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Conteúdo • I

Manual de
BIOQUÍMICA
com Correlações Clínicas
II • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • III

Manual de
BIOQUÍMICA
com Correlações Clínicas
Tradução da 7.ª edição americana
Coordenado por

Thomas M. Devlin
Professor Emérito – Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
College of Medicine – Drexel University

Tradução para o Português


Coordenação da Tradução e Revisão Geral

Profa. Dra. Yara M. Michelacci


Professora Associada Livre Docente
Disciplina de Biologia Molecular – Departamento de Bioquímica
Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Trabalho de Tradução
Profa. Dra. Yara M. Michelacci
Professora Associada Livre Docente – Disciplina de Biologia Molecular – Departamento de Bioquímica
Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Dra. Thaís Sodré de Lima Machado


Doutora em Medicina Veterinária
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo – USP

Biomédico Giovani Bravin Peres


Graduado em Ciências Biomédicas
Pós-graduando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular
Disciplina de Biologia Molecular – Departamento de Bioquímica
Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
IV • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Manual de bioquímica com correlações clínicas


Título original: Textbook of Biochemistry with clinical correlations
Copyright © 2011
John Wiley & Sons, inc. All rights reserved

Tradução publicada sob licença de John Wiley & Sons, inc.

DIreitos reservados para a língua portuguesa pela


Editora Edgard Blücher Ltda. 2011.

IMAGEM DA CAPA
Modelo de um complexo parcial de elongação da telomerase. A
enzima telomerase é uma ribonucleoproteína transcriptase reversa, res
ponsável pela manutenção do comprimento e da integridade das extre
midades de cromossomos lineares, chamadas telômeros, presentes em
eucariotos. A figura mostra a estrutura parcial do complexo de elongação
da telomerase na extremidade de um cromossomo (esferas azuis). A su
bunidade catalítica da telomerase (cilindros vermelhos) usa um molde
de RNA integrado (esferas verdes) para adicionar múltiplas repetições
idênticas de desoxirribonucleotídeos à extremidade 3! da fita de DNA de
um cromossomo. Defeitos na telomerase e no telômero são considerados
fatores que contribuem para a senescência replicativa e envelhecimento
celular programado. Ativação da telomerase é associada com a prolife
ração descontrolada de células observada em cerca de 85% dos cânceres
humanos. Uma discussão sobre telomerase é apresentada no capítulo 4.
Gillis, A.J., Schuller, A.P., Skordalakes, E. Structure of the Tribolium cas
taneum telomerase catalytic subunit TERT. Nature 455:633, 2008. Figura
generosamente fornecida pelo Dr. Emmanuel Skordalakes, The Wistar Ins
titute, Philadelphia, PA 19104, EUA.

FICHA CATALOGRÁFICA

Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4º andar Manual de bioquímica com correlações clínincas / coordenado
04531-012 - São Paulo - SP - Brasil por Thomaz M. Devlin; traduzido por Yara M. Michelacci. -- São
Tel.: 55 11 3078-5366 Paulo: Blucher, 2011.
editora@blucher.com.br
www.blucher.com.br Título original: Textbook of biochemistry; with clinical
correlations
7 ed. norte-americana.
Segundo Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. Bibliografia
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, ISBN 978-85-212-1581-3
Academia Brasileira de Letras, março de 2009.
1. Bioquímica 2. Bioquímica - Clínica I. Devlin, Thomaz M.
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem
autorização escrita da editora. 11-01463 CDD-612.015

Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda. Índices para catálogo sistemático:
1. Bioquímica: Ciências médicas 612.015
Conteúdo • V

À MINHA FAMÍLIA
Steve, Bonnie, Mark, Cathy, Kate, Matt, Ryan e Laura, que
foram fontes constantes de orgulho e amor

À MARJORIE
que tem estado comigo ao longo das sete edições, por seu
constante encorajamento, suporte e amor.
VI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • VII

Conteúdo resumido

Parte I Parte IV
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
1 Estrutura da Célula Eucariótica, 1 14 Bioenergética, Mitocôndria e Metabolismo Oxida
tivo, 561
2 DNA e RNA: Composição e Estrutura, 29
15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
3 Proteínas I: Composição e Estrutura, 79
Metabólicas e Seu Controle, 611
16 Metabolismo de Carboidratos II: Vias Especiais e
Parte II
Glicoconjugados, 667
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
17 Metabolismo de Lipídeos I: Síntese, Armaze
4 Replicação, Recombinação e Reparo do DNA,
namento e Utilização de Ácidos Graxos e Triacil
145
gliceróis, 693
5 RNA: Transcrição e Processamento do RNA, 187
18 Metabolismo de Lipídeos II: Vias do Metabolismo
6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações de Lipídeos Especiais, 727
Pós-Tradução, 215
19 Metabolismo de Aminoácidos, 771
7 DNA Recombinante e Biotecnologia, 265
20 Metabolismo de Purina e Pirimidina Nucleo
8 Regulação da Expressão Gênica, 317 tídeos, 831
21 Inter-relações Metabólicas, 865
Parte III
22 Bioquímica dos Hormônios, 907
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
9 Proteínas II: Relações Estrutura–função em
Parte V
Famílias de Proteínas, 347
PROCESSOS FISIOLÓGICOS
10 Enzimas: Classificação, Cinética e Controle, 391
23 Biologia Molecular da Célula, 961
11 Citocromos P450 e Óxido Nítrico Sintases, 441
24 Ciclo Celular, Morte Celular Programada e
12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e Câncer, 1027
Transporte de Solutos, 475
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio
13 Fundamentos da Transdução de Sinal, 525 nais Básicos, 1053
26 Vitaminas e Minerais: Necessidades e Função,
1089
27 Macronutrientes: Efeitos Metabólicos e Implica
ções para a Saúde, 1129

Apêndice, 1155
Glossário, 1167
Índice Remissivo, 1199
VIII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • IX

Conteúdo
Parte I
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS

1 Estrutura da Célula Eucariótica, 1 2 DNA e RNA: Composição e Estrutura, 29

Thomas M. Devlin Stephen A. Woski e Francis J. Schmidt

CONCEITOS CHAVES CONCEITOS CHAVES


1.1 CÉLULAS SÃO A BASE DOS ORGANISMOS 2.1 ÁCIDOS NUCLEICOS E INFORMAÇÃO BIOLÓ
VIVOS, 2 GICA, 30
Classificação das Células Vivas, 2 Dogma Central da Biologia Molecular, 30
DNA Pode Transformar Células, 30
1.2 O AMBIENTE DAS CÉLULAS: ÁGUA E SOLU Capacidade de Informação do DNA É Enorme, 30
TOS, 3
Pontes de Hidrogênio Formam-se entre Moléculas 2.2 COMPONENTES ESTRUTURAIS DOS ÁCI
de Água, 3
DOS NUCLEICOS: NUCLEOBASES, NUCLEO
Água tem Propriedades Singulares como Solven SÍDEOS E NUCLEOTÍDEOS, 31
te, 4 Propriedades Físicas de Nucleosídeos e Nucleotí
Eletrólitos: Dissociação de Moléculas na Água, 5 deos, 32
Água É um Eletrólito Fraco, 6 Propriedades Estruturais de Nucleosídeos e Nucle
otídeos, 33
1.3 pH, ÁCIDOS FRACOS E SUAS BASES CONJU
2.3 ESTRUTURA DO DNA, 34
TADAS, 6
Estrutura Polinucleotídica e Propriedades, 34
A Equação de Henderson–Hasselbalch Define a
DNA de Dupla-Hélice, 36
Relação entre pH e Concentrações de Ácido e Base
Estruturas Não-Canônicas do DNA, 45
Conjugados, 8
O Tamponamento É Importante para Controlar o 2.4 ESTRUTURA DE ORDEM SUPERIOR DO DNA,
pH, 10 51
O DNA Genômico Pode Ser Linear ou Circular, 51
1.4 EUCARIOTOS: CÉLULAS E TECIDOS DE MA
O DNA É Super-Helicoidal, 53
MÍFEROS, 11 Topoisomerases, 55
Células de Mamíferos, 12 Empacotamento do DNA Procariótico, 57
Composição Química de Células de Mamíferos, 13 Organização da Cromatina Eucariótica, 58
1.5 FUNÇÕES DE ORGANELAS SUBCELULARES 2.5 SEQUÊNCIA E FUNÇÃO DO DNA, 61
E SISTEMAS DE MEMBRANAS EM CÉLULAS Endonucleases de Restrição e Palíndromes, 61
EUCARIÓTICAS, 14 A Maior Parte do DNA Procariótico Codifica Prote
Membrana Plasmática É a Fronteira Que Delimita ínas Específicas, 63
uma Célula, 15 Apenas uma Pequena Percentagem do DNA Euca
Núcleo é o Local de Síntese de DNA e de RNA, 16 riótico Consiste de Genes Funcionais, 63
O Retículo Endoplasmático Tem um Papel na Sín Sequências Repetidas, 64
tese Proteica e em Muitas Vias de Síntese, 17
Aparelho de Golgi Está Envolvido na Secreção de
2.6 ESTRUTURA DO RNA, 65
RNA é um Polímero de Ribonucleosídeos 5!-Mono
Proteínas, 17
fosfato, 65
Mitocôndria Atende à Maior Parte da Necessidade
Estrutura Secundária do RNA Envolve Pareamento
Celular de ATP, 18
Intramolecular de Bases, 66
Lisossomos São Necessários para Digestão Intrace
Moléculas de RNA Têm Estruturas Terciárias, 67
lular, 18
Os Peroxissomos Têm um Importante Papel no 2.7 TIPOS DE RNA, 67
Metabolismo de Lipídeos, 21 RNA Transportador Tem Duas Funções: Ativar Ami
Citoesqueleto Organiza o Conteúdo Intracelular, 22 noácidos e Reconhecer Códons no mRNA, 67
Citosol Contém Componentes Celulares Solúveis, 22 RNA Ribossômico É Parte do Aparelho de Síntese
Proteica, 68
1.6 INTEGRAÇÃO E CONTROLE DAS FUNÇÕES RNAs Mensageiros Carregam a Informação para a
CELULARES, 23 Estrutura Primária de Proteínas, 70
X • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Mitocôndrias Contêm Espécies Peculiares de RNA, Forças Não-Covalentes Levam ao Dobramento


71 da Proteína e Contribuem para a Estabilidade da
RNA em Partículas Ribonucleoproteicas, 71 Proteína, 120
RNA Catalítico: Ribozimas, 71 Desnaturação Leva à Perda de Estrutura Nativa, 124
RNAs Podem Ligar Outras Moléculas, 73
3 Proteínas I: Composição
RNAs Controlam
Richard M. Schultz e Estrutura,
a Tradução, 73 79 ASPECTOS DINÂMICOS DA ESTRUTURA DE
PROTEÍNAS, 125
3.9 CARACTERIZAÇÃO, PURIFICAÇÃO E DETER
MINAÇÃO DA ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO
DE PROTEÍNAS, 126
Separação de Proteínas com Base em Carga, 126
Separação de Proteínas com Base em Massa Mole
CONCEITOS CHAVES
cular ou Tamanho, 127
3.1 PAPÉIS FUNCIONAIS DE PROTEÍNAS NO HO Eletroforese em Gel de Poliacrilamida na Presença
MEM, 80 de um Detergente, 128
Técnicas de HPLC Separam Aminoácidos, Peptídeos
3.2 COMPOSIÇÃO EM AMINOÁCIDOS DE PROTE e Proteínas, 129
ÍNAS, 81 Cromatografia de Afinidade, 129
Aminoácidos Comuns, 81 Abordagem Geral para Purificação de Proteínas, 129
Aminoácidos São Polimerizados em Peptídeos e As Técnicas de Proteômica Tentam Determinar
Proteínas, 84 Todas as Proteínas Expressas em uma Célula ou um
Tecido em um Único Ensaio, 130
3.3 PROPRIEDADES DE CARGAS E QUÍMICAS DE Determinação da Composição em Aminoácidos de
AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS, 86 uma Proteína, 131
Grupos Ionizáveis de Aminoácidos e Proteínas São Técnicas de Difração de Raios-X São Usadas para
Críticos para a Função Biológica, 86 Determinar a Estrutura Tridimensional de Proteí
Relação Geral entre as Propriedades de Carga de nas, 132
Aminoácidos e Proteínas e pH, 89 Métodos de Espectroscopia para Avaliar Estrutura
Aminoácidos e Proteínas Podem Ser Separados e Função de Proteínas, 134
com Base em Valores de pI, 90 Ressonância Magnética Nuclear, 137
Cadeias Laterais de Aminoácidos Têm Proprieda
des Polares e Apolares, 91
Aminoácidos Sofrem Várias Reações Químicas, 91
Parte II
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
3.4 ESTRUTURA PRIMÁRIA DE PROTEÍNAS, 93
3.5 PROTEÍNAS,
NÍVEIS SUPERIORES
94 DE ORGANIZAÇÃO DE 4 Replicação, Recombinação e Reparo do DNA, 145

Estrutura Secundária, 95 Howard J. Edenberg


Estrutura Terciária, 98
Estrutura Quaternária, 100
CONCEITOS CHAVES
Proteínas Não-Estruturadas, 101
Bioinformática
Complexos de Proteínas,
RelacionaRedes
Estrutura
e Interactomas,
e Função de102 4.1 CARACTERÍSTICAS COMUNS DA REPLICA
CÃO, RECOMBINACÃO E REPARO, 146
Proteínas como Produtos Gênicos, 103
mente
Estruturas
Formadas
de Dobras
a Partir
Homólogas
de Sequências
São Frequente-
de Amino 4.2 REPLICAÇÃO DO DNA: MECANISMOS FUNDA
MENTAIS, 146
ácidos Não Homólogas, 105 A Base, 146
Química da Elongação da Cadeia, 147
3.6 PROTEÍNAS ESTRUTURADAS NÃO-GLOBU DNA Polimerases, 148
LARES, 106 Separando as Fitas Parentais: a Forquilha de Repli
Colágeno, 107 cação, 150
Elastina É uma Proteína Fibrosa com Ligações Cru Resolvendo o Problema da Polaridade: Síntese de
zadas Geradas por Alisina, 109 DNA Semidescontínua, 151
Queratina e Tropomiosina, 110 Movimento da Forquilha de Replicação, 151
Lipoproteínas Plasmáticas São Complexos de Lipí Coreografia em Três Dimensões: o Replissomo, 154
deos com Proteínas, 110 Término da Replicação em Genomas Circulares, 155
Glicoproteínas Contêm Carboidratos Ligados Cova Término da Replicação em Genomas Lineares:
lentemente, 115 Telômeros, 155
Epigenética, 156
3.7 DOBRAMENTO (FOLDING) DE PROTEÍNAS
DE ESTRUTURAS ALEATÓRIAS PARA ES- 3.8
4.3 REPLICAÇÃO DO DNA: ENZIMAS E REGULA
TRUTURAS SINGULARES: ESTABILIDADE DA ÇÃO, 156
PROTEÍNA, 116 Enzimas Procarióticas da Replicação, 156
O Problema de Dobramento de Proteínas, 116 Enzimas Eucarióticas da Replicação, 158
Proteínas Chaperones Ajudam o Processo de Do Ciclo Celular, 162
bramento de Proteínas, 120 Replicação de Genomas de RNA, 163
Conteúdo • XI

4.4 RECOMBINAÇÃO,
Recombinação 164 164
Homóloga, 5.8 NUCLEASES E TURNOVER DO RNA, 207
O Turnover do RNA Mensageiro Citoplasmático É
Proteínas Chaves da Recombinação em E. coli, 167 Acoplado à Tradução, 207
Recombinação Não-Homóloga, 168
Pseudogenes, 168 6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações
4.5 DANOS AO DNA E MUTAÇÕES, 169 Pós-Tradução, 215
Mutações, 170
Dohn Glitz
4.6 REPARO DO DNA, 172
Reparo por Excisão, 172 CONCEITOS CHAVES
Desmetilação Direta, 178
Fotorreativação,
Lesões Podem Bloquear
178 a Replicação, 178 6.1 INTRODUÇÃO, 216

Reparo
Regulação
de Quebra
do Reparo
na do
Dupla-Fita,180
DNA: o Regulon SOS, 181
6.2 CONCEITOS DO APARELHO DE TRADUÇÃO,
216
RNA Mensageiro Transmite a Informação Codifica
da no DNA, 216
5 RNA: Transcrição e Processamento do RNA, 187 RNA Transportador É uma Molécula Tradutora
Bilíngue, 217
Frank J. Schmidt e David R. Setzer O Código Genético Usa um Alfabeto de Quatro
Letras de Nucleotídeos, 217
Interações Códon-Anticódon Permitem Ler um
CONCEITOS CHAVES mRNA, 218
5.1 INTRODUÇÃO, 188 A Aminoacilação do RNA Transportador Ativa os
Aminoácidos para a Síntese Proteica, 222
5.2 MECANISMOS DE TRANSCRIÇÃO, 188 Ribossomos São Máquinas para a Síntese Protei
O Processo Inicial de Síntese de RNA É a Transcri ca, 224
ção, 188
A Informação na Sequência do DNA Sinaliza a 6.3 BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS, 225
Síntese de RNA, 188 A Tradução É Direcional e Colinear com o mRNA,
RNA Polimerase Catalisa o Processo de Transcrição, 225
A Iniciação da Síntese Proteica É um Processo Com
189
plexo, 226
Etapas da Transcrição em Procariotos, 190
A Elongação É a Formação Passo a Passo das Liga
5.3 TRANSCRIÇÃO EM EUCARIOTOS, 193 ções Peptídicas, 228
Natureza da Cromatina Ativa, 194 Terminação da Síntese do Polipeptídeo Requer um
Ativação da Transcrição Opera por Recrutamento Códon de Parada (ou Stop Codon), 233
da RNA Polimerase, 194 Tradução Tem um Custo Energético Considerável,
Transcrição pela RNA Polimerase II, 195 234
Transcrição pela RNA Polimerase I, 196 Síntese de Proteínas em Mitocôndrias Difere Ligei
Transcrição pela RNA Polimerase III, 196 ramente, 234
As Bases Enzimáticas Comuns para a Ação das RNA Muitos Antibióticos e Toxinas Têm Como Alvo a
Polimerases, 198 Biossíntese de Proteínas, 235

5.4 RNA TransportadorDO


PROCESSAMENTO
O RNA, 199 por Clivagem,
É Modificado 6.4 MATURAÇÃO DE PROTEÍNAS: DOBRAMEN
TO, MODIFICAÇÃO, SECREÇÃO E DIRECIONA
Adição e Modificação de Bases, 199 MENTO, 236
O Processamento do RNA Ribossômico Libera Vá Chaperones Ajudam no Dobramento da Proteína,
rios RNAs de um Precursor Mais Longo, 200 237
O Processamento do RNA Mensageiro Garante a Proteínas para Exportação Seguem a Via Secretó
Sequência Codificadora Correta, 200 ria, 237
RNA Polimerase II Recruta Enzimas de Processa Glicosilação de Proteínas Ocorre no Retículo Endo
mento durante a Transcrição em Eucariotos, 201 plasmático e no Complexo de Golgi, 238
Mutações
no Homem,em204
Sinais de Splicing Causam Doenças 6.5 DIRECIONAMENTO PARA MEMBRANA E OR
GANELAS, 241
Splicing Alternativo do Pré-mRNA Pode Levar
Seleção de Proteínas na Via Secretória, 241
à Síntese de Múltiplas Isoformas da Proteína a
Importação de Proteínas por Mitocôndrias É Com
partir de uma Única Sequência Codificadora no
plexa, 242
DNA, 204
Sinais de Direcionamento Encaminham Proteínas
5.5 EXPORTAÇÃO DO RNA E CONTROLE DE para Organelas Específicas, 245
QUALIDADE, 205 6.6 MAIS MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO, 246
5.6 RNA DE INTERFERÊNCIA, 206 Proteólise Parcial Libera Insulina e Ativa Zimogê
nios, 246
5.7 REPARO DE DNA ACOPLADO A TRANSCRI- Aminoácidos Podem Ser Modificados após Incor
ÇÃO, 207 poração a Proteínas, 246
XII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Biossíntese
ções Pós-Tradução,
de Colágeno
247 Requer Muitas Modifica- DNA COMPLEMENTAR E BIBLIOTECAS DE
DNA COMPLEMENTAR, 285
6.7 REGULAÇÃO DA TRADUÇÃO, 250 mRNA como Molde para Síntese de DNA Usando
Transcriptase Reversa, 286
6.8 253
DEGRADAÇÃO
Proteólise E TURNOVER
Dependente DE PROTEÍNAS,
de ATP Ocorre em Proteas
7.7 BACTERIÓFAGOS, COSMÍDEOS E VETORES
DE CLONAGEM EM LEVEDURA E ANÁLISE
somos, 254 DE LONGOS SEGMENTOS DE DNA, 288
Digestão Intracelular de Algumas Proteínas Ocorre Bacteriófagos como Vetores de Clonagem, 288
em Lisossomos, 255 Clonando Fragmentos de DNA em Cosmídeos e
Outros Sistemas Proteolíticos, 255 Vetores Cromossomos Artificiais, 289
Subclonagem Permite Definição de Grandes Seg
mentos de DNA, 290
7 DNA Recombinante e Biotecnologia, 265 Caminhar pelo Cromossomo (Chromosome
Walking) Define Arranjo de Genes em Segmentos
Gerald Soslau Longos do DNA, 290

7.1 CONCEITOS CHAVES


INTRODUÇÃO, 266 7.8 VETORES DE EXPRESSÃO E PROTEÍNAS DE
FUSÃO, 291
Genes Estrangeiros Expressos em Bactérias Permi
tem Síntese de suas Proteínas Codificadas, 292
7.2 REAÇÃO DA POLIMERASE EM CADEIA, 267 Vetores de Expressão em Células Eucarióticas, 293
PCRAninhado, 268
7.3 ENDONUCLEASE
PCR Quantitativo emDE RESTRIÇÃO,
Tempo Real, 269 MAPAS DE 7.9 MUTAGÊNESE SÍTIO-DIRIGIDA, 295
Papel de Regiões Flanqueadoras no DNA Avaliado
por Mutações de Deleção e Inserção, 295
RESTRIÇÃO E SEQUENCIAMENTO DE DNA, Mutagênese Sítio-Dirigida de um Único Nucleotí
269 deo, 296
Endonucleases de Restrição Hidrolisam Seletiva
mente DNA,
Mapas de Restrição
269 Permitem a Preparação Roti 7.10 APLICAÇÕES DA TECNOLOGIA DO DNA RE
COMBINANTE, 299
neira de Segmentos Definidos de DNA, 270 Ácidos Nucleicos Complementares (Antisense) em
Método de Clivagem Enzimática Interrompida: Pesquisa e Terapêutica, 299
Procedimento de Sanger, 270 Técnicas Moleculares Aplicadas ao Animal Inteiro, 300
Sequenciamento por Corante-Terminador, 272 DNA Recombinante em Agricultura Tem Impacto
Comercial, 305
7.4 DNA RECOMBINANTE, CLONAGEM E SELE
ÇÃO
DNAsDE CLONES, 274
de Diferentes Fontes Podem Ser Ligados 7.11 GENÔMICA, PROTEÔMICA E ANÁLISE POR
MICROARRAY, 306
para Formar uma Nova Espécie de DNA: DNA Re Análise de Microarray, 306
combinante, 274 Genoma Humano, 308
Vetores de DNA Recombinante São Produzidos
Clonagem
por Clonagem,
Direcional:
274 DNA Inserido em DNA Vetor
8 Regulação da Expressão Gênica, 317
em uma Direção Específica, 275
Bactérias Transformadas com DNA Recombinante Daniel L. Weeks e John E. Donelson
e a Necessidade de um Processo de Seleção, 275
Moléculas de DNA Recombinante em uma Biblio CONCEITOS CHAVES
teca Gênica, 276
Carregam
Seleção dePlasmídeos
Resistência
α-Complementação
Bactéria
a Antibiótico,
Transformada
para
Recombinantes,
Selecionar
276 por
Bactérias
Perda
278 de que 8.1 INTRODUÇÃO,318
8.2 UNIDADE DE TRANSCRIÇÃO EM BACTÉRIAS:
O OPERON, 318
7.5 PCR ContornaEaIDENTIFICAÇÃO
DETECÇÃO DE ÁCIDOS
Necessidade de Clonar DNA, 279 8.3 OPERON LACTOSE DE E. COLI, 319
Repressor do Operon Lactose É uma Proteína Difu
sível, 320
NUCLEICOS E PROTEÍNAS QUE SE LIGAM AO
Sequência Operador do Operon Lactose É Contí
DNA, 280 gua a um Promotor e Três Genes Estruturais, 321
Ácidos Nucleicos como Sondas (Probes) para Se
RNA Polimerase e uma Proteína Reguladora
quências Específicas de DNA ou RNA, 280
Reconhecem a Sequência do Promotor do Operon
Técnica de Southern Blot para Identificar Frag
Lactose, 322
mentos de DNA, 281
Proteína Ativadora de Catabólito Liga Promotor
Polimorfismo de Conformação de Cadeia Única,
Lactose, 322
283
Detecção de mRNA, 283 7.6
8.4 OPERONTRIPTOFANO DE E. COLI, 323
Detecção de Proteínas que se Ligam a Sequências Operon Triptofano É Controlado por uma Proteína
Específicas no DNA, 285 Repressora, 323
Conteúdo • XIII

Região Atenuadora do Operon Triptofano, 325 As Enzimas Proteolíticas São Classificadas por seu
Atenuação da Transcrição Controla Outros Ope Mecanismo Catalítico, 357
rons de Biossíntese de Aminoácidos, 326 Serino Proteases São Sintetizadas como Zimogê
nios e em Proteínas com Múltiplos Domínios, 361
8.5 OUTROS OPERONS BACTERIANOS, 327 Estruturas Terciárias dos Domínios Catalíticos de
Síntese de Proteínas Ribossômicas É Regulada de Serino Proteases São Semelhantes, 362
Modo Coordenado, 327 Serino Proteases Têm Relações Estrutura-Função
Resposta Estringente Controla Síntese de rRNAs e Semelhantes, 364
tRNAs, 327 Homologia de Sequência em Serino Proteases, 365
8.6 TRANSPOSONS BACTERIANOS, 328 Mecanismo de Catálise das Serino Proteases, 366
Transposons São Segmentos Móveis do DNA, 328 Inibidores Proteicos Específicos de Serino Protea
O Transposon Tn3 Contém Três Genes Estruturais, 329 ses, 366

8.7 EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS, 330 9.4 HEMOGLOBINA E MIOGLOBINA, 367


DNA Eucariótico é Ligado a Histonas para Formar A Hemoglobina Humana Ocorre em Várias For
Cromatina, 331 mas, 367
Metilação do DNA Correlaciona-se com Inativação Mioglobina: Um Único Polipeptídeo com Um Sítio
de Genes, 332 de Ligação de O2,368
O Grupo Prostético Heme É o Sítio de Ligação de
8.8 COMPLEXO DE PRÉ-INICIAÇÃO EM EUCA O2, 369
RIOTOS: FATORES DE TRANSCRIÇÃO, RNA Cristalografia por Raios-X Definiu as Estruturas da
POLIMERASE II E DNA, 333 Hemoglobina e da Mioglobina, 370
Promotores Eucarióticos e Outras Sequências Que Um Equilíbrio Simples Define a Ligação de O2 à
Influenciam Transcrição, 335 Mioglobina, 372
Projeto Modular de Fatores de Transcrição Eucari A Ligação de O2 à Hemoglobina Envolve Coopera
óticos, 335 tividade entre Subunidades, 373
Motivos Comuns em Proteínas Que Ligam DNA e Hemoglobina Facilita o Transporte de CO2 e NO, 374
Regulam Transcrição, 335 Diminuição no pKa de Grupos Ácidos com Carga
da Conformação T para R Libera Prótons, 374
8.9 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA EUCA Hemoglobina Entrega Óxido Nítrico (NO) para a
RIÓTICA, 338 Parede Capilar de Tecidos onde Promove Entrega
Regulando os Reguladores, 338 de O2, 378
Ativação da Transcrição do Gene do Receptor de
9.5 O COMPLEXO PROTEICO DA LÂMINA BASAL,
LDL Ilustra Muitas Características Encontradas na
Regulação Gênica Eucariótica, 339 381
Controle Epigenético da Expressão Gênica, 341 Composição em Proteínas da Lâmina Basal, 381
A Estrutura Molecular da Lâmina Basal É Formada
a Partir de uma Rede de Laminina e Colágeno Tipo
Parte III IV, 382
Contato Focal em Membrana Celular Interconecta
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS a Matriz Extracelular com o Citoesqueleto, 386

9 Proteínas II: Relações Estrutura-Função em


Famílias de Proteínas, 347 10 Enzimas: Classificação, Cinética e Controle, 391

Richard M. Schultz Henry Weiner

CONCEITOS CHAVES CONCEITOS CHAVES


9.1 INTRODUÇÃO, 348 10.1 INTRODUÇÃO, 392
9.2 MOLÉCULAS DE ANTICORPOS: A SUPERFA 10.2 CLASSIFICAÇÃO DAS ENZIMAS, 392
MÍLIA DE PROTEÍNAS IMUNOGLOBULINAS, Classe 1: Óxido-redutases, 393
349 Classe 2: Transferases, 393
Moléculas de Anticorpos Contêm Quatro Cadeias Classe 3: Hidrolases, 394
Polipeptídicas, 349 Classe 4: Liases, 395
Imunoglobulinas de uma Classe Contêm Regiões Classe 5: Isomerases, 395
CH Homólogas, 350 Classe 6: Ligases, 396
Existem Dois Sítios de Ligação de Antígeno por
Molécula de Anticorpo, 354 10.3 CONCEITOS GERAIS DOS MECANISMOS DE
Genética das Imunoglobulinas, 355 ENZIMAS, 396
Dobra de Imunoglobulinas É Encontrada em uma Considerações Termodinâmicas, 396
Grande Família de Proteínas com Diferentes Papeis Ligação do Substrato a uma Enzima,397
Funcionais, 357 Estado de Transição, 397
Ligação Covalente do Substrato à Enzima, 400
9.3 PROTEÍNAS COM UM MECANISMO CATALÍTI O pH Afeta uma Reação por Afetar Ácidos e Bases
CO COMUM: SERINO PROTEASES, 357 Gerais, 401
XIV • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

10.4 SÍTIO ATIVO DE UMA ENZIMA, 401 na Doadora de Elétrons no Retículo Endoplasmáti
Estereoquímica do Sítio Ativo, 401 co, 444
Influência de Grupos Sobre o Substrato Distal à NADPH-Adrenodoxina Redutase É a Flavoproteína
Ligação a Ser Modificada, 403 Doadora de Elétrons em Mitocôndrias, 446

10.5 COENZIMAS, COSSUBSTRATOS E COFATO 11.4 CITOCROMOS P450: NOMENCLATURA E ISO


RES, 404 FORMAS,446
Coenzimas, 404
11.5 CITOCROMOS P450: SUBSTRATOS E FUN
Adenosina Trifosfato Pode Ser um Segundo Subs
trato ou um Modulador de Atividade, 407 ÇÕES FISIOLÓGICAS, 447
Cofatores Íons Metálicos, 407 Citocromos P450 Participam da Síntese de Hormô
nios Esteroides e da Oxigenação de Compostos
10.6 CINÉTICA DE REAÇÕES QUÍMICAS, 409 Endógenos, 448
Velocidade de Formação de Produto, 409 Citocromos P450 Oxidam Substratos Lipofílicos
Velocidade de Desaparecimento de Substrato, 410 Exógenos, 451
Reações Reversíveis, 411
11.6 CITOCROMO P450: INDUÇÃO E INIBIÇÃO, 456
10.7 CINÉTICA ENZIMÁTICA DE REAÇÕES COM Interações Droga–Droga, 457
UM SUBSTRATO, 411 Polimorfismos Genéticos de Citocromos P450, 459
Equação de Michaelis–Menten, 413 Inibição Terapêutica de Citocromo P450, 460
Significado de kcat na Equação de Michaelis–Men
11.7 ÓXIDO NÍTRICO SINTASES: PROPRIEDADES
ten, 416
Km Baixo versus kcat Alta, 417 E FUNÇÃO ENZIMÁTICA, 461
Calculando as Constantes, 418 11.8 ISOFORMAS DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE E
Efeito das Condições de Ensaio, 418 FUNÇÕES FISIOLÓGICAS, 463
10.8 CINÉTICA DE REAÇÕES COM DOIS SUBSTRA NOSI, 464
TOS, 419 NOSII, 465
Mecanismo Sequencial, 419 NOSIII, 466
Mecanismo Pingue-Pongue, 419
Kmapp, 420 12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e
Transporte de Solutos, 475
10.9 INIBIDORES, 420
Inibição Competitiva, 421
Inibição Acompetitiva, 423 Thomas M. Devlin
Inibição Não-competitiva, 423
Gráficos de Lineweaver–Burk em Presença de Inibi CONCEITOS CHAVES
dores, 423
Outros Inibidores, 424 12.1 INTRODUÇÃO, 476
Inibidores de Enzimas como Drogas, 424 12.2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS MEMBRANAS,
10.10 REGULAÇÃO DA ATIVIDADE ENZIMÁTICA,427 476
Modificação Covalente, 427 Lipídeos São Importantes Componentes das Mem
Controle Alostérico de Atividade Enzimática, 427 branas, 476
Enzimas Multi-subunidades: Cooperatividade, 429 Glicerofosfolipídeos São os Lipídeos Mais Abun
Subunidades Regulatórias Modulam a Atividade dantes das Membranas, 477
de Subunidades Catalíticas, 431 Esfingolipídeos Estão Presentes nas Membranas, 480
Colesterol É um Importante Componente das
10.11 REGULAÇÃO DE VIAS METABÓLICAS, 431 Membranas Plasmáticas, 481
A Composição em Lipídeos Varia entre Membra
10.12 APLICAÇÕES CLÍNICAS DE ENZIMAS, 432
nas, 481
Dosagem de Enzimas Plasmáticas, 432
Proteínas de Membrana, 482
Metabolômica e Proteômica, 434
Carboidratos de Membranas São Parte de Glico
proteínas ou Glicolipídeos, 483
11 Citocromos P450 e Óxido Nítrico Sintases, 441
12.3 MICELAS, BICAMADAS LIPÍDICAS E LIPOSSO
Linda J. Roman e Bettie Sue Siler Masters
MOS, 484
Lipídeos Formam Estruturas Vesiculares, 484
Propriedades Gerais de Bicamadas Lipídicas, 485
CONCEITOS CHAVES
12.4 ESTRUTURA DAS MEMBRANAS BIOLÓGICAS,
11.1 INTRODUÇÃO, 442 486
11.2 CITOCROMOS P450: PROPRIEDADES E FUN Modelo Mosaico das Membranas Biológicas, 486
ÇÃO, 443 Lipídeos São Distribuídos Assimetricamente nas
Membranas, 487
11.3 SISTEMAS DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS Proteínas Integrais de Membrana, 487
CITOCROMOS P450, 444 Proteínas Periféricas de Membrana: Âncoras Lipídi
NADPH-Citocromo P450 Redutase É a Flavoproteí cas, 489
Conteúdo • XV

Proteínas e Lipídeos Difundem nas Camadas da Outros Componentes de Complexos de Sinalização


Membrana, 491 Mediada por Receptor e Cascatas, 532
Microdomínios de Complexos Lipídeo–Proteína Interação Ligante–Receptor e Eventos Subsequen
Estão Presentes nas Membranas, 492 tes de Sinalização, 533
Ambiente Dinâmico das Membranas, 493 Término da Transdução de Sinal por Receptores de
Superfície Celular, 534
12.5 RECEPTORES DE MEMBRANA, 493
13.5 RECEPTORES CANAIS IÔNICOS LIGANTE
12.6 DESLOCAMENTO DE MOLÉCULAS ATRAVÉS
-DEPENDENTES, 535
DE MEMBRANAS, 495 Receptores Canais Iônicos, 535
Algumas Moléculas se Difundem Através das
Término da Sinalização por Receptores Canais
Membranas Celulares, 495
Iônicos, 536
Mecanismos Baseados em Proteínas para Desloca
Outros Ligantes de Receptores Canais Iônicos, 537
mento, 496
13.6 RECEPTORES LIGADOS A ENZIMAS, 537
12.7 CANAIS E POROS DE MEMBRANAS, 497 Funções Fisiológicas de Ligantes Extracelulares,
Estruturas dos Canais de Membrana, 497
537
Controle e Seletividade dos Canais de Membrana,
Receptores Tirosina Quinases (RTK), 537
498
Receptores Serina/Treonina Quinases, 538
Canais de Membrana e Poros Representativos, 498
13.7 RECEPTORES DE CITOCINAS, 540
12.8 PROTEÍNAS DO TRANSPORTE DE MEMBRA Receptores de Citocinas: Estrutura e Função, 540
NAS, 504
Energética de Sistemas de Transporte de Membra 13.8 RECEPTORES ACOPLADOS A PROTEÍNA G,
na, 506 542
Transportadores de Membrana de Mamíferos, 507 Funções Fisiológicas e Ligantes Extracelulares, 542
Estrutura dos Receptores Acoplados a Proteína G,
12.9 TRANSPORTADORES DIRIGIDOS POR PO 542
TENCIAL ELETROQUÍMICO, 507 Proteínas G Heterotriméricas, 544
Transportadores Dirigidos por Potencial Eletroquí Ciclo da Proteína G, 544
mico Representativos, 508
13.9 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM AMP
12.10 TRANSPORTADORES ATIVOS PRIMÁRIOS, 510 CÍCLICO, 546
Transportadores Ativos Primários Representativos, Regulação da Síntese e Degradação de AMP Cícli
511 co, 546
12.11 TOXINAS FORMADORAS DE POROS E IONÓ Mecanismos Intracelulares de Sinalização por AMP
FOROS, 516 Cíclico, 548
13.10 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM GMP
13 Fundamentos da Transdução de Sinal, 525 CÍCLICO, 549
Regulação da Síntese e Degradação de GMP Cícli
co, 549
George R. Dubyak
Mecanismos Intracelulares de Sinalização por GMP
Cíclico, 550
CONCEITOS CHAVES 13.11 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM CÁL
13.1 TRANSDUÇÃO DE SINAL ENTRECÉLULAS, 526 CIO, 551
Regulação da Concentração Citosólica de Ca2+,
13.2 TRANSDUÇÃO DE SINAL INTERCELULAR, 551
526 Ativação por Cálcio de Proteína Quinases e Fosfa
Dois Modos Fundamentais de Transdução de Sinal tases Dependentes de Calmodulina, 552
Intercelular, 526
Moléculas Sinalizadoras Secretadas, 528 13.12 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM FOS
FOLIPÍDEOS, 553
13.3 RECEPTORES DE MOLÉCULAS SECRETA Metabolismo Regulado de Fosfolipídeos como um
DAS, 528 Componente de Vias Intracelulares de Sinalização,
553
13.4 TRANSDUÇÃO DE SINAL INTRACELULAR Regulação da Fosfolipase C e da Fosfolipase D,
POR RECEPTORES DE SUPERFÍCIE CELU 553
LAR, 529 Diacilglicerol e Proteína Quinase C, 554
Ligantes, Receptores e Interações Receptor–Ligan PIP3, Fosfatidilinositol 3-Quinases e Proteína Qui
te, 529 nase B, 554
Relações entre Receptores, Efetores e Segundos Fosfolipase A2 e Geração de Metabólitos de Ácido
Mensageiros, 531 Araquidônico, 555
Fosforilação de Proteínas na Transdução de Sinal,
531 13.13 INTEGRAÇÃO DE VIAS DE TRANSDUÇÃO
Proteínas Regulatórias Que Ligam GTP na Transdu DE SINAL EM REDES DE TRANSDUÇÃO DE
ção de Sinal, 532 SINAL, 555
XVI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Parte IV 14.7 FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA, 589


Acoplamento de Síntese de ATP e Transporte de
VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Elétrons, 590
ATP Sintase, 591
14 Bioenergética, Mitocôndria e Metabolismo Oxi
dativo, 561 14.8 MEMBRANA MITOCONDRIAL INTERNA CON
TÉM SISTEMAS DE TRANSPORTE DE SUBS
Diana S. Beattie TRATO, 594
Transporte de Adenina-Nucleotídeos e Fosfato, 594
Lançadeiras de Substrato Transportam Equivalen
CONCEITOS CHAVES tes de Redução Através da Membrana Mitocon
14.1 SISTEMAS PRODUTORES E CONSUMIDORES drial Interna, 596
Unidades Acetil São Transportadas como Citrato,
DE ENERGIA, 562
596
ATP Liga Sistemas de Produção e de Utilização de
Mitocôndrias Têm um Transportador de Cálcio
Energia, 562
Específico, 597
NAD+ e NADP+ em Catabolismo e Anabolismo, 563
Proteínas Desacopladoras, 598
14.2 RELAÇÕES TERMODINÂMICAS E COMPO
14.9 GENES MITOCONDRIAIS E DOENÇAS, 599
NENTES RICOS EM ENERGIA, 563
Energia Livre É a Energia Disponível para Trabalho 14.10 ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO (ROS,
Útil, 564 REACTIVE OXYGEN SPECIES), 601
Valor Calórico de Componentes da Dieta, 565 Produção de Espécies Reativas de Oxigênio, 602
Compostos São Classificados com Base na Energia Dano Causado por Espécies Reativas de Oxigênio,
Liberada na Hidrólise de Grupos Específicos, 566 603
Variações de Energia Livre Podem Ser Determi Defesas Celulares Contra Espécies Reativas de Oxi
nadas a partir de Reações Enzimáticas Acopladas, gênio, 604
566
Energias de Ligações de Alta Energia de Vários
Grupos Podem Ser Transferidas de um Composto
15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
Metabólicas e Seu Controle, 611
para Outro, 567
14.3 FONTES E DESTINOS DE ACETIL-COENZIMA Robert A. Harris
A, 568
Fontes e Destinos Metabólicos do Piruvato, 568 CONCEITOS CHAVES
Piruvato Desidrogenase É um Complexo Multienzi
mático, 569 15.1 INTRODUÇÃO, 612
Acetil-CoA É Usado por Várias Vias Diferentes, 570
15.2 GLICÓLISE, 612
14.4 O CICLO DOS ÁCIDOS TRICARBOXÍLICOS, 570 Glicólise Ocorre em Todas as Células Humanas, 612
Reações do Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos, 571 Glicose É Metabolizada Diferentemente em Várias
Conversão do Grupo Acetil de Acetil-CoA em CO2 Células, 615
e H2O Conserva Energia, 574
Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos Serve como uma 15.3 VIA GLICOLÍTICA, 616
Fonte de Intermediários Biossintéticos, 574 Glicólise Ocorre em Três Estágios, 616
Reações Anapleróticas Repõem Intermediários do Rendimento em ATP e Equação Balanceada da
Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos, 575 Glicólise Anaeróbica, 619
Atividade do Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos é NADH Gerado pela Glicólise Deve ser Oxidado de
Cuidadosamente Regulada, 576 Volta a NAD+: Papel da Lactato Desidrogenase e
das Lançadeiras de Substrato, 620
14.5 ESTRUTURA E COMPARTIMENTALIZAÇÃO Lançadeiras São Importantes para Outras Vias de
POR MEMBRANAS MITOCONDRIAIS, 577 Óxido-redução, 621
As Membranas Mitocondriais Interna e Externa Reagentes Sulfidrila e Fluoreto Inibem a Glicólise,
Têm Diferentes Composições e Funções, 578 621
Hiperglicemia Inibe Glicólise, 622
14.6 CADEIA DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS, 579 Arsenato Impede Síntese Líquida de ATP sem Inibir
Reações de Oxidação-Redução, 579 a Glicólise, 622
Transporte Mitocondrial de Elétrons É um Sistema
com Múltiplos Componentes, 581 15.4 REGULAÇÃO DA GLICÓLISE, 623
Complexo I: NADH-Ubiquinona Óxido-redutase, Hexoquinase e Glucoquinase Têm Propriedades
581 Diferentes, 624
Complexo II: Succinato-Ubiquinona Óxido-Reduta 6-Fosfofruto-1-quinase É uma Enzima Regulatória
se, 583 da Glicólise, 627
Complexo III: Ubiquinol-Citocromo c Óxido-Redu Controle Hormonal da 6-Fosfofruto-1-quinase por
tase, 583 cAMP e Frutose 2,6-bisfosfato, 630
Complexo IV: Citocromo c Oxidase, 586 A Enzima Bifuncional 6-Fosfofruto-2-quinase/Fru
Inibidores da Cadeia de Transporte de Elétrons, tose 2,6-bisfosfatase É Regulada Por Fosforilação,
587 633
Conteúdo • XVII

Coração Contém uma Isoenzima Diferente da Epimerização Interconverte Glicose e Galactose


6-Fosfofruto-2-quinase/Frutose 2,6-bisfosfatase, 635 Ligadas a Nucleotídeo, 673
A Piruvato Quinase É também uma Enzima Regu Ácido Glucurônico É Formado por Oxidação de
latória da Glicólise, 636 UDP-Glicose, 674
Descarboxilação, Óxido-Redução e Transaminação
15.5 GLUCONEOGÊNESE, 638 de Açúcares Dão Produtos Necessários, 675
Síntese de Glicose É Necessária para Sobrevivência, Ácidos Siálicos São Derivados de N-Acetilglucosa
638 mina, 676
Síntese de Glicose a Partir de Lactato, 640
Glicose É Sintetizada a Partir da Maioria dos Ami 16.3 BIOSSÍNTESE DE POLISSACARÍDEOS COM
noácidos, 641 PLEXOS, 676
Glicose Pode Ser Sintetizada a partir de Ácidos
Graxos com Número Ímpar, mas Não com Número 16.4 GLICOPROTEÍNAS, 678
Par de Carbonos, 643 Glicoproteínas Contêm Quantidades Variáveis de
Glicose É Também Sintetizada a Partir de Frutose, Carboidratos, 678
644 Síntese de Glicoproteínas N-Ligadas Envolve Doli
Gluconeogênese Requer Gasto de ATP, 645 col Fosfato, 679
Gluconeogênese Tem Vários Pontos de Regulação, Função do Glicano, 681
646 16.5 PROTEOGLICANOS, 683
Controle Hormonal da Gluconeogênese É Crítico Existem Seis Classes de Proteoglicanos, 683
para a Homeostase, 646 Biossíntese de Condroitim Sulfato É Típica da For
Oxidação de Álcool Inibe Gluconeogênese, 647 mação de Glicosaminoglicanos, 685
15.6 GLICOGENÓLISE E GLICOGÊNESE, 648
Glicogênio É a Forma de Armazenamento de Gli
cose, 648
17 Metabolismo de Lipídeos I: Síntese, Armazena
Glicogênio Fosforilase Inicia Glicogenólise, 650 mento e Utilização de Ácidos Graxos e Triacil
Enzima Cortadora de Ramos É Necessária para gliceróis, 693
Glicogenólise, 651
Glicogênese Requer Enzimas Singulares, 652 Martin D. Snider, J. Denis McGarry (falecido) e Richard W.
Características Especiais da Glicogenólise e da Hanson
Glicogênese, 654
Síntese e Degradação de Glicogênio São Muito
CONCEITOS CHAVES
Reguladas, 655
Controle Efetor do Metabolismo de Glicogênio, 658 17.1 INTRODUÇÃO, 694
Fosforilase a É um “Receptor de Glicose” no Fíga 17.2 NATUREZA QUÍMICA DOS ÁCIDOS GRAXOS E
do, 659 ACILGLICERÓIS, 695
Controle Hormonal e Neural da Síntese e da De Ácidos Graxos São Cadeias Alquila Terminando em
gradação de Glicogênio, 659 um Grupo Carboxila, 695
A Maioria dos Ácidos Graxos no Homem Ocorre
16 Metabolismo de Carboidratos II: Vias Especiais como Triacilgliceróis, 695
Hidrofobicidade dos Triacilgliceróis É Importante
e Glicoconjugados, 667
para Suas Funções, 696

Nancy B. Schwartz 17.3 TRANSPORTE INTERÓRGÃOS DE ÁCIDOS


GRAXOS E SEUS PRODUTOS PRIMÁRIOS, 696
CONCEITOS CHAVES Transporte de Lipídeos no Estado Alimentado, 699
Transporte de Lipídeos no Estado de Jejum, 699
16.1 VIA DAS PENTOSES FOSFATO, 668
A Via das Pentoses Fosfato Tem Duas Fases, 668 17.4 SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS: LIPOGÊNESE,
Oxidação de Glicose 6-Fosfato Conserva Equiva 700
lentes Redox como NADPH e a Descarboxilação Glicose É o Principal Precursor para Síntese de
Fornece Pentoses Fosfato, 668 Ácidos Graxos, 700
Interconversões de Pentoses Fosfato Levam a Via de Biossíntese de Ácidos Graxos, 700
Intermediários da Glicólise, 668 Via de Clivagem do Citrato Fornece Acetil-CoA e
Glicose 6-Fosfato Pode Ser Completamente Oxida NADPH para Lipogênese no Citosol, 704
da a CO2, 670 Modificação de Ácidos Graxos, 705
Via das Pentoses Fosfato Serve como um Sistema O Ácido Graxo Sintase Pode Produzir Outros Áci
Regenerador de NADPH e Fornecedor de Pentoses dos Graxos além do Palmitato, 706
Fosfato, 671 Acil Graxo-CoAs Podem Ser Reduzidos a Alcoóis
Graxos, 707
16.2 INTERCONVERSÕES DE AÇÚCARES E FORMA
ÇÃO DE AÇÚCAR LIGADO A NUCLEOTÍDEO, 672 17.5 ARMAZENAMENTO DE ÁCIDOS GRAXOS
Isomerização e Fosforilação São Reações Comuns COMO TRIACILGLICERÓIS, 707
para Interconverter Carboidratos, 672 Triacilgliceróis São Sintetizados a partir de Acil
Açúcares Ligados a Nucleotídeos São Intermediá Graxo-CoAs e Glicerol 3-Fosfato, 707
rios em Muitas Transformações de Açúcares, 672 Mobilização de Triacilgliceróis Requer Hidrólise, 709
XVIII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Síntese de Triacilgliceróis Ocorre durante o Jejum Glicoesfingolipídeos Geralmente Contêm Galacto


como Parte de um Ciclo Triacilglicerol-Ácido Graxo se ou Glicose, 749
Via Gliceroneogênese, 709 Esfingolipidoses São Doenças Lisossomais de Ar
mazenamento, 753
17.6 UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS PARA PRO
DUÇÃO DE ENERGIA, 709 18.5 PROSTAGLANDINAS E TROMBOXANES, 756
b-Oxidação de Ácidos Graxos de Cadeia Linear É Prostaglandinas e Tromboxanes São Derivados de
um Importante Processo de Produção de Energia, Ácidos Monocarboxílicos, 756
710 Síntese de Prostaglandinas Envolve uma Ciclooxi
Rendimento Energético da b-Oxidação de Ácidos genase, 757
Graxos, 713 Prostaglandinas Têm Muitos Efeitos Fisiológicos,
Comparação entre Síntese e Oxidação de Ácidos 760
Graxos, 714
18.6 LIPOXIGENASE E ÁCIDOS OXIEICOSATETRA
b-Oxidação de Alguns Ácidos Graxos Requer Eta
pas Adicionais, 714 ENOICOS, 761
Corpos Cetônicos São Formados a partir de Acetil Ácidos Mono-Hidroperoxieicosatetraenoicos São
-CoA, 717 Produtos da Ação da Lipoxigenase, 761
Utilização de Corpos Cetônicos por Tecidos Não Leucotrienos e Ácidos Hidroxieicosatetraenoicos
-Hepáticos Requer a Formação de Acetoacetil-CoA, São Hormônios Derivados de HPETEs, 762
718 Leucotrienos e HETEs Afetam Vários Processos
A Oxidação em Peroxissomos de Ácidos Graxos Fisiológicos, 762
Cumpre Muitas Funções, 720
17.7 REGULAÇÃO DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS, 19 Metabolismo de Aminoácidos, 771
721
Regulação no Estado Alimentado, 721 Marguerite W. Coomes
Regulação no Estado de Jejum, 721
Regulação da Oxidação de Ácidos Graxos, 721 CONCEITOS CHAVES
Ácidos Graxos como Moléculas Regulatórias, 722
19.1 INCORPORAÇÃO DE NITROGÊNIO EM AMINO
ÁCIDOS, 772
18 Metabolismo de Lipídeos II: Vias do Metabolis A Maioria dos Aminoácidos É Obtida da Dieta, 772
mo de Lipídeos Especiais, 727 Grupos Amino São Transferidos de Um Aminoáci
do para Formar Outro, 773
Robert H. Glew Piridoxal Fosfato É Cofator das Aminotransferases,
775
CONCEITOS CHAVES Glutamato Desidrogenase Incorpora e Produz
Amônia, 776
18.1 INTRODUÇÃO, 728 Amônia Livre É Incorporada em, e Produzida a
18.2 FOSFOLIPÍDEOS, 728 Partir de Glutamina, 777
Fosfolipídeos Contêm Ácido Fosfatídico Ligado a Aminoácido Oxidases Removem Grupos Amino, 778
uma Base, 728 19.2 TRANSPORTE DE NITROGÊNIO PARA O FÍ
Fosfolipídeos de Membranas Desempenham uma GADO E O RIM, 778
Variedade de Funções, 730 Proteína É Constantemente Degradada, 778
Biossíntese de Fosfolipídeos, 733 Amônia É Liberada no Fígado e no Rim, 779
Distribuição Assimétrica de Ácidos Graxos em Fos
folipídeos Deve-se a Reações de Remodelamento, 19.3 CICLO DA UREIA, 779
735 Átomos de Nitrogênios da Ureia Vêm de Amônia e
Plasmalogênios São Sintetizados a Partir de Alcoóis Aspartato, 779
Graxos, 736 A Síntese de Ureia Requer Cinco Enzimas, 780
A Síntese da Ureia É Regulada por um Efetor Alos
18.3 COLESTEROL, 738 térico e por Indução Enzimática, 781
Colesterol É Amplamente Distribuído nas Formas Doenças Metabólicas da Síntese da Ureia Têm
Livre e Esterificada, 738 Graves Consequências, 782
Colesterol É Sintetizado a Partir de Acetil-CoA, 739
Lipoproteínas Plasmáticas, 741 19.4 SÍNTESE DE AMINOÁCIDOS NÃO-ESSEN
Síntese do Colesterol É Cuidadosamente Regulada, CIAIS, 783
745
Colesterol É Excretado Primariamente como Áci 19.5 DEGRADAÇÃO DE AMINOÁCIDOS, 785
dos Biliares, 747 Aminoácidos Não-essenciais, 785
Aminoácidos Essenciais, 787
18.4 ESFINGOLIPÍDEOS, 748 Aminoácidos de Cadeia Ramificada, 795
Síntese de Esfingosina, 748
Ceramidas São Amidas de Ácidos Graxos Derivadas 19.6 IMPORTANTES METABÓLITOS DERIVADOS
de Esfingosina, 749 DE AMINOÁCIDOS, 802
Esfingomielina É um Esfingolipídeo que Contém Metabólitos Feitos de Mais de um Aminoácido, 809
Fósforo, 749 Glutationa, 811
Conteúdo • XIX

19.7 BIOSSÍNTESE DO HEME, 814 20.10 NUCLEOSÍDEO E NUCLEOTÍDEO QUINASES,


Enzimas Envolvidas na Biossíntese do Heme, 814 852
ALA Sintase Catalisa a Etapa Limitante da Veloci
dade da Biossíntese do Heme, 818 20.11 ENZIMAS QUE METABOLIZAM NUCLEOTÍDE
Porfirias, 819 OS EM FUNÇÃO DO CICLO CELULAR, 853

19.8 CATABOLISMO DO HEME, 820 20.12 SÍNTESE DE COENZIMAS NUCLEOTÍDEOS,


A Bilirrubina É Conjugada para Formar Bilirrubina 854
Diglucuronídeo no Fígado, 821
Hemólise Intravascular Requer a Remoção do 20.13 AGENTES QUIMITERÁPICOS QUE INTERFE
Ferro, 824 REM COM O METABOLISMO DE PURINA E
PIRIMIDINA NUCLEOTÍDEOS, 855
Inibidores do Metabolismo de Purina e Pirimidina
Nucleotídeos, 856
20 Metabolismo de Purina e Pirimidina Nucleotí Base Bioquímica para a Resposta a Agentes Qui
deos, 831 mioterápicos, 860

Joseph G. Cory e Ann H. Cory


21 Inter-relações Metabólicas, 865
CONCEITOS CHAVES Robert A. Harris e David W. Crabb
20.1 INTRODUÇÃO,832
CONCEITOS CHAVES
20.2 FUNÇÕES METABÓLICAS DOS NUCLEOTÍDE
OS, 832 21.1 INTRODUÇÃO, 866
Distribuição de Nucleotídeos Varia com o Tipo de
Célula, 832 21.2 CICLOJEJUM-ALIMENTAÇÃO,869
No Estado Bem Alimentado a Dieta Supre as Ne
20.3 5!-FOSFORRIBOSIL-1-PIROFOSFATO E GLU cessidades Energéticas, 869
TAMINA NASÍNTESE DE NOVO DE NUCLEO No Estado de Jejum Inicial a Glicogenólise Hepáti
TÍDEOS, 833 ca Mantém a Glicose Sanguínea, 870
5’-Fosforribosil-1-pirofosfato, 833 O Estado de Jejum Requer Gluconeogênese a par
tir de Aminoácidos e Glicerol, 871
20.4 SÍNTESE DE PURINA NUCLEOTÍDEOS, 836 No Estado de Realimentação Inicial, o Glicogênio É
Formação de IMP, 836 Formado pela Via Indireta, 873
Síntese de Purina Nucleotídeos É Muito Regulada, Importantes Interações Metabólicas Interórgãos, 874
836 Necessidades Energéticas, Reservas e Homeostase
Bases Púricas e Nucleotídeos São Recuperados Calórica, 874
para Formar Novamente Nucleotídeos, 839 Cinco Fases da Homeostase da Glicose, 876
Purinas Nucleotídeos São Interconvertidos para
Equilibrar os Níveis Celulares de Nucleotídeos de 21.3 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA MUDANÇA
Adenina e Guanina, 840 DO METABOLISMO HEPÁTICO ENTRE OS ES
TADOS BEM ALIMENTADO E DE JEJUM, 879
20.5 GTP É O PRECURSOR DE TETRA-HIDROBIOP Disponibilidade de Substratos Controla Muitas
TERINA, 842 Vias Metabólicas, 879
Efetores Alostéricos Regulam Enzimas-Chaves, 879
20.6 ÁCIDO ÚRICO É O PRODUTO FINAL DA DE Modificação Covalente Regula Enzimas-Chaves, 881
GRADAÇÃO DE PURINAS NO HOMEM, 845 Mudanças nas Quantidades de Enzimas-Chaves
20.7 METABOLISMO DE PIRIMIDINA NUCLEOTÍ Fornecem Adaptações de Longo Prazo, 885
DEOS, 846 21.4 INTER-RELAÇÕES METABÓLICAS DE TECI
Síntese de Pirimidina Nucleotídeos, 846 DOS EM VÁRIOS ESTADOS NUTRICIONAIS E
Síntese de Pirimidina Nucleotídeos É Regulada no
HORMONAIS, 888
Nível da Carbamoil Fosfato Sintetase II, 848
Obesidade, 888
Bases Pirimídicas São Recuperadas para Formar
Fazendo Dieta, 889
Novamente Nucleotídeos, 849
Diabetes Mellitus Tipo 2, 889
20.8 FORMAÇÃO DE DESOXIRRIBONUCLEOTÍDEOS, Diabetes Mellitus Tipo 1,890
849 Câncer, 892
Desoxirribonucleotídeos São Formados por Redu Exercício Aeróbico e Anaeróbico, 894
ção de Ribonucleosídeos 5’-Difosfatos, 849 Gravidez, 895
Síntese de Desoxitimidilato Requer N5, N10-Metile Lactação, 896
no H4Folato, 850 Estresse e Trauma, 896
Interconversões de Pirimidinas: Desoxirribopirimi Doença Hepática, 897
dina Nucleosídeos e Nucleotídeos, 851 Doença Renal, 897
Consumo de Álcool, 898
20.9 DEGRADAÇÃO DE PIRIMIDINA NUCLEOTÍDEOS, Equilíbrio Ácido-Base, 898
851 Cólon, 900
XX • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Parte V
22 Bioquímica dos Hormônios, 907
PROCESSOS FISIOLÓGICOS
Thomas J. Schmidt
23 Biologia Molecular da Célula, 961
CONCEITOS CHAVES
22.1 INTRODUÇÃO, 908 Thomas E. Smith

22.2 HORMÔNIOS E O SISTEMA DE CASCATA HOR CONCEITOS CHAVES


MONAL, 909
Os Sistemas de Cascata Amplificam os Sinais Espe 23.1 TECIDO NERVOSO: METABOLISMO E FUN
cíficos, 909 ÇÃO, 963
Importantes Hormônios Polipeptídicos e Suas Conceitos Essenciais, 963
Ações, 911 ATP e Potencial Elétrico Transmembrânico em
Neurônios, 965
22.3 SÍNTESE DE HORMÔNIOS POLIPEPTÍDICOS E Interação Neurônio–Neurônio Ocorre por Meio de
DERIVADOS DE AMINOÁCIDOS 916 Sinapses, 966
Hormônios Polipeptídicos: Codificação Gênica, 916 Síntese, Armazenamento e Liberação de Neuro
Hormônios Derivados de Aminoácidos, 918 transmissores, 968
Inativação e Degradação de Hormônios Derivados Terminação de Sinais em Junções Sinápticas, 970
de Aminoácidos, 920 Neuropeptídeos São Derivados de Proteínas Pre
cursoras, 975
22.4 PROTEÍNAS DE SINALIZAÇÃO HORMONAL,
921 23.2 O OLHO: METABOLISMO E VISÃO, 976
Visão Geral da Sinalização, 921 Córnea Deriva ATP do Metabolismo Aeróbico, 976
Sistemas Hormonais Cíclicos, 923 Cristalino Consiste Principalmente de Água e Pro
Ciclo Ovariano É Controlado pela Secreção Pulsátil teína, 977
e Cíclica de Hormônio Liberador de Gonadotropi Retina Deriva ATP de Glicólise Anaeróbica, 978
na, 924 Transdução Visual Envolve Eventos Fotoquímicos,
Bioquímicos e Elétricos, 978
22.5 RECEPTORES HORMONAIS DE MEMBRANA, Bastonetes e Cones São Células Fotorreceptoras, 980
926 Visão de Cores Origina-se nos Cones, 987
Algumas Interações Hormônio-Receptor Envolvem
Múltiplas Subunidades Hormonais, 926 23.3 MOTORES MOLECULARES E PROTEÍNAS
Internalização de Receptores, 929 ASSOCIADAS, 990
Contração Muscular, 990
22.6 CASCATAS HORMONAIS INTRACELULARES: Músculo Esquelético: Organização Estrutural de
PROTEÍNA QUINASES, 931 Seus Componentes, 991
Receptor de Insulina: Transdução por Tirosina Qui Contração do Músculo Esquelético, 997
nase, 931 Músculo Cardíaco: Estrutura e Contração, 1000
Atividade da Vasopressina: Proteína Quinase A, Contração do Músculo Liso: Regulação por Cálcio,
933 1001
Hormônio Liberador de Gonadotropina (GnRH): Reservatórios de Energia para Contração Muscular,
Proteína Quinase C, 933 1002
Atividade do Fator Natriurético Atrial (ANF): Pro Outras Classes de Miosinas e Motores Moleculares,
teína Quinase G, 936 1002
22.7 HORMÔNIOS ESTEROIDES, 938 23.4 MECANISMO DE COAGULAÇÃO DO SANGUE,
Estrutura e Funções dos Hormônios Esteroides, 938 1005
Biossíntese de Hormônios Esteroides, 940
Processos Bioquímicos da Hemostasia, 1005
Metabolismo de Hormônios Esteroides, 942
Fase Pró-Coagulante da Hemostasia (Fase 1), 1007
Regulação da Síntese de Hormônios Esteroides,
Algumas Propriedades das Proteínas Envolvidas na
943
Formação do Coágulo, 1009
Vitamina D3, 949
Fase Anticoagulante da Hemostasia (Fase 2), 1012
Transporte de Hormônios Esteroides: Proteínas
Fase Fibrinolítica da Hemostasia (Fase 3), 1016
Plasmáticas de Ligação, 949
Papel dos Resíduos de Gla nos Fatores da Coagula
22.8 RECEPTORES DE HORMÔNIOS ESTEROIDES, ção do Sangue, 1017
950
Hormônios Esteroides Ligam-se a Proteínas Recep 24 Ciclo Celular, Morte Celular Programada e Cân
tores Intracelulares, 950 cer, 1027
Receptores Órfãos, 955
Regulação Negativa (Down-regulation) do Recep Richard M. Schultz
tor de Esteroide pelo Ligante, 955
Receptores Nucleares de Hormônios, Coativadores CONCEITOS CHAVES
e Correpressores, 956
Efeitos Não-Genômicos de Esteroides, 956 24.1 INTRODUÇÃO, 1028
Conteúdo • XXI

24.2 CICLO DE DIVISÃO CELULAR, 1028 Digestão de Lipídeos Requer Vencer sua Limitada
Regulação do Ciclo Celular, 1029 Solubilidade em Água, 1076
Transdução de Sinal de Fator de Crescimento, 1031 Lipídeos São Digeridos pelas Lipases Gástrica e
Pancreática, 1076
24.3 APOPTOSE: MORTE CELULAR PROGRAMA Micelas de Ácidos Biliares Solubilizam Lipídeos
DA, 1034 Durante a Digestão, 1078
Principais Vias da Apoptose, 1034 A Maioria dos Lipídeos Absorvidos É Incorporada
Indução de Apoptose por p53, 1037 em Quilomícrons, 1080
Vias da MAPK Regulam a Morte Celular e a Sobre
vivência Celular, 1038 25.7 METABOLISMO DE ÁCIDOS BILIARES, 1083
Química e Síntese de Ácidos Biliares, 1083
24.4 CÂNCER, 1039 Transporte de Ácidos Biliares, 1083
Oncogenes e Genes Supressores de Tumor, 1039
Propriedades de Células de Câncer, 1040
Múltiplas Mutações São Necessárias para Formar 26 Vitaminas e Minerais: Necessidades e Função,
um Câncer, 1043 1089
Heterogeneidade Genética e Bioquímica no Cân
cer, 1043 Stephen G. Chaney
Agentes Mutagênicos e Promotores Causam Cân
cer, 1046 CONCEITOS CHAVES
Análise Bioquímica de Cânceres Individuais, 1047
26.1 INTRODUÇÃO, 1090
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio 26.2 AVALIAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO, 1090
nais Básicos, 1053 26.3 INGESTÃO DIETÉTICA DE REFERÊNCIA, 1091
Ulrich Hopfer 26.4 VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS, 1092
Vitamina A É Derivada de Carotenoides de Plan
CONCEITOS CHAVES tas, 1092
Síntese de Vitamina D Requer Luz do Sol, 1094
25.1 INTRODUÇÃO, 1054 Vitamina E É uma Mistura de Tocoferóis e Toco
Tipos de Nutrientes, 1054 trienóis, 1098
Vários Órgãos Gastrointestinais Contribuem para a Vitamina K É um Derivado de Quinona, 1099
Digestão de Alimentos, 1054
26.5 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS, 1100
25.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS, 1056
Diferentes Locais de Digestão, 1056 26.6 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS LIBERADO
Enzimas Digestivas São Secretadas como Pró-Enzi RAS DE ENERGIA, 1102
mas, 1057 Tiamina Forma a Coenzima Tiamina Pirofosfato,
Secreção É Regulada por Muitos Secretagogos, 1102
1057 Riboflavina Forma as Coenzimas FAD e FMN, 1103
Niacina Forma as Coenzimas NAD e NADP, 1103
25.3 TRANSPORTE EPITELIAL, 1061 Piridoxina (Vitamina B6) Forma a Coenzima Pirido
Transporte de Solutos Pode Ser Transcelular ou xal Fosfato, 1105
Paracelular, 1061 Ácido Pantotênico e Biotina Formam Coenzimas
Absorção de NaCl Depende de ATPase Trocadora Envolvidas no Metabolismo Energético, 1105
de Na+/K+, Transportadores de Membrana e Ca Ácido α-Lipoico Desempenha Papéis Mútiplos no
nais, 1061 Corpo, 1106
Secreção de NaCl Depende da ATPase Trocadora
de Na+/K+, Transportadores de Membrana e Ca 26.7 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS HEMATOPOI
nais, 1062 ÉTICAS, 1106
Gradientes de Concentração de Íons e Potenciais Ácido Fólico Funciona como Tetra-hidrofolato no
Elétricos Energizam o Transporte de Nutrientes, Metabolismo de Um Carbono, 1106
1066 Vitamina B12 (Cobalamina) Contém Cobalto num
Células Gástricas Parietais Secretam HCl, 1067 Anel Tetrapirrólico, 1108
25.4 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE PROTEÍNAS, 1068 26.8 OUTRAS VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS, 1109
As Peptidases Garantem Digestão Eficiente de Ácido Ascórbico Funciona em Reações de Redução
Proteínas, 1068 e Hidroxilação, 1109
Transportadores de Aminoácidos e de Di- e Tripep Colina e Carnitina Desempenham Várias Funções,
tídeos, 1071 1111
25.5 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS, 26.9 MACROMINERAIS, 1112
1073 Cálcio Tem Muitas Funções Fisiológicas, 1112
Dissacarídeos e Polissacarídeos Requerem Hidróli Magnésio É Requerido por Muitas Enzimas, 1112
se, 1073
Transportadores de Monossacarídeos, 1076 26.10 MINERAIS TRAÇOS, 1112
Deficiência de Ferro Causa Anemia e Imunocom
25.6 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE LIPÍDEOS, 1076 petência Diminuída, 1112
XXII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas

Iodo É Incorporado a Hormônios da Tireoide, 1118 Durante o Crescimento e em Doenças, 1133


Zinco É Requerido por Muitas Proteínas, 1118
Cobre É um Cofator de Enzimas Importantes, 1119 27.4 DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA,
Cromo É um Componente da Cromodulina, 1120 1133
Selênio É Encontrado em Selenoproteínas, 1120 27.5 EXCESSO DE INGESTÃO PROTEICO-ENERGÉ
Manganês, Molibdênio, Fluoreto e Boro São Ele
TICA, 1135
mentos Traços Essenciais, 1121
Obesidade Tem Componentes Dietéticos e Genéti
26.11 A DIETA NORTE-AMERICANA: FATO E FALÁ cos, 1136
CIA, 1121 Obesidade, Resistência a Insulina, Síndrome Meta
bólica e Diabetes Tipo 2, 1137
26.12 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL NA A Obesidade Tem Implicações Significativas para a
PRÁTICA CLÍNICA, 1121 Saúde, 1139
26.13 NUTRIGENÔMICA – O FUTURO DA NUTRI 27.6 CARBOIDRATOS, 1139
ÇÃO, 1122
27.7 GORDURAS, 1139
27 Macronutrientes: Efeitos Metabólicos e Implica 27.8 FIBRAS, 1140
ções para a Saúde, 1129 27.9 COMPOSIÇÃO DOS MACRONUTRIENTES DA
DIETA, 1142
Stephen G. Chaney A Composição da Dieta Afeta o Colesterol Sérico,
1142
CONCEITOS CHAVES Carboidratos, Índice Glicêmico e Carga Glicêmica,
1144
27.1 INTRODUÇÃO, 1130
As Necessidades Nutricionais de Proteína São
27.2 METABOLISMO ENERGÉTICO, 1130 Atendidas Misturando-se Proteínas Vegetais e
O Conteúdo Energético dos Alimentos É Medido Animais, 1145
Primariamente em Quilocalorias, 1130 Fibras de Fontes Variadas São Desejáveis, 1145
O Gasto de Energia É Influenciado por Quatro Recomendações Dietéticas, 1145
Fatores, 1130
27.10 NUTRIGENÉTICA E COMPOSIÇÃO DIETÉTI
27.3 METABOLISMO DE PROTEÍNAS, 1131 CA, 1147
As Proteína da Dieta Desempenha Muitas Funções,
Incluindo a Produção de Energia, 1131 Apêndice: Revisão de Química Orgânica, 1155
O Balanço Nitrogenado Relaciona a Ingestão com
a Excreção de Nitrogênio, 1131 Carol N. Angstadt
Aminoácidos Essenciais Precisam Estar Presentes
na Dieta, 1131
A Economia de Proteínas Está Relacionada com o Glossário, 1167
Conteúdo na Dieta de Carboidratos e Gorduras,
1132 Francis Vella
Necessidades de Proteína do Adulto Normal, 1132
As Necessidades de Proteína São Aumentadas Índice Remissivo, 1199
Correlações ClínInCas • XXIII

Correlações Clínicas
4.2 Análogos de Nucleosídeos e Resistência a Drogas
1 Estrutura da Célula Eucariótica na Terapia do HIV, 150
4.3 Topoisomerases Como Antibióticos, 158
1.1 Condições Médicas Anormais Refletidas no pH do 4.4 Câncer e o Ciclo Celular, 163
Sangue, 7
4.5 Recombinação e Câncer, 164
1.2 Importância do HCO3– do Sangue na Acidose
4.6 Recombinação e Terapia Gênica, 169
Metabólica, 11
1.3 Envelhecimento Acelerado e o Núcleo Celular, 16 4.7 Cisplatina e o Tour de France, 170
Doenças Mitocondriais, 19 4.8 Análogos da Base Tiopurina Como Drogas, 171
1.4
1.5 Enzimas Lisossomais e Gota, 20 4.9 Medicina Personalizada, 172
1.6 Deficiência de Lipase Ácida Lisossomal, 21 4.10 Xeroderma Pigmentoso, 175
1.7 Doenças da Biogênese de Peroxissomos (PBD), 22 4.11 Reparo de Pareamento Errado e Câncer, 177

2 DNA e RNA: Composição e Estrutura 5 RNA: Transcrição e Processamento do RNA

2.1 Vacinas de DNA, 32 5.1 Antibióticos e Toxinas que Têm RNA Polimerase
2.2 Uso Diagnóstico de Matrizes (Arrays) de DNA em Como Alvo, 191
Medicina e Genética, 43 5.2 Síndrome do XFrágil: Uma Doença da Cromatina?
2.3 Antibióticos Antitumorais que Mudam a Forma do 195
DNA, 46 5.3 Envolvimento de Fatores de Transcrição na Car
2.4 Persistência Hereditária da Hemoglobina Fetal, 50 cinogênese, 197
2.5 Telomerase Como Alvo para Agentes Anticâncer, 5.4 Talassemia Decorrente de Defeitos na Síntese de
50 RNA Mensageiro, 202
2.6 Expansão de Repetições de Tripletes de DNA e 5.5 Autoimunidade em Doenças do Tecido Conjuntivo,
Doença Humana, 52 203
2.7 Topoisomerases no Tratamento de Doenças, 56 5.6 Enzimas de Edição de Ácidos Nucleicos: Uma De
2.8 Tratamentos Epigenéticos para o Câncer, 61 fesa Antiviral, Bem Como um Modo de Alterar a
2.9 Resistência de Staphylococcus à Eritromicina, 69 Expressão Gênica, 206
5.7 Envolvimento de MicroRNAs na Oncogênese, 208
5.8 Síndrome de Cockayne, 209
3 Proteínas I: Composição e Estrutura

3.1 Proteínas Plasmáticas no Diagnóstico de Doenças, 6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações


92 Pós-Tradução
3.2 Diferenças em Insulinas Usadas no Tratamento de
Diabetes Mellitus, 94 6.1 Mutações Silenciosas Podem Não Ser Silenciosas:
3.3 Hiperlipoproteinemias, 113 (1) Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford e (2)
3.4 Hipolipoproteinemias, 114 Gene de Resistência a Múltiplas Drogas 1, 220
3.5 Hemoglobina Glicosilada, HbA1c, 117 6.2 Mutações com Sentido Errado: Hemoglobinopa
3.6 DoençasDoenças dede PríonsPríons ee ProteínasProteínas ComoComo AgentesAgentes In-In tias, 220
fecciosos: Encefalopatias Espongiformes Transmis 6.3 Mutações Que Geram um Códon de Terminação,
síveis Humanas (TSEs), 118 221
3.7 Uso de Análise de Aminoácidos no Diagnóstico de 6.4 α-Talassemia, 221
Doenças, 131 6.5 Mudança na Fase de Leitura (Frameshifting) Pro
gramada na Biossíntese de Proteínas de HIV, 223
6.6 Mutações em rRNA e tRNA Mitocondriais Resul
4 Replicação, Recombinação e Reparo do DNA tam em Surdez Induzida por Antibiótico, 235
6.7 Deleção de um Códon, Enovelamento Incorreto e
4.1 A Quimioterapia Pode Ter Como Alvos Precursores Degradação Prematura: Fibrose Cística, 236
da Síntese de DNA, 148 6.8 Doenças de Direcionamento para Lisossomos:
XXIV • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Doença da Célula I, 243 8.6 Tratamento de Câncer Usando Drogas Que Têm
6.9 Terapia por Reposição de Enzima para Doenças Como Alvo a Modificação de Histonas e de DNA:
Lisossomais de Acúmulo, 244 Terapia Epigenética, 341
6.10 Importação Mitocondrial de Proteína Defectiva e
Doença, 245
6.11 Hiperproinsulinemia Familiar, 247
6.12 AusênciaAusência dede ModificaçãoModificação Pós-Tradução:Pós-Tradução: Deficiên-Deficiên
9 Proteínas II: Relações Estrutura-Função em
Famílias de Proteínas
cia Múltipla de Sulfatases, 248
6.13 Defeitos na Síntese de Colágeno, 251
9.1 As Proteínas do Complemento, 351
6.14 Enovelamento Errado de Proteína e Agregação:
9.2 Funções de Diferentes Classes de Anticorpos, 352
Doença de Huntington e Doença de Alzheimer, 256
9.3 Imunização, 353
6.15 Defeitos no Sistema Ubiquitina-Proteassomo, 257
9.4 Formação de Fibrina em um Infarto do Miocár
dio e Uso de Ativador de Plasminogênio Tecidual
Recombinante (rt-PA), 358
7 DNA Recombinante e Biotecnologia 9.5 Envolvimento de Serino Proteases na Metástase de
Células Tumorais, 360
7.1 Reação de Polimerase em Cadeia (Polymerase 9.6 Hemoglobinopatias, 368
Chain Reaction), 268
7.2 PCR em Tempo Real Quantitativo (qRT-PCR) na
Análise de um Gene Associado com Câncer de
Próstata, 269 10 Enzimas: Classificação, Cinética e Controle
7.3 Mapas de Restrição e Evolução, 271
7.4 Sequenciamento Direto de DNA para Diagnóstico 10.1 Hidrólise de Asparaginase e Leucemia, 395
da Síndrome de Bloom: uma Doença Genética, 273 10.2 Mutação de um Sítio de Ligação de Coenzima
7.5 Análise por PCR Multiplex de Defeitos no Gene da Resulta em Doença Clínica, 404
HGPRTase na Síndrome de Lesch–Nyhan, 279 10.3 Um Caso de Gota Demonstra Duas Fases no Me
7.6 Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de canismo de Ação Enzimática, 415
Restrição Determina a Origem Clonal de Tumores, 10.4 Efeito Fisiológico de Mudanças nos Valores de Km
282 de Enzimas, 416
7.7 Polimorfismo de Conformação de Cadeia Única 10.5 Labilidade Térmica da Glicose-6-Fosfato Desidro-ro
para Detecção de Mutações Espontâneas que genase Resulta em Anemia Hemolítica, 419
Podem Levar a SIDS, 284 10.6 Isoenzimas da Álcool Desidrogenase com Diferen
7.8 O Uso de Camundongo Transgênico com Cromos tes pHs Ótimos, 420
somo Artificial de Levedura (YAC) para Estudar a 10.7 Inibidores de Xantina Oxidase Isolados de Plantas,
Doença de Huntington, 290 421
7.9 O Uso de Chromosome Walking e Jumping para 10.8 Planejamento de um Inibidor Seletivo, 422
Identificar o Gene da Fibrose Cística, 292
10.9 Um Caso de Envenenamento, 425
7.10 Mutagênese Sítio-Dirigida de Colágeno Tipo VII
10.10 Cogumelos e Metabolismo de Álcool, 426
(C7), 297
10.11 Testosterona e Câncer de Próstata, 426
7.11 Regulação da Expressão Gênica Mediada por
siRNA, 301 10.12 Produtos Naturais Como Inibidores de Enzimas,
427
7.12 Terapia Gênica: Genes Normais Podem Ser Intro
duzidos em Células com Genes Defectivos, 302 10.13 Um Caso de Gota Demonstra a Diferença entre um
Sítio Alostérico e um Sítio de Ligação de Substrato,
7.13 Modelos de Animais Transgênicos, 304
428
7.14 Camundongos Knockout para Definir um Papel
10.14 Ambiguidade no Ensaio de Enzimas Mutadas, 429
para o Purinoceptor P2Y1, 305
10.15 Identificação e Tratamento de uma Deficiência
7.15 Técnica de Micromatrizes (Microarray) para Detec
Enzimática, 433
tar e Tratar Doenças, 308

8 Regulação da Expressão Gênica 11 Os Citocromos P450 e Óxido Nítrico Sintase

8.1 Resistência Transmissível a Múltiplas Drogas, 329 11.1 Hiperplasia Adrenal Congênita: Deficiência de
8.2 O Patógeno Bacteriano do Estômago: Helicobacter CYP21A2, 452
pylori, 330 11.2 Produção de Hormônios Esteroides Durante a
8.3 Síndrome de Rubstein-Taybi, 332 Gestação, 452
8.4 O Tamoxifeno e o Receptor de Estrógeno Como 11.3 Inibição de Citocromo P450: Interações Droga–
Alvo, 339 Droga e Efeitos Adversos, 455
8.5 Fatores de Transcrição e Doença Cardiovascular, 11.4 Papel do Citocromo P450 2E1 na Toxicidade Hepá-Hepá
339 tica Induzida por Acetaminofen, 457
Correlações ClínInCas • XXV
11.5 Indução de Citocromo P450: Interações Droga–
Droga e Efeitos Adversos, 458 15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
11.6 Polimorfismos Genéticos de Enzimas P450, 460 Metabólicas e Seu Controle
11.7 Polimorfismos Genéticos de NADPH-Citocromo
P450 Redutase: Síndrome de Antley–Bixler, 461 15.1 Álcool e Barbituratos, 622
11.8 O Mecanismo de Ação de Sildenafil, 465 15.2 Envenenamento por Arsênico, 624
11.9 SuperproduçãoSuperprodução dede ÓxidoÓxido NítricoNítrico nono ChoqueChoque Sép-Sép 15.3 Intolerância a Frutose, 626
tico, 466 15.4 Diabetes Mellitus, 628
11.10 História e Efeitos Biológicos da Nitroglicerina, 467 15.5 Acidose Láctica, 630
11.11 Usos Terapêuticos de Óxido Nítrico Inalado, 468 15.6 “Picles” de Porco e Hipertermia Maligna, 631
11.12 O Papel de eNOS na Disfunção Endotelial, 469 15.7 Angina Pectoris e Infarto do Miocárdio, 632
15.8 Deficiência de Piruvato Quinase e Anemia Hemo
lítica, 638
12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e 15.9 Hipoglicemia e Bebês Prematuros, 639
15.10 Hipoglicemia e Intoxicação Alcoólica, 648
Transporte de Solutos
15.11 Doenças de Armazenamento de Glicogênio, 653
12.1 LipossomosLipossomos comocomo CarregadoresCarregadores dede Drogas,Drogas, Proteí-Proteí
nas e Ácidos Nucleicos, 486
12.2 Anomalias na Fluidez de Membranas Celulares em 16 Metabolismo de Carboidratos II: Vias Especiais
Doenças, 492 e Glicoconjugados
12.3 O Rim de Mamíferos e as Aquaporinas, 500
12.4 Doenças Que se Devem à Perda de Sistemas de 16.1 Deficiência de Glicose 6-Fosfato Desidrogenase,
Transporte de Membranas, 507 669
12.5 Fibrose Cística e o Canal de Cl–, 516 16.2 SíndromeSíndrome dede �ernicke–Korsakoff:�ernicke–Korsakoff: AnomaliasAnomalias As-As
12.6 DoençasDoenças QueQue EnvolvemEnvolvem aa SuperfamíliaSuperfamília dede Trans-Trans sociadas e Atividade de Transcetolase, 671
portadores ABC, 518 16.3 Frutosúria Essencial e Intolerância a Frutose:
Deficiência de Frutoquinase e de Frutose 1-Fosfato
Aldolase, 673
13 Fundamentos da Transdução de Sinal 16.4 Galactosemia:Galactosemia: IncapacidadeIncapacidade dede TransformarTransformar Galac-Galac
tose em Glicose, 674
13.1 Família de Receptores Tirosina Quinases ErbB/HER 16.5 Pentosúria: Deficiência de Xilitol Desidrogenase;
Como Alvos para Quimioterapia do Câncer, 539 L-Xilulose Redutase, 675
13.2 Antagonistas Endógenos de Receptores de In 16.6 O Ácido Ascórbico (Vitamina C) É Derivado de
terleucina-1 Como Terapia para Doenças Infla Ácido Glucurônico, 675
matórias, 541 16.7 ÁcidoÁcido Glucurônico:Glucurônico: SignificadoSignificado FisiológicoFisiológico dada For-For
13.3 Receptores de Quimiocinas Acoplados a Proteína mação de Glucuronídeos, 675
G como Alvos para o Vírus da Imunodeficiência 16.8 Substâncias dos Grupos Sanguíneos, 678
Humana (HIV), 543 16.9 Doenças Congênitas de Glicosilação (CDGs, con
13.4 Mutações em Proteína G em Tumores de Glândula genital disorders of glycosylation), 681
Pituitária e Doenças Endócrinas, 545 16.10 Defeitos no Catabolismo de Glicoproteínas, 682
13.5 Alterações na Sinalização do Receptor b-Adrenér 16.11 Doenças de Glicolipídeos, 683
gico na Insuficiência Cardíaca Congestiva, 547 16.12A Heparina É um Anticoagulante, 683
13.6 Sinalização por Óxido Nítrico/cGMP Como Alvos 16.13 CondrodistrofiasCondrodistrofias DecorrentesDecorrentes dede DefeitosDefeitos dede Sulfa-Sulfa
Terapêuticos em Doenças Cardíacas e Vasculares, tação, 686
550 16.14 Mucopolissacaridoses, 687

14 Bioenergética, Mitocôndria e Metabolismo Oxi 17 Metabolismo de Lipídeos I: Síntese, Armazena


dativo mento e Utilização de Ácidos Graxos e Triacil
gliceróis
14.1 Deficiência de Piruvato Desidrogenase, 571
14.2 Deficiência de Fumarase, 574 17.1 Obesidade, 697
14.3 Envenenamento por Cianeto, 589 17.2 Papel Chave do Metabolismo de Ácidos Graxos no
14.4 Neuropatia Óptica Hereditária de Leber, 600 Diabetes Tipo 2: Um Tributo a J. Denis McGarry,
14.5 Miopatias Mitocondriais Decorrentes de Mutações 698
em Genes de tRNA Mitocondrial, 600 17.3 Ciclo Triacilglicerol/Ácido Graxo, 710
14.6 Intolerância a Exercício em Pacientes com Muta 17.4 Deficiências Genéticas no Transporte por Carnitina
ções no Citocromo b, 601 ou na Carnitina Palmitoil Transferase, 713
14.7 NADPH Oxidase (NOX) na Saúde e na Doença, 603 17.5 DeficiênciasDeficiências GenéticasGenéticas dasdas Acil-CoAAcil-CoA Desidroge-Desidroge
14.8 Lesão por Reperfusão do Miocárdio, 604 nases, 714
XXVI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
17.6 Doença de Refsum, 717
17.7 Corpos Cetônicos Como Combustíveis: A Dieta de
20 Metabolismo de Purina e Pirimidina Nucleotí
Atkins, 719 deos
17.8 Ácidos Graxos como Moléculas Regulatórias, 722
20.1 Mutações com Perda de Função da Fosforribosil
pirofosfato Sintetase 1 (PRPS1): Síndrome de Arts,
834
18 Metabolismo de Lipídeos II: Vias do Metabolis 20.2 Gota, 835
mo de Lipídeos Especiais 20.3 Síndrome de Lesch–Nyhan, 841
20.4 Atividade Citosólica Aumentada de 5’-Nucleotida-a
18.1 Remoção (clearance) de Eritrócitos: Papel da Fosfa se, 843
tidilserina, 731 20.5 Doenças de Imunodeficiências Associadas a Defei
18.2 Síndrome do Desconforto Respiratório, 732 tos na Degradação de Purina Nucleosídeos, 844
18.3 Tratamento da Hipercolesterolomia, 747 20.6 Síndrome da Lise Tumoral (TSL), 845
18.4 Aterosclerose, 747 20.7 Acidúria Orótica Hereditária, 847
18.5 Diagnóstico da Doença de Gaucher em um Adulto, 20.8 Síndrome da Encefalopatia Neurogastrointestinal
756 Mitocondrial (MNGIE), 853

19 Metabolismo de Aminoácidos 21 Inter-relações Metabólicas

19.1 Deficiências de Carbamoil Fosfato Sintetase e de 21.1 Obesidade e a Síndrome Metabólica, 866
N-Acetilglutamato Sintetase, 783 21.2 Desnutrição Proteico-Calórica, 867
19.2 Deficiências de Enzimas do Ciclo da Ureia, 784 21.3 Jejum, 868
19.3 Selenoproteínas, 787 21.4 Coma Hiperglicêmico, Hiperosmolar, 877
19.4 Hiperglicinemia Não-Cetótica: Encefalopatia da 21.5 Hiperglicemia e Glicação de Proteínas, 877
Glicina, 788 21.6 Diabetes Mellitus Tipo 2, 891
19.5 Deficiência de Prolina Desidrogenase, 788 21.7 Hipoglicemia e Diabetes, 892
19.6 Deficiências na Via do Semialdeído Glutâmico, 788 21.8 Diabetes Mellitus Tipo 1,893
19.7 Fenilcetonúria, 790 21.9 Caquexia do Câncer, 893
19.8 Tirosinemias, 791
19.9 Alcaptonúria, 793
19.10 Homocisteinemia e Homocisteinúria, 794
19.11 Doenças Envolvendo Cistina, 795
22 Bioquímica dos Hormônios

19.12 Doenças do Metabolismo de Ácido Glutárico, 797 22.1 Hipopituitarismo, 914


19.13 Hiperlisinemia e Intolerância à Proteína Lisinúrica, 22.2 Puberdade Precoce, 924
798
22.3 Atividade Reduzida do Receptor de Insulina
19.14 Histidinemia e Deficiência de Formiminotransfera-a Quinase no Diabetes Mellitus Gestacional, 934
se, 799
22.4 Contracepção Oral, 947
19.15 Doença da Urina em Xarope de Bordo e Outras
22.5 Síndrome do Excesso Aparente de Mineralocorti
Doenças das Vias Degradativas de Aminoácidos de
coide, 952
Cadeia Ramificada, 801
22.6 Mutação no Receptor de Mineralocorticoide Resul
19.16 Acidemia Propiônica e Acidúria Metilmalônica,
ta em Hipertensão e Toxemia na Gravidez, 954
803
19.17 Hiperoxalúria Primária, 804
19.18 Deficiência de Metionina Adenosiltransferase
(MAT), 805 23 Biologia Molecular da Célula
19.19 Mal de Parkinson, 807
19.20Tetra-hidrobiopterina, 809 23.1 A Barreira Hemato-Encefálica e Defeitos no Trans
19.21 Albinismo, 810 porte de Glicose, 964
19.22Deficiência de Triptofano Hidroxilase, 811 23.2 Síndrome Miastênica de Lambert–Eaton, 971
19.23 Porfiria Intermitente Aguda, 818 23.3 Miastenia Gravis: Um Distúrbio Neuromuscular, 972
19.24Função Citoprotetora da Heme Oxigenase, 820 23.4 Degeneração da Mácula e Perda da Visão, 979
19.25 Hemólise Isoimune Neonatal, 821 23.5 Doença de Niemann–Pick e Retinite Pigmentosa,
981
19.26 Deficiência de Bilirrubina UDP-Glucuronosiltrans
ferase, 822 23.6 Retinite Pigmentosa por Mutação do Gene da
Periferina, 982
19.27 Elevação da Bilirrubina Conjugada Sérica, 823
23.7 Amaurose Congênita de Leber: Distrofia da Retina
Que Leva à Cegueira, 988
23.8 Canelopatias de Íons Voltagem-Dependentes, 994
Correlações ClínInCas • XXVII
23.9 Cardiomiopatias Hipertróficas Familiares e Muta 25.9 Cálculos de Colesterol, 1081
ções em Proteínas Musculares, 994 25.10 Absorção de Colesterol, 1082
23.10 Cardiomiopatia Dilatada e Mutações na Actina, 25.11 A-b-Lipoproteinemia, 1083
996
23.11 Subunidades da Troponina como Marcadores do
Infarto do Miocárdio, 999
23.12 Canais Iônicos e Doença do Músculo Cardíaco,
26 Vitaminas e Minerais: Necessidades e Função
1001
26.1 Considerações Nutricionais na Fibrose Cística, 1094
23.13 Mutações Que Afetam Pigmentação: Existe uma
Conexão com Motor Molecular? 1003 26.2 Osteodistrofia Renal, 1096
23.14 Defeitos da Via Intrínseca: Deficiência de Pré-cali 26.3 Considerações Nutricionais em Recém-Nascidos,
creína, 1008 1101
23.15 Hemofilia Clássica, 1013 26.4 DrogasDrogas AnticonvulsivantesAnticonvulsivantes ee NecessidadesNecessidades Vita-Vita
mínicas, 1101
23.16 Uso do Fator VIIa Recombinante para Controlar
Sangramento, 1013 26.5 Considerações Nutricionais em Alcoólatras, 1103
23.17 Trombose: Defeitos na Via da Proteína C e Níveis 26.6 Polimorfirmos Genéticos e Necessidades de Ácido
Aumentados de Fatores da Coagulação, 1016 Fólico, 1108
26.7 Necessidades Nutricionais de Pessoas Idosas, 1110
26.8 Dieta e Osteoporose, 1113
26.9 Ceruloplasmina e Metabolismo do Ferro, 1116
24 Ciclo Celular, Morte Celular Programada e Cân 26.10 Hemocromatose, 1117
cer 26.11Testes Clínicos para Anemia por Deficiência de
Ferro e Hemocromatose, 1118
24.1 Vírus Oncogênicos de DNA, 1041 26.12 Doenças do Metabolismo do Cobre, 1120
24.2 Droga Anticâncer Molecularmente Dirigida, 1044
24.3 Causa Ambiental do Câncer Humano, 1045

27 Macronutrientes: Efeitos Metabólicos e Implica


ções para a Saúde
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio
nais Básicos 27.1 DietasDietas VegetarianasVegetarianas ee NecessidadesNecessidades Proteico-Ener-Proteico-Ener
géticas de Crianças, 1133
25.1 A Cloridorreia Familiar Causa Alcalose Metabólica, 27.2 Ingestão de Proteínas na Dieta e Doença Renal,
1064 1134
25.2 Fibrose Cística no Pâncreas, 1065 27.3 Oferecendo Proteínas e Calorias Adequadas para
25.3 Diarreias Bacterianas Toxigênicas e Terapia de Pacientes Hospitalizados, 1135
Reposição de Eletrólitos, 1066 27.4 Carga de Carboidratos e Resistência Atlética, 1140
25.4 Autodigestão Tríptica e Pancreática, 1070 27.5 Dietas Ricas em Carboidratos Versus Dietas Ricas
25.5 Enteropatia por Glúten, 1071 em Gorduras para Diabéticos, 1141
25.6 Aminoacidúria Neutra: Doença de Hartnup, 1073 27.6 Ácidos Graxos Poli-insaturados e Fatores de Risco
25.7 Deficiência de Dissacaridases, 1075 para Doença Cardíaca, 1143
25.8 Intervenções Farmacológicas para Evitar Absorção 27.7 Adaptação Metabólica: Relação entre Ingestão de
de Gordura e Obesidade, 1078 Carboidratos e Triacilglicerol Sérico, 1147
XXVIII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Correlações ClínInCas • XXIX

Um Olhar mais Atento


1 Estrutura da Célula Eucariótica 14 Bioenergética, Mitocôndria e Metabolismo Oxi
dativo
1.1 Ácido Carbônico (H2CO3) é um Ácido Fraco Impor
tante na Homeostase de Animais, 9 14.1 OO CicloCiclo QQ parapara TransferênciaTransferência dede ElétronsElétrons ee Bom-Bom
1.2 Problemas de pH e Tamponamento, 11 beamento de Prótons no Complexo III, 585
14.2 Vias de Transferência de Elétrons no Complexo IV,
588
3 Proteínas I: Composição e Estrutura 14.3 Síntese de ATP em F1, 593
14.4 EvidênciaEvidência ExperimentalExperimental dada RotaçãoRotação dasdas Subuni-Subuni
dades g e c pela ATP Sintase, 595
3.1 Clívagem Proteolítica da Proinsulina, 92
3.2 Absorbância de Luz Ultravioleta e Visível Mostra
uma Dependência Linear de Concentração e Com
primento do Caminho, 136 15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
Metabólicas e Seu Controle

6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações 15.1 2,3-Bisfosfoglicerato e Altitude Elevada, 620


Pós-Tradução 15.2 GliceraldeídoGliceraldeído 3-Fosfato3-Fosfato DesidrogenaseDesidrogenase ee aa Hiper-Hiper
glicemia, 623
6.1 Aminoacil-tRNA Sintetases, 218 15.3 Hexoquinase II e Câncer, 626
6.2 Estrutura e Função dos Ribossomos, 225 15.4 6-Fosfofruto-2-quinase/Frutose-2,6-bisfosfatase e o
Câncer, 637
6.3 Chaperones do Retículo Endoplasmático, 238
15.5 TIGAR e Câncer, 637
6.4 Ubiquitina e SUMO, 257
15.6 Piruvato Quinase M2 e o Câncer, 638
15.7 Glicogênio Fosforilado e Doença de Lafora, 655

10 Enzimas: Classificação, Cinética e Controle

10.1 Unidades de Energia, 397


19 Metabolismo de Aminoácidos
10.2 Estereoquímica Ajuda a Explicar o Mecanismo de
Reações Catalisadas por Enzimas, 403 19.1 OO NitrogênioNitrogênio UreicoUreico SanguíneoSanguíneo ee MedidaMedida dodo Bal-Bal
anço Nitrogenado, 774
10.3 Abreviações para NAD e NADP, 405
19.2 Mecanismo das Aminotransferases, 775
10.4 Reações Complexas, 412
19.3 Ciclo Intercelular de Glutamina, 780
10.5 Derivação da Equação de Michaelis-Menten, 414
19.4 Enzimas Piruvoil, 787
10.6 Varredura de Alto Desempenho para Encontrar
Inibidores e Ativadores de Enzimas, 427 19.5 Triptofano, Carboidratos e Sono, 796
10.7 Ensaiosnsaios dede LaboratórioLaboratório ClínicoClínico EmpregandoEmpregando Enzi-Enzi 19.6 Lisina e Pipecolato, 799
mas, 435 19.7 Urocromo, 823
10.8 ImunoensaiosImunoensaios LigadosLigados aa EnzimasEnzimas EmpregamEmpregam Enzi-Enzi
mas Como Indicadores, 435
23 Biologia Molecular da Célula

12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e 23.1 Estrutura da Acetilcolina Esterase, 973


Transporte de Solutos 23.2 Estrutura da LeuT-Desimpramina: Uma Pista para
o Mecanismo de Recaptação Neuronal de Dopa
12.1 Fosfatidilinositóis Têm Muitas Funções, 479 mina, Epinefrina e Serotonina, 973
12.2 Deslocamento de Grupo e o Ciclo g-Glutamil, 497 23.3 Mudanças Conformacionais durante a Formação
da “Rodopsina Ativa”, 987
23.4 Homologia de Sequência dos Pigmentos Visuais,
989
23.5 Diagnóstico da Cegueira a Cor de John Dalton,
990
XXX • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
23.6 OutrasOutras DiferençasDiferenças FísicasFísicas ee QuímicasQuímicas EntreEntre Bas-Bas
tonetes e Cones, 990 24 Ciclo Celular, Morte Celular Programada e Cân
23.7 EvidênciaEvidência ExperimentalExperimental dasdas RegiõesRegiões dede Articula-Articula cer
ção (hinge) e da Parte da Molécula que Promove
Agregaçãos, 993 24.1 A Família de Proteínas Bcl-2, 1036
23.8 Homologia entre Miosinas de Diferentes Fontes,
995
23.9 EvidênciaEvidência dede MudançasMudanças ConformacionaisConformacionais nana Lib-Lib
eração de Pi e ADP, 1000
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio
nais Básicos
23.10Trombomodulina, 1017
23.11 Arranjo Estrutural do Ativador de Plasminogênio 25.1 Amidação de Hormônios Peptídicos e Neuropep
Tecidual, 1018 tídeos, 1060
23.12Ativação de Zimogênios Envolvidos na Coagulação
do Sangue, 1018
23.13 Possível Mecanismo de Ação da Vitamina K na
Carboxilação de Proteínas, 1018
PrefáCIo • XXXI

Prefácio

No início da década de 1980, fomos motivados a pre Objetivos e Escopo da Apresentação


parar a Primeira Edição do Manual de Bioquímica com
Correlações Clínicas porque, naquele momento, ne da Sétima Edição
nhum texto bioquímico enfatizava os espantosos avan
Os seguintes objetivos foram estabelecidos na Pri
ços da segunda metade do século vinte em relação ao
nosso conhecimento sobre a bioquímica celular normal meira Edição e foram mantidos em todas as edições
e anormal de mamíferos, especificamente a humana. subsequentes. São eles:
Assim, decidiu-se que, neste texto, o foco da apresen Apresentar uma discussão clara e precisa da bioquí
tação seria a bioquímica celular básica de eucariotos, mica de células eucarióticas, com ênfase na de tecidos
com ênfase em células e tecidos de mamíferos. A pro de mamíferos
fundidade e o escopo da apresentação ainda são de um
texto de bioquímica básica. Na preparação da Primeira O escopo e a profundidade da apresentação devem
Edição, também queríamos que os estudantes tivessem atender às exigências de cursos de bioquímica em nível
uma idéia de como a pesquisa bioquímica levou ao en de graduação superior, de pós-graduação e profissionais
tendimento das causas de muitas doenças humanas.
Isto foi realizado pela apresentação de descrições da Relacionar eventos bioquímicos em nível celular
bioquímica de doenças selecionadas em caixas separa com processos fisiológicos no animal inteiro
das de Correlações Clínicas. Estas correlações dão sig
nificado à bioquímica, facilitando assim o processo de Citar exemplos de processos bioquímicos anormais
aprendizado. A popularidade entre os estudantes das em doenças humanas
correlações clínicas encorajaram-nos a adicionar novas O livro é organizado e escrito de modo que qualquer
nas edições subsequentes.
sequência de tópicos considerada mais adequada pelo
instrutor possa ser apresentada. Ao longo deste texto,
resultados de pesquisas com organismos não-mamífe
Por que uma Sétima Edição? ros são apresentados se a informação for mais avançada
O crescimento constante da profundidade de nosso do que a de estudos semelhantes em células de mamífe
conhecimento da bioquímica e dos mecanismos de con ros. Assim, o livro apresenta uma imagem atual de nos
trole das células e dos tecidos normais foram o incenti so conhecimento da bioquímica de células eucarióticas.
vo primário para atualizar o conteúdo do livro.

Resultados de pesquisa recente levaram a um en Mudanças Significativas na Sétima


tendimento dos eventos moleculares de muitos proces
sos celulares e fisiológicos, que até agora eram muito Edição
pouco entendidos, como proteínas da matriz extrace
lular, morte celular programada, motores moleculares Todos os capítulos foram atualizados, com inclusão
e sinalização celular. Portanto, é conveniente incluir de nova informação e condensação de algum material.
estes e outros tópicos neste livro. Além disso, muitos Algumas mudanças são:
desses tópicos são agora apresentados em cursos de • Uma discussão expandida sobre microRNAs
bioquímica.
• Uma apresentação profunda do complexo de pro
Finalmente, também foi necessário reorganizar al teínas da lâmina basal, de motores moleculares,
guns tópicos, uma vez que a pesquisa descobriu as com morte celular programada e câncer
plexas relações entre muitos processos celulares e tis
• Uma apresentação de mecanismos de transporte
sulares. Ao lado dessas mudanças, o escopo e o número
de membrana, em conformidade com a nomencla
de Correlações Clínicas aumentaram, cobrindo tópicos
tura atual e orientações de pesquisa
tão diversos como infecções por HIV, hipercolesterole
mia, diabetes e doença de Parkinson. • Uma discussão sobre proteínas não-estruturadas
XXXII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
• Uma discussão reorganizada sobre o metabolismo ou enzima no banco de dados Online Mendelian
de aminoácidos que separa a síntese, a degradação Inheritance in Man (OMIM) são indicados nos lu
e as funções dos aminoácidos gares correspondentes no texto. O banco de dados
OMIM (www.ncbi.nlm.nih.gov/Omim) cataloga do
• Uma discussão sobre o metabolismo do heme in
enças conhecidas com um componente genético.
cluída em aminoácidos, o que é a localização mais
comum em programas de ensino
• Uma apresentação abrangente da absorção e do Conteúdo e Organização da Sétima
transporte de ferro
Edição
• Uma discussão inclusiva da função de vitaminas,
concentrada em um capítulo O conteúdo da sétima edição é dividido em cinco
partes principais.
• Uma atualização das bibliografias dos capítulos,
com seleção de referências de fontes de fácil aces • Parte I, Estrutura de Macromoléculas, contém um
so, muitas acessíveis na Rede. Referências são capítulo introdutório sobre a estrutura da célula
geralmente de artigos de revisão e publicações eucariótica (Capítulo 1), seguido de dois capítulos
originais; páginas da rede cuidadosamente selecio sobre a química e a estrutura de ácidos nucleicos
nadas são também apresentadas (Capítulo 2) e proteínas (Capítulo 3).
• Aproximadamente metade das questões e respos • Parte II, Transmissão da Informação, começa com
tas anotadas são novas nesta edição; são seme capítulos separados sobre a síntese das principais
lhantes às de exames de admissão em cursos de macromoléculas celulares, isto é, DNA (Capítulo
pós-graduação e profissionais, algumas são basea 4), RNA (Capítulo 5), e proteínas (Capítulo 6). Um
das em dados apresentados em uma vinheta clíni capítulo sobre DNA recombinante e biotecnologia
ca, e cada grupo de questões tem várias perguntas é incluído porque o conhecimento e as técnicas
de solução de problemas desta área tiveram e continuam a ter um profundo
impacto sobre a pesquisa em quase todas as face
Além disso, em resposta a recomendações de revi tas da bioquímica (Capítulo 7). A Parte II termina
sores, seções de muitos capítulos foram reorganizadas com um capítulo sobre a Regulação da Expressão
para um melhor fluxo de informação. Conteúdos rela Gênica, na qual mecanismos tanto de procariotos
cionados, que em edições anteriores eram apresentados como de eucariotos são apresentados (Capítulo 8).
em vários capítulos diferentes, foram consolidados em • Parte III, Funções de Proteínas, abre com uma
uma única apresentação. Ilustrações foram atualizadas
apresentação da relação estrutura-função de qua
e novas figuras adicionadas. O adágio “Uma imagem tro importantes famílias de proteínas, isto é, mo
vale por mil palavras” é apropriado, e o leitor é encora léculas de anticorpo, serino proteases, hemoglobi
jado a estudar as ilustrações porque elas estão lá para na e proteínas da lâmina basal (Capítulo 9). Esta
esclarecer aspectos confusos de um tópico. é seguida por uma discussão detalhada da função
Como nas edições anteriores, há frequentes referên e da cinética enzimática (Capítulo 10) e um capí
cias cruzadas entre capítulos. tulo separado sobre os citocromos P450, uma sin
gular e importante família de enzimas (Capítulo
11). Um capítulo sobre a estrutura de membranas
Novas Características da Sétima e os mecanismos essenciais de transporte trans
membrânico (Capítulo 12), e um capítulo sobre os
Edição mecanismos básicos da transdução de sinal celular
concluem a Parte III (Capítulo 14). Estes capítulos
Para facilitar o aprendizados dos estudantes, adicio
apresentam os fundamentos destes tópicos, e ca
namos várias características novas ao texto. pítulos subsequentes apresentam suas funções em
• Conceitos Chaves: uma lista de Conceitos Chaves processos celulares específicos.
aparece no início de cada capítulo para os estu • Parte IV, Vias Metabólicas e Seu Controle, abre
dantes usarem como guia à medida que estudam com um capítulo sobre bioenergética e metabolis
o capítulo e como referência para autoavaliação no mo oxidativo (Capítulo 14). Capítulos separados
final do estudo. descrevem as principais vias metabólicas de car
• Um Olhar mais Atento: estas caixas contêm infor boidratos (Capítulo 15) e vias especiais de carboi
mação suplementar sobre o tópico em discussão. dratos e glicoconjugados (Capítulo 16). Segue-se
um capítulo cobrindo a síntese, o armazenamen
• Termos Chaves: uma lista de Termos Chaves apa
to e a utilização de energia na forma de lipídeos
rece no fim de cada capítulo.
(Capítulo 17), depois um descrevendo o metabo
• Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM): lismo de fosfolipídeos, esfingolipídeos, colesterol e
números de acesso associados com uma doença prostaglandinas (Capítulo 18). O metabolismo de
PrefáCIo • XXXIII
aminoácidos e do heme é coberto no Capítulo 19, texto principal não requer a leitura das Correlações Clí
seguido pela síntese e degradação de nucleotídeos nicas. Referências são incluídas nas Correlações para
de purina e pirimidina (Capítulo 20). Um capítulo facilitar a exploração do tópico em maiores detalhes.
sobre a integração dessas vias metabólicas no ho Em alguns poucos casos, as condições clínicas são dis
mem completa esta parte (Capítulo 21). Grande ên cutidas como parte do texto primário porque estudos
fase, ao longo de toda a Parte IV, é dada ao controle da condição médica levaram a um entendimento de um
de cada via ou processo. processo bioquímico básico.
• Parte V, Processos Fisiológicos, cobre as áreas ex
clusivas de células e tecidos de mamíferos, come Suplementos em Inglês
çando com um capítulo sobre hormônios, que en
fatiza suas funções bioquímicas como mensageiros O Manual de Bioquímica com Correlações Clíni
(Capítulo 22) e um capítulo sobre biologia mole cas, 7.ª edição, oferece uma variedade de recursos ino
cular da célula, contendo discussões sobre quatro vadores para dar suporte a estudantes e instrutores no
sistemas fisiológicos importantes de transdução de site <www.wiley.com>.
sinal: o sistema nervoso, o olho, contração muscu
lar e motores moleculares, e coagulação do sangue Para estudantes
(Capítulo 23). Uma discussão sobre o ciclo celular,
Explorações Guiadas. 50 apresentações completas,
morte celular programada e câncer, três tópicos es
muitas com narração, usando extensa animação com
treitamente relacionados, é apresentada (Capítulo
putacional gráfica, para melhorar o entendimento de
24). Um capítulo sobre a complexa e integrada bio
tópicos chaves.
química da digestão e da absorção dos constituin
tes nutricionais básicos (Capítulo 25) é seguida por Exercícios Interativos. 22 estruturas moleculares que
um sobre as funções e as necessidades nutricionais foram construídas em Jmol, uma interface indepen
de vitaminas e minerais no metabolismo (Capítu dente de browser para manipular estruturas em três
lo 26). O último capítulo cobre os princípios gerais dimensões, e pareadas com questões para facilitar a
da nutrição humana com proteínas, carboidratos e compreensão dos conceitos.
gorduras (Capítulo 27).
Figuras Animadas. 25 figuras ilustrando vários concei
tos, técnicas e processos; apresentadas em animações
Um Glossário com definições precisas serve de refe
curtas, que servem como ferramentas de aprendizado
rência rápida para a maior parte das palavras comuns
na linguagem em contínua expansão das ciências bio muito úteis.
químicas. Novos termos foram adicionados para enri
quecer esta seção. Em Conclusão
Uma Revisão de Química Orgânica, como um Apên Como nas edições anteriores, este trabalho é um li
dice, é projetado como uma referência rápida para a vro multiautores. Todos os coautores são de nível aca
nomenclatura e as estruturas de moléculas orgânicas dêmico sênior, e todos são membros das faculdades de
importantes encontradas em bioquímica; não pretende diferentes universidades. Todos os coautores estão en
ser uma revisão abrangente. O leitor deve se familiari volvidos ativamente no ensino de bioquímica de progra
zar com o conteúdo do Apêndice de modo que possa ser mas de pós-graduação e/ou de medicina, e todos têm
usado quando necessário, enquanto lê o texto principal. um interesse de pesquisa ativo no assunto apresentado
no capítulo que ele ou ela escreveu. Eles preparam seus
Caixas de Correlações Clínicas em todos os capítu
capítulos a partir da perspectiva do instrutor de sala
los descrevem exemplos de doenças humanas nas quais
as ramificações de processos bioquímicos alterados es de aula, com a experiência para selecionar os tópicos e
determinar a ênfase necessária aos estudantes em um
tão bem estabelecidas. Existem 260 Correlações Clíni
cas apresentando a bioquímica aberrante de condições curso de bioquímica geral.
médicas, desde muito comuns até relativamente raras, Cada autor traz ao livro uma abordagem individual,
e em alguns casos seus tratamentos baseados no co levando a algumas diferenças na apresentação. Todos os
nhecimento bioquímico da condição. As apresentações capítulos, entretanto, foram editados para apresentarem
são discussões da bioquímica alterada, e não um estudo um estilo de escrita consistente e para eliminar repeti
de caso médico. Em alguns casos, a mesma condição ções desnecessárias e redundâncias. Alguns poucos tó
clínica é apresentada em capítulos diferentes, mas cada picos são discutidos em dois lugares no livro, para tornar
vez está baseada na bioquímica que está sendo apre as discussões individuais completas e autônomas. Esta
sentada. No caso de várias doenças importantes, como, repetição deve facilitar o processo de aprendizado.
por exemplo, diabetes, uma única Correlação Clínica foi
elaborada como discussão primária, e outras Correla O livro não tem por objetivo ser um compêndio de fa
ções sobre a mesma doença citam a primeira como in tos bioquímicos ou uma revisão da literatura atual, mas
formação geral de base. O entendimento do material do cada capítulo contém detalhes suficientes sobre o as
XXXIV • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
sunto para torná-lo útil como recurso. Os autores foram cunhos, bem como a responsabilidade pela conferência
orientados a não citarem pesquisadores individuais e final do livro foram inteiramente minhas. Aceito total
não tratarem de aspectos históricos de seus tópicos; responsabilidade por essas decisões. São bem-vindos
nossas desculpas aos muitos cientistas, que merecem comentários, críticas e sugestões de estudantes, pro
reconhecimento por suas excepcionais contribuições à fessores e profissionais. Nossa esperança é que este
pesquisa e que tornaram este livro possível. trabalho seja útil àqueles que embarcam na excitante
experiência de aprender a química da vida pela primei
Uma pessoa deve aceitar a responsabilidade pelo ra vez, bem como àqueles que retornam a um tópico no
produto final de qualquer projeto. As decisões relativas qual a informação se expande tão rapidamente.
à seleção de tópicos e ao formato e à revisão dos ras
thoMas M. deVlIn
Verwyn, Pennsylvania
Setembro de 2009
PrefáCIo • XXXV

Prefácio da edição
brasileira

Mais uma vez tive a honra, o privilégio e a responsa downstream, que foram traduzidos por “a montante”
bilidade de traduzir o Manual de Bioquímica com Cor e “a jusante”, respectivamente; feedback foi traduzi
relações Clínicas, de Thomas M. Devlin, agora na sua do por “retroalimentação”; turnover foi traduzido por
Sétima Edição. “renovação” ou “reciclagem”, dependendo do contexto;
primer, “iniciador”; template, “molde”; gap junctions,
Desta vez, também participaram do trabalho de tra “junção em fenda” ou “junção tipo fenda”; tight junc
dução o Biomédico Giovani Bravin Peres, graduado no tion, “junção ocludente”; steady state, “estado estacio
Curso de Ciências Biomédicas da Escola Paulista de nário”, entre outros. Para evitar dúvidas, em muitos ca
Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNI sos optamos por manter o termo em inglês, em itálico,
FESP) e estudante de pós-graduação do Programa de ao lado do termo traduzido. Em outros casos, o uso da
Pós-Graduação em Biologia Molecular da mesma Insti palavra inglesa está consagrado no Brasil, como spli
tuição, e a Dra. Thaís Sodré de Lima Machado, Doutora cing, que não foi traduzido e aparece sempre em itálico.
em Medicina Veterinária pela Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo Quanto às siglas, de modo geral foram mantidas as
(USP). originais, de uso comum. Por exemplo, DNA, para ácido
desoxirribonucleico (desoxyribonucleic acid); PCR,
Escrever textos científicos em português, especial para reação de polimerase em cadeia (polymerase
mente nas áreas de Bioquímica e Biologia Molecular, é chain reaction); PDGF, para fator de crescimento de
sempre um desafio, uma vez que muitos neologismos fo rivado de plaquetas (platelet derived growth factor).
ram criados em outros idiomas (principalmente inglês
e francês) para fazer referência a moléculas e proces Uma questão que merece destaque é a tradução dos
sos recentemente descobertos, para os quais inexistem nomes dos açúcares e das vias do seu metabolismo.
termos de mesmo significado em português. Pesquisa Em inglês, a raíz gly é genérica e refere-se à família
dores brasileiros têm dado importantes contribuições à dos açúcares e não a um composto específico (p. ex.,
ciência mundial nesse campo, mas seus trabalhos são glycan, glicano; glycoproteins ou glycolipids, para
quase sempre publicados em periódicos de circulação glicoproteínas ou glicolipídeos que contêm diferentes
internacional, em inglês. Por isso, para muitos termos açúcares; glycosyltransferase, para glicosiltransfera
não existe uma tradução adequada (ou existem várias, ses, enzimas que transferem açúcares para aceptores),
nenhuma perfeita) e, nos meios especializados, o termo enquanto glu refere-se ao monossacarídeo glucose e
em inglês é o mais usado. seus derivados. Entretanto, em português gly é tradu
zido por “gli”, e glucose é “glicose”, gerando confusão.
A Editora Blücher optou por entregar a tradução Neste livro, optamos por traduzir todas as palavras com
deste livro, não a especialistas em português e/ou in a raíz gly por “gli” (p. ex., glycosaminoglycan, glicosa
glês, mas a pesquisadores e educadores em Bioquímica, minoglicano; glycoprotein, glicoproteína; glycolipid,
Biologia Molecular e Medicina. Se, de um lado, certas glicolipídeo; glycolysis, glicólise; glycogen, glicogê
dificuldades podem ter surgido pela nossa pouca fami nio), e usamos “glu” para os derivados de glucose (p.
liaridade e experiência com a arte de compor livros, ex., glucosamine, glucosamina; D-glucuronic acid,
foram evitados erros grosseiros, inaceitáveis para os ácido D-glucurônico; gluconeogenesis, gluconeogêne
profissionais e estudantes que utilizarão esta obra para se; glucosyltransferase, glucosiltransferase, enzima
aprender seu conteúdo, aprofundar seus conhecimentos que transfere glicose para aceptor). A única exceção é o
ou como texto básico para o ensino de suas disciplinas. próprio monossacarídeo “glicose”, mantido aqui devido
ao seu uso consagrado no Brasil.
Não somos tradutores. Muitos dos termos usados
aqui foram traduzidos segundo seu uso corrente nos Outro ponto que merece destaque é que, neste livro,
meios acadêmicos, ou não foram traduzidos. Alguns os capítulos são escritos por diferentes autores, especia
exemplos: upregulation e downregulation que, quan listas nos respectivos temas. Por um lado, isso assegura
do coube, foram traduzidos por “regulação positiva” e a precisão e a atualidade do conteúdo, mas, por outro
“regulação negativa”, respectivamente; upstream e lado, gera diferenças de estilo. Apesar dos esforços no
XXXVI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
sentido buscar um estilo de escrita consistente, é fácil Para o entendimento da Biologia e a prática da Medi
perceber, na leitura dos capítulos, diferentes graus de cina nos dias de hoje, é imprescindível que os processos
clareza e profundidade no texto. Isso, obviamente, foi que ocorrem nos seres vivos, tanto os normais como os
mantido na tradução. Além disso, é claro que diferenças alterados por doenças, sejam entendidos em nível mo
de estilo também existem em português, e fatalmente lecular. Todos os profissionais que utilizam conceitos
apareceriam se o texto fosse traduzido por diferentes biológicos na sua atuação devem estar familiarizados
bioquímicos. Para minimizar essas diferenças e dar ao com a nomenclatura dos componentes moleculares e
livro traduzido certo grau de uniformidade, fiz a revisão dos processos que ocorrem nas células, nos tecidos e no
de todos os capítulos. Procurei ser, tanto quanto possí organismo como um todo, para que possam desempe
vel, fiel ao texto original e, muitas vezes, apoiei-me em nhar adequadamente suas funções.
dicionários (Aurélio, Houaiss, Michaelis e outros) e em
outros textos já traduzidos para o português ou escritos Além disso, o público em geral também se beneficia
por autores brasileiros, como referências. dos novos conhecimentos e avanços da ciência moderna.
Com o advento de novas tecnologias como DNA recom
A presente edição foi bastante modificada e atua binante, clonagem gênica, produção de medicamentos
lizada em relação às edições anteriores, incorporando recombinantes e “sob medida” para o usuário, produ
novos conteúdos e tópicos, que eram desconhecidos (ou ção de organismos transgênicos, além da possibilidade
pouco conhecidos) há poucos anos. Em especial, foram de clonagem de organismos inteiros, cada vez mais as
incorporadas novas Correlações Clínicas e referências pessoas deverão tomar decisões que poderão afetar sua
bibliográficas (outras foram removidas), e alguns tre vida diária, bem como a vida em todo o planeta. Pou
chos foram destacados em novas caixas chamadas “Um quíssimos textos de Bioquímica, especialmente esta
Olhar mais Atento”, que permitem um acesso rápido a belecendo relações com a Clínica Médica, são amplos,
informações relevantes. Além disso, foram criadas as completos e atualizados como este. Espero que esta
seções “Conceitos Chaves” e “Termos Chaves”, no iní nova edição ajude tanto profissionais como “amantes da
cio e no fim, respectivamente, de cada capítulo, o que ciência” a entenderem os novos conhecimentos sobre
facilita muito o estudo e a avaliação da aprendizagem. sistemas bioquímicos e suas implicações na biologia e
Novas Questões também foram introduzidas em todos na saúde humana, com base nos conhecimentos adqui
os capítulos. ridos em laboratórios de pesquisa de todo o mundo.

Yara M. Michelacci
Fevereiro de 2011
PrefáCIo • XXXVII

Coautores

Carol n. angstadt, Ph.d. Greenville, NC 27858-4354 Departamento de Bioquímica e Biologia


Professora Emérita Email: coryjo@ecu.edu Molecular
School of Nursing and Health Profes MSC08 4670
sions daVId W. CraBB, M.d. University of New México
Drexel University Professor John B. Hickam e Chefe Albuquerque, NM 87131
490 S. Old Middletown Road Departamentos de Medicine Email: rglew@salud.unm.edu
Media, PA 19063 Professor Titular, Departamento de Bio
Email: cnang@verizon.net química e Biologia Molecular dohn g. glItz, Ph.d.
Biology Emerson Hall 317 Professor Emérito
dIana s. BeattIe, Ph.d. Indiana University School of Medicine Departamento de Química Biológica
Professora e Ex-Chefe 545 Barnhill Drive UCLA School of Medicine
Departamento de Bioquímica Indianapolis, IN 46202-5124 11260 Barnett Valley Road
West Virginia University School of Me Email: dcrabb@iupui.edu Sebastopol, CA 95472
dicine E-mail: dglitz@mednet.ucla.edu
POBox9142 thoMas M. deVlIn, Ph.d.
Morgantown, WV 26506 Professor Emérito e Ex-Chefe rIChard W. hanson, Ph.d.
E-mail: dbeattie@hsc.wvu.edu Departamento de Bioquímica e Biologia Professor Leonard & Jean Skeggs de
Molecular Bioquímica
stePhen g. Chaney, Ph.d. Drexel University College of Medicine Departamento de Bioquímica
Professor Titular 159 Greenville Court RoomW414
Departamentos de Bioquímica e Biofísi Berwyn, PA 19312-2071 Case School of Medicine
ca e de Nutrição Email: tdevlin@drexelmed.edu Case Western Reserve University
Genetic Medicine Building Cleveland, OH 44106-4935
School of Medicine CB# 7260 John e. donelson, Ph.d. E-mail: rwh@cwru.edu
University of North Carolina at Chapei Professor Titular e Ex-Chefe
Hill Departamento de Bioquímica roBert a. harrIs, Ph.d.
Chapei Hill, NC 27599-7260 Carver College of Medicine Professor Emérito Distinto e Professor
Email: stephen_chaney@med.unc.
edu University oflowa Emérito Showalter de Bioquímica
Bowen Science Building Departamento de Bioquímica e Biologia
lowa City, IA 52242-0001 Molecular
MarguerIte W. CooMes, Ph.d. Email: john-donelson @uiowa. edu Indiana University School of Medicine
Professora Associada Richard Roudebush VA Medical Center
Departamento de Bioquímica e Biologia george r. duByak, Ph.d. Research 151; Room D-3034
Molecular Professor Titular 1481 West Tenth Street
Howard University College of Medicine Departamento de Fisiologia e Biofísica Indianapolis, IN 46202
3411 MurdockRoad, Case School of Medicine Email: raharris@iupui.edu
Kensington, MD 20895-1630 Case Western Reserve University
Email: mcoomes@howard.edu 2109 Adelbert Road ulrICh hoPfer, M.d., Ph.d.
Cleveland, OH 44106 Professor Titular de Fisiologia e Biofísi
ann h. Cory, M.s. Email: george.dubyak@case.edu ca e Medicina
Pesquisadora Associada Departamento de Fisiologia e Biofísica
Departamento de Bioquímica e Biologia hoWard J. edenBerg, Ph.d. Case School of Medicine
Molecular Professor Chancellor, Professor de Bio Case Western Reserve University
Brody School of Medicine química e Biologia Molecular e de Gené 109000EuclidAve.
East Carolina University tica Médica e Molecular Cleveland, OH 44106-4970
Greenville, NC 27834-4354 Departamento de Bioquímica e Biologia Email: ulrich.hopfer@case.edu
Email: corya@ecu.edu Molecular
Indiana University School of Medicine BettIe sue sIler Masters, Ph.d., d.sC.,
JosePh g. Cory, Ph.d. 635 Barnhill Drive, Med. Sei. 4063 M.d. (hon.)
Professor Titular e Ex-Chefe Indianapolis, IN 46202-5122 Professora Distinta Robert A. Welch de
Departamento de Bioquímica e Biologia Email: edenberg@iupui.edu Química
Molecular Departamento de Bioquímica, MSC 7760
Brody School of Medicine roBert h. gleW, Ph.d. University of Texas Health Science Cen
East Carolina University Professor Emérito ter at San Antonio
XXXVIII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
7703 Floyd Curl Drive Email: rschult@lumc.edu
nanCy .d. Departamento de Bioquímica e Biologia
San Antonio, TX78229-3900 B. sChWartz, Ph Molecular
Email: mitsters@uthscsa.edu Professora Titular M.S. 344, Sala 4104 NCB
Departamentos de Pediatria e de Bio Drexel University College of Medicine
lInda J. roMan, Ph.d. química e Biologia Molecular 245North 15th Street Philadelphia, PA
Professora Associada University of Chicago, MC 5058 19102-1192
Departamento de Bioquímica - MSC 7760 5841 S. Maryland Ave. Email: verald.soslau@drexelmed.edu
University of Texas Health Science Cen Chicago, IL60637-1463
ter at San Antonio Email: n-schwartz@uchicago. edu frangIs Vella, Ph.d.
7703 Floyd Curl Dr. Professor (Aposentado)
San Antonio, TX78229-3900 daVId r. setzer, Ph.d. Departamento de Bioquímica
Email: roman@uthscsa.edu Professor Titular University of Saskatchewan
Divisão de Ciências Biológicas 18 Leyden Crescent
frangIs J. sChMIdt, Ph.d. 410Tucker Hall Saskatoon, Saskatchewan
Professor Titular University of Missouri SKS7J2S4, Canada
Departamento de Bioquímica Columbia, MO65211 Email: f.vella @sasktel. net
117 Schweitzer Hall Email: setzerd@missouri.edu
University of Missouri danIel l. Weeks, Ph.d.
Columbia, MO65211 thoMas e. sMIth, Ph.d. Professor Titular
Email: schmidtf@missouri.edu Professor Titular e Ex-Chefe Departamento de Bioquímica
Departamento de Bioquímica e Biologia Bowen Science Building
thoMas J. sChMIdt, Ph.d. Molecular Carver College of Medicine
Professor Titular College of Medicine University of lowa
Departamento de Fisiologia Molecular e Howard University lowa City, IA 52242
Biofísica 520 W Street, N.W. Email: daniel_weeks@uiowa.edu
6-452 Bowen Science Building Washington, DC 20059
Carver College of Medicine Email: tsmith@howard.edu henry WeIner, Ph.d.
University of lowa Professor Titular
lowa City, IA 52242-1109 MartIn d. snIder, Ph.d. Departamento de Bioquímica
Email: thomas-schmidt@uiowa. edu Professor Associado Purdue University
Departamento de Bioquímica, Sala 175 S. University Street
rlChard M. sChultz, Ph.d. W433 West Lafayette IN 47907-2063
Professor Titular Case School of Medicine Email: hweiner@purdue.edu
Programas de Bioquímica e Biologia Mo Case Western Reserve University
lecular 109000 Euclid Ave stePhena. WoskI, Ph.d.
Departamento de Microbiologia e Imu Cleveland, Ohio 44106-4935 Professor Associado
nologia, Sala 102-6652 Email: manin.snider@case.edu Departamento de Química
Stritch School of Medicine Box 870336
Loyola University of Chicago gerald soslau, Ph.d. University of Alabama
2160 South First Avenue, Professor Titular e Diretor Associado Tuscaloosa, AL 35487-0336
Maywood, IL60153 Sênior Email: swoski@bama.ua.edu
PrefáCIo • XXXIX

Agradecimentos
A sétima edição do Manual de Bioquímica com com detalhes administrativos. Estendo minha profun
Correlações Clínicas foi possibilitada pelos esforços e da apreciação a Marc Wezdecki, Editor de Mídia, e Ke
encorajamento de muitas pessoas, e eu estendo a todos vin Murphy, Designer Sênior, e Hope Miller, designer
meus sinceros agradecimentos. Sou muito grato a cada que criou a capa. O design atraente das páginas foi cria
um dos coautores por aceitarem o desafio de preparar do por Laura Ireardi, a quem apresento agradecimentos
os capítulos, compartilhar suas idéias para aprimorar especiais. Marketing teve um papel importante no de
o livro, imediatamente aceitarem sugestões para modi sign do livro e eu apresento minha mais profunda admi
ficar suas contribuições, e cooperarem durante toda a ração a Kristine Ruff por sua inestimável colaboração.
preparação. A cada um, apresento minha mais profun
da admiração por um trabalho bem feito. Os coautores A edição e composição desta edição foram respon
e eu apresentados um especial agradecimento a nossos sabilidade de MPS Content Services, Macmillan Pu
ex-professores, colegas e estudantes por seu suporte e blishing Solutions. Quero expressar meus agradecimen
tos especiais a John Sollami, Vice-Presidente, Onshore
inspiração, que tornaram este texto possível.
Content Services, por seu suporte e aconselhamento.
Na preparação desta edição, capítulos da 6ª edição John e eu trabalhamos juntos na quarta edição, e foi
foram criticamente revisados por: Dr. David J Edwards, um privilégio poder interagir com ele novamente. Nós
University of Pittsburg, Dr. Kevin Gaston, University of queremos agradecer a Pat O’Maley, Diretor de Opera
Bristol, UK, Professor James J. A. Heffron, University ções, que foi responsável por supervisionar essa fase do
College Cork, Irlanda, Dr. Thomas E. Smith, Howard projeto. A pessoa responsável pelas atividades do dia
University, Dr. Frank Vella, University of Saskatchewan, a dia da produção foi Edward Dionne, Gerente de Pro
e Dr. Edward J. Wood, University of Leeds, UK. Nós, os jeto, que paciente e meticulosamente supervisionou a
coautores e eu, somos muito agradecidos a eles; seus transformação de nossos manuscritos em páginas. Ed
excelentes comentários e sugestões foram a base para me manteve bem informado, gerenciou os muitos de
as principais mudanças na sétima edição. Com pesar, talhes envolvidos, acionou prontamente minhas suges
menciono o falecimento do Dr. Edward J. Wood em de tões e preocupações, e nos manteve no prazo. Foi um
zembro de 2008; perdemos um dedicado e inspirador prazer trabalhar com um profissional tão eficiente, res
colega. Nossa gratidão é estendida ao Dr. Emmanuel ponsável e consciencioso, além de ser uma pessoa muito
Skordalakes, The Wistar Institute, Philadelphia, PA, por agradável; apresento minha profunda gratidão a ele. O
fornecer um modelo de um complexo parcial de elonga excelente copy-editing do manuscrito foi completado
ção da telomerase para a capa. por Carol A. Loomis, e o Índice foi preparado por Diana
Witt; a ambas, meus sinceros agradecimentos.
Manifesto minha mais sincera admiração e agrade
cimentos aos membros do quadro da Higher Education Eu cometeria um erro se não agradecesse aos mem
Division da John Wiley & Sons por sua participação na bros da STM Division da John Wiley, que guiaram a
produção desta edição. Tem sido um prazer trabalhar preparação dos manuscritos e me deram assistência
com um grupo de indivíduos extremamente inteligen e suporte inestimáveis. Meu especial agradecimento a
tes, profissionais e encorajadores. Minha mais profunda Michael Forster, Vice-Presidente e Diretor de Edição
gratidão é estendida a Joan Kalkut, Editor de Bioquími Associado, Ciências Físicas, Wiley-Blackwell, por seu
ca, que paciente e conscientemente me guiou durante a apoio contínuo, e Darla P. Henderson, Editor Sênior de
produção desta edição, e coordenou minhas atividades. Aquisições, Anita Lekhwani, Editora Sênior de Aquisi
Joan fez muitas sugestões valiosas e estava sempre dis ções, e Revekah Amos, Assistente Editorial Sênior, que
foram um apoio constante e tiveram um papel impor
ponível para responder minhas perguntas. Estendo mi
nha apreciação a Kaye Pace, Vice-Presidente e Editora tante e valioso na realização da sétima edição.
Executiva para Ciências, por seu comprometimento com Finalmente, uma nota muito especial de gratidão à
o projeto. Sou grato a Petra Recter, Editora Associada minha esposa, Marjorie, que teve a sabedoria muitos
de Química e Física, Micheline Frederick, Gerente de anos atrás de me encorajar a iniciar a preparação de
Produção, e Kerry Weinstein, Editor Sênior de Produ um livro, que me apoiou durante os dias de intenso tra
ção, por seus esforços; todos demonstraram os mais balho, e que criou um ambiente no qual pude devotar
altos padrões de profissionalismo. Um agradecimento as muitas horas necessárias à preparação deste livro. À
especial a Hilary Newman, Gerente, Departamento de Marjorie, meu mais profundo e sincero muito obrigado.
Foto, e muito obrigado a Yelena Zolotorevskaya, Assis
tente do Programa Editorial, que lidou eficientemente thoMas M. deVlIn
XL • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
1
PARTE I
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 1

δ–

Estrutura da
Célula Eucariótica δ+
H
104,5o
H
δ+

Thomas M. Devlin
Professor Emérito, College of Medicine – Drexel University

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


1.1 CÉLULAS SÃO A BASE DOS ORGANISMOS VI 1.1 Condições Médicas Anormais Refletidas no pH do
VOS, 2 Sangue, 7
1.2 O AMBIENTE DAS CÉLULAS: ÁGUA E SOLU 1.2 Importância do HCO–3 do Sangue na Acidose Meta
TOS, 3 bólica, 11
1.3 PH, ÁCIDOS FRACOS E SUAS BASES CONJUGA 1.3 Envelhecimento Acelerado e o Núcleo Celular, 16
DAS, 6
1.4 Doenças Mitocondriais, 19
1.4 EUCARIOTOS: CÉLULAS E TECIDOS DE MAMÍ
1.5 Enzimas Lisossomais e Gota, 20
FEROS, 11
1.6 Deficiência da Lipase Ácida Lisossomal, 21
1.5 FUNÇÕES DE ORGANELAS SUBCELULARES
E SISTEMAS DE MEMBRANAS EM CÉLULAS 1.7 Doenças da Biogênese de Peroxissomos (PBD), 22
EUCARIÓTICAS, 14
1.6 INTEGRAÇÃO E CONTROLE DAS FUNÇÕES
CELULARES, 23

Conceitos Chaves
• Todos os organismos vivos são compostos por célu • A água é um componente essencial das células. Mo
las individualizadas, delimitadas por uma membra léculas de água formam pontes de hidrogênio entre
na externa lipídica. As células podem apresentar si e com outras moléculas.
uma variedade de estruturas internas.
• Ácidos fracos e grupamentos acídicos de macromo
• Células vivas incluem archea, eubactérias e euca léculas permitem que a célula controle sua concen
riotos. Organismos multicelulares podem ter uma tração interna de íons hidrogênio (pH).
variedade de células especializadas. As células de mamíferos são compartimentaliza

• As células são capazes de se replicar e controlar das em diversas estruturas intracelulares, cada
seu ambiente interno, utilizando materiais para a qual com funções específicas.
produção de energia e para a síntese das moléculas As funções das células são integradas e podem ser

necessárias.
controladas tanto por mecanismos intracelulares
quanto por influências extracelulares.
2 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

1.1 CÉLULAS SÃO A BASE DOS rem estruturas capazes de replicação. Não há registros
conclusivos, entretanto, quanto às condições ambientais
ORGANISMOS VIVOS que permitiram essa reações. Com a contínua formação
de moléculas ainda mais complexas, aquelas que tinham
A base de todos os organismos vivos, do mais simples capacidade de se autorreplicar tornaram-se envolvidas
ao mais complexo, é uma unidade de espaço delimitada
por membranas para formar células. Com a passagem
por membrana. Tal unidade é a definição de célula. O do tempo, essas formas de vida simples evoluíram para
espaço compreendido em seu interior pode apresentar a célula que se tornaria o “último ancestral comum” de
de 10 a 10.000 micrômetros de diâmetro, com graus va todos os milhões de espécies e subespécies da Terra, in
riáveis de complexidade interna, dependendo do orga cluindo o homem. O “último ancestral comum” de todos
nismo em questão. As células existem como organismos os homens surgiu há cerca de 450 milhões de anos. A
unicelulares independentes, a exemplo das bactérias, e evolução dos organismos ainda continua. A vasta diver
como organismos multicelulares, como o homem, com sidade de vida observada hoje, da mais simples bactéria
mais de 100 trilhões de células. Independentemente da
a organismos complexos multicelulares como plantas e
complexidade do organismo, todas as células apresen animais, é produto dessas mudanças evolutivas.
tam as seguintes características em comum:
• Muitos dos mesmos íons inorgânicos e das molé
culas orgânicas, incluindo carboidratos, lipídeos e Classificação das Células Vivas
macromoléculas, como proteínas e ácidos nuclei
Todos os organismos são agrupados em um dos três
cos.
grandes domínios: Archea, Eubacteria e Eucaryota.
• Uma membrana celular externa, denominada Há evidências de que todos os três tenham se deriva
membrana plasmática, composta por moléculas do de um ancestral comum desconhecido. As arqueias,
anfipáticas (fosfolipídeos e proteínas). Essa mem que provavelmente são o domínio mais primitivo, e as
brana delimita o espaço ocupado pela célula, sepa eubactérias, que incluem as bactérias comuns, são clas
rando um ambiente externo variável e potencial sificadas como procariotos, uma vez que apresentam
mente hostil de um meio intracelular relativamente muitas estruturas em comum, incluindo a ausência de
constante. um núcleo definido ou de estruturas internas envoltas
por membranas. Geralmente, esses organismos são uni
• Sistemas que permitem a comunicação entre os
celulares (Figura 1.1a), mas, em alguns casos, formam
meios interno e externo.
colônias ou filamentos. Os procariotos apresentam uma
• A capacidade de transformar fontes externas de variedade de formas e tamanhos e podem viver sob
energia em energia capaz de alimentar as reações condições diversas, algumas extremas. A membrana
endergônicas que ocorrem em seu interior. Essas plasmática é frequentemente invaginada. O DNA dos
fontes externas incluem a luz, as moléculas orgâni procariotos é uma fita circular única e comumente fica
cas e os gradientes de concentração de moléculas segregada em uma discreta massa, a região nucleoide,
existentes através da membrana. que não é envolta por membrana ou envelope. Ainda
que sem compartimentos definidos por membranas, o
• A capacidade de converter nutrientes ingeridos
meio intracelular dos procariotos é organizado em com
em constituintes celulares e de eliminar materiais
partimentos funcionais.
degradados e potencialmente tóxicos. Todas essas
reações são catalisadas por enzimas, que são cata Nos eucariotos estão inclusos organismos unicelula
lisadores proteicos. res, como leveduras e fungos, e multicelulares, a exem
• A capacidade de sintetizar macromoléculas, como plo das plantas e dos animais. O volume de suas células
ácidos nucleicos e proteínas. é 1.000 a 10.000 vezes maior do que o da maioria dos
procariotos. Possuem uma membrana bem definida que
• Um genoma composto por ácido desoxirribonu envolve o núcleo, contendo a maior parte do DNA celular,
cleico (DNA), que contém as instruções para todo e várias estruturas intracelulares e organelas envoltas
o funcionamento celular. por membrana (Figura 1.1b). Os sistemas de membranas
• A capacidade de se replicar, transferindo à progê intracelulares definem distintos compartimentos sub
nie as informações genéticas hereditárias. celulares (p. 14), permitindo um grau singular de orga
nização subcelular. Por meio da compartimentalização,
diferentes reações químicas, que requerem diferentes
ambientes, podem ocorrer simultaneamente.
Há mais de 3,7 bilhões de anos, sob condições não
inteiramente claras e numa faixa de tempo difícil de Os elementos químicos básicos e as reações quími
compreender, os elementos hidrogênio, oxigênio, nitro cas fundamentais de todas as células, procarióticas ou
gênio, enxofre e fósforo formaram compostos químicos eucarióticas, são muito semelhantes. Por outro lado, há
simples. Estes se combinaram, dispersaram e recombi diferenças significativas na composição química e nas
naram, formando várias moléculas maiores, até surgi atividades bioquímicas.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 3

Por exemplo, procariotos não possuem histonas, uma


classe de proteínas muito conservadas em todos os euca
riotos, que se complexam com o DNA (p. 54). Há também
diferenças no conteúdo enzimático e nos complexos ácido
ribonucleico-proteína chamados ribossomos, envolvidos
na biossíntese de proteínas. A universalidade de muitos
fenômenos bioquímicos permite muitas extrapolações de
procariotos para eucariotos, incluindo o homem.
A ênfase deste livro é dada à bioquímica de eucario
tos, particularmente mamíferos, mas grande parte do
nosso conhecimento da bioquímica de células vivas veio
de estudos de células procarióticas e de células eucarió
ticas de não mamíferos.

(a)
1.2 O AMBIENTE DAS CÉLULAS:
ÁGUA E SOLUTOS
A vida como conhecemos existe por causa da água,
um componente comum a todas as células e seu am
biente extracelular.

Pontes de Hidrogênio Formam-se


entre Moléculas de Água
A interação dinâmica de moléculas individuais de
água leva a uma “estrutura dinâmica da água” em sis
temas aquosos. Uma molécula de água se forma quando
NUCLEO dois átomos de hidrogênio compartilham seus elétrons
com um par de elétrons não-compartilhados de um áto
mo de oxigênio (Figura 1.2). A água é uma molécula
polar porque o núcleo do oxigênio exerce uma atração
mais forte sobre os elétrons compartilhados do que o
hidrogênio, e os núcleos de hidrogênio carregados posi
tivamente ficam com uma parte desigual dos elétrons.
Isso cria uma carga positiva parcial em cada hidrogê
nio e uma carga negativa parcial no oxigênio. O ângulo
da ligação entre os hidrogênios e o oxigênio é 104,5°,
(b) tornando a molécula eletricamente assimétrica e pro
duzindo um dipolo elétrico.
FIGURA 1.1 Organização de células procariótica e
eucariótica. As moléculas de água interagem entre si porque os
(a) Micrografia eletrônica de Escherichia coli, um procarioto
átomos de hidrogênio de uma molécula, carregados po
representativo; aumento aproximado × 30.000. Há pouca orga
nização intracelular aparente e nenhuma organela delimitada
sitivamente, são atraídos por um átomo de oxigênio de
por membrana. A cromatina está condensada em um nucleoi outra molécula, carregado negativamente, com a for
de, mas não envolto por uma membrana. Células procarióticas mação de uma ligação fraca entre as duas moléculas
são muito menores do que células eucarióticas. (b) Micrografia (Figura 1.3a). Essa ligação, indicada por uma linha tra
eletrônica de um corte fino de uma célula do fígado (hepató cejada, é uma ponte de hidrogênio. Estudos recentes,
cito de rato), uma célula eucariótica representativa; aumento entretanto, sugerem que a ligação entre duas moléculas
aproximado × 7.500. Note a membrana nuclear distinta, dife de água é parcialmente covalente. As pontes de hidro
rentes organelas delimitadas por membranas ou vesículas e gênio são relativamente fracas, se comparadas com as
extenso sistema de membranas. ligações covalentes, porém seu grande número é a ra
Fotografia (a) gentilmente fornecida por Dr. M. E. Bayer, Fox zão para a estabilidade da água líquida. Uma discussão
Chase Cancer Institute, Philadelphia, PA. Fotografia (b) reim
detalhada das interações não covalentes, incluindo ele
pressa com permissão de Dr. K. R. Porter, de: Porter, K. R. e
Bonneville, M. A. em: Fine Structure of Cells and Tissues. trostáticas, van der Waals e hidrofóbicas, entre molécu
las é apresentada na página 116.
Philadelphia: Lea & Febiger, 1972.
4 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

δ– moléculas de água. Microambientes com diferentes es


truturas de água são formados dentro de e sobre macro
O moléculas e sobre a superfície de membranas lipídicas,
em virtude da interação entre a água e grupos dessas
moléculas. A presença desses microambientes pode
levar a variações na atividade de íons e moléculas em
diferentes regiões da célula.
H H
104,5o
δ+ δ+
(a) H H
O
FIGURA 1.2 Estrutura de uma molécula de água.
O ângulo da ligação H—O—H é 104,5°. Os dois átomos de hi
H
drogênio carregam uma carga positiva parcial, e o oxigênio,
uma carga negativa parcial, criando um dipolo. O
H

Cinco moléculas de água formam uma estrutura te


traédrica por pontes de hidrogênio (Figura 1.3b), com
cada oxigênio compartilhando seus elétrons com quatro (b) H1HO
átomos de hidrogênio, e cada hidrogênio compartilhan
do seus elétrons com outro oxigênio. Uma estrutura em
rede tetraédrica é responsável pela estrutura cristalina H
2
do gelo. Na transição de gelo para água líquida, apenas O
algumas pontes de hidrogênio são quebradas. A água H H H
H
líquida tem uma estrutura que varia rapidamente, à me 3O 4O 5O
dida que pontes de hidrogênio se quebram e novas se H H H
formam; a meia-vida das pontes de hidrogênio na água
é menor do que 1 × 10–11 s. Assim, a água líquida está FIGURA 1.3 Ponte de hidrogênio na água.
em constante mudança, com uma variedade de estrutu (a) Pontes de hidrogênio, indicadas por linhas tracejadas, en
ras contendo muitas moléculas de água sendo continu tre duas moléculas de água. (b) Pontes de hidrogênio tetraé
amente formadas e modificadas. Em nível molecular, a dricas ligando cinco moléculas de água. Moléculas de água 1,
água é heterogênea, com estruturas dinâmicas conten 2 e 3 estão no plano da página, 4 está abaixo, e 5 está acima.
do grupos (clusters) de tamanhos variáveis de molécu
las de água, envolvendo centenas de moléculas. Mesmo
a 100 °C, a água líquida contém um número significa Pontes de hidrogênio também ocorrem entre outras
tivo de pontes de hidrogênio, que respondem por seu moléculas, além da água, sempre que átomos de oxigê
alto calor de vaporização. Na transformação do estado nio ou nitrogênio eletronegativos ficarem muito próxi
líquido para vapor, pontes de hidrogênio são rompidas. mos de hidrogênio covalentemente ligado a outro átomo
Muitos modelos da estrutura da água líquida foram pro eletronegativo. Pontes de hidrogênio representativas
postos, mas nenhum deles explica adequadamente to são apresentadas na Figura 1.4. Formação de pontes de
das as suas propriedades. hidrogênio intramoleculares ocorre muito em macro
moléculas grandes, tais como proteínas e ácidos nuclei
A estrutura da água pura é alterada quando seus cos, e é parcialmente responsável por sua estabilidade
átomos fazem pontes de hidrogênio com outras estru estrutural.
turas químicas. A interação das moléculas de água
com outras moléculas leva a uma mudança considerá
vel na orientação da água. Por exemplo, moléculas de Água tem Propriedades Singulares
água próximas à superfície de membranas estão mais
ordenadas por causa da natureza anfifílica dos fosfoli como Solvente
pídeos de membrana (p. 484). A água presente sobre
A natureza polar e a capacidade de formar pontes de
ou dentro de moléculas de proteínas e ácidos nucleicos
hidrogênio são a base para a capacidade de a água dis
estabiliza essas macromoléculas. A estrutura da água
solver uma variedade de moléculas inorgânicas e orgâ
pode ser diferente no meio aquoso extracelular da do
nicas. Moléculas polares, como sais, dispersam-se facil
meio intracelular, em virtude da diferença de compo
mente em água. A estrutura cristalina de sais é mantida
sição iônica.
por atração entre átomos ou grupos carregados positiva
As substâncias necessárias à existência das células e negativamente. Eles dissolvem-se na água porque as
estão dissolvidas ou suspensas em um meio aquoso e forças eletrostáticas do cristal podem ser superadas
suas atividades são influenciadas pela organização das pela atração dos componentes carregados pelo dipolo
da água. A atração entre os átomos carregados Na+ e
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 5

Cl– no NaCl é superada pela interação do Na+ com a car moléculas. Moléculas muito hidrofóbicas, como lipídeos
ga negativa de átomos de oxigênio da água, e Cl– com a contendo longas cadeias hidrocarbônicas, entretanto,
carga positiva dos átomos de hidrogênio. Em solução, os não se dispersam facilmente em moléculas individuais
íons individuais são circundados por uma capa de água. em água. Elas interagem entre si para excluir as molé
O número de interações fracas carga-carga entre a água culas polares de água (p. 483).
e os íons Na+ e Cl– é suficiente para manter a separação
física dos íons carregados.
Eletrólitos: Dissociação de Moléculas
H Grupo hidroxila
na Água
R O
Moléculas que se dissociam na água formam cátions
H (íons carregados positivamente) e ânions (íons carre
gados negativamente). São classificadas como eletróli
H O Água tos porque os íons facilitam a condutância de uma cor
rente elétrica. Açúcares ou alcoóis são não eletrólitos
porque se dissolvem facilmente na água, mas não têm
R C R' carga nem se dissociam em espécies carregadas.
Carbonila
Sais de metais alcalinos (p. ex., Li, Na e K) e ácidos
O
como o clorídrico e o sulfúrico em baixas concentra
H ções dissociam-se completamente quando dissolvidos
R O em água, mas não necessariamente em altas concen
R' Água trações. Considera-se que, em sistemas biológicos, tais
H
compostos, bem como os sais de ácidos orgânicos, este
jam totalmente dissociados em virtude de suas baixas
N CH R' Cadeia peptídica
concentrações. Se uma solução contiver vários sais di
O
C R"
ferentes (por exemplo, NaCl e K2SO4), essas moléculas
não existem como tais em solução, apenas os íons dis
H
sociados (por exemplo, Na+, K+ e SO42–) estão presentes.
Sais que se dissociam completamente são chamados
R C N CH R'
Cadeia peptídica de eletrólitos fortes. Na água, os ânions dissociados de
sais orgânicos reagem, até certo ponto, com prótons li
O R" vres (H+) da dissociação da água para formar o ácido
não-dissociado (Figura 1.5).
H
R C CH3 Ao contrário dos sais, muitos ácidos, quando dis
O N
C N C Timina no DNA solvidos em água, não se dissociam totalmente, mas
estabelecem um equilíbrio entre os componentes não
O -dissociados e dissociados. Assim, o ácido láctico, um
H C H H importante intermediário metabólico, dissocia-se par
NH cialmente em ânion lactato e um próton da seguinte
NC
forma:
Adenina no DNA
N C C
N
CH3—CHOH—COOH  CH3—CHOH—COO– + H+
N C Um equilíbrio dinâmico se estabelece no qual os
H
produtos da reação formam novamente o reagente não
FIGURA 1.4 Pontes de hidrogênio representativas de dissociado, enquanto outras moléculas se dissociam. O
importância em sistemas biológicos. grau de dissociação de tais eletrólitos depende da afi
nidade do ânion por H+. Haverá mais dissociação se as
forças fracas de dipolo da água que interage com o ânion
e o cátion forem mais fortes do que as forças eletrostá
Moléculas orgânicas não iônicas contendo grupos ticas entre o ânion e H+. Em base molar tais compostos,
polares fracos são também solúveis em água graças à chamados eletrólitos fracos, têm menor capacidade de
atração dos grupos polares por moléculas de água. Açú conduzir carga elétrica quando comparados com aque
cares e álcoois são facilmente solúveis por essa razão. les que se dissociam totalmente.
Compostos que contêm tanto grupos polares como apo
lares, isto é, moléculas anfipáticas, dispersam em água Na dissociação parcial de um eletrólito fraco, re
se a atração do grupo polar pela água conseguir superar presentado por HA, a concentração das várias espécies
as interações hidrofóbicas das porções não polares das pode ser determinada pela equação do equilíbrio:
6 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

[H+][A−] em relação ao número de moléculas não-dissociadas.


Keq = [HA] (1.1) Portanto, a concentração de água, que é 55,5 M, pra
ticamente não é modificada pela dissociação e, assim,
onde K!eq é uma constante física, A– representa o ânion é uma constante. A Equação 1.2 pode ser reescrita da
dissociado e os colchetes indicam a concentração seguinte forma:
de cada componente em unidades como mol por litro Keq× [H2O] = [H+][OH] (1.3)
(mol/L ou M) ou milimoles por litro (milimol/L ou mM).
A atividade de cada espécie, em vez de na concentra
K!eqda
iônico × [55,5]
água. éSeu
umavalor
constante
a 25 °Ceéé1chamada
× 10–14. Em
produto
ção, deveria ser empregada na equação de equilíbrio,
mas como a maioria dos compostos de interesse em sis água
pura, a concentração de H+ é igual à de OH–, e substi
temas biológicos está presente em baixa concentração,
tuindo-se [H+] por [OH–] na Eq. 1.3, [H+] é 1 × 10–7 M.
o valor da atividade é próximo do da concentração. A Do mesmo modo, [OH–] também é 1 × 10–7 M. A reação
constante de equilíbrio, contudo, é indicada por K!eq
para indicar que é uma constante aparente, baseada em de equilíbrio de H2O, H+ e OH– sempre existe em so
lução, independentemente da presença de substâncias
concentrações. Uma vez que a dissociação de um ácido
dissolvidas. Se [H+] estiver aumentado, como acontece
aumenta com a elevação da temperatura, o valor de K!eq
quando se adiciona um ácido, uma diminuição na [OH–]
também aumentará.
deve ocorrer para satisfazer a relação de equilíbrio da
água. Da mesma forma, se a [OH–] aumentar, [H+] di
(1) CH3 CHOHCHOONa
Lactato de sódio minuirá. Usando a equação do produto iônico, [H+] ou
[OH–] podem ser calculadas se a concentração de um
Na+ + CH3ÍonCHOHlactatoCOO– íon for conhecida. A importância dos íons hidrogênio
em sistemas biológicos ficará clara nas discussões sobre
(2) CH3 CHOH
Íon lactato
COO– + H+ atividade enzimática (p. 401) e metabolismo.

CH3 CHOHCOOH
Ácido lactico
1.3 pH, ÁCIDOS FRACOS E SUAS
FIGURA 1.5 Reações que ocorrem quando lactato de
sódio é dissolvido em água. BASES CONJUGADAS
A partir da equação da dissociação, fica evidente que Por conveniência, [H+] é geralmente expresso em
K!eq será um número pequeno se o grau de dissociação termos de pH, definido como:
de uma substância for pequeno (denominador grande
na Equação 1.1), mas grande se o grau de dissociação pH = log[H1 (1.4)
for grande (denominador pequeno). Uma K!eq não pode −]
ser determinada para eletrólitos fortes porque, no equi
líbrio, não há soluto não-dissociado. Em água pura, [H+] e [OH–] são ambos 1 × 10–7 M, e o
pH = 7,0 · [OH–] pode ser expressa como pOH e tem um
valor de 7. Pela equação que descreve a dissociação da
Água É um Eletrólito Fraco água, 1 × 10–14 = [H+][OH–]; passando para o logaritmo
negativo dos dois lados, a equação fica 14 = pH + pOH. A
Água dissocia da seguinte forma: Tabela 1.1 apresenta a relação entre pH e [H+].
HOH  H+ + OH– Valores de pH de diferentes fluidos biológicos são
apresentados na Tabela 1.2. No plasma sanguíneo, [H+]
Os prótons que se dissociam interagem com o oxi
é 0,00000004 M, ou um pH de 7,4. Outros cátions, como
gênio de outra molécula de água, formando grupos
Na+ e K+, estão entre 0,001 e 0,10 M, bem mais do que
(clusters)
determinou
quentementedeser
representada
moléculas
de 6 a 27.deEssa
como
água, H3O+, O)n
hidratação
H+(H2 o íon
, onde
hidrônio.
n se
10.000 vezes [H+]. A Correlação Clínica 1.1 descreve a
de H+ é fre
importância das mudanças do pH sanguíneo.
É uma prática geralmente aceita, e que será empregada As definições de um ácido como doador de prótons
neste livro, apresentar o próton como H+ ao invés de e de uma base como aceptor de prótons, propostas por
química
H3O+, embora
real. Ase25reconheça
°C, o valor
que
deH+(H2
K!eq para
O)n dissociação
é a espécie Lowry e Brønsted, são convenientes quando se conside
ram sistemas biológicos. HCl e H2SO4 são definidos como
da água é cerca de 1,8 × 10–16: ácidos fortes porque se dissociam totalmente, liberando
prótons. OH– é uma base forte porque se associa pronta
[H+][OH−]
Keq = 1,8 × 10−16 = [H O] (1.2) mente com prótons disponíveis, formando H2O. Adição
2 de um ácido ou de uma base à água leva ao estabeleci
mento de um novo equilíbrio de OH– + H+  H2O.
Com K!eq tão pequena, um número extremamente
pequeno de moléculas de água realmente se dissocia,
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 7

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.1

Condições Médicas Anormais Refletidas no pH do Sangue

Em mamíferos, os diferentes pHs dos meios intra e ácido láctico ocorre em corredores de longa distância),
extracelulares estão em estado estacionário dinâmico, e no metabolismo de xenobióticos que produzem ácidos.
com as mudanças que ocorrem em um, alterando a com Perda de HCO3–, que muda o equilíbrio de base e ácido,
posição do outro. O pH sanguíneo reflete a mudança de ocorre em diarrei severa, uremia e doenças renais crôni
pH nos tecidos, e valores acima ou abaixo da faixa de cas. Uma acidose respiratória ocorre quando há retenção
normalidade (pH de 7,35 a 7,45) indicam uma condição de CO2, o anidrido do H2CO3, e é causada por condições
potencialmente patológica. Valores de pH sanguíneo que restringem a exalação de CO2 dos pulmões, como
abaixo de 7,0 (H+ = 0,0000001 M) ou acima de 7,8 (H+ quando há acúmulo de fluidos nos pulmões em condições
= 0,000000016 M) são prejudiciais à vida, sendo neces como enfisema ou asma, restrição respiratória como em
sária uma intervenção clínica. Muitas são as condições traumas, poliomielite e obesidade severa.
que podem causar variações consideráveis no pH do
As principais causas de alcalose metabólica são
sangue. Acidose é o termo utilizado quando o pH san
guíneo cai abaixo de 7,35, e alcalose, quando se eleva retenção de HCO3– e ingestão de bases. Uma alcalose
acima de 7,45. As condições que podem levar à acidose respiratória ocorre por hiperventilação, em virtude de
ou à alcalose serão definidas posteriormente, com base histeria ou tensão, overdose de algumas drogas (p. ex.:
na origem do aumento de ácido ou de base no corpo, salicilatos) e febre.
devido a alterações metabólicas ou respiratórias. A medição do pH do sangue para monitorar o estado
Uma acidose metabólica pode se dar em virtude de ácido-base é rotineira em muitas doenças porque, uma
aumento na produção de ácidos orgânicos (p. ex.: ácido diminuição ou um aumento descontrolado do pH san
láctico ou corpos cetônicos [p. 717]) ou perda de HCO3 – guíneo pode levar a consequências rápidas e graves.
do corpo. Excesso na produção de ácidos pode ocorrem Preston, R. A. Acid-Base, Fluids, and Electrolytes Made Ri
em diabetes, hipoxemia (p. ex., excesso de produção de diculously Simple. Miami, FL: Medmaster, 2002.

TABELA 1.1 Relações Entre [H+] e pH e [OH–] e pOH TABELA 1.2 pH de Alguns Fluidos Biológicos
[H+] (M) pH [OH–] (M) pOH Fluido pH
1,0 0 (1 × 10–14) 14 Plasma sanguíneo 7,4
0,1 (1 × 10–1) 1 (1 × 10–13) 13
Fluido Intersticial 7,4
(1 × 10–2) 2 (1 × 10–12) 12
Fluido intracelular
(1 × 10–3) 3 (1 × 10–11) 11 Citosol (fígado) 6,9
(1 × 10–4) 4 (1 × 10–10) 10 Matriz lisossomal abaixo de 5,0
(1 × 10–5) 5 (1 × 10–9) 9 Suco gástrico 1,5–3,0
(1 × 10–6) 6 (1 × 10–8) 8 Suco pancreático 7,8–8,0
(1 × 10–7) 7 (1 × 10–7) 7
Leite humano 7,4
(1 × 10–8) 8 (1 × 10–6) 6
Saliva 6,4–7,0
(1 × 10–9) 9 (1 × 10–5) 5
Urina 5,0–8,0
(1 × 10–10) 10 (1 × 10–4) 4
(1 × 10–11) 11 (1 × 10–3) 3
(1 × 10–12) 12 (1 × 10–2) 2 A maioria dos ácidos orgânicos encontrados nos
(1 × 10–13) 13 0,1 (1 × 10–1) 1 sistemas biológicos dissocia-se parcialmente, sendo
classificados como ácidos fracos. Eles estabelecem um
(1 × 10–14) 14 1,0 0 equilíbrio entre HA (doador de próton), um ânion (A–)
do ácido dissociado, e um H+, como se segue:
Quando um ácido forte e OH– se combinam, H+ do HA  A– + H+
ácido e OH– interagem quase totalmente e se neutra
lizam mutuamente. Ânions produzidos quando ácidos O ânion formado nessa dissociação é uma base por
fortes se dissociam, como Cl– do HCl, não são bases por que pode aceitar um próton e refazer o ácido. Um ácido
que não se reassociam com prótons em solução fraco e sua base (ânion) formados na dissociação são
8 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

designados como um par conjugado. Alguns pares con Um método conveniente de expressar a K!eq é na for
jugados de importância biológica são apresentados na ma de pK!, definido como:
Tabela 1.3. O íon amônio (NH4+) é um ácido fraco porque
se dissocia produzindo H+ e amônia (NH3) não-carre pK = log 1 (1.5)
um ácido
gada, umae base
o PO3–4 é uma base,
conjugada. masfosfórico
Ácido H2– e (H HPO 2–4 ) é
3PO
K eq

PO4 4são
Note a semelhança entre essa definição e a do pH;
ou base ou ácido, dependendo se o grupo fosfato estiver
como para pH e [H+], a relação entre pK! e K!eq é inver
aceitando ou doando um próton.
sa, e quanto menor K!eq, maior pK!. Valores representa
A tendência de um ácido conjugado liberar H+ pode tivos de K!eq e pK! para ácidos conjugados de importân
ser avaliada pela K!eq (Equação 1.1). Quanto menor o cia em sistemas biológicos são apresentados na Tabela
valor de K!eq, menor a tendência de doar um próton e 1.4. Detalhes do sistema ácido carbônico/bicarbonato
mais fraco é o ácido. Quanto maior o valor da K!eq, maior são apresentados em Um Olhar Mais Atento 1.1.
a tendência de dissociar e mais forte é o ácido. A água
é um ácido muito fraco, com K!eq de 1,8 × 10–16, a 25 °C.

TABELA 1.3 Alguns Pares Conjugados Ácido–Base de Importância em Sistemas Biológicos


Doador de Próton (Ácido) Aceptor de Próton (Base)
CH3—CHOH—COOH (ácido láctico)  H+ + CH3—CHOH—COO– (lactato)
CH3—CO—COOH (ácido pirúvico)  H+ + CH3—CO—COO– (piruvato)
HOOC—CH2—COOH
+H3 —COOH
—CH2(glicina) (ácido succínico)  H+
2H++++H3—COO– —CH2 (glicinato)
–OOC—CH2—COO– (succinato)
PO4
NCH2  H+ + H2PO4
N—CH2

H3 
H2PO–4  H+ + HPO42–
HPO2–4  H+ + PO3–4
Glicose 6-PO3H–  H+ + glicose 6—PO32–
H2CO3  H+ + HCO3–
NH4+  H+ + NH3
H2O  H+ +OH–

A Equação de Henderson– [ácidoconjugada]


[base conjugado] (1.7)
[H+]
1 = Keq
1 ·
Hasselbalch Define a Relação entre
pH e Concentrações de Ácido e Base Aplicando os logaritmos em ambos os lados teremos
= log1K
1eq + log[ácido
[base conjugada]
conjugado] (1.8)
Conjugados log[H1+]

Uma mudança na concentração de qualquer compo


nente de uma reação de equilíbrio requer uma mudança Como pH = log 1/[H+] e pK! = log 1/K!eq, a Equação
concomitante de todos os componentes. Por exemplo, 1.8 torna-se
um aumento em [H+] diminui a concentração de base
pH = pK+log[ácido[baseconjugada]conjugado] (1.9)
conjugada (p. ex., íon lactato) com um aumento equi
valente no ácido conjugado (p. ex., ácido láctico). Essa
relação é convenientemente expressa rearranjando-se
A Equação 1.9, referida como a equação de Hender
a equação de equilíbrio e resolvendo para H+, como
son–Hasselbalch, é um modo conveniente de visualizar
mostrado para a seguinte dissociação:
a relação entre pH de uma solução e quantidades rela
Ácido conjugado  base conjugada + H+ tivas de base e ácido conjugados presentes. A Análise
da Equação 1.9 demonstra que, quando a razão entre
[H][base conjugada] [base]/[ácido] é 1:1, o pH iguala-se ao pK! do ácido por
Keq = (1.6)
[ácido conjugado] que log 1 = 0. Se o pH for uma unidade abaixo do pK!,
a razão [base]/[ácido] é 1:10, e se o pH for uma unidade
A divisão da Equação 1.6 por [H+] e K!eq leva a acima do pK!, a razão [base]/[ácido] é 10:1. A Figura 1.6
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 9

TABELA 1.4 Constantes de Dissociação Aparentes e pK’ de Alguns Compostos de Importância em Bioquímica
Composto Estruturas K!eq (M) pK!
Ácido acético (CH3—COOH) 1,74 × 10–5 4,76
Alanina (CH3—CH—COOH) 4,57 × 10–3 2,34 (COOH)
|
NH3
2,04 × 10–10 9,69 (NH3+)

Ácido cítrico (HOOC—CH2—COH—CH2—COOH) 8,12 × 10–4 3,09


| 1,77 × 10–5 3,74
COOH 3,89 × 10–6 5,41
Ácido glutâmico (HOOC—CH2—CH2—CH—COOH) 5,62
6,45
2,14 × 10–5
10–3
10–10 2,19 (COOH)
|
NH3+
4,25 (COOH)
9,67 (NH3+)
Glicina (CH2—COOH) 4,57 × 10–3 2,34 (COOH)
|
NH
2,51 × 10–10 9,60 (NH3+)
3
+
Ácido láctico (CH3—CHOH—COOH) 1,38 × 10–5 3,86
Ácido pirúvico (CH3—CO—COOH) 3,16 × 10–3 2,50
Ácido succínico (HOOC—CH2—CH2—COOH) 6,46 × 10–5 4,19
3,31 × 10–6 5,48
Glicose 6-PO3H– C12H–
H11O5PO3 7,76 × 10–7 6,11
H2PO
H3 1,0 × 10–2 2,0
PO44– 2,0 × 10–7 6,7
2–
HPO4 3,4 × 10–13 12,5
H2CO3 1,7 × 10–4 3,77
NH4+ 5,62 × 10–10 9,25
H2O 1,8 × 10–16 15,74

UM OLHAR MAIS ATENTO 1.1

Ácido Carbônico (H2CO3) é um Ácido Fraco Importante na Homeostase de Animais


Ácido carbônico (H2CO3) é um ácido fraco impor Resolvendo a Equação 2 para H2CO3 e substituindo
tante no controle do pH em mamíferos. O CO2 é cons por H2CO3 na Equação 1, as duas reações de equilíbrio
tantemente produzido em reações catabólicas nos teci podem ser combinadas em uma equação:
dos e é removido do corpo pelos pulmões, na expiração. [H+1][HCO−3]
Medidas do CO2 sanguíneo são importantes para de K1 (3)
= K2[CO2][H2O]
terminar o estado ácido/base dos pacientes. Condições
médicas que restringem a liberação de CO2 do corpo Rearranjando para combinar constantes, incluindo
levam a um acúmulo de H2CO3 e à condição de acidose a concentração de H2O (55,5 M), simplifica a equação e
respiratória (Correlação Clínínica 1.1). dá uma nova constante combinada, K!3, como se segue:
Dióxido de carbono, quando dissolvido em água, K1K2 = [H2O] = K3 = [H+[CO
][HCO
2 −3 ]
] (4)
está envolvido nas seguintes reações de equilíbrio:
CO2 + H2O K' H2CO3 K' É prática comum em medicina referir-se ao CO2 dis
⇌2 ⇌1 H+ + HCO−3
solvido como o ácido conjugado; é o anidrido ácido do
Ácido carbônico tem um pK1 de 3,77, que é compará H2CO3. O termo K!3 tem um valor de 7,95 × 10–7 e pK!3
vel ao de ácidos orgânicos como o ácido láctico. A equa = 6,1. Se o sistema aquoso estiver em contato com uma
ção de equilíbrio para essa reação é fase aérea, CO2 dissolvido também estará em equilíbrio
[H]+[HCO−3] com CO2 da fase
componente é, CO2Diminuição ou aumento de um
– istoaérea.
K2 = [H2 (1) H+
nentes.
ou HCOO sistema
–3 – causa COuma (ar), CO
alteração
2/HCO3– é 2 (dissolvido), H2CO3,
CO3]
em todos os compo
H2CO3 está, entretanto, em equilíbrio com o CO2 dis
[H2CO3] extremamente impor
solvido, e a equação de equilíbrio para essa reação é tante para manter pH e homeostase em animais. CO2 é
constantemente produzido em reações catabólicas em
K2 tecidos e é removido pelos pulmões no ar expirado. Aci
= [CO2][H2
O] (2) dose respiratória pode ser tanto uma condição aguda
(segurar a respiração) quanto crônica (pneumonia).
10 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

é um gráfico das razões de base conjugada para ácido das curvas de titulação individuais são semelhantes,
conjugado versus pH de vários ácidos fracos; observe mas deslocadas em virtude das diferenças nos valores
que as razões são apresentadas em escala logarítmica. de pK!. Há uma elevação íngreme no pH quando apenas
0,1 equiv de OH– é adicionado, mas entre 0,1 e 0,9 equiv
de OH– adicionado, a mudança de pH é de apenas ~2.
)
a
c
i Portanto, uma grande quantidade de OH– é adicionada,
m
t
m
HPO42– /H2PO4– com uma mudança relativamente pequena no pH. Isso é
ír
a
g100/1 Lactato/Láctico
chamado tamponamento, e é definido como a capacida
o NH3+
/NH4
l
a
l 10/1
de de uma solução resistir à mudança de pH quando se
a
c
s adiciona um ácido ou uma base. Se o ácido fraco não es
e
(]
o 1/1 tiver presente, uma pequena quantidade de OH– levaria
d
i
c
á
[/
a um pH muito alto, porque não haveria nenhuma fonte
] 1/10 de H+ para neutralizar o OH–.
e
s
a
b
[
r1/100
e
t A melhor faixa de tamponamento para um par con
n
e jugado é em pH próximo ao pK! do ácido fraco. Come
o
ã
z
a
0 2 4 6 8 10 12 14 çando com um pH uma unidade abaixo até uma unidade
R pH
acima do pK!, cerca de 82% de um ácido fraco em solu
ção se dissociará e, consequentemente, uma quantida
FIGURA 1.6 Razão de [base]/[ácido] conjugados em
função do pH. de de base equivalente a cerca de 82% do ácido original
Quando a razão [base]/[ácido] é 1, o pH iguala pK! do ácido pode ser neutralizada, com uma alteração no pH de 2.
fraco. As faixas máximas de tamponamento para pares con
jugados são consideradas entre 1 unidade de pH abaixo
s 1.0 e 1 unidade de pH acima do pK!. O par conjugado íon
o
d
a
n 0.8
o
lactato/ácido láctico, com pK! = 3,86, é um tampão efe
i
c
i tivo entre pHs 3 e 5, sem capacidade significativa de
d
a
E
e
s 0.6
tamponamento em pH = 7,0. O par HPO42–/H2PO4–, com
a pK′ = 3.86 pK′ = 9.25 pK! = 6,7, é um tampão efetivo em pH 7,0. Assim, no pH
b
e
d 0.4 do citosol celular (~7,0), o par íon lactato–ácido láctico
s
e
t não é um tampão efetivo, mas HPO42–/H2–
n
e
PO4 é.
l 0.2
a
v
i
u A capacidade de tamponamento também depende
q
0 2 4 6 8 10 12 14 da concentração de ácido e base conjugados. Quan
pH to maior a concentração de base conjugada, maior a
quantidade de H+ adicionado com o qual pode reagir.
FIGURA 1.7 Curvas de titulação ácido–base para ácido
Quanto mais ácido conjugado, mais OH– adicionado
láctico (pK! 3,86) e NH4+ (pK! 9,25).
Em pHs iguais aos respectivos valores de pK!, haverá quantida
pode ser neutralizado por dissociação do ácido. Um
de igual de ácido e base para cada par conjugado. caso assim é o plasma sanguíneo em pH 7,4. O pK! de
HPO42–/H2PO–4igual a 6,7 sugere que esse par conjugado
seria um tampão efetivo no plasma. A concentração do
par fosfato, entretanto, é baixa quando comparada à do
O Tamponamento É Importante para sistema
em concentração
HCO3–/CO2,20com pK! de 6,1, que está presente
Controlar o pH vezes maior. O sistema HCO–/CO32
contribui para a maior parte da capacidade de tampo
Quando NaOH é adicionado a uma solução de áci namento, apesar do seu valore de pK! ser 1,3 unida
do fraco, ele se dissocia totalmente e o OH– formado é des menor que o pH do plasma sanguíneo. Tanto pK!
neutralizado por H+ do ácido dissociado parcialmente quanto a concentração de um par conjugado devem ser
para formar H2O. A diminuição de [H+] causa maior dis considerados quando se avalia a capacidade de tampo
sociação do ácido fraco, para obedecer às exigências de namento. A maioria dos ácidos orgânicos é relativamen
sua reação de equilíbrio. A quantidade de ácido fraco te sem importância como tampão nos fluidos celulares
dissociado será tão próxima à quantidade de OH– adi porque seus valores de pK! são várias unidades de pH
cionado que é considerada igual. Assim, a diminuição menores que o pH da célula, e suas concentrações são
na concentração de ácido conjugado é igual à quantida
muito baixas em comparação com sistemas tampões
de de base conjugada formada, e a razão de [base con como HPO42–/H2PO–4 e HCO–/CO32.
jugada]/[ácido conjugado] do ácido fraco se altera. Os
eventos são representados em curvas de titulação de Um problema típico usando a equação de Hender
dois ácidos fracos, apresentadas na Figura 1.7. Quando son–Hasselbalch é apresentado em Um Olhar Mais
0,5 equivalentes (equiv) de OH– são adicionados, 50% Atento 1.2. Controle do pH e tamponamento no homem
do ácido fraco são dissociados, e a razão [ácido]/[base] é merecem muita ênfase; a Correlação Clínica 1.2 é um
1,0; o pH neste ponto é igual ao pK! do ácido. As formas problema representativo da prática médica.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 11

UM OLHAR MAIS ATENTO 1.2

Problemas de pH e Tamponamento
1. Calcule a razão HPO2–/H
4 2PO4– (pK = 6,7) nos pHs Solução: pH = pK + log[HCO−3]
5,7,6,7, e 8,7. [CO4]
[HPO2− 4 ] 8 mM
Solução: pH = pK + log 7,1 = 6,1 + log
[H2PO−4] [CO2]
5,7 = 6,7 + log da razão;
7,1 = 6,1 = 1 = log8 mM
Rearranjando, 5,7 – 6,7 = –1 = log da razão Rearranjando, [CO2]
2–
O antilog de –1 = 0,1 ou 1/10. Assim HPO4 /H2PO–4 O antilog de 1 = 10. Assim, 10 = 8 mM/[CO2]. Rear
ranjando,
razão
= 1/10no
nopHpH6,7
5,7.=Usando
1:1 e noopH
mesmo
8,7 =procedimento,
100:1. a
[CO2 8 mM
2. Se o pH do sangue é 7,1 e a concentração de HCO3– ]
= 10
(pK!
é 8 mM,
paraqual
HCO3–/CO2
é a concentração de CO2 no sangue = 0,8 mM
= 6,1)?

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.2

Importância do HCO3– do Sangue na Acidose Metabólica

Tampões mantêm o pH do sangue em cerca de 7,40. 1. A equação de Henderson–Hasselbalch é


A produção celular de ácidos tende a acidificar o san pH = pK+log[HCO−3]
gue, sendo o H+ tamponado por várias bases, incluindo
[CO2]
HCO3–, hemoglobina e HPO42–. O pH sanguíneo diminui
rá à medida que as bases forem consumidas no processo pK! para [HCO3–]/[CO2] é 6,10.
de tamponamento. Se todas as bases forem consumi
das, não haverá mais capacidade de tamponamento e o 2. Substituindo os valores dados na equação
pH diminuirá progressivamente. As concentrações de [HCO−3]
7,03 = 6,10 + log 1,10 mM
HCO3– e de CO2, bem como o pH do sangue, são medi
das na prática médica, a fim de se determinar o estado
[HCO− 3]
ácido/base dos pacientes. Em uma acidose metabólica, ou 7,03 − 6,10 = 0,93 = log 1,10 mM
quando o pH sanguíneo é inferior a 7,35 (Correlação
Clínica 1.1), é importante monitorar o pH, bem como O antilog de 0,93 = 8,5; portanto,
verificar a quantidade de HCO3– capaz de ainda tampo [HCO−
nar a produção contínua de ácido. Utilizando-se a equa 3]
8,5= 1,10mM
ção de Henderson–Hasselbalch, com o conhecimento
de duas variáveis, a terceira pode ser calculada. ou [HCO3–] presente no sangue = 9,4 mM
Considere os valores sanguíneos de um paciente 3. Portanto, houve uma diminuição de 14,6 mmoles
com acidose metabólica de pH = 7,03 e [CO2] = 1,10 mM. de HCO3–/L de sangue. Se muito mais HCO–3 for
Os valores normais são pH = 7,40, [HCO3–] = 24,0 mM e perdido, esse importante tampão seria incapaz de
e quanto
[CO 2] = 1,20 mM. Qual
do [HCO –]3 é a [HCO–]3 no sangue do paciente tamponar mais ácido no sangue e o pH cairia ra
normal foi usado no tamponamento pidamente, provavelmente levando à morte do pa
do ácido que causou a condição? ciente

1.4 EUCARIOTOS: CÉLULAS E gura 1.8). As membranas também formam uma rede
tubular por toda a célula, o retículo endoplasmático e
TECIDOS DE MAMÍFEROS o complexo de Golgi, englobando um espaço interconec
tado ou cisternas, respectivamente. A natureza lipídica–
Células eucarióticas contêm estruturas subcelulares proteica de todas as membranas celulares (p. 482) impe
e organelas, como núcleo, mitocôndrias, lisossomos e de o movimento rápido de muitas moléculas, incluindo
peroxissomos, todos formando compartimentos sub a água, de um compartimento para outro. Mecanismos
celulares que são delimitados por uma membrana (Fi específicos de deslocamento em membranas controlam
12 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

as concentrações de moléculas pequenas e grandes,


carregadas ou não-carregadas, nos vários comparti
mentos subcelulares. Portanto, a composição em íons
inorgânicos, moléculas orgânicas, proteínas e ácidos
nucléicos é diferente em diferentes organelas. O se
questro de substratos específicos, de cofatores e de
enzimas em espaços delimitados por membrana au
menta a eficiência metabólica e permite um maior
grau de controle dos processos biológicos.

A composição química, as atividades e as funções


dos diversos compartimentos celulares têm sido
estudadas por uma variedade de técnicas. Foram
empregados, com células intactas, métodos histo
químicos, imunológicos e de coloração fluorescente.
Foram usados métodos para observações contínuas
em tempo real de eventos intracelulares em células
viáveis. As mudanças de pH e de concentração de
íon cálcio são estudadas pelo uso de indicadores
íon-específicos. A localização celular de proteínas
específicas é determinada com anticorpos fluores
centes. Organelas individuais, membranas e com
ponentes do citosol podem ser isolados e analisados
após o rompimento da membrana plasmática. Técni
cas para romper a membrana plasmática incluem o
uso de choque osmótico, detergentes ou homogenei
zação dos tecidos. Na última técnica, forças de atri
to rompem a membrana plasmática. A centrifugação
diferencial permite a separação de componentes
celulares graças às diferenças em seus tamanhos e
densidades. Além disso, componentes de organelas,
como mitocôndrias e peroxissomos, podem ser iso
lados após o rompimento da membrana da organela.

A maioria das estruturas isoladas e frações ce


lulares parece reter as características químicas e
bioquímicas da estrutura in situ. Mas sistemas de
membranas biológicas estão sujeitos a danos, mesmo
em condições muito brandas, e mudanças na compo
sição ocorrem durante o isolamento. Danos a uma
membrana alteram suas propriedades de permea
bilidade e permitem a transferência de substâncias
que normalmente seriam excluídas pela barreira da
membrana. Além disso, muitas proteínas são fraca
mente associadas com as membranas e facilmente
FIGURA 1.8 A Célula de Mamífero.
(a) Micrografia eletrônica de uma célula de fígado de rato, marcada
se dissociam (p. 489).
para indicar os principais componentes estruturais de células eucarió
ticas e (b) desenho esquemático de uma célula animal. Note o número
e a variedade de organelas subcelulares e a rede de membranas inter Células de Mamíferos
conectadas que delimitam canais ou cisternas. Nem todas as células
eucarióticas são tão complexas em sua aparência, mas a maioria con Os mamíferos são um dos mais complexos orga
tém as principais estruturas mostradas. ER, retículo endoplasmático; nismos multicelulares; há mais de 5.400 espécies
G, Complexo de Golgi; Ly, lisossomo; P, peroxissomo; M, mitocôndria. nessa classe de vertebrados. Eles não são apenas
Fotografia (a) reproduzida com permissão de Dr. K. R. Porter de: multicelulares, mas as células de cada órgão dos sis
Porter, K. R., e Bonneville, M. A. em: Fine Structure of Cells and temas (fígado, rim, cérebro etc.) são especializadas
Tissues. Philadelphia: Lea & Febiger, 1972; esquema (b) reproduzido para desempenhar funções específicas. Muitos dos
com permissão de: Voet, D., e Voet, J. G. Biochemistry, 2. ed., New
órgãos individuais consistem de vários tipos celula
York, Wiley, 1995.
res diferentes, cada qual com um papel específico.
Existem mais de 200 tipos diferentes de células no
homem, determinados por seus atributos físicos e
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 13

químicos. Estes variam desde células individuais, como intracelulares e organelas nos eucariotos. Isso permite
leucócitos no sangue, até células agrupadas em órgãos, outro nível de facilitação e controle das reações quími
como neurônios no sistema nervoso. Com exceção dos cas catalisadas por enzimas. Por exemplo, por manter
eritrócitos maduros, que não contêm DNA, todas as uma via metabólica contida no interior de uma organela
células em um indivíduo contêm informação genética (p. ex., mitocôndria), a concentração de intermediários
idêntica no seu DNA. Só a informação necessária para químicos pode ser maximizada para facilitar o rendi
as funções de uma célula individual é expressa. No perí mento da via ou da reação. Se esse não fosse o caso,
odo após a fertilização de um ovo, algumas células, cha a quantidade total de reagentes necessários na célula
madas células-tronco embrionárias, têm o potencial de deveria ser muito maior para se conseguir o mesmo ren
se desenvolver em todas as células de todos os órgãos dimento.
no organismo adulto. Estas são células pluripotentes.
Tecidos diferenciados contêm células multipotentes,
que podem se diferenciar em um número limitado de Composição Química de Células de
diferentes tipos celulares. Estudos recentes demons
traram que o genoma de células diferenciadas pode ser
Mamíferos
reprogramado para formar células multipotentes ou Os componentes químicos básicos das células bio
pluripotentes. Assim, a informação genética para o de lógicas são apresentados na Tabela 1.5. Em tipos dife
senvolvimento em células diferenciadas não é perdida rentes de células de mamíferos, as concentrações intra
irreversivelmente, mas apenas suprimida. celulares de íons inorgânicos são muito similares, mas
muito diferentes daquela encontrada no meio extrace
Todas as células de mamíferos, independente do te
lular. Uma aproximação da composição iônica do fluido
cido de origem e do grau de especialização, têm muitas
intracelular, considerado como representante primário
propriedades físicas, químicas e bioquímicas em comum.
do citosol, comparada ao plasma sanguíneo é apresen
Atividades e componentes de células de um órgão de
tada na Figura 1.9. O volume e o grau de hidratação das
uma espécie de mamífero serão muito semelhantes, se
células são dinâmicos e, portanto, essas concentrações
não idênticas, àquelas do mesmo órgão de alguma outra
são apenas estimativas das concentrações reais. Na+ é
espécie. Em um mamífero, incluindo o homem, a mesma
o principal cátion extracelular, com uma concentração
proteína ou enzima está presente em células de muitos
de ~140 meq/L (mM); muito pouco Na+ está presente no
tipos celulares diferentes (p. ex., músculo e fígado), mas
líquido intracelular. K+ é o principal cátion intracelular.
frequentemente existem marcadas diferenças na quanti Mg2+ está presente em ambos os compartimentos, extra
dade (p. ex., concentração). Uma via metabólica em par
e intracelular, em concentrações muito inferiores às de
ticular pode ser muito importante em um tipo celular,
Na+ e K+. Os principais ânions extracelulares são Cl– e
mas menos importante em outro. Essas diferenças são
HCO3–, com menores quantidades de fosfato e sulfato.
devidas a variações nas necessidades das células espe
A maioria das proteínas tem carga negativa em pH 7,4
cializadas individuais; essas diferenças são controladas
(p. 90), sendo ânions no pH dos fluidos teciduais. Os
pela expressão do genoma nos diversos tipos celulares.
principais ânions intracelulares são fosfato inorgânico,
Todos os componentes das células estão em equilí fosfatos orgânicos e proteínas. Outros ânions e cátions
brio dinâmico, sendo sintetizados e degradados, crian inorgânicos e orgânicos estão presentes em concentra
do um estado estacionário de concentração celular des ções bem abaixo do nível de meq/L. Exceto por dife
sas substâncias. Esse estado dinâmico varia entre os renças muito pequenas criadas por membranas e que
tipos de células de mamíferos. Essas vias catabólicas levam ao desenvolvimento de potenciais de membrana,
(degradativas) e anabólicas (de síntese) são reguladas a concentração total de cátions iguala a concentração
para manter o balanço correto de intermediários e pro total de ânions nos diferentes fluidos.
dutos químicos. Em muitos casos, controle é exercido
por sinais químicos gerados intracelularmente. Mamí TABELA 1.5 Componentes Químicos das Células
feros também têm sistemas de sinalização complexos e
integrados para transmitir informações entre tipos ce Variação de Pesos
Componente Moleculares
lulares (p. 526). Tais vias incluem síntese e liberação de
moléculas sinalizadoras de um tipo celular, transporte H2O 18
para células em outro sistema do órgão, e reconheci Íons
Na+,
inorgânicos
K+, Cl–, SO4 23–100
mento específico do sinal pelas células-alvo. Na maioria 2–, HPO2–4 HCO–,3
dos casos, a molécula sinalizadora não afeta todos os ti Ca2+, Mg2+ etc.
pos celulares. Um exemplo é o papel dos hormônios (p. Moléculas orgânicas pequenas 100–1.200
ex., insulina), sintetizados por células do sistema endó Carboidratos, ácidos orgânicos,
crino e capazes de alterar o metabolismo da glicose no lipídeos, nucleotídeos, peptídeos
sistema muscular.
Macromoléculas 6.000–1.000.000
Como indicado, a principal diferença entre procario Proteínas, polissacarídeos, ácidos
tos e eucariotos é a presença de sistemas de membrana nucleicos
14 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

180
190
200 H•HCO3
As concentrações intracelulares da maioria das mo
HCO3 – léculas orgânicas de baixo peso molecular, como açú
Não eletrólitos Cl– ? cares, ácidos orgânicos, aminoácidos e intermediários
160
170
fosforilados, estão na faixa de 0,01–1,0 meq/L, mas al
H•HCO3 gumas são significativamente menores. Coenzimas,
o
c
i
– n
â
moléculas orgânicas necessárias à atividade de algu
150 HCO3 g
r
o
mas enzimas, estão na mesma faixa de concentração.
140 K+ e As concentrações celulares gerais de substratos para as
o
c
i
130 n enzimas são relativamente baixas em comparação com
â
g
ronisotafso
120
110 íons inorgânicos; a localização em organelas específicas
ou microambientes celulares, entretanto, pode aumen
tar significativamente suas concentrações.
100
1–Lqe
90 Na+ F
Não tem muito sentido determinar a concentração
m
80 Cl– molar de proteínas individuais nas células. Em muitos
70 SO42– casos, elas se localizam em estruturas específicas ou
40
50
60 ficam combinadas com outras proteínas, criando uni
dades funcionais. É num compartimento restrito que
? Na+
a
n
í
proteínas individuais desempenham suas funções, se
e
t
HPO4
2–
o
r
jam elas estruturais, catalíticas ou regulatórias. É inte
2–
SO 4 P ressante que o plasma sanguíneo contenha milhares de
20
30 K+ Org ACID proteínas distintas, cujas concentrações vão de cerca
n
i
e
10 Ca2+ t
o
r
de 10–3 M (albumina) a 10–13 M (hormônio da parati
Mg2+ P reoide), com algumas proteínas em concentrações ain
sanguíneo
Plasma Fluido da menores.
celular

FIGURA 1.9 Principais constituintes químicos do plasma


sanguíneo e do fluido celular. 1.5 FUNÇÕES DE ORGANELAS
Altura da metade esquerda de cada coluna indica concentração
total de cátions; a da metade direita, concentrações de ânions. SUBCELULARES E SISTEMAS
Ambos são expressos em miliequivalentes por litro (meq/L) do
fluido. Note que os valores de cloreto e sódio no fluido celular DE MEMBRANAS EM
são questionados. É provável que, pelo menos no músculo, o
citosol contenha algum sódio, mas não cloreto. CÉLULAS EUCARIÓTICAS
Adaptado de: Gregersen, M. I. Em: P. Bard (Ed.), Medical
Physiology, 11. ed., St. Louis, MO; Mosby, 1961, p 307. As organelas têm funções muito específicas, e suas
atividades enzimáticas servem como marcadores da
organela durante o isolamento. Algumas vias metabó
licas estão localizadas em um único compartimento
celular. Por exemplo, o ciclo dos ácidos tricarboxílico
(p. 570) ocorre inteiramente no interior das mitocôn
drias, a glicólise no citosol (p. 612) e a replicação do
DNA no núcleo e nas mitocôndrias. Algumas vias estão
divididas entre duas localizações, com os intermediá
rios da via difundindo ou sendo transportados de um
compartimento para outro. As enzimas para a síntese
do heme (p. 814) estão divididas entre as mitocôndrias
e o citosol.

Um resumo das funções das principais estruturas


das células eucarióticas é apresentado na Tabela 1.6,
e as estruturas são identificadas na Figura 1.8. Com a
capacidade de inativar seletivamente ou deletar genes
específicos em animais (p. 303), condições patológicas
e doenças foram identificadas envolvendo a maioria das
FIGURA 1.10 Membrana plasmática de uma célula de organelas e estruturas celulares. Em muitos casos, en
mamífero. tretanto, os detalhes bioquímicos que levam às conse
Micrografia eletrônica da membrana plasmática de um eritró
quências de um gene modificado ainda não foram de
cito.
Cortesia de J. D. Robertson, Duke University, Durham, NC.
terminados.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 15

Membrana Plasmática É a Fronteira sinalização bidirecional através da membrana. Por meio


de elementos do citoesqueleto, a membrana plasmática
Que Delimita uma Célula está envolvida na determinação de forma e movimen
to celulares. A natureza lipídica das membranas exclui
A superfície externa da membrana plasmática (Fi
muitas substâncias, mas mecanismos de transporte
gura 1.10) está em contato com um ambiente externo
ou poros permitem o movimento transmembrânico de
variável, e a superfície interna está em contato com um
íons, moléculas orgânicas e água. A comunicação in
ambiente relativamente constante, fornecido pelo cito
tercelular ocorre graças à presença de receptores pro
plasma da célula. A composição proteica da membrana
teicos específicos na superfície externa da membrana
plasmática varia entre os tipos celulares, mas há uma
plasmática, para ligar sinais extracelulares, como hor
semelhança na composição lipídica. Proteínas e lipíde
mônios e neurotransmissores. A membrana plasmática
os não estão distribuídos ao acaso na membrana. Os
interage com uma variedade de substâncias citoplasmá
dois lados das membranas plasmáticas de mamíferos
ticas para fazer endo e exocitose. Além do seu papel
têm composições lipídicas diferentes (p. 487). na internalização do líquido extracelular, a endocitose
A superfície externa faz interações adesivas com a tem um papel significativo na morte celular programa
da, chamada apoptose (p. 1034). Detalhes da estrutura
matriz extracelular e com outras células por meio de
integrinas. Essas proteínas transmembrânicas ligam e da bioquímica da membrana são apresentados no Ca
-se ao citoesqueleto dentro das células e participam da pítulo 12.

TABELA 1.6 Resumo dos Compartimentos da Célula Eucariótica e Suas Principais Funções
Compartimento Principal funções
Membrana plasmática Transporte de íons e moléculas pequenas
Exo e Endocitose
Reconhecimento
Célula-Célula
Receptores para moléculas pequenas e grandes
Morfologia e movimento celular
Núcleo Síntese e reparo de DNA
Síntese de RNA
Nucléolo Processamento de RNA e síntese de ribossomos
Retículo endoplasmático Síntese de membranas
Síntese de proteínas e lipídeos para algumas organelas e para exportação
Síntese de lipídeos e esteroides
Reações de desintoxicação
Sinalização por Ca2+
Complexo de Golgi Modificação e seleção de proteínas para incorporação em membranas e or
ganelas, e para exportação
Exportação de proteínas
Mitocôndrias Produção de ATP
Respiração celular
Oxidação de piruvato, aminoácidos e ácidos graxos
Síntese de ureia e heme
Lisossomos Apoptose
Digestão celular: hidrólise de proteínas, carboidratos, lipídeos, e ácidos nu
cleicos
Peroxissomos Oxidação de lipídeos
Reações oxidativas envolvendo O2
Utilização de H2O2
Microtúbulos, filamentos intermediá Citoesqueleto celular
rios e microfilamentos Morfologia celular
Motilidade celular
Movimentos intracelulares
Citosol Metabolismo de carboidratos, aminoácidos e nucleotídeos; síntese de ácidos
graxos
Síntese de proteínas
16 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.3

Envelhecimento Acelerado e o Núcleo Celular


A síndrome progéria de Hutchinson–Gilford (HGPS, ligado à membrana nuclear, por uma reação catali
Hutchinson–Gilford progeria syndrome) (OMIM 17660) sada por enzima. Os pacientes com HGPS apresen
é uma condição muito rara na qual os pacientes pas tam déficit nessa conversão, o que leva ao acúmulo
sam por uma velocidade rápida de envelhecimento, ini de uma lamina A anormal em células normais, com o
ciando-se ao nascer. Estima-se que a síndrome ocorra envelhecimento. A presença dessa proteína anormal
em cerca de 1 a cada 4 a 8 milhões de nascimentos. causa formação de “bolhas” no núcleo (blebbing),
É detectada cedo na vida, com crescimento limitado, alteração na expressão gênica, e interferência com
perda de cabelo, características faciais específicas, os a mitose. No momento, não há terapia estabelecida
sos pequenos e frágeis, pele enrugada, aterosclerose e para essa condição, porém, definindo-se as alterações
problemas cardiovasculares, todos comuns em idosos. que a causam, uma abordagem terapêutica pode ser
Os pacientes, entretanto, não apresentam sintomas de possível. Os resultados de estudos em HPGS deverão
doenças neurodegenerativas. Raramente ultrapassam o revelar também maiores detalhes acerca do processo
início da adolescência. O processo de envelhecimento de envelhecimento normal.
desses indivíduos é de 6 a 8 vezes mais acelerado do
que o normal. Mattout, A., Dechat, T., Adam, A. A., Goldman, R.D., e Gru
enbaum, Y. Nuclear lamins, disease and aging. Curr. Opinion
Uma mudança genética em relação ao normal foi
in Cell Biol. 18:335, 2006; Korf, B. Hutchinson-Gilford proge
identificada em pacientes com HGPS. O envelope ria syndrome, aging, and the nuclear lamina. N. Engl. J. Med.
nuclear dos pacientes parece distorcido. Lamina A, 358:552, 2008; e Merideth, M. A., Gordon, L. B., Clauss, S., Sa
uma proteína estrutural do núcleo, está envolvida na chdev, V. et al., Phenotype and course of Hutchinson-Gilford
síntese de DNA e RNA. É formada de um precursor, progeria syndrome. N. Engl. J. Med. 358:592, 2008

Núcleo é o Local de Síntese de DNA teínas e as enzimas envolvidas na replicação do DNA, e


no reparo do DNA que foi danificado (p. 169).
e de RNA
O núcleo (Figura 1.11) é envolvido por duas mem
branas, chamadas envelope nuclear, com a membrana
externa sendo contínua com as membranas do retículo NÚCLEO
endoplasmático. O espaço entre as membranas, o es
paço perinuclear, é contínuo com o lúmen do retícu
lo endoplasmático rugoso. O envelope nuclear contém
numerosos complexos multiproteicos, denominados
complexos do poro nuclear, que atravessam o envelo
pe e têm um poro com cerca de 90 Å de diâmetro. O
complexo permite movimento controlado de partículas
e de moléculas grandes entre a matriz nuclear e o cito
plasma. O transporte de macromoléculas requer gasto
de energia, e é facilitado por uma série diversificada de
proteínas transportadoras e fatores de transporte solú
veis, que ciclam entre os dois compartimentos. Consi FIGURA 1.11 Núcleo de uma célula de mamífero.
Micrografia eletrônica gentilmente cedida pelo Dr. John A. Mc
dera-se hoje que o envelope nuclear desempenha outros
Nulty, Department of Cell Biology, Neurobiology and Anatomy,
papéis importantes, além de servir como barreira entre Stritch School of Medicine, Loyola University, Chicago.
a matriz nuclear e o citoplasma (Correlação Clínica 1.3).
Há também subcompartimentos intranucleares, sendo
o principal deles o nucléolo. Uma estrutura em rede de
lineando a membrana nuclear interna, a lâmina nuclear, A transcrição da informação genética do DNA em
uma forma que possa ser traduzida em proteínas celu
suporta a estrutura do núcleo.
lares (p. 193) envolve a síntese e o processamento de
O ácido desoxirribonucleico (DNA), o reservatório várias formas de ácido ribonucleico (RNA). O proces
da informação genética, localiza-se dentro do núcleo samento do RNA para construção dos ribossomos, ne
como um complexo DNA–proteína, a cromatina, que é cessários para a síntese proteica no citosol, ocorre no
organizada em cromossomos. O núcleo contém as pro nucléolo.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 17

O Retículo Endoplasmático Tem importantes na biossíntese de hormônios esteroides,


na remoção de substâncias tóxicas e no metabolismo
um Papel na Síntese Proteica e em de drogas. O retículo endoplasmático e o complexo de
Golgi estão envolvidos na formação de outras organe
Muitas Vias de Síntese las celulares, como lisossomos e peroxissomos, e na
O citoplasma de células eucarióticas contém uma sinalização do Ca2+ (p. 551).
extensa rede de membranas interconectadas que se es
tende do envelope nuclear até a membrana plasmática,
chamada retículo endoplasmático (ER). Consiste de
membranas com aparêncialisa (ER liso ou SER, smooth
endoplasmic reticulum) em algumas áreas, e rugosa
(ER rugoso ou RER, rough endoplasmic reticulum)
em outros lugares (Figuras 1.12 e 1.13). Essa organela
dinâmica muda de tamanho e forma, dependendo das
necessidades da célula. O ER delimita o lúmen do ER,
onde proteínas recém-sintetizadas são modificadas. A
aparência rugosa deve-se à presença de partículas de
ribonucleoproteína, chamadas ribossomos, ligadas ao
seu lado citosólico. Durante o fracionamento celular, a
rede do retículo endoplasmático é rompida e a membra
na fecha novamente, formando pequenas vesículas ou
microssomos. Essas vesículas não estão presentes nas
células.
FIGURA 1.13 Retículo endoplasmático rugoso de uma
célula de mamífero.
Três setas paralelas indicam três ribossomos entre os muitos
acoplados às membranas. A seta individual indica uma mito
côndria para comparação.
Cortesia do Dr. U. Jarlfors, University of Miami, Miami, FL.
SER

Aparelho de Golgi Está Envolvido na


Secreção de Proteínas
O aparelho de Golgi (também denominado comple
xo de Golgi) (Figura 1.14) é uma rede de bolsas acha
tadas e empilhadas de membranas lisas – cisternas – e
vesículas. Funciona em conjunto com o retículo endo
FIGURA 1.12 Retículo endoplasmático liso de uma célula
plasmático, onde proteínas para destinos específicos
de mamífero.
são sintetizadas.
SER, retículo endoplasmático liso. Micrografia eletrônica gen
tilmente fornecida pelo Dr. John A. McNulty, Department of
Cell Biology, Neurobiology and Anatomy, Stritch School of Me
dicine, Loyola University, Chicago.

GOLGI
Uma função importante dos ribossomos no retícu
lo endoplasmático rugoso é a biossíntese de proteínas
para incorporação em membranas e organelas celula
res, bem como para exportação para fora da célula. O
ER está envolvido no dobramento de proteínas; se o
sistema de dobramento estiver sobrecarregado e pro
teínas não dobradas se acumularem, uma série de pro
cessos é induzida para reduzir o estresse sobre o ER.
Existem algumas evidências de que o estresse do ER
esteja envolvido em várias doenças. O retículo endo FIGURA 1.14 Aparelho de Golgi de uma célula de
plasmático liso está envolvido na síntese de lipídeos e mamífero.
contém enzimas chamadas citocromos P450 (p. 442), Micrografia eletrônica gentilmente cedida pelo Dr. John A. Mc
que catalisam a hidroxilação de uma variedade de Nulty, Department of Cell Biology, Neurobiology and Anatomy,
compostos endógenos e exógenos. Essas enzimas são Stritch School of Medicine, Loyola University, Chicago.
18 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Enzimas nas membranas do Golgi catalisam a trans


ferência de unidades de carboidratos para proteínas,
para formar glicoproteínas, um processo que é impor
tante na determinação do destino final de proteínas. O
Golgi é o principal local de síntese de novas membranas
e participa da formação de lisossomos e peroxissomos.
Vesículas de membranas transportam proteínas entre
as cisternas; elas brotam de uma cisterna e fundem
com outra, com a ajuda de uma família de proteínas
chamadas proteínas SNARE. Vesículas que se originam
do complexo de Golgi transportam proteínas, tais como
hormônios, proteínas do plasma sanguíneo e enzimas
digestivas para a membrana plasmática, para secreção.
O aparelho de Golgi também tem um papel no movi
mento dos lipídeos dentro da célula.

FIGURA 1.15 Mitocôndrias de uma célula de mamífero.


Mitocôndria Atende à Maior Parte Micrografia eletrônica de mitocôndrias em fibras musculares
de coração de coelho (× 39.600).
da Necessidade Celular de ATP Cortesia do Dr. W. B. Winborn, Department of Anatomy, Uni
As mitocôndrias (Figura 1.15) são bem estabelecidas versity of Texas Health Science Center at San Antônio, e do
Laboratório de Micrografia Eletrônica, Department of Patholo
como as usinas da célula, responsáveis pela síntese de gy, University of Texas Health Science Center at San Antonio.
mais de 90% da adenosina trifosfato (ATP) que a célula
requer (p. 589). Também têm papéis importantes em di
versas funções celulares, incluindo apoptose (p. 1034),
Mitocôndrias desempenham um papel em sua pró
formação de espécies reativas de oxigênio (p. 601), sina
pria replicação. Contêm várias cópias de um DNA circu
lização celular, e vários processos metabólicos. Em mi lar (DNA mitocondrial [mtDNA]), com informação ge
crografias eletrônicas, as mitocôndrias aparecem como
nética para 13 proteínas mitocondriais e alguns RNAs.
bastonetes, esferas, ou corpos filamentosos, geralmente,
O DNA é semelhante, em tamanho (16.569 pares de
com cerca de 0,5–1 μm de diâmetro e até 7 μm de com
bases), ao de cromossomos bacterianos. A presença de
primento; algumas dessas diferenças de forma podem um genoma independente e a similaridade com bacté
ser devidas à preparação do tecido ou célula para análise
rias levaram à hipótese amplamente aceita de que essas
microscópica. A matriz interna da organela, o mitosol, é
organelas foram bactérias que foram captadas por uma
envolta por duas membranas, claramente diferentes em
célula mais avançada e, em lugar de serem destruídas,
aparência, composição e função bioquímica. A membra
na interna invagina-se para dentro da matriz formando estabeleceram um relacionamento endossimbiótico.
Estima-se que esse evento possa ter ocorrido há cer
cristas, e contém inúmeras pequenas esferas ligadas por ca de 3 bilhões de anos. A herança mitocondrial ocorre
hastes e se projetando para o mitosol, que são respon
por transmissão materna, e tem sido possível estudar o
sáveis pela síntese de ATP. A estrutura das cristas varia
movimento global humano por avaliação das variações
de tubular a lamelar, dependendo do tecido e do esta
no mtDNA. Mitocôndrias também têm a maquinaria ne-
do funcional das mitocôndrias. As mitocôndrias podem
cessária (p. 599) para catalisar a síntese de proteínas.
se dividir por fissão e se fundir; as proteínas requeridas
A maioria das proteínas mitocondriais (mais de 90%)
para esses processos já foram identificadas, porém mui
é derivada de genes presentes no DNA nuclear e sin
tos detalhes dos mecanismos reais ainda não foram des
tetizada no citosol, depois importada para a organela.
cobertos. Exercício promove um aumento no número de
Existem várias centenas de doenças genéticas de fun
mitocôndrias do músculo esquelético. Componentes do ção mitocondrial (Correlação Clínica 1.4).
sistema de transporte de elétrons e da fosforilação oxi
dativa fazem parte da membrana interna (p. 577). Vias
metabólicas para oxidação de piruvato produzido na gli
cólise, ácidos graxos e aminoácidos, bem como algumas Lisossomos São Necessários para
reações de biossíntese de ureia e heme, localizam-se no Digestão Intracelular
mitosol. Ambas as membranas, externa e interna, con
têm mecanismos para deslocamento de proteínas es Os lisossomos (Figura 1.16) são responsáveis pela
pecíficas. Há uma variedade de sistemas de transporte digestão intracelular de substâncias, tanto extracelu
transmembrânico na membrana interna, para desloca lares como intracelulares. Com uma única membrana
mento de vários metabólitos. As mitocôndrias desempe delimitante, mantêm um pH intralisossomal de cerca
nham um papel chave no envelhecimento; o citocromo de 5. Encapsulada nessas organelas está uma classe
c, um componente do sistema de transporte de elétrons de enzimas glicoproteicas, hidrolases, que catalisam a
mitocondrial, é um iniciador de apoptose. clivagem hidrolítica de ligações carbono–oxigênio, car
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 19

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.4

Doenças Mitocondriais

A primeira doença envolvendo especificamente trans plicadas na patofisiologia da esquizofrenia, da doença


dução de energia mitocondrial (doença de Luft) (OMIM bipolar e de doenças degenerativas relacionadas com
238800) foi relatada em 1962. Uma paciente de 30 anos idade, como as doenças de Parkinson, de Alzheimer e
de idade apresentava fraqueza generalizada, transpira cardiomiopatias. Recentemente, foi sugerido que uma
ção excessiva, alta ingesta calórica sem ganho de peso, única mutação em um tRNA mitocondrial levaria a uma
e taxa de metabolismo basal muito elevada (uma medida constelação de sintomas, incluindo hipertensão, coles
da utilização de oxigênio). Ela tinha um defeito no me terol elevado no sangue e níveis baixos de Mg2+ no plas
canismo que controla a utilização de oxigênio pela mi ma. As doenças causadas por mutações no mtDNA são
tocôndria (p. 590). Desde então, centenas de anomalias transmitidas da fêmea para seus descendentes, uma vez
genéticas foram identificadas que levam a alterações em que as mitocôndrias presentes na célula-ovo são deriva
enzimas, ácidos ribonucleicos, componentes do trans das do oócito.
porte de elétrons e sistemas de transporte de membra
nas mitocondriais. Algumas condições resultam de mu Ver Correlação Clínica 6.6, página 235; Seção 14.4,
tações no DNA mitocondrial e outras, de mutações no página 570; Seção 14.5, página 577; Seção 14.6, página
DNA nuclear que codifica proteínas mitocondriais. 579 e Seção 14.7, página 589, para detalhes de doenças
mitocondriais específicas.
A primeira doença identificada, devida a uma mu
tação no mtDNA, foi a Neuropatia Óptica Hereditária
Luft, R. The development of mitochondrial medicine. Proc.
de Leber (OMIM 535000), que leva a cegueira súbita no
Natl. Acad. Sci. USA 91:8731, 1994; Lin, M. T. e Beal, M. F.
início da idade adulta. Muitas doenças mitocondriais Mitochondrial dysfunction and oxidative stress in neurodege
envolvem músculo esquelético e sistema nervoso cen nerative diseases, Nature 443:787, 2006; Schapira, A. H. Mi
tral. Danos no DNA mitocondrial podem ocorrer por tochondrial disease. Lancet 368:70, 2006; e Pieczenik, S. R. e
causa de radicais livres (superóxidos) formados nas mi Neustad, J. Mitochondrial dysfunction and molecular pathways
tocôndrias. Anomalias nas mitocôndrias têm sido im of disease. Exp. Mol. Path. 83:84, 2007.

bono–nitrogênio, carbono–enxofre e oxigênio–fósforo são aqueles que não se fundiram com vesículas conten
em proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos. do o material a ser degradado.
Uma lista parcial das enzimas lisossomais é apresen
tada na Tabela 1.7. O conteúdo enzimático dos lisosso
mos varia em diferentes tecidos e depende das funções
específicas do tecido. Hidrolases lisossomais são mais
ativas em pH ácido e quebram moléculas complexas em
compostos simples de baixo peso molecular, que podem
ser reutilizados. A relação entre pH e atividade enzimá
tica é discutida na p. 401. O rompimento da membrana
lisossomal dentro da célula leva à digestão celular. Vá
rias condições patológicas têm sido atribuídas à libera
ção de enzimas lisossomais, incluindo artrite, respostas
alérgicas, várias doenças musculares e destruição teci
dual induzida por drogas (Correlação Clínica 1.5).
As células internalizam partículas exógenas, como
microrganismos e vírus, por fagocitose, líquidos por FIGURA 1.16 Lisossomos de uma célula mamária.
pinocitose, e proteínas específicas por endocitose, um Micrografia eletrônica generosamente cedida por Dr. John A.
processo mediado por receptor. Em cada caso, o mate McNulty, Departamento de Biologia Celular, Neurobiologia e
rial do exterior da célula é encapsulado em vesículas Anatomia, Stritch School of Medicine, Loyola University, Chi
cago.
delimitadas pela membrana plasmática (Figura 1.17).
As vesículas contendo material externo fundem-se com
lisossomos primários para formar lisossomos secundá
rios ou vacúolos digestivos, que contêm o material a Proteínas celulares, ácidos nucleicos, lipídeos e or
ser digerido e as hidrolases lisossomais para fazerem a ganelas, como mitocôndrias, estão em estado dinâmico
digestão. São identificados microscopicamente pelo seu de síntese e degradação. Os lisossomos são responsáveis
tamanho e, frequentemente, pela presença de estrutu pela hidrólise desses componentes celulares, por um
ras parcialmente digeridas. Os lisossomos primários processo finamente regulado chamado autofagia. Subs
20 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.5

Enzimas Lisossomais e Gota


O catabolismo de purinas (p. 845), compostos hete por células da articulação, e se acumulam em vacúolos
rocíclicos contendo nitrogênio, encontrados em ácidos digestivos intracelulares, que contêm enzimas lisosso
nucleicos, leva à formação de ácido úrico, que é excre mais. Os cristais causam danos físicos aos vacúolos, li
tado na urina. Gota é uma anormalidade na qual o ácido berando hidrolases lisossomais no citosol. Embora o pH
úrico é produzido em excesso, levando a aumento no ótimo das enzimas lisossomais seja inferior ao pH do
ácido úrico sanguíneo e à deposição de cristais de ura citosol, elas têm alguma atividade hidrolítica em pH
to nas articulações. As manifestações clínicas incluem mais alto, causando digestão de componentes celulares
inflamação, dor, inchaço e aumento de temperatura de e autólise celular.
algumas articulações, particularmente do grande arte
Weissmann, G. Crystals, lysosomes, and gout. Adv. Intern.
lho. O ácido úrico é bastante insolúvel, e alguns dos sin Med. 19:239, 1974; e Burt, H. M., Kalkman, P. H. e Mauldin, D.
tomas clínicos da gota podem ser atribuídos à lesão cau Membranolytic effects of crystalline monosodium urate mono
sada por cristais de urato. Os cristais são fagocitados hydrate. J. Rheumatol. 10:440, 1983.

TABELA 1.7 Enzimas Lisossomais Representativas e Seus tâncias destinadas a serem degradadas são identificadas
Substratos e captadas por lisossomos ou são primeiramente encap
Tipo de Substrato e Substrato suladas dentro de vesículas de membranas que, então, se
Enzima Específico fundem com lisossomos primários (Figura 1.17). Autofa
gia é importante não somente em condições de estresse,
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM POLISSACARÍDEOS mas também em células normais de mamíferos; jejum e
a-Glucosidase Glicogênio hormônios específicos induzem autofagia.
a-Fucosidase Fucose de membrana
Produtos da digestão lisossomal são liberados dos
b-Galactosidase Galactosídeos lisossomos e são reutilizados pela célula. Material não
a-Manosidase Manosídeos -digerido acumula-se em vesículas chamadas corpos
b-Glucuronidase Glucuronídeos residuais, cujos conteúdos são normalmente removidos
da célula por exocitose. Alguns corpos residuais con
Hialuronidase Ácido hialurônico e
condroitim sulfatos têm altas concentrações de substâncias pigmentadas,
que são quimicamente heterogêneas e contêm ácidos
Arilsulfatase Sulfatos orgânicos graxos poli-insaturados e proteínas. Esses materiais
Lisozima Parede celular de acumulam-se nas células e são chamados lipofuscina,
bactérias ou “pigmento da idade” ou “pigmento do uso e desgaste”
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM PROTEÍNAS (wear and tear pigment). A lipofuscina foi observa
da principalmente em neurônios e células musculares
Catepsinas Proteínas
pós-mitóticos, e foi implicada no processo de envelhe
Colagenases Colágeno
cimento.
Elastase Elastina
Algumas enzimas lisossomais são normalmente se
Peptidases Peptídeos
cretadas da célula para digestão de material extracelu
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM ÁCIDOS NUCLEICOS lar no tecido conjuntivo e na glândula prostática. Nas
Ribonuclease RNA doenças genéticas de acúmulo lisossomal (p. 242), en
Desoxirribonuclease DNA zimas lisossomais individuais estão ausentes, levando
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM LIPÍDEOS ao acúmulo nos lisossomos do substrato da enzima que
Lipase Triacilglicerol e ésteres falta. Os lisossomos ficam aumentados com o material
de colesterol não-digerido, interferindo com os processos normais
da célula (Correlação Clínica 1.6). Um caso desses é a
Esterase Ésteres de ácidos graxos doença da célula I, na qual o mecanismo celular de dire
Fosfolipase Fosfolipídeos cionamento de enzimas lisossomais para os lisossomos
FOSFATASES durante sua síntese está defeituoso. Ao contrário, as en
zimas hidrolíticas lisossomais são exportadas para fora
Fosfatase Fosfomonoésteres
da célula e danificam a matriz extracelular. (Correlação
Fosfodiesterase Fosfodiésteres
Clínica 6.8, p. 243).
SULFATASES
Condroitim sulfatase Heparam sulfato
Arilsulfatase B Dermatam sulfato
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 21

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.6

Deficiência de Lipase Ácida Lisossomal


Lipase ácida lisossomal humana (hLAL) hidrolisa junção de splice em ambos os alelos, levando a uma en
triacilglicerol a ácidos graxos livres e glicerol, e ésteres zima cataliticamente defectiva e instável.
de colesterol a colesterol e ácidos graxos. É uma enzi A doença de Wolman manifesta-se em bebês e é ge
ma crítica no metabolismo de colesterol, servindo para ralmente fatal por volta de 1 ano de idade. Não há ati
tornar o colesterol disponível para as necessidades das vidade detectável de hLAL. Ambos, triacilglicerol e co
células. Doença de armazenamento de colesteril-ésteres lesteril-estéres, acumulam-se nos tecidos. Os pacientes
(CESD) e doença de Wolman (OMIM 27800) são duas são homozigotos para uma mutação que leva à ausência
formas fenotípicas distintas de uma deficiência genética de enzima ativa.
de hLAL; ambas são doenças autossômicas recessivas Hegele, R. A., Little, J. A., Vezina, C., et al., Hepatic lipase de
raras. CESD é geralmente diagnosticada em adultos e ficiency: Clinical, biochemical, and molecular genetics char
é evidenciada por hipercolesterolemia, hepatomegalia e acteristics. Atherosclerosis and Thrombosis 13:720, 1993;
início precoce de grave aterosclerose. Os indivíduos afe Anderson, R. A., Bryson, G. M. e Parks, J. S. Lysosomal acid
tados têm atividade de hLAL, mas em níveis muito baixos lipase mutations that determine phenotype in Wolman and
(<5% do normal). Aparentemente, esse nível é suficiente cholesteryl ester storage disease. Mol. Genet. & Met. 68:333,
para hidrolisar triacilglicerol, mas não colesteril-ésteres. 1999; e Zschenker, O., Illies, T. e Ameis, D. Overexpression of
Os pacientes são homozigotos para uma mutação numa lysossomal acid lipase and other proteins in atherosclerosis. J.
Biochem. 140:23, 2006.

Os Peroxissomos Têm
Retículo endoplasmático
um Importante Papel
– Complexo de Golgi
no Metabolismo de
Mitocôndria Lipídeos
A maioria das células de mamí
feros, protozoários e plantas tem
organelas, denominadas micro
corpúsculos ou peroxissomos, o
Lisossomos Lisossomos
primários último devido à sua capacidade de
produzir ou utilizar peróxido de
hidrogênio (H2O2). Eles possuem
Vacúolo uma única membrana e são peque
autofágico
digestivo
Vacúolo secundários Vacúolos nos (0,3-1,5 μm de diâmetro, esféri
cos ou ovais, com uma fina rede de
túbulos em sua matriz. A alta con
Vacúolo centração de proteínas na matriz de
digestivo alguns peroxissomos leva a inclu
sões cristalinas. Variam entre célu
las em sua composição enzimática,
função e número. Mais de 50 enzi
residuais
mas, catalisando reações oxidativas
e biossintéticas, foram identificadas
em peroxissomos de diferentes te
cidos.
Descarga
Os peroxissomos são essenciais
para a oxidação de ácidos graxos
de cadeia muito longa (p. 720) e
FIGURA 1.17 Representação diagramática do papel de lisossomos na digestão
intracelular de substâncias internalizadas por fagocitose (heterofagia) e de
síntese de glicerolipídeos, lipídeos
componentes celulares (autofagia). glicerol éteres (plasmalogênios) e
Nos dois processos, substâncias a serem digeridas são envoltas em uma vesícula de isoprenoides (p. 740). Em camun
membrana, seguida de fusão com um lisossomo primário para formar um lisossomo dongos, demonstrou-se que os pe
secundário, no qual a digestão ocorre. roxissomos têm um papel fisiológico
22 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 1.7

Doenças da Biogênese de Peroxissomos (PBD)


Os peroxissomos são responsáveis por várias re de idade. Nessa condição, o defeito genético está no
ações metabólicas importantes, incluindo síntese de mecanismo para importar enzimas para a matriz dos
glicerol éteres, encurtamento de ácidos graxos de peroxissomos. Algumas condições PBD são causadas
cadeia muito longa para que as mitocôndrias possam por mutações de splice doador ou de sentido errado
oxidá-los completamente, e oxidação da cadeia late (missense) (p. 171); em algumas, há ausência de uma
ral do colesterol necessária à síntese de ácidos bilia única enzima metabólica ou defeito em um componen
res. Doenças da biogênese de peroxissomos (PBDs) te do transporte de membranas. Em alguns casos, a
(OMIM 601539) compreendem mais de 25 doenças doença pode ser diagnosticada antes do nascimento
genéticas fenotipicamente relacionadas que envolvem por ensaio de enzimas de peroxissomos ou de ácidos
atividades enzimáticas de peroxissomos. São doen graxos em células do líquido amniótico.
ças autossômicas recessivas raras, que se caracteri
zam por níveis diminuídos de lipídeos glicerol–éteres
(plasmalogênios), níveis aumentados de ácidos graxos FitzPatrick, D. R., Zellweger syndrome and associated phe
de cadeias muito longas (C24 e C26) e de derivados do notypes. J. Med. Genet. 33:863, 1996; Warren, D.S., Wolfe, B.
ácido colestanoico (precursores de ácidos biliares). D. e Gould, S. J. Phenotype-genotype relationships in PEX10
A doença pode afetar fígado, rim, cérebro e sistema deficient peroxisome biogenesis disorder patients. Human
esquelético. A mais grave é a síndrome de Zellweger, Mutation 15:509, 2000; e Steinberg, S. J., Dodt, G., Raymond,
G. V., Baverman, N. E. et al. Peroxisome biogenesis disorders.
que se deve à ausência de peroxissomos funcionais; a
Biochim. Biophys. Acta. 1763:1733, 2006.
morte frequentemente ocorre por volta dos 6 meses

significativo na síntese e na degradação de lipídeos. Eles arcabouço, no citoplasma (p. 1008). Essa estrutura di
também contêm enzimas que oxidam D-aminoácidos, nâmica desempenha um papel na manutenção da mor
ácido úrico e vários 2-hidroxiácidos, usando O2 mole fologia celular, no transporte intracelular de vesículas
cular com formação de H2O2. A catalase, uma heme e organelas, na motilidade celular e na divisão celular.
-enzima (p. 605) presente nos peroxissomos, catalisa a O citoesqueleto inclui os microtúbulos, consistindo de
conversão de H2O2 em água e oxigênio e a oxidação de multímeros de tubulina, uma proteína que rapidamente
vários compostos por H2O2 (Figura 1.18). As células se se organiza em estruturas tubulares e se desorganiza,
protegem da toxicidade do H2O2 por possuírem tanto dependendo das necessidades da célula. Actina e mio
enzimas que produzem peróxidos como enzimas que sina formam filamentos celulares muito importantes no
utilizam peróxidos em um compartimento. músculo estriado, onde são responsáveis pela contra
ção muscular (p. 991). Três superfamílias separadas de
proteínas mecânico-químicas – miosina, dineína e cine
(1) 2H2O2 2H2O + O2
sina – convertem energia química em energia mecânica
(2) RH2 + H2O2 R + 2H2O
para o movimento de componentes celulares (p. 1002).
Esses motores moleculares ficam associados com o ci
FIGURA 1.18 Reações catalisadas pela catalase. toesqueleto. Dineína está envolvida nos movimentos
ciliar e flagelar, enquanto cinesina é a força que dire
ciona o movimento de vesículas e organelas ao longo
As proteínas responsáveis pela biogênese de pe de microtúbulos, especialmente em axônios neuronais.
roxissomos foram identificadas. Várias classes de xeno Essas proteínas motores desempenham um papel signi
bióticos, isto é, substâncias estranhas, incluindo aspi ficativo na patogênese de várias doenças.
rina, levam à proliferação de peroxissomos no fígado.
Mais de 25 doenças genéticas envolvem peroxissomos;
são agrupadas como doenças da biogênese de peroxis Citosol Contém Componentes
somos (Correlação Clínica 1.7).
Celulares Solúveis
A menos complexa em estrutura, mas não em quími
Citoesqueleto Organiza o Conteúdo ca, é a seiva da célula sem organelas, ou citosol. É aqui
Intracelular que muitas reações químicas e vias do metabolismo (p.
ex., glicólise, glicogênese, glicogenólise e síntese de áci
As células eucarióticas contêm microtúbulos, fila dos graxos) ocorrem. A síntese de proteínas tanto em
mentos intermediários e filamentos de actina (microfi ribossomos livres, geralmente na forma de polissomos,
lamentos), como parte de uma rede de citoesqueleto, ou quanto naqueles ligados ao retículo endoplasmático,
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 23

ocorre no citosol, que contém todos os intermediários a expressão de um gene para alterar a concentração de
necessários. Embora não exista estrutura aparente no uma enzima ou proteína efetora, até mudanças nos ní
citosol, o alto conteúdo proteico impede que seja uma veis de substrato ou coenzima para ajustar a velocida
mistura homogênea de componentes solúveis, e acredi de de uma reação enzimática específica. A integração
ta-se que existam compartimentos funcionais ao longo de muitos processos celulares é controlada por prote
do citosol. Muitas reações estão localizadas em áreas ínas que funcionam como ativadores ou inibidores, as
selecionadas, onde a disponibilidade de substrato é quais mantêm a homeostase celular. Muitos processos
mais favorável. O estado físico-químico real do citosol é celulares são programados para ocorrer em condições
pouco conhecido. Outra complicação para se analisar a específicas; por exemplo, a divisão celular em células
composição do citosol é que algumas enzimas e prote normais só ocorre quando os processos necessários
ínas ocorrem como proteínas solúveis quando o citosol para a divisão celular são ativados (p. 1028). Então, e
é isolado, mas na célula intacta podem, na verdade, es somente então, ocorre uma série de reações ordenadas
tar fracamente ligadas a estruturas de membranas ou a e integradas, culminando na divisão de uma célula em
componentes do citoesqueleto. duas células filhas.

A morte celular programada (p. 1034) é um processo


muito regulado, que ocorre em todas as células de ma
1.6 INTEGRAÇÃO E CONTROLE míferos, mas as etapas individuais do processo variam
DAS FUNÇÕES CELULARES de tecido para tecido. Muitas doenças devem-se a falhas
em mecanismos específicos de controle. À medida que
Uma célula eucariótica é uma estrutura complexa ampliamos nossa compreensão sobre a complexidade
que mantém um ambiente intracelular que permite das células biológicas, nós nos surpreendemos por não
que muitas reações complexas e processos ocorram si ocorrerem muito mais erros e muito mais indivíduos
multaneamente. Isso requer um alto grau de controle com condições anormais.
e integração. As células de organismos multicelulares
também participam da manutenção do bem-estar de Assim, à medida que caminhamos para o estudo dos
todo o organismo, exercendo influências mútuas para componentes químicos separados e das atividades das
manter o equilíbrio entre as atividades tissulares e ce células, nos capítulos subsequentes, é importante lem
lulares. Pouquíssimas funções operam de modo total brar as atividades concomitantes e vizinhas, as limita
mente independente; mudanças em uma função podem ções, e as influências do ambiente. Só conciliando todas
exercer uma influência, positiva ou negativa, sobre ou as partes e atividades separadas de uma célula, isto é,
tras funções. Como será descrito ao longo deste livro, o montando o quebra-cabeça, é que apreciaremos a mara
controle da função é mediado em muitos níveis, desde vilha das células vivas.

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Termos Chaves
aceptor de prótons base conjugada DNA hidrolase
ácido carbônico capacidade tamponante eletrólitos fortes K!eq
ácido de Brønsted catalase eletrólitos fracos íon hidrônio
ácido fraco cátion endocitose lisossomos
água citoesqueleto envelope nuclear membrana plasmática
anfipático citosol equação de Henderson– microcorpos
ânion composição iônica Hasselbalch microtúbulos
aparelho de Golgi doador de prótons eucariotos mitocôndria
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 25

mitosol organelas pontes de hidrogênio sais


não-eletrólitos par conjugado procariotos tamponamento
nucléolo
nucleoide
núcleo peroxissomos produto iônico da água vacúolos digestivos
pH retículo endoplasmático xenobióticos
pK! ribossomos

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha C. sistemas específicos para transporte de molé
culas não-carregadas.
1. Tanto células procarióticas quanto células eucarió
ticas têm todas as seguintes, exceto: D. local para reações bioquímicas.
A. membrana plasmática. E. movimento livre de proteínas e ácidos nuclei
cos através da membrana.
B. genoma de DNA.
C. organelas subcelulares delimitadas por mem 6. Análise da composição do principal compartimen
brana. to líquido do corpo mostra que:
D. a capacidade de se replicar. A. o principal cátion do plasma sanguíneo é K+.
E. a capacidade de transformar fontes externas B. o principal cátion do fluido celular é Na+.
de energia em energia utilizável. C. um dos principais ânions intracelulares é Cl–.
2. Fatores responsáveis por uma molécula de água ser D. um dos principais ânions intracelulares é fos
um dipolo incluem a: fato.
A. similaridade em afinidade por elétrons de hi E. plasma e fluido celular são muito semelhantes
drogênio e oxigênio. em composição iônica.
B. estrutura tetraédrica da água líquida. Questões 7 e 8: Um paciente com doença de Luft apre
C. magnitude do ângulo da ligação H—O—H. sentava-se com fraqueza geral, transpiração excessiva,
D. capacidade de a água fazer pontes de hidrogê alta ingesta calórica sem ganho de peso corpóreo e taxa
nio com várias estruturas químicas. de metabolismo basal muito elevada. A doença de Luft
E. foi a primeira doença envolvendo defeito em mitocôn
diferença na força de ligação entre pontes de drias a ser descrita. É um defeito no mecanismo que
hidrogênio e ligações covalentes.
controla a utilização de oxigênio em mitocôndrias.
3. Pode-se esperar que pontes de hidrogênio se for
7. Componentes do sistema de transporte de elétrons
mem apenas entre átomos eletronegativos, como
e fosforilação oxidativa são encontrados associa
oxigênio ou nitrogênio, e um átomo de hidrogênio
dos com:
ligado a:
A. membrana mitocondrial externa.
A. carbono.
um átomo eletronegativo. B. membrana mitocondrial interna.
B.
C. mitosol.
C. hidrogênio.
D. peroxissomos.
D. iodo.
E. componentes da síntese proteica.
E. enxofre.
Qual dos seguintes é um ácido de Brønsted e uma 8. Qual(is) dos seguintes é (são) característica(s)
4.
das mitocôndrias?
base de Brønsted em água?
A. H2PO4– A. A membrana interna forma cristas e contém
pequenas esferas ligadas por hastes sobre a
B. H2CO3 superfície interna.
C. NH3 B. Apenas a membrana externa possui sistemas
D. NH4+ transmembranares para translocação de me
E. Cl– tabólitos.
5. Membranas biológicas estão associadas a todos os C. O mitosol é relativamente inerte quanto ao
seguintes, exceto: metabolismo.
A. impedimento de livre difusão de solutos iôni D. DNA mitocondrial é semelhante ao DNA nu
cos. clear em tamanho e forma.
E. Mitocôndrias não possuem papel na apoptose.
B. liberação de proteínas, quando danificada.
26 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Questões 9 e 10: Gota é uma condição na qual a produ Questões 11 e 12: Síndrome de Zellweger é uma de uma
ção excessiva de ácido úrico leva a deposição de cris classe chamada doenças de biogênese de peroxisso
tais de urato em articulações. Manifestações clínicas mos (PBDs). PBDs caracterizam-se por anomalias no
incluem inflamação, dor e inchaço nas articulações, es fígado, no rim, no cérebro e no sistema esquelético. Sín
pecialmente do grande artelho. Cristais são fagocitados drome de Zellweger é particularmente grave, e a morte
por células na articulação e acumulam-se em vacúolos geralmente ocorre por volta dos 6 meses de idade. Há
digestivos que contêm enzimas lisossomais. Cristais ausência de peroxissomos funcionais.
causam lesão física aos vacúolos, liberando enzimas li
11. Peroxissomos desempenham um papel em todos os
sossomais no citosol.
seguintes, exceto:
9. Enzimas lisossomais: A. oxidação de ácidos graxos de cadeia muito
A. são hidrolases. longa.
B. geralmente funcionam em pH ácido. B. síntese de glicerolipídeos.
C. normalmente ficam isoladas de seus substra C. hidrólise de colesteril ésteres.
tos pela membrana lisossômica. D. oxidação de D-aminoácidos.
D. podem levar à digestão celular se a membrana E. oxidação de ácido úrico.
lisossomal se romper.
12. Uma das funções dos peroxissomos é tornar H2O2
E. todas as anteriores estão corretas.
não-tóxica:
10. Enzimas lisossomais individuais estão deficientes A. oxidando aminoácidos com O2.
em várias doenças genéticas chamadas doenças
B. por meio da ação da enzima catalase.
lisossomais de acúmulo. Nessas doenças:
A. defeito é uma incapacidade de direcionar en C. transportando H2O2 do sangue para os pero
xissomos.
zimas para o lisossomo após sua síntese.
D. por ação de catepsinas.
B. lisossomos de células afetadas ficam aumenta
E. encurtanto a cadeia de um ácido graxo.
dos com materiais não-digeridos.
C. lipofuscina, ou “pigmento do desgaste”, acu Problemas
mula-se em células. 13. Se um ácido fraco estiver neutralizado em 91% a
D. qualquer material captado por lisossomos acu pH 5,7, qual é o pK! desse ácido?
mular-se-á.
14. Se o pH normal do plasma é 7,4 e a [CO2] normal é
E. corpos residuais contêm os produtos de diges 1,2 mM, qual será a [HCO3 –]? O pK! para esse siste
tão. ma é 6,1.

Respostas
1. C O meio intracelular dos procariotos é organi HPO2–.4 Também pode aceitar um próton e tornar
zado em compartimentos funcionais, mas não são -se H3PO4.
base B e D são ácidos de Brønsted; C é uma
de Brønsted.
delimitados por membranas. A, B, D e E: Essas são O íon Cl– na água não é nem um
características que procariotos e eucariotos têm nem outro.
em comum.
5. E Essas moléculas são muito grandes para atra
2. C Água é uma molécula polar porque os elétrons vessar livremente a membrana, a menos que esta
da ligação são atraídos mais fortemente pelo oxigê esteja danificada (B). A: solutos iônicos não atra
nio do que pelo hidrogênio. O ângulo da ligação dá vessam a membrana lipídica facilmente. C: a maio
origem a assimetria na distribuição de carga; se a ria das substâncias requer transporte através da
água fosse linear, não seria um dipolo. A: hidrogê membrana. D: diferentes membranas têm diferen
nio e oxigênio têm afinidades muito diferentes por tes reações.
elétrons. B e D são consequências da estrutura da 6. D Fosfato e proteína são os principais ânions in
água, não fatores responsáveis por ela.
tracelulares. A, B, e E: plasma e fluido celular são
3. B Somente átomos de hidrogênio ligados a um muito diferentes. O íon Na+ é o principal cátion do
dos elementos eletronegativos (O, N ou F) podem plasma. C: A maior parte do Cl– é extracelular.
formar pontes de hidrogênio. Um átomo de hidro
7. B As proteínas transportadoras de elétrons e da
gênio que participe da ponte de hidrogênio deve
fosforilação oxidativa fazem parte da membrana in
ter um elemento eletronegativo de cada lado.
terna. D: Peroxissomos são organelas separadas e
4. A H2PO4– pode doar um próton, tornando-se não fazem parte das mitocôndrias. E: Mitocôndrias
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 27

produzem algumas de suas próprias proteínas, mas enzima são afetados. E: Corpos residuais contêm
esse é um processo separado e não faz parte do material que não pode ser digerido.
transporte de elétrons ou da fosforilação oxidativa.
11. C Isso ocorre em lisossomos.
8. A As cristas são os sítios para a síntese de ATP. B:
12. B H2O2 é convertido em O2 e H2O. A, E: estes pro
A membrana externa é relativamente permeável; a
duzem H2O2. C: H2O2 é produzida e utilizada em
membrana interna não o é e tem múltiplos sistemas
peroxissomos. D: essas são enzimas de lisossomos.
de transporte. C: O mitosol tem numerosas vias
metabólicas – oxidação do piruvato, ácidos graxos 13. Se um ácido fraco está 91% neutralizado, 91 partes
e aminoácidos, por exemplo. D: DNA mitocondrial estão presentes como base conjugada e 9 partes
(mtDNA) é pequeno e circular. E: Citocromo c é permanecem como ácido fraco. Portanto, a razão
um iniciador de apoptose. base conjugada/ácido conjugado é 10:1. Substituin
9. E A: Há hidrolases para todas as classes de ma do essa relação na equação de Henderson–Hassel
cromoléculas. B e D: pH lisossomal geralmente balch dá 5,7 = pK! + log (10/1). Resolvendo a equa
está em torno de 5, mas as enzimas retêm certa ati ção para pK!, teremos uma resposta de 4,7. O ácido
vidade em pHs mais altos. C: Substratos e enzimas poderia ser b-hidroxibutírico, um importante ácido
são aproximados por fagocitose ou pinocitose. fisiológico que tem esse pK!.

10. B Aumento no tamanho interfere com proces 14. Nesse sistema, CO2 é o ácido conjugado e HCO3–
sos celulares normais. A: Essa é a doença da cé é a base conjugada. Substituindo-se os valores na
lula I e afeta todas as enzimas lisossomais, que equação de Henderson–Hasselbalch teríamos:
são exportadas para fora da célula. C: Esse é um 7,4 = 6,1 + log (x/1,2)
processo normal. Lipofuscina é uma substância
pigmentada, quimicamente heterogênea, não O antilog de 1,3 = 20. Portanto, [HCO3–] = 20 × 1,2 =
causada por falta de enzima lisossomal. D: Cada 24 mM. A capacidade de se resolver a equação para
Doença de Acúmulo Lisossomal afeta uma única quaisquer três valores dados é muito importante
enzima, de modo que apenas os substratos dessa para verificar o estado ácido–base no sangue.
28 • PARTE I ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE I
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 29
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS

2
DNA e RNA:
Composição e estrutura
Stephen A. Woski
Professor Associado, University ofAlabama

Francis J. Schmidt
Professor Titular, University of Missouri

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


2.1 ÁCIDOS NUCLEICOS E INFORMAÇÃO BIOLÓGI 2.1 Vacinas de DNA, 32
CA, 30 2.2 Uso
Medicina
Diagnóstico
e Genética, 43
de Matrizes (Arrays) de DNA em
2.2 COMPONENTES ESTRUTURAIS DOS ÁCIDOS
NUCLEICOS: NUCLEOBASES, NUCLEOSÍDEOS 2.3 DNA, 46
Antibióticos Antitumorais que Mudam a Forma do
E NUCLEOTÍDEOS, 31
2.3 ESTRUTURA DO DNA, 34 2.4 Persistência Hereditária da Hemoglobina Fetal, 50
2.5 Telomerase Como Alvo para Agentes Anticâncer, 50
2.4 ESTRUTURA DE ORDEM SUPERIOR DO DNA, 51
2.6 Expansão de Repetições de Tripletes de DNA e
2.5 SEQUÊNCIA E FUNÇÃO DO DNA, 61 Doença Humana, 52
2.6 ESTRUTURA DO RNA, 65 2.7 Topoisomerases no Tratamento de Doenças, 56
2.7 TIPOS DE RNA, 67 2.8 Tratamentos Epigenéticos para o Câncer, 61
2.9 Resistência de Staphylococcus à Eritromicina, 69

Conceitos Chaves
• O dogma central da biologia molecular afirma que • O comprimento da molécula de DNA é muito maior
a informação biológica especificada por sequências do que a dimensão de uma célula; consequente
de ácidos nucleicos no DNA e no RNA determina mente, o DNA adota estruturas de ordem superior
as sequências das proteínas e, consequentemente, que compactam a molécula na cromatina.
suas propriedades.
• A sequência de nucleotídeos do DNA determina
• A estrutura dos ácidos nucleicos é determinada sua função.
pelas propriedades químicas de suas partes consti
• RNAs celulares são polímeros de fita única de ribo
tuintes: fosfato, açúcar e nucleobase.
nucleosídeos 5! monofosfatos.
• O DNA celular é tipicamente um polímero de dupla
• A estrutura terciária do RNA é determinada por
fita de 2!-desoxirribonucleosídeos 5! monofosfatos.
pontes de hidrogênio intramoleculares.
• A complementaridade entre as bases da dupla hé Os RNAs celulares desempenham papéis na trans

lice permite ao DNA funcionar como o material ge
ferência da informação, catalíticos e regulatórios.
nético celular.
30 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

2.1 ÁCIDOS NUCLEICOS E DNA Pode Transformar Células


INFORMAÇÃO BIOLÓGICA Antes da década de 1950, a visão geral era que os
ácidos nucleicos eram substâncias de importância celu
lar limitada. A primeira evidência de que o DNA é o ma
Dogma Central da Biologia terial genético foi encontrada durante a década de 1920,
mas a demonstração definitiva do papel do DNA não foi
Molecular conseguida até 1944. Os experimentos chaves envolve
ram duas cepas de pneumococo, uma bactéria que cau
Uma das características mais notáveis dos organis
sa uma forma de pneumonia. Quando cultivadas, uma
mos vivos é sua capacidade de reprodução. A informa
ção que torna cada forma de vida individual singular cepa formava colônias lisas (smooth), e a outra forma
va colônias rugosas (rough); elas foram denominadas
deve ser preservada e passada aos descendentes. Toda
vida na Terra usa ácidos nucleicos para armazenar a formas S e R, respectivamente. A forma S é virulenta,
informação genética. Com exceção de alguns vírus, a enquanto a forma R é não-virulenta, e as duas formas
biomolécula utilizada para armazenar informação é o são geneticamente distintas e não se interconvertem
ácido desoxirribonucleico (DNA). Essa molécula é espontaneamente. Tratamento de bactérias da forma
muito adequada ao seu papel graças à sua estabilida R com DNA puro extraído da forma S resultou em sua
de química e capacidade de codificar enormes quan transformação na forma S. A transformação foi her
dada permanentemente pelas gerações subsequentes.
tidades de informações, usando um código simples de
quatro letras. Entretanto, o DNA é só uma parte da ar Isso demonstrou que o DNA era o agente transformante
quitetura central da vida. O ácido ribonucleico (RNA) e o material responsável por transmitir a informação
e as proteínas desempenham papéis igualmente impor genética de uma geração para a seguinte. A Correlação
tantes. A interrelação entre essas três classes de molé Clínica 2.1 descreve vacinas baseadas na transforma
ção de células de mamíferos por DNA.
culas constitui o “dogma central da biologia molecular”
(Figura 2.1), que afirma que o DNA armazena a infor
mação que determina a sequência do RNA que, por sua
vez, determina a estrutura da proteína. Grande parte
Capacidade de Informação do DNA
da estrutura e da bioquímica das células deve-se às pro É Enorme
priedades de seus constituintes proteicos. Tais proprie
dades são determinadas por pedaços da sequência do Uma característica notável do DNA é sua capacida
DNA. A informação, entretanto, não pode fluir direta de de codificar uma enorme quantidade de informação
mente do DNA para as proteínas, mas depende do RNA biológica. Por exemplo, uma célula humana contém
para transportar a informação. A informação genética informação para a síntese de cerca de 20.000 a 25.000
é transmitida do DNA para o RNA por transcrição. A proteínas. Essa informação é armazenada no núcleo da
sequência do RNA é, então, traduzida numa sequência célula, uma estrutura de cerca de 0,00001 m de diâme
de proteína nos ribossomos. O DNA também desem tro. Apesar dessa compactação, a informação do DNA
penha um papel essencial na hereditariedade, funcio é facilmente acessada e duplicada, sob comando. A ca
nando como molde para sua própria replicação. Várias pacidade de armazenar grandes quantidades de infor
descobertas turvaram as funções distintas de cada uma mação em moléculas e acessá-la facilmente está muito
dessas biomoléculas no dogma central. Por exemplo, o além da moderna tecnologia de informação. A capacida
RNA pode funcionar como catalisador (ribozimas) em de dos ácidos nucleicos para manter e transmitir a in
reações bioquímicas e constituir o componente ativo formação arquivada eficientemente advém diretamente
dos ribossomos, a maquinaria de síntese proteica da cé de sua estrutura química.
lula. O RNA pode servir como molde para a síntese de
DNA, revertendo o fluxo normal da informação (trans
crição reversa). Algumas doenças podem ser transmi
tidas por proteínas na ausência de ácidos
nucleicos. Contudo, o papel central que os
ácidos nucleicos desempenham no arma
zenamento e na transmissão da informa
ção biológica é inegável.
Transcrição Tradução
Replicação

DNA RNA Proteína

FIGURA 2.1 Dogma central da biologia molecular.


CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO
Purinas E ESTRUTURA • 31

2.2 COMPONENTES
NH2
ESTRUTURAIS DOS ÁCIDOS N
7
5
6
N1
NUCLEICOS: NUCLEOBASES, 8
2
N9 N
NUCLEOSÍDEOS E H
4
3

NUCLEOTÍDEOS adenina
O
Ácidos nucleicos são polímeros lineares de unida
N N N H
des nucleotídicas. Cada nucleotídeo consiste de um
éster de fosfato, um açúcar pentose e uma nucleobase
heterocíclica. No RNA, o açúcar é D-ribose; no DNA, é HN NH2
o açúcar estreitamente relacionado 2-desoxi-D-ribose.
Em ambos os casos, a base é ligada à posição 1 do açú guanina
car por uma ligação -N-glicosídica. Duas classes princi
pais de nucleobases são encontradas nos ácidos nuclei Piramidinas
cos: purinas e pirimidinas (Figura 2.2). As principais NH2
4
purinas são guanina e adenina, que ocorrem no DNA e
5 N3
no RNA e são ligadas ao açúcar em N-9. As três nucle
2
obases pirimídicas principais são a citosina, a uracil e 6
N1 O
a timina. A citosina está presente no DNA e no RNA.
Entretanto, a uracil é geralmente encontrada apenas H
no RNA, e a timina é geralmente encontrada apenas no citosina
DNA. Cada pirimidina é ligada ao açúcar pela posição
O
N-1. Uma nucleobase glicosilada com açúcar pentose é
um nucleosídeo. Nucleosídeos que contêm ribose são ri R H
N
bonucleosídeos (Figura 2.3), enquanto aqueles com de
soxirribose são desoxirribonucleosídeos (Figura 2.4). N O
Quatro ribonucleosídeos são comumente encontrados
H
no RNA – adenosina (A), guanosina (G), citidina (C) e
uridina (U) – e quatro desoxirribonucleosídeos no DNA uracil (R = H)
– desoxiadenosina (dA), desoxiguanosina (dG), deso timina (R = CH3)
xicitidina (dC) e desoxitimidina (dT). Além disso, mais
de 80 nucleosídeos minoritários foram encontrados em FIGURA 2.2 Principais bases púricas e pirimídicas
ácidos nucleicos de ocorrência natural. encontradas no DNA e no RNA.
Nucleotídeos são ésteres de fosfato dos nucleosí
deos (Figura 2.5). Qualquer grupo hidroxila de seus O NH2 NH2
açúcares pode ser fosforilado, mas as bases não são. N N N
Os nucleotídeos que contêm um fosfato monoéster são NN
OH5! OH O N O
nucleosídeos monofostato. Por exemplo, o 5!-nucleotí
4! 1!
deo da desoxicitidina é desoxicitidina 5!-monofostato 3! 2!
(5!-dCMP). Mais de um fosfato pode estar ligado por OH OH OH OH
uma ligação anidrido, resultando nos correspondentes
adenosina citidina
ésteres di-, tri- e tetrafosfato. O 5!-trifosfato de guano A C
sina é guanosina 5!-trifosfato (GTP). Fosfato diésteres
O O
são também possíveis, incluindo os importantes segun
N NH NH
dos mensageiros – adenosina-3!,5!-monofosfato cíclico
(cAMP) e guanosina-3!,5!-monofosfato cíclico (cGMP). OH NN NH2 OH O N O
O uridina

OH OH OH OH
guanosina
G U

FIGURA 2.3 Estruturas dos ribonucleosídeos.


São mostradas as abreviaturas de uma letra para cada com
posto. Essas abreviaturas são também usadas para bases e
nucleotídeos correspondentes e, em alguns casos, para os de
soxirribonucleosídeos.
32 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

O NH2 NH2 Propriedades Físicas de Nucleosídeos


N N N
e Nucleotídeos
HO N N HO O N O
Em graus variáveis, nucleobases, nucleosídeos e
nucleotídeos são todos solúveis em água numa ampla
HO HO faixa de pHs. Em pHs biologicamente relevantes (pH
6-8), nucleobases e nucleosídeos são espécies neutras.
desoxiadenosina desoxicitidina Os primeiros pKas de fosfato mono e diésteres são 1;
dA dC
portanto, os nucleotídeos carregam uma carga negativa
O O em pHs fisiológicos. O segundo pKa de um fosfato mo
NNH H3CNH noéster é 6,5, e há um equilíbrio entre o monoânion e o
diânion em pHs neutros. A presença de grupos fosfato
HO O N NNH2 HO O N O carregados em nucleotídeos fornece pontos para intera
ções eletrostáticas com pontos carregados positivamen
te em proteínas e íons metálicos.
HO HO
desoxiguanosina desoxitimidina Nucleosídeos e nucleotídeos são estáveis numa am
dG dT pla faixa de pH. Em condições fortemente básicas, a
hidrólise dos ésteres de fosfato ocorre lentamente. Li
FIGURA 2.4 Estruturas dos desoxirribonucleosídeos. gações N-glicosídicas de nucleosídeos e nucleotídeos são
A presença de 2-desoxirribose é abreviada por um “d” prece estáveis nessas condições, mas em condições ácidas
dendo a notação de uma letra. Note que timidina (T) é frequen são consideravelmente mais lábeis. Em temperaturas
temente usada alternativamente para desoxitimidina (dT).
elevadas, a protonação das bases púricas (G e A) re
sulta em rápida quebra da ligação entre o açúcar e a

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.1

Vacinas de DNA
Procedimentos de vacinação tradicionais usam foram observados contra vários vírus, bactérias e mi
componentes de um organismo infeccioso, organismos crorganismos parasitas. Essa abordagem é muito pro
mortos ou células intactas atenuadas para induzir a missora para o desenvolvimento de vacinas efetivas
produção de anticorpos específicos que possam forne contra doenças sem tratamento, incluindo HIV/AIDS,
cer imunidade ativa aos indivíduos. Tais vacinas for tuberculose e malária.
neceram proteção, com sucesso, contra doenças como
pólio, varíola, coqueluche (pertussis), febre tifoide e Vacinas de DNA também podem ser úteis para a
difteria. Entretanto, o desenvolvimento de imuniza vacinação contra o câncer. Enquanto antígenos apre
ções contra patógenos infecciosos como HIV e malária sentados por células tumorais são fracamente imuno
tem sido difícil. O enorme impacto em todo o mundo gênicos, estudos modelos usando DNA plasmidial de
desses patógenos, o uso em potencial de outros em monstraram resultados promissores. Camundongos
bioterrorismo, e o problema crescente de resistência vacinados, por via oral, com plasmídeos cultivados em
a antibióticos estimularam os esforços para produzir bactérias Salmonella atenuadas foram capazes de re
novas vacinas. tardar ou parar completamente o crescimento de uma
dose letal de células de carcinoma. A morte da bactéria
Uma abordagem recente para imunização usou presumivelmente libera um grande número de plasmí
DNA contendo uma sequência do genoma do patóge deos, que são captados por células apresentadoras de
no. Esse DNA é tipicamente um plasmídeo bacteriano, antígenos do sistema imune. Extensão desse trabalho
engenheirado para incluir a sequência de uma proteí ao homem está atualmente em investigação.
na antigênica do patógeno. Esse DNA pode entrar em
vários tipos de células, e pode ser expresso lá usando
a maquinaria celular de transcrição e tradução. Nesse Kutzler, M. A. e Weiner, D. B. DNA vaccines: Ready for
prime time? Nature Rev. Genet. 9:776, 2008; Belakova, J.,
sentido, vacinas de DNA atuam de modo semelhante
Horynova, M., Krupka, M., Weigl, E. e Raska, M. Arch. Immol.
aos vírus. Não obstante, esses DNAs contêm apenas Ther. Exp. 55:387, 2007; Cui, Z. DNA vaccine. Adv. Genet.
uma quantidade muito limitada de informação genéti
54:257, 2005; e Chiarella, P., Massi, E., Robertis, M., Fazio,
ca e não podem se tornar infecciosos. Os mecanismos V. M. e Signori, E. Strategies for effective naked-DNA vacci
de captação e indução de resposta imune ainda não nation against infectious diseases. Recent Pat. Anti-Infect.
estão esclarecidos. Contudo, resultados promissores Drug Discovery 3:93, 2008.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 33

base. Os nucleosídeos e nucleotídeos de pirimidinas (C, Propriedades Estruturais de


T e U) são muito mais resistentes ao tratamento por
ácido. Condições que quebram a ligação glicosídica (p. Nucleosídeos e Nucleotídeos
ex., ácido perclórico 60% a 100 C) também levam à des
Uma característica marcante dos nucleosídeos e nu
truição do açúcar.
cleotídeos é o número considerável de conformações pos
Moléculas que contêm bases púricas e pirimídicas síveis que podem adotar. Ao contrário dos anéis de seis
absorvem fortemente luz UV. Purinas, bem como nu membros, anéis de cinco membros são muito flexíveis. Os
cleosídeos e nucleotídeos contendo purinas, têm coe átomos do anel de cinco membros de um açúcar pentose
ficientes de extinção molar mais altos (absorvem luz não são coplanares; tipicamente, um ou dois dos átomos
mais fortemente) do que os derivados de pirimidinas. do anel deslocam-se para fora do plano. Em anéis de ci
O comprimento de onda de UV no qual ocorre máxi clopentano, há várias conformações em envelope e meia
ma absorção varia, mas fica geralmente próximo de -cadeira que se interconvertem rapidamente. Por causa
260 nm. Em virtude do alto coeficiente de extinção das do padrão assimétrico de substituição do anel da pentose
nucleobases e sua alta concentração nos ácidos nuclei nos nucleosídeos, duas conformações são preferidas (Fi
cos, a absorbância a 260 nm pode ser usada para medir, gura 2.6). Esses modos de torcer os açúcares são defi
com precisão, a quantidade de ácidos nucleicos (DNA e nidos pelo deslocamento dos carbonos 2! e 3! acima do
RNA) presentes numa amostra. Análise mais profunda plano dos átomos C1! – O4! – C4!. Por convenção, acima é
e separação de nucleobases, nucleosídeos, nucleotídeos a direção na qual a base e C5! se projetam do anel, e é de
e ácidos nucleicos podem ser feitas por uma diversidade nominada face endo da pentose. Se C2! estiver deslocado
de técnicas, incluindo cromatografia líquida de alto de para cima do anel da pentose, a conformação é C2!-endo.
sempenho (HPLC), cromatografia de camada delgada Na segunda torção comum, C3! é deslocada em direção
(TLC), cromatografia em papel e eletroforese. à face endo, e é chamada C3!-endo. Note que os grupos
ligados ao açúcar ficam em orientações muito diferentes
em cada uma dessas conformações. Por exemplo, os gru
NH2 pos 5!- e 3!-fosfatos ficam muito mais afastados na torção
N
C2!-endo do que na C3!-endo. A orientação da ligação
glicosídica também muda significativamente nas duas
O
O
N O conformações. Conformações C2!-endo e C3!-endo estão
P O
O O em rápido equilíbrio. Um substituinte eletronegativo na
posição 2! da pentose favorece a conformação C3!-endo.
HO Portanto, ribonucleosídeos no RNA preferem essa torção
do açúcar, uma vez que possuem um grupo 2!-hidroxila.
desoxicitidina 5-monofosfato
dCMP
Os 2!-desoxinucleosídeos do DNA contêm um hidrogê
nio no lugar do grupo 2!-OH, e a conformação C2!-endo
O é preferida.
N
NH As bases nos nucleosídeos são planas. Embora a ro
O P O P O P O NN
NH2
tação livre em torno da ligação glicosídica seja possível,
O
duas orientações da base em relação ao açúcar predo
O O O O O O minam (Figura 2.7). Nas purinas, a conformação anti
HO OH coloca H8 sobre o açúcar, enquanto a conformação syn
posiciona esse átomo longe do açúcar e coloca a maior
guanosina 5-trifosfato
GTP parte da purina bicíclica sobre o açúcar. As purinas se
interconvertem rapidamente entre as duas conforma
NH2 ções, mas favorecem a orientação anti. Contudo, guani
O N
ON N na 5!-nucleotídeos são exceções. Nesses casos, intera
ções favoráveis entre o grupo 2-NH2 e o grupo 5!-fosfato
O O
N estabilizam a conformação syn. 2!-Desoxiguanosina
5!-monofosfato (dGMP), por exemplo, prefere a con
P formação glicosídica syn. Essa preferência também foi
O O OH observada no DNA fita-dupla, em sequências de Gs e Cs
adenosina 3,5-monofosfato cíclico alternados. A conformação syn dos resíduos G nesses
cAMP DNAs resulta na formação de uma hélice pouco usual,
que gira para a esquerda, chamada Z-DNA (p. 43). Nas
FIGURA 2.5 Estruturas de alguns nucleotídeos
pirimidinas, o átomo H6 fica acima do anel de pentose
representativos. na conformação anti, e o átomo O2, maior, fica acima
do anel na conformação glicosídica syn. As pirimidinas,
portanto, mostram uma grande preferência pela confor
mação com menos impedimento estérico anti.
34 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

OP a centenas de milhões de resíduos. Tipicamente, fitas


O base de ácidos nucleicos contendo 50 nucleotídeos ou me
nos são chamados oligonucleotídeos, enquanto os mais
7.0 Å C-2! endo
longos são polinucleotídeos. A ligação fosfodiéster liga
OP “Sul” o grupo 5!-hidroxila de um resíduo ao grupo 3!-hidro
xila do seguinte. Ligações entre dois 5!-OHs ou dois
3!-OHs não são vistas no DNA de ocorrência natural.
A direcionalidade dessa ligação significa que oligo- e
base
P O O polinucleotídeos lineares têm uma extremidade que
termina em 5!-OH, e outra que termina em 3!-OH. Essas
5.9 ÅOP extremidades são as extremidades 5! e 3!, respectiva
mente. Polinucleotídeos circulares não têm nenhuma
C-3! endo
“Norte”
extremidade livre, e são formados unindo-se a extre
midade 5! de um polinucleotídeo linear com sua própria
FIGURA 2.6 Conformações preferenciais de açúcares extremidade 3!, por uma ligação fosfodiéster. Tanto em
pentoses. polinucleotídeos lineares como circulares, o esqueleto
Duas conformações produzem variações na orientação relativa açúcar-fosfodiéster é muito uniforme, e a diversidade
da base (com relação ao açúcar) e na distância entre os grupos química surge primariamente das bases. A sequência
3!- e 5!-fosfato (P). Finalmente, essas diferenças afetam a con
de bases dá a cada molécula uma identidade química
formação geral do complexo dupla-hélice.
singular (Figura 2.9). Esse arranjo é análogo ao de poli
H NH2N HO
H2 NH2H peptídeos e proteínas (p. 85), nos quais as variações na
N estrutura química primária surgem da identidade das
H 6 N O 2 cadeias laterais dos aminoácidos.
HO O N O O N
H
Conformações dos Polinucleotídeos
OH OH As bases são, em grande parte, responsáveis pelas
anti syn conformações dos polinucleotídeos. As bordas das ba
H
O
ses contêm átomos de nitrogênio e oxigênio (grupos
O N —NH2, =N- e =O) que podem interagir com outros
HO8 N H HON OH grupos polares ou moléculas de água adjacentes. As
N
N N NH2 N H faces dos anéis, contudo, não podem participar de tais
HO HO OH
anti HOsyn
O N interações e tendem a evitar o contato com a água.
Ao contrário, interagem umas com as outras, produ
zindo uma conformação empilhada. O empilhamento
de bases reduz a área de superfície hidrofóbica que
deve ser solvatada por moléculas polares de água. Ali
beração dessas moléculas de água no solvente é entro
FIGURA 2.7 Conformações glicosídicas de purinas e picamente favorável. O arranjo empilhado das bases é
pirimidinas. mais estabilizado por interações eletrônicas favoráveis
Nas pirimidinas, fatores estéricos entre o açúcar e o O2 da base
(forças de van der Waals). Como outros sistemas aro
desfavorecem fortemente a conformação syn. Nas purinas, as
conformações anti e syn se interconvertem facilmente, sendo máticos, as bases possuem orbitais muito deslocados
anti mais estável na maioria dos casos. A conformação syn é acima e abaixo do plano de seus anéis. A densidade
estabilizada na guanosina 5!-fosfato em virtude das interações eletrônica nesses orbitais pode ser polarizada por di
favoráveis entre o grupo 2-NH2 e os oxigênios do fosfato. polos próximos.

O dipolo induzido resultante pode então interagir


favoravelmente com o grupo polarizador. Essas inte
rações fracas são aumentadas por forças de dispersão
London atrativas (dipolo induzido-dipolo induzido).
2.3 ESTRUTURA DO DNA Como a força dessas interações eletrônicas depende
muito da distância, nenhum espaço vazio fica entre as
Estrutura Polinucleotídica e bases empilhadas.

Propriedades Polinucleotídeos adotam conformações que maxi


mizam as interações de empilhamento favoráveis entre
Ácidos nucleicos são fitas de nucleotídeos ligados as bases vizinhas. As restrições impostas pela estrutura
por ligações fosfodiéster (Figura 2.8). O comprimento do esqueleto açúcar-fosfodiéster favorecem estruturas
dessas fitas varia consideravelmente, de dois resíduos helicoidais (Figura 2.10).
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 35

O A estabilidade geral dessas estruturas helicoidais


extremidade 5! N
N
H Desoxiguanosina depende de fatores que incluem empilhamento de ba
H
ses sequência-dependente, pH, concentração de sais
HO O N N N
e temperatura. Por exemplo, alguns polinucleotídeos
H sintéticos, incluindo poli(C) e poli(A), formam héli
H NH
OP ces que giram para a direita nas quais as bases ficam
JOO N N Desoxiadenosina muito empilhadas. Muitos outros polinucleotídeos
permanecem em uma hélice ao acaso (random coil)
O O N
N bastante desordenada. Grandes polinucleotídeos po
dem ter tanto regiões helicoidais como desordenadas,
O
dependendo da sequência local. As características da
H3C N H Desoxitimidina
O solução também determinam se os polinucleotídeos
OJOP O adotam conformações empilhadas. Por exemplo, altas
O
N O concentrações de cátions, especialmente íons poliva
HNH lentes como Mg2+, estabilizam a conformação helicoi
dal por protegerem as cargas dos grupos fosfodiéster
O Desoxicitidina do esqueleto. Sem essa proteção, as cargas negativas
N
OJOP dos grupos fosfato desestabilizariam a hélice por re
O O
O
N pulsão eletrostática.

HO

extremidade 3!

FIGURA 2.8 Estrutura de um DNA polinucleotídeo.


É apresentado um tetranucleotídeo. Geralmente, ácidos nu
cleicos com menos de 50 nucleotídeos de comprimento são
chamados oligonucleotídeos. Ácidos nucleicos mais longos são
chamados polinucleotídeos.

DNA
A C G T
5! 3!

3! 3! 3! 3! d(ACGT) Empilhadas Não-empilhadas


HO P P P OH
FIGURA 2.10 Conformações empilhada e espiral ao acaso
5! 5! 5! 5! de um polinucleotídeo fita-única.
A faixa helicoidal representa o esqueleto açúcar-fosfato do
RNA polinucleotídeo. As bases são representadas em visão lateral,
A C G U como linhas em contato com suas vizinhas. O desempilhamen
to das bases leva a uma estrutura mais flexível, com bases
2! OH 2! OH 2! OH 2! OH orientadas ao acaso.
3! 3! 3! 3!
pACGU
P P P P OH
Estabilidade do Esqueleto
5! 5! 5! 5!
Polinucleotídico
FIGURA 2.9 Notação resumida para estrutura de
oligonucleotídeos. Polinucleotídeos são relativamente estáveis em solu
A convenção usada para escrever a estrutura de um oligo ou ções aquosas próximas do pH neutro. Estima-se que a
polinucleotídeo é uma barra perpendicular representando o meia-vida de hidrólise das ligações fosfodiéster do DNA
resíduo de açúcar, com a posição 5!-OH do açúcar localizada seja cerca de 200 milhões de anos. Essa alta estabilida
na parte inferior da barra, e o 3!-OH (e 2!-OH, se houver) numa de torna o DNA adequado para o armazenamento em
posição intermediária. Barras unindo posições 3! e 5! represen longo prazo da informação genética. Diferentemente,
tam as ligações 3!→ 5!-fosfodiéster, e o P do lado esquerdo ou o RNA é muito mais susceptível à hidrólise. A presen
direito da barra perpendicular representa um éster 5!-fosfato ça do grupo 2!-OH confere um nucleófilo interno para
ou 3!-fosfato, respectivamente. A base é representada por sua
transesterificação da ligação 3!,5!-fosfodiéster (Figu
inicial colocada no topo da barra. Uma forma resumida alter ra 2.11). O resultado é a cisão do esqueleto polinucle
nativa é usar as iniciais de uma letra para as bases escritas na
direção 5!→3! da esquerda para a direita. Grupos fosfodiéster otídico, deixando um fosfato diéster 2!3!-cíclico em um
internos ficam subentendidos, e fosfatos terminais são deno fragmento e um grupo 5!-OH livre no outro. A maior
tados com um “p”. Sequências de oligonucleotídeos contendo labilidade hidrolítica do RNA torna-o menos adequado
desoxirribose como açúcares são precedidos por um “d”. como material genético do que o DNA.
36 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Embora o esqueleto do DNA seja relativamente foram necessárias para a dedução da estrutura tridi
estável à hidrólise, numerosas enzimas (nucleases) mensional do DNA. A primeira foi a descoberta que o
catalisam a cisão do fosfodiéster. Essas nucleases são DNA não continha quantidades iguais de cada um dos
caracterizadas pelos tipos de polinucleotídeos que quatro nucleosídeos, mas sim quantidades variáveis em
hidrolisam e pelas ligações específicas que quebram. diferentes organismos. Entretanto, verificou-se que a
Exonucleases clivam o último resíduo de nucleotídeo abundância de desoxiadenosina era sempre igual à de
nas extremidades 5!- ou 3!- de um polinucleotídeo. A desoxitimidina, e a quantidade de desoxiguanosina, à
remoção passo a passo de nucleotídeos individuais de de desoxicitidina. Isso levou à proposição de estruturas
uma extremidade de um polinucleotídeo pode resultar com nucleosídeos pareados especificamente, dois a dois
em sua completa degradação. Endonucleases clivam (dA com dT e dG com dC). A segunda foi que dados
ligações fosfodiéster localizadas no interior dos poli de difração de raios-X sugeriam que o DNA contivesse
nucleotídeos. Elas não requerem uma extremidade li estruturas em dupla-hélice, e a simetria sugeria que as
vre; portanto, também podem clivar polinucleotídeos
duas fitas polinucleotídicas eram orientadas de modo
circulares. Endonucleases como DNase I e DNase II antiparalelo, uma em relação à outra. A terceira foi a
hidrolisam DNA com pouca seletividade para sequên sugestão de que as nucleobases estavam nas formas
cias. As endonucleases de restrição reconhecem e cli tautoméricas ceto e amino, em vez das formas enol e
vam sequências muito específicas. Nucleases também
imino. Tautômeros são isômeros de uma molécula que
apresentam especificidade com respeito à estrutura
diferem na posição de apenas um átomo de hidrogênio.
geral dos polinucleotídeos. Por exemplo, algumas nu
Cada uma das quatro nucleobases tem duas ou mais
cleases agem tanto sobre polinucleotídeos fita-única
formas tautoméricas possíveis, que estão em equilíbrio
como fita-dupla, enquanto outras discriminam entre
(Figura 2.12). A identificação incorreta das estruturas
essas duas estruturas. Algumas agem sobre ambos,
tautoméricas predominantes significou que os pesqui
DNA ou RNA, enquanto outras são ativas apenas sobre
um tipo de polinucleotídeo. sadores estavam tentando formar pares de base usan
do padrões incorretos de pontes de hidrogênio. Com o
tautômero certo, um modelo para o DNA rapidamente
se encaixou.
DNA de Dupla-Hélice
A estrutura que Watson e Crick propuseram em 1953
Com o reconhecimento, no início e no meio do sé para o DNA dupla-hélice foi atraente por sua simplicida
culo XX, que o DNA funcionava como repositório da
de e simetria (Figura 2.13). Além disso, explicava todos
informação genética, intensificou-se o trabalho para
os dados estruturais disponíveis para o DNA e imedia
estabelecer a base estrutural do armazenamento de in
tamente levou às hipóteses quanto aos mecanismos de
formação.
armazenamento e replicação da informação genética.
Experimentos de síntese e difração de raios-X le A dupla-hélice de Watson–Crick pode ser visualizada
varam à aceitação de uma estrutura polinucleotídica como o resultando do enrolamento de duas fitas polinu
linear para o DNA. Três peças chaves de informação cleotídicas que formam hélices girando para a direita,
em torno de um eixo comum. As fitas
fazem contato por pontes de hidrogênio
O O
O
P OH Base Base formadas nas bordas hidrofílicas das
O OH O bases. Os grupos N—H das nucleoba
ses são bons doadores de pontes de hi
drogênio, e o par de elétrons dos oxigê
O O O nios sp2-hibridizados dos grupos C=O
O P e dos nitrogênios dos grupos =N- são
O O bons aceptores de hidrogênio. O parea
O O
Base mento ocorre quando um aceptor e um
HO doador estão em posição para formar
O Base uma ponte de hidrogênio. Essas pontes
se formam entre resíduos de purina de
O OH
uma fita e resíduos de pirimidinas da
O OH
outra, e a combinação de doadores e
aceptores de pontes de hidrogênio re
sulta em dois tipos de pares de bases:
adenina–timina e guanina–citosina
FIGURA 2.11 A hidrólise do RNA é acelerada pela participação do grupo 2!-OH.
(Figura 2.14). Uma consequência di
O ataque nucleofílico intramolecular pelo grupo 2!-OH da ribose aumenta muito a
velocidade de clivagem hidrolítica do esqueleto fosfodiéster, especialmente sob con
reta dessas especificidades de pontes
dições básicas. O fosfodiéster 2!,3!-cíclico resultante pode reagir subsequentemente de hidrogênio é que o DNA dupla-fita
com água ou hidróxido, formando uma mistura de 2!- e 3!-fosfato monoésteres. (dsDNA, double-stranded DNA) deve
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 37

conter razões de nucleosídeos que concordem com as A relação entre as bases de fitas opostas da dupla
observações experimentais (dA = dT e dG = dC). Final -hélice é descrita como complementaridade. As bases
mente, as geometrias dos pares de bases dA/dT e dG/dC são complementares porque cada nucleobase de uma
resultam em distâncias C1!–C1! (~10,6 Å) e orientações fita é pareada, por forma e pontes de hidrogênio, com
de ligações glicosídicas semelhantes. Esse isomorfismo uma base complementar da outra fita (Figura 2.15).
estrutural significa que qualquer dos quatro possíveis Por exemplo, para cada adenina que se projete em di
pares de bases (dA-dT, dT-dA, dG-dC e dC-dG) pode reção ao eixo comum da dupla-hélice, uma timina deve
ser colocado na dupla-hélice, sem mudar significativa ser projetada da fita oposta para estabelecer pontes de
mente a estrutura do esqueleto; note como isso leva à hidrogênio e preencher exatamente o espaço entre as
possível substituição de um par de base por outro, uma fitas. Nem citosina nem guanina se encaixam precisa
chave para o entendimento de como a informação con mente no espaço disponível oposto à adenina, de ma
tida no DNA pode mudar, ou mutar. neira a permitir a formação de pontes de hidrogênio en
tre as fitas. Essa especificidade de pontes de hidrogênio
assegura que toda a sequência de bases de uma fita seja
N H complementar à da outra fita.
NH D NH D/A
NH
O exterior da dupla hélice consiste dos esqueletos
N A D açúcar-fosfato de suas fitas componentes. As duas fitas
O A N são alinhadas em direções opostas; se duas nucleobases
O A
adjacentes de uma fita, por exemplo, timina e citosina,
estiverem conectadas na direção 5!→3!, suas nucleoba
amino-ceto imino-ceto
ses complementares da outra fita, adenina e guanina,
estarão ligadas na direção 3!→5!. Esse alinhamento an
tiparalelo produz uma associação estável entre as fitas,
excluindo o arranjo alternativo paralelo.
N O A N OH D/A
NH O enrolamento das duas fitas antiparalelas produz
N N HNH D N N A
uma estrutura que tem duas fendas helicoidais distin
N
NH tas entre os esqueletos açúcar–fosfato (Figuras 2.13 e
H D
2.14). A fenda maior é muito mais larga do que a fenda
menor. Essa disparidade resulta da geometria dos pa
ceto enol res de bases. As ligações glicosídicas entre as bases e as
pentoses do esqueleto não são dispostas diretamente
NH opostas umas às outras, mas estão deslocadas em di
N N HNH N NN NH reção à fenda menor. É significativo que a sequência de
D D/A
nucleotídeos do DNA possa ser discernida sem dissociar
H3CN N
O A H3C OH D a dupla hélice, examinando-se dentro das fendas. Cada
base sempre apresenta os mesmos átomos em cada uma
das fendas da dupla hélice. Esses átomos, então, cons
amino imino tituem um meio importante para o reconhecimento de
sequências específicas no DNA por proteínas e molécu
las pequenas. Por exemplo, N7 das purinas está sempre
disposto na fenda maior e pode servir como aceptor de
A D/A pontes de hidrogênio em interações com grupos doa
dores de proteínas (Figura 2.14). Da mesma forma, o
N NH D N A grupo exocíclico 2-NH2 da guanina sempre se projeta
N na fenda menor e pode formar um impedimento estéri
O A O A
co para a ligação de moléculas pequenas.
ceto enol

FIGURA 2.12 Formas tautoméricas das nucleobases.


O padrão dos grupos doadores (D) e aceptores (A) de pon Fatores que Estabilizam DNA de Dupla
tes de hidrogênio varia dependendo do tautômero da base que Hélice
está presente. São apresentadas as formas tautoméricas pre
dominantes (esquerda) e uma das formas alternativas (direita) Interações de empilhamento que estabilizam as es
para cada base. O padrão das pontes de hidrogênio para cada truturas em hélice de polinucleotídeos de fita-única são
base também é apresentado; a ambiguidade nas posições — também instrumentos de estabilização da dupla hélice.
OH e =NH dos tautômeros minoritários se deve à rotação ou
A separação entre o interior hidrofóbico das nucleo
isômeros desses grupos. As razões de equilíbrio entre a forma
predominante e as outras é superior a 99:1.v
bases empilhadas e o exterior hidrofílico dos grupos
carregados açúcar-fosfato é ainda mais pronunciada
na dupla hélice do que nas hélices de fita única. A ten
38 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

dupla-fita é um arranjo mais favorável, que es


Fenda
sencialmente remove as nucleobases do am
maior biente aquoso, ao mesmo tempo que permite
que o esqueleto de fosfato seja muito solvata
do por água.
As interações de empilhamento, uma
Fenda combinação de forças hidrofóbicas e intera
Fenda
maior ções de van der Waals, têm 16-61 kiloJoules
(ou principal) menor
por mol (kJ/mol; 4-15 kilocalorias por mol
[kcal/mol]) de energia de estabilização para
cada par adjacente de bases (Tabela 2.1). A
estabilização adicional da dupla hélice re
sulta da extensa rede de pontes de hidrogê
Fenda nio cooperativas. Geralmente, essas pontes
menor são fracas 10-30 kJ/mol (3-7 kcal/mol), e são
ainda mais fracas no DNA 8-12 kJ/mol (2-3
kcal/mol) em virtude dos impedimentos geo
métricos no interior da dupla hélice. Poderia
parecer que as pontes de hidrogênio entre as
FIGURA 2.13 O modelo Watson–Crick para o DNA. nucleobases poderiam cumulativamente for
À esquerda está um modelo de espaço preenchido do DNA; à direita está um necer estabilização substancial para a dupla
modelo de fita, idealizado. Bases estão empilhadas no interior da hélice, en
hélice. Entretanto, as pontes de hidrogênio
quanto o esqueleto açúcar-fosfato hidrofílico localiza-se no exterior.
Redesenhado com base em: Rich, A. J. Biomol. Struct. Dyn. 1:1, 1983.
em uma dupla hélice simplesmente substi
tuem as energeticamente semelhantes entre
as nucleobases e a água em polinucleotídeos de fita úni
ca. Portanto, pontes de hidrogênio não são a cola que
fenda maior mantém as estruturas de dupla-hélice. Ainda assim,
ao contrário das forças de empilhamento, as pontes de
hidrogênio são muito direcionais e ajudam a discrimi
HN H HN NH O CH 3 nar entre os pares de bases corretos e incorretos. Em
virtude de sua direcionalidade, as pontes de hidrogênio
H
N N N tendem a orientar as nucleobases de modo a favorecer o
N empilhamento. Portanto, a contribuição das pontes de
O
H hidrogênio é indiretamente vital para a estabilidade da
adenina timina dupla hélice.

fenda menor
TABELA 2.1 Energias de Empilhamento de Pares de Bases
fenda maior
Dinucleotídeos
Bases
Pares de Energias de Empilhamento
por Para
H
H N H kJ mol–1 kcal mol–1
O
H N
N H (GC) × (GC) –61,0 –14,6
N N H N
N (AC) × (GT) –44,0 –10,5
O
N H
(TC) × (GA) –41,1 –9,81
guanina H citocina
(CG) × (CG) –40,5 –9,69
fenda menor (GG) × (CC) –34,6 –8,26
(AG) × (CT) –28,4 –6,78
FIGURA 2.14 Pares de bases Watson–Crick.
Pares de bases seletivos são formados entre adenina e timina (TG) × (CA) –27,5 –6,57
e entre guanina e citosina. Note a formação de duas pontes de (AT) × (AT) –27,5 –6,57
hidrogênio no par de bases A-T e de três no par de bases G-C.
(AA) × (TT) –22,5 –5,37
dência de empilhamento dos polinucleotídeos de fita (TA) × (TA) –16,0 –3,82
única pode ser vista como resultante de uma tendência aDados de: Ornstein, R. L., Reim, R., Breen, D. L. e McElroy,
das bases reduzirem seu contato com a água. A hélice R. D. Biopolymers 17:2341, 1978.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 39

5'
H
O
N O H N

O N
Desoxiguanosina N H N Desoxicitidina
N N 3'
O N H O O
O
P H O
O H
O O
O N HN
O
O N O
Desoxiadenosina N NH P Desoxitimidina
N O
N
O
O O
O
PO O N OHN
H O
H
N O O
Deoxicitidina
Desoxitimidina N NH N N 5' PO Desoxiadenosina
O N O
O O P
O
OP
O O H
HNO N O
Desoxiguanosina
O

O N N N O O
OH
N O

H O

3'

FIGURA 2.15 Formação de pontes de hidrogênio entre bases complementares do DNA


dupla-fita.
A interação entre as fitas polinucleotídicas é muito seletiva. A complementaridade depende não só
de fatores geométricos que permitem o encaixe adequado entre as bases complementares das duas
fitas, mas também da formação de pontes de hidrogênio específicas entre as bases complementares.
Note a orientação antiparalela das fitas do DNA dupla-fita. A geometria das hélices não impede um
alinhamento paralelo, mas tal arranjo não é encontrado no DNA.

A importância relativa das forças de empilhamento de aminoácidos em proteínas podem proteger os grupos
versus pontes de hidrogênio na estabilização da dupla fosfatos e diminuir as forças repulsivas.
hélice nem sempre foi apreciada. Experimentos com
reagentes que reduzem a estabilidade da dupla hélice
(desnaturantes) ilustram a maior importância relativa TABELA 2.2 Efeitos de Vários Reagentes sobre a
Estabilidade da Dupla Hélicea
das interações de empilhamento (Tabela 2.2). Esses re
sultados mostram que o efeito desestabilizante de um Solubilidade de Molaridade que
reagente não está relacionado com sua capacidade de Reagente Adenina × 10–3 Produz 50% de
quebrar pontes de hidrogênio, mas é determinada pela (em reagente 1 M) Desnaturação
solubilidade das bases livres nesse reagente. À medida
que o reagente se torna um solvente melhor para as ba Etilureia 22,5 0,60
ses, a força que determina o empilhamento diminui, e a Propionamida 22,5 0,62
dupla hélice é desestabilizada.
Etanol 17,7 1,2
Forças eletrostáticas também têm um efeito sobre a Ureia 17,7 1,0
estabilidade e a conformação da dupla hélice. Os grupos
Metanol 15,9 3,5
fosfodiéster estão ionizados no pH fisiológico; assim, o
exterior da dupla hélice carrega duas cargas negativas Formamida 15,4 1,9
por par de bases. A repulsão eletrostática entre os fosfa Fonte: Dados de: Levine, L., Gordon, J. e Jencks, W. P. Biochemistry
tos carregados negativamente é desestabilizadora entre 2:168, 1963.
aO efeito desestabilizador dos reagentes apresentados sobre a dupla
as fitas, e tende a separar as fitas complementares. Em
água destilada, as fitas do DNA se separam à tempera hélice é independente da capacidade desses reagentes para quebrar
pontes de hidrogênio. Ao contrário, o efeito desestabilizador é deter
tura ambiente. Entretanto, cátions como Mg2+, esper minado pela solubilidade de adenina. Resultados semelhantes seriam
mina4+ (uma tetramina) e as cadeias laterais básicas esperados se as solubilidades das outras bases fossem examinadas.
40 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Desnaturação e Renaturação tude da forte absorbância das bases púricas e pirimídi


cas, o DNA absorve fortemente na região UV, com um
A dupla hélice é desfeita em quase todos os pro máximo ao redor de 260 nm. Contudo, a absorbância
cessos biológicos dos quais DNA participa, incluindo das bases individuais é reduzida pelas interações ele
replicação, transcrição, reparo e recombinação. As trônicas entre as bases empilhadas. A absorbância total
forças que mantêm as duas fitas unidas são adequa pode ser reduzida em até 40%, quando comparada com
das para fornecer estabilidade, mas suficientemente um estado não-empilhado. Essa redução no coeficiente
fracas para permitirem a fácil separação das fitas. A de extinção das bases agregadas é chamada hipocro
dupla hélice é estabilizada, em relação a fitas únicas, micidade. As interações de empilhamento diminuem
por cerca de 4 kJ/mol (1 kcal/mol) por par de bases, gradativamente à medida que a estrutura ordenada da
de modo que uma perturbação relativamente pequena dupla hélice é desfeita por aumento na temperatura.
pode produzir uma separação local de um pedaço pe Portanto, um polinucleotídeo completamente desorde
queno da dupla-fita. Esses pares de bases podem fechar nado tem uma absorbância comparável à soma das ab
de novo, liberando energia livre que pode, então, levar sorbâncias de suas purinas e pirimidinas constituintes.
pares de bases adjacentes a desenrolarem. Dessa ma
neira, pequenas separações da dupla fita podem migrar A medida da absorbância de um DNA complexo a
ao longo do seu comprimento (Figura 2.16). Assim, em 260 nm, enquanto se aumenta lentamente a tempera
qualquer momento em particular, a grande maioria das tura, é um meio de observar a desnaturação. Em um
bases permanece com pontes de hidrogênio, mas todas experimento de desnaturação térmica monitorada por
as bases podem passar transitoriamente pelo estado de
fita-única. A capacidade do DNA dupla hélice “respirar”
é um pré-requisito essencial para sua função biológica.

A separação das fitas de DNA pode ser estudada


elevando-se a temperatura de uma solução. Em tem
peraturas relativamente baixas, poucos pares de bases
são rompidos, criando uma ou mais bolhas de fitas aber Renaturação
tas (Figura 2.17). Estas bolhas formam-se, inicialmen (rápida)

te, em regiões contendo proporções maiores de pares


adenina-timina, em virtude da baixa energia de empi
lhamento de tais pares. À medida que a temperatura
sobe, o tamanho das bolhas aumenta e o movimento
térmico dos polinucleotídeos eventualmente supera as
forças que estabilizam a dupla hélice. Em temperaturas
ainda mais altas, as fitas se separam e adquirem uma
conformação em espiral aleatória. O processo é mais Renaturação
(lenta) Desnaturação
apropriadamente descrito como transição hélice-para
-espiral, mas é comumente chamado desnaturação ou
fusão.

A desnaturação é acompanhada por várias mudan


ças físicas na solução contendo DNA, incluindo um au
mento na densidade de flutuação, uma redução na vis
cosidade, uma alteração na capacidade de girar a luz
polarizada e mudanças na absorção de luz UV. A última
é frequentemente usada para seguir, experimentalmen
te, o processo de desnaturação (Figura 2.18). Em vir
Reassociação
Desnaturação
ao acaso

FIGURA 2.17 Desnaturação do DNA.


Em temperaturas altas, a estrutura em dupla-fita do DNA é
FIGURA 2.16 Migração de bolhas pelo DNA dupla-hélice. completamente perdida, com eventual separação das fitas e
O DNA contém pedaços curtos de fitas abertas que podem se formação de espirais abertas de fita-única. Desnaturação tam
mover ao longo da hélice. bém ocorre em faixas extremas de pH e de forças iônicas.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 41

espectroscopia de absorção, a absorbância do polinu Fitas complementares de DNA, separadas por des
cleotídeo muda muito lentamente no início, depois sobe naturação, podem voltar a formar dupla-hélice, se tra
rapidamente até um valor máximo. Antes da subida, o tadas apropriadamente. Isso é chamado renaturação
DNA é dupla-fita. Na parte ascendente da curva, um ou anelamento. Se a desnaturação não for completa e
número crescente de pares de bases é quebrado. A se poucas bases permanecem com pontes de hidrogênio
paração total das fitas ocorre em temperaturas corres entre as duas fitas, a transição hélice-para-espiral é
pondentes ao platô superior da curva. A temperatura rapidamente reversível. Anelamento é possível mesmo
do ponto do meio dessa transição, a temperatura de depois de as fitas complementares terem sido comple
fusão (Tm), é característica do conteúdo de bases do tamente separadas. Nessas condições, o processo de
DNA em condições padrões de concentração e força iô renaturação depende do encontro de fitas de DNA com
nica. Quanto mais alto o conteúdo de guanina-citosina, plementares, de maneira que possa levar à formação da
mais alta a temperatura de transição entre hélice dupla estrutura original. Não é surpreendente que seja um
-fita e simples-fita. Essa diferença em valores de Tm é processo lento, dependente de concentração. Quando a
atribuída à estabilidade aumentada dos pares guanina renaturação começa, algumas das pontes de hidrogê
-citosina, que resulta de interações de empilhamento nio formadas são formadas entre curtos segmentos do
mais favoráveis. polinucleotídeo, que podem ter estado distantes na es
trutura original nativa. Essas estruturas com bases pa
O DNA é desnaturado em pH>11,3, quando os gru readas aleatoriamente têm vida curta porque as bases
pos N-H das bases ficam desprotonados, impedindo que em torno desses segmentos complementares curtos não
participem das pontes de hidrogênio. A desnaturação podem parear e, assim, não podem formar estruturas
alcalina é frequentemente usada para evitar danos ao estáveis totalmente unidas por pontes de hidrogênio.
DNA que podem ocorrer em altas temperaturas ou pH Uma vez que as nucleobases corretas comecem a parear
baixo. Desnaturação também pode ser induzida em bai por acaso, a dupla hélice é formada rapidamente ao lon
xas forças iônicas, em virtude da maior repulsão entre
go de toda a molécula do DNA.
os fosfatos carregados negativamente da fitas, e por
vários agentes desnaturantes (compostos que podem O início brusco da desnaturação ou da renaturação
efetivamente formar pontes de hidrogênio com as ba revela a natureza tudo-ou-nada da transição hélice
ses, ao mesmo tempo em que quebram interações hi -para-espiral ou espiral-para-hélice. O processo de re
drofóbicas de empilhamento). Uma curva de desnatu naturação requer a formação de uma região curta com
ração completa semelhante à mostrada na Figura 2.18 dupla-hélice para iniciar a formação da dupla hélice
é observada a uma temperatura relativamente baixa e (Figura 2.19). Isso começa com a formação de um úni
constante por variação na concentração de um desna co par de bases, que é bastante instável. Entretanto, a
turante adicionado, como ureia. formação de um segundo par de bases vizinho é aumen
tada porque o processo é agora menos entropicamente
desfavorável. À medida que novos pares de bases come
çam a formar uma estrutura empilhada, a formação dos
Faixa de transição pares de bases subsequentes é ainda mais facilitada.
1.4 0 Os nucleotídeos não-pareados de cada fita começam a
)
empilhar na hélice em crescimento, otimamente posi
m
n cionados para pareamento de bases. Após a formação
l
tua de uma dupla hélice com quatro a cinco pares de ba
(tlar2i6ve0 cen ses, uma dupla hélice estável se forma, e o restante do
er complexo rápida e espontaneamente se fecha como um
p
ieópdact
ia “zipper”. Após a formação do par de bases inicial, o em
rom
rc pilhamento e o pareamento de bases não são eventos
e
ip independentes, mas são influenciados pelos pares vizi
i H
s 1.3 nhos. Tal processo é chamado cooperativo. A presença
n 1.2
1.1 Tm 50
D de uma dupla hélice curta serve como ponto de nuclea
ção para o anelamento porque facilita a formação dos
1.0 100
30 50 70 90 pares de bases subsequentes. A desnaturação é o mes
(°C) mo processo, ao reverso: uma bolha serve como ponto
de início do desempilhamento de nucleobases e como
FIGURA 2.18 Perfil de temperatura-densidade óptica
para DNA.
rápida “abertura do zipper” da hélice.
Quando DNA é aquecido, a absorância a 260 nm aumenta com
a elevação da temperatura. Um gráfico no qual absorbância
versus temperatura é plotado é chamado de curva de fusão.
Densidade óptica relativa é a razão da absorbância em qual
quer temperatura àquela em baixa temperatura. A tempera
tura na qual metade da densidade óptica máxima é obtida é a
temperatura do ponto do meio (Tm).
42 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

C G C G C G C G C G C G
GC
G C G C G C
G C G C
T A muito T A T A T A T A rá[pido TA
C G lento C G C
G C G C G CG

A T A T A T A T A T AT

T A T A T A T A T A T A

G C G C G C G C G C G C

formação do ponto de nucleação propagação da hélice

FIGURA 2.19 Cooperatividade de renaturação/desnaturação de duplas hélices de DNA.


Durante a renaturação, a formação do primeiro par de base correto é muito lenta. Anelamento de pares vizinhos é facilitado, especial
mente após formação de um sítio de nucleação com 3 a 5-pb. Desnaturação segue um processo semelhante, mas a ordem das etapas
é invertida. Redesenhado de Saenger, E. Principles of Nucleic Acid Structure. New York: Springer-Verlag, 1984, p. 141.

Hibridização
Uma técnica baseada na associação de fitas poli
nucleotídicas complementares, a hibridização foi de
senvolvida para a detecção e a quantificação de sequ-
ências específicas de ácidos nucleicos alvos. Estas são
importantes ferramentas básicas na biologia molecu
lar contemporânea e estão sendo usadas para deter
minar (a) se certa sequência ocorre no DNA de um
organismo em particular, (b) um parentesco genético
ou evolutivo entre diferentes organismos, (c) o núme
ro de genes transcritos em um mRNA específico, e (d)
a localização de uma dada sequência de DNA. Elas são
baseadas no anelamento de um polinucleotídeo com
plementar, chamado sonda (probe), que é marcado
apropriadamente para fácil detecção do híbrido dupla
-hélice.
Em um experimento típico, o DNA ou o RNA a ser
testado por hibridização é desnaturado e imobiliza
do por ligação com uma matriz insolúvel adequada.
Sondas de DNA marcadas são, então, postas para hi
bridizar com as sequências complementares ligadas
à matriz (Figura 2.20). Sondas são oligonucleotídeos
curtos, fita-única, de DNA ou RNA, que são comple
mentares às sequências específicas de interesse. Em
condições adequadas, as sondas interagem somente
com o segmento de interesse, indicando se está pre
sente em uma amostra de DNA em particular. As mo
léculas das sondas geralmente têm >20 nucleotídeos
de comprimento. Marcadores apropriados incluem ele
mentos radioativos, cromóforos fluorescentes e bioti
na. Como o complexo dupla-hélice contendo a sonda
hibridizada está geralmente ligado a uma matriz inso FIGURA 2.20 Representação geral de experimentos de
lúvel, as sondas não-hibridizadas podem ser lavadas. hibridização.
A detecção das marcas ligadas permite a quantifica Uma mistura de DNAs desnaturados é tratada com uma sonda
ção direta da sequência de interesse. A determinação de DNA carregando uma marca. A sonda pode hibridizar com
da quantidade máxima de DNA que pode hibridizar aqueles DNAs de sequências complementares. A detecção dos
complexos dupla-hélice permite a detecção e a quantificação
pode estabelecer o grau de homologia entre DNAs de do DNA que contém a sequência de interesse. Aplicações es
diferentes espécies, uma vez que as sequências de ba pecíficas frequentemente contêm etapas para separar e imobi
ses de cada organismo são singulares. As homologias lizar os diferentes DNAs da mistura a ser analisada.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 43

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.2

Uso Diagnóstico de Matrizes (Arrays) de DNA em Medicina e Genética


Com o término do Projeto Genoma Humano, uma em uma amostra clínica. A capacidade de medir a quan
riqueza de informação genética está rapidamente se tidade de mRNAs em várias células permite identificar
tornando disponível. A aplicação desse conhecimento o perfil de expressão gênica. Isso pode levar a técnicas
à medicina requer o desenvolvimento de novas técni para avaliar doenças, tal como o câncer, e selecionar
cas para monitorar a expressão gênica e para analisar tratamentos individualizados.
rapidamente os genes, quanto a mutações. Matrizes
(arrays) de oligonucleotídeos consistem de várias son
das oligonucleotídicas gene-específicas imobilizadas Composição
em pontos definidos de uma matriz sólida (chip). Elas
podem conter milhares de moléculas de sondas diferen
tes, cada uma com um endereço fixo. Chips genéticos
podem, então, ser tratados com os ácidos nucleicos al
vos marcados (DNA ou RNA) derivados de células de
um organismo. A hibridização dos alvos com as sondas Referência
de sequências complementares permite a imobilização
da marca em pontos específicos do chip. A presença de GTCA
sequências específicas pode ser determinada, e a quan
tidade de alvo marcado hibridizado a um ponto pode ser
quantificada. 20 9
9 21 9
22 9
23 9
24 9 9
25 26
Tais técnicas podem levar ao diagnóstico por análi
Teste
se rápida (screening) do DNA genômico quanto a mu
tações associadas a doenças. Por exemplo, matrizes de
DNA de alta densidade, com milhares de sondas oligo
nucleotídicas, têm sido usadas para detectar mutações Freeman, W.M., Robertson, D.J. e Vrana, K.E. Fundamen
tals of DNA hybridization arrays for gene expression analy
que levam à ataxia telangiectasia, uma doença recessi
va caracterizada por alterações neurológicas, infecções sis. BioTechniques 29:1042, 2000; Stover, A. G., Jeffery, E.,
Xu, J., Persing, D. H. Hybridization array technology. In: D. H.
respiratórias recorrentes e vasos sanguíneos dilatados Persing (Ed), Molecular Microbiology. Herndon, VA: ASM,
na pele e nos olhos. Estudos semelhantes examina 2004, 619; e Hacia, J.G., Brody, L.C., Chee, M.S., Fodor, S.P. e
ram mutações no gene BRCA do câncer hereditário de Collins, F.S. Detection of heterozygous mutations in BRCA1
mama e de ovário. Ensaios comparáveis podem ser usa using high density oligonucleotide arrays and two colour
dos para identificar com precisão patógenos presentes fluorescence analysis. Nat. Genet. 14:441, 1996.

observadas servem de índices de parentesco evolutivo do DNA dupla-hélice foram descritas desde então. Elas
e têm sido particularmente úteis na definição da filo variam em orientação das bases em relação ao eixo e
gênese de procariotos. Estudos de hibridização entre uma em relação à outra e em outros parâmetros geo
DNA e RNA trouxeram informações muito úteis sobre métricos da dupla-hélice. Uma forma, Z-DNA, incorpora
o papel biológico do DNA, particularmente o mecanis uma hélice que gira para a esquerda em lugar da varie
mo de transcrição. Matrizes (arrays) de sondas são dade usual que gira para a direita.
úteis para o diagnóstico rápido e definitivo de doenças
genéticas, doenças infecciosas e câncer, como descrito O polimorfismo estrutural do DNA dupla-hélice
na Correlação Clínica 2.2. depende da composição em bases e das condições fí
sicas. A estrutura local do DNA é suficientemente fle
Conformações do DNA Dupla-Hélice xível para permitir mudanças de conformação que ma
ximizem o empilhamento, ao mesmo tempo em que
Os primeiros estudos de difração de raios-X mos minimizem as interações estéricas desfavoráveis. As
traram que havia mais de uma conformação no DNA preferências de empilhamento de bases podem favo
(Figura 2.21). Uma delas, A-DNA, foi encontrada em recer uma conformação sobre outras. Por exemplo,
condições de baixa umidade e alta concentração de sal. guaninas consecutivas em uma fita favorecem confor
A adição de solventes orgânicos, como etanol, reduziu a mações tipo A-DNA. As condições da solução também
umidade dessas soluções aquosas. Uma segunda forma desempenham um papel chave na determinação da
distinta, B-DNA, apareceu sob condições de alta umi conformação favorecida. Moléculas de água interagem
dade e baixa concentração de sal e foi a base para a diferentemente com duplas hélices em diferentes con
estrutura Watson–Crick. Onze conformações distintas formações. Por exemplo, os grupos fosfatos no B-DNA
44 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

hélice, que passa através dos pares de bases. As


fendas maior e menor têm mais ou menos a mesma
profundidade, e a fenda menor é relativamente es
treita. A hélice é longa e fina, com aproximadamen
te 10 pares de bases por volta da hélice. O passo por
resíduo é de 3,4 Å, a espessura aproximada das ba
ses. Diferentemente, a estrutura do A-DNA é mais
curta e mais grossa. Há cerca de 11 pares de base
por volta da hélice, com um crescimento vertical de
2,56 Å por resíduo. Para acomodar a espessura das
bases, o par de bases é inclinado em 20 em relação
ao plano perpendicular ao eixo da hélice. O eixo da
hélice é deslocado para o lado da fenda maior dos
pares de bases. Isso resulta em uma fenda maior
muito profunda e uma fenda menor rasa, e forma
um buraco com 3 Å de diâmetro que corre pelo cen
tro da hélice. Baixa umidade favorece a estrutura
A-DNA, que expõe mais superfície hidrofílica ao
solvente que B-DNA.

FIGURA 2.21 As geometrias variadas do DNA dupla-hélice. Z-DNA é uma conformação dupla-hélice radical
Dependendo das condições e da sequência de bases, a dupla hélice mente diferente que gira para a esquerda, para DNA
pode adquirir várias geometrias distintas. Há três famílias principais dupla fita. Geralmente é observada em sequências de
de conformações do DNA: A, B e Z. As formas que giram para a direita, purinas e pirimidinas alternadas, particularmente
B-DNA e A-DNA, diferem na torção do açúcar; isso leva a diferentes d(GC)n. A designação “Z” foi escolhida porque o es
estruturas helicoidas. A forma A é menos torcida em comparação com queleto fosfodiéster assume um arranjo em zigue
a forma B, e a hélice resultante é mais curta e mais grossa. A estrutura -zague, comparado à conformação lisa que carac
Z-DNA é uma hélice que gira para a esquerda, com o esqueleto fazendo
teriza A-DNA e B-DNA. A estrutura Z-DNA é mais
um zigue-zague. A torção do açúcar e as conformações glicosídicas al
ternam de um resíduo para o seguinte, produzindo uma reversão local longa e mais fina que aquela do B-DNA e completa
uma volta a cada 12 pares de bases. A fenda me
da direção da cadeia.
nor é muito profunda e contém o eixo da hélice. Os
são mais acessíveis às moléculas de água do que aque pares de bases são dispostos tão longe na fenda maior
les no A-DNA. Também, grupos polares das bases es que um canal distinto não existe mais. Essas mudanças
tão mais hidratados na conformação B-DNA. De fato, colocam as nucleobases empilhadas na parte mais ex
em sequências ricas em AT, uma matriz ordenada de terna do Z-DNA em vez da sua posição convencional no
moléculas de água ocupa a estreita fenda menor do B interior da dupla hélice.
-DNA (Figura 2.22a). Com uma redução de umidade,
as moléculas de água disponíveis solvatam os grupos
fosfato muito polares, em preferência às bases. A fenda
maior se estreita, permitindo que moléculas de água
façam pontes entre os fosfatos (Figura 2.22b), estabi
lizando assim a conformação A-DNA.
As diferentes conformações do DNA podem ser
agrupadas in três famílias: A-DNA, B-DNA e Z-DNA.
Os parâmetros dessas conformações, apresentados na
Tabela 2.3, foram determinados por métodos de di
fração de raios-X. Deve ser enfatizado que se acredi
ta que a estrutura geral do DNA em organismos vivos
seja do tipo B-DNA. É notável que a conformação B, ao
contrário das formas A e Z, é muito flexível. No B-DNA
nativo, variação local considerável em conformação de (a) (b)
nucleotídeos individuais pode ocorrer. Tais variações FIGURA 2.22 Hidratação das fendas do DNA.
podem ser importantes na regulação da expressão (a) Uma espinha de hidratação organizada preenche a fenda me
gênica, uma vez que podem influenciar a extensão da nor da forma B-DNA. (b) Os fosfatos que delineiam a fenda
ligação do DNA com vários tipos de proteínas regula maior são espalhados por uma rede de águas na forma A-DNA.
tórias. Reproduzido com permissão de Saenger, W. Principles of
Nucleic Acid Structure. New York: Springer-Verlag, 1984, p.
Conformações do DNA na família B apresentam pa 379. Com a gentil permissão de Springer Science and Busi
res de bases que são quase perpendiculares ao eixo da ness Media.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 45

TABELA 2.3 Características Estruturais de A-, B- e Z-DNA.


Características A-DNA B-DNA Z-DNA
Rotação da hélice Direita Direita Esquerda
Pares de bases por volta (cristal) 10,7 9,7 12
Pares de bases por volta (fibra) 11 10 –
Pares de
Passo porbases da hélice
volta por volta (solução) 24,6
– Å 10,5 –
33,2 Å 45,6 Å
Proporções Curta e larga Mais longa e mais fina Alongada e fina
Diâmetro de empacotamento da hélice 25,5 Å 23,7 Å 18,4 Å
Distância entre pares de bases (cristal) 2,3 Å 3,3 Å 3,7 Å
Distância entre pares de bases (fibra) 2,6 Å 3,4 Å –
Eixo da hélice Fenda maior Através dos pares de bases Fenda menor
Conformação do anel do açúcar (cristal) C3! endo Variável Alternada
Conformação do anel do açúcar (fibra) C3! endo C2! endo –
Conformação da ligação glicosídica anti anti anti em C, syn em G

Existem algumas evidências que sugerem que o Z humano é rico em sequências homopurina-homopirimi
-DNA influencie expressão e regulação gênicas. Aparen dina e sequências alternadas de purina-pirimidina.
temente, regiões curtas do DNA contendo purinas e pi
rimidinas alternadas são mais comumente encontradas
nas extremidades 5! de genes, regiões que regulam ati DNA Dobrado
vidades transcripcionais. Também, a metilação de resí
Sequências de DNA com 4 a 6 adeninas separadas por
duos de guanina nas posições C8 e N7 ou de resíduos de
espaçadores de 10 pares de bases (pb) produzem con
citosina na posição C5 (Figura 2.23) estabilizam a forma
formações dobradas. Estudos estruturais indicaram que
Z. Sequências que não são estritamente purinas e pirimi as fendas menores dessas sequências são comprimidas.
dinas alternadas também podem adquirir a conformação
Entretanto, não está claro se a dobra surge dessa carac
Z por causa da metilação. A sugestão de que Z-DNA po
terística ou do limite entre essa conformação pouco co
deria desempenhar um papel na regulação gênica é sus
mum e o B-DNA normal. Dobramento do DNA parece ser
tentada por modificações nos padrões de metilação que um elemento fundamental na interação entre sequências
acompanham o processo de expressão gênica. Entretan
de DNA e proteínas que catalisam processos centrais,
to, o Z-DNA ainda não foi detectado em DNA in vivo.
como replicação, transcrição e recombinação sítio-es
pecífica. O dobramento induzido por interações do DNA
Estruturas Não-Canônicas do DNA com enzimas e outras proteínas, tais como histonas, não
requer as condições de sequências de nucleotídeos que
A-, B- e Z-DNA estão associados principalmente com são necessárias para dobrar o DNA livre de proteínas. O
variação na conformação dos nucleotídeos constituin dobramento também ocorre em virtude de danos foto
tes do DNA. Reconhece-se agora que mesmo o B-DNA químicos ou pareamento errado de bases, e serve como
canônico não é uma estrutura reta, monótona e unifor sinal de reconhecimento para iniciar o reparo do DNA.
me. Ao contrário, o DNA dobra-se e forma estruturas Antibióticos antitumorais que produzem estruturas do
incomuns, como arranjos cruciformes ou fita-tripla, bradas são discutidos na Correlação Clínica 2.3.
quando interage com certas proteínas. Tais variações
na conformação do DNA parecem ser um importante
tema recorrente no processo de reconhecimento mole NH2

cular do DNA por proteínas e enzimas. Variações na es N


CH3
trutura ou na conformação do DNA são favorecidas por
motivos (motifs) de sequências específicas do DNA, tais O N
como repetições invertidas, palíndromes, repetições no
espelho e repetições diretas (Figura 2.24), bem como HO O
por sequências homopurina-homopirimidina, sequên
cias de fase A e regiões ricas em G. Sequências ricas em
AT, que são propensas a fácil separação de fitas, exis HO
tem perto das origens de replicação do DNA. O genoma
FIGURA 2.23 Estrutura de 5-metildesoxicitidina.
46 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Repetição 5! GGAATCGATCTTAAGATCGATTCC 3! DNA Cruciforme


invertida 3! CCTTAGCTAGAATTCTAGCTAAGG 5!
Rompimento de pontes de hidrogênio entre as fitas
Repetição 5! GGAATCGATCTTTTCTAGCTAAGG 3! complementares, e formação de pontes de hidrogênio
no espelho 3! CCTTAGCTAGAAAAGATCGATTCC 5! intrafitas na região de uma repetição invertida pro
duz uma estrutura cruciforme (Figura 2.25). As alças
Repetição
direta 3!
5! CCTTAGCTAGAAGGAATCGATCTT
GGAATCGATCTT 3! (loops) geradas pela formação cruciforme requerem
CCTTAGCTAGAA 5!
o despareamento de 3 a 4 bases no fim do “grampo”
FIGURA 2.24 Elementos de simetria em sequências de (hairpin). Dependendo da sequência, essas estruturas
DNA. podem ser só levemente desestabilizantes, porque re
Três tipos de elementos de simetria para sequências de DNA síduos da alça podem permanecer empilhados no final
de dupla fita são mostrados. As setas indicam a relação espe da hélice.
cial entre esses elementos em cada uma das sequências. Em
repetições invertidas, ou palíndromes, cada fita de DNA é au Especula-se que repetições invertidas podem fun
tocomplementar com a região invertida que contém os elemen cionar como comutadores moleculares para a replicação
tos de simetria. Uma repetição no espelho caracteriza-se pela e a transcrição. Repetições invertidas estão espalhadas
presença de pares de bases idênticos, equidistantes do centro no genoma humano, e geralmente ocorrem próximas a
de simetria no segmento de DNA. Repetições diretas são regiões regiões controles putativas de genes ou próximas à ori
do DNA nas quais uma sequência em particular é repetida. As
gens de replicação do DNA. Demonstrou-se que estru
repetições não precisam ser adjacentes umas às outras.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.3

Antibióticos Antitumorais que Mudam a Forma do DNA


A estrutura local tridimensional do DNA é impor com proteínas HMG também podem contribuir para sua
tante em interações com proteínas envolvidas no repa citotoxicidade. Ligação de proteínas HMG pode sina
ro, na transcrição, na recombinação e na condensação lizar incorretamente que a região danificada do DNA
da cromatina. Foi proposto que antibióticos possam é transcripcionalmente ativa e impedir a condensação
induzir a formação de estruturas de DNA que podem em estruturas de cromatina compactada. Esses com
recrutar essas proteínas com resultados citotóxicos. plexos também perpetuam a lesão porque bloqueiam o
O exemplo mais bem estudado é a droga antitumoral aducto DNA–cisplatina, impedindo o reparo.
cisplatina, um complexo tetracoordenado de platina
2Cl2].
[cis-Pt(NH2 com
combinação) outros
A cisplatina
agenteséantitumorais para
usada sozinha outra
em Zamble, D.B. e Lippard, S.J. The response of cellular proteinsto
cisplatin-damaged DNA. In Lippert, B (Ed.), Cisplatin: Chem
tar uma série de tumores, incluindo câncer testicular, istry and Biochemistry of a Leading Anticancer Drug. New
ovariano, ósseo e pulmonar. Ela forma ligações cruza York: Wiley-VCH, 1999, 73; Bhana, S., Hewer, A., Phillips, D. H.,
das inter e intrafitas em DNA dupla-fita com o último e Lloyd, D. R. Dependent global nucleotide excision repair of
aducto, compreendendo 90% das lesões do DNA. Essas cisplatin-induced intrastrand cross links in human cells. Mu
ligações surgem do deslocamento de cloretos ligados à tagenesis 23:131, 2008. Damsma, G. E., Alt, A., Brueckner, F.,
platina por átomos N7 de duas guaninas vizinhas. Es Carell, T, e Cramer, P. Mechanism of transcriptional stalling at
tudos estruturais de DNA com aducto fazendo ligação cisplatin-damaged DNA. Nat. Struct. Mol. Biol. 14:1127, 2007;
e Mukhopadhyay, R., Dubey, P. e Sarkar, S. Structural chang
cruzada intrafita mostram que a dupla hélice é forte
es of DNA induced by mono- and binuclear cancer drugs. J.
mente dobrada em direção à fenda maior. Na figura a
Struct. Biol. 150:277, 2005.
seguir, (a) DNA Normal e (b) DNA com aducto.
Estruturas dobradas de aductos DNA-cisplatina são
reconhecidas especificamente por várias proteínas que
se ligam ao DNA, tais como proteínas do reparo por ex
cisão de nucleotídeos (NER) e proteínas não-histonas
que se ligam ao DNA, como HMG-1. A citotoxicidade
da cisplatina é um processo complicado mediado por
interações específicas com essas proteínas. Processos Pt
celulares, como transcrição e apoptose, são também
afetados pela formação de aductos DNA-cisplatina. As
lesões propriamente ditas e os complexos aducto–pro
teína provavelmente interferem com a transcrição. Pro
teínas NER são recrutadas para reparar a lesão, mas
o reparo por excisão está sujeito a introduzir quebras
na fita do DNA. O acúmulo dessas quebras induzirá, no
final, apoptose, quando o DNA ficar danificado demais
para funcionar. Interações do aducto cisplatina-DNA (a) (b)
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 47

mente posicionadas na fenda maior podem formar


5! AAT C GG GT G CC A C AT CG A GT CGG AC TT ACC G 3!
tripletes de bases Hoogsteen específicos (Figura
3! TTA G C C C A C GG T G T A GC T C A GCC TG A A T G G C 5! 2.26). Por exemplo, uma timina pode seletivamen
te formar duas pontes de hidrogênio Hoogsteen
Sequência de DNA com repetições invertidas com a adenina de um par A-T. Da mesma forma,
uma citosina protonada pode formar duas pon
tes H Hoogsteen com a guanina de um par G-C,
resultando num triplete de bases isomorfo a T-A
G
T C
-T. O pK!a da citidina é aproximadamente 4,5, e
A A
triplas hélices contendo tripletes C-G-C mostram
C G
uma forte dependência do pH. Entretanto, o efei
A T to de molde do triplete eleva o pK!a aparente da
C G citosina, tornando possível formar triplas hélices,
C G
G C
mesmo em soluções que são moderadamente áci
T A das (pH 6). Os padrões singulares de formação
G C TT ACC de pontes de hidrogênio Hoogsteen de guanina e
5! AAT C GG G 3!
adenina fornecem especificidades semelhantes às
3! TT
A GCC A AT G G C 5! dos pares Watson–Crick. Mudando a orientação
C G das nucleobases da terceira fita na fenda maior, é
A T possível a formação de tripletes Hoogsteen-rever
C G
sos (Figura 2.26). Tripletes seletivos podem ser
G C
G C
formados entre uma adenina e um par A-T, bem
T A como entre uma guanina e um par G-C. Um tri
G C plete Hoogsteen-reverso também pode se formar
T T entre timina e A-T, mas o triplete resultante não
GA é isomorfo aos tripletes pu•pu•pi. Entretanto, o
C
esqueleto é capaz de acomodar as distorções que
Pareamento de bases entre segmentos
complementares na mesma fita de DNA resultam da incorporação desses tripletes.

FIGURA 2.25 Formação de estruturas cruciformes no DNA. Como nos complexos dupla-hélice, o empilha
A existência de repetições invertidas no DNA dupla-fita é uma condi mento de bases desempenha o papel chave na es
ção necessária, mas não suficiente para a formação de estruturas cru tabilização da estrutura triplex. Contudo, juntar
ciformes. Em DNA relaxado, não é provável a formação de cruciformes três fitas com esqueletos carregados negativa
porque o DNA linear acomoda mais pares de bases empilhados e ligados mente, aumenta a repulsão eletrostática. Assim,
por pontes de hidrogênio do que a estrutura cruciforme, tornando a for
o complexo tripla-hélice é menos estável do que a
mação do último termodinamicamente desfavorável. O desenrolamento
é seguido de formação de pontes de hidrogênio intrafita, entre as duas
dupla hélice Watson–Crick. A presença de Mg2+ e
partes simétricas da repetição, produzindo a estrutura cruciforme. A for de outros cátions multivalentes estabiliza a tripla
mação de estruturas cruciformes não é favorecida em regiões de DNA hélice por bloquear as cargas dos fosfatos.
que consistem de repetições no espelho, porque tais cruciformes seriam
construídos a partir de fitas paralelas de DNA, e não antiparalelas. Em Triplas hélices intramoleculares podem se
vez disso, certas repetições no espelho tendem a formar triplas hélices. formar por interrupção do DNA dupla-hélice
com sequências de polipurinas em repetições
turas cruciformes nas origens de replicação do DNA de no espelho. Uma repetição no espelho é uma região
células de mamíferos recrutam proteínas que se ligam como AGGGGA, que tem a mesma sequência de bases
aos cruciformes e funcionam durante a iniciação da sín quando lida em qualquer direção a partir de um ponto
tese de DNA. central. Redobramento gera uma região com tripla-fita
e uma alça de fita única, em uma estrutura chamada
H-DNA (Figura 2.27).
DNA Tripla-Fita
Embora a formação do H-DNA seja termodinamica
Alguns polinucleotídeos, como poli(dA) e poli(dT), mente desfavorável, por causa de uma redução nas inte
combinam-se para formar complexos de três fitas em rações de empilhamento, triplas hélices intramolecula
lugar das duplas hélices esperadas. A estequiometria res foram detectadas em DNA celular quando em tensão
desses complexos requer que uma fita contenha uma de super-hélice. O superenrolamento do DNA fornece a
sequência de homopurina, enquanto as outras duas te energia para direcionar o desenrolamento do DNA que é
nham sequências de homopirimidinas. Mesmo quando necessário para a formação da tripla hélice. A formação
participam de pares de bases Watson-Crick, purinas da tripla-fita produz um relaxamento do superenrola
possuem dois pontos potenciais para estabelecer pon mento negativo. Também, a ligação de proteínas ao DNA
tes de hidrogênio na fenda maior: N7 e O6 para guani fita-única pode estabilizar ainda mais a estrutura H-DNA
na, N7 e 6-NH2 para adenina. Nucleobases apropriada e impedir a degradação da alça por nucleases.
48 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

R
N
N N
H H
N
N
N H
O H
O
H N N
CH3 O CH3
O R
NRO O N N N R N
R N H O

H
N N N
N H H NH H
H
Triplete de bases C Triplete de bases GGC
N
R R

N
N
Triplete de bases TAT N H CH3
NH
N H O O
RN H N
H H
N+ N H H H
N N N N N
R

O H N O N H N O N R N

R H H R Triplete de bases AAT


N N N

+GC N
CH3
H3C O O
O N
H H H
N NR
N H
N O

N N
R
Triplete de bases TAT
(a) (b)

FIGURA 2.26 Triplas hélices.


(a) Tripla-hélice Hoogsteen. Pontes de hidrogênio Hoogsteen entre uma fita de homopurinas de uma dupla hélice e uma fita paralela
de homopirimidinas na fenda maior. Os tripletes de bases isomorfos resultantes TAT e C+GC fornecem ligação sequência-seletiva. (b)
Tripla-hélice Hoogsteen reverso. Triplas hélices podem se formar por ligação antiparalela de um oligonucleotídeo à fenda maior da
fita de homopurina de uma dupla-hélice Watson-Crick. Pontes de hidrogênio Hoogsteen reversa produzem três tripletes possíveis:
GGC, AAT e TAT. O último triplete não é isomorfo com os outros porque os açúcares (representados por R) estão posicionados dife
rentemente com relação aos pares de bases Watson–Crick

Muitas sequências dos genomas eucarióticos têm o tripla-hélice, incluindo possíveis papéis na iniciação e
potencial de formar estruturas de DNA tripla-fita. Tais na terminação da replicação e da recombinação. A ca
regiões ocorrem com frequência muito maior do que o pacidade do DNA tripla-fita interferir na transcrição
esperado por considerações de probabilidade apenas. também levou a esforços para utilizar as triplas hélices
Sequências de polipurinas com mais do que 25 nucleo intramoleculares para controlar artificialmente a sínte
tídeos constituem até 0,5% de certos genomas eucarió se de RNA, e a subsequente síntese proteica.
ticos. Essas regiões de tripla-hélice em potencial são es
pecialmente comuns próximo a sequências envolvidas
na regulação gênica. Por isso, tem sido proposto que
DNA Quatro-Fitas
o H-DNA possa desempenhar um papel no controle da
síntese de RNA (Correlação Clínica 2.4). Outras tare Nucleotídeos de guanina e polinucleotídeos muito
fas biológicas em potencial foram propostas para o DNA ricos em G formam novas estruturas tetraméricas cha
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 49

madas G-quartetos, que contêm uma matriz plana de 5! 3!


3! 3!
guaninas conectadas por pontes de hidrogênio Hoogs 3! 3!
teen (Figura 2.28). Polinucleotídeos podem interagir G G
GG
GG
G
T G
T G
T G
T G G
para formar tetraplexos, onde G-quartetos empilham
G G
-se para formar uma estrutura em multicamadas (Fi G G
gura 2.29). Essas estruturas são estabilizadas por Na+ G G
G G
e K+, que interagem com oxigênios da guanina (O6) no G
G
G
G
centro do plano do quarteto ou entre dois planos ad G T G
T
jacentes. Esses cátions estabilizam o complexo, tanto T T T T
eletrostaticamente, por equilibrar as cargas negativas G G G G TGTG
das quatro fitas polinucleotídicas, como por liberar en
tropicamente grande número de moléculas de água na G
GGG
T Paralelo
G
T G T G T
G G
Antiparalelo
G
G
solução. G G
G G
G G
GGG G

(3!) (5!)

5! 5!
5! 5! 5! 3!

FIGURA 2.29 DNA G-quadruplex.


Estruturas de quatro fitas podem surgir por empilhamento de
G-quartetos. Estruturas quadruplex podem ser paralelas ou
antiparalelas (um arranjo possível é mostrado). O último pode
ser formado pelas sequências ricas em G do DNA telomérico.
Redesenhado com base em figura de Siden, R. R. DNA Struc
ture and Function. New York: Academic, 1994.

Embora G-tetraplexos tenham sido observados por


difração de raios-X e espectroscopia NMR, sua exis
tência in vivo não foi provada. Entretanto, as extre
midades dos cromossomos eucarióticos (telômeros)
FIGURA 2.27 Triplas hélices intramoleculares: H-DNA. contêm sequências repetitivas ricas em G. Os telômeros
Regiões de polipurina-polipirimidina do DNA, com uma sime
humanos contêm 800-2.400 cópias da sequência repe
tria repetida no espelho podem formar uma tripla hélice intra
molecular, na qual a terceira fita fica na fenda maior, enquanto
titiva hexamérica d(TTAGGG)n e terminam em uma
sua fita complementar adquire uma conformação de fita única. extensão de fita-única com cerca de 150 nucleotídeos
Redesenhado com base em figura de Siden, R. R. DNA Struc de comprimento. In vitro, oligonucleotídeos com essa
ture and Function. New York: Academic, 1994. sequência podem formar estruturas tetraplex. O papel
que os tetrapetes desempenham na função dos telôme
ros é desconhecido.
N
H
N
H N Entretanto, telômeros estão atraindo atenção como
H N N alvos para novas quimioterapias anticâncer (Correlação
N O HN N
Clínica 2.5). Além disso, G-tetraplexos estão envolvidos
NN N M
na recombinação dos genes de imunoglobulinas e na
H H O N dimerização do RNA dupla-fita gênomico do vírus da
imunodeficiência humana (HIV).
O + NN
NH H
HN
O
N H
DNA Deslizado
N
H HN N
Regiões de DNA com simetria de repetição direta
podem formar DNA deslizado, com pareamento errado
(SMP-DNA). Sua formação envolve o desenrolamento
FIGURA 2.28Estrutura de um G-quarteto.
da dupla-hélice, realinhamento e subsequente parea
As quatro guaninas coplanares formam uma estrutura tetra
mérica por formação de pontes de hidrogênio Hoogsteen. A mento de uma cópia da repetição direta com uma cópia
cavidade no centro do quarteto pode acomodar um íon sódio adjacente da outra fita. Isso gera duas alças de DNA fita
ou potássio com coordenação pelos quatro oxigênios O6. única. Duas estruturas isoméricas de um SMP-DNA são
50 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.4

Persistência Hereditária da Hemoglobina Fetal


A persistência hereditária da hemoglobina fetal diminuindo a estabilidade da tripla-hélice e reduzindo
(HPFH, hereditary persistence offetal hemoglobin) sua capacidade de inibir a síntese proteica.
(OMIM 141749) é um grupo de condições nas quais a –206
síntese de hemoglobina fetal não para ao nascer, mas G G GG
GG
persiste até a vida adulta. A forma homozigota da doen CC
C
ça é extremamente rara, sendo caracterizada por mo T C +G C –202

dificações nos glóbulos vermelhos semelhantes às en T C G C


C
T A
G A
G T
contradas na doença genética do sangue b-talassemia. T –198
HPFH, tanto no estado homozigoto como no heterozigo C
C
T
A A
G G C –196
to, está associada a anomalias clínicas e hematológicas –195
leves. Dores musculoesqueléticas leves podem ocorrer –217 TA A TG AC
com pouca frequência, mas os pacientes com HPFH são 5! T
3! T A
frequentemente assintomáticos.

A condição resulta de falha na parada da transcri


ção dos genes humanos das Gg- e Ag-globinas, levando 5! 3!
a níveis elevados de hemoglobina fetal. A formação de Ulrich, M. J., Gray, W. J. e Ley, T. J. An intramolecular DNA
uma estrutura DNA tripla-hélice intramolecular, locali triplex is disrupted by point mutations associated with heredi
zada cerca de 200 pb à montante (upstream) do ponto tary persistence offetalhemoglobin. J. Biol. Chem. 267:18649,
de início da transcrição dos genes de g-globina (entre 1992; e Bacolla, A., Ulrich, M. J., Larson, J. E., Ley, T. J. e Wells,
as posições –194 e –215) atua como um freio para sua R. D. An intramolecular triplex in the human gamma-globin
5!-flanking region is altered by point mutations associated with
expressão. Os genes da hemoglobina dos pacientes con hereditary persistence of fetal hemoglobin. J. Biol. Chem.
têm mutações em uma ou mais posições dessa região, 270:24556, 1995.

possíveis (Figura 2.30). Embora SMP-DNA não tenha de base única (Figura 2.31). Deleções e duplicações
sido identificado ainda in vivo, evidências genéticas su de segmentos de DNA que são mais longos do que uma
gerem que esteja envolvido em mutações espontâneas base única podem ocorrer durante a replicação do DNA
com mudança na estrutura de leitura (frameshift), que entre repetições diretas, causando estruturas desliza
resulta em adição ou deleção de base em sequências das com alças. A duplicação de certas repetições de tri

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.5

Telomerase Como Alvo para Agentes Anticâncer


Os telômeros, as extremidades dos cromossomos camente modificados ligam-se ao RNA da telomerase
lineares eucarióticos, são críticos para manter a esta em células humanas imortalizadas, inibindo a atividade
bilidade do genoma. Eles são progressivamente encur e, finalmente, causando a morte celular. Ácidos nuclei
tados durante cada ciclo de divisão celular; ao alcançar cos modificados foram usados para resistir à degrada
um comprimento crítico, desencadeiam a apoptose. A ção por nuclease e fornecer alta afinidade para formar
telomerase atua mantendo ou encompridando os telô complexos dupla-hélice com RNA. Uma segunda abor
meros, mas não é ativa em células somáticas normais. dagem envolve drogas que se ligam ao DNA G-quadru
A atividade da telomerase, na maioria das linhagens ce plex. Moléculas grandes aromáticas, como porfirinas e
lulares tumorais, pode ser responsável por sua imorta antraquinonas, ligam-se seletivamente e estabilizam as
lização; quando aumentada, correlaciona-se com prog estruturas do DNA G-quadruplex.
nóstico clínico pior. Herbert, B.-S., Pitts, A.E., Baker, S.I., Hamilton, S.E., Wright,
W.E., Shay, J.W. e Corey, D.R. Inhibition of human telomerase in
Duas abordagens estão sendo investigadas para ini immortal human cells leads to progressive telomere shortening
and cell death. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 96:14276, 1999; Par
bição seletiva da telomerase. A primeira envolve a parte kinson, E. K., e Minty, F. Anticancer therapy targeting telomeres
contendo o RNA da enzima. Esse RNA serve de mol and telomerase. Biodrugs 21:375, 2007; e Cuesta, J., Read, M.
de para a extensão da sequência telomérica repetitiva. A. e Neidle, S. The design of G-quadruplex ligands astelomerase
Ácidos nucleicos com esqueletos açúcar–fosfato quimi inhibitors. Mini-Rev. Med. Chem. 3:11, 2003.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 51

1 11 21 3!
5! CTAGCCTTAAAAAGG
GATCGGAATTTTTCC 3!
5!
5! GGGATCCAAGGTCCATCGTTGGGATCCAAGGTCCATCGTT 3!
(a) 3! CCCTAGGTTCCAGGTAGCAACCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
CCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
GGGATCCAAGGTCCATCGTT 5! GATCGGAATTTT
CTAGCCTTAAAAAGG Replicação

3!
5! GATCGGAATTTT
CTAGCCTTAAAAAGG 3!
T
CCAAGGTCC
C 5!

G TT A
T A AAA A Deslizamento Deslizamento
da fita filha da fita molde
A
GG G
T
(b) 3!
5! 3! 5! 3! 5! GATCGGAATTTT 3!
5! 3! 5! 3! CTAGCCTTAAAACC
CCC CG A
TGCC G Replicação
continuada
CCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
GGGATCCAAGGTCCATCGTT
G T T FIGURA
3!
5! 2.31
T Mutagênese
3!3! com3!5!mudança na
GATCGGAATTTTGG
CTAGCCTTAAAACC
G GATCGGAATTTTTCC
CTAGCCTTAAAAAGG A 3!
T 5! 5!
2º ciclo desuperior
da fita replicação

AAGG T
CTG TTCC 3!
5!
A AAA A C C
AT GATCGGAATTTTTTCC
AGCCTTAAAAAAGG
Adição de um T 5! 3!
5! GATCGGAATTTTCC
AGCCTTAAAAGG
Deleção de um T 3!
5!
(c) 5!
3! G
TCTT C C C
GCC GG
G
T A GG G 3!
5!

estrutura de leitura (frameshift) por deslizamento


do DNA.
A replicação do DNA numa sequência de uma única
base pode produzir uma mudança na estrutura de lei
tura de uma base. Neste exemplo, uma sequência de
cinco As é replicada e, dependendo de um deslizamen
to ter ocorrido na fita filha ou na fita molde, um T pode
FIGURA 2.30 DNA deslizado, com pareamento errado. ser adicionado ou removido do DNA.
(a) Presença de duas repetições adjacentes (tandem) pode dar origem a
dois isômeros de DNA deslizado, com pareamento errado. (b) A segunda
cópia da repetição direta na fita de cima pareia com a primeira cópia da
repetição na fita de baixo. (c) O pareamento da primeira cópia da repeti
ção direta na fita de cima com a segunda cópia da repetição direta na fita
de baixo. Duas alças de fita única são geradas em cada isômero.

pletes simples, que são a base de várias doenças genéti mum Escherichia coli tem aproximadamente 2 μm de
cas humanas (Correlação Clínica 2.6), também podem comprimento, e tem um único cromossomo com 4,6 ×
ocorrer por esse mecanismo. 106 pb, com um comprimento de contorno de 1,5 mm.
Uma única célula diploide humana contém 6 × 109 pb
no DNA cromossômico organizado em 46 cromossomos.
2.4 ESTRUTURA DE ORDEM O comprimento de contorno desse DNA aproxima-se de
2 m, empacotados em um núcleo de cerca de 10 μm de
SUPERIOR DO DNA diâmetro. É claro que o DNA de todos os organismos
deve ser extraordinariamente empacotado.
Com exceção dos vírus que contêm RNA, toda vida
na Terra usa DNA para armazenar informação genética.
O comprimento do DNA varia de espécie para espécie,
em faixas que vão de poucos milhares de pares de ba O DNA Genômico Pode Ser Linear
ses para vírus pequenos, até milhões de pares de bases ou Circular
em bactérias, e bilhões de pares de bases em plantas
e animais. Em todos os organismos, o comprimento Com exceção de alguns pequenos bacteriófagos,
de contorno (comprimento do DNA considerando-se como ϕΧ174, que podem adquirir uma forma de fita-úni
uma dupla-hélice em forma-B) do DNA genômico é ge ca, a maioria dos DNAs existe como complexos de du
ralmente muito maior do que o tamanho da célula que pla-hélice. Dependendo da fonte, os complexos podem
o contém. Por exemplo, um vírus de tamanho médio, ser lineares ou circulares. Por exemplo, os DNAs de vá
como o fago λ, contém 4,8 × 104 pb no DNA, que tem rios vírus pequenos são hélices lineares de dupla-fita.
16,5 mm de comprimento. Entretanto, a partícula viral Alguns desses DNAs contêm quebras internas simples
tem apenas 0,19 mm de comprimento. A bactéria co -fita, de ocorrência natural. A estrutura em dupla-hélice
52 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.6

Expansão de Repetições de Tripletes de DNA e Doença Humana

A presença de sequências reiteradas de três pares são do triplete interfere com o funcionamento normal
de bases de DNA ocorre em várias doenças genéticas da proteína relacionada. Frequentemente há perda de
humanas, incluindo a síndrome do X frágil (OMIM função da proteína, mas, ocasionalmente, um ganho ou
300624), a distrofia miotônica (OMIM 160900), a atro função deletéria ocorrem. Essas doenças são caracteri
fia muscular espinal e bulbar ligada ao X (síndrome de zadas por um aumento na gravidade da doença em gera
Kennedy), a ataxia de Friedrich e a doença de Hunting ções sucessivas, o que é chamado antecipação.
ton (OMIM 143100). Essas doenças estão associadas à
expansão de repetições de tripletes de nucleotídeos que Expansão de tripletes pode resultar de pareamento
aparecem em, ou próximos de, genes específicos. Verifi deslizado errado durante a síntese do DNA. Em virtude
cou-se que a doença de Kennedy contém uma repetição da enorme amplificação que caracteriza essas doenças,
CAG no primeiro éxon do gene do receptor de andróge deslocamentos repetidos ou múltiplos deveriam estar
no. Tripletes repetidos também foram encontrados em envolvidos para explicar o alto grau de expansão. Um
regiões não-traduzidas do gene: na ataxia de Friedrei possível mecanismo envolve o deslizamento do DNA
ch, GAA repetido é encontrado dentro de um íntron, e nascente durante a síntese da fita tardia. Esse processo
na distrofia miotônica, uma repetição CTG é encontrada pode ser ajudado pela formação de uma estrutura em
na região 3!-não-traduzida de seu gene. A síndrome do grampo (hairpin) estável pela alça que deslizou. Repe
X frágil, uma das principais causas de retardo mental, tição desse processo leva ao acúmulo de grande número
caracteriza-se por expansão do triplete GCC no lado 5! de tripletes repetidos.
do gene FMR-1. Essa repetição expande-se de 30 cópias
para milhares de cópias. A doença desenvolve-se quan Mirkin, S. Expandable DNA repeats and human disease. Na
ture 447:932, 2007; e Patel, P. I. e Isaya, G. Friedreich Ataxia:
do a expressão normal do gene FMR-1 é desligada por
From GAA triplet-repeat expansion to frataxin deficiency. Am.
metilação de sítios CpG. Em todos os casos, a expan J. Hum. Genetics. 69:15, 2001.

Fita descontínua

Replicação

Tripletes repetidos

Fita lider

Grampo de deslizamento

é mantida porque as quebras em uma fita são geralmen cleotídeos lineares. Suspeitou-se da natureza circular
te em localizações diferentes das encontradas na fita do DNA fita única do fago ϕΧ174 por estudos que mos
complementar. Os DNAs da maioria dos organismos su traram que nenhuma extremidade estava disponível
periores também são lineares. Cada um dos 46 cromos para reagir com éxonucleases. Além disso, a clivagem
somos de uma célula humana diploide é um DNA linear com endonuclease em um único ponto gerava só um
em dupla-hélice, complexado com proteínas. polinucleotídeo. Esses resultados foram mais tarde
confirmados por observação direta à microscopia ele
O DNA circular resulta da formação de ligações trônica.
fosfodiéster entre as extremidades 3! e 5! de polinu
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 53

5! 3! 3! 5! de 200-1.500 × 103 pb, que codificam proteínas especí


ficas, usadas pelas organelas (p. 600). A presença de
um genoma independente e a grande similaridade com
DNA linear de dupla-fita
cianobactérias levaram à hipótese de que essas organe
las teriam surgido há bilhões de anos, de uma relação
5! 5!
3! simbiótica entre células protoeucarióticas e bactérias.
3!

DNA O DNA É Super-Helicoidal


ligase
DNA dupla-fita circular, formado pela ligação das
extremidades livres de um DNA linear é relaxado; isto
é, tem a estrutura termodinamicamente favorável do B
DNA em círculo aberto DNA em círculo fechado -DNA. Esse DNA relaxado tem atividade muito reduzi
da na replicação, na tradução e na recombinação. A for
FIGURA 2.32 Circularização do DNA l. ma biologicamente ativa do DNA é super-helicoidal, um
O DNA do bacteriófago existe em formas linear e circular, que são isômero topologicamente tensionado, criado por menor
interconversíveis. A circularização do DNA λ é possível porque ou maior enrolamento da dupla hélice. Antes da circu
as extensões 5! da forma linear são sequências complementares.
larização de um DNA linear na forma B, a dupla hélice
contém cerca de 10,5 pb por volta completa. Se o DNA
Alguns organismos têm DNAs que são lineares ou for desenrolado antes de fechar, a estrutura resultante
circulares em diferentes pontos de seus ciclos de vida. será tensionada (Figura 2.33). O desenrolamento reduz
Antes de entrar em E. coli, o DNA do fago λ é linear, com o número total de voltas helicoidais presentes na estru
extensões de fita única nas extremidades 5!. Essas ex tura circular. O desenrolamento da hélice pode ser aco
tensões têm cerca de 20 nucleotídeos de comprimento e modado por quebra no pareamento de bases em uma
têm sequências complementares. Na infecção, ocorre cir pequena região, para produzir um par de alças fita-sim
cularização por hibridização das extremidades entre si. ples numa estrutura circular relaxada. A perda de em
A formação de ligações fosfodiéster entre as extremida pilhamento de bases nessa estrutura é energeticamen
des 3! e 5! de cada fita pela DNA ligase produz um círculo te desfavorável. Entretanto, se todo o empilhamento de
fechado covalentemente (Figura
2.32). As fitas de um DNA circu
lar não podem ser separadas irre
versivelmente por desnaturação
porque elas existem como círculos Os pares de bases se reúnem
fechados entrelaçados. A ausência novamente e um superenrolamento
para a direita (negativo) é
de extremidades 3! e 5! confere ao
sistência a antibióticos. Os plas- Umavolta da formado para compensar
DNA
a
gevidade
exonucleases,
A circular
maioria
do DNA.
completa
dos
aumentando
DNAsresistência
bacteria
a lon- Ligação das o aumento
hélice é extremidades de tensão.
desenrolada livres

nos existe exclusivamente como


círculos fechados. Estes incluem
os cromossomos bacterianos e os DNA circular DNA circular com
DNAs extracromossômicos meno parcialmente um superenrolamento
desenrolado para a direita
res, plasmídeos. Os últimos têm
(negativo)
poucos milhares de pares de ba
ses de comprimento e codificam
genes acessórios, como os de re
DNA normal
linear parcialmente
DNA linear

mídeos são mantidos e replicados desenrolado


separadamente do DNA cromos
sômico, e podem estar às cente
nas em uma bactéria. DNA circu FIGURA 2.33 Superenrolamento negativo do DNA.
lar também existe em organismos Superenrolamentos para a direita (DNA com superenrolamento negativo) são formados se
DNA relaxado for parcialmente desenrolado. Desenrolamento pode levar a ruptura de pon
superiores. Leveduras também tes de hidrogênio ou pode produzir superenrolamentos negativos. Os superenrolamentos
podem carregar plasmídeos cir negativos são formados para compensar o aumento de tensão que é gerado quando pares
culares. Mitocôndrias e cloroplas de bases rompidos são formados.
tos de células de organismos su Redesenhado de Darnell, J., Lodish, H. e Baltimore, D. Molecular Cell Biology, New York:
periores contêm DNAs circulares Freeman, 1986.
54 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

bases for mantido, o desenrolamento gera uma tensão


de torção no esqueleto da dupla hélice. Enrolar o DNA
circular inteiro na direção oposta à da rotação original,
alivia a tensão. Isso resulta na formação de uma mola (a)
torcida, mais conhecida por super-hélice. DNA menos
enrolado é chamado super-hélice negativa, e a super
-hélice resultante gira para a direita (Figura 2.34). Ao
contrário, DNA mais enrolado tem super-hélice positiva
e forma uma super-hélice que gira para a esquerda.

Embora a forma circular fechada do DNA seja ide


al para adquirir a estrutura em super-hélice, qualquer
segmento de DNA dupla-fita que seja imobilizado em
ambas as extremidades pode ser super-helicoidal. O
DNA de células eucarióticas, por exemplo, pode adqui
rir uma forma super-helicoidal porque sua ancoragem (b)
a proteínas nucleares cria vários domínios topológicos
fechados. Um domínio topológico é definido como um
segmento de DNA contido de tal maneira que restrinja
a rotação da dupla-hélice (Figura 2.35).

Em geral, seja o DNA circular ou linear, a existência


de super-hélice negativa parece ser uma característica
importante. O superenrolamento promove empacota
mento do DNA dentro do pequeno espaço da célula,
(c)
facilitando a formação de estruturas compactas. Super
-hélices também tendem a gerar regiões com pontes de
FIGURA 2.35 Modelo em super-hélice do DNA.
hidrogênio rompidas (bolhas), que podem ser úteis na Uma fita de elástico pode demonstrar as propriedades topoló
facilitação de processos de separação localizada de fitas gicas do DNA circular dupla-fita. (a) A forma relaxada da fita.
do DNA durante o reparo, a síntese e a recombinação (b) A fita pode ser torcida para gerar dois domínios topológicos
do DNA. distintos, separados pelo par de “âncoras polegar-indicador”.
Voltas para a esquerda (anti-horárias) são introduzidas na par
te superior da fita, com voltas para a direita (horárias) com
pensatórias na parte inferior. (c) Quando
as “âncoras” aproximam-se uma da outra, a
parte superior que continha as voltas para
a esquerda forma uma super-hélice que
gira para a direita. A parte inferior produz
uma super-hélice que gira para a esquerda.
A super-helicidade não é uma propriedade
da molécula de DNA como um todo, mas
uma propriedade de domínios específicos
do DNA.
Redesenhado de Sinden, R. R. e Wells, R. D.
DNA structure, mutations, and human ge
netic disease. Curr. Opin. Biotech. 3:612,
1992.

Super-hélice para a Hélice circular Super-hélice para a


direita (negativa) relaxada esquerda (positiva)

FIGURA 2.34 DNA relaxado e superenrolado.


O DNA relaxado pode ser convertido em DNA superenrolado para a direita ou para
a esquerda. O DNA que gira para a direita (DNA com superenrolamento negativo) é
a forma normalmente presente nas células. O DNA girando para a esquerda pode ser
gerado transitoriamente quando o DNA é submetido a transformações catalisadas
por enzimas (replicação, recombinação etc.) e está presente em certas espécies de
bactérias. Os padrões nitidamente diferentes de enrolamento de DNA que gira para a
direita ou para a esquerda são visíveis nessa representação.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 55

Topoisomerases Topoisomerases I fazem uma quebra transitória em


uma fita de um DNA dupla-hélice superenrolado; a pas
Topoisomerases regulam a formação de super-hé sagem da fita não-quebrada pela falha elimina um supe
lices. Essas enzimas catalisam a quebra e a religação renrolamento do DNA (Figura 2.36). Durante a reação,
coordenada de fitas de DNA, produzindo um DNA que a enzima permanece ligada ao DNA por uma ligação
é mais ou menos super-helicoidal do que o original (Ta covalente entre um resíduo tirosil e um grupo fosforil
bela 2.4). A regulação precisa do nível celular de super no ponto da incisão. Isso conserva a energia da ligação
-helicidade do DNA é importante para facilitar as inte fosfodiéster interrompida para o reparo subsequente da
rações de proteínas com o DNA. A razão celular entre incisão. As duas subclasses de topoisomerase I diferem
ATP e ADP pode desempenhar um papel nesse proces na formação de ligação 5!-fosfotirosina (classe IA) ou
so, porque influencia a atividade de algumas topoisome 3!-fosfotirosina (classe IB).
rases. Compostos que inibem topoisomerases e girases
são eficientes agentes antibacterianos e antitumorais
(Correlação Clínica 2.7).

TABELA 2.4 Propriedades das DNA Topoisomerases


Topoisomerase Tipoa Funções
Topoisomerase I de E. coli (top A)b IA Relaxa DNA com superenrolamento negativo
Topoisomerase III de E. coli (top B) IA Relaxa DNA com superenrolamento negativo, atividade de
decatenação (desligamento).
Topoisomerase III eucariótica (top 3) IA Possível papel na recombinação e/ou na decatenação de
cromossomos?
DNA girase reversa de Archae IA Introduz superenrolamento positivo no DNA
DNA
(top 1)
topoisomerase I eucariótica IB Relaxa DNA com superenrolamento positivo ou negativo

DNA topoisomerase de Vaccinia (vírus da


varíola) IB Relaxa DNA com superenrolamento positivo ou negativo;
liga-se especificamente a sequências superenroladas do
DNA.
DNA girase de E. coli (gyrA, gyrB) II Introduz superenrolamentos negativos no DNA, relaxa DNA
com superenrolamento positivo ou negativo.
Topoisomerase IV de E. coli (parC, parE) II Decatenação de cromossomos durante a replicação; relaxa
DNA com superenrolamento negativo.
DNA topoisomerase II eucariótica (top 2) II Decatenação de cromossomos ligados; relaxa DNA com
superenrolamento positivo ou negativo.
aTopoisomerases tipo I usam Mg2+ como cofator, mas não requerem ATP. Topoisomerases tipo II requerem Mg2+ e ATP.
bO nome do gene que codifica a topoisomerase é apresentado em itálico.

Quebra de uma A fita intacta passa As extremidades da


fita do DNA através da quebra fita quebrada são ligadas

(a) (b) (c) (d)

FIGURA 2.36 Mecanismo de ação da topoisomerases I.


Topoisomerases I relaxam DNA (a) ligando-se a ele e separando localmente as fitas complementares; então, (b) cortam uma das
fitas e ligam-se às extremidades recém-geradas; e (c) passam a fita intacta através da falha gerada pela quebra e fecham a fenda por
restauração da ligação fosfodiéster. Isso gera e origina uma estrutura relaxada (d).
Redesenhado de Dean, F. et al. Cold Spring Harbor Symp. Quant. Biol. 47:773, 1982.
56 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.7

Topoisomerases no Tratamento de Doenças

Topoisomerases são importantes alvos para agentes antibióticos inibem seletivamente a DNA girase e a to
antimicrobianos e antineoplásicos. Essas drogas não poisomerase IV bacterianas. Quinolonas ligam-se aos
inibem a atividade total da enzima, como no caso da complexos formados por essas enzimas e inibem a re
maioria das drogas direcionadas a enzimas. Em vez dis plicação do DNA. No final, morte celular ocorre devi
so, inibem o complexo imediato entre a topoisomerase da ao acúmulo de quebras de dupla fita letais no DNA
e o DNA. Isso pode resultar na degradação do DNA, na bacteriano. Como essas enzimas não encontradas em
introdução de mutações ou na inibição da tradução e da células eucarióticas, as quinolonas são muito seletivas
replicação. em sua ação citotóxica. Fluoroquinolonas, como cipro
floxacin, apresentam boa atividade contra bactérias
No tratamento do câncer, ambas as topoisomerases Gram-negativas e Gram-positivas, enquanto drogas
I e II podem ser alvos. Camptotecina e seus derivados mais novas apresentam atividades ainda mais amplas.
agem sobre a topoisomerase I. Uma excelente correlação Por exemplo, gemifloxacin (Factive®) é especialmente
foi observada entre a atividade antitumoral de vários de útil no tratamento de infecções respiratórias, incluindo
rivados da camptotecina sobre a leucemia murina e sua as de Staphylococcus pneumoniae, Mucoplasma e
interferência com a atividade da topoisomerase. Podem Legionella resistentes a múltiplas drogas.
causar lesões potencialmente letais por formarem com
plexos covalentes de clivagem do DNA estabilizados pela OH
droga. Replicação subsequente do DNA pode ser um pré H3CO OCH3
-requisito para a toxicidade celular. A eficácia dos deri
vados de camptotecina pode ser aumentada por níveis O H O
N O
aumentados de topoisomerase I nas células tumorais, N O
como no câncer de cólon avançado. Dois outros potentes O O
H
agentes antineoplásicos, amsacrina e etoposídeo, agem O
OOH O
seletivamente sobre a topoisomerase II e indicam que es H 3C
H 3C O
sas drogas clinicamente úteis estabilizam os complexos OH

covalentes de clivagem topoisomerase II-DNA. Evidência O


OH
indireta sugere que essas drogas possam estimular a for captotecin etoposídeo
mação desses complexos. As quebras de DNA mediadas
O O
pela topoisomerase II podem exercer seu efeito citotóxi
F COOH F COOH
co na ausência de síntese de DNA, provavelmente pela
indução de recombinação e mutação no local de forma N N N N N
OH 3C
ção dos complexos topoisomerase II-DNA induzidos pela N N
H
droga. Muitos agentes anticâncer, incluindo as antracicli
nas (incluindo adriamicina e doxorubicina), intercalado NH2

res sintéticos, elipticinas e podofilotoxinas também têm ciprofloxacin gemifloxacin

topoisomerase II como alvo. Neoplasias hematológicas,


tais como leucemias linfoide e não-linfoide, linfomas não Potmesil, M. e Kohn, K. W. (Eds.). DNA Topoisomerases in
Hodgkins avançados e doença de Hodgkin são tratados Cancer. New York: Oxford University Press, 1991; Pommier,
principalmente por combinações de inibidores de topoi Y. Topoisomerase I inhibitors: camptothecins and beyond. Na
somerase II com ou sem agentes tóxicos adicionais. ture Rev. Cancer 6:789, 2006; Hopper, D.C. Clinical applica
tions of quinolones. Biochem. Biophys. Acta 1400:45, 1998;
Ciprofloxacin (Cipro®) obteve considerável atenção Mitscher, L. A. Bacterial topoisomerase inhibitors: Quinolone
da mídia por seu uso no tratamento da inalação de an and pyridine antibacterial agents. Chem. Rev. 105:559, 2005;
trax. É um representante das quinolonas, uma classe e Oliphant, C. M. e Green, G. M. Quinolones: A comprehensive
de agentes antibacterianos de amplo espectro. Esses review. Am. Fam. Physician 65:455, 2002.

Topoisomerases II são proteínas diméricas que se xamento. As girases, um subgrupo de topoisomerases


ligam a DNA dupla-hélice e clivam ambas as fitas (Figu tipo II, são as únicas enzimas que adicionam superen
ra 2.37). A passagem de outro segmento de DNA dupla rolamento negativo no DNA. Elas ocorrem somente em
-hélice através da quebra remove ou adiciona dois supe bactérias; eucariotos usam o enrolamento do DNA em
renrolamentos. Todas as topoisomerases II eucarióticas torno de proteínas cromossômicas para a introdução
e muitas procarióticas só relaxam DNA superenrolado. de superenrolamentos negativos. A reação da girase
A hidrólise de ATP é necessária para o ciclo (turnover) requer hidrólise de ATP como fonte de energia e pode
da enzima, mas não realmente para a reação de rela adicionar superenrolamento negativo a uma velocidade
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 57

e cadaverina), RNA e proteínas não-his


tonas (Figura 2.38). HU é um hetero
Sela
Estabiliza Quebra novamente dímero de 18 kDa de duas subunidades
o nó (+) o a quebra
(–)
quase idênticas (HU-1 e HU-2). Quando
positivo segmento pela frente
se liga, HU muda a forma e o superenro
lamento do DNA. In vitro, a ligação de
Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3
(–) (–) (–) HU compacta o DNA e restringe o supe
renrolamento de modo concentração
-dependente. Numa razão equimolar,
a interação do DNA com HU impede a
topoisomerase I de relaxar o DNA supe
FIGURA 2.37 Mecanismo de ação da topoisomerases II. renrolado negativamente no complexo
Topoisomerases II podem relaxar ou, no caso de girases, introduzir super-hélices DNA-HU. Concentrações mais altas de
negativas no DNA. O mecanismo de ação da girase é ilustrado usando a conversão de HU não resultam em superenrolamen
uma molécula de DNA relaxada em uma molécula que contém os primeiros dois su tos adicionais. Parece que HU dobra
perenrolamentos, um positivo e um negativo (etapa 1). A passagem de um segmento
acentuadamente o DNA num círculo
de DNA através do superenrolamento positivo mostrado na parte mais à direita da
figura (etapa 3) produz uma molécula que contém dois superenrolamentos negati apertado e é primariamente respon
vos. Esta reação requer hidrólise de ATP como fonte de energia. sável pela formação de uma estrutura
Redesenhado de Brown, P.O. e Cozzaelli, N.R. Science 206:1081, 1979. nucleoide em “bolinhas”. No nucleoide,
uma única molécula superenrolada de
de cerca de 100 por minuto. A girase liga-se ao DNA DNA é organizada em cerca de 40 alças, cada uma com
em uma conformação que introduz uma alça super-heli aproximadamente 105pb, que se funde em um arcabou
coidal positiva e negativa, deixando o estado topológico ço rico em proteínas e RNA. A participação do RNA no
do DNA inalterado. Quebra da dupla fita e passagem do empacotamento de cromossomos é exclusiva de proca
DNA através da incisão introduz dois superenrolamen riotos. Como resultado da formação de um nucleoide,
tos negativos. o genoma bacteriano pode facilmente caber dentro de
uma célula.
Topoisomerases também catalisam outras isomeri
zações topológicas. Topoisomerases tipo III bacterianas
têm propriedades de topoisomerases tipo I; isto é, rela
xam superenrolamento sem necessidade de uma fonte
de energia, como hidrólise de ATP. Essas topoisome
rases podem ter se especializado na separação de pro
dutos entrelaçados de DNA circular (catenatos), que
são gerados antes do término da replicação do DNA.
Girases reversas, membros de uma classe incomum de
topoisomerases, foram isoladas pela primeira vez de
archaebactérias. Essas girases introduzem superenro
lamentos positivos no DNA, que podem protegê-lo das
condições desnaturantes de altas temperaturas e aci RNase DNase
dez, nas quais essas bactérias existem.

Empacotamento do DNA
Procariótico
Em células procarióticas, o único cromossomo é um
DNA dupla-fita, circular e superenrolado. Cromossomos
bacterianos são estruturas dinâmicas, refletindo a ne
cessidade de rápida síntese de DNA, divisão celular e
transcrição. Entretanto, em uma bactéria comum como FIGURA 2.38 Cromossomos bacterianos são empacotados
E. coli, o comprimento de contorno do DNA é mais de em nucleoides.
750 vezes maior do que o comprimento da célula. Por O cromossomo circular de uma bactéria é compactado em
tanto, o DNA deve estar empacotado em uma forma cerca de 40-50 alças de DNA superenrolado organizadas por
um arcabouço de RNA-proteína. A DNase relaxa a estrutura
muito condensada para caber dentro da célula. Os cro
progressivamente, abrindo as alças individuais, uma de cada
mossomos bacterianos são organizados em estruturas vez. A RNase desdobra completamente o cromossomo em uma
compactas, chamadas nucleoides, por interação com única etapa, rompendo o centro do nucleoide.
proteínas HU e H-NS e participação de vários cátions, Redesenhado de Worcel, A. e Burgi, E. J. Mol. Biol. 71:127,
poliaminas (como espermina, espermidina, putrescina 1972.
58 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Organização da Cromatina nas H1, H2A, H2B, H3 e H4. Por causa de seu conteúdo
extraordinariamente elevado dos aminoácidos básicos
Eucariótica lisina e arginina, as histonas são muito catiônicas e in
teragem com os fosfatos do esqueleto polianiônico do
O enorme comprimento do genoma da maioria dos DNA para produzir nucleoproteínas sem carga. As se
eucariotos requer a divisão da informação genética em
quências de aminoácidos das histonas são muito con
vários cromossomos independentes. Células humanas
servadas entre as espécies. Histonas H4 de ervilhas e
contêm 23 pares de cromossomos, com um compri de vacas diferem em apenas dois aminoácidos, embora
mento médio de 1,3 × 108 pb, ou aproximadamente 43
essas espécies tenham divergido há mais de um bilhão
mm. Cada cromossomo humano consiste de uma mo de anos. Histonas H3 são também muito conservadas,
lécula de DNA, variando em tamanho de 263 × 106pb
enquanto as regiões não-básicas das histonas H2A e
para o cromossomo 1 até menos de 50 × 106 pb para o
H2B são menos conservadas. H1 é maior, mais básica
cromossomo Y. Para que essa quantidade de DNA cai
e, de longe, a histona mais tecido-específica e espécie
ba dentro de um núcleo celular, com um diâmetro de
-específica. Em alguns tipos celulares de vertebrados,
aproximadamente 10-20 μm, há necessidade de uma uma sexta histona, H5, funciona como substituta de
razão de condensação superior a cinco ordens de gran
H1. Um grupo heterogêneo de proteínas com alta espe
deza (Figura 2.39).
cificidade para espécie e órgão também está presente
na cromatina. Essas proteínas não-histonas consistem
O DNA em células eucarióticas está associado a
várias proteínas para formar a cromatina. Em células de centenas de membros, a maioria dos quais presente
em quantidades muito pequenas. Muitas delas estão
que não estão se dividindo (interfase), a cromatina é
amorfa e dispersa por todo o núcleo. Imediatamente associadas com funções dos cromossomos como repli
antes da divisão celular (metáfase), torna-se organi cação, expressão gênica e organização cromossômica.
zada em estruturas muito compactas chamadas cro
mossomos. Cada cromossomo caracteriza-se por um
centrômero, que é o local para adesão de proteínas Nucleossomos e Polinucleossomos
que ligam o cromossomo ao fuso mitótico. Os telô
As histonas interagem com o DNA para formar uma
meros definem as extremidades de cromossomos li
neares. Os cromossomos também contêm sequências estrutura periódica “contas num fio”, chamada polinu
necessárias ao início da replicação do DNA (origens cleossomo, no qual a unidade elementar é um nucleos
de replicação). somo (Figura 2.40). Cada nucleossomo tem forma de
disco, cerca de 11 nm de diâmetro e 6 nm de altura, e
Histonas são as proteínas mais numerosas da cro consiste de um segmento de DNA e um grupo de his
matina. Existem cinco classes dessas proteínas: histo tonas composto de duas moléculas de cada uma das
histonas H2A, H2B, H3 e H4. Cada
grupo octamérico consiste do te
Nucleofilamento Arcabouço proteico trâmero (H3)2—(H4)2 com dois
de 10 nm
dímeros H2A—H2B. Cada histo
na caracteriza-se por um domínio
H1
central não-polar, que forma uma
1 µm
Fibra de 30 nm estrutura globular e é responsável
Octâmero Cromatina depletada pelas interações histona-histona.
de histonas de histona H1
As regiões N-terminais vizinhas
contêm a maior parte dos resíduos
de aminoácidos carregados posi
tivamente, os quais permitem in
terações eletrostáticas favoráveis
com o DNA. Essas sequências de
(todas as histonas
DNA nuremovidas)
cauda parecem se estender radial
mente para fora do cerne de histo
nas e podem estar envolvidas nas
interações entre nucleossomos. O
DNA é enrolado em torno do octâ
Cromossomo
metafísico mero com o cerne central (H3)2—
(H4)2 interagindo com os 70–80
FIGURA 2.39 Organização do DNA em cromossomos. pb centrais do DNA que o circunda
Um desenho mostrando a condensação passo a passo do DNA em cromatina. O DNA (Figura 2.41). Aproximadamen
inicialmente se enrola em torno de histonas do cerne (core) do nucleossomo. A con te 146 pb do DNA enrolam-se em
densação com histona H1 produz o nucleofilamento de 10 nm, que é subsequentemente
torno do octâmero de histonas. As
empacotado numa estrutura torcida, com alças, ligada a um arcabouço de proteínas no
cromossomo. histonas ficam em contato com a
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 59

fenda menor do DNA e deixam a fenda maior disponí Tal enrolamento remove aproximadamente uma
vel para interação com as proteínas que regulam a ex volta de hélice do DNA, gerando um superenrolamento
pressão gênica e outras funções do DNA. A estrutura negativo na região enrolada em torno do cerne de histo
do cerne dos nucleossomos explica porque as células nas, e um superenrolamento positivo compensador em
eucarióticas não têm girases, que podem desenrolar outro lugar da molécula. O relaxamento subsequente do
DNA relaxado. Super-helicidade negativa é introduzi superenrolamento positivo por topoisomerases eucari
da quando o DNA faz uma volta em torno do centro de óticas deixa um superenrolamento negativo na região
histonas (Figura 2.42). nucleossômica.

DNA
Octâmero
de histonas
DNA

Cerne de
histonas

H1 65 Å

Superenrolamento
negativo ligado

Superenrolamento
positivo não-ligado

FIGURA 2.40 Modelo do complexo nucleossomo.


topoisomerase
O nucleossomo consiste de aproximadamente 146 pb de DNA,
correspondendo a 1¾ voltas da super-hélice, enroladas em tor
no de um octâmero de histonas. O cromatossomo consiste de
cerca de 166 pb de DNA (duas voltas super-helicoidais). A his
tona H1 é associada com o DNA de ligação (linker).
Reproduzido com permissão de Voet, D. e Voet, J. G., 3. ed.,
New York, Wiley, 2004 (2004) Donald e Judith Voet. Um superenrolamento
positivo (final)

FIGURA 2.42 Geração de superenrolamento negativo em


DNA eucariótico.
A ligação de um octâmero de histonas a um domínio fechado,
relaxado de DNA força o DNA a se enrolar em torno do octâ
mero, gerando um superenrolamento negativo. Na ausência
de qualquer quebra da fita, o domínio permanece intacto e
um superenrolamento positivo compensatório deve ser gera
do em outro local do domínio. A ação de uma topoisomerase
eucariótica subsequentemente relaxa o superenrolamento
positivo, deixando o domínio fechado com um superenrola
mento negativo.

Entre nucleossomos, existem 20 a 90 pb de DNA


de ligação (linker). Este fica associado com histona
H1, que trava o DNA enrolado no lugar; o complexo
resultante é um cromatossomo (Figura 2.40). A pe
riodicidade da distribuição de nucleossomos ao longo
da estrutura do polinucleossomo foi determinada por
digestão controlada com uma nuclease que ataca pre
FIGURA 2.41 Estrutura por raios-X do cerne (core) do ferencialmente DNA linker. A distribuição dos nucle
nucleossomo.
ossomos não é aleatória com relação à sequência de
O disco do cerne do nucleossomo foi dividido ao meio para
mostrar uma volta do DNA enrolado em torno de quatro mo
bases do DNA. O DNA não se dobra uniformemente,
mas dobra-se um pouco e depois mais acentuadamen
léculas de histonas. As linhas tracejadas representam partes
não-estruturadas das caudas das histonas. te em torno do octâmero de histonas. Isso sugere que
Reproduzido com permissão de Kornberg, R.D. e Lorch, Y. Cell a ligação ao DNA seja dependente da sequência e que
98:285, 1999. o posicionamento dos nucleossomos possa ser influen
60 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

ciado pela sequência do DNA. De fato, nucleossomos Os modelos de níveis superiores de empacotamento
tendem a se formar preferencialmente em certas regi das fibras de 30 nm são baseados em evidências indi
ões do DNA. DNA que contém longas sequências de A retas obtidas com cromossomos plumulosos de oócitos
ou repetições G-C geralmente não forma nucleossomos. de vertebrados e cromossomos politênicos de células
Ao contrário, certas regiões dobradas do DNA como, secretoras gigantes de mosca de frutas. Esses cromos
por exemplo, trechos em fase A periódica, associam-se somos são excepcionais porque mantêm estruturas de
fortemente com histonas. Octâmeros de histonas po ordem superior, precisamente definidas, na interfase,
dem migrar ao longo da fita de DNA. Essa mobilidade isto é, quando células estão em estado de repouso (não
permite o acesso ao DNA pelas polimerases e outras -divisão). Por extrapolação, as características estrutu
proteínas necessárias à transcrição e à replicação. rais dos cromossomos interfásicos plumulosos levaram
a se propor que os cromossomos em geral são organiza
dos em uma série de domínios em alças, condensados,
de fibras de 30 nm de tamanhos variados para diferen
Empacotamento de Polinucleossomos em tes organismos. Essas alças podem conter de 5.000 a
Estruturas Superiores 120.000 pb, com uma média de 20.000. Assim, o genoma
humano haploide conteria cerca de 60.000 alças. Uma
O enrolamento do DNA em torno de histonas para alça pode conter alguns poucos genes ligados. As alças
formar nucleossomos resulta em uma redução de dez firam ligadas a um arcabouço proteico consistindo de
vezes no comprimento aparente do DNA e na forma
ção de um nucleofilamento de 10 nm. A condensação histona H1 e diversas proteínas não-histonas, incluindo
duas proteínas principais de arcabouço (scaffold) Sc1
de nucleofilamentos de 10 nm em um arranjo em so
(uma topoisomerase II) e Sc2.
lenoide, envolvendo seis ou sete cromatossomos por
volta, forma a fibra de 30 nm (Figura 2.43). Molécu São fixadas em suas bases e podem, portanto, acu
las de histona H1 ligam-se cooperativamente entre si, mular superenrolamentos. Regiões específicas ricas em
aproximando mais os nucleossomos vizinhos na fibra AT, conhecidas como regiões de adesão ao arcabouço
de 30 nm. Em concentrações salinas fisiológicas, as (SARs, scaffold attachment regions) ficam preferen
fibras de 30 nm formam-se espontaneamente, mas, cialmente associadas com o arcabouço. SARs também
em força iônica mais baixa, dissociam-se em nucleo contêm pontos para ligação de topoisomerase II. A pre
filamentos de 10 nm. A formação dos polinucleosso sença das topoisomerases sugere que alterações no su
mos e sua condensação em fibras de 30 nm dá uma perenrolamento dentro desses domínios sejam biologi
razão de compactação do DNA de até duas ordens de camente importantes. A formação de domínios em alça
grandeza. As fibras de 30 nm formam-se apenas em pode ser responsável por uma condensação adicional de
regiões específicas do DNA, que se caracterizam pela 200 vezes no comprimento do DNA, e uma razão de em
ausência de ligação com outras proteínas não-histo pacotamento geral de mais de quatro ordens de grande
nas sequência-específicas. A presença destas e seus za. Cada alça pode ser enrolada e, depois, superenrola
efeitos sobre a formação das fibras de 30 nm podem da em 0,4 mm de fibras de 30 nm. Como um cromossomo
depender do estado transcripcional das regiões de tem cerca de 1 mm de diâmetro, o empacotamento da fi
DNA envolvidas. bra de 30 nm em uma cromátide requereria apenas mais
uma ordem de dobramento. Mais compactação pode ser
conseguida dispondo-se as alças de fibras
1 mM aumentando a força iônica 100 mM de 30 nm em espirais helicoidais densa
mente empilhadas. As cromátides, os dois
Fibra de 30 nm
ou solenoide braços ligados do DNA replicado nos cro
Nucleofilamento de 10 nm mossomos metafásicos muito condensa
dos, podem consistir de alças de fibras de
30 nm empacotadas de modo helicoidal.

Alterações no empacotamento em vá
rios estágios do ciclo celular parecem ser
H1
controladas, em parte, por modificação
covalente das histonas do cerne (core)
(remodelamento de histonas). Acetilação
DNA reversível do grupo e-amino de resíduos de
lisina e fosforilação de resíduos de serina
FIGURA 2.43 Estrutura do nucleofilamento. e treonina estão envolvidas na regulação
A histona H1 ligada às regiões de ligação (linker) entre os nucleossomos resulta da atividade do DNA em nucleossomos.
na condensação em fibras de 10 nm. Em forças iônicas mais altas, o nucleofila
Essas modificações reduzem o número
mento forma uma estrutura helicoidal muito compacta ou um solenoide helicoi
dal. As histonas H1 interagem fortemente entre si nessa estrutura. de cargas positivas nas histonas, fazendo
Adaptado de Kornberg, R.D. e Klug, A. The Nucleosome. San Diego, CA: Aca que se liguem menos fortemente ao DNA.
demic, 1989. O desempacotamento resultante das fibras
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 61

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.8

Tratamentos Epigenéticos para o Câncer

A progressão para o câncer pode envolver altera Existe também um componente dietético em po
ções epigenéticas que afetam processos que incluem tencial para o controle epigenético do câncer. Ácidos
progressão no ciclo celular, reparo de danos no DNA e graxos de cadeia curta, como butirato, são gerados pela
morte celular programada (apoptose). Uma dessas al flora bacteriana do intestino grosso e apresentam uma
terações, remodelamento cromossômico, chamou aten fraca capacidade de regular a mitose de células epite
ção como alvo para tratamento do câncer. As histona liais, diferenciação e apoptose. Experimentos demons
deacetilases, enzimas responsáveis pela reversão da traram que o butirato aumenta os níveis de acetilação
acetilação de lisinas e argininas, são superexpressas de histonas, presumivelmente por inibição da histona
em vários tipos de câncer, incluindo de cólon, próstata, desacetilase. Estes dados sugerem que o estado nutri
mama, e colo uterino (cervical). Ácidos hidroxâmicos, cional de um indivíduo pode afetar o código de histonas
como tricostatina A e ácido suberoilanilida hidroxâmi e seu papel no câncer.
co (SAHA) ligam-se a um íon zinco do sítio ativo da en
zima e bloqueiam a desacetilação de lisinas e argininas. Inche, A. G., e LaThangue, N. B. Chromatin contron and can
Esses compostos inibem o crescimento de células tu cer-drug discovery: Realizing the promise. Drug Discov. To
morais e bloqueiam a progressão no ciclo celular. É im day 11:97, 2006; Wang, G. G., Allis, C. D., e Chi, P. Chromatin
portante notar que o SAHA está hoje aprovado para tra remodeling and cancer, part I: Covalent histone modifications.
tamento de linfoma cutâneo de células T, com o nome Trends Mol. Med. 13:363, 2006; Marks, P. A., Richon, V. M.,
Zolinz®. Outras modificações no código de histonas, tal Breslow, R., e Rifkind, R. A. Histone deacetylase inhibitors as
como fosforilação de serina, desempenham papel no re new cancer drugs. Curr. Opin. Oncol. 13:477, 2001; e Gar
finkel, M. D., e Ruden, D. M. Chromatin effects in nutrition,
paro e na estabilidade de cromossomos, e também po
câncer, and obesity. Nutrition 20:56, 2004.
dem ser alvos para drogas antiproliferativas.

N O
NH H
H N
O N OH
OH
O
O

tricostatina A Ácido suberoilanilida hidroxâmico


(SAHA, Zolinza®.)

de 30 nm e a descondensação da cromatina produz a 2.5 SEQUÊNCIA E FUNÇÃO DO


eucromatina frouxamente empacotada, a forma trans
cripcionalmente ativa do DNA. A metilação de cadeias DNA
laterais de aminoácidos básicos (lisina e arginina) pro
move o efeito oposto e, quando acompanhada de aceti O tamanho e a composição média em bases do DNA
lação diminuída, caracteriza uma forma de cromatina variam enormemente entre as espécies. O que torna o
DNA de uma espécie singular é sua sequência de nu
muito condensada, inativa, chamada heterocromatina.
Ao longo do ciclo celular, genes reprimidos permanen cleotídeos. Até recentemente, a determinação direta
das sequências de nucleotídeos do DNA genômico era
temente e outras regiões não-transcritas como centrô
uma tarefa intimidante. A tecnologia desenvolvida em
meros, telômeros e DNA “lixo” ficam condensadas.
conexão com o Projeto Genoma Humano aumentou a
O padrão de modificações covalentes (o código de velocidade na qual sequências de DNA são determina
histonas) permite meios para o ajuste fino da regulação das. Sequências de DNA de mais de 1.000 espécies já
da expressão gênica (Correlação Clínica 2.8). Embora estão disponíveis para análise.
esse código não implique mudanças na sequência do
DNA (ele é epigenético), é hereditário em virtude da
coordenação entre modificação de histonas e metilação Endonucleases de Restrição e
do DNA na posição 5 da desoxicitidina (Figura 2.23).
Palíndromes
Um evento chave que permitiu desenvolvimento de
métodos para sequenciar o DNA genômico foi a desco
berta das endonucleases de restrição bacterianas. Estas
quebram DNA dupla-fita em uma sequência específica,
cortando ambas as fitas (Figura 2.44). Bactérias desen
62 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

conhecimento, enquanto as do
EcoRI 5! .... GAATTC .... 3! 5! ....
3! G5!
.... CC5!
CTTAA5!
GG3!
CTGCA3!
G3! + 5!G ....
5!AATTC
3!ACGTC
3!GG
5!CC
3!G ....
....5!
....5!
3! 5!-
3!- Extremidades
fita única
Prolongamento tipo II quebram o DNA especi
3! .... CTTAAG .... 5!
+
ficamente dentro da sequência
de reconhecimento.

Haelll
Pstl 5! .... CTGCAG
GGCC ........
3! 3! 5! .... Endonucleases de restrição
3! .... GACGTC .... 5! 3! .... reconhecem sequências espe
cíficas que podem ter frequ
ências relativamente baixas;
5! .... elas fragmentam o DNA muito
3! .... CCGG .... 5! 3! seletivamente. Por exemplo,
cegas (ou um DNA bacteriano típico com
niveladas)
3 × 106pbserá clivado em pou
FIGURA 2.44 Tipos de produtos gerados por endonucleases de restrição tipo II. cas centenas de fragmentos.
Enzimas exemplificadas por EcoR1 e PstI cortam em ambos os lados do centro de simetria do DNAs de plasmídeos podem
palíndrome, gerando prolongamentos fita única. Muitas enzimas comumente usadas geram ter poucos ou nenhum sítio de
prolongamentos-5!, embora algumas produzam extremidades com prolongamentos-3!, como clivagem para uma endonucle
mostrado para PstI. Outras endonucleases de restrição cortam através do centro de simetria ase de restrição em particular
da sequência de reconhecimento, produzindo extremidades niveladas ou cegas, como exem
(Figura 2.45). Assim, uma en
plificado por HaeIII.
donuclease de restrição espe
volveram endonucleases de restrição como defesa con cífica gera uma família singular de fragmentos, ou pro
tra infecção por fagos. A clivagem expõe o DNA viral à dutos de restrição, para uma dada molécula de DNA. A
eventual degradação por exonucleases bacterianas ines disponibilidade de enzimas de restrição e o desenvolvi
pecíficas. O DNA bacteriano pode ser protegido da cli mento de técnicas de eletroforese em gel para separar
vagem por metilação sequência-específica. Os sítios de os fragmentos de DNA tornaram a determinação de se
reconhecimento das metilases de restrição correspon quências um assunto simples (ver p. 269).
dem aos das endonucleases. A meti
lação de bases específicas nos sítios
de reconhecimento impede clivagem
pela nuclease cognata. Os sítios mais
comuns de metilação de bases são a
posição 5 da citosina e o grupo 6-NH2
da adenina. Note que a metilação de
bases também é crítica na regulação
gênica em organismos superiores.

Centenas de endonucleases de
restrição foram purificadas. Com
poucas exceções, elas reconhecem
sequências de quatro a seis nucleo
tídeos de comprimento. Endonucle
ases com sítios de reconhecimento
excepcionalmente longos promovem
poucos cortes e são valiosos em vir
tude da relativa baixa frequência
de clivagem em DNAs muito gran
des, como cromossomos eucarió
ticos. Not I, por exemplo, tem uma
sequência de reconhecimento de
oito nucleotídeos. As sequências
reconhecidas são, frequentemente,
repetições simétricas invertidas ou
palíndromes; a ordem das bases é FIGURA 2.45 Mapa de restrição do DNA de plasmídeo.
a mesma quando as duas fitas com O plasmídeo bacteriano pBR322 é um DNA circular de 4.363 pb, contendo uma origem
de replicação (ori) e genes de resistência aos antibióticos ampicilina (Apr) e tetraci
plementares do palíndrome são li
das 5!→3!. Para EcoRI de E. coli, clina (Tcr). As localizações das sequências específicas do DNA que são reconhecidas

a sequência é 5!-GAATTC-3!. Endo por várias endonucleases de restrição estão marcadas. Outras endonucleases podem
quebrar esse plasmídeo muitas vezes ou nenhuma. Por exemplo, a sequência reconhe
nucleases de restrição tipos I e III
cida por Bgl I aparece em três localizações nesse plasmídeo, enquanto Bgl II não cliva
cortam na vizinhança do sítio de re esse plasmídeo.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 63

A Maior Parte do DNA Procariótico revela que genes estruturais – sequências nucleotídicas
que codificam proteínas – nem sempre têm localizações
Codifica Proteínas Específicas físicas exclusivas. Ao contrário, com frequência elas
se sobrepõem umas às outras, como ilustrado pela se
Em procariotos, um grande percentual do DNA co quência parcial do bacteriófago ϕΧ174 (Figura 2.46). A
difica proteínas específicas. O genoma inteiro de E.
sobreposição permite utilização eficiente e econômica
coli consiste de cerca de 4,6 × 106 pb de DNA e contém
do limitado DNA presente e pode controlar a ordem da
~4.200 genes. Nem todos os genes codificam proteínas.
expressão dos genes.
Por exemplo, 80 genes codificam moléculas de tRNA,
e alguns não codificam nenhuma molécula funcional.
O DNA de E. coli é denso em informação de sequên Apenas uma Pequena Percentagem
cias, e há pouca repetição de informações nele. Cerca
de 1% do genoma de E. coli é composto de múltiplas do DNA Eucariótico Consiste de
cópias de sequências repetitivas curtas conhecidas Genes Funcionais
como elementos palindrômicos extragênicos repetiti
vos (REP, repeatead extragenic palindromic). Es Eucariotos têm genomas muito maiores do que pro
tes estão presentes em sítios de interação do DNA com cariotos, de cerca de 1,5 × 107 pb, para leveduras, até
proteínas funcionais, por exemplo, na região de inicia cerca de 1,15 × 1011 pb, para o genoma haploide do lírio
ção da replicação do DNA (chamada OriC). Em OriC, Fritillaria assyrinca. Os resultados do Projeto Geno
os elementos REP têm uma sequência consenso de 34 ma Humano, entretanto, indicaram que o genoma hu
nucleotídeos e ligam topoisomerase II. Elementos REP mano codifica apenas 20.000-25.000 genes. Como resul
com a sequência GCTGGTGG (sítios Chi) ligam a en tado, a informação genética não precisa ser tão densa
zima RecBCD, que inicia a recombinação do DNA. Os como em bactérias. Um DNA típico de mamíferos, com
sítios Chi ficam regularmente espaçados em intervalos apenas 7 vezes mais genes do que E. coli, contém 500
de cerca de 4.000 pb. A informação genética é ainda vezes mais DNA do que E. coli. De fato, apenas 2% a
mais densamente organizada em organismos menores, 4% do DNA de uma célula de mamífero poderia ser sufi
como bacteriófagos, onde a sequência primária do DNA ciente para todos os seus genes. Parte do DNA restante,

Proteína A.......................... Glu Ser Lys Asn Tyr Leu Asp Lys Ala Gly Ile Thr Thr
Origem da proteína K Met Ser Arg Lys Ile Ile Leu Ile Lys Gln Glu Leu Leu Leu

Sequência de nucleotídeos........................................ATG A G T C G A A A A A T T A T C T T G A T A A A G C A G G A A T T A C T A C T
51 61 71 81 91

Ala Cys Leu Arg Ile Lys Ser Lys Trp Thr Ala Gly Gly Lys Termino da proteína A
Leu Val Tyr Glu Leu Asn Arg Ser Gly Leu Leu Ala Glu Asn Glu Lys Ile Arg Pro Ile
Origem da proteína C Met Arg Lys Phe Asp Leu

G C TT G T T T A C G A A TT A A A T C G G A G T G G A C T G C T G G C G G A A A AT G A G A A A A TT C G A C C T A T
101 111 121 131 141 151

Leu Ala Gln Leu Glu Lys Leu Leu Leu Cys Asp Leu Ser Pro Ser Thr Asn Asp Ser Val
Ser Leu Arg Ser Ser Arg Ser Ser Tyr Phe Ala Thr Phe Arg His Gln Leu Thr Ile Leu

C C T T G C G C A G C T C G A G A A G C T C T T A C TT T G C G A C C TT T C G C C A T C A A C T A A C G A TT C T G T
161 171 181 191 201 211

Lys Asn Termino da proteína K


Ser Lys Thr.......................Proteína C continua

C A A A A A CT ...................
219

FIGURA 2.46 Sequências parciais de nucleotídeos de genes contíguos e sobrepostos de fago ϕX174.
A sequência da proteína K, nucleotídeos 51-219, é apresentada nesta figura. Essa sequência codifica. Uma parte dessa sequência, os
nucleotídeos 51-133, codifica parte da proteína A. Outra parte da sequência, os nucleotídeos 133-219, codifica parte da proteína C.
Sobreposições semelhantes são observadas entre outros genes de ϕX174.
Adaptado de Smith, M.Am. Sci.67:61, 1979.
64 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

como o de centrômeros e telômeros, tem uma função Sequências Repetidas


bem definida. Nenhuma função específica pode ser atri
buída à maior parte do DNA não-codificador, que tem Enquanto as repetições de sequências específicas
sido chamado “DNA lixo” ou junk DNA. Contudo, exis de DNA em procariotos são muito limitadas, o DNA de
tem evidências crescentes de que o “DNA lixo” possa eucariotos contém sequências que são repetidas desde
desempenhar um papel vital na regulação da expressão poucas vezes, para genes codificadores específicos, até
gênica durante o desenvolvimento. Paradoxalmente, a milhões de vezes por genoma, para certas sequências
quantidade de “DNA lixo” correlaciona-se mais com a simples e relativamente curtas. Dependendo da espé
complexidade do organismo do que o número de genes. cie, o DNA repetitivo pode constituir de 3% a 80% do
DNA total. Em genomas de mamíferos, incluindo o hu
Os genes eucarióticos não se sobrepõem e são espa mano, 25% a 35% do DNA é repetitivo. As sequências
çados, na média, por 40.000 pb. Entretanto, alguns po podem ser classificadas em cópia única, moderadamen
dem estar mais próximos uns dos outros, em regiões que te reiterada, altamente reiterada e repetição invertida.
contêm genes expressos de maneira fortemente coor O conteúdo de DNA cópia única varia entre os euca
denada (grupos de genes). A maioria dos genes eucari riotos. Os limites exatos entre os vários tipos de DNAs
óticos é interrompida por sequências não-codificadoras reiterados não são definidos com muito rigor.
de nucleotídeos intervenientes chamadas íntrons (Fi
gura 2.47). As sequências do gene que são expressas, Cerca de metade do genoma humano consiste de
seja como RNA produto final (RNA maduro) ou como sequências únicas, mas só uma pequena fração delas
proteína, são chamadas éxons. Os íntrons são removi codifica proteínas. Parte do DNA contém pseudogenes,
dos durante o processamento do RNA transcrito, e os sequências de DNA que têm significativa homologia de
éxons são unidos. Esse ajuste do transcrito original é nucleotídeos com um gene funcional, mas contêm mu
chamada splicing. As sequências e os tamanhos dos ín tações que impedem expressão do gene. Os pseudoge
trons variam enormemente entre as espécies. Somados, nes aumentam significativamente o tamanho dos ge
podem ser 5 a 10 vezes mais longos do que os éxons nomas eucarióticos, sem contribuir para seu conteúdo
que separam. A maioria dos genes é interrompida por genético que pode ser expresso. Sequências adicionais
íntrons pelo menos uma vez, embora alguns sejam in de DNA cópia única funcionam como íntrons e regiões
terrompidos mais vezes. Alguns genes, como o do inter de controle que flanqueiam os genes.
feron-α humano, não contêm íntrons.
O DNA moderadamente reiterado consiste de cópias
Íntrons são comuns em genes de vertebrados e de de sequências idênticas ou estreitamente relacionadas
plantas que dão flores, mas são pouco frequentes nos que são reiteradas de poucas a milhares de vezes. Es
de outras espécies. O papel biológico dos íntrons não sas sequências são relativamente longas, variando de
está esclarecido. Seu surgimento pode ter sido relativa uma centena e muitos milhares de nucleotídeos. Cerca
mente recente na evolução, em virtude da migração de de 20% do DNA de camundongo consiste de sequências
elementos móveis de DNA (transposons) de outras par de algumas centenas de pares de bases de comprimento,
tes do genoma e sua inserção em genes que codificam que são repetidas mais de mil vezes. Cerca de 15% do
proteínas (p. 328). Por mutações, esses insertos podem genoma humano consiste de DNA moderadamente reite
ter, depois, perdido sua mobilidade. rado. Algumas sequências envolvem genes de proteínas
muito abundantes e de RNAs ribossômicos (rRNAs). Por
exemplo, o ouriço do mar carrega centenas de cópias dos
genes de histonas. Eucariotos geralmente possuem cen
tenas de cópias do gene que codifica rRNA. A função de
outras sequências modera
Íntron A Íntron B
damente repetidas não é
DNA conhecida com clareza.
Éxon 1 Éxon 2 Éxon 3
Normalmente, sequên
-cias cópia única e mo
Cap A B
mRNA transcrito deradamente reiteradas
1 2 3 ocorrem em um cromos-
Cauda de poli(A)
somo em um padrão or
denado conhecido como
mRNA maduro Cap padrão de dispersão, que
1 2 3
Cauda de poli (A) consiste de blocos alterna
dos de DNA cópia única e
FIGURA 2.47 Apresentação esquemática de um gene eucariótico. DNA moderadamente rei
A linha superior representa uma parte do DNA genômico; a linha inferior representa o mRNA pro terado. Elementos disper
duzido por ele. Nesse exemplo, o DNA consiste de dois íntrons e três éxons. As sequências dos
sos longos (LINEs, long
íntrons são transcritas, mas são removidas durante o splicing, que produz um mRNA maduro.
Redesenhado de Crick, F. Science 204:264, 1979. interspersed elements)
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 65

consistem de sequências com milhares de nucleotídeos 2.6 ESTRUTURA DO RNA


de comprimento, com até 1.000 cópias por genoma. São
flanqueados em ambos os lados por sequências que
são repetições diretas. Um exemplo de um elemento RNA é um Polímero de
disperso curto (SINE, short interspersed element) é a
família Alu, uma sequência de função desconhecida que Ribonucleosídeos 5!-Monofosfato
constitui uma parte substancial (cerca de 5%) do geno
ma humano. As sequências Alu têm aproximadamente O RNA é um polímero linear de ribosídeo monofos
300 pb de comprimento e são repetidas mais de 500.000 fatos. As bases púricas do RNA são adenina e guanina;
as pirimídicas são citosina e uracil (Figura 2.2). Exceto
vezes. As estruturas das repetições dispersas curtas, in
cluindo a família Alu, são remanescentes de transposons. por uracil, que substitui a timina, são as mesmas bases
encontradas no DNA. Nucleotídeos de A, C, G e U (Figu
Aproximadamente 1% a 15% do DNA genômico ra 2.3) são incorporados ao RNA durante a transcrição.
eucariótico consiste de sequências tipicamente mais Muitos RNAs também contêm nucleotídeos modifica
curtas do que 20 nucleotídeos, reiteradas milhares ou dos, que são produzidos por processamento pós-trans
milhões de vezes. A maioria das sequências muito rei cripcional. Nucleotídeos modificados são especialmen
teradas tem uma composição em bases característica, te característicos de espécies estáveis de RNA (p. ex.,
e elas podem ser isoladas fragmentando-se o DNA em tRNA e rRNA); contudo, alguns nucleotídeos metilados
segmentos de algumas centenas de nucleotídeos e sepa estão também presentes no mRNA eucariótico. Na sua
rando-se os fragmentos por centrifugação em gradien maior parte, os nucleotídeos modificados do RNA têm
te de densidade. Esses fragmentos são chamados DNA um papel no ajuste fino, e no exercício de funções indis
satélite, porque aparecem como satélites das bandas pensáveis na célula.
que contêm a maior parte do DNA após centrifugação.
Outras sequências muito reiteradas, que não podem ser As ligações 3!,5!-fosfodiéster do RNA formam um
isoladas por centrifugação, podem ser identificadas por esqueleto a partir do qual as bases se estendem (Fi
sua propriedade de rápido reanelamento. Esses DNAs gura 2.48). Os RNAs eucarióticos variam de aproxima
muito reiterados são também chamados DNAs de se damente 20 nucleotídeos de comprimento até mais de
quência simples. Sequências simples estão tipicamente 200.000 nucleotídeos.
presentes no DNA da maioria dos eucariotos, se não de
todos. Em algumas espécies, uma sequência principal
está presente, enquanto em outras, várias sequências O
simples são repetidas até um milhão de vezes. Os DNAs Extremidade
OH 5! N N
H
Guanosina
de sequência simples podem, frequentemente, ser iso H
O N N N
lados como DNA satélite. O encontrado no centrômero H
de eucariotos superiores consiste de milhares de cópias H N H
em sequência de uma ou de algumas poucas sequên O OH
PO N N
cias curtas. Sequências satélites têm apenas 5-10 pb Adenosina
O O
de comprimento e são um constituinte dos telômeros, O
N N
onde têm um papel bem definido na replicação do DNA.
Alguns DNAs de sequência simples mais longos foram O
O OH
identificados. Por exemplo, no genoma do macaco verde H
PO N Uridina
africano, um segmento de 172 pb que contém algumas O O
N O
repetições de sequências é altamente reiterado. O

H N H
Repetições invertidas são motivos estruturais do O OH
DNA. Repetições invertidas curtas, consistindo de até PO N Citidina
seis nucleotídeos de comprimento, por exemplo, a sequên O O
N O
cia palindrômica GAATTC, ocorrem por acaso uma vez O

a cada 3.000 nucleotídeos. Tais repetições curtas não


podem formar uma estrutura cruciforme estável como OH OH
a formada por sequências palindrômicas mais longas. É Extremidade 3!
pouco provável que ocorram por acaso, sequências re
petitivas invertidas suficientemente longas para formar FIGURA 2.48 Estrutura das ligações 3!,5!-fosfodiéster
entre os ribonucleotídeos que formam um RNA fita
cruciformes estáveis, e estas deveriam ser classificadas
única.
como um tipo separado de sequências eucarióticas. No Fosfato une o grupo 3!-OH de uma ribose com o grupo 5!-OH
DNA humano, cerca de dois milhões de repetições in da ribose seguinte. Essa ligação produz um polirribonucleo
vertidas estão presentes, com um comprimento médio tídeo contendo um esqueleto açúcar–fosfato. Bases púricas
de cerca de 200 pb; entretanto, sequências invertidas e pirimídicas estendem-se para longe do eixo do esqueleto e
com mais de 1.000 pb já foram detectadas. A maioria podem parear com bases complementares para formar regiões
das sequências repetidas invertidas é repetida 1.000 ou dupla-hélice com bases pareadas.
mais vezes por célula.
66 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Cada RNA é complementar à sequência de bases de tídeos. A hélice parcial causada por empilhamento de
porções específicas de apenas uma das fitas do DNA. bases nessa alça liga-se, por pareamento de bases, a um
Portanto, ao contrário da composição em bases do DNA, códon complementar no mRNA, de modo que tradução
as relações molares (A + U) e (G + C) no RNA não são possa ocorrer.
iguais. O RNA celular é linear e de fita-única. RNA fita
dupla estável não está presente na célula. Ao contrário,
a presença RNA dupla-fita sinaliza sua destruição. Isso
parece ser parte da resposta à infecção por vírus, uma
vez que os genomas de alguns vírus são compostos por
RNA dupla-fita, e RNA dupla-fita é um intermediário na
replicação de vírus de RNA fita-única.

Quimicamente, o RNA é semelhante ao DNA. Ambos


contêm ligações fosfodiéster carregadas negativamen
te, e as bases são quimicamente muito semelhantes. As
diferenças entre DNA e RNA devem-se principalmente
a dois fatores. Primeiro, o RNA contém ribose em lu
gar de 2!-desoxirribose como o componente açúcar do
nucleotídeo, e segundo, os RNAs geralmente são fita
-única, em lugar de dupla-fita.

O grupo 2!-hidroxila torna as ligações fosfodiéster (a) (b)


de uma molécula de RNA mais susceptível à hidrólise
FIGURA 2.49 Estrutura helicoidal do RNA.
química, especialmente em soluções alcalinas, do que Modelos indicando uma estrutura helicoidal devida a (a) empi
as do DNA (Figura 2.11). A instabilidade química do lhamento de bases na extremidade CCA do tRNA e (b) falta de
RNA reflete-se em sua instabilidade metabólica. Alguns uma hélice ordenada quando não ocorre empilhamento nessa
RNAs, como o mRNA bacteriano, são sintetizados, usa região sem pareamento de bases.
dos e degradados em minutos. Outros, o como rRNA hu Redesenhado de Sprinzl, M. e Cramer, F. Prog. Nucl. Res. Mol.
mano, são mais estáveis metabolicamente, com tempo Biol. 22:9, 1979.
de vida medido em dias. Entretanto, mesmo os RNAs
mais estáveis são muito menos estáveis do que o DNA. 3! A
75 Haste
C
aceptora
P A
Estrutura Secundária do RNA
5! G C
Envolve Pareamento Intramolecular C G
G C 70
de Bases G U
Alça D 5 A U
Como as moléculas de RNA têm fita-única, geralmen α D G 15 A 10 U A 65A Alça TCψ
te não formam extensas duplas-hélices. Em vez disso, a U
G 2 A U G mG C A C60C 55 mA
estrutura secundária de uma molécula de RNA resul
ta de regiões relativamente curtas com pareamento de D CUC mG G
C m22G mC
5C U50
U G GU TψC
bases intramolecular. Mesmo sequências não-pareadas G A GAG
de RNA fita-única podem conter considerável estrutura
G
20 25 C G AG7 Alça
helicoidal (Figura 2.49). As hélices do RNA geralmente
variável
são do tipo A, com 11 nucleotídeos por volta. β G
U 45
30 G
A m5C40
Regiões dupla-hélice haste-alça do RNA frequente
mente formam “grampos de cabelo” (hairpins). Existe CmA ψA
variação apreciável nos detalhes de estrutura fina das
estruturas em grampo, incluindo o comprimento das UGm 35 Y
Alça do
regiões de bases pareadas e o tamanho das alças não anticódon
A
-pareadas (Figura 2.50). Os RNAs transportadores são A
excelentes exemplos de empilhamento de bases e for
mação de pontes de hidrogênio em uma molécula de FIGURA 2.50 Estrutura em trevo do tRNA.
RNA fita única (Figura 2.51). Cerca de 60% das bases Diagrama em trevo da estrutura bidimensional e sequência de
nucleotídeos do tRNAPhe de levedura. As linhas vermelhas que
ficam pareadas em quatro hastes dupla-hélice, e duas
conectam os nucleotídeos em círculos indicam bases com pon
alças interagem entre si, resultando em uma molécula tes de hidrogênio. Inserção de nucleotídeos na alça D ocorre
em forma de L. A região do anticódon do tRNA é uma nas posições a e b para os diferentes tRNAs.
alça não-pareada, com bases empilhadas, de sete nucleo Redesenhado de Quigley, G.J. e Rich, A. Science 194:797, 1976.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 67

Haste TCψ O 2!-OH da ribose é também um importante doador e


aceptor para a formação de pontes de hidrogênio. Todas
Alça TCψ Haste aceptora
64 essas interações contribuem para a forma dobrada da
54 5′ molécula de RNA.

56 3′ Outras características terciárias foram deduzidas


72 da estrutura tridimensional de RNAs em solução ou
em forma cristalina. O termo tetraloop refere-se às se
Alça D quências específicas (p. ex., UUCG ou GAGA) que são
7 69 frequentemente encontradas na extremidade fechada
20 dos grampos de RNA (Figura 2.52b). Esses tetraloops
12 conferem estabilidade extra aos grampos de RNA por
formarem pontes de hidrogênio internas entre bases e
Alça
variável
Haste D açúcares. Os tetraloops podem formar pontes de hidro
44 gênio com regiões da dupla-hélice ou com alças internas
25
de outras partes de um RNA, formando assim uma es
trutura terciária complexa.
Haste do
anticódon 38

2.7 TIPOS DE RNA


32 As moléculas de RNA são tradicionalmente classifi
Alça do
cadas como RNAs transportador (ou de transferência),
anticódon ribossômico e mensageiro, de acordo com sua função
normal; entretanto, moléculas de RNA desempenham
FIGURA 2.51 Estrutura terciária do tRNA. várias outras funções numa célula.
Dobra terciária da estrutura em trevo do tRNAPhe. Pontes de hi
drogênio são indicadas por linhas cruzadas. Compare com a repre
sentação da Figura 2.50.
Redesenhado de Quigley, G.J. e Rich, A. Science 194:797, 1976.
RNA Transportador Tem Duas
Funções: Ativar Aminoácidos e
Moléculas de RNA Têm Estruturas Reconhecer Códons no mRNA
Terciárias Cerca de 15% do total de RNA celular é tRNA, um
intermediário essencial entre a informação do DNA e
As estruturas de moléculas funcionais de RNA são da proteína no Dogma Central. A formação de amino
mais complexas do que o sugerido pelas bases empilha acil-tRNA, catalisada por enzimas, ativa os aminoáci
das e hélices com pontes de hidrogênio mencionadas dos para a síntese proteica, de modo que a formação
acima. Em particular, as bases das regiões não-parea das ligações peptídicas seja energeticamente favorável.
das podem formar pontes de hidrogênio ou interagir de Aminoacil-tRNAs ligam-se aos ribossomos, onde os
outro modo entre si ou com porções helicoidais da mo aminoácidos são transferidos para cadeias peptídicas
lécula. Os RNAs, in vivo, são moléculas dinâmicas, que em crescimento (daí o nome tRNA). O tRNA reconhece
podem mudar suas conformações durante a síntese, o a informação de sequência nucleotídica no mRNA para
processamento e o funcionamento. Proteínas associa garantir que o aminoácido correto seja incorporado à
das com moléculas de RNA frequentemente conferem cadeia peptídica em crescimento. A ativação do amino
estabilidade à estrutura do RNA. De fato, o RNA celular ácido ocorre na sequência CCA 3!-OH terminal, à qual
geralmente funciona como complexos RNA–proteínas, aminoácidos específicos são ligados enzimaticamente.
e não moléculas livres de RNA. O reconhecimento do códon ocorre por ligação do tri
plete do anticódon com um códon de três nucleotídeos
A estrutura terciária das moléculas de RNA resulta no mRNA. O pareamento de bases do códon do mRNA e
do empilhamento das bases e de pontes de hidrogênio dos tripletes do anticódon no tRNA é o principal meca
entre diferentes partes da molécula. O tRNA oferece nismo para garantir a precisão da formação da ligação
vários exemplos. Em solução, o tRNA é dobrado numa peptídica.
conformação compacta em forma de L (Figura 2.51),
estabilizada por pareamento de bases Watson–Crick e Cada tRNA pode transportar apenas um aminoáci
por interações de bases envolvendo mais de dois nu do. Embora apenas 20 aminoácidos sejam utilizados na
cleotídeos. Isso é verdade para outros RNAs. A Figura síntese proteica, organismos de vida livre sintetizam
2.52a mostra um triplete de bases bem definido do RNA um conjunto maior de tRNAs. Isso é uma consequên
ribossômico bacteriano. As bases podem doar átomos cia do código genético ser redundante (tendo mais de
de hidrogênio para ligar com o esqueleto fosfodiéster. um códon para cada aminoácido). Por exemplo, a se
68 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

quência genômica da bactéria Haemophilus influen isoaceptores. Um tRNA que aceita fenilalanina seria de
zae contém genes para 54 espécies de tRNA. Mitocôn signado por tRNAPhe, enquanto um que aceita tirosina
drias sintetizam um número muito menor de tRNAs. Os seria tRNATyr.
tRNAs que aceitam o mesmo aminoácido são chamados
Os tRNAs têm 65 a 110 nucleotídeos de comprimen
to, correspondendo a uma faixa de pesos moleculares
(a)
de 22.000 a 37.000. As sequências de todas as molé
culas de tRNAs (milhares são conhecidas) podem ser
organizadas numa estrutura secundária comum em
trevo, por pareamento de bases complementares tipo
Watson–Crick, formando três estruturas em haste e
alça. A sequência triplete do anticódon está em uma
“folha” do trevo, enquanto a haste aceptora CCA está
no “caule”. Esse arranjo é preservado na estrutura
terciária do tRNAPhe (Figura 2.51), onde as hastes do
G1071
anticódon e aceptora estão cada uma em uma extre
midade da molécula em forma de L. Pontes de hidro
gênio adicionais, não-Watson–Crick, formam a estru
tura terciária da molécula em forma de L.
Os tRNAs contêm nucleotídeos modificados, por
C1100
exemplo, 7-metilguanina na posição 46 da Figu
G1091 ra 2.50. Nucleotídeos modificados afetam a estrutura
e a estabilidade, mas não são necessários para seu
funcionamento básico. Por exemplo, uma base modi
ficada vizinha ao anticódon torna o reconhecimen
to do códon mais eficiente, mas um tRNA sem essa
modificação ainda pode ser lido corretamente pelo
(b) ribossomo.
U6 U
Muitas características estruturais são comuns a
U
CU
G
... C C7 todos os tRNAs trevos. Sete pares de bases formam
C G o braço aceptor do aminoácido, que termina com o
U5 U ... G G8 triplete de nucleotídeos CCA. Esse triplete CCA não
5! 3!
tem pareamento de bases. A haste do di-hidrouracil
C4 C ... G G9 ou “haste D” tem três ou quatro pares de bases, en
C(UUCG)G tetraloop
quanto as hastes do anticódon e T têm cinco pares
de bases cada. A alça do anticódon e a alça T contêm
sete nucleotídeos. Diferenças no número de nucleotí
C deos em diferentes tRNAs ocorrem na alça variável. A
maioria dos tRNAs tem pequenas alças variáveis, de
C6
4-5 nucleotídeos, enquanto outros têm alças maiores
AC
G A com 13-21 nucleotídeos. As posições de alguns nu
C G A A7 cleotídeos são constantes em todos os tRNAs (ver as
5! 3! caixas laranjas escuras na Figura 2.50).
G5 G ... A A8

C4 C ... G G9 RNA Ribossômico É Parte do


FIGURA 2.52 Pontes de hidrogênio no tRNA. Aparelho de Síntese Proteica
(a) Um triplete de bases do RNA ribossômico 23S. Neste caso, a ter
ceira base (G1071) forma pontes de hidrogênio com a face de “cima” A síntese de proteínas ocorre nos ribossomos.
ou “Hoogsteen” de ambas G1091 e C1100. (b) Diagrama esquemático Em eucariotos, essas estruturas complexas são com
mostrando que dois tetraloops de RNA têm estruturas semelhantes. postas por quatro moléculas de RNA, representando
Ambas as estruturas são estabilizadas por empilhamento das bases cerca de dois terços da massa da partícula, e 82 pro
das alças e por pontes de hidrogênio não-Watson–Crick entre bases, teínas. A subunidade menor, a partícula 40S, contém
e por pontes de hidrogênio entre resíduos de açúcar, fosfato e ribose. um RNA 18S e 33 proteínas. A subunidade maior, a
Redesenhado com permissão de Westhof, E. e Fritsch V. RNA Fol
ding: Beyond Watson–Crick base pairs. Structure 8:R55-R65, 2000. partícula 60S, contém uma cópia de cada um dos três
Redesenhado de Wyatt, J. e Tinoco, I. Jr. RNA structure, 471. Em: rRNAs 28S, 5,8S e 5S, juntamente com 49 proteínas.
Gesteland, R. F., e Atkins, J.F. (Eds.), The RNA World. 1. ed. Cold A estrutura inteira forma o ribossomo 80S. Ribosso
Spring Harbor, NY: Cold Spring Harbor, 1993. mos procarióticos são menores; a subunidade 30S
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 69

5! O rRNA corresponde a 80%


P
U do RNA celular e é metabolica
3! U
A
G mente estável. Essa estabilidade
C
C C L18
é necessária para o funciona
G U mento repetido dos ribossomos
(L5)
G G
A L18 e é aumentada pela associação
G (L25) L18
C G U
C
C C
A L5 com as proteínas ribossômicas.
G C
G G G Os rRNAs eucarióticos 28S (4.718
L18 C C CA C C C A
U C 18 U
(L5) C G C C nucleotídeos), 18S (1.874 nucleo
G C G G U G 24 C U G A U
GGG A
A
23
tídeos) e 5,8S (160 nucleotídeos)
A G
107 são sintetizados no nucléolo. O
U U G C C G C A A G A C U C C
G A G A G A A rRNA 5S (120 nucleotídeos) não
A AGUG A A G C
C G
44 é transcrito no nucléolo, mas a
C
G G partir de genes separados, no nu
U
A
G A 69 C cleoplasma (Figura 2.53). Os três
U U U L18 C L18 41
C
G G G (L25) rRNAs maiores são sintetizados
C GU A (L5)
C
C
G como parte de uma longa cadeia
G
U G
polinucleotídica que é, depois,
86
C U G processada para gerar as molécu
las individuais.
L18
(L5)
Modificações de nucleotídeos
FIGURA 2.53 Estrutura secundária proposta, com pareamento de bases, para o rRNA 5S. no rRNA são primariamente me
As setas indicam as regiões protegidas por proteínas na subunidade ribossômica grande. tilações para formar 2!-O-metil
Informações combinadas de Fox, G. E., e Woese, C. R. Nature (London) 256:505, 1975; e ribose. A metilação de rRNA foi
Gray, P. N., Bellemare, G., Monier, R., Garrett, R.A. e Stoffler, G. J. Mol.Biol. 73:133, 1973. diretamente relacionada com re
sistência bacteriana a antibióticos
contém um único rRNA 16S e 21 proteínas, enquanto a em espécies patogênicas (Correlação Clínica 2.9). Um
subunidade maior 50S contém uma cópia de rRNAs 5S e pequeno número de N6-dimetiladeninas está presente
23S e 34 proteínas (ver p. 222 para uma discussão sobre no rRNA 18S. O rRNA 28S tem cerca de 45 grupos metil,
a estrutura dos ribossomos). e o rRNA 18S tem 30 grupos metil.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 2.9

Resistência de Staphylococcus à Eritromicina

Bactérias expostas a antibióticos em situações clí Um microrganismo que produza um antibiótico tam
nicas ou agrícolas frequentemente desenvolvem resis bém deve ser imune a ele, caso contrário seria morto por
tência às drogas. Essa resistência pode surgir de uma seu próprio produto tóxico. O produtor de eritromicina,
mutação no DNA da célula alvo, o que dá origem a des Streptomyces erythreus, possui ele mesmo uma rRNA
cendentes resistentes. Um modo alternativo e clinica metilase, que age no mesmo sítio ribossômico que a de
mente mais sério de resistência surge quando plasmí S. aureus. Qual veio primeiro? É provável que muitos
deos que codificam resistência a antibióticos proliferam dos genes de resistência de organismos alvos tenham
pela população bacteriana. Esses plasmídeos podem evoluído dos de organismos produtores. Em vários ca
carregar múltiplos determinantes de resistência e tor sos, as sequências de DNA dos genes de resistência de
nar vários antibióticos inúteis ao mesmo tempo. mesma especificidade foram conservadas em organis
mos produtores e alvos. Podemos, portanto, ver resis
A eritromicina inibe a síntese de proteínas por se tência a antibióticos dependente de plasmídeos como
ligar à subunidade ribossômica grande. O Staphylococ um caso de “engenharia genética natural”, onde o DNA
cus aureus pode ficar resistente à eritromicina e a an de um organismo (p. ex., o produtor Streptomyces) é
tibióticos semelhantes como resultado de uma RNA me apropriado e expresso em outro organismo (p. ex., o
tilase codificada em plasmídeo, que converte uma única alvo Staphylococcus).
adenosina do rRNA 23S em N6-dimetiladenosina. Como
o mesmo sítio ribossômico liga lincomicina e clindami
cina, o plasmídeo causa resistência cruzada a esses an Cundliffe, E. How antibiotic-producing microorganisms avoid
tibióticos também. A síntese da metilase é induzida por suicide. Annu. Rev. Microbiol. 43:207, 1989.
eritromicina.
70 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

O RNA ribossômico é o componente catalítico do No citoplasma, os mRNAs têm vida relativamente


ribossomo. A estrutura do cristal analisada por raios curta. Alguns são sintetizados e armazenados em um
-X da subunidade ribossômica maior de uma espécie estado inativo ou dormente no citoplasma, prontos para
bacteriana mostra que o sítio ativo da síntese da liga uma resposta rápida quando a síntese da proteína for
ção peptídica é composto exclusivamente de RNA 23S; necessária. Em vários animais imediatamente após a
qualquer cadeia lateral de aminoácido potencialmente fecundação, o ovo sofre rápida síntese de proteínas na
catalítica está muito longe para participar diretamente ausência de transcrição, indicando que mRNAs pré
da reação. As reações químicas necessárias à síntese da -formados e ribossomos estão presentes no citoplasma.
ligação peptídica são catalisadas pelo rRNA da subuni
dade grande (ver p. 71 para uma discussão sobre RNAs Os mRNAs eucarióticos têm características estru
turais singulares (Figura 2.54). Como a informação
catalíticos).
contida no mRNA reside na sequência linear de nucleo
tídeos, a integridade dessa sequência é extremamente
RNAs Mensageiros Carregam importante. Qualquer perda ou modificação de nucleo
tídeos poderia alterar a estrutura da proteína que está
a Informação para a Estrutura sendo traduzida. A tradução do mRNA nos ribossomos
também deve começar e terminar em sequências es
Primária de Proteínas pecíficas. Em eucariotos, uma estrutura “cap” na ex
Os mRNAs são os carregadores diretos da informa tremidade 5! de um mRNA especifica onde a tradução
ção genética do genoma para os ribossomos. Todos os deve começar. Os caps dos mRNAs eucarióticos contêm
mRNAs eucarióticos são monocistrônicos, isto é, con uma ligação fosfodiéster invertida, uma base metilada
têm informação para apenas uma cadeia polipeptídica. ligada ao mRNA via um 5!,5!-trifosfatodiéster em lugar
Em procariotos, as espécies de mRNA são frequente da ligação usual 3!,5!-fosfodiéster. O cap é ligado ao pri
mente policistrônicas, codificando mais de uma prote meiro nucleotídeo transcrito, geralmente uma purina
ína. Um fenótipo celular e seu estado funcional estão 2!-O-metilada (Figura 2.55). O cap é seguido por uma
diretamente relacionados com seu conteúdo de mRNA. sequência líder não-traduzida. A tradução começa no
códon de iniciação, sendo AUG o
mais frequente, e continua pela
m7Gppp AAAnAA OH
AUG UAG sequência codificadora. No final
Sequência codificadora
Sequência de cauda da sequência codificadora, uma
Sequência lider ou traduzida
não-traduzida sequência de terminação sinaliza
não-traduzida
o término da formação do poli
FIGURA 2.54 Estrutura geral de um mRNA eucariótico. peptídeo e a liberação do ribosso
Há uma extremidade 5! “bloqueada” (cap), seguida por uma sequência líder não-traduzida mo. Uma segunda sequência não
contendo o promotor. A região codificadora geralmente começa com o códon de iniciação -traduzida, ou “trailer”, segue-se,
AUG e continua até a sequência de terminação da tradução UAG, UAA ou UGA. Em se terminada por uma sequência de
guida, vem uma região “trailer” não-traduzida e uma cauda de poli(A) na extremidade 3’. 20-200 nucleotídeos de adeni
na, chamada cauda de poli(A),
7-Metilguanosina que constitui a extremidade 3! do
CH3
O– mRNA.
N+
N O cap 5! tem um efeito positivo
sobre o início da tradução da men
2!-O-Metilribonucleosídeo
H2N
N N 5! sagem. Durante a iniciação da tra
2! 3! O O O 5! Base (m6Ade, Ade, Gua, dução do mRNA, a estrutura cap é
Cyt, Ura)
CH2 O P O O–
P OPOCH2 O reconhecida por um fator de inicia
OH OH
O– O–
ção específico (p. 225). A sequên
O cia poli(A) afeta a estabilidade do
3! 2!
O OCH3 Base (Ade, Gua, mRNA; a degradação de um mRNA
OPOCH2 geralmente começa pelo encurta
O Cyt, Ura)
mento de sua cauda de poli(A).
O–

3! 2!
O(CH3 or H)
RNA

FIGURA 2.55 Diagrama da estrutura do “cap” ou da extremidade 5! bloqueada


em mRNA.
A 7-metilguanosina é invertida para formar uma ligação 5’-fosfato para 5’-fosfato com
o primeiro nucleotídeo do mRNA. Esse nucleotídeo é frequentemente uma purina
metilada.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 71

Mitocôndrias Contêm Espécies reação de múltiplas etapas (Figura 2.56). Um guanina


nucleosídeo ou nucleotídeo reage com a ligação fosfodiés
Peculiares de RNA ter íntron-éxon, deslocando o éxon doador do íntron.
Essa reação, uma transesterificação, é promovida pelo
Mitocôndrias (mt) têm seu próprio aparelho de sín
próprio íntron dobrado. O éxon doador livre, então, ataca
tese de proteínas, incluindo ribossomos, tRNAs e mR
NAs. Os rRNAs mitocondriais, 12S e 16S, são transcri
tos a partir do DNA mitocondrial (mtDNA), assim como
22 tRNAs específicos e 13 mRNAs, a maioria dos quais
codifica proteínas da cadeia de transporte de elétrons e
ATP sintase. Note que há menos tRNAs mitocondriais HO O G
do que espécies de tRNAs procarióticos ou citosólicos;
geralmente há apenas uma espécie de tRNA mitocon HO P
OH O
drial por aminoácido. Os mtRNAs correspondem a 4%
PO O–
do total de RNA celular. São transcritos por uma RNA O–
O
polimerase mitocondrial específica e são processados PO O

a partir de um par de RNAs precursores que contêm O


sequências de tRNA e mRNA. A expressão dos genomas
nuclear e mitocondrial é cuidadosamente coordenada.
A maioria das enzimas que fazem a aminoacilação dos
tRNAs mitocondriais e todas as proteínas ribossômicas
mitocondriais são codificadas por genes nucleares, tra Transesterificação

duzidas no citosol e transportadas para dentro das mi


tocôndrias. As bases modificadas em espécies de tRNA
mitocondrial são sintetizadas por enzimas codificadas
O
no DNA nuclear.
OH PO O–

RNA em Partículas
Ribonucleoproteicas
O
Outras espécies de RNAs, pequenas e estáveis, po
dem ser encontradas no núcleo, no citosol e nas mito O O–

côndrias. Essas espécies pequenas de RNA funcionam O


Transesterificação HO
como partículas de ribonucleoproteínas (RNPs), com OH
uma ou mais subunidades proteicas ligadas. Diferentes O
G
espécies de RNP foram implicadas no processamento
O–
de RNA, no transporte de RNA e no controle da tradu
PO O
ção, bem como no reconhecimento de proteínas desti
nadas à exportação. As funções reais dessas espécies, Éxons
O
ligados
quando conhecidas, são descritas em mais detalhes na +
discussão dos eventos metabólicos específicos. OH

RNA Catalítico: Ribozimas


O RNA pode ser uma enzima. Em muitos casos, o O Íntron removido

componente RNA de uma partícula ribonucleoproteica O P O–

é a subunidade cataliticamente ativa da enzima. Em O


outros casos, reações catalíticas podem ser realizadas HO
OH
in vitro por RNA, na ausência de qualquer proteína. O

Enzimas cujas subunidades RNA realizam reações ca G

talíticas são chamadas ribozimas. Existem cinco clas


FIGURA 2.56 Mecanismo de auto-splicing do precursor
ses de ribozimas. Três dessas espécies de RNA realizam de rRNA de Tetrahymena.
reações de autoprocessamento, enquanto as outras, ri Dois éxons do rRNA são representados por cilindros azuis es
bonuclease P (RNase P) e rRNA, são catalisadores ver curo. As funções catalíticas residem no íntron, que é lilás. Esta
dadeiros que agem sobre substratos separados. função de splicing requer a adição de um guanina nucleosídeo
ou nucleotídeo.
No protozoário ciliado Tetrahymena thermophila, Reproduzido com permissão de Cech, T. R. J.Am. Med. Assoc.
um íntron do precursor de rRNA é removido por uma 260:308, 1988.
72 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

de modo semelhante a ligação fosfodiéster éxon–íntron como transportador da informação genética. Isso levan
da extremidade aceptora do íntron. Íntrons desse tipo tou a possibilidade de que os primeiros organismos vi
(íntrons do Grupo I) foram encontrados em vários ge vos possam ter sido baseados inteiramente em RNA, e
nes de mitocôndrias de fungos, em bactérias e no bac que o DNA e as proteínas tenham evoluído mais tarde.
teriófago T4. Embora esses íntrons não sejam enzimas Esse modelo é às vezes chamado o “mundo do RNA”.
verdadeiras in vivo porque só funcionam em um ciclo Segundo, sabemos que muitos vírus, incluindo pató
de reação, podem realizar reações catalíticas em condi genos humanos, usam informação genética em RNA;
ções especiais. demonstrou-se que alguns desses RNAs são catalíticos.
Portanto, o RNA catalítico oferece oportunidades para
Íntrons de auto-splicing do Grupo II estão presen a descoberta de fármacos baseados em RNA. Terceiro,
tes nos precursores de RNA mitocondrial de leveduras muitos dos eventos de processamento de informação no
e outros fungos. Embora esses RNAs façam auto-spli splicing do mRNA requerem RNA componentes. Esses
cing, existem muitos paralelos entre essa reação e a re RNAs também podem estar agindo como catalisadores.
moção de íntrons dos precursores de mRNA durante o
processamento.
Os RNAs que se autoclivam do Grupo III são encon 3! 5!
ppp
Haste III HO
trados nos RNAs genômicos de diversos vírus. Esses 15.5U dA16.5
15.4G dC16.4
RNAs clivam a si mesmos durante a geração de molé
15.3C dG 16.3
culas de RNA genômico únicas a partir de precursores 15.2C
15.1 dG16.2 Sítio de
clivagem
multiméricos grandes. A estrutura tridimensional da L2.4 4
. 1
.
1
A dTdC
. 3
. . 5. . 7
1 1 1 1 1 1
.
A 1 1 13 A
ribozima cabeça de martelo, um membro dessa tercei L2.3
A G1G CC G A
14 1. 2 dC4dG dCdC
dGdGdT
1716.1
1 6 OH 3!
12
ra classe, foi determinada (Figura 2.57). Embora o ci A GGCC C C GA C G G7ppp
C .1 2 5!
3
. . 5
4 . 6
. .
L2.2
G 4
. . 3 2 .2 2 2 2 2 2
clo catalítico não esteja completamente determinado, 0 0A U
L2.1 1 19 4
G G Haste I
o grupo amino de uma citosina desempenha um papel II
Haste 1
8 U 6
7
A 5

essencial nessa reação de clivagem. O fosfato da ligação (a)


quebrada fica na posição 3!-hidroxila do RNA produzido.
Um RNA que se autocliva encontrado em um pequeno dC1.7
3!
vírus satélite, o vírus da hepatite delta, está implicado AL2.2 AL2.3
AL2.4
em casos graves de hepatite infecciosa humana. Todos G2.1
5!
os RNAs que se autoprocessam citados podem ser le
Haste I
vados a funcionar como verdadeiros catalisadores (ou
seja, apresentando ciclos múltiplos) in vitro e in vivo. Haste II G10.1 Sítio
8 de
C11.1 A9 clivagem
G
.1
O quarto tipo de ribozima, a Ribonuclease P, con U7 G1
G12 dC17 d C3
tém um componente proteico e um componente RNA. A13 T16
.1
A6 U4
Age como uma enzima verdadeira em células, clivan A14
A15.1 G5
do precursores de tRNA para gerar a extremidade 5! Haste III
madura de moléculas de tRNA. A RNase P reconhece dA16.5
5!
estruturas constantes associadas com precursores de 3! U15.5

tRNA (p. ex., a haste aceptora e a sequência CCA), em (b)


lugar de usar um extenso pareamento de bases para li FIGURA 2.57 Estrutura em “cabeça de martelo” de RNA viral.
gar o RNA substrato à ribozima. O produto da clivagem (a) Estrutura em “cabeça de martelo” de um RNA viral com
contém um 5!-fosfato, em contraste com os produtos do autoclivagem. Essa molécula artificial é formada pelo parea
cabeça de martelo e de RNAs semelhantes. Em todos mento de bases de dois RNAs separados. A clivagem da sequên
esses eventos, a estrutura do RNA catalítico é essencial cia de RNA no sítio indicado pela seta na fita de cima requer
para a catálise. seu pareamento de bases com a sequência na parte inferior da
molécula. Os nucleotídeos destacados são uma sequência de
Finalmente, a estrutura obtida por cristalografia de consenso encontrada em RNAs virais com autoclivagem. (b)
raios-X de um ribossomo bacteriano revela que também Dobramento tridimensional do RNA catalítico em cabeça de
ele é uma ribozima. O sítio ativo do ribossomo está na martelo. As estrelas indicam a posição da ligação quebrada,
subunidade 50S. Não há nenhum grupo funcional de enquanto M indica um sítio de ligação de um íon metálico. As
hélices II e III empilham-se para formar uma hélice aparen
proteína suficientemente próximo para catalisar a for
temente contínua, enquanto interação não-Watson–Crick po
mação da ligação peptídica. Ao contrário, resíduos do sicionam as bases não-complementares da cabeça de martelo
RNA 23S ajudam a transferir um íon hidrogênio duran
numa estrutura em “volta de uridina”, idêntica à encontrada
te a síntese da ligação peptídica. nos tRNAs.
A descoberta da catálise por RNA mudou muito os (a) é redesenhada de Sampson, J. R., Sullivan, F. X., Beh
nossos conceitos sobre a evolução bioquímica e o al len, L. S., DiRenzo, A. B. e Uhlenbeck, O.C. Cold Spring Har
cance das possibilidades da química celular. Hoje sa bor Symp. Quant. Biol. 52:267, 1987. (b) é redesenhada de
bemos que o RNA pode funcionar como catalisador e Pley, H. W., Flaherty, K.M. e McKay, D. B. Nature 372:68, 1994.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 73

RNAs Podem Ligar Outras Moléculas RNAs Controlam a Tradução


Considerações sobre o mundo do RNA levaram a A tradução de um mRNA requer que esteja liga
um novo tipo de “bioquímica combinatória”, baseada do e se mova em relação ao ribossomo. Controlando a
no grande número de sequências em potencial (4N), eficiência desses processos, é possível controlar a tra
que poderiam ser feitas se A, C, G ou U fossem inseri dução. Uma forma de fazer isso é por sítios aptâmeros
dos ao acaso em cada uma das N posições de um ácido contidos no mRNA. Alguns mRNAs bacterianos contêm
nucleico. Um conjunto de moléculas de ácido nucleico sítios aptâmeros de ocorrência natural na região 5!-não
com 25 nucleotídeos de comprimento, sintetizadas qui -traduzida da molécula de mRNA. Esses sítios agregam
micamente ao acaso, conteriam 425 = 1015 membros em com ligantes específicos, como aminoácidos, bases pú
potencial. Esperar-se-ia que as moléculas individuais ricas, glucosamina 6-fosfato, ou cofatores de enzimas
dessa enorme coleção de RNAs se dobrassem numa co que são produtos da via cujas enzimas são codificadas
leção igualmente grande de formas. O grande número por cada mRNA. A agregação do ligante impede a tra
de formas moleculares implica que alguns membros dução do mRNA, controlando assim a síntese das pro
dessa coleção seriam capazes de se ligar fortemente e teínas que são responsáveis pela via de biossíntese do
especificamente a ligantes, como os íntrons do Grupo ligante. Esta é uma forma de regulação em cis porque
I ligam especificamente guanosina nucleotídeos. Esses o controle é exercido na mesma molécula que contém o
RNAs que se ligam são chamados aptâmeros. Embora sítio aptâmero.
uma única molécula fosse rara demais para se estudar
na população original, o RNA aptâmero poderia ser se RNA dupla-fita é um regulador negativo da expressão
lecionado e replicado preferencialmente in vitro. Por gênica eucariótica em trans, isto é, em outra molécula.
exemplo, um RNA capaz de distinguir teofilina de cafe Por exemplo, RNA dupla-fita é um intermediário neces
ína foi selecionado a partir de uma população comple sário na replicação de alguns vírus de RNA. Como me
xa (Figura 2.58). A teofilina é usada no tratamento de canismo de defesa, o hospedeiro processa o RNA dupla
asma crônica, mas o nível deve ser cuidadosamente con -fita para produzir RNAs curtos de fita única, com cerca
trolado para evitar efeitos colaterais. O monitoramento de 23 nucleotídeos. Esses RNAs, chamados microRNA
das concentrações de teofilina por ensaios convencio (miRNAs), estabelecem pares de bases com mRNAs es
nais baseados em anticorpos é difícil porque cafeína pecíficos, e param sua tradução ou desencadeiam sua
e teofilina diferem apenas em um único grupo metil. degradação (p. 299). Mais estudos sobre miRNAs e os
Portanto, anticorpos antiteofilina apresentam conside estreitamente relacionados RNAs pequenos inibitórios
rável reação cruzada com cafeína. Foram encontrados (siRNAs, small inhibitory RNAs) demonstraram que
RNA aptâmeros que ligam teofilina 10.000 vezes mais essas espécies são importantes reguladores de muitos
fortemente do que cafeína. Outras extensões da tecno produtos gênicos, incluindo os envolvidos na transfor
logia usaram procedimentos de seleção para identificar mação maligna (ver Correlação Clínica 5.8, p. 209).
novas ribozimas sintéticas e RNAs com potencial tera
pêutico.

O N O
N
CH3 CH3
N O H
H3C N H3C N N

O N N

CH3

Cafeína Teofilina

FIGURA 2.58 Estruturas da teofilina e da cafeína.


Embora esses compostos se diferenciem apenas em um único
grupo metil, um RNA sintético específico pode se ligar à teofili
na com força 10.000 vezes maior do que à cafeína.
74 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

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CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 75

Termos Chaves
A-DNA dogma central mRNA RNA pequeno inibitório
adenina DNA nucleosídeo rRNA
aptâmero DNA repetitivo nucleossomo splicing
B-DNA dupla hélice nucleotídeo superenrolamento
cap do mRNA empilhamento de bases pares de bases Watson–Cri telômero
cauda de poli(A) éxon ck temperatura de fusão
centrômero fosfodiéster partícula de ribonucleopro timina
guanina replicação
renaturação
polinucleotídeopós-transcripcional
policistrônico
teína
citosina topoisomerase
complementaridade hibridização transcrição
cromatina histona tRNA
cromossomo íntron uracil
desnaturação micro RNA Z-DNA
desoxirribose monocistrônico
ribozima

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha D. é inibida por metilação das bases.
1. A melhor definição de uma endonuclease é uma en E. é uma conformação permanente do DNA.
zima que hidrolisa: 4. Um nucleossomo:
A. um nucleotídeo, só da extremidade 3! de um
A. é uma estrutura regularmente repetida de
oligonucleotídeo.
DNA e proteínas histonas.
B. um nucleotídeo, de qualquer extremidade de
um oligonucleotídeo. B. tem um cerne (core) de DNA, com proteínas
enroladas em volta, pelo lado de fora.
C. uma ligação fosfodiéster localizada no interior
de um polinucleotídeo. C. usa só um tipo de histona por nucleossomo.
D. uma ligação, apenas em uma sequência espe D. é separado de um segundo nucleossomo por
cífica de nucleotídeos. proteínas não-histonas.
E. uma ligação, que é distal à base que ocupa a E. tem histonas em contato com a fenda maior do
posição 5! da ligação. DNA.
2. Na estrutura de um DNA de ocorrência natural, 5. O RNA
A. DNA circular é formado pela ligação dos 3! A. incorpora tanto bases modificadas como não
OHs de ambas as extremidades de um DNA -modificadas durante a transcrição.
linear. B. não apresenta nenhuma estrutura em dupla
B. o empilhamento de bases reduz a área de su -hélice.
perfície hidrofóbica que deve ser solvatada por C. tem estrutura com empilhamento de bases e
água e estabiliza a dupla hélice. pareamento de bases por pontes de hidrogê
C. as duas fitas podem ser paralelas ou antipara nio.
lelas.
D. geralmente contém cerca de 65-100 nucleotí
D. qual a forma tautomérica assumida pelas fun deos.
ções de nitrogênio e oxigênio, não é relevante
E. não apresenta pareamento de bases Watson–
para sua capacidade de formar pontes de hi
drogênio. Crick.
E. o enrolamento das duas fitas produz duas fen 6. Ribozimas
das helicoidais de tamanhos quase idênticos. A. são quaisquer partículas de ribonucleoproteí
3. A hélice do Z-DNA: nas.
A. é a forma primária em organismos vivos. B. são enzimas cuja função catalítica reside nas
B. é favorecida por uma sequência de G-C alter subunidades RNA.
nadas. C. desempenham reações de autoprocessamen
C. tende a ser encontrada na extremidade 3! de to, mas não podem ser consideradas catalisa
genes. dores verdadeiros.
76 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

D. requerem um cofator proteico para formar ca molécula de DNA, mas um cromossomo hu


uma ligação peptídica. mano contém mais de um DNA.
E. funcionam apenas no processamento do C. O empacotamento do DNA em nucleossomos
mRNA. não envolve topoisomerases.
Questões 7 e 8: Quase todos os processos dos quais D. Polissomos são o nível mais alto de empacota
o DNA participa requerem que o DNA interaja com mento que o DNA tem.
proteínas. As interação com proteínas depende da es E. Fibras de 30 nm (solenoides) podem se orga
trutura tridimensional local do DNA. Uma droga anti nizar em uma série alças ou domínios conden
tumoral, a cisplatina, é um complexo tetracoordenado sados.
de platina. Forma ligações cruzadas intracadeia com o
DNA, levando a dupla-hélice a se dobrar fortemente em Questões 11 e 12: O DNA eucariótico contém muitas
direção à fenda maior. Processos celulares, como trans sequências que podem ser repetidas de algumas vezes,
crição e morte celular programada, são afetados. para alguns genes codificadores, a milhões de vezes,
para algumas sequências relativamente curtas. A ex
7. DNA dobrado pansão anormal de sequências de DNA de três pares de
A. ocorre só em presença de agentes externos, bases reiteradas pode levar a várias doenças. A síndro
como drogas antitumorais. me do X frágil, que causa retardo mental, é caracteri
B. pode ser um elemento fundamental na intera zada pela expansão de um triplete GCC perto do gene
ção entre sequências de DNA e proteínas. FMR-1, de 30 cópias (normal) para milhares de cópias.
C. ocorre primariamente na presença de DNA Doenças desse tipo geralmente aumentam em gravida
tripla-fita. de a cada geração sucessiva. Um possível mecanismo
de expansão envolve o deslizamento do DNA durante a
D. requer a presença de repetições invertidas.
síntese da fita tardia.
E. ocorre só em DNA que está na forma Z.
11. DNA deslizado, com pareamento errado, ocorre
8. Outra forma incomum de DNA é um complexo tri quando a região do DNA tem
pla-fita. DNA tripla-fita
A. repetições diretas.
A. geralmente ocorre no DNA em regiões que não
B. sequências de homopurina-homopirimidina.
desempenham nenhum papel na transcrição.
B. envolve pontes de hidrogênio Hoogsteen. C. repetições invertidas.
C. caracteriza-se pela presença de uma sequên D. repetições no espelho.
cia de bases púricas-pirimídicas alternadas. E. palíndromes.
D. forma-se só entre moléculas. 12. Normalmente, certos tipos de sequências reitera
E. assume uma conformação cruciforme. das ocorrem em um cromossomo como um padrão
disperso que é
Questões 9 e 10: Como as topoisomerases desempe A. o de sequências de DNA muito repetitivas.
nham funções importantes em muitas atividades do
B. a porção do DNA composta de DNA em cópia
metabolismo de ácidos nucleicos, são alvos de alguns
agentes antimicrobianos e antineoplásicos. Estes man única.
têm o complexo intermediário entre topoisomerase e C. o de sequências Alu.
DNA, o que pode resultar em degradação do DNA, in D. o de blocos alternados de DNA cópia única e
trodução de mutações, ou inibição da tradução e da re DNA moderadamente repetitivo.
plicação. E. o de blocos alternados de repetições curtas
9. Topoisomerases dispersas e repetições longas dispersas.
A. regulam o nível de super-helicidade do DNA
nas células. Problemas
B. sempre quebram apenas uma fita de DNA. 13. Qual conformação do DNA, totalmente dupla-héli
C. podem criar, mas não remover, superenrola ce, minimamente desenrolada ou muito desenro
mentos. lada, teria a maior absorbância relativa a 260 nm?
Uma molécula de DNA com um conteúdo maior de
D. devem hidrolisar ATP para sua ação. guanina e citosina teria do que de adenina e timina
E. da subclasse girases, introduzem super-héli Tm maisinversa?
composição
teria alta ou mais baixa do que uma com a
ces negativas no DNA eucariótico.
10. Além da super-helicidade, o DNA ainda precisa ser 14. Uma abordagem para diminuir a atividade de telo
mais empacotado para caber em uma bactéria ou
merase em células tumorais envolve drogas que se
célula. Qual das seguintes está correta: ligam a DNA quadruplex-G, uma vez que os telôme
A. O DNA de ambos, procariotos e eucariotos, ros podem, potencialmente, formar tais estruturas.
forma cromatina. O que é um quadruplex-G, e o que na estrutura te
B. Um cromossomo bacteriano contém uma úni lomérica pode levar a ele?
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 77

Respostas
1. C Ambos A e B descrevem exonucleases. D re certas proteínas. C: o DNA dobrado é dupla-fita. E:
fere-se especificamente a uma endonuclease de o Z-DNA não tem fenda maior proeminente, e a do
restrição, e não é uma definição do tipo geral. E: bra é na direção da fenda maior.
ambas, endo e exonucleases, apresentam especifi
8. B Pontes Hoogsteen em tripletes TAT e GGC são
cidade quanto à ligação hidrolisada.
responsáveis por manter a terceira fita na fenda
2. B Dá uma contribuição importante para a estabi maior. A: são encontrados frequentemente em re
lidade da dupla-hélice. A: a ligação entre nucleotí giões envolvidas na regulação de genes. C: a sequ-
deos é sempre entre o 5!-OH de um com o 3!-OH do ência necessária é uma sequência de homopurinas.
outro. C: o arranjo antiparalelo permite que os nu D: também podem se formar intramolecularmente
cleotídeos opostos fiquem na posição correta para por desdobramento e redobramento do DNA. E:
estabelecer pontes de hidrogênio. D: cada par, na um cruciforme é uma conformação alternativa do
ponte de hidrogênio, deve estar na forma tauto DNA, mas não envolve uma terceira fita.
mérica correta, de modo que um seja o doador e o
9. A Atopoisomerase Irelaxa o DNA, e a topoisome
outro, o aceptor. E: as fendas são diferentes, com a
rase II gera superenrolamentos. B: a topoisomerase
fenda maior sendo mais larga do que a fenda menor.
I quebra uma fita, mas a topoisomerase II quebra
3. B A sequência de purinas-pirimidinas alternadas ambas as fitas. C: a topoisomerase I remove supe
é importante. A: esta é a forma B, mais flexível. C: é renrolamento. D: a topoisomerase II usa ATP, mas
mais provável que seja encontrado na extremidade a topoisomerase I não. E: girases são encontradas
5!, consistente com uma de suas funções propostas só em bactérias.
na regulação da transcrição. D: a metilação favore
10. E Essas alças são ligadas a um arcabouço de pro
ce a forma Z, na qual o metil é protegido da água.
E: a transição B para Z é influenciada por eventos, teínas. A: cromatina é encontrada em eucariotos,
nucleoide em procariotos. B: um cromossomo hu
como metilação.
mano contém um único DNA. C: ocorre adição e
4. A A estrutura “bolinhas num fio” é chamada po quebra de superenrolamentos. D: polissomos orga
linucleossomo. B: histonas formam o cerne (core) nizam-se em fibras de 10 nm e, depois, em fibras de
com o DNA do lado de fora. C: todos os cinco tipos 30 nm que, por sua vez, empacotam mais.
de histonas estão presentes, quatro no cerne e uma
11. A Quando o DNA desenrola e realinha, uma cópia
do lado de fora. D: as regiões de ligação são DNA.
E: proteínas que regulam a expressão gênica e ou de uma repetição direta em uma fita pareia com
uma cópia adjacente da outra fita. B, C, D, E: es
tras atividades ligam-se à fenda maior. Histonas
tas são outros tipos de estruturas importantes no
ligam-se à fenda menor.
DNA.
5. C O empilhamento estabiliza a hélice fita única.
As porções dobradas da estrutura têm pareamen 12. D A, B: estes são dois de vários tipos de DNAs,
mas não constituem padrões. C e E: Alu é um tipo
to de bases por pontes de hidrogênio. A: apenas as
de repetição dispersa curta. Repetições dispersas
quatro bases A, G, U e C são incorporadas durante
curtas e longas são as duas classes de DNA mode
a transcrição. B: embora fita única, o RNA apresen
radamente repetitivo.
ta considerável estrutura secundária e terciária. D:
só o tRNA seria assim pequeno. E: isso ocorre nas 13. Bases púricas e pirimídicas não-empilhadas têm
regiões helicoidais intracadeia. densidade óptica relativa mais alta do que bases
empilhadas, de modo que a forma mais desenro
6. B Ribozimas são um tipo muito específico de
lada do DNA teria o valor mais alto. Tm é o ponto
partícula. A: ver comentário anterior. C: uma das
do meio da transição entre DNA dupla-fita e DNA
quatro classes, RNase P, catalisa uma reação de cli
separado. Conteúdo mais alto de G-C significa que
vagem. D: cristalografia de raios-X demonstrou que
o DNA é mais estável, de modo que sua Tm seria
não há nenhuma cadeia de aminoácidos suficien
mais alta.
temente próxima para catalisar a formação da li
gação peptídica. E: ribozimas foram implicadas no 14. Quartetos-G contêm um arranjo planar de gua
processamento do RNA ribossômico e de tRNAs. ninas interconectadas por pontes de hidrogênio
Hoogsteen, que podem empilhar umas sobre as
7. B O DNA dobrado pode ser um sítio de reconhe
outras para formar uma estrutura multicamadas.
cimento para que proteínas específicas se liguem.
São estabilizadas por Na+ e K+. Telômeros contêm
A e D: DNA dobrado ocorre naturalmente em se
800-2.400 cópias da sequência necessária, rica em
quências de 4 a 6 adenosinas separadas por espa
G d(TTAGGG)n.
çadores ou é induzida por interações do DNA com
78 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE I CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 79
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS

3
Proteínas I:
Composição e estrutura
Richard M. Schultz
Professor Titular, Stritch School of Medicine, Loyola University of Chicago

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


3.1 PAPÉIS FUNCIONAIS DE PROTEÍNAS NO HO 3.1 Proteínas Plasmáticas no Diagnóstico de Doenças,
MEM, 80 92
3.2 COMPOSIÇÃO EM AMINOÁCIDOS DE PROTEÍ 3.2 Diferenças em Insulinas Usadas em Tratamento
NAS, 81 de Diabetes Mellitus, 94
3.3 PROPRIEDADES DE CARGAS E QUÍMICAS DE 3.3 Hiperlipoproteinemias, 113
AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS, 86
3.4 Hipolipoproteinemias, 114
3.4 ESTRUTURA PRIMÁRIA DE PROTEÍNAS, 93
3.5 Hemoglobina Glicosilada, HbA1c, 117
3.5 NÍVEIS SUPERIORES DE ORGANIZAÇÃO DE
3.6 Doenças de Príons e Proteínas Como Agentes
PROTEÍNAS, 94
Infecciosos: Encefalopatias Espongiformes Trans
3.6 PROTEÍNAS ESTRUTURADAS NÃO GLOBULA missíveis Humanas (TSEs), 118
RES, 106
3.7 Uso de Análise de Aminoácidos em Diagnóstico de
3.7 DOBRAMENTO (FOLDING) DE PROTEÍNAS DE Doenças, 131
ESTRUTURAS ALEATÓRIAS PARA ESTRUTU
RAS SINGULARES: ESTABILIDADE DA PROTEÍ
NA, 116
3.8 ASPECTOS DINÂMICOS DA ESTRUTURA DE
PROTEÍNAS, 125
3.9 CARACTERIZAÇÃO, PURIFICAÇÃO E DETERMI
NAÇÃO DA ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DE
PROTEÍNAS, 126

Conceitos Chaves
• Dois tipos de aminoácidos compõem polipeptíde • Os aminoácidos nas cadeias polipeptídicas são uni
os: aminoácidos comuns e derivados. Aminoácidos dos por uma ligação peptídica, que conecta o grupo
comuns têm um átomo de carbono central ao qual ácido α-carboxílico de um aminoácido com o grupo
é ligado um grupo amino, um grupo ácido carboxí α-amino de um segundo aminoácido.
lico, um átomo de hidrogênio e um grupo de cadeia
• Aminoácidos e proteínas têm propriedades ácido
lateral.
-base e de cargas correspondentes que determi
nam suas atividades biológicas e são usadas para
caracterização e purificação.
80 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

• Uma proteína é definida por sua estrutura secun • Uma proteína dobra-se até atingir sua conformação
dária, terciária e quaternária. a-Hélices e b-estru de menor energia livre de Gibbs, dentro dos limites
turas são estruturas secundárias estáveis comuns cinéticos, sob o controle de forças não covalentes.
encontradas em proteínas dobradas. As estruturas das proteínas dobradas são dinâmi

• Domínios de proteínas globulares são formados cas, com os átomos flutuando e girando em torno
por motivos estruturais e dobras características. de posições médias.
• Proteínas nas células estão presentes em comple • Proteínas são purificadas e caracterizadas por téc
xos, que são organizados em redes e participam de nicas que utilizam carga e peso molecular. A es
interactomas. trutura de proteínas é caracterizada por técnicas
Algumas proteínas são intrinsecamente não-es espectrais, ópticas e de difração de raios-x.

truturadas, o que é necessário para suas funções • Técnicas de proteômica determinam a expressão
biológicas. de milhares de proteínas em uma célula ou um te
cido, em um único ensaio.
• Proteínas não globulares incluem proteínas fibro
sas, como o colágeno, com sequência de aminoáci
dos repetitiva e hélice incomum, com geometria em
forma de bastão.

3.1 PAPÉIS FUNCIONAIS DE compostos tóxicos são transportados ligados a proteínas.


Outras proteínas agem intracelularmente, transpor
PROTEÍNAS NO HOMEM tando compostos, bem como outras proteínas, até seus
locais de ação. As proteínas agem na transmissão de
As proteínas desempenham uma surpreendente va compostos e de sinais através da membrana plasmática
riedade de funções essenciais dinâmicas e estruturais de células e da membrana de organelas. As proteínas
em organismos de mamíferos. Funções dinâmicas in também participam dos mecanismos de contração. Mio
cluem catálise de transformações químicas, transpor sina e Actina funcionam na contração muscular e são
te, controle metabólico e contração. Em suas funções responsáveis por mudanças na forma da célula.
estruturais, as proteínas compõem a matriz para osso
e tecido conjuntivo, dando estrutura e forma ao orga Proteínas com um papel protetor incluem imuno
nismo humano. Estima-se que os aproximadamente globulinas, proteínas do complemento e interferon, que
25.000 genes humanos, por meio de splicing alterna protegem contra infecções bacterianas ou virais. As
tivo de RNA e modificações pós-tradução de proteínas proteínas da coagulação interrompem a perda de san
traduzidas, produzam 1 milhão de proteínas individua gue quando há lesão no sistema vascular.
lizadas. O número de proteínas expressas simultanea
Muitos hormônios são proteínas ou peptídeos. Insu
mente em uma única célula humana está na faixa de lina, tirotropina, somatotropina (hormônio de cresci
20.000 a 50.000. mento), prolactina, hormônio luteinizante e hormônio
Enzimas são proteínas que catalisam reações quími folículo-estimulante são proteínas. Muitos hormônios
cas. Quase todas, dentre as milhares de reações quími polipeptídicos têm baixo peso molecular (<5 kDa) e são
cas de organismos vivos, exigem uma enzima específica chamados peptídeos. Em geral, o termo proteína é usa
catalisadora para garantir que essas reações ocorram do para moléculas que contêm mais de 50 aminoácidos,
numa velocidade compatível com a vida. O caráter de e peptídeo é usado para aquelas que contêm menos do
que 50 aminoácidos. Os hormônios peptídicos impor
qualquer célula é baseado em sua química particular,
tantes incluem o hormônio adrenocorticotrópico, hor
que é determinada por sua composição enzimática es
mônio antidiurético, glucagon e calcitonina.
pecífica, que estabelece o fenótipo celular. Muitas doen
ças genéticas resultam de níveis alterados da produção Proteínas controlam e regulam a transcrição e a tra
de enzimas, ou de alterações específicas em sua sequ- dução de genes. Estas incluem as proteínas histonas,
ência de aminoácidos. Aproximadamente um terço dos que ficam estreitamente associadas com o DNA, fatores
genes humanos codifica proteínas que são enzimas. de transcrição repressores e amplificadores que con
trolam a transcrição gênica, proteínas que regulam a
Transporte é outra função importante de proteínas.
estrutura do DNA para promover ou inibir a expressão
São exemplos discutidos em detalhes neste texto a he de genes, proteínas que transcrevem o DNA em RNA e
moglobina e a mioglobina, que transporta oxigênio no componentes de partículas heteronucleares com RNA
sangue e o armazena no músculo, respectivamente. As e ribossomos.
proteínas ligam e carregam lipídeos, metabólitos, hor
mônios esteróides, vitaminas, moléculas sinalizadoras Proteínas estruturais desempenham funções de
e minerais no sangue, do seu local de síntese ou entrada “tijolo-e-argamassa”. Estão incluídos colágeno e elas
até seu local de ação ou eliminação. Muitas drogas e tina, que formam a matriz do osso e dos ligamentos e
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 81

dão força estrutural e elasticidade a órgãos e ao sistema Aminoácidos Comuns


vascular. Tubulina e actina são proteínas que polimeri
zam em fibras de microtúbulos e filamentos que formam Aminoácidos comuns têm a estrutura geral repre
o citoesqueleto de cada célula. sentada na Figura 3.2. Eles contêm em comum um áto
mo central de carbono-alfa (a) ao qual um grupo ácido
Um entendimento do funcionamento normal e pa carboxílico, um grupo amino e um átomo de hidrogê
tológico do organismo de mamíferos requer um claro nio estão covalentemente ligados. Além disso, a quarta
entendimento das propriedades das proteínas. valência do átomo de carbono-a é ligado a um grupo
químico específico, designado por R e chamado cadeia
lateral, que define especificamente cada um dos amino
3.2 COMPOSIÇÃO EM ácidos comuns. A Figura 3.2 mostra a forma ionizada de
um aminoácido comum em solução a pH 7. Em condi
AMINOÁCIDOS DE ções fisiológicas, o grupo a-amino está protonado e em
forma de íon amônio; o grupo carboxílico está despro
PROTEÍNAS tonado ou em forma de íon carboxilato.
Todos os diferentes tipos de proteínas são polímeros
de apenas 21 aminoácidos. Esses aminoácidos comuns
são definidos como os aminoácidos para os quais existe COO–
pelo menos um códon no código genético. A transcrição NH
+ 3 Cα H
e a tradução do código do DNA resultam na ligação de
R
aminoácidos em uma sequência linear específica carac
terística de uma proteína (Figura 3.1). Muitas proteínas FIGURA 3.2 Estrutura geral dos aminoácidos comuns.
também contêm aminoácidos derivados, que são ge
ralmente formados por modificação enzimática de um
dos aminoácidos comuns depois de sua incorporação a Cadeias Laterais Definem a Natureza
uma proteína. Exemplos de aminoácidos derivados são
Química e as Estruturas de a-Aminoácidos
cistina (p. 84), desmosina e isodesmosina, encontrados
na elastina, hidroxiprolina e hidroxilisina do colágeno, As estruturas dos aminoácidos comuns são mos
g-carboxiglutamato na protrombina, além de fosfoseri tradas na Figura 3.3. Aminoácidos que contêm grupos
na, alfosfotreonina e fosfotirosina. alquila como cadeias laterais incluem glicina, alanina,
valina, leucina e isoleucina. A Glicina tem a estrutura
mais simples, com R = H. A Alanina contém um gru
po metil (CH3—). A Valina tem um grupo R isopropil
(Figura 3.4). Os grupos R de leucina e isoleucina são
grupos isobutil que são isômeros estruturais um do ou
Genes tro. Na leucina, a ramificação da cadeia lateral isobutil
contendo
códons para
Membrana ocorre no carbono-gama (g), e na isoleucina é ramifica
nuclear da no carbono-beta (b) (Figura 3.4).
aminoácidos

Fenilalanina, tirosina e triptofano são aminoácidos


aromáticos. A Fenilalanina contém um anel benzêni
co, a tirosina um grupo fenol, e o triptofano a estru
transcrição tura heterocíclica indol. Em todos os casos, a porção
aromática é ligada ao carbono-a por um carbono meti
leno (—CH2—) (Figura 3.3).
mRNA contendo
a sequência de códon Aminoácidos contendo enxofre são cisteína e metio
de aminoácidos nina. O grupo de cadeia lateral da cisteína é um tiol
metil (HSCH2—), e na metionina, a cadeia lateral é um
metil etiltiol éter (CH3SCH2CH2—).
tradução
Os dois aminoácidos contendo hidroxila (álcool)
são serina e treonina. Na serina, a cadeia lateral é um
Proteína
hidroximetil (HOCH2—). Na treonina, uma estrutura
com sequência etanol é conectada ao carbono-a para produzir um ál
específica de aminoácidos cool secundário (CH3-CHOH-CHa—).

FIGURA3.1 A informação genética é transcrita de uma Prolina é singular porque incorpora o a-amino gru
sequência de DNA para mRNA e então é traduzida para po em sua cadeia lateral e é mais precisamente classifi
a sequência de aminoácidos de uma proteína. cada como um a-iminoácido, uma vez que sua a-amina
82 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Monoamino, monocarboxílico
Não substituído

COO– COO– COO– COO– COO–

H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3N
+ C H
H3H
H CH3 H3 CH CH2 H3C CH2
CH
Glicina H3H
L-Alanina C CH3
L-Valina C
L-Leucina L-Isoleucina

H3 CH3 CH3

H3 Monoamino,
Heterocíclico
H dicarboxílico
Hidroxi Aromático Diamino, monocarboxílico Tioéter
H2CCH2
N H + COO– H3H
+ COO– + COO– COO–
NC
H2C + C H3NCH H3NCH +
H3NCH
H2 COO– CH2 CH2 CH2 CH2

CH2

S
HN CH3

OH
L-Prolina L-Fenilalanina L-Tirosina L-Triptofano L-Metionina

Mercapto Seleno Carboxamida

COO– COO– COO– COO– COO– COO–

N
+ C H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+

CH2OH HC OH CH2 CH2 CH2 CH2

CH3 SH SeH C NH2 CH2


O C NH2
O
L-Serina L-Treonina L-Cisteína L-Selenocisteína L-Asparagina L-Glutamina

COO– COO– COO– COO– COO–


NC NC NC
+ + H3N
+ CH H3H
+ H3N
+ CH

CH2 CH2 CH2 CH2 CH2

COO– CH2
COO– CH2 CH2 HN NH++

NH
CH2

+NH3 H2N
+ C
NH2

L-Aspartato L-Glutamato L-Lisina L-Arginina L-Histidina

FIGURA 3.3 Estruturas dos aminoácidos comuns. As formas carregadas são as presentes em pH 7,0.

é uma amina secundária, com seu nitrogênio-a tendo do carbono-a (Figura 3.5). No glutamato (Figura 3.5),
duas ligações covalentes com carbono. A incorporação o grupo é separado por dois átomos de carbono meti
do nitrogênio a-amino em um anel de cinco membros leno (—CH2—CH2—) do carbono-a (Figura 3.5). Em
limita a liberdade de rotação em torno da ligação — pH fisiológico, esses grupos são desprotonados e car
Na—Ca— da prolina e, assim, limita a participação da regados negativamente. O ácidos dibásicos-monocar
prolina em conformações específicas da cadeia polipep boxílicos são a lisina, a arginina e a histidina (Figura
tídica. 3.3). Nestes, o grupo R contém um ou dois átomos de
nitrogênio que agem como uma base ligando um pró
Os aminoácidos descritos até agora contêm cadeias ton. Na lisina, a cadeia lateral é uma N-butilamina. Na
laterais que não são carregadas em pH fisiológico. Os arginina, a cadeia lateral contém um grupo guanidino
ácidos dicarboxílicos-monoamino contêm um grupo (Figura 3.6) separado do carbono-a por três átomos
carboxílico em sua cadeia lateral. No aspartato, esse de carbono metileno. Tanto o grupo guanidino da ar
grupo é separado por um carbono metileno (—CH2—) ginina como o grupo e-amino da lisina são protonados
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 83

em pH fisiológico (~7) e carregados positivamente. Na selenocisteína (Figura 3.3), com um códon especí
histidina, a cadeia lateral contém uma estrutura hete fico no mRNA e tRNA que coloca selenocisteína em
rocíclica de cinco elementos, o grupo imidazol (Figura cadeias polipeptídicas durante a tradução do mRNA,
3.6). O pK!a do grupo imidazol é aproximadamente 6,0 foi demonstrado. A selenocisteína é estruturalmente
em água; portanto, soluções fisiológicas contêm con semelhante à cisteína, mas com um átomo de selênio
centrações relativamente altas de ambas as formas bá substituindo o átomo de enxofre. Uma dificuldade com
sica (imidazol) e ácida (imidazólio) da cadeia lateral o códon da selenocisteína é que ele é idêntico a um
da histidina. dos códons de terminação, que se traduz num sinal de
parada da tradução. Portanto, esse códon, UGA, tem
dois significados. O códon codifica um sinal de parada
CH3 da tradução na grande maioria das vezes, mas em con
H Cβ
textos especiais de RNA, codifica a incorporação de
CH3
Grupo R isopropil da valina
selenocisteína em uma sequência polipeptídica. Esses
casos são raros, uma vez que apenas 25 genes foram
identificados no genoma humano, que codificam pro
CH3 H teínas que incorporam selenocisteína. Além disso, en
HCγ Cβ quanto selenocisteína-proteínas são encontradas em
CH3 H todos os animais, o códon não é universal, uma vez
que não está presente em plantas superiores, levedu
Grupo R isobutil da leucina
ras e na maioria das bactérias. Em estudos animais, o
nocaute (knockout) do gene do tRNA de selenocisteí
CH3 na é letal, inferindo-se que a selenocisteína é essencial
CH3CH2 Cβ para a vida em espécies animais. Muitas das seleno
H proteínas têm um papel antioxidante na eliminação de
Grupo R isobutil da isoleucina espécies reativas de oxigênio.

FIGURA 3.4 Cadeias laterais alquilas da valina, leucina e


isoleucina. +
NH2

NH2 C NH
–O
Grupo guanidina (forma carregada) da arginina
CCH2
O
HC C
Grupo R do aspartato
HN+ NH
–O C
H
C CH2 CH2
Grupo imidazólio da histidina
O

Grupo R do glutamato
FIGURA 3.6 Grupos guanidina e imidazólio de arginina e
histidina.
FIGURA 3.5 Cadeias laterais de aspartato e glutamato.

Para representar sequências de aminoácidos em


Glutamina e asparagina são análogos estruturais
de ácido glutâmico e ácido aspártico, com seus grupos proteínas, abreviaturas de três letras e de uma letra
para os aminoácidos comuns são usadas (Tabela 3.1).
carboxílicos das cadeias laterais amidados. Existem có
dons de DNA específicos para glutamina e asparagina, Essas abreviaturas são universalmente aceitas e serão
diferentes dos do ácido glutâmico e do ácido aspártico. usadas em todo este livro. As abreviaturas de três letras
As cadeias laterais amida da glutamina e da asparagina dos ácidos aspártico (Asp) e glutâmico (Glu) não devem
não podem ser protonadas e não são carregadas em pH ser confundidas com as de asparagina (Asn) e glutami
na (Gln). Na determinação da composição em amino
fisiológico.
ácidos de uma proteína por procedimentos químicos,
Por volta de meados da década de 1960, acreditava não se pode diferenciar facilmente entre Asn e Asp, ou
-se que os códons de três nucleotídeos do DNA, es entre Gln e Glu, porque os grupos amida das cadeias
pecificando os aminoácidos comuns encontrados em laterais de Asn e Gln são frequentemente hidrolisados
proteínas, tivessem sido determinados. O número no processo e geram Asp e Glu (Seção 3.9). Os símbolos
total de aminoácidos comuns era 20, derivados de 64 Asx para Asp ou Asn, e Glx para Glu ou Gln, indicam
códons tripletes possíveis, com 3 códons destinados a essa ambiguidade na análise. Um esquema semelhante
terminar a tradução de open readingframes (Tabela é usado com as abreviaturas de uma letra para Asp ou
6.1). Entretanto, em 1988, um 21º aminoácido comum, Asn, e Glu ou Gln.
84 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

TABELA 3.1 Abreviaturas dos Aminoácidos COO–


CH2 COO–
Aminoácido Abreviatura NH3
H C H CNH3H

Letras
Três Uma CH2
Letra + SH
C
+H2 +
–2H S
S
Alanina Ala A
SH
CNH+3 CNH+3
Arginina Arg R CH2
Asparagina Asn N H
Aspartato Asp D COO– COO–

Asparagina ou aspartato Asx B Duas cisteínas Cistina

Cisteína Cys C
FIGURA3.7 Formação da ligação cistina.
Glicina Gly G
Glutamina Gln Q
te a um carbono-α. Um átomo de carbono com quatro
Glutamato Glu E substituintes diferentes numa configuração tetraédrica
Glutamina ou glutamato Glx Z é assimétrico e existe em duas formas enantiomorfas.
Portanto, todos os aminoácidos apresentam isomeria
Histidina His H
óptica, exceto glicina na qual R = H e, portanto, dois
Isoleucina Ile I dos quatro substituintes do átomo de carbono-α são hi
Leucina Leu L drogênio. A configuração absoluta de um aminoácido
é apresentada na Figura 3.8, usando a projeção de Fis
Lisina Lys K cher para mostrar a posição no espaço dos substituin
Metionina Met M tes do carbono-α arranjados num tetraedro. O grupo
α-COO– é direcionado para cima e para trás do plano da
Fenilalanina Phe F
página, e o grupo R está direcionado para baixo e para
Prolina Pro P trás do plano da página. Os grupos α-H e α-NH3+ estão
Selenocisteína Sec U na direção ao leitor. Um aminoácido assim posiciona
a direita
do projetadoseu
átomo
grupo
deα-NH 3+ paraPor
carbono-α. a esquerda ou para
convenção,
Serina Ser S
se o
Treonina Thr T α-NH3+ estiver projetado para a esquerda, o aminoáci
Triptofano Trp W do tem configuração absoluta L. Seu enantiômero, com
α-NH3+ projetado para a direita, tem uma configuração
Tirosina Tyr Y absoluta D. As proteínas de mamíferos contêm aminoá
Valina Val V cidos apenas com configuração L. As designações L e D
referem-se à capacidade de girar luz polarizada para a
esquerda (L, levo) ou direita (D, dextro) a partir de seu
Cistina É um Aminoácido Derivado plano de polarização. Como os aminoácidos das pro
teínas são assimétricos, as proteínas que os contêm
Produzido pela Oxidação de Dois Resíduos
também apresentam propriedades assimétricas.
de Cisteína
Um aminoácido derivado encontrado em muitas
proteínas é a cistina. É formado pela oxidação de duas COO– COO–
cadeias laterais tiol de duas cisteínas, formando uma
ligação covalente dissulfeto (Figura 3.7). Em proteí NH3
+ C H
HC
NH+3
nas, ligações dissulfeto de cistina formada a partir de
resíduos de cisteína, separadas uma da outra na cadeia R R

polipeptídica (intracadeia) ou entre duas cadeias poli Configuração L Configuração D


peptídicas (intercadeias) têm um papel importante na
FIGURA 3.8 Configuração absoluta de um aminoácido.
estabilização da conformação dobrada de proteínas (es
trutura da insulina; ver Figura 3.23, p. 91).
Aminoácidos São Polimerizados em
a-Aminoácidos Têm um Centro Peptídeos e Proteínas
Assimétrico
A ligação de uma seleção de aminoácidos comuns
Os aminoácidos comuns (ver Figura 3.2) têm quatro em cadeias polipeptídicas em células é catalisada en
substituintes (R, H, COO– e NH+)3 ligados covalentemen zimaticamente (p. 225). Quimicamente, é uma reação
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 85

de desidratação (Figura 3.9). O grupo a-carboxílico de O O–


um aminoácido forma uma ligação peptídica covalen R C′ N R′ R C′ N R′
+
te com o grupo a-amino de outro aminoácido por eli
minação de uma molécula de água. O dipeptídeo (dois H H
resíduos de aminoácidos unidos por uma única ligação I II
peptídica) pode então formar uma segunda ligação pep
tídica por meio de seu grupo carboxílico terminal e o FIGURA 3.10 Estruturas de isômeros eletrônicos de uma
a-amino de um terceiro aminoácido, gerando um tri ligação peptídica.
peptídeo (Figura 3.9). A repetição desse processo gera Uma consequência do caráter parcial de dupla liga
um polipeptídeo ou proteína com sequência específica ção é que não ocorre rotação do carbono da carbonila
de aminoácidos. Essa é a estrutura primária da proteí em relação ao nitrogênio de uma ligação peptídica em
na, e é predeterminada pela sequência de nucleotídeos
temperaturas fisiológicas. Uma segunda consequência
de seu gene. A estrutura primária singular permite que do caráter de dupla ligação é que todos os átomos liga
uma cadeia polipeptídica se dobre em uma estrutura
dos a C! e N ficam num plano comum.
tridimensional específica, que dá à proteína suas pro
priedades químicas e fisiológicas. +C
C C′N
O−

Uma ligação peptídica pode ser representada como H


dois isômeros de ressonância (Figura 3.10). Na estru
tura I, uma dupla ligação localiza-se entre o carbono da Assim, uma cadeia polipeptídica consiste de planos
carbonila e o oxigênio da carbonila (C!=O), e a liga de ligações peptídicas interconectados nos átomos de
ção do carbono da carbonila com o nitrogênio (C!—N) carbono-a. O carbono-a interconecta as ligações peptí
é uma ligação simples. Na estrutura II, a ligação entre dicas por meio de ligações simples que permitem rota
o carbono e o oxigênio (C!—O–) é uma ligação simples, ção de planos peptídicos adjacentes, um em relação ao
e a ligação localizada entre o carbono e o nitrogênio é outro. Cada resíduo de aminoácido contribui com um
uma dupla ligação (C!=N). Na estrutura II há uma car carbono-a, duas ligações simples e uma ligação peptí
ga negativa no oxigênio e uma carga positiva no nitro dica para a cadeia polipeptídica (Figura 3.11). O termo
gênio. Ligações peptídicas reais são híbridos de resso resíduo refere-se aos átomos fornecidos por um amino
nância dessas duas estruturas elétron isômeras, sendo ácido a uma cadeia polipeptídica, incluindo os da cadeia
que a ligação entre carbono e nitrogênio tem caráter lateral.
de 50% dupla ligação. Estudos de difração de raios-X
confirmam isso e mostram que o comprimento da liga
ção entre o carbono da carbonila e o nitrogênio (1,33 Å) Ligação peptídica para Ri

está aproximadamente a meio caminho entre o de uma HRi–1δ+H Φi ψi Oδ–


C′ HRi+1

ligação C!—N simples (~1,45 Å) e uma ligação C!=N C N C


dupla (~1,25 Å). Cα Nδ+Φi+1
ψi –1C′
Oδ– Ri H H

NH3 H H
FIGURA 3.11 Resíduo de aminoácido numa cadeia
+ C COO– + NH C
+ 3COO– polipeptídica.
R1 R2 Cada resíduo de um polipeptídeo contribui com duas ligações
simples e uma ligação peptídica para a cadeia. As ligações sim
– H2O ples são aquelas entre o Ca e os átomos C! carbonílicos e os
átomos Ca e N. Ver p. 96 para definição de f e y.
H O R2 H
A ligação peptídica da Figura 3.12a mostra uma con
NH
+ 3 CCNCCOO– + NH3CCOO–
+
figuração trans de seus átomos de oxigênio (O) e hi
R1 HH R3 drogênio (H). Essa é a configuração mais estável, com
as duas cadeias laterais de resíduos adjacentes (R e R!)
Dipeptídeo
também em trans. A configuração cis (Figura 3.12b)
– H2O traz os dois grupos das cadeias laterais para o mesmo
lado da ligação C!=N, que é desfavorável em virtude do
H O R2 O H impedimento estérico entre os grupos R. Consequente
CCNC
+
NH3CNCCOO–
mente, ligações peptídicas trans ocorrem em proteínas,
exceto quando há resíduos de prolina. Na prolina, a ca
R1 HH
TripeptídeoH R3 deia lateral inclui o grupo a-amino, e ambas as configu
rações da ligação peptídica, cis e trans, com o a-imino
grupo da prolina têm interações desfavoráveis com o
FIGURA 3.9 Formação da ligação peptídica. carbono-a do aminoácido adjacente que está formando
86 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

a ligação peptídica com o a-imino. Por conseguinte, a li é o aminoácido NH2-terminal do tripeptídeo e é o resí
gação peptídica de prolina em uma cadeia polipeptídica duo de aminoácido 1 da sequência. A prolina é o amino
não-estruturada ou desnaturada terá quantidades sig ácido COOH-terminal e é o resíduo 3. A direção definida
nificativas de sua ligação peptídica em configurações da cadeia polipeptídica é de Glu para Pro (aminoácido
trans e cis. A configuração da ligação peptídica da pro NH2-terminal para aminoácido COOH-terminal).
lina em uma proteína dobrada depende das forças sobre
a ligação da prolina geradas pela estrutura tridimensio
nal da molécula de proteína específica na qual a prolina
3.3 PROPRIEDADES DE
está inserida.
CARGAS E QUÍMICAS
H
DE AMINOÁCIDOS E
R
PROTEÍNAS
α-Ci

H
Grupos Ionizáveis de Aminoácidos e
Proteínas São Críticos para a Função
C´ N

Ligação
Biológica
peptídica Os grupos ionizáveis comuns a proteínas e aminoáci
O α-Ci +1 dos são mostrados na Tabela 3.3. As formas ácidas estão
à esquerda do sinal de equilíbrio, e as formas básicas do
R′ H lado direito. Ao formar sua base conjugada, a forma áci
da libera um próton. Ao contrário, a forma básica asso
(a) configuração trans cia-se com um próton para formar o respectivo ácido. A
dissociação de um ácido é caracterizada por uma cons
tante
= log (1/K!a
de dissociação ácida (K!a) e seu valor de pK!a:pK!a
H H
R R′
). A Tabela 3.3 mostra a faixa de valores de
pK!a para cada grupo ácido, porque o pK!a real depende
α-Ci α-Ci +1 do meio no qual o grupo ácido está colocado. Por exem
plo, quando um grupo amônio carregado positivamente
(—NH3+) é colocado perto de um grupo carregado nega
tivamente em uma proteína, a carga negativa estabiliza
C´ N a forma ácida carregada positivamente, tornado mais di
fícil
o pK!a
a dissociação
incluem a polaridade
do seu próton.
do ambiente,
O pK!a doa —NH3
ausência
+ terá
ou
Ligação
peptídica
um valor maior do que o normal para um grupo amônio
H na ausência de uma estabilização por uma carga negati
O va de estabilização próxima. Outros fatores que afetam
(b) configuração cis
presença de água e o potencial para formação de pontes
FIGURA3.12 (a) Ligação trans-peptídica e (b) a rara de hidrogênio. Além disso, grupos ácidos (a-COOH ou
ligação cis-peptídica. a-NH3+) nas extremidades dos polipeptídeos tipicamen
C!-N tem caráter parcial de dupla ligação. te têm um valor de pK!a mais baixo do que os mesmos
tipos de grupos ácidos nas cadeias laterais (Tabela 3.4).
Um dos maiores polipeptídeos humanos é a proteína Os aminoácidos cujos grupos R contêm átomos de nitro
muscular titina, que contém cerca de 27.000 resíduos gênio (Lys e Arg) são os aminoácidos básicos, uma vez
de aminoácidos em uma única cadeia polipeptídica. O que sua cadeias laterais têm valores relativamente altos
comprimento da cadeia por si só, entretanto, não de de pK!a e funcionam como bases em pH fisiológico. Eles
termina a função de um polipeptídeo. Muitos peptídeos estão geralmente em sua forma ácida e são carregados
pequenos de menos de 10 aminoácidos desempenham positivamente em pH fisiológico. Aminoácidos cujas ca
importantes funções bioquímicas e fisiológicas no ho deias laterais contém um grupo carboxílico têm valores
mem (Tabela 3.2). As estruturas primárias são escri de pK!a relativamente baixos, que facilmente perdem
tas de uma forma padrão, convencional, e numeradas seus prótons e são aminoácidos acídicos. Estão predo
sequencialmente da extremidade NH2-terminal para a minantemente em sua forma desprotonada e carregada
extremidade COOH-terminal, consistente com a ordem negativamente em pH fisiológico. Proteínas nas quais a
de adição dos aminoácidos à cadeia durante a biossín razão (ΣLys + ΣArg)/(ΣGlu + ΣAsp) é maior do que 1
tese. Assim, para o hormônio liberador de tirotropina são proteínas básicas. Proteínas nas quais a razão é me
(Tabela 3.2), o resíduo de ácido glutâmico da esquerda nor do que 1 são proteínas acídicas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 87

TABELA 3.2 Peptídeos Biologicamente Ativos


Sequência de aminoácido Nome Função
Hormônio
de tirotropina
liberador Secretado pelo hipotálamo; induz a
1 3
)a glândula pituitária anterior a liberar
piroGlu-His-Pro(NH2
hormônio tireotrópico
1 9 antidiurético)
(hormônio
Vasopressina Secretado pela glândula pituitária
H-Cys-Tyr-Phe-Gln-Asn-Cys-Pro-Arg-Gly(NH2)b,a posterior; faz o rim reter água da
| | urina
S—S
Metionina encefalina Peptídeo tipo-opiato encontrado no
1 5
cérebro e que inibe a sensação de
H-Tyr-Gly-Gly-Phe-Met-OH
dor
1 10 Gastrina pequena Hormônio secretado por células
piroGlu-Gly-Pro-Trp-Leu-Glu-Glu-Glu-Glu (humana) da mucosa do estômago; induz as
11 17 células parietais do estômago a
Ala-Tyr-Gly-Trp-Met-Asp-Phe(NH2)c,d secretarem ácido
|
SO3
1 10 Glucagon (bovino) Hormônio pancreático envolvido na
H-His-Ser-Gln-Gly-Thr-Phe-Thr-Ser-Asp-Tyr regulação do metabolismo da glicose
11 20
Ser-Lys-Tyr-Leu-Asp-Ser-Arg-Arg-Ala-Gln
21 29
Asp-Phe-Val-Gln-Trp-Leu-Met-Asn-Thr-OH
Angiotensina II Peptídeo pressor ou hipertensivo;
1 8
(cavalo) também estimula liberação de
H-Asp-Arg-Val-Tyr-IleHis-Pro-Phe-OH
aldosterona do córtex adrenal
1 9 Bradicinina Peptídeo vasodilatador
H-Arg-Pro-Pro-Gly-Phe-Ser-Pro-Phe-Arg-OH plasmática (bovina)
1 10 Substância P Neurotransmissor
)a
H-Arg-Pro-Lys-Pro-Gln-Phe-Phe-Gly-Leu-Met(NH2
aO NH2-terminal do Glu está na forma piro na qual seu g-COOH é covalentemente ligado ao seu a-NH2 por ligação amida; o aminoácido COOH-terminal

está amidado e, assim, também não está livre.


bCisteína-1 e cisteína-6 estão ligadas formando uma ponte de dissulfeto interna no nonapeptídeo.
cA Tyr 12 é sulfatada na sua cadeia lateral fenólica OH.
dO aminoácido COOH-terminal é amidado.

A Forma Iônica de um Aminoácido ou uma Consequentemente, a enzima terá 50% de sua ativi
Proteína Pode Ser Determinada em Dado dade potencial. Em pH 7,0, a razão [imidazol]/[imida
zólio] é 10:1 (Tabela 3.5), e a enzima apresenta 10/(10
pH
+ 1) × 100 = 91% de sua atividade potencial máxima.
Do valor do pK!a de cada grupo ácido em um ami Portanto, uma mudança no pH tem um efeito drástico
sobre a atividade da enzima.
noácido ou proteína e pela equação de Henderson–
Hasselbalch (Figura 3.13), a forma iônica da molécula
pode ser calculada em um dado pH. Essa é uma equa
ção importante porque mostra a mudança no estado
pH = pKa + log [base conjugada]
de ionização e na carga da molécula com o pH. As ati
[ácido conjugado]
vidades fisiológicas de uma molécula diferem com mu
or
danças no pH e no estado de ionização. Por exemplo,
algumas enzimas requerem o imidazol de uma histidi [base conjugada]
pH – pKa = log [ácido conjugado]
na em sua forma básica para atividade catalítica. Se o
pK!a dessa histidina é 6,0, em pH 6,0 metade das mo
léculas da enzima estarão na forma básica ativa (imi FIGURA3.13 Equação de Handerson–Hasselbalch.
dazol) e metade na forma ácida inativa (imidazólio). (Para uma discussão mais detalhada dessa equação, ver p. 8).
88 º PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

TABELA 3.3 Valores de pKa característicos para os Grupos Ácidos Comuns em Proteínas
Faixa Aproximada
Onde o Grupo Ácido É Encontrado Forma Ácida Forma Básica de pKa
Para o Grupo

NH2-terminal ou cadeia lateral de R—NH3 R—NH2 + H" 7,6—10,6


lisina Amônia > Amina , U-1U,

COOH-terminal Ou Cadeias laterais R—COOH R—COO + H" 3,0–5,5


de glutamato e aspartato ácido CarboxílicO CarboxilatO > > >>

R-NH-C NH R—NH—C=NH + H"

Cadeia lateral de arginina : = | 11,5—12,5


NH2 NH2
GuanidíneO Guanidino

• • I Aº R—SH R—ST + H"


Cadeia lateral de Cisteína Ti = -- • 80-90
iOl TiOlatO

R— C CH R— C CH

Cadeia lateral de histidina "…" —+


= Esses -- H
+

H H 60-70
Imidazólio Imidazol

• • • R R O + HT
Cadeia lateral de tirosina = 9,5—10,5

Fenol FenolatO

TABELA 3.4 pKa da Cadeia Lateral e Grupos Ácidos COOH COO- COO
Terminais em Ribonuclease …-- # H NH3 *-* --OHT …-- H

--

—NH3 —COOH * #… #…
Cadeia lateral Lisina = 10,2 Glu e Asp = 4,6 cº-º-º cº-º-º cº-º-º
CH3 CH3 CH3

Final da cadeia N-terminal = 7,8 C-terminal = 3,8 | || ||


Carga --1 O —1
pH < 2,4 2,4 <pH < 9,6 9,6 < pH

FIGURA 3.14 Formas iônicas da leucina.


TABELA 3.5 Relação entre a Diferença de pH e pK, Ácido
e a Razão das Concentrações da Base para Seu Ácido
Conjugado
Titulação de um Ácido Monoamino
pH — pKa Razão de Concentrações Monocarboxílico: Determinação do pH
(Diferença entre pH e da Base para o Acido Isoelétrico
pKa) Conjugado
O 1 O entendimentO de uma proteína em Suas formas
ácida e básica e sua relação com carga é facilitado
1 10 quando se acompanha a titulação dos grupos ionizá
veis de um aminoácido simples. Na Figura 3.14, a leu
2 |100
cina tem um O-COOH com pK% = 2,4 e um O-NH3 com
3 1000 pK, = 9,6. Em pH 1,0, a forma iônica predominante
(forma I) tem uma carga de +1 e migra em direção
—1 0,1 ao cátodo num campo elétrico. Adição de 0,5 equiva
—2 0,01 lente de base titula metade dos grupos 0-COOH, isto
é, a razão [COO7]/[COOH] fica igual a 1. A equação de
—3 0,001 Henderson-Hasselbalch, com o segundo termo no lado
direito da equação logio [(base)/(ácido)] = log (1) = 0
numa razão entre a base e o ácido conjugado de 1:1,
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 89

mostra que o pH (quando o a-COOH está metade titula Titulação de um Ácido Monoamino
do) é diretamente igual ao pKa(a-COOH) (Figura 3.15). Dicarboxílico
Adição de 1 equivalente de base em pH 6,0 titula Um exemplo mais complicado é o ácido glutâmico.
completamente o a-COOH, mas não tem nenhum efeito Com mostram as Figuras 3.16 e 3.17, no ácido glutâmico
sobre o grupo a-NH+.3 Na forma resultante (II), as car dopK!
o a-NH
a do 3a-COOH
+ é é 2,2, o pK!a do g-COOH é 4,3, e o pK!a
gas negativa e positiva se anulam mutuamente e a carga 9,7. A forma zwitteriônica é gerada após
final é zero. A forma II é a forma zwitterion, a forma iô adição de 1,0 equiv de base à forma de pH baixo, e o
nica na qual o total das cargas positivas é igual ao total pH isoelétrico (pI) é calculado a partir da média dos
de cargas negativas. Como a carga final de uma molécu dois valores de pK!a que controlam os limites da forma
la zwitteriônica é zero, ela não migrará em um campo zwitteriônica:
elétrico. Adição posterior de 0,5 equiv de base à forma
= 2,4 + 4,3
zwitteriônica (total de base adicionada é 1,5 equiv) ti pI = 3,25
tularão
grupo
zão [NHaa-NH
metade(Figura
3+ 3+]
2]/[NH =dos
1, egrupos
o
3.15). igual+.3ao
pH éa-NH
Adição mais
Nesse
devalor 0,5pK!
ponto,
do aa ra
equiv 2
do
Consequentemente, em valores de pH acima de 3,25,
a molécula assume uma carga final negativa, até que,
de base (total de dois equiv de base adicionados; Figura em pH elevado, adquira carga final –2. Em pH < 3,25,
3.15) titula completamente o grupo a-NH+3 para sua for ácido glutâmico é carregado positivamente, e em pH ex
ma básica (a-NH2). O pH fica superior a 11, e a espécie
tremamente baixo, tem carga final positiva de +1.
molecular predominante tem uma carga negativa de -1
(forma III).
Relação Geral entre as Propriedades
É útil calcular o pH no qual um aminoácido está
em sua forma zwitteriônica. Esse pH é o pH isoelétrico de Carga de Aminoácidos e
da molécula, representado por pI. O valor de pI é uma
constante para um composto em uma força iônica e Proteínas e pH
temperatura definidas. Para moléculas de aminoácidos A relação entre pH e carga para leucina e glutamato
simples, como a leucina, o pI é calculado como a média é verdadeira para os outros aminoácidos. Em pH abai
dos dois valores de pK!a que regulam os limites da forma xo do pI, a molécula é carregada positivamente. Em
zwitteriônica. Para leucina: pH acima do pI, é carregada negativamente. O grau de
carga positiva ou negativa é uma função da magnitude
pKaCOOH2+ pKaNH+3 = 2,4+
2 9,6 da diferença entre pH e pI. Como proteínas são polie
pI = = 6,0
letrólitos complexos que contêm muitos grupos ionizá
veis que regulam a forma zwitteriônica, cálculo do pH
Em pH > 6,0, a leucina tem uma carga parcial nega
isoelétrico de uma proteína a partir de seus múltiplos
tiva que aumenta em pHs mais elevados, até uma car
valores de pK!a ácidos utilizando a relação Henderson–
ga negativa total de –1 (forma III) (Figura 3.14). Em
Hasselbalch é difícil. Assim, valores de pI de proteínas
pH < 6, tem uma carga parcial positiva até que, em um
são medidos experimentalmente por determinação do
pH muito baixo, fique com carga +1 (forma I) (Figura
valor de pH no qual a proteína não migra em um campo
3.14). A carga parcial em qualquer pH pode ser calcu
elétrico. Valores de pI de algumas proteínas são dados
lada a partir da equação de Henderson–Hasselbalch ou
na Tabela 3.6.
pela extrapolação da curva de titulação da Figura 3.15.
Como para aminoácidos, em um pH acima do seu
pI, uma proteína tem uma carga líquida (net charge)
negativa. Em um pH abaixo do seu pI, tem carga líqui
2.0 da positiva (Figura 3.18). A magnitude da carga líquida

HNaesdOtlEquivn 1.5
0.50
1.0 2.0pKCOOH
4.0 6.0
pl=6.00
8.0 10.0
pKNH3
12.0+ 14.0
COOH +OH– + C
COO–
H + COO– COO–
+H+ 0
NH3 CH2 +OH–
+H+ NH3CCH2 H +OH–
+H+ –2
NH3 C H 2,2 pH^ 4,3 pH^ NH2 C H

+ CH2 CH2

CH2 CH2 CH2

COOH COOH COO– COO–


Carga +1
pH ^2,2 ^4,3 –1 ^9,7 9,7 ^pH
pH

FIGURA3.15 Curva de titulação da leucina. FIGURA3.16 Formas iônicas do ácido glutâmico.


90 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

3.0
Aminoácidos e Proteínas Podem Ser
2.5 Separados com Base em Valores de pI
H As técnicas de eletroforese, focalização isoelétrica e
O2.0
a
N cromatografia de troca iônica separam e caracterizam
e
d1.5
s
e
moléculas biológicas com base em seus pIs (p. 89). Na
t pKα-COOH
n clínica médica, a separação eletroforética de proteínas
e
l 1.0
a
v
i
u
pI = 3.25 plasmáticas levou à sua classificação com base em sua
q
E0.5 mobilidade eletroforética relativa. A separação de pro
pKγ-COOH pKNH+3 teínas plasmáticas é comumente feita em pH 8,6, que
é mais alto do que os valores de pI das principais pro
0 2 4 6 8 10 12 14
pH teínas. Consequentemente, as proteínas estão carre
gadas negativamente e migram em direção ao ânodo
FIGURA3.17 Curva de titulação do ácido glutâmico. em uma velocidade dependente de sua carga líquida. A
A linha observada (vermelha) esconde as titulações do pK!g e Figura 3.20 mostra uma eletroforese de proteínas plas
pKa, que são muito próximos para serem observados indivi máticas em um gel de agarose em pH 8,6, que separa
dualmente. As titulações desses grupos são mostradas na linha as proteínas em cinco bandas clássicas, usadas para
azul sobreposta. classificar as proteínas plasmáticas. Por ordem de mi
b-
gração, as principais
e g-globulinas (Figura
frações Algumas
3.20).são albumina,
dessas
a1-,
bandas
a2- e
aumenta à medida que a diferença entre o pH e o pIau
menta. Um exemplo é a albumina plasmática humana, representam, na verdade, dezenas a centenas de pro
com 585 resíduos de aminoácidos incluindo 61 gluta teínas diferentes, com migrações semelhantes em pH
matos, 36 aspartatos, 57 lisinas, 24 argininas e 16 his 8,6. Entretanto, certas proteínas predominam em cada
tidinas. A curva de titulação é apresentada na Figura banda, e variações em suas quantidades relativas são
3.19. O pI da albumina é 5,9, pH no qual a carga líquida características de certas doenças (Figuras 3.20 e 3.21,
é zero. Em pH 7,5, os grupos imidazólio das histidinas e Correlação Clínica 3.1).
estão parcialmente titulados, e há uma carga negativa
de -10. Em pH 8,6 a carga líquida é aproximadamente
-20, e em pH 11, é aproximadamente -60. Em pH 3, a 0
carga líquida aproximada é +60.
+80

pH > pl, então proteína com carga negativa


pH < pl, então proteína com carga positiva o
r 40 +60
o
s
e
FIGURA3.18 Relação entre o pH da solução, o pI da d
o
a r
proteína e a carga da proteína. n
i o
m +40 s
u e
b
l d
a a
e n
i
d 80 m
TABELA 3.6 Valores de pI para Algumas Proteínas e
l +20 u
o b
l
m a
Proteína pI r e
o d
p a
l
o120
200
160 Zwitterion 0 u
Pepsina ~1 d c
a
ic é
l
o
o
s m
Soroalbumina humana 5,9 s
i r
H
d o
–20 p
+ a
g
r
a1-Lipoproteína 5,5 e
d a
s C
e
l
Fibrinogênio 5,8 o –40
M
Hemoglobina A 7,1
–60
Ribonuclease 7,8
Citocromo c 10,0
–80
Timo-histona 10,6
2 4 6 8 10 12
pH

FIGURA3.19 Curva de titulação de soroalbumina bovina


a 25 °C e a força iônica de 0,150.
Redesenhado de Tanford, C. J.Am. Chem. Soc. 72:441, 1950
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 91

Cadeias Laterais de Aminoácidos dobradas, a maioria dos aminoácidos hidrofóbicos fica


escondida, longe da água solvente que interage com a
Têm Propriedades Polares e superfície de uma proteína solúvel. Entretanto, a cor
relação geral não é perfeita em virtude da natureza
Apolares anfotérica de muitos aminoácidos hidrofóbicos que
colocam as porções mais polares da estrutura de sua
A hidrofobicidade das cadeias laterais dos amino cadeia lateral próxima da superfície para interagir
ácidos é crítica para o dobramento (folding) de uma com água. Além disso, algumas cadeias laterais não
proteína em sua estrutura nativa e para a estabilidade polares podem estar na superfície. Entretanto, quando
da proteína dobrada. A Figura 3.22 mostra um gráfi na superfície, os grupos hidrofóbicos ficam geralmen
co da hidrofobicidade relativa dos aminoácidos com te dispersos entre as cadeias laterais polares. Quando
base em sua tendência de partição em uma mistura de um grupo de cadeias laterais não polares ocorre na su
água e um solvente não polar. A escala é baseada em
perfície, geralmente está associado com uma função,
um valor de zero para glicina. Cadeias laterais que se
como fornecer um sítio para ligação de moléculas de
dissolvem preferencialmente no solvente não polar em substrato por meio de interações hidrofóbicas.
relação à glicina mostram um valor de hidrofobicidade
positivo (+), quanto mais positivo maior a preferência A maioria das cadeias laterais carregadas fica na
pelo solvente não polar. Em estruturas de proteínas superfície de proteínas globulares solúveis, onde são
estabilizadas por interações energéticas favoráveis com
água. O raro posicionamento de uma cadeia
AIb α1 α2 β12
β γ lateral carregada no interior geralmente im
plica num papel funcional importante para
+Ânodo −Cátodo essa carga “mergulhada” no interior não po
lar, na estabilização da conformação da pro
teína ou participação em catálise.
Gc AT3 PI CRP As proteínas transmembrânicas inver
Hpt
α-Lp C1q
tem o posicionamento da polaridade de suas
α1Ac cadeias laterais em relação à das proteí
nas globulares solúveis em água. Dentro da
αα1At α2M Tf C3 Fibr
C4 membrana, essas proteínas frequentemen
la TI
C5 te posicionam cadeias laterais hidrofóbicas
Pre A 1Ag
IgM
C1Inh Hpx
no lado de fora e grupos iônicos no lado de
C1s dentro para fornecer interações de ligação e
Cer
IgA IgD(E) para formar canais iônicos (p. 497).

AIb IgG
C1r FB Aminoácidos Sofrem Várias
Reações Químicas
FIGURA3.20Padrão eletroforético em gel de agarose de proteínas
plasmáticas em pH 8,6. Aminoácidos em proteínas reagem com
A migração ao longo do eixo horizontal da direita para a esquerda (cátodo para vários reagentes que podem ser usados para
ânodo), com proteínas de maior mobilidade próximas do ânodo. A intensidade investigar a função de cadeias laterais espe
das bandas ao longo do eixo vertical mostra a concentração das proteínas.
cíficas. Algumas reações químicas comuns
Diferentes proteínas principais são identificadas abaixo de seus picos de mo
são apresentadas na Tabela 3.7. Reagentes
bilidade eletroforética. f designa o pico do fibrinogênio, que está presente no
plasma, mas ausente no soro. Em alguns géis, a banda da g-globina é separada que modificam as cadeias laterais ácidas
em duas bandas g1 e g2 (não mostrado aqui). foram sintetizados para se ligarem a sítios
Os picos de proteínas importantes contidas nas bandas do gel de agarose são específicos na estrutura de uma proteína,
desenhados nesta figura. As áreas dos picos desenhados mostram sua concen como o sítio de ligação ao substrato. A es
a1
tração relativa e posição no gel. Abreviaturas: a1Ac = a1-antiquimotripsina; tratégia é modelar as características estru
Ag = glicoproteína ácida a1; a1At = a1-antitripsina; a2-M = a2-macroglo turais do substrato natural da enzima no re
bulina; a-Lp = a-lipoproteína; Alb = albumina; AT3 = antitrombina III, b-Lp agente que causa a modificação. O reagente
= b-lipoproteína; componentes do complemento C1q, C1r, C1s, C3, C4 e C5
liga-se ao sítio ativo como um substrato na
= como designado; C1Inh = inibidor de C1 esterase; Cer = ceruloplasmina;
tural e reage com uma cadeia lateral especí
CRP = proteína C-reativa; Gc = globulina Gc (proteína de ligação a vitamina
D); FB = fator B; Fibr = fibrinogênio; Hpt = haptoglobina; Hpx = hemopexina; fica. Isso identifica o aminoácido modificado
imunoglobulinas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM = como designado; IaTI = inibidor de como estando localizado no sítio de ligação
inter-a-tripsina; Pl= plasminogênio; PreA = pré-albumina; e Tf = transferrina. do substrato e ajuda a identificar seu papel
Redesenhado a partir de McPherson, R. A. Em: McPherson, R. A. e Pincus, na catálise.
M. R. (Eds.), Henry’s Clinical Diagnosis and Management by Laboratory
Methods. 21. ed., Capítulo 19. Philadelphia: Saunders-Elsevier, 2007.
92 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.1 UM OLHAR MAIS ATENTO 3.1

Proteínas Plasmáticas no Diagnóstico de Doenças Clívagem Proteolítica da Proinsulina

A análise eletroforética das proteínas plasmáti A Proinsulina é produzida em células das ilhotas
cas é comumente utilizada no diagnóstico de doen pancreáticas como uma cadeia polipeptídica única
ças. Eletroforese de plasma, tamponada em pH 8,6, contendo 86 aminoácidos e três ligações dissulfeto
separa as principais proteínas plasmáticas, à medi cistina intracadeias (Figura 3.23). É transformada
da que migram para o ânodo no campo elétrico em na insulina biologicamente ativa por clivagem proteo
bandas ou picos, com base em suas diferenças de lítica antes de sua secreção das células das ilhotas. A
cargas (ver texto). Exemplos de padrões eletrofo proinsulina é clivada por proteases presentes nas cé
réticos anormais são apresentados na Figura 3.21. lulas das ilhotas, entre os resíduos 30 e 31 e 65 e 66.
Uma resposta imediata que ocorre ao estresse ou à Isso libera duas moléculas, um fragmento de 35 resí
inflamação causada por infecção, agressão ou trau duos (peptídeo C) e insulina, que consiste de duas
ma cirúrgico é apresentada no padrão (b), no qual cadeias polipeptídicas (A e B) de 21 aminoácidos e
haptoglobinas da banda de mobilidade a2 estão se de 30 aminoácidos, respectivamente, covalentemen
letivamente aumentadas. Uma resposta tardia apre te ligados pelas mesmas pontes dissulfeto presentes
sentada no padrão (c) está associada com infecção na proinsulina. O peptídeo C é mais processado por
e mostra um aumento no pico de g-globulina devido proteases que hidrolisam um dipeptídeo básico das
a um aumento de imunoglobulinas. Um exemplo de extremidades N- e C-terminais. O peptídeo C modifi
uma hipo-g-globulinemia em virtude de uma doen cado é secretado com a insulina.
ça imunossupressora é apresentado no padrão (d).
Na cirrose hepática, há um grande aumento nas
g-globulinas com redução de albumina, como no
padrão (e). Gamopatias monoclonais são devidas à
síntese clonal de uma imunoglobulina específica, e
originam uma banda estreita de g-globulina, como
no padrão (f). A síndrome nefrótica mostra uma Globulinas
a
perda seletiva de proteínas de baixo peso molecular in
m β γ
do plasma, como no padrão (g). O padrão mostra u
lb IgGIgA
uma diminuição na albumina (65 kDa), mas uma A

retenção das bandas compostas de proteínas gran Padrão(a)


normal IgM Cirrose hepática
("Gamopatia policlonal")
(2.000 kDa) na
des a2-macroglobulina (725 kDa) e b-lipoproteínas
(e)
banda a2. O padrão (h) é de um pa
ciente com enteropatia com perda proteica, que está
perdendo plasma por exudação no trato intestinal.
O discreto aumento na banda a2 do padrão (h) de
ve-se a uma resposta imediata ou tardia a um es
tímulo de estresse, como observado anteriormente
nos padrões (b) e (c).

Ritzmann, S. E. e Daniels, J. C. Serum protein electrophore (b)


"Padrão de resposta imediata" Paraproteína
sis and total serum proteins. Em: Ritzmann, S. E. e Daniels, J. ("Gamopatia monoclonal")
C. (Eds.), Serum Protein Abnormalities Diagnostic and (f)
Clinical Aspects. Boston: Little, Brown and Co., 1975, 3;
McPherson, R. A. Specific proteins. Em: Henry, J. B. (Ed.),
Clinical Diagnosis and Management by Laboratory
Methods, 17. ed. Philadelphia: Saunders, 1984, 204; Keren,
D. F. Protein Electrophoresis in Clinical Diagnosis, Lon
don: Arnold/Hodder Publishers, 2003.
"Padrão de resposta tardia" Sindrome nefrótica
(c) (g)

FIGURA 3.21 Padrões de mobilidade eletroforética


observados em um indivíduo normal e em pacientes com
concentrações anormais de proteínas séricas, analisadas por
eletroforese
Redesenhado em
de McPherson,
gel de agarose.
R.A.Specific proteins. Em: Henry, J.

B. (Ed.),
phia: Saunders,
Clinical
1984.
Diagnosis and Management, 17. ed. Philadel- (d)
Hipogamaglobulinemia Enteropatia com perda proteica
(h)
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 93

4
3.4 ESTRUTURA PRIMÁRIA DE
l
o 2
m
PROTEÍNAS
/l
a
c
k
, 0
A estrutura primária de uma proteína refere-se à
a
u
g
estrutura covalente, que inclui a sequência de amino
á
a
r –2
ácidos e a logalização de pontes dissulfeto (cistina). A
a
p estrutura primária de uma proteína é necessária para
a
ic
n entender a sua estrutura e mecanismo de ação, sua
r –4
ê
biossíntese incluindo as modificações pós-tradução de
e
fs
n sua estrutura, e sua relação com outras proteínas com
a
rt –6
e
d
papéis fisiológicos semelhantes. A estrutura primária
e
r de vários peptídeos biologicamente ativos foi apresen
v
il –8
a
i tada na Tabela 3.2 (p. 87). A insulina ilustra como o
g
r
e
n
conhecimento da estrutura primária leva ao entendi
E –10 mento da biossíntese e das formas fisiológicas desse
hormônio bioativo (Figura 3.23;Um Olhar Mais Aten
–12 to 3.1 e Correlação Clínica 21.8). A insulina é inicial
R E D K P C S Q N G T A H M V L Y I F W mente sintetizada como proinsulina, que é uma cadeia
Aminoácidos
polipeptídica única de 86 aminoácidos e três ligações
FIGURA 3.22 Hidrofobicidade relativa das cadeias laterais cistina intracadeias (Figura 3.23). A forma hormonal
dos aminoácidos. consiste de duas cadeias polipeptídicas (A e B) cova
Com base na partição dos aminoácidos entre um solvente or lentemente interconectadas por duas ligações cistina e
gânico e água. Valores negativos indicam preferência por água, a cadeia A contendo uma cistina intracadeia. Essa é a
e valores positivos, preferência por solvente não polar (etanol estrutura primária ou covalente da insulina ativa.
ou dioxana), em relação à glicina (ver texto).
Baseado em dados de Von Heyne, G., and Blomberg, C. Eur. J. Além de fornecer informação sobre sua biossíntese,
Biochem. 97:175, 1979; e de Nozaki, Y., e Tanford, C. J. Biol. a comparação das estruturas primárias de insulinas de
Chem. 246:2211, 1971. diferentes espécies animais mostra os resíduos essen

TABELA 3.7 Reações Químicas de Aminoácidos


Grupo Reativo Reagente ou Reação Produto
Grupos amina (—NH2) Ninhidrina Produto de cor azul que absorve em 540 nma

Fluorescamina Produto que fluoresce


Grupos ácidos Alcoóis Produtos éster
carboxílicos Aminas Produtos amida
Carbodiimida Ativa para reação com nucleófilos
—NH2 da Lys 2,3,6-Trinitrobenzeno sulfonato Produto que absorve em 367 nm
Anidridos Acetila aminas
Aldeídos Forma adutos base de Schiff
Grupo guanidino Reação de Sakaguchi Produto vermelho rosado que pode ser usado para
da Arg ensaiar a Arg
Fenol da Tyr I2 Iodinação de posições orto do grupo hidroxila no anel
Anidrido acético aromático
Acetilação de —OH
Átomo S da cadeia CH3I Produto metil sulfônio
lateral da Met [O–] ou H2O2 Metionina sulfóxido ou metionina sulfona
—SH da Cys Iodoacetato Produto carboximetiltiol éter
N-Etilmaleimide Adição de produto com S
Mercuriais orgânicos Adutos mercuriais
Ácido perfórmico Produto ácido cisteico (—SO3H)
Ácido ditionitrobenzóico Produto amarelo que pode ser usado para quantificar
grupos —SH
Imidazol da His e Reagente de Pauly Produto amarelo avermelhado
fenol da Tyr
aO grupo imino da prolina reage com ninhidrina formando produto que absorve luz em 440 nm (cor amarela).
94 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

ciais e não essenciais para sua função hormonal. As es


CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.2
truturas primárias alinhadas têm resíduos idênticos na
maioria das posições dos aminoácidos, exceto para os Diferenças em Insulinas Usadas no Tratamento
resíduos 8, 9 e 10 da cadeia A e o resíduo 30 da cadeia de Diabetes Mellitus
B. Os aminoácidos dessas posições variam muito (Ta
bela 3.8) e aparentemente não afetam as propriedades Antes do desenvolvimento da insulin recombinante
biológicas (Correlação Clínica 3.2). Outros resíduos são humana, insulinas de porco (porcina) e de boi (bovi
raramente substituídos, sugerindo que tenham um pa na) eram usadas no tratamento da diabetes humana.
pel essencial na função. A insulina de fontes animais é ainda usada no tra
tamento de diabetes em países em desenvolvimento.
Comparações de sequências são comumente usa Em virtude das diferenças na sequência da insulina
das para prever a similaridade de estrutura e função
humana, alguns indivíduos diabéticos terão uma res
entre proteínas. Essas comparações tipicamente re posta alérgica inicial à insulina injetada, uma vez que
querem alinhamento de sequências para maximizar o seu sistema imunológico reconhece a insulina como
número de resíduos idênticos e minimizar o número de estranha, ou desenvolvem resistência à insulina por
inserções ou deleções necessárias para conseguir esse causa de um alto título de anticorpos anti-insulina,
alinhamento. Duas sequências são homólogas quando em um estágio mais tardio do tratamento. Entretan
suas sequências são muito alinhadas. Note que, nesse to, a frequência de uma resposta imunológica dele
uso correto, homologia refere-se apenas a proteínas que téria às insulinas porcina e bovina é pequena, com a
evoluíram a partir do mesmo gene. A analogia descreve grande maioria da população podendo utilizar essas
sequências de proteínas que são estruturalmente seme insulinas sem complicações. Isso se deve ao peque
lhantes, mas para as quais não se demonstrou nenhu no número e à natureza conservativa das mudanças
ma relação evolutiva. A substituição de um aminoácido
entre as sequências de aminoácidos e ao fato de elas
por outro de polaridade semelhante (ou seja, Val por não modificarem significativamente a estrutura tri
Ile na posição 10 da insulina) é uma substituição con dimensional da insulina em relação à da insulina hu
servativa e é comumente observada em sequências da mana. A insulina de porco é geralmente mais aceita
mesma proteína de espécies animais diferentes. Se um do que a bovina em indivíduos reativos à insulina
aminoácido em particular é regularmente encontrado porque é mais parecida, em sequência, com a insu
na mesma posição, é um resíduo invariante. Pode-se lina humana (ver Tabela 3.8). A insulina humana é
considerar que tais resíduos têm um papel essencial na hoje a principal insulina usada em países desenvol
estrutura ou na função da proteína. Uma substituição vidos, sendo feita por bactérias geneticamente enge
não conservativa envolve substituição de um aminoáci
nheiradas ou por modificações da insulina de porco.
do por outro de polaridade diferente. Isso pode mudar
drasticamente as propriedades da proteína ou ocorrer
Brogdon, R. N., e Heel, R. C. Human insulin: a review
em regiões que são aparentemente sem importância of its biological activity, pharmacokinetics, and thera
funcional (Correlação Clínica 6.2; p. 220). A polaridade peutic use. Drugs 34: 350, 1987; Richter, B. e Neises, G.
é só uma das propriedades físicas dos aminoácidos que Human insulin versus animal insulin in people with dia
determinam se uma substituição alterará significativa betes mellitus. Cochrane Database Systematic Review
mente a função da proteína. Outras propriedades im 3:CD003816, 2002.
portantes são o volume molecular e a área de superfície
do resíduo.

TABELA 3.8 Variação nas Posições A8, A9, A10 e B30 da


Insulina 3.5 NÍVEIS SUPERIORES
Espécies A8 A9 A10 B30 DE ORGANIZAÇÃO DE
Humana Thr Ser Ile Thr
PROTEÍNAS
Boi Ala Ser Val Ala
Níveis superiores de organização de proteínas refe
Porco Thr Ser Ile Ala
rem-se a conformações, geradas não covalentemente, da
Carneiro Ala Gly Val Ala cadeia polipeptídica. Esses níveis superiores de organi
Cavalo Thr Gly Ile Ala zação da proteína são chamados estruturas secundária,
terciária e quaternária. Estrutura secundária refere
Cachorro Thr Ser Ile Ala
-se ao dobramento local do esqueleto polipeptídico em
Galinhaa His Asn Thr Ala conformações em hélice, folha pregueada ou ao acaso.
Patoa Glu Asn Pro Thr O esqueleto polipeptídico é formado pelos átomos in
aNas posições 1 e 2 da cadeia B são Ala em galinha e pato, enquanto terconectados covalentemente das ligações peptídicas
em outras espécies da tabela, a posição 1 é Phe e a posição 2 é Val na e carbonos-α que ligam os resíduos de aminoácidos da
cadeia B. proteína. Cadeias laterais não são consideradas em nível
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 95

Peptídeo de estrutura secundária. Estrutura terciária


refere-se à estrutura tridimensional do poli
LEUPROGLNLEUSERGLYALA50GLYPROGLYGLYGLYLEU
peptídeo. Inclui as relações conformacionais
ALA GLU no espaço das cadeias laterais e a relação
VALGLN
LEU geométrica entre regiões distantes da cadeia
GLU GLY polipeptídica. Estrutura quaternária refere
40
GLY 60 VAL -se à associação não covalente de subunida
GLN des polipeptídicas discretas numa proteína
SER
LEU
LEUGLN
com múltiplas subunidades. Nem todas as
ASP
proteínas têm estrutura quaternária.
GLUALA

LYSARGGLY As proteínas geralmente assumem con


GLU formações secundária, terciária e quaterná
Cadeia A ARG ria singulares para produzir a conformação
ILE SS 30 ARG nativa da proteína. O dobramento da estru
THR
tura primária na conformação nativa ocorre
VAL
ASNCOO–
GLUGLNCYSCYSTHRSERILECYSSERLEUTYRGLNLEUASNTYRCYS
80 LYS
espontaneamente, na maioria dos casos, por
GLU70S interações não covalentes. Essa conforma
PRO
ção é uma das de mais baixa energia livre
S S THR
de Gibbs total cineticamente acessível ao(s)
S TYR
Cadeia B
PHE
polipeptídeo(s) para as condições específi
cas de força iônica, pH e temperatura em que
LEUCYSGLYSERHISGLUALALEUTYRLEUVALCYSHIS
LEUVAL10 PHEGLUARGGLY
GLY ocorre o dobramento. Na célula, proteínas
GLN 20 chaperones (p. 237) podem facilitar o dobra
Proinsulina mento de proteínas.
ASN

VAL
Hidrólise
1 PHE
catalisada por protease Estrutura Secundária
+
NH3
+
NH3 A conformação de um esqueleto polipep
SS tídico pode ser descrita pelos ângulos de ro
GLY 1 CadeiaA tação das ligações covalentes que participam
COO–
ILE
da cadeia. Essas são fornecidas por cada um
VAL
30 THR dos aminoácidos e se formam entre o nitro
10 ASN COO– gênio e o carbono-a e o carbono-a e o carbo
20GLUGLNCYSCYSTHRSERILECYSSERLEUTYRGLNLEUGLUASNTYRCYS LYS
no da carbonila. A primeira é designada por
PRO
70S
ligação phi (j) e a segunda por ligação psi
S THR
(y) (Figura 3.24). A terceira ligação com que
S Cadeia B S TYR
cada aminoácido contribui é a ligação peptí
PHE
LEUCYS GLY SER HIS LEU VAL GLU ALALEU TYR LEU VAL CYS
HIS PHE
dica. Como discutido anteriormente, em vir
10 GLYGLUARGGLY tude do caráter parcial de dupla ligação da
20 ligação C!—N, existe uma barreira para a ro
GLN
tação livre em torno dessa ligação peptídica.
ASN

VAL Insulina Estrutura secundária regular ocorre em


1 PHE segmentos de uma cadeia polipeptídica nos
+ quais todos os ângulos de ligações jsão iguais,
NH3
+ Peptídeo
e todos os ângulos de ligações y são iguais. Os
FIGURA3.23 Estruturas primárias da proinsulina, da insulina e do ângulos de rotação para ligações j e y para
peptídeo Chumanos. estruturas secundárias regulares comuns
Na sequência polipeptídica da proinsulina, o peptídeo da cadeia-B incipiente são dados na Tabela 3.9.
estende-se da Phe da posição 1 até a Thr da posição 30, o peptídeo C da Arg da
posição 31 até a Arg da posição 65, e o peptídeo-A da Gly da posição 66 até a
As conformações em a-hélice e b-fita de
Asn da posição 86. Ligações cistina nas posições 7 para 72, 19 para 85 e 71 para polipeptídeos são as mais estáveis termodi
76 são encontradas na proinsulina. namicamente das estruturas secundárias
Redesenhado de Bell, G.I., Swain, W. F., Pictet, R., Cordell, B., Goodman, H. M., regulares. Porém, uma sequência em par
e Rutter, W. J. Nature 282: 525, 1979. ticular pode ter uma estrutura secundária
desordenada ou ao acaso, na qual nem os
ângulos das ligações j nem das ligações y
são iguais. A prolina interrompe a conforma
96 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

ção em a-hélice porque sua cadeia lateral pirrolidina


interage estericamente com o resíduo que a precede e
impede a formação de uma estrutura em a-hélice.

Carbono-α

Ligação peptídica
H
p
N

C′ Ligação ψ

O
n=4

Ligação φ Carbono-α FIGURA3.25 Passo da hélice (p) para uma hélice com n = 4.
Cada círculo sobre uma linha representa um carbono-a de um
Cadeia
resíduo de aminoácido. O avanço por resíduo seria p/n (ver
H
lateral equação no texto). Reproduzido com permissão de Dickerson,
R R. E. e Geis, I. The Structural and Action of Proteins. Menlo
N
H
Park, CA: Benjamin, 1969, p.26.

O
C′ Estrutura em a-Hélice
N
Uma sequência de aminoácidos em uma conforma
R ção em a-hélice girando para a direita é mostrada na
O
Plano peptídico
Figura 3.26. Característicos são 3,6 resíduos de amino
Carbono-α
α-C ácidos por volta de 360° (n = 3,6). Os planos das liga
ções peptídicas são paralelos ao eixo da hélice. Nessa
C′
geometria, cada peptídeo forma duas pontes de hidro
gênio, uma com a ligação peptídica do quarto aminoá
FIGURA3.24 Cadeia polipeptídica mostrando ligações
j, y e peptídicas para o resíduo Ri numa cadeia cido acima e a outra com a ligação peptídica do quarto
polipeptídica. aminoácido abaixo. Outros parâmetros, como o passo
Redesenhada com permissão de Dickerson, R.E. e Geis, I. The p, são dados na Tabela 3.9. Nas pontes de hidrogênio
Structural and Action of Proteins. Menlo Park, CA: Benja entre os grupos peptídicos, a distância entre o átomo
min, 1969, 25. doador de hidrogênio e o aceptor de hidrogênio é 2,9 Å.
Além disso, o doador, o aceptor e os átomos de hidro
Estruturas helicoidais são caracterizadas pelo nú gênio estão aproximadamente em uma linha reta. Esta
mero n de resíduos por volta da hélice e pela distância d é uma geometria e distância ótimas para força máxima
entre os átomos de carbono-a de aminoácidos adjacen das pontes de hidrogênio (Seção 3.7).
tes, medida paralelamente ao eixo da hélice. O passo da
hélice p, o produto de n × d, então, mede a distância en As cadeias laterais ficam no lado externo da estru
tre voltas repetitivas da hélice em uma linha desenhada tura em espiral. Em virtude dos característicos 3,6 resí
paralelamente ao eixo da hélice (Figura 3.25). duos por volta, o primeiro e todos os terceiros e quartos

TABELA 3.9 Parâmetros da Hélice em Estruturas Secundárias Regulares


Ângulo aproximado Passo da hélicea
das ligações (!) Resíduos por volta,
Estrutura
a-hélice girando para direita [3,613-hélice] –57
f –47
y 3,6
n p5,4
(Å)

310-hélice +49 –26 3,0 6,0


Fita-b paralela –119 +113 2,0 6,4
Fita-b antiparalela –139 +135 2,0 6,8
Poliprolina tipo IIb –78 +149 3,0 9,4
aDistância entre voltas repetitivas em uma linha desenhada paralela ao eixo da hélice.
bTipo de hélice encontrada em cadeias polipeptídicas de colágeno.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 97

mam tiverem carga de mesmo sinal ou forem ramifica


das em seu carbono-b (valina e isoleucina), suas intera
ções iônicas desfavoráveis ou estéricas desestabilizam
a estrutura da hélice. A a-hélice pode, teoricamente,
girar para a esquerda ou direita, dando a ela proprie
dades assimétricas e atividade óptica correspondente.
Uma a-hélice girando para a direita é mais estável do
que uma que gire para a esquerda.

Estrutura-b
Uma cadeia polipeptídica em estrutura-b (Figu
ra 3.27) estabelece pontes de hidrogênio com outra re
gião polipeptídica semelhante alinhada em direção pa
ralela ou antiparalela (Figura 3.28). Fitas b ligadas por
pontes de hidrogênio parecem-se como uma folha pre
gueada (Figura 3.29). As cadeias laterais projetam-se
para cima e para baixo da estrutura em folha pregueada.

Motivos Estruturais e Dobras das


Proteínas
Arranjos simples de estrutura secundária que ocor
rem em mais de uma proteína são chamados motivos
estruturais. Incluem o motivo hélice-volta-hélice en
contrado em muitas proteínas que se ligam ao DNA, o
motivo fita-volta-fita encontrado em proteínas com es
trutura b antiparalela, e o motivo alternado fita-volta
-hélice-volta-fita encontrado em muitas proteínas-a/b.
Nesses motivos, uma volta (turn) é um segmento pe
queno do polipeptídeo (aproximadamente três ou
quatro resíduos) de estrutura secundária não regular
que conecta regiões de estrutura secundária regular,
enquanto uma alça (loop) é um segmento maior de
ligação¸com conformação não regular. Combinações de
Carbino
Cadeia
Carbono-α
Nitrogênio
Hidrogênio
carbonila
Oxigênio
lateral
motivos ou organizações mais complexas de estrutura
secundária podem formar uma dobra (fold). Uma do
bra é o arranjo de estruturas secundárias de um domí
nio. Um domínio estrutural é uma estrutural globular
compacta formada dentro do polipeptídeo com um nú
cleo hidrofóbico e superfície hidrofílica, e geralmente
se drobra independentemente de outras unidades es
truturais da cadeia polipeptídica.
Ponte de hidrogênio
O domínio calmodulina pode servir como um exem
FIGURA 3.26 Uma a-hélice. plo para definir os termos modelo estrutural, dobra e
Redesenhada com permissão, baseado na figura de Pauling, L. domínio (Figura 3.30). A calmodulina liga-se a proteí
The Nature of Chemical Bond, 3. ed. Ithanca, NY: Cornell nas alvos onde atua como sensor dos níveis de cálcio na
University Press, 1960. célula. Em níveis elevados de cálcio celular, o cálcio ati
va a calmodulina para transmitir um sinala sua proteína
alvo ligada. Proteínas alvos da calmodulina participam
grupos R da sequência de aminoácidos na hélice ficam da sinalização celular, contração muscular, fertilização,
próximos uns dos outros. As hélices frequentemente metabolismo, morte celular programada, memória de
apresentam faces polar e não polar se suas sequências curta e de longa duração, crescimento nervoso, respos
de aminoácidos colocarem grupos R polares ou não po ta imune e divisão celular. O átomo de cálcio se liga à
lares separados de três ou quatro resíduos. Isso gera ca calmodulina dentro de uma alça de um motivo hélice
racterísticas funcionais peculiares à hélice. Entretanto, -volta-hélice chamada braço-EF (Figura 3.30a e ver Fi
se as terceira ou quarta cadeias laterais que se aproxi gura 12.57, p. 514). O motivo obteve seu nome a partir
98 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

FIGURA 3.27 Duas


cadeias polipeptídicas em
conformação folha-ß.
Cadeias polipeptídicas podem
ser adicionadas aos dois lados
das duas fitas mostradas, para
gerar uma estrutura mais exten
Hydrogênio
Nitrogênio
Oxigênio Carbono carbonila Ponte de hidrogênio sa.
Redesenhada com permissão de
Cadeia
Carbono-α
lateral Fersht, A. Enzyme Structure
and Mechanism, San Francisco:
Freeman, 1977, 10.

FIGURA3.28Exemplo de
folha-ß antiparalela [resíduos
93-98 (superior), 28-33 (meio)
e 16-21 (inferior) da Cu, Zn
superóxido dismutase).
Linhas tracejadas mostram pon
tes de hidrogênio entre átomos
de oxigênio da carbonila (verme
lho) e átomos de nitrogênio da
ligação peptídica (cinza); setas
mostram a direção do polipeptí
deo da extremidade N-terminal
para a C-terminal. Na folha-b
característica antiparalela, pares
de pontes de hidrogênio inter
cadeias muito próximas se al
ternam com pares de pontes de
hidrogênio bem espaçadas.
Redesenhado com permissão de
Richardson, J. S. Adv. Protein
Chem. 34:168, 1981

das hélices E e F (hélices 5 e 6 a partir da extremidade Estrutura Terciária


N-terminal) da proteína de músculo parvalbumina, na
qual esse motivo de ligação a cálcio foi observado pela A estrutura terciária de um polipeptídeo mostra a
primeira vez. O motivo braço-EF é amplamente distri localização de cada um de seus átomos no espaço. In
buído em proteínas que ligam cálcio e é encontrado em clui a relação geométrica entre segmentos distantes das
mais de 70 proteínas diferentes, com estruturas deter estruturas primária e secundária e a relação posicional
minadas no banco de dados de proteínas (Protein Data das cadeias laterais, uma em relação à outra. A estru
Bank). A dobra do domínio de calmodulina contém dois tura terciária da tripsina é mostrada na Figura 3.31. A
motivos braços-EF interconectados por um segmento estrutura em fita (a) mostra a conformação da única
de a-hélice (Figura 3.30b). Adição dos grupos de ca cadeia polipeptídica e o padrão geral de dobramento da
deia lateral à estrutura secundária delineada pela ca cadeia polipeptídica (fold structure). A Figura 3.31b
deia polipeptídica gera a estrutura terciária completa mostra a posição das cadeias laterais. Cadeias laterais
do domínio (Figura 3.30c). do sítio catalítico ativo são apresentadas em amarelo,
que inclui o grupo hidroximetil da serina (resíduo 177),
o imidazol da histidina (resíduo 40), e o carboxilato da
cadeia lateral do aspartato (resíduo 85). Embora este
jam bem separados na estrutura primária, a estrutura
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 99

R
R
R R
H R
O
H O R
N H C H
H C O
C N H C
C H C
N C N H
H C C
C
O N C
H C N C
O
H
O H
H H FIGURA 3.29 Estrutura em folha-ß
C O
R H H
O
entre duas cadeias polipeptídicas
N C
R H H mostrando os planos de ligações
C N C C O
N
CH C N C R peptídicas unidas.
O H N
C
C N C Cadeias polipeptídicas podem ser adi
H O cionadas acima e abaixo para gerar uma
H C
H O C
H estrutura mais extensa. Os grupos de
R cadeias laterais ao longo da cadeia poli
R peptídica alternam suas posições acima e
R abaixo do plano.

FIGURA 3.30 Estruturas do motivo e


da dobra no domínio da calmodulina.
(a) Motivo braço-EF hélice-volta-hélice
com Ca2+ ligado. (b) Dois motivos braço
-EF combinam-se na dobra do domínio
C-terminal da calmodulina. (c) Os grupos
de cadeia lateral são adicionados para ge
rar a estrutura terciária do motivo. Cada
α-hélice tem uma cor diferente, com a ca
deia polipeptídica desenhada como uma
fita preta para mostrar mais claramente
a estrutura secundária da cadeia polipep
tídica.
Baseado na estrutura PDB ID 1J7P, Chou,
J. J. et al., Nat. Struct. Biol. 8:990, 2001.
Imagens produzidas com Swiss PDV
viewer, Guex, N. e Peitsch, M. C. Electro
phoresis 18:2714, 1997.

terciária os aproxima para formar o sítio catalítico. Na doras específicas. Um grande número de moléculas de
Figura 3.31c, um modelo de preenchimento de espaço água forma uma capa de solvatação ao redor do lado
mostra átomos de C, N e O representados por bolas de externo da proteína.
raios proporcionais a seus raios de van der Waals. A es
trutura está de acordo com as regras gerais para prote Uma longa cadeia polipeptídica dobra-se em múlti
ínas solúveis (Seção 3.3). plas regiões compactas semi-independentes ou domí
nios, cada um tendo uma geometria compacta carac
Cadeias laterais hidrofóbicas ficam geralmente no terística com um núcleo hidrofóbico e uma superfície
interior, longe da interface com a água. Cadeias laterais polar. Geralmente contêm 100-150 aminoácidos. Os
ionizadas ficam no lado de fora, onde são estabilizadas domínios em uma proteína multidomínios podem ser
por água de solvatação. Dentro da estrutura da proteína conectados por um segmento que não tem estrutura
(não mostrado) estão mergulhadas moléculas de água secundária regular. Alternativamente, as regiões esfé
frequentemente apresentando interações estabiliza ricas densamente dobradas podem ser separadas por
100 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

FIGURA 3.31 Estrutura terciária da tripsina.


(a) Estrutura em fita delineia a conformação da cadeia poli
peptídica. (b) A estrutura mostra as cadeias laterais, incluindo
os resíduos do sítio ativo (em amarelo) com delineamento da
cadeia polipeptídica sobreposta (fita). (c) Estrutura de preen
chimento de espaço, na qual cada átomo é representado com o
tamanho de seu raio de van der Waals.
Em (c) os átomos de hidrogênio não são mostrados. Diferen
tes domínios são mostrados em branco e azul escuro. Resíduos
do sítio ativo estão em amarelo, e as pontes dissulfeto cistina
intracadeia, em vermelho. Esferas em azul claro representam
moléculas de água associadas com a proteína. Essa estrutura
mostra a densidade de empacotamento no interior da proteína.

uma fenda ou região menos densa de estrutura terciá Estrutura Quaternária


ria (Figura 3.32). A tripsina contém dois domínios com
uma fenda no meio, que contém o sítio catalítico para li Estrutura quaternária refere-se ao arranjo de ca
gação do substrato. Um sítio ativo dentro de uma inter deias polipeptídicas em uma proteína multicadeias. As
face interdomínios é característico de muitas enzimas. subunidades em uma estrutura quaternária ficam as
Diferentes domínios em uma proteína podem se mover sociadas não covalentemente. a-Quimotripsina contém
um em relação ao outro. A hexoquinase (Figura 3.33), três polipeptídeos ligados covalentemente por pontes
que catalisa fosforilação de glicose por adenosina tri dissulfeto intercadeias em uma única unidade covalen
fosfato (ATP) (p. 616), tem um sítio de ligação para gli te e, portanto, não tem estrutura quaternária. A mioglo
cose numa região entre dois domínios. Quando a glicose bina consiste de um polipeptídeo e não tem estrutura
liga-se ao sítio ativo, os domínios circundantes se mo quaternária. Contudo, a hemoglobina A contém quatro
vem (Seção 3.8) para envolver o substrato, prendendo-o subunidades polipeptídicas (a2b2) unidas não cova
para a fosforilação (Figura 3.33). Em enzimas com mais lentemente em uma conformação específica, necessá
de um sítio para substrato ou sítio para efetoralostérico ria para sua função (p. 375). Portanto, a hemoglobina
(p. 427), os diferentes sítios podem estar localizados tem uma estrutura quaternária. Aspartato carbamoil
em diferentes domínios. Em proteínas multifuncionais, transferase bacteriana (p. 846) tem uma estrutura qua
cada domínio pode realizar uma tarefa diferente. ternária formada por 12 subunidades polipeptídicas. A
proteína da capa do poliovírus contém 60 subunidades
polipeptídicas, e a proteína do vírus do mosaico do ta
baco contém 2.120 subunidades polipeptídicas associa
das não covalentemente.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 101

FIGURA 3.33 Desenhos de (a) forma não ligada da


hexoquinase e glicose livre e (b) conformação da
hexoquinase com glicose ligada.
FIGURA3.32 Domínios globulares em proteínas. Nesse desenho de espaço preenchido, cada círculo representa
(a) A fosfoglicerato quinase tem dois domínios com um pes raio de van der Waals de um átomo da estrutura. A glicose é
coço relativamente estreito entre eles. (b) A elastase tem dois preta, e cada domínio é sombreado diferentemente.
domínios fortemente associados separados por uma fenda es Reproduzido com permissão de Bennett, W. S. e Huber, R..
treita. Cada esfera no desenho de espaço preenchido repre CRC Rev. Biochem. 15:291, 1984.
senta a posição do carbono-α de um aminoácido na estrutura
da proteína.
Reproduzido com permissão de Richardson, J. S. Adv. Protein
Chem. 34:168, 1981. dependentes de ciclinas e seus inibidores, proteínas da
transdução de sinal celular, e os segmentos NH2-termi
nais das proteínas histonas nos nucleossomos.

Proteínas Não-Estruturadas As conformações não dobradas são muito dinâmi


cas, com os átomos apresentando mobilidade tanto em
As proteínas descritas anteriormente têm dobras e
deslocamento como em rotação (ver Seção 3.8 para uma
estruturas terciárias definidas, nas quais a localização discussão sobre a mobilidade de proteínas dobradas).
média no espaço dos átomos das estruturas dobradas Entretanto, as conformações não-estruturadas podem
são conhecidas. Ao contrário, existem proteínas que não conter regiões de estrutura secundária ordenada, não
têm uma estrutura dobrada estável. Isso pode não ser completamente ao acaso. Esses domínios de proteínas
surpreendente, uma vez que proteínas dobradas são, em não-estruturadas lembram os intermediários em glóbu
geral, apenas 21–45 kJ/mol (5–10 kcal/mol) mais está lo fundido (molden globule) que está presente nas vias
veis do que suas conformações desnaturadas (Seção 3.7, de dobramento de proteínas (Seção 3.5).
p. 116). Não seria, portanto, inesperado que existissem
proteínas que não têm uma conformação dobrada es IUPs e PUFs frequentemente funcionam na ligação
tável em temperaturas fisiológicas. Proteínas com uma a outras proteínas ou a DNA e RNA. A interação da liga
conformação não dobrada são chamadas proteínas in ção induz uma estrutura no polipeptídeo não dobrado
trinsecamente não-estruturadas (IUPs, intrinsically (Figura 3.34). A indução da estrutura definida no IUP
unstructured proteins). Outras proteínas podem con ou PUF é um processo entropicamente negativo, que é
ter regiões ou domínios não-estruturados, que contêm desfavorável quanto à energia livre. Portanto, a força de
conformações parcialmente não dobradas (PUFs, par ligação de proteínas não-estruturadas a seus parceiros
tially unfolded conformations). As IUPs e as proteínas de ligação é geralmente mais fraca do que a de ligação
com PUFs incluem proteínas de arcabouço, hormônios, de uma molécula com uma estrutura pré-formada, que
domínios de ativação de fatores de transcrição, quinases não precisa utilizar parte da sua energia de ligação fa
102 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Não-estruturada (conjunto
Glóbulo
conformacional)
fundido polipeptídeos. Regiões desordenadas são enri
(conjunto conformacional)
quecidas em aminoácidos polares e carregados
(glutamato, lisina e glutamina) e no aminoáci
do prolina, e são depletadas em aminoácidos
aromáticos e alquila. Foram desenvolvidos al
goritmos para pesquisas sequências e identifi
carregiões potencialmente não-estruturadas
de cadeias polipeptídicas. A conservação das
proteínas não-estruturadas e de PUFs em
proteínas específicas ao longo da evolução
Por exemplo, ACTR (não NCBD) Por exemplo, NCBD (não ACTR) mostra a importância de tais regiões em pro
Ligação
cessos biológicos críticos.

Complexos de Proteínas,
Redes e Interactomas
Moléculas de proteína no meio celular es
tão primariamente presentes em complexos
de proteínas contendo múltiplas subunida
des proteicas. Os complexos são funcional
mente essenciais para a maioria dos proces
sos celulares, incluindo sinalização celular,
transcrição gênica, splicing e tradução de
Complexo ACTR-NCBD RNA, apoptose e metabolismo celular. Esses
complexos têm, tipicamente, 5-10 proteínas,
FIGURA 3.34 Estrutura induzida pela ligação em domínios não mas muitos contêm até 20-30 proteínas dife
-estruturados. rentes. Os complexos se comunicam entre si
O domínio de interação do ativador dos receptores do hormônio da tireóide e por meio de proteínas presentes em dois ou
de ácido retinóico (ACTR) é um conjunto de conformações não-estruturadas mais complexos diferentes, e que podem se
(marrom avermelhado, painel superior esquerdo) e o domínio coativador do re mover entre os complexos para conectá-los
ceptor nuclear (NCBD, nuclear-receptor coactivator domain) tem uma con
em redes. Um complexo que se interconecta
formação em glóbulo fundido com elementos de estrutura secundária regular e
uma estrutura terciária instável (verde, painel superior direito). A associação com mais do que três outros complexos é um
induz uma estrutura secundária e terciária estável em ambas as proteínas (pai nó (ou hub) da rede, e um alvo importante
nel inferior). para terapêutica de doenças. Uma rede fun
Reproduzido com permissão de Macmillan Publishers Ltd: de Dyson, H. J. e cional compreendendo complexos proteicos
Wright, P. E. Nature Rev. Mol. Cell Biol. 6:197, 2005. interconectados é um interactoma.

vorável para conseguir uma mudança de conformação Complexos proteicos celulares são caracterizados
entropicamente desfavorável. Essa propriedade de li utilizando-se purificação por afinidade em sequência
gação fraca é frequentemente vantajosa, uma vez que (TAP, tandem affinity purification), que envolve in
interações fracas e transitórias são necessárias para serção de um gene reporter em seguida ao gene de uma
muitos processos biológicos. Além disso, os domínios proteína de interesse, para produzir uma proteína qui
não-estruturados mostram promiscuidade com seus mérica na qual a proteína alvo produzida está ligada a
parceiros de ligação, porque sua falta de estrutura pré uma proteína marcada. A proteína marcada é isolada
-formada dá a eles uma plasticidade para formar super por eluição do lisado celular de uma coluna de afinida
fícies complementares de ligação com muitos parceiros de contendo anticorpo contra a marca (Figura 3.35). A
de ligação diferentes. Assim, o inibidor de quinases de resina de afinidade liga a proteína marcada e suas pro
pendentes de ciclina p21 tem capacidade de se ligar a teínas associadas, que são eluídas da coluna, separadas
diferente quinases dependentes de ciclina e regular as por eletroforese e identificadas por espectroscopia de
quinases dependentes de ciclina presentes nas diferen massa (p. 131 para uma discussão das técnicas). Outros
tes fases do ciclo celular. Proteínas de arcabouço agru métodos de identificação dos parceiros no complexo de
pam muitas proteínas em um complexo funcional. Sua uma proteína alvo incluem coimunoprecipitação com
um anticorpo dirigido contra a proteína alvo, e o ensaio
plasticidade permite a ligação de múltiplos parceiros no
complexo e permite mudanças nas proteínas membros, de dois-híbridos em levedura, no qual as interações bi
nárias proteína-proteína de mamífero são avaliadas em
de acordo com as necessidades fisiológicas.
um sistema reporter célula de levedura (Figura 3.35).
Regiões não-estruturadas de proteínas podem ser re Nenhuma dessas técnicas de ensaio, por si só, é sufi
conhecidas a partir da sequência de aminoácidos de seus ciente para provar uma interação proteína-proteína in
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 103

vivo, uma vez que artefatos são comuns. Resultados das características de complexos e redes nos quais pro
positivos em mais de uma dessas técnicas demonstra teínas associadas a doenças estão presentes mostra as
interação, com grande confiabilidade. Essas técnicas interdependências de múltiplos produtos gênicos que
não permitem isolar complexos transitórios, complexos afetam uma doença e suas relações nas vias relaciona
de membrana ou complexos de estados fisiológicos ou das com a doença (Figura 3.36).
fenótipos não presentes nas células analisadas.

Bioinformática Relaciona Estrutura e


Y Função de Proteínas como Produtos
AD Gênicos
X

DBD
Ao longo das últimas décadas, as sequências de nu
Gene reporter
cleotídeos dos genomas de múltiplas espécies animais
(a) Dois híbridos em levedura foram obtidas, bem como as sequências dos RNAs trans
critos e as sequências polipeptídicas produzidas a partir
do DNA genômico. A quantidade de dados é enorme, e
são armazenados em bancos de dados computacionais,
que são acessados livremente na Internet. O número de
e sequências polipeptídicas no UniProt Knowledge Base,
X d
a
Z d
i
n
if em 2008, era superior a 6,4 milhões, dentre as quais
a 75.000 são humanas. O Protein Data Bank contém 47.000
Isca e
Y d
a
n
estruturas tridimensionais de proteínas dobradas obti
u
l das por difração de raios-X, ressonância nuclear mag
W o
C
(b) nética e microscopia eletrônica. Bioinformática é uma
Purificação por afinidade
área de pesquisa baseada em computação que focaliza
FIGURA 3.35 Dois métodos para determinar interações a integração e a análise de dados biológicos complexos
proteína-proteína. com algoritmos computacionais. Uma grande ênfase da
(a) A técnica de dois-híbridos em levedura determina intera bioinformática foi identificar padrões em sequências de
ções binárias proteína-proteína em um sistema de expressão ácidos nucleicos ou de aminoácidos que são assinaturas
em levedura. Uma proteína fator de transcrição que se liga a de características estruturais ou motivos e de famílias
uma sequência regulatória à montante de um gene repórter ou classes de proteínas às quais o produto gênico per
de levedura, como Gal4, consiste de um domínio de ligação ao
tence. Esses algoritmos de busca de homologia são usa
DNA (DBD, DNA binding domain) e um domínio de ativação
dos para identificar e classificar produtos de genes com
(AD, activation domain), necessários para ativar a expressão
do gene repórter. As regiões codificadoras dos domínios DBD e base em similaridade de sequência quando a estrutura
AD são separadas e ligadas a dois genes de mamíferos de inte é conhecida, a busca de homologia pode ser baseada em
resse (X e Y) e expressos em células de levedura para produzir similaridade estrutural. O grau de similaridade de sequ-
proteínas quiméricas DBD-X e Y-AD. Se a proteína Y se ligar à ência usa critérios que vão desde a identidade absoluta
proteína X, os domínios DBD e AD se aproximam e estimulam de resíduos em posições equivalentes até a similaridade
a expressão do gene repórter. O gene popular Gal4 produz a baseada em polaridade, hidrofobicidade e tamanho. Os
enzima b-galactosidase, que dá uma cor azul a células em pla
algoritmos permitem inserção ou deleção de segmentos
cas de cultura impregnadas com o substrato correto. da cadeia polipeptídica ou da estrutura para dar a sobre
(b) A técnica de purificação por afinidade em sequência (TAP)
liga uma proteína marcada (quadrado púrpura) com uma pro posição máxima entre duas proteínas.
teína de interesse (proteína isca, laranja) e a proteína quimé
Os domínios das proteínas são classificados por
rica é expressa em uma célula de interesse. O lisado celular
é passado em uma resina de afinidade contendo anticorpo classe, dobra e família. A classe é determinada pelo
contra a proteína marcada com o complexo da proteína isca tipo predominante de estrutura secundária presente na
(proteínas W-Z). As proteínas ligadas são eluídas da coluna de proteína. Alguns exemplos são principalmente a-hélice
afinidade e identificadas por espectroscopia de massa. (toda a), principalmente b-fita (toda b), e quantidades
Redesenhado com base na figura de Aloy, P. e Russell, R. B. aproximadamente iguais de a-hélice e b-fita ([a/b] al
Nature Reviews Mol. Cell Biol. 7:188, 2006.
ternadas ou [a + b] não alternadas). A dobra é deter
minada pelo arranjo específico dos elementos de estru
Estimativas teóricas indicam que uma célula huma tura secundária no domínio. A família é determinada
na tem aproximadamente 3.000 complexos proteicos, pelo grau de identidade de sequência entre as proteí
cada um com múltiplas isoformas (membros de proteí nas. Proteínas que são membros da mesma família têm
nas que não são do núcleo do complexo e que são inter uma relação evolutiva comum e são derivadas do mes
cambiáveis, gerando diferentes isoformas), e aproxima mo gene primordial. Proteínas da mesma família têm
damente 650.000 interações binárias proteína-proteína o mesmo dobramento e frequentemente desempenham
gerando esses complexos de proteínas. A determinação funções similares.
104 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

FIGURA3.36 Mapa preliminar do interactoma relacionado gênicos do banco de dados OMIM, e nós amarelos representam
a doenças para um subconjunto de 7.200 proteínas produtos gênicos sem designação atual no OMIM. Linhas verme
humanas. lhas mostram interações binárias identificadas por Rual et al., e
As interações binárias no ensaio de dois-híbridos em levedura linhas sólidas azuis mostram interações identificadas pelos auto
foram determinadas em um subconjunto de 7.200 produtos gê res na literatura. Linhas tracejadas mostram interações através
nicos. O interactoma mostrado refere-se a interações de ligações de uma terceira proteína.
de proteínas relacionadas com doenças conhecidas, que estão Reproduzido com permissão de Rual, J.-F., Venkatesan, K., Hao,
designadas no banco de dados OMIM. Nós verdes são produtos T., Hirozane-Kishikawa, T., et al. Nature 437:1183, 2005.

De interesse para a clínica médica é a descoberta mas mutações da hemoglobina produzem significativos
de mutações na sequência de aminoácidos, que podem sintomas clínicos, como anemia falciforme (Correlação
dar origem a significativas alterações de função. Em Clínica 6.2; p. 220). Certas posições na sequência de
nível molecular, mudanças em apenas um aminoácido aminoácidos são variantes entre populações. Essas
podem ser significativas. Uma mutação de um amino posições na sequência, quando envolvem alterações
ácido pode perturbar a conformação nativa; a flexibi únicas no códon de bases para aquele aminoácido, são
lidade conformacional; a energética ou movimento da chamadas polimorfismos de um nucleotídeo único
molécula; e a seletividade de enzimas por substratos e (SNPs, single nucleotide polymorphisms) e podem
inibidores. Exemplos disso são as hemoglobinas, para levar a um entendimento das diferenças em respostas a
as quais existe um extenso catálogo de mutações. Algu uma doença ou terapêutica entre populações humanas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 105

Estruturas de Dobras Homólogas -sheet). Novamente, os segmentos de fita-b são ligados


por regiões de a-hélices posicionadas no lado externo,
São Frequentemente Formadas dando o padrão característico de dobra. Uma superdo
bra domínio-todo-b está presente na Cu, Zn superóxido
a Partir de Sequências de dismutase, na qual a folha-b antiparalela forma um bar
Aminoácidos Não Homólogas ril-b “chave grega” (Figura 3.40). Um padrão de dobra
semelhante ocorre em cada um dos domínios de imu
Embora cada estrutura nativa seja singular, a com noglobulinas. A concavalina A (Figura 3.40) apresen
paração de estruturas terciárias de diferentes proteí ta uma superdobra domínio-todo-b, no qual as fitas-b
nas mostra que arranjos semelhantes de motivos de es antiparalelas formam uma dobra em barril-b chamada
trutura secundária são frequentemente observados nas “jelly roll”. Proteínas que não são solúveis em água po
estruturas de dobras de domínios. Dobras de estrutura dem conter diferentes padrões de dobras (Seção 3.6).
semelhante de proteínas não relacionadas por função,
sequência ou evolução são chamadas superdobras (su
perfolds). Elas se formam graças à estabilidade termo
dinâmica de seus arranjos de estrutura secundária ou à
sua acessibilidade cinética.

Uma dobra comum toda-a ou domínio é encontrada


na lisozima e é chamada dobra de globina (Figura 3.37),
uma vez que foi descrita pela primeira vez na mioglobi
na e nas subunidades da hemoglobina (p. 369). Essas
estruturas toda-a têm sete ou oito seções de a-hélices
ligadas por segmentos menores que permitem que as
hélices se dobrem sobre si mesmas, formando uma for
ma globular característica. Como essa dobra é gerada
por proteínas de diferentes famílias com homologias de
sequências, a dobra de globina é uma superdobra. Outra
superdobra comum é a estrutura domínio-a/b da triose Triose fosfato isomerase
fosfato isomerase (Figura 3.38), na qual as fitas (desig
nadas por setas) formam um barril-b central com cada
fita-b do interior conectada por uma região de a-hélice
do lado externo da dobra. Uma dobra semelhante forma
um domínio da piruvato quinase (Figura 3.38), que não
tem homologia de sequência ou funcional. Um tipo di
ferente de superdobra-a/b está presente no domínio 1
não homólogos da lactato desidrogenase e no domínio 2
da fosfoglicerato quinase (Figura 3.39). Nestas, seções
centrais participam de uma folha-b torcida (twisted b-

Domínio 1 da piruvato quinase

FIGURA 3.38 Exemplo de uma dobra domínio-a/b na


triose phosphato isomerase e no domínio 1 da piruvato
quinase.
Ver legenda da Figura 3.37. Nesta superdobra comumente
formada, as fitas-b formam um barril-b no centro do domínio
enquanto os segmentos de a-hélice ficam no lado de fora do
FIGURA 3.37 Exemplo de um domínio dobra de globina domínio. As fitas-b ficam em direções paralelas. Regiões de
todo-a na lisozima. a-hélice alternam-se com fitas-b na cadeia polipeptídica.
Nesse desenho e nas Figuras 3.38, 3.39 e 3.40, apenas o deline
Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
amento da cadeia polipeptídica é mostrado. Fitas-b são repre
tein Chem. 34:168, 1981.
sentadas por setas indicando a direção N—>C-terminal; raios
representam pontes de dissulfeto e círculos representam íons
metálicos cofatores (quando presentes). Domínio todo-a é a
dobra de globina.
Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
tein Chem. 34:168, 1981.
106 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Cu, Zn superóxido dismutase

Domínio 1 da lactato desidrogenase

Concanavalina A
Domínio 2 da fosfoglicerato quinase

FIGURA 3.39 Exemplo de uma dobra domínio-a/b no FIGURA 3.40 Exemplos de superdobras domínio-todo-b:
qual fitas-b formam uma folha-b torcida clássica na o barril chave grega e as dobras jelly roll apresentadas
lactato desidrogenase e na fosfoglicerato quinase. na superóxido dismutase e na concanavalina A.
Ver legenda da Figura 3.37. Como na dobra domínio-a/b an Ver legenda da Figura 3.37. As fitas-b são principalmente anti
terior, regiões de a-hélice alternam-se com regiões de fita-b paralelas em dobras domínio-todo-b.
na cadeia polipeptídica. A estrutura em folha-b fica no lado de Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
dentro, enquanto os segmentos de a-hélice ficam no lado de tein Chem. 34:168, 1981.
fora. As fitas-b ficam em paralelo na estrutura-b.
Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
tein Chem. 34:168, 1981.

3.6 PROTEÍNAS ESTRUTURADAS são as proteínas fibrosas e as proteínas de membranas.


Estas são não-globulares e têm baixa solubilidade em
NÃO-GLOBULARES água. Além disso, lipoproteínas e glicoproteínas contêm
componentes não-proteicos lipídicos e carboidratos e
As características estruturais de proteínas já discu
podem ter ou não-estruturas globulares.
tidas são baseadas em observações de proteínas globu
lares e solúveis em água. As proteínas globulares têm Proteínas fibrosas caracteristicamente têm quan
uma forma esférica, variam em tamanho, têm solubili tidades maiores de estrutura secundária regular, uma
dade em água relativamente elevada e funcionam como forma cilíndrica longa (tipo bastão), baixa solubilida
catalisadores, transportadores e reguladores de vias de em água, e uma função estrutural em lugar de um
metabólicas e da expressão gênica. As proteínas que papel dinâmico. Colágeno, queratina e tropomiosina
não se encaixam no modelo de proteína globular solúvel são importantes proteínas fibrosas. Suas estruturas
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 107

com múltiplas cadeias têm cadeias polipeptídicas com H H


N N
uma grande quantidade de estrutura secundária regu H2C
OH CHCOOH H2C CHCOOH
lar (hélice poliprolina tipo II ou a-hélice), que se asso
ciam para formar conformações superenroladas mul HC CH2 H2C CH

ticadeias em forma de bastão. Em todos os casos, as OH


sequências de aminoácidos das cadeias geram bordas 4-Hidroxiprolina 3-Hidroxiprolina
nas superfícies cilíndricas que estabilizam interações
hidrofóbicas entre as cadeias nas conformações supe
renroladas. Por sua vez, essas estruturas moleculares OH NH2
são alinhadas em fibrilas multimoleculares que são es
NH2 CH2CHCH2CH2CH
tabilizadas, em alguns casos, por ligações covalentes
COOH
cruzadas.
5-Hidroxilisina

NH2
Colágeno
COCH2CH2CH2CH
Colágeno é uma família de proteínas extracelulares H COOH
presentes em todos os tecidos e órgãos, que fornece o Alisina
arcabouço que dá aos tecidos sua forma e resistência.
É a proteína mais abundante no homem (Tabela 3.10 e FIGURA 3.41 Aminoácidos derivados no colágeno.
Correlação Clínica 6.13, p. 251). Carboidrato é ligado à 5-OH de hidroxilisina por uma ligação
glicosídica tipo III (ver Figura 3.49).

TABELA 3.10 Percentagem de Colágeno em Tecidos e


Órgãos Representativos Humanos Sequência de Aminoácidos do Colágeno
Percentagem de A família do colágeno é composta por polipeptídeos
Tecido ou Órgão Colágeno em peso derivados de 40 genes conhecidos de cadeias de co
lágeno, que produzem cerca de 20 tipos de colágeno.
fígado 4 Cada molécula de colágeno maduro ou tropocoláge
no contém três cadeias polipeptídicas. Alguns tipos
pulmão 10
de colágeno contêm três cadeias polipeptídicas idên
aorta 10-24 ticas. No tipo I (Tabela 3.12), há duas cadeias a1(I)
e uma a2(I). O colágeno tipo V contém três cadeias
cartilagem 50 diferentes, chamadas a1(V), a2(V) e a3(V). Os colá
osso cortical inteiro
córnea 64 genos diferem em sequência de aminoácidos, mas há
grandes regiões de sequências homólogas entre todos
23 os diferentes tipos de colágeno. Em todos os tipos de
colágeno há regiões com os tripeptídeos Gly-Pro-Y e
pele 74
Gly-X-Hyp (onde X e Y são quaisquer aminoácidos),
repetidos, em seguida, centenas de vezes. Nos poli
peptídeos do colágeno tipo I, as sequências de triple
Composição em Aminoácidos do tes repetidos correspondem a mais de 600 dos apro
Colágeno ximadamente 1.000 aminoácidos por polipeptídeo. Os
colágenos diferem em seu componente carboidrato.
A composição do colágeno tipo I de pele e das pro Algumas características dos colágenos tipos I-VI são
teínas globulares ribonuclease e hemoglobina são da
das na Tabela 3.11. O colágeno de pele é rico em glicina resumidas na Tabela 3.12.
(33% de seus aminoácidos), prolina (13%) e os amino
ácidos derivados 4-hidroxiprolina (9%) e 5-hidroxili Estrutura do Colágeno
sina (0,6%) (Figura 3.41). Hidroxiprolina é exclusiva
de colágenos, sendo formada enzimaticamente a partir Cadeias polipeptídicas sintéticas contendo apenas
de prolina. A maior parte das hidroxiprolinas tem o prolina (poli-Pro) podem ser preparadas em laborató
grupo hidroxila na posição 4 (carbono g), embora uma rio e assumem, em solução aquosa, uma estrutura se
pequena quantidade de 3-hidroxiprolina também seja cundária regular diferente da a-hélice. A pol-Pro forma
formada (Tabela 3.11). Os colágenos são glicoproteí uma hélice estendida muito torcida com três resíduos
nas com carboidratos ligados a 5-hidroxilisina por por volta (n = 3). Essa hélice, com todas as ligações
uma ligação O-glicosídica por meio do grupo hidroxila trans-peptídicas, é a hélice poliprolina tipo II (Figu
do carbono-d. ra 3.12, para diferenças entre ligações peptídicas cis e
trans). A hélice poli-Pro lembra muito a encontrada em
cadeias de colágeno em regiões que contêm uma proli
108 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

na ou uma hidroxiprolina a aproximadamente cada ter os átomos de oxigênio e nitrogênio da ligação peptídica
ceira posição nas sequências de tripeptídeo repetitivo, em uma hélice poliprolina tipo II apontam na direção
indicando que as forças termodinâmicas que levam à das cadeias polipeptídicas vizinhas e formam fortes
formação da estrutura da hélice do colágeno devem-se pontes de hidrogênio intercadeias. Isso contrasta com a
às propriedades da prolina. α-hélice, na qual o plano da ligação peptídica é paralelo
ao eixo, onde o NH e o oxigênio da carbonila dos peptí
Na hélice de poliprolina tipo II, o plano de cada liga
deos formam apenas pontes de hidrogênio intracadeia.
ção peptídica é perpendicular ao eixo da hélice. Assim,

TABELA 3.11 Comparação do Conteúdo de Aminoácido do Colágeno da Pele Humana (Tipo I) e Elastina Madura com a de
Duas Proteínas Globulares Típicasa

Colágeno Elastina Ribonuclease


(Bovina) Hemoglobina
Aminoácido (Pele humana)
(Mamíferos) (Humana)
aminoácidos comuns porcentagem do total
Ala 11 22 8 9
Arg 5 0,9 5 3
Asn 8 3
Asp 5 1 15 10
Cys 0 0 0 1
Glu 7 2 12 6
Gln 6 1
Gly 31 2 4
His 0,5
30 0,1 4 9
Ile 1 2 3 0
Leu 2 6 2 14
Lys 3 0,8 11 10
Met 0,6 0,2 4 1
Phe 1 3 4 7
Pro 13 11 4 5
Ser 4 1 11 4
Thr 2 1 9 5
Trp 2 1 9 2
Tyr 0,3 2 8 3
Val 2 12 8 10
aminoácidos derivados
Cistina 0 0 7 0
3-Hidroxiprolina 0,1 0 0
4-Hidroxiprolina 9 1 0 0
5-Hidroxilisina 0,6 0 0 0
Desmosina e isodesmosina 0 1 0 0
aNúmeros em quadrados enfatizam importantes diferenças na composição de aminoácidos entre proteínas fibrosas (colágeno e elastina) e proteínas
globulares típicas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 109

As três cadeias de uma molécula de colágeno, onde Formação de Ligações Covalentes


cada cadeia está na conformação de hélice poliprolina
Cruzadas no Colágeno
tipo II, enrolam-se umas em torno das outras, para for
mar uma estrutura conhecida como super-hélice (Fi Uma enzima extracelular age sobre moléculas de
gura 3.42, p. 106). A super-hélice de três cadeias tem colágeno (p. 111) para converter o e-amino grupo de
tamanho (d) e passo (p) característicos, diferentes dos algumas cadeias laterais de lisina em um d-aldeído (Fi
encontrados em cada uma das cadeias polipeptídicas gura 3.43). O aminoácido derivado é alisina. A cadeia
em hélice de poliprolina. A super-hélice é estabiliza lateral aldeído recém-formada sofre reações de adição
da por pontes de hidrogênio intercadeias entre as três nucleofílica espontânea com e-amino grupos de lisina
cadeias, porque glicina ocorre a cada terceira posição. não modificada e com átomos de carbono-d de outros
Com a conformação em hélice poliprolina tipo II de grupos aldeídicos de alisinas. Essas ligações covalentes
cada cadeia polipeptídica, com três resíduos por volta podem ser entre cadeias dentro da estrutura super-héli
(n = 3), as glicinas formam uma borda apolar ao longo ce ou entre super-hélices de colágeno adjacentes numa
do comprimento de cada uma das hélices. A borda de fibrila de colágeno (p. 247 para uma discussão sobre a
glicina então estabelece interações não polares entre as biossíntese do colágeno).
cadeias, que são críticas para estabilizar a super-hélice
de três cadeias. Qualquer cadeia lateral diferente da gli
cina ao longo da borda apolar impediria que as cadeias Elastina É uma Proteína Fibrosa
adjacentes se aproximassem na estrutura da super-hé
lice (Figura 3.42, Osteogênese Imperfecta, e Correlação
com Ligações Cruzadas Geradas por
Clínica 6.13; p. 251). Alisina
No colágeno tipo I, a tripla hélice estende-se pela Elastina confere a tecidos e órgãos a capacidade de
maior parte da sequência, e só os segmentos carboxi se esticarem sem romper. É classificada como proteína
-terminal e amino-terminal (conhecidos como telopep fibrosa por sua função estrutural e relativa insolubili
tídeos) não têm conformação em tripla-hélice. A molé dade em água; é abundante em ligamentos, pulmões,
cula de colágeno tipo I tem 3.000 Å de comprimento e paredes de artérias e pele. A elastina não tem estrutu
apenas 15 Å de largura, uma estrutura cilíndrica muito ra secundária regular. Como no colágeno, alisinas fa
longa. Em outros tipos de colágeno, as regiões de super zem ligações cruzadas na elastina. Uma lisina amino
-hélice podem ser interrompidas periodicamente por oxidase extracelular converte cadeias laterais de li
regiões globulares. sina nas sequências -Lys-Ala-Ala-Lys- e -Lys-Ala-Ala

TABELA 3.12 Classificação dos Tipos de Colágeno


Designações das
Tipo cadeias Tecido em que é encontrado Características

I [a1(I)]2a2(I) Osso, pele, tendão, tecido de Pouco carboidrato;


cicatrização, válvula do coração, <10 hidroxilisinas por cadeia
paredes intestinal e uterina
II [a1(II)]3 Cartilagem, vítreo 10% carboidrato;
>20 hidrolisinas por cadeia
III [a1(III)]3 Vasos sanguíneos, pele de recém Pouco carboidrato; muita hidroxiprolina e
-nascido, tecido de cicatrização, Gly; contém Cys
paredes intestinal e uterina
IV [a2(IV)]33
[a1(IV)] Membrana basal, cápsula do Muita 3-hidroxiprolina;
cristalino >40 hidroxilisinas por cadeia; pouca Ala e
Arg; contém Cys; muito carboidrato (15%)
V a1(V)a2(V)a3(V)
[a1(V)]3
[a1(V)]3a2(V) Superfícies celulares ou Muito carboidrato, relativamente muita
exocitoesqueleto; amplamente glicina e hidroxilisina
distribuído em quantidades baixas
VI a3(VI)
a1(VI)a2(VI) Íntima da aorta, placenta, rim e Domínios globulares relativamente grandes
pele em quantidades baixas nas regiões de telopeptídeos; muita Cys e
Tyr; peso molecular relativamente baixo
(~160 kDa); quantidades equimolares de
hidroxilisina e hidroxilisina
110 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Queratina e Tropomiosina
Queratina e tropomiosina são proteínas fibrosas
12 nas quais cada polipeptídeo é uma α-hélice. A quera
tina é encontrada na camada epidérmica da pele, nas
unhas e no cabelo. A tropomiosina é um componente
11
dos filamentos finos do tecido muscular. As sequências
de ambas as proteínas mostram repetições em seguida
(tandem) de segmentos de sete resíduos (hepteto), nos
10 quais o primeiro e o quarto aminoácidos têm cadeias
Gly
laterais hidrofóbicas, e o quinto e o sétimo, cadeias la
terais polares. A reiteração de cadeias laterais hidrofó
bicas e polares no segmento hepteto é simbolicamente
9
representada pela formulação (a-b-c-d-e-f-g)i, onde a e
d são aminoácidos hidrofóbicos, e e g são grupos de ca
deias laterais polares ou ionizados. Como um segmento
8 de sete aminoácidos representa duas voltas completas
de uma α-hélice (n = 3,6), os resíduos apolares em a e
7
Gly d alinham-se para formar uma borda apolar ao longo de
um lado da α-hélice (Figura 3.45). Essa borda apolar
interage com bordas polipeptídicas apolares de outras
cadeias de α-queratina formando uma estrutura super
6 -helicoidal em mola-enrolada (coiled-coil) contendo
duas ou quatro cadeias polipeptídicas. Cada polipeptí
deo também contém uma borda polar, devido aos resí
5
duos e e g, que interagem com água no lado externo da
Gly super-hélice e a estabilizam.
4

Lipoproteínas Plasmáticas São


Complexos de Lipídeos com
3
Proteínas
Lipoproteínas plasmáticas são complexos de pro
2 teínas e lipídeos que formam agregados distintos com
uma estequiometria aproximada entre os componentes
proteicos e lipídicos. Ligações covalentes não existem
Gly entre as moléculas de lipídeos e de proteínas, mas as
(a) (b) moléculas do complexo são mantidas juntas na estrutu
ra da partícula por meio de interações não-covalentes
FIGURA 3.42 Diagrama do colágeno demonstrando a
(p. 741). As partículas de lipoproteínas funcionam no
necessidade de glicina a cada três resíduos para permitir
que diferentes cadeias fiquem muito próximas na
transporte de lipídeos de tecido para tecido e partici
pam do metabolismo de lipídeos (p. 743).
estrutura.
(a) Modelo em fita para a estrutura superenrolada do coláge
no, com cada cadeia individual em uma hélice poliprolina tipo Existem quatro classes no plasma de seres huma
II. (b) Modelo mais detalhado da conformação superenrolada. nos normais em jejum (Tabela 3.13), e no período pós
Todos os átomos de carbono-α são numerados, e as pontes de -absortivo uma quinta classe, quilomícrons, também
hidrogênio propostas são mostradas por linhas tracejadas. está presente. São diferenciadas por sua densidade, de
Redesenhada com permissão de Dickerson, R.E. e Geis, I. The terminada por ultracentrifugação e por eletroforese (Fi
Structural and Action of Proteins. Menlo Park, CA: Benja gura 3.46). Mudanças nas suas concentrações relativas
min, 1969, pp. 41,42. são preditivas de aterosclerose, uma importante doen
ça humana (Correlação Clínica 3.3). Seus componentes
proteicos são chamados apolipoproteínas, e cada classe
-Ala-Lys- em alisinas. Três alisinas e uma lisina não de lipoproteína tem uma composição característica em
modificada em diferentes regiões das cadeias polipep apolipoproteína. As apolipoproteínas mais proeminentes
tídicas reagem para formar a estrutura heterocíclica (Tabela 3.14) são apolipoproteína ApoA-I em lipoproteí
desmosina ou isodesmosina, que estabelecem liga nas de alta densidae (HDLs); ApoB em lipoproteínas de
ções cruzadas entre cadeias polipeptídicas na rede de baixa densidade (LDLs), em lipoproteínas de densidade
elastina (Figura 3.44). intermediária (IDLs) e em lipoproteínas de muito bai
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 111

O H H O H H
O H H CCN
O
C (CH2)2
HC
CH2HN O
C (CH2)2
H
C
CH2HN C (CH2)2
CCH2 N amino
Lisil C (CH2
C N (CH2 O
C (CH2
H
C
CH2 N
CH2 oxidase NH+3 H

)2 )2 N
CH2 CH2
C
+3 oxidase
amino
lisil H O condensação
aldólica CH2

NH+3 NH CH
CH2 CH2
CH CH2 CH2 CH H
O
NH H C O H O CC

CH2 C (CH2)2
CN
2 C
(CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 )2
O H H
C C N CC N C C N C C N CC N

O H H O H H O H H O H H O H H

Lisinonorleucina Base de Schiff Derivativo aldeídico Residuos de lisil Derivativos aldeídicos Ligação cruzada aldol
(uma ligação cruzada no (alisil) no colágeno (alisil) no colágeno
colágeno ou elastina)

FIGURA 3.43 Ligações covalentes cruzadas formadas em colágeno por intermediários alisina.
A formação de alisinas é catalisada por lisilamino oxidase.

Cadeia
(CH2)3 (CH2)3 polipeptídica (CH2
)3 (CH2)3
CH CH2 (CH2)3
(CH2
NH2
CH2 CH2
NH2 (CH2 NH2
CH2
CH2 CH2
O
N
3 lisinas +
convertidas a alisinas Condensações aldólicas
O CH2
NH2 Lisina amino oxidase H C O
(CH2)3 CH2
)3 (CH
CH2 H CH2
C
)3
2)3 (CH2)3

Ligação cruzada desmosina

FIGURA 3.44 Formação da ligação covalente cruzada desmosina na elastina a partir de lisina e alisinas.
A cadeia polipeptídica foi desenhada esquematicamente com interseções de linhas representando a localização dos carbonos-a.

c
g e′ xa densidade (VLDLs); e ApoC em IDLs e VLDLs. Cada
b′
d a′
classe de apolipoproteína é genética e estruturalmente
distinta (ver Correlação Clínica 3.6). As apolipoproteínas
f′ variam de 6 kDa (ApoC-I) até 550 kDa para ApoB-100.
f
A última é um longo polipeptídeo (4.536 aminoácidos) e
b a d′ ocorre em forma truncada (apenas os 2.512 resíduos N
c′ -terminais) como ApoB-48 em quilomícrons.
e g′

FIGURA3.45 Interação de bordas apolares de duas Um modelo para a estrutura de uma partícula de
cadeias em conformação em a-hélice na queratina e na VLDL é mostrado na Figura 3.47. No lado de dentro estão
tropomiosina. lipídeos neutros como ésteres de colesterol e triacilglice
É apresentada a interação de resíduos apolares d-a e a!-d de róis. Em torno desse núcleo interno de lipídeos neutros,
duas a-hélices alinhadas paralelas na direção NH2-terminal há uma capa de ~20 Å de espessura, na qual residem as
(superior) para COOH-terminal. proteínas e os lipídeos anfotéricos carregados como co
Redesenhado de McLachlan, A. D., e Stewart, M. J. Mol. Biol. lesterol não esterificado e fosfatidilcolinas (p. 479). Li
98:293, 1975.
pídeos anfotéricos e proteínas na capa externa colocam
suas regiões apolares hidrofóbicas em direção ao lado in
terno da partícula, e seus grupos carregados em direção
ao lado externo, onde interagem entre si e com a água.
112 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

TABELA 3.13 Classes de Densidade Hidratada de Lipoproteínas Plasmáticas

Fração de Densidade Taxa de Flutuação, Sf Peso Molecular Diâmetro da


Lipoproteína (gmL–1) (unidades Svedberg) (daltons) Partícula (Å)
HDL 1,063–1,210 HDL2, 4 × 105 70–130
HDL3, 2 × 105 50–100
LDL (ou LDL2) 1,019–1,063 0–12 2 × 106 200–280
IDL (ou LDL1) 1,006–1,019 12–20 4,5 × 106 250
VLDL 0,95–1,006 20–400 5 × 106–107 250–750
Quilomícrons < 0,95 > 400 109–1010 103–104
Fonte: Dados de Soutar, A. K. e Myant, N. B. Em: Offord, R.E. (Ed.), Chemistry ofMacromolecules, IIB. Baltimore, MD: University Park Press, 1979.

Classe HDL LDL IDL VLDL Quilomícrons


1.21 1.063 1.019
Densidade 1.006 0.95

a
n
i
é
t
o
r
p
o
p
il
e
d
o
ã
ç
a
rt
n
e
c
n
o
C

Origem

Pre-β

FIGURA 3.46 Correspondência entre densidade das classes de lipoproteínas


plasmáticas e mobilidade eletroforética em uma eletroforese de plasma.
No diagrama superior, é apresentado um padrão de ultracentrifugação de Schlieren. No
inferior, eletroforese em um suporte de papel mostra as mobilidades das principais clas
ses de lipoproteínas plasmáticas com relação às bandas de a- e b-globulinas.
Reproduzido com permissão de Soutar, A. K. e Myant, N. B. Em: Offord, R.E. (Ed.), Che
mistry of Macromolecules, IIB, Baltimore, MD: University Park Press, 1979.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 113

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.3

Hiperlipoproteinemias

Hiperlipoproteinemias (OMIM 608083) são erros pode produzir uma hiperlipoproteinemia muito seme
nas taxas de síntese ou depuração de lipoproteínas da lhante. Esses pacientes têm risco aumentado de ateros
corrente sanguínea. Geralmente são detectadas por do clerose.
sagem de triacilglicerol e colesterol plasmáticos, e são
classificadas com base na classe de lipoproteína elevada. A hiperlipoproteinemia tipo IV é a anomalia mais
comum. Os níveis de VLDL são aumentados, frequente
A hiperlipoproteinemia tipo I deve-se ao acúmulo mente devido à obesidade, ao abuso de álcool ou diabe
de quilomícrons. Duas formas genéticas são conheci tes. Formas familiares são também conhecidas.
das: deficiência de lipoproteína lipase e deficiência de
ApoCII. ApoCII é necessária para completa atividade da A hiperlipoproteinemia tipo V é, como a tipo I, as
lipoproteína lipase. Pacientes com hiperlipoproteine sociada com altos níveis de triacilglicerol de quilomí
mia tipo I têm concentrações extremamente elevadas crons, pancreatite e xantomas eruptivos.
de triacilglicerol plasmático (acima de 1.000 mg/dL) e A hipercolesterolemia também ocorre em certos ti
sofrem de xantomas eruptivos (depósitos amarelados pos de doenças do fígado, nas quais a excreção biliar
de triacilglicerol na pele) e pancreatite. de colesterol está reduzida. Uma lipoproteína anormal
A hiperlipoproteinemia tipo II caracteriza-se por chamada lipoproteína X acumula-se. Essa doença não
níveis elevados de LDL. A maioria dos casos deve-se a está associada com aumento de doença cardiovascular
defeitos genéticos na síntese, no processamento ou na resultante de aterosclerose.
função do receptor de LDL. Heterozigotos têm níveis
Havel, R. J. e Kane, J. P. Introduction: Structure and meta
elevados de LDL; portanto, essa característica é ex
bolism of plasma lipoproteins. Em Scriver, C. R., Beaudet, A.
pressa de forma dominante. Pacientes homozigotos têm L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Molecular
níveis muito elevados de LDL e podem sofrer infarto do Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw-Hill,
miocárdio antes dos 20 anos de idade. 2001, Cap. 114; e Goldstein, J. L., Hobbs, H. H. e Brown, M. S.
Familial hypercholesterolemia. Em: Scriver, C. R., Beaudet,
A hiperlipoproteinemia tipo III deve-se a anomalias A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Mole
em ApoE, que interferem com a captação de quilomí cular Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw
crons e remanescentes de VLDL. O hipotireoidismo -Hill, 2001, Cap. 120.

TABELA 3.14 Apoliproteínas de Lipoproteínas Plasmáticas Humanas (Valores em Porcentagem do Total de Proteínas
Presentes)a

Apolipoproteína HDL2 HDL3 LDL IDL VLDL Quilomícrons


ApoA-I 85 70–75 Traços 0 0–3 0–3
ApoA-II 5 20 Traços 0 0–0,5 0–1,5
ApoD 0 1–2 0 1
ApoB 0–2 0 95–100 50–60 40–50 20–22b

ApoC-I 1–2 1–2 0–5 <1 5 5–10


ApoC-II 1 1 0,5 2,5 10 15
ApoC-III 2–3 2–3 0–5 17 20–25 40
ApoE Traços 0–5 0 15–20 5–10 5
ApoF Traços Traços
ApoG Traços Traços
Fonte: Dados de Soutar, A. K. e Myant, N. B. Em: Offord, R.E. (Ed.), Chemistry ofMacromolecules, IIB, Baltimore, MD: University Park Press, 1979;
Kostner, G. M. Adv. Lipid. Res. 20:1, 1983.
aValores mostram variabilidade entre diferentes laboratórios.
bPrimariamente ApoB-48.
114 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.4

Hipolipoproteinemias

A abetalipoproteinemia é uma doença genética ca A deficiência da enzima lecitina:colesterolaciltrans


racterizada por ausência de quilomícrons, VLDLs e ferase é uma doença rara que resulta na produção de
LDLs devido a uma incapacidade de sintetizar apolipo lipoproteína X. Também característica é a diminuição
proteínas apoB-100 e apoB-48. Ocorre acúmulo de go nas bandas de a-lipoproteína e pré-b-lipoproteína e o
tículas de lipídeo em células do intestino delgado, má aumento na b-lipoproteína em virtude da presença de
absorção de gordura, acantocitose (glóbulos vermelhos lipoproteína X na eletroforese.
com “espinhos”) e doença neurológica (retinite pigmen
Kane, J. P. e Havel, R. J. Disorders of the biogenesis and
tosa, ataxia e retardo).
secretion of lipoproteins containing the b apoliproteins. Em:
A Doença de Tangier, uma deficiência de a-lipopro Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.),
The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease,
teína, é uma doença autossômica recessiva rara na qual
8. ed. New York: McGraw-Hill, 2001, Cap. 115; Assmann, G.,
o nível de HDL é 1–5% do seu valor normal. As caracte von Eckardstein, A. e Brewer, H. B. Jr. Familial high densi
rísticas clínicas devem-se ao acúmulo de colesterol no ty lipoprotein deficiency: Tangier disease. Em: Scriver, C.
sistema linforreticular, o que pode levar a hepatome R., Beaudet, A.L., Sly, W.S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic
galia e esplenomegalia. O colesterol e os fosfolipídeos and Molecular Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York:
plasmáticos ficam muito reduzidos. McGraw-Hill, 2001, Cap. 122.

C Esse modelo de lipoproteína


E
como partícula aplica-se a todas
C–II
as lipoproteínas plasmáticas. À
E E E EE E EE
E E
E E
E E E E
EEE
B
E E EE E medida que o diâmetro da partí
E E E EEE EE EE C–I E E EE
E
E E E EE E
E E EE
EE EE E E E E E EE cula diminui, a camada externa
EE EE E E E E E EE
E E E E E E E EE EE E E E E E E EE E E E E corresponde a uma porcentagem
E EE E E E E
E EE E E E EE E E E
E E E E E E E EE E E E maior do total da partícula. Assim,
E E E E E E EE E EE EE EE E EE E E E E EE E EE
E E
E E E
E EE E E
E E E EE E EE E EE E E EE EE E EE EE EE C–III as partículas menores têm uma
E E
E EE EEEEEEEEE E E E E E E E EE
EE E E E porcentagem maior de moléculas de
E EE E EE
EE E E EEEE
EEEE
EEE E E EE E EE E EEE E
E
EE E
E
E E E E
EE EEE EEEEEE E E EEEEEE
E
E E
proteínas de superfície e de lipídeos
E A–I
anfotéricos do que as partículas
B
E maiores. As partículas de HDL, que
VLDL são muito menores do que as de
VLDL, portanto consistem de 45%
QUILOMÍCRON
proteína e 55% lipídeo, enquanto
as partículas de VLDL consistem
A–II A–I
E
de 10 % proteína e 90% lipídeo
B (Tabela 3.15).
E E
As apolipoproteínas têm alto
E
E
conteúdo de a-hélice quando em
(a) HDL E
E associação com lipídeos. Suas re
giões helicoidais são anfipáticas,
LDL
t

R FIGURA 3.47 Estrutura geral de lipoproteínas plasmáticas.


E (a) Modelo de partícula esférica consistindo de um núcleo de triacilagliceróis
(“Es” em amarelo) e ésteres de colesterol (gotinhas laranja) com uma capa
E de ~20 Å de apoliproteínas (letras), fosfolipídeos e colesterol não esterifica
E E
r
E do. Apoliproteínas ficam embebidas com suas bordas hidrofóbicas orientadas
em direção ao núcleo e suas bordas hidrofílicas, em direção ao lado externo.
(b) Partícula de LDL mostrando ApoB-100 mergulhada na capa externa da
partícula.
Parte (a) redesenhada a partir de Segrest, J. P., et al. Adv. Protein. Chem.
ApoB 45:303, 1994; e parte (b) redesenhada de Schumaker, V. N., et al., Protein
(b) LDL
Chem. 45:205, 1994.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 115

TABELA 3.15 Composição Química das Classes de Lipoproteínas Plasmáticas


Lipoproteína
Classe de Proteína
Total
(%) Lipídeo(%) Composição em Porcentagem da Fração Lipídica
Fosfolipídeos Esterificado
Colesterol NãoColesterol
esterificado Triacilgliceróis

HDL2a 40–45 55 35 12 4 5
HDL3a 50–55 50 20–25 12 3–4 3

LDL 20–25 75–80 15–20 35–40 7–10 7–10


IDL 15–20 80–85 22 22 8 30
VLDL 5–10 90–95 15–20 10–15 5–10 50–65
Quilomícrons 1,5–2,5 97–99 7–9 3–5 1–3 84–89
Fonte: dados de Soutar, A. K. e Myant, N. B. Em: Offord, R.E. (Ed.), Chemistry ofMacromolecules, IIB, Baltimore, MD: University Park Press, 1979.
aSubclasses de HDL.

uma vez que cada terceiro ou quarto aminoácido é hormônios, neurotransmissores e vírus. Tumorigênese
carregado. Esses resíduos formam uma borda polar e transformação maligna estão associadas com mudan
que se associa com as cabeças polares dos fosfolipíde ças na composição em glicoproteínas das membranas
os e o ambiente aquoso. Os lados opostos das hélices plasmáticas. Na matriz extracelular, muitas proteínas
têm cadeias laterais hidrofóbicas que são orientadas (p. ex., colágeno e laminina) contêm carboidratos liga
em direção ao centro não polar da partícula lipopro dos, assim como proteínas de secreções mucosas que
teica. A estrutura a-helicoidal de parte da ApoC-I é lubrificam e protegem superfícies. As principais proteí
mostrada na Figura 3.48. ApoB contém segmentos nas plamáticas (mas não albumina) são glicoproteínas,
de a-hélice e de fita-b. Um único po
lipeptídeo longo de ApoB-100 contorna
a circunferência da partícula de LDL, –
Leu
como um cinto que se entrelaça para
Glu
dentro e para fora da capa fosfolipídica Ser Lys

externa (Figura 3.47). Ser


Met

+ Ala
Arg
Lys
+
Glicoproteínas Contêm
Arg Trp
Glu Phe
Carboidratos Ligados –

Covalentemente Trp
Thr

glicoproteínas contêm um ou múlti Ser Phe


Lys
plos aminoácidos covalentemente liga –
Val
dos a moléculas de carboidratos (açú Glu Gln
cares). As glicoproteínas participam de
+
muitas funções normais e relacionadas Lys Lys
a doenças de relevância clínica. As gli Lys +
coproteínas mais bem caracterizadas Lys Leu
são as da superfície externa da membra
na plasmática, da matriz extracelular e – Glu
do plasma sanguíneo. As da membrana +
plasmática fornecem informação para Lys
identificação de células por outras célu
las e para regulação do crescimento ce Face polar Face não polar
lular por inibição por contato. Também
FIGURA3.48 Cadeias laterais de um segmento anfipático helicoidal da
fornecem determinantes antigênicos
apoproteína C1 entre os resíduos 32 e 53.
dos vários sistemas de grupos sanguí A face polar mostra resíduos ácidos no centro e resíduos básicos na borda. No outro
neos (p. ex., ABO e Rh) em eritrócitos, lado da hélice, resíduos hidrofóbicos formam uma face longitudinal não polar.
histocompatibilidade em transplantes Reproduzido com permissão de Sparrow, J. T. e Gotto, A. M. Jr. CRC Crit. Rev.
de tecidos, e receptores celulares de Biochem. 13:87, 1983. Direitos autorais (1983) da CRC Press, Inc., Boca Raton, FL.
116 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

incluindo proteínas da coagulação do sangue, imuno comum para a mesma proteína, mesmo em um único or
globulinas, proteínas do complemento e hormônio fo ganismo. Por exemplo, as formas A e B da ribonuclease
lículo estimulante, hormônio luteinizante e hormônio pancreática têm sequências de aminoácidos idênticas,
tiróide estimulante. mas diferem em sua composição em carboidratos.

A quantidade de carboidratos em glicoproteínas é A incorporação de carboidratos ocorre em uma sé


variável. IgG contém 4% em peso, glicoforina da mem rie de reações catalisadas por enzimas, à medida que a
brana do eritrócito humano 60%, e glicoproteína gás cadeia polipeptídica é transportada pelo retículo endo
trica humana 82%. O carboidrato pode ser distribuído plasmático e complexo de Golgi (p. 17).
uniformemente ao longo da cadeia polipeptídica ou con
centrado em regiões definidas. Em proteínas da mem
brana plasmática, os carboidratos ficam ligados apenas Ligações Covalentes Carboidrato
na porção extracelular. Os carboidratos ligados geral
mente contêm menos de 15 resíduos de açúcares e, em
Proteína
alguns casos, apenas um. Glicoproteínas com a mesma As duas ligações de carboidratos mais comuns são
função de diferentes espécies animais frequentemente a ligação N-glicosídica (ligação tipo I) entre o grupo
têm sequências homólogas, mas variam em seus carboi amida de uma asparagina e um açúcar, e a ligação O
dratos. Heterogeneidade no conteúdo de carboidratos é -glicosídica (ligação tipo II), entre um grupo hidroxila
de uma serina ou treonina e um açúcar (Figura 3.49).
HO
H CH2OH
H O NH2
No tipo I, a ligação é com asparagina na sequência Asn
O H -X-Thr(Ser). As glicoproteínas de mamíferos também
HO
H H COOH
NH CCH2C contêm ligações O-glicosídicas em 5-hidroxilisina (li
OH NH H
H gação tipo III). Esta ocorre em colágenos e na proteína
sérica do complemento C1q. Menos comuns são as li
gações ao grupo hidroxila de 4-hidroxiprolina (ligação
tipo IV), ao tiol de uma cisteína (ligação tipo V) e a
C O um α-amino grupo de uma cadeia polipeptídica (liga
CH3 ção tipo VI). Altas concentrações de ligações tipo VI
são formadas não enzimaticamente entre a hemoglobi
Tipo I Ligação N-Glicosídica à asparagina
na e a glicose sanguínea no diabetes não controlado.
O ensaio de hemoglobina glicosilada é utilizado para
OHCH2 NH2 acompanhar as alterações na concentração de glicose
O no sangue (Correlação Clínica 3.5).
OCH2C COOH
H
OH
H HH
NH H

3.7 DOBRAMENTO (FOLDING)


CO
DE PROTEÍNAS DE
CH3 ESTRUTURAS ALEATÓRIAS
Tipo II Ligação O-Glicosídica à serina
PARA ESTRUTURAS
NH2 SINGULARES: ESTABILIDADE
CH2OH

O
CH2 DA PROTEÍNA
H
O CH
H
OH H
HO H
CH2 O Problema de Dobramento de
CH2
H OH Proteínas
H2N CH
A capacidade de a estrutura primária de uma pro
COOH
teína dobrar espontaneamente em sua conformação
Tipo III Ligação O-Glicosídica à 5-hidroxilisina secundária ou terciária nativa, sem qualquer informa
ção além da sequência de aminoácidos e das forças
FIGURA3.49Exemplos de ligações glicosídicas com não-covalentes que agem sobre essas sequências, tem
aminoácidos em proteínas. sido demonstrada para muitas proteínas. Assim, a ri
Tipo I é uma ligação N-glicosídica com o nitrogênio amida de
bonuclease pancreática espontaneamente assume sua
Asn; tipo II é uma ligação O-glicosídica com o OH de Ser ou
Thr; e tipo III é uma ligação O-glicosídica com o 5-OH de 5-hi conformação nativa depois de ter sido desnaturada, e
droxilisina. suas pontes dissulfeto são reduzidas sem a hidrólise de
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 117

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.5

Hemoglobina Glicosilada, HbA1c

Uma hemoglobina glicosilada, designada por HbA1c, por uma reação espontânea conhecida como rearranjo
é formada não enzimaticamente em glóbulos vermelhos de Amadori. A concentração de HbA1c depende da con
por combinação do grupo amino do NH2-terminal da centração de glicose no sangue e da duração da hiper
cadeia b da hemoglobina com a glicose. A forma aldeí glicemia. Na hiperglicemia prolongada, a concentração
do da glicose primeiro forma uma base de Schiff com o pode chegar a 12% ou mais da hemoglobina total. Pa
grupo amino NH2-terminal, cientes com diabetes mellitus têm altas concentrações
de glicose no sangue e, portanto, grande quantidade de
H OH HbA1c. As mudanças na concentração de HbA1c em pa
N C C cientes diabéticos podem ser usadas para acompanhar
a eficácia do tratamento do diabetes.
H

que depois se rearranja para uma ligação amino cetona


mais estável, Bunn, H. F. Evaluation of glycosilated hemoglobin in dia
betic patients. Diabetes 30:613, 1980; e Brown, S. B. e Bowes,
M. A. Glycosilated haemoglobins and their role in manage
H H O
C
ment of diabetes mellitus. Biochem. Educ. 13:2, 1985.
N C

ligações peptídicas. Tais observações levaram à hipó reações de dobramento. Existem evidências de que o
tese de que uma sequência polipeptídica promova do dobramento se inicie por interações não covalentes de
bramento espontâneo a sua conformação ativa peculiar curto alcance entre uma cadeia lateral e seus vizinhos
sob condições corretas de solvente e em presença de mais próximos, que formam estruturas secundárias
grupos prostéticos que podem ser parte de sua estru em pequenas regiões do polipeptídeo. Cadeias laterais
tura. Como descrito a seguir, proteínas chaperones po específicas têm uma propensão de promoverem a for
dem facilitar a velocidade de dobramento da proteína. mação de a-hélices, fitas-b e voltas ou dobras agudas
Estruturas quaternárias também se organizam espon (b-turns) no polipeptídeo. Tais regiões do polipeptí
taneamente, depois que a estrutura terciária das subu deo, chamadas sítios de iniciação, assumem espon
nidades se formou. taneamente uma estrutura secundária. As estruturas
parcialmente dobradas, então, interagem entre si para
Pode parecer surpreendente que uma cadeia poli formar um estado de glóbulo fundido. Este é um inter
peptídica se dobre em uma única conformação pecu mediário condensado da via de dobramento, que con
liar, dadas todas as possíveis conformações rotacionais tém muitos dos elementos de estrutura secundária da
disponíveis em torno de ligações simples em sua estru conformação nativa, mas muitas interações incorretas
tura primária. Por exemplo, a cadeia a da hemoglobina de estrutura terciária. As regiões de estrutura secun
contém 141 aminoácidos, e existem pelo menos quatro dária no estado de glóbulo fundido são muito móveis
ligações simples por resíduo de aminoácido, em torno um em relação ao outro, e o glóbulo fundido está em
das quais pode ocorrer livre rotação. Se cada ligação, rápido equilíbrio com o estado completamente desdo
em torno da qual livre rotação ocorre, tiver dois ou mais brado. As interações corretas de alcance médio e longo
rotâmeros estáveis acessíveis a ela, haveria um mínimo entre diferentes sítios de iniciação são encontradas por
de 4141 ou 5 × 1086 conformações possíveis para o poli rearranjos dentro do glóbulo-fundido, e a conformação
peptídeo da cadeia a. nativa de baixa energia livre da cadeia polipeptídica
é formada. Segue-se a formação de pontes dissulfeto
A conformação de uma proteína é a de menor ener (cistinas). A etapa determinante da velocidade de do
gia livre de Gibbs acessível à sua sequência, dentro de bramento e desdobramento da conformação nativa fica
um espaço de tempo fisiológico. Assim, o dobramento entre o glóbulo-fundido e a estrutura nativa. Para algu
está sob controle termodinâmico e cinético. Embora o mas proteínas podem existir duas ou mais conforma
conhecimento detalhado do dobramento de novo de ções dobradas termodinamicamente estáveis, de baixa
um polipeptídeo tenha sido proposto apenas para al energia livre de Gibbs. A Correlação Clínica 3.6 contém
guns poucos exemplos, até o momento, o envolvimento uma discussão sobre o dobramento de proteínas e agen
de certos processos parece razoável para a maioria das tes infecciosos príons.
118 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.6

Doenças de Príons e Proteínas Como Agentes Infecciosos: Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis


Humanas (TSEs)

As proteínas príons são capazes de atuar como agen extremidade N-terminal da cadeia polipeptídica, an
tes infecciosos em ausência de DNA ou RNA. A doença teriormente indefinida (Figura 1 Correlação Clínica).
do príon no homem também pode aparecer espontane A conformação PrPSc inicia outras moléculas de príon
amente (doença esporádica) ou em virtude de heran PrPc a se converterem na conformação PrPSc e, por in
ça de um gene mutado da proteína príon. A doença teração de fitas-b entre moléculas de PrPSc, polimeriza
caracteriza-se por ataxia, demência e paralisia, e é qua em fibras amilóides. A formação do polímero amilóide é
se sempre fatal. O exame patológico do cérebro mostra irreversível e, no cérebro, leva à morte das células neu
placas amilóides e degeneração espongiformes (vacuo ronais. Em várias outras doenças neurodegenerativas
lar). semelhantes, ocorre equilíbrio conformacional entre
uma conformação solúvel, preferencialmente em a-hé
Na doença do príon, PrPc refere-se à conformação
celular muito solúvel da proteína príon, e PrPSc à con lice, e uma conformação menos solúvel, contendo fita-b,
da proteína, com as proteínas contendo fita-b polimeri
formação insolúvel tóxica isolada originalmente de ovi zando em fibrilas amilóides insolúveis (Figura 2 Cor
nos com a paraplexia enzoótica (Sc, scrapie). A prote relação Clínica). A unidade proteica difere com o tipo
ína PrPc solúvel contém três segmentos em a-hélices e
de doença, mas as placas formadas têm todas estrutu
dois em folha-b (Figura 1 Correlação Clínica). ra semelhante da fibrila amilóide (Figura 2 Correlação
A conversão para a forma PrPSc tóxica caracteriza Clínica). Doenças neuronais importantes induzidas por
-se pela conversão de um segmento a-hélice em uma amilóide incluem Alzheimer, Parkinson, Huntington e
fita-b, com a provável indução de fitas-b adicionais na esclerose lateral amiotrófica (ELA, Lou Gehrig).

FIGURA 1 Correlação Clínica. Estrutura das Formas do Príon.


(a) Estrutura de dobra de PrP (PrPc). Aproximadamente 120 resíduos de amino
ácidos da extremidade N-terminal não são observados. (b) Modelo da estrutura
de dobra da PrP tóxica (PrPSc), na qual um segmento em a-hélice da conforma
ção PrPc forma uma fita-b, bem como fitas-b agora formadas, a partir da região
de alça na estrutura PrPSc e do segmento N-terminal da cadeia polipeptídica.
Figura do Website do Dr. Fred Cohen, University of California, San Francisco.

FIGURA 2 Correlação Clínica. Micrografia eletrônica da estrutura de


fibrila amilóide em virtude da polimerização de fitas-ß de um domínio
SH3 da PI3 quinase.
As fibrilas são semelhantes às observadas em doenças neuronais que produzem
amilóide. A barra de escala é 100 nm.
Reproduzido com permissão de Guijarro, J. I., Sunde, M., Jones, J. A., Campbell,
I. D. e Dobson, C. M. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95:4224, 1998.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 119

FIGURA 3 Correlação Clínica. Mecanismo de formação da fibra amilóide iniciada por PrPSc.

A proteína príon é uma glicoproteína contendo mo damente 85%, formas hereditárias a 15%, e a doença
léculas de carboidratos ligadas covalentemente em um infecciosa a menos de 1% das doenças de príons.
lipídeo fosfatidilinositol. O lipídeo ancora a proteína A doença do príon causada por proteína PrPSc in
príon no lado extracelular da membrana plasmática.
A proteína PrPc na membrana plasmática funciona em fecciosa exógena é a mais interessante, porque mostra
conjugação com proteínas receptores de membrana na a capacidade de uma proteína atuar como um agente
transmissão de sinais extracelulares para a célula. infeccioso em ausência de DNA ou RNA. Seres huma
nos podem adquirir a doença do príon por ingestão de
A doença do príon no homem é pleiotrópica, com o príons bovinos com a conformação PrPSc em carne con
fenótipo dependendo da causa da doença (esporádica, taminada de gado com encefalite espongiforme trans
hereditária ou infecciosa) e o tipo de polimorfismos missível bovina (BSE; doença da vaca louca). A doença,
presentes nos genes do príon de um indivíduo. Existem variante da Doença de Creutzfeldt–Jakob (vCJD), tem
múltiplos polimorfismos do gene do príon na população um fenótipo diferente da CJD esporádica. A idade me
humana, com mais de 50 mutações reportadas. A ini diana de início da vCJD é 28 anos, e 68 anos para a CJD
ciação da formação do amilóide por uma molécula de esporádica. A duração da doença é aproximadamente
PrPSc “semente” (iniciadora) pode acontecer por três
14 meses para vCJD e 5 meses para a CJD esporádi
vias diferentes: (a) doença esporádica iniciada pela ca. Os Centros de Controle de Doenças (CDC) identi
mudança de conformação espontânea de uma molécu ficaram um total de 195 casos de vCJD até agosto de
la normal de PrPc para a conformação PrPSc, (b) pro
2006, dos quais 162 no Reino Unido, 20 na França e 2
teínas PrPScinfectantes introduzidas por ingestão de
nos Estados Unidos. O período de incubação do tempo
carne contaminada com PrPSc ou introdução de PrPSc
da infecção até o início de manifestação da doença é de,
exógeno por outras vias, e (c) herança de um gene de aproximadamente, 10 anos. A infecção por BSE parece
príon mutado, cujo produto gênico tem capacidade ser seletiva para idade. Como o pico de diagnóstico nos
de se dobrar espontaneamente e mais facilmente na Estados Unidos aconteceu entre 1994 e 1996 em pacien
conformação PrPSc. Os fenótipos hereditários incluem
tes com uma idade mediana de 28 anos, a infecção deve
a síndrome de Gerstmann–Sträussler–Scheinker e a ter ocorrido em torno de 1984-1986, com uma idade me
insônia familiar fatal. A doença esporádica resulta na diana para os indivíduos infectados de 18 anos.
Doença de Creutzfeldt–Jakob (CJD) e é geralmente fa
tal em um ano após o início da doença. A incidência da Uma segunda via infecciosa significativa é iatrogêni
CJD é 1 caso por 1 milhão por ano em todo o mundo, ca. Entre 1985 e 1996, foram registrados 136 casos de
ou aproximadamente 300 casos por ano nos Estados vCJD em todo o mundo em pacientes tratados com hor
Unidos. A doença esporádica corresponde a aproxima mônio de crescimento derivado de pituitária humana,
120 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

e 136 casos de pacientes que receberam transplante de propagado por fragmentos do polímero recém-gerado
dura mater de cadáver. Um pequeno número de CJDs (etapa 5).
iatrogênicas foram causadas por outros procedimentos, No mecanismo Dirigido por Molde (b), o príon PrPSc
como transplante de córnea, transfusão de sangue e
tratamento com gonadotropina humana. serve como um molde para promover a mudança de
conformação do PrPc em PrPSc (etapas 1 e 2). Uma vez
Dois mecanismos foram sugeridos para a formação convertido em PrPSc, o PrPSc rapidamente polimeriza
da placa amilóide iniciada por um príon infeccioso em fibrilas insolúveis.
(Figura 3 Correlação Clínica). No mecanismo de Nu
cleação-Polimerização (a), PrPc (verde) está em rápido Aguzzi, A. e Polymenidou, M. Mammalian prion biology:
equilíbrio com a conformação PrPSc (marrom) (etapa One century of evolving concepts. Cell 116:313, 2004; Collin
ge, J. e Clarke, A. R. A general model of prion strains and their
1), mas a polimerização em uma fibra amilóide é len pathogenicity. Science 318:930, 2007; e Soto, S., Estrada, L.
ta (etapa 2) na ausência de uma molécula iniciadora. A e Castilla, J. Amyloids, prions and the inherent infectious na
introdução de príon infectante PrPSc (laranja) nucleia
ture of misfolded protein aggregates. Trends Biochem. Sci.
o processo de polimerização (etapa 3). O processo é 31:150, 2006.

Proteínas Chaperones Ajudam hidrofóbica. As chaperoninas têm atividade de ATPase


e hidrolisam ATP enquanto facilitam o dobramento. O
o Processo de Dobramento de dobramento assistido por chaperonina hsp60 em E. coli
é apresentado na Figura 3.50. As proteínas chaperones
Proteínas são também necessárias para o redobramento de pro
As células contêm proteínas que facilitam o pro teínas após atravessarem membranas celulares. Um sis
cesso de dobramento. Estas incluem cis-trans-prolil tema de chaperones facilita o transporte de proteínas
para dentro das mitocôndrias, bem como para dentro e
isomerases, proteína dissulfeto isomerases e proteínas
chaperones. As cis-trans-prolil isomerases intercon através do retículo endoplasmático. Proteínas atraves
sam a bicamada lipídica das membranas mitocondriais
vertem ligações peptídicas cis- e trans- de resíduos de
prolina. Isso permite que se forme a conformação cor e do retículo endoplasmático em uma conformação não
reta da ligação peptídica prolil para cada prolina, como dobrada, e chaperones locais são geralmente necessá
exigido pela conformação nativa. Proteína dissulfeto rias para facilitar seu dobramento dentro da organela
isomerases catalisam a quebra e a formação de pontes intracelular.
dissulfeto cistina, de modo que as ligações incorretas
não sejam estabilizadas e o arranjo correto de ligações
para conformação nativa seja rapidamente atingido. Forças Não-Covalentes Levam
As Proteínas chaperones foram descobertas como ao Dobramento da Proteína e
proteínas de choque térmico (hsps, heat shock pro Contribuem para a Estabilidade da
teins), uma família de proteínas cuja síntese aumenta
em temperaturas elevadas. As chaperones não alteram Proteína
o resultado final do processo de dobramento, mas impe
As forças não-covalentes levam um polipeptídeo a
dem a agregação de proteínas antes que o dobramento
se complete e impedem a formação de produtos finais se dobrar numa conformação singular e, então, estabi
metastávéis ou de intermediários não produtivos. As lizam a estrutura nativa contra desnaturação. As forças
não covalentes são forças de ligação fracas com forças
chaperones da família de hsp70-kDa ligam-se a poli
peptídeos à medida que são sintetizadas nos ribosso de 4-29 kJ/mol (1-7 kcal/mol). Isso pode ser comparado
mos, bloqueando as superfícies hidrofóbicas que esta com as ligações covalentes, que têm força de ligação de,
riam normalmente expostas ao solvente. Isso protege no mínimo, 210 kJ/mol (50 kcal/mol) (Tabela 3.16). Em
a proteína de agregação até que a cadeia inteira tenha bora individualmente fracos, o grande número de con
sido sintetizada e o dobramento possa ocorrer. Algu tatos não covalentes dentro de uma proteína confere
mas proteínas, entretanto, não podem completar seu um grande fator energético que promove o dobramento
da proteína.
processo de dobramento enquanto estão em presença
de chaperones hsp70 e são entregues à família hsp60
(GroEL em Escherichia coli) de proteínas chaperones, Forças de Interação Hidrofóbica
também chamadas chaperoninas. As chaperoninas são
estruturas longas, cilíndricas, com múltiplas subunida Importantes forças não-covalentes que levam um
des, que ligam polipeptídeos não dobrados em seu es polipeptídeo a se dobrar em sua estrutura nativa são
tado de glóbulo-fundido dentro de sua cavidade central as forças de interação hidrofóbica. Sua força não se
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 121

(iv)

(a) (b) (d) ADP ADP ATP +


140 Å 33 Å (e)
80 Å ATPase
10 Å GroES

GroES (i) não-nativos


Estados (ii)
ATP (iii)
não-nativos
Estados Estados (v)
ATP ATP ATPATP ADP ADP
80 Å
184 Å DP ATP ATP

GroEL

71 Å

180
ATPATP +ADP

(c)
(vi)

não-nativos

cis
GroES
a
igrenE

trans Intermediário Intermediário Intermediário


GroES cineticamente retido cineticamente retido cineticamente retido

Proteína nativa Proteína nativa Proteína nativa


Espontâneo Espontâneo Confinamento

FIGURA 3.50 O sistema chaperonina GroEL-GroES para uma grande mudança conformacional no anel ligado a GroES
dobramento de proteínas. abre a proteína desnaturada para desfazer sua conformação
(a) Modelo de preenchimento de espaço do complexo cha não produtiva e depois libera a proteína na cavidade expandida
peronina inteiro, em uma vista de cima olhando para baixo, a para dobrar espontaneamente, (iv) a proteína dobra-se dentro
partir da proteína da “tampa” ou cap GroES. GroES liga-se ao da câmara e ATP é hidrolisado, (v) o ATP liga-se ao anel trans,
lado cis de GroEL. GroES tem 7 subunidades polipeptídicas de o que libera GroES e a proteína dobrada, e (vi) uma nova pro
peso molecular 10 kDa, e as estruturas cilíndricas cis e trans teína é encapsulada. (e) Diagramas de energia livre para o do
GroEL são compostas cada uma por 7 subunidades polipeptídi bramento de proteínas. Esquerda: dobramento da proteína em
cas (total 14), cada uma com 60 kDa. (b) mesmo que (a), mas ausência de chaperonina resulta em um intermediário retido
em vista lateral, com o anel trans GroEL em vermelho, o anel cineticamente. Meio: no dobramento em chaperonina, empur
cis GroEL em verde, e o cap GroES em dourado. (c) Desenho rar e liberar (annealing) dissocia intermediários retidos e dá à
de fitas de um corte passando pelo centro do complexo chape proteína chances adicionais de se dobrar sem ser retida. Direi
ronina mostrando cavidades internas das secções cilíndricas ta: além disso, a cavidade GroEL alisa o panorama energético
cis e trans, onde proteínas desnaturadas entram e ocorre seu para evitar a formação de certos intermediários retidos.
dobramento. (d) Esquema simplificado do dobramento de pro (a), (b) e (c) reproduzidas com permissão de Xu, Z. H., Horwi
teína facilitado por GroEL. (i) A proteína desnaturada (linha cz, A. L. e Sigler, P. B. Nature 388:741, 1997; (d) reproduzida
curva preta) entra em GroEL e liga-se na cavidade com alta com permissão de Saibil, H. R. e Ranson, N. A. Trends Bio
afinidade, (ii) ATP liga-se a um anel produzindo uma confor chem. Sci. 27:627, 2002, e Ranson, N.A. et al., Cell 107:869,
mação alterada, (iii) o anel ligado a ATP liga GroES para se 2001; (e) redesenhado de Ulrich, F., Hartl, F. e Hayer-Hartl, M.
questrar a proteína desnaturada na câmara de dobramento e Science 295:1852, 2002. Direitos autorais (2002) AAAS.

TABELA 3.16 Força de Ligações Encontradas em Estruturas de Proteínas


Força da Ligação
Tipo de Ligação
(kJmol –1) (kcal mol –1)
Covalente >210 >50
Não-covalente 2,5–29 0,6–7
Hidrofóbica (i.e. dois grupos de cadeia lateral benzil de Phe) 8–13 2–3
Hidrogênio 4–290 1–7
Iônica (ambiente dielétrico baixo) 4–25 1–6
van der Waals <4 <1
122 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

deve a nenhuma atração intrínseca entre grupos não Doador Aceptor

polares, mas sim às propriedades da água que circunda OC


os grupos não polares. Uma cadeia lateral não polar ou N H O C
uma região de uma molécula de proteína dissolvida em Peptídeo Peptídeo
NH
água induz uma capa de solvatação de água, na qual
as moléculas de água ficam muito ordenadas. Quando
duas cadeias laterais não polares se aproximam, a área
de superfície exposta ao solvente é reduzida e algumas Ser H HO
C CH2O H N NH
das moléculas de água da capa de solvatação, muito or
denadas, são liberadas no solvente geral. A entropia do His
sistema (ou seja, desordem das moléculas de água no H
sistema) aumenta. O aumento de entropia é termo CH2S
dinamicamente favorável e é a força motriz que leva H
grupos não polares a se aproximarem no solvente Cys H2O
aquoso. Uma mudança favorável de energia livre de
8 kJ/mol (2 kcal/mol) para associação de duas cadeias O
laterais de fenilalanina em água deve-se a esse ganho
N+HO–C
CH2CH2
de entropia (Figura 3.51).
H
Na transição de conformação aleatória para secun Lys Glu
dária regular, como a-hélice ou estrutura-b, aproxima
FIGURA3.52 Algumas pontes de hidrogênio comumente
damente um terço da água de solvatação em torno do encontradas em proteínas.
polipeptídeo desdobrado é perdida para o solvente geral.

H Isso é perto de 2–4 kJ/mol (0,5–0,9


OH
H H kcal/mol) para cada resíduo de pep
H O H O H tídeo. Um terço adicional da capa de
H OH
O H H solvatação original é perdido quando
um polipeptídeo chega à sua confor
H O H
H H + moleculas H2 H H
mação nativa. Isso coloca diferentes
H O H O O
O segmentos da cadeia polipeptídica
H H
H
H H dobrada em íntima proximidade, com
O O
H
O O
H liberação de água de solvatação entre
HO HO esses segmentos.
H O H H O H
H
H H H
H
Pontes de Hidrogênio
Interação hidrofóbica
Pontes de hidrogênio se formam
quando um átomo de hidrogênio co
valentemente ligado a um átomo
eletronegativo é compartilhado com
um segundo átomo eletronegativo. O
átomo ao qual o átomo de hidrogênio
H OH
H O H no solvente geral
O liberadas H H está ligado é chamado átomo doador
O
H
de hidrogênio. O átomo com o qual o
O hidrogênio é compartilhado é o áto
H H mo aceptor de hidrogênio. Pontes de
O O H
hidrogênio típicas encontradas em
H H
H OH O proteínas são apresentadas na Figura
3.52. Conformações em a-hélice e fi
H ta-b têm muitas pontes de hidrogênio.
H H HHO
O OH H
A força de uma ponte de hidro
H HO H H
H O H O
OH gênio depende da distância entre os
átomos doador e aceptor. Energias
H
de ligação altas ocorrem quando essa
distância estiver entre 2,7 e 3,1 Å.
FIGURA3.51 Formação de interações hidrofóbicas entre dois grupos de cadeia De menor importância, mas não des
lateral de fenilalanina.
prezível, é a dependência da força da
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 123

ponte de hidrogênio quanto à geometria. Ligações de vo (B) inversamente dependente à 12ª potência dessa
energia mais alta são geometricamente colineares, com distância (Figura 3.54). O termo A contribui, na sua
os átomos doador, hidrogênio e aceptor dispostos em distância ótima, com uma força atrativa de menos que
uma linha reta. A constante dielétrica do meio em tor 4 kJ/mol (1 kcal/mol) por interação atômica devido à
no da ponte de hidrogênio também pode se refletir na indução de cargas parciais complementares ou dipolos
força da ligação. Forças típicas de pontes de hidrogênio na densidade eletrônica de átomos adjacentes, quando
em proteínas são 4–29 kJ/mol (1–7 kcal/mol). Embora os orbitais eletrônicos de dois átomos se aproximam
contribuam para a estabilidade termodinâmica da con até uma pequena distância. À medida que os átomos
formação de uma proteína, sua formação pode não ser se aproximam, porém, o componente repulsivo (termo
uma força motriz importante para o dobramento. Isso B) da força de van der Waals predomina, visto que os
porque ligações peptídicas e outros grupos que formam orbitais dos elétrons de átomos adjacentes começam a
pontes de hidrogênio estabelecem pontes de hidrogê se sobrepor. A força repulsiva é comumente chamada
nio com a água solvente no estado desnaturado, e essas impedimento estérico.
ligações devem ser quebradas antes do polipeptídeo do
brar. No cálculo da contribuição das forças das pontes
de hidrogênio para o dobramento, a energia necessária EVDW= – rA
ab +
6 B
para quebrar as pontes de hidrogênio com a água deve r12
ab
ser subtraída da ganha na formação de novas pontes de
hidrogênio entre átomos da proteína dobrada. FIGURA3.54 Força de interações de van der Waals.

A distância de máxima interação favorável entre dois


átomos é a distância de contato de van der Waals, que
Interações Eletrostáticas é a soma dos raios de van der Waals para os dois áto
mos (Figura 3.55). Os raios de van der Waals de átomos
Interações eletrostáticas (ligações iônicas ou sali encontrados em proteínas são apresentados na Tabe
nas) entre grupos carregados são importantes na es la 3.17.
tabilização da estrutura de proteínas e na ligação de
ligantes carregados e substratos a proteínas. Forças
eletrostáticas são repulsivas ou atrativas dependendo
de as cargas que estão interagindo serem de mesmo si 0.1
0.2
0.3
0.4
1.5
nal ou de sinais opostos. A intensidade de uma força
) H H C C )
eletrostática (Eel) é diretamente dependente da carga l–
1
o
1l–
o
(Z) de cada íon e inversamente dependente da cons m
l
m
J
a k
(
tante dielétrica (D) do solvente e da distância entre as c
k
( lai
l c
cargas (rab) (Figura 3.53). a
i n
c 1.0 e
t
n o
e
t p
a
op a
i
i 0.5 g
r
g
re e
n
.B . ε2
Eel ZAD. Z n E
rab E
0.0 Distância 0.0
de contato
van der Waals
FIGURA3.53 Força de interações eletrostáticas.
0.1
2 4 6 0.5
A água tem uma alta constante dielétrica (D = 80), e
interações de cargas na água são relativamente fracas, Å

em comparação com as do interior de uma proteína, em


que a constante dielétrica é baixa. Porém, a maioria dos FIGURA 3.55 Energias de interação de dispersão de van
grupos carregados permanece na superfície, onde não der Waals–London entre dois átomos de hidrogênio e
interagem com outros grupos carregados da proteína dois átomos de carbono (tetraédricos).
devido à alta constante dielétrica da água, mas são es Energias negativas são favoráveis e energias positivas, desfa
tabilizadas por pontes de hidrogênio e interações pola voráveis.
Redesenhado de Fersht, A. Enzyme Structure and Mecha
res com água. Essas interações geram as forças domi
nism. San Francisco: Freeman, 1977, p. 228.
nantes que colocam a maioria dos grupos carregados de
uma proteína no lado de fora das estruturas dobradas. As forças de van der Waals repulsivas entre átomos
de uma ligação peptídica são as mais fracas nos ângulos
Forças de van der Waals específicos j e y compatíveis com as conformações em
a-hélice e fita-b. Portanto, a ausência de uma força re
Forças de van der Waals são as mais fracas das for pulsiva de van der Walls é crítica para a formação da es
ças não covalentes. Têm um termo atrativo (A) inversa trutura secundária de proteínas. Para chegar à confor
mente dependente da sexta potência da distância entre mação nativa, o número de interações de van der Waals
dois átomos que interagem (rab), e um termo repulsi fracas envolvidas chega aos milhares. Sua contribuição
124 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

total para a estabilidade de uma estrutura dobrada é está sempre correlacionado com perda de função de
substancial. uma proteína. Perda de função não é necessariamente
sinônimo de desnaturação, uma vez que pequenas mu
Um tipo especial de interação (elétron-π-elétron-π) danças de conformação podem levar à perda de função
ocorre quando dois anéis aromáticos aproximam-se sem perda da estrutura nativa dobrada. Por exemplo,
um do outro, com elétrons de seus anéis aromáticos uma mudança na posição de uma única cadeia lateral
interagindo favoravelmente (Figura 3.56). Essa inte do sítio ativo de uma enzima ou na protonação de uma
ração pode resultar em forças atrativas de até 25 kJ/
cadeia lateral pode resultar em perda de atividade enzi
mol (6 kcal/mol). mática, mas não em perda da conformação nativa.

Embora as diferenças conformacionais entre as


C estruturas desnaturadas e nativas possam ser subs
C tanciais, a diferença de energia livre entre tais estru
turas é tipicamente tão baixa quanto 20–40 kJ/mol
FIGURA 3.56 Interações elétron-p-elétron-p entre dois (5–10 kcal/mol) (a energia de três ou quatro ligações
anéis aromáticos. não covalentes). Portanto, a perda de uma única ponte
de hidrogênio ou interação eletrostática ou hidrofóbica
Aminoácidos
pode levar à desestabilização de uma estrutura enove
lada. Tal mudança na estabilidade de uma ligação não
velocidade de síntese
covalente pode, por sua vez, ser causada por mudança
[proteína] no pH, na força iônica ou na temperatura. A presença
velocidade dedesnaturação
de grupos prostéticos, cofatores e substratos, também
afeta a estabilidade de sua conformação nativa.
Digestão da proteína
A afirmativa de que a quebra de uma única ligação
FIGURA3.57 A concentração de estado estacionário não-covalente pode causar desnaturação aparentemen
(steadystate) de uma proteína deve-se às suas te conflita com a observação de que uma sequência de
velocidades de síntese e desnaturação. aminoácidos pode frequentemente ser bastante variada
sem perda da estrutura da proteína. A chave para a re
solução deste aparente conflito é a palavra “essencial”.
Desnaturação Leva à Perda de Muitas interações não covalentes não são essenciais
para a estabilidade estrutural da conformação nativa de
Estrutura Nativa uma proteína. Entretanto, substituição ou modificação
A desnaturação ocorre quando uma proteína perde de um aminoácido essencial que estabelece uma intera
sua estrutura nativa secundária, terciária e/ou quater ção não covalente crítica sem uma interação compensa
nária. As ligações peptídicas não são quebradas por tória estabilizadora afeta dramaticamente a estabilida
desnaturação conformacional. O estado desnaturado de da conformação nativa da proteína.

TABELA 3.17 Raios de Ligações Covalentes e de van der Waals de Átomos Selecionados
Átomo Raio covalente
(Å) Raio de van der Waals
(Å)a

Carbono (tetraédrico) 0,77 2,0


Carbono (aromático) 0,69 ao
0,73 ao longo da ligação
dupla ligação
simples 1,70

Carbono (amida) 0,72 para o Namida


0,67 oxigênio 1,50

0,75 para o C da cadeia


Hidrogênio 0,33 1,0
Oxigênio (—O—) 0,66 1,35
Oxigênio (=O) 0,57 1,35
Nitrogênio (amida) 0,60 para o H
0,70 da ponte de hidrogênio
Camida 1,45

0,70 para o C da cadeia


Enxofre, diagonal 1,04 1,70
Fonte: Fasman, G.D. (Ed.), CRC Handbook of Biochemistry and Molecular Biology, 3. ed., Sect. D, Vol. II, Boca Raton, FL: CRC Press, 1976, p. 221.
aA distância de contato de van der Waals é a soma de dois raios de van der Waals para dois átomos em proximidade.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 125

A concentração celular de uma proteína é contro gias de ligações covalentes e não covalentes em virtude
lada por sua velocidade de síntese e degradação (Fi de forças eletrostáticas, pontes de hidrogênio e forças
gura 3.57). Em muitas circunstâncias, a desnaturação de van der Waals. Aos átomos individuais são atribuí
de uma proteína é a etapa que controla a velocidade das velocidades aleatórias a partir de uma distribuição
de sua degradação. Enzimas celulares e organelas que teórica, e as equações de Newton são usadas para re
digerem proteínas “reconhecem” proteínas desnatura laxar o sistema em uma dada temperatura. O cálculo é
das e as eliminam rapidamente. Em situações experi uma intensa atividade computacional, mesmo quando
mentais, a desnaturação de proteínas ocorre após adi limitado a menos de algumas centenas de picosegundos
ção de ureia hidrocloreto de guanidina ou detergentes (1ps = 10–12 s) do tempo dinâmico da proteína. Tais
(p. ex., dodecil sulfato de sódio), que enfraquecem as cálculos indicam que um átomo médio de uma proteína
interações hidrofóbicas de proteínas e estabilizam o oscila numa distância de 0,7 Å na escala de picosegun
estado desnaturado. Adição de base forte, ácido ou dos. Alguns átomos ou grupos de átomos movem-se a
solvente orgânico ou aquecimento a temperaturas aci distâncias menores ou maiores que essa média calcula
ma de 60 °C são também métodos comuns para desna da (Figura 3.58).
turar uma proteína.
O movimento final de qualquer segmento de um po
lipeptídeo ao longo do tempo representa a somatória
3.8 ASPECTOS DINÂMICOS DA das forças que se devem a rápidas oscilações atômicas,
e ao balanço local e movimentos elásticos de grupos
ESTRUTURA DE PROTEÍNAS de átomos ligados covalentemente. Esses movimentos
Embora difração de raios-X de alta resolução dê as no interior densamente empacotado de uma proteína
coordenadas atômicas de cada átomo em uma proteína, frequentemente permitem que anéis aromáticos planos
evidências experimentais de NMR, espectroscopia de de tirosinas, que ficam mergulhados, se virem. As flu
fluorescência e dependência da temperatura na difra tuações de pequena amplitude fornecem o “lubrificante”
ção de raios-X revelam que os átomos em uma molécula para movimentos grandes em proteínas, tais como mo
de proteína têm movimento dinâmico tipo-fluido, e não vimentos de domínios e mudanças de estrutura quater
existem em uma posição estática. Em vez de uma lo nária, como os observados na hemoglobina após ligação
calização exata, as coordenadas atômicas obtidas por de O2 (p. 372). O comportamento dinâmico de proteí
difração de raios-X representam a posi
ção
duração
de
tempo para
dahoras.
várias
média, coleta
encontrar
no tempo,
Assim,
de dados,
ade
posição
acada
conformação
quemédia
átomo.
pode ser
éOa 1,5 (a)

1,0
ativa
Uma
pequenos
estrutura
estrutura de da
podedefeitos
dobrada,
diferir raios-X
no
indicando
conformação
empacotamento
também da
a existên
mostra
média.

) 0,5
Å
(
cia de buracos na estrutura, que permi o
ã
ç
tem à proteína espaço para flexibilidade. a
u
t
c 0,0
O conceito de que cada átomo de uma u
l
F
proteína está em movimento constante, (b)
1,0
como as moléculas em um fluido, embo
ra limitado por suas ligações covalentes
e estruturas secundárias e terciárias, é 0,5
um aspecto importante da estrutura de
proteínas.

Cálculos da dinâmica molecular te- 0,0 0 20 40 60 80 100


órica descrevem as mudanças nas co Número do aminoácido
ordenadas dos átomos na estrutura de
uma proteína e na posição de regiões da FIGURA 3.58 Flutuação de estrutura do citocromo c.
estrutura, em virtude da somatória dos (a) Flutuação calculada em uma escala de tempo de picosegundos dos carbonos-a
movimentos dos átomos nessa região. A de cada resíduo de aminoácido na estrutura dobrada do citocromo c. (b) Flutuação
computação é baseada na solução das observada experimentalmente de cada carbono-a dos resíduos de aminoácidos
equações do movimento de Newton si determinados a partir da dependência de temperatura do padrão de difração de
raios-X para a proteína. O citocromo c tem 103 resíduos de aminoácidos. O eixo x
multaneamente para todos os átomos da
dispõe os resíduos de aminoácidos do citocromo c de 1 a 103, e o eixo y mostra as
proteína e do solvente que interage com
distâncias de flutuação em angstroms.
ela. As funções energéticas usadas na Redesenhado de Karplus, M., e McCammon, J. A. Annu. Rev. Biochem. 53:263,
equação incluem representações de ener- 1983.
126 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

nas é a base para mudanças conformacionais induzidas Moléculas de mesma carga da resina são eluídas primei
por substrato, inibidor ou droga, quando se liga a uma ro, em uma única banda, seguidas pelas de carga opos
enzima ou receptor, geração de efeitos alostéricos em ta à da resina, em uma ordem baseada na densidade
hemoglobinas, transferência de elétrons em citocromos, de cargas da proteína (Figura 3.61). Quando é difícil
e formação de estruturas supramoleculares, como ví remover uma molécula da resina em virtude da força
rus. Os movimentos também podem ter um papel fun da interação atrativa entre a molécula ligada e a resi
cional na ação catalítica de enzimas. na, mudanças sistemáticas no pH ou na força iônica são
usadas para enfraquecer a interação. Por exemplo, um
gradiente crescente de pH em uma resina de troca ca
3.9 CARACTERIZAÇÃO, tiônica reduz a diferença entre o pH da solução e o pI da
proteína ligada. Essa diminuição entre pH e pI reduz a
PURIFICAÇÃO magnitude da carga final da proteína e diminui a força
da interação de cargas entre a proteína e a resina. Um
E DETERMINAÇÃO gradiente crescente de força iônica também diminui as
DA ESTRUTURA interações de cargas, porque os íons competem com as
proteínas pela ligação, e eluem da resina eletrólitos for
E ORGANIZAÇÃO temente ligados.
DE PROTEÍNAS

Separação de Proteínas com Base 0.05 S F A A1c

em Carga A1c A
A2 F
)
m
Na eletroforese, a proteína dissolvida em uma so n
5
lução tampão em um determinado pH é colocada num 1
4
(
S
campo elétrico. Dependendo da relação entre o pH do a
i
c
n
tampão e o pI da proteína, a proteína move-se em direção â
b
r
ao cátodo (–) ou ao ânodo (+) ou permanece estacionária o
s
b
A2

(pH = pI). Suportes como géis poliméricos (p. ex., polia A

crilamida, agarose ou acetato de celulose) são usados. 0 14 15 16 17


Os suportes inertes são saturados com a solução tampão,
uma amostra da proteína é colocada sobre o suporte em
forma de linha ou ponto, um campo elétrico é aplicado ao
suporte, e as proteínas carregadas migram como bandas Tempo (min)

no suporte, em direção ao polo de carga oposta. (a) (b)

Uma técnica de resolução extremamente alta é a FIGURA 3.59 Focalização isoelétrica de hemoglobinas de
um paciente heterozigoto para HbS e ß-talassemia.
focalização isoelétrica, na qual misturas de anfolitos
Figura mostra separação por focalização isoelétrica de HbA1c
poliamino-ácidos policarboxílicos, com uma faixa defini (HbA glicosilada na extremidade NH2, ver Correlação Clínica
da de valores de pI, são usadas para estabelecer um gra
3.5), HbA de adulto normal, HbF fetal, HbS de anemia falcifor
diente de pH ao longo do campo elétrico aplicado. Uma me (ver Correlação Clínica 6.2, p. 220) e HbA2 minoritária de
proteína carregada migra pelo gradiente de pH no campo adulto. (a) Focalização isoelétrica realizada por eletroforese
elétrico até alcançar uma região de pH no gradiente igual capilar com anfólito na faixa de pH entre 6,7 e 7,7 e detecção
ao seu valor de pI. Nesse ponto, a proteína torna-se es de bandas a 415 nm. (b) Focalização isoelétrica realizada em
tacionária e pode ser vista (Figura 3.59). Proteínas que gel com Pharmacia Phast System; anfólito na faixa de pH en
diferem por tão pouco quanto 0,0025 em seus valores de tre 6,7 e 7,7.
pI são separadas no gradiente apropriado de pH. Redesenhado de Molteni, S., Frischknecht, H. e Thormann, W.
Electrophoresis 15:22, 1994.
A cromatografia de troca-iônica em coluna é usa
da para separação preparativa de proteínas, por car RCH2 COO–
ga. As resinas de troca-iônica consistem de materiais
Ligante carregado negativamente: carboximetil
insolúveis (agarose, poliacrilamida, celulose e vidro)
que contêm grupos carregados (Figura 3.60). Resinas + C2H5
carregadas negativamente ligam cátions fortemente e R N
C2H5
são resinas de troca catiônica. Resinas carregadas po H
sitivamente ligam ânions fortemente e são resinas de
Ligante carregado positivamente: dietilamino
troca aniônica. O grau de retardo de uma proteína (ou
um aminoácido) em uma resina depende da magnitude FIGURA 3.60 Dois exemplos de ligantes carregados
da carga da proteína no pH específico do experimento. usados em cromatografia de troca-iônica.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 127

7.8 direção ao cátodo supera qualquer migração negativa,


A
C
e os ânions também migram em direção ao cátodo, mas
7.4 com velocidade menor do que a de moléculas catiônicas
o ou neutras.
ãçartnecno F pH
S
A2 Na eletroforese de zona, as separações são feitas em
7.0
presença de um único tampão. A eletroforese capilar
C
pode ser realizada em presença de anfólitos para sepa
6.6 rar proteínas por focalização isoelétrica, em presença
500 1000 1500 2000 de um gel poroso para separar proteínas por peso mole
Volume de eluição (mL) cular, ou em presença de um componente micelar para
separar por hidrofobicidade. Detectores que utilizam
FIGURA 3.61 Exemplo de cromatografia de troca-iônica. luz UV, fluorescência, espectroscopia Raman, detecção
Diagrama de eluição de uma mistura artificial de hemoglobinas eletroquímica ou espectroscopia de massa tornam o
F, A1, A2, S e C em carboximetil-Sephadex C-50.
método capilar sensível e versátil.
Redesenhado de Dozy, A. M. e Huisman, T. H. J. J. Chromatog.
40:62, 1969.

Separação de Proteínas com Base


Eletroforese Capilar em Massa Molecular ou Tamanho
Eletroforese dentro de um tubo capilar de sílica fun Ultracentrifugação: Definição de
dida tem uma alta eficiência de separação, utiliza amos Coeficiente de Svedberg
tras muito pequenas e requer apenas alguns minutos
para um ensaio. Um longo tubo capilar é preenchido Uma proteína submetida à força centrífuga move-se
com o meio da eletroforese, uma amostra é injetada em na direção da força a uma velocidade dependente de
uma banda estreita próxima à extremidade do ânodo sua massa. A velocidade do movimento é medida com
do tubo, e as moléculas da amostra são separadas por um sistema de detecção óptico apropriado, e a partir
sua mobilidade em direção ao polo carregado negativa da velocidade, o coeficiente de sedimentação é calcu
mente. A parede de sílica fundida do capilar tem uma lado em unidades Svedberg (unidades de 10–13 s). Na
carga negativa, e uma camada catiônica imóvel é fixada equação (Figura 3.63), v é a velocidade medida do mo
a ela. Uma camada adjacente difusa de cátions move vimento da proteína, w a velocidade angular do rotor
-se em direção ao cátodo no campo elétrico aplicado e da centrífuga, e r a distância entre o centro do tubo no
causa um fluxo de solvente em direção ao cátodo. Esse qual a proteína foi colocada e o centro de rotação.
fluxo eletro-osmótico cria uma “corrente” que carrega
as moléculas a serem analisadas em direção ao cátodo,
independentemente da carga da amostra (Figura 3.62). v
s = ω2r
Moléculas com uma alta relação carga positiva-massa
movem-se com a corrente e têm a maior mobilidade, se
FIGURA3.63 Equação para cálculo do coeficiente de
guidas por moléculas neutras. Moléculas aniônicas são Svedberg.
repelidas pelo cátodo e movem-se contra o fluxo eletro
-osmótico. Entretanto, a corrente eletro-osmótica em Coeficientes de sedimentação en
tre 1 e 200 unidades Svedberg (S) fo
ram encontrados para proteínas (Ta
bela 3.18). Equações foram derivadas
para relacionar o coeficiente de sedi
mentação com a massa molecular de
+ + + + + + +
amostra uma proteína. Uma das equações mais
amostra
+ + + + + ++ simples é apresentada na Figura 3.64,
Ânodo
+ + fluxo + +
eletro-osmótico + + + + + + Cátodo
– na qual R é a constante dos gases, T
+ a temperatura, s o coeficiente de sedi
mentação, D o coeficiente de difusão
+ + + + amostra + + da proteína, v o volume parcial espe
amostra
+ + + + + + + + cífico da proteína, e p a densidade do
solvente. Os valores D e v devem ser
medidos em experimentos indepen
dentes. A equação assume uma geo
Surperfície capilar
metria esferoide para a proteína. Como
FIGURA3.62 Geração de fluxo eletro-osmótico em direção ao cátodo em essa hipótese pode não ser verdadeira
eletroforese capilar. e medidas independentes de D e v são
128 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

TABELA 3.18 Coeficiente de Svedberg para Algumas Proteínas Plasmáticas na carga. Um detergente comum é
Lisozima
a2 -Macroglobulina Proteína (cm
s20s–1
,2,19
Xdyn–1)a
10–13
19,6 Molecular
Peso o dodecil sulfato de sódio (SDS),
e um suporte poroso comum é a
poliacrilamida com ligações cru
15.000–16.000 zadas. Os dodecil sulfatos são C12
Albumina 4,6 69.000 alquila sulfatos anfifílicos, que es
Imunoglobulina G
Fibrinogênio 6,6-7,2 153.000 tabilizam uma proteína desnatura
341.000 da por formarem uma capa de sol
7,63 vatação de SDS carregado micelar
C1q (fator do complemento) 11,1 410.000 ao redor da cadeia polipeptídica. A
820.000 carga inerente da cadeia polipep
tídica é obliterada pelas moléculas
Imunoglobulina M 18–20 1.000.000 de SDS carregadas negativamen
Fator VIII da coagulação sanguínea 23,7 1.120.000 te, e cada agregado proteína-SDS
Fonte: Fasman, G.D. (Ed.), CRC Handbook of Biochemistry and Molecular Biology, 3. ed., Sect. solubilizado tem carga idêntica,
D, Vol. II, Boca Raton, FL: CRC Press, 1976, p. 242. por unidade de volume. Partículas
as20’ × 10–13 é o coeficiente de sedimentação em unidades de Svedberg, com referência à água a
carregadas negativamente movem
20 °C, e extrapolado para a concentração zero de proteína. -se pelo gel de poliacrilamida em
direção ao ânodo. A poliacrilami
difíceis, geralmente só o coeficiente de sedimentação da funciona como uma peneira molecular, e os com
de uma molécula é reportado. O coeficiente de sedi plexos proteínas-micelas são separados por tamanho;
mentação de uma proteína é uma medida qualitativa de proteínas de maior massa são retardadas. Uma única
sua massa molecular. banda em uma eletroforese em SDS-poliacrilamida é
frequentemente usada para demonstrar uma proteína
pura. A conformação da estrutura nativa não é um fator
Peso molecular = D (1RTs no cálculo da massa molecular, que é determinada por

– νρ) comparação com padrões conhecidos, desnaturados da
mesma forma. O detergente dissocia a estrutura qua
FIGURA3.64 Uma equação relacionando o coeficiente de ternária de uma proteína multimérica e libera as subu
Svedberg com o peso molecular.
nidades constituintes. Somente as massas moleculares
das subunidades de tal proteína são determinadas por
Cromatografia de Exclusão Molecular esse método.
Um gel poroso na forma de pequenas esferas inso
lúveis é comumente usado para separar proteínas por
tamanho, em colunas de cromatografia. Proteínas pe
quenas penetram nos poros do gel e têm maior volume
de solvente para percorrerem na coluna do que prote
ínas maiores, que são estericamente excluídas dos po
ros. Consequentemente, uma mistura de proteínas é se
parada por tamanho. As proteínas maiores são eluídas
primeiro, seguidas pelas proteínas menores, que são re
tardadas por seu acesso a um volume maior de solvente
(Figura 3.65). Como para a ultracentrifugação, assu
me-se uma geometria para uma proteína desconhecida
na determinação da massa molecular. Proteínas não
esféricas alongadas dão massas moleculares anômalas
quando analisadas usando-se uma curva padrão deter
minada com proteínas de geometria esferoide.

Eletroforese em Gel de Esfera pequena


Proteína Proteína
porosa grande
Poliacrilamida na Presença de um
FIGURA 3.65 Cromatografia de exclusão molecular.
Detergente Uma proteína pequena pode entrar nas partículas porosas
do gel e será retardada na coluna em relação a uma proteína
Se um detergente carregado for adicionado a um en
maior, que não pode entrar nas partículas porosas do gel.
saio de eletroforese de proteínas e a eletroforese ocorrer
através de um suporte poroso filtrante, a separação de
proteínas será baseada no tamanho das proteínas, e não
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 129

Técnicas de HPLC Separam bem como lipídeos, polissacarídeos e polinucleotíde


os, a purificação de uma proteína específica de outros
Aminoácidos, Peptídeos e Proteínas constituintes celulares pode ser difícil. A primeira ta
refa é o desenvolvimento de um ensaio simples para a
Na cromatografia líquida de alto desempenho
proteína. Seja utilizando a velocidade de transformação
(HPLC, high-performance liquid chromatography),
de substrato em produto, reação antígeno-anticorpo,
um solvente líquido contendo uma mistura de molé
ou uma resposta fisiológica em um sistema de ensaio
culas a serem identificadas é passado por uma coluna
em animal, o ensaio de uma proteína deve dar uma me
densamente empacotada com uma resina insolúvel em
dida quantitativa da atividade por unidade da concen
esferas de pequeno diâmetro. Na cromatografia em co
tração da proteína. Essa quantidade é conhecida como
luna, quanto menor e mais firmemente empacotadas as
a atividade específica da amostra. O propósito de um
esferas da resina, maior a resolução da técnica de sepa
procedimento de purificação é aumentar a atividade
ração. Em HPLC, a resina é tão densamente empacota
específica de uma amostra até o valor esperado para
da que o líquido deve ser bombeado pela coluna com
a proteína pura. Um protocolo típico para purificação
alta pressão. Portanto, HPLC usa bombas precisas de alta
de uma proteína celular solúvel envolve o rompimen
pressão com tubos e colunas de metal, e não de plástico
to das membranas celulares, seguido de centrifugação
e vidro usados em cromatografia por gravidade. As es
diferencial em um gradiente de densidade para isolar
feras de resinas são recobertas por grupos carregados
a proteína das partículas subcelulares e dos agregados
para separar compostos por troca-iônica, ou por grupos
de alto peso molecular. Maior purificação pode utilizar
hidrofóbicos para retardar moléculas hidrofóbicas não
precipitação seletiva por sais inorgânicos como sulfa
polares. Na cromatografia hidrofóbica, os compostos
to de amônio (salting out) ou por solventes orgânicos.
não polares firmemente associados são eluídos das esfe
A purificação final inclui uma combinação de técnicas
ras hidrofóbicas por solventes aquosos contendo várias
que separam com base em carga molecular, tamanho
porcentagens de um reagente orgânico. Quanto maior
molecular e/ou afinidade.
a porcentagem de solvente orgânico no eluente, mais
rapidamente o componente não polar é eluído da resi
na hidrofóbica. Este último tipo de cromatografia sobre
esferas de resina não polares é chamado HPLC de fase
reversa (Figura 3.66). Separações por
HPLC têm resolução e reprodutibili
dade extremamente altas. S
Y
L
-
S
N
D
i
d
Cromatografia de –

Afinidade
)
Proteínas têm uma alta afinidade A
µ
2
,
por seus substratos, grupos prostéti 0
(
cos, receptores de membrana ou inibi a
v
it
a
l
dores específicos não covalentes, bem e
r R
como por anticorpos feitos contra elas. a
i Y
c T
-
n
Esses compostos de alta afinidade po ê
c
S
N
s D
dem ser ligados covalentemente a uma e
r
o
i
d
-
u
l O
resina insolúvel, e a resina modificada F ,
N
pode ser usada para purificar sua pro
teína conjugada em cromatografia em
coluna. Em uma mistura de proteínas
eluídas através da resina, a de interes
se é seletivamente retardada.

Abordagem Geral para 4 8 12 16 20


Tempo (min)
Purificação de Proteínas
FIGURA 3.66 Separação de aminoácidos utilizando HPLC de fase reversa. O
Uma proteína deve ser purificada
eixo x é o tempo de eluição da coluna.
antes da determinação de sua com Aminoácidos são derivados por reação com cloreto de dansila (DNS) para que possam
posição química, estrutura e função. emitir fluorescência, que é usada para ensaiá-los à medida que são eluídos da coluna.
Como células vivas contêm milhares Reproduzido com permissão de Hunkapiller, M. W., Strickler, J. E. e Wilson, K. J.
de proteínas geneticamente distintas, Science 226:304, 1984. Reproduzido com permissão de AAAS.
130 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

As Técnicas de Proteômica Tentam manchas no padrão 2-D de um tipo celular específi


co. Esses padrões 2-D de referência estão disponíveis
Determinar Todas as Proteínas na Internet. Para definir melhor, uma mancha pode
ser extraída do gel e a proteína pode ser parcialmen
Expressas em uma Célula ou um te hidrolisada em fragmentos peptídicos menores por
Tecido em um Único Ensaio digestão proteolítica com enzimas (p. ex., tripsina ou
quimotripsina), e os fragmentos peptídicos submetidos
O número de genes individuais do genoma humano a espectroscopia de massa. A espectroscopia de massa
é estimado em cerca de 25.000. Visto que múltiplos pro determina rapidamente a sequência de aminoácidos de
dutos proteicos podem ser produzidos a partir de um muitos dos fragmentos pequenos. Essa técnica é cha
único gene por splicing alternativo e modificações pós mada impressão digital de massa (mass fingerprint)
-tradução geram formas adicionais, o número de pro de peptídeos. Usando essas sequências para pesquisar
teínas diferentes presentes no homem provavelmente sequências de proteínas ou bancos de dados de genes,
chega perto de 1 milhão. Proteômica é a
ciência de determinar exatamente quais 5.5 5.2 4.9
proteínas são produzidas em uma célula 100
ou tecido, em um conjunto específico de
condições.

Qualquer célula ou tecido pode ex


pressar milhares de diferentes proteínas 60
a
simultaneamente. Para entender as pro D
k
priedades de uma célula ou tecido, são ,r
a
l
u 45
determinados os tipos de proteínas ex c
e
l
pressas e como o padrão de proteínas ex o
m
a
pressas muda com o desenvolvimento, a s
s
a
diferenciação e doenças. Técnicas foram M 30
desenvolvidas para ensaiar os mRNAs ex
pressos em células e tecidos em um único
ensaio por hibridização com micromatri
zes de DNA (microarrays). Mais recente
mente, técnicas foram desenvolvidas para 15
analisar os produtos dos genes ativos, as
proteínas expressas por células e tecidos (a) p/
5.4 5.3
usando eletroforese 2-D. Nesta, as proteí
nas são, primeiro, extraídas de células ou
tecidos e depois aplicadas a um gel de po 50
liacrilamida em um aparelho de eletrofore
se. As proteínas são separadas na primeira a
D
k
direção com base em suas diferenças de ,r
a
l
pI. O gel é, então, virado em 90° e dode u
c
e
l 45
cil sulfato de sódio (SDS) é adicionado ao o
m
tampão. As proteínas são separadas na se a
s
s
a
gunda direção com base em suas diferen M
tes massas moleculares (ver Eletroforese
em Gel de Poliacrilamida em Presença de
um Detergente). O gel resultante é cora 40
do para proteínas, e a intensidade de cada
um dos milhares de pontos de proteínas é (b)
medida para determinar se uma proteína
específica é expressa e sua concentração FIGURA3.67 Apresentação bidimensional (2-D) de proteínas expressas
(Figura 3.67). por células em cultura.
(a) Proteínas solúveis de extrato celular (500 μg) aplicados ao gel e separados
A determinação da identidade de cada por focalização isoelétrica (pH 4,9–5,5) na direção horizontal e por massa mole
uma das manchas proteicas em um gel 2-D cular na direção vertical (eletroforese em presença de detergente SDS). Mais de
não é uma tarefa trivial. O padrão 2-D, 1.500 proteínas são observadas no gel por coloração com prata. (b) Uma região
do gel expandida para mostrar detalhes. Proteínas numeradas foram analisadas
se realizado em condições padronizadas, por hidrólise com protease e espectroscopia de massa para determinar sua sequ-
pode ser comparado com padrões obtidos ência parcial de aminoácidos, levando a sua identificação.
por laboratórios de referência, que de Reproduzido com premissão de Gygi, S. P., Corthals, G. L., Zhang, Y., Rochon, Y.
terminaram a identidade da maioria das e Aebersold, R. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 97:9390, 2000.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 131

CORRELAÇÃO CLÍNICA 3.7

Uso de Análise de Aminoácidos no Diagnóstico de Doenças

Concentrações elevadas de aminoácidos são encontradas no plasma ou na urina em várias doenças clínicas.
Uma concentração anormalmente elevada de aminoácidos na urina é chamada aminoacidúria.
Aminoacidúrias no homem
Aminoacidúria CorrelaçãoClínica
Aminoácido(s) Elevado(s)

Phe Fenilcetonúria 19.7, p. 790


Cys, Lys, Arg, ornitina Cistinúria 19.11, p. 795
Lys, Arg, ornitina Intolerância lisinúrica a proteínas 19.15, p. 801
Aminoácidos neutros (monocarboxílicos monoamino) Doença de Hartnup 25.5, p. 1071
Deficiência de Trp
Pro, hidroxiprolina, Gly Iminoglicinúria 19.5, p. 788
Asp, Glu Aminoacidúria dicarboxílica

Bröer, S. Amino acid transport across mammalian intestinal and renal epithelia. Physiology Rev. 88:239, 2008; e Camargo, S. M.,
Bockenhauer, D. e Kleta, R. Aminoacidurias: Clinical and molecular aspects. Kidney International 73:918, 2008.

pode-se chegar à identificação da proteína extraída do Procedimentos comuns para identificação de amino
gel 2-D. Instrumentos robóticos hoje executam cada ácidos usam cromatografia de troca catiônica ou HPLC
etapa da extração e identificação da proteína da man de fase reversa para separá-los e, então, reagir com ni
cha. Dessa maneira, as milhares de proteínas expressas nhidrina, fluorescamina, cloreto de dansila ou reagen
podem ser identificadas. tes cromóforos ou fluoróforos semelhantes para quanti
ficação. Com alguns tipos de derivação, os aminoácidos
A técnica atualmente é incapaz de identificar pro são identificados em concentrações de 0,5 × 10–12 mol
teínas pouco abundantes em células ou tecidos. Além (pmol). A análise da composição em aminoácidos de lí
disso, certos tipos de proteínas são difíceis de analisar quidos fisiológicos (p. ex., sangue e urina) é usada no
em virtude de baixa solubilidade, baixa carga molecular diagnóstico de doenças (Correlação Clínica 3.7).
ou massa molecular muito pequena. Por exemplo, pro
teínas integrais de membrana são muito hidrofóbicas e Determinação da Sequência de
não são solúveis nos solventes padrões de focalização
Aminoácidos
isoelétrica.
A capacidade de clonar genes levou à capacidade de
determinar a sequência de aminoácidos de uma proteí
Determinação da Composição em na a partir de suas sequências de DNA ou mRNA. Esse
é um método muito mais rápido para obtenção de uma
Aminoácidos de uma Proteína sequência de aminoácidos. O sequenciamento de uma
A determinação da composição em aminoácidos é proteína, entretanto, é necessário para a determinação
um componente essencial no estudo da estrutura de de modificações na estrutura da proteína que ocorrem
uma proteína e de suas propriedades fisiológicas. Uma após sua biossíntese, para identificar uma parte da se
proteína é hidrolisada a seus aminoácidos constituin quência da proteína para que seu gene possa ser clona
tes por aquecimento a 110 °C em HCl 6 N, por 18–36 h, do, e para identificar uma proteína como o produto de
em tubo selado a vácuo para impedir degradação de um gene específico. A determinação da estrutura pri
mária de uma proteína requer uma proteína purificada
cadeias laterais sensíveis à oxidação no ar. O triptofa
no é destruído nesse método, e procedimentos alter e a determinação do seu número de cadeias. As cadeias
nativos são usados para sua análise. Cadeias laterais individuais são purificadas pelas mesmas técnicas usa
das na purificação da proteína inteira. Se pontes dissul
amida de asparagina e glutamina são hidrolisadas a
aspartato e glutamato e amônia livre; estes são inclu feto unirem covalentemente as cadeias, essas ligações
ídos no conteúdo de ácido glutâmico e ácido aspártico devem ser quebradas (Figura 3.68).
na análise. Polipeptídeos são comumente sequenciadas pela
reação de Edman ou por espectroscopia de massa.
132 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Na reação de Edman, a cadeia polipeptídica


reage com fenilisotiocianato,
aminoácido NH2-terminal. Condições
que reageacídicas
com o RN O R3 O R2 O R1 O R1′ O R2′ O RN′

NH
+ 3CC NCCNCCNCCNCCNCCNCCOO–

H H H H H H H H H H H H H
catalisam ciclização intramolecular que cliva
o aminoácido NH2-terminal como um derivado Ligação
feniltio-hidantoína (Figura 3.69). Esse ami polipeptídica
hidrolizada
noácido derivado pode ser separado cromato
graficamente e identificado contra padrões. O R1 Reagente

polipeptídeo restante é isolado, e a reação de Phe, Tyr, or Trp Quimotripsina


Edman é repetida para identificar o aminoáci Arg, Lys Tripsina
do NH2-terminal seguinte. Teoricamente, isso Met Brometo de cianogênio
Trp Ácido o-lodosobenzóico
pode ser repetido até que a sequência do poli Glu Endoprotease V8 Staphylococcus aureus
peptídeo inteiro seja determinada, mas em con
dições favoráveis só pode ser feita para 30 ou
40 aminoácidos da cadeia polipeptídica, quando FIGURA3.70 Especificidade de alguns reagentes que clivam
polipeptídeos.
impurezas geradas em reações incompletas nas
séries de reações tornam mais ciclos de Edman
inviáveis. Polipeptídeos com mais de 30 ou 40 aminoáci a ligação peptídica no lado COOH-terminal de lisina e
dos são hidrolisados em fragmentos menores e sequen arginina na cadeia polipeptídica. Quimotripsina cliva
ciados em partes. Para sequenciamento por espectros a ligação peptídica no lado COOH-terminal de cadeias
copia de massa, também é necessário quebrar longas laterais apolares grandes. Outras enzimas clivam as ca
cadeias polipeptídicas em fragmentos menores. deias polipeptídicas no lado COOH-terminal de ácidos
glutâmico e aspártico. Brometo de cianogênio cliva li
gações peptídicas no lado COOH-terminal de resíduos
de metionina (Figura 3.70). Após hidrólise parcial, os
CH2 CH2 CH2
SS segmentos são separados, e a sequência de cada um é
HO3S + SO3H
determinada pela reação de Edman ou por espectros
CH2 copia de massa. Para ordenar corretamente os peptíde
os sequenciados na sequência completa, outra amostra
Ligação cistina Dois ácidos cisteicos
do polipeptídeo original é submetida à hidrólise parcial
FIGURA3.68 Quebra de pontes dissulfeto por oxidação por um reagente hidrolítico diferente do usado inicial
de ácidos cisteicos. mente, e os fragmentos são separados e sequenciados.
Isso gera sequências sobrepostas, que permitem a de
Métodos enzimáticos e químicos são usados para terminação da sequência completa (Figura 3.71).
quebrar as cadeias polipeptídicas em fragmentos me
nores (Figura 3.70). Tripsina cliva preferencialmente
Técnicas de Difração de Raios-X
NCS
R1 O
CCCCNCC
H O R3 O H São Usadas para Determinar
S +R
H1H3N+
O HR2 OH
N HR2R3
H O H H NCCOO–
H H H H RN
a Estrutura Tridimensional de
Fenilisotiocianato Cadeia polipeptídica
Proteínas
A difração de raios-X permite a determinação
da estrutura de proteínas com resolução quase atô
NCN CC CCNCC
mica. A abordagem requer a formação de um cristal
H
N NCCOO– da proteína, que contém solvente e é, portanto, uma
H H RN solução concentrada, para uso como alvo. Nosso en
tendimento dos componentes detalhados da estru
Peptídeo (ou proteína) feniltiocarbamoil (PTC) tura de proteínas derivados desse estado cristalino
H+
correlaciona-se bem com outras medidas físicas da
O R1 estrutura da proteína em solução (p. ex., com espec
CCH + R2 O H O RN troscopia de NMR; p. 137).
N NH H3N+ CCNCCNCCOO– A geração de cristais de proteínas pode ser o
C H H R3 H H aspecto mais demorado do processo. As proteínas
S têm dimensões moleculares pelo menos uma ordem
Feniltio-hidantoína Cadeia polipeptídica (menos aminoácido do NH2–terminal
de grandeza acima de uma molécula pequena, e o
empacotamento de moléculas grandes de proteínas
FIGURA 3.69 Reação de Edman. na rede cristalina gera um cristal com grandes “bu
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 133

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 interessante, mas muito cara, porque requer


Ala - Leu - Tyr - Met-Gly - Arg - Phe - Ala-Lys - Ser - Glu - Asn
+ um reator nuclear ou acelerador de partícu
NH3-R1R2R3R4R5R6R7R8R9R10R11R12-COO–
Tripsina 1 paraCom
las. a maior resolução
determinação agora
de estrutura dedisponível
proteínas
6 7 9 10 12
Quimotripsina 1
3 4 7 8 12
por difração de raios-X, a difração de átomos
Brometo de cianogênio 1 de C, N, O e S pode ser observada. A de átomos
4 5 12
de hidrogênio não é observada em virtude da
FIGURA 3.71 Ordenação de fragmentos peptídicos de sequências baixa densidade de elétrons, isto é, um único
sobrepostas produzidas por proteólise específica de um peptídeo. elétron ao redor de um núcleo de hidrogênio.
O raio difratado é tipicamente detectado em
racos” ou canais de solvente. Um cristal de proteína filme fotográfico ou em detectores eletrônicos de área.
tipicamente contém 40 a 60% de solvente, e pode ser Isso permite o registro da amplitude (intensidade) de
considerado como uma solução concentrada, ao invés radiação difratada em uma orientação definida. A de
do sólido cristalino duro que é obtido para a maioria terminação dos ângulos de fase exigiu, historicamente,
das moléculas pequenas. A presença de solvente e de a colocação de átomos pesados (como iodo, mercúrio ou
um volume não ocupado no cristal permitem a infusão chumbo) na molécula de proteína. Procedimentos mo
de inibidores e substratos nas moléculas de proteína no dernos podem frequentemente resolver o problema de
estado cristalino. fase sem uso de átomos pesados.

Uma flexibilidade dinâmica em regiões da estrutura É conveniente comparar a cristalografia de raios-X


da proteína pode ser vista como desordem no padrão de com a microscopia óptica, para entender os processos
difração de raios-X. Desordem descreve a situação na envolvidos. Na microscopia óptica, a radiação incidente
qual a densidade de elétrons observada pode ser ajusta é refletida por um objeto em estudo, e o raio refletido é
da a mais de uma conformação local. Duas explicações recondensado pelas lentes objetivas para produzir uma
devem ser diferenciadas. A primeira envolve a presença imagem do objeto. A analogia é apropriada para raios-X
de duas ou mais conformações moleculares estáticas, incidentes, mas não existe nenhum material que possa
que estão presentes em uma relação estequiométrica. servir como lente objetiva para a radiação de raios-X.
A segunda envolve a faixa dinâmica real de movimento Em lugar das lentes objetivas, medidas de amplitude e
apresentado por átomos ou grupos de átomos em regi de ângulos de fase da radiação difratada são reconstru
ões localizadas da molécula. Essas explicações podem ídas matematicamente por síntese de Fourier para ge
ser diferenciadas baixando-se a temperatura do cris rar um mapa de densidade eletrônica tridimensional do
tal até que a desordem dinâmica seja “congelada”; em objeto difratado. Algumas centenas de reflexões são ne
contraste, as conformações estáticas múltiplas não são cessárias para um mapa de densidade eletrônica de bai
xa resolução. Por exemplo, 400 reflexões foram usadas
dependentes de temperatura e persistem. A análise da
desordem dinâmica por sua dependência de temperatu para obter um mapa de 6 Å da mioglobina. Nessa reso
ra usando difração de raios-X é um método importante lução, é possível localizar claramente a molécula dentro
para estudar a dinâmica das proteínas (Seção 3.8). de uma unidade cela do cristal e estudar o empacota
mento geral das subunidades em uma proteína multi
As técnicas de cristalização têm avançado tanto mérica. Contudo, um traçado da conformação da cadeia
que cristais são obtidos mesmo das proteínas menos polipeptídica é feito com dificuldade. Muito mais refle
abundantes. Estruturas interessantes foram reporta xões são necessárias para se obter mapas de resolução
das para proteínas nas quais resíduos específicos foram maior. Para a mioglobina, na qual 400 reflexões foram
substituídos, complexos antígeno-anticorpo, e produ utilizadas para obter o mapa de 6 Å, 10.000 reflexões
tos virais como a protease necessária à infecção pelo foram necessárias para um mapa de 2Å, e 17.000 refle
vírus da imunodeficiência humana (HIV) que causa a xões para um mapa de 1,4 Å. Grande parte do trabalho
síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Apro hoje é parcialmente automatizado usando computado
ximadamente 50.000 estruturas foram resolvidas por res. Uma fatia através de um mapa de densidade eletrô
difração de raios-X, e os detalhes estão armazenados nica tridimensional do tripsinogênio é apresentada na
no Protein Data Bank, que está acessível na Internet. Figura 3.72. A estrutura primária conhecida é ajustada
ao padrão de densidade eletrônica por refinamento, o
A difração de raios-X por um cristal ocorre com ra processo de computação intensiva de alinhamento de
diação incidente de um comprimento de onda caracte uma sequência ao mapa de densidade eletrônica, até
rístico (p. ex. cobre, Kα = 1,54 Å). O feixe de raios-X é que o melhor ajuste seja obtido.
difratado pelos elétrons que circundam os núcleos atô
micos do cristal, com uma intensidade proporcional ao A difração de raios-X fornece evidências incomple
número de elétrons ao redor do núcleo. Assim, a técnica tas do mecanismo de ação de uma proteína. Ao contrá
estabelece a distribuição de elétrons da molécula e in rio, fornece uma estrutura média de uma molécula cujos
fere a distribuição de núcleos. Posições reais de núcleos átomos estão normalmente sofrendo rápida flutuação
atômicos podem ser determinadas diretamente por di em solução (Seção 3.8). Na verdade, a estrutura média
fração com radiação de feixe de nêutrons, uma técnica pode não ser a estrutura ativa de uma proteína em solu
134 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

inferidas a partir das figuras estáticas de uma forma


inativa da proteína ou de complexos com análogos ina
tivos de seus substratos (Figura 3.73).
S

Métodos mais novos de difração de raios-X usam ra


diação síncroton para gerar um feixe de raios-X, no mí
ONN nimo 10.000 vezes mais intenso do que os de geradores
Ser195 de raios-X padrão, o que permite a coleta de dados de
His 57
Asp10299 difração em escala de milissegundos. A aplicação des
191
sas técnicas permitirá a determinação de estruturas de
vida curta e a solução de questões mecanísticas e de
Trp 215
N
estruturas dinâmicas, não acessíveis pela tecnologia
S
O padrão.
220

Thr 98
Absorção da ligação peptídica Absorção da
cadeira lateral
da Tyr e Trp
o Absorção de SS
FIGURA 3.72 Mapa de densidade eletrônica em resolução ãçrosbA

de 1,9-Å na região do sítio ativo da forma pró-enzima da


tripsina.
Os resíduos de aminoácidos do sítio ativo são ajustados em um
mapa de densidade eletrônica.
Reproduzido com permissão de Kossiakoff, A. A., Chambers, J. L., 200 250 300
Kay, L. M., e Stroud, R. M. Biochemistry 16:654, 1977. Direitos Comprimento de onda (nm)
autorais (1977) da American Chemical Society.
FIGURA 3.74 Espectro de absorção ultravioleta da
proteína globular a-quimotripsina.
ção. Na escala de tempo da coleta de dados para difra
ção, as estruturas de complexos reativos enzima-subs
trato, intermediários e estados de transição de reações Métodos de Espectroscopia para
não podem ser observados. Essas estruturas devem ser
Avaliar Estrutura e Função de
Proteínas
Espectroscopia de Luz
Ultravioleta
As cadeias laterais da tirosina,
da fenilalanina e do triptofano, e
as ligações peptídicas absorvem luz
ultravioleta (UV). A eficiência de
absorção de cada cromóforo está
relacionada com seu coeficiente
de extinção molar (e) (Um Olhar
Mais Atento 3.2). Um espectro tí
pico é apresentado na Figura 3.74.
Absorbâncias entre 260 e 300 nm
devem-se primariamente a cadeias
laterais aromáticas (Figura 3.75).
Quando a cadeia lateral da tirosina
é ionizada em pH alto (esse grupo
R tem pK!a ≈10), a absorbância é
deslocada para um comprimento
de onda maior (desvio para o ver
FIGURA3.73 Tracejado estérico da estrutura do esqueleto de carbono a da melho) e sua absorbância molar é
protease do HIV com inibidor (linhas grossas) e da protease sem inibidor (linhas aumentada (Figura 3.75). Ligações
finas).
peptídicas absorvem no UV dis
Redesenhado com permissão de Miller, M., Schneider, J., Sathyanarayana, B. K., Toth, M.
V., Marshall, G. R., Clawson, L., Selk, L., Kent, S. B. H., e Wlodawer, A. Science 246:1149, tante (180-230 nm). Uma ligação
1989. Direitos autorais (1989) AAAS. peptídica na conformação a-hélice
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 135

× 10–3 UM OLHAR MAIS ATENTO 3.2

2.0 Tirosinato Absorbância de Luz Ultravioleta e


6 Visível Mostra uma Dependência
Linear de Concentração e Compri
e0.3
h
1.5
ry p 4
5 mento do Caminho
r
P T T
0.2 1.0 3 A lei de Beer–Lambert é uma equação
empírica que mostra a relação linear
0.1 0.5 2 Tirosina Triptofano entre a concentração de um cromóforo
e a absorbância em um comprimento de
1 Fenilalanina onda específico de luz UV ou visível. A
0 250 260 270 280 290 300 310 equação é:
Comprimento de onda (nm)
A = el * l * c
FIGURA 3.75 Absorção ultravioleta para os cromóforos de Phe, Tyr, Trp e onde A é a abosrbância de luz no com
tirosinato.
primento de onda l, el é a absortividade
Note as diferenças nos coeficientes de extinção no eixo esquerdo para os dife
rentes cromóforos. molar ou o coeficiente de extinção de
Redesenhado
mas, J. O. e Tipton,
de d’Albis,
K. F. (Eds.),
A. e Gratzer,
Companion
W. B. to
Em:Biochemistry.
Bull, A. T., Lagmado,
London: Longmans,
J. R., Tho- um cromóforo no comprimento de onda
l, l é o comprimento do caminho da luz
1974, p. 170. através da solução, e c é a concentração
do cromóforo. O coeficiente de extinção
molar é uma constante da molécula de
interage com os elétrons de outras ligações peptídicas cromóforo em um conjunto de tempera
acima e abaixo dela, criando um sistema éxciton, no tiver eem
tura unidadesdadesolução.
condições M–1cm–1,Seentão
el es
qual elétrons são deslocados. O resultado é um des l
locamento na absorção máxima de uma ligação pep estará em cm, c em M, e A estará em
tídica isolada para um comprimento de onda menor unidades de absorbância.
ou maior (Figura 3.76). A espectroscopia de UV pode
fornecer informações sobre a estrutura secundária e
terciária de uma proteína. À medida que uma prote
ína é desnaturada, diferenças nas características de A absorbância molar de um substrato cromóforo
absorção das ligações peptídicas aparecem em virtude frequentemente muda na ligação com uma proteína e
da ruptura do sistema exciton. Além disso, a absor pode ser usada para medir sua constante de ligação.
ção máxima para um cromóforo aromático ocorre em Mudanças nos coeficientes de extinção do cromóforo
um comprimento de onda mais baixo em um ambiente durante catálise a enzimática são usadas para fornecer
aquoso do que em um ambiente não-polar. os parâmetros cinéticos da reação.

Espectroscopia de Fluorescência
A energia de um elétron excitado produzido por ab
r
a
l 6 sorção de luz é perdida mais comumente como energia
o
m Estrutura térmica, em um processo de colisão. Em alguns cromó
o aleatória
u
d
í
foros, a energia de excitação é dissipada por fluores
s4
e
r
Folha β cência. A emissão fluorescente ocorre sempre em um
e
d comprimento de onda maior de luz (menor energia) do
e
d α-hélice que o comprimento de onda de absorção do fluoróforo,
a2
d
iv
it
r
porque os níveis energéticos de vibração, formados du
o
s
b0
rante a absorção de luz (excitação), são perdidos antes
A 180 190 200 210 220 230 240 250 da fluorescência (Figura 3.77). Se outra molécula esti
Comprimento de onda (nm) ver presente para absorver a energia da luz emitida pelo
fluoróforo, a fluorescência emitida não é observada,
FIGURA 3.76 Absorção ultravioleta das ligações mas transferida para a molécula que a absorve. A molé
peptídicas de uma cadeia polipeptídica em conformações
em a-hélice, estrutura aleatória e folha-b antiparalela. cula aceptora, por sua vez, ou emite sua própria fluores
Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull, A. T., cência característica, ou perde sua energia de excitação
Lagmado, J. R., Thomas J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Compa por um processo alternativo. Se a molécula aceptora
nion to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 175. perder sua energia de excitação por um processo não
fluorescente, é um apagador ou quencher da molécula
doadora de fluorescência. A eficiência da transferência
136 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

Desativação nios globulares. Na desnaturação, as distâncias


vibratória
ν' = 43
1
2 entre grupos doadores e aceptores aumentam
a eletrônico
excitado
Estado e a eficiência de transferência de energia para
0
o triptofano diminui. Consequentemente, um
aumento na fluorescência de tirosina e/ou feni
lalanina e uma diminuição na do triptofano são
observados na desnaturação de uma proteína.
i
g
r Como os processos de transferência de excita
e
n
E ção em proteínas são dependentes da distância
e da orientação, a fluorescência final depende
da conformação da proteína. Esse tipo de análi
se detecta mudanças que se devem a mudanças
de conformação e interações de ligação.
ν= 4
3
Estado 2
basal 1
0 [θ] × 10–3
α-hélice
Absorção Fluorescência
60
70
FIGURA 3.77 Transições eletrônicas de absorção e fluorescência.
A excitação após absorção da luz é do nível vibratório zero, no estado basal,
para vários níveis
fluorescência é dovibratórios
nível vibratório
superiores,
zero, donoestado
estadoeletrônico
excitado.excitado,
A emissãopara
de 50

vários
de
em
Redesenhado
Thomas,
onda O.
comprimentos
níveis
de
J. absorção.
vibratórios,
de
e Tipton,
d’Albis,
de ondano
K.
A.maiores
estado
F.
e Gratzer,
(Eds.),
basal.
(menos
Companion
W.AB.emissão
energia)
Em: Bull,
de
to
doA.
fluorescência
Biochemistry.
que
T., oLagmado,
comprimento
ocorre
Lon-
J. R. 30
40 Folha β

10
20

Estrutura aleatória
don: Longmans, 1970, p. 166.
0
de excitação depende da distância e da orientação das 10
moléculas doadoras e aceptoras.
20 Folha β
Os espectros de emissão de fluorescência de ca
30
deias laterais de fenilalanina, tirosina e triptofano são α-hélice

apresentados na Figura 3.78. Os comprimentos de onda 40 Estrutura aleatória

de emissão da fenilalanina se sobrepõem aos compri 190 200 210 220 230 240 250
mentos de onda de absorção da tirosina. Por sua vez, Comprimento de onda (nm)
os comprimentos de onda de emissão da tirosina se
sobrepõem aos comprimentos de onda de absorção do FIGURA3.79 Espectro de dicroísmo circular de cadeias
polipeptídicas em conformações a-hélice, folha-b e
triptofano. Por causa dessas sobreposições nos compri
aleatórias.
mentos de onda de emissão e absorção, primariamen Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull,A.T., Lag
te, apenas a fluorescência do triptofano é observada. mado, J. R., Thomas, J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Companion
A transferência de excitação ocorre em distâncias de to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 190.
até 80 Å, que são tipicamente os diâmetros de domí
Espectroscopia de Dicroísmo Circular
t 1.5
a Tyr O dicroísmo circular (CD) é causado por diferenças
n na absorção de luz entre os componentes vetores em
a
u
q
e 1.0
d
sentido horário e anti-horário de um feixe de luz polari
o
v
it zada viajando através de uma solução de uma molécula
l 0.5
a Trp
opticamente ativa, como um L-aminoácido. Um espec
e
r
o
r tro é gerado quando o dicroísmo circular é determinado
e
m
ú
Phe em uma faixa de comprimentos de onda. Aminoácidos
N
aromáticos em uma proteína e a cadeia polipeptídica
0
280 320 360 400 440 geram uma rotação óptica e um espectro de CD (Figu
Comprimento de onda (nm) ra 3.79). Em virtude das diferenças entre os espectros
de a-hélice, folha-b e estruturas aleatórias, o dicroís
FIGURA3.78 Fluorescência característica de grupos
mo circular tem sido um ensaio bastante sensível para
aromáticos em proteínas.
Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull, A. T., a quantidade e o tipo de estrutura secundária, e é co
Lagmado, J. R., Thomas, J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Compa mumente utilizado para acompanhar o dobramento e a
nion to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 478. desnaturação de proteínas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 137

Ressonância Magnética Nuclear das ligações. O método gera uma família de estruturas,
a variabilidade mostrando ou a imprecisão da técnica
Com NMR bidimensional (2-D) e espectrômetros ou a “desordem” dinâmica da estrutura dobrada (Figu
NMR potentes, a conformação em solução de proteí ra 3.80). Tais computações forneceram estruturas que
nas pequenas, de cerca de 150 aminoácidos ou menos, não diferem significativamente da estrutura média no
pode ser determinada. NMR multidimensional e res tempo, observada pelos métodos de difração de raios-X.
sonância tripla podem estender a sensibilidade a mais
de 250 resíduos. Outros avanços do NMR, para determinação da es
trutura de proteínas, incluem a capacidade de sintetizar
Técnicas convencionais de NMR usam radiação de proteínas que contêm aminoácidos enriquecidos isoto
radiofrequência (rf) para estudar o ambiente dos núcle picamente (p. ex., contendo 13C ou 15N) e o desenvolvi
os atômicos que são magnéticos. A exigência de núcleos mento de reagentes com deslocamento paramagnético
magnéticos é absoluta e baseia-se em um estado de spin para estudar ambientes localizados em ressonâncias
não pareado no núcleo. Assim, os núcleos de carbono paramagnéticas, como os grupos sinalizadores com íon
(12C), nitrogênio (14N) e oxigênio (16O) naturalmente lantanídeo.
abundantes não absorvem, enquanto 13C, 15N e 17O ab
sorvem. A informação derivada das bandas de absorção
permite a determinação da identidade e do número de 34
10
64
grupos vizinhos mais próximos, que podem afetar a res
66
posta de espécies que absorvem por interações de liga 86
ções, mas não dá informações quanto às interações es
paciais (não ligadas) em virtude da conformação nativa
da proteína. Para determinar as interações no espaço e 59 84

a estrutura terciária de proteínas, é necessário o uso de 4


efeitos nucleares de Overhauser (NOEs) e a aplicação
da técnica bidimensional. 70
94 16
A principal diferença entre NMR bidimensional e 41
81
unidimensional (1-D) é a adição de um segundo pulso 55 27
rfretardado. A técnica requer identificação no espectro
de absorção de prótons de uma posição específica na 1
estrutura da proteína. Interações espaciais podem ser
observadas a uma distância máxima de aproximada 50
47 21
mente 5 Å. Na geração da informação de distância para
77
pares interresíduos na estrutura da proteína, as con
99
formações da proteína consistentes com os espectros
são geradas. Nesse cálculo, uma matriz de distâncias
é construída contendo faixas de distâncias (mínima e FIGURA 3.80 Estrutura de NMR da plastocianina de feijão
francês.
máxima) para tantas interações interresíduos quantas
A estrutura mostra a sobreposição de oito estruturas do esque
possam ser medidas. Estruturas possíveis são geradas a leto polipeptídeo da proteína, calculadas a partir das restrições
partir dos dados consistentes com as restrições impos do espectro de NMR.
tas pelos espectros de NMR. Refinamentos computacio De Moore, J. M., Lepre, C.A., Gippert, G. P., Chazin, W. J. et al.
nais das estruturas calculadas inicialmente podem oti J. Mol. Biol. 221:533, 1991. Figura generosamente fornecida
mizar as distâncias das ligações covalentes e os ângulos por P. E Wright.

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mente e resume os bancos de dados biológicos dispo Swiss Institute of Bioinformatics contém ferramentas
níveis na Rede (Nucleic Acids Research 36: janeiro, para o estudo de proteínas e links para outras páginas e
2008) e páginas da internet com ferramentas para aná bancos de dados para o estudo e a análise de proteínas
lise de dados biológicos (Nucleic Acids Research 26: (http://ca.expasy.org).
July 1, 2008).
O website do European Bioinformatics Institute tam
O site de entrada do The National Institutes of Health bém oferece referências a bancos de dados e um pacote
dá acesso a bancos de dados de sequências, genômica abrangente de ferramentas de análise (http://www.ebi.
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138 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

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CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 139

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Termos Chaves
a-hélice Hasselbalch interação hidrofóbica ponte de hidrogênio
aminoácidos acídicos estrutura-b interação iônica proteína fibrosa
aminoácidos básicos estrutura primária interactome proteína intrinsecamen
aminoácidos comuns estrutura quaternária ligação N-glicosídica te não-estruturada
aminoácidos derivados estrutura secundária ligação O-glicosídica proteína globular
apoproteína estrutura terciária ligação phi(j) resíduo invariável
chaperone família de proteínas ligação psi (y) selenocisteína
chaperonina glicoproteína lipoproteína substituição conserva
tiva
conformação nativa glóbulo fundido (molten motive estrutural
globule) substituição não-conser
desnaturação peptídeo
vativa
dinâmica de proteínas hélice de poliprolina tipo II pH isoelétrico (pI)
superdobra (superfold)
dobra de proteína homologia pK!a
zwitterions
equação de Henderson– interação de van der Waals polipeptídeo

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha 3. Proteínas chaperones:
1. Todas as seguintes são corretas sobre uma ligação A. todas requerem ATP para exercer seu efeito.
peptídica, exceto: B. quebram pontes dissulfeto incorretas, permi
A. apresenta caráter parcial de dupla ligação. tindo que as corretas se formem subsequente
mente.
B. é mais estável na configuração cis do que na
configuração trans. C. guiam o dobramento de cadeias polipeptídicas
em padrões que seriam termodinamicamente
C. tem restrição de rotação em torno da ligação
instáveis sem a presença de chaperones.
entre o carbono da carbonila e o nitrogênio.
D. da classe Hsp70 estão envolvidas no transpor
D. é planar.
te de proteínas através das membranas mito
E. na prolina, o nitrogênio é ligado à cadeia late condriais e do retículo endoplasmático.
ral.
E. atuam apenas sobre cadeias polipeptídicas
2. Em uma a-hélice: completamente sintetizadas.
A. grupos de cadeias laterais podem se alinhar 4. Proteínas podem ser separadas de acordo com ta
para formar uma face polar. manho por:
B. cada ligação peptídica forma duas pontes de A. focalização isoelétrica.
hidrogênio.
B. eletroforese em gel de poliacrilamida.
C. existem 3,6 aminoácidos por volta.
C. cromatografia de troca iônica.
D. todas as anteriores estão corretas.
D. cromatografia de exclusão molecular.
E. nenhuma das anteriores.
E. HPLC de fase reversa.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 141

5. Arranjos semelhantes de motivos de estrutura se D. requer a conversão de alguns e-amino grupos


cundária são frequentemente observados na estru de lisina em d-aldeídos.
tura de dobras de domínios de proteínas. Qual das E. todos os anteriores.
seguintes está correta?
A. Superdobras são estruturas semelhantes de Questões 9 e 10: Glicoproteínas, com moléculas de
proteínas relacionadas por função ou evolução carboidratos ligadas covalentemente a um ou mais ami
a partir do mesmo gene primordial. noácidos, participam de muitas funções normais e rela
As cionadas com doenças, por exemplo, como determinan
B. dobras devem ser ou toda a ou toda b.
tes antigênicos de grupos sanguíneos, reconhecimento
C. Existe só um tipo de domínio b. célula-célula e funcionamento do colágeno. Geralmente
D. Se uma proteína tiver mais de um domínio, to o carboidrato é adicionado à proteína por reações en
dos os domínios serão idênticos. zimáticas. Uma hemoglobina glicosilada, HbA1c, entre
E. Uma dobra comum tem um b-barril central tanto, é formada não-enzimaticamente em eritrócitos.
com as fitas conectadas por a-hélices em tor Na hiperglicemia prolongada, como em pacientes com
no do lado externo. diabetes mellitus, a concentração de HbA1c sobe e pode
ser usada para seguir a eficácia do tratamento.
6. Proteínas não-estruturadas
A. são as proteínas que foram desnaturadas por 9. Glicoproteínas
A. são encontradas em células, mas não no plas
calor.
ma.
B. não têm nenhuma função biológica.
B. em uma membrana plasmática, tipicamente a
C. podem ser induzidas a assumirem uma estru
porção carboidrato fica no lado citosólico.
tura definida por ligação com outras proteínas
ou com DNA ou RNA. C. podem ter a porção carboidrato covalente
mente ligada à proteína em uma asparagina.
D. não têm nenhuma estrutura secundária ou
terciária. D. que têm carboidrato ligado a um hidroxila
E. têm regiões que são muito ricas em aminoáci sempre têm ligação com hidroxilisina.
dos aromáticos. E. de um dado tipo sempre têm cadeias de car
boidratos idênticas.
Questões 7 e 8: Anomalias na síntese ou na estrutu
ra do colágeno causam disfunções em órgãos cardíaco, 10. Em glicoproteínas,
osso, pele, articulações e olhos. Os problemas podem A. o carboidrato é adicionado à medida que a ca
resultar de genes de colágeno anormais, de modifica deia polipeptídica é transportada pelo retículo
ções pós-tradução anormais do colágeno ou de deficiên endoplasmático e rede do Golgi.
cia de cofatores necessários por enzimas responsáveis B. a quantidade de carboidrato presente é sem
pelas modificações pós-tradução. Escorbuto, uma falta pre uma pequena porcentagem (<5%) do peso
de vitamina C, é um exemplo deste último tipo. da proteína.
7. No colágeno: C. a porção carboidrato consiste de um único
A. pontes de hidrogênio intracadeias estabilizam açúcar em cada aminoácido.
a estrutura nativa. D. o tipo mais comum de ligação é com um grupo
a-amino de uma cadeia polipeptídica.
B. três cadeias com conformação em hélice tipo
E. mudanças na composição não teriam qualquer
poliprolina podem enrolar uma em torno da
outra para formar uma super-hélice devido à efeito sobre a função biológica.
estrutura da glicina.
Questões 11 e 12: Muitas hiperlipoproteinemias pa
C. os ângulos j fornecidos pela prolina são livres tológicas resultam de anomalias nas velocidades de
para rodar. síntese ou de depuração de lipoproteínas do sangue.
D. regiões de super-helicidade compreendem a Estas são geralmente caracterizadas por níveis eleva
estrutura inteira, exceto as extremidades N- e dos de colesterol e/ou triacilgliceróis no sangue. O tipo
C-terminais. I tem níveis plasmáticos muito altos de triacilgliceróis
E. ligações cruzadas entre triplas hélices for (>1.000 g/dL), devido a um acúmulo de quilomícrons. O
mam-se depois da lisina ter sido convertida em tipo II (hipercolesterolemia familiar) tem colesterol ele
alisina. vado, especialmente na forma de LDL. Outra anomalia
de lipoproteínas é hipolipoproteinemia, na qual lipopro
8. A formação de ligações covalentes cruzadas no co teínas não se formam em virtude da incapacidade de
lágeno: fazer uma apoproteína específica.
A. ocorre durante a síntese da cadeia peptídica.
B. usa hidroxiprolina.
C. envolve resíduos de glicina.
142 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS

11. Todas as partículas de lipoproteínas do sangue têm C. A incapacidade de sintetizar apolipoproteína


a mesma arquitetura geral, que inclui: ApoB-100 e ApoB-48 seria responsável pelo
A. um núcleo (core) neutro de triacilgliceróis e padrão apresentado nessa doença.
ésteres de colesterol. D. Apolipoproteínas são compostas principal
B. lipídeos anfipáticos orientados com seus gru mente de estrutura b.
pos de cabeça polar para a superfície e suas E. Todos os anteriores.
cadeias hidrofóbicas orientadas para o centro.
Problemas
C. a maior parte das apoproteínas de superfície
contendo hélices anfipáticas. 13. Em um gráfico de equivalentes de OH– versus pH,
D. colesterol não-esterificado associado com a o pH é ~2 quando 0,5 equiv foram usados, o pH é
~6 para 1,5 equiv, e o pH é ~9,5 para 2,5 equiv. Que
capa externa.
aminoácido foi titulado? Em cada caso, o ponto in
E. todos os anteriores.
dicado é o ponto do meio de uma parte íngreme da
12. Na abetalipoproteinemia, quilomícrons, VLDL e curva.
LDL estão ausentes no sangue. Qual dos seguintes
14. Após purificação, a reação de Edman foi usada
está correto?
para sequenciar um dodecapeptídeo, gerando os
A. Nessa doença, nenhuma apolipoproteína é sin seguintes dados: o aminoácido C-terminal é iso
tetizada. leucina; o aminoácido N-terminal é metionina; e
B. Se o sangue desses indivíduos for centrifuga os fragmentos peptídicos são Ala-Ala-Ile, Leu-Arg
do, a banda de lipídeos seria encontrada pri -Lys-Lys-Glu-Lys-Glu-Ala, Met-Gly-Leu e Met-Phe
mariamente na metade superior do tubo. -Por-Met. Qual é a sequência desse peptídeo?

Respostas
1. B Isso colocaria ambas as cadeias laterais no C: existem vários tipos diferentes. D: uma proteína
mesmo lado da ligação, o que é menos favorável. C: pode ter múltiplos domínios diferentes, e os dife
essa é uma consequência de A. D: todos os átomos rentes domínios podem, em alguns casos, ter dife
ligados a carbono e nitrogênio da ligação estão em rentes funções.
um plano comum. E: a prolina tem um imino gru
po. 6. C Seus domínios não-estruturados permitem que
se liguem a uma variedade de parceiros. A: essas
2. D A: também poderiam se alinhar para formar proteínas são naturalmente desprovidas de uma
uma face não-polar. B: uma é com o quarto resíduo conformação dobrada estável. B: elas desempe
acima da ligação, e a outra é com o quarto resíduo nham várias funções como, por exemplo, proteínas
abaixo. C: esta é uma das características de uma de arcabouço, quinases dependentes de ciclinas e
a-hélice girando para a direita. muitas outras. D: elas podem ter regiões com es
3. D Proteínas cruzam a membrana em um estado trutura secundária. E: elas tendem a ser ricas em
desdobrado e dobram novamente depois de terem aminoácidos polares e carregados e pobres em aro
atravessado a membrana. A: a família de chapero máticos.
nes hsp60 é ligada a ATP, mas a família hsp70 não 7. B Contatos íntimos no interior de uma tripla hélice
é. B: dissulfeto isomerases catalisam essa reação. são possíveis só quando o grupo R dessa posição
C: o produto final é termodinamicamente estável; for muito pequeno, isto é, hidrogênio. A: pontes de
chaperones impedem interações intermediárias hidrogênio no colágeno são intercadeias. C: o ân
desfavoráveis. E: chaperones hsp70 reagem com gulo j é parte do anel da prolina e não está livre
cadeias polipeptídicas nascentes à medida que são para rodar. D: embora a afirmativa esteja correta
sintetizadas pelo ribossomo. A proteína pode, en para o colágeno tipo I, as regiões de super-hélice
tão, ser entregue para um chaperone hsp60 para em outros tipos de colágeno podem ser quebradas
facilitar o dobramento final. por regiões de domínios globulares. E: a conversão
e as ligações cruzadas são extracelulares.
4. D Outro método que separa com base em tama
nho é SDS-PAGE. A-C separam moléculas com 8. D Estas então reagem umas com as outras ou com
base em carga. E: HPLC de fase reversa efetua se grupos e-amino de lisinas não modificadas. A: é
parações com base na polaridade. pós-tradução. B, D: esta não é a função da hidroxi
prolina ou da glicina.
5. E Esta estrutura a/b é encontrada na piruvato
quinase, por exemplo. A: isso é chamado uma fa 9. C No tipo N-ligado, a asparagina está na sequên
mília; superdobras são encontradas em proteínas cia Asn-X-Thr(Ser). A: a maioria das proteínas
não relacionadas por função ou origem. B: ver E. plasmáticas, exceto albumina, é glicoproteína. B:
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 143

carboidrato fica no lado de fora da célula para fun LDLs e VLDLs. Apo B-48, uma forma truncada de
ções como reconhecimento célula-célula. D: essa B-100, é encontrada em quilomícrons. A: como as
ligação ocorre só no colágeno. Outros carboidratos várias apolipoproteínas vêm de genes diferentes,
O-ligados fazem a ligação com serina ou treonina. não seria de se esperar que todos os genes fossem
E: a estrutura dos carboidratos não é determinada afetados. B: as lipoproteínas que faltam são as
por genes e é variável. encontradas na parte superior do tubo após cen
trifugação. D: apolipoproteínas associadas com
10. A O conteúdo de carboidratos não é controlado
lipídeos têm um alto conteúdo de α-hélices anfi
por genes, mas é um evento co- ou pós-tradução.
B: o conteúdo é muito variável, por exemplo, a gli páticas.
coforina da membrana de eritrócitos tem 60% de 13. Esta é uma curva de titulação de um aminoácido
carboidratos. C: o carboidrato ligado pode ser um com três grupos dissociáveis. Os pontos indicados
único carboidrato ou até 15 resíduos de carboidra representam a meia-titulação de cada um desses
tos. D: esta é uma ligação tipo IV encontrada na grupos, e os pHs são os valores de pK de cada gru
HbA1c, mas não é o tipo mais comum. E: poderia po. Com esses valores de pK, o aminoácido deve ser
haver uma profunda mudança na função. histidina.
11. E Todas as lipoproteínas compartilham essas ca 14. Você deve ter os aminoácidos N- e C-terminais
racterísticas. C: a face polar interage com água, e a corretos, e o número total de aminoácidos (12)
face hidrofóbica é orientada em direção ao centro. no peptídeo também correto. Usando esses valo
D: o grupo hidroxila do colesterol é suficientemen res e sobrepondo os fragmentos, você deve obter a
te polar para que se oriente em direção à capa ex sequência Met-Phe-Pro-Met-Gly-Leu-Arg-Lys-Glu
terna. -Ala-Ala-Ile. Observe que o fragmento Lys-Glu não
dá nenhuma informação adicional para o sequen
12. C Apo B-100 é uma apolipoproteína primária de
ciamento.
144 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE II
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 145
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

4
Replicação,
Recombinação
e Reparo do DNA
Howard J. Edenberg
Professor Chancellor, Indiana University School of Medicine

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


4.1 CARACTERÍSTICAS COMUNS DA REPLICAÇÃO, 4.1 A Quimioterapia Pode Ter Como Alvos Precurso
RECOMBINAÇÃO E REPARO, 146 res da Síntese de DNA, 148
4.2 REPLICAÇÃO DO DNA: MECANISMOS FUNDA 4.2 Análogos de Nucleosídeos e Resistência a Drogas
MENTAIS, 146 na Terapia do HIV, 150

4.3 REPLICAÇÃO DO DNA: ENZIMAS E REGULA 4.3 Topoisomerases Como Antibióticos, 158
ÇÃO, 156 4.4 Câncer e o Ciclo Celular, 163
4.4 RECOMBINAÇÃO, 164 4.5 Recombinação e Câncer, 164
4.5 DANOS AO DNA E MUTAÇÕES, 169 4.6 Recombinação e Terapia Gênica, 169
4.6 REPARO DO DNA, 172 4.7 Cisplatina e o Tour de France, 170
4.8 Análogos da Base Tiopurina Como Drogas, 171
4.9 Medicina Personalizada, 172
4.10 Xeroderma Pigmentoso, 175
4.11 Reparo de Pareamento Errado e Câncer, 177

Conceitos Chaves
• Replicação, reparo e recombinação do DNA envol • A replicação é muito semelhante em células bac
vem transesterificação, a troca de parceiros numa terianas e de mamíferos, mas as diferenças permi
ligação fosfodiéster. Todos os três processos ba tem que antibióticos inibam seletivamente o cres
seiam-se no pareamento complementar de bases. cimento bacteriano.
• A replicação do DNA requer um molde, um conjun • A replicação é muito regulada, como parte do ci
to de enzimas e os precursores adequados. É semi clo celular. A telomerase preserva as extremidades
conservativa, com as fitas parentais separando-se, dos cromossomos.
de modo que cada uma possa ser um molde para a
• A recombinação é essencial para a segregação cor
síntese de uma fita complementar. A dupla-hélice
reta de cromossomos entre células filhas. Um inter
se abre na forquilha de replicação e seguem-se uma
mediário chave é uma estrutura de DNA chamada
etapa de iniciação, a adição sequencial de nucleo
Junção Holliday. Erros de recombinação podem le
tídeos complementares e a ligação de fragmentos
var ao câncer.
adjacentes. O processo é extremamente preciso.
146 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

• Mudanças em um único par de bases dos 6 bilhões de nucleotídeo são processos muito precisos que
de pares de bases do genoma humano pode levar removem base(s) danificada(s). Defeitos nos me
a doença. Estima-se que ocorram 10.000–50.000 canismos de reparo do DNA podem causar câncer.
eventos danosos, como radiações e reações quí Alguns mecanismos de reparo introduzem erros no

micas, no DNA por célula por dia. Existem várias
DNA como um custo de deixar células lidarem com
reações diferentes para reparar DNA danificado.
danos que bloqueiam a replicação.
Reparo por excisão de base e reparo por excisão

4.1 CARACTERÍSTICAS frequentemente prejudiciais; podem afetar a viabilida


de celular ou desencadear o crescimento descontrola
COMUNS DA REPLICAÇÃO, do característico do câncer. Algumas doenças graves
podem resultar de troca de um único par de bases no
RECOMBINAÇÃO E REPARO genoma humano de 6 × 109 pb. Eucariotos têm a tarefa
Analisando-se “os três Rs” do DNA – replicação, re adicional de assegurar que todas as partes do genoma
combinação e reparo – é útil considerar algumas simi sejam replicadas apenas uma vez durante cada ciclo ce
laridades comuns a eles. Os mecanismos fundamentais lular, para evitar anomalias cromossômicas ou desequi
da replicação, recombinação e reparo foram conserva líbrio na expressão gênica.
dos ao longo da evolução. Pelo fato de esses processos Replicação precisa, crítica como é, não é suficiente.
agirem sobre o mesmo substrato, cadeias de DNA, eles O DNA está sujeito ao contínuo ataque tanto de agen
compartilham mecanismos químicos fundamentais tes químicos como físicos às células, incluindo a água,
para estabelecer e quebrar ligações fosfodiéster. A quí
espécies ativas de oxigênio que surgem como subpro
mica do DNA é, em grande parte, a de suas ligações dutos do metabolismo celular normal, agentes quími
fosfodiéster. O tema de um ataque nucleofílico a uma cos de alimentos e do meio ambiente, e radiação. Há
ligação fosfodiéster, levando a uma troca entre os par sistemas que reconhecem e reparam danos ao DNA e,
ceiros envolvidos na ligação, é comum a todos os três consequentemente, ajudam a manter a integridade do
processos. A natureza em dupla fita do DNA celular e genoma. Apesar de todo esse cuidado, o acúmulo de
a complementaridade das duas fitas também desempe mutações pode levar a morte celular, envelhecimento
nha um papel importante em todos os três processos.
e câncer.
Como a informação genética está presente em duas có
pias, cada fita pode servir de molde para a síntese ou o
reparo da fita oposta. A natureza antiparalela das duas
fitas é crítica em todos os processos que agem sobre o 4.2 REPLICAÇÃO DO
DNA. Os três processos compartilham muitas enzimas.
A necessidade de precisão e regulação, contudo, leva à
DNA: MECANISMOS
especialização de um grupo de enzimas para uma tare FUNDAMENTAIS
fa em particular. O reconhecimento de semelhanças e
diferenças tornará mais fácil o entendimento da repli
cação, da recombinação e do reparo. A Base
Como carregador da informação genética, o DNA Replicação leva à duplicação do DNA, preservando
de uma célula deve ser duplicado, mantido e passado assim a informação genética carregada na sequência
às células filhas com extraordinária exatidão. A escala de bases. Replicação requer um molde para fornecer a
do problema é grande. A bactéria comum Escherichia informação de sequência. O mecanismo básico da repli
coli (E. coli) possui um genoma contendo 4,6 milhões cação do DNA ficou óbvio assim que a estrutura com
de pares de bases (pb). O genoma humano consiste de plementar em dupla fita do DNA foi descoberta. Como
duas cópias de 23 cromossomos, totalizando aproxima cada fita é complementar à outra, com um A em uma
damente 6 × 109pb. Cromossomos humanos individuais fita sempre pareando com um T na outra e, do mesmo
contêm, cada um, uma única molécula de DNA, cujo ta modo, para C e G, as duas fitas podem ser separadas e
manho varia de 34 milhões pb para o menor cromosso cada uma pode ser usada como molde para a síntese de
mo, a 263 milhões pb para o maior. um novo complemento. Isso é chamado replicação se
miconservativa, visto que metade da molécula de DNA
A precisão geral da replicação é extremamente alta: parental (uma fita) é conservada em cada nova dupla
Durante um único ciclo de replicação, em média ape -hélice, pareada com uma fita complementar recém-sin
nas um erro é introduzido por bilhão pb. Entretanto,
tetizada (Figura 4.1).
mesmo com essa extraordinária precisão, um punhado
de erros é introduzido numa célula humana comum a Um molde sozinho não é suficiente para a síntese
cada divisão celular. Esses erros são mutações, altera de DNA. As DNA polimerases catalisam a adição de
ções hereditárias na sequência do DNA. Mutações são mononucleotídeos a uma cadeia nascente. As DNA po
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 147

DNA, a própria cadeia em crescimento, pareada pelas


bases com o molde, serve de primer para a adição do
nucleotídeo seguinte.

TABELA 4.1 Exigências para replicação do DNA


Molde Fornece a informação de sequência
Iniciador Fornece 3!-OH livre ao qual os
(primer) nucleotídeos são adicionados
Precursores 5!-Desoxinucleosídeos trifosfatos
(5!-dNTPs)
Enzimas DNA polimerases, braçadeiras
corrediças, helicases, primases,
proteínas de ligação à fita simples de
DNA, nucleases, ligases

Química da Elongação da Cadeia


A química da replicação do DNA, reparo e recombi
nação é essencialmente a da formação das ligações fos
fodiéster que unem os nucleotídeos vizinhos em uma
cadeia de DNA. A Figura 4.3 mostra a formação da li
gação fosfodiéster entre uma cadeia curta de DNA (um
primer) e o nucleotídeo que está sendo incorporado.
Esse processo se repete para cada nucleotídeo adicio
nado à cadeia em crescimento.

Adição de um nucleotídeo a uma cadeia em cres


FIGURA 4.1 Síntese semiconservativa do DNA. cimento não é um processo espontâneo, porque a di
As duas fitas parentais se separam, e cada uma é molde para a minuição da entropia é grande. Por essa razão, os
síntese de uma fita filha complementar. Portanto, os dois dú nucleotídeos precursores do DNA são 5!-desoxirribonu
plices filhos têm, cada um, uma fita parental e uma fita recém cleotídeos trifosfato (5!-dNTPs; Correlação Clínica 4.1).
-sintetizada. A ligação fosfodiéster que conecta o primeiro fosfato
(a) (ligado ao carbono 5! do açúcar) e os dois fosfatos
limerases não iniciam uma fita ligando os dois primei de fora (β e γ) sofrem ataque nucleofílico pelo 3!-OH da
ros nucleotídeos; elas ligam nucleotídeos a um iniciador cadeia de DNA em crescimento (Figura 4.3). A ligação
não é hidrolisada, mas transesterificada; a ligação fos
(primer) existente, que fornece o grupo 3!-hidroxila
(Figura 4.2, Tabela 4.1). A necessidade de um primer fodiéster que ligava o a-fosfato ao β-fosfato, agora liga
não se deve à química da formação da ligação fosfodi o a-fosfato à extremidade 3! da cadeia em crescimento.
Os dois fosfatos terminais são liberados como pirofos
éster, como demonstrado pela capacidade de as RNA
polimerases iniciarem cadeias polinucleotídicas de fato inorgânico, que é hidrolisado por fosfodiesterases
novo (sem primers). Ao contrário, provavelmente evo presentes nas células. A quebra do pirofosfato torna a
reação essencialmente irreversível. Muito da química
luiu porque aumenta a precisão geral da replicação. A da replicação, do reparo e da recombinação envolve
revisão (ver p. 149) durante a polimerização dos pri
meiros nucleotídeos não é efetiva porque há poucos pa reações de esterificação como esta.
res de bases para estabilizar a dupla-hélice e permitir
o reconhecimento do pareamento de bases correto. Na
maioria dos organismos, o primer inicial é feito de ribo
nucleotídeos por uma enzima chamada primase. Os pri
meiros poucos nucleotídeos são mar
cados para eventual remoção porque iniciador 5! 3! OH

são ribonucleotídeos; sua subsequen molde 5!

te remoção deixa uma falha que pode


FIGURA 4.2 Molde e iniciador (primer).
ser preenchida com maior precisão, O substrato para a adição de um nucleotídeo é um primer (marrom claro) ligado por
porque a ressíntese é feita por elon pontes de hidrogênio a um molde (marrom escuro). O molde fornece informação sobre
gação de uma fita mais longa de DNA. qual nucleotídeo adicionar. O primer fornece um grupo 3!-hidroxila livre ao qual nu
Durante o crescimento da cadeia de cleotídeos podem ser adicionados. As duas fitas são antiparalelas.
148 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.1

A Quimioterapia Pode Ter Como Alvos Precursores da Síntese de DNA


Como células tumorais replicam a velocidades maio rios à síntese de DNA. Hidroxiureia é um antimeta
res do que a maioria dos tecidos normais, grande parte bólito que inibe a ribonucleotídeo redutase, a enzima
da quimioterapia é direcionada para a inibição da repli chave necessária para fazer desoxirribonucleotídeos a
cação do DNA. Células que se dividem ativamente são partir de ribonucleotídeos. Isso diminui as concentra
mais sensíveis a essas drogas do que células quiescen ções dos dNTPs, inibindo assim síntese de DNA, sem
tes; isso fornece uma janela terapêutica. Além das célu alterar dramaticamente as reservas de rNTPs necessá
las de divisão rápida do câncer, os alvos da quimiotera rios à transcrição. Hidroxiureia é usada primariamente
pia, há células normais que se dividem rapidamente no contra melanoma e doenças mieloproliferativas como
trato intestinal, na medula óssea e nos folículos dos ca leucemia mielógena crônica; pode ser usada em com
belos; a sensibilidade dessas células normais de divisão binação com radioterapia que danifica o DNA porque,
rápida explica muitos dos efeitos colaterais limitantes diminuindo as reservas de dNTPs, também é capaz de
da quimioterapia. inibir o reparo do DNA. O principal efeito colateral é a
mielossupressão, decorrente da inibição da síntese de
Uma maneira de inibir a replicação é interferir com DNA na medula óssea, o que leva à queda de eritrócitos,
os reservatórios de desoxirribonucleotídeos necessá leucócitos e plaquetas.

DNA Polimerases primers (iniciadores) e utilizam precursores 5!-dNTP


(Figura 4.3). As poderosas técnicas de laboratório para
DNA polimerases catalisam a adição de nucleotíde sequenciamento do DNA e reação da polimerase em
os durante a elongação da cadeia. Requerem molde e cadeia (polymerase chain reaction, p. 267) baseiam

A T A G T T C A
T A T C A A G

2! 2!
3! 3! A
O O O O O O OH O
O O O O O OH
–O
P P P P P P –O P G
O O O O O O O 2!
–O 5!–O –O –O –O –O O 5!
–O
3!
P OH
O 3!
O O 2! OH
O
–O P –O Pα
O O
–O O 5!
–O P
β O
O
–O P
γ O
–O
A T A G T T C A
T A T C A A G

2! 2!
3!
O 3!O O O O O O O O O O O OH
–O 5! P P P O P P P
P
O O O O –O O O –O O
–O –O –O –O –O 5!

O
+ –O
P
O
O
PPi
–O PO
–O =
pirofosfato

FIGURA 4.3 Formação de uma ligação fosfodiéster.


Um nucleotídeo trifosfato que forma pontes de hidrogênio corretas com o molde no sítio ativo de uma DNA polimerase que está
representada em púrpura. O 3!-OH do primer ataca o fosfato mais interno (α) do nucleotídeo que está chegando, deslocando assim
os dois fosfatos terminais como pirofosfato (inserto). Isso resulta na elongação do primer por um nucleotídeo. O ciclo é repetido
enquanto o molde estiver disponível.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 149

-se na necessidade de molde e primers para permitir a Essa combinação resulta na remoção de praticamente
polimerização do DNA. As células contêm várias DNA todos os nucleotídeos pareados incorretamente antes
polimerases que desempenham funções especializadas, da adição do nucleotídeo seguinte. Também leva à re
incluindo vários aspectos da replicação e da cópia de moção de alguns nucleotídeos adicionados corretamen
molde danificado (Tabela 4.2). DNA polimerases que te, mas esse é um preço a ser pago pela maior precisão
participam da replicação ajudam a garantir a precisão graças à revisão. A capacidade de discriminar entre os
de dois modos: pela seleção inicial do nucleotídeo apro nucleotídeos incorporados correta e incorretamente
priado a ser adicionado e pela revisão enzimática. fica comprometida quando a cadeia em crescimento é
muito pequena, porque a força do pareamento de ba
A seleção inicial baseia-se no encaixe do nucleotídeo
ses entre uma cadeia curta e o molde é fraca. Essa é a
que está chegando ao sítio ativo da polimerase. Um nu
explicação mais provável para a evolução das DNA poli
cleotídeo que chega e faz pontes de hidrogênio corretas
merases incapazes de iniciar cadeias de novo, e para o
com o nucleotídeo da fita molde pode ser adicionado à
uso de ribonucleotídeos para iniciar a síntese de DNA.
cadeia em crescimento. Um nucleotídeo que chega, mas
não faz as pontes de hidrogênio corretas, não se alinha Algumas DNA polimerases mutadas são, na verda
apropriadamente para a catálise. Mudanças conforma de, mais precisas do que a polimerase normal. Isso é
cionais na própria DNA polimerase são críticas para um paradoxo se considerar-se que há uma vantagem
garantir essa precisão, levando a uma taxa de erros na evolutiva para precisão cada vez maior. Entretanto,
faixa de 10–4 a 10–6. Embora bom para muitos proces há razões para se esperar que, acima de certo nível,
sos, não está nem perto da precisão necessária para a maior precisão não seja vantajosa e possa, de fato, ser
replicação. desvantajosa. Primeiro, uma revisão extremamente
A segunda maneira de as DNA polimerases aumenta precisa é energeticamente custosa. Para garantir que
rem a precisão é por revisão. Isso é fei
para
to por5!,uma
queatividade
remove nucleotídeos pare
exonucleolítica 3! (a) Nucleotídeo correto na extremidade 3!.
5! 3! OH
ados incorretamente a partir da extre 5!
midade 3! da cadeia nascente. A revisão
é parte integrante de muitas DNA poli (b)
Nucleotídeo pareado incorretamente na extremidade 3!.
merases replicativas, mas também pode 3! OH
ser feita por uma proteína associada ao 5!
complexo de replicação. Um primer 5!
com um nucleotídeo terminal pareado
corretamente é um bom substrato para FIGURA 4.4 Revisão.
a adição do próximo nucleotídeo, mas (a) Quando o nucleotídeo correto é adicionado à extremidade 3! de um primer, o
um mau substrato para a exonuclease resultado é um bom substrato para a adição de um nucleotídeo, mas um mau subs
trato para a exonuclease 3! para 5!. (b) Nas raras ocasiões em que um nucleotídeo
3! para 5!(Figura 4.4). Um primer com
incorreto é adicionado ao primer, o primer resultante contendo um erro de parea
um nucleotídeo terminal pareado erro
mento na extremidade 3! é um mau substrato para adição de um nucleotídeo, mas
neamente é um mau substrato para a um bom substrato para a exonuclease de revisão 3! para 5!, que remove o nucleotí
adição de um nucleotídeo, mas um bom deo pareado incorretamente. Isso deixa o primer mais curto, mas pronto para que o
substrato para a exonuclease 3! para 5!. nucleotídeo correto seja incorporado.

TABELA 4.2 DNA polimerases


Função Enzima de E. coli Enzima eucariótica
Iniciação DnaG primasea Pola/primaseb

Síntese da fita contínua (líder) Pol III Pold


Síntese da parte inicial do fragmento de Okazaki Pol a/primase
Síntese da maior parte do fragmento de Okazaki Pol III Pold
Preenchimento da falha após a remoção do primer Pol I Pold
Bypass da lesão Pol IV, Pol V Pole, Pol x, Polh, Poli
Bypass da lesão, reparo do DNA Pol II Pol e?
Reparo por excisão de base Pol I Pol β
Replicação do DNA mitocondrial Polγ
aDnaG não é considerada uma DNA polimerase; ela faz um RNA iniciador.
bEm eucariotos, o componente primase do complexo pola/primase faz o RNA iniciador do começo, que é estendido 20–30 ntpelo componente DNA

polimerase a usando dNTPs.


150 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

praticamente todas as bases incorporadas incorreta Separando as Fitas Parentais: a


mente sejam removidas, uma polimerase também teria
de remover um grande número de bases incorporadas Forquilha de Replicação
corretamente que se moveram levemente em relação ao
Procariotos e eucariotos resolveram os problemas da
molde, em virtude de flutuações térmicas normais. Isso
replicação de maneiras fundamentalmente semelhan
retardaria muito a replicação e utilizaria muita energia
tes. A separação das duas fitas parentais de DNA per
adicional na forma de dNTPs. Segundo, a capacidade
mite que cada uma sirva de molde para uma fita nova
dos sistemas de reparo do DNA para lidar com erros
complementar. A separação das fitas parentais cria uma
residuais reduz as vantagens de polimerases mais pre
estrutura chamada forquilha de replicação (Figura 4.5).
cisas. Também se argumenta que um baixo nível de
Essa separação requer considerável investimento ener
mutações fornece a matéria-prima para evolução, pro
gético. A fusão do DNA de dupla-fita em duas fitas únicas
duzindo uma população com alguma variação genética,
mais capaz de sobreviver a condições variáveis. normalmente só ocorre em temperaturas elevadas (aci
ma de 90 °C). Para separar as fitas parentais em tem
Apesar de sua alta precisão, as polimerases podem peratura fisiológica, as células usam enzimas chamadas
incorporar análogos de nucleotídeos. Análogos de nu helicases. As helicases ligam-se ao DNA de fita única e
cleosídeos são frequentemente usados em quimiotera deslizam sobre ela em uma direção fixa, com cada etapa
pia para matar células de rápido crescimento no câncer exigindo hidrólise de ATP. Isso “separa” o DNA parental,
ou vírus responsáveis por doenças graves. Análogos que formando uma forquilha de replicação (Figura 4.5).
são fosforilados a nucleotídeos podem ser incorporados
ao DNA, onde podem inibir o prosseguimento da sín Na ausência de proteínas adicionais, as fitas pa
tese ou levar a um alto índice de mutações. Diferenças rentais rapidamente se associariam atrás da helicase,
entre polimerases bacterianas ou virais e do hospedei porque as fitas complementares estão próximas e ali
ro em sua capacidade de incorporarem análogos de nu nhadas em registro correto. A reassociação, ou “reane
cleotídeos podem fornecer uma janela terapêutica pela lamento” (reannealing), é impedida por proteínas que
qual os médicos podem atingir preferencialmente célu se ligam a DNA de fita simples (SSBs, single-stranded
las infectadas (Correlação Clínica 4.2). DNA-binding proteins) (Figura 4.5). SSBs mantêm
as fitas separadas, reduzem estruturas secundárias em

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.2

Análogos de Nucleosídeos e Resistência a Drogas na Terapia do HIV


A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) sido usados para tratar infecção por HIV. A didanosina
é causada por infecção pelo retrovírus Vírus da Imuno (DDI; 2!,3!-didesoxiinosina) e a zalcitabina (didesoxiciti
deficiência Humana (HIV). Uma etapa chave no ciclo dina) também funcionam como terminadores de cadeia
de vida do HIV é a síntese de uma cópia em DNA do após incorporação de seus derivados fosforilados pela
RNA do genoma viral, catalisada por uma transcriptase transcriptase reversa do HIV.
reversa. A transcriptase reversa é um importante alvo
da quimioterapia porque não é essencial para células As transcriptases reversas não fazem revisão, por
normais. tanto sua taxa de erro é muito maior do que a das DNA
polimerases celulares. Essa alta taxa de erro complica o
Zidovudine (AZT; 3!-azido-2!,3!-didesoxitimidina) foi tratamento da AIDS porque a população viral presente
a primeira droga aprovada para o tratamento de infecção em um paciente contém muitos mutantes, e as mutações
por HIV. É um análogo de nucleosídeo com um grupo azi continuam a crescer ao longo do tempo. É provável que
da no açúcar. Pode ser fosforilado para a forma trifosfato, alguns desses mutantes sejam resistentes a um dado
que compete com dTTP para incorporação no transcrito agente terapêutico. Por isso, muitas drogas, inicialmen
reverso. Uma vez incorporado, termina a cadeia nascen te, reduzem a carga viral, mas, mais tarde, tornam-se
te do transcrito porque o grupo azida no carbono 3! do ineficientes em virtude do crescimento seletivo de vírus
açúcar não é substrato para adição de nucleotídeo. AZT nos quais o alvo da droga está mutado para uma forma
é muito menos eficiente na competição com as DNA poli insensível. Terapia combinada, com múltiplas drogas
merases celulares, mais precisas, fornecendo uma janela que têm como alvos diferentes proteínas virais, é uma
terapêutica na qual o efeito ocorre, primariamente, sobre tentativa de contornar esse problema.
a replicação viral. Entretanto, efeitos colaterais incluem
Há interessantes animações sobre o ciclo de vida
toxicidade para a medula óssea, que contém células de
divisão rápida, e miopatia, que pode estar relacionada à do HIV em http://www.galazygoo.org/biochem/hiv_li
toxicidade mitocondrial, que contém sua própria DNA fecycle.html e http://www.roche-hiv.com/portal/eipf.
polimerase, pol d. Outros análogos de nucleosídeos têm pb/hiv/Roce-HIV/hivlifecycle#.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 151

potencial (grampos que poderiam impedir a polimeri de RNA sintetizadas por uma enzima especial chamada
zação) e alinham as fitas moldes para rápida síntese de primase. Em células eucarióticas, os primers de RNA
DNA. As SSBs são importantes não só na replicação, têm 8-10 nucleotídeos de comprimento. Esses nucleolí
mas também na recombinação e no reparo. deos fornecem um 3!-OH livre ao qual o primeiro deso
xirribonucleotídeo pode ser covalentemente adicionado
(Figura 4.7). Portanto, cada fragmento de Okazaki con
Resolvendo o Problema da tém um segmento curto de RNA em sua extremidade 5!,
covalentemente ligado ao DNA.
Polaridade: Síntese de DNA
Semidescontínua Elongação da Fita
Fitas antiparalelas em uma forquilha representam Cadeias de DNA crescem por adição repetida de
um problema imediato para o processo de replicação: nucleotídeos às extremidades 3!-OH das cadeias, pelo
uma fita filha está orientada com a extremidade 3! vol mecanismo apresentado na Figura 4.3. Essa reação é
tada para a forquilha, e a outra tem sua extremidade 5! catalisada por uma DNA polimerase.
voltada para a forquilha. (Figura 4.5). A
3!
fita com seu 3!-OH orientado em direção SSB
à forquilha pode ser elongada simples- 5! 3!
Helicase
mente pela adição sequencial de novos
nucleotídeos a essa extremidade (ver 3!
Figura 4.3); essa fita é chamada fita con DNA novo
tínua, líder ou anterógrada. A outra fita 5!

apresenta o problema: nenhuma DNA


polimerase catalisa a adição de nucleo Fitas
tídeos
em crescimento.
à extremidade
Mesmo 5! de umaquando
assim, cadeia parentais
5!
SSB
5!
3!
vista em larga escala, a replicação pa
rece ocorrer ao longo de ambas as fitas
na direção do movimento da forquilha. Abertura da forquilha

Esse problema é resolvido pela síntese


de uma fita como uma série de peque FIGURA 4.5 Separação das fitas parentais em uma forquilha de replicação.
nos pedaços, cada um feito na direção A síntese de DNA ocorre em uma estrutura chamada forquilha de replicação, na
normal 5! para 3! e, depois, sua ligação qual as fitas parentais são separadas. Uma helicase é necessária para separar fitas
(Figura 4.6). A fita feita em pedaços é parentais e permitir que a forquilha progrida. As proteínas que se ligam ao DNA de
fita simples (SSBs) são necessárias para manter as fitas separadas. As fitas parentais
chamada de fita descontínua, tardia
enrolam-se uma em torno da outra, mais ou menos, uma vez a cada 10,5 pares de
ou retrógrada (movimento de trás para bases, e devem se desenrolar para se separar; isso gera problemas topológicos. Note
frente); os pequenos pedaços dos quais que uma das fitas em crescimento está orientada com sua extremidade 3! voltada para
a fita descontínua é feita são chamados a forquilha, enquanto a outra está orientada com sua extremidade 5! voltada para a
fragmentos de Okazaki, em homenagem forquilha.
a Reiji Okazaki, que demonstrou esse
processo pela primeira vez. Fragmentos de Okazaki
em células humanas têm em média 130-200 nucleo 3!
5!
tídeos de comprimento. Em E. coli, são cerca de 10 Fita contínua, líder
vezes maiores. O processo geral é chamado síntese
semidescontínua, porque uma fita é sintetizada con 3! 5!
Fragmentos de Okazaki 5! 3!
tinuamente, e a outra descontinuamente.
Fitas parentais

tardia, retrógrada
5!
3!
Movimento da Forquilha de Fita descontínua,

Replicação
FIGURA 4.6 Resolvendo o problema de polaridade: síntese
Início semidescontína de DNA.
Ambas as fitas em crescimento são elongadas em suas extremidades
DNA polimerases requerem iniciadores (pri 3!. A que tem sua extremidade 3! voltada para a forquilha pode cres
mers). A fita contínua (líder) requer apenas um cer continuamente; é chamada fita contínua ou líder. Como nenhuma
evento iniciador, que ocorre no início da replicação DNA polimerase pode adicionar nucleotídeos à extremidade 5! de uma
(p. 160). Porém, cada fragmento de Okazaki da fita cadeia em crescimento, a fita com sua extremidade 5! voltada para a
forquilha é feita como uma série de pequenos pedaços chamados frag
descontínua (retrógrada, tardia) requer um primer
mentos de Okazaki, cada um sintetizado na direção de 5! para 3! e,
separado. Esses primers são pequenas extensões depois, unidos. Esta é chamada fita descontínua, retrógrada ou tardia.
152 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

(a) 3!
Remoção do Primer 5!
Fita
Os primers de RNA são removidos da contín
uoa
Fitas parentais
extremidade 5! dos fragmentos de Okazaki 5!
por enzimas com atividade de RNA hibri 3!
3!
dase (RNaseH). RNaseH catalisa a hidróli tínua
scon 5!
de
se de uma cadeia de RNA ligada por pontes Fita
de hidrogênio a uma cadeia de DNA (isto é, 3!
um híbrido RNA-DNA). Em eucariotos, uma 5!

endonuclease de flap (FEN1) também parti (b) 3!


cipa do processo; FEN1 corta em uma dobra 5!
quando a porção RNA foi destacada do mol
de. Todos os ribonucleotídeos são removidos,
5!
deixando apenas DNA. 3!
3!
5!

Preenchimento da Falha 5! 5!
3!
Remoção do RNA primer deixa uma fa
lha (gap) (Figura 4.7). A síntese deve preen
cher essa falha com desoxirribonucleotídeos, (c) 3!
5!
deixando apenas uma incisão (nick). Note a
terminologia: uma falha (gap) significa que
pelo menos um nucleotídeo está faltando. 5!
3!
Uma incisão (nick) é uma interrupção no 5! 5! 5! 3!
esqueleto fosfodiéster, sem falta de nucleotí
deo. A falha é preenchida com desoxirribonu
3!
cleotídeos por uma DNA polimerase, usando
o fragmento de Okazaki mais recentemente
sintetizado como primer. O fragmento de (d) 3!
5!
Okazaki fornece uma combinação primer
-molde segura, que permite revisão precisa.
5!
Ligação 3!

A incisão remanescente é selada por


uma DNA ligase. O selo da incisão requer a
formação de uma nova ligação fosfodiéster.
Portanto, requer energia, fornecida pelo aco (e) 3!
5! 3!
plamento da reação com a quebra de ATP 5!
em eucariotos ou NAD+, em procariotos. Na
primeira etapa, um resíduo de AMP é ligado
5!
à enzima (Figura 4.8). Esse AMP é transferi 3! 3!
3!
do para a extremidade 5! da incisão. O AMP
serve como um bom grupo que sai, deslocado
pelo 3!-OH do outro lado da incisão; essa últi
ma etapa é comparável à reação que adiciona 5!
um nucleotídeo a uma cadeia em crescimen
FIGURA 4.7 Síntese de DNA em uma forquilha de replicação.
to, mas com um AMP como grupo de sai, em (a) A fita contínua é elongada em sua extremidade 3! por adições repetidas
lugar de um pirofosfato. de nucleotídeos, como mostra a Figura 4.2. Um fragmento de Okazaki fei
to previamente, com um pequeno RNA iniciador é mostrado do outro lado.
Desenrolando Fitas Parentais (b) Usando a fita parental como molde, primase sintetiza um RNA iniciador
(roxo). (c) DNA polimerase estende covalentemente a extremidade 3! do
A discussão, apresentada aqui, e os dia RNA iniciador, incorporando desoxirribonucleotídeos (marrom), como mos
gramas foram simplificados, desenhando-se tra a Figura 4.2. (d) Quando o fragmento de Okazaki aproxima-se do frag
as fitas de DNA como linhas retas (Figura mento sintetizado anteriormente, o RNA iniciador do fragmento mais antigo
4.7). Mas as fitas parentais enrolam-se uma em é removido e a falha é preenchida por uma DNA polimerase que elonga o
fragmento de Okazaki mais novo. Enquanto isso, a forquilha abre mais e pri
torno da outra, aproximadamente uma vez
mase sintetiza um novo iniciador. (e) Quando a falha foi preenchida e apenas
a cada 10,5 pb (Figura 4.5). Células não po uma incisão permanece, uma DNA ligase sela os dois fragmentos (dentro do
dem ignorar esse enrolamento. Na bactéria círculo). Esse processo será repetido com o novo iniciador elongado, o inicia
E. coli, por exemplo, o genoma pode replicar dor antigo removido, a falha preenchida e a incisão, selada.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA º 153

A A

2" 2"
OH OH =O
O / O / -

/* 3 /* 3 ºs#/
on 4 º "sofº"
O —> º "so_>" +
O TOs. / 6^o
tyr TOs. /
/ >o
t /
yr -o.Ps
>O

"Os P/
=O/ s O

(a)

=O #
>
O O
/
tyr

(b)

OH
/
tyr

(c)

A A T A G A T C A
+ [ A T C T A G T

2" (d)
2" 2
O •

-o-K K o S o O O O O o S o
=O
/ >O os/
/ >O ºs?
/ >O ºs?
/ >O ºs/
/>
os#
/ >O os/
/ >O ºs?
/ >O os/
/ >O
=O 5"O =O =O —O =O O 5. O
)

FIGURA 48 Mecanismos da DNA ligase.


(a) DNA ligase primeiro catalisa a adição de um resíduo de AMP a uma tirosina da enzima. Em eucariotos, o doa
dor de AMP é ATP (quebrado a AMP + pirofosfato, como mostrado aqui); em procariotos, é NAD" (quebrado a
AMP + NMN). (b) O complexo ligase-AMP liga-se a um duplex de DNA quebrado (esqueleto quebrado mostrado
em vermelho). (c) Ligase transfere o AMP para o nucleotídeo 5' na incisão. (d) Em destaque: o 3'-OH do outro
lado da incisão ataca o fosfato do nucleotídeo da incisão formando uma nova ligação fosfodiéster, selando o es
queleto do DNA e liberando AMP Esse ataque é semelhante ao que ocorre durante a síntese de DNA (compare
com Figura 4.2), mas com um AMP como O grupo que sai, em vez de pirofosfato. (e) O resultado é um esqueleto
fosfodiéster selado novamente, ao “custo” final de um ATP quebrado em AMP + PP (ou um NAD quebrado em
AMP + NMN).
154 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

em aproximadamente 40 minutos. Desenrolar os 4,6 número de ligação em passos de um. As topoisomerases


milhões de pb do DNA completamente em 40 minutos tipo II fazem quebras transitórias em ambas as fitas (li
requer uma rotação de aproximadamente 11.000 revo geiramente desencontradas) e permite que uma dupla
luções por minuto (rpm)! É claro, o cromossomo intei hélice passe através da incisão, mudando o número de
ro, enovelado de modo compacto e carregando grandes ligação em passos de dois. Ambas desempenham papéis
complexos de replicação e transcrição, não pode sim importantes na replicação do DNA e são importantes
plesmente girar a essas velocidades, sem “bater” o con alvos para quimioterapia.
teúdo da célula transformando-a em uma espuma.
Braçadeiras Corrediças (Sliding Clamps) e
Outro problema causado pela natureza em dupla-fita Processividade
do DNA é topológico. Em DNA circular (como cromos
somo de E. coli, DNA mitocondrial, muitos vírus e plas Quando uma enzima se liga a um polímero, execu
mídeos) ou DNA linear longo cujas extremidades não ta uma única etapa de uma reação (por exemplo, uma
estão livres para girar uma ao redor da outra (como em polimerase, adicionando um único nucleotídeo, ou uma
nossos cromossomos, ligados em intervalos à matriz nu exonuclease, removendo um único nucleotídeo), e de
clear), o número de vezes que uma fita gira ao redor da pois se dissocia do substrato, esse processo é chamado
outra, chamado número de ligação, é fixo. O número de distributivo. Diferentemente, quando uma enzima liga
ligação não pode ser alterado sem quebrar, pelo menos, -se e efetua muitas adições (ou excisões) antes de se dis
uma das duas fitas. Em moléculas de DNA, o enrola sociar, o processo é processivo. Como se consome um
mento é de dois tipos, com o enrolamento de Watson tempo finito para uma enzima dissociar de um molde
-Crick de uma fita ao redor da outra a cada 10,5 pb e e depois se reassociar, enzimas distributivas tendem a
a torção da dupla hélice sobre o seu eixo (torção ou trabalhar mais lentamente do que enzimas processivas.
superenrolamento). Topologicamente, enrolamento e
torção são equivalentes e podem ser interconvertidos; Para síntese rápida de DNA novo, polimerases pro
é só o número total de vezes que uma fita gira em torno cessivas são vantajosas. Para aumentar a processivida
da outra, o número de ligação, que deve permanecer de, as DNA polimerases que participam da replicação
constante enquanto ambas as fitas estiverem intactas. ficam associadas com proteínas acessórias chamadas
braçadeiras corrediças (sliding clamps), que as man
Uma maneira de permitir desenrolamento e redução têm em contato com a cadeia de DNA em crescimento.
no número de ligação seria quebrar uma fita parental à Em células de mamíferos, as braçadeiras corrediças são
frente da forquilha de replicação. Isso relaxa a tensão compostas por uma proteína chamada antígeno nuclear
topológica e permite que as fitas parentais girem uma de células em proliferação (PCNA, proliferating cell
em torno da outra. Uma incisão (nick) representa um nuclear antigen), com três moléculas de PCNA circun
sério perigo, entretanto, pois se a forquilha de replicação dando a dupla-hélice de DNA (Figura 4.10). A montagem
atingir a quebra, a separação das fitas a transformaria desse anel em torno do DNA requer enzimas acessórias
em uma quebra na dupla-fita do DNA. Uma quebra na chamadas fatores de instalação da braçadeira (clamp
dupla-fita do DNA representa uma séria ameaça à estabi loading factors). A ligação com uma braçadeira corre
lidade do genoma; se não for corrigida, é letal. Enzimas diça torna uma DNA polimerase mais processiva, o que
chamadas topoisomerases resolvem esse problema de aumenta a velocidade da síntese e sua precisão.
desligamento de maneira segura, catalisando mudanças
no número de ligação que permitem desenrolamento e
eventual separação das fitas parentais. Topoisomerases Coreografia em Três Dimensões: o
agem por meio da formação de uma interrupção transi
tória no esqueleto do DNA e, depois, selam novamente. Replissomo
Essa interrupção não é formada por hidrólise da ligação
açúcar-fosfato, mas por uma reação de transesterifica A complexa coreografia descrita acima ocorre no vo
ção que cria uma ligação fosfato-enzima como interme lume muito confinado de uma célula bacteriana ou do
diário transitório (Figura 4.9). A religação da ligação fos núcleo de uma célula eucariótica, um volume que tam
fodiéster do esqueleto desloca a enzima. Portanto, não bém contém muitas outras moléculas executando suas
há perda ou criação de ligações fosfodiéster, apenas uma funções. A ideia de dois imensos complexos de repli
troca nos parceiros da ligação. Isso significa que “que cação girando rapidamente em torno do DNA em cada
bra” e “ligação” podem ocorrer sem a necessidade de forquilha de replicação é insustentável. É muito mais
acoplamento com um intermediário de alta energia (por fácil para o DNA, muito fino e cilíndrico, girar em torno
exemplo, hidrólise de ATP ou NAD+). A topoisomerase do seu próprio eixo e se mover através de um grande
também evita a presença de quebras livres no DNA. complexo de replicação. As polimerases que trabalham
nas fitas líder e tardia são organizadas em um grande
Há duas classes principais de topoisomerases: topoi complexo chamado replissomo (Figura 4.11). À medida
somerases tipo I fazem uma quebra transitória em uma que o DNA passa pelo replissomo, ambas as fitas são
fita (formando uma ligação proteína-DNA) e permitem sintetizadas. A fita contínua passa diretamente através
que a outra fita passe através da incisão. Isso muda o do replissomo enquanto é elongada em sua extremida
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 155

A
T –O –O
O POO A
T OPOO
+ G
C –O
O POO
OH G
C A
T

T G C A A
A C G T T

–OOHPOOO

tir

tir

FIGURA 4.9 Mecanismo da topoisomerase.


Topoisomerase I (a enzima de quebra-fechamento de mamífero de DNA para girar ao redor (ou passar através) de seu par; isso
é representada aqui) catalisa uma reação de transesterificação permite alterações no número de ligação. Então, o 5!-OH que foi
que resulta em uma ligação fosfodiéster entre o carbono 3! de deixado do outro lado da interrupção ataca a ligação fosfodiéster
um resíduo na cadeia de DNA e um resíduo de tirosina da topoi entre o nucleotídeo e a proteína, refazendo o esqueleto de DNA
somerase (painel direito). (Outras topoisomerases formam uma e liberando a proteína (painel esquerdo). Note que, como esta é
ligação fosfodiéster com o carbono 5!). Isso quebra a continui uma série de reações de transesterificação, nenhum cofator de
dade do esqueleto açúcar-fosfato e libera a outra parte da cadeia alta energia é necessário.

de 3!. A fita descontínua liga-se para permitir a síntese


de um fragmento de Okazaki e é depois liberada, para
(a)
permitir as etapas finais (remoção do primer, preen
chimento da falha e ligação), enquanto o molde, mais
adiante na molécula, se liga ao replissomo para permitir
a síntese do fragmento de Okazaki seguinte.

(b) Término da Replicação em Genomas


Circulares
O término da replicação de um genoma circular ge
ralmente ocorre a 180° da origem. Duas forquilhas de
replicação convergentes se encontram, e a última par
(c) te do genoma é sintetizada. É necessário que ocorra o
desligamento topológico dos dois novos cromossomos.
Essa é uma função chave das topoisomerases tipo II.
Em alguns vírus pequenos como SV40, o término ocor
re onde as forquilhas de replicação se encontram; não
(d)
há nenhuma sequência especial envolvida. O genoma de
E. coli contém sequências de terminação especiais, que
determinam que a terminação ocorra em uma região
definida e impedem que as forquilhas ultrapassem essa
região.

Término da Replicação em Genomas


FIGURA 4.10 Braçadeiras corrediças.
Lineares: Telômeros
(a) Uma proteína de instalação da braçadeira (clamp-loa Células humanas, e células eucarióticas em geral,
ding) liga-se ao DNA. (b) O instalador de braçadeira organiza têm cromossomos lineares. Há dificuldades especiais
a braçadeira corrediça a partir de suas subunidades. (c) A DNA para replicar as extremidades dos cromossomos line
polimerase associa-se com a braçadeira organizada e torna-se
processiva. (d) A estrutura da braçadeira corrediça em células ares. Qual é exatamente o problema para replicar as
de mamíferos, um trímero de subunidades PCNA. O DNA passa extremidades de cromossomos lineares? Embora a fita
livremente pelo grande buraco no centro do complexo. contínua possa, teoricamente, ser sintetizada até o fi
156 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

5! desencadear recombinação. Para evitar


3!
ambos os problemas, as extremidades
dos cromossomos lineares eucarióticos
são estruturas especiais chamadas te
lômeros, que contêm muitas repetições
de uma sequência de seis nucleotídeos,
rica em G. Telômeros humanos contêm
milhares de repetições TTAGGG. A ex
3! tremidade 3! do cromossomo estende
5! -se cerca de 18 nucleotídeos além da
extremidade 5! (Figura 4.12b), deixan
do três repetições sobrando. A extre
Helicase
midade 3! que sobra dobra-se sobre si
mesma, formando pontes de hidrogênio
Polimerase
G-G não Watson-Crick, e liga proteínas
Braçadeira que definem seu comprimento e prote
corrediça
gem as extremidades dos cromossomos
5! de recombinação.
3!

FIGURA 4.11 Replicação de ambas as fitas num replissomo.


Pela ligação de duas DNA polimerases juntas com a fita descontínua, criando uma Epigenética
alça para que possa passar através do complexo, ambas as fitas podem ser feitas em
um só lugar. O DNA passa pelo complexo, girando à medida que passa; o grande Uma importante marca epigenética
complexo proteico não precisa girar ao redor do DNA. no DNA de mamíferos e a metilação de
resíduos C em ambas as fitas de muitas
sequências CpG. Isso pode alterar a re
(a) 3! gulação e silenciar alguns genes (Ca
5! pítulo 8). Padrões de metilação podem
ser herdados por células filhas, mas
????? como? Durante a replicação, a fita nova
é feita na forma não metilada, sendo
(b) [TTAGGG]nTTAGGGTTAGGGTTAGGGTTAGGG 3!
incorporados resíduos C não modifica
[AATCCC]nAATCCC 5!
dos. A metilação é restaurada por DNA
metiltransferases, que reconhecem o
FIGURA 4.12 Telômeros humanos.
DNA hemimetilado resultante da repli
(a)O problema de replicação do telômero. A extremidade 3! de uma fita paren
cação semiconservativa (o C da fita an
tal, molde para a fita filha descontínua (retrógrada), é apresentada em marrom
escuro, a fita filha é apresentada em marrom claro, e um RNA primer está em
tiga continua metilado; o da fita nova,
roxo. O problema é que não há espaço para sintetizar um primer que permitiria não) e metila o C recém-incorporado.
que a fita filha fosse finalizada (região indicada por ?????), de modo que a fita
filha será mais curta do que a fita parental. A remoção do último RNA primer a
torna ainda menor. (b) Um telômero consiste de muitas repetições, em seguida,
de uma sequência de 6 nt, TTAGGG no homem, com a fita rica em G estendendo
-se além da fita rica em C por cerca de 12-18 nt.

nal de seu molde, a fita descontínua não pode. Não há 4.3 REPLICAÇÃO DO DNA:
espaço para sintetizar um primer ao qual nucleotídeos
opostos ao final do molde possam ser adicionados (Fi ENZIMAS E REGULAÇÃO
gura 4.12a). Mesmo se houvesse uma primase que pu
desse iniciar na extremidade do molde, a remoção do
RNA deixaria uma falha curta. Embora a impossibili Enzimas Procarióticas da Replicação
dade de completar a fita tardia na extremidade do cro
mossomo não seja um problema em uma única geração, Enzimas que executam o movimento de uma forqui
ao longo de muitos ciclos de replicação as extremidades lha de replicação em E. coli são apresentadas na Figura
dos cromossomos seriam encurtadas, até que genes es 4.13. A principal DNA polimerase replicativa em E. coli
senciais fossem perdidos, levando à morte celular. Por é a DNA polimerase III (pol III). Pol III é um comple
tanto, é essencial impedir perda contínua de DNA nas xo multi-subunidades que sintetiza a fita contínua e a
extremidades dos cromossomos. maior parte da fita tardia. O centro (core) da polime
rase contém uma subunidade q, que catalisa a forma
Um segundo problema que eucariotos enfrentam é ção da ligação fosfodiéster, uma subunidade β que é a
que as extremidades das moléculas de DNA tendem a exonuclease de revisão 3! para 5!, e uma subunidade β.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 157

A braçadeira corrediça em E. coli consiste 3!


de duas subunidades β – que se organizam e 5! fita
pare
são mantidas sobre o DNA pelo complexo γ – nta
l
(o instalador da braçadeira), numa etapa que
fita
requer hidrólise de ATP. As subunidades β con
tínu
a
formam um anel ao redor da dupla hélice que complexo pol III
desliza ao longo dela (Figura 4.10), levando o
SSB
complexo pol III, para tornar a síntese de DNA 3!
um processo altamente processivo. Esse com 3!
plexo é capaz de sintetizar DNA até que se aca complexo pol III
5!
be o molde ou encontre certos tipos de lesões DnaB helicase
5!
no DNA. DnaG primase
SSB
Na fita tardia, o complexo libera o DNA pol I

quando encontra o fragmento de Okazaki an SSB

terior. Duas moléculas de pol III são mantidas


3!
juntas pela subunidade t, permitindo a síntese
5!
de ambas as fitas, líder e tardia, em um grande ligase
replissomo.
FIGURA 4.13 Enzimas da replicação em E. coli.
Na fita tardia, a DNA primase (chamada A fita contínua (superior) é elongada por pol III associada com uma braça
DnaG) forma um complexo com a DnaB heli deira corrediça. O complexo DNA helicase/primase (DnaB/DnaG) move-se
case (DnaB). DnaB faz com que o complexo se ao longo do molde para a fita tardia (inferior); faz uma pausa para permitir
mova ao longo do molde para a fita descontí que a DnaG sintetize um RNA primer a cada 1.000 a 2.000 nt. Pol III elonga
nua, separando as fitas parentais em um mo o primer até que ele alcance o primer do fragmento de Okazaki sintetizado
vimento que requer hidrólise de ATP. O DNA anteriormente. Nesse momento, pol III libera o DNA e pol I se liga à extre
midade do fragmento de Okazaki. Pol I remove o RNA primer, um nucleotí
fita simples que resulta da ação da helicase é
deo de cada vez, usando sua atividade 5!-endonuclease e, simultaneamente,
recoberto com proteína de ligação a DNA fita preenche a falha em um processo chamado nick translation. Quando resta
simples (SSB), que impede o reanelamento apenas uma incisão remanescente com desoxirribonucleotídeos em ambos
das fitas parentais e impede a formação de os lados, a DNA ligase pode selar a quebra.
grampos e outras estruturas secundárias no
DNA fita simples. O complexo helicase/primase para tituindo-os, uma atividade chamada nick translation.
aproximadamente uma vez a cada 1.000-2.000 pb, e a Esse seria um processo de desperdício, mas é limitado
DnaG primase sintetiza um RNA primer curto. O RNA pelo fato da pol I agir de maneira distributiva, deixan
primer é elongado em um fragmento de Okazaki de do o substrato frequentemente. Enquanto houver pelo
cerca de 1.000-2.000 pb pela DNA polimerase III com menos um ribonucleotídeo, a DNA ligase não pode agir
sua braçadeira corrediça associada. Elongação para sobre o substrato, mas pol I pode se ligar novamente e
quando o complexo da polimerase encontra o RNA pri substituir o ribonucleotídeo. Quando a falha foi preen
mer do fragmento de Okazaki sintetizado previamente, chida e só uma incisão (nick) permanece, dissociação
e o DNA dissocia-se do complexo pol III. da pol I permite que a DNA ligase se ligue à incisão e
catalise a formação de uma ligação fosfodiéster, selan
Em E. coli, a remoção do RNA primer e o preen do o fragmento de Okazaki da cadeia em crescimento.
chimento da falha são ambos catalisados por uma úni
ca enzima, a DNA polimerase I (pol I). Pol I contém Como observado aqui, o cromossomo circular de E.
uma atividade exonucleásica 5! para 3! que remove o coli está sujeito a limites topológicos. Ainda assim, a
RNA primer da extremidade 5! do fragmento de Oka dupla hélice parental deve ser completamente desen
zaki sintetizado previamente, funcionando assim como rolada para que ocorra replicação e os cromossomos
uma RNaseH. Também contém uma atividade de DNA completos se separem nas células filhas. A replicação
polimerase, que catalisa a adição de desoxirribonucle requer a remoção de superenrolamentos positivos, por
otídeos à extremidade 3! do fragmento de Okazaki sin que o número de ligação das fitas parentais deve ser re
tetizado mais recentemente, até que a falha criada pela duzido de um número positivo alto (aproximadamente
remoção do primer esteja preenchida (Figura 4.13). 440.000, porque elas são enroladas uma ao redor da ou
Uma atividade intrínseca de revisão exonucleásica 3! tra uma vez a cada 10,5 pb) até zero, para permitir que
para 5! aumenta a precisão do preenchimento da falha. os cromossomos filhos se separem. As Topoisomerases
Pol I coordena a remoção do primer e o preenchimento são, portanto, cruciais para a replicação do DNA.
da falha removendo um ribonucleotídeo do primer e
elongando o fragmento de Okazaki mais novo com um E. coli tem ambas as topoisomerases, tipo I e tipo II.
desoxirribonucleotídeo. Repete essas etapas até que o A topoisomerase tipo I de E. coli é chamada de proteína
primer seja removido. Pol I é capaz de continuar ao lon ômega (ω). Ômega age unidirecionalmente, removen
go do DNA, removendo desoxirribonucleotídeos e subs do apenas superenrolamentos negativos. Portanto, ω
158 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

não é suficiente para permitir que a replicação ocor gue essencialmente a mesma via. Mas diferenças entre
ra. DNA girase, uma topoisomerase tipo II, é essencial enzimas bacterianas e humanas nos detalhes de suas
para a replicação do DNA. A DNA girase age como um especificidades e mecanismos são usadas em terapia
“interruptor giratório” (swivel) para remover superen antibacteriana, para atingir a replicação do patógeno e
rolamentos positivos ou introduzir superenrolamentos poupar as células hospedeiras.
negativos; a direção é idêntica. A girase é um heterotet
râmero com duas subunidades “swivelase” codificadas A fita contínua, na forquilha de replicação, é sinteti
por gyrA, e duas subunidades ATPase codificadas por zada pela DNA polimerase d (pold), associada à braça
gyrB. As subunidades swivelase catalisam reações de deira corrediça chamada antígeno nuclear de célula em
transesterificação que quebram e refazem o esqueleto proliferação (PCNA – proliferating cell nuclear anti
fosfodiéster, criando e selando novamente uma quebra gen). O PCNA foi detectado pela primeira vez como um
transitória em ambas as fitas (uma quebra transitória antígeno nos núcleos de células em replicação, daí seu
de dupla fita). A hidrólise de ATP está acoplada à ação nome. Três subunidades de PCNA são organizadas para
da girase, não para formar novas ligações fosfodiéster, formar um anel ao redor do DNA (Figura 4.10), ao qual
mas para desencadear as alterações conformacionais pol d se liga. A montagem desse anel requer um fator de
que permitem que uma dupla hélice passe através da instalação da braçadeira chamado Fator de Replicação
quebra transitória da fita-dupla, resultando em redução C (RFC).
unidirecional no número de ligação. Antibióticos que
A situação na fita tardia é um pouco mais complica
têm como alvos uma ou a outra subunidade da DNA gi da em eucariotos do que em E. coli (Figura 4.14). Uma
rase, param rapidamente a replicação de E. coli (Cor
atividade de helicase em eucariotos separa as fitas pa
relação Clínica 4.3). E. coli tem uma segunda atividade
rentais, e uma proteína de ligação ao DNA fita simples
de topoisomerase tipo II, topo IV, que é importante na
chamada proteína de replicação A (RPA) liga-se às fitas
segregação cromossômica entre as células filhas.
simples expostas. Em eucariotos, a primase forma um
complexo com DNA polimerase a (pol a), que inicia a
Enzimas Eucarióticas da Replicação síntese dos fragmentos de Okazaki. Esse complexo pol
a/primase sintetiza um primer de aproximadamen
Eucariotos requerem os mesmos tipos de atividades te 10 ribonucleotídeos e, depois, muda a atividade de
enzimáticas que os procariotos, porque a replicação se primase para DNA polimerase e elonga o primer com
aproximadamente 15-30 desoxirribonucleotídeos. O
produto dessa reação dual é uma curta extensão de
CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.3
DNA ligado covalentemente ao RNA primer. Uma vez
que o fragmento de Okazaki tenha atingido esse com
Topoisomerases Como Antibióticos primento, o complexo pol a/primase se dissocia do
DNA. RFC liga-se a esse primer elongado e serve como
Antibióticos que têm como alvo qualquer subu instalador de braçadeira para montar a braçadeira cor
nidade da DNA girase rapidamente param a replica rediça de PCNA. Então, pol βliga-se à PCNA e completa
ção de E. coli, porque o impedimento da redução do os fragmentos de Okazaki até um comprimento final de
número de ligação das fitas parentais impede que as cerca de 130-200 pb.
fitas se desenrolem. Existem duas maneiras de atin
gir as topoisomerases. Inibidores de topoisomerases, A remoção do primer é efetuada em duas etapas
como coumermicina A1 e novobiocina, impedem a por RNaseH e FEN1. RNaseH degrada o RNA primer,
atividade catalítica; têm como alvo as subunidades deixando um único ribonucleotídeo ligado à extremi
ATPases, codificadas por gyrB. dade do fragmento de Okazaki. A flap endonuclease 1
(FEN1) remove o último ribonucleotídeo (e possivel
Venenos de topoisomerases, como ácido nalidíxi mente alguns desoxirribonucleotídeos), “descascando”
co, congelam as ligações covalentes DNA-proteína; um ou alguns poucos nucleotídeos, formando uma pe
esses complexos são letais se convertidos em quebras quena lingueta (flap) e depois clivando a ligação fos
de dupla-fita, o que aconteceria durante a replicação. fodiéster no ângulo, para liberar o flap. Se houver um
O ácido nalidíxico é usado em infecções do trato erro de pareamento entre os primeiros nucleotídeos do
urinário; tem como alvo as subunidades swivelase, fragmento de Okazaki, como resultado de incorporação
codificadas por gyrA. A ciprofloxacina, outro veneno incorreta pela pol a, o erro desestabilizaria a extremi
de topoisomerase, é um dos antibióticos orais mais dade 5! e criaria um flap maior, que seria removido por
efetivos em uso clínico hoje; é usado para evitar e FEN1. Isso aumenta a precisão do processo de replica
tratar antrax e muitas outras infecções bacterianas. ção por remover erros introduzidos por pola.

Froelich-Ammon, S. J., e Osheroff, N. Topoisomerase A falha que fica é preenchida pela pol d estendendo
poisons: Harnessing the dark side of enzyme mechanism. a extremidade 3! do fragmento de Okazaki sintetizado
J. Biol. Chem. 270:21429, 1995. por último (Figura 4.14). O complexo pol d/PCNA libe
ra o DNA quando encontra dNTPs na extremidade 5!
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 159

do fragmento de Okazaki sintetizado anteriormente. A parcialmente para repetir esse processo. Como em E.
incisão remanescente é selada pela DNA ligase. O com coli, duas moléculas da principal polimerase replicati
plexo pol d/PCNA do replissomo deve ser ligado nova va, pol d nesse caso, são mantidas juntas em um replis
mente ao próximo fragmento de Okazaki sintetizado somo, ou “fábrica de replicação”, no qual ambas as fitas
são sintetizadas (Figura 4.11).
Fragmento de Okazaki anterior
3! O DNA eucariótico é organizado em
5! nucleossomos que contêm aproxima
5! Molde para a fita tardia
RPA
damente 200 pb de DNA. A dissociação
(a)
dos nucleossomos é necessária para a
replicação e provavelmente limita a
Polα/primase velocidade de síntese do DNA. Quan
Primer de RNA
do um único nucleossomo é dissocia
3! do, cerca de 200 pb do DNA parental
5! ficam disponíveis para serem separa
dos; a síntese do primers pode ocorrer
(b)
em qualquer lugar do DNA fita simples
exposto. Isso explicaria o tamanho li
Polα/primase mitado dos fragmentos de Okazaki em
células humanas.
3!
5!
Os seres humanos têm topoisome
rases tipo I e tipo II. A topoisomerase
tipo I humana, chamada enzima de
(c) quebra-fechamento (Figura 4.9), é ca
PCNA paz de remover tanto superenrolamen
RFC to positivo como negativo; funciona
durante a replicação e a transcrição do
3!
DNA. A topoisomerase tipo II é crítica
5! na etapa de terminação e para segre
gação dos cromossomos, que ficariam
emaranhados à medida que as muitas
(d)

Polδ

3! FIGURA 4.14 Enzimas replicando a fita


5! tardia em eucariotos (a fita líder não é
mostrada).
(a) RPA, uma SSB, liga-se ao molde de fita
(e) simples que foi aberto pela progressão da
forquilha de replicação. Um fragmento de
RNaseH Okazaki anterior é mostrado à direita, com o
FEN1 primer de RNA em roxo. (b) A atividade da
primase no complexo pol a/primase inicia a
3!
síntese de um primer de RNA. (c) Depois
do primer de RNA atingir 10 nucleotíde
os, a atividade polimerase do complexo pol
(f) a/primase assume e elonga o primer com
cerca de 15-30 desoxinucleotídeos. Então,
pol a/primase dissocia-se. (d) RFC se liga
à extremidade deste fragmento de Okazaki
parcialmente completo e catalisa a monta
3! gem de uma braçadeira corrediça a partir de
5! três moléculas de PCNA. (e) Pol d se liga à
braçadeira corrediça e elonga o fragmento
de Okazaki. (f) À medida que o complexo de
(g)
replicação aproxima-se do primer de RNA
anterior, esse primer é degradado pela ação
3! combinada de RNaseH e FEN1. (g) A falha
5! é preenchida pela continuação da elongação
DNA ligase do fragmento de Okazaki. (h) A incisão re
(h) 5! manescente é selada pela DNA ligase.
160 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

ori FIGURA 4.15 Replicons em sequência e


(a) ori ori replicação bidirecional em eucariotos.
ori (a) Há múltiplas origens de replicação (ori)
organizadas em sequência ao longo de cada
ori ori cromossomo eucariótico. No homem, estão
(b)
espaçadas em intervalos de aproximada
mente 50.000-100.000 pb. (b) A iniciação
ocorre em todas as ori. Grupos adjacentes
de oris tendem a funcionar juntos. (c) Duas
(c) forquilhas de replicação divergentes são
estabelecidas em cada ori, de modo que a
replicação é bidirecional. As estruturas for
madas são chamadas bolhas de replicação.
(d) (d) As bolhas de replicação aumentam à
medida que a replicação continua, até que
fiquem bem próximas. Nesse estágio, o tér
mino da replicação une bolhas adjacentes e
separa o DNA parental. A topoisomerase II
(e) é essencial para o término e a segregação
dos cromossomos. (e) Os cromossomos du
+
plicados resultantes podem, então, segre
gar em duas células filhas.

bolhas de replicação se completam. Topo II é uma pro criar uma forquilha de replicação. Uma bolha de repli
teína abundante que também desempenha um papel na cação é formada em cada origem e um par de forquilhas
ligação do DNA a pontos específicos da matriz nuclear é estabelecido e estas se movem para longe da origem,
durante a intérfase. A topoisomerase II humana não é cada uma em uma direção (Figura 4.15). Portanto, a
uma girase, uma vez que não introduz superenrolamen replicação é bidirecional.
to negativo. A quimioterapia do câncer frequentemente
tem topoisomerases como alvos, usando venenos que O Complexo de Reconhecimento da Origem (ORC,
levam a quebras de dupla-fita durante a replicação. As Origin Recognition Complex), em eucariotos, orga
células em rápida replicação são mais sensíveis a tais niza-se em múltiplas origens (Figura 4.16). Para que
drogas do que as células quiescentes. ocorra a iniciação, a organização de um ORC em uma
origem é necessária, mas não suficiente. Um segundo
Iniciação da Replicação complexo, chamado proteínas de manutenção de mini
cromossomos (MCM), que tem uma fraca atividade de
Na discussão anterior, vimos a progressão de uma helicase, também deve se ligar, formando um complexo
forquilha de replicação. Mas como uma forquilha de re pré-replicativo; Cdc6 (a proteína codificada por Cdc6)
plicação começa? E como a iniciação é controlada de é necessária para essa ligação. Uma vez que o complexo
modo que todo o genoma seja copiado uma vez, e ape ORC/MCM ligado a uma origem seja ativado, ele cata
nas uma vez? A replicação começa em locais específicos lisa a separação inicial das fitas parentais para formar
chamados origens de replicação. As origens conheci uma pequena bolha de replicação (Figura 4.16). SSBs
das contêm múltiplas sequências repetitivas curtas, (a SSB humana é RPA) ligam-se e mantêm as fitas se
que ligam proteínas iniciadoras específicas, e regiões paradas. O complexo MCM pode, então, funcionar como
ricas em AT, nas quais ocorre a separação inicial das helicase para permitir que a forquilha de replicação
fitas parentais. O cromossomo de E. coli tem uma única desenrole. Ativação do complexo ORC/MCM é regula
origem de replicação, origem de replicação do cromos da por ciclinas e quinases dependentes de ciclinas (ver
somo (oriC), uma região de aproximadamente 245 pb. p. 1029). A fosforilação de Cdc6 por uma quinase de
Existem milhares de origens em células eucarióticas pendente de ciclina causa sua inativação e impede sua
(Figura 4.15), que permitem que essas células repli ligação ao complexo; esse é um dos mecanismos pelo
quem a grande quantidade de DNA no tempo limitado qual o reinício da replicação, que seria desastroso para
de um ciclo celular. Em levedura, as origens são deno a célula, é impedido.
minadas sequências de replicação autônoma (ARS,
automonously replicationg sequences). No homem, A iniciação da síntese de DNA usa a maioria dos
sequências específicas que servem como origens não mesmos mecanismos e enzimas do movimento de uma
foram identificadas. forquilha de replicação (Figura 4.14 e Figura 4.16). Em
eucariotos, o complexo pol a/primase inicia a síntese
Em E. coli, oriC é ligada a uma proteína iniciadora de um RNA primer e depois muda para elongação com
chamada DnaA. DnaC então se associa e funciona como dNTPs. Esse polinucleotídeo curto é elongado por uma
um “formador de pares” para permitir que DnaB, a heli DNA polimerase d da mesma forma que na fita descon
case, ligue-se e comece a separar as fitas parentais para tínua (retrógrada) em uma forquilha de replicação. O
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 161

replissomo que está elongando essa primeira fita pode está crescendo na direção oposta (Figura 4.16). Ambas
continuar a síntese e formar a fita líder da forquilha de as fitas líderes continuam a ser elongadas de maneira
um lado da bolha de replicação (Figura 4.16). Nessa muito processiva, e os fragmentos de Okazaki são sin
metade da bolha, a síntese do primeiro fragmento de tetizados nos lados opostos. O resultado é um par de
Okazaki na fita retrógrada é iniciada pelo mesmo meca forquilhas de replicação divergindo da origem.
nismo usado no movimento da forquilha de replicação
(compare com Figura 4.13). Entretanto, à medida que Telomerase
este primeiro fragmento de Okazaki é elongado, não en
contrará um fragmento anterior, de modo que continua Telômeros, as estruturas especializadas nas extre
a crescer na direção 5! para 3!; depois que passa a ori midades de cromossomos lineares em eucariotos (Fi
gura 4.12), são mantidos por telomerases, enzimas que
gem, torna-se a fita líder da forquilha de replicação que
adicionam novas repetições de seis nucleotídeos às ex
tremidades 3! dos telômeros. As telomerases são com
plexos ribonucleoproteicos contendo um pequeno RNA
(a)
ORC que serve de molde para adição de uma nova repetição
de seis nucleotídeos (Figura 4.17). Uma telomerase li
ga-se à extremidade da fita 3!, com parte do RNA da
(b) MCM telomerase ligado por pontes de hidrogênio aos últimos
nucleotídeos do cromossomo. Uma repetição de seis
nucleotídeos é sintetizada, usando o RNA como molde.
(c) Então, a telomerase pode se dissociar e reassociar para
adicionar outro hexâmero.
RPA helicase

(d)

RNAprimer
FIGURA 4.16 Iniciação da replicação em uma origem de
replicação eucariótica.
(a) O complexo de reconhecimento da origem (ORC) liga-se
a uma origem. (b) Um complexo MCM liga-se a ele; a prote
(e) ína 6 do ciclo de divisão celular (cdc6, cell division cycle 6
protein) é importante nessa montagem. (c) O complexo ini
ciador é ativado e a atividade de helicase abre as fitas paren
DNA tais, formando uma bolha muito pequena. SSB liga-se às fitas
simples expostas, helicases são associadas ao DNA e a bolha
cresce. (d) Pol a/primase sintetiza o primeiro RNA primer e,
após cerca de 10 nt, muda para elongação com desoxirribonu
cleotídeos. (Neste painel e nos subsequentes, o foco está no
processo que está ocorrendo com o DNA, e as proteínas não
(f) são mostradas). (e) Depois que cerca de 15-30 desoxirribo
nucleotídeos foram adicionados, pol a/primase sai e a cadeia
é elongada pela DNA polimerase d, que incorpora desoxirribo
nucleotídeos. Até esse estágio, o processo é semelhante ao que
ocorre na fita descontínua (retrógrada) (compare com Figura
4.14). Entretanto, a fita em crescimento não encontrará um
RNA primer
fragmento de Okazaki anterior; ela pode continuar elongando,
tornando-se a fita contínua (líder) na forquilha de replicação
que se move para a esquerda. (f) Um RNA primer é sinteti
zado no lado descontínuo da forquilha de replicação, como na
(g) progressão normal da forquilha. (g) Esse primer é elongado
como descrito anteriormente. Entretanto, esta fita em cres
cimento não encontrará um fragmento de Okazaki anterior;
RNA primer pode continuar elongando, tornando-se a fita contínua (líder)
na forquilha de replicação que se move para a direita. Um RNA
primer pode ser sintetizado nessa forquilha pelo mecanismo
normal (compare com Figura 4.14). Resultam duas forquilhas
DNA
de replicação divergindo da origem. O processo é simétrico ao
redor do eixo indicado pela linha tracejada, com forquilhas em
imagem especular divergindo da origem.
162 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

do DNA ocorre durante a fase S (de fase de Síntese). A


fase G1 (Gap 1) ocorre entre a mitose e a fase S, e a fase
[TTAGGG]nTTAGGGTTAGGGTTAGGG 3!
nnnn
CCCAATCCC G2 (Gap 2) ocorre entre a fase S e a mitose. As fases
[AATCCC]nAATCCC 5! !nn n
n
G1, S e G2 juntas são chamadas intérfase, e constituem
3 n
n a maior parte do tempo total de um ciclo celular. Uma

5! fração de células em mitose acima do normal é um in
dicador histológico de câncer (Correlação Clínica 4.4).
FIGURA 4.17 Telomerase.
Em eucariotos, a replicação é regulada pela deter
A telomerase é um complexo ribonucleoproteico com uma fita
curta de RNA, como parte integral; catalisa a adição de novas minação de iniciar ou não a replicação do DNA. Uma
repetições teloméricas de 6-nt à extremidade 3! de uma cadeia vez iniciada, as células geralmente prosseguem pelo
de DNA. O RNA da telomerase pareia parcialmente pelas bases processo de replicação inteiro. A iniciação da replica
com a repetição telomérica e serve de molde para a reação, ção nas origens deve ser coordenada para garantir que
enquanto o componente proteico funciona como uma trans todas as regiões de todos os cromossomos sejam repli
criptase reversa, sintetizando DNA usando o RNA como molde. cadas em cada ciclo celular, e que nenhuma região seja
Depois da adição de uma repetição de seis nucleotídeos, a en replicada mais do que uma vez. Isto é, obviamente, um
zima pode se dissociar e se ligar novamente e adicionar novas desafio difícil em uma célula com milhares de origens.
repetições de 6-nt.
A não replicação do genoma inteiro levaria a instabili
dade cromossômica e perda de informação genética. Se
Os telômeros não precisam permanecer exatamente um pedaço do DNA cromossômico não for replicado, os
do mesmo tamanho; algum encurtamento não é proble dois cromossomos descendentes não podem se separar
ma porque essas repetições não codificam proteínas. Os adequadamente, ou o cromossomo poderia ser quebra
telômeros passam por ciclos de encurtamento das fitas do na tentativa. Cromossomos quebrados são instáveis
tardias em virtude da incapacidade de síntese comple e desencadeiam recombinação, que causa mais proble
ta (Figura 4.12a) e alongamento por adição de novas mas. Tanto a falta de genes chaves em uma célula com
repetições de seis nucleotídeos à extremidade 3! pela falta de um cromossomo, em virtude da segregação er
telomerase (Figura 4.17). Embora o comprimento dos rada, quanto a expressão excessiva de outros genes, em
telômeros não permaneça constante, encurtamento uma célula com uma cópia extra de um cromossomo,
progressivo é evitado por adição de repetições. Telome podem ser desastrosos. A trissomia do 21, a presença de
rases também restabelecem os excessos 3!, caracterís uma cópia extra do menor cromossomo humano, causa
ticos dos telômeros. a síndrome de Down, e a maioria das outras trissomias
é letal.
As células que diferenciaram e se dividirão apenas
um número limitado de vezes, não expressam telome Diferentes regiões do genoma são replicadas em
rase. Assim, os telômeros encurtam a cada divisão sub tempos diferentes durante a fase S do ciclo celular. Ti
sequente; isso limita o número de vezes que tais célu picamente, regiões que são ativamente transcritas são
las podem se dividir antes que a perda dos telômeros replicadas mais cedo durante a fase S. Diferentemente,
desencadeie apoptose, morte celular programada (ver regiões heterocromáticas (onde a cromatina está con
p. 1034). Expressão de telomerase é geralmente reati densada e não é transcrita ativamente) são tipicamente
vada em células tumorais; isso lhes permite continuar replicadas mais tarde na fase S.
a dividir indefinidamente, sem encurtamento cromos
sômico, e torna a telomerase um alvo atraente para
quimioterapia do câncer. Deve-se notar que inativação mitose
da telomerase em um tumor não levaria a uma parada
M
rápida no crescimento do tumor; o efeito seria retarda
do por muitos ciclos celulares, até que as extremidades G2
gap2
dos cromossomos fossem significativamente encurta G1
das. Portanto, é provável que inibidores da telomerase gap1
sejam úteis apenas em combinação com outras terapias.

S
Ciclo Celular síntese

Em eucariotos, há um padrão distinto e regulado


INTERFASE
de atividades que constituem um ciclo celular (Figu
ra 4.18). A característica morfológica mais notável do
FIGURA 4.18 Ciclo celular.
ciclo celular é a mitose, a condensação, o alinhamento e
Em células eucarióticas, a replicação do DNA (fase S) e a mito
a separação dos cromossomos seguida da divisão da cé se (fase M) são separadas por dois intervalos (gaps), G1 e G2.
lula em duas. A fase do ciclo celular na qual ocorre a mi O tamanho dos segmentos representa a fração típica do tempo
tose é chamada fase M (de fase mitótica). A replicação ciclo de divisão celular.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 163

ção é a proteína geminina, que se liga e inibe Cdt1.


CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.4
Isso impede reinício prematuro durante um único ci
clo celular.
Câncer e o Ciclo Celular
Para a viabilidade da célula, é importante que o DNA
O câncer é definido como a divisão desregulada,
esteja completamente replicado antes da mitose. As cé
excessiva de células. É reconhecido patologicamente
lulas têm mecanismos regulatórios que garantem a co
por uma fração maior de células ativamente percor
ordenação dos eventos do ciclo celular em vários pontos
rendo o ciclo celular do que esperada para o tecido
de verificação. As células são mais sensíveis a danos no
normal do qual se originou. Inclui uma fração maior
DNA durante o processo de replicação, porque forqui
de células em mitose, reconhecidas por microscopia, lhas de replicação podem encontrar a lesão antes que
e uma fração maior de células na fase S.
ela tenha sido reparada (ver Correlação Clínica 4.4). As
Muitos tipos de drogas são usadas para impedir células desenvolveram sensores que reconhecem danos
replicação. Antimetabólitos interferem com síntese no DNA e param o ciclo celular ou no limite G1/S ou
de precursores de 5!-dNTPs. Metotrexate inibe a di no limite G2/M. Se a célula já estiver na fase S, o blo
-hidrofolato redutase, necessária para manter o te queio das forquilhas de replicação impede novos even
tra-hidrofolato reduzido, necessário à síntese de nu tos de iniciação durante a fase S. Os sensores de danos
cleotídeos. 5-Fluorouracil inibe a timidilato sintase; também induzem a síntese de proteínas que ajudam no
quando metabolizado em sua forma trifosfato, pode reparo do DNA. PCNA, RFC, RPA e pol e parecem de
ser incorporado ao DNA e levar a quebras na fita. Al sempenhar importantes papeis no reconhecimento de
caloides da Vinca inibem a montagem dos microtúbu danos que bloqueiam replicação e coordenação das fun
los e, assim, interferem com a mitose e a segregação ções de replicação e reparo. A interação de PCNA com
p21cip1, um inibidor de quinase dependente de ciclina,
dos cromossomos. Inibidores de topoisomerases re
tardam ou param o processo de replicação por impe parece inibir a replicação, mas não o reparo; assim,
direm o desenrolamento das fitas parentais. Venenos pode permitir que o reparo prossiga antes que a repli
de topoisomerases inibem o fechamento da ligação cação continue. Defeitos em vários genes importantes
fosfodiéster, deixando junções covalentes proteína na resposta desse ponto de bloqueio, incluindo ATM,
-DNA, que são convertidas em quebras de fitas; essa TP53 e CHK2, aumentam a instabilidade genômica e o
classe de agentes antineoplásicos inclui etoposídeo e risco de câncer.
doxorrubicina.

Replicação de Genomas de RNA


Alguns vírus têm um genoma de RNA. Tais genomas
são replicados com muito menor precisão e podem acu
Embora os detalhes do processo não estejam ainda mular variações em período relativamente curto. Um
claros, alguns princípios gerais podem ser afirmados. exemplo particularmente importante disso é o Vírus da
O modelo atual é chamado de “licenciamento”. Um fa Imunodeficiência Humana (HIV), que causa Síndrome
tor de licenciamento deve estar ligado às origens para da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). O RNA viral
permitir a iniciação da replicação nessa origem. Isso do HIV é transcrito reversamente em DNA e, depois, o
ocorre antes do início da fase S, e envolve a ligação DNA integra-se ao cromossomo. A transcriptase rever
do complexo MCM ao ORC nas muitas origens. Essa sa do HIV é um alvo para quimioterapia antiviral (ver
ligação é facilitada por proteínas “formadoras de pa Correlação Clínica 4.2).
res”, incluindo proteína 6 do ciclo de divisão celular
(Cdc6) e licenciamento da cromatina e fator 1 de re Transcrição reversa do RNA genômico do HIV é
plicação do DNA (Cdt1). A montagem desse complexo muito menos precisa do que a síntese de DNA, e a pre
de pré-replicação só ocorre durante a fase G1, antes cisão reduzida leva à rápida geração de uma coleção de
que a síntese de DNA ocorra. Uma vez que a iniciação vírus variantes em um indivíduo. Uma pequena fração
da replicação tenha ocorrido, o fator de licenciamento desses variantes pode ser resistente a qualquer droga
é inativado por fosforilação e dissociação de Cdc6 e única que esteja sendo usada para tratar a infecção.
do complexo MCM. A quinase dependente de ciclina Essa fração pode continuar a replicar na presença do
(CDK) e a quinase dependente de Dbf4 (DDK) estão agente terapêutico até se tornar a variante dominan
envolvidas na iniciação da replicação, catalisando o te; isso leva à perda de eficácia da droga. As terapias
recrutamento do replissomo para a origem, ativando combinadas atuais são projetadas para reduzir a pro
a atividade helicase que desenrola as fitas parentais, e babilidade de um vírus ser resistente simultaneamente
inativa os fatores de licenciamento. Para essa origem a todas as drogas da combinação. Terapias combinadas
ser usada de novo, um novo fator de licenciamento atuais têm como alvos tanto a transcriptase reversa do
HIV como a protease do HIV.
deve se ligar, mas a montagem do complexo não pode
ocorrer até a fase G1 seguinte, quando nova proteína
Cdc6 estiver disponível. Outro bloqueio da re-replica
164 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

4.4 RECOMBINAÇÃO A recombinação homóloga é recíproca, transferin


do parte de um cromossomo para o outro, e vice-ver
Recombinação é a troca de informação genética. Há sa. Ela “embaralha” a combinação de genes antes que
dois tipos básicos: recombinação homóloga e recombi eles sejam passados para a geração seguinte, gerando
nação não homóloga. A recombinação homóloga (tam diversidade genética. Essa é uma parte normal do pro
bém chamada recombinação geral) ocorre entre sequ- cesso de alinhamento e segregação dos cromossomos,
ências idênticas ou quase idênticas, por exemplo, entre necessários para garantir que cada célula germinativa
os cromossomos paterno e materno de um par. Cromos receba um único conjunto haploide de cromossomos
somos não são passados intactos de geração para gera durante a meiose. A probabilidade de que um evento
ção (Figura 4.19); ao contrário, cada cromossomo que de recombinação ocorra entre quaisquer dois pontos de
você herda de seu pai contém porções de ambos os pais um cromossomo é grosseiramente proporcional à dis
e, da mesma forma para os cromossomos herdados de tância física entre eles. Essa é a base do mapeamento
sua mãe. Ocasionalmente e frequentemente desencade genético. Uma frequência de 1% de recombinação entre
ada por danos a um cromossomo, como quebra da dupla dois genes ou marcadores é definida como uma distân
-fita, a recombinação ocorre entre cromossomos dife cia genética de 1 centimorgan (cM). No homem, 1 cM
rentes. Isso pode levar a câncer (Correlação Clínica 4.5). é aproximadamente 1.000.000 pb ao longo do cromos
somo.

ABCDEFGHIJKLMNOPQR+abcdefghijklmnopqrABCDEFGHIJklmnopqr+abcdefghijKLMNOPQR
Recombinação Homóloga
Existem três modelos principais para recombinação
homóloga (Tabela 4.3). Eles estão relacionados de vá
rias formas, e têm um intermediário comum chamado
junção Holliday. O mais simples é o modelo Holliday; o
entendimento de seus pontos chaves tornará fácil ver as
diferenças dos outros.
FIGURA4.19 Recombinação homóloga.
(a) O cromossomo paterno é mostrado em azul, com os ale
los mostrados por letras maiúsculas. O cromossomo homólogo Modelo Holliday
materno é mostrado em vermelho, com os alelos mostrados As características chaves do modelo Holliday são:
por letras minúsculas. (b) Depois da recombinação homóloga
entre os genes j e k, ambos os cromossomos contêm DNA de (a) homologia, (b) simetria de ambas as quebras e in
ambos os pais. Houve uma troca igual, recíproca entre eles. vasão da fita; e (c) presença de uma “junção Holliday”
de quatro fitas como intermediário chave (Tabela 4.3).
Nesse modelo, a recombinação é iniciada por um par de
quebras de fita única em posições homólogas nos dois
CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.5 dúplices de DNA alinhados (Figura 4.20). As fitas de
Recombinação e Câncer cada duplex desenrolam parcialmente, e cada uma “in
vade” o duplex oposto. Isto é, uma parte da fita de cada
Erros de recombinação podem levar a duplica duplex estabelece pares de bases com o duplex oposto
ções ou deleções de genes, expansão de tripletes, de modo recíproco e simétrico. Essas fitas podem ser
fusões de genes e rearranjos cromossômicos. A fre unidas covalentemente ao duplex oposto, criando uma
quência de eventos de recombinação aumenta com molécula de junção na qual duas fitas cruzam entre as
danos ao DNA, em parte e decorrência da ruptura de moléculas de DNA.
forquilhas de replicação e, em parte, em decorrên
cia de quebras no DNA. Recombinação pode ocorrer Então ocorre a migração da ramificação (Figura
entre sequências relacionadas, mas não idênticas, 4.20c); migração da ramificação é o desenrolamento
dentro de um cromossomo ou entre cromossomos. e enrolamento simultâneo dos dois dúplices, de modo
Também pode ocorrer por ligação de extremidades que o número total de pontes de hidrogênio permanece
não homólogas após quebra da dupla-fita do DNA. constante, mas a posição do cruzamento muda. Como o
Algumas formas de câncer são desencadeadas por número de pontes de hidrogênio permanece constante
rearranjos cromossômicos específicos que resultam e a molécula de DNA fina e cilíndrica gira com facili
em fusões de genes que formam oncogenes. A leuce dade em torno do seu eixo, a migração da ramificação
mia mieloide crônica (CML) e a leucemia linfocítica requer pouca energia. A migração da ramificação cria
aguda (ALL) podem resultar de translocações entre uma região de heteroduplex, uma região em que uma
os cromossomos 9 e 22 que criam proteínas de fusão fita vem de um duplex original e a outra vem do outro
entre os genes BCR e ABL. A proteína de fusão BSR duplex. No homem, dois indivíduos diferem em apro
-ABL é uma tirosina quinase ativa que funciona como ximadamente um par de bases por mil; portanto, uma
um oncogene. região de heteroduplex frequentemente contém pelo
menos um par de bases errado.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 165

TABELA 4.3 Recombinação Homóloga


Modelo Modelo Modelo de
Holliday Meselson-Radding Quebra da Dupla-Fita
Homologia Sim Sim Sim
Iniciação Duas quebras em uma Uma quebra em fita única Uma quebra na dupla-fita,
única fita, em posições extremidades ressecadas
homólogas
Invasão por fita Uma fita de cada duplex A quebra única elongada Uma ou duas fitas invadem
invade a outra recíproca invade o outro duplex outro duplex
Migração da ramificação Sim Sim Sim
Intermediário chave Junção Holliday Junção Holliday Duas junções Holliday
Heteroduplex formado Sim – simétrico Sim – assimétrico Sim – assimétrico e longo

FIGURA 4.20 Modelo Holliday de


recombinação homóloga.
(a) Sinapses (pareamento): duas molé
culas homólogas de DNA são alinhadas
corretamente. (X,x e Y,y representam
gene Y
x (a)
(e) gene X gene Y
diferentes alelos dos genes X e Y, um de
cada lado do crossover). Quebras de fita
+
única são feitas em posições homólogas
em fitas de mesma polaridade em cada
+ gene x gene y
duplex. (b) As fitas desenrolam par
cialmente e reciprocamente “invadem”
(fazem pares de bases com) a molécu (b) gene X gene Y
la oposta, formando uma estrutura na
qual duas fitas intactas são unidas por
duas fitas cruzadas. Esse é um evento
simétrico e recíproco. Regiões nas quais gene x gene y
uma das fitas era de um duplex e a ou
tra, do duplex homólogo são chamadas
(c) gene X gene Y
heteroduplex. (c) Migração da rami
ficação ocorre. (d) DNA ligase sela as
quebras. Mais migração de ramificação
pode ocorrer. Todas as quatro fitas são
gene x gene y
mantidas juntas em um ponto de cruza
mento. (e) Rotação dessa estrutura for
ma um “intermediário Holliday”, mos (d) gene X gene Y
trado no inserto (h). (f, g) Resolução:
moléculas são separadas por um par
de cortes simétricos em uma de duas
direções (flechas laranja ou verde). As genex geney gene Y gene X
horizontal (h)
extremidades são seladas pela ligase. A
direção dos cortes determina se as regi (f) (g) Corte 2
ões flanqueadoras são trocadas. (f) Se Corte 2 gene
CorteY1

as fitas cruzadas forem cortadas (corte


1, horizontal), os genes ou marcadores geney = Corte 1
flanqueadores permanecem como esta
gene
Corte
x 1 gene x geney
vam (XY/xy). Não se poderia detectar
recombinação entre esses loci. (g) Se
Corte 2
vertical
as fitas parentais não cruzadas forem
cortadas (corte 2, vertical), os genes ou
marcadores flanqueadoras são trocados
(Xy/xY). Isso seria detectado como um gene
gene X
y genex
geney + gene X
evento de recombinação. Note que há
uma região de heteroduplex em ambos
os casos (retângulo); reparo de parea
mento errado nessa região pode levar à
conversão gênica. gene Y
166 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

As fitas cruzadas são ligadas covalentemente ao fita quebrada serve como uma combinação molde-pri
outro duplex (Figura 4.20c). Os dois dúplices de DNA, mer que uma DNA polimerase elonga, e essa elonga
unidos por um único ponto de cruzamento, podem gi ção desloca parte do duplex invadido (Figura 4.21b).
rar como mostram as Figuras 4.20e e 4.20h para criar A fita deslocada invade o duplex oposto, alinhado, for
a junção Holliday de quatro fitas. Sua resolução em mando uma estrutura chamada alça-D (D-loop) (Figu
dois dúplices pode ocorrer por duas maneiras, repre ra 4.21c). A parte fita-única da alça-D é degradada, e
sentadas por cortes verticais ou horizontais na Figura síntese do reparo e fechamento resultam em crossing
4.20e. Se as fitas cruzadas forem cortadas (corte 1), os over de uma fita. Ocorre a migração da ramificação. A
marcadores que flanqueiam a região do heteroduplex quebra remanescente é selada, e as fitas podem girar
permanecem ligados da mesma fase original (X com Y para formar uma junção Holliday idêntica à descrita
e x com y; painelf); num nível grosseiro, os cromos para o modelo Holliday precedente (Figura 4.21e), que
somos permanecem inalterados. Se as fitas intactas é resolvida exatamente da mesma maneira, resultando
forem cortadas (corte 2), as regiões flanqueadoras são numa troca de marcadores flanqueadores (corte 2: X
trocadas entre os dois cromossomos, criando um novo com y e x com Y; Figura 4.21g) ou na configuração origi
cromossomo contendo parte de um dos pais e parte do nal dos marcadores (corte 1: X com Y e x com y; Figura
outro (X com y e x com Y; Figura 4.20g). O heterodu 4.21f). A diferença chave no modelo Meselson-Radding
plex pode sofrer reparo de pareamento errado (p. 175), é o heteroduplex assimétrico que resulta da invasão por
convertendo um alelo em outro, um processo chamado uma fita de um dos dois dúplices. O reparo de parea
conversão gênica. mento errado pode levar a conversão gênica, como no
modelo Holliday.
Modelo de Meselson e Radding
Uma vez que você tenha entendido o modelo Holli (a) gene X gene Y
day, é fácil entender a variante proposta por Meselson e
Radding (Tabela 4.3). Esse modelo é iniciado por uma +
única quebra e uma única fita invasora, em lugar de um
par de quebras e invasão recíproca (Figura 4.21a). A gene x gene y

(b) gene X gene Y

genexgeney

(c) gene X gene Y

FIGURA 4.21 Modelo Meselson-Radding de gene x gene y


recombinação homóloga.
Esse modelo é semelhante ao modelo Holliday, mas o (d) gene X gene Y
início é feito por uma única quebra e invasão de uma
única fita. (a) Sinapse (pareamento): duas moléculas
homólogas de DNA são alinhadas corretamente. Uma
quebra de fita única é feita em uma ds fitas. (b) A ex gene x gene y
tremidade 3!-OH é elongada por uma DNA polimerase,
(e) gene X
deslocando a extremidade 5!. (c) A extremidade 5! livre
invade o duplex homólogo, formando uma “alça-D”. (d) Corte 2
A alça-D é degradada e síntese do reparo e fechamen gene Y
to pela DNA ligase levam a uma molécula na qual uma
fita cruza entre dois dúplices. Migração da ramificação Corte 1
ocorre à medida que uma fita é ainda mais elongada. A
fita em elongação cruza e é ligada ao duplex oposto, dei geney
xando todas as quatro fitas unidas em um único ponto
de crossover, como na Figura 4.20. (e) As fitas giram
para formar uma junção Holliday, exatamente como na + gene x Corte (g)
1 Corte 2
Figura 4.20e e h. A resolução da junção Holliday pode
ocorrer
mina se de
as duas
regiões
maneiras,
flanqueadoras
e a direção
serão do
trocadas.
corte deter-
Note (f) gene Y gene X geney gene X

que há uma região de heteroduplex em ambos os casos +


(retângulos), mas não é recíproco; é apenas em um du
plex. Reparo de pareamento errado nessa região pode
levar à conversão gênica. gene x geney gene x gene Y
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 167

Modelo de Quebra da Dupla Fita plex perdeu DNA na região da quebra, o preenchimento
da falha requer que a informação genética para ambos
O terceiro modelo é o de quebra da dupla fita (Ta os cromossomos resultantes venha do duplex intacto;
bela 4.3). Nesse modelo, a recombinação é iniciada por portanto, se existiam diferenças de sequência entre os
uma quebra da dupla fita em um duplex (Figura 4.22a). cromossomos na falha, terá ocorrido conversão gênica.
As extremidades são ressecadas (Figura 4.22b), resul
tando em perda de informação genética de um dos dois
dúplices. Há formas alternativas desse modelo. Em uma Proteínas Chaves da Recombinação
delas, os dois segmentos de fita única do duplex quebra em E. coli
do invadem o duplex intacto, formando uma molécula
com duas junções Holliday. As extremidades quebradas Em E. coli, a proteína chave do processo de recom
podem ser reparadas por uma polimerase, usando a ca binação é RecA, que se liga de maneira cooperativa a
deia intacta como molde, e uma DNA ligase. A migração um DNA de fita simples e forma um enovelamento heli
da ramificação ocorre como nos modelos anteriores. coidal. Isso facilita o pareamento da fita única com um
Em um modelo alternativo, a extremidade 3! de um DNA homólogo duplex para formar a tripla fita da alça
dos dois lados da quebra invade a outra fita e estabe -D. Troca de fitas pode ocorrer, levando a DNA hetero
lece uma alça-D que permite copiar o duplex intacto. duplex. Eucariotos têm proteínas homólogas, sendo que
Isso pode resultar em uma pequena bolha de replicação sua versão humana é chamada RAD51.
com síntese em ambas as fitas por uma distância curta,
e resolução quando a bolha encontra o outro lado da RecBCD é um complexo de E. coli com múltiplas ati
quebra. Isso responderia por extensa conversão gênica. vidades; liga-se a uma quebra de dupla fita e a processa
em um substrato para a recombinação degradando o
A resolução das duas junções Holliday é feita por um DNA para trás, até encontrar uma sequência especial
par de cortes (Figura 4.22f). Como há duas direções chamada sítio χ, deixando uma projeção de fita simples
possíveis para resolver cada junção, há quatro resulta com 3!-OH. RecA pode se ligar a essa fita única para
dos possíveis. Duas deixam os marcadores flanqueado iniciar o pareamento com o duplex homólogo. RuvA e
res juntos em sua configuração original (X com Y e x RuvB formam um complexo com atividade de DNA he
com y), e duas levam a troca dos marcadores flanquea licase que catalisa extensa migração da ramificação,
dores (X com y e x com Y). A resolução por uma topoi uma etapa chave na recombinação. RuvC é uma endo
somerase tipo II também pode ocorrer. Como um du nuclease que se liga a esse complexo e catalisa a resolu
ção das junções Holliday.

(a) gene X A gene Y

C
T

G
gene x geney

(b)
C
T

G FIGURA4.22 Modelo de quebra da dupla fita em recombinação


homóloga.
Esse modelo é semelhante de muitos aspectos aos dois modelos discutidos an
(c)
teriormente, mas a iniciação se dá por uma quebra na dupla fita em um dos dois
CT
G DNAs. (a) A iniciação se dá por uma quebra da dupla fita em uma molécula de
DNA. Dois dúplices alinhados são mostrados; genes flanqueadores têm diferentes
alelos (X,x;Y,y). Também é mostrada uma posição na qual um duplex tem um
par de bases AT e o outro, um par de bases GC. (b) DNA é recortado a partir da
(d) quebra por uma exonuclease que deixa extremidades com excesso em 3!-OH.
C Esse recorte pode remover um dos nucleotídeos do ponto que difere entre os
dúplices. (c) Uma ou ambas as extremidades em excesso podem invadir o du
G
plex homólogo intacto. (d) Onde houver um erro de pareamento, a extremidade
livre pode ser mais recortada por enzimas do reparo de pareamento errado. (e)
(e) gene X gene Y A extremidade livre pode ser elongada por uma DNA polimerase, usando a fita
G
C
não degradada como molde e resultando em conversão gênica. As quebras rema
C nescentes são reparadas, formando duas junções Holliday. (f) Ambas as junções
G Holliday são então resolvidas. Como existem duas junções e duas maneiras de
gene x G
C geney
resolver cada uma (como na Figura 4.20h), há quatro resultados possíveis. Duas
(f) gene X gene Y das quatro maneiras possíveis de resolver as junções Holliday (cortes vertical/
vertical ou horizontal/horizontal) deixam os marcadores flanqueadores como es
tavam (XY/xy). As outras duas maneiras de resolver as junções Holliday levam à
troca dos marcadores flanqueadores (Xy/xY). Resolução também pode ser feita
genex geney
por topoisomerase.
168 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Recombinação Não-Homóloga faz uma cópia em DNA de um RNA) e inserem-nas no


cromossomo hospedeiro por um evento de transposição
Recombinação Sítio-Específica catalisado por uma integrase codificada pelo vírus.
Na recombinação sítio-específica, enzimas especia Ligação de Extremidades Não-Homólogas
lizadas catalisam a integração de uma sequência em
pontos específicos do DNA. Integração do bacteriófago Na ligação de extremidades não-homólogas (NHEJ;
λ no cromossomo de E. coli é o exemplo mais bem estu às vezes chamada recombinação ilegítima), nenhuma
dado. A integrase λ catalisa quebra específica do DNA homologia é necessária, nem existem sequências espe
λ e de uma sequência especial do cromossomo de E. ciais no DNA. Ao contrário, extremidades quebradas de
coli, além de catalisar a religação envolvida. Esse é um um DNA duplex podem recombinar com outro duplex
processo reversível; a sequência λ integrada pode ser na ausência de homologia. Isso pode levar ao reparo de
removida do cromossomo. Existem importantes exem uma quebra de dupla-fita de DNA e, assim, é de con
plos de recombinação sítio-específica que controlam siderável valor para sobrevivência. Também pode le
processos como conjugação tipo conversão em levedura var a translocação cromossômica ou a inserção de um
e mudança de fase (alterações na principal proteína de fragmento de DNA em qualquer lugar do genoma. Em
superfície) de tripanossomos. Mudança de fase de tripa células de mamíferos, um heterodímero chamado Ku
nossomos ajuda o parasita a evadir da resposta imune. liga-se avidamente às extremidades do DNA e pode
se mover ao longo do DNA. Ku associa-se com uma su
Transposição bunidade catalítica grande para formar DNA-PK, uma
serina/treonina proteína quinase dependente de DNA.
Transposição é o movimento de pedaços específi Acredita-se que isso desempenhe um papel na ligação
cos de DNA no genoma. Existem dois tipos de eventos de extremidades não homólogas (NHEJ) por se ligar e
de transposição: transposição simples, na qual uma se aproximar as duas extremidades livres de uma quebra
quência é removida de um local no genoma e inserida de dupla-fita e protegê-las de ação excessiva de nuclea
em outro local, e transposição replicativa, na qual uma ses. Pode desenrolar as extremidades até que regiões
cópia da sequência é inserida em outro local do geno muito curtas de “micro-homologia” (2 – 6 pb) possam
ma, sem que a original seja perdida. As transposases parear. As “sobras” (flaps) não pareadas poderiam ser
são as enzimas que catalisam a transposição. Elas reco removidas por FEN1, as falhas preenchidas por DNA
nhecem e agem sobre sequências de inserção. Alguns polimerase, e as quebras ligadas por DNA ligase. Defei
pedaços de DNA, chamados transposons, codificam tos em Kulevam a sensibilidade aos raios-X, em virtude
transposases flanqueadas por sequências de inserção da capacidade reduzida de reparar as quebras de du
e podem se mover para quase qualquer lugar no cro pla-fita causadas por raios-X. Defeitos em Ku também
mossomo alvo. Transposons, às vezes, carregam outros podem levar à doença de imunodeficiência combinada
genes com eles, quando transpõem. Outros pedaços de grave (SCID), porque outra função de Ku é na recom
DNA contêm sequências de inserção, mas não codifi binação V(D)J, a clivagem sítio-específica e a religação
cam sua própria transposase; esses pedaços podem se necessária à montagem dos genes funcionais de imuno
mover quando uma transposase codificada em outro lo globulinas.
cal é expressa.
Quando genes são introduzidos em células de ma
Transposons podem se mover para novos lugares míferos, eles geralmente se integram aleatoriamente no
dentro de um cromossomo ou se integrar a outros cro cromossomo por ligação de extremidades não homólo
mossomos. Uma fração significativa do genoma huma gas. Essa integração aleatória de um fragmento de DNA
no resultou do acúmulo de transposons e sequências de pode destruir genes e causar mutações ou desregula
inserção. Elementos Dispersos Longos (LINEs, long ção. Portanto, é possível que a tentativa de corrigir um
interspersed elements, do qual o elemento L1 é o mais problema genético pela inserção de um gene possa cau
comum) são transposons presentes em cerca de 50.000 sar outro problema; esta é uma importante limitação
cópias no genoma humano. As sequências Alu são ele da terapia gênica no momento (Correlação Clínica 4.6).
mentos dispersos pequenos (SINEs, short intersper
sed elements), presentes em cerca de 500.000 cópias
por genoma humano haploide; não codificam transcrip Pseudogenes
tase reversa. Algumas mutações que causam doenças
se devem a inserção de um transposon dentro de um O genoma humano contém muitos pseudogenes,
gene, alterando sua codificação ou regulação. cópias não funcionais de genes. Essas cópias podem
resultar de retrotransposição de mRNAs, e, nesse
Retrotransposons são sequências que foram trans caso, elas não têm íntrons, ou de transcritos parcial
critas em RNA e depois transcritas reversamente e mente processados, e neste caso podem conter alguns,
integradas de volta num local qualquer do genoma. mas não todos os íntrons. Em outros casos, parecem
Os retrovírus fazem cópias em DNA do seu RNA genô surgir de recombinação, como crossing over desigual,
mico (usando transcriptase reversa, uma enzima que e contêm íntrons. Frequentemente, esses pseudogenes
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 169

DNA podem bloquear processos essenciais, incluindo


CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.6
a replicação e a transcrição do DNA, e podem levar a
mutações.
Recombinação e Terapia Gênica
Em solução aquosa a 37°C, ocorre deaminação es
A terapia gênica é a introdução de genes novos ou
pontânea de bases C, A e G no DNA. C deamina forma
alterados em células para corrigir um defeito genéti
U (Figura 4.23a), A forma hipoxantina, e G, xantina.
co ou tratar uma doença. À medida que aprendemos
mais sobre doenças específicas, as possibilidades de A despurinação espontânea em virtude da clivagem da
ligação glicosídica que liga purinas ao esqueleto, dei
intervenção genética aumentam. O tipo mais fácil de
xando o esqueleto do DNA intacto (Figura 4.23b), ocor
doença a ser curada por terapia gênica é aquele em re a uma taxa substancial. Estima-se que entre 2.000 e
que o suprimento de uma proteína circulante pode
10.000 purinas sejam perdidas por célula de mamífero
ser fornecido por células engenheiradas para produ
em 24 horas. Esses sítios despurinados são chamados
zi-la, sem necessidade de essas células ficarem em
abásicos (em que falta uma base) ou sítios AP (original
uma localização específica. Um pouco mais difícil se
ria a produção regulada de uma proteína, por exem mente significando apurínico, em que falta uma purina,
mas depois generalizado para falta de qualquer base).
plo, insulina, que pode ser fornecida por células loca
lizadas em qualquer lugar no corpo. Será muito mais As bases são oxidadas a uma velocidade substancial
difícil substituir um gene defeituoso por uma cópia por espécies reativas de oxigênio, que são subprodutos
normal em células específicas nas quais é expresso. do metabolismo oxidativo; isso cria bases alteradas, por
exemplo, 8-hidroxiguanina (8-oxo G; Figura 4.23c).
Várias limitações importantes impedem o pro
Danos oxidativos tendem a aumentar com a idade. Pro
gresso. Uma é a dificuldade de introduzir genes em
dutos da peroxidação de lipídeos podem formar aductos
células relevantes; isso está sendo abordado por mais
com bases, particularmente resíduos G.
trabalhos sobre vetores para a introdução de genes e
sobre a biologia de células-tronco. Outra é a tendên Agentes alquilantes, incluindo alguns usados em
cia dos genes introduzidos serem incorporados alea quimioterapia, adicionam metil ou outro grupo alquila
toriamente no genoma. O DNA introduzido em célu às bases. S-adenosil metionina, um carregador de gru
las de mamíferos integra-se mais frequentemente ao pos metil do metabolismo normal, ocasionalmente me
genoma por ligação de extremidades não homólogas tila uma base no DNA.
(NHEJ). Essa inserção aleatória pode resultar na
criação de uma nova mutação se o transgene se in A radiação ultravioleta (da luz do sol ou de lâmpa
serir numa sequência codificadora ou regulatória de das de bronzeamento) liga covalentemente pirimidi
um gene. Também pode criar dificuldades na susten nas adjacentes ao longo de uma fita do DNA, formando
tação da expressão gênica ao longo do tempo, porque cis-syn-ciclobutano dímeros de pirimidina (Figura
o gene inserido não estará em seu local normal no 4.23d e e) e outros fotoprodutos, incluindo pirimidina
cromossomo e, portanto, pode ser regulado incorre 6-4 pirimidonas. A radiação ionizante, incluindo raios
tamente por mecanismos epigenéticos. -X e decaimento radioativo, criam quebras nas fitas e
produzem espécies reativas de oxigênio que danificam
o DNA.

Agentes carcinogênicos e mutagênicos atacam o


são não funcionais em virtude de mutações de senti DNA. Alguns agem diretamente e outros são pró-carci
do errado (missense) ou sem sentido (nonsense) (ver nogênicos. Pró-carcinogênicos em sua forma nativa não
p. 170) ou porque as sequências necessárias à inicia danificam o DNA, mas podem ser ativados por proces
ção da transcrição foram alteradas. Em outros casos, sos metabólicos (por exemplo, oxidados por citocromos
retrotransposição ou crossing over desigual foram a P450) em carcinogênicos que danificam o DNA. Esse
matéria-prima para evolução, quando o acúmulo de processo é chamado ativação metabólica. Benzo(a)pi
mudanças genéticas leva a cópia do gene a assumir ou reno, um constituinte do alcatrão, é um agente pró-car
tras funções. cinogênico extremamente potente que requer oxidação
para que o epóxido ataque o DNA.

Muitos agentes quimioterápicos atacam o DNA; al


4.5 DANOS AO DNA E guns promovem alquilação das bases, outros, incluindo
MUTAÇÕES a cisplatina, fazem ligações cruzadas entre as duas fi
tas (Correlação Clínica 4.7). A maior sensibilidade de
O DNA em células está continuamente sendo dani células em replicação a lesões no DNA significa que as
ficado por constituintes celulares, incluindo espécies células tumorais de divisão rápida são mais sensíveis
ativas de oxigênio que são subprodutos do metabolis a esses agentes lesivos do que as células normais, mas
mo. Muitos agentes ambientais e compostos químicos sua ação deletéria sobre células normais limita sua do
nos alimentos atacam e modificam o DNA. Danos no sagem e seu uso.
170 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

H
CH
H NC
C NH
N H O CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.7
C CC
CH NH Cisplatina e o Tour de France
NC
Muitas drogas comumente usadas em quimiote
H O H O
rapia são agentes alquilantes, frequentemente com
(a) dois grupos funcionais que podem criar ligações cru
zadas tanto intracadeia como intercadeias no DNA.
Ciclofosfamida, busulfan e nitrosoureia são agentes
A A G C T T G T A alquilantes. Agentes alquilantes não são apenas tóxi
T T C A A C A T cos, mas também mutagênicos, às vezes, resultando
em câncer secundário como leucemias.
(b) Cisplatina (cis-diaminodicloroplatina),

CH3
NH3
O6Me-G O N ClPt NH3
HN CC
N C H Cl
COHC
N
N usada para tratar câncer metastático testicular, ova
H riano e uma grande variedade de outros tipos, faz
(c) ligação cruzada no DNA. Entre os graves efeitos co
laterais da cisplatina estão depleção de medula ós
sea, insuficiência renal grave e perda de audição e
AçúcarN CH N de equilíbrio. O câncer testicular disseminado cos
Açúcar CO
O C C CH3
tumava ser quase sempre fatal (5% de taxa de cura
Fosfato
em 1973), até que uma combinação quimioterápica,
C N H na qual a cisplatina foi adicionada a vinblastina e ble
N C C CO
omicina, foi desenvolvida pelos Drs. Larry Einhorn e
H CH3Anel
John Donohue Indiana University School of Medici
ciclobutano ne. A nova combinação aumentou muito a sobrevida.
(d) (e) Esse protocolo foi posteriormente modificado para
uma combinação de cisplatina, etoposídeo e bleo
FIGURA 4.23 Danos ao DNA.
micina. Hoje, aproximadamente 80% dos pacientes
(a) Deaminação oxidativa converte C em U. (b) Sítio AP. Despuri
nação (ou, menos frequentemente, despirimidinação) é a clivagem
sobrevivem. Após tratamento de câncer testicular
de uma ligação glicosídica entre a posição 1! do açúcar e a base. Isso avançado, o ciclista campeão mundial Lance Arms
deixa um sítio abásico ou AP, mas não quebra o esqueleto açúcar trong competiu e ganhou o Tour de France sete ve
-fosfato. (c) O6-metil guanosina é uma lesão altamente mutagênica. zes consecutivas.
(d) Luz ultravioleta leva à ligação cruzada entre piridinas adjacen
tes ao longo de uma das fitas do DNA. Um dímero timina cis-syn Einhorn, L. H. Curing metastatic testicular cancer.
ciclobutano é mostrado no esquema. (e) Um dímero ciclobutano é Proc. Natl. Acad. Sci. USA 99:4592, 2002
mostrado no DNA dupla-fita; o esqueleto é mostrado como um bas
tão para revelar a distorção das bases em ligação cruzada (amarelo)
e bases complementares na outra fita.

Mutações a uma transição. A frequência de transições é aumen


tada por análogos de bases, incluindo 2-amino purina
Mutações são alterações hereditárias na sequência (Correlação Clínica 4.8). Transversões são mutações
do DNA. Podem resultar de erros na replicação, de da puntuais nas quais uma purina é substituída por uma
nos ao DNA ou de erros introduzidos durante o reparo pirimidina ou vice-versa (por exemplo, A por C ou C
dos danos. Mutações que são trocas de um único par de por A).
bases são chamadas mutações puntuais.
Mutações puntuais também podem ser caracteriza
Mutações puntuais podem ser classificadas pela na das por seu efeito sobre uma sequência codificadora.
tureza das bases alteradas. Transições são mutações Mutações de sentido errado (missense) são mutações
puntuais nas quais uma purina é substituída por outra puntuais que trocam um único par de bases em um
(por exemplo, A por G ou G por A) ou uma pirimidina códon, de modo que o códon agora codifica um ami
é substituída por outra (por exemplo, T por C ou C por noácido diferente (Figura 4.24a). Mutações sem sen
T). A deaminação de C para U, se não reparada, levaria tido (nonsense) são mutações puntuais que trocam
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 171

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.8

Análogos da Base Tiopurina Como Drogas

6-Mercapto purina (6-MP) é um análogo de purina ferase (TPMT). Alguns pacientes (cerca de 10% da po
administrado oralmente que é útil na quimioterapia de pulação) são heterozigotos para um polimorfismo que
leucemias agudas e para imunossupressão após trans inativa a enzima e, portanto, têm aproximadamente 50%
plante de órgãos. Age por vários mecanismos, inclusive da atividade, e 1/300 das pessoas não têm atividade de
inibindo a biossíntese de purinas e causando toxicidade TPMT e correm risco extremamente elevado de imunos
após incorporação ao DNA. É metabolizada a 6-MP ribo supressão grave e morte, se forem tratados com 6-MP.
sina 5!-fosfato, que tem meia-vida curta porque é degra Por outro lado, pessoas que metabolizam as drogas mais
dada por xantina oxidase. A velocidade de degradação é rapidamente podem não atingir dose terapêutica sufi
muito reduzida em pacientes que estão sendo tratados ciente. Essa diferença farmacogenética, portanto, tem
com alopurinol (um inibidor da xantina oxidase) para sérias implicações para o tratamento com tiopurinas.
hiperuricemia relacionada à gota, de modo que a dose
deve ser drasticamente reduzida em tais pacientes. Sanderson, J., Ansari, A., Marinaki, T. e Duley, J. Thiopu
rine methyltransferase: Should it be measured before com
Outra enzima que metaboliza 6-MP (e o antimetabó mencing thiopurine drug therapy? Ann. Clin. Biochem.
lito relacionado 6-tioguanina) é tiopurina metil trans 41:294, 2004.

um único par de bases em um códon para um Mutações pontuais

códon de terminação (stop codon) que termi ------


---CLU
eGu ACGUAU
Thr Tyr U
PUhU
e AA
sUnG
VUaC
l MT
AeGt --- ---L U
---C eGuA
TChG
rUSC
eUrU
PUhU
e AA
sUnG
VUaC
l MT
A Gt
na a tradução (Figura 4.24b). Mutações sem e ---
---
sentido geralmente têm efeitos mais graves do (a) Mutação de sentido errado (missense) (A para C)
que mutações de sentido errado, porque levam
à síntese de polipeptídeos truncados (e geral ---CUGACGUAUUUUAAUGUC--- M
ATeG
t ---CUGACGUAAUUUAAUGUCATG---
---Leu Thr Tyr Ph e As nVa l --- ---Leu Thr *** para da
mente instáveis). Mutações silenciosas ou si
(b) Mutação sem sentido (nonsense) (U para A)
nônimos não alteram o aminoácido codificado;
essas mutações incluem muitas mudanças no
Inserções e deleções
terceiro nucleotídeo de um códon. Algumas
---CUGACGUAUUUUAAUGUCATG---
------ ---CUGAACGUCUUUUAAUGUCAT---G
mutações silenciosas podem, entretanto, ter Leu Thr Tyr Ph e As nVa l Me t ---Leu As nVa l Ph e *** para da
sérias consequências se mudarem o padrão de
(c) Insertção (de A), muda a estrutura de leitura e causa uma mutação Frameshift
splicing do gene.
---CUGACGUAUUUUAAUGUCATG--- ---UGACGUCUUUUAAUGUCATG---
---Leu Thr Tyr Ph e As nVa l Me t --- --- *** para da
Inserções ou remoções de um ou mais pares
de bases (se o número de pares de bases não (d) Deleção (do primeiro C), muda a estrutura de leitura e causa uma mutação Frameshift

for um múltiplo de 3) podem levar a mudanças


na estrutura de leitura (frameshifts) que des ---CGGCGG [ CGG ]45CGG--- ---CGGCGG [CGG ]102CGG---

troem a codificação de uma proteína (Figura (e) Expansão de tripletes, pode causar doença

4.24c e d). A tradução de um mRNA não tem


FIGURA4.24 Mutações.
pontuação; ao contrário, uma vez que o código Mutações puntuais. (a) Uma mutação de sentido errado (missense) muda
de iniciação tenha sido determinado, tripletes
um único aminoácido no polipeptídeo codificado. (b) Uma mutação sem
sucessivos são lidos como códons. Portanto, en sentido (nonsense) altera um códon de um aminoácido para um códon de
quanto adição (ou deleção) de um múltiplo de terminação (stop), terminando a síntese do polipeptídeo codificado. Muta
três pares de bases em uma região codificadora ções por inserção/deleção. (c) Inserção de um único nucleotídeo altera a
adicionaria (ou subtrairia) aminoácidos a (ou estrutura de leitura de todos os códons depois do ponto da inserção; isso
de) uma proteína, a adição de outros números geralmente leva à formação de um novo códon de terminação que finaliza a
de pares de bases desloca a estrutura de leitura síntese. (d) Deleção de um único nucleotídeo muda a estrutura de leitura de
todos os códons após o ponto da deleção; isso geralmente leva à formação de
daquele ponto em diante. Mudanças na estru
tura de leitura (frameshifts) geralmente levam um novo códon de terminação que finaliza a síntese. (e) Expansão de triple
tes é um grande aumento no número de repetições de tripletes. A expansão
a terminação prematura (ou, mais raramente, à de tripletes causa muitas doenças, incluindo a doença de Huntington e a
elongação) da cadeia polipeptídica codificada, doença do XFrágil, por adicionar longas extensões de um único aminoácido
quando códons de terminação (stop codons) ao polipeptídeo codificado ou por destruir a regulação de um gene.
são gerados ou removidos pela mudança na es
trutura de leitura. Alguns agentes químicos,
incluindo acridinas e proflavina, intercalam
172 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

-se no DNA; isto é, inserem-se entre pares de bases do, como na doença de Huntington (Correlação Clíni
adjacentes. Isso geralmente leva a inserções ou dele ca 2.6). Expansão de tripletes também pode afetar a
ções de um único par de bases e, assim, uma mudan regulação de um gene, como na síndrome do X Frágil
ça na estrutura de leitura. Mutações também podem (Correlação Clíninica 2.6), na qual a sequência de tri
resultar de alterações em larga escala, incluindo in pletes muito aumentada no promotor altera a expres
serção de transposons. Embora raras em uma geração são gênica. Nessas doenças de expansão de tripletes
qualquer, mutações acumularam-se em populações ao há um fenômeno pouco comum: a doença geralmente
longo de milhões de anos, de modo que duas pessoas fica mais grave em gerações sucessivas, como resul
diferem em cerca de 1 pb por 1.000 ao longo de seus tado de aumento ainda maior no comprimento dos
genomas. Muitas dessas diferenças genéticas não têm tripletes, porque quanto mais longa for a sequência
efeito, mas outras afetam nossa fisiologia, susceptibili repetitiva, maior a probabilidade de alinhamento er
dade a doenças e resposta a tratamentos (Correlação rado durante a replicação ou crossing over desigual,
Clínica 4.9). levando a repetições drasticamente mais longas.

O genoma contém muitas sequências de 2, 3, 4 ou 5


nucleotídeos repetidos. Essas repetições simples têm
uma taxa de mutação maior do que a média porque 4.6 REPARO DO DNA
podem, ocasionalmente, se alinhar erroneamente du A manutenção da informação genética requer repa
rante a replicação e a recombinação, levando a inser ro constante dos danos ao DNA. Todos os organismos
ção ou deleção de certo número de repetições. Assim,
de vida livre possuem mecanismos de reparo aos danos
ao longo de muitas gerações, diferentes comprimentos
no DNA. Algumas lesões são reparadas diretamente,
dessas sequências acumularam-se na população hu mas a maioria é removida do DNA como parte do pro
mana; são chamados polimorfirmos de comprimento
cesso de reparo. Uma característica chave da maioria
de sequências simples (também chamados microssa
dos processos de reparo é a natureza em dupla-fita do
télites ou polimorfismos de repetição de sequências DNA, que permite a restauração da sequência correta
simples). Há um tipo especial de mutação que resulta em uma fita danificada, com o uso da informação gené
de um grande aumento no número de tripletes repe
tica complementar da outra fita.
titivos (por exemplo, CGGCGG[CGG]nCGG), chama
do expansão de tripletes (Figura 4.24e). Quando o
comprimento de uma repetição de tripletes fica muito Reparo por Excisão
mais longo do que o normal, pode causar doença por
codificar uma sequência do mesmo aminoácido muito Reparo por excisão é um mecanismo geral que pode
mais longa do que o normal no polipeptídeo codifica reparar com grande precisão muitos tipos diferentes

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.9

Medicina Personalizada

Indivíduos diferem na sequência do DNA do seu ge Quanto mais se aprende sobre os efeitos dessas diferen
noma de formas sutis, como resultado de um acúmulo ças de sequências sobre doenças e tratamentos, mais
muito gradual de mutações na população ao longo de a medicina se tornará adaptada ao indivíduo. Já existe
muitas gerações. As diferenças mais comuns envolvem tecnologia para determinar rapidamente que polimor
um único par de bases; isso é chamado polimorfismo de fismo está presente em pontos específicos do genoma
um único nucleotídeo (SNP) (embora polimorfismo de de um indivíduo. Quando essas tecnologias ficarem
um único par de bases fosse mais correto). Existem qua mais baratas e rotineiras, a determinação dos alelos
se 7 milhões de SNPs validados no genoma humano, e presentes em genes chaves tornar-se-á parte rotineira
muitos mais reportados; isso dá uma média de 1 por 500 do diagnóstico e do planejamento do tratamento. Por
pb. A maioria dos polimorfismos não afeta as funções ce exemplo, há diferenças significativas entre indivíduos
lulares, mas outros contribuem para as muitas diferenças na velocidade com que metabolizam drogas (compare
que vemos. Alguns afetam susceptibilidade a doenças es Correlação Clínica 4.8). Uma dose padrão baseada no
pecíficas, alguns afetam o metabolismo de drogas e ou peso corporal pode ser muito baixa para ser efetiva na
tros compostos (farmacocinética), e outros ainda afetam queles que metabolizam a droga rapidamente, mas tóxi
a resposta a essas drogas (farmacodinâmica). ca para aqueles que a metabolizam muito lentamente.
Determinação de polimorfismos relevantes e testes ro
Como parte do projeto genoma humano, há um gran tineiros poderiam levar a terapias mais eficientes, com
de esforço para descobrir e catalogar polimorfismos. menos efeitos colaterais.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 173

de danos. A característica que define o reparo por ex resíduos C no DNA de mamíferos, na sequência CG,
cisão é a remoção do(s) nucleotídeo(s) danificado(s), são metilados na posição 5; isso é importante na regu
deixando uma falha no DNA, seguida por ressíntese, lação da expressão gênica. Deaminação de um 5-metil
usando a informação genética da fita oposta e, depois, C deixa um T, em vez de um U, no DNA. Esses resíduos
ligação para restabelecer a continuidade do DNA. Exis T não são reconhecidos pela uracil DNA glicosilase,
tem dois modos principais de reparo por excisão: repa mas existem outras glicosilases que reconhecem o par
ro por excisão de base (BER) e reparo por excisão de errado T:G resultante e removem preferencialmente
nucleotídeos (NER) (Tabela 4.4). T, deixando um sítio AP (Figura 4.23b). Às vezes, en
tretanto, o sistema de reparo de pareamento errado
Reparo por Excisão de Base remove G em vez de T, criando uma mutação. Ao longo
de milhões de anos, isso levou a uma frequência mui
Reparo por excisão de base é um processo essen to menor do que o esperado de dinucleotídeos CG no
cial que repara muitos tipos diferentes de bases dani
DNA de mamíferos.
ficadas, incluindo bases metiladas, bases deaminadas
(por exemplo, U resultante da deaminação de C), ba
ses oxidadas e sítios abásicos (AP). A etapa inicial é a
remoção de uma única base danificada do esqueleto
do DNA por uma DNA glicosilase, uma enzima que
(a)
corta a ligação N-glicosil entre o açúcar e a base (Fi
gura 4.25). Essa etapa não quebra o esqueleto açúcar
-fosfato do DNA; ao contrário, deixa uma desoxirribo
se abásica no esqueleto, um sítio AP que precisa ser (b)
removido. Duas atividades diferentes são necessárias
para remover esse açúcar: uma AP endonuclease, que
quebra a ligação fosfodiéster no lado 5!, mas deixa o (c)
açúcar ainda ligado ao nucleotídeo seguinte, e uma
AP liase, que corta o lado 3! do sítio AP para remo
ver o açúcar. A falha resultante de um único nucleo (d)
tídeo tem um 3!-hidroxila livre. A falha é preenchida
por uma DNA polimerase e ligada por uma DNA ligase
(Figura 4.25). (e)

Existem, pelo menos, oito glicosilases diferentes FIGURA4.25 Reparo por excisão de base.
no homem, e cada uma reconhece certos tipos de (a)O ponto danificado (bolinha azul) é reconhecido por uma
bases danificadas. Uma delas, uracil DNA glicosila DNA glicosilase. (b) A base é removida por clivagem da ligação
se (UNG), é especializada em remover U do DNA. U glicosídica que a conecta com o açúcar desoxirribose; o esque
não é um constituinte normal do DNA, mas é formado leto açúcar-fosfato não é quebrado. Isso deixa um sítio AP. (c)
O esqueleto açúcar-fosfato é clivado no lado 5! do sítio abásico
quando C é deaminada, e pode ocasionalmente ser in
por uma AP endonuclease. Há também uma clivagem no lado
corporado ao DNA durante a replicação. A frequente 3! desse sítio para remover o resíduo de açúcar; isso pode ser
deaminação de C para U vista anteriormente (Figura feito por algumas AP endonucleases ou por uma atividade de
4.23a) levaria a uma alta taxa de mutação; portanto, AP liase. (d) A falha de um único nucleotídeo é preenchida
não é surpreendente que um mecanismo de reparo es por uma DNA polimerase. (e) A incisão remanescente é sela
pecial tenha evoluído para remover U. Porém, muitos da por uma DNA ligase.

TABELA 4.4 Reparo por excisão


Passos Básicos
Reconhecimento da lesão
Remoção da lesão por excisão de parte de uma das fitas
Ressíntese para preencher a falha; a informação genética da outra fita é usada
Ligação para restabelecer a continuidade do esqueleto do DNA

Reparo por excisão de base Reparo por excisão do nucleotídeos


Glicosilase remove a base, deixa o esqueleto intacto Excisão dupla remove a lesão como parte de um
AP endonuclease corta o esqueleto, AP liase remove o
açúcar
} oligonucleotídeo (12-13 nt in E. coli, 27-29 nt no
homem)

DNA polimerase preenche a falha DNA polimerase preenche a falha


DNA ligase sela a incisão DNA ligase sela a incisão
174 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Outra lesão comum é 8-oxo-G (Figura 4.23c), for com um corte em cada lado da lesão. Uma DNA polime
mada por dano oxidativo, o que leva a uma transver rase preenche a falha, seguida por ligação da incisão.
são. Existe uma via de reparo especial, projetada para
reparar 8-oxo-G; OGG1 remove a lesão do DNA. Se a
replicação já ocorreu, MUTYH remove o A que poderia
ter sido incorporado erroneamente em complemento a
8-oxo-G e permite que a polimerase de reparo coloque
o Ccorreto.

A AP endonuclease mais importante no homem é


APE1. Depois de quebrar o esqueleto no lado 5! de um
sítio AP deixando um 3!-OH livre, APE1 recruta DNA
polimerase β (pol β) para o local. Pol β tem atividade
de AP liase, que remove o açúcar-fosfato abásico rema
nescente no ponto da quebra da fita, deixando uma fa
lha de um único nucleotídeo com um 3!-OH livre. Pol β
também tem atividade de DNA polimerase, que pode
preencher a falha. Para muitos tipos de danos, a falha
é preenchida com apenas um ou dois nucleotídeos; isso
é chamado reparo de segmento curto (short patch re
pair). Em casos nos quais AP liase não pode remover
facilmente o açúcar-fosfato, deslocamento da fita pode
criar uma projeção de vários nucleotídeos e a endonu
clease FEN1 (que também serve para ajudar a remover
o RNA dos fragmentos de Okazaki, como mencionado
anteriormente) pode clivá-la. A falha um pouco maior
FIGURA 4.26 Reparo por excisão de nucleotídeos.
é preenchida por uma polimerase como pol β ou pos
sivelmente pol d (ou pole), estimulada por PCNA. Em (a) A base danificada (bolinha azul) é reconhecida por um
qualquer caso, a incisão remanescente é selada por uma complexo de reparo do DNA. (b) O segmento ao redor da base
DNA ligase. Interações proteína-proteína coordenam lesada é removido por um complexo enzimático que faz duas
quebras na fita danificada, uma de cada lado da lesão. (c) Um
esse processo, mantendo a quebra e os intermediários
oligonucleotídeo (27-29 nt no homem, 12-13 nt em E. coli)
protegidos até que a próxima enzima tenha sido recru é liberado. (d) Ressíntese: uma DNA polimerase preenche a
tada para o local. falha, usando a fita oposta como molde. (e) A DNA ligase sela
a incisão remanescente.
Reparo por Excisão de Nucleotídeos
Reparo por excisão de nucleotídeos age sobre uma No homem, vários grandes complexos enzimáticos
enorme variedade de danos, envolvendo tipicamente estão envolvidos no reconhecimento da lesão, na aber
grandes aductos ou distorção na estrutura em dupla tura do DNA e nas duas clivagens. A doença rara au
-hélice do DNA. Os melhor estudados são os dímeros tossômica recessiva Xeroderma pigmentoso (XP), que
de pirimidina, os principais produtos de danos por ul torna os pacientes fotossensíveis e suscetíveis a câncer
travioleta (Figura 4.23d e e). Aductos químicos com de pele, resulta de mutação em um dos sete genes en
carcinógenos, como benzo[a]pireno e aflatoxina, e com volvidos no reparo por excisão ou em um gene envolvido
agentes quimioterápicos, como cisplatina, são removi na síntese de DNA translesão (ver Correlação Clínica
dos por essa via, assim como bases pareadas incorre 4.10). XPC é parte de um complexo que se liga forte
tamente e pequenas alças (loops) no DNA. A lesão é mente a lesões que distorcem a estrutura do DNA. XPA
removida por um complexo enzimático que corta vários é um fator chave envolvido no reconhecimento da lesão
nucleotídeos de distância dos dois lados da(s) base(s) e na montagem do complexo de excisão; mutações no
danificada(s), para que a lesão seja liberada como parte gene XPA tornam os indivíduos essencialmente incapa
de um oligonucleotídeo (Figura 4.26). zes de remover os dímeros de pirimidina induzidos por
UV. XPA recruta um grande complexo chamado TFII
Em E. coli, um complexo de excisão de danos con -H, um fator de transcrição geral envolvido no início da
tendo UvrA, UvrB e UvrC reconhece a lesão e faz dois transcrição. TFII-H contém subunidades XPB e XPD,
cortes endonucleolíticos, um 3 a 5 nucleotídeos 3! da ambas ATPases com atividade de helicase limitada. O
lesão, e o outro 8 nucleotídeos 5! da lesão. Isso remove DNA é parcialmente desenrolado pela atividade helica
a lesão como parte de um oligonucleotídeo de 12-13 nu se de TFII-H, criando uma bolha de aproximadamente
cleotídeos de comprimento. O reconhecimento da lesão 25 pares de bases. Então, um heterodímero comple
por UvrA parece iniciar o processo, e a abertura das fi mento cruzado 1 do reparo por excisão (XPF/ERCC1,
tas por UvrB (uma helicase) requer energia na forma de excision repair cross-complementing 1) faz um cor
hidrólise de ATP. UvrC liga e catalisa a clivagem dual, te endonucleolítico na fita danificada a aproximada
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 175

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.10

Xeroderma Pigmentoso

Xeroderma pigmentoso (XP) (OMIM 194400) foi a a RNA polimerase parada reconhece a lesão e recruta
primeira doença que se demonstrou ser causada por de TFII-H. XPB e XPD codificam proteínas que funcionam
feito no reparo do DNA. Os pacientes são fotossensíveis como subunidades de TFII-H. TFII-H pode funcionar
e muito suscetíveis a câncer de pele nas áreas do corpo como helicase, abrindo uma região em torno do dímero.
expostas ao sol; as taxas de câncer de pele são 2.000 XPA é crítica para o reconhecimento dos dímeros de
5.000 vezes maiores do que a média. Muitos pacientes pirimidina e interage com outras proteínas do reparo.
também têm problemas neurológicos. ERCC1-XPF é um complexo que se liga a TFII-H e que
bra no lado 5! do dímero. XPG quebra no lado 3!.
XP é uma doença rara, autossômica recessiva, que
pode ser causada por defeitos em um dentre oito genes É notável que defeitos em XP-B, XP-D ou XP-G pos
diferentes, refletindo a complexidade do reparo do DNA sam também levar à síndrome de Cockayne, com fo
para dímeros de pirimidinas, a lesão mais comum intro tossensibilidade, defeitos de crescimento e deficiência
duzida por exposição à luz ultravioleta. Mutações em mental, entre os sintomas. Defeitos em XP-B ou XP-D
sete dos genes XP levam a defeitos na etapa inicial de também podem levar a tricotiodistrofia, com sintomas
incisão do reparo por excisão de nucleotídeos para dí incluindo fotossensibilidade, baixa estatura e deficiên
meros de pirimidina. Isso explica a extrema fotossensi cia intelectual. Portanto, diferentes alterações nos mes
bilidade que é característica dessa doença. Uma classe mos genes podem levar a síndromes diferentes, talvez
adicional, chamada XP-V (para variante), não apresenta por afetarem diferencialmente as funções de reparo e
deficiência detectável no reparo por excisão, mas tem um de transcrição dessas proteínas.
defeito na síntese translesão após danos causados por ul
travioleta. Células de pacientes XP podem também ter van Brabant, A. J., Stan, R., e Ellis, N. A. DNA helicases,
hipersensibilidade a carcinógenos da fumaça de cigarro. genomic instability and human genetic disease. Annu. Rev.
of Gen. and Human Genet. 1:409, 2000; a good reference
XP-C está envolvida na ligação inicial à lesão em re for genetic diseases in the Online Mendelian Inheritance in
giões que não estão sendo transcritas, e recruta TFII-H, Man, OMIM, em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.
um fator de transcrição geral. Em regiões transcritas, fcgi?db=OMIM.

mente 22-24 nucleotídeos 5! da lesão, e XPG faz uma polimerase parado em uma lesão. Em células eucarióti
clivagem endonucleolítica a aproximadamente 5 nucle cas, um complexo contendo CSA e CSB (mutações nos
otídeos 3! da lesão. Esses dois cortes liberam um oligo quais causam a síndrome Cockayne, outra doença de
nucleotídeo que contém a lesão, de 27 a 29 nucleotídeos deficiência no reparo do DNA) reconhece a RNA poli
de comprimento. A proteína de ligação ao DNA de fita merase paralisada, que ela recue para longe da lesão, e
simples RPA é necessária para o reparo por excisão. A recruta proteínas de reparo, incluindo o complexo TFII
falha no DNA é ligada a RPA e preenchida por pol dou -H. Então, muitos tipos de danos que bloqueiam a trans
pole), estimulada por PCNA. A incisão remanescente é crição são reparados pela via do reparo por excisão de
selada por uma DNA ligase, provavelmente LIG1. Essas nucleotídeos envolvendo XPA, TFII-H e outros fatores
últimas etapas lembram a complementação de um frag de reparo por excisão. Evidências recentes sugerem
mento de Okazaki. que o reparo acoplado à transcrição também atue em
lesões oxidativas, que são reparadas por reparo por ex
Reparo Acoplado à Transcrição cisão de base depois do complexo de transcrição terre
cuado da lesão. Uma vez que o reparo esteja completo, a
Muitas lesões bloqueiam a transcrição do mesmo transcrição pode continuar.
modo como bloqueiam a replicação. Portanto, as célu
las enfrentam um problema imediato, mesmo quando
Reparo de Pareamento Errado
não estão sintetizando DNA: elas devem ser capazes de
fazer proteínas chaves para que sobrevivam. O reparo Reparo de pareamento errado é uma forma espe
acoplado à transcrição direciona a resposta de repa cializada de reparo por excisão de nucleotídeos que
ro imediata para a fita molde de regiões transcritas, de remove erros de replicação. Pareamentos errados não
modo que lesões aí sejam reparadas mais rapidamente são como danos no DNA: não há lesão ou base modi
do que lesões em outras regiões, para que a transcri ficada, só a errada dentre as quatro bases. Portanto, o
ção possa recomeçar; o valor disso para sobrevivência é reconhecimento do pareamento errado depende da dis
óbvio. O reparo acoplado à transcrição é uma forma de torção na estrutura em dupla-hélice. Uma diferença im
reparo de excisão desencadeado por um complexo RNA portante entre o reparo do DNA danificado e o reparo
176 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

de pareamento errado é a escolha de qual base remover. m


Enzimas podem reconhecer especificamente bases da 5! ---GATC---3!
nificadas e removê-las, individualmente no reparo por 3!---CTAG---m5!
excisão de base, ou como parte de um oligonucleotí
deo no reparo por excisão de nucleotídeo. Mas quando (a) DNA metilado em E. coli
um pareamento errado é reconhecido, ambas as bases m
são normais; qual deve ser removida? No DNA recém 5! ---GATC---3!
-replicado, excisão da base recém-sintetizada preserva 3! ---CTAG---5!
ria a informação genética, enquanto a excisão da base (b) DNA hemimetilado em E. coli
da fita parental modificaria permanentemente o DNA,
m
produzindo uma mutação. A escolha aleatória de uma
5! --- CG ---5!
levaria a mutações na metade das vezes, uma taxa ina
3!---G---m
C3!
ceitavelmente alta. Portanto, o desafio é reconhecer a
fita recém-sintetizada e remover a base pareada incor (c) DNA metilado em células humanas
retamente nessa fita.
m
O reparo de pareamento errado é mais bem conheci 5! --- CG --- 3!
do em E. coli. O DNA de muitos organismos (mas não de 3! ---GC--- 5!
todos) é metilado em posições específicas. Em E. coli, (d) DNA hemimetilado em células humanas
a metilação mais frequente ocorre em A numa sequên
cia GATC (Figura 4.27a), uma sequência palindrômica FIGURA 4.27 DNA metilado.
(significando que a fita oposta tem a mesma sequência (a) Metilação do DNA em E. coli é em A numa sequência
quando lida de 5! para 3!); ambas as fitas são metiladas. GATC. (b) DNA hemimetilado de E. coli. Fita parental me
tilada, fita filha não metilada ainda. (c) Metilação em células
Essa metilação específica não afeta o pareamento de
humanas é em C em uma sequência CG. (d) DNA humano he
bases. Os resíduos A são incorporados ao DNA de for mimetilado, fita filha não metilada ainda. Note que em ambos
ma não modificada, e mais tarde são metilados por uma os casos a sequência é um palíndrome que se lê igual (5! para
metilase de manutenção, que reconhece sequências he 3!) ao longo de ambas as fitas, e os resíduos em ambas as fitas
mimetiladas no DNA (sequências metiladas em apenas são eventualmente metilados.
uma fita, a fita parental; Figura 4.27b) e metila a base
apropriada. Durante o breve período de tempo no qual Existem vários homólogos de MutS (proteínas MSH)
a fita filha ainda não foi metilada, o sistema de reparo e homólogos de MutL (proteínas MLH e proteínas PMS),
de pareamento errado e E. coli é capaz de reconhecer a que funcionam como heterodímeros. MutSa, um hete
fita recém-sintetizada na região de um pareamento er rodímero de MSH2 e MSH6, reconhece pares base-base
rado e remover o nucleotídeo errado da fita nova. Pare errados e inserções/deleções curtas; MutSβ, um hete
amentos errados são reconhecidos por um homodímero rodímero de MSH2 e MSH3, reconhece inserções/dele
MutS, que cria uma alça (loop) contendo o pareamento ções curtas. MutLa, dímeros contendo MLH1 e PMS2,
errado (Figura 4.28). Um homodímero MutL liga-se e são os principais complexos necessários para a etapa
coordena a clivagem e a excisão subsequentes. MutH de incisão. As enzimas responsáveis pela excisão da fita
faz um corte na fita não metilada, recém-sintetizada,
quebrada até o ponto além do pareamento errado ainda
em ambos os lados do par errado. Uma helicase (UvrD) não foram identificadas. Como em E. coli, a região re
desenrola a fita do ponto da quebra até o local do pare movida tem centenas de nucleotídeos de comprimento.
amento errado, e a fita única cortada é degradada por PCNA, a braçadeira corrediça, é requerida no reparo de
uma exonuclease 5! para 3! ou por uma exonuclease 3!
pareamento errado. Além de seu papel como fator de
para 5!, dependendo da extremidade livre. A longa falha
processividade para a DNA polimerase, parece funcio
(centenas de nucleotídeos) que é criada é preenchida nar durante a etapa de excisão. A ressíntese da grande
pela ação de DNA polimerase, adicionando nucleotídeos falha requer DNA poldou pole) e PCNA. A incisão re
à extremidade 3! da fita quebrada. Quando a falha foi manescente é selada pela DNA ligase.
preenchida, a incisão remanescente é selada pela DNA
ligase. Reparo de pareamento errado pode levar a conver
são gênica durante recombinação por meio da remoção
O homem tem um sistema similar de reparo de pa de uma fita de um heteroduplex e ressíntese, usando a
reamento errado com proteínas homólogas, embora o outra fita como molde; também pode atuar reduzindo a
sistema seja mais complexo, e o mecanismo pelo qual frequência de recombinação.
reconhece a fita nova não esteja claro. O DNA humano
é metilado na posição 5 de C em sequências CG (Fi Defeitos no reparo de pareamento errado causam
gura 4.27c), mas não está claro se as sequências CG câncer de cólon não poliposo hereditário (HNPCC)
hemimetiladas, quebras transitórias de fita única dos (ver Correlação Clínica 4.11). Entre 60% e 70% dos
fragmentos de Okazaki ainda não ligados, ou ligação casos de HNPCC são devidos a mutações em MLH1 ou
de PCNA participam do reconhecimento da fita recém MSH2, com outros casos devidos a mutações em outros
-sintetizada genes do reparo de pareamento errado. Alguns tipos
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 177

CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.11

Reparo de Pareamento Errado e Câncer

Defeitos no reparo de pareamento errado causam Por que a herança de um único alelo defectivo em um
câncer de cólon não poliposo hereditário (HNPCC), e gene do reparo de pareamento errado leva a HNPCC?
provavelmente são importantes em vários outros tipos As células que revestem o trato intestinal dividem-se
de câncer. Isso foi inicialmente sugerido pela descoberta ativamente durante toda a vida de uma pessoa. Há uma
de que alguns tumores de cólon apresentavam mutações alta probabilidade de que, em algum momento da vida,
frequentes em microssatélites (polimorfismos de com uma mutação somática ocorra em um dos alelos de um
primento de sequências simples, sequências repetitivas gene do reparo de pareamento errado, em pelo menos
curtas, particularmente mono- e dinucleotídeos), um fe uma célula do cólon. Células nas quais um dos alelos em
nótipo chamado instabilidade de microssatélites. qualquer desses loci está inativo, ainda pode executar
reparo de pareamento errado, de modo que isso geral
HNPCC é uma doença autossômica dominante. Um mente não levaria a tumor. Contudo, em um indivíduo
gene que contribui para o risco de HNPCC foi mapeado que herda um alelo inativo, uma mutação somática que
numa região que contém um gene de reparo de parea inative a única cópia ativa leva a reparo de pareamento
mento errado. Isso conduziu a estudos que demonstra errado defectivo. As taxas de mutação podem ser ele
ram que o defeito primário é uma mutação em um dos
vadas em 100 a 1.000 vezes em células com reparo de
genes do reparo de pareamento errado. Demonstrou-se pareamento errado inativado. O resultado é o acúmulo
que defeitos em outros genes do reparo de pareamento de mutações que eventualmente levam à formação de
errado também causam HNPCC; os mais comuns são tumor por meio de mutações em genes de regulação do
MLH1 e MSH2. crescimento.

(a) CH3 CH3

(b) CH CH3
3 S
L

(c) (f)
CH3 CH3 CH3 CH3
H CH H

FIGURA4.28 Reparo de pareamento


errado em E. coli.
(d) (g)
3 CH3 CH3 CH3 (a) Um par errado no DNA recém-replica
do. A fita parental está metilada, mas nos
primeiros minutos após sua síntese, a fita
nova ainda não foi metilada; tal sítio, com
apenas uma das fitas metiladas é chamado
(e) (h)
hemimetilado. (b) MutS e MutL ligam-se ao
CH3 CH3 CH3 CH3 par errado. ATP é hidrolisado enquanto elas
deslocam uma pequena alça do DNA. (c e f)
MutH liga-se a um sítio hemimetilado (que
poderia estar no lado esquerdo ou direito do
par errado). (d e g) A fita não metilada é
(i) CH3 CH3 quebrada e depois removida, estendendo-se
para além do ponto do par errado. Isso pode
ocorrer em qualquer direção (d ou g). (e e
h) A longa falha resultante é preenchida por
(j) CH3 CH3 uma DNA polimerase, adicionando nucleo
tídeos à extremidade 3! da fita (vermelha).
(i) A incisão remanescente é selada por
uma DNA ligase. (j) Os sítios hemimetilados
CH3 CH3
são metilados.
178 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

esporádicos
relacionados
funcional
mento
alguns
e endometriais,
Reparo
errado.
carcinomas
do
decom
de
sistema
pareamento
câncer,
também
supressão
cólon-retais,
de reparo
particularmente
parecem
errado
ou inativação
de
gástricos
desem-
parea-
estar C H HH H H
CC H Me-GO66Me-G
O
H NH G C CH3
O O H C H O
N H
C C N NNN NC
N T CH NC
O6Me-G C C NH OC
H C N C
CH N
NC H C N C

H N N H NC N

penha um papel paradoxal na resposta de (a) Par de base C:G (b) Par de base T:O6-metil G
células a agentes citotóxicos como agentes
metilantes (N-nitrosoureia) e cisplatina,
que são usados na quimioterapia do cân MGMT MGMT
cer. O reconhecimento do dano da alquila
ção por proteínas do reparo de pareamen
to errado pode desencadear morte celular
por apoptose; células deficientes no repa SH S
CH3
ro de pareamento errado podem escapar CH3
O N H O N H
desse processo e, assim, podem ser resis C C
C C C C
tentes a agentes quimioterápicos. Células G
N N N C N
deficientes no reparo de pareamento er
rado têm taxas aumentadas de mutações, C N C N
H N H N
e podem assim evoluir para tumores que
H H
são mais agressivos. (c) (d)

FIGURA 4.29 Desmetilação direta.


Desmetilação Direta (a) Par de bases normal G:C. (b) Par de bases T:O6-metil G. Esse par de bases
poderia permitir incorporação de um Toposto ao O6-metil G durante replicação
Além das bases normalmente metila do DNA e levar a uma mutação na geração seguinte. (c) Metilguanina metil trans
das no DNA, algumas bases são alquiladas ferase (MGMT) pode se ligar a O6-metil G. (d) MGMT transfere o grupo metil do
erroneamente, por carcinógenos ou por O6 da guanina para um grupo sulfidrila da própria proteína MGMT, deixando um
interação com os carregadores normais Gintacto no DNA. A proteína MGMT metilada é inativa, é ubiquitinada e, depois,
degradada.
de metil nas células (por exemplo, S-ade
nosilmetionina). Alquilação em posições
que afetam o pareamento de bases é muito mutagênica. 23d e e), as principais lesões produzidas por radiação
Por exemplo, O6-metilguanina pareia com T, em vez de ultravioleta. É uma reversão direta dos danos. Uma en
C (Figura 4.29a), de modo que a replicação levaria a zima especializada chamada fotoliase liga-se à lesão
uma mutação. As células têm glicosilases que reconhe (Figura 4.30). Quando absorve luz, a fotoliase catalisa a
cem bases erroneamente metiladas e desencadeiam o reversão das ligações entre pirimidinas adjacentes, dei
reparo por excisão de base, mas também têm proteínas xando o DNA exatamente como era antes da formação
especiais que reconhecem O6-metilguanina no DNA e do dímero. Essa é uma reversão direta dos danos. A fo
removem diretamente o grupo metil, deixando o DNA torreativação, embora de grande importância na maio
intacto. O6-metilguanina metiltransferase (MGMT) re ria dos organismos, não é significativa em mamíferos.
conhece O6-metilguanina e transfere o grupo metil da
guanina para uma cisteína da própria proteína (Figura
4.29b). Uma única molécula de MGMT pode remover Lesões Podem Bloquear a Replicação
apenas um grupo metil, porque metilação da cisteína
inativa a proteína e a direciona para degradação na via A precisão e a capacidade de revisão das DNA po
proteolítica da ubiquitina. O custo para a célula de re limerases geralmente impedem que elas introduzam
mover um único grupo metil por essa via é alto, porque nucleotídeos opostos a bases danificadas; requerem pa
as células devem replicar e transcrever o gene desta reamento de bases muito preciso antes de inserirem um
enzima, depois processar e traduzir o mRNA, e todas nucleotídeo e continuarem. Portanto, quando um com
essas etapas requerem considerável energia e material. plexo de replicação chega a uma lesão na fita molde, ele
Isso enfatiza quão importante é manter a integridade para. Existem três mecanismos gerais para a replicação
do genoma, mesmo a elevado custo metabólico. prosseguir: o complexo pode (a) se desmontar ou voltar
atrás para permitir o reparo da lesão e depois reassu
mir a síntese, (b) ultrapassar diretamente (bypass) a
Fotorreativação lesão, ou (c) pular a lesão e reassumir a síntese além
dela (deixando uma falha na fita filha). Todos os três
Fotorreativação é um mecanismo específico para mecanismos são usados, e todos apresentam algumas
reparo de ciclobutano dímeros de pirimidinas (Figura vantagens e alguns problemas.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 179

de de mutagênese nessas lesões é reduzida (mas não


TTAA
eliminada). Polimerase h não tem capacidade intrín
seca de revisão e incorpora um erro a cada 20 a 400
(a)
nucleotídeos sintetizados, sugerindo que sua atividade
deva ser fortemente controlada. DNA polimerase i in
corpora nucleotídeos no lado oposto de lesões que pro
T T vocam fortes distorções ou lesões como sítios abásicos,
AA que não podem funcionar normalmente como moldes.
Essas polimerases parecem funcionar juntamente com
(b) a DNA polimerase x, que não adiciona nucleotídeos no
TT lado oposto de lesões, mas pode estender as estrutu
AA ras formadas pelas outras polimerases bypass até que
a polimerase replicativa normal possa assumir. Essas
(c) polimerases bypass são enzimas distributivas, de modo
FIGURA4.30 Fotorreativação. que a região na qual pares errados podem ser introdu
(a) Fotoliase liga-se a um ciclobutano dímero de pirimidinas; zidos é tipicamente pequena, limitando a introdução de
luz não é necessária para essa etapa. (b) O complexo absorve mutações.
luz; isso resulta em clivagem das ligações que unem pirimidi
nas adjacentes. (c) A enzima então se dissocia do DNA.

(a) lesão
Síntese Bypass (Translesão)
Uma polimerase muito precisa, com revisão, não é
capaz inserir nucleotídeos opostos a bases danificadas
e, por isso, parariam a síntese (ou deixariam uma falha,
como descrito a seguir). Um processo chamado síntese
bypass ou síntese translesão pode, entretanto, permitir
que a replicação prossiga além da lesão (Figura 4.31).
Existe uma família de DNA polimerases “sujeitas a
erro” ou de “exigência reduzida” que não têm capacida (b)
de de revisão (Tabela 4.2). em virtude de sua exigência
relaxada, essas polimerases podem inserir nucleotídeos
em oposição a bases danificadas e, assim, permitir que
a replicação continue. Sua precisão reduzida aumenta a
probabilidade de um nucleotídeo errado ser incorpora
do em oposição à lesão, e em qualquer outro DNA feito
por essas polimerases. As consequências prejudiciais
disso são, evidentemente, menores do que um bloqueio FIGURA4.31 Síntese bypass (translesão).
longo (ou permanente) da replicação. (a) Danos no molde geralmente fazem parar as DNA polimera
ses replicativas, uma vez que não podem adicionar nucleotídeo
Em E. coli, DNA polimerases IV (DinB) e V (com oposto a uma lesão não codificadora ou com distorção na fita.
plexo UmuD!2C) são muito menos precisas do que as (b) DNA polimerases especializadas, com especificidade rela
DNA polimerases replicativas normais III e I. Elas têm xada (ver Tabela 4.2) podem inserir nucleotídeos opostos a le
baixa processividade, geralmente sintetizando me sões no molde, permitindo assim ultrapassar (bypass) a lesão
nos do que 10 nucleotídeos antes de se dissociarem do e sintetizar fitas filhas sem falhas. A especificidade relaxada e
DNA; isso serve para limitar a extensão de mutações a falta de revisão dessas polimerases significam que erros (mu
introduzidas. Elas são induzidas como parte da respos tações em potencial) são frequentemente introduzidos. Essas
ta SOS descrita a seguir. Isso garante que o mecanismo polimerases se dissociam facilmente do DNA, de modo que o
comprimento do DNA que sintetizam é geralmente pequeno.
de síntese sujeita a erro bypass (translesão) funcione
apenas quando houver danos suficientes no DNA para
desencadear a resposta SOS, limitando o risco de mu Reparo de Falha na Fita Filha
tações a situações nas quais a viabilidade celular esteja
seriamente ameaçada. Se a síntese de DNA for bloqueada por uma lesão,
mas recomeçar depois da lesão, fica uma falha no DNA
Eucariotos também têm polimerases sujeitas a erros (Figura 4.32). Essa situação é mais fácil de ser vista na
que podem realizar síntese bypass (translesão) (Tabe fita descontínua, onde pode ocorrer simplesmente por
la 4.2). A DNA polimerase h incorpora predominante dissociação da polimerase do sítio bloqueado e inicia
mente A em oposição a dímeros de timina introduzidos ção do fragmento de Okazaki seguinte pelo mecanismo
por radiação UV; como A e o nucleotídeo correto a ser normal de replicação. Falhas no DNA são potencial
incorporado em oposição a T do dímero, a probabilida mente letais. Uma lesão oposta a uma falha não é subs
180 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

trato para reparo por excisão, porque não há fita intacta


(a) lesão
oposta à lesão para fornecer a informação codificadora
necessária ao reparo. O reparo de falha na fita filha (an falha
teriormente chamado recombinação pós-replicação)
não remove a lesão que causou a falha, mas repara a
falha. Isso protege a célula dos danos em potencial que
falhas podem causar, e também fornece um substrato
para o reparo por excisão agir sobre a própria lesão.

Reparo de falha na fita filha ocorre por recombi


nação. DNA de fita simples, como o oposto à falha, é (b)
recombinagênico; isto é, estimula recombinação. Re
combinação entre os dois dúplices recém-formados
permite transferir um pedaço da fita parental normal
para a falha (Figura 4.32a; a fita parental de um lado
da forquilha tem a mesma polaridade da fita filha do
outro lado). Isso deixa uma falha na fita parental que
doou o pedaço (Figura 4.32b), mas, como essa fita tem
uma fita de DNA normal oposta, a falha pode ser perfei
tamente preenchida pela DNA polimerase e selada pela
(c)
DNA ligase (Figura 4.32c). O resultado é que a falha
é reparada, embora a lesão permaneça. Como mencio
nado anteriormente, nessa configuração, a lesão é um
substrato para o reparo por excisão.

Enrolamento e Reparo de Forquilhas de


Replicação
É fácil para um complexo de replicação que parou a FIGURA 4.32 Reparo de falha na fita filha.
síntese da fita descontínua em uma lesão, reassumir a (a) Falhas ficam no DNA recém-replicado onde forquilhas de
síntese para formar o fragmento de Okazaki seguinte, replicação param em decorrência de lesões. Como a lesão não
tem DNA intacto oposto, não é substrato para o reparo por
usando os mecanismos normais de síntese de DNA (ver
excisão. (b) Recombinação permite que a fita parental isopolar
p. 151). O reinício da fita contínua depois de um bloqueio (marrom escuro) preencha a falha na fita filha (marrom claro).
é mais difícil, porque iniciações são normalmente mui Isso deixa uma falha na fita parental. (c) A falha na fita paren
to controladas nas origens de replicação. Parece que, tal pode ser preenchida (púrpura) por uma DNA polimerase,
nesse caso, forquilhas bloqueadas podem regressar por porque existe um molde intacto oposto. O resultado é o reparo
pareamento (annealing) das fitas filhas, o que permite da falha na fita filha, mas a lesão permanece. Note que a lesão
reparo das lesões e reinício da replicação. Em E. coli, agora pode ser reparada por reparo de excisão, porque agora
RecA liga-se às regiões de fita única da forquilha de re está oposta a uma fita intacta.
plicação bloqueada e mantém a integridade do DNA. A
forquilha de replicação pode regressar por migração de
ramificação, enquanto é protegida por RecA, permitin espécies reativas de oxigênio e agentes quimioterápi
do que os mecanismos de reparo NER ou BER removam cos que geram radicais livres oxidativos (por exemplo,
a lesão. Então, uma reversão da migração da ramifica bleomicina), ou são venenos de topoisomerases. Quando
ção ou degradação da fita deslocada pode permitir que uma forquilha de replicação encontra uma quebra de fita
a síntese recomece. Os detalhes ainda não estão claros, única, essa quebra é convertida em quebra de dupla-fita.
incluindo se o aparelho de replicação poderia permane Células têm mecanismos, incluindo controles em pontos
cer com a fita deslocada ou se o complexo de replicação de verificação, que retardam ou param a replicação em
precisaria ser reorganizado de maneira independente presença de danos, para dar tempo de reparar e para mi
da origem. nimizar a probabilidade de que uma quebra de fita única
seja encontrada. Entretanto, estima-se que cerca de 10
quebras de dupla-fita sejam formadas durante um único
Reparo de Quebra na Dupla-Fita ciclo de replicação de células de mamíferos.
Quebras na dupla-fita (DSBs) do DNA são eventos A principal via para sobrevivência celular envolve re
potencialmente letais. Estimulam recombinação gené paro de quebra de dupla-fita por recombinação homóloga
tica, que pode levar a translocações cromossômicas, e (descrita anteriormente; Figura 4.24) ou por ligação de
DSBs não reparadas levam a cromossomos quebrados extremidades não-homólogas. Em levedura, predomina
e morte celular. Quebras de dupla-fita são causadas por a recombinação homóloga; em células de mamíferos,
muitos agentes, particularmente radiação ionizante, predomina a ligação de extremidades não-homólogas.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 181

Regulação do Reparo do DNA: o aumenta significativamente. Contudo, enquanto danos


no DNA estiverem presentes e a proteína RecA estiver
Regulon SOS ativada, essa proteína LexA é clivada e não pode repri
mir os muitos genes do regulon SOS. À medida que os
Em E. coli, lesão no DNA desencadeia a resposta
danos são reparados, a quantidade de RecA ativada cai
SOS, uma mudança coordenada da expressão gênica
e, consequentemente, a clivagem de LexA diminui. Os
que ajuda na recuperação dos danos. A resposta SOS é
uma indução coordenada de muitos genes cuja transcri níveis crescentes de LexA ligam-se aos operadores dos
ção é, pelo menos em parte, regulada por um repressor genes din e gradualmente desligam a resposta SOS.
comum, LexA. Um grupo de operons que são controla
dos por um repressor comum é chamado um regulon.
Entre os genes do regulon SOS estão uvrA, uvrB, uvrC,
recA e o próprio lexA. Existe um
nível baixo, constitutivo, de mui Estado normal da célula
tos desses genes do regulon SOS,
porque a repressão por LexA não
é completa e alguns desses genes
têm promotores alternativos não
reprimidos por LexA.

A resposta SOS é desenca


deada por longas extensões de
DNA simples-fita, como as de
falhas deixadas por bloqueio da RecA
LexA
replicação (Figura 4.33). Quan
do tal extensão se forma, o nível
baixo, constitutivo, da proteína
RecA pode polimerizar coopera
tivamente ao longo do DNA fita (a)
-simples, formando um filamento Lesão reparada Lesão no DNA induz
Forquilhas restabelecidas regulon SOS:
de nucleoproteína. Nesse estado, Menos DNA simples-fita DNA simples-fita acumula-se
é ativada e liga LexA, aumentan RecA dissocia RecA polimeriza sobre ele
SOS INDUZIDO
do a velocidade na qual LexA é LexA acumula-se e é ativada
e reprime operons LexA é clivada
clivada em fragmentos inativos.
Isso diminui a repressão e permi
te rápida síntese dos genes nor
malmente reprimidos por LexA.
RecA participa do reparo de falha
na fita filha e da proteção da for
quilha de replicação, como men Proteína
induzida RecA
cionado anteriormente. Os outros por danos LexA
genes induzidos por danos (genes
din) produzem proteínas que aju Proteína
dam no reparo do DNA e na re induzida
cuperação da célula, e inibem a por danos
iniciação de novas forquilhas de
replicação e divisão celular, até (b)
que o reparo tenha se completado
(Figura 4.33). FIGURA 4.33 Regulação do reparo do DNA e recuperação em E. coli: a resposta SOS.
(a) Em células não danificadas, um grupo de operons que constituem o regulon SOS é
A autorregulação de lexA regulado por um repressor comum, LexA. Esse regulon inclui o próprio gene lexA (autor
baseia-se em uma única alça de regulação) e o gene recA, juntamente com muitos genes que codificam enzimas que agem
retroalimentação que efetivamen reparando lesões. Há uma transcrição baixa, constitutiva de muitos desses genes, incluindo
te permite uma resposta rápida, lexA e recA, mesmo quando a proteína LexA está presente. (b) Lesões bloqueiam forqui
mas transitória, aos danos no lhas de replicação e, assim, deixam DNA fita-simples. RecA se liga a DNA fita-simples e é
“ativada”. Nessa forma, ajuda na clivagem de LexA. Os fragmentos clivados de LexA não
DNA. Quando a proteína LexA é
podem se ligar aos operadores, de modo que todo o conjunto de operons é induzido. Muito
clivada, entre os muitos genes do mais RecA é feita, juntamente com outras proteínas, incluindo LexA. Enquanto existirem
regulon SOS que são induzidos lesões, RecA permanecerá ativada, LexA continuará a ser clivada para que os operons per
está o próprio LexA, de modo que maneçam ligados. Quando as lesões são reparadas, RecA é “desativada” e não mais ajuda a
a quantidade de LexA produzida clivar LexA, de modo que LexA ativa se acumula e desliga os genes desse regulon.
182 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

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CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 183

Termos Chaves
atividade exonucleolítica junção Holliday recombinação homóloga replicação bidirecional
complexo de reconheci migração da ramificação recombinação não-homóloga replicação semiconservati
mento da origem (ORC) molde RNA hibridase (RNaseH) va
conversão gênica mutação com mudança na RNA polimerase resposta SOS
DNA girase estrutura de leitura (fra reparo acoplado à transcri revisão (ou edição)
DNA ligase meshift) ção sequência de inserção
DNA polimerases mutação de sentido errado reparo de falha na fita-filha síntese semidescontínua
(missense)
fita contínua reparo de pareamento erra síntese translesão (bypass)
mutação puntual do (mismatch)
fita descontínua superenrolamento
mutação sem sentido (non reparo de segmento curto
fitas antiparalelas telomerase
sense)
forquilha de replicação reparo do DNA topoisomerase
origem de replicação
fotorreativação reparo por excisão transcriptase reversa
primase
fragmento de Okazaki reparo por excisão de base transesterificação
quebra de dupla-fita
helicase reparo por excisão de nu transposição
reação processiva cleotídeo
heteroduplex

Questões CARON N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha C. fornece um mecanismo para replicar as extre
1. Replicação: midades de cromossomos lineares.
A. requer que uma ligação fosfodiéster do dNTP D. reconhece uma fita única do DNA rica em G.
que está entrando seja hidrolisada para que E. é uma transcriptase reversa.
seja adicionado à cadeia em crescimento. 4. Uma mutação por transição:
B. usa atividade de polimerase 5! para 3! para
sintetizar uma fita, e atividade de polimerase A. ocorre quando uma purina é substituída por
uma pirimidina ou vice-versa.
3! para 5! para sintetizar a fita complementar.
C. deve sua precisão, em parte, à atividade exo B. resulta da inserção de uma ou duas bases na
nucleolítica 3! para 5! da DNA polimerase ou cadeia de DNA.
de proteínas associadas. C. é frequentemente causada por compostos quí
D. começa com dois dNTPs sendo unidos. micos (como acridina) que se intercalam no
DNA.
E. reque apenas proteínas com atividade de DNA
polimerase. D. resulta da substituição de uma purina por ou
tra, ou de uma pirimidina por outra.
2. Na replicação eucariótica do DNA:
E. é sempre uma mutação de sentido errado
A. só um replissomo se forma porque há uma úni (missense).
ca origem de replicação.
B. a separação das fitas do DNA parental para 5. Recombinação homóloga:
formar a forquilha de replicação é um proces A. ocorre só entre dois segmentos da mesma mo
so energeticamente neutro. lécula de DNA.
C. fragmentos de Okazaki formam-se na fita líder B. exige que uma sequência específica de DNA
em uma forquilha de replicação (bolha). esteja presente.
D. topoisomerases catalisam mudanças no nú C. exige que um dos dúplices que estão sofrendo
mero de ligação, facilitando o desenrolamento recombinação seja cortado em ambas as fitas.
das fitas parentais de DNA. D. envolve um intermediário quatro-fitas (junção
E. o papel da ligase é substituir o nucleotídeo na Holliday), que pode ser cortado de duas for
falha deixada pela remoção do RNA primer. mas diferentes.
3. Todas as afirmativas seguintes sobre a telomerase E. é catalisada por transposases.
são corretas, exceto: 6. Todos os seguintes são verdadeiros com relação a
A. o componente RNA age como molde para a sín transposons, exceto:
tese de um segmento de DNA. A. transposons se movem de uma localização
B. adiciona telômeros às extremidades 5! das fi para outra diferente dentro de um cromos
tas de DNA. somo.
184 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

B. contêm, mas não codificam, transposases. D. uma única enzima multifuncional realiza o
C. transposons têm sequências de inserção que processo de reparo.
são reconhecidas por transposases. E. só os nucleotídeos danificados são removidos.
D. o transposon tanto pode ser removido e des 10. Outro tipo de reparo de DNA é o reparo por excisão
locado, ou pode ser replicado com o pedaço de base. Reparo por excisão de base
replicado sendo deslocado.
A. é usado só para bases que foram deaminadas.
E. podem ativar ou inativar um gene.
B. usa enzimas chamadas DNA glicosilases para
Questões 7 e 8: Retrovírus, como HIV que causa gerar um sítio de açúcar abásico.
AIDS, têm sua informação genética na forma de RNA. C. remove cerca de 10 a 15 nucleotídeos.
Transcriptase reversa sintetiza uma cópia em DNA do D. não requer uma endonuclease.
genoma viral. Uma droga usada no tratamento da AIDS
é AZT, um análogo da desoxitimidina que tem um gru E. reconhece uma lesão volumosa.
po azido na posição 3! do açúcar. Pode ser fosforilado
Questões 11 e 12: Interferir com topoisomerases é
e compete com dTTP pela incorporação no transcrito uma forma de inibir a replicação do DNA. Certos anti
reverso. Uma vez incorporado, sua presença termina a
bióticos têm DNA girase como alvo (topoisomerase tipo
elongação da cadeia. II) de E. coli, inibindo sua atividade catalítica. Venenos
7. A cadeia em crescimento é terminada porque: de topoisomerases impedem a religação da ligação fos
A. o análogo não pode fazer pontes de hidrogênio fodiéster, deixando junções covalentes proteína-DNA.
com o RNA. Esses compostos são usados para tratar infecções e
como agentes quimioterápicos.
B. a presença do análogo AZT inibe a capacidade
de revisão da transcriptase reversa. 11. DNA girase:
C. AZT não tem 3!-OH livre. A. subunidades ATP hidrolisam ATP para formar
D. o análogo causa distorção da cadeia em cresci novas ligações fosfodiéster.
mento, inibindo a transcriptase reversa. B. remove superenrolamento negativo.
E. dTTP não pode mais ser adicionado à cadeia C. subunidades swivelase criam e selam incisões
em crescimento. transitórias em ambas as fitas.
8. Há uma janela na qual o efeito é primariamente so D. aumenta o número de ligação (linking num
bre a replicação do vírus, uma vez que AZT é muito ber).
menos efetivo na competição com dTTP para in E. ocorre em eucariotos, bem como em procario
corporação pelas DNA polimerases celulares, em tos.
virtude da capacidade de revisão das DNA polime
rases. Atividade de revisão para manter a fidelida 12. Todos os seguintes estão corretos quanto a que
de de síntese do DNA: bras de dupla-fita do DNA, exceto que elas:
A. ocorre depois que termina a síntese. A. podem levar a perda de informação genética.
B. é uma função da atividade exonucleásica in B. estão sempre envolvidas em recombinação ho
trínseca 3! para 5! ou associada às DNA poli móloga.
merases. C. estão envolvidas em recombinação não homó
C. requer a presença de uma enzima separada loga.
das DNA polimerases. D. estão associadas com um heterodímero (Ku)
D. remove bases pareadas erradas no interior da em mamíferos.
cadeia. E. podem levar a mutações ou regulação inade
E. não ocorre em procariotos. quada da expressão gênica.

Questões 9 e 10: Pacientes com a rara doença genética Problemas


xeroderma pigmentoso (XP) são muito sensíveis à luz e 13. Reparo de pareamento errado remove erros de re
muito susceptíveis a câncer de pele. O estudo de tais plicação removendo as bases incorretas. Não há
pacientes tem ampliado nosso conhecimento sobre o re
danos no DNA ou bases modificadas presentes.
paro do DNA porque XP é causado por reparo do DNA
Como a célula distingue a fita recém-sintetizada e
defectivo – reparo por excisão de nucleotídeos. (Uma
preserva a fita de DNA parental correta?
variante, XP-V, é deficiente no reparo pós-replicação).
14. Na fita codificadora de DNA do gene alfa da hemo
9. No reparo por excisão de nucleotídeo
globina normal (HbA), as três bases que corres
A. remoção das bases danificadas ocorre em ape
pondem ao códon 142 do mRNA são TAA, e a ca
nas uma fita do DNA. deia alfa tem 141 aminoácidos. Na fita codificadora
B. só dímeros de timina gerados por luz UV po do gene da cadeia alfa da Hemoglobina Constant
dem ser removidos. Spring, as três bases são CAA e a cadeia contém
C. a nuclease de excisão é uma exonuclease. 172 aminoácidos. Explique a mutação que ocorreu.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 185

Respostas
1. C Pode remover um nucleotídeo terminal pareado gação do nucleotídeo seguinte. A: a presença do
errado, isto é, verificação (ou edição). A: a reação é grupo azida não afeta a formação de pontes de hi
um ataque nucleofílico do 3!-OH da cadeia de DNA drogênio. B: a transcriptase reversa não tem pro
sobre a ligação fosfato a-β do dNTP – uma tran priedades de revisão. D: isso não acontece. E: o
sesterificação. B: a replicação envolve fragmentos análogo AZT compete com dTPP; não o elimina.
de Okazaki porque a síntese só ocorre na direção
8. B Essa atividade remove uma base recém-adiciona
5! para 3!. D: a replicação começa com a formação da se houver um pareamento errado com o molde.
de um RNA iniciador (primer). E: a replicação
A: isso é chamado reparo. C: a maioria das polime
requer proteínas como primase, ligase, helicase e
rases é multifuncional e tem capacidade de revi
outras.
são.D: só a base errada terminal é removida. E: pol
2. D Como mudar o número de ligação é uma tran I de E. coli tem atividade intrínseca de exonuclea
sesterificação, ela protege a integridade do DNA e se 3! para 5!.
ocorre sem a necessidade de energia adicional. A:
9. A A fita não-cortada serve de molde para o reparo.
existem múltiplos sítios de iniciação. B: helicases B: isso repara vários danos envolvendo, tipicamen
abrindo a forquilha de replicação requerem a hi
te, grandes aductos ou perturbações na estrutura
drólise de ATP. C: a fita contínua tem a orientação
do DNA. C e E: cortes são feitos a vários nucleotí
correta; é a fita retardada ou descontínua que re
deos de distância da base danificada, em ambos os
quer a formação dos fragmentos de Okazaki porque
lados, de modo que é uma endonuclease. D: vários
tem a extremidade 5! orientada para a forquilha. E:
complexos enzimáticos estão envolvidos, incluindo
a ligase simplesmente forma a ligação fosfodiéster uma polimerase, ligase e helicase.
entre nucleotídeos adjacentes depois que a falha foi
preenchida. 10. B Essas catalisam a primeira etapa do processo. A:
bases metiladas e quimicamente modificadas tam
3. B Telômeros ficam na extremidade 3! de cada fita,
bém podem ser removidas. C e E: estas são carac
para que as extremidades 5! possam ser replicadas.
terísticas de um sistema de reparo diferente. D: o
A e C: a telomerase se posiciona na extremidade 3!
açúcar fosfato abásico deve ser removido.
do DNA e fornece o molde para estender essa ex
tremidade. D: esta é uma característica da extre 11. C Isso permite o desenrolamento do DNA. A: hi
midade 3!. E: usa um molde de RNA para sintetizar drólise de ATP desencadeia mudanças conforma
DNA. cionais. B: remove superenrolamento positivo e
introduz negativo. D: número de ligação (linking
4. D Esta é a definição. A: isso é uma transversão. B:
number) é reduzido. E: DNA girase é especifica
isso é uma mudança na estrutura de leitura (fra
mente de procariotos; eucariotos têm topoisome
meshift); transições são mutações puntuais. C:
rases diferentes que desempenham a mesma ativi
isso causaria uma mudança na estrutura de leitu
ra. E: poderia ser uma mutação de sentido errado dade.
(missense) se a alteração codificasse um aminoá 12. B Isso também pode ocorrer com cortes de fita
cido diferente, ou uma mutação sem sentido (non -única. A: isso pode ser reparado, mas junções co
sense) se o código fosse alterado para um sinal de valentes proteína-DNA causadas por venenos de
término (stop). topoisomerases podem ser letais. C: extremidades
quebradas de um DNA duplex pode recombinar
5. D Um desses cortes é responsável pela formação
com outro duplex. D: isso desempenha um papel
de um novo cromossomo no qual parte vem de um na ligação de extremidades não homólogas. E: in
dos pais, e parte do outro. A e B: pode ocorrer en
tegração aleatória de um fragmento de DNA por
tre duas moléculas distintas de DNA, se as duas se
ligação não homóloga pode destruir genes ou des
quências forem homólogas. C: o corte pode ser em
uma fita só. E: estas são enzimas da recombinação truir promotores.
sítio-específica transposicional. 13. Em E. coli, o DNA é metilado no A de uma sequên
cia GATC. Ambas as fitas são metiladas. Metilação
6. B Transposons são DNA, não proteínas: podem co
ocorre depois de as bases não-metiladas terem sido
dificar uma transposase. A: esta é a definição. C:
incorporadas ao DNA. Durante a síntese, o DNA fi
esta é uma das características chaves. D: ambos os cará hemimetilado por um curto período de tempo.
tipos de eventos são catalisados por transposases.
E: inserção no meio de um gene poderia inativá-lo; O sistema de reparo de pareamento errado reco
nhece o estado hemimetilado e pode remover o par
inserção de um promotor próximo a um gene pode
errado da fita não-metilada (nova). Eucariotos têm
ria ativá-lo. um sistema de reparo similar, embora os detalhes
7. C A química da formação de nucleotídeos requer do reconhecimento da fita nova não sejam ainda
um 3!-OH livre na extremidade da cadeia para li conhecidos.
186 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

14. A fita codificadora do gene tem a mesma sequência uma mutação puntual alterou o DNA de modo que
do mRNA (exceto que U substitui T no RNA). Na o códon 142 do mRNA agora codifica um aminoáci
HbA, o códon da posição 142 do mRNA é um códon do em vez de uma parada. A tradução continua até
de terminação (stop), de modo que o último ami que um códon de terminação apareça na posição
noácido adicionado é 141. Na Hb Constant Spring, 173 (portanto, 172 aminoácidos).
PARTE II CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 187
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

5
RNA: Transcrição IIF
IID
e Processamento PA
IIB IIA
TATA INR DPE
Pol II

IIE
IIH

do RNA
Frank J. Schmidt
Professor Titular University of Missouri

David R. Setzer
Professor Titular University of Missouri

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


5.1 INTRODUÇÃO, 188 5.1 Antibióticos e Toxinas que Têm RNA Polimerase
Como Alvo, 191
5.2 MECANISMOS DE TRANSCRIÇÃO, 188
5.2 Síndrome do XFrágil: Uma Doença da Cromatina?
5.3 TRANSCRIÇÃO EM EUCARIOTOS, 193 195
5.4 PROCESSAMENTO DO RNA, 199 5.3 Envolvimento de Fatores de Transcrição na Carci
nogênese, 197
5.5 EXPORTAÇÃO DO RNA E CONTROLE DE QUA
LIDADE, 205 5.4 Talassemia Decorrente de Defeitos na Síntese de
RNA Mensageiro, 202
5.6 RNA DE INTERFERÊNCIA, 206
5.5 Autoimunidade em Doenças do Tecido Conjuntivo,
5.7 REPARO DO DNA ACOPLADO ATRANSCRIÇÃO, 203
207 5.6 Enzimas de Edição de Ácidos Nucleicos: uma
5.8 NUCLEASES E TURNOVER DO RNA, 207 Defesa Antiviral, Bem Como um Modo de Alterar
a Expressão Gênica, 206
5.7 Envolvimento de MicroRNAs na Oncogênese, 208
5.8 Síndrome de Cockayne, 209

Conceitos Chaves
• Transcrição é a síntese de RNA cuja sequência é • RNA polimerases bacterianas contêm uma subuni
complementar à de um DNA molde. A transcri dade (sigma): diferentes subunidades sigma reco
ção começa numa sequência chamada promotor e nhecem diferentes classes de promotores.
acontece na direção de 5! para 3!.
• A iniciação eucariótica opera por meio do recruta
• RNA polimerases, que iniciam a transcrição de to mento da RNA polimerase e de fatores proteicos
dos os tipos, são relacionadas entre si por uma an acessórios a promotores localizados em regiões
cestralidade comum. acessíveis da cromatina.
188 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

• Os RNAs transcritos são modificados por cliva • Não existem mecanismos de reparo de RNA, de
gem, adições e modificação de bases. A maioria modo que todas as classes de moléculas de RNA
dos mRNAs transcritos eucarióticos é processada são recicladas. Exo e endonucleases hidrolisam o
com a síntese de um cap-5! e de uma sequência RNA até nucleotídeos, para reutilização.
3!-poli(A), e com a remoção dos íntrons. Partículas Os diferentes RNAs são reciclados (turnover) em

ribonucleoproteicas participam do processamento.
diferentes velocidades e por diferentes mecanis
• RNAs pequenos podem inibir a expressão gênica, mos.
permitindo regulação gênica pós-transcripcional.

5.1 INTRODUÇÃO fosfodiéster, com uma variação de energia livre (DG!)


de aproximadamente 12,5 kJ/mol (3 kcal/mol) em con
A síntese de uma molécula de RNA envolve copiar dições padrão. Segundo, o pirofosfato liberado, PPi, é
uma fita de uma sequência molde usando pareamento quebrado em dois fosfatos pela pirofosfatase, de modo
de bases Watson-Crick entre os nucleotídeos do molde que sua concentração é baixa e a formação da ligação
(geralmente DNA) e os nucleotídeos que estão sendo fosfodiéster é mais favorecida, em relação às condições
incorporados ao transcrito. A iniciação da transcrição padrão (ver p. 652).
pela RNA polimerase é talvez o evento mais importante
no controle da expressão gênica. A iniciação da trans Como um DNA molde é necessário para a síntese de
crição requer sequências especializadas de DNA, cha RNA, a transcrição eucariótica ocorre no núcleo ou na
madas promotores, que sinalizam o local onde a síntese matriz das mitocôndrias e dos cloroplastos. Mudanças
de RNA deve começar. O reconhecimento das sequên estruturais ocorrem no DNA durante a sua transcrição.
cias dos promotores envolve contatos moleculares en Em cromossomos politênicos de Drosophila, os genes
tre o DNA e fatores proteicos. Esses fatores ligam-se à transcripcionalmente ativos são vistos ao microscópio
enzima RNA polimerase e aos nucleotídeos do DNA por de luz como puffs distintos da cromatina condensada,
meio de pontes de hidrogênio e outros contatos. Duran inativa. De fato, os genes ativos existem em estruturas
te ou depois da elongação do transcrito, reações de pro de cromatina modificada que são menos compactas,
cessamento do RNA removem, adicionam ou modificam conforme revelado pela acessibilidade desses genes a
nucleotídeos no transcrito primário. Essas reações de reagentes químicos e a enzimas. Em procariotos e euca
processamento podem ocorrer cotranscripcionalmente. riotos, a dupla hélice do DNA é transitoriamente aberta
Em outras palavras, ocorrem em partes do transcrito, (desenrolada), à medida que o complexo de transcrição
ao mesmo tempo em que as sequências a jusante ainda caminha ao longo do DNA.
estão sendo transcritas. Essas aberturas e desenrolamentos são necessários
porque o DNA é uma dupla hélice, e as duas fitas do
DNA devem ser separadas uma da outra para permitir
5.2 MECANISMOS DE o pareamento de bases Watson–Crick entre a fita molde
do DNA e os nucleotídeos do RNA recém-sintetizado. A
TRANSCRIÇÃO abertura local e o desenrolamento do DNA permitem
que a transcrição prossiga sem o enrolamento do RNA
produzido em torno do DNA molde. As topoisomerases
O Processo Inicial de Síntese de RNA tipo I e tipo II (p. 157) estão envolvidas nessas mudan
É a Transcrição ças de helicidade do DNA.

A transcrição é o processo pelo qual cadeias de RNA O processo de transcrição é geralmente dividido em
são feitas a partir de moldes de DNA. As reações de três partes: iniciação refere-se ao reconhecimento de
transcrição assumem a seguinte fórmula: uma sequência específica no DNA pela RNA polimerase
e o começo do processo de formação de ligações. Elon
DNA molde + n(NTP) → gação é o processo real de síntese da cadeia de RNA,
→ pppN(pN)n-1 + (n - 1)PPi + DNA molde que é seguida pela terminação e liberação da cadeia.
As enzimas que catalisam essa reação são as RNA
polimerases; é importante reconhecer que, como as
DNA polimerases, elas são absolutamente dependen A Informação na Sequência do DNA
tes de molde. Ao contrário das DNA polimerases, po Sinaliza a Síntese de RNA
rém, as RNA polimerases não requerem uma molécula
iniciadora ou primer. A reação da RNA polimerase é Grande parte do genoma humano não é transcrita
deslocada para a direita por dois fatores: primeiro, o em RNA. Mesmo em bactérias, onde quase todo o DNA
5! a-nucleotídeo fosfato do ribonucleosídeo trifosfato especifica produtos gênicos, nem todos os genes são ex
é convertido, de um anidrido fosfato em uma ligação pressos ao mesmo tempo. As moléculas de RNA poli
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 189

merase devem, portanto, distinguir entre os genes e os interação do ativador com outros fatores ou com a RNA
não-genes no DNA, bem como entre genes que devem polimerase. Essa interação facilita a transcrição porque
ser expressos, e os que não devem. “recruta” a RNA polimerase e outros fatores para for
mar um complexo de iniciação.
A iniciação da transcrição começa com reconheci
mento de uma sequência de promotor no DNA molde.
Geralmente, os promotores localizam-se a uma peque RNA Polimerase Catalisa o Processo
na distância à montante (upstream) do nucleotídeo
onde a transcrição começa. Diferentes promotores fre
de Transcrição
quentemente contêm sequências semelhantes, permi As RNA polimerases sintetizam RNA na direção
tindo a identificação de uma sequência “consenso” do 5! → 3! usando um DNA molde. Nesse sentido, são se
promotor (Figura 5.1), a partir da qual os promotores melhante às DNA polimerases dependentes de molde
reais variam em diferentes graus. Embora promotores discutidas no Capítulo 4. Ao contrário das DNA polime
procarióticos e eucarióticos sejam diferentes entre si, rases, entretanto, as RNA polimerases iniciam a poli
sequências conservadas são encontradas em ambas as merização em sequências de promotor, sem a necessi
categorias de promotores. Algumas sequências de DNA dade de um DNA ou RNA iniciador (primer).
estimulam a transcrição, mas se localizam mais longe
do sítio de iniciação, e algumas delas podem estimular As RNA polimerases procarióticas e eucarióticas
a transcrição independentemente da distância, da loca são enzimas grandes, com múltiplas subunidades. A
lização ou da orientação, em relação ao sítio de início da RNA polimerase de Escherichia coli consiste de cin
transcrição. Tais sequências regulatórias são chamadas co subunidades, com um peso molecular do agregado
enhancers (amplificadores). Enhancers estimulam a de mais de 500.000 (Tabela 5.1). Duas subunidades a,
síntese de alguns RNAs procarióticos e da maioria, se uma subunidade b e uma subunidade b! constituem a
não de todos, os mRNAs eucarióticos. Enhancers fun enzima core, que é capaz de fazer transcrição fiel, mas
cionam por meio da ligação de fatores proteicos especí não de síntese específica de RNA (ou seja, iniciada no
ficos, chamados ativadores. Quando um ativador se liga promotor). A adição de uma quinta subunidade pro
a um enhancer, uma mudança estrutural (frequente teica, chamada s, forma a holoenzima, que é capaz de
mente uma alça ou uma dobra) no DNA molde permite a síntese específica de RNA in vitro e in vivo. Embora

s a t cTT G A C a t t t tg TAtAaT cat

100

a 80
i
c
n
ê
rr
o
c
o 60
e
d
o
re
m
ú
N 40

20

0
−50 −40 −30 −20 −10 +1 10
Posição
A 2838303735 56 42423742 39 1825 26 2 6 2 722650 2634252631 203933 33392329 16 23 19 210629 6657 1 35 23 31 20 9 45 162425 26 24 243235 26
T 41 33322534 2235354227 324247 1492 94 11 1915 37 46 36384834 352828 273951 3443 263189 3 69 15191083129 21 1622 2 4227 2320 25 2715 1629
G 16 11 291921 181321 9 19 24 26 292911 6 88 3 1117 15 21 262127 23 2427 25 22232928 433511 1 18 1714 0 3324 30 21 8 37
4 252513
5 122722
18 172024 21 16
C 2227 182920 14 20 122223 1625 1043 7 6 111860 8 25 2323 1720 34 21 24 27 222520 25 202710 2 16 1422 3 1336 30 29 49 2217 17 16 17

FIGURA5.1 Uma sequência de consenso para promotores procarióticos.


As sequências de um grande número de promotores de E. coli foram compiladas, e o número de vezes que cada
base ocorre em posições individuais no promotor foi tabulado. O histograma mostra o número de ocorrências
da base mais frequente em cada posição. Essa análise permite a definição de uma sequência consenso para
promotores de E. coli reconhecidas pela forma da RNA polimerase holoenzima contendo s70. Essa sequência
consenso é apresentada na parte superior, com as bases mais conservadas em letras maiúsculas e as bases menos
conservadas, em letras minúsculas.
Redesenhado de Hawley, D. K.e McClure, W. R. Nucleic Acids Res. 11:2237, 1983.
190 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

TABELA 5.1 Composição em Subunidades de Algumas RNA Polimerasesa

Core da RNA
Pol I de Levedura Pol II de Levedura Pol III de Levedura
Polimerase de E. coli
A190 B220 (Rpb1) C160 b
A135 B150 (Rpb2) C128 b!
AC40 B45 (Rpb3) AC40 a
AC19 B12,5 (Rpb11) AC19 w
ABC23 ABC23 (Rpb6) ABC23
ABC27 ABC27 (Rpb5) ABC27
ABC14,5 ABC14,5 (Rpb8) ABC14,5
ABC10a ABC10a (Rpb12) ABC10a
ABC10b ABC10b (Rpb10) ABC10b
A12,2 B12,6 (Rpb9) C11
A14 B32 (Rpb4) C17
A43 B16 (Rpb7) C25
A49 C37
A34,5 C53
C82
C34
C31
aAs subunidades homólogas são apresentadas na mesma linha. Note que cinco subunidades são compartilhadas entre as RNA po
limerases I, II e III de levedura, e que duas subunidades adicionais são compartilhadas entre as RNA polimerases I e III. Além disso,
a RNA polimerase I contém mais duas, e RNA polimerase III mais cinco subunidades que não têm homólogos óbvios nas outras po
limerases. É possível que A49/C37 e A34,5/C53 sejam homólogas às subunidades do TFIIF, um fator de iniciação e elongação que se
associa com a RNA polimerase II durante a tradução, mas que não é considerado parte da própria polimerase. Quatro subunidades
de cada uma das polimerases eucarióticas são homólogas às quatro diferentes subunidades do core da RNA polimerase de E. coli. As
letras A, B e C nos nomes das subunidades referem-se à ocorrência dessa subunidade nas RNA polimerase I, II e III, respectivamente,
e o número no nome da subunidade refere-se ao peso molecular da subunidade em kilodaltons. Para a RNA polimerase II, o gene que
codifica cada uma das subunidades é dado entre parêntesis.

um fator s majoritário esteja envolvido na maioria das snRNAs. A síntese de rRNA (exceto a síntese de rRNA
transcrições, fatores s específicos são expressos em 5S) não é inibida, mesmo por concentrações muito al
resposta a eventos em larga escala, tanto ambientais tas da toxina. As enzimas purificadas são inibidas dife
como de desenvolvimento. Esses fatores s reconhecem rencialmente pela a-amanitina, de modo que é possível
diferentes classes de genes. Assim, um fator s especí concluir que a síntese de mRNA é função da RNA po
fico reconhece promotores de genes que são induzidos limerase II, a mais sensível das formas purificadas de
como um resultado do choque térmico. Em bactérias RNA polimerase. A síntese de tRNA, rRNA 5S, snRNA
que esporulam, fatores s específicos reconhecem genes U6 e outros RNAs pequenos celulares e virais é reali
induzidos durante a esporulação. Alguns bacteriófagos zada pela RNA polimerase III. Os genes de rRNA são
(vírus que infectam bactérias) sintetizam fatores s que transcritos pela RNA polimerase I, que fica concentrada
permitem a apropriação da RNA polimerase da célula no nucléolo. (Os números referem-se à ordem de eluição
para a transcrição do DNA viral. das enzimas de uma coluna de cromatografia). Cada en
zima tem uma estrutura muito complexa (Tabela 5.1).
As RNA polimerases procarióticas comuns são inibi
das pelo antibiótico rifampicina (usado no tratamento Uma RNA polimerase de mitocôndrias é responsável
da tuberculose), que se liga à subunidade b (Correla pela síntese das espécies mitocondriais de mRNA, tRNA
ção Clínica 5.1). As RNA polimerases eucarióticas nu e rRNA. Essa enzima, como a RNA polimerase bacteria
cleares podem ser diferenciadas porque são inibidas na, é inibida por rifampicina (Correlação Clínica 5.1).
diferencialmente por a-amanitina, que é sintetizada
pelo cogumelo venenoso Amanita phalloides. Três
classes de RNA polimerases nucleares podem ser di Etapas da Transcrição em
ferenciadas, uma vez que concentrações muito baixas Procariotos
de a-amanitina inibem a síntese de mRNA e de alguns
RNAs nucleares pequenos (snRNAs); concentrações O DNA cromossômico é geralmente transcrito em
mais altas inibem a síntese de tRNA, 5S rRNA e outros apenas uma direção. A fita de DNA que serve de molde
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 191

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.1

Antibióticos e Toxinas que Têm RNA Polimerase Como Alvo

A RNA polimerase é uma enzima essencial para a palmente no tratamento de tuberculose. Mycobacte
vida, uma vez que a transcrição é a primeira etapa da rium tuberculosis, o agente causador, é resistente a
expressão gênica. Falta de atividade de RNA polimera muitos antibióticos comumente usados, mas é sensível
se significa que nenhuma outra proteína é feita. Dois à rifampicina, o produto de um estreptomiceto de solo.
produtos naturais ilustram esse princípio; em ambos os Como as RNA polimerases de mamíferos diferem da
casos, a inibição de RNA polimerase leva à morte do variedade procariótica, a inibição da última enzima é
organismo. possível sem grande toxicidade para o hospedeiro. Isso
implica em bom índice terapêutico para a droga, isto é,
O cogumelo “chapéu da morte” ou “anjo destruidor” a capacidade de tratar uma doença sem causar efeitos
Amanita phalloides é muito venenoso e ainda causa indesejáveis ao paciente. Juntamente com o aprimo
várias mortes por ano, apesar dos avisos amplamente ramento de medidas de saúde pública, a terapia com
divulgados entre coletores amadores de cogumelos (in rifampicina e isoniazida (um antimetabólito) diminuiu
cidentalmente, tem reputação de ser delicioso). A toxi muito a morbidade da tuberculose em países indus
na mais letal, α-amanitina, inibe a RNA polimerase II trializados. Infelizmente a doença ainda é endêmica
eucariótica, inibindo assim a síntese de mRNA. O en em populações pobres dos Estados Unidos e de outros
venenamento começa com sintomas gastrointestinais países. Em número crescente, indivíduos imunocom
relativamente leves, seguidos, cerca de 48 horas depois, prometidos, especialmente pacientes com AIDS, têm
por insuficiência hepática grave, à medida que os mR tuberculose ativa.
NAs essenciais e suas proteínas são degradados, mas
não são substituídos por novas moléculas sintetizadas.
A única terapia possível é paliativa, incluindo trans Mitchel, D. H. Amanita mushroom poisoning. Annu.
plante de fígado. Rev. Med. 31:51, 1980; A. G. Gilman, T. W. Rall, A. S. Nies e
P. Taylor (Eds.). The Pharmacological Basis of Therapeu
Mais benigna (pelo menos do ponto de vista de tics, 8. ed., New York: Pergamon Press, 1990, p. 129; e K. M.
nossa espécie) é a ação do antibiótico rifampicina, que DeCock, B. Soro, I. M. Colibaly, S. B. Lucas. Tuberculosis and
inibe as RNA polimerases de várias bactérias, princi HIV infection in sub-Saharan Africa. JAMA 268:1581, 1992.

para a síntese de RNA é complementar ao RNA trans Uma segunda sequência consenso localiza-se à mon
crito. Por convenção, a fita molde é geralmente escrita tante da caixa –10 ou Pribnow. Essa sequência –35
como a fita “de baixo” de um DNA dupla-fita. A outra
fita, a fita não-molde ou “de cima”, tem a mesma direção T*T*G*ACA
do transcrito quando lida na direção 5! para 3!; essa fita, é centralizada cerca de 35 pb à montante do ponto de
às vezes, é chamada de fita codificadora. Quando ape
início da transcrição; os nucleotídeos marcados com
nas uma sequência de DNA for dada neste livro, a fita
asteriscos são os mais conservados. O espaçamento en
codificadora é representada. Sua sequência pode ser tre as sequências –35 e –10 é crucial, com 17 pb sendo
convertida no RNA transcrito de um gene pela simples não têm a TTGACA
Asé,sequências
são
muito
assimétricas;
conservado.isto mesma sequência
e TATAATse
substituição das bases U (uracil) por T (timina).
a fita complementar for lida. Portanto, a sequência do
Reconhecimento do Promotor
promotor, por si só, determina que a transcrição deve
A transcrição procariótica começa com a ligação acontecer em apenas uma direção.
da RNA polimerase ao promotor de um gene (Figura
Que diferença essas sequências de consenso fazem
5.2). A RNA polimerase holoenzima liga-se a uma face para um gene? Medidas de afinidade de ligação da RNA
do DNA, estendendo-se aproximadamente 45 pb à mon
polimerase e da eficiência de iniciação em várias se
tante (upstream) e 10 pb à jusante (downstream) do
quências de promotores mostram que os promotores
sítio de iniciação do RNA. Duas sequências curtas dessa
mais ativos são os que mais se assemelham às sequên
região são muito conservadas (Figura 5.1). Uma sequên
cias consenso. O grau de similaridade de uma sequên
cia, que é localizada cerca de 10 pb à montante do ponto
cia de promotor em particular com o consenso corre
de início da transcrição, é a sequência consenso (às ve
laciona-se bem com a “força” medida de um promotor,
zes chamada caixa -10 ou Pribnow):
isto é, sua capacidade de iniciar transcrição com RNA
T*A*TAAT* polimerase purificada.

As posições marcadas por asteriscos são as mais As bases que flanqueiam as sequências –35 e –10,
conservadas. as bases próximas ao início da transcrição, e as bases
192 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Iniciação da Síntese
Para que a RNA polimerase inicie a síntese de um
transcrito RNA, são necessárias duas etapas cinetica
mente diferentes (ver Figura 5.2). Na primeira etapa,
descrita aqui, a RNA polimerase holoenzima liga-se de
modo relativamente fraco ao DNA promotor, formando
um complexo fechado. Na segunda etapa, a holoenzi
1. Formando o complexo ma forma um complexo aberto, ligado mais fortemen
com promotor fechado
te, caracterizado por uma abertura local de cerca de
10 pb do DNA dupla-hélice. Como a caixa Pribnow de
consenso é rica em A-T, ela pode facilitar esse desenro
lamento local; seus pares de bases são rompidos mais
2. Formando
com promotor
o complexo
aberto facilmente durante a abertura. A abertura de 10 pb do
DNA é topologicamente equivalente ao relaxamento de
um único superenrolamento negativo. Como poderia
ser previsto a partir dessa observação, a atividade de
alguns promotores depende do estado super-helicoidal
do DNA molde. Alguns promotores são mais ativos em
3. Incorporando os
poucos nucleotídeos
DNA superenrolado, enquanto outros são mais ativos
quando a densidade de super-hélice do molde é menor.
A fita molde do DNA desenrolado faz pares de bases
com o nucleosídeo trifosfato iniciador, bem como com
o segundo nucleotídeo da cadeia de RNA; a RNA poli
4. Saindo do promotor
merase então catalisa a formação da primeira ligação
fosfodiéster. A enzima se desloca para a posição seguin
te (essa é a etapa inibida pela rifampicina) e continua
FIGURA 5.2 Eventos precoces na transcrição procariótica. a síntese. Depois que vários nucleotídeos tiverem sido
DNA contendo o promotor é apresentado em forma de dupla adicionados à cadeia nascente de RNA, a enzima entra
-hélice, e a RNA polimerase holoenzima de E. coli é represen no modo de elongação, caracterizado por uma associa
tada por dois ovais, o menor dos quais representa o fator sigma ção muito estável com o DNA molde e não se separa até
e o maior representa o core. O RNA nascente é apresentado que sejam encontrados sinais específicos, na sequência,
dentro da bolha de transcrição, anelado com a fita molde de para término da transcrição. Alteração da associação
DNA, e os produtos de iniciação abortiva são mostrados como da subunidade sigma com a polimerase core pode es
produtos liberados do complexo de iniciação. Embora esta fi tar associada com esse estado de elongação, muito pro
gura mostre a liberação da subunidade sigma quando a RNA
polimerase entra no modo de elongação produtiva, o destino
cessivo. Uma vez que a RNA polimerase tenha saído da
do fator sigma nesse estágio do processo de transcrição ainda é região do promotor, outras moléculas de RNA polime
um tanto controverso. rase podem se ligar e iniciar no promotor, de modo que
o gene possa ser transcrito por muitas polimerases ao
mesmo tempo (Figura 5.3).
localizadas próximo da posição –16 são pouco conser
vadas. Em algumas dessas regiões pouco conservadas,
a RNA polimerase pode requerer que um nucleotídeo Novos RNA com proteínas
específico não esteja presente ou que variações locais Moléculas de
na estrutura helicoidal do DNA estejam presentes. Os RNA polimerase

promotores dos genes de choque térmico de E. coli têm


diferentes sequências consenso nas regiões –35 e –10.
Isto é consistente com o fato de serem reconhecidos por
Extremidade terminal
um fator s diferente. do gene
Extremidade inicial
do gene Direção de síntese
Um RNA transcrito geralmente começa com uma pu
rina ribosídeo trifosfato; isto é, pppG××× ou pppA×××,
mas inícios com pirimidinas também são conhecidos FIGURA5.3 Transcrição simultânea de um gene por
(Figura 5.1). A posição de iniciação da transcrição dife muitas RNA polimerases, mostrando o comprimento
religeiramente entre vários promotores, mas geralmen crescente das moléculas nascentes de RNA.
Cortesia de O. L. Miller, University of Virginia. Reproduzido
te fica cinco a oito bases à jusante do T final da caixa
com permissão de O. L. Miller e B. R. Beatty, Cell Physiol.
Pribnow. 74:225, 1969.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 193

Elongação sequências dos sítios de terminação P-dependentes


apresentam sequências ricas em C localizadas a algu
A RNA polimerase continua o ciclo de ligação do ma distância a montante do sítio de terminação, que
nucleotídeo – formação da ligação – deslocamento, a é frequentemente uma região ampla na qual a termi
uma velocidade média de cerca de 40 nucleotídeos por nação ocorre, e não um ponto específico. Acredita-se
segundo. Entretanto, são conhecidos muitos exemplos que o fator P se desloque ao longo da cadeia nascente
nos quais a RNA polimerase faz uma pausa ou desace de RNA, de forma dependente de ATP, até que alcance
lera em determinadas sequências. Como discutido mais a RNA polimerase elongadora. Quando isso acontece, P
adiante, essas pausas podem estar ligadas à terminação desestabiliza, de alguma forma, o complexo de elonga
da transcrição. ção, levando à separação entre o DNA molde, a cadeia
completa de RNA e a polimerase.
À medida que a RNA polimerase se move ao longo
da dupla hélice, continua a separar as duas fitas do DNA Ribossomos procarióticos geralmente ligam-se ao
molde. Esse processo permite que a fita molde do DNA mRNA nascente enquanto está sendo transcrito. Esse
estabeleça pares de bases com a cadeia nascente de acoplamento entre transcrição e tradução é importante
RNA. Portanto, um único mecanismo de transferência no controle gênico por atenuação (p. 326).
de informação (pareamento de bases Watson-Crick)
serve a vários processos: replicação do DNA, reparo do
DNA e transcrição da informação genética em RNA. O 8
8
8
pareamento de bases é também essencial para a tra 8
dução (p. 21). O processo de desenrolamento e res & *

tauração da dupla-hélice do DNA leva a mudanças na & *


densidade de super-helicidade do DNA, e o estado de 8
& $
* KDVWHULFDHP*&
super-helicidade do DNA é controlado pela ativade das
DNA topoisomerases I e II. * &

Mudanças no complexo de transcrição durante a * &

fase de elongação podem afetar os eventos subsequen $ 8


H[WUHPLGDGH!GRP51$
tes de terminação. Essas mudanças dependem da liga
ção de outras proteínas celulares (proteína NusA, por $ 8
exemplo) à RNA polimerase core. A não-ligação desses $88 888882+
fatores proteicos pode resultar em uma frequência au
6HTXrQFLDGH8 V
mentada de terminação e, consequentemente, em um QmRSDUHDGRV
nível reduzido de expressão gênica.
FIGURA 5.4 Estrutura em haste-alça do RNA transcrito
Terminação que determina a terminação da transcrição rho
independente.
O complexo RNA polimerase também reconhece as Note os dois componentes da estrutura: haste e alça ricas em G
extremidades dos genes (Figura 5.4). A terminação da + C, seguida por uma sequência de resíduos U.
transcrição pode ocorrer de dois modos, de acordo com
a característica de ser dependente ou não da proteína
fator P (rho). Terminadores são, portanto, classifica 5.3 TRANSCRIÇÃO EM
dos em P-independentes e P-dependentes; terminadores
P-independentes são bem caracterizados (Figura 5.4). EUCARIOTOS
Uma sequência tipo-consenso está envolvida: um palín
drome rico em G-C (repetição invertida) que precede A iniciação da transcrição eucariótica difere subs
uma sequência de 6–7 resíduos U na cadeia de RNA. tancialmente de sua contrapartida procariótica. Em
Como resultado, a cadeia de RNA forma uma estrutu bora a definição de um promotor seja a mesma – in
ra em haste e alça imediatamente antes dos resíduos formação em sequência de DNA que especifica o início
da transcrição – os eventos moleculares necessários
de oligoU. Essa estrutura secundária da haste e alça é
para a iniciação da transcrição são mais complexos.
crucial para a terminação, como demonstrado por ex
perimentos que mostram que mutações com troca de Primeiro, a cromatina contendo a sequência do pro
bases que impedem o pareamento no RNA também re motor deve se tornar acessível para a maquinaria de
duzem a terminação. As haste e alça que ficam depois transcrição. Segundo, fatores de transcrição distintos
da terminação estabilizam o mRNA procariótico contra da RNA polimerase devem se ligar a sequências do
DNA na região do promotor, para que um gene fique
degradação nucleolítica.
ativo. Terceiro, amplificadores ou enhancers e outros
Os terminadores P-dependentes são menos defini elementos de controle da transcrição que agem em cis
dos. O fator P é uma proteína hexamérica que tem uma ligam outros fatores proteicos (ativadores) para esti
atividade essencial de ATPase dependente de RNA. As mular transcrição.
194 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Fatores de transcrição eucarióticos ligam-se ao DNA Embora as sequências transcritas de um gene pos
e recrutam a RNA polimerase para o promotor. Isso sam estar organizadas em nucleossomos, os nucleosso
contrasta com a ação dos fatores σ bacterianos, que não mos são menos fortemente ligados do que em um gene
se ligam ao DNA sem se ligar primeiro à enzima RNA inativo. Várias modificações covalentes das histonas es
polimerase core. A RNA polimerase eucariótica consis tão associadas com mudanças no estado transcripcio
te de três formas enzimáticas distintas, cada uma capaz nal de genes organizados em nucleossomos. Uma dessas
de transcrever diferentes classes de RNAs celulares. modificações, que está geralmente associada com ativa
Diferentemente, todos os genes procarióticos são trans ção da transcrição, é a acetilação de histonas pelas his
critos por uma única forma de RNA polimerase core, tona acetiltransferases, uma reação que transfere gru
embora diferentes fatores σ possam estar envolvidos na pos acetil do Acetil-CoA para histonas, especialmente
iniciação de diferentes genes. nas regiões N-terminais das histonas H4 e H3. Outras
modificações de histonas que influenciam a atividade
gênica incluem metilação, fosforilação e ubiquitinação.
Natureza da Cromatina Ativa A metilação de histonas está frequentemente associada
com cromatina inativa, enquanto as histonas de genes
A organização estrutural dos cromossomos eucarióti
transcritos ativamente estão sujeitas a outras modifica
cos é discutida nos Capítulos 4 e 8. Embora a cromatina
ções. Combinações dessas modificações, ao ocorrerem
esteja organizada em nucleossomos, independentemen
em diferentes posições específicas em histonas, podem
te de poder ser transcrita ou não, um gene ativo tem
constituir um “código de histonas” que acopla as modi
geralmente uma conformação “mais frouxa” do que cro
ficações de histonas com a compactação de cromatina,
matina transcripcionalmente inativa. Essa diferença é
mais notável em sequências de promotores, partes das modificação do DNA e atividade gênica (Correlação Clí
quais não estão organizadas em nucleossomos (Figura nica 5.2). Uma ideia geral é que a cromatina parcial
mente desdobrada é necessária, mas não suficiente,
5.5). A falta de nucleossomos é manifestada experimen para a transcrição.
talmente pela sensibilidade aumentada das sequências
de promotores a reagentes externos que quebram o
DNA, como a enzima DNase I. Essa acessibilidade au
mentada das sequências de promotores (chamada hi
persensibilidade a DNase I) garante que fatores de Ativação da Transcrição Opera por
transcrição possam se ligar às sequências regulatórias
corretas. Recrutamento da RNA Polimerase
Fatores proteicos eucarióticos, independentemente
da sequência à qual se liguem, operam de modo fun
Sítios HSS
(setas) 5!transcrito damentalmente diferente do fator σ de E.coli. Em vez
de primeiro fazer parte de um complexo proteico para
depois procurar a sequência relevante no DNA, os fato
Oviduto,maduro
Oviduto,imaturo
res se ligam a um sítio específico (sequência) no DNA e
depois se ligam à RNA polimerase (com ou sem envol
vimento de fatores intermediários). Esse mecanismo é
chamado “recrutamento”, que é um meio pouco impor
Eritrócitos tante na ativação de genes em procariotos, e o principal
mecanismo em eucariotos.
5 0
Enhancers
Distância no DNA do início da transcrição em quilobases Enhancers ou amplificadores aumentam muitas
vezes a expressão de um gene. Fatores de transcrição
FIGURA 5.5 Sítios hipersensíveis à DNase (HSS) antes do que se ligam a enhancers são chamados ativadores. As
promotor do gene de lisozima de galinha, uma unidade proteínas ativadoras têm, pelo menos, dois domínios,
transcripcional eucariótica típica. um dos quais se liga à sequência enhancer, enquanto
Sítios hipersensíveis, isto é, sequências próximas ao gene da
lisozima que são particularmente susceptíveis à digestão por
o outro se liga a outros fatores proteicos ou à RNA po
nucleases mesmo quando empacotadas em cromatina, são in limerase.
dicados por setas. Note que alguns sítios hipersensíveis são
encontrados no promotor da lisozima tanto em oviduto madu
O modelo mais aceito para esses efeitos é que cro
ro como imaturo. Indução da síntese de lisozima em oviduto matina forma uma alça que permite que o enhancer e
maduro é acompanhada pelo aparecimento de um novo sítio o promotor fiquem próximos no espaço, embora sepa
hipersensível. Diferentemente, nenhum sítio hipersensível rados por uma sequência relativamente longa de DNA.
está presente em eritrócitos nucleados que nunca sintetizam
lisozima.
Adaptado de Elgin, S. C. R. J. Biol. Chem. 263:1925, 1988.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 195

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.2

Síndrome do X Frágil: Uma Doença da Cromatina?

A síndrome do X frágil (OMIM 300624) é a forma toda a região do promotor de FMR1. A produção de DNA
individual mais comum de retardo mental hereditário, metilado pode estar mecanisticamente ligada às modifi
afetando 1 a cada 1.250 homens e 1 a cada 2.000 mulhe cações de histonas que estão associadas com a cromati
res. Uma variedade de sintomas anatômicos e neuroló- na transcripcionalmente inativa, e o mRNA de FMR1 não
gicos resulta de inativação do gene FMR1, localizado no é sintetizado quando um grande número de repetições
cromossomo X, que codifica a proteína FMRP. A gené CGG levam a metilação do promotor de FMR1. A ausên
tica da síndrome é complexa em virtude do mecanismo cia da proteína FMR1 leva à patologia da doença.
molecular da mutação do X frágil.
A FMR1 é uma proteína que se liga ao RNA, que
A condição do X frágil resulta da expansão da uma se pode se ligar aos mRNAs polirribossômicos celulares.
quência trinucleotídica repetitiva CGG, encontrada na re A associação com FMRP regula negativamente a tradu
gião 5! não-traduzida do gene FRM1. Normalmente, essa ção dos mRNAs alvos, controlando assim a expressão
repetição está presente em 30 cópias, embora indivíduos gênica em dendritos. A ação de FMRP é um dos mui
normais possam ter até 200 cópias da repetição. Em indi tos exemplos recentes que mostram como mecanismos
víduos com a síndrome do X frágil, o gene FRM1 contém pós-transcripcionais controlam a expressão gênica e o
muito mais cópias, de 200 a milhares, da repetição CGG. A fenótipo molecular.
genética complexa da doença resulta do potencial da repe
tição CGG se expandir de geração em geração.
Penagarikano, O., Mulle, J. G., e Warren, S. T. The patho
A presença de um número anormalmente elevado physiology of Fragile X syndrome. Annu. Rev. Gen. Hum.
de repetições CGG induz extensa metilação do DNA em Genet. 8:109, 2007.

Transcrição pela RNA Polimerase II fatores residem em domínios separados das proteínas.
(4) A RNA polimerase II é modificada durante a rea
A RNA polimerase II é responsável pela síntese de ção de transcrição. A polimerase modificada recruta
mRNA no núcleo. Vários temas comuns emergiram de outros componentes nucleares, incluindo enzimas do
pesquisa em um grande número de genes (Figura 5.6). processamento de RNA, durante a fase de elongação
(1) As sequências do DNA que controlam a transcrição da transcrição.
são complexas; um único gene pode ser controlado por
dúzias de elementos de sequências de DNA, além do Promotores para Síntese de mRNA
promotor, que inclui o sítio no qual um complexo multi
Diferentemente da RNA polimerase procariótica,
proteico contendo a RNA polimerase se organiza. Este
que reconhece apenas uma única sequência de pro
complexo de pré-iniciação é composto por vários fa
motor, os fatores de transcrição que agem em conjun
tores de transcrição de nível basal, ou gerais (p. 333),
to com a RNA polimerase II podem reconhecer várias
cuja função é posicionar a RNA polimerase II no sítio
classes de sequências consenso à montante do ponto de
correto para iniciar transcrição, ajudar a separação
das fitas de DNA no ponto de início e controlar a tran início do mRNA. A primeira e mais proeminente delas,
às vezes chamada TATA box, tem a sequência
sição da polimerase do modo iniciação para elongação.
Entretanto, sem proteínas adicionais para o controle TATA(A/T)(A/T) A
da transcrição interagindo com enhancers e outros
elementos de sequência de ação cis, esse processo é em que os nucleotídeos entre parêntesis podem ser A
geralmente pouco eficiente. Elementos de sequência ou T.
controladores funcionam em combinação para dar
um padrão de controle estreitamente ajustado. (2) O O TATA box é centralizado cerca de 25 pb à montan
te da unidade de transcrição. Experimentos nos quais
efeito de sequências de controle sobre a transcrição é
foi removido sugerem que seja necessário para a trans
mediado pela ligação de proteínas a cada elemento de
crição eficiente de muitos genes, mas pode só especifi
sequência. Esses fatores de transcrição reconhecem car o ponto de início da transcrição correto, em outros.
a sequência de nucleotídeos do elemento de controle Alguns promotores são totalmente desprovidos dele.
apropriado. (3) Fatores de transcrição ligados intera
gem entre si e finalmente atuam para recrutar a RNA Outros elementos de controle promotor-proximal
polimerase, frequentemente agindo por meio de fato são frequentemente encontrados em genes transcritos
res do complexo de pré-iniciação ou outros intermedi por RNA polimerase II, mas não são universais. Uma
ários. A ligação ao DNA e as atividades de ativação dos dessas sequências é CAAT box, com a sequência
196 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

GG(T/C) CAATCT e 18S, nessa ordem. Várias centenas de cópias de cada


unidade transcripcional ocorrem uma atrás da outra
Outras sequências, ilustradas na Figura 5.6, também (tandemly) no cromossomo. As unidades transcrip
podem promover transcrição. cionais são separadas por sequências espaçadoras. As
Os boxes CAAT e TATA, bem como outras sequên sequências espaçadoras incluem sequências que espe
cificam a ligação da RNA polimerase I e de fatores de
cias apresentadas na Figura 5.6, não fazem contato
transcrição da Classe I, que promovem a atividade da
direto com a RNA polimerase II. Em vez disso, reque RNA polimerase I. A Figura 5.7 é um diagrama dessa
rem a ligação de fatores de transcrição específicos para
estrutura. Cada unidade repetitiva é transcrita como
funcionarem. Note como fatores proteicos ligam-se não uma unidade, gerando um transcrito primário que con
apenas às suas sequências de reconhecimento, mas
tém uma cópia de cada uma das sequências 28S, 5,8S
também entre si e à RNA polimerase, ela própria uma
e 18S, o que garante a síntese de quantidades equimo
enzima muito grande e complexa. Formas mutadas de
lares desses três RNAs. O transcrito primário é, então,
alguns desses fatores de transcrição são produtos de
processado por ribonucleases e enzimas modificadoras
oncogenes (Correlação Clínica 5.3). para as três espécies maduras de rRNA. A terminação
da transcrição ocorre na região do espaçador não
Transcrição pela RNA Polimerase I -transcrito antes da RNA polimerase I atingir o promo
tor da unidade repetitiva seguinte. O mecanismo de ter
RNAs ribossômicos são sintetizados em um cor minação difere dos discutidos previamente para RNA
po nuclear específico, o nucléolo, e os genes de rRNA polimerase de E. coli.
localizam-se em uma região cromossômica específica
chamada organizador nucleolar. Cada unidade trans O promotor reconhecido pela RNA polimerase I
cripcional contém sequências para os rRNAs 28S, 5,8S localiza-se dentro do espaçador não-transcrito, aproxi
madamente da posição –40 até +10 e
de –150 até –110. Um fator de trans
crição liga-se ao promotor e, assim,
dirige o reconhecimento da sequência
do promotor pela RNA polimerase I.
Modificação de histone/DNA Além disso, um elemento enhancer
localiza-se cerca de 250 pb à montan
te do promotor no DNA ribossômico
humano. O tamanho do espaçador
não-transcrito varia consideravel
DA Remodelamento da cromatina mente entre organismos, bem como a
posição do elemento enhancer.

A transcrição dos rRNA pode ser


muito rápida; isso reflete o fato de a
Correguladores síntese dos ribossomos ser limitante
IIF da velocidade de crescimento celular,
IID
e a demanda de rRNA pode, portanto,
Pol II
IIB IIA ser muito alta. Em outras situações,
PA IIH
TATA INR DPE IIE quando o crescimento não é tão rápi
do, apenas algumas das repetições de
Cerne do promotor (core) rDNA são transcripcionalmente ativas.
FIGURA5.6 Interação de fatores de transcrição e fatores que modificam a
cromatina com promotores eucarióticos.
Elementos de controle transcripcional que agem em cis localizados próximo do sítio Transcrição pela RNA
de início da transcrição podem incluir uma caixa TATA (TATA box), um elemento
iniciador (INR), ou um elemento promotor a jusante (DPE, downstream promoter Polimerase III
element), e são apresentados aqui interagindo com os fatores do cerne (core) reque
ridos pela RNA polimerase II para transcrição específica. Promotores tipicamente con Muitos dos temas elaborados an
têm apenas um subconjunto desses elementos, e não todos os três. Os fatores centrais teriormente para a transcrição dos
incluem TFIIA, TFIIB, TFIID, TFIIE, TFIIF e TFIIH, além da RNA polimerase II. Pro promotores Classe I e Classe II são vá
teínas ativadoras da transcrição podem se ligar a sequências de promotor-proximais lidos para a síntese de 5S RNA, tRNAs
(PA) ou de promotor-distais (DA) e ativar a transcrição por interações com os fatores
e outros RNAs pequenos celulares e
centrais, com correguladores ou com complexos modificadores da cromatina, como virais pela RNA polimerase III. Fato
mostrado. Ligação de fatores centrais ou ativadores transcripcionais pode requerer
ou ser acompanhada de modificações na estrutura da cromatina, incluindo perda de res de transcrição ligam-se ao DNA e
nucleossomos. dirigem a ação da RNA polimerase.
Reproduzido com permissão de Hochleimer, A. e Tjian, R. Genes Dev. 17:1309, 2003. Uma característica incomum da ação
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 197

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.3

Envolvimento de Fatores de Transcrição na Carcinogênese

A conversão de uma célula normalmente bem regu divisão celular. Uma única cópia do gene mutado causa
lada em uma cancerosa requer várias etapas indepen a síndrome de Li-Fraumeni, uma condição hereditária
dentes, cujo resultado final é uma célula transformada, que predispõe a carcinomas de mama e córtex adrenal,
capaz de crescimento descontrolado e metástase. Des sarcomas, leucemia e tumores de cérebro.
cobertas sobre esse processo vieram de estudos sobre
DNA recombinante dos genes, chamados oncogenes, Mutações somáticas em p53 podem ser identificadas
cujos produtos mutados ou superexpressos contribuem em cerca de metade de todos os cânceres humanos. Mu
para a carcinogênese. Os oncogenes foram identificados tações representam uma perda de função, afetando ou
pela primeira vez como constituintes dos genomas de a estabilidade ou a capacidade de ligar DNA da p53. A
DNA ou RNA de vírus tumorais, mas os encontrados em proteína selvagem ajuda a controlar o ponto de verifica
vírus tumorais de RNA são derivados dos genes presen ção (checkpoint) entre as fases G1 e S do ciclo celular,
tes em células normais. Os análogos celulares normais, ativa o reparo do DNA e, em outras circunstâncias, leva
não-mutados, dos oncogenes são chamados proto-onco à morte celular programada (apoptose). Portanto, as
genes. Seus produtos são componentes de muitas vias ações bioquímicas da p53 servem para manter o cres
que regulam o crescimento e a diferenciação de uma cimento celular regulado e, finalmente, eliminar as cé
célula normal; mutação para uma forma oncogênica en lulas danificadas. Todas essas funções se contrapõem à
volve uma modificação que torna o produto regulatório transformação neoplásica de uma célula.
menos sensível ao controle normal. Esses papéis variados são uma função da ação da
Alguns produtos de proto-oncogenes estão envolvi p53 como fator de transcrição, inibindo alguns genes
dos na transdução de sinais hormonais ou no reconheci e ativando outros. Por exemplo, p53 é uma proteína
mento de fatores de crescimento, e agem no citoplasma. que se liga ao DNA em um sítio específico e promove a
Outros proto-oncogenes têm local de ação nuclear; seus transcrição de alguns genes, incluindo os envolvidos no
produtos gênicos estão frequentemente associados com reparo do DNA.
o aparelho de transcrição, e são sintetizados em respos
A estrutura tridimensional da p53 foi determinada.
ta a estímulos de crescimento. É fácil entender como a
Mutações encontradas na p53 de tumores afetam o do
superprodução ou a ativação permanente de um fator de
mínio de ligação ao DNA da proteína. Por exemplo, qua
transcrição positivo poderia ajudar a transformação de
se 20% de todos os resíduos mutados envolvem muta
uma célula em maligna. Os genes normalmente trans
ções em duas posições da p53. A estrutura cristalina do
critos em níveis baixos ou controlados seriam superex
complexo proteína-DNA mostra que esses dois amino
pressos por tal mecanismo de controle perturbado.
ácidos, ambos argininas, formam pontes de hidrogênio
Um efeito genético mais sutil que predispõem ao cân com DNA. A arginina 248 forma pontes de hidrogênio
na fenda menor da hélice do DNA com um oxigênio de
cer é exemplificado pela proteína humana supressora
uma timina e com um nitrogênio do anel de uma adeni
de tumor p53. Essa proteína é o produto de um membro
de outra classe de genes implicados na tumorigênese, na. Mutações destroem essa rede mantida por pontes-H
os genes supressores de tumor. Diferentemente dos on e, portanto, a capacidade da p53 regular a transcrição.
cogenes, cujos produtos regulam positivamente o cres
cimento e a proliferação celular, o produto de um gene Weinberg, R. A. The Biology of Cancer. New York: Gar
supressor de tumor como p53, regula negativamente a land Science, 2007.

DNA FIGURA 5.7 Estrutura de uma


unidade transcripcional de rRNA.
Os genes do RNA ribossômico estão dis
postos com muitas cópias, uma atrás da
outra. Cada cópia é transcrita separada
PrerRNA 5! mente, e cada transcrito é processado
em três espécies separadas de RNA. As
28S rRNA 5.8S 18S rRNA sequências dos promotores e enhan
cers estão localizadas nas regiões não
-transcritas das sequências repetidas
uma atrás da outra.
198 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

da RNA polimerase III é a localização das sequências polimerase core bacteriana, de uma RNA holoenzima,
de ligação de fatores de transcrição; estas podem es de uma RNA polimerase II eucariótica e até de uma
tar localizadas dentro da sequência de DNA que codi RNA polimerase II engajada na elongação da transcri
fica o RNA e são frequentemente chamadas regiões de ção foram determinadas por cristalografia de raios-X.
controle internas. Em alguns casos, o DNA na região A despeito de todas as diferenças na composição em
imediatamente 5! à região transcrita do gene pode ser subunidades, no tamanho e no mecanismo, as RNA po
substituído por outras sequências com efeitos relativa limerases parecem interagir com seus DNAs moldes,
mente pequenos sobre a transcrição. Em outros casos, nucleotídeos substratos e cadeias nascentes de RNA de
entretanto, sequências à montante do ponto de início modo semelhante.
da transcrição podem desempenhar um papel impor
Chama a atenção o fato de as formas das enzimas
tante no estabelecimento de uma transcrição eficiente.
As diferenças parecem resultar da importância relativa procarióticas e eucarióticas serem muito semelhantes,
dos vários contatos DNA–proteína na estabilização do particularmente no core catalítico das enzimas. Tanto a
RNA polimerase core bacteriana como a RNA polimera
complexo de transcrição inteiro, composto por múlti
plas proteínas, além da RNA polimerase III. As relações se II de levedura tem a forma de uma pinça de carangue
dessas várias proteínas com a sequência de DNA cor jo (Figura 5.9). O DNA entra por uma extremidade da
respondente é mostrada, para um gene de rRNA 5S e molécula, e se move por uma fenda profunda da polime
para um gene de tRNA, na Figura 5.8. rase antes de fazer uma dobra de 90-graus e sair da po
limerase. O sítio catalítico, isto é, o local onde um novo
nucleotídeo é adicionado à extremidade 3! da cadeia de
RNA nascente, localiza-se na extremidade do canal. As
As Bases Enzimáticas Comuns para a duas fitas da molécula de DNA dupla-hélice são separa
das pela enzima, formando uma “bolha de transcrição”,
Ação das RNA Polimerases
e um híbrido transitório RNA-DNA, com nove pares de
Nosso entendimento sobre a base molecular de ação bases, se forma dentro da bolha. Nucleotídeos entram e
da RNA polimerases cresceu recentemente, quando as RNA sai por dois outros canais separados na molécula.
estruturas tridimensionais de um fator σ, de uma RNA A despeito das diferenças de sequências e composição
em subunidades, as RNA polimerases proca
5S rRNA rióticas e eucarióticas mantiveram estruturas
TFIIIC
TFIIIB 55K 62K semelhantes para desempenhar as mesmas
90K B 135K 95K 145K 90K tarefas, levando à síntese de uma nova ca
70K B deia de RNA. Estas incluem: (1) a passagem
TFIIIA 51K do DNA molde por um canal da enzima, (2) a
separação das fitas de DNA para formar uma
bolha na qual um híbrido RNA-DNA existe
10 20 30 40 (box
50
60
A)
70 80 90 100 110 120 130
com a extremidade 3! da cadeia de RNA posi
−50 −40 −30 Início
−20 −10 Tx −1
box C cionada no sítio ativo, (3) a colocação de nu
SUP4 tRNATyr cleotídeos no sítio ativo por um poro da enzi
TFIIIC
ma, (4) o uso de um íon metálico para ajudar
TFIIIB 62K na catálise da formação de uma nova ligação
90K B 135K 95K 90K éster fosfato entre o fosfato α do nucleosídeo
145K
70K B
55K trifosfato que está chegando e a extremidade
3! da cadeia nascente do RNA, (5) a exclusão
do RNA produzido por outro poro, e (6) o en
caminhamento para reanelamento das duas
−50 −40 −30 −20 −10 −1 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Início Tx boxA box B fitas de DNA, à medida que saem da enzima.

Lembre-se que a subunidade σ da holoen


FIGURA 5.8 As sequências das fitas não-moldes de genes de levedura
zima procariótica é responsável pela ligação
que codificam o rRNA 5S e um tRNA são apresentadas, juntamente
com representações esquemáticas das várias subunidades de TFIIIA,
às caixas –10 e –35 dos promotores. Estudos
TFIIIB e TFIIIC. estruturais demonstraram que sigma é uma
As localizações aproximadas dessas subunidades em relação às sequências molécula oblonga, composta por um feixe
do DNA dos dois genes são indicadas por setas. Note que TFIIIA é necessário de resíduos em α-hélice, empacotados em
para formar um complexo de transcrição em genes de 5SrRNA, mas não em uma forma de “V” aberto. Um braço do “V”
genes de tRNA. TFIIIA é responsável por grande parte do reconhecimento contém resíduos críticos para o reconheci
sequência-específico da região de controle interna do gene de 5S rRNA, en mento do promotor e a ligação com a poli
quanto TFIIIC executa essa função para um gene de tRNA. Por outro lado, merase core. Um lado desse braço contém
TFIIIC e TFIIIB são necessários para transcrição de ambos genes de 5SrRNA uma α-hélice que se liga à sequência -10, e a
e tRNA.
Redesenhado de Braun, B. R., Bartholomew, B., Kassavetis, G. A. e Geidus outra face liga a polimerase core por intera
chek E. P. J. Mol. Biol. 228:1063, 1992. ções hidrofóbicas.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 199

5.4 PROCESSAMENTO DO RNA


Cópias em RNA de sequências de DNA devem ser
modificadas para produzir moléculas maduras, funcio
nais, tanto em procariotos como eucariotos. As reações
de processamento de RNA podem incluir: remoção
de nucleotídeos extras, modificação de bases, adição
de nucleotídeos e separação de diferentes sequências
de RNA pela ação de nucleases específicas. Reações de
processamento podem ocorrer cotranscripcionalmente
(enquanto o RNA ainda está sendo transcrito) ou pós
-transcripcionalmente (depois do transcrito ter sido
liberado pela RNA polimerase). Finalmente, em euca
riotos, os RNAs são exportados do núcleo.

(a)
O RNA Transportador É Modificado
por Clivagem, Adição e Modificação
de Bases
Clivagem
O transcrito primário de um gene de tRNA contém
sequências extras de nucleotídeos, tanto na direção 5!
como na 3! da sequência do tRNA. Esses transcritos
primários também podem conter íntrons na região do
anticódon. As reações de processamento pós-transcrip
cional ocorrem em uma ordem temporal bem definida,
mas não necessariamente rígida. Primeiro, o transcrito
primário é cortado de modo relativamente inespecífico
para gerar uma molécula precursora com extensões 5!
(b) e 3! mais curtas. Então a ribonuclease P, uma ribozima
(p. 71), remove a extensão 5! por clivagem endonucleo
FIGURA 5.9 Comparação das estruturas de RNA
polimerases eucariótica e procariótica. lítica. A extremidade 3! é cortada exonucleoliticamen
As mesmas cores são usadas para representar subunidades te, seguida pela síntese da terminação CCA. A sínte
homólogas nas duas enzimas. Note a semelhança das formas se dos nucleotídeos modificados ocorre em qualquer
gerais. (a) A estrutura tridimensional de RNA polimerase II ordem em relação à clivagem nucleolítica. A remoção
de levedura engajada na fase de elongação da transcrição. As de íntrons é determinada pela estrutura secundária do
várias subunidades são apresentadas em diferentes cores, precursor (Figura 5.10), e é executada por um sistema
com a maior subunidade em azul, e a segunda maior subu enzimático solúvel, com dois componentes; uma enzi
nidade em verde. A fita de DNA molde é amarela e o RNA ma remove o íntron e a outra sela novamente a cadeia
nascente é azul escuro. Nessa estrutura estão faltando duas
nucleotídica.
subunidades da RNA polimerase (produtos dos genes Rpb4
e Rpb7) e a fita não-molde do DNA não foi resolvida na de
terminação da estrutura. (b) A estrutura da RNA polimerase Adição na Extremidade 3!
core de Thermus aquaticus é apresentada abaixo. A subu
nidade b! é apresentada em verde, a subunidade b em azul,
Todo tRNA funcional tem a sequência CCA em sua
as duas subunidades a em vermelho e a subunidade w em extremidade 3!. Essa sequência é essencial para que
violeta. o tRNA aceite aminoácidos. Na maioria dos casos, é
Figuras desenhadas com as coordenadas fornecidas no ban adicionada sequencialmente pela enzima tRNA nucle
co de dados de estrutura de proteínas (pdb), com base nas otidiltransferase. Nucleotidiltransferases usam ATP
seguintes citações: (a) Gnatt, A. L., Cramer, P., Fu, J., Bush e CTP como substratos e sempre incorporam-nos em
nell, D. A., e Kornberg, R. D. Structural basis of transcription: tRNA numa razão de 2C/1A. As extremidades CCA são
An RNA polymerase II elongation complex at 3.3Å resolution. encontradas tanto em tRNAs citoplasmáticos como mi
Science 292:1876, 2001; e (b) Minakhin, L., Bhagat, S., Brun
tocondriais.
ning, A., Campbell, E. A., et al. Bacterial RNA polymerase su
bunit omega and eukaryotic RNA polymerase subunit RPB6
are sequence, structural, and functional homologs and pro
Nucleosídeos Modificados
mote RNA polymerase assembly. Proc. Natl. Acad. Sci. USA Os nucleotídeos de RNAs transportadores são os
98:892, 2001.
mais modificados de todos os ácidos nucleicos. Mais de
200 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Ìntron mais de uma espécie de tRNA; entretanto,


DNA Transcrição
as enzimas modificadoras são localização
-específicas. A maioria das modificações se
completa antes dos precursores de tRNA
Endonuclease Exonuclease terem sido clivados até o tamanho do tRNA
Transcrito
primário 5! P P P OH 3! maduro.
RNase P

O Processamento do RNA
Ribossômico Libera Vários
RNAs de um Precursor Mais
Longo
Ìntron
O produto primário da transcrição do
gene de rRNA é um RNA longo, chamado
Adição da modificação 45S RNA, que contém as sequências dos
tRNA maduro CCAOH à extremidade 3!
rRNAs 28S, 5,8S e 18S. O processamento
H do 45S RNA ocorre no nucléolo, e é feito
O por grandes estruturas de ribonucleopro
A 3! teínas, com múltiplas subunidades. O pro
C
P C cessamento dos rRNAs segue uma ordem
5! sequencial (Figura 5.11). O processamento
dos pré-rRNAs em procariotos também en
volve clivagem de precursores de alto peso
molecular em moléculas menores. Em um
estágio inicial do processamento em eu
cariotos, algumas bases do 35S rRNA são
modificadas por metilação nos nitrogênios
do anel das bases e por formação de pseu
douridina. Essas reações são especificadas
por partículas de ribonucleoproteínas nu
Remoção do íntron cleolares pequenas (snoRNPs) no nuclé
(endonuclease e ligase) olo. Cada snoRNP contém um RNA guia,
H que estabelece pares de bases com o rRNA
O
transcrito no local da modificação, especifi
A 3!
C
cando onde uma metilação ou formação de
P C pseudouridina deve acontecer. Um meca
5! nismo semelhante opera para modificação
de alguns outros RNAs pequenos.

O Processamento do RNA
Mensageiro Garante a
FIGURA5.10 Esquema de processamento de um tRNA eucariótico.
Sequência Codificadora
O transcrito primário é clivado pela RNase P e por uma 3!-exonuclease, e a ter Correta
minação CCA é sintetizada por tRNA nucleotidiltransferase antes do íntron ser
removido, se necessário. A maioria dos mRNAs eucarióticos tem
características estruturais específicas, adi
60 modificações diferentes nas bases e na ribose, exi cionadas no núcleo por sistemas enzimáticos diferen
gindo bem mais de 100 diferentes reações enzimáticas, tes da RNA polimerase. Essas características incluem
foram encontradas em tRNA. Muitas são simples, meti a cauda de poli(A) da extremidade 3!, nucleotídeos in
lações de uma etapa, mas outras envolvem síntese com ternos metilados e o cap da extremidade 5!. Os mRNAs
múltiplas etapas. A formação de algumas bases modi maduros são mais curtos do que seus transcritos pri
ficadas, na realidade, requer a quebra da ligação b-gli mários. Sequências não-codificadoras presentes nos
cosídica entre a ribose e a base. Enzimas modificado pré-mRNAs, mas ausentes nos mRNAs maduros, são
ras produzem as mesmas modificações específicas em chamadas sequências intervenientes ou íntrons. As se
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 201

Eucariotos DNA do gene ribossômico


RNA Polimerase II Recruta
t i Enzimas de Processamento
Transcrição e metilação
PréRNA 35S
durante a Transcrição em
3! 5! Eucariotos
28S 5.8S 18S
Clivagem A subunidade maior da RNA polimerase II con
PrérRNA 41S tém um domínio C-terminal (CTD) que funciona
no acoplamento entre a transcrição e o processa
Clivagem PrérRNA 20S mento. Quando a RNA polimerase II está no modo
PrérRNA 32S de iniciação, o CTD não está modificado. Quan
do o transcrito tem cerca de 25 nucleotídeos de
comprimento, o CTD é extensamente fosforilado.
28SrRNA Clivagem 18S rRNA CTD fosforilado recruta aenzima de capping e os
Capping de splicing e depoliadenilação.
complexos

5.8S rRNA
À medida que o complexo de transcrição se
Procariotos DNA do gene ribossômico move ao longo do DNA, o complexo enzimático
de capping modifica a extremidade 5! do mRNA
t Clivagem com transcrição i nascente. Capping envolve a síntese de uma liga
ção 5!–5! trifosfato com adição de um resíduo G.
PrérRNA 23S 3! PrérRNA 16S Essa estrutura é ainda modificada por metilação.
Clivagem
Remoção de Íntrons de mRNA
23S rRNA 16S rRNA Precursores
FIGURA5.11 Esquemas para transcrição e processamento de À medida que o pré-mRNA sai do complexo
rRNAs. RNA polimerase, ligam-se rapidamente ribo
Redesenhado de Perry, R. Annu. Rev. Biochem. 45:611, 1976. nucleoproteínas nucleares pequenas, snRNPs

quências mantidas são chamadas éxons. O padrão geral Pausa inicial Elongação Terminação
de processamento de mRNA é apresentado na Figura
5.12. Os mRNAs processados de modo incompleto cons Adição do cap 5! Splicing do mRNA Processamento 3!
tituem uma parte importante do RNA heterogêneo nu
clear (HnRNA).

O processamento do pré-mRNA eucariótico envol


ve várias reações moleculares, sendo que todas devem
RNAPII
ser executadas com fidelidade exata. Isso fica mais cla 5!
ro na remoção de íntrons de um mRNA transcrito. Um
Enzimas
capping de Complexo de
nucleotídeo extra na sequência codificadora do mRNA CTD 5!
Spliceossomo
Poliadenilação 3!
maduro causaria um deslocamento na estrutura da lei exo (A)n
5!
tura da mensagem, e a proteína resultante seria, quase RNA Nascente

que com certeza, não-funcional. Na realidade, muta mRNA


Exportação
ções que interferem com a remoção de íntrons são uma
causa importante de doenças genéticas humanas, por FIGURA5.12 O processamento do RNA ocorre durante a
exemplo, em alguns casos de b-talassemia (Correlação elongação na transcrição.
Clínica 5.4). O desafio para as células fica ainda maior A fosforilação do domínio C-terminal da RNA polimerase II (RNAP
pelo fato de alguns importantes genes humanos serem II) leva a transcrição para a fase de elongação e resulta no recru
compostos, em mais de 90% de suas sequências, por ín tamento de fatores de processamento. À medida que o precursor
trons. As complexas reações para remover os íntrons de mRNA parcialmente completo (nascente) emerge do comple
são realizadas por sistemas enzimáticos de ribonucleo xo de transcrição, o spliceossomo remove os íntrons. Quando o
proteínas multicomponentes no núcleo; depois que es sinal de poliadenilação é encontrado, o complexo de poliadenila
ção cliva o mRNA nascente e adiciona a cauda de poli(A), (A)n.
sas reações se completaram, o mRNA é exportado para
O RNA nascente remanescente é degradado por 5! exonucleases,
o citoplasma onde interage com os ribossomos para enquanto o mRNA processado é exportado para tradução.
iniciar a tradução. A maior parte do processamento é Adaptado com permissão de Pandit, S., Wang, D., and Fu, X.-D.
cotranscripcional. Curr. Opinion Cell Biol. 20:260, 2008.
202 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.4

Talassemia Decorrente de Defeitos na Síntese de RNA Mensageiro


As talassemias são defeitos genéticos na síntese co A forma mais comum de a-talassemia deve-se a
ordenada das cadeias peptídicas a- e b-globinas; uma uma deleção genética, que presumivelmente resulta
deficiência de cadeias de b-globina é chamada b-talas de crossing over desigual entre alelos adjacentes, du
semia, enquanto uma deficiência de cadeias de a-globi plicados, de a-globina. Diferentemente, a b-talassemia
na é chamada a-talassemia. Pacientes acometidos de pode resultar de uma grande variedade de mutações.
b-talassemia apresenta-se com anemia por volta dos 6 Eventos conhecidos incluem mutações que levam a
meses de idade, quando cessa a síntese de HbF e a sín mudança na estrutura de leitura (frameshift) na se
tese de HbA predomina. A gravidade dos sintomas leva quência codificadora da b-globina, bem como muta
à classificação da doença em talassemia maior, onde ções que levam a terminação prematura na síntese do
ocorre uma deficiência severa na síntese de globina, e polipeptídeo. Muitas b-talassemias resultam de muta
talassemia menor, que representa um desequilíbrio me ções que afetam a biossíntese do mRNA de b-globina.
nos grave. Ocasionalmente, uma forma intermediária é São conhecidos defeitos genéticos que afetam o pro
identificada. A terapia da talassemia maior envolve fre motor do gene, levando a transcrição ineficiente. Ou
quentes transfusões de sangue, levando a um risco de tras mutações resultam em processamento aberrante
complicações advindas de sobrecarga de ferro. A menos do transcrito nascente, ou durante a remoção de seus
que terapia de quelação seja bem-sucedida, a deposi dois íntrons do pré-mRNA, ou durante a poliadenila
ção de ferro em tecidos periféricos, chamada hemos ção do mRNA precursor. Exemplos em que o defeito
siderose, pode levar à morte antes da idade adulta. Os molecular ilustra um princípio geral da síntese de
portadores da doença são , em geral, assintomáticos ou mRNA são discutidos no texto.
quase. Etnograficamente, a doença é comum em pessoas
descendentes da região do Mediterrâneo, de árabes e
Orkin, S. H. Disorders of hemoglobin synthesis: The
do leste asiático. Como na anemia falciforme (HbS) e na
thalassemias. Em: G. Stamatoyannopoulis, A. W. Nienhuis,
deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase, a anoma P. Leder e P. W. Majerus (Eds.). The Molecular Basis of
lia dos eritrócitos dos portadores confere alguma pro Blood Diseases. Philadelphia: Saunders, 1987; e Weathe
teção contra malária. Os mapas das regiões onde uma rall, D. J., Clegg, J. B., Higgs, D. R. e Wood, W. G. The hemo
ou outra dessas doenças são frequentes na população globinopathies. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W.
nativa coincidem com as áreas do mundo onde a malá S. e Valle, D. (Eds.). The Metabolic and Molecular Bases
ria é endêmica. of Inherited Disease, 7. ed., New York: McGraw-Hill, 1995.

(“snurps”), que executam o splicing do RNA em duas ências importantes na extremidade 3! aceptora do ín
etapas: quebra do íntron no sítio doador 5! e união das tron. Também outras espécies de snRNP, entre elas U5
sequências de éxons a montante e a jusante (upstre e U6, ligam-se então ao RNA precursor, formando um
am e downstream). Quase todos os íntrons começam grande complexo chamado spliceossomo (por analogia
com uma sequência GU e terminam com AG; essas se com a grande construção ribonucleoproteica envolvida
quências são chamadas junções íntron-éxon doadora e na síntese de proteínas, o ribossomo). O spliceossomo
aceptora, respectivamente. Entretanto, nem todas as usa ATP para fazer a remoção precisa do íntron. Primei
sequências GU ou AG são removidas do RNA. Como a ro, a ligação fosfodiéster entre o éxon e a sequência GU
célula sabe quais sequências GU estão em íntrons (e doadora é quebrada, deixando um grupo 3!-OH livre na
portanto devem ser
removidas) e quais es Spliceossomo
no mRNA
tão destinadas
manecerem a per- U1 U2

maduro? Essa discri


minação é feita por
formação
bases entre
deU1
pares
RNAde
e RNA UCC AU A CAUA P PP G3m PPP G3m
AUGAUGU
a sequência do mRNA 5! A GGUAUGU U ACU AUA AG 3!
A
precursor próxima à Éxon 1 Doador 5! para junção Íntron Éxon 2
sequência doadora GU Formação do laço Aceptor 3! para junção
(Figura 5.13; Correla
ção Clínica 5.5). Outra FIGURA5.13 Mecanismo de reconhecimento da junção de splice.
O reconhecimento da junção de splice 5! envolve o pareamento de bases entre a junção íntron-éxon e
snRNP, contendo U2
o U1 RNA snRNP. Esse pareamento de bases tem como alvo o íntron a ser removido.
RNA, reconhece sequ- Adaptado de Sharp, P. A. J.Am. Med. Assoc. 260:3035, 1988.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 203

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.5

Autoimunidade em Doenças do Tecido Conjuntivo

Anticorpos humorais em soros de pacientes com dade 5! inclui uma sequência complementar a junções
várias doenças do tecido conjuntivo reconhecem uma íntron–éxon. Adição desse anticorpo a ensaios de spli
variedade de complexos ribonucleoproteicos. Pacientes cing in vitro inibe o splicing, presumivelmente pela
com lupus eritematoso sistêmico apresentam uma ativi remoção do U1 RNP da reação. Soros de pacientes com
dade de anticorpos no soro denominada Sm, e pacien outras doenças do tecido conjuntivo reconhecem dife
tes com doença mista do tecido conjuntivo exibem um rentes antígenos nucleares, proteínas nucleolares e/ou
anticorpo denominado RNP. Cada anticorpo reconhece centrômero de cromossomos. Demonstrou-se que soros
um sítio distinto no mesmo complexo de RNA-proteína de pacientes com miosite reconhecem antígenos cito
(U1-RNP), que está envolvido no processamento de plasmáticos como aminoacil-tRNA sintetases. Embora
mRNAs em células de mamíferos. O complexo U1-RNP tenha sido relatada a entrada de anticorpos humorais
contém U1 RNA, uma sequência de 165 nucleotídeos na célula via receptores de Fc, não há evidência de que
muito conservada em eucariotos, que em sua extremi isso seja parte do mecanismo de doenças autoimunes.

extremidade do primeiro éxon e um 5! 3!


5!-fosfato no G doador do íntron. Esse L1 L2
pG é, então, usado para formar uma C
G
ligação incomum com o grupo 2!-OH P
P
de uma adenosina dentro do íntron, G
G
gerando uma estrutura ramificada,
ou laço, no RNA, como mostra a Figu Etapa A OH 2!
ra 5.14. Depois que o laço é formado,
ApU
a segunda etapa do splicing ocorre.
A ligação fosfodiéster imediatamente 1
seguinte a AG é clivada, e as duas se
5! L1 L2 3!
quências éxons são unidas.

Poliadenilação GOH C
P
A RNA polimerase continua trans
G
crevendo o gene até que uma sequên Etapa B
cia sinal de poliadenilação seja atingi
G
da (Figura 5.15). Essa sequência, que ,5!
2! P
tem o consenso AAUAAA, aparece no IVS(A)
3!,5!
ApU G ApU P
mRNA maduro, mas não faz parte de 3!,5!
sua região codificadora. Em vez dis 2
so, sinaliza clivagem do precursor de
mRNA nascente, cerca de 20 nucleotí Etapa C
deos mais adiante. A sequência poli(A) ,5! G
2! P
é, então, adicionada por uma polimera OH 3! 5! G C 3!
se especializada à extremidade 3! pro
L12
duzida por essa clivagem. O domínio C
-terminal da RNA polimerase II recruta
FIGURA5.14 Esquema proposto para splicing de mRNA incluindo a estrutura
o complexo de clivagem e poliadenila
em laço.
ção para o transcrito. A terminação da
Um RNA mensageiro é representado com dois éxons (em azul) e um íntron interve
transcrição pela RNA polimerase que niente (em laranja). Um grupo 2!-OH da sequência do íntron reage com o 5!-fosfato
está elongando ocorre mais a jusante do nucleotídeo 5!-terminal do íntron, produzindo uma ligação 2!–5! e a estrutura em
e é acoplada à clivagem e reação de laço. Simultaneamente, a ligação fosfodiéster éxon 1-íntron é quebrada, deixando uma
poliadenilação, embora o mecanismo extremidade 3!-OH nesse éxon livre para reagir com 5!-fosfato do éxon 2, deslocando
detalhado não esteja claro. O resulta o íntron e criando o mRNA spliced. O laço do íntron liberado é subsequentemente
do final do processamento é um mRNA digerido por nucleases celulares.
codificador completamente funcional,
com todos os íntrons removidos e pron
to para dirigir a síntese proteica.
204 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

P PP Sequência sinal Padrão de splicing


de poliadenilação

AA Normal
5! UA
AA
G
U
G
U Mutante
G

3! FIGURA5.16Troca de nucleotídeo na junção íntron


éxon do gene de ß-globina humana, que leva a
splicing aberrante e ß-talassemia.
Clivagem e poliadenilação Essa figura mostra o padrão de splicing de um transcri
to mutado contendo uma mudança de G-U para A-U nos
primeiros dois nucleotídeos do primeiro íntron. A perda
P
P AAUAAA poly(A) dessa sequência invariável significa que a junção de splice
P
correta não pode ser usada; portanto, sequências trans
5! critas que fazem pares de bases com U1 snRNA menos
mRNA precursor que inclui íntrons perfeitas do que a sequência da junção correta são usados
como doadores de splice. As linhas diagonais indicam as
FIGURA5.15 Clivagem e poliadenilação de precursores de mRNA porções unidas no transcrito mutante. Note que algumas
eucarióticos. moléculas precursoras do mRNA mutante são spliced de
A extremidade 3! de espécies de mRNA eucariótico é derivada por pro modo que porções do primeiro íntron (denotado como
cessamento. A sequência AAUAAA em mRNA especifica clivagem do caixas brancas) aparecem no produto processado. Em
precursor de mRNA. A extremidade 3!-OH livre do mRNA é um primer outros casos, o doador da junção fica dentro do primeiro
para síntese de poli(A). éxon e porções do primeiro éxon são deletadas. Em ne
Adaptado de Proudfoot, N. J. Trends Biochem. Sci. 14:105, 1989. nhum caso o mRNA da globina tipo-selvagem é produzido.
Adaptado de Orkin, S. H. Em Stamatoyannopoulis, G., et
al. (Eds.), The Molecular Basis of Blood Diseases. Phila
Mutações em Sinais de Splicing delphia: Saunders, 1987.
Causam Doenças no Homem
O splicing do RNA mensageiro é um processo in
trincado, dependente de muitos eventos moleculares. Splicing Alternativo do Pré-mRNA
Se esses eventos não forem realizados com precisão,
o mRNA funcional não é produzido. Isso é ilustrado Pode Levar à Síntese de Múltiplas
pelas talassemias humanas, que afetam a síntese equi
librada de cadeias de a- e b-globinas (ver Correlação Isoformas da Proteína a partir de
Clínica 5.4, p. 202). Algumas mutações que levam à uma Única Sequência Codificadora
b-talassemia interferem com o splicing dos mRNAs
precursores da b-globina. Por exemplo, sabemos que no DNA
todas as sequências de íntrons começam com o dinu
cleotídeo GU. Uma mutação no G dessa sequência para A existência de sequências de íntrons é paradoxal.
um A significa que a maquinaria de splicing não mais Íntrons devem ser removidos com precisão, de modo
reconhecerá esse dinucleotídeo como um sítio doador. que o mRNA possa codificar uma proteína, com exati
O splicing vai “pular” a junção correta éxon–íntron. dão. Como descrito na Correlação Clínica 5.4, a muta
ção de uma única base pode interferir drasticamente
Isso poderia levar ao aparecimento de sequências ex
tras no mRNA da b-globina, que seriam normalmente com o splicing e causar uma doença grave. Além dis
removidas ou, alternativamente, sequências poderiam so, a presença de íntrons em um gene significa que sua
ser deletadas do mRNA produzido (Figura 5.16). Em sequência completa é muito maior do que a necessária
qualquer caso, a b-globina funcional será sintetizada para codificar seu produto proteico. Um gene grande
em quantidades reduzidas, resultando na anemia ca é alvo para mais eventos mutagênicos do que um gene
racterística da doença. pequeno. Na realidade, doenças genéticas humanas co
muns, como a distrofia muscular de Duchenne, ocorrem
em genes compostos por milhões de pares de bases de
informação no DNA. Por que a natureza não removeu
completamente os íntrons durante a longa escala de
tempo da evolução eucariótica? A resposta parece estar
na capacidade de processamento diferencial para gerar
múltiplas proteínas a partir de um único transcrito.
As proteínas tropomiosinas são componentes essen
ciais do aparelho contrátil nos três tipos de músculos
(p. 993), e cada um contém uma tropomiosina especí
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 205

fica. Essa diversidade surge a partir de um único gene, 5.5 EXPORTAÇÃO DO RNA E
que é transcrito em um transcrito primário. O transcri
to é, então, processado como esquematizado na Figura CONTROLE DE QUALIDADE
5.17. Cada tipo de célula processa o transcrito primário
Os RNAs mensageiro, transportador e ribossômico
de tropomiosina de modo característico. As espécies de
mRNA resultantes são traduzidas, gerando as tropo funcionam no citoplasma. O movimento para fora do
miosinas características de cada tipo celular. Esse é um núcleo ocorre através do poro nuclear. O complexo do
tema recorrente na expressão gênica eucariótica. Exis poro nuclear é um cilindro que atravessa a membrana.
tem apenas 20.000-25.000 genes que codificam proteína Dentro do cilindro ficam dois anéis empilhados e uma
no genoma humano; entretanto, aproximadamente dois rolha central (“plug”). Íons pequenos podem passar
terços deles dão origem a transcritos spliced diferen através do poro entre o plug e os anéis, mas RNAs são
cialmente. Transcritos spliced diferencialmente são grandes demais para passarem por esse espaço. A ex
traduzidos em produtos proteicos que têm diferentes portação de RNA ocorre por um canal dentro do plug;
localizações, interações moleculares ou propriedades esse é um processo que requer que os RNAs estejam li
enzimáticas. Portanto, a existência de íntrons fornece gados a proteínas para formar partículas de ribonucleo
ao organismo um método poderoso para gerar diversi proteínas. O movimento dos RNAs ribossômicos ocorre
dade de proteínas. A escolha de um padrão de splicing após a montagem dos ribossomos no nucléolo. Os RNAs
específico é frequentemente regulada por fatores pro transportadores podem ser ligados a aminoacil-tRNAs
teicos que se ligam a sequências dentro de um éxon. Es sintetases, uma vez que podem ser aminoacilados no
sas proteínas podem aumentar ou reprimir o splicing núcleo antes da exportação. Os RNAs mensageiros são
de junções íntron–éxon adjacentes. exportados em complexos que contêm uma proteína
de ligação ao cap na extremidade
ORGANIZAÇÃO DOS ÉXONS DO GENE DA αTM
5! e proteínas de ligação ao RNA
ao longo do resto da sequência. O
675 processo requer energia metabólica
!87 
DT 60 675 
      675  na forma de GTP, sequências sinais
        !87  ! 87
específicas na proteína e uma pro
teína-G GTPase.

αTM mRNA Transcritos O splicing e a exportação do


RNA garantem o controle de qua
lidade da integridade do mRNA.
P~VFXOR O códon de terminação da cadeia
HVWULDGR
(um dos três códons sem sentido ou
nonsense, UAA, UAG ou UGA) de
um mRNA está geralmente locali
P~VFXOR
OLVR zado no último éxon. Se um mRNA
contiver um códon sem sentido a
montante, a proteína codificada
P~VFXOR seria mais curta do que a proteína
HVWULDGR normal (Correlação Clínica 5.6).
Essa proteína mais curta seria, mui
to provavelmente, não-funcional e
0LREOiVWR poderia interferir com a função ce
lular. A via de decaimento mediado
por nonsense evita a exportação e
1mRPXVFXODU a tradução de um mRNA cujo códon
ILEUREODVWR de terminação da cadeia esteja à
montante do último éxon. Algumas
poucas proteínas do spliceossomo
+HSDWRPD permanecem no mRNA spliced, na
junção de dois éxons. Um códon
nonsense em um éxon a montan
te é seguido por essas proteínas
&pUHEUR
de junção; esses mRNAs são alvos
FIGURA5.17 O splicing alternativo de transcritos do gene de tropomiosina para o decaimento mediado por
resulta em uma família de proteínas tropomiosinas tecido-específicas. nonsense. O reconhecimento do
Redesenhado de Breitbart, R.cE., Andreadis, A. e Nadal-Ginard, B. Annu. Rev. Bio códon nonsense a montante deve
chem. 56:467, 1986. envolver a tradução. Aparentemen
206 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.6

Enzimas de Edição de Ácidos Nucleicos: Uma Defesa Antiviral, Bem Como um Modo de Alterar a Expres
são Gênica

A apolipoproteína B, um ator chave no metabo quando ela brota de uma célula infectada. APOBEC3G
lismo de colesterol, existe em duas formas: uma de converte múltiplos resíduos C no cDNA inicial em deso
Mr = 48.000, que é produzida no intestino, e uma segun xi-U. Os dUs, então, especificam dAs durante a síntese
da com Mr = 100.000, que é sintetizada no fígado. Os da segunda fita do cDNA, que tem a mesma sequência
dois RNAs são transcritos de um único gene, e a forma do RNA viral. Os vírus mutados são defectivos nas fases
intestinal resulta de um evento de edição. Uma enzima mais tardias do ciclo de vida.
intestinal citidina deaminase, chamada enzima de edi
ção do mRNA da Apolipoproteína B, polipeptideo cata Entretanto, a APOBEC3G não confere resistência
lítico 1 (APOBEC1) converte um C específico do mRNA absoluta. Em outro exemplo de como organismos pato
da ApoB em U, transformando um códon CAA (Glc) em gênicos evoluem para evadir das defesas do hospedeiro,
um códon UAA (stop). As enzimas APOBEC formam HIV codifica uma proteína chamada Vif, que direciona
uma família, e diferentes isoformas são expressas em especificamente APOBEC3G para degradação nos pro
tipos celulares diferentes. teassomos. Vif é relacionada com enzimas ubiquitina
-E3 ligase, embora o mecanismo exato pelo qual atinge
Por que um mecanismo tão incomum, quando um APOBEC3G não esteja claro.
resultado semelhante poderia ser obtido por splicing
diferencial de um transcrito único ou de um gene du
plicado? Uma resposta pode estar nas propriedades da Goila-Gaur, R., e Strebel, K. HIV-1, Vif, APOBEC, and
família de enzimas APOBEC. Células T primária e ma intrinsic immunity. Retrovirol. 5:51, 2008; Harris, R., e Li
crófagos são relativamente resistentes à infecção por ddament, M. T. Retroviral restriction by APOBEC proteins.
HIV. Lembre-se que o HIV tem um genoma de RNA, que Nature Rev. Immunol. 4:868, 2004; and Wahl, S. M., Gre
deve ser transcrito reversamente em cDNA (p. 267). enwill- Wild, T., e Vazquez, N. HIV accomplices and adver
Uma isoforma da família APOBEC codificada pelo hos saries in macrophage infection. J. Leukocyte Biol. 80:973,
pedeiro, APOBEC3G, é carregada pela partícula viram 2006.

te, o primeiro ribossomo que vai traduzir remove as -fita (um membro da família RNase III) primeiro proces
proteínas da junção de éxons. Se o ribossomo parar em sa o RNA dupla-fita em espécies dupla-fita mais curtas,
um códon de terminação de cadeia antes que todas as que são exportadas do núcleo. Uma vez no citoplasma,
proteínas de junção de éxons tenham sido removidas, o RNA dupla-fita é mais processado por outra RNase III
um conjunto específico de nucleases degrada o mRNA, chamada Dicer, formando um RNA dupla-fita pequeno
impedindo sua tradução. Da mesma forma, um mRNA com cerca de 21 pares de bases de comprimento. Então,
que não tenha um códon nonsense normal de termina o RNA dupla-fita é desenrolado por um complexo pro
ção da cadeia é alvo da degradação, porque é muito pro teico chamado complexo de silenciamento induzido por
vável que esse mRNA tenha sido sintetizado com baixa RNA (RISC, RNA-induced silencing complex) ou mi
precisão ou tenha sido clivado por engano. A tradução cro-RNA-proteína (miRNP). Em ambos os casos, uma
desse mRNA provavelmente resultaria em síntese de fita do RNA duplex é selecionada, quase sempre a que é
uma proteína mais curta. complementar ao mRNA alvo. Então, o RNA pequeno li
gado a proteína estabelece pares de bases com o mRNA,
causando um de dois eventos. Se houver complementa
ridade perfeita (o RNA é chamado RNA inibitório pe
5.6 RNA DE INTERFERÊNCIA queno [siRNA]), as enzimas do complexo RISC clivam
Regiões de dupla-fita em mRNA celular são geral a fita do mRNA. Se a complementaridade for imperfeita
mente muito curtas, com menos de 10 pares de bases. (o RNA é chamado micro-RNA [miRNA]), o mi-RNP re
Sequências dupla-fita mais longas podem resultar de re prime a tradução do mRNA por pareamento de bases
plicação de vírus de RNA, de transcrição de sequências do miRNA com o mRNA. RNA de interferência é eficien
repetitivas ou de regiões mais longas de alguns mRNAs te porque um único complexo RISC-siRNA pode clivar
naturais. Esses RNAs de fita-dupla são processados em muitas moléculas de mRNA, e a repressão da tradução
RNAs inibitórios (RNAi) de fita-única que atuam silen pode levar à degradação do mRNA. Pesquisas recentes
ciando a expressão de seus próprios mRNAs alvos. sugerem que miRNA pode regular a expressão de até
um terço dos genes de mamíferos, e o envolvimento de
A via de processamento desses RNAs é apresentada RNAs não-codificadores na formação da heterocroma
na Figura 5.18. Uma RNase específica para RNA dupla tina implica que podem regular a transcrição, assim
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 207

C. Elegans/mamíferos
5.8 NUCLEASES E TURNOVER
DO RNA
Dicer As diferentes funções do RNA e do DNA na expres
são gênica refletem-se em seus destinos metabólicos.
P O repositório de informação genética de uma célula
P
(DNA) deve ser preservado, explicando assim a exis
tência dos múltiplos sistemas de reparo e edição do
DNA no núcleo. Embora sequências individuais de nu
cleotídeos no DNA possam ser recicladas, a molécula
P
como um todo é metabolicamente inerte, quando não
P
P está replicando. As moléculas de RNA, por outro lado,
miRNA/siRNA miRNA são individualmente dispensáveis e podem ser substi
tuídas por espécies recém-sintetizadas com a mesma
RISC miRNP
especificidade. Não é surpreendente que sistemas de
reparo de RNA não sejam conhecidos. Em vez disso,
AAAA7mG PAAAA
RNAs defeituosos são removidos das células por degra
7mG P dação a nucleotídeos, que depois são reutilizados em
Clivagem do RNA Represão
novas espécies de RNA.
da tradução
Isso é mais claro para espécies de mRNA, que são
FIGURA5.18 Efeitos de RNAs inibitórios pequenos sobre relativamente instáveis. Entretanto, mesmo os RNAs
o metabolismo de mRNA eucariótico. ditos estáveis são reciclados; por exemplo, a meia-vida
RNA de fita-dupla, por exemplo, da replicação de vírus de RNA de espécies de tRNA no fígado é de cerca de 5 dias. Uma
(superior esquerda) ou de grampos de transcritos longos de meia-vida bastante longa para um mRNA de mamíferos
RNA (superior direita), é processado pela enzima Dicer em é de 30 h.
RNAs de fita-dupla curtos. Uma fita é complementar ao mRNA
e estabelece pares de bases com ele, ajudada ou por RISC (via A degradação de RNAs ocorre tanto no núcleo
da esquerda) ou pelo complexo miRNP (via da direita). RISC como no citoplasma. No núcleo, a degradação realiza
quebra o mRNA na região de fita-dupla, enquanto o pareamen
duas funções que se sobrepõem. Primeiro, serve como
to de bases com miRNP para a tradução do mRNA.
controle de qualidade para que RNAs que resultam de
Redesenhado de Meister, G. e Tuschl, T. Nature 431:343, 2004.
transcrição ou processamento incorretos sejam impedi
dos de sair do núcleo. Segundo, os RNAs de partículas
ribonucleoproteicas são reciclados, especialmente du
como a tradução. A Correlação Clínica 5.7 discute o en rante o ciclo celular. Os RNAs perdem o cap por uma
volvimento de microRNAs na oncogênese. enzima nuclear e são degradados na direção 3! para 5!
pelo exossomo, um complexo multienzimático.

5.7 REPARO DO DNA


ACOPLADO A O Turnover do RNA Mensageiro
TRANSCRIÇÃO Citoplasmático É Acoplado à
Uma lesão química no DNA afeta a expressão gêni
Tradução
ca só se a sequência alterada for transcrita. Sequências A remoção de RNAs do citoplasma é realizada por
que não são expressas não levarão a uma mutação ob ribonucleases celulares. Os RNAs mensageiros são ini
servável. Faz sentido, portanto, que o reparo do DNA cialmente degradados no citoplasma. As velocidades
tenha como alvos sequências que estão sendo ativa variam para diferentes espécies de mRNA, levantando
mente transcritas. Esse acoplamento entre transcrição a possibilidade de controle por degradação diferencial.
e reparo ocorre porque lesões no DNA (como dímeros
ciclobutano; p. 170) que ocorrem na fita molde fazem a Dois exemplos da função da estabilidade do RNA no
RNA polimerase II parar. A RNA polimerase parada é controle gênico ilustram como a estabilidade do mRNA
um sinal para os sistemas de reparo por excisão remo influencia a expressão gênica. Tubulina é o principal
verem as sequências alteradas e sintetizarem a corre componente dos microtúbulos do citoesqueleto de mui
ta. Obviamente, isso não pode ocorrer com a volumosa tos tipos de células. Quando há um excesso de tubuli
RNA polimerase ligada ao DNA, de modo que o trans na na célula, a proteína monomérica liga-se e promove
crito interrompido é sacrificado. Uma deficiência no re degradação do mRNA de tubulina, reduzindo assim a
paro acoplado à transcrição é a marca da síndrome de síntese de tubulina. Um segundo exemplo é oferecido
Cockayne (Correlação Clínica 5.8). pelo vírus do Herpes simplex (HSV), o agente causador
208 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.7

Envolvimento de MicroRNAs na Oncogênese

MicroRNAs (miRNAs) reduzem a expressão de 7 reduzem o fenótipo oncogênico. (4) Vários miRNAs
seus genes alvos por se ligarem aos mRNAs e, assim, inativam a via da p53, que desencadeia a apoptose, em
inibirem sua tradução ou desencadearem sua destrui resposta a danos genéticos.
ção (Figura 5.18). Aproximadamente 30% de todos os
mRNAs humanos são potencialmente regulados por Esses dados e outros semelhantes levaram à pro
miRNAs. Como o câncer é causado por erros na expres posição de um modelo para as funções dos miRNAs
são gênica, parece lógico que a via dos miRNAs esteja no desenvolvimento de câncer (ver figura). Embora o
envolvida na oncogênese. Essa hipótese foi apoiada modelo esteja incompleto, ele aponta a possibilidade
por uma série de observações. (1) Genes de famílias de terapias que teriam como alvo esse novo mecanis
de miRNAs estão frequentemente deletados em li mo regulatório.
nhagens celulares de cânceres humanos. (2) Ao con Garzon, R., e Croce, C. M. MicroRNAs in normal and malig
trário, alguns linfomas de células B caracterizam-se nant hematopoeisis. Curr. Opin. Hematol. 15:352, 2008; Ku
por sequências de DNA amplificadas, que especificam mar, M. S., Erkeland, S. J., Pester, R. E., Chen, D. Y., et al. Sup
miRNAs. (3) O miRNA let-7 interage com vários onco pression of non-small celllung tumor development by the let-7
genes. A redução do miRNA let-7 correlaciona-se com microRNA family. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 105:3903, 2008;
mau prognóstico em câncer de pulmão de não-peque e Papagiannakopoulis, T., e Kosik, K. S. MicroRNAs: regulators
nas células (NSCLC). Por outro lado, em um modelo of oncogenesis and stemness. Biomedical Central Medicine
em camundongo de NSCLC, transgenes funcionais let 6:15, 2008. (http://www.biomedcentral. com/1741-7015/6/15.)

A progressão de um fenótipo de célula normal para nando numa barra significa que o miRNA regula nega
um de câncer metastático é regulada, em parte, por tivamente a transição.
espécies específicas de microRNAs. Uma seta signifi
ca que um microRNA regula positivamente a transição Figura generosamente fornecida pelo Dr. Phillip Sharp,
para um estágio diferente, enquanto uma linha termi Koch Institute for Integrative Cancer Research, M.I.T.

de lesões típicas do herpes na boca (cold sores) e algu tro de uma molécula. Os produtos da ação de RNases
mas infecções genitais. Um evento precoce no estabele contêm fosfatos 3!- ou 5!-terminais, e tanto endo- como
cimento da infecção por HSV é a capacidade que o vírus exonucleases podem ser mais bem caracterizadas pela
tem de desestabilizar todas as moléculas de mRNA ce posição (5! ou 3!) na qual o monofosfato criado pela cli
lular, reduzindo assim a competição por ribossomos li vagem fica localizado.
vres. Dessa maneira, as proteínas virais são traduzidas
mais eficientemente. Outra atividade de exonuclease 3!-5! envolvida na
degradação de RNA é a polinucleotídeo fosforilase. Seu
Nucleases são de vários tipos e especificidades. A mecanismo de degradação de RNA usa fosfato inorgâni
distinção mais útil é a que existe entre exonucleases, co para deslocar a ligação fosfodiéster na extremidade
que degradam RNA a partir da extremidade 5! ou 3!, 3! do RNA, gerando um RNA mais curto e um nucleotí
e endonucleases, que clivam ligações fosfodiéster den deo difosfato.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 209

CORRELAÇÃO CLÍNICA 5.8

Síndrome de Cockayne

A síndrome de Cockayne (CS) (OMIM 216400) é O reparo acoplado à transcrição ocorre quando a
uma doença complexa autossômica recessiva, mais RNA polimerase está parada por encontrar uma base
comumente causada por uma mutação em um de dois alterada (por exemplo, um fotodímero de timina). A
genes. Pacientes com CS apresentam alterações de de transcrição para, o transcrito parcial é degradado, e a
senvolvimento e neurológicas, anomalias esqueléticas fita molde do DNA é reparada. Aparentemente, aumen
e de retina, e uma deformidade facial “tipo pássaro”. to da transcrição pela proteína CSB também estimula o
A morte geralmente ocorre por volta dos 20 anos de reparo do DNA acoplado à transcrição.
idade e é causada por degeneração neural. A maioria
dos pacientes com síndrome de Cockayne é também Se essa fosse toda a história, a síndrome de Cockay
fotossensível e predisposta a câncer de pele. Essa fo ne seria uma variante do xeroderma pigmentoso; entre
tossensibilidade aponta para um defeito no reparo do tanto, pacientes com XP são neurologicamente normais
DNA. Por exemplo, xeroderma pigmentoso (XP) re quanto ao desenvolvimento, embora sejam fotossensí
sulta de mutações em vários dos componentes da via veis. O que causa as outras características de CS? Pa
de reparo do DNA. CS também é uma deficiência em rece que esses outros sintomas são devidos a uma defi
reparo do DNA. ciência primária na elongação da transcrição, causada
pelo fator de elongação CSB alterado pela mutação.
Existem dois genes cujas mutações causam a maio Essa ideia expande nosso entendimento da relação en
ria dos casos de síndrome de Cockayne; sabe-se que tre mutação e doença. Geralmente, doenças genéticas
ambas estão envolvidas no reparo de danos no DNA. são causadas por uma mutação em processos bioquími
CSB codifica uma ATP helicase dependente de DNA cos que ficam fora das vias centrais de informação da
relacionada com proteínas envolvidas no remodela célula. Isso faz sentido porque inibição geral da síntese
mento da cromatina. CSA é uma E3 ubiquitina ligase, de DNA, RNA ou proteína seria letal num estágio preco
aparentemente envolvida na reciclagem (turnover) de ce do desenvolvimento. Os defeitos generalizados da CS
proteínas. As proteínas CSA e CSB cooperam com ou devem ser devidos à mutação que afeta a transcrição de
tras proteínas do reparo do DNA para remover a RNA alguns genes mais do que a de outros.
polimerase parada e os transcritos, e reparar o molde
danificado. Após o reparo, nova iniciação da transcri Citterio, E., Vermeulen, W. e Hoeijmakers, J. H. J. Trans
ção pode ocorrer no promotor, ou outras moléculas de criptional healing. Cell 101:447, 2000; D!Errico, M., et al. The
RNA polimerase II que estão paradas atrás da lesão role of CSA in the response to oxidative DNA damage in hu
man cells. Oncogene 26:4336, 2007; e Laine, J. P., e Egly, J.
podem continuar com a transcrição correta.
M. When transcription and repair meet: a complex system.
Trends Genet. 22:430, 2006.

A estrutura do RNA pode afetar a ação da nuclease. a poli(A). O RNA sem capping é o substrato para uma
A maioria das nucleases é menos eficiente em regiões de exonuclease 5!-3! que degrada o RNA a nucleotídeos.
RNA com estrutura muito ordenada. Assim, tRNAs são Uma via alternativa envolve desadenilação e degrada
preferencialmente clivados em regiões não-pareadas da ção exonucleolítica 3!-5! por exossomos citoplasmáticos
sequência, e o exossomo prefere como substratos RNAs de mRNAs que ainda retêm seu cap (Figura 5.19).
não-estruturados ou dobrados erroneamente. Por ou
tro lado, muitas RNases envolvidas no processamento O decaimento mediado por nonsense elimina mRNAs
de RNA requerem que o substrato tenha uma estrutura que são incapazes de fazer uma proteína completa. Nada
tridimensional definida para reconhecimento. é perfeito. Embora a transcrição e o processamento
usem energia celular para manter baixa a frequência de
mRNAs citoplasmáticos podem ser degradados por erros, eles ainda ocorrem. Como cada mRNA é traduzido
várias vias sobrepostas (Figura 5.19). A maquinária em múltiplas proteínas, um mRNA processado incorreta
de degradação de mRNA é comumente encontrada em mente gastaria a energia necessária à tradução e levaria
corpos-P, que são grânulos subcelulares que contêm a proteínas dobradas incorretamente, o que desencadea
um conjunto de enzimas que metabolizam mRNA, in ria inflamação ou outras doenças graves, como formação
cluindo as da degradação. Mais comumente, a cauda da placa amiloide na doença de Alzheimer.
de poli(A) 3! do mRNA é encurtada primariamente por
digestão por exonuclease. Essa desadenilação é inibi Um RNA mal processado ou mal transcrito teria
da por proteína(s) de ligação a poli(A). Depois, o cap é uma alta probabilidade de conter códons de termina
removido por uma enzima especializada para remoção ção (nonsense). Códons nonsense prematuros de
do cap, que é também inibida pela proteína de ligação sencadeiam a destruição do mRNA, um processo cha
210 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

m7G AAAAA mado decaimento mediado por nonsense


CCR4 (NMD). Durante o primeiro ciclo de tradu
Desadenilação ção (pioneiro), qualquer códon de termina
AAAAA Proteínas
NOT ção prematuro é reconhecido por fatores
m7G
de terminação. Esse complexo recruta ou
tros fatores que sinalizam a destruição do
CAF1
mRNA e enviam o mRNA defeituoso para o
Remoção do cap Decaimento 3!
corpo P. O mecanismo de vigilância é capaz
de distinguir entre códons nonsense pre
m7G m7G 5!
DCP2 Complexo maturos e corretos porque o primeiro ocor
SKI re à montante (5!) de junções íntron-éxon
DCP1 Decaimento5!3! Exossomo
do mRNA.

XRN1

FIGURA 5.19 Duas vias para decaimento de mRNA.


Ambas as vias começam com o encurtamento da cauda de poli(A) do mRNA. O
mRNA desadenilado é, então, degradado ou por remoção do capi, seguida por
decaimento 5!-3! (esquerda) ou pela via 3!-5! pelo complexo exossomo e SKI
(direita).
Adaptado de Eulalio, A., Behm-Ansmant, I., e Izaurralde, E. Nature Rev. Mol.
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Termos Chaves
acetilação de histonas éxon poliadenilação zima
capping exossomo processamento do RNA RNA polimerase I
códon de terminação da fator de transcrição promotor RNA polimerase II
cadeia fator sigma recrutamento RNA polimerase III
de ação cis iniciação remoção do cap snRNP
RNA
domínio C-terminal da
polimerase íntron RNA inibitório pequeno spliceossomo
laço (siRNA) splicing alternativo
elongação molde RNA polimerase terminação
enhancer microRNA (miRNA) RNA polimerase holoen transcrito

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha 2. A subunidade sigma (σ) da RNA polimerase proca
riótica:
1. Na transcrição eucariótica:
A. é parte da enzima core.
A. a RNA polimerase não requer um molde.
B. liga-se ao antibiótico rifampicina.
B. todo RNA é sintetizado no nucléolo.
C. é inibida por α-amanitina.
C. sequências consenso são os únicos elementos
de promotores conhecidos. D. deve estar presente para que a transcrição
ocorra.
D. a formação da ligação fosfodiéster é favorecida
porque há hidrólise do pirofosfato. E. reconhece especificamente sítios promotores.
E. a RNA polimerase exige um iniciador (primer).
212 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

3. A terminação de um transcrito procariótico: tradução de mRNAs cérebro-específicos durante o de


A. é um processo aleatório. senvolvimento do cérebro. A consequência do número
muito grande de repetições CGC no DNA é extensa me
B. requer a presença da subunidade rho da holo
tilação de toda a região do promotor do gene FMR1.
enzima.
C. não requer fator rho se a extremidade do gene 7. Metilação de bases no DNA geralmente
contiver um palíndrome rico em G-C. A. facilita a ligação de fatores de transcrição ao
D. é mais eficiente se houver um segmento rico DNA.
em A-T na extremidade do gene. B. faz diferença em atividade só se ocorrer em
E. requer uma ATPase além do fator rho. uma região de enhancer.

4. C. evita que a cromatina se desenrole.


A transcrição eucariótica:
A. é independente da presença de sequências D. inativa o DNA para transcrição.
E. resulta em produção aumentada do produto
consenso a montante (upstream).
de qualquer gene que esteja metilado.
B. pode envolver um promotor localizado dentro
da região transcrita, e não a montante (ups 8. A transcrição de genes eucarióticos requer a pre
tream). sença de um promotor e geralmente a presença de
C. requer uma região promotora separada para enhancers. Um enhancer
cada um dos três RNAs ribossômicos transcri A. é uma sequência consenso no DNA localizada
tos. onde a RNA polimerase se liga primeiro.
D. requer que o gene inteiro esteja na forma de B. pode estar localizado em vários lugares em ge
nucleossomos na cromatina. nes diferentes.
E. é afetada por sequências amplificadoras C. pode estar em qualquer fita de DNA na região
(enhancers) apenas se elas forem adjacentes do gene.
ao promotor. D. funciona pela ligação da RNA polimerase.
5. O processamento do RNA transportador (tRNA): E. estimula a transcrição tanto em procariotos
A. envolve a clivagem de vários tRNAs diferentes, como em eucariotos.
a partir de um transcrito primário.
Questões 9 e 10: A síntese da hemoglobina adulta nor
B. envolve apenas exonucleases. mal (HbA) requer a síntese coordenada de a-globina e
C. cliva o excesso de bases da extremidade 3! de b-globina. A b-talassemia é uma doença genética que
pois da sequência CCA. leva a uma deficiência de cadeias de b-globina e uma
D. cliva o excesso de bases de ambas as extre incapacidade do sangue em conduzir oxigênio adequa
midades do transcrito primário, mas não no damente. A b-talassemia pode resultar de uma grande
interior da molécula. variedade de mutações.
E. requer a modificação de algumas bases por 9. Todos os seguintes poderiam levar à falta de
metilação. b-globina ou b-globina não-funcional, exceto:
6. Na reciclagem (turnover) celular do RNA: A. uma mutação com mudança na estrutura de
A. o reparo é mais ativo do que a degradação. leitura (frameshift) levando à terminação
prematura da síntese da proteína.
B. regiões de extenso pareamento de bases são
B. mutação na região do promotor do gene da
mais susceptíveis à clivagem.
b-globina.
C. uma pequena região dupla-fita do mRNA po
C. mutação próximo à extremidade 3! do gene da
deria levar à clivagem do mRNA se uma fita
b-globina que codifica o sítio de poliadenila
tiver complementaridade perfeita com uma re
ção.
gião do mRNA.
D. mutação no meio de um íntron, não em uma
D. os produtos são sempre nucleotídeos com um
base A.
fosfato no grupo 5!-OH.
E. todos os anteriores poderiam levar a esse re
E. todas as espécies, exceto rRNA, são clivadas.
sultado.
Questões 7 e 8: A síndrome do X frágil é uma forma 10. Uma mutação levando a b-talassemia ocorre em
comum de retardo mental hereditário. A mutação nessa uma junção de splice. Qual(is) das seguintes
doença permite o aumento de uma repetição CGC em afirmativas sobre remoção de íntrons está(ão)
um gene em particular de um normal de 30 repetições
correta(s)?
para 200-1.000 repetições. Essa repetição é normalmen
A. Ribonucleoproteínas nucleares pequenas
te encontrada na região 5! não-traduzida de um gene
da proteína FMR1. A FMR1 poderia estar envolvida na (snRNP) são necessárias para a remoção de
íntrons.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 213

B. A sequência consenso das extremidades 5! e D. liga p53.


3! dos íntrons são idênticas. E. é uma sequência enhancer.
E. A remoção de um íntron não requer energia
12. O reparo do DNA acoplado à transcrição
metabólica.
A. ocorre porque uma lesão no DNA faz a RNA
D. O éxon de uma das extremidades de um íntron
polimerase parar durante a transcrição.
deve sempre ser ligado ao éxon em sua outra
extremidade. B. ocorre quando uma lesão no DNA forma uma
A. região no DNA que é muito compactada.
O nucleotídeo da extremidade do íntron que é
liberado primeiro forma uma ligação com um C. leva a um transcrito normal porque a transcri
grupo 3!-OH de um dos nucleotídeos de dentro ção continua depois do reparo ter sido feito.
do íntron. D. ocorre porque tanto a fita molde como a codifi
cadora do DNA têm lesões.
Questões 11 e 12: Protooncogenes geram produtos E. todas as anteriores estão corretas.
que têm papéis específicos na regulação do crescimento
e da diferenciação de células normais. Mutações podem Problemas
transformar esses genes em oncogenes, cujos produ
tos respondem menos ao controle normal. A proteína 13. Como o decaimento mediado por nonsense ajuda
p53 não-mutada, um supressor de tumor, é um fator de a evitar a exportação e a tradução de mRNA que
transcrição, inibindo alguns genes e ativando outros. levaria a uma proteína mais curta, não-funcional?
p53 inibe genes com sequências TATA e ativa genes de 14. a. Como você poderia determinar experimental
reparo do DNA. mente se uma preparação purificada de uma RNA
11. A sequência TATA polimerase é de fonte procariótica ou eucariótica?
A. ocorre cerca de 25 pb à jusante (downstream) b. Uma preparação purificada de RNA polimerase é
sensível à inibição por a-amanitina a uma concen
do início de transcrição.
tração de 10–8 M. A síntese de que tipo ou tipos de
B. liga-se diretamente à RNA polimerase. RNA é inibida?
C. liga fatores de transcrição que ligam RNA po
limerase.

Respostas
1. D Esse é um importante mecanismo para dire em um nucleossomo. E: enhancers podem estar a
cionar reações. A e B: a transcrição é dirigida por 1.000 ou mais pb de distância.
DNA, gerando precursores de rRNA no nucléolo e
5. E RNAs transportadores são os ácidos nucleicos
precursores de mRNA e de tRNA, no nucleoplas mais modificados. A: isso ocorre com o precursor
ma. C: a transcrição eucariótica pode ter regiões
de rRNAs. B: tanto endo- como exonucleases são
de promotores internas, bem como enhancers. E:
necessárias. C: CCA são adicionados sequencial
essa é uma diferença da DNA polimerase.
mente por nucleotidiltransferases e não fazem par
2. E A, D e E: o fator sigma é necessário para a ini te do transcrito primário. D: podem existir íntrons,
ciação correta e se dissocia da enzima core depois por exemplo, na região do anticódon do transcrito
que as primeiras ligações se formaram. A enzi primário.
ma core pode transcrever, mas não pode iniciar a
6. C Essa fita é chamada siRNA. Se a complementari
transcrição corretamente. B e C: rifampicina liga dade for imperfeita (miRNA), a tradução é reprimi
-se à subunidade b, e a-amanitina é um inibidor de
da. A: não existem processos de reparo de RNA. B: a
polimerases eucarióticas. maioria das enzimas degradativas é menos eficiente
3. C A terminação rho-independente envolve a es sobre uma estrutura ordenada. D: poderia ser 3! ou
trutura secundária, que é estabilizada por um alto 5!, dependendo do lado no qual a ligação fosfodiéster
conteúdo de G-C. A, B e E: existe um processo é clivada. E: todos os RNAs são reciclados.
rho-dependente, bem como um rho-independente. 7. D Metilação-desmetilação do DNA é uma forma
Rho é uma proteína separada da RNA polimerase e de controle, com o DNA metilado sendo inativo
parece possuir atividade de ATPase. D: é necessá para transcrição. A e E: esses indicariam que a
ria uma região rica em G-C.
metilação ativa o DNA. B: alteração na região do
4. B A RNA polimerase III usa um promotor interno. enhancer poderia fazer uma diferença, mas alte
A: a atividade da RNA polimerase II envolve as cai ração na região do promotor certamente faria. C: o
xas TATA e CAAT. C: a RNA polimerase I produz desdobramento da cromatina nessa região é neces
um transcrito, que é, mais tarde, processado para sário para a transcrição, mas a metilação do DNA
gerar três rRNAs. D: partes do promotor não estão não está diretamente envolvida no processo.
214 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

8. B B e C: sequências enhancer parecem funcionar, 12. A Isso sinaliza ao sistema de reparo por excisão,
estejam no começo ou no fim de um gene, mas pre para reparar a lesão. B: o reparo é dirigido a ge
cisam estar na mesma molécula de DNA que o gene nes transcritos ativamente, onde a cromatina é
transcrito. A: a RNA polimerase liga-se primeiro ao mais frouxamente organizada. C: para que ocorra
promotor. D: parecem funcionar ligando-se a prote o reparo, a RNA polimerase deve se dissociar, e o
ínas que, por sua vez, ligam a RNA polimerase. transcrito é sacrificado. D: uma lesão típica é dí
mero de timina na fita molde. A fita codificadora é
9. D Mutações em qualquer extremidade do íntron
normal e funciona como molde para o reparo.
levariam a um erro de splicing, mas uma mutação
no meio do íntron, não. A exceção seria se o ponto 13. Um códon de terminação da cadeia a montante do
específico da mutação fosse a adenosina que forma o último éxon é anormal. Quando a tradução para em
ponto de ramificação. A, B e C: todas estão corretas. tal códon, algumas proteínas da junção dos éxons
ainda permanecem. Isso leva um conjunto específi
10. A snRNPs são responsáveis tanto pela clivagem
co de nucleases a degradarem o mRNA, impedindo
do íntron na extremidade 5! como pela junção dos
sua tradução.
éxons. B: as sequências das duas extremidades de
um íntron são diferentes: GU na extremidade 5! e 14. a. Teste a preparação quanto à inibição por α-ama
AG na extremidade 3!. C: o spliceossomo requer nitina em uma concentraçãoalta, na qualas RNA po
ATP para remover o íntron. D: éxons não-consecu limerases eucarióticas são inibidas, exceto a I, mas
tivos podem ser ligados, levando a múltiplas pro a enzima eucariótica não é. Se a preparação não for
teínas a partir de um gene. E: o laço se forma em inibida pela amanitina, confirme se é inibida por ri
2!-OH. fampicina. Não será possível distinguir a RNA poli
merase eucariótica mitocondrial da enzima proca
11. C B e C: a RNA polimerase não se liga diretamen
riótica, porque ambas têm a mesma sensibilidade.
te ao TATA, mas a fatores de transcrição que li
b. A RNA polimerase II é sensível à α-amanitina
gam TATA. A e E: TATA é parte do promotor e,
em uma concentração muito baixa, de modo que a
portanto, fica à montante (upstream) do início da
síntese de mRNA seria inibida.
transcrição. D: p53 provavelmente liga-se ao com
plexo formado entre fatores de transcrição e TATA,
interferindo com a transcrição.
PARTE II CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 215
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

6
Síntese de Proteínas:
Tradução e Modificações
Pós-Tradução
Dohn Glitz
Professor Emérito, University of California, Los Angeles School of Medicine

CONTEÚDO 6.4 α-Talassemia, 221


6.1 INTRODUÇÃO, 216 6.5 Mudança na Fase de Leitura (Frameshifting)
Programada na Biossíntese de Proteínas de HIV,
6.2 COMPONENTES DO APARELHO DE TRADU
223
ÇÃO, 216
6.6 Mutações em rRNA e tRNA Mitocondriais Resul
6.3 BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS, 225
tam em Surdez Induzida por Antibiótico, 235
6.4 MATURAÇÃO DE PROTEÍNAS: DOBRAMENTO,
6.7 Deleção de um Códon, Enovelamento Incorreto e
MODIFICAÇÃO, SECREÇÃO E DIRECIONAMEN
Degradação Prematura: Fibrose Cística, 236
TO, 236
6.8 Doenças de Direcionamento para Lisossomos:
6.5 DIRECIONAMENTO PARA MEMBRANA E ORGA
Doença da Célula I, 243
NELAS, 241
6.9 Terapia por Reposição de Enzima para Doenças
6.6 MAIS MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO, 246
Lisossomais de Acúmulo, 244
6.7 REGULAÇÃO DA TRADUÇÃO, 250
6.10 Importação Mitocondrial de Proteína Defectiva e
6.8 DEGRADAÇÃO E TURNOVER DE PROTEÍNAS, Doença, 245
253
6.11 Hiperproinsulinemia Familiar, 247
6.12Ausência de Modificação Pós-Tradução: Deficiên
CORRELAÇÕES CLÍNICAS cia Múltipla de Sulfatases, 248
6.1 Mutações Silenciosas Podem Não Ser Silenciosas: 6.13 Defeitos na Síntese de Colágeno, 251
(1) Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford e
6.14 Enovelamento Errado de Proteína e Agregação:
(2) Gene 1 de Resistência a Múltiplas Drogas, 220
Doença de Huntington e Doença de Alzheimer,
6.2 Mutações com Sentido Errado: Hemoglobinopa 256
tias, 220
6.15 Defeitos no Sistema Ubiquitina-Proteassomo, 257
6.3 Mutações Que Geram um Códon de Terminação,
221
216 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Conceitos Chaves
• A biossíntese de proteínas envolve a tradução da é posicionado no sítio aceptor do ribossomo, (3)
linguagem de polinucleotídeo dos genes para a lin a cadeia peptídica nascente é ligada ao novo ami
guagem de proteínas. noácido pela peptidil transferase, e (4) o peptidil
-tRNA elongado é deslocado para o local doador do
• Três nucleotídeos em sequência (códons) no mRNA
ribossomo.
especificam um aminoácido específico, o ponto ini
cial da tradução e o término da cadeia peptídica. • A tradução é muito regulada, tanto no nível de
Existem 64 códons possíveis, e a maioria dos ami cada proteína individual como global. Modificação
noácidos é especificada por mais de um códon. O pós-tradução e cotradução das proteínas é comum
código genético é chamado degenerado e é quase e pode influenciar a forma, a função, a localização
universal. celular, a exportação da célula e o tempo de vida da
proteína.
• A tradução é centralizada no RNA: o mRNA trans
mite a informação genética, o tRNA transporta os • O dobramento de uma proteína em sua conforma
aminoácidos, e o RNA ribossômico ajuda a dar for ção final é espontâneo ou assistido por proteínas
ma aos ribossomos e catalisa a geração da ligação chaperones.
peptídica. Muitas proteínas, enzimas e fatores es
• Existem mecanismos para a degradação das proteí
tão envolvidos na síntese proteica. nas que não são mais necessárias, com dobramento
• A síntese ocorre no sentido amino para carboxiter errado, danificadas ou incompletas. O proteassomo
minal. Em cada passo, (1) o aminoácido apropriado é um centro de degradação importante, mas não
é ativado pela ligação a um tRNA, (2) o aa-tRNA exclusivo.

6.1 INTRODUÇÃO 6.2 COMPONENTES DO


A biossíntese de proteínas é chamada tradução por APARELHO DE TRADUÇÃO
que envolve a tradução bioquímica da informação ge
nética, armazenada e transmitida em um alfabeto de
quatro letras e na linguagem estrutural do DNA, no RNA Mensageiro Transmite a
alfabeto de 20 letras e na linguagem estrutural de pro
teínas. A tradução é centralizada em múltiplas funções
Informação Codificada no DNA
do RNA: o RNA mensageiro transmite a informação A informação genética é herdada e armazenada nas
genética, o RNA transportor carrega os aminoácidos e sequências de nucleotídeos do DNA. A expressão seleti
decodifica a mensagem, o RNA ribossômico catalisa a va dessa informação requer sua transcrição em mRNA,
formação da ligação peptídica e se constitui no cerne da que carrega mensagens específicas e precisas do “ban
linha de montagem, e RNAs bem pequenos são impor co de dados” nuclear para o local citoplasmático de sín
tantes reguladores do processo. tese proteica.
As células variam em suas necessidades e capacida Em eucariotos, os mRNAs são geralmente sintetiza
des de sintetizar proteínas. Glóbulos vermelhos comple dos como moléculas precursoras maiores, que são pro
tamente diferenciados não têm aparelho para tradução cessadas antes de serem exportadas do núcleo (p. 201).
e têm um tempo de vida de apenas 120 dias. Outras cé O mRNA eucariótico é quase sempre monocistrônico;
lulas sintetizam as proteínas que necessitam para man isto é, codifica um único polipeptídeo. A extremidade
ter as concentrações de enzimas e de outras proteínas. 5! tem um cap de 7-metilguanosina ligado por uma
As células em crescimento e divisão devem sintetizar ponte 5!-trifosfato à extremidade 5! do mRNA (p. 201).
quantidades muito maiores de proteínas, e algumas cé Uma região 5! não-traduzida precede o sinal de inicia
lulas também produzem proteínas para exportação. Por ção da tradução. Geralmente, mas nem sempre, essa é
exemplo, as células hepáticas são fábricas de proteínas a primeira sequência AUG encontrada quando a men
que sintetizam as enzimas utilizadas em suas múltiplas sagem é lida 5! → 3!. Sequências não-interrompidas de
vias metabólicas e mais proteínas para exportação, in códons de 3 nucleotídeos de comprimento, que espe
cluindo soroalbumina, a principal proteína do plasma cificam uma sequência polipeptídica singular, seguem
sanguíneo. o códon de iniciação até que um códon de tradução e
de terminação seja alcançado. Este é seguido por uma
sequência 3! não-traduzida (ou UTR), geralmente com
cerca de 100 nucleotídeos de comprimento, antes que
o mRNA termine em uma cauda de poliadenilato com
100-200 nucleotídeos de comprimento.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 217

O mRNA procariótico difere significativamente. A extremidade amino-terminal para a carboxi-terminal.


extremidade 5! do mRNA não tem cap, mas retém um Essas direções correspondem a seus sentidos de leitura
trifosfato terminal de sua síntese pela RNA polimerase. e biossíntese.
A maioria dos mRNAs é policistrônica; eles codificam
vários polipeptídeos e incluem mais de um códon AUG Códons em mRNA São Palavras de Três
de iniciação. Uma sequência de posicionamento do ri Letras
bossomo localiza-se cerca de 10 nucleotídeos à montan
te do códon de iniciação AUG. Uma UTR segue o sinal Uma correspondência 1:1 entre bases e aminoáci
de terminação, mas não há cauda de poliadenilato. dos permitiria que o mRNA codificasse apenas quatro
aminoácidos diferentes, enquanto uma correspondên
cia 2:1 codificaria 42= 16 aminoácidos. Nenhuma delas
RNA Transportador É uma Molécula é suficiente, uma vez que 20 aminoácidos diferentes
ocorrem na maioria das proteínas. O código genético de
Tradutora Bilíngue três letras tem 43 = 64 permutações ou palavras; isso
Todas as moléculas de tRNA têm várias característi também é suficiente para codificar sinais de início e de
cas estruturais em comum, incluindo a sequência CCA parada, equivalentes a pontuação. Os tripletes são cha
3!-terminal à qual um aminoácido é ligado, uma estru mados códons e geralmente são apresentadas na forma
da Tabela 6.1. Dois aminoácidos são designados por có
tura secundária conservada em “trevo”, e uma estrutura
terciária em forma de L (p. 67). Entretanto, cada uma dons únicos: metionina por AUG e triptofano por UGG.
das muitas espécies de tRNA tem uma sequência nucle Os restantes são designados por dois, três, quatro ou
otídica própria que permite grande especificidade nas seis códons. Múltiplos códons para um único aminoá
interações com mRNA e com a aminoacil-tRNA sinteta cido representam a degeneração no código. O código
se que acopla um aminoácido específico a ele. genético é quase universal, uma vez que as mesmas pa
lavras códigos são usadas em todos os organismos. Uma
exceção à universalidade ocorre em mitocôndrias, nas
O Código Genético Usa um Alfabeto quais alguns poucos códons têm significado diferente
do citosol do mesmo organismo (Tabela 6.2).
de Quatro Letras de Nucleotídeos
Pontuação
A informação genética existe na forma de sequências
lineares de nucleotídeos no DNA, análogas à sequência Quatro códons funcionam parcial ou totalmente
linear de letras nestas palavras. A linguagem do DNA como pontuação. O sinal de início, AUG, também es
usa um alfabeto de quatro letras composto de duas pu pecifica metionina. Um AUG em um ponto adequado
rinas, A e G (adenina e gua
nina), e duas pirimidinas, C e TABELA 6.1 O Código Genéticoa
T (citosina e timina). A infor
um alfabeto
substitui
mação
quatro
seletivamente
letras,
noT.DNA
Asemelhante
mas
no
linguagem
é mRNA
U
transcrita
(uracil)
em
do
de U UUC U
UUU C A G
Phe
] UCU
UCC
UAUUAC]Tyr UGU
UGC
Cys U
C
]
UCA Ser UAA UGA Stop A
UUA
RNA é, portanto, um diale
UUG Leu ] UCG UAG Stop UGG Trp] G
to da
DNA.
é expressa
linguagem
A informação
predominante-
genética
genética
do C CUU CCU CAU His CGU U
CUA
CUC
Leu
CCC
CCAPro
CAC
CAA
CGC
CGA Arg
] C
A
que
dades na
mentederivam
de forma
sua suas
sequência
de proteínas
proprie-
de CUG CCG CAG
]Gln CGG G
Base 5! Base 3!
nados na
das lin-
Im-
4
aminoácidos.
de
é
20
plícita
dade
guagem
traduzida
letras
proteínas
letras
dessas
está
analogia
ácidos
sequências.
aNa
proteínas.
alinguagem
direcionali-
biossíntese
com
nucleicos
a Por
de A AUU
]
AUA Ile
AUC
ACU
ACCACAThr
AAU

AAA
]
AAC Asn
AGU
]
AGC Ser
U
C

AUG Met ACG ]


AAG Lys AGG ]
AGA Arg A
G
G GUU GCU GAU GGU U
GUC
GUA Val
GCC
GCA
Ala
GAA
]
GAC Asp GGC
GGAGly
C
A

convenção, sequências de aO
GUG GCG GAG ]Glu GGG G
código genético compreende 64 códons, que são permutações de quatro bases três a três. Note a im
ácidos nucleicos são escritas
portância da sequência: três bases, cada uma usada uma vez por códon triplete, resultam em seis permu
em uma direção 5! → 3!, e tações: ACG, AGC, GAC, GCA, CAG e CGA, para treonina, serina, aspartato, alanina, glutamina e arginina,
sequências de proteínas da respectivamente.
218 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

do mRNA significa metionina como o resíduo inicial,


UM OLHAR MAIS ATENTO 6.1
amino-terminal. Códons AUG posteriores no mRNA es
pecificam resíduos de metionina no meio da proteína. Aminoacil-tRNA Sintetases
Três códons, UAG, UAA e UGA, são sinais de parada Os eucariotos e algumas bactérias têm as espe
(ou stop) que não especificam nenhum aminoácido e
radas 20 aminoacil-tRNA sintetases, mas muitos
são códons de terminação ou, menos apropriadamente,
procariotos e arqueias não têm sintetases para a for
códons sem sentido (nonsense).
mação de glutaminil-, asparaginil-, e ocasionalmente
O códon UGA tem uma função adicional, codificar cistenil-tRNA. Assim, esses tRNAs são formados in
selenocisteína (sec) em pelo menos 25 proteínas hu diretamente. Os tRNAs são primeiramente aminoa
manas. Selenocisteinil-tRNA é sintetizado a partir de cilados com glutamato, aspartato, ou O-fosfoserina
um seril-tRNA(sec)ser específico (Um Olhar Mais Atento por aminoacil-tRNA sintetases com especificidade
6.1) e a selenocisteína somente é incorporada se o có relaxada para o reconhecimento de suas espécies
don UGA ocorrer em uma sequência de inserção de sec, cognatas de tRNA. Os aminoácidos ligados são, en
uma estrutura haste-alça específica no mRNA. Um fa tão, convertidos por enzimas modificadoras amino
tor de elongamento específico (eEFSec) e uma proteína acil-tRNA-dependentes que reconhecem apenas o
de ligação a inserção de selenocisteína (SBP2) também aminoacil-tRNA apropriado.
são necessários.
A selenocisteína é formada a partir de seril-tR
TABELA 6.2 Uso Não-Universal de Códons em NASec em um processo de duas etapas; a serina é
Mitocôndrias de Mamíferos fosforilada por uma quinase e depois convertida em
Códon Código Usual Código Mitocondrial selenocisteína por uma sintase que usa selenofosfa
to. Muitas proteínas que incluem selenocisteína têm
UGA Terminação Triptofano um papel antioxidante na eliminação de espécies
reativas de oxigênio, e a eliminação do gene da seril
AUA Isoleucina Metionina -tRNASec é letal.
AGA Arginina Terminação
AGG Arginina Terminação Sheppard, K., Yuan, J., Hohn, M. J., Jester, B. et al.
From one amino acid to other: tRNA-dependent amino
acid biosynthesis. Nucl. Acids Res. 36:1813, 2008.
Interações Códon-Anticódon
Permitem Ler um mRNA
A tradução dos códons do mRNA envolve sua inte lado do primeiro nucleotídeo do anticódon em muitas
ração com as sequências do anticódon complementares espécies de tRNA também modulam interações códon
no tRNA. Cada espécie de tRNA carrega um aminoá -anticódon. A hipótese da oscilação (wobble) permite
cido específico e tem um triplete anticódon específico. o pareamento de bases menos rigoroso entre a primeira
Como no pareamento de bases do DNA, o pareamento posição do anticódon e a posição degenerada (terceira)
de bases códon-anticódon é antiparalelo, como mostra do códon. As regras de pareamento oscilante de bases
a Figura 6.1. Os códons são lidos em uma estrutura de são apresentadas na Tabela 6.3. Se as regras de oscilação
leitura sequencial, sem sobreposição. Os sítios do anti forem seguidas, os 61 códons que não são de pontuação
códon e aceptor do aminoácido ficam em extremidades poderiam ser lidos por apenas 31 moléculas de tRNA,
opostas da molécula de tRNA em forma de L (p. 67). mas a maioria das células tem 50 ou mais espécies de
O tRNA, conceitualmente e fisicamente, faz uma pon tRNA. Alguns códons são lidos mais eficientemente por
te entre a sequência de nucleotídeos do mRNA ligado um anticódon do que outros. Nem todos os códons ou
ao ribossomo e o local de montagem de proteínas no pares de códons são usados igualmente; alguns são
ribossomo. usados muito raramente. O exame de muitas sequên
cias de mRNA mostra que diferentes organismos usam
Como 61 códons designam 20 aminoácidos, parece preferencialmente diferentes códons para gerar sequ-
que seria necessário existirem exatamente 61 espécies ências polipeptídicas semelhantes.
diferentes de tRNA. Esse não é o caso. Muitos ami
noácidos são carregados por mais de uma espécie de “Decifrando” o Código Genético
tRNA, mas variação no pareamento de bases padrão é
comum também nas interações códon-anticódon. Mui O código genético (ver Tabela 6.1) foi determinado
tos códons degenerados podem ser lidos por mais de antes que o sequenciamento de DNA ou RNA fosse pos
um tRNA (mas sempre um carregando o aminoácido sível. Os experimentos para decifrar o código usaram
correto). Um nucleotídeo frequente no anticódon é áci mRNAs sintéticos simples para se obter informações
do inosínico (I), o nucleotídeo da hipoxantina, que pa sobre como as proteínas são codificadas.
reia com U, C ou A. Nucleotídeos modificados no ou ao
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 219

Polinucleotídeo fosforilase catalisa a reação inde TABELA 6.3 Regras de Pareamento de Bases com
pendente de molde. Oscilação (wobble)

xNDP ↔ polinucleotídeo (pN)x + xPi Bases 5! Possíveis no


Base 3! do Códon
Anticódon
onde NDP é qualquer nucleosídeo 5!-difosfato. Com
UDP, um polímero de U, poli (U), é formado. A sínte A U ou I
se in vitro de proteínas com poli(U) como mRNA gera C G ou I
polifenilalanina. Do mesmo modo, poli(A) codifica po U
G C ou U
lilisina e poli(C), poliprolina. Um mRNA com uma se
quência aleatória de apenas U e C produz polipeptíde A ou G ou I
os que contêm não apenas prolina e fenilalanina como
A degeneração do código e a complexidade dos pro
previsto, mas também serina (de UCU e UCC) e leucina
dutos tornaram experimentos com mRNAs de sequên
(de CUU e CUC).
cias aleatórias difíceis de interpretar, mas mRNAs de
mRNA sequências definidas podem ser transcritos a partir de
5' DNAs sintéticos de repetições simples. Assim, poli(AU),
3'
transcrito a partir de um poli(dAT) repetitivo, produz
apenas um copolímero repetitivo de Ile-Tyr-Ile-Tyr, lido
A U a partir de tripletes sucessivos AUAUAU AUAUAU, e
assim por diante. Poli(CUG) contém códons possíveis
U C
A tRNAmet CUG para Leu, UGC para Cys, e GCU para Ala, cada
um se repetindo uma vez que a fase de leitura (reading
G frame) tenha sido estabelecida. A iniciação é aleatória
nesses experimentos, de modo que três homopolipeptí
deos são produzidos: polileucina, policisteína e poliala
nima. Um poli(CUGG) perfeito produz um polipeptídeo
5'
3' com a sequência (-Leu-Ala-Arg-Ser-), seja qual for o
(a)
ponto de iniciação. Essas relações, resumidas na Tabe
la 6.4, mostram códons a serem lidos em tripletes em
mRNA
5' sequência exata, sem sobreposição ou omissão.
3'
Outros experimentos usaram códons de trinucleo
tídeos sintéticos como mensagens mínimas. Nenhuma
C G proteína é feita, mas a ligação do ribossomo a apenas um
aminoácido (como tRNA conjugado) foi estimulada por
A U tRNAgln
um dado códon. O significado de cada códon possível foi
mais tarde verificado por determinação de sequências de
G C
mRNA.

Mutações
5'
3'
O entendimento do código genético e de como ele é
(b) lido fornece uma base para o entendimento da natureza
das mutações. Uma mutação é simplesmente uma mu
FIGURA6.1 Interações códon-anticódon.
dança hereditária em um gene. Mutações puntuais en
Interações entre (a) o códon AUG (metionina) e seu anticó
don CAU e (b) o códon CAG (glutamina) e um anticódon CUG
volvem uma mudança em um único par de bases no DNA
mostram que o pareamento de bases do mRNA com tRNA é e, assim uma única base no mRNA correspondente. Se
antiparalelo. essa mudança ocorrer na terceira posição de um códon
degenerado, pode não haver mudança no aminoácido
TABELA 6.4 Produtos Polipeptídicos de mRNAs Sintéticosa especificado (por exemplo,
UCC para UCA ainda codi
mRNA Sequência do Códon Produtos fica serina). Tais mutações
silenciosas são comumente
—(AU)n—
—(CUG)n— —CUG
—AUA CUG
UAU AUA
CUG UAU—
CUG— —(Leu)n—
—(Ile-Tyr)n/3— observadas na compara
ção de genes de proteínas
semelhantes, por exemplo,
—GCU
—UGC GCU
UGC UGC
GCU UGC—
GCU— —(Ala)n—
—(Cys)n— hemoglobinas de diferentes
espécies, de modo que são
geralmente sem efeito. (Para
—(CUCG)n— —CUC GCU CGC UCG— —(Leu-Ala-Arg-Ser)n/3— uma exceção, ver Correla
aOs colchetes horizontais demarcam a estrutura de leitura. ção Clínica 6.1).
220 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.1

Mutações Silenciosas Podem Não Ser Silenciosas: (1) Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford e (2) Gene
de Resistência a Múltiplas Drogas 1
Os polimorfismos de nucleotídeo único, nos sos representam uma nova mutação nesse ponto exato
quais um nucleotídeo é alterado em relação ao gene em um alelo do gene.
normal, podem ser detectados por análise de DNA.
Quando um polimorfismo em uma região codificado Combinações de duas ou três mutações silenciosas
ra do gene não altera o aminoácido codificado pelo no gene de resistência a múltiplas drogas 1 (MDR1) re
códon afetado, esse polimorfismo é considerado uma sulta em proteínas com a sequência normal, mas uma
mutação silenciosa. Contudo, pode haver consequên conformação diferente e interações alteradas com
cias significativas. droga e inibidores. A mudança de códons frequente
mente usados para códons raramente usados desace
Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford é uma lera ou pausa a tradução na região afetada e resulta em
doença muito rara caracterizada pelo envelhecimento mudança no dobramento cotradução da proteína. A
extremamente prematuro; as crianças permanecem preferência do uso de códons se estende à frequência
pequenas e sofrem de perda de cabelos e audição, os de uso de códons adjacentes que especificam a mesma
teoporose, doença cardiovascular e outras enfermi sequência. Genes sintéticos que usam pares de códons
dades da velhice. A maioria morre de infarto do mio desfavoráveis para codificar proteína de cápsula poli
cárdio no início da adolescência. Em 90% dos casos vírus foram traduzidos em velocidades menores, mes
uma troca de GGC para GGT no códon 608 do gene mo quando os códons individuais foram favorecidos
da lamina A deveria ser silenciosa, uma vez que a gli em geral.
cina é especificada em ambos os casos. Entretanto,
um sítio de splicing críptico é ativado, resultando em Korf, B. Hutchinson–Gilford progeria syndrome, aging,
uma proteína Lamina A com uma deleção interna de and the nuclear lamina. N. Engl. J. Med. 358:552, 2008;
Kimchi-Sarfaty, C., Oh, J. M., Kim, I., Sauna, Z. E. et al. A
50 aminoácidos e que não é corretamente processada.
“silent” polymorphism in the MDR1 gene changes substrate
A Lanina A é um componente da membrana nuclear; specificity. Science 315:525, 2007; e Coleman, J. R., Papa
a proteína mutante rompe a membrana e de alguma michail, D., Skiena, S., Futcher et al. Virus attenuation by
maneira resulta na doença. Uma vez que as crianças genome-scale changes in codon pair bias. Science 320:1784,
afetadas não chegam à idade reprodutiva, todos os ca 2008.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.2

Mutações com Sentido Errado: Hemoglobinopatias


As mutações de sentido errado mais importantes moglobina fetal; a HbF interfere na polimerização de
que afetam a estrutura da hemoglobina ocorrem na HbS. Uma segunda hemoglobinopatia comum é a doen
anemia falciforme (ver Correlação Clínica 2.4 e 9.6). ça da hemoglobina C, na qual uma troca de G por A em
Uma mudança de A para U no códon GAA ou GAG de um códon GAA ou GAG de glutamato resulta em um
glutamato dá um códon GUA ou GUG da valina na sexta códon AAA ou AAG de lisina na sexta posição da b-glo
posição da cadeia b. A hemoglobina S (HbS) desoxige bina. Centenas de outras mutações de sentido errado na
nada forma polímeros lineares que levam o eritrócito hemoglobina são conhecidas.
a adotar formato de foice quando a tensão de oxigênio
está baixa. O tratamento com hidroxiureia estimula a Platt, O. S. Hydroxyurea for the treatment of sickle cell
síntese de cadeias g e, assim, aumenta os níveis de he anemia. N. Engl. J. Med. 358:1362, 2008.

Mutações de sentido errado (missense) surgem resulta na terminação prematura e numa proteína trun
de uma troca de base que causa incorporação de um cada (Correlação Clínica 6.3). Mutação de um códon de
aminoácido diferente em uma proteína (Correlação Clí terminação para outro de um aminoácido permite que a
nica 6.2). Mutações puntuais também podem formar mensagem continue a ser lida até que outro códon stop
ou destruir um códon de terminação e, assim, mudar seja encontrado. O resultado é uma proteína maior do
o comprimento de uma proteína. A formação de um que o normal. Esse fenômeno é a base de várias doenças
códon de terminação a partir de um que codifica um (Tabela 6.5 e Correlação Clínica 6.4).
aminoácido é uma mutação sem sentido ou nonsense;
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 221

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.3

Mutações Que Geram um Códon de Terminação


Na Hemoglobina McKees Rocks (OMIM 141900) o as membranas celulares, causando anemia hemolítica
códon UAU ou UAC, normalmente designando tirosina e estímulo da eritropoiese. Uma variedade de b0-talas
na posição 145 da b-globina, é mutado para o códon de semia, comum no sudeste asiático, resulta de uma mu
terminação UAA ou UAG. Isso encurta a b-globina de tação de terminação no códon 17 da b-globina; o códon
seus 146 resíduos normais para 144 resíduos. A ligação normal AAG, que designa um resíduo lisil, torna-se um
de 2,3-bisfosfoglicerato é impedida e a hemoglobina códon de terminação UAG; nenhuma sequência útil de
mutante tem uma afinidade excepcionalmente eleva b-globina é sintetizada, e b-globina está ausente. Os ní
da por oxigênio e oferta diminuída de oxigênio. Em veis de mRNA de b-globina também ficam deprimidos,
resposta, eritropoietina é secretada pelo rim e a pro provavelmente pelo processo chamado de decaimento
dução aumentada de eritrócitos produz um fenótipo mediado por nonsense.
de policitemia.
Winslow, R. M., Swenberg, M. L., Gross, E., Chervenick,
P. A. et al. Hemoglobin McKees Rocks (a2145 b2 tyràterm). A
Outra mutação de terminação causa um tipo de b-ta
human nonsense mutation leading to a shortened b-chain.
lassemia. As talassemias são caracterizadas por um de
J. Clin. Invest. 57:772, 1976; Chang, J. C., e Kan, Y. W. b-
sequilíbrio na estequiometria de síntese de a- e b-glo -Thalassemia: A nonsense mutation in man. Proc. Natl.
binas. A b-globina não é sintetizada na b0-talassemia. Acad. Sci. USA 76:2886, 1979; e Rehwinkel, J., Raes, J.,
Como resultado, a a-globina, incapaz de se associar e Izaurralde, E. Nonsense-mediated mRNA decay: target
com a b-globina para formar hemoglobina, acumula genes and functional diversification of efforts. Trends Bio
-se e precipita-se nas células eritroides. Isso danifica chem. Sci. 131:639, 2006.

TABELA 6.5 Mutações com Continuação da Leitura em Códons de Terminação Produzem Cadeias
Anormais Longas de a-Globina

Comprimento da
Hemoglobina a-Códon 142 Aminoácido 142 a-Globina (Resíduos)

A UAA 141
Constant Spring CAA Glutamina 172
Icaria AAA Lisina 172
Seal Rock GAA Glutamato 172
Koya Dora UCA Serina 172

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.4

a-Talassemia (OMIM 604131)

Existem dois genes expressos de a-globina em cada tido, resultando na colocação de quatro aminoácidos
cromossomo 16. Muitos exemplos de a-talassemia sur diferentes na posição 142. A a-globina normal tem 141
gem da deleção de dois, três ou todos os quatro genes resíduos de comprimento, mas as quatro a-globinas
de a-globina; a gravidade clínica aumenta com o nú anormais têm 172 de resíduos porque um triplete de
mero de genes deletados. Diferentemente, as doenças nucleotídeos na região normalmente não-traduzida do
resumidas na Tabela 6.5 são formas de a-talassemia mRNA torna-se um códon de terminação na posição
que surgem de moléculas de a-globina excepcional 173. Cadeias de globina mais longas também podem
mente longas. Estas substituem a a-globina normal e resultar de mutações com mudança estrutura de leitu
estão presentes apenas em pequenas quantidades em ra (frameshift) ou inserções.
decorrência de uma taxa diminuída de síntese ou, mais
provavelmente, de uma taxa aumentada de quebra da Weatherall, D. J. e Clegg, J. B. The a-chain termination
a-globina anormal. O códon de terminação normal, mutants and their relationship to the a-thalassemias. Philos.
UAA, é mutado para um dos quatro códons com sen Trans. R. Soc. B [London] 271:411, 1975.
222 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

TABELA 6.6 Uma Mutação com Mudança na Estrutura de Leitura (Frameshift) Produz Hemoglobina Waynea

Posição 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147
Sequência da α-globina
normal
-Thr -Ser -Lys -Tyr -Arg

Sequênciadecódonsdaα-globinanormal -ACP -UCU -AAA -UAC -CGU -UAA -GCU -GGA -GCC -UCG -GUA

Sequênciadecódonsdaα-globinaWayne -ACP -UCA -AAU -ACC -GUU -AAG -CUG -GAG -CCU -CGG -UAG

Sequência de aminoácido -Thr -Ser -Asn -Thr -Val -Lys -Leu -Glu -Pro -Arg
da α-globina Wayne
aA base deletada, que causa a mudança na fase de leitura, está marcada por um círculo. Os códons de terminação estão dentro de retângulos.
P = A, G, U ou C.

Inserção ou deleção de um único nucleotídeo dentro t Antigen VP2


da região codificadora de um gene resulta em uma muta
VP3
ção com mudança na estrutura de leitura (frameshift).
A estrutura de leitura é alterada nesse ponto, e códons
ori
subsequentes são lidos em um novo contexto até que um
TAntigen
códon de terminação seja alcançado. A Tabela 6.6 ilustra
esse fenômeno. O significado da seleção da estrutura de
leitura é enfatizado por um fenômeno observado em al
guns vírus muito pequenos nos quais o tamanho do vírus VP1
limita a quantidade de DNA que ele contém. Como com
pensação, um único segmento de DNA codifica diferen FIGURA 6.2 Genoma do vírus símio 40 (SV40).
O DNA de SV40, apresentado em vermelho, é um círculo de
tes polipeptídeos que são traduzidos usando diferentes
fita dupla de pouco mais que 5.000 pares de base que codifica
estruturas de leitura. Um exemplo é o vírus símio SV40 toda a informação necessária à sobrevivência e replicação do
que causa tumor (Figura 6.2). O HIV e alguns outros vírus dentro de uma célula hospedeira. Ela demonstra uso ex
vírus dependem do frameshift durante a tradução para tremamente eficiente do potencial de codificação de proteína
gerar diferentes proteínas a partir de uma única mensa de um genoma. VP1, VP2 e VP3 são proteínas estruturais do
gem (Correlação Clínica 6.5). vírus; VP2 e VP3 são traduzidas a partir de diferentes pontos
de iniciação até a mesma extremidade carboxi-terminal. VP1
é traduzida em uma fase de leitura diferente: sua porção N
A Aminoacilação do RNA -terminal se sobrepõe aos genes VP2/VP3, mas sua sequência
de aminoácidos no segmento sobreposto é diferente de VP2 e
Transportador Ativa os Aminoácidos VP3. Duas proteínas, os antígenos tumorais large T (T gran
de) e small t (t pequeno), promovem transformação de células
para a Síntese Proteica infectadas. Elas são codificadas por um precursor de mRNA
comum e possuem sequências N-terminais idênticas, mas o
Os aminoácidos devem ser ativados para ligação segmento C-terminal da proteína small t é codificado por um
a seus tRNAs carregadores apropriados antes de po segmento de mRNA que é removido da mensagem de large T,
derem ser incorporados a proteínas. Esse processo de e a sequência carboxi-terminal de large T é codificada no RNA
duas etapas é catalisado por uma família de aminoacil que se segue à terminação de small t. A origem da replicação
-tRNA sintetases, cada uma específica para um único do DNA (ori) fica fora das regiões codificadoras.
aminoácido e suas espécies apropriadas de tRNA. As
reações são normalmente escritas como se segue: Os colchetes em torno do complexo
aminoacil-AMP-enzima indicam que é um
intermediário transitório, ligado à enzi
ma. O aminoacil-adenilato, um anidrido
ácido misto com componentes carboxi
la e fosforila, é um intermediário de alta
energia. A ligação aminoacil éster com
o tRNA é de energia mais baixa do que o
aminoacil-adenilato, mas ainda maior que
a do grupo carboxila do aminoácido livre.
Pirofosfatases quebram o pirofosfato que é
produzido, e o equilíbrio é fortemente des
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 223

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.5

Mudança na Fase de Leitura (Frameshifting) Programada na Biossíntese de Proteínas de HIV


A manutenção da fase de leitura durante tradução 5% das vezes ocorre uma mudança de fase de leitura de
é central para a fidelidade da tradução. No entanto, um nucleotídeo no segmento de mRNA sobreposto, e o
muitos retrovírus, incluindo o vírus HIV da AIDS, usa o códon de terminação é ultrapassado porque não está
deslizamento do mRNA e uma mudança na fase de lei mais na fase de leitura. É produzida uma poliproteína
tura para gerar proteínas diferentes a partir do mesmo de fusão gag-pol; a clivagem proteolítica da poliproteína
mensageiro. Um único mRNA, designado gag-pol, codi pol produz a transcriptase reversa viral e outras prote
fica duas poliproteínas que se sobrepõem em cerca de ínas necessárias à reprodução do vírus. (Ver Correla
200 nucleotídeos e estão em diferentes fases de leitura. ções Clínicas 4.2 e 13.3).
A poliproteína gag é traduzida do códon de iniciação
até um códon de terminação em fase perto da junção Jacks, T., Power, M. D., Masiarz, F. R., Luciw, P. A. et al.
gag-pol; a poliproteína gag é clivada para gerar várias Characterization of ribosomal frameshifting in HIV-1 gag-pol
proteínas estruturais do vírus. Entretanto, em cerca de expression. Nature 331:280, 1988.

locado na direção de formação do aminoacil-tRNA. Do às vezes ocorre reconhecimento errado. Uma etapa
ponto de vista de precisão da tradução, o aminoácido, adicional de verificação aumenta a discriminação por
que só tinha a sua cadeia lateral (grupo R) para distin muitas (mas não todas) as aminoacil-tRNA sinteta
gui-lo, fica ligado a um carregador grande, complexo e ses. Isso mais frequentemente ocorre por hidrólise do
fácil de reconhecer. intermediário aminoacil-adenilato, com a liberação de
aminoácido e AMP. A valil-tRNA sintetase hidrolisa
Especificidade e Fidelidade de Reações de eficientemente o treonil-adenilato, e hidrolisa isoleu
cil-adenilato em presença de tRNAVal ligado (mas não
Aminoacilação
aminoacilado). Alternativamente, tRNA acilado erro
Quase todas as células contêm 20 aminoacil-tRNA neamente é reconhecido e desacilado. Valil-, fenilalanil
sintetases diferentes, cada uma específica para um e isoleucil-tRNA sintetases desacilam tRNAs que foram
aminoácido, e pelo menos uma família pequena de tRNAs carregados erroneamente com treonina, tirosina e vali
carregadores para cada aminoácido (ver Um Olhar Mais na, respectivamente. O resultado final é um nível médio
Atento 6.1 para exceções). Como as interações códon– de acilação errada de um a cada 104 a 105.
anticódon definem o aminoácido a ser incorporado, um
tRNA erroneamente acilado causará um erro na proteí Cada sintetase deve também reconhecer correta
na. A seleção correta de ambos tRNA e aminoácido pela mente de uma a várias espécies de tRNA que podem
sintetase é, portanto, central para a fidelidade da tra carregar o mesmo aminoácido, ao mesmo tempo que
dução. As aminoacil-tRNA sintetases têm um mecanis rejeitam espécies de tRNA incorretas. Isso pode ser
mo comum e muitas ocorrem nas células em complexos mais simples que a seleção de um único aminoácido.
multiproteicos. Entretanto, são um grupo diversificado Entretanto, lembre-se da semelhança conformacional e
de proteínas que podem conter uma, duas ou quatro dos elementos de sequência comuns a todos os tRNAs.
subunidades idênticas ou pares de subunidades dife Sintetases diferentes reconhecem diferentes elementos
rentes. Domínios estruturais separados podem estar da estrutura do tRNA. Geralmente, múltiplos elemen
envolvidos na formação do aminoacil-adenilato, no re tos estruturais contribuem para o reconhecimento, mas
conhecimento do tRNA e, se ocorrer, nas interações en muitos desses elementos não são determinantes abso
tre as subunidades. Cada enzima é capaz da formação, lutos. Um elemento esperado para o reconhecimento do
tRNA é o anticódon. No caso do tRNAmet, a mudança do
quase sem erro, das combinações corretas aminoacil
-tRNA. Alguns aminoácidos são facilmente reconheci anticódon altera o reconhecimento pela sintetase. Em
dos pelas suas cadeias laterais volumosas (por exemplo, outros casos, isso é só parcialmente verdade, e às vezes
triptofano), ou falta de volume (glicina), ou por cargas o anticódon não é um determinante de reconhecimen
positiva ou negativa nas cadeias laterais (por exemplo, to. Isso é demonstrado por mutações supressoras que
lisina e glutamato). Outros são de discriminação muito impedem a expressão de classes de mutações nonsen
mais difícil. Por exemplo, o reconhecimento da valina e se. Uma mutação puntual em um códon de glutamina
não da treonina ou isoleucina pela valil-tRNA sinteta (CAG) produz um códon de terminação (UAG), que
se é difícil, uma vez que as cadeias laterais diferem ou causa terminação prematura da proteína codificada.
por uma hidroxila adicionado, ou por um único grupo Uma segunda mutação supressora no anticódon de um
tRNAtyr, na qual o anticódon normal GUA é modificado
metileno.
para CUA, permite a continuação da leitura do códon
Os sítios de reconhecimento e ativação de amino de terminação. A mutação inicial é suprimida e uma
ácido de cada enzima têm grande especificidade, mas proteína quase normal é feita, com a glutamina afetada
224 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

substituída por tirosina. Aminoacilação tRNAtyrmutan


Ribossomos São Máquinas para a
te com tirosina permite que nesse caso o anticódon não
determine especificidade da sintetase. Síntese Proteica
Outras características de identificação do tRNA po Ribossomos são partículas complexas de ribonu
dem incluir elementos do braço aceptor e partes da alça cleoproteínas que fornecem uma bancada de trabalho e
variável ou da haste-alça D. A característica de reco base catalítica para a síntese de proteínas. São compos
nhecimento primária do tRNAala de E. coli é um par de tos por duas subunidades diferentes, ambas contendo
bases G3-U70 no braço aceptor; mesmo que nenhuma RNA e muitas proteínas. Com uma exceção, cada pro
outra alteração no tRNAala ocorra, qualquer variação teína está presente em uma cópia por ribossomo, assim
nessa posição destrói sua capacidade de aceptor com como cada espécie de RNA. A composição de importan
alanina-tRNAala sintetase. A estrutura de raios-X do tes tipos de ribossomos é mostrada na Tabela 6.7.
complexo glutaminil sintetase -tRNA apresentada na
Figura 6.3 mostra a ligação na superfície côncava do A arquitetura e a função dos ribossomos foram
tRNA, que é típica e compatível com as observações bio conservadas na evolução, e semelhanças entre ribos
químicas. somos e subunidades de diferentes fontes são mais
importantes do que as diferenças. As estruturas dos
ribossomos e suas subunidades foram determinadas
por cristalografia de raios-X de partículas de micror
ganismos. Ribossomos e subunidades de muitas fontes
foram também visualizados por microscopia eletrônica;
sua estrutura é muito conservada. Os ribossomos pro
carióticos podem se auto-organizar; estruturas nativas
podem ser reconstituídas a partir de misturas de pro
teínas individuais purificadas e RNAs. A reconstituição
Extremidade 5' de subunidades a partir de misturas nas quais um único
componente é omitido ou modificado pode mostrar se
é importante para organização da subunidade ou para
alguma função específica. Embora a reconstituição de
subunidades eucarióticas não tenha sido bem-sucedida,
muitos estudos mostram que ribossomos procarióticos
e eucarióticos não apenas têm morfologia semelhante,
mas também funcionam da mesma maneira. (Um Olhar
Extremidade Mais Atento 6.2).
aceptora

ATP Estudos estruturais e funcionais levaram aos mode


los de ribossomos, cujas características são descritas
na Figura 6.4, e a Figura 6.5 mostra as estruturas de
raios-X de ribossomos e seus complexos com mRNA e
tRNA. Os ribossomos são organizados em dois modos
adicionais. Vários ribossomos frequentemente tradu
zem uma única molécula de mRNA simultaneamente.
Na Figura 6.6 são mostradas micrografias eletrônicas
de polissomos ligados por mRNA. Em células eucarióti
cas, os ribossomos ocorrem livres no citosol e ligados às
Anticódon membranas do retículo endoplasmático rugoso. Em ge
ral, ribossomos livres sintetizam proteínas que perma
necem no citosol ou dirigem-se ao núcleo, às mitocôn
drias ou a alguma outra organela. Ribossomos ligados
à membrana sintetizam proteínas que serão secretadas
FIGURA 6.3 Interação de um tRNA com sua aminoacil-tRNA da célula ou sequestradas e funcionam na membrana
sintetase.
O esqueleto açúcar-fosfato da glutamil tRNA de E. coli é apre plasmática, no retículo endoplasmático, no complexo
sentado em verde, e o esqueleto peptídico da glutaminil-tRNA de Golgi, ou nos lisossomos. Em homogenatos celula
sintetase é apresentado em múltiplas cores. A sintetase interage res, fragmentos de membranas com ribossomos ligados
com o braço aceptor parcialmente desenrolado e a alça do anti constituem a fração microssomal; detergentes podem
códon do tRNA. ATP, apresentado em vermelho, está a poucos romper as membranas e liberar esses ribossomos.
Angstroms da extremidade 3! do tRNA. Modelos do preenchi
mento de espaço do complexo mostram ambas as moléculas
como objetos sólidos, com vários sítios de contato direto.
Adaptado de Perona, J., Rould, M. e Steitz, T. Biochemistry
32:8758, 1993.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 225

TABELA 6.7 Classificação e Composição de Ribossomos


Pequena Subunidades
Fonte de Ribossomo Tamanho do Monômero
Grande
Eucariotos
Citosol 80S RNA
40S:
34 proteínas
18S 60S:
50 proteínas
RNAs 28S, 5,8S e 5S
Mitocôndrias
Animais 55S–60S RNA 12S
30S–35S: 40–45S:
RNA 16S
70–100 proteínas
Plantas superiores 77S–80S RNA 19S
40S: 60S:
RNAs 25S, 5S
70–75 proteínas
Cloroplastos 70S RNA
30S:
20–2416S
proteínas 50S:
34–38 proteínas
RNAs 23S, 5S, 4,5S
Procariotos 70S RNA
30S:
21 proteínas
16S 50S:
Escherichia coli 34 proteínas
RNAs 23S, 5S

UM OLHAR MAIS ATENTO 6.2

Estrutura e Função dos Ribossomos

A complexidade dos ribossomos requer aplicação 3. Ligação química cruzada: a determinação de com
de muitas técnicas para decifrar sua arquitetura e ele ponentes ligados permite a identificação de proteí
mentos funcionais, particularmente se as estruturas de nas vizinhas, de proteínas com segmentos de RNA,
raios-X não estiverem disponíveis. As técnicas impor e de elementos de RNA que podem estar distantes
tantes incluem na sequência, mas próximos na estrutura dobrada.
1. Espalhamento de nêutrons de subunidades recons 4. Sondas químicas e enzimáticas: elementos expos
tituídas nas quais duas proteínas são deuteradas: tos podem ser identificados, enquanto componen
isso permite a determinação da separação entre tes internos ou escondidos são resistentes.
duas proteínas nas subunidades.
5. Comparação de sequência: sequências podem ser
2. Microscopia eletrônica de complexos de partículas identificadas como sendo conservadas na evolução
com anticorpos contra um componente proteico e, portanto, são provávelmente importantes em es
único, um elemento RNA, ou uma sonda funcional: trutura e função. Essa abordagem foi especialmen
o anticorpo em forma de Y serve como um indica te importante para estabelecer estruturas secun
dor da localização do componente. dárias do rRNA.

6.3 BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS seu comprimento até que um códon de terminação seja
alcançado. A comparação da sequências de mRNA com
as sequências das proteínas que codificam mostra uma
A Tradução É Direcional e Colinear correspondência perfeita, colinear, sem sobreposição
e sem falha da sequência de mRNA codificadora e do
com o mRNA polipeptídeo sintetizado. De fato, é comum deduzir a
sequência de uma proteína exclusivamente pela sequ-
Sequências do RNA mensageiro são transcritas e
ência de nucleotídeo de seu mRNA ou do DNA de seu
escritas 5! → 3!, e durante a tradução são lidas na mes
ma direção. Sequências de aminoácidos são escritas e gene, embora a sequência final da proteína possa diferir
em virtude de modificações pós-tradução.
sintetizadas do resíduo amino-terminal para o carboxi
-terminal. Um ribossomo permanece ligado a uma mo
lécula de mRNA: o mensageiro é movido ao longo de
226 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

tRNA FIGURA 6.4 Modelo da estrutura de


mRNA ribossomo e sítios funcionais.
Peptidil- Domínio de 5! Linha superior: A face de cada subunidade
transferase translocação que interage no ribossomo funcional. Em (a)
os sítios da subunidade grande de formação
da ligação peptídica (peptidil transferase) e
de ligação do fator de elongação (domínio
de translocação) são vistos em lados opos
3! tos da protuberância central. A haste proje
ta-se para a direita. Em (b) a plataforma da
subunidade pequena se projeta em direção
ao leitor. O mRNA e os tRNAs interagem no
sítio decodificador, em uma fenda entre a
plataforma e o corpo da subunidade. Em (c)
a subunidade grande está rotacionada 90°, a
(a) (b)
haste projeta-se para dentro da página e o
tRNA
sítio de saída do peptídeo nascente é visto
mRNA próximo à base da subunidade. Esse sítio
5!
faz contato com a membrana em ribossomos
ligados ao retículo endoplasmático rugoso.
O sítio de formação da ligação peptídica fica
distante do sítio de saída; o peptídeo nas
cente passa através de uma fenda ou túnel
3! no ribossomo para chegar ao sítio de saída.
Em (d) a subunidade pequena sofreu uma
Sítio de rotação de 90°; a plataforma projeta-se para
decodificação dentro da página. Em (e) as subunidades fo
Ponto de ram unidas para mostrar sua orientação no
saída da cadeia ribossomo. O aminoacil-tRNA ligado à subu
peptídica nascente
nidade pequena é orientado com a extremi
(c) (d)
dade aceptora próximo à peptidiltransfera
se, enquanto o domínio de translocação fica
próximo do sítio decodificador.

3!

mRNA
5!

(e)

pode substituir o Met-tRNAiiniciação-específico


met nes
A Iniciação da Síntese Proteica É um
sa etapa. (Os procariotos utilizam um tRNA iniciador
Processo Complexo específico cuja metionina é modificada por formilação
de seu amino grupo. Apenas fMet-tRNAimet é reconhe
A iniciação requer aproximação de uma subunidade cido pelo IF2 procariótico.)
ribossômica pequena (40S), um mRNA e um complexo
tRNA do aminoácido amino-terminal, tudo em orien A segunda etapa requer subunidades ribossômicas
tação correta. Segue-se a associação da subunidade 40S associadas com uma proteína muito complexa,
grande (60S) para formar um complexo de iniciação eIF3. A eIF-3 de mamíferos contém 13 polipeptídeos
completo em um ribossomo 80S. Esse processo requer diferentes; liga-se à superfície da subunidade 40S que
várias proteínas fatores de iniciação, relacionadas na fará contato com a subunidade 60S e bloqueia fisica
Tabela 6.8, que agem transitoriamente e só na iniciação. mente a associação das subunidades. Portanto, eIF3
A Figura 6.7 apresenta o processo de iniciação. Primei é um fator antiassociação ribossômica, assim como
ro, o fator de iniciação eucariótico 2 (eIF2) liga-se a eIF6 que se liga a subunidades 60S. Um complexo que
GTP e ao tRNA iniciador, Met-tRNAimet, para formar inclui eIF2-GTP, Met-tRNAMet,i eIF3-40S e fatores pro
um complexo ternário. Nenhum outro aminoacil-tRNA teicos adicionais, agora se forma. Na terceira etapa é
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 227

FIGURA 6.5 Estrutura cristalo


gráfica de um ribossomo 70S.
A estrutura do ribossomo de Ther
mus thermophilus é mostrada
a uma resolução de 5,5 Å. Vistas
sucessivas são rotações de 90o
em torno do eixo vertical. (a) A
subunidade pequena está sobre a
subunidade grande, como no mo
delo da Figura 6.4e. Características
da subunidade pequena incluem
a plataforma (P), a cabeça (H), o
corpo (B) e um pescoço (N) que
faz a conexão. O 16S RNA está co
lorido em turquesa, e proteínas da
subunidade pequena estão em azul
escuro. (b) A subunidade grande
está à direita; 23S RNA é cinza, 5S
RNA é azul claro, e proteínas da
subunidade grande são púrpuras.
Uma molécula de tRNA (dourado)
atravessa as subunidades. (c) A
subunidade grande está em cima,
com sua haste se projetando à es
querda. (d) A subunidade grande
está à esquerda e elementos de
tRNA são visíveis na interface das
subunidades.
Reproduzido com permissão de Yu
supov, M. M., Yusupova, G.A., Bau
com, A., Lieberman, K., Earnest,
T.N., Cate, J. H. D. e Noller, H. F.
Science 292:883, 2001. Reproduzi
do com permissão de AAAS. Figu
ra gentilmente cedida por Drs. A.
Baucom e H. Noller.

Figura 6.6 Micrografias


eletrônicas de polissomos.
(a) Polirribossomos de reticuló
citos sombreados com platina são
vistos em grupos de três a seis ri
bossomos, um número consistente
com o tamanho do mRNA de uma
cadeia de globina. (b) Coloração
com uranil acetato e visualização
em maior aumento mostram po
lissomos; partes do mRNA são vi
síveis.
Cortesia de Dr. Alex Rich, M.I.T.
228 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

TABELA 6.8 Principais Fatores de Iniciação de Mamíferos


Fator Subunidade Função
eIF1 1 Ajuda a formação do complexo de pré-iniciação
eIF1A 1 Ajuda a formação do complexo de pré-iniciação, liga-se ao sítio A
eIF2 3 (a, b, g) Entrega o complexo ternário
eIF2B Recicla eIF2-GPD
eIF3 13 (a-m) Organizador de outros fatores na subunidade 40S, regulador de ligação, fator antias
sociação, outros funções desconhecidas
eIF4A 1 RNA helicase
eIF4B 1 Ajuda eIF4A
eIF4E 1 Ligação ao cap do mRNA
eIF4F 3 Complexo de eIF4A, eIF4E, eIF4G
eIF4G 1 Recrutamento do mRNA, varredura, ligação de eIF3
eIF5 GTPase para eIF2, ajuda a associação de 60S
eIF5B Formação do ribossomo 80S
eIF6 Liga 60S (fator antiassociação)
PAB Liga polyA do mRNA
Fonte: Thornton, S., Anand, N., Purcell, D. e Lee, J. Not Just for housekeeping: protein initiation and elongation factors in cell growth and tumori
genesis. J. Mol. Med. 81:536,2003. Noble, C. G. e Song, H. Structural studies of elongation and release factors. Cell. Mol. Life Sci. 65: 1335, 2008.

formado o complexo de pré-iniciação; mRNA, eIF4F, 30S, complexadas com um IF3 mais simples, podem se
também chamado complexo de ligação ao cap, eIF4A e ligar primeiro ou a um mRNA ou a um complexo terná
RNA helicase que desenrola a estrutura secundária da rio de IF2, fMet-tRNAimet e GTP. A orientação do mRNA
sequência líder não-traduzida do mRNA, PAB, uma pro depende, em parte, do pareamento de bases entre uma
teína de ligação ao poliA que faz uma alça aproximando sequência rica em pirimidinas de oito nucleotídeos no
a extremidade 3! do mRNA e o 5!-cap, e várias outras rRNA 16S e uma seqência rica em purinas, com cerca
proteínas são necessárias. O mRNA é então percorrido de 10 nucleotídeos à montante do códon AUG iniciador.
5! → 3! até que o primeiro triplete AUG seja encontrado. A complementaridade entre o rRNA e o mRNA pode
O GTP do complexo ternário é hidrolisado com a ajuda incluir vários pares errados, mas complementaridade
de eIF5, e eIF2-GDP e outros fatores são liberados. O maior geralmente leva a iniciação mais eficiente. O fator
eIF2-GDP interage com o fator trocador de nucleotídeo de iniciação IF1 também age na formação do complexo
de guanina eIF2B e GTP para regenerar eIF2-GTP para de pré-iniciação. Finalmente, uma subunidade 50S é li
outro ciclo de iniciação. A etapa final requer a ligação gada, o GTP é hidrolisado, e os fatores de iniciação são
do complexo de pré-iniciação a uma subunidade 60S e liberados. É interessante o fato de que os procariotos
um fator adicional, eIF5B-GTP. GTP é hidrolisado, e dependem mais das interações RNA-RNA para posicio
eIF5B-GDP e outros fatores são liberados. O comple nar o mRNA, enquanto os eucariotos usam muitas pro
xo de iniciação completo é um ribossomo 80S com o teínas para obter o mesmo resultado.
mRNA e o tRNA iniciador corretamente posicionados
para começar tradução.
A Elongação É a Formação Passo a
Às vezes, o primeiro AUG não é utilizado e um AUG
posterior, caracterizado por sua estrutura secundá Passo das Ligações Peptídicas
ria no mRNA, é selecionado para iniciação. Tais sítios
Elongação da proteína, como mostra a Figura 6.8,
internos de entrada no ribossomo (IRES) foram pri
ocorre por prolongamento passo a passo da cadeia poli
meiro encontrados em mRNAs virais, mas também são
peptídica. Em cada etapa, a peptidil transferase ribos
comuns em mensageiros que codificam proteínas que
sômica transfere o peptídeo nascente (ou, na primeira
protegem as células de estresse, quando a tradução da
etapa, o resíduo de metionina iniciador) de seu tRNA
maioria dos mRNAs está reprimida.
carregador para o a-amino grupo do resíduo de ami
Procariotos usam menos fatores de iniciação para noácido do aminoacil-tRNA especificado pelo códon
formar um complexo de iniciação. Suas subunidades seguinte:
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 229

H Rn O Rn + 1 O H Rn O H Rn + 1 O

•••NCHC + H2N CH C •••NCHC


CNCH

(n resíduos de
peptidil-tRNA
tRNAn
comprimento) tRNAn + 1 tRNAn + 1
aminoacil-tRNA peptidil-tRNA
(n + 1 resíduos de comprimento)

tores
A de
eficiência
elongação
e a não-ribossômicos
fidelidade são aumentadas
que usam energia
por fa- das espécies corretas de aminoacil-tRNA e para mover
o mRNA e os tRNAs associados por meio do ribossomo.
liberada por hidrólise de GTP para garantir a colocação

GTP eIF2 +

GTP
eIF3
eIF2B + GDP Met-tRNAiMet
Complexo ternário
(Etapa 1)
eIF2B + GTP

40S
GDP eIF2

elF1
elF1A

3!

elF1
elF1A
elF5
5!
eIF3

60S 40S

(Etapa 4) 5!
Complexo de iniciação 60S

40S
eIF5B • GTP (Etapa 2)

3!
FIGURA 6.7 Iniciação da tradução em eucariotos.
Detalhes no texto. Um complexo ternário que inclui eIF4A
eIF4B
o tRNA iniciador (etapa 1) combina-se com uma su eIF4F
bunidade ribossômica pequena (etapa 2). A intera PAB
ção com mRNA forma um complexo de pré-iniciação eIF5
(etapa 3). A ligação da subunidade grande comple 40S 5! 3!
ta a formação do complexo de iniciação (etapa 4). mRNA
(Etapa 3)
A forma diferente de eIF2 complexado com GTP ou
na
GDPhidrólise
indica que
do trifosfato.
mudanças Depois
conformacionais
do início ocorrem
da elon Complexo de pré-iniciação

gação, subunidades pequenas adicionais se comple


xarão com o mesmo mRNA para formar polissomos.
230 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

aa

GTP EF1α

E P A
(Etapa 1) Met

60S
3!
5!

40S

GDP EF1α

E P A

(Etapa 2) Met aa

60S
3!
5!

40S

E Met P A
(Etapa 3)
aa

60S EF2 GTP


3!
5!

40S

EF2 GDP + Pi

E Met A
aa P

(Etapa 4)

60S
3!
5!

40S

(a)
FIGURA 6.8 Etapas de elongação na síntese proteica.
(a)O primeiro ciclo de elongação é mostrado. Etapa 1: um com (b) Ciclos subsequentes de elongação. Etapa 5: ligação do ami
plexo de iniciação com metionil tRNAimet no sítio P80S. Etapa 2: noacil-tRNA no sítio A causa liberação do tRNA desacilado do
EF1α colocou um aminoacil-tRNA no sítio A. A hidrólise de GTP sítio E. Etapa 6: a formação da ligação peptídica resulta no novo
resulta em uma mudança conformacional de EF1α. Etapa 3: peptidil-tRNA ocupando um sítio híbrido A/P. Etapa 7: translo
uma ligação peptídica se formou; o novo peptidil-tRNA ocupa cação move mRNA e novo peptidil-tRNA em registro para sítio P.
um sítio híbrido (A/P) no ribossomo e o braço aceptor do Aminoácidos adicionais são colocados por repetições sucessivas
tRNAimet desacilado está no sítio E da subunidade grande. Etapa do ciclo. Reciclagem de EF1α (superior à esquerda) é detalhada
4: o complexo mRNA-peptidil-tRNA foi translocado para o sítio na Figura 6.9. Para mais detalhes, ver texto.
P, enquanto o tRNA iniciador desacilado move-se para o sítio E.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO º 231

GDP

GTP GDP EF10 - +

º%

(Etapa 5)

(Etapa 7)

EF2 GDP +
(Etapa 6)

(b)

FIGURA 6.8
(continuação)
232 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Durante a elongação até três moléculas de tRNA são ção metionil (ou peptidil) éster com o tRNA direciona
ligadas em sítios específicos que atravessam ambas as a reação em direção à formação da ligação peptídica.
subunidades ribossômicas. O met-tRNA iniciador é po A elongação passo a passo continua até que um códon
sicionado de modo que seu resíduo metionil possa ser de terminação (UGA, UUA, ou UAG) ocorra no mRNA.
transferido (ou doado) para o a-amino grupo livre do Note que o códon UGA tem uma função adicional, co
aminoacil-tRNA que está entrando; ele, portanto, ocu dificando selenocisteína (sec) em um pequeno número
pa o sítio doador, também chamado sítio peptidil ou sí de proteínas (p. 83). O RNA ribossômico é a parte im
tio P do ribossomo. O aminoacil-tRNA especificado pelo portante dos sítios de ligação de tRNA do ribossomo, e
códon seguinte do mRNA é ligado ao sítio aceptor, tam subunidades 60S isoladas podem catalisar a atividade
bém chamado sítio aminoacil ou sítio A do ribossomo. de peptidil transferase sem o envolvimento de qualquer
A seleção do aminoacil-tRNA correto é aumentada pelo fator não-ribossômico. Evidências de muitas fontes in
fator de elongação EF1. Um componente de EF1, EF1a, dicam que a subunidade grande é uma ribozima com
primeiro forma um complexo ternário com aminoacil plexa na qual a formação da ligação peptídica é uma
-tRNA e GTP. O complexo EF1a-aminoacil-tRNA-GTP reação catalisada por RNA. Cristalografia de raios-X de
liga-se ao ribossomo e se as interações códon-anticó subunidades grandes mostra que a região da transfera
don estiverem corretas, o aminoacil-tRNA é colocado se é composta só por RNA, com a cadeia de aminoácido
no sítio A, GTP é hidrolisado, e o complexo EF1a-GDP mais próxima a pelo menos 20 Å de distância. Elementos
se dissocia. O metionil-tRNA iniciador e o aminoacil de RNAs ribossômico e transportador estão envolvidos
-tRNA que está entrando estão, agora, justapostos no na ação da transferase. Os nucleotídeos importantes no
ribossomo. Seus anticódons estão pareados com códons sítio transferase foram universalmente conservados na
sucessivos do mRNA e os sítios P e A da subunidade pe evolução, de modo que acredita-se que o mesmo me
quena, e seus aminoácidos estão um ao lado do outro no canismo ocorra em ribossomos de mamíferos, embora
sítio peptidil transferase da subunidade grande. A pep evidências cristalográficas ainda não estejam disponí
tidil transferase catalisa o ataque do grupo a-amino do veis. Especula-se que o ribossomo primordial seria uma
aminoacil-tRNA sobre o carbono carbonila do metionil molécula nua de RNA e que a atividade transferase foi
-tRNA. O resultado é a transferência da metionina para conservada no RNA.
o amino grupo do aminoacil-tRNA, que então ocupa
uma posição “híbrida” do ribossomo com o anticódon no Como determinado a partir de modelos procarióti
sítio A 40S, enquanto a extremidade aceptora e o pep cos, o papel do GTP na ação de EF1a e EF2 está relacio
tídeo ligado estão no sítio P60S. O anticódon do tRNA nado com mudanças conformacionais nessas proteínas.
desacilado permanece no sítio P 40S; sua extremidade Estudos cristalográficos mostram um grande rearranjo
aceptora localiza-se no sítio de saída ou E 60S. de domínios com movimentos de vários angstroms na
hidrólise de GTP em EF-Tu, o equivalente procariótico
O mRNA e o dipeptidil-tRNA no sítio A 40S devem de EF1a. Tanto EF1a como EF2 ligam-se fortemente
ser reposicionados para permitir que outro ciclo de aos ribossomos como complexos com GTP, enquanto
elongação comece. Isso é feito pelo fator de elongação complexos com GDP dissociam-se do ribossomo mais
2 (EF2), também chamado translocase. EF2 move o facilmente. Visto de outra forma, GTP estabiliza a con
mRNA e o dipeptidil-tRNA, em registro códon–anti formação da proteína que confere ao EF1a alta afini
códon, do sítio A 40S para o sítio P. No processo, GTP dade pelo aminoacil-tRNA e o ribossomo, enquanto
é hidrolisado, fornecendo energia para o movimento, GDP estabiliza a conformação com menor afinidade por
e o sítio A fica vago. À medida que o dipeptidil-tRNA ambos, permitindo assim a entrega de tRNA e a disso
move-se para o sítio P, o tRNA doador desacilado (me ciação de EF. Restauração da conformação de maior
tionina) também se move para o sítio E na subunidade afinidade associada a GTP de EF1a requer participa
60S. O ribossomo pode agora entrar em um novo ciclo. ção de EF1bg, que causa liberação de GDP de EF-1a e
O aminoacil-tRNA seguinte, especificado pelo mRNA, forma um complexo EF1a-EF1bg(Figura 6.9). GTP en
é entregue pelo EF1a-GTP para o sítio A, e o tRNA de tão causa liberação de EF1bg, formando um complexo
sacilado do sítio E é liberado. A transferência de pep EF1a-GTP que pode ligar um aminoacil-tRNA e depois
tídeo ocorre novamente. Ciclos sucessivos de ligação um ribossomo. Procariotos usam um mecanismo se
de aminoacil-tRNA, formação da ligação peptídica, e melhante, no qual EF-Tu liga GTP e aminoacil-tRNA e
translocação resultam em elongação passo a passo do EF-Ts substitui GDP. Procariotos também utilizam uma
polipeptídeo até a sua extremidade carboxila eventual. translocase dependente de GTP, cmo EF-2, mas chama
Seja qual for o comprimento da cadeia nascente, a for da EF-G ou fator G.
mação da ligação peptídica sempre ocorre por ataque
do grupo a-amino do aminoacil-tRNA recém-chegado
sobre a ligação peptídica carboxil-tRNA, de modo que
o arranjo geométrico das moléculas reagentes no sítio
peptidil transferase permanece constante.

A formação da ligação peptídica não requer uma


fonte de energia, como ATP ou GTP. A energia da liga
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 233

Met Met

E A E A
P P aa
aa

60S 60S

3! 5! 3!
5!

GTP EF1α
40S 40S

(Etapa 2) (Etapa 2a)


aa

GTP EF1α

GDP EF1α + Pi (Etapa 3)


(Etapa 1)

aa

aa GDP EF1βγ

GTP
EF1α
GTP EF1α EF1βγ
(Etapa 5) (Etapa 4)

FIGURA6.9 EF1 no ciclo de elongação.


Etapa 1: complexo EF1a-GTP-aminoacil-tRNA liga-se ao ri
EF1βγ bossomo. Etapa 2: aminoacil-tRNA é colocado no ribossomo
(etapa 2a) com hidrólise de GTP, uma mudança de conforma
ção de EF1a, e sua liberação do tRNA e do ribossomo (Etapa
3). Etapa 4: GDP é deslocado de EF1a por EF1bg. A ligação de
Terminação da Síntese do GTP, então, desloca EF1bg (etapa 5) e permite ligação de um
aminoacil-tRNA a EF1a em sua conformação de maior afinida
Polipeptídeo Requer um Códon de de (etapa 1).
Parada (ou Stop Codon)
Um códon de terminação de cadeia UAG, UAA ou
UGA no sítio A promove a ligação do fator de liberação
(eRF1) (Figura 6.10). A ligação éster peptídeo-tRNA é uma proteína, é semelhante em tamanho e forma ao
clivada pela peptidil transferase, agindo aqui como uma tRNA, e aminoácidos na extremidade de um domínio
hidrolase, e o polipeptídeo completo é liberado de seu da proteína reconhecem e interagem com o códon de
tRNA e do ribossomo. A liberação de eRF1 do ribosso terminação. Esse “mimetismo molecular” também apa
mo segue a hidrólise do GTP ligado e libera o ribossomo rece na estrutura da EF-G bacteriano, na qual um do
para se dissociar em subunidades e, depois, reentrar no mínio proteico mimetiza o braço do anticódon do tRNA
ciclo de síntese proteica. Uma segunda proteína eRF3 e funciona na elongação, deslocando o tRNA do subsítio
participa desse processo. Embora eRF1 humano seja A para o P na subunidade pequena.
234 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Met
NH3+ Tradução Tem um Custo
Energético Considerável
E P A Há um considerável uso de energia
COO– na síntese de um polipeptídeo. A ativa
A eRF1
GTP ção de aminoácido converte um ATP
60S
em AMP e pirofosfato, que é hidrolisa
do a Pi; o custo final é de dois fosfatos
5!
UAG 3! de alta energia. Mais duas ligações de
40S alta energia são hidrolisadas nas ações
de EF1α e EF2, dando um total de
quatro por ligação peptídica formada.
(Etapa 1) Iniciação, terminação e modificações
pós-tradução podem aumentar o custo
energético. Mais energia é necessária
Met
NH3+ para biossíntese de mRNA multiuso,
tRNAs, ribossomos e fatores proteicos,
mas esses custos são distribuídos de
E P A forma geral entre as proteínas forma
das durante seus tempos de vida.

60S eRF1 GTP


Síntese de Proteínas
5!
UAG 3! em Mitocôndrias Difere
40S Ligeiramente
Muitas características da mitocôn
H2O
E P (Etapa 2) eRF3 dria sugerem que ela seja descendente
Pi de um procarioto aeróbico que esta
Met beleceu uma relação simbiótica com
NH3+
uma célula eucariótica. Parte de sua
independência e seu caráter procari
ótico são mantidos. Embora a maioria
das proteínas mitocondriais seja co
dificada no DNA nuclear, sintetizada
no citosol, e importada em organelas,
60S eRF1 GDP a síntese proteica mitocondrial é im
portante (Correlação Clínica 6.6). Mi
5!
UAG
tocôndrias humanas têm um genoma
3!
de DNA circular com 16.569 pares de
40S bases que codificam 13 proteínas, 22
espécies de tRNA e espécies de rRNA
12S e 16S mitocôndria-específicos.
tRNA Seu aparelho para síntese proteica in
clui RNA polimerase, aminoacil-tRNA
eRF1 sintetases, tRNAs e ribossomos que
GDP
são característicos das mitocôndrias.

FIGURA6.10 Terminação da tradução.


Quando um códon de terminação no mRNA ocupa o sítio A,
ligação de um complexo RF1-GTP ocorre (etapa 1) e tRNA
desacilado é liberado. Etapa 2: a peptidil transferase age
60S 40S
como hidrolase; hidrólise da ligação éster que liga a proteína
ao tRNA libera a proteína. A extremidade aceptora do tRNA
desacilado é provavelmente deslocada, o GTP é hidrolisado,
e fator de liberação-GDP se dissocia. eRF3 promove esses
eventos. Os componentes dissociados podem, agora, entrar
em ciclos adicionais de síntese proteica.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 235

Alguns detalhes da tradução diferem: Ribossomos mi interagem com a subunidade ribossômica pequena em
tocondriais são menores e os rRNAs são mais curtos do locais levemente diferentes, mas também causam tra
que os eucariótico citosólicos ou os procarióticos (ver dução errada. Eritromicina, um antibiótico macrolídeo,
Tabela 6.7). O código genético é também um pouco di interfere com a translocação de ribossomos procarióti
ferente (ver Tabela 6.2), e assim como os procariotos, cos. Os macrolídeos bloqueiam a passagem do peptídeo
o Met-tRNAimet iniciador é modificado por uma trans nascente pelo ribossomo. Kasugamicina inibe a inicia
fMet-tRNAimet. usa N10-formil H4-folato para produzir
formilase que Células ção da tradução; a sensibilidade à kasugamicina depen
devem coordenar síntese protei de da metilação de bases que normalmente ocorrem
ca dentro de mitocôndrias com a síntese citosólica de em duas adeninas adjacentes no rRNA da subunidade
proteínas destinadas a importação pelas mitocôndrias. pequena. Tetraciclinas ligam-se a ribossomos e interfe
rem na ligação dos aminoacil-tRNAs. Puromicina (Fi
gura 6.11) é parecida com um aminoacil-tRNA; liga-se
Muitos Antibióticos e Toxinas ao sítio A da subunidade grande e age como um aceptor
do peptídeo nascente na reação da peptidil transfera
Têm Como Alvo a Biossíntese de se. Peptidil-puromicina não é translocada e não pode
Proteínas servir como doador de peptídeo. A tradução é prematu
ramente terminada, e a peptidil-puromicina é liberada.
A biossíntese de proteínas é central para a vida e a Cloranfenicol inibe a peptidil transferase ligando-se
reprodução de células. Como um organismo pode ga ao centro da transferase; não ocorre transferência e o
nhar uma vantagem biológica interferindo com a capa peptidil-tRNA permanece associado ao ribossomo.
cidade de seus competidores sintetizarem proteínas,
muitos antibióticos e toxinas funcionam dessa forma. Alguns agentes atuam diretamente no RNA ribossô
Alguns são seletivos para a síntese proteica procarióti mico. Ricina (de mamona) e toxinas relacionadas são
ca e, assim, são extremamente úteis na prática clínica. N-glicosidases que clivam uma única adenina do es
Exemplos, mostrando vários mecanismos de ações de queleto de rRNA da subunidade grande. Uma toxina de
antibióticos, são apresentados na Tabela 6.9. fungo, a a-sarcina, quebra o rRNA da subunidade gran
de em um único ponto; em ambos os casos, o ribossomo
Muitos antibióticos ligam-se ao ribossomo para ini é inativado. Algumas cepas de E. coli produzem toxi
bir um aspecto da tradução. Estreptomicina liga-se à nas extracelulares que afetam outras bactérias. Uma
subunidade pequena de ribossomos procarióticos e delas, a colicina E3, é uma ribonuclease que quebra o
causa leitura errada do mRNA (Correlação Clínica 6.6). RNA 16S perto da sequência de ligação ao mRNA e do
Mutações em uma proteína ribossômica ou no rRNA da sítio decodificador; inativa a subunidade pequena e in
subunidade pequena pode conferir resistência a estrep terrompe a síntese proteica em competidores da célula
tomicina ou dependência a ela. Outros antibióticos ami produtora de colicina. Outros agentes afetam os fatores
noglicosídicos, tais como neomicinas e gentamicinas, de tradução: por exemplo, a translocação eucariótica é

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.6

Mutações em rRNA e tRNA Mitocondriais Resultam em Surdez Induzida por Antibiótico

Exemplos de surdez permanente foram ligados ao do RNA é parte do sítio decodificador do ribossomo.
uso de antibióticos aminoglicosídeos como estrep É provável que a mutação aumente a afinidade por
tomicina, paromicina e gentamicina, normalmente aminoglicosídeos e sua capacidade de inibir a síntese
seguros nas quantidades efetivas. A sensibilidade in proteica. A síntese proteica reduzida na mitocôndria
comum a aminoglicosídeos é de transmissão mater diminui os níveis de enzimas do sistema de fosforila
na, sugerindo um locus mitocondrial (o espermato ção oxidativa e as células afetadas ficam deficientes
zoide não contribui com mitocôndrias para o zigoto). em ATP. Muitas outras mutações no rRNA e no tRNA
Os aminoglicosídeos têm como alvos os ribossomos mitocondriais e tRNA estão associadas com perda de
bacterianos, de modo que o ribossomo mitocondrial audição e outros problemas.
semelhante ao procariótico é um local lógico para se
procurar um sítio de mutação. Uma única mutação
puntual A→G no DNA mitocondrial, no nucleotídeo Fischel-Ghodsian, N., Prezant, T., Bu, X. e Öztas, S. Mi
1555 do gene do rRNA 12S foi identificada em famí tochondrial ribosomal RNA gene mutation in a patient with
lias com essa susceptibilidade a aminoglicosídeos. A sporadic aminoglycoside ototoxicity. Am. J. Otolaryngol.
14:399, 1993; Xing, G., Chen, Z., e Cao, X. Mitochondrial rRNA
mutação ocorre em uma região muito conservada da and tRNA and hearing function. Cell Res. 17:227, 2007; and
sequência do rRNA que está envolvida na ligação do Wilson, F. H., Hariri, A., Farhi, A., Zhao, H. et al. A cluster
aminoglicosídeo; algumas mutações na mesma re of metabolic defects caused by mutation in a mitochondrial
gião conferem resistência aos antibióticos, e a região tRNA. Science 306:1190, 2004.
236 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

TABELA 6.9 Alguns Antibióticos Inibidores da Tradução


Tipo de Inibidor Exemplo Processo Afetado Local de Ação
Aminoglicosídeos Estreptomicina Códon-anticódon Subunidade pequena
Neomicinas Fidelidade de interação Centro decodificador
Gentamicinas
Paromomicina
Macrolídeos Eritromicina Translocação Subunidade grande
Telitromicina peptidil transferase
Tilocina
Oxazolidinonas Linezolide Formação ligação peptídica Sítio A Subunidade grande
Tetraciclinas Tetraciclinas Ligação do aminoacil-tRNA Sítio A Subunidade pequena
Glicilciclina
Tiopeptídeos Tiostrepton Elongação Centro GTPase Subunidade grande
Aminonucleosídeos Puromicina Sítio A Subunidade grande
Fonte: Hermann, T. Drugs targeting the ribosome. Curt. Opinion Struct. Biol. 15:355, 2005. Tenson, T. e Mankin, A. Antibiotics and the Ribosome.
Molec. Microbial. 59: 1664, 2006.

inibida pela toxina diftérica, uma proteína produzida


por Corynebacterium diphteriae. A toxina liga-se à
6.4 MATURAÇÃO DE
membrana celular e uma subunidade entra no citoplas PROTEÍNAS: DOBRAMENTO,
ma e catalisa a ADP-ribosilação e inativação de EF2,
como representado na reação MODIFICAÇÃO, SECREÇÃO
EF-2 + NAD  ADP-ribosil EF-2 + nicotinamida + H+ E DIRECIONAMENTO
(ativo) (inativo)
Algumas proteínas emergem do ribossomo prontas
ADP-ribose é ligado a EF2 num resíduo de diftami para funcionar, enquanto outras sofrem várias modifi
na, que é uma forma modificada pós-tradução da his cações pós-tradução. O resultado pode ser conversão
tidina (ver Figura 6.20). Pseudomonas aeruginosa em uma forma funcional, direcionamento para um com
produz uma exotoxina similar. partimento subcelular específico, secreção da célula,

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.7

Deleção de um Códon, Enovelamento Incorreto e Degradação Prematura: Fibrose Cística (OMIM 219700)

Fibrose cística (CF) é a doença autossômica recessi 1 de ligação ao ATP, no lado citoplasmático da mem
va mais comum em caucasianos, com uma frequência brana plasmática. Como em várias outras mutações
de cerca de 1 em 2.000. O gene CF tem 230 kb de com CF, a proteína com deleção da Phe 508 não se dobra
primento e inclui 27 exons que codificam uma proteí corretamente no ER e não é corretamente glicosilada
na de 1.480 aminoácidos. A proteína conhecida como ou transportada para a superfície celular. Em vez dis
regulador de condutância transmembrânica da fibrose so, é degradada no citoplasma. No entanto, em células
cística ou CFTR (p. 515) é um canal de cloreto regu cultivadas em baixas temperaturas ou com adição de
lado por AMP cíclico. Ela contém dois domínios que chaperones químicos como glicerol, a proteína mutan
atravessam a membrana, cada um com seis regiões te dobra-se, é transportada e funciona adequadamen
transmembrânicas, dois domínios de ligação a ATP, e te. Drogas que simulam a interação de chaperone com
um domínio regulatório que inclui vários sítios de fos a CFTR mutante, e/ou auxiliam em seu dobramento
forilação. Sua complexa via de dobramento é influen e transporte para a membrana, são uma abordagem
ciada por vários chaperones. terapêutica em potencial para essa forma de fibrose
cística.
Os epitélios na CF caracterizam-se pelo transporte
defeituoso de eletrólitos. Os órgãos mais fortemente Cheung, J. C., e Deber, C. M. Misfolding of the cystic fibro
afetados incluem os pulmões, o pâncreas e o fígado, sis transmembrane conductance regulator and disease. Bio
e os efeitos que mais ameaçam a vida envolvem se chem. 47:1465, 2008; Plemper, R. K. e Wolf, D. H. Retrograde
creções mucosas muito viscosas, que levam à doença protein translocation: Eradication of secretory proteins in
pulmonar obstrutiva crônica e a infecções persisten health and disease. Trends Biochem. Sci. 24:266, 1999; e
tes nos pulmões. Em cerca de 70% dos pacientes, há Egan, M. E., Pearson, M., Weiner, S. A., Rajendran, V. et al.
uma deleção dos três nucleotídeos que codificam a Curcumin, a major constituent of turmeric, corrects cystic
fenilalanina 508, normalmente localizada no domínio fibrosis defects. Science 304:600, 2004.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 237

ou uma alteração em atividade ou estabilidade. A infor se pancreática completamente desnaturada pode, em


mação que determina o destino pós-tradução de uma condições laboratoriais adequadas, dobrar novamente
proteína reside, em última análise, em sua estrutura; a e gerar as pontes dissulfeto corretas e a atividade to
sequência e a conformação da proteína determinam se tal. Muitas proteínas recém-sintetizadas dobram cor
ela será um substrato para uma enzima modificadora retamente à medida que emergem do ribossomo. En
e/ou a identificam para direcionamento a uma localiza tretanto, outras proteínas requerem a assistência de
ção subcelular ou extracelular. chaperones (p. 120), que se ligam reversivelmente às
regiões hidrofóbicas de proteínas nascentes e de pro
teínas em um estágio intermediário de dobramento.
NH2 Suas ações podem ajudar uma proteína a chegar à sua
N conformação funcional. Chaperones podem estabilizar
N intermediários e promover o dobramento correto, man
ter proteínas em um estado desdobrado para permitir
N N
a passagem através de membranas, ajudar a desdobrar
tRNAOCH2 O segmentos dobrados erroneamente, impedir a formação
de intermediários dobrados incorretamente, e impedir
a agregação ou outras interações incorretas com outras
O OH proteínas. Eles também podem auxiliar no desdobra
H2N CHC mento de proteínas destinadas à degradação. Alguns
O utilizam energia da hidrólise de ATP para executar
CH2
suas funções. A incapacidade de dobrar corretamente
geralmente leva à rápida degradação da proteína (Cor
relação Clínica 6.7). O acúmulo de proteínas dobradas
erroneamente pode resultar na agregação da proteína e
em doença grave (ver Correlação Clínica 6.14).
OH
Extremidade 3' tirosil-tRNA

CH3 CH3
Proteínas para Exportação Seguem a
N Via Secretória
N As proteínas destinadas à exportação e aquelas
N
destinadas à membrana plasmática, lisossomos, endos
N N somos ou sistema de Golgi são sintetizadas em ribosso
mos ligados às membranas do retículo endoplasmático
HOCH2 O rugoso (ER) (Figura 6.12).

NH OH

H2N CH
CH C
O
2

OCH3
Puromicina

FIGURA6.11 Puromicina (inferior) termina tradução por


ligar-se à subunidade grande do sítio A e atuar como um
análogo do aminoacil-tRNA [aqui tirosil-tRNA (superior)].
O α-amino grupo é um aceptor da peptidil transferase, e pepti
dil-puromicina dissocia-se do ribossomo.

Chaperones Ajudam no Dobramento


FIGURA6.12 Retículo endoplasmático rugoso.
da Proteína Três setas paralelas indicam três ribossomos dentre os mui
tos ligados às membranas. Seta única indica uma mitocôndria,
Muitas proteínas podem espontaneamente gerar para comparação.
suas conformações nativas. Por exemplo, a ribonuclea Cortesia de Dr. U. Jarlfors, University of Miami.
238 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Essas proteínas têm um peptídeo


sinal hidrofóbico, geralmente na, ou
perto da, extremidade amino-termi
Membrana do ER
nal. Peptídeos sinal possuem uma re
Proteína de gião N-terminal com carga positiva e
aportamento Receptor
do ribossomo um cerne (core) de 8-12 aminoácidos
(docking)
hidrofóbicos em uma α-hélice segui
NCitoplasma ETAPA D dos de um segmento C-terminal mais
polar, que eventualmente serve como
ETAPA C ponto de clivagem para a excisão do
N peptídeo sinal. A tradução começa em
ETAPA B Lúmen ribossomos citosólicos livres. Quando
do ER o peptídeo sinal de 15-30 aminoácidos
emerge do ribossomo, ele se liga a uma
N partícula de reconhecimento do sinal
Peptidase
(SRP) (Figura 6.13). A SRP é com
sinal posta por seis proteínas diferentes e
uma molécula pequena de RNA (7S).
O peptídeo sinal liga-se em um bolsão
hidrofóbico da SRP, com o segmento
ETAPA A
N-terminal carregado positivamente
Ribossomo
SRP em contato com RNA da SRP.
Peptidase sinal
A tradução para; o complexo liga
mRNA
-se ao GTP e se move para o ER, onde
SRP se liga ao complexo GTP de um
FIGURA6.13 Via secretória: Reconhecimento do peptídeo sinal. receptor de SRP ou proteína de apor
Etapa A: Um peptídeo sinal hidrofóbico emerge de um ribossomo livre para o citosol. tamento (docking), na superfície cito
Etapa B: Uma partícula de reconhecimento de sinal (SRP) liga-se ao peptídeo sinal e a
sólica da membrana do ER. O ribosso
elongação é temporariamente paralisada. Etapa C: O ribossomo move-se para a mem
brana do ER, onde uma proteína de aportamento (docking) liga-se a SRP. Etapa D: O
mo é transferido para um translocon,
um receptor do ribossomo que cruza
ribossomo é transferido para um receptor (ou translocon), a elongação é retomada e a
proteína recém-sintetizada passa através da membrana para o lúmen do ER. a membrana e funciona como uma
passagem através da membrana. GTP
é hidrolizado e a SRP é liberada, relaxando o bloqueio
UM OLHAR MAIS ATENTO 6.3 da tradução. A passagem do translocon abre-se para
permitir o trânsito da proteína nascente, a sequência
Chaperones do Retículo Endoplasmático sinal hidrofóbica é inserida, e a tradução e a extrusão
Família Chaperone Função para dentro, ou através, do translocon está agora acopla
da. Mesmo segmentos muito hidrofílicos ou carregados
Hsp40 Auxilia Hsp70
são direcionados através da membrana para o lúmen do
Hsp70 Dobramento de proteínas ER. Os chaperones auxiliam o drobamento da proteína
geral do ER co- ou pós-tradução (Um Olhar Mais Atento 6.3). Pon
Hsp90 Dobramento de proteínas tes dissulfeto podem ser formadas com a participação
geral do ER de tiol óxido-redutases, e os componentes de proteínas
Hsp100 Incerta multi-subunidades podem se organizar. O peptídeo sinal
tipo GrpE Auxilia Hsp70 é excisado pela peptidase sinal, uma proteína integral de
Lectinas Dobramento de glicoproteínas membrana da face luminal do ER. Outras etapas podem
Ligada a ribossomos Auxilia Hsp70 incluir o processamento proteolítico e a glicosilação, que
ocorre no lúmen do ER e durante o trânsito da proteína
PDI Formação de pontes
pelo complexo de Golgi e em vesículas secretórias.
dissulfeto
PPI Peptidil-prolina cis-trans
isomerização Glicosilação de Proteínas Ocorre
Outros Dobramento de proteínas
específicas
no Retículo Endoplasmático e no
Herbert, D. N. e Molinari, M. In and out of the ER: Pro
Complexo de Golgi
tein folding, quality control, degradation, and related hu A glicosilação de proteínas para formar glicoproteí
man diseases. Physiol. Rev. 87:1377, 2007. nas (p. 115) é importante por muitas razões. A glicosi
lação altera as propriedades das proteínas, modificando
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 239

TABELA 6.10 Glicosiltransferases em Células Eucarióticas


Açúcar Transferido Abreviatura Doador Glicosiltransferase
Manose Man GDP-Man Manosiltransferase
Dolicol-Man
Galactose Gal UDP-Gal Galactosiltransferase
Glicose Glc UDP-Glc Glucosiltransferase
Dolicol-Glc
Fucose Fuc GDP-Fuc Fucosiltransferase
N-Acetilgalactosamina GalNAc UDP-GalNAc N-Acetilgalactosaminiltransferase
N-Acetilglucosamina GlcNAc UDP-GlcNAc N-Acetilglucosaminiltransferase
Ácido N-acetilneuramínico NANA ou NeuNAc CMP-SA
CMP-NANA N-Acetilneuraminiltransferase
(ou ácido siálico) SA (sialiltransferase)

sua estabilidade, solubilidade e volume físico. Os resí tetizada e pode afetar o dobramento (folding) da pro
duos de carboidratos podem ser sinais de reconheci teína.
mento que direcionam interações e direcionamento das
proteínas. Os sítios de glicosilação são especificados Glicosidases e glicosiltransferases agora modifi
cam o oligossacarídeo recém-transferido. Resíduos de
pelo aminoácido e sua sequência vizinha na proteína.
Glicosiltransferases, cujas classes estão resumidas na glicose, que foram necessários para transferir o oligos
Tabela 6.10, desempenham todas uma reação básica sacarídeo do carregador dolicol, são removidos. A gli
semelhante: um açúcar é transferido de um substrato coproteína dobrada é transportada para um comparti
doador ativado para um aceptor apropriado, geralmente mento intermediário ER-Golgi, onde a seleção ocorre
outro resíduo de açúcar que é parte de um oligossacarí e, depois, para o complexo de Golgi. Cortes adicionais
deo em construção. As enzimas apresentam especifici podem ocorrer agora, ou açúcares adicionais podem
dade para o monossacarídeo que é transferido, a estru ser adicionados. Os oligossacarídeos N-ligados resul
tura e a sequência do aceptor, e o sítio e configuração tantes são diversificados, mas duas classes são diferen
da ligação anomérica formada. ciadas. Ambas têm uma região central (core) comum
(GlcNAc2Man3) ligada a asparagina e que se origina
Na glicosilação N-ligada, um oligossacarídeo é liga do intermediário ligado ao dolicol. O tipo alta-manose
do pelo nitrogênio da amida da asparagina. A formação (high-mannose) inclui resíduos de manose em várias
de oligossacarídeos N-ligados começa no lúmen do ER ligações e apresenta menos processamento a partir do
e continua no complexo de Golgi. Uma sequência espe intermediário ligado a dolicol. O tipo complexo é mais
cífica, Asn-X-Thr (ou Ser), na qual X pode ser qualquer processado e diversificado, com uma maior variedade
aminoácido exceto prolina, é necessária. Nem todas as de açúcares e ligações (Figura 6.15).
sequências Asn-X-Thr/Ser são glicosiladas porque al
gumas podem não estar acessíveis para modificação. O Na glicosilação O-ligada, oligossacarídeos são liga
antibiótico tunicamicina impede a N-glicosilação. dos por meio de grupos hidroxila de serina ou treonina
das proteínas (p. 115). A glicosilação O-ligada ocorre só
A glicosilação N-ligada é iniciada com um inter depois de a proteína ter chegado ao complexo de Gol
mediário ligado a lipídeo (Figura 6.14). O dolicol fos gi; portanto, a O-glicosilação é pós-tradução e ocorre
fato na superfície citoplasmática da membrana do ER somente em proteínas dobradas. Não há sequência de
serve como glicosil-aceptor para N-acetilglucosami aminoácidos definida na qual a serina ou a treonina deva
na. A glicosilação passo a passo e a formação de um ocorrer, mas apenas resíduos na superfície da proteína
(Man)5(GlcNAc)2-pirofosforil-dolicol ramificado no servem como aceptores para a GalNAc-transferase que
lado citosólico da membrana ocorre. Esse intermediá liga a N-acetilgalactosamina. Segue-se a adição passo
rio é, então, reorientado para a superfície luminal da a passo de açúcares ao GalNAc aceptor. Os oligossaca
membrana do ER, e quatro manoses adicionais e três rídeos formados dependem dos tipos e das quantida
glicoses são adicionadas. Um oligossacariltransfera des de glicosiltransferases em uma dada célula. Se um
se complexo ligado à membrana então transfere o oli aceptor for um substrato para mais de uma transferase,
gossacarídeo completo de seu dolicol carregador para a quantidade de cada transferase influencia a compe
um resíduo de asparagina do polipeptídeo, quando ele tição entre elas. O crescimento dos oligossacarídeos
emerge no lúmen do ER. Note que a N-glicosilação é encerra-se quando são formadas estruturas que não
cotradução; ocorre enquanto a proteína está sendo sin são mais aceptoras para qualquer outra glicosiltransfe
240 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

rase presente. Isso pode resultar em diferentes estrutu


ras de oligossacarídeos em polipeptídeos idênticos, de
modo que heterogeneidade em glicoproteínas é comum
(Figura 6.16).

Lado Lado citoplasmático


do
lúmendpER P Dolicol fosfato

ETAPA A UDP GlcNAc

UMP

ETAPA B PP UDP

PP
GDP (5)

ETAPA C GDP (5)

PP

Reorientação

ETAPA D
(4) P

PP
FIGURA 6.14 Biossíntese de
(3)
oligossacarídeos N-ligados no retículo
endoplasmático.
P
Etapa A: a síntese começa sobre a face cito
plasmática da membrana do ER, com a trans (3) P ETAPA E
ferência de uma N-acetilglucosamina fosfato
para um dolicol aceptor. Etapa B: a formação
da primeira ligação glicosídica açúcar-açúcar
PP
ocorre após a transferência de um resíduo
de N-acetilglucosamina. Etapa C: cinco re
síduos de manose (de GDP-manose) são Ribossomo
adicionados sequencialmente, e o oligossa
os ETAPA F
face
são
dolicol.
carídeo
adicionais
transferidos
luminal
Dolicol-açúcares
ligadoda
de
a membrana.
lipídeo
manose
de intermediários
ésão
ereorientado
(Etapa
Etapa
gerados
E)
D:
ligados
aresídu-
glicose
para
partira N

de nucleosídeo difosfato-açúcares citoplas


máticos. Etapa F: o oligossacarídeo completo
é transferido para um polipeptídeos nascen
te na superfície da membrana; peptídeo sinal
pode já ter sido clivado nesse ponto. N-Acetilglucosamina (GlcNAc) PDolicol fosfato Manose Glicose
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 241

α 1,6 Região do core comum


α 1,2

α1,6
α 1,3
α 1,2
β1,4 β1,4 β Asparagina

α 1,3

α 1,2 α 1,2

TIPO ALTA MANOSE

Região do core comum

α 2,3 β 1,4 β 1,2 α 1,6

Asparagina
β 1,4 β 1,4 β
α 1,3
α2,6 β1,4 β1,2
FIGURA 6.15 Estrutura de
oligossacarídeos N-ligados.
TIPO COMPLEXO
Tipos básicos de oligossacarídeos N-liga
dos são mostrados. Cada estrutura é de
rivada do oligossacarídeo inicial ligado ao
Ácido siálico (N-Acetylneuraminic acid) Manose dolicol por ação de glicosidases e glicosil
transferases. Note a variedade de ligações
N-Acetilglucosamina Galactose
glicosídicas envolvidas.

6.5 DIRECIONAMENTO PARA o GlcNAc, formando um oligossacarídeo que contém ma


nose 6-fosfato (Figura 6.17), que determina a comparti
MEMBRANA E ORGANELAS mentalização e o transporte vesicular dessas proteínas
para os lisossomos. Outras cadeias oligossacarídicas da
O transporte de proteínas do ER para e pelo com proteína podem ser mais processadas, para formar estru
plexo de Golgi, e além, usa vesículas carregadoras turas tipo-complexas, mas a manose 6-fosfato determina
multi-proteínas. Só proteínas corretamente dobradas seu destino lisossomal. Pacientes com doença da célula
são reconhecidas como carga para transporte, e tanto I não têm a GlcNAc-P glicosiltransferase, são incapazes
chaperones gerais como proteína-específicos do ER aju de marcar as enzimas lisossomais para seu destino e,
dam o dobramento e favorecem a formação de pontes
em vez disso, as secretam da célula (Correlação Clínica
dissulfeto corretas. A rede de chaperones também atua 6.8). Deficiências genéticas de muitas enzimas lisosso
em pontos de verificação (checkpoints) no transpor mais conduzem a doenças, algumas das quais podem ser
te ER-Golgi para reconhecer proteínas mal dobradas moduladas pela usando o mecanismo de direcionamento
ou danificadas, que são devolvidas para o citosol para (Correlações Clínicas 6.9 e 18.5).
degradação no processo de degradação ER-associada
(ERAD). A seleção de proteínas para seus destinos fi A via secretória direciona proteínas para os lisos
nais ocorre em conjunção com sua glicosilação e que somos, para a membrana plasmática ou para secreção
bra proteolítica, à medida que passam pelos elementos para fora da célula. Proteínas do ER e do complexo
cis, medial e trans do complexo de Golgi. Famílias de de Golgi são direcionadas por uso parcial da via. Por
vesículas e proteínas receptoras dão especificidade ao exemplo, a localização de proteínas em qualquer lado
direcionamento e à fusão de membranas. de ou atravessando a membrana do ER pode utilizar a
partícula de reconhecimento de sinal de modos diferen
tes (Figura 6.18). Às vezes, a sequência sinal não está
Seleção de Proteínas na Via próxima da extremidade amino terminal da proteína,
mas em algum lugar a jusante, onde SRP se liga. Um
Secretória
domínio amino terminal permanece na superfície cito
O direcionamento de glicoproteínas específicas para plasmática, e a sequência sinal e o segmento C-terminal
os lisossomos é bem conhecido. No cis Golgi, um aspecto passam pelo translocon. Sequências de ancoragem hi
da estrutura terciária permite que proteínas lisossomais drofóbicas em uma proteína podem mergulhar na mem
sejam reconhecidas por uma glicosiltransferase que liga brana e, ainda assim, permitir que boa parte da sequ-
N-acetilglucosamina fosfato (GlcNAc-P) a oligossacarí ência permaneça na superfície citosólica ou seja retida
deos do tipo alta manose. Uma glicosidase então remove na superfície luminal da membrana do ER. Múltiplas
242 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Manα1,2Manα1,2Manα1,3
Manβ1,4GlcNAcβ1,4GlcNAcβAsn 1

Manα1,2Manα1,6
Manα1,6
Manα1,2Manα1,3

GalNANAα2,6β1,4GlcNAcβ1,2
Manα1,6
NANAα2,3Galβ1,4GlcNAcβ1,4

Manβ1,4GlcNAcβ1,4GlcNAcβAsn 2
NANAα2,6Galβ1,4GlcNAcβ1,6

NANAα2,6Galβ1,4GlcNAcβ1,3Galβ1,4GlcNAcβ1,2Manα1,3
AsnManβ1,4
GlcNAcβ1,4GlcNAcβ 3
Fucα1,2(Galβ1,GlcNAcβ1,3) Galβ1,4GlcNAcβ1,2Manα1,6
5

NANAα2,6GalNAcαSer/Thr 4
FIGURA6.16 Exemplos de estrutura
de oligossacarídeo.
Fucα1,2Galβ1,3GlcNAcβ1,3GalNAcαSer/Thr 5
As estruturas 1-3 são oligossacarídeos
N-ligados típicos dos tipos alta-manose
NANAα2,3Galβ1,3
(1) e complexo (2, 3); note a estrutura
NANAα2,6 GalNAcαSer/Thr 6
do core comum do resíduo de aspara
gina da proteína até o primeiro ponto
de ramificação. As estruturas 4-8 são NANAα2,3Galβ1,4
oligossacarídeos O-ligados comuns, que Fucα1,3 GalNAcβ1,3GalNAcαSer/Thr 7
podem ser bastante simples ou muito
complexos. Note que embora a estrutu
ra do core (GalNAc-Ser/Thr) seja dife
rente dos oligossacarídeos N-ligados, a GlcNAcα1,4Galβ1,4GlcNAcβ1,3
extremidade pode ser muito semelhan Galβ1,3
te (por exemplo, as estruturas 2 e 6, 3 Fucα1,2Galβ1,4GlcNAcβ1,6 GalNAcα
e 7). Abreviaturas: Man = manose; Gal Fucα1,2GaIβ1,4GlcNAcβ1,6 Ser/Thr 8
= galactose; Fuc = fucose; GlcNAc =
N-acetilglucosamina; NANA = ácido N
-acetilneuramínico (ácido siálico).
Manose Ácido N-Acetilneuramínico Fucose N-Acetilglucosamina
Adaptado de Paulson, J. Trends Bio
N-Acetilgalactosamina Galactose Serina/Treonina/Asparagina
chem. Sci. 14:272, 1989.

sequências de ancoragem em um único polipeptídeo Modificação por ácido polisiálico de uma proteína de
podem fazê-lo atravessar a membrana várias vezes e, adesão de célula neural é específica para a proteína e
assim, reter grande parte mergulhada na membrana. regulada durante desenvolvimento.
Tais sequências hidrofóbicas são separadas por alças
polares, cuja orientação é determinada por resíduos Importação de Proteínas por
flanqueadores carregados positivamente que predomi
nam no lado citoplasmático da membrana. Mitocôndrias É Complexa
Outros sinais de seleção determinam como proteí Mitocôndrias fornecem um problema de direciona
nas são direcionadas (como carga) para subcomparti mento especial, e defeitos no sistema podem levar a
mentos do Golgi, vários grânulos de armazenamento doenças (Correlação Clínica 6.10). A maioria das prote
e secreção e elementos específicos da membrana plas ínas mitocondriais é sintetizada no citosol por ribosso
mática. Por exemplo, proteínas solúveis são retidas no mos livres como pré-proteínas maiores. Pré-sequências
lúmen do ER em resposta a uma sequência KDEL (Lys N-terminais marcam a proteína para a mitocôndria; o
-Asp-Glu-Leu) C-terminal. Uma sequência diferente em sinal de direcionamento não é uma sequência específi
um C-terminal exposto sinaliza retenção na membrana ca, mas uma α-hélice anfifílica carregada positivamen
do ER. Alguns domínios transmembrânicos resultam te que é reconhecida por um receptor mitocondrial. As
em retenção no Golgi. Glicosilação e sulfatação polipep pré-proteínas são transportadas com a ajuda de chape
tídeo-específica de alguns hormônios glicoproteicos da rones para as mitocôndrias e são translocadas (desdo
pituitária anterior são mediadores de sua seleção para bradas) primeiro através da membrana externa por um
grânulos de armazenamento. complexo translocase da membrana externa (TOM) e
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 243

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.8

Doenças de Direcionamento para Lisossomos:


Doença da Célula I
Proteína
A doença da célula I (mucolipidose II) surge
de defeitos no direcionamento de enzimas lisos
somais, em decorrência da deficiência da Glc
ETAPA 1 Nac-1-fosfotransferase, a enzima que transfere
N-acetilglucosamina fosfato para oligossacaríde
os do tipo alta manose de proteínas destinadas
aos lisossomos. A enzima hexamérica inclui três
tipos de subunidades codificadas em dois genes,
GNPTAB e GNPTG. Os fibroblastos dos indivíduos
afetados apresentam corpos de inclusão densos
P UDP (daí células I) e não têm atividade da fosfotrans
ferase; múltiplas enzimas lisossomais são secre
ETAPA 2 tadas para o meio, e níveis elevados de enzimas
Manose
UMP lisossomais estão presentes no plasma e em ou
tros líquidos corporais dos pacientes. A doença é
caracterizada por severo retardo psicomotor, mui
tas anomalias esqueléticas, características faciais
grosseiras e movimento articular restrito. Os sin
tomas são geralmente observados ao nascimento
e progridem até a morte, geralmente por volta de
8 anos de idade. Quase todos os pacientes apre
sentam mutações com mudança na fase de leitura
(frameshift) ou na terminação da cadeia no gene
ETAPA 3 GNPTAB.

Polidistrofia pseudo-Hurler (mucolipidose III)


é uma doença relacionada, porém menos grave, na
qual a atividade da fosfotransferase está reduzida,
mas não completamente ausente. O início é geral
mente retardado até a idade de 2-4 anos, a doença
progride mais lentamente, e os pacientes podem
sobreviver até a idade adulta. O diagnóstico pré
P -natal das duas doenças é possível, mas ainda não
existe tratamento definitivo.

N-Acetilglucosamina Glucose
Kornfeld, S. Trafficking of lysosomal enzymes in
normal and disease states. J. Clin. Invest. 77:1, 1986;
FIGURA6.17 Direcionamento de enzimas para lisossomos. e Braulke, T., Pohl, S. e Storch, S. Molecular analysis
Glicoproteína N-ligada completa dobrada é liberada da membrana of the GlcNac-1-phosphotransferase. J. Inherit. Metab.
do ER e, antes do transporte para o complexo de Golgi, glicosidases Dis. 31:253, 2008.
removem resíduos de glicose (etapa 1). Um resíduo de manose pode
também ser removido. Etapa 2: No complexo de Golgi, uma glicosil
transferase liga um ou, às vezes, dois resíduos de N-acetilglucosa
mina fosfato ao oligossacarídeo. Etapa 3: Uma glicosidase remove
N-acetilglucosamina, deixando um ou dois resíduos de manose ficam unidas, e várias proteínas intermembranas es
6-fosfato no oligossacarídeo. A proteína é, então, reconhecida por
tão envolvidas. Proteases removem o sinal de dire
um receptor de manose 6-fosfato e direcionada para vesículas que
se destinam aos lisossomos.
cionamento para a matriz, mas podem deixar outras
Adaptado de Kornfeld, R. e Kornfeld, S. Annu. Rev. Biochem. sequências que ainda selecionam a proteína dentro
54:631, 1985. da mitocôndria, de volta para a a membrana interna,
via um complexo TIM diferente, ou para o espaço in
termembranas.
depois para a matriz mitocondrial (ou a membrana interna)
por um complexo translocase da membrana interna (TIM) Por exemplo, em resposta a uma sequência hidro
em reações dependentes de energia. A passagem ocorre em fóbica, um precursor dobrado do citocromo b2 é leva
pontos de adesão, onde as membranas interna e externa do da matriz, de volta através da membrana interna;
244 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.9

Terapia por Reposição de Enzima para Doenças Lisossomais de Acúmulo

Várias doenças surgem de uma deficiência genética A doença de Gaucher resulta da deficiência de uma
de uma única enzima hidrolítica em lisossomos (ver glucocerebrosidase, e no acúmulo de glucocerebrosí
Correlação Clínica 18.5), levando ao acúmulo de ma deo. Os sintomas na doença de Gaucher tipo I incluem
terial não-degradado. Muitas dessas doenças são alvos hepatoesplenomegalia e muitos problemas ósseos; ERT,
de terapia por reposição enzimática (ERT), na qual especialmente em crianças pequenas, tem sido bem-su
a administração endovenosa da enzima humana pu cedido na redução da gravidade da doença. A doença
rificada, que é competente para captação lisossomal, de Pompe infantil resulta da deficiência de α-1,4-glu
pode melhorar os sintomas (mas não curar o defeito cosidase ácida; ela leva ao acúmulo de glicogênio em
subjacente). lisossomos e miopatia cardioesquelética. A doença de
Fabry, causada por uma α-galactosidase-A defectiva,
A mucopolissacaridose tipo I é causada por defeitos resulta no acúmulo de esfingolipídeo e dano aos órgãos,
na α-L-iduronidase, uma enzima lisossomal que age na
que surgem aos 6-8 anos de idade eleva à morte na meia
degradação de glicosaminoglicanos. Mais de 70 muta idade. ERT nessas doenças tem mostrado algum suces
ções foram identificadas, e os sintomas variam de se so, mas o custo das enzimas purificadas para todas es
vero retardo mental e morte precoce na infância (sín sas terapias é muito elevado.
drome de Hurler), até efeitos mais brandos, incluindo
perda de audição e opacidade de córnea, mas inteligên
Yogalingam, G., Guo, X.-L., Muller, V. J., Brooks, D. A. et
cia e tempo de vida normais. Terapia de reposição en
al. Identification and molecular characterization of α-L-idu
zimática usando enzima humana normal recombinante ronidase mutations present in mucopolysaccharidosis type I
foi aprovada em 2003 e resulta em redução significativa patients undergoing enzyme replacement therapy. Hum. Mu
dos sintomas. A mucopolissacaridose tipo II (deficiência tat. 24:199, 2004; e Burrow, T. A., Hopkin, R. J., Leslie, N. D.,
de iduronato-2-sulfatase) e a mucopolissacaridose tipo Tinkle, B.T. e Grabowski, G. A. Enzyme reconstitution/repla
VI (síndrome de Maroteaux-Lamy, deficiência de N-ace cement therapy for lysosomal storage diseases. Curr. Opin.
tilgalactosamina) também foram aprovadas para ERT. Pediatr. 19:628, 2007.

proteólise adicional o libera no espa


NNCNC ço intermembranas. Diferentemente,
N citocromo c apoproteína (sem heme)
LúmendoER
Citoplasma
liga-se à membrana externa e passa
para o espaço intermembranas. Lá
adquire seu heme e sofre uma mu
dança conformacional que assegura
sua retenção. Proteínas da membra
na externa também são direcionadas
para o complexo TOM, mas sequên
C cias de ancoragem as orientam e re
C têm, tanto embebidas na membrana
(a) (b) (c) (d)
como com domínios globulares sobre
a superfície da membrana externa da
FIGURA6.18Topologia de proteínas em membranas do retículo mitocôndria.
endoplasmático.
Proteínas são mostradas em várias orientações com relação à membrana. Em (a) a
proteína é ancorada à superfície luminal da membrana por um peptídeo sinal não
-clivado. Em (b) a sequência sinal não está na extremidade N-terminal; um domínio da
proteína foi sintetizado antes da emergência do peptídeo sinal. Inserção da sequência
sinal interna, seguida por complementação da tradução, resultou em uma proteína
com um domínio N-terminal citoplasmático, um segmento central que atravessa a
membrana, e um domínio C-terminal no lúmen do ER. (c) Uma proteína com a orien
tação oposta: uma sequência sinal N-terminal, que também poderia ter sido clivada
pela peptidase sinal, resultou em extrusão de um segmento da proteína no lúmen do
ER. Uma sequência hidrofóbica de ancoragem permaneceu associada à membrana e
impediu a continuação da passagem da proteína através da membrana, formando as
sim um domínio C-terminal citoplasmático. Em (d) vários sinais internos e sequências
de ancoragem permitem que vários segmentos da proteína fiquem orientados em cada
lado da membrana.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 245

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.10

Importação Mitocondrial de Proteína Defectiva e Doença

Direcionamento ineficiente para mitocôndrias tocondrial. Valina (em lugar de alanina) na posição 16
pode ter importantes consequências. Acidemia lática na sequência de direcionamento resulta na retenção
resultante de deficiências no complexo piruvato desi parcial da enzima na membrana mitocondrial interna,
drogenase (PDH) tem sido associada a mutações em atividade de MnSOD reduzida, e capacidade reduzida
vários genes, mais comumente a subunidade X-ligada de detoxicar as espécies reativas de oxigênio que são
E1a. Uma mutação puntual resultando em uma subs geradas pelo consumo de álcool.
tituição Arg→Pro no sinal de direcionamento mito
condrial resulta na importação reduzida de E1a, baixa Defeitos em proteínas dos mecanismos de impor
atividade de PDH, e múltiplos sintomas, neurológicos tação e seleção também podem resultar em doenças.
e outros. Direcionamento errado para mitocôndrias A síndrome da surdez distonia foi ligada a defeitos no
ocorre em alguns casos de hiperoxaluria primária tipo componente TIM Tim 8 (ver Correlação Clínica 6.6 para
1. Alanina/glioxilato aminotransferase normalmente uma causa diferente de surdez relacionada a mitocôn
catalisa a conversão de glioxilato em glicina nos pe drias). Defeitos no Tim 14 foram ligados a uma rara
roxissomos. Mutações puntuais separadas, que criam cardiomiopatia com ataxia. Níveis diminuídos do cha
um sinal de direcionamento mitocondrial e alteram o perone Hsp60 da matriz mitocondrial estão ligados a
dobramento e a dimerização da enzima, resultam na número reduzido e morfologia atípica de mitocôndrias
localização da enzima na mitocôndria; função pero e a casos de paraplegia espástica e insuficiência multi
xissomal reduzida; deposição de oxalato no rim, trato sistêmica.
urinário e em outros locais; e eventual insuficiência
renal. Seleção e localização errada nas mitocôndrias, Robinson, B. H. Lactic acidemia and mitochondrial dise
em alguns casos, é um fator de doença hepática seve ase. Mol. Genet. Metab. 89:3, 2006; e Mackenzie, J. A., and
ra em alcoólatras. A manganês superóxido dismutase Payne, R. M. Mitochondrial protein import and human health
(MnSOD) está normalmente localizada na matriz mi and disease. Biochim. Biophys. Acta 1772:509, 2007.

Sinais de Direcionamento sinal de direcionamento, utilizando um complexo trans


portador diferente. Algumas proteínas da membrana do
Encaminham Proteínas para peroxissomo são sintetizadas no citoplasma, e são dire
cionadas para a membrana por sinais internos de dire
Organelas Específicas cionamento. Uma segunda classe de proteínas é sinteti
zada no ER e exportada para a membrana peroxissomal.
O núcleo deve importar proteínas que são sinteti
zadas no citosol. Proteínas nucleares são direcionadas Algumas proteínas residem em mais de um compar
por sinais de localização que incluem dois grupos sepa timento subcelular. Um sinal de localização sub-ótima
rados de aminoácidos básicos ou, às vezes, uma única pode levar a direcionamento ineficiente e a uma locali
sequência básica. Eles interagem com proteínas carre zação dual, como na secreção parcial de um inibidor do
gadoras (por exemplo, importinas), que os transportam ativador de plasminogênio. Uma proteína pode conter
através dos complexos poros nucleares cilíndricos que dois sinais de direcionamento, resultando em localiza
atravessam a membrana nuclear. O transporte requer a ção dual. Duplicação gênica e divergência podem resul
GTPase Ran. Uma classe diferente de proteínas regu tar em diferentes sinais de direcionamento em polipep
latórias faz o transporte entre o citoplasma e o núcleo tídeos maduros muito relacionados. Sítios alternativos
para transmitir sinais para ativar a transcrição. de iniciação da transcrição ou splicing alternativo de
pré-mRNA podem gerar diferentes mensagens a partir
Fosforilação de uma sequência SPS (Ser-Pro-Ser) ou de um único gene. mRNAs com splicing alternativo da
TPT (Thr-Pro-Thr) induz a captação nuclear. proteína quinase dependente de cálcio/calmodulina di
ferem com respeito à presença de um segmento interno
Os peroxissomos importam suas proteínas da matriz
que codifica um sinal de localização nuclear. Sem esse
a partir do citosol, e podem precisar ajustar seu conteúdo segmento, a proteína permanece no citosol.
enzimático para atender às necessidades celulares. Um
sinal de direcionamento é o tripeptídeo carboxi-terminal Finalmente, o primeiro códon de iniciação em um
Ser-Lys-Leu (SKL), que interage com um transportador mRNA, às vezes, é ignorado. A iniciação alternativa de
de ligação à carga para levar à membrana do peroxisso tradução leva a duas formas de fumarase no fígado de
mo para encaixe, translocação, e liberação na matriz. rato; uma inclui uma sequência de direcionamento mito
Um nonapeptídeo N-terminal também funciona como condrial, enquanto a outra não, e permanece no citosol.
246 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

6.6 MAIS MODIFICAÇÕES PÓS Aminoácidos Podem Ser Modificados


TRADUÇÃO após Incorporação a Proteínas
Embora 20 aminoácidos sejam codificados genetica
Eventos adicionais de maturação podem modificar
mente, a modificação pós-tradução permite a formação
proteínas para gerar suas formas finais, funcionais.
Alguns são muito comuns, enquanto outros são muito de muitos aminoácidos derivados em proteínas. A mo
dificação pode ser permanente ou facilmente reversí
restritos. Muitas modificações reversíveis regulam a ati
vel. Embora o número de aminoácidos modificados em
vidade da proteína. uma proteína possa ser pequeno, eles frequentemente
desempenham um importante papel em sua função.
Proteólise Parcial Libera Insulina e Aminoácidos modificados em proteínas são apresenta
dos na Tabela 6.11. Exemplos importantes incluem:
Ativa Zimogênios
• Modificação amino-terminal: a síntese proteica
Proteólise parcial é uma etapa de maturação co é iniciada usando metionina, mas proteólise fre
mum. Sequências podem ser removidas de qualquer quentemente remove um ou vários resíduos ami
extremidade ou do meio de uma proteína. Proteólise no no-terminais. O novo amino-terminal é, então, fre
ER e no complexo de Golgi ajuda a maturar o hormônio quentemente alterado, por acetilação, por exemplo.
proteico insulina (Figura 6.19). A pré-pró-insulina co As subunidades a de proteínas G de transdução de
dificada pelo mRNA é inserida no lúmen do ER. A pepti sinal (p. 540) são derivatizadas com ácido mirís
dase sinal cliva o peptídeo sinal para gerar pró-insulina, tico ou palmítico. A glutamina amino-terminal
que se dobra para formar as ligações
Peptídeo C
dissulfeto corretas. A pró-insulina é
transportada para o complexo de Gol
LEUPROGLNLEUSERGLYALA50GLYPROGLYGLYGLYLEUALAGLU
gi, onde é acondicionada em grânu
los secretórios. Um peptídeo interno
de conexão (peptídeo C) é removido LEU VAL
por proteólise, e a insulina madura é GLN
GLU GLY
secretada. Na hiperpró-insulinemia 40
GLY VAL
familiar, o processamento é incomple 60
GLN
to (Correlação Clínica 6.11). A via da SER
LEU
biossíntese de insulina garante a pro LEU
ASP
dução de quantidades iguais das ca
GLN GLU
deias A e B. Além disso, a pró-insulina
se dobra em uma conformação na qual LYS ALA
os resíduos de cisteína são posiciona ARG GLU
dos para a formação correta das pon 1 Cadeia A
2 ARG
GLY
tes dissulfeto. Pró-insulina reduzida S S
ILE ARG
e desnaturada pode dobrar outra vez
corretamente, enquanto a renaturação VAL 30 THR
80 ASN COO–
da insulina reduzida e desnaturada é GLUGLNCYSCYSTHRSERILECYSSERLEUTYRGLNLEUGLUASNTYRCYS LYS
ineficiente e leva a ligações dissulfeto PRO
incorretas. 70S S THR

soras
de A é um meio
clivagem
enzimas. decomum
proteínas
Proteases de ativação
precur-
digestivas são S
Cadeia B
S TYR
PHE
LEUCYSGLYSERHIS
10 LEUVAL GLUALALEUTYRLEUVAL CYS PHE
mento
a
sores
cionados
exemplos
secreção.
zimogênios
e ativados
em
clássicos
Assim,
grânulos
inativos
por
(p.
o tripsinogênio
proteólise
1058).
de são
armazena-
Precur-
acondi-
após
é GLY GLY
HIS
GLUARG
ASN
GLN 20

VAL

clivado
xapeptídeo dar tripsina maise um
paraamino-terminal, o qui
he- 1 PHE

NH+3
motripsinogênio é clivado para formar
quimotripsina e dois peptídeos (p. FIGURA6.19 Maturação da pró-insulina humana.
1069). Após clivagem nos dois pontos indicados por setas, resíduos de arginina 31, 32 e 65 e
resíduo de lisina 64 são removidos para produzir insulina e peptídeo C.
Redesenhado de Bell, G. I., Swain, W. F., Pictet, R., Cordell, B., Goodman, H. M. e
Rutter, W. J. Nature 282:525, 1979.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 247

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.11

Hiperproinsulinemia Familiar (OMIM 176730)

Hiperpró-insulinemia familiar, uma condição au uma carboxipeptidase. Em várias famílias, o defeito


tossômica dominante, resulta em quantidades aproxi é a substituição da Arg65 por His ou Leu, o que im
madamente iguais de insulina e de uma pró-insulina pede a clivagem entre o peptídeo C e a cadeia A da
processada de modo anormal, sendo liberadas na cir insulina, resultando na secreção de uma pró-insulina
culação. Embora os indivíduos afetados tenham altas parcialmente processada. Em uma família, uma muta
concentrações de pró-insulina em seu sangue, eles são ção puntual (His10→Asp10) causa a hiperpró-insuli
aparentemente normais em termos do metabolismo de nemia, mas não se sabe como essa mutação interfere
glicose, não sendo nem diabéticos nem hipoglicêmi com o processamento.
cos. Pensou-se originalmente que o defeito resultasse
de uma deficiência de uma das três proteases que pro Zhou, A., Webb, G., Zhu, X. e Steiner, D. F. Proteolytic pro
cessam a pró-insulina: endopeptidases, que quebram cessing in the secretory pathway. J. Biol. Chem. 274:20745,
as ligações peptídicas Arg31-Arg32 e Lys64-Arg65, e 1999.

cicliza-se espontaneamente com frequência, for quinases muito específicas. Atividade de quinase
mando um resíduo de piroglutamil. O amino-ter é uma propriedade de muitos receptores de fato
minal também pode ser elongado pela adição de res de crescimento nos quais a ligação do fator de
um aminoácido (ver Seção 6.8 sobre degradação crescimento estimula a divisão celular. Oncogenes,
de proteínas). responsáveis em parte pela transformação celular
e proliferação de células tumorais, frequentemente
• Formação de pontes dissulfeto intercadeias ou in
têm atividade de tirosina quinase e mostram forte
tracadeia: catalisada pela dissulfeto isomerase, a
homologia com receptores de fatores de crescimen
formação de dissulfeto pode evitar o desdobramen
to normais. Existem dúzias de outros exemplos;
to de proteínas e sua passagem através de mem
em conjunto, as proteína quinases e as proteína
branas, de modo que também se torna um meio de
fosfatases controlam a atividade de muitas proteí
localização. Como no caso da insulina, pontes dis nas que são centrais para o desenvolvimento celu
sulfeto podem ligar covalentemente polipeptídeos
lar normal e anormal.
separados e podem ser necessárias para função.
• ADP-ribosilação: a toxina diftérica modifica mais
• Modificação de cisteína: a S-palmitoilação ajuda
a diftamida, um resíduo de histidina modifica
interações com a membrana e o tráfego de algumas da (Figura 6.20) do EF2, por ADP-ribosilação. A
proteínas. As subunidades g das proteínas Ghete
atividade do EF2 e, portanto, a síntese proteica,
rotriméricas (p. 544) são modificadas por ligação
são ambas inibidas. ADP-ribosilação fisiológica,
tioéster de um isoprenoide a uma cisteína na, ou não mediada por toxinas bacterianas, geralmente
próxima da, extremidade carboxi-terminal. A defi
envolve modificação reversível de resíduos de ar
ciência múltipla de sulfatases surge de capacidade ginina e cisteína e é importante na sinalização da
reduzida de executar uma modificação pós-tradu
célula e de proteínas regulatórias e de superfície.
ção de cisteína (Correlação Clínica 6.12).
• Formação de g-carboxiglutamato: resíduos de áci
• Modificação de lisina: acetilação e metilação de
do glutâmico em várias proteínas da coagulação do
e-amino grupos de lisinas nas histonas modulam
sangue, incluindo protrombina e fatores VII, IX e X,
suas interações com o DNA. Uma fração da histona
H2A é também modificada por ligação isopeptídi são modificados. O g-carboxiglutamato quela íons
ca do e-amino grupo de uma lisina com a glicina cálcio, que são necessários à coagulação do san
gue (p. 1010). Essa modificação requer vitamina K.
C-terminal da ubiquitina, uma proteína pequena
Ela pode ser bloqueada por derivados da cumarina
com muitas funções regulatórias. Biotina também
(p. 1018), que antagonizam a vitamina K. Os deriva
é ligada a algumas carboxilases por ligações amida
dos cumarínicos são anticoagulantes terapêuticos.
a lisina (p. 799).
• Grupos hidroxila de serina e treonina: além da
glicosilação, fosforilação reversível por proteína Biossíntese de Colágeno Requer
quinases e proteína fosfatases é muito comum e Muitas Modificações Pós-Tradução
funcionalmente importante. Um exemplo clássico
é a fosforilação de um resíduo de serina da glico Os colágenos são as proteínas mais abundantes no
gênio fosforilase pela fosforilase quinase (p. 655). homem. A família do colágeno inclui pelo menos 28
Resíduos de tirosina são fosforilados por tirosina espécies diferentes da proteína predominantemente
248 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

TABELA 6.11 Aminoácidos Modificados em Proteínasa


Aminoácido Modificação Encontrada
Amino-terminal Formilação, acetilação, aminoacilação, miristoilação, glicosilação
Carboxi-terminal Metilação, ADP-ribosilação, formação de âncora de glicosil-fosfatidilinositol
Arginina N-Metilação, ADP-ribosilação
Asparagina N-glicosilação, N-metilação, desamidação
Ácido aspártico Metilação, fosforilação, hidroxilação, isomerização (iso Asp)
Cisteína Formação de cistina, palmitoilação, ligação ao heme, S-glicosilação, prenilação, ADP-ribosila
ção, S-hidroxilação
Ácido glutâmico Metilação, g-carboxilação, ADP-ribosilação, poliglicinação, poliglutamilação
Glutamina Formação de piroglutamato, desamidação, ligação cruzada
Histidina Metilação, fosforilação, formação de diftamida, ADP-ribosilação
Lisina N-Acetilação, N-metilação, hidroxilação, oxidação, ubiquitinação, biotinilação, formação de ali
sina, ligação cruzada
Metionina Formação de sulfóxido
Fenilalanina b-Hidroxilação, glicosilação
Prolina Hidroxilação, glicosilação
Serina Fosforilação, glicosilação, acetilação, formação de a-formilglicina, fosfopanteteinilação
Treonina Fosforilação, glicosilação, metilação
Triptofano b-Hidroxilação, formação de diona, C-manosilação
Tirosina Fosforilação, iodinação, adenilação, sulfonilação, hidroxilação, nitração
Fonte: Krishna, R. G. e Wold, F. Post-translational modification of proteins. Em: A. Meister (Ed.), Advances in Enzymology, Vol. 67, New York: Wiley
Interscience, 1993, pp. 265-298. Walsh, C. T., Gameau-Tsodikova, S. e Gatto, G. J. Protein posttranslational modifications: the chemistry of proteome
diversifications. Angew. Chem. Int. Ed Engl. 44: 7342, 2005.
aA lista não está completa e algumas das modificações são raras. Note que nenhuma modificação de glicina alanina, leucina, isoleucina e valina foi

relatada em proteínas.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.12

Ausência de Modificação Pós-Tradução: Deficiência Múltipla de Sulfatases (OMIM 272200)

A deficiência múltipla de sulfatases é uma rara doença com deficiência múltipla de sulfatases catalisam essa
lisossômica de acúmulo. Os indivíduos afetados desen modificação com eficiência significativamente dimi
volvem-se lentamente e, a partir do segundo ano de nuída, e as sulfatases não-modificadas são catalitica
vida, perdem a capacidade de ficar em pé, sentar ou mente inativas.
falar; deformidades físicas e deficiências neurológicas
se desenvolvem, e é comum a morte antes dos 10 anos Muitas moléculas biológicas são sulfatadas, por
de idade. Há uma severa ausência de todos os tipos de exemplo, glicosaminoglicanos, esteroides e glicolipíde
sulfatases. A degradação de moléculas sulfatadas de os. Sulfatação insuficiente é também responsável por
pende da atividade de várias sulfatases relacionadas, doenças. Por exemplo, sulfatação insuficiente dos glico
a maioria das quais são lisossomais. Deficiências de saminoglicanos condroitim sulfato e queratam sulfato
sulfatases individuais são também conhecidas, e vá (p. 685) de cartilagem resulta em importantes deformi
rias doenças distintas estão ligadas a defeitos de uma dades esqueléticas.
única enzima. Schmidt, B., Selmer, T., Ingendoh, A. e von Figura, K. A
novel amino acid modification in sulfatases that is deficient
A deficiência múltipla de sulfatases surge de um de in multiple sulfatase deficiency. Cell 82:271, 1995; e Dierks,
feito em uma modificação pós-tradução que é comum T., Schmidt, B., Borissenko, L. V., Peng, J. et al. Multiple sul
a todas as enzimas sulfatases. Em todos os casos, um fatase deficiency is caused by mutations in the gene encoding
resíduo de cisteína da enzima é normalmente conver the human C-formylglycine generating enzyme. Cell 113:435,
tido em Ca-formilglicina. Fibroblastos de indivíduos 2003.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 249

O O uma molécula de colágeno tem três cadeias-α enrola


das em uma tripla hélice, na qual resíduos de glicina
CO– CO–
CH
+
ocupam o centro da estrutura (p. 109).
H3N
+ H3N CH

CH2 CH2 Formação de Pró-Colágeno no Retículo


Endoplasmático e no Complexo de Golgi
HN N HN N
A síntese das cadeias-α do colágeno começa no ci
tosol. Sequências sinal amino-terminais ligam partícu
CH2 las de reconhecimento de sinal e formas precursoras,
designadas, por exemplo, por pré-pró-α1(I), são trans
CH
+ CH3 feridas para o lúmen do ER. Hidroxilação de resíduos
HC 2 NCH3 de prolina e lisina tecido-específica ocorre concomitan
CO CH3 O temente com a tradução, antes da montagem da tripla
CO
hélice. A prolil 4-hidroxilase requer uma sequência -X
NH2 H3 -Pro-Gly- (portanto, 4-hidroxiprolina só é encontrada
N+CH em posições Y da sequência -Gly-X-Y-). A prolil 3-hidro
O− CH2 xilase modifica um número menor de resíduos de proli
na, e a lisil hidroxilase modifica alguns dos resíduos de
O
POCH2O N lisina da posição Y. Essas hidroxilases requerem Fe2+ e
ácido ascórbico (vitamina C). A hidroxilação da prolina
N
estabiliza o colágeno, enquanto a hidroxilação da lisi
CH2 na fornece sítios para ligações cruzadas intercadeias e
O OH OH CH2 CH3 para glicosilação por glicosiltransferases específicas do
CH3
ER. A extensão das modificações depende do tipo espe
NH2 N HCN
CO +
cífico de cadeia-α e de célula na qual ela ocorre.
CH3
N N –
A organização da tripla hélice mediada por chape
O− N NH2 rones ocorre depois de as cadeias polipeptídicas terem
sido completadas, e os peptídeos sinal são clivados. Os
P O CH2
domínios carboxi-terminais globulares dobram e pontes
O
O dissulfeto são formadas entre elas. Isso inicia o enrola
mento da tripla hélice a partir da extremidade carboxi-,
OH OH em direção à amino-terminal. A tripla hélice completa,
ADP-ribose com domínios globulares da pró-proteína nas duas extre
midades, vai para o complexo de Golgi onde oligossaca
FIGURA6.20 Diftamida (esquerda superior) é uma
modificação pós-tradução de um resíduo específico de
rídeos são processados e maturados. Às vezes, resíduos
histidina (direita superior) em EF2. ADP-ribosil-diftamida de tirosina são modificados por sulfatação e algumas se
é mostrada na parte inferior. rinas são fosforiladas. O pró-colágeno completo é, então,
liberado pela célula via vesículas secretórias.

fibrosa que fornece o arcabouço estrutural para teci Maturação de Colágeno


dos e órgãos, e proteínas adicionais tipo-colágeno com
partilham características estruturais. Os colágenos A conversão do pró-colágeno em colágeno ocorre no
sofrem muitas modificações pós-tradução que ilustram meio extracelular. Nos colágenos em forma de fibrila
a complexidade desses processos, seus efeitos sobre (por exemplo, tipo I) os pró-peptídeos amino- e carbo
estrutura e função, e defeitos nessas modificações que xi-terminais são clivados por proteases separadas, en
resultam em doenças graves. Diferentes colágenos, de quanto os pró-peptídeos carboxi-terminais são retidos
signados por Tipos I, II, III, IV, e assim por diante (ver em colágenos que formam redes (por exemplo, tipo IV).
p. 109 para detalhes de estrutura) são codificados em Ao mesmo tempo, as triplas hélices organizam-se em
vários cromossomos e expressos em diferentes tecidos. fibrilas por agregação extremidade-com-extremidade
Suas sequências de aminoácidos diferem, mas uma se e lado-a-lado, e o colágeno é estabilizado por muitas
quência repetitiva Gly-X-Y, com cerca de 1.000 resíduos, ligações cruzadas. Lisil oxidase converte algumas li
predomina. Todo terceiro resíduo é uma glicina, cerca sinas ou hidroxilisinas nos aldeídos reativos alisina ou
de um terço das posições X é ocupado por prolina, e um hidroxialisina. Esses resíduos condensam-se uns com
número semelhante de posições Y é 4-hidroxiprolina, os outros ou com resíduos de lisina ou hidroxilisina de
uma forma modificada pós-tradução de prolina. Resídu cadeias adjacentes para formar bases de Schiff e liga
os de prolina e hidroxiprolina conferem rigidez à estru ções cruzadas aldol. Reações menos caracterizadas
tura em hélice tipo II de poliprolina (Figura 6.21). Cada podem envolver outros resíduos, incluindo histidina, e
polipeptídeo do colágeno é chamado uma cadeia-α; podem ligar três cadeias-α. Defeitos em muitas dessas
250 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

trientes, choque térmico e infecção


Fibrila viral, eIF2 é fosforilado. Ele perma
nece funcional, mas eIF2-GDP fos
forilado liga-se muito fortemente a
eIF2B, o fator de troca de nucleotí
deo de guanina. O eIF2B está pre
Zona de sobreposição Zona de falha
sente em quantidades limitantes e
fica não-disponível para troca de
Microfibrila, nucleotídeo; assim, não há eIF2
organização -GTP disponível para iniciação.
de molúculas
Paradoxalmente, eIF2 fosforilado
estimula a tradução de um fator de
transcrição que autoregula a res
posta de genes ao estresse.
Molécula com
300 nm de A fosforilação de eIF2 pode ser
comprimento catalisada por uma quinase regula
da por heme que é ativa na ausência
de heme. Essa quinase está presen
α-2
te em muitas células, mas foi mais
Tripla hélice bem estudada em reticulócitos
a direitapara
girando
α-1 que sintetizam hemoglobina. Uma
α-1 deficiência no suprimento energé
tico ou de qualquer precursor do
heme ativa a quinase. Uma quina
se dependente de RNA dupla-fita
Hidroxiprolina relacionada é ativada por ligação
Gly de ds-RNA que resulta de infecção
Sequência típica de viral. A produção dessa quinase é
hélice do colágeno X Y
também induzida por interferon.
Y X
girando para a esquerda
(α -1 e α -2) Pro Pro
Diferentemente, o fator de ini
ciação eIF4E é ativado por fosfori
FIGURA6.21 Estrutura do colágeno, ilustrando (de baixo para cima) a
regularidade da sequência primária em uma hélice tipo II de poliprolina que gira
lação de um resíduo de serina em
para a esquerda; a tripla hélice que gira para a direita; a molécula de 300 nm; e resposta a, por exemplo, a fatores
a organização das moléculas em uma fibrila típica, dentro da qual moléculas de de crescimento. A fosforilação in
colágeno são unidas por ligações cruzadas. terfere com a ligação de proteínas
inibitórias que se ligam a eIF4E.
Segue-se a reversão por uma proteína fosfatase, por
etapas são conhecidos e alguns dos mais bem carac
exemplo, infecção viral. Esses efeitos são mediados por
terizados são apresentados na Tabela 6.12 e descritos
na Correlação Clínica 6.13. eIF4G, que também é ativado por fosforilação.

A regulação da tradução de mRNAs específicos é im


portante na regulação da quantidade e do equilíbrio de
6.7 REGULAÇÃO DA proteínas em uma célula. A localização e o acondiciona
mento de mRNAs permite que mensagens específicasse
TRADUÇÃO jam traduzidas onde são necessárias ou o armazemanto
do mRNA para utilização futura. A localização no inte
A quantidade de proteínas em células é regulada em
rior da célula depende de sequências no RNA denomi
níveis de transcrição, tradução e degradação. A regula
ção da tradução pode ser global, influenciando a síntese nadas elementos de direcionamento (ou zip codes ou
elementos de localização), que interagem com proteínas
de proteínas em geral, ou pode ser muito mais específi
ca para proteínas individuais ou grupo de proteínas. Os de ligação ao RNA que concentram os mRNAs em um
local subcelular. Às vezes as mensagens são acondicio
mecanismos mais eficientes e comuns para regulação
da tradução estão no estágio de iniciação, e a fosforila nadas em grânulos de armazenamento durante o desen
volvimento ou dentro de corpos P: agregados de mRNAs
ção de fatores de iniciação pode servir, dependendo das
cuja tradução foi reprimida, proteínas reguladoras e en
circunstâncias, para suprimir ou estimular a tradução.
zimas do decaimento de mRNA. Esses mRNAs podem
O mecanismo mais conhecido de regulação geral da ser degradados, mas também podem ser armazenados e
tradução envolve a fosforilação reversível da serina 51 da retornar ao citoplasma para tradução. Corpos Pajudam a
subunidade α de eIF2. Em condições como falta de nu reprogramar a tradução em momentos de estresse.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 251

TABELA 6.12 Doenças Selecionadas na Biossíntese e na Estrutura do Colágeno

Doença Defeito no Colágeno Manifestação Clínica


Osteogênese Síntese diminuída do tipo I Fraturas de ossos longos antes da puberdade
imperfecta 1
Osteogênese Mutação puntual e rearranjo de exons em Letalidade perinatal; ossos malformados, moles
imperfecta 2 regiões de tripla hélice e frágeis
Ehlers-Danlos IV Secreção diminuída, degradação prematura Pele translúcida, susceptibilidade a ferimentos,
do tipo III ruptura arterial e do cólon
Ehlers-Danlos VI Hidroxilisina diminuída nos tipos I e III Pele hiperextensível, articulações hipermóveis
Ehlers-Danlos VII Acúmulo de pró-colágeno tipo I: o pró Articulações hipermóveis e deslocamentos
peptídeo N-terminal não é clivado
Cutis laxa Hidroxilisina diminuída em decorrência da Pele flácida, mole; formação de chifre occipital
(síndrome do má distribuição de Cu em adolescentes
chifre occipital)
Escorbuto Hidroxiprolina diminuída por causa da Crescimento ósseo diminuído, deficiência em
deficiência de ácido ascórbico cicatrização, machuca com gravidade

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.13

Defeitos na Síntese de Colágeno


Osteogenesis Imperfecta (OMIM 166210) Síndrome de Ehlers-Danlos, Tipo IV (OMIM 130050)

Osteogenesis imperfecta é um grupo de pelo A síndrome de Ehlers-Danlos é um grupo de, pelo


menos sete doenças clínica, genética, ou bioquimi menos, 10 doenças que são clínica, genética e bioqui
camente distintas, caracterizadas por fragilidade micamente distintas, mas que compartilham manifes
óssea, deformidades e diminuição de massa óssea. tações de fragilidade estrutural no tecido conjuntivo.
Diversas variantes resultam de mutações que pro Os problemas comuns são fragilidade e hiper-extensi
duzem cadeias α(I) modificadas, e o efeito sobre a bilidade da pele e hipermotilidade das articulações. A
gravidade dos sintomas varia muito. No exemplo mais síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV é causada por defei
claro, uma mutação por deleção causa ausência de 84 tos no colágeno tipo III (p. 109), que é particularmen
aminoácidos na cadeia α1(I). As cadeias α1(I) mais te importante na pele, nas artérias e nos órgãos ocos.
curtas associam-se com cadeias α1(I) e α2(I) nor As características incluem pele fina, translúcida, pela
mais e impedem a formação da tripla-hélice normal qual as veias podem ser vistas facilmente, ferimentos
de colágeno, resultando na degradação de todas as marcantes e, às vezes, aparência de envelhecimento
nas mãos e na pele. Os problemas clínicos surgem de
cadeias. Três-quartos de todas as moléculas de co
ruptura arterial, perfuração intestinal e ruptura do
lágeno formadas têm pelo menos uma cadeia α1(I)
útero durante a gravidez ou o parto. O reparo cirúr
defectiva. Outras formas de osteogênese imperfecta
gico é difícil, em virtude da fragilidade do tecido. Os
resultam de mutações puntuais que substituem uma defeitos no Ehlers-Danlos tipo IV surgem de modifi
glicina por outro aminoácido. Como a glicina tem de
se encaixar no interior da tripla hélice do colágeno, cações na estrutura das cadeias tipo III, em decorrên
essas substituições desestabilizam a hélice. cia de mutações puntuais que substituem resíduos de
glicina e interrompem a tripla hélice do colágeno, e
da remoção de éxons, o que encurta o polipeptídeo e
Cheung, M. S., e Glorieux, F. H. Osteogenesis imperfect:
pode resultar em secreção ineficiente, estabilidade di
update on presentation and manegment. Rev. Endocr. Me
minuída do colágeno, e formação anormal de fibrilas
tab. Disord. 9:153, 2008; e Barsh, G. S., Roush, C. L., Bonadio,
de colágeno tipo III. Em alguns casos, colágeno tipo
III acumula-se no ER rugoso e é degradado muito len
J., Byers, P. H. e Gelinas, R. E. Intron mediated recombination
causes an α(I) collagen deletion in a lethal form of osteoge tamente.
nesis imperfecta. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 82:2870, 1985.
Germain, D. P., Ehlers-Danlos syndrome type IV. Orpha
net. J. Rare Dis. 2:32, 2007; e Superti-Furga, A., Gugler, E.,
Gitzelmann, R. e Steinmann, B. Ehlers-Danlos syndrome
type IV: a multi-exon delection in one of the two COL3A1 al
leles affecting structure, stability, and processing of type III
procollagen. J. Biol. Chem. 263:6226, 1988.
252 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Correlação Clínica 6.13 (continuação)


Deficiência de Lisil Hidroxilase (OMIM 225400) Síndrome do Chifre Ocipital (OMIM 304150)

Na síndrome de Ehlers-Danlos tipo VI, a lisil hi A síndrome do chifre occipital é também conheci
droxilase está deficiente. Pelo menos 20 mutações da como síndrome de Ehlers-Danlos tipo IX ou cutis
diferentes são conhecidas, resultando em colágenos laxa (elastose cutânea), e está associada com a sín
tipos I e III (p. 109) com conteúdo diminuído de hi drome de Menkes do cabelo encarapinhado. Defeitos
droxilisina e, consequentemente, ligações cruzadas em um gene que codifica uma ATPase do trans-Golgi
menos estável entre as fibrilas de colágeno. Algumas transportadora de cobre está por trás dessas doenças,
ligações cruzadas entre lisina e alisina ocorrem, mas que aparecem como uma deficiência na atividade da
não são tão estáveis e não amadurecem tão bem como lisil oxidase cobre-dependente e, consequentemente,
ligações cruzadas contendo hidroxilisina. Hidroxilisi
na é também sítio de glicosilação, mas a função dessa em defeitos nas ligações cruzadas do colágeno. As ca
racterísticas da síndrome do chifre occipital incluem
modificação não está clara. As características clínicas
pele flácida e mole e o aparecimento, durante a ado
incluem acentuada hiper-extensibilidade da pele e das
lescência, de chifres ósseos occipitais. Na síndrome
articulações, cicatrização deficiente de feridas e defor
de Menkes do cabelo encarapinhado, uma doença va
midades músculo-esqueléticas. Alguns pacientes têm
uma forma mutante de lisil hidroxilase com uma cons riável, mas frequentemente mais grave, os pacientes
tande de Michaelis para ácido ascórbico mais alta do apresentam problemas neurológicos como convulsões
que a enzima normal. Consequentemente, respondem e retardo no desenvolvimento, incapacidade de se de
a altas doses de ácido ascórbico. senvolverem, cabelo característico e, às vezes, morte
na infância ou quando ainda bebês. Uma mulher que
estava tomando altas doses de uma droga quelante de
Pinnell, S. R., Krane, S. M., Kenzora, J. E. e Glimcher, M. cobre, penicilamina, deu à luz uma criança com uma
J. A heritable disorder of connective tissue: hydrozylysine síndrome tipo-Ehlers-Danlos adquirida que, subse
-deficient colagen disease. N. Engl. J. Med. 286:1013, 1972; quentemente, melhorou. Os efeitos colaterais da tera
e Yeowell, H. N., e Walker, L. C. Mutations in the lysyl hydro
pia com penicilamina incluem cicatrização deficiente
xylase 1 gene that result in enzymatic deficiency and the
clinical phenotype of Ehlers-Danlos syndrome type VI. Mol. e pele hiper-extensível. Animais deficientes em cobre
Gen. Metab. 71:212, 2000. também apresentam ligações cruzadas deficientes na
elastina e no colágeno, novamente em virtude da ne
cessidade de íons cuproso para a lisil oxidase.

Kaler, S. G. Metabolic and molecular bases of Menkes di


Síndrome de Ehlers-Danlos, Tipo VII (OMIM 225410)
sease and occipital horn syndrome. Pedriatr. Dev. Pathol.
1:85, 1998; e Peltonen, L., Kuivaniemi, H., Palotie, H., Horn,
Nessa condição a pele sofre lesões facilmente e é
N. et al. Alterations of copper and collagen metabolism in the
hiper-extensível, mas as principais manifestações são Menke’s syndrome and a new subtype of Ehlers-Danlos syn
deslocamentos de articulações importantes, como drome. Biochemistry 22:6156, 1983.
quadris e joelhos. A flacidez dos ligamentos pode ser
causada pela remoção incompleta de pró-peptídeos
amino-terminais das cadeias de pró-colágeno. Uma
variante resulta de deficiência da pró-colágeno N Escorbuto e Síntese de Hidroxiprolina
-protease conhecida como ADAMTS2. Uma deficiência
semelhante ocorre na doença autossômica recessi A maioria dos animais, mas não o homem, pode
va chamada dermatoparaxis de gado bovino, ovino e sintetizar ácido ascórbico (vitamina C). O escorbuto
de gatos, na qual a fragilidade da pele é tão extrema é historicamente relacionado com longas viagens ma
que chega a ser letal. Em outras variantes, as cadeias rítimas e deficiência de vitamina C em decorrência da
proα1(I) e proα2(I) não têm os aminoácidos do ponto ausência de frutas e vegetais frescos. As manifesta
de clivagem por causa da remoção de um éxon dos ge ções clínicas incluem cicatrização deficiente de feri
nes. Isso impede a clivagem normal pela procolágeno das, fragilidade capilar aumentada e esfolados graves,
N-protease. sangramento gengival, e supressão do processo orde
nado de crescimento ósseo em crianças. Entre outros
Cole, W. G., Chan, W., Chambers, G.W., Walker, I. D. e Bate problemas, a deficiência de ácido ascórbico causa sín
man, J. F. Deletion of 24 amino acids from the proα1(I) chain tese diminuída de hidroxiprolina porque a prolil hi
of type I procollagen in a patient with the Ehlers-Danlos syn droxilase requer ácido ascórbico. A hidroxiprolina for
drome type VII. J. Biol. Chem. 261:5496, 1986; e Tang, B. L. nece átomos para pontes de hidrogênio adicionais, que
ADAMTS: A novel family of extracellular matrix proteases. estabilizam a tripla hélice do colágeno. Colágeno con
Int. J. Biochem. Cell Biol. 33:33, 2001. tendo hidroxiprolina insuficiente é significativamente
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 253

Correlação Clínica 6.13 (continuação)


menos estável do que o colágeno normal à temperatu Peterofsky, B. Ascorbate requirement for hydroxylation
ra corporal. Deficiência grave de ácido ascórbico leva, and secretion of pro-collagen: relationship to inhibition of
secundariamente, a uma taxa reduzida de síntese de collagen synthesis in scurvy. Am. J. Clin. Med. 54:1135S,
procolágeno. 1991; e Olmedo, J. M., Yiannias, J. A., Windgassen, E. B., e
Gornet, M. K. Scurvy: A disease almost forgotten. Int. J. Der
matol. 45:909, 2006.

Um exemplo claro de regulação mensagem-especí mRNA alvo por uma endonuclease RISC chamada sli
fica é a síntese da proteína que se liga a ferro ferritina. cer e outras nucleases que degradam o mRNA.
Em ausência de ferro, uma proteína repressora liga-se
ao elemento de resposta ao ferro (IRE), uma estrutura Várias outras classes de RNA pequeno foram identi
em haste-alça da sequência líder 5! do mRNA da ferriti ficadas. Os RNAs pequenos de interferência (siRNAs)
na (p. 1116). Esse mRNA é sequestrado para uso futuro. são gerados a partir do RNA dupla-fita; eles podem ser
A ácido d-aminolevulínico sintase, uma enzima da bios endógenos ou derivados de vírus e funcionam como o
síntese do heme, também é regulada por um 5!-IRE no miRNA. Outras classes são transcritas a partir de se
seu mRNA. Diferentemente, mais receptor de ferritina quências repetitivas do DNA, derivadas de transcritos
é necessário se o ferro estiver limitado; seu mRNA tem fita-simples, e podem ser maiores do que os miRNAs. O
IREs em sua região 3! não traduzida. A ligação da pro RNAi de interferência sintetizado quimicamente mime
tiza o miRNA e é uma ferramenta laboratorial valiosa e
teína repressora estabiliza o mRNA e prolonga seu tem um potente agente terapêutico.
po de vida. Muitos mRNAs regulados por crescimento,
incluindo os de proteínas ribossômicas, têm uma sequ-
ência de polipirimidinas em sua sequência líder. Uma
proteína que se liga a polipirimidinas ajuda a regular 6.8 DEGRADAÇÃO E TURNOVER
sua tradução. DE PROTEÍNAS
Além de seu papel na transferência de informa Os tempos de vida das proteínas variam muito. As
ção (mRNA) e tradução (tRNA, rRNA), o RNA é mui células do cristalino não são substituídas e suas proteí
to importante na regulação da expressão gênica em nas não são recicladas. A hemoglobina dura os 120 dias
múltiplas funções biológicas, geralmente de maneira de vida do eritrócito. Algumas proteínas da coagulação
tecido específica. Várias classes de pequenos RNAs se do sangue sobrevivem apenas alguns dias, de modo que
ligam a grupos específicos de proteínas e interagem os hemofílicos só estão protegidos por um curto período
com o mRNA para regular a transcrição e a tradução após transfusão ou injeção de fatores necessários. Os dia
em processos denominados silenciamento do RNA e béticos requerem injeções frequentes de insulina, uma
interferência com RNA. No homem, existem quase vez que o hormônio precisa variar (ver Correlação Clínica
500 genes diferentes de micro-RNAs (miRNA). RNAs 21.8, p. 893). As enzimas metabólicas variam quantita
maiores em “grampo” são processados no núcleo por tivamente, dependendo da necessidade ou de mudança
uma nuclease Drosha e, em seguida, por uma endonu na situação; por exemplo, a concentração de enzimas do
clease citoplasmática chamada Dicer, para gerar RNAs ciclo da ureia muda em resposta à dieta. As proteínas
dupla-fita com 21-23 nucleotídeos de comprimento. também são danificadas por oxidação, proteólise, des
Uma RNA helicase separa as fitas, uma das quais é li naturação ou outras modificações irreversíveis. Erros de
gada por um complexo silenciador induzido por RNA tradução e dobramento levam a proteínas não-funcionais,
(RISC), cujo componente central é uma proteína Ar e o processamento proteolítico gera peptídeos não-fun
gonauta. O RISC guia o miRNA para sequências com cionais, como o peptídeo-C da pró-insulina. Mecanismos
plementares no mRNA, geralmente na região 3!-não de descarte são necessários; a proteólise reduz as pro
traduzida. A formação de um duplex mRNA-miRNA teínas indesejadas a peptídeos e, eventualmente, a ami
imperfeito reprime a tradução, mas não afeta imedia noácidos. A maioria desses aminoácidos é reciclada para
tamente a estabilidade do mRNA. A interação coope sintetizar novas proteínas, mas alguns são metabolizados
rativa de múltiplos miRNAs com um mRNA aumenta e seus produtos de degradação são excretados. Proteases
a eficiência de inibição. Os complexos miRNAmRNA digestivas, como pepsina, tripsina, quimotripsina e elas
podem ser direcionados para os corpos P citoplas tase, hidrolisam proteínas da dieta e não participam da
máticos para armazenamento ou degradação. Dicer e reciclagem intracelular de proteínas, mas os aminoácidos
RISC também geram duplexes perfeitamente comple que geram contribuem para a reserva metabólica usada
mentares de moléculas pequenas de RNA com mRNA. na tradução. Isso é particularmente necessário para ami
Esses complexos resultam na clivagem e inativação do noácidos essenciais (ver Tabela 19.1, p. 774).
254 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Proteólise Dependente de ATP celular. A destruição dependente de ubiquitina de uma


ciclina permite que células passem da fase M para a G1,
Ocorre em Proteassomos enquanto a degradação de receptores impede a transdu
ção de sinal e para a proliferação celular. Outras proteí
Uma via proteolítica mais bem descrita usa pro
nas degradadas por proteólise dependente de ubiquitina
teassomos, estruturas em forma de halteres que con
incluem fatores de transcrição, o supressor de tumor p53
têm cerca de 28 polipeptídeos (Figura 6.22). Um cerne
e outras oncoproteínas, proteína quinases, e receptores
cilíndrico é tampado em ambas as extremidades por
do sistema imune e outros de superfície celular.
complexos em forma de V que ajudam a reconhecer e
desdobrar polipeptídeos e transportá-los para o cerne
proteolítico, em um mecanismo que depende de ATP.
O direcionamento para proteassomos normalmente
requer ubiquitina, uma proteína muito conservada de
76 aminoácidos. As proteínas são marcadas para de
gradação por poliubiquitinação, como mostrado na Fi
gura 6.23. A ubiquitina é ativada pela enzima E1 para
formar um tioéster; ATP é necessário e um comple
xo transitório AMP-ubiquitina se forma. A ubiquitina
é, então, passada para enzima E2 e, finalmente, via
um grupo de complexos multiproteicos E3, para uma
proteína alvo. A ligação da ubiquitina ocorre por liga
ções isopeptídicas entre e-amino grupos de resíduos
de lisina da proteína e o resíduo de glicina carboxi
-terminal da ubiquitina. Várias moléculas de ubiquiti
na são ligadas à proteína e uma à outra, e a proteína
poliubiquitinilada é levada aos proteassomos e degra
dada; uma isopeptidase libera ubiquitina intacta para
ser reutilizada. Proteínas danificadas, defeituosas,
dobradas incorretamente e mutadas são rapidamente
degradadas pela via da ubiquitina, e o acúmulo de pro
teínas não degradadas pode levar a doenças (Correla FIGURA6.22 Modelo de proteassomo.
ção Clínica 6.14). Por exemplo, a deleção de um ami Um segmento central 20S que inclui 12-15 polipeptídeos dife
noácido altera a estabilidade da proteína CFTR (ver rentes é composto por quatro anéis heptaméricos empilhados,
Correlação Clínica 6.7) na fibrose cística. A seleção de com um cerne oco que inclui várias proteases com especifici
proteínas nativas para degradação depende da espe dades diferentes. Segmentos em forma de V em ambas as ex
cificidade da enzima E3; tanto a conformação como tremidades fecham o cilindro e agem no reconhecimento de
substrato ATP-dependente, no desdobramento e na translo
a sequência de aminoácidos são importantes. Sequên
cias desestabilizadoras PEST (ricas em Pro, Glu, Ser cação para dentro do cerne. A estrutura da tampa superior é
mostrada deslocada do segmento central para ilustrar o cerne
e Thr) ocorrem em várias proteínas de vida curta, e oco do cilindro.
um motivo de interação com ubiquitina, que liga ubi Adaptado de Rubin, D., e Finley, D. Cur. Biol. 5:854, 1995; e
quitina e às vezes também promove poliubiquitinação, Peters, J.-M. Trends Biochem. Sci. 19:377, 1994.
foi identificado. Outro determinante é a identidade do
aminoácido amino-terminal. De acordo com a regra do
N-terminal, proteínas com resíduos amino-terminais
diferentes são degradadas a velocidades muito dife A poliubiquitinação é necessária para sinalizar pro
rentes, e o tempo de vida de uma proteína pode ser teólise; por exemplo, a poliubiquitinil-p53 é degradada,
modificado pela incorporação de um resíduo N-termi enquanto a monoubiquitinil-p53 é direcionada para ex
nal desestabilizante, a partir de um aminoacil-tRNA portação do núcleo. Defeitos na proteólise dependente
doador. Proteínas dobradas erroneamente no ER são de ubiquitina levam a doença (Correlação Clínica 6.15).
geralmente degradadas pela via da ubiquitina. Chape Outros papéis da ubiquitina estão descritos em Um
rones e lectinas do ER impedem a agregação de glico Olhar Mais Atento 6.4.
proteínas N-ligadas dobradas erroneamente e as dire
cionam para retrotranslocação, de volta para o citosol, Como proteassomos, as proteases procarióticas
em um processo denominado ERAD (ER-associated complexas Lon e Clp e FtsH requerem hidrólise de ATP
para sua ação, mas ubiquitina está ausente em proca
degradation, degradação associada ao ER).
riotos. Essas proteases também estão organizadas em
A proteólise dependente de ubiquitina desempenha estruturas em forma de barril e a ATPase energiza o
um papel importante na regulação de eventos celulares. desdobramento da proteína substrato. Uma regra do N
Ciclinas (p. 1039) e receptores proteínas tirosina qui -terminal aplica-se a um número reduzido de aminoáci
nases (p. 529) estão envolvidos no controle da divisão dos N-terminais desestabilizantes.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 255

O
Digestão Intracelular de Algumas
Etapa 1a PPi UB C OH
Proteínas Ocorre em Lisossomos
ATP
A digestão intracelular de proteínas provenientes
do ambiente extracelular ocorre dentro de lisosso E1SH

mos, ricos em proteases. O material que não permeia a


membrana plasmática é importado por endocitose. Na O
pinocitose, partículas grandes, agregados moleculares
UB C
E2SH
AMP • E1
ou outros materiais no fluido extracelular são engolfa
dos. Macrófagos ingerem bactérias e células mortas por Etapa 1b
esse mecanismo. A endocitose mediada por receptor
usa receptores de superfície celular para ligar molécu
las específicas em depressões da superfície celular que O
são encapados pela proteína multi-subunidades clatri
na. Invaginação da membrana plasmática e dos recep UBC SE1
Etapa 2
tores ligados a ligante forma vesículas intracelulares
encapadas com clatrina, sendo que um destino delas é E1
a fusão com um lisossomo e degradação do conteúdo.
A reciclagem de proteínas intracelulares pode também
ocorrer dentro de lisossomos, e, em certas condições, O
quantidades significativas de material celular podem UBC S E2
ser degradadas por lisossomos. Por exemplo, a carência Etapa 3
de soro para fibroblastos ou o jejum de ratos leva à de E3• PROTEÍNA
gradação lisossomal de uma subpopulação de proteínas E2

celulares. O reconhecimento de uma sequência peptídi


ca específica está envolvido, novamente indicando que
O
o tempo de vida de uma proteína é, em última instância,
codificado em sua sequência. UBC OH UB CN PROTEÍNA
COMPLEXO
Etapa 4
O ATP

Outros Sistemas Proteolíticos PROTEASE


AMP
A apoptose (p. 1034), também chamada morte ce
lular programada, acontece por ativação proteolítica de
proteases conhecidas como caspases (cisteína aspartil PEPTÍDEOS
proteases). Estresses como inflamação, dano celular ou
FIGURA6.23 Degradação de proteínas dependente de
deficiência de fatores de crescimento podem ativar dire
ATP e ubiquitina.
tamente as caspases ou levar as mitocôndrias a liberarem A ubiquitina é ativada por uma reação de duas etapas envol
citocromo c e outros fatores que ativam uma cascata de vendo formação de um anidrido misto transitório de AMP e a
caspases e resultam na rápida degradação de proteínas extremidade carboxi-terminal da ubiquitina (etapa 1a), segui
celulares. Uma caspase do ER age na apoptose induzida da por geração de um tioéster com enzima E1 (etapa 1b). A
por estresse no ER, enquanto outras proteases do Gol enzima E2 forma um tioéster com ubiquitina (etapa 2) e serve
gi e ER degradam proteínas dobradas erroneamente e de doador em transferência de ubiquitina para uma proteína
fragmentos peptídicos que surgem durante a maturação alvo catalisada por E3 (etapa 3). Várias outras moléculas de
de proteínas na via secretória. Proteínas são também ex ubiquitina são ligadas a resíduos de lisina de ubiquitina e/ou
outras lisinas da proteína alvo nesse estágio. Proteína poliu
portadas do ER para degradação por proteassomos.
biquitinilada é degradada por proteólise dependente de ATP
Tiol proteases depententes de cálcio, também chama (etapa 4); a ubiquitina não é degradada, e pode reentrar no
processo na Etapa 1.
das calpaínas, estão presentes na maioria das células e
funcionam, por exemplo, em proliferação, diferenciação
e progressão pelo ciclo celular por proteólise seletiva e
limitada. As calpaínas também funcionam com proteas
somos na reciclagem de proteínas, e outras funções são
indicadas, porém menos estabelecidas. Parece que a de
gradação de proteínas é um processo tão complexo e im
portante quanto a biossíntese de proteínas.
256 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.14

Enovelamento Errado de Proteína e Agregação: Doença de Huntington e Doença de Alzheimer


Proteínas com dobramento errado são geralmente teína precursora amiloide maior. Outros componentes
degradadas, como ocorre com a proteína mutante CFTR incluem o gangliosídeo GM1, a proteína Tau associada
na fibrose cística (ver Correlação Clínica 6.7). Várias a microtúbulos, e outros componentes muito ubiqui
doenças neurológicas ilustram o resultado da agregação tinilados, mas protease-resistentes em fibras compac
celular de proteínas dobradas erroneamente ou de seus tadas e entrelaçadas que parecem sobrecarregar a via
produtos de degradação parcial. degradativa do proteassomo. Regulação alterada do
íon cálcio pode estar por trás da morte neuronal.
A doença de Huntington (OMIM 143100) é uma en
fermidade neurodegenerativa autossômica dominante, A esclerose lateral amiotrófica (ALS ou doença de
na qual os pacientes apresentam movimentos espásti Lou Gehrig) é uma doença neurodegenerativa carac
cos em músculos voluntários, mudança de personalida terizada por degeneração progressiva de neurônios
de e disfunção cognitiva; todos se tornam mais graves motores e acúmulo de proteínas ubiquinadas em inclu
com o tempo. A doença de Huntington está associada sões celulares. A superóxido dismutase 1 e a proteína
com o acúmulo de agregados de proteínas derivados da TAR que se liga ao DNA foram ambas identificadas nas
huntingtina, uma proteína primariamente citoplasmá inclusões nas formas familiar e esporádica da doença.
tica. Huntingtina é essencial para o desenvolvimento
embrionário e está envolvida na regulação da trans A doença de Parkinson (ver Correlação Clínica 19.19,
crição, tráfego de vesículas e sinapse; os mecanismos p. 807) também está ligada ao acúmulo de agregados de
não estão bem esclarecidos. Variantes da huntingtina proteínas não-degradadas. Dobramento errado da pro
estão envolvidas na doença de Huntington; um códon teína pré-sináptica alfa-sinucleína (a-Syn) no retículo
CAG no interior do gene é expandido, resultando em endoplasmático (ER) de neurônios leva à formação de
repetições de poliglutamina com 35 a 180 resíduos Corpos de Lewy citoplasmáticos, nos quais a-Syn é um
dentro da huntingtina. Repetições de poliglutamina componente majoritário. A degradação de proteínas as
mais longas estão associadas com doença mais gra sociada ao ER é prejudicada. Na doença de Parkinson
ve. Proteínas e peptídeos derivados da huntingtina de início precoce, os Corpos de Lewy estão geralmente
acumulam-se em inclusões no núcleo, e a transcrição ausentes e mutações na proteína parkina são comuns
é afetada. A função mitocondrial é também perturba (Correlação Clínica 6.15). Doenças do príon também
da e espécies reativas de oxigênio aumentam, e a via estão associadas com a agregação de proteínas (ver
ubiquitina-proteassomo é prejudicada. Várias outras Correlação Clínica 3.6, p. 118).
enfermidades neurodegenerativas também estão liga
das à expanção do traço poliglutamina e à deposição
proteica. Walker, F. O. Huntington’s disease. Lancet 369: 218, 2007;
Goedert, M. e Spillantini, M. G. A century of Alzheimer’s di
A doença de Alzheimer (OMIM 104300) é caracte sease. Science 314:777, 2006; Marx, J. A new take on Tau.
rizada por perda progressiva de memória e cognição, Science 316:1416, 2007; Kabashi, E., e Durham, H. D. Failu
e é mais comum em pessoas idosas. A disfunção mito re of protein quality controlin amyotrophic lateral sclerosis.
Biochim. Biophys. Acta 1762: 1038, 2006; Lozano, A. M. e
condrial em células neurais é prevalente. A doença de kalia, S. K. New movement in Parkinson’s. Sci. Am. 293:68,
Alzheimer é caracterizada pelo acúmulo intraneuronal 2005; e Cooper, A. A., Gitler, A. D., Cashikar, A., Haynes,
e extracelular de feixes e filamentos que formam pla C. M. et al. a-Synuclein blocks ER-Golgi traffic and Rab 1
cas. O principal componente da placa é o b-amiloide, rescues neuron loss in Parkinson models. Science 313:324,
um peptídeo com 39-43 resíduos derivado de uma pro 2006.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 257

CORRELAÇÃO CLÍNICA 6.15

Defeitos no Sistema Ubiquitina-Proteassomo


As seguintes são doenças ligadas ao mau funciona Câncer de mama e ovário: mutações heterozigotas
mento da via ubiquitina-proteassomo. in BRCA1 (locus de suscetibilidade ao câncer de mama)
são vistas em alguns casos de câncer de mama e ovário.
Síndrome de Liddle (OMIM 177200): uma mutação A proteína BRCA1 é uma enzima E3 cuja atividade é
em uma subunidade do canal de sódio do epitélio re abolida por mutações observadas no câncer de mama
nal interfere na ligação de Nedd4, uma ligase E3 que
familiar.
é mediadora de sua degradação. O acúmulo do canal
resulta na reabsorção excessiva de Na+ e em severa hi Cancer cervical induzido pelo HPV: infecção por al
pertensão. gumas cepas do vírus do papiloma humano pode levar
ao câncer cervical invasivo. Uma oncoproteína E6 codi
Parkinsonismo autossômico recessivo juvenil (OMIM ficada pelo vírus interage com a proteína supressora de
605909): uma pequena porcentegem de pacientes tem tumor celular p53; uma enzima E3 reconhece o com
uma forma familiar de início precoce da doença de plexo, levando à degradação de p53 pela via ubiquitina
Parkinson. Muitos têm mutações na proteína parkina, -proteassomo.
causando perda na atividade enzimática E3 e acúmulo
de substratos parkina. Uma segunda causa da doença
de Parkinson familiar está ligada a uma mutação em Reinstein, E., e Ciechanover, A. Narrative review: Protein
uma enzima de reciclagem de ubiquitina, possivelmen degradation and human diseases: The ubiquitin connection.
te resultando em diminuição na ubiquitina livre. Ann. Intern. Med. 145:676, 2006.

UM OLHAR MAIS ATENTO 6.4

Ubiquitina e SUMO

A ubiquitina desempenha importantes papéis, além cionadas modificadoras (SUMO), cuja conformação e
da degradação de proteínas. A ligação reversível de ligação às proteínas alvos são muito similares à da ubi
ubiquitina às histonas H2A e H2B não está relaciona quitina, também funcionam na regulação transcrição
da com turnover (reciclagem), uma vez que as proteí e outros aspectos da regulação celular, algumas vezes
nas são estáveis, mas a modificação afeta a estrutura com efeitos opostos ao da ubiquitina.
da cromatina e a transcrição. A ubiquitina participa do
alinhamento e segregação dos cromossomos, do reparo
do DNA, e da regulação da transcrição na resposta in Schnell, J. D. e Hicke, L. Non-traditional functions of
ubiquitin and ubiquitin-binding proteins. J. Biol. Chem.
flamatória. Ubiquitinação é um sinal para endocitose e
um sinal de seleção que direciona os conteúdos para os 278:35857, 2003; Mukhopadhyay, D., e Riezman, H. Proteaso
me-independent functions of ubiquitin in endocytosis and sig
lisossomos. Frequentemente, essas funções empregam naling. Science 315:201, 2007; e Liu, B., e Shuai, K. regulation
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258 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

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CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 259

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Termos Chaves
Aminoacil tRNA sintetase Direcionamento proteico Mutações silenciosas Polissomo
Anticódons Fatores de elongação Mutações supressoras Proteassomo
Chaperone Fatores de iniciação Mutações de terminação Regra do N-terminal
Códons Fatores de terminação Oligossacarídeo alta-manose Regulação traducional
Códons de iniciação Glicosiltransferase Oligossacarídeo tipo-com Retículo endoplasmático
Códons de terminação Glicosilação N-ligada plexo Ribossomo
Código genético Glicosilação O-ligada Partícula de reconheci RNA de interferência
mento de sinal
Colágeno tripla-hélice Modificação pós-tradução RNA silenciador
Peptidase sinal
Complexo RNA indutor Monocistrônico Sequência de ancoragem
silenciador Peptídeo sinal
Mutações com mudança Tradução
Degradação associada ao na fase de leitura (fra Peptidil transferase
Translocon
retículo endoplasmático meshift) Policistrônico
Ubiquitina
Mutações puntuais

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha E. códons que incluem uma ou mais das bases
“incomuns”.
1. Degeneração do código genético denota a existên
cia de 2. Na formação de um aminoacil-tRNA,
A. múltiplos códons para um único aminoácido. A. ADP e Pi são produtos da reação.
B. códons consistindo de apenas duas bases. B. aminoacil-adenilato aparece na solução como
C. tripletes de bases que não codificam nenhum um intermediário livre.
aminoácido. C. acredita-se que a aminoacil-tRNA sintetase
D. diferentes sistemas nos quais um determinado reconheça e hidrolise aminoacil-tRNAs incor
triplete codifica diferentes aminoácidos. retos que possa ter produzido.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 261

D. há aminoacil-tRNA sintetases separadas para dois domínios que atravessam a membrana, dois domí
todos os aminoácidos da proteína funcional. nios que interagem com ATP e um domínio regulatório.
D. há uma aminoacil-tRNA sintetase separada O defeito mais comum está no gene de um dos domínios
para cada espécie de tRNA. de ligação a ATP. O resultado é uma proteína que não
dobra corretamente no retículo endoplasmático, não é
3. Durante a iniciação da síntese proteica, adequadamente glicosilada, e não é transportada para
A. metionil-tRNA aparece no sítio A do complexo a superfície celular. Em vez disso, é degradada no cito
de iniciação 80S. sol em proteassomos. Uso de drogas que favorecem a
B. eIF3 e a subunidade ribossômica 40S partici interação de chaperones com a proteína mutante é uma
pam da formação do complexo de pré-inicia abordagem terapêutica em potencial.
ção. 7. Chaperones
C. eIF2 é fosforilado por GTP. A. são sempre necessários para dirigir o dobra
D. o mesmo metionil-tRNA é usado durante a mento de proteínas.
elongação. B. quando ligados a proteínas aumentam a velo
E. um complexo de mRNA, subunidade ribossô cidade de degradação de proteínas.
mica 60S e certos fatores de iniciação é forma C. geralmente se ligam a regiões fortemente hi
do. drofílicas de proteínas desdobrada.
4. Durante o estágio de elongação da síntese proteica D. às vezes mantêm proteínas em um estado des
eucariótica, dobrado para permitir sua passagem através
A. o aminoacil-tRNA recém-chegado liga-se ao de membranas.
sítio P. E. favorecem a agregação de proteínas em pla
B. uma nova ligação peptídica sintetizada pela cas.
peptidil transferase requer hidrólise de GTP. 8. O direcionamento de uma proteína a ser degradada
C. o peptidil-tRNA é translocado para um sítio em proteassomos geralmente requer ubiquitina. Na
diferente no ribossomo. função da ubiquitina, todas as seguintes são verda
D. estreptomicina pode causar liberação prema des, exceto
tura do peptídeo incompleto. A. ATP é necessário para ativação da ubiquitina.
E. formação da ligação peptídica ocorre pelo ata B. forma-se uma ligação peptídica entre o carbo
que do grupo carboxila do aminoacil-tRNA xi-terminal da ubiquitina e um e-amino grupo
que está chegando ao amino grupo da cadeia de uma lisina.
peptídica nascente. C. ligação de uma proteína a ubiquitina nem sem
5. A formação da insulina madura inclui todos os se pre a marca para degradação.
guintes, exceto D. o aminoácido N-terminal é um determinante
A. remoção de um peptídeo sinal. de seleção para degradação.
B. dobramento (folding) em uma estrutura tri D. ATP é requerido pela enzima que transfere a
dimensional. ubiquitina para a proteína a ser degradada.
C. formação de pontes dissulfeto. Questões 9 e 10: O colágeno é incomum em sua com
D. remoção de um peptídeo de uma região inter posição em aminoácidos e requer uma grande varieda
na. de de modificações pós-tradução para convertê-lo em
E. g-carboxilação de resíduos de glutamato. uma molécula funcional. Dada a complexidade da sínte
se de colágeno, existem muitas doenças, resultando em
6. A estreptomicina liga-se à subunidade pequena de fragilidade estrutural do tecido conjuntivo, causadas
ribossomos procarióticos e por defeitos no processo. O escorbuto leva a um coláge
A. causa liberação prematura do peptídeo incom no menos estável, com hidroxiprolina insuficiente.
pleto.
9. A 4-hidroxilação de resíduos prolil específicos du
B. impede ligação das subunidades 40S e 60S. rante a síntese do colágeno requer todos os seguin
C. interfere com a iniciação da síntese proteica. tes, exceto
D. inibe a atividade da peptidil transferase. A. Fe2+.
E. age como uma N-glicosidase. B. uma sequência de aminoácidos específica no
sítio de hidroxilação.
Questões 7 e 8: Fibrose cística é uma doença genéti
ca frequente em caucasianos. O gene CF codifica uma C. ácido ascórbico.
proteína chamada regulador transmembrânico de con D. co-hidroxilação de lisina.
dutância da fibrose cística (CFTR), que funciona como E. cadeias a individualizadas, ainda não organi
um canal de cloreto regulado por cAMP. A proteína tem zadas em uma tripla hélice.
262 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

10. Boa parte da formação do pró-colágeno ocorre no oligossacarídeos do tipo alta manose na proteína.
retículo endoplasmático e no complexo de Golgi, o Essa glicosilação N-ligada
que requer um peptídeo sinal. Todas as afirmati A. ocorre somente depois da proteína ter sido
vas seguintes sobre o direcionamento de proteínas completamente traduzida e dobrada.
para o ER são verdadeiras, exceto
B. não requer nenhuma sequência específica de
A. o peptídeo sinal geralmente tem uma extre aminoácidos.
midade N-terminal carregada positivamente e
uma sequência de aminoácidos hidrofóbicos. C. ocorre pela transferência de uma cadeia oli
gossacarídica de um dolicol fosfato carregador
B. peptídeo sinal emergindo de um ribossomo li para a proteína.
vre liga uma partícula de reconhecimento de
D. possui uma cadeia de oligossacarídeo ligada a
sinal (SRP).
serina ou treonina.
C. o peptídeo sinal é geralmente clivado da prote
ína antes da proteína ser inserida na membra E. contém somente manoses na cadeia.
na do ER. 12. O sinal de direcionamento para a mitocôndria é:
D. o encaixe (docking) da proteína ocorre, na A. uma sequência de ancoragem hidrofóbica.
verdade, no receptor de SRP e serve para ligar B. uma a-hélice amfipática carregada positiva
SRP ao ER. mente.
E. SRP e proteína de encaixe (docking) não en C. manose 6-fosfato.
tram no lúmen do ER, mas são reciclados.
D. um ou dois grupos de aminoácidos básicos.
Questões 11 e 12: Várias doenças ocorrem em de E. uma sequência Ser-Lys-Leu (SKL) carboxi
corrência defeitos nos sinais de direcionamento que -terminal.
dirigem proteínas para organelas específicas. A doen
ça da célula I (mucolipidose II), caracterizada por re Problemas
tardo psicomotor severo e anormalidades esqueléticas, 13. A mutação mais comum na fibrose cística é a dele
surge de um defeito no direcionamento de proteínas ção de três bases consecutivas no gene de um dos
para os lisossomos. O direcionamento errado também domínios de ligação de ATP. Como a proteína desse
pode causar problemas. Na hiperoxalúria primária tipo gene poderia estar relacionada com uma proteína
I, uma enzima que normalmente funciona em peroxis normal?
somos, em virtude de mutações que criam um sinal de 14. Algumas proteínas podem ser degradadas nos li
direcionamento mitocondrial, localiza-se nas mitocôn sossomos. Como isso difere da degradação de pro
drias. teínas nos proteassomos?
11. Pacientes com doença da célula I não têm a enzi
ma que transfere N-acetilglucosamina fosfato para

Respostas
1. A Essa é a definição da degeneração. B e E não se te. E: o mRNA associa-se primeiro com a subuni
sabe se ocorrem, embora às vezes o tRNA leia ape dade 40S.
nas as primeiras duas bases de um triplete (osci
4. C Isso é necessário para liberar o sítio A para o
lação ou wobble), e às vezes bases incomuns ocor
tRNA seguinte. A: o aminoacil-tRNA que está che
ram no anticódon. C denota os códons de parada
gando liga-se ao sítio A. B: a formação da ligação
(nonsense). D é um desvio da universalidade do
peptídica não requer outra fonte de energia além
código, encontrado em mitocôndrias.
do aminoacil-tRNA. D: a estreptomicina inibe a
2. C Ligações entre um tRNA e um aminoácido incor formação do complexo de iniciação 70S procarió
reto menor podem se formar, mas são rapidamente tico e causa leitura errada do código genético. E:
hidrolisadas. A e B: o ATP e o aminoácido reagem o par de elétrons do amino grupo realiza o ataque
para formar um aminoacil-adenilato ligado à enzi nucleofílico sobre o carbono carbonílico.
ma; PPi é liberado no meio. D: alguns aminoácidos,
5. E A g-Carboxilação é especialmente importante
como hidroxiprolina e hidroxilisina, surgem por
em várias proteínas da coagulação do sangue, mas
modificação co- ou pós-tradução. E: uma aminoacil não na formação da insulina. A: pré-pró-insulina
-tRNA sintetase pode reconhecer qualquer uma de
é inserida no ER. B: todas as proteínas, exceto as
várias espécies de tRNA para um dado aminoácido.
fibrosas, devem se dobrar em uma forma tridimen
3. B Este então se liga ao mRNA. A: Metionil-tRNAMeti sional. C: uma pró-insulina dobra e forma pontes
aparece no sítio P. C: fosforilação de eIF-2 inibe ini dissulfeto antes da cadeia ser clivada. D: isso é
ciação. D: metionil-tRNAeMet é usado internamen chamado peptídeo C.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 263

6. CAlterando-se as interações entre tRNA, mRNA e 11. C A cadeia é ligada à amida de uma asparagina em
subunidaderibossômica, interfere com a iniciação e uma sequência Asn-X-Thr/Ser. A, B e D: essas são
também causa leitura errada. A: puromicina, pare características do tipo O-ligado. E: N-acetilgluco
cida com aminoacil-tRNA, faz isso. B: estas são su samina também está presente.
bunidades eucarióticas. D: cloranfenicol faz isso. E:
12. B Esta é reconhecida por um receptor mitocon
esse é o efeito de ricina e de toxinas relacionadas.
drial. A: isso mergulharia a proteína na membrana
7. D Esta é apenas uma das muitas funções que os do ER. C: esse é o sinal para o lissosomo. D: esse
chaperones exercem. A: muitas proteínas dobram direciona para o núcleo. E: esse é o sinal para os
espontaneamente de modo correto. B: proteínas peroxissomos.
com dobramento errado são reconhecidas e rapi
13. Deleção de um códon inteiro significa que um ami
damente degradadas. C: chaperones se ligam às
noácido em particular não estará presente na pro
regiões hidrofóbicas de proteínas desdobradas. E:
teína. Não é comum que a deleção de três nucleotí
proteínas desdobradas são as de maior possibilida
deos cubra dois códons, de modo que não seria de
de de fazerem isso.
se esperar uma mutação com mudança na fase de
8. E ATP é necessário na ativação da ubiquitina e nas leitura (frameshift).
etapas de protease, mas não aqui. B e D: ambos es
14. A degradação nos proteassomos geralmente re
tão corretos. C: a ligação com histonas não resulta
quer adição de ubiquitina à proteína. As proteínas
em sua degradação.
são levadas para os lisossomos por endocitose, e
9. D Lisina é hidroxilada, mas por uma enzima dife enzimas presentes nos lisossomos as degradam.
rente. A e C: prolil hidroxilase requer ambos Fe2+ Proteínas extracelulares específicas ligam-se a re
e ácido ascórbico. B: a sequência é –X-Pro-Gly-. E: ceptores da superfície celular em depressões enca
hidroxilação é um evento co-tradução. padas por clatrina. A invaginação da membrana e
de receptores ligados a ligante forma vesículas que
10. C A peptidase sinal localiza-se na superfície lu
minal do ER. A: estas são características comuns, podem fundir com lisossomos. Novamente, as pro
teínas são degradadas por enzimas lisossomoais.
juntamente com um segmento polar que a peptida
se sinal reconhece. B, D e E: todas são característi
cas essenciais do processo.
264 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
PARTE II CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 265
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

7 Plasmídeo
Promotor lacZ

DNA Recombinante Sítio de


restrição A

Sítio de
e Biotecnologia Gene de
restrição B

resistência
a antibiótico

Gerald Soslau
Professor Titular, Drexel University College of Medicine

CONTEÚDO 7.3 Mapas de Restrição e Evolução, 271


7.1 INTRODUÇÃO, 266 7.4 Sequenciamento Direto de DNA para Diagnóstico
da Síndrome de Bloom: uma Doença Genética, 273
7.2 REAÇÃO DA POLIMERASE EM CADEIA, 267
7.5 Análise por PCR Multiplex de Defeitos no Gene da
7.3 ENDONUCLEASES DE RESTRIÇÃO, MAPAS DE
HGPRTase na Síndrome de Lesch–Nyhan, 279
RESTRIÇÃO E SEQUENCIAMENTO DO DNA, 269
7.6 Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de
7.4 DNA RECOMBINANTE, CLONAGEM E SELEÇÃO
Restrição Determina a Origem Clonal de Tumo
DE CLONES, 274
res, 282
7.5 DETECÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS
7.7 Polimorfismo de Conformação de Cadeia Única
NUCLEICOS E PROTEÍNAS QUE SE LIGAM AO
para Detecção de Mutações Espontâneas que
DNA, 280
Podem Levar a SIDS, 284
7.6 DNA COMPLEMENTAR E BIBLIOTECAS DE DNA
7.8 O Uso de Camundongo Transgênico com Cromos
COMPLEMENTAR, 285
somo Artificial de Levedura (YAC) para Estudar a
7.7 BACTERIÓFAGOS, COSMÍDEOS E VETORES Doença de Huntington, 290
DE CLONAGEM EM LEVEDURA E ANÁLISE DE
7.9 O Uso de Chromosome Walking e Jumping para
LONGOS SEGMENTOS DE DNA, 288
Identificar o Gene da Fibrose Cística, 292
7.8 VETORES DE EXPRESSÃO E PROTEÍNAS DE
7.10 Mutagênese Sítio-Dirigida de Colágeno tipo VII,
FUSÃO, 291
297
7.9 MUTAGÊNESE SÍTIO-DIRIGIDA, 295
7.11 Regulação da Expressão Gênica Mediada por
7.10 APLICAÇÕES DA TECNOLOGIA DO DNA RE siRNA, 301
COMBINANTE, 299
7.12 Terapia Gênica: Genes Normais Podem Ser Intro
7.11 GENÔMICA, PROTEÔMICA E ANÁLISE POR duzidos em Células com Genes Defectivos, 302
MICROARRAY, 306
7.13 Modelos de Animais Transgênicos, 304
7.14 Camundongos Knockout para Definir um Papel
CORRELAÇÕES CLÍNICAS para o Purinoceptor P2Y1, 305
7.1 Reação de Polimerase em Cadeia (Polymerase 7.15 Técnica de Micromatrizes (Microarray) para
Chain Reaction), 268 Detectar e Tratar Doenças, 308
7.2 PCR em Tempo Real Quantitativo (qRT-PCR) na
Análise de um Gene Associado com Câncer de
Próstata, 269
266 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Conceitos Chaves
• A reação da polimerase em cadeia (PCR) é usada • Transcrição reversa gera cDNA a partir de mRNA
para determinar as sequências dos ácidos nuclei celular. Uma biblioteca de cDNA consiste de todos
cos de genes, de seus sítios regulatórios e de seus os cDNAs produzidos a partir do total de mRNA
produtos. celular.
• Endonucleases de restrição (RE) geram molécu • Diferentes vetores podem ser recombinados com
las de DNA para síntese de moléculas de DNA re DNA estrangeiro, com o número de pares de ba
combinante. Moléculas de DNA de duas espécies ses indo de poucos milhares a centenas de milha
diferentes podem ser clivadas com a mesma RE, res. Pequenos insertos de DNA podem representar
gerando moléculas com extremidades fitas únicas o cDNA de um gene expresso, enquanto insertos
complementares, que podem ser aneladas e liga muito maiores são necessários para carregar um
das. Muitas cópias do DNA recombinante podem gene genômico, com íntrons e éxons, juntamente
ser geradas se uma espécie de DNA for um vetor com os sítios regulatórios a montante e a jusante
que replicará em uma bactéria ou célula. (upstream e dowsntream, respectivamente).
• A clonagem de uma célula contendo uma molécula • Vetores de expressão são espécies de DNA que com
recombinante específica requer técnicas para se binam com “genes” estrangeiros funcionais de modo
lecionar uma única bactéria ou célula com o DNA que, quando introduzidos em uma bactéria ou célu
de interesse, depois replicar a célula de modo que la, o “gene” recombinante é transcrito e traduzido.
todas as células filhas tenham o mesmo DNA re • Mutagênese sítio-dirigida com DNA recombinante
combinante. clonado pode resultar na perda seletiva de uma re
• Bibliotecas genômicas são geradas com a multi gião do DNA, a adição ou a perda de um ou alguns
plicidade de moléculas de DNA recombinante que poucos nucleotídeos, ou a troca seletiva de um úni
têm pedaços do DNA de um genoma inteiro ligados co nucleotídeo. “Genes” alterados são utilizados
a um vetor e transformados em bactérias ou célu para estudar a estrutura e a função da proteína
las. Clones específicos podem ser selecionados. codificada.
• Técnicas de hibridização de ácidos nucleicos com • A regulação da expressão gênica em estados de
sondas marcadas de DNA ou RNA podem detectar doenças ou metabolicamente alterados pode ser
padrões de DNA polimórfico nos DNAs genômicos estudada por tecnologias de DNA recombinante,
de diferentes indivíduos digeridos por endonu incluindo tecnologias de ácidos nucleicos comple
cleases de restrição, espécies específicas de RNA e mentares (antisense), introdução de genes nor
clones portando um RNA recombinante específico. mais onde há genes alterados e destruição de genes
em animais inteiros (animais knockout).

ças genéticas. Esse conhecimento, juntamente com


7.1 INTRODUÇÃO
nossos avanços tecnológicos para manipular genes e a
Por volta de 1970, o palco estava montado para a expressão gênica, também abriria novas avenidas para
biologia molecular moderna, com base em estudos de regular ou curar essas doenças. Centenas de testes clí
muitos cientistas dos 30 anos anteriores, durante os nicos em terapia gênica, envolvendo muitos pacientes,
quais a ignorância sobre qual a entidade bioquímica foram iniciados. Doenças genéticas já identificadas e a
que orquestrava a replicação de formas de vida com tal serem identificadas poderão eventualmente ser curá
fidelidade, deu lugar a um estado no qual o sequencia veis por terapia de reposição gênica quando as barrei
mento e a manipulação da expressão de genes tornar ras técnicas tiverem sido removidas. Ao se observar
-se-iam comuns. A marcha incansável em direção a um o enorme avanço feito em biologia molecular apenas
entendimento total da regulação gênica em condições nas últimas três décadas, é razoável acreditar que o
normais e patológicas caminhou com rapidez crescen “quando” não está tão longe assim. O velho desafio
te desde então. A identificação, purificação e carac que confrontava os cientistas era como sequenciar o
terização de endonucleases de restrição permitiram genoma humano; o novo desafio é como manipular efi
o desenvolvimento de metodologias do DNA recombi cientemente esse conhecimento para o benefício da
nante. O desenvolvimento do sequenciamento do DNA humanidade.
revelou os segredos encerrados na organização de di
versos genomas procarióticos e eucarióticos, incluindo
o genoma humano. O delineamento de todos os genes
humanos e suas sequências regulatórias ampliaria
enormemente nosso entendimento sobre muitas doen
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 267

Fragmento de DNA de sequência


7.2 REAÇÃO DA POLIMERASE desconhecida, inserido em um vetor
de sequência conhecida. RE
EM CADEIA
Antes de 1987, a análise da sequência e da função
de uma região específica de DNA requeria quantidades
relativamente grandes de um segmento purificado de
Plasmídeo vetor
DNA. A produção rápida de grandes quantidades de
uma sequência específica de DNA deu um salto para
frente com o desenvolvimento da reação da polimerase Fita A
DNA sem purificação,
em cadeia (PCR, polymerase chain reaction). Esta é aquecido a 95°C e
requer dois oligômeros de nucleotídeos que hibridizam RE resfriado. São adicionados
dois oligonucleotídeos
com fitas de DNA complementares em uma região de
RE complementares a cada
interesse. Os oligômeros servem de iniciadores (pri fita, franqueando o
mers) para uma DNA polimerase que estende cada fita. cDNA inserido.
Ciclos repetidos de PCR geram grandes quantidades FIta B
de cada molécula de DNA de interesse em questão de recombinante Etapas 1 e 2
Plasmídeo vetor
horas, em comparação aos dias e semanas necessários Fita A
para técnicas de clonagem. Fita B

A amplificação de uma sequência específica de


DNA por PCR pode ser feita com DNA purificado ou 5! 3! 5!
com uma mistura complexa de DNAs. Os princípios da Oligômero 3!
reação são apresentados na Figura 7.1. A sequência de
nucleotídeos do DNA a ser amplificado deve ser conhe Etapa 3 dNTPs+ DNA polimerase
cida ou deve ser clonada em um vetor (p. 288) para o
qual a sequência do DNA flanqueador tenha sido esta Fita B + Fita A
belecida. O produto do PCR é uma molécula de DNA
dupla-fita (dsDNA), e a reação se completa em cada Repetir etapas 1 & 2

ciclo quando todas as moléculas moldes são copiadas.


Para iniciar um novo ciclo de replicação, a amostra é
aquecida para fundir o dsDNA e, em presença de ex Repetir etapa 3
cesso de oligonucleotídeos iniciadores, resfriada para
permitir hibridização do molde fita-única com oligô
meros livres. Replicação de DNA terá início em pre
sença de DNA polimerase e todos os quatro dNTPs. O
aquecimento a cerca de 95 °C, necessário para fundir Fitas com uma unidade de comprimento
o DNA, inativa a maioria das DNA polimerases, mas Repetir o ciclo 25–30 vezes.
uma polimerase termoestável, chamada Taq DNA po Isso vai gerar aproximadamente 106
cópias do DNA com uma unidade
limerase, isolada de Thermus aquaticus, é hoje em de comprimento.
pregada, e elimina a necessidade de adição de nova
polimerase após cada ciclo. Isso permitiu a automação FIGURA7.1 Reação da polimerase em cadeia (PCR).
do PCR, com cada molécula de DNA podendo ser am Um fragmento de DNA de sequência desconhecida é inserido
em um vetor de sequência conhecida pela metodologia nor
plificada um milhão de vezes.
mal de recombinação. O DNA recombinante de interesse não
Uma DNA polimerase estável singular – PhusionTM precisa ser purificado. O DNA é aquecido a 95 °C para disso
ciar a dupla fita e resfriado em presença de excesso de dois
DNA polimerase de Alta Fidelidade – foi desenvolvida oligômeros diferentes complementares, que hibridizam com
comercialmente para PCR em aplicações de rotina e de as sequências conhecidas do DNA do vetor que flanqueiam o
maior grau de exigência. Essa enzima foi construída DNA estrangeiro inserido. Só espécies recombinantes de DNA
pela fusão de um domínio singular de ligação a ds-DNA fita-única podem servir de molde para a replicação do DNA, ge
com uma polimerase de revisão semelhante à de Pyro rando fragmentos do DNA estrangeiro de fita-dupla ligados pe
coccus. A processividade dessa enzima de fusão é cerca las sequências de DNA dos oligômeros. O ciclo aquecimento
de duas vezes a da Taq DNA polimerase, com uma taxa -replicação é repetido muitas vezes para produzir rapidamente
grandes quantidades do DNA estrangeiro original. O fragmento
de erro 50 vezes menor. Também, ao contrário da Taq
de DNA de interesse pode ser purificado da mistura de PCR
DNA polimerase, a enzima não é inibida por nenhuma por clivagem com a endonuclease de restrição (RE) original,
quantidade de sangue. Portanto, DNA genômico pode eletroforese da mistura de DNA em gel de agarose e eluição da
ser amplificado diretamente a partir de gotas de san banda de interesse do gel.
gue, sem as custosas e demoradas etapas de purifica
ção, exigidas pela enzima Taq.
268 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

PCRAninhado ficidade muito aumentada. O PCR tem muitas aplicações


em diagnóstico genético, investigações forenses para as
Quando o DNA a ser amplificado está presente em quais apenas uma gota de sangue seco ou um único fio
concentrações muito baixas em relação ao DNA total da de cabelo está disponível, e em estudos de evolução com
amostra, a região do DNA de interesse juntamente com material biológico preservado (Correlação Clínica 7.1).
outras sequências espúrias pode ser amplificada. Nes Em 2008, uma nova tecnologia, PCR/DNA de toque, foi
sa situação, a especificidade da reação de amplificação aplicada para inocentar os pais do assassinato de sua fi
pode ser aumentada pelo PCR aninhado. Depois de rea lha pequena, Jon Benet Ramsey. Essa metodologia pode
lizar o primeiro PCR com um conjunto de primers por usar uma ou algumas poucas células aderidas a qualquer
10-20 ciclos, uma pequena alíquota é removida para um superfície tocada por uma pessoa (nesse caso, a calça de
segundo PCR. Entretanto, este é realizado com primers Jon Benet tocada pelo assassino) como uma fonte sufi
que são complementares ao DNA molde imediatamente ciente de DNA para amplificar por PCR e analisar o fin
à jusante dos primeiros primers, ou “aninhados” entre o gerprint do DNA. Após mais de uma década de dúvidas,
conjunto original de primers. Esse processo amplifica a os resultados finalmente inocentaram os pais nesse caso
região do DNA de interesse duas vezes, com uma especi horrível e amplamente divulgado.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.1

Reação de Polimerase em Cadeia (Polymerase Chain Reaction)


A. PCR em Screening do Vírus da Imunodeficiência siões em muitos dos pacientes, como determinado pela
Humana análise evolucionária de Bayesian. A detecção precoce
O uso do PCR para amplificar quantidades diminu da conversão do vírus de sensível a drogas para resis
tas de DNA revolucionou a detecção e a análise de es tente a drogas por análise de PCR poderia ajudar a de
pécies de DNA. Com o PCR, é possível sintetizar DNA terminar o tratamento clínico para esses pacientes.
suficiente para análise. A detecção e a identificação B. PCR Aninhado para Detectar Microquimerismo
convencionais do vírus da imunodeficiência humana
Demonstrou-se que os leucócitos de doadores trans
(HIV), por exemplo por Southern blot-hibridização do
feridos para pacientes durante transfusão de sangue so
DNA e análise do antígeno, é muito trabalhoso e caro,
brevivem no sangue periférico do receptor. O significa
e tem baixa sensibilidade. Um indivíduo infectado, sem
do, se há, dessa população microquimérica de leucócitos
nenhum sinal de AIDS (síndrome da imunodeficiência
ainda não está esclarecido. Uma das melhores maneiras
adquirida), pode ter resultado falso negativo para HIV
de se detectar células derivadas do doador no sangue do
com esses procedimentos. A detecção precoce de infec
receptor é usar detecção por PCR de polimorfismos na
ções por HIV é crucial para iniciar tratamento ou moni
região HLA-DR do complexo maior de histocompatibili
torar a progressão da doença. Além disso, um método
dade (MHC). Um ensaio de PCR aninhado foi pelo menos
sensível é necessário para se ter certeza que o sangue
100 vezes mais sensível do que um ensaio de PCR padrão.
doado por doadores não contém HIV. A amplificação
Entretanto, em virtude da sensibilidade aumentada, pro
por PCR de sequências de DNA do HIV em potencial
dutos inespecíficos podem aparecer, em decorrência de
no DNA isolado de glóbulos brancos de um indivíduo
eventos de iniciação errada que geralmente estão asso
permite a detecção da infecção antes da presença de
ciados com pseudogenes. Assim, é essencial estabelecer
anticorpos, o assim chamado estado soro-negativo. um padrão de linha de base com amostras de sangue pré
Com o advento de novos tratamentos com a combina
-transfusão. Uma vez que potenciais falsos positivos te
ção de antivirais (inibidores de proteases) para o HIV, o
nham sido excluídos com esses padrões de linha de base,
potencial de mutações virais que levam à resistência a
a detecção de leucócitos do doador é muito aumentada.
drogas foi reduzido. Entretanto, alguns pacientes ainda
apresentam resistência a múltiplas drogas. Uma muta Kwok, S., e Sninsky, J. J. Application of PCR to the de
ção comum no genoma viral, L9OM, leva à resistência tection of human infectious diseases, in PCR technology,
ao inibidor de proteases. A região viral gag-pro foi am 235. Em Erlich, H. A. (Ed.), PCR: Technology Principles
plificada e sequenciada usando PCR específico para o and Applications for DNA Amplification, 2. ed. New York:
alelo LpOM, com amostras de 15 pacientes no estágio Stockton, 1989; e Kapoor, A., Shapiro, B., Shafer, R. W.,
precoce da doença. Os resultados foram então compa Shulman, N. et al. Multiple independent origins of a protea
rados com amostras colhidas depois do tratamento com se inhibitor resistance mutation in salvage therapy patients.
drogas malsucedido nos pacientes. Os vírus L9OM eram Retrovirology 5:7, 2008.
minoria dentro o total de vírus nas primeiras amostras. Carter, A. S., Cerundolo, L., Bunce, M., Koo, D. D. H. et al.
Entretanto, essas espécies mutantes tornaram-se as Nested polymerase chain reaction with sequence-specific
espécies dominantes no plasma de pacientes com re primers typing for HLA-A, -B, and -C alleles: Detection of
sistência às drogas. Parece que a emergência dos vírus microchimerism in DR-matched individuals. Blood 94:1471,
dominantes contendo L9OM ocorreu em múltiplas oca 1999.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 269

PCR Quantitativo em Tempo Real do DNA/cDNA. Essa técnica é empregada para identi
ficar a expressão diferencial de genes específicos em
PCR quantitativo em tempo real (qRT-PCR) acopla a tecidos normal versus doente, em que o produto gênico
reação de amplificação do PCR tradicional com a quan pode ter um papel no desenvolvimento de células anor
tificação simultânea do DNA sintetizado após cada ciclo. mais (Correlação Clínica 7.2).
Essa técnica permite que se calcule o número de cópias
de uma sequência de DNA em um genoma. Também se
pode usar o método para determinar o nível relativo
de expressão de um gene em uma célula, iniciando 7.3 ENDONUCLEASES DE
-se a reação com RT-PCR (reverse transcriptase-PCR, RESTRIÇÃO, MAPAS
transcriptase reversa PCR), produzindo um cDNA como
molde para o PCR. Em ambos os casos, a quantificação DE RESTRIÇÃO E
do DNA produzido deve ser comparada com um gene
interno de manutenção (housekeeping), cujo nível de SEQUENCIAMENTO DO DNA
expressão é quase igual em todas as células que estão
sendo estudadas. Hoje, existem algumas variações das
técnicas empregadas, sendo algumas mais rigorosas na
Endonucleases de Restrição
quantificação calculada do que outras, mas apenas o Hidrolisam Seletivamente DNA
processo mais direto será descrito aqui.
As endonucleases de restrição são capazes de dis
Embora RT-PCR/PCR geralmente usem primers secar seletivamente moléculas de DNA de muitos tama
anteverso e reverso que geram DNAs produtos na fai nhos e origens em fragmentos menores. Elas conferem
xa de 300-600 pb, qRT-PCR frequentemente emprega alguma proteção a bactérias contra vírus invasores
primers que distam entre si de apenas 100 bases. O (bacteriófagos). Sequências de DNA bacteriano nor
método descrito aqui tira vantagem do fato do cromo malmente reconhecidas por uma endonuclease de res
fluor SYBR green só se ligar ao DNA dupla-fita e não trição são protegidas de clivagem em células hospe
ao DNA simples-fita. Quando se liga ao DNA dupla-fita, deiras por metilação de bases no palíndrome. O DNA
fluoresce com muitas vezes mais brilho do que quando viral não-metilado é reconhecido como estrangeiro e é
está livre em solução. O DNA é amplificado a partir de hidrolisado. Inúmeras endonucleases de restrição tipo
moldes de DNA ou cDNA em presença de SYBR green II estão hoje disponíveis comercialmente (ver p. 62 para
em um instrumento de PCR que mede a fluorescência discussão de atividades de endonucleases de restrição).
do complexo SYBR green-DNA em cada ciclo. Portanto,
o aumento na fluorescência a cada ciclo é proporcional à As endonucleases de restrição permitem a constru
síntese em tempo real do DNA amplificado. Um gráfico ção de um mapa de restrição, no qual o ponto de cli
do log das unidades de fluorescência versus número de vagem no DNA é identificado. Espécies purificadas de
ciclos dá uma relação linear durante a fase de ampli DNA que contêm sequências susceptíveis estão sujeitas
ficação logarítmica do PCR. A parte linear da curva é à clivagem por endonucleases de restrição. Controlan
comparada com o padrão interno conhecido de manu do-se o tempo de exposição de moléculas de DNA pu
tenção (housekeeping) para quantificação do produto rificadas à clivagem, é gerada uma população de frag

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.2

PCR em Tempo Real Quantitativo (qRT-PCR) na Análise de um Gene Associado com Câncer de Próstata
Câncer de próstata é o tumor maligno predominante tático no câncer de próstata. qRTPCR confirmou que
em homens norte-americanos. Não existe cura conhe ASAP1 (que codifica uma proteína ativadora de GTPase
cida para o câncer de próstata, depois que tenha ocor do fator de ADP-ribosilação) estava sendo mais expres
rido metástases. Portanto, é muito importante identifi sa (up-regulated) na linhagem celular metastática.
car biomarcadores que estão associados com a doença Além disso, a inibição da expressão de ASAP1 em cé
metastática e que podem servir como novos alvos tera lulas de câncer de próstata por RNA pequeno de inter
pêuticos. Duas linhagens celulares foram desenvolvidas ferência (siRNA; ver p. 206) reduziu muito o potencial
a partir de um paciente com câncer de próstata que, metastático dessas células por análise in vitro. Esse
quando transplantadas em camundongos imunodefi gene pode ser um alvo importante para o tratamento
cientes, ou apresentaram potencial metastático ou fo clínico do câncer de próstata metastático.
ram não-metastáticas. A análise diferencial dos genes
expressos nas duas linhagens celulares detectou um Lin, D., Watahiki, A., Bayani, J., Zhang, F. et al. ASAP1, a
gene, ASAP1, na linhagem metastáticas, que não havia gene at 8q24, is associated with prostate cancer metastasis.
sido anteriormente associado com o processo metas Cancer Res. 68:4352, 2008.
270 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

2.2 kb organelas, como DNA mitocondrial, en


tre espécies (Correlação Clínica 7.3).
Também podem ser usados para detec
tar mutações por deleção nas quais um
2.6 kb 4.1 kb fragmento de DNA da cepa parental mi
gra como um fragmento menor na cepa
mutada. E, o mais importante, as endo
nucleases de restrição cortam DNA em
1.2 kb
fragmentos definidos homogêneos, que
Endonuclease de restrição podem ser completamente purificados.
Esses mapas são cruciais para clonagem
Clivagemparcial kb Composiçãodebandas Clivagem kb Nomearbitrário
e paradeosuas
DNA sequenciamento de genes e do
sequências flanqueadoras.
completa

6.3 B+D 1.2 A

5.3
7.9 A+
AC+D
+D 2.2
2.6 C
B Método de Clivagem

4.8 B+C 4.1 D Enzimática Interrompida:


3.8 A+C Procedimento de Sanger
6.0
8.9 A+
B +C
B++C
D B
No final da década de 1970, duas téc
nicas diferentes de sequenciamento fo
ram desenvolvidas, uma por A. Maxam
Arranjo C e W. Gilbert, a abordagem por clivagem
D
deduzido dos química, e a outra por F. Sanger, a abor
fragmentos de DNA dagem enzimática. Ambos os procedi
mentos empregavam marcação de um
A nucleotídeo terminal, seguida pela sepa
ração e detecção dos oligonucleotídeos
FIGURA7.2 Mapeamento do DNA por endonuclease de restrição.
DNA purificado é submetido a digestão por endonuclease de restrição por tempos gerados. O método de Sanger tornou-se
variáveis, o que gera fragmentos de DNA parcialmente ou totalmente clivado. Os o método de escolha em virtude da rela
fragmentos são separados por eletroforese em gel de agarose e corados com bro tiva facilidade do processo e sua capaci
meto de etídio. As bandas são vistas com uma fonte de luz UV e fotografadas. O dade de sequenciar segmentos mais lon
tamanho dos fragmentos é determinado pela migração relativa no gel, em compara gos de DNA (400 bases) em relação ao
ção com padrões de DNA na mesma eletroforese. A disposição relativa de cada frag método de Maxam-Gilbert (250 bases).
mento na molécula de DNA pode ser deduzida a partir do tamanho dos fragmentos
incompletamente hidrolisados. O procedimento de Sanger baseia-se
na terminação aleatória de uma cadeia
mentos de DNA de diferentes tamanhos. A separação de DNA durante síntese enzimática. A técnica depende
desses fragmentos por eletroforese em gel de agarose dos análogos didesoxinucleotídeos de todos os quatro
permite a construção de um mapa de restrição; um nucleotídeos normais (Figura 7.3), ao serem incorpora
exemplo é apresentado na Figura 7.2. O uso sequencial dos em uma cadeia de DNA em crescimento pela DNA
de diferentes endonucleases de restrição permitiu fazer polimerase, bloquearem a elongação. A ribose do dideso
um mapa de restrição detalhado de várias espécies de xinucleotídeo trifosfato (ddNTP) não tem o grupo OH de
DNA circular, incluindo plasmídeos bacterianos, vírus nenhuma das posições 2! e 3!, enquanto dNTP não tem
e DNA mitocondrial. O método é igualmente aplicável a apenas um grupo OH da posição 2!. Portanto, o ddNTP
fragmentos de DNA linear que tenham sido purificados incorporado à cadeia em crescimento é incapaz de for
até homogeneidade. mar ligação fosfodiéster com outro dNTP porque a po
sição 3! da ribose não contém um grupo OH. A molécula
de DNA em crescimento pode ser terminada em pontos
Mapas de Restrição Permitem a aleatórios pela inclusão no sistema da reação de dNTP
e ddNTP (por exemplo, dATP e ddATP), em concentra
Preparação Rotineira de Segmentos ções tais que os dois nucleotídeos possam competir por
Definidos de DNA incorporação. A identificação dos fragmentos de DNA re
quer marcação da extremidade 5! das moléculas de DNA
Os mapas de restrição podem dar pouca informa ou a incorporação de nucleotídeos marcados durante a
ção quanto aos genes ou aos elementos regulatórios síntese. A técnica, esquematizada na Figura 7.4, funcio
nos vários fragmentos de DNA. Eles foram usados para na melhor com DNA fita-única puro; entretanto, DNA
demonstrar a diversidade de sequências em DNAs de fita-dupla desnaturado também pode ser usado.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 271

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.3

Mapas de Restrição e Evolução

No passado, os estudos da evolução das espécies Análise do mtDNA pode ser usada para estudar os
dependiam exclusivamente de mudanças anatômicas padrões de migração de pessoas que se assentaram
observadas em registros fósseis e na datação por car em diversas regiões geográficas, mas possuem os mes
bono. Esses estudos têm sido apoiados pelas análises mos padrões gerados por enzimas de restrição (poli
moleculares das sequências e dos tamanhos de genes morfismo de comprimento de fragmentos de restrição
específicos ou moléculas inteiras de DNA. Alterações [RFLP]). Os nativos americanos foram agrupados em
em uma molécula específica de DNA de diferentes es quatro haplogrupos principais, com base em seus pa
pécies podem ser rapidamente verificadas por mapea drões de restrição de mtDNA. Esses grupos parecem
mento de restrição, que requer uma preparação pura de ser descendentes do povo Clovis (Paleoíndio) que mi
DNA. Mitocôndrias de mamíferos contêm uma molécu grou da Ásia e da Sibéria e entrou na América do Norte
la de DNA circular fechada com 16.569 pb, que pode ser imediatamente antes do período da grande glaciação. O
rapidamente purificada de células. O DNA mitocondrial momento desse evento migratório varia de estudo para
(mtDNA) pode ser empregado diretamente para o estu estudo. Entretanto, a análise do mtDNA, amplificado de
do de mudanças evolutivas em DNA, sem a necessidade fezes fósseis (coprolitos humanos) no Oregon, parece
de clonar um gene específico. provar que seres humanos povoaram as Américas antes
do chamado povo Clovis. As sequências de mtDNA re
O mtDNA foi purificado de babuíno da Guiné, ma presentam os haplogrupos A2 e B2 fundadores dos Na
caco rhesus, gibão e do homem, e foi clivado por 11 en tivos Americanos, e as amostram precedem os restos
donucleases de restrição diferentes. Os mapas de res Clovis por, pelo menos, 1.000 anos.
trição foram alinhados com relação à direção e ao sítio
nucleotídico por onde a replicação do DNA se inicia.
Uma comparação dos sítios de endonucleases de restri
Brown, W. M., George, M., Jr., e Wilson, A. C. Rapid evo
ção permitiu calcular o grau de divergência nas sequ-
lution of animal mitochondrial DNA. Proc. Natl. Acad. Sci.
ências de nucleotídeos entre as espécies. A velocidade USA 76:1967, 1979; Schurr, J. G. Mitochondrial DNA and the
de substituição de bases (calculada a partir do grau de people of the new world. Amer. Sci. 88:246, 2000; Gilbert,
divergência versus tempo de divergência) é cerca de M. T., Jenkins, D. L., Gotherstrom, A., Naveran, N. et al. DNA
10 vezes maior do que as mudanças no genoma nuclear. from pre-Clovis human coprolites in Oregon, North Ameri
Essa alta taxa de mutação da molécula de mtDNA fa ca. Science 320:786, 2008; e Balter, M. DNA from fossil feces
cilmente purificada faz dela um excelente modelo para breaks Clovis barrier. Science 320:37, 2008.
estudar as relações evolutivas entre espécies.

BASE O DNA a ser sequenciado é frequentemente isolado de


O O O um bacteriófago recombinante de fita-única (p. 287), no
5!
–O P O P O P O CH2 qual uma região que flanqueia o DNA de interesse contém
O
O– O– O– 4! H H
uma sequência complementar a um primer universal. O
H 3! OH
1!
primer pode ser marcado com nucleotídeo 32P ou 35S. A
Desoxinucleosídeo trifosfato HO 2!H extensão do primer é realizada com uma dentre várias
DNA polimerases; uma com grande versatilidade é uma
BASE forma geneticamente engenheirada da DNA polimerase
O O O de bacteriófago T 7. A mistura de reação, composta do
5!
–OPOPOPOCH
DNA alvo, o primer marcado e todos os quatro dNTPs, é
2O
H H
dividida em quatro tubos, cada um contendo um ddNTP
O– O– O– 4! 1!

OH
diferente. Os ddNTPs são incorporados aleatoriamente
H 3! 2!
Didesoxinucleosídeo trifosfato H H durante a síntese enzimática do DNA e causam termina
ção da cadeia. Como o ddNTP está presente no tubo de
FIGURA7.3 Estrutura de desoxinucleosídeo trifosfato e reação em baixa concentração em relação ao dNTP cor
didesoxinucleosídeo trifosfato. respondente, a terminação da síntese de DNA ocorre ale
O grupo 3!-OH está faltando na ribose componente dos dideso atoriamente em todos os possíveis sítios complementares
xinucleotídeos trifosfato (ddNTP). Essa molécula pode ser in do DNA molde. Isso gera moléculas de DNA de tamanhos
corporada em uma molécula de DNA em crescimento por uma
variáveis, marcadas na extremidade 5!, que podem ser
ligação fosfodiéster com seu 5!-fosfato. Uma vez incorporado,
o ddNTP bloqueia o prosseguimento da síntese da molécula
separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida. As
de DNA, uma vez que não tem o grupo aceptor 3!-OH para um espécies marcadas são detectadas por autorradiografia
novo nucleotídeo. de raios-X, e a sequência é lida.
272 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

DNA de interesse
5! 3!
35S 5!
“Primer universal”

DNA polimerase
TUBO 1 TUBO 2 TUBO 3 TUBO 4
Mistura +ddGTP ddG ddC ddA ddT
de reação +dGTP
+dATP Eletroforese em gel
de poliacrilamida Sequência
+dCTP Topo
+dTTP C
A
FIta molde G
5! 3! G
T
C CC C C
35S 5! T
T
G G
de DNA
Síntese 35S 5! A
C
G
A
35S 5! C
C
G
G
35S 5!
Fundo
G Autoradiografia do gel

(a) Bacteriófago M13 recombinante (b) Eletroforese em gel de poliacrilamida da mistura de reação

FIGURA7.4 O método de Sanger do didesoxinucleosídeo trifosfato para sequenciar DNA.


A região de interesse do DNA é inserida na molécula de DNA de uma DNA polimerase, e todos os quatro dNTPs mais um ddNTP,
um bacteriófago. A replicação do bacteriófago produz uma molé por exemplo, ddGTP. A síntese para toda vez que um ddNTP é
cula de DNA recombinante fita-única, que é facilmente purifica incorporado à molécula nascente. Note que o ddNTP compete
da. A sequência conhecida do DNA do bacteriófago à jusante do pela incorporação com o dNTP. Isso gera fragmentos de DNA
DNA inserido serve de sítio de hibridização para um oligômero marcados na extremidade de todos os comprimentos possíveis,
marcado na extremidade com uma sequência complementar, que são separados por eletroforese. A sequência do DNA pode,
um primer universal. A extensão desse primer é catalisada por então, ser determinada a partir de padrões de eletroforese.

Inicialmente, esse método requeria um molde de cos do método enzimático de Sanger são empregados;
DNA fita-única, produção de um oligossacarídeo inicia entretanto, cada ddNTP tem uma marca fluorescente,
dor complementar específico, e uma preparação relati com um fluoróforo de cor diferente. Como cada ddNTP
vamente pura do fragmento Klenow da DNA polimerase colorido termina a reação, gerando oligonucleotídeos de
I de E. coli. Essas dificuldades foram superadas, e mo diferentes tamanhos com fluoróforos de diferentes co
dificações simplificaram o procedimento. res, não é necessário fazer quatro tubos de reação. Uma
única reação é realizada, com os produtos separados
Os métodos de PCR e Sanger são combinados para por eletroforese capilar e sequenciados por um sequen
sequenciamento direto de regiões pequenas do DNA de ciador de DNA automatizado, de alto desempenho. A
interesse. O produto dupla-fita do PCR é empregado di análise do cromatograma de uma amostra e a sequência
retamente como molde. As condições são estabelecidas derivada é apresentada na Figura 7.5.
de modo que uma fita de DNA fundido (molde) anele
com o primer em preferência ao reanelamento com a O método de sequenciamento por corante-termina
fita complementar. O sequenciamento, então, segue a dor é, como o método de Sanger, capaz de sequenciar 400
reação de terminação da cadeia por didesoxi padrão bases de uma vez. Novos métodos, que baixariam muito
(tipicamente com Sequenase substituindo a polimerase o custo e, concomitantemente, aumentariam muito ota
Klenow), com síntese de cadeias de comprimentos aleató manho das cadeias de DNA que estão sendo seqüencia
rios, ocorrendo como extensão do primer do PCR. Esse das, estão sendo desenvolvidos e explorados. O objetivo
método foi utilizado com sucesso para o diagnóstico de final desses métodos mais desenvolvidos é a capacidade
doenças genéticas (Correlação Clínica 7.4). de sequenciar rapidamente o genoma inteiro de indivídu
os, a um custo inferior a US$ 1.000,00. A realização desse
objetivo permitiria aos clínicos e aos cientistas correla
Sequenciamento por Corante cionar genes alterados ou mutados com doenças genéti
cas, prever a progressão clínica de doenças, e desenvol
Terminador ver drogas ou terapias gênicas para cada indivíduo.

O desenvolvimento do método de sequenciamento É possível que a capacidade de sequenciar rotinei


por corante-terminador simplificou, acelerou, e reduziu ramente o genoma de indivíduos seja conquistada em
o custo do sequenciamento do DNA. Os princípios bási poucos anos. Entretanto, hoje, outras tecnologias já
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 273

ça
das
estãoda
umAs
humanas,
víduo
15
de As
morphisms).
p.
vez,
(HapMap)
aparecimento
como
associadas
co
quência
radas
mento
contorna
(BS,
com
Sequenciamento
nação.
permitirá
frequência
geral.
em
DNA
estado
(três
se)
tos
rizadas
pacientes
quatro
diagnóstico
295),
milhões
outubro
SNPs
nucleotídeo
genética
em
resultaram
células
níveis
mutações
diabetesuma
desenvolver
Bloom
BS
genômico
Síndrome
Onciercq-Delic,
tions
12:257,
Amor-Gueret, mais
um
associated
2008.
disponíveis
indivíduo
eram
primeiras
e,
direto
centenas
Postula-se
clínico
pode-se
mutações
por
está
de na
apresentam
dando
CORRELAÇÃO
R., no
with
frequentemente,
de
células
essas
com
de
(~10
de
com
regiões
mutações
do
muito
autossômica
syndrome)
atual
Usando
sendo
sítios
de
de
tipo
2007,
no M., um
paciente.
do
único
suspeita
vezes)et BS
correlação
alto
para
doenças
indicações
dificuldades.
foi
pesquisar
SNPs
DNA
metodologias
ou
gene
de
dos
doenças
paciente.
de
para
de
1que
introdução
mais
Direto
do
no
empregado de
na
correlacionado
grau
emilhares
Bloom:
3,1
outro
tecnologias
gene
frameshift
(SNP,
pacientes
todos
autismo.
DNA
genômico
de
genoma
BLM
específicos
essa
de
detectar
alta
mapa
milhões
O
(OMIM
genéticas
baseia-se
recessiva
de
trocas um
para na
específicas.uma
sequenciamento
direta
BS.
imprecisas.
BLM.
até
ou
sobre
(síndrome
abordagem
instabilidade
os
single
do
uma
DNA
de
forma
genes
A
de
Esse
humano
500.000
tipos
que
com
para
210900) BS
uma
BLM
amplificado
de
síndrome
de
Dubois-d’Enghien,
Bloom
al.
CLÍNICA
Three Os
as
Genet.
indivíduos.
Todas
eentre
de
variações
haplótipos
oDoença
syndrome.
7.4
new eram
ou
rara.
para
cromátides
SNPs
com
potencial
método
determinar
nucleotide
que
ade
matrizes
códon
de
detecção
de
população
de
Postula-se
O
mutações
metodológica
possam
polimorfismos
SNPs
caras,
era
podem
Diagnósti-
são
édoenças,
câncer
combinações
C.,foi
Bloom)
genética. uma
irmãs
sequencia-
uma
varredura
Genética
de
pacientes
mutações
de
direto
nonsen-
detectou
por
genéticas
caracte-
gerado.
humanos
Por
genedo
de
(array,
Bloom
demo-
termi-
doen-
de
estar
Lauge,variar
aPCR
com
poly-
volta
indi-
dos
em
e
se-
que
al-
Testing
muta-do
tais
O
oO
A.,

FIGURA7.5 Cromatograma de uma sequência de DNA gerada pelo método de


sequenciamento corante-terminador.
É mostrada a sequência parcial do DNA amplificado por PCR a partir do cDNA da metaloproteinase
de matriz 2 (MMP2), de granulócito humano. Cada ddNTP é marcado com um fluoróforo de cor di
ferente. As cores de cada pico correspondem ao nucleotídeo colorido apresentado no topo da figura.
Dados do laboratório de G. Soslau, Drexel Universty College of Medicine, Philadelphia, PA.
274 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

EcoRI EcoRI
7.4 DNA RECOMBINANTE,
CLONAGEM E SELEÇÃO DE DNA1 DNA2

CLONES Fragmentos de DNA

3! 3!
1A 1B 2B
DNAs de Diferentes Fontes Podem
Ser Ligados para Formar uma Nova 5! 2A 5!

Espécie de DNA: DNA Recombinante Os fragmentos são


misturados e as
extremidades
A capacidade de clivar seletivamente uma população coesivas anelam
de moléculas de DNA com endonucleases de restrição 3! 3!
levou à técnica de unir duas moléculas diferentes de
DNA, chamada DNA recombinante. Esse procedimen 5! 5!
Extremidades 3!, 5!
to, combinado com técnicas de replicação, separação e seladas pela DNA ligase
identificação, permite a produção de grandes quanti
dades de fragmentos de DNA purificados. As técnicas
combinadas, referidas como tecnologia do DNA recom
binante, permitem a remoção de um pedaço de DNA DNA recombinante

de uma molécula maior complexa, tal como o genoma FIGURA7.6 A formação do DNA recombinante a partir
de um vírus ou humano, e a amplificação do fragmento de fragmentos gerados por endonuclease de restrição
de DNA. Foram preparados DNAs recombinantes que contendo extremidades coesivas.
combinam fragmentos de DNA de bactérias com frag Muitas endonucleases de restrição hidrolisam DNA de modo
mentos humanos, vírus com vírus, e assim por diante. desencontrado, gerando fragmentos com regiões de fita-única
A ligação de dois pedaços diferentes de DNA é conse nas suas extremidades 3! e 5!. Fragmentos de DNA gerados a
guida por uma endonuclease de restrição e uma DNA partir de moléculas diferentes com a mesma endonuclease de
ligase. São usadas muitas endonucleases de restrição, restrição têm extremidades fita-única complementares, que po
dem ser “aneladas” e ligadas covalentemente com uma DNA
variando em sua especificidade de sequência de nucleo
ligase. Todas as diferentes combinações são possíveis numa
tídeos (Seção 7.3). Algumas hidrolisam as duas fitas do mistura. Quando dois fragmentos de DNA de diferentes origens
DNA de modo desencontrado, produzindo extremida se combinam, resulta uma molécula de DNA recombinante.
des grudentas, ou coesivas (Figura 7.6), enquanto ou
tras cortam as duas fitas simetricamente, produzindo
uma extremidade cega. Uma enzima de restrição espe Vetores de DNA Recombinante São
cífica corta o DNA exatamente na mesma sequência
de nucleotídeos, independentemente da fonte do DNA Produzidos por Clonagem
(bactéria, planta, mamífero etc.). Uma molécula de
Incorporando-se um DNA recombinante em uma
DNA pode ter nenhum ou inúmeros sítios de reconhe
célula que permita replicação do DNA recombinante,
cimento para uma endonuclease de restrição em parti
pode ser conseguida a amplificação do DNA de interes
cular. O corte desencontrado resulta em fragmentos de
se. É empregado um DNA carregador, ou vetor de clo
DNA com extremidades fita-única. Quando diferentes
nagem. Plasmídeos bacterianos são ideais como vetores
fragmentos de DNA gerados pela mesma endonuclease
de DNA recombinante.
de restrição são misturados, suas extremidades fita
-única podem hibridizar ou anelar. DNA ligase une os Muitas bactérias contêm um único cromossomo cir
dois fragmentos para produzir uma molécula de DNA cular de aproximadamente 4 × 106 pares de bases (pb)
recombinante. e moléculas de DNA minicirculares chamadas plasmí
Os fragmentos de DNA que contêm extremidades deos. Os plasmídeos geralmente contêm apenas poucos
milhares de pares de bases e raramente estão associa
cegas também podem ser ligados, mas com eficiência
dos com os cromossomos maiores. Genes em um plasmí
muito menor. A eficiência é aumentada adicionando-se
deo incluem os que conferem resistência a antibióticos
enzimaticamente caudas de poli(dA) a uma espécie de para a bactéria, um atributo útil na seleção de colônias
DNA, e caudas de poli(dT) à segunda espécie. Os frag
específicas da bactéria. Os plasmídeos replicam-se in
mentos com caudas complementares podem ser anela
dependentemente da replicação do principal cromos
dos e ligados.
somo bacteriano. Um tipo de plasmídeo, os plasmídeos
de controle relaxado, pode estar presente em dezenas
ou centenas de cópias por bactéria, e sua replicação
depende exclusivamente das enzimas do hospedeiro
que têm meias-vidas longas. Portanto, a replicação de
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 275

plasmídeos “relaxados” ocorre em EcoRI


4361 BamHI
presença de um inibidor de síntese ScaI 375
proteica. As bactérias podem acumu 3846 SalI
lar milhares de cópias do plasmídeo PvuI 651
por célula nessas condições. Graças 3735 Gene que confere
PstI resistência à tetraciclina
a isso, o tipo de plasmídeo relaxado é
3609 BspMI
rotineiramente usado para produzir Gene que confere 1063
DNA recombinante. Em plasmídeos resistência à ampicilina Plasmídeo
pBR322
sujeitos a controle estringente, a re
plicação depende da síntese contínua
de proteínas codificadas no plasmí
deo. Esses plasmídeos replicam com
mais ou menos a mesma velocidade do
ori
grande cromossomo bacteriano, e só
poucas cópias ocorrem por célula.
FIGURA7.7 O plasmídeo pBR322 construído no laboratório para conter
O primeiro DNA recombinante características que facilitam a clonagem de fragmentos de DNA estrangeiro.
prático continha DNA estrangeiro li Por convenção, a numeração dos nucleotídeos começa com o primeiro T na única
sequência de reconhecimento por EcoRI (GAATTC), e as posições no mapa referem
gado com o vetor plasmídeo pSC101
-se à base 5! dos vários sítios de reconhecimento de endonucleases de restrição. São
de E. coli, que contém um sítio de en mostrados apenas alguns destes, nos genes de resistência a antibióticos e nenhum dos
donuclease de restrição EcoRI e um sítios onde uma enzima corta mais de uma vez.
gene que confere resistência a anti
biótico para a bactéria. O plasmídeo contém uma ori restrição (Figura 7.8); vetores com polylinkers são
gem de replicação e sequências regulatórias associadas ideais para esse propósito. O uso de duas enzimas gera
no DNA, que são em conjunto chamadas um replicon. fragmentos de DNA e plasmídeos linearizados com ex
Entretanto, o sítio único de endonuclease de restrição tremidades coesivas diferentes. Nessas condições, o
limita os fragmentos de DNA que podem ser clonados plasmídeo é incapaz de reanelar consigo mesmo. Além
aos gerados por EcoR1; o único marcador de seleção disso, o DNA estrangeiro é inserido no vetor em apenas
por resistência a antibiótico reduz a conveniência de se uma orientação. Isso é extremamente importante quan
leção, e o plasmídeo replica pouco. do se clona um gene potencialmente funcional à jusante
dos elementos regulatórios do promotor em vetores de
Plasmídeos vetores com maior versatilidade foram expressão.
construídos pela tecnologia do DNA recombinante.
As características desejáveis de um plasmídeo vetor
incluem um peso molecular relativamente baixo (3-5 Bactérias Transformadas com DNA
quilobases [kb]) para acomodar fragmentos maiores,
vários sítios de restrição diferentes, úteis para clonar Recombinante e a Necessidade de
fragmentos variados, múltiplos marcadores de seleção
para ajudar a selecionar bactérias com moléculas do um Processo de Seleção
DNA recombinante, e uma alta taxa de replicação. O A introdução artificial de DNA em uma bactéria é
primeiro plasmídeo construído (Figura 7.7) para satis chamada transformação. É realizada pela breve expo
fazer essas necessidades foi pBR322, que é usado para sição das células a cátions divalentes, o que as torna
gerar muitos vetores em uso hoje em dia. Estes contêm transitoriamente permeáveis a pequenas moléculas de
uma sequência de DNA inserida chamada polylinker, DNA. Moléculas de plasmídeos recombinantes conten
um banco de sítios de restrição ou sítio de policlona do o DNA estrangeiro podem ser introduzidas na bacté
gem, que contém numerosos sítios para endonucleases ria e replicar normalmente.
de restrição específicos do plasmídeo.
Uma vez que o plasmídeo tenha sido introduzido em
uma bactéria, ambos podem replicar. Durante o pro
Clonagem Direcional: DNA Inserido cesso de transformação, algumas bactérias podem não
captar um plasmídeo ou podem ser transformadas com
em DNA Vetor em uma Direção um vetor que não carrega o DNA estrangeiro; na prepa
Específica ração, alguns vetores podem reanelar sem a inclusão do
DNA estrangeiro. Em algumas condições experimen
A clonagem direcional reduz o número de recombi tais, fragmentos de DNA são gerados que são facilmen
nantes variáveis e aumenta a probabilidade de seleção te purificados a partir de espécies de DNA pequenas,
do recombinante desejado. A inserção do DNA estran muito puras, por exemplo alguns DNAs de vírus. Mais
geiro com uma polaridade definida em um plasmídeo comum, contudo, é que endonucleases de restrição ge
vetor, sem que o plasmídeo se feche novamente, pode rem numerosos fragmentos de DNA, cujo número de
ser realizada empregando-se duas endonucleases de pende do tamanho e da complexidade do DNA que está
276 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

PstI SacI SalI PstI nuclease de restrição. Ajustando-se a


razão entre plasmídeo e DNA estran
geiro, a probabilidade de juntar pelo
1 Digerir ambos os DNAs menos uma cópia de cada fragmento
separadamente com de DNA em um DNA recombinante
Sac I and Sal I Polylinkers
plasmidial cíclico aproxima-se de um.
EcoRI
HindIII
SalI Geralmente, apenas um fragmento de
SacI BamHI XbaI DNA é inserido em cada plasmídeo ve
tor. Bactérias são transformadas com
as moléculas recombinantes de modo
2 Purificar o DNA a ser BamHI
XbaI
que um plasmídeo seja captado por
clonado a partir de um
gel de agarose e misturar uma bactéria. Cada molécula recom
com o plasmídeo digerido binante é, então, replicada dentro da
bactéria; esta produz descendentes,
TCGAC
G C
GAGCT
G TCGAG
C cada uma carregando múltiplas cópias
CAGCT
do DNA recombinante. A população
total de bactérias resultante conterá
3 Anelar e ligar com DNA ligase
fragmentos de DNA que podem repre
sentar o genoma humano inteiro. Isso
CAGCTG
GTCGAC GAGCTC é chamado uma biblioteca genômica.
CTCGAG Como em qualquer biblioteca contendo
milhares de volumes, deve existir um
sistema de seleção para se encontrar o
FIGURA7.8 Clonagem direcional de DNA estrangeiro em vetores, em uma livro ou o gene de interesse.
orientação específica.
A inserção de um fragmento de DNA estrangeiro em um vetor com uma orientação Os plasmídeos são comumente em
específica requer duas sequências diferentes de anelamento, uma em cada extremi pregados para clonar fragmentos de
dade do fragmento, e da sequência complementar correspondente das duas extre DNA gerados a partir de DNA de tama
midades geradas no vetor. Duas sequências de anelamento diferentes são geradas
nho e complexidade limitados, como ví
por endonucleases de restrição específicas, que hidrolisam o fragmento de DNA es
trangeiro e o vetor. Um polylinker, com vários sítios específicos para endonucleases rus, e para subclonar fragmentos gran
de restrição no vetor, facilita a clonagem direcional. O conhecimento do mapa de des de DNA, clonados anteriormente
restrição do DNA de interesse permite a seleção das endonucleases de restrição em outros vetores. Fragmentos de DNA
apropriadas. genômico são geralmente clonados a
partir de vetores capazes de carregar
sendo usado, e fragmentos individuais não podem ser fragmentos maiores de DNA estrangeiro que os plasmí
isolados a partir dessas amostras. As endonucleases de deos (p. 288).
restrição não produzem necessariamente fragmentos
que contêm genes intactos. Um fragmento pode conter
um gene inteiro, mas não as sequências regulatórias
flanqueadoras necessárias, como a região do promotor.
Seleção de Bactéria Transformada
Se o gene estrangeiro for originário de mamífero, suas por Perda de Resistência a
sequências regulatórias não seriam reconhecidas pela
maquinaria de síntese bacteriana. O transcrito primá Antibiótico
rio do gene (pré-mRNA) pode conter íntrons, que não
Quando uma única bactéria transformada carregan
podem ser processados pela bactéria. Foram desenvol
do um DNA recombinante se multiplica, todos os seus
vidos métodos para selecionar bactérias que contêm o
descendentes carregarão cópias do mesmo plasmídeo
DNA desejado.
recombinante. O problema é como identificar a colônia
que contém o plasmídeo desejado em um universo de
milhares a milhões de colônias bacterianas diferen
Moléculas de DNA Recombinante tes. O plasmídeo construído pBR322 e suas modifica
em uma Biblioteca Gênica ções carregam dois genes que conferem resistência a
antibióticos e são sensíveis a várias endonucleases de
Quando uma mistura de milhares de genes diferen restrição. Quando um fragmento de DNA estrangeiro
tes, localizados em diferentes cromossomos como no é inserido em um sítio de restrição dentro de um deles,
genoma humano, é submetida a clivagem por uma úni o gene fica não-funcional e as bactérias que carregam
ca endonuclease de restrição, são gerados milhares de esse plasmídeo recombinante são sensíveis ao antibióti
fragmentos de DNA. Esses fragmentos de DNA podem co (Figura 7.10). Contudo, o segundo gene de resistência
ser anelados com um plasmídeo vetor que foi clivado a antibiótico do plasmídeo permanece intacto e as bacté
para produzir uma molécula linear pela mesma endo rias serão resistentes a esse antibiótico. Essa inativação
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 277

por inserção de produtos de genes no


1 Inativação por inserção
plasmídeo permite a seleção de bacté
rias que carregam os plasmídeos re
combinantes.
DNA genômico
ampr pBR322 tetr
Endonuclease
de restrição n fragmentos de DNA
O pBR322 contém genes que con
ferem resistência à ampicilina (ampr)
e à tetraciclina (tetr). Uma biblioteca
ampr ampr Endonuclease
gênica de fragmentos de DNA celular de restrição
inseridos no gene tetr pode ser sele
cionada e examinada em dois estágios
(Figura 7.9). Primeiro, as bactérias são ampr
crescidas em um meio de cultura con
tendo ampicilina. As bactérias que não
foram transformadas, como não têm
plasmídeo normal nem recombinante,
não crescerão em presença do anti
biótico, e essa população de bactérias
é eliminada. Isso, contudo, não indica tetr tetr
quais das bactérias remanescentes,
viáveis, carregam um plasmídeo vetor
recombinante, e não um plasmídeo
sem inserto de DNA. A segunda etapa tetr

é identificar as bactérias que carregam Plasmídeo reanelado Plasmídeo recombinante Sequências lineares de
vetores recombinantes, com genes tetr sem um fragmento de com o DNA inserido DNA recombinante
DNA estrangeiro inativa o gene tetr
não-funcionais, e que são, portanto,
sensíveis a tetraciclina.
2 Transformação de interesse
As bactérias resistentes à ampicilina
são plaqueadas e crescidas em placas
de agar contendo ampicilina (Figura
7.9). Placas réplicas são feitas tocando ampr tetr ampr tetr não cresce

-se as colônias da placa de agar original


com um filtro e, depois, tocando placas
adicionais estéreis com o filtro. Todas Bactéria com plasmídeo normal Bactéria com plasmídeo Bactéria
as placas conterão partes de cada colô recombinante não-transformada
BIBLIOTECA GÊNICA
nia original em posições identificáveis
nas placas. A placa réplica pode conter
3 Identificação de DNA de interesse Colônias
tetraciclina, que matará as bactérias
que abrigam um gene tetr interrompido. sensíveis à
tetraciclina
A comparação das placas réplicas com
e sem tetraciclina indica quais colônias Placa de
da placa original com ampicilina con agar
contento
têm plasmídeos recombinantes. ampicillina

Sondas de DNA ou RNA (p. 280 e Placa replica


contendo tetraciclina
281) são usadas para identificar o DNA Placa réplica em
filtro de nitrocelulose
de interesse. Colônias de bactérias re
sistentes à ampicilina no agar podem
Hibridizar
ser replicadas em um filtro de nitroce com sonda
lulose e as células aderidas lisadas com de 32P-DNA Colônias contendo o DNA de interesse clonado
NaOH (Figura 7.9). O DNA das bacté
rias lisadas é também desnaturado pelo
Autoradiografia
NaOH e fica firmemente ligado ao filtro.
FIGURA7.9 Inativação por inserção de plasmídeos recombinantes e detecção de bactérias transformadas
carregando um DNA clonado de interesse.
Quando a inserção de um fragmento de DNA estrangeiro em um vetor interrompe uma sequência de um gene funcio
nal, o DNA recombinante resultante não expressa o gene. O gene que codifica a resistência à tetraciclina (Tetr) é des
truído por inserção do DNA, enquanto o gene de resistência à ampicilina (Ampr) permanece funcional. A destruição
de um gene de resistência e retenção de um segundo gene de resistência a antibiótico permite a detecção de colônias
bacterianas que carregam o DNA estrangeiro de interesse no vetor de replicação recombinante.
278 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Etapa 1 Uma sonda marcada de DNA ou de RNA comple


Amplificação da região de DNA de interesse pelo PCR mentar ao DNA de interesse hibridizará com o DNA
ligado à nitrocelulose. O filtro é, então, testado por
5! Primer 1 autorradiografia de raios-X, que detectará todas as
colônias que carreguem o DNA clonado de interesse.
3! Primer 2 Essas manchas indicam as colônias na placa de agar
original que podem ser crescidas em uma cultura em
Região de interesse larga escala para manipulação.

PCR do híbrido DNA/primer


Os fragmentos de DNA clonados e amplificados
desnaturado e anelado geralmente não contêm um gene completo e não são
expressos. Os insertos de DNA, entretanto, podem ser
1
facilmente purificados para sequenciamento ou usa
O produto do PCR
dos como sondas para detectar genes em uma mistura
2
de DNA genômico, para analisar os níveis de transcri
ção de mRNA, e para detectar mutações que provo
cam doenças.
Etapa 2a
Empregar múltiplos primers (1! – 6!) simultâneamente
com o produto do PCR isolado, para gerar produtos
secundários de PCR de tamanhos variados
a-Complementação para
Selecionar Bactérias que Carregam
Plasmídeos Recombinantes
1! 3! 5!
Vetores foram construídos (a série pUC) de tal
modo que as bactérias selecionadas transformadas
a 2! b 4! c 6! com esses vetores carregando insertos de DNA es
trangeiro podem ser identificadas visualmente (Fi
gura 7.11). Os plasmídeos pUC contêm as sequências
Região a Região b Região c regulatórias e parte da sequência 5!-codificadora
c Produtos de PCR (146 aminoácidos N-terminais) do gene da b-ga
a,b,c lactosidase (gene lac Z) do operon lac (p. 319). O
Etapa 2b fragmento traduzido N-terminal da b-galactosidase
Repetir etapas 1 e 2a com produtos do material do
é um polipeptídeo inativo. E. coli mutante, que co
paciente, contendo uma região b potencialmente deletada difica a porção carboxi-terminal inativa que falta da
b-galactosidase, é transformada usando os plasmí
1! 5!
deos pUC. A tradução das porções da b-galactosidase
3!
+ do plasmídeo e da célula hospedeira em resposta a
a 4! um indutor, isopropil tio-b-D-galactosídeo, se com
2! 6! plementam, gerando uma enzima ativa. O processo
Produtos de PCR a,c é chamado a-complementação. Quando essas bac
térias transformadas crescem em presença de um
Etapa 3 substrato cromogênico (5-bromo-4-cloro-3-indolil
Separar e detectar os produtos de PCR das amostras -b-D-galactosídeo [X-gal]) para a b-galactosidase,
controle e do paciente por eletroforese em gel de agarose formam colônias azuis. Se, entretanto, um fragmen
e coloração com brometo de etídio para demonstrar a
delação da região b no DNA do paciente
to de DNA estrangeiro for inserido na sequência da
porção N-terminal da b-galactosidase, a enzima ativa
normal paciente não pode ser formada. Bactérias transformadas com
b esses plasmídeos recombinantes e crescidas em X
-gal resultam em colônias brancas, e podem ser sele
c
cionadas visualmente das colônias azuis não-trans
a formadas.

FIGURA7.10 PCR multiplex para analisar uma região de DNA de interesse quanto a mutações.
Uma região do DNA em uma molécula complexa de DNA é amplificada por PCR com primers que são complementares a sequências
flanqueadoras da região do DNA de interesse (etapa 1). O produto do PCR é, então, usado como molde simultaneamente por múltiplos
pares de primers (etapa 2a) que são complementares ao longo do DNA (aqui eles cobrem três segmentos: a, b e c). Esse procedimento
requer conhecimento prévio do DNA ou do gene normal. A etapa 2a é repetida para o DNA derivado de um paciente com mutação(ões)
em potencial na região do DNA de interesse (etapa 2b). Os produtos do DNA amplificados pela etapa de PCR multiplex (etapas 2a e b)
são, então, analisados por eletroforese em gel de agarose para verificar se a amostra do paciente contém uma mutação (etapa 3).
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 279

Sítio de policlonagem N-terminal FIGURA7.11 a-Complementação para


interrompido detecção de bactérias transformadas.
Sequência
ampr 2686 bp
pUC 18 N-terminal do gene
codificadora ampr N-terminal
inserido
estrangeiro
DNA Um vetor construído (pUC 18) expressa a
pUC 18 sequência codificadora N-terminal da enzi
2686 bp
da β-galactosidase ma b-galactosidase do operon lac. Bactérias
do operon lac mutantes que codificam a região C-terminal
interrompido
Colônias da b-galactosidase são transformadas com
pUC 18. Essas bactérias transformadas,
Promotor
crescidas em presença de um substrato
Transformação
especial para a enzima intacta (X-gal), re
Transformação sultam em colônias azuis porque contêm a
enzima para reagir com o substrato. As se
Cromossomo quências codificadoras funcionais N-termi
nal e C-terminal do gene complementam-se
Sequência mutuamente, gerando uma enzima funcio
codificacora pUC18
C-terminal do gene
nal. Se, entretanto, um fragmento de DNA
recombinante
pUC18 da β-galactosidase estrangeiro for inserido, interrompendo a
A bactéria cresce em
do operon lac sequência codificadora N-terminal da b-ga
agar contendo
A bactéria cresce em X-gal e um indutor
lactosidase, bactérias transformadas com
agar contendo do operon lac essa molécula recombinante não produzirão
X-gal e um indutor enzima funcional. Colônias de bactérias con
do operon lac tendo esses vetores recombinantes podem
ser detectadas visualmente como colônias
brancas
contendo
brancas.
pUC18
recombinante

Colônias azuis

Colônias azuis contendo pUC18


sem o DNA estrangeiro

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.5


PCR Contorna a Necessidade de
Análise por PCR Multiplex de Defeitos no Gene
Clonar DNA
da HGPRTase na Síndrome de Lesch–Nyhan Clonagem e amplificação de um fragmento de DNA
são empregadas em subclonagem, mutagênese e estu
A síndrome de Lesch–Nyhan (OMIM 300322) re
dos de sequenciamento. O PCR tem substituído a ne
sulta de uma deficiência na atividade da hipoxantina
cessidade de amplificar DNA recombinante em um sis
-guanina fosforribosiltransferase (HGPRTase) (VER
tema biológico de replicação, reduzindo muito o tempo
Correlação Clínica 20.2, p. 43). Diversas formas va
e as etapas preparativas necessárias. Não é necessário
riantes de defeitos na HGPRTase foram detectadas.
conhecer a sequência do DNA inserido (até 6 kb) para
A amplificação por PCR Multiplex do locus do gene
amplificá-lo por PCR, desde que a sequência do DNA do
HGPRT foi empregada para analisar esse gene em
vetor que flanqueia o inserto seja conhecida.
células derivadas de pacientes com a síndrome de
Lesch–Nyhan, e os resultados são responsáveis pela O PCR pode contornar completamente a neces
variabilidade da HGPRTase. O gene, compostos por sidade de clonar o DNA de interesse. Por exemplo,
nove éxons, pode ser amplificado por multiplex usan um gene de sequência conhecida pode ser facilmente
do-se 16 primers diferentes em uma única reação de analisado em DNA de um paciente para a detecção
PCR. Os produtos podem ser separados por eletrofo de mutações por uma estratégia de PCR multiplex.
rese em gel de agarose. A análise do locus do gene O DNA é isolado de células sanguíneas do paciente
HGPRT por amplificação multiplex do DNA derivado e múltiplos pares de oligonucleotídeos primers são
de células de vários pacientes detectou grandes va sintetizados para amplificar o gene inteiro ou regiões
riações que vão desde deleção de regiões de éxons específicas do gene (Figura 7.10). A análise dos frag
até a total ausência de éxons. mentos de DNA amplificados por eletroforese em gel
de agarose revela qualquer mutação por deleção em
Rossiter, B. J. F. et al. PCR, A Practical Approach, Vol.
1. Em McPherson, M. J. et al. (Eds)., Oxford: Oxford Uni comparação com os produtos do gene normal. O se
versity Press, 1994, 67. quenciamento direto de múltiplos produtos de PCR
detecta mutações puntuais no gene do paciente. O
PCR multiplex foi usado para detectar defeitos no
gene da HGPRTase em pacientes com síndrome de
Lesch-Nyhan (Correlação Clínica 7.5).
280 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

7.5 DETECÇÃO E te grandes de RNA podem ser transcritas de um molde,


que pode estar disponível em quantidades muito limi
IDENTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS tadas. Uma sonda de DNA dupla-fita (dsDNA) deve ser
desnaturada antes da hibridização com o DNA alvo e
NUCLEICOS E PROTEÍNAS re-hibridização consigo mesma compete com a hibridi
QUE SE LIGAM AO DNA zação com o DNA de interesse. Nenhuma competição
semelhante ocorre com sondas de RNA fita-única, que
hibridizam com moléculas complementares de DNA ou
Ácidos Nucleicos como Sondas RNA. A síntese de uma sonda de RNA requer DNA como
molde. Para ser transcrito, o molde deve estar covalen
(Probes) para Sequências Específicas temente ligado a um promotor a montante do gene, que
possa ser reconhecido por uma RNA polimerase depen
de DNA ou RNA dente de DNA. Foram construídos vetores que são ade
Sondas de DNA e RNA são usadas para a seleção de quados a esta técnica.
bactérias que abrigam o DNA recombinante de interes
se, para a análise do mRNA expresso em uma célula
3!
5! 3!
ou para a identificação de sequências de DNA em um
genoma. Elas contêm sequências complementares ao 5!
ácido nucleico alvo e hibridizam com o ácido nucleico de
interesse. O grau de complementaridade determina a 1 Quebra DNAse I pancreática
força de ligação da sonda. A sonda não precisa conter a
sequência complementar inteira do DNA. A sonda pode 5!
3! OH
P OH
3!
ser marcada, geralmente com 32P ou com marcas não OH P

-radioativas que dependem de substratos de enzimas P 5!


acoplados a nucleotídeos que, quando incorporados ao
ácido nucleico, podem ser detectados por uma reação (a) DNA polymerase
2 Tradução
catalisada pela enzima. 5!
3! de E.coli (pol I)
OH P OH OH P
Sondas marcadas são produzidas por nick trans 3!
lation (tradução com corte) do DNA dupla-fita. Nick
translation (Figura 7.12) envolve a clivagem aleatória P 5!

de uma ligação fosfodiéster do esqueleto de uma fita


de DNA pela DNase I; as quebras são chamadas nicks. (b) α-32PdCDP ∗
3!
5! ∗P
P∗∗PO OP∗∗
dATP, dGTP,
P dTTP
A DNA polimerase I de E. coli, com sua atividade exo
nucleolítica 5! → 3! e sua atividade de DNA polimerase, OP∗ 3!
cria falhas de fita única por meio de hidrólise de nucle 5!
otídeos do lado 5! do nick e, depois, preenche a falha
com sua atividade de polimerase. A reação é geral FIGURA7.12 Nick translation para marcar sondas de
mente realizada em presença de um dNTP marcado DNA.
em a-32P e os outros três dNTPS não-marcados. O DNA Moléculas purificadas de DNA podem ser marcadas radioati
empregado nesse método é geralmente purificado e é vamente e usadas para detectar, por hibridização, a presença
derivado de DNA clonado, de DNA viral ou de cDNA. de RNA ou DNA complementar em amostras experimentais.
(1) Etapa de nicking (corte): introduz quebras de fita-única
A marcação de DNA com primer aleatório tem ní aleatórias no DNA. (2) Etapa de tradução: DNA polimerase de
E. coli (pol I) tem atividade exonucleásica 5!→3!, que remove
tidas vantagens sobre o método de nick translation. O
nucleotídeos da extremidade 5! do corte (nick) e atividade
método de primer aleatório típico requer apenas 25 ng de polimerase, que simultaneamente preenche a falha de fita
de DNA, em comparação com 1-2 mg de DNA para nick -única com nucleotídeos marcados radioativamente, usando a
translation, e resulta em sondas marcadas com uma extremidade 3! como primer.
atividade específica (>109 cpm/mg) aproximadamente
10 vezes maior. Esse método geralmente produz son
das marcadas de DNA mais longas. A sonda dupla-fita
é desnaturada e hibridizada com uma mistura de hexa Uma sonda marcada de DNA ou RNA é hibridizada
nucleotídeos aleatórios, contendo todas as sequências com ácidos nucleicos ligados a nitrocelulose e identifi
cada por detecção da sonda marcada. Os ácidos nuclei
possíveis (ACTCGG, ACTCGA, ACTCGC etc.). Hexanu
cleotídeos hibridizados servem de primers para sínte cos de interesse são transferidos para a nitrocelulose a
se de DNA com uma DNA polimerase, como a enzima partir de colônias bacterianas crescidas em agar ou de
Klenow, em presença de um ou mais dNTPs marcados. géis de agarose nos quais foram separadas eletroforeti
camente, por tamanho.
Sondas de RNA marcadas têm vantagens sobre son
das de DNA. Uma delas é que quantidades relativamen
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 281

Técnica de Southern Blot para blots), como descrito a seguir, e de proteínas (Western
blots) para filtros de nitrocelulose ou membranas de
Identificar Fragmentos de DNA nylon.
A transferência de espécies de DNA separadas por
eletroforese em gel de agarose para um filtro, para aná Indivíduo A Indivíduo B Indivíduo C
lise, foi desenvolvida na década de 1970 por E. M. Sou
thern, e é uma ferramenta indispensável. O método é
chamado técnica de Southern blot (Figura 7.13). Uma DNA genômico humano
mistura de fragmentos gerados por endonuclease de Clivagem com uma
restrição pode ser separada conforme seu tamanho por endonuclease
eletroforese em gel de agarose. O DNA é desnaturado de restrição

mergulhando-se o gel em álcali. O gel é, então, colocado


sobre papel absorvente, e um filtro de nitrocelulose é
colocado diretamente sobre o gel. Várias camadas de A B Eletroforese C
papel absorvente são colocadas sobre o filtro de nitro em gel
de agarose
celulose. O papel absorvente sob o gel é mantido úmi
do com uma solução salina concentrada que é puxada
para cima, através do gel, da nitrocelulose, e para as
Gel
camadas de papel absorvente de cima por capilaridade.
O DNA é eluído do gel pelo movimento para cima da A B C
solução salina concentrada em direção ao filtro de ni
trocelulose de cima, onde fica ligado. A posição do DNA
Transferência
ligado ao filtro de nitrocelulose é a mesma da presente do filtro de
no gel de agarose. O DNA fita-única ligado à membrana nitrocelulose
pode ser analisado com sondas marcadas.
A técnica de Southern blot é utilíssima para a de
tecção e a determinação do número de cópias de se
quências específicas no DNA genômico complexo, para a
confirmação de resultados de clonagem de DNA, e para
a demonstração de DNA polimórfico no genoma huma
no que corresponde a estados patológicos. Um exemplo
do uso do Southern blot é apresentado na Figura 7.13.
Papel
Gel
DNA genômico humano total, isolado de três indivídu
os, foi digerido separadamente com uma endonuclease Filtro de nitrocelulose
Papéis absorventes
de restrição, gerando milhares de fragmentos. Estes fo
ram distribuídos pelo gel de agarose de acordo com o
tamanho, em um campo elétrico. O DNA foi transferido
(blotted) para um filtro de nitrocelulose e hibridizado Filtro

com uma sonda de DNA ou de RNA marcada com 32P


para um gene de interesse. A sonda detectou duas ban
das em todos os três indivíduos, indicando que o gene
de interesse foi clivado em um ponto dentro de sua se Hibridização
quência. Os indivíduos A e B apresentaram um padrão com sonda
DNA ou RNAde
normal, enquanto o paciente C tinha uma banda nor
marcada
mal e uma banda de menor peso molecular. Esse é um com 32P A B C
exemplo de detecção de fragmentos de DNA alterados
gerados por endonuclease de restrição para diferentes FIGURA7.13 Southern blot para transferir DNA de géis
indivíduos de uma única espécie, polimorfismo de com de agarose para nitrocelulose.
primento de fragmento de restrição (RFLP, restriction A transferência do DNA para a nitrocelulose, na forma de mo
fragment length polymorphism). A detecção de um léculas de fita-única, permite a detecção de sequências especí
fragmento de peso molecular reduzido no paciente C ficas de DNA numa mistura complexa de DNA. A hibridização
implica que a deleção de um segmento do gene ocor com sondas marcadas por nick translation pode demonstrar
se uma sequência de DNA de interesse está presente na mes
reu e pode estar associada com o estado patológico. O
ma região ou em regiões diferentes do genoma.
gene desse paciente pode ser clonado, sequenciado e
analisado completamente para caracterizar a natureza
alterada do DNA (Correlação Clínica 7.6).

Outras técnicas que empregam os princípios do


Southern blot são a transferência de RNA (Northern
282 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.6

Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de Restrição Determina a Origem Clonal de Tumores

Considera-se geralmente que a maioria dos tumores Portanto, uma célula feminina pode conter um cro
é de origem monoclonal; isto é, um evento raro altera mossomo X com o gene HGPRTase possuindo 2 sítios
o genoma de uma única célula somática de modo que Bam HI (resulta em um fragmento de DNA de 24 kb)
as células passam a apresentar crescimento anormal, ou 3 sítios Bam HI (resulta em um único fragmento
gerando uma massa tumoral, com todas as células fi detectável de DNA de 12 kb). Essa figura mostra os
lhas carregando o genoma igualmente alterado. Prova resultados esperados para a análise do DNA de célu
de que um tumor é monoclonal versus policlonal pode las tumorais para determinar sua origem monoclonal
ajudar a distinguir hiperplasia (produção e crescimen ou policlonal. Como esperado, três tumores humanos
to aumentados de células normais) de neoplasia (cres examinados por esse método mostraram ter origem
cimento de células novas ou tumorais). A detecção de monoclonal.
polimorfismos de comprimento de fragmentos de res
trição (RFLPs) em amostras de DNA submetidas a Sou
thern blot permite definir a origem clonal de tumores 24 kb
humanos. Se as células tumorais fossem coletivamen
te derivadas de células parentais diferentes, deveriam
12 kb
conter uma mistura de marcadores de DNA característi
cos de cada célula de origem. Entretanto, um marcador HhaI sítios
de DNA idêntico em todas as células tumorais indicaria
uma origem monoclonal. A análise é limitada ao sexo
feminino, para tirar vantagem do fato de cada célula ter B1
apenas um cromossomo X ativo, de origem paterna ou B2 B3
materna, com o segundo cromossomo X sendo inativo.
A ativação ocorre aleatoriamente durante embriogê
pPB1.7
nese e é fielmente mantida em todas as células filhas,
com metade das células carregando um cromossomo X (a)
materno ativado e a outra metade, um cromossomo X
paterno ativado. 24 kb

A análise da natureza clonal de um tumor humano


depende do fato de a ativação de um cromossomo X 12 kb

envolver alterações na metilação de resíduos específi


cos de citosina (C) na molécula de DNA. Várias endo 1.7
nucleases de restrição, como Hha I, que cliva o DNA
em sítios GCGC, não clivam o DNA em suas sequên 1 2 3 4
cias de reconhecimento se um C estiver metilado nes (b)
se local. Portanto, o estado metilado (ativado versus
inativado) do cromossomo X pode ser verificado com
endonucleases de restrição. Além disso, o cromosso
Análise de DNA genômico para determinar a origem
mo X paterno pode ser diferenciado do cromossomo X
clonal de tumores. (a) O gene da hipoxantina guanina fos
materno em um número significativo de indivíduos por forribosiltransferase (HGPRTase) ligado ao cromossomo X
diferenças na migração eletroforética de fragmentos contém dois sítios invariantes para a endonuclease de restri
gerados por endonucleases de restrição derivados de ção Bam H1 (B1 e B3), enquanto em alguns indivíduos um
regiões específicas do cromossomo. Esses fragmentos terceiro sítio, B2, também está presente. O gene também con
são identificados em Southern blot por hibridização tém vários sítios HhaI; entretanto, todos esses sítios, exceto
com uma sonda de DNA que é complementar a essa H1, estão geralmente metilados no cromossomo X ativo. Por
região do cromossomo X. Um gene ligado ao X que é tanto, apenas o sítio H1 estaria disponível para clivagem por
HhaI no cromossomo X ativo. Uma sonda marcada, clonada,
adequado para esses estudos é o gene da hipoxantina
guanina fosforribosil transferase (HGPRTase). O gene pPB1.7, é empregada para se determinar qual a forma do gene
HGPRTase que está presente em um tumor e se está presente
HGPRTase consistentemente tem dois sítios para a en no cromossomo X ativo. (b) Os padrões de endonucleases de
donuclease de restrição Bam HI (B1 e B3 na figura) restrição previstos para tumores monoclonais versus policlo
mas, em alguns indivíduos, um terceiro sítio (B2) tam nais são os seguintes: (1) Clivado só com Bam H1. Fragmento
bém está presente. de 24 kb derivado de um gene contendo apenas sítios B1 e B3
e fragmento de 12 kb derivado de um gene contendo o sítio
A presença do sítio B2 em HGPRTase de apenas um extra B2. O padrão é característico de indivíduos heterozigo
cromossomo X parental permite a detecção de RFLPs. tos. (2) Clivado com Bam H1 mais Hha I, o tumor monoclonal
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 283

com 12 kb derivado de um cromossomo X ativo (metilado). Vogelstein, B., Fearon, E. R., Hamilton, S. R., and Fein
(3) Clivado com Bam H1 mais Hha I; tumor monoclonal com berg, A. B. Use of restriction fragment length polymorphism
o fragmento de 24 kb derivado de um cromossomo X ativo to determine the clonal origin of tumors. Science 227:642,
(metilado). (4) Clivado com Bam H1 mais Hhal, tumor po 1985.
liclonal. Todos os tumores estudados apresentaram padrões
iguais aos da Linha 2 ou Linha 3.

Polimorfismo de Conformação de Detecção de mRNA


Cadeia Única A análise da quantidade de espécies de mRNA em
um tecido ou em preparações de RNA total é frequen
Análise por Southern blot e detecção de trocas de temente crítica para o nosso entendimento da regula
bases em DNA de diferentes indivíduos por análise ção gênica do crescimento celular e da diferenciação
de RFLP depende da alteração de um sítio de endo
tecidual. É possível acessar o momento, o nível e o lo
nuclease de restrição. Uma substituição, deleção ou cal em um tecido da expressão gênica pela análise de
inserção de base (um polimorfismo de nucleotídeo espécies específicas de mRNA. Várias técnicas estão
único [SNP, single-nucleotide polymorphism]) ra disponíveis para analisar a quantidade de uma espécie
ramente ocorre em um sítio de endonuclease de res específica de mRNA em uma preparação de RNA. (a) A
trição. Entretanto, essas modificações são detectadas análise por Northern blot requer a separação eletrofo
em sítios específicos pelo polimorfismo de conforma
rética de espécies de RNA, por tamanho, em um gel de
ção de cadeia única (SSCP, single-strand confor agarose, seguida pela transferência e ligação cruzada
mation polymorphism). Essa técnica tira vantagem a uma membrana, como na técnica de Southern blot.
do fato do DNA fita-única, com menos de 400 bases As espécies de RNA fixadas são, então, hibridizadas
de comprimento, sujeito a eletroforese em um gel de com uma sonda marcada específica para as espécies
poliacrilamida, migrar com uma mobilidade parcial de mRNA de interesse. Se a sonda for radioativa, os
mente dependente de sua conformação. A alteração de híbridos podem ser detectados por autorradiografia.
uma única base geralmente modifica a conformação Sondas não-radioativas também estão disponíveis.
do DNA o suficiente para que seja detectada como uma Análise por Northern blot permite fácil determinação
mudança de mobilidade na eletroforese em gel de po do tamanho do mRNA e a identificação de transcritos
liacrilamida não-desnaturante. com splicing alternativo em potencial e/ou a presença
de transcritos de famílias multigenes. (b) RT-PCR (Se
A análise de uma região pequena de DNA genô ção 7.8), ao contrário do Northern blot, permite medir
mico ou de cDNA por SSCP é feita por amplificação
a quantidade de uma espécie de mRNA presente em
por PCR da região de interesse. Oligonucleotídeos uma amostra de RNA. A medida baseia-se na compa
iniciadores (primers) sense e antisense são sinteti ração da quantidade relativa do produto de PCR de um
zados, flanqueando a região de interesse, e esse DNA
transcrito controle interno com a quantidade de um
é amplificado por PCR em presença de nucleotídeo(s)
mRNA específico na mesma amostra. Transcritos con
marcado(s) radioativamente. O produto do PCR puri troles internos típicos incluem a GAPDH (gliceraldeí
ficado, marcado radioativamente, dupla-fita, é então do 3-fosfato desidrogenase) e a b-actina. (c) O ensaio
desnaturado por calor em formamida 80% e imedia de proteção de nuclease (NPA, nuclease protection
tamente aplicado a um gel de poliacrilamida não-des assay) não dá nenhuma informação sobre o tamanho
naturante. As mobilidades dos produtos controles são do mRNA de interesse, mas é ideal para a análise si
comparadas com amostras de estudos experimentais multânea de múltiplas espécies de mRNA. Sondas ra
ou de pacientes. A detecção de mutações em amos diomarcadas ou não-isotópicas são hibridizadas com
tras de pacientes pode identificar lesões genéticas.
a amostra de RNA em solução. A hibridização em so
Esses procedimentos foram aplicados com sucesso à
lução é mais eficiente do que a hibridização com RNA
análise de genes associados com a síndrome do QT
fixado em membrana, como se usa em Northern blot.
longo, que foi implicada na síndrome da morte súbi A sonda remanescente e os RNAs não-hibridizados
ta infantil (SIDS) (Correlação Clínica 7.7). O método
são, então, hidrolisados por nucleases. A mistura de
depende de conhecimento anterior da sequência do espécies hibridizadas é, então, separada em um gel de
gene ou fragmento do gene de interesse, enquanto a acrilamida de baixa porcentagem (6%). O tamanho de
análise de RFLP requer apenas análise do mapa de cada espécie hibridizada é determinado pelo tamanho
restrição do DNA. da sonda empregada. O NPA é comumente usado para
detectar mRNAs transcritos em diferentes tecidos
(Figura 7.14). (d) A hibridização in situ é o único mé
todo descrito nesta seção para definir que célula em
uma amostra de tecido fixado por formalina expressa
284 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.7

Polimorfismo de Conformação de Cadeia Única para Detecção de Mutações Espontâneas que Podem Levar
a SIDS

A síndrome da morte súbita infantil (SIDS) é uma (proteína associada com o canal de sódio) na amostra
causa importante de morte durante o primeiro ano de de DNA do bebê, mas não dos pais. A mutação substi
vida nos Estados Unidos. Estudo prospectivo em mais tuiu um resíduo de serina por uma asparagina em uma
de 34.000 recém-nascidos que foram monitorados por região muito conservada da proteína, que se presume
eletrocardiografia indicou uma forte correlação entre participe da função do canal de sódio. A mutação não
risco aumentado de SIDS e intervalo QT prolongado foi detectada em 200 indivíduos controles. A conclu
em seu ECG. Com base nesse estudo, decidiu-se pro são foi que o bebê tinha uma mutação espontânea em
curar uma mutação em um ou mais dos genes que se um gene associado com intervalo QT prolongado e isso
sabe estarem relacionados com a síndrome do QT lon contribuiu para um evento tipo SIDS. Após tratamen
go em um bebê de 44 dias de idade, que se apresentou to, a criança ficou livre dos sintomas por volta dos 5
cianótica, apneica e sem pulso ao pronto socorro de anos de idade. Esse estudo indica o valor potencial do
um hospital. A arritmia da criança com um interva exame eletrocardiográfico neonatal para reduzir mor
lo QT prolongado foi estabilizada com múltiplos ele talidade infantil por SIDS.
trochoques DC, seguidos de tratamento com drogas.
DNA genômico foi preparado a partir de linfócitos do Schwartz, P. J., Priori, S. G., Dumaine, R., Napolitano, C.
sangue periférico do bebê e de seus pais. Um gene et al. AA molecularmolecular linklink betweenbetween thethe suddensudden infantinfant deathdeath syn-syn
associado com a síndrome do QT longo continha a drome and the Long-QT syndrome. N. Engl. J. Med. 343: 262,
substituição de AAC para TCC na posição 2971 a 2972 2000.

(a) Solução de hibridização

Sonda X 250 bases + Sonda Y 300 bases

mRNAX + mRNAY

outros RNAs
400 bases
SondaZ
+
mRNAZ e sondas não
hibridizadas

(b) Digestão com nuclease

250 bp 300 bp 400 bp


HíbridoX + HíbridoY + HíbridoZ

(c) Reações de amostras de RNA de diferentes tecidos analizadas por eletroforese em gel de poliacrilamida

o o o
o ã ã r
400 bp
300 ã
r a
ç b
d r m
l e
r e
l
a o u é e
P C P C P FIGURA7.14 Ensaio de proteção de nuclease.
O mRNA celular total pode ser isolado de diferentes tecidos.
Sondas de DNA fita-única que são complementares às se
quências conhecidas de diferentes genes transcritos (mRNAx,
mRNAy, mRNAz) são hibridizadas com a mistura de RNAs. A
250 bp
digestão com uma ribonuclease hidrolisará as regiões de RNA
fita-única de mRNA não-hibridizado com a sonda de DNA e
todas as espécies de RNA que não-hibridizaram. Só os híbridos
DNA-RNA protegidos da nuclease permanecerão para análise
por eletroforese em gel de poliacrilamida. A expressão dife
rencial de genes em diferentes tecidos é, então, facilmente
observada.
CAPÍTULO 7 DNA-radioativo
DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA
(DNA*) + Proteína(s) • 285

um gene específico. Nesse método, o RNA não é isola


do nem submetido às separações por eletroforese. Em Incubação + Anticorpo
vez disso, os tecidos de interesse são fixados, cortados
em fatias finas e montados em lâminas para microsco Complexo DNA*-proteína ou
pia. As proteínas são digeridas com proteinase K para
Complexo DNA*
aumentar a acessibilidade da sonda marcada para hi Anticorpo
proteína-
DNA* +
bridizar com o mRNA celular de interesse. Esse méto complexoproteína-
do suporta dados de ensaios de proteção de nuclease
Anticorpo
e também define que tipos celulares nos tecidos estão
Eletroforese em Gel/Autorradiograma:
expressando o mRNA de interesse.
Padrão DNA* DNA* DNA*
+
DNA* proteína proteína
proteína Anticorpo Anticorpo
Detecção de Proteínas que se Ligam
a Sequências Específicas no DNA
Proteínas regulatórias ligam-se a sequências espe
cíficas do DNA que flanqueiam genes e regulam aumen
tando ou diminuindo a expressão gênica. O ensaio de
deslocamento da mobilidade eletroforética (EMSA,
electrophoretic mobility shift assay), ou método de
retardo no gel, foi amplamente empregado para anali FIGURA7.15 Ensaio de mudança de migração
sar proteínas que se ligam ao DNA em sequências es
eletroforética.
pecíficas, bem como a sequência de DNA necessária à DNA purificado migra em um gel quando submetido a um
ligação. Proteínas com características em potencial de campo elétrico com base em sua carga e massa molecular. Se
se ligarem ao DNA podem ser preparadas a partir de ex proteína(s) for(em) adicionada(s) ao gel, o DNA purificado,
tratos de células inteiras, extratos nucleares, preparações que complexa com o DNA total, aumenta a massa molecular
de proteínas purificadas ou proteínas recombinantes de aparente do DNA. Isso diminuiria sua migração no gel – uma
sistemas de expressão geneticamente engenheirados. mudança de migração. A adição de um anticorpo que reage
com a proteína complexada com o DNA, mas que não inter
A sonda de DNA é radiomarcada. O DNA empregado
fere com a interação DNA-proteína, aumentará ainda mais o
pode ser fragmentos de DNA, oligonucleotídeos sinté tamanho do complexo DNA-proteína e retardará sua migração.
ticos dupla-fita, ou DNA clonado contendo um sítio de Se o anticorpo reagir com a região de ligação ao DNA da pro
ligação de proteínas ou sítio(s) em potencial para liga teína, um complexo DNA-proteína não se formará. Em ambos
ção de proteínas. O DNA deve ser de dupla fita, uma vez os casos, o anticorpo ajuda a identificar a proteína que se liga
que DNA fita-única ligaria proteínas não-específicas ao DNA.
que se ligam a fita-única (com extratos celulares ou
nucleares), o que interferiria com a interpretação dos
resultados. A sonda de DNA marcada e purificada e a
amostra de proteína são pré-incubadas para formar um
7.6 DNA COMPLEMENTAR
complexo estável proteína-DNA antes da análise eletro E BIBLIOTECAS DE DNA
forética da amostra.
COMPLEMENTAR
A Figura 7.15 mostra esquematicamente os resulta
dos esperados onde o DNA marcado complexa com uma A inserção de genes eucarióticos específicos funcio
proteína, resultando em seu movimento retardado no nais em vetores que podem ser expressos em uma cé
gel em relação ao DNA que não reagiu. Se um anticor lula procariótica poderia produzir grandes quantidades
po contra a proteína que se liga ao DNA de interesse de proteínas geneticamente engenheiradas, com signi
for adicionado ao tubo de pré-incubação, ocorre uma ficativo potencial médico, agrícola e experimental. Hor
de duas possíveis reações. Se o anticorpo se ligar a um mônios e enzimas, incluindo insulina, eritropoietina,
epitopo que não impede a ligação da proteína ao DNA, trombopoietina, interleucinas, interferons e ativador de
o tamanho do complexo aumenta resultando num su plasminogênio tecidual são atualmente produzidos por
perdeslocamento (maior retardo) na migração no gel. esses métodos. Não é possível clonar genes funcionais
Por outro lado, se o anticorpo bloquear o sítio de ligação a partir de DNA genômico, exceto em casos raros. Uma
da proteína ao DNA, um complexo proteína-anticorpo razão é que a maioria dos genes do genoma de mamífe
se formará e a sonda de DNA marcada não apresentará ros gera transcritos que contêm íntrons, que precisam
modificação em sua migração no gel. Em qualquer caso, ser removidos do mRNA transcrito primário. Sistemas
o resultado com o anticorpo confirmaria a identidade procarióticos são incapazes de remover íntrons para
da proteína que se liga ao DNA. gerar transcritos de mRNAs funcionais. Esse problema
pode ser contornado pela síntese de DNA complemen
tar (cDNA) a partir de mRNA eucariótico funcional.
286 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

mRNA como Molde para Síntese de contém uma alça fita-única, que é reconhecida e digeri
da pela nuclease S1. As extremidades do cDNA devem
DNA Usando Transcriptase Reversa ser modificadas antes da clonagem em um vetor. Um
método envolve a incubação de moléculas de cDNA com
O RNA mensageiro pode ser reversamente transcri
extremidades retas com moléculas ligantes (linker) e
to em cDNA, e o cDNA pode ser inserido em um vetor uma DNA ligase de bacteriófago T4, que catalisa a liga
para amplificação, identificação e expressão. Células
ção de moléculas de extremidades retas (Figura 7.17).
de mamíferos normalmente contêm 10.000-30.000 es As moléculas linker sintéticas contêm sítios para endo
pécies diferentes de moléculas de mRNA em um dado
nucleases de restrição, que são agora clivados com a en
momento do ciclo celular. Em alguns casos, entretanto, zima apropriada, para inserção do cDNA em um vetor
uma determinada espécie de mRNA pode chegar a 90%
clivado com a mesma endonuclease.
do mRNA total, tal como o mRNA de globina em reti
culócitos. Muitos mRNAs estão normalmente presentes
em apenas poucas cópias (1-14) por célula. Uma biblio
5! Cap
teca de cDNA pode ser construída a partir do mRNA
oligo dT(12–18) AA...An 3!
celular total, mas se apenas poucas cópias do mRNA Cauda de poli A
de interesse estiverem presentes, pode ser muito difícil mRNA
Adição do primer
identificar o cDNA. Métodos que enriquecem a popula
ção de mRNAs ou seus cDNAs correspondentes permi 5!
AA...An 3!
tem reduzir o número de espécies diferentes de cDNA TT(12–18)5!
em uma biblioteca de cDNA e aumentam muito a proba mRNA
bilidade de identificação do clone de interesse. Transcriptase reversa
dATP, dCTP,
mRNA Desejado Pode Ser Enriquecido por dGTP, dTTP

Técnicas de Separação
5! AA...An 3!
O RNA mensageiro pode ser separado por tamanho TT(12–18)5!
por eletroforese em gel ou centrifugação. O isolamento Híbrido cDNA: mRNA

de mRNA de uma faixa específica de tamanho molecu


Aplicação de calor
lar enriquece muitas vezes um mRNA de interesse. O ou álcali
conhecimento do peso molecular da proteína codificada
pelo gene de interesse dá uma ideia do tamanho aproxi
Alça em
grampo 3!
mado do mRNA transcrito ou de seu cDNA; a variabili dT(12–18)5!
dade no tamanho previsto, contudo, surge de diferenças
no comprimento das regiões não-traduzidas dos mRNAs.
Fragmento Klenow
Enriquecimento em uma molécula específica de de DNA polimerase
mRNA também pode ser conseguido por procedimen de E. coli
dATP, dCTP,
tos imunológicos, mas requer a disponibilidade de an
dGTP, dTTP
ticorpos contra a proteína codificada pelo gene de inte
resse. Anticorpos adicionados a uma mistura de síntese
proteica in vitro reagem com a cadeia polipeptídica dAdT(12–18)3!
em crescimento associada com polissomos, e os preci (12–18)5!
pitam. O mRNA pode então ser purificado a partir da S1 nuclease
fração polissomal imunoprecipitada.
3!
5! dA 3!
Síntese de DNA Complementar dT(12–18)
(12–18) 5!
cDNA
Uma mistura de mRNAs é usada como molde para
sintetizar fitas complementares de DNA usando uma FIGURA7.16 Síntese de cDNA a partir de mRNA.
DNA polimerase dependente de RNA, a transcriptase A cauda de poli(A) 3! do mRNA é hibridizada com um oligôme
reversa (Figura 7.16). É necessário um primer; utiliza ro dT (oligo[dT]12-18), que serve de primer para a transcripta
-se a cauda de poli(A) da extremidade 3! do mRNA eu se reversa, que catalisa a síntese da fita de DNA complementar
(cDNA), em presença de todos os quatro desoxinucleotídeos
cariótico. Um oligo(dT) com 12–18 bases é empregado
trifosfato (dNTPs). O híbrido cDNA-mRNA resultante é sepa
como primer que hibridiza com a sequência poli(A).
rado em cDNA fita-única por fusão com aquecimento ou hi
Após síntese do cDNA, o híbrido é desnaturado ou o drólise do mRNA com álcali. A extremidade 3! da molécula de
mRNA é hidrolisado em álcali para obter o cDNA fita cDNA forma uma alça em grampo que serve de primer para a
-única. A extremidade 3! do cDNA fita-única forma uma síntese da segunda fita de DNA, catalisada pelo fragmento Kle
alça em grampo, que serve de primer para a síntese da now da DNA polimerase de E. coli. A alça de DNA fita-única
segunda fita do cDNA pelo fragmento Klenow ou uma não-pareada é hidrolisada pela nuclease S1, gerando uma mo
transcriptase reversa. O cDNA dupla-fita resultante lécula de DNA fita-dupla.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 287

O DNA do bacteriófago (p.292) é o vetor mais conve RNA Celular Total como Molde para
niente e eficiente para criar bibliotecas de cDNA porque Síntese de DNA Usando RT-PCR
pode ser amplificado facilmente e armazenado indefini
damente. Dois bacteriófagos vetores, lgt10 e lgt11, bem Métodos alternativos para construir bibliotecas de
como suas construções mais novas, têm sido emprega cDNA empregam uma técnica de transcriptase rever
dos para produzir bibliotecas de cDNA. As bibliotecas sa-PCR (RT-PCR) e eliminam a necessidade de puri
de cDNA em lgt10 são examinadas apenas com sondas ficar o mRNA. Essa estratégia é apresentada na Figu
de ácidos nucleicos marcados quando a sequência do ra 7.18 e começa com a produção, pela transcriptase
DNA é desconhecida, enquanto as de lgt11, um vetor reversa, de um híbrido DNA-mRNA. O método usa a
de expressão, também podem ser examinadas com an transferase terminal para adicionar uma cauda homo
ticorpo para a produção da proteína ou do antígeno de polimérica dG à extremidade 3!, seguida de hidrólise
interesse. Se a sequência do cDNA desejado for conhe do mRNA. Primers para PCR são sintetizados para hi
cida, então PCR é usado para examinar o bacteriófago bridizar com as caudas dG e dA, e terminam com duas
recombinante. sequências de endonucleases de restrição diferentes.
O cDNA resultante amplificado por PCR e, então, hi
drolisado com duas endonucleases de restrição dife
3!
dA12-18
rentes para clonagem direcional (p. 275) em um vetor
dT12-18 apropriado.
cDNA 5!
Linker 1 mólecula

de DNA e ligase O RNA celular total é isolado e contém


RE1 uma pequena quantidade de mRNA

DNA:mRNA
Híbrido
mRNA:de 5! AAAAA(A)n 3!
S1 nuclease Adição do primer oligo(dT)
Etapa "RT": +
transcriptase reversa
RE1
3!
5! TTTTT 5! n 3!
AAAAA(A)

O híbrido DNA:mRNA é precipitado com


brometo de cetiltrimetilamônio para remover
Linker 2 mólecula
de DNA e ligaseRE1 o oligo(dT) não incorporado. As extremidades
3′ recebem, então, uma cauda de oligo(dG),
RE2
RE2 com dG + tranferase terminal

3! GGGGG
5!AAAAA(A)nGGGGG 3!
TTTTT 5!
Hidrólize com duas
RE1, RE2 endonucleases Hidrólise do RNA
de restrição com NaOH

3! GGGGG TTTTT 5!

cDNA Primers sense e antisense para o PCR:


Etapa "PCR": A sequências de endonuclease de restrição
O primeiro ciclo de PCR 1(RE1) CCCCC
FIGURA7.17 Modificação do cDNA para clonagem. RE2 - TTTTT
gera cDNA de dupla fita
O procedimento começa com o DNA fita-dupla que con
tém uma alça em grampo. Um DNA linker que contém
5! RE1 CCCCC AAAAA3!
um sítio de endonuclease de restrição (RE1) é adicionado GGGGG TTTTT
à extremidade livre do cDNA por ligação à extremidade
reta. A alça em grampo de fita-única é, a seguir, hidrolisa
da com a nuclease S1. Um segundo linker, com um sítio B
de endonuclease de restrição diferente em (RE2), é ligado de
amplificação
Ciclo Biblioteca
à extremidade reta recém-criada no cDNA livre. O segun
do linker possivelmente irá se ligar às duas extremidades, TTTTT RE2
RE1 CCCCC
RE1GGGGG AAAAA
mas não interferirá com o primeiro sítio de endonuclease de cDNA
de restrição. O DNA modificado é hidrolisado pelas duas
endonucleases de restrição e pode ser inserido em um FIGURA7.18 Geração de cDNA por transcriptase reversa-PCR (RT
plasmídeo ou DNA de um bacteriófago por clonagem di PCR).
recional. O RNA celular total ou mRNA pode ser usado para gerar cDNA por RT
-PCR. O mRNA com uma cauda de oligo rA é transcrito reversamente
com um primer oligo dT. Uma cauda oligo dG é adicionada às extremi
dades 3’ das fitas de RNA e DNA, e a fita de RNA é subsequentemente
hidrolisada com NaOH. Primers sense e antisense, modificados com
sequências de sítios de restrição, são então empregados para amplificar
o cDNA por PCR. Os produtos podem ser hidrolisados com as endonu
cleases de restrição específicas (RE1 e RE2) para clonagem e estudos
subsequentes.
288 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

7.7 BACTERIÓFAGOS, O comprimento do DNA do fago a ser empacotamen


to na partícula viral deve ter cerca de 50 kb. O DNA
COSMÍDEOS E VETORES DE linear do fago l pode ser digerido com uma endonucle
ases de restrição específica, que gera fragmentos termi
CLONAGEM EM LEVEDURA nais pequenos com seus sítios Cos (braços). Estes são
então separados de fragmentos intervenientes maiores.
E ANÁLISE DE LONGOS O DNA genômico celular é parcialmente digerido por
SEGMENTOS DE DNA enzimas de restrição apropriadas para permitir o anela
mento e a ligação com os braços do fago. Os fragmentos
A detecção de sequências não-codificadoras (por de DNA menores ou maiores do que 15–25 kb hibridizam
exemplo, íntrons) na maioria dos genes eucarióticos com os braços Cos, mas são excluídos do acondiciona
e de regiões regulatórias distantes que flanqueiam os mento em partículas infectantes de bacteriófago. Toda
genes exigiu estratégias de clonagem para acomodar a informação necessária à infecção e replicação do fago
fragmentos de DNA maiores do que os que podem ser na bactéria é carregada nos braços Cos. O DNA recom
clonados em plasmídeos. Os plasmídeos acomodam in binante do fago é misturado com proteínas do fago l in
sertos de DNA estrangeiro de 5–10 kb de comprimento. vitro, que se organizam em vírions infectantes. Estes
Os fragmentos de DNA recombinante maiores do que são, então, propagados em uma cepa apropriada de E.
isso são deletados aleatoriamente durante a replicação coli, gerando uma biblioteca em fago l. Muitas cepas de
do plasmídeo na bactéria. Por isso, vetores
DNA genômico completamente isolado DNA de bacteriofago λ
alternativos foram desenvolvidos.
EcoRI
Sítio Sítio
EcoRI
Bacteriófagos como Vetores
Hidrólize enzimática parcial com
a endonuclease de restrição
de
idealClonagem
para insertos de DNA de aproxima- EcoRI 45 kb

Bacteriófago l (fago l), um vírus que


infecta e replica em bactérias, é um vetor
braço Cos A região
braçocentral
Cos do DNA
damente 15 kb de comprimento. O fago l
infecta seletivamente bactérias e replica
por uma via lítica ou uma não-lítica (li
sogênica). O fago l contém uma cauda não é necessária para a
fita-única de 12 bases autocomplemen
+ replicação do fago λ

tares (extremidades coesivas) em ambas


as extremidades de seu DNA fita-dupla População de fragmentos
de DNA gerados pela
Braços Cos purificados por
de 50 kb. Quando infecta a bactéria, as EcoRI, de 15–25 kb
eletroforese em gel de agarose
extremidades coesivas (sítios cos) de um
único DNA do fago l autoanela, e as extre Fragmentos de DNA genômico anelados
com os braços Cos
midades são ligadas covalentemente pela
DNA ligase da célula hospedeira. O DNA Forma da molécula de DNA concatenada linear
circular serve de molde para a transcrição
e a replicação. O fago l, com fragmentos Sítio Cos 15–25 kb Sítio Cos
gerados por endonucleases de restrição
que representam o DNA genômico total da O acondicionamento In vitro
célula inseridos nele, é usado para infectar com proteínas do bacteriófago λ
ocorre apenas com as regiões
bactérias. Bacteriófagos recombinantes, genômicas de comprimento
liberados de células lisadas, são coleta permitido ligadas aos braços Cos
dos e constituem uma biblioteca genômica
em fago l. A biblioteca em fago pode ser
examinada mais rapidamente do que uma
biblioteca em plasmídeo em virtude do ta FIGURA7.19 Clonando DNA genômico em bacteriófago l.
manho maior dos DNAs inseridos. O DNA genômico total é parcialmente digerido com uma endonuclease de res
trição (por exemplo, EcoRI). Isso resulta em fragmentos de DNA de tamanhos
Numerosos vetores fagos l foram cons aleatórios, com extremidades coesivas fita-única. Fragmentos de DNA chamados
truídos para diferentes estratégias de clo braços Cos são gerados com a mesma endonuclease de restrição a partir do DNA
do bacteriófago. Os braços Cos purificados contêm sequências sinais necessá
nagem. Só um vetor fago l genérico será
rias ao acondicionamento do DNA em um vírion do bacteriófago. Os fragmentos
descrito. Um segmento de 15 a 25 kb do genômicos são misturados com os braços Cos, anelados e ligados, formando
DNA do fago pode ser substituído sem sequências de DNA linear concatenado. O acondicionamento in vitro com
atrapalhar sua replicação em E. coli (Fi proteínas do bacteriófago l ocorre só com fragmentos de DNA genômico de com
gura 7.19). primento permitido (15-25 kb) ligados aos braços Cos.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 289

E. coli foram geneticamente alteradas para permitir a de DNA recombinante, uma origem de replicação para
replicação de vírions recombinantes específicos. propagação em bactérias, e um sítio cos para acondi
cionamento de moléculas recombinantes em partículas
Examinando (Screening) Bibliotecas de de bacteriófagos. O bacteriófago com DNA de cosmídeo
Bacteriófagos recombinante pode infectar E. coli e injetar seu DNA
na célula. Vetores cosmídeos contêm apenas cerca de
Uma biblioteca em bacteriófago pode ser examinada 5 kb das 50 kb do DNA do bacteriófago e, portanto, são
plaqueando-se o vírus sobre uma camada contínua de incapazes de dirigir sua replicação e organização de
bactérias (um tapete de bactérias) crescidas sobre pla novas partículas de fago infectantes. Em vez disso, o
cas de agar (Figura 7.20). Fagos individuais vão infec DNA do cosmídeo recombinante circulariza-se e replica
tar, replicar e lisar uma célula. Os vírions descendentes como um grande plasmídeo. Colônias bacterianas con
então infectam e subsequentemente lisam bactérias tendo os recombinantes de interesse são selecionadas
imediatamente adjacentes ao local da primeira célula e amplificadas por métodos semelhantes aos descritos
infectada, criando uma região clara ou uma placa nota para plasmídeos.
pete bacteriano opaco. O fago de cada placa é coletados
em um filtro de nitrocelulose (como para a placa réplica)
e o DNA é fixado ao filtro com NaOH. A localização dos E.coli crescida
em placa de agar
fragmentos de DNA clonados de interesse é determi recoberta com o
nada por hibridização do DNA ligado ao filtro com uma bacteriófago λ
recombinante
sonda marcada de DNA ou RNA, seguida de autorradio
grafia. Os bacteriófagos da placa correspondentes aos
híbridos marcados ligados ao filtro são coletados e am
plificados em bactérias, para análise posterior. O PCR
também é empregado se a sequência total ou parcial do
DNA desejado for conhecida. Nesse caso, coletam-se Placas
partes de várias placas e, se o DNA de interesse estiver
presente em uma ou mais, uma região pode ser ampli
ficada com um par de primers apropriados por PCR. O
produto do PCR é, então, detectado por eletroforese em
Fazer réplica
gel. Bibliotecas de DNA complementar em bacteriófa em nitrocelulose
gos também são construídas, contendo os braços cos do da placa de agar
fago. Se o cDNA for recombinado com DNA de fago que
permita a expressão do gene, como lgt 11, placas po Hibridizar com
dem ser examinadas imunologicamente com anticorpos sonda de 32P DNA
específicos para o antígeno de interesse. ou RNA

Fragmento de DNA
clonado
Clonando Fragmentos de DNA em
Autorradiografia de raios-X
Cosmídeos e Vetores Cromossomos
FIGURA7.20 Examinando (screening) bibliotecas
Artificiais genômicas em bacteriófago l.
E. coli competente é crescida até atingir confluência em uma
Embora o fago l seja o vetor mais comumente usa placa de agar e, depois, recoberta com o bacteriófago recom
do para construir bibliotecas de DNA genômico, o com binante. Desenvolvem-se placas onde bactérias são infectadas
primento de muitos genes excede o tamanho máximo e, subsequentemente, lisadas pelo fago l. Réplicas da placa
do DNA que pode ser inserido entre os braços do fago. podem ser feitas tocando-se a placa com um filtro de nitrocelu
Um vetor cosmídeo pode acomodar insertos de DNA lose. O DNA é desnaturado e fixado à nitrocelulose com NaOH.
estrangeiro de aproximadamente 45 kb. Cromossomos O DNA fixado é hibridizado com uma sonda marcada com 32P e
artificiais de bactéria (BACs) e cromossomos artifi exposto ao filme de raios-X. O autorradiograma identifica a(s)
placa(s) contendo o DNA recombinante de interesse.
ciais de levedura (YACs) foram desenvolvidos para clo
nar fragmentos de DNA de 100–200 e de 200–500 kb
de comprimento, respectivamente. Embora seja difícil Procedimentos de clonagem padrão e alguns méto
trabalhar com vetores cosmídeos e YACs, suas biblio dos novos são empregados para construir YACs. Frag
tecas permitem a clonagem de genes grandes com suas mentos muito grandes de DNA estrangeiro são unidos
às sequências de DNA da levedura, uma que funciona
sequências regulatórias flanqueadoras, bem como famí
lias de genes ou genes contíguos. como telômeros (extremidades distais dos braços do
cromossomo) e outra que funciona como centrômero
Vetores cosmídeos são intermediários entre vetores e como origem de replicação. O DNA do YAC recom
plasmídeos e bacteriófagos. Cosmídeos contêm um gene binante é introduzido na levedura por transformação.
de resistência a antibiótico para seleção de moléculas Os YACs construídos são projetados de modo que a
290 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

levedura transformada com cromossomos recombi O sequenciamento é frequentemente realizado sem


nantes cresça em colônias que possam ser identifica subclonagem. São usados primers antisense, que se
das visualmente. Isso facilita a seleção e a análise dos jam complementares às extremidades 3! sequenciadas
fragmentos de DNA clonado. Animais transgênicos inicialmente do DNA clonado. Esse processo é repetido
também podem ser gerados pela introdução de DNA de até que todo o DNA clonado tenha sido sequenciado.
YACs recombinantes em seus genomas. Se esses ani Esse método elimina a necessidade de preparar subclo
mais expressarem um gene humano defectivo, podem nes, mas requer a síntese ou a compra de muitos pri
ser usados como modelo para estudar a doença humana mers. Por outro lado, o DNA subclonado é sempre inse
correspondente (Correlação Clínica 7.8). rido de volta na mesma região do plasmídeo. Portanto,
um conjunto de primers complementar às sequências
de DNA do plasmídeo que flanqueiam o DNA inserido
Subclonagem Permite Definição de pode ser usado para todas as reações de sequenciamen
to com DNA subclonado.
Grandes Segmentos de DNA
A análise completa de elementos funcionais em um Caminhar pelo Cromossomo
fragmento de DNA clonado requer o sequenciamento da
molécula inteira. As técnicas atuais podem sequenciar (Chromosome Walking) Define
200–400 bases, mas insertos de DNA clonados são fre
quentemente muito maiores. Mapas de restrição do clo Arranjo de Genes em Segmentos
ne de DNA inicial são essenciais para clivar o DNA em Longos do DNA
pedaços menores para serem subclonados para análise
mais profunda. A sequência de cada fragmento de DNA O conhecimento de como genes e seus elementos
subclonado pode ser determinada. Regiões sobrepostas regulatórios estão dispostos em um cromossomo de
do DNA subclonado alinham-se adequadamente e con veria levar a um entendimento de como conjuntos de
firmam a sequência inteira do clone de DNA original. genes podem ser regulados coordenadamente. É difícil

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.8

O Uso de Camundongo Transgênico com Cromossomo Artificial de Levedura (YAC) para Estudar a Doença
de Huntington

Frequentemente, é difícil ou impossível estudar a que as proteínas htt normal e mutada não estavam pre
função de uma proteína mutante na gênese de uma doen sentes nos núcleos de camundontos WT nem nos dos
ça humana. O desenvolvimento de modelos animais é camundongos Y128 com 1 mês de idade; a proteína htt
uma ferramenta valiosa para estudar doenças huma mutada foi detectada no núcleo apenas no striatum dos
nas, como a doença neurodegenerativa que aparece no camundongos Y128 com 2 meses de idade; e à medida
adulto, doença de Huntington (HD) (OMIM 143100). A que os camundongos Y128 envelheciam mais, embora
HD é causada pela expansão do trinucleotídeo CAG no um pouco de htt mutante fosse detectada nos núcleos
éxon 1 do gene HD, resultando em sequências de poli de outras regiões do cérebro, sua concentração aumen
glutamina na proteína codificada por Huntington (htt). tou e ficou maior no striatum. O striatum é a região pre
As sequências de poliglutamina resultantes parecem dominantemente afetada tanto na HD humana como
ser tóxicas para regiões específicas do cérebro. Um nos camundongos Y128 de 2 meses de idade, e o acú
modelo de camundongo transgênico foi gerado com um mulo de htt também foi correspondente à idade em que
transgene YAC contendo o gene HD humano completo defeitos motores e cognitivos foram observados pela
mais as sequências de 25 kb a montante e 120 kb a ju primeira vez nesses camundongos. Parece que o início
sante, para garantir a inclusão das regiões regulatórias da localização nuclear da proteína htt mutante no stria
endógenas. Foram criados camundongos YAC contendo tum é o principal responsável pela degeneração seletiva
46, 72 e 128 repetições CAG. O modelo transgênico com observada na HD. O mecanismo de como a proteína htt
YAC 128 refletiu melhor a doença humana. Esses ca mutante exerce seus efeitos tóxicos quando localizada
mundongos apresentaram déficit motor e cognitivo se no núcleo é desconhecido, mas acredita-se que envolva
melhante aos observados no homem. A proteína htt tipo modificação da expressão gênica e possivelmente ativa
selvagem é encontrada principalmente no citoplasma, ção de apoptose.
enquanto a proteína mutante localiza-se no núcleo. A
avaliação com anticorpos anti-htt dos tecidos cerebrais Van Raamsdonk, J. M., Warby, S. C., and Hayden, M. R.
de camundongos tipo selvagem (WT) e de camundon Selective degeneration in YAC mouse models of Huntington
gos Y128 com 1 mês e 2 meses de idade demonstrou Disease. Brain Res. Bull. 72: 124, 2007.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 291

clonar fragmentos de DNA suficiente Biblioteca em fago λ

mente grandes para identificar genes


contíguos. A combinação de várias téc Placa
nicas permite a análise de sequências
Examinar com sonda
de DNA de 50–100 kb de comprimen marcada para o Gene 1
to. O método, chromosome walking,
é possível porque bibliotecas de fago l Placa de interesse amplificada
e purificada
ou cosmídeos contêm DNA genômico
parcialmente clivado, cortado em sítios
específicos de endonucleases de restri 15–25 kb
ção. Os fragmentos clonados contêm
braço λ braço λ
sequências sobrepostas a outros frag
mentos clonados. Regiões sobrepostas cos Gene 1 1a cos
são identificadas por mapeamento de Mapeamento de restrição
restrição, subclonagem, screening das
bibliotecas
walking
procedimentos
O procedimento
é apresentado
em de
fago nachromosome
sequenciamento.
ldeou cosmídeos
Figura 7.21.
e EcoRI BamHI 1a

Subclone
HindIII BglI Transformar
bactéria
uma Plasmídeo
com
Uma biblioteca
sonda
a sequência de em
defago
DNAl ou
interesse. éOexaminada
RNA sele-
DNA para BamHI

é feito, eéum
cionado clonado,
pequeno
o mapa
segmento
de restrição
é sub- Sonda marcada com 32P 1aBglI E.coli
1a Purificarefazernicktranslation

lation. emeum
clonado Essa
purificado marcado
sonda
plasmídeo,
marcada
por amplificado,
nické, trans-
então,
ma
para
das
postas.
periores,
o DNA
DNA. uma
sobreposição,
maneira
procurar
Sesubclonado
Emdeve-se
muitas genomas
que
éoutrasnão
então
o ter
clone
sequências
sonda desequências
cuidado
de
tratado
de
contenha
DNA dainicial,
eucariotos
DNA para uma
sobre-
repetitivasmes-
subclonadoque
su-
de Amplificar por infecção

usada para reexaminar a biblioteca em


fago
mentares,
DNA lclonado
a procura
e estas
recém-identificado,
de
são
sequências
então clonadas.
comple-
comO 1a Gene 2 2a
Repetir o processo

Gene 1 1a
Clones sobrepostos
em fagoλ
1a Gene 2 2a Gene 3 3a

Gene 1 1a Gene 2 2a Gene 3 3a Gene n na


contiver uma sequência repetitiva, ela Segmento de DNA de interesse contíguo
irá hibridizar com numerosas placas de
bacteriófagos e impedirá a identifica FIGURA7.21 Chromosome walking para analisar segmentos contínuos de
ção de um clone sobreposto específico. DNA num genoma.
Esses procedimentos, juntamente com Inicialmente, um fragmento de DNA é marcado por nick translation para examinar
chromosome jumping, foram empre uma biblioteca a procura do fago l recombinante contendo um gene de interesse.
gados para identificar o gene da Fibrose O DNA amplificado é mapeado com várias endonucleases de restrição para selecio
nar uma nova região (1a) dentro do DNA clonado original que possa ser reclonada
Cística (Correlação Clínica 7.9). (subclonada).
O DNA subclonado (1a) é usado para identificar outros fragmentos
de DNA na biblioteca original, que se sobreponham à região do DNA amplificado. O
processo pode ser repetido muitas vezes para identificar regiões contíguas no DNA à
7.8 VETORES DE montante e à jusante do DNA inicial de interesse (gene 1).

EXPRESSÃO E PROTEÍNAS recombinante é ter um gene estrangeiro expresso em


DE FUSÃO bactéria, com o produto em uma forma biologicamente
ativa. O sequenciamento de muitos genes bacterianos
A metodologia do DNA recombinante descrita até e de suas regiões flanqueadoras identificou o arranjo
aqui tratou primariamente de exame (screening), espacial de sequências regulatórias necessárias à ex
amplificação e purificação de espécies de DNA clo pressão de genes. Um promotor e outros elementos
nadas. Um objetivo importante dos estudos de DNA regulatórios a montante do gene são necessários para
292 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.9

O Uso de Chromosome Walking e Jumping para Identificar o Gene da Fibrose Cística


A Fibrose Cística (CF) (OMIM 602421) é uma doen engloba cerca de 250 kb. A identificação do gene CFTR
ça autossômica recessiva comumente encontrada (1 e de sua principal mutação permitiram o diagnóstico
em 2.000 nascimentos) resultante de mutações no re pré-natal e clínico preciso da doença. Nos anos que se
gulador de condutância transmembrânico CF (CFTR). seguiram à identificação do gene CFTR, muitos estu
Essas mutações resultam em transporte defectivo nos dos foram feitos no sentido da correção da doença e dos
condutos pulmonares e de glândulas exócrinas. O sin aspectos tecnológicos necessários à inserção de genes
toma clínico primário associado com CF é doença pul a células alvos. Entretanto, o sucesso tem sido difícil.
monar crônica. O locus CF foi determinado por análise Recentemente, foi descrito um novo vetor BAC, cons
de ligação de numerosos marcadores de DNA polimór truído com um inserto de 250,3 kb que contém tanto o
fico, no braço longo do cromossomo 7, banda q31. Uma gene CFTR genômico inteiro como seus sítios regulató
região de aproximadamente 500 kb do cromossomo 7 rios a montante e a jusante. O gene CFTR humano foi
foi analisada mais detalhadamente por chromosome expresso corretamente em uma linhagem de células de
walking e jumping (salto) para identificar o gene CF. camundongo em cultura a partir de cópias integradas
O chromosome jumping permitiu aos pesquisadores do vetor BAC. Esses resultados apontam na direção da
iniciarem uma nova caminhada bidirecional a partir aplicação em potencial da terapia gênica para CF.
do ponto final de cada salto. Um mapa de restrição foi
construído a partir de clones em fago e cosmídeo, deri Rommens, J. M., Iannuzzi, M. C., Kerem, B., Drumm, M. L.
vados de chromosome walking e jumping, e levou fi et al. Identification of the Cystic Fibrosis gene: Chromosome
nalmente à identificação do gene CF (gene CFTR), que walking and jumping. Science 245: 1059, 1989.

transcrever um gene (p. 319). O mRNA transcrito de monal aberrante ou ausente. A Figura 7.22 mostra um
um gene eucariótico recombinante, entretanto, não é plasmídeo vetor generalizado para a expressão de um
traduzido em um sistema bacteriano porque não tem a gene de mamífero. Lembre-se que o gene inserido deve
sequência de reconhecimento bacteriano, a sequência estar na forma de cDNA de seu mRNA correspondente,
Shine-Dalgarno, necessária para orientá-lo adequada uma vez que o sistema bacteriano é incapaz de remover
mente em um ribossomo bacteriano funcional. Vetores íntrons do pré-mRNA transcrito. O DNA deve ser inse
de expressão facilitam a transcrição funcional de in rido em registro com os códons da extremidade 3! da
sertos de DNA. Um gene estrangeiro pode ser inserido proteína bacteriana quando se cria a proteína de fusão.
em um desses vetores a jusante de um promotor regu Isto é, a inserção deve ocorrer após um códon triplete
lado, mas dentro de um gene bacteriano, comumente o da proteína bacteriana e no começo de um da proteína
gene lacZ. O mRNA transcrito do DNA recombinante eucariótica para garantir tradução correta. Finalmente,
contém a sequência Shine–Dalgarno do lacZ, códons para gerar um transcrito funcional, o gene estrangeiro
de uma parte da extremidade 3! da proteína lacZ, se deve ser inserido na orientação correta em relação ao
guidos por códons do gene estrangeiro de interesse promotor. Isso pode ser conseguido por clonagem di
completo. O produto proteico é uma proteína de fusão, recional.
que contém alguns aminoácidos N-terminais da pro
teína lacZ e a sequência completa do produto proteico Proteínas eucarióticas sintetizadas em bactérias são
estrangeiro. frequentemente instáveis e são degradadas por protea
ses intracelulares. Proteínas de fusão, entretanto, são
geralmente estáveis. Os aminoácidos codificados pelo
Genes Estrangeiros Expressos em genoma procariótico podem ser clivados da proteína
de fusão purificada por procedimentos enzimáticos ou
Bactérias Permitem Síntese de suas químicos. Uma estratégia para contornar a instabilida
de intracelular de algumas proteínas é produzir uma
Proteínas Codificadas proteína estrangeira que seja secretada. Isso requer a
Muitos vetores plasmídeos e bacteriófagos permitem clonagem do gene estrangeiro em um vetor tal que a
a expressão de genes eucarióticos em células bacteria proteína de fusão sintetizada contenha um peptídeo
nas. Bactérias em replicação rápida tornam-se uma fá sinal que seja reconhecido pela peptidase sinal bacte
brica biológica para produzir grandes quantidades de riana, que processa adequadamente a proteína para
proteínas específicas, que têm valor em pesquisa, bem secreção.
como clínico e comercial. Como exemplo, tecnologias
recombinantes produziram hormônios proteicos huma
nos para tratamento de pacientes com produção hor
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 293

Plasmídeo como de mamíferos. Vetores lançadei


Promotor lacZ Sítioderestrição A ras permitem que um gene seja clonado
Sítio de
e purificado em grandes quantidades
restrição B em um sistema bacteriano e, depois,
Sítio de seja transferido para expressão em cé
restrição B Região codificadora do cDNA lulas de mamíferos. Alguns vetores de
Gene
a
resistência
antibiótico
de Sítio de A
restrição lular do hospedeiro
expressão e sãoao
são integrados estavelmente
genoma ce

expressos em células filhas. Outros ve


Promotor Pontodeinício dolacZ
datranscrição Região 5!-terminal 5! Sequência
mRNA
Shine-Dalgarno
AUG da Códons
extremidade
Códons de proteína
estrangeira
dos aminoácidos
N-terminal tores de expressão permanecem como
DNA extracromossômico ou epissômico
e permitem apenas expressão transi
tória de seu gene estrangeiro, antes da
morte da célula.
A
a antibiótico
Genederesistência Plasmídeo T do cDNA
codificadora
Região
N Aminoácidos
lacZ da
pelo
Tradução
estrangeira
Aminoácidos
proteína
gene lacZ
codificada
de proteína C
G A introdução de DNA estrangeiro,
como vetor de expressão viral em cé
lulas eucarióticas em cultura, é cha
mada transfecção, um processo que é
análogo à transformação por DNA em
células bacterianas. Dois métodos co
muns envolvem a formação de um com
plexo de DNA com fosfato de cálcio ou
dietilaminoetil (DEAE)-dextran, que
recombinante Proteína de fusão é endocitado e transferido para o nú
cleo, onde é replicado e expresso. Am
FIGURA7.22 Construção de um vetor de expressão bacteriano. bos os métodos são empregados para
Um cDNA de uma proteína de interesse é inserido á jusante de sequências regulató
estabelecer vetores expressos transi
rias bacterianas (promotor [P]) do gene lacZ, a sequência codificadora da sequência
Shine–Dalgarno do mRNA, o códon AUG e alguns poucos códons dos aminoácidos toriamente, enquanto o procedimento
N-terminais da proteína LacZ. O mRNA produzido a partir desse vetor de expressão de fosfato de cálcio também é usado
dirige a síntese na bactéria de uma proteína de fusão com alguns de seus resíduos de para expressão permanente de genes
aminoácidos N-terminais idênticos aos da proteína LacZ. estrangeiros. Geralmente, 10–20% das
células em cultura podem ser transfec
tadas por esses procedimentos.
Vetores de Expressão em Células
Eucarióticas Elementos de DNA Necessários à
Expressão de Vetores em Células de
Doenças genéticas de mamíferos resultam de pro
teínas intracelulares ausentes ou defectivas. Para usar
Mamíferos
técnicas recombinantes para tratar essas doenças, A expressão de genes recombinantes em células de
devem ser incorporados vetores em células de mamí mamíferos requer a presença de elementos de controle
feros. Eles também requerem alguns mecanismos de adequados no vetor. Para ser expresso, o gene clonado
direcionamento de modo que os vetores sejam seletivos é inserido no vetorna orientação correta em relação aos
para os tecidos ou células afetados, contendo a proteína elementos de controle, que incluem um promotor, sinais
aberrante. Muitos vetores permitem a expressão de ge de poliadenilação e um enhancer. A expressão pode
nes estrangeiros em células de mamíferos crescidas em ser melhorada pela inclusão de um íntron. Alguns ou
cultura de tecidos. Esses vetores são muito usados para todos esses elementos de DNA podem estar presentes
elucidação do processamento pós-tradução e da síntese no gene recombinante se o DNA genômico inteiro for
de proteínas em células eucarióticas em cultura. O en usado para clonagem. Um fragmento específico clona
dereçamento de genes estrangeiros para tecidos espe do, gerado por clivagem com endonuclease de restrição,
cíficos ou estágios específicos do desenvolvimento teve contudo, pode não conter esses elementos. Um cDNA
sucesso muito limitado. não possuiria esses elementos de DNA necessários. É,
portanto, necessário que o vetor de expressão a ser usa
Foram desenvolvidos vetores de expressão que do em células de mamíferos seja construído de modo a
permitem a replicação, a transcrição e a tradução de conter todos os elementos de controle necessários.
genes estrangeiros em células eucarióticas em cultura.
Esses vetores incluem vetores virais de DNA e de RNA. Os elementos de controle podem ser inseridos no ve
Vetores lançadeiras (shuttle vectors) contêm sinais de tor por tecnologias recombinantes. Elementos enhan
replicação bacterianos e eucarióticos, permitindo as cers e promotores devem ser reconhecidos por um
sim a replicação do vetor tanto em células bacterianas amplo espectro de células em cultura, para maior apli
294 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

cabilidade do vetor. São usados elementos de controle dores de seleção, tanto em células bacterianas como de
derivados de vírus com uma ampla faixa de hospedei mamíferos.
ros, por exemplo, papovavírus, vírus símio 40 (SV40),
vírus do sarcoma de Rous e citomegalovírus humano. Genes Estrangeiros Expressos em Células
O vetor deve conter uma sequência de origem de re Eucarióticas Transformadas por Vírus
plicação viral (ori). Fatores proteicos específicos, co
dificados por genes inseridos no vetor ou introduzidos A Figura 7.23 mostra a expressão transitória de um
previamente no genoma do hospedeiro, reconhecem e gene transfectado em células COS, um sistema comu
interagem com a sequência ori para iniciar a replicação mente usado para expressar genes eucarióticos estran
do DNA. geiros. As células COS são células de símio cultivadas,
que foram transformadas com um genoma de SV40 com
Seleção de Células Eucarióticas origem defectiva. O genoma viral defectivo foi integrado
ao genoma da célula hospedeira e expressa constante
Transfectadas Usando Células Mutantes e
mente proteínas virais.
Nutrientes Específicos
É importante crescer seletivamente as células trans
fectadas, uma vez que elas frequentemente represen
tam apenas 10–20% da população celular. Um gene que Genoma
normal
confere resistência a uma droga ou confere capacidade
Núcleo
seletiva de crescimento pode ser incorporado a uma cé CV1 Célula
lula. Isso se consegue por cotransfecção, na qual dois
vetores diferentes são eficientemente captados por cé
lulas, um que carrega o marcador de seleção e outro
que carrega o gene de interesse. Na maioria dos casos,
Vírus SV40
mais de 90% das células transfectadas carregam am defectivo na origem
bos os vetores. Dois marcadores de seleção comumente
DNA de
empregados são os genes da timidina quinase (tk) e da SV40
di-hidrofolato redutase (dhfr). A timidina quinase é ex mRNA
pressa na maioria das células de mamíferos, nas quais
COS 1
participa da via de recuperação (salvage) de timidinas.
Proteínas
Estão disponíveis várias linhagens de células mutantes, de SV40
que não apresentam um gene funcional de timidina qui
DNA estrangeiro
nase (tk–) e não sobrevivem em meio de cultura conten Células transfectadas de interesse
do hipoxantina, aminopterina e timidina. Só as células com um plasmídeo de
mutantes tk– cotransfectadas com um vetor carregando expressão recombinante,
contendo
ori selvagem
SV40
o gene tk, geralmente originário do vírus herpes sim ori

plex, crescerão no meio. Na maioria dos casos, essas SV40 tipo selvagem

células foram cotransfectadas com o gene de interesse.


mRNA do DNA
A di-hidrofolato redutase (dhfr) mantém as concen estrangeiro inserido
trações celulares de tetra-hidrofolato para a biossíntese
Múltiplas
de nucleotídeos (p. 836). Células que não têm essa en cópias do
Proteína de
zima só sobrevivem em meio contendo timidina, glicina interesse
plasmídeo
recombinante
e purinas. Células mutantes (dhfl-), transfectadas com
o gene dfhr são, portanto, seletivamente crescidas em FIGURA7.23 Expressão de genes estrangeiros em células
um meio sem esses suplementos. A expressão de genes COS eucarióticas.
estrangeiros em células mutantes, cotransfectadas com CV1, uma linhagem celular estabelecida em cultura de teci
marcadores de seleção, é limitada a tipos celulares com o dos, de origem símia, pode ser infectada e suporta a replicação
defeito genético necessário, que podem ser isoladas. lítica do vírus símio de DNA SV40. As células são infectadas
com um mutante de SV40 defectivo na origem (ori), cujo DNA
Células normais, transfectadas com um vetor que integra-se permanentemente ao genoma da célula CV1 hospe
carrega o gene dfhr, são resistentes a metotrexate, um deira. O DNA viral defectivo codifica continuamente proteínas
inibidor da di-hidrofolato redutase, e são selecionadas que podem se associar com uma ori normal de SV40, para re
gular a replicação. Por causa de sua ori defectiva, o DNA viral
pelo crescimento em metotrexate. De modo semelhan
integrado não produz vírus. As proteínas de SV40 sintetizadas
te, células normais transfectadas com um gene bacte na linhagem celular CV1 permanentemente alterada, COS-1,
riano que codifica a aminoglicosídeo 3!-fosfotransferase podem, entretanto, induzir a replicação de plasmídeos recom
(APH) são resistentes a antibióticos aminoglicosídicos, binantes carregando SV40 com oritipo selvagem, até um gran
como neomicina e kanamicina; isso inibe a síntese pro de número de cópias (até 105 moléculas por célula). A proteína
teica tanto em procariotos como em eucariotos. Vetores estrangeira sintetizada nas células transfectadas pode ser de
contendo um gene APH podem ser usados como marca tectada imunologica ou enzimaticamente.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 295

Vírus infectantes, que são normalmente líticos para que pode ser conveniente e rapidamente identificada.
células infectadas, não são produzidos porque a origem Um gene repórter comumente usado é o gene da clo
de replicação viral está defectiva. As proteínas de SV40 ranfenicol acetiltransferase (CAT) de bactérias. Essa
expressas pela célula COStransformada interagem com enzima acetila e inativa cloranfenicol, um inibidor de
uma ori SV40 normal presente em um vetor transfecta síntese proteica em células procarióticas. O efeito de
do e, assim, promovem a replicação repetida do vetor, um elemento regulatório sobre a expressão do gene
que pode chegar ao número de 105 moléculas/célula. CAT pode ser então determinado. O elemento regulató
Células COS transfectadas morrem após 3–4 dias, pos rio pode ser mutado antes da inserção no vetor que car
sivelmente em virtude da sobrecarga tóxica do DNA rega o gene repórter, para determinar suas exigências
epissômico do vetor. espaciais e de sequência.

Vetor de Expressão Recombinante


7.9 MUTAGÊNESESÍTIO Região flanqueadora a
montante com
DIRIGIDA promotor

Mutando regiõesregiões selecionadasselecionadas ouou nucleotídeosnucleotídeos úni-úni RE RE


cos em um DNA clonado, é possível definir o papel de Promotor
sequências de DNA na regulação do gene e de sequên ori Gene
cias de aminoácidos na função da proteína. A mutagê
nese sítio-dirigida é a alteração controlada de regiões antibióticor

selecionadas de uma molécula de DNA. Pode envolver


inserção ou deleção de sequências específicas de DNA
ou substituição de um nucleotídeo específico por uma Região flanqueadora a
jusante
base diferente. Vários métodos químicos induzem mu
tação no DNA, geralmente em pontos aleatórios na FRAGMENTO DO DNA
GENÔMICO CLONADO
molécula.
Clivagem com endonuclease de
restrição (RE) com sítios únicos em
Papel de Regiões Flanqueadoras ori
torno da sequência a ser deletada

no DNA Avaliado por Mutações de


Elemento
Deleção e Inserção antibióticor de controle
a montante
A mutagênese sítio-dirigida pode ser feita em várias
regiões de uma sequência de DNA, incluindo o próprio Tornar circular Gene
novamente e ligar
gene ou as regiões flanqueadoras. A Figura 7.24 mostra
uma estratégia de mutação por deleção simples, em que
Promotor Promotor
a sequência de interesse é seletivamente clivada com
endonuclease de restrição, as sequências específicas são
removidas, e o vetor recombinante alterado é fechado
com DNA ligase. A função da sequência deletada pode
Gene
ser determinada comparando-se o nível de expressão
(tradução) do produto do gene, medido imunologica ou
ori Transfectar célula
enzimaticamente, com o vetor de expressão recombi
nante inalterado. Uma técnica semelhante é usada para eucariótica e medir
a expressão do gene
inserir novas sequências no sítio de clivagem. Deleção antibióticor
de uma sequência de DNA na região flanqueadora de
um gene clonado pode indicar seu papel regulatório na FIGURA7.24 Uso de vetores de expressão para estudar
expressão gênica. O arranjo espacial de elementos re sequências regulatórias do DNA.
gulatórios, um em relação ao outro, ao gene e ao seu O gene de interesse, com regiões flanqueadoras à montante e à
jusante do DNA, é inserido e clonado em um vetor de expres
promotor, pode ser importante na regulação da expres
são, e a expressão basal do gene é determinada em uma célula
são gênica (p. 321). apropriada. Regiões definidas de sequências regulatórias em
potencial podem ser removidas por clivagem com endonucle
A análise de uma sequência regulatória em potencial
ases de restrição, e o vetor do DNA recombinante truncado
envolve a inserção da sequência à montante de um gene pode ser circularizado novamente, ligado e transfectado em
repórter em um vetor de expressão. Um gene repórter, uma célula hospedeira apropriada. O nível de expressão gê
geralmente de origem procariótica, codifica uma pro nica em ausência do regulador em potencial é determinado e
teína que pode ser facilmente diferenciada de proteínas comparado com controles para verificar o papel regulatório da
normalmente presentes na célula não-transfectada, e sequência flanqueadora deletada da sequência de DNA.
296 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Elementos regulatórios podem não ter sítios de en pla-fita que pode ser transferido para E. coli susceptível,
donucleases de restrição. Em tais casos, mutações por onde a fita de DNA mutado serve de molde para novas
deleção são feitas pela linearização do DNA clonado por fitas (+), que carregam o nucleotídeo mutado.
clivagem com endonuclease de restrição à jusante da se
quência regulatória. O DNA é, então, sistematicamente
RE1 Elemento
truncado com uma exonuclease, que remove nucleotíde potencialmente
os a partir das extremidades livres de ambas as fitas do regulatório
DNA linearizado. Digestão mais longa gera fragmentos
de DNA menores. A Figura 7.25 demonstra como muta
ções maiores por deleção (gerando fragmentos meno DNA DO DNA
res) podem ser testadas quanto à atividade funcional. VETOR CLONADO
A hidrólise do DNA ocorre em ambas as extremidades
do vetor linearizado e destrói o sítio de endonuclease
de restrição original (RE2). Um sítio de endonuclease de
restrição único é restabelecido para circularizar nova Linearizar
RE2
com
mente a molécula de DNA truncada, para manipulações RE2
posteriores visando avaliar a função da sequência dele
tada. Isso é feito por ligação das extremidades retas com RE2 RE1 RE2
um DNA linker, um oligonucleotídeo sintético contendo
um ou mais sítios para endonucleases de restrição. Os
Digerir com
linkers ligados são cortados com a enzima apropriada, exonuclease Bal 31 por
permitindo a recircularização e a ligação do DNA. tempos crescentes

t1 RE1 t2 RE1 t3 RE1


Mutagênese Sítio-Dirigida de um
Espécies de tamanhos predominantes
Único Nucleotídeo RE2 RE1
Linker
Os procedimentos discutidos anteriormente permi com Ligar com DNA
linker e tornar a
tem elucidar as funções de sequências de DNA. Fre RE1 circular novamente
quentemente, entretanto, deseja-se avaliar o papel de RE
RE1
um único nucleotídeo em um local específico do DNA,
para avaliar o papel de aminoácidos específicos numa
proteína (Correlação Clínica 7.10).

Esse método também permite criar ou destruir um sí RE2 RE2


RE2 no linker no linker
tio de endonuclease de restrição em localizações especí no linker 1
ficas. A mutagênese sítio-dirigida de um nucleotídeo es
pecífico é um processo com múltiplas etapas que começa
com a clonagem do gene normal em um bacteriófago (Fi
gura 7.26). A série M13 de vetores bacteriófagos recom Transformar bactérias para mais análises
binantes é comumente empregada. Esse bacteriófago
filamentoso infecta especificamente E. coli macho, que FIGURA7.25 Modificação enzimática de sequências
expressa pili sexual (fator F) codificado em um plasmí regulatórias de DNA em potencial.
Uma molécula de DNA recombinante purificada, contendo um su
deo. O bacteriófago M13 contém DNA em uma forma fita
posto elemento regulatório de um gene em regiões flanqueadoras
-única ou replicativa, que é replicada em DNA fita-dupla do DNA, é clivado com uma endonuclease de restrição (RE2). O
em uma célula infectada. A forma fita-dupla é isolada de DNA recombinante linearizado é digerido por períodos variados
células infectadas e usada para clonar o gene a ser muta com a exonuclease Bal31, reduzindo o tamanho do DNA que flan
do. As placas de interesse são visualmente identificadas queia o elemento potencialmente regulatório. As moléculas de
por α-complementação (p. 278). DNA recombinante resultantes, de tamanhos variavelmente re
duzidos, têm pequenos oligômeros de DNA (linkers) contendo
O M13 recombinante é usado para infectar E. coli uma sequência de restrição para RE2, ligados às suas extremida
susceptível. Os bacteriófagos descendentes liberados no des. O DNA modificado por linker é hidrolisado com RE2 para
meio de cultura contêm DNA fita-única. Na mutagênese criar extremidades coesivas de fita única complementares, que
oligonucleotídeo-dirigida, é sintetizado um oligonucleo permitem a recircularização dos vetores recombinantes. O ele
tídeo (18–30 nucleotídeos de comprimento), que é com mento regulatório em potencial, ligado a várias sequências flan
queadoras de DNA de tamanhos variavelmente reduzidos, pode
plementar a uma região de interesse, exceto no nucleo
ser amplificado, purificado, sequenciado e inserido à montante
tídeo a ser mutado. Esse oligômero, com uma base com de um gene competente em um vetor de expressão. A modifica
pareamento errado (mismatch), hibridiza com o gene ção da expressão do gene em uma célula transfectada apropriada
fita-única e serve de primer. A extensão do primer pela pode ser monitorada para avaliar o papel do elemento regulatório
DNA polimerase do bacferiófago T4 resulta em DNA du em potencial colocado a distâncias variáveis do gene.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 297

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.10

Mutagênese Sítio-Dirigida de Colágeno Tipo VII (C7)


A epidermólise bullosa distrófica (DEB) (OMIM de vesiculação, cicatrizes e comprometimento da pele.
226600) é uma doença genética que resulta de uma mu Mutagênese sítio-dirigida foi usada para gerar quatro
tação no gene COL7A1 que codifica colágeno tipo VII mutações diferentes, de aminoácido único. As proteí
(C7). A molécula homotrimérica de C7 é um importan nas C7 mutadas recombinantes foram empregadas para
te componente das fibrilas de ancoragem que ligam a analisar as propriedades funcionais das proteínas in
membrana basal da pele à derme papilar subjacente. vivo que parecem corresponder aos fenótipos clínicos
Proteínas mutadas COL7A1 resultam em número re dos pacientes com DEB.
duzido ou diminuto de fibrilas de ancoragem. Mais de
300 mutações distintas foram identificadas no gene CO
L7A1, com pouca correlação do genótipo com o fenótipo Woodley, D. T., Hou, Y., Martin, S., Li, W. e Chen, M. Cha
da doença. Os pacientes com DEB apresentam intensi racterization of molecular mechanisms in underlying muta
dade leve a grave da doença, dependendo da mutação tions in dystrophic epidermolysis bullosa using site-directed
que apresentam. Todos os pacientes têm algum grau mutagenesis. J. Biol. Chem. 283:17838, 2008.v

Gene lacZ truncado FIGURA7.26 Mutagênese sítio-dirigida


RE de um único nucleotídeo e detecção do
(–) do M13 Gene clonado
recombinante
Fita Sítiode DNA mutado.
purificado
Gene clonado
Endonuclease de policlonagem
A figura é uma visão simplificada do mé
restrição (RE) todo. Esse processo envolve a inserção de
um fragmento de DNA amplificado puro em
RE Elemento um vetor bacteriófago modificado, M13. E.
regulatório
coli susceptível, transformada com o DNA
lacZ
Vetor M13 recombinante de M13, sintetiza a fita (+)
PLASMÍDEO
do DNA, acondicionada nas proteínas do
Transformar
vírion bacteriófago. Os bacteriófagos são
E.coli isolados do meio de cultura, e o DNA do
susceptível M13 recombinante fita-única é purifica
do. O DNA do M13 recombinante serve de
Isolar DNA fita
molde para a replicação do DNA pela DNA
única de M13
recombinante polimerase, desoxinucleosídeos trifosfato
do meio M13 RECOMBINANTE (dNTPs), DNA ligase e um primer espe
cial. O primer de DNA (oligômero com
Oligômero com pareamento errado) é sintetizado de modo
um único nucleotídeo a ser exatamente complementar a uma re
com pareamento errado DNA polimerase
quatro dNTPs,
gião do DNA (gene) de interesse, exceto
DNA ligase por uma base que se deseja alterar (mutar).
O DNA do M13 recém-sintetizado, portan
to, contém uma base especificamente mu
DNA ligado a filtro de nitrocelulose tada que, quando reintroduzida em E. coli
com NaOH, hibridizado com sonda susceptível, será fielmente replicada. A E.
5! marcada para o oligômero com coli transformada é crescida em placas de
pareamento errado
agar com réplicas das colônias resultantes
3! sendo feitas em filtro de nitrocelulose. DNA
associado com cada colônia é desnaturado
e fixado ao filtro com NaOH, e o DNA ligado
ao filtro é hibridizado com uma sonda oligô
Transformar E.coli, Tocar a placa de agar mero de DNA marcada com 32P, com parea
susceptível e plaquear com filtro de
o bacteriófago
mento errado. Os mutantes putativos são,
nitrocelulose
resultante contendo então, identificados por exposição do filtro
M13 tipo selvagem Mutante a filme de raios-X.
mais DNA mutado putativo
sobre o tapete de
E.coli crescida
em agar
Autorradiografia
298 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

As placas de bacteriófago, que contêm o DNA mu uma molécula de plasmídeo recombinante mutada,
tado, são examinadas por hibridização com uma son com falhas (nicks) nas duas fitas. A mistura de reação
da marcada do oligonucleotídeo original carregando o é então tratada com uma endonuclease, Dpn-1, que di
nucleotídeo alterado. Ajustando-se a temperatura de gere seletivamente o DNA parental metilado (não-mu
lavagem da sonda hibridizada, apenas os híbridos com tado). Os plasmídeos remanescentes do DNA mutado
pareamento perfeito permanecerão complexados clivado (não-metilados) são transformados em células
com o DNA mutado, enquanto os oligômeros com nu competentes, que ligam a falha e replicam os plasmí
cleotídeo pareado erroneamente se dissociarão do DNA deos recombinantes mutados.
tipo-selvagem.

O M13 que carrega o gene mutado é então replica Inserto de DNA


do em bactérias, o DNA é purificado e a região mutada
do gene é sequenciada para identificar a mutação. Um
método modificado para replicar seletivamente a fita
mutada foi desenvolvido para melhorar a eficiência da Plasmídeo
recombinante
mutagênese sítio-dirigida. O bacteriófago M13, replica
do em uma E. coli mutante, incorpora alguns resíduos
de uracil em lugar de timina, em virtude de um defeito
metabólico na síntese de dTTP a partir de dUTP e da + um primer complementar
e um primer com uma
falta de uma enzima que normalmente remove uracil única base errada
do DNA. (representada como uma espícula)

O DNA fita-única purificado de M13 contendo uracil


é hibridizado com um oligômero complementar conten
do uma base com pareamento errado no nucleotídeo a
ser mutado. O oligômero serve de primer para a repli
cação do DNA in vitro, com a fita molde (+) contendo
uracilas, e a fita nova (–) contendo timinas. Quando o
DNA dupla-fita de M13 é transformado em uma E. coli
tipo-selvagem, a fita contendo uracilas é destruída, e
a fita mutada (–)serve de molde para os descendentes PCR
dos bacteriófagos, a maioria dos quais carregando a mu
tação de interesse. DNA amplificado por PCR
combaseerradaecomsuabasecomplementar
O PCR também é empregado para mutagênese sítio mutada
-dirigida. Foram desenvolvidas estratégias para incor Tratar com Klenow
porar uma base com pareamento errado em um dos e ligar
oligonucleotídeos que servem de primer para o PCR.
Alguns desses procedimentos empregam bacteriófago
M13 e seguem os princípios descritos na Figura 7.27.
Uma variação desses métodos de PCR, mutagênese por
PCR inverso, foi aplicada a pequenos plasmídeos re
combinantes (4–5 kb). O método é muito rápido, com
50–100% das colônias geradas contendo a sequência
mutante. Os dois primers são sintetizados, de modo
que pareiem final-com-final com um primer contendo
a base errada.

Um método de mutagênese sítio-dirigida que eli Transfectar para determinação


mina a necessidade de ssDNA e etapas trabalhosas de experimental do efeito de
mutar uma única base
seleção, foi desenvolvido comercialmente pela Strata
gene. O processo emprega mutagênese oligonucleotídeo FIGURA7.27 Mutagênese por PCR inverso.
-dirigida e PCR com qualquer plasmídeo DNA vetor Uma única base pode ser mutada em plasmídeos de DNA re
isolado de cepas de E. coli competentes para metila combinante por PCR inverso. Dois primers são sintetizados
ção do DNA. Como mostra a Figura 7.28, um anela dois com suas extremidades 5! antiparalelas complementares a ba
oligonucleotídeos complementares, carregando o nu ses adjacentes nas duas fitas de DNA. Um dos dois primers
contém uma base específica errada, que é fielmente copiada
cleotídeo alterado desejado, com uma região do DNA
durante as etapas de amplificação por PCR, gerando no final
clonado inserido no vetor. Os oligonucleotídeos são, um plasmídeo recombinante contendo uma única base mutada.
então, estendidos por PCR com uma DNA polimerase
tipo Phusion, sem deslocamento do primer, gerando
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 299

DNA recombinante dos de evolução. O DNA de um único fio


Vetor metilado (Me) Me (estrangeiro)
de cabelo, uma gota de sangue ou esperma
de uma vítima de estupro pode ser isolado,
Primers de DNA
amplificado e mapeado para propósitos fo
Me complementar
Nucleotídeos
renses. O aprimoramento das tecnologias
não-complementares atuais poderá permitir a introdução seleti
PCR va de genes em células defectivas e de áci
dos nucleicos em células específicas para
Me inibir seletivamente a expressão de genes
DNA recém deletérios.
sintetizado +
Me

Ácidos Nucleicos
+Dpn 1
Complementares
DNA parental hidrolizado
com Dpn 1, uma endonuclease
(Antisense) em Pesquisa e
Terapêutica
Ácidos nucleicos complementares ou
antisense (RNA ou DNA) são usados para
Transformado
em E.coli competente estudar a expressão intracelular e a função
de proteínas específicas. Os ácidos nuclei
cos antisense naturais e sintéticos, que
são complementares a mRNA, inativam-no
e bloqueiam a tradução. Existem centenas,
talvez milhares, de microRNAs diferentes
(RNA antisense) codificados no genoma
humano. Cada tipo celular expressa dife
rentes combinações desses microRNAs
FIGURA7.28 Mutagênese sítio-dirigida de DNA fita-dupla. que regulam seletivamente a expressão
Uma molécula de DNA recombinante pode ser mutada em um sítio selecionado gênica em nível de RNA. RNAs antisense
por meio de síntese de primers complementares que contêm um nucleotídeo tanto naturais como sintéticos são proces
que não é complementar à fita de DNA parental, mas que são complementares sados pela, ou associados com o complexo
entre si. Os primers são estendidos por PCR deixando falhas (nicks, X) em cada proteico RISC (RNA-induced silencing
fita que é ligada após transformação em E. coli competente. O DNA parental
complex, completo silenciador induzido
metilado (Me) é removido por hidrólise com a endonuclease Dpn 1, antes da
transformação. por RNA), que apresenta o RNA antisen
se 21 oligomérico (21-mero) ao RNA sense
(geralmente mRNA), e as fitas complementares hibridi
7.10 APLICAÇÕES DA zam. O RNA sense/antisense é então reconhecido para
destruição/inibição (RNA de interferência [RNAi]). Os
TECNOLOGIA DO DNA RNAs naturais ou sintéticos maiores do que 21-mero
RECOMBINANTE devem ser hidrolisados até o tamanho apropriado por
uma enzima chamada Dicer, resultando no RNA peque
Os métodos do DNA recombinante são aplicáveis a no de interferência (siRNA, small-interfering RNA).
numerosas disciplinas biológicas, incluindo agricultura, A introdução estável de siRNA em células pode reduzir
estudos de evolução, biologia forense e clínica médica. permanentemente ou nocautear a expressão de genes
A engenharia genética pode introduzir proteínas novas específicos. As tecnologias de RNAi estão sendo atual
ou alteradas em grãos (por exemplo, milho), de modo mente usadas em vários laboratórios como ferramenta
que eles contenham aminoácidos essenciais para o ho- de pesquisa para elucidar a função de genes específicos
mem, mas frequentemente ausentes de proteínas vege e por muitas companhias farmacêuticas e de biotecno
tais. Toxinas letais a insetos específicos, mas inócuas ao logia para desenvolver terapêuticas baseadas em RNAi.
homem, podem ser introduzidas em grãos para protege A introdução de ácidos nucleicos antisense em células
rem as plantas, evitando assim o uso de pesticidas que abriu novas possibilidades para explorar como proteí
agridem o meio ambiente. O DNA isolado de células do nas seletivamente reprimidas funcionam nessa célula.
líquido amniótico de uma mulher grávida pode ser ana Esse método também é muito promissor no controle de
lisado quanto a doenças genéticas no feto. Quantidades infecções virais. A tecnologia antisense e a mutagêne
minúsculas de DNA de amostras biológicas preservadas se sítio-dirigida são partes da genética reversa (do gene
em antigos depósitos de alcatrão ou em tundras con para o fenótipo), que modifica seletivamente um gene
geladas foram amplificadas e sequenciadas para estu para avaliar sua função, enquanto a genética clássica
300 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

depende do isolamento e da análise de células que con recentemente que RNAs antisense dupla-fita ligeira
têm mutações aleatórias que possam ser identificadas. mente maiores, que são substratos para a Dicer, são ini
Um segundo uso do termo genética reversa refere-se ao bidores mais eficientes da expressão gênica. Acredita
mapeamento e, no final, à clonagem de um gene huma -se que isso se deva à participação da Dicer na formação
no associado com uma doença para a qual os agentes do complexo RISC (Correlação Clínica 7.11B).
moleculares são ainda desconhecidos.

RNA antisense é introduzido em células pelas técni Técnicas Moleculares Aplicadas ao


cas comuns de clonagem. A Figura 7.29 demonstra um
gene clonado em um vetor de expressão à jusante de Animal Inteiro
um promotor, mas na orientação oposta à normal. Isso
Como descrito, muitos sistemas in vitro e intrace
coloca a fita complementar ou antisense do DNA sob o
lulares facilitam a purificação, o sequenciamento e a
controle do promotor, com a expressão ou a transcrição
modificação de genes ou de seus cDNAs e as regiões
gerando RNA antisense. A transfecção de células com o
flanqueadoras de genes com funções potencialmente
vetor de expressão antisense introduz RNA antisense,
regulatórias. A introdução de genes estrangeiros em
que hibridiza com o mRNA normal. O complexo mRNA um animal inteiro, a deleção de um gene do genoma do
-RNA antisense não é traduzido por várias razões, como animal inteiro, e a clonagem de um animal inteiro foram
sua incapacidade de se ligar aos ribossomos, bloqueio do
conseguidos. Embora claros aspectos bioéticos e bar
processamento normal e rápida degradação enzimática.
reiras ainda devam ser considerados ao usar algumas
Foram produzidos oligonucleotídeos sintéticos de dessas metodologias, os métodos em si são muito pro
DNA antisense, capazes de inibir infecção viral in missores para futura terapia gênica.
cluindo a do vírus da imunodeficiência humana (HIV).
Acredita-se que ácidos nucleicos antisense de HIV se Terapia Gênica: Genes Normais Podem Ser
rão introduzidos em células de medula óssea removidas Introduzidos em Células com um Gene
de pacientes com AIDS. Essas células protegidas serão, Defectivo
então, reintroduzidas no paciente e substituirão as cé
lulas normalmente destruídas pelo vírus. Tem sido feito Indivíduos que possuem um gene defectivo, resul
progresso com ácidos nucleicos antisense que regulam tando em uma condição debilitante ou fatal, podem te
a expressão de oncogenes, genes envolvidos em forma oricamente ser tratados pelo fornecimento de um gene
ção do câncer. Portanto, as tecnologias antisense são normal a suas células. Terapia gênica, a transferência
muito promissoras para o tratamento de doenças hu de um gene normal para seres humanos, tem sido fei
manas (Correlação Clínica 7.11). Embora tenham sido ta usando vetores retrovirais (Correlação Clínica 7.12).
feitos muitos estudos com siRNA que têm 21 bases de O sucesso da transferência de genes depende, em par
comprimento, para desencadear RNAi, demonstrou-se te, da integração do gene ao genoma do hospedeiro, o

Gene Normal Vetor Expressão Recombinante


RE2
RNA-polymerase
Promotor
Promotor dependente de DNA
RE1 RE2 3! Clonar o gene por clonagem Ponto de
5! transcrição
direcional e transfectar célula
Normal +1
3! 5!
RE1
Ponto de início
da transcrição +1 Pré-mRNA
complementar Transcrição da fita de
DNA complementar do
Processamento do RNA gene (fita antisense)
5! 3!
RNA com
(RNA sense)
sentido Promotor
mRNA funcional

5!
5!
3!5!3! RNA antisense

RNA complementar (antisense) hibidriza com o RNA


sense e a tradução do mRNA normal é bloqueada

FIGURA7.29 Produção de RNA antisense.


Um gene, ou uma parte dele, é inserido em um vetor à jusan clonado com a polaridade invertida, juntamente com o mRNA
te de um promotor por clonagem direcional e em orientação celular normal (RNA sense) transcrito. Os dois RNAs anti
inversa à que é normalmente encontrado. Transfecção desse paralelos complementares hibridizam dentro da célula, resul
DNA recombinante na célula parental que carrega o gene nor tando em expressão (tradução) bloqueada do mRNA normal
mal resulta na transcrição do RNA (RNA antisense) do DNA transcrito.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 301

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.11

Regulação da Expressão Gênica Mediada por siRNA


A. Aptâmero-siRNA para Terapia de HIV-1 B. Uso de siRNA Substrato da Dicer na Pesquisa de Dor

O uso de RNA pequeno de interferência, siRNA A maioria das drogas vendidas atualmente, que agem
(RNA antisense) para regular a expressão gênica de no Sistema Nervoso Central (SNC), é dirigida para o tra
proteínas do HIV-1 em células doentes requer a entrada tamento de dor. As duas classes principais de analgésicos
eficiente do siRNA nas células alvos. Um aptâmero foi são as drogas opioides e os anti-inflamatórios não-este
engenheirado para reconhecer e se ligar seletivamente roídicos. Frequentemente, porém, essas drogas não são
a gp120 (glicoproteína 120). A gp120 é uma proteína efetivas ou perdem sua potência no tratamento de dor
do HIV-1 que é expressa na membrana de células infec crônica. Demonstrou-se em um modelo que o receptor
tadas. Um aptâmero é uma molécula de ácido nuclei acoplado a proteína G NTS2, no SNC, está envolvido na
co capaz de se ligar seletivamente a moléculas alvos, transmissão da dor. O RNAi (RNA de interferência) foi
como proteínas específicas. Moléculas quiméricas de empregado para diminuir a expressão do gene NTS2 em
aptâmero anti-gp120 e anti-tat/rev siRNA foram produ camundongos. Descobriu-se que o uso de um 27-mero
zidas por ligação covalente das duas espécies. O siRNA (RNA antisense do mRNA de NTS2) que serviria como
era um 27-mero que serve de substrato para a Dicer. O siRNA substrato da Dicer (DsiRNA) suprimiu eficiente
aptâmero-siRNA foi captado seletivamente pelas célu mente a expressão de NTS2. O DsiRNA foi suspenso em
las infectadas por HIV-1 expressando dp120. O siRNA um lipídeo catiônico, i-Fect, e administrado na coluna
27-mero foi então processado intracelularmente pela espinal do rato por injeção intratecal. A administração
Dicer gerando um siRNA 21-mero inibitório anti-tat/rev. de uma dose baixa de DsiRNA melhorou a dor por até 3-4
O nocaute da expressão dos genes do HIV-1 tat/rev, jun dias, correspondendo à redução da expressão da pro
tamente com o efeito antiviral do aptâmero anti-gp120, teína receptora NTS2 no mesmo período de tempo. Esse
teve um efeito inibitório combinado sobre a replicação tipo de tratamento com DsiRNA pode, finalmente, ajudar
do HIV-1. O uso de quimeras aptâmero-siRNA é muito a reduzir a dor crônica intratável no homem.
promissor para o tratamento sistêmico de infecções por
HIV e outras doenças que apresentam marcadores de Zhou, J. I., Li, H., Li, S., Zaia, J. e Rossi, J. J. Novel dual inhi
superfície como potenciais alvos. bitory function aptamer-siRNA delivery system for HIV-1 the
rapy. Mol. Therapy 16:1358, 2008. Dore-Savard, L., Roussy, G.,
Dansereau, M. A., Collingwood, M. A. et al. Central delivery of
Dicer-substrate siRNA: A direct application for pain research.
Mol. Therapy 16:1331, 2008.

que é dirigido pelo sistema retroviral de integração. A plas cópias do gene são microinjetadas no pró-núcleo
integração, entretanto, é geralmente um evento alea do óvulo fecundado. O DNA estrangeiro se insere alea
tório que pode ter consequências deletérias. Estudos toriamente no DNA cromossômico. Se um inserto in
indicam que a maquinaria de integração viral é seleti terromper um gene celular crítico, o embrião morrerá.
vamente direcionada a sequências alvos específicas no Geralmente, eventos mutagênicos não-letais resultam
DNA do hospedeiro por interações proteína-proteína, da inserção do DNA estrangeiro no cromossomo.
para evitar esses problemas em potencial.
Animais transgênicos vêm sendo usados atualmente
Animais Transgênicos para estudar os elementos regulatórios no DNA, a ex
pressão de proteínas durante a diferenciação, a espe
Para investigar o papel de um produto gênico especí cificidade tecidual e o papel de produtos de oncogenes
fico no crescimento e no desenvolvimento de um animal sobre crescimento, diferenciação e indução de tumori
inteiro, o gene deve ser introduzido no óvulo fecundado. gênese. Tais tecnologias devem permitir substituir ge
Genes estrangeiros podem ser inseridos no genoma de nes defeituosos no embrião em desenvolvimento (Cor
um óvulo fecundado. Animais que se desenvolvem a par relação Clínica 7.13).
tir de tal óvulo fecundado carregam o gene inserido em
todas as células e são chamados animais transgênicos. Camundongos Knockout
A Figura 7.30 delineia um método popular para criar A criação de um animal com um gene específico des
animais transgênicos. O gene de interesse é geralmen truído em todas as células permite aos pesquisadores
te uma molécula de DNA recombinante clonada com definir a função biológica do gene, se sua perda não for
seu próprio promotor ou é clonada com um promotor letal. Os princípios básicos por trás da criação de um ca
diferente, que pode ser regulado seletivamente. Múlti mundongo null, ou knockout, envolvem a inativação de
302 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.12

Terapia Gênica: Genes Normais Podem Ser Introduzidos em Células com Genes Defectivos
A. Terapia gênica para tratar a doença da imunodefi do que o observado em estudos anteriores. Ambos os
ciência combinada severa (SCID) (OMIM 102700) bebês tiveram seus sistemas imunes normalizados o
suficiente após 3 meses para deixarem o isolamento
Mais de 4.000 doenças genéticas são conhecidas,
protetor do hospital.
muitas das quais são debilitantes ou fatais. A maioria
é, no momento, incurável. Com o advento de novas Uma moratória sobre a terapia gênica para SCID-X1
tecnologias de biologia molecular, a aplicação clínica foi introduzida em 2003 pela indução de uma síndrome
da transferência de genes e da terapia gênica está se tipo-leucemia em 2 das 14 crianças europeias tratadas
tornando uma realidade. Doenças que resultam de uma para essa doença. A leucemia de células T foi causada
deficiência da adenosina desaminase (ADA) ou de pela inserção retroviral e up-regulation do gene LMO2
uma mutação no gene que codifica uma subunidade de que codifica um fator de transcrição necessário para
vários receptores de citocinas, γc, são apenas duas das hematopoiese. Espera-se que modificações futuras no
muitas doenças genéticas que podem ser completamen vetor usado para a terapia gênica possam evitar a apa
te curadas pela terapia gênica. rente inserção preferencial do retrovírus próximo a ge
nes ativos.
ADA é importante na recuperação de purinas, ca
talisando a conversão de adenosina em inosina ou de
soxiadenosina em desoxiinosina. Ele contém 363 ami
noácidos e tem atividade mais alta no timo e em outros B. Terapia gênica para tratar a Amaurose Congênita de
tecidos linfoides. Mais de 30 mutações no gene ADA es Leber
tão associadas com a doença da imunodeficiência com Um interessante uso da terapia gênica foi recente
binada severa (SCID, severe combined immunodefi mente relatado para corrigir a função visual na amau
ciency disease), uma doença autossômica recessiva.
As crianças imuno-comprometidas geralmente morrem rose congênita de Leber, que representa múltiplas
formas de distrofias graves de bastonetes-cones, here
nos primeiros anos de vida, em decorrência de fortes in ditárias recessivas de início na infância. Uma proteí
fecções. A primeira terapia gênica autorizada no homem na de 65 kD é um componente chave do ciclo visual e
começou em 14 de setembro de 1990, com o tratamento
é codificada pelo gene RPE65 no epitélio pigmentado
de uma menina de 4 anos de idade com deficiência de da retina. Um gene RPE65 não-funcional causa uma
ADA. As células T do sangue periférico da paciente fo
perda de 11-cis retinal, que é necessário para que as
ram cultivadas com fatores de crescimento adequados.
células fotorreceptoras vermelhas respondam à luz.
O gene ADA foi introduzido nessas células por trans
Parece que crianças possuem uma via alternativa para
ferência gênica mediada por retrovírus. Um retrovírus
a disponibilidade de 11-cis retinal, que desaparece à
modificado foi construído para conter o gene ADA hu
medida que ficam mais velhas. As crianças com a do
mano, de modo que ele fosse expresso em células hu
manas sem replicação viral. As células T modificadas, ença têm função visual que diminui com a idade, com
a degeneração progressiva das células cones fotorre
carregando um gene ADA normal, foram então rein
ceptoras. Três pacientes (idades 17–23) receberam
troduzidas na paciente por transfusão autóloga. Níveis
a administração cirúrgica de um vetor viral adeno
de ADA de apenas 10% do normal são suficientes para
-associado recombinante contendo a sequência codi
normalizar o paciente. A paciente, 10 anos mais tarde e
ficadora do RPE65 humano, no espaço subretinal de
com a idade de 13 anos, estava viva e bem, e mantinha um olho. No momento da cirurgia, todos os pacientes
células T gene-corrigidas em um nível de 20–25% do
tinham alguma função visual com boa iluminação,
total de células T. mas visão limitada ou nenhuma com pouca luz. Os re
A doença hereditária ligada ao X, SCID-X1, resulta sultados desse estudo indicam que pacientes com de
no bloqueio da diferenciação de linfócitos T e natu generação avançada de células cones fotorreceptoras
ral killer (NK). SCID-X1 resulta de uma mutação na obtêm modesta melhora na função visual com terapia
subunidade γc do receptor de citocinas, comum aos gênica com RPE65. Postula-se que tal terapia gênica
receptores das interleucinas 2, 4, 7, 9 e 15. A metodo em pacientes mais jovens traga mais benefícios do que
logia do tratamento, para pacientes de 8 e 11 meses em adultos.
de idade, foi semelhante à empregada em pacientes
Blaese, R. M., Progress toward gene therapy. Clin. Im
SCID com deficiência de ADA; essa doença tende a ser mun. Immunopath 61:574, 1991; Mitani, K., Wakamiya, M.
menos grave do que SCID-X1. Os estudos de SCID-X1 e Caskey, C. T. Long-term expression of retroviral-transdu
transduziram células-tronco CD34+ com um vetor re ced adenosine deaminase in human primitive hematopoietic
troviral carregando o cDNA γc normal. Isso resultou progenitors. Human Gene Therapy 4:9, 1993; Anderson,
em um nível muito mais alto de transdução do gene W. F. The best of times, the worst of times. Science 288:627,
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 303

2000; Cavazzana-Calvo, M., Hacein-Bey, S., de Saint Basile, 2003; Bainbridge J. W., Smith, A. J., Barker, S. S. Robbie,
G., Gross, F. et al. Gene therapy of human severe combined S. et al. Effect of gene therapy on visual function in Leber
imunodeficiency (SCID)-X1 disease. Science 288:669, 2000; congenital amaurosis. N. Eng. J. Med. 358:2231, 2008; e
Hacein-Bey, S., VonKalle C., Schmidt, M., McCormack, N. P. Maguire, A. M., Simonelli, F., Pierce, E. A., Pugh, E. N., Jr. et
et al. LMO2- associated clonal T-cell proliferation in two al. Safety and efficacy of gene transfer for Leber’s congenital
patients after gene therapy for SCID-X1. Science 302:415, amaurosis. N. Engl. J. Med. 358:2240, 2008.

Éxon1 Éxon2 Éxon3 inserir um gene de resistência a um antibiótico, conhe


Íntron Íntron Sinais de polyA
cido como neo, no gene clonado de interesse. Isso ina
Promotor
Gene clonado tiva o gene de interesse e permite identificar as células
ES que foram transfectadas com sucesso. O gene nor
mal numa porcentagem muito pequena de células ES
pode ser substituído pelo gene recombinante interrom
DNA recombinante clonado
microinjetado no pró-núcleo pido por neo por recombinação homóloga. As sequên
de óvulo fecundado de camundongo cias de nucleotídeos do gene alterado ou interrompido
alinham-se com a sequência homóloga do gene normal
e trocam de lugar, ou podem se introduzir no meio do
gene normal. Em ambos os casos, o resultado final é a
Pró-núcleo
destruição ou knockout (nocaute) do gene normal da
célula ES. A seleção das células ES alteradas, a microin
Ovo
jeção em um blastocisto de camundongo, o nascimento
Implantar as células-ovos de filhotes quimeras e o cruzamento de filhotes homozi
em camundongos mães gotos para o gene alterado (Figura 7.31) é um processo
adotivas
extremamente trabalhoso. O processo foi aplicado em
numerosos experimentos para avaliar o papel de genes
Isolar o DNA de específico (Correlação Clínica 7.14).
pequenos pedaços
de cauda. Hibidrizar com
sonda marcada para
identificar o camundongo
Dolly, uma Ovelha Clonada a partir de
Camundongo transgênico uma Célula Adulta
transgênico

1. Cruzar para estabelecer camundongos transgênicos


A clonagem de animais levanta inúmeras questões
2. Estabelecer linhagens celulares dos tecidos de
éticas, tais como: é competência do homem selecionar a
camundongos transgênicos para estudar a regulação composição genética de animais e propagar esses ani
e a estrutura de genes, bem como a função do mais? É claro que há muitas vantagens experimentais
produto gênico
no desenvolvimento de animais com informação genéti
FIGURA7.30 Produção de animais transgênicos. ca idêntica. Entretanto, a aplicação de técnicas de clo
Genes funcionais clonados, amplificados e purificados são mi nagem de animais inteiros para o homem levanta ques
croinjetados em vários pró-núcleos de óvulos fecundados de tões éticas que a maioria considera inaceitáveis.
camundongos in vitro. Os ovos são implantados numa mãe
adotiva. DNA é isolado de um pequeno fragmento da cauda A clonagem de descendentes viáveis a partir de cé
de cada um dos filhotes e hibridizado com uma sonda marcada lulas de mamíferos adultos é muito trabalhosa. O méto
para identificar os animais que carregam o gene estrangeiro do que produziu Dolly, a ovelha clonada, começou com
(camundongo transgênico). Os camundongos transgênicos po o cultivo de células de glândula mamária derivadas de
dem ser cruzados entre si para estabelecer uma nova linhagem uma ovelha Finn Dorset de seis anos de idade. As células
de camundongos. Linhagens celulares também podem ser es
foram paradas em G0 pela manutenção em meio de cul
tabelecidas a partir de tecidos de camundongos transgênicos
para estudar regulação gênica e estrutura ou a função do pro tura com baixo conteúdo de soro. Os núcleos de células
duto do gene estrangeiro. doadoras diploides quiescentes foram, então, transferi
dos para ovócitos anucleados derivados de uma ovelha
Scottish Blackface. Os óvulos fecundados artificialmente
um gene recombinante purificado, a introdução desse se desenvolveram até o estágio de mórula ou blastocisto
gene alterado em uma célula tronco embrionária (ES), em cultura e, depois, foram transferidos para uma ove
de modo que substitua o gene normal, a injeção da cé lha receptora, que levou o feto a termo. Só uma pequena
lula ES modificada em um blastocisto em desenvolvi percentagem dos embriões implantados sobreviveu a ter
mento, o implante do blastocisto em uma mãe adotiva, mo. Entretanto, a metodologia para clonar descendentes
e a seleção do filhote que não têm o gene normal. Uma a partir de células somáticas adultas foi estendida com
abordagem comum para inativar um gene específico é sucesso a gado, camundongos e macacos.
304 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.13

Modelos de Animais Transgênicos


Modelos de animais transgênicos são promissores suplementada com ZnSO4 33 dias após o nascimento
para corrigir doenças genéticas logo no início do desen para ativar o promotor MT-1 de camundongo e iniciar
volvimento fetal. São usados para estudar a regulação a transcrição do gene GH de rato. Superexpressão con
da expressão e a função de produtos gênicos específi tínua de GH de rato em alguns animais transgênicos
cos num animal e podem levar à criação de novas linha produziu camundongos com quase duas vezes o tama
gens de animais comercialmente valiosos. Camundon nho dos irmãos, que não carregavam o gene GH de rato.
gos transgênicos foram produzidos a partir de óvulos Um camundongo transgênico transmitiu o gene GH de
fecundados de camundongos com genes de hormônio rato para metade de seus filhotes, indicando que o gene
de crescimento (GH) de rato microinjetados em seus havia se integrado estavelmente ao genoma da célula
pró-núcleos machos (p. 303). Aproximadamente 600 germinativa e que novas linhagens de animais podiam
cópias do gene, fundido com a região do promotor da ser criadas.
metalotioneína-1 (MT-1) de camundongo, foram intro
duzidas em cada ovo que foram, então, inseridos no Palmiter, R. D., Brinster, R. L., Hammer, R. E. et al. Dra
trato reprodutor de camundongos mães adotivas. O matic growth of mice that developed from eggs microinjected
camundongo transgênico resultante continha o gene with metallothionein-growth hormone fusion genes. Nature
GH de rato em seu genoma. A dieta dos animais foi 300:611, 1982.

Generação de um camundongo “Knockout”


Cultura das células-troncos Algumas poucas células ES
embrionárias (ES) de camundongos contêm o gene não-funcional,
de pelagem preta Transfecção com um obtido por recombinação
homóloga
gene clonado mutado,
não-funcional

Microinjeção de células ES É empregada uma técnica de exame


alteradas em blastocisto de apropriada para isolar as células ES
camundongo com o gene alterado

A população homogênea de
células ES com o gene
“deletado” é expandida

FIGURA7.31 Geração de um
camundongo knockout.
Células embrionárias em cultura podem
ser manipuladas pela tecnologia de re
combinação para conterem um gene de
Cruzamento para fectivo ou “deletado”. As células alteradas
obter o filhote raro podem ser introduzidas em um blastocisto
com o gene alterado
que é, então, implantado numa mãe ado
em suas células
Implante do blastocisto Camundongo germinativas Filhotes inteiramente tiva. Filhotes que têm o gene “deletado”
em mãe adotiva albina quimérico identificado pretos com o gene não-funcional em todas as suas células
visualmente, com alterado podem, então, ser selecionados – o animal
pelos pretos
knockout.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 305

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.14

Camundongos Knockout para Definir um Papel para o Purinoceptor P2Y1


As plaquetas desempenham um papel central na bose. O desenvolvimento recente de um modelo de ca
hemostasia e na trombose. Um importante agonista mundongo knockout (null) permitiu acessar o papel
fisiológico que induz agregação plaquetária é o ADP. do receptor de purina P2Y1.
Estudos da década de 1970 estabeleceram o dogma de
Apesar de o receptor P2Y1 ser encontrado em mui
que o ADP, ligado a um receptor acoplado a proteína G,
tos outros tecidos além das plaquetas, o camundongo
induz agregação, enquanto o ATP extracelular, agindo
knockout não apresentava nenhuma anormalidade
sobre o mesmo sítio receptor, inibe competitivamente
aparente. Entretanto, níveis normais de ADP eram in
a agregação. Às vezes, regras baseadas em evidências
capazes de induzir agregação plaquetária, embora altas
limitadas, são firmemente aceitas e passam-se anos
concentrações de ADP o fizessem. As plaquetas agre
antes que sejam revistas. Na década de 1990, ficou cla
ro que as plaquetas possuem pelo menos três purino gadas não mostravam a mudança normal de forma. Os
camundongos P2Y1-null eram resistentes à trombose e,
ceptores diferentes, com diferentes especificidades de
ligação a ATP versus ADP. O entendimento de como portanto, esse receptor pode ser um bom alvo para dro
gas antitrombóticas.
esses receptores, potencialmente interativos, funcio
nam é muito importante clinicamente. ATP e ADP são
Soslau, G. e Youngprapakorn, D. A possible dual physio
liberados no sistema vascular/sangue em várias condi
logical role of extracellular ATP in the modulation of platelet
ções normais e patológicas. O equilíbrio entre a ação aggregation. Biochim. Biophys. Acta 1355:131, 1997; e Leon,
agonista do ADP e antagonista do ATP pode desempe C., Hechler, G., Freund, M., Eckly, A., Vial, C. et al. Defec
nhar um papel significativo na regulação da resposta tive platelet aggregation and increased resistance to throm
plaquetária. A definição dos mecanismos de ação pode bosis in purinergic P2Y1 receptor-null mice. J. Clin. Invest.
levar à produção de novas drogas para combater trom 104:1731, 1999.

Dolly foi morta por eutanásia em 2004 em decorrên se diferenciar em todos os tipos de células do corpo.
cia de uma doença progressiva de pulmão associada Essas células poderiam ser induzidas a formar células
com o que parecia ser um processo de envelhecimento normais de qualquer tecido, para substituir tecidos de
prematuro. Não está claro se esses defeitos resultaram fectivos em pacientes.
do processo de clonagem e/ou de fatores ambientais.
Entretanto, as técnicas de clonagem continuam a ser Células-troncos embrionárias são células pluripo
exploradas com a expectativa de que tenham grande tentes que podem se desenvolver em qualquer tipo de
valor terapêutico. Recentemente uma fêmea de camun célula do organismo, em presença de ambiente e de
dongo foi criada a partir de dois óvulos de fêmeas, con moléculas sinalizadoras corretos. Muitas esperanças e
tornando um processo chamado de imprinting. O im preocupações éticas surgiram em torno do desenvolvi
printing determina que alguns genes ativos devem ser mento e uso de células-troncos embrionárias para o tra
doados pela mãe e outros, pelo pai. Normalmente em tamento de muitas doenças humanas. Estudos recentes
briões de mamíferos engenheirados com dois conjuntos demonstraram que células somáticas humanas podem
de cromossomos de fêmea ou macho não se desenvol ser reprogramadas para se tornarem células-troncos
vem. O camundongo fêmea criado a partir de duas mães tipo-embrionárias, pluripotentes. A introdução estável
viveu até a idade adulta e teve sua própria ninhada de de quatro fatores de transcrição, Oct 4, Sox2, Klf4 e
filhotes. Myc, em células somáticas de camundongo ou huma
nas por vetores virais resultou na formação de células
Com o sucesso da criação da Dolly e o isolamento -troncos pluripotentes induzidas (iPS). Embora muito
de células-troncos embrionárias humanas (hESC), os trabalho seja necessário para demonstrar a segurança
cientistas começaram sua luta para combinar as duas de usar essas células iPS para o tratamento clínico de
técnicas, para criar células-troncos embrionárias gene doenças, seu potencial é enorme. Além disso, células
ticamente ajustadas a um paciente específico, a clona iPS podem ser paciente-específicas para eliminar qual
gem terapêutica. Um passo importante nessa direção quer resposta imune.
foi dado pelo esforço hercúleo de se criar uma única
linhagem de hESC derivada de uma blástula clonada.
A blástula clonada foi criada por inserção do núcleo de DNA Recombinante em Agricultura
uma célula de cumulus humana (células que ficam em Tem Impacto Comercial
torno do óvulo no ovário) em um óvulo humano anu
cleado, e este foi colocado em um ambiente químico Talvez o maior ganho para a humanidade seja o
adequado para induzir a replicação. A linhagem hESC uso prático da tecnologia recombinante para a melho
cresce normalmente em cultura e poderia ser capaz de ria agrícola de grãos. Devem ser identificados e isola
306 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

dos os genes que codificam propriedades como maior 7.11 GENÔMICA, PROTEÔMICA
produtividade em grãos, crescimento rápido da planta,
resistência a condições adversas como períodos áridos E ANÁLISE POR
ou frios, e o tamanho da planta. Novos genes, não co
muns em plantas, podem ser engenheirados em plantas MICROARRAY
para conferir resistência a insetos, fungos ou bactérias.
Genômica é o estudo das características molecula
Finalmente, genes de proteínas estruturais podem ser res do genoma inteiro. Inclui a sequência do genoma,
modificados para conter aminoácidos essenciais que a identificação dos genes e de suas sequências regu
não estão normalmente presentes, sem modificar a fun
latórias, além do padrão de expressão gênica. Dúzias
ção da proteína. A produção de plantas com novas pro
de genomas procarióticos e eucarióticos, bem como
priedades genéticas requer a introdução de genes em mais de mil vírus, foram sequenciados (Tabela 7.1). O
células da planta que podem se diferenciar em plantas sequenciamento de numerosos genomas de micróbios
inteiras. marinhos adicionou recentemente cerca de um mi
A nova informação genética presente em plasmídeos lhão de novos genes aos 180.000 genes documentados.
da galha da coroa (crown gall) pode ser introduzida Estima-se que existam mais de 10 bilhões de genes no
em plantas infectadas com bactérias de solo conheci repertório da Terra. Um único gene pode dar origem
das como agrobactérias. Agrobactérias naturalmente a múltiplas espécies de proteínas em virtude da esco
lha do splicing do RNA transcrito e do processamento
contêm um plasmídeo da galha da coroa ou Ti (indutor
de tumor), cujos genes integram-se em um cromosso pós-tradução variável da proteína produzida. O comple
mo da célula infectada. Os genes do plasmídeo levam a mento de proteínas de uma célula é chamado de proteo
célula de planta hospedeira a produzir novas espécies ma. Proteômica é o estudo das proteínas expressas em
de aminoácidos chamados opinas (como, por exemplo, tecidos em várias condições, interações de proteínas
os aminoácidos derivados de arginina e piruvato, octo e modificações de proteínas. A Correlação clínica 7.15
pina, ou arginina e α-cetoglutarato, nopalina), que são descreve como a proteômica tem sido usada para diag
necessários para o crescimento bacteriano. Uma galha nosticar estágios iniciais de câncer por identificação de
da coroa, ou massa tumoral de células indiferenciadas biomarcadores associados a tumor.
de plantas, desenvolve-se no local da infecção bacteria
na. Novos genes engenheirados no plasmídeo Tipodem
ser introduzidos em células de plantas na infecção com Análise de Microarray
a Agrobactéria. As células podem, então, ser crescidas
A análise de genomas e proteomas foi muito facili
em cultura e induzidas a rediferenciar em plantas intei tada pelo desenvolvimento das tecnologias de micro
ras. Cada célula poderia conter a nova informação gené
matrizes ou microarrays desenvolvidas primeiro para
tica e representaria uma planta transgênica. analisar ácidos nucleicos. A hibridização de ácidos nu
Algumas limitações na produção de plantas com cleicos e a formação de complexos antígeno-anticorpo
propriedades genéticas melhoradas devem ser supera têm sido intensamente empregadas nas técnicas des
das antes que significativo avanço no suprimento de ali critas nas seções anteriores para a análise de uma ou
mentos para o nosso mundo possa ser realizado. É claro, algumas poucas espécies macromoleculares. Entre
genes de características desejadas devem ser identifica tanto, técnicas com um rendimento alto são neces
dos e isolados. Grãos importantes como milho e trigo sárias para analisar simultaneamente as centenas ou
também não podem ser transformados por plasmídeos milhares de genes expressos em uma célula. As técni
cas de microarray dependem das mesmas interações
Ti; portanto, outros vetores devem ser identificados. Foi
thern,
macromoleculares
Northern e descritas
Western blots.
anteriormente da sonda
A fixação em Sou-
alcançado um sucesso significativo no desenvolvimento
de plantas de grãos resistentes a insetos e vírus. Re
centemente, engenheiros genéticos inseriram um gene de DNA a superfícies sólidas impermeáveis reduz os
estrangeiro em plantas de ervilha para produzir uma volumes das soluções e os tempos necessários para hi
proteína que inibe a alimentação de larvas de gorgulho bridização. Microarrays de DNA são produzidos por
(ou broca) com sementes de ervilha. Isso permitirá o adições, controladas por computador, de microgotas
armazenamento de ervilhas e outras sementes de le de sequências de DNA clonadas ou sintetizadas por
PCR, a uma lâmina de vidro com um substrato poli-L
gumes sem a necessidade de proteção com fumigantes
químicos (atualmente, fazendeiros brasileiros perdem -lisina ao qual essas sondas de DNA ficam covalente
20–40% de seu feijão armazenado em decorrência de mente ligadas. O DNA ou o RNA a ser analisado é mar
pestes). cado isotopicamente ou por fluorescência e, depois, é
hibridizado com as sondas fixadas sobre a superfície
do vidro (Figura 7.32). Reações positivas são detec
tadas e quantificadas por imagem de alta-resolução e
análise em computador. Muitos microarrays de DNA
estão disponíveis que focalizam genes selecionados
envolvidos em processos discretos ou em vias como a
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 307

TABELA 7.1 Uma Lista Parcial de Espécies Procarióticas e Eucarióticas Cujos Genomas Foram Sequenciados
Espécie Tamanho do Genoma
Procariotos
(mais de 100 micróbios) Hemophilus influenzae 1,83 Mb
Chlamydia pneumoniae 1,23 Mb
Neisseria meningitides 2,27 Mb
Vibrio cholerae 4,0 Mb
Número de cromossomos
Eucariotos simples Saccharomyces cerevisiae (levedura) 16
Plasmodium falciparum (protozoário da malária) 14
Anopheles gambiae (pernilongo) 3
Drosophila melanogaster (mosca de fruta) 5
Plantas Avena sativa (aveia) 7
Hordeum vulgare (cevada) 7
Oryza sativa (arroz) 12
Zea mays (milho) 10
Vertebrados Danio rerio (peixe paulistinha) 25
Gallus gallus (galinha) 39
Mus musulus (camundongo) 21
Rattus norvegicus (rato) 22
Homo sapiens (homem) 24

transdução de sinal e a apoptose. Um exemplo especí podem ser facilmente deduzidos a partir dessa imagem
fico de expressão gênica alterada em células infecta única, uma vez que muitos genes podem ser ligados ou
das por malária é apresentado na Figura 7.33. desligados por vias subsequentes durante a transição
para o estado celular final. Genes corregulatórios envol
DNA oligonucleotídeos (geralmente com 20 ou mais vidos na mudança entre diferentes estados metabólicos
bases) também podem ser sintetizados sobre microma ou de doenças poderiam ser determinados por análise
trizes fixadas a uma lâmina de vidro. O tamanho da mi de microarray em múltiplos pontos no tempo, entre
cromatriz pode variar de 1 × 10 × 5 μm a 100 × 100 × os estágios inicial e final da expressão gênica alterada.
20 μm. Milhares de oligonucleotídeos diferentes, cada A análise computacional de microarrays gerados ao
um complementar a um gene específico, podem serimo longo do tempo podem agrupar genes que parecem ser
bilizados no que é chamado um chip de DNA. Um único expressos coordenadamente. Análise de grupos (clus
chip microarray para o genoma humano, que estará ters) permite a identificação de genes com potencial
disponível comercialmente, contém 1 milhão de sondas para corregularem a alteração da célula de um estado
oligonucleotídicas. Esse chip de DNA detectará cerca para outro.
de 50.000 RNA transcritos de aproximadamente 30.000
genes humanos. Esses microchips biológicos são com Os microarrays de proteínas são produzidos com
paráveis a microchips eletrônicos, uma vez que ambos anticorpos ou proteínas não-anticorpos fixados a lâmi
são capazes de executar múltiplas reações em paralelo nas ou filtros que podem capturar proteínas alvos em
com alta eficiência. uma amostra, de modo similar aos usados em micro
arrays de DNA. Outras sondas proteicas estão sendo
Os microarrays permitem a análise da expressão desenvolvidas para microarrays de proteínas como
do genoma inteiro ou de genes de uma via seleciona sequências sintéticas curtas de DNA ou RNA (aptâ
da. Os genes expressos em um tecido específico, ou em meros) que ligam seletivamente proteínas específicas.
um determinado estado metabólico ou doença, pode As matrizes de proteínas são geralmente produzidas
riam dar indicações sobre quais genes estão ativos na com proteínas recombinantes que podem ser geradas
condição específica. Infelizmente, uma única placa de a partir de bibliotecas de expressão de cDNA tecido
microarray dá uma fotografia estática dos genes genô -específicas. Esses microarrays podem, então, ser ra
micos expressos em uma condição em particular. Genes pidamente analisados com anticorpos específicos com
regulatórios envolvidos na expressão alterada final não marcador fluorescente. Essa abordagem foi empregada
308 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

CORRELAÇÃO CLÍNICA 7.15

Técnica de Micromatrizes (Microarray) para Detectar e Tratar Doenças

A. Análise de Micromatrizes de Ácidos Nucleicos no guns exemplos de RTKs incluem os receptores dos fa
Câncer de Mama tores de crescimento EGFR, PDGFR e VEGFR. Desco
briu-se que múltiplos RTKs ativam PI3K no GBM pela
A modalidade de tratamento de pacientes com câncer análise de extratos de células tumorais incubados com
de mama depende, em grande parte, do estado do re matrizes de anticorpos contra RTK. Aqui os anticor
ceptor de estrógeno (ER) nas células tumorais. Tumores pos, específicos para muitos RTKs, são fixados a um
receptor de estrógeno-positivos geralmente respondem suporte sólido e se ligarão aos RTKs celulares. O RTK
bem à terapia adjuvante com hormônio ou com droga, ativado presente no extrato celular é fosforilado em
enquanto tumores ER-negativos geralmente não. Pa resíduos de tirosina que são facilmente detectados no
cientes com tumores ER-negativos têm respostas va complexo RTK-anticorpo por um segundo anticorpo
riáveis à quimioterapia, e não há indicadores conhecidos conjugado com peroxidase de raiz forte (HRP) con
para prever o prognóstico pós-operatório. O RNA celular tra fosfotirosinas. Então, um substrato (fluorescente
amplificado derivado de 10 pacientes ER-negativas, que ou colorido) para HRP é usado para identificar quais
morreram em 5 anos de câncer de mama, e de 10 pacien RTKs ativas estavam presentes em um extrato de cé
tes ER-positivas que estavam vivas, livres da doença, foi lulas tumorais. Após identificação de quais RTKs esta
analisado em uma micromatriz (microarray) de cDNA vam envolvidas na ativação da PI3K em uma linhagem
consistindo de 25.344 genes. A análise detectou 71 genes celular tumoral em particular, inibidores específicos
com maior expressão no grupo que morreu do que no de RTKs foram testados quanto à sua capacidade de
que sobreviveu, e 15 genes expressos em maiores níveis reduzir a formação de colônias e a viabilidade celular.
nas sobreviventes versus as que morreram. Um sistema Um único inibidor de RTK teve pouco efeito, e inibi
de classificação (scoring) foi desenvolvido com base em dores duais de RTKs foram mais efetivos. Entretanto,
marcadores gênicos para classificar pacientes com tu o uso de três inibidores de RTKs foi o mais efetivo.
mor de mama ER-negativo em grupos com prognóstico Ensaios de tumores GBM humanos primários não-tra
ruim versus um prognóstico bom. O sistema de classifi
tados demonstraram que todos continham múltiplas
cação parece ter um alto grau de precisão e pode ajudar RTKs fosforiladas, enquanto os tecidos de especimens
a dirigir protocolos de tratamento e definir novos genes de cérebro normal não tinham nenhuma ativação de
alvos para tratamento com drogas. tectável de RTK. Esses estudos demonstram a capa
cidade de determinar rapidamente o complemento de
RTKs ativadas em amostras de GBM de pacientes, de
B. Tecnologia de Micromatrizes de Anticorpos para modo que os clínicos possam personalizar seus trata
Tratar Tumores de Cérebro mentos com drogas.

Glioblastoma multiforme (GBM) é o tumor mais Nagahata, T., Onda, M., Emi, M., Nagai, H. K. et al. Expres
comum no sistema nervoso central em seres huma sion profiling to predict postoperative prognosis for estrogen
receptor-negative breast cancer by analysis of 25,344 genes
nos adultos e, infelizmente, um dos tipos mais letais
on a cDNA microarray. Cancer Sci. 95: 218, 2004. Stommel,
de câncer. Ativação anormal de componentes da via J. M., Kimmelman, A. C., Ying, H., Nabioullin, R., Ponugoti, A.
da fosfatidilinositol-3-quinase (PI3K) é uma caracte
H. et al. Coactivation of receptor tyrosine kinase affects the
rística do GBM, bem como de outros tipos de câncer. response of tumor cells to targeted therapies. Science 318:
Receptores tirosina quinases (RTKs) ativam PI3K. Al 287, 2007.

com sucesso para detectar o repertório de anticorpos Genoma Humano


em plasma humano associado com algumas doenças
autoimunes. Por volta de 1996, o genoma de levedura, um eu
carioto consistindo de aproximadamente 14 × 106 pb
As técnicas de microarray são críticas para a aná distribuídos entre 16 cromossomos, foi sequenciado.
lise da expressão genômica e o estado proteômico de O genoma do nemátoda C. elegans, sequenciado por
células normais comparadas com os padrões de células volta de 1998, contém aproximadamente 18.000 genes,
que estão alteradas em virtude de mudanças como am comparados aos 6.000 genes da levedura. Em 2000,
bientes metabólicos alterados, diferenciação, resposta uma abordagem de sequenciamento por tiro (shot
a drogas, resposta a fatores de crescimento ou estado gun) foi empregada para sequenciar essencialmente
de doença. o genoma inteiro, com 180 × 106 pb, da mosca de fru
ta Drosophila melanogaster. Esse método envolve a
quebra do genoma inteiro em pequenos pedaços, o se
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 309

quenciamento dos pedaços por um procedi


mento rápido automatizado, e a organização
dos fragmentos sequenciados na ordem cor
Aplicação assistida
reta assistido por sequências sobrepostas e por computador de
um supercomputador. A disponibilidade das microquantidades
de moléculas
sequências clonadas anteriormente facili
tou o sequenciamento.

A abordagem de sequenciamento por


shotgun foi empregada para acelerar o se
quenciamento do genoma humano. Vários Fixação química, por UV etc.,
de moléculas de sondas ao
cromossomos humanos já haviam sido mape suporte sólido Examplo de Preparação de Amostra:
ados e milhares de clones de cDNA haviam cDNA sintetizado a partir de mRNA
sido sequenciados ou estavam prontos para isolado de:
com um
fígado corante
Células
marcadas
de & Células de
serem sequenciados, os quais forneceriam, pulmão marcadas
em última análise, marcas de referências com um corante
para o enorme mapa genético humano. Em fluorescente fluorescente
VERDE VERMELHO
2000, J. C. Venter e F. S. Collins anunciaram Hibridização
conjuntamente que seus grupos haviam se
misturado
quenciado 97% do genoma humano. amostra adicionada

A determinação de uma sequência genômi


ca é apenas parte do quebra-cabeça genômico.
Os pontos de começo e fim de cada gene devem
ser determinados, juntamente com o que os
genes codificam, um processo chamado anota
Análise assistida por
ção. Os genomas eucarióticos geralmente con computador de reações
têm regiões permanentemente condensadas positivas por detecção
por autorradiografia ou
ou heterocromáticas em torno dos centrôme fluorescência
ros. Essas regiões contêm DNA repetitivo que
não é clonado e sequenciado por nenhum dos
métodos atuais de sequenciamento. Podem se
passar décadas ou mais antes que a determi
nação completa de todos os genes e elementos
FIGURA7.32 Análise de microarray de DNA.
regulatórios seja conseguida. A superfície de um suporte impermeável, tipicamente vidro ou polipropileno,
é preparada para aplicar múltiplas amostras de DNA ou oligonucleotídeos. A
O encerramento do projeto genoma hu
lâmina com oligonucleotídeos ou ácidos nucleicos representando centenas de
mano gerou enorme quantidade de dados. A
milhares de genes é incubada em uma câmara em condições apropriadas para
conquista do projeto é só o começo do nosso hibridização, seguida de lavagens adequadas para remover cDNA não-hibridi
entendimento dos fundamentos moleculares zado. Manchas fluorescentes verdes indicariam genes expressos em células de
de como uma única célula funciona, quanto fígado, manchas fluorescentes vermelhas indicariam genes expressos em cé
mais um organismo. Hoje se considera que o lulas de pulmão, e manchas florescentes amarelas indicariam genes expressos
genoma humano codifique cerca de 30.000 em ambos os tecidos.
genes, muito menos genes do que se previa, e
apenas cerca de 20% mais do que o genoma de plantas O delineamento de todos os genes humanos e suas
e 40% mais do que C. elegans (verme). Entretanto, os sequências regulatórias pode aumentar muito nosso
RNA transcritos do genoma “estático” são relativamen entendimento de muitas doenças genéticas. Avanços
te “dinâmicos”, assim como seus produtos proteicos tra tecnológicos para manipular genes e a expressão gêni
duzidos. A escolha do splicing do RNA transcrito pri ca podem abrir novos caminhos para regular ou curar
mário resulta em diferentes produtos proteicos a partir muitas doenças. Doenças genéticas podem eventual
do mesmo gene (p. 295). Produtos proteicos também mente ser curáveis por terapia de substituição gênica;
podem passar por numerosas modificações químicas e testes clínicos limitados para terapia gênica já foram
associação com outras subunidades peptídicas ou pro iniciados. Considerando-se o enorme avanço feito em
teínas. Estima-se que os 30.000 genes deem origem, no biologia molecular apenas nas últimas três décadas, é
final, a 200.000 a 2 milhões de produtos proteicos cuja razoável acreditar que o “quando” não estará tão dis
expressão é dependente, em parte, de tecido-especifici tante assim. O velho desafio confrontando os cientistas
dade, estágio de desenvolvimento e condições metabó foi como sequenciar o genoma humano; o novo desafio
licas. A tarefa a nossa frente é adquirir a capacidade de é como manipular efetivamente aquele conhecimento
analisar transcritos e seus produtos finais de tradução para o benefício da humanidade.
em nível de estrutura ou função.
310 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

MICROARRAY

SUPEREXPRESSOS
DURANTE A MALÁRIA

SEM MUDANÇA DE
EXPRESSÃO EM
VIRTUDE DA
INFECÇÃO

SUBEXPRESSOS
DURANTE A MALÁRIA

FIGURA7.33 Análise por microarray de expressão gênica em camundongos infectados com um parasita de malária de
roedor.
DNA, RNA ou oligonucleotídeos, representando parte ou todo o quimiocinas, seus receptores, moléculas de adesão, moléculas
genoma ou as proteínas celulares, ou anticorpos, representando coestimulatórias, fatores imunorregulatórios, fatores de trans
parte do proteoma celular, são fixados sobre um suporte imper crição, e proteínas de transdução de sinal, entre outras.
meável. As sondas fixadas reagem com os componentes celula
res apropriados marcados, que formarão um complexo estável Amostras: RNA de esplenócito de camundongo não-infectado
por hibridização ou interações proteína–proteína. A identifica foi usado para sintetizar cDNA com o marcador fluorescente
ção de ácidos nucleicos ou proteínas que se associam com as Cy3 (verde). RNA de esplenócito de camundongo no dia 8 da
amostras fixadas no microarray permite a análise da expressão infecção com um parasita de malária de roedor foi usado para
gênica celular em células mantidas em várias condições. sintetizar cDNA com marcador fluorescente Cy5 (vermelho).
As sondas de DNA marcadas para fluorescência e misturadas
Microarrays de DNA de camundongo foram produzidos para o foram hibridizadas com a matriz de oligonucleotídeos alvos.
genoma de camundongo, que contém 13.443 oligonucleotídeos Genes que estão superexpressos em camundongos infectados
sintéticos representando os genes bem caracterizados de ca com malária são vermelhos, e os que são subexpressos nesses
mundongo. Cada oligonucleotídeo tem 70 bases de comprimen animais são verdes. Genes que não são afetados pelo parasita
to, derivados da extremidade 3! de cada gene, otimizado para da malária são amarelos.
minimizar hibridização cruzada com todos os genes conheci
dos de camundongo. A matriz inclui um conjunto abrangente Dados são de trabalho não-publicado do laboratório do Dr. Ja
de genes relacionados com o sistema imune, codificando um mes Burns, Departamento de Microbiologia, Drexel University
subconjunto de linfócitos e marcadores de ativação, citocinas, College of Medicine.

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CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 311

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312 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Termos Chaves
α-complementação didesoxinucleosídeo trifos mutagênese sítio-dirigi reação da polimerase em
ácidos nucleicos antisense fato dainverso cadeia (PCR)
análise por microarray DNA complementar Northern blot RNA de interferência,
(ou micromatrizes) (cDNA) PCR aninhado RNAi
animais transgênicos DNA recombinante PCR multiplex RNA pequeno de interfe
bibliotecas de bacteriófago endonuclease de restrição rência (siRNA)
PCR quantitativo em tem
caminhar pelo cromossomo ensaio de deslocamento de po real sequenciamento com se
mobilidade eletroforética quenciamento direto
(chromosome walking) plasmídeos
sequenciamento por sho
camundongo knockout (ou ensaio de proteção de nu polimorfismo de compri
cleas genômica tgun
nocaute) mento de fragmento de
células pluripotentes
corante-terminador hibridização in situ restrição (RFLP) sítio de policlonagem
inativação por inserção polimorfismo de conforma Southern blot
ção de fita-única (SSCP) terapia gênica
cromossomos artificiais de mapas de restrição
bactéria (BACs) microRNA proteína de fusão transfecção
cromossomos artificiais de mutagênese por PCR proteômica vetor cosmídeo
levedura (YACs) vetores de expressão

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha E. nenhuma das anteriores.
1. A construção de um mapa de restrição do DNA re 4. DNA complementar (cDNA)
quer todos os seguintes, exceto: A. não pode ser expresso por sistemas procarió-
A. hidrólise parcial do DNA. ticos
B. hidrólise total do DNA. B. é transcrito reversamente a partir de mRNA
C. separação eletroforética dos fragmentos em eucariótico funcional.
um gel. C. tem todos os elementos do gene original do
D. coloração de um gel de eletroforese para loca mRNA de interesse.
lizar DNA. D. a síntese requer a formação anterior de um
E. aquecimentos e resfriamentos cíclicos da mis primer de RNA.
tura de reação. E. permanece como uma molécula fita-única.
2. A preparação de DNA recombinante requer: 5. O melhor vetor para carregar um segmento de DNA
A. endonucleases de restrição que cortem de com 350 kb de comprimento seria
modo desencontrado. A. bacteriófago.
B. endonucleases de restrição que quebrem ge B. cromossomo artificial de bactéria (BAC).
rando fragmentos com extremidades retas. C. cosmídeo.
C. poli(dT). D. plasmídeo.
D. DNA ligase. E. cromossomo artificial de levedura (YAC).
E. cDNA.
6. Ácidos nucleicos antisense
3. Na seleção de colônias bacterianas que carregam A. complementares a mRNA aumentariam a tra
DNA clonado em plasmídeos, como pBR322, que dução.
contêm dois genes de resistência a antibióticos:
B. poderiam resultar se um gene fosse inserido à
A. um gene de resistência a antibiótico não é fun
jusante de um promotor, mas na direção opos
cional nas colônias de bactérias desejadas. ta ao normal.
B. bactérias não-transformadas são resistentes a C. não podem ter nenhum uso clínico.
antibióticos.
D. reagem apenas com DNA.
C. ambos os genes de resistência a antibióticos são E. são necessários para a tecnologia do DNA re
funcionais nas colônias de bactérias desejadas.
combinante.
D. sondas de DNA ou RNA marcadas radioativa
mente desempenham um papel.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 313

Questões 7 e 8: Nos Estados Unidos, uma causa im A. não ocorrerá se o gene contiver um íntron.
portante de morte de bebês durante o primeiro ano B. ocorre mais eficientemente se cDNA for usado
de vida é a síndrome da morte súbita infantil (SIDS). no vetor.
Um estudo mostrou uma forte correlação entre o ris
co aumentado de SIDS e aumento no intervalo QT no C. não requer inserção direcional do gene no ve
tor.
eletrocardiograma. Em uma criança, um gene asso
ciado com a síndrome do QT longo tinha uma substi D. requer
e promotor
que o“engenheirados”
vetor tenha elementos
no vetor.
enhancer
tuição de AAC por TCC. Esse gene codifica uma pro
teína associada com o canal de sódio. A mutação foi E. não requer que o vetor tenha uma origem de
detectada por polimorfismo de conformação de cadeia replicação (ori).
única (SSCP, single-strand conformation polymor
10. A expressão de um gene eucariótico em procario
phism).
tos envolve
7. Qual(is) das seguintes afirmativas sobre SSCP A. uma sequência Shine-Dalgarno (SD) no
está(ão) correta(s)? mRNA.
A. A migração eletroforética em gel de poliacrila
B. ausência de íntrons.
mida de DNA pequeno, fita-única, na técnica
de SSCP depende parcialmente da conforma C. elementos regulatórios a montante do gene.
ção secundária. D. uma proteína de fusão.
B. Deve existir um sítio de endonuclease de res E. todos os anteriores.
trição na região estudada para que SSCP fun
Questões 11 e 12: O DNA genômico total foi isolado de
cione.
três indivíduos, digerido separadamente com uma en
C. Marcação radioativa não é usada nessa técni donuclease de restrição a fragmentos, e os fragmentos
ca. foram separados em gel de agarose em um campo elé
D. Não é necessário conhecer a sequência do trico. O gene de interesse foi isolado e analisado usando
DNA a ser estudado. a técnica de Southern blot. Cada amostra individual
E. Todas as anteriores estão corretas. apresentou duas bandas. As bandas eram idênticas em
8. dois dos indivíduos. No terceiro, uma banda era idêntica
Para se conseguir quantidade suficiente de DNA
a uma banda dos outros dois, mas a segunda banda era
para analisar, o DNA é amplificado por uma reação
de peso molecular mais baixo do que dos outros. Esse é
de polimerase em cadeia (PCR). Em um PCR, um exemplo de polimorfismo de comprimento de frag
A. a sequência de nucleotídeos do DNA a ser am
mento de restrição (RFLP).
plificado deve ser conhecida.
11. Uma explicação razoável para esse RFLP é que o
B. a amostra é protegida de calor, que causaria a
gene do terceiro indivíduo
desnaturação do DNA.
A. não tinha a sequência de reconhecimento para
C. a função dos oligonucleotídeos na mistura de
reação é atuar como primers para a síntese de a endonuclease de restrição.
DNA novo. B. tivesse uma mutação no sítio de clivagem.
D. o produto final é DNA fita-única. C. tivesse um sítio de reconhecimento adicional
E. o DNA original pode ser amplificado apenas para a endonuclease.
cerca de 10 vezes. D. tivesse uma deleção de um segmento do gene.
E. tivesse passado por uma clivagem aleatória.
Questões 9 e 10: A tecnologia do DNA recombinante
tem usos de interesse médico. Uma é a terapia gênica, 12. A técnica de Southern blot:
que introduz um gene normal em células contendo um A. transfere fragmentos de DNA do gel de agaro
gene defectivo. A primeira terapia gênica humana au se para um filtro de nitrocelulose.
torizada foi aplicada a uma menina de 4 anos de idade B. requer que os fragmentos de DNA permane
com deficiência severa combinada de deficiência imune, çam dupla-fita.
que tinha o gene da adenosina desaminase (ADA) de
fectivo. Um retrovírus modificado foi construído para C. requer que o DNA seja marcado radioativa
conter o gene da ADA humana, que poderia ser expres mente antes da adição ao gel de agarose.
so em células humanas sem a replicação do vírus. Outro D. altera a posição dos fragmentos de DNA du
uso clínico para a tecnologia do DNA recombinante é rante o processo.
levar bactérias em replicação rápida a produzirem gran E. amplifica a quantidade de DNA.
des quantidades de proteínas específicas, por exemplo,
proteínas humanas como hormônios. Problemas
9. A expressão de genes recombinantes em células de 13. O autorradiograma de raios-X de uma fita de um
mamíferos fragmento de DNA sequenciado pelo método de
314 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Sanger foi obtido. A extremidade 5! do nucleotídeo mento? Construa o padrão de autorradiografia da


foi marcada com 32P. Numerando de baixo para sequência complementar.
cima do radioautograma, a linha do tubo com ddG
14. O que torna a Taq DNA polimerase adequada ao
mostrou bandas nas posições 4 e 11; tubo ddC ti
nha bandas em 1, 2, 7, 8, 9 e 13; ddA em 5, 10 e 15; uso na reação da polimerase em cadeia (PCR), que
é diferente de outras DNA polimerases, e porque
ddT em 3, 6, 12 e 14. Qual é a sequência do frag
ela é preferida?

Respostas

1. E Aquecimento e resfriamento cíclicos são parte do mRNA antisense. A: ácidos nucleicos antisense
do processo de PCR, não do mapeamento de restri ligam-se ao mRNA, bloqueando a tradução. C: se
ção. A e B: mapeamento de restrição envolve todos não agora, no futuro. Nucleotídeos de DNA anti
os graus de hidrólise. A hidrólise parcial dá frag sense foram produzidos que inibem infecção viral.
mentos de tamanhos variáveis, e a hidrólise com D: reagem com ambos, DNA e RNA.
pleta dá os menores fragmentos possíveis. C e D:
7. A A substituição de uma única base geralmente
os fragmentos são separados eletroforeticamente
modifica a conformação o suficiente para mudar a
por tamanho no gel de agarose, que é corado para
mobilidade, detectada por SSCP. B: SSCP é o mé
revelar o DNA.
todo de escolha se não houver sítio de restrição. C:
2. D A DNA ligase conecta covalentemente frag DNA é amplificado por PCR na presença de nucle
mentos mantidos juntos por interações das extre otídeos marcados radioativamente. Deve haver um
midades coesivas. A: esse é o tipo mais desejável método para detecção das bandas. D: SSCP requer
de endonuclease de restrição para uso, mas não é conhecimento prévio da sequência.
essencial. B: endonucleases de restrição que pro
8. C Os oligonucleotídeos hibridizam com os mol
duzem extremidades retas também podem ser usa
des fita-única na região de interesse, de modo que
das, se necessário. C: isso é usado em conjunção
a replicação possa começar. A: DNA de sequência
com poli(dA) se forem utilizadas endonucleases de
desconhecida pode ser usado, mas deve ser inse
restrição que produzem extremidades retas, mas
rido em um vetor com regiões flanqueadoras co
não é essencial para a preparação de DNA recom
nhecidas. B: a amostra deve ser aquecida a 90°C
binante. E: cDNA é apenas um tipo que pode ser
para separar as fitas de DNA. D: PCR produz DNA
usado.
dupla-fita (dsDNA). E: com automação, a amplifi
3. A O DNA estrangeiro é inserido em um gene de cação pode ser de milhões de vezes.
resistência a antibiótico, destruindo-o. B: a resis
9. D Sistemas eucarióticos requerem elementos
tência deve-se aos plasmídeos. C: ver o comentário
de controle, que não são necessários em sistemas
em A, acima. D: a marcação radioativa detecta o
bacterianos. A: expressão pode ser melhorada se
DNA de interesse, não as colônias que contêm o um íntron estiver presente. B: cDNA não possui os
DNA clonado.
elementos de controle necessários. C: o gene deve
4. B Usa uma DNA polimerase RNA-dependente ser inserido na orientação correta, em relação aos
(transcriptase reversa). A e C: sistemas procarióti elementos de controle. E: o vetor precisa replicar;
cos não podem remover íntrons para gerar mRNAs por isso precisa da sequência para promover repli
transcritos funcionais – por isso, o cDNA não con cação.
tém as sequências desses elementos. D: a cauda de
10. E A: a sequência SD é necessária para o ribosso
poli(A) da extremidade 3! do mRNA é usada como
mo bacteriano reconhecer o mRNA. B: bactérias
primer para fazer a fita complementar ao mRNA não têm a maquinaria intracelular para remover
molde. E: uma vez que a primeira fita tenha sido
íntrons do mRNA. C: elementos regulatórios apro
sintetizada, ela se torna o molde para a fita comple
priados são necessários para permitir ao DNA ser
mentar. O cDNA é dupla-fita.
transcrito. D: uma proteína de fusão pode ser um
5. E Pode aceitar DNA de 200-500 kb. A: bacteriófa produto da reação.
go é muito bom para insertos de DNA de cerca de
11. D Isso responderia por uma banda ter menor peso
15 kb. B: BAC pode aceitar DNA de 100-200 kb. C:
molecular. A, B e E: o sítio de clivagem tem uma
cosmídeos aceitam insertos de cerca de 45 kb. D:
sequência de reconhecimento específica. C: isso
vetores plasmídeos podem ser muito úteis, mas só
daria mais do que duas bandas.
podem aceitar pedaços pequenos de DNA.
12. A Isso ocorre por eluição do gel por uma solução
6. B Isso colocaria a fita antisense do DNA sob con
salina concentrada. B: o DNA é hidrolisado por ál
trole do promotor, com a subsequente transcrição cali e o DNA fita-única liga-se ao filtro. C: a sonda
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 315

para identificar as bandas no filtro é marcada com molde e os oligonucleotídeos primers acontece, e
radioisótopo. D: as posições no filtro são idênticas altas temperaturas, quando o DNA funde. A Taq
às do gel. E: não acontece. DNA polimerase, isolada de organismos termofíli
cos descobertos em uma fonte quente, é estável em
13. A sequência é CCT GAT C CC A GT CT, lendo de
altas temperaturas e torna a ciclagem possível sem
5! para 3!. A autorradiografia da fita complementar
adição de nova polimerase após cada ciclo. A DNA
deveria ter bandas para ddG em 1, 2, 7, 8, 9 e 13; ddC polimerase PhusionTM de Alta Fidelidade, que foi
em 4 e 11; ddA em 3, 6, 12 e 14; ddT em 5, 10 e 15.
desenvolvida comercialmente, tem propriedades
14. O PCR requer ciclagem de temperatura entre bai ainda mais desejáveis.
xas temperaturas, quando a hibridização do DNA
316 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
PARTE II CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 317
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

8
Regulação da
Expressão Gênica
Daniel L. Weeks
Professor Titular, Carver College of Medicine, University of Iowa

John E. Donelson
Professor Titular, Carver College of Medicine, University of Iowa

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


8.1 INTRODUÇÃO,318 8.1 Resistência Transmissível a Múltiplas Drogas, 329
8.2 UNIDADE DE TRANSCRIÇÃO EM BACTÉRIAS: O 8.2 O Patógeno Bacteriano do Estômago: Helicobac
OPERON, 318 ter pylori, 330
8.3 OPERON LACTOSE DE E. COLI, 319 8.3 Síndrome de Rubstein�Taybi, 332
8.4 OPERONTRIPTOFANO DE E. COLI, 323 8.4 O tamoxifeno e o Receptor de Estrógeno Como
Alvo, 339
8.5 OUTROS OPERONS BACTERIANOS, 327
8.5 Fatores de Transcrição e Doença Cardiovascular,
8.6 TRANSPOSONS BACTERIANOS, 328
339
8.7 EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS, 330
8.6 Tratamento do Câncer Usando Drogas Que Têm
8.8 COMPLEXO DE PRÉ�INICIAÇÃO EM EUCARIO� Como Alvo Modificação de Histonas e de DNA:
TOS: FATORES DE TRANSCRIÇÃO, RNA POLI� Terapia Epigenética, 341
MERASE II E DNA, 333
8.9 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA
EUCARIÓTICA, 338

Conceitos Chaves
• A transcrição gênica fornece a ligação entre o re� Em organismos eucarióticos, a maioria dos genes é
servatório de informação genética no DNA e a ex� monocistrônica.
pressão do RNA e, finalmente, das proteínas.
• A transcrição pode ser ativada ou reprimida em
• Os genes geralmente incluem um promotor não� resposta a sinais nutricionais, ambientais ou outros
�transcrito que fica a montante da parte do gene sinais celulares. As respostas regulatórias objeti�
que codifica a proteína. vam fornecer expressão gênica apropriada �s con�
Os transcritos codificados por organismos proca� dições existentes, frequentemente pela incorpora�

ção de moléculas pequenas, que são indicadores
rióticos são frequentemente policistrônicos, agru� das condições celulares, como correguladores.
pando genes que codificam proteínas com funções
interrelacionadas unidas sob um controle comum. • O controle da transcrição frequentemente depende
318 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

de proteínas que se ligam a sequências específicas. • Modificações do DNA e da cromatina desempe�


Os motivos de aminoácidos das proteínas que se li� nham função significativa na regulação gênica eu�
gam �s sequências específicas foram identificados, cariótica. Metilação do DNA e metilação, acetilação
permitindo que os fatores de transcrição sejam e fosforilação de histonas influenciam a capacidade
agrupados por semelhanças estruturais. de transcrever um gene.
• A identificação das sequências do DNA que se li� • Os fatores de transcrição são frequentemente mo�
gam aos fatores de transcrição pode ajudar a iden� dulares, com domínios de ligação ao DNA, domí�
tificar os genes que são regulados coordenadamen� nios para interação com proteínas, domínios de
te. Promotores eucarióticos frequentemente têm ativação e domínios regulatórios.
múltiplos sítios de ligação de fatores de transcrição Os fatores de transcrição podem afetar a organiza�

e usam combinações de fatores de transcrição para
ção do complexo RNA polimerase, o recrutamento
regular a expressão gênica.
de outros fatores de transcrição ou o recrutamento
de fatores de modificação.

8.1 INTRODUÇÃO ideias estimulantes, que podem ser testadas em célu�


las eucarióticas e são importantes para o desenvolvi�
Para sobreviver, uma célula viva deve responder mento de terapias racionais para doenças causadas
a mudanças em seu ambiente. Um modo pelo qual as por bactérias.
células se ajustam a essas mudanças é alterando a ex�
pressão de genes específicos; isso afeta o número das Vários exemplos bem estudados de regulação gênica
moléculas de proteínas correspondentes na célula. Este em bactérias serão discutidos, seguidos por exemplos
capítulo focaliza alguns dos mecanismos moleculares dos muitos fatores proteicos de transcrição que regu�
lam a expressão de genes no genoma humano.
que determinam quando um determinado gene é ex�
presso e em que quantidade. Entender como a expres�
são de genes é regulada é uma das áreas mais ativas de
pesquisa bioquímica hoje. 8.2 UNIDADE DE TRANSCRIÇÃO
Células de E. coli contêm genes para cerca de 4.300 EM BACTÉRIAS: O OPERON
proteínas diferentes, mas E. coli não precisa sintetizar
todas elas ao mesmo tempo. A ilustração clássica da re� O cromossomo de E. coli é uma molécula de DNA
gulação gênica bacteriana é a do gene da b-galactosidase, dupla�fita circular de 4,6 milhões de pares de bases, cuja
que converte o dissacarídeo lactose em glicose e galacto� sequência completa já foi determinada. A maior parte
se. Quando E. coli cresce em um meio contendo glicose dos seus aproximadamente 4.300 genes não está distri�
como fonte de carbono, apenas cerca de cinco moléculas buída ao acaso; ao contrário, os genes que codificam as
da enzima estão presentes em cada célula.célula. QuandoQuandoQuando lac�lac�lac� enzimas de uma via metabólica específica ficam agrupa�
tose é a única fonte de carbono, entretanto, há 5.000 ou dos em uma região do DNA. Do mesmo modo, os genes
mais moléculas. Portanto, quando as bactérias precisam das proteínas estruturais associadas, como as cerca de
metabolizar lactose, elas aumentam a síntese de b�galac� 70 proteínas que constituem o ribossomo, ficam comu�
tosidase. Se a lactose for removida do meio, a síntese des� mente adjacentes uns aos outros. Um conjunto de ge�
sa enzima para tão rapidamente quanto começou. nes é, em geral, regulado coordenadamente; isto é, os
genes são transcritos juntos em uma espécie de mRNA
As células eucarióticas têm mecanismos mais ex� policistrônico, que contém as sequências codificadoras
tensos de regulação gênica do que as células procarióti� das várias proteínas. O termo operon descreve a uni�
cas. As células diferenciadas de organismos superiores dade regulatória completa de um conjunto de genes
têm uma estrutura muito mais complicada e frequen� agrupados. Inclui os genes estruturais adjacentes das
temente uma função biológica especializada, que é de� enzimas relacionadas ou das proteínas associadas, um
terminada pela expressão de seus genes. Por exemplo, gene regulatório ou os genes que codificam proteína(s)
a pré-pró-insulina é sintetizada nas células b do pân� regulatória(s), e elementos de controle ou sítios no DNA
creas, mas não em células do rim, embora os núcleos de próximo dos genes estruturais, nos quais as proteínas
todas as células do corpo contenham o gene da pré�pró� regulatórias agem. A Figura 8.1 mostra um mapa genéti�
�insulina. Durante o desenvolvimento do organismo, a co parcial do genoma de E. coli, dando a localização dos
presença de proteínas em tipos celulares específicos é genes estruturais de alguns operons de E.coli.
estritamente controlada, com respeito ao tempo e � or��or�or�
dem dos eventos do desenvolvimento. Quando a transcrição dos genes estruturais de um
operon aumenta em resposta a um substrato especí�
Sabe�se muito mais sobre a regulação gênica em fico no meio, o efeito é conhecido como indução. Um
procariotos do que em eucariotos. Além disso, os estu� exemplo é o aumento na transcrição do gene da b�ga�
dos sobre procariotos frequentemente fornecem novas lactosidase quando lactose é a única fonte de carbono.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 319

n
ro
pe ac
o l

rD
pu mal K yrB h
sdR pan metD
el purA p proA
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tsx
rE
haargE pa lip
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ilv A c
E
hl

pyr E pyrA
aro
mtlxyl D

pyr C
malT
plsB
pur B
4.6 milhões
de pares de bases

operon
tyr R
str trp

rgR
a
argGtol m
CerCser A t nalA
m
an
aro FIGURA 8.1 Mapa genético parcial de
D E. coli.
uerC pab
hyCc
ys r cA B As localizações de alguns poucos dos
e purC ptsl oC
gylAar his
4.300 genes do genoma circular de E.
coli são mostradas. Três operons discu�
tidos neste capítulo são indicados.
Reproduzido com permissão de Stent,
G. S. e Calendar, R. Molecular Genetics,
o An Introductory Narrative. San Fran�
pe
ron cisco: Freeman, 1978, p.289; modificado
de Bachmann, B. J., Low, K. B. e Taylor,
A. L. Bacteriol. Rev. 40:116, 1976.

Bactérias também respondem a mudanças nutricionais 1.021 aminoácidos cada. LacY codifica uma permease,
desligando rapidamente a síntese de enzimas não mais uma proteína de 275 aminoácidos da membrana celu�
necessárias. Por exemplo, E. coli sintetiza triptofano lar que participa do transporte de açúcares, incluindo a
como produto final de uma via biossintética específica. lactose, através da membrana. LacA codifica a b�galac�
Entretanto, se o triptofano estiver presente no meio, a tosídeo transacetilase, uma enzima de 275 aminoáci�
síntese das enzimas dessa via para. O processo é cha� dos que transfere um grupo acetil do acetil�CoA para
mado repressão, e impede que as bactérias usem sua b�galactosídeos. Das três proteínas, só a b�galactosida�
energia para fazer proteínas desnecessárias. se participa de uma via metabólica conhecida. A perme�
ase ajuda a lactose a passar pela membrana celular. A
Indução e repressão são manifestações do mesmo transacetilase pode estar associada com reações de de�
fenômeno. O sinal para ambos é a molécula pequena sintoxicação e excreção de análogos não�metabolizados
que é um substrato da via metabólica ou um produto de b�galactosídeos.
da via, respectivamente. Essas moléculas pequenas são
chamadas indutores, quando estimulam a indução, e As mutações em lacZ ou lacY que inativam a b�ga�
correpressores, quando causam repressão. lactosidase ou a permease impedem a célula de quebrar
lactose ou de adquiri�la do meio, respectivamente. As
mutações em lacA, que inativam a transacetilase, não
8.3 OPERON LACTOSE DE parecem afetar o crescimento e a divisão celulares.

E. COLI Uma única espécie de mRNA, contendo as sequên�


cias codificadoras dos três genes estruturais, é trans�
O operon lactose contém três genes estruturais ad� crita a partir de um promotor, chamado lacP, localizado
jacentes (Figura 8.2). LacZ codifica a b�galactosidase, imediatamente � montante de lacZ. A indução desses
que é composta de quatro subunidades idênticas de genes ocorre durante a iniciação de sua transcrição.
320 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

lacP
CAP lacO

lacI lacZ lacY lacA


DNA
Pares de bases 1080 3063 ˜800 ˜800

mRNA

Repressor β–Galactosidase Permease Transacetilase


360 aa 1021 aa ˜275 aa ˜275 aa

FIGURA 8.2 Operon lactose de E. coli.


O operon lactose é composto pelo gene lacI, que codifica um lacI é transcrito a partir de seu próprio promotor. Os três genes
repressor; elementos de controle CAP, lacP e laço; e três genes estruturais são transcritos a partir do promotor lacP, formando
estruturais, lacZ, lacY e lacA, que codificam a b�galactosidase, um mRNA policistrônico a partir do qual as três proteínas são
uma permease e uma transacetilase, respectivamente. O gene traduzidas.

Sem o indutor, a transcrição ocorre em nível muito bai� Tem forte afinidade por seu principal sítio de ligação no
xo. Em presença do indutor, a transcrição começa no DNA, chamada operador ou lacO, que fica entre lacP
lacP e prossegue por todos os três genes até um termi� e lacZ. LacO fica parcialmente sobreposto a lacP, de
nador da transcrição, localizado logo após lacA. Assim, modo que o repressor ligado impede que a RNA polime
os genes são expressos coordenadamente; todos são rase se ligue a lacP e inicie a transcrição.
transcritos em uníssono ou nenhum é transcrito.
Além de reconhecer e se ligar a lacO, o repressor
A presença de três sequênciasências codificadorascodificadoras nana mes�mes� tem forte afinidade por moléculas do indutor do ope�
ma molécula de mRNA sugeresugere queque asas quantidadesquantidades re�re� ron lactose. Cada monômero liga�se a uma molécula
lativas das três proteínas sejam sempre as mesmas em de indutor, o que causa uma mudança conformacional
condições variáveis de indução. O indutor éé umumum �inter��inter��inter� que diminui muito a afinidade do repressor por lacO
ruptor” molecular que influencia a síntese de uma es� (Figura 8.3). Assim, quando o indutor está presente, o
pécie de mRNA para todos os três genes. Entretanto, a repressor não mais se liga a laço, e a RNA polimerase
quantidade de cada uma das três proteínas éé comumen�comumen�comumen� começa a transcrição a partir do promotor.
te diferente, por causa das diferenças nas velocidades
de tradução ou de degradação das próprias proteínas. O estudo do operon lactose foi muito facilitado pela
descoberta de algumas moléculas pequenas, como iso�
O mRNA induzido pela lactose tem uma meia�vida propiltiogalactosídeo (IPTG), que servem fortuitamen�
de cerca de 3 min. Portanto, a expressão do operon te de indutores, mas não são metabolizadas pela b�ga�
pode ser alterada muito rapidamente. A transcrição lactosidase. Esses indutores gratuitos ligam�se como
cessa assim que o indutor não está mais presente, as indutores � molécula do repressor.
moléculas de mRNA existentes desaparecem em minu�
tos, e as células param de fazer as proteínas. A proteína repressora age em trans; isto é, ela éca�éca�ca�
paz de se difundir até seu local de ação. Algumas mu�
tações em lacI alteram ou removem aminoácidos do
Repressor do Operon Lactose É uma repressor, que são partes do sítio de ligação ao indutor.
Essas alterações não afetam a afinidade do repressor
Proteína Difusível pelo operador, de modo que o repressor fica sempre li�
gado ao operador, mesmo em presença do indutor, e os
O gene regulatório do operonlactose, lacI, codifica o genes lacZYA nunca são transcritos acima de um ní�
repressor lactose, cuja função é controlar a iniciação da velbasal muito baixo. Outras mutações em lacI trocam
transcrição dos genes estruturais lac. LacI localiza�se os aminoácidos do sítio de ligação ao operador e dimi�
imediatamente �� montantemontantemontante dosdosdos elementoselementoselementos controlado�controlado�controlado� nuem a afinidade do repressor pelo operador. Assim, o
res do grupo lacZYA. Entretanto, um gene regulatório repressor não se liga ao operador, e os genes lacZYA
não precisa ficar próximo do grupo de genes que regu�
são continuamente transcritos. Tais mutações são mu
la. A transcrição de lacI não é regulada; esse gene é
tações repressor�constitutivas porque os genes lac são
transcrito a partir de seu próprio promotor em baixa permanentemente expressos. Alguns mutantes lacIra�
velocidade, que é relativamente independente do esta� ros aumentam a afinidade do repressor pelo operador.
do da célula. Nesses casos, moléculas do indutor podem se ligar ao
repressor, mas são menos efetivas em liberar o repres�
O repressorlactose é sintetizado como um monôme�
ro de 360 aminoácidos, que formam um homotetrâmero sor do operador.
ativo. Geralmente, há cerca de 10 tetrâmeros por célula.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 321

(a) lacl
Promotor Operador
lacZ lacY lacA
mRNA lac; isto é, são mutações ope
rador-constitutivas. Nesses casos, a
sequência de DNA do operador tem
um ou mais pares de bases trocados,
de modo que o repressor não mais
se liga tão fortemente � sequência.
Assim, o repressor é menos efetivo
em impedir que a RNA polimerase
comece a transcrição.
monomérico
Repressor
lacl Promotor Repressor
Operador lacZ lacY lacA
tetramérico Diferentemente das mutações em
(b) lacI, que codifica o repressor difusí�
β–Galactosidase Permease Acetilase vel, mutações no operador não mu�
dam uma proteína difusível. Estas
exercem sua influência sobre a trans�
crição apenas dos três genes lac
que ficam imediatamente � jusante
do operador, na mesma molécula de
DNA. Se um segundo operon lac for
introduzido em uma bactéria, em um
Indutor plasmídeo recombinante, o operador
de um operon não influencia a ação
do outro operon. Portanto, um ope�
ron com um operador tipo�selvagem
será reprimido nas condições nor�
Repressor Repressor mais, enquanto na mesma bactéria
monomérico tetramérico engenheirada, um segundo operon
com uma mutação operador�consti�
FIGURA 8.3 Controle do operon lac.
tutiva será transcrito continuamente.
(a) O repressor tetramérico liga�se ao operador e impede a transcrição dos genes es�
truturais. (b) O indutor liga�se ao repressor tetramérico, o que impede que o repressor Mutações no operador são fre�
se ligue ao operador. A transcrição dos três genes estruturais pode ocorrer a partir do
quentemente denominadas cis-do
promotor.
minantes, para enfatizar que elas
afetam apenas genes adjacentes,
Os mutantes repressor�constitutivos ilustram as ca� na mesma molécula de DNA. Mutações cis�dominantes
racterísticas de um sistema de controle negativo. Um ocorrem em sequências de DNA que são reconhecidas
repressor ativo, em ausência de um indutor, desliga a por proteínas e não em sequênciasuênciasências dedede DNADNADNA quequeque codifi�codifi�codifi�
expressão dos genes estruturais lac. Um repressor ina� cam proteínas difusíveis. Mutações trans-dominantes
tivo resulta na expressão constitutiva, não�regulada, ocorrem em genes que especificam produtos difusíveis.
desses genes. Usando as técnicas de DNA recombinante Portanto, mutações cis�dominantes também ocorrem em
descritas no Capítulo 7, um plasmídeo contendo o gene sequências de promotor e de terminação de transcrição,
lacI tipo selvagem (mas não o resto do operon lactose) enquanto mutações trans�dominantes também ocorrem
pode ser introduzido em células mutantes constitutivas em genes de subunidades proteicas da RNA polimerase,
lacI. Tais células sintetizam moléculas de repressor de proteínas ribossômicas, e assim por diante.
ativas e inativas. Nessas condições, ocorre a regulação
normal, tipo selvagem, do operon lactose. Portanto, em A Figura 8.4 mostra a sequência do operador e do
termos genéticos, a indução tipo�selvagem é dominante promotor lac. A sequência do operador tem um eixo de
sobre o mutante constitutivo. simetria díade. A sequênciaência dada fitafita superior,superior, nono ladolado es�es�
querdo do operador, é quase idêntica � da fita inferior,
no lado direito; apenas três diferenças ocorrem. Essa
Sequência Operador do Operon simetria na sequênciaência dede reconhecimentoreconhecimentoreconhecimento dododo DNADNADNA re�re�re�
Lactose É Contígua a um Promotor e flete a simetria do repressor tetramérico e facilita a for�
te ligação das subunidades do repressor ao operador.
Três Genes Estruturais Simetria díade na sequência de DNA fita�dupla é uma
característica comum de muitos sítiossítios dede ligaçãoligação ouou re�re�
Os elementos de controle �� montantemontantemontante dosdosdos genesgenesgenes es�es�es�
conhecimento dede proteínas,proteínas, incluindoincluindo aa maioriamaioria dosdos sí�sí�
truturais do operon lactose são o operador e o promo� tios de reconhecimento de endonucleases de restrição.
tor. O operador foi identificado, como lacI, por mutações
que afetam a transcrição da região lacZYA. Algumas O operador lac, de cerca de 30 pb, é uma fração
dessas mutações resultam na síntese constitutiva do extremamente pequena do genoma total de E. coli e
322 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Operador
Promotor

lacI Sítio CAP Sítio de interação da RNA polimerase lacZ

glu ser gly glu stop mRNA fmet thr met

5! GGAAAGCGGGCAGTGAGCGCAACGCAATTAATGTGAGTTAGCTCACTCATTAGGCACCCCAGGCTTTACACTTTATGCTTCCGGCTCGTATGTTGTGTGGAATTGTGAGCGGATAACAATTTCACACAGGAAACAGCTATGACCATG 3!
3! CCTTTCGCCCGTCACTCGCGTTGCGTTAATTACACTCAATCGAGTGAGTAATCCGTGGGGTCCGAAATGTGAAATACGAAGGCCGAGCATACAACACACCTTAACACTCGCCTATTGTTAAAGTGTGTCCTTTGTCGATACTGGTAC 5!

FIGURA 8.4 Sequência de nucleotídeos dos elementos de controle do operon lactose.


A extremidade do gene lacI (que codifica o repressor lactose) e mostrados. Linhas acima e abaixo da sequência indicam sequên�
o início do gene lacZ (que codifica b�galactosidase) também são cias simétricas no sítio CAP e no operador.

ocupa uma fração ainda menor do volume da célula. presente para sobrepujar este efeito anti-indutor da
Entretanto, os aproximadamente 10 repressores tetra� lactose.
méricos estão também confinados a uma pequena fra�
ção do volume celular. Como o gene do repressor fica
muito próximo do operador lac, o repressor não precisa RNA Polimerase e uma Proteína
se difundir para longe, se sua tradução começar antes Reguladora Reconhecem a
de seu mRNA ter sido completamente sintetizado. Mais
importante, o repressor tem uma baixa afinidade geral Sequência do Promotor do Operon
por todas as sequênciasências dede DNA.DNA. QuandoQuando oo indutorindutor liga�liga�
�se ao repressor, sua afinidade pelo operador é reduzida Lactose
cerca de 1.000 vezes, mas sua afinidade por sequências Imediatamente � montante do operador lac está o
aleatórias de DNA é inalterada.inalterada. Portanto,Portanto, todostodos osos re�re� promotor. Essa sequência contém os sítios de ligação
pressores lactose da célula estão em associação fraca para a RNA polimerase e para a proteína ativadora de
com DNA. Quando a ligação do indutor libera uma mo� catabólito (CAP; também chamada proteína receptora
lécula de repressor do operador, ela rapidamente se liga de cAMP ou CRP) (Figura 8.4). O local ao qual a RNA
� regiãoregião próximapróxima dodo DNA.DNA. Portanto,Portanto, aa induçãoindução redistri�redistri� polimerase se liga foi identificado por abordagens gené�
bui o repressor no DNA, em lugar de gerar moléculas de ticas e bioquímicas. Mutações puntuais e deleções (ou
repressor que se difundem livremente. inserções) nessa região afetam dramaticamente a liga�
Como a lactose entra numa célula em primeiro lugar, ção da RNA polimerase. Os pontos finais da sequência
se o gene lacY que codifica a permease está reprimido � qual a RNA polimerase se liga foram identificados por
e, no entanto, a permease é necessária para o trans� experimentos de proteção contra DNase. A RNA polime�
porte de lactose através da membrana celular? Mesmo rase purificada foi ligada � região do promotor lac clo�
no estado reprimido, há um nível basal muito baixo de nada no DNA de um bacteriófago ou de um plasmídeo, e
transcrição do operon lac, que fornece cinco ou seis esse complexo proteína�DNA foi digerido com DNase I.
moléculas de permease por célula. Talvez isso seja sufi� O segmento de DNA protegido da degradação pela DNa�
ciente para levar algumas poucas moléculas de lactose se foi recuperado, e sua sequência foi determinada. As
para dentro da célula e iniciar o processo. extremidades desse segmento protegido variaram ligei�
ramente entre diferentes moléculas de DNA, mas cor�
Outra observação curiosa é que a lactose não é o in� respondiam estreitamente aos limites do sítio de ligação
dutor natural do operon lactose. Quando o repressor é da RNA polimerase mostrado na Figura 8.4.
isolado de células completamente induzidas, a molécula
pequena ligada a cada monômero do repressor é alolac O sítio de ligação da RNA polimerase não tem ele�
tose, não lactose. Alolactose, como a lactose, é composta mentos simétricos, como a sequência do operador. Isso
não é surpreendente, uma vez que a RNA polimerase
de galactose e glicose, mas a ligação entre os dois açú�
cares é diferente. Uma reação secundária da b�galacto� deve se associar com o DNA de modo assimétrico para
sidase (que normalmente quebra lactose em galactose e que a transcrição se inicie em apenas uma direção. En�
glicose) converte esses dois produtos em alolactose. tretanto, a parte da sequência do promotor reconhecida
pela CAP contém certo grau de simetria.
Consequentemente, algumas poucas moléculas de
lactose são captadas e convertidas pela b�galactosidase
em alolactose, que se liga ao repressor e induz o operon.
Proteína Ativadora de Catabólito
Confirmação de que a lactose não é o realindutor vem de Liga Promotor Lactose
experimentos indicando que a ligação da lactose com o
repressor purificado, na realidade, aumenta a afinidade E. coli prefere usar glicose a outros açúcares
do repressor pelo operador. Portanto, no estado induzi� como fonte de carbono. Por exemplo, se tanto glicose
do, uma pequena quantidade de alolactose precisa estar como lactose estiverem no meio, as bactérias metabo�
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 323

lizam seletivamente a glicose. A Figura 8.5 mostra que Glicose


a b�galactosidase não aparece até que a glicose tenha Fora
sido consumida. Isso indica que a glicose interfere com
a indução do operon lactose, um processo chamado re
pressão por catabólito, uma vez que ocorre durante o
catabolismo da glicose. Um efeito idêntico é visto em Dentro
ATP cAMP
outros operons indutíveis, incluindo os operons arabi� Glicose
Adenilato
ciclase
nose e galactose. Este é, provavelmente, um sistema ge�
ral de coordenação para desligar a síntese de enzimas cAMP
indesejadas quando a glicose está presente. CAP

A repressão por catabólito ocorre porque a glico�


se inibe a adenilato ciclase, que sintetiza AMP cíclico
(cAMP), levando a uma menor concentração intracelu� CAP -cAMP
lar de cAMP. O cAMP forma um complexo com a prote
lac Z
ína ativadora de catabólito (CAP, Catabolite Activator
cAMP
Protein), que então se liga ao sítio regulatório CAP no
lacO
promotor do operon lactose (e de outros operons) (Fi� CAP
gura 8.6). O complexo CAP�cAMP exerce um controle DNA
positivo sobre a transcrição por causar uma dobra na lacP
hélice do DNA, ou kink, de cerca de 90° no local da liga� mRNA
ção. Essa dobra do DNA e a interação entre CAP�cAMP
e a RNA polimerase ativam o início da transcrição. Se FIGURA 8.6 Controle de lacP por cAMP.
Um complexo CAP�cAMP liga�se ao sítio CAP e aumenta a trans�
o sítio CAP não estiver ocupado, a RNA polimerase tem
dificuldade em se ligar ao promotor e a iniciação de crição em lacP. Quando a glicose baixa a concentração intracelular
de cAMP ocorre uma repressão por catabólito. Isso reduz a quan�
transcrição é muito menos eficiente.
tidade de complexo CAP�cAMP e diminui a transcrição a partir de
O operon lactose demonstra como bactérias podem lacP e de promotores de vários outros operons.
coordenar uma resposta geral a uma condição metabóli�
ca (a necessidade de usar um açúcar como fonte de ener�
gia ou carbono) e uma resposta específica a essa condi�condi� 8.4 OPERON TRIPTOFANO DE
ção (a necessidade de utilizar lactose como o açúcar).
E. COLI
0.8 As bactérias precisam ter a quantidade correta e o
equilíbrio relativo dos 20 aminoácidos que constituem
2000 ) as proteínas. O triptofano, por exemplo, é necessário
L para a síntese de todas as proteínas que o contêm. Por�
Depleção de glicose m
0.6 s
e
tanto, se o triptofano não estiver presente em quan�
d
1500 a
d
tidades suficientes no meio, a célula bacteriana deve
i
n
u
(
fazê�lo. Diferentemente, a lactose não é absolutamente
0.5
e
s
a
necessária para o crescimento da célula; muitos outros
d
i açúcares podem substituí�la. Como resultado, a síntese
1000 s
o
tc
a
das enzimas para a biossíntese do triptofano é regulada
l
a
0.4 G
-
de modo diferente da síntese das proteínas codificadas
500 pelo operonlactose.

0.3 0
Operon Triptofano É Controlado por
50 100 130
Tempo (min) uma Proteína Repressora
FIGURA 8.5 Inexistência de síntese de ß-galactosidase Em E.coli, o triptofano é sintetizado a partir de áci�
em E. coli quando glicose está presente. do corísmico, por uma via de cinco etapas, catalisada
Bactérias estão crescendo em um meio contendo inicialmente por três enzimas (Figura 8.7). O operon triptofano
0,4 mg/mL de glicose e 2 mg/mL de lactose. A ordenada da contém cinco genes estruturais que codificam essas
esquerda indica a densidade óptica da cultura em crescimento, três enzimas (duas das quais contêm duas subunidades
um indicador do número de células bacterianas. A ordenada da
diferentes). À montante desse grupo de genes fica um
direita indica as unidades de b�galactosidase por mililitro. Note
que o aparecimento de b�galactosidase é retardado até que a
promotor, onde a transcrição começa, e um operador,
ao qual se liga uma proteína repressora codificada por
glicose tenha se acabado.
Redesenhado de Epstein, W., Naono, S. e Gros, F. Biochem.
um gene trpR separado. A transcrição do operon lacto�
Biophys. Res. Commun. 24:588, 1966. se está geralmente desligada, ou reprimida, a menos
324 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

bp 60 162 1800 1800 1200 1200 800 40

Genes líder trpE trpD trpC trpB trpA


estruturais

Elementos trpP2 trp t


regulatórios
trpP trp a
trpO

Polipeptídeos
mRNAs Componente IASase Componente II ASase PRA Isomerase TSaseβ TSaseα

PR antranilato IGP sintetase


transferase

Complexos
enzimáticos Col2 Coll2 α2β2

Reações clorismato antranilato PR antranilato CdRP InGP L-triptofano


catalizadas

glutamina PRPP L-serina

FIGURA 8.7 Genes do operon triptofano de E. coli.


Os elementos regulatórios são o promotor primário (trpP), ope� complexo antranilato sintetase (ASase); PR�antranilato é N�5�fos�
rador (trpO), atenuador (trpa), promotor secundário interno forribosil�antranilato; CdRP é 1�(o�carboxifenilamino)�1�deso�
(trpP2) e terminador (trpt). A direção da síntese de mRNA é xirribulose�5�fosfato; InGP é indol�3�glicerol fosfato; PRPP é
indicada por setas onduladas representando os mRNAs. Col2 5�fosforribosil�1�pirofosfato; e TSase é triptofano sintetase.
e CoII2 significam os componentes I e II, respectivamente, do Descrito em Yanofsky, C. Trends in Genet. 20:367, 2004.

que seja induzida por uma molécula indutora pequena. normais, cerca de 20 moléculas do repressor dimérico
O operon triptofano, por outro lado, está sempre ativo, estão presentes. O repressor deve estar complexado
ou desreprimido, a menos que seja reprimido por uma com duas moléculas de triptofano para se ligar ao ope�
molécula pequena correpressora, que para o operon rador. Lembre�se que o repressor lactose liga�se a seu
triptofano é o próprio triptofano. operador só na ausência do seu indutor.

A biossíntese de triptofano é regulada pela síntese e O repressor triptofano também regula a transcrição
atividade das enzimas que catalisam a via. Por exemplo, de trpR, seu próprio gene. À medida que o triptofano se
a antranilato sintetase, que catalisa a primeira etapa, acumula nas células, o complexo repressor�triptofano
contém duas subunidades codificadas por trpE e trpD, se liga a uma região a montante de trpR, desligando sua
e sua atividade enzimática é regulada por inibição por transcrição e mantendo o equilíbrio de 20 repressores
retroalimentação (feedback). Esse é um meio comum, por célula. O operador trp ocorre inteiramente dentro
de curto prazo, para regular a primeira etapa de com� do promotor trp, e não adjacente a ele (Figura 8.8). O
prometimento de uma via metabólica. O triptofano operador é uma região de simetria díade, e o mecanis�
pode se ligar a um sítio alostérico da antranilato sinte� mo para impedir a transcrição é o mesmo do operon lac�
tase e impedir sua atividade catalítica. Portanto, � me� tose; isto é, a ligação do complexo repressor�correpres�
dida que a concentração de triptofano sobe, ele inibe a sor ao operador impede a ligação da RNA polimerase.
antranilato sintetase. O triptofano também éé umumum corre�corre�corre�
pressor que desliga a transcrição do operon triptofano. A repressão diminuia velocidade de iniciação da trans�
A inibição por feedback é um controle de curto prazo, crição no promotor trp em cerca de 80 vezes. (O nível ba�
com um efeito imediato sobre a via, enquanto a repres� sal dos produtos do gene operon lactose é cerca de 1.000
são demora mais, mas tem o efeito mais permanente de vezes mais baixo do que o nível induzido). Entretanto, o
reprimir a transcrição. operon triptofano contém elementos regulatórios adicio�
nais. Um promotor secundário, designado por trpP2, loca�
O repressor triptofano é um homodímero cujas su� liza�se dentro da sequência codificadora de trpD (Figura
bunidades têm 108 aminoácidos cada. Em condições 8.7) e não é regulado pelo repressor triptofano. A trans�
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 325

Promotor está a sequência líder de 14 códons


Operador adjacentes, que começam com um
códon de metionina e terminam com
mRNA
um códon de terminação em fase.
Esses códons são precedidos por um
sítio canônico de ligação a ribossomo
TGGCAAATATTCTGAAATGAGCTGTTGACAATTAATCATCGAACTAGTTAACTAGTACGCAAGTTCACGTAAAAA e poderiam, potencialmente, especifi�
ACCGTTTATAAGACTTTACTCGACAACTGTTAATTAGTAGCTTGATCAATTGATCATGCGTTCAAGTGCATTTTT
5! car um peptídeo líder de 14 resíduos.
Esse peptídeo nunca foi detectado
FIGURA 8.8 Sequência de nucleotídeos dos elementos de controle do operon em células bacterianas, talvez porque
triptofano. seja degradado muito rapidamente.
As caixas acima e abaixo da sequência indicam as sequências simétricas do operador.
A região atenuadora dá � RNA
crição a partir dele ocorre constitutivamente, a uma ve� polimerase uma segunda chance de regular a transcri�
locidade relativamente baixa, para gerar um mRNA que ção do operon triptofano. Em presença de triptofano,
contém as sequências codificadoras de trpCBA. Assim, a transcrição começa no promotor, mas é prematura�
dois mRNAs policistrônicos são derivados do operon trip� mente terminada no fim da região do atenuador. Isso
tofano, um contendo todos os cinco genes estruturais e o produz um transcrito curto de 140 nucleotídeos. Em
outro possuindo apenas os últimos três. ausência de triptofano, a região do atenuador não tem
efeito sobre a transcrição, e é sintetizado o mRNA po
Um segundo promotor interno pode ser necessário licistrônico inteiro, com os cinco genes estruturais.
porque três dos cinco genes não contêm um códon Consequentemente, tanto no operador como no atenu�
para triptofano; apenas trpB e trpC contêm um có�
ador o triptofano exerce a mesma influência geral. No
don para triptofano. Portanto, em extrema carência operador, participa da repressão da transcrição e, no
de triptofano, essas duas proteínas não são sintetiza� atenuador, termina a transcrição por aquelas RNA po�
das, impedindo que a via seja ativada. Contudo, como limerases que teriam escapado da repressão. A atenua�
ambos os genes ficam � jusante do segundo promotor, ção tem efeito de cerca de 10 vezes sobre a transcrição
não�regulado, seus produtos proteicos estarão sempre dos genes estruturais do triptofano. A desrepressão
presentes no nível basal, necessário para manter a via. do operador tem um efeito de 80 vezes, de modo que a
transcrição do operon triptofano é regulada na faixa de
mais de 800 vezes.
Região Atenuadora do Operon
A transcrição é terminada no sítio atenuador por in�
Triptofano teração cooperativa entre a transcrição e a tradução.
Outro importante elemento de controle do operon O peptídeo líder triptofano tem dois códons de tripto�
triptofano, que não está presente no operon lactose, é fano adjacentes nas posições 10 e 11 (Figura 8.9). Isso
o atenuador (Figura 8.9), que fica nos 162 nucleotídeos é incomum, uma vez que o triptofano é um aminoácido
entre o promotor e o códon metionina iniciador de trpE. relativamente raro em E. coli. Esses códons indicam
precocemente se tRNAtrp está envolvido na atenuação.
Sua existência foi deduzida pela primeira vez por muta�
ções que mapeavam nessa região e aumentavam a trans� Se o triptofano da célula estiver baixo, a quantidade de
triptofanil�tRNAtrp carregado também será baixa. Os
crição de todos os cinco genes estruturais. Nessa região

Peptídeo lider

Met Lys Ala Ile Phe Val Leu Lys Gly Trp Trp Arg Thr Ser term

pppAAGUUCACGUAAAAAGGGUAUCGACA AUG AAA GCA AUU UUC GUA CUG AAA GGU UGG UGG CGC ACU UCC UGA

1 20 40 60

AACGGGCAGUGUAUUCACCAUGCGUAAAGCAAUCAGAUACCCAGCCCGCCUAAUGAGCGGGCUUUUUUUUGAACAAAAUUAGAG
80 100 120 140

Met Gln Thr Gln Lys Pro


AAUAACA AUG CAA ACA CAA AAA CCG ....
162 trp E

FIGURA 8.9 Sequência de nucleotídeos do RNA líder do operon triptofano.


Os 14 aminoácidos do peptídeo líder putativo são indicados sobre seus códons.
Redesenhado com permissão de Oxender, D. L., Zurawaski, G. e Yanofsky, C. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 76:5524, 1979.
326 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Excesso de Trp Carência de Trp Nenhuma tradução


Atenuação da Transcrição
Controla Outros Operons
1
de Biossíntese de
2 3 2 2
4 1
Aminoácidos
3 4 3
1 4 A atenuação da transcrição não
ocorre em organismos eucarióticos
porque a transcrição (no núcleo) e a
Terminação Sem terminação Terminação tradução (no citoplasma) ocorrem em
(a) (b) (c) compartimentos celulares separados.
Entretanto, a atenuação é comum na
FIGURA 8.10 Modelo esquemático da atenuação no operon triptofano de E. expressão gênica de bactérias e ocor�
coli.
re em, pelo menos, seis outros operons
(a) Em condições de excesso de triptofano, o ribossomo (esfera verde) que traduz o
RNA líder recém�transcrito sintetiza o peptídeo líder completo. Durante essa síntese, de enzimas que catalisam vias de bios�
o ribossomo liga�se �s regiões 1 e 2 do RNA e impede a formação da haste e alça 1�2 síntese de aminoácidos. A Figura 8.11
ou 2�3. A haste e alça 3�4 poderá se formar e sinalizar para a molécula de RNA poli� mostra as sequências de peptídeos lí
merase (não mostrada) terminar a transcrição. (b) Em condições de carência de trip� deres especificados por esses operons.
tofano, triptofanil�tRNATrp será limitante, e o ribossomo fará uma pausa nos códons Em todos, o peptídeo líder tem várias
adjacentes de triptofano, no início da região 1, na região que codifica o peptídeo líder. cópias do aminoácido que é o produto
Como a região 1 está ligada ao ribossomo, a haste e alça 2�3 formar�se�á, excluindo a final da via. O peptídeo líder de 16 re�
formação da haste e alça 3�4, que é necessária como sinal para a terminação da trans� síduos codificado no operon histidina
crição. Portanto, a RNA polimerase continuará a transcrição dos genes estruturais.
contém sete histidinas contíguas. A
(c) Em condições nas quais o peptídeo líder não é traduzido, forma�se a haste e alça
1�2, impedindo a formação da haste e alça 2�3 e permitindo a formação da haste e falta de histidina diminui a quantida�
de de histidinil�tRNAhis e aumenta a
alça 3�4. Isso sinaliza o término da transcrição.
Reproduzido com permissão de Oxender, D. L., Zurawaski, G. e Yanofsky, C. Proc. transcrição do operon his. A sequência
Natl. Acad. Sci. USA 76:5524, 1979. de nucleotídeos da região atenuadora
sugere que aa pausapausa dodo ribossomoribossomo nes�nes�
ribossomos serão incapazes de traduzir os dois códons ses códons influencie a formação de alças em grampo
triptofano e pararão na sequência líder do RNA. alternativas, uma das quais se parece com um gram�
po de terminação seguido de vários resíduos U. Ao
A sequência de RNA da região do atenuador pode
contrário do operon trp, a transcrição do operon his é
adotar várias estruturas secundárias (Figura 8.10). A
regulada primariamente pela atenuação, uma vez que
posição do ribossomo na sequência líder determina qual não possui um operador reconhecido por uma proteína
ocorre. A estrutura secundária, por sua vez, é reconheci�
repressora. Em vez disso, o ribossomo age como uma
da pela RNA polimerase que acabou de transcrever essa
proteína reguladora positiva, semelhante ao complexo
região. A estrutura que se forma quando um ribossomo
cAMP�CAP do operon lac. Se o ribossomo estiver ligado
não para nos códons triptofano é um sinal de terminação
(ou seja, parado) no sítio atenuador, a transcrição dos
para a RNA polimerase, de modo que a transcrição para
genes estruturais a jusante estará aumentada. Se o ri�
após a síntese de um transcrito de 140 nucleotídeos, que
bossomo não estiver ligado, a transcrição desses genes
é rapidamente degradado. A estrutura secundária que se
estará muito reduzida.
forma quando os ribossomos param nos códons triptofa�
no não é reconhecida como um sinal de terminação, e a
transcrição continua em direção ao gene trpE.

Operon
his Met-Thr-Arg-Val-Gln-Phe-Lys-His-His-His-His-His-His-His-Pro-Asp
Sequência do peptídeo lider Aminoácidosregulatórios

pheA
leu
thr
ilv His

Met-Lys-His-lle-Pro-Phe-Phe-Phe-Ala-Phe-Phe-Phe-Thr-Phe-Pro
Met-Thr-Ala-Leu-Leu-Arg-Val-lle-Ser-Leu-Val-Val-lle-Ser-Val-Val-Val-lle-lle-lle-Pro-Pro-Cys-Gly-Ala-Ala-Leu-Gly-Arg-Gly-Lys-Ala
Met-Ser-His-lle-Val-Arg-Phe-Thr-Gly-Leu-Leu-Leu-Leu-Asn-Ala-Phe-lle-Val-Arg-Gly-Arg-Pro-Val-Gly-Gly-lle-Gln-His
Met-Lys-Arg-lle-Ser-Thr-Thr-lle-Thr-Thr-Thr-Ile-Thr-lle-Thr-Thr-Gly-Asn-Gly-Ala-Gly Phe

Thr lle

Leu

Leu, Val, lle

FIGURA 8.11 Sequências dos peptídeos líderes especificados por operons biossintéticos de E. coli.
Todas as sequências de peptídeos líderes contêm múltiplas cópias do(s) aminoácido(s) sintetizado(s) por enzimas codificadas pelo
operon.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 327

A transcrição de alguns operons, mostrados na Fi�


gura 8.11, pode ser atenuada por mais de um aminoá� Operon regulatória
Proteína Proteínas especificadas pelo operon

cido. Por exemplo, o operon thr é atenuadouado porpor treoni�treoni�


na ou isoleucina; o operon ilv é atenuado por leucina, S10
Spc
L11
str
rif
α S8 L14-L24-L5-S14-S8-L6-L18-S5-L15-L30
valina ou isoleucina. Esse efeito pode ser explicado,
L4 S10-L3-L2-L4-L23-S19-L22-S3-S17-L16-L29
em todos os casos, pela pausa do ribossomo no códon
correspondente, o que interfere com a formação de um S7 S12-S7-EF.G-EF.Tu
grampo de terminação. É possível que em sequências
S4 S13-S11-S4-α-L17
líderes mais longas, a pausa em mais de um códon seja
necessária para atingir máxima transcrição através da L1 L11-L1
região de atenuação.
L10 L10-L7-β−β!

FIGURA 8.12 Operons contendo genes de proteínas


8.5 OUTROS OPERONS ribossômicas de E. coli.
Os genes dos componentes proteicos das subunidades ribossô�
BACTERIANOS micas pequena (S) e grande (L) de E. coli ficam agrupadas em
vários operons. Alguns desses operons também contêm genes das
subunidades a, b e b! da RNA polimerase e dos fatores de síntese
Síntese de Proteínas Ribossômicas É proteica EF.G e EF.Tu. Pelo menos um dos produtos proteicos de
cada operon geralmente regula a expressão desse operon (p. 321).
Regulada de Modo Coordenado
Muitos operons bacterianos possuem os mesmos se alguma, será traduzida. Em geral, a proteína ribossô�
mecanismos regulatórios gerais dos operons lac, trp mica que regula a expressão de seu próprio operon as�
e his. Entretanto, cada operon tem suas próprias ca� socia�se com o RNA ribossômico (rRNA) no ribossomo.
racterísticas distintas. Um exemplo é dado pelos genes Essa proteína tem uma alta afinidade por rRNA e uma
estruturais das 70 ou mais proteínas que compõem afinidade menor por uma ou mais regiões de seu próprio
os ribossomos (Figura 8.12). Cada ribossomo contém mRNA. Portanto, ocorre competição entre o rRNA e o
uma cópia de cada proteína ribossômica (exceto as operon do mRNA pela ligação com a proteína. À medida
proteínas L7�L12, que provavelmente estão presentes que a proteína se acumula até um nível mais alto do que
em quatro cópias). Portanto, todas as 70 proteínas são o de rRNA livre, ela se liga a seu próprio mRNA e im�
necessárias em quantidades equimolares, e faz senti� pede a síntese proteica em uma ou mais das sequências
do que sua síntese seja regulada de modo coordenado. codificadoras desse mRNA (Figura 8.13). À medida que
Seis operons diferentes, contendo cerca de metade dos mais ribossomos são formados, o excesso dessa proteí�
genes das proteínas ribossômicas, ocorrem em dois na é usado e a tradução de seu mRNA pode recomeçar.
grupos principais de genes. Um grupo contém quatro
operons adjacentes (Spc, S10, str e a) e o outro grupo
contém dois operons (L11 e rif) localizados em outro Resposta Estringente Controla
ponto do cromossomo de E. coli. Não há nenhum pa�
drão óbvio de distribuição dos genes entre esses ope� Síntese de rRNAs e tRNAs
rons. Alguns operons codificam proteínas de uma su� As bactérias respondem de várias maneiras ao ex
bunidade ribossômica; outros codificam proteínas de tremo estresse geral. Uma dessas situações ocorre
ambas as subunidades. Esses operons também contêm quando não há aminoácidos suficientes para manter a
genes de outras proteínas (relacionadas). Por exemplo, síntese proteica. Nessas condições, a célula invoca a
o operon str contém os genes dos fatores de elongação resposta estringente, que reduz a síntese de rRNAs e
de tradução solúveis, EF�Tu e EF�G, e os genes de algu� tRNAs cerca de 20 vezes. A síntese de mRNAs também
mas proteínas da subunidade ribossômica 30S. O ope�
diminui cerca de três vezes.
ron a contém genes de proteínas de ambas as subuni�
dades ribossômicas e um gene da subunidade a da RNA A resposta estringente é disparada pela presença de
polimerase. O operon riftem os genes das subunidades um tRNA não�carregado no sítio A do ribossomo, o que
b e b! da RNA polimerase e de proteínas ribossômicas. ocorre quando a concentração do tRNA correspondente
carregado é muito baixa. O primeiro resultado é que a
Uma característica comum aos seis operons de pro� elongação peptídica pelo ribossomo para. Essa parada
teínas ribossômicas é que sua expressão é regulada por leva uma proteína chamada fator estringente, o pro�
um dos produtos de seus próprios genes estruturais;
duto do gene relA, a sintetizar guanosina tetrafosfato
isto é, são autorregulados. Em alguns casos, a regu� (ppGpp) e guanosina pentafosfato (pppGpp), a partir
lação ocorre em nível de tradução, não de transcrição de ATP e GTP ou GDP, como mostra a Figura 8.14. O
como discutido para os operons lac e trp. Depois que o fator estringente fica fracamente associado com alguns
mRNA policistrônico é feito, a proteína ribossômica re� ribossomos da célula. Talvez uma mudança confor�
gulatória liga�se a esse mRNA e determina que região, macional no ribossomo seja induzida pela presença de
328 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

Operon de proteínas ribossômicas GEne de rRNA H


R C N

O
tRNA não carregado
no sítio A

mRNA rRNA mRNA

Proteína relA

GDP + pppGpp
ppGpp +
GTP ATP AMP

Proteínas ribossômicas
Ribosomo parcialmente
Bloqueio de síntese de
organizado
rRNA e tRNA

FIGURA 8.14 Controle estringente de


Operon de proteínas ribossômicas
síntese proteica em E. coli.
Durante carência extrema de aminoácidos,
um tRNA não carregado no sítio A do ribos�
somo ativa a proteína relAa sintetizar ppGpp
e pppGpp que estão envolvidos na redução
da transcrição dos genes que codificam rR�
mRNA NAs e tRNAs.

FIGURA 8.13 Autorregulação da síntese de proteínas ribossômicas.


Se rRNA livre não estiver disponível para a montagem de novas subunidades ribos�
sômicas, as proteínas ribossômicas individuais ligam�se ao mRNA policistrônico de
seu próprio operon, bloqueando a tradução.

um tRNA não�carregado no sítio A, o que, por sua vez,


ativa o fator estringente associado. As funções exatas Transposon
de ppGpp e pppGpp não são conhecidas. Entretanto, repetitivascom
flanqueadoras
sequências invertidas
inibem a iniciação da transcrição dos genes de rRNA e
tRNA, e afetam a transcrição de alguns operons mais
do que outros.

8.6 TRANSPOSONS Genes que codificam transposição


e resistência a antibióticos
BACTERIANOS
FIGURA 8.15 Estrutura geral dos transposons.
Transposons são segmentos móveis de DNA relativamente ra�
do DNA
Transposons São Segmentos Móveis ros, que contêm genes que codificam seu próprio rearranjo e,
frequentemente, genes que especificam resistência a vários
antibióticos.

A imensa maioria dos genes bacterianos tem locali� quência de cerca de 10–7 por geração, a mesma taxa de
zação fixa no cromossomo. De fato, os mapas genéticos mutações puntuais espontâneas. Esses segmentos mó�
de E. coli e de Salmonella typhimurium são muito veis do DNA são chamados elementos transponíveis ou
semelhantes, indicando a ausência de muito movimento transposons (Figura 8.15). Alguns genes de transposons
evolutivo para a maioria dos genes em cromossomos bac� bacterianos controlam a presença e a transposição do
terianos. Há uma pequena classe de genes bacterianos, próprio transposon, enquanto outros, geralmente genes
entretanto, na qual cópias recém�duplicadas de genes de resistência a antibióticos, fornecem � bactéria uma
�saltam” de um local para outro no genoma com uma fre� vantagem seletiva sobre outras bactérias.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 329

Os transposons foram detectados inicialmente como


CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.1
inserções raras de DNA estrangeiro em genes estrutu�
rais de operons bacterianos. Geralmente, essas inser�
ções interferem com a expressão do gene estrutural Resistência Transmissível a Múltiplas Drogas
afetado e de todos os genes � jusante do operon. Isso Uma tendência alarmante é que bactérias pato�
não é surpreendente, uma vez que inserções podem
gênicas estão ficando cada vez mais resistentes a um
destruir a fase de leitura da tradução, introduzir sinais grande número de antibióticos. Muitos casos foram
de terminação da transcrição, afetar a estabilidade do documentados nos quais uma cepa bacteriana em um
mRNA, e assim por diante. Muitos transposons e os lo� paciente que vinha sendo tratado com um antibióti�
cais nos quais eles se inserem foram isolados usando�se co, subitamente torna�se resistente a esse antibiótico
técnicas de DNA recombinante e foram extensamente e, simultaneamente, a vários outros antibióticos, em�
caracterizados. bora essa cepa bacteriana nunca tenha sido expos�
Alguns transposons consistem de poucos milhares ta a esses outros antibióticos. Isso ocorre quando a
bactéria, subitamente, adquire, de outra cepa bacte�
de pares de bases e contêm dois ou três genes; outros riana, um plasmídeo que contém vários transposons
são muito mais longos e contêm muitos genes. Às ve� diferentes, cada um contendo um ou mais genes de
zes, pequenos transposons podem ocorrer dentro de resistência a antibióticos. Exemplos incluem os genes
um transposon grande. Todos os transposons ativos
que codificam a b�lactamase, que inativa penicilinas
contêm pelo menos um gene que codifica uma trans e cefalosporinas; a cloranfenicol acetiltransferase,
posase, que é necessária para o evento de transposição que inativa cloranfenicol; e as fosfotransferases, que
ou �salto”. Frequentemente eles contêm genes que co� modificam aminoglicosídeos como neomicina e gen�
dificam resistência a antibióticos ou a metais pesados. tamicina.
A maioria das transposições envolve a geração de uma
cópia adicional do transposon e a inserção dessa cópia Neu, H. C. The crisis in antibiotic resistance. Science
em outra localização. A cópia original não é afetada 257:1064, 1992
pela inserção de sua duplicata em um novo sítio alvo. Os
transposons contêm sequências repetitivas terminais
invertidas curtas, que são essenciais para o mecanismo
de inserção, e são frequentemente usadas para definir de controle de 163 pb, localizada entre eles, que liga o
os dois limites de um transposon. A maioria dos sítios repressor. O repressor também participa da inserção
alvos é bastante aleatória em sequência, embora alguns do novo transposon, mas não afeta a transcrição do
transposons tenham uma propensão para inserção em gene de resistência � ampicilina.
pontos específicos ou �hot spots”. O transposon dupli�
cado pode estar localizado em uma molécula de DNA As mutações em tnpA que inativam a transposase
diferente do seu doador. Frequentemente, transposons diminuem a frequência de transposição de Tn3. As de
são encontrados em plasmídeos que passam de uma tnpR que inativam o repressor aumentam a frequência
cepa bacteriana para outra e são fonte de uma resistên� de transposição. Essas mutações desreprimem tnpA,
cia adquirida subitamente a um ou mais antibióticos por resultando em mais moléculas de transposase, o que
uma bactéria (Correlação Clínica 8.1).

Transposons Tn3 Contêm Três Genes •• •

Estruturais Transposase Repressor β–lactamase

Um exemplo de transposon é o transposon Tn3,


Extremidade Extremidade
que contém 4.957 pb, incluindo as repetições inverti� com repetições com repetições
das de 38 pb em ambas as extremidades (Figura 8.16). invertidas invertidas

Três genes estão presentes em Tn3. Um codifica a b−


FIGURA 8.16 Componentes funcionais do transposon
�lactamase, que hidrolisa ampicilina e torna a célula Tn3.
resistente a esse antibiótico. Os outros, tnpA e tnpR, Análises genéticas e de sequência de DNA demonstram que
codificam uma transposase e uma proteína represso� existem quatro tipos distintos de regiões: as extremidades
ra, respectivamente. A transposase contém 1.021 ami� com repetições invertidas de 30 pb; um gene da enzima b�lac�
noácidos e liga�se a DNA de fita�única. Reconhece as tamase, que confere resistência � ampicilina e a antibióticos
extremidades repetitivas do transposon e participa da relacionados; um gene que codifica uma enzima necessária �
transposição (transposase); e um gene de uma proteína re�
clivagem do sítio alvo, no qual a nova cópia do trans�
pressora que controla a transcrição dos genes da transposase
poson se insere. A proteína repressora de 185 amino� e do próprio repressor. Setas horizontais indicam as direções
ácidos controla a transcrição tanto do gene da trans� de transcrição.
posase como de seu próprio gene. tnpA e tnpR são Redesenhado de Cohen, S.N. e Shapiro, J. A. Sci. Am. 242:40,
transcritos de modo divergente a partir de uma região 1980. W. H. Freeman and Company, Direitos autorais ©1980.
330 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

aumenta a formação de mais cópias duplicadas do 8.7 EXPRESSÃO GÊNICA EM


transposon. Também desreprime tnpR, mas como o re�
pressor é inativo, a desrepressão não tem efeito. EUCARIOTOS
Transposons localizados em plasmídeos bacterianos A transcrição gênica em organismos eucarióticos
são de importância crescente no uso clínico de anti� é também regulada para dar a resposta adequada �s
bióticos. Plasmídeos bacterianos que não foram altera� necessidades biológicas. Além de modular a expres�
dos para uso experimental geralmente contêm genes são gênica em resposta �s condições nutricionais ou
que facilitam sua transferência de uma bactéria para ambientais, os organismos multicelulares regulam a
outra. À medida que esses plasmídeos se transferem expressão de genes especializados que direcionam a
entre diferentes cepas bacterianas infecciosas, seus diferenciação celular e caracterizam tipos celulares
transposons contendo genes de resistência a antibió específicos. Alguns genes, chamados genes zeladores
ticos movem�se para as novas cepas bacterianas. Uma ou housekeeping, são expressos na maioria das célu�
vez dentro de uma nova bactéria, o transposon pode ser las, outros são ativados sob demanda e outros e, ainda,
duplicado no cromossomo e ficar permanentemente es� ficam permanentemente inativos em todos, exceto al�
tabelecido naquela linhagem celular. O resultado é que guns poucos, tipos de células. Em células eucarióticas,
mais e mais cepas de bactérias patogênicas tornaram� a membrana nuclear serve de barreira que permite o
�se resistentes a um número crescente de antibióticos acesso seletivo de algumas proteínas ao DNA, enquan�
(Correlação Clínica 8.2). to mantém outras no citosol. Em bactérias, uma RNA
polimerase é responsável pela transcrição de todos os
RNAs (tRNA, rRNA e mRNA). Em organismos euca�
rióticos, três RNA polimerases diferentes são usadas
(p. 196). A RNA polimerase I transcreve os genes dos
CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.2 rRNA, a RNA polimerase II transcreve os genes que
codificam proteínas, cujos transcritos se tornam mR�
O Patógeno Bacteriano do Estômago: Helico NAs, e a RNA polimerase III transcreve os genes dos
bacter pylori tRNAs e a maioria dos outros RNAs pequenos. Embo�
ra alguns princípios da ativação gênica e do controle
Helicobacter pylori (H. pylori) é uma bactéria
gram negativa que infecta o estômago e o duodeno de eucarióticos se apliquem a todas as três RNA polime�
mais de 50% da população humana mundial. A forma rases, nesta seção o foco será a transcrição pela RNA
polimerase II. A RNA polimerase II é composta por,
helicoidal do organismo aumenta sua mobilidade no
pelo menos, 10 subunidades diferentes, com tamanhos
muco que recobre a mucosa gástrica. Embora a maio�
de 10 a 220 kDa. Algumas das subunidades são tam�
ria das pessoas infectadas não apresente sintomas,
bém partes dos complexos das RNA polimerases I e III;
sabe�se que H. pylori causa muitos casos de úlcera
outras são exclusivas da RNA polimerase II. A subuni�
péptica (lesões no revestimento do estômago ou do
dade maior da RNA polimerase II tem, dependendo da
duodeno), gastrite, duodenite e câncer de estômago.
espécie, até 52 repetições do motivo de aminoácidos
A bactéria sobrevive no ambiente muito ácido do es�
PTSPSYS em sua região C�terminal (CTD, C-terminal
tômago porque sintetiza uma grande quantidade da
domain). Uma característica própria dessas repeti�
enzima urease, que metaboliza a ureia do estômago a
ções é que a treonina (T), a serina (S) e a tirosina (Y)
dióxido de carbono e amônia, que neutraliza o ácido
podem ser fosforiladas.
gástrico. O pH ácido aumenta a expressão de urease e
de uma proteína do canal de ureia próton�dependen� Para entender melhor a regulação da transcrição em
te de H. pylori, tanto em nível da transcrição como eucariotos, é útil relembrar a organização do DNA na
da estabilidade do mRNA. H. pylori, geralmente, é
cromatina e o papel da modificação no DNA, especial�
tratadacom uma terapia de três antibióticos ou mais, mente metilação de citosina, sobre a ativação gênica.
mas alguns isolados de H. pylori foram encontrados,
Além disso, vamos considerar como a RNA polimerase
apresentando resistência a drogas. Dois médicos aus� II é posicionada no ponto correto do promotor de um
tralianos, Robin Warren e Barry Marshall, receberam gene para transcrever esse gene pela formação de um
o Prêmio Nobel de Medicina de 2005 por seu trabalho complexo de pré�iniciação, que envolve a organização
com H. pylori. dos fatores de transcrição gerais (TFs) com a RNA
polimerase II. A seguir, vamos ver como a atividade de
Scott, D. R., Marcus, E. A., Wen, Y., Oh, J., e Sachs, G. genes específicos pode ser regulada pelo uso de enhan
Gene expression in vivo shows that Helicobacter pylori cers, sítios de ligação de fatores de transcrição e sí
colonizes an acidic niche on the gastric surface. Proc. tios de organização da RNA polimerase. Finalmente,
Natl. Acad. Sci. USA 104:7235, 2007; e Blaser, M. J. The vamos discutir a ativação da transcrição por fatores de
endangered species in the stomach. Sci. Amer. 292:38,
transcrição específicos, algumas de suas característi�
2005. cas gerais e como são regulados.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 331

DNA Eucariótico é Ligado a Histonas


para Formar Cromatina
Core de
histonas
Segmentos de DNA eucariótico são enrolados ao
redor de octâmeros de proteínas histonas, que contêm
duas moléculas de cada histona H2A, H2B, H3 e H4, for�
mando nucleossomos (p. 58). As histonas associam�se
com o DNA por interações eletrostáticas. As histonas
têm um grande número de resíduos delisina carregados
positivamente que interagem com o esqueleto fosfodi�
éster carregado negativamente do DNA. Na maioria das
células, as histonas H1 ou H5 ligam�se quando a asso� Core de
ciação octâmero�DNA está estabelecida. Cerca de 200 histonas

pb de DNA compõem uma única unidade nucleossômica,


com cerca de 130�160 pb em contato direto com o cerne
(ou core) do octâmero. Uma parte do DNA restante liga
histonas H1 e H5, e o resto é o DNA de ligação (linker),
que fica entre os nucleossomos. Embora a interação oc�
tâmero de histonas�DNA não seja sequência�específica,
alguns padrões de associação sequência�dependentes
DNA de
ligação Core de
foram observados. Quando, por exemplo, a hélice de histonas
DNA dupla�fita se dobra em virtude da presença de uma
região rica em A�T, a fenda menor geralmente fica volta�
da para o core da partícula do nucleossomo. Em regiões
ricas em G�C, a fenda menor fica voltada para longe do
(a) (b)
core do octâmero de histonas. A despeito dessas ten�
dências, não há modo claro de prever as sequências em FIGURA 8.17 O acesso às sequências específicas
um DNA duplex que vão compor as fendas maior e me� das fendas maior e menor do DNA depende do
nor no lado externo do complexo do nucleossomo. Esse posicionamento do nucleossomo.
posicionamento é importante porque a organização do (a) O DNA enrolado em torno do cerne de octâmero de his�
complexo iniciador da transcrição e a ligação de outras tonas (duas moléculas de cada histona H2A, H2B, H3 e H4)
proteínas que influenciam a expressão gênica precisam é chamado partícula do cerne (core) do nucleossomo. Na
maioria das condições, histonas H1 ou H5 (não mostradas)
ter acesso �s fendas do DNA duplex. Interações se�
associam�se com o DNA onde o enrolamento em torno do oc�
quência�específicas ocorrem via pontes de hidrogênio tâmero de histonas começa. O DNA entre partículas core de
formadas com as bordas dos pares de bases das fendas nucleossomos é chamado DNA de ligação ou linker. Quando
maior ou menor. Quando o DNA é enrolado em torno de expostas a agentes como a nuclease de micrococcus, as regiões
um octâmero de histonas, as sequências específicas de de ligação são mais acessíveis do que o DNA enrolado em torno
DNA que ligam fatores de transcrição podem ficar es� das partículas core de histonas. (b) No nucleossomo, o lado
condidas. A remoção completa do DNA do nucleossomo da hélice voltado para fora do core de histonas está acessível,
não é necessária para permitir o acesso �s sequências mas o lado voltado para dentro, não. Se girarmos a hélice com
específicas. Por rolamento da hélice do DNA em relação relação ao core de histonas de um nucleossomo e seguirmos a
ao octâmero de histonas, diferentes contatos de fendas posição dos mesmos cinco pares de bases, o acesso �s fendas
maior e menor para outras interações muda, dependendo se o
maior e menor podem ficar disponíveis na superfície ex� par de bases está no lado de dentro ou de fora da partícula core
terna do nucleossomo (Figura 8.17). do nucleossomo enrolado.
Redesenhado de Wolffe, A. P. Chromatin: Structure and
Os genes que não são transcritos em uma célula em
Function, 3. ed. New York: Academic Press, 1998.
particular formam aa heterocromatina,heterocromatina, altamentealtamente con�con�
densada. Diferentemente, as regiões transcripcional� importante para permitir o acesso sequência�específico
mente ativas do DNA apresentam uma estrutura menos ao DNA (Figura 8.18). Acredita�se que a modificação
condensada, mais aberta. Parte dessa diferença deve� de histonas seja crítica no controle epigenético da ex�
�se �� modificaçãomodificaçãomodificação pós�traduçãopós�traduçãopós�traduçãopós�tradução dedededede histonas.histonas.histonas.histonas.histonas. AAAAA acetila�acetila�acetila�acetila�acetila� pressão gênica, como será discutido mais adiante neste
ção do e�amino grupo dos resíduos de lisina próximos
capítulo.
� extremidade N�terminal das histonas reduz a carga
positiva e, assim, enfraquece a atração eletrostática A posição relativa de um nucleossomo também pode
entre as histonas e o DNA. Em geral, a acetilação de ser influenciada pelo complexo SWI/SNF, identificado
histonas leva � ativação da expressão gênica, enquanto pela primeira vez e mais bem caracterizado na levedura
a desacetilação reverte o efeito. A acetilação de histo� S. cerevisiae e assim denominado em referência �s cepas
nas e o subsequente reposicionamento do nucleossomo com troca de tipo para cruzamento e que não fermentam
por desestabilização das interações histonas�DNA é sacarose. Esse complexo contém cerca de 10 proteínas e
332 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

O
CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.3
NH CCH3

CH2 Síndrome de Rubstein-Taybi


CH2
A regulação da acetilação de histonas influencia
CH2 a ativação e a inativação da expressão gênica. Duas
CH2 importantes enzimas responsáveis pela acetilação de
histonas em células de mamíferos são a acetiltrans�
NHCO
CH
ferase p300 e a CBP. A p300 recebeu esse nome por
-N-Acetilisina
seu peso molecular, e CBP significa CREB Binding
(a)
Protein (proteína que se liga ao CREB), com CREB
(cAMP regulatory-element binding protein) sen�
do um fator de transcrição. Essas acetiltransferases
permitem a ativação de genes apropriados, em as�
sociação com CREB e outros fatores de transcrição,
levando � abertura da estrutura da cromatina por en�
fraquecimento das interações histonas�DNA.

A síndrome
índrome de Rubstein�Taybi (OMIM 180849), ca�
racterizada por retardo mental e outras anomalias de
desenvolvimento, é causada por mutações puntuais,
pequenas deleções e rearranjos no gene CBP. Defei�
(b)
tos de desenvolvimento mais graves correspondem a
FIGURA 8.18 A força da associação histona-DNA é substancialmente mais mutações. A perda completa
modificada pela acetilação de resíduos de lisina na do produto do gene CBP é provavelmente letal.
extremidade N-terminal das histonas.
As histonas que compõem o core octâmero contêm resíduos de Petrij, F., Giles, R. H., Dauwerse, H. G., Saris, J. J. et
lisina que, em virtude de seu grupo lateral carregado positiva� al. Rubistein�Taybi syndrome caused by mutations in the
mente, podem promover interação com as ligações fosfodiés� transcriptional co�activator CBP. Nature 376:348, 1995; e
ter carregadas negativamente do DNA. Modificação das lisinas Wolffe, A. P. The cancer�chromatin connection. Sci. and
por acetilação substitui as cargas positivas por grupos acetil Med. 6:28, 1999.
neutros, e enfraquece a interação eletrostática entre o core
octâmero e o DNA. Esse processo é reversível, e a acetilação e
a desacetilação de histonas é um modo de afrouxar ou apertar
a estrutura da cromatina.
Redesenhado de Wolffe, A. P. The cancer�chromatin connec� presso. Os padrões de metilação são conservados após a
tion. Sci. Med. 6:28, 1999.
replicação por uma hemimetilase (que reconhece a me�
tilação na fita parental e metila a fita recém�replicada).
interage com o domínio C�terminal da subunidade gran� Mais recentemente, sugeriu�se que a metilação do DNA
de da RNA polimerase II, rompendo as matrizes nucleos� que resulta em silenciamento de genes possa ser indu�
sômicas de maneira dependente de ATP. O resultado é a zida pela ação de siRNA (short interfering RNA) que é
abertura de regiões de DNA para interação com fatores complementar � sequência que é metilada.
de transcrição e, assim, facilita a ativação gênica. Há me�
nos complexos SWI/SNF na célula do que genes sendo
Citosina 5-metilcitosina
transcritos, sugerindo que o complexo SWI/SNF funcio�
H N H H N H
ne de forma catalítica (Correlação Clínica 8.3).
5 4N H3C N
3

Metilação do DNA Correlaciona-se 6 N


1
2
O
metilação
N
O

com Inativação de Genes


FIGURA 8.19 A base metilada mais comum no homem é
A metilação do DNA humano envolve a formação 5-metil citosina.
de 5�metilcitosina (Figura 8.19). A reação é sequência�ência�
�específica com 5!CpG3! como substrato. O resultado é Uma terminologia frequentemente encontrada na
que ambas as fitas do duplex são metiladas. Cerca de literatura sobre a metilação do DNA é ilhas ou regiões
70% das sequências
ências CpG
pG do DNA humano são metila� ricas em CpG. A sequência CpG é subrepresentada no
das. A metilação está implicada no imprinting (identi� genoma. Isso provavelmente se deve ao acúmulo, ao
ficação) do DNA genômico. No imprinting, os padrões longo de muitas gerações, de transições C para T cau�
de metilação do DNA herdado do espermatozoide ou do sadas pela desaminação da 5�metilcitosina. A manu�
óvulo correlacionam�se com a escolha do alelo a ser ex� tenção de CpGs deve�se, presumivelmente, � pressão
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 333

seletiva para manter uma região regulatória. De fato, 8.8 COMPLEXO DE PRÉ
as ilhas CpG são mais comumente encontradas em re�
giões de promotores de genes. A metilação do DNA fre� INICIAÇÃO EM
quentemente se correlaciona com a falta de atividade
transcripcional. Acredita�se que isso seja mediado por EUCARIOTOS: FATORES
proteínas que reconhecem e ligam DNA metilado, o que DE TRANSCRIÇÃO, RNA
impede a ligação de fatores de transcrição. A metilação
do DNA correlaciona�se com a desacetilação de histo� POLIMERASE II E DNA
nas, fornecendo dois meios de repressão de transcrição
em uma localização específica (Figura 8.20). Ao contrário da RNA polimerase bacteriana, a RNA
polimerase II eucariótica não faz ligação sequência�es�ência�es�
A hipermetilação do DNA é uma característica co� pecífica com promotores eucarióticos. Ao contrário, um
mum de células em tecido canceroso. Há evidências complexo de iniciação é formado pelo contato inicial do
crescentes de que metilação ocorre em genes que codi� promotor com o fator de transcrição geral TFIID. TFIID
ficam proteínas que encaminhariam células em divisão é um dentre pelo menos seis fatores de transcrição ge�
anormal para a morte celular programada (apoptose). rais (TFIIA, TFIIB, TFIID, TFIIE, TFIIF e TFIIH) ne�
Por outro lado, em células totipotentes ou pluripoten� cessários � transcrição basal pela RNA polimerase II.
tes de mamíferos, como o óvulo fecundado e as células A nomenclatura TFII reflete que são fatores de trans�
do início do desenvolvimento embrionário, o DNA sofre crição envolvidos na organização do complexo de pré�
desmetilação quase global. �iniciação da RNA polimerase II (Tabela 8.1).

TFIID é um complexo de múltiplas su�


(a) = CpG SÍTIO DE LIGAÇÃO
bunidades que contém a proteína que se
PONTO DE INÍCIO
DA RNA POL II
DA TRANSCRIÇÃO
liga a TATA (TBP, TATA binding protein)
e várias TAFs diferentes (TBP-associated
factors, fatores associados a TBP). O TFIID
ATIVAÇÃO POR PROTEÍNAS
liga�se � fenda menor do DNA em uma se�
QUE SE LIGAM A METILCITOSINA quência consenso chamada TATA box, loca�
lizada cerca de 27 pb a montante do ponto
de início da transcrição. O TATA box pre�
cisa estar acessível a TFIID, de modo que
ATIVAÇÃO DO GENE não pode estar na face interna do core de
uma partícula nucleossômica se o complexo
(b) de pré�iniciação deve se formar. A intera�
ção de TBP com o DNA causa uma grande
distorção no DNA duplex (Figura 8.21).
METILAÇÃO DO DNA Acreditava�se que TBP fosse essencial para
a transcrição usando qualquer RNA polime�
rase, mas a identificação recente de TLFs
CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3
(TBP�like factors, fatores tipo TBP) adi�
cionais sugere que alguns genes usem uma
PROTEÍNAS QUE SE LIGAM
A METILCITOSINA
TABELA 8.1 • Fatores Gerais de Transcrição
Encontrados em Eucariotos
CH3 CH3 CH3 CH3 CH3CH3 CH3 CH3 CH3CH3 CH3 Fator subunidades
Número de Massa
(kDa)
INATIVAÇÃO DO GENE TFIID
FIGURA 8.20 Metilação do DNA leva a atividade gênica alterada. TBP 1 38
Para máxima transcrição da maioria dos genes, fatores de transcrição devem TFIIA
TAFs 12 15�250
reconhecer e se ligar a sequências específicas do DNA, na região do promotor.
Sua interação com o DNA e com os fatores de transcrição gerais no complexo de 3 12, 19, 35
iniciação da RNA polimerase II leva � expressão de um gene. Metilação do DNA, TFIIE
TFIIB 1 15
especificamente a formação de 5�metilcitosina, oferece um novo alvo para inte�
ração proteína�DNA. A associação de proteínas que se ligam a 5�meC DNA com 2 34, 57
o DNA metilado pode bloquear a capacidade de outros fatores de transcrição TFIIH
TFIIF 2 30,74
se ligarem ao DNA. Essa inibição geralmente não é por competição sequência�
�específica pela ligação ao DNA, mas por impedimento estérico. 9 35�89
Redesenhado de Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M., Roberts, K. e Watson, J. Fonte: Roeder, R. G. Trends Biochem. Sci. 21:329,
Molecular Biology of the Cell. New York: Garland, 1994. 1996
334 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

proteína alternativa. Após a ligação ao TATA box, TBP (a)


dirige a montagem do complexo de pré�iniciação pela
adição ordenada de vários fatores gerais de transcrição
TATA box
e da RNA polimerase II (Figura 8.22). Lembre�se que a
subunidade grande da RNA polimerase II tem um domí� TFIID

nio C�terminal (CTD) contendo muitas repetições da se� (b)


quência de aminoácidos PTSPSYS.
TFIID

TFIIA
TFIIB
TFIIA

TBP
(c)
+1 TFIIB

TFIIA TFIID

TFIIF

RNAPII
TFIIB
(d)
TFIIB TFIIF

FIGURA 8.21 A proteína de ligação a TATA (TBP) foi TFIIA TFIID


cocristalizada com o DNA. RNAPII
A primeira etapa da formação do complexo de transcrição que
permite a transcrição de genes mediada pela RNA polimera� TFIIH
TFIIE +
se II é a associação do fator geral de transcrição TFIID com o
DNA. Na maioria dos casos, isso é mediado por uma das proteí�
nas do complexo proteico TFIID, TBP, que se liga ao DNA por (e)
contatos com a sequência TATAA. A cocristalização de TBP TFIIB TFIIF
com o DNA permitiu uma visão mais detalhada da interação TFIIE
TFIIA TFIID
e indicou que a ligação de TBP introduziu uma dobra signifi� TFIIH
cativa no DNA. Estão incluídos na figura dois outros fatores RNAPII
gerais de transcrição, TFIIA e TFIIB, nenhum deles envolvidos
no contato inicial com o DNA. TFIIA liga�se a TBP e estabiliza a Transcrição
interação TBP�DNA. TFIIB liga�se a TBP, leva ao recrutamento
da RNA polimerase II para o complexo de iniciação, e está en�
volvido na identificação do sítio de início da transcrição. FIGURA 8.22A formação do complexo de iniciação para
Figura reproduzida com permissão de Voet, D., Voet, J. e Pratt, genes transcritos pela RNA polimerase II é ordenada.
C. W. Fundamentals of Biochemistry. New York: Wiley, 1999. Os modelos atuais de montagem do complexo de iniciação in�
© (1999) John Wiley and Sons Inc. cluem as seguintes etapas: (a) A região do promotor de um gene
com um TATA box antes da ligação de TFIID. (b) TFIID, que
inclui TBP, liga�se ao TATA box e dobra o DNA. (c) O comple�
xo DNA�TFIID serve de sítio de coordenação para a ligação de
A entrada da RNA polimerase II no complexo de outros fatores gerais de transcrição. O complexo TFIID associa�
pré�iniciação ocorre quando seu CTD não está fosfo� �se com TFIIA e TFIIB. TFIIA serve para estabilizar a interação
rilado. Entretanto, o movimento da RNA polimerase II TFIID:DNA, e TFIIB fornece um sítio de interação adequado
para longe do sítio de montagem correlaciona�se com para a ligação da RNA polimerase II. (d) TFIIF e a RNA poli�
a fosforilação do CTD. Portanto, a montagem do com� merase II unem�se ao complexo. Nesse estágio, o domínio car�
boxi�terminal (CTD) da RNA polimerase II está defosforilado.
plexo de pré�iniciação não garante a transcrição; mais
Acredita�se que TFIIF desestabilize as interações inespecíficas
sinais, como a fosforilação, devem ocorrer para que a RNA polimerase II:DNA, dirigindo assim a RNA polimerase II
transcrição comece. para o complexo de iniciação em formação. (e) Dois fatores
gerais de transcrição adicionais juntam�se ao complexo. TFIIE
A formação do complexo de pré�iniciação permite recruta TFIIH para o complexo. TFIIH tem atividades de helica�
que a atividade de helicase ATP�dependente associada se, ATPase e quinase. Acredita�se que TFIIH seja mediador da
com TFIIH abra as duas fitas do DNA, fornecendo um abertura transitória do DNA duplex e também da fosforilação do
molde para a fase de elongação subsequente na síntese CTD da RNA polimerase II, permitindo que a polimerase deixe o
do RNA. complexo de iniciação e inicie a transcrição.
Redesenhado de Voet, D., Voet, J. e Pratt, C. W. Fundamen
tals of Biochemistry. New York: Wiley, 1999. Ó (1999) Wiley.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 335

O TFIID fica para trás, ainda ligado ao TATA box, a transcrição. Enhancers diferem das sequências do
para promover a montagem de complexos de pré�ini� promotor em dois aspectos importantes. Primeiro,
ciação adicionais. O TFIIF prossegue com a RNA po� enhancers podem estar localizados a muitos milhares
limerase II durante a fase de elongação, mas os outros de pares de bases de distância do sítio de montagem
fatores gerais de transcrição se dissociam do complexo do complexo de pré�iniciação e podem estar tanto �
de elongação. montante como � jusante do sítio de início de trans�
crição. Segundo, o elemento enhancer pode agir em
qualquer orientação. Os fatores de transcrição que se
Promotores Eucarióticos e Outras ligam aos elementos de resposta próximos do ponto de
Sequências Que Influenciam início de transcrição podem agir diretamente sobre o
complexo de iniciação ou por meio de proteínas que
Transcrição fazem uma ponte com o complexo de iniciação (ver Fi�
gura 8.30). É bastante comum que as proteínas que in�
Promotores de genes eucarióticos transcritos pela fluenciam a transcrição exerçam essa função de ponte.
RNA polimerase II são operacionalmente definidos
Entretanto, a distância linear entre um enhancer e
como as sequências que influenciam a iniciação da o complexo de pré�iniciação pode ser muito grande.
transcrição de genes. A característica marcante dos Fatores de transcrição ligados a enhancers são apro�
promotores eucarióticos é sua utilização de múltiplos ximados do complexo de pré�iniciação por meio de do�
sítios de ligação para fatores de transcrição para regu� bra do DNA. Isso ajuda a explicar como o enhancer
lar atividade gênica. Em geral, esses sítios de ligação
pode funcionar a distância e porque a orientação da
ficam relativamente próximos ao TATA box, que mar�
ca o local de montagem do complexo de pré�iniciação. sequência do enhancer não importa. Contanto que a
proteína tenha se ligado ao enhancer, o alinhamento
Outras sequências consensos frequentemente encon�
correto da proteína com o complexo de pré�iniciação é
tradas em promotores eucarióticos incluem CAAT box
ajustado quando o DNA se dobra.
e GC boxes (Figura 8.23). A posição exata do CAAT
box e as posições, orientação e número de GC boxes
variam entre os promotores. O CAAT box serve de sítio
de ligação para vários fatores de transcrição diferentes,
Projeto Modular de Fatores de
incluindo NF1. A presença de um CAAT box geralmente Transcrição Eucarióticos
indica um promotor forte. O GC box fornece sítio de li�
gação para o fator de transcrição SP1 e é característico Fatores de transcrição eucarióticos têm múltiplos
de muitos genes zeladores (housekeeping). domínios que estabelecem interações específicas. Os
domínios de reconhecimento do DNA contribuem com
A ligação de fatores de transcrição a outras sequên� a ligação sítio�específica, e os domínios de ativação
cias em promotores pode ser influenciada por uma mo� fazem contato com os fatores gerais de transcrição, a
lécula sinalizadora, como hormônios associados com RNA polimerase II e outros reguladores da transcrição.
fatores de transcrição de resposta a esteroides, ou por Muitos fatores de transcrição também têm domínios
modificação de aminoácidos, como fosforilação. As se� de dimerização, que promovem a formação de homo�
quências de DNA que ligam tais fatores de transcrição dímeros ou heterodímeros, domínios de interação com
regulados são frequentemente chamadas elementos de proteínas, que permitem a associação com proteínas
resposta. Os fatores de transcrição podem ser exclusi� como histona acetilase, ou domínios que se ligam a coa�
vos de tecidos específicos ou aparecerem em momentos tivadores. Coativadores incluem hormônios esteroides e
específicos do desenvolvimento. A eficiência relativa cAMP, que mudam a capacidade do fator de transcrição
das sequências regulatórias dos promotores depende de para se ligar ao DNA ou servir de ativador. Os domínios
sua orientação ou direcionamento, e pode ser diminuí� envolvidos em tais atividade podem ser agrupados em
da alterando�se sua distância do TATA box. alguns poucos motivos característicos.
Muitos genomas celulares ou virais também têm
elementos enhancers, que ligam proteínas que ativam
Motivos Comuns em Proteínas Que
Sítio de início de transcrição Ligam DNA e Regulam Transcrição
CAAT box
Vários motivosmotivos dede aminoácidosaminoácidos sãosãosão comumentecomumentecomumente en�en�en�
contrados em fatores de transcrição (reguladores de
TATA box
ação trans). Eles incluem proteínas hélice-volta-hélice
= 10 nucleotídeos
(HTH, helix-turn-helix), dedos de zinco, hélice-alça
FIGURA 8.23 Sequências de DNA em genes transcritos em
-hélice (HLH, helix-loop-helix) e região básica zíper
eucariotos geralmente contêm um TATA box, e podem de leucina (bZIP) (p. 336).336).). EssesEssesEsses motivosmotivosmotivos estãoestãoestão presen�presen�presen�
conter um CAAT box, GC boxes e múltiplos sítios de ligação tes em cerca de 80% das proteínas que se ligam �s se�
para fatores de transcrição. quências específicas.
336 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

O repressor lactose de E. coli (ver Seção 8.3) e um


grupo de fatores de transcrição importantes durante o
desenvolvimento, chamados proteínas homeodomínio,
estão entre as proteínas com motivo hélice�volta�hélice
(HTH). O homeodomínio é a parte de reconhecimento
do DNA desses fatores de transcrição. Proteínas home�
odomínio foram identificadas pela primeira vez em mos�
hélice de
ca de fruta, quando mutações nos genes que as codifi� reconhecimento
NH2
cam levavam � homeose, ou substituição de uma parte
do corpo por outra. Por exemplo, uma mutação em uma
proteína homeodomínio pode levar � formação de per�
nas onde deveriam estar antenas. Proteínas homeo�
COOH
domínio são reguladores�chaves no desenvolvimento (a)
de mamíferos também. O motivo HTH tem cerca de 20
aminoácidos, e forma uma parte relativamente pequena
de uma proteína muito maior. Dentro do motivo, os pri�
meiros sete aminoácidos formam uma hélice, seguida
de uma volta com quatro aminoácidos e, depois, uma
hélice de nove aminoácidos. A segunda hélice é a hélice
de reconhecimento, que se liga de maneira sequência�
�específica � fenda maior, enquanto interações hidrofó�
bicas entre a primeira e a segunda hélice estabilizam a
estrutura. O resto da proteína pode ter sítios alostéricos
que ligam moléculas reguladoras e regiões que permi�
tem outras interações proteína�proteína (Figura 8.24).

TFIIIA, um fator geral de transcrição que se liga a


promotores de genes transcritos pela RNA polimerase
III, SP1 (que estimula 10 a 20 vezes todos os genes com
(b)
GC boxes), Gal4 em levedura e a superfamília de re�
ceptores de hormônios esteroides são todos exemplos FIGURA 8.24 Proteínas hélice-volta-hélice usam uma
de proteínas dedos de zinco. Diferentes subclasses de hélice para ligar na fenda maior enquanto a outra
proteínas dedos de zinco são definidas pelos aminoá� suporta essa ligação por interação hidrofóbica.
cidos específicos que coordenam a ligação de Zn. Por (a)O domínio HTH de uma proteína contém geralmente cerca
de 20 aminoácidos que formam duas α�hélices, unidas por uma
exemplo, em TFIIIA, duas cisteínas e duas histidinas
volta não�helicoidal. (b) As dimensões da α�hélice da proteína
coordenam a ligação do Zn e são da classe C2H2, en� permitem a ela se encaixar na fenda maior da hélice do DNA.
quanto os fatores de transcrição receptores de hormô� A hélice que interage diretamente com o DNA (a hélice de re�
nios esteroides usam quatro Cys para cada Zn e são da conhecimento) inclui aminoácidos com cadeias laterais capa�
classe C4. O motivo dedo de zinco liga�se � fenda maior zes de formar pontes de hidrogênio com bases específicas, que
do DNA de maneira sequência�específica, mediada por ficam expostas na fenda maior. A segunda hélice não interage
uma α�hélice formada de um lado da região dos dedos. diretamente com DNA, mas estabiliza a ligação da hélice de
Como foi visto para proteínas HLH, a α�hélice se encai� reconhecimento por interações hidrofóbicas. Portanto, ambas
xa na fenda maior e as cadeias laterais dos aminoácidos as hélices incluem aminoácidos como valine a leucina, que per�
mitem que essas interações hidrofóbicas ocorram.
estabelecem pontes de hidrogênio com as bases para a
Redesenhado de Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M., Ro�
ligação sequência�específica (p. 335). berts, K. e Watson, J. Molecular Biology of the Cell. New York:
As duas classes de proteínas dedos de zinco têm Garland, 1994.
sítios de ligação característicos do modo pelo qual
cada classe se posiciona no DNA. Para TFIIIA, dedos Proteínas região básica�zíperzíper dede leucinaleucina (bZIP)(bZIP)(bZIP) in�in�in�
cluem fos, jun e CREB. Proteínas bZIP contêm resíduos
de zinco sequenciais acompanham a fenda maior, cada
um formando pontes de hidrogênio com bases especí� de leucina a cada sétima posição em uma α�hélice. Es�
sas leucinas formam interações hidrofóbicas com uma
ficas. Proteínas dedos de zinco da classe C4, como os
segunda proteína que também tem esse padrão de re�
fatores de transcrição receptores de hormônios este�
petições de leucinas, formando homo ou heterodímero
roides, usam um dedo de zinco para se ligar ao DNA e
um segundo dedo de zinco para estabilizar a ligação do (Figura 8.26).
DNA ao primeiro. Os fatores de transcrição receptores As proteínas bZIP têm um domínio de ligação ao
de hormônios esteroides associam�se com DNA como DNA composto por uma região básica, definida pela
dímeros. Seus sítios de ligação consistem de duas �me� presença de arginina e lisina, localizada sete aminoá�
tades” palindrômicas espaçadas para acomodar os dois cidos antes da primeira leucina e α�hélice. Os amino�
dedos de ligação ao DNA do dímero (Figura 8.25). ácidos básicos estabilizam a associação DNA�proteína
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 337

(a) (b) (c)

FIGURA 8.25 Dois diferentes motivos dedos de Zn são encontrados em fatores de transcrição.
Embora ambas as proteínas dedos de Zn usem a ligação coorde� Zn. (b) A classe Cx de proteínas dedos de Zn comumente tem
nada de uma molécula de Zn para assumir sua estrutura final, há dois domínios dedos de Zn. A α-hélice de um dedo de Zn liga�
diferenças notáveis entre os dois motivos principais que foram �se ao DNA na fenda maior, enquanto a α�hélice do outro dedo
identificados. Ambas as classes tiram vantagem da formação de de Zn suporta essa interação por interações hidrofóbicas com o
estrutura em α-hélice para formar domínios que se ligam � fenda domínio de ligação ao DNA. As proteínas dedos de Zn da classe
maior do DNA. (a) A classe C2H2 inclui proteínas que podem Cx normalmente se ligam ao DNA pela formação de dímeros. É
ter muitos domínios dedos de Zn. Cada α�hélice de um dedo de mostrada em (c) a interação do dímero receptor de estrógeno
Zn tem o potencial de se ligar de modo sequência�específico a com cada monômero fazendo contato com o DNA. Moléculas de
sítios ao longo da fenda maior. O resultado pode ser uma pro� Zn são indicadas por esferas.
cissão de interações proteína�DNA, cada uma dependente da (a) Reproduzido de Voet, D. e Voet, J. G., Biochemistry, 2. ed.,
sequência específica das cadeias laterais dos aminoácidos en� New York: Wiley, 1995. Ó (1995) John Wiley and Sons, Inc. Parte
contrados em cada domínio em α�hélice da proteína dedos de (b) e (c) gentilmente cedidas por C. Pabo, M.I.T.

por interações eletrostáticas com o esqueleto carregado


negativamente do DNA, além de formar pontes de hi�
drogênio na fenda maior. Os sítios de ligação dos homo�
dímeros têm simetria díade, enquanto essa simetria não
é encontrada nos sítios de ligação dos heterodímeros.

A classe de fatores de transcrição hélice�alça�hélice


inclui myoD, myc e max. Dois segmentos de α�hélice
anfipática separados por uma alça interveniente carac�
terizam as proteínas hélice�alça�hélice. As hélices não
são responsáveis pela ligação com o DNA, como nas pro�
teínas dedos de zinco, mas pela dimerização com outra
proteína. Como foi descrito para as proteínas bZIP, os
dímeros formados podem ser homo� ou heterodímeros.
O domínio de ligação ao DNA é uma extensão de uma
das α�hélices que formam o feixe de quatro hélices ge�
rado pela dimerização (Figura 8.27).

FIGURA 8.26 Proteínas zíper de leucina ligam-se ao DNA como dímeros.


Proteínas zíper de leucina formam dímeros em virtude da colocação periódica de uma
leucina a cada sete resíduos ao longo de uma α�hélice. Essas leucinas formam uma face
hidrofóbica que interage com a face hidrofóbica de uma α�hélice semelhante. Os domí�
nios de interação proteína�proteína estão em azul. As regiões de α�hélice podem conti�
nuar além do domínio de interação proteína-proteína, permitindo que cada monômero
se ligue � fenda maior do DNA (verde). Para homodímeros, o sítio de ligação no DNA
caracteriza�se por duas metades reconhecidas e metades simétricas.
Modificado de Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M., Roberts, K. e Watson, J. Molecular
Biology of the Cell. New York: Garland, 1994.
338 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

(a) DNA correspondentes, pode levar � ativação errônea da


transcrição de uma variedade de genes. Eles parecem
ativar a transcrição por meio do aumento da taxa de
montagem do complexo de pré�iniciação. Alguns inte�
ragem diretamente com TFIID, aumentando a ligação
ao TATA box, enquanto outros interagem com TFIIB ou
TAFs, que são parte do complexo TFIID. Quando múl�
tiplos fatores de transcrição se ligam a um promotor,
eles podem ter um efeito combinatório sobre a ligação
e a montagem do complexo de pré�iniciação. Os domí�
nios de ativação de muitos fatores de transcrição têm
(b) homodímero HLS ativo heterodímero HLS inativo como alvos as mesmas proteínas no complexo de pré�
�iniciação. Portanto, a regulação da transcrição está
ligada ao posicionamento dos sítios de ligação ao DNA
e não �s interações proteína�proteína exclusivas de um
gene específico.

Fatores de transcrição também podem regular a ex�


pressão gênica pelo recrutamento de outras proteínas
DNA para a área do promotor. Essas proteínas podem não
se ligar DNA, mas formam uma ponte entre o fator de
FIGURA 8.27 A formação do dímero do fator de transcrição ligado ao DNA e o complexo de iniciação.
transcrição é mediada por interações hélice-alça-hélice. Alternativamente, a proteína que está interagindo pode
O motivo hélice�alça�hélice aproxima dois monômeros para trazer enzimas que modificam a cromatina, como histo�
formar um dímero que se liga ao DNA. (a) Cada monômero na acetilase (por exemplo, o complexo CBP�p300) para
tem duas hélices unidas por uma alça. Uma hélice é usada
genes específicos. A acetilação de histonas afrouxa a
para a interação proteína�proteína, enquanto a outra é usada
estrutura da cromatina. Alguns fatores de transcrição
para ligar � fenda maior do DNA. Assim, o dímero consiste de
um feixe de quatro hélices. Se o dímero for formado por dois regulados que recrutam o complexo CBP�p300, e as mo�
monômeros idênticos, então se espera que os sítios de ligação léculas ou eventos aos quais respondem, são CREB e
no DNA sejam muito semelhantes ou idênticos; entretanto, se cAMP, SPEBP e colesterol, NFkB e citocinas, e p53 e
os monômeros forem proteínas diferentes (formando hetero� parada de crescimento.
dímeros), então os sítios de ligação ao DNA podem ser não�
�relacionados. (b) Quando os fatores de transcrição ligam�se Fatores de transcrição que reduzem a expressão
como dímeros, a presença de um monômero truncado pode gênica podem se ligar ao DNA, tanto na mesma se�
impedir a ligação ao DNA, mesmo em presença de monômeros quência de um fator positivo ou, mais globalmente,
completos. Por exemplo, se a hélice de dimerização da proteína como o efeito negativo de proteínas que se ligam ao
for feita sem o domínio de ligação ao DNA, a dimerização com DNA metilado. Alternativamente, fatores negativos
um monômero completo produz um produto incapaz de se li� podem inibir a ligação ou a montagem do complexo
gar eficientemente ao DNA. de pré�iniciação ou se ligar a um fator de transcrição
Modificado de Alberts, B., Bray, D., Lewis, J., Raff, M., Roberts,
K. e Watson, J. Molecular Biology of the Cell. New York: Gar� positivo para impedir sua ligação ao DNA ou acelerar
land, 1994. sua degradação.

Regulando os Reguladores
8.9 REGULAÇÃO DA
Os fatores de transcrição são regulados de várias
EXPRESSÃO GÊNICA formas. Provavelmente, os exemplos mais simples são
EUCARIÓTICA os que são sintetizados só em células especializadas ou
em momentos específicos do desenvolvimento. Alguns
Como indicado aqui, uma região relativamente pe� são regulados pela ligação a cofatores, que podem ini�
quena de uma proteína regulatória pode ser dedicada bir ou estimular sua ligação com o DNA. Para os fato�
� ligação sequência�específica ao DNA, enquanto ou� res de transcrição que formam dímeros, a formação
tros domínios estão envolvidos em interações proteína� de complexos homo� ou heterodiméricos não�produ�
�proteína ou com o ligante. Vários domínios de ativação tivos pode alterar a ligação ao DNA ou as interações
característicos foram identificados, incluindo domínios proteína�proteína que permitem a ativação de genes.
ácidos (alta concentração de aminoácidos com cadeias A modificação pós�tradução, como processamento ou
laterais ácidas), domínios ricos em glutamina, e domí� fosforilação de proteínas, pode afetar a ligação do fa�
nios ricos em prolina. Experimentalmente, a superpro� tor de transcrição ao DNA ou a outras proteínas, e sua
dução de qualquer desses domínios por técnicas de re� capacidade de ir do citoplasma para o núcleo (Correla�Correla�
combinação, mesmo sem seus domínios de ligação ao ções Clínicas 8.4 e 8.5).
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 339

CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.4 CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.5

O Tamoxifeno e o Receptor de Estrógeno Fatores de Transcrição e Doença


Como Alvo Cardiovascular

O tamoxifeno, uma droga usada no tratamento do Entre os genes recentemente identificados como
câncer de mama, é um inibidor competitivo do recep�recep�
recep� causadores de doença cardiovascular humana es�
tor de estrógeno (ER). As células do câncer de mama tão dois que codificam fatores de transcrição. Um,
respondem ao estrógeno normal com aumento na sua Nkx2�5, é uma proteína contendo homeodomínio.
taxa de proliferação. O estrógeno ativa o receptor de Proteínas homeodomínios frequentemente estão
estrógeno, enquanto o tamoxifeno impede a ativação envolvidas na regulação do destino celular em cé�
normal e reduz a transcrição dos genes regulados pelo lulas embrionárias, e Nkx2�5 regula genes envolvi�
receptor de estrógeno, reduzindo assim o crescimento dos na formação do coração. Mutações em um alelo
das células
Institute afirmou,
do câncer
em de
2004:
mama.
�Os Obenefícios
NationaldeCancer
tamo� de Nkx2�5 estão ligadas a defeitos átrio�septais e
defeitos de condução. A mutação nula (null) no ca�
xifeno no tratamento do câncer de mama estão bem mundongo é letal ao embrião. Mutações em outro
estabelecidos e superam de longe os riscos em poten� gene, Tbx, são responsáveis pela síndrome de Holt�
cial”. Entretanto, o tratamento com tamoxifeno pode �Oram. A síndrome de Holt�Oram frequentemente
aumentar o risco de câncer uterino. A causa aparente inclui defeitos átrio�septais (ASD), defeitos ventrí�
está na presença de dois subtipos de receptores de es� culo�septais (VSD), defeitos de condução e defeitos
trógeno (a e b). No tecido mamário existem ambos os no desenvolvimento de mãos e braços.
subtipos , mas o receptor de estrógeno�a predomina
no tecido uterino. No tecido uterino, tamoxifeno apa�
rentemente ativa o receptor�a, ao invés de inibi�lo. O Barigana, M. Tracking down mutations that can stop
resultado é o estímulo da transcrição, conjuntamente the heart. Science 128:32, 1998; Schott, J. J., Benson, D.
com os fatores de transcrição fos e jun. W., Basson, C. T., Pease, E. et al. Congenital heart disease
caused by mutations in the transcription factor NKX2�5.
Paech, K., Webb, P., Kuiper, G., Nilsson, S., Gustafsson, Science 281:108, 1998; e Li, Q. Y., Newbury�Ecob, R. A.,
J.�A., Kushner, P. J. e Scanlan, T. S. Differential ligand ac� Terrett, J. A., Wilson, D. I. et al. Holt�Oram syndrome is
tivation of estrogen receptors ERa and ERb at AP1 sites. caused by mutations in TBX5, a member of the Brachyury
Science 277:1508, 1997. (T) gene family. Nature Genetics 15:21, 1997.

Como os enhancers podem agir a longas distâncias os pesquisadores que estudam esse gene, mas é confu�
e em qualquer orientação, deve existir um modo que ga� sa para a maioria dos outros. Entretanto, muitas carac�
ranta que eles atuem no gene correto. Isso é conseguido terísticas dos fatores de transcrição descritas aqui são
pelo uso de sequências isoladoras que estabelecem os ilustradas pelo controle transcripcional do gene do re�re�
limites de influência de um enhancer. Isoladores são ceptor de lipoproteína de baixa densidade (LDL). Esse
sequências de DNA que, quando ligadas � proteína dedo gene é transcrito em resposta � falta de colesterol ce�
de Zn CCTF (fator de ligação a CCCTF) e posicionadas lular. A transcrição aumentada leva a uma quantidade
entre um enhancer e o TATA box, impedem a ativação aumentada do receptor de LDL e � captação aumentada
gênica mediada pelo enhancer. Uma atividade adicio� de LDLs e de seu colesterol do sangue (p. 743).
nal dos isoladores é impedir a propagação da heterocro�
matina, o que levaria ao silenciamento de genes. O promotor do gene do receptor de LDL tem um
TATA box e sítios de ligação para uma variedade de
fatores de transcrição conhecidos (Figura 8.28). O
Ativação da Transcrição do Gene TATA box é o sítio de ligação de TFIID e de formação
do complexo de pré�iniciação com a RNA polimerase II.
do Receptor de LDL Ilustra Muitas Existem três sítios de consensos para ligação do fator
de transcrição Sp1 que contém dedo de zinco (lembre�
Características Encontradas na �se que Sp1 liga�se a GC boxes em promotores). Sp1
Regulação Gênica Eucariótica tem um domínio de ativação rico em glutamina, que se
acredita que ajude a recrutar TFIID para o TATA box.
A descrição da regulação da expressão de genes eu� Esse recrutamento requer um fator adicional, chamado
carióticos específicos pode rapidamente se transformar o cofator necessário � ativação de Sp1 (CRSP, cofactor
numa �sopa de letras” de fatores de transcrição e regu� required for Sp1 activation). Entretanto, a ligação de
ladores de fatores de transcrição, que faz sentido para Sp1 não é suficiente para ativar a transcrição do gene.
340 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

SER-1 cleo, deve ser clivado por duas etapas


CACCCCAC
TATA
proteolíticas, a primeira das quais rea�
Região codificadora do receptor LDL lizada por uma protease encontrada em
Sp1 Sp1 uma forma ativa em um compartimento
Repetição 1 2 3
pós�ER chamado cis�Golgi. O transpor�
Repetição 1 A A A C T C C T C CTCTT G C SRE-1 Consenso te de SREBP�1a para o cis�Golgi requer
Repetição 2 A A A AT CA CC C C AC T G C 5!–CACCGTCCAC–3!
a proteína ativadora da clivagem de
Repetição 3 A A A C T C C T C CC C C T G C SREBP (SREBP cleavage activating
TT
Sp1 Consenso A C T C C T C C T C G C
G T C A protein, SCAP),SCAP),, quequeque tambémtambémtambém ficaficafica par�par�par�
cialmente mergulhada na membrana do
ER. SCAP tem uma região sensível a co�
FIGURA 8.28Um esquema do promotor do gene do receptor de LDL. lesterol, e quando os níveis de colesterol
O promotor do gene do receptor de LDL, como a maioria dos genes eucarióticos, na membrana são baixos, o complexo
tem vários sítios de ligação para fatores de transcrição diferentes. Aqui estão mos� SCAP�SREBP�1a é transportado para o
trados os sítios principais envolvidos na regulação do gene do receptor de LDL
cis�Golgi, onde a proteólise de SREBP�1a
em resposta aos níveis de colesterol. Estes incluem o TATA box, imediatamente
� montante do ponto de início da transcrição, vários GC boxes (sítios de ligação ocorre, liberando o domínio citoplasmá�
tico, o fator de transcrição, para entrar
Sp1), e o elemento de resposta (SRE), onde SREBP se liga.
Modificado de Goldstein, J. L. e Brown, M. S. Regulation of the mevalonate path�path� no núcleo (Figura 8.29). Uma vez lá,
way. Nature 343:425, 1990. liga�se ao elemento de resposta a este�
roide (SRE) no promotor LDL e recruta
A ativação requer a participação de um segundo fator uma histona acetiltransferase chamada CBP e outras
de transcrição, a proteína 1a que se liga ao elemento proteínas para a área do promotor. Então, agindo jun�
responsivo a esterol (SREBP�1a, sterol responsive ele tamente com Sp1 e CRSP, o gene do receptor de LDL é
ment-binding protein 1a). SREBP�1a é uma proteína transcrito (Figura 8.30). Isso ilustra a natureza com�
hélice�alça�hélice�zíper de leucina que se liga ao ele� posta da regulação eucariótica de genes, na qual a
mento de resposta a esterol entre os sítios de ligação de ativação de fatores de transcrição, a coordenação de
Sp1 e o gene do receptor de LDL. múltiplos fatores de transcrição e o recrutamento de
enzimas de remodelamento da cromatina trabalham
A capacidade de responder � concentração de co� coordenadamente para regular a expressão gênica.
lesterol é controlada pela liberação de SREBP de um
estado ligado � membrana, que impede que seja trans�
portado para o núcleo. SREBP�1a contém dois domínios
que atravessam a membrana do retículo endoplasmáti�
co (ER), deixando os domínios capazes de funcionarem
como fatores de transcrição expostos ao citoplasma,
mas presos ao ER. Para que SREBP�1a se dirija ao nú�

(a) Colesterol suficiente (b) Baixo colesterol leva ao transporte de SREBP (c) Região N-terminal liberada de SREBP
mediado por SCAP para o cis-Golgi e o pode mover-se para o núcleo.
processamento que libera a região terminal de SREBP

Lúmen do ER Cis Golgi

SREBP Protease
Protease

SCAP
SCAP
SCAP

FIGURA 8.29 SREBP é liberado de um precursor ligado à membrana pela ação de protease.
(a) A proteína de ligação ao elemento de resposta a esterol colesterol e move�se, com SREBP, para o cis�Golgi, onde duas
(SREBP) é sintetizada como uma proteína precursora que deve proteases diferentes clivam SREBP, (c) permitindo que o do�
ser processada proteoliticamente antes de atuar como fator de mínio citoplasmático se dirija ao núcleo. Dessa forma, SREBP
transcrição. O precursor fica preso � membrana do ER por duas não ativa o gene do receptor de LDL, a menos que os níveis de
regiões que atravessam a membrana. Fica firmemente associado colesterol estejam baixos.
com a proteína ativadora da clivagem de SREBP (SCAP), mas Adaptado de Brown, M. S., Ye, J., Rawson, R. B. e Goldstein, J.
permanece não�processado quando os níveis de colesterol na L. Regulated intermembrane proteolysis: A control mechanism
membrana do ER são normais. (b) SCAP sente níveis baixos de conserved from bacteria to humans. Cell 100:391, 2000.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 341

igualmente poderoso da expressão gênica.


A modulação da estrutura da cromatina via
CRSP
modificação de histonas, remodelamento
de nucleossomos ou modificação do DNA
?
? via metilação podem todos ser vistos como
CBP regulação da expressão gênica sequência�
130 TAFs Complexo core
P �independente. A regulação sequência�in�
B da RNA Pol II
E TBP
S
R Sp1 dependente da expressão gênica é frequen�
SRE GC TATA Inr temente chamada epigenética (Correlação
Clínica 8.6).
FIGURA 8.30 O gene do receptor de LDL é ativado pelo efeito
coordenado de vários fatores de transcrição.
Muitas modificações pós�tradução foram
A ativação do gene do receptor de LDL requer vários fatores. Uma vez que identificadas em histonas. Lisinas podem ser
SREBP, Sp1 e o cofator necessário para a ativação de Sp1 (CRSP) liguem, a acetiladas, metiladas (mono�, di� e trimetila�
histona acetiltransferase CBP é recrutada para a região do promotor. Essa com� das), ubiquitinadas e sumoiladas. Argininas
binação de fatores fornece o sinal positivo necessário para aumentar a ligação podem ser metiladas (mono� ou dimetila�
do complexo de iniciação ao TATA box e, por recrutamento de CBP, com sua das) ou deiminadas (formando citrulina),
atividade de histona acetiltransferase, também afeta a estrutura da cromatina serina e treonina podem ser fosforiladas,
vizinha.
glutamato pode ser ADP�ribosilado, e proli�
Modificado de Naar, A. M., Ryu, S. e Tijian, R. Cofactor requirements for trans�
na pode ser isomerizada. Mais de 60 enzimas
criptional activation by Sp1. Cold Spring Harbor Symp. Quant. Biol. 63:189,
1998. que adicionam ou removem modificações de
histonas foram identificadas, e algumas,
mas não todas as modificações, estão ligadas � ativação
Controle Epigenético da Expressão ou � repressão gênica. Modificações específicas podem
Gênica alterar a associação de histonas com o DNA, com ou�
tras histonas, com outros nucleossomos e com fatores
Os fatores de transcrição discutidos aqui regulam a de transcrição. Estão surgindo evidências de que RNAs
expressão gênica via interação com sequências especí� pequenos específicos participam da herança estável de
ficas do DNA. Entretanto, como citado anteriormente padrões de modificação de histonas, uma vez que o pa�
neste capítulo, o acesso ao DNA pode ser um regulador drão tenha se estabelecido.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.6

Tratamento de Câncer Usando Drogas Que Têm Como Alvo a Modificação de Histonas e de DNA: Terapia
Epigenética

Tanto a metilação do DNA como a modificação de mitirem que a acetilação das histonas seja mantida e a
histonas influenciam a expressão gênica. Por exemplo, estrutura da cromatina fique mais aberta. O inibidor de
a metilação do DNA está normalmente associada com HDAC vorinostat foi recentemente aprovado pelo FDA
uma redução na expressão gênica, e, em alguns tipos para tratamento de linfoma de células T cutâneo.
de cancer, a hipermetilação do DNA é encontrada na
região do promotor de genes supressores de tumor. A O uso desses inibidores, individualmente e como
metilação do DNA, mediada pela DNA metiltransfera� parte de tratamentos combinados com outras terapias
se (DNMT), pode ser inibida por 5�azacitidina e outros para o câncer, é muito promissor.
análogos de nucleotídeos. Vários desses compostos fo�
ram aprovados pelo FDA para o tratamento da síndro�
Gore, S. D. Combination therapy with DNA methyl�
me miodisplástica e de leucemia. Outros análogos de transferase inhibitors in hematologic malignancies. Na
nucleotídeos e análogos não�nucleotídeos que inibem ture Clinical Practice Oncology 2:S30, 2005; Lyko, F. e
DNMT estão sendo procurados. Brown, R. DNA methyltransferase and the development of
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Inibidores da histona deacetilase (HDAC) também 2005; e Schmidt, K. Lamarckism Revisited: Epigenetics
vêm sendo procurados, com o objetivo de reestimular and Its implications for Modern Health Care. Sequenom
a expressão dos genes supressores de tumor, por per� White Paper, 2007.
342 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

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CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 343

Termos Chaves
cromatina
correpressor
atenuação
acetilação epigenético histona promotor
fator de transcrição motivo de ligação ao DNA
metilação
indutor
nucleossomos região de ligação (linker)
fenda maior repressor
fenda menor RNA polimerase
dedo de zinco fosforilação sequência líder
elemento de
elementos decontrole
resposta hélice�alça�hélice operon transcrição
hélice�volta�hélice policistrônico zíper de leucina
enhancer

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha C. repressão.
1. Em um operon, D. autorregulação.
A. cada gene do operon é regulado independente� E. resposta estringente.
mente. 5. Várias sequências específicas foram encontradas
B. o controle pode ser exercido via indução ou via em muitas regiões de promotor e operador. A se�
repressão. quência que está muito estreitamente associada
C. operador e promotor podem ser trans aos ge� com a metilação do DNA é
nes que regulam. ilha CG.
D. os genes estruturais ou não são expressos ou CAAT box.
são totalmente expressos. TATA box.
E. o controle da expressão gênica consiste exclu� sítio CAP.
sivamente de indução e repressão.
CTD.
2. A região lacZYA de E. coli será regulada positiva� 6. Na transcrição eucariótica pela RNA polimerase II,
mente (up-regulated) se
a formação de um complexo de pré�iniciação
A. houver um defeito na ligação do indutor ao
A. começa com a ligação de uma proteína (TBP)
produto do gene lacI.
ao TATA box do promotor.
B. glicose e lactose estiverem ambas presentes,
B. envolve a adição ordenada de vários fatores de
mas a célula não puder ligar a proteína CAP.
transcrição e da RNA polimerase.
C. glicose e lactose estiverem ambas disponíveis
C. permite uma abertura dependente de ATP das
facilmente no meio de cultura.
duas fitas do DNA.
D. o operador estiver mutado de modo que não
D. requer que o domínio C�terminal da RNA poli�
mais ligue o repressor.
merase II não esteja fosforilado.
D. o correpressor lac não estiver presente.
E. todas as anteriores.
3. Todos os seguintes descrevem um operon, exceto
Questões 7 e 8: Como a iniciação da transcrição eu�
A. é um mecanismomecanismo dede controlecontrole parapara genesgenes euca�euca�
cariótica envolve a interação de múltiplos fatores de
rióticos. transcrição, deve haver uma regulação deles. O estró�
B. inclui genes estruturais. geno normalmente se liga a seu receptor nuclear e o
C. espera�se que codifique mRNA policistrônico. complexo se liga ao elemento de resposta a esterol para
regular a transcrição. O tamoxifeno, uma droga usada
D. contém sequênciasências dede controle,controle, comocomo umum ope�ope� para tratar câncer de mama, compete pelo receptor de
rador. estrógeno e reduz a transcrição dos genes que regula.
E. pode ter múltiplos promotores. Outro tipo de alteração é visto na síndrome de Holt�
�Oram, na qual ocorre uma mutação no gene de um
4. Em bactérias, a carência de aminoácidos está asso� fator de transcrição (Tbx), levando a defeitos na forma�
ciada com a produção de guanosina tetrafosfato e ção do coração.
guanosina pentafosfato. Essa situação é chamada
7. Elementos de resposta
A. atenuação.
A. são proteínas que se ligam � região do promo�
B. correpressão. tor.
344 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

B. são tanto mais efetivos quanto mais próximos C. todos os transposons têm aproximadamente o
estiverem do TATA box. mesmo tamanho.
C. podem estar a milhares de pares de bases de D. os pontos de inserção devem estar em uma se�
distância da montagem do complexo de pré� quência consenso.
�iniciação. E. a transposase pode reconhecer as extremida�
D. podem estar � montante ou � jusante do início des repetitivas do transposon e participar da
da transcrição. clivagem do local receptor.
E. ligam fatores de transcrição que interagem
Questões 11 e 12: Genes presentes em uma região do
com o complexo de iniciação somente após
DNA que está na forma de heterocromatina muito con�
formação de uma alça no DNA.
densada não podem ser transcritos. Para serem trans�
8. Fatores de transcrição são frequentemente proteí� critos, essa região do DNA deve mudar para uma estru�
nas que se ligam a sequências específicas e, muito tura mais aberta; isso pode ocorrer por acetilação de
provavelmente, têm um ou vários motivos estrutu� histonas por uma acetiltransferase como CBP, (proteí�
rais específicos. O motivo hélice�volta�hélice na de ligação a CREB, CREB Binding Protein). CREB
A. coordena zinco entre cisteínas e histidinas. é um fator de transcrição. A síndrome
índrome de Rubinstein�
�Taybi é causada por mutações no gene CBP. Pacientes
B. junta duas proteínas por interações hidrofóbi�
com Rubinstein�Taybi são mentalmente retardados e
cas entre leucinas.
têm outras anomalias de desenvolvimento, a gravidade
C. forma dímeros mantidos juntos por interação das quais depende da extensão da mutação.
de uma hélice de cada monômero.
11. Na cromatina,
D. tem uma hélice que reconhece e se liga � fenda
maior do DNA, enquanto interações hidrofó� A. um nucleossomo consiste de quatro moléculas
bicas com uma segunda hélice estabilizam a de histonas envolvendo um núcleo de DNA.
estrutura. B. o DNA posicionado de modo que as fendas
E. é o único motivo que se liga � fenda maior do maior e menor fiquem do lado de fora do nu�
DNA. cleossomo é mais acessível para a transcrição
do que com as fendas voltadas para o interior.
Questões 9 e 10: O problema de bactérias patogênicas C. o DNA deve ser completamente removido da
se tornarem resistentes a um grande número de antibi� estrutura do nucleossomo para a transcrição.
óticos é uma grande preocupação para a saúde pública.
D. o DNA de ligação (linker) é o único DNA ca�
Uma cepa bacteriana em um paciente que está sendo
paz de ligar fatores de transcrição.
tratado com um antibiótico pode subitamente ficar re�
sistente não só �quele antibiótico, mas também a outros, E. o octâmero de histonas consiste de oito tipos
embora não tenha sido exposta aos outros antibióticos. diferentes de proteínas histonas.
Isso ocorre quando a bactéria adquire um plasmídeo de 12. A acetilação de histonas pode levar a uma estrutu�
outra cepa que contém vários transposons diferentes. ra mais aberta do DNA por
9. Todas as frases seguintes descrevem transposons, A. enfraquecer a atração eletrostática entre as
exceto histonas e o DNA.
A. um modo de incorporação permanente de re� B. levar as histonas a interagirem com o domínio
sistência a antibióticos a um cromossomo bac� C�terminal (CTD) da RNA polimerase.
teriano. C. causar repulsão eletrostática entre as histonas
B. contêm sequências
ências repetidas terminais inver� e o DNA.
tidas curtas. D. facilitar a metilação do DNA.
C. codificam uma enzima que sintetiza guano� E. atrair fatores de transcrição para o DNA.
sina tetrafosfato e guanosina pentafosfato, o
que inibem mais transposição. Problemas
D. incluem pelo menos um gene que codifica uma 13. Qual será o estado de transcrição do operon lac em
transposase. (a) presença de glicose e (b) ausência de glicose,
E. contêm número variado de genes. em ambos os casos com lactose presente, se hou�
ver uma mutação que produz uma adenilato ciclase
10. Na operação de transposons
inativa?
A. tipicamente o transposon move�se de seu local
original e reposiciona�se em um local diferen� 14. Em um operon de síntese de um aminoácido que é
te. controlado, total ou parcialmente, por atenuação,
por que a presença do aminoácido impede a trans�
B. um transposon duplicado deve ser inserido na
crição do operon inteiro, enquanto a ausência do
mesma molécula de DNA do original.
aminoácido a permite?
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 345

Respostas
1. B Indução e repressão estão entre os mecanis� crição dos genes de rRNA e tRNA, desligando a
mos usados para controlar operons. A: os genes es� síntese de proteínas em geral. Esta é a resposta es�
truturais estão sob controle coordenado. C: o ope� tringente.
rador e o promotor são elementos da mesma fita
10. E Isso foi demonstrado para o transposon Tn3. A:
de DNA do operon que controlam, não difusíveis.
D: geralmente, a regulação de operadores permite a maioria das transposições envolve a geração de
uma cópia adicional do transposon, que é depois
certo grau de falha. E: outro mecanismo para regu�
inserido em algum outro lugar do DNA. B: a cópia
lação de um operon é a atenuação.
poderia ser inserida em uma molécula diferente de
2. D Se o operador for incapaz de se ligar ao repres� DNA. C: o comprimento varia consideravelmente,
sor, a velocidade de transcrição será maior do que dependendo do número de genes incorporados no
o nível basal. A: o produto do gene lacI é a proteína transposon. D: a maioria dos sítios�alvos parece ser
repressora. Quando essa proteína se liga ao indu� bastante aleatória em sua sequência,ência,, apesarapesarapesar dedede al�al�al�
tor, não mais se liga ao operador e a transcrição au� guns transposons tenderem a se inserirem em hot
menta. A incapacidade de se ligar ao indutor impe� -spots específicos.
de essa sequência. B e C: em presença de glicose,
11. B A montagem do complexo de iniciação da trans�
ocorre a repressão por catabólito. A glicose baixa
crição e outras proteínas envolvidas na expressão
o nível intracelular de cAMP, de modo que não há
gênica precisam ter acesso �s fendas do DNA. A
complexo CAP�cAMP para ativar a transcrição. E:
e E: o core ou cerne dos nucleossomos é um oc�
o operon lac não envolve correpressão.
tâmero de duas moléculas de cada uma de quatro
3. A Operons são mecanismos procarióticos. B, C e histonas diferentes. C: um deslocamento de cinco
D: um operon é a unidade regulatória completa de pares de bases na associação do DNA com o core
um conjunto de genes agrupados, incluindo os ge� de histonas é suficiente para mudar a orientação
nes estruturais, genes regulatórios e elementos de das fendas e permitir o acesso. D: parece que é o
controle, como o operador. E: um operon pode ter DNA associado com o nucleossomo que está envol�
mais de um promotor, como o operon triptofano de vido na ligação de fatores de transcrição e outras
E. coli. proteínas.
4. E O mecanismo não está esclarecido, mas a ini� 12. A A acetilação de um e�amino grupo de lisinas
ciação da transcrição do rRNA é inibida. próximo � extremidade N�terminal das histonas
5. A A metilação é na citosina. B: este é um sítio de muda uma carga positiva para uma espécie neutra,
ligação para vários fatores de transcrição. C: este é de modo que há menos atração pelos fosfatos ne�
o ponto ao qual se liga a RNA pol II. D: este é o sítio, gativos do DNA. B: as histonas não interagem di�
no operon lac, onde se liga a proteína ativadora de retamente com o CTD da RNA polimerase II. C: a
catabólito. E: isso significa o domínio C�terminal mudança é de positivo para neutro, não�negativo,
de uma proteína e não é uma sequência de DNA. de modo que não há repulsão eletrostática. D: a
metilação do DNA afeta a transcrição, mas é um
6. E A: TBP é parte do fator geral de transcrição fenômeno separado da acetilação de histonas. E: o
TFIID. B: muitas proteínas estão envolvidas. C: a nucleossomo sofre reposicionamento.
atividade de helicase está associada com um dos
fatores de transcrição (TFIIH). D: o CTD deve es� 13. Normalmente, a glicose baixa o nível intracelular
tar na forma não�fosforilada para que a RNA poli� de cAMP. Portanto, há pouco ou nenhum comple�
merase entre no complexo de pré�iniciação. xo CAP�cAMP para ativar a transcrição, de modo
que a transcrição do operon é baixa. A mesma si�
7. B São parte da região do promotor. A: são se� tuação existiria nessa mutação. Normalmente, na
quências de DNA, não proteínas. C, D, e E: são ca� ausência de glicose, cAMP éé alto,alto,alto, ooo controlecontrolecontrole posi�posi�posi�
racterísticas dos enhancers, que também são se� tivo é exercido, e o operon lac é transcrito. Nessa
quências de DNA, mas geralmente não fazem parte mutação, cAMP não pode se formar uma vez que a
do promotor. enzima que catalisa sua formação está defectiva.
8. D A volta tem apenas quatro aminoácidos, de Não há controle positivo, e o operon lac não será
modo que as duas hélices ficam bem próximas. A: transcrito eficientemente.
esse é o dedo de zinco. B: esse é chamado zíper de 14. Tais operons codificarão um peptídeo líder que tem
leucina (bZIP). C: isso é característico da hélice� um ou mais códons para o aminoácido em ques�
�alça�hélice. E: todos os motivos têm alguma parte
tão. Uma vez que o RNA do peptídeo líder tenha
que se liga � fenda maior.
sido sintetizado, pode formar diferentes estruturas
9. C Essas guanosina�fosfatos são sintetizadas pelo secundárias dependendo de o ribossomo parar ou
produto do gene relA; elas inibem o início da trans� não nessa região. Se o ribossomo não parar porque
346 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO

nal
há aminoácido
tRNAde carregado),
terminaçãosuficiente
ae estrutura
a síntese
(e,para.
secundária é um si�
consequentemente,
Se o ribossomo regado, a estrutura secundária que se forma não
é reconhecida como um sinal de terminação e a
transcrição do operon continua.
parar em decorrência da insuficiência de tRNA car�
PARTE III CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 347
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

9
Proteínas II:
Relações
função
de Proteínas
emEstrutura-
Famílias

Richard M. Schultz
Professor Titular, Strich School of Medicine, Loyola University of Chicago

9.1
CONTEÚDO
9.2 INTRODUÇÃO,
MOLÉCULAS DE348
ANTICORPOS: A SUPERFAMÍ- CORRELAÇÕES CLÍNICAS
9.1 As Proteínas do Complemento, 351
9.2 Funções de Diferentes Classes de Anticorpos, 352
LIA DE PROTEÍNAS IMUNOGLOBULINAS, 349
9.3 Imunização, 353
9.3 PROTEÍNAS COM UM MECANISMO CATALÍTICO
9.4 Formação de Fibrina em um Infarto do Miocár
COMUM: SERINO PROTEASES, 357
dio e Uso de Ativador de Plasminogênio Tecidual
9.4
9.5 HEMOGLOBINA
O
381
COMPLEXO PROTEICO
E MIOGLOBINA,
DA LÂMINA
367 BASAL, Recombinante (rt-PA), 358
9.5 Envolvimento de Serino Proteases em Metástase
de Células Tumorais, 360
9.6 Hemoglobinopatias, 368

Conceitos Chaves
IMUNOGLOBULINAS pervariável que se liga ao antígeno, alvo específico
• As moléculas de imunoglobulinas contêm sequên- para aquele anticorpo.
cias
dobras
pesadas (H) da estrutura
homólogas
de imunoglobulinas
repetidas básica
que
nasproduzem
cadeias
de quatro
leves
múltiplas
polipep-
(L) e • A dobra de imunoglobulina é uma superdobra, que
aparece em uma ampla variedade de moléculas
com sequência e função não-homóloga.
tídeos (LH)2.
• As dobras de imunoglobulinas de diferentes ca
• Os
anticorpos.
mover
ção domínios
é ligar
a polimerização
o antígeno,
N-terminaisemdas
ativarclasses
o complemento
cadeias
específicas
L e eHpro-
(os
de SERINO PROTEASES
deias associam-se para formar domínios cuja fun
• As serino proteases são definidas por um mecanis
mo catalítico comum com resíduos de aminoácidos
essenciais catalíticos idênticos.
• As serino proteases tipo-tripsina têm duas dobras
domínios VL–VH) possuem uma região de alça hi- em b-barril, compreendendo a unidade catalítica
348 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

com os resíduos do sítio catalítico na fenda inter um sítio heme para outros sítios heme na estrutura
domínio. Por evolução convergente, outras famílias quaternária.
de serino proteases evoluíram com uma estrutura
• Prótons e moléculas de 2,3-bisfosfoglicerato que se
terciária não-homóloga, mas com um mecanismo
dissociam da hemoglobina à medida que ela muda
catalítico idêntico ao das proteases na família tipo da conformação desoxi- para a oxi-regulam o equi
-tripsina.
líbrio da associação-dissociação de oxigênio por
• AA expecificidadeexpecificidade dede substratosubstrato parapara diferentesdiferentes subs-subs meio de alterações em suas concentrações.
tratos fisiológicos entre as proteases da família da
• A hemoglobina sequestra NO para entregar para a
tripsina é determinada pelas regiões de alça das
parede do capilar na conversão para a conforma
estruturas em dobras, que permite interações de
ção desoxi.
sítio secundário com os substratos polipeptídicos.
ESTRUTURA DA LÂMINA BASAL
• Proteases catalizam reações pela estabilização da
estrutura tetraédica e oxiânion do estado de tran • A lâmina basal é um complexo estrutural extra
sição hidrolítico. celular molecularmente organizado, composto de
As serino proteases são geralmente sintetizadas múltiplas subunidades proteicas, com um núcleo in

terativo que consiste de colágeno tipo IV, laminina,
como zimogênios, ativadas por uma protease a
nidogênio/entactina e heparam sulfato perlecam.
montante em uma cascata de enzimas, e inibidas
por inibidores proteicos conhecidos como serpinas. • As proteínas da lâmina basal estão presentes em
diferentes isoformas, e as isoformas expressas em
HEMOGLOBINA E MIOGLOBINA um tecido em particular são características do te
• As cadeias da hemoglobina e da mioglobina têm es cido que sintetiza sua membrana basal associada.
truturas dobradas idênticas. Laminina e colágeno tipo IV se autopolimerizam,

• Um grupo prostético heme é parte do sítio de liga formando redes moleculares definidas, com sítios
ção de O2 nas cadeias de globinas da hemoglobina de ligação para coproteínas e para proteínas recep
e da mioglobina. toras celulares.
• A hemoglobina tem uma estrutura quaternária • A laminina da lâmina basal fica interconectada
com quatro unidades heme que ligam oxigênio com o citoesqueleto intracelular das células vi
com cooperatividade positiva por meio de mudan zinhas nos sítios receptores de adesão focal das
ças conformacionais na subunidade transferida de membranas plasmáticas celulares.

As hemoglobinas oferecem exemplos de proteínas


9.1 INTRODUÇÃO
muito bem afinadas, que simultaneamente executam
Os fundamentos da arquitetura de proteínas foram múltiplas funções fisiológicas muito controladas. Elas
apresentados no Capítulo 3. Este capítulo discute as podem acomodar pequenas substituições ou mutações,
relações entre estrutura e função em três famílias de muitas das quais com implicações clínicas, e ainda man
proteínas: imunoglobulinas, serino proteases e hemo ter suas funções fisiológicas. Revelam a diversidade de
globinas, pelo exame da sequência de aminoácidos, da substituições na sequência de aminoácidos que podem
organização estrutural e da função biológica. A orga ser estruturalmente toleradas e permitir que a proteína
nização das proteínas que formam a membrana basal funcione. A hemoglobina demonstra, em nível atômico,
da matriz extracelular que circunda células e tecidos como uma proteína desempenha múltiplas funções fi
também é descrita. siológicas de forma regulada.
As imunoglobulinas são exemplos de arquitetura A membrana basal é um complexo proteico extra
em multidomínios, que permite reconhecimento e liga celular formado por proteínas secretadas por células
ção com moléculas exógenas e leva ao seu sequestro. A que se ligam entre si para formar uma rede molecular
diversidade entre os membros da família é a fonte do no espaço extracelular, que estabelece os limites e o
reconhecimento específico das capacidades de ligação ambiente regulatório das células e dos tecidos. Fornece
molecular e individual. um exemplo de uma rede complexa composta por múlti
plas subunidades proteicas diferentes, que espontanea
As serino proteases constituem exemplos de en mente se associam em um arranjo molecular específico.
zimas que parecem ter divergido por evolução para
Tais redes proteicas permitem funções essenciais intra
executarem funções fisiológicas singulares, frequen celulares, bem como extracelulares.
temente em cascatas enzimáticas muito organizadas.
Similaridades em seus mecanismos catalíticos e estru
turas tridimensionais são pontos comuns.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 349

9.2 MOLÉCULAS DE comum de imunoglobulinas, IgG, as cadeias H contêm


aproximadamente 440 aminoácidos (50 kDa). As ca
ANTICORPOS: deias L contêm cerca de 220 aminoácidos (25 kDa). As
quatro cadeias são covalentemente interconectadas por
A SUPERFAMÍLIA pontes dissulfeto (Figuras 9.1 e 9.2). Cada cadeia H é
DE PROTEÍNAS associada a uma cadeia L, de modo que as extremida
des NH2-terminais de ambas as cadeias ficam próximas
IMUNOGLOBULINAS uma da outra. A cadeia L tem a metade do tamanho da
cadeia H e só a metade NH2-terminal da cadeia H é as
As moléculas de anticorpos são produzidas por lin
sociada com a cadeia L.
fócitos, em resposta a compostos estranhos, que podem
ser proteínas, polímeros complexos de carboidratos, ou
ácidos nucleicos. Elas se associam não-covalentemente
com os compostos estranhos presentes na capa proteica Regiões variáveis (V)
de vírus invasores e células bacterianas, iniciando um NH2 NH2
processo pelo qual o organismo invasor é eliminado. As NH2 NH2
VH VH
moléculas que induzem a produção de anticorpos são
chamadas antígenos e podem conter múltiplos deter
VL VL
minantes antigênicos ou epitopos, pequenas regiões da CH1 CH1
molécula de antígeno que induzem a produção de um
Cadeia
anticorpo específico ao qual o antígeno se liga. Em pro leve
CL CL
S S SS
teínas, por exemplo, um determinante antigênico pode C S S C
O O
compreender apenas seis ou sete resíduos de aminoáci O S S O
H H
dos, e uma única proteína pode conter muitos determi CH2 CH2

nantes antigênicos.
Cadeia
Regiões
Um hapteno é uma molécula pequena que não é pesada constantes (C)
capaz, sozinha, de induzir a produção de anticorpos CH3 CH

específicos, mas quando covalentemente ligada a uma


C C 3
molécula maior, age como um determinante antigênico O O
O O
e induz a síntese de anticorpo. Embora os haptenos pre H H

cisem estar ligados a uma molécula maior para induzi


FIGURA 9.1 Representação linear de molécula de
rem a síntese de anticorpo, em seu estado livre ligam-se
anticorpo IgG.
fortemente ao anticorpo. Duas cadeias pesadas (H) e duas cadeias leves (L) são coorien
tadas paralelamente uma em relação à outra. Pontes dissulfeto
Cada ser humano pode, potencialmente, produzir
intercadeias ligam cadeias H entre si, e ligam cadeias L com
cerca de 1 × 108 diferentes estruturas de anticorpos. cadeias H. As repetições de dobra Ig na região constante (C)
Todos os anticorpos, entretanto, têm estruturas gerais da cadeia H são CH1, CH2 e CH3. A região constante da cadeia
semelhantes. Isso foi determinado a partir de estudos L é designada por CL, e as regiões variáveis (V) são VH e VL das
de suas sequências de aminoácidos e de difração de cadeias H e L, respectivamente.
raios-X da molécula de anticorpo sozinha ou em com Baseado em figura de Burton, D. R. Em Calabi, F. e Neuberger,
plexo com o antígeno. Os estudos estruturais requerem M. S. (Eds), Molecular genetics of Immunoglobulin. Amster
preparações homogêneas puras de proteínas. Os anti dam: Elsevier, 1978,1.
corpos são extremamente difíceis de purificar a partir Nas outras classes de imunoglobulinas (Tabela 9.1),
do plasma, em virtude da presença de milhares de mo as cadeias H são um pouco mais longas do que na classe
léculas diferentes de anticorpos. Anticorpos homogêne
IgG. Uma quantidade variável de carboidratos (2–12%,
os podem ser obtidos, porém, pela técnica de hibridoma
dependendo da classe) é ligada à cadeia H.
monoclonal, na qual células de mieloma de camundongo
são fundidas com linfócitos B de camundongo, produto Regiões Constantes e Variáveis da
res de anticorpos, para construir células de hibridoma
imortalizadas, que expressam um único anticorpo.
Estrutura Primária
Comparação de sequências de aminoácidos de molé
culas de anticorpos induzidos por antígenos diferentes
Moléculas de Anticorpos Contêm mostram regiões com homologia de sequência e outras
Quatro Cadeias Polipeptídicas com variabilidade de sequência. Em particular, sequên
cias da metade NH2-terminal das cadeias L e a quarta
As moléculas de anticorpo são glicoproteínas com parte NH2-terminal das cadeias H são muito variáveis.
postas por duas cadeias leves (L), de sequências idên Estas são as regiões variáveis (V) designadas VH e VL
ticas, combinadas com duas cadeias pesadas (H) idên das cadeias H e L, respectivamente. Nessas regiões V,
ticas, para formar a estrutura (LH)2. Na classe mais certas subregiões são hipervariáveis. Três regiões hi
350 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

NH2 – terminal sítio de ligação ao antígeno tridimen


sional, complementar à topologia do
doligação
antígeno VL VL antígeno.
Sítio de Sítio de
Cadeia
ligação
leve
do antígeno Diferentemente, os três quartos
CL COOH-terminais das cadeias H e a
CL
metade COOH-terminal das cadeias
S S L são homólogos em sequência com
VH S S VH
outras cadeias H e L da mesma clas
SS S
S S S se. Essas regiões constantes (C) são
Cadeia S S designadas por CH e CL nas cadeia H
pesada
CH1 CH 1 e L, respectivamente.
Papaína quebra As regiões CH determinam a clas
S S
Região de articulação
Papaína quebra S S se do anticorpo, possibilitam a liga
ção de proteínas do complemento
(Correlação Clínica 9.1) e contêm o
sítio necessário para que anticorpos
atravessem a membrana placentária.
CH2 S S S S CH As regiões V determinam a especifi
Região
variável cidade a antígeno do anticorpo.
Região
constante

Região Imunoglobulinas de
determinante de
complementariedade uma Classe Contêm
3 S S S S 2
CH CH3
Regiões CH Homólogas
As diferenças em sequência das
regiões CH entre classes de imuno
globulinas determinam as caracte
COOHCOOH terminal
rísticas de cada classe. Em algumas
FIGURA 9.2 Estrutura diagramática de IgG. classes, a sequência CH promove
As cadeias leves (L) são divididas em dobras Ig VL (sequência variável de aminoácidos) polimerização de moléculas com a
e CL (sequência constante de aminoácidos). As cadeias pesadas (H) são divididas em estrutura básica (LH)2. Assim, anti
VH e CH1, CH2 e CH3. Os sítios de ligação de antígeno são VH–VL. Os polipeptídeos de corpos da classe IgA estão frequen
articulação (hinge) interconectam domínios. As posições de ligações cistina inter e temente presentes como estruturas
intracadeia são mostradas. diméricas [(LH)2]2. Do mesmo modo,
De Cantor, C. R. e Schimmel, P. R. Biophysical Chemistry. Parte I. San Francisco:
moléculas de IgM são comumente
Freeman, 1980. Reproduzido com permissão de Sr. Irving Geis, New York.
pentâmeros [(LH)2]5. As diferentes
pervariáveis de cinco a sete resíduos em VL e três ou cadeias H, que são identificadas por suas sequências
quatro regiões hipervariáveis, de seis a 17 resíduos, no homólogas de aminoácidos, são designadas por g, a, d,
domínio VH são comuns. Essas são as regiões determi- e e m, e ocorrem nas classes IgG, IgA, IgM, IgD e IgE,
nantes da complementaridade (CDRs), que formam o respectivamente (Tabela 9.1; Correlação Clínica 9.2).

TABELA 9.1 Classes de Imunoglobulinas


Concentração no
Classes de Massa Molecular Carboidrato por
Imunoglobulina Aproximada Isotipo de Cadeia H Peso (%) (mg 100mL
Soro –1)

IgG 150.000 g, 53.000 2–3 600–1.800


IgA 170.000–720.000a a, 64.000 7–12 90–420

IgD 160.000 d, 58.000 0,3–40


IgE 190.000 e, 75.000 10–12 0,01–0,10
IgM 950.000 a m, 70.000 10–12 50–190
aFormas de estruturas do polímero de unidade estrutural básica.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 351

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.1

As Proteínas do Complemento

O sistema do complemento consiste de pelo menos IgG ou IgM Clq, Clr, Cls Cla C2, C4
30 proteínas do complemento distintas no plasma (ver C4b• C2aC3
p. 1006 para suas designações). Essas proteínas par C4b • C2a • C3b C5, C6, C7, C8, C9
ticipam de uma cascata bioquímica que atua na eli lise
minação de patógenos e materiais estranhos de um
organismo. Três vias distintas (vias clássica, da lecti (A linha acima designa protease ativa). Além disso,
na e alternativa, ver figura) utilizam diferentes sinais a membrana da célula alvo ligada a C5b tem atividade
iniciais para ativar o sistema do complemento. As três de opsonização e imuno aderência, promovendo a des
vias convergem no fator C3 para formar os fragmentos truição da célula alvo por células fagocíticas. O produto
de proteína C3a e C3b, que promovem os eventos de C5a com C3a contribui para a inflamação.
ativação.
A via alternativa pode ser ativada por polissacarí
Muitas das proteínas do complemento são precurso deos de microrganismos invasores, na ausência de um
resinativos ou zimogênios de enzimas serino proteases. anticorpo específico, ou por agregados de IgA. A via al
Na ativação, elas ativam a proteína seguinte da via pela ternativa envolve properdina e fator D. O fator D cliva
clivagem de uma ligação peptídica específica na proteí proteolicamente B em produtos Ba e Bb, que na super
na substrato, fazendo que se torne uma serino protease fície da célula alvo se ligam ao C3, e C3 nesse comple
ativa. A ativação por hidrólise de uma ligação peptídica xo hidrolisa autocataliticamente uma ligação peptídica
específica é um método importante para a ativação de para produzir C3a e C3b. C3b combina-se com Bb para
proteases extracelulares. Por exemplo, as enzimas seri produzir uma C3 convertase, diferente da convertase
no proteases que catalisam a formação do coágulo san formada na via clássica, que age mais sobre moléculas
guíneo, a fibrinólise de coágulos de sangue e a digestão de C3 no sangue para produzir quantidades aumenta
de proteínas da dieta no intestino são ativadas princi das de C3a e C3b (ver figura, via 3).
palmente por proteases específicas a montante (p. 1007
A via da lectina é ativada pela opsonina, uma lectina
e 1057). Essas vias de ativações sucessivas de protease
que liga manose (MBL), que se liga a polissacarídeos de
constituem cascatas nas quais ocorre amplificação do
manose na suprefície do microrganismo invasor. A MBL
eventos desencadeante.
da superfície celular então se liga às serino proteases
A via clássica é iniciada pela ligação dos anticorpos MBL-associadas MASP-1 e MASP-2. Esse complexo é
IgG ou IgM a antígenos na superfície externa de células semelhante ao complexo C1 da via clássica e cliva C4 no
bacterianas invasoras, protozoários ou células tumo complexo C2—C4 para produzir C4b, que converte C3
rais. Na ligação a um antígeno celular, o sítio de ligação em C3a e C3b (figura, via 2).
de complemento da região Fc do anticorpo é exposta,
Proteases extrínsicas liberadas de leucócitos ou ati
como resultado de uma mudança conformacional. Isso
vadas por outras vias também podem ativar o sistema
permite a ligação das proteínas C1 do complemento ao
complemento independentemente dos complexos con
anticorpo ligado à superfície celular. O complexo C1 é
vertases (figura, via 4).
composto pelas proteínas C1q, C1r e C1s. As proteínas
C1r e C1s do complexo sofrem uma mudança confor Anormalidades no sistema do complemento po
macional e tornam-se enzimas serino proteases ativas dem resultar em doenças inflamatórias, infecções
na superfície celular. O complexo C1 ativado (C1a) hi por patógenos recorrentes, doenças autoimunes in
drolisa uma ligação peptídica em C2 e C4, e então se cluindo artrite reumatoide, lesão glomerular e doen
associa também com a superfície celular. O complexo ças oculares como uveíte e degeneração macular. O
agora proteoliticamente ativo C2a—C4b é a convertase complemento desempenha um papel na isquemia e
C3 da via clássica (figura, complexo 5) e hidrolisa uma em doenças cardiovasculares, e no transplante de ór
ligação peptídica em C3 para produzir os produtos C3a gãos e de tecidos.
e C3b. C3a é uma anafilatoxina que causa a ativação
de plaquetas e neutrófilos, degranulação de mastócitos
Markiewski, M. M. e Lambris, J. D. The role of comple
e aumento da permeabilidade vascular para facilitar o
ment in inflammatory diseases from behind the scenes into
recrutamento de células inflamatórias. C3b liga-se à su spotlight. Am. J. Pathology 171:715, 2007; Okroj, M., Hei
perfície da célula alvo e o complexo C2—C4—C3b ati negård, D., Holmdahl, R e Blom, A. M. Rheumatoid arthritis
vado hidrolisa proteoliticamente C5 para produzir C5a and the complement system. Ann. Med. 39:517, 2007; e Zip
e C5b. C5b ativada associa-se com C6, C7, C8 e múlti -fel, P. F., Mihlan, M. e Skerka, C. The alternative pathway of
plas moléculas de C9, que se ligam à superfície celular complement: a pattern recognition system. Adv. Exp. Med.
bacteriana e iniciam a lise da membrana. Biol. 598:80, 2007.
352 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CLÁSSICA (1) LECTINA (2) ALTERNATIVA (3)

Iniciada pelo complexo atígeno-anticorpo Iniciada por estruturas de carboidratos Iniciada por estruturas estrangeiras da superfície celular
C1q se liga ao anticorpo associados ao petógeno: MBL/ficolinas. Ligados à superfície: C3/C3H2
B O→C3a +C3b
Proteases associadas com C1q: C1r e C1s Proteases associadas: MASP1, MASP2 →Ba +Bb

ação da
protease D
C4→ C4b+C2a
C4 C2→ C2a+ C2b
Properdina
C3b Bb
C2 (6)
C4b C2a C3 convertase

(5)
C3 convertase
Proteases extrínsicas (4):
C3 Elastase, Trombina,
C3a Calicreína

C3b+C4b,C2a
C5 convertase (7)
Lise de bactéria
(9)
C5a
C6, C7, C8, Complexo de
Inflamação C5b (C9)n ataque a membrana
C5
(8)

Vias da Ativação do Complemento. As três vias são a invasora (9). Esquema de cores: resultados, vermelho; ati
clássica (1), da lectina (2) e alternativa (3). Adicionalmen vadores, marrom; enzimas proteolíticas, laranja; substratos
te, proteases extrínsicas (4) podem ativar o sistema com proteicos inertes, azul.
plemento. A clássica C3 convertase (5) é gerada por ambas
as vias clássica e lectina, enquanto um complexo C3 conver
tase diferente (6) é formado na via alternativa. O produto
Redesenhado de Markiewski, M. M. e Lambris, J. D. Am.
C3b participa no complexo C5 convertase (7). Os resultados
J. Pathology 171:715, 2007.
das vias convertase são inflamação (8) e lise da bactéria

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.2

Funções de Diferentes Classes de Anticorpos

A classe IgA de imunoglobulinas é encontrada, pri IgM, os anticorpos IgG promovem fagocitose no plasma
mariamente, em secreções mucosas (brônquica, na e ativam complemento.
sal, e secreções mucosas intestinais, lágrimas, leite e
As funções biológicas normais das classes IgD e IgE
colostro). Eles são a defesa inicial contra a invasão de
patógenos virais e bacterianos, antes de sua entrada no não são conhecidas; contudo, IgE desempenha um pa
plasma ou outro espaço interno. pel importante em respostas alérgicas, como choque
anafilático, febre do feno e asma.
A classe IgM é encontrada somente no plasma. São
A deficiência de imunoglobulinas geralmente causa
os primeiros anticorpos induzidos em quantidades
susceptibilidade aumentada a infecções. Agamaglobu
significativas na exposição a um novo antígeno estra
linemia ligada ao X e imunodeficiência variável comum
nho. Eles promovem a fagocitose de microrganismos são exemplos. A doença mais comum é a deficiência se
por macrófagos e leucócitos polimorfonucleares, e letiva de IgA, que resulta em infecções recorrentes dos
também são potentes ativadores do complemento (ver seios da face e do trato respiratório.
Correlação Clínica 9.1). Eles ocorrem em muitas se
creções externas, mas em níveis menores do que os
de IgA. Cerutti, A., Qiao, X., e He, B. Plasmocytoid dendritic
cells and the regulation of immunoglobulin heavy chain
A classe IgG ocorre em alta concentração no plas class switching. Immunology and Cell Biol. 83:554, 2005;
ma. Sua síntese em resposta a antígenos estranhos de Rosen, F. S., Cooper, M. D. e Wedgewood, R. J. P. The pri
mora um período de tempo mais longo do que o de IgM. mary immunodeficiences. N. Engl. J. Med. 333:431, 1995;
Em concentração máxima, estão presentes em concen e Wines, B. D., e Hogarth, P. M. IgA receptors in health and
tração significativamente mais alta do que IgM. Como disease. Tissue Antigens 68:103, 2006.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 353

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.3

Imunização

Uma vacina para imunização consiste de células para a produção de anticorpos e aumentam as con
bacterianas mortas, vírus inativados, parasitas mor centrações iniciais de anticorpo antígeno-específico
tos, formas não-virulentas de bactérias vivas, toxinas produzidos. Essa é a base para a proteção fornecida
bacterianas desnaturadas ou proteínas recombinan por imunização.
tes. A introdução de uma vacina em um ser humano
leva à proteção contra uma forma virulenta de mi Vacinas introduzidas recentemente para adultos in
crorganismos ou agentes tóxicos que contêm o mes cluem a vacina pneumocóccica (para evitar pneumonia
mo antígeno. Antígenos em material não-virulento induzida por Diplococcus pneumoniae), vacina con
causam diferenciação de células linfoides, de modo tra hepatite B e vacina contra influenza. A composição
que produzam anticorpos contra o antígeno estranho, da última muda todo ano, para acompanhar as varia
e diferenciação de algumas células linfoides em célu ções antigênicas do vírus influenza.
las de memória. As células de memória não secretam
anticorpos, mas colocam anticorpos contra o antíge
no em sua superfície externa, onde atuam como fu Barouch, D. H. Challenges in the development of a HIV
turos sensores para o antígeno. Essas células de me 1 vaccine. Nature 455:613, 2008; Benkö, S., Magyarics, M.,
Szabó, A. e Rajnavölgyi, E. Dendritic cell subtypes as prima
mória são radares de longa duração para o antígeno ry targets of vaccines: The emerging role and cross-talk of
potencialmente virulento. Quando da reapresentação pattern recognition receptors. Biol. Chem. 389:469, 2008;
do antígeno, mais tarde, a ligação do antígeno com
Moscicki, A. HPV vaccines: Today and in the future. J. Ado
o anticorpo da superfície celular das células de me lescent Health 43:S26, 2008; Pejawar-Gaddy, S. e Finn, O. J.
mória estimula tais células a se dividirem em células Cancer vaccines: accomplishments and challenges. Critical
produtoras de anticorpos e novas células de memó Reviews in Oncology-Hematology 67:93, 2008; e Webby, R.
ria. Uma vez que ocorra a introdução de um antígeno, J. e Sandbulte, M. R. Influenza vaccines. Frontiers in Bios
as células de memória reduzem o tempo necessário cience 13:4912, 2008.

Dois tipos de sequências de cadeias L são sintetizados, Sequências Repetitivas e Domínios


designados por lambda (l) e kappa (k), cada uma das Homólogos Tridimensionais de um
quais é encontrada combinada com cada uma das cinco
Anticorpo
classes de cadeias H.
Dentro de cada cadeia de uma molécula de anticor
IgG é a principal imunoglobulina do plasma. A bios po há um padrão repetitivo de sequências de aminoáci
síntese de uma IgG específica em concentrações signifi
dos. Para a classe IgG, o padrão repetitivo contém apro
cativas leva cerca de 10 dias após a exposição a um novo
ximadamente 110 aminoácidos, em ambas as cadeias L
antígeno (Correlação Clínina 9.3). Anticorpos da classe
IgM são sintetizados mais rapidamente e são a primeira e H. Essa homologia está longe de ser exata, mas está
linha de defesa, até que grandes quantidades de IgG se claro que um certo número de aminoácidos coincide
exatamente no alinhamento desses segmentos. Outros
jam produzidas (Figura 9.3).
resíduos coincidentes na sequência têm cadeias laterais
não-polares ou polares semelhantes. A repetição ocor
o
re quatro vezes nas cadeias H, na região VH e em três
pr
o regiões CH (designadas CH1, CH2 e CH3) (Figuras 9.1 e
ict
n
a (escalog
IgG 9.2). A cadeia L contém uma região VL e uma CL. Cada
e
d repetição contém uma ponte dissulfeto intracadeia (Fi
o
ãç IgM gura 9.2).
ar
t )
n
ec
n
Cada segmento de 110 aminoácidos tem um arranjo
o similar de fitas-b antiparalelas conhecido como dobra
C
2 4 6 de imunoglobulina (Figura 9.4). A dobra consiste de
Semanas
Antígeno Antígeno
sete a nove fitas polipeptídicas em duas folhas-b anti
paralelas, alinhadas face a face. A associação de duas
FIGURA 9.3 Curva de tempo de resposta de anticorpo dobras de imunoglobulinas de diferentes cadeias for
específico IgM e IgG a antígeno adicionado. ma domínios globulares, VL—VH e CL—CH1, entre as
Baseado em uma figura de Stryer, L. Biochemistry. San Fran cadeias H e L e, na metade C-terminal das cadeias H
cisco: Freeman, 1988, 890. os domínios CH2—CH2 e CH3—CH3 (Figura 9.2). Uma
354 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

FIGURA 9.4 Dobra de imunoglobulina.


-b
(a)pregueada.
Diagrama esquemático
As setas indicam
de dobramento
fitas de folha-b,
de umedomínio
a CL, mostrando a estrutura em folha
barra (azul) mostra a posição da ligação
cistina. As setas rosa são fitas-b no plano acima, e as setas vermelho escuro são fitas-b no plano
abaixo. (b) Esquema diagramático do arranjo (topologia) das fitas-b no motivo de dobra de
imunoglobulina. Exemplos são as regiões variável (diagrama superior) e constante (diagra
ma inferior) de IgG. As setas grossas indicam fitas-b, e linhas finas as alças que conectam as
fitas-b. Os círculos indicam cisteínas que formam ponte dissulfeto intradomínio. Os quadrados
mostram posições de resíduos de tripto
fano que são componentes invariáveis do G D F E C B C A
131
núcleo da dobra de imunoglobulina. As
letras em negrito indicam fitas que for
mam um plano da folha, enquanto outras
letras formam o plano paralelo, atrás do 161
primeiro plano.
(a) Reproduzido com permissão de Ed 190
mundson, A. B., Ely, K. R., Abola, E. E., COO – 167
Schiffer, M. e Pavagiotopoulos, N. Bio
chemistry 14:3953, 1975. Copyright ©
193
(1975) American Chemical Society.
(b) Redesenhado de Calabi, F. Em: Ca
labi, F. e Neuberger, M. S. (Eds.), Mo 144
lecular Genetics of Immunoglobulin. N
203
Amersham: Elsevier, 1987, 203. (a) 116 (b)

região de articulação (hinge) interconecta os dois do (regiões determinantes complementares, CDRs) do an


mínios N-terminais VH—CH1 com o domínio CH2—CH2 tígeno (ver Figuras 9.6 e 9.7). As sequências das alças
das cadeias H. Portanto, a estrutura básicado do anti dos domínios hipervariáveis conferem uma conforma
corpo apresenta seis domínios, cada domínio formado ção tridimensional singular para cada anticorpo, o que
pela interação de duas dobras de imunoglobulina (Fi o torna específico para sua especificidade antigênica.
guras 9.2 e 9.5). Os domínios NH2-terminais VL—VH A ligação do antígeno aos domínios VL—VH pode in
contêm uma fenda rasa, no centro de um núcleo hidro duzir pequenas alterações conformacionais nos CDRs,
fóbico que liga o antígeno. O sítio de ligação da fenda induzindo alterações conformacionais funcionalmente
é composto primariamente de sequências hipervariá importantes entre os domínios VL—VH e os outros do
veis do domínio V que estão no interior de alças que se mínios da molécula do anticorpo, o que leva à ativação
aproximam, e são os sítios complementares de ligação de sítios efetores, tais como ligação do complemento ao
domínio CH2—CH2; ver sítio C1q na Figura 9.6.
A força de ligação entre o anticorpo e o antíge
no se deve a forças não-covalentes (p. 120). A
complementaridade das estruturas do determi
VH
CH nante antigênico e do sítio de ligação ao antíge
no resulta em constantes de equilíbrio de afi
nidade extremamente altas, entre 105 e 1010/M
(força de 30-60 kJ/mol ou 7–14 kcal/mol) para
essa associação não-covalente.

Existem Dois Sítios de Ligação


VL
CL
de Antígeno por Molécula de
Anticorpo
Existem dois domínios NH2-terminais
Região variável Região constante VL—VH na estrutura básica do anticorpo (LH)2.
A existência de um sítio de ligação de antígeno
FIGURA9.5 Estrutura do carbono a (O), um fragmento N-terminal
em cada par LH é demonstrada por tratamen
do IgG KOL, mostrando os domínios VL—VH e CL—CH1, cada domínio
to das moléculas de anticorpo com a enzima
formado por duas dobras de imunoglobulinas.
Redesenhado com permissão de Huber, R., Deisenhofer, J., Coleman, P. M., proteolítica papaína, que hidrolisa uma liga
Matsushima, M. e Palm, W. Em The Immune System, 27th Mosbach Collo
ção peptídica na região de articulação de cada
quium. Berlim: Springer-Verlag, 1976, 26. cadeia H (ver Figuras 9.2 e 9.8), liberando três
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES
52 ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 355

Fab 1 Fab 2 fragmentos da molécula do anticorpo. Dois são idênti


cos, cada um consistindo da metade NH2-terminal da
Sítio de Sítio de cadeia H (VH—CH1), associada com a cadeia L inteira.
ligação ligação Cada um desses fragmentos liga o antígeno com uma
do Ag do Ag
afinidade semelhante à da molécula intacta e é deno
SS
minado um Fab (antigen binding fragment, fragmento
de ligação ao antígeno). O outro fragmento é a metade
Tuftsina CHO C1q COOH-terminal das duas cadeias H (CH2—CH3)2 liga
das por cistina. Esse é o Fc (fragmento cristalizável),
Prot–A Prot–A
que não liga o antígeno.—CH1 correspondente no frag
mento Fab por redução das ligações de pontes dissulfe
to; isso elimina a ligação ao antígeno. Da mesma forma,
cada sítio de ligação ao antígeno deve ser formado por
Fc
componentes de ambos os domínios das cadeias L e H,
FIGURA 9.6 Modelo de uma molécula de anticorpo IgG. agindo juntos.
Somente os carbonos a da estrutura aparecem. As duas ca
deias L são representadas por esferas cinza claro e as cadeias As principais características da estrutura do anti
H, por esferas azuis. Os carboidratos ligados aos dois domí corpo e das interações anticorpo–antígeno são: (1) se
nios CH2 são coloridos em verde e laranja. As regiões CDR dos quências homólogas repetitivas nas cadeias leves (L)
domínios VH—VL são vermelho escuro, nas cadeias H, e rosa, geram duas dobras de imunoglobulinas e, nas cadeias
nas cadeias L. A ponte dissulfeto intercadeia, entre as cadeias pesadas (H) quatro pregas de imunoglobulinas. (2)
L e H, é representada em bola-bastão magenta (parcialmente As dobras de imunoglobulinas de cadeias separadas
escondida). O heptapeptídeo de articulação entre os domínios associam-se para formar os seis domínios da estrutu
CH1 e CH2 é vermelho escuro. O centro do sítio de ligação C1q ra básica da imunoglobulina. (3) O sítio de ligação ao
no domínio CH2 é amarelo, os sítios de aportamento de prote
antígeno é gerado por alças hipervariáveis (CDRs) em
ína A na junção de CH2 e CH3 são magenta, e o sítio de ligação cada domínio VL—VH, que formam uma superfície con
de tuftsina em CH2 é cinza. Tuftsina é um tetrapeptídeo natural
que induz fagocitose por macrófagos e pode ser transportado
tínua com uma topologia complementar ao determinan
ligado a uma imunoglobulina. Proteína A é uma proteína bacte te antigênico. (4) As fortes interações entre antígeno e
riana com uma alta afinidade por imunoglobulinas. CDRs do anticorpo são não-covalentes e incluem forças
Fotografia gentilmente cedida por Dr. Allen B. Edmundson, de de van der Waals, pontes de hidrogênio, interações hi
Guddat, L. W., Shan, L., Fan, Z. C. et al. FASEB J. 9:101, 1995. drofóbicas e, em menor escala, pontes salinas iônicas.
(5) Pequenas mudanças conformacionais ocorrem no
domínio VL—VH após ligação
do antígeno, indicando um
L2(49-53) ajuste induzido que induz
H3(96-100a) H1(26-33)
26 mudanças conformacionais
53 49 27 em domínios distantes do
96 28
52 anticorpo, que alteram a afi
51 50 98
99 32
nidade de ligação dos sítios
29
Regiões 31e 31 efetores nos domínios cons
97 30
hipervariáveis tantes, como para ligação
30 32
100a 52b da proteína C1q do comple
31 33 52a
91 mento ao domínio CH2—CH2
55
29 92 96 (Correlação Clínica 9.1).
VH VL 53
28 93 54
94 56
27
58 57
Genética das
CH1 CL L3(91-96) Imunoglobulinas
(a) (b) L1(27-32) H2(52-58)
A região V das cadeias
FIGURA 9.7 Alças hipervariáveis de imunoglobulinas. L e H são especificadas por
(a) Diagrama esquemático mostrando alças hipervariáveis (CDRs) em domínio VL, —VH que for genes diferentes dos genes
ma o sítio de ligação ao antígeno. (b) Um corte através de um sítio de ligação ao antígeno, mos que codificam a região C. Há
trando contribuição de diferente CDRs, usando modelos CPK de preenchimento de espaço dos quatro genes específicos que
átomos. Os números referem-se a números de resíduos de aminoácidos na sequência das regiões
codificam o segmento poli
de alça hipervariável de cadeias leves (L) e pesadas (H).
(a) Redesenhado de Branen, C. e Tooze, J. Introduction to Protein Structure. New York: Gar
peptídico CH1—CH2—CH3
land Publishing, 1991, 187. (b) Redesenhado de Branden, C. e Tooze, J. Introduction to Protein da cadeia H da classe de an
Structure. New York: Garland Publishing, 1991, 189, e atribuído a Chothia, C. e Lesk, A. J. Mol. ticorpos IgG. Eles são conhe
Biol. 196:914, 1987. cidos como genes gama (g),
356 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Sítio de reconhecimento
do antígeno 3+NH N

Peptídeo de + H3
VH articulação VH
(hinge) NH
VL VL + H3
NH3++ N
CH1 CH1 3
3+
H
N CH2 CH2
Peptídeo
conversão
de C CL VH VH
L papaína
(switch) Ponte de dissulfeto VL VL Fc
CH2CH2 +
CH1 CH1 CH3 CH3
Carboidrato CL CL Fab

CH3 CH3 –OOC COO–

–OOC COO–

FIGURA9.8 Hidrólise de IgG em dois fragmentos Fab e um Fc por papaína, uma enzima proteolítica.

isto é, g1, g2, g3 e g4, que dão origem aos isotipos de IgG lhantes e padrão de dobras estabilizado por uma liga
IgG1, IgG2,
quências dasIgG3
trêseproteínas Figura
IgG4. A dos genes-g.
9.9 apresenta as
Há homologiase ção cistina. Mais tarde, na evolução, mais duplicações
de gênicas levaram aos múltiplos genes (g1, g2, g3 e g4), que
95% na sequência de aminoácidos entre esses genes. codificam as regiões constantes das classes IgG.

É provável que um gene primordial codificasse


a sequência de uma única dobra de imunoglobuli
na com aproximadamente 110 aminoácidos, e que
eventos de duplicação gênica tenham resultado nas
três unidades repetitivas dentro do mesmo gene g H
de IgG. Mutações modificaram as sequências indi
viduais, de modo que não existe mais uma corres
pondência exata na sequência. Entretanto, todas as
dobras de imunoglobulina têm comprimentos seme

FIGURA 9.9 Sequência de aminoácidos das regiões


constantes de cadeias pesadas de genes de cadeia
pesada de IgG g1, g2 e g4.
São apresentadas as sequências de CH1, região de articula
ção H (hinge), regiões CH2 e CH3. A sequência de g1 está
completa,
ração comea são
sequência
mostradas
g1, usando
diferenças em g2 e g4deem
abreviações uma
compa
letra

dos aminoácidos. A linha tracejada (—) indica ausência de


um aminoácido na posição correspondente com g1, com a
finalidade de melhor alinhar as sequências para mostrar a
homologia máxima.
Sequência da cadeia g1 de Ellison, J. W., Berson, B. J. e
Hood, L. E. Nucleic Acid Res. 10:4071, 1982; e sequências
dos genes g2 e g4 de Ellison, J. e Hood, L. Proc. Natl. Acad.
Sci. U.S.A. 79:1984, 1982.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 357

Dobra de Imunoglobulinas É 9.3 PROTEÍNAS COM UM


Encontrada em uma Grande Família MECANISMO CATALÍTICO
de Proteínas com Diferentes Papeis COMUM: SERINO
Funcionais PROTEASES
A dobra de imunoglobulina está presente em mui Serino proteases são uma família de enzimas que
tas proteínas não-imunológicas, que desempenham usam um resíduo de serina ativado de modo singular no
funções muito diferentes. Com base em sua homologia sítio de ligação ao substrato, para hidrolisar catalitica
estrutural, elas são agrupadas em uma superfamília de mente ligações peptídicas. Essa serina é caracterizada
proteínas (Figura 9.10). As proteínas do complexo prin pela reação irreversível de seu grupo hidroxila de ca
cipal de histocompatibilidade da Classe I estão nessa deia lateral com diisopropilfluorofosfato (DFP) (Figu
superfamília; elas têm dobras de imunoglobulinas como ra 9.11). De todas as serinas da proteína, DFP reage só
as de moléculas de anticorpos, que consistem de duas com a serina cataliticamente ativa para formar um éster
folhas-b antiparalelas empilhadas, delimitando um es de fosfato.
paço interno, preenchido principalmente por aminoáci
dos hidrofóbicos. Duas cisteínas da estrutura formam
uma ponte dissulfeto que liga as folhas-b de frente uma Enzimas Proteolíticas São
para a outra. Os fatores de transcrição NF-kb e p53
também contêm um motivo em dobra de imunoglobuli Classificadas por seu Mecanismo
na. Pode-se especular que a duplicação gênica durante
Catalítico
a evolução tenha levado à distribuição do motivo estru
tural de dobra de imunoglobulina em proteínas funcio As enzimas proteolíticas são classificadas de acordo
nalmente diferentes. com seu mecanismo catalítico. Além das serino protea
ses, outras classes utilizam cisteína (cisteíno protea
ses), aspartato (aspartato proteases) ou íons metálicos
(metaloproteases) para realizar sua função catalítica.
Aquelas que hidrolisam ligações peptídicas no interior
de um polipeptídeo são endopeptidases, e aquelas que
quebram a ligação peptídica de aminoácidos COOH- ou
NH2-terminais são exopeptidases.
L H LH
ss ss
v ss
v v ss
v FIGURA9.10 Representação
ss ss
diagramática da estrutura em dobra
c c c c
ss ss de imunoglobulinas encontradas em
Hinge ss s
ss vss v v s s s diferentes proteínas da superfamília de
c ss c ? s s genes imunoglobulina.
c ssss c c ss cssssc c s
ss ss As proteínas apresentadas incluem cadeias
c ss
c s c
pesada e leve de imunoglobulinas, recep
tores de células-T, proteínas da Classe I e
da Classe II do complexo principal de his
Pesada Leve β α γ Classe I β2 – m β α tocompatibilidade (MHC), proteínas aces
(κ,λ)
sórias de células-T envolvidas em reconhe
Imunoglobulinas Receptores de células T MHC Classe I MHC Classe II
ss
cimento de MHC da Classe I (CD8) e da
? Classe II (CD4) e possível formação de ca
s
s
s s nais iônicos, um receptor responsável pelo
s s
s s sss transporte de certas classes de imunoglo
s
ss
bulinas através de membranas das mucosas
s s
s (poli-Ig), b2-microglobulina, que se associa
s
s s com moléculas da classe I, uma proteína
s s
s
v s
plasmática humana com função desconhe
s
s s s cida (a1/b-glicoproteína), duas moléculas
s s s
s s s v s ss v ss de função desconhecida com uma distribui
s s
s v
s ção tissular que inclui linfócitos e neurônios
s s s
cs ss
s s s (Thy-1, Ox-2) e duas moléculas cérebro
ss s s
-específicas, molécula de adesão neuronal
(N-CAM) e proteína 3 neurocitoplasmática
(NCP3).
Thy 1 Glicoproteína
α 1/β poly Ig NCP3 N-CAM OX-2 (L3T4)
CD4 CD8 T3ε T3δ Redesenhado de Hunkapiller, T. e Hood, L.
(Lyt2,3) Nature 323:15, 1986.
358 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CH
H3
H3C
HC C O O
P
F O CH3 H3
H3C O
+ Enzima Ser OH HCOPO
C C CH3
H

CH3

Enzima Ser

FIGURA9.11 Reação de diisopropilfluorofosfato (DFP) com a serina do sítio ativo em uma serino protease.

As serino proteases frequentemente ativam outras plos de proteólise limitada porque apenas uma ou duas
serino proteases a partir de sua forma precursora ina ligações peptídicas específicas, dentre as centenas da
tiva, chamada zimogênio, por clivagem de uma ligação proteína substrato, são hidrolisadas. Em condições de
peptídica específica. Esse mecanismo de ativação de desnaturação, contudo, essas mesmas proteases hidro
zimogênio permite às serino proteases participarem lisam múltiplas ligações peptídicas que levam à digestão
de processos fisiológicos cuidadosamente controlados de peptídeos, proteínas, e até a autodigestão (autólise).
como coagulação do sangue (Correlação Clínica 9.4), Acredita-se que várias doenças como enfisema, artrite,
fibrinólise, ativação do complemento (ver Correlação trombose, metástase no câncer (Correlação Clínica 9.5)
Clínica 9.1), fecundação e produção de hormônios (Ta e algumas formas de hemofilia resultem da falta de re
bela 9.2). As ativações de serino proteases são exem gulação de serino proteases específicas.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.4

Formação de Fibrina em um Infarto do Miocárdio e Uso de Ativador de Plasminogênio Tecidual Recombi


nante (rt-PA)

A coagulação do sangue resulta de um processo en Unidos, o que resulta em aproximadamente 500.000


zimático em cascata, no qual precursores inativos de mortes.
serino proteases (zimogênios) são ativados por outras
serino proteases, num processo passo a passo (a via Uma via fibrinolítica no plasma degrada os coágulos
da coagulação é descrita no Capítulo 22). Esses even de fibrina formados. A via contrária também utiliza seri
tos de ativação geram produtos catalíticos produzin no proteases ativadas a partir de zimogênios. A reação
do uma drástica amplificação do sinal inicial da via. final da via fibrinolítica é a formação de plasmina, uma
O produto final da via da coagulação é um coágulo de serino protease que age diretamente sobre a fibrina para
fibrina com ligações cruzadas. Os componentes zimo degradar o coágulo de fibrina. O ativador de plasmino
gênios incluem fator II (protrombina), fator VII (pró gênio tecidual (t-PA) é um ativador de plasminogênio
-convertina), fator IX (fator Christmas), fator X (fator (zimogênio da plasmina). O t-PA recombinante (rt-PA)
de Stuart), fator XI (antecedente da tromboplastina é produzido pela tecnologia de clonagem gênica (p. 274).
plasmática) e fator XII (fator de Hageman). A designa Estudos clínicos mostram que a administração de rt-PA
ção por numeral romano indica a ordem de sua desco logo após um infarto do miocárdio melhora significativa
berta, e não sua ordem de ação na via. Após a ativação, mente a recuperação. Ativadores de plasminogênio como
as enzimas são denotadas com o sufixo “a”. Assim, a uroquinase e estreptoquinase também são eficazes.
protrombina é denotada como fator II, e o fator trom Os investigadores do GUSTO (autores). An international
bina cataliticamente ativo como IIa. randomized trial comparing four thrombolytic strategies for
acute myocardial infartation. N. Engl. J. Med. 329:673, 1993;
A função principal da coagulação é manter a in Grotta, J. e Marler, J. Intravenous rt-PA: A tenth anniversa
tegridade do sistema circulatório fechado após lesão ry reflection. Surgical Neurology 68:S12, 2007; Khaja, A.
no vaso sanguíneo. O processo, entretanto, pode ser M. e Grotta, J. C. Established treatments for acute ischaemic
perigosamente ativado em um infarto do miocárdio, stroke. Lancet 369:319, 2007; e Simpson, D., Siddiqui, M. A.,
resultando em diminuição do fluxo sanguíneo para Scott, L. J. e Hilleman, D. E. Reteplase: A review of its use in
o músculo cardíaco. Cerca de 1,2 milhão de indiví the management of thrombotic occlusion disorders. Am. J.
duos sofrem ataques cardíacos por ano nos Estados Cardiovascular Drugs 6:265, 2006.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 359

TABELA 9.2 Algumas Serino Proteases e Suas Funções Bioquímicas e Fisiológicas


Doença Possível Decorrente
Protease Ação
de Deficiência ou Disfunção
Calicreína plasmática Coagulação (ver Correlação Infarto cerebral (AVC), infarto
Clínica 9.4) coronariano, trombose,
Fator XIIa doenças hemorrágicas
Fator XIa
Fator IXa
Fator VIIa
Fator Xa
Fator IIa (trombina)
Proteína C ativa

Fator C1r Complemento (ver Correlação Infecções por patógenos,


Clínica 9.1) inflamação, artrite
Fator C1s reumatoide, doença autoimune
Fator D
Fator B
C3 convertase

Tripsina Digestão Pancreatite, doenças


digestivas
Quimotripsina
Elastase (pancreática)
Enteropeptidase

Ativador de plasminogênio uroquinase Fibrinólise, migração celular, Doenças da coagulação,


embriogênese, menstruação metástase tumoral
Ativador de plasminogênio tipo tecidual (ver Correlação Clínica 9.5)
Plasmina

Calicreínas tissulares Ativação hormonal

Acrosina Fecundação Esterilidade

Subunidade a do fator de crescimento neuronal Ativação do fator de


crescimento
Subunidade g do fator de crescimento neuronal

Elastase de granulócito Proteína extracelular e Inflamação, reposta alérgica


degradação de peptídeos,
Catepsina G função de mastócitos
Quimases de mastócitos
Triptases de mastócitos
360 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.5

Envolvimento de Serino Proteases na Metástase de Células Tumorais

Acredita-se que o ativador de plasminogênio uroqui catalítica por uPA secretada pelas células tumorais ou
nase, uma serino protease, seja necessário para a me estromais no ambiente de células tumorais permite que
tástase de células de câncer. A metástase é o processo as células tumorais degradem as proteínas da matriz
pelo qual uma célula de câncer deixa um tumor primá extracelular e invadam, pela matriz, formando focos de
rio e migra, pelos sistemas sanguíneo ou linfático, para tumores secundários.
outro tecido ou órgão, onde um tumor secundário cres
ce. A síntese aumentada do ativador de plasminogênio
tipo uroquinase (uPA) tem sido correlacionada com a Annecke, K., Schmitt, M., Euler, U., Zerm, M., et al. uPA
capacidade aumentada de produzir metástases em mui and uPAI-1 in breast cancer: Review of their clinical utility
tos tipos de câncer. O uPA ativa o plasminogênio, for and current validation in the prospective NNBC-3 trial. Adv.
mando plasmina. O plasminogênio está ubiquamente Clinical Chemistry 45:31, 2008; Harbeck, N., Kates, R. E.,
Gauger, K., Willens, A., et al. Urokinase-type plasminogen
localizado no espaço extracelular e sua ativação a plas
mina pode causar degradação de proteínas na matriz activator (uPA) and its inhibitor PAI-1: novel tumor-derived
factors with a high prognostic and predictive impact in breast
extracelular, através da qual células tumorais metastá cancer. Thrombosis and Hemostasis 91:450, 2004; e Hilden
ticas migram. A plasmina também pode converter pró brand, R. e Schaaf, A. The urokinase-system in tumor tissue
-colagenase em colagenase, que promove a degradação cology
stroma 34:15,
of breast and breast cancer cell invasion. Int. J. On-
2009.
do colágeno da membrana basal que circunda os capi
lares e o sistema linfático. Essa promoção de atividade

Serino Proteases Apresentam Notável Como estes são significativamente menores do que os
Especificidade na Hidrólise de Ligações naturais, eles interagem apenas com o sítio catalítico (sí
tio primário de ligação S1) e são ditos sítio ativo-dirigi
Peptídicas
dos. Estudos com substratos pequenos e inibidores indi
Muitas serino proteases preferem hidrolisar ligações cam que o sítio de hidrólise em substratos polipeptídicos
peptídicas próximas a um tipo específico de aminoáci é flanqueado por aproximadamente quatro resíduos, em
do. Assim, a tripsina quebra preferencialmente no lado ambas as direções, que se ligam à enzima e interferem
carboxílico dos aminoácidos básicos arginina e lisina, na reatividade da ligação hidrolisada. Os dois resíduos
e a quimotripsina quebra no lado carboxílico de resí- do substrato que contribuem com a ligação a ser hidroli
duos de aminoácidos de cadeia lateral hidrofóbica gran sada são denominados por P1—P1!. Assim, nos substratos
de, como triptofano, fenilalanina, tirosina e leucina. A da tripsina, o resíduo P1 será lisina ou arginina, e nos
elastase quebra no lado carboxílico de resíduos hidro substratos da quimotripsina o resíduo P1 será um amino
fóbicos pequenos, como alanina. Uma serino protease ácido hidrofóbico. A interação do resíduo P1 com o sítio
é tipo-tripsina, tipo-quimotripsina ou tipo-elastase se S1 permite a interação primária entre o substrato e a en
tiver especificidade semelhante à das enzimas citadas. zima. Os outros resíduos de aminoácidos que interagem
A especificidade por um certo tipo de aminoácido só da proteína substrato são chamados P4—P2 e P!2—P!4 em
indica uma preferência relativa da enzima. A tripsina cada lado da ligação susceptível, respectivamente. As
também cliva ligações peptídicas em seguida a aminoá regiões complementares da enzima que se ligam a es
cidos hidrofóbicos, mas a uma velocidade muito menor ses resíduos do substrato são designadas por subsítios
do que para os aminoácidos básicos. Portanto, a espe S4—S4! (Figura 9.12). Essas são as interações secundá
cificidade de hidrólise de uma ligação peptídica pode rias com o substrato, fora de S1—S!1, que determinam, em
não ser absoluta, mas pode ser mais bem descrita como última análise, a especificidade de uma protease por um
uma faixa de alvos mais prováveis. Nem todos os sítios substrato proteico em particular. Assim, a serino prote
de hidrólise contendo aminoácidos idênticos numa pro ase da coagulação fator Xa só quebra em uma arginina
teína substrato são igualmente susceptíveis. A tripsina específica da protrombina, para produzir trombina. É a
hidrolisa cada uma das ligações peptídicas de arginina interação secundária que permite que o fator Xa reco
de uma proteína em particular com velocidades catalíti nheça a arginina específica que quebra na protrombina.
cas diferentes, e algumas podem requerer uma mudan As interações de P4—P!4 com os subsítios S4—S!4 são não
ça conformacional para ficarem acessíveis. -covalentes. O sítio de ligação estendido do substrato in
terage com o sítio de ligação da enzima para produzir
A especificidade de serino proteases por ligações uma estrutura em folha-b entre a enzima e o substrato, o
peptídicas específicas foi determinada com substratos que posiciona a ligação peptídica susceptível do substra
sintéticos, com menos de 10 aminoácidos (Tabela 9.3). to na posição S1—S1! (Figura 9.13).
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 361

TABELA 9.3 Reatividade de a-Quimotripsina e Elastase Sobre Substratos de Várias Estruturas


Estrutura Variação do Grupo
S1 de Cadeia Lateral do Sítio Reatividade
(Quimotripsina) Relativaa

Glicil H— 1
Leucil H3C
H3 CH CH2 1,6 × 104
Metionil CH3 C
—S—CH2—CH2— 2,4 × 104

Fenilalanil CH 2 4,3 × 106

Hexa-hidrofenilalaninil SCH 2 8,2 × 106

Tirosil HO CH 2 3,7 × 107

CH2

Triptofanil N 4,3 × 107

Variação no comprimento da cadeia (hidrólise de


elastase de amida com Ala N-terminal)b

Ac-Ala-NH2 1
Ac-Pro-Ala-NH2 1,4 × 101
Ac-Ala-Pro-Ala-NH2 4,2 × 103
Ac-Pro-Ala-Pro-Ala-NH2 4,4 × 105
Ac-Ala-Pro-Ala-Pro-Ala-NH2 2,7 × 105
aCalculado /Km em
bCalculado a partir de valores de kcat/K encontrados
Thompson,para C. e Blout, E. R. Biochemistry
R. N-acetilaminoácido metil ésteres
12:57,
em substratos
1973. de quimotripsina.

Serino Proteases São Sintetizadas zados em células do fígado e são secretados no sangue,
para subsequente ativação, após lesão vascular, por ou
como Zimogênios e em Proteínas tras serino proteases. Os zimogênios são geralmente de
signados pela adição do sufixo -ogênio ao nome da en
com Múltiplos Domínios zima; como no tripsinogênio e no quimotripsinogênio.
As serino proteases são sintetizadas como zimogê Em alguns casos, o zimogênio é chamado pró-enzima;
nios, que requerem proteólise limitada para produzir a por exemplo, o zimogênio da trombina é protrombina.
enzima ativa. Os zimogênios da coagulação são sinteti

FIGURA9.12 Diagrama esquemático de ligação de um


substrato polipeptídico com o sítio de ligação de uma
enzima proteolítica.
S´ 3 aos
P5—P!3
subsítios
são resíduos
S5 de aminoácidos do substrato que se ligam
Enzima C
S´2 —S!3 da enzima, com a hidrólise peptídica ocor
1 S´1 P´3
S5 S4 S3 S2 S P´2 rendo entre P1—P1! (seta). A direção NH2-terminal da cadeia
P´1 polipeptídica do substrato é indicada por N, e a direção COOH
P5 P4 P3 P2 P1
-terminal por C.
Substrato Redesenhado de Polgar, L. Em: A. Neuberger e Brocleburst
N
(Eds.), Hydrolytic Enzymes. Amsterdam, Elsevier, 1987, p. 174.
362 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Asp 189
− Ser 190
O
S2 S1
O Tyr 39
O S1 S2
H Gly 193 S3
Gln 175 S3 Ser 214 H + H
Ser 195
S5 N N – Phe 41 O
N
S4 O H
Gly 216 N
O H H O H
H H
Asn 97
N O H N
H O H
N H
H H N
O H N O
O Lys 318
O Tyr 320
OH P Asn 321
O H 1
P
2 P
H N 3
N Cys 316
Thr 310 N P
3
P9 Glu 312
Ser 314
P
7 P5

FIGURA9.13 Desenho esquemático de ligação do inibidor pancreático de tripsina a tripsina.


Região do sítio de ligação da tripsina (azul) mostrada em complexo dos quais somente a Lys318 está visível).
com região do inibidor pancreático de tripsina (marrom) que mo O diagrama é baseado em difração de raios-X do complexo do
dela a ligação de um polipeptídeo substrato. Linhas tracejadas são inibidor pancreático de tripsina com tripsinogênio. A região de
pontes de hidrogênio. O inibidor tem uma conformação estendida, ligação do tripsinogênio no complexo assume uma conformação
de modo que os aminoácidos P9, P7, P5, P3 e P1—P!3 interagem com como a da tripsina ativa ligada a uma proteína substrato.
os subsítios de ligação S5—S!3 da tripsina. A ligação potencialmente Redesenhado de Bolognest, M., Gatti, B., Menegatti, E., Guar
hidrolisável do inibidor está entre P1—P!1 (aminoácidos 318 e 319, neri, M., Papamokos, E. e Huber, R. J. Mol. Biol. 162:839, 1983.

Várias serino proteases plasmáticas têm


formas zimogênio que contêm múltiplos do
mínios não-semelhantes. A proteína C, en
volvida em uma via fibrinolítica do sangue,
tem quatro domínios distintos (Figura 9.14).
O domínio NH2-terminal contém o aminoá
cido derivado ácido g-carboxiglutâmico (Fi
gura 9.15), que é formado por carboxilação
de resíduos de ácido glutâmico, em uma
reação dependente de vitamina K (p. 1010
e 1017). Os g-carboxiglutamatos quelam
Ca2+ e formam parte de um sítio que se liga
às membranas celulares. A região COOH
-terminal contém os domínios catalíticos. A
ativação a partir da forma zimogênio requer
clivagem de ligação peptídica fora dos domí
nios catalíticos e é controlada pela ligação
da extremidade NH2-terminal contendo os
g-carboxiglutamatos por meio de íons cálcio
a um sítio da membrana.

Estruturas Terciárias dos FIGURA9.14 Esquema da estrutura em domínios da proteína C


ativada, mostrando estrutura em multidomínios.
Domínios Catalíticos de GLA refere-se aos resíduos do aminoácido derivado g-carboxiglutâmico, pre
sentes no domínio GLA NH2-terminal (vermelho) onde eles atuam na ligação
Serino Proteases São a íons de cálcio (bolas vermelhas). Os domínios tipo-EGF (azul) contêm
Semelhantes dobras presentes no fator de crescimento epidérmico, e os dois domínios ca
talíticos (amarelo) compreendem a enzima protease na extremidade COOH
Serino proteases tipo-tripsina contituem -terminal da proteína.
uma superfamília de proteínas com dois do Diagrama preparado pela combinação do domínio GLA da proteína C ativada
humana (PDB 1LQV) com a estrutura da proteína C ativada sem o domínio
mínios b-barril fechados distintos da mesma
GLA (PDB 1AUT). Referências das estruturas: Oganesyan, V. et al. J. Biol.
prega e de igual tamanho (Figura 9.16), os Chem. 277:24851, 2002; e Mather, T. et al. EMBO J. 15:6822, 1996. Struc
quais não penetram um no outro. Regiões de
ture generated using SPDBV, Guex, N., e Peitsch, M. C. Electrophoresis
alças se projetam das estruturas em barril, 18:2714, 1997.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 363

sendo quase que simetricamen TABELA 9.4 Estruturas de Serino Proteases Determinadas por Cristalografia de
uma
te
alças
dois
apresentadas
região
domínios
se combinam cada
para um
de superfície
por
dobrados. que
formar
Essas
dos
se Raios-X
EspéciedeOrigem InibidoresPresentes Resolução (Å)
Enzima

tura Quimotripsinaa Bovina Simb 1,67c


estende
catalítico,
similares
bulinas.
por para
Determinações
cristalografia
aos
e são
CDRs
fora,funcionalmente
acima
das de
imunoglo-
dedo
raios-X
estru-
sítio
Quimotripsinogênio Bovina Não 2,5
Elastase Suína Sim 2,5

foram feitas para muitos membros Calicreína Suína Sim 2,05


da família de proteínas serino pro
Proteinase A S. griseus Não 1,5
teases tipo-tripsina (Tabela 9.4),
incluindo formas enzimáticas ati Proteinase B S. griseus Sim 1,8
vas, zimogênios, a mesma enzima
Proteinase II Rato Não 1,9
em múltiplas espécies, complexos
ras
enzima-inibidor,
pecífica
e emem e uma
diferentes
diferentes
solventes.
temperatu-
enzima es- Tripsinaa Bovina Simb 1,4c
Tripsinogênioa Bovina Simb 1,65c
aA estrutura dessa molécula de enzima foi determinada independentemente por dois ou mais pes
quisadores.
bEstrutura obtida sem inibidor presente (estrutura nativa) e com inibidores. Os inibidores usados in
–OOC CHCOO– cluem inibidores de baixo peso molecular (i.e., benzamidina, DFP e tosil) e inibidores proteicos (i.e.,

CH2
CH
inibidor pancreático bovino de tripsina).
cMais alta resolução para essa molécula, das múltiplas determinações.

dimensionais e o número dos que são quimicamente


–OOC
+
NH3
idênticos na comparação das sequências. Os aminoáci
dos estruturalmente superponíveis, mesmo que sejam
quimicamente diferentes, não podem ser diferenciados
FIGURA 9.15 Estrutura do aminoá
cido derivado ácido g-carboxiglutâ entre si com a resolução da difração de raios-X. As pro
mico (abreviatura Gla), encontrado teínas são mais homólogas em suas estruturas do que
no domínio NH2-terminal de muitas na sequência. As regiões de maior diferença estão nas
proteínas da coagulação. regiões de alça tipo-CDR. Alteração nessas alças altera
a especificidade de ligação macromolecular da pro
O alinhamento das estruturas tridimensionais tease. A estrutura da alça no fator Xa, por exemplo, per
pode ser realizado para serino proteases. A Tabela 9.5 mite que se ligue especificamente à protrombina. Inibi
mostra, para grupos de duas proteases, o número dos dores de proteases interagem com diferentes proteases
aminoácidos que são superponíveis nas estruturas tri por sua afinidade pelas estruturas das alças. Proteases
bacterianas parecidas com a família
Domínio das serino proteases eucarióticas
2 contêm os mesmos dois domínios,
Domínio mas não têm a maioria das alças.
1
Isso concorda com sua falta de uma
exigência de interações complexas e
a observação de que proteases bac
terianas não são sintetizadas como
zimogênios.

A Ser-195 da quimotripsina reage


1
Domínio
com o inibidor diisopropilfluorofos
Domínio fato (DFP), com uma estoiquiome
2 tria 1:1 enzima:DFP (p. 358 e Figura
9.11). A estrutura tridimensional da
FIGURA9.16 Duas vistas dos domínios catalíticos tipo-tripsina mostrando a
quimotripsina revela que a Ser-195
estrutura da dobra em b-barril dos domínios com resíduos do sítios ativos na
interface do domínio.
está situada no interior de um bol
As folhas-b são setas amarelas, as a-hélices são magenta, as voltas são azul claro, e to são interno, com acesso à interface
dos os outros resíduos são brancos. São mostrados a serina-195 (laranja), a histidina-57 com o solvente. His-57 e Asp-102 são
(azul) e o aspartato-102 (marrom-avermelhado) do sítio ativo. orientadas de forma que participam,
As cadeias B e C da a-quimiotripsina humana, PDB 6CHA, são visualizadas com RasMol. com a Ser-195, do mecanismo catalí
364 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 9.5 Sobreposição Estrutural de Serino Proteases Específicas da Família da Tripsina e Comparação da Sequência
de Aminoácidos Resultante
Número dos
Aminoácidos na Número de Resíduos Número de Resíduos
Comparação Sequência EstruturalmenteEquivalentes Quimicamente Idênticos
Protease 1 Protease 2

Tripsina-elastase 223 240 188 81


Tripsina-quimotripsina 223 241 185 93
Tripsina-protease de mastócito 223 224 188 69
Tripsina-pré-calicreína 223 232 194 84
Tripsina-protease de S. grieus 223 180 121 25

tico. Portanto, a família das serino proteases constitui em qualquer serino protease. (3) Serino proteases eu
uma série de proteínas estruturalmente relacionadas, carióticas apresentam alta similaridade de sequência e
que usa uma serina cataliticamente ativa. Durante a estrutural. (4) Genes que codificam serino proteases
evolução, a estrutura básica em dois domínios e os resí são organizados de modo similar (Figura 9.17). Seus
duos cataliticamente essenciais foram mantidos, mas as padrões éxon-íntron mostram que cada um dos resí
regiões das interações secundárias (regiões das alças) duos cataliticamente essenciais (Ser-195, His-57 e Asp
mudaram para fornecer as diferentes especificidades 102) está em um éxon diferente. A histidina e a seri
frente aos substratos, ativadores e inibidores, relativos na essenciais ficam quase adjacentes ao limite de seus
aos seus diversos papéis fisiológicos. éxons. A homologia cruzada entre espécies na estrutura
gênica suporta o conceito de que as serino proteases
evoluíram a partir de um gene primordial comum. (5)
Serino Proteases Têm Relações A porção catalítica das serino proteases compreende
dois domínios, de tamanhos aproximadamente iguais.
Estrutura-Função Semelhantes O sítio catalítico fica em sua interface ou na fenda en
As relações entre a estrutura e a função fisiológica tre os dois domínios. (6) A estrutura tridimensional do
das serino proteases são resumidas como se segue: (1) sítio catalítico das serino proteases é complementar à
apenas um resíduo de seri
na é cataliticamente ativo H D S

e participa da clivagem da Tripsinogênio


H D S
ligação peptídica. A tripsina
bovina
de serina,
contém
com 34
apenas um Quimotripsinogênio
resíduos H D S
Pró-elastase
cataliticamente ativo ou ca H D S
paz de reagir com o inibidor Calicreína
DFP (Figura 9.11). (2) Di H D S
αNGF
fração de raios-X e estudos
H D S
de homologia de sequência γNGF
demonstraram que uma his H D S
rinaCom
tidina
sempre
co. um
ativada
eassociados
baseaspartato
doem
sítio
suas
com
catalíti-
estão
posi-
a se- -PA H D S

Uroquinase D S

Fator VII
ções no quimotripsinogênio,
esses três resíduos invariá FIGURA9.17 Organização de éxons e íntrons nos genes de serino proteases.
veis são denominados Ser O t-PA é um ativador de plasminogênio tecidual, e o NGF é um fator de crescimento neural que
195, His57 e Asp 102, e cha contém uma estrutura homóloga à de serino protease. Os éxons estão mostrados por caixas, e
mados tríade catalítica. os íntrons por linhas que fazem a conexão. A posição dos códons de serina, histidina e aspartato
Essa numeração, baseada do sítio ativo são designados por S, H e D, respectivamente. As caixas vermelhas, à esquerda,
em seu número na sequên mostram as regiões que codificam o peptídeo sinal NH2-terminal, que é clivado antes da secreção.
As caixas mais claras, à direita, representam parte da sequência transcrita em RNA mensageiro
cia do quimotripsinogênio,
(mRNA), mas não traduzida em proteína. As setas indicam os códons de resíduos nos quais a
é usada para identificar tais
ativação proteolítica do zimogênio ocorre.
resíduos, independentemen Redesenhado e modificado de Irwin, D. M., Roberts, K. A. e MacGilliwray, R. T. J. Mol. Biol.
te de suas posições exatas 200:31, 1988.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 365

estrutura do estado de transição da reação e contém Homologia de Sequência em Serino


um sítio oxiânion para estabilizar o estado de transição
da reação de hidrólise do peptídeo. (7) Serino proteases Proteases
que interagem com membranas, geralmente têm um do
Muito do conhecimento inicial sobre a família das se
mínio adicional para propiciar essa função específica.
rino proteases veio da tripsina e da quimotripsina puri
(8) Substratos proteicos naturais e inibidores de serino
ficadas de materiais bovinos. Isso gerou uma nomencla
proteases ligam-se por um sítio de especificidade es tura útil, mas não intuitiva, que usa um alinhamento de
tendido. (9) A especificidade por inibidores proteicos
sequência contra a sequência de aminoácidos da quimo
naturais é marcada por ligação extremamente forte. A
tripsina, para dar nome e número aos resíduos de outras
constante de ligação da tripsina com o inibidor pancre
serino proteases. Como mencionado anteriormente, os
ático de tripsina é da ordem de 1013/M, refletindo uma
resíduos cataliticamente essenciais são Ser-195, His-57
energia livre de ligação de aproximadamente 75 kJ/mol
e Asp-102. Inserções e remoções dos aminoácidos em
(18 kcal/mol). (10) Inibidores proteicos naturais são
outra serino protease são comparadas à numeração dos
geralmente maus substratos, com inibição forte reque
resíduos na quimotripsina. O alinhamento é realizado
rendo hidrólise de uma ligação peptídica no inibidor
por algoritmos que maximizam a homologia de sequên
pela protease. (11) Serino proteases, em eucariotos, são
cia, com alinhamento exato dos resíduos essenciais de
sintetizadas como zimogênios, para permitir seu trans
serina, histidina e aspartato. Esses três resíduos são in
porte em um estado inativo até seus locais de ação. (12)
variáveis em todas as serino proteases, e as sequências
A ativação do zimogênio frequentemente envolve hidró
em torno deles são invariáveis entre as serino proteases
lise por outra serino protease. (13) Várias serino pro da família da quimotripsina (Tabela 9.6).
teases sofrem autólise ou auto-hidrólise. Às vezes, isso
leva à clivagem de ligação peptídica específica e maior Membros da família da quimotripsina também ocor
ativação da atividade catalítica. Outras vezes, a autólise rem em procariotos. Assim, serino proteases bacteria
leva à inativação da protease. nas de Streptomyces griseus e Myxobacteria 450 são

TABELA 9.6 Sequências Invariáveis em Torno da Serina (S) e da Histidina (H) Cataliticamente Essenciais
Enzima Sequência (Resíduos Idênticos à Quimotripsina Estão em Negrito)
Quimotripsina A F H em
Resíduos F Torno
C G G da SHistidina
L I NCataliticamente
E N W V V Essencial
T A A H* C G V T T S D

Tripsina Y H F C G G S L I N S Q W V V S A A H C Y K S G I Q
Elastase pancreática A H T C G G T L I R Q N W V M T A A H C V D R E L T
Trombina E L L C G G S L I S D R W V L T A A H C L L Y P P W
Fator X E G F C G G T I L N E F Y V L T A A H C L H Q A K R
Plasmina M H F C G G T L I S P E W V L T A A H C L E K S P R
Calicreína plasmática S F Q C G G V L V N P K W V L T A A H C K N D N Y E
Tripsina de Streptomyces – – – C G G A L Y A Q D I V L T A A H C V S G S G N
Subtilisina V G G A S F V A G E A Y N T D G N G H G T H V A G T
Quimotripsina A C A Gem–Torno
Resíduos – – da
A Serina
S G Cataliticamente M G D S* G G P L V
V – – S S CEssencial

Tripsina C A G Y – – L E G G K – D S C Q G D S G G P V V
Elastase pancreática C A G – – – G N G V R – S G C Q G D S G G P L H
Trombina C A G Y K P G E G K R G D A C E G D S G G P F V
Fator X C A G Y – – D T Q P E – D A C Q G D S G G P H V
Plasmina C A G H – – L A G G T – D S C Q G D S G G P L V
Calicreína plasmática C A G Y – – L P G G K – D T C M G D S G G P L I
Tripsina de Streptomyces C A G Y – P D T G G V – D T C Q G D S G G P M F
Subtilisina A G V Y S T Y P T N T Y A T L N G T S M A S P H
Fonte: Barrett, A. J. Em: A. J. Barrett e G. Salvesen (Eds.), Proteinase Inhibitors. Amsterdam: Elsevier, 1986, p.7.
366 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

homólogos à tripsina. Entretanto, uma classe separada exata desses grupos doadores de pontes de hidrogênio
de serino proteases descoberta primeiro em bactérias no sítio ativo é uma característica estrutural cataliti
não tem homologia estrutural com a família da tripsina camente crítica das enzimas proteases.
de mamíferos. A serino protease subtilisina, isolada de
Bacillus subtilis, hidrolisa ligações peptídicas e contém
uma serina ativada, com uma histidina e um aspartato Inibidores Proteicos Específicos de
em seu sítio ativo e uma estrutura de sítio ativo comple
mentar ao estado de transição da reação hidrolítica, mas Serino Proteases
seu sítio ativo surge de regiões estruturais da proteína A evolução da família das serino proteases para
que não apresentam nenhuma homologia de sequência participação em processos fisiológicos promoveu uma
ou estrutural com a família da tripsina. Serino proteases evolução paralela de inibidores. Proteínas específicas
da família da subtilisina são também encontradas em cé inibem a atividade das serino proteases quando seu
lulas humanas. Este é um exemplo de evolução conver papel fisiológico termina (Tabela 9.7). Assim, a coagu
gente de um mecanismo catalítico enzimático. Aparen lação é limitada ao local da lesão vascular e a ativação
temente, um gene completamente diferente desenvolveu do complemento leva à lise somente das células que
o mesmo mecanismo catalítico para hidrólise peptídica. apresentam antígenos estrangeiros. A incapacidade de
controlar essas proteases, como por uma deficiência
de um inibidor específico, pode levar a consequências
Mecanismo de Catálise das Serino indesejáveis, como formação de trombos iniciando in
Proteases farto do miocárdio e acidente vascular cerebral, ou a
reações descontroladas do complemento em doenças
Todas as serino proteases tipo-tripsina catalisam a autoimunes. Esses inibidores naturais de serino pro
hidrólise da ligação peptídica por um mecanismo catalí teases são denominados serpinas, em referência a seri
tico idêntico, com as ações coordenadas de um sítio ati ne protease inhibitors (inibidores de serino protease).
vo Ser-195, His-57 e Asp-102. Esses resíduos ficam em Estes ocorrem em animais que produzem as proteases,
domínios diferentes dos dois domínios que compõem mas surpreendentemente são também encontrados em
a unidade catalítica. Na proteína dobrada, as estrutu plantas que não têm proteases.
ras tridimensionais aproximam esses resíduos
na interface do domínio que compreende o sítio
primário de catálise (Figura 9.18). Os nitrogê
nios do imidazol das His-57s formam pontes de
hidrogênio com o gOH da Ser-195 e a cadeia la
Ser-195 Tetraedro
teral carboxilato do Asp-102. Na hidrólise cata His-57
lisada pela protease, a histidina funciona como O Oxiânion
uma base catalítica geral e o gOH da serina for Asp-102 +
– H N N H.. .............. O
.. – H N
..
ma um ester intermediário transitório covalente O ..
.. ... ..........
.. ... O
com uma parte do substrato. Esses mecanismos C-terminal . . ........
H
do substrato N .... C N
envolvendo a Ser-195 e a His-57 facilitam a que ..
...
bra da ligação peptídica susceptível do substrato H Pontes de hidrogênio
C Estabilizam o estado
ligado ao sítio ativo. de transição
CLIVAGEM
+
Alem dos três aminoácidos cataliticamente –Asp-189
INTERMEDIÁRIO
essenciais do sítio ativo, todos os sítios ativos TETRAÉDICO N-terminal
têm características que estabilizam a estrutura do substrato
do estado de transição da reação. O estado de
transição é a estrutura de maior energia na via
da reação à qual o substrato é elevado. A veloci FIGURA9.18 Estabilização da estrutura da reação do estado de
transição da hidrólise de peptídeo pela tripsina.
dade da reação depende da energia necessária O substrato polipeptídeo é mostrado em vermelho, com os átomos do car
para atingir a estrutura do estado de transi bono a, cadeia lateral (lisina) e ligação peptídica lábil do resíduo P1 do
ção, e as enzimas aceleram as velocidades da substrato. A ligação peptídica lábil está em uma estrutura intermediária
reação, reduzindo a energia necessária para como aquela do estado de transição da reação proposta, na qual a ligação
atingir a estrutura do estado de transição. Uma peptídica entre o carbono da carbonila e o nitrogênio está sendo quebrada,
enquanto a ligação entre o gO da Ser-195 e o carbono da carbonil está sen
forma de reduzir essa energia é estabilizar a es
trutura do estado de transição hidrolítico. To do feita. Nessa estrutura, o carbono da carbonila é ligado transitoriamente
dos os sítios ativos das serino proteases contêm a quatro átomos diferentes, e o oxigênio da carbonila está carregado nega
tivamente. A enzima ativa está em azul e contém Ser-195, His-57 e Asp-102
dois grupos doadores de pontes de hidrogênio
cataliticamente essenciais. A cadeia polipeptídica do sítio ativo da enzima
orientados e posicionados para doar pontes de contribui com duas pontes de hidrogênio que estabilizam a estrutura do
hidrogênios que estabilizam a estrutura do es estado de transição.
tado de transição (Figura 9.18). A localização Modificado de figura de Stroud, R. M. Sci. Am., 231:74, 1974.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 367

TABELA 9.7 Algumas Proteínas Humanas que Inibem Serino Proteases


Inibidor Ação
a1-Inibidor de protease Inibe proteases teciduais, incluindo elastase de neutrófilos; sua
deficiência acarreta enfisema pulmonar
a1-Antiquimotripsina Inibe proteases com especificidade tipo quimotripisina de neutrófilos,
basófilos e mastócitos, incluindo catepsina G e quimase
Inter-a-tripsina inibidor Inibe um amplo espectro de serino proteases ativas no plasma
a2-Antiplasmina Inibe plasmina

Antitrombina III Inibe trombina e outras proteases da coagulação

C1 Inibidor Inibe reação de complemento


a2-Macroglobulina Inibidor de proteases em geral
Protease nexina I Inibe trombina, ativador de plasminogênio tipo uroquinase e plasmina
Protease nexina II Inibe serino proteases associadas a fator de crescimento, idêntica ao
domínio NH2-terminal de proteína amiloide secretada em doença de
Alzheimer
Inibidor do ativador de plasminogênio I Inibe ativadores de plasminogênio
Inibidor do ativador de plasminogênio II Inibe o ativador de plasminogênio tipo uroquinase

9.4 HEMOGLOBINA E contém 141 aminoácidos, e o polipeptídeo b, 146 ami


noácidos. A forma fetal (HbF) (Figura 9.19) contém as
MIOGLOBINA sequência
mesmas da cadeia
cadeias a dabHbA
(Tabela 9.8). Duas
1, e cadeias g que
outras
diferem
formas
em
As hemoglobinas são proteínas globulares, presen
de hemoglobina aparecem nos primeiros meses após
tes em altas concentrações nos eritrócitos, que ligam a concepção (embrionária), na qual as cadeias a são
oxigênio nos pulmões e o transportam para as células substituídas por cadeias zeta (z) de sequência diferen
dos tecidos. Elas também transportam CO2 e H+ dos te, e as cadeias e funcionam como cadeias b. Uma he
tecidos para os pulmões, e carregam e liberam óxido moglobina adulta minoritária, HbA2, compreende cerca
nítrico (NO) nos vasos sanguíneos dos tecidos. NO é de 2% da hemoglobina adulta normal e contém duas
um potente vasodilatador e inibidor da agregação pla
cadeias a e duas cadeias designadas por delta (d) (Ta
quetária. A estrutura molecular e química das hemoglo bela 9.8). Uma discussão sobre hemoglobinas anormais
binas ajusta-se perfeitamente a esses papéis fisiológicos é apresentada na Correlação Clínica 9.6.
complexos e interrelacionados.

A Hemoglobina α α
50
Humana Ocorre em γ
β

Várias Formas
Uma molécula de hemoglobina
% da
síntese
40

total de 30
globina
20
consiste de quatro cadeias polipep
ε
tídicas, duas de cada com duas se ζ β
10 γ
quências diferentes. Cada cadeia δ
contém um grupo prostético heme
6 12 18 24 30 36 1 6 12 18 24 30 36 42 48
que liga oxigênio. Na ligação de O2 Nascimento
a uma molécula de hemoglobina Idade pós-concepcional (semanas) Idade pós-natal (semanas)
para formar Hb(O2)4, os quatro sí
FIGURA9.19 Mudanças na produção de cadeias de globina durante o
tios de ligação de O2 agem de maneira
desenvolvimento.
cooperativa. A forma majoritária de Redesenhado de Nienhuis, A.W. e Maniatis, T. Em: Stamatoyannopoulos, G., Nienhuis, A.
hemoglobina humana adulta, HbA1, W., Leder, P., e Majerus W. (Eds.), The Molecular Basis of Blood Diseases. Philadelphia:
consiste de duas cadeias a e duas Saunders, 1987, p. 68, na qual a referência de Weatherall, D. J. e Clegg, J. B., The Tha
cadeias b (a2b2). O polipeptídeo a lassemia Syndromes, 3. ed., Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1981, é citada.
368 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 9.8 Cadeias de Hemoglobina Humana Mioglobina: Um Único Polipeptídeo


Estágio do Composição em
Desenvolvimento Símbolo Cadeias
com Um Sítio de Ligação de O2
Adulto HbA1
HbA2 a2 b2
d2 A mioglobina (Mb) é uma proteína que liga O2, cap
tura e libera O2 com mudanças na concentração de O2
no sarcoplasma de células musculares esqueléticas. Di
ferentemente da hemoglobina, que tem quatro cadeias
Feto HbF a2 g2 e quatro sítios de ligação de O2, a mioglobina contém
Embrião Hb Gower-1 z2 e2 apenas uma cadeia polipeptídica e um sítio de ligação
de O2. A mioglobina é um modelo do que ocorre quan
Embrião Hb Portland z2 g2 do uma única molécula protômero age sozinha, sem as
interações apresentadas entre os quatro sítios de liga
ção de O2 na molécula tetramérica, mais complexa, de
hemoglobina.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 9.6

Hemoglobinopatias

Há bem mais de 800 hemoglobinas humanas mu Hemoglobinas mutantes que formam meta-hemo
tantes conhecidas. As mutações causam instabilidade globina incluem HbIwatea87His→Tyr e HbHydeParkb92His→Tyr,
na estrutura da hemoglobina, afinidade aumentada ou nas quais as histidinas proximais F8 das cadeias a e b,
diminuída por oxigênio, ou um aumento na taxa de oxi e na HbSaskatoonb63His→Tyr,
respectivamente, as histidinas
estão mutadas. Na Hbdistais
Bostona58His→Tyr

dação do ferro ferroso do heme (Fe2+) para o estado E7 estão


férrico (Fe3+). Uma hemoglobina férrica, não-funcional, mutadas. Mutações de aminoácidos que ficam junto do
é chamada meta-hemoglobina e é simbolizada por HbM. heme ou formam o sítio de ligação com oxigênio fre
quentemente levam à meta-hemoglobina. Pacientes
A hemoglobina instável pode surgir pela substitui com altas concentrações de meta-hemoglobina apre
ção de prolina por um aminoácido em uma região de sentam cianose (cor azulada na pele).
a-hélice da dobra de globina. Prolinas não participam
da estrutura em a-hélice, e a quebra de um segmento Duas das mutações mais prevalentes ocorrem
de a-hélice gera uma hemoglobina instável (exemplos no aminoácido da mesma posição, o b6Glu. Quando
são HbSakib14Leu→Pro e HbGenova b28Leu→Pro). Outras he esse glutamato é substituído por valina, o resultado
moglobinas instáveis surgem pela substituição por um é HbSb6Glu→Val, enquanto substituição por lisina gera
aminoácido que é muito grande ou muito pequeno para HbCb6Glu→Lys. Homozigotos com HbS têm anemia fal
estabelecer contatos corretos, ou pela colocação de ciforme, na qual as moléculas de hemoglobina preci
um grupo carregado ou polar no lado de dentro de um pitam como tactoides ou longas cadeias, o que produz
domínio. As hemoglobinas instáveis desnaturam facil a forma de foice dos eritrócitos. HbC forma uma es
mente e podem precipitar, formando corpos de Heinz, trutura agregada diferente, consistindo de cristaloides
que danificam a membrana do eritrócito. Pacientes com de extremidades retas. Isso reduz o tempo de sobrevi
hemoglobinas instáveis desenvolvem anemia, reticulo vência dos eritrócitos, mas produz menos hemólise do
citose, esplenomegalia e urobilinúria. que HbS. Essa forma de hemoglobinopatia apresenta
efeitos patológicos mais limitados. Como ambas HbS
Algumas
interessante
mentada pelohemoglobinas
é mutantes têm afinidade au e HbC são comumente encontradas em certas popula
oxigênio
a HbCowtown
(P50 na qual
mais baixa).
b246His→Leu, Um aexemplo ções negras da África, não é raro encontrar indivíduos
histidi heterozigotos para ambos os genes mutantes nessas
na que dissocia 50% dos prótons do efeito Bohr é per
populações. Indivíduos com HbSC terão uma anemia
dida. Essa mutação impede a regulação da dissociação intermediária entre as observadas para os homozigo
do oxigênio pela concentração de íons hidrogênio e de tos de HbS e HbC.
sestabiliza a conformação T, em relação à conformação
R, causando um aumento na afinidade por oxigênio e
Arcasoy, M. O., e Gallangher, P. G. Molecular diagnosis of
liberação diminuída de O2 para os tecidos. Mutações na
hemoglobinopathies and other red blood cell disorders. Se
hemoglobina que impedem a ligação de BPG também
minars Hematology 36:328, 1999; Benz, E. J., Jr. Genotypes
aumentam a afinidade pelo oxigênio. As hemoglobino and phenotypes: Another lesson from the hemoglobinopa
patias de afinidade aumentada por oxigênio são fre thies. N. Engl. J. Med. 351:1490, 2004; e Dickerson, R. E. e
quentemente caracterizadas por anemia hemolítica e Geis, I. Hemoglobin: Structure, Function, Evolution, and
formação de corpos de Heinz. Pathology. Menlo Park, CA: Benjamin/Cummings, 1983.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 369

O Grupo Prostético Heme É o Sítio COO–

de Ligação de O2
As quatro subunidades globinas da hemoglobina e NN His F8 Proximal
a única da mioglobina contêm, cada uma, um grupo COO–
N
prostético heme. Um grupo prostético é uma parte
não-polipeptídica que forma uma parte funcional de
uma proteína. Sem seu grupo prostético, uma proteína
é denominada apoproteína. Com seu grupo prostético,
é uma holoproteína.
N Fe N
Nas hemoglobinas e mioglobina, o heme é protopor
firina IX (p. 814), com um átomo de ferro em seu centro O2

(Figura
se O2 9.20). O ferro está no estado ferroso (carga +2) N N
na hemoglobina e na mioglobina funcionais, onde pode
His E7
formar cinco ou seis ligações covalentes, dependendo Distal N
está ou não ligado. Quatro ligações são com os
átomos de nitrogênio pirrólico da porfirina. Como os
anéis pirrólicos e os carbonos de ligação fazem parte
do mesmo sistema aromático, esses átomos ficam em FIGURA9.21 Ligações de ligantes com o átomo ferroso
um plano comum. O Fe2+ ligado à porfirina tende a fi na oxi-hemoglobina.
car no mesmo plano da porfirina. A quinta e a poten
cial sexta ligações
oxi-globinas, O2 com o Fe2+ são dirigidas para um HC2 Tyr
FG2
eixo perpendicular ao plano do anel porfirínico (Figura
9.21). A quinta ligação é com um nitrogênio do imidazol F9 CD2

de uma histidina. Esta é chamada a histidina proximal C7


nas estruturas das globinas (Figuras 9.21 e 9.22). Nas C3
M P
CD1
His
forma a sexta ligação, sendo que O2 G1 F8
C5
fica entre o átomo ferroso e um segundo imidazol de V
CD7

histidina, designada como histidina distal. Na desoxi M His E7


F1 E1
G5 C1
-hemoglobina, a sexta posição está desocupada. Val D1
H16 E11 D7
V
O heme é posicionado dentro de um bolsão hidrofó M
E5
bico de cada subunidade globina. Nesse bolsão, cerca
de 18 resíduos de aminoácidos, a maioria entre as ca
deias laterais apolares e as regiões apolares da porfiri EF3 EF1 G15
B5
na, ocorrem aproximadamente 80 interações.
NA1
NH3+ E20 A16 B1

NA2 G19
H5
AB1
COO– COO–
CH2 CH2 A1
H1
CH2 CH2
GH4
C CH C
CH3 C C C C
H2O CH3 FIGURA 9.22 Estruturas secundária e terciária
CNNC
C N Fe NC características das globinas da hemoglobina.
CH CH As cadeias laterias da His F8 proximal, His E7 distal, Tyr HC2 e
H2O Val E11 são mostradas. Outros aminoácidos da cadeia polipep
CH2
CH C C C C CH3 tídica são representados pelas posições do carbono-α apenas;
as letras M, V e Preferem-se às cadeias laterais metil, vinil e
C CH C CH2
propionato do heme.
CH3 CH Reimpresso com permissão de Perutz, M. Br. Med. Bull.
32:195, 1976.

Heme A força motriz dessa interação é a exclusão da água


de solvatação na associação do heme hidrofóbico com
FIGURA 9.20 Estrutura do heme. as cadeias laterais apolares dos aminoácidos no bolsão
O ferro (Fe2+) possui quatro ligações com os nitrogênios pir
rólicos na porfirina planar. As ligações cinco e seis são per do heme (ver forças hidrofóbicas, p. 120). Interações
pendiculares ao plano da porfirina. A estrutura da profirina é adicionais na mioglobina são formadas entre os grupos
protoporfirina tipo IX. propionato carregados negativamente do heme e as ca
370 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

deias laterais carregadas positivamente da arginina e dos quais 83 são invariáveis. Apenas 15 resíduos in
da histidina. Nas cadeias da hemoglobina, uma diferen variáveis são idênticos aos resíduos invariáveis das ca
ça na sequência de aminoácidos dessa região do sítio de deias globinas das hemoglobinas de mamíferos. Embora
ligação do heme leva à estabilização dos propionatos da exista uma surpreendente variabilidade de sequência,
porfirina por interação com um imidazol de histidina as estruturas secundária e terciária são quase idênticas
não-carregado e com moléculas de água do solvente, na (Figura 9.23). Além disso, todas as cadeias de globina
superfície externa da molécula. funcionam na ligação, de forma reversível, do oxigênio.
Contudo, quando se compara as sequências da mioglo
bina com as sequências das cadeias globina da hemoglo
Cristalografia por Raios-X Definiu bina, as mudanças são principalmente conservativas e
as Estruturas da Hemoglobina e da preservam as propriedades físicas dos resíduos (Tabe
la 9.9). Mudanças de sequência entre as sequências de
Mioglobina mioglobina e hemoglobina são parcialmente explicadas
pelo fato de a mioglobina agir como um monômero; por
As estruturas das formas desoxi e oxi da hemoglo tanto, muitas de suas posições de superfície interagem
bina e da mioglobina foram resolvidas por cristalogra com água e impedem que outra molécula de mioglobina
fia de raios-X. De fato, a mioglobina de cachalote foi a se associe. Diferentemente, os resíduos de superfície
primeira proteína cuja estrutura foi determinada por das subunidades individuais da hemoglobina formam
essa técnica, seguida pela hemoglobina de cavalo. Es pontes de hidrogênio e contatos não-polares com ou
sas estruturas mostram que cada globina consiste de tras subunidades na estrutura quaternária. As histi
múltiplas regiões a-hélice, conectadas por voltas que dinas proximal e distal ao ferro heme são preservadas
permitem o dobramento em uma forma esferoidal ca em todas as cadeias de globina, assim como os bolsões
racterística da dobra de globina (Figura 9.22 e Figura hidrofóbicos do heme que formam contatos essenciais
3.37, p. 105). não-polares com o heme.

Estruturas Primária, Secundária e Quaisquer diferenças significativas nas proprieda


Terciária da Mioglobina e das Cadeias de des fisiológicas entre as cadeias a, b, g, e d das he
moglobinas e a cadeia da mioglobina se devem a pe
Hemoglobina
quenas alterações específicas em suas estruturas. A
A comparação das sequências de aminoácidos da semelhança de estrutura terciária mostra que a mes
mioglobina de muitas espécies animais mostra que to ma estrutura dobrada de um polipeptídeo pode ser ob-
das as cadeias de mioglobinas contêm 153 aminoácidos, tida por sequências diferentes.

FG2 FG2
COO– CD2
CD2
COO– F9
F9
H24 C7
F6 C7 CD1
HC5 CD1 C3 M P
C3 M P
C5 F8 C5
F8 CD7 G1 CD7
G1
E7 V E7 E1
V E1
M D1
M D1 C1
C1 B14 F1 G5 D7
F1 G5 D7
B16
H16 V
V M E5
H16 M E5

G15 B5
G15 B5
EF1
EF1 EF3
EF3 B1
B1 NA1 A16
A16
+ E20
E20 NH3 G19
G19
AB1
AB1 NA2 H5
H5

+ A1 H1
H3N A1 H1
GH4
GH4

(a) (b)

FIGURA9.23 Comparação da conformação de (a) mioglobina e (b) cadeia ß de HbA1.


As estruturas gerais são muito semelhantes, exceto nas extremidades NH2-terminal
+ e COOH-terminal.
Reproduzido com permissão de Fersht, A. Enzyme Structure and Mechanism. São Francisco: Freeman, 1977, 12 e 13.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS º 371

TABELA 9.9 Sequências de Aminoácidos de Cadeias de Hemoglobina e Mioglobina"


NA 1 2 3 A1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 15 AB1 B1 2

MIOGLOBINA Val Leu Ser Glu Gly Glu Trp Gln Leu Val Leu Hid Val Val Ala Asp Val Ala Gly Jis
Cavalo Val Leu Ser Ala Ala Asp Thr Asn Val LyS Ala Ala Val Gly His Ala Gly Glu Tyr
Val Gln Leu Ser Gly Glu Glu Ala Ala Val Leu Ala Leu Val Glu Glu Glu Val
Humana Val Leu Ser PrO Ala Asp Thr ASn Val LyS Ala Ala Val Ala His Ala Gly Glu Tyr
Val His Leu Thr PrO Glu Glu Ser Ala Val Thr Ala Leu Val Val Asp Glu Val

Gly His Phe Thr Glu Glu Asp Ala Thr Ilu Thr Ser Leu Val Val Glu Asp Ala
Val His Leu Thr PrO Glu Glu Thr Ala Val ASn Ala Leu Val Val Asp Ala Val

11 13 14 15 16 C1 3 CD1 D1

MIOGLOBINA Gln Asp Ilu Ilu Leu Phe LyS Ser HiS PrO Glu Thr Phe Arg LyS His LyS Thr

Cavalo Ala Ala Glu Met Phe Leu Gly Phe PrO Thr Thr Phe His Asp Ser His

Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Gly
Humana Ala Ala Glu Met Phe Leu Ser Phe PrO Thr Thr Phe His Asp Ser His

Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Thr

Gly Thr Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Ser

Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Ser

E1 7 12 14 E 15 16 17 18 19 20

MIOGLOBINA Glu Ala Glu Met Lys Ala Ser Glu Asp HiS Gly Leu Ala Leu Gly Ala Ilu Leu LyS
Cavalo Ser Ala Gla HiS Gly Ala Gly Leu Thr Le Ala Val Gly
Pro Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ser Phe Gly Glu Gly Val His
Humana Ser Ala Gln HiS Gly Ala Ala Leu Thr ASn Ala Val Ala
PrO Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ala Phe Ser Asp Gly Leu Ala
Ala Der Ala Ilu Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ser Leu Gly Asp Ala Ilu LyS
PrO Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ala Phe Ser Asp Gly Leu Ala

EF1 2 3 4 5 6 F1 2 5 FG1 G1

MIOGLOBINA LyS Gly His Glu Ala Glu Leu Lys PrO Ala Gln Thr His Lys Ilu PrO Ilu LyS Tyr
Cavalo Leu Leu POr Gly Ala Leu Ser Asp ASn His Leu Arg Val Asp PrO Val
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Ala Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Humana Val Met PrO ASn Ala Leu Ser Ala Asp His Leu Arg Val Asp PrO Val
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Thr Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Gln Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ser Gln Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu

5 6 7 8 G9 10 11 12 13 14 15 18 H1 H3

MIOGLOBINA Leu Glu Phe Ser Glu Ala Ilu Ilu His Val Ser Gly Phe Gly Ala Asp Ala Gln Gly
Cavalo LyS | Leu Ser His Cys Leu Ser Thr Val ASn Phe Thr PrO Ala Val HiS

Arg | Leu Gly ASn Val Ala Leu Val Arg LyS Phe Thr PrO Glu Leu Gln
Humana LyS Leu Ser His Cys Leu Val Thr Ala Ala Phe Thr PrO Ala Val HiS

Srg Leu Gly Asn Val Val Cys Val His LyS Phe Thr PrO PrO Val Gln

LyS Leu Gly Asn Val Val Thr Val Ilu LyS Phe Thr PrO Glu Val Gln

Arg Leu Gly Asn Val Val Cys Val Arg LyS Phe Thr PrO Gln Met Gln

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 18 19 23 HC1 2 3

MIOGLOBINA Ala Met ASn Ala Leu Glu Leu Phe Arg LyS Ilu Ala Tyr LyS Leu Gly Tyr Glu Gly
Cavalo Ser Ley Asp Phe Leu Ser Ser Val Ser Thr Leu Thr Tyr Arg
Ser Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala ASn Leu Ala His Tyr His
Humana Ser Leu Asp Phe Leu Ala Ser Val Ser Thr Leu Thr Tyr Arg
Ala Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala ASn Leu Ala His Tyr HiS
Ser Trp Gln Met Val Thr Gly Val Ala Ser Leu Ser Ser Tyr HiS
ala Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala Asn Leu Ala His Tyr His

Fonte: Baseado em diagrama de Dickerson, R.E. e Geis, I. The Structure and Function of Proteins. New York: Harper & Row, 1969, p. 52.
"Mioglobina de cachalote. Os resíduos que são idênticos estão dentro dos retângulos. A, B, C, ... designam diferentes hélices de estrutura terciária
(ver texto).

Aproximadamente 70% dos resíduos participam das entre as hélices são designadas por AB, BC, CD, ..., GH,
O:-hélices da dobra de globina, gerando sete O-hélices respectivamente. A região não-helicoidal da extremidade
na cadeia o e oito na cadeia B. Essas últimas oito re NH2-terminal é designada por NA, e a da extremida
giões helicoidais são comumente chamadas A–H, co de COOH-terminal é HC (Figura 9.22). Os resíduos de
meçando pela extremidade NH2-terminal. As regiões aminoácidos são numerados Sequencialmente a partir
372 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

pO2 em capilares de
de 1 em cada uma das hélices e regiões inter-hélices
músculo ativo pO2 nos pulmões
designadas por letras. Esse sistema de numeração per 1.0
mite a discussão sobre regiões e resíduos específicos,
que desempenham papéis funcional e estrutural seme Mioglobina
lhantes na hemoglobina e na mioglobina. )
( Hemoglobina (pH 7,4)
o
ã
ç 0.5
a
r
u
Um Equilíbrio Simples Define a t
a
S
Ligação de O2 à Mioglobina
A associação do oxigênio com a mioglobina é ca
racterizada por uma constante de equilíbrio simples 60
20 40 80 100
(Equações 9.1 e 9.2). A [MbO2] é a concentração em so P50 pO2 (torr)
lução de oximioglobina, a [Mb] a de desoximioglobina, e
a [O2] é a de oxigênio, todas em unidades de moles/litro.
A constante de equilíbrio, Keq, tem unidade de moles/ FIGURA9.24 Curvas de ligação de oxigênio para
mioglobina e hemoglobina.
litro. O valor da Keq é dependente do pH, da força iônica Os gráficos colocam a curva da mioglobina próxima do valor
e da temperatura. zero de pO2 nesse sistema de coordenada. Se o eixo do pO2
Mb + O2 K⇌eq fosse expandido em torno da região da P50 da mioglobina, a
MbO2 (9.1) sensibilidade menor da variação de Y na mioglobina com a mu
dança na concentração de oxigênio em relação à hemoglobi
Keq = [Mb] · [pO2] na seria demonstrada (ver Índice de Cooperatividade, Tabela
(9.2)
[MbO2] 9.10). O índice, baseado nos coeficientes de Hill observados,
mostra a mioglobina muda de Y = 0,1 para Y = 0,9 com uma
Como o oxigênio é um gás, é conveniente expres mudança de mais de 81 vezes na concentração de oxigênio,
sar sua concentração como pressão de oxigênio, em enquanto para a hemoglobina basta uma variação de 4,8 vezes
na concentração de oxigênio.
torr (1 torr equivale à pressão de 1 mm Hg a 0 °C e
gravidade padrão). Na Equação 9.3, essa conversão de
unidades foi feita como mostra a troca de símbolos: P50, Uma manipulação algébrica simples da Equação 9.6
a constante de equilíbrio, e pO2, a concentração de oxi leva à Equação 9.7. Tomando-se o logaritmo de ambos
gênio, sendo expressa em torr. os lados da Equação 9.7, resulta na Equação 9.8, a Equa
ção de Hill. Um gráfico do log [Y/(1 - Y)] versus log pO2,
[Mb] · pO2 de acordo com a Equação 9.8, gera uma linha reta, com
P50= (9.3)
[MbO2 inclinação igual a 1 para a mioglobina (Figura 9.25).
Este é o gráfico de Hill, e a inclinação (nH) é o coefi
Em uma curva de ligação ou de saturação de oxigê ciente de Hill (Equação 9.9).
nio, a fração de sítios de ligação de oxigênio que contêm
1−
YY pO2
oxigênio (Y, Equação 9.4) é colocada na ordenada ver
sus pO2 (concentração
] de oxigênio), na abscissa. O va P50 (9.7)
lor de Y é definido para a mioglobina pela Equação 9.5. Y
Substituindo-se na Equação 9.5 o valor de [MbO2] obtido log = = log pO2 − log P50 (9.8)
na Equação 9.3, e, depois, dividindo-se tudo por [Mb], 1−Y
resulta na Equação 9.6, que mostra a dependência entre
Y e o valor da constante de equilíbrio P50 e da pO2. A
partir das Equações 9.3 e 9.6, o valor de P50 é igual a pO2
quando Y = 0,5 (50% dos sítios disponíveis ocupados),
daí a designação da constante de equilíbrio por P50.
Mioglobina
número de s´ıtios de ligaç˜ao ocupados nH = 1,0
Y = número total de s´ıtios de ligaç˜ao em soluç˜ao (9.4)
l
go Hemoglobina
nH = 2,8
Y = [MbO2]
[Mb] + [MbO2 (9.5)

Y = pO2 ] log pO2


P50 + pO2 (9.6)
FIGURA9.25 Gráficos de Hill para mioglobina e
Um gráfico da Equação 9.6 para Y versus pO2 gera hemoglobina A1.
uma curva de saturação de oxigênio para mioglobina, e
tem a forma de uma hipérbole retangular (Figura 9.24).
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 373

A Ligação de O2 à Hemoglobina favorável se deve, em parte, a restrições conformacio


nais impostas à His F8 e à porfirina na conformação da
Envolve Cooperatividade entre desoxi-hemoglobina, que força a aproximação da His
F8 em direção à porfirina, para uma posição particu
Subunidades lar (Figura 9.26). Essas restrições ficam menos sig
A ligação de quatro O2 à hemoglobina manifesta-se nificativas na oxi-hemoglobina. Com o átomo de ferro
como cooperatividade positiva, uma vez que a ligação fora do plano da porfirina, a conformação é relaxada e
do primeiro O2 facilita a ligação de O2 às outras subu energeticamente favorecida para o átomo ferroso com
nidades. Ao contrário, a dissociação do primeiro O2 da cinco coordenações. Quando O2 forma a sexta ligação
do ferro, entretanto, essa conformação fica tensa. Uma
Hb(O2)4 tornará mais fácil a dissociação do O2 das ou
tras subunidades. conformação energeticamente mais favorável para o
ferro ligado a O2 é aquela na qual o átomo de ferro fica
Em decorrência dessa cooperatividade, a curva de dentro do plano da porfirina.
saturação de oxigênio para hemoglobina difere da cur
va da mioglobina. Um gráfico de Y versus pO2 para a
hemoglobina é sigmoidal, indicando cooperatividade na TABELA 9.10 Relação entre Coeficiente de Hill (nH) e
associação com oxigênio (Figura 9.24). Um gráfico da Índice de Cooperatividade (Rx)
equação de Hill (Equação 9.9) dá uma inclinação (nH
igual a 2,8 (Figura 9.25). Valores de nH = 1,0 indicam) nH Rx Observação
nenhuma cooperatividade na ligação do substrato a 0,5 6.560
proteínas com sítios multiativos. Valores de nH > 1,0 in
dicam cooperatividade positiva, com valores mais altos 0,6
0,7 1.520
533 Cooperatividade negativa de
correlacionando-se com maior cooperatividade positiva 0,8 243 substrato
na ligação. Valores de nH maiores do que 0 e menores do 0,9 132
que 1,0 indicam cooperatividade negativa, com valores
proximos de 0 tendo maior cooperatividade negativa. 1,0 81,0 Não-cooperatividade

Y 1,5 18,7
log = nH log pO2 − constante (9.9) 2,0 9,0
1−Y
2,8
3,5 4,8
3,5
Cooperatividade positiva de
O significado do coeficiente de Hill para a associação 6,0 2,1 substrato
cooperativa do O2 é avaliado quantitativamente como
apresentado na Tabela 9.10. Um índice de cooperativida 10,0 1,6
de, Rx, é calculado, o qual mostra o número de vezes de 20,0 1,3
mudança na pO2 necessário para mudar Y de um valor Fonte: Baseado na Tabela 7.1 de Cornish-Bowden, A. Principles of
de Y = 0,1 (10% dos sítios ocupados) para um valor de Y Enzyme Kinetics. London: Butterworths Scientific Publishers, 1976.
= 0,9 (90% dos sítios ocupados), para os valores de coe
ficiente de Hill encontrados experimentalmente. Para a A energia da ligação de O2 supera a interação repul
mioglobina, nH = 1 e uma mudança de 81 vezes na con siva entre a His F8 e a porfirina, e o átomo ferroso move
centração de oxigênio é necessária para mudar o valor -se para dentro do plano da porfirina. Esta é a posição
de Y = 0,1 para Y = 0,9. Para a hemoglobina, nH = 2,8, e termodinamicamente mais estável para o oxi-heme, o
uma mudança de apenas 4,8 vezes na concentração de átomo de ferro com seis ligantes tendo um ligante axial
oxigênio é necessária para a mesma mudança de Y. em cada lado do plano da porfirina, e a repulsão esté
rica de um ligante axial é equilibrada pela repulsão do
Mecanismo Molecular de Cooperatividade segundo ligante axial do lado oposto, quando o átomo
na Ligação de O2 ferroso está no centro. O raio do átomo de ferro com seis
ligações também é reduzido, de modo que ele caiba no
Dados de difração de raios-X da desoxi-hemoglo centro da porfirina sem distorção da conformação da
bina mostram que os átomos ferrosos na realidade porfirina.
situam-se fora do plano de suas porfirinas em cerca de
0,4–0,6 Å. A configuração eletrônica do átomo ferroso Como a repulsão estérica entre a porfirina e a His
com cinco coordenações na desoxi-hemoglobina tem F8 na conformação desoxi deve ser superada na asso
um raio ligeiramente maior do que a distância entre o ciação com O2, a ligação do primeiro O2 é caracteriza
centro da porfirina e cada átomo de nitrogênio pirróli da por uma constante de afinidade relativamente bai
co. Consequentemente, o ferro só pode ser colocado no xa. Entretanto, após a ligação de O2 ao primeiro heme,
centro da porfirina com alguma distorção na confor a mudança do ferro para o centro da porfirina dispara
mação da porfirina. Provavelmente mais importante uma mudança conformacional nas outras subunidades
é que, se o átomo de ferro ficar no plano da porfirina, da molécula de hemoglobina. Essa mudança resulta
o imidazol da His F8 proximal vai interagir desfavora em uma maior afinidade do O2 pelos outros sítios heme
velmente com a porfirina. Essa interação estérica des desocupados.
374 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

C
O do O2 a uma das subunidades heme da molécula tetra
NH
mérica empurra a conformação molecular do estado
CH2 CH conformacional T para o R. A constante de afinidade
Histidina
para O2 é maior no estado R por um fator de 150-300,
repulsive
Contato HC
HN C proximal dependendo das condições da solução.
CH

C CH N
CH
3
C CH CH3 Hemoglobina Facilita o Transporte
C C
N C
O CH2
Grupo C CH C
CH2
N Fe C
C CH de CO2 e NO
Heme N
C N CH
C C
CH3
CH2
A sobrevivência das células depende da capacidade
O C C C C da hemoglobina dos eritrócitos entregar O2 para o meta
CH2 C CH3
CH CH2
O bolismo celular e para facilitar o transporte de CO2, das
O
CH2 células para os pulmões. A hemoglobina também liga o
C
Valina vasodilatador NO, e o entrega para as paredes vascula
CH3
Distal CH CH res dos tecidos. O equilíbrio conformacional entre T e
CH3 O
C CH
N R da molécula de hemoglobina controla a entrega de O2,
NH HN CO2 e NO para seus locais corretos. Em decorrência das
O CH mudanças no pKa dos grupos ácidos das cadeias laterais
C
CH
entre as conformações T e R, o equilíbrio TR é regu
CH2 Histidina
C
Distal lado pela concentração do íon hidrogênio. As mudanças
NH
no pH ligam a entrega de O2 e NO para os tecidos com o
transporte de CO2 para longe dos tecidos.
FIGURA9.26 Impedimento estérico entre a histidina
proximal e a porfirina na desoxi-hemoglobina.
Redesenhado de Perutz, M. Sci. Am. 239:92, 1978. Copyright© Diminuição no pKa de Grupos Ácidos
(1978), Scientific American, Inc. Todos os direitos reservados.
com Carga da Conformação T para R
A mudança de conformação envolve os seguintes
eventos
puxa o Fe2+
sequenciais
para dentro
interligados: da aporfirina.
do plano(1) ligação de O2
Libera Prótons
(2) O A Equação 9.10 mostra a liberação de prótons à me
movimento do Fe2+ move a His F8 proximal ligada em dida que a conformação T é convertida na conformação
direção à porfirina. (3) A posição da hélice F covalen R. Essa liberação de prótons no pH do sangue é o efeito
temente ligada, da qual a His F8 faz parte, consequen Bohr alcalino e é de importância fisiológica.
temente muda. (4) A dobra de interligação FG da subu
nidade muda de posição; isso desestabiliza a interação HbT +4O2 ⇌ HbR(O2)4 + nH+ (9.10)
não-covalente da dobra FG com a hélice C da subunida
de adjacente na interface das subunidades a1b2 ou a2b1
O2 O valor de n na Equação 9.10 (equivalentes de pró
(Figuras 9.27 e 9.28). (5) A estrutura da globina adja tons liberados quando uma molécula de desoxi-Hb é
cente muda para uma conformação que permite que o convertida em oxi-Hb) varia entre 1,2 e 2,7, dependen
se ligue ao seu heme com maior afinidade. do das condições da solução e da concentração de íon
cloreto e de 2,3-bisfosfoglicerato. De acordo com a lei de
Assim, os contatos entre as subunidades FG e Cagem
ação das massas, o aumento na concentração de íons hi
como um comutador entre dois arranjos diferentes da
drogênio no lado direito da Equação 9.10, força o equilí
dobra FG de uma subunidade e da hélice C da subu
brio para a esquerda, em direção a concentrações cres
nidade adjacente. A nova conformação permite que os
centes de desoxi-Hb e O2 livre. A atividade metabólica
resíduos de His F8 nas cadeias da desoxiglobina aproxi
celular elevada aumenta a liberação de ácido carbônico
mem suas porfirinas na associação com O2 com menos
a partir de CO2 e ácido lático (p. 620), e consequente
repulsão estérica (Figura 9.28). O2 liga-se aos hemes
mente eleva a concentração de íons hidrogênio (acidez)
desocupados na conformação modificada, com maior
do sangue no ambiente celular. O aumento de acidez
afinidade. Além disso, interações iônicas que estabili
força a oxi-Hb para desoxi-Hb com a dissociação de O2,
zam a conformação desoxi (Figura 9.29) são quebradas
que é entregue para as células que estão metabolizan
pela mudança de conformação induzida pela ligação do
do. Essa é uma alça de retroalimentação (feedback),
O2 a um dos hemes, permitindo que a conformação oxi na qual o resíduo ácido metabólico celular sinaliza um
de outras subunidades se forme mais facilmente.
aumento na dissociação de O2, necessário para a conti
A conformação desoxi da hemoglobina é a tensa ou nuidade do metabolismo celular. O aumento na concen
estado conformacional T. A forma oxi, com maior afini tração de íons de hidrogênio induz a entrega de O2 por
dade por O2, é relaxada ou estado conformacional R. meio de seu efeito sobre o equilíbrio entre as conforma
O mecanismo alostérico descreve como a ligação inicial ções R e T da molécula de hemoglobina.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 375

Por que os prótons se dissociam


EF1 EF da hemoglobina quando a conforma
F!
ção T se converte na conformação R?
β2 F1 β1 Os prótons se dissociam quando as
A!
cadeias laterais ácidas da hemoglobi
A F E!
na ficam mais acídicas na conforma
F8 ção R do que na conformação T. Isso
H!
H G requer que o pKa desses grupos seja
FG4 mais baixo na conformação R.
B FG5
G9
G G3
G1 G! C3 C B14
G4 C6
CD5 A His-146(b) é a principal contri
C!
E1
E
G3
buidor por essa dissociação de pró
C7
E1
CD5 G! C5 C6
G1 ton na conversão da conformação T
C C3 G2
FG5 G9 para R. Na conformação T, a carga
C2 FG4
FG3 E7
positiva da cadeia lateral imidazólio
F!
da His-146(b) está em um par iônico
D1 F8 E B umcadeia
H! H cargaa positiva
com e tem da
carga negativa pKa late
F
ral carboxilato da Asp-94(b) (Figura
E! A
A!
9.30). O carboxilato carregado ne
α2 F1 α1 gativamente estabiliza o imidazólio
carregado positivamente. O imida
EF EF1
zólio estabilizado tende a reter sua
maior
do que o normal (aproximadamente
(a) 7,7). Conversão da hemoglobina para
Y a conformação R quebra esse par iô
nico, colocando as cadeias laterais de
Asp e His em novas posições na con
N α1 formação R, em que os grupos de car
gas opostas não mais interagem for
F
temente, e essa perda de interação
A de cargas opostas reverte o imidazó
HC
E lio da His-146(b) para um pKa mais
F H normal, de aproximadamente 7,3. A
D mudança no pKa da His-146(b) para
FG um valor mais acídico na conversão
G para a conformação R resulta na dis
B C
sociação de prótons no pH do sangue
X
G C (7,4 ). Aproximadamente 50% dos
B
prótons que se dissociam vêm do
FG imidazólio da b−His-146. O resto vem
de outros grupos ácidos que de modo
H F
HC semelhante mudam seus pKa de va
A E lores mais altos para mais baixos na
β2 mudança de conformação T para R.
F
A Figura 9.31 mostra o gráfico da
N fração de saturação dos sítios de li
gação de O2 na hemoglobina versus
(b)
a concentração de O2 para Hb em di
FIGURA 9.27 Estrutura quaternária da hemoglobina, mostrando as interações ferentes valores de pH. Em pH mais
da dobra FG com a hélice C na interface a1–b2. acídico (maior [H+]), a hemoglobi
(a) São mostrados contatos na interface a1–b2 entre as dobras FG e a hélice C. (b) Re na dissocia seu O2 mais facilmente
presentação cilíndrica das subunidades a1 e b2 da hemoglobina, mostrando os contatos (Equação 9.10), e a curva é desloca
da interface a1–b2 entre a dobra FG e a hélice C, vistos de lados opostos do plano xy da para a direita. Da mesma forma,
de (a). o valor de P50 em pH mais acídico
(a) Reproduzida com permissão de Dickerson, R.E. e Geis, I. The Structure and Ac é maior. O P50 mais alto representa
tion of Proteins. Menlo Park, CA: Benjamim, 1969, 56. (b) Reproduzida com permissão uma afinidade menor pelo O2, visto
de Baldwin, J. e Chothia, C. J. Mol. Biol. 129:175, 1979. Copyright © (1979), Academic
Press. Inc. [London] Ltd.
que os sítios de ligação de O2 estão
50% saturados em p(O2) mais alta.
376 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

89
Val His92
FG1 Leu
85 98 FB
F6 88
Asn102
G4
Fe
Pirrol Fe Prrol 1

Leu86
F7 CO Val
67
Leu31 E11
Cδ B13
Leu91 Lys66
Val93 Cε
FG3 Leu83 E10
FG5 Leu28
His87
Fe F4
B10 His63
E7
CH4 CH2
C
Gly29
O B11

(a) (b)

FIGURA 9.28Diagramas de barras e preenchimento de espaço desenhados por computação gráfica mostrando os
movimentos dos resíduos na vizinhança do heme na transição da desoxi-hemoglobina para a oxi-hemoglobina.
(a)A linha preta delineia a posição da cadeia polipeptídica e His síduos de aminoácidos em uma subunidade b usando diagrama
F8 na monóxido de carbono hemoglobina, um modelo de oxi de preenchimento de espaço. A identificação dos resíduos está
-hemoglobina. A linha vermelha delineia as posições das mesmas no centro de densidade para a conformação desoxi.
regiões para desoxi-hemoglobina. A posição do átomo de ferro é Redesenhado com permissão de Baldwin, J. e Chothia, C. J. Mol.
mostrada por círculos. Os movimentos são da uma subunidade Biol. 129:175, 1979. Direitos autorais 1979, Academic Press.
a. (b) São mostrados movimentos semelhantes na posição de re Inc. [London] Ltd.

Em pH mais alto, a curva é deslocada para a esquerda e gue vizinho e entra nos eritrócitos. Lá o CO2 é rapida
o valor de P50 diminui, refletindo uma maior afinidade mente convertido, pela ação da enzima anidrase carbô
por O2. nica, em ácido carbônico por uma reação de hidratação
(Equação 9.11).

+NH3H10 α1 Lys
CO2 + H2O  H2CO3 (9.11)
COO– –OOC A4α1 Asp H2CO3  HCO3– + H+ (9.12)
HC3 α2 *H3+
NNA1 α1 Val
Arg Cl–
Subsequentemente, o ácido carbônico dissocia-se
espontaneamente em HCO3– e um H+ (Equação 9.12). O
Gua+ –OOC
+ H9 α1 Asp HCO–3 se difunde para fora dos eritrócitos e é carregado
COO–H3NC5 α1 Lys para o pulmão pelo plasma (Figura 9.32). Esse trans
porte de CO2 dos tecidos para o pulmão no plasma como
FG1 β2HC3 β2 His
bicarbonato (HCO3–) é conhecido como transporte iso
Asp COO– *Im+ -hídrico. Aproximadamente 70–80% do CO2 produzido
CD2 β2 GluCOO– Gua+ FG4 α1 Arg pelas células é transportado para o pulmão por esse
mecanismo.
FIGURA 9.29 Pontes salinas entre subunidades da desoxi
Os íons hidrogênio que se dissociam do ácido car
hemoglobina que são quebradas na oxi-hemoglobina.
Im+ é imidazol, Gua+ é guanidina, e os resíduos marcados com bônico ligam-se à hemoglobina, de acordo com a Equa
asteriscos são responsáveis por aproximadamente 60% do efei ção 9.10, e forçam a Hb(O2)4 a dissociar seu O2, que se
to Bohr alcalino. difunde para fora do eritrócito, em direção às células
Redesenhado de Perutz, M. Br. Med. Bull. 32:195, 1976. do tecido. A hemoglobina então age como um tampão
do pH do sangue, ligando os íons hidrogênio produzi
O Transporte de CO2 e de O2 é Ligado por dos pelas células em metabolismo e impedindo que o
Prótons do Efeito Bohr pH do sangue se torne muito ácido. Os prótons se ligam
a cadeias laterais como o imidazólio da His-146(b) nas
Células em metabolismo utilizam O2 e produzem duas cadeias b. A desoxi H+.Hb é transportada para os
CO2. O CO2 produzido pelas células difunde para o san pulmões, nos eritrócitos.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 377

difunde para os alvéolos pulmonares e


é expirado no ar (Figura 9.32).
heme
Um segundo mecanismo de trans
par iônico porte de CO2, que responde por 15–20%
do CO2 transportado dos tecidos para os
F8-His-93 pulmões, é pela carbamino-hemoglobi
na, formada pela reação não-enzimática
de CO2 com os grupos amino NH2-ter
minais das cadeias polipeptídicas de Hb
His-146 (Equação 9.13). Essa reação que produz
+ carbamino-Hb também produz H+.

HbNH2 + CO2  HbNHCO2– + H+ (9.13)

O excesso de H+ produzido pela for


Asp-94 mação de carbamino-Hb então se liga à
hemoglobina e estabiliza a forma deso
xi, promovendo a liberação e a entrega
FIGURA 9.30 Par iônico entre os grupos de cadeia lateral imidazol da bHis de O2 às células em metabolismo ativo
146 e carboxilato do ßAsp 94 na conformação desoxi (T) da hemoglobina. (Equação 9.10 e Figura 9.33).
Uma estrutura parcial da cadeia b mostrando o esqueleto da cadeia polipeptídica
para os aminoácidos 87 a 95 e 142 a 146 da cadeia b na conformação desoxi. Só as No pulmão, a alta concentração de
cadeias laterais de Asp-94, His-146 e F8 His-92 ligadas ao heme da subunidade b H+
pO2(Equação
gera Hb(O2)4,
9.10).com
Essedissociação
aumento de
são mostradas. Os átomos de oxigênio estão coloridos em vermelho, os átomos de em
nitrogênio estão em azul, e os átomos de carbono e hidrogênio são pretos. A ponte H+ força a dissociação do grupo carba
de hidrogênio (linha tracejada) é mostrada entre o N-H imidazólio carregado positi mino com a liberação de CO2 (reverso
vamente da ßHis-146 e o oxigênio carboxilato carregado negativamente do bAsp-94. da Equação 9.13), que é expirado dos
Desenho feito com o Swiss-PdbViewer usando PDB estrutura 1A3N.
pulmões (Figura 9.33).

pressão de pO2 (a) Eritrócitos em capilares dos tecidos


em capilares de pressão de pO2
músculo ativo nos pulmões
CO2 CO2 + H2O
das
dosHCO
células
tecidos H2 anidrase carbônica

CO3 + Hb(O2)4
)
P50 pH
(b)
expirado
Eritrócitos
plasma
HCO
COpara
2-3 em
o ar
capilaresHCO
do pulmão
-3 + H+Hb + 4O2 O2
mais baixo
para células
dos tecidos

CO2 + H2O
H2 anidrase carbônica
p(O)2 (torr)
CO3 + Hb(O2)4
P50

plasma
-3 HCO-3 + H+Hb + 4O2 O2
FIGURA 9.31 Mudança na curva de saturação de do ar
oxigênio-hemoglobina para valores mais altos de P50
com queda no pH (aumento em [H+]). FIGURA 9.32 Transporte iso-hídrico de CO2 como
bicarbonato.
(a) Reações nos eritrócitos, nos tecidos. O CO2 difunde para os
Nos pulmões, as mesmas reações que ocorreram eritrócitos a partir dos tecidos e é convertido em ácido carbôni
nos tecidos são agora forçadas na direção reversa co pela anidrase carbônica (Equação 9.11). O ácido carbônico
próton que se dissocia
espontaneamente se dissocia
do ácidoecarbônico
m H+ e HCO(H+
–3 (Equação
em negrito)
9.12).
liga-se
O
pela alta concentração de O2 no pulmão. A alta con
centração pO2 converte H+Hb(T) na conformação
à desoxi-Hb, forçando o equilíbrio de O2-Hb de oxi-hemoglobina
Hb(O2)4(R), os prótons se dissociam (Equação 9.10)
e combinam com para desoxi-hemoglobina (Equação 9.10), com a dissociação de
moléculas de HCO3–, que se difundem O2, que difunde para fora dos eritrócitos, para os tecidos. O HCO3
de volta para os eritrócitos a partir do plasma, para se difunde para fora dos eritrócitos e é transportado no plasma
formar ácido carbônico (H2CO3, reverso da Equação para os pulmões (fora da célula). (b) Reações nos eritrócitos em
9.12). A anidrase carbônica dos eritrócitos converte nível do pulmão. No pulmão, a alta pressão de O2 força as reações
H2CO3 em CO2 e H2O (reverso da Equação 9.11). O CO2 na direção oposta. As reações são o inverso das dos capilares.
378 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

(a) Eritrócitos nos capilares dos tecidos b] (Figura 9.36). O BPG tem uma carga de menos cinco
(Figura 9.34) e é fortemente atraído pelas cargas po
dasCO
células
2 CO2 + HbNH2
sitivas do sítio de ligação da interface b–b. Na confor
dos tecidos mação R, o tamanho do bolsão de ligação fica menor,
HbNH-CO2– + H+ + Hb(O2)4
tornando o BPG incapaz de caber facilmente no bolsão
de ligação. Portanto, a conversão de T para R leva a uma
H+Hb + 4O2 O2
dissociação do BPG ligado.
para as células
dos tecidos

(b) Eritrócitos nos capilares do pulmão O


O OJ OJ

COo2 ar HC HO P O
para CO2 + HbNH2
OJ O C OJ
HbNH-CO2– + H+ + Hb(O2)4 P H
OJ

H+Hb + 4O2 O2
FIGURA 9.34 Estrutura do 2,3-bisfosfoglicerato (BPG). A
do ar
molécula tem uma carga de –5 em pH 7,4.
FIGURA 9.33 Transporte de CO2 como carbamino
hemoglobina.
pressão pO2
(a) Reações nos eritrócitos, nos tecidos. O CO2 difunde-se em capilares
músculo ativode pressão(torr)
pO2
para os eritrócitos e reage com o amino grupo NH2-terminal de nos pulmões
cadeias de hemoglobina para formar carbamino-hemoglobina
(Equação 9.13). A reação libera um próton (H+ em negrito),
que promove a dissociação de O2 da hemoglobina. O O2 difun
de-se para fora dos eritrócitos, para os tecidos. (b) Reações )
P50 BPG p(O)2
nos eritrócitos em nível do pulmão. No pulmão, a alta pressão mais alta
de O2 força as reações na direção oposta, levando à expiração
de CO2 do pulmão. As reações são o inverso das dos capilares.

2,3-Bisfosfoglicerato (BPG) em Eritrócitos


Modula a Liberação de Oxigênio da
Hemoglobina
P50
Um importante modulador do equilíbrio da hemo
globina é o 2,3-bisfosfoglicerato (BPG) ou 2,3-difos FIGURA 9.35 Mudança na curva de saturação de
foglicerato (DPG) (Figura 9.34). BPG é formado em oxigênio–hemoglobina para valores mais altos de P50
uma via minoritária do metabolismo de glicose e está com aumento na concentração de BPG.
presente em pequenas quantidades em todas as célu
Condições que causam hipoxia (deficiência de oxi
las. Entretanto, no eritrócito essa via é muito ativa, e
as concentrações de BPG são aproximadamente equi gênio) como anemia, fumo e altitudes elevadas, aumen
tam os níveis de BPG nos eritrócitos. Por sua vez, as
molares à de hemoglobina. BPG liga-se à conformação
condições que levam a hiperoxia resultam em níveis
desoxi (T), mas não à oxi (R). A ligação de BPG à Hb
mais baixos de BPG. As mudanças nos níveis de BPG
estabiliza a conformação T e aumenta sua concentração
dos eritrócitos são lentas e ocorrem ao longo de horas
em relação à conformação R. BPG dissocia-se à medida
e dias para compensar mudanças crônicas nos níveis
que desoxi-Hb é convertida em oxi-Hb (Equação 9.14).
de pO2.
H+BPG × Hb + 4O2  Hb(O2)4 + BPG + nH+ (9.14)

Concentrações aumentadas de BPG forçam o equi Hemoglobina Entrega Óxido Nítrico


líbrio (Equação 9.14) para a esquerda, e também des
locam a curva de saturação para a direita, com um
(NO) para a Parede Capilar de
aumento na P50 (Figura 9.35). De modo diferente, con Tecidos onde Promove Entrega de
centrações mais baixas de BPG forçam esse equilíbrio
para a direita, e também deslocam a curva de saturação O2
para a esquerda, com P50 mais baixo.
A hemoglobina liga reversivelmente óxido nítrico
Uma única molécula de BPG liga-se dentro de um (NO), um potente vasodilatador, com um tempo de vida
bolsão formado na interface das subunidades b1–b2 na muito curto no sangue. Por ligar NO, a hemoglobina o
conformação T. Esse local contém oito grupos carre sequestra de rápida destruição. Hb libera NO transfe
gados positivamente [os resíduos de His-143(b), Lys rindo-o para moléculas sulfidrila pequenas (X-SH),
-82(b), His-2(b) e o NH2-terminal de ambas as cadeias quando a hemoglobina muda da conformação oxi(R)
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 379

93 da cadeia b (bCys93). O ferro do heme liga


preferencialmente NO quando na conforma
ção T. O NO é transferido para bCys93 quando
a hemoglobina está na conformação R. Então,
quando a conformação R muda novamente
transferido
para T parada
entregar 2 para
bCys93Opara moléculas
os tecidos,
X-SH peé
o NO

quenas, como a glutationa (Figuras 9.37 e 9.38).


O efeito final é a conversão pela hemoglobina de
NO livre instável no plasma em X-S-NO estável.

A Figura 9.39 mostra a região da hemoglo


bina que contém bCys93-S-NO. Na conforma
ção T, o S-NO fica no lado de fora e acessível
às moléculas de glutationa. Isso permite que
trans-nitrosilação ocorra. Diferentemente, na
conformação R, a bCys93-SH aponta para o
ferro do heme e está inacessível ao solvente
de fora. A distância na conformação R entre o
ferro do heme e a bCys93 é ótima para a trans
ferência do NO do heme para a bCys93-SH.
Assim, as mudanças conformacionais da molé
cula de hemoglobina, induzidas por mudanças
na pressão de oxigênio entre os pulmões e os
tecidos, regulam a captação de NO e a libera
ção da bCys93. O resultado final é a entrega de
NO bioativo para os capilares dos tecidos sob
baixa tensão de oxigênio.

FIGURA 9.36 Sítio de ligação de 2,3-bisfosfoglicerato na interface


b–b da desoxi-hemoglobina.
São mostradas as cadeias laterais carregadas positivamente das amônias
amino-terminais das duas bVal-1, imidazólio da bHis-2, e-amino da bLys-82
e imidazólio da bHis-143. O 2,3-bisfosfoglicerato carregado negativamente
se liga ao meio do anel de grupos carregados positivamente.
Reproduzido com permissão de Dickerson, R. E. e Geis, I. Hemoglobin:
Structure, Function, Evolution, and Pathology. Menlo Park, CA: Ben
jamin-Cummings, 1983. Ilustração de Irving Geis. Imagem de Irving Geis
Collection, Howard Hughes Medical Institute. Direitos pertencem a HHMI.
Não reproduzir sem permissão.

para a desoxi(T). Uma molécula X-SH comum é a glu H3 O

tationa (Figura 9.37). O composto X-S-NO continua a N

estabilizar NO contra degradação e permite a entrega S


eficiente de um equivalente de NO bioativo (X-S-NO) HC H
aos receptores de NO nas células da parede dos vasos H
N+ -Glu NH
Cys C H Gly
sanguíneos, promovendo o relaxamento da parede vas CC
C H C
H CNHC H O
cular. O relaxamento facilita a transferência de gases
entre o sangue e as células dos tecidos. A concentração H H O O C
OJ
molar de NO no sangue é 1/70 da concentração de Hb. O H OH

Entretanto, essa baixa concentração é fisiologicamente


significativa em virtude da potente atividade biológica
de X-S-NO.
FIGURA 9.37 O transportador X-S-NO.
NO é primeiro capturado pelo Fe2+ do heme e, de Glutationa (g-glutamil-cisteinil-glicina) transporta NO ligado à
pois, transferido para a sulfidrila de resíduos de cisteína cadeia lateral sulfidrila de sua cisteína.
380 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

VEIA ARTÉRIA
1 HS SH O2
2 O2 HS SH O2
ββααCO CO2 ββ
α
2 α

T O2 R O2

HSON SH ONS
2 SH O
5 6 O 2
β β β β
α α α α
X-SNO
O2 T O2 R O2

X-SNO

CO2
8 HSON SH 7 HS SH
β β β β
α α CO2 α α

T 4 O2 T

4 ββ
HS SH β SH O2
3 O2 HS
NO
β
αNOTα NOααR O

CAPILAR 3 O2 1O2 ARTERÍOLA

FIGURA 9.38 Ligação e liberação de NO pela hemoglobina durante o ciclo


respiratório.
O modelo mostra a ligação e a dissociação de NO, O2 e CO2 enquanto uma mo
lécula de hemoglobina faz dois ciclos completos na circulação. O primeiro ciclo
envolve os intermediários 1–4, e o segundo ciclo, os intermediários 5–8. As con
formações T e R são mostradas, e os grupos SH são da cadeia lateral de bCys93. O
NO é ligado diretamente a um ferro-heme ou ao SH da bCys93.
As etapas-chaves no transporte de NO são sua ligação inicial a um heme no
intermediário 3 e a transferência do heme de uma subunidade b para bCys93 no
intermediário 6 (conformação R) e sua transferência para uma molécula tiolpe
quena X-SH no intermediário 7 (conformação T), quando a hemoglobina é con
vertida de R para T. A molécula de hemoglobina representada pode ser apenas
1 em 1.000 moléculas de hemoglobina circulantes, em virtude da relativamente
baixa concentração molar de NO no sangue.
Redesenhado de Gross, S. S. e Lane, P. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 96:9967, 1999.

FIGURA 9.39 Estrutura de ßCys93 e de ßCys93-S-NO nas conformações T e R.


Em todas as estruturas, a borda do heme (H, vermelho) aponta para o leitor e mos
tra estar ligada ao imidazol da histidina proximal (F8). Os dois carbonos (cinza) e o
enxofre (amarelo-esverdeado) da cadeia lateral da Cys-93 são apresentados como
modelos de preenchimento espacial. Nos painéis C e D, o NO é ligado ao enxofre
da bCys93 com o átomo de N, em azul, e o átomo de oxigênio colorido em vermelho.
A. A conformação desoxi (T) com a cadeia lateral da bCys93 (—CH2—SH) na su
perfície da molécula, longe do heme. A cadeia lateral da cisteína é impedida de
entrar no sítio de ligação do heme pelo pariônico, ligado por pontes de hidrogênio,
formado pelo imidazólio da bHis146 e o carboxilato do bAsp94 (ponte de H entre
grupos mostrada em amarelo) no lado direito superior e atrás da cadeia lateral da
bCys93-SH.
B. A conformação oxi(R) com a cadeia lateral da bCys93 apontada para o heme e longe do solvente no lado externo da molécula. A ponte
salina entre bHis146 e bAsp94 é quebrada na conformação R, permitindo a dobra de bCys-SH em direção ao bolsão do heme.
C. Modelo de bCys93-SNO na conformação desoxi (T). O SNO é posicionado no lado de fora, ficando acessível para reagir com moléculas
pequenas X-SH no solvente. Como em A, a cadeia lateral da cisteína é impedida de entrar no sítio do heme pelo pariônico bHis146-bAsp94.
D. Modelo de bCys93-SNO na conformação oxi(R). O SNO fica mergulhado próximo do heme e longe do solvente do lado externo. Essa
conformação facilita a transferência de NO do ferro-heme para o SH da cisteína e impede a reação de bCys93-SNO com moléculas X-SH
no solvente.
De Stamler, J. S., Jia, L., Eu, J. P., McMahon, T. J., et al. Science 276:2034, 1997. Reimpresso com permissão de AAAS.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 381

9.5 O COMPLEXO PROTEICO DA Composição em Proteínas da Lâmina


LÂMINA BASAL Basal
Uma lâmina basal é um complexo muito estrutura A lâmina basal é composta de colágeno tipo IV, la
do de proteínas de matriz extracelular observado mi minina, nidogen (também chamado entactina) e perle
croscopicamente como uma região amorfa densamente cam, um proteoglicano de heparam sulfato. Além disso,
empacotada de cerca de 50–100 nm de espessura cir pequenas quantidades de talvez 50 outras proteínas
cundando tecidos ou células (Figura 9.40). O termo podem estar presentes, incluindo osteopontina (tam
membrana basal é usado para descrever a lâmina basal bém chamada BM-40 ou SPARC), fibulina, colágeno
e os colágenos fibrilares ligados ao seu lado externo. A tipo XV, colágeno tipo XVIII e o proteoglicano agrim.
membrana basal dá suporte aos tecidos e regula o aces A diversidade e a especificidade tecidual de uma mem
so de células ao estroma intersticial. Também partici brana basal é determinada pelas isoformas de colágeno
pa da determinação das propriedades das células que tipo IV e laminina e os tipos de proteínas minoritárias
estão ligadas a ela, incluindo os processos críticos de presentes. As isoformas de colágeno tipo IV são produ
divisão celular, morte (apoptose), diferenciação e mi zidas por sete genes diferentes de colágeno tipo IV. Es
gração. Todas as células produzem constituintes da sas isoformas compartilham homologia de estrutura de
membrana basal, e cada membrana basal tem caracte domínios, mas diferem em 30–50% em suas sequências
rísticas do tipo de células a partir do qual é sintetiza de aminoácidos. Existem pelo menos 12 isoformas dife
da. Uma membrana basal sublinha camadas de células rentes de laminina. As isoformas de colágeno tipo IV e
epiteliais e endoteliais, e circunda outros tipos de cé laminina expressas são características do tipo celular
lulas (Figura 9.40). Uma membrana basal separa duas e do tecido que sintetiza a membrana basal associada.
camadas de células no glomérulo renal, onde
Testísculo
funciona como um filtro seletivo. Camada epitelial

A lâmina basal é formada pela associações


não-covalentes entre sítios específicos locali Membrana
zados nos domínios de ligação das proteínas basal
às células
dapor Cristalino
associadas.
basal tambémMuitas
se ligam
proteínas membrana
meio de

domínios de ligação celular nas proteínas e


receptores celulares proteicos na membrana Músculo
proteínas
celular externa.
é composta
A estrutura
de unidades
de muitas
modulares
das (a)

com homologia de sequência e de dobras com


superdobras comuns, como as dobras de imu
noglobulinas (Ig) e de fator de crescimento
epidérmico (EGF). Essas dobras são encon
tradas repetitivamente e são os blocos cons
trutores de proteínas de matriz extracelular.
Enquanto os módulos EGF dessas proteínas
não parecem ter função de fator de cresci
mento, as proteínas fatores de crescimento e
citocinas são encontradas dentro da lâmina
basal, particularmente em associação com as
partes carboidrato dos componentes proteo
da
glicanos.
membrana
Durante
basalainduzida
reciclagem
por (turnover)
proteases e

heparanases, esses fatores de crescimento e


citocinas
lulas vizinhas.
são liberados
Além disso,
para muitas
agirem proteínas
sobre cé- (b)

da lâmina basal escondem atividades crípti FIGURA 9.40 Membranas basais.


cas que são ativadas quando clivadas da se (a) Diagrama de membranas basais circundando vários tecidos e tipos celu
lares. (b) Micrografia eletrônica mostrando a ultraestrutura da matriz extra
quência completa pela ação de proteases (ver
celular com membrana basal adjacente à célula epitelial (E). A lâmina lúcida
endostatina, p. 1043). O pró-protease plas
(LL) e a lâmina densa (LD) ou lâmina basal da membrana basal é mostrada.
minogênio está ubiquamente presente na Abaixo da lâmina densa está o estroma da matriz extracelular. Barra repre
matriz extracelular e é ativado pela secreção senta 100 nm.
celular de ativadores de plasminogênio (p. (a) Reproduzida com permissão de Kalluri, R. Nature Rev. Cancer 3:422-433,
1016). 2003. (b) Reproduzida com permissão de Bosman, F. T., e Stamenkovic, I. J.
Pathol. 200:423, 2003.
382 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

A Estrutura Molecular da Lâmina curtos, cada um formado por uma cadeia diferente, e um
braço longo composto por todas as três cadeias. Há cinco
Basal É Formada a Partir de uma genes distintos que codificam uma cadeia a e três para
cada uma das cadeias b e g, que se combinam para for
Rede de Laminina e Colágeno mar pelo menos 12 isoformas abg distintas. Diferentes
Tipo IV domínios na estrutura ligam-se ao perlecam e ao nido
gem, e pelo menos dois domínios contêm sítios de ligação
A estrutura do complexo de proteínas da lâmina ba para receptores de superfície celular. Perto da superfície
sal é produzida pela conexão de redes planas de lamini celular, as moléculas de laminina se autoassociam para
na e colágeno tipo IV. As moléculas do nidogem/entac formar uma estrutura em rede, em folheto, por meio de
tina e do proteoglicano perlecam ligam essas redes. A interações entre sítios de ligação nos domínios dos bra
estrutura polimérica da laminina inicia a formação da ços curtos da estrutura cruciforme (Figura 9.43).
membrana basal, facilitada por sua ligação a receptores
celulares (Figura 9.41). Rede de Colágeno Tipo IV
Rede de Laminina As moléculas de colágeno contêm três cadeias poli
peptídicas que inicialmente se associam por interações
A laminina é composta por três cadeias polipeptídi não-covalentes (p. 107). Colágenos que formam fibri
cas (a, b e g) ligadas por pontes dissulfeto. Cada cadeia las, como o colágeno tipo I, contêm longos trechos das
contém cerca de 1.500 aminoácidos, e o peso molecular sequências repetitivas (Gly-Pro-X)n/(Gly-HyPro-Y)n
da isoforma laminina-1 tem aproximadamente 800 kD. A contendo uma prolina ou hidroxiprolina (HyPro) e uma
estrutura geral parece como uma cruz assimétrica (Fi glicina aproximadamente a cada três resíduos (p. 109).
gura 9.42). A estrutura cruciforme contém três braços Hidroxiprolina é um aminoácido derivado, formado pela

(a) (d)
Núcleo Citoplasma

(b)

Membrana celular
(c)

Colágeno tipo IV (entactina)


Nidogem Floulina

Perlecam Lamininas Receptor/âncora

FIGURA 9.41 Estrutura molecular da lâmina basal.


As moléculas de laminina e de colágeno tipo IV se autoassociam NC1 e com entactina/nidogem (En), fazendo ponte entre redes
para formar estruturas em rede, em folheto, que são ligadas pe de colágeno e laminina (Ln).
las proteínas nidogem/entactina e pelo proteoglicano de hepa (a) – (c) Reproduzidas com permissão de Kalluri, R. Nature
ram sulfato perlecam. (a) Síntese de proteínas de membrana Rev. Cancer 3:422, 2003. Copyright © (2003) Nature. (d) Re
basal pela célula. (b) Montagem da rede de laminina iniciada produzida com permissão de Yurchenco, P. D. Assembly of ba
pela ligação da laminina aos receptores da superfície celular. (c) sement membrane networks. Em: Yurchenco, P. D., Birk, D. E.,
Montagem da rede de colágeno tipo IV e associação de proteí e Mecham, R. P. (Eds.), Extracellular Matrix Assembly and
nas ligando os esqueletos da laminina e do colágeno tipo IV. (d) Structure. New York: Academic Press, 1994, 351. Copyright ©
Rede de colágeno tipo IV unida por interações dos domínios 7S e (1994) Elsevier.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 383

α
N

FIGURA 9.42 Estrutura da laminina (isoforma 1).


(a) Estrutura diagramática da laminina-1. As cadeias a, b e g
da laminina formam, cada uma, um braço curto da estrutura
cruciforme. O braço longo é formado por uma estrutura espi
N N ralada-enrolada de regiões de a-hélice de todas as três cadeias
β γ
com a cadeia de a-laminina estendendo-se para forma para
formar o domínio globular COOH-terminal. Os braços curtos
são compostos de domínios globulares, que são separados por
repetições tipo fator de crescimento epidérmico (tipo-EGF).
(b) Réplica de sombreamento rotatório de contraste invertido
C com glicerol da molécula de laminina. A NH2-terminal da ca
deia a e o domínio globular (G) da cadeia a indicados.
(a) Redesenhada com base em figura de Yurchenco, P. D. As
sembly of basement membrane networks. Em: Yurchenco, P.
D., Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.), Extracellular Matrix
Assembly and Structure. New York: Academic Press, 1994,
C C
351. (b) Reproduzida com permissão de Yurchenco, P. D. As
sembly of basement membrane networks. Em: Yurchenco, P.
D., Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.), Extracellular Matrix
Assembly and Structure. New York: Academic Press, 1994,
Domínio G
351. © (1994) Elsevier.

prolina hidroxilase no retículo endoplasmático a par super-helicoidal. Esta molécula com três cadeias cons
tir de resíduos de prolinas na cadeia nascente de pró titui a unidade protomérica do colágeno.
-colágeno. O alto conteúdo de prolina e hidroxiprolina
gera uma conformação helicoidal para essa sequência O Colágeno tipo IV não forma estruturas fibrilares
conhecida como hélice de poliprolina tipo II (p. 109). como colágeno tipo I, mas uma rede em folheto. Os po
Essa hélice é caracterizada por três resíduos por volta lipeptídeos do colágeno tipo IV contêm regiões de sequ-
da hélice (n = 3), com uma Gly a cada três resíduos for ências (Gly-X-Pro)n/(Gly-HyPro-Y)n que formam regiões
mando uma borda longitudinal de glicinas ao longo de de tripla-hélice em forma de bastão, mas ao contrário do
um lado da hélice que promove a autoagregação de três tipo I, essas regiões são separadas por domínios de liga
polipeptídeos, cada um em uma conformação helicoidal ção e globulares que quebram as regiões super-helicoi
de poliprolina, em uma estrutura em tripla-hélice ou dais (Figura 9.44). O domínio globular da extremidade

(a) α α (c) FIGURA 9.43 Formação da


estrutura em rede da laminina.
Ca2+
(a) e (b) Interações de ligações
β γ entre os braços curtos de molécu
β γ
las diferentes de laminina levam a
estruturas em folhetos, em rede. A
entactina é mostrada ligada a um
braço curto de laminina, mas não é
necessária para a polimerização da
rede de laminina. Acredita-se que o
(b) braço longo fique livre para partici
par de outras interações. (c) Rede
de laminina vista por réplicas em
platina com ângulo alto.
Figuras de Yurchenco, P. D. As
sembly of basement membrane
networks. Em: Yurchenco, P. D.,
Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.),
Extracellular Matrix Assembly
and Structure. New York: Acade
mic Press, 1994, 351. (a) e (b) Re
desenhadas e (c) reproduzida com
permissão. Copyright © (1994) El
sevier
384 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

N S 7S TH NC1 C de NC1 a NC1 (Figura 9.45). Então, os


dímeros interagem por suas regiões 7S
para formar tetrâmeros, que se autoa
gregam mais para formar uma rede pla
na. As interações dos 7S são os nós da
1 500 1000 1500 res estrutura em rede do colágeno.

FIGURA 9.44 Diagrama do protômero de colágeno tipo IV composto por três Nidogen/Entactina
cadeias polipeptídicas.
A linha superior mostra a localização, na estrutura primária, da região NC1, a re
Interconecta Redes de
gião da tripla-hélice central (TH) com a estrutura super-helicoidal, e a região 7S Laminina e de Colágeno Tipo IV
N-terminal. As barras pretas, linhas e caixas mostram as localizações das múltiplas
interrupções da sequência de Gly-X-Y nas cadeias de colágeno tipo IV. As duas isoformas, nidogem-1 e ni
Redesenhado de Yurchenco, P. D. Assembly of basement membrane networks. Em: dogem-2, têm 46% de homologia. Am
Yurchenco, P. D., Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.), Extracellular Matrix Assembly bas as formas são compostas por três
and Structure. New York: Academic Press, 1994, 351. Copyright © (1994) Elsevier. domínios globulares (G1, G2 e G3) se
parados por uma região de ligação en
C-terminal do protômero é chamado domínio NC1 (não tre G1 e G2 e uma região mais longa em forma de bas
-colágeno 1). Esse domínio C-terminal é precedido por tão entre G2 e G3 (Figura 9.46). O domínio G3 é uma
uma região central em tripla-hélice (TH) e uma região dobra em hélice-b composta de fitas-b antiparalelas
de articulação conectando a uma região de tripla-hélice que aparecem como lâminas de uma hélice de avião.
menor (7S) na extremidade N-terminal. É semelhante a uma dobra da proteína receptora de
LDL. Os nidogens ligam-se à laminina pela interação
Na montagem da rede de colágeno tipo IV, cada pro da interface da hélice-b com os domínios III e IV da
tômero liga-se a outro por uma interação cabeça-cabeça laminina (Figura 9.47). Outros sítios em nidogem for

Protômero
2

1
Dímero Hexâmero NC1

Tetrâmero de colágeno tipo IV

250 nm 25 nm

Domínio 7S

Supraestrutura do colágeno tipo IV


Hexâmero NC1

Domínio 7S

FIGURA 9.45 Formação da estrutura em rede do colágeno tipo IV.


A. Representação esquemática da formação da rede. (a) A mo ros forma a rede de colágeno tipo IV. B. Redes de colágeno tipo
lécula do protômero do colágeno tipo IV é formada a partir de IV vistas por uma réplica em ângulo alto de membrana basalam
três cadeias polipeptídicas (vermelho, púrpura e azul) no retí niótica observada in situ.
culo endoplasmático e complexo de Golgi da célula. As cadeias A. Redesenhada de Kalluri, R. Nature Rev. Câncer 3:422, 2003.
de colágeno são alinhadas com suas regiões 7S NH2-terminais B. Reimpressa com permissão de Yurchenco, P. D., e Ruben, J.
em uma extremidade e regiões NC1 COOH-terminais na outra Cell. Biol. 105:2559, 1987. Modificado de Yurchenco, P. D. As
extremidade. (b) Dois protômeros são unidos por seus domínios sembly of basement membrane networks. Em: Yurchenco, P. D.,
NC1 para formar um dímero de protômeros (cada protômero Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.), Extracellular Matrix Assem
tem três cadeias de modo que a interação é entre os domínios bly and Structure. New York: Academic Press, 1994, 351. Co
NC1 de seis cadeias). (c) Dois dímeros de protômeros ligam-se pyright © (1994) Elsevier.
pelas regiões 7S. (d) Polimerização de tetrâmeros de protôme
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 385

200 400 600 800 1000 1200 FIGURA9.46 Estrutura do nidogem. Estrutura
RGD esquemática da molécula de entactina/
* nidogem-1.
NH2 * * 1 2345
* 6 COOH
Os sítios potenciais para ligação de cálcio são marca
E/N-1
dos por asteriscos. Sítios de ligação de colágeno tipo
G1 G2 G3 IV e proteoglicano ficam no domínio G2, e o sítio de
Linha Bastão
ligação de laminina fica no domínio G3. A sequência
RGD (Arg-Gly-Asp) liga-se a receptores celulares tipo
Colágeno tipo IV Laminina
integrina.
proteoglicano
Redesenhado de Erickson, A. C. e Couchman, J. R. J.
motivo tipo-EGF motivo tipo-Thyroglobulin Região homóloga ao receptor de LDL Histochem. Cytochem. 48:1291, 2000.

hélice-β
do nidogem

(a) (b)

FIGURA 9.47 Detalhes moleculares das interações moleculares entre o nidogem e a laminina.
(a) Diagrama da fita do complexo hélice-b do nidogem do do Ca-traço e cadeias laterais formando a interação são mostrados
mínio G3 com módulos LE3-5 de laminina. As fitas b são nume em dourado. As linhas tracejadas verdes mostram as pontes de
radas na folha-b da hélice. (b) Vista da interação do nidogem hidrogênio.
com o domínio LE4 de laminina e a porção adjacente do domí Reimpresso com permissão de Takagi, I., Yang, Y., Lu, J., Wang,
nio LE3 da laminina. As porções do esqueleto do nidogem como H. e Springer, T. A. Nature 424:969, 2003.

mam complexos com o colágeno tipo IV e o perlecam param sulfato com laminina. Outros sítios do heparam
(Figura 9.48). sulfato ligam-se a receptores celulares e outros ainda, a
fatores de crescimento como TGF-b.
Proteoglicano de Heparam Sulfato
Perlecam Interconecta Redes de Laminina Colágeno IV
Laminina
e de Colágeno Tipo IV
Nidogen/entactina

O perlecam (PM 600 kDa) é o principal proteogli


cano da lâmina basal. Os proteoglicanos têm um es
queleto polipeptídico ligado por cadeias laterais de
serina, por meio de um tetrassacarídeo, a uma cadeia
de glicosaminoglicano (GAG), composta de um dissaca
rídeo de um aminoaçúcar (N-acetilglucosamina ou N G

-acetilgalactosamina) e um ácido urônico (glucurônico


ouidurônico). No perlecam, o GAG é o heparam sulfato
muito sulfatado (Figura 9.49). Cada perlecam contém
2-15 cadeias de heparam sulfato (GAG) (Figura 9.50). Perlecam
As cadeias sulfatadas de GAG são muito carregadas ne
gativamente e ligam cátions e água para formar géis.
Isso fornece uma pressão de inchamento que permite à
FIGURA 9.48 Interações do nidogem e o proteoglicano
membrana basal resistir a forças de compressão. O per perlecam.
lecam interage com os outros três componentes majori As setas mostram interações domínio-domínio entre as princi
tários da membrana basal por meio ou do seu esqueleto pais proteínas na superestrutura da membrana basal.
proteico com colágeno tipo IV ou de suas cadeias de he Redesenhada de Kalluri, R. Nature Rev. Cancer 3:422, 2003.
386 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Ser Contato Focal em


Domínio NS Domínio NA/NS Domínio NA Membrana Celular
OO Interconecta a Matriz
−GlcA−GlcNAc− −IdoA(2-OSO3)−(GlcNSO3(6-OSO3)−
OO
COO− OSO3− Extracelular com o
COO−O
O OSO3−O Citoesqueleto

HNAc OSO3 HNSO3− A membrana basal é um complexo



proteico extracelular que é conectado ao
FIGURA 9.49 Estrutura de uma cadeia de heparam sulfato. complexo proteico intracelular do citoes
Os polímeros de dissacarídeos GAGs contêm unidades alternadas de ácido hexurô queleto, uma vez que ambos os complexos
nico (ácido D-glucurônico (GlcA) ou ácido L-idurônico (IdoA)) e D-glucosamina são conectados às mesmas proteínas re
(GlcN). A GlcN é N-acetilada em regiões da cadeia (região NA). Em regiões mais ceptoras presentes nas regiões de conta
processadas do polímero de heparam, os grupos N-acetil foram parcialmente subs to focal das membranas celulares. Essas
tituídos por N-sulfato (regiões NA/NS) ou os grupos N-acetil foram completamen interações proteína-proteína conectam a
te substituídos por N-sulfato (regiões NS). O círculo aberto é 3-O-sulfato.
Os polímeros são mais modificados por epimerização de C5 de GlcA para resíduos matriz extracelular ao citoesqueleto ce
de IdoA e, finalmente, a incorporação de grupos O-sulfato em várias posições. A lular e são críticas para a regulação de
cadeia de heparam é ligada ao esqueleto proteico pela formação de uma ligação a processos intracelulares, como mobilida
uma cadeia lateral de serina. de celular, divisão celular e morte celular.
Redesenhada de Lindahl, U., Kusche-Gullberg, M. e Kjellen, L. J. Biol. Chem. Na maioria das células de câncer, essa li
273:24979, 1998. gação do complexo proteico receptor de
membrana com ambos os complexos proteicos da lâmi
na basal extracelular e do citoesqueleto é quebrada.

HS

NH2 S SEA LA LA LA LA IG L4 LELELE L4 LELELE L4 LELE IG IG IG IG IG IG IG IG IG IG IG IG IG IG LG EGEG LG EGEG LG COOH

H S
S H
H

HS Pontos de ligação de LA Receptor de LDL class A IG Superfamília imunoglobulina EG


LG Tipo-EGF
heparam sulfato
SEA Módulo de SEA L4 Domínio IV de laminina LE Tipo-EGF laminina Domínio-F de laminina

FIGURA 9.50 Organização modular dos domínios do esqueleto proteico do perlecam.


Organização em domínios do perlecam de camundongo. A liga epidérmico de laminina); EG (tipo fator de crescimento epidér
ção das cadeias de heparam sulfato (HS) é indicada. Os domí mico); e LG (homólogo ao domínio tipo-G de laminina).
nios presentes são SEA (homólogo ao domínio encontrado em Redesenhada de Hopf, M., Göhring, W., Kohfeldt, E., Yamada,
proteína de esperma de ouriço do mar, enteroquinase e agrim); Y., e Timpl, R. Eur. J. Biochem. 259:917-925 (1999); e Kvan
LA (homólogo ao domínio do receptor de LDL tipo A); L4 (ho sakul, M., Hopf, M., Ries, A., Timpl, R. e Hohenester, E. EMBO
mólogo ao domínio IV de laminina); IG (domínio tipo imunoglo J. 20:5342, 2001.
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CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 387

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388 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Termos Chave
MOLÉCULAS DE ANTI domínio b-barril HEMOGLOBINA mecanismo halostérico
CORPO estabilização do estado de 2,3-bisfosfoglicerato mioglobina
cadeias H transição alterações no pKa P50
cadeias L evolução convergente carbamino-hemoglobina transporte de CO2
classe imunoglobulina endopeptidase coeficiente de Hill transporte de NO
dobra de imunoglobulina sítio ativo-dirigido conformações R e T transporte de O2
fragmento Fab exopeptidase cooperatividade positiva LÂMINA BASAL
fragmento Fc homologia de sequência efeito Bohr contato focal
regiões contante e variável pró-enzima efeito iso-hídrico membrana basal
hapteno resíduos catalíticos HbA1 nidogem
região hiper-variável serino proteases HbF perlecam
SERINO PROTEASES serpina histidina distal rede de colágeno
ácido g-carboxiglutâmico zimogênio histidina proximal rede de laminina

Questões • CAROL N. ANGSTADT

Questões de Múltipla Escolha 4. Hemoglobina e mioglobina têm, são, podem ou fa


zem todas as seguintes características, exceto
1. Haptenos:
A. subunidades que estabelecem pontes de hi
A. podem funcionar como antígenos.
drogênio e interações não-polares com outras
B. ligam-se fortemente a anticorpos específicos subunidades.
para eles.
B. muita a-hélice.
C. podem ser macromoléculas.
C. ligam uma molécula de heme por cadeia de
D. nunca agem como determinantes antigênicos. globina.
E. podem induzir diretamente a produção de an
D. ligam o heme em um bolsão hidrofóbico.
ticorpos específicos. E.
A. ligam um O2 por heme.
2. Na estrutura tridimensional das imunoglobulinas,
5. Transporte iso-hídrico de dióxido de carbono dos
A. folhas-balinham-se, borda com borda.
tecidos para o pulmão refere-se a
B. em cada cadeia (H e L), as regiões C e V do CO2 livre dissolvido no plasma.
bram-se umas sobre as outras, formando asso
B. HCO3– no plasma.
ciações CV.
C. compostos carbamino.
C. associações CL–VL formam os sítios comple
mentares para ligação dos antígenos. D. o efeito Bohr.
D. grupos SH livres são preservados para funcio E. a presença de anidrase carbônica no plasma.
nar na ligação forte, covalente, aos antígenos.
6. A mioglobina tem um coeficiente de Hill de 1,0, e a
E. domínios de articulação (hinge) conectam hemoglobina tem um coeficiente de Hill de 2,8. Isso
domínios globulares. indica que
3. Nas imunoglobulinas, todas as seguintes são corre A. uma curva de saturação de oxigênio para mio
tas, exceto globina seria sigmoide.
A. apresentam quatro cadeias polipeptídicas. B. a hemoglobina apresenta um equilíbrio sim
ples de ligação ao oxigênio.
B. existem duas cópias de cada tipo de cadeia.
C. a mioglobina apresenta cooperatividade nega
C. todas as cadeias são unidas por pontes dissul
tiva em sua ligação ao oxigênio.
feto.
D. a hemoglobina apresenta cooperatividade po
D. carboidrato está covalentemente ligado à pro
sitiva em sua ligação ao oxigênio.
teína.
E. a classe da imunoglobulina é determinada pe D. só a mioglobina daria uma linha reta em um
gráfico de Hill.
las regiões CL.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 389

Questões 7 e 8: Acredita-se que uma serino protease C. são inativadas pela reação com uma molécu
seja necessária para a metástase de células canceríge la de diisopropilfluorofosfato por molécula de
nas. As células tumorais secretam o ativador de plas proteína.
minogênio tipo-uroquinase (uPA), uma serino protease D. são exopeptidases.
que ativa o plasminogênio em plasmina. A plasmina E. reconhecem apenas os aminoácidos que con
causa a hidrólise de proteínas da matriz extracelular.
tribuem para a ligação a ser quebrada.
Ela também ativa pró-colagenase em colagenase; isso
degrada o colágeno. A destruição de proteínas da ma 10. Todas as seguintes são características da classe
triz extracelular permite que as células tumorais inva das serino proteases, exceto
dam a matriz para formar locais secundários de tumor. A. só um resíduo de serina é cataliticamente ati
7. A estrutura da lâmina basal é produzida pela cone- vo.
xão de redes planares de lamininas e colágeno tipo B. substratos proteicos naturais e inibidores li
IV. Qual(is) das seguintes afirmativas sobre eles gam-se muito fortemente à protease.
está(ão) correta(s)? C. os genes que codificam serino proteases são
A. Ambos laminina e colágeno tipo IV são com organizados de modo semelhante.
postos por três cadeias polipeptídicas. D. unidades catalíticas apresentam dois domí
B. Laminina tem uma estrutura cruciforme. nios estruturais de tamanhos drasticamente
C. Laminina e colágeno tipo IV são interconecta diferentes.
dos por um proteoglicano de heparam sulfato. E. a conversão de zimogênio na enzima ativa ge
D. Colágeno tipo IV contém sequências repetiti ralmente envolve uma ou mais reações hidro
vas de (Gly-HyPro-Y)n. líticas.
E. Todas as anteriores.
A. Questões 11 e 12: Há mais de 800 hemoglobinas mu
8. Além da serina, os outros dois resíduos essenciais tantes humanas. As mutações podem causar insta
no sítio catalítico das serino proteases são bilidade, levando à rápida degradação, alterações na
afinidade por oxigênio, ou oxidação mais rápida do Fe2+
prolina e hidroxiprolina.
do heme para Fe3+. Tudo isso altera a capacidade da he
B. histidina e aspartato. moglobina desempenhar suas funções fisiológicas. Na
C. histidinas proximal e distal. mutação HbCowtown, a histidina 146 que contribui com
D. aminoácidos C-terminal e N-terminal. 50% do efeito Bohr, é perdida. A regulação da dissocia
ção do oxigênio por prótons é impedida, a conformação
E. aspartato e glutamato.
T é desestabilizada em relação à conformação R, e afi
Questões 9 e 10: Quando um vaso sanguíneo sofre uma nidade por oxigênio é aumentada.
lesão, o processo de coagulação inicia-se para evitar 11. Acredita-se que todos os seguintes contribuam
a perda de sangue e manter a integridade do sistema para a estabilidade da conformação desoxi ou T da
circulatório. A coagulação é um processo no qual os hemoglobina, exceto
zimogênios são convertidos em serino proteases ativas
A. um raio iônico maior do íon ferroso seis-co
em um processo em cascata, passo a passo, tendo como
ordenado em comparação com um íon cinco
resultado final a produção de um coágulo de fibrina com
-coordenado.
ligações cruzadas. Em um infarto do miocárdio, o pro
cesso pode ser ativado a tal ponto que o fluxo sanguíneo B. interação estérica não-tensionada da His F8
para o músculo cardíaco é diminuído. A via da fibrinó com o anel da porfirina quando o ferro está
lise para dissolver coágulos de fibrina também envolve acima do plano.
a ativação de zimogênios em serino proteases ativas, C. interações entre a dobra FG (FG corner) de
sendo que a etapa final é a ativação de plasminogênio uma subunidade e a hélice C da subunidade
em plasmina, que age diretamente sobre o coágulo de adjacente.
fibrina. Um dos tratamentos atuais para o infarto do D. interações iônicas.
miocárdio é a rápida administração de t-PA (ativador
de plasminogênio tecidual). Na realidade, é usado o 12. Quando a hemoglobina é convertida da forma deso
xi (T) para oxi-hemoglobina (R),
t-PA recombinante, produzido pela tecnologia do DNA
recombinante. A. ela torna-se mais ácida e libera prótons.
9. Serino proteases B. a formação de carbamino é promovida.
A. hidrolisam ligações peptídicas envolvendo os C. a ligação de 2,3-bisfosfoglicerato (BPG) é fa
grupos carboxílicos de resíduos de serina. vorecida.
B. são caracterizadas por terem vários sítios ati D. NO ligado é transferido para a glutationa.
vos por molécula, cada um contendo um resí E. todas as anteriores estão corretas.
duo de serina.
390 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Problemas 14. Qual seria a ordem provável de surgimento das vá


rias imunoglobulinas em resposta a um patógeno
13. Uma das adaptações a altitudes elevadas é um au
viral introduzido pelas vias nasais e subsequente
mento na concentração de BPG. Que efeito isso tem
mente no sangue?
sobre uma curva de saturação versus pO2? Por que
aumento de [BPG] eleva a liberação de O2 para os
tecidos?

Respostas
1. B Haptenos são moléculas pequenas e não são ca são resíduos importantes na hemoglobina. D e E:
pazes de, sozinhas, elicitar a produção de anticor esses não estão envolvidos.
pos; portanto, não são antígenos. Eles podem atu
ar como determinantes antigênicos se estiverem 9. C Essa é a característica principal das serino pro
teases e das serino hidrolases, em geral. A: elas
covalentemente ligados a uma molécula maior, e
têm várias especificidades. B: há apenas um sítio
haptenos livres podem se ligar fortemente aos an
ativo por molécula. D: são todas endopeptidases.
ticorpos assim produzidos. E: um “sítio ativo estendido”, contendo a ligação a
2. E Ver Figuras 9.2. A: as folhas-b alinham-se face ser hidrolisada e cerca de quatro aminoácidos em
a face. B: as regiões V e C são adjacentes umas às ambos os lados, é responsável pela especificidade.
outras. C: as regiões de complementaridade são as
10. DOs domínios são de tamanhos aproximadamente
regiões variáveis tanto das cadeias pesadas como
iguais.
leves [V(H)–V(L)]. D: a ligação de antígeno é não
-covalente. 11. A O íon ferroso seis-coordenado tem menor raio iô
nico do que as espécies cinco-coordenadas, e cabe
3. E As regiões CH determinam a classe. A: existem
justo no centro do anel porfirínico, sem distorção.
duas cópias de cada um dos dois tipos de cadeias
polipeptídicas. 12. A A histidina carregada positivamente não é mais
estabilizada por estreita proximidade com um gru
4. A A hemoglobina tem quatro cadeias e quatro sítios
po carboxilato do aspartato. Este é o efeito Bohr.
para ligação de oxigênio, enquanto a mioglobina B: H+ aumentado favorece a dissociação de grupos
tem uma cadeia e um sítio para ligação de oxigênio.
carbamino; isso é o que acontece no pulmão. C: o
Cada sítio para ligação de oxigênio é um heme.
BPG não se liga efetivamente a oxi-hemoglobina
5. emOs
B HCO
prótons
–3 e H+,liberados
que se liga
como
à oxi-hemoglobina,
H2CO3 dissociam-se porque o bolsão de ligação é muito pequeno. D: na
faci oxi-hemoglobina, NO liga-se à cisteína e é trans
litando a liberação de O2 para os tecidos. A: muito ferido para a glutationa quando o O2 é liberado (a
pouco
de carregarestá
CO2 nesta forma. C: este é outro modo forma R reverte para a forma T).
CO2. D: o efeito Bohr libera H+ quando
13. A ligação de BPG à hemoglobina estabiliza a con
desoxi Hb capta O2. E: a anidrase carbônica fica
formação T, de modo que para qualquer quantida
nos eritrócitos.
de de O2, menos O2 será ligado à hemoglobina. Isso
6. D Um coeficiente de Hill maior do que 1 indica coo desloca a curva de saturação para a direita e au
peratividade positiva, o que a hemoglobina tem. A: menta a P50. O equilíbrio apresentado ilustra que o
um coeficiente de 1,0 indica não-cooperatividade; aumento de BPG leva à liberação de O2, o que deve
isso daria uma curva hiperbólica de saturação de acontecer para que o O2 penetre nos tecidos.
oxigênio. B: esse coeficiente indica um equilíbrio H+BPG×Hb + 4O2  Hb(O 2)4 + BPG + nH+
simples, que é o que a mioglobina mostra. C: o co
(Equação 9.14 do texto)
eficiente é entre 0 e 1 para cooperatividade nega
tiva. A mioglobina é um peptídeo único e não mos 14. A defesa inicial contra patógenos no muco nasal
tra cooperatividade. E: o gráfico de Hill é o log de são as imunoglobulinas da classe IgA. Se o organis
cada valor para uma curva de saturação normal e mo invadir o plasma, as imunoglobulinas IgM são
fornece uma linha reta. As inclinações, que são os os primeiros anticorpos induzidos. Com o tempo,
coeficientes de Hill, diferem. os anticorpos da classe IgG são sintetizados e vão
atingir concentrações mais elevadas do que os an
7. E Todos esses contribuem para a lâmina basal que,
ticorpos IgM.
com o colágeno fibrilar ligado ao lado de fora, é
chamada membrana basal.
8. B São designados Ser-195, His-57 e Asp-102, com
base na numeração da quimotripsina, independen
temente dos números reais das proteases individu
ais. A: esses são encontrados no colágeno. C: esses
PARTE III CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 391
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

10
Enzimas:
Classificação,
Cinética e Controle
Henry Weiner
Professor Titular, Purdue University

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


10.1 INTRODUÇÃO, 39� 10.1 Hidrólise de Asparaginase e Leucemia, 395
10.� CLASSIFICAÇÃO DAS ENZIMAS, 39� 10.� Mutação de um Sítio de Ligação de Coenzima Re�
sulta em Doença Clínica, �0�
10.3 CONCEITOS GERAIS DOS MECANISMOS DE
ENZIMAS, 396 10.3 Um Caso de Gota Demonstra Duas Fases no Me�
canismo de Ação Enzimática, �15
10.� SÍTIOATIVO DE UMA ENZIMA, �01
10.� de
Efeito
Enzimas,
Fisiológico
�16 de Mudanças nos Valores de Km
10.5 COENZIMAS, COSSUBSTRATOS E COFATO�
RES, �0�
10.5 Labilidade Térmica da Glicose�6�Fosfato Desi�
10.6 CINÉTICA DE REAÇÕES QUÍMICAS,�09
drogenase Resulta em Anemia Hemolítica, �19
10.7 CINÉTICA ENZIMÁTICA DE REAÇÕES COM UM
10.6 Isoenzimas da Álcool Desidrogenase com Dife�
SUBSTRATO, �11
rentes pHs Ótimos, ��0
10.8 CINÉTICA DE REAÇÕES COM DOIS SUBSTRA�
10.7 Inibidores de Xantina Oxidase Isolados de Plan�
TOS, �19
tas, ��1
10.9 INIBIDORES, ��0
10.8 Planejamento de um Inibidor Seletivo, ���
10.10 REGULAÇÃO DA ATIVIDADE ENZIMÁTICA, ��7
10.9 Um Caso de Envenenamento, ��5
10.11 REGULAÇÃO DE VIAS METABÓLICAS, �31
10.10 Cogumelos e Metabolismo de Álcool, ��6
10.1�APLICAÇÕES CLÍNICAS DE ENZIMAS, �3�
10.11Testosterona e Câncer de Próstata, ��6
10.1� Produtos Naturais Como Inibidores de Enzimas,
��7
10.13 Um Caso de Gota Demonstra a Diferença entre
um Sítio Alostérico e um Sítio de Ligação de
Substrato, ��8
10.1� Ambiguidade no Ensaio de Enzimas Mutadas,
��9
10.15 Identificação e Tratamento de uma Deficiência
Enzimática, �33
392 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Conceitos Chaves
IMUNOGLOBULINAS zima e do substrato e são descritas pela equação
• As enzimas são proteínas que catalisam reações de Michaelis�Menten, na qual um termo, Km, está
químicas por meio do aumento na taxa de conver� relacionado com quão bem o substrato liga�se �
são de um substrato específico em um produto es� enzima. Outro termo cinético, kcat, indica quão ra�
pecífico. pidamente a enzima converte o substrato em pro�
duto.
• As enzimas diminuem a energia de ativação das
reações por meio da estabilização do substrato de • Compostos químicos específicos inibem a ligação
uma forma que permite a formação do produto. do substrato e a velocidade de catálise. Muitas dro�
Esse é chamado estado de transição. gas são inibidoras de enzimas por se ligarem ao
sítio de ligação do substrato ou a diferentes domí�
• As coenzimas, a maioria derivada de vitaminas,
nios da proteína.
são participantes essenciais de muitas reações en�
zimáticas; algumas são quimicamente alteradas e • AlémAlém dosdos sítiossítios dede ligaçãoligação dodo substratosubstrato ee dodo cofa�cofa�
outras não mudam durante a reação. Algumas es� tor da enzima, algumas enzimas possuem sítios de
tãoão covalentementecovalentemente ligadasligadas �� enzima.enzima. ÍonsÍons metá�metá� ligação adicionais (sítios alostéricos) de modo que,
licos são necessários para a atividade de algumas quando um composto (ligante) se liga, ele regula a
enzimas; eles estão frequentementefrequentemente ligadosligados �� pro�pro� atividade catalítica. Esses ligantes (modificadores
teína ou a um cofator. ou efetores alostéricos) geralmente induzem a uma
mudança na estrutura da enzima. As propriedades
• AA químicaquímica dasdas transformaçõestransformações enzimáticasenzimáticas estáestá re�re� catalíticas de algumas enzimas são modificadas
lacionada com os princípios químicos gerais, como por modificação covalente.
catálise ácido�base e ataque nucleofílico. A catálise
enzimática é mais eficiente porque os grupos que • As enzimas tecido�específicas liberadas no sangue
protonam (ácidos gerais) ou desprotonam (bases a partir de células danificadas são quantificadas
gerais) e aminoácidos nucleofílicos fazem parte da para determinar a condição clínica. As enzimas
enzima. são também usadas no tratamento de algumas con�
dições médicas.
• AsAs velocidadesvelocidades dasdas reaçõesreaçõesões catalisadascatalisadascatalisadascatalisadas porporporpor enzi�enzi�enzi�enzi�
mas estãoão relacionadasrelacionadasrelacionadas comcomcom aaa concentraçãoconcentraçãoconcentração dadada en�en�en�

10.1 INTRODUÇÃO 10.2 CLASSIFICAÇÕES DAS


As enzimas são proteínas especializadas que catali� ENZIMAS
sam reações biológicas. Praticamente todas as reações
que ocorrem em uma célula requerem a ação de uma Com o advento das sequências genômicas, muitas
enzima porque a maioria dessas reações não ocorre� enzimas foram identificadas. Em meados de �00�, ha�
rá em velocidade detectável nas condições fisiológicas via informação disponível para mais de 83.000 enzimas
(pH, temperatura e ambiente iônico) da célula. As enzi� diferentes, de 9.800 organismos diferentes; em �008
mas são catalisadores eficientes, não só aumentando a o número de entradas dobrou. Todas as enzimas são
velocidade de conversão de substrato em produto, mas classificadas como pertencendo a uma dentre seis clas�
também reconhecendo uma estrutura química específi� ses, definidas pela reação química que catalisam. Um
ca na presença de estruturas semelhantes, para produ� sistema de numeração, consistindo de quatro números
zir um produto específico. para cada enzima, foi desenvolvido pela Internatio
nal Union of Biochemistry and Molecular Biology
Entretanto, nem todos os catalisadores biológicos são (IUBMB) para caracterizar cada enzima. O primeiro
enzimas. Foram identificados RNAs catalíticos (p. 71), número define o tipo de reação que é catalisada, se�
que participam do processamento de íntrons e tRNA, guido por números que definem detalhes da reação. É
enquanto outros executam uma etapa de autoprocessa� interessante que toda a química da vida pode ser re�
mento por hidrólise de uma ligação fosfodiéster em sua duzida a seis tipos diferentes de reações químicas. As
própria cadeia nucleotídica. Enzimas artificiais, chama� classes das enzimas são apresentadas na Tabela 10.1.
das abzimas, foram sintetizadas por meio da obtenção
de anticorpos contra compostos que são análogos do Os nomes sistemáticos das enzimas incluem o subs�
estados de transição. As abzimas foram projetadas para trato e o tipo de reação; o nome da enzima frequen�
catalisar mais de 100 reações químicas diferentes. temente termina em “ase”. Álcool desidrogenase, uma
enzima que oxida um álcool a um aldeído, tem o número
IUBMB 1.1.1.1. Isso indica que (1) a enzima está envol�
vida em uma reação de oxidação–redução (primeiro
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 393

TABELA 10.1 Resumo das Classes de Enzimas e Principais geiramente diferentes. A lactato desidrogenase é uma
Subclasses proteína tetramérica, que consiste dos monômeros M e
H, e pode ter cinco estruturas tetraméricas diferentes
1. Óxido�redutases �. Transferases
(Tabela 10.�).
Hidroxilases
Oxigenases
Catalase
Peroxidases
Redutases
Oxidases
Desidrogenases Transaldolase
e transcetolase
Acil, metil, glicosil TABELA 10.2 Isozimas da Lactato Desidrogenase
e fosforiltransferase
Tipo Composição Localização
Quinases
Fosfomutases LDH1 HHHH Miocárdio e eritrócitos
LDH� HHHM Miocárdio e eritrócitos
3. Hidrolases �. Liases
LDH3 HHMM Cérebro e rim
Amidases
Fosfolipases
Tiolases
Fosfatases
Peptidases
Glicosidases
Esterases Decarboxilases
Aldolases LDH� HMMM
Hidratases LDH5 MMMM Fígado e músculo esquelético
Desidratases
Sintases
Liases Classe 1: Óxido-redutases
Desaminases Enzimas da classe 1 catalisam reações de oxida�
Ribonucleases ção–redução, e são chamadas óxido�redutases. Oxida�
ção significa a perda de elétrons, e redução significa a
5. Isomerases 6. Ligases adição de elétrons. Os elétrons são removidos de um
Isomerases
Epimerases
Racemases Sintetases substrato (doador ou redutor) que é oxidado, e adicio�
Carboxilases nado a um segundo substrato (aceptor ou oxidante) que
é reduzido. Muitos aceptores de elétrons diferentes são
Mutases (nem todas) usados em sistemas biológicos (p. 579). As desidroge�
nases são tipicamente denominadas na direção de oxi�
dação. Exemplos são lactato desidrogenase em vez de
número), (�) remove hidrogênio como um íon hidreto piruvato redutase e gliceraldeído�3�fosfato desidroge�
com NAD+ como o aceptor de elétron (segundo núme� nase em vez de 1,3�bisfosfoglicerato redutase.
ro), e (3) os substratos para a enzima podem ser princi�
palmente alcoóis primários (terceiro número). (�) O úl� Reações de oxidação e redução incluem os seguintes
timo número é reservado para diferenciar cada enzima pares de doadores–aceptores: ligações carbono–carbo�
que catalisa a mesma reação geral, mas com substratos no saturada–insaturada, alcoóis–aldeídos, aldeídos–
diferentes. A lactato desidrogenase (1.1.1.�7) catalisa ácidos e aminas–minas. Oxigênio molecular (O�) como
uma reação idêntica � da álcool desidrogenase, mas o um aceptor de elétrons está envolvido em uma varie�
substrato é lactato. As enzimas são frequentemente de� dade de reações irreversíveis de oxidação–redução. As
nominadas pela direção da reação de importância na monoxigenases catalisam a inserção de um grupo hi�
célula. droxi no substrato, com o outro átomo de oxigênio aca�
bando na água (Figura 10.1), enquanto as dioxigenases
Frequentemente, são dados nomes arbitrários a en� incorporam ambos os átomos de O� em um substrato.
zimas; por exemplo, aldolase foi o nome dado e ainda Os citocromos P�50 (p. ��3) compõem um importante
usado para a enzima que catalisa uma reação de con� grupo de enzimas que usa oxigênio no metabolismo de
densação aldólica entre gliceraldeído 3�fosfato e di�hi� xenobióticos como drogas e toxinas; essas enzimas con�
droxiacetona fosfato (p. 617), e lisozima para uma en� vertem compostos saturados em um álcool, uma reação
zima que quebra paredes celulares de bactérias. Houve de hidroxilação usando um dos átomos de oxigênio da
um esforço para abandonar o nome trivial em favor do molécula de O� para o grupo hidroxila.
nome sistemático de muitas enzimas, mas a literatura
continua a conter referências a ambos os nomes para
muitas enzimas. Classe 2: Transferases
Isoenzimas são diferentes formas estruturais de Membros dessa grande família transferem um gru�
uma proteína que catalisa a mesma reação. Sãoão produ�produ� po químico de uma molécula para outra; portanto, têm
tos de genes diferentes, possuem diferentes graus de dois substratos e produzem dois produtos. A hexoquina�
identidade de sequência,ência,ncia, eee podempodempodem terterter propriedadespropriedadespropriedades ci�ci�ci� se transfere um grupo fosfato do ATP para um aceptor
néticas diferentes. Existem duas isoenzimas da lactato como a glicose (Figura 10.�). Uma enzima que transfe�
desidrogenase, uma forma cardíaca (H) e uma forma re fosfato para outra molécula usando um nucleotídeo
muscular (M), que têm sequências de aminoácidos li� trifosfato como o doador é chamada uma quinase;
394 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

O
CH2OH 2−CH2OPO3
Tolueno
O
+ ATP4−Mg2+ + ADP3− + H
+

CH3
+ α-D-Glicose α-D-Glicose 6-fosfato
O2
FIGURA 10.2 Reação de fosforilação.
Fosforilação de glicose por ATP catalisada pela hexoquinase.

Benzil O
álcool
CH3 CSCoA
+
CH2OH
+ NH2
(a) H2O

OH
O2 +
OH O

Catecol C CH3

NH
(b) OH
COCOOH

+
CoASH
Ácido cis,cis-Mucônico
FIGURA 10.3 Acetilação de resíduos de aminoácidos em
FIGURA 10.1 Reações de oxidação catalisadas por uma proteína.
enzimas.
Hidroxilação do tolueno, um solvente industrial, e oxigenação
do catecol por uma oxigenase. + COO– O COO– + COO–

H3N C H + CH3 C COO– C O + H3N C


o aceptor pode ser uma molécula pequena ou uma pro�
(aminoácido1)
R (cetoácido2) (cetoácido1)
R CH3
(aminoácido2
teína. Outro exemplo de uma transferase é aciltransfe�
)
rase, que catalisa a transferência de um grupo acetil do
acetilCoA para um aceptor como lisina em uma histona Figura 10.4 Exemplo de uma reação catalisada por uma
ou uma serina em outras proteínas (Figura 10.3). aminotransferase.
Reações de aminotransferases requerem piridoxal fosfato
Uma importante reação de transferência de amina (PLP).
ocorre entre um aminoácido e um composto contendo
carbonila. Essas enzimas, aminotransferases, transfe�
rem o grupo amino e convertem o aminoácido em um OPO32–
cetoácido; o substrato aceptor, um cetoácido, é trans� CH2
formado em um aminoácido (Figura 10.�). Aminotrans� +
CH O H2O
ferases requerem piridoxal fosfato, derivado de vitami�
HN C
na B6, como uma coenzima (p. 775).
Cadeia peptídica

Classe 3: Hidrolases
Hidrolases catalisam reações de hidrólise, que é a
adição de água a uma ligação química (Figura 10.5). OH
Isso é essencialmente uma transferência de um —OH
da água para o substrato, mas as enzimas não são clas� CH2

sificadas como transferases. A hidrólise é uma reação CH O + HOPO32–

essencialmente irreversível. O substrato é tipicamente Cadeia


HN C
peptídica
um éster ou uma amida, por exemplo, um éster entre
um álcool e um ácido carboxílico. Tal reação é a hidró�
lise de um colesterol éster para produzir colesterol e FIGURA 10.5 Hidrólise de uma proteína fosforilada por
um ácido graxo. O ácido não precisa ser um ácido car� uma proteína fosfatase.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 395

boxílico; ácido sulfúrico, ácido fosfórico ou qualquer


CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.1
ácido pode formar uma ligação éster. RNases e DNases
são enzimas que hidrolisam a ligação fosfoéster. O uso Hidrólise de Asparaginase e Leucemia
clínico de uma hidrolase é apresentado na Correlação
Clínica 10.1. Algumas formas de leucemia juvenil necessitam
do aminoácido não�essencial asparagina. Os pes�
quisadores logo imobilizaram uma asparaginase
Classe 4: Liases derivada de bactéria, uma hidrolase que converte
asparagina em ácido aspártico, e passaram o san�
Liase implica uma quebra. Essas enzimas geralmen�
gue dos pacientes por uma coluna com a enzima
te catalisam uma clivagem de ligação carbono�carbono.
imobilizada. Isso colocou os pacientes com leucemia
Outras enzimas desta classe podem formar ou quebrar
uma ligação carbono–nitrogênio ou liberar um CO� de linfoblástica aguda em remissão. Posteriormente,
um b�cetoácido. Algumas das reações são reversíveis, os pesquisadores descobriram que podiam injetar
a enzima no paciente, onde ela poderia hidrolisar o
de modo que uma ligação carbono–carbono pode se for�
substrato circulante no sangue. Mais recentemen�
mar, como ilustrado pela reação catalisada pela aldo�
te, a enzima foi encapsulada em polietilenoglicol,
lase (Figura 10.6). Algumas liases requerem piridoxal uma vez que alguns pacientes tiveram reações � en�
fosfato como cofator. Importantes reações neuroquími� zima bacteriana, embora tenha sido purificada até
cas, incluindo a formação de dopamina (Figura 10.7)
a completa homogeneidade. A enzima encapsulada
e serotonina, são exemplos dessa reação. Se um nucleo�
funcionou bem em crianças e auxiliou a remoção de
tídeo trifosfato não estiver envolvido na formação da asparagina de seu sangue. Essa forma da enzima
nova ligação, a enzima é chamada uma sintase, mas se
está disponível comercialmente e foi aprovada para
a energia liberada quando ATP é hidrolisado forneces�
sária, a enzima é chamada uma sintetase (ver Classe 6: uso humano.
Ligases). Appel, I. M., Kazemier, K. M., Boos, J., Lanvers, C. et al.
Phamacokinetic, pharmacodynamic and intracellular ef�
fects of PEG�asparaginase in newly diagnosed childhood
acute pymphoblastic leukemia: Results from a single agent
CH22−
OPO3 window study. Leukemia ��:1665, �008.
C 0

HOCH

HCOH +
NH3
HCOH
CH2 CHCOO−
CH2OPO32−
D-Frutose 1,6-bisfosfato HO
OH

3,4-Di-hidroxifenilalanina (DOPA)

CH2OPO32− O
DOPA descarboxilase
C0 CH
CO2 (PLP)
CH2OH
Di-hidroxiacetonafosfato HCOHOPO32−

CH2
D-Gliceraldeído
+
3-fosfato CH2 CH2 NH3

FIGURA 10.6 Reação de liase catalisada pela aldolase. HO


OH

Dopamina
Classe 5: Isomerases
FIGURA 10.7 A síntese de dopamina envolve uma reação
As enzimas desta classe estão envolvidas com o mo� de liase.
vimento de um grupo ou de uma dupla�ligação dentro A síntese de dopamina requer piridoxal fosfato (PLP).
da mesma molécula. Estes incluem a troca de posição
de uma hidroxila ou uma carbonila, como a encontra� é chamada uma mutase quando um fosfato é movido
da quando glicose�6�fosfato é convertida em frutose�6� de um carbono para outro dentro da mesma molécula,
�fosfato (p. 616), e no movimento de uma dupla liga� como ocorre com a fosfoglicerato mutase que converte
ção de uma posição para a adjacente, como encontrado ��fosfoglicerato em 3�fosfoglicerato (Figura 10.8). Iso�
no metabolismo de ácidos graxos (p. 715). A enzima merases e epimerases podem mudar a estereoquímica
396 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

de um átomo de carbono. A conversão de D�lactato em COO– COO–


L�lactado é um exemplo de uma isomerase, e D�xilulose ATP + HCO–3 + CO biotina CO + ADP + P
i
5�fosfato para D�ribulose 5�fosfato de uma epimerase
CH3 COOH
CH2
(Figura 10.9). A reação catalisada pela UDP�glicose
��epimerase requer o envolvimento de NAD, de modo
que se assume que uma reação de oxidação�redu�
ção ocorre durante a reação, mas não há oxidação�re� Piruvato Oxaloacetato
dução final da coenzima.
FIGURA 10.10 Reação da piruvato carboxilase.
Ver página 6�� para detalhes sobre o papel da biotina.
COO– O–
HOP
HOH2C
C O O– 10.3 CONCEITOS GERAIS
DOS MECANISMOS DE
2-Fosfoglicerato
ENZIMAS
fosfogliceromutase

Considerações Termodinâmicas
COO–
Energia é necessária para formar o material de par�
H COH O–
tida de uma reação e para formar o produto de uma
CH2 O PO– reação. Essa energia é denominada calores de forma
O ção. Existe uma relação termodinâmica entre a dife�
3-Fosfoglicerato
rença de energia necessária para formar o material de
partida (reagentes) e para formar os produtos. A dife�
FIGURA 10.8 Interconversão de 2- e 3-fosfogliceratos. rença de energia é AG0, e as unidades podem ser expres�
sas em kilojoules/mol (kJ/mol) ou em kilocalorias/mol
HCOH
C O
CH2OH CH2OH
(kcal/mol) (Um Olhar Mais Atento 10.1). Quando o
equilíbrio da reação é estabelecido, a concentração de
epimerase C O cada um é relacionada como indicado na Equação 10.1:
HOCH HCOH
AG0 = –�,3 RT × log [Produtos]/[Reagentes] (10.1)
HCOH

H2COPO32– H2COPO32– R é a constante universal dos gases (8,31 joule/mol/°K


D-Xilulose D-Ribulose
ou 1,99 cal/mol/°K) e T é a temperatura em °K.
5-fosfato 5-fosfato
Quando adicionado a uma reação, um catalisador
aumenta a velocidade para chegar ao equilíbrio entre
COOH COOH
o material de partida e o produto. A razão [Produtos]/
HCOH racemase HOCH [Reagentes]no equilíbrio é a constante de equilíbrio, Keq.
CH3 CH3 Isso implica que a diferença de energia livre (calores
de formação) dos produtos e reagentes determinará a
Ácido D-láctico Ácido L-Lactico
quantidade de cada um presente quando o equilíbrio é
FIGURA 10.9 Exemplos de reações catalisadas por uma alcançado. Isso não determina a velocidade com a qual
epimerase e uma racemase. o equilíbrio é alcançado. Um catalisador aumenta a ve�
locidade de uma reação para alcançar o equilíbrio, mas
não muda o equilíbrio. Keq é governada pelos calores de
Classe 6: Ligases formação, que é uma constante para qualquer reação.
As ligases unem átomos de carbono, mas ao contrá� Muitas reações são consideradas irreversíveis; não
rio das liases, Classe �, requerem energia para que a é possível que os produtos de uma reação irreversível
reação ocorra. São chamadas sintetases. Geralmente, sejam convertidos no material de partida, mesmo na
a energia vem do envolvimento de ATP. Por exemplo, presença de uma enzima, porque essencialmente 100%
para adicionar CO� ao piruvato, CO� é incorporado � do material de partida se tornará produto. Essa afirma�
coenzima biotina, o que requer hidrólise de ATP (Figu� tiva não é completamente válida porque, mesmo para
ra 10.10). O CO� é transferido para piruvato pela mesma reações essencialmente irreversíveis, a razão entre o
enzima. A adição de um aminoácido ao tRNA é outro material de partida e o produto poderia ser 1:�00.000
exemplo de uma enzima dessa classe (p. �16). Deve ou até 1:1.000.000. A reação alcança o equilíbrio, mas
haver alguma interação entre os componentes da rea� a quantidade de material de partida presente no equi�
ção para utilizar a energia liberada na hidrólise do ATP líbrio está abaixo do nível de detecção, de modo que a
para síntese da nova ligação. reação é considerada essencialmente irreversível.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 397

se do ajuste induzido. Uma grande alteração confor�


UM OLHAR MAIS ATENTO 10.1
macional é ilustrada na Figura 3.33, p 101. A Figura
10.11 ilustra uma mudança de conformação.
Unidades de Energia
A estrutura alterada de uma enzima após a ligação
Existem duas convenções diferentes para descre�
de um substrato permite interações complementares
ver as unidades de energia liberadas ou requeridas
entre substrato e enzima. Isto é, uma parte hidrofíli�
por uma reação química. Uma é calorias e a outra ca do substrato ficará perto dos resíduos de aminoáci�
é joules, sendo esta última utilizada atualmente na
dos que permitem que uma ponte de hidrogênio seja
literatura científica. Calorias são ainda usadas para
compartilhada, e uma parte carregada do substrato
descrever quanta energia está disponível nos alimen� vai interagir de modo que ou sua carga é neutralizada
tos. Por exemplo, um típico copo de cerveja contém
por uma carga oposta ou é estabilizada por formar uma
aproximadamente 1�5 Cal (1�5 kilocal) de energia
ponte de hidrogênio. Partes hidrofóbicas do substrato
quando metabolizado. Para converter calorias em
ligam�se de modo a ficarem em uma parte hidrofóbica
joules, multiplica�se o valor calórico por �,18�. As� da proteína, chamada bolsão hidrofóbico.
sim, a constante universal dos gases (R) na Equação
10.1 é 1,987 cal/mol/°K, ou 8,31 J/mol/°K. Este livro
utiliza kilojoule (kJ) para descrever a energética das Estado de Transição
transformações biológicas, mas também apresenta os
A teoria para descrever como uma reação química
valores em kilocalorias (kcal ou Cal). Discussões nu�
ocorre é baseada no modelo do estado de transição. O
tricionais usarão calorias (Cal).
conceito básico é que o material de partida (substra�
to) tem certas propriedades estruturais e químicas, e
o produto tem outras. O estado de transição é uma es�
trutura na qual a(s) ligação(ões) que estão passando
Ligação do Substrato a uma Enzima por uma transformação são tais que não é igual nem ao
material de partida nem ao produto.
Para que uma enzima funcione como catalisador,
ela deve primeiro ligar o(s) substrato(s) e, depois, di� Isso pode ser ilustrado na reação de adição de amô�
minuir a energia de ativação, de modo que a reação nia ao ácido trans�cinâmico para produzir fenilalani�
acontecerá a uma velocidade maior do que aconteceria na (Figura 10.1�), onde a dupla ligação no material de
na ausência do catalisador. Existem duas teorias pre� partida é planar. O produto tem o amino ligado de tal
valentes para explicar como
o substrato se liga � enzima.
A clássica é a teoria chave-e
-fechadura, que propõe que o
sítio de ligação do substrato na
enzima é uma entidade rígida
e só um composto com uma
forma específica se encaixará,
de modo análogo a como uma
fechadura (enzima) permite
que apenas uma chave (subs�
trato) faça o contato correto.
Uma teoria alternativa é a teoria
do ajuste induzido. Essa teoria
considera que a enzima é flexí�
vel e depois que os substratos
se ligam �� enzima,enzima, aa conforma�conforma�
ção da proteína muda de modo
que se forma um complexo
binário estável. Ambas as teo�
rias foram apresentadas antes (a) (b)
de se saber a estrutura real de
qualquer proteína. Agora que FIGURA 10.11 Orotato fosforibosiltransferase.
Orotato fosforibosiltransferase (OPRTase) catalisa a condensação dependente de Mg�+ do
as estruturas tridimensionais
ácido orótico (OA) com PRPP (5�α�D�fosforilribose 1�difosfato) para gerar pirofosfato (PPi)
de muitas enzimas são conhe�
e o nucleotídeo OMP (orotidina 5!�monofosfato). (a) Enzima livre em turquesa e o complexo
cidas, descobriu�se que a liga� ternário em azul. (b) Complexo ternário em vermelho e complexo binário em azul. Ver página
ção do substrato causa um pe�
8�6 para reações envolvidas na biossíntese de pirimidinas.
queno movimento das ligações Reproduzido com permissão de Gonzlaes�Segurea, L, Whitte, J. F., McClard, R.W., and Hur�
peptídicas, apoiando a hipóte� ley, T. D. Biochemistry �6:1�075, �007. Copyright© (1977) da American Chemical Society.
398 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

NH3 H NH3+
H COO− H
δ+
C C + NH3 + H+ C C COO− H
C H
C COO−
H
H
H+

FIGURA 10.12 Estado de transição.


A estrutura do estado de transição mostra elétrons na dupla li� o que torna o outro carbono positivo, de modo que o par de
gação movendo�se para acomodar o próton que está chegando, elétrons do nitrogênio pode atacar.

modo que o carbono que fazia parte da dupla ligação cionada � ligação peptídica, o grupo carbonila torna�
(planar) agora é uma estrutura tetraédrica. O estado �se tetraédrico e, assim, tem de mudar seu ângulo de
de transição é aquele no qual a ligação está começando ligação e forma. O estado de transição não é o interme�
a se formar e a geometria está mudando. Para mudar a diário tetraédrico, mas é a conformação que levaria a
forma do substrato é necessário energia, de modo que ele se a ligação covalente realmente se formar. Durante
ele se pareça com o estado de transição, e a velocidade a reação, não só a ligação carbono–oxigênio do grupo
de uma reação é inversamente proporcional � energia carbonila do substrato muda de planar para tetraédri�
necessária para chegar ao estado de transição. Um grá� ca, mas uma carga negativa se desenvolve no oxigênio,
fico da energia de reação é apresentado na Figura 10.13 que precisa ser estabilizado.
e usado para mostrar a variação de energia necessária
para converter um substrato ao estado de transição. No
estado de transição, existe uma entidade que nunca foi C H(Aminoácido)
··
observada ou isolada. A entidade do estado de transição O H
N H O H H(Aminoácido) Oδ−
H
pode prosseguir para dar produto ou pode retornar ao ··
+
C··
H
N C··
δ+ N
material de partida. Um catalisador simplesmente di� H
minui a energia do estado de transição (AE*), aumen� ·· ··
O
tando assim a velocidade de sua formação a partir do
(Aminoácido) H H
material de partida.
Substrato Estado de transição

FIGURA 10.14 Estado de transição para a hidrólise de


uma ligação peptídica.
Reação O grupo carbonila na ligação peptídica planar torna�se tetraé�
não-catalizada drico quando a água (ou OH–) ataca e o nitrogênio é protona�
do, seguido pela hidrólise da ligação peptídica. Os aminoácidos
a
igre Reação do sítio ativo fornecem um H+ para estabilizar a carga negativa
nE + catalizada que se desenvolve no átomo de oxigênio da carbonila e protona
Eo
o nitrogênio, de modo que este sai como amina. Um aminoáci�
Go do diferente da proteína remove um próton da água, produzin�
do OH–, mais reativo.

Coordenação da reação Ligação Forte no Estado de Transição


FIGURA 10.13 Diagramas de energia para reações Uma enzima liga�se fortemente ao estado de tran�
catalisada versus não-catalisada. sição, mas não ao substrato ou ao produto final. Se ela
Representação diagramática das diferenças de energia entre o se ligar fortemente ao substrato, precisará de mais
reagente e o produto. O estado basal é indicado por AG0, e o energia para chegar ao estado de transição. Do mesmo
estado de transição por AE*. A velocidade da reação é inversa� modo, a enzima não pode se ligar muito fortemente ao
mente proporcional a AE*, enquanto Keq está relacionada com produto porque, se o fizer, ficaria muito difícil para o
a diferença de AG0. AE* é a energia necessária para elevar o
produto se dissociar da enzima. A enzima precisa libe�
estado basal para o estado de transição hipotético. rar o produto, de modo que possa interagir com outra
As enzimas estabilizam o estado de transição por molécula de substrato. Esses conceitos estão ilustra�
diminuírem a energia de ativação, portanto acelerando dos na Figura 10.15.
a reação. Isso é conseguido pela existência, na enzima,
de resíduos que interagem com o substrato enquanto no Reações Iônicas Não Precisam Envolver
estado de transição. Íons
A hidrólise de uma ligação peptídica para produzir A maioria das reações encontradas na natureza
um ácido carboxílico e um amino grupo livre ilustra pode ser explicada usando modelos iônicos. Isto é, a
como poderia ser possível para a enzima estabilizar o maioria das reações celulares requer cargas positivas
estado de transição (Figura 10.1�). Quando água é adi� e negativas na molécula para permitir que os compo�
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 399

nentes interajam. A enzima pode adicionar ou remover não apenas associados com um carbono. O carbânion
prótons de um substrato, mudando sua carga, ou um então pode atacar o grupo carbonila para formar a nova
grupo neutro da enzima ficando iônico. A remoção de ligação. A enzima mantém os dois substratos próximos
um próton torna o grupo mais nucleofílico, que é um entre si, aumentando a probabilidade de colisão favorá�
grupo (nucleófilo) que atacará um centro positivo. Por vel, e está envolvida na polarização da ligação carbonila
exemplo, OH– é mais nucleofílico do que a água, e cis� e remoção do próton.
teína ionizada é mais nucleofílica do que o átomo de
enxofre não�ionizado. Do mesmo modo, enzimas po�
dem protonar um grupo para torná�lo positivo, de modo H2COPO32− H2CO H2COPO32−
que ficará mais susceptível ao ataque nucleofílico. Na
C O + H2COH C O
hidrólise de uma ligação peptídica, o grupo OH– mais
nucleofílico, e não a água, ataca a ligação. Além disso, H2COH H2COPO32− HO C H
o ataque será em um grupo carbonila polarizado, em
H C OH
que o átomo de carbono teria uma carga parcial posi� Di-hidroxiacetona Gliceraldeído-3
tiva, e não um grupo carbonila não�polarizado (Figura fosfato fosfato HC OH

10.1�). A adição e a remoção de prótons são chamadas


catálise ácida geral e básica geral, respectivamente. A H2 H2COPO32−

vantagem das enzimas que usam catálise ácida geral e Frutose 1,6-bisfosfato
(a)
básica geral é que no pH fisiológico neutro, elas podem
catalisar reações mesmo que as concentrações de OH– e COPO32− H2COPO32− H2COPO32−
H+ sejam muito baixas.
δ+C Oδ− −H+ δ+C O− CO−

HCH OH HC OH HC
≠ OH
TS
(b)

FIGURA 10.16 Um grupo carbonila estabiliza uma carga


negativa no carbono adjacente.
a
igrenE (a) Reação da di�hidroxiacetona fosfato e do gliceraldeído
E+ S
3�fosfato para formar frutose 1,6�bisfosfato. (b) Estados de
E +P transição de di�hidroxiacetona fosfato. A carga parcial positi�
ES va do carbono pode ser atacada por um carbânion para for�
EP
mar uma nova ligação carbono–carbono. A presença do grupo
carbonila permitirá que um próton seja removido do átomo de
Coordenação da reação carbono adjacente, permitindo que o carbânion seja produzido.

FIGURA 10.15 Diagramas de energia para o estado de Importância do Grupo Carbonila


transição de substrato ligado fortemente.
A linha vermelha indica ligação forte do substrato, em com� Muitas transformações biológicas estão baseadas na
paração com um substrato menos fortemente ligado. Se o natureza especial do grupo carbonila e sua capacidade
substrato estiver fortemente ligado, é necessária mais energia de estabilizar uma carga negativa no carbono adjacente
, resultando em reação mais lenta para chegar ao estado de a ele. Por exemplo, b�cetoácidos como o b�cetoglutarato
transição. Uma condição semelhante ocorre se o produto es� (Figura 10.17) podem ser descarboxilados, mas é ener�
tiver ligado muito fortemente; mais energia seria necessária
geticamente mais difícil para um α�cetoácido como o
para chegar ao estado de transição de liberação do produto.
Há um estado de transição para cada etapa da reação. piruvato ser descarboxilado. Quando a ligação –CH�–
COO– se quebra, os elétrons da ligação são deixados
para trás no carbono�b. A carga negativa que se desen�
Ligações Parcialmente Carregadas volve no que era o carbono�b pode ser estabilizada pela
carga parcial positiva do carbono da carbonila. A enzi�
Um modo comum de se formar uma ligação carbo� ma estabiliza o estado de transição por fazer um próton
no–carbono é por um ataque de carbânion a um grupo interagir com o oxigênio da carbonila, que é parcial�
carbonila, como ilustrado para a formação de frutose mente negativo em virtude da ressonância do carbono
1,6�bisfosfato a partir de dois compostos de três car� da carbonila e da carga negativa que se desenvolve no
bonos (Figura 10.16a). A presença do grupo carbonila carbono�b.
na di�hidroxiacetona fosfato permite que os átomos de
hidrogênio do carbono adjacente fiquem mais acídicos. Diferentemente, piruvato não pode sofrer uma rea�
A enzima remove um próton, deixando uma carga ne� ção de descarboxilação simples, porque não haveria
gativa no carbono. Elétrons de um grupo carbonila re� modo de estabilizar a carga negativa que resultaria do
sidem mais próximos do oxigênio; portanto, o carbono par
sai. Para
de elétrons deixados para
descarboxilação de α�cetoácidos,
trás quando são
o grupo
necessá�
CO�
fica com uma carga parcial positiva. Isso estabiliza o
carbânion, uma vez que os elétrons são deslocados e rias coenzimas.
400 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

O O H O peptídica de modo que a ligação seja mais facilmente


O−CCH2 C CC O− β-cetoglutarato
hidrolisada, por catálise básica geral ou catálise ácida
ou catálise de íon metálico (p. �07).
H
A fosforilação de proteínas, especialmente no grupo
O Oδ− H O hidroxila de resíduos de serina, treonina ou tirosina por
ATP ou GTP, acontece pelo ataque do grupo −OH ao
O−C
O CH2
CCH2 O−
C CC O− Estado de
δ+ transição fosfato (Figura 10.19). É necessário tornar o grupo −OH
H mais nucleofílico perdendo um próton, enquanto a liga�
ção fosfato–oxigênio é polarizada de modo que o átomo
de fósforo fica parcialmente positivo e mais susceptível
O−C H ao ataque nucleofílico. Quase todas as enzimas (quina�
O O
C +CO2 ses) que catalisam esse tipo de reação usam Mg�+. Íons
H
divalentes podem se ligar a dois ou três dos fosfatos.
A presença do íon positivo leva os elétrons da ligação
P=O a ficarem mais próximos do átomo de oxigênio,
FIGURA
adjacente
10.17
O− ao CO�
C Descarboxilação
CH2 C CH3 de ß-cetoglutarato.
α-cetobutirato deixando assim o íon fosfato com uma carga levemente
positiva.

A descarboxilação do b�cetoglutarato ocorre porque a carga


parcial positiva do carbono do grupo carbonila estabiliza a car� NH2
ga negativa em desenvolvimento que se forma quando a liga�
C
ção do grupo carboxila começa a se quebrar. Uma carbonila N C N
que está saindo não pode estabilizar a carga. C H
CH C
N N
Oxidações
~P~
Mg++
Mesmo as reações de oxidação têm um componente –OPO
O O O O
P OCH2
iônico. Durante a oxidação de um álcool a um aldeído/
cetona ou de uma ligação carbono–carbono saturada O
para insaturada, os elétrons são movimentados não Base : OH
O(Ser)
– O– O– C H H C
como elétrons livres, mas como íon hidreto, isto é, um H CC H
próton com dois elétrons, carregando uma carga ne�
OH OH
gativa (Figura 10.18). O íon hidreto não entra no sol�
vente como o próton, mas vai para um aceptor como o
NAD(P) ou FAD. FIGURA 10.19 Fosforilação é um ataque de um nucleófilo
a um nucleosídeo trifosfato (NTP).
ATP ou outro NTP é atacado pelo par de elétrons sobre o oxi�
gênio de um álcool como serina, treonina ou tirosina. Um íon
CH3 OH H+ O− O Mg�+, quando ligado ao NTP, serve para empurrar elétrons para

C
H NAD+ NADH
··COO− CH3 C+COO− CH3C COO−
longe do grupo fosforoso, tornando�o mais susceptível ao ata�
que do nucleófilo.

(a) Lactato Piruvato

Ligação Covalente do Substrato à


H
C C
H
H H+ H
CC

H
CCH
Enzima
H··

NAD+ NADH
+
H As enzimas não apenas funcionam realizando ca�
tálise geral ácido e base, mas em alguns casos o subs�
(b) Saturado Insaturado
trato forma uma ligação covalente com a enzima. Qui�
FIGURA 10.18 Oxidação de lactato e uma ligação motripsina e gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase são
carbônica saturada. exemplos de enzimas assim (Figura 10.�0). Em ambos
(a) Lactato para piruvato. (b) Ligação saturada para ligação os casos, um aminoácido nucleofílico ataca um grupo
insaturada. Essas reações sofrem uma reação tipo iônica, em� carbonila. Até algumas quinases funcionam por catá�
bora o íon hidreto (H–) esteja envolvido. lise covalente; o ATP inicialmente se liga � enzima, e o
fosfato é transferido para um resíduo nucleofílico for�
Adição e Remoção de Prótons mando uma enzima fosforilada; nesse caso, um grupo
hidroxila de uma serina ou treonina é ativado e faz o
A maioria das enzimas adiciona e remove prótons ataque inicial. O substrato, então, entra e é ativado pela
eficientemente, mas em geral de um modo singular. As base geral na enzima; a base ataca o grupo fosfato, for�
proteases podem polarizar o grupo carbonila da ligação mando o produto final.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 401

O OH OPO3 H OH OPO3
10.4 SÍTIO ATIVO DE UMA
Enzima–SH + HCC CH2 2− ESC C CH2 2−
ENZIMA
desidrogenase
gliceraldeído
3-fosfato H OH H
gliceraldeído tio-hemiacetal O sítio ativo de uma enzima é pequeno comparado
(a) 3-fosfato ao tamanho total da molécula de proteína. A maioria
dos resíduos de aminoácidos não fica em contato com
O O
o substrato (Figura 10.��). As distâncias e os ângulos
Enzima–OH + R NCR′ E O C R′ entre os resíduos catalíticos da enzima e do substrato
devem ser exatos para permitir que ocorra a catálise. A
H
maioria dos aminoácidos da proteína funciona como um
(b) quimotripsina peptídeo acil éster grande arcabouço para permitir o alinhamento correto
FIGURA 10.20Alguns substratos formam uma ligação dos grupos funcionais dos substratos. Uma mutação de
covalente com uma enzima.
um resíduo distante do sítio ativo pode levar uma enzi�
(a) Gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase e (b) quimotripsina ma a ter sua atividade alterada. Isso é ilustrado na Figu�
funcionam formando primeiro um intermediário covalente com ra 10.�3 para uma mutação puntual que foi introduzida
o substrato. na aldeído desidrogenase de fígado humano.

O pH Afeta uma Reação por Afetar


Ácidos e Bases Gerais
Como praticamente todas as enzimas envolvem catá�
lise geral ácido/base, espera�se que a velocidade da rea�
ção seja afetada pelo pH. Uma enzima requerendo uma
histidina para doar um próton na reação, não funcionará
em pH superior a 8, quando a maioria dos grupos imida�
zol da histidina está desprotonada. O pKa do imidazol é
próximo de 7 (Figura 10.�1). Todas as enzimas têm um
perfil de pH versus velocidade (p. �19), que em alguns
casos sugere os grupos envolvidos no sítio ativo. Como a Etanol
estrutura geral da proteína é importante na atividade ca�
talítica, se uma carga no pH alterar a conformação geral
NAD+
da proteína, então a atividade também será alterada. Em
algumas doenças, o pH intracelular não está normal; isso
Zinco
afetará a atividade enzimática celular
FIGURA 10.22 As enzimas são muito maiores do que seus
substratos.
Álcool desidrogenase com etanol ligado a um Zn�+ e um NAD+
no sítio ativo. A maioria dos aminoácidos da proteína não está
e
em contato com o substrato. Uma subunidade do dímero é
d mostrada como fitas, e a outra como átomos.
a
d
i
c
o
l
e
V

Estereoquímica do Sítio Ativo


O sítio ativo é específico para o substrato. Como
3 5 7 9
exemplo, restrições geométricas sutis impedem uma
enzima de hidrolisar uma ligação b�glicosídica entre
pH
duas moléculas de glicose, embora permita que a en�
FIGURA 10.21Velocidade de uma reação catalisada por zima hidrolise a ligação α (Figura 10.��). As enzimas
enzima pode ser afetada pelo pH se um grupo dissociar também diferenciam entre isômeros ópticos; embora
um H+. existam as formas D e L de muitos compostos, as célu�
Se um imidazol de histidina precisar ser protonado para a ati� las de mamíferos utilizam apenas um estereoisômero.
vidade catalítica de uma enzima, a velocidade da reação dimi� O D�Lactato é dificilmente reconhecido pela lactato
nuirá � medida que o pH aumenta acima do pKa (assumindo 7)
desidrogenase de mamíferos, que é específica para o
do resíduo. Se o grupo precisar ser desprotonado para que a
enzima funcione, então a curva teria a forma inversa, com ativi� isômero L (Figura 10.�5). A ligação também pode rea�
dade máxima acima de pH 8. Metade da atividade máxima seria
gir com centros pró�quirais para produzir um compos�
obtida no pKa do grupo porque 50% das moléculas estariam to opticamente ativo. Um carbono quiral tem quatro
ionizadas e 50% não�ionizadas. grupos diferentes ligados e é opticamente ativo; um
402 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Configuração L Configuração D
CH3
COO− COO−
C19
+
NH
+ 3CH CH NH3
Y203
CH3
alanina

HOCH
COO−
CH3 COO−

CHOH

CH3

NAD+ lactato

FIGURA 10.25 As enzimas podem diferenciar entre


isômeros ópticos.

ma é assimétrica, uma vez que os aminoácidos são to�


FIGURA 10.23 Aminoácidos a uma distância do sítio ativo dos da configuração L, e as hélices giram todas para a
são críticos. direita (p. 96). Embora talvez uma supersimplificação,
Um resíduo de aminoácido na superfície de uma enzima pode frequentemente se afirma que, se houver uma ligação
ser necessário para manter a enzima em sua forma correta. de três pontos do substrato � enzima, um produto op�
O resíduo 19, uma cisteína, de uma subunidade da aldeído ticamente puro seria formado a partir de um centro
desidrogenase (500 aminoácidos) foi trocada por tirosina. O
pró�quiral (Figura 10.�6). Ver Um Olhar Mais Atento
mutante resultante era insolúvel. O resíduo 19 normalmente
se liga ao resíduo �03, o que aparentemente é necessário para
10.� para uma discussão sobre como a estereoquímica
manter a estrutura tridimensional correta explica alguns mecanismos enzimáticos.

centro pró-quiral é um carbono que não é opticamente


ativo, mas se torna opticamente ativo após adição es�
téreo�específica de um grupo. O composto não�optica�
CH2OH
mente ativo liga�se � enzima em apenas uma orienta�
ção, forçando a reação química a produzir um produto
opticamente puro. Glicerol, um composto não�optica�
mente ativo, é fosforilado pela glicerol quinase; apenas
C
o produto L é formado. A enzima liga�se ao composto CH2OH
de tal modo que apenas um dos alcoóis primários fica HO
perto do ATP. Isso ocorre porque a superfície da enzi�

CH2OH CH2OH
H
H OH H O
HOH H OH H (H,OH)

HO O
H OH H OH
Maltose (ligação α)
Enzima

CH2OH O CH2OH
H H O
OH H O OH H (H,OH)
FIGURA 10.26 Ligação de três pontos de um substrato
HO H simétrico a um sítio assimétrico de ligação de substrato.
H OH H OH Glicerol quinase, por causa dos sítios de ligação assimétricos
para o —H e o grupo —OH do glicerol, liga apenas o grupo
Celobiose (ligação β)
α!�hidroximetil ao sítio ativo. Um estereoisômero resulta da
FIGURA 10.24 As enzimas podem diferenciar entre reação da quinase, L�glicerol 3�fosfato. O sítio ativo é a caixa
ligações a e b. � direita.
Uma enzima que hidrolisa maltose, não hidrolisa celobiose.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 403

Influência de Grupos Sobre o UM OLHAR MAIS ATENTO 10.2


Substrato Distal à Ligação a Ser
Estereoquímica Ajuda a Explicar o Mecanismo de
Modificada Reações Catalisadas por Enzimas

A química do sítio ativo, em alguns casos, envolve Muitos substratos de ocorrência natural são op�
uma porção limitada do substrato, mas as partes ad� ticamente ativos. A esteroquímica do produto pode
jacentes do substrato podem ser necessárias para que dar uma pista do mecanismo que a enzima emprega.
a reação ocorra. Por exemplo, a peptidase de proces� Por exemplo, se a reação produzir um íon carbânion,
samento de proteína mitocondrial requer pelo menos poderia se esperar que o produto fosse racêmico.
1� resíduos antes do sítio de hidrólise para funcionar. Entretanto, uma reação de íon carbânion catalisa�
Lisozima, uma enzima que hidrolisa paredes celulares da por enzima produzirá um produto com retenção
de bactérias, envolve resíduos de açúcares localizados de configuração estereoquímica. O íon carbânion
em ambos os lados da ligação a ser quebrada (Figura não estaria livre em solução, mas estaria associado
10.�7). A ligação de resíduos adjacentes de açúcares com a enzima, de modo que o ataque nucleofílico que
ajuda a criar uma mudança de conformação no açúcar, está entrando poderia vir apenas na mesma direção
na ligação que está sendo quebrada. Assim, o sítio ativo do grupo que está saindo. Retenção da configuração
é mais do que apenas os resíduos de aminoácidos en� também pode ser conseguida por uma enzima que
volvidos na quebra ou na formação da ligação; é uma funciona com catálise covalente. Reações catalisa�
região complexa da enzima que pode ajustar sua estru� das por um mecanismo pingue�pongue (p. �19) en�
tura para acomodar o substrato correto e estabilizar o volvem duas etapas de inversão, que geram um pro�
estado de transição. duto com retenção da configuração. Como exemplo, a
fosforólise de um dissacarídeo começa com o açúcar
na conformação b e termina com um produto fosfo�
rilado, que também é b. A ligação do substrato � en�
zima causa inversão para uma configuração α, mas o
fosfato ataca para dar outra inversão, resultando em
retenção da configuração. Se a reação ocorresse por
um ataque direto do fosfato sobre o substrato, então
o produto seria invertido. A inversão de configuração
em um carbono opticamente ativo geralmente ocorre
quando há um complexo ternário e o nucleófilo ataca
o substrato.

Substrato
hexassacarídeo

FIGURA 10.27 Ligação de


a
hexassacarídeo ao sítio ativo da
P lisozima.
(a) No substrato modelo apresentado, os
a 6
ED a 4O CH
OHOH
62
GlcNAc
3 OH
5 O
NHCOCH23
substrato
Unidade
1 H3(P)da lisozima
OCCHCOOH
repetitiva
O4 CH2OH
MurNAc
5O
3 no NHCOCH
2 (a)
1 OO3 ovais representam anéis individuais de pi�
ranose das unidades repetitivas do subs�
trato da lisozima, mostrado � direita. O
D
E a anel D é forçado pela enzima para a con�
P
P formação meia�cadeira, e uma hidrólise
ocorre entre os anéis D e E. Seis subsítios
da enzima ligam�se ao substrato. Os sítios
alternativos são específicos para grupos
a hidrólise
Sítio de
acetamido (a), mas são incapazes de acei�
tar as cadeias laterais lactil (P), que ocor�
rem nos resíduos de ácido N�acetilmurâ�
mico. Assim, o substrato só pode se ligar �
enzima em uma orientação.
a
Redesenhado com base em modelo pro�
posto por Imoto, T. et al. Em Boyer, P.
(Ed.), The Enzymes, 3. ed., Vol. 7, New
Lisozima York: Academic Press, 197�, 713.
404 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

10.5 COENZIMAS, CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.2


COSSUBSTRATOS E Mutação de um Sítio de Ligação de Coenzima
Resulta em Doença Clínica
COFATORES
Cistationinúria é uma doença genética na qual
Muitas enzimas requerem a participação de uma
g�cistationase está deficiente ou inativa. Cistationase
molécula não proteica durante a reação enzimática. As
catalisa a reação
coenzimas são moléculas orgânicas pequenas; a maio�
ria é derivada de vitaminas (Capítulo �6). As coenzi� Cistationina → cisteína + α�cetobutirato
mas estão envolvidas em muitas reações e podem ser
ou não modificadas na reação. As que são alteradas são A deficiência da enzima leva ao acúmulo de cis�
também chamadas cossubstratos. Para algumas rea� tationina no plasma. Como cistationase é uma enzi�
ções, a energia de hidrólise do ATP é necessária sem ma dependente de piridoxal fosfato, a vitamina B6 foi
incorporação de fosfato ao produto; nesse caso, o ATP é administrada aos pacientes cujos fibroblastos con�
um cossubstrato. Para muitas reações enzimáticas são tinham material que apresentavam reação cruzada
necessários íons metálicos, e são chamados cofatores. com anticorpos contra cistationase. Muitos respon�
deram � terapia com B6 com uma queda nos níveis
plasmáticos de cistationina. Esses pacientes produ�
Coenzimas zem a apoenzima, que reagiu com o anticorpo. Em
um paciente, a atividade enzimática era indetectável
A Tabela 10.3 mostra as coenzimas e as vitaminas em homogenatos de fibroblastos, mas aumentou para
das quais são derivadas. As coenzimas participam de
31% do normal com a adição de piridoxal fosfato 1
reações catalisadas por enzimas, mas não são os com� mM � mistura de reação. Acredita�se que o Km para a
postos primários que estão sendo modificados. Algu� ligação de piridoxal fosfato � enzima estava aumen�
mas coenzimas participam da ação de muitas enzimas
tado em virtude de uma mutação no sítio de ligação.
diferentes, enquanto outras apenas de um número li� A atividade é parcialmente restaurada aumentando�
mitado de reações. Elas têm afinidades por enzimas �se a concentração de coenzima. Aparentemente, es�
específicas e podem estar fortemente unidas ou cova� ses pacientes requerem uma concentração de estado
lentemente ligadas. Algumas são modificadas durante estacionário mais alta de coenzima para manter a
o curso da reação, mas estão no seu estado original ao atividade de g�cistationase.
final da reação, enquanto outras permanecem modifica�
das no final. Se estiverem modificadas no final, devem Pascal, T. A., Gaull, G. E., Beratis, N. G., Gillam, B.
participar de outra reação para retornar ao seu estado M. et al. Vitamin B6�responsive and unresponsive cys�
original. As coenzimas estão presentes em células em tathionuria: two variant molecular forms. Science 190:
uma concentração razoavelmente constante e desem� 1�09, 1975.
penham um papel dinâmico no metabolismo. O termo
apoenzima é usado para se referir a uma enzima que
não possui a coenzima ligada a ela, e holoenzima refe�
re�se � enzima com o seu cofator ligado. A importância
do sítio de ligação da coenzima e o modo como altera�
ções nesse sítio causam disfunção metabólica são dis�
cutidos na Correlação Clínica 10.�.

TABELA 10.3 Coenzimas


Coenzima Vitamina Reação Mediada
Biotina Biotina Carboxilação
Cobalamina (B1�) Cobalamina (B1�) Alquilação
Coenzima A Pantotenato Transferência de acil
Coenzimas flavina Riboflavina (B�) Oxidação�redução
Ácido lipoico Transferência de acil
Coenzimas de niacina Niacina Oxidação�redução
Piridoxal fosfato Piridoxina (B6) Transferência de amino
Tetra�hidrofolato Ácido fólico Transferência de grupo de um carbono
Tiamina pirofosfato Tiamina (B1) Transferência de carbonila
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 405

NAD e NADP São Formas Coenzimas da


UM OLHAR MAIS ATENTO 10.3
Niacina
Abreviações para NAD e NADP
Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e ni�
cotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP) As notações NAD e NADP são usadas generica�
(Figura 10.�8) são derivados da niacina (p. 1103) e mente, para indicar as coenzimas oxidadas ou redu�
estão envolvidos em reações de oxidação/redução ca� zidas. NAD+ e NADP+ especificam as formas oxida�
talisadas por desidrogenases. A diferença entre NAD+ das, e NADH e NADPH as formas reduzidas. Algumas
e NADP+ é a presença de um grupo fosfato no carbono enzimas usam tanto NAD ou NADP, de modo que são
�! da ribose da adenina. A nomenclatura para abrevia� chamadas enzimas NAD(P)�dependentes.
ção dessas coenzimas está descrita em Um Olhar Mais
Atento 10.3. Uma reação generalizada de desidrogena�
se envolvendo NAD+ é apresentada na Figura 10.�9.
Embora a maioria das desidrogenases seja específica
para uma ou outra coenzima, algumas podem usaram� COO−
bas as formas. A maioria das desidrogenases catalisa
HOCH
reações reversíveis.
CH2
A parte funcional da coenzima oxidada é o anel de
nicotinamida que tem um átomo de nitrogênio na posi� COO−

ção 1 e carrega uma carga positiva em virtude da ligação L-Malato


NAD+
a um anel de ribose. A carga positiva torna possível para
a nicotinamida aceitar um íon hidreto, transferindo dois NADH + H+
elétrons (Figura 10.30). Um complexo ternário entre COO−
enzima, coenzima e substrato se forma, e um íon hidre�
C 0
to é transferido do substrato para NAD(P)+. Um próton
do substrato é liberado para o meio. Para a reação re� CH2
versa, o anel reduzido da nicotinamida está envolvido,
e o anel não tem a carga positiva até que o íon hidreto COO−
Oxaloacetato
seja transferido para um substrato oxidado. As reações
das quais NAD(P) participam podem ser consideradas FIGURA 10.29 Reação catalisada por malato
iônicas, embora o íon transferido seja um íon hidreto desidrogenase.
que carrega uma carga negativa. Íons hidreto não exis� A enzima forma um complexo ternário ligando ambos NAD+ e
tem no estado livre; o íon é transferido diretamente en� malato antes do íon hidreto ser passado para o NAD+.
tre substrato e coenzima. Depois de aceitar ou doar o
íon hidreto, a coenzima se dissocia da enzima e entra H O H H O

HCNH2 H C NH2
H N+ + H−
Anel de nicotinamida Anel de nicotinamida
(oxidada) (reduzida) H H N H

) H O Íon deH:hidreto,– H H O
NAD+ Hidreto NADH
4 3 (a) do substrato
+ C NH2 C NH2
D 5
A
N
( O
H
6 2
o .. H+ O
e N+ N
d
ít 1
o –O .
e
l O CH2 .. CH3 C COO− CH3CCOO−
c
u P O
n
i
d O H H H −H−
a
n
i H H (Para NAD+)
n O OH OH (b) Lactato Piruvato
e NH2
d
a
a O N
d
i N FIGURA 10.30 NAD está envolvido em reações de
P
m
a M– P oxidação–redução.
n
it A O O CH2
o
(a) O grupo nicotinamida do NAD+ aceita um íon hidreto (H�)
c O N N
i
N H H quando oxida o substrato. (b) Lactato doa o íon hidreto quan�
H H do oxidado a piruvato.
OH OH

NADP+ contém um P
nesta 2!-hidroxila
nos reservatórios celulares de NAD+ ou NADP+, ficando
FIGURA 10.28 Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e disponível para outras reações. As razões NAD+/NADH
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP). e NADP+/NADPH são independentes de uma desidro�
406 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

genase específica, mas medem o estado de oxidação/ fumárico (Figura 10.3�) ou de um ácido graxo saturado
redução do compartimento celular (p. 579). Desidro� para um insaturado, envolve reações de desidrogena�
genases NAD�dependentes estão mais frequentemente ses flavina�dependentes. No caso da monoamina oxi�
envolvidas no catabolismo, e as NADP�dependentes no dase, uma enzima contendo flavina, um íon hidreto é
anabolismo. removido da amina, mas o aceptor final dos elétrons é
o oxigênio molecular, levando � formação de peróxido
Quase todas as desidrogenases NAD(P)�dependen� de hidrogênio.
tes possuem um motivo estrutural semelhante (dobra
de Rossmann) envolvido no domínio de ligação da
coenzima; o motivo da álcool desidrogenase é apresen� H H H
tado na Figura 10.31. H2C
1
C C C
5
CH2OH Ribitol

H3 OH OH OH
6 5 1 2O
H3 9 N N
C 8

10 Dimetil
C 7 4 NH3 isoaloxazina

O
Riboflavina

H H H O

H2CCCCCH2OPOH

OH OH OH OH

N N CO
H3C
NH
H3C N C

FIGURA 10.31 A dobra de Rossmann na álcool


O
desidrogenase do fígado.
NAD(H) liga�se � dobra de Rossmann na maioria das desidro� Flavina mononucleotídeo (FMN)
genases.
FIGURA 10.32 Riboflavina e flavina mononucleotídeo.
FMN e FAD São Formas de Coenzima da
Riboflavina NH2

N N N
As duas formas de coenzima da riboflavina são
FMN (flavina mononucleotídeo) e FAD (flavina ade
nina dinucleotídeo). A vitamina riboflavina consiste N
do anel heterocíclico isoaloxazina (flavina) conectado O O

pelo N�10 ao álcool ribitol (Figura 10.3�). FMN tem CH2OPOPOCH2


um fosfato esterificado ao grupo 5!�OH do ribitol. FAD O
HO C H O– O–
é estruturalmente análogo ao NAD por ter adenosina H H
HO C H H
ligada por uma ligação pirofosfato ao açúcar de uma
CH H OH OH
flavina mononucleosídeo (Figura 10.33). Ambos FAD HO C
e FMN funcionam em reações de óxido�redução, acei� 2
tando e doando �e– no anel de isoaloxazina na forma
de um hidreto. Em alguns casos, essas coenzimas são H3C N N
9 10 1 O
8a 8 9a
aceptores de 1e–, o que leva � formação de flavina se� 10a 2

3
miquinona (um radical livre). As coenzimas de flavina 7a 7
6
5a
5
4a
4
N
não são encontradas livres em solução, mas ligadas ou H3C N H
O
muito fortemente ou covalentemente. São considera�
das um grupo prostético no último caso. Isso requer
que uma enzima envolvida em uma reação de oxidação Flavina adenina dinucleotídeo (FAD) (oxidada)

gerando flavina reduzida ligada, também execute a re� FIGURA 10.33 Flavina adenina dinucleotídeo (FAD).
dução de outro substrato, de modo que flavina oxidada
seja regenerada.

A oxidação envolve ligações saturadas carbono–car�


bono, como na oxidação de ácido succínico para ácido
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 407

R intermediário covalente que a enzima catalisa a remo�


(1)
H3C (9) N N C O ção do grupo. Um par de elétrons é deixado no carbo�
H2CCOOH + no, e sua carga é estabilizada por ressonância com o
H2C COOH H3 NH anel piridoxal. A formação de dopamina e serotonina,
C N C importantes neurotransmissores, envolve uma enzima
(10) O piridoxal fosfato.
succínico
Ácido FAD

Adenosina Trifosfato Pode Ser


um Segundo Substrato ou um
Modulador de Atividade
H3 N
R H
Adenosina trifosfato (ATP) (Figura 10.36) funcio�
HC COOH + H3C N O na como cossubstrato, mas também pode funcionar
como um cofator na modulação da atividade de algu�
HOOC C H NH mas enzimas. Esse composto é central em bioquímica,
C N
H O e é sintetizado em todas as células de mamíferos. A
extremidade bioquimicamente funcional é o trifosfato
fumárico
Ácido FADH2 reativo. A ligação terminal fosfato–oxigênio tem uma
alta energia livre de hidrólise, o que significa que o
FIGURA 10.34 FAD é a coenzima da reação de fosfato pode ser transferido do ATP para outros gru�
desidrogenase succínica. pos aceptores. Por exemplo, como um cossubstrato o
ATP é utilizado por quinases para a transferência do
Piridoxal Fosfato É a Forma Coenzima do fosfato terminal para vários aceptores. Um exemplo
Piridoxal típico é a reação catalisada pela hexoquinase (ver Fi�
gura 15.�; p. 61�).
Piridoxal fosfato (Figura 10.35) está envolvido pri�
mariamente em reações envolvendo aminoácidos. Uma
importante reação utilizando piridoxal fosfato é a tran� NH2

saminação, uma reação (ver Figura 10.�) que introduz N CCN


um amino grupo em um composto. O aceptor é um gru� CH
po carbonila, como um α�cetoácido, e o doador é um HC N
Ligações de C N
aminoácido, como glutamato ou aspartato (ver Figura alta energia
19.3, p. 773). O aminoácido ligado ao piridoxal fosfato O
γ Oβ αO
transfere o amino grupo para ele, formando uma piri�
doxamina ligada � enzima. Depois que o substrato que –OPOPOPOCH2 O

doou o amino grupo sai da enzima, um α�cetoácido di� –O O– O– H OH


H OH
H
ferente entra e ocorre a transferência da amina da piri� H
doxamina. O piridoxal é, portanto, regenerado. Esse é Mg2+ D-Ribose
um exemplo de modificação de uma coenzima durante
a reação, mas retornando a seu estado original ao final
da reação.
Adenosina 5′-trifosfato

FIGURA 10.36 Estrutura do Mg2+-ATP.


CHO O
HO CH2OPO–
O ATP também funciona como um modulador da ati�
vidade de algumas enzimas. Essas enzimas têm sítios
O–
para ligação de ATP, cuja ocupação muda a afinidade
H3C
N ou a reatividade da enzima em relação ao seu substrato.
Piridoxal fosfato Nesses casos, ATP funciona como um modulador alos
térico (p. ��7).
FIGURA 10.35 Piridoxal fosfato.
Piridoxal fosfato liga�se ao amino grupo de um aminoácido e
ajuda na remoção do grupo R, o H ou o CO� do aminoácido. Cofatores Íons Metálicos
Ressonância no anel piridina da coenzima estabiliza Muitas enzimas requerem a presença de um íon
uma carga negativa no que era o carbono α. A base da metálico para sua atividade. Íons metálicos desempe�
reação é que o aldeído do resíduo piridoxal liga�se com nham papel estrutural ou funcionam como um ácido
o aminoácido, formando uma base de Schiff. É nesse de Lewis (um íon positivo que pode se ligar a elétrons
408 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

não�pareados), ou como um aceptor/doador de elétrons O Zn�+ funciona na carboxipeptidase e na termoli�


em reações de oxidação�redução. Eles podem se ligar sina, proteases com sítios ativos idênticos, para gerar
diretamente a uma enzima ou ao substrato. O substrato um grupo hidroxila a partir da água e para estabilizar
ligado ao íon metálico é o substrato real da reação. Uma o estado de transição resultante do ataque da hidro�
reação muito comum envolve íons Mg�+ ligados a um xila sobre a ligação peptídica. A Figura 10.39 mostra
nucleotídeo trifosfato; o íon metálico se liga aos fosfa� a geração da hidroxila de sítio ativo pelo Zn�+. O Glu
tos tornando o íon fosfato mais positivo e susceptível ao �70 funciona como uma base necessária para remover o
ataque nucleofílico (Figura 10.37). próton da água. A estabilização do estado de transição
tetraédrico pelo Zn�+ é apresentada na Figura 10.�0. O
Zn�+ fornece um contraíon para estabilizar o oxigênio
negativo no carbono tetraédrico.
HO

HO NH2
R1
O N
3 N
HOHO O Glu 270 C O H NH
N N
OCH2O O O O
O O HO C O– +127
H P O P P CH2 Arg
O
O– H H
–O O OH2 H H CH2 NH R
Mg Zn2+
H2O OH2 HO OH
OH2 FIGURA 10.39 Estabilização do estado de transição do
intermediário tetraédrico pelo Zn2+.
A carga positiva do Zn�+ estabiliza a carga negativa que se de�

FIGURA 10.37 Papel do Mg2+ como um complexo ligado senvolve nos oxigênios do carbono tetraédrico do estado de
pelo substrato no sítio ativo das quinases. transição. O intermediário tetraédrico então colapsa como in�
Na hexoquinase, o fosfato terminal do ATP é transferido para a dicado pelas setas, resultando na quebra da ligação peptídica.
glicose, formando glicose 6�fosfato. Mg�+ coordena com o ATP
para formar o verdadeiro substrato e pode fragilizar a ligação Tyr 248
P�O terminal do ATP para facilitar a transferência do fosfato
para a glicose. Há sítios de ligação específicos (azul claro) na Arg 145
enzima (azul mais escuro) para glicose (superior � esquerda,
em vermelho), bem como para os resíduos de adenina e ribose
no ATP (preto).

As metaloenzimas contêm um metal de transição


fortemente ligado, como Zn�+ ou Fe�+, que facilita a li�
gação do substrato por formar um complexo ligado pelo
metal. Os metais funcionam ligando o substrato e pro�
movendo catálise eletrofílica (nucleofílica) no sítio de
clivagem da ligação ou estabilizando intermediários da
via da reação. Na álcool desidrogenase, um Zn�+ ligado
� enzima interage com o oxigênio do substrato, mudan�
Zn+2
do as propriedades do carbono ao qual o oxigênio está
ligado (Figura 10.38).
H2O

Glu 270

Zn2+

• •
• •
O
FIGURA 10.40Zn2+ no mecanismo de reação da
C
carboxipeptidase A.
CH3δ+H O Zn�+ ligado � enzima gera uma hidroxila nucleofílica a par�
tir de água ligada, que ataca a carbonila da ligação peptídica,
FIGURA 10.38 Ligação de uma carbonila a Zn2+. como indicado pela seta. O Glu �70 ajuda por puxar o próton
A ligação de Zn�+ � carbonila de um aldeído resulta em tornar o da água ligada ao zinco.
átomo de carbono parcialmente positivo e mais receptivo para Redesenhado de Lipscomb, W. N. e Robert A. Welch Found.
aceitar um íon hidreto do NADH. Conf. Chem. Res. 15:1�0, 1971.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 409

Além do papel na ligação entre enzima e substrato, Por exemplo, Zn�+ liga�se a quatro ligantes. Na ál�
metais também ligam�se diretamente � enzima para cool desidrogenase, o Zn�+ estrutural tem quatro ami�
estabilizá�la em sua conformação ativa ou, talvez, para noácidos ligados a ele, enquanto o Zn�+ do sítio ativo
induzir a formação de um sítio ativo. O Mn�+ tem tal tem apenas três, com a água ou o substrato servindo
papel, bem como metais alcalinos fracamente ligados como o quarto. Alguns compostos como o íon azida
(Na+ ou K+). Na piruvato quinase, K+ induz uma mu� (N3–) ou monóxido de carbono (CO) ligam�se ao sítio
dança de conformação inicial, que é necessária, mas de ligação do substrato em metais, impedindo assim
não suficiente, para a formação do complexo ternário. que a enzima ou a proteína se ligue ao seu substrato
Quando o substrato se liga, K+ induz uma segunda mu� correto.
dança conformacional no complexo ternário cataliti�
camente ativo, como indicado na Figura 10.�1. A álcool Papel de Metais em Oxidação e Redução
desidrogenase de mamíferos é singular porque possui
duas moléculas de Zn�+ por subunidade; uma está en�
Íons metálicos, como cobre e ferro, com menos do
volvida na catálise, enquanto a outra tem um papel que um complemento completo de elétrons em sua ca�
estrutural. Cada íon metálico está preso a ligantes; mada mais externa, podem aceitar ou doar elétrons em
nesse caso, são as cadeias laterais dos aminoácidos da reações de oxidação–redução, mas íons monovalentes
proteína. (Na+ e K+) ou íons divalentes (Zn�+, Mg�+ ou Ca�+) com
suas camadas externas de elétrons completas, não.

Proteínas ferro-enxofre, frequentemente chamadas


proteínas com ferro não�hemínico, são uma classe sin�
gular de metaloenzimas na qual o centro ativo consiste
H de um ou mais grupos de quelatos de íons ligados por
enxofre. Em alguns casos, os átomos de enxofre vêm só
C
da cisteína e, em outros, vêm da cisteína e de enxofre
H C
H2O iônico livre. Essas enzimas com ferro não�hemínico têm
C P Mg potenciais de redução razoavelmente baixos (E0!) e fun�
H2O cionam em reações de transferência de elétrons (p. 580).
Citocromos são proteínas com ferro hemínico nas quais
Sítio do ADP o ferro passa por transferências reversíveis de um elé�
tron. Em alguns casos, o heme está ligado � apoproteína
por coordenação de cadeias laterais de aminoácidos com
+K+ –K+
o ferro do heme. Assim, o metal não tem só um papel
estrutural, mas também participa do evento químico.
Cobre e ferro também têm um papel na ativação do oxi�
gênio molecular. Cobre é um participante ativo de várias
C K oxidases e hidroxilases. Por exemplo, a dopamina b�hi�
H2O
C Mg droxilase catalisa a introdução de um átomo de oxigênio
P
de O� na dopamina para formar norepinefrina (Figura
H C H2O
10.��). A enzima ativa contém um átomo de íon cuproso
H que reage com oxigênio para formar um complexo ativa�
do oxigênio–cobre. Acredita�se que o complexo cobre–
Sítio do ADP hidroperóxido seja convertido em uma espécie de cobre
(II)–O– que funciona como oxigênio ativo na hidroxi�
lação da DOPA. Outras espécies de oxigênio ativo são
FIGURA 10.41 Modelo do papel de K+ no sítio ativo da geradas em metaloenzimas e usadas para hidroxilação.
piruvato quinase.
A piruvato quinase catalisa a reação: fosfoenolpiruvato + ADP
→ ATP + piruvato. A ligação inicial de K+ induz mudanças
conformacionais na quinase, que resultam em afinidade au�
mentada pelo fosfoenolpiruvato. Além disso, o K+ orienta o 10.6 CINÉTICA DE REAÇÕES
fosfoenolpiruvato na posição correta para transferência de seu
fosfato para o ADP (não mostrado), o segundo substrato. O QUÍMICAS
Mg�+ coordena o substrato com o sítio ativo da enzima. Resul�
tados mais recentes mostram que o papel exato do íon K+ não é
conhecido, mas parece que o íon permite a orientação correta Velocidade de Formação de Produto
do sítio ativo para permitir que a catálise ocorra.
Modificado com permissão de Mildvan, A. S. Annu. Rev. Bio
As velocidades de todas as reações químicas podem
chem. �3:365, 1971. Copyright © (1971) Annual Reviews, Inc.; ser expressas em termos matemáticos. No desenvolvi�
e Oria�J., Cabrera, N., Oerez�Monfort, R. e Ranirez�Silva, L. J. mento das equações de velocidade, pode ser determi�
Biol. Chem. �80:379��, �005. nada ou a formação de produto, ou o desaparecimento
410 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

dos reagentes iniciais; na maioria Cu2+ Cu+


dos casos, a formação de produ� Enzima + Ascorbato Enzima + Desidroascorbato + 2H+
to é medida. A partir das relações
matemáticas entre a(s) taxa(s) de
formação de produto(s) (chama�
da velocidade) em função da(s) Cu+ Cu (II)
concentração(ões) de substrato(s), Enzima + O2 Enzima O
alguns aspectos do mecanismo de
catálise enzimática podem ser de� O
terminados. Uma equação que des� H
creve a velocidade de formação de
HO
produto de qualquer reação contém
Cu(II) O NH
uma constante de velocidade (k) e 2
Enzima + HO
a concentração de todos os subs�
tratos que mudam durante o curso H
O
da reação. Na reação A + B → P, a
H Dopamina
variação na concentração de produ�
to em função do tempo é d[P]/ dt, HO
onde [P] é concentração do produ� Cu2+ NH2
to em qualquer tempo t. A equação Enzyme + HO + H2O
básica relacionando velocidade com
OH
reagentes é
Norepinefrina
d[P]/ dt = k[A][B] (10.�)
FIGURA 10.42 Papel do cobre na ativação de oxigênio molecular pela dopamina
k é a constante de velocidade e hidroxilase.
é uma constante para uma reação A forma normal cúprica da enzima não é reativa com oxigênio, mas após redução pelo
específica. [A] e [B] são as concen� cossubstrato ascorbato gera um radical de oxigênio reativo ligado � enzima�cobre que,
trações dos substratos em qualquer então, reage com dopamina para formar norepinefrina e uma enzima cúprica inativa.
tempo. A constante de velocidade
está relacionada com a energia de ativação para chegar dam durante o curso da reação. Em reações envolvendo
ao estado de transição, e muda pela adição de um cata� água, a concentração de água não é alterada (ou não é
lisador. Constantes de velocidade podem ser alteradas possível medir). Assim, se B é água na reação A + B →
só por mudança nas condições da reação, isto é, adição C, o valor de B é uma constante e a reação é de primeira
de catalisador ou mudança de pH ou composição iônica. ordem (Equação 10.3).

Reações de Primeira e Segunda Ordem


Uma reação com apenas um substrato (A → P) é
Velocidade de Desaparecimento de
uma reação de primeira ordem, com Substrato
d[P]/dt = k[A] (10.3) Para a reação simples A → P, a velocidade da reação
Se existirem dois substratos, a reação é de segunda também pode ser dada pelo desaparecimento do subs�
trato em função do tempo, –d[A]/dt. O sinal de menos
ordem (Equação 10.�). As unidades de k são diferen�
é necessário uma vez que a concentração de A está di�
tes nas equações de primeira e segunda ordem. Como
minuindo com o tempo. A variação na concentração do
d[P]/dt tem as unidades moles/minuto (ou qualquer ou�
produto P com o tempo é d[P]/dt, o que é igual � perda
tra unidade de concentração ou tempo), k na Equação
de substrato ou –d[A]/dt.
10.� teria as unidades de 1/moles × min, enquanto na
Equação 10.3 k estaria em 1/min. Se forem necessárias d[P]/dt = d[A]/dt = k[A] (10.�)
duas moléculas do composto A para formar o produto
P, então a equação seria de segunda ordem porque a A equação para perda de substrato em função do
velocidade para fazer P seria relacionada a uma reação tempo é
de [A] + [A]. A equação seria d[P]/dt = k[A][A] ou k [A]�,
d[A]/dt = –k[A] (10.5)
que é idêntica a uma reação de segunda ordem, embora
um composto esteja envolvido. Para d[P]/dt = k[A][B], a
e a integral de dA/A é ln A levando a
reação é de primeira ordem com respeito a A e B, mas a
reação geral é de segunda ordem. ln[A] = �,3 log [A] = –kt + constante (10.6)
Os termos de concentração na equação da velocida� A Equação 10.6 é a relação matemática para a perda
de são só para os substratos cujas concentrações mu� de substrato em função do tempo. No tempo zero, [A]
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 411

é a concentração inicial, [A0], de modo que a equação de substrato e formação de produto. A equação da velo�
pode ser reescrita como cidade para formação de produto reflete que o material
está sendo produzido (k1[A]), mas também está sendo
ln[A] = –kt +[A]0 perdido quando volta para o material inicial (–k�[P]). O
sinal negativo mostra que o material está sendo removi�
Portanto
do. Uma equação semelhante é escrita para a mudança
ln[A/A0] = –kt (10.7) no material de partida. Como no equilíbrio

ou d[P]/dt = d[A]/dt (10.11)

�,3 log[A/A0] = kt então

Um gráfico de ln[A] versus tempo é uma linha reta k1[A] = k�[P] então k1 / k� = [P]/[A] (10.1�)
com uma inclinação de –k (Figura 10.�3).
A razão k1/k� é a constante de equilíbrio Keq, e é
igual a [P]/[A]. Embora as constantes de velocidade in�
dividuais de uma reação reversível sejam independen�
tes da constante de equilíbrio, a razão entre as cons�
tantes é limitada pela constante de equilíbrio. A última
]
A
[ está relacionada com a energia livre necessária para
n
l
inclinação =−k fazer A e P (chamada calor de formação). A cinética
de reações complexas é apresentada em Um Olhar Mais
Atento 10.�.

tempo
Equilíbrio
FIGURA 10.43 Um gráfico de ln[A] versus tempo para
Produto (P)
uma reação de primeira ordem.
o
ãçartne
Para efeitos de comparação, o termo meia-vida é fre�
quentemente usado. A meia�vida (t1/� out50%) é o tempo cnoC
que levaria para que 50% do substrato fosse convertido
em produto. Como o valor [A/A0] seria 0,5 e o ln[0,5] = Substrato (A)
–0,69, isso leva a

–0,69 = –kt50% (10.8)


Tempo

ou meia�vida é igual a 0,69/k. Portanto, quanto maior FIGURA 10.44 Gráfico de desaparecimento de substrato e
a constante de velocidade, mais rapidamente a reação formação de produto.
depletará metade do substrato. O decaimento radioa� Para uma reação reversível, não ocorre mudança na concentra�
tivo é um exemplo de reação de primeira ordem, como ção de substrato ou produto no equilíbrio.
são reações catalisadas por enzimas sob determinadas
condições.
10.7 CINÉTICA ENZIMÁTICA
Reações Reversíveis DE REAÇÕES COM UM
Muitas reações são reversíveis. Isto é, SUBSTRATO
A⇌
k1 Uma reação catalisada por enzima é como uma reação
P
k2 de segunda ordem. Assim, � medida que a concentração
de substrato aumenta, a velocidade da reação aumenta,
Pode�se escrever uma equação de velocidade para a como mostra a Figura 10.�5. A velocidade diminui du�
formação de produto P ou para o material de partida A. rante o curso da reação porque a concentração de subs�
trato está diminuindo ou o produto está começando a
d[P]/dt = k1[A] – k�[P] (10.9) se acumular. Considerando�se que a reação é reversível,
d[A]/dt = k1[A] – k�[A] (10.10) chegará ao equilíbrio. Calculando�se a velocidade inicial
(v0) (ou seja, velocidade antes que o produto comece a
No equilíbrio, quando não há mudança nas concen� se acumular) da reação em diferentes concentrações de
trações dos componentes, a velocidade de formação de substrato, pode�se obter a curva apresentada na Figura
um componente é igual � velocidade de formação do 10.�6. A velocidade fica de ordem zero com relação ao
outro. A Figura 10.�� é um gráfico de desaparecimento substrato em altas concentrações de substrato. Isto é,
412 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

UM OLHAR MAIS ATENTO 10.4

Reações Complexas

O deslocamento nucleofílico é uma reação orgânica de formação de produto porque ele não pode ser for�
comum que ocorre em reações bioquímicas. Uma forma mado mais rapidamente do que a velocidade da etapa
geral da reação é R–X + Y→ Y–R + X (onde R represen� mais lenta. Isso significa que a velocidade de formação
ta parte de um composto orgânico e X e Y representam de produto será descrita pela equação da velocidade
um componente como um grupo álcool ou amino). A = –kdo
concentração
d[R–X]/dt componente
1[R–X]. Essa reação
Y. é independente da
reação pode ocorrer de dois modos diferentes, cada um Isto é, a reação é de
levando a uma equação de velocidade diferente. primeira ordem. Pode�se dizer que a reação é de ordem
zero com relação a [Y], significando que a reação é inde�
A primeira possibilidade é que o composto R–X se pendente da concentração de Y. (Lembre�se que [Y]0 =
dissocie, formando R+ + X–. Em seguida, Y pode atacar 1.)Aumentar a concentração de Y não terá efeito algum
R+ para formar o produto final, R–Y. A segunda possibi�
sobre a velocidade da reação.
lidade é Y atacar R–X diretamente, deslocando X para
formar o mesmo produto final. As equações cinéticas Na reação de Y atacando R–X, o termo da velocida�
para as duas reações são diferentes. de contém as concentrações de ambos os substratos.
da
Istoordem
é, d[R–Y]/dt
tradicional.
= –k�[R–Y][Y],
A uma reação de segun�
A velocidade da primeira etapa da reação de R–X principal diferença entre as
dando R+ + X– é duas vias de reação é que a etapa mais lenta em uma
d[R–X]/dt = –k[RX] envolve o estado de transição de R–X indo para R+ +
X–. Na outra, a etapa de transição envolve Y atacando
Para a segunda metade da reação, R+ + Y, a veloci� R–X (Figura 10.�5). Reiterando, a cinética conta algo
dade é dada por k’[R+][Y]. Se a primeira etapa for mui� sobre as etapas mais lentas que ocorrem durante uma
to lenta em comparação com a segunda etapa, então a reação. A etapa mais lenta que ocorre durante uma rea�
velocidade geral será governada só pela primeira etapa. ção catalisada por enzima é chamada a etapa limitan�
Em cinética, só as etapas lentas são medidas. Para ilus� te da velocidade.
trar, vamos admitir que R–X vá para R+ + X– a uma ve�
locidade de 10 mM/min, e o ataque de Y sobre R+ ocorra A cinética de reações complexas ocorre no monito�
a 1.000 mM/min. Então, quando uma molécula de R+ é ramento do fluxo de compostos por uma via metabólica.
formada, ela muito rapidamente torna�se o produto fi� A velocidade da etapa mais lenta é a que governará a
nal. Aumentar a etapa rápida não alterará a velocidade velocidade de formação de produto.

O O

O P O P O− NH3+ O O
O−
CH3 O−
CH3 CH2 CH + NH3 CH3CH2CHCH3 + −OP O P O−

O− O−
(a) ionização +
O O CH3CH2CCH3
H
+
O P O P O− O O NH3
CH3 O− lenta NH3 +
O
O− O−
CH2 CHCH3 −O P O P O− rápida CH3 CH2 C CH3

O− O− H
v = k [substrato]
(b) deslocamento direto H

O CH3 CH2CCH3

O P O O
P− lenta NH3+
CH3 O−
CH3 +
CH2 CH O O

−O P O P O−
NH3
O− O−

v = k¢[substrato][NH3]

Reações de deslocamento nucleofílico. (a) Mecanismo de função da concentração de apenas um substrato, enquanto no
ionização. (b) Mecanismo de deslocamento direto. Note que, deslocamento direto a velocidade depende das concentrações
no mecanismo de ionização, a velocidade da reação é uma de ambos os substratos.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 413

a velocidade não mais aumenta com um aumento em d[P]/dt = k3[ES] (10.1�)


[S]. A razão é que a enzima e o substrato formam um
Para determinar a velocidade de formação de produ�
complexo, e a velocidade de formação de produto é pro�
porcional � concentração do complexo. Toda a enzima to, é necessário encontrar o valor de ES em função da
estará no complexo em altas concentrações de substra� concentração de enzima e substrato. A Equação 10.1�
to. A enzima será liberada do complexo por dissociação pode ser resolvida para a velocidade da reação (ver Um
reversível do substrato ou prosseguindo, para formar Olhar Mais Atento 10.5 para derivação da equação). A
produtos. A reação geral é escrita como forma final é
⇌2 ES 3−→
k1 K =K
k[E][S]
E+S E+P (10.13) v (10.15)
+ [S]

onde k é uma constante de velocidade e K é uma cons�


tante que inclui as constantes de velocidade individu�
Equilíbrio
ais relacionadas com a interação do substrato com a
S4 enzima.
vo
1– vt
L S3
l
o
m
o
t
Equação de Michaelis-Menten
u S2
d
o
r
,
P
A reação enzimática mais simples na qual um subs�
S1 trato vai para um produto é
⇌2 ES ⇌
k1 k3
E+S E+P (10.16)
k4
Tempo
Se a reação da Equação 10.16 for essencialmente
FIGURA 10.45 Curvas de progressão de uma reação
catalisada por enzima em diferentes concentrações de irreversível (k� = 0 ou [P] não estiver presente, o que
substrato e uma concentração constante de enzima. acontece assim que a enzima e S são misturados), a
A velocidade inicial (v0) da reação é determinada a partir da equação para a velocidade de formação de produto é
inclinação da curva de progressão no início da reação. A veloci�
dade inicial aumenta com o aumento na concentração de subs�
v= k3[E][S]
(k3
trato (S1�S�), mas atinge um valor limitante característico de +k2)/k1 +[S] (10.17)
cada enzima. A velocidade em qualquer tempo t é chamada v.
Combinando constantes no denominador em um
termo chamado Km e se a reação ES → E + P na Equa�
Velocidade
(Vmáx) máxima
e
o
ção 10.16 for a etapa limitante da velocidade, então k3
d t
l u
a
ic o
d define a atividade catalítica da enzima (kcat), e a equa�
i rp ção torna�se
n
i e
e d
d o
a ãç kcat[Et][S]
d
i a
c
o
v= (10.18)
l m
e ro (km + [S])
V f
Concentração do substrato
Note a semelhança das Equações 10.15 e 10.18. Como
FIGURA 10.46 Gráfico de velocidade versus concentração kcat (a constante de velocidade) e [Et] (concentração de
de substrato para uma reação catalisada por enzima. enzima total) são constantes, kcat[Et] = Vmáx. A equação
As velocidades iniciais são plotadas contra a concentração de pode ser escrita como
substrato na qual foram determinadas. A curva é uma hipérbo�
le retangular, que se aproxima assintoticamente da velocidade Vm[S]
v=(km + [S]) (10.19)
máxima possível com uma determinada quantidade de enzima.

Constantes de velocidade k serão numeradas de e é chamada equação de Michaelis-Menten. Para reações


modo que as que levam aos produtos terão números ím� que são mais complicadas, kcat é composto por uma co�
pares (k1, k3 e k5), enquanto as etapas reversíveis serão leção de constantes de velocidade. Vm na Equação 10.19
pares (k�, k� e k6); algumas são constantes de primei� é a velocidade máxima da reação em uma concentração
ra ordem e outras de segunda ordem. As unidades das definida de enzima e tem a unidade de moles de produ�
constantes de primeira ordem e de segunda ordem são to por unidade de tempo. Portanto, Vm (isto é, k3[Et] ou
diferentes e não podem ser somadas, mas podem ser kcat[Et]) é uma constante para uma concentração fixa
multiplicadas ou divididas. de enzima. Se a concentração de enzima for aumentada
ou diminuída, Vmáx aumentará ou diminuirá, respec�
A velocidade de formação de produto é o termo que tivamente (Figura 10.�7). Km é composto de constan�
leva ao produto multiplicado pela constante de velocidade. tes de velocidade individuais; entretanto, da Equação
414 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

UM OLHAR MAIS ATENTO 10.5

Derivação da Equação de Michaelis–Menten

Para derivar a equação de Michaelis–Menten, é ne� [ES] = k1[Et][S]


cessário determinar a concentração de ES. A velocida� (k2 + k3) + k1[S]
da,
de dedado
formação de ESeé ES
por k�[ES], dada
indo
porpara
k1[Ef][S],
produtos,
onde k3[ES].
[Ef ] é a
concentração de enzima livre. O uso de ES é governado Como a velocidade de formação de produto (v) da
por duas reações: ES retornando ao material de parti� reação é k3[ES], multiplicando�se a reação anterior por
k3 temos
Combinando esses termos, temos uma equação que
descreve a mudança na concentração de ES. (k2k3k1[Et][S]
v=
. + k3) + k1[S]
d[ES]/dt = k1[Ef][S] – k�[ES] – k3[ES]
Para converter essa equação na equação de Michae�
Considerando que a concentração de ES é constan� lis�Menten, o numerador e o denominador são divididos
te, exceto para os primeiros poucos milisegundos após por k1
contado entre substrato e enzima, d[ES]/dt = 0. Isto é
chamado suposição de estado estacionário, signifi� v= k3[Et][S] Vm+
[S]
(k2 ou v =
cando a concentração de ES durante o período de tem� +k3)/k1+[S] Km [S]
po inicial da reação catalisada pela enzima (período
para medir a velocidade inicial). A validade da condição k3Et é a velocidade máxima da reação (Vm) com toda
de estado estacionário pode ser provada matematica� a enzima na forma ES, e portanto k3 é kcat. As cons�
mente. Substituindo�se [Ef] por [Et] – [ES], onde Et é tantes do denominador são definidas como Km. É claro
a concentração total de enzima e rearranjando, leva a que Kb não é uma simples constante de dissociação. Se
k3 for muito pequena comparada com k�, então a razão
k1([Et] – [ES])[S] = (k� + k3) [ES] resultante seria k�/k1, que é Kd, a constante de disso�
Resolvendo para [ES], obtemos ciação.

10.�8) quando Km = [S]. Quando v é igual a ½Vm, me�


tade da concentração de enzima total está em um com�
8E1 4E1 plexo com substrato e metade está livre. Diferentemen�
te, quando [S] >> Km, essencialmente 100% da enzima
está no complexo ES. Nessa condição, a reação alcança
o
d
a Vm, uma vez que a velocidade seria v = Vm. Geralmente,
8υ0
m
r
o 4υ0 considera�se que Vm é alcançada quando [S] é perto de
f 2E1
o
t
u
2υυ0 �0 [Km ], uma vez que nessas condições v = Vm × �0/�1,
d ou 0,95 Vm. A natureza bifásica do mecanismo enzimáti�
o
r
P
co, isto é, ligação seguida por modificação do substrato,
0 é reforçada na Correlação Clínica 10.3.
E1

Tempo
Vmáx
FIGURA 10.47 Curvas de progressão em concentrações
variáveis de enzima e concentrações de saturação de
substrato. Vmáx2
A velocidade inicial (v0) dobra quando a concentração de enzi�
ma dobra. Como as concentrações de substrato são as mesmas,
as concentrações finais de equilíbrio do produto serão idênti�
cas em todos os casos; entretanto, o equilíbrio será alcançado
em velocidade menor nos ensaios contendo pequenas quanti�
dades de enzima. Km [S]

FIGURA 10.48 Estimativa gráfica de Km a partir do gráfico


10.18, pode�se afirmar que Km é a concentração de subs de v0 versus [S].
trato quando a velocidade da reação (v) é a metade da Km é a concentração de substrato na qual a enzima tem metade
velocidade máxima (Vm), isto é, v = Vm = 0,5 (Figura da atividade máxima.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 415

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.3

Um Caso de Gota Demonstra Duas Fases no Mecanismo de Ação Enzimática

As duas fases do modelo de Michaelis�Menten para imunológicos com anticorpo específico para a enzima
ação enzimática, ligação seguida de modificação do revelaram quantidades semelhantes da proteína em
substrato, são ilustradas pelos estudos de uma família comparação com eritrócitos normais. Essa descoberta
com gota. O paciente excretava três vezes a quantidade demonstra que a ligação do substrato, refletida no Km, e
normal de ácido úrico por dia e tinha níveis muito au� o evento químico subsequente da catálise, que é refle�
mentados de 5!�fosforribosil�α�pirofosfato (PRPP) em tido na Vmáx, são fases separadas do processo catalítico
seus eritrócitos. O PRPP é um intermediário da bios� geral. Essa situação aplica�se apenas aos mecanismos
síntese de AMP e GMP, que são convertidos em ATP enzimaticos em que k3>>k�.
e GTP. O ácido úrico é um produto de degradação de
AMP e GMP. Ensaios in vitro revelaram que a ativida� Becker, M. A., Kostel, P. J., Meyer, L. J. e Seegmiller, J.
de da PRPP sintetase nos eritrócitos do paciente estava E. Human phosphoribosyl pyrophosphatase synthetase: In�
aumentada três vezes. O pH ótimo e o Km da enzima creased enzyme specific activity in a family with gout and
para ATP e ribose 5�fosfato estavam normais, mas Vmáx excessive purine synthesis. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 70:
estava aumentada três vezes! Esse aumento não era �7�9, 1973.
devido a um aumento na quantidade de enzima; testes

Se a reação for mais complexa, como da enzima. Supõe�se que a concentração de substrato é
⇌k
1 ES 3−→K ES 5−→K E+P maior do que a de enzima, de modo que durante o curso
E+S (10.�0) inicial da reação que está sendo medida o valor de [S]
k2
não varia. Obviamente, vários valores de [S] podem ser
onde ES! representa uma forma modificada, mas inde� usados, mas para todos permanecerá constante duran�
pendente, do complexo, então a equação da velocidade te a reação. Para a reação simples E + S  ES → E + P,
fica a concentração de enzima é sempre a soma da energia
livre e do substrato ligado � enzima; isto é,
k3k5/(k3 + k5)[Et][S]
v = k5 (10.�1) [Et] = [Ef] + [ES] (10.�3)
(k2 +k3)/k1(k3 +k5) +[S]
[Et] é a concentração total de enzima e [Ef] é a concen�
Exame das Equações 10.17 e 10.�1 revela que a for�
ma generalizada da equação é tração de enzima livre. É Ef que é necessária em uma
reação para interagir com o substrato. A concentração
v = Constante[Et][S]
Constante + [S] (10.��) de enzima livre não é medida diretamente, mas a con�
centração de enzima total é conhecida. Isso significa
que
Esta é a mesma equação geral da Equação 10.18. As
[Et] – [ES] = [Ef] (10.��)
constantes de velocidade do numerador são agrupadas
para se tornarem o termo kcat, enquanto as constantes Se existirem outras formas da enzima, como uma
do denominador são definidas como Km. Assim ambos, forma com um inibidor (p. ��0), então a Equação 10.��
kcat e Km, são tipicamente compostos por um conjun� deveria ser expandida para incluir todas as formas da
to complexo de constantes de velocidade individuais. enzima.
As constantes específicas que compõem os termos são
relacionadas com o mecanismo cinético real e a mag� Significado do Km
nitude das constantes de velocidade individuais. Por
exemplo, se o valor de k3 for muito maior do que k5 na Km consiste de várias constantes de velocidade e
não é uma constante de dissociação derivada (Kd). Seu
Equação 10.�1, kcat seria reduzida em k5 porque a soma
de k3 e k5 seria essencialmente o valor de k3. Se, entre� valor, entretanto, é usado frequentemente para indicar
tanto, as duas constantes de velocidade tiverem valores quão bem um substrato interage com uma enzima. Um
semelhantes, então kcat seria composta de muitos ter� Km
nidade
de 10–7
pelaMenzima
indica que
do que
o substrato for uma maior afi�
se o Kmtem
mos, bem como Km cujas unidades são concentração. to menor o valor de Km 10–5 M. Quan�
, mais forte é a interação entre
Concentração de Enzima Livre substrato e enzima. Embora o Km não seja uma cons�
tante de dissociação, valores menores significam que é
A derivação da equação de Michaelis�Menten re� necessário menos substrato para ligar 50% da enzima
quer uma determinação cuidadosa de todas as formas (Correlação Clínica 10.�).
416 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Um exemplo da importância do Km é a utilização fi� Significado de kcat na Equação de


siológica de glicose. A glicose pode ser fosforilada por
duas quinases diferentes para formar glicose 6�fosfato. Michaelis–Menten
O fígado contém ambas hexoquinase e glucoquinase,
que catalisam a reação idêntica de glicose + ATP → gli� Quando a Concentração de Substrato É
cose 6�fosfato + ADP. Para a hexoquinase, o Km para Muito Maior do que o Km
glicose é 0,1 mM, enquanto para a glucoquinase é 5 mM.
Quando a concentração de glicose no sangue é baixa, A Equação 10.18 está na forma de uma equação hiper�
como ocorre no estado de jejum, a hexoquinase é usada bólica geral. Quando o valor de [S] é muito maior do que o
para fosforilar glicose, mas quando a glicose sanguínea valor de Km, o valor do denominador é essencialmente o
sobe após alimentação, a enzima de alto Km também valor de [S], e a equação pode ser aproximada por
funciona. kcat[E][S]
v= [S] = kcat [E] (10.�5)
Número de Turnover (kcat)
Na Equação 10.18, kcat no numerador tem unidades Isto é, a velocidade torna�se independente da concen�
de 1/tempo. Essa constante é também chamada núme tração de S; a reação torna�se de ordem zero com relação
ro de turnover da enzima, isto é, o número de molécu� a S. Isso é encontrado na parte da curva onde a veloci�
las de substrato convertidos em produto por unidade de dade essencialmente se nivela, e não aumenta quando a
tempo por molécula de enzima. Quanto maior o valor concentração de [S] aumenta (inclinação = 0) (ver Figu�
ra 10.�6). A reação está acontecendo em sua velocidade
de kcat para uma enzima, mais rápida será a reação. Em
máxima nessas condições porque essencialmente 100%
geral, esse termo representa a(s) etapa(s) mais lenta(s)
da reação geral. da enzima está no complexo ES. No instante em que uma
molécula de produto é feita, ela deixa a enzima, e ou�
tra molécula de S liga�se � enzima, mantendo sempre a
enzima saturada com S. Nessas condições, a velocidade
é governada estritamente pelos termos que governam a
reação de ES indo para produto (ES → E + P).

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.4

Efeito Fisiológico de Mudanças nos Valores de Km de Enzimas


A sensibilidade incomum de alguns asiáticos a be� contendo glutamato e lisina, respectivamente, e as ou�
bidas alcoólicas tem uma base bioquímica. Em alguns tras são heterotetrâmeros. E3K tinha 50% da atividade
japoneses e chineses, muito menos álcool é necessário total, não 75%, enquanto EK3 praticamente não tinha
para produzir vasodilatação, resultando em rubor facial atividade, e não os �5% que se poderia esperar com
e aceleração dos batimentos cardíacos, do que o ne� uma subunidade ativa. A subunidade K era dominante
cessário para causar o mesmo efeito em europeus. Os porque podia inativar a subunidade � qual estava pa�
efeitos fisiológicos devem�se ao acetaldeído gerado pela reada, uma vez que o resíduo da posição �87 interage
álcool desidrogenase hepática. O acetaldeído é conver� com uma arginina da posição �75. Quando um gluta�
tido em acetato pela aldeído desidrogenase (ALDH). mato estava na posição �87, uma ligação salina estável
Um aminoácido na posição �87 da subunidade de 500 se formava, mas quando uma lisina estava na posição
aminoácidos da enzima tetramérica está trocado em al� �87, levava a arginina a se mover. O movimento rom�
guns dos indivíduos afetados. A enzima ativa tem um pia o bolsão de ligação a NAD, embora o resíduo �87
glutamato, enquanto a variante inativa tem uma lisina. não estivesse em contato com a dobra de Rossmann.
Descobriu�se que a variante asiática tem uma atividade Esse exemplo ilustra o fato de uma mutação puntual
muito baixa, e o Km para NAD+ aumenta de 30 mM para em uma enzima poder afetar o sítio ativo, mesmo que o
7.000 mM. Embora a enzima seja ativa, teria muito pou� resíduo não esteja em contato direto com essa região.
ca atividade no fígado porque o Km é muito alto e a kcat Também mostra como uma subunidade pode ser do�
é baixa. minante sobre outra.

Além disso, indivíduos afetados eram heterozigo� Crabb, D. W., Edenberg, H. J., Bosron, W. F. e Li, T.�K. Ge�Ge�
notypes for aldehyde dehydrogenase deficiency and alcohol
tos, tendo genes para a enzima glutamato ativa e a
sensitivity: The ALDH�� allele is dominant. J. Clin. Invest.
enzima lisina essencialmente inativa. Esperava�se que 83:31�, 1989; e Zhou, J. e Weiner, H. Basis for half�of�the� site
sua enzima tivesse 50% de atividade, mas tinha ati� reactivity and the dominance of the K�87 oriental subunit
vidade muito baixa. ALDH forma tetrâmeros com os over the E�87 subunit in heterotetrameric human liver mito�
dois
e são formas (E�
K� monômeros homotetraméricas
, E3K, E�K�, EK3das
e K�), onde E�
subunidades chondrial aldehyde dehydrogenase. Biochemistry 39:1�019,
�000.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 417

Quando a Concentração de Substrato É os mesmos em ambas as direções). Pode ser derivado


Muito Menor do que Km que kf é (kcat/Km)f e kr é (kcat/Km)r. Para uma reação re�
versível, a constante de equilíbrio Keq = ([P]/[S]) é kf/kr
Quando a [S] é muito baixa comparada com Km, a ou
Equação 10.17 pode ser aproximada como
(kcat/Km)f
keq = (kcat (10.�8)
kcat[Et][S] Vmáx[S] /Km)r
= deKm
vvalor Km ou v = Km (10.�6)
Os valores de kcat e Km não podem mudar aleatoria�
Um gráfico de v versus [S] é linear quando [S] << mente uma vez que sua razão deve ser igual � Keq. Isso
. Como para qualquer reação química, a ve� implica em que, se um mutante de uma enzima tiver um
locidade de formação de produto é uma constante de valor de kcat maior do que o da enzima original, alguma
velocidade multiplicada pela concentração dos reagen� outra constante deve mudar para satisfazer a situação
tes, o termo kcat/Km pode ser considerado como uma de equilíbrio. Essas relações tipo�equilíbrio são chama�
constante de velocidade de segunda ordem, uma vez das relações de Haldane.
que existem dois termos de concentração na equação
de velocidade ([Et] e [S]). O fato de essa razão ser equi�
valente a uma constante de velocidade de segunda or� Km Baixo versus kcat Alta
dem impõe certas restrições � razão. Por exemplo, uma
constante de velocidade não pode ser mais rápida do Como a razão de kcat/Km tem um limite superior, a
que a velocidade em que duas moléculas se difundem questão pode surgir se seria preferível para uma enzi�
ma ter um Km muito baixo ou um kcat muito alto. Fre�
em solução. Mesmo se nenhuma energia de ativação
fornecessária, as duas moléculas precisam colidir uma quentemente considera�se que um Km baixo é mais
com a outra para que uma reação ocorra. A constante desejável, e compostos com os Km mais baixos são os
de velocidade para uma reação de difusão de segunda melhores substratos. Na realidade, o composto com o
ordem fica em torno de 109/mol/seg. Portanto, se kcat maior kcat/Km é o melhor substrato. Em kcat/Km cons�
for muito grande, Km não pode ser muito pequeno ou a tante, é melhor ter um alto kcat do que um baixo Km. Um
razão excederia a velocidade de difusão. Como exemplo, exemplo é apresentado na Tabela 10.�. Em uma concen�
a catalase, uma enzima que converte peróxido de hidro� tração fixa de substrato, 1 mM no exemplo, a velocida�
de geral é sempre maior quando Km é alto porque isso
gênio em oxigênio e água, tem uma kcat de � × 107/seg. O
Km
para o peróxido de hidrogênio, entretanto, é 1 molar, força kcat a ser maior para satisfazer a razão kcat/Km.
um
fatorvalor
de �5muito
(109 versus
alto. A �razão
× 107) da/Kvelocidade
kcat por um
m é menor máxima
Portanto, quando se avalia diferentes substratos para
uma enzima, o substrato com o maior valor de kcat/Km
teórica que reações de segunda ordem podem alcançar. seria considerado o melhor substrato para a enzima,
não aquele com o menor Km.
A catalase é uma das enzimas mais rápidas que se co�
nhece quando o termo kcat/Km é medido. Em uma célula, não é apenas os termos kcat e Km
que são importantes, mas deve�se levar em conta a
O kcat pode ser um número muito baixo (como 1
a(como
10/seg)
porsó se o Km1 para o substrato for muito baixo
exemplo, concentração total da enzima. O termo velocidade é
de primeira ordem com relação � enzima, de modo que
× 10–9 M). Essa baixa velocidade
alguns poucos picomoles de uma enzima com kcat /Km
significa que uma molécula de enzima produziria ape�
nas 1 a 10 moléculas de produto por segundo. A reação de 107/seg/M na célula seria menos eficiente na conver�
é tão lenta porque o substrato liga�se muito fortemen� são de um substrato a produto do que um nanomol de
uma enzima com kcat/Km de 105/seg/M.
te � enzima. É necessária uma grande quantidade de
energia para converter o substrato ligado ao estado de
transição. Um Km extremamente pequeno (alta afinida� TABELA 10.4 Relações entre Km e kcata
de) para o substrato requer que a reação química seja
Km (M) kcat (s–1) Velocidade (s–1)
lenta, enquanto um Km alto (baixa afinidade) significa
mas aficam
que na faixa
kcat pode de 10Os
ser alta. a 107/seg.
valores de kcat/Km para enzi� 10–6 1 1
10–5 10 9
Reações Reversíveis 10–� 10� 90

Outra limitação para a razão kcat/Km ocorre quando


a reação é reversível.
10–�
10–3
10–1 105
10�
103 500
909
E+S⇌kkfr E+P (10.�7)
990
1 106 999
kf e kr são as constantes de velocidade para frente e
para trás (os termos ES e EP são ignorados porque são aCondições da reação: kcat/Km = 106M�1s�1 e [S] = 103M.
418 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Calculando as Constantes Efeito das Condições de Ensaio


O Km pode ser aproximado de gráficos de v versus Quando se realiza uma reação nas condições de Vm,
[S]. Apresentações gráficas permitem o cálculo das essencialmente 100% da enzima está no complexo ES.
constantes cinéticas. A apresentação gráfica mais co� Diferentemente, quando uma reação é estudada na qual
mum é baseada na equação de Lineweaver-Burk, que é [S] << Km, o efeito que está sendo medido reflete o que
o recíproco da equação de Michaelis�Menten. O recípro� está ocorrendo com a enzima livre e ligada ao substrato.
co da Equação 10.19 é Assim, para estudar o efeito de uma mudança ambien�
tal, como pH, o ensaio geralmente é conduzido em con�
1 1 Km 1
+ Vm × [S] (10.�9) dições de Vmáx. O efeito das condições experimentais
v =Vm em condições de Vmáx dá informação sobre o termo kcat
porque toda a enzima está ligada ao substrato. Para
Um gráfico de 1/v0 versus 1/[S] é uma linha reta (Fi� avaliar o efeito do pH sobre a enzima livre, então
gura 10.50); o intercepto do eixo y é 1/Vm, o intercepto
kcat/Km em função do pH seria determinada.
no eixo x é –1/[S], que é equivalente a –1/Km; a inclina�
ção da linha é km/Vm. Assim, a partir do gráfico de 1/v0 Condições externas, como pH, temperatura e con�
em diferentes concentrações de 1/[S], dois parâmetros centração salina, afetam atividade enzimática. Esses
chaves da reação catalisada por enzima podem ser de� efeitos são muito importantes quando ensaios enzimá�
terminados. Alternativamente, programas de computa� ticos são realizados in vitro.
dor podem calcular kcat e Km a partir de dados de velo�
cidade e substrato. Temperatura
Um gráfico de velocidade versus temperatura para a
maioria das enzimas de mamíferos é uma curva em for�
ma de sino, com um ótimo entre �0 °C e �5 °C (Figura
1/v0
10.50). Acima dessa temperatura, ocorre a desnatura�
ção térmica da enzima; algumas enzimas desnaturam
em temperaturas mais baixas. Geralmente, entre 0 °C
1/[S]
1/vo VKm e �0 °C, as enzimas mostram um aumento de duas na
Inclinação = =
máx atividade para cada elevação de 10 °C. A mutação em
1/Vmáx uma enzima para uma forma termolábil pode ter graves
–1/Km
consequências (Correlação Clínica 10.5).
1/[S]

FIGURA 10.49 Determinação de Km e Vmáx a partir do


gráfico de duplo-recíproco de Lineweaver-Burk. o
t
u
Gráficos do recíproco da velocidade inicial versus o recíproco d
o
r
da concentração de substrato usados para determinar a velo� p
o
cidade inicial dão uma linha cujo intercepto x é –1/Km porque d
o
ã
em 1/v0 = 0, 1/[S] = 1/Km na Equação 10.�9. ç
a
m
r
o
f
a
Substrato e Produto Ligam-se ao Mesmo d
e
d
Sítio a
d
i
c
o
l
e
A presença de produto atuará como um inibidor da V
reação, uma vez que sua presença é capaz de impedir a
0 10 30 50 70
ligação do substrato. Será um inibidor competitivo, uma
Temperatura (C)
vez que S e P ligam�se a Ef. A equação relacionando a
velocidade inicial da reação em presença de produto é FIGURA 10.50 Dependência da temperatura de uma
Vm[S] típica enzima de mamíferos.
v= À esquerda da ótima, a velocidade é baixa porque a tempera�
Km(1+[P]/Kmp) +[S] (10.30) tura ambiental é muito baixa para fornecer suficiente energia
cinética para superar a energia de ativação. À direita da ótima,
onde Kmp é o Km para produto, considerando�se que a a enzima é inativada por desnaturação térmica.
reação poderia ser reversível. O produto inicialmente
não está presente quando se realiza um ensaio in vitro, pH
mas começa a se acumular com o tempo. Um gráfico de
formação de produto em função do tempo será inicial� Quase todas as enzimas mostram um perfil pH�ve�
mente linear, mas a inclinação diminuirá com o tempo, locidade em forma de sino, mas o máximo (pH ótimo)
� medida que o produto se acumula e age como inibidor varia muito entre diferentes enzimas. Fosfatases alcali�
(ver Figura 10.��). na e ácida, com pHs ótimos muito diferentes, são ambas
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 419

encontradas no homem (Figura 10.51). A curva em for�


ma de sino e sua posição no eixo x são dependentes do CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.5
estado ionizado específico do substrato que será mais Labilidade Térmica da Glicose-6-Fosfato Desidro
bem ligado � enzima. Isso, por sua vez, está relacionado genase Resulta em Anemia Hemolítica
com a ionização de resíduos de aminoácidos específi�
cos que constituem o sítio de ligação do substrato. Além Em eritrócitos, a glicose 6�fosfato desidrogenase
disso, resíduos de aminoácidos envolvidos na catálise (G6PD) é uma enzima importante para manutenção
da reação, para serem funcionais, devem estar no es� da integridade da membrana. Uma deficiência ou
tado carregado correto. A Correlação Clínica 10.6 des� inatividade dessa enzima leva a uma anemia hemo�
creve o efeito de uma mutação levando a uma mudança lítica. Em outros casos, uma enzima variante ,que
no pH ótimo de uma enzima de importância fisiológica. normalmente tem atividade suficiente para manter a
membrana, está presente, mas falha em condições de
estresse oxidativo. Uma mutação nessa enzima leva a
uma proteína com constantes cinéticas normais, mas
o
t
a
fs com estabilidade térmica diminuída. Essa condição é
o
f
o especialmente crítica para o eritrócito, uma vez que
d
o
ã
é desprovido de capacidade de sintetizar proteínas, e
ç
a não pode renovar enzimas quando se desnaturam. O
m
r
o
f resultado final é um tempo de vida muito diminuído
a (a) (b)
d para esses eritrócitos que têm G6PD instável. Esses
e
d eritrócitos também são suscetíveis a hemólise indu�
a
d
i
c zida por drogas.
o
l
e
V
2 4 6 8 10 12 Luzzato, L. e Mehta, A. Glucose�6�phosphate dehydro�
pH da mistura de ensaio genase deficiency. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W.
S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Molecular Bases
FIGURA 10.51 Dependência do pH de reações de of Inherited Disease, 7. ed. New York: McGraw�Hill, 1995,
fosfatase p. 3369.
(a) ácida e (b) alcalina. Em ambos os casos, o ótimo representa
o estado iônico ideal para ligação de enzima e substrato e o
estado iônico correto para as cadeias laterais dos aminoácidos
envolvidos no evento catalítico. E+A EA
EA + B
EAB
EPQ
EP EAB
EPQ
EP
E + +PQ A B Q P

10.8 CINÉTICA DE REAÇÕES E EA EAB EPQ EP E


COM DOIS SUBSTRATOS Enzima

(a) Mecanismo sequencial


Mecanismo Sequencial
Há dois mecanismos de interações para uma reação E+A EA A P B Q
EA
de dois substratos, como ilustrado na Figura 10.5�. No E +B EB
+P E EA E′ EB E
mecanismo sequencial, ambos os substratos ligam�se �
enzima de forma sequencial para formar um complexo
EB E+Q
ternário. Com os substratos A e B, o complexo ternário
seria E�A�B (A, B, C... são substratos e P, Q, R... são pro� (b) Mecanismo pingue-pongue
dutos). Se o substrato A se ligar antes de B, isso é cha�
mado uma reação sequencial ordenada, enquanto se A FIGURA 10.52 Mecanismos de interação para reações de
dois substratos.
ou B puderem se ligar primeiro, a reação é chamada
uma reação sequencial aleatória. A equação para uma (a) Mecanismo sequencial. (b) Mecanismo pingue�pongue.

reação sequencial contém termos de Km para ambos os


substratos A e B (Ka e Kb) e um termo Kia, a constante Mecanismo Pingue-Pongue
de dissociação do substrato A. Para encontrar as várias
constantes, um gráfico duplo recíproco de 1/v versus O segundo mecanismo para uma reação de dois
1/[A] é feito para a reação com diferentes concentrações substratos é chamado mecanismo pingue-pongue. O
fixas do substrato B (Figura 10.53). O gráfico resultan� substrato A liga�se � enzima e é convertido no produto
te mostra uma série de linhas que se interceptam P, deixando a enzima modificada. A enzima modificada
mutuamente. As constantes individuais podem ser en� liga substrato B, que é então convertido no produto Q.
contradas fazendo�se um gráfico das inclinações e in� Enzimas que apresentam cinética pingue�pongue são
terceptos em função de [B]. modificadas pelo substrato. Quinases que seguem um
420 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.6

Isoenzimas da Álcool Desidrogenase com Diferentes pHs Ótimos

Além da mudança de composição de isoenzimas da e 8,5 para b�. A etapa determinante da velocidade
aldeído desidrogenase em alguns asiáticos, diferentes da álcool desidrogenase é a liberação do NADH. O
isoenzimas da álcool desidrogenase (ADH) são também NADH é mantido na enzima por ligações iônicas en�
observadas. A ADH é codificada por três genes, que pro� tre os fosfatos da coenzima e as argininas das posi�
duzem três polipeptídeos diferentes, α, b e g. Três alelos ções �7 e 369. Na isozima b1, essa interação iônica
são encontrados para o gene b, que diferem em uma úni� não é quebrada até que o pH seja bastante alcalino, e
ca base nucleotídica; isso causa substituição por argini� o grupo guanidina da arginina comece a dissociar o
na. As substituições são apresentadas a seguir: H+. A substituição de aminoácidos com valores de pK
mais baixos, como na b� e b3, enfraquece a interação
Resíduo 47 Resíduo 369 e abaixa o pH ótimo. Como a liberação de NADH é
mais altos os
facilitada, que para
dovalores deb1Vmáx para b� e b3 são também
b1 Arg Arg .
b� His Arg
Burnell, J. C., Carr, L. G., Dwulet, F. E., Edenberg, H. J.,
b3 Arg Cys Li, T. K. e Bosron, W. F. The human b3 alcohol dehydroge�
nase subunit differs from b1 by a Cys� for Arg�369 substitution
A forma b3 de fígado tem atividade de ADH com um which decreased NAD(H) binding. Biochem. Biophys. Res.
pH ótimo próximo de 7, comparado com 10 para b1, Commun. 1�6: 1��7, 1987.

Ka 1 + Kia Kb 1 + [B]
Kb
tas enzimas que usam coenzimas que não se dissociam
1 1
υ = V Ka [B] 1
A
+
Vmáx empregam reações pingue�pongue.
máx

A equação relacionando a velocidade com as con�


centrações de A e B no mecanismo pingue�pongue é
aumentando
semelhante � equação para a reação sequencial, mas o
Inclinação = [B] mais significativo é que não tem o termo Kia encontra�
do na reação sequencial. Gráficos duplos�recíprocos
para essa reação resultam em uma série de linhas pa�
ralelas (Figura 10.5�). Novamente, os valores indivi�
duais de Km e Vm podem ser obtidos das inclinações
e interceptos, após plotar os valores obtidos em cada
concentração de B.
Ka Kia Kb
1+
Vmáx Ka [B]


1 Kmapp
Kia Kb
[B]
Intercepto = 1+
1
Vmáx Frequentemente se deseja saber o Km para apenas
um dos substratos. Fazendo�se a reação em presença de
1
1
1−
Ka [A] concentrações muito altas do substrato A e variando�se
V1 Kia a concentração de B é possível determinar uma Kmapp
para o substrato B. Isso é possível porque, quando [A]
FIGURA 10.53 Gráfico duplo-recíproco de velocidade >> Ka, a equação da velocidade se reduz a uma equação
inicial para uma reação sequencial.
de Michaelis�Menten simples.
O substrato B é fixado em concentrações especificadas, e o
substrato A varia. A equação da velocidade é
(
Ka KiaKbK
aB A
1 + Vmáx
1 ( KbB
v1 = Vmáx 1+ )
1+ ) 10.9 INIBIDORES
Muito do nosso conhecimento básico das vias meta�
bólicas foi obtido pelo uso de inibidores de enzimas es�
mecanismo pingue�pongue, o fazem ligando ATP ou ou� pecíficas. Compostos farmacêuticos são hoje projetados
tro nucleotídeo trifosfato primeiro e, depois, fosforilan� como inibidores de enzimas específicas, e muitos com�
do a enzima. O ADP se dissocia, e o segundo substrato postos de ocorrência natural são inibidores (Correlação
liga�se � enzima fosforilada, seguindo�se a transferên� Clínica 10.7). Compostos inibitórios podem se ligar �
cia do fosfato para produzir o aceptor fosforilado. Mui� enzima livre ou ao complexo ES e afetar a velocidade da
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 421

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.7

Inibidores de Xantina Oxidase


Isolados de Plantas

Gota é uma doença inflamatória cau�


1
sada pela superprodução ou menor se�
aumentando creção de ácido úrico, o produto final do
[B]
catabolismo de purinas (p. 8�5). A última
etapa do metabolismo de purinas é catali�
sada pela xantina oxidase. Um tratamen�
to comum para gota é o uso de alopurinol,
Ka [B]
Kb
Inclinação = 1+ um análogo estrutural da xantina e um
Vmáx
inibidor da enzima. Muitas sociedades
mais antigas usavam plantas medicinais
Kb
Intercepto = Vmáx
1 1 + [B] e mantiveram registros de quais são efe�
tivas. Registros da medicina tradicional
1 vietnamita indicam que 96 plantas, in�
[A]
cluindo Chrysanthemum sinense, foram
FIGURA 10.54 Gráfico duplo-recíproco de velocidade inicial para uma usadas para tratar gota. Descobriu�se que
reação pingue-pongue. alguns poucos extratos dessas plantas
O substrato B é fixado nas concentrações especificadas, e o substrato A varia. inibem a xantina oxidase de mamíferos,
v
1
A equação da velocidade é alguns quase tão efetivas quanto alopu�
( )
Vmáx
Ka ( Kb
B Vmáx
1 1 + Kb rinol. Suas estruturas são bastante dife�
= 1+ )+
B rentes do alopurinol e da xantina. Esses
resultados indicam que o estudo de com�
postos da medicina tradicional pode levar
reação. Com um inibidor, EI e/ou ESI (onde I é um ini�
a novos produtos farmacêuticos.
bidor) podem existir. Uma equação relacionando a con�
centração todal de enzima com todos os seus possíveis Nguyen, M. T. T., Awale, S., Tezuka, Y.,
complexos resulta em uma nova equação de Michaelis– Tran, Q. L., et al. Xanthine oxidase inhibitory
Menten contendo o termo 1 + [I]/Ki, onde Ki é a cons� activity of Vietnamese medicinal plants. Biol.
tante de dissociação de EI ou ESI. kcat em presença de Pharm. Bull. �7:1�1�, �00�.
inibidor é um kcat aparente (kcatapp), e o Km será um Km
aparente (Kmapp); isto é, um valor será medido, mas será
diferente do valor que seria encontrado em ausência de
inibidor. A concentração de inibidor não muda durante
o curso da reação, de modo que [I] é uma constante. Vá� COO–
rias classes de inibidores são definidos com base nessas CH2 COO–
cinéticas de reação. CH2 CH2

COO– COO–
Succinato Malonato
Inibição Competitiva
FIGURA 10.55 Substrato e inibidor da succinato
Inibição competitiva ocorre quando um inibidor desidrogenase.
compete com o substrato pela ligação com a enzima li�
vre. Alguns inibidores competitivos são estruturalmen�
ES será uma função de [S], [I], Km e Ki (k5/k6). Como Et
te semelhantes ao substrato ou ao produto, enquanto
= Ef + ES + EI, a Equação 10.31 é obtida.
outros são estruturalmente bem diferentes. Por exem�
plo, o malonato é um inibidor competitivo da succinato k3k1[Et][S]
desidrogenase (Figura 10.55 e p. 573), ligando�se pre� v=
(k2 +k3)(1+[I]/Ki) +k1[S] (10.31)
sumivelmente ao sítio de ligação de substrato. O pirazol
é um inibidor competitivo da álcool desidrogenase, mas Dividindo todos os termos por k1, dá a Equação
sua estrutura é bastante diferente do substrato. Se um 10.3�, uma vez que (k� + k3)/k1 é Km em ausência de I.
inibidor se ligar ao sítio ativo ou a um sítio diferente e
impedir que S se ligue, a reação seria como a da Figura k3[E][S]
v = Km(1+[I]/[Ki]) +k1[S] (10.3�)
10.56. O inibidor compete com o substrato pela ligação
com a enzima, de modo que, quando existe uma con�
centração muito alta de substrato, a ação do inibidor Note a semelhança entre as Equações 10.3� e 10.16.
será sobrepujada. A quantidade de enzima no complexo Várias constantes são encontradas no denominador,
422 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

e podem ser agrupadas para serem chamadas Kmapp. alto, de modo que o inibidor possa funcionar mesmo em
Como [I] é constante, o termo 1 + [I]/Ki é uma constan� presença de concentrações até altas do substrato. Bai�
te. O Km medido em presença de inibidor será um Kmapp, xos valores de Ki (ligação forte) são desejáveis de modo
mas é o verdadeiro Km vezes (1 + [I]/Ki). A presença do que grandes quantidades de inibidor não precisam ser
inibidor fará a reação ficar mais lenta em concentrações necessárias para inibir a enzima.
mais baixas de substrato porque as constantes do deno� k1 k3
E+S ES E+P
minador são maiores do que se o inibidor não estivesse k2
+
presente. Só quando [S] é muito maior do que Kmapp,
I
Vmax seria obtida quando o denominador fosse apenas
[S]. Nessas condições, virtualmente nenhum inibidor k5 k6
estaria ligado � enzima (Correlação Clínica 10.8). Am�
bos o substrato e o inibidor competem pela ligação, de EI
modo que aumento na concentração de substrato su�
perará a ação do inibidor. Terapeuticamente, inibidores FIGURA 10.56 Reação de um inibidor competitivo
competitivos são úteis apenas se o valor de [I]/Ki for reagindo com a enzima livre.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.8

Planejamento de um Inibidor Seletivo


As prostaglandinas compõem uma classe muito im� ser inibidores competitivos. Com a COX��, mas não com
portante de hormônios parácrinos derivados de ácidos a COX�1, entretanto, ocorreu uma inibição irreversível
graxos insaturados de cadeia longa (p. 756). Uma das tempo�dependente, que não envolve ligação covalente.
primeiras etapas de sua síntese envolve uma enzima, ci� O VIOXXÒ entrou no mercado em �000 e fez enorme di�
cloxigenase (COX). Entre os muitos efeitos fisiológicos ferença na qualidade de vida de pacientes com artrite.
das prostaglandinas estão a dor e a inflamação associa� Infelizmente, surgiram em alguns pacientes efeitos co�
das com artrite. Tradicionalmente, a artrite tem sido laterais significativos, envolvendo o coração, e a droga
tratada com aspirina e outras drogas anti�inflamatórias foi retirada do mercado.
não�esteroídicas, que se demonstrou funcionarem por
inibição da cicloxigenase, diminuindo assim os níveis
das prostaglandinas “más”, que causam os sintomas. Um
problema sério com essas drogas é o desenvolvimento de
sangramento e perfuração gastrointestinais, causados
por uma diminuição concomitante das prostaglandinas
“boas”, que protegem a mucosa gastrointestinal.

Há duas cicloxigenases diferentes, COX�1 e COX��,


que têm diferentes distribuições teciduais. A enzima
COX�� é induzida por mediadores da condição artrítica, Ser 530 Tyr 385 Val 523
enquanto COX�1 sintetiza constitutivamente as prosta�
glandinas que protegem a mucosa. A única diferença sig�
nificativa nos sítios ativos das duas enzimas é que a COX�
� tem uma valina em lugar de uma leucina no resíduo
5�3. A valina, menor, permite ligação preferencial de ini�
bidores projetados “sob medida”, resultando em inibição
seletiva da COX��. Tal droga projetada “sob medida”, o Arg 120
VIOXXÒé apresentada em modelo do sítio ativo de COX�1.

As cadeias laterais dos aminoácidos chaves que for�


mam o bolsão de ligação do substrato são apresenta� Leu 357
das em vermelho, e o heme, que participa da síntese de
prostaglandinas, é apresentado em azul. Demonstrou�
�se que aspirina acetila a serina 530 tanto na COX�1
como na ��, enquanto o VIOXXÒ liga�se seletivamente e
Gierse, J. K., McDonald, J. J., Hauser, S. D., Rangwala, S.
inibe COX��, preservando assim a produção das prosta� H., Koboldt, C. M. e Seibert, K. A. A single amino acid dif�
glandinas “boas” pela COX�1. O grupo fenil da aspirina ference between ciclooxugenase�1 (COX�1) and �� (COX��)
ocupa localização idêntica no sítio ativo do grupo fenil reverses the selectivity of COX�� specific inhibitors. J. Biol.
do VIOXXÒ. Inicialmente, drogas tipo VIOXXÒ pareciam Chem. �71:15810, 1996.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 423

Inibição Acompetitiva Gráficos de Lineweaver–Burk em


Um inibidor pode se ligar ao complexo ES, em lugar Presença de Inibidores
da enzima livre, como indicado na Figura 10.57. Não se
liga ao sítio de ligação de substrato, mas a um sítio de Inibidores Competitivos e Não
ligação alternativo que não impede a ligação do subs� competitivos
trato. A equação de Michaelis�Menten será
A equação de Michaelis–Menten para uma reação en�
v= Vmáx[S]/(1 + [I]/Ki)
(Km +[S])/(1+[I]/Ki) (10.33) zimática realizada em presença de três tipos diferentes
de inibidores reversíveis leva a diferentes gráficos duplos�
�recíprocos (Figura 10.59). A razão é que o termo 1 + [I]/
kcat agora está diminuído, de modo que a Vmáx estará Ki é encontrado em associação com o termo Km ou kcat,
diminuída em comparação com o valor em ausência de dependendo de que tipo de inibidor está sendo usado. No
inibidor, e o termo Kmapp também está modificado. Essa caso de um inibidor competitivo (Figura 10.59a), Vmáx
situação é chamada inibição acompetitiva. Diferente�
mente da inibição competitiva, o aumento da concentra�
ção de substrato não superará o efeito do inibidor porque Aumentando [I]
[I] está ligado ao complexo ES, e não � enzima livre.

k1 ES k3 1v
E+S E+P
k2 +
I

1
k5k6 [S]

ESI (a) Inibidor competitivo

FIGURA 10.57 Reação de um inibidor acompetitivo com o


complexo enzima–substrato.
Aumentando [I]
1
v
Inibição Não-competitiva
Uma situação mais complicada ocorre se um inibi�
dor reversível se ligar tanto � enzima livre quanto ao
complexo ES. Uma variedade de situações pode ocor� 1
[S]
rer, dependendo de como a presença de I afeta a ligação
(b) Inibidor não-competitivo
de substrato e a capacidade da enzima catalisar a rea�
ção (Figura 10.58).
Aumentando [I]
k3 +
E+S E-S PE
+I +I 1
v
E-I E-S-I k′3 E + P

FIGURA 10.58 Reação de um inibidor não-competitivo


com uma enzima. 1
[S]

A equação de Michaelis–Menten é muito complexa, (c) Inibidor não-competitivo


uma vez que tanto ES como ES�I podem dar produtos.
Se I se ligar com a mesma afinidade a E e ES e k!3 for FIGURA 10.59 Gráficos duplos-recíprocos de inibição
competitiva, acompetitiva e não-competitiva.
zero, então a seguinte equação pode ser derivada:
Um inibidor competitivo liga�se no sítio de ligação do substrato
Vmáx[S]/(1
(Km + [I]/Ki) e efetivamente aumenta o Km para o substrato. Um inibidor
v= (10.3�) acompetitivo causa um deslocamento equivalente em ambos
+ [S]
Vmax e Km, resultando em uma linha paralela � obtida para enzi�
ma não�inibida. Um inibidor não�competitivo reversível liga�se
Esse modo de ligação leva a uma inibição da ativi� com ambos E e ES, presumivelmente em um sítio diferente
dade mesmo em presença de concentrações elevadas do sítio de ligação do substrato; portanto, o Km efetivo não
de [S]. Se k!3 não for zero, então uma situação diferente muda, mas a Vmax aparente diminui. As linhas vermelhas são
surge, uma vez que o complexo ES�I produzirá produto. em ausência do inibidor.
424 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

não muda em altas concentrações de substrato, de modo COO− H


que as linhas de velocidade em ausência ou presença de COO−
N N N
diferentes concentrações de inibidor interceptam�se no H H H Base
H H COO−
eixo y. Com a inibição acompetitiva, � medida que a con�
centração de inibidor muda, uma série de linhas parale� L- prolina Estadoplanar
de transição D-prolina
las se formam, uma vez que a inclinação da linha é V/K,
e ambos os termos V e K contêm o termo (1 + [I]/Ki) (Fi�
gura 10.59b). Com a inibição não�competitiva, o inibidor
(a) Reação da prolina racemase
liga�se a ambos E e ES e o gráfico de Lineweaver–Burk é
uma família de linhas que se interceptam no eixo x.
Os gráficos duplos�recíprocos podem ser usados COO−
para determinar o modo de ligação do inibidor. A partir N

dos interceptos nos eixos x e y, Vmapp e Kmapp podem ser


(b) Pyirrol-2-carboxilato é planar como no estado de transição.
calculados. Se o Km para um substrato for conhecido,
então o Ki para os inibidores pode ser calculado. FIGURA 10.60 Pirrol 2-carboxilato mimetiza o estado de
transição planar e é um excelente inibidor da prolina
Inibidores não�competitivos reduzem efetivamente racemase.
a concentração de enzima livre e, assim, a velocidade
diminui (Figura 10.59c). Mesmo se o substrato for satu�
rante ([S] >> Km), a velocidade máxima observada seria
menor do que seria em ausência do inibidor. Compostos
Mecanismo Baseado em Inibidores
que são inibidores desses tipos são mais úteis como dro� Suicidas
gas, uma vez que inibem a enzima independentemente
da concentração de substrato. Enzimas executam reações complexas, nas quais
muitos intermediários transitórios ocorrem enquanto o
substrato é transformado no produto. Compostos foram
Inibidores de Reações de Dois Substratos sintetizados nos quais a enzima executa uma etapa ini�
cial da reação, mas depois converte o substrato em uma
Um inibidor competitivo de uma reação de dois subs� forma que permanece covalentemente ligada � enzima.
tratos geralmente inibe só um dos dois substratos. Se o A atividade da enzima será destruída e daí o nome ini�
composto só se ligar � enzima livre, será competitivo bidor suicida.
contra o substrato A. Se o inibidor se ligar ao comple�
xo E�A, então será competitivo contra o substrato B. O Inibidores Irreversíveis
valor de Ki para inibidores de reações de dois substra�
tos pode ser determinado variando�se a concentração Compostos que modificam quimicamente e inativam
de um substrato, em presença de um excesso do outro uma enzima são classificados como inibidores irrever
substrato. As reações para inibidores não�competitivos síveis. Estes reagem com resíduos de aminoácidos (Fi�
seriam as mesmas de um único substrato. guras 10.61 e 10.6�). Aspirina e Antabuse, uma droga
usada para evitar consumo abusivo de álcool, são exem�
plos de inibidores enzimáticos irreversíveis usados cli�
Outros Inibidores nicamente (Correlação Clínica 10.9 e 10.10).

Inibidores do Estado de Transição


Inibidores de Enzimas como Drogas
Enzimas diminuem a energia de ativação por estabi�
lizarem o estado de transição, não a ligação ao substra� Novos compostos farmacologicamente ativos são
to. Assim, se um composto for parecido com o estado de testados quanto a seus efeitos sobre uma variedade de
transição, poderia se ligar mais fortemente � enzima do enzimas. Drogas projetadas para inibir enzimas exclu�
que um composto que se pareça com o subs�
trato. Esses inibidores têm um valor de Ki mui�
to mais baixo do que o Km para o substrato.
Ninguém nunca viu um estado de transição,
de modo que as estruturas propostas são base� CIHg Enzima S Hg
adas na intuição química. Um exemplo de um Enzima SH + + HCI
análogo de estado de transição é um inibidor COO– COO–
da prolina racemase (Figura 10.60). Durante a
reação enzimática, o substrato tetraédrico se
p–Cloromercuribenzoato
tornará planar durante a conversão de L� para
D�prolina; pirrol ��carboxilato lembra estru� FIGURA 10.61 Inibição enzimática por modificação covalente de uma
turalmente o estado de transição proposto. cisteína do sítio ativo.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 425

H2N N CH3 CH3


O F
N CH3 H
N CH2 CH2 C N SO2
H

NH2 O

Ser
Região hidrofóbica Região polar

Sítio ativo Sítios de reconhecimento do substrato

Tetra-hidrofolato Redutase

FIGURA 10.62 Inativação sítio-dirigida da tetra-hidrofolato redutase.


O inibidor irreversível, uma di�hidrotriazina substituída, lembra A extremidade reativa do inibidor contém um sulfonil fluoreto
estruturalmente di�hidrofolato e liga�se especificamente ao sítio reativo que forma uma ligação covalente com a hidroxila de uma
do di�hidrofolato na di�hidrofolato redutase. A porção triazina serina na superfície da enzima. Assim, esse inibidor inibe irre�
do inibidor é parecida com o resíduo de pterina e, assim, liga�se versivelmente a enzima por bloquear o acesso do di�hidrofolato
ao sítio ativo. O grupo etilbenzeno (em vermelho) liga�se ao sítio ao sítio ativo. Este não é um inibidor suicida, mas um exemplo
hidrofóbico normalmente ocupado pelo grupo p-aminobenzoil. de um inibidor que se liga ao sítio ativo e tem um grupo reativo.

sivas de um microorganismo produzirão menos efeitos sutis que existem entre isozimas de enzimas de mamí�
colaterais em pacientes. Um exemplo clássico são as feros estão sendo exploradas para produzir inibidores
sulfas, porque bactérias convertem ácido p�aminoben� específicos. Um exemplo é o sildenafil (nome comercial
zoico em ácido fólico, enquanto seres humanos não têm Viagra), uma droga para disfunção erétil, que inibe uma
a enzima para essa reação (Figura 10.63). Diferenças isozima espefícica da fosfodiesterase (p. �63). Pode�se

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.9

Um Caso de Envenenamento
O pessoal que trabalha em pronto socorro encon� esses neurônios. Os efeitos mais proeminentes do en�
tra muitos casos de envenenamento por pesticidas e venenamento por pesticidas no homem são paralisia
deve estar equipado para reconhecer e tratar esses dos músculos respiratórios e edema pulmonar. Se mi�
casos. Muitos dos inseticidas comuns são compostos nistrada precocemente, uma droga como pralidoxima
organofosforados, que inibem irreversivelmente a ação pode deslocar o alquilfosfato do pesticida ligado � se�
da acetilcolinesterase, AChE, nas fibras pós�sinápticas rina do sítio ativo e regenerar a AChE ativa.
dos neurônios colinérgicos (p. 970), pela formação de
ésteres de fosfato estáveis com uma serina específica
do sítio ativo da esterase. A inibição da AChE impede Main, R. Em: E. Hodgson e F. E. Guthrie (Eds.) Intro
a hidrólise da acetilcolina na sinapse, resultando em duction to Biochemical Toxicity. New York: Elsevier, 1980,
estimulação constante dos órgãos finais inervados por p. 193.

O
O OR
N CHNO POR O H CHNOPOR
N OR
CH3 O seryl (enzima)
CH3
seryl (enzyme)

Pralidoxima AChE AChE Inibidor


inibida ativa inativo
426 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

descobrir que um composto é es� TABELA 10.5 Drogas Representativas que Inibem Enzimas Específicas
pecífico para uma enzima in vitro, Droga Enzima Alvo Doença
mas também pode inibir enzimas
não testadas no processo de análi� Amrubicina Topoisomerase � Quimioterapia do câncer
se (screening). Drogas represen� Antabuse Aldeído desidrogenase
tativas que são inibidores de en� Alcoolismo
zimas são apresentadas na Tabela Captopril Enzima conversora de angiotensina Hipertensão
10.5. As Correlações Clínícas 10.11
Celebrex Cicloxigenase � Artrite
muito
e 10.1�específicos.
descrevemUmdoisOlhar
exemplos
Mais
Digoxina ATPase trocadora de Na+�K+ Problemas cardíacos
Atento 10.6 descreve um método
para identificação rápida de novos Hycamtin Topoisomerase 1 Quimioterapia do câncer
inibidores e ativadores de enzi� Lipitor 3�hidroxi�3�metilglutaril CoA
mas. Colesterol alto
Viagra Fosfodiesterase 5 Disfunção erétil

H2N S NH2

O
Sulfanilamida
CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.11
O

H2N C O−
Testosterona e Câncer de Próstata

Câncer de próstata é uma das formas


p-Aminobenzoato
mais comuns de câncer e afeta só homens.
FIGURA 10.63 Estrutura de p-aminobenzoato e Durante um estágio inicial da doença, o
sulfanilamida, um inibidor competitivo de uma enzima tumor requer testosterona. Com o tempo,
bacteriana envolvida na síntese de ácido fólico. as células tumorais são mutadas de modo
que não precisam mais de testosterona. As
células tumorais são ditas células refrati�
vas ao hormônio. Alguns pesquisadores
CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.10 sentem que, mesmo nos estágios iniciais
da doença, existem algumas células que já
Cogumelos e Metabolismo de Álcool
são refrativas ao hormônio.
A coprina, uma toxina produzida pelo cogumelo chapéu
Os pesquisadores consideram que as
sujo�de�tinta (Inky Cap), forma uma ligação covalente com a
aldeído desidrogenase, uma enzima envolvida no metabolismo células que pensavam ser refrativas ao
do álcool. A coprina geralmente não é muito tóxica, exceto em hormônio, na realidade respondem a um
indivíduos que consomem bebida alcoólica enquanto comem nível muito baixo de testosterona, que se�
os cogumelos. A pessoa tem uma reação tóxica ao acetaldeído ria encontrado mesmo após castração (ci�
acumulado que se formou na oxidação do etanol. rúrgica ou química). Uma nova abordagem
para combater a doença refrativa ao hor�
O dissulfuram, uma droga usada para deter o consumo abu� mônio é o uso de um inibidor do citocromo
sivo de álcool, é vendido com o nome Antabuse®, que também é P�50 (Cyp17A1), uma enzima envolvida na
um inibidor covalente da aldeído desidrogenase. A droga deixa biossíntese do hormônio. Abiraterona foi
o paciente doente caso consuma álcool. O dissulfuram foi usa� testada como um inibidor in vivo da via
do originalmente como um antioxidante na indústria de borra� da testosterona não�testicular.
cha, em que se observou que os trabalhadores ficavam doentes N
quando bebiam após o trabalho.

O inibidor não se dissocia da enzima e a única maneira de


restaurar a atividade é por biossíntese de nova enzima no te�
cido. H

Wiseman, J. S. e Abeles, R. H. Mechanism ofinhibition of aldehyde H H


dehydrogenase by cyclopropanone hydrate and the mushroom toxin
coprine. Biochemistry 18:��7, 1979. HO
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 427

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.12

Produtos Naturais Como Inibidores de Enzimas


Algumas frutas contêm compostos que afetam o A despeito do efeito do suco de grapefruit sobre
metabolismo de drogas específicas. Os indivíduos que CYP3A�, estudos têm demonstrado que ele tem mui�
consomem o alimento e a droga podem ter um efeito ad� tos efeitos bons sobre o corpo em virtude de processos
verso. Talvez a interação mais bem estudada é com gra antioxidantes. O efeito da grapefruit foi descoberto du�
pefruit. Essa fruta contém uma classe de compostos or� rante um estudo sobre a interação de etanol com uma
gânicos chamados furanocumarinas, e se verificou que medicação para pressão sanguínea chamada felopidina
alguns membros inibem um citocromo P�50 (CYP3A�) (nome comercial Plendil®). O suco de grapefruit foi usa�
no intestino, mas não no fígado. Várias drogas estati� do como veículo para etanol, e finalmente os pesqui�
nas, usadas para tratar colesterol alto, e alguns medica� sadores perceberam que a inibição do metabolismo da
mentos para pressão sanguínea são parcialmente meta� droga se devia ao suco, e não ao etanol.
bolizados nos intestinos e requerem o envolvimento do
CYP3A�. O consumo de grapefruit enquanto se toma a Kiani, J. e Imam, S. Z. Medicinal importance of grapefruit
droga afeta a farmacocinética de várias drogas, e mui� juice and its interaction with various drugs. Nutr. J. 6: 33,
tas apresentam consequências perigosas. Uma vez que �007.
a droga esteja no sistema circulatório, seu metabolismo
não é mais inibido.

UM OLHAR MAIS ATENTO 10.6

Varredura de Alto Desempenho para Encontrar Inibidores e Ativadores de Enzimas

Foram encontrados inibidores de enzimas em com� de modo que novos compostos químicos biologicamen�
postos naturais que ocorrem em plantas, bactérias e te ativos podem ser identificados. A vantagem dessa
fungos. Um procedimento de varredura de uma biblio� abordagem é que os compostos com uma variedade de
teca química é usado para pesquisar novos inibidores estruturas diferentes pode ser testada, sem uma ideia
de enzimas, especialmente pela indústria farmacêuti� preconcebida de qual deveria ser a estrutura do efetor.
ca. Dezenas de milhares de compostos e extratos de Dependendo do ensaio, é possível analisar qualquer
produtos naturais são rapidamente testados quanto � tipo de efetor.
sua capacidade de inibir uma enzima ou afetar uma
função celular. Diferentes combinações de materiais Assay Guidance Manual 5.0. Eli Lilly and Company e
de teste são roboticamente adicionados ao sistema de NIH Chemical Genomics Center, �008. Disponível em http://
teste. Os que afetam a enzima são, então, analisados www.ncgc.nih.gov/guidance/manual_toc.html.

10.10 REGULAÇÃO rilação são realizadas por enzimas, essa modificação


covalente reversível é um modo rápido e eficiente de
DA ATIVIDADE controlar atividade a atividade enzimática.
ENZIMÁTICA
Controle Alostérico de Atividade
Modificação Covalente Enzimática
As células têm capacidade de regular a atividade de A atividade de muitas enzimas pode ser modulada
enzimas�chaves por modificação covalente da proteína. por ligantes que se ligam � enzima em sítios diferen�
Existem muitas proteínas quinases que catalisam fos� tes do sítio de ligação de substrato. Esses sítios são de�
forilação de resíduos de serina, treonina ou tirosina em nominados sítios alostéricos (Figura 10.6�). O termo
enzimas específicas e proteína fosforilases que remo� alostérico é derivado da raiz grega allo, significando “o
vem o fosfato por hidrólise. Dependendo da proteína, outro”. Um sítio alostérico é uma região específica da
a fosforilação pode ativar uma enzima inativa ou ina� enzima, bem diferente do sítio de ligação do substra�
tivar uma enzima ativa. Grupos como sulfato e acetato to. Os ligantes que se ligam aos sítios alostéricos são
também podem ser adicionados para alterar a atividade chamados efetores alostéricos ou moduladores, e não
enzimática. Como tanto a fosforilação como a defosfo� são modificados durante o curso da reação enzimática.
428 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

A ligação de um efetor alostérico causa uma mudança conformacional na


CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.13
enzima, de modo que a afinidade pelo substrato ou outros ligantes também
muda. Efetores alostéricos positivos (+) aumentam a afinidade da enzima Um Caso de Gota Demonstra a
pelo substrato. O inverso é verdade para efetores alostéricos negativos (–). Diferença entre um Sítio Alos
O sítio alostérico ao qual o efetor positivo se liga é chamado um sítio ati� térico e um Sítio de Ligação de
vador; o efetor negativo liga�se a um sítio inibitório. A existência de sítios Substrato
alostéricos é ilustrada na Correlação Clínica 10.13.
A descoberta de que sítios alos�
As enzimas alostéricas são divididas em duas classes, com base no téricos inibitórios são separados dos
efeito do efetor alostérico sobre o Km ou Vmáx. Na classe K, o efetor al� sítios alostéricos ativadores, bem
tera o Km, mas não a Vmáx, enquanto na classe V, o efetor altera a Vmáx,
como dos sítios de ligação de subs�
mas não o Km. Na classe K, um efetor negativo ligando a um sítio alos� trato e catalítico, é ilustrada pelo
térico aumenta o Km para o substrato. Da mesma forma, em enzimas da estudo de um paciente com gota,
classe V modificadores alostéricos positivos e negativos aumentam ou cujo nível de PRPP nos eritrócitos
diminuem a velocidade de quebra do complexo ES para produto. Exis� estava aumentado. Descobriu�se que
tem algumas poucas enzimas nas quais ambos Km e Vmáx são afetados a PRPP sintetase do paciente tinha
pelo modificador. valores normais de Km e Vmáx, e sen�
sibilidade � ativação por fosfato. Os
Em teoria, uma enzima monomérica pode passar por uma transição
níveis aumentados de PRPP e hipe�
alostérica em resposta a um ligante modulador (Figura 10.6�a). Entre�
ruricemia surgiram porque os pro�
tanto, apenas algumas poucas enzimas alostéricas monoméricas são co�
dutos finais da via (ATP, GTP) não
nhecidas, incluindo a ribonucleosídeo difosfato redutase e a piruvato�UDP�
eram capazes de inibir a sintetase
�N�acetilglucosamina transferase. A maioria das enzimas alostéricas é
por meio do sítio alostérico inibitó�
oligomérica, consistindo de várias subunidades (Figura 10.�6b). A ligação
rio. Sugeriu�se que uma mutação no
do ligante a um protômero pode afetar a ligação de ligantes a outros pro�
sítio inibitório ou no mecanismo de
tômeros do oligômero. Se o mesmo ligante se ligar ao sítio alostérico e for
acoplamento entre o sítio inibitório
também o substrato da enzima, o efeito é chamado interação homotrópi
e catalítico tenha levado ao defeito
ca. Interações homotrópicas são quase sempre positivas. Uma interação
do mecanismo de controle por feed
back.
A S
A A
j j j
S A PRPP I
i i i sintetase

I C

S
S
I I
+

(a)

A 2 S
A A PRPP

j j j j j j
S S Pi
i i i i i i

ATP
Ribose
(b)

FIGURA 10.64 Modelos de sistemas enzimáticos alostéricos. AMP ATP


GMP GTP
(a) Modelo de uma enzima monomérica. A ligação de um efetor alostérico A (ver�
de), a um sítio ativador, j, induz uma nova conformação na enzima, que tem uma
afinidade maior pelo substrato. A ligação de um efetor alostérico negativo (lilás) ao Sperling, O., Persky�Brosh, S., Boen,
sítio inibitório, i, resulta em uma conformação enzimática tendo afinidade diminuída P. e DeVries, A. Human erytrocyte
pelo substrato (laranja). (b) Um modelo de uma enzima alostérica polimérica. A phosphoribosyl�pyrophosphate synthe�
ligação do efetor alostérico positivo, A, ao sítio j causa uma modificação alostérica na tase mutationally altered in regulatory
conformação do protômero ao qual o efetor se liga. Essa mudança na conformação é properties. Biochem. Med. 7: 389, 1973.
transmitida para o segundo protômero por interações cooperativas protômero–pro�
tômero. A afinidade pelo substrato é aumentada em ambos os protômeros. Um efetor
negativo diminui a afinidade pelo substrato em ambos os protômeros.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 429

heterotrópica é o efeito da ligação de um ligante ao sí�


CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.14
tio alostérico e a ligação de um outro ligante ao sítio
ativo. Interações heterotrópicas podem ser positivas ou Ambiguidade no Ensaio de Enzimas Mutadas
negativas. Exemplos são o efeito de um efetor negati�
vo sobre a ligação do substrato ou o efeito positivo de Mutações em genes estruturais levando � produ�
um ativador alostérico sobre a ligação do substrato. Os ção de enzimas com aumento ou diminuição no Km
efeitos heterotrópicos e homotrópicos em enzimas oli� são frequentemente observados. Um caso que ilus�
goméricas são mediados por cooperatividade entre as tra é um paciente com hiperuricemia e gota, cuja
subunidades. hipoxantina�guanina�fosforribosiltransferase (HG�
PRT) de eritrócitos apresentava baixa atividade em
A maioria da enzimas sujeitas a modulação alosté� ensaios in vitro. Essa enzima está envolvida no rea�
rica, é enzima determinante da velocidade de vias me� proveitamento de bases púricas e catalisa a reação:
tabólicas, ou está localizada em uma junção na qual o
substrato pode ser usado para mais de uma via. Hipoxantina + PRPP → inosina monofosfato + PPi
na qual PRPP é fosforribosil pirofosfato.
Enzimas Multi-subunidades: A ausência de atividade de HGPRT resultou na
Cooperatividade grave doença neurológica conhecida como síndro�
me de Lesch�Nyhan (p. 8�0), mas esse paciente não
Muitas enzimas são multímeros consistindo de subu� apresentava os sinais clínicos comuns dessa doença.
nidades monoméricas iguais ou diferentes. As su� Um teste imunológico com um anticorpo específico
bunidades de algumas enzimas multiméricas agem para a enzima revelou tanto material com reação
independentemente uma da outra, com os eventos que cruzada nos eritrócitos do sangue do paciente quan�
ocorrem em uma subunidade não influenciando a ati� to em controles normais, indicando que a enzima
vidade das outras subunidades. Para essas enzimas, estava sendo sintetizada, mas era inativa no ensaio
os valores de kcat ou Vmax podem ser divididos pelo nú� in vitro. Aumentando a concentração de substrato
mero de subunidades para se obter o número de tur no ensaio do hemolisado de eritrócitos do paciente
nover real por subunidade. Em outras enzimas multi� restaurou toda a atividade. Essa anomalia é aparen�
�subunidades, um evento em uma subunidade afeta a temente devida a uma mutação no sítio de ligação do
capacidade das subunidades adjacentes funcionarem. substrato da HGPRT, levando a um Km aumentado.
Nessas situações, o Km para substrato é geralmente A concentração de substrato no ensaio padrão e nos
modificado, mas, em alguns casos, kcat é alterado (Cor� eritrócitos não era suficientemente alta para permi�
relação Clínica 10.1�). tir a ligação com a enzima. Esse caso reforça que a
determinação precisa de uma enzima é dependente
Uma subunidade em um multímero pode afetar as de cinética de ordem zero, isto é, a enzima deve estar
propriedades de uma subunidade adjacente por mo� saturada com substrato.
dificar a conformação das subunidades após ligação
do substrato (Figura 10.6�a). O monômero alterado Sorenson, L. e Benke, P. J. Biochemical evidence for a
poderia ligar substrato mais facilmente e, assim, ficar distinct type of primary gout. Nature �13: 11��, 1967.
mais saturado sem aumento na concentração do subs�
trato. Se a ligação ficar mais fácil (diminuição do Km),
então se diz que a enzima apresenta cooperatividade
para explicar a ligação cooperativa de oxigênio � he�
positiva; isso é análogo � hemoglobina ligando oxigê�
nio (p. 37�). Quando a mudança estrutural torna a li� moglobina (p. 37�), é usada para calcular o coeficien�
gação do substrato � segunda subunidade mais difícil te de Hill, que estima o grau de cooperatividade entre
(aumento do Km), então se diz que a enzima apresenta subunidades interagindo em uma enzima. Valores me�
cooperatividade negativa. nores do que 1 demonstram cooperatividade negativa,
e maiores do que 1 cooperatividade positiva. Exemplos
O teste para uma enzima que apresenta cooperati� representativos de cooperatividade positiva e negativa
vidade é um gráfico de velocidade versus [S]. A curva são ilustrados na Figura 10.66.
será sigmoidal, e não hiperbólica (Figura 10.65a), e um
gráfico duplo�recíproco não será linear (Figura 10.65b). Modelos para Explicar Cooperatividade
Isso ocorre porque o Km mudará � medida que muda a
concentração de substrato. Existem dois modelos para explicar cooperativida�
de. Ambos partem da premissa de que há interações en�
É muito difícil calcular os valores precisos de Km tre as subunidades, e a conformação da subunidade que
para uma enzima apresentando cooperatividade positi� se liga a um ligante é diferente daquela da subunidade
va ou negativa. O valor, entretanto, é estimado a partir em ausência do ligante. A principal diferença entre os
da concentração de substrato que permite que v seja modelos reside em se as duas conformações são pree�
50% de Vmáx; é chamado K0,5. A equação de Hill, usada xistentes ou ocorrem só depois da ligação do ligante.
430 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

sinclinação > 1
Sem cooperatividade cooperatividade
e positiva
d
a inclinação = 1
d
i
c
o nenhuma cooperatividade
l
e
V
Cooperatividade
inclinação < 1
cooperatividade negativa

(a) [S] −2
−1 −2 −1 0 1 2 3
log [s]

e
1 d
a
d
i Cooperatividade −3
c
o
le
V
Sem cooperatividade
FIGURA 10.66 Gráfico de Hill para uma enzima alostérica.

subunidade contígua (B). O efeito da ligação do ligante é


1 sequencialmente transmitido pela interface entre as subuni�
(b) [S]
dades, produzindo afinidade aumentada ou diminuída pelo
FIGURA 10.65 Gráficos de enzimas que apresentam ligante por B (Figura 10.67a). Nesse modelo, ocorrem nu�
cooperatividade são atípicos. merosos estados híbridos, dando origem � cooperatividade e
(a) Gráfico de velocidade versus substrato e (b) gráfico gráficos sigmoides de velocidade versus [S]. Tanto a coope�
duplo�recíproco. As curvas de cooperatividade são para ratividade positiva como a negativa podem ser acomodadas
cooperatividade positiva. no modelo. Moduladores alostéricos positivos podem induzir
uma conformação na subunidade que tem uma afinidade
O modelo sequencial propõe que, quando o li� aumentada pelo substrato, e um modulador negativo induz
gante se liga a uma subunidade (A), ocorre uma uma conformação diferente na subunidade, resultando em
mudança na conformação da subunidade, que en� afinidade diminuída pelo substrato. Um argumento seme�
tão induz uma mudança conformacional em uma lhante pode ser usado para enzimas cujo kcat é modificado.

S S

S S S

FIGURA 10.67 Modelos de cooperatividade. (a)Conformação


T (taut) Conformação
R (relaxada)

(a) O modelo coordenado. A enzima existe em S2


apenas dois estados, as conformações T (tensa ou S1
taut) e R (relaxada). Substratos e ativadores têm K1
S
K2
S S
maior afinidade pelo estado R, e inibidores pelo
estado T. Ligantes deslocam o equilíbrio entre os
estados T e R. (b) O modelo de ajuste induzido
sequencial. A ligação de um ligante a qualquer
S3
subunidade induz uma mudança conformacional Conformação T
nessa subunidade. Essa mudança conformacional K3
é transmitida parcialmente �s subunidades vizi�
nhas por meio de interação subunidade–subuni�
dade. Assim, o efeito do primeiro ligante ligado é S S S4 S S
transmitido cooperativamente e sequencialmente
para as outras subunidades (protômeros) do oli� S S K4 S
gômero, resultando em um aumento ou uma di�
minuição sequencial na afinidade pelo ligante dos
outros protômeros. A cooperatividade pode ser
positiva ou negativa, dependendo do ligante. (b) Conformação R
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 431

O modelo coordenado propõe que as duas conforma� cAMP, a subunidade R liga�se com a subunidade C cau�
ções estão em equilíbrio na ausência do ligante, e o equi� sando inibição da atividade. Quando cAMP liga�se com
líbrio é deslocado para a conformação ligada ao ligante. a subunidade R, ocorre uma mudança conformacional
Os dois estados do modelo coordenado são chamados T de R levando � dissociação de R e C. A subunidade C
(tenso ou taut) e R (relaxado) (Figura 10.67b). Embo� está agora cataliticamente ativa.
ra ambos os estados possam ligar ligantes, um estado o
A calmodulina (p. 51�), uma proteína que liga Ca�+,
liga mais fortemente. Ativadores e substratos ligam�se
ao estado R e deslocam o equilíbrio preexistente para é uma subunidade regulatória de algumas enzimas que
usam Ca�+ como modulador de sua atividade. Ligação
o estado R. Com mais proteína no estado R, é mais fácil de Ca�+ � calmodulina causa uma mudança conforma�
para a molécula seguinte de substrato ou ativador se li�
gar. Inversamente, inibidores favorecem o estado T. Na cional, permitindo que ela se ligue � enzima dependen�
te de Ca�+.
presença de um inibidor, é mais difícil para o substrato
se ligar � conformação T. Embora esse modelo explique o
comportamento cinético de muitas enzimas, não explica
facilmente a cooperatividade negativa.
10.11 REGULAÇÃO DE VIAS
METABÓLICAS
Subunidades Regulatórias Modulam A integração fisiológica de muitas enzimas em uma
via metabólica, bem como a interrelação dos produtos
a Atividade de Subunidades de uma via com a atividade de outras vias, é controlada.
Catalíticas Não é necessário regular a atividade de todas as enzi�
mas de uma via. Ao contrário, a modulação da atividade
O sítio de ligação alostérica, como discutido, é con� de uma ou mais enzimas chaves da via é suficiente. Uma
siderado como residindo na mesma subunidade do sítio reação catalisada por enzima é geralmente mais lenta
catalítico, e todas as subunidades da enzima são idênti� que as outras. Esta é a etapa limitante da velocidade
cas. Em várias enzimas, existe uma subunidade protei� da via. Portanto, a velocidade de fluxo de substratos na
ca regulatória distinta. Essas subunidades regulatórias sequência é dependente de uma enzima da via inteira.
(R) não têm função catalítica, mas sua ligação com a A alteração das propriedades cinéticas dessa única en�
subunidade catalítica (C) modula a atividade da subu� zima tem um grande efeito sobre a velocidade de forma�
nidade catalítica por meio de uma mudança de confor� ção do produto final.
mação induzida. A proteína quinase A (PKA) é regula�
da por esse mecanismo (Figura 10.68). Em ausência de Outro ponto importante para regular uma via me�
tabólica é a primeira reação irreversível que é especí�
fica para a via; essa etapa é chamada etapa de com
R R prometimento. A enzima limitante da velocidade não
Proteína é necessariamente a que catalisa a etapa de compro�
quinase metimento. Além disso, em algumas vias um substra�
inativa
Subunidade Subunidade to intermediário serve de intermediário para duas ou
catalítica catalítica mais transformações metabólicas, cada uma levando
C C
a produtos diferentes. A regulação das enzimas des�
ses pontos de ramificação, poderia controlar o fluxo de
cAMP metabólitos por ambas as vias. A atividade de enzimas
associadas com a etapa de comprometimento ou com
cAMP cAMP
a etapa limitante da velocidade pode ser regulada de
várias formas.
R R
Concentração Celular de Enzima
+
Muitas enzimas indutíveis têm meias�vidas de me�
nos do que 1 h, enquanto muitas enzimas constitutivas
C C Proteína
quinase
têm meias�vidas de dias. As células regulam a concen�
ativa tração de enzimas modificando a velocidade de sínte�
se de novo em nível de transcrição ou tradução. Por
FIGURA 10.68 Modelo de enzima alostérica com exemplo, a glicose reprime a síntese de novo de piruva�
subunidades catalítica (C) e regulatória (R) separadas. to carboxiquinase, a enzima limitante da velocidade na
A subunidade regulatória da proteína quinase A contém uma conversão de piruvato em glicose. Se glicose suficien�
região de pseudossubstrato em sua sequência primária que se
te estiver disponível no sangue, há um nível baixo de
liga ao sítio do substrato da subunidade catalítica. Em presen�
ça de cAMP, a conformação da subunidade R muda, de modo piruvato carboxiquinase no fígado. Níveis sanguíneos
que a região de pseudossubstrato não pode mais se ligar, resul� baixos de glicose levam a um aumento na enzima e au�
tando em liberação de subunidades C ativas. mento na síntese de glicose.
432 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Ativadores, Inibidores e Modificação acetil�CoA carboxilase, a primeira etapa da síntese de


Covalente ácidos graxos, requer acetil�CoA. O substrato não pode
se difundir para o citosol, de modo que um mecanismo
Regulação de curto prazo de uma enzima ocorre por de transporte específico está presente na membrana (p.
modulação da atividade por ativadores, inibidores e mo� 70�). Vias anabólicas e catabólicas são frequentemente
dificação covalente. Quando a concentração celular de segregadas em diferentes organelas para controlar me�
desoxirribonucleotídeos aumenta, de modo que a célula lhor cada via. Não haveria razão para a oxidação de áci�
tem quantidades suficientes para a síntese de DNA, a dos graxos ocorrer ao mesmo tempo e no mesmo com�
enzima chave da via sintética é inibida pelos produtos partimento da biossíntese de ácidos graxos. Mantendo
finais da via, resultando em desaceleração da via sin� a biossíntese de ácidos graxos no citoplasma, e a oxi�
tética. Isso é chamado inibição por retroalimentação dação nas mitocôndrias, o controle pode ser exercido
ou feedback (Figura 10.69a). Além da retroalimentação regulando�se o transporte de intermediários comuns
em uma via, a inibição por retroalimentação de outras através da membrana mitocondrial.
vias também pode ocorrer. Isso é chamado regulação
cruzada. Aqui um produto de uma via serve de inibidor
ou ativador de uma enzima que ocorre logo no início de 10.12APLICAÇÕES CLÍNICAS DE
outra via (Figura 10.69b). Um bom exemplo é a regula�
ção cruzada da produção dos quatro desoxirribonucle� ENZIMAS
otídeos para a síntese de DNA.
Em virtude de suas diversas propriedades, as enzi�
mas encontram muitos usos em terapêutica, análises
clínicas e diagnóstico de doenças. Por exemplo, enzi�
mas hidrolíticas, como as proteases pronase e RNases,
A B − C D E
são usadas no debridamento de feridas. Estreptoquina
(a) se, uma mistura de enzimas preparadas de estreptoco�
cus, é útil na dissolução de coágulos sanguíneos que
ocorrem no infarto do miocárdio e das extremidades
+ −
A a B b′ C c D d inferiores. Essa mistura ativa a pró�enzima fibrinolítica
E
plasminogênio (p. 1016), que está normalmente pre�
+ sente no plasma. A enzima ativada é plasmina, uma se�
− b′ − rino protease que cliva a fibrina insolúvel no coágulo em
vários componentes solúveis. Outra serino protease, o
− h ativador de plasminogênio tecidual humano t�PA, é pro�
g H I
F f duzido comercialmente por E. coli bioengenheirada e
G usada na dissolução de coágulos sanguíneos de pacien�
g′ j
− J K tes que sofrem infarto do miocárdio. O t�PA também
funciona ativando plasminogênio.
(b)

FIGURA 10.69 Controle de vias metabólicas. Dosagem de Enzimas Plasmáticas


(a) Inibição por retroalimentação (feedback). O produto E As enzimas encontradas no plasma são de dois tipos:
poderia inibir a enzima que catalisa reação de B para C. Esta
as que estão normalmente presentes e têm um papel
pode ser uma reação irreversível ou limitante da velocidade.
(b) Regulação de uma via complexa hipotética. O produto E funcional no plasma e as liberadas de tecidos. As úl�
poderia inibir a enzimab e ativar a enzima b!. Da mesma forma, timas não têm papel funcional no plasma, mas podem
os produtos I e K poderiam inibir sua síntese por inibirem as ser usadas para fins diagnósticos. Normalmente o con�
enzimas b!, g e g!, enquanto ativam a enzima b. teúdo plasmático de enzimas intracelulares é baixo ou
nulo, mas quando células são danificadas, os conteúdos
Compartimentalização podem aparecer no sangue. Um processo de doença
pode causar mudança na permeabilidade de membra�
Finalmente, a atividade de uma via pode ser regu� na ou aumentar a morte celular, resultando na libera�
lada pela separação física de reações em compartimen� ção de enzimas intracelulares. Componentes de menor
tos celulares específicos, separados por membranas peso molecular podem se difundir para fora das células
impermeáveis. O transporte de substratos, produtos e quando há um aumento anormal de sua concentração
cofatores através da membrana controla sua concentra� celular. A análise do sangue para componentes celula�
ção no compartimento. Isso regula sua disponibilidade res representa um modo conveniente para os clínicos
e pode limitar a atividade enzimática. Isso é chamado avaliarem o dano que ocorreu em tecidos específicos.
compartimentalização. Por exemplo, acetil�CoA é for� No diagnóstico do envolvimento de órgãos específicos
mado nas mitocôndrias e deve ser transportado para em um processo de doença, o ideal seria se existissem
o citosol, para ser usado na síntese de ácidos graxos. A enzimas características de cada órgão, que pudessem
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 433

ser quantificadas no plasma. Infelizmente, enzimas diagnóstico de um defeito enzimático específico leva a
idênticas são encontradas na maioria dos tecidos. Em um tratamento clínico racional que recupera a saúde do
alguns casos, entretanto, diferentes isozimas (p. 393) paciente. Outro exemplo de como isozimas são usadas
ocorrem em diferentes órgãos; estas são úteis para pro� para o diagnóstico de doenças é o padrão de isozimas
pósitos diagnósticos, se liberadas de um tecido doen� da lactato desidrogenase em função do tempo após um
te. Por exemplo, uma isozima da álcool desidrogenase infarto do miocárdio (Figura 10.71 e Tabela 10.�). Não
que é específica para o fígado e uma forma de fosfatase só a atividade enzimática total aumenta, mas há uma
ácida encontrada primariamente na próstata são úteis mudança no padrão de isozimas. Mais LDH1, encon�
para identificação específica de doenças nesses órgãos. trada primariamente no miocárdio e em eritrócitos, é
Para algumas enzimas, as isozimas tecido�específicas encontrada. Nesse exemplo, LDH5 está aumentada, in�
apresentam diferentes propriedades cinéticas, de modo dicando lesão hepática no paciente. Portanto, complica�
que a determinação dos valores de Km e kcat pode ser ções secundárias da insuficiência cardíaca podem ser
usada para determinar de que tecido são provenientes. monitoradas. Após duas semanas, o padrão de isozimas
retorna ao que estava no paciente sadio.
A avaliação do tempo de aparecimento e desapa�
recimento de enzimas específicas no plasma permite Análise cinética de creatina quinase e lactato desi�
o diagnóstico do envolvimento de órgãos específicos. drogenase é útil para propósito diagnóstico. Isozimas
A Figura 10.70 ilustra as variações tempo�dependente de CPK e LDH são plotadas na Figura 10.7� em função
das atividades plasmáticas de enzimas do miocárdio do tempo após lesão cardíaca. A lesão tecidual libera
após um ataque cardíaco. Tais perfis permitem que se CPK� no sangue nas primeiras 6�18 h após um infarto,
estabeleça quando o ataque ocorreu e se o tratamento mas a liberação de LDH demora mais do que o apa�
será eficaz. A Correlação Clínica 10.15 descreve como o recimento de CPK� em um a dois dias. Normalmente,

CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.15

Identificação e Tratamento de uma Deficiência Enzimática


Deficiências enzimáticas geralmente levam ao acú� e dTTP, que surgem de CTP e TTP, são necessários para
mulo aumentado de metabólitos intermediários espe� síntese de DNA. Nessa doença de deficiência enzimática,
cíficos no plasma e, consequentemente, na urina. O re� os pacientes são pálidos, fracos e não se desenvolvem.
conhecimento dos intermediários que se acumulam em A administração das pirimidinas ausentes, como uridina
fluidos biológicos é útil na identificação dos possíveis de� ou citidina, promove o crescimento e o bem�estar geral
feitos enzimáticos. Depois que a deficiência enzimática e também diminui a excreção de ácido orótico. A última
é estabelecida, metabólitos que normalmente ocorrem ocorre porque o TTP e o CTP formados a partir da uri�
na via, mas são distais ao bloqueio, podem ser fornecidos dina e da citidina administradas reprime a carbamoil�
exogenamente, para contornar os efeitos metabólicos da �fosfato sintetase, a etapa comprometida, por inibição
deficiência enzimática. Na acidúria orótica hereditária há por retroalimentação ou feedback, resultando em uma
uma deficiência enzimática dupla na via de biossíntese de diminuição na produção de orotato.
pirimidinas, levando ao acúmulo do ácido orótico. Am�
bas orotato fosforribosiltransferase e oritidina 5!�fosfato Webster, D. R., Becroft, D. M. O. e Suttie, D. P. Hereditary
descarboxilase estão deficientes, causando níveis redu� orotic aciduria and other diseases of pyrimidine metabolism.
zidos in vivo de CTP e TTP. As duas atividades estão Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.)
deficientes porque residem em domínios separados de The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease,
um polipeptídeo bifuncional de �80 aminoácidos. dCTP 7. ed. McGraw Hill, 1995, 1799.

Glutamina
CO2
ATP carbamoil-fosfato Carbamoil
fosfato Orotato
sintetase
J
DNA dCDP dTTP

orotato
fosforibosil
transferase

Citidina
orotidina
5!-fosfato
decarboxilase
Uridina UMP Orotidina 5!-fosfato
434 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

6x CPK
a
c normal
it
á
m
iz 5x FIGURA 10.70 Cinética de liberação de
n 3x
normal enzimas cardíacas no soro após infarto
e
o do miocárdio.
ã
ç
v
a CPK, creatina quinase; LDH, desidrogena�
e
l normal
e se láctica; HBDH, α�hidroxibutirato desi�
a
d 2x HBDH
drogenase. Tais perfis cinéticos permitem
o
ã
s Normal
normal que se determine onde o paciente está,
n LDH
e
tx com relação ao infarto e � recuperação.
E Nota: CPK sobe rapidamente, mas breve�
mente; HBDH sobe lentamente, mas per�
siste.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Reproduzido com permissão de Coodley,
Dor
peito
no Dias depois do episódio E. L. Diagnostic Enzymes. Philadelphia:
Lea & Febiger, 1970, 61.

3 Tempo a atividade da isozima LDH� é maior do que a de LDH1; en�


2 tretanto, no caso de infarto, a atividade de LDH1 fica maior
do que a de LDH�, mais ou menos no mesmo tempo em que
0 (internação)
os níveis de CPK� estão de volta � linha de base (�8�60 h). A
troca de isozimas de LDH acoplada com o aumento de CPK�
1
é diagnóstico de infarto do miocárdio (MI) em praticamente
100% dos casos.
0

O uso de enzimas no laboratório clínico é descrito em Um


3 Olhar Mais Atento 10.7 e 10.8.

2
12 horas
Metabolômica e Proteômica
1 Com os espectrômetros de massa tornando�se instrumen�
tos relativamente comuns, muitos pesquisadores estão usan�
0 do�os com a esperança de encontrar metabólitos específicos,
proteínas ou enzimas relacionados com tumores. Esses meta�
4 bólitos e proteínas poderiam ser empregados como marcado�
res de tipos específicos de tumores. Espera�se que enzimas e
3
proteínas singulares, associadas com vários estados de doen�
ças, sejam identificados no plasma. Essas enzimas e proteí�
nas deverão ser purificadas e caracterizadas para determinar
2 24 horas
seus efeitos sobre a atividade celular normal.

2 FIGURA 10.71 Traçados de varredura densitométrica de


isozimas de LDH em intervalos de tempo após um infarto do
miocárdio.
1 2 semanas
LDH total aumenta e LDH1 fica mais alta do que LDH� entre 1� e ��
horas. Aumento de LDH5 é diagnóstico de um envolvimento hepá�
0 tico congestivo secundário. Notar que as escalas do eixo y não são
idênticas. Após eletroforese em gel de agarose, a atividade de LDH
é ensaiada medindo�se a fluorescência do NADH formado na reação
Anodo Catodo
catalisada por LDH.
1 2 3 4 5
Cortesia do Dr. A. T. Gajda, Clinical Laboratories, University of Arkan�
Tipo de isozima sas for Medical Science.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 435

UM OLHAR MAIS ATENTO 10.7

Ensaios de Laboratório Clínico Empregando Enzimas

Geralmente, enzimas encontradas em órgãos não FAD são facilmente medidas porque suas formas redu�
estão presentes no soro, a menos que ocorra lesão no zidas absorvem luz na faixa visível. Muitas enzimas que
tecido. Portanto, a medida dos níveis séricos de enzi� não reduzem diretamente NAD(P) ou FAD geram pro�
mas pode ser diagnóstico de um estado de doença. En� dutos que são substratos para desidrogenases NAD(P)
saios para medida de enzimas plasmáticas são baseados ou FAD�ligadas. Acomplando�se duas reações enzimá�
no controle do sistema de ensaio, incluindo tempera� ticas, pode�se determinar a atividade da enzima de in�
tura, pH e concentração de substratos, cossubstratos e teresse.
cofatores. O Km da enzima a ser determinada deve ser
As enzimas, como reagentes, são usadas para me�
conhecido. Geralmente, os ensaios são realizados em
condições de Vmáx, embora não precisem ser. As condi� dir metabólitos em analisadores clínicos automáticos. A
ções de ensaio são otimizadas para as propriedades da glicose oxidase, uma enzima que oxida glicose, é usada
enzima normal, o que pode não medir corretamente os clinicamente para medir a concentração de glicose em
níveis de uma enzima variante porque o pH ótimo e/ou líquidos corpóreos. Ensaios para colesterol empregam
o Km para o substrato e os cofatores podem ser diferen� colesterol oxidase, e, para triacilgliceróis, é empregada
tes da enzima normal. Os ensaios enzimáticos medem a lípase. Os testes podem ser completados em poucos
a concentração de produto formado ou substrato rema� minutos usando pequenas quantidades de plasma. As
nescente em função do tempo. Em algumas reações, os enzimas podem ser imobilizadas em uma bicamada
produtos ou substratos absorvem luz; é medida a mu� sólida, com cofatores e reagentes indicadores, que se
dança de absorção de luz em função do tempo. tornam cromóforos quando reduzidos. No caso da co�
lesterol oxidase, o peróxido de hidrogênio é um produto
Foram sintetizados muitos substratos, nos quais eles da reação da oxidase, e o peróxido formado oxida um
ou seus produtos são compostos cromóforos (absorvem corante sem cor para um produto colorido, mediado por
luz ou emitem fluorescência). As coenzimas NAD(P) e uma peroxidase, outra enzima.

l LDH 1/2 UM OLHAR MAIS ATENTO 10.8


a
m
r
o CPK3
n Imunoensaios Ligados a Enzimas Empregam Enzimas
o
a CPK2
o Como Indicadores
ã
ç
a
l
e
r A química clínica moderna se beneficiou da fusão da
m química de enzimas com a imunologia. Anticorpos espe�
e
K
P
1,25 1 cíficos para um antígeno proteico são acoplados com uma
C H 2
e
d D
L H
enzima indicadora, como a peroxidase de rabanete, para
e
d 1,00
e
d
D
L gerar um ensaio muito específico e sensível. Após ligação
a a
v
d
i
it
o
ã
z
r
a do anticorpo acoplado � peroxidase ao antígeno, a peroxi�
a p
A R dase é usada para gerar um produto colorido que é mensu�
0,75
rável e cuja concentração está relacionada com a quantida�
0 1 2 3 4 de de antígeno em uma amostra. A esse ensaio foi dado o
Dias após o infarto acrônimo ELISA para enzyme-linked immunoadsorbent
assay. Anticorpos monoclonais geram anticorpos que são
FIGURA 10.72 Mudanças características no soro de
muito específicos para um antígeno. Por exemplo, anticor�
isozimas CPK e LDH após um infarto do miocárdio.
pos contra uma isozima específica ou um membro de uma
A isozima CPK� (MB) aumenta, alcançando o máximo
em 1 dia após o infarto. CPK3 vem cerca de 1 dia depois família de enzimas muito semelhantes foram produzidos,
de CPK�. Os níveis de LDH total aumentam mais len� permitindo sua determinação por ELISA.
tamente. O aumento de LDH1 e LDH� em 1���� horas,
acoplado com um aumento em CPK� é diagnóstico de
A peroxidase de rabanete é usada como um indicador
infarto do miocárdio. em ELISA para testar a presença de antígenos proteicos de
capa do vírus da imunodeficiência humana (HIV). A pero�
xidase gera muitas moléculas de produto por antígeno, �
medida que o tempo passa. Tais ensaios enzimáticos ampli�
ficados permitem a medida de quantidades extremamente
pequenas de antígenos.
436 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

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Termos Chaves
ajuste induzido micas estabilização do estado de inibidores como drogas
ativadores cooperatividade negativa transição inibidores competitivos
catálise ácidae básica cooperatividade positiva estado de transição inibidores não�competiti�
geral energia deativação fosfatases vos
catálise covalente enzimas gráficos (ou plotes) duplos� isozimase doenças
coenzimas �recíprocos Ki
equação de Michaelis–
cofatores Menten inibidores Km
considerações termodinâ� equilíbrio inibidores acompetitivos Km(app)
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 437

ligação forte reações de dois substratos regulação de uma via sítio ativo
metais reações irreversíveis plote de Hill uso terapêutico de enzimas
reação pingue�pongue reações redox quinases velocidade máxima
reação sequencial reações reversíveis sítio alostérico vitaminas

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha Cpd 3
1. Em todas as enzimas, o sítio ativo Cpd 1A B
A. contém o sítio de ligação ao substrato. Cpd2C Cpd4 D Cpd5E Cpd 6
B. é vizinho do sítio de ligação ao substrato na
sequência primária. A. A
C. fica numa região da sequência primária dis� B. B
tante do sítio de ligação ao substrato. C. C
D. contém um íon metálico como grupo prostéti� D. D
co. E. E
E. contém as cadeias laterais dos aminoácidos 6. O número de turnover (kcat)
envolvidos na catálise da reação.
A. é a razão das constantes de velocidade para
2. Quando adicionado a uma reação, um catalisador formação de ES e de produto.
A. fornece o calor de formação. B. tem unidades de 1/tempo.
B. altera a constante de equilíbrio Keq para favo� C. é inversamente proporcional a quão veloz a rea�
recer a formação de produtos. ção é.
C. aumenta a velocidade na qual o equilíbrio é al� D. para uma enzima mutante pode mudar sem
cançado. qualquer mudança no Km da reação.
D. muda a ordem da reação (por exemplo, de pri� E. tem unidades de concentração de substrato.
meira ordem para segunda ordem).
E. muda o AG0 da reação. Questões 7 e 8: Um homem descendente de japone�
ses verificou que estava apresentando rubor intenso e
3. Cátions metálicos podem fazer todos os seguintes, batimentos cardíacos muito acelerados após consumo
exceto de uma bebida alcoólica. Seu companheiro, um homem
A. doar pares de elétrons a grupos funcionais en� caucasiano, não apresentou os mesmos sintomas, em�
contrados na estrutura primária de uma pro� bora já tivesse acabado seu segundo drinque. Esses
teína enzima. efeitos fisiológicos estão relacionados com a presença
B. servir como ácidos de Lewis em enzimas. de acetaldeído (CH3CHO), gerado a partir do álcool. O
acetaldeído é normalmente removido pela reação da al�
C. participar de processos de oxidação�redução. deído desidrogenase mitocondrial, que catalisa a reação
D. estabilizar a conformação ativa de uma enzi�
CH3CHO + NAD+  CH3COO– + NADH + H+
ma.
E. formar quelatos com o substrato, sendo o que� 7. A acetaldeído desidrogenase é uma:
lato o verdadeiro substrato. A. óxido�redutase.
4. Uma enzima pode facilitar a velocidade de uma rea� B. transferase.
ção por C. hidrolase.
A. estabilizar o estado de transição. D. liase.
B. ligar muito fortemente ao substrato. E. ligase.
C. ligar muito fortemente ao produto. 8. A explicação para a diferença de efeitos fisiológicos
D. impedir o substrato de mudar seu estado iôni� é que o homem japonês era deficiente na aldeído
co. desidrogenase mitocondrial normal e tinha apenas
E. impedir que a reação aconteça na direção in� uma isozima citosólica. A isozima citosólica:
versa. A. não reage com CH3CHO.
5. Na sequência de reações a seguir, o melhor ponto B. ativa a enzima que produz CH3CHO.
para controlar a produção do Composto 6 é a rea� C. difere da enzima mitocondrial por ter um Km
ção: mais alto para CH3CHO.
438 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

D. esperaria�se que tivesse maior afinidade pelo lação pelos produtos finais da via (ATP, GTP). Estes são
substrato do que a enzima mitocondrial. modificadores alostéricos negativos de PRPP sintetase.
E. produz um nível baixo de estado estacionário 11. Todas as afirmativas seguintes sobre efetores alos�
(steady-state) de acetaldeído após consumo téricos estão corretas, exceto que eles
de álcool. A. podem aumentar a afinidade da enzima por
Questões 9 e 10: Um técnico de pesquisa, trabalhan� seu substrato.
do com compostos organofosforados, deve fazer exames B. podem diminuir a afinidade da enzima por seu
de sangue semanais para a atividade da acetilcolines� substrato.
terase. Geralmente, a atividade de esterase permanece C. ligam�se ao sítio de ligação do substrato.
relativamente constante por algum tempo e, depois, cai
D. causam uma mudança conformacional da en�
abruptamente a zero. Se isso acontecer, o técnico deve
parar imediatamente de trabalhar com os compostos zima.
organofosforados. Esses compostos organofosforados E. podem mudar ou o Km ou a Vmáx da reação.
formam ésteres estáveis com o grupo hidroxila de uma 12. A maioria das enzimas alostéricas
serina crítica para a esterase.
A. é monomérica.
9. Na esterase, a serina transfere um próton para um B. tem mais de uma subunidade.
resíduo de histidina. Qual dos seguintes está corre�
to? C. apresenta apenas interações homotrópicas.
A. A serina está agindo como um ácido geral. D. apresenta apenas interações heterotrópicas.
B. A histidina está agindo como um ácido geral. E. liga o efetor alostérico sem afetar a ligação de
outros ligantes.
C. A serina e a histidina formam um intermediá�
rio covalente.
Problemas
D. A enzima seria relativamente insensível a va�
riações de pH. 13. Um experimento para medir velocidade versus
E. A serina está agindo como um catalisador de concentração de substrato foi realizado, primeiro
transmissão de estabilização. em ausência da substância A e depois em presença
da substância A. Os seguintes dados foram obtidos:
10. Compostos organofosforados inativam a esterase
por Velocidade em Velocidade em
A. inibição competitiva. [S] ausência de A presença de A
B. inibição acompetitiva. (μM) µmol/min µmol/min
C. inibição não�competitiva. �,5 0,3� 0,�0
D. inibição suicida.
3,3 0,�0 0,�6
E. inibição irreversível.
5,0 0,5� 0,36
Questões 11 e 12: Gota é uma doença na qual ácido 10,0 0,69 0,56
úrico está aumentado no sangue e na urina. Um paciente
que excretava três vezes a quantidade normal de ácido A substância A é um ativador ou um inibidor? Se
úrico tinha níveis sanguíneos muito altos de PRPP, um inibidor, que tipo de inibidor é?
intermediário da biossíntese de AMP e GMP, que são pre� 14. Para o experimento do problema 13, calcule o Km
cursores de ATP e GTP. A degradação desses compostos e a Vmáx tanto em ausência como em presença da
produz ácido úrico. A PRPP sintetase do paciente tinha substância A. Esses resultados são consistentes
valores de Km e Vmáx normais, mas era insensível � regu� com sua resposta para a questão 13?

Respostas
1. E O sítio ativo contém toda a maquinaria, incluin� uma reação. D: isso é determinado pelo número de
do as cadeias laterais de aminoácidos envolvidos reagentes. E: DG0 está relacionado com a diferença
na catálise da reação. A�D são todos possíveis, mas entre os calores de formação dos reagentes e pro�
nenhum é necessariamente verdadeiro. dutos – uma constante.
2. C Um catalisador diminui a energia do estado de 3. A Cátions metálicos são deficientes em elétrons
transição, acelerando assim a velocidade de sua e podem aceitar pares de elétrons, funcionando
formação. A: calor de formação é a energia para como ácidos de Lewis, mas não doam elétrons a
formar reagentes ou produtos. B: Keq é governada outros grupos funcionais. C: ao contrário, �s vezes
pelos calores de formação, que são constantes em eles aceitam pares de elétrons de grupos de ca�
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 439

deias laterais de aminoácidos. D: fazendo isso, eles serina na proteína facilita sua capacidade de trans�
podem ser quelados, o que pode estabilizar a estru� ferir um próton e, assim, agir como um nucleófi�
tura correta. E: �s vezes são quelados pelo substra� lo. B: bases aceitam prótons. C: nenhuma ligação
to, sendo o quelato o substrato real. covalente é formada. D: a capacidade da histidina
aceitar um próton é muito pH�dependente. E: isso
4. A Resíduos da enzima interagem com o substrato não é provável.
enquanto ele está no estado de transição, baixando
a energia de ativação. B: isso exigiria mais energia 10. E O éster de fosfato não se dissocia e a enzima
para chegar ao estado de transição. C: seria difí� não é restaurada. A, B e C: esses tipos de inibidores
cil para o produto se dissociar. D: uma chave para ligam�se � enzima e/ou complexo enzima�substrato
muitas reações é a enzima adicionar ou remover reversivelmente. D: um inibidor suicida é formado
prótons do substrato para torná�lo mais ou menos a partir do substrato e permanece covalentemente
nucleofílico. E: a catálise é reversível, embora con� ligado � enzima. Organofosfatos não são substratos
siderações termodinâmicas possam fazer algumas para a esterase.
reações parecerem irreversíveis.
11. C “Allo” significa outro. A e B: efetores alostéricos
5. D A reação D é irreversível; se não fosse contro� podem ser positivos ou negativos. D: isso altera a
lada, o Cpd 5 poderia chegar a níveis tóxicos. A: afinidade pelo substrato. E: classe K altera Km e
o controle da reação A controlaria a produção de classe Valtera Vmáx.
ambos os Cpd 3 e 6. B: a reação B não está na rota
12. B A maioria é oligomérica. A: apenas duas en�
direta. C e E: as reações C e E são livremente rever�
zimas alostéricas monoméricas são conhecidas.
síveis, de modo que não precisam ser controladas.
C e D: interações homotrópicas e heterotrópicas
6. B Este é o número de moléculas de substrato con� são comuns. E: o princípio do alosterismo é que
vertidas por unidade de tempo, por molécula de a ligação de um ligante afeta a ligação de outros
enzima. A e E: estes referem�se ao Km. C: quanto ligantes.
mais alta a kcat, mais rápida é a reação. D: kcat/Km é
igual a Keq, de modo que ambos devem mudar para 13. Tome os recíprocos de ambos [S] e v e construa um
gráfico de Lineweaver�Burk. Você descobririá que
manter o equilíbrio. as duas curvas cruzam o eixo y no mesmo ponto,
7. A Conversão de aldeído em ácido é uma oxidação. mas a curva em presença de A cruza o eixo x mais
É da subclasse desidrogenases, como indicado pela próximo da origem. Esse padrão indica que A é um
presença de NAD+. inibidor competitivo.
8. C A menor afinidade (maior Km) torna mais di�
14. –1/Km Km 1/Vmáx Vmáx
fícil para a enzima remover CH3CHO. A: isozimas,
por definição, catalisam a mesma reação. B: é pou� Ausência de A –0,1� 7,1 0,8 1,�5
co provável que uma enzima ative outra enzima. D:
com maior afinidade (menor Km), a reação estaria Presença de A –0,08 1�,5 0,8 1,�5
ocorrendo em alta velocidade, removendo, assim,
Com um inibidor competitivo, Vmáx permanece cons�
CH3CHO. E: esses efeitos são devidos a uma alta
tante (certifique�se que você entende o motivo),
concentração de estado estacionário (steady-state).
mas o Km aparente é mais alto. É necessário mais
9. A Ácidos doam prótons. Ácidos gerais são fraca� substrato para alcançar uma dada velocidade por�
mente ionizados em pH fisiológico. O ambiente da que o substrato precisa competir com o inibidor.
440 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
PARTE III CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 441
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

11
Citocromos P450 Adenina
Ribose
Fosfato
Fosfato
Ribitol
Citocromo P450
Redutase

Citocromo b5
2e- O
N N -
CH3 1e Fosfato
?
NADPH
N N CH3 Ribitol

e Óxido Nítrico O
[FAD] H
CC
N NN-
H33C 1e[FMN]O
O
N

N+3N
Fe
C

CNCCitocromoP450
C N C
N Fe N
CCN

Sintases
Linda J. Roman
Professora Associada, University of Texas Health Science Center at San Antonio

Bettie Sue Siler Masters


Professora Distinta Robert A. Welch de Química, University of Texas Health Science Center
at San Antonio

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


11.1 INTRODUÇÃO, 442 11.1 Hiperplasia Adrenal Congênita: Deficiência de
CYP21A2, 452
11.2 CITOCROMOS P450: PROPRIEDADES E FUN
ÇÃO, 443 11.2 Produção de Hormônios Esteroides Durante a
Gestação, 452
11.3 SISTEMAS DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS
CITOCROMOS P450, 444 11.3 Inibição do Citocromo P450: Interações Droga–
Droga e Efeitos Adversos, 455
11.4 CITOCROMO P450: NOMENCLATURA E ISO
FORMAS, 446 11.4 Papel do Citocromo P4502E1 em Toxicidade
Hepática Induzida por Acetaminofen, 457
11.5 CITOCROMO P450: SUBSTRATOS E FUNÇÕES
FISIOLÓGICAS, 447 11.5 Indução de Citocromo P450: Interações Droga–
Droga e Efeitos Adversos, 458
11.6 CITOCROMO P450: INDUÇÃO E INIBIÇÃO, 456
11.6 Polimorfismos Genéticos de Enzimas P450, 460
11.7 ÓXIDO NÍTRICO SINTASES: PROPRIEDADES E
FUNÇÃO ENZIMÁTICA, 461 11.7 Polimorfismos Genéticos de NADPH-Citocromo
P450 Redutase: Síndrome de Antley-Bixler, 461
11.8 ISOFORMAS DA ÓXIDO NÍTRICO SINTASE E
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS, 463 11.8 O Mecanismo de Ação de Sildenafil, 465
11.9 Superprodução de Óxido Nítrico no Choque Sép
tico, 466
11.10 História e Efeitos Biológicos de Nitroglicerina,
467
11.11 Usos Terapêuticos de Óxido Nítrico Inalado, 468
11.12 O Papel de eNOS na Disfunção Endotelial, 469
442 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Conceitos Chaves
• Citocromos P450 catalizam a incorporação de um • O óxido nítrico (NO, nitric oxide) é uma molécula
átomo de oxigênio tanto em substratos naturais sinalizadora produzida por monooxigenação cata
quanto em compostos estranhos. Eles contêm lisada pelas óxido nítrico sintases (NOSs, nitric
heme (ferro porfirina IX); o ferro é reduzido pelos oxide synthases), que contêm FAD, FMN e heme
elétrons doados por uma redutase contendo FAD ligados a uma única molécula que funciona como
ou FMN. Seus espectros derivam do quinto ligante um homodímero. O NO é derivado do grupo guani
axial do ferro heme com um resíduo de cisteína em dino da L-arginina, e a N-hidroxi-L-arginina é um
cada uma das proteínas. intermediário da reação.
• A oxigenação de esteroides produz produtos re • As NOSs são compostas por dois domínios distin
gião-específicos e estereoespecíficos, que são es tos, um contendo FAD e FMN, e o outro contendo
senciais para a diferenciação sexual (andrógenos e heme, conectados por uma sequência de ligação à
estrógenos) e para o equilíbrio metabólico e eletro calmodulina. A ligação de Ca2+-calmodulina é ne
lítico (corticosteroides e mineralocorticoides). cessária para a transferência de elétrons entre os
Alguns citocromos P450 possuem menor especi domínios. Tetra-hidrobiopterina e Zn também são

necessários.
ficidade pelo substrato e metabolizam compostos
exógenos, para gerar produtos mais polares para • As NOSs são codificadas por três genes, produzin
eliminação. Alguns produtos são mais tóxicos do do NOSI (NOS neuronal), NOSII (NOS indutível)
que os substratos originais, mas o metabolismo e NOSIII (NOS endotelial). A NOSI é constitutiva
subsequente neutraliza tais efeitos. A maioria das mente expressa, principalmente em músculo es
drogas é metabolizada por inúmeros citocromos quelético e neurônios do sistema nervoso central e
P450 específicos no retículo endoplasmático. Fre periférico. Ela é ativada pela ligação com calmodu
quentemente ocorrem interações droga–droga. lina, e o NO produzido atua como um neurotrans
missor e modulador da contratilidade muscular.
• Alguns citocromos P450 podem ser induzidos, en
quanto outros são constitutivos. Existem 57 citocro • A NOSII éé primariamenteprimariamente encontradaencontrada ememem neutró-neutró-neutró
mos P450 humanos; 50 ocorrem no retículo endoplas filos, macrófagos, astrócitos e hepatócitos. Ela é
mático e requerem NADPH-citocromo P450 redutase. induzida por citocinas; a calmodulina fica ligada
em condições fisiológicas basais. A NOSII atua na
• A hidroxilação mitocondrial de esteroides requer
resposta imune precoce, produzindo NO como um
elétrons provenientes do NADPH, que passam
agente citotóxico contra patógenos.
por uma redutase que contém FAD, uma proteína
ferro-enxofre, adrenodoxina, e finalmente para o • A NOSIII é primariamente encontrada em célu
citocromo P450. las endoteliais vasculares, ligada à membrana ca
veolar por resíduos de miristoil e palmitoil. Ela é
• Polimorfismos genéticos foram demonstrados na
constitutivamente expressa e ativada por Ca2+. A
população humana tanto em citocromos P450 como
NOSIII produz NO como vasodilatador, o qual age
em NADPH-citocromo P450 redutase. As mutações na guanilato ciclase das células musculares lisas
podem resultar no metabolismo reduzido de drogas
adjacentes, levando por fim à vasodilatação.
e no metabolismo anormal de esteroides sexuais.

11.1 INTRODUÇÃO
O citocromo P450 constitui uma família singular de prostaglandinas, leucotrienos e retinoides; (3) inativa
heme proteínas, presente em bactérias, fungos, insetos, ção ou ativação de agentes terapêuticos; (4) conversão
plantas, peixes, mamíferos e primatas, que catalisam de produtos químicos em moléculas altamente reativas,
a monooxigenação (ou seja, inserção de um átomo de que podem produzir dano celular indesejado; (5) inibi
oxigênio molecular) de uma variedade de compostos ção ou indução enzimática, resultando em interações
estruturalmente diversos. Os substratos para esse sis droga–droga e efeitos adversos.
tema enzimático incluem tanto compostos sintetizados
endogenamente, como colesterol, hormônios esteroi As óxido nítrico sintases são enzimas bidomínios,
des e ácidos graxos, quanto compostos exógenos, como consistindo de um domínio contendo heme (ou oxige
drogas, aditivos de alimentos, componentes da fumaça nase) ee umum domíniodomínio contendocontendo ��avinaavina (ou(ou(ou redutase).redutase).redutase). Es-Es-Es
de cigarros, pesticidas e compostos químicos, que são sas enzimas catalisam a formação de óxido nítrico, uma
ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele. Os citocro molécula gasosa radical livre muito reativa que funcio
mos P450 estão envolvidos em (1) produção de hor na na neurotransmissão, na regulação hemodinâmica
mônios esteroides; (2) metabolismo de ácidos graxos, ou na resposta imune, dependendo do tecido no qual é
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 443

produzido. Como os citocromos P450, as óxido nítrico a-hélice, e a outra metada é folha-b e outras estrutu
sintases são enzimas contendo heme que catalisam a ras; uma longa hélice-I atravessa a enzima, por trás do
monooxigenação
ooxigenação de seus substratos, usando mecanis heme. Esse arcabouço básico é conservado em todos os
mos catalíticos semelhantes. A seguir, serão discutidos citocromos P450 conhecidos, embora a localização rela
tanto os citocromos P450 como as óxido nítrico sintases tiva possa diferir e alguns elementos minoritários pos
em detalhes, enfocando tanto as semelhanças como as sam estar faltando. As proteínas de mamíferos contêm
diferenças entre os dois sistemas. uma sequência N-terminal de ancoragem à membrana
e sequências internas de associação à membrana, que
levam essas proteínas a ficarem profundamente mergu
11.2 CITOCROMOS P450: lhadas na membrana.

PROPRIEDADES E FUNÇÃO Os citocromos P450 são assim chamados em virtude


do espectro de absorção característico, que é produzi
Citocromos P450 são proteínas integrais de mem do quando CO é ligado à forma reduzida, ferrosa, do
brana que contêm um único grupo prostético ferro heme. O espectro apresenta um pico em cerca de 450
protoporfirina IX (heme) (p. 814). O ferro heme dos nm (Figura 11.2); daí o nome P450 para um pigmento
citocromos P450 é capaz de formar seis ligações, qua com uma absorbância a 450 nm. Esse espectro é carac
tro com cada um dos quatro átomos de nitrogênio pir terístico de uma proteína heme tiolato-ligada. Assim
rólicos do anel porfirínico e dois com ligantes axiais. como o ferro heme da hemoglobina, CO liga-se ao ferro
Um dos ligantes axiais (chamado proximal) é um heme dos citocromos P450 com afinidade muito mais
grupo sulfidrila de um resíduo de cisteína localizado alta do que o oxigênio e, portanto, é um potente inibidor
perto da extremidade carboxila da molécula de cito de sua função.
cromo P450 (Figura 11.1), e o outro sítio para ligação
de ligante (distal) pode estar em aberto (produzindo A reação geral catalisada por um citocromo P450 é
um heme penta-coordenado, de alto spin) ou ocupado
NADPH + H+ + O2 + SH → NADP+ + H2O + SOH
por oxigênio, CO, NO ou água (produzindo um heme
hexa-coordenado, de baixo spin). O estado do spin do na qual NADPH é um doador de dois elétrons, e o subs
heme é uma descrição da ocupação das camadas ele trato (S) pode ser um esteroide, um ácido graxo, uma
trônicas d no átomo de ferro, determinado pelo estado droga ou outro composto químico que tenha um alcano,
do ligante; estes podem ser diferenciados espectros um alceno, um anel aromático ou um anel heterocíclico
copicamente. substituinte que possa servir como sítio de oxigenação.
A reação é uma monooxigenação e a enzima é uma mo
nooxigenase, porque incorpora apenas um dos dois áto
mos de oxigênio ao substrato.

máx 450 nm

FIGURA 11.1 Modelo do sítio ativo do CYP2C5 de


mamífero mostrando o grupo prostético protoporfirina
IX (vermelho) com o ligante cisteína tiolato (amarelo)
ligado ao ferro heme. 400 450 500
O substrato diclofenaco, uma droga anti-in�amatória não-es
Comprimento de onda (nm)
teroídica (verde) está no sítio ativo do P450. A hélice-I (púr
pura) atravessa a molécula e é uma das características mais FIGURA 11.2 O espectro de absorbância do citocromo
facilmente identificáveis dos citocromos P450. P450 ligado ao monóxido de carbono.
Gerado a partir do Protein Data Bank arquivo INR6, deposi A forma reduzida do citocromo P450 liga-se ao monóxido de
tado por M. R. Wester, E. F. Johnson e C. D. Stout, usando carbono, produzindo uma absorbância máxima em aproxima
WebLab Viewer Lite (Molecular Simulations, Inc.) damente 450 nm.

Todos os citocromos P450 são moléculas de forma


triangular, muito parecidas com a mostrada na Figu
ra 11.1. Metade da enzima consiste de estrutura em
444 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

H3
H3C
H3C
C e H R
11.3 SISTEMAS DE
N C
N C O
TRANSPORTE DE
ELÉTRONS CITOCROMOS NH

P450 O

Os dois elétrons necessários à reação geral da mo


FAD ou FMN
nooxigenase são fornecidos pelo NADPH, mas um pro (oxidado)
blema mecanístico básico é criado porque o NADPH é
um doador de dois elétrons (p. 580). O citocromo P450,
com seu único ferro heme, pode aceitar apenas um elé
tron de cada vez. Esse problema é resolvido pela presen
ça de uma �avoproteína redutase NADPH-dependente,
FAD R
N N C
que aceita dois elétrons do NADPH simultaneamente,
mas transfere os elétrons individualmente ou para uma O

proteína ferro-enxofre intermediária ou diretamente


para o citocromo P450. O grupo redox ativo da �avopro NH
teína é o anel isoaloxazina, que é especialmente apro N C

priado para realizar essa tarefa química, uma vez que Oi


pode existir em estados totalmente oxidados ou em es
à ou FMNÃ
tados reduzidos com um ou dois elétrons (Figura 11.3).
(semiquinona)
A transferência de elétrons do NADPH para o citocromo
P450 é realizada por sistemas de transporte de elétrons
distintos, presentes exclusivamente em mitocôndrias
ou retículo endoplasmático (microssomos).

R H
NADPH-Citocromo P450 Redutase É
N N O
a Flavoproteína Doadora de Elétrons
no Retículo Endoplasmático N
NH

O
A maioria dos citocromos P450 de mamíferos é en
contrada profundamente mergulhada no lado citoplas
mático do retículo endoplasmático (fração microssomal) FADH2
(reduzido)
ou FMNH2
de hepatócitos, de células renais e adrenocorticais, de
células ovarianas e testiculares, e de células do trato res FIGURA 11.3 Anel isoaloxazina de FMN ou FAD em seus
piratório. Cinquenta das 57 isoformas de citocromo P450 estados oxidado, semiquinona (forma reduzida por 1e–)
humanas, são do tipo microssomal. Esses citocromos ou completamente reduzido (reduzido por 2e–).
P450 usam uma única NADPH-citocromo P450 reduta
se, uma proteína periférica de membrana, de 76,6 kDa,
contendo �avina adenina dinucleotídeo (FAD) e �avina
mononucleotídeo (FMN) como grupos prostéticos, para
a entrega de elétrons. A estrutura cristalina da isoforma
humana é apresentada na Figura 11.4. Até a recente ca
racterização das óxido nítrico sintases, a P450 redutase

FMN
FIGURA 11.4 Diagrama em fitas da citocromo P450 redutase
humana baseado em sua estrutura cristalina.

Três domínios são apresentados: o domínio de ligação FMN (azul), o do FAD NADP+
mínio de ligação FAD/NADPH (verde) e o domínio de conexão interme
diária (púrpura). Cofatores são mostrados em modelos hastes-e-bolas:
azul,FMN; amarelo, FAD; vermelho, NADP+. A figura foi reproduzida
utilizando-se o programa Molscript (Kraulis, P. J. Molscript: A programs
to produce both detailed and schematic plots of protein structures. J.
Appl. Cryst. 24:946, 1991). Generosamente fornecida pelo Dr. Jung-Ja
P. Kim, Professor Titular de Bioquímica, Medical College of Wisconsin,
antes da publicação.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 445

era a única �avoproteína de mamífe Adenina


ros que se sabia conter ambos FAD e Ribose Citocromo P450
FMN. O NADPH doa elétrons para Fosfato Redutase
Fosfato
o resíduo de FAD da P450 redutase,
Ribitol
e a FMN funciona como a �avina de Citocromo b5
2e- O
N N -
CH3 1e Fosfato
?
saída, transferindo dois elétrons, um NADPH
N CH3
N Ribitol C N C
de cada vez, para o citocromo P450. O N N N Fe N
[FAD] H3C O CCN
Como uma única molécula de �avi N 1e-
H3C N
na pode existir em formas reduzidas O
C N C
[FMN]
com um ou dois elétrons, e duas mo N Fe+3 N
léculas de �avina estão ligadas por C N C
molécula de redutase, a enzima pode
receber elétrons do NADPH e arma
zená-los entre as duas moléculas de
Citocromo P450
�avina antes de transferi-los para um
dos numerosos citocromos P450 mi
crossomais (Figura 11.5).
FIGURA 11.5 Componentes do sistema citocromo P450 de retículo
O mecanismo geral pelo qual os endoplasmático (microsomal).
citocromos P450 catalisam a mo A NADPH-citocromo P450 redutase é ligada, por sua cauda hidrofóbica, à membrana
nooxigenação de seus substratos é (uma proteína periférica), enquanto o citocromo P450 fica profundamente mergulhado
na membrana (uma proteína integral). Também é mostrado o citocromo b5, que pode
apresentado na Figura 11.6. O ciclo participar de algumas das reações mediadas pelo citocromo P450.
da reação é iniciado pela ligação do
substrato ao heme na forma nativa,
de baixo spin, hexa-coordenada, férrica do heme, con O oxigênio pode se ligar agora ao heme ferroso, e a
vertendo-a no heme de alto spin, penta-coordenado, segunda transferência de elétrons é facilitada. Subse
férrico. O primeiro elétron pode ser transferido para quentemente, oxigênio molecular é ativado e clivado;
o heme, reduzindo-o para a forma de alto spin, penta um átomo é inserido no substrato (monooxigenação),
-coordenada, ferrosa, só depois do substrato ter sido e o outro se combina com dois prótons e dois elétrons
ligado. Elétrons não podem ser transferidos para o para formar H2O.
heme na ausência de substrato porque o potencial de
redução do heme (–300 mV) neste estado é mais ele A ligação do P450 e da redutase entre si é eletros
tronegativo do que o do resíduo de FMN (–270 mV), tática, e não hidrofóbica, e os níveis de P450 excedem
tornando tal transferência termodinamicamente des os de redutase no fígado por uma razão de 10:1 a 20:1.
favorável. Quando o substrato se liga, há uma mudança Se um P450 específico tiver uma afinidade maior para
conformacional na estrutura da proteína em torno do associação com a redutase, os elétrons �uirão preferen
ferro heme, e o potencial de redução do heme torna-se cialmente para esses P450s. Consequentemente, P450s
mais positivo (–230 mV), permitindo assim que o ferro com menores afinidades devem ter mecanismos que
heme do P450 seja reduzido (Figura 11.6). permitam a eles receberem elétrons. Em alguns casos, a

Produto (SOH)
NADPH
2e Substrato (S) H2O (2nd)
e Potenciais Redox (mV)
[FAD FMN] [FMN
NADPH –FAD] P450 do retículo endoplasmático
Citocromo
Redutase
P450 P450-Fe P450-Fe
(Oxidado)
3+ P450-Fe3+
S O–– 2e
NADPH −324
– 2 Citocromo
Redutase
P450 FAD −290
FMN −270
P450 heme −300
(1st)
e S 3+ Ciclo do P450-Fe3+ –
Citocromo P450 S O–
– 2
P450 heme
+ substrato −230

P450-Fe
S 2+ P450-Fe 2+

S O2

O2

FIGURA 11.6 Ciclo de reações do citocromo P450.


O diagrama mostra a ligação do substrato, a transferência do dutase e a ligação de O2. Os potenciais de redução dos vários
primeiro e do segundo elétron da NADPH-citocromo P450 re componentes também são mostrados.
446 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

ligação de substrato aumenta tanto a afinidade quanto heme do citocromo P450. Uma segunda proteína, adre
a taxa de associação do complexo P450/redutase; esse nodoxina, que também fica fracamente associada com
mecanismo faz sentido porque um P450 “vazio” mono a membrana mitocondrial interna, contém um grupo
polizando a redutase seria não-produtivo. ferro-enxofre que serve de centro redox para essa molé
cula e funciona como uma lançadeira de elétrons entre
Em algumas reações, a transferência do segundo o FAD da adrenodoxina redutase e o ferro heme de um
elétron pode não ser diretamente da P450 redutase, citocromo P450 mitocondrial. Uma molécula de adreno
mas pode ocorrer a partir do citocromo b5, uma peque
doxina recebe um elétron da sua �avoproteína redutase
na heme-proteína (15,2 kDa) que pode ser reduzida
mitocondrial e interage com uma segunda adrenodoxi
pela P450 redutase ou por outra �avoproteína ligada ao na, que depois transfere seu elétron para um citocromo
micromosso, a NADH-citocromo b5 redutase. Algumas P450 específico. Componentes do sistema citocromo
reações catalisadas por citocromos P450 específicos re P450 mitocondrial são sintetizados no citosol como pre
querem citocromo b5 para atividade enzimática ótima, cursores de maior peso molecular, transportados para
possivelmente porque o citocromo b5: (1) altera a afini dentro da mitocôndria, e processados por proteases em
dade da interação P450/redutase, (2) altera a afinidade proteínas maduras de menor peso molecular.
do P450 por um substrato em particular, ou (3) aumen
ta a taxa de transferência do segundo elétron para o
heme P450.
11.4 CITOCROMO P450:
NADPH-Adrenodoxina Redutase É a NOMENCLATURA E
Flavoproteína Doadora de Elétrons ISOFORMAS
em Mitocôndrias Em virtude do grande número de citocromos P450
que foram identificados (mais de 7.000 até fevereiro
Os citocromos P450 mitocondriais são encontrados de 2008), um sistema de classificação das enzimas em
na membrana interna das mitocôndrias e estão envol grupos funcionais e nomenclatura teve de ser desenvol
vidos em reações de hidroxilação de esteroides. Sete vido. O sistema escolhido é baseado em classificação
das 57 isoformas humanas são desse tipo. Esse siste de acordo com a identidade relativa das sequências de
ma de transferência de elétrons requer duas proteínas aminoácidos das enzimas. A superfamília dos citocro
adicionais, a NADPH-adrenodoxina redutase (51 kDa), mos P450 é, assim, dividida inicialmente em famílias,
que contém um único grupo prostético FAD, e adreno nas quais a identidade da sequência de aminoácidos dos
doxina, uma proteína ferro-enxofre de 12,5 kDa, para membros é superior a 40%. A família é designada pelo
formação de produto (Figura 11.7). A adrenodoxina re prefixo “CYP”, em referência a cytochrome P450, segui
dutase fica só fracamente associada com a membrana do por um numeral arábico (por exemplo, CYP1, CYP2,
mitocondrial interna e não pode transferir diretamen CYP3 etc.). As famílias são ainda divididas em subfamí
te nem o primeiro nem o segundo elétron para o ferro lias, nas quais a identidade das sequências de amino
ácidos dos membros é superior a 55%.
Adrenodoxina
A subfamília é identificada por uma
Adrenodoxina letra maiúscula adicional (por exem
Redutase Adenina 3+ 1e-
Fe –S plo, CYP1A, CYP1B, CYP1C etc.). Os
Ribose membros individuais de cada subfamí
2+
Fosfate Fe –S lia são, então, numerados na ordem em
-
Fosfate 1e- 1e que foram identificados (por exemplo,
Ribitol CYP1A1, CYP1A2, CYP1A3 etc.). Embo
N N ra os citocromos P450 sejam enzimas, os
2e- H C
3
O
NADPH C N C termos isoenzima ou isozima não são
H C N
3 N 3+
N Fe N usados para descrever essas proteínas;
[FAD] O
C N C em vez disso, é usado o termo forma ou
isoforma.

As Tabelas 11.1 e 11.2 relacionam


as isoformas conhecidas de P450 hu
manos. Há 57 isoformas divididas em
Citocromo P450
18 famílias e 41 subfamílias. O genoma
humano também codifica 58 pseudo
genes CYP, que não formam proteína
FIGURA 11.7 Componentes do sistema citocromo P450 mitocondrial. ativa. A Tabela 11.1 lista as isoformas
Citocromo P450 é uma proteína integral da membrana mitocondrial interna. A NA
que utilizam primariamente compostos
DPH-adrenodoxina redutase e a adrenodoxina são proteínas periféricas, não mer
gulhadas na membrana. exógenos, isto é, drogas e xenobióticos;
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 447

TABELA 11.1 Citocromos P450 Humanos Envolvidos no Metabolismo Exógeno


Família Isoformas Substrato(s) Selecionado(s)
Inibidor(es) Indutor(es)
CYP Selecionado(s) Selecionado(s)
1 1A1 Benzo(a)pireno, diclofenaco Cetoconazol Benzo(a)pireno
1A2 Benzo(a)pireno, warfarina Cipro�oxacina Erva de São João
1B1 Benzo(a)pireno, a�atoxina B1 Tamoxifeno NCa

2 2A6 Acetaminofen, nicotina Canabidol Dexametasona


2A7 NC NC NC
2A13 Hexametilfosforamida NC NC
2B6 Diazepam, mefenitoína Cetoconazol Rifampicina
2C8 Taxol, ibuprofen, verapamil Quinina Fenobarbital
2C9 Amitriptilina, naproxen Sulfafenazol Rifampicina
2C18 Imipramina, metadona NC Rifampicina
2C19 Diazepan, omeprazol Isoniazida Rifampicina
2D6 Fluvastatina, codeína, risperidona Quinidona Dimetilsulfóxido
2E1 Acetaminofen, halotano Agrião Isoniazida, etanol
2F1 Naftaleno, estireno NC NC
2J2 Bufuralol NC NC
2R1, 2S1 NC NC NC
2U1,2W1 NC NC NC
3 3A4 Eritromicina, nifedipina, codeína, cetoconazol
Troleandomicina, Cortisol, rifampina,
warfarina, terfenadina fenobarbital
3A5 Verapamil, prevastatina NC Dexametasona
3A7 Ácido retinoico, codeína, cortisol DHEA NC
3A43 Testosterona NC NC
aNC, não bem caracterizado.

cada isoforma metabiliza uma ampla variedade de subs de nitrogênio, enxofre e fósforo e reações de desaloge
tratos. A Tabela 11.2 lista as isoformas envolvidas no nização também são catalisadas por formas de citocro
metabolismo de compostos endógenos; essas isoformas mos P450.
geralmente reconhecem apenas um ou dois substratos
específicos, e estes são apresentados na tabela. Tanto substratos endógenos e como exógenos são
metabolizados por citocromos P450. Os substratos en
dógenos incluem colesterol, esteroides, prostaglandi
nas e ácidos graxos. Nesses casos, as reações são mais
11.5 CITOCROMOS P450: estéreo- e região-específicas, e os citocromos P450 se
SUBSTRATOS E FUNÇÕES ligam apenas a substratos específicos. Substâncias exó
genas (xenobióticos, significando “estranhos à vida”)
FISIOLÓGICAS incluem muitas drogas, compostos químicos, contami
nantes ambientais e aditivos alimentares. Os citocro
Citocromos P450 metabolizam uma variedade de mos P450 desse grupo são menos discriminativos entre
compostos lipofílicos de origem endógena ou exógena. os substratos e oxidam esses compostos primariamente
Como mostrado na Figura 11.8, os citocromos P450 po lipofílicos (hidrofóbicos) para torná-los mais solúveis
dem catalisar a hidroxilação do átomo de carbono de em água (hidrofílicos) para excreção.
um grupo metil, a hidroxilação do carbono metileno de
um alcano, a hidroxilação de um anel aromático para
formar um fenol, ou a adição de um átomo de oxigênio
em uma dupla ligação para formar um epóxido. Tam
bém podem catalisar reações de desalquilação, nas
quais grupos alquila ligados a átomos de oxigênio, ni
trogênio ou enxofre são removidos. Oxidação de átomos
448 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 11.2 Citocromos P450 Humanos Envolvidos no Metabolismo Endógeno


FamíliaCYP Isoformas Substrato(s)
Atividade

4 4A11 Ácidos graxos w-Hidroxilase


4B1 Ácido araquidônico 12-Hidroxilase
4F2 Ácido araquidônico, leucotrieno B4 w-Hidroxilase
4F3 Leucotrieno B4 w-Hidroxilase
4F8 Ácido araquidônico, prostaglandinas 18-Hidroxilase
4F12 Ácido araquidônico w-Hidroxilase
4A22, 4F11, 4F22, 4V2, 4X1, 4Z1 Desconhecido Desconhecida
5 5A1 Prostaglandina H2 Tromboxane A2 sintase
7 7A1 Colesterol 7-a-Hidroxilase
7B1 Pregnenolona, de-hidroepiandrosterona 7-a-Hidroxilase
(DHEA)
8 8A1 Prostaglandina H2 Prostaciclina sintase
8B1 Esteróis 12-a-Hidroxilase
11 11A1 Colesterol Clivagem de cadeia lateral
11B1 11-Desoxicortisol, 11-desoxicorticosterona 11-b-Hidroxilase
11B2 Corticosterona 18-Hidroxilase
17 17A1 Pregnenolona, progesterona 17-a-Hidroxilase
17-hidroxipregnenolona, 17-hidroxiproges 17-20-Liase
terona
19 19A1 Androstenediona, testosterona Aromatase
20 20A1 Desconhecido Desconhecida
21 21A2 Progesterona, 17-hidroxiprogesterona 21-Hidroxilase
24 24A1 25-Hidroxi vitamina D3 24-Hidroxilase
26 26A1 Ácido retinoico 4-Hidroxilase
26B1 Ácido retinoico Desconhecida
26C1 Desconhecido Desconhecida
27 27A1 Esterol 27-Hidroxilase
Vitamina D3 25-Hidroxilase
27B1 Vitamina D3 1-a-Hidroxilase
27C1 Desconhecido Desconhecida
39 39A1 24-Hidroxicolesterol 7-Hidroxilase
46 46A1 Colesterol 24-Hidroxilase
51 51A1 Lanosterol 14-a-Desmetilase

Citocromos P450 Participam da no córtex adrenal e nos órgãosórgãos sexuais.sexuais. AmbosAmbosAmbos ososos sis-sis-sis
temas de citocromos P450, mitocondrial e microssomal
Síntese de Hormônios Esteroides (retículo endoplasmático), sãosão necessáriosnecessários parapara conver-conver
e da Oxigenação de Compostos ter colesterol em aldosterona e cortisol no córtex adre
nal, testosterona nos testículos, e estradiol nos ovários.
Endógenos Os citocromos P450 são responsáveis por várias
A importância das reações catalisadas por citocro etapas da síntese adrenal de aldosterona, o mineralo
mos P450 com substratos endógenos é ilustrada pela corticoide responsável por regular o equilíbrio de sal
síntese dos hormônios esteroides a partir de colesterol, e água, e cortisol, o glucocorticoide que governa o me
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 449

tabolismo de proteínas, carboidratos e lipídeos. Além O cortisol é sintetizado a partir de pregnenolona


disso, os citocromos P450 da adrenal catalisam a sín ou progesterona, começando com a hidroxilação de
tese de pequenas quantidades do andrógeno andros C17 pelo P450 microssomal CYP17A1. Hidroxilação em
tenediona, um regulador de características sexuais C21 de 17a-hidroxiprogesterona por CYP21A2 produz
secundárias e precursor tanto de estrógeno quanto de 11-desoxicortisol, que é transportado para dentro da
testosterona. A Figura 11.9 apresenta um resumo des mitocôndria, onde é mais hidroxilado por CYP11N1 em
sas vias. C11, formando cortisol (Figura 11.9). Deficiências con
gênitas resultantes de mutações no gene que codifica
Nas mitocôndrias da adrenal, um citocromo P450
CYP21A2 são discutidas na Correlação Clínica 11.1.
(CYP11A1) catalisa a reação de clivagem da cadeia la
teral, convertendo colesterol em pregnenolona, uma A sínteseíntese dede esteroidesesteroidesoides contendocontendocontendo 191919 átomosátomosátomos dedede car-car-car
etapa de comprometimento na biossíntese de esteroi bono, a partir de 17a-hidroxipregnenolona ou 17a-hidro
des. Essa reação envolve a hidroxilação sequencial dos xiprogesterona, prossegue com a perda do grupo acetil
átomos de carbono 22 e 20, produzindo 22-hidroxico em C17. Essa reação de desacetilação é catalisada por
lesterol e, depois, 20,22-di-hidroxicolesterol, respecti CYP17A1 (via reação catalisada por uma 17,20-liase),
vamente (Figura 11.10). CYP11A1 então cliva a ligação o mesmo citocromo P450 que hidroxila esteroides em
carbono-carbono entre C20 e C22, para produzir preg C17. Os fatores que determinam se esse citocromo
nenolona, um esteroide de 21 carbonos. Essa sequência P450 faz apenas uma etapa de hidroxilação, produ
de reações requer três moléculas de NADPH e três de zindo o produto 17-hidroxi, ou prossegue para clivar
O2, e é catalisada inteiramente por CYP11A1. a ligação C17-C20, não foram determinados, embora a
presença de citocromo b5 em tecidos gonadais pareça
A pregnenolona é produzida nas mitocôndrias, mas permitir que CYP17A1 catalise a reação de clivagem.
é levada para o citosol onde é oxidada pela 3-b-hidro Os produtos formados após a remoção do grupo ace
xiesteroide desidrogenase D4,5-isomerase a progestero til são des-hidroepiandrosterona (DHEA), a partir de
na. A progesterona é hidroxilada na posição C21 do nú
17a-hidroxipregnenolona, ou androstenediona, a par
cleo esteroide a desoxicorticosterona (DOC) pelo P450 tir de 17a-hidroxiprogesterona. DHEA pode ser desi
microssomal CYP21A2. A DOC é subsequentemente drogenado no grupo 3-OH a androstenediona, um po
hidroxilada em C11 pelo P450 mitocondrial CYP11B1 tente esteroide androgênico que serve como precursor
para formar corticosterona, que pode depois ser hidro
imediato de testosterona.
xilada por outra enzima citocromo P450 mitocondrial,
CYP11B2, em C18, para formar o mineralocorticoide al Os estrógenos são sintetizados a partir dos andró
dosterona (Figura 11.9). genos, em uma reação chamada aromatização, porque

Hidroxilação Alifática
R—CH2—CH3 R—CH2—CH2—OH
R—CH2OH—CH3

Hidroxilação Aromática

R R OH

Epoxidação
R—CH2
R CH2—CH3 R R—CH—CH—CH3
O
O

Reações de Desalquilação
N-desalquilação
R—CH2—CH2—NH—CH3 R—CH2—CH2—NH—CH2OH R—CH2—CH2—NH2 + HCHO
O-desalquilação
R—CH2—CH2—O—CH3 R—CH2—CH2—O—CH2OH R—CH2—CH2—OH + HCHO
S-desalquilação
R—CH2—CH2—S—CH3 R—CH2—CH2—S—CH2OH R—CH2—CH2—S + HCHO

N-Oxidation Reactions
Aminas Primárias
Aminas
R—CH2—CH2—NH2 R—CH2—CH2—NH—OH
Secundárias
R—CH2—CH2—NH—CH3 R—CH2—CH2—NOH—CH3
O
Sulfoxidação
R—CH2—S—CH2R R—CH2—S—CH2R
FIGURA 11.8 Reações
Desalogenização comuns catalisadas por
F3C—CHBrCl F3C—COOH + HCl + HBr citocromos P450.
450 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Colesterol

CYP11A1

Pregnenolona 17-OH-Pregnenolona De-hidroepiandrosterona


CYP17A1 CYP17A1

3-β-HSD 3-β-HSD 3-β-HSD

Progesterona 17-OH-Progesterona Androstenediona Estrona


CYP17A1 CYP17A1 CYP19A1

CYP21A2 CYP21A2 17-β-HSD 17-β-HSD

11-Deoxicorticosterona 11-Deoxicortisol Testosterona Estradiol


CYP19A1

Corticosterona
CYP11B1 CYP11B1

Cortisol

CYP11B2

18-OH-Corticosterona

CYP11B2

Aldosterona

FIGURA 11.9 Síntese de hormônios esteroides na glândula adrenal.


Os citocromos P450 envolvidos são CYPs 11A1, 11B1 e 11B2 nas endoplasmático (azul). As outras enzimas mostradas, 3-b-HSD e
mitocôndrias (vermelho) e CYPs 17A1, 19A1 e 21A2 no retículo 17-b-HSD, são hidroxiesteroide desidrogenases.

um anel aromático é produzido no anel A do esteroide do no metabolismo do ácido araquidônico por CYP4As
produzido. Nessa reação complexa, múltiplas reações e CYP4Fs no homem, é um potente vasoconstritor. Os
de hidroxilação são catalisadas por uma única enzima EETs, formados por CYP1A, 2B, 2C e 2J no homem, são
citocromo P450, CYP19A1 ou aromatase, para formar o vasodilatadores derivados do endotélio. Os CYP4As
anel aromático com a remoção do grupo metil em C19. também catalisam a hidroxilação de prostaglandinas e
A Figura 11.11 detalha a reação de aromatização. Duas ácidos graxos, ativando ou inativando esses importan
reações sequenciais de hidroxilação no metil C19 resul tes fatores regulatórios.
tam na introdução de um grupo aldeído. A etapa final
pode envolver um ataque peroxidativo em C19, com a Citocromos P450 produzem metabólitos vitais para
perda do grupo metil e a eliminação do átomo de hi a manutenção da homeostase em outros sistemas tam
drogênio, para produzir o anel aromático. Todas as três bém. O CYP7A1 catalisa a primeira etapa, e limitante
da velocidade, da síntese de ácidos biliares no fígado
reações de hidroxilação são catalisadas por CYP19A1.
A complexidade da produção de hormônios esteroides (p. 747 e 1078). No fígado, o CYP27B1 catalisa a 1-hi
durante a gestação e o papel das formas de P450 são droxilação da 25-hidroxi-vitamina D3, formada no rim,
para produzir o metabólito 1,25-di-hidroxi, que é a for
ilustrados na Correlação Clínica 11.2.
ma ativa desse hormônio, importante no desenvolvi
Citocromos P450 também metabolizam outros com mento e na manutenção dos ossos (p. 1094), enquanto
postos endógenos que estão envolvidos em processos CYP24A1 está envolvido na degradação ou na inativa
fisiológicos e, assim, regulam sua atividade. Por exem ção de metabólitos da vitamina D. No sistema imune, o
plo, o ácidoácido araquidônicoaraquidônico éé metabolizadometabolizado porpor citocro-citocro leucotrieno B4 é um agente quimioatrativo de leucóci
mos P450 para formar ácidos 19- e 20-hidroxieicosa tos polimorfonucleares, que é hidroxilado por CYP4F3
tetraenoicos (HETEs), ácidos epoxieicosatetraenoicos para o menos ativo 20-hidroxileucotrieno B4, vital na
(EETs) e ácidos di-hidroxieicosatetraenoicos (DiHE inativação da resposta imune. O ácido retinoico é meta
TEs). Esses metabólitos funcionam na regulação dos bolizado por CYP26A1 no derivado 4-hidroxi, que pode
sistemas vascular, renal, pulmonar e cardíaco e nas res ter maior atividade do que o ácido retinoico em certos
postas in�amatória e de crescimento. 20-HETE, forma órgãos, onde desempenha um papel no ciclo celular e
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 451

21 CH3 20 22

CH3
Citocromos P450 Oxidam Substratos
CH3 Lipofílicos Exógenos
CH3 CH3 Os substratos exógenos metabolizados por citocro
mos P450 incluem drogas terapêuticas, agentes quí
micos usados em locais de trabalho, subprodutos in
HO dustriais que se tornam contaminantes ambientais e
Colesterol (C-27)
aditivos alimentares. Os citocromos P450 humanos en
volvidos no metabolismo xenobiótico são apresentados
NADPHO2 na Tabela 11.1, p. 448. Esses citocromos P450 apresen
tam ampla especificidade de substrato, oxidando uma
OH
CH3
enorme variedade de xenobióticos, particularmente
CH3
compostos lipofílicos. A adição de um grupo hidroxila
CH3
torna o composto mais polar e, assim, mais solúvel no
ambiente aquoso da célula. Muitos compostos exógenos
CH3 CH3 são muito lipofílicos e se acumularão dentro de células
ao longo do tempo, potencialmente interferindo com a
função celular, a menos que sejam metabolizados em
HO produtos mais hidrofílicos.
22-Hidroxicolesterol Estima-se que CYP3A4 metabolize aproximadamen
te 50% das drogas terapêuticas, CYP2D6 aproximada
NADPHO2
mente 20%, CYP2C9 e 2C19 aproximadamente 15%,
OH e CYP1A2, CYP2A6, CYP2B6 e outros metabolizem os
CH3 restantes 15% das drogas. CYP3A4 é o principal P450
CH3 que metaboliza drogas no homem. Está presente no
CH3 OH
trato gastrointestinal e no fígado, e é responsável pela
baixa biodisponibilidade oral de muitas drogas. Como
CH3 CH3
os citocromos P450 têm tais amplas especificidades de
substratos, um composto pode ser metabolizado por
mais de uma isoforma de citocromo P450 e/ou em dife
HO
rentes locais, como mostra a Figura 11.12 para o com
20,22-Di-hidroxicolesterol posto diazepam.

NADPHO2 Drogas e xenobióticos são metabolizados primaria


mente por duas vias, Fase I (reações de funcionalização
CH3
oxidativa) e Fase II (reações biossintéticas). Podem ser
C O metabolizados por qualquer uma das duas vias ou por
CH3
ambas. No metabolismo de Fase I, um grupo funcional
como um grupo hidroxila é introduzido em ou exposto
CH3 na droga pelo citocromo P450 (entre outras enzimas;
Tabela 11.3). As enzimas do metabolismo de Fase II,
em muitos casos, então ligam esse grupo funcional com
HO
uma espécie endógena como ácido glucurônico, sulfato,
Pregnenolona (C-21)
glutationa, aminoácidos ou acetato. O resultado final de
+ qualquer uma ou de ambas as modificações é tornar o
H3C composto estranho mais solúvel em água e, assim, facili
CHCH2 H
CH2 C O tar a excreção, geralmente pelos rins, mas também pelos
H3C intestinos, via excreção na bile. Citocromos P450 estão
Aldeída Isocaproico envolvidos no metabolismo de Fase I, mas não de Fase
II. Exemplos gerais de enzimas que metabolizam xeno
FIGURA 11.10 Reação de quebra da cadeia lateral do
bióticos e suas reações são apresentados na Tabela 11.3.
colesterol.
Três reações sequenciais são catalisadas por CYP11A1 para
O metabolismo de xenobióticos por citocromos P450
produzir pregnenolona e aldeído isocaproico.
pode ter um de três efeitos sobre o composto: inativa
ção, ativação ou formação de um metabólito tóxico.
na sinalização. A Tabela 11.2 lista os citocromos P450 Na inativação, a forma ativa de uma droga é conver
humanos que metabolizam substratos endógenos e de tida em uma forma inativa, portanto diminuindo sua
talha suas especificidades de substrato e funções. biodisponibilidade ou, no caso de xenobióticos danosos,
452 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.1

Hiperplasia Adrenal Congênita: Deficiência de CYP21A2


O córtexcórtex adrenal,adrenal, umum locallocal importanteimportante dede produ-produ das a desequilíbrio salino, em decorrência dos níveis
ção de hormônios esteroides durante a vida fetal e diminuídos de aldosterona. Consequências clínicas
adulta, é metabolicamente mais ativo na vida fetal e de deficiência grave de 21-hidroxilase podem ser re
pode produzir 100-200 mg de esteroides por dia, em conhecidas ao nascimento, particularmente em me
comparação com os 20-30 mg produzidos por dia na ninas, porque a produção excessiva de esteroidesoides an-an
glândula adrenal adulta não-estressada. Deficiências drogênicos pode causar o desenvolvimento irregular
enzimáticas foram relatadas para todas as etapas da e óbvio de sua genitália. Em recém-nascidos do sexo
produção de cortisol. As doenças associadas com a masculino, uma deficiência na atividade da 21-hidroxi
produção insuficiente de cortisol são chamadas hi lase pode não ser detectada, porque a genitália mascu
perplasias congênitas da adrenal (CAH). A deficiência lina parece normal, mas ocorrerão masculinização e
enzimática mais comum em CAH é no CYP21A2, uma desenvolvimento físico precoces um pouco mais tarde.
21-hidroxilase, resultando na incapacidade de meta Na CAH de início tardio, os sintomas clínicos podem
bolizar 17α-hidroxiprogesterona a 11-desoxicortisol, variar consideravelmente, desde o desenvolvimento
que é convertido por CYP11B1 em cortisol. Como não precoce de pelos pubianos, fusão precoce das placas
há cortisol suficiente, a secreção de ACTH, o hormô epifisárias de crescimento, causando parada prematu
nio da pituitária que regula a produção de cortisol, ra de crescimento, ou padrões de calvície masculina
aumenta. Períodos prolongados de níveis elevados de em mulheres.
ACTH causam hiperplasia da adrenal e uma produção
aumentada dos hormônios androgênicos des-hidroe Donohoue, P. A., Parker, K. e Migeon, C. J. Congenital
piandrosterona (DHEA) e androstenediona. adrenal hyperplasia. Em: Scriver, C. S., Beaudet, A. L., Sly W.
S., and Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Molecular Bases
Problemas clínicos aparecem porque a produção of Inherited Disease. New York; McGraw-Hill, 7. ed., Vol. 2,
adicional de esteroides androgênicos causa virilização 1995, Capítulo 94, p. 2929; e e White, P. C. e Speiser, P. W.
em fêmeas, desenvolvimento precoce de órgãos se Congenital adrenal hyperplasia due to 21-hydroxylase defi
xuais em machos pré-púberes, ou doenças relaciona ciency. Endocrine Reviews. 21: 245, 2000.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.2

Produção de Hormônios Esteroides Durante a Gestação


Citocromos P450 desempenham um papel impor reação de clivagem da cadeia lateral, formando preg
tante na síntese de estrógenos. Durante a gestação, é nenolona a partir do colesterol, e oxida pregnenolona a
necessária uma interação singular entre os citocromos progesterona, que é secretada na circulação materna.
P450 em diferentes órgãos para sintetizar as grandes Como, então, a placenta produz estrógenos, se não pode
quantidades necessárias. A produção de hormônios sintetizar DHEA ou androstenediona a partir de pro
esteroides aumenta drásticamente e, a termo, chega a gesterona? A glândula adrenal fetal, um órgão esteroi
15-20mg de estradiol, 50-100 mg de estriol e, aproxima dogênico muito ativo, catalisa a síntese de DHEA a par
damente, 250 mg de progesterona por dia, quantidades tir de colesterol e libera na circulação fetal. Uma grande
que são 1.000 vezes maiores do que as produzidas por parte da DHEA fetal é metabolizada pela adrenal e pelo
mulheres em pré-menopausa, não-gestantes. fígado fetais em 16α-hidroxi-DHEA, que é convertida
por CYP19, na placenta, no estrógeno estriol. Essa é
O corpo lúteo do ovário é o principal local de produ uma demonstração elegante da cooperatividade entre
ção de estrógeno nas primeiras semanas de gestação, os sistemas de hidroxilação mediados por citocromo
mas em aproximadamente quatro semanas de gestação,
P450 nos sistemas orgânicos fetal e materno, levando
a placenta começa a sintetizar e secretar progesterona à formação progressiva de estrógenos durante o desen
e estrógenos. Após 8 semanas de gestação, a placenta volvimento gestacional.
torna-se a fonte dominante de síntese de progesterona.
A placenta humana não tem CYP17, que catalisa tanto a Cunningham, F. G., MacDonald, P. C., Gant, N. F., Leveno,
reação de 17α-hidroxilação como a clivagem da ligação K. J., et al. The placental hormones. Em: Willians Obstetrics,
C17-20 e, assim, não pode sintetizar estrógenos a partir 20. ed. East Norwalk, CT: Appleton & Lange, 1997, Capítulo
de colesterol. A placenta, entretanto, pode catalisar a 6, p. 125.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 453

OH diminuindo os efeitos deletérios em potencial (por


exemplo, fenobarbital). Diazepam (nome comercial
Valium, prescrito como sedativo), por exemplo, é me
tabolizado por CYPs 2C19 (N-desalquilação) e 3A4 (hi
O droxilação) no biologicamente inativo oxazepam (Figu
Testosterona ra 11.12), que depois passa por conjugação de Fase II
com ácido glucurônico, antes da eliminação.
Enolização

OH
CH3
O
Diazepam (Valium) N
Ativo

HO Cl N

CYP
HO19A1 O2

OH
NO
CYP2C19 CYP3A4

CH3
H N O

HO
OH
19-Hidroxi
Cl N Cl N
CYP 19A1 O2
Nordazepam Temazepam
OH

HO OH
CYP3A4 CYP2C19
HNO
HO
OH
H2O Cl N
OH
Oxazepam
O Inativo

HO FIGURA 11.12 O metabolismo do diazepam pelos


19-Oxo citocromos P450 3A4 e 2C19.
O diazepam pode ser metabolizado por mais de um P450. Os
Fe3+ – OOH
CYP 19A1 metabólitos formados a partir de um composto serão afetados
pela quantidade da forma P450 expressa nos tecidos.
OH
OFe
OHO Outras drogas são biologicamente inativas, até que
sejam metabolizadas por um citocromo P450 em uma
forma biologicamente ativa. A droga terfenadina (nome
HO comercial Seldane, um antagonista do receptor de
CYP 19A1 histamina H1 prescrito para alergias sazonais) é uma
Fe3+–OH HCOOH forma inativa de uma droga, ou uma pró-droga, que é
OH ativada por hidroxilação sequencial por CYP3A4 em fe
xofenadina, a forma funcional, desejada (Figura 11.13).
Problemas associados com interferência na ativação da
terfenadina são detalhados na Correlação Clínica 11.3.
HO
Além de ativação ou inativação de xenobióticos, o
Estradiol
metabolismo por citocromos P450 pode causar inadver
FIGURA 11.11A sequência de reações levando à tidamente a formação de metabólitos tóxicos. Benzo[α]
aromatização de andrógenos em estrógenos. pireno é um carcinógeno fraco produzido a partir da
Adaptado de Graham-Lorence, S., Amarneh, B., White, R. E., queima de carvão, combustão de materiais em produ
Peterson, J. A. e Simpson, E. R. A three dimensional model of tos de tabaco, do preparo de alimentos em churras
aromatase cytochrome P450. Protein Science 4:1065, 1995. queira e de processamento industrial. É convertido
454 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 11.3 Reações e Enzimas que Metabolizam Xenobióticos


Tipo de Reação Nome Geral da Enzima Reação Enzimática Geral
Oxidação Desidrogenases Oxidação de grupos álcool ou aldeído
Monooxidases contendo Oxidação de aminas primárias, secundárias e terciárias,
�avina (FMO) nitronas, tioéteres, tiocarbamatos e fosfinas.
Monoamina oxidases Remoção de uma amina por deaminação oxidativa.
Citocromo P450 Ver Tabelas 11.1 e 11.2 e Figura 11.7 para reações catalisadas por
enzimas P450
Redução Aldeído e cetona redutases Redução de grupo carbonila em um grupo hidroxila
Azoredutases Redução de grupo azo para formar aminas primárias
Quinona redutases Redução de quinonas em hidroquinonas
Hidrólise Epóxido hidrolases Adição de água a grupos areno óxido ou epóxido para formar
grupos hidroxila vicinais
Carboxiesterases Adição de água a uma ligação éster
Amidases Adição de água a uma ligação amida
Conjugação N-acetiltransferases Adição de CoA de acetil-CoA a aminas aromáticas ou a
compostos contendo hidrazinas
UDP-glucuronosil Adição de ácido glucurônico de uridina-5!-difosfato (UDP)-ácido
transferases glucurônico a grupos carboxila, fenol, hidroxila alifática, aminas
aromáticas ou alifáticas ou sulfidrila
Sulfotransferase Adição de grupos sulfato de fosfoadenosil fosfosulfato a grupos
fenol, álcool alifático ou aminas aromáticas
Metiltransferases Adição de grupo metil de S-adenosil metionina a compostos
contendo grupos fenol, catecol, aminas alifática ou aromática ou
sulfidrila
Glutationa S-transferase Conjugação de compostos contendo heteroátomos eletrofílicos,
íons nitrênio, íons carbânio, radicais livres, epóxido ou grupos
arene óxido

por CYPs 1A1, 1A2 e 1B1 em benzo[a]pireno-7,8-di Metabolismo de terfenadina


-hidrodiol-9,10-epóxido, um carcinógeno muito mais
potente (Figura 11.14). Benzo[a]pireno é convertido na OH Terfenadina
forma 7,8-epóxido por CYP1A1. Hidrólise subsequente HO N (Seldane)
pela epóxido hidrolase forma o derivado hidroxi vicinal
benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol, e uma segunda rea
ção de epoxidação por CYP1A1 ou 3A4 forma benzo[a]
pireno-7,8-di-hidrodiol-9,10-epóxido, que pode formar CYP3A4
aductos de guanina no DNA, causando impedimento
da função gênica e levando a mutações. A interação
de benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol-9,10-epóxido com o OH Fexofenadina
gene p53 é uma etapa crítica no mecanismo pelo qual HO N (Allegra)

o benzo[a]pireno é carcinogênico no homem. Benzo[a]


pireno também se liga ao receptor de aril hidrocarbono
CO2H
(AhR) e induz essas formas de P450, aumentando assim
seu próprio metabolismo.
FIGURA 11.13 O metabolismo de terfenadina em
O acetaminofen, comumente usado como analgésico fexofenadina, o composto bioativo.
e antipirético, é convertido por CYP2E1 em N-acetil
-p-benzoquinonaimina (NAPQI), um composto muito ção e sulfatação em conjugados polares, inativos, que
reativo levando a aductos de proteínas, estresse oxi são facilmente excretados (Figura 11.5, vias superior e
dativo e toxicidade. Normalmente, o acetaminofen é inferior, respectivamente). O acetaminofen é também
primariamente metabolizado por vias de glucuronida metabolizado por CYP2E1 em um NAPQI muito reativo
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 455

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.3

Inibição de Citocromo P450: Interações Droga–Droga e Efeitos Adversos


Os papéis que citocromos P450 desempenham no cardíacos que se desenvolveram depois que tomaram
metabolismo de drogas e as sérias consequências das terfenadina com eritromicina ou cetoconazol. Como as
interações droga–droga foram demonstrados com cla propriedades terapêuticas da terfenadina estão asso
reza para duas drogas, terfenadina (Seldane) e cisapri ciadas com seu metabólito não-tóxico fexofenadina, o
da (Propulsid), quando seu metabolismo foi inibido por fabricante testou fexofenadina como um novo medica
outras drogas. Uma pequena porcentagem dos usuários mento e buscou aprovação do FDA para esse metabóli
teve efeitos adversos graves, que forçaram seus fabri to, agora comercializado como Allegra.
cantes e o Food and Drug Administration (FDA) a di
vulgar avisos de que essas drogas não podem ser toma Cisaprida foi aprovado em 1993 para pacientes que
das juntamente com outras drogas que inibem CYP3A4. sofrem de azia noturna, que resulta de doença de re
A gravidade dos efeitos adversos forçou o FDA a remo �uxo gastro-esofágico ou GERD. A eliminação des
ver ambas as drogas do mercado. sa droga do corpo depende do seu metabolismo por
CYP3A4, e quando administrada sozinha ou com ou
O FDA aprovou terfenadina, um anti-histamínico tras drogas que não inibem CYP3A4, a droga original
H1 de segunda geração, em 1985, para tratar alergias não se acumula no plasma. Entretanto, quando toma
sazonais. A terfenadina é rapidamente metabolizada da com outras drogas que são substratos ou inibidores
no fígado por CYP3A4 em fexofenadina, como mostra de CYP3A4, o metabolismo de cisaprida é reduzido e
a Figura 11.12, resultando em baixos níveis da droga ela se acumula com as administrações subsequentes.
original logo depois da ingestão, mas os efeitos tera Em alguns indivíduos, níveis aumentados de cisapri
pêuticos da terfenadina são realmente causados pela da causam arritmias cardíacas e, por volta do final de
fexofenadina. Como muitas outras drogas são subs 1999, anomalias de ritmo cardíaco foram relatados em
tratos ou inibidores de CYP3A4, o metabolismo de 341 pacientes que tomavam cisaprida, resultando em
terfenadina é potencialmente passível de inibição. In 80 mortes. Consequentemente, o fabricante da cisa
divíduos que tomaram terfenadina com o antibiótico prida parou de comercializar essa droga nos Estados
macrolídeo eritromicina ou com o agente antifúngico Unidos em 2000.
cetoconazol, ambos fortes inibidores de CYP3A4, apre
Terfenadine: proposal to withdraw approval of two new
sentaram níveis plasmáticos significativamente eleva drugs applications and one abbreviated new drug application.
dos de terfenadina. Numa pequena porcentagem de Fed. Reg. 62:1889, 1997. (Esse documento pode ser visto na
usuários de terfenadina, surgiram problemas cardía página da internet do Federal Register em http://www.ac
cos sérios, porque a droga parental causou alteração cess.gpo.gov/su_docs/aces/aces140.html; e Desta, Z., Sou
nos canais cardíacos de potássio e aumentou o risco de khova, N., Mahal, S. K. e Flockhart, D. A. Interactions of cisa
uma taquicardia ventricular rara, chamada Torsade pride with the human cytochrome P450 system: Metabolism
de Pointes. Alguns indivíduos morreram de problemas and inhibition studies. Drug Metab. Disp. 28:789, 2000.

(Figura 11.5, via do meio). A quantidade de acetami o metabolismo de outros substratos de CYP2E1. O grau
nofen que é metabolizada por CYP2E1 é normalmente de lesão hepática depende do momento e da quantidade
baixa, em comparação com a glucuronidação e a sul de acetaminofen tomado. Superdosagem de acetamino
fatação. As pequenas quantidades de NAPQI formadas fen resulta em mais chamadas dos centros de controle
são rapidamente conjugadas com glutationa (p. 811) em de envenenamento nos Estados Unidos do que qualquer
um metabólito não-tóxico. Entretanto, se os níveis de outra substância farmacológica. Além disso, de acordo
glutationa estiverem baixos, NAPQI escapa da conjuga com a American Liver Foundation, 35% dos casos
ção com glutationa e reage com componentes dos hepa envolvendo insuficiência hepática são causados por
tócitos, causando lesão celular. Normalmente, os níveis envenenamento por acetaminofen. Uma descrição dos
de CYP2E1 presentes são baixos em comparação com efeitos do álcool sobre o metabolismo de acetaminofen
outras formas de P450, e a produção de NAPQ1, quando é apresentada na Correlação Clínica 11.4.
doses normais de acetaminofen são ingeridas, é peque
na. Entretanto, a ingestão de grandes quantidades de Como exemplificado para benzo[a]pireno e acetami
acetaminofen causará um aumento na produção de NA nofen, o sistema P450 pode produzir metabólitos tóxi
PQI, o que pode causar lesão hepática grave. Outro fator cos. A formação de compostos tóxicos pelo citocromo
na toxicidade hepática induzida por acetaminofen é que P450, entretanto, não significa que ocorrerá lesão celu
lar ou tumor. Outros processos celulares determinarão
o consumo de bebidas alcoólicas induz CYP2E1, o que
aumenta a produção de NAPQI. Contudo, o álcool tam a extensão da lesão celular; por exemplo, conjugação
bém é um substrato para esse citocromo P450 e inibirá do benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol-9,10-epóxido pela
456 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

O
HNCCH3

HNCCH3 O
O Glucuronídeo HNCCH3
Benzo[a]pireno

Morte
OP4502
OSulfato
OH
O OO Celular
Proteína
CYP2E1 HNCCH3
OH

GSH
O
HNCCH3
O Acetaminofen NAPQI
Benzo[a]pireneo-7,8-epóxido

epóxido GSH
HNCCH3
O
hidrolase
OH

HO FIGURA 11.15 O acetaminofen pode ser metabolizado pelas


OH enzimas de fase II sulfotransferase e glucuronosil transferase e por
CYP2E1.
Benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol O metabolismo por CYP2E1 levará à formação de N-acetil-p-benzoquino
naimina (NAPQI). Quando a formação de NAPQI é baixa, NAPQI pode ser
P450 O2
conjugado com glutationa, em um metabólito não-tóxico; entretanto, se
NAPQI se formar em quantidades excessivas, pode escapar da conjugação
com glutationa e reagir com componentes das células hepáticas, causando
lesão celular.
O

tornando a molécula mais polar e/ou mais susceptível


ao metabolismo por outros sistemas enzimáticos de de
HO
OH
sintoxicação; a criação de metabólitos tóxicos é uma
consequência não-intencional desse processo.
Benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol-9,10-epóxido
Embora a imensa maioria dos substrados desses
FIGURA 11.14 O metabolismo do benzopireno citocromos P450 (Tabela 11.1) sejam compostos exó
por citocromo P450 e epóxido hidrolase para genos, algumas funções endógenas foram postuladas.
formar benzopireno-7,8-di-hidrodiol-9,10
CYP1A1 e 1A2 parecem estar envolvidos no catabolis
epóxido.
mo do heme e no metabolismo de estradiol, respecti
vamente. Também há evidência de que membros das
subfamílias CYP2A, 2B, 2C e 3A estejam envolvidos no
glutationa transferase desempenha um papel protetor metabolismo de testosterona, e os das subfamílias 2D e
chave na inibição da formação do aducto ao DNA e re 2E estejam envolvidas no metabolismo de catecolami
duzindo sua atividade carcinogênica. As ações de vários nas e gliconeogênese, respectivamente.
sistemas enzimáticos de desentoxicação, incluindo rea
ções de conjugação como glucuronidação e sulfatação,
o estado do sistema imune, estado nutricional, pré-dis
posição genética e exposição a vários agentes químicos 11.6 CITOCROMO P450:
ambientais, todos desempenham papéis na determina INDUÇÃO E INIBIÇÃO
ção do grau de lesão celular e toxicidade mediada por
P450. Embora pareça contraprodutivo para os sistemas É claro que os níveis e a atividade dos citocromos
de mamíferos possuírem enzimas que potencialmente P450 em uma dada pessoa in�uenciarão muito o efei
criam compostos muito tóxicos, o propósito do sistema to de uma droga específica ou de um xenobiótico sobre
citocromo P450 é adicionar ou expor grupos funcionais, o sistema. Assim, compostos que inibem ou induzem a
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 457

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.4

Papel do Citocromo P450 2E1 na Toxicidade Hepática Induzida por Acetaminofen

Acetaminofen é uma das medicações analgési zar o acetaminofen em NAPQI, aumentando o risco
cas (alívio da dor) e antipiréticas (redutor de febre) de lesão hepática.
mais usadas. Está disponível isolado ou como com
ponente de mais de 100 medicações vendidas sem O período de tempo e a quantidade de álcool consu
receita médica.médica. AA viavia dodo metabolismometabolismo dodo acetami-acetami-acetami mido por dia afetam a quantidade de CYP2E1 expressa
nofen é apresentada na Figura 11.15. O consumo de em hepatócitos. A quantidade de acetaminofen consu
álcool, um indutor e substrato de CYP2E1, tem um mida é o principal fator determinante do risco, uma
profundo efeito sobre o metabolismo de acetamino vez que as doses normalmente recomendadas não ge
fen. O consumo de álcool equivalente a uma garra ram suficiente NAPQI para induzir lesão de células he
fa de vinho de 750 ml, seis latas de cerveja de 350 páticas. Doses mais altas de acetaminofen aumentam
ml, ou 250 ml de uma bebida de graduação alcoólica o risco de lesão às células hepáticas, visto que mais
80, num período de 6 a 7 horas, causa um aumento droga será metabolizada pela via de CYP2E1. Ambas
as vias de sulfatação e glucuronidação são essenciais
de 22% no metabolismo de acetaminofen mediado
por CYP2E1, que se manifesta várias horas após a para determinar a quantidade de acetaminofen que
ingestão do álcool. Assim, o tempo entre o último será metabolizada por CYP2E1. Além disso, os níveis
consumo de álcool e administração de acetaminofen de glutationa intracelular são críticos, uma vez que a
pode ser muito crítico no desenvolvimento da lesão glutationa forma conjugados com NAPQI para prote
hepática induzida por acetaminofen. Em uma pes ger o fígado desse metabólito reativo. Em presença de
soa bebendo álcool, o metabolismo do acetaminofen altos níveis de NAPQI, a glutationa é rapidamente con
tomado concomitantemente ou logo depois de parar sumida e não pode mais proteger contra a lesão.
de beber é retardado porque o etanol, assim como o
acetaminofen, é um substrato para CYP2E1 e, por Brunner, L. J., McGuinness, M. E., Meyer, M. M. e Munar,
tanto, compete pela ligação. No consumo crônico de M. Y. Acute acetaminophen toxicity during chronic alcohol
use. U.S. Pharmacist Sept:HS11-HS19, 1999. Esse artigo
álcool, CYP2E1 é induzido e quantidades maiores de
pode ser visto na página da internet: http://www.us-pharma
N-acetil-p-benzoquinonaimina (NAPQI) são produ cist.com/; e Thummel, K. E., Slattery, J. T., Ro, H., Chien, J.
zidas; contudo, o álcool pode realmente proteger o
Y., Nelson, S. D., Lown, K. E. e Watkins, P. B. Ethanol and
fígado da lesão induzida por acetaminofen, se toma production of the hepatotoxic metabolite of acetaminophen
do ao mesmo tempo ou pouco antes. Se acetamino in healthy adults. Clin. Pharmacol. Ther. 67:591, 2000. Slat
fen for tomado várias horas após a ingestão de álcool, tery, J. T., Nelson, S. D. e Thummel, K. E. The complex inte
o álcool já foi metabolizado e níveis aumentados de raction between ethanol and acetaminophen. Clin. Pharma
CYP2E1 estarão, então, disponíveis para metaboli col. Ther. 60:241, 1996.

atividade de P450, bem como polimorfismos ocorrendo Os efeitos indesejados que podem ocorrer quando
em um gene P450, podem produzir resultados inespe os níveis de citocromos P450 são induzidos ou inibidos
rados. por outras drogas são chamados interações droga–dro
ga. Se essas drogas indutoras ou inibidoras forem ad
ministradas com outras drogas que são normalmente
Interações Droga–Droga metabolizadas pelas enzimas P450, o tempo de vida
dessas drogas será alterado. Se essas drogas afeta
Muitas drogas induzem a formação do citocromo
rem sistemas críticos, o resultado pode ser fatal. Por
P450 que as metaboliza. Outras drogas causam inibi
ção da atividade de P450. Alterar o metabolismo de uma exemplo, CYP2E1 é induzido por álcool ou isoniazida.
Ele também metaboliza anestésicos, como halotano e
droga em particular a partir de sua taxa prevista pode
en�urano, a compostos que danificam proteínas hepáti
causar efeitos inesperados e adversos, e é preocupação
cas. O sistema imune então ataca essas proteínas anor
especial em indivíduos que tomam uma combinação de
mais, produzindo uma forma de hepatite. Pessoas com
drogas. Para drogas que são dependentes do metabo
atividade acima do normal de CYP2E1 produzida pela
lismo de P450 para sua eliminação do corpo, a inibição
ingestão de álcool têm risco aumentado desse tipo de
levará ao acúmulo da droga original até concentrações
hepatite reativa a um anestésico.
que podem ser tóxicas. Por outro lado, a indução da
isoforma P450 necessária para metabolizar uma droga Interações droga–droga também ocorrem com
específica pode levar ao supermetabolismo e a concen CYP3A4, um dos P450 mais importantes para metabo
trações subefetivas. lizar drogas e o P450 mais abundante no fígado e no in
458 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

testino delgado. Os níveis de CYP3A4 são induzidos por complexidade do processo de indução é ilustrada por
rifampicina, anticonvulsivantes como carbamazepina e CYP2E1 no fígado humano versus de rato. A proteína
fenitoína, e glucocorticoides como dexametasona, e são CYP2E1 é induzida em ambas as espécies por molécu
inibidos por antifúngicos como cetoconazol, inibidores las orgânicas pequenas, como etanol, acetona ou pira
da protease de HIV, bloqueadores de canal de cálcio, ci zol, ou em condições de jejum ou diabetes. No homem,
closporina, antibióticos como eritromicina, antidepres os níveis do mRNA dessa proteína não são afetados, e
sivos SSRI e até suco de grapefruit. Alguns poucos dos a indução é provável que ocorra por estabilização de
muitos compostos metabolizados por essa enzima são CYP2E1 humana contra degradação proteolítica. En
apresentados na Tabela 11.1. tretanto, em ratos diabéticos, a indução de seis vezes
da proteína CYP2E1 é acompanhada por um aumento
Na realidade, parece que a mistura de indutores e/ou de 10 vezes no mRNA, sem envolver aumento na trans
inibidores de CYP3A4 com várias drogas (que podem, crição do gene, sugerindo estabilização do mRNA.
elas mesmas, serem indutores ou inibidores) pode ter
efeitos indesejados ou até fatais. Tomar rifampicina, um Proteínas receptores citosólicos específicos foram
indutor de CYP3A4, com contraceptivos orais, que são indicadas por alguns agentes indutores. Um dos mais
metabolizados por CYP3A4, tem resultado em menor amplamente estudados é o receptor de aril hidrocar
eficácia dos contraceptivos, levando a gestações inde boneto (ou Ah), que interage com 2,3,7,8-tetraclorodi
sejadas. Tomar cetoconazol ou até tomar suco de gra benzo-p-dioxina (TCDD) e causa indução de CYP1A1,
pefruit, ambos inibidores de CYP3A4, juntamente com CYP1A2 e CYP1B1. Este é um exemplo de composto
o anticoagulante warfarina, pode levar a sangramento que persiste nos ambientes lipídicos da célula por lon
excessivo. As consequências clínicas que se relacionam gos períodos de tempo e pode induzir carcinogênese.
com aa inibiçãoinibição ouou aa induçãoindução dede enzimasenzimas queque metabo-metabo Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são ligantes
lizam drogas são apresentadas na Correlação Clínica para o receptor de Ah, e produzem um complexo ligan
11.3, e na Correlação Clínica 11.5. te-receptor que é deslocado para dentro do núcleo pelo
translocador nuclear do receptor de Ah (Arnt, Ah re
Os mecanismos de indução de citocromos P450
ceptor nuclear translocator), onde se liga a elementos
ocorrem em nível transcripcional ou pós-transcriptio de resposta específicos nas regiões regulatórias a mon
nal (por exemplo, estabilização do mRNA ou diminui
tante dos genes dos citocromos P450. A Figura 11.16
ção na degradação da proteína). Não é possível prever
ilustra esse processo.
o modo de indução com base no composto indutor. A

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.5

Indução de Citocromo P450: Interações Droga–Droga e Efeitos Adversos

A indução de citocromos P450 específicos pode O agente fitoterápico amplamente utilizado erva de
diminuir os efeitos terapêuticos de drogas, porque São João, que pode ser adquirido sem receita médica,
aumentos nos níveis hepáticos de P450 aumentam a também induz a atividade de CYP3A4, levando à pos
taxa de metabolismo e, portanto, a inativação e/ou a sibilidade dos indivíduos que ingerem a erva poderem
excreção de drogas. A indução do sistema P450 tam não receber os benefícios terapêuticos de drogas que
bém pode ter efeitos adversos por causa da formação são substratos para CYP3A4. Uma redução nos níveis
aumentada de metabólitos tóxicos (também Correla plasmáticos de contraceptivos orais, drogas antiprote
ção Clínica 11.4). ase de HIV, a droga imunossupressora ciclosporina ou
certas estatinas usadas para reduzir os níveis de co
A indução de CYP3A4, por exemplo, pela droga anti lesterol, pode ocorrer porque todas essas drogas são
tuberculose rifampicina, pode aumentar muito a elimi substratos para CYP3A4. Como a erva de São João é
nação do contraceptivo oral etinil estradiol, causando considerada uma substância natural, e não uma droga,
níveis plasmáticos subefetivos da droga, o que aumenta os indivíduos podem tomar esse agente sem avisar seu
o risco de gravidez. Tratamento com as drogas anticon médico ou saber seus efeitos sobre a eficácia de outras
vulsivantes fenitoína e carbanezepina também pode drogas que estejam tomando.
induzir CYP3A4 e reduzir a potência contraceptiva do
etinil estradiol. É imperativo que uma mulher tomando Roby, C. A., Anderson, G. D., Kantor, E., Dryer, D. A. e
etinil estradiol como contraceptivo oral, simultanea Burstein, A. H. St. John’s wort: effect on CYP3A4 activity.
mente com um indutor de CYP3A4, aumente a dose do Clin. Pharmacol. Ther. 67:451, 2000; e Shader, R. I. e Oes
contraceptivo ou use um método contraceptivo alterna terheld, J. R. Contraceptive effectiveness: cytochromes and
tivo ou outra droga. induction. J. Clin. Psychopharmacol. 20:119, 2000.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 459

L + R Polimorfismos Genéticos de
União do ligante (L) ao receptor específico (R) Citocromos P450
(AhR, CAR, PXR, ou PPAR)
Além da exposição a vários agentes indutores que
L podem mudar o padrão de expressão dos citocromos
P450 no fígado e em outros órgãos, os indivíduos
Ligação do parceiro do receptor heterodimérico Arnt ou RXR
(Arnt ou RXR) podem diferir em suas taxas metabólicas para dro
para formar o complexo ligante–receptor heterodimérico gas específicas em virtude dos genes de citocromos
L
P450 singulares ou dos alelos que possuem,ou seja,
polimorfismos. Um polimorfismo é uma diferença na
de
Reconhecimento do elemento
genes P450 específicos pelo
decomplexo
resposta receptor
do DNA Gene P450 sequência do DNA encontrada em 1% ou mais de uma
população. Essas diferenças na sequência do DNA
podem levar a diferenças no metabolismo de drogas.
L
Gene P450 Como estas são variações genéticas, muitas delas es
5! tão presentes em grupos étnicos específicosíficos quequeque po-po-po
Elemento de resposta
dem, portanto, experimentar efeitos adversos mais
Regulação da transcrição do gene frequentes com certas drogas. Estima-se que 40%
Síntese aumentada do mRNA dos genes P450
das diferentes formas de citocromo P450 humanas
FIGURA 11.16 A interação de um ligante com seu receptor e que metabolizam xenobióticos sejam polimórficas.
com o parceiro do receptor, formando receptores complexos
heterodiméricos que iniciam a indução de formas de
Polimorfismos genéticos em CYP2D6 foram es
citocromo P450. tudados intensamente e 65 alelos diferentes foram
identificados. A população pode ser dividida em me
tabolizadores intensivos ou metabolizadores ruins,
Outro sistema receptor para genes P450 é o recep dependendo dos níveis de expressão de CYP2D6. Se
tor X de pregnano (PXR), que regula os genes CYP3A. não houver outro modo de eliminar uma droga em par
Pregnano refere-se a esteroides de 21 carbonos, como ticular do sistema, os metabolizadores ruins podem ter
o metabólito de progesterona 5α-pregnano-3,20-diona, risco de reações adversas a drogas. Por outro lado, os
que é um ligante de PXR e um potente indutor do gene metabolizadores intensivos podem descobrir que mui
CYP3A4 humano. Além dos esteroides de 21 carbonos, tas drogas são ineficientes.
outros compostos estruturalmente diferentes, como
carbamazepina (uma droga usada no tratamento de Muitas pessoas provenientes da Etiópia e da Ará
convulsões) e rifampina (uma droga antituberculose), bia Saudita apresentam expressão elevada de CYP2D6.
bem como a erva de São João (um agente fitoterápico Essa isoforma metaboliza uma variedade de drogas,
vendido sem receita médica, usado no tratamento de tornando-as ineficientes; muitos antidepressivos e neu
alterações de humor), são ligantes de PXR. PXR liga rolépticos são importantes exemplos. Por outro lado,
-se ao receptor X de retinoide (RXR) para formar um pró-drogas serão intensamente ativadas: codeína será
complexo heterodimérico (PXR-RXR), que se liga espe convertida muito rapidamente em grandes quantidades
cificamente a elementos de resposta na região �anque de morfina.
adora 5! dos genes CYP3A. Lembre-se que aproximada Diferentemente, muitos indivíduos não têm 2D6
mente 50% das drogas prescritas são metabolizadas por funcional. Esses pacientes serão predispostos à toxi
essa forma de citocromo P450. cidade de drogas causada por antidepressivos e neu
Outro indutor dos genes dos citocromoa P450 é o fe rolépticos, mas considerarão a codeína ineficiente em
nobarbital. Essa indução é mediada pelo receptor cons virtude da falta de ativação. Perexilina (um bloqueador
titutivo de androstano (CAR), que também forma um de canal de cálcio) foi retirada do mercado por causa
da neuropatia causada em pacientes com 2D6 inativo.
complexo heterodimérico com RXR para interagir com
seu elemento de resposta específico, na região 5!-�an Até mesmo a remoção de beta-bloqueadores pode ser
queadora dos genes CYP2B. Dois esteroides androsta dificultada (por exemplo, propranolol) em pessoas de
nos endógenos, androstanol e androstenol, são também ficientes em 2D6. A Correlação Clínica 11.6 discute os
ligantes de CAR e, quando qualquer ligante está ligado efeitos de polimorfismos.
a CAR, eles impedem a interação do complexo recep Embora o polimorfismo genético de um citocromo
tor CAR-RXR com a proteína SRC-1. SRC-1 é um coa P450 em particular possa afetar o metabolismo de um
tivador de receptores nucleares e é necessário para a conjunto discreto de compostos, polimorfismos gené
ativação da transcrição por CAR. A administração de ticos da citocromo P450 redutase, a única e obrigató
fenobarbital ou de outro indutor tipo fenobarbital induz ria doadora de elétrons para os 50 membros da classe
o deslocamento dos androstanos ligantes, permitindo a microssomal de citocromos P450, poderiam ter efeitos
ligação de SRC-1 e a transcrição do gene CYP2B. mais globais e drásticos no metabolismo de substratos
endógenos e xenobióticos. De fato, o bloqueio completo
460 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.6

Polimorfismos Genéticos das Enzimas P450

Múltiplos alelos foram demonstrados para aproxi da população asiática, 4% a 7% da africana e afro-ame
madamente 40% dos genes P450 humanos. Esses po ricana, e 3% da caucasiana não têm a forma ativa do
limorfismos genéticos podem produzir proteínas P450 gene CYP2C19.
defectivas. Uma descrição do CYP21 polimórfico e de
sua importância no metabolismo de um composto en Polimorfismos de CYP2C9 ocorrem em menos de
dógeno foi apresentada na Correlação Clínica 11.1. A 0,003% da população africana ou afro-americana,
ausência de atividade de um citocromo P450 pode cau 0,08% da asiática e 0,36% da caucasiana. A ausência de
uma CYP2C9 funcional pode ter sérias consequências
sar muitos problemas, em virtude do acúmulo de dro
gas terapêuticas que não podem ser metabolizadas. A no metabolismo de S-warfarina, uma droga adminis
descoberta de efeitos hipotensivos exagerados com a trada por via oral, usada para inibir a coagulação do
droga anti-hipertensiva debrisoquina levou à caracte sangue em pacientes que sofreram um ataque cardíaco
rização de indivíduos que metabolizavam muito inefi ou um acidente vascular cerebral, para evitar
vitar a recor
cientemente substratos de CYP2D6. Aproximadamen rência de coágulos que oferecem risco de vida. Os níveis
te 5 a 10% da população caucasiana, 8% da africana plasmáticos da droga devem ser mantidos dentro de
uma faixa específica porque quantidades excessivas da
e afro-americana, e 1% da asiática são deficientes na
forma cataliticamente ativa de CYP2D6. Além da de droga causam sangramento descontrolado e, possivel
brisoquina, outras drogas que são metabolizadas por mente, morte. A warfarina é metabolizada por CYP2C9,
CYP2D6 são esparteína, amitriptilina, dextrometorfan para eliminação. CYP2C9*3 é um variante alélico no
e codeína. No caso da codeína, CYP2D6 em indivíduos qual isoleucina é substituída por leucina no resíduo 359,
normais catalisa a O-desmetilação de aproximadamen resultando em perda substancial de atividade enzimáti
te 10% da codeína a morfina. Os indivíduos que não têm ca. Indivíduos deficientes em CYP2C9 podem requerer
o gene normal de CYP2D6 são incapazes de catalisar apenas 0,5 a 1 mg de warfarina por semana, em com
essa reação e, assim, não obtêm os efeitos analgésicos paração com os 4 a 5 mg por dia prescritos para um
associados à codeína. indivíduo com CYP2C9 normal. Se uma dose de 5 mg de
warfarina for tomada por alguém que não tem CYP2C9
Um polimorfismo genético associado com CYP2C19 funcional, o sangramento descontrolado poderia resul
foi demonstrado em indivíduos que metabolizam mal a tar de um simples corte.
mefenitoína, uma droga usada no tratamento da epilep
sia; CYP2C19 hidroxila C4 do S-enantiômero da mefeni Ingelman-Sundberg, M., Oscarson, M. e McLellan, R. A.
toína para inativar o efeito fisiológico. Os metabolizado Polymorphic human cytochrome P450 enzymes: An opportu
res ruins dessa droga sofrem efeitos sedativos maiores, nity for individualized drug treatment. Trends Pharmacol.
com dosagens normais. Aproximadamente 14% a 22% Sci. 20:342, 1999.

(knocking out) do gene da citocromo P450 redutase um importante lipídeo de membrana. No homem, uma
em modelo animal é embriologicamente letal a esses forma relacionada de P450, CYP51A1, catalisa a des
animais. Recentemente, mutaçõesões humanas que alte metilação de lanosterol, uma reação que é essencial na
ram a atividade desse gene foram descritas possuindo síntese de colesterol. Embora as proteínas CYP51 hu
efeitos profundos (Correlação Clínica. 11.7). mana e de levedura sejam semelhantes, há diferenças
suficientes para permitirem que agentes os antifúngi
Inibição Terapêutica de Citocromo cos azóis sejam inibidores efetivos da formação de er
gosterol. Como discutido anteriormente, entretanto,
P450 esses agentes também podem induzir ou inibir citocro
mos P450 humanos nativos, possivelmente levando ao
Como os citocromos P450 estão presentes em quase fenômeno de interação droga–droga.
todos os organismos e como desempenham funções tão
importantes na homeostase celular, a inibição seletiva Certos tumores, como tumores de mama, são depen
dessas enzimas é de importância clínica. Inibidores azol dentes de estrógeno para seu crescimento. Portanto, a
(cetoconazol, itraconazol e �uconazol), por exemplo, são inibição da síntese de estrógeno sem inibir a produção
usados para controlar as infecções por fungos contraí de outros hormônios esteroides poderia servir como
das por pacientes com AIDS, pacientes com câncer em uma ferramenta quimioterápica seletiva para reduzir
quimioterapia, e pacientes tratados com drogas immu e eliminar tumores. CYP19A1, o citocromo P450 que
nossupressoras. Em levedura, CYP51 catalisa a desme catalisa a formação de estradiol a partir de androste
tilação de moléculas de esterol na síntese de ergosterol, nediona, é um alvo atraente para esse tipo de inter
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 461

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.7

Polimorfismos Genéticos de NADPH-Citocromo P450 Redutase: Síndrome de Antley–Bixler (OMIM 207410)

Foram encontradas mutações na NADPH-citocromo alguns desses pacientes. Como não há redundância na
P450 redutase humana que resultam em um fenótipo parte de transferência de elétrons do sistema citocro
para o paciente de malformações esqueléticas caracte mo P450 microssomal, seria de se esperar que defeitos
rizadas por craniosinostoses, sinostoses radioulnar ou na citocromo P450 redutase tivessem efeitos diversos e
radioumeral e/ou fêmures arqueados, um conjunto de pleiotrópicos, dependendo da gravidade do efeito sobre
traços clínicos conhecido como síndrome de Antley– sua atividade. Além disso, vários citocromos P450 po
Bixler. Esses pacientes também apresentaram esteroi deriam interagir com diferentes resíduos da superfície
dogênese desordenada e hiperplasia adrenal congênita da redutase, e assim seriam afetados diferencialmente
(CAH). Como descrito na Correlação Clínica 11.1, um por mutações em tais resíduos. Portanto, dependendo
defeito na CYP21A2 é a causa mais comum de CAH. do local da mutação na estrutura da redutase (Figura
Como a deficiência de citocromo P450 redutase po 11.4) e da alteração resultante das atividades enzimá
tencialemente afeta a atividade dos três citocromos ticas ou das interações proteína–proteína, as mutações
P450 estereoidogênicos (CYPs 19A e 17A, bem como podem variar muito quanto à gravidade e ao fenótipo
CYP21A, Figura 11.8), padrões variáveis e anormais resultante.
de hormônios esteroides são observados nesses ca
sos, resultando em fêmeas supervirilizadas e machos Fluck, C. E., Tajima, T., Pandey, A. V., Arlt, W. et al.
subvirilizados. As vias envolvidas no desenvolvimento
Mutant P450 oxidoredutase causes steroidogenesis with
embrionário do esqueleto estão também claramente and without Antley-Bixler syndrome. Nat. Genet. 36:228,
afetadas em alguns pacientes deficientes na citocromo 2004; e Scott, R. R. and Miller, W. L. Genetic and clinical
P450 redutase, e o metabolismo de drogas mediado por features of P450 oxidoredutase deficiency. Horm. Res. 69:
citocromo P450 estava comprometido em pelo menos 266, 2008.

venção. Um tipo particularmente seletivo de inibidor é 11.7 ÓXIDO NÍTRICO SINTASES:


um inibidor baseado em mecanismo, ou suicida. Esses
compostos têm forte semelhança com um substrato de PROPRIEDADES E FUNÇÃO
uma enzima, mas formam um produto de inibição ir
reversível durante a ciclagem catalítica, com o grupo ENZIMÁTICA
prostético da enzima ou da proteína. Tais inibidores As óxido nítrico sintases (NOSs) são enzimas con
seriam muito específicos para uma forma específica de tendo heme e �avina, que catalisam a síntese de óxido
citocromo P450 e seriam, portanto, uma boa abordagem nítrico (NO) por duas reações de monoxigenase em sé
tática para o design de drogas. rie, análogas às dos sistemas citocromo P450. As NOSs
Parece que, sem um entendimento do metabolismo são dímeros funcionais e consistem de dois domínios
de drogas e das interações de drogas mediadas pelo principais, um domínio oxigenase contendo heme, que é
sistema citocromo P450, nenhuma medicação pode estruturalmente não-relacionado com citocromos P450,
ser prescrita com segurança, particularmente quando e um domínio redutase contendo �avina, que lembra
múltiplas medicações são necessárias, como em pa estruturalmente a P450 redutase (Figura 11.17). São
cientes idosos. É crítico determinar como drogas tera transferidoss elétronselétrons dede NADPHNADPH parapara oo domíniodomínio reduta-reduta
pêuticas são metabolizadas e se formas de citocromo se de um monômero, por meio das �avinas FAD e FMN,
para o ferro heme do outro monômero, no qual oxigênio
P450 podem ser inibidas por diferentes compostos. O
processo de aprovação de drogas pelo Food and Drug molecular é ligado e ativado. Os domínios são conecta
Administration (FDA) exige que extensa informação dos por um sítio de ligação àà calmodulina,calmodulina,calmodulina, cujacujacuja ocupa-ocupa-ocupa
ção por calmodulina é necessária para a transferência
seja submetida sobre o metabolismo das drogas, antes
que sejam finalmente aprovadas para uso humano em de elétrons do domínio redutase para o da oxigenase.
geral. O grupo heme das NOSs lembra o dos citocromos
P450 porque forma um ligante tiolato com uma cisteí
na na proteína NOS, e dá o mesmo tipo de espectro de
absorbância quando CO é ligado à forma reduzida, for
ma ferrosa do heme, isto é, um pico de absorbância em
cerca de 450 nm. O domínio NOS oxigenase é, entre
tanto, estruturalmente muito diferente dos citocromos
P450 (compare a estrutura cristalina do domínio NOS
462 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

NOS neuronal Região nas parcialmente visíveis na estrutura cristalina,


autoregulatória
em virtude de sua extrema �exibilidade.
Fluxo de elétrons
L-Arg Ligação
NA A reação geral catalizada pelas NOSs é a mo
Domínio de CaM
H DP noxigenação sequencial do aminoácido L-arginina
PDZ em H
e FMN FAD para formar NO e citrulina, como mostra a Figura
H4B Zn2+ Região
de cauda 11.20. O ciclo da reação é iniciado pela ligação de
calmodulina para “abrir a porta” entre os domínios
Domínio oxigenase Domínio redutase
redutase e oxigenase. O doador de elétrons é NA
FIGURA 11.17 Uma estrutura modular de óxido nítrico sintase DPH, que doa dois elétrons para FAD que, por sua
neuronal mostrando as localizações aproximadas dos grupos vez, reduz FMN. O FMN reduz o ferro heme para
prostéticos e cofatores. sua forma ferrosa, à qual oxigênio pode se ligar. Na
primeira etapa, arginina é oxidada ao intermediário
oxigenase na Figura 11.18 com o dos P450, na Figura estável N-hidroxi-L-arginina. Na segunda etapa, N-hi
11.1, p. 443). Além do grupo heme e do sítio de ligação droxi-L-arginina é oxidada a NO e citrulina. Note que a
ao substrato, os domínios oxigenase das NOSs também fonte de NO é o grupo guanidino do substrato, arginina.
contêm um sítio para ligação de tetra-hidrobiopterina, Esse processo inteiro requer 2 moléculas de oxigênio
que aparentemente funciona no transporte de elétrons, e 1,5 moléculas de NADPH e, como o dos citocromos
e um átomo de zinco tetra-coordenado, que é importan P450, é inibido por monóxido de carbono.
te para a integridade estrutural.

FIGURA 11.19 Diagrama em fita do domínio redutase da


nNOS derivado de sua estrutura cristalina.
FIGURA 11.18 Modelo da estrutura dimérica do heme Similarmente à citocromo P450 redutase, vários subdomínios
da NOSIII bovina mostrando os grupos prostéticos estão presentes – o domínio de ligação de FMN (azul),
azul),
), o do
protoporfirina IX (vermelho) e tetra-hidrobiopterina mínio de ligação de FAD/NADPH (verde)
verde)) e o domínio interve
(amarelo). niente de conexão (púrpura). Ao contrário da P450 redutase,
Os dois monômeros são representados em azul claro e azul a nNOS redutase contém um sítio de ligação para calmodulina
escuro, respectivamente. O substrato L-arginina (verde) está (não evidente no diagrama), e regiões regulatórias (vermelho)
no sítio ativo da NOSIII. Um átomo de zinco está na interface no C-terminal (CT), no domínio FMN (AR), e no domínio de
entre os dois monômeros. conexão (SI). São mostrados cofatores em modelo de hastes:
Gerado a partir do Protein Data Bank arquivo 2NSE, deposita azul, FMN; amarelo, FAD; e vermelho, NADP+.
do por C. S. Raman, H. Li, P. Martasek, V. Kral, B. S. Masters Gerado a partir do Protein Data Bank arquivo 1TLL, deposita
e T. L. Poulos, usando WebLab Viewer Lite (Molecular Simu do por E. D. Garcin, C. M. Bruns, D. J. Lloyd, D. J. Hosfield et
lations, Inc.). al. Usando WebLab Viewer Lite (Molecular Simulations, Inc.).

O domínio redutase da NOS é estruturalmente mui A cadeia geral de transferência de elétrons e o meca
to semelhante ao da citocromo P450 redutase (compa nismo pelo qual as NOSs formam NO é semelhante aos
re a estrutura cristalina do domínio redutase da nNOS dos citocromos P450, mas há algumas diferenças signifi
na Figura 11.19 com o da citocromo P450 redutase na cativas na regulação do processo de transferência de elé
Figura 11.4, p. 444). Eles compartilham quase 60% de trons. O mais óbvio é que as NOSs constituitivas reque
homologia de sequência, e a arquitetura geral e as es rem ligação com calmodulina. A calmodulina não está
truturas de subdomínios, o domínio FMN, o domínio ligada à enzima nos níveis intracelulares basais de cálcio.
de conexão e o domínio de ligação de FAD/NADPH são É necessário um in�uxo de cálcio para elevar a concen
muito semelhantes entre si. A diferença estrutual pri tração de cálcio, aumentando a ligação de cálcio à calmo
mária entre as duas é a inclusão, no domínio redutase dulina (p. 514). O complexo cálcio–calmodulina liga-se
da NOS, de vários elementos regulatórios, que são ape e ativa NOSs. Em ausência de ligação com calmodulina,
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 463

a redução do heme ocorre apenas H2N NH2+ H2NN OH H2NO


entre
formação
muitoFAD FMN
lentamente
dee NO, eeaénão
transferência
também
suporta
lena
NH NH OO H2O NH
OO H2O
ta. A ligação de calmodulina cau + N O
sa uma mudança conformacional NADPH NADP+ 0.5 NADPH 0.5 NADP+
na enzima, potencializando a
�avinas
produtivae do
permitindo
transferência heme.
de Osadomínios
elétrons redução
entre as C NH3+ C NH3+ C NH3 +
O O− O O− O O−

L-Arginina NG-Hidroxi-L-arginina L-Citrulina Óxido nítrico


redutase das NOSs também con
têm várias regiões regulatórias, FIGURA 11.20Produção de óxido nítrico.
mostradas na Figura 11.17 e na As NOSs catalizam a formação de NO a partir de L-arginina por duas etapas sequenciais de
Figura 11.19, que estão envolvidas monoxigenação que parecem ser mecanisticamente semelhantes à do sistema de citocromo
na transdução do sinal da ligação P450 microssomal. O átomo de nitrogênio (azul) do NO é derivado do grupo guanidino da
da calmodulia pela enzima. Além cadeia lateral da arginina, e o átomo de oxigênio (vermelho) do NO é derivado do oxigênio
molecular.
do sítio de ligação a calmoduli
na, as regiões regulatórias presentes nas NOSs incluem auto-oxidação do complexo óxi-ferroso. Na presença de
uma extensão C-terminal do domínio de ligação FAD/ tetra-hidrobiopterina, mas em ausência de substrato,
NADPH, um inserto de 45-50 resíduos no domínio FMN, NOS também pode formar peróxido de hidrogênio, em
e uma pequena inserção no domínio de conexão. Todas decorrência da formação e do subsequente decaimento
as isoformas de NOS incluem o inserto C-terminal, mas do complexo peróxi-ferroso. A formação dessas espé
apenas as isoformas denominadas constitutivas contêm cies reduzidas de oxigênio foi implicada em vários pro
os insertos dos domínios FMN e de conexão. cessos de doenças in�amatórias, como disfunção endo
telial e também lesão por isquemia/reperfusão, quando
Outra diferença entre as NOSs e os P450s é que a tecidos são primeiro depletados de oxigênio e, depois,
ligação do substrato não é necessária para que as NOSs reperfundidos com sangue rico em oxigênio. Esse tipo
iniciem o ciclo de reação, e a ligação do substrato não de lesão ocorre na trombose cerebral e em tecidos re
altera o potencial de redução do heme. Se o substrato movidos para transplante.
não estiver presente, o elétron transferido para o heme
pode ativar oxigênio molecular, formando o complexo
oxi-ferroso, que pode decair e ser liberado como supe
róxido. Se o segundo elétron for transferido antes que a 11.8 ISOFORMAS DA ÓXIDO
liberação ocorra, a forma peróxido oxigênio é gerada, a
qual se dissociará como peróxido de hidrogênio. Assim, NÍTRICO SINTASE E
se o substrato não estiver presente, mas a NOS estiver
ativa, espécies reativas de oxigênio, potencialmente
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS
destrutivas, podem ser formadas. Além disso, um co Existem três isoformas principais de NOS, neuronal
fator tetra-hidrobiopterina é necessário para a síntese (NOSI ou nNOS), indutível (NOSII ou iNOS) e endote
de NO pela NOS, mas não é necessário para nenhum lial (NOSIII ou eNOS), embora variações em cada um
citocromo P450 conhecido. Tetra-hidrobiopterina serve desses tipos ocorra em muitos organismos diferentes.
como doador de elétrons para o complexo óxi-ferroso As propriedades dessas isoformas são resumidas na Ta
(ou seja, a forma do heme reduzida por um elétron, liga bela 11.4.
da ao oxigênio) da NOS, entregando o segundo elétron
para o heme muito mais depressa do que a transferên Muitas das funções fisiológicas do NO são mediadas
cia interdomínio, relativamente lenta, de um elétron pela ativação da guanilato ciclase solúvel, uma proteí
do FMN da NOS. Assim, na ausência de tetra-hidro na heterodimérica (a/b) contendo heme, que converte
biopterina, NOS produzirá superóxido em virtude da GTP em cGMP. cGMP é um segundo mensageiro en

TABELA 11.4 Propriedades das Isoformas de NOS


Propriedade NOSI NOSII NOSIII
Massa molecular 160 kDa 130 kDa 135 kDa
Expressão Constitutiva Indutível Constitutiva
Fração celular Citoplasmática Citoplasmática Ligada a membrana
Dependência de in�uxo de cálcio Dependente Independente Dependente
Ação fisiológica Neurotransmissão Citotoxicidade Vasodilatação
464 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

volvido em muitas cascatas de transdução de sinal (p. (Figura 11.22) em uma retroalimentação (feedback)
549). A forma inativa da guanilato ciclase solúvel tem positiva. O NO foi implicado na sinalização neural, na
um heme penta-coordenado, ligado por uma histidina neurotoxicidade, na plasticidade sináptica, no aprendi
na subunidade b. NO liga-se como sexto ligante para zado e na memória, bem como na percepção de dor.
formar um heme hexa-coordenado, e causa quebra da
ligação heme-histidina, gerando o complexo nitrosil
penta-coordenado ativo da guanilato ciclase solúvel GTP cGMP
pré-sináptico
Terminal
(Figura 11.21). A ativação da guanilato ciclase solú
vel causa aumento de até 400 vezes na taxa de forma SGC Ca2+
ção de cGMP. Os níveis de cGMP são regulados por um CaM
equilíbrio entre a atividade da guanilato ciclase e da Glutamato Receptores
fosfodiesterases (PDE), particularmente PDE5, especí
fica para cGMP, que hidrolisa cGMP a 5!-GMP, desligan
Ca2+/
do-se assim o sinal. NMDA CaM

L-arg Ca2+/
NOSI NO
CaM
NOSI
NOSI é encontrada primariamente em músculo es
quelético e em neurônios, tanto do sistema nervoso cen Neurônio pós-sináptico
tral como do periférico. É uma enzima solúvel, embora
se localize na membrana via interações proteína–prote FIGURA 11.22 NO produzido por NOSI no sistema
ína com uma gama de proteínas regulatórias e de loca nervoso central.
lização. É expressa constitutivamente, o que significa Nesse caso, NO é produzido pela célula pós-sináptica e vol
que não é normalmente induzida em nível transcrip ta para a célula pré-sináptica, onde ativa sGC, criando cGMP
cional, e é ativada pelo in�uxo de cálcio. No caso da que ativa PKG. PKG fosforila proteínas nas vesículas de neu
rotransmissor, levando à liberação de mais neurotransmissor e
NOSI (e da NOSIII, p. 466), calmodulina (p. 514) não
potenciando o sinal.
está ligada à enzima nos níveis intracelulares basais de
cálcio. É necessário um in�uxo de cálcio para elevar a Além de seus domínios oxigenase e redutase, NOSI
concentração intracelular de cálcio, permitindo que a tem um domínio PDZ N-terminal de 300 aminoácidos,
calmodulina se ligue e, assim, ative a formação de NO. que medeia sua interação com outras proteínas. No sis
A quantidade de NO sintetizado no estado ativado é tema nervoso central, o domínio PDZ da NOSI interage
muito baixa, isto é, picomolar. O NO produzido serve com a proteína de densidade pós-sináptica PSD-95. O
como um neurotransmissor nos sistemas nervosos cen receptor NMDA também interage com PSD-95, aproxi
tral e periférico. No músculo esquelético, o NO também mando muito NOSI e o receptor NMDA, de modo que
serve de mediador da força contrátil. NOSI fica diretamente exposta ao cálcio entrando pelo
canal iônico do receptor NMDA ativado.
No sistema nervoso central, o NO é produzido ge
ralmente pela nNOS no neurônio pós-sináptico, mas di O NO é muito diferente de outros neurotransmisso
funde de volta na sinapse para o neurônio pré-sinápti res conhecidos (p. 965). O NO é sintetizado por deman
co. A síntese de NO é regulada pelo in�uxo de cálcio por da e não pode ser armazenado em vesículas lipídicas,
canais dependentes de receptor, isto é, após estímulo uma vez que se difunde livremente através de membra
pós-sináptico dos receptores de N-metil-D-aspartato nas. A ação do NO não é terminada por degradação ou
(NMDA) pelo neurotransmissor excitatório glutamato. recaptação, mas é removido por interação com seu alvo,
A guanilato ciclase é ativada por NO, produzindo cGMP, que é um segundo mensageiro intracelular, e não um
que regula a síntese dos neurotransmissores norepine receptor ligado à membrana.
frina e glutamato, aumentando assim a produção de NO
No sistema nervoso periférico, NO é produ
Inativo Ligado Ativo
zido pela nNOS de neurônios mioentéricos dos
His
sistemas gastrointestinal, pulmonar, vascular e
His
α1NO β1 α1 His β1 α1 β1
urogenital. No sistema gastrointestinal, NO está
Fe2+
FeFe
FeF envolvido na motilidade intestinal e no controle
Fe2+
FeFee2+
FeFeFeF
Fe 2+2+
2 do esfíncter pilórico. O NO medeia a principal via
NO broncodilatadora no sistema pulmonar humano
NO e está envolvido no controle neural do sistema
vascular, particularmente importante no �uxo
FIGURA 11.21 Ativação da guanilato ciclase solúvel por NO. sanguíneo cerebral. No sistema urogenital, NO
Redesenhado com base em figura de Bellamy, T. C. e Garthwaite, J. The está envolvido no controle uretal e da bexiga e na
receptor-like properties of nitric oxide-activated soluble guanylate cycla ereção peniana. Durante a excitação sexual, o NO
se in intact cells. Mol. Cell. Biochem. 230:165, 2002. é liberado dos nervos adjacentes aos vasos san
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 465

guíneos do pênis. O relaxamento desses vasos leva o NOSII


sangue a engurgitar os corpos cavernosos, produzindo
a ereção. NOSI é ativada nesses sistemas pelo in�uxo NOSII é encontrada primariamente em neutrófilos
de cálcio por canais de cálcio voltagem-dependentes e macrófagos ativados, astrócitos e hepatócitos, e está
(p. 500). Difunde para uma célula muscular lisa vizi envolvida na resposta imune precoce. É uma enzima
nha, causando ativação de guanilato ciclase solúvel. O solúvel e é induzida em nível transcripcional por citoci
músculo liso relaxa pelo mecanismo descrito a seguir, nas, como interferon-g, interleucina 1 e fator de necrose
para o músculo liso vascular. A Correlação Clínica 11.8 tumoral a, ou endotoxinas, como lipopolissacarídeos. A
descreve a manipulação terapêutica dos níveis de cGMP indução ocorre ao longo de várias horas, por meio da
para o tratamento da disfunção erétil. via in�amatória do NFkB. A calmodulina fica ligada à
NOSII em condições fisiológicas basais, isto é, indepen
Altos níveis de NOSI são expressos no músculo es dente de in�uxo de cálcio, de modo que a enzima está
quelético, onde está envolvida na mediação da força sempre ativada uma vez que tenha sido sintetizada. A
contrátil, inervação do músculo em desenvolvimento quantidade de NO sintetizado pela NOSII está na faixa
e, talvez, captação de glicose. Relaxamento do mús nanomolar, aproximadamente 1.000 vezes maior do que
culo esquelético por NO também ocorre pela via do a de NOSI ou NOSIII.
cGMP, pelo mecanismo descrito a seguir para o mús
culo liso vascular. NOSI é direcionada para o sarco O NO produzido pela NOSII é uma potente citotoxi
lema do músculo em virtude de sua associação com na, e seu principal papel é destruir patógenos fagoci
a-sintrofina, um membro do complexo da distrofina tados por neutrófilos e macrófagos. NOSII controla pa
muscular. NOSI é ativada pelo in�uxo de cálcio por tógenos intracelulares como, por exemplo, os parasitas
canais de cálcio voltagem-dependentes, bem como do plasmódio (malaria), schistosoma (esquistossomose),
retículo sarcoplasmático. leishmania (leishmaniose) e toxoplasma (toxoplasmo

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.8

Mecanismo de Ação de Sildenafil

Os níveis de nucleotídeos cíclicos (cGMP e cAMP) que está localizada em fotorreceptores da retina, e um
presentes nas células são dependentes não só de dos efeitos colaterais às vezes relatados com o uso de
sua formação pelas adenilato ou guanilato ciclases, Sildenafil é uma coloração azul-esverdeada na visão do
mas também de sua degradação por fosfodiesterases paciente.
(PDEs), que os hidrolisam aos 5!-nucleotídeos e, as
sim, desempenham um papel crítico na modulação Como PDE5 está presente no músculo liso vascular,
das vias de sinalização desses segundos mensageiros. o Sildenafil causa uma reduçãoão leve,leve,leve, clinicamenteclinicamenteclinicamente in-in-in
A inibição da destruição de nucleotídeos cíclicos por significante, na pressão sanguínea, em decorrência da
PDE prolongaria a resposta fisiológica desencadeada vasodilatação, mas, o que é mais importante, exacerba
pelos nucleotídeos cíclicos. O Sildenafil (Viagra), uma muito os efeitos de nitratos e de doadores externos de
droga prescrita para disfunção erétil, é um potente NO, como a nitroglicerina, usada para angina, causan
inibidor da PDE5, que é específica para cGMP e é en do uma hipotensão potencialmente fatal. Esses efeitos
contrada primariamente no corpo cavernoso humano hipotensivos ocorrem independentemente da sequên-ên
e no músculo liso vascular e gastrointestinal. No pê cia e/ou horário das drogas. O Sildenafil é, portanto,
nis, o NO produz ereção por uma via dependente de contraindicado para pacientes em uso de nitratos de
cGMP, como discutido no texto. À medida que cGMP qualquer forma. Além disso, o Sildenafil é metaboli
é degradado por PDE5, o sinal vasodilatador éé atenu-atenu zado pelas vias dos CYP2C9 e 3A4. A inibição dessas
vias por outras drogas pode aumentar a concentração
ado, e a ereção desaparece. O Sildenafil inibe a PDE5,
retardando a degradação de cGMP e, assim, prolon plasmática de Sildenafil, intensificando os efeitos co
gando a ereção. laterais.
Cheitlin, M.D., Hutter, A. M., Brindis, R. G., Ganz, P., Kaul,
O Sildenafil é muito seletivo para PDE5 em relação
S., Russell, R. O., et al. Use of Sildenafil (Viagra) in patients
a PDE3, uma PDE específica para cAMP envolvida na with cardiovascular disease. J. Am. Coll. Cardiol. 33:273,
regulação da contratilidade cardíaca. Isso é importante 1999; Corbin, J. D., Francis, S. H. e Webb, D. J. Phosphodieste
porque a inibição de PDE3 aumenta a incidência de ar rase type 5 as a pharmacologic target in erectile dysfunction.
ritmias cardíacas e diminui a mortalidade a longo prazo Urology 60:4, 2002; e Seftel, A. D. Phosphodiesterase type 5
em pacientes com insuficiência cardíaca. Curiosamen inhibitor differentiation based on selectivity, pharmacokine
te, o Sildenafil também inibe, em menor grau, PDE6, tic, and efficacy profiles. Clin. Cardiol. 27: I14, 2004.
466 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

se), bem como micróbios como, por exemplo, bactérias in�amatórias crônicas, incluindo artrite reumatoide,
e micobactérias (tuberculose e lepra), fungos e até cé doença de Crohn e asma, em que pode potencialmente
lulas tumorais. Os alvos celulares do NO produzido pela exacerbar algumas situações, embora efeitos protetores
NOSII são heme-proteínas contendo metal, como cito também tenham sido descritos.
cromos P450, e proteínas ferro-enxofre, como aconitase
e os complexos mitocondriais I e II, todos os quais são
inibidos. O NO também reage com grupos tiol e tirosi NOSIII
nas, causando nitrosação ou oxidação de proteínas, e
NOSIII é encontrada primariamente em células
com oxigênio ou superóxido, formando compostos óxi
endoteliais vasculares, que recobrem todos os vasos
dos de nitrogênio muito reativos, por exemplo, peroxini
sanguíneos e miócitos cardíacos. Está localizada na
trito. Esses intermediários reativos causam uma varie
membrana em virtude da miristoilação cotradução e
dade de alterações no DNA, incluindo clivagem de fita
palmitoilação pós-tradução da extremidade N-termi
e deaminação. Essas modificações, portanto, afetam
nal. Como a NOSI, é expressa constitutivamente e é ati
muitas enzimas metabólicas cruciais, levando a efeitos vada pelo in�uxo de cálcio, que se liga à calmodulina
citostáticos e citotóxicos contra esses patógenos.
facilitando sua ligação com ambas NOSI e NOSIII para
Embora o NO seja essencial para a funçãoão antimi-antimi ativação. A quantidade de NO sintetizado no estado ati
crobiana dos macrófagos, a superprodução de NO pela vado é muito baixa, isto é, picomolar, e o NO produzido
NOSII foi implicada no choque séptico circulatório in serve de vasodilatador do músculo liso vascular, me
duzido por citocina. O choque séptico é caracterizado diado por ligante e dependente do �uxo. O NO também
por uma resposta in�amatória sistêmica à infecção mi desempenha funções antitrombóticas e anti-in�amató
crobiana, na qual a pressão sanguínea cai rapidamente, rias, por inibir adesão e agregação de plaquetas e leu
mediada pela superprodução de NO, levando à queda cócitos. Além disso, NO também inibe angiotensina II,
na perfusão dos tecidos e no aporte de oxigênio e, even um vasoconstritor.
tualmente, à falência múltipla dos órgãos. A hipotensão
A síntese de NO pela NOSIII é ativada em resposta
nesses pacientes é geralmente refratária às drogas va
a aumento do cálciocálcio apósapós ligaçãoligação dede ligantesligantes comocomo ace-ace
soconstritoras convencionais. O papel do NO no choque
tilcolina, bradicinina, histamina ou insulina, ou após
séptico e as intervenções terapêuticas com inibidores
estresse de �uxo (shear stress), a força mecânica do
de NOS são discutidos na Correlação Clínica 11.9.
�uxo sanguíneoíneo sobresobre aa superfíciesuperfície luminalluminal dodo endoté-endoté
Além de ser produzido durante a in�amação aguda, lio vascular. Velocidade aumentada do �uxo sanguíneo,
o NO é gerado pela NOSII durante a in�amação crô portanto, estimula aa liberaçãoliberação dede cálciocálcio ee aumentaaumenta aa ati-ati
nica. NOSII está presente e ativa em várias condições vidade da NOSIII, levando à vasodilatação.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.9

Superprodução de Óxido Nítrico no Choque Séptico

Embora o NO seja essencial nas funções tumorici de choque séptico. Curiosamente, embora a inibição
da e bactericida de macrófagos, a superprodução de da NOS eleve a pressão sanguínea e a resistência vas
NO (pela NOSII) tem sido implicada no choque sépti cular sistêmica rapidamente e com sucesso, ela tam
co circulatório induzido por citocina, no homem. No bém causa uma progressiva queda no débito cardíaco
choque séptico, a produção excessiva de NO leva a e exacerba a disfunção de órgãos,órgãos,s, levandolevandolevando aaa morta-morta-morta
uma importante vasodilatação sistêmica e uma que lidade aumenada nos ensaios clínicos. Assim, o NO
da rápida e geralmente fatal da pressão sanguínea, o desempenha um papel prejudicial no choque séptico,
que gera um suprimento insuficiente de sangue e oxi devido à sua mediação da hipotensão, mas também
gênio para órgãos periféricos, eventualmente levando pode desempenhar um papel benéfico na sobrevivên
à falência múltipla dos órgãos. O choque séptico está cia, talvez devido às propriedades do NO na vasodi
associado com uma taxa de mortalidade extrema latação localizada ou na antiagregação plaquetária,
mente elevada de 50%–70%; mais pessoas morrem na antiadesão de leucócitos, na antiapoptose ou an
anualmente de choque séptico do que de infarto do tioxidação.
miocárdio, acidente vascular cerebral, trauma, ou
câncer de pulmão ou mama. A hipotenção induzida
Assreuy, J. Nitric oxide and cardiovascular dysfunction
por NO nesses pacientes ocorre pelo mecanismo de in sepsis. Endocr. Metab. Immune Disord.-Drug Targets 6:
relaxamento da musculatura lisa, isto é, ativação da 165, 2006; Cauwels, A. Nitric oxide in shock. Kidney Int. 72:
guanilato ciclase. Intervenção terapêutica com inibi 557, 2007; and Vallance, P. Nitric oxide: Therapeutic opportu
dores de NOS está sendo investigada para tratamento nities. Fund. Clin. Pharmacol. 17: 1, 2003.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 467

O NO se difunde para fora da célula endotelial e para Assim como para NOSI, os níveis de cGMP são regu
dentro das células musculares lisas adjacentes, onde se lados por um equilíbrio entre a atividade da guanilato
liga e ativa a guanilato ciclase solúvel, que faz cGMP ciclase e das fosfodiesterases, que hidrolisam cGMP a
(Figura 11.23). cGMP ativa a proteína quinase G, uma 5!-GMP e, assim, desligam a atividade da proteína qui
quinase dependente de cGMP que fosforila uma varie nase G e a vasodilatação. Vários tratamentos terapêuti
dade de canais, incluindo canais de cálcio tipo L, e re cos são baseados na administração de NO, tanto dire
ceptores, todos levando à inibição do in�uxo de cálcio tamente como em uma forma precursora. A Correlação
na célula muscular lisa. A vasoconstrição do músculo Clínica 11.10 discute o uso da administração direta de
liso vascular requer in�uxo de cálcio, o qual se liga à NO como tratamento terapêutico.
calmodulina que, por sua vez, ativa a quinase muscular
de cadeia leve (MLCK). MLCK então fosforila a cadeia NOSIII tem uma sequência N-terminal peculiar, que
leve da miosina (MLC, myosin light chain), levando à sofre miristoilação em um ponto, e palmitoilação em
formação de pontes cruzadas entre as cabeças de mio dois outros pontos dessa sequência,ência, localizandolocalizando aa en-en
zima na membrana, onde é direcionada para cavéolas
sina e o filamento de actina, resultando na contração
(p. 1001). A inibição do in�uxo de cálcio leva à diminui do plasmalema. As cavéolas são pequenas invaginações
ção no estímulo de MLCK pela calmodulina e diminuição da membrana plasmática, caracterizadas pela presen
na fosforilação de MLC, causando desenvolvimento di ça de proteínas chamadas caveolinas, que servem para
minuído da tensão do músculo liso e, portanto, vasodi organizar e ligar moléculas sinalizadoras como recep
latação. cGMP aumentado também causa diretamente tores, proteínas G e NOS, na membrana plasmática.
Nas concentrações citoplasmáticas baixas de cálcio, a
desfosforilação de MLC, por ativação da MLC fosfatase.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.10

História e Efeitos Biológicos da Nitroglicerina

Nitroglicerina, mais corretamente chamada glice NO. O mecanismo dessa redução não está esclarecido,
ril trinitrato (GTN), foi sintetizada pela primeira vez mas ALDH2 pode também estar envolvida nessa etapa,
por Ascanio Sobrero, em 1846. Como GTN era extre e demonstrou-se que membros da cadeia mitochondrial
mamente explosiva e muitos acidentes fatais aconte de transporte de elétrons reduzem nitrito a NO. Alter
ceram, Alfred Nobel desenvolveu um procedimento, nativamente, um importante mecanismo de redução de
em 1864, para estabilizar GTN misturando-a com ter nitrito pode ser por reação direta com hemoglobina de
ra diatomácea. A fortuna que ele fez com a dinamite é soxigenada ou mioglobina.
a base para os Prêmios Nobel, conferidos anualmente
na Suécia para contribuições excepcionais nos cam Quando usado por longos períodos de tempo para
pos de física, química, fisiologia ou medicina, litera condições crônicas, GTN perde gradativamente sua
tura, economia e paz mundial. Logo depois, em 1867, eficácia. Vários mecanismos foram propostos para
Sir Thomas Lauder Brunton relatou, pela primeira explicar a tolerância do paciente a essa droga. A bio
vez, o uso de amil nitrato inalado em seus pacientes transformação insuficiente de GTN pela ALDH2, que
com dores no peito e, em 1879, William Murrell pu ocorre na depleção de uma ALDH2 redutora, ou o
blicou um artigo descrevendo o uso do composto de aumento no estresse oxidativo, em virtude do meta
maior duração e mais convenientes que o GNT para bolismo mitocondrial prejudicado, são duas possibi
aliviar melhor a dor da angina pectoris. O GTN fun lidades.
ciona por meio da dilatação das artérias do coração,
permitindo assim mais oxigenação do tecido. Ironica Beretta, M, Gruber, K., Kollau, A., Russwurm, M., et al.
mente, Murrell morreu em 1912 de insuficiência car Bioactivation of nitroglycerin by purified mitochondrial
díaca não-tratada, nunca tendo tomado GTN, e Nobel and cytosolic aldehyde dehydrogenases. J. Biol. Chem.
283: 17873, 2008; Chen, Z. Q., Zhang, J., and Stamler, J. S.
recusou-a quando foi prescrita por seu médico para
Identification of the enzymatic mechanism of nitroglycerin
doença cardíaca.
bioactivation. Proc. Natl. Acad. Sci., USA 99: 8306, 2002;
Só em 1987, mais de um século após a publicação Marsh, N., and Marsh, A. A short history of nitroglycerine
and nitric oxide in pharmacology and physiology. Clin. Exp.
de Murrell, que o óxido nítrico liberado no metabolis
Pharm. and Physio. 27: 313, 2000; Napoli, C., and Ignarro,
mo de GTN foi postulado como sendo o agente ativo da L. J. Nitric oxide-releasing drugs. Annu. Rev. Pharmacol.
dilatação dos vasos sanguíneos coronários. Só 15 anos Toxicol. 43: 97, 2003; e Wells, W. From explosives to the
mais tarde, o mecanismo da liberação do óxido nítrico gas that heals. Escrito para “Beyond Discovery: The Path
da nitroglicerina foi elucidado. A aldeído desidrogenase from Research to Human Benefit,” 2002. Esse artigo pode
mitocondrial (ALDH2) metaboliza GTN a 1,2-glicerol ser acessado em http://www.beyonddiscovery.org/content/
dinitrito e nitrito. O nitrito e mais reduzido, formando view.article.asp?a_318.
468 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Acetilcolina caveolina-1 liga-se e inibe NOSIII, mantendo-a em esta


Bradicinina
Substância-P
do inativo. No in�uxo de cálcio, a calmodulina desloca
Endotoxina L-arg Forças de fluxo
Insulina competitivamente a caveolina da NOSIII, resultando na
citocinas ativação da síntese pela NOS.
+ +
Ca++ R
NOSII
L-arg
+ árias outras proteínas importantes para a ativi
Várias
NOSIII +
dade de NOSIII também estão localizadas nas cavéo
Célula endotelial NO + citrulina las. O transportador de aminoácidos catiônicos CAT-1,
presente nas cavéolas, está envolvido na captação de
L-arginina, garantindo assim um suprimento de subs
Célula NO + GC cGMP
trato para a síntese de NO. NOSIII interage com porina,
alvo GTP um canal de ânion/cátion voltagem-dependente, que lo
caliza NOSIII perto de uma fonte de in�uxo de cálcio.
Figura 11.23 NO produzido pela NOSIII na célula O receptor B2 de bradicinina também está presente, e
endotelial. liga-se e inativa NOSIII. Após estimulação por bradi
A concentração de cálcio na célula endothelial sobe em virtude cinina, esse complexo se dissocia e NOSIII é ativada.
da ligação de ligante ou estresse de �uxo (shearstress), levan
A localização nas cavéolas é um importante regulador
do à ativação da produção de NO pela NOSIII. O NO se difunde
através da membrana da célula endothelial para uma célula de da atividade de NOSIII; se a palmitoilação for inibida,
músculo liso, onde ativa sGC. NOSIII não é encontrada nas cavéolas, e síntese de NO
Redesenhado com base em figura de Klabunde, R. E. Cardio não ocorre nessas células. Palmitoilação é um processo
vascular Physiology Concepts. Essa figura pode ser acessada reversível, que é in�uenciado por alguns agonistas e é
em http://cvphysiogy.com/blood%20Flow/BFO11.htm. essencial para localização na membrana; relocalização
celular, resultando em inativação, pode ocorrer por
despalmitoilação.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.11

Usos Terapêuticos de Óxido Nítrico Inalado

O óxido nítrico distribuído sistemicamente causa disfunção erétil, para aumentar ou prolongar os efeitos
hipotensão sistêmica, limitando drasticamente sua uti vasodilatadores do NO inalado. Como discutido na Cor
lidade como agente terapêutico. Por outro lado, o óxido relação Clínica 11.8, o Sildenafilinibe a quebra de cGMP
nítrico que é inalado, teoricamente deveria relaxar a por inibir a fosfodiesterase específica para cGMP, PDE5,
vasculatura pulmonar, mas qualquer excesso de NO que uma isoforma muito expressa no pênis, retina e tecido
atingisse a corrente sanguínea seria eliminado por óxi pulmonar. Em pacientes com hipertensão pulmonar, a
-hemoglobina, impedindo assim a vasodilatação sistê vasodilatação pulmonar mediada pelo NO inalado foi
mica. De fato, estudos demonstraram que a inalação de aumentada e prolongada pelo tratamento conjunto com
NO aumenta a oxigenação sistêmica de recém-nascidos Sildenafil.
hipoxêmicos com hipertenção pulmonar persistente do
recém-nascido (PPHN). NO inalado também diminui a Curiosamente, embora o NO inalado não tenha efei
incidência de, e mortalidade por, displasia broncopul to sobre a pressão sanguínea sistêmica, outros efeitos
monar (BPD) em bebês prematuros. Em adultos, doen sistêmicos foram relatados, incluindo inibição plaquetá
ça pulmonária obstrutiva crônica (COPD) foi tratada ria e leucocitária, que resulta em trombose diminuída e
com sucesso com uma combinação de oxigênio suple redução na lesão por isquemia/reperfusão. Acredita-se
mentar e NO; tal regime reduziu a pressão arterial pul que esses efeitos sistêmicos sejam mediados por tióis de
monar e a resistência vascular pulmonar e aumentou o baixo e de alto peso molecular, originários do sangue,
débito cardíaco nos pacientes tratados. que reagem com NO e o transportam em sua forma está
vel pelo corpo. A hemoglobina S-nitrosilada e albumina
Entretanto, muitos pacientes não respondem à te sérica, bem como outras nitrosaminas, ferro-nitrosilas e
rapia com NO inalado. Além disso, os efeitos do NO lipídeos nitrados são mediadores propostos.
são transitórios e desaparecem quando o tratamento é
descontinuado, exigindo terapia contínua. Aproxima Bloch, K. D., Ichinose, F., Roberts, J. D., Jr., and Zapol, W.
damente, 70% do NO inalado é excretado na urina na M. Inhaled NO as a therapeutic agent. Cardiovascular Res.
forma de nitrato, em 48 h. Vários estudos descreveram 75: 339, 2007; e Griffiths, M. J. D. and Evans, T. W. Inhaled ni
o uso de Sildenafil, uma droga usada no tratamento de tric oxide therapy in adults. N. Engl. J. Med. 353: 2683, 2005.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 469

CORRELAÇÃO CLÍNICA 11.12

O Papel de eNOS na Disfunção Endotelial

O óxido nítrico produzido pela eNOS nas células lugar de óxido nítrico, exacerbando ainda mais o es
endoteliais vasculares é responsável pela regulação do tresse oxidativo. Na ausência de NO e na presença de
tônus vascular, pela inibição da agregação e adesão de estresse oxidativo, várias vias pró-in�amatórias e pró
plaquetas e leucócitos, pela expressão diminuída de -ateroscleróticas são ativadas; essa é a base molecular
genes pró-in�amatórios, e limitação da proliferação primária da disfunção endotelial.
de células musculares lisas vasculares. Defeito na fun
ção endotelial, disfunção endotelial, é caracterizado O tratamento com drogas antioxidantes, como vi
tamina C ou E, não restaura a biodisponibilidade dos
por síntese reduzida de NO levando a vasoespas
níveis de NO, nem melhora o desempenho cardíaco,
mo aumentado, in�amação vascular e trombose, e é
talvez porque as vitaminas não eliminam o superóxido
comumente visto conjuntamente com outros fatores
antes que ele reaja com o NO. Uma das classes de dro
de risco cardiovasculares, como diabetes, hiperten
gas mais eficazes éé aa dasdas estatinas,estatinas, queque funcionamfuncionam di-di-di
são, aterosclerose ou hipercolesterolemia. Acredita
minuindo o estresse oxidativo, via inibição da atividade
-se que estresse oxidativo vascular, devido à produção
da NADPH oxidase, uma fonte importante de produção
aumentada de espécies reativas de oxigênio, particu
de superóxido, e aumentando a produção de NO pela
larmente superóxido, contribua para a disfunção en
eNOS, via expressão proteica e fosforilação. Inibidores
dotelial devida, em parte, à reação do superóxido com
da enzima conversora de angiotensina (ACE) e agonis
NO para formar peroxinitrito. Não apenas menos NO
tas do receptor de angiotensina II também aumentam
está disponível para sua função biológica protetora,
mas o pexorinitrito é um poderoso agente oxidante e efetivamente o desempenho cardíaco. Essas drogas di
minuem a formação/ação da angiotensina II, uma pro
nitrosante de moléculas, que pode danificar moléculas
teína que ativa as NADPH oxidases, reduzindo assim o
de proteínas, DNA e lipídeos. Nitração covalente de
estresse oxidativo.
resíduos de tirosina de proteínas por espécies reativas
de oxigênio é frequentemente usado como um marca Forstermann, U. Oxidative stress in vascular disease:
dor de estresse oxidativo. Peroxinitrito é também res Causes, defense mechanisms, and potential therapies. Nat.
ponsável pela depleção de tetra-hidrobiopterina, que Clin. Pract. Cardiovasc. Med., 5, 338, 2008; e Liao, J. K.
leva ao desacoplamento da transferência de elétrons Beyond lipid lowering: The role of statins in vascular protec
na eNOS, levando a eNOS a produzir superóxido, em tion. Int. J. Cardiol. 86: 5, 2002.

Muitos processos de doenças, como hipertenção, Todas as NOSs produzem NO, que desempenha
hipercolesterolemia e diabetes, levam a disfunção funções tão diversas como neurotransmissão, vaso
endotelial, que é caracterizada pelo comprometimento dilatação, relaxamento muscular e citotoxicidade. As
das funções normais das células endoteliais, incluindo consequências do NO podem ser benéficas, como na
vasodilatação e mediação da adesão plaquetária. Um manutenção do tônus vascular, aquisição de memória e
dos principais marcadores da disfunção endotelial é a aprendizado, e proteção contra a invasão de patógenos,
biodisponibilidade diminuída de NO, em decorrência da bem como deletéria, como no choque séptico ou na in
função diminuída de NOSIII. A Correlação Clínica 11.12 �amação crônica e respostas mutagênicas. O resultado
discute algumas funções possíveis para o NO em os me final do NO produzido depende de onde está sendo pro
canismos da disfunção endotelial. duzido, da regulação de sua produção, de quanto está
sendo produzido e que outras espécies reativas estejam
presentes.
470 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Bibliografia
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Acta 1770: 432, 2007. Fund. Clin. Pharmacol. 17:1, 2003.
Ignarro, L. J., Buga, G. M., Wood, K. S., Byrns, R. E., Walford, G., e Loscalzo, J. Nitric oxide in vascular biolo
e Chaudhuri, G. Endothelium-derived relaxing factor gy. J. Thromb. Haemostasis 1: 2112, 2003.
produced and released from artery and vein is nitric
oxide. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 84: 9265, 1987. Website: http://metallo.scripps.edu/PROMISE/NOS.html

Termos Chaves
arginina
citocromo P450
cGMP
calmodulina
cálcio cortisol heme proteína metabolismo de drogas
DHEA hidrofóbico metabolismo de xenobió
�avina interações droga–droga ticos
�avoproteína metabolismo de ácido metabolismo do oxigênio
fosforilação graxo mono-oxigenase
citocromo P450 redutase guanilato ciclase metabolismo de carcinó NADPH
genos neurotransmissão
citrulina heme
472 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

polimorfismos proteína quinase G retículo


sinalização
síntese
testosterona
de
endoplasmático
esteroide
gasosa tetra-hidrobiopterina
porfirina óxido nítrico transferência de elétron
proteína integral de mem- óxido nítrico sintase vasodilatação
brana resposta imune

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla-escolha E. reage diretamente com citocromo b5.
1. Todas as alternativas a seguir sobre uma molécula 5. O polimorfismo genético em genes de citocromo
designada como citocromo P450 são corretas, ex P450 poderia levar
ceto que ela A. um indivíduo a metabolizar mal certas drogas.
A. contém um heme como grupo prostético.
B. um indivíduo a metabolizar certas drogas mais
B. catalisa a hidroxilação de um substrato hidro rapidamente do que o normal.
fóbico. C. um grupo étnico específico a experimentar
C. pode aceitar elétrons de uma substância como mais efeitos com certas drogas.
o NADPH. D. todas as anteriores.
D. sofre mudança no ferro heme após ligação de E. nenhuma das anteriores.
um substrato.
6. Em presença de óxido nítrico sintase ativa, mas
E. vem da mesma família gênica que todos os ou
com ausência de substrato
tros citocromos P450.
A. elétrons não podem ser transferidos para o
2. As �avoproteínas são geralmente intermediárias heme.
na transferência de elétrons do NADPH para o ci
B. calmodulina não pode ligar Ca2+.
tocromo P450 porque
A. NADPH não pode atravessar a membrana. C. os domínios oxigenase e redutase se dissociam.
D. a produção de cGMP é aumentada.
B. �avoproteínas podem aceitar dois elétrons do
NADPH e doá-los, um de cada vez, para o cito E. serão formados superóxido e/ou peróxido de
cromo P450. hidrogênio.
C. têm um potencial de redução mais negativo do Questões 7 e 8: O acetaminofen, um analgésico e an
que o NADPH, de modo que aceitam elétrons tipirético, está disponível sozinho ou como um compo
mais facilmente. nente de muitas medicações vendidas sem prescrição
D. a produção de NADPH no citosol é a única fon médica. Superdosagem de acetaminofen, que pode le
te de elétrons. var a danos no fígado, é um significativo problema de
E. contêm centros ferro-enxofre. saúde. O consumo de bebidas alcoólicas pode exacerbar
o problema, especialmente se o acetaminofen for con
3. NADPH-citocromo P450 redutase sumido várias horas após a ingestão de álcool. O aceta
A. usa tanto FAD quando FMN como grupos minofen, em doses normais, não é tóxico porque é me
prostéticos. tabolizado usando mecanismos normais para aumentar
B. liga ao citocromo P450 por fortes interações A.
a solubilidade em água.
hidrofóbicas. 7. Normalmente, acetaminofen é primariamente me
C. requer um centro ferro-enxofre para atividade. tabolizado por
D. sempre passa seus elétrons para o citocromo b5. oxidação por citocromo P450 (CYP2E1).
E. pode usar NADH tão bem como NADPH. B. conjugação com glucuronídeo ou sulfato.
4. As reações depois da 21-hidroxilação levando a C. conjugação com glutationa.
cortisol e andrógenos ocorrem em mitocôndrias D. adição de um –OH ao anel.
que requerem NADPH-adrenodoxina redutase e E. redução com NADPH.
adrenodoxina; NADPH-adrenodoxina redutase
8. O álcool é um indutor e um substrato de CYP2E1.
A. contém ambos FAD e FMN.
O álcool ingerido ao mesmo tempo que o acetami
B. passa seus elétrons para uma proteína com nofen pode proteger o fígado de lesão. Qual das se
centros ferro–enxofre. guintes é correta?
C. é uma proteína integral de membrana. A. CYP2E1 metaboliza álcool, mas não acetami
D. reage diretamente com citocromo P450. nofen.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 473

B. CYP2E1 está aumentado e converte acetami por infecções bacterianas que produzem endotoxinas.
nofen em uma forma não tóxica. Tal hipotensão é frequentemente refratária ao trata
C. Ingeridos ao mesmo tempo, álcool e acetami mento com drogas vasoconstritoras convencionais.
nofen competem pelo CYP2E1, de modo que Essa hipotensão pode ser causada por uma superpro
menos metabólito tóxico é formado. dução de óxido nítrico, pela forma induzida da óxido
nítrico sintase (NOS). Administração de inibidores de
D. Com intervalo de tempo maior, só o álcool rea
NOS, específicos para essa forma, pode ser um trata
ge com CYP2E1.
mento apropriado para tais pacientes.
E. Nenhuma das anteriores.
11. O óxido nítrico
Questões 9 e 10: Como fitoterápicos são drogas que A. é formado espontaneamente por uma redução
não requerem prescrição médica, muitos pacientes não de NO2.
informam seus médicos que estão usando tais produ B. é sintetizado só em macrófagos.
tos. Um paciente foi informado por seu médico que seu
nível de colesterol sanguíneo não estava respondendo C. é sintetizado a partir de arginina.
à droga estatina, geralmente efetiva, que ele estava to D. age como um potente vasoconstritor.
mando. O paciente estava tomando, também, a erva de E. tem três isoformas.
São João, um agente fitoterápico, para melhorar seu hu
12. Óxido nítrico sintase
mor. A erva de São João induz uma atividade de citocro
mo P450 (CYP3A4). As estatinas são um grupo, dentre A. catalisa uma reação de dioxigenase.
muitas drogas, metabolizadas por CYP3A4. B. é semelhante aos citocromos P450 porque liga
zinco e tetra-hidrobiopterina.
9. A indução de citocromos P450
A. ocorre só por compostos exógenos. C. aceita elétrons do NADH.
D. usa um �uxo de elétrons de NADPH para FAD,
B. ocorre só em nível transcripcional.
para FMN, para ferro-heme.
C. necessariamente resulta de transcrição au E. é inibida por Ca2+.
mentada do mRNA apropriado.
D. requer a formação de um complexo indutor Problemas
-receptor. 13. O fenobarbital é um potente indutor de citocromo
D. pode ocorrer por processos pós-transcripcio P450. A warfarina, um anticoagulante, é um subs
nais. trato do citocromo P450, de modo que a droga é
10. As estatinas podem ser consideradas xenobióticos metabolizada mais rapidamente do que o normal.
Se o fenobarbital for dado a um paciente, sem mu
(substâncias exógenas metabolizadas pelo corpo). dar a dosagem de warfarina, o que aconteceria? O
Muitos xenobióticos são oxidados por citocromos
que aconteceria se a dosagem de warfarina fosse
P450 para
ajustada para uma resposta adequada e, então, o
A. torná-los carcinogênicos.
fenobarbital fosse retirado, sem ajustar a dose de
B. aumentar sua solubilidade em um ambiente warfarina?
aquoso.
14. A hiperplasia adrenal congênita (CAH) ocorre
C. aumentar sua deposição no tecido adiposo. em virtude de uma deficiência de CYP21A2, uma
D. aumentar sua atividade farmacológica. 21-hidroxilase do retículo endoplasmático. A doen
E. todos os anteriores. ça resulta em cortisol diminuído, ACTH aumenta
do, hormônios androgênicos aumentados e proble
Questões 11 e 12: Alguns pacientes apresentam pro mas relacionados com o equilíbrio salino. Explique
funda hipotensão após cirurgia abdominal complicada porque isso acontece.

Respostas
1. E Várias famílias gênicas são conhecidas. A: todos trar na membrana. C: se isso fosse verdade, o �u
os citocromos são heme-proteínas. B: os tipos de xo de elétrons não ocorreria da forma que ocorre.
substratos são hidrofóbicos. É classificado como D: NADPH é necessário para as reações mediadas
monoxigenase. C: este é o doador de elétrons por citocromo P450 no retículo endoplasmático e
usual. D: a mudança de hexa- para penta-coor na mitocôndria. E: centros ferro-enxofre desempe
denado dá ao composto um potencial de redução nham um papel em alguns, mas não em todos os,
mais positivo. sistemas.
2. B O heme pode aceitar apenas um elétron de cada 3. A Essa enzima é uma das duas proteínas de ma
vez, enquanto NADPH sempre doa dois de cada míferos conhecida que fazem isso. B: a ligação é
vez. A: NADPH passa só elétrons; não precisa en eletrostática. C: algumas redutases fazem isso, mas
474 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

não essa. D: só algumas reações catalizadas pela 10. B Xenobióticos oxidados por citocromo P450 são
enzima o fazem. E: existem redutases NADH-de geralmente muito lipofílicos, mas devem ser excre
pendentes, mas são enzimas diferentes. tados no meio aquoso da urina ou da bile. A: isso
pode acontecer, mas certamente não é o propósito.
4. B a proteína ferro-enxofre é a adrenodoxina. A: só C: fazem isso antes da oxidação. D: oxidação tende
tem FAD. C: fica fracamente associada com a mem
a reduzir a atividade farmacológica.
brana. D e E: adrenodoxina atua como uma lan
çadeira de elétrons entre a redutase e o heme do 11. C O outro produto é a citrulina. A: é formado a par
citocromo P450. tir de arginina. B: uma das isoformas da NO sintase
foi encontrada em macrófagos, mas isoformas neu
5. D A: isso ocorre se os variantes alélicos codifica
ronal e endotelial também existem. D: óxido nítri
rem proteínas inativas ou menos ativas. B: se hou
co é um vasodilatador. E: três isoformas de óxido
ver duplicação gênica, um indivíduo pode ter quan
nítrico sintase foram identificadas, mas óxido nítri
tidades maiores da proteína ativa. C: pode haver
co é um composto específico.
maior expressão de variantes alélicos em popula
ções étnicas específicas. 12. D Essa é uma de duas enzima de mamíferos que
usam ambos, FAD e FMN. A: a reação é uma mo
6. E O2 é ativado, levando a esses produtos tóxicos.
noxigenação. B: citocromos não se ligam a eles.
A: superóxido resulta da transferência. B e C: isso C: o doador é NADPH. E: o sistema requer Ca2+-
não acontece. D: o NO aumenta cGMP, e o NO não
-calmodulina, pelo menos as isoformas neuronal e
é formado em ausência de substrato.
endotelial.
7. B Esses são mecanismos comuns para aumentar
13. Se a warfarina for metabolizada e removida mais
a solubilidade em água. A: isso ocorre, mas nor
rapidamente pelo citocromo P450, sua eficiência
malmente em pequenas quantidades; o produto,
terapêutica é diminuída. Com a mesma dosagem,
NAPQ1, é o metabólito tóxico. C: glutationa é con
será menos eficiente como anticoagulante. Se o fe
jugada com NAPQ1 e o torna não-tóxico. D e E: não
nobarbital for retirado, os níveis de citocromo P450
ocorrem. cairão como tempo, até o nível não-induzido. Sem
8. C A competição diminui a produção de NAPQ1, modificação no nível de warfarina, eventualmente
o metabólito tóxico. A: ambos são substratos. B: haverá possibilidade aumentada de hemorragia.
CYP2E1 converte acetaminofen no metabótilo tó
14. Essa enzima converte 17-OH-progesterona em
xico. D: álcool é metabolizado mais rapidamente,
11-desoxicortisol, o precursor do cortisol. Ela tam
de modo que o CYP2E1 que ele induziu está dispo
bém converte progesterona em 11-desoxicorticos
nível para metabolizar acetaminofen.
terona, um precursor da aldosterona, que regula o
9. E Pode haver uma estabilização do mRNA ou uma equilíbrio salino. O cortisol diminuído leva a uma
diminuição da degradação da proteína. A: tanto secreção aumentada de ACTH graças a diminui
substâncias endógenas como exógenas podem in ção no controle de retroalimentação (feedback).
duzir citocromo P450. B e C: modificação trans ACTH elevado por período longo causa hiperpla
cripcional é apenas um dos mecanismos de indu sia adrenal e produção aumentada de hormônios
ção. D: isso foi demonstrado na indução de alguns androgênicos. Anormalidades no desenvolvimento
compostos, mas não todos. sexual são comuns em crianças com CAH.
PARTE III CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 475
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

12
Membranas Biológicas:
Estrutura, Receptores
e Transporte de Solutos
Thomas M. Devlin
Professor Emérito, Drexel University College of Medicine

CONTEÚDO 12.10 TRANSPORTADORES ATIVOS PRIMÁRIOS, 510


12.11 TOXINAS FORMADORAS DE POROS E IONÓ
12.1 INTRODUÇÃO, 476
FOROS, 516
12.2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS MEMBRANAS,
476
CORRELAÇÕES CLÍNICAS
12.3 MICELAS, BICAMADAS LIPÍDICAS E LIPOSSO
MOS, 484 12.1 Lipossomos como Carregadores de Drogas, Pro
teínas e Ácidos Nucleicos, 486
12.4 ESTRUTURA DAS MEMBRANAS BIOLÓGICAS,
486 12.2 Anomalias na Fluidez de Membranas Celulares
em Doenças, 492
12.5 RECEPTORES DE MEMBRANAS, 493
12.3 O Rim de Mamíferos e as Aquaporinas, 500
12.6 DESLOCAMENTO DE MOLÉCULAS ATRAVÉS
DE MEMBRANAS, 495 12.4 Doenças Que se Devem à Perda de Sistemas de
Transporte de Membranas, 507
12.7 CANAIS E POROS DE MEMBRANAS, 497
12.5 Fibrose Cística e o Canal de Cl–, 516
12.8 PROTEÍNAS DO TRANSPORTE DE MEMBRA
NA, 504 12.6 Doenças Que Envolvem a Superfamília de Trans
portadores ABC, 518
12.9 TRANSPORTADORES DIRIGIDOS POR POTEN
CIAL ELETROQUÍMICO, 507

Conceitos Chaves
• Os principais lipídeos de membranas biológicas são • As proteínas de membrana são classificadas em
glicerofosfolipídeos, esfingolipídeos e colesterol. integrais (fortemente ligadas) ou periféricas (que
A composição em lipídeos específicos varia com a se dissociam facilmente). As proteínas integrais
fonte da membrana. têm um único segmento ou múltiplos domínios de
aminoácidos que atravessam a bicamada lipídica.
• Em meio aquoso, lipídeos anfipáticos podem formar Algumas formam estruturas homo- ou hetero-oli
esferas (micelas) e vesículas (lipossomos), que têm
goméricas. Proteínas periféricas usam vários meios
uma membrana consistindo de uma bicamada de
para ligação à superfície da bicamada. A composi
lipídeos distribuídos aleatoriamente. Os grupos po
ção em proteínas varia dependendo da função da
lares ficam em contato com o meio aquoso. As mem
membrana.
branas biológicas têm uma estrutura semelhante.
476 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

• Os lipídeos e as proteínas se difundem livremen • Estruturas específicas de proteínas nas membra


te na bicamada no sentido lateral, mas não no nas facilitam o deslocamento através das membranas
transversal. As membranas biológicas têm uma de íons e compostos que não se difundem. Elas
assimetria química. Existem microdomínios de são classificadas como proteínas canais/poros ou
lipídeos-proteínas nas membranas, com funções transportadores. Transportadores facilitam o des
específicas. locamento sem investimento de energia metabóli
ca. Outros requerem energia da hidrólise do ATP
• Proteínas receptores de membranas interagem
ou um gradiente de [Na+] ou [H+] para o desloca
com fatores de crescimento, hormônios e outras
mento de um substrato.
moléculas pequenas, iniciando uma resposta celu
lar. Alguns receptores são canais iônicos, enquanto • Algumas toxinas formam poros em membranas. Io
outros iniciam reações enzimáticas ou interações nóforos facilitam o movimento de íons através das
intracelulares proteína–proteína. membranas.

12.1 INTRODUÇÃO são pontilhadas por proteínas globulares em relevo. São


estruturas dinâmicas que permitem às células e às es
As membranas das células eucarióticas ou procarió- truturas subcelulares ajustarem suas formas e muda
ticas têm as mesmas classes de componentes químicos, rem de posição. O lipídeo está em um estado líquido,
são semelhantes em organização estrutural e têm mui no qual tanto proteínas como lipídeos são capazes de se
tas propriedades em comum. Há diferenças, entretan difundir e interagir.
to, em componentes lipídicos, proteicos e carboidratos
As membranas celulares controlam a composição do
específicos. Elas têm uma aparência trilaminar quando
vistas por microscopia eletrônica (Figura 12.1), com espaço que englobam, por meio da exclusão de vários
duas faixas escura em ambos os lados de uma faixa cla íons e moléculas e pela presença de sistemas transpor
ra. A maioria das membranas de mamíferos tem uma tadores seletivos para o movimento transmembrânico
espessura de 7-10 nm, e uma camada densa interna de substâncias. As concentrações das substâncias nos
frequentemente mais espessa do que a camada densa compartimentos celulares são moduladas pelo controle
externa. As membranas intracelulares são geralmente do deslocamento de substratos, cofatores e íons através
mais finas do que as membranas plasmáticas. As mem das membranas. Reguladores extracelulares da função
branas têm uma assimetria química, e suas superfícies celular ligam-se a receptores proteicos nas membranas
plasmáticas e seu sinal é transmitido dos receptores da
membrana para a via metabólica adequada. As mem
branas plasmáticas desempenham um papel no reco
nhecimento célula–célula, na manutenção da forma
celular e na locomoção celular.

12.2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA


DAS MEMBRANAS
Os lipídeos e as proteínas são os principais compo
nentes de todas as membranas. Suas concentrações va
riam muito entre as membranas (Figura 12.2). As pro
teínas são responsáveis pela função das membranas e,
dependendo da fonte, membranas diferentes têm com
plementos proteicos muito diferentes. Uma pequena
quantidade de vários polissacarídeos, como glicoproteí
nas ou glicolipídeos, está presente em membranas, mas
não há carboidratos livres.

FIGURA 12.1 Micrografia eletrônica da membrana Lipídeos São Importantes


plasmática de eritrócitos mostrando a aparência
trilaminar. Componentes das Membranas
Um espaço claro separa as duas linhas elétron-densas. A mi
Glicerofosfolipídeos, esfingolipídeos e colesterol são
croscopia eletrônica demonstrou que a linha densa interna é
frequentemente mais grossa do que a linha externa. Aumento os três principais lipídeos componentes das membra
de cerca de 150.000 X.
nas eucarióticas. Glicerofosfolipídeos e esfingomielina,
Cortesia de J. D. Robertson, Duke University, Durham, NC. um esfingolipídeo que contém fosfato, são classificados
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 477

como fosfolipídeos. Bactérias e algas azuis-verdes con 1CH2OH

têm glicerolipídeos nos quais um carboidrato é ligado


diretamente ao glicerol. Algumas membranas contêm HO2C H
pequenas quantidades de outros lipídeos, como triacil OHOH
glicerol e diol derivados (ver p. 707, para estruturas),
bem como lipídeos covalentemente ligados a proteínas. 3CH2 O P OH
Os lipídeos têm um papel estrutural, embora muitos (a) O
também tenham outras funções celulares.

Lipídeo Proteína
(b)

Membrana % do componente FIGURA 12.3 L-Glicerol 3-fosfato.


0 100
(a) Configuração estereoquímica do L-glicerol 3-fosfato (sn
-glicerol 3-fosfato). O H e o OH ligados a C2 estão acima, e C1
Mielina
e C3 estão abaixo do plano da página. (b) Modelo de preenchi
Golgi
humano
Eritrócito mento de espaço de L-glicerol 3-fosfato. Esquema de cores: H,
branco; C, cinza; O, vermelho; N, verde; e P, amarelo.
(b) cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University,
Plasmática
PA

X
Retículo
endoplasmático O Cabeça
polar
Nuclear O P O–

Mitocondrial
Mitocondrialexterna O

1CH2 2CH 3CH2

interna O O

C O C O
FIGURA 12.2 Porcentagem de lipídeos e proteínas em
várias membranas celulares. CH2 CH2
Os valores são para fígado de rato, exceto para a mielina e a
CH2 CH2
membrana plasmática de eritrócito humano. Os valores do
fígado de outras espécies, incluindo a humana, indicam um CH2 CH2
padrão semelhante. CH2 CH2

CH2 CH2
Caudas
Glicerofosfolipídeos São os CH2 CH2 hidrofóbicas

Lipídeos Mais Abundantes das CH2 CH2

CH2 CH
Membranas
CH2 CH
Os glicerofosfolipídeos (fosfoglicerídeos) têm uma
CH2 CH2
molécula de glicerol com um fosfato esterificado no
carbono α (Figura 12.3) e dois ácidos graxos de ca CH2 CH2
deia longa esterificados nos átomos de carbono rema CH2 CH2
nescentes (Figura 12.4). O glicerol não contém car
CH2 CH2
bono assimétrico, mas os átomos de carbono α não
são estequiometricamente idênticos. A esterificação CH2 CH2
de um fosfato a um carbono α torna a molécula as CH2 CH2
simétrica. Glicerofosfolipídeos de ocorrência natural
CH2 CH2
são designados pelo sistema de numeração estereoes
pecífica (sn) (Figura 12.3), discutido na p. 728. CH3 CH3
(a) (b)
1,2-Diacilglicerol 3-fosfato, ou ácido fosfatídico,
é o composto parental dos glicerofosfolipídeos. Uma FIGURA 12.4 Estrutura de glicerofosfolipídeo.
(a) Ácidos graxos de cadeia longa são esterificados em C1 e C2 do
ponte fosfodiéster com glicerol liga colina, etanola
mina, serina, glicerol e inositol (Figura 12.5). Fosfa L-glicerol 3-fosfato. X pode ser H (ácido fosfatídico) ou um dentre os
vários alcoóis apresentados na Figura 12.5. (b) Modelo de preenchi
tidiletanolamina (etanolamina glicerofosfolipídeo ou mento de espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
cefalina) e fosfatidilcolina (colina glicerofosfolipídeo (b) Cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
478 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CH3CH e fosfatidilinositol 3,5-bisfosfato nos endossomos (Um


Colina HO CH2 CH2 N
+
3CH
3
Olhar Mais Atento 12.1).

Etanolamina HOCH2CH2 NH+3 OCH2 CHOH CH2O


OPO–

H –O OP
O

Serina CC
HOCH2 +O
NH3 OH O

CH2 CH CH2 CH2CH CH2

O O O O
H
C CO O C CO O
Glicerol HOCH2 CCH2 OH
CH2 CH2 CH2 CH2
OH

alifáticas
Cadeias
longas Cadeias
H H alifáticas
H OH longas
Inositol
OH OH
OH OH H FIGURA 12.7 Fosfatidilglicerol fosfoglicerídeo
H (cardiolipina).
H OH
Dois ácidos graxos são esterificados em C1 e C2
FIGURA 12.5 Estruturas dos principais alcoóis do glicerol nos glicerofosfolipídeos; os principais são
esterificados ao ácido fosfatídico para formar apresentados na Tabela 12.1. Um ácido graxo satura
glicerofosfolipídeos. do fica geralmente em C1 do glicerol, e um ácido graxo
insaturado em C2. Existem entre 500 e 1.000 espécies
moleculares de lipídeos nas membranas, principalmen
ou lecitina) são os glicerofosfolipídeos mais comuns nas te por causa do número de possíveis combinações de
membranas (Figura 12.6). Fosfatidilglicerol fosfogli ácidos graxos em diferentes fosfo e esfingolipídeos. A
cerídeo (Figura 12.7) (difosfatidilglicerol ou cardio designação das diferentes classes de fosfolipídeos não
lipina) contém dois ácidos fosfatídicos ligados por um especifica os ácidos graxos que contêm. A fosfatidilcoli
glicerol e é encontrado quase que exclusivamente nas na geralmente contém ácido palmítico ou esteárico em
membranas mitocondriais internas e em membranas C1, e um ácido graxo insaturado C18, oleico, linoleico ou
bacterianas. Inositol, um hexa-hidroxi álcool, é este linolênico, em C2.
rificado ao fosfato no fosfatidilinositol (Figura 12.8).
Diferentes derivados fosforilados estão localizados em Fosfatidiletanolamina contém ácido palmítico ou olei
diferentes membranas; fosfatidilinositol 4-fosfato pre co em C1, mas um ácido graxo poli-insaturado de cadeia
domina no Golgi, fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato nas longa, como o ácido araquidônico, na posição C2. Cada
membranas plasmáticas, e fosfatidilinositol 3-fosfato tipo de membrana celular tem uma composição distinta

CH3
O CH2N
CH2 + CH3 O CH2CH2NH3
+
CH3
OPO– O PO–

O O

CH2 CH CH2 CH2 CH CH2


CO
C
O O O O O

CCO O

CH2alifáticas
Cadeias
longas
CH2 CH2 CH2

Cadeias
alifáticas
longas

Fosfatidilcolina Fosfatidiletanolamina
(a) (b)

FIGURA 12.6 Estruturas dos dois glicerofosfolipídeos mais comuns.


(a) Fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina. (b) Modelo de para esquema de cores. (b) Cortesia do Dr. Daniel Predecki,
preenchimento de espaço da fosfatidilcolina. Ver Figura 12.3 Shippensburg University, PA.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 479

H H
2 3
UM OLHAR MAIS ATENTO 12.1
H OH O–
OH OH 4 Pode estar
1
OH H P OH presente em Fosfatidilinositóis Têm Muitas Funções
C-4 ou
6 5
H O C-4 e C-5
Os fosfatidilinositóis, nas células, têm várias fun
O H OH
ções. Eles estão envolvidos nas membranas como
fontes de segundos mensageiros (p. 552), na ativação
O P O–
de canais iônicos de membranas (p. 497),497),), nanana ativa-ativa-ativa
O ção de enzimas, envolvidos na endo- e na exocitose,
CH2 CHCH2
e como âncoras de proteínas (p. 490).490).). Fosfatidilinosi-Fosfatidilinosi-Fosfatidilinosi
tol 4,5-bisfosfato é a fonte dos segundos mensageiros
O O
CO inositol trisfosfato e diacilglicerol (p. 553), que estão
CO envolvidos na ação de alguns hormônios. Presume
CH2 CH2 -se que fosfatidilinositol 3-fosfato e fosfatidilinositol
3,5-bisfosfato estejam envolvidos no controle do trá
fego de membranas em endossomos. Também estão
Cadeias envolvidos com o citoesqueleto e o controle da for
alifáticas ma e da mobilidade celular, e estão implicados em
longas
funções citosólicas e nucleares. Enzimas que meta
FIGURA 12.8 Fosfatidilinositol. bolizam fosfatidilinositóis foram ligadas a doenças
Grupos fosfato também são encontrados em C-4 ou C-4 e C-5 humanas.
do inositol. Os grupos fosfato adicionais aumentam a carga da
cabeça polar desse glicerofosfolipídeo. Di Paolo, G. e De Camilli, P. Phosphoinositides in cell
regulation and membrane dynamics. Nature 443: 651,
de grupos ácidos graxos em seus glicerofosfolipídeos. A 2006.
composição em ácidos graxos dos lipídeos tem um im
pacto significativo na função da membrana. Grupos de
ácidos graxos do mesmo tecido em diferentes espécies células de câncer metastático, sugerindo um papel para
são muito semelhantes. A composição em grupos acil os lipídeos nas propriedades invasivas dessas células.
pode mudar em diferentes condições
nutricionais e patofisiológicas. COOH COOH COOH

Um ácido graxo saturado é uma


cadeia reta, assim como um ácido
graxo insaturado trans. Duplas liga
ções em cis, que ocorrem na maioria
dos ácidos graxos de ocorrência natu
ral, criam uma dobra na cadeia hidro
carbônica (Figura 12.9). A presença
de
folipídeo
ácidostem um efeito
graxos insaturados
notávelnosobre
fos- 110°
123° 123°
a fluidez da membrana (p. 491).

Glicerol éter fosfolipídeos contêm


uma longa cadeia alifática em ligação
éter ao glicerol, na posição C1 (Figura
12.10). Éter fosfolipídeos contêm um
grupo alquil (alquil acilglicerofosfo
lipídeo) ou um éter a,b-insaturado,
chamado plasmalogênio. Plasmalo
gênios contendo etanolamina (etano
ao Cadeia Dupla ligação Dupla ligação
lamina
fosfato
lina plasmalogênio)
são
plasmalogênio)
abundantes esterificados
no
ou tecido
colina (co-
ner saturada em trans em cis
(a) (b)

voso e no coração, mas não no fígado. FIGURA 12.9 Conformação de grupos ácidos graxos em fosfolipídeos.
Mais de 50% dos etanolamina glicero (a) Ácidos graxos saturado (palmítico) e insaturado (palmitoleico) com duplas liga
ções em trans são cadeias retas em sua conformação de mínima energia, enquanto
fosfolipídeos do coração humano são
uma cadeia (palmitoleico) com uma dupla ligação cis tem uma dobra. A dupla ligação
plasmalogênios. Altos níveis de lipí trans é rara em ácidos graxos de ocorrência natural. (b) Modelos de preenchimento de
deos com ligação éter foram identifi espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
cados nas membranas plasmáticas de Cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
480 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 12.1 Principais Ácidos Graxos em Glicerofosfolipídeos


Nome Comum Nome Sistemático Fórmula Estrutural
Ácido mirístico n-Tetradecanoico CH3—COOH
–(CH2)12
Ácido palmítico n-Hexadecanoico CH3 –(CH2)14—COOH
Ácido palmitoleico cis-9-Hexadecenoico CH3–(CH2)5—CH=CH—(CH2)7—COOH
Ácido esteárico n-Octadecanoico CH3—(CH2)16—COOH
Ácido oleico cis-9-Octadecenoico CH3—(CH2)7—CH=CH—CH2)7—COOH
Ácido linoleico cis,cis-9,12-Octadecadienoico CH3—(CH2)3—CH2—CH=CH)2—(CH2)7—COOH
Ácido linolênico cis,cis,cis-9,12,15-Octadecatrienoico CH3—(CH2—CH=CH)3—(CH2)7—COOH
Ácido araquidônico cis,cis,cis,cis-5,8,11,14-Icosatetraenoico CH3—(CH2)3—CH2—CH=CH)4—(CH2)3—COOH

+
NH3
Esfingolipídeos Estão Presentes nas
Cabeça polar CH2 Membranas
CH2 Os aminoalcoóis esfingosina (D-4-esfingenina) e di
O -hidroesfingosina (Figura 12.11) são a base dos esfingo
O P O–
lipídeos. Um grupo acil graxo de cadeia longa saturado
ou insaturado em ligação amida com o amino grupo da
O esfingosina (Figura 12.12) é uma ceramida, que é seme
CH2 CH CH2 lhante em estrutura ao diacilglicerol. Várias substitui
O O
ções são encontradas no grupo hidroxila de C1. As es
hidrofóbicas
Caudas CH CH2
fingomielinas, os esfingolipídeos mais abundantes em
C O
tecidos de mamíferos, têm fosforilcolina esterificada
em C1 (Figura 12.13) e são classificadas como fosfoli
CH2 CH2 pídeos. Esfingomielina e colina glicerofosfolipídeos são
semelhantes em estrutura e apresentam muitas proprie
dades em comum; ambos são anfipáticos. A composição
Cadeias em ácidos graxos da esfingomielina varia de tecido para
alifáticas longas tecido; a esfingomielina da mielina contém predominan
temente ácidos graxos de cadeia mais longa (C24).
FIGURA 12.10 Etanolamina plasmalogênio.
Note a ligação éter da cadeia alifática em C1 do glicerol.
CH2OH CH2OH
Glicerofosfolipídeos São Anfipáticos CH
Esfingosina
HC
CH2
C NH2
OH CH
CH2 NH2

H HC OH
Glicerofosfolipídeos são anfipáticos, contendo uma
extremidade polar e uma não-polar. A carga da extre
midade polar (grupo da cabeça) consiste de um fosfato CH CH2
carregado (pK∼2), que é negativamente carregado em
CH2
pH 7,0, e qualquer carga dos grupos (bases) do fosfato
(Tabela 12.2). Colina e etanolamina glicerofosfolipí (CH2)11 (CH2)11

deos são zwitterions em pH 7,0, com uma carga nega CH3 CH3
tiva no fosfato e uma carga positiva no nitrogênio. Fos
Di-hidrosfingosina
fatidilserina tem uma carga positiva no grupo a-amino (D-4-esfingenina) (D-di-hidrosfingenina)
da serina e duas cargas negativas, uma no fosfato e uma
no grupo carboxila da serina, com uma carga final de FIGURA 12.11 Estruturas da esfingosina e da di
–1. Diferentemente, glicerofosfolipídeos contendo ino hidroesfingosina.
sitol e glicerol têm apenas uma carga negativa no fos
fato. Os derivados 4-fosfoinositol e 4,5-bisfosfoinositol Glicoesfingolipídeos contêm um açúcar ligado por
são compostos muito polares, com cargas negativas no uma ligação b-glicosídica ao grupo C1 OH de uma ce
fosfato. A extremidade não-polar dos glicerofosfolipí ramida; não contêm fosfato e não são carregados. Um
deos consiste de cadeias hidrocarbônicas hidrofóbicas subgrupo é o dos cerebrosídeos, que contêm ou glicose
de grupos acil graxo ligados. (glucocerebrosídeos) ou galactose (galactocerebrosí
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 481

TABELA 12.2 Carga Predominante de Glicerofosfolipídeos e Esfingomielina em pH 7,0 Gangliosídeos, os glicoes


Esfingomielina
Difosfatidilglicerol
Fosfatidilinositol
Fosfatidilglicerol
Fosfatidiletanolamina
Fosfatidilserina
Fosfatidilcolina
Lipídeo(cardiolipina)
CH2 Grupo–2
–1
Fosfato +1,
Base+1
–1
0 Carga0Final
–2
–1 fingolipídeos mais complexos,
contêm um grupo oligossaca
rídeo com um ou mais resíduos
de ácido N-acetilneuramínico
(ácido siálico) (ver p.676 para
estrutura); são compostos an
fipáticos, com uma carga ne
gativa em pH 7,0, e represen
tam 5-8% do total de lipídeos
do cérebro. Cerca de 20 tipos
diferentes, que diferem no nú
mero e na posição relativa dos
resíduos de hexose e de ácido
siálico, foram identificados.
OH Uma descrição detalhada dos gangliosídeos é apresen
tada na p. 752. A parte carboidrato dos gangliosídeos,
CH2 que se estende para além da superfície da membrana,
CH NH está envolvida no reconhecimento célula–célula, e serve
HC
HC OH OC
CH2 como ponto de ligação para hormônios e toxinas bacte
rianas, como a toxina da cólera (p. 545).

CH CH2 Colesterol É um Importante

CH2 CH2 Componente das Membranas


CH2 CH2 Plasmáticas
CH2 CH2
CH2 CH2 O colesterol é uma molécula compacta, rígida e hi
drofóbica (Figura 12.16), com quatro anéis fundidos
CH2 CH e uma cadeia hidrocarbônica C8-ramificada ligada ao
CH2 CH anel D, na posição 17. Tem um grupo hidroxila polar em
CH2 CH2 C3. A presença de colesterol nas membranas altera a
fluidez e reduz a permeabilidade.
CH2 CH2

CH2 CH2 A Composição em Lipídeos Varia

CH2 CH2 entre Membranas


CH3 CH2
As membranas plasmáticas e intracelulares têm
CH2 composições lipídicas distintas (Figura 12.17). As
CH3 membranas de um tecido específico, por exemplo, fíga
do, em diferentes espécies, contêm classes muito seme
FIGURA 12.12 Estrutura de uma ceramida. lhantes de lipídeos. A membrana plasmática apresenta
a maior variabilidade em composição percentual por
deos). Frenosina (Figura 12.14) é um galactocerebrosí que o conteúdo de colesterol é afetado pelo estado nu
deo que contém um ácido graxo C24 em ligação amida. tricional do animal. As membranas de mielina dos axô
Galactocerebrosídeos predominam no cérebro e no te nios neuronais são ricas em esfingolipídeos, e têm uma
cido nervoso, enquanto glucocerebrosídeos ocorrem em alta proporção de glicoesfingolipídeos. As membranas
pequenas quantidades em tecidos não-neurais. Galac intracelulares, por exemplo, do retículo endoplasmáti
tocerebrosídeos contendo um grupo sulfato esterifica co, contêm primariamente glicerofosfolipídeos e poucos
do em C3 do açúcar são classificados como sulfatídeos esfingolipídeos. A composição lipídica de mitocôndrias,
(Figura 12.15). Cerebrosídeos e sulfatídeos geralmente núcleo e retículo endoplasmático rugoso é semelhante,
contêm ácidos graxos com 22–26 carbonos. Glicoesfin com as do complexo de Golgi ficando entre as mem
golipídeos neutros frequentemente têm 2 (di-hexosíde branas intracelulares e a plasmática. Cardiolipina é
os), 3 (tri-hexosídeos) ou 4 (tetra-hexosídeos) resíduos abundante na membrana mitocondrial interna e rara na
de açúcar ligados ao grupo 1-OH da ceramida. Os com membrana externa, estando essencialmente ausente de
ponentes açúcares comuns são diglicose, digalactose, outras membranas. Os lipídeos contendo colina, fosfati
N-acetildiglucosamina e N-acetildigalactosamina. dilcolina e esfingomielina, são mais comuns, seguidos
482 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CH3 H OH
HOH HCH2OH
CH3 N+ CH3

CH2 HO H O
H O(β)
CH2
CH2
O
H C NH
O P O–
H C OH OC
O
HC
(CH2 CH2
CHOH
CH2
CH CH2
CH NH
CH3
CH2)11 CH3
H C OH C O
(CH2)19
HC CH2

CH CH2

CH2 CH2 FIGURA 12.14 Estrutura de um galactocerebrosídeo


CH2 CH2 contendo ácido graxo C24.
CH2 CH2
H OH
CH2 CH2 HO
H O H CH2OH
CH2 CH2 SO3–
H O
CH2 CH H O(β)
CH2 CH CH2

CH2 CH2 H C NH
CH2 CH2 H C OH OC

CH2 CH2 HC (CH2)22

CH2 CH2 CH CH3


CH2 CH2 (CH2)12

CH3 CH2 CH3

CH2
FIGURA 12.15 Estrutura de um sulfatídeo.
(a) CH3

H3C CH2
CH CH2
CH3 CH3
17 CH2 CH
CH3
C D
CH3

A B
3 5
HO
(a)

(b)

FIGURA 12.16 Colesterol.


(b) (a) Estrutura do colesterol. (b) Modelo de preenchimento de
espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
FIGURA 12.13 Esfingomielina contendo colina. (b) Cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
(a) Estrutura de esfingomielina contendo colina. (b) Modelo de
preenchimento de espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
Cortesia de Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
Proteínas de Membrana
por fosfatidiletanolamina. A constância em composição As proteínas de membranas desempenham várias
de várias membranas sugere uma relação entre lipídeos funções, incluindo um papel estrutural na manutenção
e as funções específicas dessas membranas. da forma da célula, como receptores para a ligação de
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 483

Glicerofosfolipídeos Colesterol Fosfatidilcolina Fosfatidilserina

Esfingolipídeos Outros Esfingomielina Fosfatidilinositol

Fosfatidiletanolamina Cardiolipina
Membrana % dos componentes lipídicos
Membrana % dos fosfolipídeos
0 100 0 100

Plasmática Plasmática

Golgi Golgi

Retículo Retículo
endoplasmático endoplasmático
rugoso rugoso

Nuclear Nuclear

Mitocondrial Mitocondrial
externa externa

Mitocondrial Mitocondrial
interna interna
(a) (b)

FIGURA 12.17 Composição em lipídeos de membranas celulares isoladas de fígado de rato.


(a) Quantidade dos principais componentes lipídicos em per de colesterol. (b) Composição em fosfolipídeos como percenta
centagem do total de fosfolípideos. A área indicada como como gem do total de fosfolipídeos. Valores de Harrison, R. e Lunt, G.
“Outros” inclui mono, di e triacilglicerol, ácidos graxos e ésteres G. Biological Membranes. New York: Wiley, 1975.

hormônios e fatores de crescimento, como facilitadores sistemas aquosos. Estão presentes em muitas mem
do movimento transmembrânico de solutos e íons, e branas, mas particularmente na mielina, onde repre
como enzimas envolvidas na transdução de sinais (p. sentam cerca de 50% do componente proteico. Lipofili
529). Cerca de 30% dos genes de células de mamíferos na, uma importante lipoproteína da mielina do cérebro,
codificam proteínas de membrana. contém mais de 65% de aminoácidos hidrofóbicos e
ácidos graxos covalentemente ligados. (Ver p. 489 para
As proteínas de membrana são classificadas com
uma discussão sobre a localização e a ligação de proteí
base na facilidade de separar a proteína dos lipídeos nas de membrana.)
da membrana. O isolamento das proteínas integrais de
membrana (intrínsecas) requer o rompimento da mem
brana por detergentes ou solventes orgânicos e, quando Carboidratos de Membranas
isoladas, geralmente contêm lipídeos firmemente liga
dos. Essas proteínas ficam imersas no meio lipídico da São Parte de Glicoproteínas ou
membrana (p. 487).487).). ElasElasElas contêmcontêmcontêm sequênciassequênciassequências dedede amino-amino-amino
ácidos hidrofóbicos, que constituem os segmentos da
Glicolipídeos
proteína em contato com os lipídeos da membrana. A Os carboidratos estão presentes nas membranas
natureza hidrofóbica dessas proteínas, e, portanto, sua como oligossacarídeos covalentemente ligados a pro
insolubilidade em água, tornou difícil determinar suas teínas (glicoproteínas) e a lipídeos (glicolipídeos). Os
estruturas tridimensionais e estudar suas propriedades açúcares nos oligossacarídeos incluem glicose, galac
funcionais. tose, manose, fucose, N-acetilgalactosamina, N-ace
tilglucosamina e ácido N-acetilneuramínico (ácido
Proteínas periféricas de membrana (extrínsecas)
siálico) (Figura 12.18 e Apêndice). As estruturas das
são fracamente ligadas à superfície da membrana lipí
glicoproteínas e dos glicolipídeos são apresentadas
dica. Tratamento com soluções salinas de diferentes nas páginas 678 e 749, respectivamente. O carboidrato
forças iônicas, pHs ácidos ou básicos do meio, ou cliva
fica na superfície extracelular da membrana plasmá
gem de lipídeos covalentemente ligados, liberam essas
tica e na superfície luminal do retículo endoplasmá
proteínas. As proteínas periféricas de membrana são
tico. As funções dos carboidratos ligados a proteínas
subclassificadas com base em seu modo de ligação à
incluem reconhecimento e adesão célula–célula e ação
membrana (p. 487).487).). MuitasMuitasMuitas proteínasproteínasproteínas periféricasperiféricasperiféricas fraca-fraca-fraca
como receptor. Há pouco ou nenhum carboidrato livre
mente ligadas são típicas proteínas globulares solúveis
nas membranas.
em água.

Proteolipídeos são lipoproteínas hidrofóbicas, so


lúveis em clorofórmio e metanol, mas insolúveis em
484 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CH2OH
O
12.3 MICELAS, BICAMADAS
H H
H LIPÍDICAS E LIPOSSOMOS
OH H
HO OH

Lipídeos Formam Estruturas


H HNCOCH3

N-Acetil-α-D-glucosamina Vesiculares
CH2OH A característica estrutural básica das membranas
O deve-se às propriedades físico-químicas dos glicerofos
HO H
H
folipídeos e esfingolipídeos. Esses compostos anfipáti
OH H
cos, com uma cabeça hidrofílica e uma cauda hidrofó
H OH bica (Figura 12.19a), interagem em sistemas aquosos
para formar esferas, chamadas micelas (Figura 12.19b).
H HNCOCH3 Os grupos das cabeças polares ficam no lado de fora da
N-Acetil-α-D-galactosamina esfera, enquanto as caudas hidrofóbicas interagem para
excluir água. As micelas têm apenas uma superfície po
H
lar, que é o lado apresentado para a fase aquosa. Podem
O
H H ser preparadas micelas contendo um único lipídeo ou
CH3 uma mistura de lipídeos. A concentração de lipídeos
HO
H HO
OH
necessária para formar micelas é a concentração mi
celar crítica (p. 1083). A formação de micelas também
OH H depende da temperatura e, se uma mistura de lipídeos
α-L-Fucose estiver presente, da razão entre as concentrações dos
diferentes lipídeos. A estrutura de uma micela é muito
H estável, graças às interações hidrofóbicas entre as ca
O deias hidrocarbônicas e à atração dos grupos polares de
H O
CH3 C N HCOH COOH cabeça pela água. Micelas são importantes na digestão
HCOH intestinal e na absorção de lipídeos (p. 1083).
CH2OH
H H H OH Bicamadas Lipídicas Sintéticas e
Lipossomos
OH H
II Lipídeos anfipáticos, como glicerofosfolipídeos, tam
N-Acetil-D-neuramínico
bém podem formar uma estrutura em bicamada, com
FIGURA 12.18 Estruturas de alguns carboidratos de duas camadas de lipídeos. Nessa estrutura existe um
membrana. contato mínimo das cadeias hidrocarbônicas com a
água. Os grupos da cabeça polar ficam na interface en
tre o meio aquoso e o lipídeo, e as caudas hidrofóbicas
interagem, criando um ambiente interior hidrofóbico
que exclui a água (Figura 12.19c). Essa conformação

Cabeça polar

Cauda
hidrofóbica

(a) (b) (c) (d)

FIGURA 12.19 Interações de fosfolipídeos em um meio aquoso.


(a) Representação de um lipídeo anfipático. (b) Corte trans lipossomo. Cada estrutura tem estabilidade inerente em virtude
versal da estrutura de uma micela. (c) Corte transversal da es das cadeias hidrocarbônicas e da atração dos grupos polares das
trutura de uma bicamada lipídica. (d) Corte transversal de um cabeças por água.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 485

em bicamada é a estrutura lipídica básica das membra


nas biológicas. As bicamadas lipídicas são extremamen
te estáveis. São mantidas juntas por forças hidrofóbicas
das cadeias hidrocarbônicas e interações iônicas dos Difusão rotacional
rápida
grupos carregados das cabeças com a água. As bicama
das lipídicas fecham-se espontaneamente, se rompidas. Troca transversa
muito lenta (flip-flop)
Uma bicamada lipídica formará uma vesícula esféri
ca, separando o ambiente externo de um compartimen Difusão lateral
rápida
to aquoso interno. Tais vesículas, chamadas lipossomos
(Figura 12.19d), foram preparadas usando-se lipídeos
Flexão das cadeias
purificados e misturas de lipídeos de membranas bio hidrocarbônicas rápida
lógicas. Dependendo do procedimento, são preparadas
vesículas unilamelares ou multilamelares (vesículas
dentro de vesículas) de vários tamanhos (20 a 1.000 nm
de diâmetro). A capacidade de lipídeos anfipáticos para
FIGURA 12.20 Mobilidade de componentes lipídicos nas
se auto-organizarem em bicamadas é uma propriedade
membranas.
importante para a formação das membranas celulares.
A bicamada lipídica é essencialmente impermeável
a moléculas não-lipídicas (por exemplo, carboidratos) e
Propriedades Gerais de Bicamadas carregadas, mas não a moléculas hidrofóbicas neutras.
Íons inorgânicos (Na+, K+, Cl– etc.), moléculas orgâni
Lipídicas cas carregadas e macromoléculas fora de lipossomos
não têm acesso ao interior dos lipossomos. Durante a
Moléculas de fosfolipídeos trocam de lugar facil formação dos lipossomos, solutos não-permeáveis, en
mente com moléculas vizinhas na monocamada se tretanto, podem ser sequestrados no interior aquoso.
parada, levando à rápida difusão lateral no plano da Assim, ambos os ambientes, externo e interno, dos li
membrana (Figura 12.20). Na preparação de mem possomos podem ser manipulados, e as propriedades,
branas artificiais com diferentes lipídeos, os lipídeos incluindo a capacidade de excluir moléculas, a intera
se distribuem aleatoriamente entre as monocamadas. ção com várias substâncias e a estabilidade em dife
Ocorre rotação em torno das ligações carbono-carbo rentes condições, podem ser avaliadas. Os lipossomos
no nas cadeias de ácidos graxos; de fato, há um maior são importantes ferramentas no estudo de aspectos da
grau de rotação próximo à extremidade metil, levando estrutura e da função da membrana natural. Proteínas
à maior mobilidade no centro do que na superfície da isoladas de membranas biológicas foram incorporadas
bicamada lipídica. As moléculas lipídicas individuais
não mudam facilmente de uma monocamada para a
outra (flip-flop), em virtude dos impedimentos ter
modinâmicos do movimento de um grupo de cabeça
carregado através do centro lipofílico. Além disso, lipí
deos não escapam facilmente da bicamada. Bicamadas
lipídicas, portanto, têm uma estabilidade inerente na
qual as moléculas individuais movem-se rapidamente
em sua própria monocamada, mas não trocam facil
mente com a monocamada adjacente.

A interação de lipídeos em uma bicamada é muito


diferente da ilustada na Figura 12.19c. O interior das
bicamadas das membranas é muito fluido e está em
constante movimento. As cadeias acil dos glicerofosfo
lipídeos e esfingolipídeos têm um movimento aleatório,
intercalando-se com as cadeias da monocamada opos
ta. A viscosidade é maior quanto mais perto dos grupos FIGURA 12.21 Modelo de uma bicamada lipídica paralisada
de cabeça dos lipídeos. Colesterol, na bicamada, reduz a num determinado instante.
fluidez perto da superfície da membrana porque o coles Uma bicamada artificial, consistindo de dipalmitoilfosfatidilcoli
terol não se estende na camada tanto quanto as cadeias na circundada por água, modelada em computador. As cores dos
átomos são C cinza (exceto C metil terminal amarelo e C glicerol
acil dos fosfolipídeos. A Figura 12.21 é uma representa
ção computacional do arranjo de fosfolipídeos em uma marrom), O éster em vermelho, P e O verde, C e N colina violeta
pálido, O da água azul escuro e H da água azul claro. Os hidrogê
bicamada, em um determinado momento. Várias cama nios dos lipídeos foram omitidos.
das de moléculas ordenadas de água sobre a superfície Figura generosamente fornecida por Richard Pastor e Richard
das membranas influenciam o ambiente da membrana. Venablr, FDA, Bethesda, MD.
486 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

em membranas de lipossomos para estudar sua função.


Com algum sucesso limitado, foram testados liposso
mos de composições lipídica e proteica variadas, tanto
em animais como no homem, como um substituto para
eritrócitos, para entregar drogas encapsuladas e como
vetores para terapia gênica (Correlação Clínica 12.1).

12.4 ESTRUTURA DAS


MEMBRANAS BIOLÓGICAS

Modelo Mosaico das Membranas


Biológicas
Todas as membranas plasmáticas e intracelulares são
bicamadas lipídicas, com lipídeos anfipáticos e colesterol
orientados de modo que suas partes hidrofóbicas intera
FIGURA 12.22 Modelo da membrana plasmática de
jam, para minimizar o contato com a água ou outros gru mamífero.
pos polares. Seus grupos de cabeça polar ficam na inter Os vários lipídeos são esferas de cores diferentes; eles seriam
face com o ambiente aquoso. Proteínas ficam distribuídas mais aleatórios do que indicado. As proteínas são representa
na superfície ouimersas na bicamada lipídica e podem se das por estruturas globulares, e os carboidratos são ligados às
difundir lateralmente no mar de lipídeos. Existe, entre proteínas pelas árvores pretas na superfície externa da mem
tanto, organização molecular nas membranas biológicas, brana. A rede de fibras abaixo da membrana representa o cito
incluindo restrições à distribuição aleatória de lipídeos esqueleto e sua associação com a membrana.
e proteínas em alguns domínios. A Figura 12.22 é um Figura muito gentilmente oferecida pelo Professor P. Kinnu
nen, University of Helsinki, Finlândia.
modelo de uma membrana biológica, indicando um grau
de organização. As características gerais das bicamadas
lipídicas explicam muitas das propriedades das membra mite mudança de forma, a capacidade de se autosselar e
nas celulares, incluindo a fluidez, a flexibilidade que per a impermeabilidade.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.1

Lipossomos como Carregadores de Drogas, Proteínas e Ácidos Nucleicos


Os lipossomos têm sido usados para a administra com um alto grau de especificidade para tecidos, de
ção de uma variedade de substâncias terapêuticas, modo que a entrega de drogas, e talvez até a reposi
para alcançar órgãos ou tecidos específicos. Tanto ção enzimática, sejam possíveis por essa técnica. Os
compostos hidrofílicos como hidrofóbicos podem ser lipossomos foram testados como veículo para intro
carregados, sendo os primeiros no interior aquoso e duzir ácidos nucleicos em células para terapia gênica
os últimos na membrana do lipossomo. Lipossomos e tratamento com RNAs pequenos. Em outro uso, li
preparados a partir de fosfolipídeos purificados são possomos contendo hemoglobina concentrada foram
não-tóxicos e biodegradáveis. Foram avaliados lipos testados com algum sucesso como uma alternativa
somos catiônicos, que interagirão com a carga de su para transfusão, em lugar de eritrócitos.
perfície da membrana celular, e outros com proteínas
específicas para se ligarem a receptores específicos
da membrana celular. A captação de lipossomos pode Torchilin, V. P. Recent approaches to intracellular deli
ser por fusão com a membrana celular ou por endo very of drugs and DNA, and organelle targeting. Annu. Rev.
citose. Os lipossomos são úteis para drogas que são Biomed. Engineering 8: 343, 2006; Dass, C. R. e Choong, P.
F. Selective gene therapy for cancer therapy using cationic
metabolizadas muito rapidamente. A incorporação da
droga em lipossomos permite sua liberação ao lon liposomes: In vivo proof of applicability. J. Controlled Re-Re
lease 113: 155, 2006; Tsuchida, E., Sakai, H., Horinouchi, H.
go de um período de tempo mais longo, aumentando e Kobayashi, K. Hemoglobin-vesicles as a transfusion alter
assim sua eficácia. Agentes antibióticos, antineoplá native. Artificial cells, blood substitutes. Immobilization
sicos, antimaláricos, antivirais, antifúngicos e anti Biotech. 34: 581, 2006; e Sofou, S. e Sgouros, G. Antibody
-inflamatórios são eficazes quando administrados em -targeted liposomes in cancer therapy and imaging. Expert
lipossomos. Pode ser possível preparar lipossomos Opin. Drug Delivery 5: 189, 2008.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 487

Lipídeos São Distribuídos tre as bicamadas lipídicas das membranas é lento, mas
ocorre. A assimetria de lipídeos é mantida por transpor
Assimetricamente nas Membranas tadores de lipídeos, que catalisam o movimento unidi
recional de lipídeos específicos de uma camada para a
Os lipídeos são distribuídos assimetricamente nas
outra, às vezes contra seu gradiente de concentração.
duas bicamadas das membranas biológicas. Cada ca
mada tem uma composição diferente em glicerofosfo Uma subclasse de transportadores de lipídeos ATP-de
pendentes, aminofosfolipídeo translocases ou flippa
lipídeos e esfingolipídeos. A distribuição assimétrica
ses específicas para fosfatidilserina e fosfatidiletanola
de lipídeos da membrana plasmática de eritrócito hu mina, catalisa o transporte desses aminoglicerolipídeos
mano é apresentada na Figura 12.23. Esfingomielina
da camada extracelular para a citoplasmática. São res
predomina na camada externa, enquanto fosfatidileta
ponsáveis por manter a baixa concentração desses fos
nolamina é predominante na camada lipídica interna.
folipídeos na camada externa da membrana plasmática.
Fosfatidilinositóis não são mostrados na Figura 12.23
Um transportador para fora ATP-dependente, chamado
em virtude de suas baixas quantidades, mas localizam
floppase, é não-específico para fosfolipídeos. Um ter
-se primariamente na camada interna; a quantidade
ceiro tipo de transportador de lipídeos, fosfolipídeo
varia de acordo com o tecido. A distribuição de coles
scramblase, facilita a mistura bidirecional de fosfolipí
terol entre a bicamada não é apresentada. Os lipídeos
deos entre as duas camadas, distribuindo aleatoriamen
das membranas intracelulares também são distribuídos
te os fosfolipídeos entre as camadas. É não-específico
assimetricamente, mas não com o mesmo padrão da
em relação aos fosfolipídeos, não depende de ATP, e é
membrana plasmática. A assimetria responde por algu
mas das diferenças funcionais entre as duas camadas. estimulado pelo aumento do Ca2+ intracelular. A fosfoli
pídeo scramblase 1 (PLSCR1) pode ser reversivelmen
A assimetria dos lipídeos é estabelecida durante a te palmitoilada-despalmitoilada e contém um sítio de
biossíntese das membranas no retículo endoplasmático. fosforilação para a proteína quinase C, para controle de
O movimento transverso não-catalizado (flip-flop) en atividade (p. 552). A scramblase desempenha um im
portante papel na cascata da coagulação mediada por
células (p. 1007), e no reconhecimento pelo sistema
50 Fosfolipídeos totais retículo-endotelial das células que estão morrendo (p.
1034).). EmEm ambasambas asas respostas,respostas, oo movimentomovimento dede fosfa-fosfa
Camada externa tidilserina da camada interna para a camada externa
leva à exposição de fosfatidilserina na superfície extra
celular e uma mudança na carga da superfície.
25 Esfingomielina
Fosfatidilcolina
Proteínas Integrais de Membrana
l
atotodmegatnecreP
As interações de proteínas com as membranas bio
lógicas são ilustradas na Figura 12.24. Proteínas inte
Outros grais de membrana ficam mergulhadas na membrana,
com uma orientação definida, determinada por sua es
trutura primária. Seus segmentos transmembrânicos
contêm sequências ricas em aminoácidos hidrofóbicos
como leucina, isoleucina, valina e fenilalanina, que fi
Fosfatidilserina cam em contato com o meio lipídico. Algumas têm gran
des domínios globulares em contato com o ambiente
25
Fosfatidiletanolamina aquoso em um ou em ambos os lados da membrana, e
algumas, particularmente as da membrana plasmática,
são glicoproteínas.

Dependendo da proteína específica, as extremida


Camada interna
des amino e carboxi-terminais podem estar em lados
50 opostos ou ambas no mesmo lado da membrana. No
primeiro caso, a extremidade carboxi-terminal é fre
FIGURA 12.23 Distribuição de fosfolipídeos entre as quentemente encontrada na face citoplasmática. Muitas
camadas interna e externa da membrana de eritrócito proteínas das membranas plasmática e do retículo en
humano. doplasmático têm os aminoácidos carregados positiva
Os valores são as percentagens de cada fosfolipídeo na membra
mente lisina e arginina quatro vezes mais abundantes
na. Outros incluem fosfatidilinositol, fosfatidilinositol 4-fosfato, na superfície citoplasmática do que na superfície extra
fosfatidilinositol 4,5-fosfato e ácido fosfatídico.
Dados de Verkeij, A. J., Zwaal, R. F. A., Roelofsen, B. Comfurius, celular ouluminal. O movimento transverso (flip-flop)
P. et al. Biochim. Biophys. Acta 323: 178, 1973; e Zachowski, A. de proteínas integrais é impedido por seu volume e res
Biochem. J. 294: 1, 1993. trições termodinâmicas.
488 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Proteínas integrais de membrana Proteínas periféricas de membrana

Lado
extracelular

N
N

PI

– – – – –
Lado + + + + +
citosólico

(a) (b) (c) (d) (e) (f)

FIGURA 12.24 Interações de proteínas de membrana com a bicamada lipídica.


Ligada
membrânico.
O
nadiagrama
ou com
a uma
ailustra
proteína
bicamada
(b) Múltiplos
os múltiplos
integral.
lipídica.
segmentos
(d)
tipos
a) Ligada
Umdetransmembrânicos.
único
ligações
eletrostaticamente
segmento
de proteínas
trans-
(c)
à bicamada lipídica. (e) Ligada por uma sequência de aminoácidos
terminal curta hidrofóbica. (f) Ligada não-covalentemente a um
fosfatidilinositol (PI) da membrana.

Os segmentos transmembrânicos da maioria das


proteínas integrais de membrana são a-helicoidais,
mas motivos em b-barril também são encontrados. Al
gumas proteínas contêm um único segmento a-helicoi
dal transmembrânico, como ilustrado na Figura 12.24a.
Um exemplo é a glicoforina, com 131 resíduos, presen
te na membrana plasmática de eritrócitos humanos; a
sequência transmembrânica consiste dos resíduos de
aminoácidos 73-91. A extremidade amino-terminal
fica no exterior da célula e contém vários oligossacarí
deos, incluindo os determinantes dos grupos sanguí
neos ABO e MN; a glicoforina contém 60%, em peso,
de carboidratos. As integrinas também têm um único
segmento transmembrânico; essa ubíqua família de
proteínas liga o citoplasma com a matriz extracelular
(p. 381) e medeia a sinalização transmembrânica em
ambas as direções. FIGURA 12.25 Proteína integral de membrana.
A ilustração mostra uma subunidade da proteína trimérica
Outras proteínas integrais têm múltiplas sequências transportadora de amônio AmtB de E. coli mergulhada em
transmembrânicas, que se dobram para frente e para uma membrana bicamada lipídica. Note a interação lipídeo–
trás através da bicamada lipídica (Figura 12.24b e c). A proteína, e os compartimentos aquosos periplasmático (supe
Figura 12.25 ilustra tal proteína; note a interação do li rior) e intracelular (inferior) em ambos os lados da membrana.
Figura muito gentilmente cedida por Professor Fritz K. Wink
pídeo com a proteína e os compartimentos aquosos em
ler e Dr. Peter Hasler, Paul Scherrer Institute, Switzerland.
ambos os lados da membrana. O número de segmentos
transmembrânicos putativos é determinado colocando
-se em um gráfico o grau de hidrofobicidade de cada resí proteína integral são frequentemente organizados para
duo de aminoácido da proteína (p. 90). Essas sequências formar uma estrutura tubular, que pode servir de pas
com uma alta proporção de aminoácidos hidrofóbicos su sagem para o movimento de moléculas através da mem
gerem um segmento transmembrânico. O gráfico de hi brana (Figura 12.27). O canal de ânions de eritrócitos
dropatia da aquaporina, uma proteína integral de mem humanos forma um canal tubular (p. 510)510)) eee ééé ooo media-media-media
brana, é apresentado na Figura 12.26; o gráfico indica dor da troca de Cl– e HCO3– através da membrana. Tem
a presença de seis sequências transmembrânicas putati dois domínios principais: um domínio amino-terminal
vas. Proteínas com 2 a 24 sequências transmembrânicas hidrofóbico no lado citoplasmático da membrana, com
putativas foram identificadas com base na análise dos sítios de ligação para anquirina, uma proteína que an
aminoácidos da proteína ou por análise gênica. Múlti cora o citoesqueleto e outras proteínas citoplasmáticas,
plos segmentos transmembrânicos em a-hélice de uma e um domínio de 509 aminoácidos, com 12 sequências
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 489

3
210 tão envolvidas na transdução
intracelular de sinal (p. 529).
a
it
a
p
o
Seus diferentes métodos de
r
d
i
h
ligação são ilustrados na Figu
e
d ra 12-24c-f. Algumas se ligam
e
c
i −1
d
a proteínas integrais de mem
n
Í brana, como a anquirina que se
−2
liga ao canal de ânions nos eri
−3 0 63 126 trócitos (Figura 12.24c). Fosfo
189 252 lipídeos de membrana carrega
Número do resíduo de aminoácido dos negativamente interagem
com as regiões carregadas
FIGURA 12.26 Gráfico de hidropatia da aquaporina 1 de eritrócitos humanos.
positivamente das proteínas e
O índice de hidropatia de um aminoácido é um valor que indica sua tendência hidrofóbica ou
produzem ligação eletrostática
hidrofílica. Quanto mais positivo o valor, mais hidrofóbico é o aminoácido; um valor positivo é
um bom indicador se o aminoácido estará ou não em contato com um ambiente aquoso. Seg (Figura 12.24d); em alguns ca
mentos da proteína contendo uma alta proporção de aminoácidos hidrofóbicos são considera sos, Ca2+ é mediador da ligação.
dos como segmentos transmembrânicos putativos. Várias proteínas periféricas
têm sequências curtas de ami
transmembrânicas. Com um número par de segmentos noácidos hidrofóbicos em uma extremidade, que servem
transmembrânicos, a extremidade carboxila também de âncora (Figura 12.24e). Outras proteínas periféricas
fica no lado citoplasmático. Um motivo comum de proteí de membrana têm um domínio específico conservado
nas integrais é a oligomerização dos mesmos monômeros que se liga não-covalentemente ao grupo de cabeça ino
(complexos homoméricos) e oligomerização de monôme sitol 3-fosfato do fosfatidilinositol fixado na membrana
ros diferentes (complexos heteroméricos). (Figura 12.24f). Algumas proteínas têm várias formas
diferentes de ligação.
Proteínas integrais de membrana contêm domínios
específicos para interação com ligantes, para atividade
Extracelular
catalítica ou de transporte, e para ligação de carboidra
tos. A presença de lipídeos ligados e sítios específicos
para moléculas de água sugerem um alto grau de varia
bilidade estrutural e funcional. Elas não são estruturas
rígidas, e suas formas na membrana podem ser altera
das por interação com outras proteínas e com moléculas
pequenas. Os efeitos moduladores de lipídeos em uma
proteína podem refletir-se em mudança na ordenação e
na fluidez da membrana, bem como em uma influência
direta sobre a atividade da proteína. Muitas proteínas
integrais ligam lipídeos específicos por interações não
-covalentes entre os grupos de cabeça carregados, bem
como com a cauda hidrofóbica. Exemplos da influência
de lipídeos sobre a atividade de proteínas são a neces
sidade de fosfatidilcolina para a atividade da b-hidroxi
butirato desidrogenase (p. 718), e a estabilização dos
complexos da cadeia respiratória por cardiolipina (p.
480).). AtividadeAtividade máximamáxima dada diacilgliceroldiacilglicerol quinasequinase ocor-ocor
re com fosfatidilcolina com cadeias C18, e o colesterol Intracelular

foi implicado na atividade de várias bombas de íons da FIGURA 12.27 Múltiplos segmentos transmembrânicos
membrana e receptores de acetilcolina. em a-hélice.
Modelo em fita do monômero da AQP1 de eritrócito humano.
Múltiplos segmentos transmembrânicos em a-hélice formam uma
estrutura tubular. A extremidade amino-terminal é azul, e a car
Proteínas Periféricas de Membrana: boxi-terminal é vermelha. Seis hélices inclinadas que atravessam
a membrana circundam dois hemiporos (alças com hélices curtas
Âncoras Lipídicas – turquesa e laranja) que se encontram no centro da bicamada. A
seta branca ilustra o canal aquoso através da proteína.
Proteínas periféricas de membrana ficam sobre a
Figura reproduzida com permissão de Kozono, D., Yasui, M.,
superfície da membrana e podem ser facilmente remo King, L. S. e Agre, P. Aquaporin water channels: atomic struc
vidas, sem romper a bicamada lipídica. Muitas têm uma ture and molecular dynamics meet clinical medicine. J. Clin.
associação transitória com a membrana, com ligação e Invest. 109:1395, 2002. Copyright © (2002) Amer. Soc. Clin.
religação cíclicas. Isso controla sua atividade. Muitas es Invest. via Copyright Clearance Center.
490 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Várias proteínas periféricas de membra- (a) (b) (c)


HO
O
na têm um lipídeo covalentemente ligado,
O C
que é inserido na membrana lipídica, an
corando assim a proteína à membrana. Os HO C
sentadas na Tabela
vários tipos de âncoras e na Figura
12.3 lipídicas são12.28.
apre- H2N

CH2
Uma âncora dessas envolve fosfatidilino
NH S
sitol (ver Figura 12.8, p. 479), ligado a um
glicano consistindo de etanolamina, fosfa COOC

to, manose, manose, manose e glucosamina


(p. 678). O glicano é covalentemente ligado
à extremidade carboxi-terminal de uma
proteína por etanolamina (Figura 12.28a),
e a glucosamina é ligada covalentemente FIGURA 12.28Tipos de âncoras lipídicas para ligação de proteínas à
a fosfatidilinositol. Os grupos ácidos gra membrana.
xos do fosfatidilinositol são inseridos na (a) Âncora glicosilfosfatidilinositol (GPI). (b) Âncora miristoil. (c) Âncora
membrana lipídica. Essa forma de ligação é tioéter.
chamada âncora de glicosilfosfatidilinosi
tol (GPI); os grupos acil graxo parecem ser específicos do esteárico (C18) ou ácido oleico (C18) covalentemente
para diferentes proteínas. A liberação e a religação da ligados a uma cisteína. Os grupos acil servem como ân
proteína à âncora são controladas, permitindo a regu coras na membrana (Figura 12.28c), e a acilação afeta
lação da atividade da proteína. Uma fosfolipase C espe a proteína de muitas formas, incluindo função, locali
cífica para fosfatidilinositol catalisa a hidrólise da liga zação subcelular, estabilidade e interação com outras
ção fosfato–inositol, levando à liberação da proteína. A proteínas. O grupo acil é frequentemente encontrado
âncora GPI também controla a localização da proteína próximo a um ácido mirístico em ligação amida com
na membrana. Mais de 50 proteínas, incluindo enzimas, uma glicina N-terminal ou uma cisteína prenilada na
antígenos e proteínas de adesão celular, também são extremidade C-terminal. A função da proteína acilada
ligadas (Tabela 12.3). A âncora GPI foi conservada ao é controlada por ciclos dinâmicos de acilação e deaci
longo da evolução. lação. Essas proteínas aciladas servem de moléculas si
nalizadoras e estão envolvidas no transporte vesicular
As âncoras acil tio-éster ligadas (Tabela 12.3) en
e na sinapse neuronal.
volvem ácido mirístico (C14), ácido palmítico (C16), áci

TABELA 12.3 Tipos de Âncoras Lipídicas


Tipo de Âncora Envolvido na
LipídeoLigação Ligação Proteínas Representativas

(GPI)
Fosfatidilinositol Fosfatidilinositol Glicano (etanolamina, Acetilcolina esterase
fosfato, manose, Fosfodiesterase alcalina
manose, manose e Anidrase carbônica
glucosamina) Moléculas de adesão célula–célula
Hidrolases de superfície celular
Lipoproteína lipase
Proteína scrapie príon
Antígenos de superfície
Miristoil
e hidroxi éster
Tioéster Ácido mirístico (C14
(C14)) Ligação
glicina
–SH dena
ouN-terminal
–OH
amida Receptor b-adrenérgico
Receptores acoplados a proteína G
Proteína quinase c-CAMP
Receptor de insulina
Subunidade a de proteína G

Ácido palmítico (C16) Cisteína Receptor de transferrina


Ácido esteárico (C18) Serina
Ácido oleico (C18) Treonina
Tioéter-ligada Lipídeo
Farnesil
isoprenoide
(C15 Cisteína Muitas proteínas que ligam GTP
) Laminas nucleares
Geranilgeranil (C20) Proteína quinases
Dolicol Proteína fosfatases
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 491

Outra forma de ligação a lipídeo de uma proteína pe Proteínas e Lipídeos Difundem nas
riférica envolve uma ligação tioéter entre a proteína e
os lipídeos isoprenoides farnesil (C15) ou geranilgeranil Camadas da Membrana
(C20) (Figura 12.29). As ligações são chamadas prote As interações entre diferentes lipídeos e entre lipí
ínas CAAX preniladas porque o isoprenoide é ligado
deos e proteínas são muito complexas e dinâmicas. Há
a um resíduo de cisteína na sequência Cys – Alifático uma fluidez na porção lipídica das membranas, e lipíde
– Alifático – qualquer resíduo, próximo à extremidade os e proteínas individuais podem se mover rapidamente
carboxi-terminal. O X aparentemente determina qual pela superfície das membranas. Com membranas arti
isoprenoide é ligado; glutamina, metionina ou serina ficiais, o grau de fluidez é dependente da temperatu
são necessárias para a ligação de farnesil, e leucina ra. Em temperaturas baixas, os lipídeos estão em um
para geranilgeranil. Proteínas CAAXpreniladas são ge
estado de gel-cristalino, restringindo sua mobilidade; à
ralmente ligadas à superfície citoplasmática. medida que a temperatura sobe, ocorre uma transição
de fase, com um aumento de fluidez (Figura 12.30). Nas
membranas biológicas, há uma mistura de fases líquida
-ordenada e líquida-desordenada, presumivelmente de
pendendo da composição em lipídeos e em proteínas,
e não de uma transição do estado gel-cristalino para
líquido-cristalino. De fato, interações entre lipídeos
HN H
C C HN H
C C e proteínas levam a variações nos estados ordenado
O O
-desordenado ao longo da membrana, e a diferenças de
CH2 CH2
fluidez em diferentes áreas.
S S
Membranas com glicerofosfolipídeos contendo gru
pos ácidos graxos de cadeia curta e insaturados têm
maior fluidez. Duplas ligações em cis nos ácidos graxos
insaturados dos fosfolipídeos causam dobras na cadeia
hidrocarbônica; isso impede a disposição densa das ca
deias e cria bolsões nas regiões hidrofóbicas. O coles
terol, com sua estrutura em anel plano e rígido, reduz
o enrolamento das cadeias de ácidos graxos e reduz a
fluidez. O significado clínico de colesterol elevado no
sangue sobre a fluidez das membranas celulares é des
crito na Correlação Clínica 12.2. O íon Ca2+ diminui a
fluidez das membranas por sua interação com os gru
pos de cabeça, carregados negativamente, dos fosfoli
pídeos, reduzindo a repulsão entre os grupos polares e
(a) (b)
aumentando a proximidade entre as moléculas de lipí
FIGURA 12.29 Âncora isoprenoide tioéter para ligação de deos. Isso causa a agregação dos lipídeos em conglome
proteínas de membrana. rados e reduz a fluidez. A distribuição assimétrica dos
(a) Âncora farnesil. (b) Âncora geranilgeranil. fosfo- e esfingolipídeos leva a uma diferença na fluidez

FIGURA 12.30 Estrutura da bicamada lipídica acima (estado desordenado) e abaixo (estado ordenado) da temperatura de
transição.
Figura reproduzida com permissão de Voet, D. e Voet, J. Biochemistry, 2. ed., New York: Wiley, 1995. Copyright © (1995) John Wiley
& Sons, Inc.
492 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.2

Anomalias na Fluidez de Membranas Celulares em Doenças


A fluidez da membrana pode controlar a atividade de dez das membranas, alterando receptores de membrana
enzimas ligadas à membrana e de funções como fagoci e canais iônicos. Indivíduos com abetalipoproteinemia
tose, e crescimento e morte celular. Um fator importante têm um aumento no conteúdo de esfingomielina e uma
na fluidez da membrana plasmática de organismos supe diminuição de fosfatidilcolina nas membranas celulares,
riores e de mamíferos é a presença de colesterol. Com com uma redução na fluidez das membranas.
conteúdo crescente de colesterol, as bicamadas lipídicas
tornam-se menos fluidas em sua superfície mais externa, Sugeriu-se que mudanças na fluidez das membranas
mas mais fluidas no centro hidrofóbico. As membranas sejam um fator na deficiência de lecitina:colesterol acil
dos eritrócitos de indivíduos com anemia hemolítica com transferase, na hipertensão e na doença de Alzheimer.
acantócitos (spur cells) têm conteúdo aumentado de co À medida que técnicas de medida e avaliação de fluidez
lesterol e uma forma “espinhada”, e as células são des de membranas celulares melhoram, algumas das mani
truídas prematuramente no baço. Essa condição ocorre festações patológicas em doenças serão explicadas, com
em doenças graves do fígado, como cirrose alcoólica. base em alterações na estrutura e função de membranas.
O conteúdo de colesterol é aumentado em 25–65%, e a
fluidez da membrana diminui. Membranas de eritrócitos Cooper, R. A. Abnormalities of cell membrane flui
requerem um alto grau de fluidez para passarem pelos dity in the pathogenesis of disease. N. Engl. J. Med.
capilares. O colesterol aumentado na membrana plasmá 297:371, 1977; Muller, W. E., Kirsch, C. e Eckert, G. P.
tica de outras células leva a um aumento no colesterol Membrane-disordering effects of beta-amyloid pepti
de membranas intracelulares, o que também afeta sua des. Biochem. Soc. Trans. 29:617, 2001; e Tsudo, K. e
fluidez. O efeito intoxicante do etanol no sistema nervoso Nishio, I. Membrane fluidity and hypertension. Am. J.
ocorre provavelmente em virtude da modificação na flui Hypertens. 16:259, 2003.

das duas camadas. As cadeias hidrocarbônicas dos lipí mada com uma distribuição diferente de lipídeos, em
deos são flexíveis, produzindo um maior grau de fluidez comparação com a membrana circundante. Portanto,
no centro hidrofóbico do que mais próximo à superfície, as membranas biológicas são, na realidade, um mosai
onde há mais restrições pelas porções mais rígidas das co fluido de microdomínios diferentes (Figura 12.31).
cadeias hidrocarbônicas. Nas membranas plasmáticas, constituem uma porcen
tagem significativa da área total. A função das balsas
A composição em cadeias de ácidos graxos dos fos lipídicas é segregar e concentrar proteínas especí
folipídeos e em cholesterol das membranas é alterada ficas, para facilitar sua atividade. As balsas menores
pela dieta, por alterações no Ca2+ intracelular, radicais são montadas e desmontadas constantemente e difun
livres e peroxidação de lipídeos, levando a uma mudan dem-se livremente na membrana. As membranas plas
ça na fluidez da membrana. Anestésicos aumentam a
máticas e as membranas destinadas a interagir com
fluidez das membrane in vitro e podem agir in vivo por a membrana plasmática, como o lado trans do com
meio de seu efeito sobre a fluidez das membranas de cé plexo de Golgi, contêm uma grande quantidade desses
lulas específicas. A anestesia é induzida por compostos microambientes, mas eles também podem ocorrer em
estruturalmente não-relacionados, tendo em comum a outras membranas celulares. Balsas de membranas
solubilidade em lipídeos. Foram relatadas mudanças na são definidas como microambientes pequenos (10–200
fluidez de membranas na hipercolesterolemia, hiper nm), heterogêneos, dinâmicos, enriquecidos em coles
tenção, diabetes mellitus, obesidade, alcoolismo, esqui terol e esfingolipídeos. Os lipídeos em todas as balsas,
zofrenia e doença de Alzheimer. entretanto, não estão necessariamente no mesmo es
tado físico-químico. A concentração mais elevada de
colesterol as torna menos fluidas do que o ambiente
Microdomínios de Complexos lipídico circundante. O colesterol é importante na or
Lipídeo–Proteína Estão Presentes ganização das balsas lipídicas do complexo de Golgi e
na manutenção de sua integridade e função. Os domí
nas Membranas nios podem desempenhar uma função no transporte
de colesterol.
Existe uma distribuição heterogênea, e não homo
gênea, de lipídeos e proteínas nas membranas. Estão A camada externa das balsas tem uma concentração
presentes microdomínios contendo lipídeos e proteínas mais alta de ceramidas e glicoesfingolipídeos (p. 480),
específicos. Esses domínios, chamados balsas lipídi que geralmente contêm ácidos graxos de cadeias mais
cas ou lipid rafts, são estruturas organizadas na bica longas. Seu acúmulo na camada externa leva a áreas
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 493

de membranas de maior espessura. A camada interna Membranas plasmáticas de células de alguns tecidos
contém fosfolipídeos com cadeias acil mais saturadas contêm cavéolas, invaginações pequenas tipo-frascos,
do que nas áreas não-balsas, o que permitem maior cuja composição em lipídeos é semelhante à das balsas
adensamento das cadeias. Assim, os lipídeos nas mem lipídicas; elas têm um alto conteúdo de colesterol e gli
branas ficam mais ordenados e mais densamente dis coesfingolipídeos. Cavéolas contêm as proteínas que se
postos do que na bicamada circundante. Além disso, in ligam a colesterol caveolinas-1, -2 ou -3, que podem ser
terações eletrostáticas de grupos de cabeça, interações responsáveis por estabilizar a estrutura.
hidrofóbicas de colesterol com fosfolipídeos e glicoli
pídeos específicos, e interações proteína-lipídeo limi Balsas lipídicas têm importantes funções em muitos
tam o movimento dos lipídeos. Por meio de interações processos celulares, incluindo seleção e tráfego de mem
proteína-proteína e proteína-lipídeo, balsas menores se branas e polarização celular. Fatores de crescimento e
agrupam para formar subdomínios maiores, ordenados, sinalização por receptor proteína G também envolvem
na membrana. Alguns desses localizam-se em regiões balsas de membranas. Foram relatadas funções para as
específicas da membrana plasmática. balsas lipídicas na patogênese de condições como doen
ças de Alzheimer, Parkinson, cardiovasculares, lúpus
eritematoso sistêmico e HIV. Bactérias, príons (Correla-Correla
ção Clínica 3.6, p. 118), vírus e parasitas utilizam balsas
lipídicas de células para sua infectividade.

Ambiente Dinâmico das Membranas


As membranas biológicas (ver Figura 12.22) estão
em um estado de constante mudança, com movimento
de proteínas e lipídeos lateralmente, com associação e
dissociação de proteínas na membrana, com proteínas
e lipídeos se movimentando para dentro e para fora, e
com modificações (por exemplo, acilação e fosforila
ção) de proteínas. Até mesmo a espessura da bicamada
lipídica varia em virtude de mudanças na composição
em lipídeos e proteínas. Microambientes estão constan
temente sendo formados e dispersos. Uma membrana é
um ambiente muito densamente povoado, consideran
FIGURA 12.31 Representação esquemática das balsas do-se o número estimado de enzimas, receptores, ca
lipídicas (lipid rafts) de membranas. nais e transportadores presentes. Os componentes da
O diagrama indica o movimento das balsas lipídicas, com a fu membrana plasmática de mamíferos interagem com o
são de balsas e a associação de duas proteínas. citoesqueleto do citoplasma, com componentes extra
celulares e entre si. Nem palavras nem ilustrações são
Algumas proteínas de membrana ficam associadas capazes de capturar a complexidade e o estado dinâmi
principalmente com balsas, algumas movem-se para co das membranas biológicas ou de suas intensas fun
dentro e para fora das balsas, e outras estão presentes ções em tantos processos biológicos diferentes.
apenas nas porções não-balsa da membrana.

Proteínas ancoradas por glicosilfosfatidilinositol


(GPI) (p.. 490)490) predominampredominampredominam nasnasnas balsasbalsasbalsas lipídicas,lipídicas,lipídicas, eee pro-pro-pro 12.5 RECEPTORES DE
teínas ancoradas CAAX feniladas (p. 491) ficam nas MEMBRANAS
balsas, na camada interna. Em algumas células, a balsa
e a proteína sequestrada ficam ligadas ao citoesquele As células biológicas têm um grande número de pro
to da célula. Certas proteínas envolvidas na sinalização teínas receptores específicos que ligam outras molécu
celular são mantidas no estado inativo em balsas indi las ou reagem a estímulos específicos para iniciar uma
viduais; a ativação ocorre quando várias balsas se aglu resposta celular. Proteínas receptores ficam ligadas à
tinam, formando uma balsa maior e aproximando as membrana plasmática ou intracelular, ou estão presen
proteínas inativas (Figura 12.31). Outras proteínas têm tes como proteínas solúveis no citoplasma ou no núcleo.
uma baixa afinidade pelas balsas no estado não-ligado, As moléculas que se ligam a um receptor, chamadas li
mas após ligação de um ligante sofrem uma mudança gantes, são um link de comunicação ou sinal. Moléculas
conformacional ou oligomerizam, aumentando sua afi sinais podem ser geradas em um compartimento de uma
nidade por uma balsa específica. Algumas proteínas célula para estimular uma mudança em uma atividade
periféricas de membrana são palmitoiladas, levando presente em outra parte da mesma célula, ou o sinal pode
à associação com uma balsa; elas se dissociam após a ser gerado por uma célula para alterar a atividade de
despalmitoilação. uma célula diferente. Moléculas sinalizadoras intracelu
494 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

lares, isto é, ligantes gerados por uma célula para mudar tores têm um alto grau de especificidade pelos ligan
a atividade de outra célula, reagem ou com receptores na tes, e alguns receptores respondem a estímulos como
membrana plasmática ou com receptores intracelulares. luz e temperatura (Tabela 12.7). Existem também re
Ligantes tais como moléculas carregadas, peptídeos e ceptores da membrana plasmática, como os receptores
proteínas, não podem atravessar a membrana por cau tipo-Toll (TLR, Toll-like receptors) que induzem uma
sa de sua carga ou tamanho, e reagem com receptores resposta quando bactérias ou vírus se ligam; a ligação
na membrana plasmática, na superfície extracelular da estimula uma defesa do hospedeiro contra os patógenos
membrana. Moléculas que podem se difundir através invasores. O transporte de proteínas destinadas à se
da membrana plasmática, como esteroides, ligam-se a creção entre o retículo endoplasmático e o Golgi envol
receptores intracelulares solúveis. Sinais intracelulares ve receptores de membrana que reconhecem sinais de
podem se ligar a receptores solúveis ou a receptores no seleção específicos codificados pela carga, na proteína.
lado citoplasmático da membrana. Há uma variedade de
respostas iniciais à interação ligante–receptor, incluindo TABELA 12.4 Respostas Celulares à Interação Ligante–
a ativação de uma enzima, liberação de uma molécula Receptor
intermediária que é reconhecida por um intermediário
Estímulo de crescimento e diferenciação
subsequente em uma via de sinalização, ou abertura de
um canal na membrana para permitir o fluxo de íons. As Modulação do sistema nervoso periférico e central
principais vias de transdução de sinal são apresentadas
no Capítulo 13 (p. 525), e as respostas dos tecidos às Controle do sistema reprodutor
moléculas sinalizadoras serão descritas na apresentação Regulação de processos metabólicos
dos processos celulares individuais.
Estímulo de funções imunológicas
A sinalização entre células permite que células indivi
duais respondam às necessidades do organismo inteiro; TABELA 12.5 Classificação dos Receptores da Membrana
respostas representativas à ligação do ligante ao recep Plasmática
tor são apresentadas na Tabela 12.4. Existem centenas
do Receptor
Classificação Exemplos
Insulina
de receptores diferentes na membrana plasmática; a Ta
de Receptores
bela 12.5 apresenta as três classes principais. O grupo
maior e mais diversificado de receptores de membrana Acoplado a proteína G Glucagon
é o dos receptores acoplados a proteína G (p. 542), que Acetilcolina
ocorre tanto em células procarióticas como eucarióticas.
tirosina quinase
Catalítico:
Os receptores de membrana são classificados com Eritropoietina
base na homologia de estrutura da proteína e no me
canismo; receptores representativos com seus ligantes/ Transporte de íon Ácido g-aminobutírico
atividades são apresentados na Tabela 12.6. Os recep Glutamato

TABELA 12.6 Receptores da Membrana Plasmática Representativos


NúmerodeReceptores Ligante Representativo ou Atividade
Receptor

Receptores de citocina tipo 1 43 Leptina


Receptores de citocina tipo 2 11 Interferon
Ancorados por GPI 4 Fator neurotrópico
Receptores guanilil ciclase 7 Retinil guanilato ciclase
Receptores de interleucina-17 8 Interleucina
Integrinas 28 Laminina
Receptor de lipoproteína de baixa densidade (LDL) 14 Lipoproteína de baixa densidade
Outros receptores não 7-TM* 156 Transferrina
Proteínas tirosina fosfatases tipo-receptor 24 Proteína tirosina fosfatase
Receptores tirosina quinases 87 Precursor do receptor de insulina
Receptores sete transmembrânicos (7TM) 754 Dopamina; ocitocina; luz
Receptores serina/treonina quinase de TGF-beta 13 Serina/treonina quinase R2
Tetraspaninas 36 Adesão celular
TNF/NGF 33 Precursor de fator de necrose tumoral
*TM, transmembrânico; Fonte: Receptores de Membrana Plasmática Humana, www.receptome.org.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 495

TABELA 12.7 Ligantes de Receptores


12.6 DESLOCAMENTO DE
Íons Proteínas
MOLÉCULAS ATRAVÉS DE
Aminoácidos Sabores
MEMBRANAS
Lipídeos Toxinas
Nucleotídeos Vírus Algumas Moléculas se Difundem
Polipeptídeos Odorantes Através das Membranas Celulares
Hormônios Feromônios
A difusão de uma espécie química através de uma
Neurotransmissores Fótons membrana envolve (1) deixar o ambiente aquoso de
um lado e entrar na membrana; (2) atravessar o meio
Armbruster, B. N. e Roth, B. L. J. Biol. Chem. 280:5129, 2005.
lipídico da membrana, e (3) deixar a membrana e en
A ligação de uma molécula sinalizadora a seu recep trar na fase aquosa do lado oposto (Figura 12.32). O
tor é um processo de equilíbrio (p. 533). É semelhante fluxo só pode ser a favor do gradiente de concentração
à ligação do substrato a uma enzima, mas na maioria da substância. Restrições termodinâmicas e cinéticas
dos casos de ligação ao receptor não ocorre modificação controlam o equilíbrio de concentração nos dois lados
química do ligante ligado. À medida que a concentração da membrana e a velocidade com a qual ela alcança o
de ligante livre na fase aquosa aumenta ou diminui, o equilíbrio. A velocidade de difusão de uma espécie quí
ligante se associa ou dissocia do receptor; a dissocia mica em uma membrana é diretamente proporcional à
ção encerra o processo de sinalização. A maioria dos sua solubilidade e ao coeficiente de difusão em lipídeos;
receptores tem afinidades muito altas por seus ligantes, o último é uma função do tamanho e da forma da subs
e alguns receptores reagem com ligantes de estruturas tância. O movimento de solutos por difusão é de uma
diferentes. Receptores são excelentes alvos para a ação concentração mais alta para uma mais baixa, e a velo
de compostos farmacológicos. cidade é descrita pela primeira lei de difusão de Fick
(Equação 12.1).
Estima-se que cerca de 5% das proteínas codificadas
pelo genoma humano sejam receptores da membrana δcδx )
J = −D ( (12.1)
plasmática. O alto grau de tecido-especificidade de ação
das moléculas sinalizadoras ocorre porque células de
tecidos diferentes expressam receptores diferentes. Por onde J = a quantidade final de substância movida por
exemplo, a insulina, uma molécula sinalizadora, altera o unidade de tempo, D = o coeficiente de difusão e
metabolismo de glicose no músculo e no fígado, mas não δc/δx = o gradiente químico da substância. À medida
na maioria dos outros tecidos. A resposta celular a um li que a concentração do soluto em um lado da membrana
gante é modulada pelo número de moléculas de recepto aumenta, há uma velocidade inicial de difusão crescen
res na membrana plasmática. Um aumento no número de te, como ilustrado na Figura 12.33. O movimentoovimento resul-resul-resul
receptores, chamado superexpressão ou upregulation tante de moléculas de um lado para o outro continuará
do receptor, aumenta a resposta celular; uma diminui até que a concentração de cada um esteja em equilíbrio
ção, ou subexpressão (downregulation), leva a uma di
minuição da resposta. A incorporação de receptores na,
e a remoção da, membrana é um processo controlado. Lado 1 Lado 2

Receptores de membrana que atravessam a mem


brana podem ter um único ou múltiplos domínios de
aminoácidos transmembrânicos. Os receptores acopla
dos a proteína G, que ocorrem em bactérias ou células
eucarióticas (p. 542),542),), têmtêmtêm setesetesete domíniosdomíniosdomínios transmem-transmem-transmem S1 Sm S2
brânicos discretos (receptores 7TM). Os receptores
7TM humanos são classificados em seis famílias, com
base nas similaridades das sequências de seus domí
nios transmembrânicos. Alguns receptores requerem
a formação de oligômeros homoméricos ou heteromé
ricos para sua atividade. A ligação do ligante altera a
estrutura terciária ou quaternária, levando à iniciação
da resposta celular. Em uma classe de receptores, um
receptor de superfície se liga a um ligante e depois se FIGURA 12.32 Difusão de uma molécula de soluto
liga a um segundo receptor (receptor de sinal), que ini através de uma membrana.
cia a reação celular. Nesse caso, o receptor de ligação S1 e S2 são solutos em cada lado da membrana, e Sm é o soluto
do ligante é chamado correceptor. na membrana.
496 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

químico. Troca contínua de moléculas de soluto de um água que circunda muitos solutos deve ser removida an
lado para o outro ocorre depois do equilíbrio ser atingi tes que o soluto entre no meio lipídico. Íons inorgânicos
do, mas não há acúmulo em nenhum dos lados, pois isso e moléculas orgânicas carregadas não se difundem em
criaria um gradiente de concentração. velocidade significante em virtude de sua atração pela
água e da exclusão de espécies carregadas pelo am
biente hidrofóbico das membranas. Moléculas orgânicas
não-carregadas, como açúcares, são essencialmente
s
excluídos, assim como peptídeos, proteínas e ácidos nu
é Transporte mediado
v
a cleicos, em virtude de seu tamanho e carga. Se ocorrer
t
a
o
t
difusão, a velocidade será lenta demais para atender às
n
e necessidades celulares.
m
i
v a
o n
mar
e b
d m
e e
d
Mecanismos Baseados em Proteínas
a m
i a
d
c m
lo u
para Deslocamento
e e
Vd
Várias centenas de sistemas mediados por proteí
Difusão nas, cada um com um conjunto diferente de proteínas,
evoluíram para facilitar o movimento de água, íons,
Concentração de soluto nutrientes, produtos residuais metabólicos e macro
moléculas através de diferentes membranas celulares.
FIGURA 12.33 Cinética do movimento de uma molécula As proteínas envolvidas em cada sistema de diferentes
de soluto através de uma membrana.
organismos, e até mesmo entre órgãos de uma espécie,
A velocidade inicial de difusão é diretamente proporcional à
concentração de soluto. No transporte mediado, a velocidade são muito semelhantes, mas não idênticas. Um sistema
alcançará uma Vmáx quando o transportador ficar saturado. de classificação funcional das proteínas de transporte
de membrana, recomendado pela International Union
Gases, como O2, N2, CO2, NO, CO e H2S, e moléculas of Biochemistry and Molecular Biology (IUBMB)
lipofílicas difundem-se através das regiões hidrofóbi (Tabela 12.8), divide-as em classes, subclasses, famí
cas de uma membrana. A água difunde-se sob pressão lias e subfamílias com base no mecanismo de trans
osmótica, mas na maioria das células a velocidade não porte e suas propriedades. Muitas das proteínas estão
atende às necessidades de equilíbrio rápido das fases presentes só em procariotos; muitas outras em ambos,
aquosas em ambos os lados da membrana plasmática; procariotos e eucariotos, incluindo mamíferos. Existe
uma família de proteínas, as aquaporinas, facilita o mo uma homologia estrutural das proteínas de muitas das
vimento transmembrânico da água (p. 596). A capa de subfamílias. A discussão a seguir focaliza os sistemas

TABELA 12.8 Classificação das Proteínas de Transporte de Membrana


Classe Subclasse (# de famílias)
1. Poros e canais 1.A Canais a-helicoidais (36)
1.B Porinas b-fitas (34)
1.C Toxinas formadoras de poros (58)
1.D Canais sintetizados não-ribossomicamente (10)
2. Transportadores dirigidos por potencial 2.A Transportadores ou carregadores (carriers) (uni-, sim
eletroquímico e antiporters) (80)
2.B Transportadores sintetizados não-ribossomicamente (6)
3. Transportadores ativos primários 3.A Transportadores dirigidos por hidrólise de ligação P-P (14)
3.B Transportadores dirigidos por descarboxilação (1)
3.C Transportadores dirigidos por transferência de metil (1)
3.D Transportadores dirigidos por óxido-redução (9)
3.E Transportadores dirigidos por luz (2)
4. Translocadores de grupo 4.A Fosfotransferases (6)
5. Carregadores transmembrânicos de elétrons 5.A Carregadores de dois elétrons (2)
5.B Carregadores de um elétron (3)
Fonte: Moss, G. P. Membrane Transport Proteins. http://www.chem.qmul.ac.uk/iubmb/mtp/.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 497

de transporte de células de mamíferos e, especifica


UM OLHAR MAIS ATENTO 12.2
mente, os das classes chamadas poro/canal (1.A, 1.B e
1.C) e transportador (2.A e 3.A) (Tabela 12.8). Uma di Deslocamento de Grupo e o Ciclo g-Glutamil
versidade de outros termos para descrever os sistemas
de transporte aparece na literatura científica, mas a no Algumas bactérias têm um mecanismo para cap
menclatura recomendada atualmente será usada aqui. tação de açúcares, chamado deslocamento de grupo,
no qual o açúcar a ser transportado é quimicamente
Poros e canais implicam na presença de um poro modificado durante o deslocamento. O açúcar é fosfo
aquoso na estrutura da proteína através do qual molé rilado após ligação, mas antes da liberação do trans
culas se difundem; o movimento é controlado por um portador. O açúcar fosforilado é liberado no citoplas
mecanismo de porta (gating). As proteínas transporta ma, e não o açúcar original, não-fosforilado. Nenhum
doras são semelhantes a enzimas, ligando o soluto em sistema de deslocamento de grupo foi encontrado em
um lado da membrana, depois mudando de conformação,
células de mamíferos. O ciclo g-glutamil (p. 812), um
e movendo o substrato para o ambiente do lado oposto da importante sistema para captação de aminoácidos
membrana. Isso ocorre dentro da parte membrânica da por algumas células de mamíferos, envolve a modifi
proteína transportadora. A maioria dos poros/canais e cação de um aminoácido pela g-glutamil transferase
transportadores tem um alto grau de especificidade pelo da superfície externa da membrana plasmática. O
soluto. A velocidade de deslocamento do substrato por aminoácido modificado é então transportado para
canais é maior do que por transportadores específicos; o citoplasma por um transportador de aminoácidos.
para canais, a velocidade é cerca de 107 íons/s, que é ave Este ciclo não é classificado como deslocamento de
locidade de difusão de uma substância na água, enquan grupo porque proteínas separadas catalisam a modi
to com transportadores é cerca de 102–103 moléculas/s. ficação química e o transporte.
Uma variedade de substâncias, chamadas substratos,
é transportada, incluindo ânions e cátions, água, inter
mediários metabólicos, moléculas orgânicas, drogas e
macromoléculas. Em células eucarióticas, as substâncias
deslocadas não mudam durante o processo. Algumas passagem, e (4) inibido por vários compostos. Os poros
bactérias têm uma classe de transportadores chamados consistem de várias proteínas diferentes e, em compa
transportadores de grupo (group translocation), em ração com os canais, têm uma estrutura complexa. Uma
que o substrato é quimicamente modificado durante o importante diferença entre canais e poros é a especifi
transporte (UmUm OlharOlhar MaisMais AtentoAtento 12.2).12.2).). AlgumasAlgumasAlgumas subs-subs-subs cidade com a qual o sistema permite o deslocamento.
Os poros têm aberturas relativamente grandes, permi
tâncias são transportadas por dois mecanismos diferen
tes em células diferentes e, em alguns casos, na mesma tindo que várias moléculas pequenas e grandes atraves
célula. Subfamílias de proteínas de transporte de mem sem a membrana, enquanto os canais têm um alto grau
brana têm muitas isoformas, todas com a mesma função. de especificidade pelo soluto.
Por exemplo, o néfron do rim tem, pelo menos, sete iso
formas diferentes de aquaporinas, todas responsáveis
pelo deslocamento de água. Além disso, muitos trans
Estruturas dos Canais de Membrana
portadores são controlados por moléculas sinalizadoras As proteínas dos canais têm uma de duas estrutu
intra- ou extracelulares e também são designados como ras principais: canais tipo-a e canais barril-b. Canais
receptores ligante-específicos (ver Seção 12.5). tipo-a são proteínas homo- ou hetero-oligoméricas, em
alguns casos com várias subunidades diferentes, e po
dem ter de 2 a 22 segmentos a-helicoidais transmem
12.7 CANAIS E POROS DE brânicos (ver Figura 12.27). Uma característica física
comum dos canais é uma estrutura formada por a-héli
MEMBRANAS ces anfipáticas de diferentes segmentos transmembrâ
nicos de uma única cadeia polipeptídica ou de diferen
Canais e poros de membrana são ubíquos em orga tes subunidades proteicas, que criam um canal aquoso
nismos vivos, estando presentes em todos os tipos de central. Além dos domínios contendo o poro real, as
organismos, de bactérias até eucariotos superiores. proteínas dos canais contêm domínios para a ligação de
Canais e poros permitem a difusão em canais aquosos ligante e para sentir mudanças físicas, como mudanças
criados pelas proteínas transportadoras. Eles não se no potencial de membrana, que controlam a abertura
questram moléculas ou íons em trânsito, e sua especifi e o fechamento do canal. Canais tipo-a em mamíferos
cidade é baseada no tamanho e na carga da substância. funcionam como sensores celulares, respondendo a mu
A difusão em canais e poros é (1) a favor do gradiente danças de temperatura, toque, dor, osmolaridade, fero
de concentração da substância que está atravessando mônios, sabor e outros estímulos.
a membrana, (2) ativo sem utilização de energia meta
bólica para o movimento real da substância, (3) regula Canais barril-b têm uma sequência transmembrâ
do por mecanismos específicos que abrem ou fecham a nica consistindo de fitas-b, que formam uma estrutura
498 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

barril-b (p. 97) com um canal cheio de água de 0,6 a 3 ao fechamento do canal. Alguns têm vários domínios
nm de diâmetro (Figura 12.34). Algumas bactérias e para ligação do ligante, o que permite cooperativida
plastídeos estão presentes nas membranas externas das de na ligação. Abertura e fechamento são realizados de
mitocôndrias (porinas). Várias porinas bacterianas diferentes formas, incluindo (1) segmentos transmem
consistem de estruturas barril-b com 16 fitas antipara brânicos a-helicoidais que revestem o poro movendo-se
lelas, com pontes de hidrogênio entre os vizinhos mais como um corpo rígido que se inclina, gira ou dobra, e
próximos ao longo da cadeia. Alças polipeptídicas re (2) uma extremidade terminal ligada que oscila para
vestem a parede interna do barril, limitando a largura dentro do canal, fechando-o fisicamente.
do canal e restringindo o tamanho das moléculas capa
zes de se difundir através dele. Essa subclasse de canais A ligação de acetilcolina ao receptor nicotínico de
tem uma ampla faixa de seletividade para substrato, de acetilcolina abre o canal, permitindo o fluxo de Na+
para dentro da célula. Isso é importante na transmis
íons inorgânicos a proteínas. As porinas podem ser não
-seletivas ou apresentar algum grau de seletividade, e são de sinal elétrico neuronal (p. 965). Outros canais
algumas permitem a passagem de qualquer molécula são controlados pela ligação de neurotransmissores (p.
menor do que um tamanho limite específico. ), cAMP (p. 549),
535), ), inositol 1,4,5-trisfosfato, diacil
glicerol (p. 552) e proteínas G (p. 542). A abertura da
maioria dos canais é muito rápida, permitindo surtos
de fluxo iônico de 107 íons por segundo através da mem
brana. Essa velocidade é necessária porque muitos des
ses canais estão envolvidos na condução nervosa e na
contração muscular. A superfície de um terminal ner
voso pode conter várias centenas de diferentes canais,
incluindo canais voltagem-dependentes de Ca2+ e K+,
canais de K+ dependentes de Ca2+, canais de Cl–, canais
ligante-dependentes e canais ativados por estiramento.
Alguns canais são controlados não só pela ligação do
ligante, mas também por fosforilação-defosforilação.
Um grande número de agentes farmacológicos é usado
terapeuticamente para modular canais; os que inibem
são chamados antagonistas.

Diferentes classes de canais são muito seletivas com


FIGURA 12.34 Estrutura de porina Ompf em forma relação ao íon inorgânico, moléculas orgânicas peque
cristalina tetragonal. nas (por exemplo, ureia), ou proteínas que podem se
Os segmentos transmembrânicos da porina são hélices-b. mover através do canal. O canal de Na+ da membrana
PDB ID: 10 PF. Cowan, S.W., Garavito, R. M., Jansonius, J. N., plasmática de células eucarióticas permite o movimento
Jenkins, J. A., et al. The structure of Ompf porin in a tetragonal de Na+ a uma velocidade mais de 10 vezes maior do que
crystal form.Structure 3:1041, 1995. de K+, e alguns canais de K+ são 100–1.000 vezes mais
permeáveis a K+ do que a Na+. Outros canais são menos
específicos. Alguns membros da família das aquapori
Controle e Seletividade dos Canais nas são seletivos só para água, enquanto outros permi
de Membrana tem o deslocamento tanto de água como de moléculas
orgânicas pequenas, neutras. Existem também diferen
As duas classes mais estudadas de canais são as que ças de tecido para tecido em canais que transportam o
respondem a uma mudança no potencial de membra mesmo soluto. Mais de 15 canais de K+ voltagem-depen
na, chamadas canais voltagem-dependentes, e as que dentes diferentes foram descritos no homem. Um méto
respondem à ligação de um ligante, os canais regula do de seletividade envolve anéis de resíduos carregados
dos por ligante. Os canais voltagem-dependentes têm positivamente no canal, que excluem cátions e facilitam
um domínio sensor específico que detecta mudanças o fluxo de ânions; resíduos carregados negativamente
no potencial de membrana e transfere a energia para facilitam o fluxo de cátions.
o domínio do canal para controlar sua abertura. Por
exemplo, a despolarização da membrana plasmática
leva à abertura de canais de Na+. A membrana mito Canais de Membrana e Poros
condrial externa contém um canal de ânions voltagem
-dependente consistindo de folhas-b, que permite a
Representativos
passagem de substâncias de até 10 kDa e desempenha Aquaporinas e Aquagliceroporinas
um papel na apoptose (p. 1034). Canais regulados por
ligante respondem à ligação extracelular ou intracelu É essencial, para todas as células, o controle da dis
lar de ligantes químicos específicos (também chamados tribuição de água através das membranas plasmática e
agonistas) e, dependendo do canal, leva à abertura ou internas porque alterações de pressão osmótica podem
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 499

TABELA 12.9 Local de Expressão de Aquaporinas Selecionadas no Homem


Tecido Local de Expressão Aquaporina Função
Células do sangue Eritrócitos AQP1 Proteção osmótica
Leucócitos AQP9a ?

Cérebro Plexo coroide AQP1 Produção de líquido cérebro-espinal


Células ependimais AQP4 Equilíbrio do líquido cérebro-espinal
Hipotálamo AQP4 Sentir osmolaridade (?)
Olho Células fibrosas do cristalino AQP0 Equilíbrio líquido no cristalino
Epitélio ciliar AQP1 Produção do humor aquoso
Rim Túbulos proximais AQP1 Concentração de urina
Ductos coletores AQP2 Mediador de atividade de ADHb

Ductos coletores AQP3a Reabsorção de água para o sangue

Ductos coletores AQP4 Reabsorção de água


Ductos coletores AQP6 ?
Pulmão Células epiteliais alveolares AQP1 Hidratação alveolar
Epitélio brônquico AQP4 Secreção de fluido brônquico
Boca e garganta Células epiteliais da traqueia AQP3a Secreção de água na traqueia

Glândulas salivares AQP5 Produção de saliva


aUma aquagliceroporina.
b Hormônio antidiurético.

Fonte: King, L. S., Kazono, D. e d Agre, P. From structure to disease: The evolving tale of aquaporin biology. Nature Rev.: Mol. Cell Biol. 5:687, 2004.

causar expansão ou contração dos compartimentos As aquaporinas são proteínas intrínsecas de mem
envolvidos. Ocorre difusão não-facilitada de água atra brana pequenas, hidrofóbicas, com várias sequências de
vés de membranas biológicas, mas é lenta demais para aminoácidos muito conservadas. Elas se organizam nas
responder às velocidades requeridas de movimento de membranas em homotetrâmeros (Figura 12.35). Cada
água. Mais de 200 proteínas de canais diferentes em monômero, consistindo de seis domínios transmembrâ
plantas, bactérias, insetos e vertebrados permitem o nicos a-helicoidais, contém um poro de água distinto.
deslocamento de água e de outras moléculas pequenas AQP1 do eritrócito humano contém um motivo de se
e, como grupo, são chamadas aquaporinas (AQP). Doze quência muito conservado, consistindo de asparagina
aquaporinas de mamíferos foram identificadas, que são -prolina-alanina em duas alças separadas. As alças se
divididas por homologia de sequência de aminoácidos dobram para dentro da bicamada lipídica, como uma
e características funcionais em canais que são seleti ampulheta, formando um canal aquoso. A seletividade
vos só para água (aquaporinas) e os que permitem o deve-se a uma constrição do canal com cerca de 2,8 Å, o
deslocamento de água e de pequenos solutos (aquagli que limita o tamanho das moléculas que podem passar.
ceroporinas). As aquaporinas permitem o movimento A passagem aquosa de AQP1 (Figura 12.36) é revestida
de H2O, mas não de íons hidrônio (H3O+), mantendo por resíduos hidrofóbicos conservados e alguns poucos
assim o gradiente de pH através da membrana celular. resíduos hidrofílicos que atraem H2O, mas não molécu
O homem tem pelo menos 10 aquaporinas e aquaglice las carregadas como H3O+. Moléculas de água aparente
roporinas (AQP0 a AQP9); os locais de expressão de mente fluem através do canal em uma fila indiana (um
aquaporinas selecionadas no homem são apresentados de cada vez).
na Tabela 12.9. Alguns tecidos têm várias isoformas di
ferentes, com diferentes funções; o rim tem pelo menos Além de água, AQP1 permite o deslocamento de
sete isoformas, localizadas em pontos diferentes ao lon CO2, AQP3 de glicerol, e AQP9 de glicerol, ureia, polióis,
go do néfron e do ducto coletor. A Correlação Clínica purinas, pirimidinas, nucleosídeos e monocarboxilatos.
12.3 descreve a distribuição das aquaporinas nos rins e AQP1 é inibida reversivelmente por HgCl2.AQP2 no rim
exemplifica alterações patofisiológicas. As aquaporinas humano está sob controle hormonal, e pelo menos três
de plantas contribuem para a captação de água pelas outras podem ser controladas por pH.
raízes, a transpiração e a dessecação de sementes.
500 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.3

O Rim de Mamíferos e as Aquaporinas

A função primária do rim é regular o pH do sangue, humanos sem atividade de AQP1 do rim aparentemente
eliminar produtos tóxicos do metabolismo e regular não têm problemas detectáveis em condições normais,
o equilíbrio hídrico do corpo. Cada rim contém cerca mas podem ter em condições de estresse (desidrata
de um milhão de néfrons, as unidades funcionais mul ção). Espera-se que condições clínicas adicionais ve
ticelulares do tecido. Cada néfron tem várias regiões nham a ser atribuídas a alterações nas outras aquapo
distintas (ver diagrama), cada uma com funções mui rinas.
to específicas no processamento do filtrado do sangue,
que ocorre no glomérulo. Uma grande quantidade de
sangue é filtrada (cerca de 150 L/dia), e a água deve
ser reabsorvida no néfron e nos ductos coletores, ex
ceto cerca de 1,5 L, que são excretados como urina. As
aquaporinas são responsáveis pela recuperação de água
do filtrado à medida que ele flue pelo lúmen do néfron.
Como indicado no diagrama, pelo menos sete diferen
tes isoformas de aquaporinas, localizadas em diferentes
pontos ao longo do néfron e dos ductos coletores, são
responsáveis pela reabsorção de água.

Existem várias doenças renais nas quais a reab


sorção de água é anormal e nas quais a expressão e a
função das aquaporinas foi investigada. Vários modelos
animais dessas condições foram valiosos para a deter
minação da causa de algumas dessas condições. Baixos
níveis de AQP2 e poliúria (excreção excessiva de uri
na) são encontrados na diabetes insipidus nefrogênica
adquirida (NDI), hipocalemia adquirida (baixo K+ san
guíneo) e hipercalcemia (Ca2+ sanguíneo aumentado).
Em muitos casos, NDI é causada pela incapacidade do
rim responder à vasopressina (p. 916); considera-se que Localização de aquaporinas em cada segmento do né
isso leve a uma expressão diminuída e/ou incorporação fron e ductos coletores do rim. Modificado a partir de
de AQP2 na membrana. Em outros casos de NDI, há um figura das citações a seguir.
defeito no gene da aquaporina; em alguns casos, este
defeito leva a uma incapacidade do monômero formar King, L. S. e Yasui, M. Aquaporins and disease: Lessons
from mice to humans. Trends in Endocrinology & Meta
estruturas tetraméricas normais. Os níveis de AQP1,
bolism 13: 355, 2002; Nielsen, S., Frokiaer, J., Marples, D.,
AQP2 e AQP3 em modelos animais estão reduzidos na Kwon, T-H. et al. Aquaporins in the kidney: From molecules
isquemia tissular. Em algumas condições, como insufi to medicine. Physiol. Rev. 82: 205, 2002; e King, L. S., Ko
ciência cardíaca congestiva, cirrose hepática e gravidez, zono, K., e Agre, P. From structure to disease: The evolving
há um aumento na quantidade de AQP2 no rim, levando tale of Aquaporin biology. Nature Reviews Molecular Cell
a uma expansão no volume líquido extracelular. Seres Biology 5:687, 2004.

Canais iônicos de Na+, Ca2+, K+ e Cl– Cada canal iônico consiste de subunidades glico
controlados por voltagem proteicas específicas, como estruturas homo- e hete
ro-oligoméricas (Tabela 12.10). As grandes subunida
Os canais individuais voltagem dependentes (VIC) des a (cerca de 260 kDa) contêm o canal condutor do
para Na+, Ca2+ e K+ são controlados pelo potencial elétri íon. Elas têm quadro domínios homólogos, cada um
co transmembrânico. Eles abrem e fecham muito rapida com seis segmentos transmembrânicos, conectados
mente (milissegundos) e, em células de mamíferos, são por alças intracelulares e extracelulares, num total
responsáveis pela geração de sinais elétricos conduzidos de 24 segmentos transmembrânicos (Figura 12.37).
por neurônios e outras células excitáveis. Os canais iôni Subunidades acessórias (b, gou δ) não têm estrutura
cos são membros de uma grande superfamília encontra comum; algumas têm vários segmentos transmemb
da em bactérias, archaea, vírus e eucariotos. No homem, rânicos, e outras são proteínas periféricas localizadas
existem seis tipos de canais de Ca2+ e pelo menos dez ti inteiramente intra- ou extracelularmente. Estão ge
pos de canais de K+, respondendo a diferentes estímulos. ralmente envolvidas na regulação do canal; subunida
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 501

FIGURA 12.35 Simulação da permeação de água por AQP1.


(a) A simulação do tetrâmero AQP1 (laranja/magenta/azul/tur meação de água, observado pelo poro.
quesa) mergulhado em uma bicamada de palmitoil oleil fosfa Figura reproduzida com permissão de Fujiyoshi, Y., Mitsuoka,
tidiletanolamina (amarelo/verde) circundada por água (verme k., de Groot, B. L., Philippsen, A. et al. Structure and function
lho/branco), consistindo de aproximadamente 100.000 átomos. of water channels. Curr. Opin. Struct. Biol. 12:509, 2002. Co
(b) Simulação da via de um dos monômeros de AQP1 para per pyright© Elsevier.

– TABELA 12.10 Composição em Subunidades de Canais de


Extracelular
Cátions Voltagem-Dependentes
Restrição de
tamanho
Canal de Cátion Subunidades

180H – + Na+ a, b1 e b2

Repulsão K+ 4a, b
192N P +A
A R195 eletrostática

do dipolo da água Ca2+ a1, a2, δ e b


Reorientação + PN

AAA P 76

des b podem interagir com proteínas do citoesqueleto


e da matriz extracelular. Um modelo do canal de Na+
é apresentado na Figura 12.38. Um segmento trans
membrânico tem um resíduo carregado positivamente
em cada terceira posição, e pode ser o domínio sensor
– Intracelular de voltagem; o deslocamento mecânico desse segmento
pode levar a uma mudança conformacional da proteína,
FIGURA 12.36 Canal de água em uma subunidade de AQP1. resultando na abertura do canal. Foram sugeridos dois
A forma do poro aquoso (azul) é derivada de cálculos baseados
mecanismos muito diferentes para o entendimento de
na estrutura da AQP1 bovina. Três características do canal es
pecificam a seletividade por água: (a) Restrição de tamanho.
como o canal e os domínios sensores de voltagem são
Oito Å acima do ponto médio do canal, o poro se estreita para acoplados para iniciar a abertura do canal, mas nenhum
um diâmetro de 2,8 Å (aproximadamente o diâmetro de uma foi provado. A proteína de membrana responsável pelo
molécula de água). (b) Repulsão eletrostática. Um resíduo con deslocamento de prótons contém domínios para sentir
servado (R, Arg-195) na constrição mais estreita do poro im mudanças de voltagem na membrana, mas não foi des
põe uma barreira a cátions, incluindo a água protonada (H3O+). crito um domínio de canal.
(c) Reorientação do dipolo da água. Duas hélices parciais se
encontram no ponto do meio do canal, fornecendo dipolos car Podem existir canais iônicos voltagem-dependentes
regados positivamente que reorientam uma molécula de água em um de três estados conformacionais e funcionais:
quando ela passa por esse ponto. Quebra de pontes de hidro fechado (repouso), aberto (ativo) e fechado (inativo).
gênio na fila indiana de moléculas de água impede a formação Em resposta à despolarização da membrana, há uma
de uma condutância de prótons.
transição do estado fechado para o aberto. A transição
Reproduzido com permissão de Kozono, D., Yasui, M., King, L.
S. e Agre, P. Aquaporin water channels: Atomic structure and
entre os estados de repouso e inativo ocorre quando o
molecular dynamics meet clinical medicine. J. Clin. Invest. ligante se liga ou por fosforilação da proteína.
109:1395, 2002. Copyright© Elsevier.
Diferentemente dos canais de cátions, não se sabe
muito sobre a estrutura dos canais de Cl– voltagem
502 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

β2 NH3+ ψ
ψ
α +H3N β1 Canais Nicotínicos de
Acetilcolina (nAChR)
O canal nicotínico de ace
12345 + 6 1 2345 + 6 1 2345 +
6 6 1 2345
+
tilcolina, também chamado
+ + + +
receptor de acetilcolina, é um
–OOC Sensor Poro P P P Drogas COO– exemplo de canal regulado por
de voltagem ligante, no qual a ligação de
acetilcolina (Figura 12.39) abre
P
COO– o canal. O nome dual é usado
+H3N P P
para diferenciar esse receptor
de outros receptores de acetil
FIGURA 12.37 Estrutura de subunidades do canal de Na+ voltagem-dependente.
As estruturas primárias das subunidades do canal de Na+ voltagem-dependente são ilustra colina, que funcionam de modo
das como um diagrama de dobramento transmembrânico. Cilindros representam prováveis diferente. O canal é expresso
segmentos de a-hélice. Os cilindros vermelhos representam o sensor de voltagem e cilin os na sinapse nervo-muscular (p.
dros azuis, os segmentos do poro (ver Figura 12.38). Linhas grossas representam as cadeias 971) e é um membro de uma
polipeptídicas de cada subunidade, com comprimentos aproximadamente proporcionais ao superfamília de canais iônicos
número de resíduos de aminoácidos nos subtipos de canais de Na+ cerebrais. Os domínios transmissor-dependentes, que
extracelulares das subunidades b1 e b2 são apresentados como estruturas globulares. São inclui os receptores de seroto
indicados os sítios de fosforilação da proteína. nina, ácido g-aminobutírico e
Redesenhado de Catterall, W. A., Goldin, A. I. e Waxman, S. G. Internat. Union of Pharm.
glicina (p. 964). Acetilcolina
XXXIX. Compendium of voltage-gated ion channels: Sodium channels. Pharmacol. Rev.
difunde para a membrana do
55:575, 2003.
músculo esquelético,, ondeonde inte-inte
-dependentes (p. 967);967);; eleseleseles aparentementeaparentementeaparentemente têmtêmtêm 121212 seg-seg-seg rage com o receptor de acetilcolina, abrindo o canal e
mentos helicoidais transmembrânicos. Canais de Cl– permitindo que íons carregados positivamente e pe
regulam o volume celular, estabilizam o potencial de quenos eletrólitos, mas não íons carregados negativa
membrana, estão envolvidos na transdução de sinal, e mente, fluam através do canal. O complexo do canal
regulam o transporte transepitelial. O regulador trans consiste de um complexo pentamérico de duas subu
membrânico da fibrose cística é um canal de Cl–. nidades a e uma de cada subunidades b, g e δ (Figura
12.40). Cada subunidade a é glicosilada, e duas outras
Os canais iônicos voltagem-dependentes têm um pa subunidades contêm lipídeos covalentemente ligados.
drão de expressão específico em diferentes tecidos. No Todas as subunidades têm extremidades N- e C-termi
homem, há um número considerável de doenças heredi nais extracelulares, quatro domínios que atravessam
tárias de canais iônicos, chamadas canalopatias, causa a membrana (M1, M2, M3 e M4), com uma longa alça
das por mutações nos canais de ânios e cátions (ver Cor-Cor citoplasmática entre M3 e M4, que contém sítios con
relação Clínica 23.8, p. 994). A Correlação Clínica 23.12, sensos para fosforilação por proteína quinases. Cin
p. 1001,1001,, descrevedescrevedescreve mudançasmudançasmudanças nosnosnos canaiscanaiscanais dedede cátionscátionscátions vol-vol-vol co domínios M2 justapostos (um de cada subunidade
tagem-dependentes em doenças musculares miotônicas. proteica) formam o poro condutor de íons. Os domí
nios M2 de canais receptores cátion-seletivos, como o
receptor nicotínico de acetilcolina, são enriquecidos
em aminoácidos carregados negativamente na “boca”
Lado intracelular do poro. Essa região funciona atraindo cá
extracelular
tions como Na+ e repelindo ânions como Cl–. A ligação
do neurotransmissor aos sítios extracelulares do com
plexo do receptor induz rearranjos muito pequenos e
sutis dos domínios M2. Esse rearranjo quase instan
tâneo remove as barreiras energéticas para o fluxo iô
nico pelo poro recoberto por água. A fosforilação da
subunidade a é necessária para a atividade. O fecha
Lado mento do canal ocorre em um milissegundo, em decor
citoplasmático rência da rápida hidrólise da acetilcolina e dissociação
dos produtos, acetato e colina, da proteína.

FIGURA 12.38 Modelo do canal de Na+.


O
O peptídeo único consiste de quatro unidades repetidas, com +
cada unidade se dobrando em cinco hélices transmembrâni CH3 COCH2CH2N (CH3)3
cas. Os segmentos transmembrânicos vermelhos representam
o sensor de voltagem. Redesenhado de Noda, M. et al., Nature, FIGURA 12.39 Estrutura da acetilcolina.
320:188, 1986.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 503

Várias neurotoxinas mortais, incluindo δ-tubocura


rina, o ingrediente ativo do curare, e várias toxinas de
serpentes, incluindo a-bungarotoxina, erabutoxina e
cobratoxina, inibem o receptor nicotínico de acetilcoli
na. Succinilcolina, um relaxante muscular, abre o canal
levando à despolarização da membrana; a succinilco
lina é usada em procedimentos cirúrgicos porque sua
atividade é reversível, em virtude da rápida hidrólise do
composto após a parada da administração.

Junções Comunicantes (Gap Junctions) e


Canais do Poro Nuclear
Junções comunicantes (gap junctions) e poros
nucleares são canais grandes de proteínas multimé
ricas. Junções comunicantes (ou gap) encontradas
nas membranas plasmáticas de células de mamíferos
consistem de canais proteicos transmembrânicos,
chamados conexons. Os conexons de uma célula se li
gam extremidade-com-extremidade com os conexons
da membrana de uma célula vizinha, criando um ca
nal de conexão (Figura 12.41). Conexons consistem de
proteínas homo- ou hetero-hexaméricas de conexinas
(proteínas de gap junctions). Doze subunidades, seis
em cada célula, formam uma estrutura hexamérica
em cada membrana. Mais de 15 isoformas de conexi
nas são conhecidas; cada uma tem quatro sequências
transmembrânicas a-helicoidais putativas. A organi
zação molecular de uma gap junction recombinante é
apresentada na Figura 12.42. O diâmetro da abertura
fica entre 1,2 e 2 nm. O canal aquoso é mediador do
acoplamento elétrico, bem como da troca entre célu
las de íons e metabólitos, mas não de macromoléculas.
Gap junctions compostas de diferentes conexinas
podem apresentar diferentes especificidades para so
lutos. Os canais ficam normalmente abertos. Ocorre
fechamento com aumento no Ca2+ citoplasmático, uma
mudança no metabolismo, uma queda no potencial
transmembrânico ou uma acidificação do citoplasma.
O controle também pode envolver fatores de cresci
mento específicos e fosforilação das conexinas. Quan
do o canal está aberto, as subunidades parecem ligei
ramente inclinadas, mas quando fechado elas parecem
estar mais perpendiculares à membrana, sugerindo
FIGURA 12.40 Modelo do receptor de acetilcolina (ACh). que as subunidades deslizem umas sobre as outras.
(a) O arranjo das subunidades do receptor de ACh e sua to
pologia comum. (b) Receptor de ACh mostrando a estrutura Os complexos do poro nuclear são organizações
a-helicoidal do poro (azul, hélices voltadas para o poro; verme
lho, hélices voltadas para o lipídeo) em relação às superfícies macromoleculares dinâmicas que atravessam as duas
da membrana e a estrutura folha-b (verde) compondo o domí membranas do envelope nuclear. Criam um canal para
nio de ligação do ligante; o asterisco denota o espaço aberto a passagem de proteínas, RNA e moléculas pequenas
em uma interface da subunidade. (c) Vista de corte transver em ambas as direções. Os poros têm um diâmetro flexí
sal através do pentâmero, no meio da membrana, mostrando a
partição da estrutura em partes voltadas para o poro e para o
vel de cerca de 9 a 20 nm, e 45 nm de comprimento. O
lipídeo, com espaços intervenientes. complexo do poro nuclear é composto de 50 a 100 prote
(a) Redesenhado de Wilson, G. G. e Karlin, A. Acetylcholine ínas, chamadas nucleoporinas. As moléculas pequenas
receptor channel structure in the resting, open, and desensi difundem-se passivamente em ambas as direções atra
tized states probed with the substituted-cysteine accessibility vés do canal, mas macromoléculas não. Proteínas, RNA
method. Proc. Nat. Acad. Sci. USA 98:1241, 2001. (b) Repro
duzido com permissão de Miyazawa, A., Fujiyoshi, Y. e Unwin,
e partículas ribonucleoproteicas são transportadas em
N. Structure and gating mechanism of the acetylcholine recep ambas as direções por proteínas carregadoras especí
tor pore. Nature 423:949, 2003. Copyright © (2003) Nature. ficas. Receptores nucleares, carioferinas, e fatores ci
504 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

O menos conhecido dos poros é o envolvido na tran


sição de permeabilidade mitocondrial. Essa abertura
ocorre na membrana interna, em resposta a estresse
oxidativo, perda de adenina nucleotídeos e aumento
Citoplasma
no Ca2+ mitosólico. A estrutura não foi conclusivamen
te definida. A abertura do poro pode levar à perda de
componentes da matriz mitocondrial e citocromo c, e à
Membrana plasmática
iniciação da apoptose (p. 1034). Esse poro pode ter um
papel importante na lesão por perfusão/reperfusão que
Espaço extracelular se segue à isquemia do tecido, como o que ocorre no
acidente vascular cerebral.
Membrana plasmática

Citoplasma
12.8 PROTEÍNAS DE
TRANSPORTE DE
MEMBRANA
Figura 12.41 Modelo de um canal na junção tipo fenda
(gap junction). Proteínas de transporte de membrana facilitam o
movimento de íons e moléculas através de uma mem
brana ligando-se e fisicamente movendo-os para chega
rem ao ambiente do lado oposto da membrana. Deve-se
tosólicos estão envolvidos na importação e exportação
notar que o movimento físico do substrato não requer
nuclear de proteínas. Carioferina b medeia a exporta
ção de macromoléculas ligadas a nucleoporinas e uma que a proteína mova realmente o substrato através de
toda a espessura da membrana. Como será discutido,
proteína GTPase, Ran. Proteínas destinadas ao núcleo, uma pequena distância pode mover o substrato entre
do citoplasma, contêm sequências curtas de aminoáci
dois ambientes diferentes da proteína. Para a maioria
dos, chamadas sequências de localização nuclear, que das substâncias, a velocidade do transporte mediado é
fazem delas alvos para a importação. O transporte pelo
significativamente maior do que a simples difusão por
complexo do poro nuclear ocorre por difusão facilitada uma membrana lipídica.
das proteínas carregadoras solúveis e complexos carre
gadores-macromoléculas. A atividade é regulada. Se S1 for o soluto no lado 1, e S2 no lado 2, então o
transportador promove o estabelecimento do equilíbrio
como se segue:
(a) (b) [S1]  [S2]
C
Os colchetes representam a concentração de soluto.
Se o transportador (T) for incluído, a reação fica
M
[S1] + T  [S –T]  [S2] + T
Se nenhuma energia de outra fonte for gasta, a con
E centração em ambos os lados da membrana será igual
no equilíbrio, mas se houver gasto de energia, pode
ser estabelecido um gradiente de concentração. Como
numa reação catalisada por enzima, o transportador
M
aumenta a velocidade, mas não determina o equilí
brio final. A proteína transportadora está inalterada
C no final da reação. Sua atividade pode ser avaliada nos
mesmos termos cinéticos de uma reação catalisada por
20Å
enzima, porque tem especificidade pelo substrato a ser
Figura 12.42 Organização molecular de uma gap junction transportado, cinética definida, catalisa um transporte
cardíaca recombinante. vetorial, e é afetada por inibidores competitivos e não
Modelo desenvolvido a partir de cristalografia eletrônica. (a) -competitivos. O transportador demonstra cinética de
Uma visão lateral completa é mostrada. (b) A densidade foi saturação (Figura 12.33, p. 496), enquanto a difusão
cortada para mostrar o interior do canal. M, bicamada da mem
simples não. Constantes como Vmáx e Km são determi
brana; E, espaço extracelular; C, espaço citoplasmático.
nadas para transportadores. Teoricamente, um trans
Reimpresso com permissão de Unger, V. M., Kumar, N. M., Gi
lula, N.B. e Yeager, M. Science 283: 1176, 1999. Com permis portador pode facilitar o movimento de um soluto em
são de AAAS. ambas as direções através da membrana, mas na maio
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 505

ria das situações há um movimento unidirecional em transportador mude de modo a ter menor afinidade
virtude do grande AG0’ da reação. (maior Km) pelo substrato. Uma mudança conforma
cional do transportador pode levar a uma diminuição
A maioria dos transportadores tem um alto grau na afinidade. Finalmente, na recuperação, etapa 4, o
de especificidade estrutural e estéreo-especificidade
transportador retorna à sua conformação original, após
para o substrato. No transporte mediado de D-glico
liberação do substrato.
se nos eritrócitos, o Km para D-galactose é 10 vezes
maior, e para L-glicose 1.000 vezes maior do que para
D-glicose, demonstrando uma afinidade muito menor
por D-galactose e L-glicose. O transportador prati Lado 1 Lado 2

camente não tem atividade com D-frutose ou dissa


carídeos. Análogos estruturais do substrato de um 1 Reconecimento S1
transportador inibem competitivamente, e reagentes
que reagem com grupos específicos das proteínas são
inibidores não-competitivos.

Quatro Etapas no Transporte de Moléculas


de Soluto
2 Transporte
Há quatro etapas no transporte mediado (Figura
12.43): (1) reconhecimento pelo transportador do solu
to apropriado, a partir de uma variedade de solutos no
ambiente aquoso, (2) deslocamento do soluto, (3) libe
ração do soluto pelo transportador, e (4) recuperação S1
do transportador à sua condição original. 3 Liberação

Reconhecimento: S1 + T1 S – T1
Transporte: S – T1 S – T2
Liberação: S – T2 T2 + S2 4 Recuperação

Recuperação: T2 T1

FIGURA 12.43 Etapas envolvidas no transporte mediado


através de uma membrana biológica. FIGURA 12.44 Modelo de sistema de transporte mediado
S1 e S2 são solutos nos lados 1 e 2 da membrana, respectiva em uma membrana biológica.
mente; T1 e T2 são sítios de ligação no transportador, nos lados O modelo é baseado no conceito de sítios específicos para liga
1 e 2, respectivamente. ção do substrato e uma mudança conformacional no transpor
tador para mover o soluto ligado por uma pequena distância,
A primeira etapa, reconhecimento de um substrato mas para dentro do ambiente do outro lado da membrana. Uma
específico pelo transportador, é igual ao reconhecimen vez movido, o soluto é liberado do transportador.
to de um substrato por uma enzima (p. 401). Sítios de
ligação específicos na proteína reconhecem a estrutu Essa discussão foi centralizada no movimento de um
ra correta do soluto. A segunda etapa, deslocamento, único substrato por um transportador (mecanismo uni
requer uma mudança conformacional do transportador porte). Há sistemas que movem dois substratos simulta
após a ligação do substrato (Figura 12.44), o que movi neamente em uma direção (simporte) e dois substratos
menta o substrato uma distância pequena, talvez ape em direções opostas (antiporte) (Figura 12.46). Quan
nas 2 ou 3 Å, em direção ao ambiente do lado oposto da do uma substância carregada é deslocada e nenhum
membrana. Não é necessário que o transportador mova íon de carga oposta é movido, ou duas moléculas com
a molécula pela distância inteira através da membrana cargas diferentes são deslocadas por um mecanismo
(Figura 12.45). A mudança conformacional da proteína antiporte, ocorre uma separação de cargas através da
é suficiente para mudar o ambiente. A etapa 3, libera membrana. Esse mecanismo é chamado transporte ele
ção do substrato, depende da afinidade do transpor trogênico e leva ao desenvolvimento de um potencial de
tador pelo substrato. Sem uma mudança na afinidade membrana. Se um íon de carga oposta for movido para
(Keq) pelo substrato, o substrato será liberado no novo equilibrar a carga, ou duas moléculas de mesma carga
ambiente se a concentração de substrato for menor no forem movimentadas em direções opostas através da
novo ambiente do que no ambiente inicial, em virtude membrana, o mecanismo é chamado transporte neutro
de um deslocamento no equilíbrio entre o substrato li ou eletricamente silencioso.
gado e livre. Para um transportador que move o subs
trato contra um gradiente de concentração, a liberação
do substrato na concentração mais alta requer que o
506 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

estão envolvidos no cálculo da va


riação de energia livre, como indica
a Equação 12.3
∆G =2,3 RTlogC2C1+Z∆Ψ

(12.3)

onde DG! é o potencial eletroquími


co, Z é a carga das espécies trans
portadas,  é a constante de Fara
(a) (b)
day (96,46 kJ/V/mol, 23,06 kcal/V/
FIGURA 12.45 Transporte de um substrato através da membrana. mol) e DY é a diferença de potencial
Após ligação do substrato em um lado da membrana, uma mudança conformacional da elétrico, em volts, através da mem
proteína ocorre, movendo o substrato para um ambiente do lado oposto. brana. A magnitude e o sinal de Z e
Modelo de proteína redesenhado de Arkin, I. T., et al. Mechanism of Na+/K+ antiporting. de DYinfluenciam DG!. Quando DG!
Science 317: 799, 2007.
é negativo, o movimento de solutos
ocorre espontaneamente; este é
frequentemente chamado transporte passivo. Quando
Lado 1 Lado 2
DG! é positivo, investimento de energia de alguma fonte
é necessária e o processo é chamado transporte ativo.
Transportador O transporte em células de mamíferos que requer
investimento de energia é dirigido pela hidrólise de nu
cleosídeos trifosfato (por exemplo, ATP → ADP + fosfa
S1 S2 Uniporte
to) ou pela utilização do gradiente eletroquímico de Na+
(força sódio-motiva, SMF) ou H+ (força próton-motiva,
PMF). Procariotos também têm transportadores diri
S1 S2 gidos por reações de decarboxilação e transferência
Simporte de metil, e plantas têm transportadores dirigidos por
S!1 S!2 absorção de luz. A SMF é gerada às custas de hidrólise
S1 S2
de ATP, e a PMF por reações de oxidação-redução (p.
589). A inibição da síntese de ATP ou o colapso da PMF
Antiporte
dissipará o gradiente de Na+ e/ou K+, levando à parada
S!1 S!2 do transporte.
No mecanismo de transporte mais simples, isto é,
FIGURA 12.46 Mecanismos uniporte, simporte e o transporte de um único soluto por um mecanismo
antiporte para deslocamento de substâncias. uniporte, as moléculas são transportadas a favor de seu
S e S! representam moléculas diferentes. gradiente químico se elas não tiverem carga, ou a favor
de um gradiente eletroquímico, se forem carregadas;
isso é frequentemente chamado difusão mediada por
Energética de Sistemas de proteína ou difusão facilitada. Esses transportado
res não podem criar um gradiente de concentração do
Transporte de Membrana substrato através da membrana. Em um simporte (duas
moléculas sendo movidas simultaneamente na mesma
A Equação 12.2 fornece a variação de energia livre direção) ou antiporte (duas moléculas sendo movidas
quando uma molécula sem carga se move de uma con simultaneamente em direções opostas), o movimento a
centração C1 para uma concentração C2 do outro lado favor do gradiente de concentração de um dos solutos
da membrana. pode direcionar o deslocamento da outra molécula. Es
C2C1 ) tes têm sido chamados transportadores ativos secun
∆G =2,3 RTlog ( (12.2) dários, para diferenciá-los dos transportadores ativos
primários, que utilizam diretamente a energia derivada
do metabolismo celular. O grande gradiente de concen
Quando DG! é negativo – isto é, há liberação de ener
gia livre – o movimento do soluto ocorre sem a necessi tração de Na+ através da membrana plasmática (alta
concentração extracelular e baixa intracelular; Figura
dade de uma força motriz. Quando DG! é positivo, como
1.9, p. 14) é usado para deslocar açúcares e aminoácidos
seria o caso se C2 for maior do que C1, então é necessá por um mecanismo simporte para dentro das células.
rio um aporte de energia para impulsionar o transporte.
Para uma molécula carregada (por exemplo, Na+), tan Alguns transportadores mantêm gradientes de con
to o potencial elétrico como a concentração de soluto centração muito grandes, como o transportador de
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 507

membrana plasmática que mantém os gradientes de 2. um mecanismo antiporte, no qual dois ou mais so
Na+ e K+ (p. 511). Outro exemplo surpreendente é um lutos são transportados em direções opostas em
transportador ativo das células parietais das glândulas um processo fortemente acoplado, que não utiliza
gástricas, que é responsável pela secreção de HCl no qualquer forma de energia a não ser a do gradiente
lúmen do estômago (p. 1067). O pH do plasma é cerca de potencial eletroquímico; o gradiente através da
de 7,4 (4 × 10–8MH+), e o pH luminal do estômago pode membrana de um soluto pode conduzir o movimen
chegar a pH 0,8 (0,15 MH+). H+ é transportado contra to do outro soluto.
um gradiente de concentração de 1 × 106. Considerando
3. um mecanismo simporte, no qual duas ou mais es
que não haja componente elétrico, a energia para se
pécies são transportadas juntas na mesma direção,
creção de H+ nessas condições é calculada a partir da
em um processo acoplado, que não usa qualquer
Equação 12.2 e é 38 kJ mol/L (9,1 kcal mol/L) de HCl.
forma de energia a não ser a do gradiente de poten
cial eletroquímico de um substrato; o gradiente de
um soluto dirige o movimento do outro soluto.
Transportadores de Membrana de
Mamíferos
As duas classes principais de transportadores de cé
lulas de mamíferos (ver Tabela 12.8) são CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.4
• transportadores dirigidos por potencial eletro
químico, que movem seus substratos através de Doenças Que se Devem à Perda de Sistemas de
uma membrana utilizando o gradiente de con Transporte de Membranas
centração do substrato ou outro soluto, e Várias condições patológicas são devidas a altera
• transportadores ativos primários, que re ções em um sistema de transporte para componentes
querem o investimento de energia metabólica celulares específicos. Os indivíduos com uma dimi
para mover o substrato. nuição na captação de glicose do trato intestinal não
têm o transportador específico de glicose-galactose
Células de mamíferos têm uma grande variedade acoplado a sódio. Síndromes com má absorção de fru
de transportadores e, em muitos casos, usam dife
tose são causadas por uma alteração na atividade do
rentes subfamílias de transportadores para deslocar sistema de transporte para frutose. Na doença de Har
o mesmo substrato, dependendo das necessidades es tnup, ocorre uma diminuição no transporte de ami
pecíficas da célula ou tecido. Sistemas de transporte noácidos neutros nas células epiteliais do intestino e
estão presentes em plantas, bem como em membranas dos túbulos renais.
intracelulares, incluindo mitocôndrias, lisossomos,
peroxissomos e endossomos. O número de transporta Na cistinúria, a absorção renal de cistina e dos
dores ativos presentes em uma membrana em um dado aminoácidos básicos lisina, arginina e ornitina é
tempo estabelece a velocidade máxima de captação anormal, resultando na formação de cálculos re
por uma célula ou organela. Assim, em muitos casos, nais de cistina. No raquitismo hipofosfatêmico,
a síntese da proteína transportadora e sua incorpora resistente à vitamina D, a reabsorção renal de fos
ção em uma membrana controla a concentração de um fato é anormal. Recentemente, tem havido relatos
substrato específico em uma célula ou compartimento sobre doenças baseadas em genética, envolvendo
celular. Todos esses sistemas de transporte são regu os transportadores de substratos para dopamina e
lados, permitindo o controle momento a momento do creatinina, e o transportador mitocondrial de as
transporte. Muitas doenças genéticas são atribuídas a partato glutamato. Os vários transportadores ativos
defeitos nos vários sistemas de transporte (Correlação que requerem ATP foram implicados em várias con
Clínica 12.4). dições patofisiológicas.
Evans, L., Grasset, E., Heyman, M., Dumontier, A. M.,
et. al. Congenital selective malabsorption of glucose and
12.9 TRANSPORTADORES galactose. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr. 4: 878, 1985;
DIRIGIDOS POR POTENCIAL Mueckler, M. Facilitative glucose transporters. Eur. J.
Biochem. 219: 713, 1994; deGrauw, T. J., Cecil, K. M.,
ELETROQUÍMICO Byars, A.W., Salomons., G. S. et al. The clinical syndrome
of creatine transporter deficiency. Mol. Cell. Biochem.
244: 45, 2003; e Pederson, P. L. Transport ATPases in
Os transportadores dirigidos por potencial
biological systems and relationship to human disease: A
eletroquímico utilizam brief overview. J. Bioenergetics Biomembranes 34: 327,
1. um mecanismo uniporte, onde um único soluto é 2002.
transportado por difusão mediada ou de modo de
pendente do potencial de membrana se o soluto for
carregado;
508 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

TABELA 12.11 Substratos Representativos para Proteínas de Transporte de Membrana em Eucariotos


Cátions inorgânicos H+, K+, Na+, NH4+, Ca2+, Co2+, Cu2+, Fe2+, Mg2+, Zn2+
Ânions inorgânicos Cl–, HCO3–, SO42–, iodeto, fosfato, arsenato
Açúcares Frutose, glicose, hexose, lactose, maltose, mioinositol
Ácidos orgânicos Acetato, ácidos biliares, bilirrubina, citrato, glicose 6-fosfato, a-cetoglutarato, lactato,
malato, oxaloacetato, prostaglandinas
Aminoácidos Ácidos, básicos, neutros, cadeia ramificada
Peptídeos/proteínas Alguns

Nucleosídeos/nucleotídeos ATP, ADP, todos os outros


Vitaminas/cofatores Ascorbato, biotina, folato, lipoato, tiamina
Drogas Múltiplas drogas
Fonte: Moss, G. P. Membrane Transport Proteins. http://www.chem.qmul.ac.uk/iubmb/mtp/

Centenas de tais transportadores foram descritos, concentração normal de glicose no sangue. D-Galacto
muitos exclusivamente em bactérias, com especifici se, D-manose, D-arabinose e vários outros D-açúcares,
dade para íons inorgânicos, açúcares, aminoácidos bem como glicerol, são deslocados por algumas isofor
e outros intermediários metabólicos. A Tabela 12.11 mas. GLUT5, das membranas do sarcolema de múscu
ilustra a variedade de solutos transportados em célu lo esquelético, transporta frutose preferencialmente.
las eucarióticas por esse mecanismo. Muitos dos trans GLUT1 é importante para suprir eritrócitos e células do
portadores têm 2 a 24 sequências transmembrânicas cérebro com glicose. A velocidade de captação de glico
putativas a-helicoidais. Os transportadores direciona se pelo GLUT2 de baixa afinidade aumenta em paralelo
dos por potencial eletroquímico demonstram cinética com a elevação da concentração de glicose no sangue,
de saturação, especificidade para o substrato que está e tem um papel importante na absorção intestinal de
sendo movido através da membrana, e especificidade açúcares (p. 1073). Em células do fígado, GLUT2 cata
para inibidores. lisa tanto o influxo como o efluxo de glicose, sendo res
ponsável pela exportação de glicose (p. 616); em células
b pancreáticas, GLUT2 está envolvido na detecção dos
Transportadores Dirigidos níveis de glicose no sangue. GLUT4 é um transportador
que responde à insulina (p. 615) no tecido adiposo, no
por Potencial Eletroquímico músculo cardíaco e no músculo esquelético. A atividade
Representativos de alguns transportadores de glicose no músculo é esti
mulada por exercício e hipóxia, aparentemente porque
Glicose É Deslocada por um Mecanismo de há uma necessidade de aumentar a utilização de glicose
Uniporte Passivo pelo tecido. Vários análogos de açúcares, assim como a
floretina e a 2,4,6-tri-hidroxiacetofenona (Figura 12.47)
Uma família de transportadores de glicose (GLUT) são inibidores competitivos.
facilita o transporte de D-glicose através da membrana
plasmática de células de mamíferos por um mecanismo Glicose e Aminoácidos São Deslocados
uniporte. Os genes da família GLUT são expresso de com Na+ por um Mecanismo Simporte
forma tecido-específica.
O gradiente eletroquímico de Na+ (força sódio-mo
Os transportadores de glicose, chamados GLUT1,
tiva, SMF) através da membrana plasmática (p. 14) é
GLUT2 e assim por diante (Tabela 12.12), todos têm uma fonte de energia para o movimento simporte de
12 segmentos transmembrânicos, com significativa si Na+ com açúcares, aminoácidos, íons e outras molécu
milaridade de aminoácidos. A maioria está na membra las pequenas. Existem mais de 400 transportadores ex
na plasmática, onde a direção do movimento da glico
pressos nessa família de proteínas. Como descrito ante
se é, geralmente, de fora para dentro. Dependendo do riormente (p. 506), a SMF é gerada pelo transporte de
gradiente de concentração, entretanto, GLUT1 de eri Na+ acoplado à hidrólise de ATP (Figura 12.48); inibi
trócito facilita o transporte em ambas as direções, de ção da síntese de ATP levará à dissipação do gradiente
monstrando a reversibilidade do sistema. Os três trans de Na+ e à parada do transporte.
portadores de alta afinidade (GLUT1, GLUT3 e GLUT4)
funcionam in vivo em velocidades próximas à velocida O mecanismo geral do cotransportador de sódio/gli
de máxima porque seus valores de Km são inferiores à cose (SGLT) é apresentado na Figura 12.49. O diagra
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 509

TABELA 12.12 Principais Isoformas de Transportadores de Glicose


Isoforma Tecido Localização Celular Comentários
GLUT1 Músculo Membrana plasmática Atividade no músculo aumentada por insulina,
Coração hipóxia e dieta
Barreira hemato-encefálica
Células da glia
Placenta
GLUT2 Fígado Membrana plasmática
Pâncreas
Intestino
Rim
GLUT3 Neurônio Membrana plasmática
Rim
Placenta
GLUT4 Músculo Membrana plasmática Atividade em músculo e tecido adiposo estimula
Tecido adiposo da por insulina e, no músculo, por hipóxia e dieta
Coração
Blastocistos
GLUT5 Músculo Vesículas do sarcolema Frutose é o substrato
Espermatozoides

OH Lado 1 Lado 2

HO CCH2CH2
O OH Transporte S1 S2
conduzido
por ATP ADP + Pi
OH
Floretina ATP
Transport S1 S2
OH conduzido
por Na+
Na+ Na+
HO OH C
O CH3 Na+gé
O mantido Na+
radiente Na+

por ATP ATP


ADP + Pi
2,4,6-Tri-hidroxiacetofenona

FIGURA 12.47 Inibidores do transporte passivo de


D-glicose em eritrócitos. FIGURA 12.48 Envolvimento de energia metabólica (ATP)
em sistemas de transporte ativo mediado.
A energia química liberada na hidrólise de ATP a ADP e fosfato
ma representa o transporte de D-glicose dirigido pelo inorgânico é usada para conduzir o transporte ativo de várias
movimento de Na+. No processo, dois Na+ movem-se substâncias, incluindo Na+. O gradiente transmembrânico de
para dentro da célula, a favor do gradiente eletroquími concentração de Na+ é usado para o transporte ativo de subs
tâncias por mecanismos simporte e antiporte (não mostrado).
co de Na+ por transporte passivo facilitado, e glicose é
carregada junto, contra seu gradiente de concentração.

O gradiente de Na+ se dissipa no processo, mas a bactérias; quatro são expressos no homem. Algumas
ATPase trocadora de Na+/K+ continua a restabelecê-lo. isoformas são expressas nos túbulos proximais renais
Portanto, a energia metabólica na forma de ATP está e no epitélio do intestino delgado (p. 1067). Todos os
indiretamente envolvida no transporte porque ela é ne SGLTs têm uma estrutura central comum com 13 hé
cessária para manter o gradiente de Na+. Inibição da lices transmembrânicas, mas diferentes isoformas têm
ATPase trocadora de Na+/K+ leva a uma diminuição no segmentos transmembrânicos adicionais, incluindo o
gradiente de Na+, impedindo assim a captação de glico SGLT1 humano, que tem 14. Os SGLTs podem catali
sar um movimento uniporte de Na+ e água em ausên
se por esse mecanismo.
cia de glicose. Na+ liga-se a uma cavidade extracelular
Mais de 37 membros da família de genes SGLT fo do transportador, induzindo uma alteração conforma
ram identificados em células animais, de leveduras e cional que aumenta a afinidade do transportador por
510 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Extracelular Citoplasma Lado 1 Lado

Glicose Glicose

2 Na+ 2 Na+
CI– 2CI–
3 Na+ 3 Na+ HCO3– HCO3–

2 K+ 2 K+
ADP + Pi
ATP

FIGURA 12.49 Transporte dependente de Na+ de glicose


através da membrana plasmática por um mecanismo FIGURA 12.50 Mecanismo de antiporte passivo de ânions
simporte de transporte. para movimento de Cl– e HCO3– através da membrana
plasmática do eritrócito.

glicose. A ligação de glicose, formando um complexo


ternário, induz outra mudança estrutural que expõe teínas em bactérias, archea, levedura, plantas e ani
Na+ e o substrato a uma cavidade na proteína, contígua mais. Elas variam em tamanho de 541 a 894 resíduos e
ao ambiente intracelular do outro lado da membrana. têm 10–12 segmentos transmembrânicos α-helicoidais
Na+ se dissocia do transportador em virtude da baixa previstos. Uma importante função fisiológica é eliminar
concentração intracelular de Na+, levando ao retorno o H+ gerado durante o metabolismo, regulando assim
do transportador à sua conformação original, que tem o pH citoplasmático e impedindo a acidificação intra
uma afinidade diminuída por glicose. Portanto, a glico celular. No rim, a isoforma-3 serve para recuperar Na+
se é liberada. O transportador vazio é reorientado na do lúmen do néfron. A isoforma-1 no músculo cardíaco
membrana, permitindo que o ciclo se reinicie. é ativada por pH baixo e por fosforilação. Essa isoforma
pode ter um papel significativo na patogênese do infar
Aminoácidos são deslocados através das células epi to do miocárdio e na hipertrofia tecidual.
teliais intestinais por transportadores de Na+/amino
ácidos por um mecanismo simporte; pelo menos sete Mitocôndrias Têm Vários
transportadores foram identificados para diferentes
Transportadores Direcionados pelo
classes de aminoácidos (p. 82). O gradiente de Na+
através da membrana plasmática é também utilizado Potencial Eletroquímico
para dirigir o transporte de outros íons, incluindo um
A membrana mitocondrial interna contém transpor
mecanismo simporte para captação de Cl– e um meca tadores para a troca de ânions entre o citoplasma e a
nismo antiporte para excreção de Ca2+. matriz mitocondrial, incluindo (1) um antiporter para
a troca de ADP e ATP, (2) um simporter para o trans
Cl– e HCO3– São Transportados por um porte de fosfato e H+, (3) um transportador de dicarbo
Mecanismo Antiporte xilatos, e (4) um antiporter para glutamato-aspartato
(ver p. 595 para uma discussão detalhada). Esses trans
Um transportador de ânions em eritrócitos e rins
portadores são importantes na conservação de energia
é mediador do movimento antiporte eletroneutro de
e no metabolismo. Na ausência de um aporte de energia,
Cl– e HCO3– (Figura
do trocador de Cl–-HCO
12.50).
–3 independente
O transportador
de Na+
é chama
esses transportadores podem mediar uma troca passiva
ou pro
de metabólitos a favor de seus gradientes de concentra
teína trocadora de ânions e, em eritrócitos, banda 3, ção para chegar a um equilíbrio termodinâmico. Em al
o último em virtude de sua posição na eletroforese em guns casos, o transportador é mediador do movimento
gel de SDS-poliacrilamida das proteínas da membrana
antiporte de um igual número de cargas elétricas nos
do eritrócito. A direção do fluxo de íons depende dos
substratos, com o potencial de membrana mitocondrial
gradientes de concentração de íons na membrana. O
influenciando o equilíbrio.
transportador é importante no ajuste da concentração
de HCO3– do eritrócito no sangue arterial e venoso. O
transportador do rim é uma forma truncada da proteína
para
do eritrócito
equilibrar efluxo de H+
e éoresponsável pelo
direcionado
efluxo de base
por ATP.
(HCO–)3 12.10 TRANSPORTADORES
ATIVOS PRIMÁRIOS
O Trocador de Na+/K+ Regula o pH Transportadores ativos primários em células de ma
Citoplasmático míferos incluem sistemas de transporte nos quais
As nove isoformas de mamíferos do transportador 1. a energia livre de hidrólise de uma ligação pirofos
de Na+/K+ são membros de uma grande família de pro fato (p. 563) é utilizada para direcionar o movi
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 511

mento do substrato contra seu gradiente químico família foram descritos em bactérias, para captação e/
ou eletroquímico; e ou efluxo de K+, Mg2+, Ca2+, Ag+, Zn2+, Co2+, Pb2+, Ni2+,
Cd2+ e Cu2+.
2. a proteína transportadora pode ser transitoria
mente fosforilada durante o processo de transpor As membranas plasmáticas de todas as células de
te, mas o substrato não é fosforilado ou modificado. mamíferos catalisam a reação
Essa família de transportadores catalisa o desloca ATP Na++K+
−→ ADP + Pi (12.4)
mento de um soluto contra seu gradiente de concen Mg2+
tração, levando à criação de um gradiente químico ou
eletroquímico. Como todos os transportadores, são ca com uma necessidade absoluta de íons Na+ e K+, e de
racterizados por cinética de saturação, especificidade Mg2+, um cofator das reações que requerem ATP. O
para um ou alguns substrato parecidos e capacidade transportador é responsável pela manutenção das con
de serem inibidos. Esses transportadores são encontra centrações altas de K+ e baixas de Na+ no citoplasma
dos em todos os organismos vivos. Células de mamífe das células de mamíferos (p. 14). Tecidos excitáveis,
ros utilizam ATP ou outro nucleosídeo trifosfato como tais como músculo e tecido nervoso, e células ativamen
fonte de energia. Os transportadores que utilizam ATP te envolvidas no movimento do íon Na+, tais como as de
são também chamados ATPases, indicando sua ativida glândula salivar e córtex renal, têm altas atividades da
de enzimática na hidrólise de ATP durante o desloca ATPase trocadora de Na+/K+. Estima-se que este trans
mento. Decarboxilação, transferência de metil, óxido portador use cerca de 60–70% do ATP sintetizado por
-redução e absorção de luz podem servir para conduzir células nervosas e musculares e cerca de 35% do ATP
o transporte em outros organismos. gerado em um indivíduo em repouso.

Três subfamílias de transportadores ativos primários O transportador consiste de uma subunidade a


catalisam o deslocamento de cátions inorgânicos (Na+, (110 kDa) e uma subunidade b (55 kDa); existe algum
K+, Ca2+ ou H+) e são classificados como transportadores questionamento quanto ao real transportador ser um te
P, V e F. Os transportadores tipo P são fosforilados e de trâmero com duas subunidades a e duas b. A subunida
fosforilados durante o transporte; há mais de 300 mem de a tem 10 segmentos em a-hélice transmembrânicos
bros nessa subfamília. Os transportadores tipo V (V de (Figura 12.51), contém ambas atividades de ATPase e de
vacúolo) são bombas de prótons, responsáveis pela acidi deslocamento de íons, e é fosforilada e defosforilada em
ficação do interior dos lisossomos, endossomos, vesículas um resíduo específico de ácido aspártico para formar um
do Golgi e vesículas secretórias. Os transportadores tipo b-aspartil fosfato durante o deslocamento dos íons.
F, presentes em mitocôndrias, cloroplastos e bactérias,
deslocam prótons às custas da hidrólise de ATP, mas
sintetizam ATP quando funcionando na direção inversa,
isto é, quando prótons são transportados a favor de seu
gradiente de concentração (p. 589).
Os transportadores com cassete de ligação a ATP
(ATP-binding cassette, ABC) são uma superfamília
muito grande e singular de transportadores ativos pri
mários dependentes de ATP, necessários ao transporte
de uma variedade de moléculas inorgânicas e orgânicas.

Transportadores Ativos Primários


Representativos
Deslocamento Antiporte de Na+ e K+ É por
Transporte Ativo Primário
A membrana externa ou plasmática das células de
todas as formas de vida contém um antiporter tipo P de FIGURA 12.51 Estrutura da subunidade a da ATPase
Na+/K+, que utiliza a energia de hidrólise do ATP a ADP trocadora de Na+/K+.
Modelo da subunidade a da ATPase trocadora de Na+/K+ de car
+ fosfato para conduzir o deslocamento. O transporta
neiro. Os domínios previstos são o domínio de ligação de nucleotí
dor é denominado ATPase trocadora de Na+/K+, mas deo (N) e o domínio de fosforilação (P). As a-hélices são mostra
é frequentemente chamado Na+/K+-ATPase ou bomba das em tons de azul e verde, as folhas b são mostradas em tons de
de Na+. Essa superfamília de proteínas multissubuni vermelho e amarelo, e as espirais são mostradas em cinza.
dades, encontrada em bactérias, archae e eucariotos, Reproduzido com permissão de Kaplan, J. H. Biochemistry of
tem uma subunidade grande que catalisa a atividade de Na+, K+-ATPase. Annu. Rev. Biochem. 71: 511, 2002. Direitos
ATPase e o deslocamento dos íons. Membros da super autorais (2002) Annual Reviews; www.annualreviews.org
512 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Os sítios de ligação dos cátions e do ATP estão em o potencial transmembrânico das células. A hidrólise
domínios diferentes da subunidade a. A subunidade b é do ATP pelo transportador só ocorre se Na+ e K+ forem
muito glicosilada, facilita a inserção da subunidade a na deslocados. Um modelo para o movimento de Na+ e K+
membrana após a síntese e estabiliza o complexo; pode é apresentado na Figura 12.53. A proteína sofre mudan
também funcionar ativamente na atividade de trans ças conformacionais durante as quais Na+ e K+ movi
porte. O transportador do rim contém uma subunidade mentam-se por distâncias curtas dentro da proteína.
g, que pode influenciar os parâmetros cinéticos da ati Esta transição conformacional diminui a afinidade do
vidade. A fosforilação da subunidade a requer a ligação sítio de ligação pelos cátions, resultando na liberação
de Na+ e Mg2+, mas não de K+, embora a defosforilação do cátion em um meio em que a concentração é mais
exija a ligação de K+, mas não de Na+ ou Mg2+ (Figura alta do que aquela da qual ele foi transportado.
12.52). O complexo proteico tem duas conformações
distintas, e é classificado como um transportador tipo Várias isoformas do transportador são reguladas por
E1-E2, para indicar a mudança de conformação. diferentes mecanismos, incluindo a concentração de
substrato, o citoesqueleto, inibidores circulantes e uma
variedade de hormônios. A atividade requer fosfolipíde
Citoplasma os; o transportador tem sítios de ligação para cerca de
30 moléculas de lipídeos, e os níveis de ácido docosa
2K+ E1 ATP 3Na+ E1 ATP
E1 ATP -hexaenoico (ácido graxo poli-insaturado de cadeia
longa) no cérebro correlaciona-se com a atividade de
2 K+ 3 Na
ATPase. Esteroides cardiotônicos, como digitalis, são
inibidores da ATPase trocadora de Na+/K+ e aumentam
ATP
E2 2 K+ ADP
a força de contração do músculo cardíaco por alterarem
P
E1
a excitabilidade do tecido. Ouabaína (Figura 12.54) é
3 Na+ um dos inibidores mais ativos da ATPase trocadora de
Pi Na+/K+; liga-se à subunidade pequena, na superfície ex
H2O Na+ terna da membrana.
P P E2 P
E2 E2 O Deslocamento de Ca2+É Catalisado por
2 Na+
2 K+
2 K+ 2 Na+ um Transportador Ativo Primário
Extracelular
Cálcio é um importante mensageiro intracelular,
FIGURA 12.52 Sequência proposta de reações e que regula muitos processos celulares, desde o meta
intermediários na hidrólise de ATP pela ATPase trocadora bolismo de carboidratos até a contração muscular. O
de Na+/K+. Ca2+ citosólico é cerca de 0,10 mM, mais de 10.000 ve
E1 e E2 são diferentes conformações da enzima. Fosforilação zes menor do que o Ca2+ extracelular. O Ca2+ no citosol
da enzima requer Na+ e Mg2+, e defosforilação envolve K+. aumenta rapidamente por liberação de Ca2+ do retículo
endoplasmático ou sarcoplasmático ou abertura tran
O movimento de Na+ e K+ é um processo antiporte sitória dos canais de Ca2+ da membrana plasmática,
eletrogênico, com três íons Na+ movendo-se para fora e permitindo o fluxo de Ca2+ a favor do grande gradien
dois íons K+ para dentro da célula, para cada molécula te de concentração (p.501). Para restabelecer os níveis
de ATP hidrolisada. Isso leva a um aumento na carga citosólicos baixos, Ca2+ é transportado ativamente por
positiva externa e é parte do mecanismo para manter duas ATPases transportadoras de Ca2+ (Ca2+ ATPa

3 Na+
2 K+

lar
do elu
La trac
Ex P
ATP
P
ATP
2 K+
ADP ATP
o 3 Na+ P
do lic
La itosó
C ATP

FIGURA 12.53 Modelo para deslocamento de Na+ e K+ através da membrana plasmática pela ATPase trocadora de Na+/K+.
(1) Transportador na conformação 1 liga Na+. (2) Transportador na conformação 2 desloca e libera Na+. (3) Transportador na con
formação 2 liga K+. (4) Transportador na conformação 1 desloca e libera K+.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 513

ses) diferentes, uma transportando Ca2+ de volta para A Ca2+-ATPase dodo retículoretículo sarcoplasmáticosarcoplasmático dodo mús-mús
o lúmen do retículo endoplasmático ou sarcoplasmáti culo (SERCA) está envolvida nos ciclos de contração-re
co, e a outra para fora da célula, através da membrana laxamento do músculo, representando 80% das proteí
plasmática. As Ca2+-ATPases são transportadores tipo nas integrais de membrana do retículo sarcoplasmático
P, fosforilados por ATP em um resíduo aspartil; exis e ocupando um terço da área de superfície (p. 998).
tem em dois estados conformacionais, sendo portanto Consiste de uma única cadeia polipeptídica com dez hé
transportadores do tipo E1-E2. lices transmembrânicas (Figura 12.55). Dois Ca2+ são
deslocados do citosol para o lúmen contra um grande
gradiente de concentração (104), em uma troca antipor
O O te por 2 H+ por ATP hidrolisado. No estado E1 (Figura
12.56), os sítios de ligação têm uma alta afinidade por
OH CH Ca2+ e são acessíveis do citosol, enquanto no estado E2
3 os sítios de ligação de Ca2+ têm baixa afinidade e ficam
OH OH abertos para o lúmen. A forma livre de Ca2+ mostra
CH2
grandes diferenças conformacionais em relação à forma
OH
ligada a Ca2+(Figura 12.56). Os dois Ca2+ ficam ligados
lado a lado, circundados por quatro hélices transmem
O
brânicas. Foi proposto que a Ca2+-ATPase do retículo
H OH sarcoplasmático também possa desempenhar um papel
O na termogênese por ligação de Ca2+, seguida de hidróli
HO
CH3
H H H se de ATP, mas liberando o Ca2+ de volta no citosol, sem
H deslocamento do cátion. A energia da hidrólise do ATP
OH OH é liberada como calor. Um peptídeo pequeno, sarcolipi
na, aumenta a produção de calor.
FIGURA 12.54 Estrutura de ouabaína, um esteroide
cardiotônico e potente inibidor da ATPase trocadora de
Na+/K+.

FIGURA 12.55 Estrutura da ATPase transportadora de Ca2+.


Mudanças conformacionais da ATPase transportadora de Ca2+ do retículo sarcoplasmático. Os pontos de entrada e saída de Ca2+ são
indicados pelas setas roxas. A figura à esquerda é com Ca2+ ligado, e a figura à direita é sem Ca2+.
Reproduzido com permissão de Toyoshima, C. e Inesi, G. Structural basis ofion pumping by Ca2+-ATPase of the sarcoplasmic reticu
lum. Annu. Rev. Biochem. 73: 269, 2004. Direitos autorais (2004) Annual Reviews; www.annualreviews.org.
514 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Citoplasma
E1 ATP 2 Ca2+ E ADP E1
ATP P
1
2 Ca2+ 2 Ca2+

ATP
P P
Hélice
E2 P E2 E2
E
2 Ca2+
i 2 Ca2+
Ca2+
Lúmen

FIGURA 12.56 Sequência de reações e intermediários no


deslocamento de Ca2+ pela ATPase transportadora de
Ca2+.
E1 e E2 são diferentes conformações da enzima. Hélice
F
Calmodulina Controla a ATPase
Transportadora de Ca2+ das Membranas
Plasmáticas
A ATPase transportadora de Ca2+ das membranas
plasmáticas (PMCA) lembra a do retículo sarcoplasmático.
Trinta isoformas de PMCA são conhecidas. Diferentemen
te da SERCA, transporta só um Ca2+ por ATP hidrolisado.
Em células eucarióticas, o transportador é regulado pelos
níveis de Ca2+ citoplasmático por meio da calmodulina,
uma proteína que liga Ca2+ (Figura 12.57). À medida que Mão
EF
os níveis de Ca2+ citosólico sobem, Ca2+ liga-se à calmodu
lina, que tem uma constante de dissociação de ~1 μM para
FIGURA 12.57 Sítio de ligação de Ca2+ na calmodulina.
Ca2+. O complexo Ca2+-calmodulina liga-se ao transpor A calmodulina tem quatro sítios de ligação de Ca2+, cada um
para 0,5
tador de μM
Ca2+,
e aumentando
diminuindo ooKtransporte
m para Ca2+
dedeCa2+.
cerca
A de 20 com um motivo hélice–alça–hélice. O íon Ca2+ liga-se à alça que
ativi conecta duas hélices. Esse motivo ocorre em várias proteínas
dade aumentada reduz o Ca2+ citosólico a seu nível normal que ligam Ca2+ e é conhecido como a mão EF.
de repouso (~0,10 μM), concentração na qual o complexo
Ca2+-calmodulina se dissocia e a velocidade do transporte Transportadores com Cassete de Ligação a
de Ca2+ volta a seu valor basal.
ATP (ABC)
Outros processos celulares são também regulados
Membranas, desde procariotos até eucariotos, têm
pelo complexo Ca2+-calmodulina. Calmodulina é uma
transportadores que pertencem à superfamília de
dentre várias proteínas que se ligam a Ca2+, incluindo
transportadores com cassete de ligação a ATP (ABC)
parvalbumina e troponina C, que têm estruturas muito
que catalisam um movimento vetorial, dependente de
semelhantes. Calmodulina (17 kDa) tem a forma de hal
ATP, de diversas substâncias. Existem dúzias de subfa
teres, com duas extremidades globulares conectadas
mílias na superfamília, e mais de 1.000 genes, a maioria
por uma α-hélice de sete voltas; contém quatro sítios de
de bactérias, de transportadores ABC que foram clona
ligação de Ca2+, dois de alta afinidade em uma extremi
dos; o genoma humano contém pelo menos 49 genes.
dade, e dois de baixa afinidade, na outra. A ligação de
Transportadores ABC estão presentes tanto na mem
Ca2+ aos sítios de ligação de baixa afinidade causa uma
brana plasmática como em membranas intracelulares
mudança conformacional, que revela uma região hidro
de células de mamíferos, catalisando influxo ou efluxo
fóbica que interage com uma proteína que ela controla.
de vários lipídeos (fosfolipídeos, acil graxo-CoA de ca
Cada sítio de ligação ao Ca2+ consiste de uma estrutura
deia longa, sais biliares e colesterol), peptídeos e uma
secundária hélice–alça–hélice (Figura 12.57) com Ca2+
variedade de moléculas orgânicas tóxicas e agentes qui
ligado à alça que conecta as hélices. O motivo é cha
mioterápicos. Os transportadores ABC de bactérias são
mado mão EF, com base em estudos com parvalbumina
muito versáteis, transportando íons, metais pesados,
onde o Ca2+ liga-se entre as hélices E e F da proteína.
açúcares, drogas, aminoácidos, peptídeos e proteínas.
As duas famílias de transportadores de Ca2+ com Esses transportadores têm uma estrutura modular,
partilham algumas propriedades; por exemplo, a alta com um domínio de seis segmentos transmembrânicos
afinidade por Ca2+, a topografia na membrana e a or e um domínio citosólico de ligação ao ATP (ou cassete).
ganização do domínio catalítico. Elas são diferentes Os domínios de ligação ao ATP da superfamília apre
em características estruturais e funcionais, entretanto, sentam extensa homologia de sequência. A maioria das
principalmente em sua regulação. subfamílias tem uma repetição em sequência (tandem)
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 515

Fora membrana plasmática canalicular dos hepatóci


tos. Outro membro tem o importante papel fisio
1 2 3 4 5 6 Membrana 7 8 9 10 11 12 lógico de transportar bilirrubina glucuronídeos
do fígado para a bile (p.. 823).823).). OutroOutroOutro transpor-transpor-transpor
Dentro
tador ABC é o receptor de sulfonilureia ligado
N
NBD-1 NBD-2 a um canal de K+, que funciona na regulação da
(a) secreção de insulina induzida por glicose.

O reguladorregulador dede condutânciacondutância transmembrâni-transmembrâni


co da fibrose cística (CFTR) é um transportador
ABC, mas mecanisticamente é um regulador de
condutância e um canal de Cl–. O canal é media
dor do movimento transepitelial de sal e líquido
na membrana plasmática apical de células epite
liais. CFTR consiste de cinco domínios, dois do
mínios com seis hélices transmembrânicas cada,
dois domínios de ligação ao ATP e um domínio
NBD-1 NBD-2 regulatório globular (Figura 12.59). A fosforila
ção do domínio regulatório regula a atividade
do canal, enquanto a hidrólise do ATP contro
(b)
la a abertura do canal. Uma disfunção de CFTR
FIGURA 12.58 Modelo de uma glicoproteína-P, um transportador causa a doença genética fibrose cística. Uma
com cassete de ligação a ATP (ABC). deleção do resíduo de fenilalanina F508 da alça
NBD-1 e NBD-2 são domínios de ligação a nucleotídeo de ligação ao ATP NBD-1 (domínio de ligação a
nucleotídeo-1) está presente em cerca de 70%
de dois domínios transmembrânicos e dois domínios de dos casos de fibrose cística. Essa deleção impede o do
ligação ao ATP (Figura 12.58). Transportadores ABC bramento correto de NBD-1 (Correlação Clínica 12.5 e
individuais funcionam mecanisticamente como canais Correlação Clínica 6.7, p. 236).
ou como transportadores. A ligação do ATP induz uma
Outras doenças genéticas atribuídas a defeitos em
mudança conformacional nos domínios transmembrâ
proteínas transportadoras ABC específicas incluem
nicos, mas a hidrólise do ATP não leva à fosforilação do
adrenoleucodistrofia, distrofia macular de Stargardt,
transportador. O mecanismo de acoplamento da ener uma doença degenerativa hereditária da mácula lútea,
gia da hidrólise do ATP ao movimento do substrato ain
que leva à rápida perda de acuidade visual, e síndrome
da permanece indefinido.
de Dubin-Johnson (Correlação Clínica 12.6).
Uma subfamília de transportadores
ABC no homem é codificada pela famí
lia de genes de resistência a múltiplas
drogas (Mdr). Os produtos dos genes
são glicoproteínas, chamadas glicopro
teínas-P, algumas das quais responsá
veis pela extrusão das células de uma
variedade de xenobióticos. A superex
pressão dos genes Mdr por células tu
morais leva à resistência aumentada a
uma variedade de drogas, porque agen
tes quimioterápicos são rapidamente
N C
transportados para fora das células, NBD-1
com o número aumentado de transpor NBD-2
* R
tadores. Portanto, a droga não atinge
F508
as concentrações terapêuticas efetivas.
Outras proteínas associadas à resis FIGURA 12.59 Diagrama esquemático do regulador de condutância
tência a múltiplas drogas (MRP) são transmembrânica da fibrose cística (CFTR), um membro da família de
responsáveis pelo efluxo das células de transportadores ABC.
compostos conjugados com glutationa, NBD-1 e NBD-2 são subunidades que se ligam ao ATP, e R é uma subunidade regu
latória. F508 é o sítio de deleção de fenilalanina, que ocorre em cerca de 70% dos
glucuronato e sulfato. Transportadores
pacientes com fibrose cística.
glicoproteínas-P são responsáveis pelo Redesenhado com base em uma figura de Ko, Y. H. e Pedersen, P. L. Frontiers in
efluxo de lipídeos como fosfatidilcolina, research on cystic fibrosis: Understanding its molecular and chemical basis and re
colesterol e ácidos biliares através da lationship to the pathogenesis of the disease. Bioenerg. Biomemb. 29: 417, 1997
516 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.5

Fibrose Cística e o Canal de Cl–


A fibrose cística (CF), uma doença autossômica estrutura de leitura) e nas junções de splicing (ver
recessiva, é a doença hereditária grave mais comum p. 202) também foram relatadas. Muitas mutações
em caucasianos, ocorrendo com uma frequência de 1 levam a uma mudança no dobramento da proteína.
a cada 2.000 nascidos vivos. É uma doença que afe O produto do gene CF é o regulador de condutância
ta múltiplos órgãos, com obstrução pulmonar como transmembrânica da fibrose cística (cystic fibrosis
principal manifestação; secreções mucosas espessas transmembrane conductance regulator – CFTR).
obstruem as pequenas vias aéreas, permitindo infec O CFTR é um canal de Cl– dependente de cAMP, que
ções bacterianas recorrentes. Disfunção do pâncreas pode regular outros canais de íons; é expresso em
exócrino ocorre precocemente e leva a esteatorreia tecidos epiteliais. A fosforilação de um domínio cito
(evacuação gordurosa); ver p. 1056 para uma discus plasmático regulatório por proteína quinase A ativa
são do papel do pâncreas na digestão e na absorção o canal. O CFTR é um polipeptídeo de 1480 aminoá
de gorduras. Pacientes com CF têm permeabilidade cidos, com homologia estrutural com a superfamília
reduzida a Cl–, o que dificulta secreção de fluidos e de transportadores com cassete para ligação de ATP
eletrólitos, levando a desidratação luminal. Diagnós (ABC). O gene foi clonado e um grande esforço vem
tico de CF é confirmado por um significativo aumento sendo feito para tratar a doença por terapia gênica,
de Cl– no suor dos indivíduos afetados, em compara usando vetores virais e não-virais, incluindo liposso
ção com normais. mos (ver Correlação Clínica 12.1).

O gene responsável por CF foi identificado em Kunzelmann K. e Mall M. Pharmacotherapy of the ion trans
1989, e foram encontradas mais de 800 mutações le port defectin cystic fibrosis. Clin. Exp. Pharm. Physiol. 28:857,
vando a CF. A mutação mais comum afeta cerca de 2001. Zeitlin, P. L. Therapies directed at the basic defect in cystic
fibrosis. Clin. Chest Med. 19:515, 1998. Frizzell R. A. Functions
70% dos pacientes e é uma deleção de uma única
of the cystic fibrosis transmembrane conductance regulator pro
fenilalanina na posição 508 da proteína, mas muta tein. Am. J. Respir. Crit. Care Med. 151:54, 1995. Naren, A. P.,
ções missence (sentido errado), nonsense (intro Cormet-Boyaka, E., Fu, J., et al. CFTR chloride channel regula
duz códon de terminação), frameshift (mudança na tion by an interdomain interaction. Science 286:544, 1999.

12.11 TOXINAS FORMADORAS Os ionóforos são classificados em canais sintetiza


dos não-ribossomicamente (p. 497);497);); existemexistemexistem doisdoisdois sub-sub-sub
DE POROS E IONÓFOROS grupos principais: transportadores móveis, que ligam
um íon e se difundem facilmente em uma membrana, e
Bactérias e alguns poucos tecidos de mamíferos formadores de canal. Alguns ionóforos importantes são
sintetizam toxinas formadoras de poros. Elas perten apresentados na Tabela 12.13.
cem a uma grande família (58 membros) de peptídeos e
proteínas sintetizados nos ribossomos. São secretadas Cada transportador móvel tem uma especificida
pelas células e formam poros transmembrânicos nas de para íons. A Valinomicina (Figura 12.60) tem uma
membranas de outra célula. Os poros criados permitem afinidade por K+ 1.000 vezes maior do que por Na+, e
o fluxo de eletrólitos e de moléculas pequenas através
da membrana, iniciando assim um efeito tóxico. Defen
L-Val O D-Val
sina, uma toxina formadora de poros sintetizada por
O
células epiteliais e hematopoiéticas, tem atividade de
O N O H N
antibiótico de amplo espectro. O
D-Val OL K+ OL N O
O
Um grupo interessante de compostos de baixo peso
molecular (até alguns milhares de Daltons), sintetiza N O
L-Val
O H
dos e excretados por bactérias e fungos, facilita o deslo H O
camento de íons inorgânicos através das membranas de O L O
O N
outras células. Essas moléculas, chamadas ionóforos, N O
têm atividade antibacteriana porque rompem o equilí- O

brio iônico de uma célula. Também são valiosas ferra O D-Val


L-Val
mentas experimentais em estudos de deslocamento de
íons em membranas biológicas e para manipulação das FIGURA 12.60Estrutura do complexo valinomicina-K+.
composições iônicas das células. Abreviaturas: D-Val, D-valina; L-Val: L-valina; L, L-lactato; H,
D-hidroxiisovalerato.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 517

TABELA 12.13 Importantes Ionóforos


Composto Importantes Cátions Transportados Ação
Valinomicina K+ ou Rb+ Uniporte, eletrogênico
Nonactina NH4+, K+ Uniporte, eletrogênico
A23187 Ca2+/2 H+ Antiporte, elétron-neutro
Nigericina K+/H+ Antiporte, elétron-neutro
Monensina Na+/H+ Antiporte, elétron-neutro
Gramicidina H+, Na+, K+, Rb+ Forma canais
Alameticina K+, Rb+ Forma canais

CH3 Quando um íon é quelado pelo ionóforo, sua capa de água


é removida e o íon é envolvido pela capa hidrofóbica. O
H3C CH3
complexo ionóforo-íon difunde-se livremente através da
H OO membrana. Como a interação entre o íon e o ionóforo é
H CH3
uma reação de equilíbrio, uma concentração de esta
do estacionário (steady state) do íon se estabelece em
C O
N O ambos os lados da membrana. Valinomicina transporta
OH
K+ por um mecanismo eletrogênico uniporte, que cria
NH C um gradiente eletroquímico através de uma membrana,
visto que transporta um K+ carregado positivamente
O NH (Figura 12.62a). Nigericina é um antiporter eletrica
mente neutro; seu grupo carboxila, quando dissociado,
CH3 liga um íon positivo, como K+, formando um complexo
neutro que se move através da membrana. Transporta
FIGURA 12.61 Estrutura de A23187, um ionóforo de Ca2+. um próton de volta na difusão pela membrana, levando
a uma troca de K+ por H+ (Figura 12.62b).
A23187 (Figura 12.61) tem uma afinidade por Ca2+ 10 Gramicidina A é um peptídeo de 15 resíduos com
vezes maior do que por Mg2+. Vários dos transportado D- e L-aminoácidos alternados. Nas membranas, for
res móveis têm uma estrutura cíclica, e o íon fica coor ma uma b-hélice e dimeriza, formando um longo (25
denado com átomos de oxigênio no centro da estrutura; Å) e estreito (5 Å de diâmetro) canal transmembrâni
a periferia da molécula consiste de grupos hidrofóbicos. co (Figura 12.63). Resíduos polares revestem o canal e

Lado extracelular K+

K+Ionóforo

K+

K+

K+ Lado citoplasmático
(a) FIGURA 12.62 Mecanismo proposto para
atividades ionoforéticas de valinomicina
e nigericina.
Lado extracelular H+ K+ (a) Transporte por valinomicina; (b) Trans
porte por nigericina. Irepresentaionóforo. O
H K H complexo valinomicina-K+ é carregado posi
tivamente e o deslocamento de K+ é eletro
Ionóforo – gênico, levando à criação de uma separação
–H de cargas através da membrana. Nigericina
desloca K+ em troca de um H+ através da
K
membrana, e o mecanismo é eletricamente
neutro.
K+ H+Lado citoplasmático
Diagrama adaptado de Pressman, B. C.
(b) Annu. Rev. Biochem. 45:501, 1976.
518 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

grupos hidrofóbicos ficam na periferia do canal, inte C


ragindo com a membrana lipídica. A estrutura permite
a passagem de água e de cátions divalentes, mas não
de ânions. A associação e dissociação dos monômeros
NN
controla a velocidade do fluxo de íons.

Dímero de
gramidicina A

FIGURA 12.63 Ação da gramicidina A.


Duas moléculas de gramicidina A formam um dímero com pon
tes de hidrogênio nas extremidades amino-terminais dos pep
tídeos, criando um canal na membrana.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.6

Doenças Que Envolvem a Superfamília de Transportadores ABC

Transportadores com cassete de ligação a ATP (ABC) dente de ATP de uma ampla variedade de substâncias
são uma superfamília de proteínas com várias subfa e estão presentes em muitos tecidos diferentes. Alguns
mílias que contêm todas um domínio de ligação a ATP são encontrados em formas mutantes em várias doenças.
conservado e diversos domínios transmembrânicos. Os A seguir são apresentados transportadores ABC selecio
membros da superfamília catalisam o transporte depen nados, seus substratos e doenças relacionadas.

Transportador Substrato Doença


ABCA1 Fosfolipídeo Doença de Tangier
ABCG5 Esteróis de plantas Sitosterolemia
ABCR Fosfatidiletanolamina Degeneração macular juvenil
Retinite pigmentosa
ABC7 Ferro? Anemia sideroblástica com ataxia
BSEP Sais biliares Colestase intra-hepática progressiva familiar
MRP1 Xenobióticos Resistência a múltiplas drogas
MRP2 Bilirrubina glucuronídeos Síndrome de Dubin-Johnson
PGY3 Fosfatidilcolina de cadeia longa Colestase da gestação
TAP1 Transportador de peptídeo Espondilite anquilosante
Diabetes mellitus insulino-dependente
Doença celíaca

Note que as doenças genéticas que envolvem os Borst, P. e Elferink, R. O. Mammalian ABC transporters
transportadores ABC incluem uma variedade de condi in health and disease. Annu. Rev. Biochem. 71:537, 2002.
ções patofisiológicas, afetando vários tecidos diferentes
e vários sistemas bioquímicos.

Para uma lista detalhada dos transportadores ABC


e suas doenças, ver http://nutrigene.4t.com/humanabc.
htm.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 519

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CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 521

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Szakacs, G., Varadi, A., Ozvegy-Laczka, C. e Sarkadi, B.


The role of ABC transporters in drug absorption, dis

Termos Chaves
ácido fosfatídico ligante glicerofosfolipídeos proteínas integrais
âncora de glicosilfosfatidi canal de Na+ glicoesfingolipídeos proteínas periféricas
linositol canal nicotínico de acetil ionóforos receptores
aquaporinas colina (receptor) junções comunicantes toxinas formadoras de
assimetria da membrana cardiolipina (gap junctions) poros
ATPase trocadora de Na+/ ceramida ligação pirofosfato transporte ativo primário
K+ colesterol lipídeos anfipáticos transporte dirigido por
ATPases transportadoras complexos do poro nuclear lipossomos potencial eletroquímico
de Ca2+ transporte eletricamente
cotransportador de sódio/ mecanismo antiporte
aumento e diminuição de glicose silencioso
mecanismo simporte
expressão (up e down transportadores com cas
difusão mediada por pro mecanismo uniporte
regulation) sete para ligação de ATP
teína
calmodulina micelas (ABC)
esfingolipídeos
canais microdomínios transportadores mitocon
esfingomielina
canais de íons voltagem modelo do mosaico driais
fluidez da membrana
-dependentes moléculas sinais transportadores tipos P, V
força sódio motiva eF
canais regulados por plasmalogênio
fosfatidilinositol

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha D. liberação do soluto apenas se a concentração do
novo lado for menor do que a do lado original.
1. Todos os seguintes são modos pelos quais proteí
nas periféricas ligam-se a membranas, exceto E. um mecanismo para deslocar o soluto de um
A. ligação a uma proteína integral. lado da membrana para o outro.

B. ligação eletrostática entre fosfolipídeos e gru 3. O deslocamento de Ca2+ através de uma membrana
pos positivos da proteína. envolve todos os seguintes exceto
C. por um grupo hidrofóbico curto em uma ex A. transporte ativo por ATPases transportadoras
tremidade da proteína. de Ca2+.
D. ligação pelo grupo carboxila carregado da ex B. manutenção da [Ca2+] muito mais alta na célu
tremidade carboxila da proteína. la do que no líquido extracelular.
E. ligação não-covalente a fosfatidilinositol da C. fosforilação do transportador.
membrana. D. regulação pela ligação de um complexo Ca2+
-calmodulina ao transportador em eucariotos.
2. Características de um sistema de transporte me
diado incluem E. transportadores diferentes para o transporte
para dentro do lúmen ou para fora, através da
A. ligação não-específica do soluto ao transpor membrana plasmática.
tador.
4. Membranas celulares típicas
B. liberação do transportador da membrana após
o transporte. A. são compostas em cerca de 90% por fosfolipí
deos.
C. uma velocidade de transporte diretamente
proporcional à concentração de soluto. B. têm proteínas tanto integrais como periféri
cas.
522 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

C. contêm ésteres de colesterol. 8. Qual das seguintes afirmativas relativas a membra


D. contêm carboidratos livres, como glicose. nas está correta?
E. contêm grandes quantidades de triacilglice A. Os microdomínios, chamados balsas lipídicas
róis. (lipid rafts), são fixos em posição nas mem
branas.
5. Todos os seguintes estão corretos para um ionófo
B. A composição em lipídeos das duas camadas
ro, exceto que ele
da membrana se equilibra.
A. requer o aporte de energia metabólica para
C. Como demonstrado para lipossomos, a mem
transporte mediado de um íon.
brana é mais fluida nas superfícies.
B. pode se difundir para frente e para trás atra
D. Um aumento no conteúdo de colesterol de uma
vés de uma membrana.
membrana aumenta a fluidez da membrana.
C. pode formar um canal na membrana através
E. Transportadores lipídicos catalisam o movi
do qual um íon pode difundir.
mento unidirecional de lipídeos específicos de
D. pode catalisar transporte mediado eletrogêni uma camada para a outra.
co de um íon.
E. terá especificidade para o íon que move. Questões 9 e 10: Fibrose cística é uma doença gené
tica relativamente comum (1 em 2.000 nascidos vivos)
6. As células controlam a distribuição de água através
em caucasianos. Embora afete muitos órgãos, a obs
das membranas por aquaporinas e aquagliceropo
trução pulmonar é um problema importante. Pacien
rinas porque a difusão não-facilitada é muito lenta.
tes com CF têm permeabilidade reduzida para Cl–, e
Aquaporinas (AQP) a doença pode ser diagnosticada por [Cl–] elevada no
A. permitem o deslocamento de água e de peque suor. Mutações genéticas levam a defeitos na proteína
nos solutos. regulatória da condutância transmembrânica da fibro
B. reduzem o gradiente de pH porque transpor se cística (CFTR), que é um canal de Cl– dependente
tam H3O+. de cAMP. O regulador CFTR tem homologia estrutural
C. são proteínas periféricas de membrana. com a superfamília de transportadores com cassete de
ligação a ATP.
D. formam canais pelos quais água flui.
E. não têm controles específicos para abrir o ca 9. Canais de membrana
nal. A. têm uma área aquosa grande na estrutura da
proteína, de modo que não são muito seletivos.
Questões 7 e 8: Dois problemas encontrados na admi
B. comumente contêm α-hélices anfipáticas.
nistração oral ou intravenosa de drogas são a falta de
tecido-especificidade na ação da droga e o rápido me C. são abertos ou fechados apenas como resulta
tabolismo e, portanto, período limitado de efetividade do de uma mudança no potencial transmem
de algumas drogas. Uma tentativa de contornar esses brânico.
problemas é usar lipossomos para encapsular as drogas. D. são o mesmo que junções comunicantes (gap
Algumas drogas têm um período de eficácia maior quan junctions).
do administradas dessa maneira. Lipossomos podem ser E. permitem que substratos fluam só de fora para
preparados com proteínas específicas para se ligarem a dentro da célula.
receptores de membrana celular específicos. Liposso
mos também são úteis como ferramentas de pesquisa, 10. Transportadores com cassete de ligação a ATP
para estudar as propriedades das membranas biológi (ABC):
cas, já que apresentam estrutura e propriedades seme A. têm um domínio que atravessa a membrana e
lhantes. Grande parte do nosso conhecimento sobre as reconhece o substrato e um domínio de liga
membranas biológicas foi obtida usando lipossomos. ção a ATP.
7. Receptores da membrana plasmática B. todos efetuam translocação por formação de
A. geralmente têm moléculas ligantes como este canais.
roides. C. só são encontrados em eucariotos.
B. estão sempre acoplados a proteínas G. D. todos têm duas funções – formação de um ca
nal e regulação da condutância.
C. são fixos, em número, para uma determinada
E. são todos glicoproteínas-P.
célula.
D. frequentemente atravessam a membrana com Questões 11 e 12: Alterações nos sistemas de trans
um ou mais domínios transmembrânicos. porte de membrana para componentes específicos le
E. quando ligados ao seu ligante, sempre resul vam a várias doenças. Na doença de Hartnup, há uma
tam na liberação de uma molécula pequena diminuição no transporte de aminoácidos neutros pelo
(segundo mensageiro) no interior da célula. intestino e túbulos renais. Os indivíduos com uma cap
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 523

tação diminuída de glicose no trato intestinal não têm brana plasmática de células:
um transportador específico de glicose-galactose. Nes A. envolve uma enzima que é uma ATPase.
sas doenças, os sistemas de transporte são cotranspor
B. é um sistema simporte.
tadores Na+/(aminoácido) ou (glicose).
C. move Na+ para dentro ou para fora da célula.
11. Este tipo de sistema de transporte
D. é um sistema eletricamente neutro.
A. move Na+ e o aminoácido ou a glicose em dire
E. na membrana, hidrolisa ATP independente
ções opostas através da membrana.
mente do movimento de Na+ e K+.
B. usa a energia do gradiente de Na+ (SMF) para
concentrar a outra substância, contra seu gra Problemas
diente.
13. Desenhe uma curva ilustrando a velocidade de mo
C. resulta na hidrólise de ATP durante o trans vimento de um soluto através de uma membrana
porte. em função da concentração do soluto para (a) O2 e
D. é o mesmo codificado pela família de genes de (b) captação de glicose no eritrócito.
resistência a múltiplas drogas (Mdr). 14. Que tipo de transportador é o receptor de acetilco
E. é o único tipo de sistema usado para transpor lina de membrana de músculo esquelético, e como
tar glicose através de membranas. é controlado?
12. Um tipo diferente de sistema de transporte que
mantém os gradientes de Na+ e K+ através da mem
Resposta
1. D Uma única carga eletrostática provavelmente
não seria suficiente. A: um exemplo é a ligação de

anquirina ao canal de ânions nos eritrócitos. B: a carga negativa dos fosfolipídeos está envolvida. C: este seria
inserido na bicamada lipídica. E: um domínio específico liga-se ao grupo de cabeça do inositol 3-fosfato.

2. E Isso é essencial para conseguir que o soluto seja uma descrição de aquagliceroporinas. B: elas não
transportado através da membrana. A: a especifici transportam H3O+. C: elas são proteínas integrais
dade de ligação é uma parte integrante do processo. que atravessam a membrana. E: canais requerem
B: a recuperação do transportador a sua condição controles.
original é uma das características do transporte
7. D Esse é um mecanismo comum para ancorar a pro
mediado. C: apenas em baixas concentrações de
teína à membrana. A: esteroides podem se difundir
soluto; transportadores apresentam cinética de sa
através da membrana plasmática e têm receptores
turação. D: transporte ativo, movimento contra um
intracelulares. B: esta é apenas uma das três classes
gradiente, também é transporte mediado.
principais de receptores da membrana plasmática.
3. B O Ca2+ extracelular é cerca de 10.000 vezes mais C: os receptores podem ser superexpressos (upre
alto do que o intracelular. A: este é um transpor gulated) ou subexpressos (downregulated) para
te ativo primário. C: estes são os transportadores modificar a resposta celular a um ligante. E: existe
tipo P (fosforilação ocorre em um aspartato). D: uma variedade de respostas iniciais à ligação recep
essa ligação diminui o Km para Ca2+ e aumenta o tor-ligante, incluindo a abertura de um canal.
transporte de Ca2+. E: esses são conhecidos como
CERCA e PMCA. 8. E A assimetria é mantida por flipases e flopases
dependentes de ATP. A: difundem-se livremente e
4. B Algumas proteínas ficam mergulhadas na mem podem se agrupar em domínios maiores. B: mover
brana, enquanto outras ficam na superfície. A: isso um grupo de cabeça carregado através do centro
é mais do que o total de lipídeos. C: o colesterol da lipídico da membrana é termodinamicamente des
membrana não é esterificado. D: todo carboidrato favorável. C: a área de maior fluidez é o centro da
da membrana está na forma de glicoproteínas e gli
membrana. D: colesterol é uma molécula rígida que
colipídeos. E: este é um componente minoritário. diminui a fluidez.
5. A Ionóforos transportam por mecanismos passivos 9. B As hélices geralmente formam o canal com ca
mediados. B e C: estes são os dois tipos principais deias laterais hidrofílicas revestindo o canal, e
de ionóforos. D: valinomicina transporta K+ por um as hidrofóbicas voltadas para o centro lipídico da
mecanismo uniporte. Também há sistemas anti
membrana. A: isso descreve um poro; canais são
porte que são eletroneutros. E: valinomicina tem
uma afinidade por K+ 1.000 vezes maior do que por bastante específicos. C: canais voltagem-depen
dentes, como o de Na+, são controlados assim, mas
Na+.
outros, como o canal nicotínico de acetilcolina, são
6. D Elas se organizam em homotetrâmeros, com cada regulados quimicamente. D: grupos de canais de
monômero formando um poro específico. A: esta é membrana funcionam juntos para formar uma jun
524 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

ção comunicante (gap junction). E: substâncias 12. A O transportador de Na+, K+ é a ATPase trocadora
podem se mover em qualquer direção, determina de Na+/K+. C e D: é um sistema antiporte, vetorial
da pelo gradiente de concentração. (Na+ para fora), eletrogênico (3 Na+, 2 K+). E: hi
drólise de ATP não é inútil.
10. A Essas são as características comuns. B: operam
por vários mecanismos, incluindo transportadores 13. Ver Figura 12.32. (a) O2 cruza a membrana por sim
e receptores. C: procariotos e eucariotos os têm. ples difusão; portanto, a velocidade aumenta com
D: CFTR é incomum por apresentar ambas as fun a concentração, como ilustrado pela curva inferior
ções. E: alguns, como os codificados pela família da figura. (b) A captação de glicose pelos eritróci
de genes MDR ou o transportador de colesterol tos é um transporte passivo mediado, de modo que
para fora das células, são glicoproteínas-P, mas ou deve mostrar cinética de saturação, como ilustrado
tros não são. pela curva superior na figura.
11. B Estes são transportadores ativos secundários 14. Este também é chamado canal nicotínico de acetil
Na+-dependentes. A: estes são simportes, movendo colina, e é um exemplo de um canal regulado por
ambas as substâncias na mesma direção. C: o ATP agonista. A acetilcolina interage com o receptor de
é usado para manter o gradiente de Na+, não no acetilcolina na membrana, causando uma mudança
transporte de aminoácidos ou glicose. D: Mdr são conformacional na proteína que abre o canal e per
transportadores ABC. E: glicose também pode ser mite que cátions (mas não ânions) fluam através. A
transportada por um sistema uniporte passivo. hidrólise da acetilcolina, com a liberação dos pro
dutos, fecha o canal.
PARTE III CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 525
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

13
Fundamentos
P P
P P

da Transdução de Sinal
George R. Dubyak
Professor Titular, Case Western Reserve University School of Medicine

CONTEÚDO 13.13 INTEGRAÇÃO DE VIAS DE TRANSDUÇÃO


DE SINAL EM REDES DE TRANSDUÇÃO DE
13.1 TRANSDUÇÃO DE SINAL ENTRE CÉLULAS, 526
SINAL, 555
13.2 TRANSDUÇÃO DE SINAL INTERCELULAR, 526
13.3 RECEPTORES PARA MOLÉCULAS SECRETA
CORRELAÇÕES CLÍNICAS
DAS, 528
13.1 Família de Receptores Tirosina Quinases ErbB/
13.4 TRANSDUÇÃO DE SINAL INTRACELULAR POR
HER Como Alvos para Quimioterapia do Câncer,
RECEPTORES DE SUPERFÍCIE CELULAR, 529
539
13.5 RECEPTORES CANAIS IÔNICOS LIGANTE
13.2 Antagonistas Endógenos de Receptores de Inter
-DEPENDENTES, 535
leucina-1 Como Terapia para Doenças Inflamató
13.6 RECEPTORES LIGADOS A ENZIMAS, 537 rias, 541
13.7 RECEPTORES DE CITOCINAS, 540 13.3 Receptores de Quimiocinas Acoplados a Proteína
G como Alvos para o Vírus da Imunodeficiência
13.8 RECEPTORES ACOPLADOS A PROTEÍNAG, 542
Humana (HIV), 543
13.9 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM AMP
13.4 Mutações em Proteína G em Tumores da Glându
CÍCLICO, 546 la Pituitária e Doenças Endócrinas, 545
13.10 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM GMP
13.5 Alterações na Sinalização de Receptor b-Adrenér
CÍCLICO, 549
gico na Insuficiência Cardíaca Congestiva, 547
13.11TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM CÁL
13.6 Sinalização por Óxido Nítrico/cGMP Como Alvos
CIO, 551
Terapêuticos em Doenças Cardíacas e Vascula
13.12 TRANSDUÇÃO DE SINAL BASEADA EM FOS res, 550
FOLIPÍDEOS, 553

Conceitos Chaves
• A comunicação entre células envolve a sinalização • Receptores de superfície celular iniciam reações
intercelular via moléculas secretadas (hormônios, que mudam rapidamente as concentrações intra
neurotransmissores e outros mediadores) e cas celulares de moléculas pequenas que são segun
catas de sinalização intracelular reguladas por re dos-mensageiros, como nucleotídeos cíclicos, íons
ceptors que se ligam às moléculas secretadas. Os Ca2+ ou metabólitos de lipídeos.
receptores incluem: (1) proteínas de superfície ce
• Dois tipos principais de comutadores moleculares
lular que se ligam a moléculas secretadas hidrofíli
cas ou grandes, e (2) proteínas intracelulares que controlam a transmissão de sinais intracelulares:
(1) o estado de fosforilação de proteínas; e (2) pro
se ligam a moléculas hidrofóbicas secretadas.
526 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

teínas G que, quando ligadas a GTP, alternam entre superfície celular e incluem os receptores senso
estados conformacionais que ligam ou desligam a riais envolvidos na visão, no olfato e no paladar.
atividade de outras proteínas.
• Proteínas Gregulam a atividade de outras proteínas
• Algumas proteína quinases e fosfatases são ativi incluindo enzimas que sintetizam segundos men
dades intrínsecas de proteínas que são receptores sageiros, canais iônicos que controlam o potencial
de superfície celular, os quais ligam fatores de cres de membrana ou o fluxo de íons regulatórios, e ou
cimento; outras são proteínas separadas que são tras proteína quinases.
reguladas por associação transitória com proteínas
da superfície celular ou pela ligação com segundos • Combinações de diferentes reações de sinalização
intercelular e intracelular constituem redes de si
mensageiros pequenos.
nalização que permitem às células de um órgão ou
• Proteína quinases e fosfatases regulam a sinaliza tecido responder a mudanças na função de células
ção intracelular por mudança no estado de fosfo em outros órgãos ou tecidos; essas redes de sina
rilação e função de: (1) enzimas, incluindo outras lização garantem a homeostase num organismo in
quinases e fosfatases; (2) canais iônicos e trans teiro.
portadores de íons; (3) fatores de transcrição; e (4)
• Expressão ou função aberrante de proteínas sina
proteínas estruturais que regulam forma, tamanho
lizadoras, incluindo moléculas secretadas, recep
e mobilidade celulares.
tores, proteínas G e proteína quinases é a causa
• Proteínas G são reguladas por sua interação com subjacente de doenças humanas comuns, incluindo
outras proteínas que aumentam a velocidade de muitos tipos de câncer, insuficiência cardíaca, dia
troca GTP/GDP pelas proteínas G; estas incluem betes e alguns distúrbios de comportamento; cerca
os receptores acoplados a proteína G (GPCR), que de 50% das medicações mais comumente usadas
constituem a maior superfamília de receptores de têm proteínas sinalizadoras como alvos.

13.1 TRANSDUÇÃO DE SINAL (ou seja, transmitir informação de uma para a outra)
de várias formas diferenes (Figura 13.2). Uma requer
ENTRE CÉLULAS que elas estejam em contato físico direto; esse modo é
justácrino ou contato-dependente. Um segundo modo,
A comunicação ou transdução de sinal entre células mais comum, é independente de contato e envolve a
e tecidos consiste de duas fases. A transdução de sinal liberação de moléculas secretadas pela célula emisso
intercelular caracteriza a passagem de um sinal de uma ra. As moléculas secretadas difundem-se pelo espaço
célula para células alvos por meio do ambiente extrace extracelular até as células alvos, onde interagem com
lular. A transdução de sinal intracelular compreende a proteínas receptoras, resultando em uma ativação da
decodificação bioquímica desse sinal quando recebido sinalização intracelular e função alterada. Esse último
pelas células alvos, um processo que envolve a regula modo permite comunicação intercelular entre células se
ção passo a passo de proteínas sinalizadoras intrace paradas por grandes distâncias, por exemplo, células
lulares, o que finalmente resulta em função alterada em diferentes tecidos ou órgãos ou entre células sepa
das proteínas envolvidas no metabolismo, na regulação radas por pequenas distâncias. A sinalização contato
gênica, no transporte de membrana e na mobilidade ce -independente por moléculas secretadas inclui quatro
lular (Figura 13.1). A combinação da sinalização inter modos: endócrino, parácrino, sináptico ou neuronal
celular e intracelular permite às células de um órgão ou e autócrino. Esses modos são diferenciados por: (1) a
tecido responder às mudanças na função de células em distância real entre as células emissora e alvo; e (2) a
outros órgãos ou tecidos, para garantir a homeostase no natureza bioquímica das moléculas secretadas.
organismo inteiro.
Sinalização Justácrina ou Contato
dependente
13.2 TRANSDUÇÃO DE SINAL Na sinalização justácrina, as células se comunicam
INTERCELULAR por um de dois mecanismos. Um é por canais de jun
ções comunicantes (gap junctions) que permitem a
transferência direta de pequenos íons, metabólitos e
Dois Modos Fundamentais de moléculas de segundos mensageiros entre células vizi
Transdução de Sinal Intercelular nhas. A estrutura e a função desses canais são descri
tas em detalhes na p. 497 e nas Figuras 12.41 e 12.42,
A sinalização intercelular descreve os mecanismos p. 504. O segundo mecanismo envolve a interação de
pelos quais uma célula (a célula “emissora”) envia uma uma proteína expressa na superfície da célula emissora
mensagem para mudar a função de outra célula (a célula com uma proteína receptora expressa na superfície da
“alvo” ou receptora). Duas células podem se comunicar célula alvo (Figura 13.2a). Essa interação muda a con
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 527

Hormônio Extracelular, hormônio, só aquelas células que expressam receptores


Neurotransmissor, ou
Fator de Crescimento
específicos para aquele hormônio serão células alvos.
Dois aspectos importantes da sinalização endócrina de
vem ser notados. Primeiro, como o hormônio está sen
Receptor: Surperfície
do secretado no volume total do sangue, estará diluído
celular ou Intracelular
muitas vezes quando chegar às células alvos nos tecidos
periféricos. A concentração de hormônios no sangue e
nos espaços intersticiais é sempre baixa (concentra
ções entre picomolares e nanomolares, ou seja, 10–12 a
Reações de Sinalização Intracelular
10–9 M), mesmo durante velocidades máximas de secre
ção pela glândula fonte. Em virtude da baixa concentra
ção dos hormônios, os receptores da célula alvo devem
ter uma alta afinidade e seletividade para um hormônio
em particular. Uma consequência dessa alta afinidade
é que, uma vez que o hormônio tenha se ligado, não
pode se dissociar facilmente de seu receptor. Segun
do, demora um tempo considerável para aumentar e/ou
Transporte Expressão Movimento diminuir a concentração de um hormônio no sangue,
Metabolismo Gênica
de íon Celular em virtude do grande volume ou capacidade do sangue.
Após secreção, as concentrações de hormônio no san
FIGURA 13.1 Elementos básicos de uma via de gue e no líquido intersticial podem permanecer eleva
transdução de sinal em nível celular. das por muitos minutos ou, até, horas. Isso, juntamente
com a alta afinidade das interações hormônio–receptor,
formação da proteína receptora e dis
para uma cascata de eventos de sina
(a) Justácrina (b) Endócrina
lização intracelular na célula alvo, que
Canal da junção comunicante Célula emissora
resulta em função alterada da célula. Célula emissora Célula alvo
Elementos importantes da sinalização
justácrina incluem uma variedade de Hormônio
proteínas, como as integrinas, envolvi
das na adesão célula–célula e na regu
lação da forma e da mobilidade celular.
Macromolécula Receptor
ligada à Vaso sanguíneo
Sinalização Endócrina membrana

Célula alvo Receptor


Esse modo envolve a sinalização
entre células separadas por distâncias
curtas ou longas. Células emissoras (c) Parácrina (d) Sináptica
especializadas em tecidos glandulares Célula alvo Célula emissora
sintetizam, acondicionam e secretam Neurônio emissor Sinapse

moléculas chamadas hormônios (Figu


ra 13.2b). Por definição, hormônios são
moléculas secretadas no sangue para Axônio
transporte de longa distância até as cé Célula alvo Corpo celular Neurotransmissor Célula alvo
lulas alvos em vários tecidos. Este é um
tipo de transmissão de sinalização re Mediador local
mota porque o sangue carrega o hormô
nio para a maioria dos tipos celulares,
na maioria dos tecidos. Embora a maio
ria das células do corpo seja exposta ao (e) Autócrina

FIGURA 13.2 Cinco modos principais de


transdução de sinal intercelular.
Redesenhado com base em figuras de Al
berts, B. et al. Essential Cell Biology, 2. ed.
New York: Garland Science, 2004; e Lodish,
H. et al. Molecular Cell Biology, 4. ed. New
York: Freeman, 2000. Receptores alvos na mesma célula
528 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

tem importantes consequências para o mecanismo pelo Sinalização Autócrina


qual as células alvos desligam suas respostas a um hor
mônio. Também garante que a sinalização intracelular Esse tipo de sinalização parácrina ocorre quando um
pela célula alvo durará períodos longos. tipo celular é tanto a célula emissora como a célula alvo
(Figura 13.2e). A sinalização autócrina é frequentemen
Sinalização Parácrina te usada pelos organismos durante o crescimento tissu
lar, o desenvolvimento dos órgãos, e nas respostas imune
Nesse modo, uma célula emissora não secreta molé e inflamatória. As características gerais da sinalização
culas sinalizadoras no sangue para transporte de lon autócrina são as mesmas da sinalização parácrina não
ga distância, mas só secreta tais moléculas em seu am -sináptica, exceto que a célula emissora fornece tanto a
biente imediato ou local (Figura 13.2c). Isso restringe molécula secretada (frequentemente um fator de cres
muito as distâncias que as moléculas podem percorrer cimento polipeptídico grande) como um receptor para
(por difusão passiva) e, assim, limita as respostas ape essa molécula. Por exemplo, o desenvolvimento tissular
nas às células alvos da vizinhança imediata da célula precoce frequentemente envolve expressão aumentada
emissora. Em virtude de sua ação localizada, as molé de um fator de crescimento e do receptor para esse fator
culas secretadas usadas na sinalização parácrina são por uma célula progenitora específica, ou célula tronco.
chamadas genericamente mediadores locais. Como, O fator de crescimento liberado induz ativação autócrina
ao contrário dos hormônios secretados, os mediadores de seu receptor alvo para iniciar a replicação da célula
locais não são muito diluídos, sua concentração perto tronco original e de suas células descendentes.
das células alvos pode ser bastante alta (faixa entre
nanomolar e micromolar, ou seja, 10–9 a 10–6 M). Por
tanto, os receptores da célula alvo para mediadores Moléculas Sinalizadoras Secretadas
locais geralmente têm afinidade mais baixa por essas
moléculas secretadas. Menor afinidade significa que o Muitos tipos de moléculas biológicas, incluindo
mediador local pode se dissociar rapidamente do re proteínas, glicoproteínas, peptídeos pequenos, amino
ceptor quando a concentração local, extracelular, do ácidos, aminas, lipídeos (ácidos graxos e esteroides),
mediador é reduzida. Além disso, como o mediador é nucleotídeos, nucleosídeos e gases (por exemplo, óxido
secretado localmente em um pequeno volume extra nítrico) são usados como moléculas sinalizadoras secre
celular, sua concentração na célula alvo será só tran tadas por várias células. As principais diferenças entre
sitoriamente elevada, em virtude da rápida difusão e as moléculas sinalizadoras estão em seu tamanho e so
da diluição no maior espaço do tecido. Assim, a sina lubilidade relativa em água. Os hormônios usados para
lização parácrina é usada para comunicação rápida e sinalização endócrina são produtos de aminoácidos
localizada entre células. (proteínas grandes, glicoproteínas, polipeptídeos ou
peptídeos pequenos) ou esteroides. Os neurotransmis
Sinalização Sináptica ou Neuronal sores usados para a sinalização sináptica são moléculas
pequenas e simples, como aminoácidos (por exemplo, glu
Esse tipo de sinalização parácrina é específico para tamato, glicina), aminas substituídas (por exemplo, epine
células nervosas, que enviam extensões celulares es frina, acetilcolina, ácido g-aminobutírico [GABA]), nu
pecializadas (axônios) até a vizinhança imediata de cleotídeos (por exemplo, ATP), ou peptídeos pequenos.
uma única célula alvo, que é geralmente outro neurô Os mediadores locais usados para a sinalização parácri
nio ou uma célula muscular (Figura 13.2d). As sinap na (não-sináptica) ou autócrina são muito diversifica
ses entre um neurônio e suas células alvos constituem dos e incluem proteínas, peptídeos pequenos, molécu
um espaço extracelular restrito no qual o neurônio se las orgânicas simples (por exemplo, histamina, ATP e
creta moléculas sinalizadoras chamadas neurotrans adenosina) e derivados de ácidos graxos (por exemplo,
missores. Dada esta geometria sináptica especial, os prostaglandinas).
neurotransmissores só percorrem distâncias muito
pequenas até a célula alvo. Em decorrência dessa pe
quena distância intercelular e do volume sináptico
restrito, a concentração local do neurotransmissor que 13.3 RECEPTORES PARA
chega à célula alvo pode ser muito alta (faixa entre
micromolar e milimolar, ou seja, 10–6 a 10–3 M). Assim, MOLÉCULAS SECRETADAS
os receptores das células alvos podem ter afinidade re Os receptores para moléculas secretadas podem ser
lativamente baixa pelo neurotransmissor. Essa baixa divididos amplamente em duas classes principais: re
afinidade garante que os neurotransmissores possam ceptores intracelulares e receptores de superfície ce
rapidamente se dissociar de seus receptores após di lular (Figura 13.3). Moléculas hidrofóbicas atravessam
minuição de sua concentração local. Isso é essencial facilmente a membrana plasmática das células alvos e
para o término muito rápido (milissegundos) da neu
se ligam a proteínas que são receptores intracelulares.
rotransmissão do neurônio pré-sináptico para seus al
vos pós-sinápticos. Receptores intracelulares são específicos para os
hormônios secretados esteroides, derivados da vitami
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 529

(a) Receptores intracelulares lares chamadas cascatas ou vias de


Hormônio Receptor
transdução de sinal. O evento mais
hidrofóbico intracelular precoce na transdução de sinal,
desencadeado pela ligação de uma
molécula sinalizadora a um recep
mRNA
tor, é uma mudança conformacio
nal no receptor que resulta em: (1)
geração de moléculas sinalizadoras
intracelulares conhecidas como se
Núcleo Receptor com Receptor com de genes
alterada
Transcrição gundos mensageiros (a molécula
hormônio ligado hormônio ligado secretada extracelular é o primeiro
no núcleo mensageiro), ou (2) uma mudança
no potencial elétrico de membrana
(b) Receptores de superfície celular plasmática, ou (3) ativação de cas
Receptores de superfície Hormônios, neurotransmissores, catas enzimáticas envolvendo pro
celular fatores de crescimento
extracelulares
teína quinases, proteína fosfatases
hidrofílicos ou proteases. Quatro superfamílias
principais de receptores de super
fície celular estrutural e funcional
mente relacionados, que são media
Fatores de
crescimento
dores da imensa maioria das vias de
comunicação intercelular (Figura
Hormônios
13.4), são (1) receptores canais iô
nicos ligante-dependentes, (2) re
Segundo mensageiro ceptores ligados a enzimas ou ca
intracelular
Baixa concentração de Alta concentração de talíticos, (3) família de receptores
segundos mensageiros segundos mensageiros de citocinas, e (4) receptores aco
plados a proteína G ou GPCR.
FIGURA 13.3 Propriedades básicas de receptores intracelulares versus receptores
de superfície celular.

na D3, ácido retinoico e hormônio da tireoide (Figura 13.4 TRANSDUÇÃO DE


13.3a). Estes compõem um grupo muito homólogo de
proteínas estruturalmente relacionadas. Suas estrutu SINAL INTRACELULAR
ras e funções (ver Figura 22.46, p. 948, e 22.47, p. 949)
são descritas em detalhes no Capítulo 22. Alguns são POR RECEPTORES DE
proteínas citosólicas que se deslocam para o núcleo só SUPERFÍCIE CELULAR
quando ligados a seu hormônio cognato; outros entram
no núcleo mesmo em ausência do hormônio ligado.
Em todos os casos, os receptores ligados ao hormônio Ligantes, Receptores e Interações
funcionam como complexos diméricos (homômeros ou Receptor–Ligante
heterômeros) que se ligam a sequências específicas do
DNA em elementos regulatórios a montante de vários Um ligante é qualquer molécula que se liga a uma
genes, para aumentar ou reprimir a transcrição e, as receptor proteico. Um agonista é um ligante que, ao se
sim, alterar a expressão das proteínas codificadas por ligar, ativa a transdução de sinal, enquanto um anta
esses genes. Por causa de seus efeitos sobre a expressão gonista é um ligante que impede a transdução de sinal
gênica, a ativação dos receptores intracelulares produz quando se liga ao receptor. Um agonista ou um anta
mudanças de longa duração (horas a dias) na função gonista fisiológico é uma molécula de ocorrência natu
das células alvos. ral (como um hormônio ou neurotransmissor) que atua
como um ligante para um receptor. Um agonista ou um
Receptores de superfície celular são sítios de re antagonista farmacológico é uma molécula sintética
conhecimento para a imensa maioria das moléculas que atua como um ligante para um receptor. Muitas
sinalizadoras que são muito grandes (proteínas ou drogas terapêuticas são agonistas ou antagonistas de
hormônios polipeptídicos) ou muito hidrofílicas para receptores.
atravessar rapidamente a membrana plasmática da cé
lula alvo. Tais moléculas sinalizadoras interagem com a Certos agonistas fisiológicos estimulam múltiplos
célula alvo ligando-se a receptores da superfície celu tipos de receptores, que são chamados subtipos de re
lar, que são proteínas integrais de membrana (Figura ceptores. Isso significa que a mesma molécula extrace
13.3b). Proteínas receptoras de superfície são acopla lular sinalizadora pode se ligar a diferentes receptores
das a uma variedade de reações bioquímicas intracelu proteicos, que são produtos de diferentes genes. Por
530 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

(a) Receptor canal iônico ligante-dependente

Membrana Íons
plasmática
Neurotransmissor

Receptor Citosol

(b) Receptores ligados a enzimas

Domínio catalítico inativo Domínio catalítico ativo

(c) Receptores de citocinas

Enzima ativada
(d) Receptores acoplados
aacoplad a prroteína
proteína G
Neurotransmissor ou ormônioho
Neurotrannsmisso hormônio FIGURA 13.4 Principais classes
de receptores de superfície
celular para moléculas
sinalizadoras secretadas.
Redesenhado com base em figu
ra de Alberts, B. et al. Essential
Cell Biology, 2. ed. New York:
Ptí
Proteína G Ei
Enzima Ptí
Proteína G ativada
tid Ei
Enzima ativada
tid
Garland Science, 2004.

exemplo, o neurotransmissor acetilcolina interage com diferencialmente em vários tecidos ou células, ou pode
um receptor canaliônico ligante-dependente que causa ser coexpresso no mesmo tecido ou célula. Mais ainda,
contração do músculo esquelético, ou com um recep subtipos de receptores frequentemente ativam respos
tor acoplado a proteína G que causa relaxamento do tas de transdução de sinal opostas. Isso complica muito
músculo cardíaco (Figura 13.5). Todos os neurotrans o desenho e o teste de agonistas e antagonistas sintéti
missores, por exemplo, acetilcolina, serotonina e dopa cos, e é uma importante razão pela qual a maioria das
mina, reconhecem uma dúzia ou mais de subtipos de drogas dirigidas a receptores tem efeitos colaterais pe
receptores. Cada subtipo de receptor pode ser expresso rigosos quando usada inadequadamente.

(a) Célula de músculo cardíaco (b) Célula de músculo esquelético

Receptor canal
iônico acetilcolina
dependente

FIGURA 13.5
Características
básicas de subtipos
Acetilcolina Receptor para Acetilcolina de receptores como
acetilcolina
receptores proteicos
acoplado a
proteína G funcionalmente
distintos que ligam
Contração aumentada uma molécula
sinalizadora
Contração diminuída extracelular comum.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 531

Relações entre Receptores, Efetores concentrações citosólicas de certos íons regulatórios


podem mudar apreciavelmente; Ca2+ é o principal íon
e Segundos Mensageiros regulatório intracelular. Se o fluxo do íon em particular
for a corrente predominante na membrana plasmática,
A primeira etapa da sinalização por receptores de
o potencial de membrana será conduzido para o poten
superfície celular é a ligação do agonista extracelu
cial de equilíbrio daquele íon. Isso resultará em despo
lar com a proteína do receptor, o que muda a energia
larização ou hiperpolarização da membrana.
intrínseca e a conformação estrutural da proteína do
receptor. Nessa conformação, o receptor interage com Enzimas efetoras frequentemente catalisam a rápi
proteínas efetoras, que são proteínas sinalizadoras (en da produção de moléculas de segundos mensageiros
zimas ou canais iônicos) distais ao, mas ativados pelo, solúveis em água, por exemplo, AMP cíclico (cAMP),
receptor ligado ao agonista (Figura 13.4). Em alguns GMP cíclico (cGMP) e inositol trisfosfato (IP3) (Figu
casos, a própria proteína do receptor é também o efe ra 13.6).
tor. A ativação de um efetor leva à geração de segundos
mensageiros ou a mudanças no potencial de membra Outras proteínas efetoras, como fosfolipases ou li
na. Alguns receptores interagem diretamente com pro pídeo quinases, catalisam a rápida produção de segun
teínas efetoras, enquanto outros requerem proteínas de dos mensageiros lipídicos associados à membrana,
acoplamento ou transdutoras para interagirem com o por exemplo, diacilglicerol (DAG) ou fosfatidilinositol
efetor. Proteínas regulatórias de ligação a GTP (proteí 3,4,5-trisfosfato (PIP3) (Figura 13.6).
nas G) são uma classe muito importante de tais proteínas
acopladoras.
Fosforilação de Proteínas na
Efetores enzimáticos podem ser um componente in
trínseco de uma proteína receptora (por exemplo, re Transdução de Sinal
ceptores tirosina quinases) ou proteínas separadas (por A maioria das vias de transdução de sinal intrace
exemplo, tirosina quinases não-receptoras). Podem ser lular envolve mudanças no estado de fosforilação de
proteínas integrais de membrana (por exemplo, ade certas proteínas. A fosforilação de proteínas pode mu
nilato ciclase) ou proteínas citosólicas (por exemplo, dar sua estrutura secundária, terciária ou quaternária,
guanilato ciclase) e incluem nucleotídeo ciclases, fos resultando em função alterada. Tal fosforilação envolve
folipases, proteína quinases e proteína fosfatases. Estes a atividade regulada de uma variedade de proteína qui
serão discutidos em seções posteriores. Efetores canais nases e proteínas fosfatases (Figura 13.7a). Proteína
iônicos são um componente intrínseco de alguns recep quinases são classificadas com base em sua seletividade
tores (canais iônicos ligante-dependentes), enquanto para aminoácidos específicos. A maioria das proteína
outros são regulados indiretamente por receptores, via quinases ativadas por segundos mensageiros fosforila
proteínas G ou segundos mensageiros. proteínas específicas em resíduos de serina ou treo
Segundos mensageiros são moléculas intracelulares nina. Muitos fatores de crescimento e citocinas tam
pequenas que transmitem e amplificam o sinal inicial bém estimulam quinases que fosforilam proteínas em
a partir de receptores ativados por agonistas (Figura resíduos de tirosina. Essas tirosina proteína quinases
13.6). Podem ser íons inorgânicos ou produtos orgâni desempenham importantes funções na regulação do
cos de reações catalisadas por enzimas. crescimento e da diferenciação celulares. As proteínas
substratos para serina/treonina quinases ou tirosina
Íons que passam por canais regulados por recep quinases são muito diversificadas e incluem enzimas
tores funcionam como segundos mensageiros de duas metabólicas, canais iônicos, fatores de transcrição ou
formas. Se o fluxo iônico for suficientemente grande, as outras proteína quinases. Proteína fosfatases também

NH2 O

N N N
N 1 2–
CH3(CH2)XC OCH2 PO3
OPO32–

N N N N NH2 O 2 O 6 5

Íon Ca2+ OCH2


O
P AMP
O O3!,5!-cíclico
OH OCH2
GMP3!,5!-cíclico CH3 1,2-Diacilglicerol
(CH2)XCOCH
Ca2+ 4 32 1 P 4O32
O OH1 O CH2
3 1 OH
OH OH 4
OH
2 3 OPO32–
O O

O
Inositol
1,4,5-trisfosfato

FIGURA 13.6 Estruturas de quatro moléculas de segundos mensageiros.


532 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

GTP são proteínas monoméricas;


Sinal de DESLIGADO DESLIGADO
Sinal de isso as diferencia das proteínas
entrada entradal GDP
G triméricas, acopladas a recep
ATP Quinase P Ligação P
GTP Hidrólise tor. Todas as proteínas que ligam
ativa GDP de GTP
ativa GTP (monoméricas ou triméri
ADP
cas) têm diferentes conformações
Fosfataseativa de GTP e atividades, dependendo se têm
inativa guanosina-5!-difosfato (GDP) ou
GTP ligado. A forma ligada a GDP
LIGADO LIGADO
P
interage com outra proteína (um
GTP
Sinal Sinal fator trocador de nucleotídeo de
de saída de saída guanina [GEF]), que catalisa a tro
ca de GDP por GTP. A forma ligada
a GTP interage com, e modifica a
(a) Sinalização por fosforilação de proteína (b) Sinalização por proteína regulatória ligada a GTP
atividade de, uma proteína efetora
FIGURA 13.7 Fosforilação de proteínas versus ligação de nucleotídeo de guanina a jusante. A atividade de GTPase
como tipos importantes de comutadores moleculares para mudar a função de converte a forma ligada a GTP na
proteínas durante a sinalização intracelular. forma ligada a GDP, que tem capa
cidade diminuída de interagir com
apresentam seletividade para serina/treonina fosfato proteínas efetoras e deve interagir com um GEF para read
ou tirosina fosfato. A capacidade que algumas proteína quirir sua conformação ativa. Uma função importante de
quinases têm de fosforilar e ativar proteínas alvos, que muitos receptores de superfície celular é disparar, direta
são elas próprias proteína quinases, ressalta o envol ou indiretamente, as reações de troca GDP/GTP que re
vimento de cascatas de proteína quinases na regula sultam em ativação de proteína G.
ção de respostas celulares complexas. Essas cascatas
são frequentemente elementos críticos no processo de
amplificação que caracteriza as reações de sinalização Outros Componentes de Complexos
intracelular, iniciadas pela ligação de ligantes a recep
tores da superfície celular. de Sinalização Mediada por
Proteína quinases podem ser reguladas por recep Receptor e Cascatas
tores de várias maneiras. Algumas tirosina quinases
Além de proteínas efetoras, segundos mensageiros,
são componentes intrínsecos da estrutura da proteína
proteínas G triméricas e proteína quinases, uma gran
receptora (por exemplo, receptores tirosina quinases),
de variedade de proteínas intracelulares pode estar en
enquanto outras são proteínas citosólicas que se asso
volvida nas vias intracelulares de sinalização mediadas
ciam transitoriamente com receptores ativados (por
por receptor de superfície celular. Por meio da coloca
exemplo, tirosina quinases não-receptores que se ligam
lização física de múltiplas proteínas sinalizadoras em
a receptores de citocinas). Na maioria, as serina/treoni uma dada via de sinalização, proteínas de arcabouço
na quinases são proteínas solúveis que são reguladas por
um aumento na concentração de segundo mensageiro (scaffold) e adaptadoras aumentam a fidelidade e a
velocidade de uma complexa cascata de sinalização.
(por exemplo, proteína quinases cAMP-dependentes).
Da mesma forma, há múltiplos tipos de fosfatases, que Proteínas chamadas proteínas de ancoragem localizam
e concentram proteínas sinalizadoras solúveis em lo
revertem os sinais gerados pelas quinases ativadas por
calizações subcelulares específicas. Por exemplo, uma
receptor ou por segundo mensageiro.
ampla variedade de proteínas de ancoragem de quina
se A (AKAPs, A-Kinase Anchoring Proteins) locali
zam proteína quinases reguladas por cAMP (proteína
Proteínas Regulatórias Que Ligam quinase A, [PKA]) na membrana plasmática, no citoes
GTP na Transdução de Sinal queleto ou dentro do núcleo. A montagem de recepto
res, proteínas adaptadoras, proteínas efetoras e outros
As proteínas G que estão funcionalmente acopladas componentes da sinalização em complexos sinalizado
com os receptores acoplados a proteína G pertencem a res frequentemente envolve interações específicas de
uma família maior de proteínas, que se ligam e hidro domínios específicos dessas proteínas (Figura 13.8).
lisam GTP como parte de sua função celular específica Domínios SH2(Src-Homology type 2, homologia a Src
(Figura 13.7b). Essas GTPases têm um importante papel tipo 2) e domínios PTB (phospho-tyrosine binding,
de comutador molecular, estando envolvidas em funções ligação a fosfotirosina) reconhecem e ligam-se a resíduos
biológicas críticas, como iniciação, elongação e termina específicos de tirosina fosforilada em uma variedade de
ção da síntese proteica; organização de microtúbulos; proteínas sinalizadoras. Domínios SH3 (Src-Homology
regulação de atividade enzimática; e tráfego de membra type 3, homologia a Src tipo 3) ligam-se a domínios ri
nas. Muitas dessas proteínas “comutadoras” que ligam cos em prolina que caracterizam certas proteínas si
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 533

Molécula silanizadora quantidades relativamente pequenas


Fosfolipídeo Receptor
inositol proteico por célula, as curvas de ligação ago
nista–receptor apresentam satura
ção. Além disso, para medir direta
mente a ligação de um agonista com
P P Citoplasma seu receptor, pode-se medir indireta
Proteína PH
PTB SH2 P Y mente a interação agonista–receptor
sinalizadora 1 por meio do ensaio das várias respos
P
tas funcionais desencadeadas pelo
Y
Domínio quinase receptor com agonista ligado. Em
Proteína Y
sinalizadora 2
geral, a magnitude dessas respostas
P
é proporcional à quantidade de com
Domínio quinase
SH2
plexo agonista–receptor ligado. A
Proteína adaptadora curva dose–resposta mede a relação
entre concentração de agonista e res
SH3 posta biológica.
P
Proteína PPP
A concentração de agonista que
sinalizadora 3 causa metade da resposta máxima é
a metade da concentração máxima
efetiva ou EC50. Esta é diretamente
proporcional ao KD do complexo ago
Comuta o sinal a jusante nista–receptor (Figura 13.9). Entre
tanto, EC50 é geralmente muito infe
FIGURA 13.8 Funções de proteínas adaptadoras e dos domínios de interação
rior ao KD; isto é, a concentração de
proteína–proteína na montagem de complexos de sinalização intracelular.
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al. Molecular Biology of the Cell, 4. agonista necessária para metade da
ed. New York: Garland Science, 2002. ativação máxima da resposta bioló
gica da célula é mais baixa do que
nalizadoras. Domínios PH (Pleckstrin Homology) re a concentração de agonista necessária para metade da
conhecem especificamente e ligam-se a certos inositol ocupação máxima do número total de receptores da cé
fosfolipídeos que têm funções importantes como segun lula. Isso significa que uma célula geralmente expressa
dos mensageiros lipídicos ou substratos lipídicos para mais receptores do que necessita para respostas bioló
fosfolipase C. gicas efetivas. Esses receptores extras, ou “a mais”, per
mitem que a célula responda a agonistas mesmo após a
inativação ou degradação dos receptores ativados por
ocupação prévia pelo agonista. Como descrito a seguir,
Interação Ligante–Receptor a inativação ou degradação do receptor desempenha
um papel importante no término da transdução de sinal
e Eventos Subsequentes de
por receptores.
Sinalização
A ligação de um ligante agonista a um recep 1.0
Resposta celular
tor é caracterizada pela afinidade e capacidade
de ligação do receptor. A afinidade descreve a o r
relação entre a concentração de agonista e a for d a
l 0.8
a u
l
m
i e
mação de complexos agonista-receptor. A afini x c Fração dos receptores de
á a
t
dade é inversamente proporcional à constante m s superfície com ligante ligado
o o 0.6
ã p
de dissociação (KD) (medida em molaridade do ç s
a e
r
p a
ligante) que caracteriza o complexo agonista–re u
c d
o u 0.4
xo KD (Figura 13.9). O KD é igual à concentração
ceptor e
d
o
r
Concentração de ligante para metade
o
t da máxima resposta celular (EC50)
de agonista livre que permite a ligação de 50% o
ã p
ç e
do número total de sítios de ligação do receptor a c
r e
r
F 0.2
(metade da ocupação máxima). Potência é outro Concentração de ligante para metade
da máxima ocupação de receptores (KD)
termo usado para medir a afinidade relativa de
um agonista por seu receptor. Um agonista com 0
1 2 3 4
alta potência liga-se mesmo quando presente em
Concentração relativa de ligante e receptor
concentrações muito baixas (alta afinidade, bai
). A capacidade de interação refere-se ao FIGURA 13.9 Relação entre Kd, como uma medida de afinidade de
número absoluto de sítios receptores. Como pro ligação ligante–receptor, e EC50, como uma medida de resposta
teínas receptoras são geralmente expressas em funcional para a formação de complexos ligante–receptor.
534 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Término da Transdução de Sinal por ser catalisado por enzimas específicas (por exemplo, as
acetilcolinesterases) presentes na superfície das célu
Receptores de Superfície Celular las alvos. Certas neurotoxinas atuam como inibidores
da quebra de neurotransmissores.
As células expressam múltiplos mecanismos que
permitem a elas terminar ou atenuar suas respostas a As células também podem terminar a transdução
vários hormônios, neurotransmissores ou mediadores de sinal por regulação da disponibilidade funcional de
locais. Esses mecanismos permitem que as células re receptores, um processo conhecido como adaptação
tornem ao seu estado basal, pré-estímulo, e impedem ou dessensibilização. Se exposta repetidamente a um
a superativação ou ativação inadequada das funções agonista específico, uma célula adapta sua sensibili
controladas por um dado receptor (Figura 13.10). Eles dade àquele agonista. Ao longo do tempo, uma célula
incluem: (1) redução da disponibilidade de agonista na tornar-se-á cada vez menos sensível a uma concentra
vizinhança extracelular de uma célula alvo, (2) inter ção de agonista que normalmente causa máxima ativa
nalização e degradação do complexo agonista-receptor ção. Essa dessensibilização resulta de vários processos.
ligado, e (3) modificação rápida do receptor (por exem Primeiro, muitos receptores são rapidamente interna
plo, por fosforilação), de modo que se torne inativo ou lizados quando ligados a seus ligantes agonistas. Esses
dessensibilizado. complexos receptor–ligante são incorporados em en
dossomos, e a subsequente acidificação dos endosso
O mecanismo mais simples para terminar a trans mos causa dissociação dos complexos ligante-receptor.
dução de sinal é reduzir a concentração extracelular do Alguns endossomos contendo receptor sem ligante são
agonista secretado. A eficiência e a rapidez desse meca encaminhados de volta à membrana plasmática, onde
nismo são determinadas por: (1) a estabilidade do agonis os receptores podem ser reincorporados na superfície
ta secretado, (2) o tamanho ou a capacidade do comparti da membrana. Outros endossomos são encaminhados
mento extracelular no qual o agonista é secretado, e (3) aos lisossomos, onde ambos, ligante e receptor protei
a proximidade entre as células emissoras e as células al co, são degradados. Assim, ao longo do tempo, haverá
vos. É difícil terminar a sinalização endócrina por redu menos receptores na superfície da membrana. Segundo,
ção da disponibilidade do agonista rapidamente porque um mecanismo muito mais rápido de dessensibilização
os hormônios são secretados em um ambiente extrace envolve modificação estrutural do receptor, o que re
lular de grande capacidade. Diferentemente, redução sulta em inativação funcional. Tais receptores inativos
rápida na disponibilidade de agonista desempenha um permanecem na superfície da membrana e podem até
papel significativo no término da sinalização sináptica; ligar agonista. Entretanto, eles não podem disparar as
neurotransmissores são secretados localmente em um etapas intracelulares da transdução de sinal. Em mui
espaço de capacidade muito baixa, a fenda sináptica, tos casos, inativação funcional de um receptor deve-se
e difundem rapidamente para longe. Algumas células à fosforilação da própria proteína do receptor. Assim,
também reduzem ativamente a concentração de agonis enquanto o receptor ocupado por agonista estimula
ta próximo por reacumulação do agonista liberado (por uma cascata de eventos de transdução de sinal envol
exemplo, recaptação sináptica de neurotransmissores vendo ativação de proteína quinases, algumas dessas
como serotonina e dopamina) ou por metabolização do proteína quinases fosforilam o próprio receptor; isso
agonista extracelular. O metabolismo extracelular pode então inativa aquele receptor. Este é um tipo clássico
de regulação por retroalimentação ne
Receptor Receptor Proteína
gativa. Dependendo do receptor, essa
ativo dessensibilizado de receptor Agonista inativação funcional pode ser revertida
rapidamente ou lentamente.

Desacoplamento
Cascata de
sinalização da cascata de
sinalização

Endossomo

Lisossomo

(a) Inativação do receptor (b) Internalização do receptor (c) Degradação do receptor

FIGURA 13.10 Principais mecanismos para o término da transdução de sinal


dependente de receptor.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 535

13.5 RECEPTORES CANAIS Cl– for a espécie permeada, a célula se tornará hiper
polarizada (Figura 13.12). Receptores cátion-seletivos
IÔNICOS LIGANTE são controlados pelos neurotransmissores excitatórios
(acetilcolina, glutamato, serotonina e ATP), enquanto
-DEPENDENTES receptores ânion-seletivos são controlados pelos neu
A sinalização muito rápida (milissegundos) é neces rotransmissores inibitórios (ácido g-aminobutírico
sária nas sinapses nervo–nervo ou nervo–músculo. As [GABA] e glicina). A ativação desses canais iônicos neu
sim, receptores de neurotransmissores precisam mudar rotransmissor-dependentes muda o potencial da mem
as respostas celulares via um número mínimo de etapas brana plasmática da célula, resultando na regulação
enzimáticas, porque algumas reações bioquímicas são secundária (ativação ou inibição) de muitos tipos de ca
relativamente lentas (segundos– minutos). Muitos neuro nais voltagem-dependentes, incluindo canais voltagem
transmissores (mas não todos) ligam-se a receptores que -dependentes para Ca2+. Mudanças na atividade desses
são canais iônicos ligante-dependentes (ver Figura 13.4a, canais alterará a concentração citosólica de Ca2+, um
p. 530). Os ligantes extracelulares para esses receptores segundo mensageiro chave. Por sua vez, o Ca2+ citosó
são invariavelmente moléculas orgânicas muito pequenas lico aumentado determina respostas agudas em células
como aminoácidos, aminas substituídas ou nucleotídeos. alvos, como a liberação exocitótica de vesículas conten
Estes são acondicionados em vesículas e liberados, via rá do neurotransmissor de neurônios ou a contração de
pida exocitose, nas sinapses. Como esses ligantes são tão células musculares, ou respostas de longo prazo, como
pequenos, eles se difundem rapidamente (Figura 13.11). ativação da expressão gênica sensível a Ca2+. A maioria
Os ligantes ligam-se a seus receptores com baixa afinida dos neurotransmissores que ativa receptores canais iô
de (KD micromolar a milimolar). Isso permite rápida dis nicos ligante-dependentes também pode interagir com
sociação do complexo ligante-receptor após redução da outros subtipos de receptores, que são receptores aco
concentração extracelular do neurotransmissor. plados a proteína G. Assim, os receptores de acetilcoli
na são receptores nicotínicos (porque também ligam
A ligação do neurotransmissor aos sítios extrace a droga nicotina), que são canais ligante-dependentes,
lulares de ligação do ligante de tais receptores dispa ou receptores muscarínicos (porque também ligam a
ra uma mudança quase instantânea na conformação droga muscarina), que são acoplados a proteína G.
do receptor, que permite que íons permeiem através
do complexo proteico do receptor. O fluxo desses íons
Na+
muda rapidamente o potencial de membrana da célula. Neurotransmissor
excitatório

+ + + + + +

Terminação nervosa – – – – – –

Influxo de Na+ despolariza membrana, aumentando


a probabilidade de gerar um potencial de ação

Neurotransmissor Cl–
inibitório

+ + + + + + + + + +
Neurotransmissoraumentado
Neurotransmissor
na sinapse ligado a receptor iônico
ligante-dependente
– – – – – – – – – –
Mudança no potencial de
Influxo de Cl– mantém membrana polarizada, dimi
membrana ou concentração
nuindo a probabilidade de gerar um potencial de ação
Íons iônica intracelular

FIGURA 13.12 Neurotransmissores excitatórios versus


inibitórios como agonistas para receptores canais iônicos
ligante-dependentes.
Célula alvo

FIGURA 13.11 Receptores canais iônicos Receptores Canais Iônicos


neurotransmissor-dependentes como importantes
elementos de transdução de sinal nas sinapses
Todos os receptores canais iônicos são complexos
neuronais. oligoméricos de três a cinco subunidades proteicas. Al
guns são complexos homoméricos, que contêm múlti
Se um cátíon como Na+ passar pelo canal do recep plas cópias da mesma subunidade proteica (ou seja, o
tor, a célula se tornará despolarizada; se um âníon como produto do mesmo gene). Outros são complexos hete
536 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

roméricos de diferentes subunidades proteicas (ou seja, Término da Sinalização por


cada subunidade é o produto de um gene diferente).
Cada subunidade individual é uma proteína integral de Receptores Canais Iônicos
membrana com múltiplos domínios transmembrânicos.
Existem vários mecanismos para término da si
Receptores nicotínicos de acetilcolina são um bom
exemplo das importantes características estruturais nalização por receptores canais iônicos. Primeiro,
os ligantes para esses receptores são secretados mui
que caracterizam receptores canais iônicos ligante
-dependentes. Estes são complexos pentaméricos de to transitoriamente em espaços extracelulares muito
subunidades, cada uma com extremidades extracelula pequenos e definidos, (por exemplo, a sinapse), per
res N- e C-terminais e quatro domínios que atravessam mitindo a eles se difundirem rapidamente para longe
do receptor. Segundo, a concentração extracelular do
a membrana (M1, M2, M3 e M4). Os cinco domínios M2
justapostos, um de cada subunidade proteica, formam neurotransmissor é reduzida por rápida quebra por
enzimas (como acetilcolinesterase) na superfície ex
o poro condutor de íons. A ligação do neurotransmissor
aos sítios extracelulares do complexo do receptor cau terna da membrana, ou por rápida recaptação pelo
sa rearranjos muito pequenos e sutis na forma como os neurônio secretor. Finalmente, a formação do estado
domínios M2 se ajustam entre si. Esse rearranjo quase ligado a ligante inativo garante um período muito cur
to de transdução de sinal por esses receptores de neu
instantâneo remove as barreiras energéticas ao fluxo
iônico pelo poro revestido de água. Nesse estado, o re rotransmissores.
ceptor está ligado ao ligante e ativado. Entretanto, o Embora o controle rápido dos fluxos iônicos seja sua
estado ativado de receptores canais ligados a ligante função direta, esses receptores também se associam
persiste por apenas poucos segundos ou minutos (varia com um grande número de outras proteínas celula
com os diferentes tipos de receptores canais ligante res. Algumas dessas proteínas associadas atuam como
-dependentes), antes que um segundo rearranjo de proteínas adaptadoras para colocalizar eficientemente
subunidades ocorra. Este leva o canal a assumir uma esses receptores com outras proteínas de sinalização
conformação não-condutora, embora o neurotransmis subsequente. Elas formam complexos de sinalização
sor permaneça ligado (ou seja, o receptor está ligado concentrados em domínios subcelulares específicos,
ao ligante, mas inativo). Essa rápida inativação é uma
como a membrana plasmática nos contactos sinápti
forma não-covalente de dessensibilização do receptor cos. Por exemplo, a cauda C-terminal intracelular dos
(Figura 13.13). A reativação do canal do receptor só canais iônicos glutamato-dependentes associa-se com
ocorre depois da dissociação do neurotransmissor dos uma proteína adaptadora chamada PSD-95 na Densi
sítios de ligação extracelulares. Portanto, esses recep dade Pós-Sináptica abaixo do sítio de contato sináptico.
tores ciclam entre três estados funcionais principais Essa interação é facilitada por um domínio na PSD-95
(sem ligante/inativo>ligante ligado/ativo>ligante liga chamado domínio PDZ. (PDZ é um acrônimo que com
do/inativo). bina as primeiras letras de três proteínas – proteína da
densidade pós-sináptica [PSD95, postsynaptic density
protein], supressor de tumor grande do disco de Dro
sophila [DlgA, Drosophila disc large tumor supres
sor] e proteína da zonula ocludens-1 [Zo-1] – as
Neurotransmissor primeiras a serem descobertas como contendo esse
domínio). PSD-95 contém múltiplos domínios PDZ
(além do sítio PDZ específico que se liga aos canais
glutamato-dependentes), que permitem a colocali
zação do receptor com várias quinases, fosfatases e
proteínas do citoesqueleto.
Neurotransmissor Neurotransmissor
liberado se liga e os canais
Estado basal
Outras proteínas que se associam com canais
se abrem
Neurotransmissor neurotransmissor-dependentes atuam como cha
permanece ligado,
Neurotransmissor perones para garantir a localização e o agrupamen
mas o canal
se dissocia e os to desses receptores na membrana sináptica. Por
de fecha
canais se fecham exemplo, os receptores nicotínicos de acetilcolina
ficam muito concentrados na sinapse neuromuscu
lar por meio de sua interação física com a proteína
rapsina, uma proteína de 43 kDa associada à mem
Estado inativado Estado ativado brana que se associa fortemente com o domínio in
tracelular dos receptores nicotínicos. Quando rap
FIGURA 13.13 Mudanças de conformação em canais iônicos
sina é nocauteada em camundongos, os receptores
ligante-dependentes durante ativação e inativação da função do
receptor. nicotínicos não são adequadamente agrupados na
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al. Molecular Biolo junção neuromuscular, e isso resulta em miastenia
gy of the Cell, 4. ed. New York: Garland Science, 2002. ou fraqueza muscular.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 537

Outros Ligantes de Receptores intracelulares têm atividades de proteína quinase, pro


teína fosfatase, protease ou nucleotídeo fosfodiestera
Canais Iônicos se. Esses receptores regulam primariamente funções
celulares de longo prazo, em uma escala de tempo de
Receptores que não os canais iônicos dependentes
minutos a horas, iniciando cascatas de sinalização in
de neurotransmissores utilizam canais iônicos para
tracelular que culminam na ativação ou na inibição
transdução de sinal intracelular. Certos tipos de canais da expressão gênica. Por sua vez, essas alterações na
são ativados por interação direta proteína-proteína com
expressão gênica dirigem vias muito fundamentais de
subunidades de proteínas G triméricas ativadas que,
resposta celular integrada, como divisão celular, mor
por sua vez, são ativadas quando receptores acoplados te celular programada ou diferenciação celular. Seus
a proteína G a montante são ativados por ligantes ago
agonistas são geralmente proteínas grandes, secreta
nistas. Outros tipos de canais iônicos são ativados por
das, que funcionam como fatores de crescimento pa
ligação de segundos mensageiros intracelulares, como
rácrinos/endócrinos ou fatores de diferenciação. Esses
cAMP, cGMP ou Ca2+. Esses segundos mensageiros acu
ligantes geralmente se ligam a seus receptores corres
mulam-se após ativação de muitos tipos de receptores
pondentes com afinidade muito alta (KD picomolar).
de superfície celular, incluindo receptores acoplados a
Entretanto, os ligantes agonistas para alguns tipos de
proteína G, receptores catalíticos para certos fatores de
receptores catalíticos são macromoléculas expressas
crescimento e alguns receptores de citocinas. Assim, nas superfícies extracelulares de células adjacentes
esses canais iônicos ligante-dependentes são regulados
(sinalização justácrina). Os receptores catalíticos mais
indiretamente por receptores de superfície celular. Ca
comuns têm atividade de tirosina quinase. Estes recep
nais iônicos dependentes de segundo mensageiro muito
tores tirosina quinases (RTK) incluem os receptores
importantes são os canais da Ca2+ localizados no retí
de fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de
culo endoplasmático. Finalmente, a atividade de outros
crescimento derivado de plaquetas (PDGF), insulina,
canais iônicos pode ser aumentada (ou diminuída) por
e muitos outros fatores de crescimento polipeptídicos.
fosforilação por várias proteína quinases reguladas Alguns receptores catalíticos têm atividade de serina/
por segundos mensageiros. Esse é outro exemplo de re
treonina quinase. Finalmente, certos hormônios envol
gulação indireta de função do canal por receptores de
vidos na regulação da pressão sanguínea ligam-se a re
superfície celular.
ceptores com atividade de guanilato ciclase (ver Figura
22.33, p. 937).

13.6 RECEPTORES LIGADOS A


Receptores Tirosina Quinases (RTK)
ENZIMAS
A maioria dos RTKs é formada por receptores de su
bunidade única, mas alguns (como o receptor de insuli
Funções Fisiológicas de Ligantes na) existem como complexos multiméricos (ver Figura
22.29, p. 933). Cada monômero tem um único domínio
Extracelulares transmembrânico (TM) que compreende 25-28 amino
Os receptores de muitos fatores de crescimento e ácidos. As extremidades NH2-terminais de tais recep
hormônios polipeptídicos são proteínas transmembrâ tores são extracelulares e compõem um domínio muito
nicas que têm atividade catalítica intrínseca (Figura grande para ligação do fator de crescimento ou hormô
13.14). Receptores enzima-ligados ou catalíticos dessa nio. As extremidades COOH-terminais são intracelula
superfamília de proteínas são distinguíveis por várias res e contêm os domínios responsáveis pelas atividades
características estruturais importantes. Seus domínios catalíticas dos receptores.

Fator de crescimento
extracelular FIGURA 13.14
Membrana
Mudanças
plasmática conformacionais e
Espaço funcionais em um
extracelular receptor tirosina
quinase durante
a ativação por
P P P P Citoplasma
ligação de fator de
Domínio
tirosina Proteínas crescimento.
quinase Tirosina intracelulares
de
Redesenhado com base
fosforilada P P P P fosforiladas
ligadasatirosinas
sinalização em figura de Alberts,
B. et al. Essential Cell
Receptor
INATIVO
quinase
tirosina Atividade de
estimulada
quinase Receptor tirosina Biology, 2. ed. New
quinase York: Garland Science,
ATIVO 2004.
538 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Quando um fator de crescimento liga-se ao domínio Fator de crescimento

extracelular de um RTK, desencadeia a dimerização Espaco


extracelular Proteína Ras inativa Proteína Ras ativa
com subunidades adjacentes de RTK (Figura 13.14);
isso leva à rápida ativação do domínio quinase citoplas
mático. O primeiro substrato proteico para essa tirosina Citoplasma GDP
quinase ativada é o próprio receptor; o domínio intra GDP GTP
celular do receptor fica autofosforilado em múltiplos Receptor
tirosina GTP
resíduos de tirosina. Os resíduos de tirosina fosforila P P
quinase
dos funcionam, então, como sítios de reconhecimento ativado Vias subsequentes
ou ancoragem para outras proteínas, que são substra de sinalização
(por exemplo,
tos para o RTK. Esses substratos proteicos geralmen Proteína Proteína
MAP quinases)
te contêm um domínio de interação proteína–proteína adaptadora ativadora de Ras

tipo-SH2, que reconhecem as tirosinas fosforiladas do


FIGURA 13.16 Papel da GTPase Ras durante a transdução de
receptor. Isso permite forte ligação ao receptor e sub sinal intracelular por um receptor tirosina quinase ativado.
sequente fosforilação de tirosinas nas proteínas subs
tratos. Assim, a ativação de RTK resulta no acúmulo
de muitos tipos de proteínas fosforiladas em tirosinas. ta para a membrana plasmática. Essa internalização do
Esses substratos a jusante agem como efetores para o complexo receptor-ligante, seguida pela dissociação do
RTK e incluem proteínas sinalizadoras, como outras ligante, é o principal mecanismo para terminação da
proteína quinases, reguladores de GTPases pequenas, transdução de sinal por esses receptores.
e enzimas que modificam síntese e quebra de fosfolipí
deos. Quando fosforiladas em resíduos de tirosina, es Ras GTPase e MAP Quinase
sas proteínas efetoras tornam-se elos ativos em casca Ras é uma GTPase pequena ou proteína regulatória
tas de sinalização que, ao final, resultam em mudanças
na localização ou na atividade funcional de fatores de monomérica que liga GTP, que é um regulador crítico da
proliferação celular. Cerca de 30% de todos os tumores
transcrição ou outras proteínas envolvidas na divisão
humanos envolvem células que expressam oncogenes
ou na diferenciação celular. Ras mutados. Proteínas que se ligam diretamente a sí
Mutação de certos genes RTKresulta na expressão de tios de fosfotirosina de um RTK ativado incluem molé
receptores que assumem conformações ativadas na au culas adaptadoras que recrutam e estimulam proteínas
sência de ligação do fator de crescimento (Figura 13.15). ativadoras de Ras (Figura 13.16). As proteínas ativado
ras de Ras estimuladas atuam como GEFs, aumentando
Genes RTK mutados podem atuar como oncogenes (ver
p. 1039 e Tabela 24.2) que contribuem para iniciação ou a troca por GTP de GDP no próprio Ras; isso resulta
progressão do câncer (Correlação Clínica 13.1). em acúmulo de moléculas de Ras com uma conforma
ção ativa, ligadas a GTP. Por sua vez, essas proteínas
A dimerização do receptor também desencadeia Ras ativas ligam-se transitoriamente e estimulam uma
uma internalização endocítica do complexo fator de família de proteínas serina/treonina quinases, que
crescimento-RTK. Acidificação desses endossomos leva desencadeiam a cascata da proteína quinases ativada
o fator de crescimento a se dissociar do receptor e à por mitógeno (mitogen-activated protein kinase) ou
degradação do fator de crescimento internalizado pelos cascata da MAP quinase (Figura 13.17). Essa cascata
lisossomos. Embora alguns receptores internalizados de amplificação envolve ações em série de três proteí
sejam também degradados, a maioria é levada de vol na quinases; a primeira quinase, ativada por Ras (ou
MAP quinase quinase quinase) ativa um conjunto
Receptor intermediário de MAP quinase quinases, que ati
normal de EGF vam as MAP quinases terminais efetoras. As MAP
quinases terminais ativadas fosforilam múltiplas
proteínas alvos no citosol e no núcleo, incluindo
Domínio extracelular
fatores de transcrição que regulam a expressão
de ligação do ligante
Exterior de genes necessários para divisão celular, sobrevi
vência celular ou diferenciação fenotípica.
Membrana
Citoplasma Mutação
plasmática Domínio
extracelular Receptores Serina/Treonina
Domínio truncado
Quinases
intracelular
tirosina quinase Os fatores reguladores de crescimento fator de
Dimerização e ativação crescimento transformante-b (TGF-b) e as prote
ligante-independente
ínas morfogenéticas de osso (BMP) têm recep
FIGURA 13.15 Formas mutadas de receptores tirosina quinases tores com atividade intrínseca de serina/treonina
como produtos de oncogenes que causam câncer. quinase. Esses fatores de crescimento têm impor
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 539

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.1

Família de Receptores Tirosina Quinases ErbB/HER Como Alvos para Quimioterapia do Câncer

Receptores pertencentes à família ErbB/HER estão senvolvimento de várias terapias por drogas que têm
ligados a muitos tipos diferentes de câncer humano. A esses receptores como alvos. Um grupo consiste de
superexpressão do gene ErbB1 humano, que codifica o anticorpos monoclonais que se ligam a domínios extra
receptor de EGF (HER1), é comum em câncer de bexiga, celulares funcionalmente significativos de diferentes
mama, rim, próstata e pulmão de célula não-pequena. subtipos de HER. Trastuzumab (Herceptin® da Genen
Um gene ErbB1 mutante produz um receptor que não tech) é um anticorpo anti-HER2 que tem sido usado no
tem o domínio extracelular de ligação a EGF, e este é tratamento dos cânceres de mama caracterizados pela
muito expresso nos glioblastomas, que correspondem a superexpressão de ErbB2/HER2. Seu mecanismo de
25% dos tumores de cérebro humano adulto. ErbB3 e ação envolve o recrutamento de fatores imunes que ma
ErbB4 humanos codificam os receptores HER3 e HER4, tam as células tumorais e também suprimem a dimeri
que se ligam a proteínas extracelulares da família NRG zação constitutiva de HER2. Cetuximab (IMC-C225 ou
(neurregulina/herregulina/neu) de fatores de cresci Erbitux® da ImClone), um anticorpo contra o domínio
mento e diferenciação. ErbB3 está frequentemente su de ligação de EGF da proteína ErbB1/HER1, impede a
perexpresso em câncer de mama, cólon, próstata e es ativação induzida por ligante do receptor. Ele está sen
tômago, enquanto superexpressão de ErbB4 ocorre em do testado em pacientes com câncer de célula escamosa
tumores de células da granulosa ovariana. ErbB2 codifi de cabeça e pescoço ou de câncer de pulmão de célula
ca a proteína HER2, que não liga nenhum fator de cres não-pequena. Uma variedade de moléculas pequenas
cimento extracelular conhecido. Entretanto, HER2 pode foi projetada para atingir os domínios intracelulares ti
formar homodímeros ou heterodímeros com receptores rosina quinase das proteínas ErbB/HER. Essas drogas
HER1, HER3 ou HER4 ocupados por fator de crescimen são inibidores competitivos dos sítios de ligação de ATP
to. Como a dimerização ativa a atividade intrínseca de das quinases, particularmente do subtipo ErbB1/HER1.
tirosina quinase dessa proteína, mesmo modesta supe Estes estão sendo sendo testados em pacientes que so
rexpressão de HER2 pode alterar a regulação normal frem de cânceres de pulmão de célula não-pequena que
do crescimento celular. É significativo que a expressão não responderam a outras quimioterapias.
do gene ErbB2 esteja amplificada em até duas ordens
de grandeza em 20–30% dos indivíduos com câncer de Roskowski, R., Jr. The ErbB/HER receptor protein-tyro
mama invasivo. A expressão aberrante dos genes ErbB/ sine kinases and câncer. Biochem. Biophys. Res. Commun.
HER em múltiplos cânceres humanos tem levado ao de 319:1, 2004.

tantes funções sinalizadoras no desenvolvimento dos contra decapentaplégico” (mothers against decapen
tecidos nos estágios fetal e neonatal e na manutenção taplegic) ou MAD, e uma proteína de C. elegans cha
de um fenótipo de tecido diferenciado em organismos mada SMA; o nome é uma combinação das duas). Em
adultos. Como no caso dos receptores tirosina quina seu estado defosforilado, SMADs adotam uma confor
ses, mutações nos receptores de TGF-b e em outros mação dobrada, que impede sua interação com outras
receptores serina/treonina quinases contribuem para a SMADs e também mantém sua localização como pro
iniciação ou a progressão de certos cânceres. teínas citosólicas. Entretanto, a fosforilação pelos re
ceptores quinases ativados permite que certos subtipos
Da mesma forma, esses receptores compõem pro
de SMAD se desdobrem e formem complexos diméricos
teínas de membrana plasmática com uma extremidade com outros subtipos de SMAD. Essa dimerização tam
amino-terminal extracelular, uma única região trans bém expõe sequências de localização nuclear (NLS)
membrânica, e uma extremidade carboxi-terminal in nas SMADs, o que resulta em deslocamento do comple
tracelular, que contém o domínio catalítico. Também xo citosólico para o núcleo, onde os dímeros de SMAD
formam complexos homodiméricos quando seus ago interagem com outras proteínas regulatórias de genes
nistas ligam-se aos domínios extracelulares vizinhos para modular a transcrição dos genes envolvidos no de
(Figura 13.18). A mudança conformacional decorrente senvolvimento de órgãos ou diferenciação de tecidos.
resulta em uma subunidade catalítica fosforilando sua
subunidade parceira em resíduos de serina/treonina.
Essa fosforilação inicial permite que a subunidade
parceira recrute e fosforile proteínas citoplasmáticas
chamadas SMADs, que compreendem uma família de
fatores regulatórios de genes. (Proteínas SMAD são ho
mólogas a uma proteína de Drosophila chamada “mães
540 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Membrana plasmática
13.7 RECEPTORES DE
MAP-quinase-quinase-quinase
CITOCINAS
GTP
As citocinas representam outro grupo de polipep
Proteína ATPADP
Ras ativa tídeos secretados que agem como reguladores autócri
P nos/parácrinos de crescimento e diferenciação. Muitas
citocinas controlam o crescimento e a diferenciação de
MAP-quinase-quinase
células hematopoiéticas (formadoras de sangue), in
ATP
cluindo os vários tipos de células brancas ou leucóci
tos. Por essa razão, algumas citocinas são conhecidas
P P ADP
como interleucinas, porque regulam a transferência de
informação entre diferentes tipos de leucócitos durante
MAP-quinase
os vários estágios das respostas imune e inflamatória
ATP
(CorrelaçãoCorrelação ClínicaClínica 13.2).13.2).). OutrasOutrasOutras citocinascitocinascitocinas sãosãosão chama-chama-chama
das interferonspor sua habilidade de interferir com as
ADP
mudanças de função induzidas em células e tecidos in
fectados por patógenos virais ou bacterianos. Como os
fatores de crescimento que se ligam a receptores cata
P de
citosólicas
Proteínas
membrana ou P Proteína
regulatória
de genes
nuclear líticos, as citocinas ligam-se a seus receptores corres
pondentes com alta afinidade e desencadeiam a rápida
ativação da cascatas de proteína quinases e o acúmulo
de proteínas
Mudança
ou de
rápida
membrana
citosólicas
de atividade naMudanças
expressão
de proteínas
conduzem sinalizadoras
a mudanças fosforiladas
de longa duraçãoque, no final,
na expressão

de genes gênica. Entretanto, os receptores de membrana plasmá


tica para citocinas não têm atividade intrínseca de tiro
FIGURA 13.17 Papel da cascata de MAP quinases durante
a transdução de sinal intracelular por um receptor sina quinase ou de serina/treonina quinase (ver Figura
tirosina quinase ativado. 13.4c, p. 530).
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al. Essential
Cell Biology, 2. ed. New York: Garland Science, 2004.
Receptores de Citocinas: Estrutura e
TGF-β Receptor de TGF-β Função
Receptores de citocinas são receptores mul
timéricos. Cada subunidade tem um único domí
Citoplasma P P Proteínas regulatórias nio transmembrânico, um grande domínio extra
de genes SMAD celular amino-terminal para ligação da citocina,
serina/
Domínio P e um domínio carboxi-terminal intracelular con
tendo diferentes tipos de motivos para interação
ativo
treoninaquinase recruta SMAD
Receptorativadoautofosforilae proteína-proteína, mas sem atividade enzimática
intrínseca. Receptores funcionais de citocinas
dissocia
receptor,
a
SMAD
uma SMAD
ativada
do
liga-se existem como um complexo hetero-oligomérico
estável de duas ou mais subunidades de recepto
res diferentes. Ligação de alta afinidade da citoci
diferente e para
desloca-se na geralmente requer interação com pelo menos
Citosol P
o núcleo duas subunidades de receptores diferentes. Essa
ligação coordenada de ligantes citocinas extrace
Núcleo lulares desencadeia mudanças conformacionais
nos domínios intracelulares das subunidades
P Outras proteínas
regulatórias de genes do receptor que facilitam sua rápida associação
com outras enzimas intracelulares transdutoras
DNA
de sinal. Os receptores de citocinas apresentam
significativa diversidade nas estruturas de suas
Expressão gênica alterada subunidades individuais, bem como em seus
complexos multiméricos montados. Assim, dife
FIGURA 13.18 Cascatas de sinalização intracelular disparadas por rentes subfamílias recrutam uma ampla faixa de
um receptor serina/treonina quinase durante a ativação por TGF-ß
proteínas sinalizadoras intracelulares. Entre as
(fator de crescimento transformante ß).
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al. Essential Cell Bio mais importantes dessas proteínas associadas
logy, 2. ed. New York: Garland Science, 2004. estão as tirosina quinases não-receptores, como
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 541

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.2

Antagonistas Endógenos de Receptores de Interleucina-1 Como Terapia para Doenças Inflamatórias

Interleucina-1 (IL-1) é a designação combinada ção microbiana. A superprodução decorrente de IL-1b


para duas citocinas relacionadas (IL-1a e IL-1b) que foi ligada a múltiplas doenças inflamatórias, incluindo
se ligam aos mesmos receptores multissubunidades as síndromes de febres periódicas, doença de Crohn,
(IL-1R). A expressão ampla IL-1R destaca o papel cen artrite reumatoide e gota. Agentes terapêuticos, como
tral da IL-1 em muitas respostas imunes, inflamatórias, o antagonista do receptor de IL-1 (Anakinra ou Kine
metabólicas e hematopoiéticas. Estas incluem febre, ret®), são muito eficientes no tratamento de síndromes
expressão aumentada de proteínas de adesão de leu autoimunes. Curiosamente, Anakinra é uma versão
cócitos e células endoteliais, indução de proteínas de recombinante de uma proteína de ocorrência natural,
fase aguda pelo fígado, e produção estimulada de ou IL-1Ra humano (Ra significa antagonista do receptor),
tras citocinas e fatores estimuladores de colônia. IL que é produzida pelas mesmas células que secretam
-1b é uma importante citocina pró-inflamatória, cujos IL-1a e IL-1b. IL-1Ra endógeno é uma importante pro
níveis locais e circulantes são fortemente regulados teína antiinflamatória natural em artrite, colite e ou
para impedir ativação aberrante de vias que podem tras doenças inflamatórias; a manutenção de um equi
levar a doenças inflamatórias crônicas. IL-1b acumula líbrio entre a produção de IL-1 e de IL-1Ra impede o
-se como uma pró-citocina biologicamente inativa no desenvolvimento ou a progressão de tais doenças. En
citoplasma de monócitos e macrófagos. Sua ativação tretanto, quando IL-1 endógena é superproduzida em
requer a clivagem para uma forma madura, secretada, indivíduos com mutações nas proteínas regulatórias
pela protease caspase-1. A ativação da caspase-1 en dos inflamassomos, a injeção de IL-1Ra recombinante
volve sua oligomerização via montagem de complexos atua para restaurar esse equilíbrio.
multiproteicos chamados inflassomos. Em condições
normais, a montagem dos inflassomos é regulada por
Mariathasan, S. e Monack, D. M. Inflammasome adaptors
proteínas adaptadoras que só são ativadas em respos
ta a infecção bacteriana ou lesão tecidual. Entretanto, and sensors: Intracelular regulators of infectíon and inflam
mation. Nature Rev. Immunol. 7:31, 2007; e Church, L. D.,
algumas pessoas expressam versões mutadas dessas
Cook, G.P. e McDermott, M. F. Primer: inflammasomes and
proteínas adaptadoras, e isso causa ativação de inflas interleukin 1beta in inflammatory disorders. Nat Clin Pract
somos e superprodução de IL-1b na ausência de infec Rheumatol. 4:34, 2008.

as quinases da família src e as Janus quinases Subunidades do receptor de citocinas Citocina

(JAKs) (Figura 13.19). Estas tirosina quinases


não são proteínas integrais de membrana, mas Citoplasma

existem como proteínas solúveis ou fracamen


te associadas à membrana, que só são ativadas P P P P P

quando se associam com receptores de citoci


nas ocupados por ligante. Elas frequentemente Tirosina
P P P P
fosforilam as outras subunidades do receptor quinase
DNA
JAK
de citocinas em resíduos de tirosina que, então, P
Proteína
atuam como sítios de reconhecimento para a regulatória de
ligação de outras proteínas sinalizadoras com genes STAT
domínios de interação SH2. Assim, vários dos P
receptores de citocinas tipo interleucinas re STATs ativadas
Núcleo
Citoplasma
crutam JAKs, que fosforilam os receptores para P dimerizam e
gerar sítios de ligação para proteínas regulató deslocam-se
para o núcleo
rias de genes conhecidas como STATs (signal
transducers and activators oftranscription, P Outras proteínas
transdutores de sinal e ativadores de transcri regulatórias de genes
ção). Como as proteínas SMAD, as proteínas P Gene alvo ativado
STAT não-fosforiladas são monômeros citosó
licos. A fosforilação subsequente de tirosinas
pelas JAKs ativadas induz dimerização, que
resulta em deslocamento do complexo para o Expressão gênica alterada

núcleo e associação com outras proteínas regu FIGURA 13.19 Cascatas de sinalização intracelular iniciadas por
latórias de genes. receptor prototípico não-catalítico de citocina.
542 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Outros receptores de citocinas recrutam proteínas te-dependentes. Muitas importantes proteínas sensiti
adaptadoras, que iniciam a montagem de complexos vas são receptores acoplados a proteína G, incluindo a
proteína quinases, que culminam no deslocamento ci rodopsina (ver p. 980 e Figura 23.21) e os muitos recep
tosol-para-núcleo do complexo NFκb (nuclear factor tores para percepção de gosto e cheiro, cujos ligantes
of activated B-cells, fator nuclear de células B ativa verdadeiros são muito pouco conhecidos. Muitos GPCR
das), um importante fator de transcrição para regula estão envolvidos na regulação aguda de respostas fisio
ção da expressão de genes envolvidos em múltiplos lógicas críticas como contratilidade cardíaca, metabo
tipos de respostas imune e inflamatória. Muitos recep lismo e comportamento complexo. Esses receptores ou
tores de citocinas também desencadeiam a ativação de suas vias de sinalização a jusante são os alvos para mui
cascatas de MAP quinases. tas das drogas mais usadas no tratamento de doenças
humanas (Correlações Clínicas 13.3 e 13.5).

13.8 RECEPTORES ACOPLADOS Estrutura dos Receptores Acoplados


A PROTEÍNA G a Proteína G
Quando ocupados por ligantes agonistas, GPCRs
Funções Fisiológicas e Ligantes agem como GEFs para proteínas regulatórias hetero
Extracelulares triméricas que ligam GTP (proteínas G) (ver Figura
13.20), que interagem com proteínas efetoras a jusan
A superfamília dos receptores acoplados a proteí te, as quais geralmente são enzimas ou canais iônicos.
na G (GPCR) é alvo de uma faixa extraordinariamente Os GPCRs não regulam diretamente proteínas efetoras.
diversa de ligantes agonistas que inclui proteínas, pep Assim, mesmo os eventos de sinalização mais precoces
tídeos, derivados de aminoácidos, catecolaminas, lipí requerem a participação de pelo menos cinco proteínas:
deos, nucleotídeos e nucleosídeos (Figura 13.20). Esses o próprio receptor, a proteína G intermediária (com suas
ligantes incluem hormônios, neurotransmissores e me três subunidades proteicas distintas) e a proteína efe
diadores locais. Os receptores acoplados a proteína G tora. A existência de múltiplos tipos de proteínas G que
desempenham importantes funções na sinalização en podem se acoplar diferencialmente a vários receptores
dócrina, sináptica, parácrina ou autócrina, em virtual e efetores propicia considerável diversidade molecular
mente todos os tecidos e tipos celulares. Estima-se que nos tipos de vias de transdução de sinal controladas por
uma boa porcentagem dos genes do genoma humano esses receptores. A despeito da extrema diversidade de
codifique GPCR. Ligantes ligam-se a GPCR com afini ligantes de GPCR, os próprios receptores mostram um
dades na faixa de nanomolar a micromolar, que é inter alto grau de similaridade estrutural, mas não de sequên
mediária entre a alta afinidade dos receptores ligados a cia (ver Figura 13.20). A estrutura cristalina da rodop
enzima e a baixa afinidade dos receptores canais ligan sina bovina dá as características topográficas essenciais
da família GPCR (ver Figura 23.21). Cada receptor é
uma proteína de membrana de subunidade única, com
sete domínios transmembrânicos em a-hélice. (GPCR
Ca++ Odoríficos
Feromônios •Moléculas
aminoácidos,
nucleotídeos,
prostaglandinas
peptídeospequenas
aminas
nucleosídeos Proteínas também foram chamados hepta-helicoidais ou recep
• TSH tores 7 domínios transmembrânicos). Todos têm uma
• LH extremidade amino-terminal extracelular, três alças
• FSH
• interleucinas
extracelulares, três alças intracelulares e uma extre
• quimiocinas midade carboxi-terminal intracelular. A região extrace
lular contém sítios para glicosilação, e as alças extra
e1 celulares contêm resíduos de cisteína essenciais para a
e2
Fora e3 NH2 formação de pontes dissulfeto interalças. Os domínios
Efetor transmembrânicos (TM) são homólogos, mas não idên
Receptor • Enzimes
• Canais
ticos entre diferentes GPCR. Estes formam um bolsão
que frequentemente contém os resíduos de aminoácidos
Dentro
i2 i1 COOH
γ críticos para ligação do ligante. As alças intracelulares,
i3 α Mensageiros
intracelulares particularmente a terceira alça, contêm sequências crí
β
ticas para interação seletiva com proteínas G. A cauda
GDP Proteína G intracelular varia muito, em comprimento e sequência,
entre os diferentes receptores, e contém sítios que estão
FIGURA 13.20Principais elementos da transdução envolvidos em reconhecimento ou ativação de proteínas
de sinal iniciada pelos receptores de sete domínios
G. A cauda também contém sítios serina e treonina para
transmembrânicos acoplados a proteína G.
Redesenhado com base em figura de Bockaert, J. e Pin, J-P. fosforilação por proteína quinases. A fosforilação desses
Molecular tinkering of G protein-coupled receptors: an evolu resíduos desempenha importantes funções na termina
tionary success. EMBO J. 18:1723, 1999. ção da transdução de sinal por GPCR ativados.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 543

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.3

Receptores de Quimiocinas Acoplados a Proteína G como Alvos para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)

Entre os cerca de 1.000 genes humanos que codifi tanto, diferentes cepas de HIV infectavam preferencial
cam receptores acoplados a proteína G está o subgrupo mente linfócitos T (vírus T-tróficos) ou monócitos-ma
de receptores de quimiocinas, que são muito expressos crófagos (vírus M-tróficos), e análises epidemiológicas
em leucócitos (células brancas do sangue). Quimioci revelavam indivíduos que eram muito resistentes à
nas compõem aproximadamente 50 fatores polipeptí infecção por cepas de HIV M-trópico. Essa resistência
dicos que são secretados por múltiplos tipos celulares deve-se a mutações no gene que codifica CCR5, um re
(por exemplo, células epiteliais e células estromais) ceptor de quimiocina que é muito expresso em monóci
de vários tecidos. São ligantes agonistas para 19 tipos tos-macrófagos; essas mutações resultam em expressão
de receptores de quimiocinas, que são diferencial baixa ou nula da proteína CCR5 de superfície celular.
mente expressos nas várias classes de leucócitos (por Assim, cepas M-trópicas de HIV requerem a presença
exemplo, monócitos, linfócitos T, linfócitos B, células de ambos CCR5 e CD4, como correceptores, para infec
natural killer), que executam respostas imune e in tar eficientemente monócitos-macrófagos.
flamatória críticas em tecidos invadidos por patógenos
invasores (protozoários, bactérias ou vírus). Quimioci CXCR4, um receptor de quimiocina que é muito
nas funcionam como agentes: (1) quimiotáticos que re expresso em linfócitos T, funciona como um correcep
crutam leucócitos para a localização tecidual infectada; tor com CD4 para ligação de gp120 de cepas T-tróficas
(2) reguladores de vias de sinalização dependentes de de HIV. Significativamente, a capacidade de CCR5 e
proteína G envolvidas na morte rápida ou no sequestro CXCR4 se ligarem a gp120 não requer a ativação de pro
de patógenos, e (3) indutores da expressão gênica que teínas da família Gi, à qual esses receptores estão nor
contribuem para imunidade adaptativa de longo prazo malmente acoplados. Embora a ativação de proteína G
a patógenos. Não é surpreendente que o bloqueio ou a por CCR5 e CXCR4 não seja obrigatória para a entrada
inativação da sinalização por receptores de quimioci de HIV, a ligação de gp120 a esses receptores induz a
nas possa contribuir para uma ampla faixa de doenças ativação funcional das cascatas de sinalização a jusante
infecciosas A descoberta de que o vírus da imunodefici da proteína G. Parece que a ativação dessas vias de si
ência humana (HIV) utiliza GPCR endógeno de quimio nalização nas células infectadas por HIV pode facilitar
cinas para infectar e matar leucócitos efetores imune é a quimioatração de leucócitos não-infectados e, assim,
de particular relevância. ajudar na propagação e disseminação do vírus no sujei
to infectado. A identificação de CCR5 e CXCR4 como
A entrada de HIV em leucócitos requer a interação correceptores de HIV despertou grande interesse no
direta da glicoproteína do envelope viral (gp120) com desenvolvimento de ligantes antagonistas que atenua
proteínas da superfície extracelular da célula alvo do riam seletivamente a ligação de gp120 e retardariam a
hospedeiro. A proteína de membrana CD4, um receptor colonização e a disseminação desse patógeno devasta
imune crítico de linfócitos T helper, é um alvo impor dor em sujeitos infectados.
tante para a ligação de gp120. Isso explica porque as
células T helper são drasticamente reduzidas na maio Sodhi, A., Montaner, S. e Gutkind, J. S. Viral hijacking of
ria dos pacientes infectados por HIV que desenvolvem G protein-coupled receptor signaling networks. Nature Rev.
AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). Entre Mol. Cell Biol. 5:998, 2004.

A estrutura terciária de GPCR em membranas biológi rearranjos adequados dos domínios que atravessam a
cas envolve um agrupamento de sete hélices transmem membrana ou a exposição dos sítios de reconhecimento
brânicas que controla as conformações e aposição das da proteína G nas alças e cauda intracelulares.
alças intracelulares e da extremidade carboxi-terminal.
Ligantes grandes, como hormônios polipeptídicos, ligam A interação transitória entre o receptor ocupado
-se às alças extracelulares, enquanto ligantes pequenos, pelo agonista e sua proteína G afeta a função de ambos.
As mudanças funcionais da proteína G são descritas na
como acetilcolina e epinefrina, ligam-se ao bolsão for
mado pelos segmentos que atravessam a membrana. Em próxima seção. A principal mudança no receptor após
ambos os casos, a ligação causa um rearranjo das hélices sua ligação com uma proteína G é que sua afinidade
que atravessam a membrana e muda as conformações pelo agonista é significativamente reduzida, e isso ge
das alças intracelulares e do carboxi-terminal, expondo ralmente leva à dissociação do agonista. O receptor sem
sítios de reconhecimento para proteínas G específicas. agonista assume sua conformação inativa com perda de
Assim, um GPCR ocupado por um agonista pode formar sua capacidade de interagir com a proteína G. A pro
transitoriamente um complexo com uma proteína G. Um teína G dissocia do complexo receptor-proteína G e o
antagonista pode se ligar ao receptor, mas não causa os receptor retorna ao seu estado inativo, sem ligante.
544 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Proteínas G Heterotriméricas a13 da família G12/13 estimulam GEFs para uma varieda
de de GTPases pequenas da família Rho envolvidas em
Proteínas G que são funcionalmente acopladas com migração celular, regulação da forma celular e divisão
GPCR consistem de complexos heterotriméricos de su celular (Correlação Clínica 13.4).
bunidades a, b e g (Figura 13.21). A subunidade a, a
As subunidades b (∼35 kDa) e g (10 kDa) são pro
maior, é uma proteína relativamente hidrofílica, na faixa
de 39-46 kDa. Essa subunidade contém o sítio de ligação teínas muito hidrofóbicas e, em condições não-desna
para nucleotídeo de guanina, a atividade de GTPase que turantes, são isoladas como um complexo dimérico.
é crítica para a regulação correta da interação receptor– Complexos bg purificados, isolados de uma proteína G,
proteína G, e os domínios que interagem com as várias podem frequentemente ser recombinados com a subu
proteínas efetoras. Vinte subunidades a distintas são nidade a específica, purificada, de uma segunda pro
agrupadas em várias subfamílias com base em caracte teína G, para produzir um heterotrímero, que é fun
rísticas estruturais e tipo de acoplamento com proteínas cionalmente indistinguível do heterotrímero nativo da
efetoras específicas e cascatas de segundos mensageiros. segunda proteína G. O complexo bg é necessário para
As subunidades as (subunidades a estimulatórias) da a interação da subunidade a com receptores. Além dis
família Gs estimulam a adenilato ciclase e resultam em so, os complexos bg de algumas proteínas G ativadas
um aumento no cAMP intracelular (Correlação Clínica também interagem diretamente com, e ativam, uma va
a
13.4). Diferentemente, as subunidades ai (subunidades riedade de proteínas efetoras a jusante. Por exemplo,
inibitórias) da família Gi inibem a adenilato ciclase e dímeros
certos canais
bg derivados
de K+ do de
coração,
Gi controlam a abertura de
reduzem os níveis celulares de cAMP. As subunidades induzindo assim hiper
ao e az, que também pertencem à família Gi, preferen polarização do miócito cardíaco e uma diminuição nos
cialmente modulam canais iônicos voltagem-dependen batimentos cardíacos.
tes em tecidos excitáveis. A família Gi também inclui as
subunidades at (t de transducina), as proteínas G que
fazem a transdução da percepção de luz pelo GPCR tipo Ciclo da Proteína G
rodopsina, que estimulam a cGMP fosfodiesterase e ra Em seu estado basal, o complexo heterotrimérico
inclui as subunidades
pidamente diminuem a oqcGMP
, a11, aintracelular.
15, a16, que são
A família Gq
acopladas abg tem GDP no sítio de ligação de nucleotídeo da su
bunidade a (Figura 13.22). A velocidade de liberação
com a fosfolipase C e desencadeiam aumento de três de GDP em presença de receptores não-ocupados (con
(diacilglicerol)
segundos mensageiros:
e Ca2+. Finalmente,
IP3 (inositol trisfosfato), DAG dições basais) é baixa, mas não zero. A atividade de
as subunidades a12 e
GTPase intrínseca da subunidade a converte GTP em
GDP e Pi. Enquanto Pi é rapidamente liberado, o GDP
GPCR
permanece ligado por um tempo muito mais longo. Essa
N
liberação sequencial torna a reação da GTPase irrever
sível. A a-GDP apresenta alta afinidade pelo dímero bg, e
o heterotrímero é, portanto, regenerado. Consequente
mente, no estado estacionário não-estimulado, apenas
γγ uma pequena fração das moléculas de proteína G está
na conformação ativa (GTP ligado). Na interação de um
C α complexo heterotrimérico com GPCR ocupado por ago
β β
nista, a velocidade de liberação de GDP é aumentada
GDP em mais de uma ordem de grandeza. Isso permite que
GTP, que é muito mais abundante do que GDP no cito
sol, ligue-se à subunidade a e desencadeie a dissocia
ção da a-GTP do dímero bg. As subunidades a liberadas
αi αs αq αl2 e os dímeros bgentão interagem com enzimas efetoras a
jusante, para mudar os níveis de segundo mensageiro. A
ativação da proteínas G por GPCR ocupado por agonis
GTP GTP GTP GTP
ta é mais catalítica do que estequiométrica. Assim, de
pendendo do tipo de GPCR, uma molécula de receptor
diminuem
Canais
Fosfolipases
iônicos
cAMP Aumento Fosfolipase C Rho GEFs ocupado por agonista pode interagir sequencialmente
de cAMP
com 10–100 moléculas de proteína G trimérica; isso
Fosfodiesterases resulta em grande amplificação do sinal nos estágios
Ativação mais iniciais da ativação de GPCR. Embora a ativida
de GTPases da de intrínseca de GTPase das subunidades a liberadas
família Rho
garanta que a dissociação do complexo heterotrimérico
FIGURA 13.21 Principais subclasses de proteínas G abgserá transitória, a velocidade geral de repetição do
heterotriméricas que são ativadas por receptores com 7 ciclo será aumentada enquanto houver GPCR ligado a
domínios transmembrânicos acoplados a proteína G. agonista na membrana plasmática da célula.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 545

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.4

Mutações em Proteína G em Tumores de Glândula Pituitária e Doenças Endócrinas

A glândula pituitária desempenha um papel central desempenham papéis críticos na ligação e na hidróli
na regulação do estado endócrino de mamíferos por se do GTP. Tais mutações diminuem muito a ativida
secretar uma variedade de hormônios que regulam a de da GTPase e, assim, causam a ativação constitutiva
função de outros órgãos, incluindo fígado, tireoide, de Gs e adenilato ciclase. O aumento na atividade da
adrenal e glândulas reprodutoras. A liberação desses adenilato ciclase aumenta muito a geração de cAMP, a
hormônios é regulada por neurotransmissores, neu ativação da proteína quinase A (PKA), a fosforilação
ropeptídeos e outros hormônios liberados pela região PKA-dependente de CREB e de outras proteínas regu
hipotalâmica do cérebro. Por exemplo, o hipotálamo e latórias de genes cAMP-sensíveis e, consequentemente,
as células da pituitária conhecidas como somatotropos a expressão de genes indutíveis por cAMP, como o do
atuam de forma coordenada para controlar a liberação GH. Mutações semelhantes de gsp foram encontradas
de Hormônio de Crescimento (GH, growth hormone), em tumores corticotrópicos da pituitária, que hiperse
que regula o metabolismo e o crescimento celular em cretam ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), com
muitos tecidos periféricos. O hormônio liberador do consequente superprodução de hormônios glucocorti
hormônio de crescimento (GHRH, growth hormone coides pelo córtex adrenal.
releasing hormone), derivado do hipotálamo, é um
Os dois aminoácidos alterados nos mutantes gsp de
agonista de um receptor acoplado a proteína Gs que
é expresso por células somatotrópicas da pituitária. ocorrência natural foram identificados por estudos bio
cAMP aumentado em resposta a esse receptor ativa químicos in vitro como significativos para a regulação
a transcrição dependente de CREB do gene GH e re da atividade de GTPase. A arginina-201, que é substituí
sulta em síntese aumentada e liberação de GH. Certos da por cisteína no mutante gsp mais comum, é o sítio
tumores da pituitária causam hipersecreção de GH, aceptor para a ADP-ribosilação covalente induzida pela
o que, em adultos, causa acromegalia, uma condição toxina da cólera. A glutamina-227, que é substituída por
alanina ou outros aminoácidos em algumas mutações
caracterizada por padrões de crescimento anormal
em muitos tecidos. Tais tumores são geralmente não gsp, é uma glutamina conservada localizada no domí
-metastáticos, e acredita-se que surjam da replicação nio comutador-II, que passa por movimentos confor
de células únicas, transformadas, da pituitária, que macionais grandes, dependendo se GTP ou GDP está
adquiriram uma vantagem de crescimento ou sobre ligado à subunidade a. A substituição desse resíduo de
vivência em decorrência de mutações espontâneas em glutamina em todas as subunidades a conhecidas causa
genes regulatórios chaves. atividade de GTPase diminuída, e é amplamente usada
para gerar versões ativas das várias proteínas G em es
Cerca de 30–40% dos tumores de pituitárias que tudos de animais transgênicos.
secretam GH no homem expressam uma versão mu
tada do gene GNAS1, que codifica a subunidade as da Lania, A., Mantovani, G. e Spada, A. Genetics of pituita
proteína Gs. O gene mutado, chamado gsp, resulta de ry tumors: Focus on G protein mutatíons. Exp. Biol. Med.
substituições de um único aminoácido, em resíduos que 228:1004, 2003.

Terminação da Sinalização por Receptores dependentemente do receptor estar na conformação


Acoplados a Proteína G ocupada por agonista ou sem agonista. Proteína quina
ses específicas para GPCR (GRKs) são também conhe
Muitos dos ligantes pequenos de GPCR podem ser cidas como b-ARKs (bAR quinases) porque o receptor
rapidamente metabolizados ou inativados por enzimas b-adrenérgico (bAR) foi o primeiro substrato identifi
extracelulares, e a maioria dos receptores apresenta cado (Correlação Clínica 13.5). Diferentemente de PKA
rápida dessensibilização ou adaptação. Embora algu e outras quinases reguladas por segundo mensageiro, b
mas dessas adaptações sejam devidas à internalização ARKs só fosforilam GPCR quando estão ocupados por
do receptor e down-regulation, o mecanismo primário ligantes agonistas.
para rápida dessensibilização de GPCR envolve fosfo
rilação do receptor, o que resulta em perda de função Efeitos de Toxinas Bacterianas sobre
(Figura 13.23). Os receptores fosforilados não podem Proteínas G Heterotriméricas
ativar eficientemente proteínas G. Duas famílias de
proteína quinases fosforilam GPCR e induzem dessen Algumas subunidades a de proteínas G contêm resí
sibilização. Proteína quinases dependentes de segundo duos de arginina ou cisteína que podem ser ADP-ribosi
mensageiro, como a proteína quinase A (PKA) depen lados por exotoxinas (toxinas da cólera ou pertussis) se
dente de cAMP, fosforilam muitos tipos de GPCR, in cretadas por alguns patógenos bacterianos, como Vibrio
546 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Ligação do hormônio ao receptor assim dissociação constitutiva das subunidades a


promove uma mudança conformacional
e troca de nucleotídeo
GTP-ligadas dos dímeros bg, mesmo quando GPCR
não está ocupado por agonista. Esse aumento crô
nico de as GTP-ligada induz contínua ativação da
adenilato ciclase e produção de cAMP. No intestino
GDP GTP
grosso, esse aumento de cAMP resulta em uma fos
forilação sustentada de canais de cloreto, mediada
por PKA, que normalmente regula o transporte de
sais e água; a hiperativação desses canais perturba
fortemente o transporte de sais e água e resulta em
diarreia com risco de vida.
αsβγ não αs ativa
pode ativar γ β adenilato
adenilato ciclase
ciclase
γβ+
αs 13.9 TRANSDUÇÃO DE SINAL
BASEADA EM AMP
GDP GTP
CÍCLICO
NAD+
Bloqueio da Pi
αs
Regulação da Síntese e
hidrólise de GTP Toxina da cólera
(ADP-ribosilação) Degradação de AMP Cíclico
Nicotinamida
GTP ADP-ribose Muitas respostas metabólicas e comportamen
tais a diferentes hormônios e neurotransmissores
são mediadas por aumento no cAMP intracelular. O
uso do cAMP como um segundo mensageiro é, em
Ativação persistente grande parte, limitado a GPCRs. As células regu
da adenilato ciclase lam ativamente a síntese e a degradação desse se
gundo mensageiro. A síntese do cAMP é catalisada
FIGURA 13.22 Ciclo de ativação e inativação de uma proteína G
heterotrimérica.
pela adenilato ciclase, que usa ATP como substra
Redesenhado com base em figura de Lodish, H. et al. Molecular Cell to para produzir cAMP e pirofosfato (PPi) (Figura
Biology, 4. ed. New York: Freeman, 2000. 13.24). O nível normal basal de cAMP no citosol é
∼10–7 a 10–6 M. Durante estímulo hormonal máxi
cholerae ou Bordetella pertussis (ver Figura 13.22). mo, a concentração de cAMP pode subir 2 a 100 vezes,
Essas toxinas possuem atividades de NAD glico-hidro dependendo do tipo de célula. Pelo menos seis genes que
lase, que catalisa a quebra do NAD+ em nicotinamida e codificam diferentes subtipos de adenilato ciclase foram
identificados. Todas são proteínas integrais de membra
ADP-ribose, e atividade de ADP-ribosil transferase, que na, com 12 domínios que atravessam a membrana, um
catalisa a transferência do resíduo de ADP-ribose para
domínio catalítico no segmento intracelular que conecta
a subunidade a de proteínas G. Essas reações de ribo os segmentos transmembrânicos seis e sete, e um se
silação catalisadas pelas toxinas interferem com a fun gundo domínio catalítico na extremidade carboxi-ter
ção normal da proteína G e causam transdução de sinal minal intracelular. Os vários subtipos são expressos em
e regulação da função celular anormais. Por exemplo, padrões tecido-específicos e podem ser diferencialmen
ADP-ribosilação das subunidades a Gs pela toxina da có te regulados por proteínas sinalizadoras específicas. To
lera reprime a atividade de GTPase intrínseca, causando das as isoformas de adenilato ciclase são positivamente

Hormônio ou Hormônio ou
GPCR neurotransmissor neurotransmissor ligado

P P
P P
P P
Ligação Ativação de
proteína quinases FIGURA 13.23 Fosforilação
(GRK, PKA, PKC) do receptor como um
importante mecanismo para
Estado basal: Estado ativado: Estado dessensibilizado:
GPCR não-ocupado, GPCR ocupado por GPCR fosforilado é dessensibilização/inativação
nível baixo de ligante, nível alto de desacoplado da de receptores acoplados a
segundo mensageiro segundo mensageiro produção de segundo mensageiro proteína G.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 547

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.5

Alterações na Sinalização do Receptor b-Adrenérgico na Insuficiência Cardíaca Congestiva

Na insuficiência cardíaca congestiva, o coração é in sangue para a circulação sistêmica. Entretanto, isso
capaz de bombear o sangue em quantidades suficientes significa que o coração trabalhará mais (maior débito
para a perfusão adequada dos tecidos periféricos. A in energético) e precisará de maior quantidade de oxigê
suficiência cardíaca resulta de adaptações dos miócitos nio e metabólitos (ácidos graxos e glicose) para gerar
cardíacos para a manutenção do débito cardíaco após essa energia.
lesão do miocárdio ou carga hemodinâmica excessiva,
como pressão alta do sangue. Essas adaptações incluem Em decorrência da função reduzida do miocárdio
hipertrofia do miocárdio e ativação do sistema simpáti como consequência da doença crônica, a insuficiência
co, especialmente a liberação de norepinefrina e epine cardíaca desencadeia uma secreção aumentada de epi
frina de nervos adrenérgicos cardíacos, o que aumenta nefrina/norepinefrina para fornecer uma hiperativação
a contratilidade do miocárdio. Esses mecanismos adap compensatória das respostas sinalizadoras inotrópicas
tativos, no final, acabam sendo inadequados e resultam descritas. Embora isso aumente inicialmente a ativação
em doença progressiva do desempenho cardíaco. dos receptores b1 e b2, também induz sua dessensibi
lização crônica e down-regulation. Mais ainda, esses
Esta mudança de resposta adaptativa para mal receptores b ativam progressivamente outras cascatas
-adaptativa é particularmente evidente em alterações de sinalização. Por exemplo, receptores b1 estimulam
no sistema de sinalização do receptor b-adrenérgico. cascatas que são predominantemente mal-adaptativas,
Em miócitos cardíacos normais, a epinefrina ativa os como expressão diminuída de genes de sobrevivência e
receptores b1- e b2-adrenérgicos, acoplados a proteína ativação aumentada de sinais pró-apoptóticos. Duran
G, que estimulam a adenilato ciclase, aumentam o acú te o desenvolvimento da insuficiência cardíaca, ocorre
mulo de cAMP e ativam a proteína quinase A (PKA). uma diminuição na razão entre receptores dos subtipos
PKA fosforila canais de Ca2+ tipo L, sensíveis a di-hi b1 e b2. A insuficiência cardíaca também aumenta a ati
dropiridina, e fosfolambam, um regulador alostérico da vidade de GRK2/bAR-quinase que fosforila os recepto
ATPase deslocadora de Ca2+ do retículo sarcoplasmáti res e os desacopla da ativação nas vias de sinalização
co (SR) cardíaco. A fosforilação dos primeiros aumenta dependentes de proteína G.
o tempo que esses canais permanecem abertos em res
Embora possa parecer paradoxal, o tratamento
posta à despolarização, e resulta em influxo aumentado
da insuficiência cardíaca é baseado em antagonistas
de Ca2+. Fosfolambam não-fosforilado reprime a função
da bomba Ca2+-ATPase do SR. Quando fosfolambam é b-adrenérgicos (b-bloqueadores), mais comumente me
fosforilado pela PKA, esse efeito inibitório é relaxado e toprolol ou bisoprolol, que são muito seletivos para os
resulta em uma velocidade e intensidade aumentadas receptores b1. A eficiência da terapia com b-bloqueado
de bombeamento de Ca2+ pelo SR. A ação combinada res parece envolver a repressão das vias de sinalização
do influxo de Ca2+ aumentado na membrana plasmáti mal-adaptativas ativadas pelos receptores b1. Estudos
ca (pelos canais tipo L) e o sequestro aumentado de clínicos recentes demonstraram a utilidade de carve
Ca2+ no SR resulta em maior liberação de Ca2+ induzida dilol, que bloqueia não-seletivamente ambos os recep
por Ca2+ do SR durante os potenciais de ação cardíacos tores b1- e b2-adrenérgicos, mas também antagoniza os
subsequentes. Assim, durante o estímulo adrenérgico, receptores a1-adrenérgicos que são muito expressos
mais Ca2+ é liberado durante cada potencial de ação, em células musculares lisas vasculares. Esses recepto
resultando em uma contração mais forte (efeito ino res ativam a cascata Gq/fosfolipase C e a liberação das
trópico positivo). Contudo, o Ca2+ liberado é também reservas de Ca2+ sensíveis a IP3 causando contração do
mais rapidamente sequestrado pelo SR, resultando em músculo liso, com consequente constrição dos vasos
um ciclo mais rápido de contração/relaxamento (efeito sanguíneos. O antagonismo dessas últimas respostas
cronotrópico positivo). Assim, em nível do órgão intei diminui a resistência ao fluxo sanguíneo e a quantidade
ro, a estimulação b-adrenérgica do coração resulta em de trabalho necessário para o coração realizar débito
contrações mais fortes e mais sangue bombeado por cardíaco efetivo.
contração do coração (stroke volume ou fração de eje
ção) e em um ciclo contração/relaxamento mais rápido Lohse, M. J., Englehardt, S. e Eschenhagen, T. What is
(frequência cardíaca). O débito cardíaco (fração de eje the role of b-adrenergic signaling in heart failure? Circ. Res.
ção x frequência cardíaca) é aumentado, enviando mais 93:896, 2003.

reguladas pelas subunidades as de proteínas Gs. Entre adenilato ciclase e inibir outras. As subunidades ai das
tanto, o complexo de subunidades bgde várias proteínas proteínas Gi podem inibir diretamente certos subtipos
G (incluindo Gs) pode estimular algumas isoformas de de adenilato ciclase (Figura 13.25).
548 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

NH2 mentado por inibição das PDEs. Derivados de xantina,


como teofilina e cafeína, inibem as PDEs resultando em
O–
POPOPOCH2 N
N aumento nos níveis de cAMP na ausência de estímulo
O O O hormonal.
N N
–O
O– O– O Mecanismos Intracelulares de
ATP
Sinalização por AMP Cíclico
OH OH
A proteína quinase A dependente de cAMP (PKA)
Adenilato
NH2 é mediadora da maioria dos efeitos do cAMP (Figura
ciclase 13.26). O PKA é um tetrâmero composto por duas su
N N
N bunidades regulatórias (subunidades R), que contêm os
Pirofosfato cAMP
sítios de ligação a cAMP, e duas subunidades catalíticas
(subunidades C), que contêm a atividade de quinase.
O–
POCH2
–O –O CH2
O A forma tetramérica não pode catalisar a fosforilação
de proteínas alvos. Após a ligação cooperativa de várias
O OP O OH moléculas de cAMP às subunidades regulatórias, o tet
râmero se dissocia e as subunidades catalíticas livres fi
cam ativas. Muitas das proteínas substratos da quinase
NH2
dependente de cAMP são elas próprias quinases, com
fosfodiesterase H2O 5’-AMP
AMP cíclico alvos específicos enzimáticos. Isso caracteriza a natu
N reza em cascata desse e da maioria dos outros sistemas
N
de sinalização ligados a receptores. Fosfatases espe
O NN cíficas defosforilam as proteínas fosforiladas e, assim,
inativam a cascata de sinalização mediada por cAMP.
O Essas fosfatases estão sujeitas a regulação mediada por
receptor.

OH OH O cAMP altera profundamente o metabolismo celu


lar por alterar tanto a atividade como a expressão de
FIGURA 13.24 Síntese e degradação de AMP cíclico pelas muitas enzimas catabólicas, incluindo enzimas envol
adenilato ciclases e nucleotídeo cíclico fosfodiesterases. vidas no metabolismo de lipídeos e carboidratos. Regu
lação metabólica por cAMP frequentemente envolve a
A quebra do cAMP é catalisada por nucleotídeo cí regulação mediada por PKA de quinases ou fosfatases
clico fosfodiesterases (PDEs), que hidrolisam a ligação secundárias, mudando os estados de fosforilação das
fosfodiéster cíclico para produzir AMP (Figura 13.24). enzimas subsequentes. A PKA também pode fosforilar
A atividade dessas PDEs pode ser regulada por hor vários tipos de canais iônicos da membrana plasmática
mônios e certas drogas. O cAMP celular pode ser au ou transportadores de íons e levar a um potencial de
membrana alterado ou à ativação/ini
Hormônio ou Hormônio ou bição do influxo de íons regulatórios,
neurotransmissor neurotransmissor como Ca2+. Uma vez que neurotrans
Ativação da Inibição da missores, como serotonina, dopamina
adenilato ciclase adenilato ciclase e epinefrina, interagem com GPCRs
Exterior
que regulam Gs ou Gi, a capacidade de
+ – cAMP e PKA modularem a atividade
de canais iônicos é um componente
Citoplasma
αS αI crítico da regulação do sistema ner
voso central.
γ γ GPCR
GPCR β Adenilato β cAMP elevado em células euca
GDP ciclase GDP
rióticas altera rapidamente a trans
crição e a expressão dos genes que
Proteína G Proteína G codificam importantes enzimas me
estimulatória inibitória
tabólicas, hormônios polipeptídicos
AMP cíclico e proteínas transportadoras de íons.
aumenta ou
diminui
A dissociação entre as subunidades
catalíticas e as subunidades regulató
FIGURA 13.25 Regulação positiva e negativa de enzimas efetoras adenilato rias expõe sequências de localização
ciclase por proteínas G heterotriméricas das famílias Gs e Gi. nuclear nas subunidades catalíticas e
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 549

me sanguíneo. Os níveis celulares de cGMP são


Adenilato
MMolécula
olécula sinalizadora
ciclase dinamicamente regulados por um equilíbrio
ativada entre enzimas sintéticas (guanilato ciclases) e
Membrana
brana degradativas (cGMP fosfodiesterases). Os dois
tipos principais de guanilato ciclase em célu
las de mamíferos são fundamentalmente dife
eceptor
Receptor
Re rentes da adenilato ciclase. Uma atividade de
GTP ATP
guanilato ciclase associada à membrana reside
nos domínios catalíticos de receptores ligados
AMP cíclico
Subunidade α ativada a enzima para o hormônio fator natriurético
da proteína G PKA inativa Fosforilação atrial (ANF) secretado pelos miócitos cardía
cos do átrio em resposta a aumento no volume
de sangue circulante e/ou pressão. Os recepto
Poro res de ANF são expressos primariamente em
nuclear e ativação de
Citosol PKA ativada proteínascitosólicas células musculares lisas vasculares e em célu
ou las renais. Esse receptor tem um grande domí
de membrana nio extracelular para ligação de ANF, um único
PKA
Núcleo ativada
domínio transmembrânico e um domínio catalí
Proteína que
CREB
inativo
tico intracelular relativamente pequeno. A liga
liga CREB ção de ANF estimula a atividade catalítica via
(CBP)P CREB ativado, fosforilado
dimerização do receptor e ligação de proteínas
Gene alvo ativado
regulatórias ao receptor ocupado pelo hormô
DNA
nio (ver Figura 22.32, p. 936, e 22.33, p. 937).
Transcrição Diferentemente da expressão tecido-restrita do
Elemento de
ligação a CREB receptor de ANF-guanilato ciclase, uma forma
Tradução citosólica de guanilato ciclase está presente
Sintese de novas proteínas na maioria dos tipos celulares (Figura 13.27).
citosólicas ou de membrana Essa guanilato ciclase solúvel é um complexo
dimérico de subunidades de 82 kDa e 70 kDa.
FIGURA 13.26 Papel da proteína quinase A nas cascatas Cada dímero liga constitutivamente uma molé
intracelulares de sinalização reguladas por AMP cíclico. cula de heme. Na ausência de ligantes gasosos
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al. Molecular Biology of
que se ligam a esse grupo heme, a guanilato
the Cell, 4. ed. New York: Garland Science, 2002.
ciclase solúvel tem uma taxa de catálise mui
to baixa. Entretanto, a ligação de óxido nítrico
facilita seu deslocamento citosol-para-núcleo (Figura
13.26). A PKA intranuclear induz fosforilação e ativa
ção de proteínas reguladas por cAMP chamadas CRE NH2
NO NH2
Bs, para controlar a expressão de genes que contêm
elementos regulatórios sensíveis a cAMP (CRE) nas
regiões 5!-flanqueadoras de muitos genes responsivos a
cAMP. Dessa forma, os aumentos transitórios do cAMP
desencadeados por GPCR na superfície celular podem
N N
ser traduzidos em mudanças de longo prazo na expres
são de genes nucleares e na função celular. Fe

N N

13.10 TRANSDUÇÃO DE SINAL


α β
BASEADA EM GMP
CÍCLICO

Regulação da Síntese e Degradação


de GMP Cíclico
PPi
O cGMP é um importante segundo mensageiro na COOH GTP cGMP COOH
regulação da contratilidade muscular e não-muscular,
na transdução de sinal visual e na homeostase do volu FIGURA 13.27 Ligação de NO à guanilato ciclase solúvel.
550 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

(NO) ao grupo heme induz mudanças conformacionais Mecanismos Intracelulares de


que aumentam muito a atividade catalítica da guanilato
ciclase. Portanto, um estímulo importante para o acú Sinalização por GMP Cíclico
mulo de cGMP na maioria das células é um nível eleva
O GMP cíclico exerce a maior parte de seus efeitos
do de NO. O NO é gerado pelas óxido nítrico sintases
de segundo mensageiro por ativação de proteína qui
(NOS) (p. 463). Como o NO atravessa facilmente as
nases sensíveis a cGMP (PKG), que são amplamente
membranas biológicas, pode ser produzido em um tipo
expressas em muitos tecidos. Dependendo do tipo celu
de célula, por exemplo, uma célula endotelial vascular,
lar, PKG fosforila uma variedade de alvos importantes,
e rapidamente se difundir para tipos celulares vizinhos,
incluindo enzimas envolvidas no metabolismo, proteí
por exemplo, células musculares lisas vasculares, onde
nas estruturais e proteínas do transporte de íons. Por
ativa a guanilato ciclase solúvel. O acúmulo de cGMP
exemplo, o estímulo de PKG de células de músculo liso
em músculo liso desencadeia relaxamento rápido e sus
e não-musculares resulta na fosforilação coordenada
tentado do aparelho contrátil (Correlação Clínica 13.6).
de muitas proteínas que atuam inibindo a contração ou
A degradação do cGMP é catalisada por várias a mobilidade dependentes de Ca2+. Estas incluem: (1)
cGMP fosfodiesterases (PDE) solúveis ou fracamente proteínas que atenuam canais de liberação de Ca2+ do
associadas à membrana. Embora algumas pareçam ser retículo endoplasmático, (2) miosina cadeia-leve fosfa
enzimas catabólicas passivas (ou seja, não diretamente tases, que reprimem a interação de miosina com actina,
reguladas), a PDE cGMP-dependente de células sensí e (3) canais de K+, que induzem hiperpolarização da
veis à luz da retina é uma enzima efetora para a proteí membrana plasmática e, assim, reprimem o influxo de
na G trimérica transducina (p. 985). Ca2+ voltagem-dependente. O cGMP também atua como
um regulador direto (ou seja, PKG-independente) de
canais de cátions dependentes de nucleotídeo cíclico,
expressos em certos tecidos sensoriais como a retina.

CORRELAÇÃO CLÍNICA13.6

Sinalização por Óxido Nítrico/cGMP Como Alvos Terapêuticos em Doenças Cardíacas e Vasculares
As células endoteliais que revestem as superfícies glicerina provavelmente alivia a angina por diminuir a
internas de todos os vasos sanguíneos são importantes carga de trabalho cardíaco e a necessidade de oxigê
fontes do óxido nítrico usado para o relaxamento das nio do miocárdio via efeitos vasoditaladores sobre as
células musculares lisas vasculares. Nesses miócitos, a veias que retornam o sangue para o coração (pré-car
geração de cGMP pela guanilato ciclase solúvel é esti ga), e por diminuição da pressão sanguínea periférica
mulada pelo óxido nítrico gerado por células endoteliais (pós-carga), por meio de efeitos vasodilatadores sobre
adjacentes. O cGMP induz relaxamento dos miócitos e artérias sistêmicas.
vasodilatação dos vasos sanguíneos com aumento no
fluxo sanguíneo aos tecidos vizinhos. Mudanças seme Viagra® é o nome comercial do citrato de Sildenafil,
lhantes podem ser produzidas por drogas que aumen que é usado para tratar disfunção erétil. O Viagra® ini
tam a produção de óxido nítrico. Os níveis de cGMP são be seletivamente a nucleotídeo cíclico fosfodiesterase
também regulados pelas fosfodiesterases (PDE) que tipo 5 (PDE5), que é muito expressa em músculo liso
convertem cGMP em GMP. Assim, drogas que inibem as vascular. É 80 a 4.000 vezes menos potente como ini
isoformas vasculares de PDE aumentam o fluxo sanguí bidor de outras isoformas de nucleotídeo cíclico PDE,
neo em tecidos específicos. incluindo PDE3, que é expressa predominantemente no
músculo cardíaco. Essa é apenas 10 vezes mais seletiva
Angina pectoris é o nome formal para dor no para PDE5 versus PDE6, que é a PDE predominante na
peito, sentida por pacientes com diferentes tipos de retina. Quando os vasos sanguíneos do tecido erétil são
insuficiência cardíaca. A nitroglicerina é comumente vasodilatados em resposta à liberação de NO e ativação
prescrita e rapidamente alivia a angina (ver Correla-Correla da guanilato ciclase, a inibição da quebra de cGMP pelo
ção Clínica 11.10, p. 467). Ela é metabolizada em óxido Viagra leva a níveis maiores e mais sustentados de acú
nítrico e também se liga diretamente a proteínas sen mulo de cGMP e ativação de PKG. Isso aumenta a vaso
síveis a óxido nítrico (como a guanilato ciclase solú dilatação no tecido erétil. Altas doses de Viagra podem
vel). Assim, pode induzir relaxamento do músculo liso levar a alterações leves na visão de cores, em decorrên
e vasodilatação. Como a nitroglicerina alivia a angina cia dos efeitos colaterais sobre a PDE6 da retina.
não é completamente entendido. As artérias coroná
rias e a microvasculatura cardíaca durante a insufici Ignarro, L. J., Napoli, C. e Lascalzo, J. Nitric oxide donors
ência coronária provavelmente já estão maximamente and cardiovascular agents modulating the bioactivity of nitric
dilatadas, por causa da isquemia local. Então, a nitro oxide, Circ. Res. 90:21, 2001.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 551

Trocador de Ca2+
13.11 TRANSDUÇÃO conduzido por Na+ Bomba de Ca2+
DE SINAL Ca2+
Ca2+
BASEADA EM Membrana
[Ca2+] 10–3M
CÁLCIO plasmática

Regulação da ATP
Na+
Concentração Citosólica ATP ADP + Pi
ADP + Pi

[Ca2+] 10–7M
de Ca2+
Ca2+ é um importante reguladorin
tracelular de muitas funções celulares
Citoplasma
fundamentais, incluindo: contração
em todos os tipos de músculos, secre
ção de hormônios e neurotransmisso Ca2+

res, divisão celular, migração dirigida


de células não-musculares e regulação Retículo endoplasmático
da expressão gênica. As células res
pondem a muitos tipos de hormônios e
neurotransmissores com aumentos rá
pidos e transitórios de Ca2+ citosólico,
que depois se liga a uma variedade de
proteínas regulatórias dependentes de
Ca2+. Aumentos no Ca2+ citosólico são
desencadeados por abertura de canais
de Ca2+ da membrana plasmática ou
canais de Ca2+ do retículo endoplas
mático (ER). Esse Ca2+ liberado pode FIGURA 13.28 Papel das proteínas de transporte de Ca2+ da membrana
plasmática e de organelas na regulação e na compartimentalização dos
ser rapidamente reacumulado pelo ER
reservatórios intracelulares de Ca2+.
para terminar a resposta ao hormônio/
neurotransmissor.

A concentração basal de Ca2+ livre no citosol da Ca2+. Essa ATPase permite que o Ca2+ seja acumulado
maioria dos tipos celulares é mantida em aproximada até uma concentração de cerca de 1 mM (10–3 M) no
mente 10–7 M (Figura 13.28). Pequenos aumentos no lúmen do ER/SR; isso é equivalente à concentração de
Ca2+ citosólico livre, para 10–6 M, ativam rápida e ma Ca2+ no espaço extracelular. Esse Ca2+ acumulado pode
ximamente as várias funções celulares reguladas por ser liberado no citosol por dois tipos de canais de Ca2+
Ca2+. Como a concentração extracelular de Ca2+ é 10–3 localizados no ER/SR, que são regulados por sinais gera
M, existe um gradiente de concentração de 10.000 ve dos por muitos tipos de receptores de superfície celular.
zes para o Ca2+ através da membrana plasmática, e a O primeiro é um canal amplamente expresso, conhecido
força motriz para o rápido influxo de Ca2+ é ainda au um
como
ou canal
segundo
o receptor
de Ca2+
mensageiro,
de
dependente
1,4,5-inositol
é trisfosfato (IP3) (IP3R)
mentada pelo potencial de membrana negativo do lado rapidamente
de IP3 (Figura
gerado
13.29).
quando
IP3,
de dentro. Em células excitáveis, como neurônios e cé
lulas musculares, o influxo de Ca2+ envolve canais de fosfolipase C é estimulada por diferentes hormônios ou
Ca2+ voltagem-dependentes (ver Tabela 12.10, p. 501). neurotransmissores. Um tipo diferente de canal de li
Esse tipo de via de sinalização por Ca2+ é geralmente beração de Ca2+ ligante-dependente é expresso no ER/
iniciado pelos receptores canais iônicos para neuro SR de músculo esquelético e cardíaco. Este é conhecido
transmissores excitatórios, como acetilcolina, glutama como o receptor de rianodina (RyR) ou canal de libera
to, serotonina e ATP. A membrana plasmática também ção de Ca2+ sensívelarianodina porque liga a drogaria
contém dois sistemas de transporte, o transportador nodina (Figura 13.30). Em músculo cardíaco, os canais
antiporte Na+/Ca2+ e a ATPase transportadora de Ca2+, RyR são controlados pelo Ca2+ que entra pelos canais da
que eficientemente bombeia o excesso de Ca2+ para fora membrana plasmática voltagem-dependentes sensíveis
do citosol (Figura 13.28). a droga que bloqueiam canais, conhecidas como di-hi
dropiridinas. Esse jogo de múltiplos canais de Ca2+ para
Íons Ca2+ são eficientemente concentrados dentro do regular a função do músculo cardíaco é chamado libera
ER (chamado retículo sarcoplasmático ou SR em célu ção de Ca2+ induzida por Ca2+. No músculo esquelético,
las musculares) por bomba ATPase transportadora de os canais RyR abrem-se via interações diretas proteí
552 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

Molécula sinalizadora
Receptor
Recept tor ligado
ligad
a
a proteína
eína G
prote G Pl 4,5-bisfosfato
Fosfolipase C-β [Pl(4,5)P2]
ativada Diacilglicerol

P
P

Subunidade
da Gq α P P P Proteína
Subunida
ativada 1,4,5-trisfosfato
Inositol quinase C
ativada
(IP3 P
) Ca2+
Lúmen do Abre canal de
retículo liberação de Ca2+
endoplasmático IP3-dependente
FIGURA 13.29 Mobilização dos
reservatórios de Ca2+ do retículo
endoplasmático e ativação da proteína
quinase C por receptores que estimulam
a hidrólise de fosfolipídeos de inositol
mediada por fosfolipase C.

Voltagem
despolarizadora Canal de Ca2+ voltagem-dependente
na–proteína com os canais de Ca2+ voltagem- e di
sensível a di-hidropiridina
-hidropiridina-sensíveis; essa regulação é possível
Exterior
porque SR no músculo esquelético forma contatos
diretos com invaginações especializadas da mem
Citoplasma
brana plasmática.

Abre canal de liberação


Ca2+ sensível a rianodina
Ativação por Cálcio de
Lúmen do
retículo
sarcoplasmático
Proteína Quinases e Fosfatases
Dependentes de Calmodulina
O Ca2+ citosólico aumentado resulta na ati
vação de várias proteínas regulatórias que ligam
FIGURA 13.30 Mobilização dos reservatórios de Ca2+ do retículo cálcio. Algumas, como a troponina-C, que regu
sarcoplasmático em células de músculo estriado por ativação la a contração em músculos estriados, são mui
induzida por despolarização de canais de liberação de Ca2+ to especializadas e expressas em apenas alguns
sensíveis a rianodina.
poucos tecidos (ver Figura 23.35, p. 999).999).). Dife-Dife-Dife
Proteína quinase Pi Domínio inibitório rentemente, a calmodulina (CaM) (p. 514) é uma
dependente de calmodulina Proteína fosfatase
proteína amplamente expressa, que é mediado
ra das ações regulatórias do Ca2+ em uma ampla
P Ca2+ -independente Inativa
faixa de funções celulares, via sua capacidade de
(50-80% ativa) ativar proteínas efetoras Ca2+-sensíveis, incluin
do proteína quinases serina/treonina-específicas
Domínio
catalítico (Figura 13.31), fosfatases e óxido nítrico sintases
(ver Figura 11.17, p. 462). Quando o Ca2+ se liga,
a calmodulina passa por mudanças conformacio
nais que facilitam sua interação com as proteínas
+Ca2+
Calmodulina
+Ca2+/calmodulina
efetoras a jusante. Algumas quinases dependen
tes de calmodulina, como a miosina cadeia leve
Ca2+

ADP ATP FIGURA 13.31 Regulação da calmodulina e de


proteína quinases reguladas por calmodulina por
P Ca2+.
Ativada Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al.
Autofosforilação
Totalmente Molecular Biology of the Cell, 4. ed. New York: Garland
ativa
Science, 2002.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 553

quinase, têm como alvos apenas proteínas específicas, Grupo de


enquanto outras formas, como a CaM quinase II mul cabeça polar
tifuncional, podem fosforilar uma ampla faixa de pro
O
teínas substratos. Alterar a atividade dessas proteínas D OP
Fosfolipase C O–
é o mecanismo primário pelo qual o Ca2+ aumentado
altera o comportamento celular. CaM-quinase II tam O
bém se autofosforila quando ligada à calmodulina, e Fosfolipase A2

essa autofosforilação permite que a CaMKII permaneça O


ativa muito tempo depois do Ca2+ citosólico ter voltado C O
ao nível de repouso. CaM-quinases podem fosforilar e
O
modular uma ampla faixa de enzimas, canais iônicos, CO
proteínas contráteis e proteínas regulatórias de genes.

13.12 TRANSDUÇÃO DE
SINAL BASEADA EM
FOSFOLIPÍDEOS

Metabolismo Regulado de
Fosfolipídeos como um Componente
de Vias Intracelulares de Sinalização
A transdução de sinal por muitos receptores de
superfície celular envolve a ativação de uma ou mais
fosfolipases que catalisam a hidrólise de diferentes
classes de fosfolipídeos (por exemplo, fosfolipídeos de
inositol ou colina). Várias classes de fosfolipases catali
sam a produção de diferentes produtos que agem como FIGURA 13.32 Principais classes de fosfolipases usadas na
segundos mensageiros ou reguladores da produção transdução de sinal mediada por receptor.
de segundos mensageiros (Figura 13.32). Fosfolipase
C (PI-PLC) hidrolisa fosfolipídeos de inositol gerando tivamente minoritário que é gerado por fosforilação de
inositol fosfatos e diacilgliceróis como segundos men duas hidroxilas do resíduo de inositoldo fosfatidilino-
sageiros. Inositol fosfolipídeos podem ser mais fosfori sitol. A hidrólise de PIP2 é catalisada por fosfolipases
lados por fosfoinositídeo-3-quinase (PI-3K) para pro tipo C (PLC), com alta seletividade para inositolfosfoli
duzir fosfatidilinositol-3,4,5-trisfosfato (PIP3), outro pídeos (Figura 13.32), e gera dois segundos mensagei
segundo mensageiro cuja função é descrita mais adian ros: (1) o produto hidrossolúvel IP3 e (2) diacilglicerol
te. Fosfolipase D (PLD) hidrolisa predominantemente (DAG), um produto hidrofóbico. Enzimas PI-PLCb são
fosfolipídeos de colina ou etanolamina para produzir ativadas por interação com subunidades a de proteínas
ácido fosfatídico, que é subsequentemente hidrolisado G da família Gq/11
Diferentemente, asou as subunidades
enzimas PI-PLCg bg da família Gi.
por ácido fosfatídico fosfo-hidrolases (PAP), gerando são ativadas por
diacilglicerol. Fosfolipase A2 (PLA2) ataca vários fos fosforilação de tirosinas e associação com receptores
folipídeos para produzir ácidos graxos livres, como áci tirosina quinase. Algumas tirosina quinases não-recep
do araquidônico, e liso-fosfolipídeos. tores também fosforilam enzimas PLC.

Além do IP3, a ativação de PI-PLCb e PI-PLCgresulta


em acúmulo de DAG. Entretanto, a magnitude da pro
Regulação da Fosfolipase C e da dução induzida por receptor de DAG em muitos tipos
Fosfolipase D celulares não pode ser atribuída exclusivamente à que
bra da PIP2. Embora a hidrólise de PIP2 gere pequenas
Como descrito anteriormente, muitos receptores quantidades de DAG por curtos períodos de tempo, a
acoplados a proteína G e receptores tirosina quinases hidrólise de fosfolipídeos mais abundantes, como fos
estimulam a liberação de Ca2+ do retículo endoplasmá fatidilcolina (PC), responde pela maior parte da pro
tico por meio da ativação da produção de 1,4,5-inositol dução sustentada de DAG desencadeada em resposta
trisfosfato (IP3). Este segundo mensageiro solúvel em à ativação do receptor. Consequentemente, a hidrólise
água é derivado da hidrólise de fosfatidilinositol-4,5 de PC por PLC e fosfolipase D (PLD) é mediadora da
-bisfosfato (PIP2), um fosfolipídeo de membrana rela regulação de processos celulares que requerem eleva
554 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

ção prolongada de DAG. PC-PLD e PC-PLD são ativadas teínas regulatórias de genes. A capacidade das enzimas
indiretamente durante a estimulação do receptor por PKC regularem direta ou indiretamente a fosforilação de
uma complexa rede de sinais primários, que induzem fatores de transcrição caracteriza o papel crítico da PKC
Ca2+, GTPases pequenas e proteína quinase C. na regulação do crescimento, diferenciação ou morte de
muitas células e tecidos.

Diacilglicerol e Proteína Quinase C


PIP3, Fosfatidilinositol 3-Quinases e
Diacilglicerol (DAG), que resulta da quebra de PIP2
ou PC, liga-se e ativa membros da família das proteína Proteína Quinase B
quinases C (PKC) (ver Figura 13.29, p.. 552).552).). PKCsPKCsPKCs ina-ina-ina Inositol fosfolipídeos são substratos para inositol
tivas existem como proteínas solúveis, citosólicas, nas lipídeo quinases que fosforilam especificamente inosi
quais a extremidade N-terminal (contendo os sítios de tol no 3!-OH. Estas fosfatidilinositol 3-quinases (PI3
ligação de DAG) oclui a C-terminal (contendo sítios de -quinases) compreendem uma família de proteínas de
ligação para proteínas substratos e ATP). Quando DAG é sinalização. Algumas associam-se com, e são ativadas
gerado nas membranas, PKC liga-se a ele, e isso resulta por, tirosinas fosforiladas de receptores de fatores de
no desdobramento e exposição dos domínios de ligação crescimento ou receptores de citocinas ativados via in
de substrato e ATP da quinase. Outros sítios N-terminais terações com domínios SH-2.
das enzimas PKC ligam-se a fosfolipídeos acídicos e fa
cilitam a associação de PKC com a membrana. Algumas Outras são ativadas pelos dímeros bg derivados de
isoformas de PKC contêm sítios de ligação de Ca2+ em proteínas G ativadas. PI-3 quinases fosforilam predo
seus domínios N-terminais, de modo que o Ca2+ citosóli minantemente fosfatidilinositol-4,5-bisfosfato para pro
co aumentado potencializa a ligação de PKC às membra duzir fosfatidilinositol-3,4,5-trisfosfato (PIP3), que não
nas. A ativação de enzimas PKC resulta em fosforilação funciona como um substrato para PLC, mas tem funções
em serina/treonina de muitas proteínas substratos que, críticas como um segundo mensageiro na regulação do
por sua vez, elicitam várias respostas celulares. Como tráfego de membrana, na motilidade celular e na ativa
as proteína quinases dependentes de cAMP e as proteí ção de vias de sinalização de sobrevivência celular (Fi
na quinases dependentes de calmodulina, as isozimas gura 13.33). A família Akt/proteína quinase B (PKB) é
PKC fosforilam: (1) fatores de transcrição envolvidos um dos importantes mediadores da ação do PIP3. PKB
na regulação da expressão gênica, (2) canais iônicos e ativa potencializa a sobrevivência celular por reprimir a
transportadores, e (3) outros tipos de proteína quina atividade de certas vias de sinalização de morte celular e
ses. Algumas isozimas PKC também disparam as várias regular outras proteínas e quinases envolvidas no trans
cascatas de MAP quinases que controlam múltiplas pro porte de glicose e no metabolismo de glicogênio.

Sinal de sobrevivência
Pl{4,5}P2

PP PPP
Pl(3,4,5)P3 PPP PPP Citoplasma
P P Domínios

PH P P

Pl 3-quinase ativada dissociação


Fosforilação
e ativação de
Receptor tirosina
PKB por PDK1
quinase ativado
PDK1
PKB

BAD inativada

PKB ativa P P
BAD P 14-3-3
Figura 13.33 Papel da fosfatidilinositol protein
3-quinase e da proteína quinase B nas
cascatas de sinalização intracelular por Fosforilação de BAD Inibiçãp de
3,4,5-fosfatidilinositol trisfosfato. apoptose
Redesenhado com base em figura de Alberts, Proteína inibitória
B. et al. Molecular Biology of the Cell, 4. ed. de morte inativa Proteína inibitória
New York: Garland Science, 2002. de morte ativa
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 555

Fosfolipase A2 e Geração de 13.13 INTEGRAÇÃO DE VIAS


Metabólitos de Ácido Araquidônico DE TRANSDUÇÃO DE
A ocupação dos receptores de superfície celular em SINAL EM REDES DE
muitos tipos de células desencadeia a liberação de ácido
araquidônico (AA) de fosfolipídeos da membrana. A li TRANSDUÇÃO DE SINAL
beração de AA é catalisada por membros da família das
Dependendo de sua localização tecidual e do grau de
enzimas
553). A regulação
fosfolipases
de PLA(PLA2) (ver Figura 13.32, p.
A2 2 é complexa,
mas inclui Ca2+, especialização, células individuais podem ser genetica
mente programadas para responderem a muitas molé
que parece controlar o deslocamento de algumas iso
culas sinalizadoras extracelulares distintas. Muitas im
formas de PLA2 do citosol para as membranas, e fosfori
portantes cascatas intracelulares de sinalização podem
lação mediada por quinase. O ácido araquidônico pode
ser reguladas sinergicamente por receptores de vários
ser rapidamente metabolizado a múltiplos produtos de
tipos e famílias (Figura 13.34). Por exemplo, as vias de
oxidação coletivamente conhecidos como eicosanoides MAP quinase podem ser reguladas por receptores aco
(p. 756); estes incluem prostaglandinas, tromboxanes e
plados a proteínas G e quinases de receptores de fato
leucotrienos. Diferentemente de outros segundos men
res de crescimento. Esta “troca de informação” (cross
sageiros, como nucleotídeos cíclicos ou Ca2+, os eicosa
-talk) fornece às células a capacidade de integrar sinais
noides são geralmente secretados das células nas quais
de múltiplos estímulos extracelulares em padrões sin
são produzidos para atuarem como agonistas extrace
gulares e particulares de resposta celular alterada. Em
lulares de receptores de superfície celular em células
outros casos, quinases de segundos mensageiros dife
vizinhas. Os eicosanoides são formados por virtualmen
rentes podem fosforilar resíduos distintos em uma pro
te todos os tipos celulares e desempenham papéis pa
teína alvo comum, como um fator de transcrição, para
rácrinos/autócrinos fundamentais em processos como
produzir mudanças divergentes ou convergentes nos
inflamação, coagulação do sangue, controle do tônus
padrões de expressão gênica. Assim, a resposta integra
vascular, função renal e outros. da de uma célula à ativação de um receptor específico
de superfície celular frequentemente vai variar,
dependendo de outros receptores de superfície
Hormônio
rmônio ou neurotransmissor Fator de crescimento celular estarem sendo simultaneamente ativa
dos. Por exemplo, um receptor que normalmente
induz expressão gênica especializada em um tipo
celular em particular pode desencadear a morte
programada no mesmo tipo celular se outros re
Citoplasma
toplasma P P
ceptores da superfície da célula estiverem sendo
Receptor ligado
a proteína
a proteína G P P
Receptor simultaneamente ativados ou, em alguns casos,
tirosina
P P quinase não estiverem sendo ativados. Embora a biologia
celular moderna tenha feito significativos avan
ços na definição dos componentes básicos e nas
adenilato
AMP
Proteína
cíclico
ciclase
G Calmodulina
Proteína G fosfolipase
Diacilglicerol
C
MAP quinaseRas-GEF
quinase
Grb2
Ras Pl
quinase
Pl(3,4,5)P3
3-quinase etapas sequenciais das vias individuais de sina
lização, um grande desafio continua sendo o en
IP3 tendimento de como essas vias individuais são
integradas em redes de transdução de sinal.
Ca2+

PKA CaM-quinase PKC MAPMAP


quinase
quinase
quinase PKB
PDK1
Figura 13.34 Troca de informação e integração
das principais cascatas de sinalização intracelular
reguladas por diferentes receptores de superfície
celular.
Redesenhado com base em figura de Alberts, B. et al.
Proteínas regulatórias de genes Proteínas citosólicas ou de membrana Molecular Biology of the Cell, 4. ed. NewNew York:York: Gar-Gar
land Science, 2002.
556 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

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Termos Chaves
adenilato ciclase fosfolipase potência ligante-dependente
agonista GTPase pequena proteína adaptadora receptor ligado a enzima
antagonista guanilato ciclase proteína efetora receptor nuclear
calmodulina hormônio proteína Gheterotrimérica segundo mensageiro
canal de influxo de Ca2+ internalização do receptor proteína quinase regulada serina/treonina quinase
canal de liberação de Ca2+ ligante por segundo mensageiro sinalização autócrina
citocina MAP quinase sinalização justácrina sinalização endócrina
dessensibilização do re mediador local receptor sinalização parácrina
ceptor neurotransmissor receptoracoplado a proteí sinalização sináptica
eicosanoide na G
nucleotídeo cíclico tirosina quinase
fator de crescimento receptor canal iônico
nucleotídeo cíclico fosfo
fosfatase diesterase

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha E. também é chamado GPCR.
1. O tipo de sinalização intracelular no qual uma cé 4. As células podem terminar a transdução de sinal
lula pode se comunicar com outra em longa distân por receptores de superfície celular por
cia é chamado A. redução da disponibilidade de agonista na vi
A. autócrina. zinhança da célula alvo.
B. endócrina. B. internalização e degradação do complexo re
C. justácrina. ceptor–agonista.
D. parácrina. C. modificação do receptor de modo que fique
E. sináptica. inativo ou dessensibilizado.
2. D. todos os anteriores.
Receptores intracelulares
E. nenhum dos anteriores.
A. geralmente ligam-se a ligantes hidrofóbicos.
B. podem estar localizados no citosol ou no nú 5. Calmodulina é
cleo no estado não-ligado. A. uma quinase não-específica.
C. quando ligados a seus ligantes regulam a ex B. uma proteína que liga Ca2+.
pressão gênica. C. um segundo mensageiro.
D. quando ligados a seus ligantes funcionam D. um ativador da óxido nítrico sintase.
como complexos diméricos que se ligam a se
E. uma proteína de canal que facilita o influxo de
quências específicas do DNA.
Ca2+.
E. todos os anteriores.
6. A guanilato ciclase que responde a NO
3. Um receptor de superfície celular
A. fica no domínio catalítico de um receptor de
A. reage apenas com moléculas grandes demais membrana.
para atravessar a membrana plasmática.
B. também é ativada quando o fator natriurético
B. quando ligado a seu ligante, pode resultar em atrial (ANF) se liga ao seu receptor.
ativação de uma cascata enzimática.
C. aumenta a atividade em virtude de uma mu
C. sempre abre um canal iônico quando ligado a
dança conformacional quando NO se liga ao
seu ligante.
seu heme.
D. deve produzir um segundo mensageiro quan
D. é uma enzima monomérica.
do se liga a seu ligante.
558 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS

E. é encontrada apenas em células musculares 10. Baixa atividade de GTPase na proteína mutada
lisas. resulta em ativação constitutiva de Gs e adenilato
ciclase porque
Questões 7 e 8: A psicose maníaco-depressiva pode A. a subunidade a ligada a GTP não forma nova
ser causada por superatividade de certas células do sis
mente o trímero abg.
tema nervoso central, talvez causada por níveis anor
malmente elevados de neurotransmissores que estimu B. a proteína G ligada a GTP liga-se mais forte
lam a transdução de sinal baseada em fosfolipídeos (por mente ao receptor de membrana.
exemplo, fosfatidilinositol [PI]). Lítio tem sido usado, há C. GTP reage diretamente com adenilato ciclase
muitos anos, para tratar psicose maníaco-depressiva. para ativá-la.
Em presença de Li+, o sistema PI é desacelerado, a des D. a forma trimérica da proteína G é estabilizada.
peito do estímulo continuado, e as células ficam menos
E. adenilato ciclase é fosforilada mais facilmente.
sensíveis a esses estímulos. Li+ pode ter duas funções:
inibição da fosfatase que defosforila inositol trisfosfato Questões 11 e 12: A família ErbB/HER de genes de
e interferência direta com a função de proteínas G. receptores tirosina quinase é ligada a muitos tipos dife
7. O sistema PI começa com ativação da fosfolipase rentes de câncer humano. Superexpressão de qualquer
C, que inicia uma sequência de eventos incluindo desses genes levaria a um aumento dos vários recep
todos os seguintes, exceto tores. ErbB2 codifica a proteína HER2. Esse receptor
não liga nenhum fator de crescimento extracelular
A. ativação de IP3 por ação de uma fosfatase.
conhecido, mas forma dímeros com outros receptores
B. aumento da concentração intracelular de Ca2+. HER ligados a fator de crescimento. Mesmo expressão
C. liberação de diacilglicerol (DAG) de um fosfo modesta de HER2 pode alterar a regulação normal do
lipídeo. crescimento celular.
D. ativação de proteína quinase C. 11. Qual das seguintes afirmativas sobre receptores ti
E. fosforilação de certas proteínas citoplasmáti rosina quinases está correta?
cas. A. O domínio catalítico fica na extremidade N
8. Qual das seguintes afirmativas sobre proteínas G -terminal.
está correta? B. A ativação da quinase requer ATP.
A. Proteínas G ligam o hormônio apropriado na C. Fator de crescimento ligado ao receptor de
superfície celular. sencadeia dimerização, que ativa a atividade
B. GTP está ligado à proteína G no estado de re de quinase.
pouso. D. A tirosina quinase ativa pode fosforilar outras
C. A subunidade a pode ser estimulatória ou ini proteínas, mas não a si mesma.
bitória porque tem duas formas. E. Todas as anteriores.
D. A adenilato ciclase pode ser ativada só se as 12. A proteína Ras é um regulador crítico da prolifera
subunidades a e b da proteína G estiverem as ção celular, e sua atividade é aumentada por tirosi
sociadas uma com a outra. na quinase ativada. Elementos de sua ação incluem
E. A hidrólise de GTP é necessária para as subu todos os seguintes, exceto
nidades da proteína G se separarem. A. formação de GMP cíclico.
Questões 9 e 10: O hormônio liberador de hormônio B. proteínas adaptadoras ligam a tirosinas fosfo
de crescimento (GHRH) produzido pelo hipotálamo li riladas do receptor tirosina quinase.
ga-se ao seu receptor na pituitária e leva à produção de C. recrutamento e estímulo de proteína ativada
hormônio de crescimento (GH) em virtude do aumento por Ras.
do AMP cíclico. Certos hormônios da pituitária resul D. troca de GDP por GTP na proteína Ras.
tam em hipersecreção de GH em decorrência de uma
E. iniciação de uma cascata na qual várias quina
mutação que produz uma proteína Gs-a com atividade
ses são ativadas sequencialmente por fosfori
de GTPase muito diminuída.
lação.
9. Elementos levando a aumento de AMP cíclico em
resposta a ligação de GHRH a seu receptor incluem Problemas
A. ativação de uma proteína G monomérica. 13. Como a elevação de AMP cíclico em células eu
B. ativação de adenilato ciclase por subunidade carióticas leva à transcrição alterada de certos ge
as de uma proteína Gs. nes?
C. ativação da nucleotídeo cíclico fosfodiesterase. 14. Como neurotransmissores excitatórios e inibitó
D. ativação de proteína quinase A. rios diferem em seus efeitos sobre canais iônicos
ligante-dependentes?
E. todos os anteriores.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 559

Respostas
1. B Um hormônio é liberado no sangue e viaja até GTP permite que as subunidades de reassociem.
o tecido alvo. A: um tipo celular é tanto o emissor D: a subunidade a, quando dissociada das outras
como o alvo. C: esta é uma sinalização dependente duas, interage com a enzima para ativá-la ou inibi
de contato. D: as células estão em vizinhança ime -la, dependendo se for uma as ou ai.
diata uma da outra. E: este é um tipo de sinaliza
9. B Adenilato ciclase então converte ATP em cAMP.
ção parácrina, usada por células nervosas.
A: receptores acoplados a proteína G são todos he
2. E A: coisas como hormônios esteroides. B: uma terotriméricos. C: isso diminuiria cAMP por hidró
vez ligado ao ligante, os receptores citosólicos des lise a AMP. D: AMP cíclico ativa a proteína quinase,
locam-se para o núcleo. C e D: ligam-se a elementos não o contrário.
regulatórios a montante e aumentam ou reprimem
10. A a-GTP dissocia do dímero bg. B: proteínas G
a transcrição. não se ligam ao receptor. C: é a a-GTP que ativa a
3. B Este é um dos modos pelo qual ocorre transdu enzima. D: ver A. E: ativação da adenilato ciclase é
ção de sinal. A: também reagem como moléculas uma mudança conformacional, não fosforilação.
sinalizadoras muito hidrofílicas. C e D: estas são
11. C É por isso que HER2 altera o crescimento,
formas pelas quais receptores de superfície celular
embora não ligue fator de crescimento. A: a ex
podem atuar. E: isso é verdade apenas se o recep
tremidade N-terminal é extracelular e é o sítio de
tor for acoplado a uma proteína G.
ligação do ligante; o sítio catalítico deve estar em
4. D Todos são possíveis. um domínio intracelular. B: a dimerização causa a
ativação; uma vez ativado, usa ATP para fosforilar
5. B Esta é uma proteína ubíqua que liga Ca2+. A:
proteínas. D: a primeira proteína fosforilada é o
Ca2+-calmodulina regula algumas quinases, mas
próprio receptor, que depois atrai outras proteínas
não esta. C: segundos mensageiros são geralmen
para serem fosforiladas.
te moléculas pequenas ou íons. D: é o complexo
Ca2+-calmodulina que regula. E: calmodulina liga 12. A Este não é um mecanismo que produz um se
o Ca2+ que entra, mas não é parte do canal que per gundo mensageiro pequeno. B a E: estas são etapas
mite que entre. sequenciais.
6. C A enzima solúvel tem baixa afinidade quando o 13. A ligação de cAMP à proteína quinase A leva as
heme não tem uma molécula gasosa ligada. A e B: subunidades catalíticas a se dissociarem das re
a enzima ligada à membrana é estimulada quando gulatórias, expondo sequências de localização
ANF liga-se a seu receptor, mas não NO. D: é um nuclear nas subunidades catalíticas. Estas podem
dímero. E: a enzima solúvel está presente na maio se deslocar para o núcleo, onde podem fosforilar
ria dos tipos celulares. e ativar proteínas regulatórias de genes reguladas
por cAMP (CREBs), que controlam genes contendo
7. A IP3 é a forma ativa. A ação da fosfatase sobre
elementos regulatórios sensíveis a cAMP (CREs).
ele torna-lo-á inativo, quando convertido em ino
sitol. B: IP3 causa liberação de cálcio. C e D: este 14. Neurotransmissores excitatórios (por exemplo,
é o outro segundo mensageiro e ativa a proteína acetilcolina, glutamato) ligam-se a receptores
quinase C. E: isto é o que a proteína quinase C faz. cátion-seletivos e permitem que íons como Na+
entrem, despolarizando a membrana. Neurotrans
8. C Qual forma é liberada depende do hormônio
missores inibitórios (por exemplo, GABA, glicina)
específico e do receptor que reagiram. A: o recep
ligam-se a receptores ânion-seletivos e permitem
tor liga ao hormônio, e o complexo interage com
que âníons como Cl– entrem, hiperpolarizando a
a proteína G. B e E: GDP está ligado à enzima em
membrana.
repouso. Sua substituição por GTP leva a subuni
dade a a se dissociar. Na realidade, a hidrólise de
560 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
PARTE IV CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 561
VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

14 δ β
α α
ATP
β α β

Bioenergética, ADP + Pi F1

b2

Mitocôndria e Lado N
γ
ε

Metabolismo Oxidativo Lado P +


H
c10–14

F0

Diana S. Beattie
Professora, West Virginia University School of Medicine

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


14.1 SISTEMAS PRODUTORES E CONSUMIDORES 14.1 Deficiência de Piruvato Desidrogenase, 571
DE ENERGIA, 562
14.2 Deficiência de Fumarase, 574
14.2 RELAÇÕES TERMODINÂMICAS E COMPONEN
14.3 Envenenamento por Cianeto, 589
TES RICOS EM ENERGIA, 563
14.4 Neuropatia Óptica Hereditária de Leber, 600
14.3 FONTES E DESTINOS DA ACETIL-COENZIMA
A, 568 14.5 Miopatias Mitocondriais Decorrentes de Muta
ções em Genes de tRNA Mitocondrial, 600
14.4 O CICLO DOS ÁCIDOS TRICARBOXÍLICOS, 570
14.6 Intolerância a Exercício em Pacientes com Muta
14.5 ESTRUTURA E COMPARTIMENTALIZAÇÃO
ções no Citocromo b, 601
POR MEMBRANAS MITOCONDRIAIS, 577
14.7 NADPH Oxidase (NOX) na Saúde e na Doença,
14.6 CADEIA DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS, 579
603
14.7 FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA, 589
14.8 Lesão por Reperfusão do Miocárdio, 604
14.8 MEMBRANA MITOCONDRIAL INTERNA CON
TÉM SISTEMAS DE TRANSPORTE DE SUBS
TRATO, 594
14.9 GENES MITOCONDRIAIS E DOENÇAS, 599
14.10 ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO (ROS,
REACTIVE OXYGEN SPECIES), 601

Conceitos Chaves
• Energia é conservada em organismos vivos por • Piruvato, o produto final do metabolismo da glico
oxidação de combustíveis metabólicos e é armaze se, é oxidativamente descarboxilado à acetil-CoA
nada como ligações de alta energia do ATP para pelo complexo regulado piruvato desidrogenase.
fornecer energia para reações de biossíntese, con
• Acetil-CoA, o produto final do catabolismo de car
tração muscular e transporte ativo de íons.
boidratos, lipídeos e proteínas, é oxidado pelo ciclo
• A energia livre de Gibbs prediz a direção de uma do ácido tricarboxílico localizado na matriz mito
reação enzimática e está relacionada com a cons condrial, produzindo NADH e FADH2.
tante de equilíbrio.
562 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

• NADH e FADH2 são oxidados pela cadeia dede trans-trans substratos e de intermediários para dentro e para
porte de elétrons, organizada em quatro grandes fora da matriz mitocondrial.
complexos enzimáticos na membrana mitocondrial
• Mitocôndrias de mamíferos têm um DNA circular
interna, pela transferência de elétronsétronstrons ememem umaumauma sé-sé-sé
singular, que codifica proteínas da cadeia de trans
rie de etapas até o aceptor terminal de elétrons, o
porte de elétrons, ATP sintase e RNA ribossômico
oxigênio.
mitocondrial. Doenças resultam de mutações em
• A energia liberada durante as reações oxidativas genes mitocondriais.
da cadeia de transporte de elétrons é conservada
• A transferência, passo a passo, de elétrons para o
como gradiente de prótons e de cargas através da
oxigênio resulta na formação de ânions superóxido
membrana mitocondrial interna. O gradiente dirige
(O–),2 peróxido de hidrogênio (H2O2) e radicais li
a síntese de ATP catalizada pela ATP sintase. Esse
vres de hidrogênio (OH·), que causam dano celular
processo é denominado fosforilação oxidativa.
por peroxidação lipídica, oxidação de proteínas e
• Sistemas de transporte localizados na membrana mutações no DNA.
mitocondrial interna facilitam o movimento de

14.1 SISTEMAS PRODUTORES veis metabólicos utilizados pelo organismo, geralmente


como carboidrato, lipídeo e proteína. A proporção de
E CONSUMIDORES DE cada combustível utilizado como fonte de energia de
pende do tecido e do estado dietético e hormonal do
ENERGIA organismo. Por exemplo, eritrócitos maduros e cére
bro adulto no estado alimentado utilizam apenas car
Célulasélulas vivasvivas dependemdependem dede umum sistemasistema comple-comple
boidrato como fonte de energia, enquanto o fígado de
xo, sofisticadamente regulado, de reações químicas um diabético ou de um indivíduo em jejum metaboliza
produtoras e consumidoras de energia, chamado me
primariamente lipídeo, para suprir as demandas ener
tabolismo. O metabolismo consiste de dois processos
géticas. A energia pode ser consumida durante a rea
contrastantes, catabolismo e anabolismo, que juntos
lização de várias funções ligadas a energia (trabalho),
constituem as mudanças químicas que convertem ali algumas das quais são indicadas na Figura 14.1. Note
mentos em formas utilizáveis de energia e em moléculas
que o fígado e o pâncreas estão primariamente envol
biológicas complexas. O catabolismo é responsável pela
vidos em funções de trabalho biossintético e secretório,
degradação dos alimentos ingeridos ou de combustíveis
enquanto os músculos cardíaco e esquelético conver
armazenados, como carboidratos, lipídeos e proteínas, tem energia metabólica em energia mecânica durante a
em formas de energia que possam ser utilizadas ou contração muscular.
armazenadas. Reações catabólicas, geralmente, resul
tam na conversão de moléculas grandes e complexas O elo essencial entre vias de produção e de utili
em moléculas menores (finalmente, CO2 e H2O) e, em zação de energia é o nucleosídeo trifosfato adenosina
mamíferos, frequentemente requerem consumo de O2. 5!-trifosfato (ATP) (Figura 14.2). O ATP é um nucleotí
Reações que utilizam energia realizam várias funções deo de purina (adenina), no qual a adenina é ligada por
necessárias e, em muitos casos, tecido-específicas,
por exemplo, condução do impulso nervoso, contra ATP
ção muscular, crescimento e divisão celular. Reações NADH
catabólicas são, em geral, exergônicas, com a ener Produção
CO2
Carboidratos
Catabolismo
Proteína
Lipídeo
, H2O,
de energia
NH3 NADPH Anabolismo
gia liberada, geralmente, capturada na formação de
ATP. As reações oxidativas do catabolismo trans
ferem equivalentes de redução para as coenzimas
NAD+ e NADP+ para formar NADH e NADPH. As vias Síntese de macromoléculas
anabólicas são responsáveis pela biossíntese de mo Contração muscular
Transporte ativo de íons
léculas grandes a partir de precursores menores, e Termogênese
requerem investimento de energia, na forma de ATP
ou equivalentes de redução de NADPH (ver Figura
10.28, p. 495). ADP
NAD+ Pi
+

NADP+
ATP Liga Sistemas de Produção e
FIGURA 14.1 Relação energética entre produção (catabolismo)
de Utilização de Energia e utilização (anabolismo) de energia.
Quebra oxidativa de alimentos é um processo exergônico que libera
A relação entre as funções de produção e de utili energia livre e poder redutor, que são capturados como ATP e NADH
zação de energia das células está ilustrada na Figura ou NADPH, respectivamente. Processos anabólicos são endergônicos
14.1. A energia é derivada da oxidação de combustí e usam energia química armazenada como ATP e NADPH.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 563

NH2 NH2 Carboidrato


HCN
N CCN CH Adenina N CCN CH H C OH

CN HC
Ligações
alta energia
de Ligação
alta de
energia N C
N
H C O
O O O H2O Pi O O
iOPOPOPOCH2 O iOPOPOCH2 O HCOH

iO Oi Oi H H H H iO Oi H H H H H

Mg2+ OH OH Mg2+ OH OH Oxidado

DRibose Lipídeo

Adenosina 5!trifosfato Adenosine 5!difosfato H C H

FIGURA 14.2 Estruturas do ATP e do ADP complexados com Mg2+.


Reduzido
As ligações de alta energia são apontadas.
FIGURA 14.3 Estados de oxidação
uma ligação glicosídica ààà D-ribose.D-ribose.D-ribose.D-ribose. TrêsTrêsTrêsTrês gruposgruposgruposgrupos fosfo-fosfo-fosfo-fosfo de átomos de carbono típicos em
ril estão esterificados à posição 5 do resíduo de ribose. carboidratos e lipídeos.
Os dois grupos fosforil terminais (ou seja, β e γ) são
ligações fosfoanidrino ricas em energia ou ligações de biossíntese de compostos muito reduzidos, tais como
alta energia. A síntese de ATP, como resultado de um ácidos graxos, é fornecido pelo NADPH (p. 405), um
processo catabólico, ou que consome ATP, em um pro NADH 3!-fosforilado.
cesso ligado à energia envolve a formação e a hidrólise
ou transferência do grupo fosfato terminal do ATP. Esse
nucleotídeo é ligado a um cátion metálico divalente, Substrato
reduzido Catabolismo Produto
como magnésio, em condições fisiológicas. oxidado

NAD+ e NADP+ em Catabolismo e


Anabolismo NADP+ NADPH

Muitos processos catabólicos são de natureza oxi


dativa porque os carbonos do substrato, carboidratos, Anabolismo
gorduras e proteínas, estão em um estado parcial
mente ou altamente reduzido (Figura 14.3). Equiva Produto Precursor
lentes de redução são liberados dos substratos como reduzido oxidado
prótons e elétrons, que são transferidos para nicoti
namida adenina dinucleotídeo (NAD+) por enzimas FIGURA 14.4Transferência de equivalentes de redução
chamadas desidrogenases, com formação de NADH durante catabolismo e anabolismo usando NADPH e
NADH.
(ver Figura 10.28, p. 405). Os equivalentes de redu
ção do NADH são transportados para dentro das mi
tocôndrias e transferidos, pela cadeia de transporte
de elétrons, para O2 como aceptor final de elétrons 14.2 RELAÇÕES
(p. 579). As reações oxidativas em mitocôndrias são
exergônicas; a energia produzida éé usadausadausada paraparapara sín-sín-sín TERMODINÂMICAS E
tese de ATP, em um processo chamado fosforilação
COMPONENTES RICOS EM
oxidativa. As reações redutoras e oxidativas no ciclo
NAD+–NADH são centrais na conversão de energia ENERGIA
química de compostos de carbono dos alimentos em
ligações fosfoanidrido do ATP. Esse processo, chama Células vivas interconvertem diferentes formas de
do transdução de energia, será discutido em detalhes energia e também trocam energia com seu ambiente. Os
mais adiante neste capítulo. princípios da termodinâmica governam reações desse
tipo. O conhecimento desses princípios facilita a per
Anabolismo, diferentemente, é, em grande parte, cepção de como reações que produzem energia e que
um processo redutor, uma vez que moléculas pequenas, utilizam energia ocorrem dentro da mesma célula, e
mais oxidadas, são convertidas em moléculas grandes como um organismo é capaz de executar várias funções
e complexas (Figura 14.4). O poder redutor usado na de trabalho.
564 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

A primeira lei da termodinâmica afirma que energia A velocidade de uma dada reação depende da ener
não pode ser criada nem destruída. Essa lei da conser gia livre de ativação, mas não da magnitude de AG.
vação de energia estipula que, embora energia possa ser Além disso, a variação de energia livre em um processo
convertida de uma forma em outra, a energia total de bioquímico é a mesma, independentemente da via ou
um sistema permanece constante. Por exemplo, ener do mecanismo usado para chegar ao estado final. A va
gia química disponível em um combustível metabólico, riação de energia livre de uma reação química está re
como glicose, é convertida, na glicólise, em energia quí lacionada com a constante de equilíbrio. Por exemplo,
mica de ATP. No músculo esquelético, a energia química uma reação pode ser descrita como
envolvida em ligações fosfato ricas em energia do ATP
é convertida em energia mecânica, durante a contração A+BC+D
muscular. A energia de um gradiente osmótico eletropo e a constante de equilíbrio é expressa como
tencial de prótons através da membrana mitocondrial é
convertida em energia química durante a síntese de ATP. Keq = [C][D]/[A][B]
A segunda lei da termodinâmica diz respeito à en Em condições padrões, quando reagentes e produ
tropia. Entropia, designada por S, é uma medida ou tos estão presentes inicialmente em concentrações 1 M,
indicador do grau de desordem ou casualidade de um à pressão de 1 atm e 1 M [H+] ou pH 0, a variação de
sistema. Entropia é vista como a energia de um sistema energia livre padrão é definida como AG0!. Bioquímicos
que não está disponível para realizar trabalho útil. To modificaram essa expressão de modo que a energia li
dos os processos, sejam químicos ou biológicos, tendem vre padrão é calculada em pH 7,0 ([H+] = 10–7 M), no
a progredir em direção à situação de máxima entropia. qual as reações biológicas geralmente ocorrem. Nessas
Assim sendo, sistemas vivos que são muito ordenados, condições, a variação de energia livre é expressa como
nunca estão em equilíbrio com seu ambiente, uma vez AG0! e K!eq. Como o valor de AG é zero no equilíbrio, a
que equilíbrio em um sistema resulta quando o acaso seguinte relação é descrita:
ou a desordem (entropia) está no máximo. Em sistemas
biológicos, portanto, é quase impossível quantificar AG0! =–RTln K!eq
mudanças de entropia, já que tais sistemas raramente
onde R é a constante dos gases, que é 1,987 cal/mol × °K
estão em equilíbrio. Para maior simplicidade e por sua
ou 8,144 J/mol X°K, dependendo se a variação na ener
utilidade inerente nessas considerações, é empregada gia livre é expressa em calorias (cal) ou joules (J) por
uma grandeza chamada energia livre.
mol, e T é a temperatura absoluta em graus Kelvin (K).

Portanto, se a constante de equilíbrio for determi


Energia Livre É a Energia Disponível nada, a variação de energia livre padrão (DG0!) também
para Trabalho Útil pode ser calculada. A relação entre AG0! e K!eq é ilustra
da na Tabela 14.1. Quando a constante de equilíbrio de
A energia livre (denotada por G ou energia livre de uma reação é menor do que 1, a reação é endergônica
Gibbs) de um sistema é a parte da energia total do sis e AG0! é positivo. Quando a constante de equilíbrio é
tema que está disponível para trabalho útil. É bem de maior do que 1, a reação é exergônica e AG0! é negativo.
finida por

AG = AH – TAS TABELA 14.1 Valores de Keq e DG0’


Nessa expressão, para um sistema seguindo em di Keq (kcal/mol)
AG0! AG0!
reção ao equilíbrio, em temperatura e pressão constan (kJ/mol)
tes, AG é a variação de energia livre, AH é a variação
10–4 5,46 22,8
em entalpia ou conteúdo de calor, T é a temperatura
absoluta, e AS é a variação da entropia. Se AG de uma 10–3 4,09 17,1
reação for igual 0, o processo está em equilíbrio e não
há fluxo líquido em nenhuma direção. Além disso, qual 10–2 2,73 11,4
quer processo que apresente um AG negativo (variação
de energia livre) ocorre espontaneamente em direção 10–1 1,36 5,7
ao equilíbrio na direção escrita, em parte, em virtude
de um aumento na entropia ou desordem do sistema. 1 0 0
Tal processo libera energia e é exergônico. Um proces
10 –1,36 –5,7
so que apresente um AG positivo ocorrerá espontanea
mente na direção inversa à escrita. A energia de alguma 102 –2,73 –11,4
outra fonte deve ser aplicada para permitir que ocorra
103 –4,09 –17,1
em direção ao equilíbrio. Esse processo é chamado en
dergônico. Note que o sinal e o valor do AG não predi 104 –5,46 –22,8
zem quão rapidamente a reação ocorrerá.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 565

Como discutido, DG0! de uma reação representa a enzimáticas com variações positivas de energia livre
energia livre disponível em uma reação quando substra podem ser acopladas a, ou direcionadas por, reações
tos e produtos estão presentes em concentrações 1 M. com variações de energia livre negativas. Em uma via
Essa situação não ocorre em células, já que biomoléculas metabólica como a glicólise, várias reações têm valores
raramente estão presentes em concentração 1 M. Por de DG0! positivos ou valores de DG0! próximos de zero,
tanto, uma expressão relacionada com as concentrações enquanto outras reações têm valores de DG0! altos e ne
intracelulares reais de substratos e produtos fornece in gativos, que direcionam a via inteira. A consideração
formações quanto ao trabalho disponível em uma reação. crucial é que a soma dos valores de DG0! de todas as
A expressão de DG, em qualquer concentração de subs reações de uma via deve ser negativa para que tal via
trato ou produto, inclui a variação de energia para uma seja termodinamicamente viável. Como para todas as
concentração 1 M de substrato e produto para chegar ao reações químicas, reações enzimáticas individuais de
equilibro (DG0!), e a variação de energia para alcançar uma via metabólica ou a via como um todo seriam faci
uma concentração 1 M de substratos e produtos: litadas se as concentrações de reagentes (substratos)
excederem as de produtos.
DG = DG0! + RTln([C][D]/[A][B])

Por exemplo, em uma célula muscular a concentra Valor Calórico de Componentes da


ção de ATP = 8,1 mM, a de ADP = 0,93 mM, e a de Pi =
8,1 mM. Se DG0! para a reação: ATP + HOH ↔ ADP +
Dieta
Pi é 32,1 kJ/mol a 37oC, pH 7,4, então o DG geral para
Durante oxidação completa, passo a passo, da gli
essa reação é cose, um combustível metabólico primário em células,
uma grande quantidade de energia fica disponível. Isso
DG = DG0! + RTln([ADP][Pi]/[ATP])
é ilustrado na equação
DG = DG0! + RTln(0,93 × 10–3)
C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O;
DG = –32,1 kJ/mol + (–17,5 kJ/mol) = –49,6 kJ/mol DG0! = –2864 kJ/mol (–684 kcal/mol)
Esses cálculos demonstram que consideravelmente Quando esse processo ocorre em condições aeróbi
mais energia livre está disponível para realizar traba cas na maioria das células, é possível conservar aproxi
lho em uma célula muscular do que indicado pelo valor madamente metade dessa energia “disponível” como 38
de DG0!. Além disso, síntese de ATP em células mus moléculas de ATP. Os valores calóricos para oxidação
culares nessas condições, a reação reversa requereria de outros combustíveis metabólicos são apresentados
+50,1 kJ/mol de energia. na Tabela 14.2. Carboidratos e proteínas (aminoácidos)
Nas vias metabólicas que produzem e que utilizam têm um valor calórico de 12 – 16 kJ/g, enquanto lipídeos
(ou seja, palmitato, um ácido graxo de cadeia longa, ou
energia, as variações de energia livre de reações enzi um triacilglicerol) têm um valor quase três vezes maior.
máticas individuais são somatórias, por exemplo,
A razão pela qual mais energia é derivada de lipídeo do
que de carboidrato ou proteína relaciona-se com o estado
A→B→C→D
de oxidação médio dos átomos de carbono dessas subs
DG0!A →D = DG0!A →B + DG0!B →C + DG0!C→D tâncias. Em carboidratos, os átomos de carbono estão
consideravelmente mais oxidados (ou menos reduzidos)
Embora qualquer dada reação enzimática em uma do que em lipídeos (ver Figura 14.3). Portanto, durante
sequênciaência possapossa terter umauma variaçãovariação dede energiaenergia livrelivre po-po a quebra sequencial de lipídeos, muito mais equivalentes
sitiva, contanto que a soma de todas as variações de de redução (um equivalente de redução é definido como
energia livre seja negativa, a via ocorrerá. Outra manei um próton mais um elétron, ou seja, H+ + e–) podem ser
ra de expressar esse princípio é dizendo que reações extraídos do que de carboidrato.

TABELA 14.2 Variações de Energia Livre e Valores Calóricos para Metabolismo Total de Vários Combustíveis Metabólicos
DG0! Valor Calórico
Composto Peso
Molecular kJ/mol (kcal mol–1) kJ/g (kcal g–1)
Glicose 180 –2.864 –686 15,9 3,81
Lactato 90 –1.361 –326 15,1 3,62
Palmitato 256 –9.987 –2.380 38,8 9,30
Tripalmitina 809 –31.772 –7.510 38,8 9,30
Glicina 75 –976 –234 13,0 3,12
566 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Compostos São Classificados mais estável. A hidrólise de fosfoenolpiruvato é um


exemplo desse tipo de composto (Figura 14.6). O AG0!
com Base na Energia Liberada na de isomerização é considerável, e o produto final, neste
caso, o piruvato, é muito mais estável. Finalmente, se
Hidrólise de Grupos Específicos um produto de hidrólise de uma ligação de alta energia
Os dois grupos fosforil terminais do ATP são liga for um ácido não-dissociado, a dissociação do próton e
ções de alta energia, uma vez que a energia livre de seu subsequente tamponamento pode contribuir para
hidrólise de uma ligação fosfoanidrido é muito maior o AG0! geral da reação hidrolítica. Em geral, qualquer
do que a de um simples éster de fosfato. Alta energia propriedade ou processo que estabiliza produtos de hi
não é sinônimo de estabilidade da ligação química drólise tende a conferir um caráter de alta energia a
em questão, nem se refere à energia necessária para aquele composto. O caráter de alta energia do 3!,5!-ade
quebrar tal ligação. O conceito de compostos de alta nosina monofosfato cíclico (cAMP) tem sido atribuído
ao fato de sua ligação fosfoanidrido estar tensionada,
energia implica que os produtos de sua quebra hidro
lítica estão em formas mais estáveis do que o compos uma vez que faz ponte entre as posições 3! e 5! da ribo
to original. Como regra, ésteres de fosfato (compos se. O caráter rico em energia de compostos tiol ésteres
tos de baixa energia) apresentam valores de AG0! de como acetil-CoA ou succinil-CoA resulta do caráter re
hidrólise negativos, na faixa de 42 kJ/mol, enquanto lativamente acídico do grupo tiol. Portanto, a ligação
ligações de alta energia têm valores de AG0! negativos tioéster do acetil-CoA é quase equivalente em energia a
na faixa de 21–63 kJ/mol. Ésteres de fosfato como gli uma ligação fosfoanidrido.
cose 6-fosfato e glicerol 3-fosfato são compostos de
baixa energia.
CH2 O
Existem várias razões para certos compostos ou ar C O POi
ranjos de ligações serem ricos em energia. Primeiro, os COOi Oi
produtos de hidrólise de uma ligação rica em energia Fosfoenolpiruvato
podem existir em mais formas de ressonância do que a
molécula precursora. O maior número de formas de res ΔGD! 61.9 kJ/mol HOH
sonância possíveis nas quais uma molécula pode existir (14.8 kcal/mol)
estabiliza essa molécula. As formas de ressonância de
um fosfato inorgânico (Pi) são indicadas na Figura 14.5.
Menos formas podem ser escritas para ATP ou pirofos CH2 O
fato (PPi) do que para fosfato (Pi). C OH + HO P Oi

COOi Oi

Enolpiruvato
O O– O– O–
+
HO P O– HO P O HO P O– HO P O– (isomerização espontânea)

O– O– O O– CH3

C O
(a) Formas de ressonância do fosfato
COOi

Piruvato (forma estável)


O O

HO P O P O– FIGURA 14.6 Hidrólise do fosfoenolpiruvato indicando a


energia livre liberada.
O– O–

(b) Pirofosfato
Variações de Energia Livre Podem
FIGURA 14.5 (a) Formas de ressonância do fosfato. (b) Ser Determinadas a partir de
Estrutura do pirofosfato.
Reações Enzimáticas Acopladas
Segundo, muitos arranjos de ligações de alta ener
gia contêm grupos de cargas eletrostáticas semelhan O valor de AG0! de hidrólise do fosfato terminal do
ATP é difícil de determinar simplesmente porque a Keq
tes localizadas em estreita proximidade entre si. Como da reação está muito deslocada para a direita.
cargas iguais se repelem, consequentemente a hidrólise
de ligações ricas em energia alivia essa situação e con ATP + HOH  ADP + Pi + H+
fere estabilidade aos produtos de hidrólise. Terceiro,
a hidrólise de certas ligações ricas em energia resulta Entretanto, o AG0! da hidrólise do ATP é determi
na formação de um composto instável, que pode iso nado indiretamente graças à natureza aditiva das va
merizar espontaneamente para formar um composto riações na energia livre já discutidas aqui. Assim, a
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 567

energia livre de hidrólise do ATP é determinada adicio possível, e síntese de ATP é o resultado. ATP pode
nando-se o AG0! de uma reação que utiliza ATP, como a transferir seu grupo fosforil terminal para formar um
hexoquinase, ao AG0! de uma reação que quebra fosfato composto de caráter de alta energia relativamente se
do produto da reação da hexoquinase, glicose 6-fosfato melhante (ou seja, creatina fosfato na reação da cre
(G6P), como indicado aqui. atina quinase [Figura 14.7]) ou compostos de energia
Glicose + ATP hexoquinase G6P + ADP + H+ consideravelmente mais baixa, como glicose 6-fosfato,
na reação da hexoquinase (Figura 14.7). Tais trans
AG0! =–16 kJ/mol
ferências são cruciais na ligação das vias metabólicas
G6P + HOHglicose6-fosfatase
AG0! = glicose + Pi que produzem energia com as que usam energia em
+ H+
–14 kJ/mol células vivas.
As energias livres de hidrólise de outros compostos Embora nucleotídeos de adenina sejam os principais
ricos em energia são determinadas de maneira similar. envolvidos na geração ou na conservação de energia,
vários nucleosídeos trifosfatos, incluindo ATP, estão
envolvidos na transferência de energia em vias biossin
Energias de Ligações de Alta téticas. O nucleotídeo de guanina GTP é a fonte de ener
gia na gluconeogênese e na síntese proteica, enquanto
Energia de Vários Grupos Podem Ser UTP (uracil) e CTP (citosina) são utilizados na síntese
Outro
Transferidas de um Composto para de glicogênio e de lipídeos, respectivamente (ver p. 31
para as estruturas). A energia das ligações fosfato do
ATP pode ser transferida para os outros nucleotídeos
pela nucleosídeo difosfato quinase ou pela nucleosídeo
Compostos ricos em energia podem transferir vá monofosfato quinase (Figura 14.8). Dois nucleosídeos
rios grupos para um composto aceptor, de modo ter difosfatos são convertidos em um nucleosídeo trifosfa
modinamicamente possível, em presença de uma en to e um nucleosídeo monofosfato em várias reações de
zima apropriada. Os intermediários ricos em energia
nucleosídeo monofosfato quinase, como a da adenilato
da glicólise, 1,3-bisfosfoglicerato e fosfoenolpiruvato,
quinase (Figura 14.9). Assim, a ligação fosfato terminal
podem transferir seus grupos fosfatos de alta energia rica em energia do ATP pode ser transferida para os
para o ADP nas reações da fosfoglicerato quinase e da
nucleotídeos apropriados, e utilizadas em vários pro
piruvato quinase, respectivamente (Figura 14.7). Os
cessos biossintéticos.
valores de AG0! dessas duas reações são –18,8 e –31,3
kJ/mol, respectivamente, e, portanto, a transferência
do fosfato de “alta energia” é termodinamicamente
(d)NDP ATP

fosfoglicerato quinase
1,3iBisfosfoglicerato 3iFosfoglicerato Função difosfato
Nucleosídeo
quinase
+ Energia
ADP ATP

ΔGD! i18,8 kJ/mol(i4,5 kcal/mol) Pi


(d)NTP ADP
piruvato quinase
Fosfoenolpiruvato ADP ATP Piruvato

ΔGD! i31,3 kJ/mol(i7,5 kcal/mol)


biossintética
(a)

creatina quinase
Creatina creatina fosfato NMP ATP

ATP ADP
Nucleosídeo
ΔGD! +6,3 kJ/mol(+1,5 kcal/mol) monofosfato quinase + Energia
(b)
Pi
NDP
hexoquinase ADP
Glicose glicose 6ifosfato

FIGURA 14.8 Reações da nucleosídeo difosfato quinase e


ATP ADP
da nucleosídeo monofosfato quinase.
ΔGD! i16,7 kJ/mol(i4,0 kcal/mol) N representa qualquer base púrica ou pirimídica; (d) indica um
(c) desoxirribonucleotídeo.

FIGURA 14.7 Exemplos de reações envolvidas na


transferência de fosfato de “alta energia”.
568 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

2ADP O

S CCH3 Grupo acetil

CH2
β-Mercaptoetilamina
Adenilato quinase (mioquinase) CH2

NH
CH2 NH2
C O
N N
ATP + AMP Adenina

FIGURA 14.9 Reação da adenilato quinase N N


(mioquinase). NH
Ácido
pantogênico CO

14.3 FONTES E DESTINOS HO C H

C CH3 OPOPOCH2O
CH2
DA ACETIL H3C O O –

COENZIMA A D-Ribose
O– O– O
O grupo acetato que serve de fonte de
combustível para o ciclo dos ácidos tricarbo OH
OP
xílicos (TCA) é derivado das principais vias O

metabólicas geradoras de energia das célu –O

las. Estas incluem oxidação de ácidos gra


xos de cadeia longa por β-oxidação, quebra FIGURA 14.11 Estrutura de acetil-CoA.
de carboidratos ingeridos ou armazenados Note a presença do ácido pantotênico, uma das vitaminas B essenciais para
seres humanos.
pela glicólise, oxidação dos corpos cetôni
cos (acetato e β-hidroxibutirato), oxidação de etanol e e seus derivados, como acetil-CoA, não são livremente
quebra oxidativa de certos aminoácidos (Figura 14.10). transportados através de membranas celulares. Isso
Todos estes resultam, no final, na produção da unidade exigiu a evolução de certos mecanismos de transpor
de dois carbonos acetil-coenzima A. Coenzima A (CoA te ou de lançadeiras, pelos quais vários intermediários
ou CoASH), consiste de β-mercaptoetilamina, a vitami ou grupos são transferidos através de membranas. Tais
na ácidoácido pantotênicopantotênico eee ooo adenina-nucleotídeoadenina-nucleotídeoadenina-nucleotídeo adenosi-adenosi-adenosi reações de acil transferases para grupos acetil e gru
na 3!-fosfato 5!-difosfato (Figura 14.11). Nas células, a pos acil de cadeia longa serão discutidas no Capítulo 16.
coenzima A existe na forma de tiol reduzido (CoASH), Como a ligação tiol éster dos derivados acil-CoA é uma
que forma ligações tioéster de alta energia com grupos ligação rica em energia, esses compostos são doadores
acil e está envolvida em reações de transferência nas eficientes de grupos acil em reações de aciltransferases.
quais CoA serve como aceptor, depois doador, do gru Para sintetizar um derivado acil-CoA, duas ligações de
po acil. Várias vias metabólicas envolvem apenas deri alta energia do ATP devem ser gastas, como na reação
vados de acil-CoA, por exemplo, β-oxidação de ácidos da acetato tioquinase
graxos e degradação de aminoácidos de cadeia ramifi Acetato + CoASH + ATP acetatoquinase
cada. Como CoA é uma molécula grande, hidrofílica, ela
acetil-CoA + AMP + PPi

Glicogênio Triglicéride Proteína


Fontes e Destinos Metabólicos do
Glicogenólise Lipólise Proteólise
Piruvato
Glicose Ácido graxo livre Aminoácidos
Durante a glicólise aeróbica (p. 613), glicose ou ou
tras hexoses são convertidas em piruvato, o produto fi
Glicólise nal dessa via citosólica. O piruvato é também formado
Piruvato Oxidação na degradação de aminoácidos, como alanina ou serina,
e tem vários destinos, dependendo do tecido e do seu
Oxidação Deaminação e
oxidação
estado metabólico. Os destinos do piruvato e os tipos
de reações das quais participa estão indicados na Fi
Acetil CoA gura 14.12. A descarboxilação oxidativa do piruvato na
reação da piruvato desidrogenase é discutida a seguir;
FIGURA 14.10 Precursores gerais de acetil-CoA. ver página 773 para uma discussão de outras reações
Carboidratos, lipídeos e proteínas são quebrados, formando acetil envolvendo piruvato.
-CoA.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 569

Glicose ligação amida com uma lisina de cada subunidade de


transacetilase, e é chamado lipoamida, enquanto o FAD
Glicólise é fortemente ligado a cada subunidade de di-hidrolipoil
desidrogenase. A estrutura do FAD é apresentada na
Piruvato Figura 10.33 (p. 406).
Transaminação Redução

Alanina Carboxilação Descarboxilação Lactato

oxidativa

Oxaloacetato Acetil CoA

FIGURA 14.12 Destinos metabólicos do piruvato.


O piruvato fica numa encruzilhada do metabolismo. Ele pode
ser convertido em lactato, alanina, oxaloacetato ou acetil-CoA,
dependendo das necessidades da célula.

Piruvato Desidrogenase É um
Complexo Multienzimático FIGURA 14.13 Complexo piruvato desidrogenase de E.
coli.
O piruvato é convertido em acetil-CoA pelo comple
(a) Micrografia eletrônica. (b) Modelo molecular. (As esferas
xo multienzimático piruvato desidrogenase brancas são as 24 subunidades de transacetilase, as esferas
pretas são os 12 dímeros de piruvato desidrogenase, as esferas
Piruvato + NAD+ + CoASH
NADH +→H+
acetil-CoA + CO2 +
cinzas são os seis dímeros de di-hidrolipoil desidrogenase.) O
complexo enzimático foi corado negativamente com fosfotun
gstato (×200.000). Cortesia do Dr. Lester J. Reed, University
DG0! =–33,4 kJ/mol of Texas, Austin.
O mecanismo dessa reação é mais complexo do que
poderia ser inferido da estequiometria geral. Três dos co Piruvato Desidrogenase É Rigorosamente
fatores, tiamina pirofosfato (TPP), lipoamida e flavina Regulada
adenina dinucleotídeo (FAD), são ligados às subunida
des do complexo. A reação tem um DG0! de –33,4 kJ/mol O complexo piruvato desidrogenase é regulado de
e, portanto, é irreversível em condições fisiológicas. O dois modos. Primeiro, dois produtos da reação, acetil
complexo piruvato desidrogenase de mamíferos contém -CoA e NADH, inibem o complexo de modo competiti
três tipos de subunidades catalíticas associadas em um vo, como inibidores de retroalimentação (feedback).
complexo multienzimático de massa 7 a 8,5 × 106 kDa Segundo, o complexo piruvato desidrogenase passa por
para o complexo de rim, coração ou fígado. As subuni fosforilação e defosforilação. O complexo é ativo quando
dades catalíticas e seus cofatores associados são apre defosforilado e inativo quando fosforilado. Inativação é
sentados na Tabela 14.3. O arranjo das subunidades ca realizada por uma proteína quinase Mg2+-ATP-depen
talíticas de piruvato desidrogenase (Figura 14.13) em dente, que fica firmemente ligada ao complexo. Ativação
um complexo multiproteico confere maior eficiência à é realizada por uma fosfoproteína fosfatase, que também
reação geral, uma vez que os intermediários ficam for fica associada com o complexo e funciona de modo Mg2+
temente ligados às subunidades e não são liberados no e Ca2+-dependente. A regulação diferencial da piruvato
meio circundante. desidrogenase quinase e da fosfatase é a chave da regu
lação geral do complexo. Produtos da enzima estimulam
O mecanismo da reação é ilustrado na Figura 14.14. a reação da proteína quinase, levando a uma inativação
O grupo funcional TPP participa da formação de um in do complexo (Figura 14.15). A atividade do complexo
termediário covalente. Ácido lipoico é ligado por uma é estimulada por Mg2+ e Ca2+, um potente ativador da

TABELA 14.3 Complexo Piruvato Desidrogenase de Mamíferos


Enzima Número de cadeias Grupo Prostético Reação Catalisada
Piruvato desidrogenase 20 ou 30 TPP Descarboxilação oxidativa do piruvato
Di-hidrolipoil transacetilase 60 Lipoamida Transferência do grupo acetil para CoA
Di-hidrolipoil desidrogenase 6 FAD Regeneração da forma oxidada da lipoamida
e transferência de elétrons para NAD
570 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

NAD+ proteína fosfatase. Esses efeitos do


Ca2+ podem desempenhar um papel
importante no músculo esquelético,
FADH2 onde a liberação de Ca2+ durante a
contração ativa a proteína fosfatase,
estimulando a oxidação do piruvato
CO2 CH3CH
OH TPP Lip S desidrogenase
Dihidrolipoil NADH + H+
e, portanto, a produção de energia.
Finalmente, administração de insu
lina ativa a piruvato desidrogenase
FAD no tecido adiposo, e catecolaminas,
SH
C O desidrogenase
Piruvato
TPP transacetilase
Dihidrolipoil Lip SH O SCoA como a epinefrina, ativam a piruva
O CH3C
to desidrogenase no tecido cardíaco
CH3 (Correlação Clínica 14.1).

CH3 C SLipSH
COOi
Acetil-CoA É Usado por
CoASH Várias Vias Diferentes
TPP Tiamina pirofosfate
Os destinos do acetil-CoA gera
Lip Lipoamida
do na matriz mitocondrial incluem
FIGURA 14.14 Mecanismo do complexo multienzimático piruvato desidrogenase. (1) completa oxidação do grupo
A piruvato desidrogenase catalisa a descarboxilação oxidativa do piruvato e a transfe acetil no ciclo TCA para geração de
rência do grupo acetil primeiro para lipoamida. A di-hidrolipoil transacetilase transfere energia; (2) conversão do excesso
o grupo acetil da lipoamida para a coenzima A. A di-hidrolipoil desidrogenase oxida a de acetil-CoA nos corpos cetônicos
lipoamida reduzida. acetoacetato e β-hidroxibutirato no
fígado; e (3) transferência de unida
des acetil como citrato para o citosol, com subsequente
Piruvato Desidrogenase síntese de ácidos graxos de cadeias longas (p. 627) e es
Piruvato Acetil CoA teróis (Figura 14.16).

CoASH ATP CO2

NAD+ –
NADH+H+ 14.4 CICLO DOS ÁCIDOS
TRICARBOXÍLICOS
(a)
O acetil-CoA produzido nas vias catabólicas gerado
ras de energia da maioria das células é completamente
Piruvato
Pi
oxidado a CO2 em um ciclo de reações denominado ciclo
Desidrogenase
(Inativa)
dos ácidos tricarboxílicos (TCA). Esse ciclo é também
chamado o ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs, em
Fosfatase
homenagem a Sir Hans Krebs que postulou suas carac
NADH
AcetilCoA +
CoASH
NAD+
ADP – Mg2+ terísticas essenciais em 1937. A localização primária das
ADP
Ca2+ + enzimas do ciclo TCA é mitocondrial, embora isoenzi
Quinase mas de algumas enzimas estejam presentes no citosol.
Pi Essa localização é apropriada, uma vez que o complexo
piruvato desidrogenase e a sequência da β-oxidação de
Piruvato – + ácidos graxos, as duas fontes primárias de acetil-CoA,
também estão localizadas nas mitocôndrias. Quatro re
Piruvato ações do ciclo TCA transferem elétrons para NAD+ ou
Desidrogenase
(Ativa) FAD. Os NADH ou FADH2 resultantes são então oxida
dos pela cadeia de transporte de elétrons mitocondrial
(b) (cadeia de transferência de elétrons ou cadeia respirató
ria) para gerar energia, que é usada para formar ATP por
FIGURA 14.15 Regulação do complexo multienzimático fosforilação oxidativa (p. 589). As enzimas da cadeia de
piruvato desidrogenase.
transporte de elétrons e as envolvidas na síntese de ATP
(a) Piruvato desidrogenase é inibida por seus produtos, acetil-CoA
e NADH. (b) Piruvato desidrogenase é também inativada por fos
são localizadas exclusivamente em mitocôndrias. A Fi
forilação e ativada por defosforilação. A fosfatase é estimulada por gura 14.17 é uma visão geral das reações do ciclo TCA. Na
íons Mg2+ e Ca2+. A quinase é estimulada por ATP, NADH e acetil primeira etapa, o resíduo acetil do acetil-CoA é conden
-CoA e inibida por CoASH, NAD+ e ADP. sado com oxaloacetato (um ácido dicarboxílico de quatro
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 571

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.1

Deficiência de Piruvato Desidrogenase

Uma variedade de doenças do metabolismo de pi a tratamento dietético no qual uma dieta pobre em car
ruvato foi detectada em crianças. Algumas envolvem boidratos é administrada. Os pacientes podem entrar
deficiências das subunidades catalíticas ou regulató em choque por causa da acidose láctica, uma vez que o
rias do complexo piruvato desidrogenase. Crianças decréscimo na entrega de O2 inibe a piruvato desidroge
com deficiência de piruvato desidrogenase geralmente nase e aumenta o metabolismo anaeróbico. Alguns pa
apresentam níveis séricos elevados de lactato, piruva cientes foram tratados com dicloroacetato, um inibidor
to e alanina, o que produz uma acidose láctica crônica. da proteína subunidade quinase do complexo piruvato
Frequentemente apresentam defeitos neurológicos gra desidrogenase. A inibição completa da quinase, que ini
ves, que geralmente resultam em morte. O diagnóstico be a enzima, ativará, assim, o complexo enzimático.
da deficiência de piruvato desidrogenase é geralmente
feito pelo ensaio do complexo enzimático e/ou de suas Patel, M.S. e Harris, R.A. Mammalian α-keto acid
subunidades enzimáticas em culturas de fibroblastos de dehydrogenase complexes: Gene regulation and genetic de
pele retirados do paciente. Alguns pacientes respondem fects. FASEBJ. 9:1164, 1995.

Piruvato Aminoácidos Ácidos graxos Reações do Ciclo dos Ácidos


Tricarboxílicos
As reações individuais do ciclo TCA são
apresentadas na Figura 14.18. A etapa inicial
do ciclo é catalisada pela citrato sintase, na
matriz mitocondrial. Essa reação fortemente
Acetil CoA exergônica compromete grupos acetil com a
formação de citrato e a oxidação completa
no ciclo. Como mostrado a seguir, a citrato
sintase condensa um resíduo de acetil com
o carbono α-ceto do ácido dicarboxílico oxa
loacetato. O intermediário citroil-SCoA per
manece ligado ao sítio catalítico da citrato
Ciclo dos ácidos Corpos Esteróides e
tricarboxílicos cetônicos ácidos graxos sintase.

FIGURA 14.16 Fontes e destinos de acetil-CoA.

O O
carbonos) para formar citrato (um ácido tricarboxílico CoASH
Acetil CoA
*CH3*CSCoA *CSCoA +
de seis carbonos). Após rearranjo dos carbonos do citra HO C COOJ
*CH2 H2O *COOJ
to, duas reações de descarboxilação oxidativa produzem
duas moléculas de CO2, duas moléculas de NADH + H+, *CH2
uma molécula de succinato (um ácido dicarboxílico de O HO C COOJ
quatro carbonos) e uma ligação de alta energia em GTP. CCOOJ COOJ
CH2 CH2
Mais duas oxidações produzem outro NADH + H+ mais
um FADH2 e regeneram oxaloacetato.
CH2COOJ Citroil-SCoA COOJ

Em resumo, o substrato do ciclo TCA é a unidade de Oxaloacetato ligado à enzima Citrato


dois carbonos acetil-CoA, e os produtos de uma volta
CITRATO SINTASE
completa do ciclo são dois CO2, uma ligação fosfato de
alta energia (como GTP), três NADH, e um FADH2. Os
NADH e FADH2 são subsequentemente oxidados pela O equilíbrio dessa reação é muito deslocado para a for
cadeia de transporte de elétrons, com a produção de mação de citrato, com um DG0! próximo de –38 kJ/mol.
nove ATPs (ver p. 590 para rendimentos de ATP duran Note que a concentração intramitocondrial de oxaloace
te a oxidação das coenzimas). Assim, 10 ATPs ou seu tato é muito baixa (menos de 1 mM); entretanto, o DG0!
equivalente (GTP) são produzidos durante a oxidação fortemente negativo direciona a reação para frente. A
de um acetato no ciclo TCA. baixa concentração de oxaloacetato, que está abaixo do
572 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Km da reação, também pode ser um fator importante no para rato; a LD50, a dose letal para 50% dos animais
controle dessa reação. que o consomem, é 0,2 mg por quilograma de peso cor
poral.

Piruvato Ácidos graxos A isocitrato desidrogenase converte isocitrato


em α-cetoglutarato em uma reação de descarboxila
ção oxidativa, com concomitante redução de NAD+
a NADH + H+. A isocitrato desidrogenase de mitocôn
Acetil CoA drias de mamíferos requer NAD+ como aceptor de equi
valentes de redução, tem uma massa de 380 kDa, e con
siste de oito subunidades idênticas. A reação requer um
cátion de metal divalente (por exemplo, Mn2+ ou Mg2+)
para remoção do β carboxilato do oxalossuccinato.

O equilíbrio dessa reação fica fortemente desloca


Ciclo dos ácidos
do na direção da formação de α-cetoglutarato, com um
tricarboxílicos
DG0! de quase–21 kJ/mol.

Mitocôndrias também contêm uma isocitrato de


sidrogenase que requer NADP+. A enzima ligada a
CO2
NADP+ é também encontrada no citosol, onde fornece
GTP
CO2 equivalentes de redução para processos redutores ci
(4) 2H+ + 2H² (equivalentes de redução) tosólicos.

A conversão de α-cetoglutarato em succinil-CoA


Sistema de transporte de elétrons é catalisada pelo complexo α-cetoglutarato desidro
genase, que é quase idêntico ao complexo piruvato
desidrogenase em termos de reações individuais cata
lisadas e suas características estruturais. De novo, tia
mina pirofosfato, ácido lipoico, CoASH, FAD e NAD+
participam do mecanismo catalítico. O complexo con
9 ATP siste de subunidades de α-cetoglutarato desidroge
nase, di-hidrolipoil transsuccinilase e di-hidrolipoil
FIGURA 14.17 Descrição geral da oxidação de alimentos desidrogenase. O equilíbrio da reação é muito deslo
para fornecer energia para síntese de ATP dentro das cado em direção à formação de succinil-CoA, com um
mitocôndrias. DG0! de –33 kJ/mol. Nessa reação, a segunda molécula
Acetil-CoA produzido por oxidação de piruvato e ácidos graxos de CO2+eH+)
NADH o segundo são produzidos.
do cicloequivalente de redução
O produto
(oudessa
seja,
é metabolizado pelo ciclo dos ácidos tricarboxílicos a equiva
lentes de redução, que são oxidados pelo sistema de transpor
reação, succinil-CoA, é um tiol éster rico em energia,
te de elétrons. A energia liberada durante o processo oxidativo
é usada para dirigir a síntese de ATP.
semelhante a acetil-CoA.

O caráter de alta energia da ligação tiol éster do


Citrato é convertido em isocitrato por uma reação succinil-CoA é conservado por fosforilação no nível do
reversível catalisada pela aconitase, na qual o grupo hi substrato na etapa seguinte do ciclo. A succinil-CoA
droxila do citrato é trocado por um átomo de H de um sintetase (ou succinato tioquinase) converte succinil
carbono adjacente. O grupo hidroxila fica localizado, -CoA em succinato e, em tecidos de mamíferos, resulta
então, vizinho ao grupo carboxila do isocitrato, onde na fosforilação de GDP em GTP. Essa reação é livre
descarboxilação oxidativa pode ocorrer. A conversão de mente reversível, com um DG0! = –3,0 kJ/mol, e o me
citrato em isocitrato ocorre na aconitase, sem liberação canismo catalítico envolve um intermediário enzima
do intermediário cis-aconitato. A aconitase contém um -succinil fosfato.
grupo ferro-enxofre não-hemínico, que está envolvido
no mecanismo catalítico. O equilíbrio geral da reação Succinil CoA + Pi + Enz → Enz-succinil fosfato +
favorece a formação de citrato. + CoASH

Fluoroacetato é um potente inibidor do ciclo, em Enz-succinil fosfato → Enz-fosfato + succinato


bora não iniba diretamente nenhuma das enzimas do Enz-fosfato + GDP → Enz + GTP
ciclo. O fluoroacetato é convertido em fluorocitrato,
que é um potente inibidor da aconitase. O fluoroacetil A enzima é fosforilada na posição 3 de um resíduo de
-CoA é formado pela acetil-CoA sintetase, e convertido histidina durante a reação; isso conserva a energia do
em fluorocitrato pela citrato sintase. O fluoroacetato é tioéster para formação de GTP. O GTP é usado para a
letal em pequenas doses e foi usado como um veneno síntese mitocondrial de proteínas, RNA e DNA.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 573

CH3C S CoA
Acetil CoA
COOi H20

NADH Oxaloacetato
CH2
COOi CoASH
C O
+H+ &22²
COOi
& + NAD+ Citrato &+
+2 sintase +2 & &22² H20
Malato
CH2 desidrogenase
COOi &+
Fumarase Citrato
&22²Aconitase COOi H2
COOiH20 LiMalato CH2

COOi C COOi
)XPDUDWR
HC
CH cisAconitato
CH

COOi

O
FADH2 Aconitase
Succinato
desidrogenase
FAD TRICARBOXÍLICOS
CICLO
ÁCIDOS
DOS COOi
&+


COOi ,VRFLWUDWR
+ & &22²
CH2
+2 & +
Succinato
CH2 Succinil
sintetase
CoA Isocitrato
COOi

CoASH desidrogenase NAD+

GTP Pi &22² NADH + H+

GDP &+
&+
6  &R$ NADH
+ H+
αicetoglutarato
desidrogenase
CoASH &22² desidrogenase
Isocitrato &22²
&+


& 2 CO2 &+


&+ & &22²
& 2

&22² &22²
6XFFLQLO&R$ NAD+ & 2
2[DORVXFFLQDWR
CO2 +
α²&HWRJOXWDUDWR
FIGURA 14.18 Ciclo dos ácidos tricarboxílicos.
Carbonos marcados com asterisco indicam o destino dos carbonos do grupo acetil.

Succinato é oxidado a fumarato pela succinato de de transferência de elétrons, como será discutido na Se
sidrogenase, uma enzima complexa fortemente ligada ção 14.6. A succinato desidrogenase é fortemente inibi
à membrana mitocondrial interna. A succinato desi da por malonato e oxaloacetato, e é ativada por ATP, Pi
drogenase é composta de uma subunidade de 70 kDa e succinato. Malonato inibe a succinato desidrogenase
que contém o sítio de ligação ao substrato (FAD cova competitivamente com relação ao succinato, em virtu
lentemente ligado a um resíduo de histidina), uma su de da grande semelhança estrutural entre o malonato e
bunidade de 30 kDa que contém três centros de ferro o succinato (Figura 14.19).
-enxofre (não-hemínico), e duas pequenas proteínas
hidrofóbicas. A enzima é uma flavoproteína típica, na Fumarato é, então, hidratado para formar L-malato,
qual elétrons e prótons são transferidos do substrato pela fumarase. A fumarase é um homotetrâmero (200
por meio de FAD covalentemente ligado e dos centros kDa) e é estereoespecífica para a forma trans do subs
de ferro-enxofre, nos quais o ferro não-hemínico sofre trato (a forma cis, maleato, não é substrato) (Figura
oxidação e redução. Os elétrons são, então, transferidos 14.19). A reação é livremente reversível em condições
para a coenzima Q para transporte posterior na cadeia fisiológicas. A Correlação Clínica 14.2 descreve uma de
ficiência genética de fumarase.
574 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CH2
COOi CH2
COOi
Malonato H COOi succinato desidrogenase gera 1,5 ATPs. Uma ligação de
C
alta energia é formada como GTP na reação da succinil
-CoA sintetase. Assim, o rendimento líquico em ATP ou
COOi
Succinato H Maleato seus equivalentes (ou seja, GTP) para a completa oxida
ção de um grupo acetil no ciclo TCA é 10.

Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos


FIGURA 14.19 Estruturas do succinato, um intermediário Serve como uma Fonte de
do ciclo TCA; malonato, um inibidor da succinato
desidrogenase e do ciclo; e maleato, um composto não Intermediários Biossintéticos
envolvido no ciclo.
A discussão anterior sobre o ciclo TCA se concen
A reação final do ciclo TCA é catalisada pela mala trou em seu papel na quebra oxidativa de grupos acetila
to desidrogenase, na qual os equivalentes de redução CO2 e H2O, formação de coenzimas reduzidas e síntese
são transferidos para NAD+ para formar NADH + H+. de ATP. No geral, o ciclo TCA é a via final comum para
O equilíbrio da reação é fortemente deslocado para a quebra de alimentos; entretanto, como resumido na Fi
formação de L-malato, com um DG0! = +29 kJ/mol. Essa gura 14.20, os compostos de quatro, cinco e seis carbo
reação endergônica é deslocada na direção para frente nos gerados nas reações do ciclo TCA são importantes
pela ação da citrato sintase e de outras reações que re intermediários em processos biossintéticos. Succinil
movem oxaloacetato. -CoA, malato, oxaloacetato, α-cetoglutarato e citrato
são todos precursores da biossíntese de importantes
O NADH produzido pelas três desidrogenases NAD+-
compostos celulares.
-ligadas no ciclo TCA é rapidamente oxidado a NAD+
pela cadeia respiratória, favorecendo assim a direção A Transaminação converte α-cetoglutarato em glu
para frente da malato desidrogenase. tamato, que pode deixar a mitocôndria e ser converti
do em vários outros aminoácidos. No tecido nervoso,
α-cetoglutarato é convertido nos neurotransmissores
Conversão do Grupo Acetil de glutamato e ácidoγ-aminobutírico (GABA). O glutama
Acetil-CoA em CO2 e H2O Conserva
Energia to também é produzido a partir de α-cetoglutarato pela
enzima mitocondrial glutamato desidrogenase, em pre
sença de NADH ou NADPH e amônia. O amino grupo
incorporado no glutamato pode, então, ser transferido
O ciclo TCA (ver Figura 14.18) é a via oxidativa ter para formar vários aminoácidos, por diferentes amino
minal para a maioria dos combustíveis metabólicos.
transferases. Essas enzimas e a relevância da incorpo
Resíduos de dois carbonos na forma de acetil-CoA são ração ou da liberação de amônia em ou de α-cetoácidos
completamente
oxidativas
FADH2, que resultam na formação
sãooxidados
usados subsequentemente
a CO2 e H2O, e quatro
paraetapas
gera são discutidas no Capítulo 19.
de 3 NADH + H+ e 1
Succinil-CoA representa um ponto de ramificação
ção de ATP. A oxidação de cada NADH + H+ resulta metabólica (Figura 14.21), porque pode ser formado a
na formação de 2,5 ATPs por fosforilação oxidativa, partir de α-cetoglutarato no ciclo TCA ou a partir de
enquanto a oxidação do FADH2 formado na reação da metilmalonil-CoA, nas etapas finais da quebra de ácidos

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.2

Deficiência de Fumarase (OMIM 606812)

A deficiência de enzimas do ciclo TCA é rara, indi afetados, ambos os pais têm a metade dos níveis nor
cando a importância dessa via para a sobrevivência. En mais da atividade enzimática, mas são clinicamente
tretanto, foram descritos váriosários casoscasosos dedede severaseverasevera defici-defici-defici normais, como seria de se esperar em uma doença au
ência de fumarase em mitocôndrias e citosol de tecidos tossômica recessiva. A primeira mutação caracterizada
(por exemplo, linfócitos do sangue). A doença é carac no gene da fumarase contém uma glutamina substituí
terizada por grave déficit neurológico, encefalomiopatia da por um resíduo de glutamato 319.
e distonia, que se desenvolvem logo após o nascimento.
A urina contém quantidades anormais de fumarato e Bourgeron, T., Chreiten, D., Poggi-Bach, J., et. al. Muta
níveis elevados de succinato, α-cetoglutarato, citrato e tion of the fumarase gene in two siblings with progressive
malato. As isoenzimas mitocondrial e citosólica da fu encephalopathy and fumarase deficiency. J. Clin. Invest.
marase são derivadas de um único gene. Em pacientes 93:2514, 1994.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 575

Acetil CoA CoA O citrato é exportado da


mitocôndria para o citosol. A
Síntese citrato liase o converte em oxa
de Oxaloacetato Citrato Síntese de ácidos graxos e esteróis loacetato e acetil-CoA, um pre
aminoácidos
cursor da síntesesíntese dede ácidosácidos gra-gra
xos de cadeia longa e esteróis.
O oxaloacetato é rapidamente
Gluconeogênese Malato αCetoglutarato Síntese de aminoácidos reduzido a malato, que é con
vertido pela enzima málica em
piruvato e NADPH, uma fon
Succinil CoA Neurotransmissores te de equivalentes de redução
para processos biossintéticos
no citosol. Além disso, citrato é
Síntese do heme um efetor regulatório de outras
vias metabólicas (p. 704).
FIGURA 14.20 O ciclo TCA é uma fonte de precursores para síntese de aminoácidos,
ácidos graxos e glicose.

graxos de cadeia ímpar ou dos aminoácidos de cadeia Reações Anapleróticas Repõem


ramificada valina e isoleucina. O Succinil-CoA pode Intermediários do Ciclo dos Ácidos
ainda ser convertido em succinato ou condensado com
glicina para formar d-aminolevulinato, a reação inicial Tricarboxílicos
na biossíntese de porfirinas (p. 814).
Em seu papel no catabolismo, o ciclo TCA oxida ace
O oxaloacetato é transaminado a aspartato, o pre til-CoA com liberação de duas moléculas de CO2. Na re
cursor de asparagina e das pirimidinas citosina, uracil alidade, o oxaloacetato, o aceptor do grupo acetato, é re
e timina. O oxaloacetato é convertido em fosfoenolpi generado durante o ciclo. Entretanto, vias metabólicas
ruvato (PEP), um intermediário chave na gluconeo em todos os tecidos removem intermediários do ciclo
gênese (p. 638). O oxaloacetato não pode atravessar a para vias biossintéticas. Consequentemente, para man
membrana mitocondrial interna, mas é convertido em ter o ciclo funcional, é necessária uma fonte de ácidos
malato, que é transportado por um transportador espe de quatro carbonos para repor a perda de oxaloacetato.
cífico para fora da mitocôndria e oxidado a oxaloaceta As reações que fornecem intermediários de quatro ou
to, que é então convertido em PEP (p. 597). cinco carbonos para o ciclo são chamadas reações ana
pleróticas (significa “preencher”)
Propionil CoA (Figura 14.22). A mais importante é
catalisada pela piruvato carboxila
se, que converte piruvato e CO2 em
Metilmalonil CoA ²Cetoglutarato oxaloacetato (Figura 14.23). A enzi
ma contém uma molécula de biotina
ligada ao e-amino grupo de um resí
Metabolismo de ácidos Ciclo dos ácidos duo de lisina, por uma ligação ami
graxos de cadeia ímpar e tricarboxílicos da. A biotina liga CO2 em presença
icetoácidos de cadeia remificada COOi
de ATP e íons Mg2+, e depois o trans
CH2 fere para piruvato como um grupo
CH2
carboxila (p. 1106). Os níveis de pi
ruvato carboxilase são altos no fíga
C O do e no tecido nervoso, porque esses
S CoA tecidos têm um efluxo constante de
intermediários do ciclo TCA, que são
Succinil CoA usados para gluconeogênese no fíga
de
Biosintese
porfirina do e síntese de neurotransmissores
Ciclo dos ácidos
tricarboxílicos no tecido nervoso.
Acetoacetato
Alguns aminoácidos são fontes
Utilização de corpos cetônicos
de intermediários de quatro ou cinco
²Aminolevulinato carbonos. O glutamato é convertido
Succinato
Acetoacetil CoA pela glutamato desidrogenase em
α-cetoglutarato em mitocôndrias.
FIGURA 14.21 Fontes e destinos de succinil-CoA. Aspartato é convertido em oxaloace
576 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Aminoácidos Piruvato drias e da β-oxidação de ácidos graxos são


Acetil CoA determinantes efetivos da atividade do ciclo.
Segundo, como as desidrogenases do ciclo são
dependentes de um suprimento contínuo de
Aspartato Oxaloacetato Citrato
Aminoácidos NAD+ e FAD, suas atividades são muito estrei
tamente controladas pela cadeia respiratória,
que oxida NADH e FADH2. Como discutido na
Aminoácidos Fumarato αCetoglutarato Glutamato Seção 14.7, a atividade da cadeia respiratória
é acoplada obrigatoriamente com a geração
de ATP em reações de fosforilação oxidativa,
Succinil CoA
um processo chamado controle respiratório.
Consequentemente, a atividade do ciclo TCA é
muito dependente da velocidade de síntese de
ATP (e, portanto, da velocidade de transpor
Valina e isoleucina Propionil CoA
te de elétrons), que é fortemente afetada pela
FIGURA 14.22 Reações anapleróticas repõem intermediários do ciclo disponibilidade de ADP, fosfato e O2. Assim,
TCA. um agente inibidor ou qualquer condição me
tabólica que interrompa o suprimento de O2, o
tato por transaminação, enquanto valina e isoleucina suprimento contínuo de ADP ou a fonte de equivalentes
são quebradas a propionil-CoA, que entra no ciclo TCA de redução (por exemplo, substratos para o ciclo) re
como succinil-CoA. Aminoácidos derivados da quebra sulta em atividade diminuída do ciclo TCA. Em geral,
de músculo tornam-se uma fonte importante de malato esses mecanismos de controle do ciclo TCA fornecem
para gluconeogênese durante o jejum (p. 871). um controle grosseiro do ciclo.

Uma variedade de interações regulatórias mediadas


COOH por efetores entre vários intermediários ou nucleotídeos
CO
ATP + HCO3i
+ e enzimas individuais do ciclo foi postulada como exer
CH3 cendo um controle fino do ciclo. Alguns desses efetores
Piruvato são mostrados na Figura 14.24. Note que a relevância
fisiológica de muitas dessas interações regulatórias não
Acetil CoA (+) Piruvato Carboxilase
foi estabelecida.
COOH
A citrato sintase purificada é inibida por ATP, NADH,
CO succinil-CoA e derivados acil-CoA de cadeia longa; en
CH2 tretanto, esses efeitos não foram demonstrados em
COOi
Oxaloacetato Piruvato
NADH i i
FIGURA 14.23 Reação da piruvato carboxilase.
Acetil-CoA é um ativador essencial da piruvato carboxilase.
AcetilCoA

Citrato
Atividade
Ácidos Tricarboxílicos
do Ciclo dos Oxaloacetato i Isocitrato ATP
ADP

é Cuidadosamente
Regulada Malato αCetoglutarato
+
Ca2+ ++

Fumarato
Vários fatores regulam o ciclo
TCA. Primeiro, o suprimento de
unidades
do piruvato
acetil,
(pelasejam
glicólise)
derivadas
ou de Succinato Ca2+
+

ácidos graxos (pela β-oxidação),


NADH i
é crucial na determinação da i
Succinil CoA
velocidade do ciclo. Regulação GTP
i
do complexo
genase, do transporte
piruvatodedesidro-
ácidos

graxos para dentro das mitocôn FIGURA 14.24 Exemplos representativos de interações regulatórias do ciclo TCA.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 577

condições fisiológicas. O meio mais provável para regu rante a glicogenólise. Esses efeitos do Ca2+ asseguram
lar a reação da citrato sintase é a disponibilidade dos que o desenvolvimento de tensão e o suprimento de
substratos acetil-CoA e oxaloacetato. Como discutido, energia no tecido muscular estejam integrados, seguin
concentrações muito baixas de oxaloacetato (menores do a estimulação nervosa.
do que o Km para oxaloacetato da citrato sintase) estão
presentes nas mitocôndrias.

A isocitrato desidrogenase NAD+-ligada, frequente 14.5 ESTRUTURA E


mente considerada a enzima regulatória chave do ciclo COMPARTIMENTALIZAÇÃO
TCA, é estimulada por íons Ca2+, ADP e AMP, e é inibi
da por ATP e NADH. Consequentemente, em condições POR MEMBRANAS
de alta energia (ou seja, altas razões ATP/ADP + Pi e
NADH/NAD+),
a atividade dessa desidrogenase é inibi MITOCONDRIAIS
da. Ao contrário, durante períodos de baixa energia, a As etapas finais da quebra de carboidratos e de áci-áci
atividade dessa enzima e, consequentemente, do TCA, dos graxos localizam-se em mitocôndrias,mitocôndrias, ondeonde aa ener-ener
é estimulada. O controle respiratório pela cadeia de gia liberada durante a oxidação de NADH e FADH2 é
transporte de elétrons acoplado com a síntese de ATP, transformada em energia química de ATP pelo proces
portanto, regula o ciclo TCA na etapa da isocitrato de so de fosforilação oxidativa. Consequentemente, as
sidrogenase NAD+-ligada por afetar os níveis de ADP e mitocôndrias são frequentemente chamadas de “casa
NAD+. de força” da célula. O papel de um tecido em funções
O complexo α-cetoglutarato desidrogenase é inibi metabólicas aeróbicas e sua necessidade de energia re
do por ATP e GTP, NADH e succinil-CoA, enquanto flete-se no número e na atividade de suas mitocôndrias
Ca2+ ativa o complexo em certos tecidos. Ao contrá (Figura 14.25). O músculo cardíaco é muito aeróbico,
rio do complexo piruvato desidrogenase, o complexo precisando de um suprimento constante de ATP. Apro
α-cetoglutarato desidrogenase não é regulado por uma ximadamente metade do volume citoplasmático de cé
fosforilação mediada por proteína quinase. lulas cardíacas consiste de mitocôndrias, que contêm
numerosas invaginações da membrana interna, chama
A estimulação de ambas isocitrato e a-cetoglutarato das cristas e, consequentemente, uma alta concentra
desidrogenases por Ca2+ ocorre em concentrações que ção dos complexos enzimáticos da cadeia de transporte
inciam a contração muscular e ativam fosforilase b du de elétrons. O fígado é também muito aeróbico, com

FIGURA 14.25 Estrutura mitocondrial.


(a) Micrografia eletrônica de mitocôndrias em hepatócitos Cortesia de Dr. W. B. Winborn, Department of Anatomy, The
de fígado de rato (× 39.600). (b) Micrografia eletrônica de University of Texas Health Science Center at San Antonio,
mitocôndrias em fibras musculares de coração de coelho (x e Electron Microscopy Laboratory, Department of Pathology,
39.600). The Universty of Texas Health Science Center at San Antonio.
578 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Espaço em músculo cardíaco são oblongas ou cilíndricas e


Membrana mitocondrial intermembranas
contêm cristas mais numerosas do que as mitocôn
interna
drias do fígado.

As Membranas Mitocondriais
Interna e Externa Têm Diferentes
Composições e Funções
As mitocôndrias contêm uma membrana exter
na e uma membrana interna estrutural e funcio
Membrana mitocondrial
externa nalmente mais complexa (Figura 14.26); o espaço
Crista entre as membranas é o espaço intermembranas.
Matriz As enzimas envolvidas na transferência de energia
da ligação γ-fosforil do ATP, como adenilato quina
FIGURA 14.26 Diagrama dos compartimentos submitocondriais.
Esferas verdes representam a localização da porção F1 da ATP sintase se, creatina quinase e nucleosídeo difosfato quinase,
da membrana mitocondrial interna. estão localizadas no espaço intermembranas (Tabe
la 14.4). A membrana externa consiste em cerca de
cada hepatócito de mamíferos contendo 800–2.000 mi 30–40% de lipídeos e 60–70% de proteínas, com relati
tocôndrias. Ao contrário, eritrócitos não contêm mito vamente poucas proteínas enzimáticas ou de transpor
côndrias e obtêm energia apenas da glicólise. te. É rica na proteína integral de membrana chamada
porina (ou VDAC, canal de ânions voltagem-dependen
Mitocôndrias têm diferentes formas, dependendo te), consistindo em folhas β que formam um canal que
do tipo celular. Na Figura 14.25, as mitocôndrias do permite a passagem através da membrana de partícu
fígado são quase esféricas, enquanto as encontradas las de até 10 kDa. Monoamina oxidase e quinurenina

TABELA 14.4 Enzimas de Subcompartimentos Mitocondriais

Membrana Externa Espaço Intermembranas Membrana Interna Matriz


Monoamina oxidase Adenilato quinase Succinato desidrogenase Complexo piruvato
desidrogenase
Quinurenina hidroxilase Nucleosídeo difosfato F1F0 ATP sintase Citrato sintase
quinase
Nucleosídeo difosfato Creatina quinase NADH desidrogenase Isocitrato desidrogenase
quinase
Fosfolipase A β-Hidroxibutirato Complexo α-cetoglutarato
desidrogenase desidrogenase
Acil graxo-CoA sintetase Citocromos b, c1, c, a, a3 Aconitase
NADH:citocromo c Carnitina:acil-CoA Fumarase
redutase (rotenona transferase
insensível)
Colina fosfotransferase Adenina-nucleotídeo Succinil-CoA sintase
translocase
Transportadores de mono-, Malato desidrogenase
di- e e tricarboxilato
Transportadores de Sistema de β-oxidação de
glutamato-aspartato ácidos graxos
Glicerol 3-fosfato Glutamato desidrogenase
desidrogenase
Glutamato-oxaloacetato
transminase
Ornitina transcarbamoilase
Carbamoilfosfato sintetase I
Enzimas da síntese de heme
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 579

hidroxilase, de importância no tecido nervoso para a Reações de Oxidação-Redução


remoção de neurotransmissores, estão localizadas na
superfície externa da membrana externa. O transporte mitocondrial de elétrons consiste de
uma sequênciaência dede reaçõesreações dede oxidação-reduçãooxidação-redução liga-liga-liga
A membrana interna consiste em 80% de proteínas e das. Tais reações transferem elétrons de um doador
é rica em ácidos graxos insaturados. Além disso, a car de elétrons adequado (redutor) para um aceptor de
diolipina (difosfatidilglicerol) está presente em altas elétrons adequado (oxidante). Em algumas reações de
concentrações. Os complexos enzimáticos do transpor oxidação-redução, apenas elétrons são transferidos do
te de elétrons e da fosforilação oxidativa localizam-se redutor para o oxidante (por exemplo, transferência de
nessa membrana, bem como várias desidrogenases e elétrons entre citocromos).
diversos sistemas de transporte envolvidos na trans
ferência de substratos, intermediários metabólicos e Citocromo c (Fe2+) + citocromo a (Fe3+) →
adenina-nucleotídeos entre o citosol e a matriz. A mem citocromo c (Fe3+) + citocromo a (Fe2+)
brana interna parece ser invaginada em dobras ou cris
tas, que aumentam a área de superfície (Figura 14.26). enquanto em outros, ambos elétrons e prótons (átomos
de hidrogênio) são transferidos (por exemplo, transfe
O espaço dentro da membrana interna, a matriz, rência de elétrons entre NADH e FAD).
contém as enzimas do ciclo TCA, com exceção da suc
cinato desidrogenase, que fica ligada à membrana in NADH + H+ + FAD → NAD+ + FADH2
terna, as enzimas da oxidação de ácidos graxos e algu Um oxidante e um redutor formam uma dupla redox,
mas enzimas da síntese de porfirina (p. 814) e de ureia
ou par. A facilidade com que um doador de elétrons (re
(p. 779). Além disso, DNA mitocondrial (mtDNA), dutor) doa seus elétrons para um aceptor de elétrons
ribossomos e proteínas necessárias à transcrição do (oxidante) é expressa como o potencial de oxidação-re
mtDNA e à tradução do mRNA localizam-se na matriz. dução do sistema. Isso é medido em volts, como uma for
ça eletromotiva (emf) de uma hemicélula composta de
um par de oxidação-redução, quando comparada a uma
14.6 CADEIA DE TRANSPORTE hemicélula padrão de referência (geralmente a reação do
eletrodo de hidrogênio). O potencial do eletrodo de hi
DE ELÉTRONS drogênio padrão é estabelecido, por convenção, em 0,0V
Durante as reações de oxidação de ácidos graxos em pH 0,0; entretanto, em sistemas biológicos nos quais
e do ciclo TCA, equivalentes de redução derivados da o pH é 7,0, o potencial de referência do hidrogênio é –0,42
oxidação de substratos são transferidos para NAD+ e V. Os potenciais para uma variedade de importantes re
FAD (formando NADH e FADH2) que são, então, oxida ações bioquímicas são tabulados na Tabela 14.5. Para in
dos na cadeia de transporte de elétrons, um sistema de terpretar os dados da tabela, lembre-se que o redutor de
um par redox com um potencial negativo grande doará
transportadores de elétrons localizados na membrana
interna (Figura 14.27). Em presença de O2, a cadeia de seus elétrons mais facilmente do que pares redox com
transporte de elétrons converte equivalentes de redu potenciais negativos menores ou positivos. Compostos
ção em energia utilizável, como ATP, por fosforilação com potenciais negativos grandes são agentes redutores
oxidativa. A oxidação completa de NADH e FADH2 na fortes. Ao contrário, um oxidante forte (por exemplo,
um caracterizado por um potencial positivo grande) tem
cadeia de transporte de elétrons produz aproximada
mente 2,5 e 1,5 moles de ATP por mole de equivalente uma afinidade muito alta por elétrons e oxida compostos
de redução transferido para O2, respectivamente. com potenciais padrões mais negativos.

Complexo I

NADH desidrogenase
_1
FMN 2 O2 H2O
Centros Fe-S Complexo III Complexo IV

NADH:ubiquinona (Q)
Complexo de citocromo bc1 Complexo de citocromo aa3
óxido redutase
Reserva de Heme tipo 2b Heme tipo 2a
Citocromo c
UQ/UQH2 Centro Fe-S Rieske Íons Cu
Heme tipo c (cyt c1)
Complexo II
Ubiquinol (QH2):citocromo c Citocromo c oxidase
Succinato desidrogenase óxido redutase
FAD (covalente)
Centros Fe-S
Heme tipo b

óxido redutase

FIGURA 14.27Visão geral dos complexos e das vias de transferência de elétrons na cadeia mitocondrial de transporte de
elétrons.
580 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

TABELA 14.5 Potenciais Padrões de Oxidação-Redução para Várias Reações Bioquímicas


Potencial Padrão de Oxidação
Sistema de Oxidação-Redução -Redução
E!0 (V)

Acetato + 2H+ + 2e–  acetaldeído –0,60

2H+ + 2e–  H2 –0,42

Acetoacetato + 2H+ + 2e–  β-hidroxibutirato –0,35

NAD+ + 2H+ + 2e–  NADH + H+ –0,32

Acetaldeído 2H+ + 2e–  etanol –0,20

Piruvato 2H+ + 2e–  lactato –0,19

Oxaloacetato 2H+ + 2e–  malato –0,17

Coenzima Qox
Citocromo b (Fe3+)
+ 2e–+e–coenzima
 citocromo
Qred b (Fe2+) +0,10

+0,12

Citocromo c (Fe3+) + e–  citocromo c (Fe2+) +0,22

Citocromo a (Fe3+) + e–  citocromo a (Fe2+) +0,29

½O2 + 2H+ + 2e–  H2O +0,82

A equação de Nernst caracteriza a relação entre po Variações de Energia Livre em Reações


tencial de oxidação-redução padrão de um par redox Redox
(E′0), potencial observado (E) e a razão de concentra
ções entre oxidante e redutor do sistema. Diferenças em potencial de oxidação-redução entre
dois pares redox sãosão semelhantessemelhantes àsàs variaçõesvariações dedede ener-ener-ener
E = E′0 + 2,3 (RT/nf)log([oxidante]/[redutor]) gia livre em reações químicas porque ambas as quanti
dades dependem da concentração de reagentes e pro
onde E é igual ao potencial observado e E′0 é o poten
cial padrão quando todos os reagentes estão presentes dutos da reação, e existe a seguinte relação:
em condições padrão. R é a constante dos gases de
DG0! =–nfDE′0
8,3 J/mol × °K, T é temperatura absoluta em unidades
kelvin (K), n é o número de elétrons sendo transferidos Usando essa expressão, a variação de energia livre
e f é a constante de Faraday de 96.500 J/V. para reações de transporte de elétrons pode ser cal
culada se a diferença de potencial entre dois pares de
A partir dos potenciais padrões de oxidação-redu oxidação-redução for conhecida. Portanto, para a ca
ção de uma grande variedade de reações bioquími deia de transporte de elétrons mitocondrial, na qual
cas, é possível prever a direção do fluxo de elétrons ou elétrons são transferidos entre o par NAD+–NADH
a transferência quando mais do que dois pares redox (E′0 = –0,32 V) e o par½ O2–H2O (E′0 = +0,82 V), a varia
estão ligados pela enzima apropriada. Por exemplo, a ção de energia livre para esse processo pode ser calculada.
Tabela 14.5 mostra que o par NAD+–NADH tem um
potencial padrão de –0,32 V, e o par piruvato-lactato DG0! = nfD E′0 = –2 × 96,5 kJ/V × 1,14 V
tem um potencial padrão de –0,19 V. Isso significa que
elétrons fluirão de NAD+–NADH para piruvato-lactato, DG0! =–219 kJ/mol
contanto que a lactato desidrogenase esteja presente, na qual 96,5 é a constante de Faraday em kJ/V e n é o
como indicado aqui. número de elétrons transferidos; por exemplo, no caso
Piruvato + NADH + H+ → lactato + NAD+ do NADH → O2, n = 2. A energia livre disponível pela
diferença de potencial entre NADH e O2 na cadeia de
Equivalentes de redução são produzidos em rea transporte de elétrons é capaz de gerar energia mais do
ções de desidrogenases ligadas a NAD+ e FAD, que têm que suficiente para sintetizar três moléculas de ATP por
potenciais padrões iguais ou próximos aos do NAD+– dois equivalentes de redução ou dois elétrons transpor
NADH. Os elétrons são subsequentemente transferidos tados para O2. Além disso, por causa do sinal negativo
pela cadeia de transporte de elétrons, que tem como da energia livre disponível na transferência de elétrons,
seu aceptor final o par O2–água,água, comcom umum potencialpotencial re-re esse processo é exergônico e acontece, se as enzimas
dox padrão de +0,82 V. necessárias estiverem presentes.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 581

Transporte Mitocondrial de Elétrons consistem de transportadores de elétrons que incluem


flavoproteínas, que contêm FMN ou FAD fortemente li
É um Sistema com Múltiplos gados e que podem transferir um ou dois elétrons, as
c, a e a3), contendo
proteínas que transferem um elétron (citocromos
heme citocromos do Fe2+ b, c1,
Componentes do heme,
As etapas finais da oxidação geral de alimentos – proteínas ferro-enxofre, que contêm Fe e Sinorgânicos
carboidratos, gorduras e aminoácidos – resultam na ligados e transferem um elétron, e cobre no comple
formação de NADH e FADH2 na matriz. A cadeia de xo IV (citocromo c oxidase), que transfere um elétron.
transporte de elétrons oxida esses cofatores reduzidos UQ participa de reações que transferem um ou dois elé
transferindo elétrons, em uma série de etapas, para O2, trons.
o aceptor final de elétrons, enquanto captura a energia
livre das reações para dirigir a síntese de ATP (Figura
14.27). Durante a remoção de elétrons das coenzimas,
Complexo I: NADH-Ubiquinona
prótons são bombeados da matriz para o espaço inter Óxido-redutase
membranas, para formar um gradiente eletroquímico
através da membrana interna, que fornece energia para O complexo I, o mais complicado encontrado em
síntese de ATP. Os transportadores que transferem elé mitocôndrias de mamíferos, contém pelo menos 40 po
trons do NADH para O2 têm potenciais redox padrões lipeptídeos diferentes, com uma massa total de apro
que cobrem a faixa de –32 V, o do doador de elétrons ximadamente 1 MDa. Um complexo I mais simples
mais eletronegativo NADH, até +0,82 V, o do aceptor contendo 14 subunidades, que catalizam reações seme
de elétrons mais eletropositivo O2 (Figura 14.28). Os lhantes de transferência de elétrons e bombeamento
transportadores de elétrons mitocondriais, entretanto, de prótons, está presente em membranas bacterianas,
não são organizados em um arranjo linear, mas ficam onde a estrutura e a atividade enzimática foram inten
agrupados em quatro grandes complexos (complexos I– samente investigadas. O complexo I transfere elétrons
IV), que catalisam diferentes reações parciais da cadeia do NADH para a ubiquinona (coenzima Q), acoplado
ao transporte de quatro prótons através da membrana,
de transporte de elétrons (ver Figura 14.27).
contribuindo assim para a força próton-motiva necessá
O complexo I, NADH-ubiquinona óxido-redutase, ria para a síntese de ATP. Ambas as formas do comple
catalisa a transferência de elétrons do NADH para a xo I, de mamífero e bacteriana, possuem uma estrutura
ubiquinona (UQ) ou coenzima Q (CoQ); o complexo característica em L, com um longo braço hidrofóbico lo
II, succinato-ubiquinona óxido-redutase ou succinato calizado na membrana e um braço periférico hidrofílico
desidrogenase, transfere elétrons do succinato para a que se projeta na matriz mitocondrial (Figura 14.29).
coenzima Q; o complexo III, ou o complexo citocromo Elétrons são transferidos do NADH para FMN, flavina
bc1, ubiquinol-citocromo c redutase, transfere elétrons mononucleotídeo (ver Figura 10.32, p. 406), que está
do ubiquinol (forma reduzida da ubiquinona, denotada fortemente ligada a uma subunidade no braço hidrofíli
como CoQH2 ou UQH2) para o citocromo c; e o comple co do complexo I.
xo IV, citocromo c oxidase, transfere elétrons do cito
NADH + H+ + FMN → NAD+ + FMNH2
cromo c para o O2 (ver Figura 14.27). Outro complexo, a
ATP sintase, ou complexo V, usa a energia do gradiente Os elétrons são então transferidos, um de cada vez,
eletroquímico para a síntese de ATP. Os complexos I–IV via uma série de centros FeS, de ambos os tipos 2Fe2S
e 4Fe4S (Figura 14.30), localiza
dos em diferentes subunidades
−0.4 FeS do braço hidrofílico do complexo
NAD+/NADH FMN FeS Sítio I de I. Esses grupos de ferro-enxofre
o
−0.2 fosforilação subsequentemente reduzem uma
ã
u
ç Coenzimq Q Citocromo b ubiquinona embebida na membra
d
e 0 FeS CoenzimqQH2 FeS Sítio II de na para formar ubiquinol (Figura
r-
o fosforilação
ãç 14.31). Durante a transferência
a
d
i +0.2
x
Citocromo Citocromo c/Citocromo c Cytochrome a de dois elétrons para ubiquinona
o
e c1 Fe3+ Fe2+ Cu2+ pelo complexo I, quatro prótons
d
l são também deslocados através da
a
ic
n
e a Sítio III de membrana interna para o espaço
t +0.6 Citocromo 3 fosforilação intermembranas por um mecanis
o
P +0.4
mo que sugere envolver proteínas
+0.8 O2/H2O localizadas no braço hidrofóbico
da membrana do complexo I.
FIGURA 14.28 Potenciais de oxidação-redução dos transportadores da cadeia
mitocondrial de transporte de elétrons listados do mais negativo (NAD+/NADH) Demonstrou-se que mutações
para o mais positivo (O2/H2O). nas subunidades do complexo Ile
582 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

FIGURA 14.29 Modelo da estrutura cristalina do domínio hidrofílico do


complexo I.
(a) Visão lateral com o braço da membrana localizado abaixo e estendendo para
a direita. Cada subunidade é representada por uma cor, com FMN indicado por
esferas vermelhas. (b) Visão indicando a ligação proposta do domínio periférico
com o domínio da membrana do complexo I.
Reproduzido com permissão de Sazanov, L. A. Biochemistry 46:2276, 2007.
Copyright© (1977) por American Chemical Society.

O
CH3
CH3O CH3 CH3

O Coenzima oxidada CH2]nH


[CH2 QCHC
O

ei + H+

(a)
OH
CH3
CH3O CH3 CH3

O . [CH2 CHCCH2]nH

O
Forma semiquinona de coenzima Q (radical livre)

ei + H+

OH
CH3
CH3O OH CH3
CH3
(b) O [CH2 CHC CH2]nH

vam a várias doenças neurodegenerativas. Além disso, Coenzima Q reduzida


demonstrou-se que o complexo I é uma importante fon-fon
fon
te
danificar
de espécies
o DNAreativas
mitocondrial
de oxigênio
e que podem
(ROS) que
ser apodem
causa FIGURA 14.31 Oxidação-redução de ubiquinona
(coenzima Q).
do envelhecimento (ver Seções 14.9 e 14.10). Note que ubiquinona pode aceitar um elétron por vez, forman
do um intermediário semiquinona.

Cys Cys
Cys
Cys
Cys
Cys Cys
Cys Cys
Cys
Fe1S0Cys4 Fe2 Cys
S2Cys4

Cys

Fe4S4Cys4

Enxofre
Ferro

Enxofre em cisteina

FIGURA 14.30 Estruturas dos centros ferro-enxofre.


Amarelo, enxofre inorgânico; cinza, enxofre em cisteína; e vermelho, ferro.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 583

Complexo II: Succinato-Ubiquinona Glicerol 3-fosfato + FAD →


di-hidroxiacetona fosfato + FADH2
Óxido-Redutase
Essa flavoproteína, uma única cadeia polipeptídi
O complexo II, mais conhecido como succinato desi ca, localiza-se na face externa da membrana interna
drogenase, é constituído por uma subunidade de 70 kDa e transfere elétrons diretamente para a ubiquinona,
que contém FAD covalentemente ligado a um resíduo na membrana. A importância da glicerol 3-fosfato de
de histidina, uma subunidade de 30 kDa que contém sidrogenase no transporte de equivalentes de redução
três centros ferro-enxofre, e duas pequenas proteínas do NADH do citosol para a cadeia de transporte de elé
hidrofóbicas. Na oxidação de succinato a fumarato, dois trons mitocondrial será discutida na Seção 14.8.
elétrons e dois prótons são transferidos para o FAD (Fi
gura 14.32). O FADH2 transfere elétrons para ubiquino A acil-CoA desidrogenase, uma flavoproteína que
na via centros FeS do complexo II nas reações. catalisa a primeira etapa da β-oxidação de ácidos gra
xos, transfere elétrons do acil graxo-CoA para FAD, que
Succinato → fumarato + 2 H+ + 2 e– depois transfere elétrons para a flavoproteína transferi
UQ + 2 H+ + 2 e– → UQH2 dora de elétrons (ETF, electron transferring flavopro
tein). Os elétrons são, então, transferidos da ETF para
Geral Succinato + UQ → fumarato + UQH2 ETF-ubiquinona óxido-redutase, que transfere elétrons
DE0! = 0,029 V DG0! =–5,6 kJ mol–1 diretamente para a ubiquinona na membrana interna.
A Figura 14.32 ilustra a redução do total de ubiquinona
A quantidade de energia livre liberada nessas reações pelo complexo I, pelo complexo II, pela glicerol 3-fosfato
é insuficiente para o bombeamento de prótons através desidrogenase e pela ETF-ubiquinona óxido-redutase.
da membrana, de modo que nenhum ganho de energia O ubiquinol é, em seguida, oxidado pelo complexo III.
livre acontece no complexo II. A Figura 14.32 fornece
uma representação esquemática desses eventos.

Outras Desidrogenases Flavoproteínas Complexo III: Ubiquinol-Citocromo c


Mitocondriais Óxido-Redutase
Outras desidrogenases mitocondriais fornecem elé O complexo III, ou complexo citocromo bc1, catalisa
trons para a cadeia de transporte de elétrons no nível a transferência de dois elétrons do ubiquinol para o cito
da ubiquinona. Glicerol 3-fosfato, formado a partir do cromo c, com o deslocamento de quatro prótons através
glicerol liberado por hidrólise de triacilgliceróis ou por da membrana. Em mamíferos, esse complexo enzimáti
redução da di-hidroxiacetona fosfato produzida duran co é composto por 11 subunidades, das quais três têm
te a glicólise, é oxidado pela glicerol 3-fosfato desidro grupos prostéticos que funcionam como centros redox.
genase (Figura 14.32). Estes são o citocromo b, que contém dois hemes, b562
e b566; o citocromo c1, que contém um
Glicerol 3fosfato grupo heme; e a proteína ferro-enxofre
Rieske, que contém um grupo 2Fe2S.
Espaço intermembranas
FAD Lado P A resolução da estrutura completa do
complexo III por cristalografia de raios
-X foi conseguida recentemente (Figura
14.33). O complexo dimérico (250 kDa
FeS FeS UQ
FeS
para cada monômero) tem forma de
FeS pera e tem um grande domínio que se
projeta 75 Å na matriz mitocondrial, e
FMN FAD Matriz um domínio menor contendo os grupos
Lado N
FeS de cabeça da proteína ferro–enxofre
FAD
Succinato Rieske e o citocromo c1 projetando-se
NADH NAD+
no espaço intermembranas. O domínio
ETF
transmembrânico de cada monômero do
complexo III é composto por oito α-hé
lices da proteína hidrofóbica citocromo
FAD b, mais as hélices de ancoragem à mem
brana da proteína ferro–enxofre Rieske,
o citocromo c1, e outras subunidades de
Acil graxo CoA
cada monômero. A oxidação do ubiqui
FIGURA 14.32 Redução da ubiquinona (UQ) na membrana mitocondrial nol ocorre no sítio QO, localizado no lado
interna pelas flavoproteínas NADH, succinato, glicerol 3-fosfato e acil P da membrana mitocondrial, voltado
graxo-CoA desidrogenases. para o espaço intermembranas, com a
584 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

FIGURA 14.33 Modelo da estrutura


cristalina do complexo dimérico
citocromo bc1.
As α-hélices do citocromo b (verde cla
ro) formam o domínio transmembrânico
do complexo. O complexo se projeta 75 Å
para a matriz e 38 Å para o espaço inter
membranas. As cores que identificam as
subunidades são mostradas à esquerda.
ISP é proteína ferro–enxofre.
Reproduzido com permissão de Kim, H.,
Xia, D., Yu, C.-A., Xia, J.-Z., Kachurin,
A. M., Zhang, L., Yu, L. e Deisenhofer, J.
Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95:8026, 1998.
Copyright© 1998, National Academy of
Sciences, USA. Figura generosamente ce
dida por Dr. J. Deisenhofer.

transferência de um elétron para a proteína ferro–enxo Citocromos


fre e do segundo elétron para bL e bH, com a liberação de
dois prótons no espaço intermembranas. O mecanismo Os citocromos são proteínas que contêm um grupo
proposto para a transferência de elétrons e prótons no heme fortemente ligado à proteína (p. 814). Ao contrá
complexo III, denominado ciclo Q, é descrito na Figura rio do heme da hemoglobina ou da mioglobina, no qual
14.34 e no Um Olhar Mais Atento 14.1. o ferro do heme permanece no estado Fe2+ durante o
transporte de oxigênio, o ferro do heme de um cito
cromo é alternadamente oxidado (Fe3+) ou reduzido
[Q Espaço (Fe2+), quando funciona na cadeia de transporte de elé
2H+ Intermembranas
Stig Lado P
trons. Os citocromos de mitocôndrias de mamíferos são
–p•] e–
designados por a, b, e c, com base na banda α de seu
Sítio Q0 Q ISP C1 C
espectro de absorção e no tipo de grupo heme ligado
Sítio Q1 Q Q
bLe–2H+ Myxo à proteína (Figura 14.35). A banda de absorção e o po
QH2 tencial redox padrão dependem da estrutura do heme
e de seu ambiente na proteína. O citocromo b e outros
citocromos tipo b contêm o mesmo ferro–protoporfiri
bH
na IX (Figura 14.35) encontrado na hemoglobina e na
Anti
mioglobina; entretanto, esses hemes ficam mergulha

n• QH2 dos na membrana e não podem ligar O2. Os citocromos
tipo c contêm heme c, que é covalentemente ligado a
Matriz
LAdo N dois resíduos de cisteína da proteína por ligações tioés
ter envolvendo cadeias laterais vinil da protoporfirina
FIGURA 14.34 O ciclo Q. IX. Os citocromos tipo a contêm heme a, uma forma
O ubiquinol (QH2) é oxidado com a transferência de um elé modificada da protoporfirina IX (p. 815-816), na qual
tron para a proteína ferro–enxofre, liberação de dois prótons um grupo formil e uma cadeia lateralisoprenoide foram
no espaço intermembranas e formação da semiquinona (Q–p·)
no
marlado
umaQO,semiquinona
que transfere
(Q–n·)
elétrons
no via hemes bL e bH para for
adicionados. Duas formas de citocromo a estão presen
sítio Qi. Uma segunda molécula tes na citocromo c oxidase, complexo IV.
de QH2 é oxidada no sítio QO, com liberação de dois prótons e
transferência de um elétron para a proteína ferro–enxofre e
para Q–n· para formar QH2, com a captação de dois prótons da
matriz. São indicados sítios de inibidores mixotiazol (Myxo),
stigmatelina (Stig) e antimicina (Anti).
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 585

UM OLHAR MAIS ATENTO 14.1

O Ciclo Q para Transferência de Elétrons e Bombeamento de Prótons no Complexo III

O complexo III contém dois hemes tipo b, um bL de um elétron para o heme do citocromo c1. O ânion ubi
potencial alto (+0,50 V) e um bHde potencial baixo (0,10 semiquinona fortemente redutor, formado no sítio QO
V), mais o citocromo c1. A transferência de elétrons por após a transferência do primeiro elétron do ubiquinol,
esse complexo é mais bem explicada pelo ciclo Q, no rapidamente transfere um elétron para o citocromo bL,
qual quatro prótons são deslocados através da mem que então transfere um elétron para o heme de alto po
brana para cada dois elétrons transferidos do ubiquinol tencial do citocromo bH no lado Qi. O citocromo bH re
para o citocromo c (Figura 14.38). Para que a transfe duzido então transfere esse elétron para ubiquinona no
rência de elétrons continue, são necessários dois sítios sítio Qi, para formar uma ubisemiquinona estável. Para
de ligação de ubiquinona ou ubiquinol no complexo bc1: completar o ciclo Q, uma segunda molécula de ubiqui
um sítio de oxidação de ubiquinol (QO), envolvendo o nol é oxidada no sítio QO, com a liberação de outros dois
heme b de baixo potencial (heme bL), localizado no lado prótons e a transferência de um elétron para a proteína
positivo (P) da membrana, onde inibidores como mi ferro–enxofre e o segundo elétron para o heme bL. O
xotiazol e stigmatelina se ligam; e um sítio redutor de heme bL transfere um elétron para bH e finalmente para
ubiquinona (Qi), envolvendo o heme b de alto potencial a ubisemiquinona do sítio Qi para formar ubiquinol, com
(heme bH) localizado no lado negativo (N) da membra a captação de dois prótons da matriz. O ciclo Q explica
na, onde inibidores como antimicina se ligam. Oxidação como, durante a oxidação de dois ubiquinóis no sítio QO,
de ubiquinol no sítio QO resulta na transferência de um quatro prótons são liberados no espaço intermembra
elétron para o grupo 2Fe2S da proteína ferro–enxofre, nas, enquanto dois prótons são captados do lado da ma
com a liberação de dois prótons para o espaço inter triz para reduzir ubiquinona no sítio Qi, um rendimento
membranas. A proteína ferro–enxofre então transfere final de dois prótons liberados por ubiquinol oxidado.

CH3 CH3 CH3

CH2 C CH2 C CH C

CHCH2 CH CH2 CH CH2 2 CH CH3

HO CH3

H3C CH CH2

N N

Fe3+

N N CH

O C 3

H
CH2 CH2
Proteína
HOOC CH2 CH2COOH
Cys (14)
Heme a
CH2 S Cys (17)

CH CH3 H C CH3 CH3


S

H3C CH CH2 H3C C CH3

N N N N H
Fe3+ Fe3+

H N N CH N N

3C CH3 3 CH3

CH2 CH2 CH2 CH2

HOOCCH2 CH2COOH HOOC CH2 CH2COOH


FIGURA 14.35 Estruturas dos heme a,
heme b e heme c. Heme b Heme c
586 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Citocromo cÉ um Transportador Móvel de O citocromo c, como a ubiquinona, é um transpor


Elétrons tador móvel de elétrons. É ligado fracamente por for
ças eletrostáticas à face externa da membrana interna,
Elétrons são transferidos pelo complexo III por cito onde se liga ao citocromo c1 do complexo III e aceita
cromo c, uma proteína hidrofílica globular de 13 kDa. elétrons dele. O citocromo c reduzido, então, se move ao
O grupo heme planar localiza-se no meio da proteína, longo da superfície da membrana para interagir com a
circundado por resíduos hidrofóbicos e covalentemente subunidade II da citocromo c oxidase, por ligações ele
ligado a dois resíduos conservados de cisteína, por meio trostáticas, e doa elétrons ao sítio CuA.
de ligações vinil éter (Figura 14.35). O ferro do heme é
coordenado com um nitrogênio de uma histidina e um
átomo de enxofre de uma metionina, impedindo assim Complexo IV: Citocromo c Oxidase
a interação do heme com O2 (Figura 14.36).
O complexo IV transfere elétrons do citocromo c
para O2, o aceptor final de elétrons, para formar água,
acoplado ao deslocamento de prótons através da mem
Proteína
brana. Esse complexo de mamíferos é composto por 13
subunidades, com uma massa total de 200 kDa, e con
tém dois citocromos, a e a3, e dois centros de cobre,
conhecidos como CuA e CuB. Uma citocromo c oxidase
CH3 S Metioninai80
mais simples, contendo apenas três ou quatro subu
nidades, que catalisa reações semelhantes de trans
N N
ferência de elétrons e bombeamento de prótons, está
presente em membranas bacterianas. As três subuni
Fe3+
dades são homólogas às três subunidades maiores da
citocromo c oxidase de mamíferos, que são codificadas
pelo DNA mitocondrial (mtDNA). As demais subunida
N N des do complexo IV são codificadas pelo DNA nuclear
e podem ser subunidades regulatórias ou funcionar na
N montagem do complexo.
Histidinai18

N A estrutura cristalina de uma citocromo c oxidase


bacteriana e do complexo IV isolado de mitocôndrias de
coração bovino foi esclarecida (Figura 14.37). A subu
Proteína nidade I, a maior, contém 12 hélices transmembrânicas,
mas não tem nenhum domínio extramembrânico signi
ficativo. Dois grupos heme, a e a3, são ligados à subuni
FIGURA 14.36 Seis posições de coordenação do
citocromo c.

FIGURA 14.37 Modelo da


estrutura cristalina da
citocromo cdenitrificans.
Paracoccus oxidase da bactéria

A subunidade I (12 hélices trans


membrânicas) é amarela, a subuni
dade II (duas hélices transmembrâ
nicas) é púrpura, e a subunidade III
(sete hélices transmembrânicas)
é azul, com um fosfolipídeo mer
gulhado em rosa. O fragmento de
anticorpo usado para direcionar a
cristalização é azul claro.
Reproduzido com permissão de
Iwata, S., Ostermeier, C., Lu
dwig, B., Michel, H., et al. Nature
376:660, 1995. Copyright© (1995),
Macmillan Magazines Limited. Fi-
gura generosamente cedida pelo
Professor S. Iwata.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 587

dade I, com o heme coordenado por átomos de nitrogê Aceita-se, atualmente, que a transferência de dois elé
nio de resíduos conservados de histidina. Os planos de trons do NADH para O2 resulte no deslocamento de 10
ambos os hemes ficam perpendiculares à membrana. A prótons através da membrana, quatro em cada um dos
subunidade Itambém contém um átomo de cobre (CuB) complexos I e IV e dois no complexo III. O gradiente ele
que, com o heme a3, forma um centro binuclear envolvi troquímico assim formado fornece a energia potencial
do na transferência de elétrons do heme a para O2 (Fi que é usada para direcionar a síntese de ATP pela ATP
gura 14.38). A subunidade II tem um domínio grande sintase (p. 589).
que se projeta da face citosólica da membrana interna,
onde se liga citocromo c reduzido, e contém dois átomos
de cobre ligados por grupos sulfidrila a dois resíduos de 4Cytc
cisteína (chamados CuA). A subunidade III contém sete Espaço intermembranas
Fe Lado P
hélices transmembrânicas com domínios extramemb- 4ei
rânicos insignificantes, mas nãonão possuipossuipossui nenhumnenhumnenhum trans-trans-trans 4H+
portador redox. As subunidades II e III localizam-se em CuA 4ei
lados opostos da subunidade I; o papel da subunidade III
não está esclarecido. Elétrons são transferidos do cito
cromo c reduzido primeiro para o sítio CuA, depois para Fe
o heme a e, finalmente, para o centro binuclear conten
do CuB e heme a3, onde ocorre a transferência de quatro 4ei Membrana
elétrons para o oxigênio (Figura 14.39 e Um Olhar Mais
Atento 14.2). A transferência de quatro elétrons para
Fe CuB
formar água resulta na captação de quatro prótons da
matriz para reduzir oxigênio e no movimento de quatro
prótons através da membrana mitocondrial, contribuin
do com o gradiente eletroquímico (Figura 14.39).
4H+ O2 2H2O 4H+ Matriz
Lado N
(Substrato) (bombeado)

His His
FIGURA 14.39 Vias de transferência de elétrons pela
2+
CuB N N citocromo c oxidase.
Fe3+ His
O citocromo c liga-se à superfície da subunidade II e transfe
His L
re elétrons para o CuA. Elétrons são transferidos de CuA para
N N heme a e, depois, para o centro binuclear (heme a3 e CuB),
onde oxigênio é reduzido a água. Quatro prótons são trans
feridos para o centro binuclear para redução de oxigênio, e
quatro prótons são bombeados através da membrana por um
&REUH´%µ +HPHa canal diferente.

FIGURA 14.38 Centro binuclear da citocromo c oxidase A Figura 14.40 indica os sítios onde inibidores es
indicando heme a3 e CuB. L é um ligante desconhecido, pecíficos se ligam e bloqueiam o fluxo de elétrons. Ro
mas proposto. tenona, um inseticida comumente usado, liga-se este
quiometricamente ao complexo I e impede a redução da
ubiquinona. Piericidina, Amital e outros barbituratos,
Inibidores da Cadeia de Transporte incluindo halotanos usados em anestésicos, também
de Elétrons inibem o complexo I por impedirem a transferência de
elétrons dos centros ferro-enxofre para a ubiquinona. O
Uma imagem dinâmica da cadeia de transporte de complexo II é inibido por carboxina e tenoiltrifluoroace
elétrons se desenvolveu com a ampliação do conheci tona, bem como por malonato, que atua como inibidor
mento da química detalhada dos diferentes complexos competitivo do substrato succinato. Antimicina, um an
da cadeia respiratória (Figura 14.40). Cada complexo tibiótico, inibe a transferência de elétrons pelo comple
existe independentemente na membrana interna e é xo III por se ligar ao sítio Qi e bloquear a transferência
livremente móvel. Os complexos I e II, e as outras fla de elétrons do heme bH do citocromo para a ubiquinona.
voproteína desidrogenases, difundem na membrana e Outros antibióticos, como mixotiazol e a stigmatelina,
transferem elétrons para a ubiquinona da membrana inibem a transferência de elétrons pelo complexo III
(pool). O ubiquinol também se difunde livremente na por se ligarem ao sítio QO e bloquearem a transferência
membrana e é oxidado pelo complexo III. Elétrons são de elétrons do ubiquinol para o centro 2Fe2S da prote
transferidos do complexo III para o citocromo c, que se ína ferro–enxofre. O complexo IV é inibido por cianeto
move ao longo da superfície da membrana até o com (CN–), azida (N3–), H2S e monóxido de carbono (CO).
plexo IV, onde seus elétrons são transferidos para O2. Cianeto e azida ligam-se fortemente à forma oxidada do
588 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

UM OLHAR MAIS ATENTO 14.2

Vias de Transferência de Elétrons no Complexo IV

Elétrons são transferidos do citocromo c reduzido de quatro prótons da matriz, para formar água. Como
para o sítio CuA na subunidade II e, depois, para o heme todos os transportadores redox presentes no complexo
a na subunidade I do complexo IV (Figura 14.43). O para
IV sãoágua
transportadores
requer quatro um elétron
deelétrons, as ereações
a redução
catalisa
de O2
Cu
mitindo
A e o heme
rápida
a são
transferência
localizadosdea 1,5
elétrons.
Å umum dodo
Elétrons
outro,outro, per-per
são, das pelo complexo IV evoluíram para impedir a libera
então, transferidos para o centro binuclear, constituído ção de intermediários tóxicos de oxigênio parcialmente
por CuB e heme a3, onde ocorre a transferência final de
elétrons reduzidos, tais como superóxido, peróxido de hidrogê
feridos parauum
ar, formando
para m2O
O . Inicialmente, dois elétrons são trans nio ou radicais hidroxila (ver Seção 14.10). Todos os in
Dois elétrons adicionais
derivado
2 fortemente
sãoperóxido
transferidos
ligadodoao oxigênio
centro
com captação
binucle fortemente ligados
termediários formados na redução
ao centro binuclear
do Oe 2são
permanecem
(O22–). impedidos
de se dissociar até que água seja produzida.

Espaço Matriz
intermembranas mitocondrial
mitocondrial
Ciclo dos ácidos tricarboxílicos

Malato
α–Cetoglutarato
4 H+
Isocitrate
NADH
FMN Succinato
Complexo I 1
Fe S(4)
Piruvato

FAD
Complexo II α–Glicerol fosfato (FAD)
Fe S
Oxidação de ácidos graxos
e corpos cetônicos
Coenzima
Q
β –Hidroxibutirato
β –Hidroxiacil CoA
2 H+ FAD
Citocromo b
Acil Graxo CoA
2Fe 2S
Complexo III 2

Citocromo c1

FIGURA 14.40 Visão geral


Citocromo
c Sítio Inibidores da cadeia mitocondrial
Halotanos
Amital
Rotenona de transporte de elétrons
1 indicando a localização dos
complexos I-IV, ubiquinona
(CoQ) e citocromo c na
Antimicina A membrana interna, vias de
Citocromo 2 Mixotiazol
3 a1 a3 Stigmatelina transporte de elétrons e
Complexo IV (Cu) sítios de ligação de inibidores
específicos.
Monóxidlo de carbono
4 H+ 3 Os sítios de ligação de inibido
Azida sódica
Cianeto de potássio res específicos nos complexos
1/2 O2 + 2H+
são indicados no complexo I
(rotenona, amital e halotanos),
no complexo III (antimicina A,
H2O
mixotiazol e stigmatelina) e no
complexo IV (monóxido de car
bono, azida sódica e cianeto de
potássio).
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 589

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.3

Envenenamento por Cianeto


Inalação de cianeto de hidrogênio gasoso ou ingestão moglobina em meta-hemoglobina por oxidação de Fe2+
de cianeto de potássio causa uma rápida e intensa ini da hemoglobina para Fe3+. A meta-hemoglobina (Fe3+)
bição da cadeia mitocondrial de transporte de elétrons, compete com o citocromo a3 (Fe3+) pelo cianeto, for
na etapa da citocromo c oxidase. Cianeto é um dos ve mando um complexo meta-hemoglobina-cianeto. Ad
nenos mais potentes e rápidos que se conhece. Liga-se ministração de tiossulfato leva o cianeto a reagir com
ao Fe3+ do heme a3 da citocromo c oxidase, que catalisa a enzima rodanese, formando tiocianato não-tóxico. A
a etapa final da cadeia de transporte de elétrons. A res citocromo c oxidase é também inibida por monóxido de
piração mitocondrial e a produção de energia cessam, e carbono (CO), que se liga à forma reduzida do heme a3,
a morte celular ocorre rapidamente. A morte ocorre por e por H2S.
anóxia tissular, provavelmente no sistema nervoso cen
tral. Um antídoto para o envenenamento por cianeto, Holland, M. A. e Kozlowski, L.M. Clinical features and
se o envenenamento for diagnosticado rapidamente, é a management of cyanide poisoning. Clin. Pharmacol. 5:737,
administração de vários nitritos, que convertem oxi-he 1986.

heme a3 (Fe3+) e impedem a transferência de elétrons pela seguinte equação, na qual Z é o valor absoluto de
do heme a para o centro binuclear. Diferentemente, o carga, f é a constante de Faraday e ψ é o potencial de
monóxido de carbono liga-se à forma reduzida do heme membrana:
a3 (Fe2+) competitivamente com O2 e impede a transfe
rência de elétrons para O2. Assim, inibição do transporte DG0! = 2,3 RTDpH + Zfψ
mitocondrial de elétrons resulta em prejuízo da função Em mitocôndrias respirando ativamente, a varia
geradora de energia da fosforilação oxidativa, levando à ção de pH observada através da membrana é 0,75–1,0
morte do organismo (Correlação Clínica 14.3).
unidades de pH, e a do potencial de membrana é de
A Figura 14.40 também indica os três sítios onde 1,5–2,0 V. Portanto, o DG0! calculado é grosseiramente
prótons são deslocadosdeslocados atravésatravés dada membranamembrana mitocon-mitocon 200 kJ para o deslocamento de 10 H+ através da mem
drial durante o transporte de elétrons, contribuindo brana durante a transferência de elétrons do NADH
para a formação do gradiente eletroquímico usado para para o O2. O DG0! também pode ser calculado a partir
da diferença entre os potenciais redox padrões do par
a síntese de ATP. Quatro prótons são deslocados por
transferência de elétron nos complexos I e IV, enquanto redox. O DG0! calculado para o par redox NADH e O2
dois prótons são deslocados no complexo III. é 219 kJ/mol (Seção 14.6), sugerindo que a energia das
reações de transferência de elétrons é eficientemente
capturada no potencial eletroquímico. A energia arma
zenada no gradiente de prótons e de cargas e no gra
14.7 FOSFORILAÇÃO diente eletroquímico, também chamada força próton
OXIDATIVA -motiva, direciona a síntese de ATP pelo movimento de
prótons a favor do gradiente eletroquímico através da
A energia liberada durante a transferência de elé ATP sintase por um mecanismo que será discutido mais
trons para o O2 via cadeia mitocondrial de transporte adiante nesta seção.
de elétrons é usada para deslocar prótons através da
membrana interna e estabelecer um gradiente de pró Espaço intermembranas
tons (Figura 14.41). Isso torna o espaço intermembra H+ H+ H+ H+ H+ H+ Lado P
nas mais acídico, e o espaço da matriz, mais alcalino. Si + H+ + + H+ H+ + H+ + + H+ H+ pH

multaneamente, a face externa da membrana torna-se


mais carregada positivamente, e a face da matriz torna
-se mais carregada negativamente, estabelecendo um
gradiente de cargas, uma vez que não há deslocamento
compensatório de um íon carregado negativamente.

Durante a transferência de dois elétrons do NADH i i i i i i i i i i


Lado N
para o O2, aproximadamente 10 prótons são bombea OH i OH i OH i OH i OH i
Matriz
dos através da membrana para estabelecer o gradiente
eletroquímico (ver Figura 14.40). A energia livre total FIGURA 14.41 O gradiente eletroquímico consiste de um
derivada do deslocamento de prótons e a distribuição gradiente de cargas (Dψ) e de concentração de prótons
de cargas através da membrana podem ser calculadas (DpH) através da membrana mitocondrial interna.
590 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Acoplamento de Síntese de ATP e diminuirá. A velocidade aumentada de transporte de


elétrons pela cadeia estimula a oxidação de NADH, re
Transporte de Elétrons sultando na formação de NAD+. As concentrações au
mentadas de NAD+ acopladas com as concentrações
A velocidade de utilização de ATP regula a velocida
aumentadas de ADP nas células que estão consumindo
de de síntese de ATP em mitocôndrias, o que, por sua
ATP ativamente estimulam as reações do ciclo TCA e a
vez, regula a velocidade de transferência de elétrons.
oxidação de ácidos graxos. Dessa forma, a necessidade
O acoplamento entre síntese de ATP e transporte de
de ATP em uma célula regula, de modo coordenado, a
elétrons é conseguido pelo gradiente eletroquímico,
velocidade do fluxo de elétrons pela cadeia respiratória
como ilustrado pelo experimento apresentado na Figu
e as reações do ciclo TCA e a oxidação de ácidos graxos.
ra 14.42. A velocidade de transporte de elétrons, medida
pela velocidade de consumo de O2 por uma suspensão Razões P/O para Transporte de Elétrons e
de mitocôndrias hepáticas, aumenta apenas após adi
ção de um doador de elétrons (succinato nesse experi Fosforilação Oxidativa nas Mitocôndrias
mento) e ADP (um aceptor de fosfato) mais fosfato (Pi). A razão P/O (fosfato incorporado em ATP por áto
A conversão de todo ADP adicionado em ATP retorna mos de O2 utilizados) é uma medida do número de mo
a velocidade àà observadaobservada antesantes dada adiçãoadiçãoição dedede ADP.ADP.ADP. Por-Por-Por léculas de ATP formadas durante a transferência de
tanto, a velocidade de transporte de elétrons, ou capta dois elétronspor toda ou por parte da cadeia de trans
ção de O2, é firmemente acoplada à síntese de ATP. A porte de elétrons. Classicamente, pensou-se que a ra
quimiosmose explica facilmente essa relação, chamada zão P/O fosse um número inteiro, 3 para a transferência
controle respiratório. Quando as necessidades energé de dois elétrons de substratos ligados ao NADH para
ticas da célula são baixas, o ATP se acumulará e o gra O2, 2 de succinato para O2, e 1 do citocromo c reduzido
diente de prótons não será usado para síntese de ATP. para O2. Essas razões P/O sugeriam que um ATP fosse
A magnitude do gradiente de prótons aumenta até que produzido durante a transferência de elétrons em cada
a energia necessária para bombear prótons através da um dos complexos que bombeiam prótons, I, III e IV. En
membrana contra o gradiente elétrico existente fique tretanto, surgiram questões sobre as razões P/O reais,
igual à liberada durante a transferência de elétrons do com cálculos recentes de 10 prótons bombeados através
NADH para o O2. Nesse ponto, o transporte de elétrons da membrana mitocondrial durante a transferência de
cessa, uma vez que o equilíbrio foi atingido. Em células dois elétrons do NADH para o O2, enquanto a síntese de
usando ATP, o ADP se acumula, levando a um estímulo um ATP e seu transporte através da membrana requer
da ATP sintase. Enquanto o ATP é sintetizado, a magni quatro prótons. Essas estequiometrias de prótons re
tude do gradiente de prótons diminui já que prótons se sultam em uma razão P/O calculada de 2,5. Na verdade,
movem através da ATP sintase, para fornecer a energia determinações experimentais recentes da razão P/O
para síntese de ATP. Como resultado, a pressão retroati deram valores de aproximadamente 2,5 para substratos
va de prótons sobre a cadeia de transporte de elétrons ligados a NADH, e 1,5 com succinato.

Efeitos de Desacopladores e Inibidores


do Sistema de Transporte de Elétrons–
Mitocondria
de fígado Fosforilação Oxidativa
Succinato
O acoplamento entre transporte de elétrons e sín
ADP tese de ATP pode ser abolido por reagentes químicos,
ou desacopladores, como 2,4-dinitrofenol ou carbonil
-cianeto-p-trifluorometoxifenil-hidrazona. Após adição
de um desacoplador a uma suspensão de mitocôndrias de
ADP
ADP 0 fígado fortemente acopladas, com uma baixa velocida
de de captação de O2, um rápido aumento na velocidade
de consumo de O2 é observado (Figura 14.43a). Como
o transporte de elétrons está desacoplado da síntese de
ADP 0 ATP, o transporte de elétrons pode continuar, mas sem
síntese de ATP. Desacopladores são ácidos fracos hi
O2 0
drofóbicos que captam um próton no espaço intermem
branas, onde uma concentração mais alta de prótons
Tempo resulta da ativa transferência de elétrons. Esses desa
copladores protonados, sendo lipofílicos, rapidamente
FIGURA 14.42 Demonstração do acoplamento entre o
se difundem para a matriz mitocondrial, onde perdem
transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa em uma
suspensão de mitocôndrias de fígado. seu próton, em decorrência da concentração mais bai
Em um meio contendo Pi, a adição de ADP estimula a veloci
xa de prótons lá. Dessa forma, o gradiente de prótons
dade de transferência de elétrons, medida pela captação de pode ser completamente dissipado, como mostra a Fi
oxigênio. Isso é definido como controle respiratório. gura 14.44 e, portanto, a síntese de ATP é abolida.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 591

Mitocondria Mitocondria
de fígado
de fígado
Succinato Succinato
2,4-Dinitrofenol ADP
o
i o
i
n n
ê ê
g
ix g
i
o x
o
e e
d d Oligomicina
o o
ã
ç ã
a ç
rt a
rt
n n
e
c e
n Cianeto c 2,4-Dinitrofenol
o n
C o
C

O2 = 0 O2 = 0

Tempo Tempo
(a) (b)

FIGURA 14.43 Inibição e desacoplamento da fosforilação oxidativa em mitocôndrias de fígado.


(a) Adição do desacoplador 2,4-dinitrofenol estimula a veloci micina, que bloqueia movimentos de prótons através de FO da
dade de captação de oxigênio por dissipar o gradiente de pró ATP sintase. Adição do desacoplador 2,4-dinitrofenol diminui
tons. A adição de cianeto inibe a captação de oxigênio. (b) O a inibição por oligomicina e estimula a velocidade de captação
estímulo de captação de oxigênio por ADP é inibido por oligo de oxigênio.

Membrana Como ilustrado na Figura 14.43b, adição de oligo


mitocondrial
interna micina, um inibidor da ATP sintase, a mitocôndrias
hepáticas respirando ativamente em presença de ADP,
Matriz Espaço resulta em uma inibição da captação de O2. Oligomicina
Mitocondrial intramembrana bloqueia a síntese de ATP por impedir o movimento de
prótons pela ATP sintase. Como a síntese de ATP e o
pH alto pH baixo
fluxo de elétrons são fortemente acoplados, o acúmulo
de prótons no espaço intermembranas bloqueia qua
se completamente o transporte de elétrons, conforme
discutido para o controle respiratório. A subsequente
adição de 2,4-dinitrofenol, que dissipa o gradiente de
NO2 H+ NO2 prótons, resulta em um rápido aumento na velocidade
de captação de O2, porque o transporte de elétrons foi
–O –O desacoplado da síntese de ATP.
HOH
–OH NO2 H+ NO2
NO2
ATP Sintase
HO HO A ATP sintase, ou complexo V, localizada na mem
brana mitocondrial interna de mamíferos, levedura e
NO2 H+ NO2
fungos, e da membrana citoplasmática de bactérias,
H+ catalisa a síntese de ATP usando a energia do gradien
te de prótons, à medida que prótons fluem pela ATP
sintase. A ATP sintase consiste de dois domínios, F1,
um complexo periférico observado pela primeira vez
FIGURA 14.44 Ação do desacoplador 2,4-dinitrofenol, em micrografias eletrônicas como pequenas partícu
um ionóforo de prótons que equilibra o pH através da las ligadas à membrana mitocondrial interna (Figura
membrana mitocondrial interna. 14.45), e F0, um complexo proteico integral de mem
2,4-Dinitrofenol é um ácido fraco que capta um próton do es brana. O domínio F1 contém os sítios de ligação de
paço intermembranas (lado P da membrana), que tem uma
ATP e ADP e catalisa a síntese de ATP (Figura 14.46).
alta concentração de prótons, e o carrega através da membra
na para a matriz (lado N da membrana), onde o próton se dis
O domínio F0 forma um canal para o deslocamento
de prótons através da membrana. A remoção de F1 da
socia em virtude da baixa concentração de prótons lá.
membrana mitocondrial interna por agitação suave
deixa uma cadeia de transporte de elétrons intacta,
capaz de transferir elétrons, sem a formação de um
592 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

le o bombeamento de prótons. Mutações de resíduos


carregados também implicaram a subunidade a de F0
nos movimentos de prótons, enquanto as subunidades
b parecem funcionar na ligação do domínio F1 ao F0. O
domínio F0 encontrado em mitocôndrias contém subu
nidades homólogas às subunidades a, b e c da enzima
de E. coli; entretanto, subunidades adicionais também
estão presentes.

δ β
α α
ATP
β α β

FIGURA 14.46ADP
Modelo
+ Pi da F1 F1

b2

FIGURA 14.45 Micrografia eletrônica de F1 mitocondrial. γ


ε
Lado N
Generosamente cedida por Dr. D. F. Parsons. De Parsons, D. F.
Science 140:985, 1963. Reproduzido com permissão de AAAS a
c10–14

Lado P H+
gradiente de prótons, uma vez que os prótons bombe F0
ados através da membrana durante a transferência de
elétrons fluem de volta para a matriz pelo domínio F0. F0-ATP sintase mitocondrial,
Adição do domínio F1 de volta àsàs membranasmembranas nuasnuas per-per um motor molecular com rotação.
mite a formação de um gradiente de prótons, já que F1 A síntese de ATP ocorre nas subunidades β de F1, enquanto
reconstitui com F0 e bloqueia o fluxo de prótons através F0 contém um canal de prótons. Em F0, as subunidades c da
de F0. A ATP sintase inteira pode ser isolada e, quando membrana são ligadas pela haste contendo γe e de F1 e cons
incorporada em vesículas de membrana artificial, sin tituem um rotor. As duas subunidades b de F0, juntamente
tetiza ATP quando um gradiente eletroquímico é es-ées-es com as subunidades α e β e a subunidade d constituem um
estator (elemento estrutural não móvel). Prótons fluem pelas
tabelecido através da membrana. A ATP sintase é um
subunidades a e c de F0, fazendo o rotor girar, resultando em
complexo com múltiplos componentes de 480-500 kDa mudanças conformacionais das subunidades β, onde ATP é
por cinco
(Tabela 14.6 e Figura 14.46).
subunidades não-idênticas
O domínio (α,
F1β, é composto sintetizado.
γ, d e e),
e e e uma estequiometria de subunidades de α3, β3, γ, d
com Síntese de ATP em F1
massa de 350-380 kDa. Sítios de ligação para
ATP e ADP estão presentes nas subunidades α e β. Os O mecanismo de síntese de ATP por F1 foi derivado
sítios catalíticos ficam nas subunidades β, enquanto de experimentos de troca de isótopos, que revelaram
a função dos nucleotídeos ligados às subunidades a é que em presença de quantidades estequiométricas de
desconhecida. A subunidade γ forma o núcleo central ADP, ATP e fosfato inorgânico, com F1 isolado, a reação
de F1, enquanto a subunidade d
pode estar envolvida na ligação TABELA 14.6 Subunidades da F1F0-ATP Sintase de Escherichia coli
do domínio F1 à membrana. O
domínio F0 da enzima de E. coli Subunidade Massa
Complexo Proteica (kDa) Estequiometria
consiste de três subunidades
madas a, b e c,
hidrofóbicas não-idênticas, cha-
que estão presen F1 α 55 3

tes na estequiometria aparente β 52 3


de a1, b2, c9–12. Cada subunidade
γ 30 1
c contém um resíduo carrega
do essencial (aspartato 61 em d 15 1
E. coli), que está envolvido no
bombeamento de prótons. Cada e 5,6 1
α-hélices consiste de duas
subunidade ctransmembrânicas F0 a 30 1

com o resíduo de aspartato 61 lo b 17 2


calizado no meio. Mutação desse
c 8 9-12
aspartato para asparagina abo
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 593

ficava essencialmente em equilíbrio, com um DG0!pró


ximo de zero. Essa reação de troca ADP + Pi ATP
L T
Enz:ADP + Pi  Enz:ATP
O
ocorre facilmente, mesmo na ausência de um gradiente
+
de prótons. O resultado indicou que a síntese de ATP +
3HP 3HN

por F1 não requer investimento de energia; entretanto,


o movimento de prótons pela ATP sintase era neces 3HN
+ ATP
3H+P
sário para a liberação do ATP de sua ligação singular
com a subunidade β de F1. Foi proposto que a energia
ATP ATP
liberada durante o movimento de prótons através da ADP + Pi
ATP
membrana causa uma mudança conformacional na ATP T L O O L
sintase, que resulta na liberação do ATP fortemente li
gado a uma das subunidades β, na ligação de ADP e Pi +
3HP 3HN+
T
a uma segunda subunidade β em conformação frouxa, e
ATP
força a terceira subunidade β para a conformação aper ADP + Pi
tada, onde a síntese de ATP ocorre (Figura 14.47 e Um
Olhar Mais Atento 14.3). FIGURA 14.47 O modelo de mudança de ligação para
síntese de ATP pela ATP sintase.
Mecanismo da Síntese de ATP Cada subunidade β de F1 tem um sítio de ligação não-idêntico
para ligação de adenina-nucleotídeo. A qualquer tempo, uma
A resolução da estrutura cristalina de F1 forneceu dessas subunidades β está na conformação T (tight), que liga
dramática visualização das conformações das diferentes ATP fortemente, uma segunda está na conformação L (loose),
subunidades β, o que forneceu evidências para o mode que liga ADP e Pi fracamente, e uma terceira está na conforma
ção O (open), que não liga nucleotídeos. O gradiente de pró
lo de mudança de ligação descrito em Um Olhar mais
tons causa rotação da subunidade γ, o eixo central, que fica em
Atento 14.3. Nessa estrutura cristalina, subunidades α contato com cada subunidade β em sucessão, produzindo uma
mudança de conformação cooperativa, convertendo o sítio T
em sítio O e liberando ATP, o sítio L em sítio T promovendo
UM OLHAR MAIS ATENTO 14.3 síntese de ATP, e o sítio O em sítio L, ligando ADP e Pi.

Síntese de ATP em F1
e β alternadas formam o botão de F1, com a únicaúnica su-su-su
O mecanismo de mudança de ligação sugere que (Figura 14.48a
bunidade γ formando um eixo
e b). Cada subunidade
central no
β centro de F1
as três subunidades β adotam diferentes conforma
assume uma
ções que mudam durante catálise, com apenas uma conformação diferente, dependendo da presença de
subunidade funcionando como o sítio catalítico. substrato. Assim, F1 cristalizado em presença de ADP
Como mostra a Figura 14.51, uma subunidade tem e um análogo não-hidrolizável de ATP revelou a ligação
uma conformação aberta (O, open), com uma bai do análogo de ATP a uma subunidade β, ligação de ADP
xa afinidade por ligantes e está vazia. Uma segunda
a uma segunda subunidade β, e uma terceira subunida
subunidade tem uma conformação frouxa (L, loose), de β vazia (Figura 14.48c).
com uma baixa afinidade por ligantes e é inativa, en
quanto a terceira subunidade tem uma conformação O modelo de síntese de ATP que se desenvolveu é
apertada (T, tight), que tem uma alta afinidade pe que prótons fluem através da membrana primeiro ligan
los ligantes e é ativa na catálise. De acordo com esse do-se a resíduos de aminoácidos acídicos conservados
modelo, a síntese de ATP ocorre na subunidade β na na subunidade a de F0. Os prótons então se ligam a um
conformação T. Durante a catálise, ADP e Pi ligam-se resíduo de aminoácido conservado presente na subu
à subunidade β na conformação L. A energia forne nidades c, fazendo o anel das subunidades c ligado às
cida pela passagem de prótons de F0 para F1 resulta subunidades γe e rodar. O movimento da subunidade γ
nas seguintes mudanças conformacionais: o sítio T causa mudanças conformacionais nas subunidades β à
contendo ATP muda para a conformação O, com libe medida que a subunidade γ se associa sequencialmente
ração do ATP, o L muda para a conformação T, com com cada subunidade β, uma de cada vez. As subuni
síntese de ATP, e o sítio O muda para a conformação dades a e b de F0 mais a subunidade d de F1 formam o
L, ligando ADP e Pi. De acordo com esse modelo, a estator que mantém as subunidades α e β em posição,
energia liberada pela transferência de elétrons é con enquanto as subunidades γ e c formam o rotor em mo
servada como um gradiente de prótons, que dirige as vimento. (Ver Um Olhar Mais Atento 14.4, p. 578, para
mudanças conformacionais na ATP sintase, resultan evidências experimentais desse mecanismo proposto.)
do na ligação de substratos, síntese de ATP sobre a
enzima e liberação do produto ATP.
594 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

FIGURA 14.48 Complexo ATP sintase mitocondrial.


(a) Vista lateral da estrutura do complexo F1 deduzida da dicado na parte (a).
tra subunidades α e (c)
β alternadas
Visão superior do complexo
circundando F1 mos
a subunidade
estrutura do cristal. Três subunidades α (vermelhas) e três
β (amarelas) alternam-se em torno de um eixo central, a su γ central.
bunidade γ(azul). (b) Visão lateral da subunidade F1 na qual Reproduzido com permissão de Abrahams, J. P., Leslie, A. G.
duas subunidades α e duas β foram removidas para revelar a W., Lutter, R. e Walker, J. E. Nature 370:621, 1994. Copyright©
subunidade γ central. As subunidades são coloridas como in (1994 Macmillan Magazines Limited).

14.8 MEMBRANA caracterizados. Esses sistemas de transporte facilitam


o movimento seletivo de vários substratos e interme
MITOCONDRIAL INTERNA diários para frente e para trás através da membrana
mitocondrial interna. Por esses transportadores, vá
CONTÉM SISTEMAS rios substratos podem se acumular na matriz, já que os
DE TRANSPORTE DE transportadores podem mover o substrato contra um
gradiente de concentração.
SUBSTRATO
Enquanto a membrana externa apresenta pouca ou Transporte de Adenina-Nucleotídeos
nenhuma barreira de permeabilidade para moléculas
de substratos ou de nucleotídeos de interesse no me e Fosfato
tabolismo energético, a membrana interna limita os
íntese contínua de ATP na matriz mitocondrial re
A síntese
tipos de substratos, intermediários e nucleotídeos que
quer que o ADP citosólico formado durante reações que
podem se difundir do citosol para a matriz. Vários sis
consomem energia seja transportado de volta, através
temas de transporte foram descritos em mitocôndrias da membrana interna, para a matriz, para conversão em
(Figura 14.49), alguns dos quais foram intensamente
ATP. Da mesma forma, ATP recém-sintetizado deve ser
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 595

UM OLHAR MAIS ATENTO 14.4

Evidência Experimental da Rotação das Subunidades γ e c pela ATP Sintase

O modelo de mudança de ligação propõe que a su por adição de ATP. Experimentos semelhantes foram
bunidade γ deve se mover em uma direção durante a realizados usando o complexo F1/F0 inteiro, nos quais
síntese de ATP e na direção oposta durante a hidrólise o complexo de subunidades c girou juntamente com a
do ATP, de forma que a hidrólise de ATP resulte em subunidade γ, como indicado pela actina fluorescente
formação de um gradiente de prótons. A rotação da su ligada a uma subunidade c. Em ambas as condições
bunidade γ de uma única subunidade F1 foi demonstra experimentais, o movimento do rotor não foi contínuo,
da pela ligação de um polímero de actina fluorescente mas ocorreu em etapas discretas de aproximadamente
à subunidade γ de um F1 na qual as subunidades α3β3 120°, o que éé consistenteconsistente comcomcom ooo movimentomovimentomovimento passopassopasso aaa pas-pas-pas
foram fixadas a uma lâmina de microscopia (ver figu so da subunidade γ de uma subunidade β para outra.
ra). Rotação da subunidade γfluorescente foi observada ATP sintase é o menor motor molecular conhecido.

O domínio F1 é ligado a uma lamínula coberta com níquel por


resíduos de histidina geneticamente engenheirados na extremi
Filamento de actina
dade N-terminal das subunidades α.
Estreptavidina Biotina, covalentemente ligada às subunidades c, liga-se muito
F0
a fortemente à proteína estreptavidina, que é covalentemente li
c gada a um filamento de actina contendo uma sonda fluorescen
te. A adição de ATP, que é hidrolisado pelo F1 da ATPase, causa
b
rotação do filamento de actina em uma direção, provando que a
subunidade
filamento decactina gira.
de F0foi ligado
Experimentos
à subunidade
anteriores, nos quais o
γ, forneceram
F1
ADP + Pi evidên
cia de que a subunidade γtambém pode girar. Presumivelmente,
ATP
ambas as subunidades γ e c giram como uma unidade.
His tag Lamínula
His tag
Redesenhado de Sambongi, Y., Iko, Y., Tanabe, M., Omote, H., et al.
Complexo Ni Science 286:1722, 1999

transportado de volta através da membrana


interna para o citosol, para satisfazer as ne
cessidades energéticas da célula. Essa troca
de adenina nucleotídeos hidrofílicos, muito
carregados, é catalisada por uma adenina nu
cleotídeo translocase muito específica, loca
lizada na membrana interna (Figura 14.50).
A adenina nucleotídeo translocase, um ho
modímero de subunidades de 30 kDa, cata
lisa uma troca de ATP por ADP, 1:1. A pre
sença de um sítio de ligação de nucleotídeo
no transportador sugere que a enzima fique
voltada alternadamente para a matriz ou para
o espaço intermembranas durante o processo
de transporte. O ATP recém-sintetizado é li-éli-li
gado à translocase na matriz, que então muda
sua conformação para se voltar para o citosol,
onde o ATP é liberado em troca de um ADP.
A translocase então muda sua conformação
novamente, para trazer o sítio de ligação de
nucleotídeo contendo ADP de volta para o
lado da matriz. A translocase favorece o mo
vimento para fora do ATP e o movimento para
dentro do ADP, a despeito de observações de
que ambos os nucleotídeos ligam-se igual
FIGURA 14.49 Transportadores mitocondriais de metabólitos. mente bem ao sítio de ligação. A explicação
596 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

para isso é que, em pH 7, o ADP tem três cargas nega Lançadeiras de Substrato
tivas, enquanto o ATP tem quatro. Portanto, a troca de
um ATP por um ADP resulta em movimento para fora Transportam Equivalentes de
de uma carga negativa, que é equivalente a importar
um próton. O potencial de membrana estabelecido du Redução Através da Membrana
rante a transferência de elétrons é positivo fora, o que Mitocondrial Interna
favoreceria o transporte para fora do ATP, mais carre
gado negativamente do que o ADP. A adenina nucleotí Os nucleotídeos envolvidos em reações celulares
deo translocase está presente em altas concentrações, de oxidação–redução (por exemplo, NAD+, NADH,
até 14% da proteína total, na membrana interna. Assim, NADP+, NADPH, FAD e FADH2) e CoA e seus derivados
é pouco provável que o transporte de adenina nucleo não são transportados através da membrana mitocon
tídeos através da membrana mitocondrial interna seja drial interna. Assim, para transportar equivalentes de
limitante da velocidade de síntese de ATP. redução (por exemplo, prótons e elétrons) do citosol
para a matriz ou o inverso, são necessários mecanismos
Um segundo transportador essencial para a fosfori de lançadeiras de substrato.
lação oxidativa é o transportador de fosfato, que trans
porta fosfato citosólico mais um próton para a matriz Duas lançadeiras para transporte de substrato são
(Figura 14.50). Esse simporte também depende do gra mostradas na Figura 14.51. A lançadeira malato–aspar
diente de prótons, uma vez que fosfato e prótons são tato e a lançadeira α-glicerol–fosfato são empregadas
transportados numa razão 1:1. O transporte de ADP e em vários tecidos para deslocar equivalentes de redu
de fosfato requer uma fração significativa da energia ção do citosol para a matriz, para oxidação e geração de
presente no gradiente eletroquímico produzido duran energia. Sua operação requer que as enzimas apropria
te a transferência de elétrons. Por isso, a força próton das estejam localizadas em ambos os lados da membra
-motiva fornece energia para a síntese de ATP pela ATP na e que os transportadores corretos estejam presentes
sintase, bem como para a captação dos dois substratos na membrana mitocondrial interna.
necessários.
Na lançadeira glicerol–fosfato, estão envolvidas
duas glicerol fosfato desidrogenases diferentes, uma
Membrana no citosol e outra na face externa da membrana mito
mitocondrial condrial interna. O NADH produzido no citosol é usado
Citosol interna Mitocôndria
para reduzir di-hidroxiacetona fosfato a glicerol 3-fos
Adenina fato pela isoenzima citosólica. O glicerol 3-fosfato, por
nucleotídeo
translocase sua vez, é oxidado pela isoenzima mitocondrial, uma
flavoproteína, para produzir di-hidroxiacetona fosfato
ADP3i e FADH2, que é oxidado pela cadeia de transporte de
ATP4i
elétrons.

A lançadeira malato–aspartato opera com base no


mesmo princípio. O NADH do citosol reduz oxaloace
Atractilosídeo tato a malato, que entra na mitocôndria pelo trans
portador de malato/α-cetoglutarato. Esse malato é
rapidamente oxidado pela malato desidrogenase mito
Transportador
de fosfato
condrial a oxaloacetato e NADH, que é então oxidado
pela cadeia de transporte de elétrons. O oxaloacetato
produzido é convertido em aspartato pela aspartato
H2PO4i aminotransferase mitocondrial e pode então atraves
+ sar a membrana pelo transportador de aspartato–glu
H
tamato, onde a aspartato aminotransferase citosólica
o converte em oxaloacetato. O transporte antiporte de
Mersalil aspartato para fora da mitocôndria em troca por glu
tamato é conduzido pelo potencial de membrana e é,
portanto, irreversível.
FIGURA 14.50 A adenina nucleotídeo translocase e o
transportador de fosfato.
Unidades Acetil São Transportadas
como Citrato
A membrana mitocondrial interna não tem um
transportador para acetil-CoA, mas grupos acetil são
transferidos da mitocôndria para o citosol, onde são
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 597

LANÇADEIRA DE MALATO-ASPARTATO dentro das células é crítica para


Citosol Membrana Mitocôndria
contração muscular, transmissão
mitocondrial neural, secreção e ação hormonal.
interna Distintos pools de Ca2+ foram de
Glutamato-Oxaloacetato
Transaminase tectados no retículo endoplasmá
Glutamato
Oxaloacetato
tico (ou retículo sarcoplasmático),
Transaminase Glutamato
Aspartato Glutamato Oxaloacetato
α-Cetoglutarato nas mitocôndrias, no núcleo e no
Golgi. Uma parte do Ca2+ intra
celular fica ligada a nucleotídeos,
Aspartato metabólitos ou ligantes de mem
brana, enquanto uma parte fica li
vre em solução. A concentração de
Ca2+ citosólico é cerca de 10–7 M,
Oxaloacetato α-cetoglutarato
Malato NAD+
enquanto a concentração extrace
lular é pelo menos quatro ordens
de grandeza maior. A entrada de
NAD+ Malato Malato Ca2+ na mitocôndria ocore por um
NADH
+H+ Desidrogenase transportador uniporte da mem
NADH brana interna, que usa a energia do
Malato gradiente eletroquímico (Figura
Desidrogenase
14.53). A microscopia confocal de
células vivas forneceu evidências
LANÇADEIRA α–GLICEROL FOSFATO convincentes de que as mitocôn
α-Glicerol fosfato drias tomam parte na regulação da
desidrogenase concentração do Ca2+citosólico. As
α-glicerol
NADH NAD+ mitocôndrias ficam localizadas bem
fosfato
+H+
desidrogenase próximas do retículo endoplasmá
mitocondrial
(flavoproteína) tico e do retículo sarcoplasmático.
A ligação de certos hormônios às
Di-hidroxiacetona
membranas celulares resulta na li
α-Glicerol
fosfato FAD UQ beração de inositol trisfosfato (IP3)
fosfato
do fosfatidilinositol, que libera Ca2+
FADH2UQH2 O2
do retículo endoplasmático (p. 17).
Os microdomínios transitórios re
sultantes com altas concentrações
FIGURA 14.51 Lançadeiras para transporte de equivalentes de redução de Ca2+ podem ser modulados por

necessários para a biossíntese de ácidos graxos ou es


da
tão
pelo
gênese
(p.
mediários
é
TCA.membrana
704).
envolvidos
fígado.
teróis (ver
O(Figura
convertido
citrato no
Mecanismos
apropriados
p.em
interna
638)
é, e de
movimento
14.52).durante
ureagênese
em
citrato
então, Acetil-CoA
exportado
pela
as
lançadeiras
ambas
de
citrato
de substrato
períodos
substratos
ativas de
direções
para o(ver
egluconeo-
deatravés
p.inter-
do 779)
intramitocondrial
sintase
citosol es-
ciclo
por Citosol Membrana Mitocôndria
mitocondrial
interna

um transportador de tricarboxilato, em troca de mala


às citosólico
to. O citrato
loacetato, custas de um
é clivado
ATP, pela
em acetil-CoA
ATP-citratoe liase
oxa- Malato Malato

Citrato Citrato Oxaloacetate


CoASH
ATP
Acetil
citrato
liase
CoA Oxaloacetato
CoASH Citratosintase

ATP
ADP + Pi

Acetil CoA

Mitocôndrias Têm um Transportador


de Cálcio Específico Biossíntese
de
esterol ou
ácido graxo
Na maioria dos tecidos de mamíferos, as mitocôn
FIGURA 14.52 Exportação do citrato gerado na
drias têm um sistema de transporte para deslocar Ca2+
mitocôndria para o citosol onde serve como fonte
através da membrana interna. A distribuição/redis de acetil-CoA para a biossíntese de ácidos graxos ou
tribuição dos reservatórios (pools) celulares de Ca2+ esteróis.
598 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

captação por mitocôndrias vizinhas. Nas mitocôndrias, ração de um próton do grupo carboxila do ácido graxo
Ca2+ regula o complexo piruvato desidrogenase, bem livre. A UCP-1 é um membro da família de transporta
como as isocitrato e α-cetoglutarato desidrogenases. dores mitocondriais que inclui a adenina nucleotídeo
Uma consequência da captação de altas concentrações translocase e o transportador de fosfato, mas com um
de Ca2+ pelas mitocôndrias é a abertura de um poro na poro específico para o transporte de prótons para a
membrana externa, levando à liberação de citocromo c matriz. Estímulo crônico induzido por frio do recep
no citosol e ativação da apoptose. tor β-adrenérgico por epinefrina resulta em transcri
ção aumentada do gene UCP-1, estímulo da biogênese
mitocondrial e eventual hiperplasia do tecido adiposo
Membrana marrom. Em mamíferos grandes, como cães, gatos e
mitocondrial primatas que não hibernam, incluindo o homem, de
interna
pósitos discretos de gordura marrom estão presente
ao nascimento, mas ficam dispersos durante o desen
Citosol Matriz volvimento posterior.
Requer Quatro outras proteínas desacopladoras, UCP-2,
energia
UCP-3, UCP-4 e UCP-5, com sequências semelhantes
à da UCP-1, foram descobertas em outros tecidos que
não o tecido adiposo marrom. A presença de proteínas
Ca2+ Ca2+ desacopladoras em tecidos como músculo esquelético
sugeriu investigações acerca do possível papel dessas
proteínas na regulação do gasto energético e, talvez, na
obesidade. O desenvolvimento de agentes farmacológi
cos que afetam proteínas desacopladoras foi sugerido
como um tratamento para obesidade. Recentemente, foi
FIGURA 14.53 Transportador mitocondrial de cálcio. sugerido que as proteínas desacopladoras possam im
pedir a formação de espécies reativas de oxigênio nas
mitocôndrias.
Proteínas Desacopladoras
O tecido adiposo marrom desempenha um papel
importante na termogênese sem tremores de recém
-nascidos, em animais que hiber
nam e em animais experimentais
com termogênese induzida pela
dieta. O agente primário envolvido
na termogênese induzida por frio
na gordura marrom é a proteína de Frio é sentido
sacopladora UCP-1, que se localiza pelo hipotálamo
Cérebro
exclusivamente na membrana mito
Nervo simpático
condrial interna do tecido adiposo
Célula
marrom. UCP-1 carrega prótons da
adiposa marrom
matriz mitocondrial e atua desaco
plando a síntese de ATP do trans Norepinefrina
Receptor
Adrenérgico H+ H+
porte de elétrons (Figura 14.54). UCP1
Termogênese resulta de ativação H+

dos nervos simpáticos pela resposta cAMP


do cérebro à exposição ao frio, com H2O
H+ NADHFADH
a liberação de norepinefrina, que Proteína quinase A 2
se liga a receptores β-adrenérgicos 1i2O2 + 2H+
na membrana celular das células da ATP
gordura marrom. EssaEssa ligaçãoligação cau-cau Ácidos graxos Sintase
sa liberação de cAMP e ativação de
Triglicéride
proteína quinase A, que estimula li
pólise. A produção de ácidos graxos
livres ativa UCP-1, que transporta
prótons de volta para a matriz (Fi FIGURA 14.54 Ativação de UCP-1 por adaptação ao frio.
gura 14.54). Acredita-se que o estí Frio estimula a liberação de norepinefrina de células nervosas simpáticas. A norepi
mulo do transporte de prótons por nefrina liga-se ao receptor β-adrenérgico, resultando na ativação de uma lipase, com
ácidos graxos livres resulte da libe produção de ácidos graxos livres, que ativam a proteína condutora de prótons UCP-1.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 599

Origem
14.9 GENES MITOCONDRIAIS E
DOENÇAS 12S
rRNA
Cyt b
F PT
As mitocôndrias contêm seu próprio genoma, um 16S
V
rRNA
DNA circular de fita-dupla que contém genes estru E ND6
turais para 13 proteínas da cadeia de transporte de MELAS
L LHON
elétrons, incluindo sete subunidades do complexo I ND1 LHON
LHON ND5
(NADH:ubiquinona óxido-redutase), uma subunidade I
Q L
(citocromo b) do complexo III (ubiquinol:citocromo c M S
óxido-redutase), três subunidades do complexo IV (ci ND2 W H
A
tocromo c oxidase) e duas subunidades do complexo V N
LHON
C ND4
(ATP sintase) (Tabela 14.7). O DNA mitocondrial (mtD Y MERRF R
NA) também contém genes que codificam dois RNAs ri S D G
COI K ATpase8
bossômicos (rRNAs) e todos os RNAs transportadores ND4L
COIII
(tRNAs) necessários para a síntese proteica em mito COII ND3
côndrias (Figura 14.55). As mitocôndrias, entretanto,
ATpase6
não são organelas que se autorreplicam porque mais
de 90% de todas as proteínas mitocondriais são codifi FIGURA 14.55 Mapa de genes no DNA mitocondrial.
cadas no DNA nuclear, sintetizadas no citosol e depois Os genes indicados CO1, CO11 e CO111 codificam subunida
importadas para as mitocôndrias. des da citocromo c oxidase, ND codifica subunidades do com
plexo I, e ATPase codifica subunidades da ATP sintase. As ban
Defeitos mitocondriais foram implicados em várias das vermelhas escuras indicam por letras únicas os genes para
doenças degenerativas do envelhecimento, incluindo os tRNAs. LHON indica a localização das mutações que causam
doenças de Parkinson e de Alzheimer. Várias doenças Neuropatia Óptica Hereditária de Leber. Mutações no tRNA
resultam de mutações pontuais no mtDNA envolvendo da leucina (L) causam MELAS (encefalopatia mitocondrial,
acidose láctica e atividade tipo-acidente vascular cerebral), e
ou tRNAs ou um dos genes estruturais. Outras doen
ças resultam de deleções de partes grandes do mtDNA. aquelas no tRNA da lisina (K) causam MERRF (epilepsia mio
clônica e fibras vermelhas rotas).
Geralmente, essas doenças resultam de atividade dimi
nuída da cadeia de transporte de elétrons, o que leva ao
acúmulo de piruvato e ácidos graxos com consequente
acidose láctica e acúmulo de triglicérides. A velocidade Outras mutações em genes mitocondriais levam a
de síntese de ATP está também diminuída, resultando fraqueza muscular progressiva, retinite pigmentosa
em fraqueza muscular e intolerância a exercício. Uma (perda da resposta da retina), perda de audição e ata
característica marcante de todas as doenças mitocon xia (ação muscular descoordenada), juntamente com
driais é sua herança materna, porque essencialmente aumento e deterioração do músculo cardíaco. Os efeitos
todas as mitocôndrias presentes em um óvulo fecunda deletérios do envelhecimento também podem resultar
do derivam do óvulo. Ver Correlações Clínicas 14.4, 14.5 de mutações que se acumulam no mtDNA ao longo da
e 14.6 para uma discussão das doenças que resultam de vida do indivíduo, que são causadas por agentes que da
mutações no mtDNA. nificam o DNA, como radicais de oxigênio.

TABELA 14.7 Subunidades dos Complexos de Transporte de Elétrons Codificadas pelo DNA Mitocondrial Humano
Número Total de Número de Subunidades
Complexo Subunidades CodificadaspeloDNAMitocondrial

I NADH-ubiquinona óxido-redutase >40 7


II Succinato desidrogenase 4 0
III Ubiquinol-citocromo c óxido-redutase 11 1
IV Citocromo coxidase 13 3
V ATP sintase 12 2
600 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.4

Neuropatia Óptica Hereditária de Leber (OMIM 535000)

A primeira doença mitocondrial a ser elucidada riação na quantidade de mtDNA mutado em um tecido,
em nível molecular é a neuropatia óptica de Leber, de como consequência da distribuição aleatória do mtD
herança materna (LHON), que afeta o sistema ner NA mutante nas células filhas durante a divisão celu
voso central, incluindo os nervos ópticos, causando lar. Pacientes com uma percentagem menor de mtDNA
cegueira de início súbito no princípio da idade adulta, mutado desenvolvem cegueira de início súbito e outros
em decorência da morte do nervo óptico. Em quase sintomas típicos de LHON no princípio da idade adulta.
todas as famílias, LHON resulta da troca de uma úni Pacientes com uma percentagem mais alta de mtDNA
ca base nos genes mitocondriais que codificam três mutado, no qual uma alanina conservada é substituída
subunidades do complexo I (ND1, ND4 e ND6), o que por uma valina em ND6, desenvolvem uma doença gra
reduz a atividade da NADH:ubiquinona óxido-reduta ve caracterizada pelo início precoce de disfunçãoão gene-gene
se (complexo I). ralizada de movimentos, dificuldade de fala e retardo
mental.
A gravidade das doenças mitocondriais depende da
quantidade de mtDNA mutado presente em uma dada Chalmers, R. M. e Schapira, A. H. V. Clinical, biochemi
célula ou tecido. A presença de centenas ou milhares de cal and molecular genetic features of Leber’s hereditary optic
mitocôndrias em cada célula permite considerávelável va-va neuropathy. Biochim. Biophys. Acta 1410:147, 1999.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.5

Miopatias Mitocondriais Decorrentes de Mutações em Genes de tRNA Mitocondrial

Mutações pontuais em genes que codificam tRNAs


mitocondriais resultam em duas das doenças mitocon
driais mais comuns, caracterizadas por encefalomio
patia. Uma mutação no gene do tRNA da lisina causa
epilepsia mioclônica e fibras vermelhas rotas (MERRF,
myoclonic epilepsy and ragged red fibers) (OMIM
545000). Os sintomas incluem mioclonia e ataxia com
convulsões generalizadas e miopatia. Os músculos es
queléticos contêm mitocôndrias de forma anormal, que
contêm estruturas paracristalinas dando uma aparên Exemplo de inclusões paracristalinas em mitocôndrias de
cia de fibras vermelhas rotas (ragged red fibers) (ver músculos de paciente com miopatia ocular (x36.000).
figura) e atividade diminuída da citocromo c oxidase.

Mutações no tRNA da leucina causam a encefalopa Cortesia de Dr. D. N. Landon, Institute of Neurology,
tia mitocondrial comun, acidose láctica e atividade ti University of London.
po-acidente vascular cerebral (MELAS, mitochondrial
encephalopathy, lactic acidosis and stroke-like acti
vity) (OMIM 540000). Os músculos esqueléticos pare A consequência bioquímica dessas duas mutações
cem com fibras vermelhas rotas, mas retêm a atividade em tRNAs é síntese proteica mitocondrial deficiente,
da citocromo c oxidase. A gravidade dos sintomas varia levando a atividades diminuídas do complexo I e da ci
com a percentagem de mtDNA mutado. Pacientes com tocromo coxidase.
>85% do DNA mutado apresentam os sintomas mais
graves no sistema nervoso central, aqueles com 5–30% Wallace, D. C. Mitochondrial diseases in man and mouse.
do DNA mutado frequentemente apresentam-se com Science 283:1482, 1999.
diabetes mellitus de herança materna e surdez.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 601

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.6

Intolerância a Exercício em Pacientes com Mutações no Citocromo b


Em 1993, uma mutação no citocromo b, resultando de dano oxidativo. Além disso, em todas as mutações
em atividade diminuída do complexo citocromo bc1, de sentido errado (missense), uma glicina conserva
foi encontrada em um homem de 25 anos de idade da foi substituída por uma molécula carregada maior,
que se apresentava com intolerância a exercício e fra o que alterou a estrutura do citocromo b, resultando
queza proximal. A mutação substituiu um resíduo de em atividade catalítica diminuída do complexo bc1.
glicina conservado por um de aspartato na posição Mutações sem sentido (nonsense) resultando em ci
290. Subsequentemente, demonstrou-se que outros tocromo b truncado e mutações envolvendo deleções
pacientes com sintomas semelhantes e atividade di de quatro a 24 pares de bases do mtDNA foram iden
minuída do complexo bc1 tinham mutações nas quais tificadas. Essas mutações nonsense e por deleções
um glutamato substituiu uma glicina conservada na frequentemente levam a grave intolerância ao exer
posição 339, e uma serina substituiu uma glicina con cício, acidose láctica no estado de repouso e, ocasio
servada na posição 34. Mais recentemente, demons nalmente, mioglobinúria. Diferentemente da maioria
trou-se que um paciente com severa cardiomiopatia das mutações no mtDNA, as mutações identificadas
hipertrófica tinha uma mutação na qual um glutama no gene do citocromo b não são de herança materna.
to substituiu uma glicina conservada na posição 166. Além disso, a maioria foi expressa apenas em teci
As mutações de glicina para aspartato ou glutamato dos musculares, sugerindo que sejam mutações so
estavam localizadas no citocromo b próximo ao sítio máticas que ocorreram durante a diferenciação das
QO para oxidação de ubiquinol, enquanto a mutação células-tronco miogênicas.
glicina para serina localizava-se próxima do sítio Qi
da redução de ubiquinona. Todas essas mutações en Andreu, A. L., Hanna, M. G., Reichmann, H., Bruno, C., et
volviam uma transição de guanina para adenina no al. Exercise intolerance due to mutations in the cytochrome b
mtDNA, sugerindo que a mutação pode ter resultado gene of mitochondrial DNA. N. Engl. J. Med. 341:1037, 1999.

14.10 ESPÉCIES REATIVAS de outros radicais tóxicos. O peróxido de hidrogênio


não é um radical livre, mas é convertido pelas reações
DE OXIGÊNIO (ROS, de Fenton ou de Haber-Weiss no radical hidroxila em
presença de Fe2+ ou de Cu+, que são abundantes nas
REACTIVE OXYGEN células (Figura 14.57).
SPECIES)
Oxigênio é essencial para a vida. A maioria das
O2
oxidações intracelulares resulta na transferência de Oxigênio
dois elétrons para aceptores apropriados, como NAD+ 1ei
ou FAD, que são depois oxidados na cadeia de trans
porte de elétrons. A etapa final dessa cadeia é catali O2i
sada pela citocromo c oxidase, que liga O2 fortemente Superóxido
ao centro binuclear, onde redução passo a passo do O2 1ei+2H+
ocorre, sem liberação de intermediários do processo
de oxidação (ver Seção 14.6). A estrutura eletrônica do H2O2
O2, entretanto, favorece sua redução por adição de um Peróxido de Hidrogênio
elétron de cada vez, levando à geração de radicais de 1ei+1H+
oxigênio que podem causar dano celular. Um radical é
uma molécula com um elétron não-pareado muito re H2O + OH‡

ativo em um orbital externo, que pode iniciar reações Radical Hidroxila


1ei+1H+
em cadeia por remoção de um elétron de outra molécu
la para completar seu próprio orbital. A transferência
passo a passo de elétrons para O2 resulta na formação H2O
Água
sequencial de ânions superóxido (O2–), peróxido de hi
drogênio (H2O2), e finalmente radical hidroxila livre FIGURA 14.56 Etapas de um elétron na redução do
(OH·) (Figura 14.56). O radical hidroxila é, sem dúvida, oxigênio, levando a formação das espécies reativas de
o radical livre mais perigoso, uma vez que está envolvi oxigênio superóxido, peróxido de hidrogênio e radical
do em reações como peroxidação de lipídeos e geração hidroxila.
602 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Reação de Fenton
Bactérias OH‡
Fe2+ + H2O2 Fe3+ + OH‡ + OHi

Fe2+
O2 Reação de Haber²Weiss H2O2
H+
i + H2O2 O2 + H2O + OH‡
O2i
FIGURA 14.57 As reações de Fenton e Haber–Weiss para O2
formação de radical hidroxila tóxico.
Cyt. b

NADPH NADP+
Produção de Espécies Reativas de
Oxigênio FIGURA 14.59 Explosão respiratória (ou burst
respiratório) em fagócitos.
Embora processos oxidativos em células geralmente Uma cadeia de transferência de elétrons envolvendo um cito
resultem na transferência de elétrons para o O2 para cromo b singular transfere elétrons do NADPH para o oxigênio,
com a formação de ânion superóxido. Superóxido é convertido
formar água sem a liberação de intermediários, um pe
em radical hidroxila, que mata bactérias, subsequentemente
queno número de radicais de oxigênio é inevitavelmen endocitadas por fagócitos.
te formado em decorrência do vazamento nas reações
de transferência de elétrons. A principal fonte intrace
lular de radicais de oxigênio é a cadeia de transporte de citocromo P450 localizado no retículo endoplasmático
elétrons mitocondrial, na qual o superóxido é produzido também pode produzir radicais de oxigênio.
por transferência de um elétron para O2 a partir da se
miquinona estável produzida durante a redução de ubi Uma fonte adicional de ROS em muitos tecidos no
quinona pelos complexos I e II, ou durante a oxidação corpo, incluindo neutrófilos, é o sistema oxidase NA
de ubiquinol pelo complexo III (Figura 14.58). O supe DPH-dependente ligado à membrana. A inflamação por
róxido também pode ser produzido por transferência de infecção bacteriana em neutrófilos resulta em ativação
um elétron de uma flavina, como FMN. As espécies rea da NADPH oxidase, que produz superóxido em um pro
tivas de oxigênio produzidas nas mitocôndrias incluem cesso conhecido como explosão respiratória (ou burst
superóxido, peróxido de hidrogênio e radical hidroxila. respiratório). A conversão de superóxido em radical hi
Espécies tóxicas de oxigênio também são produzidas droxila mata as bactérias, que são depois englobadas
em peroxissomos, nos quais ácidos graxos de cadeia por fagócitos (Figura 14.59). Em uma infecção aguda, a
longa e outros compostos são oxidados por transferên produção de radicais de oxigênio e a morte de bactérias
cia de dois elétrons do FADH2 para o O2, com formação são processos eficientes; entretanto, em infecções pro
do peróxido de hidrogênio, que é facilmente converti longadas, os fagócitos tendem a morrer, liberando radi
do no radical hidroxila (ver Figura 14.56). O sistema cais de oxigênio tóxicos, que afetam as células vizinhas.

Além de sua presença em fagó


Complexo I citos, diferentes formas de NADPH
NADH oxidase foram descritas em muitos
FMNCentros
tecidos do corpo, onde são a princi
FeS pal fonte não-mitocondrial de ROS.
NAD+ O papel fisiológico dessas NADPH
Complexo III Complexo IV oxidases em tecidos cardiovascula
UQ 1i2O2
res inclui processos celulares como
Citocromo
Citocromoc1
b Citocromo c CitocromoaCitocromoa3
transdução de sinal, proliferação
Proteína FeS Ìons Cu celular e apoptose. Evidências suge
UQH‡ H2O
rem que o excesso de NADPH oxida
+O2
se pode gerar ROS que contribuem
Succinato para condições patológicas como
FADCentros O2i
aterosclerose, hipertensão e outras
FeS doenças vasculares (Correlação Clí
Fumarato nica 14.7).
Complexo II
Radiação cósmica, ingestão de
FIGURA 14.58 Geração de ânions superóxido pela cadeia mitocondrial de
compostos químicos e drogas, bem
transporte de elétrons.
A semiquinona formada durante a redução por dois elétrons da ubiquinona pelos cen como fumaça, podem levar à for
tros ferro-enxofre de ambos os complexos I e II pode transferir um elétron para o oxigê mação de espécies reativas de oxi
nio para formar o ânion superóxido. Diferentemente, o centro binuclear da citocromo c gênio. Lesões causadas por espécies
oxidase impede a liberação de intermediários na redução de oxigênio. reativas de oxigênio frequentemen
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 603

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.7

NADPH Oxidase (NOX) na Saúde e na Doença

A descoberta e a caracterização de uma oxidase na apoptose. Estudos recentes revelaram a presença


NADPH-dependente (NOX) em células fagocitárias su de três isoformas distintas de NOX em tecidos cardio
geriu que esse tecido era a única localização de NOX no vasculares, músculo liso, endotélio, cardiomiócitos e
corpo, onde seu papel fisiológico era produzir grandes adventícia vascular. Acredita-se que essas isoformas de
quantidades de superóxido para matar micróbios. A elu NOX contribuam para a manutenção do tônus vascular,
cidação das propriedades bioquímicas da NOX fagocíti proliferação celular, angiogênese e apoptose. Além do
ca também se beneficiou de estudos de pacientes com papel da NOX nessas vias, a via regulatória de manuten
doença granulomatosa crônica, que se apresenta como ção do tônus vascular reflete uma interação complexa
uma incapacidade dos indivíduos afetados combaterem entre ROS e espécies reativas de nitrogênio (NO) pro
infecções em virtude de mutações na NOX, o que leva duzidas pela óxido nítrico sintase endotelial.
à perda de capacidade de produzir quantidades ade
quadas de superóxido. O desenvolvimento recente de Apesar do papel benéfico de NOX em processos ce
métodos mais sensíveis para detectar as espécies rea lulares, o excesso de ROS gerado por NOX pode re
tivas de oxigênio, superóxido e peróxido de hidrogênio, sultar em numerosas condições patológicas, incluindo
indicou que a NOX era mais amplamente distribuída no disfunção da célula endotelial, que contribui para ate
corpo e que, além disso, ROS poderia contribuir para rosclerose, hipertensão, insuficiência cardíaca con
processos fisiológicos em tecidos não-fagocíticos. Sub gestiva, lesão por isquemia/reperfusão e problemas
sequentemente, sete diferentes isoformas da família da vasculares associados com diabetes. A investigação
NOX foram identificadas em quase todos os tecidos do contínua do papel que a NOX desempenha na fisiologia
corpo. O papel da NOX e da produção de superóxido em normal e em processos patológicos fornecerá informa
tecidos não-fagocíticos ainda não foi completamente es ções quanto ao desenvolvimento de terapias necessá
rias para o combate de doenças crônicas que assolam
clarecido, uma vez que os baixos níveis dessas enzimas
impedem medidas diretas; entretanto, NOX em todos os seres humanos.
os tecidos é ativada por vários estímulos e pode dispa
rar vias de sinalização redox-sensíveis que estão envol Nauseff, W. M. Biological roles for the NOX family NADPH
vidas na ativação endotelial, no crescimento celular e oxidases. J. Biol. Chem. 283:16961, 2008.

te ocorrem durante a perfusão de tecidos com soluções servadas nas mãos de idosos. Essas manchas “da idade”
contendo altas concentrações de O2, como acontece em contêm o pigmento lipofuscina, que é provavelmente
pacientes que sofreram um episódio isquêmico no qual uma mistura de lipídeos unidos por ligações cruzadas e
níveis localizados de O2 estavam reduzidos, em virtude produtos da peroxidação de lipídeos, que se acumulam
de um bloqueio de uma artéria e, depois, passaram por ao longo de toda uma vida. Uma consequência
ência signifi
procedimentos trombolíticos ou outros processos para cativa da peroxidação de lipídeos é permeabilidade au-au
remover o bloqueio (Correlação Clínica 14.8). mentada de membranas, levando a um influxo de Ca2+
e outros íons, com subsequente inchamento da célula.
Aumentos semelhantes na permeabilidade de membra
Dano Causado por Espécies Reativas nas de organelas podem resultar em má-distribuição de
íons e causar dano intracelular. Por exemplo, acúmulo
de Oxigênio de quantidades excessivas de Ca2+ nas mitocôndrias
Espécies reativas de oxigênio causam danos a todas pode desencadear apoptose.
as principais classes de macromoléculas das células. Os
Prolina, histidina, arginina, cisteína e metionina são
fosfolipídeos das membranas plasmática e de organelas
susceptíveis a ataque por radicais hidroxila, com sub
estão sujeitos a peroxidação de lipídeos, uma reação
sequente fragmentação de proteínas, ligação cruzada e
em cadeia de radicais livres, iniciada pela remoção de
agregação. Proteínas danificadas por radicais de oxigê
hidrogênio de um ácido graxo poli-insaturado por um
nio podem ser alvos de digestão por proteases intrace
radical hidroxila. Os radicais lipídicos resultantes rea
lulares.
gem, então, com O2, formando radicais peróxi de lipíde
os e peróxidos de lipídeos, juntamente com malondial A consequência
ência mais importante dos radicais de oxi
deído, que é solúvel em água e pode ser detectado no gênio é o dano ao DNA mitocondrial e nuclear, resultan
sangue. O efeito da peroxidação de lipídeos no homem do em mutações. A ligação não-específica de íonss ferro
é exemplificado pelas manchas escuras comumente ob- so (Fe2+) ao DNA pode resultar em formação localizada
604 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 14.8

Lesão por Reperfusão do Miocárdio

A oclusão de uma artéria coronária importante du A formação de ROS durante a reperfusão do mio
rante infarto do miocárdio resulta em isquemia ou su cárdio também resulta em níveis diminuídos de óxido
primento diminuído de oxigênio para a área afetada, le nítrico (NO), uma importante molécula sinalizadora,
vando a células danificadas, o infarto. Após um infarto reduzindo assim seus efeitos protetores como acúmulo
agudo do miocárdio, a reperfusão precoce com terapia de neutrófilos, inativação de radicais superóxido e me
adequada resulta em redução do tamanho do infarto e lhora do fluxo sanguíneo coronário. Durante a reper
um melhor prognóstico clínico para o paciente. A res fusão do coração isquêmico, a presença do radical de
tauração do fluxo sanguíneo no tecido isquêmico, en oxigênio peroxinitrito (ONOO–), produzido a partir de
tretanto, pode danificar o coração em um processo de NO e superóxido, foi observada. O peroxinitrito tam
nominado lesão por reperfusão do miocárdio. Durante a bém pode contribuir para a baixa recuperação da fun
reperfusão, o miocárdio isquêmico fica sujeito a mudan ção mecânica em corações isquêmicos.
ças bioquímicas rápidas, que podem causar ainda mais
danos ao miocárdio. Essas mudanças incluem a rápida A isquemia/reperfusão do miocárdio representa
um problema clínico associado com trombólise, an
restauração da transferência de elétrons pela cadeia de
transporte de elétrons mitocondrial, com a concomitan gioplastia e cirurgia para colocação de pontes coroná
rias (bypass). Lesões no miocárdio, em decorrência
te geração de ROS, que também são geradas pela xan
tina oxidase presente em células endoteliais e, algumas de isquemia/reperfusão incluem disfunção contrátil
horas mais tarde, pela NADPH oxidase localizada em cardíaca, arritmias e dano irreversível aos miócitos. A
neutrófilos. Esses níveis aumentados de ROS causam isquemia também pode surgir durante cirurgia, espe
dano ao coração, por contribuírem com a sobrecarga de cialmente durante transplante de tecidos. Pesquisas
Ca2+ intracelular, restauração rápida do pH intracelular atuais de possíveis intervensões para evitar lesão por
e inflamação. O aumento no Ca2+ intramitocondrial leva reperfusão concentram-se no melhor entendimento dos
à abertura do poro de transição mitocondrial (MRP), fatores envolvidos na lesão, especialmente a abertura
que desencadeia apoptose e subsequente morte celular. de PTP mitocondrial, que resulta em morte celular por
ROS também danificam o retículo sarcoplasmático e a apoptose. Ensais clínicos estão em andamento para tes
membrana celular por peroxidação de lipídeos, indu tar novas hipóteses para reduzir a lesão por reperfusão.
zem desnaturação de enzimas e causam dano oxidativo O uso aumentado de procedimentos invasivos na clí
ao DNA. O rápido aumento nos níveis intracelulares de nica médica indica a importância do desenvolvimento
ATP, que ocorre quando oxigênio é introduzido durante de métodos para proteger contra a lesão por isquemia/
a reperfusão, em decorrência do estímulo da transfe reperfusão.
rência de elétrons estímulo mitocondrial, combinado
com os altos níveis de Ca2+ intracelular e restauração Yellon, D. M. e Hausenloy, D. J. Myocardial reperfusion in
do pH fisiológico, pode resultar em hipercontratura e jury. N. Engl. J. Med. 357:1121, 2007.
resultante morte dos cardiomiócitos.

de radicais hidroxila, que atacam bases individuais e Defesas Celulares Contra Espécies
causam quebras de fitas. O DNA mitocondrial é mais
susceptível ao dano, uma vez que a cadeia de transporte Reativas de Oxigênio
de elétrons é uma fonte importante de radicais tóxicos
élulas que vivem em um ambiente aeróbico de
Células
de oxigênio. Além disso, o DNA nuclear está protegido
senvolveram múltiplas formas para remover espécies
de dano permanente por uma capa protetora de histo
reativas de oxigênio e, assim, se protegem contra seus
nas, bem como por mecanismos ativos e eficientes de
efeitos deletérios. Os mamíferos têm três isozimas dife
reparo do DNA. Dano ao mtDNA geralmente resulta em
rentes da superóxido dismutase, que catalisam a con
mutações que afetam a produção de energia. Os sinto
mas nos indivíduos afetados são manifestados em pro versão de superóxido em peróxido de hidrogênio (Figu
ra 14.60). A forma citosólica da supersóxido dismutase
cessos que requerem energia, como a contração mus
contém Cu/Zn no seu sítio ativo, assim como a enzima
cular. Um exemplo das consequências de uma mutação
extracelular; entretanto, a enzima mitocondrial contém
somática no gene mitocondrial do citocromo b que pode Mn no seu sítio ativo. O peróxido de hidrogênio é remo
ter sido causada por radicais de oxigênio é apresentado
na Correlação Clínica 14.6. vido pela catalase, uma enzima contendo heme presen
te nas concentrações mais altas em peroxissomos e, em
menor escala, em mitocôndrias e citosol.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 605

OH‡ para evitar a necrose hepática induzida pelo analgésico


2H+ O2 Fe2+ H2O2
comum acetaminofen (vendido como Tylenol, Panadol
ou Paracetamol), especialmente em crianças pequenas.
2O2i Superóxido H2O2 Catalase 2H2O + O2
A proteção contra espécies reativas de oxigênio
dismutase
também pode ser obtida por ingestão de agentes que re
FIGURA 14.60 Superóxido dismutase e catalase protegem movem oxigênio (oxygen scavengers), como vitamina
as células por removerem superóxido e peróxido de C e E e β-caroteno. Evidências recentes indicaram que
hidrogênio. substâncias presentes no chá verde, em berries (espe
cialmente mirtilo ou blueberries) e em vinho tinto po
dem também proteger contra o dano oxidativo por ROS.
A glutationa peroxidase catalisa a redução de peró
xido de hidrogênio e de peróxidos de lipídeos (Figura
Glutationa
14.61). Essa enzima contendo selênio usa os grupos sul peroxidase
fidrila da glutationa (GSH) como doador de hidrogênio H2O2 2 H2O
com formação da forma oxidada ou dissulfeto da gluta
tiona (GSSG). A Glutationa redutase converte a forma 2GSH GSSG
NADPH + H+
dissulfeto de volta na forma sulfidrila usando o NADPH
produzido na via das pentoses fosfatos como doador Glutationa
de elétrons. A importância do NADPH na manutenção redutase

dos níveis de glutationa e, assim, na prevenção do dano FIGURA 14.61 Glutationa peroxidase remove peróxido
oxidativo àsàs célulascélulascélulas ééé manifestadamanifestadamanifestada nanana doençadoençadoença heredi-heredi-heredi de hidrogênio bem como peróxidos de lipídeos.
tária que resulta em baixos níveis de glicose 6-fosfato Elétrons são transferidos para o peróxido de hidrogênio dos
desidrogenase (ver Correlação Clínica 16.1, p. 669), na grupos sulfidrila da glutationa reduzida (GSH), para formar
qual o estresse oxidativo resulta em anemia hemolíti água e glutationa oxidada (GSSG). A glutationa redutase, en
ca aguda. Os níveis de glutationa no fígado são críticos tão, reduz GSSG a GSH, com NADPH como agente redutor.

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Termos Chaves
adenina nucleotídeo trans- centros ferro–enxofre complexo IV: citocromo c espécies reativas de oxi
locase ciclo do ácido tricarboxílico oxidase gênio
adenosina trifosfato citocromo b, citocromo c constante de equilíbrio F1F0
ATP sintase
anabolismo
cadeia
catabolismo
elétrons
de transporte de complexo I: NADH-ubiqui desacopladores flavina adenina dinucleo
nona óxido-redutase DNA mitocondrial tídeo
complexo II: succicinato doenças mitocondriais flavina mononucleotídeo
-ubiquinona óxido-redutase energia livre força próton-motiva
complexo III: ubiquinol-ci equivalente de redução fosforilação oxidativa
catalase tocromo c óxido-redutase
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 607

glicerol 3-fosfato desidro- matriz mitocondrial piruvato desidrogenase reações exergônicas


genase membrana mitocondrial potencial de oxidação succinato desidrogenase
glutationa externa -redução superóxido dismutase
glutationa peroxidase membrana mitocondrial processos biossintéticos tiamina pirofosfato
lançadeiras para equivalen- interna radicais livres hidroxila transporte de substrato
tes de redução nicotinamida adenina razões P/O mitocondria
ligações de alta energia dinucleotídeo
reações anapleróticas ubiquinona-ubiquinoll
lipoamida par redox
reações endergônicas

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha E. ao ADP para
a energia é usada
formar
diretamente
ATP. na adição de Pi
1. Uma ligação pode ser de alta energia por qualquer
das seguintes razões, exceto 5. ATP sintase (também conhecida como Complexo
A. produtos de sua quebra são estabilizados por V) consiste de dois domínios, F1 e F0.
mais ressonâncias do que o composto original. A. Fgrais
1 e F
de0 são ambos complexos proteicosicos inte-inte

B. a ligação é excepcionalmente estável, reque membrana da membrana externa.


rendo um investimento de muita energia para B. Omento
domínio
de prótons
F1 fornece um da
através canal
membrana.
para desloca
clivá-la.
C. a repulsão eletrostática é aliviada quando a li C. F1 liga ATP, mas não ADP.
gação é clivada. D. O domínio F1 catalisa a síntese de ATP.
D. um produto de clivagem pode ser instável, tau E. bunidade.
Apenas o domínio F0 contém mais de uma su
tomerizando para uma forma mais estável.
E. a ligação pode ser tensa.
6. Todas as seguintes alternativas são corretas, exceto
2. Todos os seguintes intermediários do ciclo dos áci A. espécies reativas de oxigênio (radicais de oxi
dos tricarboxílicos podem ser adicionados ou re gênio) resultam quando há adição combinada
movidos por outras vias metabólicas, exceto de quatro elétrons de uma vez ao O2.
A. citrato. B. ânion superóxido (O2–) e radical hidroxila
B. fumarato. (·OH) são duas formas de oxigênio reativo.
C. isocitrato. C. superóxido dismutase é uma enzima de ocor
D. α-cetoglutarato. rência natural que protege contra danos por
converter O2– em H2O2.
E. oxaloacetato.
D. espécies reativas de oxigênio danificam fosfo
3. A membrana mitocondrial interna contém um lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos.
transportador para E. glutationa
água. protege contra H2O2 por reduzi-lo a
A. NADH.
B. acetil-CoA.
Questões 7 e 8: Uma criança apresentava defeitos
C. GTP.
neurológicos graves. Exames de sangue indicaram ní
D. ATP. veis séricos elevados de lactato, piruvato e alanina.
E. NADPH. Culturas de fibroblastos de pele mostraram atividade
4. deficiente do complexo piruvato desidrogenase. Mais
Durante a transferência de elétrons para o O2 via
estudos poderiam indicar qual subunidade do comple
cadeia de transporte de elétrons mitocondrial,
xo está defeituosa, embora os efeitos metabólicos se
A. a energia liberada é utilizada para deslocar jam essencialmente os mesmos, independentemente de
prótons através da membrana interna. qual subunidade está defeituosa.
B. um gradiente de próton é gerado, com a matriz
7. A forma ativa da piruvato desidrogenase é favore
ficando mais positiva do que o espaço inter
cida pela influência de todos os seguintes sobre a
membranas.
piruvato desidrogenase quinase, exceto
C. o bombeamento de protons através da membra A. baixa [Ca2+].
ne ocorre a cada vez que os elétrons se movem.
B. baixa acetil-CoA/CoASH.
D. nenhum gradiente de cargas se desenvolve
porque um OH– se move a cada vez que um C. alta [piruvato].
próton o faz. D. baixa NADH/NAD+.
608 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

8. Suponha que o defeito específico era uma piruvato Questões 11 e 12: Cianeto é um veneno potente e de
desidrogenase mutada (a primeira subunidade ca ação rápida. Liga-se ao heme do citocromo a3 da cito
talítica), com fraca ligação com seu grupo prosté cromo oxidase. Morte ocorre por anóxia tecidual, es
tico. Nesse tipo de defeito, às vezes um grande au pecialmente no sistema nervoso central. Um antídoto
A.
mento, na dieta, do precursor do grupo prostético, para o envenenamento por cianeto, que deve ser usa
ajuda. Nesse caso, aumento de qual dos seguintes do rapidamente, é a administração de um nitrito para
poderia ser útil? converter oxi-hemoglobina em meta-hemoglobina. A
Ácido lipoico. meta-hemoglobina compete com o citocromo a3 pelo
cianeto.
B. Niacina (para NAD).
C. Ácido pantotênico (para CoA). 11. Cianeto
D. Riboflavina (para FAD). A. só inibe minimamente a cadeia de transporte
E. Tiamina (para TPP). de elétrons porque a citocromo oxidase é um
componente terminal da cadeia.
Questões 9 e 10: Existe um número de doenças mito B. inibe a respiração mitocondrial, mas a produ
condriais decorrentes de mutações em genes mitocon ção de energia não é afetada.
driais que codificam proteínas mitocondriais outRNAs
C. também liga o cobre da citocromo oxidase.
mitocondriais. A Neuropatia Óptica Hereditária de Le
D. liga-se ao Fe3+ do citocromo a3.
ber (LHON) decorre de trocas de uma única base nos
genes mitocondriais que codicam três subunidades do E. o envenenamento também poderia ser reverti
complexo I, diminuindo sua atividade. LHON afeta o sis do por aumento na concentração de O2.
tema nervoso central, incluindo o nervo óptico, causan
do cegueira de início súbito no início da idade adulta.
12. Se cianeto for adicionado a mitocôndrias acopla
9. O complexo I das, que estão oxidando ativamente succinato,
A. transfere elétrons diretamente do NADH para A. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol causa
ubiquinona. rá hidrólise de ATP.
B. pode transferor elétrons do NADH2 para a suc B. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol res
cinato desidrogenase, bem como para NADH. taurará a oxidação de succinato.
C. não contém centros ferro–enxofre. C. o fluxo de elétrons vai parar, mas a síntese de
D. transfere elétrons acoplados ao transporte de ATP continuará.
quatro prótons através da membrana. D. o fluxo de elétrons vai parar, mas a síntese de
E. éé consideradoconsideradoconsiderado umumum transportadortransportadortransportador móvelmóvelmóvelmóvel dededede elé-elé-elé-elé ATP pode ser restaurada por adição subse
tronsporque pode percorrer a face externa da quente de 2,4-dinitrofenol.
membrana interna. E. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol e do
10. Uma incapacidade de reoxidar NADH em decor inibidor de fosforilação oligomicina causará
rência de um defeito do complexo I hidrólise de ATP.
A. inibiria a isocitrato desidrogenase e, portanto, Problemas
diminuiria a velocidade do ciclo TCA.
13. Para a reação A  B, DG0! = –29,7 kJ/mol. A 37°C,
B. forçaria o equilíbrio oxaloacetato–malato em
–2,303 RT = –5,94 kJ/mol. Qual a razão de equilí
direção ao oxaloacetato.
brio B/A?
C. estimularia a lançadeira α-glicerol fosfato a
transportar equivalentes de redução. 14. Usando piruvato marcado com 14C em seu grupo
ceto, pela reação da piruvato desidrogenase do ci
E. causaria a difusão livre de NADH da mitocon
clo TCA, onde o carbono marcado estaria ao final
dria para o citosol.
de uma volta do ciclo TCA? Onde o carbono marca
D. forçaria o equilíbrio succinato-fumarato em do estaria ao final da segunda volta do ciclo?
direção ao succinato.

Respostas
1. B Alta energia não se refere a uma alta energia de côndria para ser usado como uma fonte de acetil
formação (estabilidade da ligação). Uma ligação de -CoA citoplasmático. B: fumarato é produzido du
alta energia é assim designada porque tem uma rante a degradação de fenilalanina e tirosina. D:
alta energia livre de hidrólise. Isso poderia surgir α-cetoglutarato pode ser formado a partir de glu
pelas razões A, C, D ou E. tamato. E: oxaloacetato é produzido pela piruvato
2. carboxilase, e é usado na gluconeogênese. Eviden
C A: citrato é transportado para fora da mito
temente, a maioria dos intermediários do ciclo dos
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 609

ácidos tricarboxílicos desempenha múltiplas fun I, mas o complexo I não pode reagir com a succina
ções no corpo. to desidrogenase. E: este é o citocromo c.
3. D ATP e ADP são transportados em direções 10. A Essa é a enzima chave reguladora do ciclo TCA.
opostas. A e B: equivalentes de redução do NADH B: malato é a forma reduzida, de modo que seria
são transportados através da membrana, assim favorecido. C: a enzima citossólica usa NADH e
como o grupo acetil do acetil-CoA, mas NADH e transporta equivalentes de redução para dentro da
acetil-CoA não podem atravessar. C: dos nucleotí mitocôndria. A enzima mitocondrial é FAD-ligada.
deos, só ATP e ADP são transportados. E: como D: NADH não atravessa a membrana. E: essa rea
NADH, NADPH não atravessa a membrana. ção é FADH2-ligada.
4. A Essa é a utilização direta da energia. B: o movi 11. D É por isso que a meta-hemoglobina é um antí
mento de prótons é da matriz para o espaço inter doto eficiente, uma vez que também tem Fe3+. B:
membranas, de forma que o último se torna mais respiração e produção de energia são acopladas, de
positivo. C: só alguns transportadores de elétrons modo que inibindo uma, inibe a outra também. C:
têm energia suficiente para bombear prótons. D: cobre é uma parte importante da citocromo oxida
nenhum íon negativo é transportado com o próton, se, mas o cianeto não se liga a ele. E: o problema é
de modo que surge um gradiente de cargas. E: a a incapacidade de reagir com O2, não falta de O2.
energia é necessária para liberar o ATP da subuni
12. A O cianeto inibe o transporte de elétrons no sí
dade, não para a síntese em si.
tio III, bloqueando o fluxo de elétrons pelo sistema.
5. D Isso está correto. A: ambos ficam associados Em mitocôndrias acopladas, a síntese de ATP tam
com a membrana mitocondrial interna. B: essa é a bém para. A adição de um desacoplador permite
função do domínio F0. C: ambos ligam-se e síntese que a ATPase mitocondrial (que está normalmente
de ATP ocorre. E: mudanças de conformação de di dirigida no sentido da síntese) opere e catalise a
ferentes subunidades são importantes nas ações de reação favorável de hidrólise de ATP, a menos que
ambos os domínios. seja inibida por um inibidor de fosforilação, como a
oligomicina.
6. A A transferência de quatro elétrons para o oxi
gênio produz água. Radicais de oxigênio ocorrem 13. DG0! =−RTln K=−2,303 RTlog K. Substituição dá
quando elétrons são adicionados passo a passo ao log K = 5. K é, então, 100.000, de modo que B/A =
O2. B: H2O2 também é incluído como oxigênio reati 100.000/1.
vo porque pode produzir ·OH. C: H2O2 é degradado
14. O carbono ceto marcado do piruvato torna-se o
pela catalase. D: todos esses estão sujeitos a oxida
carbono da carboxila marcada no acetil-CoA. Após
ção, com efeitos deletérios. E: a glutationa peroxi
condensação com oxaloacetato, o primeiro gru
dase catalisa essa reação.
po carboxila do citrato fica marcado. Essa marca
7. A Ca2+ elevado favorece a desidrogenase ativa, é retida nas reações subsequentes até succinato.
mas por ativação da fosfatase. B, C e D: NADH e Entretanto, o succinato é um composto simétrico
acetil-CoA ativam a piruvato desidrogenase quina para a enzima, de modo que, na realidade, ambos
se, inativando assim a piruvato desidrogenase. O os grupos carboxila do succinato ficam marcados.
piruvato inibe a quinase, favorecendo a desidroge Isso significa que o oxalato regenerado é marcado
nase ativa. em ambos os grupos carboxila ao final de uma volta
(na verdade, metade das moléculas é marcada em
8. E TPP é o cofator da primeira reação, que des um grupo carboxila e metade no outro, mas isso
carboxila o piruvato. A e C: esses são cofatores da não pode ser diferenciado experimentalmente).
di-hidrolipoil transacetilase. B e D: esses são cofa
Note que CO2 não é marcado. Na segunda volta,
tores da di-hidrolipoil desidrogenase.
acetil-CoA marcado na mesma carboxila é adicio
9. D Isso contribui para a força próton-motiva ne nado, mas, desta vez, ao oxaloacetato marcado.
cessária para a síntese de ATP. A e C: a transfe Ambos os grupos carboxila do oxaloacetato são
rência não é direta, mas ocorre por FMN e centros liberados como CO2, de modo que este estará mar
FeS. B: elétrons são transferidos do NADH para cado, bem como o oxaloacetato regenerado.
FMN ligados a uma das subunidades do complexo
610 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
15
PARTE IV
Vias Metabólicas e seu controle
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 611

Metabolismo
Glicogênio G C
de Carboidratos I:
Principais Vias
Metabólicas e Seu Controle
Robert A. Harris
Professor Emérito Distinto e Professor Eméritoérito ��o���ter��o���ter �e�e �io���mi����io���mi��� �n�i�n��n�i�n� �ni�er��ni�er�
sity ���oo� of Me�i�ine

15.1 INTRODUÇÃO, 612


CONTEÚDO 15.3 Intolerância a Frutose, 626
15.4 Diabetes Mellitus, 628
15.4 VIA
15.2
15.3
15.5 GLICÓLISE,
GLUCONEOGÊNESE,
REGULAÇÃO
GLICOLÍTICA,
612
DA GLICÓLISE,
616638 623 15.5 Acidose Láctica, 630
15.6 “Picles” de Porco e Hipertermia Maligna, 631
15.7 Angina Pectoris e Infarto do Miocárdio, 632
15.8 Deficiência de Piruvato Quinase e Anemia Hemo�
15.6
CORRELAÇÕES
GLICOGENÓLISE
CLÍNICAS
E GLICOGÊNESE, 648 lítica, 638
15.9 Hipoglicemia e Bebês Prematuros, 639
15.10 Hipoglicemia e Intoxicação Alcoólica, 648
15.1 Álcool e Barbituratos, 622 15.11 Doenças de Armazenamento de Glicogênio, 653

15.2 Envenenamento por Arsênico, 624

Conceitos Chaves
• ca
mamíferos
A glicose épara
(ausênciametabolizada
de formar
oxigênio)
ATP.
por
produz
Atodas as células
glicólise
duas moléculas
anaeróbi�
de da glicólise e é regulada tanto negativamente como
positivamente por efetores alostéricos.
• Gluconeogênese, a formação de glicose a partir
de lactato e de ATP a partir de uma molécula de
de substratos não�carboidratos, é necessária para
glicose. A glicólise aeróbica (presença de oxigênio)
manter a glicose sanguínea e envolve as enzimas
produz duas moléculas de NADH e de piruvato. O
glicolíticas que catalisam reações reversíveis. As rea�
NADH deve ser reoxidado para que a glicólise con�
ções da glicólise que são irreversíveis são contorna�
tinue.
das por reações específicas da gluconeogênese. Al�
• to�1�quinase
A glicólise éé reguladaregulada
catalisa aemememetapa
trêstrêstrêsde
etapas.etapas.etapas.
comprometimento AAA 6�fosfofru�6�fosfofru�6�fosfofru� guns aminoácidos são glucogênicos, mas os ácidos
graxos com número par de carbonos não são.
612 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

• A gluconeogênese é inibida por insulina e estimu� • A glicogênio sintase existe em uma forma fosfori�
lada por glucagon, mediados pela regulação dos lada, que é dependente para atividade da presença
estados de fosforilação de enzimas regulatórias. de glicose 6�fosfato, um efetor alostérico positivo, e
Efeitos de longo prazo, estimulatórios do glucagon uma forma não�fosforilada, que é independente de
e inibitórios da insulina, sobre a gluconeogênese glicose 6�fosfato.
são mediados por indução e repressão de enzimas
• A glicogênio fosforilase, uma enzima chave na de�
chaves de vias glicolítica/gluconeogênica. gradação do glicogênio, é ativada por AMP e ini�
• Quando a glicose é abundante, o fígado e o músculo bida por glicose e ATP, e é ativada também por
esquelético sintetizam e armazenam glicogênio. O uma cascata de sinalização envolvendo proteína
músculo esquelético utiliza o glicogênio armazena� quinases.
do para a síntese de ATP durante o exercício, e o
• Doenças do armazenamento de glicogênio são cau�
fígado libera glicose a partir do glicogênio quando
sadas por defeitos hereditários em enzimas envol�
os níveis de glicose sanguínea estão baixos. O mús�
vidas na degradação do glicogênio.
culo não libera glicose livre.

15.1 INTRODUÇÃO (glicogenólise) de glicogênio. Muitas células armaze�


nam glicogênio para suas próprias necessidades futu�
As principais vias do metabolismo de carboidratos ras. O fígado é menos egoísta, armazenando glicogênio
começam ou terminam com a glicose (Figura 15.1). principalmente para a manutenção da glicose sanguí�
Este capítulo descreve a utilização da glicose como nea, para garantir que outros tecidos, especialmente o
uma fonte de energia, a formação de glicose a partir de cérebro, tenham um suprimento adequado. A regulação
precursores não�carboidratos, o armazenamento de gli� da síntese e da degradação de glicogênio é um modelo
cose na forma de glicogênio, e a liberação de glicose do para nosso entendimento de como hormônios funcio�
glicogênio. É necessário um entendimento das vias e de nam e como vias metabólicas são reguladas. Esses tó�
sua regulação, em virtude do importante papel desem� picos contribuem para nosso entendimento da condição
penhado pela glicose no corpo. A glicose é a principal diabética, do jejum e de como os tecidos do corpo res�
forma na qual o carboidrato absorvido no trato intesti� pondem ao estresse, trauma severo e lesões.
nal é apresentado às células do corpo. ÉÉ ooo únicoúnicoúnico com�com�com�
bustível usado em quantidades significativas por algu� A química e a nomenclatura dos carboidratos são
mas células especializadas, e é o principal combustível apresentadas no Apêndice.
do cérebro. Portanto, a glicose sanguínea deve ser man�
tida em nívelnível suficientesuficiente parapara satisfazersatisfazer essasessas necessida�necessida�
GLICOGÈNIO
des,, oo tempotempo todo.todo. VáriosVáriosários tecidostecidostecidos dododo corpocorpocorpo desenvolve�desenvolve�desenvolve�
ram uma relação de trabalho coordenada que assegura Glicogenólise Glicogênese
um suprimento contínuo desse substrato essencial para GLICOSE
estas células e para o cérebro. Por outro lado, a glicose
Glicólise Gluconeogênese
é tóxica e pode causar lesão tecidual quando sua con�
centração não é controlada dentro de limites estreitos. LACTATO
Isso ocorre no diabetes e é um fator contribuinte para o
desenvolvimento de aterosclerose, hipertensão, doença FIGURA 15.1 Relação da glicose com as principais vias do
de microvasculatura, doença renal e cegueira. metabolismo de carboidratos.

A discussão começa com a glicólise, uma via usa�


da por todas as células do corpo para extrair parte da
energia química inerente à molécula de glicose. Essa via 15.2 GLICÓLISE
também converte glicose em piruvato e prepara a oxi�
dação completa da glicose a CO2 e H2O. A gluconeogê�
nese, a síntese �e no�o de glicose, é convenientemente
Glicólise Ocorre em Todas as Células
discutida depois da glicólise, porque envolve muitas das Humanas
mesmas enzimas usadas na glicólise, embora as reações
catalisadas ocorram na direção oposta. Diferentemente A via de Embden�Meyerhof, ou glicolítica, representa
da glicólise, que produz ATP, a gluconeogênese requer um processo ancestral, que ocorre em todas as células
ATP e é, portanto, um processo que requer energia. As� do corpo humano, no qual ocorre degradação anaeróbi�
sim, algumas etapas catalisadas por enzimas precisam ca da glicose a lactato, com liberação de energia como
ser diferentes entre a glicólise e a gluconeogênese. Ao ATP. Esse é um exemplo de ferment�ção �n�eróbi��,
longo do capítulo, será enfatizado como a regulação é um termo usado para vias metabólicas que organismos
exercida em enzimas chaves. Isso será particularmente usam para extrair energia química de combustíveis ri�
verdadeiro para a síntese (glicogênese) e a degradação cos em energia, em ausência de oxigênio. Para muitos
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 613

tecidos, a glicólise é só uma via fornecedora de energia DGlicose glicólise 2 piruvato PDH
2 acetil CoA
de emergência, capaz de produzir 2 moles de ATP a par
tir de 1 mol de glicose, em ausência de oxigênio (Figura
2 Llactato 2CO2 TCA 4CO2
15.2). Quando o suprimento de oxigênio de um tecido
é interrompido, os níveis de ATP ainda podem ser man
tidos pela glicólise, pelo menos por um curto período. Nenhum
paraOa2 glicólise
é necessário Necessidade
desidrogenase
de O2(PDH)
para amais
piruvato
Poderiam ser dados muitos exemplos, mas a capacidade atividade do ciclo TCA
de utilizar a glicólise como uma fonte de energia é par
ticularmente importante durante o nascimento natural FIGURA 15.3 A glicólise é uma via preparatória para o
de bebês humanos. Com a exceção do cérebro, a circu metabolismo aeróbico da glicose.
lação do sangue diminui para a maioria das partes do PDH refere-se ao complexo piruvato desidrogenase, TCA ao ciclo
dos ácidos tricarboxílicos.
corpo do bebê durante o parto. Normalmente, o cérebro
não é privado de oxigênio durante o parto, mas outros
glicose). Isso tem importantes consequências a serem
tecidos passam a depender da glicólise para seu supri
consideradas em detalhes mais adiante. A importân
mento de ATP, até que um suprimento normal de oxigê
cia da glicólise como uma via preparatória é mais bem
nio esteja disponível. Isto economiza oxigênio para ser
exemplificada pelo cérebro, que tem uma necessidade
usado pelo cérebro, ilustrando um dos muitos mecanis
absoluta de glicose. O piruvato produzido pela glicólise
mos que evoluíram para assegurar a sobrevivência do
é oxidado a CO2 nas mitocôndrias. Um cérebro humano
tecido cerebral em momentos de estresse. Oxigênio não
adulto usa aproximadamente 120 g de glicose por dia
é necessário para a glicólise; de fato, o oxigênio pode para suprir sua necessidade de ATP. Diferentemente, a
suprimir indiretamente a glicólise pelo efeito Pasteur,
glicólise com lactato como produto final é o principal
que será considerado mais adiante (p. 628). Contudo,
mecanismo de produção de ATP em alguns outros te
a glicólise ocorre em células com um suprimento abun
cidos. Os glóbulos vermelhos não têm mitocôndrias e,
dante de oxigênio molecular. Contanto que as células
portanto, não podem converter piruvato em CO2. A cór
também contenham mitocôndrias, o produto final da
nea, o cristalino e regiões da retina têm um suprimento
glicólise em presença de oxigênio é o piruvato, e não
limitado de sangue, e também são desprovidos de mito
o lactato. O piruvato é, então, completamente oxidado
côndrias (porque as mitocôndrias absorveriam e difra
a CO2 e H2O pelo complexo piruvato desidrogenase e
tariam a luz), e dependem da glicólise como o principal
enzimas do ciclo TCA alojadas dentro das mitocôndrias
mecanismo para produção de ATP. A medula renal, os
(Figura 15.3). A glicólise, portanto, prepara o palco
para a oxidação aeróbica do carboidrato. O processo ge testículos, os leucócitos e as fibras musculares brancas
ral d glicólise e da oxidação mitocondrial do piruvato a têm relativamente poucas mitocôndrias e são, portan
to, dependentes quase que totalmente da glicólise como
CO2 e H2O tem a seguinte equação:
fonte de ATP. Os tecidos que dependem primariamente
D-Glicose(C6H12O6)
→ 6 CO2 + 6 H2O
+ 6+O2
32+ATP4
32 ADP3–
– + 32+OH–P2–i
32 → da glicólise para a produção de ATP, consomem cerca
de 40 g de glicose por dia, em um adulto normal.

Amido é a forma de armazenamento de glicose em


CH2OH plantas e contém ligações a-1,4-glicosídicas e ramifica
O H ções a-1,6-glicosídicas. O glicogênio é a forma de arma
H
zenamento de glicose em tecidos animais e contém os
HO OH H
OH mesmos tipos de ligações glicosídicas e ramificações.
O glicogênio exógeno refere-se ao glicogênio que obte
α'*OLFRVH
H OH
mos de produtos animais; glicogênio endógeno é o sin
tetizado e armazenado em nossos tecidos. O amido ou
2 ADP3i + 2 Pi2i
glicogênio exógeno é hidrolisado a glicose no trato in
2 ATP4i testinal, enquanto o glicogênio endógeno armazenado
em nossos tecidos é convertido em glicose ou glicose-6
O Oi -fosfato por enzimas de dentro das células. Dissacarídeos
C como o açúcar do leite (lactose) e o açúcar de cana
2 HO H
(sacarose) são importantes fontes de glicose na nossa
C
dieta. Sua hidrólise por enzimas da borda em escova
CH3 do trato intestinal é discutida na página 1050. Embora
//DFWDWR
a glicose possa ser uma fonte de energia para as células
FIGURA 15.2 Equação geral balanceada da soma das do trato intestinal, essas células não dependem muito
da glicose; a maior parte de suas necessidades energé
reações da glicólise.
ticas é suprida pelo catabolismo de glutamina (p. 777).
Muito mais ATP é produzido na oxidação comple A maior parte da glicose é absorvida pelas células do
ta da glicose a CO2 e H2O (32 ATP/glicose) do que é trato intestinal para o sangue da veia porta e, depois,
produzido na conversão de glicose em lactato (2 ATP/ para a circulação geral, para uso em outros tecidos. O
614 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

a
A. Glóbulos vermelhos B. Células do tecido cerebral a
Glicose Glicose

b b
Pentoses
fosfato c Glicose 6-P Pentoses
fosfato c
Glicose 6-P

d d

(2) Piruvato
(2) Lactato– (2) CO2 f

(2)H+ e (2) AcetilCoA

(4) CO2

C. Células de tecido muscular a D. Células de tecido adiposo a

e cardíaco Glicose Glicose

b h b
Pentoses
fosfato c d i Pentoses
fosfato c d h
Glicose 6-P Glicogênio Glicose 6-P i Glicogênio

(2) Piruvato– (2) Lactato– (2) Piruvato–


(2) CO2 f (2) CO2 f
(2) H+ e

(2) AcetilCoA (2) AcetilCoA

j
g
Gordura
(4) CO2

E. Células do parênquima a
hepático b
Glicose

Pentoses
fosfato c Glicose 6-P Glicogênio
FIGURA 15.4 Visão geral das principais vias
h pelas quais a glicose é metabolizada dentro
de células de tecidos específicos do corpo.
Glucuronídeos n d l A. Glóbulos vermelhos. B. Células do tecido
i cerebral.C. Células de tecido muscular e cardíaco.
D. Células de tecido adiposo. E. Células do parên�
Glicose m (2) Piruvato (2) Lactato– quima hepático. (�) Transporte de glicose para
(2) CO2 f dentro de uma célula por um transportador de
(2) H+
e glicose (GLUT). (b) Fosforilação da glicose por
(2) AcetilCoA hexoquinase. (�) Via das pentoses fosfato. (�) Gli�
cólise. (e) Transporte de ácido láctico para fora da
j g célula. (f) Descarboxilação do piruvato pela piru�
VLDL VLDL k
Gordura vato desidrogenase. (g) Ciclo TCA. (�) Glicogêne�
(4) CO2 se. (i) Glicogenólise. (j) Lipogênese. (k) formação
e liberação de lipoproteínas de densidade muito
baixa (VLDL). (�) Gluconeogênese. (m) Hidrólise
de glicose 6�fosfato e liberação de glicose da célu�
la para o sangue. (n) Formação de glucuronídeos
(desintoxicação de drogas e bilirrubina por conju�
gação) pela via do ácido glucurônico.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 615

fígado é o primeiro tecido importante a ter oportunida� (transportador de glicose 4). Na ausência de insulina,
de de remover glicose do sangue da veia porta. Quando GLUT4 existe em vesículas intracelulares, onde não
a glicose sanguínea está alta, o fígado remove glicose pode facilitar o transporte de glicose (Figura 15.5). A
para glicogênese e glicólise. Quando a glicose sanguí� ligação da insulina ao seu receptor na membrana plas�
nea está baixa, o fígado fornece glicose ao sangue por mática inicia uma cascata de sinalização que promove
glicogenólise e gluconeogênese. O fígado é também o o deslocamento e a fusão de vesículas contendo GLUT4
primeiro órgão exposto ao sangue que flui do pâncreas com a membrana plasmática, colocando assim o GLUT4
e, portanto, está exposto às concentrações mais altas onde pode facilitar o transporte de glicose. A glicose
de glucagon e insulina. Os efeitos desses importantes captada por células musculares e cardíacas pode ser
reguladores hormonais dos níveis de glicose sanguínea utilizada pela glicólise para dar piruvato, que é usado
serão discutidos mais adiante. pelo complexo piruvato desidrogenase e ciclo TCA para
fornecer ATP. O músculoúsculo ee ooo coraçãocoraçãocoração sintetizamsintetizamsintetizam quan�quan�quan�
tidades significativas de glicogênio, um importante
Glicose É Metabolizada combustível que esses tecidos acumulam para consumo
Diferentemente em Várias Células posterior.

A glicose é metabolizada principalmente por glicó� Como no músculo, a captação de glicose pelo teci�
lise em eritrócitos (Figura 15.4A). O transporte atra� do adiposo é dependente de, e estimulado por, insulina
vés da membrana plasmática é catalisado por GLUT1 (Figuras 15.4D e 15.5). O piruvato, como em outras cé�
(transportador de glicose 1; p. 508). Como essas célu� lulas, é gerado pela glicólise e é oxidado pelo comple�
las são desprovidas de mitocôndrias, o produto final xo piruvato desidrogenase, formando acetil�CoA, que é
da glicólise é ácido láctico, que é liberado no sangue. usado primariamente para síntese �e no�o de ácidos
A glicose usada pela via das pentoses fosfato em eri� graxos. A glicólise também fornece carbono para a sín�
trócitos fornece NADPH para manter a glutationa no tese de glicerol 3�fosfato (não mostrado), necessário
estado reduzido, o que tem um papel importante na para síntese de triacilglicerol (p. 707). O tecido adiposo
destruição de peróxidos orgânicos e H2O2 (ver Figura pode realizar glicogênese e glicogenólise, mas sua capa�
14.61, p. 605). Peróxidos causam danos irreversíveis a cidade para esses processos é muito limitada em rela�
membranas, DNA e outros componentes celulares, e de� ção ao músculo, ao coração e ao fígado.
vem ser removidos para evitar lesão
e morte celular. Insulina

O cérebro capta glicose por de insulina


Receptor Glicose Glicose Glicose Glicose
+
transporte facilitado, de modo in�
dependente de insulina, por GLUT3
(transportador de glicose 3) (Fi�
gura 15.4B). A glicólise produz pi�
ruvato, que é subsequentemente
oxidado a CO2 e H2O pelo complexo GLUT4
Membrana
piruvato desidrogenase e pelo ciclo plasmática
TCA. A via das pentoses fosfato é
ativa nessas células, gerando parte
do NADPH necessário para a síntese Sinalização em cascata mediada pela quinase +
redutora e a manutenção da gluta�
tiona no estado reduzido.

As célulasélulas muscularesmusculares ee cardía�cardía�


cas utilizam prontamente a glicose
(Figura 15.4C). A insulina estimula
o transporte de glicose para dentro
destas células por meio do GLUT4

FIGURA 15.5 Insulina estimula a


captação da glicose pelos tecidos
adiposo e muscular, aumentando
o número de transportadores de
glicose (GLUT4) na membrana Microvesicula
plasmática. com GLUT4
616 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

O fígadoígado temtemtem ooo maiormaiormaior númeronúmeronúmero dedede caminhoscaminhoscaminhos paraparapara uti�uti�uti� Estágio de óxido-redução-fosforilação (Figura 15.6�):
lizar glicose (Figura 15.4E). A captação de glicose ocor� 2D�gliceraldeído
→ 2 L�lactato–
3�fosfato2�
++ 4 ATP4– + 2 Pi2– + 2 H+ →
4 ADP3–+
reindependentemente de insulina por meio de GLUT2,
um transportador de baixa afinidade e alta capacidade 2 H2O
de transporte de glicose. Glicose é usada pela via das Soma:
pentoses fosfato para a produção de NADPH, que é ne�
cessário para a síntese redutora (síntese �e no�o de →
D�Glicose
2 L�lactato–
+ 2ADP3–
+ 2 ATP4–
+ 2 Pi2– →
ácidos graxos e colesterol), a manutenção da glutationa + 2 H2O
reduzida e numerosas reações catalisadas por sistemas
enzimáticos do retículo endoplasmático. Uma função O estágio preparatório envolve investimento de duas
vital da via das pentoses fosfato é o fornecimento de moléculas de ATP para converter a glicose em frutose
ribose fosfato para a síntese do resíduo de açúcar de 1,6�bisfosfato. O ATP é “investido”, e não perdido, nes�
nucleotídeos, como ATP e aqueles do DNA e do RNA. se estágio porque háhá subsequentesubsequenteente ganhoganhoganho maiormaiormaior ememem eta�eta�eta�
O armazenamento de glicose como glicogênio é uma pas posteriores. O estágio de quebra “cliva” a frutose
característica particularmente importante do fígado. A 1,6�bisfosfato em duas moléculas de gliceraldeído 3�fos�
glicose também é usada na via do ácido glucurônico, fato. No estágio de óxido�redução�fosforilação, duas
que é importante na desintoxicação de drogas e de bi� moléculas de gliceraldeído 3�fosfato são convertidas em
lirrubina (p. 674 e 821). O fígado realiza glicólise, sendo duas moléculas de lactato, com a produção de quatro
que o piruvato produzido é usado como fonte de acetil� moléculas de ATP. O processo total, portanto, gera duas
�CoA para oxidação completa pelo ciclo dos ácidos tri� moléculas de lactato e duas moléculas de ATP a partir
carboxílicos e para síntese de ácidos graxos. A glicólise de uma molécula de glicose.
também fornece carbono para a síntese do resíduo de
glicerol do triacilglicerol, que é sintetizado pelo fígado Estágio Um: Preparação da Glicose
durante a produção de lipoproteínas de densidade mui�
to baixa (VLDL) (p. 744). O fígado também converte Embora a reação da hexoquinase (Figura 15.6�)
precursores de três carbonos (lactato, piruvato, glicerol consuma ATP, ela representa um bom início da glicólise
e alanina) em glicose pelo processo de gluconeogênese, porque retém glicose como glicose 6�fosfato (G6P) no
para suprir as necessidades de glicose de outras células citosol, onde todas as enzimas glicolíticas estão loca�
e do cérebro. lizadas. Os ésteres de fosfato são carregados e hidro�
fílicos e, portanto, não podem atravessar membranas
celulares. A fosforilação da glicose pelo ATP é uma
reação termodinamicamente favorável, irreversível em
15.3 VIA GLICOLÍTICA condições celulares. A reação inversa não pode ser usa�
da para sintetizar ATP.
Glicose é combustível e queima em tubo de ensaio,
gerando calor e luz, mas, é claro, nenhum ATP. As cé� A reação seguinte, catalisada pela fosfoglucose iso�
lulas usam cerca de 30 etapas para levar glicose a CO2 merase, é facilmente reversível, e não está sujeita a re�
e H2O, um processo aparentemente ineficiente, já que gulação.
pode ser feito em uma única etapa em tubo de ensaio.
Entretanto, reações colaterais e algumas das etapas re� A 6�fosfofruto�1�quinase (ou fosfofrutoquinase�1)
ais utilizadas pela célula para oxidar glicose a CO2 e catalisa a fosforilação dependente de ATP da frutose
H2O levam à conservação de uma quantidade significa� 6�fosfato (F6P) para frutose 1,6�bisfosfato (FBP). Essa
tiva de energia na forma de ATP. Em outras palavras, enzima está sujeita a regulação por vários efetores, e é
as células produzem ATP pela “queima” controlada de frequentemente considerada a enzima regulatória cha�
glicose, sendo que a glicólise representa apenas as pri� ve da glicólise. A reação é irreversível e usa o segundo
meiras etapas, apresentadas na Figura 15.6. ATP necessário para “preparar” a glicose.

Estágio Dois: Quebra de um Intermediário


Glicólise Ocorre em Três Estágios Fosforilado
A glicólise tem três estágios principais. A frutose 1,6�bisfosfato aldolase cliva a frutose
1,6�bisfosfato em uma molécula de di�hidroxiaceto�
Estágio preparatório (Figura 15.6�): na fosfato (DHAP) e uma de gliceraldeído 3�fosfato
(GAP) (Figura15.6b). Esta é uma reação reversível,
D�Glicose + 2ATP4– →
→ D�frutose 1,6�bisfosfato4– + 2ADP3� + 2 H+ correspondendo a uma clivagem de aldol em uma di�
reção, e uma condensação de aldol, na outra. A triose
Estágio de quebra (Figura 15.6b): fosfato isomerase catalisa a interconversão reversível
de DHAP e GAP. Com a transformação de DHAP em
D�frutose 1,6�bisfosfato4– → GAP, uma molécula de glicose é convertida em duas
→ 2 D�gliceraldeído 3�fosfato2– moléculas de GAP.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 617

CH2OH H
CH2O P
HO
H OH O
H H
OH ATP
hexoquinase
ADP H O H
H H
HO OH H OH

H OH OH
Glicose Glicose 6-fosfato

CH2OPO fosfoglucoseisomerase

CH2OH
ADP
ATP
HFrutose
HOH 6-fosfato
OH
H OH HCOH
O
CH Pi desidrogenase
gliceraldeído
3-fosfato O

COP

HCOH
CH2OP NAD+ NADH, H+ CH2OP

Gliceraldeído 1,3 Bisfosfoglicerato


6-fosfofruto-1-quinase 3-fosfato

fosfoglicerato
quinase ADP

CH2OP OP ATP
O CH2

H H OH
OH O O

OH H CO– CO–
Fosfoenolpiruvato
2-Fosfoglicerato
OH
P ADP piruvato
fosfoglicerato
mutase
quinaseATP OP
Frutose 1,6-bisfosfato
frutose-bisfosfato
aldolase HCO HCOH

CH2 CH2
(a) 3-Fosfoglicerato

CH2O PO CH2OP CH2OP enolase

CH2 C O
Di-hidroxiacetona
fosfato Frutose 1,6-bisfosfato HCOH H2O
H OHH H OH
OH ou HOCH OP O
CO–

HCOH
(b) CO–
O
CH2 (c)

CH2 Piruvato
COP C O

CH3

NADH, H+

O NAD+
O L O lactato
CH2
C OP CH CO– desidrogenase

OH triose
isomerase
fosfato HCOH
CH2 HOCH
OP
Gliceraldeído
CH3

3-fosfato -Lactato

FIGURA 15.6 A via glicolítica, dividida em seus três estágios.


O símbolo Prefere�se ao grupo fosforil PO32–; �� indicaindicaindica umaumauma liga�liga�liga� de quebra. (�) Estágio de óxido�redução�fosforilação.
ção fosfato de alta energia. (�) Estágio preparatório. (b) Estágio

Estágio Três: Reações de Óxido-Redução e que é realizado. Um aldeído (gliceraldeído 3�fosfato) é


Síntese de ATP oxidado a um ácido carboxílico, com a redução de NAD+
a NADH. O ácido produzido é 1,3�bisfosfoglicerato, um
A reação catalisada pela gliceraldeído 3�fosfato desi� anidrido misto de um ácido carboxílico e ácido fosfórico,
drogenase (Figura 15.6�) é de interesse em virtude do que tem uma energia negativa livre de hidrólise grande,
618 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

o que lhe dá condições de participar de uma reação sub� A reação final envolve o acoplamento dos compo�
sequente que forma ATP. A reação geral pode ser vista nentes endergônico e exergônico, dando uma variação
como o acoplamento de uma reação exergônica muito de energia livre padrão de +6,3 kJ/mol (1,5 kcal/mol).
favorável com uma reação endergônica desfavorável. A
O
reação exergônica é aquela na qual um aldeído é oxida�
do a um ácido carboxílico, a qual é depois acoplada com NAD+ O Soma:
+ HPO42J RCH + NAD+ + HPO42J
uma meia reação endergônica, na qual NAD+ é reduzido O
a NADH. R COPO32J + NADH + H+, ∆G°! + 1,5 kcal molJ1

O O
R CH + H2O RCOH + 2H+ + 2eJ Essa reação é totalmente reversível nas células. O
mecanismo catalítico envolve gliceraldeído 3�fosfato re�
NAD+ + 2H+ + 2eJ NADH + H+
agindo com o grupo sulfidrila de um resíduo de cisteína
A reação geral (soma das meias reações) é bastante para gerar um tio�hemiacetal (Figura 15.7). Uma reação
exergônica. interna de oxidação�redução ocorre, na qual o NAD+li�
gado é reduzido a NADH e o tio�hemiacetal é oxidado
R O
CH NAD+ H2 O a um tiol éster de alta energia. O tiol éster reage com
o Pi para formar o anidrido misto e regenerar o grupo
+ + O R COH +
sulfidrila livre. O anidrido misto se dissocia da enzima
O
e NAD+ exógeno substitui o NADH ligado. Deve�se no�
D H2O R COH NADH H, G° 10,3 kcal mol 1 tar que um grupo ácido carboxílico livre (—COOH) não
é gerado a partir do grupo aldeído (—CHO) durante a
Um segundo componente endergônico da reação é a reação. Ao contrário, a enzima gera um grupo carboxila
formação de um anidrido misto entre o ácido carboxíli� na forma de um tiol éster de alta energia, que é conver�
co e o ácido fosfórico. tido pela reação com Pi em um anidrido misto de ácidos
carboxílico e fosfórico.
O O
Essa reação catalisada pela gliceraldeído 3�fosfato
RCOH + HPO42J R C O
desidrogenase requer NAD+ e produz NADH. Como o
O
citosol tem só uma quantidade limitada de NAD+, a
HPO42 RCOPO32 H2O, ∆G° 11,8 kcal mol1 continuidade da atividade glicolítica só pode ocorrer
se NADH for reoxidado a NAD+; caso
contrário, a glicólise vai parar, por falta
O OH de NAD+. As opções que as células têm
SH HC R
S C R
para regeneração de NAD+ a partir de
Gliceraldeído NADH são descritas em uma sessão pos�
3fosfato H
desidrogenase condensação Tiohemiacetal terior (p. 620).
Na reação seguinte, a fosfoglicerato
NAD+ NAD+
quinase produz ATP a partir do compos�
to de alta energia 1,3�bisfosfoglicerato
(Figura 15.6�). Esse é o primeiro ponto
óxidoredução de produção de ATP na glicólise. Como
do
deslocamento
nucleotídeo NADH interna
duas moléculas de ATP foram investidas
para cada molécula de glicose no está�
NAD+
gio preparatório, e como duas moléculas
de 1,3�bisfosfoglicerato são produzidas a
SH O O
partir de cada glicose, todo o ATP “inves�
P OC R Pi S C R tido” é recuperado nessa etapa. O sistema
Tioéster gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase�
transferência
�fosfoglicerato quinase é um exemplo
de acil de fosforilação em nível de substrato, na
NADH NADH qual um substrato participa de uma rea�
ção catalisada por enzima que gera ATP
ou GTP. Fosforilação em nível de substra�
FIGURA 15.7 Mecanismo catalítico da gliceraldeído 3-fosfato to contrasta com fosforilação oxidativa
desidrogenase. catalisada pela cadeia de transporte de
Os círculos grandes representam a enzima; os círculos pequenos, o sítio de ligação
elétrons mitocondrial e ATP sintase (p.
de NAD+; RCOH, o grupo aldeído do gliceraldeído 3�fosfato; �SH, o grupo sulfidrila
do resíduo de cisteína localizado no sítio ativo da enzima; e �, as ligações de alta 589). Observe que a combinação da glice�
energia do tioéster e do anidrido misto. raldeído 3�fosfato desidrogenase e da fos�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 619

foglicerato quinase faz o acoplamento de uma oxidação o efetor alostérico mais importante da hemoglobina, em
(um aldeído é oxidado a um ácido carboxílico) com uma condições fisiológicas e patológicas que afetam o pH in�
fosforilação (um anidrido misto de um ácido carboxíli� tracelular de eritrócitos (Um Olhar Mais Atento 15.1).
co e um ácido fosfórico é formado), sem o envolvimento
de um sistema de membrana. Enolase elimina águaágua dodoo 2�fosfoglicerato2�fosfoglicerato2�fosfoglicerato paraparapara for�for�for�
mar fosfoenolpiruvato (PEP) na reação seguinte (ver
Fosfoglicerato mutase converte 3�fosfoglicerato em Figura 15.6�). Essa reação gera um fosfato de alta
2�fosfoglicerato. EstaEsta éé umauma reaçãoreação completamentecompletamente re�re� energia a partir de um de nível energético muito mais
versível, na qual 2,3�bisfosfoglicerato é um intermediá� baixo. O DG0’ de hidrólise do fosfoenolpiruvato é –61,9
rio obrigatório no sítio ativo. kJ/mol (–14,8 kcal/mol), enquanto o de 2�fosfoglicera�
to é –17,6 kJ/mol (–4,2 kcal/mol). A piruvato quinase
E�fosfato + 3�fosfoglicerato  E + 2,3�bisfosfoglicerato (Figura 15.6�) realiza outra fosforilação em nível de
E + 2,3�bisfosfoglicerato  E�fosfato + 2�fosfoglicerato substrato. Essa reação não é reversível em condições
Soma: 3�fosfoglicerato  2�fosfoglicerato intracelulares.

O envolvimento de 2,3�bisfosfoglicerato nessa reação A última etapa da glicólise é uma reação de óxido�
cria uma necessidade absoluta de quantidades catalíti� �redução francamente reversível, catalisada pela lac�
cas desse composto nas células.células. IssoIssoo podepodepode serserser consta�consta�consta� tato desidrogenase (Figura 15.6�). O piruvato é redu�
tado observando�se que E�P não pode ser gerado sem zido para dar L�lactato e NADH é oxidado a NAD+. A
2,3�bisfosfoglicerato e, da mesma forma, que 2,3�bisfos� direção para frente dessa reação é a única reação do
foglicerato não pode ser gerado sem E�P. As célulasélulas re�re� corpo na qual L�lactato pode ser produzido. A direção
solvem esse problema sintetizando 2,3�bisfosfoglicerato inversa dessa reação é a única reação do corpo na qual
a partir de 1,3�bisfosfoglicerado com uma 2,3�bisfosfo� L�lactato pode ser utilizado. A lactato desidrogenase é,
glicerato mutase. portanto, responsável pela produção e pela utilização
de L�lactato.
O O
CH2
COPO32J COJ
+H+ Rendimento em ATP e Equação
2J
HCOH HCOPO3
Balanceada da Glicólise Anaeróbica
OPO32J CH2OPO32J
A conversão de uma molécula de glicose em duas mo�
3�fosfoglicerato e Pi
1,3-Bisfosfo-D-glicerato 2,3-Bisfosfo-D-glicerato
léculas de lactato resulta na formação líquida de duas
moléculas de ATP. Duas moléculas de ATP são usadas no
Essa enzima é bifuncional, servindo como muta� estágio preparatório, mas as etapas subsequentes produ�
se para a formação de 2,3�bisfosfoglicerato, e também zem quatro moléculas de ATP, de modo que o rendimen�
como fosfatase que hidroliza 2,3�bisfosfoglicerato em to total líquido é de duas moléculas de ATP.
. Todas as células contêm as quan�
tidades minúsculas de 2,3�bisfosfoglicerato necessárias
para produzir a forma fosforilada (E�P) da fosfoglice�
1/2 Glicose
rato mutase recém�sintetizada. Em notável contraste
com as outras células do corpo, eritrócitos contêm con�
centrações muito altas de 2,3�bisfosfoglicerato, o qual ADP 1,3Bisfosfoglicerato 2,3BP
Gm
utase
funciona como um importante regulador alostérico
negativo da ligação do oxigênio com a hemoglobina (p. ATP 2,3Bisfosfoglicerato
378). Em contraste com as quantidades extremamente tase
fosfa
pequenas de glicose usadas para 2,3�bisfosfoglicerato B PG )
3Fosfoglicerato 2,3
em outras células, 15 a 25% da glicose convertida em BC
(R
e
lactato em eritrócitos segue o �es�io �PG para a sínte� tas
Pi fa
fos
se de 2,3�bisfosfoglicerato (Figura 15.8). Deve�se notar IP
M
que o desvio BPG contorna a etapa da PGK. Portanto,
nãoão háhá produçãoproduçãoprodução líquidalíquidalíquida dedede ATPATPATP quandoquandoquando glicoseglicoseglicose ééé con�con�con� 2Fosfoglicerato
vertida em lactato via desvio BPG. O 2,3�Bisfosfoglice�
rato é também hidrolizado em eritrócitos pelas inositol Lactato
polifosfato múltiplas fosfatases (MIP fosfatases) (Fi�
gura 15.8). Ao converter 2,3�BPG em 2�fosfoglicerato, FIGURA 15.8 As reações do desvio do
2,3-bisfosfoglicerato (2,3-BPG) são catalisadas pela
em lugar de 3�fosfoglicerato, a MIP fosfatase expande
enzima bifuncional, 2,3-BPG mutase/fosfatase.
o desvio BPG, por contornar a reação catalisada pela
2,3�BPG é também hidrolisado a 2�fosfoglicerato pelas múl�
fosfoglicerato mutase. A excepcional sensibilidade da tiplas inositol polifosfato fosfatases (MIP fosfatases), assim
MIP fosfatase a variações de pH sugere que a atividade
chamadas porque a inositol múltipla fosfatase foi identificada
dessa enzima possa ajustar a concentração de 2,3�BPG, antes do 2,3�BPG como sendo substrato dessa enzima.
620 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.1

2,3-Bisfosfoglicerato e Altitude Elevada


A entrega de oxigênio para os tecidos depende da nessas situações porque um aumento no pH aumenta
regulação da hemoglobina por efetores alostéricos, a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase e reduz a ativi�
sendo o mais importante o 2,3�bisfosfoglicerato, que dade da MIP fosfatase. Alcalose é induzida por perda
promove a liberação de oxigênio por se ligar à desoxi� de sangue e altitudes elevadas porque a hiperventi�
�hemoglobina. O suprimento de oxigênio para os teci� lação decorrente da hipóxia nessas situações elimina
dos em várias condições é dependente da regulação da mais CO2, o que reduz a concentração de H+ no sangue
concentração de 2,3�bisfosfoglicerato nos eritrócitos. por forçar a reação catalisada pela anidrase carbônica
Variações relativamente pequenas no pH sanguíneo e para a esquerda.
as sensibilidades opostas da 6�fosfofruto�1�quinase e
da MIP fosfatase às variações de pH parecem ser os
CO2 + H2O  H2CO3  H+ + HCO3–
fatores mais importantes. Por exemplo, em pacientes
com acidose metabólica, os níveis de DPG estão dras�
Wallis, J. P., Wells, A. W., Whitehead, S., e Brewster, N.
ticamente reduzidos nos eritrócitos, provavelmente
Recovery from postoperative anaemia. Tr�nsf�sion Me�.
porque uma diminuição no pH reduz a atividade da
15: 413, 2005; Cho, J., King, J. S., Qian, X., Harwood, A. J., e
6�fosfofruto�1�quinase e aumenta a atividade da MIP Shears, S. B. Dephosphorylation of 2,3�biphosphogycerate by
fosfatase. Ao contrário, em resposta a altitude elevada MIPP expands the regulatory capacity of the Rapoport�Lu�
ou anemia causada por perda de sangue, os níveis de bering glycolytic shunt. Pro�. N�t�. A���. ��i. USA 105:998,
DPG estão drasticamente aumentados nos eritrócitos 2008.


D�Glicose
2 L�lactato–
+ 2ADP3– + 2 Pi2– →
+ 2ATP4– NADH Gerado pela Glicólise Deve
+ 2 H2O
ser Oxidado de Volta a NAD+: Papel
As células têm apenas uma quantidade limitada de
ADP e Pi. O fluxo pela glicólise é dependente de um su� da Lactato Desidrogenase e das
primento adequado desses substratos. Se o ATP não for
utilizado para realização de trabalho, a glicólise para
Lançadeiras de Substrato
por falta de ADP e/ou Pi. Consequentemente, o ATP Glicólise Anaeróbica
gerado deve ser usado em processos relacionados com
trabalho normal para que a glicólise ocorra. O uso de
NADH e NAD+ não aparecem na equaçãoequaçãoção balancea�balancea�balancea�
ATP para qualquer processo relacionado com trabalho da de soma da glicólise anaeróbica porque a geração de
é representado simplesmente por
NADH e sua utilização são acopladas (balanceadas) na
ATP4– + H2O → ADP3– + Pi2– + H+ + “trabalho” via (ver Figura 15.6�). Duas moléculas de NADH são ge�
radas pela gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase, e duas
Quando as quantidades são dobradas e adicionadas são utilizadas pela lactato desidrogenase. NAD+ está
à equação anterior da glicólise, excluindo o trabalho reali� disponível só em quantidades limitadas e deve ser rege�
zado uma vez que isso é necessário para o t�rno�er do nerado que a glicólise possa continuar. As duas reações
ATP, a equação total balanceada fica envolvidas são
D�Glicose → 2 L�lactato– + 2H+ D�Gliceraldeído 3�fosfato ++NAD+
→ 1,3�bisfosfo�D�glicerato NADH+P
+i →
H+
Isso mostra que a glicólise anaeróbica gera ácido,
que pode criar importantes problemas para o corpo Piruvato + NADH + H+ → L�lactato + NAD+
(descrito mais adiante na Correlação Clínica 15.5),
uma vez que o pH intracelular deve ser mantido perto A soma das reações é
da neutralidade para atividade enzimática ótima.
D�Gliceraldeído 3�fosfato + piruvato + Pi →
→ 1,3�bisfosfoglicerato + L�lactato

O perfeito acoplamento de equivalentes de redução


por essas reações ocorre em condições anaeróbicas ou
em células sem mitocôndrias.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 621

Oxidação Mitocondrial de NADH Essa enzima localiza�se quase que exclusivamente


Produzido pela Glicólise no citosol dos hepatócitos. O acetaldeído atravessa a
membrana mitocondrial interna para oxidação por uma
Quando oxigênio e mitocôndrias estão presentes, aldeído desidrogenase no espaço da matriz mitocon�
os equivalentes de redução de NADH gerados pela gli� drial.
ceraldeído 3�fosfato desidrogenase são transportados
para dentro da mitocôndria para oxidação, formando O O

piruvato, e não lactato, como produto final da glicólise. CH3CH + NAD+ + H2O CH3COJ + NADH + 2H+
A membrana mitocondrial interna não é permeável ao Acetaldeído Acetato
NADH (p. 594), mas a lançadeira malato–aspartato e
a lançadeira glicerol–fosfato (ver Figura 14.51, p. 597) O NADH gerado pela última etapa pode ser usado
transportam equivalentes de redução para dentro do diretamente pela cadeia de transporte de elétrons mi�
espaço da matriz mitocondrial (p. 578). O fígado faz tocondrial. Entretanto, o NADH gerado pela álcool desi�
mais uso da lançadeira malato–aspartato, mas algumas drogenase citosólica é oxidado de volta a NAD+ por uma
células musculares são mais dependentes da lançadei� das lançadeiras de substrato (ver Figura 14.51, p. 597).
ra glicerol–fosfato. Os sistemas de lançadeiras movem
equivalentes de redução do citosol para dentro da mito� Assim, a capacidade de oxidar álcool é depende da
côndria, mas não transportam equivalentes de redução capacidade do fígado para transportar equivalentes de
da mitocôndria para o citosol. A soma de todas as rea� redução do citosol para dentro das mitocôndrias por es�
ções da lançadeira malato–aspartato é simplesmente ses sistemas de lançadeiras.

NADHcitosol + H+
→ NAD+citosol + citosol
NADH + mito
NAD+ + H+
mito →
mito Formação de Glucuronídeo
Glucuronídeos hidrossolúveis de bilirrubina e de vá�
brana
A lançadeira
mitocondrial
glicerol
interna
fosfato Figura FADH
(verproduz 14.40, 2p.na
588).
mem� rias drogas (p. 447) são eliminados na urina e na bile.
O Para a formação de glucuronídeos, UDP�glicose (ver es�
sítio ativo da glicerol 3�fosfato desidrogenase mitocon� trutura na p. 674) é oxidada a UDP�ácido glucurônico
drial é exposto na superfície citosólica da membrana
(ver estrutura na p. 675) por
mitocondrial interna. A soma de todas as reações da
lançadeira glicerol fosfato é UDP�D�glicose + 2 NAD+ + H2O →
→ UDP�ácido D�glucurônico + 2 NADH + 2H+
NADHcitosol
→ NAD++citosol
H+citosol
+ FADH
+ FAD
2 membrana interna →
membranainterna
Primariamente no fígado, esse ácido glucurônico
O NADH mitocondrial formado pela atividade da lan� “ativado” é transferido para uma molécula aceptora
çadeira malato–aspartato pode ser usado pela cadeia não�polar, como a bilirrubina ou um composto (R�OH)
de transporte de elétrons mitocondrial para a produção estranho ao corpo.
de 2,5 moléculas de ATP por fosforilação oxidativa.
UDP�ácido D�glucurônico + R�OH →
NADHmito H+ +mito
→+NAD+ 2 + 2,5 ADP + 2,5 Pi →
0,5+O2,5 → R�O�ácido glucurônico + UDP
ATP + H2O
O NADH gerado pela primeira reação é reoxidado
Diferentemente, o FADH2 formado pela lançadeira pelas lançadeiras de substrato. Como a oxidação de eta�
glicerol fosfato dá apenas 1,5 moléculas de ATP. nol e a conjugação de drogas ocorrem no fígado, as duas
ocorrendo juntas podem sobrecarregar a capacidade
FADH2membrana
→ FADmembrana
interna +interna
0,5 O+2 +
1,51,5
ATP
ADP+H Pi → das lançadeiras de substrato. Isso explica o conselho de
+21,5
O não misturar a ingestão de compostos farmacologica�
Assim, o rendimento em ATP da oxidação do NADH mente ativos com álcool (ver Correlação Clínica 15.1).
gerado pela glicólise é 3 ou 5, dependendo da lançadeira
de substrato usada para sua oxidação.
Reagentes Sulfidrila e Fluoreto
Lançadeiras São Importantes para Inibem a Glicólise
Outras Vias de Óxido-redução A gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase é inibida por
reagentes sulfidrilas por causa do resíduo de cisteína
Oxidação de Álcool cataliticamente importante em seu sítio ativo. Durante
um ciclo catalítico, o grupo sulfidrila reage com glice�
Álcool (ou seja, etanol) é oxidado a acetaldeído com
raldeído 3�fosfato para formar um tio�hemiacetal (ver
produção de NADH pela álcool desidrogenase. Figura 15.7). Reagentes sulfidrila, que são frequente�
O mente compostos contendo mercúrio ou compostos
CH3CH2OH + NAD+ CH3CH + NADH + H+ alquilantes como iodoacetato, impedem a formação do
Etanol Acetaldeído tio�hemiacetal (Figura 15.9).
622 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.1

Álcool e Barbituratos

A intoxicação aguda por álcool aumenta a sensibilida� bilidade aos barbituratos (tolerância cruzada) e induz
de aos efeitos depressores gerais dos barbituratos. Barbi� os citocromos P450 do retículo endoplasmático do fíga�
turatos e álcool interagem com o canal de cloreto ativa� do envolvidos nas reações de hidroxilação de drogas.
do por g�aminobutirato (GABA). A ativação desse canal Consequentemente, o alcoólatra sóbrio pode metabo�
inibe o disparo neuronal, o que pode explicar os efeitos lizar os barbituratos mais rapidamente. Isso monta o
depressores de ambos os compostos. Essa combinação seguinte cenário: um alcoólatra sóbrio tem problemas
é muito perigosa, e as doses normalmente prescritas de para dormir, mesmo após tomar várias pílulas para dor�
barbituratos são potencialmente letais quando tomadas mir, porque seu fígado tem capacidade aumentada de
com etanol. Além disso, o etanolinibe o metabolismo dos hidroxilar o barbiturato contido nas pílulas. Frustado,
barbituratos, prolongando assim o tempo que os barbi� ele consome mais pílulas e, depois, álcool. O sono vem,
turatos permanecem ativos no corpo. A hidroxilação de mas pode ser seguido de depressão respiratória e mor�
barbituratos pelo sistema citocromo P450 NADPH�depen� te, porque o alcoólatra, embora menos sensível aos bar�
dente do retículo endoplasmático do fígado é inibida pelo bituratos quando sóbrio, permanece sensível ao efeito
etanol. Isso diminui a formação de derivados hidrossolú� sinérgico do álcool.
veis dos barbituratos para eliminação pelos rins e bile.
Os níveis sanguíneos de barbituratos permanecem altos Misra, P. S., Lefevre, A., Ishii, H., Rubin, E. e Liber, C. S.
e causam maior depressão do SNC. Increase of ethanol, meprobamate and pentobarbital meta�
bolism after chronic ethanol administration in man and in
Surpreendentemente, o alcoólatra sóbrio é menos rats. Am. J. Me�. 51:346, 1971; e Tabakoff, B., Cornell, N.,
sensível aos barbituratos. O consumo crônico de etanol Hoffman, P. L. Alcohol tolerance. Ann. Emerg. Me�. 14:1005,
aparentemente causa alterações adaptativas na sensi� 1986.

Hiperglicemia Inibe Glicólise


A gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase é vulnerá�
vel à inibição em células expostas a altos níveis de
E SH + CH3 iHg+Cli E SiHg i CH3 + Cli + H+  glicose. Isso ocorre poque a hiperglicemia promove
superprodução de espécies reativas de oxigênio, as
Cloreto
de metil
quais ativam a poli(ADP�ribose) polimerase (PARP).
mercúrio Em uma reação que usa NAD+ como substrato e pro�
duz nicotinamida, PARP catalisa a poli(ADP�ribosil)
Enzima ativa Enzima inativa ação de resíduos de cisteína de várias proteínas, in�
cluindo a cisteína do sítio ativo da gliceraldeído 3�fos�
fato desidrogenase (Um Olhar Mais Atento 15.2).

Arsenato Impede Síntese Líquida


E SH + ICH2COOi E S i CH2COOi + H+ + li 
de ATP sem Inibir a Glicólise
O Arsênico pentavalente ou arsenato impede a
síntese líquida de ATP por causar arsenólise na rea�
Enzima ativa Enzima inativa ção da gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase (Figura
15.10). A estrutura do arsenato lembra a do Pi (tam�
FIGURA 15.9 Mecanismo para inativação da gliceraldeído bém pentavalente) e substitui facilmente o Pi em re�
3-fosfato desidrogenase por reagentes sulfidrílicos.
ações catalisadas por enzimas. O anidrido misto do
ácido arsênico e o grupo carboxila do 3�fosfoglicerato
O fluoreto é um potente inibidor da enolase. O Mg2+ é formado pela gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase. O
e Pi formam um complexo iônico com o fluoreto, que ini� 1�Arsenato 3�fosfoglicerato é instável, e sofre hidrólise
be a enolase por interferir com a ligação de seu substra� espontânea para 3�fosfoglicerato e arsenato inorgânico.
to (Mg2+2�fosfoglicerato2�). Como consequência, a glicólise continua normalmente
em presença de arsenato, mas o 1,3�bisfosfoglicerato
não é formado. O ATP, portanto, não é sintetizado pela
fosfoglicerato quinase. Assim, não há síntese de ATP
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 623

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.2

Gliceraldeído 3-Fosfato Desidrogenase e a Hiperglicemia

Quando os níveis de glicose no sangue estão eleva� de um dos transportadores sobrecarregados da cadeia
dos, as células do corpo que são incapazes de restringir de transporte de elétrons para oxigênio produz o radi�
a captação de glicose ficam vulneráveis ao dano causado cal superóxido. O radical superóxido ativa a poli(ADP�
pelo excesso de glicose intracelular. As células mais sus� �ribose) polimerase, uma enzima de reparo do DNA que
ceptíveis são encontradas na retina, no rim, e os neurô� ADP�ribosila grupos sulfidrila livres de muitas enzimas,
nios de nervos periféricos, locais precoces do dano no incluindo o resíduo de cisteína do sítio ativo da gliceral�
diabetes. Superprodução do radical superóxido (O2–·) por deído 3�fosfato desidrogenase. Inibiçãoção parcialparcial dada glicó�glicó�
mitocôndrias é a causa primária do dano, pelo menos em lise por essee mecanismomecanismo podepode contribuircontribuir parapara oo danodano in�in�
parte em virtude da inativação da gliceraldeído 3�fosfato duzido pela hiperglicemia nas células susceptíveis.
desidrogenase, uma enzima necessária para a glicólise. A
oxidação da sobrecarga de glicose nessas células resul� Brownlee, M. Banting Lecture 2004. The pathology of
ta em redução excessiva da cadeia de transporte de elé� diabetic complications: A unifying mechanism. Di�betes 54:
trons mitocondrial. Transferência de um único elétron 1615, 2005.

quando a glicólise acontece em presença do arsenato, uma vez que a força de controle das etapas de uma via
sendo que o ATP investido no estágio preparatório é linear deve somar 1,0, por definição.
balanceado pelo ATP gerado na etapa da piruvato qui�
nase. A arsenólise também interfere com a formação de
ATP por fosforilação oxidativa, daí a toxicidade do arse� O

nato (Correlação Clínica 15.2). CH

HCOH
CH2OPO32J
15.4 REGULAÇÃO DA '*OLFHUDOGHtGRIRVIDWR

GLICÓLISE HAsO42J
NAD+
Como em outras vias complexas que envolvem múl�múl� NADH + H+
tiplas etapas, oo fluxofluxo pelapela glicóliseglicólise éé determinadodeterminado pe�pe�
las atividades de várias enzimas, e não por uma única
O
enzima �imit�nte �� �e�o�i���e. A informação quan�
COAsO32J
titativa quanto à contribuição relativa de uma enzima
para o fluxo por uma via em um conjunto específico de HCOH
condições é mais bem determinada a partir da forç� �e CH2OPO32J
�ontro�e da enzima. O efeito que uma pequena inibição
$UVHQDWRIRVIR'JOLFHUDWR
da atividade de uma enzima tem sobre o fluxo por uma
via é usado para determinar a força de controle de uma
espontânea
enzima de acordo com a equação HAsOH422O
J H+
Força de controle = Mudança no fluxo
Mudança na atividade da enzima
O
Para ilustrar, considere que a inibição de 10% de COi
uma enzima em particular não tenha efeito sobre o flu�
xo. A força de controle da enzima é, então, zero (0 di� HCOH
OPO32J
vidido por 10). Agora, considere que a inibição de 10% CH2
de uma enzima resulte em 10% de inibição do fluxo. A )RVIR'JOLFHUDWR
força de controle seria 1,0 (10 dividido por 10), o que
FIGURA 15.10 O arsenato desacopla a oxidação de
significa que o fluxo é inteiramente dependente da ati�
fosforilação na reação da gliceraldeído 3-fosfato
vidade da enzima nessas condições. Agora, considere desidrogenase.
que inibição de 10% de uma enzima resulte em apenas
5% de inibição do fluxo pela via. A força de controle é Uma vez que a regulação do fluxo pela glicólise é
agora 0,5 (5 dividido por 10), o que significa que metade dependente do tecido e do estado nutricional e hormo�
do controle do fluxo é determinada por essa enzima. O nal, as enzimas da glicólise com maior força de controle
resto do controle é exercido por uma ou mais etapas, são a hexoquinase, a 6�fosfofruto�1�quinase e a piruva�
624 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.2

Envenenamento por Arsênico


A maioria das formas de arsênico é tóxica, sendo a mal. O cabelo de uma pessoa exposta cronicamente a
ca do que
forma trivalente
a forma(arsenito
pentavalente
como AsO
(arsenato
2–) muito
oumais
HAsOtóxi� arsênico pode ter até 100 vezes mais.
2–).

Menos ATP é produzido sempre que arsenato substitui 4


O
Pi em reações biológicas. O arsenato compete pelos sí� (CH2)4C enzima
tios de ligação de Pi das enzimas, resultando na forma� + ASO2J + H+
ção de ésteres de arsenato, que são instáveis. O arseni�
SH SH
to funciona por um mecanismo diferente, envolvendo
a formação de um complexo estável com ácido lipoico
ligado à enzima. (Ver a ilustração). O
Em grande parte, o envenenamento por arsênico (CH2)4C enzima
é explicado pela inibição de enzimas que requerem + H2O
ácido lipoico como coenzima. Estas incluem piruvato S S
desidrogenase, a�cetoglutarato desidrogenase e a�ce� As
toácidoácido dede cadeiacadeia ramificadaramificada desidrogenase.desidrogenase. Enve�Enve�Enve� OH
nenamento crônico por arsênico a partir da água de
poço contaminada por pesticidas arseniacais ou por
ação de um assassino é mais bem diagnosticado de� Hindmarsh, J. T., e McCurdy, R. F. Clinical and environ�
mental aspects of arsenic toxicity. CRC Crit. Re�. C�in. L�b
terminando�se a concentração de arsênico no cabelo ��i. 23:315, 1986; e Mudur, G. Half of Bangladesh population
ou nas unhas da vítima. Cerca de 0,5 mg de arsênico at risk of arsenic poisoning. �ritis� Me�i��� Jo�rn�� 320:
está presente em 1 kg de cabelo de um indivíduo nor� 822, 2000.

to quinase (Figura 15.11). Essas enzimas são reguladas reação quase�equilíbrio, e é pouco provável que seja
por efetores alostéricos e/ou modificação covalente. regulada. Quando a razão de ação das massas é consi�
deravelmente diferente de Ke�, considera�se que a enzi�
Uma enzima não�regulatória tem maior chance de ma catalisa uma reação não�equilíbrio, e é geralmente
catalisar uma re�ção próxim� �o e��i��brio, enquan� regulada. A comparação de razões de ação das massas
to uma enzima regulatória tem mais chance de catali� e constantes de equilíbrio para enzimas da glicólise no
sar uma re�ção for� �o e��i��brio. A atividade de uma
fígado indica que muitas catalisam reações de equilí�
enzima não�regulatória traz rapidamente seus substra� brio. As reações da glucoquinase (isoenzima hepática
tos e produtos às concentrações de equilíbrio. Uma en� da hexoquinase), 6�fosfofruto�1�quinase e piruvato qui�
zima regulatória não é ativa o suficiente para equilibrar
nase, no fígado, estão longe do equilíbrio, sugerindo
seus substratos e produtos. Se uma reação catalisada que sejam pontos prováveis de regulação.
por enzima está próxima do equilíbrio ou não, isso pode
ser determinado comparando�se a constante de equilí�
brio estabelecida para a reação com a razão de ação das Hexoquinase e Glucoquinase Têm
massas existentes dentro de uma célula. A constante de
equilíbrio para a reação A + B → C + D é definida por
Propriedades Diferentes
[C][D] Quatro isoenzimas diferentes da hexoquinase (I, II,
Keq = III e IV) são expressas de maneira tecido�específica no
[A][B]
corpo. As isoenzimas da hexoquinase encontradas na
onde os colchetes indicam as concentrações de equilí� maioria dos tecidos (I, II e III) têm um Km baixo para gli�
brio. A razão de ação das massas é calculada de modo cose (<0,1 mM) em relação a sua concentração no sangue
semelhante, exceto que são usadas as concentrações de (�5 mM) e são fortemente inibidas pelo produto glicose
estado estacionário (ss) de reagentes e produtos dentro 6�fosfato (G6P). O último é importante porque impede
da célula. que a hexoquinase comprometa todo o fosfato inorgânico
de uma célula na forma de hexoses fosforiladas (Correla�
[C]ss [D]ss ção Clínica 15.3). Embora a reação da hexoquinase não
Raz˜ao de aç˜ao das massas =
[A]ss[B]ss esteja em equilíbrio, em virtude da inibição imposta pela
G6P, o nível no qual a hexoquinase é expressa nas células
Se a razão de ação das massas for aproximadamen� pode ter um impacto importante na taxa de glicólise das
te igual à Ke�, considera�se que a enzima catalisa uma células (Um Olhar Mais Atento 15.3).
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 625

Glicose a glucoquinase como um complexo


ATP
Pi inativo no núcleo. Frutose 6�fosfato
ADP – promove a ligação da glucoquinase
Glicose 6-fosfato com a proteína regulatória, inibindo
Via das pentose Síntese assim a glucoquinase. De fato, fruto�
fosfato de glicogênio se�6�fosfato promove o deslocamen�
to de glucoquinase do citosol para o
Frutose 6-fosfato
núcleo, onde a glucoquinase é com�
Pi ATP AMP, Frutose 2,6-P2
ATP, citrato, H+
pletamente inibida pela proteína ini�

ADP bitória. Esse efeito inibitório da fru�
AMP, Frutose 2,6-P2 +
tose 6�fosfato sobre a glucoquinase

Frutose 1,6-bisfosfato pode ser completamente revertido
por um grande aumento na concen�
tração de glicose. A glicose dispara a
(2) Gliceraldeído 3-fosfato
dissociação da glucoquinase da pro�
(2) Pi
teína regulatória, promovendo assim
(2)NADH(2)+NAD+ 2H+
deslocamento da glucoquinase do
núcleo para o citosol. Essas carac�
terísticas regulatórias especiais da
(2) 1,3-Bisfosfoglicerato glucoquinase (alto S0,5 para glicose,
cooperatividade com respeito à con�
centração de glicose e deslocamen�
(2) ADP (2) Fosfoenolpiruvato to estimulado por glicose do núcleo
+ para o citosol) contribuem para a ca�
– ATP, alanina
(2) ATP pacidade do fígado de “tamponar” os
níveis de glicose sanguínea. Como o
(2) Piruvato GLUT�2, o transportador de glicose
(2)NADH + 2H+ das células hepáticas, equilibra rapi�
damente a glicose através da mem�
(2)NAD+
brana plasmática, a concentração
(2) Lactato celular de glicose é a mesma que a
do sangue. Como a S0,5 da glucoqui�
FIGURA 15.11 Características regulatórias importantes da glicólise.
Em virtude das diferenças entre os tecidos na expressão de isoenzimas, nem todos os
nase para glicose (�7 mM) é maior
tecidos do corpo têm todos os mecanismos regulatórios mostrados aqui. do que as concentrações normais de
glicose no sangue (�5 mM), e glico�
As células do parênquima hepático e as células b se promove o deslocamento de glucoquinase do núcleo,
do pâncreas são singulares porque contêm a isoenzi� qualquer aumento na glicose do sangue portal acima do
ma IV da hexoquinase, geralmente chamada glucoqui� normal leva a um drástico aumento na taxa de fosforila�
nase, que tem propriedades cinéticas muito diferentes. ção de glicose pela glucoquinase no fígado (ver Figuras
A glucoquinase catalisa a fosforilação ATP�dependente 15.12 e 15.13). Da mesma forma, qualquer diminuição
da glicose como as outras hexoquinases, mas seu S0,5 na concentração de glicose tem o efeito oposto. Portan�
(concentração de substrato que dá atividade enzimáti�
ca igual à metade da velocidade máxima) para glicose
é consideravelmente mais alta do que o Km para glicose 1.0
Hexoquinase
das outras hexoquinases (Figura 15.12). Além disso,
a glucoquinase é muito menos sensível à inibição pelo
produto G6P, e sua curva de saturação de glicose é sig�
moidal, o que é indicativo de cooperatividade (p. 429).
Como a equação de Michael�Menten não se aplica (p.
Glucoquinase
413) sua cinética é descrita por um valor de S0,5 (con�
centração de substrato necessária para produzir meta�
de de Vmáx) ao invés de um valor de Km para glicose.
Embora não seja sensível à inibição por concentrações
fisiológicas de G6P, a glucoquinase é indiretamente
regulada por frutose�6�fosfato, que está apenas uma 0 5 10 15 20
etapa adiante e em equilíbrio com G6P. Uma proteína
Concentração de glicose (mM)
especial inibitória da glucoquinase (GK�RP), que fica
localizada no núcleo das célulascélulas hepáticas,hepáticas,hepáticas, ééé respon�respon�respon� FIGURA 15.12 Comparação das curvas de saturação de
sável por esse efeito (Figura 15.13). GK�RP sequestra substrato para hexoquinase e glucoquinase.
626 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.3

Intolerância a Frutose
Pacientes com intolerância hereditária à frutose são Embora pacientes com intolerância à frutose sejam
deficientes na enzima do fígado (aldolase B) que que� particularmente sensíveis a esse açúcar, os seres huma�
bra a frutose 1�fosfato em di�hidroxiacetona fosfato e nos em geral têm uma capacidade limitada para lidar
gliceraldeído. Três isoenzimas (A, B e C) são expressas com a frutose. A capacidade do fígado normal para fos�
em mamíferos. A aldolase B está presente em maiores forilar frutose excede muito sua capacidade de quebrar
quantidades no fígado. Ela age sobre ambas frutose frutose 1�fosfato. Isso significa que o uso de frutose pelo
1�fosfato e frutose 1,6�bisfosfato, mas tem afinidade fígado é mal controlado e que o excesso de frutose pode
muito maior (menor Km) para a frutose 1,6�bisfosfato. depletar o fígado de Pi e de ATP. A frutose foi testada,
O consumo de frutose por um indivíduo com deficiência por pouco tempo, em hospitais como um substituto de
de aldolase B resulta em acúmulo de frutose 1�fosfato e glicose em pacientes mantidos em nutrição parenteral.
depleção de Pi e ATP no fígado. As reações envolvidas A suposição que orientou o teste foi a de que frutose se�
são as da frutoquinase e das enzimas da fosforilação ria uma fonte de calorias melhor do que glicose porque
oxidativa. sua utilização é relativamente independente do estado
de insulina de um paciente. Logo, verificou�se que a ad�
Frutose + ATP → frutose 1�fosfato + ADP ministração de grandes quantidades de frutose por via
endovenosa resulta em severa lesão hepática. Tentati�
ADP + Pi + energia fornecida pela cadeia
vas semelhantes foram feitas para substituir glicose por
de transporte de elétrons → ATP
sorbitol e xilitol, mas estes também tendem a depletar o
Soma: Pi + frutose → frutose 1�fosfato fígado de ATP e, como a frutose, não devem ser usados
em nutrição parenteral.
Comprometer Pi como frutose 1�fosfato torna im�
possível para as mitocôndrias do fígado gerarem ATP
Steinmann, B., Gitzelmann, R. e Van den Berghe, G. Di�
por fosforilação oxidativa. Os níveis de ATP caem ver�
sorders of fructose metabolism. Em: Scriver, C.R., Beaudet,
tiginosamente, tornando impossível para o fígadofígado de�de�de� A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met�bo�i� �n� Mo�e�
sempenhar suas funções normais. Os danos às células ����r ��ses of �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York: McGraw�
resultam, em grande parte, pelo fato de estas ficam �Hill, 2001, p. 1489. Ali, M., Rellos, P. e Cox T.M. Hereditary
incapazes de manter os gradientes iônicos normais pe� fructose intolerance. J. Me�. Genet. 35:353, 1998; e Wong, D.
las bombas dependentes de ATP. As células incham e Hereditary fructose intolerance. Mo�. Gen. Met�b. 85: 165,
sofrem lise osmótica. 2005.

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.3

Hexoquinase II e Câncer
Via de regra, cânceres de crescimento rápido me� o 18F é administrada aos indivíduos com suspeita de
tabolizam glicose mais rápido do que células normais, câncer. Grandes quantidades de 18F�2�desoxiglicose�6�
pelo menos em parte porque a superexpressão de he� �P acumulam�se nas células cancerosas que metabo�
xoquinase II dá às células cencerosas maior capacidade lizam glicose rapidamente. A ausência de um grupo
enzimática para fosforilação de glicose. Além disso, a hidroxila na posição 2 do resíduo de 2�desoxiglicose
forte ligação da hexoquinase II com a membrana mi� impede a continuação do metabolismo da 18F�2�deso�
tocondrial externa dá à enzima prioridade para o ATP xiglicose�6�P.
produzido por fosforilação oxidativa. A capacidade ex�
cepcional que as célulasélulas cancerosascancerosascancerosas têmtêmtêm paraparapara ooo meta�meta�meta� Mathupala, S. P., Ko, Y. H., e Pedersen, P. L. Hexokinase II:
bolismo de glicose é usada para detectar o câncer por Cancer’s Double�edged sword acting as both facilitator and
tomografia por emissão de pósitrons (PET, positron gatekeeper of malignancy when bound to mitochondria. On�
emission tomogr�p�y). 2�Desoxiglicose marcada com �ogene 25:4777, 2006.

to, o fígado usa glicose a uma velocidade significativa aconteceria se a glucoquinase tivesse o Km baixo carac�
apenas quando os níveis de glicose sanguínea estão terístico de outras hexoquinases, porque estaria então
muito elevados e diminui seu uso de glicose quando completamente saturada nas concentrações fisiológicas
os níveis de glicose sanguínea são baixos. Esse efeito de glicose. Por outro lado, uma forma de hexoquinase
tamponante sobre os níveis de glicose sanguínea não de baixo Km é uma boa escolha para tecidos como o cé�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 627

Glicose Frutose excessivo de frutose na dieta, por exemplo, utilização


hepática aumentada de carboidratos, lipogênese e hi�
Glut 2
Glc pertriacilglicerolemia.
GK +
ativa Glucoquinase é também uma enzima indutível. A
G6P
GK-RP
Frutose indução e a repressão da síntese de uma enzima são
inativa processos lentos, geralmente demorando várias horas
+
F6P − antes que mudança significativa ocorra. A insulina pro�
Nócleo
move transcrição do gene da glucoquinase. Um aumen�
to nos níveis de glicose sanguínea sinaliza um aumento
Piruvato Frutose
1-fosfato
na liberação de insulina das células b do pâncreas, o
que promove transcrição e aumenta a quantidade da
FIGURA 15.13 Atividade da glucoquinase é regulada por proteína da enzima glucoquinase no fígado. Portanto,
deslocamento da enzima entre o citoplasma e o núcleo. uma pessoa que consumiu uma refeição grande e rica
Glicose aumenta a atividade da glucoquinase (GK) por pro� em carboidratos terá maiores quantidades de glucoqui�
mover o deslocamento da enzima para o citoplasma. Frutose
nase do que uma que não consumiu. O fígado com glu�
6�fosfato diminui GK por estimular o deslocamento para o nú�
cleo. Frutose 1�fosfato aumenta GK por inibir o deslocamento coquinase induzida contribui mais para baixar os níveis
para o núcleo. Ligação de GK com a proteína regulatória (RP) elevados de glicose sanguínea. A ausência de insulina
no núcleo inibe completamente a atividade de GK. torna o fígado de pacientes com diabetes mellitus de�
ficiente em glucoquinase, a despeito dos altos níveis
rebro, porque permite a fosforilação de glicose mesmo de glicose sanguínea,ínea, ee diminuidiminui aa capacidadecapacidade dodo fíga�fíga�
quando as concentrações de glicose no sangue e no te� do “tamponar” a glicose sanguínea (Correlação Clínica
cido são perigosamente baixas. 15.4). Defeitos no gene que codifica a glucoquinase, que
alteram sua S0,5 e/ou Vmáx causam diabetes do jovem
A reação da glucoquinase não está em equilíbrio com início na maturidade (MODY, m�t�rity�onset �i��
em condições intracelulares normais por causa da res� betes of t�e yo�ng), uma forma de diabetes mellitus
trição de velocidade imposta pelo alto valor de S0,5 e tipo 2.
inibição pela proteína regulatória. Outro fator, em opo�
sição à atividade da glucoquinase, é a glicose 6�fosfata�
se que, como a glucoquinase, tem um Km alto (3 mM) Glicose
para glicose 6�fosfato, em relação à sua concentração Pi ATP

intracelular normal (∼0,2 mM). Assim, o fluxo por essa 6fosfatase


glicose glucoquinase
etapa é quase que diretamente proporcional à concen�
tração intracelular de glicose 6�fosfato. Como mostra H2O ADP
a Figura 15.14, a ação combinada da glucoquinase e Glicose 6fosfato
da glicose 6�fosfatase constitui um ciclo fútil; isto é,
Soma: ATP + H2O ADP + Pi
a soma de suas reações é a hidrólise de ATP para dar
ADP e Pi, sem a realização de qualquer trabalho. Quan� FIGURA 15.14 Fosforilação de glicose seguida de
do as concentrações de glicose no sangue são cerca de defosforilação constitui um ciclo fútil em células do
5 mM, a atividade da glucoquinase é quase exatamente parênquima hepático.
balanceada pela atividade oposta da glicose 6�fosfata�
se. O resultado é que não há fluxo líquido em nenhu�
ma direção. Esse ciclo fútil gasta ATP, mas, combinado 6-Fosfofruto-1-quinase É uma
com o processo de gluconeogênese (p. 638), contribui
significativamente para a ação “tamponante” do fígado Enzima Regulatória da Glicólise
sobre os níveis de glicose sanguínea. Também fornece
um mecanismo para impedir que a glucoquinase com� A 6�Fosfofruto�1�quinase éé umumum importanteimportanteimportante pontopontoponto re�re�re�
prometa todo o Pi do fígado. gulatório da glicólise. Ela catalisa a primeira etapa de
comprometimento da glicólise porque a reação catali�
A frutose, um componente de frutas, mel, vegetais sada pela fosfoglicose isomerase é reversível, e as célu�
e calda de milho rica em frutose usada em bebidas car� las fazem uso da glicose 6�fosfato na via das pentoses
bonatadas populares, promove a utilização da glicose fosfato e para a síntese de glicogênio. Citrato, ATP e
hepática por um mecanismo indireto. É convertida, no íons hidrogênio (pH baixo) são os importantes efetores
fígado, em frutose 1�fosfato (Correlação Clínica 15.3), alostéricos negativos, enquanto AMP e frutose 2,6�bis�
que promove dissociação da glucoquinase de sua pro� fosfato são importantes efetores alostéricos positivos
teína regulatória (ver Figura 15.13) e, assim, o deslo� (ver Figura 15.11). Esses compostos sinalizam a neces�
camento para fora do núcleo. Essa ação, que é capaz sidade de diferentes velocidades da glicólise em respos�
de superar a inibição da glucoquinase normalmente ta a mudanças em (a) estado energético da célula (ATP
imposta pela frutose 6�fosfato, pode ser um fator nos e AMP), (b) ambiente interno da célula (íons hidrogê�
efeitos adversos às vezes associados com o consumo nio), (c) disponibilidade de combustíveis alternativos,
628 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.4

Diabetes Mellitus

Diabetes mellitus é uma doença crônica caracteriza� sobre o sistema nervoso simpático) podem resultar em
da por erros no metabolismo de carboidratos, lipídeos e anomalias transitórias no teste de tolerância à glicose.
proteínas. Dois tipos principais são clinicamente reco� Por causa desses problemas, a hiperglicemia de jejum
nhecidos: tipo 1 (ver Correlação Clínica 21.8, p. 893) e (> 126 mg/dl) seria, provavelmente, o teste sine ���
tipo 2 (ver Correlação Clínica 21.7, p. 892). non para o diagnóstico de diabetes. A captação de gli�
cose por tecidos sensíveis à insulina, isto é, muscular
Em pacientes sem hiperglicemia de jejum, o teste e adiposo, é diminuída no estado diabético. O paciente
de tolerância à glicose por via oral pode ser usado para diabético ou não tem insulina ou desenvolveu resis�
diagnóstico. Ele consiste em determinar o nível de gli� tên�i� à ins��in� nesses tecidos. A resistência à in�
cose sanguínea no estado de jejum e em intervalos de sulina resulta de anomalias no receptor de insulina ou
30–60
–60 min., por 2 h ou mais, após o consumo de car� em etapas subsequentes, mediadoras dos efeitos me�
ga de 100 g de carboidrato. Em indivíduos normais, a tabólicos da insulina. Células do parênquima hepático
glicose sanguínea retorna aos níveis normais em 2 h não requerem insulina lina para captar glicose. Sem insu�
após ingestão do carboidrato. Em diabéticos, a glicose lina, contudo, o fígado tem capacidade diminuída para
sanguínea atinge um nível mais alto e permanece ele�
remover glicose do sangue. Isso é explicado, em parte,
vada por períodos de tempo mais longos, dependendo
por atividade diminuída de glucoquinase e a perda de
da gravidade da doença. Entretanto, muitos fatores ação da insulina sobre enzimas chaves da glicogênese
podem contribuir para um teste de tolerância à glico� e da via glicolítica.
se anormal. O paciente deve ter consumido uma dieta
rica em carboidratos nos três dias anteriores, presu� Taylor, S. I. Insulin action, insulin resistance and type 2
mivelmente para permitir a indução das enzimas das diabetes mellitus. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W.
vias de utilização da glicose, por exemplo, glucoquina� S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met�bo�i� �n� Mo�e����r ��ses of
se, acil graxo sintase e acetil�CoA carboxilase. Qua� �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York: McGraw�Hill, 2001, p.
se todas as infecções (até mesmo um resfriado) e o 1433; American Diabetes Association web site www.diabetes.
estresse menos definido (presumivelmente por efeitos orp/home.jsp.

como ácidos graxos e corpos cetônicos (citrato), e (d) para satisfazer a demanda de energia. O efeito Pasteur
a razão insulina/glucagon do sangue (frutose 2,6�bis� ocorre em parte em virtude da inibição por ATP da gli�
fosfato). cólise, no nível da 6�fosfofruto�1�quinase. Isso pode ser
facilmente entendido, uma vez que o ATP é um inibidor
Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por da 6�fosfofruto�1�quinase, e muito mais ATP é gerado
ATP e AMP na presença de oxigênio do que na sua ausência. Como
a 6�fosfofruto�1�quinase é fortemente inibida em con�
O efeito Pasteur refere�se à inibição da utilização de centrações de ATP (2,5�6 mM) normalmente presentes
glicose e ao acúmulo de lactato que ocorre quando a nas células, variações relativamente pequenas na con�
respiração (consumo de oxigênio) é iniciada em células centração de ATP que ocorrem com �ers�s sem oxigê�
anaeróbicas. É perfeitamente compreensível em base nio não podem justificar as grandes mudanças no fluxo
termodinâmica, uma vez que a oxidação completa da pela 6�fosfofruto�1�quinase. Contudo, variações muito
glicose a CO2 e H2O gera muito mais ATP do que a gli� maiores ocorrem nas concentrações de AMP, um efetor
cólise anaeróbica. alostérico positivo da 6�fosfofruto�1�quinase (ver Fi�
gura 15.11). A concentração de estado estacionário de
Glicólise
AMP quando oxigênio é introduzido cai drasticamente,
D�Glicose + 2ADP3– + 2 Pi2– → 2 L�lactato– + 2ATP4– diminuindo a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase, su�
primindo a glicólise e respondendo, em grande parte,
Oxidação Completa pelo efeito Pasteur. Os níveis de AMP caem automatica�
+ 66 O2
D�Glicose→ CO2++
326ADP3– Pi2– + 32 H+ →
H2O ++3232ATP4– mente quando os níveis de ATP sobem porque a soma
dos nucleotídeos de adenina em uma célula, isto é, ATP
+ ADP + AMP, é quase constante na maioria das condi�
As célulasélulas usamusam ATPATP parapara fornecerfornecer aa energiaenergia neces�neces� ções fisiológicas, e a quantidade de ATP é sempre mui�
sária a seus processos inerentesinerentes dede trabalho.trabalho. ComoComo mui�mui� to maior do que a quantidade de AMP. Além disso, os
to mais ATP é produzido a partir de glicose em presença nucleotídeos da adenina são mantidos em equilíbrio no
de oxigênio, muito menos glicose precisa ser consumida citosol pela adenilato quinase, que catalisa a reação re�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 629

versível de 2 ADP → ATP + AMP. A constante de equi� tas, elas catalisam um ciclo fútil (ATP + H2O → ADP
líbrio (K!eq) para essa reação é dada por + Pi + “calor”) e são, portanto, capazes de diminuir
mutuamente sua “eficiência”. Entretanto, AMP inibe a
[ATP][AMP]
Keq = [ADP]2 frutose 1,6�bisfosfatase, o que é oposto ao efeito que o
AMP tem sobre a 6�fosfofruto�1�quinase. Assim, uma
pequena queda no [ATP] desencadeia um aumento per�
Como essa reação opera próximo do equilíbrio em
centual grande no [AMP] o que, por sua vez, sinaliza um
condições intracelulares, a concentração de AMP é
dada por grande aumento na conversão líquida de frutose 6�fos�
fato para frutose 1,6�bisfosfato, devido ao seu efeito so�
[AMP] = Keq
[ATP]
[ADP]2 bre essas duas enzimas. Isso aumenta o fluxo glicolítico
por aumentar a quantidade de frutose 1,6�bisfosfato
disponível para o estágio de quebra.
Como as concentrações intracelulares [ATP] >>
[ADP] >> [AMP], uma pequena diminuição no [ATP] A diminuição do lactato, que ocorre por causa do
causa um aumento percentual substancialmente maior efeito Pasteur, é facilmente explicada pelo fluxo glico�
no [ADP], e como [AMP] está relacionado com o quadra� lítico diminuído. Além disso, a lactato desidrogenase
do de [ADP], um aumento percentual ainda maior no perde a competição com os sistemas de lançadeiras de
[AMP]. Graças a essa relação, uma pequena diminuição substratos pelo NADH e a competição com o complexo
no [ATP] leva a um aumento percentual maior no [AMP] piruvato desidrogenase pelo piruvato.
do que a diminuição percentual no [ATP]. Isso torna o
[AMP] um excelente sinal do estado energético da cé� Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por
lula e um importante regulador alostérico da atividade pH Intracelular
da 6�fosfofruto�1�quinase. A efetividade da 6�fosfofru�
Faria sentido que o lactato, como produto final da
to�1�quinase é influenciada por [AMP] por outro modo,
glicólise, inibisse a enzima regulatória mais importante
ainda. A frutose 1,6�bisfosfatase catalisa uma reação da glicólise. Entretanto, são os íons hidrogênio e não o
irreversível, que éé opostaoposta àà reaçãoreaçãoeação dadada 6�fosfofruto�1�6�fosfofruto�1�6�fosfofruto�1�
lactato que inibem a 6�fosfofruto�1�quinase (ver Figura
�quinase.
15.11). Como mostra a Figura 15.15, a glicólise anaeró�
Frutose 1,6�bisfosfato + H2O → frutose 6�fosfato + Pi bica gera ácido láctico, e a célula deve dispor dele como
tal ou sofrer as consequênciasênciass negativasnegativasnegativas dadada acidifica�acidifica�acidifica�
A frutose 1,6�bisfosfatase fica muito próxima da ção. Isso explica porque glicólise excessiva baixa o pH
6�fosfofruto�1�quinase no citosol de muitas células. Jun� do sangue e leva a uma situação médica de emergência
conhecida como acidose láctica (Cor�
Glicose relação Clínica 15.5). As membranas
Sangue plasmáticas contêm um simporte para
lactato e íons hidrogênio que permite
a transferência de ácido láctico para a
corrente sanguínea. Esse mecanismo
a Citosol de defesa impede que o pH fique tão
baixo que os tecidos produzindo ácido
Membrana
plasmática
láctico tornem�se “picles” (Correlação
Glicose

(2) ADP + (2) Pi Trabalho


Glicólise b
(2) ATP

FIGURA 15.15 A menos que o lactato


formado pela glicólise seja transportado
para fora da célula, o pH intracelular
cairá pelo acúmulo de ácido láctico
intracelular (equivalente a lactato– mais
H+, porque o ácido láctico ioniza no pH
(2) Lactatoi (2) H+ intracelular).
O baixo pH diminui a atividade da 6�fosfofru�
to�1�quinase, de modo que a produção adi�
cional de ácido láctico pela glicólise é inibida.
(�) Transporte de glicose para dentro da cé�
lula. (b) Execução de todos os trabalhos que
Sangue convertem ATP em ADP e Pi. (�) Simporte
lactato�H+ (estequiometria real de um lacta�
(2) Lactatoi (2) H+
to– e um H+ transportado pelo simporte).
630 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.5

Acidose Láctica

É caracterizada porpor altosaltos níveisníveis sanguíneossanguíneosíneos dedede lac�lac�lac� oxigênio, portanto, aumenta a produção de lactato e
tato, geralmente superiores a 5 mM, com diminuição diminui a utilização de lactato. A última também pode
no pH do sangue e nas concentrações de bicarbonato ser diminuída por doenças hepáticas, etanol e várias
(ver Correlação Clínica 1.2, p. 11). Acidose láctica é outras drogas. Foi bem documentado que fenformina,
a forma mais frequente de acidose metabólica e pode uma droga que foi usada para tratar a hiperglicemia do
ser consequênciaência dede superproduçãosuperprodução dede lactato,lactato, subuti�subuti� diabetes tipo 2, induz acidose láctica como consequên�
lização de lactato, ou ambos. A produção de lactato é cia da inibição do complexo I da cadeia mitocondrial
normalmente equilibrada pela utilização de lactato, de de transporte de elétrons. A deficiência de tiamina,
modo que normalmente lactato não está presente no comum em alcoólatras desnutridos, causa acidose lác�
sangue em concentrações superiores a 1,2 mM. Todos tica como uma consequência da perda de atividade do
os tecidos podem produzir lactato por glicólise anae� complexo piruvato desidrogenase. A tiamina deve ser
róbica, mas a maioria dos tecidos não produz grandes administrada imediatamente em pacientes com acido�
quantidades uma vez que são bem supridos de oxigê� se láctica grave.
nio e mitocôndrias. Entretanto, todos os tecidos res�
pondem com um aumento na geração de lactato quan� Bicarbonato é geralmente administrado em uma
do a oxigenação é inadequada. Uma queda no ATP em tentativa de controlar a acidose associada com acúmulo
virtude da fosforilação oxidativa diminuída aumenta de ácido láctico. A chave para o sucesso do tratamento,
a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase. Assim, os teci� entretanto, é encontrar e eliminar a causa da superpro�
dos precisam depender da glicólise anaeróbica para dução e/ou subutilização de ácido láctico, o que, muito
produção de ATP em tais condições, e superproduzem frequentemente, envolve a restauração da circulação de
ácido láctico. Um bom exemplo é o exercício muscular, sangue oxigenado.
que pode depletar o tecido de oxigênio e causar uma
Newsholme, E. A. e Leech, A. R. �io��emistry for t�e
superprodução de ácido láctico. Hipóxia tecidual ocor�
Me�i��� ��ien�es. New York: Wiley, 1983; Kruse, J. A e Carl�
re, contudo, em todas as formas de choque, durante son, R. W. Lactate metabolism. Crit. C�re C�in. 3:725, 1985;
convulsões e em doenças envolvendo insuficiência cir� Stacpoole, P. W. Lactic acidosis and other mitochondrial di�
culatória e pulmonar. sorders. Met�bo�ism 46: 306, 1997; Ammari, A. N. e Schulze,
K. F. Uses and abuses of sodium bicarbonate in the neona�
O principal destino do lactato no corpo é com� tal intensive care unit. C�rr. Opin. Pe�i�tr. 14:151, 2002; e
pleta combustão a CO2 e H2O ou conversão de volta Klein, M., Weksler, N., e Gurman, G. M. Fatal metabolic aci�
em glicose, pelo processo de gluconeogênese. Ambos dosis caused by thiamine deficiency. J. Emer. Me�. 26:301,
requerem oxigênio. A disponibilidade diminuída de 2004.

Clínica 15.6). O transporte de ácido láctico para fora cose. A maioria desses tecidos pode usar glicose, mas
da célula requer que sangue esteja disponível para levá� prefere oxidar ácidos graxos e corpos cetônicos. Isso
�lo para longe. Quando o fluxo sanguíneo é inadequado, ajuda a economizar glicose para tecidos, como o cére�
por exemplo, no coração durante um ataque de angina bro, que são absolutamente dependentes dela. A oxida�
pectoris ou no músculo esquelético durante exercício ção de ácidos graxos e corpos cetônicos eleva os níveis
intenso, os íons hidrogênio não conseguem escapar das de citrato citosólico, o que inibe a 6�fosfofruto�1�quina�
células em velocidade suficiente. No entanto, a necessi� se (ver Figura 15.11) e diminui a utilização de glicose.
dade de ATP, manifestada por um aumento no [AMP],
pode subrepujar parcialmente a inibição da 6�fosfofru�
to�1�quinase por íons hidrogênio. Acúmulo desequili� Controle Hormonal da 6-Fosfofruto
brado de íons hidrogênio, então, causa dor que, no caso
do músculo esquelético, pode ser aliviada simplesmente
1-quinase por cAMP e Frutose
parando o exercício. No coração, descanso ou agentes 2,6-bisfosfato
farmacológicos que aumentam o fluxo sanguíneo ou di�
minuem a necessidade de ATP nos miócitos podem ser Frutose 2,6�bisfosfato (Figura 15.16), assim como
eficazes (Correlação Clínica 15.7). AMP, é um efetor alostérico positivo da 6�fosfofruto�1�
�quinase e é um efetor alostérico negativo da frutose
Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por 1,6�bisfosfatase (ver Figura 15.11). Na realidade, sem sua
Citrato presença, a glicólise não poderia ocorrer no fígado por�
que a 6�fosfofruto�1�quinase teria atividade insuficiente
Muitos tecidos preferem usar ácidos graxos e corpos e a frutose 1,6�bisfosfatase seria ativa demais para a con�
cetônicos como combustíveis oxidáveis no lugar da
da gli� versão de frutose 6�fosfato em frutose 1,6�bisfosfato.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 631

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.6

“Picles” de Porco e Hipertermia Maligna (OMIM 145600)

Na hipertermia maligna, uma variedade de agentes, Em resposta ao halotano, os músculos esqueléticos


especialmente o anestésico geral halotano, produzem de indivíduos afetados ficam rígidos e geram calor e
uma dramática elevação na temperatura corporal, aci� ácido láctico. O retículo sarcoplasmático tem um re�
dose metabólica e respiratória, hipercalemia e rigidez ceptor de rianodina anormal, um canal de liberação de
muscular. Essa doença hereditária dominante ocorre Ca2+ que é importante no acoplamento excitação–con�
em cerca de 1 a cada 15.000 crianças, e 1 a cada 50.000– tração. Em decorrência do defeito nessa proteína, o
100.000 adultos. A morte pode resultar na primeira vez anestésico desencadeia liberação incorreta de Ca2+ do
que uma pessoa susceptível é anestesiada. O início retículo sarcoplasmático e estímulo descontrolado de
ocorre minutos após exposição à droga, e a hiperter� processos que geram calor, incluindo miosina ATPase,
mia deve ser reconhecida imediatamente. Envolver o glicogenólise, glicólise e captação e liberação cíclicas
paciente em gelo é eficiente e deve ser acompanhado de de Ca2+ por mitocôndrias e retículo sarcoplasmático.
medidas para combater a acidose. A droga dantroleno As célulasélulas muscularesmusculares ficamficam irreversivelmenteirreversivelmentelmente danifi�danifi�danifi�
também é eficaz. cadas pela produção excessiva de calor, acidose láctica
e perda de ATP.
Um fenômeno semelhante à hipertermia maligna
ocorre em porcos; é chamada síndrome do estresse por�
Kalow, W. e Grant, D. M. Pharmacogenetics. Em: Scriver,
cino.. Os porcos respondem mal ao estresse. Essa do�
C. R., Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met��
ença genética geralmente se manifesta quando o porco bo�i� �n� Mo�e����r ��ses of �n�erite� Dise�se, 8. ed., New
está sendo enviado para o mercado. Quando expostos a York: McGraw�Hill, 2001, p. 225; McCarthy T. V., Heffron, J. J.
halotano, porcos susceptíveis têm a mesma resposta ob� A., e Macrill, J. Molecular and clinical genetics of RYRI disor�
servada no homem com hipertermia maligna. A carne ders. Em: Wehrens, X. H. T., e Marks, A. R. (Eds). Ry�no�ine
dos porcos que morreram da doença é pálida, aguada, e Re�eptors: �tr��t�re� F�n�tion �n� Dysf�n�tion in C�ini�
o pH é muito baixo (ou seja, como do picles). ��� Dise�se. New York: Springer, 2005, 219.

CH2OPO32− A frutose 2,6�bisfosfato é produzida a partir de F6P


O OPO32− pela enzima 6-fosfofruto-2-quinase (Figura 15.19),
H OH (β) como um subproduto, e não como um intermediário
H CH2OH da glicólise. Portanto, devemos lidar com duas fosfo�
OH H frutoquinases, uma (6�fosfofruto�1�quinase) produz
um intermediário da glicólise (frutose 1,6�bisfosfato),
FIGURA 15.16 Estrutura da frutose 2,6-bisfosfato.
Glucagon
A Figura 15.17 resume o papel da Receptor Adenilato
de glucagon ciclase
frutose�2,6�bisfosfato no controle hor�
monal da glicólise hepática. O meca� +
nismo usa cAMP (Figura 15.18) como
seg�n�o mens�geiro da ação hormo�
nal. Glucagon é liberado das células α Gs +
do pâncreas e circula no sangue até
encontrar receptores de glucagon na
superfície externa da membrana plas� ATP
mática do fígado (ver p. 634 para mais
detalhes). A ligação de glucagon ao seu
receptor desencadeia o estímulo da Inibição da Diminuição de
cAMP
adenilato ciclase por meio do segundo Glicólise Frutose 2,6–P2
Membrana
mensageiro AMP cíclico (cAMP), o que plasmática
resulta em uma diminuição da frutose
2,6�bisfosfato. Isso torna a 6�fosfofru�
to�1�quinase menos efetiva, e a frutose
1,6�bisfosfatase mais efetiva, restrin� FIGURA 15.17 Mecanismo pelo qual o glucagon inibe a glicólise hepática.
gindo severamente, dessa forma, o A ligação de glucagon ao seu receptor de membrana ativa a adenilato ciclase (uma
fluxo de frutose 6�fosfato para frutose proteína intrínseca de membrana) pela ação de uma proteína G estimulatória (Gs;
1,6�bisfosfato na glicólise. uma proteína periférica de membrana). O símbolo (+) indica ativação.
632 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.7

Angina Pectoris e Infarto do Miocárdio


Dor no peito associada com isquemia reversível do le nas veias. O resultado é retorno diminuído de san�
miocárdio é chamada de �ngin� pe�toris (literalmen� gue para o coração e volume reduzido de sangue a ser
te, dor lancinante no peito). A dor resulta de um de� bombeado, o que reduz a necessidade de energia. O
sequilíbrio entre a demanda e o suprimento de fluxo coração também se esvazia contra menor pressão, o
sanguíneo
íneo para os músculos cardíacos, e é mais comu� que também poupa energia. O efeito geral é uma queda
mente causada por estreitamento das artérias coroná� na necessidade de oxigênio para o coração, ficando de
rias. O paciente sente uma pesada pressão ou “aperto” acordo com o suprimento de oxigênio pelas artérias
ou dor subesternal, frequentemente se irradiando para coronárias doentes. Outros agentes úteis são osos blo�
ombro e braço ou, ocasionalmente, para queixo ou pes� queadores de canal de cálcio, que são vasodilatadores
coço. Os ataques ocorrem com esforço, duram de 1 a coronários e bloqueadores b�adrenérgicos. Os b�blo�
15 min., e são aliviados por repouso ou morte. As arté� queadores impedem o aumento no consumo de oxigê�
rias coronárias envolvidas são obstruídas por ateroscle� nio pelo miocárdio, induzido pelo estímulo do sistema
rose (ou seja, recobertas por depósitos de gordura) ou, nervoso simpático sobre o coração, como ocorre com
menos frequentemente, estreitadas por espasmo. O in� exercício físico.
farto ocorre se a isquemia persistir por tempo suficiente
para causar lesão grave (necrose) do músculo cardíaco. A cirurgia de pontes coronárias é usada em casos
Comumente, um coágulo sanguíneo se forma no ponto graves de angina, que não podem ser controlados por
do estreitamento e obstrui completamente o vaso. No medicação. Nessa operação, veias são removidas da
infarto, morte tecidual ocorre e a dor dura mais e, fre� perna e colocadas entre a aorta e as artérias coroná�
quentemente, é mais intensa. rias, para contornar a porção afetada pela aterosclerose
e prover o tecido afetado de um maior suprimento de
Nitroglicerina e outros nitratos são frequentemen� sangue. Pode ser obtido um alívio notável da angina por
te prescritos para aliviar a dor. Podem ser usados pro� essa operação, sendo que o paciente pode retornar à
filaticamente, permitindo que os pacientes participem vida normal produtiva em alguns casos.
de atividades que, de outro modo, precipitariam um
ataque. A nitroglicerina pode funcionar, em parte, por Hugenholtz, P. G. Calcium antagonists for angina pectoris.
causar dilatação das artérias coronárias, melhoran� Ann. N. Y. A���. ��i. 522: 564, 1988; Feelishch, M. e Noack,
do a oferta de oxigênio e removendo o ácido láctico. E. A. Correlation between nitric oxide formation during degra�
dation of organic nitrates and activation of guanylate cyclase.
Provavelmente, o mais importante é o efeito sobre a
E�r. J. P��rm��o�. 139:19, 1987; Ignarro, L. J. Biological ac�
circulação periférica. Quebra da nitroglicerina produz
tions and properties of endothelium�derived nitric oxide for�
óxido nítrico (NO) (p. 463), que relaxa o músculo liso, med and released from artery and vein. Cir�. Res. 65:1, 1989; e
causando venodilatação em todo o corpo. Isso reduz Miller, M. R. e Megson, I. L. Recent development in nitric oxide
a pressão arterial e permite que o sangue se acumu� donor drugs. �ritis� J. P��rm. 151: 305, 2007.

e a outra (6�fosfofruto�2�quinase) produz um efetor NH2


alostérico positivo (frutose 2,6�bisfosfato) da enzima C N
N C
anterior. A frutose 2,6�bisfosfatase se opõe à 6�fosfo� CH
fruto�2�quinase por converter frutose 2,6�bisfosfato em HC C
C N
F6P por simples hidrólise. Essas atividades de quinase
e fosfatase que determinam a quantidade de frutose O CH2
2,6�bisfosfato residem na mesma proteína, uma enzi�
O
ma bifuncional chamada 6�fosfofruto�2�quinase/fruto�
H H
se 2,6�bisfosfatase. O cAMP regula os níveis da frutose H H
2,6�bisfosfato no fígado por ativar a parte fosfatase e
O P O OH
inativar a quinase da enzima bifuncional. Isso é conse�
guido pela ativação mediada por cAMP da proteína qui O–
nase A. A proteína quinase A inativa consiste de duas AMP cíclico
subunidades regulatórias e duas subunidades catalí�
FIGURA 15.18 Estrutura do cAMP.
ticas. A ligação de cAMP às subunidades regulatórias
causa mudanças conformacionais que liberam e ativam A fosforilação de uma enzima pode conveniente�
as subunidades catalíticas. As subunidades catalíticas mente ser abreviada por
ativadas então fosforilam resíduos específicos de serina
presentes em muitas enzimas (Figura 15.20).  + ATP → –P + ADP
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 633

onde  e –P são usados para indicar enzimas des� proteína quinase A
fosforilada e fosforilada, respectivamente. A fosforila�
ção causa uma mudança na conformação que afeta o
ATP ADP
sítio ativo da enzima. A atividade de algumas enzimas é P ²P
aumentada, enquanto a de outras éé diminuídadiminuída porporpor fos�fos�fos� i H2O
forilação. Muitas enzimas são reguladas por esse tipo
de modificação covalente, que pode ser revertida sim� fosfoproteína fosfatase
plesmente removendo�se o fosfato. Independentemente
de a fosforilação ou desfosforilação ativar a enzima, a FIGURA 15.21 Modelo geral de regulação de enzimas por
enzima ativa é chamada de forma a, e a enzima inativa, fosforilação-defosforilação.
Os símbolos  e –P indicam que diferentes conformações e
forma b. Do mesmo modo, a ação de uma proteína qui�
nase é sempre oposta à de uma fosfoproteína fosfatase, estados de atividade da enzima são produzidos, em virtude da
fosforilação�defosforilação.
que catalisa a reação de
–P + H2O →  + Pi
A Enzima Bifuncional 6-Fosfofruto
Em conjunto, criam um sistema cíclico de controle
(Figura 15.21), tal que a razão da enzima fosforilada para 2-quinase/Frutose 2,6-bisfosfatase É
a desfosforilada depende das atividades relativas da pro� Regulada Por Fosforilação
teína quinase e da fosfoproteína fosfatase, ambas quase
que invariavelmente também sujeitas a regulação. Geralmente, uma enzima sujeita a fosforilação é ou
ativada ou inativada como um resultado de fosforila�
ção. A natureza bifuncional da 6�fosfofruto�2�quinase/
6Fosfofruto2quinase frutose 2,6�bisfosfatase torna�a singular nesse aspecto.
Uma única fosforilação da 6�fosfofruto�2�quinase/fru�
ATP ADP tose 2,6�bisfosfatase de fígado inativa a atividade en�
Frutose 6fosfato Frutose 2,6bisfosfato zimática de quinase, mas ativa a atividade enzimática
Pi H2O de fosfatase (Figura 15.22). Desfosforilação tem efei�
tos opostos. Isso fornece um mecanismo muito sensível
Frutose 2,6bisfosfatase para estabelecer a concentração intracelular de frutose
2,6�bisfosfato em células hepáticas, em reposta a mu�
FIGURA 15.19 Reações envolvidas na formação e na danças nos níveis sanguíneos de glucagon ou epinefrina
degradação da frutose 2,6-bisfosfato.
(Figura 15.23). Níveis aumentados de glucagon ou epi�
nefrina, agindo por meio dos receptores de glucagon da
OH membrana plasmática e dos receptores b�adrenérgicos,
respectivamente, têm o efeito comum de aumentar os
CH2
níveis intracelulares de cAMP. Este ativa proteína qui�
CH O nase A, que fosforila um resíduo de serina da 6�fosfofru�
HNC
to�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase (Figura 15.24), o
que inibe a atividade de quinase e ativa sua atividade
Cadeia peptídica
+ de fosfatase. A queda resultante em frutose 2,6�bisfos�
ATP4i fato torna a 6�fosfofruto�1�quinase menos efetiva e a
frutose 1,6�bisfosfatase mais efetiva, inibindo assim a
Mg2+ glicólise no nível da conversão de frutose 6�fosfato em
frutose 1,6�bisfosfato. Uma diminuição no glucagon ou
na epinefrina do sangue resulta no efeito oposto. Uma
OPO32i

CH2
SURWHtQDTXLQDVH$
HN CH O
C
$73 $'3
Cadeia peptídica 3).D)3!DVHE 3).E)3!DVHD
+
ADP3i 3L +2 ²3
+
H+ IRVIRSURWHtQDIRVIDWDVH

FIGURA 15.20 Enzimas sujeitas a modificação covalente FIGURA 15.22 Mecanismo de modificação covalente da
são geralmente fosforiladas em resíduos específicos de 6-fosfofruto-2-quinase/frutose 2,6-bisfosfatase.
serina. O nome da enzima é abreviado por 6�PF�2�K/F�2,6�P’ase. As
Resíduos de tirosina e treonina também são sítios importantes letras a e b indicam as formas ativa e inativa das enzimas, res�
de modificação covalente pela fosforilação. pectivamente.
634 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Adenilato Epinefrina
Glucagon Receptor
ciclase
Receptor de Adrenérgico
glucagon

 +

Gs   Gs

Membrana
ATP
plasmática

cAMP


Proteína quinase A

ATP ADP

Frutose 6P

ATP
Pi

PFi2iKa/Fi2,6iP!ase b PFi2iKb/Fi2,6iP!ase a

iP

ADP

Frutose2,6P2

FIGURA 15.23 Mecanismo de inibição Glicose


da glicólise hepática por glucagon e
epinefrina por queda mediada por ² Frutose 6iP 
cAMP da concentração de frutose
Fi1,6iP!ase PFi1iK
2,6-bisfosfato.
Frutose 1,6ibisP
Ver legenda da Figura 15.19. As setas Pi
grossas indicam reações que predomi�
Piruvato
nam em presença de glucagon. As setas
pequenas antes da frutose 2,6�bisfosfato
Fosfoproteína fosfatase
indicam uma queda em sua concentração

Quinase Fosfatase fosfoproteína fosfatase remove o fosfato da enzima bi�


H3+
N COOi funcional para ativar a quinase e inativar a fosfatase. A
P frutose 2,6�bisfosfato acumula�se até uma concentração
470 Aminoácidos de estado estacionário mais alta e aumenta a taxa de
glicólise. Portanto, o glucagon e a epinefrina são sinais
FIGURA 15.24 Diagrama esquemático da estrutura extracelulares que impedem o fígado de usar glicose,
primária da isoenzima hepática da 6-fosfofruto-2 enquanto a frutose 2,6�bisfosfato é um sinal intracelu�
quinase/frutose 2,6-bisfosfatase. lar que promove a utilização de glicose por esse tecido.
H3N+ e COO– indicam as extremidades N�terminal e C�ter�
minal, respectivamente. O domínio com atividade de quinase A insulina tem efeito oposto ao do glucagon e da
localiza�se na metade N�terminal; o domínio com atividade de epinefrina, por meio de uma cascata de sinalização ini�
fosfatase, na metade C�terminal. A letra Pindica o sítio (serina
ciada pela ativação da atividade da tirosina quinase do
32) fosforilado pela proteína quinase A.
seu receptor (p. 931). A insulina também ativa a cAMP
fosfodiesterase (reduz os níveis de cAMP), inibe a pro�
teína quinase A, e ativa a fosfoproteína fosfatase, ações
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 635

Receptor de Insulina
glucagon ou Adenilato Receptor
β-adrenérgico ciclase de insulina

Gs +

Membrana
plasmática

ATP cAMP + AMP Cascata de sinalização


mediada por quinase
?

+ –
proteína quinase A

ATP ADP

Frutose 6-P

ATP
Pi

PF–2–K a/F–2,6–P2! aseADP


b PF–2–K b/F–2,6–P2! ase a

–P

FIGURA 15.25 Mecanismo


Frutose 2,6-P2 responsável por velocidade
aumentada de glicólise hepática,
Glicose quando as concentrações de
glucagon e epinefrina são baixas e a
F–1, 6–P2!ase
– Frutose 6–P PF–1–K de insulina é alta no sangue.
+ Ver legendas das Figuras 15.17e 15.23.
Frutose 1,6–P2 O receptor de insulina é uma proteína
Pi
intrínseca da membrana plasmática. A
Piruvato seta pequena antes da frutose 2,6�bis�
fosfato indica um aumento em sua con�
centração. O cAMP é convertido em
fosfoproteína fosfatase + AMP pela cAMP fosfodiesterase.

todas com efeitos opostos aos do glucagon e da epinefri� se no coração para atender à demanda aumentada de
na (Figura 15.25). Insulina, portanto, age estimulando ATP, causada por um aumento sinalizado por epinefri�
a taxa de glicólise. na na carga de trabalho. Como no fígado, a epinefrina
age no coração por meio de um receptor b�adrenérgi�
co da membrana plasmática, promovendo a formação
Coração Contém uma Isoenzima de cAMP (Figura 15.26). Isso resulta em ativação da
Diferente da 6-Fosfofruto-2 proteína quinase A que, por sua vez, fosforila a 6�fos�
fofruto�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase. Entretanto,
quinase/Frutose 2,6-bisfosfatase diferentemente do que acontece no fígado, fosforilação
da enzima bifuncional no coração aumenta, em vez de
Um aumento no nível sanguíneo de epinefrina tem diminuir, os níveis de frutose 2,6�bisfosfato. Isso porque
um efeito completamente diferente sobre a glicólise do a isoenzima da enzima bifuncional expressa no coração
coração, em comparação com o fígado. Embora a glicó� é diferente da isoenzima expressa no fígado. A fosforila�
lise seja inibida no fígado para economizar glicose para ção da isoenzima cardíaca ocorre em um sítio que ativa,
uso por outros tecidos, a epinefrina estimula a glicóli� em vez de inibir, a atividade da quinase (Figura 15.27).
636 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

(SLQHIULQD
$GHQLODWR 5HFHSWRU
FLFODVH $GUHQpUJLFR

+ *V

0HPEUDQD
SODVPiWLFD

$73 F$03

+
3URWHtQDTXLQDVH$

$73 $'3

²3
3).E $73 3).D

$'3
)UXWRVH3 )UXWRVH3

FIGURA 15.26 Mecanismo de


aceleração da glicólise no coração
+ em resposta à epinefrina.
3).
Ver legendas das Figuras 15.17 e 15.25.

Concentração aumentada de frutose 2,6�bisfosfato en� A Piruvato Quinase É também uma


tão aumenta a atividade de 6�fosfofruto�1�quinase e au�
menta o fluxo glicolítico. Enzima Regulatória da Glicólise
A piruvato quinase (Correlação Clínica 15.8) é dras�
Quinase Fosfatase ticamente inibida por concentrações fisiológicas de ATP
+ (ver Figura 15.11), tanto que provavelmente sua ativida�
H3N COO–
de potencial nunca é completamente atingida em condi�
P
ções fisiológicas. A isoenzima do fígado é muito ativada
530 Aminácidos
por frutose 1,6�bisfosfato (FBP), ligando assim a regula�
FIGURA 15.27 Diagrama esquemático da estrutura ção da piruvato quinase com a da 6�fosfofruto�1�quinase.
primária da isoenzima cardíaca da 6-fosfofruto-2 Portanto, se as condições favorecerem o fluxo aumen�
quinase/frutose 2,6-bisfosfatase. tado pela 6�fosfofruto�1�quinase, o nível de FBP sobe e
Ver legenda da Figura 15.24. A letra P indica o sítio (serina age como um ativador que estimula a piruvato quinase.
466) fosforilado pela proteína quinase A. A enzima hepática também é regulada por modificação
covalente pela proteína quinase A, sendo ativa no esta�
Papel da 6-Fosfofruto-2-quinase/Frutose do desfosforilado e inativa no estado fosforilado (Figura
2,6-bifosfatase no Câncer 15.28). A inibição concomitante da glicólise hepática e o
estímulo da gluconeogênese hepática por glucagon po�
Muitas células de câncer expressam uma isoforma dem ser explicados, em parte, por inibição da piruvato
especial de 6�fosfofruto�2�quinase/frutose 2,6�bisfos� quinase causada por ativação da proteína quinase A por
fatase, na qual a atividade do componente 2�quinase cAMP. Esse aspecto é explorado em maior profundidade
excede muito a atividade do componente 2�fosfatase. na Seção 15.5, na discussão da gluconeogênese.
Isso resulta em uma alta concentração de estado es�
tacionário de frutose 2,6�bisfosfato, o que estimula ao A piruvato quinase, assim como a glucoquinase, é in�
máximo a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase. Esse é duzida no fígado por ingesta rica em carboidratos e ní�
um importante componente do mecanismo responsá� veis altos de insulina. Essa é uma razão pela qual o fíga�
vel pela alta taxa de glicólise característica de tumo� do de indivíduos bem alimentados tem capacidade muito
res de crescimento rápido (Um Olhar Mais Atento 15.4 maior de utilizar carboidratos do que o de uma pessoa
e 15.5). em jejum ou diabética (ver Correlação Clínica 15.4).
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 637

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.4

6-Fosfofruto-2-quinase/Frutose-2,6-bisfosfatase e o Câncer
Tumores agressivos geralmente crescem mais rá� hipóxia da enzima bifuncional pela proteína quinase
pido do que novos vasos sanguíneos podem ser forma� ativada por AMP (AMPK) cause um aumento ainda
dos a partir dos já existentes. Isso pode resultar em maior na atividade de quinase em relação à atividade
um centro de células carentes de oxigênio no interior de fosfatase. Como consequência, o aumento no AMP
de tumores que poderiam morrer por necessidade do que ocorre em resposta a hipóxia ativa AMPK, que au�
ATP normalmente produzido por fosforilação oxidati� menta a atividade de 2�quinase da enzima bifuncional,
va. Entretanto, as células cancerosas têm uma grande que aumenta a produção de 2,6�bisfosfato, o qual ativa
capacidade de sobreviver a hipóxia, graças àà capaci�capaci�capaci� a 6�fosfofruto�1�quinase, que aumenta a taxa de gli�
dade excepcional que possuem de gerar ATP pela via cólise, que, por sua vez, gera o ATP necessário para
glicolítica. Expressão de uma forma de 6�fosfofruto�2� satisfazer as necessidades energéticas das células de
�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase induzida por hipóxia câncer em hipóxia.
é uma das principais razões para a atividadeatividade glicolí�glicolí�
tica singular das células de câncer. Como no fígado, Kim, S.�G., Manes, N. P., El�Maghrabi, M. R., e Lee, Y. –H.
a atividade de quinase excede muito a atividade de Crystal structure of the hypoxia�inducible form of 6�phos�
fosfatase da enzima bifuncional não fosforilada em cé� phofructo�2�kinase/fructose�2,6�biphodphatase (PFKFB3):
lulas de câncer. É notável, e em completo contraste A possible new target for cancer therapy. J. �io�. C�em. 281:
com o fígado, que a fosforilação da forma induzida por 2939, 2006.

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.5

TIGAR e Câncer

TIGAR significa glicólise induzida por TP53 (pro� por p53 reduz frutose 2,6�bisfosfato, que reduz a ativi�
teína 53 tumoral) e regulador de apoptose (TP53��n� dade de 6�fosfofruto�1�quinase, que por sua vez reduz o
���e� G�y�o�ysis �n� Apoptosis Reg���tor). Como fluxo pela via glicolítica. Como a glicólise é importante
subentendido por seu nome, a TIGAR regula a glicólise para a sobrevivência e o crescimento de células de cân�
e a apoptose e é induzida por ativação do gene TP53. cer (ver Um Olhar Mais Atento 15.4), superexpressão
O gene TP53 codifica a proteína supressora de tumor da TIGAR por p53 reduz a probabilidade de formação
p53, um fator de transcrição que regula a expressão de de tumor. A perda desse mecanismo regulatório como
várias proteínas, incluindo TIGAR, que impede o de� uma consequência de mutações no gene TP53 é comum
senvolvimento do câncer. A TIGAR é estruturalmente no câncer.
parecida com o domínio bisfosfatase da enzima bifun� Bensaad, K., Tsuruta, A., Selak, M. A., Vidal, M. N. et al.
cional 6�fosfofruto�2�quinase/frutose�2,6�bisfosfatase. TIGAR, a p53�inducible regulator of glycolysis and apoptosis.
Não tem atividade de quinase, mas possui atividade de Ce�� 126:107, 2006; e Green, D. R. e Chipuk, J. E. p53 and me�
fosfatase para frutose 2,6�bisfosfato. Indução da TIGAR tabolism: Inside the TIGAR. Ce�� 126:30,2006.

Papel da Piruvato Quinase no Câncer proteína quinase A

Célulasélulas dedede câncercâncercâncer expressamexpressamexpressam umaumauma isoformaisoformaisoforma espe�espe�espe�


cial de piruvato quinase chamada PKM2, uma varian� ATP ADP
Piruvato quinase a Piruvato quinase b
te de sp�i�ing da forma muscular da piruvato quinase Pi H2O iP
(PKM1). PKM2 é necessária para o rápido crecimento
das células tumorais. Embora PKM1 e PKM2 sejam
fosfoproteína fosfatase
muito parecidas, PKM1 não pode substituir PKM2 em
células cancerosas. O porquê de os tumores precisarem FIGURA 15.28 Glucagon age via cAMP, causando
dessa isoforma específica de piruvato quinase é uma fosforilação e inativação da piruvato quinase hepática.
área ativa de pesquisa (Um Olhar Mais Atento 15.6).
638 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.8

Deficiência de Piruvato Quinase e Anemia Hemolítica (OMIM 266200)


Eritrócitos maduros são absolutamente dependen� a afinidade da hemoglobina por oxigênio é diminuída
tes da atividade glicolítica para produção de ATP. ATP pelo aumento de 2,3�bisfosfoglicerato. Níveis normais
é necessário para as bombas de íons, especialmente a de ATP são observados em reticulócitos dos pacientes.
ATPase transportadora de Na+, K+, que mantém a for� Embora deficientes na piruvato quinase, esses glóbulos
ma de disco bicôncavo dos eritrócitos, o que os ajuda a vermelhos imaturos têm mitocôndrias e podem gerar
deslizarem pelos capilares enquanto entregam oxigênio ATP por fosforilação oxidativa. A maturação dos reticu�
aos tecidos. As células incham e se rompem sem ATP. lócitos em eritrócitos resulta na perda das mitocôndrias
Anemia devida à destruição excessiva de eritrócitos é e completa dependência da glicólise para a produção de
chamada anemia hemolítica. A deficiência de piruvato ATP. Portanto, as células maduras são rapidamente eli�
quinase é rara, mas é o defeito genético mais comum minadas da circulação. A anemia ocorre, porque elas
da glicólise que causa anemia hemolítica. A maioria não podem ser substituídas com velocidade suficiente
dos pacientes tem de 5 a 25% do nível normal de piru� por eritropoiese.
vato quinase nos eritrócitos, e o fluxo pela glicólise é
severamente restrito, resultando em concentrações de Valentine, W. N. The Stratton lecture: Hemolytic anemia
ATP muito diminuídas. Os intermediários da glicólise and inborn errors of metabolism. ��oo� 54:549, 1979. Hirono,
proximais à etapa da piruvato quinase acumulam�se, A., Kanno, H., Miwa, S. e Beutler, E. Pyruvate kinase deficiency
enquanto as concentrações de piruvato e lactato dimi� and other enzymopathies of the erythrocyte. Em: Scriver, C.R.,
nuem. Os níveis de 2,3�bisfosfoglicerato estão aumen� Beaudet, A.L., Sly, W.S. e Valle D. (Eds.), T�e Met�bo�i� �n�
tados. Como resultado, a anemia é mais bem tolerada Mo�e����r ��ses of �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York: Mc�
em alguns pacientes do que seria previsível, porque Graw�Hill, 2001, p. 4637.

UM OLHAR MAIS ATENTO 15.6

Piruvato Quinase M2 e o Câncer


Todas as células cancerosas expressam PKM2, cólise excede a capacidade de oxidação completa da
uma isoforma da piruvato quinase encontrada em glicose, resultando em superprodução de ácido lático,
embriões, mas não em tecidos adultos normais. Por a despeito da presença de oxigênio. Warburg propôs
razões desconhecidas, a capacidade excepcional que que a substituição da respiração por fermentação é a
as células cancerosas têm de realizar glicólise aeró� causa primária do câncer. Pesquisas subsequentes de�
bica depende dessa isoforma particular de piruvato monstraram que não é o caso. Câncer é causado por
quinase. A glicólise aeróbica por células cancerosas, mutações que ativam protooncogenes e inibem genes
descoberta por Otto Warburg, laureado com o Prêmio supressores de tumor. Contudo, expressão alterada de
Nobel de Fisiologia e Medicina em 1931, refere�se a genes que codificam PDKM2 e outras enzimas que au�
uma taxa excepcionalmente alta de glicólise e super� mentam a capacidade de glicólise fornece às células
produção de lactato em presença de oxigênio. Célu� cancerosas vantagens de sobrevivência e crescimento
las não�cancerosas extraem mais ATP por glicose e, sobre as células não�cancerosas.
portanto, usam menos glicose e produzem pouco ou
nenhum lactato quando o oxigênio está presente. Isso Christofk, H. R., Vander Heiden, M. G., Harris, M. H., Ra�
porque a taxa de glicólise está fortemente coordenada manathan, A., et al. The M2 splice isoform of pyruvate kinase
com as taxas do ciclo TCA e da fosforilação oxidati� is important for cancer metabolism and tumor growth. N�t��
va em células normais. Em células cancerosas, a gli� re 452: 230, 2008.

15.5 GLUCONEOGÊNESE frutose. Glicogenólise, isto é, formação de glicose ou


glicose 6�fosfato a partir de glicogênio, deve ser dife�
renciada da gluconeogênese. Glicogenólise refere�se à
Síntese de Glicose É Necessária para quebra de glicogênio em glicose e, portanto, não cor�
Sobrevivência responde à síntese �e no�o de glicose. Gluconeogêne�
se é essencial para a sobrevivência humana e de outros
Síntese líquida ou formação de glicose a partir de animais, uma vez que os níveis de glicose no sangue
substratos não�carboidratos é chamada gluconeogê� devem ser mantidos para suportar o metabolismo dos
nese. Vários aminoácidos, lactato, piruvato, propiona� tecidos que usam glicose como seu substrato primário
to e glicerol são fontes de carbono para a via (Figura (Correlação Clínica 15.9). Estes incluem cérebro, eri�
15.29). Glicose também pode ser produzida a partir da trócitos, medula renal, cristalino, córnea e testículos.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 639

A gluconeogênese permite a manutenção dos níveis mitocôndrias, os equivalentes de redução do NADH são
sanguíneos de glicose muito tempo depois de toda a transportados para dentro das mitocôndrias pela lan�
glicose da dieta ter sido absorvida e completamente çadeira malato–aspartato ou pela lançadeira glicerol–
oxidada e da glicose armazenada como glicogênio ter fosfato para síntese de ATP por fosforilação oxidativa.
sido consumida. H+NAD+
NADH + → + 0,5+O2,5ATP
2 + 2,5 ADP
+ H2O+ 2,5 Pi →
(2) Lactato (2) Piruvato Aminoácidos
ou
Aminoácidos (2) Oxaloacetato (2) Propionato
FADH2→
+ FAD
0,5 O+2 1,5
+ 1,5
ATP
ADP
+H Pi →
+21,5
O
(2) Glicerol (2) Trioses fosfato Frutose A consequência é que cinco a sete moléculas de ATP
podem ser formadas por molécula de glicose em tecidos
Glicose periféricos que participam do ciclo da alanina. No ciclo
de Cori (Figura 15.30�), só duas moléculas de ATP por
FIGURA 15.29Vias resumidas da gluconeogênese, molécula de glicose são produzidas.
ilustrando os principais substratos precursores para o
processo. →ATP
6 6 (ADP
fígado++P2i)(ADP
fígado +
+2PIATP
)eritrócitos →
eritrócitos

Ciclos de Cori e da Alanina


Seis moléculas de ATP são necessárias, no fígado,
A gluconeogênese está envolvida em dois ciclos que para a síntese de glicose. O ciclo da alanina (Figu�
são críticos para a manutenção dos níveis sanguíneos ra 15.30b) transfere energia do fígado para os tecidos
de glicose. O ciclo de Cori (ou ciclo glicose�lactato) e periféricos e, graças às cinco a sete moléculas de ATP
o ciclo da alanina (ou ciclo glicose�alanina) (Figura produzidas por molécula de glicose, é energeticamente
15.30) dependem da gluconeogênese no fígado, seguida mais eficiente. Contudo, o ciclo da alanina entrega ao
por liberação de glicose e seu uso em um tecido peri� fígado nitrogênio do grupo amino, que deve ser elimina�
férico. Ambos os ciclos fornecem um suprimento con� do como ureia (p. 778). Isso requer quatro moléculas de
tínuo de glicose a tecidos que necessitam dela como ATP para cada molécula de ureia produzida, e aumenta
sua fonte primária de energia. Para participar desses a quantidade de ATP necessária para 10 moléculas por
ciclos, os tecidos periféricos devem liberar alanina ou molécula de glicose durante o ciclo da alanina.
lactato como produtos finais do metabolismo de glicose. 10 ATP
→fígado +5 – +
10 (ADP 7 Pi)fígado
(ADP + + Pi)5músculo
– 7 ATP+O 2 músculo →
músculo
Uma importante diferença entre os ciclos é que o NADH
gerado pela glicólise no ciclo da alanina não é usado
para reduzir o piruvato a lactato; se o fizesse, o piruva� Isto e a necessidade de oxigênio e mitocôndrias nos
to não estaria disponível para a conversão em alanina tecidos periféricos distinguem o ciclo da alanina do ci�
por transaminação com glutamato. Em tecidos que têm clo de Cori.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.9

Hipoglicemia e Bebês Prematuros


Os recém�nascidos prematuros e pequenos para a A capacidade hepática de síntese de glicose a partir
idade gestacional são mais susceptíveis à hipoglicemia de lactato e alanina é também limitada em bebês recém�
do que crianças nascidas a termo, com o tamanho cer� �nascidos, uma vez que a enzima limitante da velocida�
to para a idade. As crianças em geral são também mais de, fosfoenolpiruvato carboxiquinase, está presente em
susceptíveis do que adultos, simplesmente porque têm quantidades muito baixas durante as primeiras poucas
maiores razões peso do cérebro/corpo e o cérebro uti� horas após o nascimento. Sua indução até o nível neces�
liza quantidades desproporcionalmente maiores de sário para evitar hipoglicemia durante o estresse do je�
glicose do que o resto do corpo. Os bebês recém�nas� jum leva várias horas. Crianças prematuras e pequenas
cidos têm uma capacidade limitada de cetogênese, para a idade gestacional também têm menores reservas
aparentemente porque o transporte de ácidos graxos de glicogênio hepático. O jejum depleta suas reservas
de cadeia longa para dentro de suas mitocôndrias he� de glicogênio mais rapidamente, tornando�as mais de�
páticas é pouco desenvolvido. Como o uso de corpos pendentes de gluconeogênese do que crianças normais.
cetônicos pelo cérebro é diretamente proporcional à
concentração de corpos cetônicos circulantes, o neo� Newsholme, E. A. e Leech, A. R. �io��emistry for t�e Me�
nato é incapaz de economizar glicose em quantidade �i��� ��ien�es, New York: Wiley, 1983. Duvanel, C. B., Fawer,
significativa, usando corpos cetônicos. Assim, o cére� C. �L., Cotting, J., Hohlfeld, P., e Matthieu, J. M. Long�term
bro do neonato depende quase que exclusivamente da effects of neonatalhypoglycemia on brain growth and psycho�
glicose proveniente da glicogenólise hepática
ática e da glu� motor development in small�for�gestacional�age preterm in�
coneogênese. fants. J. Pe�i�tr. 134:492, 1999.
640 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

plamento das reações catalisadas pela


Glicose piruvato carboxilase, que requer ATP,
Glicose
e PEP carboxiquinase, que requer GTP
6ATP Glicose (Figura 15.32). GTP é equivalente a um
gluconeogênese ATP pela ação da nucleosídeo difosfato
glicólise
quinase (GDP + ATP → GTP + ADP).
e oCO
O HCO
2 gerado
3– requerido
pela PEP
pela
carboxiquinase
2 Lactato Sangue
2ATP piruvato car�
2 Lactato
boxilase são ligados pela reação cata�
(a) Fígado
Fígado Eritrócitos H2O « H
lisada pela 3 «H+ + HCO
2COanidrase carbônica
3–). Somando
(CO2 +
2 Alanina Sangue
2Ureia
Lactatorins 2 Alanina Glicose

essas reações com as reações da Figura


15.32, temos
gluconeogênese Glicose

Piruvato– + 2ATP4– →
6ATP ureogênese
Ureia
4ATP 2NADH
→ fosfoenolpiruvato3– + 2ADP3– +
2–
2 Piruvato
Glicose
+ Pi + 2 H+
2iNH2
Portanto, a conversão de piruvato
2 Alanina 2NAD+ 3i5 em PEP durante a gluconeogênese cus�
ATP
glicólise O2
ta à célula duas moléculas de ATP. Isso
contrasta com a conversão de PEP em
2ATP
2 Piruvato piruvato durante a glicólise, que gera
apenas uma molécula de ATP.
2iNH2

A localização mitocondrial da pi�


ruvato carboxilase e a necessidade de
Célula muscular
ATP tornam a mitocôndria obrigatória
para a conversão de piruvato citosólico
em PEP citosólico (ver Figura 15.31).
(b)
Entretanto, como a PEP carboxiquina�
FIGURA 15.30 Relação entre gluconeogênese no fígado e glicólise no resto se está presente em ambos os compar�
do corpo. timentos, citosol e matriz mitocondrial,
(a) Ciclo de Cori. (b) Ciclo da alanina. existem duas rotas que o oxaloacetato
usa para chegar à glicose. A primeira
usa a PEP carboxiquinase mitocondrial, que converte
Síntese de Glicose a Partir de oxaloacetato em PEP que, depois, atravessa a membra�
Lactato na mitocondrial interna. A segunda converte oxaloa�
cetato em aspartato, que sai da mitocôndria por meio
Gluconeogênese a partir de lactato é um processo do antiporteglutamato�aspartato. O aspartato doa seu
que requer ATP. grupo amino para a�cetoglutarato no citosol, produzin�
do oxaloacetato, que é usado pela PEP carboxiquinase
2 L�Lactato– + 6 ATP4– + 6 H2O →
citosólica para produzir PEP.
→ glicose + 6 ADP3– + 6 Pi2– + 4H+

Muitas das enzimas da glicólise são usadas na glu� Gluconeogênese Usa Muitas Enzimas
coneogênese a partir de lactato. Entretanto, reações di� Glicolíticas na Direção Inversa
ferentes são necessárias ao processo porque a glicólise
produz dois ATPs, enquanto a gluconeogênese requer As enzimas da glicólise operam na direção inversa
seis ATPs por molécula de glicose, e três etapas da gli� para converter PEP em frutose 1,6�bisfosfato durante
cólise são irreversíveis, a saber, as reações catalisadas a gluconeogênese. A geração de equivalentes de redu�
por glucoquinase, 6�fosfofruto�1�quinase e piruvato ção (NADH) pela lactato desidrogenase é equilibrada
quinase. pelo uso de equivalentes de redução pela gliceraldeí�
do�3�fosfato desidrogenase. A 6�Fosfofruto�1�quinase
A etapa inicial da lactato gluconeogênese é a con� catalisa uma reação irreversível e não pode converter
versão de lactato em piruvato pela lactato desidroge� FBP em frutose 6�fosfato. Um modo de contornar isso
nase (Figura 15.31). O NADH gerado é necessário para é fornecido pela frutose 1,6�bisfosfatase, que hidrolisa a
uma etapa subsequente da via. O piruvato não pode ser
frutose 1,6�bisfosfato a F6P (Figura 15.33).
convertido em fosfoenolpiruvato (PEP) pela piruvato
quinase porque a reação é irreversível nas condições in� A fosfoglicose isomerase é completamente reversível
tracelulares. O piruvato é convertido em PEP pelo aco� e funciona na glicólise e na gluconeogênese. A glicose
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 641

12Glicose

12Pi

12 Glicose 6fosfato

12 Frutose 6fosfato

12Pi

12 Frutose 1,6bisfosfato

Gliceraldeído 3fosfato DHAP Lactato

Pi NAD+

NADH + H+

Piruvato
1,3Bisfosfoglicerato
ADP

ATP
3Fosfoglicerato Citosol Mitosol

αKG αKG Piruvato


CO2 ATP
2Fosfoglicerato Glut Glut ADP + Pi

OAA Asp Asp OAA


CO2 GTP ADP
GTP ADP
CO2 GDP ATP
GDP ATP
PEP PEP

FIGURA 15.31 Via da gluconeogênese a partir de lactato.


atas
OPEP
envolvimento
tracejadas
carboxiquinase
referem�se
da mitocôndria
mitocondrial
a umano
rota
processo
emalternativa,
lugar da
é indicado.
isoenzima
que emprega
Ascito�
se� sólica. Abreviaturas: OAA, oxaloacetato; α�KG, α�cetoglutarato;
PEP, fosfoenolpiruvato; e DHAP, di�hidroxiacetona fosfato.

gluconeogênese
glicose
se
6�fosfatase
6�fosfatase é uma
parasubstitui
liberação
(Figura na15.34),
aproteína
glucoquinase
corrente nada
integral
sendo
sanguínea.ínea.
sua
última
membrana
funçãoetapa da
AAA glico�glico�glico�
gerar do Glicose É Sintetizada a Partir da
Maioria dos Aminoácidos
Todos os aminoácidos, exceto leucina e lisina, po�
retículo endoplasmático, com seu sítio ativo disponível
para hidrólise de G6P na superfície luminal (Figura dem fornecer carbono para a síntese de glicose por gluco�
neogênese (p. 638). Se o catabolismo de um aminoácido
15.35). Um transportador move G6P através da mem�
produzir piruvato ou oxaloacetato, síntese de glicose
brana do retículo endoplasmático. Um defeito genético
pode ocorrer a partir desse aminoácido. Oxaloacetato é
no transportador ou na fosfatase interfere com a gluco� um intermediário da gluconeogênese, e piruvato é facil�
neogênese e resulta em acúmulo de glicogênio no fíga�
mente convertido em oxaloacetato pela piruvato carbo�
do, como discutido mais adianta para o metabolismo de
xilase (ver Figura 15.31). O catabolismo de aminoácidos
glicogênio.
fornece carbonos para o ciclo TCA em vários pontos.
Enquanto ocorrer a síntese de intermediários do ciclo
TCA, a síntese de oxaloacetato continuará. Reações que
levam à síntese de intermediários do ciclo TCA são cha�
madas reações anapleróticas (anaplerose), e sustentam
642 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

a gluconeogênese porque permitem que ocorra sínte�


se de oxaloacetato. Reações catalisadas pela piruvato 2iCH2OPO3 CH2OH
carboxilase e pela glutamato desidrogenase são bons O O
exemplos de reações anapleróticas. + H2O + HPO42i

COOi COOi α'*OLFRVH α'*OLFRVH


IRVIDWR
CO + ATP4i + HCO3i CO + ADP3i + Pi2i + H+

FIGURA 15.34 Reação catalisada pela glicose 6-fosfatase.


CO
CH2
COOi
CH3 CH2
COOi Piruvato– + ATP4– + HCO3– →
Piruvato + GTP4i Oxaloacetato → oxaloacetato2– + ADP3– + Pi2– + H+
COOi Glutamato– + NAD(P)+ →
COPO32i + GDP3i + CO2 → a�cetoglutarato2– + NAD(P)H + NH4+ + H+

CH2 Por outro lado, a reação catalisada pela glutamato�


�oxaloacetato aminotransferase (a�cetoglutarato + as�
partato → glutamato + oxaloacetato) não é anapleróti�
Oxaloacetato Fosfoenolpiruvato
ca porque não realiza síntese de intermediários do ciclo
FIGURA 15.32 Etapas que requerem energia envolvidas TCA; isto é, a geração de oxaloacetato a partir de as�
na formação de fosfoenolpiruvato a partir de piruvato. partato é equilibrada pela conversão de a�cetoglutarato
As reações são catalisadas por piruvato carboxilase e PEP car� em glutamato.
boxiquinase, respectivamente.
Como a gluconeogênese a partir de aminoácidos
impõe uma carga de nitrogênio sobre o fígado, existe
CH2OPO3
CH2 2i CH2OH uma relação estreita entre síntese de ureia e síntese de
glicose a partir de aminoácidos. Na Figura 15.36, são
CO
HOCH
HCOH
)UXWRVH CO
CH2
metabolizadas duas moléculas de alanina, uma gerando
HOCH NH4+ e a outra aspartato, os substratos primários para o
+ H2O HCOH + HPO42i ciclo da ureia. O aspartato sai da mitocôndria e torna�se
parte do ciclo da ureia depois de reagir com citrulina.
O carbono do aspartato é liberado como fumarato, que
OPO32i OPO32i
é convertido em malato pela fumarase citosólica. Esse
)UXWRVH malato e outro malato da mitocôndria são convertidos
ELVIRVIDWR IRVIDWR em glicose por enzimas citosólicas da gluconeogênese.
Um equilíbrio é atingido entre equivalentes de redução
FIGURA 15.33 Reação catalisada pela frutose
(NADH) gerados e os necessários no citosol e na matriz
1,6-bisfosfatase.
mitocondrial. A soma das reaçõesões apresentadasapresentadas nana Fi�Fi�
gura 15.36 dá simplesmente

2 Alaninas + 10 ATP + CO2 →


→ Glicose + ureia + 10 ADP + 10 Pi
Glicose 6–P
Leucina e lisina são os únicos aminoáci�
dos que não podem funcionar como fontes
de carbono para síntese de glicose. Eles são
cetogênicos, mas não glucogênicos. Todos
os outros aminoácidos são glucogênicos
Glicose 6–P ou ambos, glucogênicos e cetogênicos (Ta�
glicose 6–fosfatase

FIGURA 15.35 Glicose 6-fosfato é


Lúmen do hidrolisada pela glicose 6-fosfatase
Glicose Pi
retículo
endoplasmático
localizada na superfície luminal do retículo
endoplasmático.
Três transportadores estão envolvidos: um trans�
Citosol porta glicose 6�fosfato para o lúmen, um segundo
transporta Pi de volta para o citosol, e um tercei�
Glicose Pi
ro transporta glicose de volta para o citosol.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 643

bela 15.1). Os aminoácidos glucogênicos dão origem Assim, não ocorre síntese de um intermediário do ci�
à síntesesíntese dede piruvatopiruvato ouou oxaloacetato,oxaloacetato, enquantoenquanto ami�ami� clo TCA durante a oxidação completa de acetil�CoA pelo
noácidos que são, ambos, glucogênicos e cetogênicos, ciclo TCA. É, portanto, impossível, para animais, a reali�
também geram o corpo cetônico acetoacetato, ou ace� zação de síntetize de glicose a partir de acetil�CoA.
til�CoA que é facilmente convertido em acetoacetato.
Acetil�CoA é o produto final do metabolismo de lisina,
e acetoacetato e acetil�CoA são produtos finais do me� Glicose Pode Ser Sintetizada a partir
tabolismo de leucina. Não existe nenhuma via que seja
capaz de converter acetoacetato ou acetil�CoA em pi�
de Ácidos Graxos com Número
ruvato ou oxaloacetato. Acetil�CoA não pode ser usado Ímpar, mas Não com Número Par de
para síntese de glicose porque a reação do complexo
piruvato desidrogenase é irreversível. Carbonos
Piruvato + NAD+ + CoASH → A maior parte dos ácidos graxos encontrados no ho�
→ acetil�CoA + NADH + CO2. mem tem cadeias lineares, com número par de átomos
de carbono. Seu catabolismo por oxidação de ácidos
TABELA 15.1 Aminoácidos Glucogênicos e Cetogênicos graxos, seguida de cetogênese ou oxidação completa
Glucogênicos Cetogênicos Ambos a CO2, é resumida na Figura 15.37. Como acetil�CoA e
outros intermediários da oxidação de ácidos graxos de
Glicina Leucina Treonina número par não podem ser convertidos em oxaloaceta�
to ou qualquer outro intermediário da gluconeogênese,
Serina Lisina Isoleucina é impossível sintetizar glicose a partir de ácidos graxos.
Valina Fenilalanina Uma exceção a essa regra aplica�se aos ácidos graxos
ramificados com grupamentos metil (por exemplo, áci�
Histidina Tirosina do fitânico, um produto de quebra da clorofila; ver dis�
Arginina Triptofano cussão da doença de Refsum, Correlação Clínica 17.6, p.
701), e aos ácidos graxos com número ímpar de átomos
Cisteína de carbono. O catabolismo desses ácidos graxos gera
propionil�CoA.
Prolina
Ácido graxo com número ímpar (n) de átomos de
Hidroxiprolina
carbono → (n – 3)/2 acetil�CoA + 1 propionil�CoA
Alanina
Propionil�CoA é um bom precursor da gluconeogê�
Glutamato nese, uma vez que gera oxaloacetato (Figura 15.38) por
uma via anaplerótica (ver Figura 19.53, p.. 802).802).802). Pro�Pro�Pro�
Glutamina pionil�CoA é também produzido durante o catabolismo
Aspartato de valina e isoleucina (ver Figura 19.50, p. 800), e na
conversão de colesterol em ácidos biliares (ver Figura
Asparagina 18.42, p. 748).
Metionina Às vezes afirma�se, sem muita precisão, que gor���
r� não po�e ser �on�erti�� em ��rboi�r�to (g�i�ose)
Poderia�se argumentar que oxaloacetato é gerado a pe�os �nim�is. Isso certamente é verdade para ácidos
partir de acetil�CoA pelo ciclo TCA, por meio dessa sé� graxos com número par de átomos de carbono. Contu�
rie de reações. do, o termo gor��r� geralmente se refere aos triacilgli�
Acetil�CoA → citrato → 2 CO2 + oxaloacetato cerois, que são compostos por três grupos O�acil com�
binados com uma molécula de glicerol. Hidrólise de um
Contudo, isso não considera o oxaloacetato neces� triacilglicerol gera três ácidos graxos e glicerol, sendo o
sário para a formação de citrato, a partir de acetil�CoA. último composto um excelente substrato para a gluco�
neogênese (Figura 15.39).
Acetil�CoA + oxaloacetato → citrato + CoA
Fosforilação do glicerol pela glicerol quinase pro�
Descarboxilação de citrato pelo ciclo TCA regenera duz glicerol 3�fosfato, que é convertido pela glicerol
oxaloacetato. 3�fosfato desidrogenase em di�hidroxiacetona fosfato,
um intermediário da via gluconeogênica (ver Figura
Citrato →→ 2 CO2 + oxaloacetato
15.31, p. 641). Dependendo do estado nutricional, o
Somando essas reações, obtém�se a reação para último estágio da glicólise pode competir com a via
uma volta do ciclo TCA. gluconeogênica e converter di�hidroxiacetona fosfato
em lactato (ou em piruvato, para subsequente oxida�
Acetil�CoA → 2 CO2 + CoA ção completa a CO2 e H2O).
644 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Glicose

Alanina
(2) Gliceraldeído 3-fosfato Glu α-KG

Pi (2) NAD+
(2) NADH Piruvato Citosol

(2) 1,3-Bisfosfoglicerato

Espaço
(2) OAA (2) NAD+ Piruvato
NAD+ da
CO2 matriz

(2) NADH OAA


OAA NADH Glu
α-KG

(2) Malato Malato NH4+

Ureia Orn
Citrulina Orn
Citrulina

Asp Piruvato
Asp
α-KG
FIGURA
relação
Abreviaturas:
com
15.36aOAA,
Via
síntese
da
oxaloacetato;
gluconeogênese
de ureia. Asp, aspartato;
a partir de
Orn,
alanina
ornitina;
e sua
Glu, Glu
Glu

CO2

Piruvato

α-KG

glutamato; a�KG, α�cetoglutarato. Alanina

Glicose É Também Sintetizada a ou, alternativamente, em piruvato ou lactato, pelo últi�


mo estágio da glicólise. Em analogia à glicólise, a con�
Partir de Frutose versão de frutose em lactato é chamada frutólise.
Os seres humanos consomem quantidades consi� A principal fonte de energia dos espermatozoides é
deráveis de frutose na forma de sacarose, que resulta a frutose, formada a partir de glicose por células das
em glicose e frutose após hidrólise pela sacarase no vesículas seminais, como mostra a Figura 15.41. A redu�
intestino (p. 1076), e como resultado do uso ampla� ção NADPH�dependente de glicose a sorbitol é seguida
mente difundido de xarope de milho, rico em frutose, por uma oxidação NAD+�dependente de sorbitol a fru�
como adoçante pela indústria alimentícia. No fígado, a tose. A frutose é secretada pelas vesículas seminais em
frutose é fosforilada pela frutoquinase (Figura 15.40), um fluido que se torna parte do sêmen. Embora a con�
que gera frutose 1�fosfato, e não frutose 6�fosfato (ver
Correlação Clínica 15.3). A mesma aldolase que quebra Ácido graxo com número par
(n) de átomos de carbono
frutose 1,6�bisfosfato, depois quebra frutose 1�fosfato,
formando di�hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído. O FOX
último tem vários destinos possíveis. Pode ser oxidado n2
acetilCoA
por uma aldeído desidrogenase, reduzido por uma álcool
desidrogenase, ou fosforilado por uma quinase. A via n4 corpos cetônicos n CO2
favorecida é a conversão em gliceraldeído 3�fosfato pela
triose quinase. Duas moléculas de di�hidroxiacetona FIGURA 15.37 Visão geral do catabolismo de ácidos
fosfato, obtidas de uma molécula de frutose, podem ser graxos a corpos cetônicos e CO2.
convertidas em glicose por enzimas da gluconeogênese Abreviatura: FOX, oxidação de ácidos graxos.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 645

centração de frutose no sêmen humano possa exceder Frutose

10 mM, os tecidos que entram em contato com o sêmen ATP


utilizam pouca frutose, permitindo que esse substrato frutoquinase ADP

seja reservado para atender à demanda energética dos


espermatozoides em sua procura pelo óvulo. Os esper� Frutose 1-fosfato
matozoides contêm mitocôndrias e, portanto, podem
metabolizar frutose completamente a CO2 e H2O, pela aldolase B
Gliceraldeído
combinação de frutólise e atividade do ciclo TCA.
ATP
triose quinase
ADP
Ácido fitânico
Ácidos graxos de cadeia ímpar (2) Di-hidroxyacetona fosfato Gliceraldeído 3-fosfato
Valina
Isoleucina
Colesterol
Glicose (2) Lactato

FIGURA 15.40 Via da formação de glicose a partir de


frutose e via da frutólise, competidora.
O As setas grandes indicam etapas da glicólise e da gluconeogê�
nese dadas nas Figuras 15.6, p. 617, e 15.31, p. 641, respecti�
CSCoA
vamente.
CH2

CH3
CH2OH
Propionil CoA
HCOH

HOCH

Oxaloacetato DGlicose+NADPH+H+ HCOH+NADP+

HCOH

CH2OH
½ Glicose
'6RUELWRO
FIGURA 15.38 Via da gluconeogênese a partir de
propionil-CoA.
A seta grossa refere�se às etapas do ciclo TCA mais etapas da DSorbitol + NAD+ Dfrutose + NADH + H+
gluconeogênese.
FIGURA 15.41 Via responsável pela formação de sorbitol
e frutose a partir de glicose.
Glicerol

glicerol ATP Gluconeogênese Requer Gasto de


quinase ADP
ATP
A síntese de glicose é custosa em termos de ATP.
Glicerol 3-fosfato Fat Seis moléculas são necessárias para a síntese de uma
molécula de glicose a partir de lactato, 10 para síntese
glicerol
NAD+ de glicose a partir de alanina. ATP para a síntese de gli�
3-fosfato NADH + H+ cose é fornecido, em grande parte, pela oxidação de áci�
desidrogenase
dos graxos. Condições metabólicas nas quais o fígado
é exigido para sintetizar glicose geralmente favorecem
Di-hidroxiacetona fosfato disponibilidade aumentada de ácidos graxos no sangue.
Esses ácidos graxos são oxidados pelas mitocôndrias
hepáticas a corpos cetônicos, com produção concomi�
12 Glicose Lactato
tante de grandes quantidades de ATP.
FIGURA 15.39 Via da gluconeogênese a partir de glicerol, Palmitato + 7 O2 + 26 ADP + 26 Pi →
juntamente com vias competitivas.
→ 4 Acetoacetato + 26 ATP
As setas grandes indicam etapas da glicólise e gluconeogênese,
dadas em detalhes nas Figuras 15.5, p. 615, e 15.31, p. 641, res�
pectivamente. A seta grande apontando para a gordura indica
síntese de triacilglicerois e glicerofosfolipídeos.
646 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Gluconeogênese Tem Vários Pontos é um efetor alostérico positivo da piruvato carboxilase


que, juntamente com a inibição do complexo piruvato
de Regulação desidrogenase, encaminha o carbono do piruvato para
oxaloacetato, para síntese de glicose. O aumento no oxa�
A regulação da gluconeogênese ocorre em múlti�
loacetato, devido ao aumento na atividade de piruvato
plos pontos (Figura 15.42). As enzimas que são usadas
carboxilase, juntamente com o aumento de acetil�CoA a
para contornar as etapas irreversíveis da glicólise es�
partir da oxidação de ácidos graxos, também promove
tão primariamente envolvidas na regulação da via, isto
maior síntese de citrato, um efetor alostérico negativo da
é, piruvato carboxilase, PEP carboxiquinase, frutose
6�fosfofruto�1�quinase. Inibição da 6�fosfofruto�1�quina�
1,6�bisfosfatase e glicose 6�fosfatase. A regulação da
se diminui a concentração de frutose 1,6�bisfosfato, um
gluconeogênese hepática é muito semelhante à regula�
ção da glicólise hepática. A inibição da glicólise em seus ativador da piruvato quinase. Isso reduz o fluxo de PEP
para piruvato pela piruvato quinase e, assim, aumenta
principais pontos regulatórios ou repressão da síntese
a eficácia do acoplamento da piruvato carboxilase com
de enzimas que contornam esses pontos (glucoquina�
a PEP carboxiquinase para a conversão de piruvato em
se, 6�fosfofruto�1�quinase e piruvato quinase) aumen�
PEP. Um aumento nos níveis de ATP, com o consequente
ta muito a efetividade das enzimas gluconeogênicas.
decréscimo nos níveis de AMP, favorece a gluconeogêne�
Ativação da gluconeogênese é, portanto, realizada, em
se por inibição da 6�fosfofruto�1�quinase e da piruvato
grande parte, por inibição da glicólise.
quinase, e ativação da frutose 1,6�bisfosfatase (ver Figu�
ra 15.42). Por outro lado, a falta de oxigênio, a falta de
A oxidação de ácidos graxos invariavelmente ocorre
junto com a gluconeogênese. Promove a síntese de glico� ácidos graxos para oxidação, ou uma inibição ou desa�
se, em parte por suprir o ATP necessário e por aumentar coplamento da fosforilação oxidativa levaria o fígado a
as concentrações de estado estacionário de acetil�CoA passar de gluconeogênese para glicólise.
mitocondrial e NADH. Esses dois produtos da oxidação
de ácidos graxos são potentes ativadores da piruvato
desidrogenase quinase, que fosforila e inativa o comple�
Controle Hormonal da
xo piruvato desidrogenase. Isso impede que o piruva� Gluconeogênese É Crítico para a
to seja convertido em acetil�CoA, economizando assim
piruvato para a síntese de glicose. Acetil�CoA também Homeostase
(2) Lactato O controle hormonal da gluconeogê�
nese trata da regulação do suprimento
de ácidos graxos para o fígado, bem como
das atividades das enzimas da glicólise
(2)Piruvato
e da gluconeogênese. As catecolaminas
(2) ATP  acetil CoA aumentam os ácidos graxos plasmáticos
(2) CO2 por promoverem lipólise do tecido adi�
ATP ² (2) ATP (2) ADP + (2) Pi poso, uma ação oposta à da insulina. A
alanina ² maior disponibilidade de ácidos graxos
(2) ADP (2) Oxaloacetato
citrato
ATP
AMP
Frutose 1,6
bisfosfato
2,6 ²
 ATP
ADP (2) GTP (2)
Pi GDP + (2) CO2 AMP
Frutose
bisfosfato
2,6 resulta em maior oxidação de ácidos gra�
bisfosfato xos pelo fígado, o que promove síntese de
glicose. A insulina produz o efeito oposto
(2) Fosfoenolpiruvato por inibir a lipólise do tecido adiposo. O
glucagon e a insulina também regulam a
gluconeogênese diretamente no fígado,
Frutose 1,6bisfosfato por influenciarem o estado de fosforilação
² das enzimas hepáticas que estão sujeitas
² ATP ² a modificação covalente. Como descrito
ADP anteriormente (ver Figura 15.28, p. 637),
a piruvato quinase é ativa quando des�
Frutose 6fosfato fosforilada e inativa quando fosforilada.
O glucagon ativa a adenilato ciclase para
produzir cAMP, que ativa a proteína qui�
Glicose 6fosfato nase A, a qual fosforila e inativa a piru�
vato quinase. A inativação dessa enzima
Frutose ² Pi glicolítica estimula a gluconeogênese por
6fosfato bloquear a conversão fútil de PEP em pi�
Glicose ruvato. O glucagon também estimula a
gluconeogênese por diminuir a concen�
FIGURA 15.42 Características importantes de regulação alostérica da
gluconeogênese. tração de frutose 2,6�bisfosfato, um ati�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 647

vador alostérico da 6�fosfofruto�1�quinase e um inibidor glicólise no fígado. Uma razão glucagon/insulina baixa
alostérico da frutose 1,6�bisfosfatase. O glucagon, por tem os efeitos opostos. A razão glucagon/insulina au�
meio do seu segundo mensageiro cAMP, reduz a fruto� menta quando gluconeogênese é necessária, e diminui
se 2,6�bisfosfato por estimular a fosforilação da enzima quando a glicose é abundante no trato gastrointestinal.
bifuncional 6�fosfofruto�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfa� O glucagon sinaliza a indução de grandes quantidades
tase, que inativa a atividade de quinase, mas ativa a ativi� de PEP carboxiquinase, frutose 1,6�bisfosfatase, glico�
dade de fosfatase. A queda induzida por glucagon dos ní� se 6�fosfatase e várias aminotransferases. Um modelo
veis de frutose 2,6�bisfosfato leva à redução na atividade de como isso ocorre é apresentado na Figura 15.43. Li�
da 6�fosfofruto�1�quinase, enquanto a frutose 1,6�bisfos� gação de glucagon ao seu receptor da membrana plas�
fatase fica mais ativa (Figura 15.42). O efeito final é con� mática aumenta cAMP, que ativa a proteína quinase A.
versão aumentada de FBP em F6P e um aumento cor� Proteína quinase A, então, fosforila uma proteína cha�
respondente na taxa de gluconeogênese. Um aumento na mada proteína ligante ao elemento de resposta a cAMP
frutose 6�fosfato também favorece a gluconeogênese por (CREB, �AMP�response e�ement bin�ing protein),
inibir a glucoquinase, via sua proteína inibitória. Os efei� um fator de transcrição que, quando fosforilado, liga�se
tos da insulina são opostos aos do glucagon, por ativa� a um elemento de resposta a cAMP (CRE, �AMP�res�
ção por sinalização da cAMP fosfodiesterase, inibição da ponse e�ement), um elemento de ação �is dentro da
proteína quinase A, e ativação da fosfoproteína fosfatase. região regulatória dos genes responsivos a cAMP. CREB
fosforilada promove a transcrição de genes de enzimas
gluconeogênicas chaves, como PEP carboxiquinase. Por
Glucagon
Receptor Adenilato repressão da transcrição gênica, o glucagon reduz as
de glucagon ciclase
quantidades de glucoquinase, 6�fosfofruto�1�quinase, e
+
piruvato quinase. A insulina tem ação oposta à do glu�
cagon por meio de uma cascata de sinalização mediada
por quinases que culmina na inativação de um fator de
transcrição para genes de enzimas glucogênicas cha�
+ ves (p. 928; Figura 22.21). Quando a síntese de glicose
Gs
não é necessária, a síntese das enzimas gluconeogêni�
cas chaves diminui, e a síntese das enzimas glicolíticas
cAMP
chaves aumenta em decorrência de uma queda na razão
Citosol +
glucagon/insulina do sangue.
Proteína quinase A

Oxidação de Álcool Inibe


Gluconeogênese
Núcleo A oxidação de álcool (etanol) pelo fígado produz
uma grande carga de equivalentes de redução na forma
de NADH que precisam ser transportados para dentro
das mitocôndrias pela lançadeira malato–aspartato. O
CREBP CREB excesso de NADH no citosol interfere com a gluconeo�
gênese (Correlação Clínica 15.10) porque força o equilí�
brio das reações catalisadas pela lactato desidrogenase
+ PEPCK
e pela malato desidrogenase na direção da formação de
lactato e malato, respectivamente:

CH3CH2OH + NAD+ CH3CH + NADH + H+


CRE Etanol Acetaldeído

FIGURA 15.43 Glucagon promove a transcrição do gene piruvato + NADH + H+ lactato + NAD+
da PEP carboxiquinase. Soma: etanol + piruvato acetaldeído + lactato
Abreviaturas: PEPCK, PEP carboxiquinase; CRE, elemento de ou
resposta a cAMP; CREB, proteína que se liga ao elemento de res� oxaloacetato + NADH + H+ malato + NAD+
posta a cAMP. Soma: etanol + oxaloacetato acetaldeído + malato

O glucagon e a insulina também têm efeitos de lon�


go prazo sobre a glicólise e a gluconeogênese hepáticas Isso inibe a gluconeogênese por limitar a disponibili�
por indução e repressão de enzimas chaves de ambas dade de piruvato e oxaloacetato para as reações catali�
as vias. Uma razão glucagon/insulina alta no sangue sadas pela piruvato carboxilase e PEP carboxiquinase,
aumenta a capacidade de gluconeogênese e reduz a de respectivamente.
648 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.10

Hipoglicemia e Intoxicação Alcoólica


O consumo de álcool, especialmente por uma pes� contribuir para esses efeitos indesejáveis do álcool.
soa subnutrida, pode causar hipoglicemia. O mesmo Mais ainda, pode�se pensar que um paciente está em�
efeito pode resultar do consumo de álcool após exer� briagado quando, de fato, ela ou ele está sofrendo de hi�
cício extenuante. Em ambos os casos, a hipoglicemia poglicemia, que pode levar a lesão irreversível no siste�
resulta dos efeitos inibitórios do álcool sobre a gluco� ma nervoso central. Crianças são muito dependentes da
neogênese hepática, e ocorre em circunstâncias de de� gluconeogênese durante o jejum, e a ingestão acidental
pleção de glicogênio hepático. O fígado simplesmen� de álcool por uma criança pode produzir hipoglicemia
te é incapaz de lidar com os equivalentes de redução grave (ver Correlação Clínica 15.9). O álcool potencia�
formados pela oxidação do etanol, em velocidade su� liza o efeito hipoglicêmico da insulina. Portanto, não é
ficientemente grande para evitar desvios metabólicos. incomum pacientes com diabetes serem apresentados
Os equivalentes de redução extras bloqueiam a con� nas salas de emergência com hipoglicemia decorrente
versão de lactato em glicose e promovem a conversão da combinação de insulina autoadministrada e consu�
de alanina em lactato, com considerável acúmulo de mo de álcool.
lactato no sangue, e acidose láctica (ver Correlação
Clínica 15.5) pode se desenvolver, embora seja geral� Krebs, H. A., Freedland, R. A., Hems, R. e Stubbs, M. Inhi�
mente leve. bition of hepatic gluconeogenesis by ethanol. �io��em. J.
112:117, 1969; Service, F. J. Hypoglycemia. Me�. C�in. Nort�
Baixas doses de álcool causam perda de desempe� Ameri�� 79:1, 1995; Gibson, E. M., e Tingen, M. S. Nursing
nho motor e intelectual; altas doses são depressivas, e care for diabetic patients with alcohol induced hypoglycemia.
podem levar a estupor e anestesia. Baixa glicemia pode J. Emer. N�rsing 24: 165, 1998.

15.6 GLICOGENÓLISE E
GLICOGÊNESE

Glicogênio É a Forma de
Armazenamento de Glicose
A glicogenólise refere�se à quebra de glicogênio em
glicose ou glicose 6�fosfato; a glicogênese refere�se à
síntese de glicogênio. Esses processos ocorrem em qua�
se todos os tecidos, mas especialmente no músculo e
no fígado. No homem bem alimentado, o conteúdo de
glicogênio do fígado pode responder por até 10% do
peso úmido desse órgão. O músculo armazena menos
glicogênio quando expresso na mesma base – um máxi�
mo de apenas 1%–2% do seu peso úmido. Entretanto,
a maioria das pessoas tem mais músculo do que fígado,
com o total do glicogênio muscular chegando ao dobro
da quantidade de glicogênio hepático.

Os grânulos de glicogênio são abundantes no fíga�


do de animais bem alimentados (Figura 15.44), mas FIGURA 15.44 Micrografia eletrônica mostrando grânulos
estão virtualmente ausentes desse órgão após 24 h de de glicogênio (material corado escuro) no fígado de um
jejum. Exercício pesado causa a mesma perda de grâ� rato alimentado.
nulos de glicogênio em fibras musculares. Esses grânu� Micrografia generosamente cedida por Dr. Robert R. Cardell
do Department of Anatomy da University of Cincinnati, Cin�
los são grupos de moléculas individuais de glicogênio
cinnati, OH.
que têm uma massa de até 2 × 107 Da. O glicogênio é
composto de resíduos glucosil, ligados principalmente
por ligações glicosídicas α�1,4 (Figura 15.45). Ramifica� por ramos a cada quatro resíduos glucosil no esquele�
ções surgem de ligações α�1,6 frequentes. Um braço da to (�ore) mais central da molécula, e muito menos fre�
“árvore” do glicogênio (Figura 15.46) é caracterizado quentemente nas regiões mais externas. O glicogênio
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 649

contrasta com proteínas e ácidos nucleicos em virtude A maior parte do glicogênio muscular é consumida
dessa ramificação, mas, é claro, é uma forma de arma� por esse tecido, sem formação de glicose livre. Entre�
zenamento de combustível e não catalisa reações e nem tanto, em decorrência da forma como os ramos são cor�
contém informação em uma célula. tados, cerca de 8% do glicogênio muscular é convertido
em glicose livre no tecido, a maior parte da qual sofre
glicólise no músculo. Como músculo não tem glicose
CH2OH CH2OH 6�fosfatase e a maior parte da glicose livre formada é
O O catabolizada, o glicogênio muscular não é importante
para a manutenção dos níveis de glicose sanguíneaínea du�du�
O O O rante o jejum. Ao contrário, o glicogênio hepático é uma
fonte crítica de glicose sanguíneaínea nono estadoestado pós�absor�pós�absor�
Ligação glicosídica α1,4 tivo. PorPor outrooutro lado,lado, glicogêneseglicogênese nono músculomúsculo desempe�desempe�
nha um papel importante na redução dos níveis de gli�
(a)
cose no sangue após uma dieta rica em carboidratos.
CH2OH Glicogênese hepática contribui, mas pode ser menos
O importante do que a síntese de glicogênio no músculo.

O O Exercício mobiliza glicogênio muscular para forma�


ção de ATP. As fibras musculares vermelhas têm um
CH2
fluxo sanguíneo rico, contêm uma grande quantidade
O O O
de mioglobina e têm muitas mitocôndrias. O glicogênio
mobilizado nessas células é convertido em piruvato,
que é depois convertido em CO2 e H2O pelo ciclo TCA.
As fibras musculares brancas contêm menos mioglobina
Ligação glicosídica α1,6
e menos mitocôndrias. A glicogenólise nessas células só
(b) fornece substratos para a glicólise, com o produto final
sendo principalmente lactato. Fibras musculares bran�
FIGURA 15.45 Dois tipos de ligações entre as moléculas
cas têm maior capacidade de glicogenólise e glicólise,
de glicose estão presentes no glicogênio.
mas só podem funcionar com capacidade total por pe�
ríodos relativamente curtos. Músculo de peito e de per�
na de galinha são bons exemplos de músculos branco e
vermelho, respectivamente. Músculo de peito de gali�
nha não está executando trabalho continuamente, mas
permite à galinha voar rapidamente por curtas distân�
cias, como na fuga de predadores (ou galos amorosos).
É projetado para atividade máxima por curtos períodos.
A maioria dos músculos esqueléticos do corpo humano
é uma mistura de fibras vermelhas e brancas, que per�
mitem capacidade de contração rápida e sustentada. A
distribuição de fibras musculares brancas e vermelhas
em cortes transversais de um músculo esquelético hu�
mano é demonstrada por um procedimento de colora�
FIGURA 15.46 Estrutura ramificada do glicogênio. ção especial na Figura 15.48.
Glicogênio é armazenado em músculomúsculo ee fí�fí�
gado por razões bem diferentes. O glicogênio
muscular é uma reserva de combustível para
a produção de ATP dentro dessedesse tecido,tecido, en�en�
quanto o glicogênio hepático é uma reserva de
glicose para a manutenção das concentrações
de glicose no sangue. Os níveis de glicogênio
hepático são altos logo após uma refeição e, de�
pois, diminuem lentamente à medida que ele é
usado para ajudar a manter o nível de glicose
Almoço Jantar Café da manhã
no sangue (Figura 15.47) entre as refeições e
durante o jejum noturno. No homem e no rato,
o glicogênio armazenado dura entre 12 e 24 ho�
ras durante o jejum, dependendo muito, é cla� 8 hs Meiodia 16 hs 20 hs Meianoite 4 hs 8 hs

ro, de o indivíduo em consideração estar confi� FIGURA 15.47 Variações nos níveis de glicogênio, no fígado, entre
nado ou correndo muito. refeições e durante o jejum noturno.
650 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

2–
→ (glicose)n�1
(Glicose)n + Pi →
+ a�D�glicose
1�fosfato2–

A etapa seguinte da glicogenólise é catalisada pela


fosfoglucomutase.

Glicose 1�fosfato → glicose 6�fosfato

Essa é uma reação próxima do equilíbrio usada na


degradação e na síntese de glicogênio.

A enzima seguinte depende do tecido (Figura


15.49). No fígado, a glicose 6�fosfato é hidrolisada pela
glicose 6�fosfatase em glicose livre.
2–
Glicose 6�fosfato2– + H2O → glicose + Pi

A falta dessa enzima ou do transportador para o


deslocamento de G6P para dentro do retículo endoplas�
mático (ver Figura 15.35, p. 642) resulta na doença de
armazenamento de glicogênio tipo I (Correlação Clíni�
ca 15.11).
FIGURA 15.48 Corte transversal de músculo esquelético
humano mostrando fibras musculares vermelhas e
brancas. (Glicose)n
O corte foi corado para atividade de NADH desidrogenase. Fi� Pi
bras vermelhas são escuras, e fibras brancas são claras. glicogênio fosforilase
Figura gentilmente fornecida por Dr. Michael H. Brooke, do
Jerry Lewis Neuromuscular Research Center, St. Louis, MO.
Glicose 1fosfato

fosfoglucomutase
Glicogênio Fosforilase Inicia
Glicogenólise Glicose 6fosfato
glucose CO2
A glicogênio fosforilase catalisa a fosforólise do gli� 6fosfatase
Glicose
(no fígado)
P
cogênio, uma reação na qual Pi é usado para clivar li� glicólise
(no músculo)
gações glicosídicas a�1,4, para gerar glicose 1�fosfato.
Essa reação sempre ocorre em extremidades não�redu� i

toras de uma molécula de glicogênio: Lactato (branco)


Piruvato
desidrogenase
lactato
(vermelho) complexo
CH2OH CH2OH CH2OH piruvato
desidrogenase
O O O
CO2
O O HPO22–
AcetilCoA
Ciclo TCA
Glicogênio (estrutura parcial) α-D-Glicose
e H2O
CH2OH CH2OH
O O FIGURA 15.49 Glicogenólise e o destino do glicogênio
HPO22–
degradado no fígado versus seu destino nos tecidos
+
OPO32– O periféricos. Branco refere-se ao músculo branco, e
vermelho ao músculo vermelho.
α-D-Glicose 1-fosfato Glicogênion-1
Como resultado da ação da glicose 6�fosfatase, a
equação geral balanceada para a glicogenólise no fígado
Essa reação é diferente da da a�amilase, que usa é simplesmente a hidrólise do glicogênio.
água, e não fosfato inorgânico (Pi), para clivar ligações
glicosídicas a�1,4 de glicogênio e amido no intestino (p. (Glicose)n + H2O → (glicose)n–1 + glicose
1075). Embora uma molécula de glicogênio possa con�
Note que o ATP não é usado nem produzido no pro�
ter até 100.000 resíduos de glicose, éé convenienteconveniente resu�resu�
mir sua estrutura simplesmente por (glicose)n, onde n cesso.
é o número de resíduos glucosil da molécula. A reação Em tecidos periféricos, G6P sofre glicólise, levando
pode ser escrita como primariamente a lactato em fibras musculares brancas,
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 651

e primariamente a CO2 em fibras musculares vermelhas normal de componentes intracelulares deve ser degra�
(Figura 15.49). Como nenhum ATP precisou ser inves� dado. A incapacidade de degradar glicogênio captado
tido para produzir G6P a partir de glicogênio, a equação por lisossomos cria um grave problema médico, descrito
final da glicogenólise seguida pela glicólise é na Correlação Clínica 15.11.

→ (glicose)n–1
(Glicose)n +
+ 23 lactato– 2–i + H+ →
ADP3– ++33PATP4–
+ 2 H2O

Enzima Cortadora de Ramos É


Necessária para Glicogenólise
A glicogênio fosforilase é específica para ligações gli�
cosídicas a�1,4. Ela para de atacar ligações glucosídicas
a�1,4 há quatro resíduos de glucosil de distância de um
ponto de ramificação a�1,6. Uma molécula de glicogênio
(6) Pi
que tenha sido degradada pela fosforilase até o limite glicogênio
fosforilase
imposto pelos ramos é chamada dextrina fosforilase�li� (6) Glicose
mite. A ação da enzima cortadora de ramos permite que 1-fosfato
P

a fosforilase continue a degradar o glicogênio. A enzima


cortadora de ramos é uma enzima bifuncional, que ca�
talisa duas reações necessárias à remoção dos ramos
do glicogênio. A primeira é uma atividade de 4�a�D�glu�
canotransferase, que remove um segmento de três re�
síduos glucosil de um ramo de quatro resíduos glucosil
da molécula de glicogênio, deixando um único resíduo
glucosil em ligação a�1,6 (Figura 15.50). O segmento de
três resíduos glucosil permanece ligado covalentemen�
te à enzima, até ser transferido para uma 4�hidroxila enzima cortadora de ramos
(atividade de transferase)
livre de um resíduo glucosil, na extremidade da mesma
molécula de glicogênio, ou de uma molécula adjacente,
para produzir um ramo mais longo. A ligação a�1,6 do
resíduo glucosil único é hidrolisada pela segunda ativi�
dade enzimática da enzima cortadora de ramos, que é
sua atividade de amilo�a�1,6�glucosidase.

CH2OH CH2OH
O O

O CH2 H2O + CH2OH


O O
α-D-Glucose
O Glicogênio O O Glicogênio O
enzima cortadora
(atividade de glucosidase)
de ramos H2O
Glicose

A ação cooperativa e repetitiva da fosforilase e da


enzima cortadora de ramos resulta na quebra comple�
ta do glicogênio em glicose 1�fosfato e glicose. Doen�
ças de armazenamento de glicogênio resultam quando
qualquer uma dessas enzimas está defeituosa. Uma mo�
lécula média de glicogênio gera cerca de 12 moléculas
de glicose 1�fosfato, por ação da fosforilase, para cada
molécula de glicose livre produzida por ação da enzima
cortadora de ramos.

Existe outra via, embora quantitativamente menos


importante, para a degradação de glicogênio, que de� FIGURA 15.50 Combinação da ação da glicogênio
pende de glucosidases presentes em lisossomos. O gli� fosforilase e enzima cortadora de ramos de glicogênio é
cogênio que entra em lisossomos durante a reciclagem requerida para a glicogenólise.
652 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Glicose extremidade não�redutora (carbono 4 de um resíduo


ATP
glucosil) da cadeia de glicogênio. De acordo com isso,
hexoquinase cada molécula de glicogênio deveria ter uma extremi�
ADP
dade redutora livre, mergulhada dentro do seu núcleo.
Glicose 6fosfato Na verdade, ela não tem extremidade redutora livre
fosfoglucomutase
porque seu único grupo aldeído potencialmente livre é
covalentemente ligado a uma proteína chamada glico�
Glicose 1fosfato genina dentro do seu núcleo (descrita na p. 654). O UDP
formado como produto da reação da glicogênio sintase
glicose 1fosfato
uridililtransferase UTP
é convertido de volta em UTP pela nucleosídeo difosfato
PPi 2Pi
quinase.
H2O
UDP + ATP → UTP + ADP
CH2OH O
H H O H
A glicogênio sintase não pode formar as ligações
O O HN glicosídicas a�1,6. Trabalhando sozinha, ela produziria
HO OH H OPOPOCH2 N apenas amilose, um polímero de cadeia linear da gli�
O
O cose, com ligações glicosídicas ��1,4. Uma vez forma�
H OH OH OH
da uma cadeia de amilose com pelo menos 11 resíduos,
H H uma enzim� r�mifi���or�, chamada enzima 1,4�a−
H H

HO(Glicose)n
OH
�glucano ramificadora remove um bloco de cerca de
UDPglicose
7 resíduos glucosil de uma cadeia em crescimento e o
transfere para outra cadeia, para produzir uma ligação
glicogênio sintase
(Glicose)n + 1
a�1,6 (Figura 15.52). O novo ramo deve ser introduzido
a uma distância de, pelo menos, quatro resíduos gluco�
UDP sil do ponto de ramificação mais próximo. Portanto, a
criação da estrutura altamente ramificada do glicogê�
FIGURA 15.51 Via da glicogênese.
nio requer as ações coordenadas da glicogênio sintase e
da enzima ramificadora. A reação final balanceada para
Glicogênese Requer Enzimas a síntese de glicogênio é
Singulares →
(Glicose)n
(glicose)n+1
+ glicose
+ 2 ADP3– + 2 P+H
+ 2ATP4– i2– +
2O2H+

A primeira reação (Figura 15.51) é a da glucoquina�
se no fígado e hexoquinase em tecidos periféricos. Como já observado, a combinação de glicogenólise
e glicólise gera três moléculas de ATP por resíduo glu�
Glicose + ATP → glicose 6�fosfato + ADP
cosil.
A fosfoglucomutase então forma glicose 1�fosfato.
→ (glicose)n–1
(Glicose)n +
+ 2 3lactato–
ADP3– + 3 P
ATP4–
2–i + H+→

Glicose 6�fosfato  glicose 1�fosfato + 2H2O

A glicose 1�fosfato uridililtransferase então produz Portanto, a combinação de glicogênese e degrada�


ção de glicogênio a lactato rende apenas um ATP.
UDP�glicose.
2–
Glicose 1�fosfato + UDP → UDP�glicose + PPi Glicose + ADP3– + Pi → 2 lactato– + ATP4– + H2O + H+

A última reação gera UDP�glicose, uma molécula de Lembre�se, entretanto, que a síntese e a degradação
glicose ativada, a partir da qual o glicogênio pode ser de glicogênio são normalmente efetuadas em momentos
sintetizado. A formação de UDP�glicose torna�se ener� diferentes em uma célula. Por exemplo, fibras muscula�
geticamente favorável e irreversível pela hidrólise de res brancas sintetizam glicogênio durante o repouso,
pirofosfato em fosfato inorgânico, pela pirofosfatase. quando glicose é abundante e menos ATP é necessário
para a contração muscular. O glicogênio é depois usado
4–
PPi + H2O → 2 P2–i durante períodos de esforço. Embora não seja um pro�
cesso muito eficiente, o armazenamento de glicose na
A glicogênio sintase então transfere o resíduo glu� forma de glicogênio fornece às células um combustível
cosil ativado da UDP�glicose para o carbono 4 de um de reserva que pode ser mobilizado rapidamente.
resíduo glucosil da cadeia de glicogênio em crescimen�
to, para formar uma nova ligação glicosídica no grupo
hidroxila do carbono 1 do açúcar ativado. A extremi�
dade redutora da glicose (carbono 1, um aldeído que
pode reduzir outros compostos durante sua oxidação
para um ácido carboxílico) é sempre adicionada a uma
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 653

CORRELAÇÃO CLÍNICA 15.11

Doenças de Armazenamento de Glicogênio


Existem várias doenças bem caracterizadas de ar� os da doença de Von Gierke não são observados. Ocor�
mazenamento de glicogênio, todas devidas a defeitos rem hipotonia grave, cardiomegalia importante e car�
hereditários em enzimas envolvidas na degradação do diomiopatia, e morte resulta de insuficiência cardíaca,
glicogênio. O fígado é geralmente o tecido mais afetado, geralmente nos primeiros meses de vida. Uma forma
mas o metabolismo de glicogênio no coração e no mús� da doença que surge no adulto causa grave fraqueza
culo também pode estar comprometido. muscular, particularmente nos músculos respiratórios
(diafragma), com morte frequentemente resultando de
Doença de Von Gierke (OMIM 232200) insuficiência respiratória.

A doença de armazenamento de glicogênio mais co� Doença de Cori (OMIM 232400)


mum, chamada de tipo I ou doença de von Gierke, surge
de uma deficiência de glicose 6�fosfatase no fígado, na A doença de armazenamento de glicogênio tipo III
mucosa intestinal e no rim. Assim, o diagnóstico por ou doença de Cori é causada por deficiência da enzima
biópsia intestinal é possível. Pacientes com essa doença cortadora de ramos do glicogênio. Glicogênio acumu�
podem não ter a própria glicose 6�fosfatase (tipo Ia) ou la�se porque apenas os ramos mais externos podem
o transportador de glicose 6�fosfato (tipo Ib) (ver Figu� ser removidos pela fosforilase. Ocorre hepatomegalia,
ra 15.37). Deficiência de glicose 6�fosfatase ocorre em que diminui com a idade. As manifestações clínicas
cerca de 1 pessoa a cada 200.000, e é transmitida como são semelhantes, mas muito mais leves, do que as da
um traço autossômico recessivo. Ela se manifesta como doença de Von Gierke, porque a gluconeogênese não é
hipoglicemia de jejum, acidemia láctica, hiperlipidemia afetada e a hipoglicemia e suas complicações são me�
e hiperuricemia com artrite gotosa. A hipoglicemia de nos graves.
jejum é uma consequência da deficiência de glicose
6�fosfatase. O fígado desses pacientes libera um pouco Doença de McArdle (OMIM 232600)
de glicose, pela ação da enzima cortadora de ramos do
glicogênio. A acidemia láctica ocorre porque o fígado A doença de armazenamento de glicogênio tipo V ou
é incapaz de usar lactato eficientemente para gluco� doença de McArdle é causada por ausência da fosfori�
neogênese e porque produz ácido láctico inadequada� lase muscular. Os pacientes sofrem de cãimbras mus�
mente em resposta a glucagon. Esse hormônio deveria culares dolorosas e são incapazes de executar exercí�
desencadear a liberação de glicose sem a produção de cio extenuante, presumivelmente porque as reservas
lactato; entretanto, o oposto ocorre devido à falta da gli� de glicogênio no músculo não estão disponíveis para
cose 6�fosfatase. Hiperuricemia pode resultar de degra� o músculo em exercício. Assim, a elevação normal de
dação aumentada de purinas no fígado, hiperlipidemia lactato no plasma (liberado do músculo) após exercício
decorrente da disponibilidade aumentada de ácido lác� não ocorre. Os músculos são provavelmente danifica�
tico para lipogênese e mobilização de lipídeos do tecido dos em virtude de suprimento inadequado de energia
adiposo, causada por níveis altos de catecolaminas, em e acúmulo de glicogênio. A liberação de creatina fosfo�
resposta à hipoglicemia. Essas manifestações podem quinase, aldolase e mioglobina do músculo é comum;
ser muito diminuídas pela administração de carboidra� níveis elevados dessas proteínas no sangue sugerem
tos ao longo do dia, para evitar hipoglicemia. Durante o uma doença muscular.
sono, isso pode ser feito por infusão de carboidratos no
estômago, por um tubo nasogástrico. Chen, Y.�T. Glycogen storage diseases. Em: Scriver, C. R.,
Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met�bo�i�
Doença de Pompe (OMIM 232300) �n� Mo�e����r ��ses of �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York:
McGraw�Hill, 2001, 1521.
A doença de armazenamento de glicogênio tipo II
ou doença de Pompe é causada pela ausência de α�1,4� Cori, G. T., e Cori, C. F. Glucose 6�phosphatase of the liver
in glycogen storage disease. J. �io�. C�em. 199:661, 1952.
�glucosidase (ou maltase ácida), normalmente encon�
trada em lisossomos. Isso leva ao acúmulo de glicogê� Raben, N., Plotz, P., e Byrne, B. J. Acid alpha�glucosidase
nio, principalmente em lisossomos, em praticamente deficiency (glycogenosis type II, Pompe disease). C�rr. Mo�.
todos os tecidos. Isso é um tanto surpreendente, mas os Me�. 2:145, 2002.
lisossomos captam grânulos de glicogênio e ficam de�
Van Hoff, F. e Hers, H. G. The subgroups of type III glyco�
fectivos com respeito a outras funções, se não tiverem
genosis. E�r. J. �io��em. 2:265, 1967.
capacidade de hidrolisar os grânulos. Como as outras
vias sintéticas e degradativas do metabolismo de gli� McArdle, B. Myopathy due to a defect in muscle glycogen
cogênio estão intactas, desarranjos metabólicos como breakdown. C�in. ��i. 10:13, 1951.
654 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

necessária? Por que gastar ATP fazendo um polímero


de glicose?

O problema é que a glicose é osmoticamente ativa.


Custaria ATP para “bombear” a glicose para dentro
de uma célula contra um gradiente de concentração, e
sua concentração teria que chegar a cerca de 400 mM
nas células do fígado, para alcançar a reser�� �e g�i�
�ose conseguida pelos níveis normais de glicogênio no
(7) UDP-glicose
(7) UDP glicogênio fígado. A menos que equilibrada pelo movimento para
sintase
fora de algum outro composto osmoticamente ativo, o
acúmulo de glicose causaria considerável captação de
água, com lise osmótica da célula. Considerando�se que
a massa de uma molécula de glicogênio seja cerca de
107 Da, 400 mM de glicose é, de fato, armazenado em
uma concentração de glicogênio de apenas 0,01 μM. O
armazenamento de glicose como glicogênio, portanto,
não cria problema de pressão osmótica para a célula.

Glicogenina É Necessária Como Iniciador


da Síntese de Glicogênio
Como na síntese de DNA, um iniciador ou primer é
enzima
ramificadora
necessário para a síntese de glicogênio. Nenhum mol�
de, entretanto, é necessário. O próprio glicogênio é o
iniciador comum, uma vez que a síntese de glicogênio
adiciona unidades glucosil a moléculas “núcleo” de gli�
cogênio, que estão quase que invariavelmente presen�
tes nas células. As regiões mais externas das molécu�
las de glicogênio são removidas e ressintetizadas mais
rapidamente do que o núcleo interior. O glicogênio de
dentro de uma célula é frequentemente cortado pelas
ações combinadas da glicogênio fosforilase e da enzima
cortadora de ramos, mas raramente é totalmente dige�
FIGURA 15.52 Ação coordenada da glicogênio sintase e rido, antes que a pessoa se alimente novamente e a gli�
da enzima ramificadora do glicogênio é necessária para cogênio sintase e a enzima ramificadora reconstruam a
a glicogênese. molécula. Isso coloca a questão de porque o glicogênio é
Ação da enzima ramificadora do glicogênio. uma molécula ramificada, com apenas um início real (o
resíduo de glicose iniciador original) e muitas ramifica�
Características Especiais da ções, terminando em unidades glucosil não�redutoras.
A resposta é que isso oferece numerosos pontos para o
Glicogenólise e da Glicogênese ataque da glicogênio fosforilase em uma molécula ma�
dura de glicogênio, e o mesmo número de pontos para
Por Que Armazenar Glicose Como servir de iniciador para a adição de unidades glucosil pela
Glicogênio? glicogênio sintase. Se as células sintetizassem α�amilo�
se, um polímero não�ramificado de glicose, haveria ape�
O fato do glicogênio ser um combustível de reserva nas uma extremidade não�redutora por molécula. Isso
tão bom torna óbvio o porquêê dedede sintetizarmossintetizarmossintetizarmos eee arma�arma�arma�
tornaria a degradação e a síntese de glicogênio muito
zenarmos glicogênio no fígado e no músculo. Mas, por mais lentas. Na verdade, a glicogênio fosforilase e a gli�
que não armazenar nosso excesso de calorias da glico�
cogênio sintase ocorrem em estreita associação com os
se inteiramente como gordura, em vez de glicogênio?
grânulos de glicogênio, e têm fácil acesso a uma multi�
A resposta tem, pelo menos, três desdobramentos: (1) plicidade de açúcares não�redutores nas extremidades
os ácidos graxos não podem ser liberados de gordura
dos ramos. Este não é o caso na doença de Lafora, uma
tão rapidamente como a glicose pode ser liberada do
epilepsia mioclônica com início na adolescência carac�
glicogênio, (2) a gordura não pode ser usada como fon� terizada pelo acúmulo neuronal de depósitos de glico�
te de energia em ausência de oxigênio, e (3) a gordura
gênio pouco ramificado e insolúvel chamados corpos de
não pode ser convertida em glicose para manter os ní�
Lafora (Um Olhar Mais Atento 15.7).
veis de glicose no sangue requeridos pelo cérebro. Por
que não bombear, simplesmente, a glicose para dentro Um iniciador é necessário para a síntese de glicogê�
das células e armazená�la como glicose livre, até ser nio porque a glicogênio sintase não pode iniciar a sín�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 655

tese de glicogênio com uma única molécula de glicose


UM OLHAR MAIS ATENTO 15.7
como aceptora de um resíduo glucosil ativado de UDP�
�glicose. A glicogênio sintase tem um Km muito baixo Glicogênio Fosforilado e Doença de Lafora
para moléculas grandes de glicogênio e, portanto, adi�
ciona facilmente resíduos glucosil para construir molé� A doença de Lafora é atribuída a um defeito
culas de glicogênio ainda maiores. Entretanto, o Km fica no gene da laforina, uma fosfatase que remove re�
cada vez maior conforme a molécula de glicogênio fica síduos de fosfato do glicogênio fosforilado. Sur�
menor, de modo que a glicose, em sua concentração fi� preendentemente, antes dos estudos sobre o me�
siológica, não pode funcionar como iniciador. Isso levou, canismo responsável pela doença de Lafora não
por algum tempo, à noção de que o glicogênio deveria se havia percebido que o glicogênio é fosforilado.
ser imortal; isto é, um pouco de glicogênio deveria ser Como isso ocorre e se serve a um propósito, ainda
passado de uma geração celular para a seguinte, para não se sabe. O glicogênio isolado de camundon�
que glicogênio pudesse ser sintetizado. Contudo, um gos com doença de Lafora é menos ramificado,
polipeptídeo de 332 aminoácidos chamado glicogenina mas mais fosforilado do que o glicogênio isolado
funciona como iniciador para a síntese de glicogênio. de camundongos tipo selvagem. Isso sugere que a
A glicogenina é uma enzima que se autoglicosila e que presença de grupos fosfato no glicogênio promove
usa UDP�glicose para ligar glicose a um de seus pró� a formação dos corpos de Lafora por inibição da
prios resíduos de tirosina (Figura 15.53). A glicogenina enzima ramificadora.
forma uma cadeia de resíduos glucosil em si mesma por
Tagliabracci, V. S., Turnbill, J., Wang, W., Girard, J. –M.,
catalisar a adição de mais sete resíduos glucosil, com et al. Laforin is a glycogen phosphatase, deficiency of whi�
ligações α�1,4. A glicogenina glicosilada, então, serve ch leads to elevated phosphorylation of glycogen in vivo.
de iniciador para a síntese de glicogênio pela glicogênio Pro�. N�t�. A���. ��i. ��A 104: 19262, 2007.
sintase. Infelizmente, glicogênio não é imortal.

7\U2+

Glicogenina Síntese e Degradação de Glicogênio


8'3JOLFRVH
Autoglicosaçmo São Muito Reguladas
8'3
Glicogênio sintase e glicogênio fosforilase são as en�
7\U2JOLFRVH zimas regulatórias da síntese e da degradação de glico�
gênio, respectivamente. Ambas catalisam reações que
 Glicogenina iniciada
não estão em equilíbrio, e ambas estão sujeitas ao con�
trole por efetores alostéricos e modificação covalente.
glicogrnio sintase n8'3JOLFRVH
enzima eremificadora
n8'3 Regulação da Glicogênio Fosforilase
Glicogênio fosforilase é ativada por AMP e inibida
 *OLFRVHQαH
7\U2 por glicose e ATP (Figura 15.54). O controle por esses
OLJDo}HVα efetores alostéricos é integrado com um controle muito
elaborado por modificação covalente. A fosforilase exis�
Complexo GlicogênioGlicogenina te em uma forma ativa � e uma forma inativa b. Essas
formas são interconvertidas pela fosforilase quinase e
FIGURA 15.53 A glicogenina fornece um iniciador para
síntese de glicogênio pela glicogênio sintase. pela fosfoproteína fosfatase. Uma mudança conforma�
Tyr designa um resíduo de tirosina da glicogenina. cional causada pela fosforilação cria um estado cata�
lítico mais ativo. A fosforilase não�fosforilada, que é a
Glicogênio Limita Sua Própria Síntese forma b, tem baixa atividade, mas é muito estimulada
por AMP. Esse efetor alostérico tem pouco efeito ativa�
Se a glicogênio sintase fica mais eficiente à medida dor sobre a fosforilase �, já ativa. Portanto, a regulação
que a molécula de glicogênio fica maior, como a sínte� por modificação covalente pode ser superada por um
se dessa bola de açúcar é controlada? Os adipócitos têm mecanismo mediado por AMP.
uma capacidade quase ilimitada de armazenar gordura,
mas os adipócitos não têm mais nada a fazer. As células A fosforilase quinase fosforila e ativa a fosforilase
musculares participam da atividade mecânica, e as cé�ascé� (Figura 15.54) e está, ela própria, sujeita a regulação
lulas hepáticas desempenham muitos processos além da por fosforilação-desfosforilação. A proteína quinase
síntese de glicogênio. Mesmo frente ao excesso de glico� A fosforila e ativa a fosforilase quinase; a fosfoproteína
se, deve haver um jeito de limitar o acúmulo intracelular fosfatase a desfosforila e inativa. A fosforilase quinase
de glicogênio. O próprio glicogênioênio inibeinibe aa glicogênioglicogênio sin�sin� é um complexo (1,3 milhões de Da) composto por qua�
tase, por um mecanismo discutido mais adiante. tro subunidades diferentes com quatro cópias de cada
656 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Glucagon; Epinefrina cAMP Insulina

ATP fosforilase
+ quinase b Pi

fosfoproteína
cAMP + proteína
quinase A Ca2+
+ fosfatase

H2O
fosforilase
ADP ATP quinase a –P
ADP

Glicose


Fosforilase b + AMP Fosforilase a
– –P
ATP

Pi H2O
fosfoproteína
fosfatase

FIGURA 15.54 Regulação da glicogênio fosforilase
por modificação covalente e efetores alostéricos.
A fosforilação converte a glicogênio fosforilase e a fos�
forilase quinase de suas formas inativas b em suas for�
cAMP ATP + Insulina
ADP
mas ativas �.

Ca2+
cAMP Diacilglicerol

Insulina

+ dependente
proteína
de+quinase
calmodulina + glicogênio
quinase
proteínaA + fosforilase
quinase proteínaquinaseC −

+ sintasequinase-3 +

caseína quinases I & II

Glicogênio sintase a Glicose + Glicogênio sintase b


6-fosfato –P

Pi H2O

fosfoproteína
fosfatase
– +

FIGURA 15.55 Regulação da glicogênio sintase por


modificação covalente.
cAMP Insulina A fosforilação converte a glicogênio sintase de sua for�
ma ativa � para sua forma inativa b.

subunidade no complexo (a4b4g4d4). A atividade cata�+ fosforiladas na transição da forma inativa b para a for�
lítica reside na subunidade g; as subunidades a, b e d ma ativa �. A proteína quinase A só pode exercer efeito
exercem controle regulatório. As subunidades a e b são sobre a fosforilase via fosforilação e ativação da fosfori�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 657

lase quinase. Portanto, um sistema bicíclico é necessá� rápido que todo o glicogênio armazenado em fibras
rio para a ativação da fosforilase em resposta aos sinais musculares brancas poderia ser convertido em glicose
mediados por AMP. 6�fosfato em segundos.

A subunidade d é a proteína regulatória que liga Regulação da Glicogênio Sintase


Ca2+ calmodulina (p. 514). Ela está presente em células
em sua forma livre e é ligada fortemente em complexos A glicogênio sintase precisa estar ativa para a glico�
enzimáticos. Funciona como um receptor de Ca2+ em gênese e inativa para a glicogenólise. A combinação das
células, respondendo a variações na concentração in� reações da glicogênio sintase, da glicogênio fosforilase,
tracelular de Ca2+ e afetando a atividade de vários siste� da glicose 1�fosfato uridililtransferase e da nucleosídeo
mas enzimáticos. A ligação de Ca2+ à calmodulina torna difosfato quinase contribui para um ciclo fútil, com a
a fosforilase quinase mais ativa. Como mostra a Figura equação geral ATP + H2O → ADP + Pi. Portanto, a gli�
15.55, Ca2+ é um ativador de ambas fosforilase quinase cogênio sintase precisa ser inibida quando a glicogênio
� e fosforilase quinase b. Ativação máxima da fosfori� fosforilase estiver ativa, e vice�versa.
lase quinase requer fosforilação de resíduos específi�
Se G6P ativa a glicogênio sintase, isso depende de
cos de serina mais interação de Ca2+ com calmodulina.
Este é um mecanismo pelo qual Ca2+ funciona como um seu estado de fosforilação (Figura 15.55). A glicogê�
segundo mensageiro da ação hormonal. nio sintase existe em uma forma “D” fosforilada, que é
dependente da presença de G6P para atividade, e em
A ativação da fosforilase quinase por fosforilação e uma forma “I” não�fosforilada, que é independente de
Ca2+ tem um efeito substancial sobre a atividade da gli� G6P. A forma D corresponde à forma b� ou inativa, da
cogênio fosforilase. É óbvio, entretanto, que inibindo a enzima, a forma I à forma �� ou ativa, da enzima. Fos�
fosfoproteína fosfatase, que modula ambas fosforilase forilação da glicogênio sintase é catalisada por várias
quinase e glicogênio fosforilase, pode�se obter o mes� proteína quinases que, por sua vez, são reguladas por
mo efeito. Controle definitivo da glicogênio fosforilase, segundos mensageiros da ação hormonal, incluindo
portanto, envolve regulação recíproca das atividades cAMP, Ca2+, diacilglicerol e provavelmente outros ain�
de fosfoproteína fosfatase e fosforilase quinase. Regu� da não identificados. Cada proteína quinase identifica�
lação da atividade da fosfoproteína fosfatase envolve da na Figura 15.55 pode fosforilar e contribuir para a
cAMP. Hormônios que aumentam os níveis de cAMP, inativação da glicogênio sintase. A glicogênio sintase
como glucagon e epinefrina, promovem ativação da é um homotetrâmero (a4) de massa 85 kDa, que pode
glicogênio fosforilase por ativação da sinalização da ser fosforilada em pelo menos nove diferentes resí�
fosforilase quinase e inativaçãoão dada fosfoproteínafosfoproteína fos�fos� duos de serina. Onze proteína quinases foram identi�
fatase. A insulina, por meio de uma cascata de sinais ficadas, que podem fosforilar a glicogênio sintase. Isso
mediados por quinases, tem o efeito oposto sobre a contrasta fortemente com a glicogênio fosforilase, que
fosforilase, por promover ativação da atividade da fos� é regulada por fosforilação em um único sítio, por uma
foproteína fosfatase. quinase específica.
AMP cíclico induz efetitos opostos nas atividades da
Glicogênio Fosforilase é Regulada por uma glicogênio sintase (Figura 15.55) e da glicogênio fos�
Cascata que Amplifica Muito um Pequeno forilase (Figura 15.54). Um aumento em cAMP sina�
Sinal em um Efeito Muito Grande liza ativação da glicogênio fosforilase e inativação da
glicogênio sintase, via ativação da proteína quinase A
O sistema de controle bicíclico para fosforilação da e inibição da fosfoproteína fosfatase. Ca2+, da mesma
glicogênio fosforilase amplifica enormemente um sinal maneira, influencia os estados de fosforilação de am�
inicial muito pequeno. Ativação da adenilato ciclase por bas as enzimas e regula reciprocamente suas ativida�
uma molécula de epinefrina leva à formação de muitas des por seus efeitos sobre a fosforilase quinase. Duas
moléculas de cAMP. Cada molécula de cAMP ativa uma proteína quinases independentes de cAMP ativadas por
molécula de proteína quinase A que, por sua vez, fos� Ca2+ foram identificadas, que podem ter significado fi�
forila muitas moléculas de fosforilase quinase, que são siológico. Uma é a proteína quinase dependente de cal�
ativadas, bem como muitas moléculas de fosfoproteína modulina e a outra, uma proteína quinase dependente
fosfatase, que são inativadas. Por sua vez, a fosforilase de Ca2+ e de fosfolipídeo (proteína quinase C). Ambas
quinase fosforila muitas moléculas de glicogênio fosfo� fosforilam a glicogênio sintase, mas nenhuma delas é
rilase que, por sua vez, catalisam fosforólise de muitas capaz de fosforilar a glicogênio fosforilase. A proteína
ligações glicosídicas do glicogênio. Esse é, portanto, um quinase C requer fosfolipídeo, diacilglicerol e Ca2+ para
sistema de amplificação no qual o sinal desencadeado atividade máxima. É de considerável interesse porque
por algumas poucas moléculas de hormônio é amplifi� agentes promotores de tumor chamados forbol ésteres
cado em um número enorme de moléculas de glicose mimetizam diacilglicerol como ativadores de sua ativi�
1�fosfato. Se cada etapa representar uma amplificação dade. Diacilglicerol é um segundo mensageiro da ação
de um fator 100, então quatro etapas resultariam em hormonal, agindo via proteína quinase C para regular
uma amplificação de 100 milhões! Esse sistema é tão numerosos processos celulares.
658 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

A glicogênio sintase também é fosforilada pela gli�


cogênio sintase quinase�3, caseína quinase I e caseína
quinase II. Essas quinases nãoão estão sujeitas à regula�regula�
regula�
Glicogênio G C
ção por cAMP ou Ca2+, mas para elas existem mecanis�
mos regulatórios especiais. Uma cascata de sinalização Fosfatase
por insulina resulta em ativação da proteína quinase B, ativa

que inativa a glicogênio sintase quinase�3 por fosforila�


ção, uma ação que permite que ocorra ativação da gli� ATP Pi
cogênio sintase por desfosforilação pela fosfoproteína proteína quinase A Fosfatase
ADP (ativada pela insulina)
fosfatase.

A fosfoproteína fosfatase que converte a glicogênio


sintase b em glicogênio sintase � (Figura 15.55) é regu�
lada de maneira análoga à da glicogênio fosforilase (Fi�
gura 15.54). AMP cíclico promove inativação, enquanto Glicogênio G P + C

insulina promove ativação da glicogênio sintase, por Fosfatase


meio de efeitos opostos sobre a atividade da fosfopro� menos ativa
teína fosfatase.
I1 proteína
ATP quinase
ADPA I1
Em geral, fosfoproteína fosfatases estão presentes PP
como subunidades catalíticas associadas com subuni�
dades regulatórias, que controlam sua atividade, deter�
minam que substrato(s) pode(m) ser desfosforilado(s),
I1 C
e direcionam a associação com estruturas específicas
dentro de uma célula. Uma proteína regulatória impor� Fosfatase
tante para o metabolismo de glicogênio é a subunidade inativa

G ou proteína de ligação ao glicogênio. A subunidade G


FIGURA 15.56 Mecanismo de regulação de uma fosfatase
liga ambos, glicogênio e uma subunidade catalítica de que se liga ao glicogênio.
fosfatase (Figura 15.56), tornando a fosfatase 10 ve� A subunidade G de ligação ao glicogênio liga�se diretamente
zes mais ativa sobre a glicogênio sintase e a glicogênio ao glicogênio; a subunidade fosfoproteína fosfatase catalítica C
fosforilase. Entretanto, fosforilação da subunidade G liga�se ao glicogênio pela subunidade G; e o inibidor fosforilado
pela proteína quinase A libera a subunidade catalítica 1 (I�1) liga�se à subunidade catalítica livre. Proteína quinase A
de fosfatase, que fica então menos ativa. Interação da inativa a fosfatase por fosforilação da subunidade G e do I�1.
subunidade catalítica livre com outra proteína regula� Insulina sinaliza ativação da fosfatase por promover desfosfori�
tória (chamada inibidor 1) inibe ainda mais a atividade lação da subunidade G e do I�1 (não mostrado).
de fosfatase. A inibição efetiva da atividade residual de
fosfatase requer fosforilação do inibidor 1 pela proteína Uma prova de que controle efetor pode operar foi
quinase A, criando assim outra ligação com hormônios também obtida a partir de uma cepa de camundongos
que aumentam os níveis de cAMP. A insulina tem efei� deficientes na fosforilase quinase de músculo. A fosfo�
tos opostos aos do cAMP; isto é, promove ativação da rilase b do músculo de tais camundongos não pode ser
subunidade catalítica da fosfatase. convertida em fosforilase �. Contudo, exercício pesado
resulta em depleção do glicogênio muscular em decor�
rência do estímulo da fosforilase b por AMP.
Controle Efetor do Metabolismo de
Glicogênio Controle por Retroalimentação Negativa
da Síntese de Glicogênio pelo Glicogênio
Certos músculos mobilizam suas reservas de glico�
gênio rapidamente em resposta a condições anaeróbi� Glicogênio exerce controle de retroalimentação
cas, sem conversão importante da fosforilase na forma (fee�b��k) sobre sua própria formação. A porção da
b para � ou da glicogênio sintase na forma � para b. glicogênio sintase na forma ativa � diminui, à medida
Presumivelmente isso é realizado por controle efetor, que glicogênio se acumula em um tecido. O mecanis�
no qual os níveis de ATP diminuem, causando menor mo não é bem entendido, mas glicogênio pode tornar
inibição da fosforilase; os níveis de glicose 6�fosfato di� a forma � um substrato melhor para uma proteína
minuem, causando menor ativação da glicogênio sinta� quinase ou, alternativamente, glicogênio pode inibir a
se; e os níveis de AMP aumentam, causando ativação desfosforilação da glicogênio sintase b pela fosfopro�
da fosforilase. Isso permite ao músculo continuar tra� teína fosfatase. Qualquer dos mecanismos responderia
balhando, pelo menos por um curto período, usando o pelo deslocamento do estado estacionário em favor da
ATP produzido pela glicólise da glicose 6�fosfato deri� glicogênio sintase b, que ocorre em resposta ao acú�
vada do glicogênio. mulo de glicogênio.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 659

Fosforilase a É um “Receptor de de glicose (glucoquinase), enquanto em tecidos extra�


�hepáticos, os sistemas de transporte de glicose e de
Glicose” no Fígado fosforilação mantêm a glicose intracelular em uma con�
centração baixa demais para que a fosforilase � funcio�
Uma refeição rica em carboidratos eleva a glicose no
ne como um “receptor de glicose”.
sangue e no fígado, o que aumenta a síntese de glicogê�
nio no tecido hepático. O mecanismo envolve estímulo
pela glicose da liberação de insulina do pâncreas e seus Controle Hormonal e Neural
efeitos sobre a glicogênio fosforilase e a glicogênio sin�
tase hepáticas. Contudo, mecanismos independentes de
da Síntese e da Degradação de
hormônios também parecem ser importantes no fígado Glicogênio
(Figura 15.57). A inibição direta da fosforilase � por gli�
cose é, provavelmente, importante. A ligação de glicose Glucagon e Epinefrina Estimulam
à fosforilase torna a forma � da fosforilase um substrato Glicogenólise no Fígado
melhor para desfosforilação pela fosfoproteína fosfata�
se. Portanto, a fosforilase � no fígado funciona como um Glucagon é liberado das células a do pâncreas em
receptor intracelular de glicose. A ligação de glicose à resposta a níveis baixos de glicose no sangue. Nessas
fosforilase � promove sua inativação, inibindo assim a condições, por exemplo durante jejum, glucagon esti�
glicogenólise. Esse controle de retro��iment�ção ne� mula a glicogenólise para garantir que concentração
g�ti�� da glicogenólise pela glicose não promoveria ne� adequada de glicose no sangue esteja disponível para
cessariamente síntesesíntese dede glicogênio.glicogênio. Entretanto,Entretanto, aa
fos�afos�fos� os tecidos dependentes de glicose (Figura 15.58). A li�
forilase � inibe a desfosforilação da glicogênio sintase gação de glucagon aos seus receptores em células hepá�
b pela fosfoproteína fosfatase. Essa inibição é perdida ticas ativa a adenilato ciclase e dispara as cascatas que
logo que a fosforilase � é convertida na forma b (Figu� ativam a glicogênio fosforilase e inativam a glicogênio
ra 15.57). Em outras palavras, a fosfoproteína fosfatase sintase (ver Figuras 15.54 e 15.55, respectivamente).
pode voltar sua atenção para a glicogênio sintase b só Também inibe a glicólise no nível da 6�fosfofruto�1�
depois da desfosforilação da fosforilase �. Assim, como �quinase e da piruvato quinase, como mostram as Fi�
resultado da interação da glicose com a fosforilase �, guras 15.25 e 15.38, respectivamente. O resultado final
glicogênio é sintetizado e não degradado no fígado. A de todos esses efeitos mediados por cAMP e modifica�
fosforilase � pode desempenhar essa função de “recep� ções covalentes é um aumento muito rápido dos níveis
tor de glicose” no fígado porque a concentração de gli� normais de glicose sanguínea. Hiperglicemia não ocor�
cose no fígado reflete a do sangue. Isso não é verdade re porque menos glucagon é liberado pelo pâncreas à
para tecidos extra�hepáticos. As células do fígado têm medida que os níveis de glicose no sangue aumentam.
um transportador de glicose de altíssima capacidade
(GLUT�2) e uma enzima com S0,5 alto para fosforilação A epinefrina é liberada no sangue a partir de células
cromafins da medula adrenal, em resposta ao
Glicose estresse. Este hormônio “medo, fuga ou luta”
prepara o corpo para o combate ou fuga. A
ligação de epinefrina aos receptores b�adre�
nérgicos de células hepáticas ativa a adenilato
ciclase (Figura 15.58), e cAMP tem os mesmos
Membrana
plasmática efeitos do glucagon, isto é, ativação da glicoge�
Glicose nólise e inibição da glicogênese e da glicólise,
para maximizar a liberação de glicose. Ligação
de epinefrina a receptores a�adrenérgicos em
² 
células hepáticas sinaliza formação de inositol
Fosforilase a fosfatase Fosforilase b 1,4,5�trisfosfato (IP3) e diacilglicerol (Figura
15.59). Estes são segundos mensageiros, pro�
duzidos pela ação de uma fosfolipase C sobre
fosfatidilinositol 4,5�bisfosfato da membrana
² beração de (Figura
plasmática retículoIP3
Ca2+ do 15.60). endoplasmático,
estimula a li�
sintase b
Glicogênio fosfatase Glicogênio
sintase a o qual ativa a fosforilase quinase que, por sua
vez, ativa a glicogênio fosforilase (ver Figura
UDPglicose Glicogênio 15.54). Além disso, ativação mediada por Ca2+
da fosforilase quinase e da proteína quinase
dependente de calmodulina, bem como ati�
vação mediada por diacilglicerol da proteína
FIGURA 15.57Visão geral do mecanismo de estímulo pela glicose da quinase C, podem todos contribuir para inati�
glicogênese no fígado. vação da glicogênio sintase (ver Figura 15.55).
660 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Glucagon Adenilato Epinefrina Epinefrina Fosfolipase C


Receptor
de glucagon ciclase Receptor
Receptor
adrenérgico αiadrenérgico

+ +
PIP2

Gs + + Gs
ATP
cAMP IP3

Ca2+
Diacilglicerol
Glicogênio 
Retículo
i Ca2+
+ endoplasmático
UDPGlicose Glicogênio

Glicose 1P

i ² 
Piruvato Glicose

Glicose UDPiglicose
GORDURA

Glicose 1iP

Glicose 6iP
Glicose Membrana
plasmática
Glicose

FIGURA 15.58 AMP cíclico medeia estímulo da


glicogenólise no fígado por glucagon e b-agonistas
(epinefrina).
Ver legendas das Figuras 15.17 e 15.23. Membrana
Glicose plasmática

FIGURA 15.59 Inositol trisfosfato (IP3) e o Ca2+ medeiam


Uma velocidade aumentada de liberação de glicose
estímulo de glicogenólise no fígado por a-agonistas.
no sangue é uma importante consequência da ação da O receptor a�adrenérgico e o transportador de glicose são
epinefrina no fígado. Isso torna glicose disponível para componentes intrínsecos da membrana plasmática. Fosfati�
tecidos que são exigidos para enfrentar o desafio da si� dilinositol 4,5�bisfosfato (PIP2) é também um componente da
tuação estressante que disparou a liberação de epine� membrana plasmática.
frina da medula adrenal.
O
Epinefrina Estimula Glicogenólise no CH2 O C R
O
Coração e no Músculo Esquelético
Rҋ C O CH O
A epinefrina também estimula glicogenólise no co� CH2 O P O
ração e no músculo esquelético (Figura 15.61). Ela se P
Oi
liga aos receptores b�adrenérgicos, que estimulam ade�
nilato ciclase a produzir cAMP, que ativa glicogênio fos� Fosfatidilinositol
forilase e inativa glicogênio sintase. Como esses tecidos 4,5bisfosfato P
não têm glicose 6�fosfatase, isso leva a estímulo da gli�
H2O
cólise, e não liberação de glicose no sangue. Portanto,
o efeito da epinefrina no coração e no músculo esquelé�
tico é tornar mais glicose 6�fosfato disponível para gli� O P
cólise. O ATP gerado pela glicólise pode, então, atender CH2 O C R P
O
à necessidade de energia imposta sobre esses músculos +
pelo estresse, que disparou a liberação de epinefrina. Rҋ C O CH

CH2OH P
Controle Neural da Glicogenólise no
1,2Diacilglicerol Inositol
Músculo Esquelético 1,4,5trisfosfato

Excitação nervosa da atividade muscular é media� FIGURA 15.60 Fosfolipase C cliva fosfatidilinositol
da por mudanças na concentração intracelular de Ca2+ 4,5-bisfosfato em 1,2-diacilglicerol e inositol
(Figura 15.62). Um impulso nervoso causa despolariza� 1,4,5-trisfosfato.
ção da membrana, que causa liberação de Ca2+ do re�
tículo sarcoplasmático para o sarcoplasma das células
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 661

musculares. Isso dispara contração muscular, enquanto Impulso nervoso


via acetilcolina
reacúmulo de Ca2+ no retículo sarcoplasmático causa Receptor de
relaxamento. A mudança na concentração de Ca2+ tam� acetilcolina
bém ativa a fosforilase quinase e a glicogênio fosfori� +

lase, e talvez inative a glicogênio sintase. Assim, mais


glicogênio é convertido em glicose 6�fosfato, de modo
que mais ATP é produzido para atender à maior deman�
da energética da contração muscular. Depolarização

Ca2+
+
Epinefrina
Receptor
iAdrenérgico Retículo
Adenilato Ca2+
endoplasmático
ciclase
Glicogênio
+

Gs + i
+
ATP cAMP
UDPiglicose
Glicogênio
Glicose 1iP

Glicose 6iP
Lactato
i
+
Piruvato
UDPiglicose
Lactato CO2
Glicose 1iP

Lactato Membrana
Glicose 6iP plasmática

FIGURA 15.62 Ca2+ medeia o estímulo da glicogenólise


+
no músculo por excitação nervosa.

Piruvato
Insulina aumenta a utilização de glicose, em parte
Lactato CO2
por promover glicogênese e inibir glicogenólise no mús�
culo e no fígado. Estímulo por insulina do transporte
de glicose é essencial para esses efeitos no músculo,
Membrana
plasmática
mas não no fígado. Os hepatócitos têm um transporta�
dor de glicose de alta capacidade, insensível à insulina
FIGURA 15.61 AMP cíclico medeia estímulo da (GLUT2), enquanto células de músculo esquelético e
glicogenólise no músculo por ß-agonistas (epinefrina). adipócitos têm um transportador de glicose sensível à
O receptor b�adrenérgico é um componente intrínseco da insulina (GLUT4) (p. 508). Insulina aumenta o número
membrana plasmática que estimula a adenilato ciclase por
de proteínas do transportador de glicose 4 associadas
meio de uma proteína G estimulatória (Gs).
com a membrana plasmática por promover seu deslo�
camento de um reservatório intracelular (ver Figura
Insulina Estimula Glicogênese em Músculo 15.5). A insulina promove acúmulo de glicogênio em
e Fígado ambos os tecidos por ativar a glicogênio sintase e inibir
a glicogênio fosforilase.
Um aumento na glicose sanguínea sinaliza liberação
de insulina das células b do pâncreas. Os receptores de
insulina, nas membranas plasmáticas de células sen�
síveis à insulina, respondem à ligação de insulina por
uma cascata de sinalização que promove uso de glico�
se (Figuras 15.63 e 15.64). O pâncreas responde a uma
queda na glicose sanguínea com menor liberação de in�
sulina, e maior liberação de glucagon. Esses hormônios
têm efeitos opostos sobre a utilização de glicose pelo
fígado, estabelecendo assim o pâncreas como um “apa�
relho” de sintonia fina que impede flutuações perigosas
nos níveis sanguíneos de glicose.
662 - PARTE IV VIAS METABOLICAS E SEU CONTROLE

Insulina Insulina

Y Receptor
G) de insulina

Cascata de Sinalização
mediada por quinases
Cascata de Sinalização
mediada por quinases

i UDP-glicose

Glicose 1–P
UDP-glicose

Glicose 1–P
Glicose 6–P
Glicose 6–P

Membrana Membrana
Glicose plasmática Glicose plasmática

FIGURA 15.63 A insulina age por um receptor de FIGURA 15.64 A insulina age por um receptor de
membrana plasmática para promover glicogénese no membrana plasmātica para promover glicogénese no
musculo. fígado.

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Termos Chaves
6-fosfoſruto-1-quinase efetores alostéricos frutose 2,6-bisfosfatase hexoquinase
6-fosfoſruto-2-quinase enzima bifuncional frutose 2,6-bisfosfato indução e repressão de en
acetil-CoA enzima COrtadora de ramos glicogénese ZlſſlaS

de glicogénio glicogénio insulina


aminoácidos cetogénicos
enzima ramificadora de gli glicogénio fosforilase lactato
aminoácidos glucogénicos
AMP CíclicO
cogénio langadeiras de substrato
glicogénio sintase
anaerobico
epinefrina glicogenina modificação covalente
etanol
ATP glicogenólise oxidação de àcidos graxos
Ciclo de COri fosfoenolpiruvato carboxi glicólise piruvato carboxilase
Quinase
citrato glicose 6-fosfatase piruvato quinase
fosforilação-desfosforilação
diabetes glucagon proteina quinase A
fosforilase quinase
doenças de armazenamen glucoquinase reagóes de óxido-redução
frutose
to de glicogénio gluneogénese UDP-glicose
efeito Pasteur
frutose 1,6-bisfosfato
GLUT 4
664 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha 6. UDP�glicose
1. Glucoquinase A. é formada pela reação entre UTP e glicose.
A. tem um S0,5 maior do que a concentração nor� B. é um intermediário tanto na síntese como na
mal de glicose no sangue. degradação de glicogênio.
B. é encontrada no músculo. C. sua formação é irreversível porque gera piro�
fosfato.
C. é inibida por glicose 6�fosfato.
D. adiciona unidades de glicose a um glicogênio
D. também é conhecida como proteína GLUT�2.
pré�existente nas ligações α�1,6.
E. tem atividade de glicose 6�fosfatase, bem E. é o substrato para a enzima ramificadora.
como atividade de quinase.
2. Atividade de 6�fosfofruto�1�quinase pode ser dimi� Questões 7 e 8: A intoxicação alcoólica pode levar a
nuída por todos os seguintes, exceto hipoglicemia principalmente se o álcool for consumi�
A. ATP em altas concentrações. do por um indivíduo subnutrido ou após exercício ex�
tenuante. Em ambos os casos, a hipoglicemia resulta
B. citrato. dos efeitos inibitórios do álcool sobre a gluconeogênese
C. AMP. hepática e ocorre sob circunstâncias de depleçãoção hepá�hepá�
D. baixo pH. tica de glicogênio. O álcool potencializa o efeito hipogli�hipogli�
E. concentração diminuída de frutose 2,6�bisfos� cemiante da insulina, de forma que diabéticos que se
autoadministraram insulina e em seguida consumiram
fato.
álcooltêm risco aumentado.
3. No ciclo de Cori,
7. O metabolismo do álcool produz grande quantida�
A. somente tecidos com metabolismo aeróbico de de NADH que inibe a gluconeogênese por
(ou seja, mitocôndrias e O2) estão envolvidos. A. deslocar o equilíbrio piruvato�lactato em dire�
B. um composto de três carbonos formado na ção ao lactato.
glicólise é convertido em glicose, às custas da
B. favorecer a produção de oxaloacetato a partir
energia da oxidação de ácidos graxos.
de malato.
C. glicose é convertida em piruvato em tecidos
C. impedir o movimento do fosfoenolpiruvato da
anaeróbicos, e esse piruvato retorna ao fígado,
mitocôndria para o citosol.
onde é convertido em glicose.
D. inibir a cadeia de transporte de elétrons.
D. a mesma quantidade de ATP que éé usadausada nono fí�fí�
E. inibir a lançadeira malato�aspartato.
gado para sintetizar glicose, é liberada durante
a glicólise, levando a um efeito final nulo sobre 8. Insulina promove hipoglicemia por uma variedade
o balanço energético do organismo inteiro. de mecanismos incluindo todos os seguintes, exceto
E. o nitrogênio da alanina deve ser convertido em A. inativação de um fator de transcrição dos ge�
ureia, aumentando a quantidade de energia nes das enzimas gluconeogênicas chaves.
necessária para conduzir o processo.
B. inibição da lipólise no tecido adiposo, dimi�
4. Quando o glucagon do sangue sobe, qual das se� nuindo assim o suprimento de energia para
guintes atividades enzimáticas hepáticas cai? gluconeogênese hepática.
A. Adenilato ciclase. C. redução dos níveis de cAMP.
B. Proteína quinase. D. aumento da ativação da fosfoproteína fosfata�
C. 6�Fosfofruto�2�quinase. se.
E. aumento da atividade da proteína de ligação
D. Frutose 1,6�bisfosfatase.
ao elemento de resposta a cAMP (CREB) e sua
E. Hexoquinase.
ligação com o elemento de resposta a cAMP
5. Glicose 6�fosfatase, que está deficiente na doença (CRE).
de Von Gierke, é necessária para a produção de gli�
cose no sangue a partir de Questões 9 e 10: Hipertermia maligna é uma anoma�
A. glicogênio hepático. lia genética na qual a exposição a certos agentes, es�
pecialmente o anestésico geral amplamente utilizado
B. frutose. halotano, produz um dramático aumento na temperatu�
C. cadeias carbônicas de aminoácidos. ra do corpo, acidose, hipercalemia e rigidez muscular.
D. lactose. Morte é rápida se a condição não for tratada, e pode
ocorrer na primeira vez que uma pessoa susceptível é
E. todos os anteriores.
anestesiada. O defeito causa uma liberação inadequada
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 665

de Ca2+ do retículo sarcoplasmático do músculo. Muitos 11. A primeira etapa do metabolismo hepático de fru�
processos produtores de calor são estimulados de modo tose é
descontrolado pela liberação de Ca2+, incluindo glicóli� A. isomerização a glicose.
se e glicogenólise.
B. fosforilação a fructose 1,6�bisfosfato por ATP.
9. Ca2+ aumenta glicogenólise por C. fosforilação a frutose 1�fosfato por ATP.
A. ativação da fosforilase quinase b, mesmo em D. fosforilação a frutose 6�fosfato por ATP.
ausência de cAMP. E. clivagem pela aldolase.
B. ligação com a fosforilase b.
12. Os produtos inicialmente produzidos pela ação da
C. ativação da fosfoproteína fosfatase.
aldolase sobre o substrato formado a partir de fru�
D. inibição da fosfoproteína fosfatase. tose são
E. proteção do cAMP de degradação. A. duas moléculas de di�hidroxiacetona fosfato.
10. Fosforilação–desfosforilação e ativação alostérica B. duas moléculas de gliceraldeído 3�fosfato.
A.
de enzimas desempenham papeis no estímulo da C. duas moléculas de lactato.
degradação de glicogênio. Todos os seguintes re�
D. di�hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3�fosfa�
sultam em ativação enzimática, exceto
to.
fosforilação da fosforilase quinase. E. di�hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído.
B. ligação de AMP à fosforilase b.
C. fosforilação da fosforilase. Problemas
D. fosforilação da proteína quinase A. 13. Se uma célula for forçada a metabolizar glicose
E. desfosforilação da glicogênio sintase. anaerobicamente, quão rapidamente a glicólise te�
ria de ocorrer para gerar a mesma quantidade de
Questões 11 e 12: Pacientes com intolerância here� ATP que seria obtida se metabolizasse glicose ae�
ditária à frutose são deficientes na forma hepática da róbicamente?
enzima aldolase. O consumo de frutose leva a uma de�
14. O ciclo da alanina requer mais ATP por molécula
pleção de ATP e Pi no fígado, o que, por sua vez, leva
de glicose formada do que o ciclo de Cori. Por quê?
a lesão celular. Grande parte da lesão celular pode ser
atribuída à incapacidade de manter gradientes iônicos
normais por bombas dependentes de ATP.

Respostas
1. A A concentração de glicose no sangue é �5 mM. portante; seu papel é realizado no fígado pela glu�
S0,5 da glucoquinase é �7 mM. B: a glucoquinase é coquinase.
hepática e, ao contrário da hexoquinase muscular,
5. E Para entrar no sangue, glicose deve estar livre,
não é inibida por glicose 6�fosfato. não fosforilada. A: glicogênio é degradado a glicose
2. C AMP é um regulador alostérico que alivia a 1�fosfato, que é convertida em glicose 6�fosfato. B:
inibição por ATP. B e D são provavelmente impor� frutose é metabolizada a di�hidroxiacetona fosfato,
tantes reguladores fisiológicos no músculo, e E é que pode prosseguir na glicólise ou reverter a gli�
crítico no fígado. cose 6�fosfato, dependendo do estado da célula. C e
D: cadeias carbônicas de aminoácidos e lactato são
3. B O fígado deriva a energia necessária para glu�
substratos para gluconeogênese.
coneogênese da oxidação aeróbica de ácidos gra�
xos. A: o fígado é um órgão essencial no ciclo de 6. C A hidrólise de pirofosfato a fosfato inorgânico
Cori; ele é aeróbico. C: em tecidos anaeróbicos, o torna a reação irreversível. A: glicose 1�fosfato rea�
produto final da glicólise é lactato; em tecidos ae� ge com UTP. B: é um intermediário da síntese, mas
róbicos, é piruvato, mas lá é provável que o piruva� não da degradação. D: é adicionado apenas em li�
to seja oxidado aerobicamente. D: gluconeogênese gação α�1,4. E: a enzima ramificadora remove uma
requer seis moléculas de ATP por glicose sintetiza� cadeia de unidades glicosil da extremidade de uma
da; glicólise gera duas moléculas de ATP por glico� ramificação longa e move para outro lugar.
se metabolizada.
de Cori. E: alanina não faz parte do ciclo
7. A Lactato deve ser convertido em piruvato para
iniciar a gluconeogênese. B: NADH desloca oxaloace�
4. C Quando glucagon do sangue sobe, A é ativada tato para malato. C e D: o NADH não está na mi�
produzindo cAMP; cAMP ativa B, e B inativa C. tocôndria. E: equivalentes de redução de NADH
Baixos níveis de frutose 2,6�bisfosfato aumentam podem ser deslocados para a mitocôndria pela lan�
a atividade de D. E não é uma enzima hepática im� çadeira, mas as grandes quantidades geradas pelo
666 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

metabolismo de álcoolálcool sobrecarregamsobrecarregamsobrecarregam aaa capacida�capacida�capacida� 12. E Gliceraldeído pode ser convertido em gliceral�
de da lançadeira e da oxidação mitocondrial. deído 3�fosfato de modo que os dois produtos ali�
mentam a via glicolítica ou a gluconeogênese.
8. E CREB é ativada por fosforilação (e levaria a
aumento de enzimas gluconeogênicas), mas insu� 13. Anaerobicamente, há um rendimento de 2 moles
lina promove desfosforilação. A: isso é verdade. B: de ATP/mol de glicose. Aerobicamente, o mesmo
gluconeogênese é dependente do suprimento de rendimento de 2 ATPs é obtido, mais 2 NADH, por�
ácidos graxos para o fígado, para fornecer energia. que piruvato é o produto. Vamos assumir que a cé�
C: isso ocorre pela ativação da cAMP fosfodieste� lula use a lançadeira malato�aspartato, onde cada
rase. D: isso promove desfosforilação de enzimas NADH rende 2,5 ATP. Portanto, há um rendimento
chaves, por exemplo, aumentando a síntese de gli� de 7 moles de ATP/mol de glicose. Cada piruvato
cogênio e reduzindo a glicogenólise. é convertido em acetil�CoA, e o AcCoA é oxidado
pelo ciclo dos ácidos tricarboxílicos. Cada mol de
9. A A subunidade g da fosforilase quinase é uma
piruvato então rende 12,5 moles de ATP ou 25 mo�
proteína tipo�calmodulina. Ambas as formas a e b
da enzima são ativadas por Ca2+. B e E: isso não les de ATP para os 2 piruvatos. Isso dá um total
de 32 moles de ATP/mol de glicose aerobicamente.
acontece. C e D: Ca2+ não afeta a fosfatase.
(Ver Capítulo 14) Portanto, a glicólise deve ocor�
10. D A proteína quinase A catalisa fosforilações, mas rer 16 vezes mais rápido em condições anaeróbicas
é ativada por ligação com cAMP. A e C: ambas as para gerar a mesma quantidade de ATP de quanto
enzimas são fosforiladas em suas formas a. B: fos� ocorre aerobicamente.
forilase b é ativada alostericamente por ligação
14. Ambos os ciclos requerem a mesma quantidade de
com AMP. E: a forma a da sintase é a forma não�
ATP para converter piruvato em glucose (lactato em
�fosforilada.
piruvato e alanina em piruvato). No ciclo da alani�
11. C O ADP formado é convertido em ATP às custas na, o NADH produzido não é utilizado para reduzir
de Pi. A incapacidade de metabolizar mais fruto� piruvato a lactato e poderia ser oxidado pelo siste�
se 1�fosfato resulta em depleção de Pi. A: isso não ma de transporte de elétrons para produzir energia.
acontece. B: isso requeriria duas fosforilações. D: Mas o ciclo alanina deixa no fígado o nitrogênio do
isso não acontece no fígado. E: a frutose deve ser amino, que deve ser descartado como ureia. Isso re�
fosforilada primeiro. quer quatro ATPs por molécula de ureia produzida,
e esse ATP não é consumido no ciclo de Cori.
PARTE IV CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 667
Vias Metabólicas e seu controle

16
Metabolismo H
COO–
O –O SO
3
CH2OH

H
O
O–
H
OH H O H
de Carboidratos II: H

OH
H H

H
H

HNCOCH3
n

Vias Especiais Unidade repetitiva do condroitim 4-sulfato

e Glicoconjugados
Nancy B. Schwartz
Professora Titular, University of Chicago

CONTEÚDO 16.4 Galactosemia: Incapacidade de Transformar


Galactose em Glicose, 674
16.1 VIA DAS PENTOSES FOSFATO, 668
16.5 Pentosúria: Deficiência de Xilitol Desidrogenase;
16.2 INTERCONVERSÕES DE AÇÚCARES E FOR
L-Xilulose Redutase, 675
MAÇÃO DE AÇÚCAR LIGADO A NUCLEOTÍ
DEO, 672 16.6 O Ácido Ascórbico (Vitamina C) É Derivado de
Ácido Glucurônico, 675
16.3 BIOSSÍNTESE DE POLISSACARÍDEOS COM
PLEXOS, 676 16.7 Ácido Glucurônico: Significado Fisiológico da
Formação de Glucuronídeos, 675
16.4 GLICOPROTEÍNAS, 678
16.8 Substâncias dos Grupos Sanguíneos, 678
16.5 PROTEOGLICANOS, 683
16.9 Doenças Congênitas de Glicosilação (CDGs, con
CORRELAÇÕES CLÍNICAS genital disorders of glycosylation), 681
16.1 Deficiência de Glicose 6-Fosfato Desidrogenase, 16.10 Defeitos no Catabolismo de Glicoproteínas, 682
669 16.11 Doenças de Glicolipídeos, 683
16.2 Síndrome de Wernicke–Korsakoff: Anomalias 16.12A Heparina É um Anticoagulante, 683
Associadas e Atividade de Transcetolase, 671
16.13 Condrodistrofias Decorrentes de Defeitos de
16.3 Frutosúria Essencial e Intolerância a Frutose: Sulfatação, 686
Deficiência de Frutoquinase e de Frutose 1-Fos
fato Aldolase, 673 16.14 Mucopolissacaridoses, 687

Conceitos Chaves
• A fosforilação da glicose mediada por hexoquina glicose-6-fosfato como NADPH, ao passo que a gli
ses produz glicose-6-fosfato, que tem papel funda cólise promove produção de energia.
mental como precursor comum para diversas vias
• A via pentose fosfato fornece ribose 5-fosfato para
metabólicas que utilizam glicose.
a síntese de ácidos nucleicos.
• O metabolismo de glicose-6-fosfato pela via das
• A via das pentoses fosfato degrada a molécula de açú
pentoses fosfato conserva os equivalentes redox de
car um carbono de cada vez, em duas fases distintas.
668 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

• A primeira etapa, e limitante da velocidade, na via • A N-glicosilação envolve uma via de montagem
das pentoses fosfato é catalisada pela glicose-6 ligada ao dolicol e uma via de processamento em
-fosfato desidrogenase, que oxida glicose-6-fosfato multi-compartimentos celulares.
a 6-fosfogluconato. As estruturas dos glicanos modulam numerosas

• A maioria dos componentes açúcares de biomolé interações moleculares como sinalização celular,
culas é derivada da glicose por uma variedade de adesão e ativação de receptor.
transformações químicas e interconversões. Açú
• Doenças genéticas da glicosilação causam ampla
cares ligados a nucleotídeos são elementos chave
variação de fenótipos, com exemplos em todas as
para muitas transformações de açúcares, assim
especialidades médicas. Muitas doenças genéticas
como para a síntese de polissacarídeos complexos.
do metabolismo de carboidratos complexos resul
• Oligo- ou polissacarídeos são ligados a proteínas tam de deficiências de glicosidases.
por um número limitado de ligações N- ou O-glico
sil em glicoproteínas e proteoglicanos.

16.1 VIA DAS PENTOSES Em certas condições metabólicas, a via das pento
ses fosfato pode terminar nesse ponto, com utilização
FOSFATO do NADPH para reações biossintéticas redutoras e da
ribose 5-fosfato como um precursor na síntese de nucleo
tídeos. A equação geral pode ser escrita como
A Via das Pentoses Fosfato Tem
ribose
Glicose
5-fosfato
6-fosfato
+2+ NADPH
2 NADP+++2H+
H2O+CO

Duas Fases
2
A via das pentoses fosfato fornece um meio para de
gradar a cadeia carbônica de uma molécula de açúcar,
um carbono de cada vez. Contudo, essa via não constitui Interconversões de Pentoses Fosfato
um conjunto de reações consecutivas que levam direta
mente ao CO2, mas ocorre em duas fases. Na primeira,
Levam a Intermediários da Glicólise
a hexose é descarboxilada a pentose por duas reações Se for necessário mais NADPH para biossíntese re
de oxidação que formam NADPH; na segunda, por uma
dutora do que ribose 5-fosfato para incorporação em
série de transformações, seis moléculas de pentose so
nucleotídeos, um sistema de interconversão de açúca
frem rearranjos para gerar cinco moléculas de hexose.
res (Figura 16.2) formará açúcares trioses, tetroses,
hexoses e heptoses a partir das pentoses, e fornecerá
Oxidação de Glicose 6-Fosfato uma ligação reversível entre a via das pentoses fosfato
e a glicólise, por meio de intermediários comuns. Xilu
Conserva Equivalentes Redox como lose 5-fosfato é formada por isomerização da ribulose
NADPH e a Descarboxilação Fornece 5-fosfato pela fosfopentose epimerase, de modo que
ribulose 5-fosfato, ribose 5-fosfato e xilulose 5-fosfa
Pentoses Fosfato to existem como uma mistura em equilíbrio e podem
sofrer transformações catalisadas por transcetolase e
A primeira reação catalisada pela glicose 6-fosfato transaldolase.
(G6P) desidrogenase (Figura 16.1) é a desidrogenação
da G6P para formar 6-fosfoglucono-δ-lactona e NA A transcetolase requer tiamina pirofosfato (TPP) e
DPH, e é um importante ponto regulatório dessa via. O cátions divalentes, transfere uma unidade C2 de glico
interesse especial nessa enzima advém da severa ane aldeído ativo de xilulose 5-fosfato para ribose 5-fos
mia que pode resultar da ausência de G6P desidrogena fato e produz sedo-heptulose e gliceraldeído 3-fosfato,
se em eritrócitos ou da presença de uma das muitas va um intermediário da glicólise. Alterações na transce
riantes genéticas da enzima (Correlação Clínica 16.1). tolase podem levar à síndrome de Wernicke-Korsakoff
A lactona produzida nessa reação é um substrato para (Correlação Clínica 16.2). A transaldolase transfere
a gluconolactonase, o que garante que a reação ocorra uma unidade C3 (di-hidroxiacetona) da sedo-heptulose
por completo. O equilíbrio geral de ambas as reações 7-fosfato para o gliceraldeído 3-fosfato, formando eri
fica muito deslocado na direção do NADPH, mantendo trose 4-fosfato e frutose 6-fosfato, outro intermediário
uma alta razão NADPH/NADP+ nas células. Uma se da glicólise. A transcetolase produz frutose 6-fosfato e
gunda desidrogenação e descarboxilação, catalisada gliceraldeído 3-fosfato, a partir de eritrose 4-fosfato e
pela 6-fosfogluconato desidrogenase, produz a pentose xilulose 5-fosfato. A soma dessas reações é
fosfato ribulose 5-fosfato e uma segunda molécula de
NADPH. A ribulose 5-fosfato é, então, isomerizada a 2 Xilulose 5-fosfato + ribose 5-fosfato 
ribose 5-fosfato por meio de um intermediário enediol. 2 frutose 6-fosfato + gliceraldeído 3-fosfato
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 669

NADP+ NADPH + H+
Deficiência
A deficiência de glicose-6-fosfato
de Glicose
Desidrogenase
CORRELAÇÃO 6-Fosfato
CLÍNICA 16.1 desidrogena- CH2OPO32– CH2OPO32–
H H
OH O OH HO
HO H 6-fosfato
glicose OH
H H O
H HO
H OH desidrogenase H OH

Glicose
das
para
se da
homem
dessa
é
normal
tretanto,
mentar
ficiência
mente
estiver
disso,
assim, eade
as
(G6PD)
glutationa
de pode
seéem
ao
particularmente
NADPH
pentoses
manter
membrana
enzima
leve,
proteger
quando
aumentada,ligadas
velocidade
células
reduzida
podem
G6P não
as
defeito
aestar
glutationa
fosfato ao
da
presente
velocidadeaenzimático
eritrócitos.
contra
demanda via
desidrogenase
dos Os
importante,
oxidar
éé
eritrócitos,
necessária
areduzem
células
em uma
do
não
em
peroxidação
principal
cromossomo
de
glicose
deseu mais
via
apara
uma
até 400
de
adequadamente.
utilização
NADPH
eritrócitos
estado
tornando
NADP+
tipo A,
comum
conseguem
vez
éX.
de milhões
anormal.
reduzido
de
velocidade
lipídeos.
com no
via
au-
a En-
integrida-
suficiente
A
que
produção
assim
relativa-
NADPH
enzima
Além
de-
os
e,
A 6-fosfato 6-Fosfoglucono-δ-lactona

de
140 As manifestações
aminoácidos,
mas.pessoas
mutações noforam
causando
mundo
descritas
clínicas
inteiro. mais
amplanessa
variedade de de
Aproximadamente
proteína
frequentes da
sinto-
516 C 6-fosfo- H2O
gluco-lactonase

H+

mia
da nana
um
hemolítica
deficiência
antipiréticos
administrados
aparentemente
susceptibilidade
drogas
ciência
sidrogenase
indicações
por
hemolítica
é, que
aguda,
atividade
de
agente
de
em
maioria
ou
G6PD
aaguda de
das
são
eritrócitos,
inofensivas,
àantibióticos
pacientes
exógeno.
doença
que
existem
pode
glicose
éicterícia
vezes, uma
geralmente
hemolítica
eocorrer emdas
susceptíveis,
Quando
deficiências
foi
como
a 6-fosfato
devida
base
neonatal48-96
certasuma
antimaláricos,
de
induzida
desencadea-
a (G6P) de-
são
primeiras
sulfa
genéticas
e drogas,
anemia
hs.
ane-
defi-
por
A O O–
C

HC OH

HOC H

H C OH

HC OH

HCOPO32–

6-Fosfogluconato

NADP+
6-fosfogluconato
desidrogenase CO2
NADPH + H+

O H H

HCOH

HC
H H
HCOPO32–
HCOH
C OH C O

HCOH
isomerase
ribose5-fosfato
HC
+
OH

HCOPO32–

H
eritrócitos deficientes na enzima mais susceptíveis
Ribose 5-fosfato Ribulose 5-fosfato
à hemólise por uma ampla variedade de compostos.
Essa deficiência ilustra a interação de hereditarie FIGURA 16.1 Fase oxidativa da via das pentoses fosfato:
dade e ambiente na produção de doença. A conduta formação de pentoses fosfato e NADPH.
mais efetiva na deficiência de G6PD é prevenir a he
mólise evitando o estresse oxidativo. A deficiência
completa de G6PD é letal. Como a xilulose 5-fosfato é derivada da ribose 5-fos
fato, a reação final começando com ribose 5-fosfato é
Luzzatto, L., Mehta, A. e Vulliamy, T. Glucose 6-phos
phate dehydrogenase deficiency. Em: Scriver, C. R., Beau 3 Ribose 5-fosfato 
det, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). The Metabolic and 2 frutose 6-fosfato + gliceraldeído 3-fosfato
Molecular Bases of Inherited Disease, 8. ed., New York:
McGraw-Hill, 2001, III, 4517; e Cappellini, M. D., and Fio Portanto, o excesso de ribose 5-fosfato, produzido
relli, G. Lancet 371:64, 2008. no primeiro estágio da via das pentoses fosfato ou a par
tir da degradação de ácidos nucleicos, é eficientemente
convertido em intermediários da glicólise.
670 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

HCOH
H

HOHC
Ribose
H
HCOH
O CH
5-fosfato
C HOH
OPO3
H
O HC
O C HC
H HOPO3
OH
C OPO3
OH
C O

HOCH

HCOH

HCOPO32–
HC
Ribulose
H
HCOH
H
CC5-fosfato
OH
OPO3
O fosfopentoseisomerase
fosfopentose
epimerase H transcetolase HC OPO3 transaldolase H
2– HC
Gliceraldeído
H 3-fosfato
OH 2–

Frutose 6-fosfato

+
tra O + H
H C

H C OH
2– 2–
C O HCOH
HO
HCOH
C H H C OPO3

HC
H C OH Eritrose 4-fosfato
Xilulose H
5-fosfato H HC OH

2– + H

Sedo-heptulase 7-fosfato C O

H 2– neslatoesc HO C H

H C OH

HC OPO32–
H C OH O H
H
C
HC
HO
HCOH
H C
C H
OH
OPO3
O
Xilulose 5-fosfato

2–

Gliceraldeído 3-fosfato
2–

FIGURA 16.2 Reações não-oxidativas da via H


das pentoses fosfato: interconversões de
pentoses fosfato. Frutose 6-fosfato

Glicose 6-Fosfato Pode Ser para gerar cinco moléculas de G6P. A equação geral, en
tão, se torna
Completamente Oxidada a CO2
5 glicose
6 glicose
6-fosfato
6-fosfato
+ 6 CO12
+ 2 + NADP+
12 NADPH
+ 7 H2O
+ 12
A completa oxidação da glicose 6-fosfato (G6P) a H+ + Pi
CO2, com redução de NADP+ a NADPH, também pode
ocorrer (Figura 16.3). G6P entra continuamente nessa E a reação final é
via, e CO2 e NADPH são produzidos na primeira fase.
glicose 6-fosfato + 12 NADP+ + 7 H2O 
Uma equação balanceada inclui a oxidação de seis mo
6 CO2 + 12 NADPH + 12H+ + Pi
léculas de G6P a seis moléculas de ribulose 5-fosfato
e seis de CO2. Isso resulta na transferência de 12 pa
res de elétrons para o NADP+, a quantidade necessária
para oxidação total de uma glicose em seis CO2. As seis
moléculas de ribulose 5-fosfato são, então, rearranjadas
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 671

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.2


Via das Pentoses Fosfato Serve
como um Sistema Regenerador de
Síndrome de Wernicke–Korsakoff (OMIM
277730): Anomalias Associadas e Atividade de NADPH e Fornecedor de Pentoses
Transcetolase
Fosfato
Os sintomas da síndrome de Wernicke–Korsakoff
surgem após estresse moderado, que não afeta indi A via das pentoses fosfato serve a vários propósitos,
víduos normais, e depois uma anomalia na transceto incluindo síntese e degradação de açúcares que não são
lase tenha sido observada. A clonagem e sequencia hexoses, particularmente ribose 5-fosfato para a sínte
mento do gene da transcetolase parecem excluir um se de nucleotídeos e síntese de NADPH. O fluxo de pro
cessamento de G6P, após a entrada na via, é determi
defeito genético. Ao contrário, a disfunção da trans
nado, em grande parte, pelas necessidades da célula de
cetolase pode estar relacionada a uma deficiência de
NADPH ou dos açúcares intermediários. Quando mais
tiamina, visto que a transcetolase utiliza tiamina fos
NADPH do que ribose 5-fosfato é necessário, a via le
fato como um cofator. A síndrome apresenta-se como
de
vando
G6Pàacompleta
partir deoxidação
ribulose 5-fosfato
de G6P aéCOfavorecida.
2 e à ressíntese
uma doença mental, com perda de memória e para Alter
lisia parcial, e pode se manifestar em alcoólatras, nativamente, se a demanda de NADPH for relativamen
cuja dieta pode ser deficiente em vitaminas. A impor te baixa, a conversão de G6P em ribulose 5-fosfato para
tância médica da via das pentoses fosfato é também síntese de ácidos nucleicos ou reciclagem para produzir
ressaltada pelas deficiências de transaldolase, que intermediários da via glicolítica predomina.
estão vinculadas a um espectro de doenças clínicas,
incluindo cirrose hepática e infertilidade masculina. A distribuição tecidual da via das pentoses fosfato é
consistente com suas funções. NADPH, necessário para
Perl, A. The pathology of transaldolase deficiency. Life manter a glutationa reduzida, que protege a integridade
59:365, 2007. das membranas dos eritrócitos, é produzido nos eritró
citos, assim como no fígado, na glândula mamária, no
testículo e na córtex adrenal, que são locais de síntese
de ácidos graxos ou de esteroides. O equilíbrio entre
a entrada de glicose na glicólise ou a via das pentoses
fosfato depende das necessidades metabólicas do órgão.
proveniente da viadodas
Cerca de 20–30% CO2pentoses
produzido
fosfato.
no fígado
No pode ser
músculo
estriado de mamíferos, que realiza pouca síntese de
ácidos graxos e esteroides, todo o catabolismo de G6P
ocorre via glicólise e ciclo TCA, com nenhuma oxidação
direta de glicose 6-fosfato na via das pentoses fosfato.

ATP ADP (6) NADP+ (6) NADPH + (6) H+ H2O


Glicose (6) Glicose 6-fosfato 6-Fosfogluconolactona 6-Fosfogluconato

(6) NADP+

(6) CO2 (6) NADPH + (6)H+

(6) Ribulose 5-fosfato

(4) Xilulose 5-fosfato (2)Ribose 5-fosfato

(2) Frutose 6-fosfato

(2) Gliceraldeído 3-fosfato + (2) Sedo-heptulose 7-fosfato


+

Gliceraldeído 3-fosfato

(2) Eritrose 4-fosfato + (2) Frutose 6-fosfato

FIGURA 16.3 Via das pentoses fosfato.


672 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

16.2 INTERCONVERSÕES DE por uma frutoquinase especial. Entretanto, nenhuma


mutase interconverte frutose 1-fosfato e frutose 6-fos
AÇÚCARES E FORMAÇÃO fato, e a fosfofrutoquinase não pode sintetizar frutose
1,6-bisfosfato a partir de frutose 1-fosfato. Em vez dis
DE AÇÚCAR LIGADO A so, a frutose 1-fosfato aldolase quebra a frutose 1-fos
NUCLEOTÍDEO fato em di-hidroxiacetona fosfato (DHAP), que entra
diretamente na via glicolítica, e o gliceraldeído, que é
A maioria dos monossacarídeos encontrados em primeiro reduzido a glicerol, fosforilado e, então, reoxi
compostos biológicos deriva da glicose. As transforma dado a DHAP (Figura 15.39). A falta dessa aldolase leva
ções de açúcares mais comuns em sistemas de mamífe à intolerância à frutose (Correlação Clínica 16.3).
ros são resumidas na Figura 16.4.

Açúcares Ligados a Nucleotídeos


Isomerização e Fosforilação São
São Intermediários em Muitas
Reações Comuns para Interconverter
Transformações de Açúcares
Carboidratos
Muitas reações de transformação de açúcares re
A formação de alguns açúcares pode ocorrer dire querem conversão em açúcares ligados a nucleotídeos.
tamente, começando com glicose, por reações de mo Uma pirofosforilase une hexose 1-fosfato e nucleosídeo
dificações, como a isomerização aldose-cetose catali trifosfato (NTP) para produzir um nucleosídeo difos
sada pela fosfomanose isomerase, que produz manose fato (NDP)-açúcar e pirofosfato. Pirofosfatase rapida
6-fosfato. A deficiência dessa enzima leva a uma forma mente hidrolisa o pirofosfato, direcionando, assim, a
da síndrome de doenças congênitas da glicosilação reação de síntese. Essas reações são resumidas como
(CDGS, congenital disorders of glycosilation syn segue:
drome) (p. 681).
NTP + açúcar 1-fosfato + H2O  NDP-açúcar + PPi
A fosforilação e a transferência interna de um gru PPi + H2O  2 Pi
po fosfato na mesma molécula de açúcar são também
modificações comuns. A glicose 1-fosfato, resultante da A reação final é
glicogenólise, é convertida em G6P pela fosfoglucomu NTP + açúcar 1-fosfato + H2O  NDP-açúcar +2 Pi
tase. Galactose é fosforilada a galactose 1-fosfato pela
galactoquinase, e manose a manose 6-fosfato pela ma Por exemplo, UDP-glicose é usado na síntese de
noquinase. A frutose livre, um importante constituin glicogênio e glicoproteínas e é sintetizado pela UDP
te da dieta, é fosforilada no fígado a frutose 1-fosfato, -glicose pirofosforilase.

Galactose Glicose Frutose Manose


ATP ATP ATP ATP

Galactose 1-P Glicose 6-P Frutose 6-P Manose 6-P


UTP or UDP-glicose Glucosamina
glutamina
6-P Manose 1-P
UDP-galactose UDP-glicose Glicose 1-P
NAD UTP TTP GTP
Ácido dTDP-glicose N-Acetilglucosamina 6-P GDP-manose
UDP-glucurônico
NADH NADH
–CO2 N-Acetilgalactosamina 1-P GDP-fucose
dTDP-ramnose
UDP-xilose
UTP
UDP-N-acetilgalactosamina UDP-N-acetilglucosamina

N-Acetilmanosamina
ATP
N-Acetlmanosamina 6-P
fosfoenolpiruvato
Ácido N-Acetilneuramínico 9-P

–Pi
Ácido CMP-N-acetilneuramínico CTP ÁcidoN-Acetilneuramínico

FIGURA 16.4 Vias de formação de açúcares ligados a nucleotídeos e interconversões de algumas hexoses.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 673

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.3

Frutosúria Essencial (OMIM 229800) e Intolerância a Frutose (OMIM 229600): Deficiência de Frutoquinase
e de Frutose 1-Fosfato Aldolase
A Frutose pode corresponder a 30–60% do total de ragia, hepatomegalia, uricemia e eventual insuficiência
carboidratos ingeridos por mamíferos, e é predominan renal. A ingestão de frutose ou a ingestão prolongada
temente metabolizada por uma via frutose-específica. por crianças pequenas afetadas pode levar à morte. A
A frutoquinase está deficiente na frutosúria essencial. frutose 1-fosfato aldolase pode também estar deficiente,
Essa doença é uma anomalia metabólica assintomática situação na qual frutose 1-fosfato acumula-se dentro das
benigna, que parece ser herdada como um traço autos células (ver Correlação Clínica 15.3, p. 626).
sômico recessivo. Após a ingestão de frutose, os níveis
sanguíneos e urinários de frutose dos indivíduos afeta Steinmann, B., Gitzelmann, R. e Vanden Berghe, G. Disor
dos ficam excepcionalmente elevados; contudo, 90% da ders of fructose metabolism. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A.
frutose ingerida por eles é eventualmente metabolizada. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). The Metabolic and Molecular
Diferentemente, a intolerância hereditária à frutose é Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw-Hill,
caracterizada por grave hipoglicemia, icterícia, hemor 2001, I:1489.

HOCH2 pela galactoquinase e ATP, para formar galacto


HO
H H H
O se 1-fosfato. Então, a galactose 1-fosfato uridilil
H O O O O transferase forma UDP-galactose, pela galactose
OH OPO– + 1-fosfato deslocando glicose 1-fosfato de UDP
–O P O P O PO Uridina
-glicose. Essas reações são resumidas como se
H OH O– O– O– O– segue:
Glicose
galactose + ATP  galactose 1-fosfato + ADP
HOCH2
UDP-glicose + galactose 1-fosfato 
H H O
HH OUDP-glicose
O UDP-galactose + glicose 1-fosfato
OH
H OH OPOPO
O– O–
HO Uridina + PPi
A galactose da dieta pode ser transformada por uma
combinação dessas reações em glicose 1-fosfato e meta
bolizada como anteriormente descrito, ou a 4-epimera
se pode produzir a UDP-galactose necessária para bios
síntese. Uma forma grave de galactosemia hereditária
resulta de ausência da uridililtransferase (Correlação
Os nucleosídeos difosfato-açúcares são constru
Clínica 16.4).
ções importantes: eles contêm duas ligações fosforil,
cada uma com um AG de hidrólise negativo grande, que
ressalta seu valor como doadores de glicosil em trans HOCH2
H H
HO H O
formações e reações de transferência subsequentes, e H O O
conferem especificidade de substrato nessas reações. OH OPOPOUridina
UDP é geralmente o transportador de glucosil, enquan
to ADP, GDP e CMP são transportadores de outros açú H OH O– O–
cares. Muitas reações de transformação de açúcares UDP-glicose
ocorrem no nível de açúcares ligados a nucleotídeos
(Figura 16.4).
UDP-glicose-4
epimerase

Epimerização Interconverte Glicose HOCH2


HO H O
e Galactose Ligadas a Nucleotídeo H O O
H OH H OPOPOUridina
A interconversão de glicose e galactose em células
animais ocorre por epimerização de UDP-glicose em H OH O– O–
UDP-galactose, catalisada pela UDP-glicose-4-epime UDP-Galactose
rase (Figura 16.5). A UDP-galactose também é forma
da a partir de galactose livre, derivada da hidrólise de
lactose no trato intestinal. A galactose é fosforilada FIGURA 16.5 Conversão de glicose em galactose.
674 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.4

Galactosemia: Incapacidade de Transformar Galactose em Glicose


As reações da galactose são de particular interes 3, gene GALE) (OMIM 230350). A galactose é reduzida
se porque, no homem, estão sujeitas a defeitos genéti a galactitol em uma reação semelhante à de glicose em
cos que produzem a doença hereditária galactosemia. sorbitol. O galactitol inicia a formação de catarata no
Quando há um defeito, os indivíduos são incapazes de cristalino e pode desempenhar um papel na lesão do
metabolizar a galactose derivada da lactose (açúcar sistema nervoso central. O acúmulo de galactose 1-fos
do leite) em metabólitos da glicose, o que, frequente fato é responsável pela insuficiência hepática; os efei
mente, resulta em formação de catarata, crescimento tos tóxicos dos metabólitos de galactose desaparecem
deficiente, retardo mental ou eventual morte por lesão quando galactose é removida da dieta.
hepática. Esses fenótipos podem ser devidos a uma defi
ciência celular de galactoquinase (Tipo 2, gene GALK1) Petry, K. G. e Reichardt, J. K. The fundamental importan
(OMIM 230200), causando uma doença relativamente ce of human galactose. Trends Genet. 14:98, 1998; Scriver,
leve, caracterizada por formação precoce de catarata; C. R., Beaudet, A. L., Valle, D., Sly, W. S., Vofelstrin, B. e Kinz
de galactose 1-fosfato uridililtransferase (Tipo 1, gene ler, K.W. Galactosemia Online Metabolic and Molecular Basis
GALT) (OMIM 606999), resultando em doença grave; of Inherited Disease (http://www.ommbid.com/). New York:
ou de deficiência da UDP galactose-4-epimerase (Tipo McGraw Hill, 2006.

A síntese de GDP-fucose (ver Figura 16.4) começa *OLFRVH


com a conversão de GDP-manose em GDP-4-ceto-6
-desoximanose pela GDP-manose-4,6-desidratase, se *OLFRVHIRVIDWR
guida por sua epimerização a GDP-4-ceto-6-desoxi-L
-galactose e, finalmente, redução a GDP-fucose. Essas
*OLFRVHIRVIDWR
últimas reações são catalisadas pela GDP-4-ceto-6
-desoximanose 3,5-epimerase-4-redutase bifuncional
(proteína FX), que é abundante em eritrócitos. A epi 8'3JOLFRVH
merização do ácido D-glucurônico em ácido L-idurôni
co ocorre após a incorporação do primeiro em heparina
ÉFLGR8'3JOXFXU{QLFR
e dermatam sulfato (p. 684).

ÉFLGR'JOXFXU{QLFRIRVIDWR
Ácido Glucurônico É Formado por
Oxidação de UDP-Glicose ÉFLGR'JOXFXU{QLFR

FIGURA 16.6 Biossíntese do ácido D-glucurônico a partir


A síntese do ácido glucurônico a partir de glicose é de glicose.
resumida na Figura 16.6. Uma etapa crítica é a oxidação
de UDP-glicose pela UDP-glicose desidrogenase (Figu HOCH2
H H H
ra 16.7). O ácido glucurônico é reduzido por NADPH a HO O H OPO
ácido L-gulônico (Figura 16.8). O ácido gulônico pode H H O O
ser oxidado a ácido 3-cetogulônico e descarboxilado OH POUridina

a L-xilulose. No homem, a L-xilulose é a cetopentose


OH Oi Oi
excretada na pentosúria essencial (Correlação Clínica
8'3JOLFRVH
16.5). A L-xilulose é normalmente reduzida a xilitol, +
reoxidada a D-xilulose e fosforilada a xilulose 5-fosfa 2 NAD+
to, que pode entrar na via das pentoses fosfato descrita
anteriormente. O ácido glucurônico é também um pre
COOH
cursor do ácido L-ascórbico (Figura 16.8) nos animais
HO
H OH O O
que sintetizam vitamina C (Correlação Clínica 16.6). O
acido glucurônico também participa na desintoxicação OH OPOPOUridina
pela formação de conjugados glucuronídeos (Correla
ção Clínica 16.7). A via do ácido glucurônico opera no OH Oi Oi
tecido adiposo, e sua atividade, geralmente, está au ÉFLGR8'3JOXFXU{QLFR
mentada em tecidos de animais em jejum ou diabéticos. +
2 NADH + 2 H+

FIGURA 16.7 Formação de ácido UDP-glucurônico a partir


de UDP-glicose.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 675

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.5

Pentosúria (OMIM 260800): Deficiência de Xilitol Desidrogenase; L-Xilulose Redutase


A via de oxidação do ácido glucurônico parece não dos excretam grandes quantidades de pentose na uri
ser essencial para o metabolismo humano de carboidra na, especialmente após ingestão de ácido glucurônico.
tos, uma vez que indivíduos nos quais a via está bloquea
da não sofrem nenhum efeito negativo. Uma variação
Hiatt, H. 2001. Pentosuria. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A.
metabólica, chamada pentosúria idiopática, resulta de R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Molecular
atividade reduzida da L-xilulose redutase NADP-ligada, Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw-Hill,
que reduz xilulose a xilitol. Assim, os indivíduos afeta 2001, I: 1589.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.6

O Ácido Ascórbico (Vitamina C) É Derivado de Ácido Glucurônico


O ácido glucurônico é reduzido a ácido L-gulônico tona em ácido L-ascórbico, e, para eles, o ácido ascór
e então convertido, pela L-gulonolactona, em ácido bico é uma vitamina. A falta de vitamina C na dieta
L-ascórbico (vitamina C) em plantas e na maioria dos causa o escorbuto, uma condição de tecidos conjun
animais superiores. O homem, outros primatas, e as tivos que leva a múltiplas hemorragias e cicatrização
cobaias não têm a enzima que converte L-gulonolac deficiente.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.7

Ácido Glucurônico: Significado Fisiológico da Formação de Glucuronídeos


O significado biológico do ácido glucurônico inclui fisiológica do recém-nascido resulta da incapacida
sua conjugação com certas substâncias endógenas e de do fígado do recém-nascido para formar glucuro
exógenas para formar glucuronídeos, em uma reação nídeo de bilirrubina a uma velocidade comparável à
catalisada pela UDP-glucuroniltransferase. A conjuga da produção de bilirrubina. A cepa mutante de ratos
ção com ácido glucurônico produz um composto forte Wistar Gunn tem uma deficiência de UDP-glucuronil
mente acídico, que é mais solúvel em água no pH fisio transferase, o que resulta em hiperbilirrubinemia he
lógico do que seu precursor, aumentando, assim, seu reditária. No homem, um defeito semelhante ocorre na
transporte ou excreção. A formação de glucuronídeos icterícia não-hemolítica congênita familiar (síndrome
é importante na desintoxicação de drogas, na excre de Crigler-Najjar); os pacientes são incapazes de con
ção de esteroides e no metabolismo de bilirrubina. A jugar eficientemente compostos exógenos com ácido
bilirrubina é o principal produto metabólico da quebra glucurônico.
do heme, o grupo prostético da hemoglobina. A etapa
central na excreção de bilirrubina é a conjugação com Chowdhury, J. R., Wolkoff, W., Chowdhury, N. R., e Arias,
ácido glucurônico pela UDP-glucuroniltransferase. I. W. Hereditary jaundice and disorders of bilirubin metabo
Essa enzima pode levar de vários dias a duas sema lism. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S., e Valle,
nas após o nascimento para se tornar completamen D. (Eds.). The Metabolic and Molecular Bases of Inherited
te ativa no homem. A maioria dos casos de icterícia Disease, 8. ed. New York: McGraw Hill, 2001, II: 3063.

Descarboxilação, Óxido-Redução desidrogenase (Figura 16.7), regulando assim o nível


desses precursores açúcares ligados a nucleotídeos por
e Transaminação de Açúcares Dão um sensível mecanismo de retroalimentação.

Produtos Necessários Desoxi-hexoses e didesoxi-hexoses são também sin


tetizadas a partir de açúcares precursores ligados a nucleo
A única descarboxilação conhecida de um açúcar sídeos difosfatos. A L-Ramnose é sintetizada a partir de
ligado a nucleotídeo é a conversão de ácido UDP-glu glicose por uma série de reações de oxidação-redução, co
curônico em UDP-xilose, que é necessário para a sínte meçando com dTDP-glicose e gerando a dTDP-ramnose; a
se de proteoglicanos (p. 683) e é um potente inibidor da GDP-fucose é sintetizada de forma semelhante a partir da
produção de ácido UDP-glucurônico pela UDP-glicose GDP-manose, assim como várias didesoxi-hexoses.
676 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

A formação de aminoaçúcares, H H
nismo
6-fosfato
componentes
6-fosfato
polissacarídeos
e
re constituintes
por
A glucosamina
(Figura
transamidação;
ée formada
glutamina
importantes
16.9).
de
complexos
6-fosfato
aantibióticos,
partir
por
a glucosamina
esse
de
de
pode
humanos
oligo-
frutose
meca-
ocor-
ser
e H C OH HC OH H CC OH

NADPH HC OH HCC OH
H C OH
HOC
CO
desidrogenase
L-gulônico O–
HO
H C H
OH O H C H

H C OH C OH

H C H C OH O C OH

O OC
O–
N-acetilada a N-acetilglucosamina Ácido D-Glucurônico Ácido L-Gulônico Ácido L-Ascórbico
6-fosfato, seguida por isomerização a
N-acetilglucosamina 1-fosfato e forma β-L-hidroxiácido desidrogenase
ção subsequente de UDP-N-acetilglu
NAD+
cosamina. O último é um precursor da
síntese de glicoproteínas e de UDP-N
-acetilgalactosamina, que é necessária
H ATP H H
para a síntese de proteoglicanos. A fru
na
Ácidos
São
N-Acetilglucosamina
tose
está
negativaDerivados
Siálicos
significativa
pele,
20%(ver
6-fosfato-glutamina
sob
do
onde
Figura
fluxo
controle
por
essa
em
de de
UDP-N-acetilglucosami-
16.4).
glicose.
via
certos
decorresponde
retroalimentação
Essa
tecidos
transamidase
regulação
como
a até
éa H C OH xilulose quinase HC OH HC OH
NADPH HC –CO2 C O
HCOH HC OH HC OH

HOCH redutase
xilulose HO C H β-ceto-L-gulonatodescarboxilase HO C H

H C OH CC O O

HCOH HC OH HC OH

H
O–
Xilitol L-Xilulose Ácido 3-Cetogulônico

NAD+

H H

mínico,
de Outroum
glucosamina
açúcares
produto
membro
C9
é o ácido uma família
dadeN-acetilneura-
UDP-N-acetil- HC OH H C OH

C O C O

HO C H HO C H
de (Figura 16.10).
2-epimerase
licos
UDP-N-acetilglucosamina
produz
chamados por uma
AN-acetilmano-
epimerização
ácidos siá- H HC
HC OH OH
OPO3 Via das pentoses fosfato

H C OH 2–

H
samina. Essa reação provavelmente
ocorre por trans eliminação de UDP D-Xilulose Xilulose 5-fosfato

e formação do intermediário insatu FIGURA 16.8Via de oxidação do ácido glucurônico.


rado 2-acetamidoglucal. Em tecidos
de mamíferos, a N-acetilmanosamina é fosforilada a siltransferases específicas que transferem a unidade
N-acetilmanosamina 6-fosfato, que condensa com fos glicosil do nucleotídeo derivado para a extremidade
foenolpiruvato para formar ácido N-acetilneuramínico não-redutora de um açúcar aceptor. Mais de 180 genes
9-fosfato. Segue-se a remoção do fosfato e a formação de glicosiltransferases foram identificados. Uma dada
de ácido CMP-N-acetilneuramínico. Todas essas reações glicosiltransferase é específica para o açúcar aceptor, o
ocorrem no citosol, com exceção da última que ocorre açúcar transferido e a ligação formada. Uma reação de
no núcleo, com subsequente exportação do ácido CMP glicosiltransferase é como se segue:
-N-acetilneuramínico para o citoplasma.
Nucleosídeo-difosfato-glicose glicose
(doador) (aceptor)
16.3 BIOSSÍNTESE DE glicosiltransferase

POLISSACARÍDEOS glicosil1-O-glicose2 + nucleosídeo


+ difosfato
COMPLEXOS (glicosídeo)
Os resíduos de açúcares nos polissacarídeos são Mais de 40 tipos de ligações glicosídicas foram iden
ligados por ligações glicosídicas, formadas por glico tificados em oligossacarídeos de mamíferos, e cerca de
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 677

NH2 C(CH2)2CH COO−


+
NH3

Glutamina
Frutose
H 6-fosfato transamidase CH2OPO32−
O32−POCH2
H O OHOH H OH
−OOC(CH2CHCOO− HO H H
UDP CH2OH
CH2OHO H Glutamato
)2+
CH2OH Glucosamina
CH2OH 6-fosfato
OH

OH H NH3 H NH2 FIGURA 16.9 Formação de

aminoaçúcares.

H H O H H O H
HO H H –UDP HO H HO H
OH OH
OH H OH +H2O N

OH CO CO
H C
NH O H NH H H
CH3

CH3 CH3

UDP-N-acetilglucosamina 2-Acetamidoglucal N-Acetilmanosamina

CH2OPO32– COOH O H
2–
O
O O+ CH2
COPO3 H CHOH
HN OH OPO32– COO–
CH2
OH
H H N Pi H3C CCHOH

H OH
HO H H C O N-acetilneuraminato H

9-fosfato sintase H

CH3

N-Acetilmanosamina Fosfoenolpiruvato Ácido N-Acetilneuramínico


6-Fosfato 9-fosfato

O H

CHOH COO–
H3C C HN
CHOH
+ CTP
CH2OH
H H OH CTP: acilneuraminato
H citidililtransferase
OH H PPi
O H
O O
CHOH
Ácido N-Acetilneuramínico H3C C HN OPOCH2 Citidina
CHOH
CH2OH
H H OH O–
H

OH H
Ácido CMP-N-Acetilneuramínico FIGURA 16.10 Biossíntese de ácido
CMP-N-acetilneuramínico.

mais 15 em glicosaminoglicanos. A multiplicidade de Por exemplo, a especificidade antigênica dos principais


ligações surge da diversidade de monossacarídeos en tipos sanguíneos é determinada pela composição em
volvidos e da formação de ligações α e β com cada um açúcares de moléculas da superfície celular (Correlação
dos grupos hidroxila disponíveis no sacarídeo aceptor. Clínica 16.8). N-acetilgalactosamina é o imunodetermi
Isso sugere que os oligossacarídeos tenham o potencial nante do sangue tipo A, e galactose do sangue tipo B.
para grande conteúdo informacional; consequentemen A remoção de N-acetilgalactosamina de eritrócitos do
te, a bioatividade de muitas moléculas é determinada tipo A, ou de galactose de eritrócitos do tipo B, conver
pela natureza dos resíduos de açúcares constituintes. te-os em eritrócitos do tipo O. Cada vez mais, outros
678 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.8

Substâncias dos Grupos Sanguíneos


A superfície dos eritrócitos humanos é coberta por pelas enzimas A e B são adicionados ao oligossacarídeo
um complexo mosaico de determinantes antigênicos es H-específico. O gene Lewis (Le) codifica outra fucosil
pecíficos, muitos dos quais são polissacarídeos comple transferase, que adiciona fucose a um resíduo periféri
xos. Há cerca de 100 determinantes de grupos sanguí co de N-acetilglucosamina do precursor. Ausência do
neos, pertencentes a 21 sistemas de grupos sanguíneos produto do gene H dá origem ao determinante Lea es
independentes. Os mais estudados são os do sistema pecífico, enquanto a ausência de ambas as enzimas H e
ABO de grupos sanguíneos e do sistema Lewis, estreita Le é responsável pela especificidade Leb. A elucidação
mente relacionado. A variação genética é conseguida por das estruturas desses oligossacarídeos determinantes
glicosiltransferases específicas responsáveis pela síntese representa um marco na química de carboidratos. Esse
dos determinantes heterossacarídicos. O gene H codifica conhecimento é essencial para a prática de transfusão de
uma fucosiltransferase, que adiciona fucose a uma galac sangue e para propósitos legais e históricos.
tose periférica do heterossacarídeo precursor. O alelo A
codifica uma N-acetilgalactosamina glicosiltransferase, Yamamoto, F., Clausen, I., White, T., Mark, J. e Hakomori,
o alelo B codifica uma galactosiltransferase, e o alelo O S. Molecular genetic basis of the histo-blood group ABO sys
codifica uma proteína inativa. Os açúcares transferidos tem. Nature 345:229, 1990.

exemplos de açúcares como determinantes de especifi Glicoproteínas Contêm Quantidades


cidade de receptores de superfície celular e interações
com lectinas, do direcionamento de células para certos Variáveis de Carboidratos
tecidos e da permanência ou remoção da circulação de
A quantidade de carboidratos de glicoproteínas é
certas moléculas, têm sido reconhecidos. Todas as liga
muito variável. As IgGs contêm cerca de 4% de carboi
ções glicosídicas identificadas em compostos biológicos
drato em peso, enquanto a glicoforina contém 60%, a
são degradadas por enzimas hidrolíticas específicas, gli
glicoproteína do cisto ovariano humano 70%, e a gli
cosidases. Além de serem instrumentos valiosos para a
coproteína gástrica humana 82%. O carboidrato pode
elucidação da estrutura de oligossacarídeos, essa classe
estar uniformemente distribuído ao longo da cadeia
de enzimas é de interesse com base nas muitas doenças
polipeptídica ou concentrado em regiões definidas. Na
genéticas do metabolismo de carboidratos complexos
glicoforina A humana, o carboidrato é restrito à metade
que resultam de defeitos em glicosidases (ver Correla
ção Clínica 16.10 e 16.11). extracelular NH2-terminal da cadeia polipeptídica.
Os componentes carboidrato das glicoproteínas, ge
ralmente, contêm menos de 12-15 resíduos de açúcares.
16.4 GLICOPROTEÍNAS Alguns consistem de um resíduo de açúcar, como na
As glicoproteínas são definidas como proteínas glicoproteína da glândula submandibular (um resíduo
conjugadas, que contêm um ou mais sacarídeos, sem N-acetil-α-D-galactosaminil) e em alguns colágenos de
uma unidade repetitiva serial, e que são ligados cova mamíferos (um resíduo α-D-galactosil). Em geral, os
lentemente a uma proteína. Essa definição exclui os resíduos de açúcares são da forma D, com exceção de
proteoglicanos (p. 683). As glicoproteínas, em mem L-fucose, L-arabinose e ácido L-idurônico. Glicoproteí
branas celulares, têm um papel importante no com nas ortólogas de diferentes espécies animais frequen
portamento das células e, especialmente, nas funções temente têm estruturas primárias proteicas idênticas,
mas diferentes componentes carboidratos. A heteroge
biológicas da membrana. As glicoproteínas são cons
tituintes do muco secretado por certas células epite neidade de uma dada proteína também ocorre em um
liais, servindo para lubrificar e proteger tecidos que organismo. Por exemplo, as ribonucleases pancreáticas
revestem os sistemas respiratório, gastrointestinal e A e B têm estruturas primárias idênticas e especificida
reprodutor feminino. Muitas proteínas secretadas são des semelhantes por substratos, mas diferem significa
glicoproteínas e incluem hormônios como hormônio tivamente em suas composições em carboidratos.
folículo-estimulante, hormônio luteinizante e gonado Carboidratos São Ligados a Glicoproteínas
trofina coriônica e proteínas plasmáticas como oroso
mucoides, ceruloplasmina, plasminogênio, protrombi
por Ligações N- ou O-Glicosil
na e imunoglobulinas. As estruturas dos carboidratos foram completamen
te elucidadas para apenas de um número limitado de
glicoproteínas. A micro-heterogeneidade de glicopro
teínas, advindas de síntese incompleta ou degradação
parcial, torna as análises estruturais extremamente di
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 679

fíceis. Contudo, surgiram certas generalizações. A liga GalNAc 1→3 Gal 1→3 GalNAc O-Ser/Thr
ção covalente do açúcar com a proteína é uma caracte
1→2 1→2
rística essencial da estrutura da glicoproteína, e apenas
um pequeno número de tipos de ligações é encontra Fuc NeuAc
do (p. 116). Os três tipos principais de ligações glico
peptídicas, como mostra a Figura 16.11, são N-glicosil A classe complexa é exemplificada pelas substân
com asparagina (Asn), O-glicosil com serina (Ser) ou cias dos grupos sanguíneos ABO e Lewis(ver Correla
ção Clínica 16.8), na qual o oligossacarídeo é N-glico
treonina (Thr), e O-glicosil com 5-hidroxilisina, geral
mente confinada aos colágenos. Ligações N- ou O- estão sidicamente ligado à asparagina. Essas glicoproteínas
presentes em muitas glicoproteínas e ligam dois tipos comumente contêm uma estrutura central (core) que
de oligossacarídeos (simples e complexo). A classe consiste de resíduos de manose (Man), ligados a N-ace
simples tem uma estrutura central (core) de galactose tilglucosamina (GlcNAc) na estrutura.
(Gal) ligada por ligação β(1-3) a N-acetilgalactosamina (Man)n 1→4 Man 1→4 GlcNAc 1→4 GlcNAc Asn
(GalNAc) ligada por ligação O-glicosídica a resíduos de
serina ou treonina. L-Fucose (Fuc), ácido siálico (Neu A diversidade estrutural de glicoproteínas N-ligadas
Ac) e N-acetilgalactosamina estão presentes na extre surge de remoção e modificação desse core para pro
midade não-redutora. A estrutura geral é a seguinte: duzir um amplo repertório de subtipos de N-glicanos
alta-manose, híbrido ou complexo.

CH2OH O NH2 Síntese de Glicoproteínas N-Ligadas


H H O NHCCH2CCOOH
Envolve Dolicol Fosfato
OH H H Enquanto a síntese das glicoproteínas O-glicosidi
HO H
NH camente ligadas envolve a ação sequencial de glicosil
H transferases, a síntese de glicoproteínas N-glicosidica
CO mente ligadas envolve um mecanismo diferente e mais
complexo (Figura 16.12). Um núcleo (core) comum é
CH3 pré-montado como um oligossacarídeo ligado a lipí
deo no lado citoplasmático do ER e depois deslocado
Type I Ligação N-Glicosil com asparagina (flipped) através da bicamada para o lúmen do ER e

H
CH2OH CH2 NH2
H O
H OCH
H H COOH

HO OH C
NH O

HO
H OH
H
CH2OHO
H
OH
CH3HH2NCH
O CH
NH2
CH2
COOH
2

Type II Ligação O-Glicosil com serina

Type III Ligação O-Glicosil com 5-hidroxilisina

FIGURA 16.11 Estrutura dos três tipos FIGURA 16.12 Biossíntese do oligossacarídeo central (core) das
principais de ligações glicopeptídicas. glicoproteínas ligadas por asparagina-N-acetilglucosamina. Dol, dolicol.
680 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

transferido como uma unidade para o polipeptídeo. Du Manα-Manα


Manα
rante a síntese, os oligossacarídeos intermediários são Manα-Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
ligados ao dolicol fosfato. Glcα-Glcα-Glcα-Manα-Manα-Manα

Manα-Manα Glc
CH3 CH3
Manα
Manα-Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
(CH2 C CHCH)n CH2 CHCH2 CH2O PO3H2
Glcα-Glcα-Manα-Manα-Manα
Dolicol fosfato
Manα-Manα (Glc)2
Manα
Dolicóis são poliprenóis (C80-C100) que contêm 16-20 Manα-Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
unidades isopreno, nos quais a unidade final é saturada. Manα-Manα-Manα
Manα (Man)4

Esses lipídeos funcionam de dois modos na síntese do


oligossacarídeo. O primeiro envolve formação de N-ace Manα
Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
tilglucosaminil pirofosforildolicol a partir de açúcares Manα UDP-GlcNAc
UDP-ligados e dolicol fosfato-ligados. O segundo envol
UDP
ve N-acetilglucosamina, e a manose é transferida dire Manα
Oligossacarídeos híbridos
Manα
tamente do nucleotídeo, sem a formação de intermediá Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
rios. Em ambos os casos, o oligossacarídeo é transferido GlcNAcβ-Manα
em uma etapa final do dolicol pirofosfato para um resí- Oligossacarídeos complexos
duo de asparagina da cadeia polipeptídica. (Man)2
GlcNAc-βManα
Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
Após transferência para o polipeptídeo, as estrutu UDP-GlcNAc
ras centrais são completadas por glicosiltransferases, (4)
UDP
sem participação de lipídeos intermediários (Figura Sínese do queratam sulfato
GlcNAcβ-Manα
16.13). Uma série de reações de processamento preco Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
ce, que são muito conservadas entre as espécies de ver GlcNAcβ-Manα
GDP-Fuc
tebrados e os tipos celulares, ocorre em grande parte GDP Fucα
no ER e parece estar acoplada com o dobramento cor GlcNAcβ-Manα
reto da glicoproteína. Após a remoção inicial e a libe GlcNAcβ-Manα (5)
Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
UDP-Gal
ração do ER, N-glicanos sofrem maiores modificações
UDP Fucα
por glicosidases e glicosiltransferases, principalmente
no Golgi. Várias avenidas existem na via de processa Galβ-GlcNAcβ-Manα
Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
mento que determina a diversidade final da estrutura Galβ-GlcNAcβ-Manα
CMP-NeuNAc
do glicano (ou seja, subtipos alta-manose, híbrido ou
CMP Fucα
complexo), bem como o destino final das glicoproteí
NeuNACα-Galβ-GlcNAcβ-Manα
nas. O N-glicano Man8 GlcNAc2-Asn em glicoproteínas Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
destinadas ao compartimento lisossomal é modificado NeuNACα-Galβ-GlcNAcβ-Manα
pela adição de um resíduo de GlcNAc, catalisada por
GlcNAc fosfotransferase, e subsequente remoção pela Degradação do N-glicano
GlcNAc fosfodiéster glicosidase, expondo um resíduo
FIGURA 16.13 Via de processamento para
de Man-6-P. Um defeito nesse processo forma a base da
oligossacarídeos N-ligados
doença de acúmulo lisossomal conhecida como doença
da célula I (ver Correlação Clínica 6.8).
quencialmente a partir da extremidade não-redutora,
Como as estruturas dos oligossacarídeos complexos expondo o substrato para a glicosidase seguinte. A au
requerem vias de síntese complicadas e intrincadas, sência de uma glicosidase específica causa interrup
houve uma rápida expansão no número de doenças con ção do catabolismo, resultando no acúmulo do produto
gênitas da glicosilação (congenital disorders of glyco anterior (Correlação Clínica 16.10). Endoglicosidases
silation, CDG), identificadas como doenças genéticas com especificidade mais ampla também existem, de
resultantes da deficiência ou do aumento de glicosilação. modo que o catabolismo de glicoproteínas resulta da
Atualmente, 28 doenças foram identificadas, incluindo ação combinada de endo- e exoglicosidases. Muitas
16 na N-glicosilação de proteína, 6 na O-glicosilação de das mesmas cadeias de glicanos N- e O-ligados são en
proteínas, 4 em ambas O- e N-glicosilação, e 2 na glicosi contradas em glicoproteínas e glicolipídeos, de modo
lação de lipídeos. Uma notável variação de fenótipos, de que certos defeitos enzimáticos podem afetar a degra
brandos a letais e de órgão-específicos a multisistêmicos, dação de ambos os tipos de glicoconjugados (Correla
foram registrados (Correlação Clínica 16.9). ção Clínica 16.11).

O catabolismo de glicoconjugados também pode


produzir fenótipos anormais. A degradação de hete
ro-oligossacarídeos é catalisada por glicosidadses
específicas. Exoglicosidases removem açúcares se
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 681

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.9

Doenças Congênitas de Glicosilação (CDGs, congenital disorders of glycosylation)


As doenças congênitas de glicosilação (CDGs) são envolvem defeitos enzimáticos nas enzimas de proces
doenças clinicamente heterogêneas de glicosilação. samento do N-glicano (ver Figura 16.13 e tabela). Note
Usando o estado de glicosilação da transferrina sérica as enzimas de transformação de carboidratos (ver Se
como indicador sensível, vários tipos de CDGs foram ção 16.3) CDG-1a (fosfomanomutase II) e CDG-1b (fos
identificados. O tipo I é o mais comum, representando fomanose isomerase), que também causa doenças de
doenças de montagem do N-glicano no início da via de glicosilação. Outras doenças podem envolver defeitos
biossíntese de manose. Vários genes defectivos, que na O-glicosilação, como a síndrome de Walker-Warburg,
levam a doenças genéticas no homem, foram identifi devida, às vezes, à deficiência de O-manosiltransferase
cados (ver tabela). Por exemplo, a manosiltransferase I; defeitos combinados de N- e O-glicosilação, como a
I adiciona o primeiro resíduo de manose ao oligossaca deficiência do transportador de CMP-ácido siálico e
rídeo ligado a lipídeo (ver Figura 16.12). Pacientes com defeitos na glicosilação de lipídeos como a deficiência
deficiência dessa enzima apresentam epilepsia, retardo de glicosilfosfatidilinosiltol. Tem sido alcançado pouco
psicomotor grave, dismorfia, microcefalia, hipotonia, progresso na terapia para qualquer uma dessas doen
cardiomiopatia e síndrome nefrótica, seguida por mor ças; apenas CDG-1b é tratável eficientemente.
te precoce (uma semana a dez meses). Doenças CDG-II

Defeitos enzimáticos na síntese de glicoproteínas N-ligadas


Doença Proteína defectiva
CDG-Ia Fosfomanomutase II
CDG-Ib Fosfomanose isomerase
CDG-Ic DoI-P-Glc:Man9-GlcNAc2-P-P-Dol glicosiltransferase (glicosiltransferase I)
CDG-Id Dol-P-Man: Man5-GlcNAc2-P-P-Dolmanosiltransferase (manosiltransferase VI)
CDG-Ie GDP-Man: Dol-P- manosiltransferase (Dol-P-Man sintase I) (3)
CDG-If Lec35 (utilização 1 Man-P-DoI)
CDG-Ig Dol-P-Man: Man7-GlcNAc2-P-P-Dol manosiltransferase (manosiltransferase VIII)
CDG-Ih Dol-P-Glc: Glc1 -Man9-GlcNAc2-P-P-Dol glicosiltransferase (glicosiltransferase II)
CDG-Ii GDP-Man: Man1-GlcNAc2-P-P-Dol manosiltransferase (manosiltransferase II)
CDG-Ij UDP-GlcNAc: Dol-P-GlcNAc-P transferase (1)
CDG-Ik GDP-Man: GlcNAc2-P-P-Dolmanosiltransferase (manosiltransferase I) (2)
CDG-II Dol-P-Man: Man6-and Man8-GlcNAc2-P-P-Dolmanosiltransferase (manosiltransferase VII-IX)
CDG-IIa N-acetilglicosaminiltransferase II (4)
CDG-IIb Glucosidase I
CDG-IIc Transportador GDP-fucose
CDG-IId β-1,4 galactosiltransferase (5)

Fonte: Jacken, J. e Matthijs, G. Congenital disorders of glycosylation: A rapidly expanding disease family. Ann. Rev. Gemonics Hum.
Genetics 8:261, 2007.

Função do Glicano carboidrato ou glicano das glicoproteínas e dos glicoli


pídeos participa de muitos processos biológicos impor
A glicosilação é uma das modificações pós-tradução tantes, incluindo ativação de receptor, transdução de
mais comuns e quase a metade de todas as proteínas co sinal, endocitose, adesão celular e tráfego de leucócitos.
nhecidas em eucariotos são glicosiladas. O componente Os glicanos de superfície celular são as primeiras mo
682 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.10

Defeitos no Catabolismo de Glicoproteínas


Alguns erros inatos do metabolismo humano envol lismo de oligossacarídeos ligados a asparagina-N-ace
vem acúmulo de glicolipídeos, glicopeptídeos, mucopo tilglucosamina leva a aspartilglicosilaminúria, na qual
lissacarídeos1 e hetero-oligossacarídeos. Essas doenças uma deficiência de 4-L-aspartilglicosilamina amido-hi
são causadas por defeitos na atividade de glicosidases drolase permite o acúmulo de estruturas aspartilgluco
lisossomais, que impedem o catabolismo de oligossa samina-ligadas (ver tabela). Outras doenças envolvem o
carídeos. Envolvem acúmulo gradual nos tecidos e na acúmulo de oligossacarídeos derivados de ambos, glico
urina de compostos derivados da degradação incomple proteínas e glicolipídeos, que compartilham estruturas
ta dos oligossacarídeos, e podem ser acompanhadas de de oligossacarídeos semelhantes (ver tabela e Correla
anomalias esquélicas, hepato-esplenomegalia, catarata ção Clínica 16.11).
ou retardo mental. Por exemplo, um defeito no catabo

Defeitos Enzimáticos na Degradação de Glicoproteínas do Tipo Asn-GlcNAca

Doença Enzima Deficienteb

Aspartilglicosaminúria 4-L-Aspartilglucosamina amido-hidrolase (2)


β-Manosidose β-Manosidose (7)
α-Manosidose α-Manosidose (3)
GM2 gangliosidose, variante O (doença de β-N-acetil hexosaminidases (A e B) (4)
Sandhoff-Jatzkewitz)
GM1 gangliosidose β-Galactosidase (5)
Mucolipidose I (sialidose) Sialidase (6)
Fucosidose α-Fucosidase (8)
aUma estrutura típica de oligossacarídeo Asn-GlcNAc.

NeuAc(6)αGal (5)
ß GIcNAc (4)
ß
Man
NeuAcαGalßGIcNAc ß
(3)
α

Man(7)ßGlcNAc (2)ß GIcNAc


(8) Asn

NeuAc α Gal ß GIcNAc ß Manα GlcNAc Fuc


(6) (4)ß
NeuAc α Gal(5)ßGIcNAc
bOs números entre parênteses referem-se às enzimas que hidrolisam essas ligações.

Aula, P., Janlanko, A. e Peltonen, L. Aspartylglucosami D. (Eds.). The Metabolic and Molecular Basesof Inherited
nuria. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, Disease, 8. ed. New York: McGraw Hill, 2001, III: 3507.

léculas a serem encontradas e reconhecidas por outras na superfície do vírus. Embora a diversidade de estru
células, anticorpos, vírus e bactérias. Por exemplo, o turas de glicanos seja enorme, a especificidade é dada
repertório de glicanos fornece biomarcadores oncofe pelas enzimas de glicosilação, glicosiltransferases e gli
tais e de células tronco que refletem a especificidade cosidases. Assim, a regulação de processos biossintéti
de ligação de vários anticorpos monoclonais; uma das cos desses biopolímeros abundantes e diversos direcio
barreiras para neutralização do HIV por anticorpos é a na os mecanismos moleculares pelos quais os glicanos
rede de carboidratos protetores que cobre os antígenos contribuem para o desenvolvimento e para doenças.

1 NT: desde a década de 1970, o nome mais usado para designar um “mucopolissacarídeo” é glicosaminoglicano. Apesar disso, as doenças do cata
bolismo desses compostos, que resultam no seu acúmulo dentro dos lisossomos e excreção aumentada na urina (mucopolissacaridúria), ainda são
chamadas mucopolissacaridoses, razão pela qual o termo “mucopolissacarídeo” ainda aparece, às vezes, na literatura.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 683

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.11 CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.12

Doenças de Glicolipídeos A Heparina É um Anticoagulante


Um grupo de doenças genéticas humanas surge
A heparina é um glicosaminoglicano sulfatado
de deficiências em hidrolases, que agem predomi
de ocorrência natural que é usado para reduzir a
nantemente sobre substratos glicolipídicos, resultan
tendência à coagulação de pacientes. Tanto in vivo
do em acúmulo de produtos de glicolipídeos e gan
como in vitro, a heparina impede a ativação de fato
gliosídeos. Os sintomas clínicos associados com cada
um dos glicoconjugados podem variar muito. Entre res da coagulação por se ligar a um inibidor do pro
cesso de coagulação. O inibidor é a antitrombina III,
tanto, em virtude da preponderância de lipídeos no um inibidor plasmático proteico de serino proteases.
sistema nervoso, tais doenças frequentemente têm
Na ausência de heparina, a antitrombina III combi
neurodegeneração associada e grave deterioração
na-se lentamente (10-30 min) com vários fatores da
mental e motora.
coagulação, formando complexos desprovidos de ati
vidade proteolítica; em presença de heparina, com
plexos inativos são formados em poucos segundos. A
Defeitos Enzimáticos na Degradação de Glicolipídeos
antitrombina III contém um resíduo de arginina que
Doença Deficiência Enzimática se combina com a serina do sítio ativo dos fatores Xa
e IXa; assim, a inibição é estequiométrica. Hetero
Tay-Sachs β-Hexosaminidase A zigose na deficiência de antitrombina III resulta em
risco aumentado de trombose venosa e resistência à
de Sandhoff β-Hexosaminidase AeB ação da heparina.

GM1 gangliosidose β-Galactosidase Hirsh, J. Drug therapy: Heparin. N. Engl. J. Med.


324:1565, 1991.
Sialidose Sialidase

de Fabry α-Galactosidase
covalentemente a um esqueleto proteico. Seis classes
de Gaucher β-Glucoceramidase distintas são reconhecidas: condroitim sulfato, derma
tam sulfato, queratam sulfato, heparam sulfato, hepa
de Krabbe β-Galactoceramidase rina e hialuronato. Certas características são comuns
às diferentes classes de glicosaminoglicanos. Essas lon
metacromática
Leucodistrofia Arilsulfatase A gas cadeias heteropolissacarídicas não-ramificadas são
(cerebrosídeo sulfatase) compostas, em grande parte, por unidades dissacarídi
cas repetitivas, consistindo de uma hexosamina e um
Beutler, E. e Garabowski, G. Gaucher Disease. Em: ácido urônico. Grupos sulfatos, ligados por ligações és
Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), ter a certos monossacarídeos ou por ligações amida ao
The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disea grupo amino da glucosamina, são substituintes comuns
se, 8. ed. New York: McGraw Hill, 2001, III: 3635. dos glicosaminoglicanos. Somente o hialuronato não
é sulfatado e não é covalentemente ligado a proteína.
As carboxilas dos ácidos urônicos e os grupos sulfatos
contribuem para a natureza fortemente carregada dos
16.5 PROTEOGLICANOS glicosaminoglicanos. Sua carga elétrica e sua estrutura
macromolecular são importantes em suas funções como
Proteoglicanos são macromoléculas complexas que lubrificantes e elementos de sustentação no tecido con
podem ser compostas em 95% ou mais de carboidratos, juntivo. Os glicosaminoglicanos dos proteoglicanos são
parecendo mais polissacarídeos do que proteínas. Suas componentes predominantes da matriz extracelular e
cadeias de carboidratos são chamadas glicosaminogli das superfícies celulares, onde participam da adesão e
canos (ou mucopolissacarídeos), especialmente em da sinalização celular.
referência às doenças de acúmulo, as mucopolissacari
doses, que resultam de uma incapacidade de degradar Hialuronato É um Copolímero de
essas moléculas (ver Correlação Clínica 16.14).
N-Acetilglucosamina e Ácido Glucurônico
O hialuronato difere dos outros tipos de glicosami
Existem Seis Classes de noglicanos. É não-sulfatado, não-covalentemente liga
Proteoglicanos do a proteína, e produzido tanto por bactérias como por
células animais. O hialunorato é classificado como gli
Proteoglicanos consistem de uma ou mais de mui cosaminoglicano em virtude de sua similaridade estru
tas cadeias de glicosaminoglicanos diferentes, ligadas tural com esses polímeros, consistindo exclusivamente
684 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

COO– CH2OH COO– CH2OH lissacarídicas, no comprimento das


O O O O –O SO O cadeias de condroitim sulfato e no
H H – H 3
H H H H O– grau de sulfatação. Proteoglicanos de
OH H O H OH H O H condroitim sulfato podem se agregar
H HO H n H H H
não-covalentemente com hialurona
H OH H HNCOCH3 H HNCOCH3
H OH
n to, e são componentes importantes na
cartilagem, nos tendões, nos ligamen
Unidade repetitiva do ácido hialurônico Unidade repetitiva do condroitin 4-sulfato
tos e na aorta, bem como no cérebro,
no rim e no pulmão.
COO– –O3SOCH2 HO CH2OH –O3SOCH2

H
O
H H H O H H O H O Dermatam Sulfato Contém
H H O–
OH H O OH H O– H
O
OH H
Ácido L-Idurônico
OSO3
H HNSO3 H H H
O dermatam sulfato difere do con
H H H H OH H HNCOCH3
– – n droitim sulfato por seu ácido urônico
n

Unidade repetitiva da heparina Unidade repetitiva do queratam sulfato


predominante ser ácido L-idurônico,
embora algum ácido D-glucurônico
também esteja presente. A epimeriza
CH2OH ção de ácido D-glucurônico para ácido
O –O SO O L-idurônico ocorre após incorporação
H
COO–
3
H O–
na cadeia polimérica, e é acoplada com
OH H O H
H H
H H o processo de sulfatação. As ligações
OH H HNCOCH3
glicosídicas têm a mesma posição e
n configuração dos condroitim sulfatos,
Unidade repetitiva do dermatam sulfato com cadeias polissacarídicas médias
de 2-5 × 104 Da. Como a heparina, o
FIGURA 16.14 Principais unidades repetitivas das cadeias de dermatam sulfato é antitrombótico,
glicosaminoglicanos. mas tem pouca atividade anticoagu
lante e antilipêmica no sangue total. O
de unidades dissacarídicas repetitivas de N-acetilglu dermatam sulfato é encontrado em pele, vasos sanguí
cosamina e ácido glucurônico (Figura 16.14). Embora neos e válvulas cardíacas.
tenha a estrutura química menos complexa dos glicosa
minoglicanos, as cadeias podem alcançar 105-107 Da. A Heparina e o Heparam Sulfato Diferem
alta massa, o caráter polieletrolítico, e o grande volume dos Outros Glicosaminoglicanos
que ocupa em solução contribuem para as propriedades
do hialuronato como um lubrificante e absorvente de A glucosamina e o ácido D-glucurônico ou ácido L
choque. O hialunorato é ubíquo na matriz extracelular, -idurônico formam a unidade dissacarídica repetitiva
e é encontrado no líquido sinovial, no humor vítreo e no característica na heparina (Figura 16.14). Diferente
cordão umbilical. mente da maioria dos outros glicosaminoglicanos, a
heparina contém ligações α-glicosídicas1. Quase todos
Condroitim Sulfatos São os os resíduos de glucosamina contêm ligações sulfamida,
embora um pequeno número de resíduos de glucosami
Glicosaminoglicanos Mais Abundantes na seja N-acetilado. O conteúdo de sulfato da heparina
Os condroitim sulfatos são ligados a resíduos espe aproxima-se de 2,5 resíduos por unidade dissacarídica
cíficos de serina em um esqueleto proteico, por meio de nas preparações com maior atividade biológica. Além
um módulo tetrassacarídico de ligação. dos grupos N-sulfato e O-sulfato em C6 da glucosamina,
a heparina pode conter sulfato em C3 da hexosamina e
GluUA 1→3 Gal 1→3 Gla 1→4 Xyl O-Ser C2 do ácido urônico. Ao contrário dos outros glicosami
noglicanos, a heparina é um componente intracelular
Cada cadeia contém 30 a 50 unidades dissacarídi de mastócitos, e funciona predominantemente como
cas (15-25 kDa), consistindo de N-acetilgalactosamina um agente anticoagulante e antilipêmico (Correlação
e ácido glucurônico, que são ligados ao módulo de liga Clínica 16.12).
ção (Figura 16.14). Os dissacarídeos podem ser sulfa
tados na posição C4 ou C6 da N-acetilgalactosamina. O Heparam sulfato contém uma unidade dissaca
Uma molécula média de proteoglicano de condroitim rídica repetitiva, semelhante à da heparina, mas tem
sulfato contém aproximadamente 100 cadeias de con mais grupos N-acetil, menos grupos N-sulfato e um me
droitim sulfato ligadas ao esqueleto proteico, resul nor conteúdo de grupos O-sulfato. O heparam sulfato
tando em uma massa de 1,5-2 × 106 Da. Preparações como componente de proteoglicanos pode ser extrace
de proteoglicanos são extremamente heterogêneas,
diferindo no número e na distribuição das cadeias po 1 NT: Na maioria dos outros glicosaminoglicanos, as ligações são β.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 685

UDP-Xyl
UDP
[Esqueleto protéico]-Ser

-Ser-Xyl UDP-Gal

-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA UDP

SO4– n
(UDP, PAP)n

-Ser-Xyl-Gal

(UDP-GalNAc,
UDP-GlcUA, PAPS)n UDP-Gal

-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA
UDP
SO4–

PAP
-Ser-Xyl-Gal-Gal

PAPS
UDP-GlcUA
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA

UDP
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA
UDP
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc
UDP-GlcUA
UDP-GalNAc
FIGURA 16.15 Síntese do proteoglicano de condroitim
sulfato. UDP
Xyl, xilose; Gal, galactose, GlcUA, ácido glucurônico; GalNAc,
N-acetilgalactosamina; PAPS, fosfoadenosina fosfossulfato.

lular ou um componente integral e ubíquo da superfície Biossíntese de Condroitim


celular de muitos tecidos, incluindo paredes de vasos
sanguíneos e cérebro, e pode atuar como um correcep Sulfato É Típica da Formação de
tor de certos fatores de crescimento.
Glicosaminoglicanos
Queratam Sulfato Existe em Duas Formas Os glicosaminoglicanos são montados pela ação se
O Queratam sulfato é composto principalmente da quencial de glicosiltransferases, que transferem um mo
unidade dissacarídica formada por N-acetilglucosa nossacarídeo de um derivado nucleotídeo-ligado para
mina e galactose, e não contém ácido urônico (Figu um aceptor apropriado, a extremidade não-redutora de
ra 16.14). O teor de sulfato é variável, como ésteres de outro açúcar ou um polipeptídeo. A biossíntese do con
sulfato em C6 da galactose e da hexosamina. Dois tipos droitim sulfatos é a mais bem conhecida (Figura 16.15).
de queratam sulfato diferem pelo conteúdo de carboi A formação do esqueleto proteico é a primeira etapa,
dratos e distribuição tecidual. Ambos também contêm seguida pela ação de seis reações de glicosiltransfera
manose, fucose, ácido siálico e N-acetilgalactosamina. ses. Especificidade restrita de substrato é exigida para
O queratam sulfato I, de córnea, é ligado à proteína por construção do tetrassacarídeo singular da região de li
uma ligação N-acetilglucosamina-asparaginil, típica de
gação. A polimerização, então, resulta de reações repe
glicoproteínas. O queratam sulfato II, de cartilagem, é tidas de N-acetilgalactosaminiltransferase e glucurono
ligado por N-acetilgalactosamina a serina ou treonina. siltransferase, para formar as unidades dissacarídicas
Os queratam sulfatos esqueléticos são frequentemente
características. Sulfatação da N-acetilgalactosamina na
ligados covalentemente ao mesmo esqueleto proteico posição C4 ou C6 ocorre com a elongação da cadeia. O
das cadeias de condroitim sulfato. doador de sulfato, como em outros sistemas biológicos,
é o 3!-fosfoadenosina 5!-fosfossulfato (PAPS), que é
formado a partir de ATP e sulfato em duas etapas cata
lisadas pela PAPS sintetase bifuncional (Figura 16.16).
686 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

NH2

N
N
NH2 O O
ATP ADP
5!
N –O S O P O CH2 N
N O N
2–
SO4 O O O O– H H
5!
ATP –O S O P O CH2 O N H O H
N
3!
O O– H H OH
PPi
H OH H –O P O
3!
OH –O

Adenosina 3!-Fosfoadenosina 5!- fosfosulfato


5!-fosfosulfato (APS) (PAPS)

FIGURA 16.16 Biossíntese de 3!-fosfoadenosina 5!-fosfossulfato (PAPS).

A importância da sulfatação é enfatizada pela prepon se, de UDP-glicose em ácido UDP-glucurônico (ver Fi
derância de condições condrodistróficas em animais e gura 16.4). Como a xilose é o primeiro açúcar adiciona
no homem, causadas por deficiências no processo de do durante a síntese de condroitim sulfato, dermatam
sulfatação (Correlação Clínica 16.13). sulfato, heparina e heparam sulfato, o efeito mais pre
coce da síntese diminuída de esqueleto proteico seria o
A síntese dos outros glicosaminoglicanos requer acúmulo de UDP-xilose, que ajuda a manter o equilíbrio
reações adicionais de transferases, específicas para os entre a síntese da proteína e dos glicosaminoglicanos.
açúcares e as ligações apropriados. A finalização fre
quentemente envolve O-sulfatação, epimerização, ace Os proteoglicanos, assim como as glicoproteínas e
tilação ou N-sulfatação. A síntese de proteoglicanos e os glicolipídeos, são degradados pela ação sequencial
de glicoproteínas é regulada pelo mesmo mecanismo, de proteases e glicosidases, desacetilases e sulfatases.
no nível da síntese de hexosamina. A reação da fruto Muitas das informações sobre o metabolismo e a degra
se 6-fosfato-glutamina transamidase (ver Figura 16.4) dação dos proteoglicanos foram derivadas do estudo
está sujeita à inibição por retroalimentação pela UDP das mucopolissacaridoses (Correlação Clínica 16.14).
-N-acetilglucosamina, que está em equilíbrio com UDP Essas doenças genéticas são caracterizadas pelo acú
-N-acetilgalactosamina. Da mesma forma, as concen mulo tecidual e excreção urinária de produtos hetero
trações de UDP-xilose e de ácido UDP-glucurônico são -oligossacarídicos derivados da quebra incompleta dos
rigorosamente controladas pela inibição por UDP-xilose proteoglicanos, por causa de uma deficiência de uma ou
da conversão, catalisada pela UDP-glicose desidrogena mais hidrolases lisossomais.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.13

Condrodistrofias Decorrentes de Defeitos de Sulfatação


A sulfatação é uma modificação essencial dos glico perinatal. Doenças genéticas que se devem a defeitos
saminoglicanos das várias famílias de proteoglicanos. na síntese de PAPS pela sulfurilase/quinase bifuncional
O processo de sulfatação envolve transporte de sulfato (PAPS sintetase) foram identificadas tanto em animais
da
inorgânico para dentro célula, via transportadores da como no homem. O camundongo braquimórfico apre
membrana plasmática, ativação por transformação em senta uma grave alteração de crescimento, resultando
fosfoadenosilfosfosultato (PAPS), via um processo de em tronco e membros extremamente curtos e crânio
duas etapas catalisado pela PAPS sintetase no citosol, pequeno. No homem, a displasia espondiloepimetafiseal
e, depois, utilização direta por sulfotransferases citosó (tipo Pakistani) é caracterizada por membros inferiores
licas ou transporte do PAPS do citosol para o complexo curtos e arqueados, articulações dos joelhos aumenta
de Golgi, para utilização por um elenco de sulfotrans das e início precoce de doença articular degenerativa.
ferases luminais. Três doenças autossômicas recessi Esses fenótipos demonstram claramente a importância
vas, displasia diastrófica (DTD), atelosteogênese tipo II dessa modificação pós-tradução para o funcionamento
(AOII) e acondrogênese tipo 1B (ACG-1B), resultam de dos proteoglicanos, especialmente no desenvolvimento
mutações no gene DTDST que codifica um transporta e na manutenção do sistema esquelético.
dor de sulfato. Pacientes com DTD apresentam baixa
estatura desproporcional e displasia articular generali Schwartz, N. B. e Domowicz, M. Chondrodysplasias
zada, mas geralmente têm tempo de vida normal; ACG due to proteoglycan defects. Glycobiology 12:57R, 2002; e
-1B é caracterizada por extremidades e tronco muito Schwartz, N. B. Chondrodysplasias. Encyclopedia of Endo
curtos; AOII é uma condrodisplasia letal no período crine Disorders, 2004, 1:502.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 687

CORRELAÇÃO CLÍNICA 16.14

Mucopolissacaridoses
Doenças genéticas humanas caracterizadas por relativamente leves, enquanto o retardo mental é se
excessivos acúmulo e excreção de oligossacarídeos de vero. Coletivamente, a incidência das mucopolissaca
proteoglicanos são as mucopolissacaridoses. Essas ridoses é 1 por 30.000 nascimentos. A deficiência de
doenças resultam de deficiência de uma ou mais sulfatases múltiplas (MSD) é caracterizada por ati
hidrolases lisossomais, que são responsáveis pela vidade diminuída de todas as sulfatases conhecidas.
degradação de dermatam e/ou heparam sulfato. A Evidência recente sugere que uma modificação co- ou
síndrome de Hurler e a síndrome de Sanfilippo são pós-tradução de uma cisteína para ácido 2-amino-3
condições autossômicas recessivas, enquanto a sín -oxopropiônico é essencial para a atividade de sulfa
drome de Hunter é ligada ao X. As síndromes de tase, e que uma falta dessa modificação resulta em
Hurler e de Hunter são caracterizadas por anomalias MSD. Essas doenças podem ser detectadas por diag
esqueléticas e retardo mental que, em casos graves, nóstico pré-natal, uma vez que o padrão metabólico
podem resultar em morte prematura. Diferentemen apresentado pelas células afetadas obtidas do líquido
te, os defeitos físicos na síndrome de Sanfilippo são amniótico é muito diferente do normal.

Defeitos Enzimáticos nas Mucopolissacaridoses


Síndrome Produtos Acumuladosa Enzima Deficienteb

Hunter Heparam sulfato Iduronato sulfatase (1)


Dermatam sulfato
Hurler-Scheie Heparam sulfato α-L-iduronidase (2)
Dermatam sulfato
Maroteaux-Lamy Dermatam sulfato N-acetilgalactosamina sulfatase (3)
Mucolipidose VII Heparam sulfato β-Glucuronidase (5)
Dermatam sulfato
Sanfilippo tipo A Heparam sulfato Heparam sulfamidase (6)
Sanfilippo tipo B Heparam sulfato N-Acetilglucosaminidase (9)
Sanfilippo tipo C Heparam sulfato Acetil-CoA:a-glucosaminídeo acetiltransferase
Sanfilippo tipo D Heparam sulfato N-acetilglucosamina 6-sulfato sulfatase (8)
Morquio tipo A Queratam/condroitim sulfato Galactose 6-sulfatase
Morquio tipo B Queratam sulfato β-Galactosidase
aEstruturas do dermatam sulfato e do heparam sulfato.

Dermatam sulfato IdUA(2)ɑGaINAcßGIcUA(4)ßGaINAcß


(1) (3)

OSO3H OSO3H OSO3H

Heparam sulfato IdUA(2)ɑGIcN(7)ɑGIcUAßGIcNAc (9)ɑ


(1) (6) (8)

OSO3H OSO3H OSO3H

bOs números entre parênteses referem-se às enzimas que hidrolisam essas ligações.

Neufeld, E. e Muenzer, J. 2001. Mucopolysaccharidoses. The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease,
Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2001, III:3421.
688 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Embora proteoglicanos continuem sendo definidos cadeia de glicosaminoglicano, e seus tamanhos e quan
com base nas cadeias de glicosaminoglicanos que con tidades relativas podem variar com desenvolvimento,
têm, novos foram descritos com base principalmente idade ou doença. Muitos genes que codificam os es
em propriedades funcionais ou localização. Agrecam e queletos proteicos dos proteoglicanos e as enzimas da
versicam são as espécies extracelulares predominan biossíntese foram clonados, revelando que as proteínas
tes; sindecam, CD44 e trombomodulina são proteínas relevantes pertencem a famílias de origem e possíveis
integrais de membranas; neurocam, brevicam, cere funções relacionadas.
brocam e fosfacam são basicamente restritos ao siste
ma nervoso. Muitos proteoglicanos (ou seja, agrecam,
sindecam e betaglicam) carregam mais de um tipo de

Bibliografia
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Termos Chaves
ácido siálico dolicol fosfato heparina sulfato
heparam
glicosilação
glicosiltransferase
NADPH
mucopolissacarídeo
hialuronato oligossacarídeo
ácido glucurônico
carboidrato
agrecam epimerização oxidação
glicoproteína pirofosforilase
glicosaminoglicano proteoglicano
condroitim sulfato glicose-6-fosfato redução
dermatam sulfato glicose-6-fosfato desidroge ribulose-5-fosfato
descarboxilação nase transamidação
desidrogenação glicosidase nucleotídeo açúcar via das pentoses fosfato
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 689

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha D. existem apenas em duas formas.
1. Todas as seguintes interconversões de monossaca E. são ligados à proteína por interação iônica.
rídeos (ou derivados) requerem um intermediário 6. Todas as seguintes são verdadeiras sobre proteo
açúcar ligado a nucleotídeo, exceto glicanos, exceto
A. galactose 1-fosfato para glicose 1-fosfato. A. a especificidade é determinada, em parte, pela
B. glicose 6-fosfato para manose 6-fosfato. ação de glicosiltransferases.
C. glicose para ácido glucurônico. B. a síntese é regulada, em parte, pela inibição
D. ácido glucurônico para xilose. por UDP-xilose da conversão de UDP-glicose
em ácido UDP-glucurônico.
E. glucosamina 6-fosfato para ácido N-acetilneu
ramínico (um ácido siálico). C. a síntese envolve sulfatação de resíduos de
carboidratos por PAPS.
2. Todas as seguintes afirmações são verdadeiras so
D. a síntese do esqueleto proteico está em equilí
bre o ácido glucurônico, exceto
brio com a síntese dos resíduos polissacarídi
A. é uma molécula carregada em pH fisiológico.
cos.
B. como UDP-derivado, pode ser descarboxilado E. a degradação é catalisada, no citosol, por gli
a um componente usado na síntese de proteo cosidases não-específicas.
glicanos.
C. é um precursor de ácido ascórbico no homem. Questões 7 e 8: Galactosemia é uma incapacidade de
transformar galactose em glicose e pode levar a pro
D. sua formação, a partir da glicose, está sob con
blemas como formação de catarata, crescimento insu
trole de retroalimentação (feedback) por um
ficiente, retardo mental ou morte eventual por lesão
intermediário ligado a UDP.
hepática. Galactose é reduzida a galactitol, que inicia a
E. pode ser finalmente convertido em xilulose
formação de catarata. O acúmulo de galactose 1-fosfato,
5-fosfato e, assim, entrar na via das pentoses a condição mais séria, leva à insuficiência hepática.
fosfato.
7. A forma mais severa de galactosemia
3. NADPH/NADP+ é mantido em um alto nível nas cé A. é uma deficiência genética de uma uridilil
lulas primariamente pela
transferase que troca galactose 1-fosfato por
A. lactato desidrogenase.
glicose, na UDP-glicose.
B. ações combinadas da glicose 6-fosfato desi B. resulta de uma deficiência de uma epimerase.
drogenase e da gluconolactonase.
C. é insignificante em recém-nascidos, mas um
C. a ação da cadeia de transporte de elétrons. problema importante mais tarde.
D. troca com NAD+/NADH. D. é um defeito na galactoquinase.
E. ações combinadas de transcetolase e transal E. esperar-se-ia que interferisse com o uso de
dolase. frutose, bem como de galactose, porque a en
4. Fucose e ácido siálico zima deficiente é comum ao metabolismo de
A. são ambos derivados da UDP-N-acetilglucosa ambos os açúcares.
mina. 8. UDP-galactose
B. são as partes da cadeia de carboidratos que A. deve ser formada a partir de galactose 1-fosfato.
ficam covalentemente ligadas à proteína. B. é geralmente o primeiro açúcar ligado ao doli
C. podem ser encontrados na estrutura do core colfosfato.
de certas glicoproteínas O-ligadas. C. é usado na síntese de condroitim sulfato.
D. são transferidos para uma cadeia de carboi D. não pode levar à formação de derivados de
drato quando ligado ao dolicol fosfato. açúcar como ácido glucurônico ou xilose.
E. são a unidade repetitiva dos proteoglicanos. R. é o precursor direto de N-acetilgalactosamina.
5. Glicosaminoglicanos
Questões 9 e 10: Um bebê de seis meses de idade apre
A. são a porção carboidrato das glicoproteínas.
sentou hipoglicemia, vômitos, diarreia, enteropatia com
B. contêm grandes segmentos de uma unidade perda de proteína e fibrose hepática. Medida do estado
repetitiva consistindo, geralmente, de uma he de glicosilação da transferrina sérica endógena revelou
xosamina e um ácido urônico. CDG tipo Ib (doença congênita de glicosilação), que é
C. sempre contêm sulfato. um defeito na atividade da fosfomanose isomerase.
690 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

9. O papel da fosfomanose isomerase é a interconver 11. Provavelmente a doença descrita é causada por um
são de defeito
A. manose 6-fosfato e manose 1-fosfato. A. na capacidade de gerar manose 6-fosfato.
B. glicose 6-fosfato e manose 6-fosfato. B. na atividade de glicosidase lisossomal.
C. frutose 6-fosfato e manose 6-fosfato. C. no gene que codifica um transportador de sul
D. frutose 1-fosfato e manose 1-fosfato. fato.
E. glicose 6-fosfato e manose 1-fosfato. D. na PAPS sintetase.
E. em uma sulfatase.
10. Na CDG tipo Ic, um defeito em uma enzima que
transfere um resíduo glucosil para um precursor 12. Sulfatação é um importante componente da sínte
dolicol pirofosfato alta-manose, a estrutura de car se
boidrato seria parte de A. da maioria dos proteoglicanos.
A. glicoproteína N-ligada. B. do hialuronato.
B. glicoproteína O-ligada. C. da maioria das glicoproteínas.
C. proteoglicano. D. da bilirrubina conjugada.
D. glicosaminoglicano. E. de todos os anteriores.
E. lipídeo complexo.
Problemas
Questões 11 e 12: Um bebê apresentava múltiplas
13. Qual é a função da transaldolase e da transquetola
anomalias esqueléticas, com as mais proeminentes sen
se no metabolism da glicose?
do tronco curto e membros pequenos. A urina estava
livre de oligossacarídeos parcialmente degradados ou 14. Frutosuria essencial é um defeito na frutoquina
oligossacarídeos de proteoglicanos. A concentração de se, enquanto intolerância à frutose é um defeito na
sulfato no sangue e a atividade de hidrolase ácida ex frutose 1-fosfato aldolase. Qual dessas duas doenças
tracelular estavam normais. leva a severa hipoglicemia após ingestão de frutose
e por quê?

Respostas
1. B A glicose e a manose fosfatos estão, ambas, em 4. C A estrutura do core também contém galactose
equilíbrio com a frutose 6-fosfato por ação das fos e N-acetilgalactosamina. A: apenas ácido siálico é.
fo-hexose isomerases. A: ocorre por meio de uma Fucose vem de CDP-manose. B: geralmente en
epimerase, no nível de UDP-galactose. C e D: essa contrados na periferia do carboidrato. D: estrutura
oxidação da glicose é catalisada pela UDP-glicose do core dos carboidratos N-ligados contém manose
desidrogenase, e o produto pode ser descarboxi e N-acetilglucosamina. E: a unidade repetitiva é
lado a UDP-xilose. E: de novo, uma epimerização hexosamina e ácido urônico.
ocorre no intermediário nucleotídeo.
5. B Esta é uma distinção importante das glicopro
2. C O homem não produz ácido ascórbico. A: o teínas que, por definição, não têm unidade repeti
grupo ácido carregado aumenta a solubilidade em tiva em série. A: esses são os carboidratos dos pro
água, que é um importante papel fisiológico do teoglicanos. C: a maioria sim, mas hialuronato, não.
ácido glucurônico, por exemplo, no metabolismo D: existem pelo menos seis classes diferentes. E:
de bilirrubina. B e D: descarboxilação de ácido carboidratos estão ligados por ligações covalentes.
UDP-glucurônico dá UDP-xilose, que é um potente
inibidor da oxidação da UDP-glicose ao ácido. E: a 6. E A degradação é lisossomal; deficiência de uma
redução de ácido D-glucurônico a ácido L-gulônico ou mais hidrolases lisossomais leva ao acúmulo de
leva a ascorbato, bem como a xilulose 5-fosfato proteoglicanos nas mucopolissacaridoses. A: espe
para a via das pentoses fosfato. cificidade de substrato rigorosa para as enzimas é
importante na determinação do tipo e da quantida
3. B Embora a reação da glicose 6-fosfato desidro de dos proteoglicanos sintetizados. A formação de
genase, específica para NADP, seja reversível, hi aceptores proteicos específicos para o carboidrato
drólise da lactona assegura que o equilíbrio geral também é importante. B e D: os níveis de ambos,
fique deslocado na direção de NADPH. A e C: essas xilose e ácido glucurônico, são controlados assim;
usam NAD, não NADP. D: isso não ocorre. E: es xilose é o primeiro açúcar adicionado na síntese de
sas enzimas são partes da via das pentoses fosfato, quatro dos seis tipos, e acumular-se-ia se a síntese
mas catalisam reações livremente reversíveis, que
do esqueleto proteico diminuisse. C: isso é necessá
não usam NADP. rio para a formação da maioria dos proteoglicanos.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 691

7. A B: a epimerase está normal. C: galactose é um fosfato é um lipídeo, mas é eliminado quando a ca


importante açúcar para bebês. D: nessa doença, a deia de carboidrato é adicionada à proteína.
galactoquinase está normal, mas está deficiente na
11. D Essas anomalias estruturais estão associadas a
forma leve da doença. E: metabolismo de frutose
defeitos na sulfatação dos proteoglicanos. A: isso
não utiliza a uridililtransferase que está deficiente
na galactosemia. levaria a uma incapacidade de direcionar hidro
lases ácidas para os lisossomos e, assim, aumen
8. C A cadeia inicial de carboidrato construída so taria sua concentração extracelular. B e E: essas
bre o grupo –OH de uma serina contém duas galac são enzimas lisossomais cuja deficiência levaria a
toses mais uma N-acetilgalactosamina, fornecidas oligossacarídeos parcialmente degradados na uri
como UDP-derivados. A: também pode ser formado na. C: falta de um transportador levaria a níveis de
por epimerização da UDP-glicose. B: esse é uma N sulfato elevados no soro.
-acetilgalactosamina. D: como pode ser epimeri
12. A B: hialuronato é um glicosaminoglicano que não
zado a UDP-glicose, pode levar a esses produtos.
E: esta é uma das interconversões mais complexas é sulfatado. C: glicoproteínas não contêm sulfato. D:
bilirrubina é conjugada com ácido glucurônico.
que ocorrem por meio de derivados ligados a nucleo
tídeos de glicose e ramnose. 13. 3 pentoses fosfatos (ribose 5-fosfato + 2 xilulose
5-fosfato) são convertidas em 2 frutose 6-fosfato e gli
9. C Esta é semelhante à interconversão glicose
ceraldeído 3-fosfato pela transladolase e pela trans
6-fosfato-frutose 6-fosfato. A: mutases catalisam a
cetolase, via uma série de transferências de 2-carbo
conversão 1-6 fosfato. B, D e E: essas conversões
nos e 3-carbonos. Essas reações são reversíveis.
não ocorrem diretamente.
14. A falta de frutoquinase causa acúmulo de frutose,
10. A Uma cadeia de carboidratos construída sobre
que é excretada. A falta de aldolase resulta em au
dolicol fosfato é característica de glicoproteínas
mento de frutose 1-fosfato, que sequestra fosfato
N-ligadas. B, C e D: síntese de glicoproteínas O
inorgânico celular, inibindo a capacidade da célula
-ligadas envolve a adição sequencial à N-acetilga
gerar ATP.
lactosamina ligada a serina ou treonina. E: dolicol
692 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
PARTE IV CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOS I: … • 693
Vias Metabólicas e seu controle

17
Metabolismo Fígado

Ácidos graxos Glicose


gluconeogênese
deUtilização
e
Armazenamento
Lipídeos I:deSíntese, AcetilCoA

corpos*
Glicerol

cetônicos

Ácidos Graxos e Triacilgliceróis


Martin D. Snider
Professor Associado, Case Western Reserve University School of Medicine

J. Denis McGarry (falecido)


Professor Titular, University of Texas Southwestern Medical Center at Dallas

Richard W. Hanson
Professor Leonard & Jean Skeggs de Bioquímica, Case Western Reserve University School of
Medicine

CONTEÚDO CORRELAÇÕES CLÍNICAS


17.1 INTRODUÇÃO, 694 17.1 Obesidade, 697
17.2 ACILGLICERÓIS,
NATUREZA QUÍMICA
695 DE ÁCIDOS GRAXOS E 17.2 Papel Chave do Metabolismo de Ácidos Graxos
no Diabetes Tipo 2: Um Tributo a J. Denis Mc
17.3 GRAXOS
TRANSPORTE
E SEUS
INTERÓRGÃOS
PRODUTOS PRIMÁRIOS,
DE ÁCIDOS696 Garry, 698
17.3 Ciclo Triacilglicerol/Ácido Graxo, 710
17.4 700
SÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS: LIPOGÊNESE, 17.4 Deficiências Genéticas no Transporte por Carni
tina ou na Carnitina Palmitoil Transferase, 713
17.5 COMO
ARMAZENAMENTO
TRIACILGLICERÓIS,
DE ÁCIDOS
707 GRAXOS 17.5 Deficiências Genéticas das Acil-CoA Desidroge
nases, 714
17.6 UTILIZAÇÃO
DUÇÃO DE ENERGIA,
DE ÁCIDOS
709GRAXOS PARA PRO- 17.6 Doença de Refsum, 717
17.7 Corpos Cetônicos Como Combustíveis: A Dieta
17.7 721
REGULAÇÃO DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS, de Atkins, 719
17.8 Ácidos Graxos Como Moléculas Regulatórias, 722
694 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Conceitos Chaves
• Triacilgliceróis são moléculas hidrofóbicas que • A maioria dos tecidos pode construir triacilglice
constituem a principal reserva de combustível em róis a partir de acil-CoAs e glicerol 3-fosfato.
todos os organismos. Em mamíferos, a maioria dos Os ácidos graxos são convertidos em acetil-CoA

triacilgliceróis é encontrada no tecido adiposo.
por b-oxidação e, depois, usados como combustível
• No estado alimentado, há deposição de gordura, em muitos tecidos.
como triacilglicerol, no tecido adiposo, embora o te
• Durante jejum prolongado, os corpos cetônicos,
cido adiposo quebre o triacilglicerol para fornecer
acetoacetato e b-hidroxibutirato, são sintetizados
combustível para outros tecidos durante o jejum.
a partir de acetil-CoA no fígado. O uso de corpos
• Os ácidos graxos são sintetizados principalmente cetônicos como combustível pelo cérebro e outros
no fígado pela adição sequencial de unidades de tecidos é uma importante adaptação ao jejum pro
dois carbonos, usando acetil-CoA derivado da gli longado.
cose da dieta e de outros combustíveis.
• A síntese e a quebra de ácidos graxos são regula
• Os ácidos graxos podem ser modificados por elon das para promover armazenamento de energia no
gação da cadeia e adição de duplas ligações para estado alimentado e mobilização de energia no es
produzir uma família de moléculas. Em mamíferos, tado de jejum. Além disso, a mobilização de ácidos
alguns ácidos graxos poli-insaturados só podem graxos a partir do triacilglicerol armazenado é re
ser produzidos a partir de precursores, ácidos gra gulada para atender às necessidades celulares de
xos essenciais da dieta. energia.

17.1 INTRODUÇÃO
Os lipídeos são moléculas hidrofóbicas, o que sig
nifica que não são solúveis em água e tendem a se au
toassociarem em fases lipídicas separadas. A maioria
dos lipídeos contém, ou é derivada de, ácidos graxos
(Figura 17.1). Os lipídeos têm muitas funções biológicas
importantes. Os triacilgliceróis (Figura 17.2) formam
a principal reserva de combustível do corpo. Outros li
pídeos, incluindo os fosfolipídeos, os glicolipídeos e o
colesterol, são constituintes cruciais das membranas FIGURA 17.1 Ácidos graxos de cadeia longa.
biológicas; as singulares propriedades de superfície ati Esquerda: palmítico (saturado). Direita: cis-palmitoleico (in
va dessas moléculas permitem a elas formar o esqueleto saturado). Esquema de cores: H, branco; C, cinza; O, vermelho.
da membrana, separando e definindo compartimentos Cortesia de Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
aquosos em células. Os lipídeos superfície-ativos têm
outras funções importantes, incluindo manutenção da
integridade alveolar nos pulmões e solubilização de
substâncias não-polares nos fluidos corpóreos. Final
mente, alguns lipídeos são importantes moléculas sina
lizadoras. Ácidos graxos, hormônios esteróides e eico
sanóides, incluindo prostaglandinas, são importantes
na comunicação entre as células. Outros lipídeos têm
funções sinalizadoras dentro das células.

O metabolismo de ácidos graxos e triacilgliceróis é


tão importante que desequilíbrios e deficiências nesses
processos podem ter sérias consequências patológicas
no homem. Estados de doenças relacionados com esses
lipídeos incluem obesidade, diabetes mellitus, hyper FIGURA 17.2 Triacilglicerol (1-palmitoil-2,3-dioleil
triglyceridemia e cetoacidose. Existem ainda doenças glicerol).
Ver Figura 17.1 para esquema de cores.
genéticas humanas que afetam o metabolismo de ácidos
Cortesia de Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
graxos, incluindo a doença de Refsum e deficiências de
carnitina e na oxidação de ácidos graxos.

O Apêndice descreve a nomenclatura e a química


dos lipídeos, e uma discussão sobre a digestão e a ab
sorção de gorduras é apresentada no Capítulo 25.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 695

CH3 (CH2)7 CHCH(CH2)13COOH


17.2 NATUREZA QUÍMICA
Ácido nervônico
DE ÁCIDOS GRAXOS E
ACILGLICERÓIS CH3 (CH2 CHCH)6 (CH2)2COOH
Ácido todo-cis-4,7,10,13,16,19,-docosa-hexaenóico

Ácidos Graxos São Cadeias Alquila FIGURA 17.3 Ácidos graxos de cadeia muito longa.

Terminando em um Grupo Carboxila Os ácidos graxos mais abundantes no homem são


Os ácidos graxos (Figura 17.1) consistem de uma apresentados na Tabela 17.1. Os símbolos mostram o
número de átomos de carbono e, depois dos dois pon
cadeia alquila com um grupo carboxila terminal. A fór
tos, o número de duplas ligações. Os átomos de carbono
mula básica de uma espécie completamente saturada
são numerados a partir do carbono da carboxila. As lo
é CH3(CH2)nCOOH. Quase todos os ácidos graxos hu
calizações das duplas ligações são apresentadas entre
manos têm um número par de átomos de carbono, em
parêntesis, usando o número do átomo de carbono do
bora alguns organismos sintetizem moléculas com um
lado carboxila da ligação.
número ímpar. O homem pode usar o último para obter
energia, mas são muito pouco incorporados em lipídeos
mais complexos. Ácidos graxos insaturados ocorrem CH3
comumente, com até seis duplas ligações por cadeia. Se CH3 CHCH2COOH
houver mais de uma dupla ligação por molécula, elas
são separadas por um grupo metileno (—CH2—). As FIGURA 17.4 Ácido isovalérico.
duplas ligações estão quase sempre na configuração
cis, que induz uma dobra na cadeia de ácido graxo,
impedindo o ajuste ordenado dessas cadeias em fases A Maioria dos Ácidos Graxos no
lipídicas. Por induzirem desordem, duplas ligações di
minuem a temperatura de fusão e aumentam a fluidez Homem Ocorre como Triacilgliceróis
das fases lipídicas.
Os ácidos graxos são armazenados primariamente
A maioria dos ácidos graxos humanos tem 16-20 como ésteres de glicerol (Figuras 17.2 e 17.5). A maioria
carbonos, mas moléculas C14 são encontradas ligadas a dos ácidos graxos no homem é encontrada em triacil
proteínas, e ácidos graxos muito longos são encontra gliceróis, nos quais todos os três grupos hidroxila do
dos em lipídeos complexos do sistema nervoso. glicerol são esterificados com ácidos graxos. Compostos
esterificados com um (monoacilgliceróis) ou dois (dia
Estes incluem o ácido nervônico (22:1) e o ácido do cilgliceróis) ácidos graxos ocorrem em quantidades
cosa-hexaenóico, um ácido C22 que tem seis duplas liga relativamente pequenas, principalmente como inter
ções (Figura 17.3). Alguns ácidos graxos com um grupo mediários metabólicos da síntese e da degradação de li
α-OH são encontrados como constituintes de lipídeos pídeos contendo glicerol. Os nomes triviais mono-, di- e
de membrana. Ácidos graxos de cadeia ramificada, que triglicérides são também usados para esses compostos.
têm grupos metil em uma ou mais posições ao longo
da cadeia, são também encontrados em alguns animais, A maioria dos triacilgliceróis tem ácidos graxos di
incluindo o homem. Esses ácidos graxos conferem ferentes esterificados nas três posições do glicerol. A
propriedades físicas específicas a algumas moléculas distribuição de ácidos graxos é influenciada por mui
secretórias e estruturais. Por exemplo, grandes quan tos fatores, incluindo dieta e localização anatômica da
tidades de ácidos graxos de cadeia ramificada, particu molécula armazenada. No homem, a maioria dos ácidos
larmente o ácido isovalérico (Figura 17.4), ocorrem em graxos é saturada ou contém uma dupla-ligação, com
lipídeos de estruturas de ecolocalização de mamíferos ácido oleico (18:1) sendo o mais comum. Embora tria
marinhos. cilgliceróis sejam facilmente catabolizados, são, compa

O O O

H2C O C R H2COCR H2COCR H2C OH

O O O

HC O C R HCO C R HC OH HC OCR

H2COCR H2COH H2COH H2COH

FIGURA 17.5 Acilgliceróis. Triacilglicerol Diacilglicerol 1–Monoacilglicerol 2–Monoacilglicerol


696 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

TABELA 17.1 Ácidos Graxos Importantes para o Homem


Nome Fórmula Numérica Funções no homem
Ácido fórmico 1
Ácido propiônico
acético 2:0
3:0
Produzido pelo metabolismo de ácidos graxos de cadeia ímpar,
bem como de isoleucina, valina e metionina
Ácido butírico 4:0 Triacilgliceróis do leite contêm ácidos graxos de cadeia curta
Ácido mirístico 14:0 Ligado covalentemente a algumas proteínas
Ácido palmítico 16:0 Produto da ácido graxo sintase
Ácido palmitoleico 16:1(9) Ácidos graxos com 16-18 carbonos compreendem a maior parte dos
ácidos graxos em triacilgliceróis e lipídeos complexos
Ácido esteárico 18:0
Ácido oleico 18:1(9)
Ácido linoleico 18:2(9,12) Ácido graxo essencial
Ácido linolênico 18:3(9,12,15) Ácido graxo essencial
Ácido araquidônico 20:4(5,8,11,14) Precursor de prostaglandinas e outros eicosanóides
Ácido lignocérico 24:0
Ácido nervônico 24:1(15) Enriquecido em esfingolipídeos

rativamente, quimicamente inertes. Os ácidos graxos de glicogênio no fígado e no músculo. Isso representa
muito insaturados de triacilgliceróis são muito mais cerca de 1.000 kcal de energia, o que é menos do que a
susceptíveis à oxidação não-enzimática. necessidade de um dia. Diferentemente, o mesmo indi
víduo armazena ∼16 kg de triacilglicerol, o que fornece
energia suficiente para sobreviver a várias semanas de
Hidrofobicidade dos Triacilgliceróis É jejum. Ao contrário dos estoques de glicogênio e amino
ácidos, que são limitados, os estoques de triacilglicerol
Importante para Suas Funções podem se expandir muito, dependendo da ingestão ca
Os triacilgliceróis e outros lipídeos complexos são lórica. Isso torna o triacilglicerol uma excelente reserva
insolúveis em água porque as longas cadeias hidrocar de combustível, mas também pode levar à obesidade e,
bônicas dos ácidos graxos constituintes não formam em alguns casos, diabetes (Correlações Clínicas 17.1 e
pontes de hidrogênio. Consequentemente, tendem a 17.2). O tecido adiposo é uma fonte significativa de hor
se associar entre si ou com outros grupos hidrofóbi mônios que regulam o apetite, e a gordura subcutânea é
cos, como esteróis e as cadeias laterais de aminoácidos também importante na regulação da temperatura por
hidrofóbicos. Essa insolubilidade em água é essencial que fornece uma camada de isolamento.
para o armazenamento de triacilgliceróis e para a mon
tagem das membranas biológicas.
17.3 TRANSPORTE
Os triacilgliceróis são formas muito mais eficientes
para o armazenamento de energia do que o glicogênio. INTERÓRGÃOS DE
Numa base de peso, triacilgliceróis rendem quase 2½ ÁCIDOS GRAXOS E SEUS
vezes mais ATP na oxidação completa do que o glico
gênio. Além disso, os triacilgliceróis são armazenados PRODUTOS PRIMÁRIOS
sem água associada, enquanto o glicogênio é hidrofílico
e liga cerca de duas vezes o seu peso em água. Portanto, Em todos os mamíferos, o transporte e o armazena
o rendimento energético por grama de triacilglicerolar mento de ácidos graxos é regulado pelo estado dietético.
mazenado é cerca de quatro vezes a do glicogênio hidra O triacilglicerol é armazenado no estado alimentado, com
tado. Seres humanos armazenam muito mais combus deposição no tecido adiposo. Durante o jejum, o triacilgli
tível como triacilglicerol do que como glicogênio. Uma cerol do tecido adiposo é hidrolisado, e os produtos são
pessoa média, pesando 70 kg, armazena cerca de 250 g distribuídos por todo o corpo para serem usados para pro
dução de energia. À medida que o jejum progride, o fígado
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 697

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.1

Obesidade

A obesidade tornou-se uma epidemia em todo o um elemento importante na obesidade epidêmica. Um


mundo. Estima-se que, em 2004, 25% da população consumo aumentado de alimentos ricos em gordura e
dos Estados Unidos era obesa, e projeta-se que esse carboidratos, juntamente com uma diminuição no exer
número aumente para 40% até 2020. Números igual cício é a principal causa de ganho de peso e deposição
mente preocupantes foram observados em países com de gordura corporal em populações em todo o mundo.
economia em rápido crescimento, como China e Índia. Portanto, a obesidade não é uma única doença, mas um
A definição de obesidade é arbitrária e é baseada em grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas.
estimativas de peso corpóreo ideal (IBW, ideal body
weight), isto é, o peso corpóreo associado com menores Infelizmente, a obesidade é uma condição raramen
índices de morbidade e mortalidade. O sobrepeso é de te curável; seu tratamento continua sendo um problema
finido como o peso até 20% acima do IBW, e obesidade médico persistente. O procedimento padrão de reduzir
é o peso que está 20% (ou mais) acima do IBW. O índice ingestão calórica e aumentar o gasto energético é inefi
de massa corpórea (BMI, body mass index) é outra ciente em indivíduos obesos uma vez que, para ser efe
medida comumente usada para a obesidade. É calcula tivo, deve ser continuado indefinidamente para garantir
um peso corporal reduzido. Indivíduos muito obesos,
do dividindo-se o peso (em quilogramas) pela altura2
(em metros quadrados). Um indivíduo com BMI de 25 frequentemente, recorrem a procedimentos cirúrgicos
ou mais está com sobrepeso, e com 30 ou mais é con para remover gordura indesejada ou reduzir o estôma
siderado obeso. A localização anatômica da deposição go para impedir fome e absorção de alimento. Várias in
de gordura é um bom indicador do risco de morbidade tervenções farmacológicas foram usadas no tratamento
e mortalidade da obesidade; uma distribuição central da obesidade. Estas incluem o uso de compostos como
da gordura do corpo (tecido adiposo abdominal) é um b-fenilamina, que inibe seletivamente a recaptação de
maior risco à saúde do que uma distribuição mais peri norepinefrina, serotonina e dopamina. Esse composto
férica de gordura (tecido adiposo subcutâneo). reduz a ingestão de alimentos e aumenta a termogênese.
Outra abordagem é bloquear a absorção de gordura usan
A obesidade é parte do que foi chamado Síndrome do orlistat, que bloqueia a lipase pancreática, diminuin
Metabólica, um conjunto de sintomas que incluem obe do, assim, a digestão de triacilglicerol. Demonstrou-se
sidade central, pressão sanguínea elevada, triglicérides que o composto termogênico (que aumenta a geração de
elevados e baixos níveis de lipoproteína de alta densida calor) efedrina aumenta em 10% o consumo de oxigênio
de no sangue, bem como resistência à insulina. Até 45 no homem, quando combinado com cafeína. Entretan
milhões de americanos têm essa síndrome. Indivíduos to, uma parte importante da perda de peso observada
com Síndrome Metabólica têm alto risco de diabetes e com essa combinação de drogas deve-se à ingestão dimi
doença cardiovascular. A ligação bioquímica entre obe nuída de alimentos. Novas abordagens potencialmente
sidade e diabetes é discutida na Correlação Clínica 17.2. importantes para o tratamento da obesidade incluem o
Por causa desses riscos à saúde, o controle da obesidade desenvolvimento de compostos que regulem a saciedade.
é um importante objetivo de saúde pública. Sabe-se há muito tempo que peptídeos gastrointestinais
como colecistocinina e o peptídeo tipo-glucagon redu
As causas da obesidade e as razões que levam a
zem a ingestão de alimentos. Além disso, antagonistas
esse dramático aumento nas populações humanas são do receptor de canabinoide no cérebro reduzem o ape
complexas. Doenças endócrinas, como hipotireoidismo tite. Moléculas pequenas que atuam por se ligarem a es
ou Doença de Cushing (superprodução de corticoste ses receptores são candidatas a drogas que poderiam ser
roides) são causas raras, assim como mutações em ge usadas para controlar o apetite.
nes que codificam hormônios envolvidos no controle da
ingestão de alimentos, como leptina ou seu receptor. Hirsch, J. Salens, L. B. e Aronne, L. J. Obesity. Em: K.
Parece mais provável que a predisposição genética de L. Becker (Ed.). Principles and Practice of Endocrinology
um indivíduo, juntamente com o ambiente (escolha de and Metabolism, 3. ed. New York: Lippincott, Williams and
alimentos, nível de exercício), resultem em obesida Wilkins, 2001, p. 1239; e Freidmann, J. M. Obesity in the new
de. Uma mudança no estilo de vida é, evidentemente, millennium. Nature 404:632, 2000.

converte ácidos graxos em corpos cetônicos, acetoace O transporte de lipídeos apresenta problemas sin
tato e b-hidroxibutirato, que são liberados no sangue e gulares, porque essas moléculas (especialmente triacil
tornam-se uma importante fonte de energia para muitos gliceróis, colesterol e seus ésteres) são insolúveis em
tecidos. Esses processos são resumidos na Figura 17.6. água. Consequentemente, os lipídeos são transportados
na corrente sanguínea em lipoproteínas plasmáticas ou
698 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.2

Papel Chave do Metabolismo de Ácidos Graxos no Diabetes Tipo 2: Um Tributo a J. Denis McGarry

O falecido Denis McGarry, um colaborador de lon Embora o efeito de economia de combustível dos
ga data deste livro, escreveu um artigo premonitivo em ácidos graxos seja uma clara vantagem para a so
1992 entitulado “What if Minkowski had been ageusic? brevivência, existe também uma desvantagem na
An alternative angle on diabetes”. Oskar Minkowski obesidade, que é frequentemente caracterizada por
(1858-1931) e Josef von Mering foram os primeiros a uma alta concentração de ácidos graxos no sangue.
perceber que o pâncreas produz uma substância que Isso reduz a captação e o metabolismo de glicose no
regula o nível de glicose no sangue; sua pesquisa levou, músculo esquelético, resultando em um aumento nos
finalmente, ao isolamento da insulina das células b do níveis de jejum da glicose sanguínea e um aumento
pâncreas. O conceito de diabetes como uma doença do concomitante na secreção de insulina. A condição re
metabolismo de carboidratos começou com observa sultante é chamada resistência à insulina (níveis
ções antigas de que a urina diabética é doce. Diz a lenda elevados de glicose e insulina no sangue). Nos está
que o Dr. Minkowski colocou seu dedo na urina de um gios precoces da resistência à insulina, as células b
paciente diabético, provou e notou que era “doce como pancreáticas produzem insulina suficiente para regu
mel”. Até hoje, o diabetes é amplamente visto como lar a glicose sanguínea. Entretanto, a superprodução
um desequilíbrio no metabolismo de carboidratos. Dr. prolongada de insulina pode causar insuficiência das
McGarry levantou a suposição humorística de que, se células b, resultando em diabetes tipo 2. Embora essa
Minkowski fosse ageusico (ou seja, incapaz de sentir sa progressão não ocorra em todos os pacientes obesos,
bor), mas pudesse sentir o cheiro de acetona na urina, a resistência à insulina evolui para diabetes em ~40%
o diabetes teria sido classificado como uma doença do dos pacientes ao longo de 5-10 anos. Atualmente,
metabolismo de lipídeos, e não de carboidratos. Esta é mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo
uma importante percepção no diabetes tipo 2 (não-in têm diabetes tipo 2 e há uma previsão de crescimento
sulino-dependente), que está associado com obesidade dramático desse número nos próximos 20 anos. Mais
e resistência à insulina. alarmante, diabetes tipo 2 substituiu diabetes tipo 1
como a forma predominante dessa doença entre as
Como a maior parte das reservas energéticas huma crianças. A prevenção e o tratamento do diabetes
nas é triacilglicerol, esse combustível é extremamente
tipo 2 são, é claro, importantes prioridades médicas;
importante, particularmente durante o jejum. Após uma em muitos casos, a resistência à insulina é reversível
refeição, a glicose é rapidamente removida do sangue e com a perda de peso e o aumento de exercício, parti
usada para obtenção de energia ou armazenada como cularmente em estágios iniciais.
glicogênio; em algumas horas, o homem muda para oxi
dação de ácidos graxos como principal fonte de energia, Em seu artigo, Denis McGarry observou que a rees
com os corpos cetônicos tornando-se importantes du terificação de ácidos graxos em triacilglicerol é um fa
rante o jejum prolongado. Após três dias de jejum, até o tor crítico na regulação de sua concentração no sangue.
cérebro metaboliza corpos cetônicos. O metabolismo de Essa previsão é amplamente suportada pelo amplo uso
gordura em lugar do suprimento limitado de glicose é clínico atual das drogas antidiabéticas tiazolidinedio
chamado economia de combustível. Os ácidos graxos nas, que agem no receptor nuclear PPARγ2. Essas dro
desempenham um papel importante nesse processo por gas baixam os ácidos graxos livres do plasma, em parte
inibirem a utilização de glicose no músculo esqueléti aumentando a velocidade de reesterificação de ácidos
co. Em 1963, Phillip Randle e colaboradores propuse graxos em triacilgliceróis no tecido adiposo branco, re
ram o que é hoje conhecido como a hipótese de Randle, movendo, assim, ácidos graxos do sangue. Dr. McGar
que afirma que a oxidação de ácidos graxos bloqueia o ry estava, claramente, à frente do seu tempo ao prever
metabolismo de glicose por inibir enzimas regulatórias a importância da regulação do metabolismo de ácidos
chaves envolvidas na utilização de glicose, incluindo a graxos no controle do diabetes.
fosfofrutoquinase e o complexo piruvato desidrogena
se (ver Capítulo 15) e inibe a síntese de glicogênio no McGarry, J. D. What if Minkowski had been ageusic? An
músculo esquelético. Ácidos graxos também diminuem alternative angle on diabetes. Science 285:766, 1992; Roden,
muito a captação de glicose do sangue por bloquearem M. How FFA inhibits glucose utilization in human skeletal
muscle. News Physiol. Sci. 19:92, 2004; Randle, P. J. Regula
o recrutamento de GLUT 4 do retículo endoplasmático
tory interactions between lipids and carbohydrates: the glu
para a superfície celular. Isso se deve, em parte, à ati cose fatty acid cycle after 35 years. Diabetes Metabol. Rev.
vação de isoformas específicas de proteína quinase C, 14:263, 1998; e Zimmet, P. Alberti, K. G. M. M. e Shaw, J. Glo
bem como do fator de transcrição NF-kB, por acil-CoAs baland social implications of the diabetes epidemic. Nature
geradas pelo metabolismo de ácidos graxos. 414:782, 2001
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 699

(a) Estado alimentado Fígado Glicose e então, acondicionados em quilomícrons, uma


outros combustíveis
lipoproteína plasmática rica em triacilglice
Acetil CoA róis (p. 1076). Os quilomícrons são secreta
Intestino delgado Ácidosgraxos dos na linfa e depois circulam na corrente
sanguínea.
Triacilglicerol da dieta Triacilglicerol
O fígado é outra fonte de triacilgliceróis
Quilomícrons Lipoproteínas de no estado alimentado. Ácidos graxos são sin
densidade muito baixa
tetizados nesse tecido a partir do excesso
Triacilglicerol em quilomícrons e de carboidratos e aminoácidos. Esses ácidos
Corrente sanguínea
lipoproteínas de densidade muito baixa
graxos são ligados em triacilgliceróis e acon
dicionados em lipoproteínas de muito baixa
Ácidos graxos Ácidos graxos densidade (VLDL), uma segunda lipoproteí
(oxidados para na rica em triacilgliceróis, que é secretada na
obtenção de energia)
Triacilglicerol corrente sanguínea (p. 741).
Músculo
Os triacilgliceróis nos quilomícrons e nas
Tecido adiposo
VLDL circulantes são hidrolisados pela lipo
proteína lipase, localizada na superfície das
células endoteliais dos capilares de tecidos
(b) Estado de jejum como tecido adiposo e músculo esquelético.
Cérebro
Corpos cetônicos* Fígado A apoproteína ApoC-II, que é encontrada em
Ácidos graxos Glicose
quilomícrons e VLDL, ativa o processo por li
gar as Os
obtenção
(oxidados
Acetil CoA Corpos*cetônicos Ácidos de
paracetônicos
Acetil CoA
graxos•albumina Glicerol Glicerol
gluconeogênese tos da lipoproteínas com a enzima.
ação da lipoproteína lipase são produ
ácidos
de
obtenção
(oxidadosenergia)
para energia) corpos* graxos e glicerol. Os ácidos graxos livres são
utilizados no tecido em que ocorre a hidró
lise. O glicerol é transportado pela corrente
Corrente sanguínea sanguínea e captado pelo fígado, onde é usa
do para glicólise ou gluconeogênese.
Glicerol
+ A lipoproteína lipase está presente em al
Ácidos graxos
Ácidos graxos (+ Corpos cetônicos*)
tos níveis no tecido adiposo, no músculo car
(oxidados para obtenção de díaco e no músculo esquelético, permitindo
energia) Triacilglicerol
que esses tecidos utilizem os triacilgliceróis
Músculo e outros tecidos Tecido adiposo
das lipoproteínas. No tecido adiposo, os pro
dutos da lipoproteína lipase são captados e
FIGURA 17.6 Transporte interórgãos de ácidos graxos. ligados em triacilgliceróis, permitindo depo
(a) No estado alimentado, há deposição de triacilglicerol no tecido adiposo. As sição de combustível (p. 708). No músculo, os
fontes são gordura da dieta e ácidos graxos sintetizados no fígado, a partir dos ácidos graxos produzidos pela ação da lipase
excessos de carboidratos e aminoácidos. (b) No estado de jejum, triacilglice
são captados e usados para gerar energia,
róis são hidrolisados, e ácidos graxos livres e glicerol são liberados no sangue.
*Durante o jejum, o fígado sintetiza corpos cetônicos, que se tornam um im
embora alguma síntese de triacilgliceróis
portante combustível no sangue, à medida que o jejum progride. ocorra nesse tecido.

ligados a proteínas. Além disso, o transporte de triacil Transporte de Lipídeos no Estado de


gliceróis através das membranas, geralmente, envolve
quebra a constituintes menores, pelas lipases. Jejum
Os triacilgliceróis armazenados no tecido adiposo
Transporte de Lipídeos no Estado são mobilizados para uso como combustível no estado
de jejum. Esse processo é iniciado pela lipase hormô
Alimentado nio-sensível, que fica localizada nos adipócitos. Essa
enzima é ativada quando é fosforilada pela proteína
Os triacilgliceróis da dieta são digeridos no estôma quinase A cAMP-dependente. Por outro lado, a insulina
go e no intestino delgado por lipases gástrica e pancre inibe a atividade dessa enzima por induzir sua defosfo
ática (p. 1076). Os principais produtos são 2-monoacilgli rilação. A proteína perilipina, que recobre a superfície
ceróis e ácidos graxos livres, que são absorvidos pelas das gotículas de gordura, também é importante nessa
células epiteliais que revestem o intestino delgado. regulação. Quando a perilipina não está fosforilada,
Estas células ligam os ácidos graxos e os monoacilgli bloqueia o acesso da lipase ao triacilglicerol. Quando
ceróis absorvidos em triacilgliceróis (p. 707), que são, a perilipina é fosforilada pela proteína quinase A, a li
700 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

pase hormônio-sensível desloca-se para a superfície da 17.4 SÍNTESE DE ÁCIDOS


gotícula de gordura e hidrolisa os triacilgliceróis. Os
principais produtos dessa enzima são monoacilglice GRAXOS: LIPOGÊNESE
róis e ácidos graxos livres. Outras enzimas completam
a hidrólise. Um resumo da regulação do metabolismo de
triacilgliceróis é apresentado na Tabela 17.2. Essa regu Glicose É o Principal Precursor para
lação resulta na mobilização de ácidos graxos durante o
jejum e deposição após uma refeição. O equilíbrio entre
Síntese de Ácidos Graxos
síntese e hidrólise de triacilgliceróis ajuda a garantir re O excesso de carboidratos da dieta, em relação ao
servas adequadas de energia e evitar a obesidade (ver necessário para produção de energia e síntese de glico
Correlação Clínica 17.1 e 17.2). Outras lipases, incluin gênio, é convertido em ácidos graxos no fígado, durante
do a lipase triglicéride do adiposo, podem também de o estado alimentado em mamíferos. A glicose fornece o
sempenhar um papel na degradação de triacilgliceróis. carbono para a síntese de ácidos graxos (via acetil-CoA),
Estas podem contribuir para desacelerar a lipólise não bem como os equivalentes de redução (NADPH) neces
-regulada. sários para esse processo. Outros substratos, como ami
noácidos, também podem contribuir para a lipogênese.
Outras lípases rapidamente completam a hidrólise,
liberando ácidos graxos e glicerol no sangue. Os ácidos
graxos são chamados ácidos graxos livres, embora cir Via de Biossíntese de Ácidos Graxos
culem ligados à albumina sérica. Cada molécula de al
bumina pode ligar ∼10 ácidos graxos, de modo que sua A síntese de ácidos graxos ocorre no citosol, usando
capacidade de ligação é muito alta. Ácidos graxos livres o acetil-CoA produzido a partir de glicose ou de outros
ligados à albumina, entretanto, são uma fração relativa precursores (ou seja, esqueleto carbônico de aminoáci
mente pequena do total de lipídeos do plasma, quando dos). O ácido saturado C16, ácido palmítico, é sintetiza
se considera a presença dos lipídeos nas lipoproteínas do primeiro, e todos os outros ácidos graxos são feitos
plasmáticas (p. 741). Entretanto, esses ácidos graxos por modificação dele. Os ácidos graxos são sintetizados
livres são reciclados rapidamente, de modo que repre pela adição sequencial de unidades de dois carbonos do
sentam uma fração significativa do fluxo de lipídeos na acetil-CoA à extremidade carboxila ativada de uma ca
corrente sanguínea. deia em crescimento, pela ácido graxo sintase. Em bac
térias, a ácido graxo sintase é um complexo de várias
A hidrólise dos triacilgliceróis presentes no tecido proteínas, enquanto em células de mamíferos é uma
adiposo e nas lipoproteínas plasmáticas também pro única proteína multifuncional.
duz glicerol livre. Esse glicerol é usado pelo fígado, que
contém altos níveis de glicerol quinase, uma enzima A Formação de Malonil-CoA É a Etapa de
que sintetiza glicerol 3-fosfato a partir de glicerol e ATP
Comprometimento na Síntese de Ácidos
(Figura 15.39, p. 645). O glicerol é pouco metaboliza
do em outros tecidos, em decorrência dos baixos níveis Graxos
dessa enzima. A glicerol 3-fosfato desidrogenase hepá A síntese de ácidos graxos a partir de acetil-CoA re
tica converte glicerol 3-fosfato em di-hidroxiacetona quer o intermediário ativado malonil-CoA, que é feito por
fosfato, que entra na via glicolítica no estado alimen carboxilação de acetil-CoA pela acetil-CoA carboxilase
tado. No estado de jejum, é convertida em glicose via (Figura 17.7). A reação requer ATP e bicarbonato como
gluconeogênese. Durante o jejum prolongado, quando fonte de CO2. Na primeira etapa, CO2 é ligado a um re
grande parte da energia do corpo é derivada da gordura síduo de biotina da enzima, usando energia derivada da
armazenada, o glicerol produzido na hidrólise dos tria hidrólise de ATP; o CO2 é então transferido para acetil
cilgliceróis no tecido adiposo é um importante substra -CoA. Essa reação é semelhante à carboxilação do piru
to para a gluconeogênese no fígado. vato a oxaloacetato pela piruvato carboxilase (p. 640).

TABELA 17.2 Regulação do Metabolismo de Triacilgliceróis


Proteína Efeito Agente Regulatório
Mobilização de triacilglicerol
Lipase hormônio-sensível e Ativação por fosforilação mediada por PKA Glucagon, epinefrina, ACTH
perilipina Inibição por desfosforilação Insulina
Lipoproteína lipase Síntese aumentada de enzimas Insulina
Síntese de triacilgliceróis
Fosfatidato fosfatase Síntese aumentada de enzimas Hormônios esteróides
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 701

O inibição por retroalimentação (feedback) da


CH3CSCoA + HCO3– + ATP acetil-CoA síntese de ácidos graxos pelo produto final da
Acetil CoA carboxilase
via. A fosforilação da acetil-CoA carboxilase,
pela proteína quinase A dependente de AMP
O cíclico e pelas proteína quinases dependentes
–OOC CH2SCoA
C + H2O ADP+ + Pi de AMP, inibe essa enzima. A importância des
sa regulação é discutida na página 721.
Malonil CoA

FIGURA 17.7 Reação da acetil-CoA carboxilase.


Sequência de Reações para a
Síntese de Ácido Palmítico
A acetil-CoA carboxilase catalisa a etapa limitante A primeira etapa catalisada na síntese de ácidos
da velocidade da síntese de ácidos graxos. Essa enzi graxos é a transferência da molécula iniciadora, seja
ma existe em um estado inativo, protomérico, e, quan um grupo acetil ou butiril, da CoA para um resíduo
do ativada, na forma de polímeros lineares. A enzima de 4!-fosfopanteteína na proteína carregadora de acil
de mamíferos é ativada por citrato ou isocitrato. Isso (ACP, acyl carrier protein), uma proteína constituinte
representa ativação positiva (feed-forward) da síntese do complexo multienzimático (Figura 17.8, Reação 1).
de ácidos graxos porque o citrato é exportado da mito A unidade fosfopanteteína é idêntica à da CoA; ambas
côndria para gerar acetil-CoA citosólico para síntese de são derivadas da vitamina ácido pantotênico. Em bac
ácidos graxos (ver a seção sobre a via de clivagem do térias, a ACP é uma proteína pequena, enquanto, em
citrato na p. 704). A acetil-CoA carboxilase é também mamíferos,é um domínio da ácido graxo sintase. Seis
inibida por acil-CoAs de cadeia longa, resultando em ou sete unidades de dois carbonos são adicionadas ao
complexo enzimático (dependendo
O (proteína carregadora de acil) O deo iniciador ser acetil-CoA ou butiril
(1) CH3C SCoA + ACPSH acetiltransferase CH3 CSACP + CoASH
-CoA) em uma sequência repetitiva de
reações, até que a molécula de palmi
(2) (a) CH3 O
C SACP
O + Enz (proteína
SH (proteína
β-cetoacil-
carregadora
sintase de acil) de
carregadora CH3 CS
acil)O Enz + ACPSH tato esteja completa. A sequência de
reações, começando com um acetil-CoA
iniciador e chegando a butiril-ACP, é
apresentada na Figura 17.8.
(b) CH2 malonil transferase
–OOC
C SCoA + ACPSH Um ciclo de elongação de ácido gra
O xo é iniciado pela adição de dois átomos
de carbono à cadeia em um processo de
–OOC CH2 C SACP + CoASH
três etapas. Primeiro, a cadeia de ácido
graxo é transferida do resíduo de fosfo
drila de umadacisteína da um
(c)
CH3 O
C
S Enz + –OOC CH2
O
C
(proteína carregadora
SACP
β-cetoacil-
sintase de acil) panteteína ACP para b-cetoacil-ACP
grupo sulfi

sintase (Reação 2a). O grupo -SH da


O O ACP então aceita uma unidade de ma
CH3 C CH2 C SACP + CO2 + Enz SH lonil do malonil-CoA (Reação 2b). En
tão, a etapa de condensação liga a ca
deia de acil em crescimento com o C2
β-cetoacil
(3) CH3CCSACP
O CH2 O + NADPH + (proteína
H+ carregadora de acil) do grupo malonil, com a perda de CO2
redutase (Reação 2c). Este é o mesmo CO2 que
foi adicionado pela acetil-CoA carboxi
OH O
lase, de modo que os átomos de carbo
CH3 CHCH2 C SACP + NADP+ no do palmitato são todos derivados do
acetil-CoA. O produto acil é b-cetoacil
O β-hidroxiacil -ACP. Esse intermediário é reduzido
OH (proteína carregadora de acil) O a b-hidroxiacil-ACP usando NADPH
desidratase
(4) CH3 CHCH2 C SACP CH3 CHCHC SACP + H2O como doador de elétrons (Reação 3).
O b-Hidroxiacil-ACP é desidratado a
enoil um enoil-ACP (Reação 4) e, depois, re
O (proteína carregadora de acil)
redutase duzido a um acil-CoA saturado, usan
(5) CH3CH CHC SACP + NADPH + H+ do uma segunda molécula de NADPH
O como redutor (Reação 5). A cadeia
CH3CH2 CH2 C SACP + NADP+ nascente de ácido graxo prossegue por
mais seis ciclos de reação para produzir
FIGURA 17.8 Via de síntese de ácidos graxos. palmitoil-ACP, que sofre a ação de uma
702 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

tioesterase para produzir ácido palmítico livre (Figura Ácido Graxo Sintase de Mamíferos É um
17.9). A especificidade dessa enzima determina o com Polipeptídeo Multifuncional
primento da cadeia do ácido graxo produzido. Note que,
nesse estágio, os grupos sulfidrila da ACP e da sintase As reações delineadas acima são a sequência básica
estão ambos livres, de modo que outro ciclo de síntese para síntese de ácidos graxos em todos os organismos.
de ácidos graxos pode começar. O produto liberado é O complexo enzimático ácido graxo sintase catalisato
convertido em palmitoil-CoA, preparando-o para modi das essas reações, mas sua estrutura e suas proprieda
ficação ou incorporação em lipídeos complexos. des variam consideravelmente. Em Escherichia coli, o
complexo é composto por enzimas separadas. Diferen
temente, a ácido graxo sintase de mamíferos é compos
(CH2 O ta por duas subunidades idênticas, cada uma das quais
CH3)14 C SACP + H2O é um polipeptídeo multienzimático que contém todas as
tioesterase atividades catalíticas. Há também variações na enzima
entre espécies de mamíferos e entre tecidos.
CH3 (CH2)14 COO– + ACPSH
A cadeia de ácido graxo em crescimento fica sem
FIGURA 17.9 Liberação de ácido palmítico da ácido graxo pre ligada à proteína multifuncional e é transferida se
sintase pela tioesterase. quencialmente entre o grupo 4!-fosfopanteteína da ACP,
que é um domínio da proteína, e o grupo sulfidrila da

O
CH3 CH2(CH2)13 COO–
PhP SH CH3CSCoA
(ou butiril CoA)

Cys SH CoASH SH
O
PhP S C CH3
–OOC COO–

(CH2 O Cys Cys


PhP SCH3
CH3CH2)13 C S PhP

HS Cys

SH
O

Repetem-se as reações O
1 - 5, seis vezes CH2 C CoA)
(ou metilmalonil SCoA
1

CoASH

HS PhP O
O
PhP
Cys SC
S C CH3
CH2
CH3CH2CH2CS Cys
PhP
Cys S O2 O O

CO2
6
O
PhP C CH2 C CH3
CH3CH2CH2SC
SH 3,4,5
redução
Cys SH
desidratação
redução

cisteína da proteínanaenzima
Cys = 4!-fosfopanteteína
PhP
proteína transportadora de acil

PhP SH
= ácido graxo sintase
FIGURA 17.10 Mecanismo proposto para elongação de ácidos graxos Cys SH
pela ácido graxo sintase de mamíferos.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 703

cisteína da b-cetoacil-ACP sintase, durante a reação de Para descrever a conversão geral de acetil-CoA em
condensação (Reação 2, Figura 17.8 e 17.10). palmitato, o ATP usado na formação de malonil-CoA
deve ser incluído.
Os níveis de ácido graxo sintase nos tecidos são con
trolados pela velocidade de sua síntese e degradação. O
Como mostra a Tabela 17.3, a insulina aumenta a veloci 7 CH3CSCoA + 7 CO2 +7 ATP
dade de síntese de ácidos graxos por estimular a trans O
crição do gene da ácido graxo sintase, aumentando as 7JOOCCH2CSCoA + 7 ADP + 7 P
i
sim os níveis de enzima no fígado e em outros tecidos.
Os fatores que estão envolvidos na regulação da lipo
Então, a estequiometria da conversão de acetil-CoA
gênese em mamíferos são apresentados na página 704.
em palmitato é
Estequiometria da Síntese de Ácidos O
Graxos 8 CH3 C SCoA
O + 7 ATP +14 NADPH + 14 H+

Com acetil-CoA como iniciador da biossíntese de


palmitato, a reação geral é CH3 (CH2)14COJ + 8 CoASH +7 ADP+ 7 Pi
+
+
CH3 O SCoA +7JOOCCH2 O + 6 H2O +14 NADP

CH3 (CH2)14COOJ
C + 7 CO2 + 14+14
NADP+
C NADPH
SCoA
+ 8 CoASH
+
+14 H++ 6 H2O

TABELA 17.3 Regulação da Síntese de Ácidos Graxos


Enzima Efeito Agente Regulatório
Biossíntese do Palmitato
Acetil-CoA Curto prazo Ativação alostérica Citrato, isocitrato
carboxilase (ACC) Inibição alostérica C16-C18 acil-CoAs
Inibição via fosforilação por
PKA da ACC Glucagon e epinefrina
Inibição via fosforilação
Ativação por AMPK
mediada da ACC da
defosforilação AMP

ACC Insulina
Longo prazo Síntese da enzima aumentada
diminuída Hormônio da tireoide, dieta rica em
carboidrato, insulina
Jejum, dieta rica em gordura, via baixa
insulina e alto glucagon. Ácidos graxos
poli-insaturados (PUFAs) também inibem
síntese
Ácido graxo sintase Longo prazo Síntese da enzima aumentada Dieta rica em carboidratos via insulina
Síntese da enzima diminuída Jejum, dieta rica em gordura, via baixa
insulina e alto glucagon. PUFAs também
inibem síntese
Biossíntese de Outros Ácidos Graxos que não o Palmitato
Ácido graxo sintase Síntese aumentada de ácidos graxos de cadeia Metilmalonil-CoA/malonil-CoA
ramificada aumentados
Síntese de ácidos graxos de cadeia curta Expressão de tioesterase específica na
glândula mamária
Estearil-CoA Síntese de enzimas aumentada Insulina, hormônio da tireoide,
dessaturase hidrocortisona, colesterol da dieta
Síntese de enzimas diminuída PUFAs da dieta
704 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Via de Clivagem do Citrato mitocôndria para seguir no metabolismo. A remoção do


citrato da mitocôndria (cataplerose) deve ser acompa
Fornece Acetil-CoA e NADPH para nhada por sua reposição (anaplerose) para manter o
fluxo do ciclo dos ácidos tricarboxílicos. Isso é conse
Lipogênese no Citosol guido pela conversão de piruvato em oxaloacetato pela
A quebra de glicose no fígado via glicólise resulta na piruvato carboxilase (p. 640), a principal enzima ana
produção de piruvato, que é convertido em acetil-CoA plerótica das mitocôndrias.
na mitocôndria pelo complexo piruvato desidrogenase.
A conversão de oxaloacetato em piruvato pela via
Entretanto, a síntese de ácidos graxos é um processo
de clivagem do citrato transfere um par de elétrons do
citosólico, e acetil-CoA não é facilmente transportado
NADH para gerar NADPH, que é usado na síntese de
através da membrana mitocondrial interna. A via de
ácidos graxos. A fonte do NADH para esse processo é a
clivagem do citrato contorna esse problema. O citrato,
reação da gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase da via
formado pela citrato sintase no ciclo dos ácidos tricar
glicolítica. O metabolismo de glicose, portanto, fornece
boxílicos, é transportado através da membrana mito
tanto os átomos de carbono como os equivalentes de
condrial interna via o transportador de tricarboxilato
redução necessários para a lipogênese.
(ver Figura 14.49, p. 595). O citrato é, então, clivado no
citosol pela ATP citrato liase (também chamada enzi A produção dos equivalentes de redução usados na
ma de clivagem do citrato) para formar acetil-CoA e síntese de ácidos graxos pode ser resumida como se
oxaloacetato (Figura 17.11). segue: a via de clivagem do citrato transfere um par de
citrato + ATP + CoA → acetil CoA + oxaloacetato + ADP + Pi elétrons do NADH para o NADPH para cada acetil-CoA
transferido da mitocôndria para o citosol. A transfe
Essa reação não é o reverso da citrato sintase, uma rência dos oito acetil-CoAs que são usados para a sín
vez que requer a hidrólise de ATP. Como mencionado tese de uma molécula de palmitato fornece oito NA
anteriormente, o citrato tem um segundo papel na sín DPHs. Como a síntese de palmitato requer 14 NADPHs
tese de ácidos graxos, como ativador alostérico da ace por mole, os outros seis NADPHs são fornecidos pela
til-CoA carboxilase, a enzima limitante da velocidade via das pentoses fosfato, que também está presente no
da lipogênese. citosol.

O oxaloacetato gerado pela clivagem de citrato no A estequiometria real desse processo é mais compli
citosol não é facilmente transportado de volta para cada, porque o transporte de citrato e de outros ácidos
a mitocôndria. Em vez disso, ele é reduzido a malato di- e tricarboxílicos através da membrana mitocondrial
pela isoforma citosólica da NAD malato desidrogena interna ocorre por meio de trocas um para um. As ve
se. O malato, então, sofre descarboxilação oxidativa a locidades de fluxo são provavelmente controladas por
piruvato, catalisada pela NADP malato desidrogenase uma composição de gradientes de concentração de vá
(também chamada enzima málica). O piruvato entra na rios desses sistemas de troca.

Citosol Matriz Mitocondrial

Glicose Piruvato Piruvato


CO2

NADPHNADPH Enzima málica

NADPH+NADP+ + H+ Piruvato
carboxilase
Malato

Síntese de
ácidos graxos NADPNAD++ H+
Malato Complexo
NADPNADH piruvato
desidrogenase
+ H+ desidrogenase

Oxaloacetato Oxaloacetato Acetil CoA

Acetil CoA
ADP + Pi
ATP Citrato
FIGURA 17.11 Transferência de acetil ATP-Citrato liase sintase
CoA da mitocôndria para o citosol Citrato Citrato
para biossíntese de ácidos graxos
pela via de clivagem do citrato.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 705

Modificação de Ácidos Graxos síntese de ácidos graxos insaturados é importante para


regular a fluidez dos triacilgliceróis e dos fosfolipídeos
O homem é capaz de sintetizar os outros ácidos gra de membrana. Também é necessária para a síntese de
xos de que necessita a partir do palmitato, com exceção ésteres de colesterol no fígado e de secreções de cera na
de alguns ácidos graxos poli-insaturados (ver Tabela pele, que usam preferencialmente ácidos graxos recém
17.1). Ácidos graxos são modificados como os CoA-de -sintetizados, e não ácidos graxos da dieta. A expressão
rivados por três processos: elongação, dessaturação e de estearoil-CoA dessaturase é fortemente regulada por
hidroxilação. mecanismos dietéticos e hormonais. Insulina, triiodoti
ronina, hidrocortisona e colesterol da dieta aumentam
Reações de Elongação a transcrição gênica e, assim, os níveis de estearoil-CoA
dessaturase no fígado, enquanto ácidos graxos poli-insa
A elongação dos ácidos graxos em mamíferos ocor
turados da dieta têm o efeito oposto.
reno retículo endoplasmático ou na mitocôndria. Esses
processos são ligeiramente diferentes nas duas loca
lizações. No retículo endoplasmático, acil graxo-CoAs
são elongadas por reações semelhantes às catalisadas O
pela ácido graxo sintase citosólica; malonil-CoA é a fon RSCoA
CH2C
te de unidades de dois carbonos e NADPH fornece o
O
poder redutor. O substrato preferencial para elongação
CH3 CSCoA
é palmitoil-CoA, que é convertido quase que exclusiva
β–cetotiolase
mente em estearato (18:0) na maioria dos tecidos. O
CoASH
cérebro, entretanto, contém um ou mais sistemas de
elongação adicionais, que sintetizam ácidos de cadeia
mais longa (até C24), que são necessários para lipídeos O O
de membrana. Esses sistemas de elongação também RCH2C
CH2C SCoA
usam malonil-CoA.

A elongação de ácidos graxos nas mitocôndrias usa NADH +NAD+


H+
β–hodroxiacil-CoA
acetil-CoA e tanto NADH como NADPH como doadores desidrogenase
de elétrons (Figura 17.12). Esse sistema opera pelo re
verso da via de b-oxidação de ácidos graxos (p. 713),
exceto que a enoil-CoA redutase NADPH-ligada (última
OH O
etapa da elongação) substitui a acil-CoA desidrogena
se FAD-ligada (primeira etapa da b-oxidação). Esse RCH2CHCH2SCoA
H2 C

processo tem baixa atividade com substratos acil-CoA enoil-CoA


de 16 carbonos ou maiores; serve primariamente para O hidratase
elongar moléculas mais curtas.
O

Formação de Ácidos Monoenoicos pela RCH2CHCHCSCoA

Estearoil-CoA Dessaturase
Em vertebrados, a dessaturação de ácidos graxos NADPH + H+ enoil-CoA
ocorre no retículo endoplasmático, e as reações e en redutase
zimas que introduzem duplas ligações cis são signifi NADP+

cativamente diferentes das acil-CoA desidrogenases


da b-oxidação mitocondrial. Dessaturação é realizada O

por monooxigenases, que têm acil graxo-CoA, NADH RCH2CH2CSCoA


CH2
e O2 como substratos (p. 715). Os três componentes do
sistema são a enzima dessaturase, o citocromo b5 e a FIGURA 17.12 Via de elongação de ácidos graxos nas
NADPH-citocromo b5 redutase. A reação geral é mitocôndrias.
R—CH2 O
Formação e Modificação de Ácidos Graxos
—CH2—(CH2)7CSCoA + NADPH + H+ + O2 →
Poli-insaturados
O
R—CH——CH—(CH2)7CSCoA + NADP+ + 2H2O Ácidos graxos poli-insaturados, particularmente áci
do araquidônico (20:4), são precursores de importantes
A etapa inicial na formação de ácidos graxos insatura moléculas sinalizadoras: prostaglandinas, tromboxanes
dos é a formação da dupla ligação D9 pela estearoil-CoA e leucotrienos (p. 756). Ácidos graxos poli-insaturados
dessaturase no ácido palmítico ou no esteárico para pro são também necessários para a síntese de lipídeos com
duzir ácido palmitoleico ou oleico, respectivamente. A plexos, particularmente no sistema nervoso. Esses áci
706 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

dos graxos também podem sofrer reações de oxidação Formação de Hidroxiácidos Graxos no
não-enzimática, criando produtos que danificam cons Tecido Nervoso
tituintes celulares e podem ter efeitos patológicos.
Dois processos diferentes produzem a-hidroxiáci
Em mamíferos, duplas ligações podem ser adiciona dos graxos em mamíferos. Um ocorre nas mitocôndrias
das apenas na metade proximal dos acil graxo-CoAs;
de muitos tecidos e age sobre ácidos graxos de cadeia
não podem ser adicionadas depois de C9. Consequen
relativamente curta. O outro só foi demonstrado no
temente, os ácidos linoleico (18:2) e linolênico (18:3) sistema nervoso, onde produz ácidos graxos de cadeia
são ácidos graxos poli-insaturados necessários na dieta longa hidroxilados em C2, que são necessários na for
(Figura 17.13). Esses ácidos graxos essenciais são obti mação de alguns lipídeos da mielina. A enzima do cére
dos na dieta a partir de plantas e de peixes de água fria. bro que catalisa essa reação é uma monooxigenase que
Existem duas séries de ácidos graxos poli-insaturados. requer O2 e NADH ou NADPH, e preferencialmente usa
A dupla ligação distal do ácido linoleico está a seis car ácidos graxos C22 e C24. Esse processo é fortemente co
bonos do grupo metil; é chamado n-6 ou w-6. Uma se ordenado com a síntese de esfingolipídeos que contêm
gunda série, n-3 ou w-3, tem a dupla ligação distal a três ácidos graxos hidroxilados (ver p. 748).
carbonos do grupo metil. Um isômero do ácido linolêni
co faz parte desta série.
O Ácido Graxo Sintase Pode
CH3(CH2)3(CH3CHCH)n(CH2)mCOOH
Fórmula básica da série do ácido linoleico
Produzir Outros Ácidos Graxos além
do Palmitato
CH3 (CH2 CHCH)n (CH2)m COOH
Os principais ácidos graxos sintetizados no homem
Fórmula básica da série do ácido linolênico para armazenamento de energia são palmitato e seus
FIGURA 17.13 As séries linoleico e linolênico. produtos de modificação. Entretanto, menores quanti
dades de ácidos graxos diferentes são sintetizadas para
Os ácidos graxos essenciais são modificados por outros propósitos. Dois exemplos são a produção de áci
elongação e dessaturação para formar os ácidos graxos dos graxos mais curtos do que o palmitato na glândula
poli-insaturados encontrados em mamíferos. Uma va mamária e a síntese de ácidos graxos de cadeia ramifi
riedade de ácidos graxos poli-insaturados é sintetizada cada em algumas glândulas secretórias.
no homem usando dessaturases que introduzem duplas
ligações nas posições 4, 5 ou 6 (Figura 17.14). Essas en O leite contém ácidos graxos com cadeias que são
zimas atuam apenas na síntese de ácidos graxos poli mais curtas do que o palmitato. As quantidades relati
-insaturados porque elas só podem usar substratos com vas dos ácidos graxos produzidos pela glândula mamá
uma dupla ligação na posição 9. Essa elongação e des ria variam com a espécie e com o estado fisiológico do
saturação ocorrem em qualquer ordem. A conversão de animal. Em ruminantes, a via de síntese de ácidos gra
ácido linolênico em ácido todo cis-4,7,10,13,16,19-doco xos, que normalmente produz palmitato, é modificada
sa-hexaenoico no cérebro é um exemplo específico de para sintetizar ácidos graxos tão curtos quanto C4. Isso
tal sequência de reações.
O
CH3 (CH2 CHCH)3 CH2 CH2CH2 CH2CH2 CH2CH2 CCoA
Ácido linolênico
"Δ6-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CH2 CH2CH2 CCoA
elongação
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CH2 CH2CH2CH2 CH2 CCoA
"Δ5-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CHCHCH2CH2 CH2 CCoA

elongação
O
CH3(CH2 CHCH)3CH2CHCHCH2CHCHCH2CH2 CH2CH2 CH2 CCoA
"Δ4-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3CH2CHCHCH2CHCHCH2CHCHCH2 CH2 CCoA

Ácido todo-cis-4,7,10,13,16,19-docosa-hexaenoico
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 707

A
o e
s
Acil Graxo-CoAs Podem Ser
C a
r
li u
o
r
a
t
a
s
Reduzidos a Alcoóis Graxos
e
ts s
e
e d
" O Muitos fosfolipídeos contêm cadeias de ácidos
CH3 (CH2)6+n CH2 CH2 CH2 CH2CH2 CH2 (CH2)2 C CoA graxos em ligação éter, em vez de ligação éster. Os
precursores sintéticos dessas cadeias éter-ligadas
FIGURA 17.14 Posições na cadeia de ácido graxo onde são alcoóis graxos (Figura 17.15), em lugar de ácidos
dessaturação pode ocorrer no homem. graxos. Esses alcoóis são formados em vertebrados
Em mamíferos, devem existir pelo menos seis carbonos adiante da por uma redução em duas etapas, NADPH-ligadas,
ligação que está sendo dessaturada. de acil graxo-CoAs, no retículo endoplasmático. Em
tecidos que produzem quantidades relativamente gran
é feito pela expressão de tioesterases solúveis, que cli des de lipídeos contendo éter, a produção simultânea
vam cadeias mais curtas da ácido graxo sintase. O leite de ácidos graxos e alcoóis graxos é rigorosamente co
humano não contém nenhum ácido graxo com cadeia ordenada.
menor do que 10 carbonos.

Existem relativamente poucos ácidos graxos de ca


deia ramificada em vertebrados. Até recentemente, seu 17.5 ARMAZENAMENTO DE
metabolismo foi estudado principalmente em bactérias
como a Micobactéria, em que estão presentes em varie
ÁCIDOS GRAXOS COMO
dades e quantidades maiores. Ácidos graxos simples de TRIACILGLICERÓIS
cadeia ramificada são sintetizados por tecidos de ver
tebrados com propósitos específicos, como a produção A maioria dos tecidos de mamíferos converte ácidos
de ceras em glândulas sebáceas e na glândula uropigial graxos em triacilgliceróis por uma sequência comum de
de aves, e a elaboração de estruturas em sistemas de reações, mas o fígado, o tecido adiposo e o músculo rea
ecolocalização de golfinhos. lizam esse processo em maior escala. O tecido adiposo é
um órgão especializado na síntese, no armazenamento
Muitos ácidos graxos de cadeia ramificada em verte e na hidrólise de triacilglicerol, e é o principal local de
brados são derivados metilados de ácidos saturados de armazenamento de energia a longo prazo. Triacilglice
cadeia linear saturados, que são sintetizados pela ácido róis são armazenados no citosol como gotículas líquidas
graxo sintase. Quando metilmalonil-CoA é usado como circundadas por uma monocamada de lipídeos de mem
substrato em lugar do malonil-CoA, uma cadeia lateral brana e da proteína perilipina. Essas gotículas não são
metil é inserida no ácido graxo pela seguinte reação: um estoque “sem saída”; ocorrem contínuas síntese e
CH3 O + CH3 O quebra de triacilgliceróis no tecido adiposo. Algum ar
mazenamento também ocorre no músculo esquelético e
(CH2)n CSACP HOOCCHC SCoA cardíaco, mas só para consumo local. A síntese de tria
cilglicerol no fígado é primariamente para a produção
O CH3 O
de lipoproteínas do plasma, e não para armazenamento
CH3 (CH2)n CCHCSACP + CO2+ CoA de energia. Os ácidos graxos para esse processo podem
vir da dieta, do tecido adiposo por meio do sangue, ou
Seguem-se etapas normais de redução. Essas rea de síntese de novo, primariamente do catabolismo da
ções ocorrem em muitos tecidos, em uma velocidade glicose da dieta.
várias ordens de grandeza menor do que a utilização de
malonil-CoA na síntese de ácidos graxos. A proporção
de ácidos graxos de cadeia ramificada que é sintetizada CH3 (CH2)nCH2OH
é determinada, em grande parte, pela disponibilidade
FIGURA 17.15 Álcool graxo.
relativa dos dois precursores. Um aumento de ramifica
ção pode ocorrer por diminuição da razão entre malo
nil-CoA e metilmalonil-CoA. Uma malonil-CoA descar
boxilase que é responsável por essa diminuição ocorre
Triacilgliceróis São Sintetizados a
em muitos tecidos. Foi sugerido que uma concentração partir de Acil Graxo-CoAs e Glicerol
aumentada de metilmalonil-CoA, que ocorre na deficiên
cia de vitamina B12, possa levar à produção excessiva de 3-Fosfato
ácidos graxos de cadeia ramificada.
Triacilgliceróis são sintetizados na maioria dos teci
dos a partir de acil graxo-CoAs e um precursor de gli
cerol, glicerol 3-fosfato (Figura 17.16). O glicerol 3-fos
fato é derivado de várias fontes. Na maioria dos tecidos,
é sintetizado pela redução da di-hidroxiacetona fosfato.
No estado alimentado, a di-hidroxiacetona fosfato é de
708 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CH2OH
fosfato
Gliceraldeído 3-fosfato HO CH
Glicose glicólise gliceroneogênese
Piruvato 2–
CH2 OPO3
Di-hidroxiacetona fosfato
Glicerol 3-fosfato
NADH + H+
O
NAD+
R C SCoA
aciltransferase
Glicerol 3-fosfato Acil-di-hidroxiacetona fosfato CoASH

NADPH + H+
Pool de acil O
graxo-CoA HO CH2
CH O C R
NADP+
Éter
lipídeos
Ácidos lisofosfatídicos CH2 O PO32–

Ácido lisofosfatídico
Pool
graxo-CoA
de acil
O

O R C SCoA
aciltransferase
Ácidos fosfatídicos Lipídeos CoASH
complexos

Pi
O
Diacilgliceróis R C CH2 O C R

O CH

CH2 O PO32–
Triacilgliceróis
Ácido fosfatídico
FIGURA 17.16Vias de síntese de triacilglicerol.
Alguns desses intermediários são usados como precursores para a síntese de FIGURA 17.17 Síntese de ácido fosfatídico a
lipídeos de membrana. partir de glicerol 3-fosfato.

rivada da glicose via glicólise; no estado de jejum, no te gerando diacilglicerol, que é então acilado a triacilgli
cido adiposo e no fígado, o glicerol 3-fosfato é derivado cerol (Figura 17.18).
de gliceroneogênese (p. 709). No fígado, há uma fonte
adicional de glicerol 3-fosfato; glicerol pode ser fosforila O ácido fosfatídico é também um intermediário cha
do pela glicerol quinase, que é muito ativa nesse tecido. ve na síntese de outros glicerolipídeos (p. 733). Em uma
via alternativa, a di-hidroxiacetona fosfato é acilada, re
Ácidos graxos são ativados para prosseguimento no duzida a ácido lisofosfatídico e, depois, acilada uma se
metabolismo por conversão em seus ésteres de CoA nas gunda vez para formar ácido fosfatídico (Figura 17.16).
seguintes reações: Embora esta não seja uma via muito importante na sín
tese de triacilgliceróis, é importante para a síntese dos
O
acil-CoA lipídeos de membrana com cadeias alquila éter-ligadas.
R C OJ + sintase
ATP + CoASH
A síntese de triacilgliceróis segue uma via diferente
O
em células epiteliais do intestino delgado. Essas células
RCSCoA + AMP + PPi + H2O captam 2-monoacilgliceróis e ácidos graxos livres do in
testino, que são os principais produtos de digestão dos
Essa reação de duas etapas tem um acil adenilato triacilgliceróis da dieta pela lipase pancreática. Uma
(acil graxo-AMP) como intermediário. A reação geral enzima das células da mucosa acila esses monoacilgli
é direcionada pela hidrólise do pirofosfato produzido a ceróis usando acil-CoAs como substratos. Os diacilgli
dois Pi. ceróis resultantes podem ser acilados para formar triacil
gliceróis, que são acondicionados em quilomícrons.
A síntese de triacilgliceróis envolve a formação de
ácido fosfatídico, que é formado por duas acilações se Análise dos triacilgliceróis humanos mostra que
quenciais do glicerol 3-fosfato para formar ácido liso cada posição do glicerol é esterificada com ácidos gra
fosfatídico e, depois, fosfatídico (Figura 17.17). O ácido xos de diferentes composições. Ácidos graxos satura
fosfatídico é usado na síntese de triacilglicerol com a dos são encontrados preferencialmente na posição 1,
hidrólise do grupo fosfato pela fosfatidato fosfatase, e ácidos graxos insaturados nas posições 2 e 3. Dois
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 709

O Síntese de Triacilgliceróis Ocorre


O CH2 O C R
durante o Jejum como Parte de um
R C O CH

CH2 O PO32–
Ciclo Triacilglicerol-Ácido Graxo Via
Ácido fosfatídico Gliceroneogênese
A liberação de ácidos graxos livres do tecido adiposo
fosfatidato
fosfatase é uma adaptação metabólica crítica no jejum. A quan
tidade de ácidos graxos liberados pelo tecido adiposo,
O
entretanto, excede a quantidade usada para obtenção
de energia por outros tecidos. Até 60% desses ácidos
O CH2 O C R
graxos são redepositados no tecido adiposo como tria
R C O CH + Pi cilgliceróis. Tanto o fígado como o tecido adiposo de
CH2 OH
sempenham um papel importante nesse processo (Cor
relação Clínica 17.3). No estado alimentado, o glicerol
Diacilglicerol 3-fosfato para síntese de triacilglicerol é derivado da
glicose via glicólise. Durante o jejum, entretanto, a en
O trada de glicose no tecido adiposo é limitada porque a
RC SCoA
concentração de insulina é baixa e a glicose está sendo
aciltransferase usada por outros tecidos. Nesse estado dietético, glice
CoASH
rol 3-fosfato é sintetizado em ambos os tecidos, adiposo
e hepático, pela gliceroneogênese. Como mostra a Fi
O gura 17.19, substratos que entram no ciclo dos ácidos
O CH2 O C R tricarboxílicos, como piruvato, glutamato ou aspartato,
podem suportar a gliceroneogênese. Essa via é essen
R C O CH O
cialmente uma versão abreviada da gluconeogênese,
CH2 O C R na qual o malato formado no ciclo dos ácidos tricarbo
xílicos deixa a mitocôndria e é convertido em oxaloa
Triacilglicerol
cetato no citosol. A fosfoenolpiruvato carboxiquinase
FIGURA 17.18 Síntese de triacilglicerol a partir de ácido então converte oxaloacetato em fosfoenolpiruvato, que
fosfatídico. é convertido em di-hidroxiacetona fosfato e, depois, em
glicerol 3-fosfato, que é usado para a síntese de triacil
fatores importantes que determinam a composição em glicerol. A enzima chave desse processo é a fosfoenol
ácidos graxos de cada posição do glicerol são a especi piruvato carboxiquinase; sua atividade é induzida no
ficidade das aciltransferases envolvidas e a disponibi fígado e no tecido adiposo durante o jejum.
lidade relativa dos diferentes ácidos graxos no pool de
acil graxo-CoAs.
17.6 UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS
Mobilização de Triacilgliceróis GRAXOS PARA PRODUÇÃO
Requer Hidrólise DE ENERGIA
A primeira etapa na mobilização dos ácidos graxos Ácidos graxos da circulação são captados pelas célu
armazenados para produção de energia é a hidrólise dos las e usados para produção de energia, primariamente
triacilgliceróis. Várias lipases catalisam essa reação, e a em mitocôndrias, em um processo integrado com gera
sequência de hidrólise das três cadeias acil é determi ção de energia a partir de outras fontes. Ácidos graxos
nada pelas especificidades das lipases envolvidas. são quebrados em acetil-CoA nas mitocôndrias, com a
O
produção de NADH e FADH2. Esses três produtos são,
depois, usados na matriz mitocondrial para produção
OCR
O CH2 de energia via ciclo dos ácidos tricarboxílicos e fosfori
RC CH O 3H2O lipases
lação oxidativa.

CH2OCR A utilização de ácidos graxos para produção de


energia varia consideravelmente de tecido para tecido
CH2 OH O O O e depende, em grau significativo, do estado metabóli
HO CH R C OH R COH RCOH co, isto é, alimentado ou em jejum, em exercício ou em
repouso. A maioria dos tecidos pode usar ácidos graxos
CH2 OH como combustível. Ácidos graxos são uma importante
710 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.3

Ciclo Triacilglicerol/Ácido Graxo

O triacilglicerol que é armazenado no tecido adipo gos transgênicos aumenta a velocidade da gliceroneo
so é hidrolisado a ácidos graxos livres (FFA) durante o gênese, resultando em obesidade.
jejum para fornecer energia para tecidos como músculo
esquelético e cardíaco, e indiretamente para o cérebro, A lógica metabólica do ciclo triacilglicerol/ácido
via corpos cetônicos. Hormônios, principalmente insu graxo reside provavelmente na importância dos ácidos
lina, controlam esse processo. À medida que o nível de graxos como combustíveis durante o jejum. Para ga
insulina cai durante o jejum, a velocidade de hidrólise de rantir que exista FFA suficiente no sangue, mais FFA
triacilgliceróis (lipólise) aumenta, resultando em libera é liberado das células adiposas do que o necessário; o
ção de FFA do tecido adiposo. Um aspecto surpreenden que não é usado é reesterificado a triacilglicerol e re
te desse processo é o destino dos FFA; em seres huma depositado no tecido adiposo, com um pequeno custo
nos em jejum, até 65% desses FFA são reesterificados a energético. O ciclo triacilglicerol/ácido graxo consome
3%–6% da energia de uma molécula de triacilglicerol;
triacilgliceróis no fígado e em outros tecidos periféricos.
No fígado, os triacilgliceróis produzidos são liberado no aparentemente, é melhor ter o combustível necessário
sangue como VLDL e enviado de volta para o tecido adi disponível e pagar por isso energeticamente, do que
poso, para deposição como triacilglicerol. Esse processo ficar sem ele em um momento crítico! A velocidade de
foi chamado o ciclo triacilglicerol/ácido graxo. reesterificação de FFA no ciclo triacilglicerol/ácido
graxo é um fator chave na determinação da concen
A síntese de triacilglicerol em tecidos de mamífe tração de estado estacionário de FFA no sangue, um
ros requer glicerol 3-fosfato, que pode ser derivado da parâmetro que está diretamente envolvido na etiologia
glicose da dieta, via glicólise, no estado alimentado. do diabetes tipo 2 (ver Correlação Clínica 17.2). As tia
Durante o jejum, quando a baixa insulina inibe a uti zolidinedionas, uma classe de drogas antidiabéticas,
lização de glicose, o glicerol 3-fosfato para a reeste induzem a atividade de PEPCK no tecido adiposo e
rificação de FFA é gerado por gliceroneogênese, uma aumentam a velocidade de reesterificação a triacilgli
versão abreviada da gluconeogênese. Nessa via, piru cerol via gliceroneogênese nesse tecido, suportando o
vato – ou compostos que podem gerar piruvato, como importante papel desse processo na manutenção da
alanina ou lactato – é convertido em glicerol 3-fosfato homeostase lipídica.
via di-hidroxiacetona fosfato (Figura 17.19). Estudos
recentes mostraram que a gliceroneogênese, e não a Nye, C., Kalhan, S. C. e Hanson, R. W. Reassessing the
glicólise, é a via predominante para síntese de glicerol pathway of triglyceride synthesis in adipose tissue. Trends
3-fosfato, mesmo durante o estado alimentado. A en in Endocrinol. and Metab. 19: 356, 2008; Reshef, L. Ol
zima chave da via da gliceroneogênese é a fosfoenol swang, Y. Cassuto, H. Blum, B. et al. Glyceroneogenesis and
the triglyceride/fatty acid cycle. J. Biol. Chem. 278:30413,
piruvato carboxiquinase (PEPCK), que é muito ativa 2003; Jensen, M. D., Ekberg, K. e Landau, B. R. Lipid meta
no tecido adiposo marrom e branco. Se a expressão do bolism during fasting. Am. J. Physiol. Endocrinol. Metab.
gene PEPCK for abolida no tecido adiposo de camun 281:E789 2001; e Tordjman, J. Khazan, W. Antoine, B. Chau
dongos, a gliceroneogênese é inibida e o estoque de vet, G. et al. Regulation of glyceroneogenesis and phosphoe
triacilglicerol é reduzido. Ao contrário, super-expres nolpyruvate carboxykinase by fatty acids, retinoic acid and
são do gene PEPCK no tecido adiposo de camundon thiazolidinediones. Biochimie 85:1213, 2003.

fonte de energia no músculo esquelético e no cardíaco, ß-Oxidação de Ácidos Graxos de


mas o cérebro não oxida ácidos graxos porque eles não
conseguem atravessar a barreira hemato-encefálica. Cadeia Linear É um Importante
Eritrócitos de mamíferos não podem oxidar ácidos gra
xos porque não têm mitocôndrias, o local da oxidação
Processo de Produção de Energia
de ácidos graxos. Durante o jejum, o fígado converte Ésteres de CoA dos ácidos graxos são os substratos
acetil-CoA, gerado pela oxidação de ácidos graxos e para oxidação. Na maior parte, a via de oxidação de áci
pela quebra de aminoácidos, em corpos cetônicos, que dos graxos é semelhante, mas não idêntica, ao reverso
se tornam um importante combustível após 2-3 dias de do processo de síntese de palmitato. Isto é, fragmentos
jejum. A maioria dos tecidos, incluindo o cérebro, adap de dois carbonos são removidos sequencialmente da
ta-se ao jejum pela utilização desses corpos cetônicos. extremidade carboxila do ácido graxo por oxidação,
hidratação e oxidação enzimáticas, formando um b−
-cetoácido, que é depois quebrado por tiólise. A via é
chamada b-oxidação porque o carbono 3 (carbono b) é
oxidado duas vezes antes da clivagem.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 711

Triacilglicerol

Lipase hormônio-sensível

NADH NAD+

Glicerol
Di-hidroxiacetona-P 4 Glicerol
3-fosfato
Alanina, Lactato
Ácidos graxos livres FIGURA 17.19 A via da
GDP
GTP gliceroneogênese no fígado
PEP Oxaloacetato
e no tecido adiposo.
3 CO2 Piruvato Durante o jejum, essa via, que
NADH é uma versão abreviada da glu
1Acetil CoA
2 coneogênese, produz glicerol
Oxaloacetato
NAD+ 3-fosfato para síntese de tria
NADH
NAD+ Citrato
Aspartato cilglicerol. As enzimas chaves
Malato Malato da glicerogênese são (1) piru
vato carboxilase, (2) as formas
α-Cetoglutarato mitocondrial e citosólica da
NAD malato desidrogenase,
(3) fosfoenolpiruvato carboxi
quinase e (4) glicerol 3-fosfato
Glutamato desidrogenase.

Ácidos Graxos São Ativados por brana mitocondrial externa. Acilcarnitina e carnitina
Conversão em Acil Graxo-CoA livre são então trocadas na membrana mitocondrial
interna pela carnitina-acilcarnitina translocase. Final
A primeira etapa da utilização de um ácido graxo mente, o grupo acil graxo é transferido de volta para
é sua ativação a um acil graxo-CoA. Essa reação é ca CoA pela carnitina palmitoiltransferase II (CPT II) no
talisada por enzimas do retículo endoplasmático e da lado da matriz da membrana interna. Esse processo
membrana mitocondrial externa, e é a mesma usada na funciona primariamente no transporte de acil graxo
síntese de triacilgliceróis. Os acil graxo-CoAs são libe -CoAs com 12–18 carbonos. Anomalias genéticas nes
rados no citosol. se sistema levam a graves consequências patológicas
(Correlação Clínica 17.4). Diferentemente, a entrada
Carnitina Transporta Grupos Acil Através de ácidos graxos de cadeia mais curta é independen
da Membrana Mitocondrial Interna te de carnitina; eles cruzam a membrana mitocondrial
interna como ácidos graxos livres e são ativados a seus
A maioria dos acil graxo-CoAs de cadeia longa é for derivados CoA na matriz. CPT I é um importante pon
mada fora da mitocôndria, mas é oxidada na matriz. A to de regulação da oxidação de ácidos graxos porque
membrana mitocondrial é impermeável a CoA e seus sua velocidade controla a entrada de ácidos graxos na
derivados. Ácidos graxos são transportados para dentro mitocôndria e, portanto, determina o suprimento de
da mitocôndria usando carnitina (4-trimetilamino-3 substratos para b-oxidação na matriz mitocondrial.
-hidroxibutirato) como transportador. O processo é re Malonil-CoA, que é o produto da acetil-CoA carboxilase
sumido na Figura 17.20. e um intermediário chave na síntese de ácidos graxos
+ (p. 700), é um inibidor da CPT I.
CH3 C N(CH3)3

O CH2 ß-Oxidação É uma Sequência de Quatro


(CH2)nSCoA + HO CHCH2COOH Reações
b-oxidação é uma série de quatro reações que agem
carnitina palmitoiltransferase
sobre o acil graxo-CoA para produzir um acetil-CoA e
+ um novo acil-CoA com dois átomos de carbono a me
N(CH3)3 nos do que o substrato inicial (Figura 17.21). Uma vez
CH2
que um acil graxo-CoA tenha se formado na superfície
O
interna da membrana mitocondrial interna, pode ser
CH3 (CH2)nCOCHCH2COOH + CoASH oxidado pela acil-CoA desidrogenase, uma flavopro
teína que usa FAD como aceptor de elétrons (Reação
O grupo acil é transferido da CoA para a carnitina 1). O produto é um enoil-CoA com uma dupla ligação
pela carnitina palmitoiltransferase I (CPT I) na mem trans entre os átomos C2 e C3 e um FADH2 ligado à en
712 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Ácidos graxos Acil graxo CoA CoASH CH3 H H


(CH2)nCβCα O
C SCoA

H H
Acil graxo CoA
Membrana Acil-CoA CPT I
mitocondrial Sintase
externa FAD Proteína
acil-CoA
FADH2
1. desidrogenase
Proteína

malonil CoA
H O
Carnitina Acilcarnitina
CH3 (CH2)nCCCSCoA

H
trans-2-Enoil CoA

H2O
2. enoil-CoA hidratase

Membrana Translocase
mitocondrial
interna
Matriz
mitocondrial 3. H O

CH3(CH2)nCCH2CSCoA
CPT II
OH
3-L-Hidroxiacil CoA

NAD+
3-L-hidroxiacil-CoA
β-Oxidação Acil CoA CoASH desidrogenase
NADH + H+

FIGURA 17.20 Os ácidos graxos são transportados para dentro da O O

CH3 (CH2)nCCH2CSCoA
mitocôndria como acilcarnitinas para oxidação.
A inibição da carnitina palmitoiltransferase I (CPT I) por malonil-CoA regula a β-Cetoacil CoA
velocidade de oxidação de ácidos graxos.
CoASH
zima. Como no ciclo dos ácidos tricarboxílicos, o FADH2 4. β-cetoacil-CoA tiolase
transfere seus elétrons para enzimas da via da fosforila
ção oxidativa, regenerando FAD.
CH3 O O

A segunda etapa da b-oxidação é a hidratação da (CH2)nC SCoA + CH3CSCoA

dupla ligação trans para um 3-L-hidroxiacil-CoA, que Acil graxo CoA Acetil CoA
é oxidado para um intermediário 3-cetoacil-CoA, com (2 átomos C a menos)

a geração de NADH na terceira etapa. A etapa final é


Figura 17.21 Via da b-oxidação de ácidos
a clivagem da cadeia pela cetotiolase, gerando acetil
graxos.
-CoA e um acil graxo-CoA que foi encurtado em dois
átomos de carbono. Esse acil-CoA encurtado está
pronto para o ciclo seguinte de oxidação, começando à membrana. MCAD tem especificidade para uma fai
com a acil-CoA desidrogenase. Na maioria dos tecidos, xa ampla de comprimentos de cadeia, mas é mais ativa
o acetil-CoA será usado pelo ciclo dos ácidos tricar sobre substratos C6 e C8, enquanto a ordem de prefe
boxílicos, e o FADH2 e o NADH serão reoxidados pelo rência de SCAD é C4>C6>C8. LCAD está envolvida na
sistema de fosforilação oxidativa, com a produção de iniciação da oxidação de ácidos graxos de cadeia rami
ATP. ficada, por exemplo, 2-metilpalmitoil-CoA.

Cada uma das quatro reações apresentadas na Figu Uma característica singular da oxidação de ácidos
ra 17.21 é catalisada por várias enzimas diferentes, que graxos de cadeia longa é que as etapas da enoil-CoA
têm especificidades para substratos de diferentes com hidratase, da 3-hidroxiacil-CoA desidrogenase e da b−
primentos de cadeia. Por exemplo, pelo menos, quatro -cetotiolase são todas catalisadas por um complexo li
enzimas catalisam a primeira etapa de desidrogenação. gado à membrana das três enzimas, chamado proteína
Elas são acil-CoA desidrogenases de cadeia-muito-lon trifuncional. Esse complexo é distinto das enzimas que
ga, de cadeia-longa, de cadeia-média e de cadeia-curta catalisam a oxidação de acil-CoAs de cadeias média e
(VLCAD, LCAD, MCAD e SCAD). VLCAD, que oxida curta, todas proteínas solúveis da matriz mitocondrial.
acil-CoAs de cadeia linear na faixa de C12 a C24, dife A Correlação Clínica 17.5 descreve deficiências genéti
re dos outros membros da família porque é associada cas de acil-CoA desidrogenases.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 713

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.4

Deficiências Genéticas no Transporte por Carnitina (OMIM 212140) ou na Carnitina Palmitoil Transferase
(OMIM 600650)

Várias doenças resultam de anomalias genéticas no tura do tecido muscular, é frequentemente obser
transporte de ácidos graxos de cadeia longa através da vada. A doença é geralmente descrita como a forma
membrana mitocondrial interna. Elas se originam de muscular da deficiência de atividade de CPT II. Mu
deficiências no nível de carnitina ou na síntese e trans tações causando perda mais severa (90% ou mais) da
porte de acilcarnitinas. Mutações podem afetar a carni atividade de CPT II podem ter sérias consequências
tina palmitoiltransferase (CPT) ou a carnitina-acilcar no início da infância. Estas são geralmente desenca
nitina translocase mitocondrial. deadas por períodos de jejum e incluem hipoglicemia
hipocetótica, hiperamonemia, disfunção cardíaca e,
Duas categorias de deficiência de carnitina, pri às vezes, morte. Morbidade e mortalidade semelhan
mária e secundária, são hoje reconhecidas. A deficiên tes estão associadas com mutações no gene da CPT
cia primária de carnitina é causada por um defeito
I hepática. Até o momento, apenas alguns poucos
no transportador de carnitina de alta afinidade, da
pacientes com deficiência de CPT I hepática foram
membrana plasmática de tecidos como músculo, rim, descritos, provavelmente porque a doença é frequen
coração e fibroblastos (mas, aparentemente, não de temente letal. Nenhum defeito na isoforma muscular
fígado, onde opera um transportador diferente). Re da CPT I foi descrito.
sulta em níveis extremamente baixos de carnitina
nos tecidos afetados e no plasma (em decorrência da O primeiro paciente com deficiência da carnitina
incapacidade renal de reabsorver carnitina). Os sin -acilcarnitina translocase foi descrito em 1992. Os si
tomas clínicos da deficiência de carnitina vão desde nais clínicos incluem coma hipoglicêmico intermitente,
câimbras musculares recorrentes leves, até fraqueza hiperamonemia, fraqueza muscular e cardiomiopatia.
grave e morte. Os níveis muito baixos de carnitina A doença mostrou-se fatal aos três anos de idade. Vá
no coração e no músculo esquelético comprometem rios casos adicionais, com sintomatologia semelhante,
seriamente a oxidação de ácidos graxos de cadeia foram relatados desde então.
longa. A terapia com carnitina na dieta, que eleva a
concentração plasmática de carnitina e força sua en Essas doenças podem ser tratadas com uma dieta
trada nos tecidos de maneira inespecífica, é frequen pobre em ácidos graxos de cadeia longa e evitando-se
temente benéfica. A deficiência secundária de car o jejum, para minimizar condições nas quais os tecidos
nitina está frequentemente associada com defeitos requerem oxidação de ácidos graxos para obtenção de
hereditários na via da b-oxidação. Essas doenças fre energia. A dieta também pode ser suplementada com
quentemente ocasionam acúmulo de acilcarnitinas, triacilgliceróis de cadeia média, porque esses ácidos
que são excretadas na urina (ver Correlação Clínica graxos entram nas mitocôndrias por um mecanismo in
17.5), depletando, assim, a reserva de carnitina. Es dependente de carnitina.
sas acilcarnitinas também podem impedir a captação
Stanley, C. A., Hale, D. E., Berry, G. T., et al. A deficiency
de carnitina livre pelos tecidos. of carnitine-acylcarnitine translocase in the inner mitochon
drial membrane. N. Engl. J. Med. 327:19, 1992; Roe, C. R.
Existem várias deficiências diferentes de CPT. A e Dong, J. Mitochondrial fatty acid oxidation disorders. Em:
forma mais comum resulta de mutações no gene CPT Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The
II, que causa uma perda parcial da atividade enzimá Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease, Vol.
tica. Os pacientes geralmente apresentam fraqueza II, 8. ed. New York: McGraw-Hill, 2001, II: 2297; e Bonnefont,
muscular durante exercício prolongado, quando os J. P., Demaugre, F., Prip-Buus, C., Saudubray, J. M., et al. Car
músculos dependem muito de ácidos graxos como nitine palmitoyltransferase deficiencies. Mol. Gen. Metab.
fonte de energia. Mioglobinúria, decorrente de rup 68:424, 1999.

Rendimento Energético da sete FADH2 e sete NADH. Com base na estimativa atual do
rendimento em ATP na fosforilação oxidativa (p. 589),
ß-Oxidação de Ácidos Graxos cada FADH2 rende 1,5 ATPs e cada NADH gera 2,5 ATPs
quando oxidados pela cadeia de transporte de elétrons.
Cada ciclo de b-oxidação produz um acetil-CoA, um Portanto, a oxidação de sete NADH e um FADH2 produz
FADH2 e um NADH. Na oxidação de palmitoil-CoA, sete 28 ATPs A oxidação de cada acetil-CoA no ciclo dos áci
clivagens de ligações carbono–carbono ocorrem, com a dos tricarboxílicos rende 10 ATP (p. 590), de modo que
formação de dois acetil-CoAs na última clivagem. As os oito fragmentos de dois carbonos de uma molécula
sim, a b-oxidação do palmitato produz oito acetil-CoAs,
de palmitato produzem 80 ATP, dando um total de 108
714 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.5

Deficiências Genéticas das Acil-CoA Desidrogenases

Deficiências de acil-CoA desidrogenases represen ção de ácidos graxos deficiente no músculo, promove
tam um grupo de defeitos hereditários, descoberto re utilização de glicose, levando a profunda hipoglicemia.
centemente, que afetam a primeira reação da b-oxida O acúmulo de acil-CoAs de cadeia média nos tecidos
ção de ácidos graxos. Foram descritos pacientes com força seu metabolismo por vias alternativas, incluindo
mutações que afetam enzimas com especificidade para w-oxidação e transesterificação a glicina ou carnitina.
diferentes comprimentos de cadeia. Essas mutações A excreção urinária excessiva dos produtos da reação
incluem a acil-CoA desidrogenase de cadeia muito lon (ácidos dicarboxílicos de cadeia média, juntamente
ga (VLCAD), a acil-CoA desidrogenase de cadeia lon com ésteres de cadeia média de glicina e carnitina) são
ga (LCAD), a acil-CoA desidrogenase de cadeia média sinais diagnósticos dessa doença. Muitos casos ante
(MCAD) e a acil-CoA desidrogenase de cadeia curta riormente diagnosticados como síndrome tipo-Reye
(SCAD). Os pacientes com essas mutações autossômi ou síndrome da morte súbita na infância eram, de
cas recessivas compartilham muitos dos mesmos sinais fato, devidos a deficiência de MCAD. Pacientes com
clínicos. A mais bem caracterizada é a deficiência de essa doença são tratados evitando-se jejum prolongado
MCAD, que, apesar de somente ter sido reconhecida em e pela ingestão de uma dieta rica em carboidratos. Su
1982, é hoje considerada um dos mais comuns de todos plemento da dieta com carnitina repõe a carnitina que
os erros inatos de metabolismo. é perdida pela excreção aumentada de acilcarnitinas.
Isso é consistente com o fato de que as complicações
A deficiência de MCAD geralmente se manifesta du metabólicas da deficiência de MCAD só aparecem quan
rante os primeiros dois anos de vida. Os sintomas típi do os tecidos do corpo ficam muito dependentes de áci
cos, que se observam após um período de jejum de 12 dos graxos como fonte de energia.
horas ou mais, incluem vômitos, letargia e, frequente
mente, coma, acompanhados de hipoglicemia hipoce Rinaldo, P., Matern, D. e Bennett, M. J. Fatty acid oxida
tótica e acidúria por dicarboxílicos. A ausência de ceto tion disorders. Annu. Rev. Physiol. 64:477, 2002; e Wanders,
se por jejum deve-se ao bloqueio da oxidação hepática R. J. A., Vreken, P., den Boer, M. E. J., et al. Disorders of mi
de ácidos graxos, que também causa desaceleração da tochondrial fatty acyl CoA b-oxidation. J. Inher. Metab. Dis.
gluconeogênese. Esse bloqueio, acoplado com a oxida 22:442, 1999.

ATP. Entretanto, dois equivalentes de ATP são usados ß-Oxidação de Alguns Ácidos
para ativar palmitato a palmitoil-CoA (1 ATP é conver
tido em 1 AMP + PPi). Portanto, cada ácido palmítico Graxos Requer Etapas Adicionais
rende 106 ATP/mol na oxidação completa. A importân
cia dos ácidos graxos no suprimento das necessidades A via de b-oxidação oxida ácidos graxos saturados
energéticas do metabolismo humano é discutida na pá com número par de átomos de carbono a acetil-CoA. En
gina 874. tretanto, outros ácidos graxos da dieta, incluindo aque
les com duplas ligações cis, com cadeias ramificadas e
com número ímpar de átomos de carbono, requerem
Comparação entre Síntese e etapas adicionais para sua completa oxidação. Essas
etapas permitem que esses ácidos graxos sejam usados
Oxidação de Ácidos Graxos como combustíveis e impedem seu acúmulo. Outras
reações catalisam a a- e a w-oxidação de ácidos graxos.
As vias de síntese e oxidação de ácidos graxos são
A a-Oxidação ocorre em C2, em vez de C3, como ocorre
semelhantes. Entretanto, como muitas vias pareadas na b-oxidação, enquanto a w-Oxidação ocorre na extre
anabólicas e catabólicas, a síntese e a oxidação de áci midade metil da molécula de ácido graxo.
dos graxos não são o reverso uma da outra. As dife
renças críticas entre as duas vias são apresentadas na
Tabela 17.4, e incluem diferentes localizações celulares, CH3 O
diferentes cofatores (NADPH na biossíntese e FAD e
CH2CSCoA
NAD+ na oxidação) e o uso de ATP para direcionar a
formação de malonil-CoA para síntese de ácido graxo. FIGURA 17.22 Propionil-CoA.
Essas diferenças permitem que ambas as vias ocorram
no sentido direta porque o DG < 0 para ambas. As dife
renças também permitem regulação independente, que
impede ciclo fútil.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 715

TABELA 17.4 Comparação dos Esquemas de Biossíntese e b-Oxidação do Palmitato

Parâmetro Biossíntese b-Oxidação


Localização subcelular Primariamente citosólica Primariamente mitocondrial
Carregador de acil contendo fosfopanteteína Proteína carregadora de acil Coenzima A
Fragmento carbônico pequeno adicionado ou Átomos C1 e C2 de malonil Acetil-CoA
removido CoA após iniciação
Coenzima de oxidação-redução NADPH FAD quando a cadeia saturada
é desidrogenada, NAD+ quando
hidroxiácido é desidrogenado
Configuração estereoquímica dos D-b-Hidroxi L-b-Hidroxi
b-hidroxi intermediários
Equivalentes de energia gerados ou 7 ATP + 14 NADPH = 7 FADH2 + 7 NADH – 2 ATP = 26
utilizados na interconversão de palmitato e 49 equiv. de ATP equiv. de ATP
acetil-CoA

Oxidação de Ácidos Graxos de Cadeia Alguns Ácidos Graxos Sofrem a-Oxidação


Ímpar Produz Propionil-CoA
Como apontado anteriormente, existem vários me
Os ácidos graxos com um número ímpar de átomos canismos para hidroxilação de ácidos graxos. Alguns
de carbono são oxidados pela via da b-oxidação. Os ácidos graxos de cadeia longa são hidroxilados para sín
produtos da clivagem final pela tiolase são acetil-CoA tese de esfingolipídeos e outros ácidos graxos de cadeia
e propionil-CoA (Figura 17.22). O propionil-CoA, que curta são hidroxilados no carbono a para iniciar sua
também é produzido pelo catabolismo de isoleucina, oxidação. A sequência é a seguinte:
valina e metionina, é metabolizado por carboxila CH3 O
ção a metilmalonil-CoA e conversão em succinil-CoA
(p. 802). (CH2)n CH2COH CH3 (CH2)n

OH O O O
Oxidação de Ácidos Graxos Insaturados
CH COH CH3 (CH2)n C C OH
Requer Enzimas Adicionais
O
Os ácidos graxos insaturados são utilizados por
CH3 (CH2)n COH + CO2
b-oxidação, mas reações adicionais são necessárias
para lidar com duplas ligações cis. O metabolismo
começa com vários ciclos de b-oxidação, o que gera Algumas dessas hidroxilações ocorrem no retículo
intermediários que têm duplas ligações perto do car endoplasmático e na mitocôndria e envolvem monoo
bono da carboxila. Duplas ligações começando em xigenases (família P450) que requerem O2 e NADH ou
átomos de carbono ímpares ou pares requerem dife NADPH. A a-hidroxilação de ácidos graxos também
rentes estratégias. A oxidação de linoleil-CoA, (18:2) ocorre em peroxissomos. Esta é particularmente im
(Figura 17.23) ilustra esse processo. A b-oxidação portante no metabolismo de ácidos graxos de cadeia ra
gera um intermediário enoil-CoA com uma dupla liga mificada (Correlação Clínica 17.6). Um ácido graxo de
ção cis entre C3 e C4, em lugar do intermediário com cadeia ramificada, como fitanoil-CoA, que é derivado da
uma ligação trans entre C2 e C3 que é necessário para clorofila da dieta, sofre a ação de uma hidroxilase, em
a enoil-CoA hidratase. Enoil-CoA isomerase muda o uma reação envolvendo a-cetoglutarato, Fe2+ e ascor
cis-D3 para um trans-D2-enoil-CoA, que pode então bato, com a geração de 2-hidroxifitanoil-CoA e formil
ser metabolizado por b-oxidação. -CoA. O último é metabolizado a CO2 via ácido fórmico.
O 2-hidroxifitanoil-CoA é, depois, metabolizado a ácido
Um segundo problema ocorre quando a dupla li pristânico, que passa pela b-oxidação.
gação cis do acil-CoA intermediário reside entre C4 e
C5. Nesse caso, a ação da acil-CoA desidrogenase dá -Oxidação Dá Origem a Ácidos
origem a um trans-2, cis-4-enoil-CoA. Sobre este, age Dicarboxílicos
a 2,4-dienoil-CoA redutase, que produz um trans-3
enoil-CoA, usando equivalentes de redução de NADPH. A w-Oxidação é outra via minoritária para oxidação
Enoil-CoA isomerase então produz trans-2-enoil-CoA, de ácidos graxos, que ocorre no retículo endoplasmáti
que é um substrato para b-oxidação. co de muitos tecidos. Nessa via, a hidroxilação ocorre
no carbono metil da extremidade oposta da molécula, a
716 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

H HH H
O
C C C C
CH3(CH2)4 CH2 CH2(CH2)4 CH2 CH2 CSCoA Linoleoil CoA

βOxidação O

3CH3 C SCoA

H HH H
O
C C C C
CH3(CH2)4 CH2 CH2CSCoA Um cis-3-enoil CoA

enoil-CoA isomerase

H H H C SCoA
C C C C
CH3(CH2)4 CH2CH2 H
Um trans-2-enoil CoA

O
βOxidação CH3C SCoA

H H
C C O

CH3(CH2)4 CH2CH2CSCoA Um cis-4-enoil CoA

acil-CoA desidrogenase

H C C H H O

CH3(CH2)4 H C C CSCoA Um trans-2, cis-4-enoil CoA

2,4-dienoil-CoA NADPH + H+

redutase NADP+

H O

CH3(CH2)4CH2CCCH2CSCoA Um trans-3-enoil CoA


H

enoil-CoA isomerase

O
H
CH3(CH2)4CH2CH2CCCSCoA Um trans-2-enoil CoA
H

βOxidação
O

5CH3 C SCoA
FIGURA 17.23 Oxidação de linoleil-CoA.

partir
tremidade
se quedo
requer
grupo
metil.
O2carboxila, ou nousa
A w-Oxidação uma monooxigena-
carbono vizinho à ex- podem ser mais oxidados no citosol a ácidos dicarboxí
licos, pela ação sequencial de álcool e aldeído desidro
e NADPH. Ácidos graxos hidroxilados genases citosólicas. Os ácidos graxos de cadeia média
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 717

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.6

Doença de Refsum (OMIM 266500)

Embora a a-oxidação de ácidos graxos seja relati Pacientes com uma doença genética rara chamada
vamente minoritária em termos de produção total de doença de Refsum não têm a enzima de peroxissomos
energia, é significativa no metabolismo de ácidos gra que catalisa a a-hidroxilação e acumulam grandes
xos de cadeia ramificada da dieta. O principal exemplo quantidades de ácido fitânico em seus tecidos e no soro.
é o ácido fitânico, um produto metabólico do fitol, que é Isso leva a graves problemas neurológicos como retinite
um constituinte da clorofila. O ácido fitânico é um cons pigmentosa, neuropatia periférica, ataxia cerebelar e
tituinte significativo da gordura do leite e de animais. surdez neurológica. A restrição de produtos derivados
Esse ácido não pode ser oxidado pela b-oxidação em do leite e de carne de ruminantes, na dieta, resulta na
virtude da presença do grupo 3-metil. É metabolizado diminuição do ácido fitânico plasmático e na regressão
por a-hidroxilação seguida de desidrogenação e des dos sintomas neurológicos.
carboxilação. b-Oxidação pode degradar completamen
Wanders, R. J. A., van Grunsven, E. G. e Jansen, G. A. Lipid
te a molécula resultante, produzindo três moléculas de
metabolism in peroxisomes: enzymology, functions and dys
propionil-CoA, três moléculas de acetil-CoA e uma mo functions of the fatty acid a- and b-oxidation systems in hu
lécula de isobutiril-CoA. mans. Biochem. Soc. Trans. 28:141, 2000.

CH3 CH3 CH3 CH3

CH3 CH(CH2CH
)3(CH2)3CH(CH2)3 CHCH2 COOH
Ácido fitânico

são os principais substratos para essa via. As reações HGM-CoA É um Intermediário da Síntese
gerais são de Acetoacetato a partir de Acetil-CoA
O O
Os corpos cetônicos são formados no fígado (e, em
CH3 (CH2)n C OH HOCH2(CH2)n COH menor escala, na córtex renal durante o jejum prolon
O O
gado). Sua síntese ocorre na matriz mitocondrial e co
meça com a condensação de duas moléculas de acetil
HO C(CH2)n C OH -CoA para formar acetoacetil-CoA, em uma reação que
é o inverso da etapa final da b-oxidação (Figura 17.25).
Esses ácidos dicarboxílicos formam ésteres de CoA A enzima envolvida, b-cetotiolase, é uma isoenzima da
em qualquer um dos grupos carboxila e, depois, passam enzima que funciona na b-oxidação. HGM-CoA sintase
pela b-oxidação para produzir ácidos dicarboxílicos de catalisa a condensação de acetoacetil-CoA com outra
cadeia mais curta, como ácidos adípico (C6) e succínico molécula de acetil-CoA, para formar b-hidroxi-b-me
(C4). Esse processo ocorre primariamente nos peroxis tilglutaril-coenzima A (HGM-CoA). A HGM-CoA liase
somos. então cliva HMG-CoA para produzir ácido acetoacético
e acetil-CoA.
Corpos Cetônicos São Formados a
O O
partir de Acetil-CoA
CH3 C CH2 C OH
Os corpos cetônicos são produtos hidrossolúveis
da oxidação de lipídeos, que são formados nas mito Ácido acetoacético

côndrias do fígado e do rim durante o jejum prolon


OH O
gado. Os corpos cetônicos, ácido acetoacético e seu
produto de redução ácido b-hidroxibutírico, são feitos CH3 CHCH2COH
a partir do acetil-CoA que é produzido no catabolismo Ácido β-Hidroxibutírico
de ácidos graxos e de aminoácidos (Figura 17.24). Os
corpos cetônicos são uma importante adaptação ao je FIGURA 17.24 Estrutura dos corpos cetônicos.
jum prolongado; eles podem estar presentes em altas
concentrações no sangue (>3 mM) e são uma impor
tante fonte de energia para muitos tecidos (ver Corre
lação Clínica 17.3).
718 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

O ∼3:1. b-Hidroxibutirato e acetoacetato são liberados do


2 CH CSCoA fígado e do rim para uso de outros tecidos. O b-hidro
3
xibutirato também exporta equivalentes de redução da
Acetil CoA
oxidação de ácidos graxos.
cetotiiolase Algum acetoacetato passa por descarboxilação es
CoA pontânea, não-enzimática, para acetona:

O O O O O
CH CCH2CSCoA CH3 CC
CH2 OJ + H+ CH3CCH3 + CO2
3
Acetoacetil CoA
O A formação de acetona é desprezível em condições
CH3CSCoA HMG-CoA sintase normais, mas em altas concentrações de acetoacetato,
Acetil CoA que pode ocorrer na cetoacidose diabética grave (Cor
CoA relação Clínica 17.7), a acetona pode chegar a níveis su
ficientemente altos para ser detectada no hálito.
OH
HOOCCH2CCH2CSCoA
O
HMG-CoA é também um intermediário da síntese
de colesterol (p. 738). Entretanto, o HMG-CoA usado
CH3 na síntese de corpos cetônicos e na de colesterol está
3-Hidroxi, 3-metil-glutaril CoA presente em reservatórios metabólicos diferentes. O
(HMG CoA) HMG-CoA usado para cetogênese é sintetizado nas
mitocôndrias hepáticas (e renais) por uma isozima da
O HMG-CoA sintase que é expressa em altos níveis du
HMG-CoA liase CH3CSCoA
rante o jejum prolongado. Além disso, a HGM-CoAliase,
Acetil CoA que converte HMG-CoA em acetoacetato e acetil-CoA,
O é expressa só em mitocôndrias hepáticas (e renais). Di
CH CCH2COOH ferentemente, o HMG-CoA para síntese de colesterol é
3
Acetoacetato feito em baixos níveis no citosol de muitos tecidos por
NADH + H+ uma isozima citosólica da HMG-CoA sintase.
espontânea β-Hidroxibutirato
desidrogenase
CO2 NAD+ Utilização de Corpos Cetônicos por
CH3 O OH Tecidos Não-Hepáticos Requer a
C
Acetona CH3 CH3CHCH2COOH
b-Hidroxibutirato
Formação de Acetoacetil-CoA
Acetoacetato e b-hidroxibutirato produzidos pelo
FIGURA 17.25 Os corpos cetônicos são sintetizados a
partir de acetil-CoA em mitocôndrias hepáticas. fígado são excelentes combustíveis para muitos tecidos
não-hepáticos, incluindo músculo cardíaco, músculo
esquelético e cérebro, particularmente quando o su
Acetoacetato Forma D-b-Hidroxibutirato e primento de glicose é baixo (jejum prolongado) ou é
Acetona deficientemente usada (deficiência de insulina). Nessas
condições, esses tecidos oxidarão ácidos graxos livres,
Parte do acetoacetato é reduzida a D-b-hidroxibu cuja concentração no sangue aumenta à medida que os
tirato nas mitocôndrias pela b-hidroxibutirato desi níveis de insulina caem. Durante o jejum prolongado, os
drogenase. Note que o produto da b-hidroxibutirato corpos cetônicos substituem a glicose como combustí
desidrogenase é o D-b-hidroxibutirato, enquanto o b− vel, particularmente no cérebro, que começa a usar cor
-hidroxibutiril-CoA formado durante a b-oxidação é o pos cetônicos após 2-3 dias de jejum. Isso reduz a ne
isômero L. A extensão dessa reação depende da razão cessidade de produção de glicose por gluconeogênese
intramitocondrial NAD+/NADH. Como a b-hidroxibu durante o jejum prolongado, “economizando”, assim, a
tirato desidrogenase tem muita atividade no fígado, as proteína muscular que fornece aminoácidos para a glu
concentrações de seus substratos e produtos são man coneogênese (p. 638). Acetoacetato e b-hidroxibutirato
tidas perto do equilíbrio. Portanto, a razão entre b-hi também servem de precursores para a síntese de lipíde
droxibutirato e acetoacetato no sangue reflete a razão os cerebrais durante o período neonatal.
NAD+/NADH nas mitocôndrias hepáticas. Durante o je
jum, essa razão é relativamente alta por causa do NADH Corpos cetônicos são metabolizados nas mitocôn
gerado pela oxidação de ácidos graxos, favorecendo a drias de tecidos não-hepáticos. A b-hidroxibutirato
formação de b-hidroxibutirato; no homem em jejum desidrogenase converte b-hidroxibutirato em acetoace
de uma noite, a razão b-hidroxibutirato/acetoacetato é tato por uma oxidação NAD-ligada na matriz mitocon
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 719

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.7

Corpos Cetônicos Como Combustíveis: A Dieta de Atkins

A popularidade atual de dietas pobres em carboi cretada na urina, e uma parte é eliminada pela respi
dratos para perda de peso enfatiza a importância do ração. Poderia isso ser responsável pela maior perda de
metabolismo de corpos cetônicos como combustíveis peso observada em indivíduos na dieta de Atkins? Para
no homem. A mais conhecida dessas foi populariza comparação, após sete dias de jejum, a taxa de excre
da pelo falecido Dr. Robert Atkins em seu livro Dr. ção urinária diária de acetoacetato e b-hidroxibutirato
Atkins’ Diet Revolution, que vendeu mais de 6 mi no homem é aproximadamente 110 mmol/dia; a taxa de
lhões de cópias. A dieta de Atkins é rica em gordu excreção é ainda menor no início do jejum (60 mmol/dia
ra e proteína e muito pobre em carboidratos (menos após dois dias de jejum). Essa excreção poderia con
de 20 g/dia durante a fase inicial) e tem sido muito tribuir para o balanço calórico negativo e a perda de
controversa entre os médicos em virtude de seu alto peso característicos da dieta de Atkins, embora a perda
conteúdo de gordura. Os indivíduos que fazem essa de energia não exceda 100 kcal/dia. É mais provável,
dieta frequentemente perdem uma quantidade consi entretanto, que o alto conteúdo de gordura da dieta de
derável de peso, a despeito da promessa do autor que Atkins reduza o apetite e, assim, a ingestão de alimen
os pacientes podem “parar de contar calorias e medir tos. Além disso, na ausência de carboidratos, a dieta é
porções”. Estudos clínicos controlados demonstraram monótona e persistência é um grande problema.
que indivíduos obesos perdem mais peso em uma die
ta rica em gordura/pobre em carboidratos do que em Em geral, a cetose surge quando a oxidação de glico
uma dieta isocalórica com níveis mais altos de carboi se é suprimida e o catabolismo de gordura é acelerado.
dratos. Surpreendentemente, uma notável queda foi Existem dois tipos de cetose: a cetose normal do jejum
observada nos níveis de triacilgliceróis no sangue de e a hipercetonemia patológica da cetoacidose diabéti
indivíduos em uma dieta rica em gordura/pobre em ca. Nenhum outro combustível do sangue humano pode
carboidratos. Por exemplo, um teste de dois anos que mudar tão drasticamente como corpos cetônicos e ain
comparou uma dieta pobre em carboidratos/rica em da ser compatível com a vida. Após uma noite de jejum,
gordura (uma dieta tipo Atkins) com uma dieta pobre a concentração de corpos cetônicos é aproximadamen
em gordura/rica em carboidratos, uma dieta no estilo te 0,05 mM, mas essa concentração pode subir para 2
Mediterrâneo, foi feito em 322 sujeitos, com um BMI mM após dois dias de jejum e para 7 mM após 40 dias,
uma mudança de 140 vezes na concentração. Em um
médio de 31. Os indivíduos da dieta rica em gordura/
pobre em carboidratos perderam em média 10,2 libras estudo original, O. E. Owen e colaboradores demonstra
ram que durante o jejum prolongado, acetoacetato e b−
(4,7 kg) comparados com uma perda de 6,4 libras (2,9
kg) para o grupo da dieta rica em carboidratos/pobre -hidroxibutirato substituem a glicose como o combustí
em gordura. Além disso, houve uma redução em 20% vel predominante no cérebro. Isso reduz a necessidade
na razão de colesterol total para HDL colesterol no de síntese de glicose a partir de aminoácidos derivados
grupo da dieta rica em gordura, e uma redução de ape de proteína muscular e do fígado. O músculo consome
nas 12% nessa razão para os indivíduos da dieta rica avidamente corpos cetônicos logo no início do jejum,
em carboidratos. Os autores concluíram que a dieta mas muda para oxidação de ácidos graxos à medida que
rica em gordura/pobre em carboidratos era mais segu o jejum progride, economizando assim corpos cetônicos
ra para o consumo humano a longo prazo, e que trouxe para o metabolismo do cérebro. Portanto, corpos cetô
benefícios metabólicos; eles sugeriram que esta fosse nicos são um combustível normal para uma variedade
considerada em programas de perda de peso para pa de tecidos, e são parte de um padrão complexo de me
cientes obesos. tabolismo de combustíveis que ocorre durante o jejum
no homem.
Na dieta de Atkins, a mobilização de ácidos graxos
do tecido adiposo e sua conversão pelo fígado em cor Owen, E. E., Morgan, A. P., Kemp, H. G., Sullivan, J. M., et
pos cetônicos (b-hidroxibutirato, acetoacetato e aceto al. Brain metabolism during fasting. J. Clin. Invest. 46: 1589,
na) é central. A dosagem de corpos cetônicos na urina 1967; Feinman, R. D. e Fine, E. J. Thermodynamic and me
tabolic advantage of weight loss diets. Metabolic Syndrome
é o método prescrito para determinar o estado metabó
and Related Disorders 1:209, 2003; Samaha, F. F., Iqbal, N.
lico durante a dieta, uma vez que, mesmo quantidades Seshadri, P. Chicano, K. L. et al. A low-carbohydrate, as com
pequenas de carboidratos na dieta reprimem a síntese pared with a low-fat diet in severe obesity. N. Engl . J. Med.
de corpos cetônicos, principalmente por inibirem a li 348:21, 2003; e Shai, I., Schwarzfuchs, D., Henkin, Y., Shahar,
pólise no tecido adiposo. À medida que a concentração D. R. et al. Weight loss with a low-carbohydrate, Mediterrane
de corpos cetônicos sobe no sangue, uma fração é ex an, or low-fat diet. N. Engl. J. Med. 359: 229, 2008.
720 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Ácidos graxos
Aminoácidos

2 Acetil-CoA
Ciclo TCA
cetotiolase
CoA

Acetoacetil-CoA 2 Acetil-CoA
Acetil-CoA
HMG-CoA
cetotiolase
sintase
CoA CoA

Hidroximetilglutaril-CoA Acetoacetil-CoA
Succinato
HMG-CoA
liase tioforase Succinil-CoA
Acetil-CoA

Acetoacetato Acetoacetato

β-hidroxibutirato NADH + H+ NADH + H+


corrente sanguínea desidrogenase
β-hidroxibutirato
desidrogenase
NAD+ NAD+
β-Hidroxibutirato β-Hidroxibutirato

FIGURA
e utilização
17.26
deSíntese
corpos
mitocôndria hepática mitocôndria de músculo,
cetônicos. cérebro e outros tecidos

drial. O acetoacetato é, então, convertido em seu deri mas difere da b-oxidação mitocondrial em três aspec
vado CoA pela acetoacetato:succinil-CoA transferase tos importantes. Primeiro, a desidrogenação inicial é
(tioforase), que está presente em tecidos que usam cor realizada por um sistema de oxidase que usa O2 e pro
pos cetônicos, mas não no fígado. Succinil-CoA serve de duz H2O2 (Figura 17.27). A H2O2 formada é consumida
fonte de CoA. A reação é apresentada na Figura 17.26. A pela catalase. As etapas remanescentes são as mesmas
b-cetotiolase converte o acetoacetil-CoA em dois acetil do sistema de b-oxidação mitocondrial. Segundo, as
-CoAs, que entram no ciclo dos ácidos tricarboxílicos enzimas de peroxissomos e de mitocôndrias diferem
para produção de energia. em sua especificidade; as enzimas de peroxissomos
preferem ácidos graxos de mais do que oito carbonos.
Em resumo, as vias de síntese e utilização de corpos Embora as mitocôndrias de fígado de rato realizem a
cetônicos compartilham várias etapas. Entretanto, há oxidação completa de acil graxo-CoAs até acetil-CoA,
etapas que são específicas para cada via. As enzimas a b-oxidação em peroxissomos de fígado não vai além
chaves da síntese de corpos cetônicos, HMG-CoA sinta de octanoil-CoA (C8). Portanto, os peroxissomos encur
se e HMG-CoAliase, são expressas no fígado (e na córtex tam ácidos graxos de cadeia longa até um ponto no qual
renal), mas não em outros tecidos. A enzima chave da a b-oxidação possa ser completada nas mitocôndrias.
utilização de corpos cetônicos, acetoacetato;succinil É interessante notar que as tiazolidinedionas, drogas
-CoA transferase, está presente em muitos tecidos, mas antidiabéticas que reduzem a resistência periférica à
não no fígado. Essas diferenças garantem que os corpos
insulina e diminuem os níveis de triacilglicerol em pa
cetônicos sejam produzidos no fígado e utilizados em cientes, causam um grande aumento nos peroxissomos.
outros tecidos.

CH3 O

A Oxidação em Peroxissomos de (CH2)n CH2 CH2 C SCoA

Ácidos Graxos Cumpre Muitas flavoproteína H2O2

Funções flavoproteína-H2 O2

Embora a maior parte da oxidação de ácidos graxos CH3 O


ocorra na mitocôndria, uma fração significativa tam
(CH2)n CHCH C SCoA
bém ocorre nos peroxissomos do fígado, do rim e de
outros tecidos. Os peroxissomos são uma classe de or FIGURA 17.27 Etapa inicial da oxidação de ácidos graxos
ganelas subcelulares com características morfológicas nos peroxissomos.
e químicas distintas (p. 21). Os peroxissomos do fígado
contêm as enzimas necessárias para b-oxidação. A via Outras reações de peroxissomos incluem o encurta
de oxidação de ácidos graxos nos peroxissomos de mento de ácidos dicarboxílicos, a conversão de coleste
mamíferos é semelhante à dos glioxissomos de plantas, rol em ácidos biliares e a formação de lipídeos éteres.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 721

Graças a esses diversos papéis metabólicos, não é sur Regulação no Estado de Jejum
preendente que a ausência congênita de peroxissomos
funcionais, um defeito hereditário conhecido como sín O jejum resulta em uma mudança drástica no meta
drome de Zellweger, tenha efeitos tão devastadores (ver bolismo de lipídeos, com parada da deposição de lipídeos
Correlação Clínica 1.7, p. 212). e dependência do triacilglicerol armazenado. À medida
que a concentração de glicose no sangue diminui, há
um decréscimo paralelo na concentração de insulina na
17.7 REGULAÇÃO DO circulação.
Há também um aumento de epinefrina e glucagon,
METABOLISMO DE os quais elevam o nível de cAMP hepático e ativam a
LIPÍDEOS proteína quinase A. No tecido adiposo, há uma fosfo
rilação aumentada da lipase hormônio-sensível e da
perilipina, resultando em um aumento na quebra de
Regulação no Estado Alimentado triacilglicerol e na liberação de ácidos graxos livres e
O metabolismo de lipídeos no homem é controlado glicerol desse tecido (ver Tabela 17.2, para um resumo
pelo estado dietético do indivíduo via um conjunto com desses controles).
plexo de sinais hormonais. Depois de uma refeição que
No fígado, essas mudanças hormonais levam a uma
contém lipídeos, carboidratos e proteínas, o lipídeo da
diminuição na síntese de ácidos graxos, em virtude
dieta é depositado como triacilglicerol no tecido adipo da redução nos níveis de enzimas chaves (ver Tabela
so. Além disso, os carboidratos e os aminoácidos da die
ta, em excesso em relação ao necessário para energia 17.3). Há também inibição da enzima limitante da ve
locidade, acetil-CoA carboxilase, por causa da fosfori
ou para síntese de proteínas, são convertidos em ácidos
lação cAMP-dependente da enzima. A glicólise é tam
graxos e depositados no tecido adiposo como triacilgli
bém inibida; isso diminui o suprimento de acetil-CoA
cerol. O principal hormônio anabólico, insulina, é ne para a lipogênese. O fígado começa a produzir corpos
cessário para síntese de ácidos graxos e para a forma
ção de triacilglicerol no tecido adiposo. Um resumo é cetônicos à medida que o jejum progride, em virtude
de um aumento na taxa de oxidação de ácidos graxos
apresentado nas Tabelas 17.2 e 17.3. A insulina age em
causado pelos níveis aumentados de ácidos graxos no
dois níveis; induz a transcrição de genes que codificam
sangue. Durante o jejum prolongado, cerca da metade
enzimas críticas das vias de síntese e armazenamento
dos ácidos graxos que entram no fígado é convertida em
de lipídeos (regulação de longo prazo) e controla pro
corpos cetônicos e liberada no sangue para utilização
cessos como captação de glicose e hidrólise de triacil
por tecidos como músculo, coração e (após dois dias de
glicerol (regulação de curto prazo).
jejum) o cérebro, economizando assim o uso de glicose.
A insulina estimula a síntese de ácidos graxos por au
mentar os níveis de enzimas chaves, incluindo a ácido
graxo sintase, a NADP-malato desidrogenase (enzima Regulação da Oxidação de Ácidos
málica) e a acetil-CoA carboxilase, no fígado, por induzir Graxos
a transcrição de seus genes. A insulina também estimula
a síntese de glicose 6-fosfato desidrogenase e 6-fosfoglu A velocidade de oxidação de ácidos graxos na mi
conato desidrogenase, as duas enzimas da parte oxidati tocôndria é controlada pela regulação da entrada de
va da via das pentoses, que geram parte do NADPH que substratos nessa organela. A enzima chave é a carnitina
é necessário para a síntese de ácidos graxos. O efeito de palmitoiltransferase I (CPT I), que sintetiza acilcarni
curto prazo da insulina na síntese hepática de ácidos tina a partir do acil-CoA citosólico (ver Figura 17.20).
graxos é exercido pela ativação de uma fosfoproteína No fígado, a acetil-CoA carboxilase é ativada no esta
fosfatase específica, que remove fosfato da acetil-CoA do alimentado, porque os níveis da enzima são altos,
carboxilase, ativando assim essa enzima. O fluxo aumen a fosforilação cAMP-dependente é baixa, e a enzima é
tado pela glicólise é também importante para fornecer ativada por citrato. A alta concentração resultante de
acetil-CoA para a síntese de ácidos graxos. malonil-CoA estimula a síntese de ácidos graxos, mas
bloqueia a oxidação de ácidos graxos por inibir a CPT I.
No tecido adiposo, a insulina é necessária no estado Essa regulação impede um ciclo fútil. Ao contrário, no
alimentado para captação de glicose via GLUT 4. O meta estado de jejum, a atividade da acetil-CoA carboxilase
bolismo dessa glicose via glicólise fornece glicerol 3-fos no fígado é baixa porque os níveis da enzima estão di
fato para a síntese de triacilglicerol. A insulina também a minuídos, a enzima está fosforilada, e o citrato também
quebra de triacilglicerol por inibir a lipólise, evitando as está diminuído. A CPT I está ativa e a oxidação de áci
sim um ciclo fútil. Como no fígado, a insulina exerce seus dos graxos ocorre em alta velocidade, nessas condições,
efeitos de curto prazo por meio da ativação de fosfopro em virtude dos baixos níveis de malonil-CoA.
teína fosfatases. Isso diminui a fosforilação de proteínas
chaves, incluindo a lipase hormônio-sensível e a perilipi A oxidação de ácidos graxos no músculo é também
na, levando à quebra diminuída de triacilgliceróis. regulada por malonil-CoA, embora esse tecido não sin
722 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

tetize ácidos graxos. O músculo contém uma isoenzima graxos no estado de jejum e a inibe no estado alimen
da acetil-CoA carboxilase que produz malonil-CoA ex tado.
clusivamente para regulação da CPT I. A enzima é ati
vada por citrato e inibida por fosforilação. É fosforilada A segunda quinase, que é regulada por AMP, liga a
pela proteína quinase A e por uma quinase dependente velocidade de oxidação de ácidos graxos com o estado
de AMP. A fosforilação pela primeira enzima permite energético do músculo. No músculo em repouso, os ní
que a oxidação de ácidos graxos seja regulada pelo esta veis de AMP são baixos. Como resultado, a quinase de
do dietético. No estado alimentado, a alta concentração pendente de AMP está inativa, a acetil-CoA carboxilase
de insulina resulta em baixos níveis de fosforilação. A está ativa e o malonil-CoA que é gerado inibe a CPT I e a
acetil-CoA carboxilase produz malonil-CoA, que inibe a oxidação de ácidos graxos. No músculo em exercício, al
CPT I e bloqueia a oxidação de ácidos graxos. Ao con tos níveis de AMP ativam a proteína quinase. A inibição
trário, no estado de jejum, a alta concentração de cAMP resultante da acetil-CoA carboxilase resulta em baixos
estimula a fosforilação da acetil-CoA carboxilase, re níveis de malonil-CoA e a ativação de ambos, CPT I e
sultando em sua inibição.Como consequência, a CPT I oxidação de ácidos graxos. Essa regulação permite que
facilita a entrada de ácidos graxos na mitocôndria para o exercício estimule a velocidade de oxidação de gordu
ra, por meio da produção aumentada de AMP.
oxidação. Essa regulação promove a oxidação de ácidos

CORRELAÇÃO CLÍNICA 17.8

Ácidos Graxos como Moléculas Regulatórias

A maioria dos livros de bioquímica trata extensa Esse efeito representa um eixo cérebro-fígado, uma
mente do papel crítico dos ácidos graxos no metabo vez que a elevação da concentração de ácido oleico no
lismo energético e, para isso, enfatiza as vias de sua sangue não altera a produção hepática de glicose. O
síntese, degradação e modificação. Entretanto, os efeito do ácido oleico no cérebro depende da ativação
ácidos graxos também funcionam como moléculas de canais de K+ pela proteína quinase C (PKC); várias
regulatórias, que desempenham um papel chave no isoformas de PKC são ativadas por ácidos graxos. Ou
controle da expressão gênica, do apetite e da síntese tro ponto de regulação é o intestino delgado superior.
hepática de glicose. Os ácidos graxos da dieta regulam Há evidências em roedores e no homem indicando que
a expressão gênica por alterarem a atividade de um a gordura ativa um eixo intestino-cérebro-fígado, que
dentre vários receptores ativados por proliferadores sinaliza a saciedade e controla a síntese e a liberação
em peroxissomos (PPARs, peroxisome proliferator de glicose pelo fígado. A administração direta de áci
-activated receptors), que são fatores de transcrição dos graxos no intestino superior aumenta os níveis de
da família dos receptores nucleares. A importância LCFA-CoA e reprime a produção hepática de glicose.
dos PPARs no controle da homeostase energética é A importância desse eixo é estabelecida por experi
exemplificada pelo amplo uso clínico de tiazolidine mentos mostrando que o efeito de LCFA-CoA é aboli
dionas, que são antagonistas do PPARγ, para o contro do quando a inervação do intestino pelo nervo vago é
le do diabetes (ver Correlação Clínica 17.1 para uma interrompida. Fica claro que a visão dos ácidos graxos
discussão detalhada sobre a função desses fatores de apenas como combustível para o metabolismo energé
transcrição). Os ácidos graxos ativam os PPARs e pro tico e como constituintes de lipídeos complexos é uma
movem a deposição de triacilglicerol e a utilização de super-simplificação. Essas moléculas também desem
glicose pelos adipócitos. Os ácidos graxos de cadeia penham funções complexas na regulação de adapta
longa (LCFA, long chain fatty acids) também atuam ções metabólicas à disponibilidade de nutrientes.
no cérebro para regular o apetite via seus derivados
CoA. A administração de ácido oleico nos ventrículos
Yki-Jarvinen, H. Thiazolidinediones. N. Engl. J. Med.
do cérebro de rato suprime o apetite por diminuir a
351: 1106, 2004; Wang, P.Y., Caspi, L., Lam, C. K., Chari, M.,
expressão de neuropeptídeos hipotalâmicos que au et al. Upper intestinal lipids trigger a gut-brain-liver axis to
mentam1 o apetite (neuropeptídeo Y e proteína rela regulate glucose production. Nature 452: 1012, 2008; Jump,
cionada com agouti); ácidos graxos elevados no hipo D. B., Botolin, D., Wang, Y., Xu, J., et al. Fatty acid regulation
tálamo sinalizam um excesso de energia. Esse efeito é of hepatic gene transcription. J. Nutr. 135: 2503, 2005; e Lam,
independente da leptina, um hormônio produzido no T. K., Schwartz, G. J. e Rossetti, L. Hypothalamic sensing of
tecido adiposo e um inibidor chave do apetite de ma fatty acids. Nat. Neurosci. 8: 579, 2005.
míferos (ver Correlação Clínica 21.1). A administração
_
de ácido oleico no cérebro também diminui muito a
1 No original, “neuropeptídeos que inibem o apetite”. Porém, tanto o
produção hepática de glicose e a atividade da glico neuropeptídeo Y como AGRP (proteína relacionada com agouti) indu
se 6-fosfatase, uma enzima chave da gluconeogênese. zem ou aumentam o apetite, induzindo obesidade (N.T.).
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 723

Ácidos Graxos Como Moléculas quinase C, bem como os fatores de transcrição PPARγ
e NFkB que, por sua vez, inibem a ação da insulina por
Regulatórias meio do bloqueio da ativação de intermediários da via
de sinalização da insulina. Esses efeitos dos ácidos
Os ácidos graxos são, eles próprios, moléculas regu
graxos têm dramáticas consequências na regulação do
latórias no fígado, no músculo e no tecido adiposo. No metabolismo de carboidratos no músculo (Correlação
músculo, acil-CoAs de cadeia longa ativam a proteína Clínica 17.2 e 17.8).

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Termos Chaves
ácido fosfatídico ATP citrato liase lançadeira carnitina/car oxidação de ácidos graxos
ácido graxo sintase cetogênese nitina (b-oxidação)
ácido palmítico coenzima A (CoA) lipase hormônio-sensível perilipina
ácidos graxosessenciais,
insaturados, (saturados,
de corpos cetônicos lipase pancreática peroxissomos
dessaturação de ácido lipase triglicéride do adi propionil-CoA
cadeia ramificada) graxo poso proteína carregadora de
ácidos graxos poli-insatu
livres elongação de ácido graxo lipogênese acil
enzima málica lipólise quilomícron
rados lipoproteína de densidade síntese de ácidos graxos
glicerol 3-fosfato
acilgliceróis (mono, die muito baixa (VLDL) tecido adiposo branco
glicerol quinase
tri) lipoproteína lipase
gliceroneogênese tecido adiposo marrom
anaplerose/cataplerose malonil-CoA via da clivagem de citrato
insulina

Questões • CAROL N. ANGSTADT


Questões de Múltipla Escolha C. introduz duplas ligações primariamente na
configuração trans.
1. Todas as afirmações seguintes sobre a acetil-CoA
carboxilase são corretas, exceto D. só pode ocorrer depois que o palmitato foi
A. catalisa a etapa limitante da velocidade da sín alongado a ácido esteárico.
E. introduz a primeira dupla ligação na extremi
tese de ácidos graxos
dade metil da molécula.
B. requer biotina.
4. Lipoproteína lipase:
C. é inibida por fosforilação mediada por cAMP.
A. é uma enzima intracelular.
D. é ativada por palmitoil-CoA.
B. é estimulada por fosforilação mediada por
E. seu conteúdo em uma célula responde a mu cAMP.
danças no conteúdo de gordura da dieta.
C. funciona para mobilizar triacilgliceróis arma
2. Durante a síntese de palmitato em células do fígado, zenados no tecido adiposo.
A. a adição de malonil-CoA à ácido graxo sintase D. é estimulada por uma das apoproteínas pre
alonga a cadeia nascente em três átomos de sente na VLDL.
carbono. E. produz ácidos graxos livres e um monoacilgli
B. um resíduo b-ceto na porção 4!-fosfopanteteína cerol.
é reduzido a um resíduo saturado por NADPH. 5. a-Oxidação
C. palmitoil-CoA é liberado da sintase. A. é importante no metabolismo de ácidos graxos
D. a transferência da cadeia em crescimento da de cadeia ramificada.
ACP para outro -SH ocorre antes da adição do B. metaboliza um ácido graxo completamente até
malonil-CoA seguinte. acetil-CoA.
E. o primeiro composto a ser adicionado à ácido C. produz peróxido de hidrogênio.
graxo sintase é malonil-CoA.
D. impede que o ácido graxo produza energia.
3. No homem, a dessaturação de ácidos graxos E. requer NADPH.
A. ocorre primariamente nas mitocôndrias. 6. Outra via minoritária de oxidação de ácidos graxos
B. é catalisada por um sistema enzimático que é a w-oxidação, que resulta em uma hidroxilação.
usa NADPH e um citocromo. A w-oxidação
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 725

A. ocorre em mitocôndrias. B. é geralmente suprimida durante o jejum.


B. introduz o OH no carbono adjacente ao grupo C. usa apenas ácidos graxos de cadeias pares, sa
carboxila. turados, como substratos.
C. oxida primariamente ácidos graxos de cadeia D. usa NADP+.
muito longa. E. ocorre por uma sequência repetida de quatro
D. oxida o grupo metil terminal. reações.
E. produz ácidos dicarboxílicos na oxidação ini 10. A falta de corpos cetônicos em presença de bai
cial. xa glicose sanguínea nesse caso é incomum, uma
vez que as concentrações de corpos cetônicos ge
Questões 7 e 8: Após um forte resfriado que causou ralmente aumentam com a hipoglicemia induzida
perda de apetite, um menino de 1 ano de idade foi hos pelo jejum. Corpos cetônicos
pitalizado com hipoglicemia, hiperamonemia, fraqueza A. são formados pela remoção de CoA do inter
muscular e irregularidades cardíacas. Esses sintomas
eram consistentes com um defeito no sistema carnitina mediário correspondente da b-oxidação.
de transporte. Foi tentada, sem sucesso, a terapia com B. são sintetizados a partir de b-hidroxi-b-metil
carnitina na dieta, mas uma dieta pobre em ácidos gra glutaril-coenzima A (HMG-CoA).
xos de cadeia longa e suplementada com triacilgliceróis C. são sintetizados primariamente no tecido
de cadeias médias foi benéfica. muscular.
7. O transporte de ácidos graxos pela carnitina do ci D. incluem b-hidroxibutirato e acetoacetato, sen
tosol para a mitocôndria envolve todos os seguin do que a razão reflete a razão [NADH]/[NAD+]
tes, exceto intramitocondrial do fígado.
A. hidrólise de ATP. E. formam-se quando a b-oxidação é interrompi
da.
B. troca de acilcarnitina e carnitina livre através
da membrana mitocondrial interna. Questões 11 e 12: Um dos problemas associados com
C. duas carnitina palmitoil transferases (CPT I e a obesidade é o risco aumentado de diabetes tipo 2.
CPT II) localizadas em diferentes membranas Concentração alta de ácidos graxos no sangue reduz
mitocondriais. a captação e o metabolismo de glicose pelo músculo
D. liberação de CoASH da acil graxo-CoA no cito esquelético, aumentando os níveis de glicose no san
gue e a secreção de insulina (resistência à insulina).
sol.
A superprodução prolongada de insulina pode causar
E. consumo de CoASH mitocondrial. insuficiência das células b do pâncreas e diabetes tipo
8. A criança foi diagnosticada como tendo deficiência 2. Isso ocorre em ~40% dos indivíduos obesos por cin
de carnitina-acilcarnitina translocase. O tratamen co a dez anos. Uma forma de regular a concentração
to dietético foi benéfico porque de ácidos graxos no sangue é sua reesterificação em
A. a criança podia obter toda a energia necessá triacilgliceróis. Um tipo de droga antidiabética (tiazo
lidinediona) age sobre um receptor nuclear (PPARγ2),
ria de carboidratos.
facilitando a taxa de reesterificação de ácidos graxos
B. a deficiência estava no sistema de peroxisso no tecido adiposo branco.
mos, de modo que a carnitina não ajudaria.
11. Todos os eventos seguintes estão geralmente en
C. ácidos graxos de cadeias médias (8–10 carbo
volvidos na síntese de triacilgliceróis no tecido adi
nos) entram na mitocôndria antes de serem
poso, exceto
convertidas em seus derivados CoA.
A. adição de um acil graxo-CoA a um diacilglice
D. triacilgliceróis de cadeias médias contêm
rol.
principalmente ácidos graxos hidroxilados.
E. ácidos graxos de cadeias médias, como C8 e B. adição de um acil graxo-CoA a um lisofosfatí
deo.
pelo
C 10, fígado.
são facilmente convertidos em glicose
C. uma reação catalisada pela glicerol quinase.
D. hidrólise de ácido fosfatídico por uma fosfatase.
Questões 9 e 10: Deficiência de acil-CoA de cadeia mé E. redução de di-hidroxiacetona fosfato.
dia desidrogenase (MCAD), um defeito na b-oxidação,
geralmente produz sintomas nos primeiros dois anos 12. O glicerol 3-fosfato para a síntese de triacilglicerol
de vida, após um período de jejum. Sintomas típicos A. é sempre formado pela redução de di-hidro
incluem vômitos, letargia e hipoglicemia hipocetótica. xiacetona fosfato.
Secreção urinária excessiva de ácidos dicarboxílicos de B. pode ser formado no fígado por glicerogênese,
cadeia média e ésteres de cadeia média de glicina e car mas não no tecido adiposo.
nitina ajudam a estabelecer o diagnóstico.
C. deriva seus carbonos primariamente de ami
9. A b-oxidação de ácidos graxos noácidos no estado alimentado.
A. gera ATP só se acetil-CoA for subsequente D. só pode ser sintetizado na presença de fosfoe
mente oxidado. nolpiruvato carboxiquinase.
726 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

E. é derivado primariamente da glicose, via gli quando a primeira etapa da b-oxidação produz um
cólise, no estado alimentado. intermediário trans enoil-CoA?
Problemas 14. Como a oxidação de um ácido graxo de 17 carbo
nos (de plantas) leva à produção de propionil-CoA?
13. Como a b-oxidação de um ácido graxo insaturado Seja específico em sua resposta.
lida com a dupla ligação cis de ocorrência natural,

Respostas
1. D É ativada por citrato e inibida por acil graxo requerem o sistema da carnitina. A: isso nunca é
-CoAs de cadeia longa. C: como cAMP aumenta verdade. B: oxidação em peroxissomos não requer
quando energia é necessária, é consistente que carnitina, mas este não é um sistema de peroxisso
em um processo que utilize energia seja inibido. E: mos. D: ácidos graxos hidroxilados não são cons
controle de longo prazo relaciona-se com síntese tituintes comuns de triacilgliceróis. E: o fígado é
da enzima e responde adequadamente a mudanças incapaz de sintetizar glicose a partir de ácidos gra
na dieta. xos com um número par de átomos de carbono.
2. B A: quebra de CO2 de malonil-CoA é a força mo 9. E A e D: é importante entender que a b-oxidação,
triz para a reação de condensação, de modo que a por si só, gera FADH2 e NADH, que podem ser reo
cadeia cresce dois átomos de carbono por vez. C: xidados para gerar ATP. B: a oxidação de ácidos
em mamíferos, palmitato é liberado como ácido li graxos geralmente aumenta durante o jejum. C: b−
vre; a conversão em éster de CoA é por uma enzi -oxidação é um processo geral, que requer peque
ma diferente. D: é importante entender que apenas nas modificações para oxidar quase que qualquer
ACP liga o malonil-CoA que entra, de modo que ácido graxo da célula.
ele deve ser liberado antes que outra adição pos
10. D A e E: b-oxidação vai até o fim; corpos cetô
sa acontecer. E: acetil-CoA é adicionado primeiro,
nicos são formados por um processo separado. B,
para formar o fundamento para o resto da cadeia. C: corpos cetônicos são formados, mas não usados,
3. B A: dessaturação ocorre no retículo endoplas em mitocôndrias hepáticas; HMG-CoA citosólico é
mático. C: ácidos graxos de ocorrência natural são um precursor de colesterol. Corpos cetônicos não
cis. D: elongação e insaturação podem ocorrer em são facilmente sintetizados pelo músculo.
qualquer ordem. E: se isso fosse verdade, podería
11. C Isso não ocorre em extensão significativa no
mos fazer ácido linoleico.
tecido adiposo. A, B e D: a adição sequencial de
4. D ApoC-II liga a lipoproteína à enzima. A-C: estas acil graxo-CoAs ao glicerol 3-fosfato forma ácido
são características da lipase hormônio-sensível. E: lisofosfatídico, depois ácido fosfatídico, cujo fosfato
esta é a lipase pancreática. é removido antes da adição do terceiro resíduo de
ácido graxo. E: esta é a formação de a-glicerol fos
5. A A presença de um grupo metil impede o pro
fato no adiposo.
cesso de b-oxidação neste ponto. B: uma vez ul
trapassado o grupo metil, a b-oxidação pode 12. E Esta é a via primária no fígado e no tecido adi
prosseguir. C: a reação é por uma hidroxilase que poso. A: o fígado pode formá-lo a partir de glicerol
adiciona uma ligação OH. D: durante as fases da a− porque tem glicerol quinase. B: ambos os tecidos
-oxidação, energia é produzida. E: esta hidroxilase têm a mesma via. C e D: esses são substratos para
usa ascorbato como agente redutor. a gliceroneogênese no estado de jejum e requer fos
foenolpiruvato carboxiquinase.
6. D É por isso que é chamada w-oxidação. A: ocor
re no retículo endoplasmático. B: esta é a-oxida 13. Quando vários ciclos de b-oxidação produzem um
ção. C: ácidos graxos de cadeia média são substra intermediário com uma dupla ligação cis entre
tos preferidos. E: o grupo hidroxila requer álcool e C3 e C4, a enoil-CoA isomerase muda cis D3 para
aldeído desidrogenases para convertê-lo em ácido. trans D2 enoil-CoA e a b-oxidação continua. Se
outra dupla ligação cis for encontrada entre C4 e
7. A Atroca do grupo acil entre CoA e carnitina não
C5, primeiro a desidrogenase normal, depois uma
requer energia adicional. B: isso é catalisado pela
redutase com NADPH, seguida pela enoil-CoA iso
carnitina-acilcarnitina translocase. C: CPT I fica
merase agem sobre a molécula para produzir um
no lado externo da membrana, e CPT II fica no lado
da matriz da membrana interna. D e E: apenas a trans 2-enoil-CoA. A b-oxidação continua.
porção acil da molécula é transportada; as molé 14. b-Oxidação prossegue normalmente, mas a cliva
culas de CoASH permanecem em seus respectivos gem final pela tiolase gera acetil-CoA e propionil
compartimentos. -CoA. Propionil-CoA não é substrato para SCAD
(acil-CoA desidrogenase de cadeia curta), de modo
8. C Como ácidos graxos de cadeia média atraves
que a b-oxidação termina.
sam a membrana mitocondrial diretamente, não
PARTE IV CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 727
Vias Metabólicas e seu controle

18
Metabolismo
Acetil CoA
CE

de
Vias
Lipídeos
do Metabolismo
Especiais
II: β-oxidação

FFA
SR-BIApoA-1

Fígado FFA HL CE

HDL 2

CE

Robert H. Glew
Professor Emérito, University of New Mexico

18.1
CONTEÚDO
18.2
18.3
18.4
18.5
18.6 PROSTAGLANDINAS
INTRODUÇÃO,
FOSFOLIPÍDEOS,
COLESTEROL,
ESFINGOLIPÍDEOS,
LIPOXIGENASE728
738
E 728
ÁCIDOS
748
E TROMBOXANES, 756 CORRELAÇÕES CLÍNICAS
18.1 Remoção (clearance) de Eritrócitos: Papel da
Fosfatidilserina, 731
18.2 Síndrome do Desconforto Respiratório, 732
18.3 Tratamento da Hipercolesterolemia, 747
18.4 Aterosclerose, 747
18.5 Diagnóstico da Doença de Gaucher em um Adul
to, 756
OXIEICOSATETRAENOICOS, 761

Conceitos Chaves
• A maioria das células sintetiza os principais glice A redutase é o alvo para a classe estatina de drogas
rofosfolipídeos e esfingolipídeos a partir de compo para baixar o colesterol. O colesterol é o precursor
nentes da dieta e de intermediários metabólicos. da síntese de ácidos biliares e hormônios esteroi
Ambos são componentes majoritários das membra des, como testosterona, estrógeno, glucocorticoi
nas celulares. des e mineralocorticoides.
• Os glicerofosfolipídeos têm outras funções, incluin • As lipoproteínas plasmáticas, incluindo HDL, LDL,
do as de componentes do surfactante pulmonar. A quilomícrons, VLDL e uma variedade de proteínas
fosfatidilcolina desempenha um papel no processo acessórias, transportam colesterol e triacilglice
dependente de HDL que transporta colesterol dos róis no sangue. A colesteril éster transferase de
tecidos periféricos para o fígado, e fosfolipídeos sempenha um importante papel no processo. LDL
contendo inositol servem de segundos mensageiros e os receptores de LDL são os principais elementos
e como sítios de ligação de proteínas na superfície regulatórios, que controlam os níveis de colesterol
celular. no plasma e nos tecidos.
• O colesterol é sintetizado a partir de acetil-CoA em • Existem várias classes de esfingolipídeos, in
um processo com múltiplas etapas, nas quais a sín cluindo esfingomielina, cerebrosídeos, globosí
tese de mevalonato, catalisada pela HMG-CoA re deos, gangliosídeos e sulfatídeos. A degradação
dutase, é a etapa regulada, limitante da velocidade. dos esfingolipídeos envolve enzimas lisossomais;
728 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

uma deficiência genética de uma ou mais dessas • O ácido araquidônico é o precursor de hormônios
enzimas resulta no acúmulo de esfingolipídeos e lipídicos que incluem prostaglandinas, leucotrie
glicosaminoglicanos parcialmente catabolizados nos e lipoxinas, que são mediadores de vários fe
nos tecidos. nômenos inflamatórios. As enzimas chaves dessas
vias são a cicloxigenase e a lipoxigenase.

18.1 INTRODUÇÃO geralmente contêm um resíduo de sn-glicerol 3-fosfato.


Embora ambos contenham o resíduo de glicerol como
Lipídeo é um termo geral que descreve substâncias um elemento estrutural fundamental, triacilgliceróis
que são relativamente insolúveis em água e que podem neutros e fosfolipídeos iônicos carregados têm proprie
ser extraídas por solventes não-polares. Os lipídeos dades físicas e funções muito diferentes.
complexos do homem são classificados em duas cate
gorias amplas: (1) lipídeos neutros, não-polares, como
triacilgliceróis e ésteres de colesterol, e (2) lipídeos po CH2 Número
do carbono
lares, como os fosfolipídeos e os glicolipídeos. Os lipíde OH 1
os polares são anfipáticos, contendo uma região hidro
HO C H 2
fóbica e uma hidrofílica na mesma molécula. As regiões
hidrofóbicas e as hidrofílicas dos glicerofosfolipídeos CH2OH 3
são unidas por um resíduo de glicerol e, na esfingomie
lina e nos glicoesfingolipídeos, por uma esfingosina. O FIGURA 18.1 Numeração estéreo-específica do glicerol.
triacilglicerol é encontrado, primariamente, nos locais
de armazenamento no tecido adiposo, enquanto os lipí
deos polares ocorrem, primariamente, em membranas
Fosfolipídeos Contêm Ácido
celulares. Fosfatídico Ligado a uma Base
Os lipídeos complexos desempenham muitas fun Os fosfolipídeos são lipídeos polares, iônicos, com
ções. Além de sua função na estrutura das membra postos por 1,2-diacilglicerol e uma ponte fosfodiés
nas, alguns glicerofosfolipídeos são necessários para ter, que liga o esqueleto do glicerol a alguma base,
a atividade de enzimas de membrana, e fosfolipídeos geralmente nitrogenada, como colina, serina ou eta
contendo inositol servem de precursores de moléculas nolamina (Figuras 18.2 e 18.3). Os fosfolipídeos mais
sinalizadoras. Os glicoesfingolipídeos desempenham abundantes em tecidos humanos são a fosfatidilcolina
um papel no reconhecimento célula–célula, na fagoci (também chamada lecitina), a fosfatidiletanolamina e
tose, na inibição por contato e na rejeição de tecidos a fosfatidilserina (Figura 18.4). Em pH fisiológico, a
e órgãos transplantados. Os determinantes antigênicos fosfatidilcolina e a fosfatidiletanolamina não têm car
dos grupos sanguíneos são primariamente de natureza ga líquida, e existem como zwitterions dipolares, en
glicolipídica. Colesterol é importante na aterosclerose e quanto a fosfatidilserina tem uma carga líquida de -1,
vários esfingolipídeos acumulam-se em doenças genéti
cas chamadas esfingolipidoses.
HOCH2 CH2 NH
+ 3 Etanolamina
A nomenclatura e a química dos lipídeos é apresen
tada no Apêndice. HOCH2CH2N+(CH3)3 Colina

HO CH2 C NH+3 Serina


18.2 FOSFOLIPÍDEOS
COO–
As duas classes principais de acilglicerolipídeos são
triacilgliceróis e glicerofosfolipídeos, que têm em seu HO CH2 CH CH2OH Glicerol
núcleo o poliol C3 glicerol. Os dois grupos álcool primá OH
rio do glicerol não são estereoquimicamente idênticos,
e, no caso de fosfolipídeos, é geralmente o mesmo gru
po hidroxila que é esterificado ao resíduo de fosfato. O
HO OH
sistema de numeração esteroespecífica designa os di
H OH
ferentes grupos hidroxila. Nesse sistema, quando a es 2 1

3 OH
H H myo-Inositol
trutura do glicerol é desenhada na projeção de Fischer,
com o grupo hidroxila C2 projetando-se para a esquerda HO 4 5 H6
da página, os átomos de carbono são numerados como
H OH
mostra a Figura 18.1. Quando o sistema de numeração
estéreo-específica (sn) é utilizado, o prefixo sn- é usa FIGURA 18.2 Estrutura de alguns grupos polares comuns
do antes do nome do composto. Os glicerofosfolipídeos de fosfolipídeos.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 729

O tante incomum porque frequentemente contém, quase


O CH2 O C R1 que exclusivamente, ácido esteárico (18:0) na posição
sn-1 e ácido araquidônico na posição sn-2.
R2 C O C H O

CH2 OPOR3 Outro fosfolipídeo composto por um grupo poliol


na cabeça polar é o fosfatidilglicerol (Figura 18.5),
O–
que ocorre em quantidades relativamente grandes nas
Ponte
fosfodiéster membranas mitocondriais e no surfactante pulmonar,
e é um precursor da cardiolipina. Fosfatidilglicerol e
FIGURA 18.3 Estrutura geral de um fosfolipídeo, onde R1 fosfatidilinositol apresentam, ambos, uma carga for
e R2 representam as cadeias alifáticas de ácidos graxos, mal de -1 em pH neutro e são, portanto, lipídeos ací
e R3 representa um grupo polar.
dicos.

sendo, portanto, um fosfolipídeo acídico. A fosfatidi


letanolamina (PE) está relacionada à fosfatidilcolina O
pois a trimetilação de PE produz lecitina. A maioria O CH2 O C R1
dos fosfolipídeos contém mais de um tipo de ácido
R2 C O C H O H OH
graxo por molécula, de maneira que uma dada classe
de fosfolipídeos de qualquer tecido, na verdade, repre CH2 O O–
P O H
OH
senta uma família de espécies moleculares. A fosfati OH HO
dilcolina (PC) contém, principalmente, ácido palmí OH

tico (16:0) ou ácido esteárico (18:0) na posição sn-1 HH


e, primariamente, os ácidos graxos insaturados de 18 Fosfatidilinositol
carbonos oleico, linoleico ou α-linolênico, na posição
sn-2. A fosfatidiletanolamina tem os mesmos ácidos O
graxos saturados que a PC na posição sn-1, mas con O CH2
CH2O C R1
tém mais dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia
R2 C O C H O
longa, a saber, ácido linoleico [18:2(9,12)], ácido ara
quidônico [20:4(5,8,11,14)] e ácido docosa-hexaenoico O P O CH2CHCH2OH

[22:6(4,7,10,13,16,19)] na posição sn-2. O– OH

Fosfatidilglicerol

O
FIGURA 18.5 Estrutura do fosfatidilglicerol e
R2 O H2COCR
H2 1 fosfatidilinositol.
COCH O

C OP OCH2CH2
+
NH3
A cardiolipina é um fosfolipídeo muito acídico (car
ga -2), o qual é composto por duas moléculas de ácido
O–
fosfatídico ligadas covalentemente por uma molécu
Fosfatidiletanolamina la de glicerol (Figura 18.6). Ocorre primariamente na
membrana interna de mitocôndrias de tecidos metabo
O licamente ativos (por exemplo, músculo cardíaco) e em
R2 O H2
H2COC R1 membranas bacterianas. A cardiolipina está presente
na membrana de Treponema palladium e é o antígeno
COCH O
+ detectado no teste de Wasserman para sífilis. A síndro
C OP OCH2CH NH3
me de Barth é uma doença mitocondrial rara, ligada ao
O– COO– X, causada por um defeito no gene RAZ, que codifica
Fosfatidilserina a proteína tafazin, que é necessária para a síntese de
cardiolipina. Pacientes com essa doença hereditária
O apresentam cardiomiopatia, miopatia esquelética e mi
O H2COCR1
tocôndrias anormais.
R2 COCH
H2 O

COPOCH2CH2N+(CH3)3 O O
O– O H2COCR1 H2COPOCH2 O
Fosfatidilcolina (lecitina) R2 COH
C O
O– HO C H O– HC OCR3

FIGURA 18.4 Estruturas de alguns fosfolipídeos comuns. H2OP


COCH2 H2COCR4

O
Fosfatidilinositol, um fosfolipídeo acídico que ocor
re em membranas de mamíferos (Figura 18.5), é bas FIGURA 18.6 Estrutura da cardiolipina.
730 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Os fosfolipídeos mencionados até agora contêm ape Fosfolipídeos de Membranas


nas resíduos O-acil ligados ao glicerol. Substituintes
O-(1-alquenil) ocorrem em C1 do sn-glicerol de fos Desempenham uma Variedade de
foglicerídeos, em combinação com um resíduo O-acil
esterificado na posição C2; compostos dessa classe
Funções
são conhecidos como plasmalogênios (Figura 18.7) ou Embora presentes em fluidos corpóreos como plas
plasmenil lipídeos. Quantidades relativamente grandes ma e bile, os fosfolipídeos estão presentes em concen
de etanolamina plasmalogênio (também chamado plas trações mais altas nas membranas celulares, onde ser
meniletanolamina) ocorrem na mielina, com menores vem como componentes estruturais e funcionais. Quase
quantidades no músculo cardíaco, onde colina plasma metade da massa da membrana do eritrócito é compos
logênio é abundante. O resíduo de alquenil é geralmen ta por vários fosfolipídeos (p. 476). Eles também ativam
te 16:0, 18:0 ou 18:1(9). certas enzimas; como exemplo, a β-hidroxibutirato
desidrogenase da membrana mitocondrial interna
(p. 718) tem uma necessidade absoluta de fosfatidilco
O H2COCHCH(CH2)15CH3 lina; fosfatidilserina e fosfatidiletanolamina não podem
substituí-la. A fosfatidilserina, aparentemente, desem
R2 C O C H O
+
penha uma função na remoção de eritrócitos (Correla
CO
H2OPO– CH2CH2 NH3 ção Clínica 18.1). A fosfatidilcolina também desempe
nha um papel central no processo de transporte reverso
de colesterol.
FIGURA 18.7 Estrutura do etanolamina plasmalogênio.
Dipalmitoil-Lecitina É Necessária para a
Um fosfolipídeo incomum chamado fator ativador Função Normal do Pulmão
de plaquetas (PAF) (Figura 18.8) é um importante me
diador de hipersensibilidade, de reações inflamatórias A função normal do pulmão depende de um supri
agudas, de respostas alérgicas e do choque anafilático. mento constante de dipalmitoil-lecitina cuja molécula
Em indivíduos hipersensíveis, células da família dos contém resíduos de ácido palmítico (16:0) nas posições
leucócitos polimorfonucleares (PMN) (basófilos, neu sn-1 e sn-2. Mais de 80% dos fosfolipídeos da camada
trófilos e eosinófilos), macrófagos e monócitos são re fluida extracelular que recobre os alvéolos de pulmões
cobertos por moléculas de IgE que são específicas para normais são dipalmitoil-lecitina. Esse surfactante, pro
um antígeno em particular (por exemplo, pólen de am duzido pelas células epiteliais tipo II, impede a atelecta
brosia americana e veneno de abelha). A subsequente sia no final da fase de expiração da respiração (Figura
reexposição ao antígeno e formação de complexos an 18.9). Ele diminui a tensão superficial da camada fluida
tígeno-IgE na superfície das células inflamatórias ante do pulmão. Moléculas de lecitina que não contêm dois
riormente mencionadas provoca síntese e liberação de resíduos de ácido palmítico não são efetivas na diminui
PAF. O fator ativador de plaquetas contém um resíduo ção da tensão superficial. O surfactante também contém
O-alquil em sn-1 e um resíduo acetil, em vez de um áci fosfatidilglicerol, fosfatidilinositol, colesterol e proteí
do graxo de cadeia longa, na posição 2 do resíduo de gli nas de 18 e 36 kDa (chamadas proteínas surfactantes),
cerol. PAF não é armazenado; é sintetizado e liberado que contribuem significativamente para diminuir a
quando as células PMN são estimuladas. A Agregação tensão superficial. As proteínas surfactantes alteram a
plaquetária, alterações cardiovasculares e pulmonares, estrutura molecular do filme de fosfolipídeo secretado
edema, hipotensão e quimiotaxia de células PMN são pelos pneumócitos tipo II, de modo a estabilizar o filme
afetados pelo PAF. A inativação de PAF envolve hidróli e manter sua flexibilidade. A maior parte do colesterol
se do resíduo de acetil, seguida por reacilação com um do surfactante é derivada de lipoproteínas plasmáticas,
ácido graxo de cadeia longa, para formar um fosfolipí mas os fosfolipídeos são sintetizados pelas células tipo
deo de membrana tipo-éter. II. Antes da 28ª semana de gestação, o pulmão fetal sin
tetiza, primariamente, esfingomielina. Normalmente,
nessa época, o glicogênio que foi armazenado nas cé
CH3 O H2CO CH2(CH2)16CH3 lulas epiteliais do tipo II é convertido em ácidos graxos
e, depois, em dipalmitoil-lecitina. Durante a maturação
C O C H O
pulmonar, há uma boa correlação entre o aumento dos
H2C O POCH2CH2 N(CH+3)3 corpos de inclusão lamelar, que representam organelas
O–
de armazenamento de fosfatidilcolina chamadas corpos
lamelares, e a diminuição no conteúdo de glicogênio
FIGURA 18.8 Estrutura do fator ativador de plaquetas dessas células. Na 24ª semana de gestação, os pneumó
(PAF). citos granulares do tipo II aparecem no epitélio alveolar
e começam a produzir corpos lamelares. Seu número
aumenta até a 32ª semana, quando o surfactante apa
rece no pulmão e no líquido amniótico. Nas poucas se
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 731

CORRELAÇÃO CLÍNICA 18.1

Remoção (clearance) de Eritrócitos: Papel da Fosfatidilserina

Os fosfolipídeos da membrana plasmática das célu Há evidências de que a anemia e o tempo de vida
las, incluindo os eritrócitos, são distribuídos assimetri abreviado de eritrócitos em certas condições patoló
camente: a camada externa, voltada para o espaço ex gicas, tais como intoxicação por chumbo e uremia em
tracelular, contém os lipídeos de colina fosfatidilcolina pacientes com insuficiência renal, podem se dever a ex
e esfingomielina, enquanto a camada interna, voltada posição aumentada de fosfatidilserina nos eritrócitos.
para o citoplasma, contém fosfatidiletanolamina e fos Uma enzima chamada semblase transporta fosfatidilse
folipídeos carregados negativamente, incluindo fosfati rina da camada interna da membrana plasmática para
dilserina. Os macrófagos contêm receptores de fosfati a camada externa. A semblase é inativa em células sa
dilserina que ligam, internalizam e degradam células dias; entretanto, essa enzima sensível ao cálcio é ativa
que expõem fosfatidilserina. O envelhecimento normal da quando células são expostas a indutores de estresse
dos eritrócitos está associado com a exposição de fos (por exemplo, choque osmótico, depleção de ATP, expo
fatidilserina na superfície da membrana plasmática, o sição a espécies reativas de oxigênio), que aumentam a
que sinaliza para células do sistema dos macrófagos que concentração intracelular de cálcio.
devem removê-las da circulação.
Kempe, S. K., Lang, P.A., Eisele, K. et al. Stimulation of
erythrocyte phosphatidylserine exposure by lead ions. Am.
J. Cell Physiol. 288:C396, 2005.

As propriedades de detergente
dos fosfolipídeos, especialmente fos
expiração
inspiração atelectasia fatidilcolina, são importantes na bile
para ajudar na solubilização do coles
terol. Produção e secreção deficientes
de fosfolipídeos na bile podem levar à
formação de cálculos de colesterol e
de pigmentos biliares na vesícula. Os
Alvéolo totalmente expandido Alvéolo parcialmente vazio Alvéolo colabado fosfolipídeos de membrana são um
no final da inspiração no final da expiração por falta surfactante
reservatório de mediadores lipídicos
FIGURA 18.9 Papel do surfactante na prevenção da atelectasia. que regulam muitas vias e processos
metabólicos. Fosfolipases catalisam a
manas antes do termo, testes de screening no líquido liberação desses mediadores. Fosfatidilinositol e fosfa
amniótico podem detectar recém-nascidos com risco tidilcolina são fontes de ácido araquidônico para a sín
de síndrome do desconforto respiratório (RDS) (Cor tese de prostaglandinas, tromboxanes, leucotrienos e
relação Clínica 18.2). Estes são úteis para determinar compostos relacionados.
a hora certa de partos eletivos, para determinar se a
mãe deve receber uma terapia pré-natal, com corticos Inositídeos São Importantes na Função da
teroide, para acelerar a maturação do pulmão fetal, ou Membrana
na aplicação de terapia preventiva ao recém-nascido. A
dexametasona tem sido usada em recém-nascidos com Fosfolipídeos contendo inositol (inositídeos), especi
doença pulmonar crônica (displasia bronco-pulmonar). ficamente fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato (PIP2) (Figu
Embora a terapia com corticoesteroide seja eficiente, ra 18.10), desempenham um papel central nos sistemas
em alguns casos, para melhorar a função pulmonar, em de transdução de sinal. Quando certos hormônios se
outros, causa anomalias periventriculares no cérebro. ligam a seus receptores (p. 528), PIP2 da camada inter
O surfactante exógeno humano, administrado por meio na da membrana plasmática é hidrolisado pela fosfoino
de instilação intratraqueal, é amplamente usado para dispara
sitidase aCliberação
(PIC) em de
i nositol
Ca2+ do
1,4,5-trisfosfato
retículo endoplasmático,
(IP3), que
tratar RDS.
e 1,2-diacilglicerol (DAG), que aumenta a atividade da
Insuficiência respiratória devida à insuficiência de proteína quinase C (PKC) (Figura 18.11). A remoção do
surfactante também ocorre em adultos, cujas células lular de Ca2+
5-fosfato do IPdeclina.
3 abole o Osinal
1,2-diacilglicerol
e a concentração
é convertido
intrace
II
tipo tenham sido destruídas como efeito colateral ad
verso de medicamentos imunossupressores ou de dro em ácido fosfatídico pela diacilglicerol quinase (Figura
gas quimioterápicas (por exemplo, bleomicina). 18.12). Ácido fosfatídico, um produto da ação da fosfoli
732 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

CORRELAÇÃO CLÍNICA 18.2

Síndrome do Desconforto Respiratório

Síndrome do desconforto respiratório (RDS, respi é 2,0 ou mais. O risco do desenvolver RDS quando a
ratory distress syndrome) é uma importante causa razão L/S é 1,5–1,9 é aproximadamente 40%, e cerca
de morbidade e mortalidade neonatal em muitos pa de 75% para razão inferior a 1,5. Embora a razão L/S
íses. É responsável por, aproximadamente, 15–20% ainda seja muito usada para prever o risco de RDS, os
de todas a mortes de recém-nascidos em países oci resultados não são confiáveis se o líquido amniótico
dentais, e um pouco menos em países em desenvolvi estiver contaminado com sangue ou mecônio. A deter
mento. A doença afeta apenas bebês prematuros, e a minação de palmitoil fosfatidilcolina saturada (SPC),
incidência varia diretamente com o grau de prematu fosfatidilglicerol e fosfatidilinositol, permite também
ridade. Bebês prematuros desenvolvem RDS em virtu prever o risco de RDS. Terapia de reposição usando
de da imaturidade de seus pulmões, por deficiência do surfactante exógeno de pulmão humano e de animal é
surfactante pulmonar. A maturidade do pulmão fetal eficaz na prevenção e no tratamento de RDS.
pode ser avaliada pela razão lecitina/esfingomielina
(L/S) no líquido amniótico. A razão L/S média na gra Merritt, T. A., Hallman, M., Bloom, B.T. et al. Prophylactic
treatment of very premature infants with human surfactant.
videz normal aumenta gradualmente com a gestação, N. Engl. J. Med. 315:785, 1986; e Simon, N.V., Williams, G.
até cerca de 31 ou 32 semanas, quando o valor sobe H., Fairbrother, P. F., Elser, R. C. e Perkins, R. P. Prediction
rapidamente. A razão de 2,0 é característica do nas of fetal lung maturity by amniotic fluid fluorescence polari
cimento a termo, e é alcançada com idade gestacional zation, L/S ratio, and phosphatidylglycerol. Obstet. Gynecol.
de 34 semanas. Na maturidade pulmonar, a razão L/S 57:295, 1981.

O pase D sobre fosfolipídeos, foi implicado como segundo


O H2COCR1
mensageiro.
R2COC H O Essas vias do metabolismo de inositol fosfato fun
H2C O O
P O cionam em: (1) remoção e inativação de IP3, (2) con
– servação de inositol, e (3) síntese de polifosfatos como
H O
OH H inositol pentaquisfosfato (InsP5) e inositol hexaquis
HO
1
6O P O– fosfato (InsP6), cujas funções não foram determinadas.
OH
H23 5 O– IP3 é metabolizado pela 5-fosfomonoesterase em inosi
4 H tol 1,4-bisfosfato, e por uma 3-quinase que forma ino
H O

O P O–
O

O H2COCR1
FIGURA 18.10 Estrutura do COC
R2 H
fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato (PIP2 ou
PtdIns(4,5)P2). H2C OH
O
H2O Diaciglicerol (DAG)
O H2COCR1
+
R2 CO C H O

O–
H2COPIns4,5P2 –O
O
P
O–

Fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato O H O

HO O P O–
HO
OH H O–
H H

H O

O P O–

O–
FIGURA 18.11 Geração de 1,2-diacilglicerol e inositol
1,4,5-trisfosfato pela ação da fosfolipase C sobre fosfatidilinositol Inositol
1,4,5-trisfosfato (IP3)
4,5-bisfosfato.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 733

Inositol
1,3,4,5-tetraquisfosfato
Biossíntese de
ATP 3-quinase Fosfolipídeos
fosfolipase C
O Ácido Fosfatídico É
Fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato Diacilglicerol + Inositol 1,4,5-trisfosfato
Sintetizado a Partir de
Fosfatidilinositol-5 ATP a-Glicerofosfato e Acil
5!-fosfomonoesterase
ATP quinase diacilglicerol Graxo-CoA
quinase
Ácido Ácido 1-α-fosfatídico (comumente
Fosfatidilinositol-4-fosfato fosfatídico Inositol 1,4-bisfosfatochamado ácido fosfatídico) e 1,2-dia
cil-sn-glicerol são intermediários
Fosfatidilinositol-4 inositolpolifosfato
ATP quinase comuns das vias de síntese de fosfo
fosfatase
lipídeos e de triacilgliceróis (Figura
18.13). Todas as células sintetizam
Fosfatidilinositol Inositol 4- fosfato fosfolipídeos em algum grau (exce
to eritrócitos maduros), enquanto a
inositolmonofosfato biossíntese de triacilgliceróis só ocor
fosfatase re no fígado, no tecido adiposo e no
FIGURA 18.12 Vias de síntese e remoção intestino. Na maioria dos tecidos, a
de inositol 1,4,5-trisfosfato e diacilglicerol via de síntese de ácido fosfatídico co
intracelulares. myo-Inositol
meça com α-glicerol 3-fosfato (sn-gli
cerol 3-fosfato). A fonte mais geral de α-glicerol 3-fos
sitol 1,3,4,5-tetraquisfosfato. Uma família de fosfatases fato, particularmente no tecido adiposo, é a redução do
converte Ins(1,4)P2 em mio-inositol (Figura 18.12), que intermediário glicolítico di-hidroxiacetona fosfato, pela
então entra no pool de fosfolipídeos. α-glicerol 3-fosfato desidrogenase.
Além de ser um componente das membra
nas e fonte de ácido araquidônico para sínte H2C
CH2OH
se de prostaglandinas e leucotrienos (p. 762), HO C H Glicerol 3-fosfato
fosfatidilinositol serve para ancorar (âncora de
GPI) certas glicoproteínas à superfície exter OPO32–
na (p. 490). Um importante problema médico O
refere-se a parasitas tripanossomatídeos (por transferase
glicerolfosfato:acil R1C SCoA
exemplo, Trypanosoma brucei, que causa a CoA
doença do sono). Esse parasita tem resistido a
O
abordagens imunológicas para tratamento por
H2C O C R1 α-Lisofosfatidato
mudar seus antígenos de superfície. A super
fície externa da membrana plasmática é reco HO CH (ácido α-lisofosfatídico)

berta com uma proteína chamada glicoproteína CH2OPO32–


variável de superfície (VSG), ligada à membra
O
na por uma âncora de fosfatidilinositol. A fos
folipase tipo C da superfície celular catalisa a 1-acilglicerolfosfato:acil R2C SCoA
transferase CoA
remoção de proteínas ancoradas, permitindo
que o tripanossoma descarte antígenos de su O
perfície, mudando, assim, sua capa e escapando O H2CO C R1
de anticorpos do sistema imune do hospedeiro. R2CO C H Fosfatidato
(ácido fosfatídico)
CH2OPO32–
H2O
acil-CoA:diacilglicerol
aciltransferase P
i
O
OCR
O H2C 1
Diaciglicerol
R2COC H
FIGURA 18.13 Biossíntese de ácido fosfatídico (1,2 diacil-sn-glicerol)
a partir de glicerol 3-fosfato e o papel da CH2OH
ácido fosfatídico fosfatase na síntese de
fosfolipídeos e triacilgliceróis.
R1 e R2 representam ácidos graxos de cadeia longa. Triacilgliceróis Glicerofosfolipídeos
734 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

Di-hidroxiacetona fosfato + NADH + H+  da fosfatidilcolina é formada por metilação repetida da


α-glicerol 3-fosfato + NAD+ fosfatidiletanolamina. A fosfatidiletanolamina N-metil
transferase do ER transfere grupos metil em sequência
O fígado e o rim derivam α-glicerol 3-fosfato por de S-adenosilmetionina (AdoMet) (Figura 18.16).
meio da reação da glicerol quinase:
A síntese de fosfatidiletanolamina no fígado e no cé
Glicerol + ATP Mg+2 α-glicerol 3-fosfato + ADP
rebro envolve a etanolamina fosfotransferase do retícu
lo endoplasmático (Figura 18.17). CDP-etanolamina é
A síntese de ácido fosfatídico começa com a glice formada pela etanolamina quinase
Mg2+
rol 3-fosfato:aciltransferase ligando ácidos graxos pre Etanolamina + ATP fosfoetanolamina + ADP
dominantemente saturados ou ácido oleico ao glicerol
3-fosfato para produzir 1-acilglicerol fosfato ou ácido
e fosfoetanolamina citidililtransferase
α-lisofosfatídico. A 1-acilglicerol fosfato:aciltransferase
então acila a posição sn-2, geralmente com um ácido Fosfoetanolamina + CTP Mg2+
CDP-etanolamina + PPi
graxo insaturado, para produzir ácido fosfatídico (Fi
gura 18.13). Os doadores de grupos acil são derivados As mitocôndrias de fígado também geram fosfatidile
CoA dos ácidos graxos apropriados. tanolamina por descarboxilação de fosfatidilserina, mas
esta é considerada uma via minoritária (Figura 18.18).
A especificidade dessas aciltransferases nem sem
pre corresponde à assimetria dos ácidos graxos nos fos A principal fonte de fosfatidilserina em tecidos de
folipídeos de membrana de uma célula em particular. mamíferos é a troca de bases (Figura 18.19), na qual
Reações de remodelamento, discutidas na próxima seção, o grupo da cabeça polar da fosfatidiletanolamina é tro
modificam a composição em C1 e C2 do esqueleto de
glicerol fosfato. A ácido fosfatídico fosfatase citosólica
hidrolisa o ácido fosfatídico gerado no retículo en HO CH2 CH2 N(CH
+ 3)3 Colina
doplasmático, formando assim 1,2-diacil-sn-glice
rol, que serve como ponto de bifurcação na síntese ATP
de triacilglicerol e de fosfolipídeo (Figura 18.13). colina quinase
ADP
O

Fosfolipídeos São Sintetizados –O P O CH2 CH2 N(CH


+ 3)3 Fosfocolina

por Adição de uma Base ao Ácido O–


fosfocolina CTP
Fosfatídico
citidililtransferase PPi

A principal via de síntese de fosfatidilcolina


O O
envolve a conversão sequencial de colina em fos
focolina, CDP-colina e fosfatidilcolina. Colina li Cytidine POPO O CH2 CH2 +
N(CH3)3 CDP-colina

vre, uma necessidade dietética para a maioria dos O– O–


mamíferos, incluindo o homem, é fosforilada pela
colina quinase (Figura 18.14). A fosfocolina citi Ligação
diltransferase converte fosfocolina em CDP-colina. pirofosforil
O pirofosfato inorgânico (PPi) é um produto dessa
FIGURA 18.14 Biossíntese de CDP-colina a partir de colina.
reação. O resíduo de fosfocolina é então transferido
para C3 do 1,2-diacilglicerol pela colina fosfotrans
ferase (Figura 18.15). Essa é a principal via para O
síntese de dipalmitoil-lecitina no pulmão.
O H2COCR1
1,2-Diacilglicerol
A etapa limitante da velocidade da síntese de R2COCH
fosfatidilcolina é a reação da citidililtransferase H2COH
(ver Figura 18.14). Essa enzima é regulada pelo +
O O
deslocamento entre o citosol e o retículo endoplas
CitidinaOPOPOCH2CH2N+)(3
CH3 CDP-colina
mático. A forma citosólica é inativa; ligação da en
zima à membrana do ER a ativa. O deslocamento da O– O–
citidililtransferase do citosol para o retículo endo CMP
O
plasmático é regulada por cAMP e acil graxo-CoA.
A fosforilação reversível da enzima por uma pro O H2C OCR
1 Fosfatidilcolina
teína quinase cAMP-dependente a libera da mem R2COCH O
+
brana, tornando-a inativa. A desfosforilação leva à H2C OP OCH2CH2N )(CH33
sua ligação novamente à membrana do ER e ela fica O–
ativa. Acil graxo-CoAs promovem sua ligação com
o retículo endoplasmático. No fígado, a maior parte FIGURA 18.15 Reação da colina fosfotransferase.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 735

O H2C O
C O
FIGURA 18.16
R2COCH O 3 AdoMet R2COC OR Biossíntese de
O R1 O H2C C 1
fosfatidilcolina
Citidina Fosfatidiletanolamina
C O– CH2N
H3+ O C OP
H O–
O OCH2CH2N+)(CH33
O a partir de
H2 OPOCH2H3 3 AdoHcys H2 fosfatidiletanolamina
e S-adenosilmetionina
(AdoMet) e S-adenosil
Fosfatidilcolina homocisteína (AdoHcy).

POPOCH2N
O O + O H2COCR1
R2COC O H2C O C R1
O– CH2 + H2 H C OH
H2PONH
R2CCC H O COO– + H+
+
O– COH COCH2C 3

O– H
CDP-etanolamina 1,2-Diacilglicerol
fosfatidilserina
fosfotransferase
etanolamina CO2 descarboxilase

O O H2C O C R1
O H2C OCR1 R2 O O
R2COCH O H2C O P O CH2CH2 NH+3

H2C OPOCH2N
O– CH2 +H3 + CMP O–

FIGURA 18.18 Formação de fosfatidiletanolamina pela


Fosfatidiletanolamina descarboxilação de fosfatidilserina.
FIGURA 18.17 Biossíntese de fosfatidiletanolamina a partir
de CDP-etanolamina e diacilglicerol.

cado por serina. Como não há alteração no número ou Caso se torne necessário, para uma célula, a remoção
no tipo de ligações, essa reação é reversível e não re de alguns ácidos graxos indesejados, como o ácido esteá
quer ATP ou qualquer outro composto de alta energia. rico da posição sn-2 da fosfatidilcolina, e a substituição
O fosfatidilinositol é feito a partir de CDP-diacilglicerol deste por um mais insaturado, como o ácido araquidôni
e mioinositol livre (Figura 18.20) pela fosfatidilinositol co, isso pode ser feito pela ação da fosfolipase A2, seguida
sintase do retículo endoplasmático. por uma reação de reacilação. A inserção de ácido ara
quidônico na posição 2 da sn-2-lisofosfatidilcolina pode
ser realizada por acilação direta, a partir do araquidonil
Distribuição Assimétrica de Ácidos -CoA pela araquidonil-CoA transacilase (Figura 18.22),

Graxos em Fosfolipídeos Deve-se a


O CH2
Reações de Remodelamento O H2C O C R1 COO–

A fosfolipase A1 e a fosfolipase A2 ocorrem em R2 C O C H O + HO CH2 C +


NH3
muitos tecidos e funcionam no remodelamento das H2C
Fosfatidiletanolamina
O P O CH2 NH
+ 3 Serina
H
estruturas de fosfolipídeos específicos nas posições
O–
sn-1 e sn-2. A maioria das acil graxo-CoA transfe
rases e das enzimas da síntese de fosfolipídeos não
tem a especificidade necessária para determinar fosfatidilserina
a distribuição dos ácidos graxos encontrada em sintase

muitos fosfolipídeos dos tecidos. Os ácidos graxos O


encontrados nas posições sn-1 e sn-2 dos vários O H2C O C R1
fosfolipídeos, frequentemente, não são os mesmos
COO– + HOCH2
CH2 NH+3
transferidos para o esqueleto de glicerol nas rea R2 C O C H O

ções iniciais das aciltransferases da biossíntese de H2COPOCH2C NH+3


fosfolipídeos. Fosfolipases A1 e A2 catalisam as rea O– H
ções indicadas na Figura 18.21, onde X representa
Fosfatidilserina Etanolamina
o grupo da cabeça polar de um fosfolipídeo. Os fos
folipídeos produzidos são chamados lisofosfatídeos FIGURA 18.19 Biossíntese de fosfatidilserina a partir de serina e
ou lisofosfolipídeos. fosfatidiletanolamina por troca de base.
736 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

O O
O citidina OH C
H2C O C R1 HO OH O H2 O C R1
R2COCH O O + OHOH R2COCH O OH + CMP

OP OH H2CO P
H2C O P O
O– O
OH
O– O– OH OH
OH

CDP-diacilglicerol Inositol Fosfatidilinositol

FIGURA 18.20 Biossíntese de fosfatidilinositol.

2-Acil lisofosfatídeo 1-Acil lisofosfatídeo


O O
O R1H2COH H2O O H2COC R1 H2O H2COCR1 O
R2COCH
H2O O A1
fosfolipase R2 COCH O
H2OPOX fosfolipase
A2 CH O
HO H2O + R2CO–
CPOX CPOX
C

+ O – O–
O – Fosfolipídeo
C O–

FIGURA 18.21 Reações catalisadas pela fosfolipase A1 e pela fosfolipase A2.

ou a partir de outro fosfolipídeo contendo araquidonil, Os lisofosfolipídeos, particularmente sn-1-lisofosfa


por uma troca catalisada pela lisolecitina:lecitina acil tidilcolina, também servem como fonte de ácidos gra
transferase (LLAT) (Figura 18.23). Como não há mu xos em reações de remodelamento. Os envolvidos na
dança no número nem na natureza das ligações envol síntese de dipalmitoil-lecitina (surfactante) a partir de
vidas em produtos e reagentes, o ATP não é necessário. 1-palmitoil-2-oleoilfosfatidilcolina são apresentados na
A eeacilação de lisofosfatidilcolina a partir de acil-CoA é Figura 18.24. Note que sn-1-palmitoil-lisolecitina é a
a via principal para remodelamento de fosfatidilcolina. fonte de ácido palmítico na reação da aciltransferase
de troca.

H2COCR1 Plasmalogênios São Sintetizados a


HOC H O
Partir de Alcoóis Graxos
H2OPOCH2
CCH2N(CH3)3
+

O–
Éter glicerolipídeos são sintetizados a partir de
Lisofosfatidilcolina DHAP, ácidos graxos de cadeia longa e alcoóis graxos
O de cadeia longa, como resumido na Figura 18.25.A acil
R2 CSCoA
di-hidroxiacetona fosfato é formada pela acil-CoA:di
-hidroxiacetona fosfato aciltransferase (enzima 1). A
CoASH ligação éter é introduzida pela alquildi-hidroxiacetona
fosfato sintase (Figura 18.25, enzima 2), por troca do
O grupo 1-O-acil da acildi-hidroxiacetona fosfato por um
O H2C O C R1 álcool graxo de cadeia longa. A sintase ocorre em pero
R2 C O C H O xissomos. A síntese de plasmalogênio é completada pela
H2CO P OCH2CH2N(CH3)3
+ transferência de um ácido graxo de cadeia longa do seu
doador CoA para a posição sn-2 do 1-alquil-2-liso-sn-gli
O–
Fosfatidilcolina cero-3-fosfato (Figura 18.25, Reação 4). Pacientes com
a síndrome de Zellweger não possuem peroxissomos e
FIGURA 18.22 Síntese de fosfatidilcolina por reacilação são incapazes de sintetizar quantidades adequadas de
O plasmalogênio (ver Correlação Clínica 1.7, p. 22).
de lisofosfatidilcolina, onde R2—C— || representa ácido
araquidônico.
Essa reação é catalisada pela acil-CoA:1-acilglicerol-3-fosfoco
lina O-aciltransferase.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 737

H2CO R1 O
CO O H2COCR1
HOC H O + R2COCH O
+
H2CO P OCH2CH2 N(CH+3)3 H2CO P OCH2CH2NH3

O– O–
Lisofosfatidilcolina Fosfatidiletanolamina
O O
R2 O H2COC R1 H2CO CR1
COCH O +HOC H O
+
H2CO P O CH2CH2N(CH+3)3 H2CO P OCH2NH
CH2 3

O– O–
Fosfatidilcolina Lisofosfatidiletanolamina

FIGURA 18.23 Formação de fosfatidilcolina por troca de lisolecitina, onde R2—C—


|| representa o ácido araquidônico.

Acilação
Palmitoildireta
CoA Dipalmitoil-lecitina Glicerolfosfocolina
(surfactante)

Via de troca

sn-1-Palmitoil-lisolecitina sn-1-Palmitoil-lisolecitina

ácido oleico fosfolipase A2

H2O FIGURA 18.24 Duas vias para biossíntese de dipalmitoil


sn-1-Palmitoil, sn-2-Oleoil-lecitina lecitina a partir de sn-1 palmitoil-lisolecitina.

C O O
R1C CoA H2OP O–
H2COCR1 R2OH
H2COH
H2 O O CO O 2

COPO– CoA
1 C O– R1CO– H2COR2

R3 CO O
O– H2 O C O–
H2OP O–
DHAP 4

O H2COR2 NADPH + H+
3
R3C O CH O
NADP+
C
H2O P OCH2CH2 N(CH
+ 3)3 R3 CoA

O–
6 CMP Colina plasmalogênio Pi H2COR2

CDP-colina HOCH O

O H2OP
C O–
OC O–
R3COCH
H2COR2
H2OH
C 5 OR2 C
O

CoA
C CH O
H2O
H2C O P O–

O–

FIGURA 18.25Via de biossíntese de colina plasmalogênio a partir de DHAP.


(1) NADPH:alquil-di-hidroxiacetona
(2)
(3)
(4) Acil-CoA:di-hidroxiacetona
Alquil-di-hidroxiacetona
Acil-CoA:1-alquil-2-liso-sn-glicero-3-fosfato
fosfato
fosfato
sintase.
fosfato
aciltransferase.
óxido-redutase.
aciltransferase. (5) 1-alquil-2-acil-sn-glicerol-3-fosfato fosfo-hidrolase.
(6) CDP-colina:1-alquil-2-acil-sn-glicerol colinafosfotransferase.
R2OH é um álcool graxo de cadeia longa.
738 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

18.3 COLESTEROL pídeos da bile, que são produzidos no fígado (p. 1089).
Um distúrbio crônico do metabolismo de fosfolipídeos
no fígado pode levar à deposição de cálculos ricos em
Colesterol É Amplamente colesterol no trato biliar. Os sais biliares, que são me
tabólitos do colesterol, também ajudam a solubilizar o
Distribuído nas Formas Livre e colesterol. O colesterol da bile protege as membranas da
vesícula biliar dos efeitos potencialmente irritantes ou
Esterificada lesivos dos sais biliares. O colesterol é também precur
O colesterol é um composto alicíclico cuja estrutu sor da vitamina D (p. 1094).
ra inclui (1) o núcleo per-hidrociclopentenofenantreno
com seus quatro anéis fundidos, (2) um único grupo
hidroxila em C3, (3) um centro insaturado entre C5 e
C6, (4) uma cadeia hidrocarbônica ramificada de oito
membros ligada ao anel D em C17, e (5) um grupo metil
(designado por C19) ligado à posição C10, e outro grupo
metil (designado por C18) ligado à posição C13 (Figu
ras 18.26 e 18.27). O

CH3(CH2)14OC

12 17
13
FIGURA 18.28Estrutura do colesteril (palmitoil) éster.
11 16
D
1 9
C O colesterol total é medido no laboratório clínico
2 10 14 15 pela reação de Liebermann–Burchard. A razão entre o
8
A B colesterol livre e o esterificado é determinada por cro
3 5 7 matografia gás-líquida ou por cromatografia líquida de
4 6 fase reversa de alta pressão (HPLC).
FIGURA 18.26 O anel ciclopentenofenantreno. Colesterol é um Componente de
22 24
Membranas e Precursor de Sais Biliares e
21 26
20 25 Hormônios Esteroides
23
18 17 27
O colesterol é derivado da dieta ou sintetizado de
novo em todas as células do corpo. É o principal este
19 rol humano e um componente de todas as membranas.
É especialmente abundante nas estruturas mieliniza
3 das do cérebro e do sistema nervoso central, mas está
HO
presente em pequenas quantidades na membrana mito
FIGURA 18.27 Estrutura do colesterol (5-colesteno-3ß-ol). condrial externa (p. 484). Diferentemente do plasma,
em que a maior parte do colesterol está esterificado, o
O colesterol tem solubilidade muito baixa em água; colesterol das membranas celulares está na forma livre.
a 25 oC, o limite de solubilidade é aproximadamente A estrutura em anel do colesterol não pode ser metabo
0,2 mg/dL, ou 4,7 μM. A concentração real de coleste lizada a CO2 e água no homem. A excreção de colesterol
rol no plasma de uma pessoa sadia é, geralmente, 150 ocorre por meio do fígado e da vesícula biliar para o
a 200 mg/dL. Esse valor é quase duas vezes a concen intestino, na forma de sais biliares. O colesterol é o pre
tração normal de glicose no sangue. Essa alta concen cursor imediato dos sais biliares sintetizados no fígado;
tração de colesterol no sangue é possível graças às li eles facilitam a absorção de triacilgliceróis e de vitami
poproteínas plasmáticas (principalmente LDL e VLDL), nas lipossolúveis da dieta (p. 1083).
que contêm grandes quantidades de colesterol (p. 114).
Apenas cerca de 30% do total de colesterol plasmático O colesterol é o precursor de vários hormônios este
está livre (não-esterificado); o restante é colesteril és roides (p. 938), incluindo progesterona, corticosteroi
teres, nos quais um ácido graxo de cadeia longa, geral des (corticosterona, cortisol e cortisona), aldosterona
mente ácido linoleico, é esterificado na hidroxila C3 do e os hormônios sexuais estrógeno e testosterona. Em
anel A. Esse resíduo de ácido graxo aumenta a hidrofo bora todos os hormônios esteroides sejam estrutural
bicidade do colesterol (Figura 18.28). mente relacionados com, e bioquimicamente derivados
de, colesterol, eles têm propriedades fisiológicas muito
O colesterol, um componente ubíquo e essencial das diferentes. O esqueleto hidrocarbônico do colesterol
membranas celulares de mamíferos, é abundante na também ocorre em esteróis de plantas, por exemplo no
bile (a concentração normal é 390 mg/dL, apenas 4% ergosterol (Figura 18.29), um precursor da vitamina D,
do qual é esterificado). O colesterol livre é parcialmente que é convertido na pele pela irradiação ultravioleta em
solubilizado pela propriedade de detergente dos fosfoli vitamina D2 (p. 1094).
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 739

21 22
23 26 O C SCoA O C SCoA
20
CH3 25
24 CH2 O CH2
CH3
27 CO + CH3 C SCoA +H2O HO C CH3 + CoA SH
CH3
CH3 CH2

COOH
HO Acetoacetil CoA Acetil CoA HMG CoA

FIGURA 18.29 Estrutura do ergosterol. FIGURA 18.30 Reação da HMG-CoA sintase.

Colesterol É Sintetizado a Partir de Uma terceira molécula de acetil-CoA é usada para


formar 3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA (HMG-CoA)
Acetil-CoA de cadeia ramificada (Figura 18.30) pela HMG-CoA
sintase (3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA:acetoacetil
Embora a síntese de colesterol ocorra em, virtual
-CoA liase). As células do parênquima hepático con
mente, todas as células, a capacidade de síntese é maior
têm uma forma citosólica da HMG-CoA sintase, que
no fígado, no intestino, na córtex adrenal e nos tecidos
está envolvida na síntese de colesterol, e uma forma
reprodutores, incluindo ovários, testículos e placenta.
mitocondrial, que funciona na síntese dos corpos ce
Todos os átomos de carbono do colesterol são deriva
tônicos (p. 718). A enzima catalisa uma condensação
dos do acetato. O poder redutor na forma de NADPH é
aldólica entre o carbono metil do acetil-CoA e o grupo
fornecido principalmente pela glicose 6-fosfato desidro
β-carbonila do acetoacetil-CoA, com hidrólise da liga
genase e pela 6-fosfogluconato desidrogenase do desvio ção tioéster do acetil-CoA. A ligação tioéster original
das hexoses monofosfato (p. 668). A síntese do coles
do acetoacetil-CoA permanece intacta. O HMG-CoA é
terol ocorre no citosol e no retículo endoplasmático e
também formado a partir da degradação oxidativa do
é direcionada, em grande parte, pela hidrólise de liga
aminoácido de cadeia ramificada leucina, por meio dos
ções tioéster de alta energia do acetil-CoA e de ligações
intermediários 3-metilcrotonil-CoA e 3-metilglutaco
fosfoanidrido do ATP.
nil-CoA (p. 800).
Ácido Mevalônico É um Intermediário O ácido mevalônico é formado a partir de HMG
Chave -CoA, pela enzima do retículo endoplasmático HMG
-CoA redutase (mevalonato:NADP+ óxido-redutase),
O primeiro composto exclusivo da síntese de co que tem uma necessidade absoluta de NADPH (Figura
lesterol é o ácido mevalônico, derivado de acetil-CoA. 18.31). A redução consome duas moléculas de NADPH,
Existem várias fontes de acetil-CoA: (1) β-oxidação de resulta na hidrólise da ligação tioéster do HMG-CoA,
ácidos graxos (p. 711), (2) oxidação de aminoácidos ce e gera o grupo álcool primário do mevalonato. Essa
togênicos, como leucina e isoleucina (p. 801), e (3) a redução é irreversível e produz (R)-(+)mevalonato. A
reação da piruvato desidrogenase. Acetato é convertido HMG-CoA redutase catalisa a reação limitante da ve
em acetil-CoA às custas de ATP pela acetoquinase ou locidade da biossíntese do colesterol. É uma proteína
acetato tioquinase. intrínseca do retículo endoplasmático, com seu domí
O nio catalítico C-terminal se projetando para o citosol.
A fosforilação da HMG-CoA redutase diminui sua ati
ATP + CH3COOJ + CoASH CH3 C SCoA + AMP + PPi vidade catalítica (Vmáx) e aumenta sua degradação,
por aumentar sua susceptibilidade a proteólise. Coles
Como na via que produz corpos cetônicos (p. 718), terol intracelular aumentado estimula a fosforilação
duas moléculas de acetil-CoA são condensadas em da HMG-CoA redutase.
acetoacetil-CoA pela acetoacetil-CoA tiolase (acetil
-CoA:acetil-CoA acetiltransferase): O papel central da HMG-CoA redutase na homeos
tase do colesterol é evidenciado pela eficácia de uma
O O família de drogas chamadas estatinas, usadas para re
CH3 CSCoA + CH3 CSCoA duzir os níveis de colesterol plasmático. As estatinas
(por exemplo, lovastatina, pravastatina, fluvastatina,
O O
cerivastatina, atorvastatina, simvastatina) inibem a ati
CH3 CCH2 CSCoA + CoASH vidade da HMG-CoA redutase, particularmente no fíga
do, e comumente diminuem o colesterol total do plasma
A formação da ligação carbono-carbono do acetoa e o LDL-colesterol em até 50%.
cetil-CoA é favorecida energeticamente pela clivagem
de uma ligação tioéster e geração de coenzima A.
740 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

O Colesterol É Formado a partir de


C SCoA
CH2 CH2OH
Farnesil Pirofosfato via Esqualeno
CH2

CHO
CH2
COO–
CH3 + 2NADPH + 2H+ HO CCH3 + CoA + 2NADP+ As últimas etapas da biossíntese de colesterol
CH2 envolvem a fusão “cabeça-a-cabeça” de duas mo
léculas de farnesil pirofosfato para formar o es
COO–
qualeno e, finalmente, a ciclização do esqualeno
HMG CoA Mevalonato para gerar o colesterol. A formação da molécula
C30 do esqualeno (Figura 18.33) pela esqualeno
FIGURA 18.31 Reação da HMG-CoA redutase. sintase do retículo endoplasmático libera dois
grupos pirofosfato e requer NADPH. Provavel
Ácido Mevalônico É um Precursor de mente, ocorrem vários intermediários. Por rotação em
torno de ligações carbono-carbono, a conformação do
Farnesil Pirofosfato esqualeno indicada na Figura 18.34 pode ser obtida.
As reações que convertem mevalonato em farnesil Note que a forma geral do esqualeno lembra a do co
pirofosfato são resumidas na Figura 18.32. A transfe lesterol e que o esqualeno é desprovido de átomos de
rência passo a passo do grupo fosfato terminal de duas oxigênio.
moléculas de ATP para o mevalonato (A) para formar
A síntese de colesterol a partir de esqualeno pela es
5-pirofosfomevalonato (B) é catalisada pela mevalona
qualeno sintase prossegue pelo intermediário lanoste
to quinase (enzima I) e pela fosfomevalonato quinase
rol, que contém o sistema tetracíclico de anéis fundidos
(enzima II). Descarboxilação de 5-pirofosfomevalona
e uma cadeia lateral de oito carbonos:
to pela pirofosfomevalonato descarboxilase gera D3
-isopentenil pirofosfato (D). Nessa reação, são produ Esqualeno → esqualeno 2,3-epóxido → lanosterol
zidos: dependente de ATP, ADP, Pi e CO2. Acredita-se
que descarboxilação-desidratação ocorram por meio A enzima do ER que catalisa essa reação é bifun
do intermediário 3-fosfomevalonato 5-pirofosfato (C). cional e contém atividade de esqualeno epoxidase ou
O isopentenil pirofosfato é convertido no seu isômero monooxigenase e de ciclase (lanosterol ciclase). As
alílico 3,3-dimetil-alil pirofosfato (E) pela isopentenil muitas ligações carbono–carbono formadas durante a
pirofosfato isomerase. A condensação de 3,3-dimetil ciclização do esqualeno são geradas de maneira coorde
-alil pirofosfato (E) e 3-isopentenil pirofosfato (D) pro nada, como indica a Figura 18.35. O grupo OH do la
duz geranilpirofosfato (F). nosterol projeta-se para cima do plano do anel A; isto é,
está na orientação β. Nessa sequência de reações, um
A condensação passo a passo de três unidades iso grupo OH é adicionado a C3, dois grupos metil sofrem
pentenil C5 para formar farnesil pirofosfato C15 (G) é deslocamentos, e um próton é eliminado.
catalisada por uma preniltransferase citosólica chama
da geraniltransferase. A ciclização é iniciada pela formação de epóxido en
tre os futuros C2 e C3 do colesterol, sendo o epóxido
formado às custas de NADPH.

CH2
A B C D

OH CH2OP CH2OPP CH2OPP


CH2
C CH3 ATP enzima ADP CH2
C CH3 ATP ADP CH2
C CH3 ATP ADP CH2 CH3 CO2 + Pi CH2OPP

I C
CH2 C CH3
CH2
COO–
CH2 OH CH2 OH
COO– enzima
II CH2 OH
COO– O OP

O– CH2

OPP
CH2

CHCH3 D PPi CH3 D PPi CH3 CH3


CH3 CCHCH2 CH2CCHCH2OPP CH3 CH2 CH2C CH2CCHCH2OPP
CH3
CE F CCH CHCH2
G

FIGURA 18.32 Formação de farnesil-PP (F) a partir de mevalonato (A).


As linhas tracejadas dividem as moléculas nas unidades derivadas de isoprenoide. D é 3-isopentenil pirofosfato.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 741

O O

O P O P OH
Farnesil pirofosfato
O– O–
+
O O

HO O–
P O P O

O–

Farnesil pirofosfato

NADPH, H+

2PPi + NADP+

FIGURA 18.33 Formação


de esqualeno a partir
de duas moléculas de
Esqualeno farnesil pirofosfato.

Esqualeno + O2 + NADPH + H+ → na de densidade intermediária (IDL), lipoproteína de


→ esqualeno 2,3-epóxido + H2O + NADP+ densidade muito baixa (VLDL) e quilomícrons. Suas
características físicas são apresentadas na Tabela 3.13,
A hidroxilação de C3 desencadeia a ciclização do es p. 112, e sua composição em lipídeos na Tabela 3.15, p.
qualeno em lanosterol (Figura 18.35). 115. Todas contêm fosfolipídeos e uma ou mais proteí
nas chamadas
comuns (Tabelaapoproteínas;
18.1). existem 10 apoproteínas
A transformação de lanosterol em colesterol envolve
muitas etapas pouco conhecidas e várias enzimas. Essas
reações incluem (1) remoção do grupo metil de C14, (2) CH3
remoção de dois grupos metil em C4, (3) migração da CH3
dupla ligação de C8 para C5, e (4) redução da dupla li
gação entre C24 e C25 da cadeia lateral (Figura 18.36).
CH3
CH3
CH3
CH3
H+
O
CH3 CH3

Esqualeno 2,3-epóxido

ciclase

FIGURA 18.34 Estrutura do esqualeno (C30).


CH3
CH3

Lipoproteínas Plasmáticas CH3

O sangue contém triacilgliceróis, colesterol e co CH3


CH3 14
lesteril-ésteres em concentrações que excedem muito CH3
suas solubilidades em água. Os lipídeos do sangue são
mantidos em solução, ou pelo menos em dispersão, pela
incorporação em estruturas macromoleculares chama HO CH3 H
das lipoproteínas. As lipoproteínas plasmáticas facili CH3
tam o metabolismo de lipídeos e transferem os lipídeos
Lanosterol
entre os tecidos. Existem cinco classes principais de
lipoproteínas: lipoproteína de alta densidade (HDL), FIGURA 18.35 Conversão de esqualeno 2,3-epóxido em
lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteí lanosterol.
742 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

NADH
O2
R NADPH R NADPH
O2 HO CH3 R

CH3
HCOOH

HO H3C CH3 HO CH3 CH3 COOH

HO Lanosterol CO2 NAD+

R NAD
O2+ R NADPH
R
CO2
NADPH

HO O
CH3 CH3
Zimosterol

R NADPH
O2 R′ NADPH R′

HO HO HO

7-Desidrocolesterol Colesterol

FIGURA
em colesterol.
18.36 Conversão de lanosterol R R′

TABELA 18.1 Apoproteínas de Lipoproteínas Plasmáticas Humanas


Apolipoproteína Peso Molecular Concentração Plasmática (g L–1) Distribuição em Lipoproteínas
ApoA-I 28.000 1,0–1,2 Quilomícrons, HDL
ApoA-II 17.000 0,3–0,5 Quilomícrons, HDL
ApoA-IV 46.000 0,15–0,16 Quilomícrons, HDL
ApoB-48 264.000 0,03–0,05 Quilomícrons
ApoB-100 512.000 0,7–1,0 VLDL, IDL, LDL
ApoC-I 7.000 0,04–0,06 Quilomícrons, VLDL, HDL
ApoC-II 9.000 0,03–0,05 Quilomícrons, VLDL, HDL
ApoC-III 9.000 0,12–0,14 Quilomícrons, VLDL, HDL
ApoD 33.000 0,06–0,07 HDL
ApoE 38.000 0,03–0,05 Quilomícrons, VLDL, IDL, HDL
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 743

ApoA-I Célula periférical (não-hepática)


Hepatócito

HDL HDL ApoA-I


ApoB-100 LDL

ApoC-II ApoE ApoC-II HDL LDL Aminoácidos,


ApoA-I Colesterol e colesterol,
VLDL ApoB-100
colesteril-ésteres FA, glicerol
ApoE ApoB-100
VLDL
Glicose FA TG
ApoE ApoC-II
Glicerol ApoB-100 Fosfolipídeos ApoB-100
LpL
VLDL ApoE ApoC-II Macrófago
Glicerol
Aminoácidos, colesterol, LDL
LpL
FA, glicerol Glicerol IDL LDL
Aminoácidos,
ApoB-100 ApoE ApoC-II
colesterol,
pH~5.0 Glicerol
ApoB-100 FA, glicerol
+
LDL (rece FA
pto
CR res
re
cic
la Apo-48 Célula
Endolisossomos m muscular
)
LDL
CR Quilomícrons FA
remanescentes (CR)
Lisossomos CR Acetil CoA
ApoE ApoC-II
Endossomos
CO2 + H2O
LDL
LpL

Apo-48

Quilomícrons
LDL(or IDL)
ApoE ApoC-II ApoA-I
Adipócito
Intestino FA
HDL +
glicerol
HDLApoEApoC-II TG
Enterócito Apo-48
ApoA-I Glicose
MG + FA Quilomícrons

ApoB-48

TG
MG + FA

Lipase pancreática
TG

Gordura da dieta
(TG)

FIGURA 18.37 Órgãos e vias envolvidos no metabolismo de lipoproteínas plasmáticas.


FA, ácido graxo; TG, triacilglicerol (triglicéride); HDL, lipopro teína de densidade muito baixa; LpL, lipoproteína lipase; apo-,
teína de alta densidade; LDL, lipoproteína de baixa densidade; apoproteína.
IDL, lipoproteína de densidade intermediária; VLDL, lipopro

As lipoproteínas são partículas esféricas, com os As lipoproteínas são os veículos pelos quais o co
lipídeos mais hidrofóbicos, como colesteril-ésteres e lesterol e seus ésteres e triacilgliceróis são transpor
triacilgliceróis, localizam-se no centro, sequestrados tados pelo corpo. Por exemplo, uma função da LDL é
para longe da água, enquanto colesterol livre (não-es entregar colesterol para os tecidos periféricos que re
terificado), fosfolipídeos e proteínas ficam organizados querem colesterol para a formação de membranas ou
na superfície (ver Figura 3.47, p. 114). Os fosfolipídeos a síntese de hormônios esteroides. O colesterol trans
anfipáticos e as proteínas mantêm os lipídeos, muito in portado para o fígado dos tecidos periféricos e o co
solúveis, em solução. As apoproteínas da superfície das lesterol em quilomícrons regulam a síntese hepática
partículas também funcionam como ligantes para re de colesterol (Figura 18.37). Diferentemente, a HDL,
ceptores celulares e cofatores para enzimas envolvidas que é rica em colesterol, mas pobre em triacilglicerol,
no metabolismo de lipoproteínas. carrega colesterol da periferia para o fígado, onde é
744 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

excretado na bile como colesterol ou após conversão A HDL é sintetizada principalmente no fígado e, em
em sais biliares. O VLDL e os quilomícrons transpor menor escala, no intestino, e tem a função singular de
tam triacilgliceróis para serem usados para obtenção ser um reservatório de apoE e apoC-II, que são ativa
de energia (por exemplo, músculo) ou armazenados dores da lipoproteína lipase. É secretada como apopro
(por exemplo, células adiposas). teína A-1 sem fosfolipídeos ou triacilglicerol. A HDL
regula a troca de apoproteínas e de lipídeos entre vá
As lipoproteínas plasmáticas são substratos para rias lipoproteínas no sangue. Partículas de HDL doam
várias enzimas do sangue. A lipoproteína lipase é liga apoE e apoC-II para quilomícrons e VLDL. Uma vez que
da à superfície luminal do endotélio vascular por liga os triacilgliceróis dos quilomícrons e de VLDL tenham
ção com proteoglicanos de heparam sulfato e hidrolisa
sido extensamente hidrolisados e essas lipoproteínas
triacilgliceróis de VLDL e quilomícrons. É ativada pela tenham sido transformadas em LDL e quilomícrons re
apolipoproteína C-II (apoC-II) e pela heparina libera manescentes, respectivamente, as apoE e apoC-II retor
da de mastócitos e de células do sistema macrófago/ nam a HDL (Figura 18.37).
retículo-endotelial. Os ácidos graxos liberados pela
lipoproteína lipase podem ser, depois, captados pelas HDL também participa da remoção do excesso de
células e oxidados por β-oxidação, incorporados em colesterol de células e seu transporte para o fígado para
fosfolipídeos para organização de membranas ou, em eliminação como colesterol e sais biliares. Esse fenô
adipócitos, armazenados como triacilgliceróis. Esses meno é chamado transporte reverso de colesterol (Fi
ácidos graxos são incorporados na gordura do leite, gura 18.38). É o colesterol livre (não-esterificado) que
na glândula mamária. A hidrólise de triacilgliceróis troca facilmente entre lipoproteínas e a membrana plas
também resulta na liberação de fosfolipídeos, coles mática de células. A transferência de colesterollivre da
terol livre e apolipoproteínas intercambiáveis na capa membrana plasmática para apoA-I ou uma espécie de
de superfície e sua transferência para outras lipopro HDL pobre em lipídeos para produzir o que é chamado
teínas circulantes, especialmente HDL. À medida que pré-β HDL ou HDL nascente é mediada por um trans
os quilomícrons perdem seu núcleo de triacilglicerol, portador de membrana chamado transportador cas
tornam-se os quilomícrons remanescentes, menores, sete de ligação a ATP (ABCA-1). O ABCA-1 também
que são ricos em colesteril-ésteres, ligam-se a recep transfere fosfolipídeos, juntamente com o colesterolli
tores específicos nas membranas hepáticas e são cata vre, da membrana para o HDL nascente, para produzir
bolizados no fígado, após endocitose (Figura 18.37). É HDL3. Ausência do transportador ABCA-1 resulta na
claro que as lipoproteínas são dinâmicas em estrutura deficiência de HDL chamada doença de Tangier. Mais
e composição. adição de colesterol esterificado a HDL3 produz HDL2.

Os principais locais de síntese das apoproteínas O colesterol é esterificado pela lecitina:colesterol


componentes são o fígado e o intestino delgado. Por aciltransferase (LCAT) associada com HDL. Essa rea
exemplo, a apoB-48 é produzida no intestino, enquanto ção livremente reversível (Figura 18.39) transfere o ácido
a apoB-100 é sintetizada principalmente em hepatóci graxo da posição sn-2 de fosfatidilcolina para a 3-hidro
tos. A apoB-48 tem 48% do comprimento da apoB-100 e xila do colesterol. A LCAT é produzida principalmen
é formada a partir da mesma mensagem que a apoB-100. te pelo fígado, ligada à HDL do plasma, e ativada pelo
Um códon de terminação (stop condon) introduzido no componente apoA-I da HDL. O colesteril-éster gerado
na reação da LCAT é transferido para VLDL e HDL pela
mRNA da apoB do intestino termina a tradução em 48%
do caminho ao longo da molécula de mRNA. A apoB-48 CETP, associada com a partícula de HDL, e é eventual
é sintetizada durante o curso da digestão de gordura e é mente captado pelo fígado.
usada na produção de quilomícrons. A apoB-100 é usa
da na produção de VLDL. Os ácidos graxos dos triacil A proteína de transferência de fosfolipídeo (PLTP)
catalisa a transferência de lipídeos, particularmente
gliceróis de partículas de VLDL recém-produzidas são
fosfolipídeos, entre as lipoproteínas. À medida que a
sintetizados a partir de açúcares, glicose em particular,
hidrólise de triacilglicerol catalisada pela LpL ocorre,
depois de terem sido oxidados a acetil-CoA, ou do ace
VLDL e quilomícrons ficam ambos menores; PLTP re
tato derivado da oxidação de etanol. A VLDL adquire move o excesso de fosfolipídeos da superfície dessas
colesteril-ésteres recém-sintetizados no fígado, bem partículas e os transfere para HDL. Isso fornece subs
como de outras lipoproteínas, durante seu transporte tratos para a reação da LCAT no transporte reverso de
na circulação. Na circulação, a transferência de coleste
colesterol.
ril-éster e triglicérides entre HDL e VLDL e LDL é faci
litada pela proteína de transferência de colesteril-éster A degradação de HDL ocorre no fígado após a cap
(CETP). A CETP fica associada com HDL no plasma. A tação seletiva de colesteril-ésteres, mediada por uma
CETP é sintetizada e secretada por hepatócitos e adipó proteína de membrana plasmática chamada receptor
citos, e sua expressão é estimulada pela hipercolestero scavenger-BI (receptor “lixeiro” SR-BI). SR-BI é um re
lemia induzida pela dieta. A lipoproteína lipase (LpL) ceptor multiligante, que liga não só HDL, mas também
converte VLDL em lipoproteína de densidade interme VLDL e HDL. A captação e a degradação de HDL pelo
diária (IDL) e, depois, à medida que mais triacilglicerol fígado envolve a lipase hepática da superfície celular,
é sujeito à lipólise, em LDL (Figura 18.37). que hidrolisa os triglicérides das partículas de HDL. A
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 745

Tecido periférico

Membrana plasmática
PL BCA1
FC
A liso-PC Tecidos
FC CE
PC
Pré-β HDL
HDL 3 LCAT
(HDL nascente) LCAT CE FC
ApoA-1
PC

VLDL liso-PC
Acetil CoA CE
CE CETP
SR-BI CE
β-oxidação FFA
ApoA-1 LpL
IDL HDL 2
FFA PL
CE
PLTP

Fígado FFA
HL LPL
CE FA
LDL
HDL 2

CE

FIGURA 18.38 Transporte reverso de colesterol mostrando as proteínas e as enzimas envolvidas.


PL, fosfolipídeo; FC, colesterol livre; ABCA1, cassete de ligação A-1; FFA, ácido graxo livre; SR-BI, receptor scavenger classe
a ATP 1; VLDL, lipoproteína de densidade muito baixa; HDL, B tipo I; TG, triacilglicerol; HL, lipase hepática. FA, ácido graxo;
lipoproteína de alta densidade; LDL, lipoproteína de baixa den TG, triacilglicerol (triglicéride); HDL, lipoproteína de alta den
sidade; IDL, lipoproteína de densidade intermediária; PC, fosfa sidade; LDL, lipoproteína de baixa densidade; IDL, lipoproteína
tidilcolina; lyso-PC, lisofosfatidilcolina; LCAT, lecitina colesterol de densidade intermediária; VLDL, lipoproteína de densidade
aciltransferase; CE, colesteril-éster; CETP, proteína de transfe muito baixa; LpL, lipoproteína lipase; apo-, apoproteína; Y, re
rência de éster de colesterol; PLTP, proteína de transferência de ceptor de LDL. Quilomícrons contêm B-48, VLDL e LDL contêm
fosfolipídeo; LpL, lipoproteína lipase; apoA-1, apolipoproteína B-100.

apoA1 da degradação de HDL é reciclada para nova for Síntese do Colesterol É


mação de HDL. Existe uma relação inversa entre a con
centração plasmática de HDL e a incidência de doença Cuidadosamente Regulada
arterial coronária, e existe uma relação positiva entre
Colesterol plasmático elevado predispõe à doença
os níveis de colesterol plasmático e doença coronária.
vascular aterosclerótica. Em indivíduos sadios, os ní
Células de fígado metabolizam quilomícrons rema veis de colesterol plasmático são mantidos numa faixa
nescentes por um mecanismo semelhante; entretanto, de concentração relativamente estreita, principalmente
macrófagos e muitas outras células têm receptores es pelo fígado, que (1) expressa a maior parte dos recep
pecíficos que reconhecem quilomícrons remanescentes tores de LDL do corpo, (2) é o principal local de con
e os internalizam. Esses receptores reconhecem a apoE versão de colesterol em sais biliares, e (3) tem os mais
dos quilomícrons remanescentes. Parte do LDL é cap altos níveis de atividade de HMG-CoA redutase. O total
tado por receptores scavengers inespecíficos de certas de colesterol do corpo é derivado do colesterol da dieta
células, macrófagos em particular. e da síntese de colesterol, primariamente no fígado e
no intestino. A síntese de colesterol aumenta no fígado
e no intestino quando a ingestão de colesterol na dieta
diminui. Esse colesterol é depois transportado do fíga
do e do intestino para os tecidos periféricos por VLDLs
e quilomícrons, respectivamente.

Colesterol Fosfatidilcolina
CH Colesteril-éster Lisofosfatidilcolina

O
O
O H2COC R1
O H2COC R1
OR C R2 + HO C H O
R +OH R2 OC O +
H2C OP OCH2CH2N (CH3)3
+
OP
COCH2N)3
H2CH2 (CH3
O–
O–

FIGURA 18.39 Reação da lecitina:colesterol aciltransferase (LCAT).


R-OH = colesterol.
746 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

A etapa de comprometimento e a reação limitante receptor. Intracelularmente, as vesículas perdem sua


da velocidade da síntese de colesterol (Figura 18.40) é clatrina e se tornam endossomos que se fundem com
a da HMG-CoA redutase, que catalisa a etapa que pro lisossomos, os quais contêm proteases e colesteril este
duz ácido mevalônico. O colesterol exerce inibição por rase. Nesse ambiente relativamente ácido (pH aproxi
retroalimentação (feedback) sobre a HMG-CoA reduta madamente 5,0), o receptor se separa da LDL e retorna
se e promove a degradação da enzima por mecanismos para a superfície celular, enquanto os colesteril-ésteres
que ainda não foram elucidados. são hidrolisados pela colesteril esterase a colesterol e
um ácido graxo de cadeia longa, e a proteína é degrada
Em um adulto normal saudável em dieta de baixo da a aminoácidos que passam a fazer parte do pool de
colesterol, cerca de 1.300 mg de colesterol são apre aminoácidos da célula. O colesterol livre difunde para
sentados ao fígado a cada dia, para eliminação. Esse o citosol, onde inibe a HMG-CoA redutase e suprime
colesterol vem da dieta e dos tecidos periféricos, e é a síntese da enzima. Ao mesmo tempo, a acil graxo
eliminado por (1) excreção na bile de cerca de 250 mg -CoA:colesterol aciltransferase (ACAT) do retículo
de sais biliares e cerca de 550 mg de colesterol, (2) ar endoplasmático é ativada pelo colesterol, promovendo
mazenamento de colesteril-ésteres, e (3) incorporação a formação de colesteril-ésteres, principalmente coles
em VLDL e secreção na circulação. No mesmo adulto, o teril oleato.
fígado sintetiza cerca de 800 mg de colesterol por dia,
para repor sais biliares e colesterol. Colesterol + oleil-CoA → colesteril-oleato + CoA

A LDL é responsável pela entrega e transporte de O acúmulo intracelular de colesterolinibe a síntese


colesterol nos tecidos periféricos que requerem coles e a reposição de receptores de LDL por inibição (do
terol para síntese e manutenção de suas membranas ou wn-regulation) de sua expressão, bloqueando assim
para células especializadas para síntese de hormônios maior captação e acúmulo de colesterol e aumentando
esteroides. A remoção de LDL da circulação envolve a concentração de colesterol plasmático. O mecanis
receptores de LDL na superfície dos hepatócitos e de mo de regulação pelo colesterol da HMG-CoA redutase
células da periferia. envolve um fator de transcrição, chamado proteína de
ligação ao elemento regulatório de esterol (sterol re
Cerca de 75% do catabolismo de LDL ocorre no fí gulatory element binding protein, SREBP), e duas
gado via um processo mediado pelo receptor de LDL. A outras proteínas chamadas COPII e InSig. Grande parte
ligação de LDL aos hepatócitos e às células da periferia do LDL-colesterolinternalizado pelos hepatócitos é me
é caracterizada por saturação, alta afinidade e alto grau tabolizado a ácidos biliares e secretado na bile ou libe
de especificidade. O receptorreconhece a apolipoproteína rado diretamente como colesterol na bile.
E (apoE) e a apolipoproteína B-100 (apoB-100) em LDL
e VLDL. A ligação ocorre na membrana plasmática, em O receptor de LDL é uma glicoproteína de cadeia
depressões encapadas com clatrina, e leva a complexos única; numerosas mutações em seu gene estão associa
ligante-receptor internalizados em vesículas encapadas das com a hipercolesterolemia familiar. O receptor atra
por clatrina. Isso é chamado endocitose mediada por vessa a membrana plasmática uma vez, com a extremi
dade carboxila na face citoplasmática
e a extremidade amino, que liga apoB
P
+ 100 e apoE-100, estendendo-se para o
NAD espaço extracelular.
2
+
2H
+ A correlação entre altos níveis plas
PH Ácido mevalônico + CoA
NAD máticos de colesterol, particularmente
2
LDL colesterol, e ataques cardíacos e
HMG-CoA
Acetil CoA acetoacetil CoA HMG CoA redutase acidentes vasculares cerebrais levou ao
desenvolvimento de abordagens dietéti
acetil CoA
cas e terapêuticas para baixar o coleste
rol do sangue (Correlação Clínica 18.3).
Pacientes com hipercolesterolemia fami

liar (genética) sofrem de aterosclerose
acelerada (Correlação Clínica 18.4). Na
maioria dos casos, chamados receptor
-negativos, há falta de receptores de LDL
funcionais porque os alelos mutantes
Colesterol produzem pouca ou nenhuma proteína
do receptor de LDL. Em outros casos,
Inibição por feedback
o receptor é sintetizado e transportado
FIGURA 18.40 Sumário da síntese de colesterol, indicando a inibição por normalmente para a superfície celular,
feedback da HMG-CoA redutase por colesterol. mas uma substituição de um aminoáci
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 747

CORRELAÇÃO CLÍNICA 18.3

Tratamento da Hipercolesterolomia

Muitas autoridades recomendam a dosagem de co segunda linha de terapia é com drogas. Colestiramina e
lesterol plasmático em indivíduos assintomáticos, por colestipol são drogas ligantes de sais biliares que pro
medida do colesterol plasmático. Um nível inferior a movem sua excreção, aumentando a síntese hepática de
200 mg% é considerado desejável; acima de 240 mg%, sais biliares e a captação de LDL pelo fígado. A lovas
requer análise de lipoproteínas, especialmente deter tatina inibe a HMG-CoA redutase, diminui a síntese en
minação de LDL-colesterol. A redução de LDL-coleste dógena de colesterol e estimula a captação de LDL pelo
rol depende da restrição de colesterol na dieta a menos receptor de LDL. A combinação de lovastatina e colesti
de 300 mg/dia, de calorias para atingir o peso corporal ramina, às vezes, é usada na hiperlipidemia severa.
ideal, e da ingestão de gordura total para menos do que
30% do total de calorias. Aproximadamente, dois ter Expert Panel. Evaluation and treatment of high blood cho
ços da gordura deveria ser mono- ou poli-insaturada. A lesterolin adults. Arch. Intern. Med. 148:36, 1988.

do ou outra alteração na estrutura primária da proteína Colesterol É Excretado


afeta negativamente a ligação de LDL. Como resultado,
há pouca ou nenhuma ligação de LDL à célula, a sínte Primariamente como Ácidos Biliares
se de colesterol não é inibida e o nível de colesterol no Os ácidos biliares são os produtos do metabolismo
sangue aumenta. Alguns pacientes deficientes em LDL
de colesterol. Os ácidos biliares primários são sintetiza
sintetizam o receptor de LDL, mas têm um defeito no
dos nos hepatócitos, a partir de colesterol. Os ácidos bi
mecanismo de transporte que leva a glicoproteína para
liares são derivados de ácido colânico (Figura 18.41). O
a membrana plasmática. Outro grupo tem receptores de
ácido cólico e o ácido quenodesoxicólico (Figura 18.42)
LDL que têm um defeito na extremidade citoplasmática
são compostos C24 contendo três e dois grupos OH, res
carboxi-terminal e são incapazes de internalizar o com
pectivamente, e uma cadeia lateral C-5 que termina em
plexo LDL-receptor de LDL.
um grupo carboxila, que está ionizado em pH 7,0 (daí o
Em tecidos especializados, tais como córtex adrenal nome sal biliar). O grupo carboxila é frequentemente
e ovários, o colesterol derivado de LDL é o precursor conjugado, por uma ligação amida, com glicina (NH2
de hormônios esteroides, como cortisol e estradiol, res -CH2-COOH) (Figura 18.43) ou taurina (NH2-CH2-CH2
pectivamente. No fígado, o colesterol extraído de LDL -SO3H), para formar ácido glicocólico ou taurocólico,
e HDL é convertido em sais biliares, que funcionam na respectivamente.
digestão intestinal de gordura.

CORRELAÇÃO CLÍNICA 18.4

Aterosclerose

Aterosclerose é a principal causa de morte em paí ceptores que captam LDL acetilada ou LDL complexada
ses ocidentais industrializados. O risco de desenvolvê-la com dextran sulfato; entretanto, essa via não é regulada
está diretamente relacionado com o LDL-colesterol plas pelo conteúdo celular de colesterol. A distorção do su
mático e inversamente relacionado com o nível de HDL bendotélio leva à agregação plaquetária na superfície do
-colesterol. Isso explica porque o primeiro é frequente endotélio e liberação de mitógenos derivados de plaque
mente chamado colesterol “ruim”, e o último colesterol tas, como o fator de crescimento derivado de plaquetas
“bom”, embora quimicamente não exista diferença. Na (platelet derived growth factor, PDGF), que estimula
aterosclerose, a parede arterial contém colesteril-és o crescimento de células musculares lisas. A morte das
teres acumulados em células derivadas da linhagem células esponjosas leva à deposição do lipídeo celular e
monócito-macrófago, há também proliferação de células fibrose. A placa aterosclerótica resultante estreita o vaso
musculares lisas e fibrose. A anomalia mais precoce é a sanguíneo e leva à formação de trombo, o que precipita o
migração de monócitos do sangue para o subendotélio infarto do miocárdio (ataque cardíaco).
da artéria. Essas células então se diferenciam em macró
fagos e acumulam colesteril-ésteres derivados da LDL Wick, G, Knoflach, M. e Xu, Q. B. Autoimmune and inflam
plasmática. Parte da LDL pode ser captada por vias que matory mechanisms in atherosclerosis. Annu. Rev. Immu
não requerem receptor de LDL. Por exemplo, existem re nol. 22:361, 2004.
748 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

21 Os ácidos biliares e fosfolipídeos solubilizam coleste


H3C 22
23 rol na bile, impedindo assim que o colesterol se precipite
20 na vesícula biliar. No intestino, os ácidos biliares atuam
18
CH3
12 17
COOH como agentes emulsificadores para os triacilgliceróis
24
11 13 16 da dieta, facilitando sua hidrólise pela lipase pancreá
19
CH2 14 15 tica. Os ácidos biliares desempenham um papel direto
1 9
2 10 8
na ativação da lipase pancreática (p. 1076) e facilitam
3 5 7
a absorção de vitaminas lipossolúveis, particularmente
4 6 vitamina D (p. 1094), do intestino.
H

FIGURA 18.41 Estrutura do ácido colânico.


H3C

OH
Microrganismos do intestino modificam os ácidos CH3 O C NCOOH
CH2
graxos primários em ácidos graxos secundários. Os
H
ácidos desoxicólico e litocólico são derivados dos áci CH3
dos cólico e quenodesoxicólico, respectivamente, pela
remoção de um grupo OH (ver Figura 18.42). A trans
formação de colesterol em ácidos biliares requer (1) HO H OH

epimerização do grupo 3β-OH, (2) redução da dupla


ligação C5, (3) introdução de grupos OH em C7 (ácido FIGURA 18.43 Estrutura do ácido glicocólico, um ácido
quenodesoxicólico) ou em C7 e C12 (ácido cólico), e biliar conjugado.
(4) conversão da cadeia lateral C27 em um ácido carbo
xílico C24 por eliminação de um equivalente de propil.
Os ácidos biliares são secretados na bile, armazena 18.4 ESFINGOLIPÍDEOS
dos na vesícula biliar, e depois secretados no intestino
delgado. A produção hepática de ácidos biliares é in Síntese de Esfingosina
suficiente para atender às necessidades fisiológicas, de
modo que o corpo depende de uma circulação êntero Esfingolipídeos são lipídeos complexos cuja estrutu
-hepática, que carrega os ácidos biliares do intestino de ra central é fornecida pelo aminoálcool de cadeia longa
volta para o fígado, várias vezes ao dia. esfingosina (Figura 18.44) (4-esfingenina ou trans-1,3
-di-hidroxi-2-amino-4-octadeceno).
A esfingosina tem dois átomos de
HOH
3C
HO H3C carbono assimétricos (C2 e C3); dos
OH OH quatro isômeros ópticos possíveis, a
H CH3 COOH CH3 esfingosina de ocorrência natural é a
COOH
forma D-eritro. A dupla ligação tem
CH3 a configuração trans. O grupo álcool
HO CH3
primário em C1 é um centro nucleofí
lico que é ligado com açúcares nos gli
coesfingolipídeos. O amino grupo em
H C2 sempre carrega um ácido graxo de
cadeia longa (geralmente C20-C26) em
Ácido cólico Ácido desoxicólico
ligação amida nas ceramidas. O álcool
secundário em C3 está sempre livre.
Note a similaridade estrutural dessa
CH3 parte da molécula de esfingosina com
H3C
o resíduo de glicerol dos acilgliceróis
CH3 COOH (Figura 18.44).
CH3
COOH
Os esfingolipídeos ocorrem no san
HO CH3
H OH HO CH3 gue e nas membranas plasmáticas de
quase todas as células. As concentra
ções mais altas são encontradas na mas
H
sabranca do sistema nervoso central.

A esfingosina é sintetizada por


Ácido quenodesoxicólico Ácido litocólico
meio da esfinganina (di-hidroesfingo
FIGURA 18.42 Estruturas de alguns ácidos biliares comuns. sina), a partir de serina e palmitoil
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 749

-CoA. A serina fornece C1, C2 e o amino-grupo da esfin A ceramida é sintetizada a partir de di-hidroesfin
gosina, e o ácido palmítico fornece os demais átomos de gosina (esfinganina) e um acil graxo-CoA de cadeia
carbono. A condensação de serina e palmitoil-CoA é ca longa, por uma enzima do retículo endoplasmático. A
talisada pela serina palmitoiltransferase, uma enzima di-hidroceramida é um intermediário que é, depois,
dependente de piridoxal fosfato. A força que direciona dessaturado em C4 e C5 (Figura 18.48). Ceramida não
a reação é fornecida pela clivagem da ligação reativa é um componente dos lipídeos de membrana, mas sim
tioéster de alta energia do palmitoil-CoA e pela libera um intermediário na síntese e no catabolismo de glicoes
ção de CO2 da serina (Figura 18.45). Redução do grupo fingolipídeos e esfingomielina. As estruturas de impor
carbonila da 3-ceto-di-hidroesfingosina pela 3-cetoes tantes esfingolipídeos humanos são apresentados na
finganina redutase, para produzir esfinganina (Figura Figura 18.49, de forma esquemática.
18.46), ocorre às custas de NADPH. Inserção da dupla
ligação na esfinganina produz esfingosina.
Esfingomielina É um Esfingolipídeo
HH
que Contém Fósforo
CHC CH2OH A esfingomielina, um importante componente das
OH
Glicerol
OH membranas do tecido nervoso, é um fosfolipídeo. Como
essa ceramida fosfocolina contém uma carga negativa e
uma carga positiva, é neutra em pH fisiológico (Figura
18.50). Os ácidos graxos mais comuns na esfingomielina
H HH são ácidos palmítico (16:0), esteárico (18:0), lignocérico
CH3)(CH212CCC3C2 C1H2OH (24:0) e nervônico (24:1). A esfingomielina da mielina
contém, predominantemente, ácido lignocérico e ácido
H OH NH2
nervônico, enquanto a da massa cinzenta contém princi
Esfingosina
palmente ácido esteárico. Acúmulo excessivo de esfingo
FIGURA 18.44 Comparação das estruturas de glicerol e mielina ocorre na doença de Niemann-Pick. A conversão
esfingosina (trans-1,3,di-hidroxi-2-amino-4-octadeceno). de ceramida em esfingomielina pela esfingomielina sin
tase envolve a transferência de um resíduo de fosfocolina
da fosfatidilcolina (lecitina) (Figura 18.51).
Ceramidas São Amidas de Ácidos
Graxos Derivadas de Esfingosina Glicoesfingolipídeos Geralmente
A esfingosina é o precursora da ceramida, uma amida Contêm Galactose ou Glicose
derivada de ácido graxo de cadeia longa da esfingosina,
As principais classes de glicoesfingolipídeos são ce
que constitui a estrutura central dos esfingolipídeos. O
ácido graxo é ligado ao grupo 2-amino da esfingosina por rebrosídeos, sulfatídeos, globosídeos e gangliosídeos.
uma ligação amida (Figura 18.47). Mais frequentemente, Nos glicolipídeos, o grupo da cabeça polar ligado à es
o grupo acil é ácido beênico, um ácido graxo saturado fingosina é uma molécula de açúcar.
de 22 carbonos, mas outros grupos acil de cadeia longa
Cerebrosídeos São Glicosilceramidas
podem ser usados. Os dois domínios hidrocarbônicos de
cadeia longa na molécula de ceramida são responsáveis Cerebrosídeos são ceramida mono-hexosídeos; os
pelo caráter lipídico dos esfingolipídeos. mais comuns são galactocerebrosídeo e glucocere

O O
CH3 )(CH214CSCoA + –OOC CHCH2 Mn2+
OH CH3)(C
CH214CHCH2OH + CO2 + CoASH
+ piridoxalfosfato
NH3 NH2

Palmitoil CoA L-Serina 3-Cetodi-hidrosfingosina

FIGURA 18.45 Formação de 3-cetodi-hidroesfingosina a partir de serina e palmitoil-CoA.

CH3 O
)(CH212 CH2 CH2 CCH CH2OH CH3)(CH212CH2CH2CHCHCH2OH

NH2 NADP+ OH NH2

H++NADPH

3-Cetodi-hidrosfingosina Esfinganina (di-hidrosfingosina)

FIGURA 18.46 Conversão de 3-cetodi-hidroesfingosina em esfinganina.


750 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

H CH3 (CH2)12 CH2 CH2 CHCHCH2OH


CH3)(CH212 CCCHCHCH2OH Di-hidrosfingosina OH NH2
H OC
OH NH CH3 O

(CH2)20 C SCoA

CH2 Beenil CoA


)(20
CoA
CH3

FIGURA 18.47 Estrutura de uma ceramida (N-acil CH3 (CH2)12 CH2 CH2 CHCHCH2OH
esfingosina). OH NH

brosídeo. A menos que especificado de outro modo, o C(CH2)20 CH3

termo cerebrosídeo geralmente se refere ao galactoce Di-hidroceramida O


rebrosídeo, também chamado galactolipídeo. Na Figu
FAD

Esfingomielina
FADH2

cer Fosfocolina

Esfingolipídeos neutros H

CH3 (CH2)12 CC CHCHCH2OH

Glucosilceramida cer Glu H OH NH

C(CH2)20 CH3
O
Galactosilceramida cer Gal
Ceramida

FIGURA 18.48 Formação de ceramida a partir de di


Lactosilceramida -hidrosfingosina.
cer Glu Gal

ra 18.52, note que C1 da unidade monossacarídi


Tri-hexosilceramida cer
ca está ligado ao C1 da ceramida, e a configuração
Globosídeo Glu Gal Gal
anomérica do resíduo de açúcar em ambos, ga
lactocerebrosídeos e glucocerebrosídeos, é β. A
maioria dos galactocerebrosídeos de indivíduos
NAc
cer Glu Gal Gal
Gal
saudáveis é encontrada no cérebro. Quantidades
moderadas de galactocerebrosídeos acumulam-se
na massa branca na doença de Krabbe, ou leuco
Esfingolipídeos ácidos
distrofia globoide, uma deficiência da galactoce
rebrosidase lisossomal.

Glucocerebrosídeo (glucosilceramida) (Figu


Sulfatídeo cerGal ra 18.53) não é normalmente um componente das
membranas. É um intermediário da síntese e da
OSO3H
degradação de glicoesfingolipídeos mais comple
xos. No entanto, aumentos de 100 vezes no conteú
Gangliosídeos do de glucocerebrosídeos ocorrem no baço e no
fígado na doença genética de armazenamento de
GM1
GM2
GM3 cerGlu Gal lipídeos chamado doença de Gaucher, uma deficiên
cia da glucocerebrosidase lisossomal.
NANA

cerGlu Gal NAcGal

NANA FIGURA 18.49 Estruturas de alguns esfingolipídeos


comuns, em forma esquemática.
cerGlu Gal NAcGal Gal
Cer = ceramida; Glu = glicose, Gal = galactose, NAcGal
= N-acetilgalactosamina, e NANA = ácido N-acetilneura
NANA mínico (ácido siálico).
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 751

CH3)(CH212 H
CCCHCHCH2 O tidades de sulfatídeo acumulam-se no sistema nervoso
+
OPOCH2 CH2N)(CH33 central na leucodistrofia metacromática, em virtude de
H OH NH O— uma deficiência da sulfatase lisossomal.
C
O )(CH216CH3
6CH2OH

FIGURA 18.50 Estrutura da esfingomielina. CH3(CH2)12CHCHCHCHCH2O


OH NH O2 3
5 OH
1 4
HO
Galactocerebrosídeos e glucocerebrosídeos são sin
tetizados a partir de ceramida e de UDP-galactose e C
O R OH
UDP-glicose, respectivamente. As glucosil- e galactosil
transferases que catalisam essas reações ficam associa FIGURA 18.52 Estrutura do galactocerebrosídeo
das com o retículo endoplasmático (Figura 18.54). Em (galactolipídeo).
alguns tecidos, a síntese de glucocerebrosídeo ocorre por
glucosilação de esfingosina pela glucosiltransferase.
(CH2CHCH CH2OH
Esfingosina + UDP-glicose → CH3)12CHCHCH2O O
→ glucosil-esfingosina + UDP
OH C
NH HO OH

seguida por acilação com ácido graxo


O R OH
Glucosil-esfingosina + estearoil-CoA →
→ glucocerebrosídeo + CoASH FIGURA 18.53 Estrutura do glucocerebrosídeo.

Sulfatídeo É um Éster de Ácido Sulfúrico


Galactocerebrosídeo Ceramida Glucocerebrosídeo
de Galactocerebrosídeo (galactolipídeo) (glucosilceramida)

O Sulfatídeo, ou sulfogalactocerebrosídeo, é um UDP UDP–galactose UDP–glicose UDP


éster de ácido sulfúrico de galactocerebrosídeo. O ga
FIGURA 18.54 Síntese de galacto- e glucocerebrosídeos.
lactocerebrosídeo 3-sulfato é o principal sulfolipídeo
do cérebro, correspondendo a ~15% dos lipídeos da
massa branca (Figura 18.55). É sintetizado a partir de
galactocerebrosídeo e 3’-fosfoadenosina 5!-fosfosulfato CH3 CH2OH
(CH2)12CHCHCHCHCHO O OH
(PAPS) pela sulfotransferase.
OH NH –O3SO

Galactocerebrosídeo + PAPS → C
→ PAP + galactocerebrosídeo 3-sulfato O R OH

A estrutura do PAPS, algumas vezes chamado sulfa FIGURA 18.55 Estrutura do galactocerebrosídeo sulfato
to ativado, é mostrada na Figura 18.56. Grandes quan (sulfolipídeo).

O H2COCR
H CHC
CH3(CH2)12CCH CH2OH + RCOCH
H2 P
O

H OH C
NH CO OCH2N(CH3
CH2)3
+

O–
O R
Ceramida Fosfatidilcolina

O H2COCR
H O

CH3(CH2)12CCHCH2OPOCH2
CHC CH2 +
N(CH3)3 + RCOCH

H OH NH O– H2COH

C Diacilglicerol
O R
Esfingomielina

FIGURA 18.51 Síntese de esfingomielina a partir de ceramida e fosfatidilcolina.


752 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

O O Átomo de carbono
PO–
–O O
S O O– OCH2 O O
P Adenina
1 COO– COO–
H H H H
2 CO COH

3 CH2 CH2
OH
4 CHOH O CHOH
CNCH
O
O O
O–
5 CH3 CH3 C N C H

FIGURA 18.56 Estrutura do PAPS (3’-fosfoadenosina H H


5’-fosfosulfato). 6
9
8
7 HO C H C H

HCOH HCOH

Globosídeos São Ceramida HCOH HCOH

Oligossacarídeos CH2OH CH2OH

Os globosídeos são cerebrosídeos que contêm dois


Forma de cadeia aberta Forma -hemiacetal
ou mais resíduos de açúcar, geralmente galactose, gli
cose ou N-acetilgalactosamina. Os oligossacarídeos FIGURA 18.58 Estrutura do ácido N-acetilneuramínico
são neutros e não contêm amino-grupos livres. A lac (NANA).
tosilceramida está presente na membrana do eritrócito
(Figura 18.57). Outro globosídeo importante do sis
tema nervoso é a ceramida tri-hexosídeo ou ceramida ligado ao oligossacarídeo da ceramida pelo grupo OH da
galactosil-lactosídeo: ceramida-β-glc-(4 → 1)-β-gal-(4 posição 2 do ácido N-acetilneuramínico. As estruturas
→ 1)-a-gal. Note que o resíduo de galactose termi de alguns gangliosídeos comuns são indicadas na Tabe
nal desse globosídeo tem a configuração anomérica la 18.2. Os principais gangliosídeos do cérebro são GM1,
a. A ceramida tri-hexosídeo acumula-se nos rins de GD1a, GD1b e GT1b. Quase todos os gangliosídeos do corpo
pacientes com a doença de Fabry, uma deficiência na são derivados da glucosilceramida. Na nomenclatura dos
a-galactosidase A lisossomal. sialoglicoesfingolipídeos, a letra G refere-se a gangliosí
deo. Os subscritos M, D, Te Q indicam gangliosídeos con
Gangliosídeos Contêm Ácido Siálico tendo mono-, di-, tri- e quadra(tetra)-ácidos siálicos, e os
subscritos 1, 2 e 3 designam a sequência de carboidratos
Os gangliosídeos são glicoesfingolipídeos que con ligada à ceramida, como segue: 1, Gal-GalNAc-Gal-Glc
têm ácido siálico, muito concentrados em células gan -ceramida; 2, GalNAc-Gal-Glc-ceramida; e 3, Gal-Glc-ce
glionares do sistema nervoso central, particularmente ramida. No gangliosídeo do Tay-Sachs, a designação GM2
nas terminações nervosas. O sistema nervoso central é denota a estrutura mostrada na Tabela 18.2.
singular entre os tecidos humanos porque mais da me
tade do seu ácido siálico está em gangliosídeos, sendo Um gangliosídeo de células da mucosa intestinalli
que o restante ocorre em glicoproteínas. Quantidades ga-se à toxina da cólera, uma proteína de 84 kDa secre
menores de gangliosídeos estão presentes na membra tada pelo patógeno Vibrio cholerae. A toxina estimula
na plasmática de células da maioria dos tecidos extra a secreção de íons cloreto no lúmen intestinal, resultan
neurais, onde correspondem a menos de 10% do ácido do na intensa diarreia da cólera. A toxina da cólera con
siálico total. tém uma subunidade A (28 kDa) e cinco subunidades
B (~11.000 Da cada). Depois de se ligar à superfície da
O ácido neuramínico(abreviadoporNeu)está presen membrana celular pelas subunidades B, a subunidade A
te em gangliosídeos, glicoproteínas e mucinas. Seu grupo entra na célula e age como uma ADP-ribosiltransferase
amino ocorre, mais frequentemente, como o derivado N que transfere ADP-ribose do NAD+ para a subunidade
-acetil, produzindo ácido N-acetilneuramínico (NANA) Gas de uma proteína G no lado citoplasmático da mem
ou ácido siálico (Figura 18.58). O grupo OH de C2 ocorre brana celular (p. 542). Isso leva à ativação da adenilato
mais frequentemente na configuração a-anomérica e é ciclase que estimula a secreção de íons cloreto e produz
diarreia. O domínio coleragenoide, como as su
CH2OH CH2OH bunidades B são chamadas, liga-se ao gangliosí
CH3(CH2)12CHCHCHCHCH2O O
H O OH deo GM1 (Tabela 18.2).
NH H H H
OHO C R O HO Os gangliosídeos também podem ligar outras
H OH H
H H toxinas, como a toxina tetânica, e certos vírus,
como o vírus influenza. Podem desempenhar um
HO H HO
papel informacional em interações célula–célula,
FIGURA 18.57 Estrutura da ceramida-ß-glc(4 → 1)-ß-gal por fornecerem determinantes específicos de re
(lactosilceramida). conhecimento na superfície celular.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 753

TABELA 18.2 Estruturas de Alguns Gangliosídeos Comuns dula óssea. A degradação começa com o engurgitamen
Nome Estrutura Química to das membranas de leucócitos e eritrócitos, que são
Código ricos em lactosilceramida (Cer-Glc-Gal) e hematosídeo
(Cer-Glc-Gal-NANA). No cérebro, em sua maioria, os
GM3 Galβ→4Glcβ→Cer cerebrosídeos são gangliosídeos e, particularmente du
3 rante o período neonatal, o turnover dos gangliosídeos
↑ é intenso. O catabolismo de esfingolipídeos é resumido
aNANA na Figura 18.59. Essa via requer enzimas que clivam
GM2 GalNAcβ→4Galβ→2Glcβ→Cer ligações específicas, incluindo a- e β-galactosidases,
3 uma β-glucosidase, uma neuraminidase, hexosamini
↑ dase, fosfodiesterase esfingomielina-específica (esfin
aNANA gomielinase), uma sulfato esterase (sulfatase) e uma
GM1 Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer amidase ceramida-específica (ceramidase). Importan
3 tes características da via catabólica são: (1) todas as
↑ reações ocorrem dentro dos lisossomos; (2) as enzi
aNANA mas são hidrolases; (3) o pH ótimo das enzimas está
GD1a Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer na faixa ácida, pH 3,5-5,5; (4) a maioria das enzimas
3 3 é relativamente estável e ocorre como isoenzimas, por
↑ ↑ exemplo, hexosaminidase A (HexA) e hexosaminidase
aNANA aNANA B (HexB); (5) as enzimas são glicoproteínas e frequen
Gd1b Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer temente ocorrem firmemente ligadas à membrana lisos
3 somal; (6) os intermediários adjacentes da via diferem
↑ por uma molécula de açúcar, um grupo sulfato ou um
aNANA8←aNANA resíduo de ácido graxo e são formados pela remoção de
GT1a Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer um constituinte de cada vez, como açúcares e sulfato,
3 3 por reações irreversíveis.
↑ ↑
aNANA←aNANA aNANA O catabolismo de esfingolipídeos normalmente fun
GT1b Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer ciona bem, sendo todos os glicoesfingolipídeos e esfin
3 3 gomielina degradados até seus constituintes. Entretan
↑ ↑ to, quando a atividade de uma enzima da via está muito
aNANA aNANA8←aNANA reduzida em decorrência de um erro genético, então,
GQ1b Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer o substrato dessa enzima se acumula e é depositado
3 3 dentro dos lisossomos dos tecidos nos quais o catabo
↑ ↑ lismo daquele esfingolipídeo normalmente ocorre. Uma
aNANA8←aNANA aNANA8←aNANA deficiência enzimática foi descrita para a maioria das
reações da Figura 18.59. Essas doenças, chamadas es
fingolipidoses, são resumidas na Tabela 18.3.
Várias doenças de armazenamento de lipídeos en Características comuns das doenças de armazena
volvem acúmulo de glicoesfingolipídeos contendo ácido mento de lipídeos são (1) geralmente apenas um único
siálico. As duas gangliosidoses mais comuns envolvem esfingolipídeo se acumula nos órgãos envolvidos, (2)
os gangliosídeos GM1 (GM1 gangliosidose) e GM2 (doença a porção ceramida é comum aos vários lipídeos arma
de Tay-Sachs). zenados, (3) a velocidade de síntese do lipídeo que se
acumula é normal, (4) uma enzima catabólica está fal
A GM1 gangliosidose é uma doença metabólica au tando, e (5) a deficiência enzimática ocorre em todos
tossômica recessiva caracterizada por função psicomo os tecidos.
tora deficiente, retardo mental, hepato-esplenomegalia
e morte nos primeiros anos de vida. O grande acúmulo
cerebral e visceral de GM1 deve-se a uma acentuada de
Ensaios Enzimáticos para Esfingolipidoses
ficiência de β-galactosidase. O diagnóstico de uma esfingolipidose é feito a partir
da biópsia do órgão envolvido, geralmente medula óssea,
fígado ou cérebro, com base nos aspectos morfológicos
Esfingolipidoses São Doenças da aparência muito característica do armazenamento
Lisossomais de Armazenamento de lipídeos dentro dos lisossomos. O ensaio da ativida
de enzimática confirma o diagnóstico. Leucócitos pe
Os esfingolipídeos são degradados dentro dos lisos riféricos, fibroblastos de pele em cultura e vilosidades
somos de células fagocíticas, particularmente os his coriônicas, que normalmente expressam a enzima rele
tiócitos ou macrófagos do sistema reticulo-endotelial vante, são usados para o propósito de diagnóstico. Em
localizados primariamente no fígado, no baço e na me alguns casos (por exemplo, doença de Tay-Sachs), soro
754 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE

NANA

NANA
Cerβ Gluβ Galβ GalNAc β Gal

neuraminidase

NANA
Cer β GluβGalβ GalNAcβ Gal (GM1)

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