi-
zações, como é o caso da racial e de gênero, e para além disso, ocorreu a redução dos
abusos sofridos pelos trabalhadores (DIAS, 2014). A lógica causal dessas ações é boicotar
empresas que têm suas más condutas expostas, como é o caso de abuso de poder, influen-
ciando os stakeholders (indivíduos que têm relações diretas ou indiretas com a empresa)
como clientes, fornecedores, acionistas e outros, se evadam da empresa, impactando seus
resultados (principalmente o lucro). Por exemplo, você enquanto cliente compraria de uma
empresa que se envolveu em escândalos de crime ambiental e denúncias de trabalho es-
cravo? Possivelmente não, então as empresas se veem obrigadas a seguirem uma deter-
minada conduta ética e moral da sociedade.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 43


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2
TÓPICO
O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES
NO CAMPO DA SOCIOLOGIA

Prosseguindo com a explanação sobre as empresas, as relações de trabalho, assim


como o fomento da economia é baseado em um princípio de troca, assim os indivíduos
se relacionam e mantêm o funcionamento dos processos produtivos. Como já dito, de
acordo com Steiner (2012 apud ROLON, 2020, p. 49) “a sociologia econômica estuda o
que se passa nas trocas entre as condições formais do mercado, a qualidade do produto
e a previsibilidade de troca que não são preenchidas”. Nesse contexto, temos os atores
(empresas e trabalhadores) e o cenário, que são as relações de troca, ou expandindo esse
raciocínio, as disputas de interesses.
As relações de troca, sejam de caráter comercial ou social, como as vendas de
produtos e serviços ou de mão-de-obra propriamente dita, sofrem mudanças constantes,
conforme o contexto histórico e cultural. Para além disso, temos atualmente as mudanças
sofridas pelas melhorias tecnológicas que impactam as formas de desenvolvimento do
trabalho e a disponibilidade de oferta de vagas de trabalho (ROLON, 2020).
Se focar no comportamento dos consumidores e nas formas como racionalizam o
processo de compra, temos inúmeros insights sobre as motivações individuais ou o contexto
coletivo de uma escolha. Como exemplo temos: 1) Quais as características funcionais; 2)
Quais os níveis de satisfação emocional; 3) Quais os benefícios trazidos pelo uso e posse
dos produtos? 4) Qual o nível de qualidade do produto? 5) Quais as informações disponíveis
do produto ou serviço? (ROLON, 2020).
Os fatores de consumo impactam diretamente a troca, como é o caso das motiva-
ções coletivas sobre a compra, que assim como as individuais sofrem o condicionamento
do consumo por fatores institucionais, como família e grupo social. Nesse escopo, se con-
sidera fatores como a dominação através do consumo, ao dispor de um poder aquisitivo;
o status atribuído a um senso de valorização, por “se ter algo”, com a finalidade de obter
a aceitação social, por atingir um determinado patamar social; a afirmação do “Eu”, ao ter
um produto ou receber um serviço que atribua o destaque a uma característica individual,

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 44


que almeja ser enfatizada em grupo, ou até mesmo garanta a retribuição de afeto de um
grupo ou instituição social. Por fim, os dois fatores de maior relevância são a segurança,
que é tida com uma das principais prioridades de um indivíduo ao adquirir um produto, e a
conexão que está sendo estabelecida com o mundo quando se adquire um produto, uma
representação expressa do “Status Social” (ROLON, 2020).
Quando atribuídos os devidos valores sociais aos comportamentos e formas de
consumo, podemos perceber que o mercado expressa as formas de interação social de
acordo com os fatores econômicos. Como é o caso do preço, que em suma, vai além do
custo de produção e margem de lucro, esses reúnem um fator subliminar que é o desejo
que os clientes tem por adquirir aquele produto, e assim seus preços podem ser maiores,
além de um dos princípios primordiais da economia, o da oferta e procura (ROLON, 2020).
A competitividade entre as organizações é clara e cada dia mais célere, e como
maior consequência dessa velocidade desenfreada por representatividade no mercado, te-
mos o esgotamento dos trabalhadores, que vão desde o físico até o mental. Em contrapar-
tida, novos modelos de organizações têm surgido com o passar dos anos, como é o caso
das cooperativas, que representam um novo modelo organizacional, em que o lucro não
é direcionado para um grupo restrito de proprietários, e sim para todos os indivíduos que
investiram neste modelo de negócio.
As cooperativas não são o único modelo de economia solidária, dado que este novo
padrão de produção e consumo segue como tendência nos últimos anos, e rompeu com os
antigos padrões estudados pela sociologia organizacional. O formato clássico de empresas
vem sofrendo mudanças significativas no passar dos anos, com o aumento da representa-
tividade das companhias de capital aberto, das associações, cooperativas, e formatos in-
dependentes de troca econômica, como a economia compartilhada. Todavia, esses temas
serão debatidos na nossa próxima unidade (ROLON, 2020).
Mas afinal, o que é economia solidária? Creio que surgiu essa pergunta no decor-
rer dos estudos, e na sequência foi apresentado o papel das cooperativas, mas para que
possamos compreender com rigor os temas apresentados, vamos nos aprofundar. Eco-
nomia solidária é um modelo econômico descentralizado, no que tange ao monopólio da
posse dos meios de produção, neste formato, todos os trabalhadores também são donos
dos meios produtivos, e o lucro final é redistribuído entre eles. Recebe o nome de economia
solidária, pois surgiu com o intuito de reduzir a desigualdade social, da clássica economia
competitiva, que está ligada diretamente no contexto de luta de classes, e exploração da
mão-de-obra (ROLON, 2020).
Antes da economia solidária, a desigualdade e a exclusão social que imperava no
modelo econômico, era combatido apenas por instituições de defesa dos direitos trabalhis-
tas, como sindicatos, que reuniam representantes de causa na defesa de pautas de seus
interesses (ROLON, 2020). Essas instituições, de cunho político e social, não fomentam
diretamente a economia, já que não eram organizações produtivas, o que restringia sua
participação econômica nas relações de troca.
A economia solidária rompe com antigos paradigmas individualistas e traz como es-
sência ao menos três princípios-chave, como dar, receber e retribuir. Afinal, tomando como

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 45


base o exemplo dado das cooperativas, o poder deliberativo não está concentrado na figura
dos “proprietários”, e sim dos representantes da diretoria, essa por sua vez, é eleita demo-
craticamente de acordo com estatutos e normas estabelecidas por contratos.
As características democráticas desse formato econômico vão além das questões
administrativas, são parte de uma essência causal, norteada pela inclusão social, respei-
to aos laços sociais e relações entre indivíduos. Ou seja, há um anseio humanizador na
existência da economia solidária, que se opõe a padrões difundidos nas organizações clás-
sicas, como o Fordismo e Taylorismo. Fundamentada nos princípios éticos, morais e de
justiça social, que vai contra as questões meramente produtivas de eficiência e eficácia das
organizações, e que negligencia os fatores humanos como os próprios valores.
Poderia ser a economia solidária uma influência do socialismo ou comunismo? Per-
ceba que os princípios basilares do Capitalismo, se tornam socialmente incluídos, e com
este formato ocorre a autogestão das organizações. Dessa forma, é possível perceber que
por mais que um modelo econômico tente sobrepujar as questões sociais, os laços huma-
nos acabam por ser exaltados em diversos momentos, e criam novas formas de consumo
e trocas. Mesmo que a economia solidária seja um formato produtivo que surgiu no ventre
do capitalismo, carrega princípios includentes que tendem a um outro modelo econômico,
porém não passa apenas de um olhar diferenciado para reduzir fatores como a exclusão
social e exploração da mão-de-obra.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 46


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3
O CAMPO DE ATUAÇÃO DA
TÓPICO

SOCIOLOGIA ECONÔMICA

Ao analisar formatos organizacionais como os descritos acima, desembarcamos no


cenário analisado pela sociologia econômica, as relações sociais baseadas em troca e o
consumo. O objeto central da economia é o capital, por sua vez, o da sociologia é a troca,
ou como ela ocorre por fatores sociais, como a valorização, o status e o poder. Dito isso,
é imprescindível analisarmos a importância do dinheiro, afinal de contas, a troca é condi-
cionada pela capacidade do indivíduo de abrir mão de um determinado valor para tomar a
posse de um item ou serviço.
A economia monetária é um modelo que faz parte dos demais, pois considera o
papel da moeda como fator de troca (INÁCIO, 2017). No formato mercantil as trocas consi-
deravam o escambo de itens que detinham um determinado valor, como na antiguidade as
moedas eram literalmente itens de metal, que poderiam variar do ouro, prata, bronze, entre
outros. Mas com o advento da modernidade, deram espaço às moedas impressas no papel,
que estipulam o valor “simbólico”.
Por sua vez, a relação de existência dos novos padrões de moeda diz muito sobre
o estilo de vida nas novas sociedades, assim como demonstra como a representação de
valor é mutável até os dias atuais, com a substituição das moedas em espécie/físicas, pe-
los novos padrões digitais. Essas mudanças são uma consequência do desenvolvimento
tecnológico, porém são impactadas pelas influências das personalidades individuais, pre-
sentes na sociedade.
As Personalidades Individuais são uma expressão já utilizada por Georg Simmel,
ao analisar os comportamentos sociais, e dizem muito sobre a forma que a sociedade
interage com a economia. O autor, já defendia que o comportamento dos indivíduos são
baseados em seus sensos individuais de interesse, ou seja, objetivos e tendências, que por
sua vez influenciam outros indivíduos ou grupos sociais, e em contrapartida também são
influenciados (INÁCIO, 2017). É uma lógica de causa e consequência, em que o motivo da

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 47


existência do ser humano se torna seu princípio e fim, sendo orientado pela capacidade de
persuadir ou ser persuadido.
As interações sociais, através de seus agrupamentos e comportamentos realizados,
são tidas como sociação, pois tem como finalidade a busca por atingir os interesses, ou
seja, as motivações dos indivíduos por estarem juntos (INÁCIO, 2017). Comumente con-
fundida com a socialização, que é a forma que os indivíduos se comportam e interagem
entre si, ou seja, ao socializar se promove a sociação e acontecem as mudanças sociais,
e estabelecem os vínculos entre os indivíduos que compõem os grupos. Isso explica muito
sobre os conflitos de classes inúmeras vezes mencionados neste material.
Mas o que motiva um indivíduo a estabelecer vínculos? Seriam os interesses? Mui-
tas vezes esses indivíduos acabam compactuando interesses que nem mesmo eles podem
expressar de forma clara, pois é uma consequência psicológica. Ou seja, a sociologia é
impactada pela psicologia, da mesma forma que pela economia, como parte de um ciclo
interminável de relações entre as ciências humanas (INÁCIO, 2017).
Se os interesses são influenciados por uma questão psíquica que nem sempre pode
ser externalizada, significa que a liberdade é subjetiva, pois o indivíduo está preso a um
sistema de trocas que proporciona uma disputa constante por seus interesses. Com base
nessa lógica, o valor é estabelecido para os indivíduos com base na proporcionalidade do
sacrifício que é feito para atingir determinados objetivos, e o valor se modifica com base na
proporção do desejo que o indivíduo atribui a um objeto de troca (INÁCIO, 2017).
Seria a liberdade uma utopia? Simmel já trazia em suas obras o fato que liberdade
não é sobrepujado a obrigação, que a liberdade é apenas o fato de contrariedade entre in-
divíduos, de acordo com um senso de poder. Que as obrigações se tornam parte do ser, e
são incorporadas ao modelo econômico e social, ou seja, o objeto de análise da sociologia
econômica é dinâmico e plural por si só (INÁCIO, 2017). Pois, a dependência dos fatores
estruturais da sociedade como a economia, não eliminam o fato das questões particulares
de cada indivíduo continuar existindo, seja expressa pela busca de seus interesses, seja
subliminar em sua existência restrita na mente humana.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 48


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4
O CAPITAL E AS
TÓPICO

ORGANIZAÇÕES

Nos tópicos anteriores, conhecemos o papel do capital como mediador das trocas
entre os indivíduos, assim como as novas formas institucionalizadas que as organizações
adquiriram com as mudanças do comportamento social. Inicialmente se faz necessário
compreender os papéis atribuídos ao dinheiro, são eles (MARQUES e PEIXOTO, 2003, p.
130):

1. As funções e características do dinheiro são definidas estritamente em termos


econômicos;
2. Todos os tipos de dinheiro são semelhantes na sociedade moderna;
3. Existe uma clara distinção entre dinheiro e valores não pecuniários;
4. Entende-se que as questões monetárias estão permanentemente a invadir, a
quantificar e muitas vezes a corromper todas as esferas da vida;
5. O dinheiro detém o poder indiscutível de transformar valores não pecuniários,
enquanto a transformação inversa do dinheiro por parte dos valores raramente é
conceptualizada, ou é mesmo explicitamente rejeitada.

As moedas são uma expressão do senso valorativo de uma sociedade, seu valor é
estabelecido por um padrão cultural e moral previamente adquirido. Desta forma, o valor
simbólico de um “pedaço de papel”, pode variar de acordo com o local onde é utilizado, ou
para a causa a qual se destina (MARQUES e PEIXOTO, 2003). Assim, o dinheiro tem mais
que uma função utilitarista, como estabelece a economia, a sociologia atribuída de ques-
tões antropológicas têm a capacidade de personificar as questões simbólicas.
Similar a lógica de valor atribuído a uma nota, o “tipo” do dinheiro também pode de-
terminar a sua finalidade. Por exemplo, serve para adquirir um item funcional como comida,
mas não para representar uma aquisição social, como um cônjuge. Complexidade que me-
receria uma unidade somente para a representação antropológica de valor, porém, nesta
breve síntese busca demonstrar que a finalidade utilitarista do dinheiro pode ser modificada
com um senso valorativo social.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 49


Se até o dinheiro é uma representação cultural, não seria a economia uma repre-
sentação social dos objetos antropológicos? Uma questão difícil de se ter resposta, porém
com um interpretação baseada em três formas de análise, são elas: 1) Com base em um
sistema de representação e de classificação e relevância, os comportamentos sociais são
condicionados de forma econômica, com base em um sistema simbólico de normas; 2) Que
as metas econômicas podem ser manipuladas por comportamentos sociais tendenciosos,
que não sempre são feitos de má-fé, mas por mera ignorância dos motivos que o validam;
3) Os “gostos”, ou se podemos chamar de opções individuais ou coletivas, influenciam o
comportamento econômico com base na visão (ou atribuição) de valor (MARQUES e PEI-
XOTO, 2003).
Os aspectos de análise social econômica são permeados por diversas influências,
sejam elas de origem social ou antropológica. Todavia, os profissionais e/ou estudiosos
responsáveis por tais análises, devem considerar um outro fator impactante, as
circunstâncias, dado que todo objeto de análise está sujeito a um cenário ou contexto.
Afinal de contas, como explicar a valorização do status?
Os indivíduos buscam constantemente pelo prestígio, que pode ser alcançado
pela capacidade de persuasão ou pelo poder de compra. Esse segundo motivo foca no
uso pecuniário dos bens para classificar e valorizar as pessoas em um contexto social,
atribuindo um papel ou simbologia que caracteriza o “status social”. Para que os indivíduos
possam garantir seu espaço em sociedade, acontece uma disputa simbólica pelo poder de
consumo, para garantir tal espaço.
Como forma de expressão social, temos o consumo, que em uma breve análise
antropológica, constrói o senso de pertencimento do indivíduo para com uma classe ou
grupo social. Ou seja, de acordo com o seu poder de compra poderá receber um status
social, que atribui uma função ou papel social, garantindo representatividade e poder de
falar; dessa forma, “ao adquirirem artigos de prestígio, as pessoas competem por lugares
de status, e o prestígio de um objeto determina-se em função do status social daqueles que
reconhecidamente o consomem” (MARQUES e PEIXOTO, 2003, p. 185).
Os elementos apresentados até aqui demonstram que as novas vertentes da
sociologia econômica consideram inúmeros fatores sociais (quiçá antropológicos), diferente
dos modelos e princípios apresentados inicialmente que eram baseados em padrões em
suma econômicos. Possivelmente uma consequência dos autores da área, que em sua
maioria reuniam economistas, que defendem posicionamentos com uma visão tendenciosa,
mas que com a intersecção com os estudos dos autores clássicos da sociologia, demonstrou
a relação direta entre os dois ramos de ciência.
A construção social da economia se deve às análises dos atores e cenários envolvidos,
como é o caso das instituições que podem ser de origem social ou econômica, como vimos
anteriormente, ou de acordo com o contexto que ocorrem tais interações (de troca) como
no caso das redes ou das organizações, ou como trabalhado por último, nos aspectos
culturais. Consagrou-se assim três níveis de análise para a atual sociologia econômica,
sendo fatores: estruturais, econômicos ou culturais (MARQUES e PEIXOTO, 2003).
A sociologia econômica se faz presente nas organizações através de sua depen-

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 50


dência de recursos, ou seja, para que a economia se mantenha deve haver uma análise
das fontes dos recursos, sejam eles humanos, materiais ou simbólicos. Porém, quando se
analisa esse ramo da ciência enquanto área de domínio, surge o paradigma enquanto ao
futuro da área, pois como foi possível ver até este momento, existem inúmeros conceitos
e elementos que compõem o arcabouço teórico, e com o desenvolvimento da disciplina, é
perceptível que a complexidade que o reserva para o futuro.
Em contrapartida, esse elevado grau de flexibilidade, possibilita aos sociólogos uma
gama de possibilidades de análise, de acordo com os seus objetos de escolha. Onde os
estudiosos podem fomentar e promover um núcleo de análises próprio, incorporando dois
ramos que constantemente buscam sua autonomia de análise, mas se encontram em cons-
tantes debates. É possível indicar inclusive, algumas áreas que ainda não tiveram o devido
fomento, como a relação causal entre direito e economia, que foi pouco aprofundado (onde
é possível trazer luz aos direito trabalhistas), além das novas pautas econômicas e sociais,
consequentes de movimentos amplos como é o caso do desenvolvimento sustentável.
Por fim, alguns desses temas serão tratados na próxima unidade, para que possa-
mos vislumbrar o futuro da área e suas inúmeras possibilidades. Que podem ser desenvol-
vidas por economistas e sociólogos de acordo com suas aptidões e preferências de objetos
de análise.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 51


A Sociologia das Organizações é um ramo da Sociologia que trata de investigar padrões de inter-relaciona-
mento nas organizações, ou seja, nas empresas. O objetivo, além de investigar padrões que influenciam na
implantação, na expansão e no desenvolvimento das organizações, é o de promover o claro entendimento
dos fenômenos em torno das inter-relações sociais dentro da organização que será analisada.

Fonte: MANSUR, Beto. A sociologia das organizações. Portal RH. 2015. Disponível em: https://www.rhpor-
tal.com.br/artigos-rh/a-sociologia-das-organizaes/. Acesso em: 30 set. 2022.

Nem todos que não estão empregados podem ser considerados desempregados.
Você sabia, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nem todos os brasileiros que
não estão no mercado de trabalho podem ser considerados desempregados? Como os seguintes exemplos:

Um universitário que dedica seu tempo somente aos estudos;


Uma dona de casa que não trabalha fora;
Uma empreendedora que possui seu próprio negócio.

Fonte: Adaptado de: IBGE. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php. Acesso em:


13 ago. 2022.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 52


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá, aluno (a)! Como vimos nesta unidade, a sociologia econômica é uma área
relativamente nova, perto de muitas disciplinas já consolidadas. Todavia, é constituída por
dois ramos de ciência robustos e com inúmeros temas já abordados, que passam por uma
nova análise quando trazidos para essa nova ótica.
Estudamos que o Capitalismo surgiu com base em um marco histórico, a Revolução
Industrial, que rompeu com padrões econômicos e sociais ao inaugurar formas de produção
e comportamento sociais, baseados em padrões de trabalho que moldaram as formas da
nova sociedade moderna. Foram divididas as funções no desempenho do trabalho, além
de analisadas as realidades da época enquanto ao ambiente de trabalho no qual as tarefas
eram desempenhadas.
Foi apresentado o papel das organizações pós-revolução industrial, seguido de seus
interesses produtivos (no caso o lucro), diferenciando a essência e papel das instituições
em paralelo com as organizações. Assim como, o papel destas mesmas organizações no
contexto econômico, baseado na demanda de consumo da sociedade, que influencia a
produção de acordo com o comportamento de seus consumidores, que são condicionados
por fatores funcionais, emocionais, culturais e etc.
Conhecemos a economia solidária, que é uma manifestação dos interesses sociais
no campo da economia, como exemplo, as cooperativas. Organizações estas que reúnem
o capital de seus interessados para produzir bens e serviços, e o lucro gerado é redistribuí-
do entre seus integrantes, acarretando em um paradigma que reúne propostas de modelos
econômicos que se mantêm contrapostos, como é o caso do capitalismo (e sua disputa de
classes) e comunismo (com a distribuição das riquezas).
Compreendemos que o dinheiro (representado por moedas) tem um valor simbólico,
consequência de uma interpretação sociocultural de valor. E que os indivíduos estão em
uma constante busca de contemplação dos seus interesses individuais e que para isso se
reúnem em grupos que compactuam estes objetivos, para que tenham mais representati-
vidade. E por fim, que esta busca é baseada em um status social almejado pelo grupo ou
pelo indivíduo!

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 53


LEITURA COMPLEMENTAR
Material: Sociologia Organizacional
Autor: Katianny Gomes Santana Estival
Resenha: As contribuições que serviram de base para a construção dos conceitos de
Sociologia Organizacional tiveram origem nas Ciências Sociais Clássicas e se fundiram
às Ciências da Administração, principalmente a partir do século XX com a ampliação da
visão crítica sobre o papel das organizações na sociedade, a discussão sobre ética das
organizações, suas responsabilidades e objetivos; além da perspectiva reducionista da
lucratividade e da produtividade, com o reconhecimento de que as organizações estão
inseridas em mercados que são estruturas sociais permeadas por relações e interações
entre indivíduos e grupos.

Fonte: ESTIVAL, Katianny Gomes Santana. Sociologia Organizacional. Florianópolis: Departamento de


Ciências da Administração/UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2015. 104 p.: il. Disponível em: https://educapes.
capes.gov.br/bitstream/capes/643228/2/Sociologia%20Organizacional.pdf. Acesso em: 15 set. 2022.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 54


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Sociologia das Organizações
Autor: Reinaldo Dias.
Editora: Atlas.
Sinopse: Este livro aborda as organizações como unidades
sociais, complexas, que apresentam algumas características
universais e que assim podem ser estudadas de modo geral.
Embora a abordagem aqui adotada tenha tido como foco
principal as organizações empresariais, os conceitos e relações
básicas que são apresentados podem ser aplicados a quaisquer
organizações que apresentam alguma complexidade. A obra
inova ao abordar inúmeros temas, relativamente novos, em
Sociologia das Organizações e na análise organizacional de
forma geral, como as organizações econômicas pré-capitalistas
– guildas, manufaturas e companhias de comércio –, as
organizações fordistas relacionadas com as pós-fordistas, a
teoria dos clusters, a competitividade sistêmica, a teoria dos
stakeholders, responsabilidade social organizacional, o capital
social, as cooperativas e o terceiro setor.

FILME/VÍDEO
Título: A Procura da Felicidade
Ano: 2006.
Sinopse: Chris Gardner (Will Smith) é um pai solteiro e
desempregado que precisa viver em abrigos, pois não tem
mais o apartamento onde vivia com seu filho. Ele consegue
um estágio não remunerado em uma grande empresa e se
empenha para mudar sua sorte, mostrando que determinação
é a chave do sucesso.

UNIDADE 3 SOCIOLOGIA ECONÔMICA: SOCIEDADE DO CONSUMO E DISTINÇÃO SOCIAL 55


4
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UNIDADE
PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA

ECONÔMICA E A PROPOSTA

DO DESENVOLVIMENTO
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SUSTENTÁVEL
Professor Mestre Wilian D’Agostini Ayres

Plano de Estudos
• Temas atuais para a sociologia econômica;
• As novas formas de trabalho e a diversidade;
• A perspectiva de gênero na economia;
• A contribuição da disciplina para a construção do desenvolvimento
sustentável.
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Objetivos da Aprendizagem
• • Compreender os novos temas que são trabalhados pela sociologia
econômica;
• • Entender as mudanças socioculturais que impactam a economia,
como a questão de gênero;
• • Estabelecer um parâmetro de análise para a nova sociologia econômica,
com ênfase para o desenvolvimento sustentável.
INTRODUÇÃO
Olá, aluno (a)! Iniciaremos a nossa quarta e última unidade, cuja função é trazer os
temas atuais e projetar uma visão futura da sociologia econômica. Vamos analisar as for-
mas de análise utilizadas pelas ciências em questão para verificar suas formas de atuação,
como índices e levantamentos quantitativos que possibilitam a construção de cenários para
verificação.
Compreenderemos quais os fatores econômicos e sociais que influenciam o compor-
tamento social, como renda e trabalho, assim como os seus mediadores, no caso o direito e
a legislação como as novas formas de regramento para estabelecer relações trabalhistas.
Após falarmos sobre globalização e consumo em unidades anteriores, faz-se necessário
apresentar o conceito de Multiculturalismo e Diversidade, como formas de análise e ação
para as novas construções mercadológicas, bem como suas nuances sociais.
Além disso, vamos analisar as mudanças no papel da mulher e do ambiente domés-
tico e suas influências nas construções de novos aspectos econômicos, seja da mulher
ou das suas influências no contexto histórico, cultural e econômico. Embarcando no tema
ambiente doméstico e trabalho, trabalharemos as mudanças sofridas do rompimento de es-
paços antes restritos a uma única prática e agora que unem, em consequência do advento
da pandemia e evolução tecnológica.
Para fechar, o último tema deste momento será o desenvolvimento sustentável, que
se torna, dia após dia, uma proposta de mudança econômica e social, em consequência
de uma demanda de preservação ambiental e manutenção das demandas de consumo de
uma população mundial crescente, que agora se encontra em um contexto globalizado.
Juntamente ao tema relativo à sustentabilidade, será apresentado uma vertente, que se
enquadra em tendência de consumo atual, a economia colaborativa, também conhecida
como consumo compartilhado, que se torna uma forma de consumo distinto do atual, que
preza por itens exclusivos, e traz a tendência de compartilhamento e senso conjunto, típico
do desenvolvimento sustentável.
Desejo a todos, bons estudos!

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 57


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1
TEMAS ATUAIS PARA A
TÓPICO

SOCIOLOGIA ECONÔMICA
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Em nossa unidade anterior, aprendemos que a sociologia econômica surgiu e


tem sua base no trabalho, mais precisamente nas relações de demanda entre trabalho e
produção. Todavia, nesta unidade compreenderemos os novos elementos que surgiram
com o passar dos anos e a consolidação dessa disciplina; como é o caso dos novos hábitos
de consumo e produção, assim como movimentos mais amplos na sociedade que mudam
suas estruturas.
Quando a teoria se torna realidade, a complexidade dos elementos se torna presente,
é o caso dos índices. A economia modifica seus comportamentos e estruturas através
do PIB (Produto Interno Bruto) esse indicador é o responsável pela soma das riquezas
produzidas por um país e um determinado período de tempo. Porém, quando analisado do
ponto de vista social, surge a crítica: Como medir a qualidade de vida de uma população,
ou seja, o trabalhador? Para essa necessidade, se faz necessário outro tipo de indicador, é
o IDH (Índice de desenvolvimento Humano), que medirá a qualidade de vida da população
(SCHWARTSMAN, 2020).
No Brasil, esses índices são responsáveis por direcionar comportamentos econômicos
e sociais para buscarem equilíbrio. Pois, como já visto, há uma “disputa”, ou seja, um
elemento causal entre economia e sociedade que medem forças, baseadas em interesses.
E, dentro do âmbito nacional, temos uma instituição responsável pelo levantamento de
diversos índices, além desses, com a finalidade de regular as ações e políticas para diversas
áreas, principalmente estas duas macro.
Ao ler essas informações, é possível compreender que PIB é algo negativo para as
questões sociais, mas essa máxima não se aplica, pois se esse índice for utilizado para
medir uma determinada realidade, como, por exemplo, a renda familiar ou “PIB Per Capita”
(Renda por pessoas/indivíduo), teremos os rendimentos de um indivíduo. Dessa forma, é
possível medir a qualidade da distribuição de renda e ganhos de uma família ou classe social
(SCHWARTSMAN, 2020). Refletirá nas estratégias de planejamento de cunho econômico

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 58


e social de um determinado governo, secretaria ou ministério, ao prospectar melhorias
pontuais na realidade de uma determinada população, no que tange aos rendimentos
familiares, dado que renda é qualidade de vida.
Os fatores negativos vinculados ao PIB, correspondem às atividades fins das orga-
nizações, impactando diretamente no bem-estar da população. Nesse caso, as indústrias
no decorrer do seu processo produtivo podem gerar poluição impactando na saúde das
pessoas que estão convivendo com o foco da poluição (SCHWARTSMAN, 2020).
Para medir as características positivas que podem ou não estar vinculadas ao PIB,
surge o IDH que medirá características que vão além da renda, como perspectiva de vida,
acessibilidade e educação e tempo de instrução (SCHWARTSMAN, 2020). É inegável
que o PIB “Per Capita” tem números equiparados aos do IDH, todavia, não são elementos
sinônimos e sim complementares, e não substituem a importância de cada um, em diversos
pontos de análise social.
Nesse ponto, surge a indagação: “Mas o que esses índices têm de relação com o
objeto central da sociologia econômica, o trabalho?”. Para responder tal inquietação, é
preciso compreender que a relação é intrínseca, ou seja, não haverá PIB, IDH ou outro
índice sem as relações trabalhistas. É necessário medir o desemprego para calcular o
crescimento econômico, pois por mais que ainda haja uma progressão, a economia só
permanecerá em ascensão se o desemprego estiver controlado, pois é uma relação de
consequência, se o desemprego é alto o consumo também é reduzido (SCHWARTSMAN,
2020).
Para as questões econômicas serem condicionadas a fatores sociais, outros índices
surgem para calcular tais necessidades e expectativas, são eles (SCHWARTSMAN, 2020):

- PIA (População em idade Ativa): São indivíduos que podem trabalhar e tem idade
adequada para o desempenho de atividades profissionais, em torno de 14 anos;
- PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios): Levantamento utilizado
para medir questões sociais, como procura por trabalho ou trabalhador em atividade
(gerador de renda familiar);
- PEA (População Economicamente Ativa): São os indivíduos que estão trabalhan-
do e promovendo renda, seja individual ou familiar.
Esses índices são responsáveis pela análise e definição dos gráficos de desempre-
go, pois medem os indivíduos que precisam trabalhar, aqueles que querem, assim definin-
do a quantidade de desocupados ou força de trabalho ativa. Se um país tem um elevado
índice de população economicamente ativa, significa que a expectativa de consumo é alta
e, consequentemente, o PIB será alavancado em proporções (SCHWARTSMAN, 2020). E
quando falamos em consumo, as expectativas de consumo fazem parte de uma progressão
econômica, mas essas têm mudado, de acordo com as novas tendências de consumo.
Como estudado em outras unidades, as características de consumo dizem muito
a respeito de um modelo social e cultural. O incentivo ao consumo é algo corriqueiro na
sociedade e influencia tanto a economia quanto a sociedade; porém, nos últimos anos, em
consequência de um cenário de déficit de renda, surge a pauta de educação financeira. Os

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 59


indivíduos gastam mais que ganham e acabam ficando endividados, e quando o consumo
cai para regular essas situações negativas, se faz necessário deixar o consumo para de-
pois, até que o crédito seja restaurado.
Nessa questão acima, temos dois cenários, o consumo desenfreado e a poupança.
O Primeiro é o consumo exacerbado que rompe os padrões de renda x consumo, e entra
em um estado de regulação em que se deixa de consumir e se prioriza apenas o essen-
cial. No segundo, temos aqueles que almejam contenção para projetar consumos de maior
escala; nesse cenário, os indivíduos criam poupança, e durante esse processo deixam de
consumir (SCHWARTSMAN, 2020).
A poupança também pode ser considerada como investimento, e para que tais in-
vestimentos sejam feitos em um cenário que nem sempre retira parte dos ganhos é uma
opção, surge a renda informal ou variável. Este tipo de renda impacta diretamente no PIB,
pois nem sempre é possível mensurar corretamente, ocasionando uma área cinzenta nos
índices e suas formas de aplicação. E quando se fala em trabalho informal, a tendência
atual é que por mais que os indivíduos detenham de um trabalho formal, seja para suprir
dívidas ou gerar poupança, essa é uma opção cada dia mais presente nos cotidianos dos
trabalhadores. Possivelmente a sua!

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2
TÓPICO
AS NOVAS FORMAS
DE TRABALHO E A
DIVERSIDADE

O primeiro elemento aqui trabalho será o trabalho informal, que deve ser compreen-
dido neste contexto como qualquer tipo de atividade remunerada que não está vinculada a
CLT (Código de Legislação Trabalhista). Desta forma, os profissionais liberais (conhecidos
também como autônomos), não têm direito a seguro desemprego, Fundo de Garantia por
tempo de serviço, afastamento remunerado em caso de acidentes e etc (XAVIER, 2014).
Este tipo de trabalho é crescente no Brasil, é muito comum em algumas regiões, em con-
sequência da renda extra, já apresentada.
Esta modalidade de trabalho tem prós e contras, mas a atualidade de sua discussão
diz respeito ao chamado atual projeto de política neoliberal de incentivo a do Estado de
Auto Providência. Isso significa que a previdência social, antes garantida em sua maioria
pelo Estado/Governo, se tornou responsabilidade do cidadão, que organiza seus ganhos
financeiros para criar uma reserva de longo prazo para a aposentadoria (XAVIER, 2014).
Outra área dessa ideologia prega a autonomia no trabalho e nos rendimentos, em que o
trabalhador não fica condicionado às políticas do Estado para sua aposentadoria e seguri-
dade social.
A dicotomia de princípios ultrapassa as questões de seguridade social, pois é
um elemento de longo prazo, como já dito. Os paradigmas atuais, a curto prazo, são a
autonomia do trabalhador, que produz e tem seu retorno de acordo com sua disponibilidade
de tempo e esforço, dado que com o advento da administração da produção os trabalhadores
assalariados são cobrados por altos índices de produtividade, que em muito ultrapassa seus
rendimentos, e com a autonomia o trabalhador teria o retorno financeiro correspondente ao
seu esforço (XAVIER, 2014).
O trabalho informal tem pontos positivos para a organização do trabalhador, todavia,
a informalidade não quer dizer ilegalidade, pois muitos trabalhadores não declaram seus
rendimentos para evitar tributações. Pensando nisso, surgiram diversas políticas de incenti-

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


61
vo como é o caso da MEI (Micro Empreendedor Individual) onde o trabalhador poderá emitir
nota fiscal sobre seu serviço e terá isenção de tributações conforme a margem proposta
(XAVIER, 2014). Para além disso, o empreendedorismo é estimulado no âmbito nacional,
e muitos trabalhadores têm dupla jornada, com trabalhos formais e informais, para comple-
mentar renda e almejar sua futura autonomia e aposentadoria.
A Diversidade e/ou Multiculturalismo são elementos que trabalham juntos, e
com a globalização se tornaram potencialidades organizacionais. Dito isso, é importante
salientar que o multiculturalismo é um panorama que surgiu com a mundialização, é
caracterizado pela incidência de mais de uma cultura e/ou elementos culturais em um único
país, ambiente ou organização (SOUZA, 2017). Essas características podem ser desde
hábitos até questões religiosas, sendo vistas pelas organizações como um potencial meio
de promover a inovação em seus sistemas e processos. Similar à questão da autonomia
no trabalho, é um traço cultural Norte-Americano que se torna presente em diversas outras
culturas, como a brasileira.
Os aspectos multiculturais estão presentes em todas as camadas da sociedade,
inclusive a produtiva, e os meios de produção são impactados com essas caracterizações
frequentes, trazendo à tona novos elementos e configurações econômicas. Inclusive, mui-
tos governos têm o hábito de lidar com problemáticas socioculturais com base no “padrão
multi”, assim conseguem trabalhar de forma imparcial e policêntrica as demandas (SOUZA,
2017). Como dito, as estratégias empresariais ou governamentais são baseadas em um
senso de diversidade, seja de indivíduos ou características culturais.
Nas questões de consumo, esse padrão de sociedade multicultural rompe com an-
tigos hábitos, e recria o padrão de consumo. Com a necessidade de satisfação de desejos
imediatistas, com a quebra de antigos hábitos sociais, criação de valorização dos indiví-
duos com base em seu consumo e uma forte influência publicitária. Desta forma, os hábitos
são construídos e reformulados constantemente por uma cultura de massa, ou se podemos
chamar de cultura de consumo, em que tudo se torna uma necessidade constante (SOUZA,
2017).
Um exemplo é o fato de que a demanda por profissionais com disponibilidade de
tempo se tornou crescente, e um novo cenário de trabalho surgiu com a reformulação das
relações trabalhistas. Assim, os serviços se tornam o setor econômico com maior projeção
no momento e que têm autonomia da indústria, pois o produto se torna o conhecimento do
profissional e o diferencial é a qualidade de disponibilidade de tempo.

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 62


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3
TÓPICO
A PERSPECTIVAS
DE GÊNERO NA
ECONOMIA

A atuação profissional já foi discutida aqui, assim como a questão da diversidade e


multiculturalismo. Para iniciar, se faz necessário compreender o papel de duas novas ten-
dências de trabalho, que acabam por impactar a realidade cotidiana; a primeira, o trabalho
doméstico e as perspectivas da informalidade ou formalização dessas atividades. Por sua
vez, a segunda, o home office e/ou teletrabalho como um novo modelo de oferta de mão-
-de-obra.
As bibliografias da área de sociologia econômica perduraram por muito tempo no
estudo das relações de trabalho para com as grandes corporações, porém as atividades
trabalhistas realizadas no âmbito doméstico se fazem presente neste debate atual. A tam-
bém chamada de economia doméstica, pode ser estruturada em 4 (quatro) interpretações
básicas, duas baseadas no trabalho e duas nas questões financeiras. São elas (ZELIZER,
2010):

1) O trabalho doméstico, a sua informalidade e necessidade é um paradigma, pois por


muitos anos o trabalhador doméstico era plenamente informal e sua necessidade se
tornou crescente com tendência do mercado de aumento das cargas horárias e au-
sência dos indivíduos em casa. Trabalho concentrado em trabalhadores com baixo
índice de formação e com baixos salários, além de ausência se seguridade social;
2) O trabalho doméstico, grande parte deste regime de trabalho é concentrado nas mu-
lheres, por uma consequência histórica e cultural, deixaram a função “do lar”, para se
profissionalizar e seguir carreira no mercado. Todavia, o seu antigo posto patriarcal
deixado, foi preenchido por outras mulheres, que não conseguiram a mesma equi-
dade de acesso à educação e seguem vendendo sua mão-de-obra com os padrões
descritos acima;
3) O custo doméstico é uma forma de analisar o padrão de vida e consumo das pes-

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 63


soas e o salário dos profissionais fazem parte desta composição, e por isso, são tão
reduzidos, pois compactuam com os custos da casa;
4) O custo das atividades domésticas impacta diretamente na renda familiar, deve ser
rateado entre os integrantes e escalonado entre os itens de higiene, limpeza, ali-
mentação e na maioria dos casos como último salário do trabalhador doméstico. Por
isso, essa área tem uma instabilidade cada dia maior, trazendo o advento da venda
por diárias e as empresas de home care.

Como uma menção honrosa nessa explanação, os profissionais domésticos são


tidos como “membros da família”, para dessa forma, demonstrar uma gama de possíveis
direitos que não acontecem na prática. Além das atividades convencionais, ainda temos o
papel de cuidado com as crianças, que crescem com maior presença destes profissionais
do que dos pais ou demais integrantes familiares.
O tema ambiente doméstico recebeu uma nova face após a Pandemia de Covid-19,
que subjugou os antigos modelos de trabalho presencial e fizeram com que as empresas
se adaptassem às novas necessidades, como o distanciamento social compulsório. Os
antigos padrões de horário e a ruptura dos ambientes fizeram com que as relações de
trabalho assim como vários outros processos fossem mediados pela tecnologia. Assim, os
profissionais trabalham a partir daquela necessidade em casa, utilizando a internet para
acessar os sistemas da empresa e seguirem com suas atividades (DUTRA e GIRASOLE,
2020).
O Teletrabalho, também conhecido como Home Office, trouxe novas formas de
relacionamento trabalhista, como é o caso do cartão ponto substituído por aplicativos, a
produtividade dos indivíduos foram cada dia mais mensuradas através de dashboards, que
informaram através de infográficos o que o trabalhador oferecia como índice de produção
(DUTRA e GIRASOLE, 2020).
Com o fim da Pandemia, as empresas perceberam que essa metodologia de trabalho
se mostrou mais promissora, pois reduziu a demanda por espaço físico e gastos supérfluos,
já que os hábitos seriam mantidos pelos trabalhadores em suas casas. O que fez com que
o mercado de trabalho mantivesse a demanda por esse regime de trabalho para diversos
cargos, dado que desta forma, também poderiam captar profissionais com alta capacitação
em diversas localidades, sem que se torne obrigatória a presença física do mesmo (DUTRA
e GIRASOLE, 2020).

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4
TÓPICO
A CONTRIBUIÇÃO DA
DISCIPLINA PARA
A CONSTRUÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

Aqui se inicia o último tópico de análise de nosso material, e será tratado em particular,
considerando sua relevância para a disciplina. Falar de sociologia econômica, sem falar de
um tema atemporal como desenvolvimento sustentável, é quase que indissociável, pois
não há um marco que limite quem surgiu primeiro a disciplina ou o tema.
No decorrer desse texto, falamos de dois pilares essenciais de análise, a economia e
a sociedade, para além desses, falamos sobre as formas de interação que são o trabalho,
produção e consumo. Estes pilares são representações das formas de construção da
disciplina, ou seja, cenário e atores em ação, e assim como todas as demais disciplinas
sofrem influências pontuais (por tema) e estruturais (por movimentos), e com a sociologia
econômica não foi diferente, com a chegada da proposta de desenvolvimento sustentável.
O desenvolvimento sustentável é um movimento econômico e social que surgiu
em meados dos anos 80, em consequência dos debates governamentais provenientes da
agenda internacional de meio ambiente. Antes disso, era conhecido apenas pelas propos-
tas de preservação ambiental, mas com o desenvolvimento das reuniões governamentais
foram incorporadas as pautas de desenvolvimento econômico e social, buscando uma coe-
xistência harmônica entre os dois fatores (RODRIGUES, 2012).
O início do processo desse movimento é marcado pelo ambientalismo, que se
destacava por um protecionismo ao meio ambiente, porém com o aprofundamento dos
diálogos sobre essa temática, foi perceptível que as causas eram baseadas no sistema
produtivo predatório (RODRIGUES, 2012). O trabalho enquanto elemento central da
sociologia econômica, também se torna propulsor dessa prática de mudança, que a
economia desempenha perante o meio ambiente, e o consumo se torna o ponto focal de
relacionamento entre a sociedade e o meio ambiente, mediado pelos meios produtivos.
Com a apresentação do conceito de desenvolvimento sustentável, ocorreu a con-
solidação de três atores centrais no processo de análise de influência da área, ou também

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 65


chamados de pilares, são eles: Ambiental, Econômico e Social. Nesta sequência, determi-
nam como cada elemento foi incorporado à pauta de meio ambiente e assim se tornaram
um só tema, para que possa compreender melhor sobre a áreas de atuação de cada pilar,
como descrito por Rodrigues (2012):

- Pilar ambiental: Corresponde às demandas iniciais de preservação do meio


ambiente em detrimento da exploração desenfreada, que acarretaria na escassez de
recursos para as gerações futuras e na poluição do meio ambiente;
- Pilar Econômico: Está vinculado à economia e seus meios produtivos, e
corresponde ao mercado e indústria, que através de seus produtos e serviços suprem as
necessidades da população;
- Pilar Social: É baseado na caracterização dos hábitos (principalmente de consumo)
da sociedade, e que impulsionam a economia a explorar o meio ambiente para produzir itens
que supram tais demandas e assim mantenham um ciclo condicionado pelo consumismo.

O desenvolvimento sustentável é uma proposta de modelo econômico estruturado


em qualidade e não quantidade, é similar à lógica apresentada nas relações entre os
conceitos de PIB e IDH, enquanto o atual modelo econômico é pautado em proporções, o
desenvolvimento sustentável é condicionado por eficiência. Considerando este fator causal,
surge um novo elemento que impacta os resultados propostos, “O Tecnológico”, pois a
tecnologia seria a responsável pela redução dos impactos no meio ambiente, assim como
aumentar e eficiência do uso de recursos naturais (RODRIGUES, 2012).
Mas creio que deve ter pensado: “Seria?”. É colocado no futuro, pois ainda existem
vários formatos produtivos que ainda carecem de tecnologia limpa, que realmente reduz
impacto ambiental ao mesmo tempo que não influencia na qualidade de vida da população. A
ausência de tecnologia de produção para determinados fins, deixa uma indústria em estágio
estacionário e a mercê do surgimento de métodos que correspondam às necessidades do
setor/atividade econômica (RODRIGUES, 2012).
Mas considerando o crescimento econômico como uma forma correta do padrão social,
se a economia cresce a sociedade se torna mais includente com isso? Tal questionamento é
uma incógnita, pois a progressão econômica não equivale a industrialização e nem a melhoria
na qualidade de vida. A proposta do modelo econômico incentivado pelo desenvolvimento
sustentável é o projeto social de igualdade, equidade e bem-estar (RODRIGUES, 2012).
Essa temática é muito pertinente para a disciplina, pois fala de restrição de recursos
e distribuição para com a população, estes recursos são classificados como renováveis
e não-renováveis, pois os primeiros podem ser gerados com base na administração ade-
quada da produção e maximização dos meios produtivos, já os segundos estão fadados ao
fim, e muitos produtos estão dependentes das matérias-primas provenientes deles, como é
o caso do petróleo (RODRIGUES, 2012).
O maior paradigma da crise ambiental é a energia, dado que as maiores fontes de
energia são combustíveis e consequentemente recursos não-renováveis. Mas, além disso,
a poluição gerada por estes tipos de recursos acabam acarretando no bem-estar da popu-

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 66


lação e acelerando o efeito estufa, que gera catástrofes naturais, modificando o padrão de
vida da sociedade (RODRIGUES, 2012).
Os sistemas produtivos são baseados no consumo, e em uma sociedade
consumista, a tendência é que o meio ambiente continue sendo explorado de forma
desenfreada para suprir tais características. E com o advento da globalização, o consumo
se tornou desproporcional, rompendo com barreiras geográficas e trazendo novos padrões
de distribuição, tornando a distribuição e acessibilidade desigual, e tudo fica restrito ao
poder aquisitivo do indivíduo (SOUZA, 2017).
A chamada cultura do consumo é um ciclo interminável, na qual a publicidade e
marketing propagam uma lógica de valor para a sociedade que compra para ganhar re-
presentatividade e status social, como trabalhamos na primeira unidade. Todavia, como
a expansão dos mercados a competitividade entre as grandes corporações aumentou e o
incentivo ao consumo é crescente, ao contrário da disponibilidade de emprego, que está
em queda, e sem renda não há consumo (SOUZA, 2017).
As formas de consumo são mutáveis e fluídas, é ousado dizer que a cultura do con-
sumo é permanente, porém não é precipitado afirmar que as suas formas são voláteis e são
baseadas no senso de valor da sociedade. Como dito, inúmeras vezes e de vários formatos
diferentes no decorrer deste material, a relação dos comportamentos sociais e econômicos
são inúmeras; além disso, devem ser analisadas de acordo com o momento histórico e polí-
tico. Por exemplo, em decorrência da tendência instaurada pelo desenvolvimento sustentá-
vel de controlar o consumismo e explorar novas formas, surgiu a “Economia Colaborativa”.
Economia Colaborativa é o termo utilizado para distinguir um formato econômico
baseado no compartilhamento de itens, principalmente produtos. Nele, os consumidores
não precisam adquirir um produto de médio ou alto valor para suprir uma demanda, como
um carro, são fretados os benefícios de se alugar o item por tempo determinado, sem ter
um ônus elevado e solucionando sua necessidade (MARGARIDO, 2022). Esse formato
também é difundido como consequência da autonomia de realizar um serviço com acesso
a tutoriais, se tornando necessário apenas as ferramentas, o chamado popularmente de
“faça você mesmo”.
Esse formato econômico é baseado em uma série de princípios lógicos e funcio-
nais, e impulsionado pelos anseios do desenvolvimento sustentável que busca reduzir o
consumo exagerado e consequentemente o desperdício. São características da economia
colaborativa (MARGARIDO, 2022):

● Acessibilidade a produtos e serviços;


● Promover um padrão de consumo mais includente e sustentável;
● Autonomia do consumidor, frente ao mercado de serviços;
● Otimização de uso de produtos, reduzindo o descarte ou ociosidade;
● Estímulo ao aprendizado e ao uso de recursos conjuntos;
● Cooperação social e valores compartilhados;
● Favorecimento da inovação por meio do compartilhamento;
● Estímulo para criação de produtos que sejam intuitivos e dinâmicos, assim como
reutilizáveis.

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 67


Desta forma, esse padrão de consumo inovador é baseado em um senso de consumo
atualizado, que reduz custos financeiros, evita exploração de matérias-primas e promove
um novo padrão de comportamento social condicionado pelo consumo. Teve seu princípio
fundamental em um movimento social involuntário que rompe com os padrões clássicos
de interação econômica, a “contracultura”, que nada mais é do que um modelo de troca
realizado de forma direta, entre pessoas, sem a necessidade direta de uma organização.
Comumente estas interações econômicas necessitam apenas de um método tecnológico
que as una, como é o caso dos aplicativos, cada dia mais tecnológicos (MARGARIDO,
2022).
Inovar é o princípio e o fim do formato de economia compartilhada, ou seja, a forma
em si é inovadora ao mesmo tempo que estimula que as inovações ocorram constantemente.
Um outro exemplo, que demonstra isso é o coworking, formato estrutural de negócios
que explora a interação social como meio de atingir inovações, promovendo networking
e compartilhando experiências (MARGARIDO, 2022). Este exemplo é basicamente um
espaço físico planejado, como um escritório, que possibilita vários profissionais utilizarem
essa estrutura para trabalharem, porém, não restringem acesso a uma única empresa, e
sim é um local acessível para representantes de diversas empresas que se beneficiam do
que lá é oferecido, ao mesmo tempo que buscam networking e fontes de negócios.
Outra forma de expressão econômica que surge como consequência de ambientes que
promovam a inovação é a economia criativa, que busca novas formas e fontes de negócios
com base em necessidades específicas. Como consequência direta da necessidade de
atualização das demandas sociais e formas de negócios, as formas econômicas e sociais
são cada dia mais fluidas, ou seja, mudam constantemente, trazendo uma ênfase para a
atuação da sociologia econômica, que tem por missão estar analisando constantemente
essas mudanças.
A sociedade do consumo não consome mais sem significado e busca facilidade em
todas as suas buscas, desta forma, a tecnologia promove tais comportamentos, ao mesmo
tempo que é demandada por soluções frequentes. A autonomia de consumo é influenciada
pela nova visão de mercado e sociedade, consequência das propostas de desenvolvimento
sustentável, baseada na responsabilidade social, que atribui uma “responsabilidade” indi-
vidual para pessoas e empresas, de comportamentos que as responsabiliza por seu papel
econômico e social.

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 68


O crowdsourcing consiste em uma das formas de definir o que é a economia colaborativa, pois sinaliza
uma maneira de gerir negócios e gerar valor que, de certo modo, envolve alguma espécie de público em
seu processo. [...] É o ato de delegar uma função, um processo ou a gestão de um recurso a um grupo
de agentes externos, frequentemente efetuado por meio de uma chamada aberta ou relativamente não
discriminatória.

Fonte: Margarido (2022).

Consumo colaborativo e economia compartilhada, por exemplo, referem-se, basicamente, à mesma coisa,
ao mesmo tempo que dão destaque a componentes ligeiramente diferentes da mesma questão.

Fonte: Margarido (2022).

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 69


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olá, aluno (a)! Enfim chegamos ao fim de mais uma unidade. No decorrer desta
unidade, vimos os termos e temas mais atuais que são explorados pela sociologia
econômica, como é o caso do PIB e IDH, demonstrando assim a necessidade de indicadores
(metodologia clássica da área econômica) para mensurar cenários e projetar ações futuras
para determinadas necessidades, com foco no bem-estar social (foco atual da perspectiva
sociológica).
Para além dos indicadores, foram postos outros índices que demonstram que a
sociedade é indissociável da economia, por fatores de necessidades e correspondência
de meios, como trabalho para promover renda, e capital para compra de bens e serviços,
que vão suprir tais necessidades. Por sua vez, foi trabalhado alguns aspectos do direito
como um dos mediadores das relações de trabalho, cumprindo um papel fundamental de
proteger os trabalhadores dos abusos dos meios produtivos através de imposições de
condutas éticas e fiscais.
Concluímos que o multiculturalismo é uma fonte de inovação a ser explorada pelas
organizações, assim como forma de incentivar as mudanças sociais consequentes da
globalização. Assim, como necessidade de promoção da diversidade das organizações para
promover a sustentabilidade dos negócios, que são uma consequência direta de mudanças
sociais que já estavam em curso, como o caso do papel das mulheres na sociedade, que ao
deixarem o lar abriram espaço para novas relações de trabalho, em ambiente doméstico,
também chamado de “care”.
As mudanças domésticas, foram além das perspectivas profissionais das mulheres,
nos dias atuais surge o padrão “home office”, que rompe com as limitações de local do
trabalho e/ou residência e funde ambas as finalidades, com o auxílio da tecnologia que se
torna protagonista nas novas tendências de trabalho.
Por fim, conhecemos o desenvolvimento sustentável, nova proposta econômica e
social para hoje e voltada ao amanhã, que busca a manutenção dos processos produtivos
ao mesmo tempo que garante melhor qualidade de vida para a sociedade. Com aspectos
éticos e morais, para além da lucratividade e benefício restrito aos detentores dos meios de
produção. Fecha-se com a economia colaborativa, uma tendência atual, que surge como
forma de reduzir o consumismo e promover acessibilidade aos consumidores, uma das
primeiras formas mercadológicas que surgiram dado a proposta sustentável, de muitas que
serão trabalhadas pela sociologia econômica.

UNIDADE 4 PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA ECONÔMICA E A PROPOSTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 70


LEITURA COMPLEMENTAR
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD),
Rio+20, propôs-se a discutir o tema da economia verde no contexto da promoção do
desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza. A realização da conferência
suscitou inúmeras iniciativas nacionais e internacionais que buscavam debater não apenas
o que seria uma economia verde, mas, sobretudo, que impacto ela poderia provocar sobre
as rotas de desenvolvimento de todos os povos.
Este livro (abaixo) reúne reflexões sobre o tema “economia verde”, desde seus
aspectos conceituais e instrumentais até os relacionados aos desafios globais e às relações
internacionais. Com tantas questões em jogo, a economia verde é ainda uma possibilidade
em aberto, a ser discutida e desenhada segundo os interesses dos principais atores. Não
se trata, portanto, de apresentar conclusões ou orientações definitivas, mas trazer pontos
centrais a serem considerados nas escolhas que serão feitas nos próximos passos.

Fonte: CGEE (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS). Economia verde para o desen-
volvimento sustentável. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2012. 228 p. Disponível
em: https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/Livro_Economia_Verde_web_25102013_9537.pdf/
d42012b6-a5d4-488d-8bc0-680662c47d89?version=1.4 Acesso em: 21 ago. 2022.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Desenvolvimento Sustentável: Dimensões e Desafios
Autor: Ana Luiza de Brasil Camargo.
Editora: Papirus Editora.
Sinopse: Em nenhuma fase anterior da história, a humanidade
teve tanto poder de interferir nos ciclos da natureza e de
alterar ecossistemas vitais quanto o revelado pela sociedade
contemporânea. Os problemas ambientais aumentaram
dramaticamente nas últimas décadas, possuem escopo global
e estão intimamente relacionados com o comportamento
humano. Contudo, constituem apenas uma das várias facetas
de uma crise maior e mais complexa do momento em que
vivemos. Neste panorama, o desenvolvimento sustentável
aparece como proposta de um novo modelo que permite
harmonizar a relação do homem com a natureza e as relações
dos homens entre si.
Conforme comenta a professora Sandra Sulamita N. Baasch
no prefácio, a autora "queria produzir algo para que os alunos,
ao entrarem na área de Gestão da Qualidade Ambiental,
pudessem ler e iniciar seus processos de reflexão sobre
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável". Expressões
do cotidiano, amplamente utilizadas tanto em discursos como
em aulas, mas fragilmente incorporadas em nossas vidas.
Estamos vivenciando um momento de transição para um novo
modelo que ainda não experimentamos, mas que nos inspira a
sensação de integridade e unidade. É "a partir desse sopro do
novo que este trabalho acontece".

FILME/VÍDEO
Título: Uma Verdade Inconveniente
Ano: 2006.
Sinopse: O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore
apresenta uma análise da questão do aquecimento global,
mostrando os mitos e equívocos existentes em torno do tema
e também possíveis saídas para que o planeta não passe por
uma catástrofe climática nas próximas décadas.
Link do vídeo: https://geoverdade.com/2017/12/15/video-u-
ma-verdade-inconveniente-legendado/

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DURAND, J. P. Sociologia de Marx. Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2016 (Trad. Mônica
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75
CONCLUSÃO GERAL
Prezado (a) aluno (a),

Neste material, almejei trazer uma análise histórica e documental de diversos


elementos que compõem a sociologia econômica, também busquei focar nas relações
estabelecidas entre ambas as ciências e não utilizar de um discurso fruto de uma única.
Por mais que em inúmeros momentos foi necessário focar em uma fonte de análise,
compreende-se que é uma disciplina concebida recentemente e ainda tem inúmeras
influências conceituais de diversas disciplinas, como o direito e a antropologia.
Na primeira unidade, trabalhei as propostas e conceitos centrais apresentados pelos
autores clássicos, comumente conhecidos na área de ciências sociais, todavia, que também
tiveram influência na área de economia e filosofia. Com isso, pudemos compreender que a
relação entre as duas ciências que levam o nome de nossa disciplina são fundamentadas
no trabalho e suas nuances, e compreendemos que a disputa de classes apresentada por
Marx são consolidadas em nossas duas ciências de forma muito mais ampla.
Na segunda unidade, aprofundei nas relações trabalhistas e os aspectos que as
influenciam, apresentando conceitos específicos de ambas as áreas, para um entendimento
especializado dos olhares que cada lado dedica, de acordo com seu objeto de estudos.
Compreendemos então a função do mercado, como um cenário amplo de análise
estrutural de nossos atores, assim como a função da questão financeira e o consumo como
fundamentadores de tais relações
Na terceira unidade, apresentei a função das instituições em seus mais amplos ta-
manhos dentro das necessidades de nossos estudos, assim como as particularidades das
organizações dentro de um processo de mudanças frequentes. Compreendemos a função
do consumo e do capital para a manutenção do modelo econômico e social atual, assim
como suas demandas éticas dentro do ambiente de trabalho.
Em nossa quarta e última unidade, apresentei diversos tópicos atuais que surgiram
na sociologia econômica, assim como trouxe perspectivas futuras para novos temas que
deverão ser abordados pela área. Como é o caso do desenvolvimento sustentável, que
tende a impactar diversas temáticas e meios sociais, pois se trata de um modelo econômico
e social, que vislumbra um futuro que ainda é incerto.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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