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Manual de
BIOQUÍMICA
com Correlações Clínicas
II • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • III
Manual de
BIOQUÍMICA
com Correlações Clínicas
Tradução da 7.ª edição americana
Coordenado por
Thomas M. Devlin
Professor Emérito – Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
College of Medicine – Drexel University
Trabalho de Tradução
Profa. Dra. Yara M. Michelacci
Professora Associada Livre Docente – Disciplina de Biologia Molecular – Departamento de Bioquímica
Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
IMAGEM DA CAPA
Modelo de um complexo parcial de elongação da telomerase. A
enzima telomerase é uma ribonucleoproteína transcriptase reversa, res
ponsável pela manutenção do comprimento e da integridade das extre
midades de cromossomos lineares, chamadas telômeros, presentes em
eucariotos. A figura mostra a estrutura parcial do complexo de elongação
da telomerase na extremidade de um cromossomo (esferas azuis). A su
bunidade catalítica da telomerase (cilindros vermelhos) usa um molde
de RNA integrado (esferas verdes) para adicionar múltiplas repetições
idênticas de desoxirribonucleotídeos à extremidade 3! da fita de DNA de
um cromossomo. Defeitos na telomerase e no telômero são considerados
fatores que contribuem para a senescência replicativa e envelhecimento
celular programado. Ativação da telomerase é associada com a prolife
ração descontrolada de células observada em cerca de 85% dos cânceres
humanos. Uma discussão sobre telomerase é apresentada no capítulo 4.
Gillis, A.J., Schuller, A.P., Skordalakes, E. Structure of the Tribolium cas
taneum telomerase catalytic subunit TERT. Nature 455:633, 2008. Figura
generosamente fornecida pelo Dr. Emmanuel Skordalakes, The Wistar Ins
titute, Philadelphia, PA 19104, EUA.
FICHA CATALOGRÁFICA
Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4º andar Manual de bioquímica com correlações clínincas / coordenado
04531-012 - São Paulo - SP - Brasil por Thomaz M. Devlin; traduzido por Yara M. Michelacci. -- São
Tel.: 55 11 3078-5366 Paulo: Blucher, 2011.
editora@blucher.com.br
www.blucher.com.br Título original: Textbook of biochemistry; with clinical
correlations
7 ed. norte-americana.
Segundo Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. Bibliografia
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, ISBN 978-85-212-1581-3
Academia Brasileira de Letras, março de 2009.
1. Bioquímica 2. Bioquímica - Clínica I. Devlin, Thomaz M.
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem
autorização escrita da editora. 11-01463 CDD-612.015
Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda. Índices para catálogo sistemático:
1. Bioquímica: Ciências médicas 612.015
Conteúdo • V
À MINHA FAMÍLIA
Steve, Bonnie, Mark, Cathy, Kate, Matt, Ryan e Laura, que
foram fontes constantes de orgulho e amor
À MARJORIE
que tem estado comigo ao longo das sete edições, por seu
constante encorajamento, suporte e amor.
VI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • VII
Conteúdo resumido
Parte I Parte IV
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
1 Estrutura da Célula Eucariótica, 1 14 Bioenergética, Mitocôndria e Metabolismo Oxida
tivo, 561
2 DNA e RNA: Composição e Estrutura, 29
15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
3 Proteínas I: Composição e Estrutura, 79
Metabólicas e Seu Controle, 611
16 Metabolismo de Carboidratos II: Vias Especiais e
Parte II
Glicoconjugados, 667
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
17 Metabolismo de Lipídeos I: Síntese, Armaze
4 Replicação, Recombinação e Reparo do DNA,
namento e Utilização de Ácidos Graxos e Triacil
145
gliceróis, 693
5 RNA: Transcrição e Processamento do RNA, 187
18 Metabolismo de Lipídeos II: Vias do Metabolismo
6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações de Lipídeos Especiais, 727
Pós-Tradução, 215
19 Metabolismo de Aminoácidos, 771
7 DNA Recombinante e Biotecnologia, 265
20 Metabolismo de Purina e Pirimidina Nucleo
8 Regulação da Expressão Gênica, 317 tídeos, 831
21 Inter-relações Metabólicas, 865
Parte III
22 Bioquímica dos Hormônios, 907
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
9 Proteínas II: Relações Estrutura–função em
Parte V
Famílias de Proteínas, 347
PROCESSOS FISIOLÓGICOS
10 Enzimas: Classificação, Cinética e Controle, 391
23 Biologia Molecular da Célula, 961
11 Citocromos P450 e Óxido Nítrico Sintases, 441
24 Ciclo Celular, Morte Celular Programada e
12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e Câncer, 1027
Transporte de Solutos, 475
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio
13 Fundamentos da Transdução de Sinal, 525 nais Básicos, 1053
26 Vitaminas e Minerais: Necessidades e Função,
1089
27 Macronutrientes: Efeitos Metabólicos e Implica
ções para a Saúde, 1129
Apêndice, 1155
Glossário, 1167
Índice Remissivo, 1199
VIII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Conteúdo • IX
Conteúdo
Parte I
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS
4.4 RECOMBINAÇÃO,
Recombinação 164 164
Homóloga, 5.8 NUCLEASES E TURNOVER DO RNA, 207
O Turnover do RNA Mensageiro Citoplasmático É
Proteínas Chaves da Recombinação em E. coli, 167 Acoplado à Tradução, 207
Recombinação Não-Homóloga, 168
Pseudogenes, 168 6 Síntese de Proteínas: Tradução e Modificações
4.5 DANOS AO DNA E MUTAÇÕES, 169 Pós-Tradução, 215
Mutações, 170
Dohn Glitz
4.6 REPARO DO DNA, 172
Reparo por Excisão, 172 CONCEITOS CHAVES
Desmetilação Direta, 178
Fotorreativação,
Lesões Podem Bloquear
178 a Replicação, 178 6.1 INTRODUÇÃO, 216
Reparo
Regulação
de Quebra
do Reparo
na do
Dupla-Fita,180
DNA: o Regulon SOS, 181
6.2 CONCEITOS DO APARELHO DE TRADUÇÃO,
216
RNA Mensageiro Transmite a Informação Codifica
da no DNA, 216
5 RNA: Transcrição e Processamento do RNA, 187 RNA Transportador É uma Molécula Tradutora
Bilíngue, 217
Frank J. Schmidt e David R. Setzer O Código Genético Usa um Alfabeto de Quatro
Letras de Nucleotídeos, 217
Interações Códon-Anticódon Permitem Ler um
CONCEITOS CHAVES mRNA, 218
5.1 INTRODUÇÃO, 188 A Aminoacilação do RNA Transportador Ativa os
Aminoácidos para a Síntese Proteica, 222
5.2 MECANISMOS DE TRANSCRIÇÃO, 188 Ribossomos São Máquinas para a Síntese Protei
O Processo Inicial de Síntese de RNA É a Transcri ca, 224
ção, 188
A Informação na Sequência do DNA Sinaliza a 6.3 BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS, 225
Síntese de RNA, 188 A Tradução É Direcional e Colinear com o mRNA,
RNA Polimerase Catalisa o Processo de Transcrição, 225
A Iniciação da Síntese Proteica É um Processo Com
189
plexo, 226
Etapas da Transcrição em Procariotos, 190
A Elongação É a Formação Passo a Passo das Liga
5.3 TRANSCRIÇÃO EM EUCARIOTOS, 193 ções Peptídicas, 228
Natureza da Cromatina Ativa, 194 Terminação da Síntese do Polipeptídeo Requer um
Ativação da Transcrição Opera por Recrutamento Códon de Parada (ou Stop Codon), 233
da RNA Polimerase, 194 Tradução Tem um Custo Energético Considerável,
Transcrição pela RNA Polimerase II, 195 234
Transcrição pela RNA Polimerase I, 196 Síntese de Proteínas em Mitocôndrias Difere Ligei
Transcrição pela RNA Polimerase III, 196 ramente, 234
As Bases Enzimáticas Comuns para a Ação das RNA Muitos Antibióticos e Toxinas Têm Como Alvo a
Polimerases, 198 Biossíntese de Proteínas, 235
Biossíntese
ções Pós-Tradução,
de Colágeno
247 Requer Muitas Modifica- DNA COMPLEMENTAR E BIBLIOTECAS DE
DNA COMPLEMENTAR, 285
6.7 REGULAÇÃO DA TRADUÇÃO, 250 mRNA como Molde para Síntese de DNA Usando
Transcriptase Reversa, 286
6.8 253
DEGRADAÇÃO
Proteólise E TURNOVER
Dependente DE PROTEÍNAS,
de ATP Ocorre em Proteas
7.7 BACTERIÓFAGOS, COSMÍDEOS E VETORES
DE CLONAGEM EM LEVEDURA E ANÁLISE
somos, 254 DE LONGOS SEGMENTOS DE DNA, 288
Digestão Intracelular de Algumas Proteínas Ocorre Bacteriófagos como Vetores de Clonagem, 288
em Lisossomos, 255 Clonando Fragmentos de DNA em Cosmídeos e
Outros Sistemas Proteolíticos, 255 Vetores Cromossomos Artificiais, 289
Subclonagem Permite Definição de Grandes Seg
mentos de DNA, 290
7 DNA Recombinante e Biotecnologia, 265 Caminhar pelo Cromossomo (Chromosome
Walking) Define Arranjo de Genes em Segmentos
Gerald Soslau Longos do DNA, 290
Região Atenuadora do Operon Triptofano, 325 As Enzimas Proteolíticas São Classificadas por seu
Atenuação da Transcrição Controla Outros Ope Mecanismo Catalítico, 357
rons de Biossíntese de Aminoácidos, 326 Serino Proteases São Sintetizadas como Zimogê
nios e em Proteínas com Múltiplos Domínios, 361
8.5 OUTROS OPERONS BACTERIANOS, 327 Estruturas Terciárias dos Domínios Catalíticos de
Síntese de Proteínas Ribossômicas É Regulada de Serino Proteases São Semelhantes, 362
Modo Coordenado, 327 Serino Proteases Têm Relações Estrutura-Função
Resposta Estringente Controla Síntese de rRNAs e Semelhantes, 364
tRNAs, 327 Homologia de Sequência em Serino Proteases, 365
8.6 TRANSPOSONS BACTERIANOS, 328 Mecanismo de Catálise das Serino Proteases, 366
Transposons São Segmentos Móveis do DNA, 328 Inibidores Proteicos Específicos de Serino Protea
O Transposon Tn3 Contém Três Genes Estruturais, 329 ses, 366
10.4 SÍTIO ATIVO DE UMA ENZIMA, 401 na Doadora de Elétrons no Retículo Endoplasmáti
Estereoquímica do Sítio Ativo, 401 co, 444
Influência de Grupos Sobre o Substrato Distal à NADPH-Adrenodoxina Redutase É a Flavoproteína
Ligação a Ser Modificada, 403 Doadora de Elétrons em Mitocôndrias, 446
Parte V
22 Bioquímica dos Hormônios, 907
PROCESSOS FISIOLÓGICOS
Thomas J. Schmidt
23 Biologia Molecular da Célula, 961
CONCEITOS CHAVES
22.1 INTRODUÇÃO, 908 Thomas E. Smith
24.2 CICLO DE DIVISÃO CELULAR, 1028 Digestão de Lipídeos Requer Vencer sua Limitada
Regulação do Ciclo Celular, 1029 Solubilidade em Água, 1076
Transdução de Sinal de Fator de Crescimento, 1031 Lipídeos São Digeridos pelas Lipases Gástrica e
Pancreática, 1076
24.3 APOPTOSE: MORTE CELULAR PROGRAMA Micelas de Ácidos Biliares Solubilizam Lipídeos
DA, 1034 Durante a Digestão, 1078
Principais Vias da Apoptose, 1034 A Maioria dos Lipídeos Absorvidos É Incorporada
Indução de Apoptose por p53, 1037 em Quilomícrons, 1080
Vias da MAPK Regulam a Morte Celular e a Sobre
vivência Celular, 1038 25.7 METABOLISMO DE ÁCIDOS BILIARES, 1083
Química e Síntese de Ácidos Biliares, 1083
24.4 CÂNCER, 1039 Transporte de Ácidos Biliares, 1083
Oncogenes e Genes Supressores de Tumor, 1039
Propriedades de Células de Câncer, 1040
Múltiplas Mutações São Necessárias para Formar 26 Vitaminas e Minerais: Necessidades e Função,
um Câncer, 1043 1089
Heterogeneidade Genética e Bioquímica no Cân
cer, 1043 Stephen G. Chaney
Agentes Mutagênicos e Promotores Causam Cân
cer, 1046 CONCEITOS CHAVES
Análise Bioquímica de Cânceres Individuais, 1047
26.1 INTRODUÇÃO, 1090
25 Digestão e Absorção de Constituintes Nutricio 26.2 AVALIAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO, 1090
nais Básicos, 1053 26.3 INGESTÃO DIETÉTICA DE REFERÊNCIA, 1091
Ulrich Hopfer 26.4 VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS, 1092
Vitamina A É Derivada de Carotenoides de Plan
CONCEITOS CHAVES tas, 1092
Síntese de Vitamina D Requer Luz do Sol, 1094
25.1 INTRODUÇÃO, 1054 Vitamina E É uma Mistura de Tocoferóis e Toco
Tipos de Nutrientes, 1054 trienóis, 1098
Vários Órgãos Gastrointestinais Contribuem para a Vitamina K É um Derivado de Quinona, 1099
Digestão de Alimentos, 1054
26.5 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS, 1100
25.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS, 1056
Diferentes Locais de Digestão, 1056 26.6 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS LIBERADO
Enzimas Digestivas São Secretadas como Pró-Enzi RAS DE ENERGIA, 1102
mas, 1057 Tiamina Forma a Coenzima Tiamina Pirofosfato,
Secreção É Regulada por Muitos Secretagogos, 1102
1057 Riboflavina Forma as Coenzimas FAD e FMN, 1103
Niacina Forma as Coenzimas NAD e NADP, 1103
25.3 TRANSPORTE EPITELIAL, 1061 Piridoxina (Vitamina B6) Forma a Coenzima Pirido
Transporte de Solutos Pode Ser Transcelular ou xal Fosfato, 1105
Paracelular, 1061 Ácido Pantotênico e Biotina Formam Coenzimas
Absorção de NaCl Depende de ATPase Trocadora Envolvidas no Metabolismo Energético, 1105
de Na+/K+, Transportadores de Membrana e Ca Ácido α-Lipoico Desempenha Papéis Mútiplos no
nais, 1061 Corpo, 1106
Secreção de NaCl Depende da ATPase Trocadora
de Na+/K+, Transportadores de Membrana e Ca 26.7 VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS HEMATOPOI
nais, 1062 ÉTICAS, 1106
Gradientes de Concentração de Íons e Potenciais Ácido Fólico Funciona como Tetra-hidrofolato no
Elétricos Energizam o Transporte de Nutrientes, Metabolismo de Um Carbono, 1106
1066 Vitamina B12 (Cobalamina) Contém Cobalto num
Células Gástricas Parietais Secretam HCl, 1067 Anel Tetrapirrólico, 1108
25.4 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE PROTEÍNAS, 1068 26.8 OUTRAS VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS, 1109
As Peptidases Garantem Digestão Eficiente de Ácido Ascórbico Funciona em Reações de Redução
Proteínas, 1068 e Hidroxilação, 1109
Transportadores de Aminoácidos e de Di- e Tripep Colina e Carnitina Desempenham Várias Funções,
tídeos, 1071 1111
25.5 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS, 26.9 MACROMINERAIS, 1112
1073 Cálcio Tem Muitas Funções Fisiológicas, 1112
Dissacarídeos e Polissacarídeos Requerem Hidróli Magnésio É Requerido por Muitas Enzimas, 1112
se, 1073
Transportadores de Monossacarídeos, 1076 26.10 MINERAIS TRAÇOS, 1112
Deficiência de Ferro Causa Anemia e Imunocom
25.6 DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE LIPÍDEOS, 1076 petência Diminuída, 1112
XXII • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
Correlações Clínicas
4.2 Análogos de Nucleosídeos e Resistência a Drogas
1 Estrutura da Célula Eucariótica na Terapia do HIV, 150
4.3 Topoisomerases Como Antibióticos, 158
1.1 Condições Médicas Anormais Refletidas no pH do 4.4 Câncer e o Ciclo Celular, 163
Sangue, 7
4.5 Recombinação e Câncer, 164
1.2 Importância do HCO3– do Sangue na Acidose
4.6 Recombinação e Terapia Gênica, 169
Metabólica, 11
1.3 Envelhecimento Acelerado e o Núcleo Celular, 16 4.7 Cisplatina e o Tour de France, 170
Doenças Mitocondriais, 19 4.8 Análogos da Base Tiopurina Como Drogas, 171
1.4
1.5 Enzimas Lisossomais e Gota, 20 4.9 Medicina Personalizada, 172
1.6 Deficiência de Lipase Ácida Lisossomal, 21 4.10 Xeroderma Pigmentoso, 175
1.7 Doenças da Biogênese de Peroxissomos (PBD), 22 4.11 Reparo de Pareamento Errado e Câncer, 177
2.1 Vacinas de DNA, 32 5.1 Antibióticos e Toxinas que Têm RNA Polimerase
2.2 Uso Diagnóstico de Matrizes (Arrays) de DNA em Como Alvo, 191
Medicina e Genética, 43 5.2 Síndrome do XFrágil: Uma Doença da Cromatina?
2.3 Antibióticos Antitumorais que Mudam a Forma do 195
DNA, 46 5.3 Envolvimento de Fatores de Transcrição na Car
2.4 Persistência Hereditária da Hemoglobina Fetal, 50 cinogênese, 197
2.5 Telomerase Como Alvo para Agentes Anticâncer, 5.4 Talassemia Decorrente de Defeitos na Síntese de
50 RNA Mensageiro, 202
2.6 Expansão de Repetições de Tripletes de DNA e 5.5 Autoimunidade em Doenças do Tecido Conjuntivo,
Doença Humana, 52 203
2.7 Topoisomerases no Tratamento de Doenças, 56 5.6 Enzimas de Edição de Ácidos Nucleicos: Uma De
2.8 Tratamentos Epigenéticos para o Câncer, 61 fesa Antiviral, Bem Como um Modo de Alterar a
2.9 Resistência de Staphylococcus à Eritromicina, 69 Expressão Gênica, 206
5.7 Envolvimento de MicroRNAs na Oncogênese, 208
5.8 Síndrome de Cockayne, 209
3 Proteínas I: Composição e Estrutura
8.1 Resistência Transmissível a Múltiplas Drogas, 329 11.1 Hiperplasia Adrenal Congênita: Deficiência de
8.2 O Patógeno Bacteriano do Estômago: Helicobacter CYP21A2, 452
pylori, 330 11.2 Produção de Hormônios Esteroides Durante a
8.3 Síndrome de Rubstein-Taybi, 332 Gestação, 452
8.4 O Tamoxifeno e o Receptor de Estrógeno Como 11.3 Inibição de Citocromo P450: Interações Droga–
Alvo, 339 Droga e Efeitos Adversos, 455
8.5 Fatores de Transcrição e Doença Cardiovascular, 11.4 Papel do Citocromo P450 2E1 na Toxicidade Hepá-Hepá
339 tica Induzida por Acetaminofen, 457
Correlações ClínInCas • XXV
11.5 Indução de Citocromo P450: Interações Droga–
Droga e Efeitos Adversos, 458 15 Metabolismo de Carboidratos I: Principais Vias
11.6 Polimorfismos Genéticos de Enzimas P450, 460 Metabólicas e Seu Controle
11.7 Polimorfismos Genéticos de NADPH-Citocromo
P450 Redutase: Síndrome de Antley–Bixler, 461 15.1 Álcool e Barbituratos, 622
11.8 O Mecanismo de Ação de Sildenafil, 465 15.2 Envenenamento por Arsênico, 624
11.9 SuperproduçãoSuperprodução dede ÓxidoÓxido NítricoNítrico nono ChoqueChoque Sép-Sép 15.3 Intolerância a Frutose, 626
tico, 466 15.4 Diabetes Mellitus, 628
11.10 História e Efeitos Biológicos da Nitroglicerina, 467 15.5 Acidose Láctica, 630
11.11 Usos Terapêuticos de Óxido Nítrico Inalado, 468 15.6 “Picles” de Porco e Hipertermia Maligna, 631
11.12 O Papel de eNOS na Disfunção Endotelial, 469 15.7 Angina Pectoris e Infarto do Miocárdio, 632
15.8 Deficiência de Piruvato Quinase e Anemia Hemo
lítica, 638
12 Membranas Biológicas: Estrutura, Receptores e 15.9 Hipoglicemia e Bebês Prematuros, 639
15.10 Hipoglicemia e Intoxicação Alcoólica, 648
Transporte de Solutos
15.11 Doenças de Armazenamento de Glicogênio, 653
12.1 LipossomosLipossomos comocomo CarregadoresCarregadores dede Drogas,Drogas, Proteí-Proteí
nas e Ácidos Nucleicos, 486
12.2 Anomalias na Fluidez de Membranas Celulares em 16 Metabolismo de Carboidratos II: Vias Especiais
Doenças, 492 e Glicoconjugados
12.3 O Rim de Mamíferos e as Aquaporinas, 500
12.4 Doenças Que se Devem à Perda de Sistemas de 16.1 Deficiência de Glicose 6-Fosfato Desidrogenase,
Transporte de Membranas, 507 669
12.5 Fibrose Cística e o Canal de Cl–, 516 16.2 SíndromeSíndrome dede �ernicke–Korsakoff:�ernicke–Korsakoff: AnomaliasAnomalias As-As
12.6 DoençasDoenças QueQue EnvolvemEnvolvem aa SuperfamíliaSuperfamília dede Trans-Trans sociadas e Atividade de Transcetolase, 671
portadores ABC, 518 16.3 Frutosúria Essencial e Intolerância a Frutose:
Deficiência de Frutoquinase e de Frutose 1-Fosfato
Aldolase, 673
13 Fundamentos da Transdução de Sinal 16.4 Galactosemia:Galactosemia: IncapacidadeIncapacidade dede TransformarTransformar Galac-Galac
tose em Glicose, 674
13.1 Família de Receptores Tirosina Quinases ErbB/HER 16.5 Pentosúria: Deficiência de Xilitol Desidrogenase;
Como Alvos para Quimioterapia do Câncer, 539 L-Xilulose Redutase, 675
13.2 Antagonistas Endógenos de Receptores de In 16.6 O Ácido Ascórbico (Vitamina C) É Derivado de
terleucina-1 Como Terapia para Doenças Infla Ácido Glucurônico, 675
matórias, 541 16.7 ÁcidoÁcido Glucurônico:Glucurônico: SignificadoSignificado FisiológicoFisiológico dada For-For
13.3 Receptores de Quimiocinas Acoplados a Proteína mação de Glucuronídeos, 675
G como Alvos para o Vírus da Imunodeficiência 16.8 Substâncias dos Grupos Sanguíneos, 678
Humana (HIV), 543 16.9 Doenças Congênitas de Glicosilação (CDGs, con
13.4 Mutações em Proteína G em Tumores de Glândula genital disorders of glycosylation), 681
Pituitária e Doenças Endócrinas, 545 16.10 Defeitos no Catabolismo de Glicoproteínas, 682
13.5 Alterações na Sinalização do Receptor b-Adrenér 16.11 Doenças de Glicolipídeos, 683
gico na Insuficiência Cardíaca Congestiva, 547 16.12A Heparina É um Anticoagulante, 683
13.6 Sinalização por Óxido Nítrico/cGMP Como Alvos 16.13 CondrodistrofiasCondrodistrofias DecorrentesDecorrentes dede DefeitosDefeitos dede Sulfa-Sulfa
Terapêuticos em Doenças Cardíacas e Vasculares, tação, 686
550 16.14 Mucopolissacaridoses, 687
19.1 Deficiências de Carbamoil Fosfato Sintetase e de 21.1 Obesidade e a Síndrome Metabólica, 866
N-Acetilglutamato Sintetase, 783 21.2 Desnutrição Proteico-Calórica, 867
19.2 Deficiências de Enzimas do Ciclo da Ureia, 784 21.3 Jejum, 868
19.3 Selenoproteínas, 787 21.4 Coma Hiperglicêmico, Hiperosmolar, 877
19.4 Hiperglicinemia Não-Cetótica: Encefalopatia da 21.5 Hiperglicemia e Glicação de Proteínas, 877
Glicina, 788 21.6 Diabetes Mellitus Tipo 2, 891
19.5 Deficiência de Prolina Desidrogenase, 788 21.7 Hipoglicemia e Diabetes, 892
19.6 Deficiências na Via do Semialdeído Glutâmico, 788 21.8 Diabetes Mellitus Tipo 1,893
19.7 Fenilcetonúria, 790 21.9 Caquexia do Câncer, 893
19.8 Tirosinemias, 791
19.9 Alcaptonúria, 793
19.10 Homocisteinemia e Homocisteinúria, 794
19.11 Doenças Envolvendo Cistina, 795
22 Bioquímica dos Hormônios
Prefácio
Prefácio da edição
brasileira
Mais uma vez tive a honra, o privilégio e a responsa downstream, que foram traduzidos por “a montante”
bilidade de traduzir o Manual de Bioquímica com Cor e “a jusante”, respectivamente; feedback foi traduzi
relações Clínicas, de Thomas M. Devlin, agora na sua do por “retroalimentação”; turnover foi traduzido por
Sétima Edição. “renovação” ou “reciclagem”, dependendo do contexto;
primer, “iniciador”; template, “molde”; gap junctions,
Desta vez, também participaram do trabalho de tra “junção em fenda” ou “junção tipo fenda”; tight junc
dução o Biomédico Giovani Bravin Peres, graduado no tion, “junção ocludente”; steady state, “estado estacio
Curso de Ciências Biomédicas da Escola Paulista de nário”, entre outros. Para evitar dúvidas, em muitos ca
Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNI sos optamos por manter o termo em inglês, em itálico,
FESP) e estudante de pós-graduação do Programa de ao lado do termo traduzido. Em outros casos, o uso da
Pós-Graduação em Biologia Molecular da mesma Insti palavra inglesa está consagrado no Brasil, como spli
tuição, e a Dra. Thaís Sodré de Lima Machado, Doutora cing, que não foi traduzido e aparece sempre em itálico.
em Medicina Veterinária pela Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo Quanto às siglas, de modo geral foram mantidas as
(USP). originais, de uso comum. Por exemplo, DNA, para ácido
desoxirribonucleico (desoxyribonucleic acid); PCR,
Escrever textos científicos em português, especial para reação de polimerase em cadeia (polymerase
mente nas áreas de Bioquímica e Biologia Molecular, é chain reaction); PDGF, para fator de crescimento de
sempre um desafio, uma vez que muitos neologismos fo rivado de plaquetas (platelet derived growth factor).
ram criados em outros idiomas (principalmente inglês
e francês) para fazer referência a moléculas e proces Uma questão que merece destaque é a tradução dos
sos recentemente descobertos, para os quais inexistem nomes dos açúcares e das vias do seu metabolismo.
termos de mesmo significado em português. Pesquisa Em inglês, a raíz gly é genérica e refere-se à família
dores brasileiros têm dado importantes contribuições à dos açúcares e não a um composto específico (p. ex.,
ciência mundial nesse campo, mas seus trabalhos são glycan, glicano; glycoproteins ou glycolipids, para
quase sempre publicados em periódicos de circulação glicoproteínas ou glicolipídeos que contêm diferentes
internacional, em inglês. Por isso, para muitos termos açúcares; glycosyltransferase, para glicosiltransfera
não existe uma tradução adequada (ou existem várias, ses, enzimas que transferem açúcares para aceptores),
nenhuma perfeita) e, nos meios especializados, o termo enquanto glu refere-se ao monossacarídeo glucose e
em inglês é o mais usado. seus derivados. Entretanto, em português gly é tradu
zido por “gli”, e glucose é “glicose”, gerando confusão.
A Editora Blücher optou por entregar a tradução Neste livro, optamos por traduzir todas as palavras com
deste livro, não a especialistas em português e/ou in a raíz gly por “gli” (p. ex., glycosaminoglycan, glicosa
glês, mas a pesquisadores e educadores em Bioquímica, minoglicano; glycoprotein, glicoproteína; glycolipid,
Biologia Molecular e Medicina. Se, de um lado, certas glicolipídeo; glycolysis, glicólise; glycogen, glicogê
dificuldades podem ter surgido pela nossa pouca fami nio), e usamos “glu” para os derivados de glucose (p.
liaridade e experiência com a arte de compor livros, ex., glucosamine, glucosamina; D-glucuronic acid,
foram evitados erros grosseiros, inaceitáveis para os ácido D-glucurônico; gluconeogenesis, gluconeogêne
profissionais e estudantes que utilizarão esta obra para se; glucosyltransferase, glucosiltransferase, enzima
aprender seu conteúdo, aprofundar seus conhecimentos que transfere glicose para aceptor). A única exceção é o
ou como texto básico para o ensino de suas disciplinas. próprio monossacarídeo “glicose”, mantido aqui devido
ao seu uso consagrado no Brasil.
Não somos tradutores. Muitos dos termos usados
aqui foram traduzidos segundo seu uso corrente nos Outro ponto que merece destaque é que, neste livro,
meios acadêmicos, ou não foram traduzidos. Alguns os capítulos são escritos por diferentes autores, especia
exemplos: upregulation e downregulation que, quan listas nos respectivos temas. Por um lado, isso assegura
do coube, foram traduzidos por “regulação positiva” e a precisão e a atualidade do conteúdo, mas, por outro
“regulação negativa”, respectivamente; upstream e lado, gera diferenças de estilo. Apesar dos esforços no
XXXVI • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
sentido buscar um estilo de escrita consistente, é fácil Para o entendimento da Biologia e a prática da Medi
perceber, na leitura dos capítulos, diferentes graus de cina nos dias de hoje, é imprescindível que os processos
clareza e profundidade no texto. Isso, obviamente, foi que ocorrem nos seres vivos, tanto os normais como os
mantido na tradução. Além disso, é claro que diferenças alterados por doenças, sejam entendidos em nível mo
de estilo também existem em português, e fatalmente lecular. Todos os profissionais que utilizam conceitos
apareceriam se o texto fosse traduzido por diferentes biológicos na sua atuação devem estar familiarizados
bioquímicos. Para minimizar essas diferenças e dar ao com a nomenclatura dos componentes moleculares e
livro traduzido certo grau de uniformidade, fiz a revisão dos processos que ocorrem nas células, nos tecidos e no
de todos os capítulos. Procurei ser, tanto quanto possí organismo como um todo, para que possam desempe
vel, fiel ao texto original e, muitas vezes, apoiei-me em nhar adequadamente suas funções.
dicionários (Aurélio, Houaiss, Michaelis e outros) e em
outros textos já traduzidos para o português ou escritos Além disso, o público em geral também se beneficia
por autores brasileiros, como referências. dos novos conhecimentos e avanços da ciência moderna.
Com o advento de novas tecnologias como DNA recom
A presente edição foi bastante modificada e atua binante, clonagem gênica, produção de medicamentos
lizada em relação às edições anteriores, incorporando recombinantes e “sob medida” para o usuário, produ
novos conteúdos e tópicos, que eram desconhecidos (ou ção de organismos transgênicos, além da possibilidade
pouco conhecidos) há poucos anos. Em especial, foram de clonagem de organismos inteiros, cada vez mais as
incorporadas novas Correlações Clínicas e referências pessoas deverão tomar decisões que poderão afetar sua
bibliográficas (outras foram removidas), e alguns tre vida diária, bem como a vida em todo o planeta. Pou
chos foram destacados em novas caixas chamadas “Um quíssimos textos de Bioquímica, especialmente esta
Olhar mais Atento”, que permitem um acesso rápido a belecendo relações com a Clínica Médica, são amplos,
informações relevantes. Além disso, foram criadas as completos e atualizados como este. Espero que esta
seções “Conceitos Chaves” e “Termos Chaves”, no iní nova edição ajude tanto profissionais como “amantes da
cio e no fim, respectivamente, de cada capítulo, o que ciência” a entenderem os novos conhecimentos sobre
facilita muito o estudo e a avaliação da aprendizagem. sistemas bioquímicos e suas implicações na biologia e
Novas Questões também foram introduzidas em todos na saúde humana, com base nos conhecimentos adqui
os capítulos. ridos em laboratórios de pesquisa de todo o mundo.
Yara M. Michelacci
Fevereiro de 2011
PrefáCIo • XXXVII
Coautores
Agradecimentos
A sétima edição do Manual de Bioquímica com com detalhes administrativos. Estendo minha profun
Correlações Clínicas foi possibilitada pelos esforços e da apreciação a Marc Wezdecki, Editor de Mídia, e Ke
encorajamento de muitas pessoas, e eu estendo a todos vin Murphy, Designer Sênior, e Hope Miller, designer
meus sinceros agradecimentos. Sou muito grato a cada que criou a capa. O design atraente das páginas foi cria
um dos coautores por aceitarem o desafio de preparar do por Laura Ireardi, a quem apresento agradecimentos
os capítulos, compartilhar suas idéias para aprimorar especiais. Marketing teve um papel importante no de
o livro, imediatamente aceitarem sugestões para modi sign do livro e eu apresento minha mais profunda admi
ficar suas contribuições, e cooperarem durante toda a ração a Kristine Ruff por sua inestimável colaboração.
preparação. A cada um, apresento minha mais profun
da admiração por um trabalho bem feito. Os coautores A edição e composição desta edição foram respon
e eu apresentados um especial agradecimento a nossos sabilidade de MPS Content Services, Macmillan Pu
ex-professores, colegas e estudantes por seu suporte e blishing Solutions. Quero expressar meus agradecimen
tos especiais a John Sollami, Vice-Presidente, Onshore
inspiração, que tornaram este texto possível.
Content Services, por seu suporte e aconselhamento.
Na preparação desta edição, capítulos da 6ª edição John e eu trabalhamos juntos na quarta edição, e foi
foram criticamente revisados por: Dr. David J Edwards, um privilégio poder interagir com ele novamente. Nós
University of Pittsburg, Dr. Kevin Gaston, University of queremos agradecer a Pat O’Maley, Diretor de Opera
Bristol, UK, Professor James J. A. Heffron, University ções, que foi responsável por supervisionar essa fase do
College Cork, Irlanda, Dr. Thomas E. Smith, Howard projeto. A pessoa responsável pelas atividades do dia
University, Dr. Frank Vella, University of Saskatchewan, a dia da produção foi Edward Dionne, Gerente de Pro
e Dr. Edward J. Wood, University of Leeds, UK. Nós, os jeto, que paciente e meticulosamente supervisionou a
coautores e eu, somos muito agradecidos a eles; seus transformação de nossos manuscritos em páginas. Ed
excelentes comentários e sugestões foram a base para me manteve bem informado, gerenciou os muitos de
as principais mudanças na sétima edição. Com pesar, talhes envolvidos, acionou prontamente minhas suges
menciono o falecimento do Dr. Edward J. Wood em de tões e preocupações, e nos manteve no prazo. Foi um
zembro de 2008; perdemos um dedicado e inspirador prazer trabalhar com um profissional tão eficiente, res
colega. Nossa gratidão é estendida ao Dr. Emmanuel ponsável e consciencioso, além de ser uma pessoa muito
Skordalakes, The Wistar Institute, Philadelphia, PA, por agradável; apresento minha profunda gratidão a ele. O
fornecer um modelo de um complexo parcial de elonga excelente copy-editing do manuscrito foi completado
ção da telomerase para a capa. por Carol A. Loomis, e o Índice foi preparado por Diana
Witt; a ambas, meus sinceros agradecimentos.
Manifesto minha mais sincera admiração e agrade
cimentos aos membros do quadro da Higher Education Eu cometeria um erro se não agradecesse aos mem
Division da John Wiley & Sons por sua participação na bros da STM Division da John Wiley, que guiaram a
produção desta edição. Tem sido um prazer trabalhar preparação dos manuscritos e me deram assistência
com um grupo de indivíduos extremamente inteligen e suporte inestimáveis. Meu especial agradecimento a
tes, profissionais e encorajadores. Minha mais profunda Michael Forster, Vice-Presidente e Diretor de Edição
gratidão é estendida a Joan Kalkut, Editor de Bioquími Associado, Ciências Físicas, Wiley-Blackwell, por seu
ca, que paciente e conscientemente me guiou durante a apoio contínuo, e Darla P. Henderson, Editor Sênior de
produção desta edição, e coordenou minhas atividades. Aquisições, Anita Lekhwani, Editora Sênior de Aquisi
Joan fez muitas sugestões valiosas e estava sempre dis ções, e Revekah Amos, Assistente Editorial Sênior, que
foram um apoio constante e tiveram um papel impor
ponível para responder minhas perguntas. Estendo mi
nha apreciação a Kaye Pace, Vice-Presidente e Editora tante e valioso na realização da sétima edição.
Executiva para Ciências, por seu comprometimento com Finalmente, uma nota muito especial de gratidão à
o projeto. Sou grato a Petra Recter, Editora Associada minha esposa, Marjorie, que teve a sabedoria muitos
de Química e Física, Micheline Frederick, Gerente de anos atrás de me encorajar a iniciar a preparação de
Produção, e Kerry Weinstein, Editor Sênior de Produ um livro, que me apoiou durante os dias de intenso tra
ção, por seus esforços; todos demonstraram os mais balho, e que criou um ambiente no qual pude devotar
altos padrões de profissionalismo. Um agradecimento as muitas horas necessárias à preparação deste livro. À
especial a Hilary Newman, Gerente, Departamento de Marjorie, meu mais profundo e sincero muito obrigado.
Foto, e muito obrigado a Yelena Zolotorevskaya, Assis
tente do Programa Editorial, que lidou eficientemente thoMas M. deVlIn
XL • Manual de BIoquíMICa CoM Correlações ClínICas
1
PARTE I
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 1
δ–
Estrutura da
Célula Eucariótica δ+
H
104,5o
H
δ+
Thomas M. Devlin
Professor Emérito, College of Medicine – Drexel University
Conceitos Chaves
• Todos os organismos vivos são compostos por célu • A água é um componente essencial das células. Mo
las individualizadas, delimitadas por uma membra léculas de água formam pontes de hidrogênio entre
na externa lipídica. As células podem apresentar si e com outras moléculas.
uma variedade de estruturas internas.
• Ácidos fracos e grupamentos acídicos de macromo
• Células vivas incluem archea, eubactérias e euca léculas permitem que a célula controle sua concen
riotos. Organismos multicelulares podem ter uma tração interna de íons hidrogênio (pH).
variedade de células especializadas. As células de mamíferos são compartimentaliza
•
• As células são capazes de se replicar e controlar das em diversas estruturas intracelulares, cada
seu ambiente interno, utilizando materiais para a qual com funções específicas.
produção de energia e para a síntese das moléculas As funções das células são integradas e podem ser
•
necessárias.
controladas tanto por mecanismos intracelulares
quanto por influências extracelulares.
2 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
1.1 CÉLULAS SÃO A BASE DOS rem estruturas capazes de replicação. Não há registros
conclusivos, entretanto, quanto às condições ambientais
ORGANISMOS VIVOS que permitiram essa reações. Com a contínua formação
de moléculas ainda mais complexas, aquelas que tinham
A base de todos os organismos vivos, do mais simples capacidade de se autorreplicar tornaram-se envolvidas
ao mais complexo, é uma unidade de espaço delimitada
por membranas para formar células. Com a passagem
por membrana. Tal unidade é a definição de célula. O do tempo, essas formas de vida simples evoluíram para
espaço compreendido em seu interior pode apresentar a célula que se tornaria o “último ancestral comum” de
de 10 a 10.000 micrômetros de diâmetro, com graus va todos os milhões de espécies e subespécies da Terra, in
riáveis de complexidade interna, dependendo do orga cluindo o homem. O “último ancestral comum” de todos
nismo em questão. As células existem como organismos os homens surgiu há cerca de 450 milhões de anos. A
unicelulares independentes, a exemplo das bactérias, e evolução dos organismos ainda continua. A vasta diver
como organismos multicelulares, como o homem, com sidade de vida observada hoje, da mais simples bactéria
mais de 100 trilhões de células. Independentemente da
a organismos complexos multicelulares como plantas e
complexidade do organismo, todas as células apresen animais, é produto dessas mudanças evolutivas.
tam as seguintes características em comum:
• Muitos dos mesmos íons inorgânicos e das molé
culas orgânicas, incluindo carboidratos, lipídeos e Classificação das Células Vivas
macromoléculas, como proteínas e ácidos nuclei
Todos os organismos são agrupados em um dos três
cos.
grandes domínios: Archea, Eubacteria e Eucaryota.
• Uma membrana celular externa, denominada Há evidências de que todos os três tenham se deriva
membrana plasmática, composta por moléculas do de um ancestral comum desconhecido. As arqueias,
anfipáticas (fosfolipídeos e proteínas). Essa mem que provavelmente são o domínio mais primitivo, e as
brana delimita o espaço ocupado pela célula, sepa eubactérias, que incluem as bactérias comuns, são clas
rando um ambiente externo variável e potencial sificadas como procariotos, uma vez que apresentam
mente hostil de um meio intracelular relativamente muitas estruturas em comum, incluindo a ausência de
constante. um núcleo definido ou de estruturas internas envoltas
por membranas. Geralmente, esses organismos são uni
• Sistemas que permitem a comunicação entre os
celulares (Figura 1.1a), mas, em alguns casos, formam
meios interno e externo.
colônias ou filamentos. Os procariotos apresentam uma
• A capacidade de transformar fontes externas de variedade de formas e tamanhos e podem viver sob
energia em energia capaz de alimentar as reações condições diversas, algumas extremas. A membrana
endergônicas que ocorrem em seu interior. Essas plasmática é frequentemente invaginada. O DNA dos
fontes externas incluem a luz, as moléculas orgâni procariotos é uma fita circular única e comumente fica
cas e os gradientes de concentração de moléculas segregada em uma discreta massa, a região nucleoide,
existentes através da membrana. que não é envolta por membrana ou envelope. Ainda
que sem compartimentos definidos por membranas, o
• A capacidade de converter nutrientes ingeridos
meio intracelular dos procariotos é organizado em com
em constituintes celulares e de eliminar materiais
partimentos funcionais.
degradados e potencialmente tóxicos. Todas essas
reações são catalisadas por enzimas, que são cata Nos eucariotos estão inclusos organismos unicelula
lisadores proteicos. res, como leveduras e fungos, e multicelulares, a exem
• A capacidade de sintetizar macromoléculas, como plo das plantas e dos animais. O volume de suas células
ácidos nucleicos e proteínas. é 1.000 a 10.000 vezes maior do que o da maioria dos
procariotos. Possuem uma membrana bem definida que
• Um genoma composto por ácido desoxirribonu envolve o núcleo, contendo a maior parte do DNA celular,
cleico (DNA), que contém as instruções para todo e várias estruturas intracelulares e organelas envoltas
o funcionamento celular. por membrana (Figura 1.1b). Os sistemas de membranas
• A capacidade de se replicar, transferindo à progê intracelulares definem distintos compartimentos sub
nie as informações genéticas hereditárias. celulares (p. 14), permitindo um grau singular de orga
nização subcelular. Por meio da compartimentalização,
diferentes reações químicas, que requerem diferentes
ambientes, podem ocorrer simultaneamente.
Há mais de 3,7 bilhões de anos, sob condições não
inteiramente claras e numa faixa de tempo difícil de Os elementos químicos básicos e as reações quími
compreender, os elementos hidrogênio, oxigênio, nitro cas fundamentais de todas as células, procarióticas ou
gênio, enxofre e fósforo formaram compostos químicos eucarióticas, são muito semelhantes. Por outro lado, há
simples. Estes se combinaram, dispersaram e recombi diferenças significativas na composição química e nas
naram, formando várias moléculas maiores, até surgi atividades bioquímicas.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 3
(a)
1.2 O AMBIENTE DAS CÉLULAS:
ÁGUA E SOLUTOS
A vida como conhecemos existe por causa da água,
um componente comum a todas as células e seu am
biente extracelular.
Cl– no NaCl é superada pela interação do Na+ com a car moléculas. Moléculas muito hidrofóbicas, como lipídeos
ga negativa de átomos de oxigênio da água, e Cl– com a contendo longas cadeias hidrocarbônicas, entretanto,
carga positiva dos átomos de hidrogênio. Em solução, os não se dispersam facilmente em moléculas individuais
íons individuais são circundados por uma capa de água. em água. Elas interagem entre si para excluir as molé
O número de interações fracas carga-carga entre a água culas polares de água (p. 483).
e os íons Na+ e Cl– é suficiente para manter a separação
física dos íons carregados.
Eletrólitos: Dissociação de Moléculas
H Grupo hidroxila
na Água
R O
Moléculas que se dissociam na água formam cátions
H (íons carregados positivamente) e ânions (íons carre
gados negativamente). São classificadas como eletróli
H O Água tos porque os íons facilitam a condutância de uma cor
rente elétrica. Açúcares ou alcoóis são não eletrólitos
porque se dissolvem facilmente na água, mas não têm
R C R' carga nem se dissociam em espécies carregadas.
Carbonila
Sais de metais alcalinos (p. ex., Li, Na e K) e ácidos
O
como o clorídrico e o sulfúrico em baixas concentra
H ções dissociam-se completamente quando dissolvidos
R O em água, mas não necessariamente em altas concen
R' Água trações. Considera-se que, em sistemas biológicos, tais
H
compostos, bem como os sais de ácidos orgânicos, este
jam totalmente dissociados em virtude de suas baixas
N CH R' Cadeia peptídica
concentrações. Se uma solução contiver vários sais di
O
C R"
ferentes (por exemplo, NaCl e K2SO4), essas moléculas
não existem como tais em solução, apenas os íons dis
H
sociados (por exemplo, Na+, K+ e SO42–) estão presentes.
Sais que se dissociam completamente são chamados
R C N CH R'
Cadeia peptídica de eletrólitos fortes. Na água, os ânions dissociados de
sais orgânicos reagem, até certo ponto, com prótons li
O R" vres (H+) da dissociação da água para formar o ácido
não-dissociado (Figura 1.5).
H
R C CH3 Ao contrário dos sais, muitos ácidos, quando dis
O N
C N C Timina no DNA solvidos em água, não se dissociam totalmente, mas
estabelecem um equilíbrio entre os componentes não
O -dissociados e dissociados. Assim, o ácido láctico, um
H C H H importante intermediário metabólico, dissocia-se par
NH cialmente em ânion lactato e um próton da seguinte
NC
forma:
Adenina no DNA
N C C
N
CH3—CHOH—COOH CH3—CHOH—COO– + H+
N C Um equilíbrio dinâmico se estabelece no qual os
H
produtos da reação formam novamente o reagente não
FIGURA 1.4 Pontes de hidrogênio representativas de dissociado, enquanto outras moléculas se dissociam. O
importância em sistemas biológicos. grau de dissociação de tais eletrólitos depende da afi
nidade do ânion por H+. Haverá mais dissociação se as
forças fracas de dipolo da água que interage com o ânion
e o cátion forem mais fortes do que as forças eletrostá
Moléculas orgânicas não iônicas contendo grupos ticas entre o ânion e H+. Em base molar tais compostos,
polares fracos são também solúveis em água graças à chamados eletrólitos fracos, têm menor capacidade de
atração dos grupos polares por moléculas de água. Açú conduzir carga elétrica quando comparados com aque
cares e álcoois são facilmente solúveis por essa razão. les que se dissociam totalmente.
Compostos que contêm tanto grupos polares como apo
lares, isto é, moléculas anfipáticas, dispersam em água Na dissociação parcial de um eletrólito fraco, re
se a atração do grupo polar pela água conseguir superar presentado por HA, a concentração das várias espécies
as interações hidrofóbicas das porções não polares das pode ser determinada pela equação do equilíbrio:
6 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
CH3 CHOHCOOH
Ácido lactico
1.3 pH, ÁCIDOS FRACOS E SUAS
FIGURA 1.5 Reações que ocorrem quando lactato de
sódio é dissolvido em água. BASES CONJUGADAS
A partir da equação da dissociação, fica evidente que Por conveniência, [H+] é geralmente expresso em
K!eq será um número pequeno se o grau de dissociação termos de pH, definido como:
de uma substância for pequeno (denominador grande
na Equação 1.1), mas grande se o grau de dissociação pH = log[H1 (1.4)
for grande (denominador pequeno). Uma K!eq não pode −]
ser determinada para eletrólitos fortes porque, no equi
líbrio, não há soluto não-dissociado. Em água pura, [H+] e [OH–] são ambos 1 × 10–7 M, e o
pH = 7,0 · [OH–] pode ser expressa como pOH e tem um
valor de 7. Pela equação que descreve a dissociação da
Água É um Eletrólito Fraco água, 1 × 10–14 = [H+][OH–]; passando para o logaritmo
negativo dos dois lados, a equação fica 14 = pH + pOH. A
Água dissocia da seguinte forma: Tabela 1.1 apresenta a relação entre pH e [H+].
HOH H+ + OH– Valores de pH de diferentes fluidos biológicos são
apresentados na Tabela 1.2. No plasma sanguíneo, [H+]
Os prótons que se dissociam interagem com o oxi
é 0,00000004 M, ou um pH de 7,4. Outros cátions, como
gênio de outra molécula de água, formando grupos
Na+ e K+, estão entre 0,001 e 0,10 M, bem mais do que
(clusters)
determinou
quentementedeser
representada
moléculas
de 6 a 27.deEssa
como
água, H3O+, O)n
hidratação
H+(H2 o íon
, onde
hidrônio.
n se
10.000 vezes [H+]. A Correlação Clínica 1.1 descreve a
de H+ é fre
importância das mudanças do pH sanguíneo.
É uma prática geralmente aceita, e que será empregada As definições de um ácido como doador de prótons
neste livro, apresentar o próton como H+ ao invés de e de uma base como aceptor de prótons, propostas por
química
H3O+, embora
real. Ase25reconheça
°C, o valor
que
deH+(H2
K!eq para
O)n dissociação
é a espécie Lowry e Brønsted, são convenientes quando se conside
ram sistemas biológicos. HCl e H2SO4 são definidos como
da água é cerca de 1,8 × 10–16: ácidos fortes porque se dissociam totalmente, liberando
prótons. OH– é uma base forte porque se associa pronta
[H+][OH−]
Keq = 1,8 × 10−16 = [H O] (1.2) mente com prótons disponíveis, formando H2O. Adição
2 de um ácido ou de uma base à água leva ao estabeleci
mento de um novo equilíbrio de OH– + H+ H2O.
Com K!eq tão pequena, um número extremamente
pequeno de moléculas de água realmente se dissocia,
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 7
Em mamíferos, os diferentes pHs dos meios intra e ácido láctico ocorre em corredores de longa distância),
extracelulares estão em estado estacionário dinâmico, e no metabolismo de xenobióticos que produzem ácidos.
com as mudanças que ocorrem em um, alterando a com Perda de HCO3–, que muda o equilíbrio de base e ácido,
posição do outro. O pH sanguíneo reflete a mudança de ocorre em diarrei severa, uremia e doenças renais crôni
pH nos tecidos, e valores acima ou abaixo da faixa de cas. Uma acidose respiratória ocorre quando há retenção
normalidade (pH de 7,35 a 7,45) indicam uma condição de CO2, o anidrido do H2CO3, e é causada por condições
potencialmente patológica. Valores de pH sanguíneo que restringem a exalação de CO2 dos pulmões, como
abaixo de 7,0 (H+ = 0,0000001 M) ou acima de 7,8 (H+ quando há acúmulo de fluidos nos pulmões em condições
= 0,000000016 M) são prejudiciais à vida, sendo neces como enfisema ou asma, restrição respiratória como em
sária uma intervenção clínica. Muitas são as condições traumas, poliomielite e obesidade severa.
que podem causar variações consideráveis no pH do
As principais causas de alcalose metabólica são
sangue. Acidose é o termo utilizado quando o pH san
guíneo cai abaixo de 7,35, e alcalose, quando se eleva retenção de HCO3– e ingestão de bases. Uma alcalose
acima de 7,45. As condições que podem levar à acidose respiratória ocorre por hiperventilação, em virtude de
ou à alcalose serão definidas posteriormente, com base histeria ou tensão, overdose de algumas drogas (p. ex.:
na origem do aumento de ácido ou de base no corpo, salicilatos) e febre.
devido a alterações metabólicas ou respiratórias. A medição do pH do sangue para monitorar o estado
Uma acidose metabólica pode se dar em virtude de ácido-base é rotineira em muitas doenças porque, uma
aumento na produção de ácidos orgânicos (p. ex.: ácido diminuição ou um aumento descontrolado do pH san
láctico ou corpos cetônicos [p. 717]) ou perda de HCO3 – guíneo pode levar a consequências rápidas e graves.
do corpo. Excesso na produção de ácidos pode ocorrem Preston, R. A. Acid-Base, Fluids, and Electrolytes Made Ri
em diabetes, hipoxemia (p. ex., excesso de produção de diculously Simple. Miami, FL: Medmaster, 2002.
TABELA 1.1 Relações Entre [H+] e pH e [OH–] e pOH TABELA 1.2 pH de Alguns Fluidos Biológicos
[H+] (M) pH [OH–] (M) pOH Fluido pH
1,0 0 (1 × 10–14) 14 Plasma sanguíneo 7,4
0,1 (1 × 10–1) 1 (1 × 10–13) 13
Fluido Intersticial 7,4
(1 × 10–2) 2 (1 × 10–12) 12
Fluido intracelular
(1 × 10–3) 3 (1 × 10–11) 11 Citosol (fígado) 6,9
(1 × 10–4) 4 (1 × 10–10) 10 Matriz lisossomal abaixo de 5,0
(1 × 10–5) 5 (1 × 10–9) 9 Suco gástrico 1,5–3,0
(1 × 10–6) 6 (1 × 10–8) 8 Suco pancreático 7,8–8,0
(1 × 10–7) 7 (1 × 10–7) 7
Leite humano 7,4
(1 × 10–8) 8 (1 × 10–6) 6
Saliva 6,4–7,0
(1 × 10–9) 9 (1 × 10–5) 5
Urina 5,0–8,0
(1 × 10–10) 10 (1 × 10–4) 4
(1 × 10–11) 11 (1 × 10–3) 3
(1 × 10–12) 12 (1 × 10–2) 2 A maioria dos ácidos orgânicos encontrados nos
(1 × 10–13) 13 0,1 (1 × 10–1) 1 sistemas biológicos dissocia-se parcialmente, sendo
classificados como ácidos fracos. Eles estabelecem um
(1 × 10–14) 14 1,0 0 equilíbrio entre HA (doador de próton), um ânion (A–)
do ácido dissociado, e um H+, como se segue:
Quando um ácido forte e OH– se combinam, H+ do HA A– + H+
ácido e OH– interagem quase totalmente e se neutra
lizam mutuamente. Ânions produzidos quando ácidos O ânion formado nessa dissociação é uma base por
fortes se dissociam, como Cl– do HCl, não são bases por que pode aceitar um próton e refazer o ácido. Um ácido
que não se reassociam com prótons em solução fraco e sua base (ânion) formados na dissociação são
8 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
designados como um par conjugado. Alguns pares con Um método conveniente de expressar a K!eq é na for
jugados de importância biológica são apresentados na ma de pK!, definido como:
Tabela 1.3. O íon amônio (NH4+) é um ácido fraco porque
se dissocia produzindo H+ e amônia (NH3) não-carre pK = log 1 (1.5)
um ácido
gada, umae base
o PO3–4 é uma base,
conjugada. masfosfórico
Ácido H2– e (H HPO 2–4 ) é
3PO
K eq
PO4 4são
Note a semelhança entre essa definição e a do pH;
ou base ou ácido, dependendo se o grupo fosfato estiver
como para pH e [H+], a relação entre pK! e K!eq é inver
aceitando ou doando um próton.
sa, e quanto menor K!eq, maior pK!. Valores representa
A tendência de um ácido conjugado liberar H+ pode tivos de K!eq e pK! para ácidos conjugados de importân
ser avaliada pela K!eq (Equação 1.1). Quanto menor o cia em sistemas biológicos são apresentados na Tabela
valor de K!eq, menor a tendência de doar um próton e 1.4. Detalhes do sistema ácido carbônico/bicarbonato
mais fraco é o ácido. Quanto maior o valor da K!eq, maior são apresentados em Um Olhar Mais Atento 1.1.
a tendência de dissociar e mais forte é o ácido. A água
é um ácido muito fraco, com K!eq de 1,8 × 10–16, a 25 °C.
H3
H2PO–4 H+ + HPO42–
HPO2–4 H+ + PO3–4
Glicose 6-PO3H– H+ + glicose 6—PO32–
H2CO3 H+ + HCO3–
NH4+ H+ + NH3
H2O H+ +OH–
TABELA 1.4 Constantes de Dissociação Aparentes e pK’ de Alguns Compostos de Importância em Bioquímica
Composto Estruturas K!eq (M) pK!
Ácido acético (CH3—COOH) 1,74 × 10–5 4,76
Alanina (CH3—CH—COOH) 4,57 × 10–3 2,34 (COOH)
|
NH3
2,04 × 10–10 9,69 (NH3+)
é um gráfico das razões de base conjugada para ácido das curvas de titulação individuais são semelhantes,
conjugado versus pH de vários ácidos fracos; observe mas deslocadas em virtude das diferenças nos valores
que as razões são apresentadas em escala logarítmica. de pK!. Há uma elevação íngreme no pH quando apenas
0,1 equiv de OH– é adicionado, mas entre 0,1 e 0,9 equiv
de OH– adicionado, a mudança de pH é de apenas ~2.
)
a
c
i Portanto, uma grande quantidade de OH– é adicionada,
m
t
m
HPO42– /H2PO4– com uma mudança relativamente pequena no pH. Isso é
ír
a
g100/1 Lactato/Láctico
chamado tamponamento, e é definido como a capacida
o NH3+
/NH4
l
a
l 10/1
de de uma solução resistir à mudança de pH quando se
a
c
s adiciona um ácido ou uma base. Se o ácido fraco não es
e
(]
o 1/1 tiver presente, uma pequena quantidade de OH– levaria
d
i
c
á
[/
a um pH muito alto, porque não haveria nenhuma fonte
] 1/10 de H+ para neutralizar o OH–.
e
s
a
b
[
r1/100
e
t A melhor faixa de tamponamento para um par con
n
e jugado é em pH próximo ao pK! do ácido fraco. Come
o
ã
z
a
0 2 4 6 8 10 12 14 çando com um pH uma unidade abaixo até uma unidade
R pH
acima do pK!, cerca de 82% de um ácido fraco em solu
ção se dissociará e, consequentemente, uma quantida
FIGURA 1.6 Razão de [base]/[ácido] conjugados em
função do pH. de de base equivalente a cerca de 82% do ácido original
Quando a razão [base]/[ácido] é 1, o pH iguala pK! do ácido pode ser neutralizada, com uma alteração no pH de 2.
fraco. As faixas máximas de tamponamento para pares con
jugados são consideradas entre 1 unidade de pH abaixo
s 1.0 e 1 unidade de pH acima do pK!. O par conjugado íon
o
d
a
n 0.8
o
lactato/ácido láctico, com pK! = 3,86, é um tampão efe
i
c
i tivo entre pHs 3 e 5, sem capacidade significativa de
d
a
E
e
s 0.6
tamponamento em pH = 7,0. O par HPO42–/H2PO4–, com
a pK′ = 3.86 pK′ = 9.25 pK! = 6,7, é um tampão efetivo em pH 7,0. Assim, no pH
b
e
d 0.4 do citosol celular (~7,0), o par íon lactato–ácido láctico
s
e
t não é um tampão efetivo, mas HPO42–/H2–
n
e
PO4 é.
l 0.2
a
v
i
u A capacidade de tamponamento também depende
q
0 2 4 6 8 10 12 14 da concentração de ácido e base conjugados. Quan
pH to maior a concentração de base conjugada, maior a
quantidade de H+ adicionado com o qual pode reagir.
FIGURA 1.7 Curvas de titulação ácido–base para ácido
Quanto mais ácido conjugado, mais OH– adicionado
láctico (pK! 3,86) e NH4+ (pK! 9,25).
Em pHs iguais aos respectivos valores de pK!, haverá quantida
pode ser neutralizado por dissociação do ácido. Um
de igual de ácido e base para cada par conjugado. caso assim é o plasma sanguíneo em pH 7,4. O pK! de
HPO42–/H2PO–4igual a 6,7 sugere que esse par conjugado
seria um tampão efetivo no plasma. A concentração do
par fosfato, entretanto, é baixa quando comparada à do
O Tamponamento É Importante para sistema
em concentração
HCO3–/CO2,20com pK! de 6,1, que está presente
Controlar o pH vezes maior. O sistema HCO–/CO32
contribui para a maior parte da capacidade de tampo
Quando NaOH é adicionado a uma solução de áci namento, apesar do seu valore de pK! ser 1,3 unida
do fraco, ele se dissocia totalmente e o OH– formado é des menor que o pH do plasma sanguíneo. Tanto pK!
neutralizado por H+ do ácido dissociado parcialmente quanto a concentração de um par conjugado devem ser
para formar H2O. A diminuição de [H+] causa maior dis considerados quando se avalia a capacidade de tampo
sociação do ácido fraco, para obedecer às exigências de namento. A maioria dos ácidos orgânicos é relativamen
sua reação de equilíbrio. A quantidade de ácido fraco te sem importância como tampão nos fluidos celulares
dissociado será tão próxima à quantidade de OH– adi porque seus valores de pK! são várias unidades de pH
cionado que é considerada igual. Assim, a diminuição menores que o pH da célula, e suas concentrações são
na concentração de ácido conjugado é igual à quantida
muito baixas em comparação com sistemas tampões
de de base conjugada formada, e a razão de [base con como HPO42–/H2PO–4 e HCO–/CO32.
jugada]/[ácido conjugado] do ácido fraco se altera. Os
eventos são representados em curvas de titulação de Um problema típico usando a equação de Hender
dois ácidos fracos, apresentadas na Figura 1.7. Quando son–Hasselbalch é apresentado em Um Olhar Mais
0,5 equivalentes (equiv) de OH– são adicionados, 50% Atento 1.2. Controle do pH e tamponamento no homem
do ácido fraco são dissociados, e a razão [ácido]/[base] é merecem muita ênfase; a Correlação Clínica 1.2 é um
1,0; o pH neste ponto é igual ao pK! do ácido. As formas problema representativo da prática médica.
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 11
Problemas de pH e Tamponamento
1. Calcule a razão HPO2–/H
4 2PO4– (pK = 6,7) nos pHs Solução: pH = pK + log[HCO−3]
5,7,6,7, e 8,7. [CO4]
[HPO2− 4 ] 8 mM
Solução: pH = pK + log 7,1 = 6,1 + log
[H2PO−4] [CO2]
5,7 = 6,7 + log da razão;
7,1 = 6,1 = 1 = log8 mM
Rearranjando, 5,7 – 6,7 = –1 = log da razão Rearranjando, [CO2]
2–
O antilog de –1 = 0,1 ou 1/10. Assim HPO4 /H2PO–4 O antilog de 1 = 10. Assim, 10 = 8 mM/[CO2]. Rear
ranjando,
razão
= 1/10no
nopHpH6,7
5,7.=Usando
1:1 e noopH
mesmo
8,7 =procedimento,
100:1. a
[CO2 8 mM
2. Se o pH do sangue é 7,1 e a concentração de HCO3– ]
= 10
(pK!
é 8 mM,
paraqual
HCO3–/CO2
é a concentração de CO2 no sangue = 0,8 mM
= 6,1)?
1.4 EUCARIOTOS: CÉLULAS E gura 1.8). As membranas também formam uma rede
tubular por toda a célula, o retículo endoplasmático e
TECIDOS DE MAMÍFEROS o complexo de Golgi, englobando um espaço interconec
tado ou cisternas, respectivamente. A natureza lipídica–
Células eucarióticas contêm estruturas subcelulares proteica de todas as membranas celulares (p. 482) impe
e organelas, como núcleo, mitocôndrias, lisossomos e de o movimento rápido de muitas moléculas, incluindo
peroxissomos, todos formando compartimentos sub a água, de um compartimento para outro. Mecanismos
celulares que são delimitados por uma membrana (Fi específicos de deslocamento em membranas controlam
12 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
químicos. Estes variam desde células individuais, como intracelulares e organelas nos eucariotos. Isso permite
leucócitos no sangue, até células agrupadas em órgãos, outro nível de facilitação e controle das reações quími
como neurônios no sistema nervoso. Com exceção dos cas catalisadas por enzimas. Por exemplo, por manter
eritrócitos maduros, que não contêm DNA, todas as uma via metabólica contida no interior de uma organela
células em um indivíduo contêm informação genética (p. ex., mitocôndria), a concentração de intermediários
idêntica no seu DNA. Só a informação necessária para químicos pode ser maximizada para facilitar o rendi
as funções de uma célula individual é expressa. No perí mento da via ou da reação. Se esse não fosse o caso,
odo após a fertilização de um ovo, algumas células, cha a quantidade total de reagentes necessários na célula
madas células-tronco embrionárias, têm o potencial de deveria ser muito maior para se conseguir o mesmo ren
se desenvolver em todas as células de todos os órgãos dimento.
no organismo adulto. Estas são células pluripotentes.
Tecidos diferenciados contêm células multipotentes,
que podem se diferenciar em um número limitado de Composição Química de Células de
diferentes tipos celulares. Estudos recentes demons
traram que o genoma de células diferenciadas pode ser
Mamíferos
reprogramado para formar células multipotentes ou Os componentes químicos básicos das células bio
pluripotentes. Assim, a informação genética para o de lógicas são apresentados na Tabela 1.5. Em tipos dife
senvolvimento em células diferenciadas não é perdida rentes de células de mamíferos, as concentrações intra
irreversivelmente, mas apenas suprimida. celulares de íons inorgânicos são muito similares, mas
muito diferentes daquela encontrada no meio extrace
Todas as células de mamíferos, independente do te
lular. Uma aproximação da composição iônica do fluido
cido de origem e do grau de especialização, têm muitas
intracelular, considerado como representante primário
propriedades físicas, químicas e bioquímicas em comum.
do citosol, comparada ao plasma sanguíneo é apresen
Atividades e componentes de células de um órgão de
tada na Figura 1.9. O volume e o grau de hidratação das
uma espécie de mamífero serão muito semelhantes, se
células são dinâmicos e, portanto, essas concentrações
não idênticas, àquelas do mesmo órgão de alguma outra
são apenas estimativas das concentrações reais. Na+ é
espécie. Em um mamífero, incluindo o homem, a mesma
o principal cátion extracelular, com uma concentração
proteína ou enzima está presente em células de muitos
de ~140 meq/L (mM); muito pouco Na+ está presente no
tipos celulares diferentes (p. ex., músculo e fígado), mas
líquido intracelular. K+ é o principal cátion intracelular.
frequentemente existem marcadas diferenças na quanti Mg2+ está presente em ambos os compartimentos, extra
dade (p. ex., concentração). Uma via metabólica em par
e intracelular, em concentrações muito inferiores às de
ticular pode ser muito importante em um tipo celular,
Na+ e K+. Os principais ânions extracelulares são Cl– e
mas menos importante em outro. Essas diferenças são
HCO3–, com menores quantidades de fosfato e sulfato.
devidas a variações nas necessidades das células espe
A maioria das proteínas tem carga negativa em pH 7,4
cializadas individuais; essas diferenças são controladas
(p. 90), sendo ânions no pH dos fluidos teciduais. Os
pela expressão do genoma nos diversos tipos celulares.
principais ânions intracelulares são fosfato inorgânico,
Todos os componentes das células estão em equilí fosfatos orgânicos e proteínas. Outros ânions e cátions
brio dinâmico, sendo sintetizados e degradados, crian inorgânicos e orgânicos estão presentes em concentra
do um estado estacionário de concentração celular des ções bem abaixo do nível de meq/L. Exceto por dife
sas substâncias. Esse estado dinâmico varia entre os renças muito pequenas criadas por membranas e que
tipos de células de mamíferos. Essas vias catabólicas levam ao desenvolvimento de potenciais de membrana,
(degradativas) e anabólicas (de síntese) são reguladas a concentração total de cátions iguala a concentração
para manter o balanço correto de intermediários e pro total de ânions nos diferentes fluidos.
dutos químicos. Em muitos casos, controle é exercido
por sinais químicos gerados intracelularmente. Mamí TABELA 1.5 Componentes Químicos das Células
feros também têm sistemas de sinalização complexos e
integrados para transmitir informações entre tipos ce Variação de Pesos
Componente Moleculares
lulares (p. 526). Tais vias incluem síntese e liberação de
moléculas sinalizadoras de um tipo celular, transporte H2O 18
para células em outro sistema do órgão, e reconheci Íons
Na+,
inorgânicos
K+, Cl–, SO4 23–100
mento específico do sinal pelas células-alvo. Na maioria 2–, HPO2–4 HCO–,3
dos casos, a molécula sinalizadora não afeta todos os ti Ca2+, Mg2+ etc.
pos celulares. Um exemplo é o papel dos hormônios (p. Moléculas orgânicas pequenas 100–1.200
ex., insulina), sintetizados por células do sistema endó Carboidratos, ácidos orgânicos,
crino e capazes de alterar o metabolismo da glicose no lipídeos, nucleotídeos, peptídeos
sistema muscular.
Macromoléculas 6.000–1.000.000
Como indicado, a principal diferença entre procario Proteínas, polissacarídeos, ácidos
tos e eucariotos é a presença de sistemas de membrana nucleicos
14 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
180
190
200 H•HCO3
As concentrações intracelulares da maioria das mo
HCO3 – léculas orgânicas de baixo peso molecular, como açú
Não eletrólitos Cl– ? cares, ácidos orgânicos, aminoácidos e intermediários
160
170
fosforilados, estão na faixa de 0,01–1,0 meq/L, mas al
H•HCO3 gumas são significativamente menores. Coenzimas,
o
c
i
– n
â
moléculas orgânicas necessárias à atividade de algu
150 HCO3 g
r
o
mas enzimas, estão na mesma faixa de concentração.
140 K+ e As concentrações celulares gerais de substratos para as
o
c
i
130 n enzimas são relativamente baixas em comparação com
â
g
ronisotafso
120
110 íons inorgânicos; a localização em organelas específicas
ou microambientes celulares, entretanto, pode aumen
tar significativamente suas concentrações.
100
1–Lqe
90 Na+ F
Não tem muito sentido determinar a concentração
m
80 Cl– molar de proteínas individuais nas células. Em muitos
70 SO42– casos, elas se localizam em estruturas específicas ou
40
50
60 ficam combinadas com outras proteínas, criando uni
dades funcionais. É num compartimento restrito que
? Na+
a
n
í
proteínas individuais desempenham suas funções, se
e
t
HPO4
2–
o
r
jam elas estruturais, catalíticas ou regulatórias. É inte
2–
SO 4 P ressante que o plasma sanguíneo contenha milhares de
20
30 K+ Org ACID proteínas distintas, cujas concentrações vão de cerca
n
i
e
10 Ca2+ t
o
r
de 10–3 M (albumina) a 10–13 M (hormônio da parati
Mg2+ P reoide), com algumas proteínas em concentrações ain
sanguíneo
Plasma Fluido da menores.
celular
TABELA 1.6 Resumo dos Compartimentos da Célula Eucariótica e Suas Principais Funções
Compartimento Principal funções
Membrana plasmática Transporte de íons e moléculas pequenas
Exo e Endocitose
Reconhecimento
Célula-Célula
Receptores para moléculas pequenas e grandes
Morfologia e movimento celular
Núcleo Síntese e reparo de DNA
Síntese de RNA
Nucléolo Processamento de RNA e síntese de ribossomos
Retículo endoplasmático Síntese de membranas
Síntese de proteínas e lipídeos para algumas organelas e para exportação
Síntese de lipídeos e esteroides
Reações de desintoxicação
Sinalização por Ca2+
Complexo de Golgi Modificação e seleção de proteínas para incorporação em membranas e or
ganelas, e para exportação
Exportação de proteínas
Mitocôndrias Produção de ATP
Respiração celular
Oxidação de piruvato, aminoácidos e ácidos graxos
Síntese de ureia e heme
Lisossomos Apoptose
Digestão celular: hidrólise de proteínas, carboidratos, lipídeos, e ácidos nu
cleicos
Peroxissomos Oxidação de lipídeos
Reações oxidativas envolvendo O2
Utilização de H2O2
Microtúbulos, filamentos intermediá Citoesqueleto celular
rios e microfilamentos Morfologia celular
Motilidade celular
Movimentos intracelulares
Citosol Metabolismo de carboidratos, aminoácidos e nucleotídeos; síntese de ácidos
graxos
Síntese de proteínas
16 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
GOLGI
Uma função importante dos ribossomos no retícu
lo endoplasmático rugoso é a biossíntese de proteínas
para incorporação em membranas e organelas celula
res, bem como para exportação para fora da célula. O
ER está envolvido no dobramento de proteínas; se o
sistema de dobramento estiver sobrecarregado e pro
teínas não dobradas se acumularem, uma série de pro
cessos é induzida para reduzir o estresse sobre o ER.
Existem algumas evidências de que o estresse do ER
esteja envolvido em várias doenças. O retículo endo FIGURA 1.14 Aparelho de Golgi de uma célula de
plasmático liso está envolvido na síntese de lipídeos e mamífero.
contém enzimas chamadas citocromos P450 (p. 442), Micrografia eletrônica gentilmente cedida pelo Dr. John A. Mc
que catalisam a hidroxilação de uma variedade de Nulty, Department of Cell Biology, Neurobiology and Anatomy,
compostos endógenos e exógenos. Essas enzimas são Stritch School of Medicine, Loyola University, Chicago.
18 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
Doenças Mitocondriais
bono–nitrogênio, carbono–enxofre e oxigênio–fósforo são aqueles que não se fundiram com vesículas conten
em proteínas, lipídeos, carboidratos e ácidos nucleicos. do o material a ser degradado.
Uma lista parcial das enzimas lisossomais é apresen
tada na Tabela 1.7. O conteúdo enzimático dos lisosso
mos varia em diferentes tecidos e depende das funções
específicas do tecido. Hidrolases lisossomais são mais
ativas em pH ácido e quebram moléculas complexas em
compostos simples de baixo peso molecular, que podem
ser reutilizados. A relação entre pH e atividade enzimá
tica é discutida na p. 401. O rompimento da membrana
lisossomal dentro da célula leva à digestão celular. Vá
rias condições patológicas têm sido atribuídas à libera
ção de enzimas lisossomais, incluindo artrite, respostas
alérgicas, várias doenças musculares e destruição teci
dual induzida por drogas (Correlação Clínica 1.5).
As células internalizam partículas exógenas, como
microrganismos e vírus, por fagocitose, líquidos por FIGURA 1.16 Lisossomos de uma célula mamária.
pinocitose, e proteínas específicas por endocitose, um Micrografia eletrônica generosamente cedida por Dr. John A.
processo mediado por receptor. Em cada caso, o mate McNulty, Departamento de Biologia Celular, Neurobiologia e
rial do exterior da célula é encapsulado em vesículas Anatomia, Stritch School of Medicine, Loyola University, Chi
cago.
delimitadas pela membrana plasmática (Figura 1.17).
As vesículas contendo material externo fundem-se com
lisossomos primários para formar lisossomos secundá
rios ou vacúolos digestivos, que contêm o material a Proteínas celulares, ácidos nucleicos, lipídeos e or
ser digerido e as hidrolases lisossomais para fazerem a ganelas, como mitocôndrias, estão em estado dinâmico
digestão. São identificados microscopicamente pelo seu de síntese e degradação. Os lisossomos são responsáveis
tamanho e, frequentemente, pela presença de estrutu pela hidrólise desses componentes celulares, por um
ras parcialmente digeridas. Os lisossomos primários processo finamente regulado chamado autofagia. Subs
20 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
TABELA 1.7 Enzimas Lisossomais Representativas e Seus tâncias destinadas a serem degradadas são identificadas
Substratos e captadas por lisossomos ou são primeiramente encap
Tipo de Substrato e Substrato suladas dentro de vesículas de membranas que, então, se
Enzima Específico fundem com lisossomos primários (Figura 1.17). Autofa
gia é importante não somente em condições de estresse,
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM POLISSACARÍDEOS mas também em células normais de mamíferos; jejum e
a-Glucosidase Glicogênio hormônios específicos induzem autofagia.
a-Fucosidase Fucose de membrana
Produtos da digestão lisossomal são liberados dos
b-Galactosidase Galactosídeos lisossomos e são reutilizados pela célula. Material não
a-Manosidase Manosídeos -digerido acumula-se em vesículas chamadas corpos
b-Glucuronidase Glucuronídeos residuais, cujos conteúdos são normalmente removidos
da célula por exocitose. Alguns corpos residuais con
Hialuronidase Ácido hialurônico e
condroitim sulfatos têm altas concentrações de substâncias pigmentadas,
que são quimicamente heterogêneas e contêm ácidos
Arilsulfatase Sulfatos orgânicos graxos poli-insaturados e proteínas. Esses materiais
Lisozima Parede celular de acumulam-se nas células e são chamados lipofuscina,
bactérias ou “pigmento da idade” ou “pigmento do uso e desgaste”
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM PROTEÍNAS (wear and tear pigment). A lipofuscina foi observa
da principalmente em neurônios e células musculares
Catepsinas Proteínas
pós-mitóticos, e foi implicada no processo de envelhe
Colagenases Colágeno
cimento.
Elastase Elastina
Algumas enzimas lisossomais são normalmente se
Peptidases Peptídeos
cretadas da célula para digestão de material extracelu
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM ÁCIDOS NUCLEICOS lar no tecido conjuntivo e na glândula prostática. Nas
Ribonuclease RNA doenças genéticas de acúmulo lisossomal (p. 242), en
Desoxirribonuclease DNA zimas lisossomais individuais estão ausentes, levando
ENZIMAS QUE HIDROLIZAM LIPÍDEOS ao acúmulo nos lisossomos do substrato da enzima que
Lipase Triacilglicerol e ésteres falta. Os lisossomos ficam aumentados com o material
de colesterol não-digerido, interferindo com os processos normais
da célula (Correlação Clínica 1.6). Um caso desses é a
Esterase Ésteres de ácidos graxos doença da célula I, na qual o mecanismo celular de dire
Fosfolipase Fosfolipídeos cionamento de enzimas lisossomais para os lisossomos
FOSFATASES durante sua síntese está defeituoso. Ao contrário, as en
zimas hidrolíticas lisossomais são exportadas para fora
Fosfatase Fosfomonoésteres
da célula e danificam a matriz extracelular. (Correlação
Fosfodiesterase Fosfodiésteres
Clínica 6.8, p. 243).
SULFATASES
Condroitim sulfatase Heparam sulfato
Arilsulfatase B Dermatam sulfato
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 21
Os Peroxissomos Têm
Retículo endoplasmático
um Importante Papel
– Complexo de Golgi
no Metabolismo de
Mitocôndria Lipídeos
A maioria das células de mamí
feros, protozoários e plantas tem
organelas, denominadas micro
corpúsculos ou peroxissomos, o
Lisossomos Lisossomos
primários último devido à sua capacidade de
produzir ou utilizar peróxido de
hidrogênio (H2O2). Eles possuem
Vacúolo uma única membrana e são peque
autofágico
digestivo
Vacúolo secundários Vacúolos nos (0,3-1,5 μm de diâmetro, esféri
cos ou ovais, com uma fina rede de
túbulos em sua matriz. A alta con
Vacúolo centração de proteínas na matriz de
digestivo alguns peroxissomos leva a inclu
sões cristalinas. Variam entre célu
las em sua composição enzimática,
função e número. Mais de 50 enzi
residuais
mas, catalisando reações oxidativas
e biossintéticas, foram identificadas
em peroxissomos de diferentes te
cidos.
Descarga
Os peroxissomos são essenciais
para a oxidação de ácidos graxos
de cadeia muito longa (p. 720) e
FIGURA 1.17 Representação diagramática do papel de lisossomos na digestão
intracelular de substâncias internalizadas por fagocitose (heterofagia) e de
síntese de glicerolipídeos, lipídeos
componentes celulares (autofagia). glicerol éteres (plasmalogênios) e
Nos dois processos, substâncias a serem digeridas são envoltas em uma vesícula de isoprenoides (p. 740). Em camun
membrana, seguida de fusão com um lisossomo primário para formar um lisossomo dongos, demonstrou-se que os pe
secundário, no qual a digestão ocorre. roxissomos têm um papel fisiológico
22 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
significativo na síntese e na degradação de lipídeos. Eles arcabouço, no citoplasma (p. 1008). Essa estrutura di
também contêm enzimas que oxidam D-aminoácidos, nâmica desempenha um papel na manutenção da mor
ácido úrico e vários 2-hidroxiácidos, usando O2 mole fologia celular, no transporte intracelular de vesículas
cular com formação de H2O2. A catalase, uma heme e organelas, na motilidade celular e na divisão celular.
-enzima (p. 605) presente nos peroxissomos, catalisa a O citoesqueleto inclui os microtúbulos, consistindo de
conversão de H2O2 em água e oxigênio e a oxidação de multímeros de tubulina, uma proteína que rapidamente
vários compostos por H2O2 (Figura 1.18). As células se se organiza em estruturas tubulares e se desorganiza,
protegem da toxicidade do H2O2 por possuírem tanto dependendo das necessidades da célula. Actina e mio
enzimas que produzem peróxidos como enzimas que sina formam filamentos celulares muito importantes no
utilizam peróxidos em um compartimento. músculo estriado, onde são responsáveis pela contra
ção muscular (p. 991). Três superfamílias separadas de
proteínas mecânico-químicas – miosina, dineína e cine
(1) 2H2O2 2H2O + O2
sina – convertem energia química em energia mecânica
(2) RH2 + H2O2 R + 2H2O
para o movimento de componentes celulares (p. 1002).
Esses motores moleculares ficam associados com o ci
FIGURA 1.18 Reações catalisadas pela catalase. toesqueleto. Dineína está envolvida nos movimentos
ciliar e flagelar, enquanto cinesina é a força que dire
ciona o movimento de vesículas e organelas ao longo
As proteínas responsáveis pela biogênese de pe de microtúbulos, especialmente em axônios neuronais.
roxissomos foram identificadas. Várias classes de xeno Essas proteínas motores desempenham um papel signi
bióticos, isto é, substâncias estranhas, incluindo aspi ficativo na patogênese de várias doenças.
rina, levam à proliferação de peroxissomos no fígado.
Mais de 25 doenças genéticas envolvem peroxissomos;
são agrupadas como doenças da biogênese de peroxis Citosol Contém Componentes
somos (Correlação Clínica 1.7).
Celulares Solúveis
A menos complexa em estrutura, mas não em quími
Citoesqueleto Organiza o Conteúdo ca, é a seiva da célula sem organelas, ou citosol. É aqui
Intracelular que muitas reações químicas e vias do metabolismo (p.
ex., glicólise, glicogênese, glicogenólise e síntese de áci
As células eucarióticas contêm microtúbulos, fila dos graxos) ocorrem. A síntese de proteínas tanto em
mentos intermediários e filamentos de actina (microfi ribossomos livres, geralmente na forma de polissomos,
lamentos), como parte de uma rede de citoesqueleto, ou quanto naqueles ligados ao retículo endoplasmático,
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 23
ocorre no citosol, que contém todos os intermediários a expressão de um gene para alterar a concentração de
necessários. Embora não exista estrutura aparente no uma enzima ou proteína efetora, até mudanças nos ní
citosol, o alto conteúdo proteico impede que seja uma veis de substrato ou coenzima para ajustar a velocida
mistura homogênea de componentes solúveis, e acredi de de uma reação enzimática específica. A integração
ta-se que existam compartimentos funcionais ao longo de muitos processos celulares é controlada por prote
do citosol. Muitas reações estão localizadas em áreas ínas que funcionam como ativadores ou inibidores, as
selecionadas, onde a disponibilidade de substrato é quais mantêm a homeostase celular. Muitos processos
mais favorável. O estado físico-químico real do citosol é celulares são programados para ocorrer em condições
pouco conhecido. Outra complicação para se analisar a específicas; por exemplo, a divisão celular em células
composição do citosol é que algumas enzimas e prote normais só ocorre quando os processos necessários
ínas ocorrem como proteínas solúveis quando o citosol para a divisão celular são ativados (p. 1028). Então, e
é isolado, mas na célula intacta podem, na verdade, es somente então, ocorre uma série de reações ordenadas
tar fracamente ligadas a estruturas de membranas ou a e integradas, culminando na divisão de uma célula em
componentes do citoesqueleto. duas células filhas.
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24 • PARTEI ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
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Termos Chaves
aceptor de prótons base conjugada DNA hidrolase
ácido carbônico capacidade tamponante eletrólitos fortes K!eq
ácido de Brønsted catalase eletrólitos fracos íon hidrônio
ácido fraco cátion endocitose lisossomos
água citoesqueleto envelope nuclear membrana plasmática
anfipático citosol equação de Henderson– microcorpos
ânion composição iônica Hasselbalch microtúbulos
aparelho de Golgi doador de prótons eucariotos mitocôndria
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 25
Questões 9 e 10: Gota é uma condição na qual a produ Questões 11 e 12: Síndrome de Zellweger é uma de uma
ção excessiva de ácido úrico leva a deposição de cris classe chamada doenças de biogênese de peroxisso
tais de urato em articulações. Manifestações clínicas mos (PBDs). PBDs caracterizam-se por anomalias no
incluem inflamação, dor e inchaço nas articulações, es fígado, no rim, no cérebro e no sistema esquelético. Sín
pecialmente do grande artelho. Cristais são fagocitados drome de Zellweger é particularmente grave, e a morte
por células na articulação e acumulam-se em vacúolos geralmente ocorre por volta dos 6 meses de idade. Há
digestivos que contêm enzimas lisossomais. Cristais ausência de peroxissomos funcionais.
causam lesão física aos vacúolos, liberando enzimas li
11. Peroxissomos desempenham um papel em todos os
sossomais no citosol.
seguintes, exceto:
9. Enzimas lisossomais: A. oxidação de ácidos graxos de cadeia muito
A. são hidrolases. longa.
B. geralmente funcionam em pH ácido. B. síntese de glicerolipídeos.
C. normalmente ficam isoladas de seus substra C. hidrólise de colesteril ésteres.
tos pela membrana lisossômica. D. oxidação de D-aminoácidos.
D. podem levar à digestão celular se a membrana E. oxidação de ácido úrico.
lisossomal se romper.
12. Uma das funções dos peroxissomos é tornar H2O2
E. todas as anteriores estão corretas.
não-tóxica:
10. Enzimas lisossomais individuais estão deficientes A. oxidando aminoácidos com O2.
em várias doenças genéticas chamadas doenças
B. por meio da ação da enzima catalase.
lisossomais de acúmulo. Nessas doenças:
A. defeito é uma incapacidade de direcionar en C. transportando H2O2 do sangue para os pero
xissomos.
zimas para o lisossomo após sua síntese.
D. por ação de catepsinas.
B. lisossomos de células afetadas ficam aumenta
E. encurtanto a cadeia de um ácido graxo.
dos com materiais não-digeridos.
C. lipofuscina, ou “pigmento do desgaste”, acu Problemas
mula-se em células. 13. Se um ácido fraco estiver neutralizado em 91% a
D. qualquer material captado por lisossomos acu pH 5,7, qual é o pK! desse ácido?
mular-se-á.
14. Se o pH normal do plasma é 7,4 e a [CO2] normal é
E. corpos residuais contêm os produtos de diges 1,2 mM, qual será a [HCO3 –]? O pK! para esse siste
tão. ma é 6,1.
Respostas
1. C O meio intracelular dos procariotos é organi HPO2–.4 Também pode aceitar um próton e tornar
zado em compartimentos funcionais, mas não são -se H3PO4.
base B e D são ácidos de Brønsted; C é uma
de Brønsted.
delimitados por membranas. A, B, D e E: Essas são O íon Cl– na água não é nem um
características que procariotos e eucariotos têm nem outro.
em comum.
5. E Essas moléculas são muito grandes para atra
2. C Água é uma molécula polar porque os elétrons vessar livremente a membrana, a menos que esta
da ligação são atraídos mais fortemente pelo oxigê esteja danificada (B). A: solutos iônicos não atra
nio do que pelo hidrogênio. O ângulo da ligação dá vessam a membrana lipídica facilmente. C: a maio
origem a assimetria na distribuição de carga; se a ria das substâncias requer transporte através da
água fosse linear, não seria um dipolo. A: hidrogê membrana. D: diferentes membranas têm diferen
nio e oxigênio têm afinidades muito diferentes por tes reações.
elétrons. B e D são consequências da estrutura da 6. D Fosfato e proteína são os principais ânions in
água, não fatores responsáveis por ela.
tracelulares. A, B, e E: plasma e fluido celular são
3. B Somente átomos de hidrogênio ligados a um muito diferentes. O íon Na+ é o principal cátion do
dos elementos eletronegativos (O, N ou F) podem plasma. C: A maior parte do Cl– é extracelular.
formar pontes de hidrogênio. Um átomo de hidro
7. B As proteínas transportadoras de elétrons e da
gênio que participe da ponte de hidrogênio deve
fosforilação oxidativa fazem parte da membrana in
ter um elemento eletronegativo de cada lado.
terna. D: Peroxissomos são organelas separadas e
4. A H2PO4– pode doar um próton, tornando-se não fazem parte das mitocôndrias. E: Mitocôndrias
CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DA CÉLULA EUCARIÓTICA • 27
produzem algumas de suas próprias proteínas, mas enzima são afetados. E: Corpos residuais contêm
esse é um processo separado e não faz parte do material que não pode ser digerido.
transporte de elétrons ou da fosforilação oxidativa.
11. C Isso ocorre em lisossomos.
8. A As cristas são os sítios para a síntese de ATP. B:
12. B H2O2 é convertido em O2 e H2O. A, E: estes pro
A membrana externa é relativamente permeável; a
duzem H2O2. C: H2O2 é produzida e utilizada em
membrana interna não o é e tem múltiplos sistemas
peroxissomos. D: essas são enzimas de lisossomos.
de transporte. C: O mitosol tem numerosas vias
metabólicas – oxidação do piruvato, ácidos graxos 13. Se um ácido fraco está 91% neutralizado, 91 partes
e aminoácidos, por exemplo. D: DNA mitocondrial estão presentes como base conjugada e 9 partes
(mtDNA) é pequeno e circular. E: Citocromo c é permanecem como ácido fraco. Portanto, a razão
um iniciador de apoptose. base conjugada/ácido conjugado é 10:1. Substituin
9. E A: Há hidrolases para todas as classes de ma do essa relação na equação de Henderson–Hassel
cromoléculas. B e D: pH lisossomal geralmente balch dá 5,7 = pK! + log (10/1). Resolvendo a equa
está em torno de 5, mas as enzimas retêm certa ati ção para pK!, teremos uma resposta de 4,7. O ácido
vidade em pHs mais altos. C: Substratos e enzimas poderia ser b-hidroxibutírico, um importante ácido
são aproximados por fagocitose ou pinocitose. fisiológico que tem esse pK!.
10. B Aumento no tamanho interfere com proces 14. Nesse sistema, CO2 é o ácido conjugado e HCO3–
sos celulares normais. A: Essa é a doença da cé é a base conjugada. Substituindo-se os valores na
lula I e afeta todas as enzimas lisossomais, que equação de Henderson–Hasselbalch teríamos:
são exportadas para fora da célula. C: Esse é um 7,4 = 6,1 + log (x/1,2)
processo normal. Lipofuscina é uma substância
pigmentada, quimicamente heterogênea, não O antilog de 1,3 = 20. Portanto, [HCO3–] = 20 × 1,2 =
causada por falta de enzima lisossomal. D: Cada 24 mM. A capacidade de se resolver a equação para
Doença de Acúmulo Lisossomal afeta uma única quaisquer três valores dados é muito importante
enzima, de modo que apenas os substratos dessa para verificar o estado ácido–base no sangue.
28 • PARTE I ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE I
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 29
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS
2
DNA e RNA:
Composição e estrutura
Stephen A. Woski
Professor Associado, University ofAlabama
Francis J. Schmidt
Professor Titular, University of Missouri
Conceitos Chaves
• O dogma central da biologia molecular afirma que • O comprimento da molécula de DNA é muito maior
a informação biológica especificada por sequências do que a dimensão de uma célula; consequente
de ácidos nucleicos no DNA e no RNA determina mente, o DNA adota estruturas de ordem superior
as sequências das proteínas e, consequentemente, que compactam a molécula na cromatina.
suas propriedades.
• A sequência de nucleotídeos do DNA determina
• A estrutura dos ácidos nucleicos é determinada sua função.
pelas propriedades químicas de suas partes consti
• RNAs celulares são polímeros de fita única de ribo
tuintes: fosfato, açúcar e nucleobase.
nucleosídeos 5! monofosfatos.
• O DNA celular é tipicamente um polímero de dupla
• A estrutura terciária do RNA é determinada por
fita de 2!-desoxirribonucleosídeos 5! monofosfatos.
pontes de hidrogênio intramoleculares.
• A complementaridade entre as bases da dupla hé Os RNAs celulares desempenham papéis na trans
•
lice permite ao DNA funcionar como o material ge
ferência da informação, catalíticos e regulatórios.
nético celular.
30 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
2.2 COMPONENTES
NH2
ESTRUTURAIS DOS ÁCIDOS N
7
5
6
N1
NUCLEICOS: NUCLEOBASES, 8
2
N9 N
NUCLEOSÍDEOS E H
4
3
NUCLEOTÍDEOS adenina
O
Ácidos nucleicos são polímeros lineares de unida
N N N H
des nucleotídicas. Cada nucleotídeo consiste de um
éster de fosfato, um açúcar pentose e uma nucleobase
heterocíclica. No RNA, o açúcar é D-ribose; no DNA, é HN NH2
o açúcar estreitamente relacionado 2-desoxi-D-ribose.
Em ambos os casos, a base é ligada à posição 1 do açú guanina
car por uma ligação -N-glicosídica. Duas classes princi
pais de nucleobases são encontradas nos ácidos nuclei Piramidinas
cos: purinas e pirimidinas (Figura 2.2). As principais NH2
4
purinas são guanina e adenina, que ocorrem no DNA e
5 N3
no RNA e são ligadas ao açúcar em N-9. As três nucle
2
obases pirimídicas principais são a citosina, a uracil e 6
N1 O
a timina. A citosina está presente no DNA e no RNA.
Entretanto, a uracil é geralmente encontrada apenas H
no RNA, e a timina é geralmente encontrada apenas no citosina
DNA. Cada pirimidina é ligada ao açúcar pela posição
O
N-1. Uma nucleobase glicosilada com açúcar pentose é
um nucleosídeo. Nucleosídeos que contêm ribose são ri R H
N
bonucleosídeos (Figura 2.3), enquanto aqueles com de
soxirribose são desoxirribonucleosídeos (Figura 2.4). N O
Quatro ribonucleosídeos são comumente encontrados
H
no RNA – adenosina (A), guanosina (G), citidina (C) e
uridina (U) – e quatro desoxirribonucleosídeos no DNA uracil (R = H)
– desoxiadenosina (dA), desoxiguanosina (dG), deso timina (R = CH3)
xicitidina (dC) e desoxitimidina (dT). Além disso, mais
de 80 nucleosídeos minoritários foram encontrados em FIGURA 2.2 Principais bases púricas e pirimídicas
ácidos nucleicos de ocorrência natural. encontradas no DNA e no RNA.
Nucleotídeos são ésteres de fosfato dos nucleosí
deos (Figura 2.5). Qualquer grupo hidroxila de seus O NH2 NH2
açúcares pode ser fosforilado, mas as bases não são. N N N
Os nucleotídeos que contêm um fosfato monoéster são NN
OH5! OH O N O
nucleosídeos monofostato. Por exemplo, o 5!-nucleotí
4! 1!
deo da desoxicitidina é desoxicitidina 5!-monofostato 3! 2!
(5!-dCMP). Mais de um fosfato pode estar ligado por OH OH OH OH
uma ligação anidrido, resultando nos correspondentes
adenosina citidina
ésteres di-, tri- e tetrafosfato. O 5!-trifosfato de guano A C
sina é guanosina 5!-trifosfato (GTP). Fosfato diésteres
O O
são também possíveis, incluindo os importantes segun
N NH NH
dos mensageiros – adenosina-3!,5!-monofosfato cíclico
(cAMP) e guanosina-3!,5!-monofosfato cíclico (cGMP). OH NN NH2 OH O N O
O uridina
OH OH OH OH
guanosina
G U
Vacinas de DNA
Procedimentos de vacinação tradicionais usam foram observados contra vários vírus, bactérias e mi
componentes de um organismo infeccioso, organismos crorganismos parasitas. Essa abordagem é muito pro
mortos ou células intactas atenuadas para induzir a missora para o desenvolvimento de vacinas efetivas
produção de anticorpos específicos que possam forne contra doenças sem tratamento, incluindo HIV/AIDS,
cer imunidade ativa aos indivíduos. Tais vacinas for tuberculose e malária.
neceram proteção, com sucesso, contra doenças como
pólio, varíola, coqueluche (pertussis), febre tifoide e Vacinas de DNA também podem ser úteis para a
difteria. Entretanto, o desenvolvimento de imuniza vacinação contra o câncer. Enquanto antígenos apre
ções contra patógenos infecciosos como HIV e malária sentados por células tumorais são fracamente imuno
tem sido difícil. O enorme impacto em todo o mundo gênicos, estudos modelos usando DNA plasmidial de
desses patógenos, o uso em potencial de outros em monstraram resultados promissores. Camundongos
bioterrorismo, e o problema crescente de resistência vacinados, por via oral, com plasmídeos cultivados em
a antibióticos estimularam os esforços para produzir bactérias Salmonella atenuadas foram capazes de re
novas vacinas. tardar ou parar completamente o crescimento de uma
dose letal de células de carcinoma. A morte da bactéria
Uma abordagem recente para imunização usou presumivelmente libera um grande número de plasmí
DNA contendo uma sequência do genoma do patóge deos, que são captados por células apresentadoras de
no. Esse DNA é tipicamente um plasmídeo bacteriano, antígenos do sistema imune. Extensão desse trabalho
engenheirado para incluir a sequência de uma proteí ao homem está atualmente em investigação.
na antigênica do patógeno. Esse DNA pode entrar em
vários tipos de células, e pode ser expresso lá usando
a maquinaria celular de transcrição e tradução. Nesse Kutzler, M. A. e Weiner, D. B. DNA vaccines: Ready for
prime time? Nature Rev. Genet. 9:776, 2008; Belakova, J.,
sentido, vacinas de DNA atuam de modo semelhante
Horynova, M., Krupka, M., Weigl, E. e Raska, M. Arch. Immol.
aos vírus. Não obstante, esses DNAs contêm apenas Ther. Exp. 55:387, 2007; Cui, Z. DNA vaccine. Adv. Genet.
uma quantidade muito limitada de informação genéti
54:257, 2005; e Chiarella, P., Massi, E., Robertis, M., Fazio,
ca e não podem se tornar infecciosos. Os mecanismos V. M. e Signori, E. Strategies for effective naked-DNA vacci
de captação e indução de resposta imune ainda não nation against infectious diseases. Recent Pat. Anti-Infect.
estão esclarecidos. Contudo, resultados promissores Drug Discovery 3:93, 2008.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 33
HO
extremidade 3!
DNA
A C G T
5! 3!
Embora o esqueleto do DNA seja relativamente foram necessárias para a dedução da estrutura tridi
estável à hidrólise, numerosas enzimas (nucleases) mensional do DNA. A primeira foi a descoberta que o
catalisam a cisão do fosfodiéster. Essas nucleases são DNA não continha quantidades iguais de cada um dos
caracterizadas pelos tipos de polinucleotídeos que quatro nucleosídeos, mas sim quantidades variáveis em
hidrolisam e pelas ligações específicas que quebram. diferentes organismos. Entretanto, verificou-se que a
Exonucleases clivam o último resíduo de nucleotídeo abundância de desoxiadenosina era sempre igual à de
nas extremidades 5!- ou 3!- de um polinucleotídeo. A desoxitimidina, e a quantidade de desoxiguanosina, à
remoção passo a passo de nucleotídeos individuais de de desoxicitidina. Isso levou à proposição de estruturas
uma extremidade de um polinucleotídeo pode resultar com nucleosídeos pareados especificamente, dois a dois
em sua completa degradação. Endonucleases clivam (dA com dT e dG com dC). A segunda foi que dados
ligações fosfodiéster localizadas no interior dos poli de difração de raios-X sugeriam que o DNA contivesse
nucleotídeos. Elas não requerem uma extremidade li estruturas em dupla-hélice, e a simetria sugeria que as
vre; portanto, também podem clivar polinucleotídeos
duas fitas polinucleotídicas eram orientadas de modo
circulares. Endonucleases como DNase I e DNase II antiparalelo, uma em relação à outra. A terceira foi a
hidrolisam DNA com pouca seletividade para sequên sugestão de que as nucleobases estavam nas formas
cias. As endonucleases de restrição reconhecem e cli tautoméricas ceto e amino, em vez das formas enol e
vam sequências muito específicas. Nucleases também
imino. Tautômeros são isômeros de uma molécula que
apresentam especificidade com respeito à estrutura
diferem na posição de apenas um átomo de hidrogênio.
geral dos polinucleotídeos. Por exemplo, algumas nu
Cada uma das quatro nucleobases tem duas ou mais
cleases agem tanto sobre polinucleotídeos fita-única
formas tautoméricas possíveis, que estão em equilíbrio
como fita-dupla, enquanto outras discriminam entre
(Figura 2.12). A identificação incorreta das estruturas
essas duas estruturas. Algumas agem sobre ambos,
tautoméricas predominantes significou que os pesqui
DNA ou RNA, enquanto outras são ativas apenas sobre
um tipo de polinucleotídeo. sadores estavam tentando formar pares de base usan
do padrões incorretos de pontes de hidrogênio. Com o
tautômero certo, um modelo para o DNA rapidamente
se encaixou.
DNA de Dupla-Hélice
A estrutura que Watson e Crick propuseram em 1953
Com o reconhecimento, no início e no meio do sé para o DNA dupla-hélice foi atraente por sua simplicida
culo XX, que o DNA funcionava como repositório da
de e simetria (Figura 2.13). Além disso, explicava todos
informação genética, intensificou-se o trabalho para
os dados estruturais disponíveis para o DNA e imedia
estabelecer a base estrutural do armazenamento de in
tamente levou às hipóteses quanto aos mecanismos de
formação.
armazenamento e replicação da informação genética.
Experimentos de síntese e difração de raios-X le A dupla-hélice de Watson–Crick pode ser visualizada
varam à aceitação de uma estrutura polinucleotídica como o resultando do enrolamento de duas fitas polinu
linear para o DNA. Três peças chaves de informação cleotídicas que formam hélices girando para a direita,
em torno de um eixo comum. As fitas
fazem contato por pontes de hidrogênio
O O
O
P OH Base Base formadas nas bordas hidrofílicas das
O OH O bases. Os grupos N—H das nucleoba
ses são bons doadores de pontes de hi
drogênio, e o par de elétrons dos oxigê
O O O nios sp2-hibridizados dos grupos C=O
O P e dos nitrogênios dos grupos =N- são
O O bons aceptores de hidrogênio. O parea
O O
Base mento ocorre quando um aceptor e um
HO doador estão em posição para formar
O Base uma ponte de hidrogênio. Essas pontes
se formam entre resíduos de purina de
O OH
uma fita e resíduos de pirimidinas da
O OH
outra, e a combinação de doadores e
aceptores de pontes de hidrogênio re
sulta em dois tipos de pares de bases:
adenina–timina e guanina–citosina
FIGURA 2.11 A hidrólise do RNA é acelerada pela participação do grupo 2!-OH.
(Figura 2.14). Uma consequência di
O ataque nucleofílico intramolecular pelo grupo 2!-OH da ribose aumenta muito a
velocidade de clivagem hidrolítica do esqueleto fosfodiéster, especialmente sob con
reta dessas especificidades de pontes
dições básicas. O fosfodiéster 2!,3!-cíclico resultante pode reagir subsequentemente de hidrogênio é que o DNA dupla-fita
com água ou hidróxido, formando uma mistura de 2!- e 3!-fosfato monoésteres. (dsDNA, double-stranded DNA) deve
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 37
conter razões de nucleosídeos que concordem com as A relação entre as bases de fitas opostas da dupla
observações experimentais (dA = dT e dG = dC). Final -hélice é descrita como complementaridade. As bases
mente, as geometrias dos pares de bases dA/dT e dG/dC são complementares porque cada nucleobase de uma
resultam em distâncias C1!–C1! (~10,6 Å) e orientações fita é pareada, por forma e pontes de hidrogênio, com
de ligações glicosídicas semelhantes. Esse isomorfismo uma base complementar da outra fita (Figura 2.15).
estrutural significa que qualquer dos quatro possíveis Por exemplo, para cada adenina que se projete em di
pares de bases (dA-dT, dT-dA, dG-dC e dC-dG) pode reção ao eixo comum da dupla-hélice, uma timina deve
ser colocado na dupla-hélice, sem mudar significativa ser projetada da fita oposta para estabelecer pontes de
mente a estrutura do esqueleto; note como isso leva à hidrogênio e preencher exatamente o espaço entre as
possível substituição de um par de base por outro, uma fitas. Nem citosina nem guanina se encaixam precisa
chave para o entendimento de como a informação con mente no espaço disponível oposto à adenina, de ma
tida no DNA pode mudar, ou mutar. neira a permitir a formação de pontes de hidrogênio en
tre as fitas. Essa especificidade de pontes de hidrogênio
assegura que toda a sequência de bases de uma fita seja
N H complementar à da outra fita.
NH D NH D/A
NH
O exterior da dupla hélice consiste dos esqueletos
N A D açúcar-fosfato de suas fitas componentes. As duas fitas
O A N são alinhadas em direções opostas; se duas nucleobases
O A
adjacentes de uma fita, por exemplo, timina e citosina,
estiverem conectadas na direção 5!→3!, suas nucleoba
amino-ceto imino-ceto
ses complementares da outra fita, adenina e guanina,
estarão ligadas na direção 3!→5!. Esse alinhamento an
tiparalelo produz uma associação estável entre as fitas,
excluindo o arranjo alternativo paralelo.
N O A N OH D/A
NH O enrolamento das duas fitas antiparalelas produz
N N HNH D N N A
uma estrutura que tem duas fendas helicoidais distin
N
NH tas entre os esqueletos açúcar–fosfato (Figuras 2.13 e
H D
2.14). A fenda maior é muito mais larga do que a fenda
menor. Essa disparidade resulta da geometria dos pa
ceto enol res de bases. As ligações glicosídicas entre as bases e as
pentoses do esqueleto não são dispostas diretamente
NH opostas umas às outras, mas estão deslocadas em di
N N HNH N NN NH reção à fenda menor. É significativo que a sequência de
D D/A
nucleotídeos do DNA possa ser discernida sem dissociar
H3CN N
O A H3C OH D a dupla hélice, examinando-se dentro das fendas. Cada
base sempre apresenta os mesmos átomos em cada uma
das fendas da dupla hélice. Esses átomos, então, cons
amino imino tituem um meio importante para o reconhecimento de
sequências específicas no DNA por proteínas e molécu
las pequenas. Por exemplo, N7 das purinas está sempre
disposto na fenda maior e pode servir como aceptor de
A D/A pontes de hidrogênio em interações com grupos doa
dores de proteínas (Figura 2.14). Da mesma forma, o
N NH D N A grupo exocíclico 2-NH2 da guanina sempre se projeta
N na fenda menor e pode formar um impedimento estéri
O A O A
co para a ligação de moléculas pequenas.
ceto enol
fenda menor
TABELA 2.1 Energias de Empilhamento de Pares de Bases
fenda maior
Dinucleotídeos
Bases
Pares de Energias de Empilhamento
por Para
H
H N H kJ mol–1 kcal mol–1
O
H N
N H (GC) × (GC) –61,0 –14,6
N N H N
N (AC) × (GT) –44,0 –10,5
O
N H
(TC) × (GA) –41,1 –9,81
guanina H citocina
(CG) × (CG) –40,5 –9,69
fenda menor (GG) × (CC) –34,6 –8,26
(AG) × (CT) –28,4 –6,78
FIGURA 2.14 Pares de bases Watson–Crick.
Pares de bases seletivos são formados entre adenina e timina (TG) × (CA) –27,5 –6,57
e entre guanina e citosina. Note a formação de duas pontes de (AT) × (AT) –27,5 –6,57
hidrogênio no par de bases A-T e de três no par de bases G-C.
(AA) × (TT) –22,5 –5,37
dência de empilhamento dos polinucleotídeos de fita (TA) × (TA) –16,0 –3,82
única pode ser vista como resultante de uma tendência aDados de: Ornstein, R. L., Reim, R., Breen, D. L. e McElroy,
das bases reduzirem seu contato com a água. A hélice R. D. Biopolymers 17:2341, 1978.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 39
5'
H
O
N O H N
O N
Desoxiguanosina N H N Desoxicitidina
N N 3'
O N H O O
O
P H O
O H
O O
O N HN
O
O N O
Desoxiadenosina N NH P Desoxitimidina
N O
N
O
O O
O
PO O N OHN
H O
H
N O O
Deoxicitidina
Desoxitimidina N NH N N 5' PO Desoxiadenosina
O N O
O O P
O
OP
O O H
HNO N O
Desoxiguanosina
O
O N N N O O
OH
N O
H O
3'
A importância relativa das forças de empilhamento de aminoácidos em proteínas podem proteger os grupos
versus pontes de hidrogênio na estabilização da dupla fosfatos e diminuir as forças repulsivas.
hélice nem sempre foi apreciada. Experimentos com
reagentes que reduzem a estabilidade da dupla hélice
(desnaturantes) ilustram a maior importância relativa TABELA 2.2 Efeitos de Vários Reagentes sobre a
Estabilidade da Dupla Hélicea
das interações de empilhamento (Tabela 2.2). Esses re
sultados mostram que o efeito desestabilizante de um Solubilidade de Molaridade que
reagente não está relacionado com sua capacidade de Reagente Adenina × 10–3 Produz 50% de
quebrar pontes de hidrogênio, mas é determinada pela (em reagente 1 M) Desnaturação
solubilidade das bases livres nesse reagente. À medida
que o reagente se torna um solvente melhor para as ba Etilureia 22,5 0,60
ses, a força que determina o empilhamento diminui, e a Propionamida 22,5 0,62
dupla hélice é desestabilizada.
Etanol 17,7 1,2
Forças eletrostáticas também têm um efeito sobre a Ureia 17,7 1,0
estabilidade e a conformação da dupla hélice. Os grupos
Metanol 15,9 3,5
fosfodiéster estão ionizados no pH fisiológico; assim, o
exterior da dupla hélice carrega duas cargas negativas Formamida 15,4 1,9
por par de bases. A repulsão eletrostática entre os fosfa Fonte: Dados de: Levine, L., Gordon, J. e Jencks, W. P. Biochemistry
tos carregados negativamente é desestabilizadora entre 2:168, 1963.
aO efeito desestabilizador dos reagentes apresentados sobre a dupla
as fitas, e tende a separar as fitas complementares. Em
água destilada, as fitas do DNA se separam à tempera hélice é independente da capacidade desses reagentes para quebrar
pontes de hidrogênio. Ao contrário, o efeito desestabilizador é deter
tura ambiente. Entretanto, cátions como Mg2+, esper minado pela solubilidade de adenina. Resultados semelhantes seriam
mina4+ (uma tetramina) e as cadeias laterais básicas esperados se as solubilidades das outras bases fossem examinadas.
40 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
espectroscopia de absorção, a absorbância do polinu Fitas complementares de DNA, separadas por des
cleotídeo muda muito lentamente no início, depois sobe naturação, podem voltar a formar dupla-hélice, se tra
rapidamente até um valor máximo. Antes da subida, o tadas apropriadamente. Isso é chamado renaturação
DNA é dupla-fita. Na parte ascendente da curva, um ou anelamento. Se a desnaturação não for completa e
número crescente de pares de bases é quebrado. A se poucas bases permanecem com pontes de hidrogênio
paração total das fitas ocorre em temperaturas corres entre as duas fitas, a transição hélice-para-espiral é
pondentes ao platô superior da curva. A temperatura rapidamente reversível. Anelamento é possível mesmo
do ponto do meio dessa transição, a temperatura de depois de as fitas complementares terem sido comple
fusão (Tm), é característica do conteúdo de bases do tamente separadas. Nessas condições, o processo de
DNA em condições padrões de concentração e força iô renaturação depende do encontro de fitas de DNA com
nica. Quanto mais alto o conteúdo de guanina-citosina, plementares, de maneira que possa levar à formação da
mais alta a temperatura de transição entre hélice dupla estrutura original. Não é surpreendente que seja um
-fita e simples-fita. Essa diferença em valores de Tm é processo lento, dependente de concentração. Quando a
atribuída à estabilidade aumentada dos pares guanina renaturação começa, algumas das pontes de hidrogê
-citosina, que resulta de interações de empilhamento nio formadas são formadas entre curtos segmentos do
mais favoráveis. polinucleotídeo, que podem ter estado distantes na es
trutura original nativa. Essas estruturas com bases pa
O DNA é desnaturado em pH>11,3, quando os gru readas aleatoriamente têm vida curta porque as bases
pos N-H das bases ficam desprotonados, impedindo que em torno desses segmentos complementares curtos não
participem das pontes de hidrogênio. A desnaturação podem parear e, assim, não podem formar estruturas
alcalina é frequentemente usada para evitar danos ao estáveis totalmente unidas por pontes de hidrogênio.
DNA que podem ocorrer em altas temperaturas ou pH Uma vez que as nucleobases corretas comecem a parear
baixo. Desnaturação também pode ser induzida em bai por acaso, a dupla hélice é formada rapidamente ao lon
xas forças iônicas, em virtude da maior repulsão entre
go de toda a molécula do DNA.
os fosfatos carregados negativamente da fitas, e por
vários agentes desnaturantes (compostos que podem O início brusco da desnaturação ou da renaturação
efetivamente formar pontes de hidrogênio com as ba revela a natureza tudo-ou-nada da transição hélice
ses, ao mesmo tempo em que quebram interações hi -para-espiral ou espiral-para-hélice. O processo de re
drofóbicas de empilhamento). Uma curva de desnatu naturação requer a formação de uma região curta com
ração completa semelhante à mostrada na Figura 2.18 dupla-hélice para iniciar a formação da dupla hélice
é observada a uma temperatura relativamente baixa e (Figura 2.19). Isso começa com a formação de um úni
constante por variação na concentração de um desna co par de bases, que é bastante instável. Entretanto, a
turante adicionado, como ureia. formação de um segundo par de bases vizinho é aumen
tada porque o processo é agora menos entropicamente
desfavorável. À medida que novos pares de bases come
çam a formar uma estrutura empilhada, a formação dos
Faixa de transição pares de bases subsequentes é ainda mais facilitada.
1.4 0 Os nucleotídeos não-pareados de cada fita começam a
)
empilhar na hélice em crescimento, otimamente posi
m
n cionados para pareamento de bases. Após a formação
l
tua de uma dupla hélice com quatro a cinco pares de ba
(tlar2i6ve0 cen ses, uma dupla hélice estável se forma, e o restante do
er complexo rápida e espontaneamente se fecha como um
p
ieópdact
ia “zipper”. Após a formação do par de bases inicial, o em
rom
rc pilhamento e o pareamento de bases não são eventos
e
ip independentes, mas são influenciados pelos pares vizi
i H
s 1.3 nhos. Tal processo é chamado cooperativo. A presença
n 1.2
1.1 Tm 50
D de uma dupla hélice curta serve como ponto de nuclea
ção para o anelamento porque facilita a formação dos
1.0 100
30 50 70 90 pares de bases subsequentes. A desnaturação é o mes
(°C) mo processo, ao reverso: uma bolha serve como ponto
de início do desempilhamento de nucleobases e como
FIGURA 2.18 Perfil de temperatura-densidade óptica
para DNA.
rápida “abertura do zipper” da hélice.
Quando DNA é aquecido, a absorância a 260 nm aumenta com
a elevação da temperatura. Um gráfico no qual absorbância
versus temperatura é plotado é chamado de curva de fusão.
Densidade óptica relativa é a razão da absorbância em qual
quer temperatura àquela em baixa temperatura. A tempera
tura na qual metade da densidade óptica máxima é obtida é a
temperatura do ponto do meio (Tm).
42 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
C G C G C G C G C G C G
GC
G C G C G C
G C G C
T A muito T A T A T A T A rá[pido TA
C G lento C G C
G C G C G CG
A T A T A T A T A T AT
T A T A T A T A T A T A
G C G C G C G C G C G C
Hibridização
Uma técnica baseada na associação de fitas poli
nucleotídicas complementares, a hibridização foi de
senvolvida para a detecção e a quantificação de sequ-
ências específicas de ácidos nucleicos alvos. Estas são
importantes ferramentas básicas na biologia molecu
lar contemporânea e estão sendo usadas para deter
minar (a) se certa sequência ocorre no DNA de um
organismo em particular, (b) um parentesco genético
ou evolutivo entre diferentes organismos, (c) o núme
ro de genes transcritos em um mRNA específico, e (d)
a localização de uma dada sequência de DNA. Elas são
baseadas no anelamento de um polinucleotídeo com
plementar, chamado sonda (probe), que é marcado
apropriadamente para fácil detecção do híbrido dupla
-hélice.
Em um experimento típico, o DNA ou o RNA a ser
testado por hibridização é desnaturado e imobiliza
do por ligação com uma matriz insolúvel adequada.
Sondas de DNA marcadas são, então, postas para hi
bridizar com as sequências complementares ligadas
à matriz (Figura 2.20). Sondas são oligonucleotídeos
curtos, fita-única, de DNA ou RNA, que são comple
mentares às sequências específicas de interesse. Em
condições adequadas, as sondas interagem somente
com o segmento de interesse, indicando se está pre
sente em uma amostra de DNA em particular. As mo
léculas das sondas geralmente têm >20 nucleotídeos
de comprimento. Marcadores apropriados incluem ele
mentos radioativos, cromóforos fluorescentes e bioti
na. Como o complexo dupla-hélice contendo a sonda
hibridizada está geralmente ligado a uma matriz inso FIGURA 2.20 Representação geral de experimentos de
lúvel, as sondas não-hibridizadas podem ser lavadas. hibridização.
A detecção das marcas ligadas permite a quantifica Uma mistura de DNAs desnaturados é tratada com uma sonda
ção direta da sequência de interesse. A determinação de DNA carregando uma marca. A sonda pode hibridizar com
da quantidade máxima de DNA que pode hibridizar aqueles DNAs de sequências complementares. A detecção dos
complexos dupla-hélice permite a detecção e a quantificação
pode estabelecer o grau de homologia entre DNAs de do DNA que contém a sequência de interesse. Aplicações es
diferentes espécies, uma vez que as sequências de ba pecíficas frequentemente contêm etapas para separar e imobi
ses de cada organismo são singulares. As homologias lizar os diferentes DNAs da mistura a ser analisada.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 43
observadas servem de índices de parentesco evolutivo do DNA dupla-hélice foram descritas desde então. Elas
e têm sido particularmente úteis na definição da filo variam em orientação das bases em relação ao eixo e
gênese de procariotos. Estudos de hibridização entre uma em relação à outra e em outros parâmetros geo
DNA e RNA trouxeram informações muito úteis sobre métricos da dupla-hélice. Uma forma, Z-DNA, incorpora
o papel biológico do DNA, particularmente o mecanis uma hélice que gira para a esquerda em lugar da varie
mo de transcrição. Matrizes (arrays) de sondas são dade usual que gira para a direita.
úteis para o diagnóstico rápido e definitivo de doenças
genéticas, doenças infecciosas e câncer, como descrito O polimorfismo estrutural do DNA dupla-hélice
na Correlação Clínica 2.2. depende da composição em bases e das condições fí
sicas. A estrutura local do DNA é suficientemente fle
Conformações do DNA Dupla-Hélice xível para permitir mudanças de conformação que ma
ximizem o empilhamento, ao mesmo tempo em que
Os primeiros estudos de difração de raios-X mos minimizem as interações estéricas desfavoráveis. As
traram que havia mais de uma conformação no DNA preferências de empilhamento de bases podem favo
(Figura 2.21). Uma delas, A-DNA, foi encontrada em recer uma conformação sobre outras. Por exemplo,
condições de baixa umidade e alta concentração de sal. guaninas consecutivas em uma fita favorecem confor
A adição de solventes orgânicos, como etanol, reduziu a mações tipo A-DNA. As condições da solução também
umidade dessas soluções aquosas. Uma segunda forma desempenham um papel chave na determinação da
distinta, B-DNA, apareceu sob condições de alta umi conformação favorecida. Moléculas de água interagem
dade e baixa concentração de sal e foi a base para a diferentemente com duplas hélices em diferentes con
estrutura Watson–Crick. Onze conformações distintas formações. Por exemplo, os grupos fosfatos no B-DNA
44 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
FIGURA 2.21 As geometrias variadas do DNA dupla-hélice. Z-DNA é uma conformação dupla-hélice radical
Dependendo das condições e da sequência de bases, a dupla hélice mente diferente que gira para a esquerda, para DNA
pode adquirir várias geometrias distintas. Há três famílias principais dupla fita. Geralmente é observada em sequências de
de conformações do DNA: A, B e Z. As formas que giram para a direita, purinas e pirimidinas alternadas, particularmente
B-DNA e A-DNA, diferem na torção do açúcar; isso leva a diferentes d(GC)n. A designação “Z” foi escolhida porque o es
estruturas helicoidas. A forma A é menos torcida em comparação com queleto fosfodiéster assume um arranjo em zigue
a forma B, e a hélice resultante é mais curta e mais grossa. A estrutura -zague, comparado à conformação lisa que carac
Z-DNA é uma hélice que gira para a esquerda, com o esqueleto fazendo
teriza A-DNA e B-DNA. A estrutura Z-DNA é mais
um zigue-zague. A torção do açúcar e as conformações glicosídicas al
ternam de um resíduo para o seguinte, produzindo uma reversão local longa e mais fina que aquela do B-DNA e completa
uma volta a cada 12 pares de bases. A fenda me
da direção da cadeia.
nor é muito profunda e contém o eixo da hélice. Os
são mais acessíveis às moléculas de água do que aque pares de bases são dispostos tão longe na fenda maior
les no A-DNA. Também, grupos polares das bases es que um canal distinto não existe mais. Essas mudanças
tão mais hidratados na conformação B-DNA. De fato, colocam as nucleobases empilhadas na parte mais ex
em sequências ricas em AT, uma matriz ordenada de terna do Z-DNA em vez da sua posição convencional no
moléculas de água ocupa a estreita fenda menor do B interior da dupla hélice.
-DNA (Figura 2.22a). Com uma redução de umidade,
as moléculas de água disponíveis solvatam os grupos
fosfato muito polares, em preferência às bases. A fenda
maior se estreita, permitindo que moléculas de água
façam pontes entre os fosfatos (Figura 2.22b), estabi
lizando assim a conformação A-DNA.
As diferentes conformações do DNA podem ser
agrupadas in três famílias: A-DNA, B-DNA e Z-DNA.
Os parâmetros dessas conformações, apresentados na
Tabela 2.3, foram determinados por métodos de di
fração de raios-X. Deve ser enfatizado que se acredi
ta que a estrutura geral do DNA em organismos vivos
seja do tipo B-DNA. É notável que a conformação B, ao
contrário das formas A e Z, é muito flexível. No B-DNA
nativo, variação local considerável em conformação de (a) (b)
nucleotídeos individuais pode ocorrer. Tais variações FIGURA 2.22 Hidratação das fendas do DNA.
podem ser importantes na regulação da expressão (a) Uma espinha de hidratação organizada preenche a fenda me
gênica, uma vez que podem influenciar a extensão da nor da forma B-DNA. (b) Os fosfatos que delineiam a fenda
ligação do DNA com vários tipos de proteínas regula maior são espalhados por uma rede de águas na forma A-DNA.
tórias. Reproduzido com permissão de Saenger, W. Principles of
Nucleic Acid Structure. New York: Springer-Verlag, 1984, p.
Conformações do DNA na família B apresentam pa 379. Com a gentil permissão de Springer Science and Busi
res de bases que são quase perpendiculares ao eixo da ness Media.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 45
Existem algumas evidências que sugerem que o Z humano é rico em sequências homopurina-homopirimi
-DNA influencie expressão e regulação gênicas. Aparen dina e sequências alternadas de purina-pirimidina.
temente, regiões curtas do DNA contendo purinas e pi
rimidinas alternadas são mais comumente encontradas
nas extremidades 5! de genes, regiões que regulam ati DNA Dobrado
vidades transcripcionais. Também, a metilação de resí
Sequências de DNA com 4 a 6 adeninas separadas por
duos de guanina nas posições C8 e N7 ou de resíduos de
espaçadores de 10 pares de bases (pb) produzem con
citosina na posição C5 (Figura 2.23) estabilizam a forma
formações dobradas. Estudos estruturais indicaram que
Z. Sequências que não são estritamente purinas e pirimi as fendas menores dessas sequências são comprimidas.
dinas alternadas também podem adquirir a conformação
Entretanto, não está claro se a dobra surge dessa carac
Z por causa da metilação. A sugestão de que Z-DNA po
terística ou do limite entre essa conformação pouco co
deria desempenhar um papel na regulação gênica é sus
mum e o B-DNA normal. Dobramento do DNA parece ser
tentada por modificações nos padrões de metilação que um elemento fundamental na interação entre sequências
acompanham o processo de expressão gênica. Entretan
de DNA e proteínas que catalisam processos centrais,
to, o Z-DNA ainda não foi detectado em DNA in vivo.
como replicação, transcrição e recombinação sítio-es
pecífica. O dobramento induzido por interações do DNA
Estruturas Não-Canônicas do DNA com enzimas e outras proteínas, tais como histonas, não
requer as condições de sequências de nucleotídeos que
A-, B- e Z-DNA estão associados principalmente com são necessárias para dobrar o DNA livre de proteínas. O
variação na conformação dos nucleotídeos constituin dobramento também ocorre em virtude de danos foto
tes do DNA. Reconhece-se agora que mesmo o B-DNA químicos ou pareamento errado de bases, e serve como
canônico não é uma estrutura reta, monótona e unifor sinal de reconhecimento para iniciar o reparo do DNA.
me. Ao contrário, o DNA dobra-se e forma estruturas Antibióticos antitumorais que produzem estruturas do
incomuns, como arranjos cruciformes ou fita-tripla, bradas são discutidos na Correlação Clínica 2.3.
quando interage com certas proteínas. Tais variações
na conformação do DNA parecem ser um importante
tema recorrente no processo de reconhecimento mole NH2
FIGURA 2.25 Formação de estruturas cruciformes no DNA. Como nos complexos dupla-hélice, o empilha
A existência de repetições invertidas no DNA dupla-fita é uma condi mento de bases desempenha o papel chave na es
ção necessária, mas não suficiente para a formação de estruturas cru tabilização da estrutura triplex. Contudo, juntar
ciformes. Em DNA relaxado, não é provável a formação de cruciformes três fitas com esqueletos carregados negativa
porque o DNA linear acomoda mais pares de bases empilhados e ligados mente, aumenta a repulsão eletrostática. Assim,
por pontes de hidrogênio do que a estrutura cruciforme, tornando a for
o complexo tripla-hélice é menos estável do que a
mação do último termodinamicamente desfavorável. O desenrolamento
é seguido de formação de pontes de hidrogênio intrafita, entre as duas
dupla hélice Watson–Crick. A presença de Mg2+ e
partes simétricas da repetição, produzindo a estrutura cruciforme. A for de outros cátions multivalentes estabiliza a tripla
mação de estruturas cruciformes não é favorecida em regiões de DNA hélice por bloquear as cargas dos fosfatos.
que consistem de repetições no espelho, porque tais cruciformes seriam
construídos a partir de fitas paralelas de DNA, e não antiparalelas. Em Triplas hélices intramoleculares podem se
vez disso, certas repetições no espelho tendem a formar triplas hélices. formar por interrupção do DNA dupla-hélice
com sequências de polipurinas em repetições
turas cruciformes nas origens de replicação do DNA de no espelho. Uma repetição no espelho é uma região
células de mamíferos recrutam proteínas que se ligam como AGGGGA, que tem a mesma sequência de bases
aos cruciformes e funcionam durante a iniciação da sín quando lida em qualquer direção a partir de um ponto
tese de DNA. central. Redobramento gera uma região com tripla-fita
e uma alça de fita única, em uma estrutura chamada
H-DNA (Figura 2.27).
DNA Tripla-Fita
Embora a formação do H-DNA seja termodinamica
Alguns polinucleotídeos, como poli(dA) e poli(dT), mente desfavorável, por causa de uma redução nas inte
combinam-se para formar complexos de três fitas em rações de empilhamento, triplas hélices intramolecula
lugar das duplas hélices esperadas. A estequiometria res foram detectadas em DNA celular quando em tensão
desses complexos requer que uma fita contenha uma de super-hélice. O superenrolamento do DNA fornece a
sequência de homopurina, enquanto as outras duas te energia para direcionar o desenrolamento do DNA que é
nham sequências de homopirimidinas. Mesmo quando necessário para a formação da tripla hélice. A formação
participam de pares de bases Watson-Crick, purinas da tripla-fita produz um relaxamento do superenrola
possuem dois pontos potenciais para estabelecer pon mento negativo. Também, a ligação de proteínas ao DNA
tes de hidrogênio na fenda maior: N7 e O6 para guani fita-única pode estabilizar ainda mais a estrutura H-DNA
na, N7 e 6-NH2 para adenina. Nucleobases apropriada e impedir a degradação da alça por nucleases.
48 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
R
N
N N
H H
N
N
N H
O H
O
H N N
CH3 O CH3
O R
NRO O N N N R N
R N H O
H
N N N
N H H NH H
H
Triplete de bases C Triplete de bases GGC
N
R R
N
N
Triplete de bases TAT N H CH3
NH
N H O O
RN H N
H H
N+ N H H H
N N N N N
R
O H N O N H N O N R N
+GC N
CH3
H3C O O
O N
H H H
N NR
N H
N O
N N
R
Triplete de bases TAT
(a) (b)
Muitas sequências dos genomas eucarióticos têm o tripla-hélice, incluindo possíveis papéis na iniciação e
potencial de formar estruturas de DNA tripla-fita. Tais na terminação da replicação e da recombinação. A ca
regiões ocorrem com frequência muito maior do que o pacidade do DNA tripla-fita interferir na transcrição
esperado por considerações de probabilidade apenas. também levou a esforços para utilizar as triplas hélices
Sequências de polipurinas com mais do que 25 nucleo intramoleculares para controlar artificialmente a sínte
tídeos constituem até 0,5% de certos genomas eucarió se de RNA, e a subsequente síntese proteica.
ticos. Essas regiões de tripla-hélice em potencial são es
pecialmente comuns próximo a sequências envolvidas
na regulação gênica. Por isso, tem sido proposto que
DNA Quatro-Fitas
o H-DNA possa desempenhar um papel no controle da
síntese de RNA (Correlação Clínica 2.4). Outras tare Nucleotídeos de guanina e polinucleotídeos muito
fas biológicas em potencial foram propostas para o DNA ricos em G formam novas estruturas tetraméricas cha
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 49
(3!) (5!)
5! 5!
5! 5! 5! 3!
possíveis (Figura 2.30). Embora SMP-DNA não tenha de base única (Figura 2.31). Deleções e duplicações
sido identificado ainda in vivo, evidências genéticas su de segmentos de DNA que são mais longos do que uma
gerem que esteja envolvido em mutações espontâneas base única podem ocorrer durante a replicação do DNA
com mudança na estrutura de leitura (frameshift), que entre repetições diretas, causando estruturas desliza
resulta em adição ou deleção de base em sequências das com alças. A duplicação de certas repetições de tri
1 11 21 3!
5! CTAGCCTTAAAAAGG
GATCGGAATTTTTCC 3!
5!
5! GGGATCCAAGGTCCATCGTTGGGATCCAAGGTCCATCGTT 3!
(a) 3! CCCTAGGTTCCAGGTAGCAACCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
CCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
GGGATCCAAGGTCCATCGTT 5! GATCGGAATTTT
CTAGCCTTAAAAAGG Replicação
3!
5! GATCGGAATTTT
CTAGCCTTAAAAAGG 3!
T
CCAAGGTCC
C 5!
G TT A
T A AAA A Deslizamento Deslizamento
da fita filha da fita molde
A
GG G
T
(b) 3!
5! 3! 5! 3! 5! GATCGGAATTTT 3!
5! 3! 5! 3! CTAGCCTTAAAACC
CCC CG A
TGCC G Replicação
continuada
CCCTAGGTTCCAGGTAGCAA
GGGATCCAAGGTCCATCGTT
G T T FIGURA
3!
5! 2.31
T Mutagênese
3!3! com3!5!mudança na
GATCGGAATTTTGG
CTAGCCTTAAAACC
G GATCGGAATTTTTCC
CTAGCCTTAAAAAGG A 3!
T 5! 5!
2º ciclo desuperior
da fita replicação
AAGG T
CTG TTCC 3!
5!
A AAA A C C
AT GATCGGAATTTTTTCC
AGCCTTAAAAAAGG
Adição de um T 5! 3!
5! GATCGGAATTTTCC
AGCCTTAAAAGG
Deleção de um T 3!
5!
(c) 5!
3! G
TCTT C C C
GCC GG
G
T A GG G 3!
5!
pletes simples, que são a base de várias doenças genéti mum Escherichia coli tem aproximadamente 2 μm de
cas humanas (Correlação Clínica 2.6), também podem comprimento, e tem um único cromossomo com 4,6 ×
ocorrer por esse mecanismo. 106 pb, com um comprimento de contorno de 1,5 mm.
Uma única célula diploide humana contém 6 × 109 pb
no DNA cromossômico organizado em 46 cromossomos.
2.4 ESTRUTURA DE ORDEM O comprimento de contorno desse DNA aproxima-se de
2 m, empacotados em um núcleo de cerca de 10 μm de
SUPERIOR DO DNA diâmetro. É claro que o DNA de todos os organismos
deve ser extraordinariamente empacotado.
Com exceção dos vírus que contêm RNA, toda vida
na Terra usa DNA para armazenar informação genética.
O comprimento do DNA varia de espécie para espécie,
em faixas que vão de poucos milhares de pares de ba O DNA Genômico Pode Ser Linear
ses para vírus pequenos, até milhões de pares de bases ou Circular
em bactérias, e bilhões de pares de bases em plantas
e animais. Em todos os organismos, o comprimento Com exceção de alguns pequenos bacteriófagos,
de contorno (comprimento do DNA considerando-se como ϕΧ174, que podem adquirir uma forma de fita-úni
uma dupla-hélice em forma-B) do DNA genômico é ge ca, a maioria dos DNAs existe como complexos de du
ralmente muito maior do que o tamanho da célula que pla-hélice. Dependendo da fonte, os complexos podem
o contém. Por exemplo, um vírus de tamanho médio, ser lineares ou circulares. Por exemplo, os DNAs de vá
como o fago λ, contém 4,8 × 104 pb no DNA, que tem rios vírus pequenos são hélices lineares de dupla-fita.
16,5 mm de comprimento. Entretanto, a partícula viral Alguns desses DNAs contêm quebras internas simples
tem apenas 0,19 mm de comprimento. A bactéria co -fita, de ocorrência natural. A estrutura em dupla-hélice
52 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
A presença de sequências reiteradas de três pares são do triplete interfere com o funcionamento normal
de bases de DNA ocorre em várias doenças genéticas da proteína relacionada. Frequentemente há perda de
humanas, incluindo a síndrome do X frágil (OMIM função da proteína, mas, ocasionalmente, um ganho ou
300624), a distrofia miotônica (OMIM 160900), a atro função deletéria ocorrem. Essas doenças são caracteri
fia muscular espinal e bulbar ligada ao X (síndrome de zadas por um aumento na gravidade da doença em gera
Kennedy), a ataxia de Friedrich e a doença de Hunting ções sucessivas, o que é chamado antecipação.
ton (OMIM 143100). Essas doenças estão associadas à
expansão de repetições de tripletes de nucleotídeos que Expansão de tripletes pode resultar de pareamento
aparecem em, ou próximos de, genes específicos. Verifi deslizado errado durante a síntese do DNA. Em virtude
cou-se que a doença de Kennedy contém uma repetição da enorme amplificação que caracteriza essas doenças,
CAG no primeiro éxon do gene do receptor de andróge deslocamentos repetidos ou múltiplos deveriam estar
no. Tripletes repetidos também foram encontrados em envolvidos para explicar o alto grau de expansão. Um
regiões não-traduzidas do gene: na ataxia de Friedrei possível mecanismo envolve o deslizamento do DNA
ch, GAA repetido é encontrado dentro de um íntron, e nascente durante a síntese da fita tardia. Esse processo
na distrofia miotônica, uma repetição CTG é encontrada pode ser ajudado pela formação de uma estrutura em
na região 3!-não-traduzida de seu gene. A síndrome do grampo (hairpin) estável pela alça que deslizou. Repe
X frágil, uma das principais causas de retardo mental, tição desse processo leva ao acúmulo de grande número
caracteriza-se por expansão do triplete GCC no lado 5! de tripletes repetidos.
do gene FMR-1. Essa repetição expande-se de 30 cópias
para milhares de cópias. A doença desenvolve-se quan Mirkin, S. Expandable DNA repeats and human disease. Na
ture 447:932, 2007; e Patel, P. I. e Isaya, G. Friedreich Ataxia:
do a expressão normal do gene FMR-1 é desligada por
From GAA triplet-repeat expansion to frataxin deficiency. Am.
metilação de sítios CpG. Em todos os casos, a expan J. Hum. Genetics. 69:15, 2001.
Fita descontínua
Replicação
Tripletes repetidos
Fita lider
Grampo de deslizamento
é mantida porque as quebras em uma fita são geralmen cleotídeos lineares. Suspeitou-se da natureza circular
te em localizações diferentes das encontradas na fita do DNA fita única do fago ϕΧ174 por estudos que mos
complementar. Os DNAs da maioria dos organismos su traram que nenhuma extremidade estava disponível
periores também são lineares. Cada um dos 46 cromos para reagir com éxonucleases. Além disso, a clivagem
somos de uma célula humana diploide é um DNA linear com endonuclease em um único ponto gerava só um
em dupla-hélice, complexado com proteínas. polinucleotídeo. Esses resultados foram mais tarde
confirmados por observação direta à microscopia ele
O DNA circular resulta da formação de ligações trônica.
fosfodiéster entre as extremidades 3! e 5! de polinu
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 53
Topoisomerases são importantes alvos para agentes antibióticos inibem seletivamente a DNA girase e a to
antimicrobianos e antineoplásicos. Essas drogas não poisomerase IV bacterianas. Quinolonas ligam-se aos
inibem a atividade total da enzima, como no caso da complexos formados por essas enzimas e inibem a re
maioria das drogas direcionadas a enzimas. Em vez dis plicação do DNA. No final, morte celular ocorre devi
so, inibem o complexo imediato entre a topoisomerase da ao acúmulo de quebras de dupla fita letais no DNA
e o DNA. Isso pode resultar na degradação do DNA, na bacteriano. Como essas enzimas não encontradas em
introdução de mutações ou na inibição da tradução e da células eucarióticas, as quinolonas são muito seletivas
replicação. em sua ação citotóxica. Fluoroquinolonas, como cipro
floxacin, apresentam boa atividade contra bactérias
No tratamento do câncer, ambas as topoisomerases Gram-negativas e Gram-positivas, enquanto drogas
I e II podem ser alvos. Camptotecina e seus derivados mais novas apresentam atividades ainda mais amplas.
agem sobre a topoisomerase I. Uma excelente correlação Por exemplo, gemifloxacin (Factive®) é especialmente
foi observada entre a atividade antitumoral de vários de útil no tratamento de infecções respiratórias, incluindo
rivados da camptotecina sobre a leucemia murina e sua as de Staphylococcus pneumoniae, Mucoplasma e
interferência com a atividade da topoisomerase. Podem Legionella resistentes a múltiplas drogas.
causar lesões potencialmente letais por formarem com
plexos covalentes de clivagem do DNA estabilizados pela OH
droga. Replicação subsequente do DNA pode ser um pré H3CO OCH3
-requisito para a toxicidade celular. A eficácia dos deri
vados de camptotecina pode ser aumentada por níveis O H O
N O
aumentados de topoisomerase I nas células tumorais, N O
como no câncer de cólon avançado. Dois outros potentes O O
H
agentes antineoplásicos, amsacrina e etoposídeo, agem O
OOH O
seletivamente sobre a topoisomerase II e indicam que es H 3C
H 3C O
sas drogas clinicamente úteis estabilizam os complexos OH
Empacotamento do DNA
Procariótico
Em células procarióticas, o único cromossomo é um
DNA dupla-fita, circular e superenrolado. Cromossomos
bacterianos são estruturas dinâmicas, refletindo a ne
cessidade de rápida síntese de DNA, divisão celular e
transcrição. Entretanto, em uma bactéria comum como FIGURA 2.38 Cromossomos bacterianos são empacotados
E. coli, o comprimento de contorno do DNA é mais de em nucleoides.
750 vezes maior do que o comprimento da célula. Por O cromossomo circular de uma bactéria é compactado em
tanto, o DNA deve estar empacotado em uma forma cerca de 40-50 alças de DNA superenrolado organizadas por
um arcabouço de RNA-proteína. A DNase relaxa a estrutura
muito condensada para caber dentro da célula. Os cro
progressivamente, abrindo as alças individuais, uma de cada
mossomos bacterianos são organizados em estruturas vez. A RNase desdobra completamente o cromossomo em uma
compactas, chamadas nucleoides, por interação com única etapa, rompendo o centro do nucleoide.
proteínas HU e H-NS e participação de vários cátions, Redesenhado de Worcel, A. e Burgi, E. J. Mol. Biol. 71:127,
poliaminas (como espermina, espermidina, putrescina 1972.
58 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
Organização da Cromatina nas H1, H2A, H2B, H3 e H4. Por causa de seu conteúdo
extraordinariamente elevado dos aminoácidos básicos
Eucariótica lisina e arginina, as histonas são muito catiônicas e in
teragem com os fosfatos do esqueleto polianiônico do
O enorme comprimento do genoma da maioria dos DNA para produzir nucleoproteínas sem carga. As se
eucariotos requer a divisão da informação genética em
quências de aminoácidos das histonas são muito con
vários cromossomos independentes. Células humanas
servadas entre as espécies. Histonas H4 de ervilhas e
contêm 23 pares de cromossomos, com um compri de vacas diferem em apenas dois aminoácidos, embora
mento médio de 1,3 × 108 pb, ou aproximadamente 43
essas espécies tenham divergido há mais de um bilhão
mm. Cada cromossomo humano consiste de uma mo de anos. Histonas H3 são também muito conservadas,
lécula de DNA, variando em tamanho de 263 × 106pb
enquanto as regiões não-básicas das histonas H2A e
para o cromossomo 1 até menos de 50 × 106 pb para o
H2B são menos conservadas. H1 é maior, mais básica
cromossomo Y. Para que essa quantidade de DNA cai
e, de longe, a histona mais tecido-específica e espécie
ba dentro de um núcleo celular, com um diâmetro de
-específica. Em alguns tipos celulares de vertebrados,
aproximadamente 10-20 μm, há necessidade de uma uma sexta histona, H5, funciona como substituta de
razão de condensação superior a cinco ordens de gran
H1. Um grupo heterogêneo de proteínas com alta espe
deza (Figura 2.39).
cificidade para espécie e órgão também está presente
na cromatina. Essas proteínas não-histonas consistem
O DNA em células eucarióticas está associado a
várias proteínas para formar a cromatina. Em células de centenas de membros, a maioria dos quais presente
em quantidades muito pequenas. Muitas delas estão
que não estão se dividindo (interfase), a cromatina é
amorfa e dispersa por todo o núcleo. Imediatamente associadas com funções dos cromossomos como repli
antes da divisão celular (metáfase), torna-se organi cação, expressão gênica e organização cromossômica.
zada em estruturas muito compactas chamadas cro
mossomos. Cada cromossomo caracteriza-se por um
centrômero, que é o local para adesão de proteínas Nucleossomos e Polinucleossomos
que ligam o cromossomo ao fuso mitótico. Os telô
As histonas interagem com o DNA para formar uma
meros definem as extremidades de cromossomos li
neares. Os cromossomos também contêm sequências estrutura periódica “contas num fio”, chamada polinu
necessárias ao início da replicação do DNA (origens cleossomo, no qual a unidade elementar é um nucleos
de replicação). somo (Figura 2.40). Cada nucleossomo tem forma de
disco, cerca de 11 nm de diâmetro e 6 nm de altura, e
Histonas são as proteínas mais numerosas da cro consiste de um segmento de DNA e um grupo de his
matina. Existem cinco classes dessas proteínas: histo tonas composto de duas moléculas de cada uma das
histonas H2A, H2B, H3 e H4. Cada
grupo octamérico consiste do te
Nucleofilamento Arcabouço proteico trâmero (H3)2—(H4)2 com dois
de 10 nm
dímeros H2A—H2B. Cada histo
na caracteriza-se por um domínio
H1
central não-polar, que forma uma
1 µm
Fibra de 30 nm estrutura globular e é responsável
Octâmero Cromatina depletada pelas interações histona-histona.
de histonas de histona H1
As regiões N-terminais vizinhas
contêm a maior parte dos resíduos
de aminoácidos carregados posi
tivamente, os quais permitem in
terações eletrostáticas favoráveis
com o DNA. Essas sequências de
(todas as histonas
DNA nuremovidas)
cauda parecem se estender radial
mente para fora do cerne de histo
nas e podem estar envolvidas nas
interações entre nucleossomos. O
DNA é enrolado em torno do octâ
Cromossomo
metafísico mero com o cerne central (H3)2—
(H4)2 interagindo com os 70–80
FIGURA 2.39 Organização do DNA em cromossomos. pb centrais do DNA que o circunda
Um desenho mostrando a condensação passo a passo do DNA em cromatina. O DNA (Figura 2.41). Aproximadamen
inicialmente se enrola em torno de histonas do cerne (core) do nucleossomo. A con te 146 pb do DNA enrolam-se em
densação com histona H1 produz o nucleofilamento de 10 nm, que é subsequentemente
torno do octâmero de histonas. As
empacotado numa estrutura torcida, com alças, ligada a um arcabouço de proteínas no
cromossomo. histonas ficam em contato com a
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 59
fenda menor do DNA e deixam a fenda maior disponí Tal enrolamento remove aproximadamente uma
vel para interação com as proteínas que regulam a ex volta de hélice do DNA, gerando um superenrolamento
pressão gênica e outras funções do DNA. A estrutura negativo na região enrolada em torno do cerne de histo
do cerne dos nucleossomos explica porque as células nas, e um superenrolamento positivo compensador em
eucarióticas não têm girases, que podem desenrolar outro lugar da molécula. O relaxamento subsequente do
DNA relaxado. Super-helicidade negativa é introduzi superenrolamento positivo por topoisomerases eucari
da quando o DNA faz uma volta em torno do centro de óticas deixa um superenrolamento negativo na região
histonas (Figura 2.42). nucleossômica.
DNA
Octâmero
de histonas
DNA
Cerne de
histonas
H1 65 Å
Superenrolamento
negativo ligado
Superenrolamento
positivo não-ligado
ciado pela sequência do DNA. De fato, nucleossomos Os modelos de níveis superiores de empacotamento
tendem a se formar preferencialmente em certas regi das fibras de 30 nm são baseados em evidências indi
ões do DNA. DNA que contém longas sequências de A retas obtidas com cromossomos plumulosos de oócitos
ou repetições G-C geralmente não forma nucleossomos. de vertebrados e cromossomos politênicos de células
Ao contrário, certas regiões dobradas do DNA como, secretoras gigantes de mosca de frutas. Esses cromos
por exemplo, trechos em fase A periódica, associam-se somos são excepcionais porque mantêm estruturas de
fortemente com histonas. Octâmeros de histonas po ordem superior, precisamente definidas, na interfase,
dem migrar ao longo da fita de DNA. Essa mobilidade isto é, quando células estão em estado de repouso (não
permite o acesso ao DNA pelas polimerases e outras -divisão). Por extrapolação, as características estrutu
proteínas necessárias à transcrição e à replicação. rais dos cromossomos interfásicos plumulosos levaram
a se propor que os cromossomos em geral são organiza
dos em uma série de domínios em alças, condensados,
de fibras de 30 nm de tamanhos variados para diferen
Empacotamento de Polinucleossomos em tes organismos. Essas alças podem conter de 5.000 a
Estruturas Superiores 120.000 pb, com uma média de 20.000. Assim, o genoma
humano haploide conteria cerca de 60.000 alças. Uma
O enrolamento do DNA em torno de histonas para alça pode conter alguns poucos genes ligados. As alças
formar nucleossomos resulta em uma redução de dez firam ligadas a um arcabouço proteico consistindo de
vezes no comprimento aparente do DNA e na forma
ção de um nucleofilamento de 10 nm. A condensação histona H1 e diversas proteínas não-histonas, incluindo
duas proteínas principais de arcabouço (scaffold) Sc1
de nucleofilamentos de 10 nm em um arranjo em so
(uma topoisomerase II) e Sc2.
lenoide, envolvendo seis ou sete cromatossomos por
volta, forma a fibra de 30 nm (Figura 2.43). Molécu São fixadas em suas bases e podem, portanto, acu
las de histona H1 ligam-se cooperativamente entre si, mular superenrolamentos. Regiões específicas ricas em
aproximando mais os nucleossomos vizinhos na fibra AT, conhecidas como regiões de adesão ao arcabouço
de 30 nm. Em concentrações salinas fisiológicas, as (SARs, scaffold attachment regions) ficam preferen
fibras de 30 nm formam-se espontaneamente, mas, cialmente associadas com o arcabouço. SARs também
em força iônica mais baixa, dissociam-se em nucleo contêm pontos para ligação de topoisomerase II. A pre
filamentos de 10 nm. A formação dos polinucleosso sença das topoisomerases sugere que alterações no su
mos e sua condensação em fibras de 30 nm dá uma perenrolamento dentro desses domínios sejam biologi
razão de compactação do DNA de até duas ordens de camente importantes. A formação de domínios em alça
grandeza. As fibras de 30 nm formam-se apenas em pode ser responsável por uma condensação adicional de
regiões específicas do DNA, que se caracterizam pela 200 vezes no comprimento do DNA, e uma razão de em
ausência de ligação com outras proteínas não-histo pacotamento geral de mais de quatro ordens de grande
nas sequência-específicas. A presença destas e seus za. Cada alça pode ser enrolada e, depois, superenrola
efeitos sobre a formação das fibras de 30 nm podem da em 0,4 mm de fibras de 30 nm. Como um cromossomo
depender do estado transcripcional das regiões de tem cerca de 1 mm de diâmetro, o empacotamento da fi
DNA envolvidas. bra de 30 nm em uma cromátide requereria apenas mais
uma ordem de dobramento. Mais compactação pode ser
conseguida dispondo-se as alças de fibras
1 mM aumentando a força iônica 100 mM de 30 nm em espirais helicoidais densa
mente empilhadas. As cromátides, os dois
Fibra de 30 nm
ou solenoide braços ligados do DNA replicado nos cro
Nucleofilamento de 10 nm mossomos metafásicos muito condensa
dos, podem consistir de alças de fibras de
30 nm empacotadas de modo helicoidal.
Alterações no empacotamento em vá
rios estágios do ciclo celular parecem ser
H1
controladas, em parte, por modificação
covalente das histonas do cerne (core)
(remodelamento de histonas). Acetilação
DNA reversível do grupo e-amino de resíduos de
lisina e fosforilação de resíduos de serina
FIGURA 2.43 Estrutura do nucleofilamento. e treonina estão envolvidas na regulação
A histona H1 ligada às regiões de ligação (linker) entre os nucleossomos resulta da atividade do DNA em nucleossomos.
na condensação em fibras de 10 nm. Em forças iônicas mais altas, o nucleofila
Essas modificações reduzem o número
mento forma uma estrutura helicoidal muito compacta ou um solenoide helicoi
dal. As histonas H1 interagem fortemente entre si nessa estrutura. de cargas positivas nas histonas, fazendo
Adaptado de Kornberg, R.D. e Klug, A. The Nucleosome. San Diego, CA: Aca que se liguem menos fortemente ao DNA.
demic, 1989. O desempacotamento resultante das fibras
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 61
A progressão para o câncer pode envolver altera Existe também um componente dietético em po
ções epigenéticas que afetam processos que incluem tencial para o controle epigenético do câncer. Ácidos
progressão no ciclo celular, reparo de danos no DNA e graxos de cadeia curta, como butirato, são gerados pela
morte celular programada (apoptose). Uma dessas al flora bacteriana do intestino grosso e apresentam uma
terações, remodelamento cromossômico, chamou aten fraca capacidade de regular a mitose de células epite
ção como alvo para tratamento do câncer. As histona liais, diferenciação e apoptose. Experimentos demons
deacetilases, enzimas responsáveis pela reversão da traram que o butirato aumenta os níveis de acetilação
acetilação de lisinas e argininas, são superexpressas de histonas, presumivelmente por inibição da histona
em vários tipos de câncer, incluindo de cólon, próstata, desacetilase. Estes dados sugerem que o estado nutri
mama, e colo uterino (cervical). Ácidos hidroxâmicos, cional de um indivíduo pode afetar o código de histonas
como tricostatina A e ácido suberoilanilida hidroxâmi e seu papel no câncer.
co (SAHA) ligam-se a um íon zinco do sítio ativo da en
zima e bloqueiam a desacetilação de lisinas e argininas. Inche, A. G., e LaThangue, N. B. Chromatin contron and can
Esses compostos inibem o crescimento de células tu cer-drug discovery: Realizing the promise. Drug Discov. To
morais e bloqueiam a progressão no ciclo celular. É im day 11:97, 2006; Wang, G. G., Allis, C. D., e Chi, P. Chromatin
portante notar que o SAHA está hoje aprovado para tra remodeling and cancer, part I: Covalent histone modifications.
tamento de linfoma cutâneo de células T, com o nome Trends Mol. Med. 13:363, 2006; Marks, P. A., Richon, V. M.,
Zolinz®. Outras modificações no código de histonas, tal Breslow, R., e Rifkind, R. A. Histone deacetylase inhibitors as
como fosforilação de serina, desempenham papel no re new cancer drugs. Curr. Opin. Oncol. 13:477, 2001; e Gar
finkel, M. D., e Ruden, D. M. Chromatin effects in nutrition,
paro e na estabilidade de cromossomos, e também po
câncer, and obesity. Nutrition 20:56, 2004.
dem ser alvos para drogas antiproliferativas.
N O
NH H
H N
O N OH
OH
O
O
conhecimento, enquanto as do
EcoRI 5! .... GAATTC .... 3! 5! ....
3! G5!
.... CC5!
CTTAA5!
GG3!
CTGCA3!
G3! + 5!G ....
5!AATTC
3!ACGTC
3!GG
5!CC
3!G ....
....5!
....5!
3! 5!-
3!- Extremidades
fita única
Prolongamento tipo II quebram o DNA especi
3! .... CTTAAG .... 5!
+
ficamente dentro da sequência
de reconhecimento.
Haelll
Pstl 5! .... CTGCAG
GGCC ........
3! 3! 5! .... Endonucleases de restrição
3! .... GACGTC .... 5! 3! .... reconhecem sequências espe
cíficas que podem ter frequ
ências relativamente baixas;
5! .... elas fragmentam o DNA muito
3! .... CCGG .... 5! 3! seletivamente. Por exemplo,
cegas (ou um DNA bacteriano típico com
niveladas)
3 × 106pbserá clivado em pou
FIGURA 2.44 Tipos de produtos gerados por endonucleases de restrição tipo II. cas centenas de fragmentos.
Enzimas exemplificadas por EcoR1 e PstI cortam em ambos os lados do centro de simetria do DNAs de plasmídeos podem
palíndrome, gerando prolongamentos fita única. Muitas enzimas comumente usadas geram ter poucos ou nenhum sítio de
prolongamentos-5!, embora algumas produzam extremidades com prolongamentos-3!, como clivagem para uma endonucle
mostrado para PstI. Outras endonucleases de restrição cortam através do centro de simetria ase de restrição em particular
da sequência de reconhecimento, produzindo extremidades niveladas ou cegas, como exem
(Figura 2.45). Assim, uma en
plificado por HaeIII.
donuclease de restrição espe
volveram endonucleases de restrição como defesa con cífica gera uma família singular de fragmentos, ou pro
tra infecção por fagos. A clivagem expõe o DNA viral à dutos de restrição, para uma dada molécula de DNA. A
eventual degradação por exonucleases bacterianas ines disponibilidade de enzimas de restrição e o desenvolvi
pecíficas. O DNA bacteriano pode ser protegido da cli mento de técnicas de eletroforese em gel para separar
vagem por metilação sequência-específica. Os sítios de os fragmentos de DNA tornaram a determinação de se
reconhecimento das metilases de restrição correspon quências um assunto simples (ver p. 269).
dem aos das endonucleases. A meti
lação de bases específicas nos sítios
de reconhecimento impede clivagem
pela nuclease cognata. Os sítios mais
comuns de metilação de bases são a
posição 5 da citosina e o grupo 6-NH2
da adenina. Note que a metilação de
bases também é crítica na regulação
gênica em organismos superiores.
Centenas de endonucleases de
restrição foram purificadas. Com
poucas exceções, elas reconhecem
sequências de quatro a seis nucleo
tídeos de comprimento. Endonucle
ases com sítios de reconhecimento
excepcionalmente longos promovem
poucos cortes e são valiosos em vir
tude da relativa baixa frequência
de clivagem em DNAs muito gran
des, como cromossomos eucarió
ticos. Not I, por exemplo, tem uma
sequência de reconhecimento de
oito nucleotídeos. As sequências
reconhecidas são, frequentemente,
repetições simétricas invertidas ou
palíndromes; a ordem das bases é FIGURA 2.45 Mapa de restrição do DNA de plasmídeo.
a mesma quando as duas fitas com O plasmídeo bacteriano pBR322 é um DNA circular de 4.363 pb, contendo uma origem
de replicação (ori) e genes de resistência aos antibióticos ampicilina (Apr) e tetraci
plementares do palíndrome são li
das 5!→3!. Para EcoRI de E. coli, clina (Tcr). As localizações das sequências específicas do DNA que são reconhecidas
a sequência é 5!-GAATTC-3!. Endo por várias endonucleases de restrição estão marcadas. Outras endonucleases podem
quebrar esse plasmídeo muitas vezes ou nenhuma. Por exemplo, a sequência reconhe
nucleases de restrição tipos I e III
cida por Bgl I aparece em três localizações nesse plasmídeo, enquanto Bgl II não cliva
cortam na vizinhança do sítio de re esse plasmídeo.
CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 63
A Maior Parte do DNA Procariótico revela que genes estruturais – sequências nucleotídicas
que codificam proteínas – nem sempre têm localizações
Codifica Proteínas Específicas físicas exclusivas. Ao contrário, com frequência elas
se sobrepõem umas às outras, como ilustrado pela se
Em procariotos, um grande percentual do DNA co quência parcial do bacteriófago ϕΧ174 (Figura 2.46). A
difica proteínas específicas. O genoma inteiro de E.
sobreposição permite utilização eficiente e econômica
coli consiste de cerca de 4,6 × 106 pb de DNA e contém
do limitado DNA presente e pode controlar a ordem da
~4.200 genes. Nem todos os genes codificam proteínas.
expressão dos genes.
Por exemplo, 80 genes codificam moléculas de tRNA,
e alguns não codificam nenhuma molécula funcional.
O DNA de E. coli é denso em informação de sequên Apenas uma Pequena Percentagem
cias, e há pouca repetição de informações nele. Cerca
de 1% do genoma de E. coli é composto de múltiplas do DNA Eucariótico Consiste de
cópias de sequências repetitivas curtas conhecidas Genes Funcionais
como elementos palindrômicos extragênicos repetiti
vos (REP, repeatead extragenic palindromic). Es Eucariotos têm genomas muito maiores do que pro
tes estão presentes em sítios de interação do DNA com cariotos, de cerca de 1,5 × 107 pb, para leveduras, até
proteínas funcionais, por exemplo, na região de inicia cerca de 1,15 × 1011 pb, para o genoma haploide do lírio
ção da replicação do DNA (chamada OriC). Em OriC, Fritillaria assyrinca. Os resultados do Projeto Geno
os elementos REP têm uma sequência consenso de 34 ma Humano, entretanto, indicaram que o genoma hu
nucleotídeos e ligam topoisomerase II. Elementos REP mano codifica apenas 20.000-25.000 genes. Como resul
com a sequência GCTGGTGG (sítios Chi) ligam a en tado, a informação genética não precisa ser tão densa
zima RecBCD, que inicia a recombinação do DNA. Os como em bactérias. Um DNA típico de mamíferos, com
sítios Chi ficam regularmente espaçados em intervalos apenas 7 vezes mais genes do que E. coli, contém 500
de cerca de 4.000 pb. A informação genética é ainda vezes mais DNA do que E. coli. De fato, apenas 2% a
mais densamente organizada em organismos menores, 4% do DNA de uma célula de mamífero poderia ser sufi
como bacteriófagos, onde a sequência primária do DNA ciente para todos os seus genes. Parte do DNA restante,
Proteína A.......................... Glu Ser Lys Asn Tyr Leu Asp Lys Ala Gly Ile Thr Thr
Origem da proteína K Met Ser Arg Lys Ile Ile Leu Ile Lys Gln Glu Leu Leu Leu
Sequência de nucleotídeos........................................ATG A G T C G A A A A A T T A T C T T G A T A A A G C A G G A A T T A C T A C T
51 61 71 81 91
Ala Cys Leu Arg Ile Lys Ser Lys Trp Thr Ala Gly Gly Lys Termino da proteína A
Leu Val Tyr Glu Leu Asn Arg Ser Gly Leu Leu Ala Glu Asn Glu Lys Ile Arg Pro Ile
Origem da proteína C Met Arg Lys Phe Asp Leu
G C TT G T T T A C G A A TT A A A T C G G A G T G G A C T G C T G G C G G A A A AT G A G A A A A TT C G A C C T A T
101 111 121 131 141 151
Leu Ala Gln Leu Glu Lys Leu Leu Leu Cys Asp Leu Ser Pro Ser Thr Asn Asp Ser Val
Ser Leu Arg Ser Ser Arg Ser Ser Tyr Phe Ala Thr Phe Arg His Gln Leu Thr Ile Leu
C C T T G C G C A G C T C G A G A A G C T C T T A C TT T G C G A C C TT T C G C C A T C A A C T A A C G A TT C T G T
161 171 181 191 201 211
C A A A A A CT ...................
219
FIGURA 2.46 Sequências parciais de nucleotídeos de genes contíguos e sobrepostos de fago ϕX174.
A sequência da proteína K, nucleotídeos 51-219, é apresentada nesta figura. Essa sequência codifica. Uma parte dessa sequência, os
nucleotídeos 51-133, codifica parte da proteína A. Outra parte da sequência, os nucleotídeos 133-219, codifica parte da proteína C.
Sobreposições semelhantes são observadas entre outros genes de ϕX174.
Adaptado de Smith, M.Am. Sci.67:61, 1979.
64 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
H N H
Repetições invertidas são motivos estruturais do O OH
DNA. Repetições invertidas curtas, consistindo de até PO N Citidina
seis nucleotídeos de comprimento, por exemplo, a sequên O O
N O
cia palindrômica GAATTC, ocorrem por acaso uma vez O
Cada RNA é complementar à sequência de bases de tídeos. A hélice parcial causada por empilhamento de
porções específicas de apenas uma das fitas do DNA. bases nessa alça liga-se, por pareamento de bases, a um
Portanto, ao contrário da composição em bases do DNA, códon complementar no mRNA, de modo que tradução
as relações molares (A + U) e (G + C) no RNA não são possa ocorrer.
iguais. O RNA celular é linear e de fita-única. RNA fita
dupla estável não está presente na célula. Ao contrário,
a presença RNA dupla-fita sinaliza sua destruição. Isso
parece ser parte da resposta à infecção por vírus, uma
vez que os genomas de alguns vírus são compostos por
RNA dupla-fita, e RNA dupla-fita é um intermediário na
replicação de vírus de RNA fita-única.
quência genômica da bactéria Haemophilus influen isoaceptores. Um tRNA que aceita fenilalanina seria de
zae contém genes para 54 espécies de tRNA. Mitocôn signado por tRNAPhe, enquanto um que aceita tirosina
drias sintetizam um número muito menor de tRNAs. Os seria tRNATyr.
tRNAs que aceitam o mesmo aminoácido são chamados
Os tRNAs têm 65 a 110 nucleotídeos de comprimen
to, correspondendo a uma faixa de pesos moleculares
(a)
de 22.000 a 37.000. As sequências de todas as molé
culas de tRNAs (milhares são conhecidas) podem ser
organizadas numa estrutura secundária comum em
trevo, por pareamento de bases complementares tipo
Watson–Crick, formando três estruturas em haste e
alça. A sequência triplete do anticódon está em uma
“folha” do trevo, enquanto a haste aceptora CCA está
no “caule”. Esse arranjo é preservado na estrutura
terciária do tRNAPhe (Figura 2.51), onde as hastes do
G1071
anticódon e aceptora estão cada uma em uma extre
midade da molécula em forma de L. Pontes de hidro
gênio adicionais, não-Watson–Crick, formam a estru
tura terciária da molécula em forma de L.
Os tRNAs contêm nucleotídeos modificados, por
C1100
exemplo, 7-metilguanina na posição 46 da Figu
G1091 ra 2.50. Nucleotídeos modificados afetam a estrutura
e a estabilidade, mas não são necessários para seu
funcionamento básico. Por exemplo, uma base modi
ficada vizinha ao anticódon torna o reconhecimen
to do códon mais eficiente, mas um tRNA sem essa
modificação ainda pode ser lido corretamente pelo
(b) ribossomo.
U6 U
Muitas características estruturais são comuns a
U
CU
G
... C C7 todos os tRNAs trevos. Sete pares de bases formam
C G o braço aceptor do aminoácido, que termina com o
U5 U ... G G8 triplete de nucleotídeos CCA. Esse triplete CCA não
5! 3!
tem pareamento de bases. A haste do di-hidrouracil
C4 C ... G G9 ou “haste D” tem três ou quatro pares de bases, en
C(UUCG)G tetraloop
quanto as hastes do anticódon e T têm cinco pares
de bases cada. A alça do anticódon e a alça T contêm
sete nucleotídeos. Diferenças no número de nucleotí
C deos em diferentes tRNAs ocorrem na alça variável. A
maioria dos tRNAs tem pequenas alças variáveis, de
C6
4-5 nucleotídeos, enquanto outros têm alças maiores
AC
G A com 13-21 nucleotídeos. As posições de alguns nu
C G A A7 cleotídeos são constantes em todos os tRNAs (ver as
5! 3! caixas laranjas escuras na Figura 2.50).
G5 G ... A A8
Bactérias expostas a antibióticos em situações clí Um microrganismo que produza um antibiótico tam
nicas ou agrícolas frequentemente desenvolvem resis bém deve ser imune a ele, caso contrário seria morto por
tência às drogas. Essa resistência pode surgir de uma seu próprio produto tóxico. O produtor de eritromicina,
mutação no DNA da célula alvo, o que dá origem a des Streptomyces erythreus, possui ele mesmo uma rRNA
cendentes resistentes. Um modo alternativo e clinica metilase, que age no mesmo sítio ribossômico que a de
mente mais sério de resistência surge quando plasmí S. aureus. Qual veio primeiro? É provável que muitos
deos que codificam resistência a antibióticos proliferam dos genes de resistência de organismos alvos tenham
pela população bacteriana. Esses plasmídeos podem evoluído dos de organismos produtores. Em vários ca
carregar múltiplos determinantes de resistência e tor sos, as sequências de DNA dos genes de resistência de
nar vários antibióticos inúteis ao mesmo tempo. mesma especificidade foram conservadas em organis
mos produtores e alvos. Podemos, portanto, ver resis
A eritromicina inibe a síntese de proteínas por se tência a antibióticos dependente de plasmídeos como
ligar à subunidade ribossômica grande. O Staphylococ um caso de “engenharia genética natural”, onde o DNA
cus aureus pode ficar resistente à eritromicina e a an de um organismo (p. ex., o produtor Streptomyces) é
tibióticos semelhantes como resultado de uma RNA me apropriado e expresso em outro organismo (p. ex., o
tilase codificada em plasmídeo, que converte uma única alvo Staphylococcus).
adenosina do rRNA 23S em N6-dimetiladenosina. Como
o mesmo sítio ribossômico liga lincomicina e clindami
cina, o plasmídeo causa resistência cruzada a esses an Cundliffe, E. How antibiotic-producing microorganisms avoid
tibióticos também. A síntese da metilase é induzida por suicide. Annu. Rev. Microbiol. 43:207, 1989.
eritromicina.
70 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
3! 2!
O(CH3 or H)
RNA
RNA em Partículas
Ribonucleoproteicas
O
Outras espécies de RNAs, pequenas e estáveis, po
dem ser encontradas no núcleo, no citosol e nas mito O O–
de modo semelhante a ligação fosfodiéster éxon–íntron como transportador da informação genética. Isso levan
da extremidade aceptora do íntron. Íntrons desse tipo tou a possibilidade de que os primeiros organismos vi
(íntrons do Grupo I) foram encontrados em vários ge vos possam ter sido baseados inteiramente em RNA, e
nes de mitocôndrias de fungos, em bactérias e no bac que o DNA e as proteínas tenham evoluído mais tarde.
teriófago T4. Embora esses íntrons não sejam enzimas Esse modelo é às vezes chamado o “mundo do RNA”.
verdadeiras in vivo porque só funcionam em um ciclo Segundo, sabemos que muitos vírus, incluindo pató
de reação, podem realizar reações catalíticas em condi genos humanos, usam informação genética em RNA;
ções especiais. demonstrou-se que alguns desses RNAs são catalíticos.
Portanto, o RNA catalítico oferece oportunidades para
Íntrons de auto-splicing do Grupo II estão presen a descoberta de fármacos baseados em RNA. Terceiro,
tes nos precursores de RNA mitocondrial de leveduras muitos dos eventos de processamento de informação no
e outros fungos. Embora esses RNAs façam auto-spli splicing do mRNA requerem RNA componentes. Esses
cing, existem muitos paralelos entre essa reação e a re RNAs também podem estar agindo como catalisadores.
moção de íntrons dos precursores de mRNA durante o
processamento.
Os RNAs que se autoclivam do Grupo III são encon 3! 5!
ppp
Haste III HO
trados nos RNAs genômicos de diversos vírus. Esses 15.5U dA16.5
15.4G dC16.4
RNAs clivam a si mesmos durante a geração de molé
15.3C dG 16.3
culas de RNA genômico únicas a partir de precursores 15.2C
15.1 dG16.2 Sítio de
clivagem
multiméricos grandes. A estrutura tridimensional da L2.4 4
. 1
.
1
A dTdC
. 3
. . 5. . 7
1 1 1 1 1 1
.
A 1 1 13 A
ribozima cabeça de martelo, um membro dessa tercei L2.3
A G1G CC G A
14 1. 2 dC4dG dCdC
dGdGdT
1716.1
1 6 OH 3!
12
ra classe, foi determinada (Figura 2.57). Embora o ci A GGCC C C GA C G G7ppp
C .1 2 5!
3
. . 5
4 . 6
. .
L2.2
G 4
. . 3 2 .2 2 2 2 2 2
clo catalítico não esteja completamente determinado, 0 0A U
L2.1 1 19 4
G G Haste I
o grupo amino de uma citosina desempenha um papel II
Haste 1
8 U 6
7
A 5
O N O
N
CH3 CH3
N O H
H3C N H3C N N
O N N
CH3
Cafeína Teofilina
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CAPÍTULO 2 DNA E RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 75
Termos Chaves
A-DNA dogma central mRNA RNA pequeno inibitório
adenina DNA nucleosídeo rRNA
aptâmero DNA repetitivo nucleossomo splicing
B-DNA dupla hélice nucleotídeo superenrolamento
cap do mRNA empilhamento de bases pares de bases Watson–Cri telômero
cauda de poli(A) éxon ck temperatura de fusão
centrômero fosfodiéster partícula de ribonucleopro timina
guanina replicação
renaturação
polinucleotídeopós-transcripcional
policistrônico
teína
citosina topoisomerase
complementaridade hibridização transcrição
cromatina histona tRNA
cromossomo íntron uracil
desnaturação micro RNA Z-DNA
desoxirribose monocistrônico
ribozima
Respostas
1. C Ambos A e B descrevem exonucleases. D re certas proteínas. C: o DNA dobrado é dupla-fita. E:
fere-se especificamente a uma endonuclease de o Z-DNA não tem fenda maior proeminente, e a do
restrição, e não é uma definição do tipo geral. E: bra é na direção da fenda maior.
ambas, endo e exonucleases, apresentam especifi
8. B Pontes Hoogsteen em tripletes TAT e GGC são
cidade quanto à ligação hidrolisada.
responsáveis por manter a terceira fita na fenda
2. B Dá uma contribuição importante para a estabi maior. A: são encontrados frequentemente em re
lidade da dupla-hélice. A: a ligação entre nucleotí giões envolvidas na regulação de genes. C: a sequ-
deos é sempre entre o 5!-OH de um com o 3!-OH do ência necessária é uma sequência de homopurinas.
outro. C: o arranjo antiparalelo permite que os nu D: também podem se formar intramolecularmente
cleotídeos opostos fiquem na posição correta para por desdobramento e redobramento do DNA. E:
estabelecer pontes de hidrogênio. D: cada par, na um cruciforme é uma conformação alternativa do
ponte de hidrogênio, deve estar na forma tauto DNA, mas não envolve uma terceira fita.
mérica correta, de modo que um seja o doador e o
9. A Atopoisomerase Irelaxa o DNA, e a topoisome
outro, o aceptor. E: as fendas são diferentes, com a
rase II gera superenrolamentos. B: a topoisomerase
fenda maior sendo mais larga do que a fenda menor.
I quebra uma fita, mas a topoisomerase II quebra
3. B A sequência de purinas-pirimidinas alternadas ambas as fitas. C: a topoisomerase I remove supe
é importante. A: esta é a forma B, mais flexível. C: é renrolamento. D: a topoisomerase II usa ATP, mas
mais provável que seja encontrado na extremidade a topoisomerase I não. E: girases são encontradas
5!, consistente com uma de suas funções propostas só em bactérias.
na regulação da transcrição. D: a metilação favore
10. E Essas alças são ligadas a um arcabouço de pro
ce a forma Z, na qual o metil é protegido da água.
E: a transição B para Z é influenciada por eventos, teínas. A: cromatina é encontrada em eucariotos,
nucleoide em procariotos. B: um cromossomo hu
como metilação.
mano contém um único DNA. C: ocorre adição e
4. A A estrutura “bolinhas num fio” é chamada po quebra de superenrolamentos. D: polissomos orga
linucleossomo. B: histonas formam o cerne (core) nizam-se em fibras de 10 nm e, depois, em fibras de
com o DNA do lado de fora. C: todos os cinco tipos 30 nm que, por sua vez, empacotam mais.
de histonas estão presentes, quatro no cerne e uma
11. A Quando o DNA desenrola e realinha, uma cópia
do lado de fora. D: as regiões de ligação são DNA.
E: proteínas que regulam a expressão gênica e ou de uma repetição direta em uma fita pareia com
uma cópia adjacente da outra fita. B, C, D, E: es
tras atividades ligam-se à fenda maior. Histonas
tas são outros tipos de estruturas importantes no
ligam-se à fenda menor.
DNA.
5. C O empilhamento estabiliza a hélice fita única.
As porções dobradas da estrutura têm pareamen 12. D A, B: estes são dois de vários tipos de DNAs,
mas não constituem padrões. C e E: Alu é um tipo
to de bases por pontes de hidrogênio. A: apenas as
de repetição dispersa curta. Repetições dispersas
quatro bases A, G, U e C são incorporadas durante
curtas e longas são as duas classes de DNA mode
a transcrição. B: embora fita única, o RNA apresen
radamente repetitivo.
ta considerável estrutura secundária e terciária. D:
só o tRNA seria assim pequeno. E: isso ocorre nas 13. Bases púricas e pirimídicas não-empilhadas têm
regiões helicoidais intracadeia. densidade óptica relativa mais alta do que bases
empilhadas, de modo que a forma mais desenro
6. B Ribozimas são um tipo muito específico de
lada do DNA teria o valor mais alto. Tm é o ponto
partícula. A: ver comentário anterior. C: uma das
do meio da transição entre DNA dupla-fita e DNA
quatro classes, RNase P, catalisa uma reação de cli
separado. Conteúdo mais alto de G-C significa que
vagem. D: cristalografia de raios-X demonstrou que
o DNA é mais estável, de modo que sua Tm seria
não há nenhuma cadeia de aminoácidos suficien
mais alta.
temente próxima para catalisar a formação da li
gação peptídica. E: ribozimas foram implicadas no 14. Quartetos-G contêm um arranjo planar de gua
processamento do RNA ribossômico e de tRNAs. ninas interconectadas por pontes de hidrogênio
Hoogsteen, que podem empilhar umas sobre as
7. B O DNA dobrado pode ser um sítio de reconhe
outras para formar uma estrutura multicamadas.
cimento para que proteínas específicas se liguem.
São estabilizadas por Na+ e K+. Telômeros contêm
A e D: DNA dobrado ocorre naturalmente em se
800-2.400 cópias da sequência necessária, rica em
quências de 4 a 6 adenosinas separadas por espa
G d(TTAGGG)n.
çadores ou é induzida por interações do DNA com
78 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE I CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 79
ESTRUTURA DE MACROMOLÉCULAS
3
Proteínas I:
Composição e estrutura
Richard M. Schultz
Professor Titular, Stritch School of Medicine, Loyola University of Chicago
Conceitos Chaves
• Dois tipos de aminoácidos compõem polipeptíde • Os aminoácidos nas cadeias polipeptídicas são uni
os: aminoácidos comuns e derivados. Aminoácidos dos por uma ligação peptídica, que conecta o grupo
comuns têm um átomo de carbono central ao qual ácido α-carboxílico de um aminoácido com o grupo
é ligado um grupo amino, um grupo ácido carboxí α-amino de um segundo aminoácido.
lico, um átomo de hidrogênio e um grupo de cadeia
• Aminoácidos e proteínas têm propriedades ácido
lateral.
-base e de cargas correspondentes que determi
nam suas atividades biológicas e são usadas para
caracterização e purificação.
80 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
• Uma proteína é definida por sua estrutura secun • Uma proteína dobra-se até atingir sua conformação
dária, terciária e quaternária. a-Hélices e b-estru de menor energia livre de Gibbs, dentro dos limites
turas são estruturas secundárias estáveis comuns cinéticos, sob o controle de forças não covalentes.
encontradas em proteínas dobradas. As estruturas das proteínas dobradas são dinâmi
•
• Domínios de proteínas globulares são formados cas, com os átomos flutuando e girando em torno
por motivos estruturais e dobras características. de posições médias.
• Proteínas nas células estão presentes em comple • Proteínas são purificadas e caracterizadas por téc
xos, que são organizados em redes e participam de nicas que utilizam carga e peso molecular. A es
interactomas. trutura de proteínas é caracterizada por técnicas
Algumas proteínas são intrinsecamente não-es espectrais, ópticas e de difração de raios-x.
•
truturadas, o que é necessário para suas funções • Técnicas de proteômica determinam a expressão
biológicas. de milhares de proteínas em uma célula ou um te
cido, em um único ensaio.
• Proteínas não globulares incluem proteínas fibro
sas, como o colágeno, com sequência de aminoáci
dos repetitiva e hélice incomum, com geometria em
forma de bastão.
FIGURA3.1 A informação genética é transcrita de uma Prolina é singular porque incorpora o a-amino gru
sequência de DNA para mRNA e então é traduzida para po em sua cadeia lateral e é mais precisamente classifi
a sequência de aminoácidos de uma proteína. cada como um a-iminoácido, uma vez que sua a-amina
82 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
Monoamino, monocarboxílico
Não substituído
H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3N
+ C H
H3H
H CH3 H3 CH CH2 H3C CH2
CH
Glicina H3H
L-Alanina C CH3
L-Valina C
L-Leucina L-Isoleucina
H3 CH3 CH3
H3 Monoamino,
Heterocíclico
H dicarboxílico
Hidroxi Aromático Diamino, monocarboxílico Tioéter
H2CCH2
N H + COO– H3H
+ COO– + COO– COO–
NC
H2C + C H3NCH H3NCH +
H3NCH
H2 COO– CH2 CH2 CH2 CH2
CH2
S
HN CH3
OH
L-Prolina L-Fenilalanina L-Tirosina L-Triptofano L-Metionina
N
+ C H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+ H3NCH
+
COO– CH2
COO– CH2 CH2 HN NH++
NH
CH2
+NH3 H2N
+ C
NH2
FIGURA 3.3 Estruturas dos aminoácidos comuns. As formas carregadas são as presentes em pH 7,0.
é uma amina secundária, com seu nitrogênio-a tendo do carbono-a (Figura 3.5). No glutamato (Figura 3.5),
duas ligações covalentes com carbono. A incorporação o grupo é separado por dois átomos de carbono meti
do nitrogênio a-amino em um anel de cinco membros leno (—CH2—CH2—) do carbono-a (Figura 3.5). Em
limita a liberdade de rotação em torno da ligação — pH fisiológico, esses grupos são desprotonados e car
Na—Ca— da prolina e, assim, limita a participação da regados negativamente. O ácidos dibásicos-monocar
prolina em conformações específicas da cadeia polipep boxílicos são a lisina, a arginina e a histidina (Figura
tídica. 3.3). Nestes, o grupo R contém um ou dois átomos de
nitrogênio que agem como uma base ligando um pró
Os aminoácidos descritos até agora contêm cadeias ton. Na lisina, a cadeia lateral é uma N-butilamina. Na
laterais que não são carregadas em pH fisiológico. Os arginina, a cadeia lateral contém um grupo guanidino
ácidos dicarboxílicos-monoamino contêm um grupo (Figura 3.6) separado do carbono-a por três átomos
carboxílico em sua cadeia lateral. No aspartato, esse de carbono metileno. Tanto o grupo guanidino da ar
grupo é separado por um carbono metileno (—CH2—) ginina como o grupo e-amino da lisina são protonados
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 83
em pH fisiológico (~7) e carregados positivamente. Na selenocisteína (Figura 3.3), com um códon especí
histidina, a cadeia lateral contém uma estrutura hete fico no mRNA e tRNA que coloca selenocisteína em
rocíclica de cinco elementos, o grupo imidazol (Figura cadeias polipeptídicas durante a tradução do mRNA,
3.6). O pK!a do grupo imidazol é aproximadamente 6,0 foi demonstrado. A selenocisteína é estruturalmente
em água; portanto, soluções fisiológicas contêm con semelhante à cisteína, mas com um átomo de selênio
centrações relativamente altas de ambas as formas bá substituindo o átomo de enxofre. Uma dificuldade com
sica (imidazol) e ácida (imidazólio) da cadeia lateral o códon da selenocisteína é que ele é idêntico a um
da histidina. dos códons de terminação, que se traduz num sinal de
parada da tradução. Portanto, esse códon, UGA, tem
dois significados. O códon codifica um sinal de parada
CH3 da tradução na grande maioria das vezes, mas em con
H Cβ
textos especiais de RNA, codifica a incorporação de
CH3
Grupo R isopropil da valina
selenocisteína em uma sequência polipeptídica. Esses
casos são raros, uma vez que apenas 25 genes foram
identificados no genoma humano, que codificam pro
CH3 H teínas que incorporam selenocisteína. Além disso, en
HCγ Cβ quanto selenocisteína-proteínas são encontradas em
CH3 H todos os animais, o códon não é universal, uma vez
que não está presente em plantas superiores, levedu
Grupo R isobutil da leucina
ras e na maioria das bactérias. Em estudos animais, o
nocaute (knockout) do gene do tRNA de selenocisteí
CH3 na é letal, inferindo-se que a selenocisteína é essencial
CH3CH2 Cβ para a vida em espécies animais. Muitas das seleno
H proteínas têm um papel antioxidante na eliminação de
Grupo R isobutil da isoleucina espécies reativas de oxigênio.
NH2 C NH
–O
Grupo guanidina (forma carregada) da arginina
CCH2
O
HC C
Grupo R do aspartato
HN+ NH
–O C
H
C CH2 CH2
Grupo imidazólio da histidina
O
Grupo R do glutamato
FIGURA 3.6 Grupos guanidina e imidazólio de arginina e
histidina.
FIGURA 3.5 Cadeias laterais de aspartato e glutamato.
Letras
Três Uma CH2
Letra + SH
C
+H2 +
–2H S
S
Alanina Ala A
SH
CNH+3 CNH+3
Arginina Arg R CH2
Asparagina Asn N H
Aspartato Asp D COO– COO–
Cisteína Cys C
FIGURA3.7 Formação da ligação cistina.
Glicina Gly G
Glutamina Gln Q
te a um carbono-α. Um átomo de carbono com quatro
Glutamato Glu E substituintes diferentes numa configuração tetraédrica
Glutamina ou glutamato Glx Z é assimétrico e existe em duas formas enantiomorfas.
Portanto, todos os aminoácidos apresentam isomeria
Histidina His H
óptica, exceto glicina na qual R = H e, portanto, dois
Isoleucina Ile I dos quatro substituintes do átomo de carbono-α são hi
Leucina Leu L drogênio. A configuração absoluta de um aminoácido
é apresentada na Figura 3.8, usando a projeção de Fis
Lisina Lys K cher para mostrar a posição no espaço dos substituin
Metionina Met M tes do carbono-α arranjados num tetraedro. O grupo
α-COO– é direcionado para cima e para trás do plano da
Fenilalanina Phe F
página, e o grupo R está direcionado para baixo e para
Prolina Pro P trás do plano da página. Os grupos α-H e α-NH3+ estão
Selenocisteína Sec U na direção ao leitor. Um aminoácido assim posiciona
a direita
do projetadoseu
átomo
grupo
deα-NH 3+ paraPor
carbono-α. a esquerda ou para
convenção,
Serina Ser S
se o
Treonina Thr T α-NH3+ estiver projetado para a esquerda, o aminoáci
Triptofano Trp W do tem configuração absoluta L. Seu enantiômero, com
α-NH3+ projetado para a direita, tem uma configuração
Tirosina Tyr Y absoluta D. As proteínas de mamíferos contêm aminoá
Valina Val V cidos apenas com configuração L. As designações L e D
referem-se à capacidade de girar luz polarizada para a
esquerda (L, levo) ou direita (D, dextro) a partir de seu
Cistina É um Aminoácido Derivado plano de polarização. Como os aminoácidos das pro
teínas são assimétricos, as proteínas que os contêm
Produzido pela Oxidação de Dois Resíduos
também apresentam propriedades assimétricas.
de Cisteína
Um aminoácido derivado encontrado em muitas
proteínas é a cistina. É formado pela oxidação de duas COO– COO–
cadeias laterais tiol de duas cisteínas, formando uma
ligação covalente dissulfeto (Figura 3.7). Em proteí NH3
+ C H
HC
NH+3
nas, ligações dissulfeto de cistina formada a partir de
resíduos de cisteína, separadas uma da outra na cadeia R R
NH3 H H
FIGURA 3.11 Resíduo de aminoácido numa cadeia
+ C COO– + NH C
+ 3COO– polipeptídica.
R1 R2 Cada resíduo de um polipeptídeo contribui com duas ligações
simples e uma ligação peptídica para a cadeia. As ligações sim
– H2O ples são aquelas entre o Ca e os átomos C! carbonílicos e os
átomos Ca e N. Ver p. 96 para definição de f e y.
H O R2 H
A ligação peptídica da Figura 3.12a mostra uma con
NH
+ 3 CCNCCOO– + NH3CCOO–
+
figuração trans de seus átomos de oxigênio (O) e hi
R1 HH R3 drogênio (H). Essa é a configuração mais estável, com
as duas cadeias laterais de resíduos adjacentes (R e R!)
Dipeptídeo
também em trans. A configuração cis (Figura 3.12b)
– H2O traz os dois grupos das cadeias laterais para o mesmo
lado da ligação C!=N, que é desfavorável em virtude do
H O R2 O H impedimento estérico entre os grupos R. Consequente
CCNC
+
NH3CNCCOO–
mente, ligações peptídicas trans ocorrem em proteínas,
exceto quando há resíduos de prolina. Na prolina, a ca
R1 HH
TripeptídeoH R3 deia lateral inclui o grupo a-amino, e ambas as configu
rações da ligação peptídica, cis e trans, com o a-imino
grupo da prolina têm interações desfavoráveis com o
FIGURA 3.9 Formação da ligação peptídica. carbono-a do aminoácido adjacente que está formando
86 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
a ligação peptídica com o a-imino. Por conseguinte, a li é o aminoácido NH2-terminal do tripeptídeo e é o resí
gação peptídica de prolina em uma cadeia polipeptídica duo de aminoácido 1 da sequência. A prolina é o amino
não-estruturada ou desnaturada terá quantidades sig ácido COOH-terminal e é o resíduo 3. A direção definida
nificativas de sua ligação peptídica em configurações da cadeia polipeptídica é de Glu para Pro (aminoácido
trans e cis. A configuração da ligação peptídica da pro NH2-terminal para aminoácido COOH-terminal).
lina em uma proteína dobrada depende das forças sobre
a ligação da prolina geradas pela estrutura tridimensio
nal da molécula de proteína específica na qual a prolina
3.3 PROPRIEDADES DE
está inserida.
CARGAS E QUÍMICAS
H
DE AMINOÁCIDOS E
R
PROTEÍNAS
α-Ci
H
Grupos Ionizáveis de Aminoácidos e
Proteínas São Críticos para a Função
C´ N
Ligação
Biológica
peptídica Os grupos ionizáveis comuns a proteínas e aminoáci
O α-Ci +1 dos são mostrados na Tabela 3.3. As formas ácidas estão
à esquerda do sinal de equilíbrio, e as formas básicas do
R′ H lado direito. Ao formar sua base conjugada, a forma áci
da libera um próton. Ao contrário, a forma básica asso
(a) configuração trans cia-se com um próton para formar o respectivo ácido. A
dissociação de um ácido é caracterizada por uma cons
tante
= log (1/K!a
de dissociação ácida (K!a) e seu valor de pK!a:pK!a
H H
R R′
). A Tabela 3.3 mostra a faixa de valores de
pK!a para cada grupo ácido, porque o pK!a real depende
α-Ci α-Ci +1 do meio no qual o grupo ácido está colocado. Por exem
plo, quando um grupo amônio carregado positivamente
(—NH3+) é colocado perto de um grupo carregado nega
tivamente em uma proteína, a carga negativa estabiliza
C´ N a forma ácida carregada positivamente, tornado mais di
fícil
o pK!a
a dissociação
incluem a polaridade
do seu próton.
do ambiente,
O pK!a doa —NH3
ausência
+ terá
ou
Ligação
peptídica
um valor maior do que o normal para um grupo amônio
H na ausência de uma estabilização por uma carga negati
O va de estabilização próxima. Outros fatores que afetam
(b) configuração cis
presença de água e o potencial para formação de pontes
FIGURA3.12 (a) Ligação trans-peptídica e (b) a rara de hidrogênio. Além disso, grupos ácidos (a-COOH ou
ligação cis-peptídica. a-NH3+) nas extremidades dos polipeptídeos tipicamen
C!-N tem caráter parcial de dupla ligação. te têm um valor de pK!a mais baixo do que os mesmos
tipos de grupos ácidos nas cadeias laterais (Tabela 3.4).
Um dos maiores polipeptídeos humanos é a proteína Os aminoácidos cujos grupos R contêm átomos de nitro
muscular titina, que contém cerca de 27.000 resíduos gênio (Lys e Arg) são os aminoácidos básicos, uma vez
de aminoácidos em uma única cadeia polipeptídica. O que sua cadeias laterais têm valores relativamente altos
comprimento da cadeia por si só, entretanto, não de de pK!a e funcionam como bases em pH fisiológico. Eles
termina a função de um polipeptídeo. Muitos peptídeos estão geralmente em sua forma ácida e são carregados
pequenos de menos de 10 aminoácidos desempenham positivamente em pH fisiológico. Aminoácidos cujas ca
importantes funções bioquímicas e fisiológicas no ho deias laterais contém um grupo carboxílico têm valores
mem (Tabela 3.2). As estruturas primárias são escri de pK!a relativamente baixos, que facilmente perdem
tas de uma forma padrão, convencional, e numeradas seus prótons e são aminoácidos acídicos. Estão predo
sequencialmente da extremidade NH2-terminal para a minantemente em sua forma desprotonada e carregada
extremidade COOH-terminal, consistente com a ordem negativamente em pH fisiológico. Proteínas nas quais a
de adição dos aminoácidos à cadeia durante a biossín razão (ΣLys + ΣArg)/(ΣGlu + ΣAsp) é maior do que 1
tese. Assim, para o hormônio liberador de tirotropina são proteínas básicas. Proteínas nas quais a razão é me
(Tabela 3.2), o resíduo de ácido glutâmico da esquerda nor do que 1 são proteínas acídicas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 87
A Forma Iônica de um Aminoácido ou uma Consequentemente, a enzima terá 50% de sua ativi
Proteína Pode Ser Determinada em Dado dade potencial. Em pH 7,0, a razão [imidazol]/[imida
zólio] é 10:1 (Tabela 3.5), e a enzima apresenta 10/(10
pH
+ 1) × 100 = 91% de sua atividade potencial máxima.
Do valor do pK!a de cada grupo ácido em um ami Portanto, uma mudança no pH tem um efeito drástico
sobre a atividade da enzima.
noácido ou proteína e pela equação de Henderson–
Hasselbalch (Figura 3.13), a forma iônica da molécula
pode ser calculada em um dado pH. Essa é uma equa
ção importante porque mostra a mudança no estado
pH = pKa + log [base conjugada]
de ionização e na carga da molécula com o pH. As ati
[ácido conjugado]
vidades fisiológicas de uma molécula diferem com mu
or
danças no pH e no estado de ionização. Por exemplo,
algumas enzimas requerem o imidazol de uma histidi [base conjugada]
pH – pKa = log [ácido conjugado]
na em sua forma básica para atividade catalítica. Se o
pK!a dessa histidina é 6,0, em pH 6,0 metade das mo
léculas da enzima estarão na forma básica ativa (imi FIGURA3.13 Equação de Handerson–Hasselbalch.
dazol) e metade na forma ácida inativa (imidazólio). (Para uma discussão mais detalhada dessa equação, ver p. 8).
88 º PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
TABELA 3.3 Valores de pKa característicos para os Grupos Ácidos Comuns em Proteínas
Faixa Aproximada
Onde o Grupo Ácido É Encontrado Forma Ácida Forma Básica de pKa
Para o Grupo
R— C CH R— C CH
H H 60-70
Imidazólio Imidazol
• • • R R O + HT
Cadeia lateral de tirosina = 9,5—10,5
Fenol FenolatO
TABELA 3.4 pKa da Cadeia Lateral e Grupos Ácidos COOH COO- COO
Terminais em Ribonuclease …-- # H NH3 *-* --OHT …-- H
--
—NH3 —COOH * #… #…
Cadeia lateral Lisina = 10,2 Glu e Asp = 4,6 cº-º-º cº-º-º cº-º-º
CH3 CH3 CH3
mostra que o pH (quando o a-COOH está metade titula Titulação de um Ácido Monoamino
do) é diretamente igual ao pKa(a-COOH) (Figura 3.15). Dicarboxílico
Adição de 1 equivalente de base em pH 6,0 titula Um exemplo mais complicado é o ácido glutâmico.
completamente o a-COOH, mas não tem nenhum efeito Com mostram as Figuras 3.16 e 3.17, no ácido glutâmico
sobre o grupo a-NH+.3 Na forma resultante (II), as car dopK!
o a-NH
a do 3a-COOH
+ é é 2,2, o pK!a do g-COOH é 4,3, e o pK!a
gas negativa e positiva se anulam mutuamente e a carga 9,7. A forma zwitteriônica é gerada após
final é zero. A forma II é a forma zwitterion, a forma iô adição de 1,0 equiv de base à forma de pH baixo, e o
nica na qual o total das cargas positivas é igual ao total pH isoelétrico (pI) é calculado a partir da média dos
de cargas negativas. Como a carga final de uma molécu dois valores de pK!a que controlam os limites da forma
la zwitteriônica é zero, ela não migrará em um campo zwitteriônica:
elétrico. Adição posterior de 0,5 equiv de base à forma
= 2,4 + 4,3
zwitteriônica (total de base adicionada é 1,5 equiv) ti pI = 3,25
tularão
grupo
zão [NHaa-NH
metade(Figura
3+ 3+]
2]/[NH =dos
1, egrupos
o
3.15). igual+.3ao
pH éa-NH
Adição mais
Nesse
devalor 0,5pK!
ponto,
do aa ra
equiv 2
do
Consequentemente, em valores de pH acima de 3,25,
a molécula assume uma carga final negativa, até que,
de base (total de dois equiv de base adicionados; Figura em pH elevado, adquira carga final –2. Em pH < 3,25,
3.15) titula completamente o grupo a-NH+3 para sua for ácido glutâmico é carregado positivamente, e em pH ex
ma básica (a-NH2). O pH fica superior a 11, e a espécie
tremamente baixo, tem carga final positiva de +1.
molecular predominante tem uma carga negativa de -1
(forma III).
Relação Geral entre as Propriedades
É útil calcular o pH no qual um aminoácido está
em sua forma zwitteriônica. Esse pH é o pH isoelétrico de Carga de Aminoácidos e
da molécula, representado por pI. O valor de pI é uma
constante para um composto em uma força iônica e Proteínas e pH
temperatura definidas. Para moléculas de aminoácidos A relação entre pH e carga para leucina e glutamato
simples, como a leucina, o pI é calculado como a média é verdadeira para os outros aminoácidos. Em pH abai
dos dois valores de pK!a que regulam os limites da forma xo do pI, a molécula é carregada positivamente. Em
zwitteriônica. Para leucina: pH acima do pI, é carregada negativamente. O grau de
carga positiva ou negativa é uma função da magnitude
pKaCOOH2+ pKaNH+3 = 2,4+
2 9,6 da diferença entre pH e pI. Como proteínas são polie
pI = = 6,0
letrólitos complexos que contêm muitos grupos ionizá
veis que regulam a forma zwitteriônica, cálculo do pH
Em pH > 6,0, a leucina tem uma carga parcial nega
isoelétrico de uma proteína a partir de seus múltiplos
tiva que aumenta em pHs mais elevados, até uma car
valores de pK!a ácidos utilizando a relação Henderson–
ga negativa total de –1 (forma III) (Figura 3.14). Em
Hasselbalch é difícil. Assim, valores de pI de proteínas
pH < 6, tem uma carga parcial positiva até que, em um
são medidos experimentalmente por determinação do
pH muito baixo, fique com carga +1 (forma I) (Figura
valor de pH no qual a proteína não migra em um campo
3.14). A carga parcial em qualquer pH pode ser calcu
elétrico. Valores de pI de algumas proteínas são dados
lada a partir da equação de Henderson–Hasselbalch ou
na Tabela 3.6.
pela extrapolação da curva de titulação da Figura 3.15.
Como para aminoácidos, em um pH acima do seu
pI, uma proteína tem uma carga líquida (net charge)
negativa. Em um pH abaixo do seu pI, tem carga líqui
2.0 da positiva (Figura 3.18). A magnitude da carga líquida
HNaesdOtlEquivn 1.5
0.50
1.0 2.0pKCOOH
4.0 6.0
pl=6.00
8.0 10.0
pKNH3
12.0+ 14.0
COOH +OH– + C
COO–
H + COO– COO–
+H+ 0
NH3 CH2 +OH–
+H+ NH3CCH2 H +OH–
+H+ –2
NH3 C H 2,2 pH^ 4,3 pH^ NH2 C H
+ CH2 CH2
3.0
Aminoácidos e Proteínas Podem Ser
2.5 Separados com Base em Valores de pI
H As técnicas de eletroforese, focalização isoelétrica e
O2.0
a
N cromatografia de troca iônica separam e caracterizam
e
d1.5
s
e
moléculas biológicas com base em seus pIs (p. 89). Na
t pKα-COOH
n clínica médica, a separação eletroforética de proteínas
e
l 1.0
a
v
i
u
pI = 3.25 plasmáticas levou à sua classificação com base em sua
q
E0.5 mobilidade eletroforética relativa. A separação de pro
pKγ-COOH pKNH+3 teínas plasmáticas é comumente feita em pH 8,6, que
é mais alto do que os valores de pI das principais pro
0 2 4 6 8 10 12 14
pH teínas. Consequentemente, as proteínas estão carre
gadas negativamente e migram em direção ao ânodo
FIGURA3.17 Curva de titulação do ácido glutâmico. em uma velocidade dependente de sua carga líquida. A
A linha observada (vermelha) esconde as titulações do pK!g e Figura 3.20 mostra uma eletroforese de proteínas plas
pKa, que são muito próximos para serem observados indivi máticas em um gel de agarose em pH 8,6, que separa
dualmente. As titulações desses grupos são mostradas na linha as proteínas em cinco bandas clássicas, usadas para
azul sobreposta. classificar as proteínas plasmáticas. Por ordem de mi
b-
gração, as principais
e g-globulinas (Figura
frações Algumas
3.20).são albumina,
dessas
a1-,
bandas
a2- e
aumenta à medida que a diferença entre o pH e o pIau
menta. Um exemplo é a albumina plasmática humana, representam, na verdade, dezenas a centenas de pro
com 585 resíduos de aminoácidos incluindo 61 gluta teínas diferentes, com migrações semelhantes em pH
matos, 36 aspartatos, 57 lisinas, 24 argininas e 16 his 8,6. Entretanto, certas proteínas predominam em cada
tidinas. A curva de titulação é apresentada na Figura banda, e variações em suas quantidades relativas são
3.19. O pI da albumina é 5,9, pH no qual a carga líquida características de certas doenças (Figuras 3.20 e 3.21,
é zero. Em pH 7,5, os grupos imidazólio das histidinas e Correlação Clínica 3.1).
estão parcialmente titulados, e há uma carga negativa
de -10. Em pH 8,6 a carga líquida é aproximadamente
-20, e em pH 11, é aproximadamente -60. Em pH 3, a 0
carga líquida aproximada é +60.
+80
AIb IgG
C1r FB Aminoácidos Sofrem Várias
Reações Químicas
FIGURA3.20Padrão eletroforético em gel de agarose de proteínas
plasmáticas em pH 8,6. Aminoácidos em proteínas reagem com
A migração ao longo do eixo horizontal da direita para a esquerda (cátodo para vários reagentes que podem ser usados para
ânodo), com proteínas de maior mobilidade próximas do ânodo. A intensidade investigar a função de cadeias laterais espe
das bandas ao longo do eixo vertical mostra a concentração das proteínas.
cíficas. Algumas reações químicas comuns
Diferentes proteínas principais são identificadas abaixo de seus picos de mo
são apresentadas na Tabela 3.7. Reagentes
bilidade eletroforética. f designa o pico do fibrinogênio, que está presente no
plasma, mas ausente no soro. Em alguns géis, a banda da g-globina é separada que modificam as cadeias laterais ácidas
em duas bandas g1 e g2 (não mostrado aqui). foram sintetizados para se ligarem a sítios
Os picos de proteínas importantes contidas nas bandas do gel de agarose são específicos na estrutura de uma proteína,
desenhados nesta figura. As áreas dos picos desenhados mostram sua concen como o sítio de ligação ao substrato. A es
a1
tração relativa e posição no gel. Abreviaturas: a1Ac = a1-antiquimotripsina; tratégia é modelar as características estru
Ag = glicoproteína ácida a1; a1At = a1-antitripsina; a2-M = a2-macroglo turais do substrato natural da enzima no re
bulina; a-Lp = a-lipoproteína; Alb = albumina; AT3 = antitrombina III, b-Lp agente que causa a modificação. O reagente
= b-lipoproteína; componentes do complemento C1q, C1r, C1s, C3, C4 e C5
liga-se ao sítio ativo como um substrato na
= como designado; C1Inh = inibidor de C1 esterase; Cer = ceruloplasmina;
tural e reage com uma cadeia lateral especí
CRP = proteína C-reativa; Gc = globulina Gc (proteína de ligação a vitamina
D); FB = fator B; Fibr = fibrinogênio; Hpt = haptoglobina; Hpx = hemopexina; fica. Isso identifica o aminoácido modificado
imunoglobulinas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM = como designado; IaTI = inibidor de como estando localizado no sítio de ligação
inter-a-tripsina; Pl= plasminogênio; PreA = pré-albumina; e Tf = transferrina. do substrato e ajuda a identificar seu papel
Redesenhado a partir de McPherson, R. A. Em: McPherson, R. A. e Pincus, na catálise.
M. R. (Eds.), Henry’s Clinical Diagnosis and Management by Laboratory
Methods. 21. ed., Capítulo 19. Philadelphia: Saunders-Elsevier, 2007.
92 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
A análise eletroforética das proteínas plasmáti A Proinsulina é produzida em células das ilhotas
cas é comumente utilizada no diagnóstico de doen pancreáticas como uma cadeia polipeptídica única
ças. Eletroforese de plasma, tamponada em pH 8,6, contendo 86 aminoácidos e três ligações dissulfeto
separa as principais proteínas plasmáticas, à medi cistina intracadeias (Figura 3.23). É transformada
da que migram para o ânodo no campo elétrico em na insulina biologicamente ativa por clivagem proteo
bandas ou picos, com base em suas diferenças de lítica antes de sua secreção das células das ilhotas. A
cargas (ver texto). Exemplos de padrões eletrofo proinsulina é clivada por proteases presentes nas cé
réticos anormais são apresentados na Figura 3.21. lulas das ilhotas, entre os resíduos 30 e 31 e 65 e 66.
Uma resposta imediata que ocorre ao estresse ou à Isso libera duas moléculas, um fragmento de 35 resí
inflamação causada por infecção, agressão ou trau duos (peptídeo C) e insulina, que consiste de duas
ma cirúrgico é apresentada no padrão (b), no qual cadeias polipeptídicas (A e B) de 21 aminoácidos e
haptoglobinas da banda de mobilidade a2 estão se de 30 aminoácidos, respectivamente, covalentemen
letivamente aumentadas. Uma resposta tardia apre te ligados pelas mesmas pontes dissulfeto presentes
sentada no padrão (c) está associada com infecção na proinsulina. O peptídeo C é mais processado por
e mostra um aumento no pico de g-globulina devido proteases que hidrolisam um dipeptídeo básico das
a um aumento de imunoglobulinas. Um exemplo de extremidades N- e C-terminais. O peptídeo C modifi
uma hipo-g-globulinemia em virtude de uma doen cado é secretado com a insulina.
ça imunossupressora é apresentado no padrão (d).
Na cirrose hepática, há um grande aumento nas
g-globulinas com redução de albumina, como no
padrão (e). Gamopatias monoclonais são devidas à
síntese clonal de uma imunoglobulina específica, e
originam uma banda estreita de g-globulina, como
no padrão (f). A síndrome nefrótica mostra uma Globulinas
a
perda seletiva de proteínas de baixo peso molecular in
m β γ
do plasma, como no padrão (g). O padrão mostra u
lb IgGIgA
uma diminuição na albumina (65 kDa), mas uma A
B. (Ed.),
phia: Saunders,
Clinical
1984.
Diagnosis and Management, 17. ed. Philadel- (d)
Hipogamaglobulinemia Enteropatia com perda proteica
(h)
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 93
4
3.4 ESTRUTURA PRIMÁRIA DE
l
o 2
m
PROTEÍNAS
/l
a
c
k
, 0
A estrutura primária de uma proteína refere-se à
a
u
g
estrutura covalente, que inclui a sequência de amino
á
a
r –2
ácidos e a logalização de pontes dissulfeto (cistina). A
a
p estrutura primária de uma proteína é necessária para
a
ic
n entender a sua estrutura e mecanismo de ação, sua
r –4
ê
biossíntese incluindo as modificações pós-tradução de
e
fs
n sua estrutura, e sua relação com outras proteínas com
a
rt –6
e
d
papéis fisiológicos semelhantes. A estrutura primária
e
r de vários peptídeos biologicamente ativos foi apresen
v
il –8
a
i tada na Tabela 3.2 (p. 87). A insulina ilustra como o
g
r
e
n
conhecimento da estrutura primária leva ao entendi
E –10 mento da biossíntese e das formas fisiológicas desse
hormônio bioativo (Figura 3.23;Um Olhar Mais Aten
–12 to 3.1 e Correlação Clínica 21.8). A insulina é inicial
R E D K P C S Q N G T A H M V L Y I F W mente sintetizada como proinsulina, que é uma cadeia
Aminoácidos
polipeptídica única de 86 aminoácidos e três ligações
FIGURA 3.22 Hidrofobicidade relativa das cadeias laterais cistina intracadeias (Figura 3.23). A forma hormonal
dos aminoácidos. consiste de duas cadeias polipeptídicas (A e B) cova
Com base na partição dos aminoácidos entre um solvente or lentemente interconectadas por duas ligações cistina e
gânico e água. Valores negativos indicam preferência por água, a cadeia A contendo uma cistina intracadeia. Essa é a
e valores positivos, preferência por solvente não polar (etanol estrutura primária ou covalente da insulina ativa.
ou dioxana), em relação à glicina (ver texto).
Baseado em dados de Von Heyne, G., and Blomberg, C. Eur. J. Além de fornecer informação sobre sua biossíntese,
Biochem. 97:175, 1979; e de Nozaki, Y., e Tanford, C. J. Biol. a comparação das estruturas primárias de insulinas de
Chem. 246:2211, 1971. diferentes espécies animais mostra os resíduos essen
VAL
Hidrólise
1 PHE
catalisada por protease Estrutura Secundária
+
NH3
+
NH3 A conformação de um esqueleto polipep
SS tídico pode ser descrita pelos ângulos de ro
GLY 1 CadeiaA tação das ligações covalentes que participam
COO–
ILE
da cadeia. Essas são fornecidas por cada um
VAL
30 THR dos aminoácidos e se formam entre o nitro
10 ASN COO– gênio e o carbono-a e o carbono-a e o carbo
20GLUGLNCYSCYSTHRSERILECYSSERLEUTYRGLNLEUGLUASNTYRCYS LYS
no da carbonila. A primeira é designada por
PRO
70S
ligação phi (j) e a segunda por ligação psi
S THR
(y) (Figura 3.24). A terceira ligação com que
S Cadeia B S TYR
cada aminoácido contribui é a ligação peptí
PHE
LEUCYS GLY SER HIS LEU VAL GLU ALALEU TYR LEU VAL CYS
HIS PHE
dica. Como discutido anteriormente, em vir
10 GLYGLUARGGLY tude do caráter parcial de dupla ligação da
20 ligação C!—N, existe uma barreira para a ro
GLN
tação livre em torno dessa ligação peptídica.
ASN
Carbono-α
Ligação peptídica
H
p
N
C′ Ligação ψ
O
n=4
Ligação φ Carbono-α FIGURA3.25 Passo da hélice (p) para uma hélice com n = 4.
Cada círculo sobre uma linha representa um carbono-a de um
Cadeia
resíduo de aminoácido. O avanço por resíduo seria p/n (ver
H
lateral equação no texto). Reproduzido com permissão de Dickerson,
R R. E. e Geis, I. The Structural and Action of Proteins. Menlo
N
H
Park, CA: Benjamin, 1969, p.26.
O
C′ Estrutura em a-Hélice
N
Uma sequência de aminoácidos em uma conforma
R ção em a-hélice girando para a direita é mostrada na
O
Plano peptídico
Figura 3.26. Característicos são 3,6 resíduos de amino
Carbono-α
α-C ácidos por volta de 360° (n = 3,6). Os planos das liga
ções peptídicas são paralelos ao eixo da hélice. Nessa
C′
geometria, cada peptídeo forma duas pontes de hidro
gênio, uma com a ligação peptídica do quarto aminoá
FIGURA3.24 Cadeia polipeptídica mostrando ligações
j, y e peptídicas para o resíduo Ri numa cadeia cido acima e a outra com a ligação peptídica do quarto
polipeptídica. aminoácido abaixo. Outros parâmetros, como o passo
Redesenhada com permissão de Dickerson, R.E. e Geis, I. The p, são dados na Tabela 3.9. Nas pontes de hidrogênio
Structural and Action of Proteins. Menlo Park, CA: Benja entre os grupos peptídicos, a distância entre o átomo
min, 1969, 25. doador de hidrogênio e o aceptor de hidrogênio é 2,9 Å.
Além disso, o doador, o aceptor e os átomos de hidro
Estruturas helicoidais são caracterizadas pelo nú gênio estão aproximadamente em uma linha reta. Esta
mero n de resíduos por volta da hélice e pela distância d é uma geometria e distância ótimas para força máxima
entre os átomos de carbono-a de aminoácidos adjacen das pontes de hidrogênio (Seção 3.7).
tes, medida paralelamente ao eixo da hélice. O passo da
hélice p, o produto de n × d, então, mede a distância en As cadeias laterais ficam no lado externo da estru
tre voltas repetitivas da hélice em uma linha desenhada tura em espiral. Em virtude dos característicos 3,6 resí
paralelamente ao eixo da hélice (Figura 3.25). duos por volta, o primeiro e todos os terceiros e quartos
Estrutura-b
Uma cadeia polipeptídica em estrutura-b (Figu
ra 3.27) estabelece pontes de hidrogênio com outra re
gião polipeptídica semelhante alinhada em direção pa
ralela ou antiparalela (Figura 3.28). Fitas b ligadas por
pontes de hidrogênio parecem-se como uma folha pre
gueada (Figura 3.29). As cadeias laterais projetam-se
para cima e para baixo da estrutura em folha pregueada.
FIGURA3.28Exemplo de
folha-ß antiparalela [resíduos
93-98 (superior), 28-33 (meio)
e 16-21 (inferior) da Cu, Zn
superóxido dismutase).
Linhas tracejadas mostram pon
tes de hidrogênio entre átomos
de oxigênio da carbonila (verme
lho) e átomos de nitrogênio da
ligação peptídica (cinza); setas
mostram a direção do polipeptí
deo da extremidade N-terminal
para a C-terminal. Na folha-b
característica antiparalela, pares
de pontes de hidrogênio inter
cadeias muito próximas se al
ternam com pares de pontes de
hidrogênio bem espaçadas.
Redesenhado com permissão de
Richardson, J. S. Adv. Protein
Chem. 34:168, 1981
R
R
R R
H R
O
H O R
N H C H
H C O
C N H C
C H C
N C N H
H C C
C
O N C
H C N C
O
H
O H
H H FIGURA 3.29 Estrutura em folha-ß
C O
R H H
O
entre duas cadeias polipeptídicas
N C
R H H mostrando os planos de ligações
C N C C O
N
CH C N C R peptídicas unidas.
O H N
C
C N C Cadeias polipeptídicas podem ser adi
H O cionadas acima e abaixo para gerar uma
H C
H O C
H estrutura mais extensa. Os grupos de
R cadeias laterais ao longo da cadeia poli
R peptídica alternam suas posições acima e
R abaixo do plano.
terciária os aproxima para formar o sítio catalítico. Na doras específicas. Um grande número de moléculas de
Figura 3.31c, um modelo de preenchimento de espaço água forma uma capa de solvatação ao redor do lado
mostra átomos de C, N e O representados por bolas de externo da proteína.
raios proporcionais a seus raios de van der Waals. A es
trutura está de acordo com as regras gerais para prote Uma longa cadeia polipeptídica dobra-se em múlti
ínas solúveis (Seção 3.3). plas regiões compactas semi-independentes ou domí
nios, cada um tendo uma geometria compacta carac
Cadeias laterais hidrofóbicas ficam geralmente no terística com um núcleo hidrofóbico e uma superfície
interior, longe da interface com a água. Cadeias laterais polar. Geralmente contêm 100-150 aminoácidos. Os
ionizadas ficam no lado de fora, onde são estabilizadas domínios em uma proteína multidomínios podem ser
por água de solvatação. Dentro da estrutura da proteína conectados por um segmento que não tem estrutura
(não mostrado) estão mergulhadas moléculas de água secundária regular. Alternativamente, as regiões esfé
frequentemente apresentando interações estabiliza ricas densamente dobradas podem ser separadas por
100 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
Não-estruturada (conjunto
Glóbulo
conformacional)
fundido polipeptídeos. Regiões desordenadas são enri
(conjunto conformacional)
quecidas em aminoácidos polares e carregados
(glutamato, lisina e glutamina) e no aminoáci
do prolina, e são depletadas em aminoácidos
aromáticos e alquila. Foram desenvolvidos al
goritmos para pesquisas sequências e identifi
carregiões potencialmente não-estruturadas
de cadeias polipeptídicas. A conservação das
proteínas não-estruturadas e de PUFs em
proteínas específicas ao longo da evolução
Por exemplo, ACTR (não NCBD) Por exemplo, NCBD (não ACTR) mostra a importância de tais regiões em pro
Ligação
cessos biológicos críticos.
Complexos de Proteínas,
Redes e Interactomas
Moléculas de proteína no meio celular es
tão primariamente presentes em complexos
de proteínas contendo múltiplas subunida
des proteicas. Os complexos são funcional
mente essenciais para a maioria dos proces
sos celulares, incluindo sinalização celular,
transcrição gênica, splicing e tradução de
Complexo ACTR-NCBD RNA, apoptose e metabolismo celular. Esses
complexos têm, tipicamente, 5-10 proteínas,
FIGURA 3.34 Estrutura induzida pela ligação em domínios não mas muitos contêm até 20-30 proteínas dife
-estruturados. rentes. Os complexos se comunicam entre si
O domínio de interação do ativador dos receptores do hormônio da tireóide e por meio de proteínas presentes em dois ou
de ácido retinóico (ACTR) é um conjunto de conformações não-estruturadas mais complexos diferentes, e que podem se
(marrom avermelhado, painel superior esquerdo) e o domínio coativador do re mover entre os complexos para conectá-los
ceptor nuclear (NCBD, nuclear-receptor coactivator domain) tem uma con
em redes. Um complexo que se interconecta
formação em glóbulo fundido com elementos de estrutura secundária regular e
uma estrutura terciária instável (verde, painel superior direito). A associação com mais do que três outros complexos é um
induz uma estrutura secundária e terciária estável em ambas as proteínas (pai nó (ou hub) da rede, e um alvo importante
nel inferior). para terapêutica de doenças. Uma rede fun
Reproduzido com permissão de Macmillan Publishers Ltd: de Dyson, H. J. e cional compreendendo complexos proteicos
Wright, P. E. Nature Rev. Mol. Cell Biol. 6:197, 2005. interconectados é um interactoma.
vorável para conseguir uma mudança de conformação Complexos proteicos celulares são caracterizados
entropicamente desfavorável. Essa propriedade de li utilizando-se purificação por afinidade em sequência
gação fraca é frequentemente vantajosa, uma vez que (TAP, tandem affinity purification), que envolve in
interações fracas e transitórias são necessárias para serção de um gene reporter em seguida ao gene de uma
muitos processos biológicos. Além disso, os domínios proteína de interesse, para produzir uma proteína qui
não-estruturados mostram promiscuidade com seus mérica na qual a proteína alvo produzida está ligada a
parceiros de ligação, porque sua falta de estrutura pré uma proteína marcada. A proteína marcada é isolada
-formada dá a eles uma plasticidade para formar super por eluição do lisado celular de uma coluna de afinida
fícies complementares de ligação com muitos parceiros de contendo anticorpo contra a marca (Figura 3.35). A
de ligação diferentes. Assim, o inibidor de quinases de resina de afinidade liga a proteína marcada e suas pro
pendentes de ciclina p21 tem capacidade de se ligar a teínas associadas, que são eluídas da coluna, separadas
diferente quinases dependentes de ciclina e regular as por eletroforese e identificadas por espectroscopia de
quinases dependentes de ciclina presentes nas diferen massa (p. 131 para uma discussão das técnicas). Outros
tes fases do ciclo celular. Proteínas de arcabouço agru métodos de identificação dos parceiros no complexo de
pam muitas proteínas em um complexo funcional. Sua uma proteína alvo incluem coimunoprecipitação com
um anticorpo dirigido contra a proteína alvo, e o ensaio
plasticidade permite a ligação de múltiplos parceiros no
complexo e permite mudanças nas proteínas membros, de dois-híbridos em levedura, no qual as interações bi
nárias proteína-proteína de mamífero são avaliadas em
de acordo com as necessidades fisiológicas.
um sistema reporter célula de levedura (Figura 3.35).
Regiões não-estruturadas de proteínas podem ser re Nenhuma dessas técnicas de ensaio, por si só, é sufi
conhecidas a partir da sequência de aminoácidos de seus ciente para provar uma interação proteína-proteína in
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 103
vivo, uma vez que artefatos são comuns. Resultados das características de complexos e redes nos quais pro
positivos em mais de uma dessas técnicas demonstra teínas associadas a doenças estão presentes mostra as
interação, com grande confiabilidade. Essas técnicas interdependências de múltiplos produtos gênicos que
não permitem isolar complexos transitórios, complexos afetam uma doença e suas relações nas vias relaciona
de membrana ou complexos de estados fisiológicos ou das com a doença (Figura 3.36).
fenótipos não presentes nas células analisadas.
DBD
Ao longo das últimas décadas, as sequências de nu
Gene reporter
cleotídeos dos genomas de múltiplas espécies animais
(a) Dois híbridos em levedura foram obtidas, bem como as sequências dos RNAs trans
critos e as sequências polipeptídicas produzidas a partir
do DNA genômico. A quantidade de dados é enorme, e
são armazenados em bancos de dados computacionais,
que são acessados livremente na Internet. O número de
e sequências polipeptídicas no UniProt Knowledge Base,
X d
a
Z d
i
n
if em 2008, era superior a 6,4 milhões, dentre as quais
a 75.000 são humanas. O Protein Data Bank contém 47.000
Isca e
Y d
a
n
estruturas tridimensionais de proteínas dobradas obti
u
l das por difração de raios-X, ressonância nuclear mag
W o
C
(b) nética e microscopia eletrônica. Bioinformática é uma
Purificação por afinidade
área de pesquisa baseada em computação que focaliza
FIGURA 3.35 Dois métodos para determinar interações a integração e a análise de dados biológicos complexos
proteína-proteína. com algoritmos computacionais. Uma grande ênfase da
(a) A técnica de dois-híbridos em levedura determina intera bioinformática foi identificar padrões em sequências de
ções binárias proteína-proteína em um sistema de expressão ácidos nucleicos ou de aminoácidos que são assinaturas
em levedura. Uma proteína fator de transcrição que se liga a de características estruturais ou motivos e de famílias
uma sequência regulatória à montante de um gene repórter ou classes de proteínas às quais o produto gênico per
de levedura, como Gal4, consiste de um domínio de ligação ao
tence. Esses algoritmos de busca de homologia são usa
DNA (DBD, DNA binding domain) e um domínio de ativação
dos para identificar e classificar produtos de genes com
(AD, activation domain), necessários para ativar a expressão
do gene repórter. As regiões codificadoras dos domínios DBD e base em similaridade de sequência quando a estrutura
AD são separadas e ligadas a dois genes de mamíferos de inte é conhecida, a busca de homologia pode ser baseada em
resse (X e Y) e expressos em células de levedura para produzir similaridade estrutural. O grau de similaridade de sequ-
proteínas quiméricas DBD-X e Y-AD. Se a proteína Y se ligar à ência usa critérios que vão desde a identidade absoluta
proteína X, os domínios DBD e AD se aproximam e estimulam de resíduos em posições equivalentes até a similaridade
a expressão do gene repórter. O gene popular Gal4 produz a baseada em polaridade, hidrofobicidade e tamanho. Os
enzima b-galactosidase, que dá uma cor azul a células em pla
algoritmos permitem inserção ou deleção de segmentos
cas de cultura impregnadas com o substrato correto. da cadeia polipeptídica ou da estrutura para dar a sobre
(b) A técnica de purificação por afinidade em sequência (TAP)
liga uma proteína marcada (quadrado púrpura) com uma pro posição máxima entre duas proteínas.
teína de interesse (proteína isca, laranja) e a proteína quimé
Os domínios das proteínas são classificados por
rica é expressa em uma célula de interesse. O lisado celular
é passado em uma resina de afinidade contendo anticorpo classe, dobra e família. A classe é determinada pelo
contra a proteína marcada com o complexo da proteína isca tipo predominante de estrutura secundária presente na
(proteínas W-Z). As proteínas ligadas são eluídas da coluna de proteína. Alguns exemplos são principalmente a-hélice
afinidade e identificadas por espectroscopia de massa. (toda a), principalmente b-fita (toda b), e quantidades
Redesenhado com base na figura de Aloy, P. e Russell, R. B. aproximadamente iguais de a-hélice e b-fita ([a/b] al
Nature Reviews Mol. Cell Biol. 7:188, 2006.
ternadas ou [a + b] não alternadas). A dobra é deter
minada pelo arranjo específico dos elementos de estru
Estimativas teóricas indicam que uma célula huma tura secundária no domínio. A família é determinada
na tem aproximadamente 3.000 complexos proteicos, pelo grau de identidade de sequência entre as proteí
cada um com múltiplas isoformas (membros de proteí nas. Proteínas que são membros da mesma família têm
nas que não são do núcleo do complexo e que são inter uma relação evolutiva comum e são derivadas do mes
cambiáveis, gerando diferentes isoformas), e aproxima mo gene primordial. Proteínas da mesma família têm
damente 650.000 interações binárias proteína-proteína o mesmo dobramento e frequentemente desempenham
gerando esses complexos de proteínas. A determinação funções similares.
104 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
FIGURA3.36 Mapa preliminar do interactoma relacionado gênicos do banco de dados OMIM, e nós amarelos representam
a doenças para um subconjunto de 7.200 proteínas produtos gênicos sem designação atual no OMIM. Linhas verme
humanas. lhas mostram interações binárias identificadas por Rual et al., e
As interações binárias no ensaio de dois-híbridos em levedura linhas sólidas azuis mostram interações identificadas pelos auto
foram determinadas em um subconjunto de 7.200 produtos gê res na literatura. Linhas tracejadas mostram interações através
nicos. O interactoma mostrado refere-se a interações de ligações de uma terceira proteína.
de proteínas relacionadas com doenças conhecidas, que estão Reproduzido com permissão de Rual, J.-F., Venkatesan, K., Hao,
designadas no banco de dados OMIM. Nós verdes são produtos T., Hirozane-Kishikawa, T., et al. Nature 437:1183, 2005.
De interesse para a clínica médica é a descoberta mas mutações da hemoglobina produzem significativos
de mutações na sequência de aminoácidos, que podem sintomas clínicos, como anemia falciforme (Correlação
dar origem a significativas alterações de função. Em Clínica 6.2; p. 220). Certas posições na sequência de
nível molecular, mudanças em apenas um aminoácido aminoácidos são variantes entre populações. Essas
podem ser significativas. Uma mutação de um amino posições na sequência, quando envolvem alterações
ácido pode perturbar a conformação nativa; a flexibi únicas no códon de bases para aquele aminoácido, são
lidade conformacional; a energética ou movimento da chamadas polimorfismos de um nucleotídeo único
molécula; e a seletividade de enzimas por substratos e (SNPs, single nucleotide polymorphisms) e podem
inibidores. Exemplos disso são as hemoglobinas, para levar a um entendimento das diferenças em respostas a
as quais existe um extenso catálogo de mutações. Algu uma doença ou terapêutica entre populações humanas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 105
Concanavalina A
Domínio 2 da fosfoglicerato quinase
FIGURA 3.39 Exemplo de uma dobra domínio-a/b no FIGURA 3.40 Exemplos de superdobras domínio-todo-b:
qual fitas-b formam uma folha-b torcida clássica na o barril chave grega e as dobras jelly roll apresentadas
lactato desidrogenase e na fosfoglicerato quinase. na superóxido dismutase e na concanavalina A.
Ver legenda da Figura 3.37. Como na dobra domínio-a/b an Ver legenda da Figura 3.37. As fitas-b são principalmente anti
terior, regiões de a-hélice alternam-se com regiões de fita-b paralelas em dobras domínio-todo-b.
na cadeia polipeptídica. A estrutura em folha-b fica no lado de Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
dentro, enquanto os segmentos de a-hélice ficam no lado de tein Chem. 34:168, 1981.
fora. As fitas-b ficam em paralelo na estrutura-b.
Redesenhado com permissão de Richardson, J. S. Adv. Pro
tein Chem. 34:168, 1981.
NH2
Colágeno
COCH2CH2CH2CH
Colágeno é uma família de proteínas extracelulares H COOH
presentes em todos os tecidos e órgãos, que fornece o Alisina
arcabouço que dá aos tecidos sua forma e resistência.
É a proteína mais abundante no homem (Tabela 3.10 e FIGURA 3.41 Aminoácidos derivados no colágeno.
Correlação Clínica 6.13, p. 251). Carboidrato é ligado à 5-OH de hidroxilisina por uma ligação
glicosídica tipo III (ver Figura 3.49).
na ou uma hidroxiprolina a aproximadamente cada ter os átomos de oxigênio e nitrogênio da ligação peptídica
ceira posição nas sequências de tripeptídeo repetitivo, em uma hélice poliprolina tipo II apontam na direção
indicando que as forças termodinâmicas que levam à das cadeias polipeptídicas vizinhas e formam fortes
formação da estrutura da hélice do colágeno devem-se pontes de hidrogênio intercadeias. Isso contrasta com a
às propriedades da prolina. α-hélice, na qual o plano da ligação peptídica é paralelo
ao eixo, onde o NH e o oxigênio da carbonila dos peptí
Na hélice de poliprolina tipo II, o plano de cada liga
deos formam apenas pontes de hidrogênio intracadeia.
ção peptídica é perpendicular ao eixo da hélice. Assim,
TABELA 3.11 Comparação do Conteúdo de Aminoácido do Colágeno da Pele Humana (Tipo I) e Elastina Madura com a de
Duas Proteínas Globulares Típicasa
Queratina e Tropomiosina
Queratina e tropomiosina são proteínas fibrosas
12 nas quais cada polipeptídeo é uma α-hélice. A quera
tina é encontrada na camada epidérmica da pele, nas
unhas e no cabelo. A tropomiosina é um componente
11
dos filamentos finos do tecido muscular. As sequências
de ambas as proteínas mostram repetições em seguida
(tandem) de segmentos de sete resíduos (hepteto), nos
10 quais o primeiro e o quarto aminoácidos têm cadeias
Gly
laterais hidrofóbicas, e o quinto e o sétimo, cadeias la
terais polares. A reiteração de cadeias laterais hidrofó
bicas e polares no segmento hepteto é simbolicamente
9
representada pela formulação (a-b-c-d-e-f-g)i, onde a e
d são aminoácidos hidrofóbicos, e e g são grupos de ca
deias laterais polares ou ionizados. Como um segmento
8 de sete aminoácidos representa duas voltas completas
de uma α-hélice (n = 3,6), os resíduos apolares em a e
7
Gly d alinham-se para formar uma borda apolar ao longo de
um lado da α-hélice (Figura 3.45). Essa borda apolar
interage com bordas polipeptídicas apolares de outras
cadeias de α-queratina formando uma estrutura super
6 -helicoidal em mola-enrolada (coiled-coil) contendo
duas ou quatro cadeias polipeptídicas. Cada polipeptí
deo também contém uma borda polar, devido aos resí
5
duos e e g, que interagem com água no lado externo da
Gly super-hélice e a estabilizam.
4
O H H O H H
O H H CCN
O
C (CH2)2
HC
CH2HN O
C (CH2)2
H
C
CH2HN C (CH2)2
CCH2 N amino
Lisil C (CH2
C N (CH2 O
C (CH2
H
C
CH2 N
CH2 oxidase NH+3 H
)2 )2 N
CH2 CH2
C
+3 oxidase
amino
lisil H O condensação
aldólica CH2
NH+3 NH CH
CH2 CH2
CH CH2 CH2 CH H
O
NH H C O H O CC
CH2 C (CH2)2
CN
2 C
(CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 (CH2)2 )2
O H H
C C N CC N C C N C C N CC N
O H H O H H O H H O H H O H H
Lisinonorleucina Base de Schiff Derivativo aldeídico Residuos de lisil Derivativos aldeídicos Ligação cruzada aldol
(uma ligação cruzada no (alisil) no colágeno (alisil) no colágeno
colágeno ou elastina)
FIGURA 3.43 Ligações covalentes cruzadas formadas em colágeno por intermediários alisina.
A formação de alisinas é catalisada por lisilamino oxidase.
Cadeia
(CH2)3 (CH2)3 polipeptídica (CH2
)3 (CH2)3
CH CH2 (CH2)3
(CH2
NH2
CH2 CH2
NH2 (CH2 NH2
CH2
CH2 CH2
O
N
3 lisinas +
convertidas a alisinas Condensações aldólicas
O CH2
NH2 Lisina amino oxidase H C O
(CH2)3 CH2
)3 (CH
CH2 H CH2
C
)3
2)3 (CH2)3
FIGURA 3.44 Formação da ligação covalente cruzada desmosina na elastina a partir de lisina e alisinas.
A cadeia polipeptídica foi desenhada esquematicamente com interseções de linhas representando a localização dos carbonos-a.
c
g e′ xa densidade (VLDLs); e ApoC em IDLs e VLDLs. Cada
b′
d a′
classe de apolipoproteína é genética e estruturalmente
distinta (ver Correlação Clínica 3.6). As apolipoproteínas
f′ variam de 6 kDa (ApoC-I) até 550 kDa para ApoB-100.
f
A última é um longo polipeptídeo (4.536 aminoácidos) e
b a d′ ocorre em forma truncada (apenas os 2.512 resíduos N
c′ -terminais) como ApoB-48 em quilomícrons.
e g′
FIGURA3.45 Interação de bordas apolares de duas Um modelo para a estrutura de uma partícula de
cadeias em conformação em a-hélice na queratina e na VLDL é mostrado na Figura 3.47. No lado de dentro estão
tropomiosina. lipídeos neutros como ésteres de colesterol e triacilglice
É apresentada a interação de resíduos apolares d-a e a!-d de róis. Em torno desse núcleo interno de lipídeos neutros,
duas a-hélices alinhadas paralelas na direção NH2-terminal há uma capa de ~20 Å de espessura, na qual residem as
(superior) para COOH-terminal. proteínas e os lipídeos anfotéricos carregados como co
Redesenhado de McLachlan, A. D., e Stewart, M. J. Mol. Biol. lesterol não esterificado e fosfatidilcolinas (p. 479). Li
98:293, 1975.
pídeos anfotéricos e proteínas na capa externa colocam
suas regiões apolares hidrofóbicas em direção ao lado in
terno da partícula, e seus grupos carregados em direção
ao lado externo, onde interagem entre si e com a água.
112 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
a
n
i
é
t
o
r
p
o
p
il
e
d
o
ã
ç
a
rt
n
e
c
n
o
C
Origem
Pre-β
Hiperlipoproteinemias
Hiperlipoproteinemias (OMIM 608083) são erros pode produzir uma hiperlipoproteinemia muito seme
nas taxas de síntese ou depuração de lipoproteínas da lhante. Esses pacientes têm risco aumentado de ateros
corrente sanguínea. Geralmente são detectadas por do clerose.
sagem de triacilglicerol e colesterol plasmáticos, e são
classificadas com base na classe de lipoproteína elevada. A hiperlipoproteinemia tipo IV é a anomalia mais
comum. Os níveis de VLDL são aumentados, frequente
A hiperlipoproteinemia tipo I deve-se ao acúmulo mente devido à obesidade, ao abuso de álcool ou diabe
de quilomícrons. Duas formas genéticas são conheci tes. Formas familiares são também conhecidas.
das: deficiência de lipoproteína lipase e deficiência de
ApoCII. ApoCII é necessária para completa atividade da A hiperlipoproteinemia tipo V é, como a tipo I, as
lipoproteína lipase. Pacientes com hiperlipoproteine sociada com altos níveis de triacilglicerol de quilomí
mia tipo I têm concentrações extremamente elevadas crons, pancreatite e xantomas eruptivos.
de triacilglicerol plasmático (acima de 1.000 mg/dL) e A hipercolesterolemia também ocorre em certos ti
sofrem de xantomas eruptivos (depósitos amarelados pos de doenças do fígado, nas quais a excreção biliar
de triacilglicerol na pele) e pancreatite. de colesterol está reduzida. Uma lipoproteína anormal
A hiperlipoproteinemia tipo II caracteriza-se por chamada lipoproteína X acumula-se. Essa doença não
níveis elevados de LDL. A maioria dos casos deve-se a está associada com aumento de doença cardiovascular
defeitos genéticos na síntese, no processamento ou na resultante de aterosclerose.
função do receptor de LDL. Heterozigotos têm níveis
Havel, R. J. e Kane, J. P. Introduction: Structure and meta
elevados de LDL; portanto, essa característica é ex
bolism of plasma lipoproteins. Em Scriver, C. R., Beaudet, A.
pressa de forma dominante. Pacientes homozigotos têm L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Molecular
níveis muito elevados de LDL e podem sofrer infarto do Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw-Hill,
miocárdio antes dos 20 anos de idade. 2001, Cap. 114; e Goldstein, J. L., Hobbs, H. H. e Brown, M. S.
Familial hypercholesterolemia. Em: Scriver, C. R., Beaudet,
A hiperlipoproteinemia tipo III deve-se a anomalias A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The Metabolic and Mole
em ApoE, que interferem com a captação de quilomí cular Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw
crons e remanescentes de VLDL. O hipotireoidismo -Hill, 2001, Cap. 120.
TABELA 3.14 Apoliproteínas de Lipoproteínas Plasmáticas Humanas (Valores em Porcentagem do Total de Proteínas
Presentes)a
Hipolipoproteinemias
HDL2a 40–45 55 35 12 4 5
HDL3a 50–55 50 20–25 12 3–4 3
uma vez que cada terceiro ou quarto aminoácido é hormônios, neurotransmissores e vírus. Tumorigênese
carregado. Esses resíduos formam uma borda polar e transformação maligna estão associadas com mudan
que se associa com as cabeças polares dos fosfolipíde ças na composição em glicoproteínas das membranas
os e o ambiente aquoso. Os lados opostos das hélices plasmáticas. Na matriz extracelular, muitas proteínas
têm cadeias laterais hidrofóbicas que são orientadas (p. ex., colágeno e laminina) contêm carboidratos liga
em direção ao centro não polar da partícula lipopro dos, assim como proteínas de secreções mucosas que
teica. A estrutura a-helicoidal de parte da ApoC-I é lubrificam e protegem superfícies. As principais proteí
mostrada na Figura 3.48. ApoB contém segmentos nas plamáticas (mas não albumina) são glicoproteínas,
de a-hélice e de fita-b. Um único po
lipeptídeo longo de ApoB-100 contorna
a circunferência da partícula de LDL, –
Leu
como um cinto que se entrelaça para
Glu
dentro e para fora da capa fosfolipídica Ser Lys
+ Ala
Arg
Lys
+
Glicoproteínas Contêm
Arg Trp
Glu Phe
Carboidratos Ligados –
Covalentemente Trp
Thr
incluindo proteínas da coagulação do sangue, imuno comum para a mesma proteína, mesmo em um único or
globulinas, proteínas do complemento e hormônio fo ganismo. Por exemplo, as formas A e B da ribonuclease
lículo estimulante, hormônio luteinizante e hormônio pancreática têm sequências de aminoácidos idênticas,
tiróide estimulante. mas diferem em sua composição em carboidratos.
O
CH2 DA PROTEÍNA
H
O CH
H
OH H
HO H
CH2 O Problema de Dobramento de
CH2
H OH Proteínas
H2N CH
A capacidade de a estrutura primária de uma pro
COOH
teína dobrar espontaneamente em sua conformação
Tipo III Ligação O-Glicosídica à 5-hidroxilisina secundária ou terciária nativa, sem qualquer informa
ção além da sequência de aminoácidos e das forças
FIGURA3.49Exemplos de ligações glicosídicas com não-covalentes que agem sobre essas sequências, tem
aminoácidos em proteínas. sido demonstrada para muitas proteínas. Assim, a ri
Tipo I é uma ligação N-glicosídica com o nitrogênio amida de
bonuclease pancreática espontaneamente assume sua
Asn; tipo II é uma ligação O-glicosídica com o OH de Ser ou
Thr; e tipo III é uma ligação O-glicosídica com o 5-OH de 5-hi conformação nativa depois de ter sido desnaturada, e
droxilisina. suas pontes dissulfeto são reduzidas sem a hidrólise de
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 117
Uma hemoglobina glicosilada, designada por HbA1c, por uma reação espontânea conhecida como rearranjo
é formada não enzimaticamente em glóbulos vermelhos de Amadori. A concentração de HbA1c depende da con
por combinação do grupo amino do NH2-terminal da centração de glicose no sangue e da duração da hiper
cadeia b da hemoglobina com a glicose. A forma aldeí glicemia. Na hiperglicemia prolongada, a concentração
do da glicose primeiro forma uma base de Schiff com o pode chegar a 12% ou mais da hemoglobina total. Pa
grupo amino NH2-terminal, cientes com diabetes mellitus têm altas concentrações
de glicose no sangue e, portanto, grande quantidade de
H OH HbA1c. As mudanças na concentração de HbA1c em pa
N C C cientes diabéticos podem ser usadas para acompanhar
a eficácia do tratamento do diabetes.
H
ligações peptídicas. Tais observações levaram à hipó reações de dobramento. Existem evidências de que o
tese de que uma sequência polipeptídica promova do dobramento se inicie por interações não covalentes de
bramento espontâneo a sua conformação ativa peculiar curto alcance entre uma cadeia lateral e seus vizinhos
sob condições corretas de solvente e em presença de mais próximos, que formam estruturas secundárias
grupos prostéticos que podem ser parte de sua estru em pequenas regiões do polipeptídeo. Cadeias laterais
tura. Como descrito a seguir, proteínas chaperones po específicas têm uma propensão de promoverem a for
dem facilitar a velocidade de dobramento da proteína. mação de a-hélices, fitas-b e voltas ou dobras agudas
Estruturas quaternárias também se organizam espon (b-turns) no polipeptídeo. Tais regiões do polipeptí
taneamente, depois que a estrutura terciária das subu deo, chamadas sítios de iniciação, assumem espon
nidades se formou. taneamente uma estrutura secundária. As estruturas
parcialmente dobradas, então, interagem entre si para
Pode parecer surpreendente que uma cadeia poli formar um estado de glóbulo fundido. Este é um inter
peptídica se dobre em uma única conformação pecu mediário condensado da via de dobramento, que con
liar, dadas todas as possíveis conformações rotacionais tém muitos dos elementos de estrutura secundária da
disponíveis em torno de ligações simples em sua estru conformação nativa, mas muitas interações incorretas
tura primária. Por exemplo, a cadeia a da hemoglobina de estrutura terciária. As regiões de estrutura secun
contém 141 aminoácidos, e existem pelo menos quatro dária no estado de glóbulo fundido são muito móveis
ligações simples por resíduo de aminoácido, em torno um em relação ao outro, e o glóbulo fundido está em
das quais pode ocorrer livre rotação. Se cada ligação, rápido equilíbrio com o estado completamente desdo
em torno da qual livre rotação ocorre, tiver dois ou mais brado. As interações corretas de alcance médio e longo
rotâmeros estáveis acessíveis a ela, haveria um mínimo entre diferentes sítios de iniciação são encontradas por
de 4141 ou 5 × 1086 conformações possíveis para o poli rearranjos dentro do glóbulo-fundido, e a conformação
peptídeo da cadeia a. nativa de baixa energia livre da cadeia polipeptídica
é formada. Segue-se a formação de pontes dissulfeto
A conformação de uma proteína é a de menor ener (cistinas). A etapa determinante da velocidade de do
gia livre de Gibbs acessível à sua sequência, dentro de bramento e desdobramento da conformação nativa fica
um espaço de tempo fisiológico. Assim, o dobramento entre o glóbulo-fundido e a estrutura nativa. Para algu
está sob controle termodinâmico e cinético. Embora o mas proteínas podem existir duas ou mais conforma
conhecimento detalhado do dobramento de novo de ções dobradas termodinamicamente estáveis, de baixa
um polipeptídeo tenha sido proposto apenas para al energia livre de Gibbs. A Correlação Clínica 3.6 contém
guns poucos exemplos, até o momento, o envolvimento uma discussão sobre o dobramento de proteínas e agen
de certos processos parece razoável para a maioria das tes infecciosos príons.
118 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
As proteínas príons são capazes de atuar como agen extremidade N-terminal da cadeia polipeptídica, an
tes infecciosos em ausência de DNA ou RNA. A doença teriormente indefinida (Figura 1 Correlação Clínica).
do príon no homem também pode aparecer espontane A conformação PrPSc inicia outras moléculas de príon
amente (doença esporádica) ou em virtude de heran PrPc a se converterem na conformação PrPSc e, por in
ça de um gene mutado da proteína príon. A doença teração de fitas-b entre moléculas de PrPSc, polimeriza
caracteriza-se por ataxia, demência e paralisia, e é qua em fibras amilóides. A formação do polímero amilóide é
se sempre fatal. O exame patológico do cérebro mostra irreversível e, no cérebro, leva à morte das células neu
placas amilóides e degeneração espongiformes (vacuo ronais. Em várias outras doenças neurodegenerativas
lar). semelhantes, ocorre equilíbrio conformacional entre
uma conformação solúvel, preferencialmente em a-hé
Na doença do príon, PrPc refere-se à conformação
celular muito solúvel da proteína príon, e PrPSc à con lice, e uma conformação menos solúvel, contendo fita-b,
da proteína, com as proteínas contendo fita-b polimeri
formação insolúvel tóxica isolada originalmente de ovi zando em fibrilas amilóides insolúveis (Figura 2 Cor
nos com a paraplexia enzoótica (Sc, scrapie). A prote relação Clínica). A unidade proteica difere com o tipo
ína PrPc solúvel contém três segmentos em a-hélices e
de doença, mas as placas formadas têm todas estrutu
dois em folha-b (Figura 1 Correlação Clínica). ra semelhante da fibrila amilóide (Figura 2 Correlação
A conversão para a forma PrPSc tóxica caracteriza Clínica). Doenças neuronais importantes induzidas por
-se pela conversão de um segmento a-hélice em uma amilóide incluem Alzheimer, Parkinson, Huntington e
fita-b, com a provável indução de fitas-b adicionais na esclerose lateral amiotrófica (ELA, Lou Gehrig).
FIGURA 3 Correlação Clínica. Mecanismo de formação da fibra amilóide iniciada por PrPSc.
A proteína príon é uma glicoproteína contendo mo damente 85%, formas hereditárias a 15%, e a doença
léculas de carboidratos ligadas covalentemente em um infecciosa a menos de 1% das doenças de príons.
lipídeo fosfatidilinositol. O lipídeo ancora a proteína A doença do príon causada por proteína PrPSc in
príon no lado extracelular da membrana plasmática.
A proteína PrPc na membrana plasmática funciona em fecciosa exógena é a mais interessante, porque mostra
conjugação com proteínas receptores de membrana na a capacidade de uma proteína atuar como um agente
transmissão de sinais extracelulares para a célula. infeccioso em ausência de DNA ou RNA. Seres huma
nos podem adquirir a doença do príon por ingestão de
A doença do príon no homem é pleiotrópica, com o príons bovinos com a conformação PrPSc em carne con
fenótipo dependendo da causa da doença (esporádica, taminada de gado com encefalite espongiforme trans
hereditária ou infecciosa) e o tipo de polimorfismos missível bovina (BSE; doença da vaca louca). A doença,
presentes nos genes do príon de um indivíduo. Existem variante da Doença de Creutzfeldt–Jakob (vCJD), tem
múltiplos polimorfismos do gene do príon na população um fenótipo diferente da CJD esporádica. A idade me
humana, com mais de 50 mutações reportadas. A ini diana de início da vCJD é 28 anos, e 68 anos para a CJD
ciação da formação do amilóide por uma molécula de esporádica. A duração da doença é aproximadamente
PrPSc “semente” (iniciadora) pode acontecer por três
14 meses para vCJD e 5 meses para a CJD esporádi
vias diferentes: (a) doença esporádica iniciada pela ca. Os Centros de Controle de Doenças (CDC) identi
mudança de conformação espontânea de uma molécu ficaram um total de 195 casos de vCJD até agosto de
la normal de PrPc para a conformação PrPSc, (b) pro
2006, dos quais 162 no Reino Unido, 20 na França e 2
teínas PrPScinfectantes introduzidas por ingestão de
nos Estados Unidos. O período de incubação do tempo
carne contaminada com PrPSc ou introdução de PrPSc
da infecção até o início de manifestação da doença é de,
exógeno por outras vias, e (c) herança de um gene de aproximadamente, 10 anos. A infecção por BSE parece
príon mutado, cujo produto gênico tem capacidade ser seletiva para idade. Como o pico de diagnóstico nos
de se dobrar espontaneamente e mais facilmente na Estados Unidos aconteceu entre 1994 e 1996 em pacien
conformação PrPSc. Os fenótipos hereditários incluem
tes com uma idade mediana de 28 anos, a infecção deve
a síndrome de Gerstmann–Sträussler–Scheinker e a ter ocorrido em torno de 1984-1986, com uma idade me
insônia familiar fatal. A doença esporádica resulta na diana para os indivíduos infectados de 18 anos.
Doença de Creutzfeldt–Jakob (CJD) e é geralmente fa
tal em um ano após o início da doença. A incidência da Uma segunda via infecciosa significativa é iatrogêni
CJD é 1 caso por 1 milhão por ano em todo o mundo, ca. Entre 1985 e 1996, foram registrados 136 casos de
ou aproximadamente 300 casos por ano nos Estados vCJD em todo o mundo em pacientes tratados com hor
Unidos. A doença esporádica corresponde a aproxima mônio de crescimento derivado de pituitária humana,
120 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
e 136 casos de pacientes que receberam transplante de propagado por fragmentos do polímero recém-gerado
dura mater de cadáver. Um pequeno número de CJDs (etapa 5).
iatrogênicas foram causadas por outros procedimentos, No mecanismo Dirigido por Molde (b), o príon PrPSc
como transplante de córnea, transfusão de sangue e
tratamento com gonadotropina humana. serve como um molde para promover a mudança de
conformação do PrPc em PrPSc (etapas 1 e 2). Uma vez
Dois mecanismos foram sugeridos para a formação convertido em PrPSc, o PrPSc rapidamente polimeriza
da placa amilóide iniciada por um príon infeccioso em fibrilas insolúveis.
(Figura 3 Correlação Clínica). No mecanismo de Nu
cleação-Polimerização (a), PrPc (verde) está em rápido Aguzzi, A. e Polymenidou, M. Mammalian prion biology:
equilíbrio com a conformação PrPSc (marrom) (etapa One century of evolving concepts. Cell 116:313, 2004; Collin
ge, J. e Clarke, A. R. A general model of prion strains and their
1), mas a polimerização em uma fibra amilóide é len pathogenicity. Science 318:930, 2007; e Soto, S., Estrada, L.
ta (etapa 2) na ausência de uma molécula iniciadora. A e Castilla, J. Amyloids, prions and the inherent infectious na
introdução de príon infectante PrPSc (laranja) nucleia
ture of misfolded protein aggregates. Trends Biochem. Sci.
o processo de polimerização (etapa 3). O processo é 31:150, 2006.
(iv)
GroEL
71 Å
180
ATPATP +ADP
(c)
(vi)
não-nativos
cis
GroES
a
igrenE
FIGURA 3.50 O sistema chaperonina GroEL-GroES para uma grande mudança conformacional no anel ligado a GroES
dobramento de proteínas. abre a proteína desnaturada para desfazer sua conformação
(a) Modelo de preenchimento de espaço do complexo cha não produtiva e depois libera a proteína na cavidade expandida
peronina inteiro, em uma vista de cima olhando para baixo, a para dobrar espontaneamente, (iv) a proteína dobra-se dentro
partir da proteína da “tampa” ou cap GroES. GroES liga-se ao da câmara e ATP é hidrolisado, (v) o ATP liga-se ao anel trans,
lado cis de GroEL. GroES tem 7 subunidades polipeptídicas de o que libera GroES e a proteína dobrada, e (vi) uma nova pro
peso molecular 10 kDa, e as estruturas cilíndricas cis e trans teína é encapsulada. (e) Diagramas de energia livre para o do
GroEL são compostas cada uma por 7 subunidades polipeptídi bramento de proteínas. Esquerda: dobramento da proteína em
cas (total 14), cada uma com 60 kDa. (b) mesmo que (a), mas ausência de chaperonina resulta em um intermediário retido
em vista lateral, com o anel trans GroEL em vermelho, o anel cineticamente. Meio: no dobramento em chaperonina, empur
cis GroEL em verde, e o cap GroES em dourado. (c) Desenho rar e liberar (annealing) dissocia intermediários retidos e dá à
de fitas de um corte passando pelo centro do complexo chape proteína chances adicionais de se dobrar sem ser retida. Direi
ronina mostrando cavidades internas das secções cilíndricas ta: além disso, a cavidade GroEL alisa o panorama energético
cis e trans, onde proteínas desnaturadas entram e ocorre seu para evitar a formação de certos intermediários retidos.
dobramento. (d) Esquema simplificado do dobramento de pro (a), (b) e (c) reproduzidas com permissão de Xu, Z. H., Horwi
teína facilitado por GroEL. (i) A proteína desnaturada (linha cz, A. L. e Sigler, P. B. Nature 388:741, 1997; (d) reproduzida
curva preta) entra em GroEL e liga-se na cavidade com alta com permissão de Saibil, H. R. e Ranson, N. A. Trends Bio
afinidade, (ii) ATP liga-se a um anel produzindo uma confor chem. Sci. 27:627, 2002, e Ranson, N.A. et al., Cell 107:869,
mação alterada, (iii) o anel ligado a ATP liga GroES para se 2001; (e) redesenhado de Ulrich, F., Hartl, F. e Hayer-Hartl, M.
questrar a proteína desnaturada na câmara de dobramento e Science 295:1852, 2002. Direitos autorais (2002) AAAS.
ponte de hidrogênio quanto à geometria. Ligações de vo (B) inversamente dependente à 12ª potência dessa
energia mais alta são geometricamente colineares, com distância (Figura 3.54). O termo A contribui, na sua
os átomos doador, hidrogênio e aceptor dispostos em distância ótima, com uma força atrativa de menos que
uma linha reta. A constante dielétrica do meio em tor 4 kJ/mol (1 kcal/mol) por interação atômica devido à
no da ponte de hidrogênio também pode se refletir na indução de cargas parciais complementares ou dipolos
força da ligação. Forças típicas de pontes de hidrogênio na densidade eletrônica de átomos adjacentes, quando
em proteínas são 4–29 kJ/mol (1–7 kcal/mol). Embora os orbitais eletrônicos de dois átomos se aproximam
contribuam para a estabilidade termodinâmica da con até uma pequena distância. À medida que os átomos
formação de uma proteína, sua formação pode não ser se aproximam, porém, o componente repulsivo (termo
uma força motriz importante para o dobramento. Isso B) da força de van der Waals predomina, visto que os
porque ligações peptídicas e outros grupos que formam orbitais dos elétrons de átomos adjacentes começam a
pontes de hidrogênio estabelecem pontes de hidrogê se sobrepor. A força repulsiva é comumente chamada
nio com a água solvente no estado desnaturado, e essas impedimento estérico.
ligações devem ser quebradas antes do polipeptídeo do
brar. No cálculo da contribuição das forças das pontes
de hidrogênio para o dobramento, a energia necessária EVDW= – rA
ab +
6 B
para quebrar as pontes de hidrogênio com a água deve r12
ab
ser subtraída da ganha na formação de novas pontes de
hidrogênio entre átomos da proteína dobrada. FIGURA3.54 Força de interações de van der Waals.
total para a estabilidade de uma estrutura dobrada é está sempre correlacionado com perda de função de
substancial. uma proteína. Perda de função não é necessariamente
sinônimo de desnaturação, uma vez que pequenas mu
Um tipo especial de interação (elétron-π-elétron-π) danças de conformação podem levar à perda de função
ocorre quando dois anéis aromáticos aproximam-se sem perda da estrutura nativa dobrada. Por exemplo,
um do outro, com elétrons de seus anéis aromáticos uma mudança na posição de uma única cadeia lateral
interagindo favoravelmente (Figura 3.56). Essa inte do sítio ativo de uma enzima ou na protonação de uma
ração pode resultar em forças atrativas de até 25 kJ/
cadeia lateral pode resultar em perda de atividade enzi
mol (6 kcal/mol). mática, mas não em perda da conformação nativa.
TABELA 3.17 Raios de Ligações Covalentes e de van der Waals de Átomos Selecionados
Átomo Raio covalente
(Å) Raio de van der Waals
(Å)a
A concentração celular de uma proteína é contro gias de ligações covalentes e não covalentes em virtude
lada por sua velocidade de síntese e degradação (Fi de forças eletrostáticas, pontes de hidrogênio e forças
gura 3.57). Em muitas circunstâncias, a desnaturação de van der Waals. Aos átomos individuais são atribuí
de uma proteína é a etapa que controla a velocidade das velocidades aleatórias a partir de uma distribuição
de sua degradação. Enzimas celulares e organelas que teórica, e as equações de Newton são usadas para re
digerem proteínas “reconhecem” proteínas desnatura laxar o sistema em uma dada temperatura. O cálculo é
das e as eliminam rapidamente. Em situações experi uma intensa atividade computacional, mesmo quando
mentais, a desnaturação de proteínas ocorre após adi limitado a menos de algumas centenas de picosegundos
ção de ureia hidrocloreto de guanidina ou detergentes (1ps = 10–12 s) do tempo dinâmico da proteína. Tais
(p. ex., dodecil sulfato de sódio), que enfraquecem as cálculos indicam que um átomo médio de uma proteína
interações hidrofóbicas de proteínas e estabilizam o oscila numa distância de 0,7 Å na escala de picosegun
estado desnaturado. Adição de base forte, ácido ou dos. Alguns átomos ou grupos de átomos movem-se a
solvente orgânico ou aquecimento a temperaturas aci distâncias menores ou maiores que essa média calcula
ma de 60 °C são também métodos comuns para desna da (Figura 3.58).
turar uma proteína.
O movimento final de qualquer segmento de um po
lipeptídeo ao longo do tempo representa a somatória
3.8 ASPECTOS DINÂMICOS DA das forças que se devem a rápidas oscilações atômicas,
e ao balanço local e movimentos elásticos de grupos
ESTRUTURA DE PROTEÍNAS de átomos ligados covalentemente. Esses movimentos
Embora difração de raios-X de alta resolução dê as no interior densamente empacotado de uma proteína
coordenadas atômicas de cada átomo em uma proteína, frequentemente permitem que anéis aromáticos planos
evidências experimentais de NMR, espectroscopia de de tirosinas, que ficam mergulhados, se virem. As flu
fluorescência e dependência da temperatura na difra tuações de pequena amplitude fornecem o “lubrificante”
ção de raios-X revelam que os átomos em uma molécula para movimentos grandes em proteínas, tais como mo
de proteína têm movimento dinâmico tipo-fluido, e não vimentos de domínios e mudanças de estrutura quater
existem em uma posição estática. Em vez de uma lo nária, como os observados na hemoglobina após ligação
calização exata, as coordenadas atômicas obtidas por de O2 (p. 372). O comportamento dinâmico de proteí
difração de raios-X representam a posi
ção
duração
de
tempo para
dahoras.
várias
média, coleta
encontrar
no tempo,
Assim,
de dados,
ade
posição
acada
conformação
quemédia
átomo.
pode ser
éOa 1,5 (a)
1,0
ativa
Uma
pequenos
estrutura
estrutura de da
podedefeitos
dobrada,
diferir raios-X
no
indicando
conformação
empacotamento
também da
a existên
mostra
média.
) 0,5
Å
(
cia de buracos na estrutura, que permi o
ã
ç
tem à proteína espaço para flexibilidade. a
u
t
c 0,0
O conceito de que cada átomo de uma u
l
F
proteína está em movimento constante, (b)
1,0
como as moléculas em um fluido, embo
ra limitado por suas ligações covalentes
e estruturas secundárias e terciárias, é 0,5
um aspecto importante da estrutura de
proteínas.
nas é a base para mudanças conformacionais induzidas Moléculas de mesma carga da resina são eluídas primei
por substrato, inibidor ou droga, quando se liga a uma ro, em uma única banda, seguidas pelas de carga opos
enzima ou receptor, geração de efeitos alostéricos em ta à da resina, em uma ordem baseada na densidade
hemoglobinas, transferência de elétrons em citocromos, de cargas da proteína (Figura 3.61). Quando é difícil
e formação de estruturas supramoleculares, como ví remover uma molécula da resina em virtude da força
rus. Os movimentos também podem ter um papel fun da interação atrativa entre a molécula ligada e a resi
cional na ação catalítica de enzimas. na, mudanças sistemáticas no pH ou na força iônica são
usadas para enfraquecer a interação. Por exemplo, um
gradiente crescente de pH em uma resina de troca ca
3.9 CARACTERIZAÇÃO, tiônica reduz a diferença entre o pH da solução e o pI da
proteína ligada. Essa diminuição entre pH e pI reduz a
PURIFICAÇÃO magnitude da carga final da proteína e diminui a força
da interação de cargas entre a proteína e a resina. Um
E DETERMINAÇÃO gradiente crescente de força iônica também diminui as
DA ESTRUTURA interações de cargas, porque os íons competem com as
proteínas pela ligação, e eluem da resina eletrólitos for
E ORGANIZAÇÃO temente ligados.
DE PROTEÍNAS
em Carga A1c A
A2 F
)
m
Na eletroforese, a proteína dissolvida em uma so n
5
lução tampão em um determinado pH é colocada num 1
4
(
S
campo elétrico. Dependendo da relação entre o pH do a
i
c
n
tampão e o pI da proteína, a proteína move-se em direção â
b
r
ao cátodo (–) ou ao ânodo (+) ou permanece estacionária o
s
b
A2
Uma técnica de resolução extremamente alta é a FIGURA 3.59 Focalização isoelétrica de hemoglobinas de
um paciente heterozigoto para HbS e ß-talassemia.
focalização isoelétrica, na qual misturas de anfolitos
Figura mostra separação por focalização isoelétrica de HbA1c
poliamino-ácidos policarboxílicos, com uma faixa defini (HbA glicosilada na extremidade NH2, ver Correlação Clínica
da de valores de pI, são usadas para estabelecer um gra
3.5), HbA de adulto normal, HbF fetal, HbS de anemia falcifor
diente de pH ao longo do campo elétrico aplicado. Uma me (ver Correlação Clínica 6.2, p. 220) e HbA2 minoritária de
proteína carregada migra pelo gradiente de pH no campo adulto. (a) Focalização isoelétrica realizada por eletroforese
elétrico até alcançar uma região de pH no gradiente igual capilar com anfólito na faixa de pH entre 6,7 e 7,7 e detecção
ao seu valor de pI. Nesse ponto, a proteína torna-se es de bandas a 415 nm. (b) Focalização isoelétrica realizada em
tacionária e pode ser vista (Figura 3.59). Proteínas que gel com Pharmacia Phast System; anfólito na faixa de pH en
diferem por tão pouco quanto 0,0025 em seus valores de tre 6,7 e 7,7.
pI são separadas no gradiente apropriado de pH. Redesenhado de Molteni, S., Frischknecht, H. e Thormann, W.
Electrophoresis 15:22, 1994.
A cromatografia de troca-iônica em coluna é usa
da para separação preparativa de proteínas, por car RCH2 COO–
ga. As resinas de troca-iônica consistem de materiais
Ligante carregado negativamente: carboximetil
insolúveis (agarose, poliacrilamida, celulose e vidro)
que contêm grupos carregados (Figura 3.60). Resinas + C2H5
carregadas negativamente ligam cátions fortemente e R N
C2H5
são resinas de troca catiônica. Resinas carregadas po H
sitivamente ligam ânions fortemente e são resinas de
Ligante carregado positivamente: dietilamino
troca aniônica. O grau de retardo de uma proteína (ou
um aminoácido) em uma resina depende da magnitude FIGURA 3.60 Dois exemplos de ligantes carregados
da carga da proteína no pH específico do experimento. usados em cromatografia de troca-iônica.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 127
TABELA 3.18 Coeficiente de Svedberg para Algumas Proteínas Plasmáticas na carga. Um detergente comum é
Lisozima
a2 -Macroglobulina Proteína (cm
s20s–1
,2,19
Xdyn–1)a
10–13
19,6 Molecular
Peso o dodecil sulfato de sódio (SDS),
e um suporte poroso comum é a
poliacrilamida com ligações cru
15.000–16.000 zadas. Os dodecil sulfatos são C12
Albumina 4,6 69.000 alquila sulfatos anfifílicos, que es
Imunoglobulina G
Fibrinogênio 6,6-7,2 153.000 tabilizam uma proteína desnatura
341.000 da por formarem uma capa de sol
7,63 vatação de SDS carregado micelar
C1q (fator do complemento) 11,1 410.000 ao redor da cadeia polipeptídica. A
820.000 carga inerente da cadeia polipep
tídica é obliterada pelas moléculas
Imunoglobulina M 18–20 1.000.000 de SDS carregadas negativamen
Fator VIII da coagulação sanguínea 23,7 1.120.000 te, e cada agregado proteína-SDS
Fonte: Fasman, G.D. (Ed.), CRC Handbook of Biochemistry and Molecular Biology, 3. ed., Sect. solubilizado tem carga idêntica,
D, Vol. II, Boca Raton, FL: CRC Press, 1976, p. 242. por unidade de volume. Partículas
as20’ × 10–13 é o coeficiente de sedimentação em unidades de Svedberg, com referência à água a
carregadas negativamente movem
20 °C, e extrapolado para a concentração zero de proteína. -se pelo gel de poliacrilamida em
direção ao ânodo. A poliacrilami
difíceis, geralmente só o coeficiente de sedimentação da funciona como uma peneira molecular, e os com
de uma molécula é reportado. O coeficiente de sedi plexos proteínas-micelas são separados por tamanho;
mentação de uma proteína é uma medida qualitativa de proteínas de maior massa são retardadas. Uma única
sua massa molecular. banda em uma eletroforese em SDS-poliacrilamida é
frequentemente usada para demonstrar uma proteína
pura. A conformação da estrutura nativa não é um fator
Peso molecular = D (1RTs no cálculo da massa molecular, que é determinada por
–
– νρ) comparação com padrões conhecidos, desnaturados da
mesma forma. O detergente dissocia a estrutura qua
FIGURA3.64 Uma equação relacionando o coeficiente de ternária de uma proteína multimérica e libera as subu
Svedberg com o peso molecular.
nidades constituintes. Somente as massas moleculares
das subunidades de tal proteína são determinadas por
Cromatografia de Exclusão Molecular esse método.
Um gel poroso na forma de pequenas esferas inso
lúveis é comumente usado para separar proteínas por
tamanho, em colunas de cromatografia. Proteínas pe
quenas penetram nos poros do gel e têm maior volume
de solvente para percorrerem na coluna do que prote
ínas maiores, que são estericamente excluídas dos po
ros. Consequentemente, uma mistura de proteínas é se
parada por tamanho. As proteínas maiores são eluídas
primeiro, seguidas pelas proteínas menores, que são re
tardadas por seu acesso a um volume maior de solvente
(Figura 3.65). Como para a ultracentrifugação, assu
me-se uma geometria para uma proteína desconhecida
na determinação da massa molecular. Proteínas não
esféricas alongadas dão massas moleculares anômalas
quando analisadas usando-se uma curva padrão deter
minada com proteínas de geometria esferoide.
Afinidade
)
Proteínas têm uma alta afinidade A
µ
2
,
por seus substratos, grupos prostéti 0
(
cos, receptores de membrana ou inibi a
v
it
a
l
dores específicos não covalentes, bem e
r R
como por anticorpos feitos contra elas. a
i Y
c T
-
n
Esses compostos de alta afinidade po ê
c
S
N
s D
dem ser ligados covalentemente a uma e
r
o
i
d
-
u
l O
resina insolúvel, e a resina modificada F ,
N
pode ser usada para purificar sua pro
teína conjugada em cromatografia em
coluna. Em uma mistura de proteínas
eluídas através da resina, a de interes
se é seletivamente retardada.
Concentrações elevadas de aminoácidos são encontradas no plasma ou na urina em várias doenças clínicas.
Uma concentração anormalmente elevada de aminoácidos na urina é chamada aminoacidúria.
Aminoacidúrias no homem
Aminoacidúria CorrelaçãoClínica
Aminoácido(s) Elevado(s)
Bröer, S. Amino acid transport across mammalian intestinal and renal epithelia. Physiology Rev. 88:239, 2008; e Camargo, S. M.,
Bockenhauer, D. e Kleta, R. Aminoacidurias: Clinical and molecular aspects. Kidney International 73:918, 2008.
pode-se chegar à identificação da proteína extraída do Procedimentos comuns para identificação de amino
gel 2-D. Instrumentos robóticos hoje executam cada ácidos usam cromatografia de troca catiônica ou HPLC
etapa da extração e identificação da proteína da man de fase reversa para separá-los e, então, reagir com ni
cha. Dessa maneira, as milhares de proteínas expressas nhidrina, fluorescamina, cloreto de dansila ou reagen
podem ser identificadas. tes cromóforos ou fluoróforos semelhantes para quanti
ficação. Com alguns tipos de derivação, os aminoácidos
A técnica atualmente é incapaz de identificar pro são identificados em concentrações de 0,5 × 10–12 mol
teínas pouco abundantes em células ou tecidos. Além (pmol). A análise da composição em aminoácidos de lí
disso, certos tipos de proteínas são difíceis de analisar quidos fisiológicos (p. ex., sangue e urina) é usada no
em virtude de baixa solubilidade, baixa carga molecular diagnóstico de doenças (Correlação Clínica 3.7).
ou massa molecular muito pequena. Por exemplo, pro
teínas integrais de membrana são muito hidrofóbicas e Determinação da Sequência de
não são solúveis nos solventes padrões de focalização
Aminoácidos
isoelétrica.
A capacidade de clonar genes levou à capacidade de
determinar a sequência de aminoácidos de uma proteí
Determinação da Composição em na a partir de suas sequências de DNA ou mRNA. Esse
é um método muito mais rápido para obtenção de uma
Aminoácidos de uma Proteína sequência de aminoácidos. O sequenciamento de uma
A determinação da composição em aminoácidos é proteína, entretanto, é necessário para a determinação
um componente essencial no estudo da estrutura de de modificações na estrutura da proteína que ocorrem
uma proteína e de suas propriedades fisiológicas. Uma após sua biossíntese, para identificar uma parte da se
proteína é hidrolisada a seus aminoácidos constituin quência da proteína para que seu gene possa ser clona
tes por aquecimento a 110 °C em HCl 6 N, por 18–36 h, do, e para identificar uma proteína como o produto de
em tubo selado a vácuo para impedir degradação de um gene específico. A determinação da estrutura pri
mária de uma proteína requer uma proteína purificada
cadeias laterais sensíveis à oxidação no ar. O triptofa
no é destruído nesse método, e procedimentos alter e a determinação do seu número de cadeias. As cadeias
nativos são usados para sua análise. Cadeias laterais individuais são purificadas pelas mesmas técnicas usa
das na purificação da proteína inteira. Se pontes dissul
amida de asparagina e glutamina são hidrolisadas a
aspartato e glutamato e amônia livre; estes são inclu feto unirem covalentemente as cadeias, essas ligações
ídos no conteúdo de ácido glutâmico e ácido aspártico devem ser quebradas (Figura 3.68).
na análise. Polipeptídeos são comumente sequenciadas pela
reação de Edman ou por espectroscopia de massa.
132 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
NH
+ 3CC NCCNCCNCCNCCNCCNCCOO–
H H H H H H H H H H H H H
catalisam ciclização intramolecular que cliva
o aminoácido NH2-terminal como um derivado Ligação
feniltio-hidantoína (Figura 3.69). Esse ami polipeptídica
hidrolizada
noácido derivado pode ser separado cromato
graficamente e identificado contra padrões. O R1 Reagente
Thr 98
Absorção da ligação peptídica Absorção da
cadeira lateral
da Tyr e Trp
o Absorção de SS
FIGURA 3.72 Mapa de densidade eletrônica em resolução ãçrosbA
Espectroscopia de Fluorescência
A energia de um elétron excitado produzido por ab
r
a
l 6 sorção de luz é perdida mais comumente como energia
o
m Estrutura térmica, em um processo de colisão. Em alguns cromó
o aleatória
u
d
í
foros, a energia de excitação é dissipada por fluores
s4
e
r
Folha β cência. A emissão fluorescente ocorre sempre em um
e
d comprimento de onda maior de luz (menor energia) do
e
d α-hélice que o comprimento de onda de absorção do fluoróforo,
a2
d
iv
it
r
porque os níveis energéticos de vibração, formados du
o
s
b0
rante a absorção de luz (excitação), são perdidos antes
A 180 190 200 210 220 230 240 250 da fluorescência (Figura 3.77). Se outra molécula esti
Comprimento de onda (nm) ver presente para absorver a energia da luz emitida pelo
fluoróforo, a fluorescência emitida não é observada,
FIGURA 3.76 Absorção ultravioleta das ligações mas transferida para a molécula que a absorve. A molé
peptídicas de uma cadeia polipeptídica em conformações
em a-hélice, estrutura aleatória e folha-b antiparalela. cula aceptora, por sua vez, ou emite sua própria fluores
Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull, A. T., cência característica, ou perde sua energia de excitação
Lagmado, J. R., Thomas J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Compa por um processo alternativo. Se a molécula aceptora
nion to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 175. perder sua energia de excitação por um processo não
fluorescente, é um apagador ou quencher da molécula
doadora de fluorescência. A eficiência da transferência
136 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
vários
de
em
Redesenhado
Thomas,
onda O.
comprimentos
níveis
de
J. absorção.
vibratórios,
de
e Tipton,
d’Albis,
de ondano
K.
A.maiores
estado
F.
e Gratzer,
(Eds.),
basal.
(menos
Companion
W.AB.emissão
energia)
Em: Bull,
de
to
doA.
fluorescência
Biochemistry.
que
T., oLagmado,
comprimento
ocorre
Lon-
J. R. 30
40 Folha β
10
20
Estrutura aleatória
don: Longmans, 1970, p. 166.
0
de excitação depende da distância e da orientação das 10
moléculas doadoras e aceptoras.
20 Folha β
Os espectros de emissão de fluorescência de ca
30
deias laterais de fenilalanina, tirosina e triptofano são α-hélice
de emissão da fenilalanina se sobrepõem aos compri 190 200 210 220 230 240 250
mentos de onda de absorção da tirosina. Por sua vez, Comprimento de onda (nm)
os comprimentos de onda de emissão da tirosina se
sobrepõem aos comprimentos de onda de absorção do FIGURA3.79 Espectro de dicroísmo circular de cadeias
polipeptídicas em conformações a-hélice, folha-b e
triptofano. Por causa dessas sobreposições nos compri
aleatórias.
mentos de onda de emissão e absorção, primariamen Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull,A.T., Lag
te, apenas a fluorescência do triptofano é observada. mado, J. R., Thomas, J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Companion
A transferência de excitação ocorre em distâncias de to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 190.
até 80 Å, que são tipicamente os diâmetros de domí
Espectroscopia de Dicroísmo Circular
t 1.5
a Tyr O dicroísmo circular (CD) é causado por diferenças
n na absorção de luz entre os componentes vetores em
a
u
q
e 1.0
d
sentido horário e anti-horário de um feixe de luz polari
o
v
it zada viajando através de uma solução de uma molécula
l 0.5
a Trp
opticamente ativa, como um L-aminoácido. Um espec
e
r
o
r tro é gerado quando o dicroísmo circular é determinado
e
m
ú
Phe em uma faixa de comprimentos de onda. Aminoácidos
N
aromáticos em uma proteína e a cadeia polipeptídica
0
280 320 360 400 440 geram uma rotação óptica e um espectro de CD (Figu
Comprimento de onda (nm) ra 3.79). Em virtude das diferenças entre os espectros
de a-hélice, folha-b e estruturas aleatórias, o dicroís
FIGURA3.78 Fluorescência característica de grupos
mo circular tem sido um ensaio bastante sensível para
aromáticos em proteínas.
Redesenhado de d’Albis, A. e Gratzer, W. B. Em: Bull, A. T., a quantidade e o tipo de estrutura secundária, e é co
Lagmado, J. R., Thomas, J. O. e Tipton, K. F. (Eds.), Compa mumente utilizado para acompanhar o dobramento e a
nion to Biochemistry. London: Longmans, 1970, p. 478. desnaturação de proteínas.
CAPÍTULO 3 PROTEÍNASI: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 137
Ressonância Magnética Nuclear das ligações. O método gera uma família de estruturas,
a variabilidade mostrando ou a imprecisão da técnica
Com NMR bidimensional (2-D) e espectrômetros ou a “desordem” dinâmica da estrutura dobrada (Figu
NMR potentes, a conformação em solução de proteí ra 3.80). Tais computações forneceram estruturas que
nas pequenas, de cerca de 150 aminoácidos ou menos, não diferem significativamente da estrutura média no
pode ser determinada. NMR multidimensional e res tempo, observada pelos métodos de difração de raios-X.
sonância tripla podem estender a sensibilidade a mais
de 250 resíduos. Outros avanços do NMR, para determinação da es
trutura de proteínas, incluem a capacidade de sintetizar
Técnicas convencionais de NMR usam radiação de proteínas que contêm aminoácidos enriquecidos isoto
radiofrequência (rf) para estudar o ambiente dos núcle picamente (p. ex., contendo 13C ou 15N) e o desenvolvi
os atômicos que são magnéticos. A exigência de núcleos mento de reagentes com deslocamento paramagnético
magnéticos é absoluta e baseia-se em um estado de spin para estudar ambientes localizados em ressonâncias
não pareado no núcleo. Assim, os núcleos de carbono paramagnéticas, como os grupos sinalizadores com íon
(12C), nitrogênio (14N) e oxigênio (16O) naturalmente lantanídeo.
abundantes não absorvem, enquanto 13C, 15N e 17O ab
sorvem. A informação derivada das bandas de absorção
permite a determinação da identidade e do número de 34
10
64
grupos vizinhos mais próximos, que podem afetar a res
66
posta de espécies que absorvem por interações de liga 86
ções, mas não dá informações quanto às interações es
paciais (não ligadas) em virtude da conformação nativa
da proteína. Para determinar as interações no espaço e 59 84
Bibliografia
Bioinformática e Portais de Software de Proteômica
O periódico Nucleic Acids Research compila anual O site do Expert Protein Analysis System (ExPASy) do
mente e resume os bancos de dados biológicos dispo Swiss Institute of Bioinformatics contém ferramentas
níveis na Rede (Nucleic Acids Research 36: janeiro, para o estudo de proteínas e links para outras páginas e
2008) e páginas da internet com ferramentas para aná bancos de dados para o estudo e a análise de proteínas
lise de dados biológicos (Nucleic Acids Research 26: (http://ca.expasy.org).
July 1, 2008).
O website do European Bioinformatics Institute tam
O site de entrada do The National Institutes of Health bém oferece referências a bancos de dados e um pacote
dá acesso a bancos de dados de sequências, genômica abrangente de ferramentas de análise (http://www.ebi.
e expressão de proteínas e ferramentas de análises ac.uk).
(http://www3.ncbi.nlm.nih.gov/Entrez).
138 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
O Swiss PDB viewer (Deep View) pode ser baixado e Han, J. H., Batey, S., Nickson, A. A., Teichmann, S.A.,
permite a visão de estruturas tridimensionais. O sof e Clarke, J. The folding and evolution of multidomain
tware e o manual estão disponíveis no site do Deep proteins. Nature Reviews Mol. Cell Biol. 8:319, 2007.
View (http://spdbv.vital-it.ch).
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Um excelente tutorial da Gale Rhodes pode ser aces Science 302:1347, 2003.
sado no http:// spdbv.vital-it.ch/TheMolecularLevel/
SPVTut/index.html. Laskowski, R. A., e Thornton, J. M. Understanding the
molecular machinery of genetics through 3D structu
O Protein Explorer está disponível em http://www. res. Nature Reviews Genetics 9:141, 2008.
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(Data Bank) (PDB) de RCSB (http://www.rcsb.org/ Rose, G. D. e Wolfenden, R. Hydrogen bonding, hydro
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CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 139
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Termos Chaves
a-hélice Hasselbalch interação hidrofóbica ponte de hidrogênio
aminoácidos acídicos estrutura-b interação iônica proteína fibrosa
aminoácidos básicos estrutura primária interactome proteína intrinsecamen
aminoácidos comuns estrutura quaternária ligação N-glicosídica te não-estruturada
aminoácidos derivados estrutura secundária ligação O-glicosídica proteína globular
apoproteína estrutura terciária ligação phi(j) resíduo invariável
chaperone família de proteínas ligação psi (y) selenocisteína
chaperonina glicoproteína lipoproteína substituição conserva
tiva
conformação nativa glóbulo fundido (molten motive estrutural
globule) substituição não-conser
desnaturação peptídeo
vativa
dinâmica de proteínas hélice de poliprolina tipo II pH isoelétrico (pI)
superdobra (superfold)
dobra de proteína homologia pK!a
zwitterions
equação de Henderson– interação de van der Waals polipeptídeo
Respostas
1. B Isso colocaria ambas as cadeias laterais no C: existem vários tipos diferentes. D: uma proteína
mesmo lado da ligação, o que é menos favorável. C: pode ter múltiplos domínios diferentes, e os dife
essa é uma consequência de A. D: todos os átomos rentes domínios podem, em alguns casos, ter dife
ligados a carbono e nitrogênio da ligação estão em rentes funções.
um plano comum. E: a prolina tem um imino gru
po. 6. C Seus domínios não-estruturados permitem que
se liguem a uma variedade de parceiros. A: essas
2. D A: também poderiam se alinhar para formar proteínas são naturalmente desprovidas de uma
uma face não-polar. B: uma é com o quarto resíduo conformação dobrada estável. B: elas desempe
acima da ligação, e a outra é com o quarto resíduo nham várias funções como, por exemplo, proteínas
abaixo. C: esta é uma das características de uma de arcabouço, quinases dependentes de ciclinas e
a-hélice girando para a direita. muitas outras. D: elas podem ter regiões com es
3. D Proteínas cruzam a membrana em um estado trutura secundária. E: elas tendem a ser ricas em
desdobrado e dobram novamente depois de terem aminoácidos polares e carregados e pobres em aro
atravessado a membrana. A: a família de chapero máticos.
nes hsp60 é ligada a ATP, mas a família hsp70 não 7. B Contatos íntimos no interior de uma tripla hélice
é. B: dissulfeto isomerases catalisam essa reação. são possíveis só quando o grupo R dessa posição
C: o produto final é termodinamicamente estável; for muito pequeno, isto é, hidrogênio. A: pontes de
chaperones impedem interações intermediárias hidrogênio no colágeno são intercadeias. C: o ân
desfavoráveis. E: chaperones hsp70 reagem com gulo j é parte do anel da prolina e não está livre
cadeias polipeptídicas nascentes à medida que são para rodar. D: embora a afirmativa esteja correta
sintetizadas pelo ribossomo. A proteína pode, en para o colágeno tipo I, as regiões de super-hélice
tão, ser entregue para um chaperone hsp60 para em outros tipos de colágeno podem ser quebradas
facilitar o dobramento final. por regiões de domínios globulares. E: a conversão
e as ligações cruzadas são extracelulares.
4. D Outro método que separa com base em tama
nho é SDS-PAGE. A-C separam moléculas com 8. D Estas então reagem umas com as outras ou com
base em carga. E: HPLC de fase reversa efetua se grupos e-amino de lisinas não modificadas. A: é
parações com base na polaridade. pós-tradução. B, D: esta não é a função da hidroxi
prolina ou da glicina.
5. E Esta estrutura a/b é encontrada na piruvato
quinase, por exemplo. A: isso é chamado uma fa 9. C No tipo N-ligado, a asparagina está na sequên
mília; superdobras são encontradas em proteínas cia Asn-X-Thr(Ser). A: a maioria das proteínas
não relacionadas por função ou origem. B: ver E. plasmáticas, exceto albumina, é glicoproteína. B:
CAPÍTULO 3 PROTEÍNAS I: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA • 143
carboidrato fica no lado de fora da célula para fun LDLs e VLDLs. Apo B-48, uma forma truncada de
ções como reconhecimento célula-célula. D: essa B-100, é encontrada em quilomícrons. A: como as
ligação ocorre só no colágeno. Outros carboidratos várias apolipoproteínas vêm de genes diferentes,
O-ligados fazem a ligação com serina ou treonina. não seria de se esperar que todos os genes fossem
E: a estrutura dos carboidratos não é determinada afetados. B: as lipoproteínas que faltam são as
por genes e é variável. encontradas na parte superior do tubo após cen
trifugação. D: apolipoproteínas associadas com
10. A O conteúdo de carboidratos não é controlado
lipídeos têm um alto conteúdo de α-hélices anfi
por genes, mas é um evento co- ou pós-tradução.
B: o conteúdo é muito variável, por exemplo, a gli páticas.
coforina da membrana de eritrócitos tem 60% de 13. Esta é uma curva de titulação de um aminoácido
carboidratos. C: o carboidrato ligado pode ser um com três grupos dissociáveis. Os pontos indicados
único carboidrato ou até 15 resíduos de carboidra representam a meia-titulação de cada um desses
tos. D: esta é uma ligação tipo IV encontrada na grupos, e os pHs são os valores de pK de cada gru
HbA1c, mas não é o tipo mais comum. E: poderia po. Com esses valores de pK, o aminoácido deve ser
haver uma profunda mudança na função. histidina.
11. E Todas as lipoproteínas compartilham essas ca 14. Você deve ter os aminoácidos N- e C-terminais
racterísticas. C: a face polar interage com água, e a corretos, e o número total de aminoácidos (12)
face hidrofóbica é orientada em direção ao centro. no peptídeo também correto. Usando esses valo
D: o grupo hidroxila do colesterol é suficientemen res e sobrepondo os fragmentos, você deve obter a
te polar para que se oriente em direção à capa ex sequência Met-Phe-Pro-Met-Gly-Leu-Arg-Lys-Glu
terna. -Ala-Ala-Ile. Observe que o fragmento Lys-Glu não
dá nenhuma informação adicional para o sequen
12. C Apo B-100 é uma apolipoproteína primária de
ciamento.
144 • PARTE 1 ESTRUTURAS DE MACROMOLÉCULAS
PARTE II
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 145
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
4
Replicação,
Recombinação
e Reparo do DNA
Howard J. Edenberg
Professor Chancellor, Indiana University School of Medicine
4.3 REPLICAÇÃO DO DNA: ENZIMAS E REGULA 4.3 Topoisomerases Como Antibióticos, 158
ÇÃO, 156 4.4 Câncer e o Ciclo Celular, 163
4.4 RECOMBINAÇÃO, 164 4.5 Recombinação e Câncer, 164
4.5 DANOS AO DNA E MUTAÇÕES, 169 4.6 Recombinação e Terapia Gênica, 169
4.6 REPARO DO DNA, 172 4.7 Cisplatina e o Tour de France, 170
4.8 Análogos da Base Tiopurina Como Drogas, 171
4.9 Medicina Personalizada, 172
4.10 Xeroderma Pigmentoso, 175
4.11 Reparo de Pareamento Errado e Câncer, 177
Conceitos Chaves
• Replicação, reparo e recombinação do DNA envol • A replicação é muito semelhante em células bac
vem transesterificação, a troca de parceiros numa terianas e de mamíferos, mas as diferenças permi
ligação fosfodiéster. Todos os três processos ba tem que antibióticos inibam seletivamente o cres
seiam-se no pareamento complementar de bases. cimento bacteriano.
• A replicação do DNA requer um molde, um conjun • A replicação é muito regulada, como parte do ci
to de enzimas e os precursores adequados. É semi clo celular. A telomerase preserva as extremidades
conservativa, com as fitas parentais separando-se, dos cromossomos.
de modo que cada uma possa ser um molde para a
• A recombinação é essencial para a segregação cor
síntese de uma fita complementar. A dupla-hélice
reta de cromossomos entre células filhas. Um inter
se abre na forquilha de replicação e seguem-se uma
mediário chave é uma estrutura de DNA chamada
etapa de iniciação, a adição sequencial de nucleo
Junção Holliday. Erros de recombinação podem le
tídeos complementares e a ligação de fragmentos
var ao câncer.
adjacentes. O processo é extremamente preciso.
146 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
• Mudanças em um único par de bases dos 6 bilhões de nucleotídeo são processos muito precisos que
de pares de bases do genoma humano pode levar removem base(s) danificada(s). Defeitos nos me
a doença. Estima-se que ocorram 10.000–50.000 canismos de reparo do DNA podem causar câncer.
eventos danosos, como radiações e reações quí Alguns mecanismos de reparo introduzem erros no
•
micas, no DNA por célula por dia. Existem várias
DNA como um custo de deixar células lidarem com
reações diferentes para reparar DNA danificado.
danos que bloqueiam a replicação.
Reparo por excisão de base e reparo por excisão
A T A G T T C A
T A T C A A G
2! 2!
3! 3! A
O O O O O O OH O
O O O O O OH
–O
P P P P P P –O P G
O O O O O O O 2!
–O 5!–O –O –O –O –O O 5!
–O
3!
P OH
O 3!
O O 2! OH
O
–O P –O Pα
O O
–O O 5!
–O P
β O
O
–O P
γ O
–O
A T A G T T C A
T A T C A A G
2! 2!
3!
O 3!O O O O O O O O O O O OH
–O 5! P P P O P P P
P
O O O O –O O O –O O
–O –O –O –O –O 5!
O
+ –O
P
O
O
PPi
–O PO
–O =
pirofosfato
-se na necessidade de molde e primers para permitir a Essa combinação resulta na remoção de praticamente
polimerização do DNA. As células contêm várias DNA todos os nucleotídeos pareados incorretamente antes
polimerases que desempenham funções especializadas, da adição do nucleotídeo seguinte. Também leva à re
incluindo vários aspectos da replicação e da cópia de moção de alguns nucleotídeos adicionados corretamen
molde danificado (Tabela 4.2). DNA polimerases que te, mas esse é um preço a ser pago pela maior precisão
participam da replicação ajudam a garantir a precisão graças à revisão. A capacidade de discriminar entre os
de dois modos: pela seleção inicial do nucleotídeo apro nucleotídeos incorporados correta e incorretamente
priado a ser adicionado e pela revisão enzimática. fica comprometida quando a cadeia em crescimento é
muito pequena, porque a força do pareamento de ba
A seleção inicial baseia-se no encaixe do nucleotídeo
ses entre uma cadeia curta e o molde é fraca. Essa é a
que está chegando ao sítio ativo da polimerase. Um nu
explicação mais provável para a evolução das DNA poli
cleotídeo que chega e faz pontes de hidrogênio corretas
merases incapazes de iniciar cadeias de novo, e para o
com o nucleotídeo da fita molde pode ser adicionado à
uso de ribonucleotídeos para iniciar a síntese de DNA.
cadeia em crescimento. Um nucleotídeo que chega, mas
não faz as pontes de hidrogênio corretas, não se alinha Algumas DNA polimerases mutadas são, na verda
apropriadamente para a catálise. Mudanças conforma de, mais precisas do que a polimerase normal. Isso é
cionais na própria DNA polimerase são críticas para um paradoxo se considerar-se que há uma vantagem
garantir essa precisão, levando a uma taxa de erros na evolutiva para precisão cada vez maior. Entretanto,
faixa de 10–4 a 10–6. Embora bom para muitos proces há razões para se esperar que, acima de certo nível,
sos, não está nem perto da precisão necessária para a maior precisão não seja vantajosa e possa, de fato, ser
replicação. desvantajosa. Primeiro, uma revisão extremamente
A segunda maneira de as DNA polimerases aumenta precisa é energeticamente custosa. Para garantir que
rem a precisão é por revisão. Isso é fei
para
to por5!,uma
queatividade
remove nucleotídeos pare
exonucleolítica 3! (a) Nucleotídeo correto na extremidade 3!.
5! 3! OH
ados incorretamente a partir da extre 5!
midade 3! da cadeia nascente. A revisão
é parte integrante de muitas DNA poli (b)
Nucleotídeo pareado incorretamente na extremidade 3!.
merases replicativas, mas também pode 3! OH
ser feita por uma proteína associada ao 5!
complexo de replicação. Um primer 5!
com um nucleotídeo terminal pareado
corretamente é um bom substrato para FIGURA 4.4 Revisão.
a adição do próximo nucleotídeo, mas (a) Quando o nucleotídeo correto é adicionado à extremidade 3! de um primer, o
um mau substrato para a exonuclease resultado é um bom substrato para a adição de um nucleotídeo, mas um mau subs
trato para a exonuclease 3! para 5!. (b) Nas raras ocasiões em que um nucleotídeo
3! para 5!(Figura 4.4). Um primer com
incorreto é adicionado ao primer, o primer resultante contendo um erro de parea
um nucleotídeo terminal pareado erro
mento na extremidade 3! é um mau substrato para adição de um nucleotídeo, mas
neamente é um mau substrato para a um bom substrato para a exonuclease de revisão 3! para 5!, que remove o nucleotí
adição de um nucleotídeo, mas um bom deo pareado incorretamente. Isso deixa o primer mais curto, mas pronto para que o
substrato para a exonuclease 3! para 5!. nucleotídeo correto seja incorporado.
potencial (grampos que poderiam impedir a polimeri de RNA sintetizadas por uma enzima especial chamada
zação) e alinham as fitas moldes para rápida síntese de primase. Em células eucarióticas, os primers de RNA
DNA. As SSBs são importantes não só na replicação, têm 8-10 nucleotídeos de comprimento. Esses nucleolí
mas também na recombinação e no reparo. deos fornecem um 3!-OH livre ao qual o primeiro deso
xirribonucleotídeo pode ser covalentemente adicionado
(Figura 4.7). Portanto, cada fragmento de Okazaki con
Resolvendo o Problema da tém um segmento curto de RNA em sua extremidade 5!,
covalentemente ligado ao DNA.
Polaridade: Síntese de DNA
Semidescontínua Elongação da Fita
Fitas antiparalelas em uma forquilha representam Cadeias de DNA crescem por adição repetida de
um problema imediato para o processo de replicação: nucleotídeos às extremidades 3!-OH das cadeias, pelo
uma fita filha está orientada com a extremidade 3! vol mecanismo apresentado na Figura 4.3. Essa reação é
tada para a forquilha, e a outra tem sua extremidade 5! catalisada por uma DNA polimerase.
voltada para a forquilha. (Figura 4.5). A
3!
fita com seu 3!-OH orientado em direção SSB
à forquilha pode ser elongada simples- 5! 3!
Helicase
mente pela adição sequencial de novos
nucleotídeos a essa extremidade (ver 3!
Figura 4.3); essa fita é chamada fita con DNA novo
tínua, líder ou anterógrada. A outra fita 5!
tardia, retrógrada
5!
3!
Movimento da Forquilha de Fita descontínua,
Replicação
FIGURA 4.6 Resolvendo o problema de polaridade: síntese
Início semidescontína de DNA.
Ambas as fitas em crescimento são elongadas em suas extremidades
DNA polimerases requerem iniciadores (pri 3!. A que tem sua extremidade 3! voltada para a forquilha pode cres
mers). A fita contínua (líder) requer apenas um cer continuamente; é chamada fita contínua ou líder. Como nenhuma
evento iniciador, que ocorre no início da replicação DNA polimerase pode adicionar nucleotídeos à extremidade 5! de uma
(p. 160). Porém, cada fragmento de Okazaki da fita cadeia em crescimento, a fita com sua extremidade 5! voltada para a
forquilha é feita como uma série de pequenos pedaços chamados frag
descontínua (retrógrada, tardia) requer um primer
mentos de Okazaki, cada um sintetizado na direção de 5! para 3! e,
separado. Esses primers são pequenas extensões depois, unidos. Esta é chamada fita descontínua, retrógrada ou tardia.
152 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
(a) 3!
Remoção do Primer 5!
Fita
Os primers de RNA são removidos da contín
uoa
Fitas parentais
extremidade 5! dos fragmentos de Okazaki 5!
por enzimas com atividade de RNA hibri 3!
3!
dase (RNaseH). RNaseH catalisa a hidróli tínua
scon 5!
de
se de uma cadeia de RNA ligada por pontes Fita
de hidrogênio a uma cadeia de DNA (isto é, 3!
um híbrido RNA-DNA). Em eucariotos, uma 5!
Preenchimento da Falha 5! 5!
3!
Remoção do RNA primer deixa uma fa
lha (gap) (Figura 4.7). A síntese deve preen
cher essa falha com desoxirribonucleotídeos, (c) 3!
5!
deixando apenas uma incisão (nick). Note a
terminologia: uma falha (gap) significa que
pelo menos um nucleotídeo está faltando. 5!
3!
Uma incisão (nick) é uma interrupção no 5! 5! 5! 3!
esqueleto fosfodiéster, sem falta de nucleotí
deo. A falha é preenchida com desoxirribonu
3!
cleotídeos por uma DNA polimerase, usando
o fragmento de Okazaki mais recentemente
sintetizado como primer. O fragmento de (d) 3!
5!
Okazaki fornece uma combinação primer
-molde segura, que permite revisão precisa.
5!
Ligação 3!
A A
2" 2"
OH OH =O
O / O / -
/* 3 /* 3 ºs#/
on 4 º "sofº"
O —> º "so_>" +
O TOs. / 6^o
tyr TOs. /
/ >o
t /
yr -o.Ps
>O
"Os P/
=O/ s O
(a)
=O #
>
O O
/
tyr
(b)
OH
/
tyr
(c)
A A T A G A T C A
+ [ A T C T A G T
2" (d)
2" 2
O •
-o-K K o S o O O O O o S o
=O
/ >O os/
/ >O ºs?
/ >O ºs?
/ >O ºs/
/>
os#
/ >O os/
/ >O ºs?
/ >O os/
/ >O
=O 5"O =O =O —O =O O 5. O
)
A
T –O –O
O POO A
T OPOO
+ G
C –O
O POO
OH G
C A
T
T G C A A
A C G T T
–OOHPOOO
tir
tir
nal de seu molde, a fita descontínua não pode. Não há 4.3 REPLICAÇÃO DO DNA:
espaço para sintetizar um primer ao qual nucleotídeos
opostos ao final do molde possam ser adicionados (Fi ENZIMAS E REGULAÇÃO
gura 4.12a). Mesmo se houvesse uma primase que pu
desse iniciar na extremidade do molde, a remoção do
RNA deixaria uma falha curta. Embora a impossibili Enzimas Procarióticas da Replicação
dade de completar a fita tardia na extremidade do cro
mossomo não seja um problema em uma única geração, Enzimas que executam o movimento de uma forqui
ao longo de muitos ciclos de replicação as extremidades lha de replicação em E. coli são apresentadas na Figura
dos cromossomos seriam encurtadas, até que genes es 4.13. A principal DNA polimerase replicativa em E. coli
senciais fossem perdidos, levando à morte celular. Por é a DNA polimerase III (pol III). Pol III é um comple
tanto, é essencial impedir perda contínua de DNA nas xo multi-subunidades que sintetiza a fita contínua e a
extremidades dos cromossomos. maior parte da fita tardia. O centro (core) da polime
rase contém uma subunidade q, que catalisa a forma
Um segundo problema que eucariotos enfrentam é ção da ligação fosfodiéster, uma subunidade β que é a
que as extremidades das moléculas de DNA tendem a exonuclease de revisão 3! para 5!, e uma subunidade β.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 157
não é suficiente para permitir que a replicação ocor gue essencialmente a mesma via. Mas diferenças entre
ra. DNA girase, uma topoisomerase tipo II, é essencial enzimas bacterianas e humanas nos detalhes de suas
para a replicação do DNA. A DNA girase age como um especificidades e mecanismos são usadas em terapia
“interruptor giratório” (swivel) para remover superen antibacteriana, para atingir a replicação do patógeno e
rolamentos positivos ou introduzir superenrolamentos poupar as células hospedeiras.
negativos; a direção é idêntica. A girase é um heterotet
râmero com duas subunidades “swivelase” codificadas A fita contínua, na forquilha de replicação, é sinteti
por gyrA, e duas subunidades ATPase codificadas por zada pela DNA polimerase d (pold), associada à braça
gyrB. As subunidades swivelase catalisam reações de deira corrediça chamada antígeno nuclear de célula em
transesterificação que quebram e refazem o esqueleto proliferação (PCNA – proliferating cell nuclear anti
fosfodiéster, criando e selando novamente uma quebra gen). O PCNA foi detectado pela primeira vez como um
transitória em ambas as fitas (uma quebra transitória antígeno nos núcleos de células em replicação, daí seu
de dupla fita). A hidrólise de ATP está acoplada à ação nome. Três subunidades de PCNA são organizadas para
da girase, não para formar novas ligações fosfodiéster, formar um anel ao redor do DNA (Figura 4.10), ao qual
mas para desencadear as alterações conformacionais pol d se liga. A montagem desse anel requer um fator de
que permitem que uma dupla hélice passe através da instalação da braçadeira chamado Fator de Replicação
quebra transitória da fita-dupla, resultando em redução C (RFC).
unidirecional no número de ligação. Antibióticos que
A situação na fita tardia é um pouco mais complica
têm como alvos uma ou a outra subunidade da DNA gi da em eucariotos do que em E. coli (Figura 4.14). Uma
rase, param rapidamente a replicação de E. coli (Cor
atividade de helicase em eucariotos separa as fitas pa
relação Clínica 4.3). E. coli tem uma segunda atividade
rentais, e uma proteína de ligação ao DNA fita simples
de topoisomerase tipo II, topo IV, que é importante na
chamada proteína de replicação A (RPA) liga-se às fitas
segregação cromossômica entre as células filhas.
simples expostas. Em eucariotos, a primase forma um
complexo com DNA polimerase a (pol a), que inicia a
Enzimas Eucarióticas da Replicação síntese dos fragmentos de Okazaki. Esse complexo pol
a/primase sintetiza um primer de aproximadamen
Eucariotos requerem os mesmos tipos de atividades te 10 ribonucleotídeos e, depois, muda a atividade de
enzimáticas que os procariotos, porque a replicação se primase para DNA polimerase e elonga o primer com
aproximadamente 15-30 desoxirribonucleotídeos. O
produto dessa reação dual é uma curta extensão de
CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.3
DNA ligado covalentemente ao RNA primer. Uma vez
que o fragmento de Okazaki tenha atingido esse com
Topoisomerases Como Antibióticos primento, o complexo pol a/primase se dissocia do
DNA. RFC liga-se a esse primer elongado e serve como
Antibióticos que têm como alvo qualquer subu instalador de braçadeira para montar a braçadeira cor
nidade da DNA girase rapidamente param a replica rediça de PCNA. Então, pol βliga-se à PCNA e completa
ção de E. coli, porque o impedimento da redução do os fragmentos de Okazaki até um comprimento final de
número de ligação das fitas parentais impede que as cerca de 130-200 pb.
fitas se desenrolem. Existem duas maneiras de atin
gir as topoisomerases. Inibidores de topoisomerases, A remoção do primer é efetuada em duas etapas
como coumermicina A1 e novobiocina, impedem a por RNaseH e FEN1. RNaseH degrada o RNA primer,
atividade catalítica; têm como alvo as subunidades deixando um único ribonucleotídeo ligado à extremi
ATPases, codificadas por gyrB. dade do fragmento de Okazaki. A flap endonuclease 1
(FEN1) remove o último ribonucleotídeo (e possivel
Venenos de topoisomerases, como ácido nalidíxi mente alguns desoxirribonucleotídeos), “descascando”
co, congelam as ligações covalentes DNA-proteína; um ou alguns poucos nucleotídeos, formando uma pe
esses complexos são letais se convertidos em quebras quena lingueta (flap) e depois clivando a ligação fos
de dupla-fita, o que aconteceria durante a replicação. fodiéster no ângulo, para liberar o flap. Se houver um
O ácido nalidíxico é usado em infecções do trato erro de pareamento entre os primeiros nucleotídeos do
urinário; tem como alvo as subunidades swivelase, fragmento de Okazaki, como resultado de incorporação
codificadas por gyrA. A ciprofloxacina, outro veneno incorreta pela pol a, o erro desestabilizaria a extremi
de topoisomerase, é um dos antibióticos orais mais dade 5! e criaria um flap maior, que seria removido por
efetivos em uso clínico hoje; é usado para evitar e FEN1. Isso aumenta a precisão do processo de replica
tratar antrax e muitas outras infecções bacterianas. ção por remover erros introduzidos por pola.
Froelich-Ammon, S. J., e Osheroff, N. Topoisomerase A falha que fica é preenchida pela pol d estendendo
poisons: Harnessing the dark side of enzyme mechanism. a extremidade 3! do fragmento de Okazaki sintetizado
J. Biol. Chem. 270:21429, 1995. por último (Figura 4.14). O complexo pol d/PCNA libe
ra o DNA quando encontra dNTPs na extremidade 5!
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 159
do fragmento de Okazaki sintetizado anteriormente. A parcialmente para repetir esse processo. Como em E.
incisão remanescente é selada pela DNA ligase. O com coli, duas moléculas da principal polimerase replicati
plexo pol d/PCNA do replissomo deve ser ligado nova va, pol d nesse caso, são mantidas juntas em um replis
mente ao próximo fragmento de Okazaki sintetizado somo, ou “fábrica de replicação”, no qual ambas as fitas
são sintetizadas (Figura 4.11).
Fragmento de Okazaki anterior
3! O DNA eucariótico é organizado em
5! nucleossomos que contêm aproxima
5! Molde para a fita tardia
RPA
damente 200 pb de DNA. A dissociação
(a)
dos nucleossomos é necessária para a
replicação e provavelmente limita a
Polα/primase velocidade de síntese do DNA. Quan
Primer de RNA
do um único nucleossomo é dissocia
3! do, cerca de 200 pb do DNA parental
5! ficam disponíveis para serem separa
dos; a síntese do primers pode ocorrer
(b)
em qualquer lugar do DNA fita simples
exposto. Isso explicaria o tamanho li
Polα/primase mitado dos fragmentos de Okazaki em
células humanas.
3!
5!
Os seres humanos têm topoisome
rases tipo I e tipo II. A topoisomerase
tipo I humana, chamada enzima de
(c) quebra-fechamento (Figura 4.9), é ca
PCNA paz de remover tanto superenrolamen
RFC to positivo como negativo; funciona
durante a replicação e a transcrição do
3!
DNA. A topoisomerase tipo II é crítica
5! na etapa de terminação e para segre
gação dos cromossomos, que ficariam
emaranhados à medida que as muitas
(d)
Polδ
bolhas de replicação se completam. Topo II é uma pro criar uma forquilha de replicação. Uma bolha de repli
teína abundante que também desempenha um papel na cação é formada em cada origem e um par de forquilhas
ligação do DNA a pontos específicos da matriz nuclear é estabelecido e estas se movem para longe da origem,
durante a intérfase. A topoisomerase II humana não é cada uma em uma direção (Figura 4.15). Portanto, a
uma girase, uma vez que não introduz superenrolamen replicação é bidirecional.
to negativo. A quimioterapia do câncer frequentemente
tem topoisomerases como alvos, usando venenos que O Complexo de Reconhecimento da Origem (ORC,
levam a quebras de dupla-fita durante a replicação. As Origin Recognition Complex), em eucariotos, orga
células em rápida replicação são mais sensíveis a tais niza-se em múltiplas origens (Figura 4.16). Para que
drogas do que as células quiescentes. ocorra a iniciação, a organização de um ORC em uma
origem é necessária, mas não suficiente. Um segundo
Iniciação da Replicação complexo, chamado proteínas de manutenção de mini
cromossomos (MCM), que tem uma fraca atividade de
Na discussão anterior, vimos a progressão de uma helicase, também deve se ligar, formando um complexo
forquilha de replicação. Mas como uma forquilha de re pré-replicativo; Cdc6 (a proteína codificada por Cdc6)
plicação começa? E como a iniciação é controlada de é necessária para essa ligação. Uma vez que o complexo
modo que todo o genoma seja copiado uma vez, e ape ORC/MCM ligado a uma origem seja ativado, ele cata
nas uma vez? A replicação começa em locais específicos lisa a separação inicial das fitas parentais para formar
chamados origens de replicação. As origens conheci uma pequena bolha de replicação (Figura 4.16). SSBs
das contêm múltiplas sequências repetitivas curtas, (a SSB humana é RPA) ligam-se e mantêm as fitas se
que ligam proteínas iniciadoras específicas, e regiões paradas. O complexo MCM pode, então, funcionar como
ricas em AT, nas quais ocorre a separação inicial das helicase para permitir que a forquilha de replicação
fitas parentais. O cromossomo de E. coli tem uma única desenrole. Ativação do complexo ORC/MCM é regula
origem de replicação, origem de replicação do cromos da por ciclinas e quinases dependentes de ciclinas (ver
somo (oriC), uma região de aproximadamente 245 pb. p. 1029). A fosforilação de Cdc6 por uma quinase de
Existem milhares de origens em células eucarióticas pendente de ciclina causa sua inativação e impede sua
(Figura 4.15), que permitem que essas células repli ligação ao complexo; esse é um dos mecanismos pelo
quem a grande quantidade de DNA no tempo limitado qual o reinício da replicação, que seria desastroso para
de um ciclo celular. Em levedura, as origens são deno a célula, é impedido.
minadas sequências de replicação autônoma (ARS,
automonously replicationg sequences). No homem, A iniciação da síntese de DNA usa a maioria dos
sequências específicas que servem como origens não mesmos mecanismos e enzimas do movimento de uma
foram identificadas. forquilha de replicação (Figura 4.14 e Figura 4.16). Em
eucariotos, o complexo pol a/primase inicia a síntese
Em E. coli, oriC é ligada a uma proteína iniciadora de um RNA primer e depois muda para elongação com
chamada DnaA. DnaC então se associa e funciona como dNTPs. Esse polinucleotídeo curto é elongado por uma
um “formador de pares” para permitir que DnaB, a heli DNA polimerase d da mesma forma que na fita descon
case, ligue-se e comece a separar as fitas parentais para tínua (retrógrada) em uma forquilha de replicação. O
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 161
replissomo que está elongando essa primeira fita pode está crescendo na direção oposta (Figura 4.16). Ambas
continuar a síntese e formar a fita líder da forquilha de as fitas líderes continuam a ser elongadas de maneira
um lado da bolha de replicação (Figura 4.16). Nessa muito processiva, e os fragmentos de Okazaki são sin
metade da bolha, a síntese do primeiro fragmento de tetizados nos lados opostos. O resultado é um par de
Okazaki na fita retrógrada é iniciada pelo mesmo meca forquilhas de replicação divergindo da origem.
nismo usado no movimento da forquilha de replicação
(compare com Figura 4.13). Entretanto, à medida que Telomerase
este primeiro fragmento de Okazaki é elongado, não en
contrará um fragmento anterior, de modo que continua Telômeros, as estruturas especializadas nas extre
a crescer na direção 5! para 3!; depois que passa a ori midades de cromossomos lineares em eucariotos (Fi
gura 4.12), são mantidos por telomerases, enzimas que
gem, torna-se a fita líder da forquilha de replicação que
adicionam novas repetições de seis nucleotídeos às ex
tremidades 3! dos telômeros. As telomerases são com
plexos ribonucleoproteicos contendo um pequeno RNA
(a)
ORC que serve de molde para adição de uma nova repetição
de seis nucleotídeos (Figura 4.17). Uma telomerase li
ga-se à extremidade da fita 3!, com parte do RNA da
(b) MCM telomerase ligado por pontes de hidrogênio aos últimos
nucleotídeos do cromossomo. Uma repetição de seis
nucleotídeos é sintetizada, usando o RNA como molde.
(c) Então, a telomerase pode se dissociar e reassociar para
adicionar outro hexâmero.
RPA helicase
(d)
RNAprimer
FIGURA 4.16 Iniciação da replicação em uma origem de
replicação eucariótica.
(a) O complexo de reconhecimento da origem (ORC) liga-se
a uma origem. (b) Um complexo MCM liga-se a ele; a prote
(e) ína 6 do ciclo de divisão celular (cdc6, cell division cycle 6
protein) é importante nessa montagem. (c) O complexo ini
ciador é ativado e a atividade de helicase abre as fitas paren
DNA tais, formando uma bolha muito pequena. SSB liga-se às fitas
simples expostas, helicases são associadas ao DNA e a bolha
cresce. (d) Pol a/primase sintetiza o primeiro RNA primer e,
após cerca de 10 nt, muda para elongação com desoxirribonu
cleotídeos. (Neste painel e nos subsequentes, o foco está no
processo que está ocorrendo com o DNA, e as proteínas não
(f) são mostradas). (e) Depois que cerca de 15-30 desoxirribo
nucleotídeos foram adicionados, pol a/primase sai e a cadeia
é elongada pela DNA polimerase d, que incorpora desoxirribo
nucleotídeos. Até esse estágio, o processo é semelhante ao que
ocorre na fita descontínua (retrógrada) (compare com Figura
4.14). Entretanto, a fita em crescimento não encontrará um
RNA primer
fragmento de Okazaki anterior; ela pode continuar elongando,
tornando-se a fita contínua (líder) na forquilha de replicação
que se move para a esquerda. (f) Um RNA primer é sinteti
zado no lado descontínuo da forquilha de replicação, como na
(g) progressão normal da forquilha. (g) Esse primer é elongado
como descrito anteriormente. Entretanto, esta fita em cres
cimento não encontrará um fragmento de Okazaki anterior;
RNA primer pode continuar elongando, tornando-se a fita contínua (líder)
na forquilha de replicação que se move para a direita. Um RNA
primer pode ser sintetizado nessa forquilha pelo mecanismo
normal (compare com Figura 4.14). Resultam duas forquilhas
DNA
de replicação divergindo da origem. O processo é simétrico ao
redor do eixo indicado pela linha tracejada, com forquilhas em
imagem especular divergindo da origem.
162 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
S
Ciclo Celular síntese
ABCDEFGHIJKLMNOPQR+abcdefghijklmnopqrABCDEFGHIJklmnopqr+abcdefghijKLMNOPQR
Recombinação Homóloga
Existem três modelos principais para recombinação
homóloga (Tabela 4.3). Eles estão relacionados de vá
rias formas, e têm um intermediário comum chamado
junção Holliday. O mais simples é o modelo Holliday; o
entendimento de seus pontos chaves tornará fácil ver as
diferenças dos outros.
FIGURA4.19 Recombinação homóloga.
(a) O cromossomo paterno é mostrado em azul, com os ale
los mostrados por letras maiúsculas. O cromossomo homólogo Modelo Holliday
materno é mostrado em vermelho, com os alelos mostrados As características chaves do modelo Holliday são:
por letras minúsculas. (b) Depois da recombinação homóloga
entre os genes j e k, ambos os cromossomos contêm DNA de (a) homologia, (b) simetria de ambas as quebras e in
ambos os pais. Houve uma troca igual, recíproca entre eles. vasão da fita; e (c) presença de uma “junção Holliday”
de quatro fitas como intermediário chave (Tabela 4.3).
Nesse modelo, a recombinação é iniciada por um par de
quebras de fita única em posições homólogas nos dois
CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.5 dúplices de DNA alinhados (Figura 4.20). As fitas de
Recombinação e Câncer cada duplex desenrolam parcialmente, e cada uma “in
vade” o duplex oposto. Isto é, uma parte da fita de cada
Erros de recombinação podem levar a duplica duplex estabelece pares de bases com o duplex oposto
ções ou deleções de genes, expansão de tripletes, de modo recíproco e simétrico. Essas fitas podem ser
fusões de genes e rearranjos cromossômicos. A fre unidas covalentemente ao duplex oposto, criando uma
quência de eventos de recombinação aumenta com molécula de junção na qual duas fitas cruzam entre as
danos ao DNA, em parte e decorrência da ruptura de moléculas de DNA.
forquilhas de replicação e, em parte, em decorrên
cia de quebras no DNA. Recombinação pode ocorrer Então ocorre a migração da ramificação (Figura
entre sequências relacionadas, mas não idênticas, 4.20c); migração da ramificação é o desenrolamento
dentro de um cromossomo ou entre cromossomos. e enrolamento simultâneo dos dois dúplices, de modo
Também pode ocorrer por ligação de extremidades que o número total de pontes de hidrogênio permanece
não homólogas após quebra da dupla-fita do DNA. constante, mas a posição do cruzamento muda. Como o
Algumas formas de câncer são desencadeadas por número de pontes de hidrogênio permanece constante
rearranjos cromossômicos específicos que resultam e a molécula de DNA fina e cilíndrica gira com facili
em fusões de genes que formam oncogenes. A leuce dade em torno do seu eixo, a migração da ramificação
mia mieloide crônica (CML) e a leucemia linfocítica requer pouca energia. A migração da ramificação cria
aguda (ALL) podem resultar de translocações entre uma região de heteroduplex, uma região em que uma
os cromossomos 9 e 22 que criam proteínas de fusão fita vem de um duplex original e a outra vem do outro
entre os genes BCR e ABL. A proteína de fusão BSR duplex. No homem, dois indivíduos diferem em apro
-ABL é uma tirosina quinase ativa que funciona como ximadamente um par de bases por mil; portanto, uma
um oncogene. região de heteroduplex frequentemente contém pelo
menos um par de bases errado.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 165
As fitas cruzadas são ligadas covalentemente ao fita quebrada serve como uma combinação molde-pri
outro duplex (Figura 4.20c). Os dois dúplices de DNA, mer que uma DNA polimerase elonga, e essa elonga
unidos por um único ponto de cruzamento, podem gi ção desloca parte do duplex invadido (Figura 4.21b).
rar como mostram as Figuras 4.20e e 4.20h para criar A fita deslocada invade o duplex oposto, alinhado, for
a junção Holliday de quatro fitas. Sua resolução em mando uma estrutura chamada alça-D (D-loop) (Figu
dois dúplices pode ocorrer por duas maneiras, repre ra 4.21c). A parte fita-única da alça-D é degradada, e
sentadas por cortes verticais ou horizontais na Figura síntese do reparo e fechamento resultam em crossing
4.20e. Se as fitas cruzadas forem cortadas (corte 1), os over de uma fita. Ocorre a migração da ramificação. A
marcadores que flanqueiam a região do heteroduplex quebra remanescente é selada, e as fitas podem girar
permanecem ligados da mesma fase original (X com Y para formar uma junção Holliday idêntica à descrita
e x com y; painelf); num nível grosseiro, os cromos para o modelo Holliday precedente (Figura 4.21e), que
somos permanecem inalterados. Se as fitas intactas é resolvida exatamente da mesma maneira, resultando
forem cortadas (corte 2), as regiões flanqueadoras são numa troca de marcadores flanqueadores (corte 2: X
trocadas entre os dois cromossomos, criando um novo com y e x com Y; Figura 4.21g) ou na configuração origi
cromossomo contendo parte de um dos pais e parte do nal dos marcadores (corte 1: X com Y e x com y; Figura
outro (X com y e x com Y; Figura 4.20g). O heterodu 4.21f). A diferença chave no modelo Meselson-Radding
plex pode sofrer reparo de pareamento errado (p. 175), é o heteroduplex assimétrico que resulta da invasão por
convertendo um alelo em outro, um processo chamado uma fita de um dos dois dúplices. O reparo de parea
conversão gênica. mento errado pode levar a conversão gênica, como no
modelo Holliday.
Modelo de Meselson e Radding
Uma vez que você tenha entendido o modelo Holli (a) gene X gene Y
day, é fácil entender a variante proposta por Meselson e
Radding (Tabela 4.3). Esse modelo é iniciado por uma +
única quebra e uma única fita invasora, em lugar de um
par de quebras e invasão recíproca (Figura 4.21a). A gene x gene y
genexgeney
Modelo de Quebra da Dupla Fita plex perdeu DNA na região da quebra, o preenchimento
da falha requer que a informação genética para ambos
O terceiro modelo é o de quebra da dupla fita (Ta os cromossomos resultantes venha do duplex intacto;
bela 4.3). Nesse modelo, a recombinação é iniciada por portanto, se existiam diferenças de sequência entre os
uma quebra da dupla fita em um duplex (Figura 4.22a). cromossomos na falha, terá ocorrido conversão gênica.
As extremidades são ressecadas (Figura 4.22b), resul
tando em perda de informação genética de um dos dois
dúplices. Há formas alternativas desse modelo. Em uma Proteínas Chaves da Recombinação
delas, os dois segmentos de fita única do duplex quebra em E. coli
do invadem o duplex intacto, formando uma molécula
com duas junções Holliday. As extremidades quebradas Em E. coli, a proteína chave do processo de recom
podem ser reparadas por uma polimerase, usando a ca binação é RecA, que se liga de maneira cooperativa a
deia intacta como molde, e uma DNA ligase. A migração um DNA de fita simples e forma um enovelamento heli
da ramificação ocorre como nos modelos anteriores. coidal. Isso facilita o pareamento da fita única com um
Em um modelo alternativo, a extremidade 3! de um DNA homólogo duplex para formar a tripla fita da alça
dos dois lados da quebra invade a outra fita e estabe -D. Troca de fitas pode ocorrer, levando a DNA hetero
lece uma alça-D que permite copiar o duplex intacto. duplex. Eucariotos têm proteínas homólogas, sendo que
Isso pode resultar em uma pequena bolha de replicação sua versão humana é chamada RAD51.
com síntese em ambas as fitas por uma distância curta,
e resolução quando a bolha encontra o outro lado da RecBCD é um complexo de E. coli com múltiplas ati
quebra. Isso responderia por extensa conversão gênica. vidades; liga-se a uma quebra de dupla fita e a processa
em um substrato para a recombinação degradando o
A resolução das duas junções Holliday é feita por um DNA para trás, até encontrar uma sequência especial
par de cortes (Figura 4.22f). Como há duas direções chamada sítio χ, deixando uma projeção de fita simples
possíveis para resolver cada junção, há quatro resulta com 3!-OH. RecA pode se ligar a essa fita única para
dos possíveis. Duas deixam os marcadores flanqueado iniciar o pareamento com o duplex homólogo. RuvA e
res juntos em sua configuração original (X com Y e x RuvB formam um complexo com atividade de DNA he
com y), e duas levam a troca dos marcadores flanquea licase que catalisa extensa migração da ramificação,
dores (X com y e x com Y). A resolução por uma topoi uma etapa chave na recombinação. RuvC é uma endo
somerase tipo II também pode ocorrer. Como um du nuclease que se liga a esse complexo e catalisa a resolu
ção das junções Holliday.
C
T
G
gene x geney
(b)
C
T
H
CH
H NC
C NH
N H O CORRELAÇÃO CLÍNICA 4.7
C CC
CH NH Cisplatina e o Tour de France
NC
Muitas drogas comumente usadas em quimiote
H O H O
rapia são agentes alquilantes, frequentemente com
(a) dois grupos funcionais que podem criar ligações cru
zadas tanto intracadeia como intercadeias no DNA.
Ciclofosfamida, busulfan e nitrosoureia são agentes
A A G C T T G T A alquilantes. Agentes alquilantes não são apenas tóxi
T T C A A C A T cos, mas também mutagênicos, às vezes, resultando
em câncer secundário como leucemias.
(b) Cisplatina (cis-diaminodicloroplatina),
CH3
NH3
O6Me-G O N ClPt NH3
HN CC
N C H Cl
COHC
N
N usada para tratar câncer metastático testicular, ova
H riano e uma grande variedade de outros tipos, faz
(c) ligação cruzada no DNA. Entre os graves efeitos co
laterais da cisplatina estão depleção de medula ós
sea, insuficiência renal grave e perda de audição e
AçúcarN CH N de equilíbrio. O câncer testicular disseminado cos
Açúcar CO
O C C CH3
tumava ser quase sempre fatal (5% de taxa de cura
Fosfato
em 1973), até que uma combinação quimioterápica,
C N H na qual a cisplatina foi adicionada a vinblastina e ble
N C C CO
omicina, foi desenvolvida pelos Drs. Larry Einhorn e
H CH3Anel
John Donohue Indiana University School of Medici
ciclobutano ne. A nova combinação aumentou muito a sobrevida.
(d) (e) Esse protocolo foi posteriormente modificado para
uma combinação de cisplatina, etoposídeo e bleo
FIGURA 4.23 Danos ao DNA.
micina. Hoje, aproximadamente 80% dos pacientes
(a) Deaminação oxidativa converte C em U. (b) Sítio AP. Despuri
nação (ou, menos frequentemente, despirimidinação) é a clivagem
sobrevivem. Após tratamento de câncer testicular
de uma ligação glicosídica entre a posição 1! do açúcar e a base. Isso avançado, o ciclista campeão mundial Lance Arms
deixa um sítio abásico ou AP, mas não quebra o esqueleto açúcar trong competiu e ganhou o Tour de France sete ve
-fosfato. (c) O6-metil guanosina é uma lesão altamente mutagênica. zes consecutivas.
(d) Luz ultravioleta leva à ligação cruzada entre piridinas adjacen
tes ao longo de uma das fitas do DNA. Um dímero timina cis-syn Einhorn, L. H. Curing metastatic testicular cancer.
ciclobutano é mostrado no esquema. (e) Um dímero ciclobutano é Proc. Natl. Acad. Sci. USA 99:4592, 2002
mostrado no DNA dupla-fita; o esqueleto é mostrado como um bas
tão para revelar a distorção das bases em ligação cruzada (amarelo)
e bases complementares na outra fita.
6-Mercapto purina (6-MP) é um análogo de purina ferase (TPMT). Alguns pacientes (cerca de 10% da po
administrado oralmente que é útil na quimioterapia de pulação) são heterozigotos para um polimorfismo que
leucemias agudas e para imunossupressão após trans inativa a enzima e, portanto, têm aproximadamente 50%
plante de órgãos. Age por vários mecanismos, inclusive da atividade, e 1/300 das pessoas não têm atividade de
inibindo a biossíntese de purinas e causando toxicidade TPMT e correm risco extremamente elevado de imunos
após incorporação ao DNA. É metabolizada a 6-MP ribo supressão grave e morte, se forem tratados com 6-MP.
sina 5!-fosfato, que tem meia-vida curta porque é degra Por outro lado, pessoas que metabolizam as drogas mais
dada por xantina oxidase. A velocidade de degradação é rapidamente podem não atingir dose terapêutica sufi
muito reduzida em pacientes que estão sendo tratados ciente. Essa diferença farmacogenética, portanto, tem
com alopurinol (um inibidor da xantina oxidase) para sérias implicações para o tratamento com tiopurinas.
hiperuricemia relacionada à gota, de modo que a dose
deve ser drasticamente reduzida em tais pacientes. Sanderson, J., Ansari, A., Marinaki, T. e Duley, J. Thiopu
rine methyltransferase: Should it be measured before com
Outra enzima que metaboliza 6-MP (e o antimetabó mencing thiopurine drug therapy? Ann. Clin. Biochem.
lito relacionado 6-tioguanina) é tiopurina metil trans 41:294, 2004.
troem a codificação de uma proteína (Figura (e) Expansão de tripletes, pode causar doença
-se no DNA; isto é, inserem-se entre pares de bases do, como na doença de Huntington (Correlação Clíni
adjacentes. Isso geralmente leva a inserções ou dele ca 2.6). Expansão de tripletes também pode afetar a
ções de um único par de bases e, assim, uma mudan regulação de um gene, como na síndrome do X Frágil
ça na estrutura de leitura. Mutações também podem (Correlação Clíninica 2.6), na qual a sequência de tri
resultar de alterações em larga escala, incluindo in pletes muito aumentada no promotor altera a expres
serção de transposons. Embora raras em uma geração são gênica. Nessas doenças de expansão de tripletes
qualquer, mutações acumularam-se em populações ao há um fenômeno pouco comum: a doença geralmente
longo de milhões de anos, de modo que duas pessoas fica mais grave em gerações sucessivas, como resul
diferem em cerca de 1 pb por 1.000 ao longo de seus tado de aumento ainda maior no comprimento dos
genomas. Muitas dessas diferenças genéticas não têm tripletes, porque quanto mais longa for a sequência
efeito, mas outras afetam nossa fisiologia, susceptibili repetitiva, maior a probabilidade de alinhamento er
dade a doenças e resposta a tratamentos (Correlação rado durante a replicação ou crossing over desigual,
Clínica 4.9). levando a repetições drasticamente mais longas.
Medicina Personalizada
Indivíduos diferem na sequência do DNA do seu ge Quanto mais se aprende sobre os efeitos dessas diferen
noma de formas sutis, como resultado de um acúmulo ças de sequências sobre doenças e tratamentos, mais
muito gradual de mutações na população ao longo de a medicina se tornará adaptada ao indivíduo. Já existe
muitas gerações. As diferenças mais comuns envolvem tecnologia para determinar rapidamente que polimor
um único par de bases; isso é chamado polimorfismo de fismo está presente em pontos específicos do genoma
um único nucleotídeo (SNP) (embora polimorfismo de de um indivíduo. Quando essas tecnologias ficarem
um único par de bases fosse mais correto). Existem qua mais baratas e rotineiras, a determinação dos alelos
se 7 milhões de SNPs validados no genoma humano, e presentes em genes chaves tornar-se-á parte rotineira
muitos mais reportados; isso dá uma média de 1 por 500 do diagnóstico e do planejamento do tratamento. Por
pb. A maioria dos polimorfismos não afeta as funções ce exemplo, há diferenças significativas entre indivíduos
lulares, mas outros contribuem para as muitas diferenças na velocidade com que metabolizam drogas (compare
que vemos. Alguns afetam susceptibilidade a doenças es Correlação Clínica 4.8). Uma dose padrão baseada no
pecíficas, alguns afetam o metabolismo de drogas e ou peso corporal pode ser muito baixa para ser efetiva na
tros compostos (farmacocinética), e outros ainda afetam queles que metabolizam a droga rapidamente, mas tóxi
a resposta a essas drogas (farmacodinâmica). ca para aqueles que a metabolizam muito lentamente.
Determinação de polimorfismos relevantes e testes ro
Como parte do projeto genoma humano, há um gran tineiros poderiam levar a terapias mais eficientes, com
de esforço para descobrir e catalogar polimorfismos. menos efeitos colaterais.
CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 173
de danos. A característica que define o reparo por ex resíduos C no DNA de mamíferos, na sequência CG,
cisão é a remoção do(s) nucleotídeo(s) danificado(s), são metilados na posição 5; isso é importante na regu
deixando uma falha no DNA, seguida por ressíntese, lação da expressão gênica. Deaminação de um 5-metil
usando a informação genética da fita oposta e, depois, C deixa um T, em vez de um U, no DNA. Esses resíduos
ligação para restabelecer a continuidade do DNA. Exis T não são reconhecidos pela uracil DNA glicosilase,
tem dois modos principais de reparo por excisão: repa mas existem outras glicosilases que reconhecem o par
ro por excisão de base (BER) e reparo por excisão de errado T:G resultante e removem preferencialmente
nucleotídeos (NER) (Tabela 4.4). T, deixando um sítio AP (Figura 4.23b). Às vezes, en
tretanto, o sistema de reparo de pareamento errado
Reparo por Excisão de Base remove G em vez de T, criando uma mutação. Ao longo
de milhões de anos, isso levou a uma frequência mui
Reparo por excisão de base é um processo essen to menor do que o esperado de dinucleotídeos CG no
cial que repara muitos tipos diferentes de bases dani
DNA de mamíferos.
ficadas, incluindo bases metiladas, bases deaminadas
(por exemplo, U resultante da deaminação de C), ba
ses oxidadas e sítios abásicos (AP). A etapa inicial é a
remoção de uma única base danificada do esqueleto
do DNA por uma DNA glicosilase, uma enzima que
(a)
corta a ligação N-glicosil entre o açúcar e a base (Fi
gura 4.25). Essa etapa não quebra o esqueleto açúcar
-fosfato do DNA; ao contrário, deixa uma desoxirribo
se abásica no esqueleto, um sítio AP que precisa ser (b)
removido. Duas atividades diferentes são necessárias
para remover esse açúcar: uma AP endonuclease, que
quebra a ligação fosfodiéster no lado 5!, mas deixa o (c)
açúcar ainda ligado ao nucleotídeo seguinte, e uma
AP liase, que corta o lado 3! do sítio AP para remo
ver o açúcar. A falha resultante de um único nucleo (d)
tídeo tem um 3!-hidroxila livre. A falha é preenchida
por uma DNA polimerase e ligada por uma DNA ligase
(Figura 4.25). (e)
Existem, pelo menos, oito glicosilases diferentes FIGURA4.25 Reparo por excisão de base.
no homem, e cada uma reconhece certos tipos de (a)O ponto danificado (bolinha azul) é reconhecido por uma
bases danificadas. Uma delas, uracil DNA glicosila DNA glicosilase. (b) A base é removida por clivagem da ligação
se (UNG), é especializada em remover U do DNA. U glicosídica que a conecta com o açúcar desoxirribose; o esque
não é um constituinte normal do DNA, mas é formado leto açúcar-fosfato não é quebrado. Isso deixa um sítio AP. (c)
O esqueleto açúcar-fosfato é clivado no lado 5! do sítio abásico
quando C é deaminada, e pode ocasionalmente ser in
por uma AP endonuclease. Há também uma clivagem no lado
corporado ao DNA durante a replicação. A frequente 3! desse sítio para remover o resíduo de açúcar; isso pode ser
deaminação de C para U vista anteriormente (Figura feito por algumas AP endonucleases ou por uma atividade de
4.23a) levaria a uma alta taxa de mutação; portanto, AP liase. (d) A falha de um único nucleotídeo é preenchida
não é surpreendente que um mecanismo de reparo es por uma DNA polimerase. (e) A incisão remanescente é sela
pecial tenha evoluído para remover U. Porém, muitos da por uma DNA ligase.
Outra lesão comum é 8-oxo-G (Figura 4.23c), for com um corte em cada lado da lesão. Uma DNA polime
mada por dano oxidativo, o que leva a uma transver rase preenche a falha, seguida por ligação da incisão.
são. Existe uma via de reparo especial, projetada para
reparar 8-oxo-G; OGG1 remove a lesão do DNA. Se a
replicação já ocorreu, MUTYH remove o A que poderia
ter sido incorporado erroneamente em complemento a
8-oxo-G e permite que a polimerase de reparo coloque
o Ccorreto.
Xeroderma Pigmentoso
Xeroderma pigmentoso (XP) (OMIM 194400) foi a a RNA polimerase parada reconhece a lesão e recruta
primeira doença que se demonstrou ser causada por de TFII-H. XPB e XPD codificam proteínas que funcionam
feito no reparo do DNA. Os pacientes são fotossensíveis como subunidades de TFII-H. TFII-H pode funcionar
e muito suscetíveis a câncer de pele nas áreas do corpo como helicase, abrindo uma região em torno do dímero.
expostas ao sol; as taxas de câncer de pele são 2.000 XPA é crítica para o reconhecimento dos dímeros de
5.000 vezes maiores do que a média. Muitos pacientes pirimidina e interage com outras proteínas do reparo.
também têm problemas neurológicos. ERCC1-XPF é um complexo que se liga a TFII-H e que
bra no lado 5! do dímero. XPG quebra no lado 3!.
XP é uma doença rara, autossômica recessiva, que
pode ser causada por defeitos em um dentre oito genes É notável que defeitos em XP-B, XP-D ou XP-G pos
diferentes, refletindo a complexidade do reparo do DNA sam também levar à síndrome de Cockayne, com fo
para dímeros de pirimidinas, a lesão mais comum intro tossensibilidade, defeitos de crescimento e deficiência
duzida por exposição à luz ultravioleta. Mutações em mental, entre os sintomas. Defeitos em XP-B ou XP-D
sete dos genes XP levam a defeitos na etapa inicial de também podem levar a tricotiodistrofia, com sintomas
incisão do reparo por excisão de nucleotídeos para dí incluindo fotossensibilidade, baixa estatura e deficiên
meros de pirimidina. Isso explica a extrema fotossensi cia intelectual. Portanto, diferentes alterações nos mes
bilidade que é característica dessa doença. Uma classe mos genes podem levar a síndromes diferentes, talvez
adicional, chamada XP-V (para variante), não apresenta por afetarem diferencialmente as funções de reparo e
deficiência detectável no reparo por excisão, mas tem um de transcrição dessas proteínas.
defeito na síntese translesão após danos causados por ul
travioleta. Células de pacientes XP podem também ter van Brabant, A. J., Stan, R., e Ellis, N. A. DNA helicases,
hipersensibilidade a carcinógenos da fumaça de cigarro. genomic instability and human genetic disease. Annu. Rev.
of Gen. and Human Genet. 1:409, 2000; a good reference
XP-C está envolvida na ligação inicial à lesão em re for genetic diseases in the Online Mendelian Inheritance in
giões que não estão sendo transcritas, e recruta TFII-H, Man, OMIM, em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.
um fator de transcrição geral. Em regiões transcritas, fcgi?db=OMIM.
mente 22-24 nucleotídeos 5! da lesão, e XPG faz uma polimerase parado em uma lesão. Em células eucarióti
clivagem endonucleolítica a aproximadamente 5 nucle cas, um complexo contendo CSA e CSB (mutações nos
otídeos 3! da lesão. Esses dois cortes liberam um oligo quais causam a síndrome Cockayne, outra doença de
nucleotídeo que contém a lesão, de 27 a 29 nucleotídeos deficiência no reparo do DNA) reconhece a RNA poli
de comprimento. A proteína de ligação ao DNA de fita merase paralisada, que ela recue para longe da lesão, e
simples RPA é necessária para o reparo por excisão. A recruta proteínas de reparo, incluindo o complexo TFII
falha no DNA é ligada a RPA e preenchida por pol dou -H. Então, muitos tipos de danos que bloqueiam a trans
pole), estimulada por PCNA. A incisão remanescente é crição são reparados pela via do reparo por excisão de
selada por uma DNA ligase, provavelmente LIG1. Essas nucleotídeos envolvendo XPA, TFII-H e outros fatores
últimas etapas lembram a complementação de um frag de reparo por excisão. Evidências recentes sugerem
mento de Okazaki. que o reparo acoplado à transcrição também atue em
lesões oxidativas, que são reparadas por reparo por ex
Reparo Acoplado à Transcrição cisão de base depois do complexo de transcrição terre
cuado da lesão. Uma vez que o reparo esteja completo, a
Muitas lesões bloqueiam a transcrição do mesmo transcrição pode continuar.
modo como bloqueiam a replicação. Portanto, as célu
las enfrentam um problema imediato, mesmo quando
Reparo de Pareamento Errado
não estão sintetizando DNA: elas devem ser capazes de
fazer proteínas chaves para que sobrevivam. O reparo Reparo de pareamento errado é uma forma espe
acoplado à transcrição direciona a resposta de repa cializada de reparo por excisão de nucleotídeos que
ro imediata para a fita molde de regiões transcritas, de remove erros de replicação. Pareamentos errados não
modo que lesões aí sejam reparadas mais rapidamente são como danos no DNA: não há lesão ou base modi
do que lesões em outras regiões, para que a transcri ficada, só a errada dentre as quatro bases. Portanto, o
ção possa recomeçar; o valor disso para sobrevivência é reconhecimento do pareamento errado depende da dis
óbvio. O reparo acoplado à transcrição é uma forma de torção na estrutura em dupla-hélice. Uma diferença im
reparo de excisão desencadeado por um complexo RNA portante entre o reparo do DNA danificado e o reparo
176 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Defeitos no reparo de pareamento errado causam Por que a herança de um único alelo defectivo em um
câncer de cólon não poliposo hereditário (HNPCC), e gene do reparo de pareamento errado leva a HNPCC?
provavelmente são importantes em vários outros tipos As células que revestem o trato intestinal dividem-se
de câncer. Isso foi inicialmente sugerido pela descoberta ativamente durante toda a vida de uma pessoa. Há uma
de que alguns tumores de cólon apresentavam mutações alta probabilidade de que, em algum momento da vida,
frequentes em microssatélites (polimorfismos de com uma mutação somática ocorra em um dos alelos de um
primento de sequências simples, sequências repetitivas gene do reparo de pareamento errado, em pelo menos
curtas, particularmente mono- e dinucleotídeos), um fe uma célula do cólon. Células nas quais um dos alelos em
nótipo chamado instabilidade de microssatélites. qualquer desses loci está inativo, ainda pode executar
reparo de pareamento errado, de modo que isso geral
HNPCC é uma doença autossômica dominante. Um mente não levaria a tumor. Contudo, em um indivíduo
gene que contribui para o risco de HNPCC foi mapeado que herda um alelo inativo, uma mutação somática que
numa região que contém um gene de reparo de parea inative a única cópia ativa leva a reparo de pareamento
mento errado. Isso conduziu a estudos que demonstra errado defectivo. As taxas de mutação podem ser ele
ram que o defeito primário é uma mutação em um dos
vadas em 100 a 1.000 vezes em células com reparo de
genes do reparo de pareamento errado. Demonstrou-se pareamento errado inativado. O resultado é o acúmulo
que defeitos em outros genes do reparo de pareamento de mutações que eventualmente levam à formação de
errado também causam HNPCC; os mais comuns são tumor por meio de mutações em genes de regulação do
MLH1 e MSH2. crescimento.
(b) CH CH3
3 S
L
(c) (f)
CH3 CH3 CH3 CH3
H CH H
esporádicos
relacionados
funcional
mento
alguns
e endometriais,
Reparo
errado.
carcinomas
do
decom
de
sistema
pareamento
câncer,
também
supressão
cólon-retais,
de reparo
particularmente
parecem
errado
ou inativação
de
gástricos
desem-
parea-
estar C H HH H H
CC H Me-GO66Me-G
O
H NH G C CH3
O O H C H O
N H
C C N NNN NC
N T CH NC
O6Me-G C C NH OC
H C N C
CH N
NC H C N C
H N N H NC N
penha um papel paradoxal na resposta de (a) Par de base C:G (b) Par de base T:O6-metil G
células a agentes citotóxicos como agentes
metilantes (N-nitrosoureia) e cisplatina,
que são usados na quimioterapia do cân MGMT MGMT
cer. O reconhecimento do dano da alquila
ção por proteínas do reparo de pareamen
to errado pode desencadear morte celular
por apoptose; células deficientes no repa SH S
CH3
ro de pareamento errado podem escapar CH3
O N H O N H
desse processo e, assim, podem ser resis C C
C C C C
tentes a agentes quimioterápicos. Células G
N N N C N
deficientes no reparo de pareamento er
rado têm taxas aumentadas de mutações, C N C N
H N H N
e podem assim evoluir para tumores que
H H
são mais agressivos. (c) (d)
(a) lesão
Síntese Bypass (Translesão)
Uma polimerase muito precisa, com revisão, não é
capaz inserir nucleotídeos opostos a bases danificadas
e, por isso, parariam a síntese (ou deixariam uma falha,
como descrito a seguir). Um processo chamado síntese
bypass ou síntese translesão pode, entretanto, permitir
que a replicação prossiga além da lesão (Figura 4.31).
Existe uma família de DNA polimerases “sujeitas a
erro” ou de “exigência reduzida” que não têm capacida (b)
de de revisão (Tabela 4.2). em virtude de sua exigência
relaxada, essas polimerases podem inserir nucleotídeos
em oposição a bases danificadas e, assim, permitir que
a replicação continue. Sua precisão reduzida aumenta a
probabilidade de um nucleotídeo errado ser incorpora
do em oposição à lesão, e em qualquer outro DNA feito
por essas polimerases. As consequências prejudiciais
disso são, evidentemente, menores do que um bloqueio FIGURA4.31 Síntese bypass (translesão).
longo (ou permanente) da replicação. (a) Danos no molde geralmente fazem parar as DNA polimera
ses replicativas, uma vez que não podem adicionar nucleotídeo
Em E. coli, DNA polimerases IV (DinB) e V (com oposto a uma lesão não codificadora ou com distorção na fita.
plexo UmuD!2C) são muito menos precisas do que as (b) DNA polimerases especializadas, com especificidade rela
DNA polimerases replicativas normais III e I. Elas têm xada (ver Tabela 4.2) podem inserir nucleotídeos opostos a le
baixa processividade, geralmente sintetizando me sões no molde, permitindo assim ultrapassar (bypass) a lesão
nos do que 10 nucleotídeos antes de se dissociarem do e sintetizar fitas filhas sem falhas. A especificidade relaxada e
DNA; isso serve para limitar a extensão de mutações a falta de revisão dessas polimerases significam que erros (mu
introduzidas. Elas são induzidas como parte da respos tações em potencial) são frequentemente introduzidos. Essas
ta SOS descrita a seguir. Isso garante que o mecanismo polimerases se dissociam facilmente do DNA, de modo que o
comprimento do DNA que sintetizam é geralmente pequeno.
de síntese sujeita a erro bypass (translesão) funcione
apenas quando houver danos suficientes no DNA para
desencadear a resposta SOS, limitando o risco de mu Reparo de Falha na Fita Filha
tações a situações nas quais a viabilidade celular esteja
seriamente ameaçada. Se a síntese de DNA for bloqueada por uma lesão,
mas recomeçar depois da lesão, fica uma falha no DNA
Eucariotos também têm polimerases sujeitas a erros (Figura 4.32). Essa situação é mais fácil de ser vista na
que podem realizar síntese bypass (translesão) (Tabe fita descontínua, onde pode ocorrer simplesmente por
la 4.2). A DNA polimerase h incorpora predominante dissociação da polimerase do sítio bloqueado e inicia
mente A em oposição a dímeros de timina introduzidos ção do fragmento de Okazaki seguinte pelo mecanismo
por radiação UV; como A e o nucleotídeo correto a ser normal de replicação. Falhas no DNA são potencial
incorporado em oposição a T do dímero, a probabilida mente letais. Uma lesão oposta a uma falha não é subs
180 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
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CAPÍTULO 4 REPLICAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E REPARO DO DNA • 183
Termos Chaves
atividade exonucleolítica junção Holliday recombinação homóloga replicação bidirecional
complexo de reconheci migração da ramificação recombinação não-homóloga replicação semiconservati
mento da origem (ORC) molde RNA hibridase (RNaseH) va
conversão gênica mutação com mudança na RNA polimerase resposta SOS
DNA girase estrutura de leitura (fra reparo acoplado à transcri revisão (ou edição)
DNA ligase meshift) ção sequência de inserção
DNA polimerases mutação de sentido errado reparo de falha na fita-filha síntese semidescontínua
(missense)
fita contínua reparo de pareamento erra síntese translesão (bypass)
mutação puntual do (mismatch)
fita descontínua superenrolamento
mutação sem sentido (non reparo de segmento curto
fitas antiparalelas telomerase
sense)
forquilha de replicação reparo do DNA topoisomerase
origem de replicação
fotorreativação reparo por excisão transcriptase reversa
primase
fragmento de Okazaki reparo por excisão de base transesterificação
quebra de dupla-fita
helicase reparo por excisão de nu transposição
reação processiva cleotídeo
heteroduplex
B. contêm, mas não codificam, transposases. D. uma única enzima multifuncional realiza o
C. transposons têm sequências de inserção que processo de reparo.
são reconhecidas por transposases. E. só os nucleotídeos danificados são removidos.
D. o transposon tanto pode ser removido e des 10. Outro tipo de reparo de DNA é o reparo por excisão
locado, ou pode ser replicado com o pedaço de base. Reparo por excisão de base
replicado sendo deslocado.
A. é usado só para bases que foram deaminadas.
E. podem ativar ou inativar um gene.
B. usa enzimas chamadas DNA glicosilases para
Questões 7 e 8: Retrovírus, como HIV que causa gerar um sítio de açúcar abásico.
AIDS, têm sua informação genética na forma de RNA. C. remove cerca de 10 a 15 nucleotídeos.
Transcriptase reversa sintetiza uma cópia em DNA do D. não requer uma endonuclease.
genoma viral. Uma droga usada no tratamento da AIDS
é AZT, um análogo da desoxitimidina que tem um gru E. reconhece uma lesão volumosa.
po azido na posição 3! do açúcar. Pode ser fosforilado
Questões 11 e 12: Interferir com topoisomerases é
e compete com dTTP pela incorporação no transcrito uma forma de inibir a replicação do DNA. Certos anti
reverso. Uma vez incorporado, sua presença termina a
bióticos têm DNA girase como alvo (topoisomerase tipo
elongação da cadeia. II) de E. coli, inibindo sua atividade catalítica. Venenos
7. A cadeia em crescimento é terminada porque: de topoisomerases impedem a religação da ligação fos
A. o análogo não pode fazer pontes de hidrogênio fodiéster, deixando junções covalentes proteína-DNA.
com o RNA. Esses compostos são usados para tratar infecções e
como agentes quimioterápicos.
B. a presença do análogo AZT inibe a capacidade
de revisão da transcriptase reversa. 11. DNA girase:
C. AZT não tem 3!-OH livre. A. subunidades ATP hidrolisam ATP para formar
D. o análogo causa distorção da cadeia em cresci novas ligações fosfodiéster.
mento, inibindo a transcriptase reversa. B. remove superenrolamento negativo.
E. dTTP não pode mais ser adicionado à cadeia C. subunidades swivelase criam e selam incisões
em crescimento. transitórias em ambas as fitas.
8. Há uma janela na qual o efeito é primariamente so D. aumenta o número de ligação (linking num
bre a replicação do vírus, uma vez que AZT é muito ber).
menos efetivo na competição com dTTP para in E. ocorre em eucariotos, bem como em procario
corporação pelas DNA polimerases celulares, em tos.
virtude da capacidade de revisão das DNA polime
rases. Atividade de revisão para manter a fidelida 12. Todos os seguintes estão corretos quanto a que
de de síntese do DNA: bras de dupla-fita do DNA, exceto que elas:
A. ocorre depois que termina a síntese. A. podem levar a perda de informação genética.
B. é uma função da atividade exonucleásica in B. estão sempre envolvidas em recombinação ho
trínseca 3! para 5! ou associada às DNA poli móloga.
merases. C. estão envolvidas em recombinação não homó
C. requer a presença de uma enzima separada loga.
das DNA polimerases. D. estão associadas com um heterodímero (Ku)
D. remove bases pareadas erradas no interior da em mamíferos.
cadeia. E. podem levar a mutações ou regulação inade
E. não ocorre em procariotos. quada da expressão gênica.
Respostas
1. C Pode remover um nucleotídeo terminal pareado gação do nucleotídeo seguinte. A: a presença do
errado, isto é, verificação (ou edição). A: a reação é grupo azida não afeta a formação de pontes de hi
um ataque nucleofílico do 3!-OH da cadeia de DNA drogênio. B: a transcriptase reversa não tem pro
sobre a ligação fosfato a-β do dNTP – uma tran priedades de revisão. D: isso não acontece. E: o
sesterificação. B: a replicação envolve fragmentos análogo AZT compete com dTPP; não o elimina.
de Okazaki porque a síntese só ocorre na direção
8. B Essa atividade remove uma base recém-adiciona
5! para 3!. D: a replicação começa com a formação da se houver um pareamento errado com o molde.
de um RNA iniciador (primer). E: a replicação
A: isso é chamado reparo. C: a maioria das polime
requer proteínas como primase, ligase, helicase e
rases é multifuncional e tem capacidade de revi
outras.
são.D: só a base errada terminal é removida. E: pol
2. D Como mudar o número de ligação é uma tran I de E. coli tem atividade intrínseca de exonuclea
sesterificação, ela protege a integridade do DNA e se 3! para 5!.
ocorre sem a necessidade de energia adicional. A:
9. A A fita não-cortada serve de molde para o reparo.
existem múltiplos sítios de iniciação. B: helicases B: isso repara vários danos envolvendo, tipicamen
abrindo a forquilha de replicação requerem a hi
te, grandes aductos ou perturbações na estrutura
drólise de ATP. C: a fita contínua tem a orientação
do DNA. C e E: cortes são feitos a vários nucleotí
correta; é a fita retardada ou descontínua que re
deos de distância da base danificada, em ambos os
quer a formação dos fragmentos de Okazaki porque
lados, de modo que é uma endonuclease. D: vários
tem a extremidade 5! orientada para a forquilha. E:
complexos enzimáticos estão envolvidos, incluindo
a ligase simplesmente forma a ligação fosfodiéster uma polimerase, ligase e helicase.
entre nucleotídeos adjacentes depois que a falha foi
preenchida. 10. B Essas catalisam a primeira etapa do processo. A:
bases metiladas e quimicamente modificadas tam
3. B Telômeros ficam na extremidade 3! de cada fita,
bém podem ser removidas. C e E: estas são carac
para que as extremidades 5! possam ser replicadas.
terísticas de um sistema de reparo diferente. D: o
A e C: a telomerase se posiciona na extremidade 3!
açúcar fosfato abásico deve ser removido.
do DNA e fornece o molde para estender essa ex
tremidade. D: esta é uma característica da extre 11. C Isso permite o desenrolamento do DNA. A: hi
midade 3!. E: usa um molde de RNA para sintetizar drólise de ATP desencadeia mudanças conforma
DNA. cionais. B: remove superenrolamento positivo e
introduz negativo. D: número de ligação (linking
4. D Esta é a definição. A: isso é uma transversão. B:
number) é reduzido. E: DNA girase é especifica
isso é uma mudança na estrutura de leitura (fra
mente de procariotos; eucariotos têm topoisome
meshift); transições são mutações puntuais. C:
rases diferentes que desempenham a mesma ativi
isso causaria uma mudança na estrutura de leitu
ra. E: poderia ser uma mutação de sentido errado dade.
(missense) se a alteração codificasse um aminoá 12. B Isso também pode ocorrer com cortes de fita
cido diferente, ou uma mutação sem sentido (non -única. A: isso pode ser reparado, mas junções co
sense) se o código fosse alterado para um sinal de valentes proteína-DNA causadas por venenos de
término (stop). topoisomerases podem ser letais. C: extremidades
quebradas de um DNA duplex pode recombinar
5. D Um desses cortes é responsável pela formação
com outro duplex. D: isso desempenha um papel
de um novo cromossomo no qual parte vem de um na ligação de extremidades não homólogas. E: in
dos pais, e parte do outro. A e B: pode ocorrer en
tegração aleatória de um fragmento de DNA por
tre duas moléculas distintas de DNA, se as duas se
ligação não homóloga pode destruir genes ou des
quências forem homólogas. C: o corte pode ser em
uma fita só. E: estas são enzimas da recombinação truir promotores.
sítio-específica transposicional. 13. Em E. coli, o DNA é metilado no A de uma sequên
cia GATC. Ambas as fitas são metiladas. Metilação
6. B Transposons são DNA, não proteínas: podem co
ocorre depois de as bases não-metiladas terem sido
dificar uma transposase. A: esta é a definição. C:
incorporadas ao DNA. Durante a síntese, o DNA fi
esta é uma das características chaves. D: ambos os cará hemimetilado por um curto período de tempo.
tipos de eventos são catalisados por transposases.
E: inserção no meio de um gene poderia inativá-lo; O sistema de reparo de pareamento errado reco
nhece o estado hemimetilado e pode remover o par
inserção de um promotor próximo a um gene pode
errado da fita não-metilada (nova). Eucariotos têm
ria ativá-lo. um sistema de reparo similar, embora os detalhes
7. C A química da formação de nucleotídeos requer do reconhecimento da fita nova não sejam ainda
um 3!-OH livre na extremidade da cadeia para li conhecidos.
186 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
14. A fita codificadora do gene tem a mesma sequência uma mutação puntual alterou o DNA de modo que
do mRNA (exceto que U substitui T no RNA). Na o códon 142 do mRNA agora codifica um aminoáci
HbA, o códon da posição 142 do mRNA é um códon do em vez de uma parada. A tradução continua até
de terminação (stop), de modo que o último ami que um códon de terminação apareça na posição
noácido adicionado é 141. Na Hb Constant Spring, 173 (portanto, 172 aminoácidos).
PARTE II CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 187
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
5
RNA: Transcrição IIF
IID
e Processamento PA
IIB IIA
TATA INR DPE
Pol II
IIE
IIH
do RNA
Frank J. Schmidt
Professor Titular University of Missouri
David R. Setzer
Professor Titular University of Missouri
Conceitos Chaves
• Transcrição é a síntese de RNA cuja sequência é • RNA polimerases bacterianas contêm uma subuni
complementar à de um DNA molde. A transcri dade (sigma): diferentes subunidades sigma reco
ção começa numa sequência chamada promotor e nhecem diferentes classes de promotores.
acontece na direção de 5! para 3!.
• A iniciação eucariótica opera por meio do recruta
• RNA polimerases, que iniciam a transcrição de to mento da RNA polimerase e de fatores proteicos
dos os tipos, são relacionadas entre si por uma an acessórios a promotores localizados em regiões
cestralidade comum. acessíveis da cromatina.
188 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
• Os RNAs transcritos são modificados por cliva • Não existem mecanismos de reparo de RNA, de
gem, adições e modificação de bases. A maioria modo que todas as classes de moléculas de RNA
dos mRNAs transcritos eucarióticos é processada são recicladas. Exo e endonucleases hidrolisam o
com a síntese de um cap-5! e de uma sequência RNA até nucleotídeos, para reutilização.
3!-poli(A), e com a remoção dos íntrons. Partículas Os diferentes RNAs são reciclados (turnover) em
•
ribonucleoproteicas participam do processamento.
diferentes velocidades e por diferentes mecanis
• RNAs pequenos podem inibir a expressão gênica, mos.
permitindo regulação gênica pós-transcripcional.
A transcrição é o processo pelo qual cadeias de RNA O processo de transcrição é geralmente dividido em
são feitas a partir de moldes de DNA. As reações de três partes: iniciação refere-se ao reconhecimento de
transcrição assumem a seguinte fórmula: uma sequência específica no DNA pela RNA polimerase
e o começo do processo de formação de ligações. Elon
DNA molde + n(NTP) → gação é o processo real de síntese da cadeia de RNA,
→ pppN(pN)n-1 + (n - 1)PPi + DNA molde que é seguida pela terminação e liberação da cadeia.
As enzimas que catalisam essa reação são as RNA
polimerases; é importante reconhecer que, como as
DNA polimerases, elas são absolutamente dependen A Informação na Sequência do DNA
tes de molde. Ao contrário das DNA polimerases, po Sinaliza a Síntese de RNA
rém, as RNA polimerases não requerem uma molécula
iniciadora ou primer. A reação da RNA polimerase é Grande parte do genoma humano não é transcrita
deslocada para a direita por dois fatores: primeiro, o em RNA. Mesmo em bactérias, onde quase todo o DNA
5! a-nucleotídeo fosfato do ribonucleosídeo trifosfato especifica produtos gênicos, nem todos os genes são ex
é convertido, de um anidrido fosfato em uma ligação pressos ao mesmo tempo. As moléculas de RNA poli
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 189
merase devem, portanto, distinguir entre os genes e os interação do ativador com outros fatores ou com a RNA
não-genes no DNA, bem como entre genes que devem polimerase. Essa interação facilita a transcrição porque
ser expressos, e os que não devem. “recruta” a RNA polimerase e outros fatores para for
mar um complexo de iniciação.
A iniciação da transcrição começa com reconheci
mento de uma sequência de promotor no DNA molde.
Geralmente, os promotores localizam-se a uma peque RNA Polimerase Catalisa o Processo
na distância à montante (upstream) do nucleotídeo
onde a transcrição começa. Diferentes promotores fre
de Transcrição
quentemente contêm sequências semelhantes, permi As RNA polimerases sintetizam RNA na direção
tindo a identificação de uma sequência “consenso” do 5! → 3! usando um DNA molde. Nesse sentido, são se
promotor (Figura 5.1), a partir da qual os promotores melhante às DNA polimerases dependentes de molde
reais variam em diferentes graus. Embora promotores discutidas no Capítulo 4. Ao contrário das DNA polime
procarióticos e eucarióticos sejam diferentes entre si, rases, entretanto, as RNA polimerases iniciam a poli
sequências conservadas são encontradas em ambas as merização em sequências de promotor, sem a necessi
categorias de promotores. Algumas sequências de DNA dade de um DNA ou RNA iniciador (primer).
estimulam a transcrição, mas se localizam mais longe
do sítio de iniciação, e algumas delas podem estimular As RNA polimerases procarióticas e eucarióticas
a transcrição independentemente da distância, da loca são enzimas grandes, com múltiplas subunidades. A
lização ou da orientação, em relação ao sítio de início da RNA polimerase de Escherichia coli consiste de cin
transcrição. Tais sequências regulatórias são chamadas co subunidades, com um peso molecular do agregado
enhancers (amplificadores). Enhancers estimulam a de mais de 500.000 (Tabela 5.1). Duas subunidades a,
síntese de alguns RNAs procarióticos e da maioria, se uma subunidade b e uma subunidade b! constituem a
não de todos, os mRNAs eucarióticos. Enhancers fun enzima core, que é capaz de fazer transcrição fiel, mas
cionam por meio da ligação de fatores proteicos especí não de síntese específica de RNA (ou seja, iniciada no
ficos, chamados ativadores. Quando um ativador se liga promotor). A adição de uma quinta subunidade pro
a um enhancer, uma mudança estrutural (frequente teica, chamada s, forma a holoenzima, que é capaz de
mente uma alça ou uma dobra) no DNA molde permite a síntese específica de RNA in vitro e in vivo. Embora
100
a 80
i
c
n
ê
rr
o
c
o 60
e
d
o
re
m
ú
N 40
20
0
−50 −40 −30 −20 −10 +1 10
Posição
A 2838303735 56 42423742 39 1825 26 2 6 2 722650 2634252631 203933 33392329 16 23 19 210629 6657 1 35 23 31 20 9 45 162425 26 24 243235 26
T 41 33322534 2235354227 324247 1492 94 11 1915 37 46 36384834 352828 273951 3443 263189 3 69 15191083129 21 1622 2 4227 2320 25 2715 1629
G 16 11 291921 181321 9 19 24 26 292911 6 88 3 1117 15 21 262127 23 2427 25 22232928 433511 1 18 1714 0 3324 30 21 8 37
4 252513
5 122722
18 172024 21 16
C 2227 182920 14 20 122223 1625 1043 7 6 111860 8 25 2323 1720 34 21 24 27 222520 25 202710 2 16 1422 3 1336 30 29 49 2217 17 16 17
Core da RNA
Pol I de Levedura Pol II de Levedura Pol III de Levedura
Polimerase de E. coli
A190 B220 (Rpb1) C160 b
A135 B150 (Rpb2) C128 b!
AC40 B45 (Rpb3) AC40 a
AC19 B12,5 (Rpb11) AC19 w
ABC23 ABC23 (Rpb6) ABC23
ABC27 ABC27 (Rpb5) ABC27
ABC14,5 ABC14,5 (Rpb8) ABC14,5
ABC10a ABC10a (Rpb12) ABC10a
ABC10b ABC10b (Rpb10) ABC10b
A12,2 B12,6 (Rpb9) C11
A14 B32 (Rpb4) C17
A43 B16 (Rpb7) C25
A49 C37
A34,5 C53
C82
C34
C31
aAs subunidades homólogas são apresentadas na mesma linha. Note que cinco subunidades são compartilhadas entre as RNA po
limerases I, II e III de levedura, e que duas subunidades adicionais são compartilhadas entre as RNA polimerases I e III. Além disso,
a RNA polimerase I contém mais duas, e RNA polimerase III mais cinco subunidades que não têm homólogos óbvios nas outras po
limerases. É possível que A49/C37 e A34,5/C53 sejam homólogas às subunidades do TFIIF, um fator de iniciação e elongação que se
associa com a RNA polimerase II durante a tradução, mas que não é considerado parte da própria polimerase. Quatro subunidades
de cada uma das polimerases eucarióticas são homólogas às quatro diferentes subunidades do core da RNA polimerase de E. coli. As
letras A, B e C nos nomes das subunidades referem-se à ocorrência dessa subunidade nas RNA polimerase I, II e III, respectivamente,
e o número no nome da subunidade refere-se ao peso molecular da subunidade em kilodaltons. Para a RNA polimerase II, o gene que
codifica cada uma das subunidades é dado entre parêntesis.
um fator s majoritário esteja envolvido na maioria das snRNAs. A síntese de rRNA (exceto a síntese de rRNA
transcrições, fatores s específicos são expressos em 5S) não é inibida, mesmo por concentrações muito al
resposta a eventos em larga escala, tanto ambientais tas da toxina. As enzimas purificadas são inibidas dife
como de desenvolvimento. Esses fatores s reconhecem rencialmente pela a-amanitina, de modo que é possível
diferentes classes de genes. Assim, um fator s especí concluir que a síntese de mRNA é função da RNA po
fico reconhece promotores de genes que são induzidos limerase II, a mais sensível das formas purificadas de
como um resultado do choque térmico. Em bactérias RNA polimerase. A síntese de tRNA, rRNA 5S, snRNA
que esporulam, fatores s específicos reconhecem genes U6 e outros RNAs pequenos celulares e virais é reali
induzidos durante a esporulação. Alguns bacteriófagos zada pela RNA polimerase III. Os genes de rRNA são
(vírus que infectam bactérias) sintetizam fatores s que transcritos pela RNA polimerase I, que fica concentrada
permitem a apropriação da RNA polimerase da célula no nucléolo. (Os números referem-se à ordem de eluição
para a transcrição do DNA viral. das enzimas de uma coluna de cromatografia). Cada en
zima tem uma estrutura muito complexa (Tabela 5.1).
As RNA polimerases procarióticas comuns são inibi
das pelo antibiótico rifampicina (usado no tratamento Uma RNA polimerase de mitocôndrias é responsável
da tuberculose), que se liga à subunidade b (Correla pela síntese das espécies mitocondriais de mRNA, tRNA
ção Clínica 5.1). As RNA polimerases eucarióticas nu e rRNA. Essa enzima, como a RNA polimerase bacteria
cleares podem ser diferenciadas porque são inibidas na, é inibida por rifampicina (Correlação Clínica 5.1).
diferencialmente por a-amanitina, que é sintetizada
pelo cogumelo venenoso Amanita phalloides. Três
classes de RNA polimerases nucleares podem ser di Etapas da Transcrição em
ferenciadas, uma vez que concentrações muito baixas Procariotos
de a-amanitina inibem a síntese de mRNA e de alguns
RNAs nucleares pequenos (snRNAs); concentrações O DNA cromossômico é geralmente transcrito em
mais altas inibem a síntese de tRNA, 5S rRNA e outros apenas uma direção. A fita de DNA que serve de molde
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 191
A RNA polimerase é uma enzima essencial para a palmente no tratamento de tuberculose. Mycobacte
vida, uma vez que a transcrição é a primeira etapa da rium tuberculosis, o agente causador, é resistente a
expressão gênica. Falta de atividade de RNA polimera muitos antibióticos comumente usados, mas é sensível
se significa que nenhuma outra proteína é feita. Dois à rifampicina, o produto de um estreptomiceto de solo.
produtos naturais ilustram esse princípio; em ambos os Como as RNA polimerases de mamíferos diferem da
casos, a inibição de RNA polimerase leva à morte do variedade procariótica, a inibição da última enzima é
organismo. possível sem grande toxicidade para o hospedeiro. Isso
implica em bom índice terapêutico para a droga, isto é,
O cogumelo “chapéu da morte” ou “anjo destruidor” a capacidade de tratar uma doença sem causar efeitos
Amanita phalloides é muito venenoso e ainda causa indesejáveis ao paciente. Juntamente com o aprimo
várias mortes por ano, apesar dos avisos amplamente ramento de medidas de saúde pública, a terapia com
divulgados entre coletores amadores de cogumelos (in rifampicina e isoniazida (um antimetabólito) diminuiu
cidentalmente, tem reputação de ser delicioso). A toxi muito a morbidade da tuberculose em países indus
na mais letal, α-amanitina, inibe a RNA polimerase II trializados. Infelizmente a doença ainda é endêmica
eucariótica, inibindo assim a síntese de mRNA. O en em populações pobres dos Estados Unidos e de outros
venenamento começa com sintomas gastrointestinais países. Em número crescente, indivíduos imunocom
relativamente leves, seguidos, cerca de 48 horas depois, prometidos, especialmente pacientes com AIDS, têm
por insuficiência hepática grave, à medida que os mR tuberculose ativa.
NAs essenciais e suas proteínas são degradados, mas
não são substituídos por novas moléculas sintetizadas.
A única terapia possível é paliativa, incluindo trans Mitchel, D. H. Amanita mushroom poisoning. Annu.
plante de fígado. Rev. Med. 31:51, 1980; A. G. Gilman, T. W. Rall, A. S. Nies e
P. Taylor (Eds.). The Pharmacological Basis of Therapeu
Mais benigna (pelo menos do ponto de vista de tics, 8. ed., New York: Pergamon Press, 1990, p. 129; e K. M.
nossa espécie) é a ação do antibiótico rifampicina, que DeCock, B. Soro, I. M. Colibaly, S. B. Lucas. Tuberculosis and
inibe as RNA polimerases de várias bactérias, princi HIV infection in sub-Saharan Africa. JAMA 268:1581, 1992.
para a síntese de RNA é complementar ao RNA trans Uma segunda sequência consenso localiza-se à mon
crito. Por convenção, a fita molde é geralmente escrita tante da caixa –10 ou Pribnow. Essa sequência –35
como a fita “de baixo” de um DNA dupla-fita. A outra
fita, a fita não-molde ou “de cima”, tem a mesma direção T*T*G*ACA
do transcrito quando lida na direção 5! para 3!; essa fita, é centralizada cerca de 35 pb à montante do ponto de
às vezes, é chamada de fita codificadora. Quando ape
início da transcrição; os nucleotídeos marcados com
nas uma sequência de DNA for dada neste livro, a fita
asteriscos são os mais conservados. O espaçamento en
codificadora é representada. Sua sequência pode ser tre as sequências –35 e –10 é crucial, com 17 pb sendo
convertida no RNA transcrito de um gene pela simples não têm a TTGACA
Asé,sequências
são
muito
assimétricas;
conservado.isto mesma sequência
e TATAATse
substituição das bases U (uracil) por T (timina).
a fita complementar for lida. Portanto, a sequência do
Reconhecimento do Promotor
promotor, por si só, determina que a transcrição deve
A transcrição procariótica começa com a ligação acontecer em apenas uma direção.
da RNA polimerase ao promotor de um gene (Figura
Que diferença essas sequências de consenso fazem
5.2). A RNA polimerase holoenzima liga-se a uma face para um gene? Medidas de afinidade de ligação da RNA
do DNA, estendendo-se aproximadamente 45 pb à mon
polimerase e da eficiência de iniciação em várias se
tante (upstream) e 10 pb à jusante (downstream) do
quências de promotores mostram que os promotores
sítio de iniciação do RNA. Duas sequências curtas dessa
mais ativos são os que mais se assemelham às sequên
região são muito conservadas (Figura 5.1). Uma sequên
cias consenso. O grau de similaridade de uma sequên
cia, que é localizada cerca de 10 pb à montante do ponto
cia de promotor em particular com o consenso corre
de início da transcrição, é a sequência consenso (às ve
laciona-se bem com a “força” medida de um promotor,
zes chamada caixa -10 ou Pribnow):
isto é, sua capacidade de iniciar transcrição com RNA
T*A*TAAT* polimerase purificada.
As posições marcadas por asteriscos são as mais As bases que flanqueiam as sequências –35 e –10,
conservadas. as bases próximas ao início da transcrição, e as bases
192 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Iniciação da Síntese
Para que a RNA polimerase inicie a síntese de um
transcrito RNA, são necessárias duas etapas cinetica
mente diferentes (ver Figura 5.2). Na primeira etapa,
descrita aqui, a RNA polimerase holoenzima liga-se de
modo relativamente fraco ao DNA promotor, formando
um complexo fechado. Na segunda etapa, a holoenzi
1. Formando o complexo ma forma um complexo aberto, ligado mais fortemen
com promotor fechado
te, caracterizado por uma abertura local de cerca de
10 pb do DNA dupla-hélice. Como a caixa Pribnow de
consenso é rica em A-T, ela pode facilitar esse desenro
lamento local; seus pares de bases são rompidos mais
2. Formando
com promotor
o complexo
aberto facilmente durante a abertura. A abertura de 10 pb do
DNA é topologicamente equivalente ao relaxamento de
um único superenrolamento negativo. Como poderia
ser previsto a partir dessa observação, a atividade de
alguns promotores depende do estado super-helicoidal
do DNA molde. Alguns promotores são mais ativos em
3. Incorporando os
poucos nucleotídeos
DNA superenrolado, enquanto outros são mais ativos
quando a densidade de super-hélice do molde é menor.
A fita molde do DNA desenrolado faz pares de bases
com o nucleosídeo trifosfato iniciador, bem como com
o segundo nucleotídeo da cadeia de RNA; a RNA poli
4. Saindo do promotor
merase então catalisa a formação da primeira ligação
fosfodiéster. A enzima se desloca para a posição seguin
te (essa é a etapa inibida pela rifampicina) e continua
FIGURA 5.2 Eventos precoces na transcrição procariótica. a síntese. Depois que vários nucleotídeos tiverem sido
DNA contendo o promotor é apresentado em forma de dupla adicionados à cadeia nascente de RNA, a enzima entra
-hélice, e a RNA polimerase holoenzima de E. coli é represen no modo de elongação, caracterizado por uma associa
tada por dois ovais, o menor dos quais representa o fator sigma ção muito estável com o DNA molde e não se separa até
e o maior representa o core. O RNA nascente é apresentado que sejam encontrados sinais específicos, na sequência,
dentro da bolha de transcrição, anelado com a fita molde de para término da transcrição. Alteração da associação
DNA, e os produtos de iniciação abortiva são mostrados como da subunidade sigma com a polimerase core pode es
produtos liberados do complexo de iniciação. Embora esta fi tar associada com esse estado de elongação, muito pro
gura mostre a liberação da subunidade sigma quando a RNA
polimerase entra no modo de elongação produtiva, o destino
cessivo. Uma vez que a RNA polimerase tenha saído da
do fator sigma nesse estágio do processo de transcrição ainda é região do promotor, outras moléculas de RNA polime
um tanto controverso. rase podem se ligar e iniciar no promotor, de modo que
o gene possa ser transcrito por muitas polimerases ao
mesmo tempo (Figura 5.3).
localizadas próximo da posição –16 são pouco conser
vadas. Em algumas dessas regiões pouco conservadas,
a RNA polimerase pode requerer que um nucleotídeo Novos RNA com proteínas
específico não esteja presente ou que variações locais Moléculas de
na estrutura helicoidal do DNA estejam presentes. Os RNA polimerase
Fatores de transcrição eucarióticos ligam-se ao DNA Embora as sequências transcritas de um gene pos
e recrutam a RNA polimerase para o promotor. Isso sam estar organizadas em nucleossomos, os nucleosso
contrasta com a ação dos fatores σ bacterianos, que não mos são menos fortemente ligados do que em um gene
se ligam ao DNA sem se ligar primeiro à enzima RNA inativo. Várias modificações covalentes das histonas es
polimerase core. A RNA polimerase eucariótica consis tão associadas com mudanças no estado transcripcio
te de três formas enzimáticas distintas, cada uma capaz nal de genes organizados em nucleossomos. Uma dessas
de transcrever diferentes classes de RNAs celulares. modificações, que está geralmente associada com ativa
Diferentemente, todos os genes procarióticos são trans ção da transcrição, é a acetilação de histonas pelas his
critos por uma única forma de RNA polimerase core, tona acetiltransferases, uma reação que transfere gru
embora diferentes fatores σ possam estar envolvidos na pos acetil do Acetil-CoA para histonas, especialmente
iniciação de diferentes genes. nas regiões N-terminais das histonas H4 e H3. Outras
modificações de histonas que influenciam a atividade
gênica incluem metilação, fosforilação e ubiquitinação.
Natureza da Cromatina Ativa A metilação de histonas está frequentemente associada
com cromatina inativa, enquanto as histonas de genes
A organização estrutural dos cromossomos eucarióti
transcritos ativamente estão sujeitas a outras modifica
cos é discutida nos Capítulos 4 e 8. Embora a cromatina
ções. Combinações dessas modificações, ao ocorrerem
esteja organizada em nucleossomos, independentemen
em diferentes posições específicas em histonas, podem
te de poder ser transcrita ou não, um gene ativo tem
constituir um “código de histonas” que acopla as modi
geralmente uma conformação “mais frouxa” do que cro
ficações de histonas com a compactação de cromatina,
matina transcripcionalmente inativa. Essa diferença é
mais notável em sequências de promotores, partes das modificação do DNA e atividade gênica (Correlação Clí
quais não estão organizadas em nucleossomos (Figura nica 5.2). Uma ideia geral é que a cromatina parcial
mente desdobrada é necessária, mas não suficiente,
5.5). A falta de nucleossomos é manifestada experimen para a transcrição.
talmente pela sensibilidade aumentada das sequências
de promotores a reagentes externos que quebram o
DNA, como a enzima DNase I. Essa acessibilidade au
mentada das sequências de promotores (chamada hi
persensibilidade a DNase I) garante que fatores de Ativação da Transcrição Opera por
transcrição possam se ligar às sequências regulatórias
corretas. Recrutamento da RNA Polimerase
Fatores proteicos eucarióticos, independentemente
da sequência à qual se liguem, operam de modo fun
Sítios HSS
(setas) 5!transcrito damentalmente diferente do fator σ de E.coli. Em vez
de primeiro fazer parte de um complexo proteico para
depois procurar a sequência relevante no DNA, os fato
Oviduto,maduro
Oviduto,imaturo
res se ligam a um sítio específico (sequência) no DNA e
depois se ligam à RNA polimerase (com ou sem envol
vimento de fatores intermediários). Esse mecanismo é
chamado “recrutamento”, que é um meio pouco impor
Eritrócitos tante na ativação de genes em procariotos, e o principal
mecanismo em eucariotos.
5 0
Enhancers
Distância no DNA do início da transcrição em quilobases Enhancers ou amplificadores aumentam muitas
vezes a expressão de um gene. Fatores de transcrição
FIGURA 5.5 Sítios hipersensíveis à DNase (HSS) antes do que se ligam a enhancers são chamados ativadores. As
promotor do gene de lisozima de galinha, uma unidade proteínas ativadoras têm, pelo menos, dois domínios,
transcripcional eucariótica típica. um dos quais se liga à sequência enhancer, enquanto
Sítios hipersensíveis, isto é, sequências próximas ao gene da
lisozima que são particularmente susceptíveis à digestão por
o outro se liga a outros fatores proteicos ou à RNA po
nucleases mesmo quando empacotadas em cromatina, são in limerase.
dicados por setas. Note que alguns sítios hipersensíveis são
encontrados no promotor da lisozima tanto em oviduto madu
O modelo mais aceito para esses efeitos é que cro
ro como imaturo. Indução da síntese de lisozima em oviduto matina forma uma alça que permite que o enhancer e
maduro é acompanhada pelo aparecimento de um novo sítio o promotor fiquem próximos no espaço, embora sepa
hipersensível. Diferentemente, nenhum sítio hipersensível rados por uma sequência relativamente longa de DNA.
está presente em eritrócitos nucleados que nunca sintetizam
lisozima.
Adaptado de Elgin, S. C. R. J. Biol. Chem. 263:1925, 1988.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 195
A síndrome do X frágil (OMIM 300624) é a forma toda a região do promotor de FMR1. A produção de DNA
individual mais comum de retardo mental hereditário, metilado pode estar mecanisticamente ligada às modifi
afetando 1 a cada 1.250 homens e 1 a cada 2.000 mulhe cações de histonas que estão associadas com a cromati
res. Uma variedade de sintomas anatômicos e neuroló- na transcripcionalmente inativa, e o mRNA de FMR1 não
gicos resulta de inativação do gene FMR1, localizado no é sintetizado quando um grande número de repetições
cromossomo X, que codifica a proteína FMRP. A gené CGG levam a metilação do promotor de FMR1. A ausên
tica da síndrome é complexa em virtude do mecanismo cia da proteína FMR1 leva à patologia da doença.
molecular da mutação do X frágil.
A FMR1 é uma proteína que se liga ao RNA, que
A condição do X frágil resulta da expansão da uma se pode se ligar aos mRNAs polirribossômicos celulares.
quência trinucleotídica repetitiva CGG, encontrada na re A associação com FMRP regula negativamente a tradu
gião 5! não-traduzida do gene FRM1. Normalmente, essa ção dos mRNAs alvos, controlando assim a expressão
repetição está presente em 30 cópias, embora indivíduos gênica em dendritos. A ação de FMRP é um dos mui
normais possam ter até 200 cópias da repetição. Em indi tos exemplos recentes que mostram como mecanismos
víduos com a síndrome do X frágil, o gene FRM1 contém pós-transcripcionais controlam a expressão gênica e o
muito mais cópias, de 200 a milhares, da repetição CGG. A fenótipo molecular.
genética complexa da doença resulta do potencial da repe
tição CGG se expandir de geração em geração.
Penagarikano, O., Mulle, J. G., e Warren, S. T. The patho
A presença de um número anormalmente elevado physiology of Fragile X syndrome. Annu. Rev. Gen. Hum.
de repetições CGG induz extensa metilação do DNA em Genet. 8:109, 2007.
Transcrição pela RNA Polimerase II fatores residem em domínios separados das proteínas.
(4) A RNA polimerase II é modificada durante a rea
A RNA polimerase II é responsável pela síntese de ção de transcrição. A polimerase modificada recruta
mRNA no núcleo. Vários temas comuns emergiram de outros componentes nucleares, incluindo enzimas do
pesquisa em um grande número de genes (Figura 5.6). processamento de RNA, durante a fase de elongação
(1) As sequências do DNA que controlam a transcrição da transcrição.
são complexas; um único gene pode ser controlado por
dúzias de elementos de sequências de DNA, além do Promotores para Síntese de mRNA
promotor, que inclui o sítio no qual um complexo multi
Diferentemente da RNA polimerase procariótica,
proteico contendo a RNA polimerase se organiza. Este
que reconhece apenas uma única sequência de pro
complexo de pré-iniciação é composto por vários fa
motor, os fatores de transcrição que agem em conjun
tores de transcrição de nível basal, ou gerais (p. 333),
to com a RNA polimerase II podem reconhecer várias
cuja função é posicionar a RNA polimerase II no sítio
classes de sequências consenso à montante do ponto de
correto para iniciar transcrição, ajudar a separação
das fitas de DNA no ponto de início e controlar a tran início do mRNA. A primeira e mais proeminente delas,
às vezes chamada TATA box, tem a sequência
sição da polimerase do modo iniciação para elongação.
Entretanto, sem proteínas adicionais para o controle TATA(A/T)(A/T) A
da transcrição interagindo com enhancers e outros
elementos de sequência de ação cis, esse processo é em que os nucleotídeos entre parêntesis podem ser A
geralmente pouco eficiente. Elementos de sequência ou T.
controladores funcionam em combinação para dar
um padrão de controle estreitamente ajustado. (2) O O TATA box é centralizado cerca de 25 pb à montan
te da unidade de transcrição. Experimentos nos quais
efeito de sequências de controle sobre a transcrição é
foi removido sugerem que seja necessário para a trans
mediado pela ligação de proteínas a cada elemento de
crição eficiente de muitos genes, mas pode só especifi
sequência. Esses fatores de transcrição reconhecem car o ponto de início da transcrição correto, em outros.
a sequência de nucleotídeos do elemento de controle Alguns promotores são totalmente desprovidos dele.
apropriado. (3) Fatores de transcrição ligados intera
gem entre si e finalmente atuam para recrutar a RNA Outros elementos de controle promotor-proximal
polimerase, frequentemente agindo por meio de fato são frequentemente encontrados em genes transcritos
res do complexo de pré-iniciação ou outros intermedi por RNA polimerase II, mas não são universais. Uma
ários. A ligação ao DNA e as atividades de ativação dos dessas sequências é CAAT box, com a sequência
196 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
A conversão de uma célula normalmente bem regu divisão celular. Uma única cópia do gene mutado causa
lada em uma cancerosa requer várias etapas indepen a síndrome de Li-Fraumeni, uma condição hereditária
dentes, cujo resultado final é uma célula transformada, que predispõe a carcinomas de mama e córtex adrenal,
capaz de crescimento descontrolado e metástase. Des sarcomas, leucemia e tumores de cérebro.
cobertas sobre esse processo vieram de estudos sobre
DNA recombinante dos genes, chamados oncogenes, Mutações somáticas em p53 podem ser identificadas
cujos produtos mutados ou superexpressos contribuem em cerca de metade de todos os cânceres humanos. Mu
para a carcinogênese. Os oncogenes foram identificados tações representam uma perda de função, afetando ou
pela primeira vez como constituintes dos genomas de a estabilidade ou a capacidade de ligar DNA da p53. A
DNA ou RNA de vírus tumorais, mas os encontrados em proteína selvagem ajuda a controlar o ponto de verifica
vírus tumorais de RNA são derivados dos genes presen ção (checkpoint) entre as fases G1 e S do ciclo celular,
tes em células normais. Os análogos celulares normais, ativa o reparo do DNA e, em outras circunstâncias, leva
não-mutados, dos oncogenes são chamados proto-onco à morte celular programada (apoptose). Portanto, as
genes. Seus produtos são componentes de muitas vias ações bioquímicas da p53 servem para manter o cres
que regulam o crescimento e a diferenciação de uma cimento celular regulado e, finalmente, eliminar as cé
célula normal; mutação para uma forma oncogênica en lulas danificadas. Todas essas funções se contrapõem à
volve uma modificação que torna o produto regulatório transformação neoplásica de uma célula.
menos sensível ao controle normal. Esses papéis variados são uma função da ação da
Alguns produtos de proto-oncogenes estão envolvi p53 como fator de transcrição, inibindo alguns genes
dos na transdução de sinais hormonais ou no reconheci e ativando outros. Por exemplo, p53 é uma proteína
mento de fatores de crescimento, e agem no citoplasma. que se liga ao DNA em um sítio específico e promove a
Outros proto-oncogenes têm local de ação nuclear; seus transcrição de alguns genes, incluindo os envolvidos no
produtos gênicos estão frequentemente associados com reparo do DNA.
o aparelho de transcrição, e são sintetizados em respos
A estrutura tridimensional da p53 foi determinada.
ta a estímulos de crescimento. É fácil entender como a
Mutações encontradas na p53 de tumores afetam o do
superprodução ou a ativação permanente de um fator de
mínio de ligação ao DNA da proteína. Por exemplo, qua
transcrição positivo poderia ajudar a transformação de
se 20% de todos os resíduos mutados envolvem muta
uma célula em maligna. Os genes normalmente trans
ções em duas posições da p53. A estrutura cristalina do
critos em níveis baixos ou controlados seriam superex
complexo proteína-DNA mostra que esses dois amino
pressos por tal mecanismo de controle perturbado.
ácidos, ambos argininas, formam pontes de hidrogênio
Um efeito genético mais sutil que predispõem ao cân com DNA. A arginina 248 forma pontes de hidrogênio
na fenda menor da hélice do DNA com um oxigênio de
cer é exemplificado pela proteína humana supressora
uma timina e com um nitrogênio do anel de uma adeni
de tumor p53. Essa proteína é o produto de um membro
de outra classe de genes implicados na tumorigênese, na. Mutações destroem essa rede mantida por pontes-H
os genes supressores de tumor. Diferentemente dos on e, portanto, a capacidade da p53 regular a transcrição.
cogenes, cujos produtos regulam positivamente o cres
cimento e a proliferação celular, o produto de um gene Weinberg, R. A. The Biology of Cancer. New York: Gar
supressor de tumor como p53, regula negativamente a land Science, 2007.
da RNA polimerase III é a localização das sequências polimerase core bacteriana, de uma RNA holoenzima,
de ligação de fatores de transcrição; estas podem es de uma RNA polimerase II eucariótica e até de uma
tar localizadas dentro da sequência de DNA que codi RNA polimerase II engajada na elongação da transcri
fica o RNA e são frequentemente chamadas regiões de ção foram determinadas por cristalografia de raios-X.
controle internas. Em alguns casos, o DNA na região A despeito de todas as diferenças na composição em
imediatamente 5! à região transcrita do gene pode ser subunidades, no tamanho e no mecanismo, as RNA po
substituído por outras sequências com efeitos relativa limerases parecem interagir com seus DNAs moldes,
mente pequenos sobre a transcrição. Em outros casos, nucleotídeos substratos e cadeias nascentes de RNA de
entretanto, sequências à montante do ponto de início modo semelhante.
da transcrição podem desempenhar um papel impor
Chama a atenção o fato de as formas das enzimas
tante no estabelecimento de uma transcrição eficiente.
As diferenças parecem resultar da importância relativa procarióticas e eucarióticas serem muito semelhantes,
dos vários contatos DNA–proteína na estabilização do particularmente no core catalítico das enzimas. Tanto a
RNA polimerase core bacteriana como a RNA polimera
complexo de transcrição inteiro, composto por múlti
plas proteínas, além da RNA polimerase III. As relações se II de levedura tem a forma de uma pinça de carangue
dessas várias proteínas com a sequência de DNA cor jo (Figura 5.9). O DNA entra por uma extremidade da
respondente é mostrada, para um gene de rRNA 5S e molécula, e se move por uma fenda profunda da polime
para um gene de tRNA, na Figura 5.8. rase antes de fazer uma dobra de 90-graus e sair da po
limerase. O sítio catalítico, isto é, o local onde um novo
nucleotídeo é adicionado à extremidade 3! da cadeia de
RNA nascente, localiza-se na extremidade do canal. As
As Bases Enzimáticas Comuns para a duas fitas da molécula de DNA dupla-hélice são separa
das pela enzima, formando uma “bolha de transcrição”,
Ação das RNA Polimerases
e um híbrido transitório RNA-DNA, com nove pares de
Nosso entendimento sobre a base molecular de ação bases, se forma dentro da bolha. Nucleotídeos entram e
da RNA polimerases cresceu recentemente, quando as RNA sai por dois outros canais separados na molécula.
estruturas tridimensionais de um fator σ, de uma RNA A despeito das diferenças de sequências e composição
em subunidades, as RNA polimerases proca
5S rRNA rióticas e eucarióticas mantiveram estruturas
TFIIIC
TFIIIB 55K 62K semelhantes para desempenhar as mesmas
90K B 135K 95K 145K 90K tarefas, levando à síntese de uma nova ca
70K B deia de RNA. Estas incluem: (1) a passagem
TFIIIA 51K do DNA molde por um canal da enzima, (2) a
separação das fitas de DNA para formar uma
bolha na qual um híbrido RNA-DNA existe
10 20 30 40 (box
50
60
A)
70 80 90 100 110 120 130
com a extremidade 3! da cadeia de RNA posi
−50 −40 −30 Início
−20 −10 Tx −1
box C cionada no sítio ativo, (3) a colocação de nu
SUP4 tRNATyr cleotídeos no sítio ativo por um poro da enzi
TFIIIC
ma, (4) o uso de um íon metálico para ajudar
TFIIIB 62K na catálise da formação de uma nova ligação
90K B 135K 95K 90K éster fosfato entre o fosfato α do nucleosídeo
145K
70K B
55K trifosfato que está chegando e a extremidade
3! da cadeia nascente do RNA, (5) a exclusão
do RNA produzido por outro poro, e (6) o en
caminhamento para reanelamento das duas
−50 −40 −30 −20 −10 −1 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
(a)
O RNA Transportador É Modificado
por Clivagem, Adição e Modificação
de Bases
Clivagem
O transcrito primário de um gene de tRNA contém
sequências extras de nucleotídeos, tanto na direção 5!
como na 3! da sequência do tRNA. Esses transcritos
primários também podem conter íntrons na região do
anticódon. As reações de processamento pós-transcrip
cional ocorrem em uma ordem temporal bem definida,
mas não necessariamente rígida. Primeiro, o transcrito
primário é cortado de modo relativamente inespecífico
para gerar uma molécula precursora com extensões 5!
(b) e 3! mais curtas. Então a ribonuclease P, uma ribozima
(p. 71), remove a extensão 5! por clivagem endonucleo
FIGURA 5.9 Comparação das estruturas de RNA
polimerases eucariótica e procariótica. lítica. A extremidade 3! é cortada exonucleoliticamen
As mesmas cores são usadas para representar subunidades te, seguida pela síntese da terminação CCA. A sínte
homólogas nas duas enzimas. Note a semelhança das formas se dos nucleotídeos modificados ocorre em qualquer
gerais. (a) A estrutura tridimensional de RNA polimerase II ordem em relação à clivagem nucleolítica. A remoção
de levedura engajada na fase de elongação da transcrição. As de íntrons é determinada pela estrutura secundária do
várias subunidades são apresentadas em diferentes cores, precursor (Figura 5.10), e é executada por um sistema
com a maior subunidade em azul, e a segunda maior subu enzimático solúvel, com dois componentes; uma enzi
nidade em verde. A fita de DNA molde é amarela e o RNA ma remove o íntron e a outra sela novamente a cadeia
nascente é azul escuro. Nessa estrutura estão faltando duas
nucleotídica.
subunidades da RNA polimerase (produtos dos genes Rpb4
e Rpb7) e a fita não-molde do DNA não foi resolvida na de
terminação da estrutura. (b) A estrutura da RNA polimerase Adição na Extremidade 3!
core de Thermus aquaticus é apresentada abaixo. A subu
nidade b! é apresentada em verde, a subunidade b em azul,
Todo tRNA funcional tem a sequência CCA em sua
as duas subunidades a em vermelho e a subunidade w em extremidade 3!. Essa sequência é essencial para que
violeta. o tRNA aceite aminoácidos. Na maioria dos casos, é
Figuras desenhadas com as coordenadas fornecidas no ban adicionada sequencialmente pela enzima tRNA nucle
co de dados de estrutura de proteínas (pdb), com base nas otidiltransferase. Nucleotidiltransferases usam ATP
seguintes citações: (a) Gnatt, A. L., Cramer, P., Fu, J., Bush e CTP como substratos e sempre incorporam-nos em
nell, D. A., e Kornberg, R. D. Structural basis of transcription: tRNA numa razão de 2C/1A. As extremidades CCA são
An RNA polymerase II elongation complex at 3.3Å resolution. encontradas tanto em tRNAs citoplasmáticos como mi
Science 292:1876, 2001; e (b) Minakhin, L., Bhagat, S., Brun
tocondriais.
ning, A., Campbell, E. A., et al. Bacterial RNA polymerase su
bunit omega and eukaryotic RNA polymerase subunit RPB6
are sequence, structural, and functional homologs and pro
Nucleosídeos Modificados
mote RNA polymerase assembly. Proc. Natl. Acad. Sci. USA Os nucleotídeos de RNAs transportadores são os
98:892, 2001.
mais modificados de todos os ácidos nucleicos. Mais de
200 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
O Processamento do RNA
Ribossômico Libera Vários
RNAs de um Precursor Mais
Longo
Ìntron
O produto primário da transcrição do
gene de rRNA é um RNA longo, chamado
Adição da modificação 45S RNA, que contém as sequências dos
tRNA maduro CCAOH à extremidade 3!
rRNAs 28S, 5,8S e 18S. O processamento
H do 45S RNA ocorre no nucléolo, e é feito
O por grandes estruturas de ribonucleopro
A 3! teínas, com múltiplas subunidades. O pro
C
P C cessamento dos rRNAs segue uma ordem
5! sequencial (Figura 5.11). O processamento
dos pré-rRNAs em procariotos também en
volve clivagem de precursores de alto peso
molecular em moléculas menores. Em um
estágio inicial do processamento em eu
cariotos, algumas bases do 35S rRNA são
modificadas por metilação nos nitrogênios
do anel das bases e por formação de pseu
douridina. Essas reações são especificadas
por partículas de ribonucleoproteínas nu
Remoção do íntron cleolares pequenas (snoRNPs) no nuclé
(endonuclease e ligase) olo. Cada snoRNP contém um RNA guia,
H que estabelece pares de bases com o rRNA
O
transcrito no local da modificação, especifi
A 3!
C
cando onde uma metilação ou formação de
P C pseudouridina deve acontecer. Um meca
5! nismo semelhante opera para modificação
de alguns outros RNAs pequenos.
O Processamento do RNA
Mensageiro Garante a
FIGURA5.10 Esquema de processamento de um tRNA eucariótico.
Sequência Codificadora
O transcrito primário é clivado pela RNase P e por uma 3!-exonuclease, e a ter Correta
minação CCA é sintetizada por tRNA nucleotidiltransferase antes do íntron ser
removido, se necessário. A maioria dos mRNAs eucarióticos tem
características estruturais específicas, adi
60 modificações diferentes nas bases e na ribose, exi cionadas no núcleo por sistemas enzimáticos diferen
gindo bem mais de 100 diferentes reações enzimáticas, tes da RNA polimerase. Essas características incluem
foram encontradas em tRNA. Muitas são simples, meti a cauda de poli(A) da extremidade 3!, nucleotídeos in
lações de uma etapa, mas outras envolvem síntese com ternos metilados e o cap da extremidade 5!. Os mRNAs
múltiplas etapas. A formação de algumas bases modi maduros são mais curtos do que seus transcritos pri
ficadas, na realidade, requer a quebra da ligação b-gli mários. Sequências não-codificadoras presentes nos
cosídica entre a ribose e a base. Enzimas modificado pré-mRNAs, mas ausentes nos mRNAs maduros, são
ras produzem as mesmas modificações específicas em chamadas sequências intervenientes ou íntrons. As se
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 201
5.8S rRNA
À medida que o complexo de transcrição se
Procariotos DNA do gene ribossômico move ao longo do DNA, o complexo enzimático
de capping modifica a extremidade 5! do mRNA
t Clivagem com transcrição i nascente. Capping envolve a síntese de uma liga
ção 5!–5! trifosfato com adição de um resíduo G.
PrérRNA 23S 3! PrérRNA 16S Essa estrutura é ainda modificada por metilação.
Clivagem
Remoção de Íntrons de mRNA
23S rRNA 16S rRNA Precursores
FIGURA5.11 Esquemas para transcrição e processamento de À medida que o pré-mRNA sai do complexo
rRNAs. RNA polimerase, ligam-se rapidamente ribo
Redesenhado de Perry, R. Annu. Rev. Biochem. 45:611, 1976. nucleoproteínas nucleares pequenas, snRNPs
quências mantidas são chamadas éxons. O padrão geral Pausa inicial Elongação Terminação
de processamento de mRNA é apresentado na Figura
5.12. Os mRNAs processados de modo incompleto cons Adição do cap 5! Splicing do mRNA Processamento 3!
tituem uma parte importante do RNA heterogêneo nu
clear (HnRNA).
(“snurps”), que executam o splicing do RNA em duas ências importantes na extremidade 3! aceptora do ín
etapas: quebra do íntron no sítio doador 5! e união das tron. Também outras espécies de snRNP, entre elas U5
sequências de éxons a montante e a jusante (upstre e U6, ligam-se então ao RNA precursor, formando um
am e downstream). Quase todos os íntrons começam grande complexo chamado spliceossomo (por analogia
com uma sequência GU e terminam com AG; essas se com a grande construção ribonucleoproteica envolvida
quências são chamadas junções íntron-éxon doadora e na síntese de proteínas, o ribossomo). O spliceossomo
aceptora, respectivamente. Entretanto, nem todas as usa ATP para fazer a remoção precisa do íntron. Primei
sequências GU ou AG são removidas do RNA. Como a ro, a ligação fosfodiéster entre o éxon e a sequência GU
célula sabe quais sequências GU estão em íntrons (e doadora é quebrada, deixando um grupo 3!-OH livre na
portanto devem ser
removidas) e quais es Spliceossomo
no mRNA
tão destinadas
manecerem a per- U1 U2
Anticorpos humorais em soros de pacientes com dade 5! inclui uma sequência complementar a junções
várias doenças do tecido conjuntivo reconhecem uma íntron–éxon. Adição desse anticorpo a ensaios de spli
variedade de complexos ribonucleoproteicos. Pacientes cing in vitro inibe o splicing, presumivelmente pela
com lupus eritematoso sistêmico apresentam uma ativi remoção do U1 RNP da reação. Soros de pacientes com
dade de anticorpos no soro denominada Sm, e pacien outras doenças do tecido conjuntivo reconhecem dife
tes com doença mista do tecido conjuntivo exibem um rentes antígenos nucleares, proteínas nucleolares e/ou
anticorpo denominado RNP. Cada anticorpo reconhece centrômero de cromossomos. Demonstrou-se que soros
um sítio distinto no mesmo complexo de RNA-proteína de pacientes com miosite reconhecem antígenos cito
(U1-RNP), que está envolvido no processamento de plasmáticos como aminoacil-tRNA sintetases. Embora
mRNAs em células de mamíferos. O complexo U1-RNP tenha sido relatada a entrada de anticorpos humorais
contém U1 RNA, uma sequência de 165 nucleotídeos na célula via receptores de Fc, não há evidência de que
muito conservada em eucariotos, que em sua extremi isso seja parte do mecanismo de doenças autoimunes.
Poliadenilação GOH C
P
A RNA polimerase continua trans
G
crevendo o gene até que uma sequên Etapa B
cia sinal de poliadenilação seja atingi
G
da (Figura 5.15). Essa sequência, que ,5!
2! P
tem o consenso AAUAAA, aparece no IVS(A)
3!,5!
ApU G ApU P
mRNA maduro, mas não faz parte de 3!,5!
sua região codificadora. Em vez dis 2
so, sinaliza clivagem do precursor de
mRNA nascente, cerca de 20 nucleotí Etapa C
deos mais adiante. A sequência poli(A) ,5! G
2! P
é, então, adicionada por uma polimera OH 3! 5! G C 3!
se especializada à extremidade 3! pro
L12
duzida por essa clivagem. O domínio C
-terminal da RNA polimerase II recruta
FIGURA5.14 Esquema proposto para splicing de mRNA incluindo a estrutura
o complexo de clivagem e poliadenila
em laço.
ção para o transcrito. A terminação da
Um RNA mensageiro é representado com dois éxons (em azul) e um íntron interve
transcrição pela RNA polimerase que niente (em laranja). Um grupo 2!-OH da sequência do íntron reage com o 5!-fosfato
está elongando ocorre mais a jusante do nucleotídeo 5!-terminal do íntron, produzindo uma ligação 2!–5! e a estrutura em
e é acoplada à clivagem e reação de laço. Simultaneamente, a ligação fosfodiéster éxon 1-íntron é quebrada, deixando uma
poliadenilação, embora o mecanismo extremidade 3!-OH nesse éxon livre para reagir com 5!-fosfato do éxon 2, deslocando
detalhado não esteja claro. O resulta o íntron e criando o mRNA spliced. O laço do íntron liberado é subsequentemente
do final do processamento é um mRNA digerido por nucleases celulares.
codificador completamente funcional,
com todos os íntrons removidos e pron
to para dirigir a síntese proteica.
204 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
AA Normal
5! UA
AA
G
U
G
U Mutante
G
fica. Essa diversidade surge a partir de um único gene, 5.5 EXPORTAÇÃO DO RNA E
que é transcrito em um transcrito primário. O transcri
to é, então, processado como esquematizado na Figura CONTROLE DE QUALIDADE
5.17. Cada tipo de célula processa o transcrito primário
Os RNAs mensageiro, transportador e ribossômico
de tropomiosina de modo característico. As espécies de
mRNA resultantes são traduzidas, gerando as tropo funcionam no citoplasma. O movimento para fora do
miosinas características de cada tipo celular. Esse é um núcleo ocorre através do poro nuclear. O complexo do
tema recorrente na expressão gênica eucariótica. Exis poro nuclear é um cilindro que atravessa a membrana.
tem apenas 20.000-25.000 genes que codificam proteína Dentro do cilindro ficam dois anéis empilhados e uma
no genoma humano; entretanto, aproximadamente dois rolha central (“plug”). Íons pequenos podem passar
terços deles dão origem a transcritos spliced diferen através do poro entre o plug e os anéis, mas RNAs são
cialmente. Transcritos spliced diferencialmente são grandes demais para passarem por esse espaço. A ex
traduzidos em produtos proteicos que têm diferentes portação de RNA ocorre por um canal dentro do plug;
localizações, interações moleculares ou propriedades esse é um processo que requer que os RNAs estejam li
enzimáticas. Portanto, a existência de íntrons fornece gados a proteínas para formar partículas de ribonucleo
ao organismo um método poderoso para gerar diversi proteínas. O movimento dos RNAs ribossômicos ocorre
dade de proteínas. A escolha de um padrão de splicing após a montagem dos ribossomos no nucléolo. Os RNAs
específico é frequentemente regulada por fatores pro transportadores podem ser ligados a aminoacil-tRNAs
teicos que se ligam a sequências dentro de um éxon. Es sintetases, uma vez que podem ser aminoacilados no
sas proteínas podem aumentar ou reprimir o splicing núcleo antes da exportação. Os RNAs mensageiros são
de junções íntron–éxon adjacentes. exportados em complexos que contêm uma proteína
de ligação ao cap na extremidade
ORGANIZAÇÃO DOS ÉXONS DO GENE DA αTM
5! e proteínas de ligação ao RNA
ao longo do resto da sequência. O
675 processo requer energia metabólica
!87
DT 60 675
675 na forma de GTP, sequências sinais
!87 ! 87
específicas na proteína e uma pro
teína-G GTPase.
Enzimas de Edição de Ácidos Nucleicos: Uma Defesa Antiviral, Bem Como um Modo de Alterar a Expres
são Gênica
A apolipoproteína B, um ator chave no metabo quando ela brota de uma célula infectada. APOBEC3G
lismo de colesterol, existe em duas formas: uma de converte múltiplos resíduos C no cDNA inicial em deso
Mr = 48.000, que é produzida no intestino, e uma segun xi-U. Os dUs, então, especificam dAs durante a síntese
da com Mr = 100.000, que é sintetizada no fígado. Os da segunda fita do cDNA, que tem a mesma sequência
dois RNAs são transcritos de um único gene, e a forma do RNA viral. Os vírus mutados são defectivos nas fases
intestinal resulta de um evento de edição. Uma enzima mais tardias do ciclo de vida.
intestinal citidina deaminase, chamada enzima de edi
ção do mRNA da Apolipoproteína B, polipeptideo cata Entretanto, a APOBEC3G não confere resistência
lítico 1 (APOBEC1) converte um C específico do mRNA absoluta. Em outro exemplo de como organismos pato
da ApoB em U, transformando um códon CAA (Glc) em gênicos evoluem para evadir das defesas do hospedeiro,
um códon UAA (stop). As enzimas APOBEC formam HIV codifica uma proteína chamada Vif, que direciona
uma família, e diferentes isoformas são expressas em especificamente APOBEC3G para degradação nos pro
tipos celulares diferentes. teassomos. Vif é relacionada com enzimas ubiquitina
-E3 ligase, embora o mecanismo exato pelo qual atinge
Por que um mecanismo tão incomum, quando um APOBEC3G não esteja claro.
resultado semelhante poderia ser obtido por splicing
diferencial de um transcrito único ou de um gene du
plicado? Uma resposta pode estar nas propriedades da Goila-Gaur, R., e Strebel, K. HIV-1, Vif, APOBEC, and
família de enzimas APOBEC. Células T primária e ma intrinsic immunity. Retrovirol. 5:51, 2008; Harris, R., e Li
crófagos são relativamente resistentes à infecção por ddament, M. T. Retroviral restriction by APOBEC proteins.
HIV. Lembre-se que o HIV tem um genoma de RNA, que Nature Rev. Immunol. 4:868, 2004; and Wahl, S. M., Gre
deve ser transcrito reversamente em cDNA (p. 267). enwill- Wild, T., e Vazquez, N. HIV accomplices and adver
Uma isoforma da família APOBEC codificada pelo hos saries in macrophage infection. J. Leukocyte Biol. 80:973,
pedeiro, APOBEC3G, é carregada pela partícula viram 2006.
te, o primeiro ribossomo que vai traduzir remove as -fita (um membro da família RNase III) primeiro proces
proteínas da junção de éxons. Se o ribossomo parar em sa o RNA dupla-fita em espécies dupla-fita mais curtas,
um códon de terminação de cadeia antes que todas as que são exportadas do núcleo. Uma vez no citoplasma,
proteínas de junção de éxons tenham sido removidas, o RNA dupla-fita é mais processado por outra RNase III
um conjunto específico de nucleases degrada o mRNA, chamada Dicer, formando um RNA dupla-fita pequeno
impedindo sua tradução. Da mesma forma, um mRNA com cerca de 21 pares de bases de comprimento. Então,
que não tenha um códon nonsense normal de termina o RNA dupla-fita é desenrolado por um complexo pro
ção da cadeia é alvo da degradação, porque é muito pro teico chamado complexo de silenciamento induzido por
vável que esse mRNA tenha sido sintetizado com baixa RNA (RISC, RNA-induced silencing complex) ou mi
precisão ou tenha sido clivado por engano. A tradução cro-RNA-proteína (miRNP). Em ambos os casos, uma
desse mRNA provavelmente resultaria em síntese de fita do RNA duplex é selecionada, quase sempre a que é
uma proteína mais curta. complementar ao mRNA alvo. Então, o RNA pequeno li
gado a proteína estabelece pares de bases com o mRNA,
causando um de dois eventos. Se houver complementa
ridade perfeita (o RNA é chamado RNA inibitório pe
5.6 RNA DE INTERFERÊNCIA queno [siRNA]), as enzimas do complexo RISC clivam
Regiões de dupla-fita em mRNA celular são geral a fita do mRNA. Se a complementaridade for imperfeita
mente muito curtas, com menos de 10 pares de bases. (o RNA é chamado micro-RNA [miRNA]), o mi-RNP re
Sequências dupla-fita mais longas podem resultar de re prime a tradução do mRNA por pareamento de bases
plicação de vírus de RNA, de transcrição de sequências do miRNA com o mRNA. RNA de interferência é eficien
repetitivas ou de regiões mais longas de alguns mRNAs te porque um único complexo RISC-siRNA pode clivar
naturais. Esses RNAs de fita-dupla são processados em muitas moléculas de mRNA, e a repressão da tradução
RNAs inibitórios (RNAi) de fita-única que atuam silen pode levar à degradação do mRNA. Pesquisas recentes
ciando a expressão de seus próprios mRNAs alvos. sugerem que miRNA pode regular a expressão de até
um terço dos genes de mamíferos, e o envolvimento de
A via de processamento desses RNAs é apresentada RNAs não-codificadores na formação da heterocroma
na Figura 5.18. Uma RNase específica para RNA dupla tina implica que podem regular a transcrição, assim
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 207
C. Elegans/mamíferos
5.8 NUCLEASES E TURNOVER
DO RNA
Dicer As diferentes funções do RNA e do DNA na expres
são gênica refletem-se em seus destinos metabólicos.
P O repositório de informação genética de uma célula
P
(DNA) deve ser preservado, explicando assim a exis
tência dos múltiplos sistemas de reparo e edição do
DNA no núcleo. Embora sequências individuais de nu
cleotídeos no DNA possam ser recicladas, a molécula
P
como um todo é metabolicamente inerte, quando não
P
P está replicando. As moléculas de RNA, por outro lado,
miRNA/siRNA miRNA são individualmente dispensáveis e podem ser substi
tuídas por espécies recém-sintetizadas com a mesma
RISC miRNP
especificidade. Não é surpreendente que sistemas de
reparo de RNA não sejam conhecidos. Em vez disso,
AAAA7mG PAAAA
RNAs defeituosos são removidos das células por degra
7mG P dação a nucleotídeos, que depois são reutilizados em
Clivagem do RNA Represão
novas espécies de RNA.
da tradução
Isso é mais claro para espécies de mRNA, que são
FIGURA5.18 Efeitos de RNAs inibitórios pequenos sobre relativamente instáveis. Entretanto, mesmo os RNAs
o metabolismo de mRNA eucariótico. ditos estáveis são reciclados; por exemplo, a meia-vida
RNA de fita-dupla, por exemplo, da replicação de vírus de RNA de espécies de tRNA no fígado é de cerca de 5 dias. Uma
(superior esquerda) ou de grampos de transcritos longos de meia-vida bastante longa para um mRNA de mamíferos
RNA (superior direita), é processado pela enzima Dicer em é de 30 h.
RNAs de fita-dupla curtos. Uma fita é complementar ao mRNA
e estabelece pares de bases com ele, ajudada ou por RISC (via A degradação de RNAs ocorre tanto no núcleo
da esquerda) ou pelo complexo miRNP (via da direita). RISC como no citoplasma. No núcleo, a degradação realiza
quebra o mRNA na região de fita-dupla, enquanto o pareamen
duas funções que se sobrepõem. Primeiro, serve como
to de bases com miRNP para a tradução do mRNA.
controle de qualidade para que RNAs que resultam de
Redesenhado de Meister, G. e Tuschl, T. Nature 431:343, 2004.
transcrição ou processamento incorretos sejam impedi
dos de sair do núcleo. Segundo, os RNAs de partículas
ribonucleoproteicas são reciclados, especialmente du
como a tradução. A Correlação Clínica 5.7 discute o en rante o ciclo celular. Os RNAs perdem o cap por uma
volvimento de microRNAs na oncogênese. enzima nuclear e são degradados na direção 3! para 5!
pelo exossomo, um complexo multienzimático.
MicroRNAs (miRNAs) reduzem a expressão de 7 reduzem o fenótipo oncogênico. (4) Vários miRNAs
seus genes alvos por se ligarem aos mRNAs e, assim, inativam a via da p53, que desencadeia a apoptose, em
inibirem sua tradução ou desencadearem sua destrui resposta a danos genéticos.
ção (Figura 5.18). Aproximadamente 30% de todos os
mRNAs humanos são potencialmente regulados por Esses dados e outros semelhantes levaram à pro
miRNAs. Como o câncer é causado por erros na expres posição de um modelo para as funções dos miRNAs
são gênica, parece lógico que a via dos miRNAs esteja no desenvolvimento de câncer (ver figura). Embora o
envolvida na oncogênese. Essa hipótese foi apoiada modelo esteja incompleto, ele aponta a possibilidade
por uma série de observações. (1) Genes de famílias de terapias que teriam como alvo esse novo mecanis
de miRNAs estão frequentemente deletados em li mo regulatório.
nhagens celulares de cânceres humanos. (2) Ao con Garzon, R., e Croce, C. M. MicroRNAs in normal and malig
trário, alguns linfomas de células B caracterizam-se nant hematopoeisis. Curr. Opin. Hematol. 15:352, 2008; Ku
por sequências de DNA amplificadas, que especificam mar, M. S., Erkeland, S. J., Pester, R. E., Chen, D. Y., et al. Sup
miRNAs. (3) O miRNA let-7 interage com vários onco pression of non-small celllung tumor development by the let-7
genes. A redução do miRNA let-7 correlaciona-se com microRNA family. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 105:3903, 2008;
mau prognóstico em câncer de pulmão de não-peque e Papagiannakopoulis, T., e Kosik, K. S. MicroRNAs: regulators
nas células (NSCLC). Por outro lado, em um modelo of oncogenesis and stemness. Biomedical Central Medicine
em camundongo de NSCLC, transgenes funcionais let 6:15, 2008. (http://www.biomedcentral. com/1741-7015/6/15.)
A progressão de um fenótipo de célula normal para nando numa barra significa que o miRNA regula nega
um de câncer metastático é regulada, em parte, por tivamente a transição.
espécies específicas de microRNAs. Uma seta signifi
ca que um microRNA regula positivamente a transição Figura generosamente fornecida pelo Dr. Phillip Sharp,
para um estágio diferente, enquanto uma linha termi Koch Institute for Integrative Cancer Research, M.I.T.
de lesões típicas do herpes na boca (cold sores) e algu tro de uma molécula. Os produtos da ação de RNases
mas infecções genitais. Um evento precoce no estabele contêm fosfatos 3!- ou 5!-terminais, e tanto endo- como
cimento da infecção por HSV é a capacidade que o vírus exonucleases podem ser mais bem caracterizadas pela
tem de desestabilizar todas as moléculas de mRNA ce posição (5! ou 3!) na qual o monofosfato criado pela cli
lular, reduzindo assim a competição por ribossomos li vagem fica localizado.
vres. Dessa maneira, as proteínas virais são traduzidas
mais eficientemente. Outra atividade de exonuclease 3!-5! envolvida na
degradação de RNA é a polinucleotídeo fosforilase. Seu
Nucleases são de vários tipos e especificidades. A mecanismo de degradação de RNA usa fosfato inorgâni
distinção mais útil é a que existe entre exonucleases, co para deslocar a ligação fosfodiéster na extremidade
que degradam RNA a partir da extremidade 5! ou 3!, 3! do RNA, gerando um RNA mais curto e um nucleotí
e endonucleases, que clivam ligações fosfodiéster den deo difosfato.
CAPÍTULO 5 TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DO RNA • 209
Síndrome de Cockayne
A síndrome de Cockayne (CS) (OMIM 216400) é O reparo acoplado à transcrição ocorre quando a
uma doença complexa autossômica recessiva, mais RNA polimerase está parada por encontrar uma base
comumente causada por uma mutação em um de dois alterada (por exemplo, um fotodímero de timina). A
genes. Pacientes com CS apresentam alterações de de transcrição para, o transcrito parcial é degradado, e a
senvolvimento e neurológicas, anomalias esqueléticas fita molde do DNA é reparada. Aparentemente, aumen
e de retina, e uma deformidade facial “tipo pássaro”. to da transcrição pela proteína CSB também estimula o
A morte geralmente ocorre por volta dos 20 anos de reparo do DNA acoplado à transcrição.
idade e é causada por degeneração neural. A maioria
dos pacientes com síndrome de Cockayne é também Se essa fosse toda a história, a síndrome de Cockay
fotossensível e predisposta a câncer de pele. Essa fo ne seria uma variante do xeroderma pigmentoso; entre
tossensibilidade aponta para um defeito no reparo do tanto, pacientes com XP são neurologicamente normais
DNA. Por exemplo, xeroderma pigmentoso (XP) re quanto ao desenvolvimento, embora sejam fotossensí
sulta de mutações em vários dos componentes da via veis. O que causa as outras características de CS? Pa
de reparo do DNA. CS também é uma deficiência em rece que esses outros sintomas são devidos a uma defi
reparo do DNA. ciência primária na elongação da transcrição, causada
pelo fator de elongação CSB alterado pela mutação.
Existem dois genes cujas mutações causam a maio Essa ideia expande nosso entendimento da relação en
ria dos casos de síndrome de Cockayne; sabe-se que tre mutação e doença. Geralmente, doenças genéticas
ambas estão envolvidas no reparo de danos no DNA. são causadas por uma mutação em processos bioquími
CSB codifica uma ATP helicase dependente de DNA cos que ficam fora das vias centrais de informação da
relacionada com proteínas envolvidas no remodela célula. Isso faz sentido porque inibição geral da síntese
mento da cromatina. CSA é uma E3 ubiquitina ligase, de DNA, RNA ou proteína seria letal num estágio preco
aparentemente envolvida na reciclagem (turnover) de ce do desenvolvimento. Os defeitos generalizados da CS
proteínas. As proteínas CSA e CSB cooperam com ou devem ser devidos à mutação que afeta a transcrição de
tras proteínas do reparo do DNA para remover a RNA alguns genes mais do que a de outros.
polimerase parada e os transcritos, e reparar o molde
danificado. Após o reparo, nova iniciação da transcri Citterio, E., Vermeulen, W. e Hoeijmakers, J. H. J. Trans
ção pode ocorrer no promotor, ou outras moléculas de criptional healing. Cell 101:447, 2000; D!Errico, M., et al. The
RNA polimerase II que estão paradas atrás da lesão role of CSA in the response to oxidative DNA damage in hu
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podem continuar com a transcrição correta.
M. When transcription and repair meet: a complex system.
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A estrutura do RNA pode afetar a ação da nuclease. a poli(A). O RNA sem capping é o substrato para uma
A maioria das nucleases é menos eficiente em regiões de exonuclease 5!-3! que degrada o RNA a nucleotídeos.
RNA com estrutura muito ordenada. Assim, tRNAs são Uma via alternativa envolve desadenilação e degrada
preferencialmente clivados em regiões não-pareadas da ção exonucleolítica 3!-5! por exossomos citoplasmáticos
sequência, e o exossomo prefere como substratos RNAs de mRNAs que ainda retêm seu cap (Figura 5.19).
não-estruturados ou dobrados erroneamente. Por ou
tro lado, muitas RNases envolvidas no processamento O decaimento mediado por nonsense elimina mRNAs
de RNA requerem que o substrato tenha uma estrutura que são incapazes de fazer uma proteína completa. Nada
tridimensional definida para reconhecimento. é perfeito. Embora a transcrição e o processamento
usem energia celular para manter baixa a frequência de
mRNAs citoplasmáticos podem ser degradados por erros, eles ainda ocorrem. Como cada mRNA é traduzido
várias vias sobrepostas (Figura 5.19). A maquinária em múltiplas proteínas, um mRNA processado incorreta
de degradação de mRNA é comumente encontrada em mente gastaria a energia necessária à tradução e levaria
corpos-P, que são grânulos subcelulares que contêm a proteínas dobradas incorretamente, o que desencadea
um conjunto de enzimas que metabolizam mRNA, in ria inflamação ou outras doenças graves, como formação
cluindo as da degradação. Mais comumente, a cauda da placa amiloide na doença de Alzheimer.
de poli(A) 3! do mRNA é encurtada primariamente por
digestão por exonuclease. Essa desadenilação é inibi Um RNA mal processado ou mal transcrito teria
da por proteína(s) de ligação a poli(A). Depois, o cap é uma alta probabilidade de conter códons de termina
removido por uma enzima especializada para remoção ção (nonsense). Códons nonsense prematuros de
do cap, que é também inibida pela proteína de ligação sencadeiam a destruição do mRNA, um processo cha
210 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
XRN1
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Termos Chaves
acetilação de histonas éxon poliadenilação zima
capping exossomo processamento do RNA RNA polimerase I
códon de terminação da fator de transcrição promotor RNA polimerase II
cadeia fator sigma recrutamento RNA polimerase III
de ação cis iniciação remoção do cap snRNP
RNA
domínio C-terminal da
polimerase íntron RNA inibitório pequeno spliceossomo
laço (siRNA) splicing alternativo
elongação molde RNA polimerase terminação
enhancer microRNA (miRNA) RNA polimerase holoen transcrito
Respostas
1. D Esse é um importante mecanismo para dire em um nucleossomo. E: enhancers podem estar a
cionar reações. A e B: a transcrição é dirigida por 1.000 ou mais pb de distância.
DNA, gerando precursores de rRNA no nucléolo e
5. E RNAs transportadores são os ácidos nucleicos
precursores de mRNA e de tRNA, no nucleoplas mais modificados. A: isso ocorre com o precursor
ma. C: a transcrição eucariótica pode ter regiões
de rRNAs. B: tanto endo- como exonucleases são
de promotores internas, bem como enhancers. E:
necessárias. C: CCA são adicionados sequencial
essa é uma diferença da DNA polimerase.
mente por nucleotidiltransferases e não fazem par
2. E A, D e E: o fator sigma é necessário para a ini te do transcrito primário. D: podem existir íntrons,
ciação correta e se dissocia da enzima core depois por exemplo, na região do anticódon do transcrito
que as primeiras ligações se formaram. A enzi primário.
ma core pode transcrever, mas não pode iniciar a
6. C Essa fita é chamada siRNA. Se a complementari
transcrição corretamente. B e C: rifampicina liga dade for imperfeita (miRNA), a tradução é reprimi
-se à subunidade b, e a-amanitina é um inibidor de
da. A: não existem processos de reparo de RNA. B: a
polimerases eucarióticas. maioria das enzimas degradativas é menos eficiente
3. C A terminação rho-independente envolve a es sobre uma estrutura ordenada. D: poderia ser 3! ou
trutura secundária, que é estabilizada por um alto 5!, dependendo do lado no qual a ligação fosfodiéster
conteúdo de G-C. A, B e E: existe um processo é clivada. E: todos os RNAs são reciclados.
rho-dependente, bem como um rho-independente. 7. D Metilação-desmetilação do DNA é uma forma
Rho é uma proteína separada da RNA polimerase e de controle, com o DNA metilado sendo inativo
parece possuir atividade de ATPase. D: é necessá para transcrição. A e E: esses indicariam que a
ria uma região rica em G-C.
metilação ativa o DNA. B: alteração na região do
4. B A RNA polimerase III usa um promotor interno. enhancer poderia fazer uma diferença, mas alte
A: a atividade da RNA polimerase II envolve as cai ração na região do promotor certamente faria. C: o
xas TATA e CAAT. C: a RNA polimerase I produz desdobramento da cromatina nessa região é neces
um transcrito, que é, mais tarde, processado para sário para a transcrição, mas a metilação do DNA
gerar três rRNAs. D: partes do promotor não estão não está diretamente envolvida no processo.
214 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
8. B B e C: sequências enhancer parecem funcionar, 12. A Isso sinaliza ao sistema de reparo por excisão,
estejam no começo ou no fim de um gene, mas pre para reparar a lesão. B: o reparo é dirigido a ge
cisam estar na mesma molécula de DNA que o gene nes transcritos ativamente, onde a cromatina é
transcrito. A: a RNA polimerase liga-se primeiro ao mais frouxamente organizada. C: para que ocorra
promotor. D: parecem funcionar ligando-se a prote o reparo, a RNA polimerase deve se dissociar, e o
ínas que, por sua vez, ligam a RNA polimerase. transcrito é sacrificado. D: uma lesão típica é dí
mero de timina na fita molde. A fita codificadora é
9. D Mutações em qualquer extremidade do íntron
normal e funciona como molde para o reparo.
levariam a um erro de splicing, mas uma mutação
no meio do íntron, não. A exceção seria se o ponto 13. Um códon de terminação da cadeia a montante do
específico da mutação fosse a adenosina que forma o último éxon é anormal. Quando a tradução para em
ponto de ramificação. A, B e C: todas estão corretas. tal códon, algumas proteínas da junção dos éxons
ainda permanecem. Isso leva um conjunto específi
10. A snRNPs são responsáveis tanto pela clivagem
co de nucleases a degradarem o mRNA, impedindo
do íntron na extremidade 5! como pela junção dos
sua tradução.
éxons. B: as sequências das duas extremidades de
um íntron são diferentes: GU na extremidade 5! e 14. a. Teste a preparação quanto à inibição por α-ama
AG na extremidade 3!. C: o spliceossomo requer nitina em uma concentraçãoalta, na qualas RNA po
ATP para remover o íntron. D: éxons não-consecu limerases eucarióticas são inibidas, exceto a I, mas
tivos podem ser ligados, levando a múltiplas pro a enzima eucariótica não é. Se a preparação não for
teínas a partir de um gene. E: o laço se forma em inibida pela amanitina, confirme se é inibida por ri
2!-OH. fampicina. Não será possível distinguir a RNA poli
merase eucariótica mitocondrial da enzima proca
11. C B e C: a RNA polimerase não se liga diretamen
riótica, porque ambas têm a mesma sensibilidade.
te ao TATA, mas a fatores de transcrição que li
b. A RNA polimerase II é sensível à α-amanitina
gam TATA. A e E: TATA é parte do promotor e,
em uma concentração muito baixa, de modo que a
portanto, fica à montante (upstream) do início da
síntese de mRNA seria inibida.
transcrição. D: p53 provavelmente liga-se ao com
plexo formado entre fatores de transcrição e TATA,
interferindo com a transcrição.
PARTE II CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 215
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
6
Síntese de Proteínas:
Tradução e Modificações
Pós-Tradução
Dohn Glitz
Professor Emérito, University of California, Los Angeles School of Medicine
Conceitos Chaves
• A biossíntese de proteínas envolve a tradução da é posicionado no sítio aceptor do ribossomo, (3)
linguagem de polinucleotídeo dos genes para a lin a cadeia peptídica nascente é ligada ao novo ami
guagem de proteínas. noácido pela peptidil transferase, e (4) o peptidil
-tRNA elongado é deslocado para o local doador do
• Três nucleotídeos em sequência (códons) no mRNA
ribossomo.
especificam um aminoácido específico, o ponto ini
cial da tradução e o término da cadeia peptídica. • A tradução é muito regulada, tanto no nível de
Existem 64 códons possíveis, e a maioria dos ami cada proteína individual como global. Modificação
noácidos é especificada por mais de um códon. O pós-tradução e cotradução das proteínas é comum
código genético é chamado degenerado e é quase e pode influenciar a forma, a função, a localização
universal. celular, a exportação da célula e o tempo de vida da
proteína.
• A tradução é centralizada no RNA: o mRNA trans
mite a informação genética, o tRNA transporta os • O dobramento de uma proteína em sua conforma
aminoácidos, e o RNA ribossômico ajuda a dar for ção final é espontâneo ou assistido por proteínas
ma aos ribossomos e catalisa a geração da ligação chaperones.
peptídica. Muitas proteínas, enzimas e fatores es
• Existem mecanismos para a degradação das proteí
tão envolvidos na síntese proteica. nas que não são mais necessárias, com dobramento
• A síntese ocorre no sentido amino para carboxiter errado, danificadas ou incompletas. O proteassomo
minal. Em cada passo, (1) o aminoácido apropriado é um centro de degradação importante, mas não
é ativado pela ligação a um tRNA, (2) o aa-tRNA exclusivo.
AAA
]
AAC Asn
AGU
]
AGC Ser
U
C
convenção, sequências de aO
GUG GCG GAG ]Glu GGG G
código genético compreende 64 códons, que são permutações de quatro bases três a três. Note a im
ácidos nucleicos são escritas
portância da sequência: três bases, cada uma usada uma vez por códon triplete, resultam em seis permu
em uma direção 5! → 3!, e tações: ACG, AGC, GAC, GCA, CAG e CGA, para treonina, serina, aspartato, alanina, glutamina e arginina,
sequências de proteínas da respectivamente.
218 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Polinucleotídeo fosforilase catalisa a reação inde TABELA 6.3 Regras de Pareamento de Bases com
pendente de molde. Oscilação (wobble)
Mutações
5'
3'
O entendimento do código genético e de como ele é
(b) lido fornece uma base para o entendimento da natureza
das mutações. Uma mutação é simplesmente uma mu
FIGURA6.1 Interações códon-anticódon.
dança hereditária em um gene. Mutações puntuais en
Interações entre (a) o códon AUG (metionina) e seu anticó
don CAU e (b) o códon CAG (glutamina) e um anticódon CUG
volvem uma mudança em um único par de bases no DNA
mostram que o pareamento de bases do mRNA com tRNA é e, assim uma única base no mRNA correspondente. Se
antiparalelo. essa mudança ocorrer na terceira posição de um códon
degenerado, pode não haver mudança no aminoácido
TABELA 6.4 Produtos Polipeptídicos de mRNAs Sintéticosa especificado (por exemplo,
UCC para UCA ainda codi
mRNA Sequência do Códon Produtos fica serina). Tais mutações
silenciosas são comumente
—(AU)n—
—(CUG)n— —CUG
—AUA CUG
UAU AUA
CUG UAU—
CUG— —(Leu)n—
—(Ile-Tyr)n/3— observadas na compara
ção de genes de proteínas
semelhantes, por exemplo,
—GCU
—UGC GCU
UGC UGC
GCU UGC—
GCU— —(Ala)n—
—(Cys)n— hemoglobinas de diferentes
espécies, de modo que são
geralmente sem efeito. (Para
—(CUCG)n— —CUC GCU CGC UCG— —(Leu-Ala-Arg-Ser)n/3— uma exceção, ver Correla
aOs colchetes horizontais demarcam a estrutura de leitura. ção Clínica 6.1).
220 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Mutações Silenciosas Podem Não Ser Silenciosas: (1) Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford e (2) Gene
de Resistência a Múltiplas Drogas 1
Os polimorfismos de nucleotídeo único, nos sos representam uma nova mutação nesse ponto exato
quais um nucleotídeo é alterado em relação ao gene em um alelo do gene.
normal, podem ser detectados por análise de DNA.
Quando um polimorfismo em uma região codificado Combinações de duas ou três mutações silenciosas
ra do gene não altera o aminoácido codificado pelo no gene de resistência a múltiplas drogas 1 (MDR1) re
códon afetado, esse polimorfismo é considerado uma sulta em proteínas com a sequência normal, mas uma
mutação silenciosa. Contudo, pode haver consequên conformação diferente e interações alteradas com
cias significativas. droga e inibidores. A mudança de códons frequente
mente usados para códons raramente usados desace
Síndrome Progeria de Hutchinson–Gilford é uma lera ou pausa a tradução na região afetada e resulta em
doença muito rara caracterizada pelo envelhecimento mudança no dobramento cotradução da proteína. A
extremamente prematuro; as crianças permanecem preferência do uso de códons se estende à frequência
pequenas e sofrem de perda de cabelos e audição, os de uso de códons adjacentes que especificam a mesma
teoporose, doença cardiovascular e outras enfermi sequência. Genes sintéticos que usam pares de códons
dades da velhice. A maioria morre de infarto do mio desfavoráveis para codificar proteína de cápsula poli
cárdio no início da adolescência. Em 90% dos casos vírus foram traduzidos em velocidades menores, mes
uma troca de GGC para GGT no códon 608 do gene mo quando os códons individuais foram favorecidos
da lamina A deveria ser silenciosa, uma vez que a gli em geral.
cina é especificada em ambos os casos. Entretanto,
um sítio de splicing críptico é ativado, resultando em Korf, B. Hutchinson–Gilford progeria syndrome, aging,
uma proteína Lamina A com uma deleção interna de and the nuclear lamina. N. Engl. J. Med. 358:552, 2008;
Kimchi-Sarfaty, C., Oh, J. M., Kim, I., Sauna, Z. E. et al. A
50 aminoácidos e que não é corretamente processada.
“silent” polymorphism in the MDR1 gene changes substrate
A Lanina A é um componente da membrana nuclear; specificity. Science 315:525, 2007; e Coleman, J. R., Papa
a proteína mutante rompe a membrana e de alguma michail, D., Skiena, S., Futcher et al. Virus attenuation by
maneira resulta na doença. Uma vez que as crianças genome-scale changes in codon pair bias. Science 320:1784,
afetadas não chegam à idade reprodutiva, todos os ca 2008.
Mutações de sentido errado (missense) surgem resulta na terminação prematura e numa proteína trun
de uma troca de base que causa incorporação de um cada (Correlação Clínica 6.3). Mutação de um códon de
aminoácido diferente em uma proteína (Correlação Clí terminação para outro de um aminoácido permite que a
nica 6.2). Mutações puntuais também podem formar mensagem continue a ser lida até que outro códon stop
ou destruir um códon de terminação e, assim, mudar seja encontrado. O resultado é uma proteína maior do
o comprimento de uma proteína. A formação de um que o normal. Esse fenômeno é a base de várias doenças
códon de terminação a partir de um que codifica um (Tabela 6.5 e Correlação Clínica 6.4).
aminoácido é uma mutação sem sentido ou nonsense;
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 221
TABELA 6.5 Mutações com Continuação da Leitura em Códons de Terminação Produzem Cadeias
Anormais Longas de a-Globina
Comprimento da
Hemoglobina a-Códon 142 Aminoácido 142 a-Globina (Resíduos)
A UAA 141
Constant Spring CAA Glutamina 172
Icaria AAA Lisina 172
Seal Rock GAA Glutamato 172
Koya Dora UCA Serina 172
Existem dois genes expressos de a-globina em cada tido, resultando na colocação de quatro aminoácidos
cromossomo 16. Muitos exemplos de a-talassemia sur diferentes na posição 142. A a-globina normal tem 141
gem da deleção de dois, três ou todos os quatro genes resíduos de comprimento, mas as quatro a-globinas
de a-globina; a gravidade clínica aumenta com o nú anormais têm 172 de resíduos porque um triplete de
mero de genes deletados. Diferentemente, as doenças nucleotídeos na região normalmente não-traduzida do
resumidas na Tabela 6.5 são formas de a-talassemia mRNA torna-se um códon de terminação na posição
que surgem de moléculas de a-globina excepcional 173. Cadeias de globina mais longas também podem
mente longas. Estas substituem a a-globina normal e resultar de mutações com mudança estrutura de leitu
estão presentes apenas em pequenas quantidades em ra (frameshift) ou inserções.
decorrência de uma taxa diminuída de síntese ou, mais
provavelmente, de uma taxa aumentada de quebra da Weatherall, D. J. e Clegg, J. B. The a-chain termination
a-globina anormal. O códon de terminação normal, mutants and their relationship to the a-thalassemias. Philos.
UAA, é mutado para um dos quatro códons com sen Trans. R. Soc. B [London] 271:411, 1975.
222 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
TABELA 6.6 Uma Mutação com Mudança na Estrutura de Leitura (Frameshift) Produz Hemoglobina Waynea
Posição 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147
Sequência da α-globina
normal
-Thr -Ser -Lys -Tyr -Arg
Sequênciadecódonsdaα-globinanormal -ACP -UCU -AAA -UAC -CGU -UAA -GCU -GGA -GCC -UCG -GUA
Sequênciadecódonsdaα-globinaWayne -ACP -UCA -AAU -ACC -GUU -AAG -CUG -GAG -CCU -CGG -UAG
Sequência de aminoácido -Thr -Ser -Asn -Thr -Val -Lys -Leu -Glu -Pro -Arg
da α-globina Wayne
aA base deletada, que causa a mudança na fase de leitura, está marcada por um círculo. Os códons de terminação estão dentro de retângulos.
P = A, G, U ou C.
locado na direção de formação do aminoacil-tRNA. Do às vezes ocorre reconhecimento errado. Uma etapa
ponto de vista de precisão da tradução, o aminoácido, adicional de verificação aumenta a discriminação por
que só tinha a sua cadeia lateral (grupo R) para distin muitas (mas não todas) as aminoacil-tRNA sinteta
gui-lo, fica ligado a um carregador grande, complexo e ses. Isso mais frequentemente ocorre por hidrólise do
fácil de reconhecer. intermediário aminoacil-adenilato, com a liberação de
aminoácido e AMP. A valil-tRNA sintetase hidrolisa
Especificidade e Fidelidade de Reações de eficientemente o treonil-adenilato, e hidrolisa isoleu
cil-adenilato em presença de tRNAVal ligado (mas não
Aminoacilação
aminoacilado). Alternativamente, tRNA acilado erro
Quase todas as células contêm 20 aminoacil-tRNA neamente é reconhecido e desacilado. Valil-, fenilalanil
sintetases diferentes, cada uma específica para um e isoleucil-tRNA sintetases desacilam tRNAs que foram
aminoácido, e pelo menos uma família pequena de tRNAs carregados erroneamente com treonina, tirosina e vali
carregadores para cada aminoácido (ver Um Olhar Mais na, respectivamente. O resultado final é um nível médio
Atento 6.1 para exceções). Como as interações códon– de acilação errada de um a cada 104 a 105.
anticódon definem o aminoácido a ser incorporado, um
tRNA erroneamente acilado causará um erro na proteí Cada sintetase deve também reconhecer correta
na. A seleção correta de ambos tRNA e aminoácido pela mente de uma a várias espécies de tRNA que podem
sintetase é, portanto, central para a fidelidade da tra carregar o mesmo aminoácido, ao mesmo tempo que
dução. As aminoacil-tRNA sintetases têm um mecanis rejeitam espécies de tRNA incorretas. Isso pode ser
mo comum e muitas ocorrem nas células em complexos mais simples que a seleção de um único aminoácido.
multiproteicos. Entretanto, são um grupo diversificado Entretanto, lembre-se da semelhança conformacional e
de proteínas que podem conter uma, duas ou quatro dos elementos de sequência comuns a todos os tRNAs.
subunidades idênticas ou pares de subunidades dife Sintetases diferentes reconhecem diferentes elementos
rentes. Domínios estruturais separados podem estar da estrutura do tRNA. Geralmente, múltiplos elemen
envolvidos na formação do aminoacil-adenilato, no re tos estruturais contribuem para o reconhecimento, mas
conhecimento do tRNA e, se ocorrer, nas interações en muitos desses elementos não são determinantes abso
tre as subunidades. Cada enzima é capaz da formação, lutos. Um elemento esperado para o reconhecimento do
tRNA é o anticódon. No caso do tRNAmet, a mudança do
quase sem erro, das combinações corretas aminoacil
-tRNA. Alguns aminoácidos são facilmente reconheci anticódon altera o reconhecimento pela sintetase. Em
dos pelas suas cadeias laterais volumosas (por exemplo, outros casos, isso é só parcialmente verdade, e às vezes
triptofano), ou falta de volume (glicina), ou por cargas o anticódon não é um determinante de reconhecimen
positiva ou negativa nas cadeias laterais (por exemplo, to. Isso é demonstrado por mutações supressoras que
lisina e glutamato). Outros são de discriminação muito impedem a expressão de classes de mutações nonsen
mais difícil. Por exemplo, o reconhecimento da valina e se. Uma mutação puntual em um códon de glutamina
não da treonina ou isoleucina pela valil-tRNA sinteta (CAG) produz um códon de terminação (UAG), que
se é difícil, uma vez que as cadeias laterais diferem ou causa terminação prematura da proteína codificada.
por uma hidroxila adicionado, ou por um único grupo Uma segunda mutação supressora no anticódon de um
tRNAtyr, na qual o anticódon normal GUA é modificado
metileno.
para CUA, permite a continuação da leitura do códon
Os sítios de reconhecimento e ativação de amino de terminação. A mutação inicial é suprimida e uma
ácido de cada enzima têm grande especificidade, mas proteína quase normal é feita, com a glutamina afetada
224 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
A complexidade dos ribossomos requer aplicação 3. Ligação química cruzada: a determinação de com
de muitas técnicas para decifrar sua arquitetura e ele ponentes ligados permite a identificação de proteí
mentos funcionais, particularmente se as estruturas de nas vizinhas, de proteínas com segmentos de RNA,
raios-X não estiverem disponíveis. As técnicas impor e de elementos de RNA que podem estar distantes
tantes incluem na sequência, mas próximos na estrutura dobrada.
1. Espalhamento de nêutrons de subunidades recons 4. Sondas químicas e enzimáticas: elementos expos
tituídas nas quais duas proteínas são deuteradas: tos podem ser identificados, enquanto componen
isso permite a determinação da separação entre tes internos ou escondidos são resistentes.
duas proteínas nas subunidades.
5. Comparação de sequência: sequências podem ser
2. Microscopia eletrônica de complexos de partículas identificadas como sendo conservadas na evolução
com anticorpos contra um componente proteico e, portanto, são provávelmente importantes em es
único, um elemento RNA, ou uma sonda funcional: trutura e função. Essa abordagem foi especialmen
o anticorpo em forma de Y serve como um indica te importante para estabelecer estruturas secun
dor da localização do componente. dárias do rRNA.
6.3 BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS seu comprimento até que um códon de terminação seja
alcançado. A comparação da sequências de mRNA com
as sequências das proteínas que codificam mostra uma
A Tradução É Direcional e Colinear correspondência perfeita, colinear, sem sobreposição
e sem falha da sequência de mRNA codificadora e do
com o mRNA polipeptídeo sintetizado. De fato, é comum deduzir a
sequência de uma proteína exclusivamente pela sequ-
Sequências do RNA mensageiro são transcritas e
ência de nucleotídeo de seu mRNA ou do DNA de seu
escritas 5! → 3!, e durante a tradução são lidas na mes
ma direção. Sequências de aminoácidos são escritas e gene, embora a sequência final da proteína possa diferir
em virtude de modificações pós-tradução.
sintetizadas do resíduo amino-terminal para o carboxi
-terminal. Um ribossomo permanece ligado a uma mo
lécula de mRNA: o mensageiro é movido ao longo de
226 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
3!
mRNA
5!
(e)
formado o complexo de pré-iniciação; mRNA, eIF4F, 30S, complexadas com um IF3 mais simples, podem se
também chamado complexo de ligação ao cap, eIF4A e ligar primeiro ou a um mRNA ou a um complexo terná
RNA helicase que desenrola a estrutura secundária da rio de IF2, fMet-tRNAimet e GTP. A orientação do mRNA
sequência líder não-traduzida do mRNA, PAB, uma pro depende, em parte, do pareamento de bases entre uma
teína de ligação ao poliA que faz uma alça aproximando sequência rica em pirimidinas de oito nucleotídeos no
a extremidade 3! do mRNA e o 5!-cap, e várias outras rRNA 16S e uma seqência rica em purinas, com cerca
proteínas são necessárias. O mRNA é então percorrido de 10 nucleotídeos à montante do códon AUG iniciador.
5! → 3! até que o primeiro triplete AUG seja encontrado. A complementaridade entre o rRNA e o mRNA pode
O GTP do complexo ternário é hidrolisado com a ajuda incluir vários pares errados, mas complementaridade
de eIF5, e eIF2-GDP e outros fatores são liberados. O maior geralmente leva a iniciação mais eficiente. O fator
eIF2-GDP interage com o fator trocador de nucleotídeo de iniciação IF1 também age na formação do complexo
de guanina eIF2B e GTP para regenerar eIF2-GTP para de pré-iniciação. Finalmente, uma subunidade 50S é li
outro ciclo de iniciação. A etapa final requer a ligação gada, o GTP é hidrolisado, e os fatores de iniciação são
do complexo de pré-iniciação a uma subunidade 60S e liberados. É interessante o fato de que os procariotos
um fator adicional, eIF5B-GTP. GTP é hidrolisado, e dependem mais das interações RNA-RNA para posicio
eIF5B-GDP e outros fatores são liberados. O comple nar o mRNA, enquanto os eucariotos usam muitas pro
xo de iniciação completo é um ribossomo 80S com o teínas para obter o mesmo resultado.
mRNA e o tRNA iniciador corretamente posicionados
para começar tradução.
A Elongação É a Formação Passo a
Às vezes, o primeiro AUG não é utilizado e um AUG
posterior, caracterizado por sua estrutura secundá Passo das Ligações Peptídicas
ria no mRNA, é selecionado para iniciação. Tais sítios
Elongação da proteína, como mostra a Figura 6.8,
internos de entrada no ribossomo (IRES) foram pri
ocorre por prolongamento passo a passo da cadeia poli
meiro encontrados em mRNAs virais, mas também são
peptídica. Em cada etapa, a peptidil transferase ribos
comuns em mensageiros que codificam proteínas que
sômica transfere o peptídeo nascente (ou, na primeira
protegem as células de estresse, quando a tradução da
etapa, o resíduo de metionina iniciador) de seu tRNA
maioria dos mRNAs está reprimida.
carregador para o a-amino grupo do resíduo de ami
Procariotos usam menos fatores de iniciação para noácido do aminoacil-tRNA especificado pelo códon
formar um complexo de iniciação. Suas subunidades seguinte:
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 229
H Rn O Rn + 1 O H Rn O H Rn + 1 O
(n resíduos de
peptidil-tRNA
tRNAn
comprimento) tRNAn + 1 tRNAn + 1
aminoacil-tRNA peptidil-tRNA
(n + 1 resíduos de comprimento)
tores
A de
eficiência
elongação
e a não-ribossômicos
fidelidade são aumentadas
que usam energia
por fa- das espécies corretas de aminoacil-tRNA e para mover
o mRNA e os tRNAs associados por meio do ribossomo.
liberada por hidrólise de GTP para garantir a colocação
GTP eIF2 +
GTP
eIF3
eIF2B + GDP Met-tRNAiMet
Complexo ternário
(Etapa 1)
eIF2B + GTP
40S
GDP eIF2
elF1
elF1A
3!
elF1
elF1A
elF5
5!
eIF3
60S 40S
(Etapa 4) 5!
Complexo de iniciação 60S
40S
eIF5B • GTP (Etapa 2)
3!
FIGURA 6.7 Iniciação da tradução em eucariotos.
Detalhes no texto. Um complexo ternário que inclui eIF4A
eIF4B
o tRNA iniciador (etapa 1) combina-se com uma su eIF4F
bunidade ribossômica pequena (etapa 2). A intera PAB
ção com mRNA forma um complexo de pré-iniciação eIF5
(etapa 3). A ligação da subunidade grande comple 40S 5! 3!
ta a formação do complexo de iniciação (etapa 4). mRNA
(Etapa 3)
A forma diferente de eIF2 complexado com GTP ou
na
GDPhidrólise
indica que
do trifosfato.
mudanças Depois
conformacionais
do início ocorrem
da elon Complexo de pré-iniciação
aa
GTP EF1α
E P A
(Etapa 1) Met
60S
3!
5!
40S
GDP EF1α
E P A
(Etapa 2) Met aa
60S
3!
5!
40S
E Met P A
(Etapa 3)
aa
40S
EF2 GDP + Pi
E Met A
aa P
(Etapa 4)
60S
3!
5!
40S
(a)
FIGURA 6.8 Etapas de elongação na síntese proteica.
(a)O primeiro ciclo de elongação é mostrado. Etapa 1: um com (b) Ciclos subsequentes de elongação. Etapa 5: ligação do ami
plexo de iniciação com metionil tRNAimet no sítio P80S. Etapa 2: noacil-tRNA no sítio A causa liberação do tRNA desacilado do
EF1α colocou um aminoacil-tRNA no sítio A. A hidrólise de GTP sítio E. Etapa 6: a formação da ligação peptídica resulta no novo
resulta em uma mudança conformacional de EF1α. Etapa 3: peptidil-tRNA ocupando um sítio híbrido A/P. Etapa 7: translo
uma ligação peptídica se formou; o novo peptidil-tRNA ocupa cação move mRNA e novo peptidil-tRNA em registro para sítio P.
um sítio híbrido (A/P) no ribossomo e o braço aceptor do Aminoácidos adicionais são colocados por repetições sucessivas
tRNAimet desacilado está no sítio E da subunidade grande. Etapa do ciclo. Reciclagem de EF1α (superior à esquerda) é detalhada
4: o complexo mRNA-peptidil-tRNA foi translocado para o sítio na Figura 6.9. Para mais detalhes, ver texto.
P, enquanto o tRNA iniciador desacilado move-se para o sítio E.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO º 231
GDP
º%
(Etapa 5)
(Etapa 7)
EF2 GDP +
(Etapa 6)
(b)
FIGURA 6.8
(continuação)
232 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Durante a elongação até três moléculas de tRNA são ção metionil (ou peptidil) éster com o tRNA direciona
ligadas em sítios específicos que atravessam ambas as a reação em direção à formação da ligação peptídica.
subunidades ribossômicas. O met-tRNA iniciador é po A elongação passo a passo continua até que um códon
sicionado de modo que seu resíduo metionil possa ser de terminação (UGA, UUA, ou UAG) ocorra no mRNA.
transferido (ou doado) para o a-amino grupo livre do Note que o códon UGA tem uma função adicional, co
aminoacil-tRNA que está entrando; ele, portanto, ocu dificando selenocisteína (sec) em um pequeno número
pa o sítio doador, também chamado sítio peptidil ou sí de proteínas (p. 83). O RNA ribossômico é a parte im
tio P do ribossomo. O aminoacil-tRNA especificado pelo portante dos sítios de ligação de tRNA do ribossomo, e
códon seguinte do mRNA é ligado ao sítio aceptor, tam subunidades 60S isoladas podem catalisar a atividade
bém chamado sítio aminoacil ou sítio A do ribossomo. de peptidil transferase sem o envolvimento de qualquer
A seleção do aminoacil-tRNA correto é aumentada pelo fator não-ribossômico. Evidências de muitas fontes in
fator de elongação EF1. Um componente de EF1, EF1a, dicam que a subunidade grande é uma ribozima com
primeiro forma um complexo ternário com aminoacil plexa na qual a formação da ligação peptídica é uma
-tRNA e GTP. O complexo EF1a-aminoacil-tRNA-GTP reação catalisada por RNA. Cristalografia de raios-X de
liga-se ao ribossomo e se as interações códon-anticó subunidades grandes mostra que a região da transfera
don estiverem corretas, o aminoacil-tRNA é colocado se é composta só por RNA, com a cadeia de aminoácido
no sítio A, GTP é hidrolisado, e o complexo EF1a-GDP mais próxima a pelo menos 20 Å de distância. Elementos
se dissocia. O metionil-tRNA iniciador e o aminoacil de RNAs ribossômico e transportador estão envolvidos
-tRNA que está entrando estão, agora, justapostos no na ação da transferase. Os nucleotídeos importantes no
ribossomo. Seus anticódons estão pareados com códons sítio transferase foram universalmente conservados na
sucessivos do mRNA e os sítios P e A da subunidade pe evolução, de modo que acredita-se que o mesmo me
quena, e seus aminoácidos estão um ao lado do outro no canismo ocorra em ribossomos de mamíferos, embora
sítio peptidil transferase da subunidade grande. A pep evidências cristalográficas ainda não estejam disponí
tidil transferase catalisa o ataque do grupo a-amino do veis. Especula-se que o ribossomo primordial seria uma
aminoacil-tRNA sobre o carbono carbonila do metionil molécula nua de RNA e que a atividade transferase foi
-tRNA. O resultado é a transferência da metionina para conservada no RNA.
o amino grupo do aminoacil-tRNA, que então ocupa
uma posição “híbrida” do ribossomo com o anticódon no Como determinado a partir de modelos procarióti
sítio A 40S, enquanto a extremidade aceptora e o pep cos, o papel do GTP na ação de EF1a e EF2 está relacio
tídeo ligado estão no sítio P60S. O anticódon do tRNA nado com mudanças conformacionais nessas proteínas.
desacilado permanece no sítio P 40S; sua extremidade Estudos cristalográficos mostram um grande rearranjo
aceptora localiza-se no sítio de saída ou E 60S. de domínios com movimentos de vários angstroms na
hidrólise de GTP em EF-Tu, o equivalente procariótico
O mRNA e o dipeptidil-tRNA no sítio A 40S devem de EF1a. Tanto EF1a como EF2 ligam-se fortemente
ser reposicionados para permitir que outro ciclo de aos ribossomos como complexos com GTP, enquanto
elongação comece. Isso é feito pelo fator de elongação complexos com GDP dissociam-se do ribossomo mais
2 (EF2), também chamado translocase. EF2 move o facilmente. Visto de outra forma, GTP estabiliza a con
mRNA e o dipeptidil-tRNA, em registro códon–anti formação da proteína que confere ao EF1a alta afini
códon, do sítio A 40S para o sítio P. No processo, GTP dade pelo aminoacil-tRNA e o ribossomo, enquanto
é hidrolisado, fornecendo energia para o movimento, GDP estabiliza a conformação com menor afinidade por
e o sítio A fica vago. À medida que o dipeptidil-tRNA ambos, permitindo assim a entrega de tRNA e a disso
move-se para o sítio P, o tRNA doador desacilado (me ciação de EF. Restauração da conformação de maior
tionina) também se move para o sítio E na subunidade afinidade associada a GTP de EF1a requer participa
60S. O ribossomo pode agora entrar em um novo ciclo. ção de EF1bg, que causa liberação de GDP de EF-1a e
O aminoacil-tRNA seguinte, especificado pelo mRNA, forma um complexo EF1a-EF1bg(Figura 6.9). GTP en
é entregue pelo EF1a-GTP para o sítio A, e o tRNA de tão causa liberação de EF1bg, formando um complexo
sacilado do sítio E é liberado. A transferência de pep EF1a-GTP que pode ligar um aminoacil-tRNA e depois
tídeo ocorre novamente. Ciclos sucessivos de ligação um ribossomo. Procariotos usam um mecanismo se
de aminoacil-tRNA, formação da ligação peptídica, e melhante, no qual EF-Tu liga GTP e aminoacil-tRNA e
translocação resultam em elongação passo a passo do EF-Ts substitui GDP. Procariotos também utilizam uma
polipeptídeo até a sua extremidade carboxila eventual. translocase dependente de GTP, cmo EF-2, mas chama
Seja qual for o comprimento da cadeia nascente, a for da EF-G ou fator G.
mação da ligação peptídica sempre ocorre por ataque
do grupo a-amino do aminoacil-tRNA recém-chegado
sobre a ligação peptídica carboxil-tRNA, de modo que
o arranjo geométrico das moléculas reagentes no sítio
peptidil transferase permanece constante.
Met Met
E A E A
P P aa
aa
60S 60S
3! 5! 3!
5!
GTP EF1α
40S 40S
GTP EF1α
aa
aa GDP EF1βγ
GTP
EF1α
GTP EF1α EF1βγ
(Etapa 5) (Etapa 4)
Met
NH3+ Tradução Tem um Custo
Energético Considerável
E P A Há um considerável uso de energia
COO– na síntese de um polipeptídeo. A ativa
A eRF1
GTP ção de aminoácido converte um ATP
60S
em AMP e pirofosfato, que é hidrolisa
do a Pi; o custo final é de dois fosfatos
5!
UAG 3! de alta energia. Mais duas ligações de
40S alta energia são hidrolisadas nas ações
de EF1α e EF2, dando um total de
quatro por ligação peptídica formada.
(Etapa 1) Iniciação, terminação e modificações
pós-tradução podem aumentar o custo
energético. Mais energia é necessária
Met
NH3+ para biossíntese de mRNA multiuso,
tRNAs, ribossomos e fatores proteicos,
mas esses custos são distribuídos de
E P A forma geral entre as proteínas forma
das durante seus tempos de vida.
Alguns detalhes da tradução diferem: Ribossomos mi interagem com a subunidade ribossômica pequena em
tocondriais são menores e os rRNAs são mais curtos do locais levemente diferentes, mas também causam tra
que os eucariótico citosólicos ou os procarióticos (ver dução errada. Eritromicina, um antibiótico macrolídeo,
Tabela 6.7). O código genético é também um pouco di interfere com a translocação de ribossomos procarióti
ferente (ver Tabela 6.2), e assim como os procariotos, cos. Os macrolídeos bloqueiam a passagem do peptídeo
o Met-tRNAimet iniciador é modificado por uma trans nascente pelo ribossomo. Kasugamicina inibe a inicia
fMet-tRNAimet. usa N10-formil H4-folato para produzir
formilase que Células ção da tradução; a sensibilidade à kasugamicina depen
devem coordenar síntese protei de da metilação de bases que normalmente ocorrem
ca dentro de mitocôndrias com a síntese citosólica de em duas adeninas adjacentes no rRNA da subunidade
proteínas destinadas a importação pelas mitocôndrias. pequena. Tetraciclinas ligam-se a ribossomos e interfe
rem na ligação dos aminoacil-tRNAs. Puromicina (Fi
gura 6.11) é parecida com um aminoacil-tRNA; liga-se
Muitos Antibióticos e Toxinas ao sítio A da subunidade grande e age como um aceptor
do peptídeo nascente na reação da peptidil transfera
Têm Como Alvo a Biossíntese de se. Peptidil-puromicina não é translocada e não pode
Proteínas servir como doador de peptídeo. A tradução é prematu
ramente terminada, e a peptidil-puromicina é liberada.
A biossíntese de proteínas é central para a vida e a Cloranfenicol inibe a peptidil transferase ligando-se
reprodução de células. Como um organismo pode ga ao centro da transferase; não ocorre transferência e o
nhar uma vantagem biológica interferindo com a capa peptidil-tRNA permanece associado ao ribossomo.
cidade de seus competidores sintetizarem proteínas,
muitos antibióticos e toxinas funcionam dessa forma. Alguns agentes atuam diretamente no RNA ribossô
Alguns são seletivos para a síntese proteica procarióti mico. Ricina (de mamona) e toxinas relacionadas são
ca e, assim, são extremamente úteis na prática clínica. N-glicosidases que clivam uma única adenina do es
Exemplos, mostrando vários mecanismos de ações de queleto de rRNA da subunidade grande. Uma toxina de
antibióticos, são apresentados na Tabela 6.9. fungo, a a-sarcina, quebra o rRNA da subunidade gran
de em um único ponto; em ambos os casos, o ribossomo
Muitos antibióticos ligam-se ao ribossomo para ini é inativado. Algumas cepas de E. coli produzem toxi
bir um aspecto da tradução. Estreptomicina liga-se à nas extracelulares que afetam outras bactérias. Uma
subunidade pequena de ribossomos procarióticos e delas, a colicina E3, é uma ribonuclease que quebra o
causa leitura errada do mRNA (Correlação Clínica 6.6). RNA 16S perto da sequência de ligação ao mRNA e do
Mutações em uma proteína ribossômica ou no rRNA da sítio decodificador; inativa a subunidade pequena e in
subunidade pequena pode conferir resistência a estrep terrompe a síntese proteica em competidores da célula
tomicina ou dependência a ela. Outros antibióticos ami produtora de colicina. Outros agentes afetam os fatores
noglicosídicos, tais como neomicinas e gentamicinas, de tradução: por exemplo, a translocação eucariótica é
Exemplos de surdez permanente foram ligados ao do RNA é parte do sítio decodificador do ribossomo.
uso de antibióticos aminoglicosídeos como estrep É provável que a mutação aumente a afinidade por
tomicina, paromicina e gentamicina, normalmente aminoglicosídeos e sua capacidade de inibir a síntese
seguros nas quantidades efetivas. A sensibilidade in proteica. A síntese proteica reduzida na mitocôndria
comum a aminoglicosídeos é de transmissão mater diminui os níveis de enzimas do sistema de fosforila
na, sugerindo um locus mitocondrial (o espermato ção oxidativa e as células afetadas ficam deficientes
zoide não contribui com mitocôndrias para o zigoto). em ATP. Muitas outras mutações no rRNA e no tRNA
Os aminoglicosídeos têm como alvos os ribossomos mitocondriais e tRNA estão associadas com perda de
bacterianos, de modo que o ribossomo mitocondrial audição e outros problemas.
semelhante ao procariótico é um local lógico para se
procurar um sítio de mutação. Uma única mutação
puntual A→G no DNA mitocondrial, no nucleotídeo Fischel-Ghodsian, N., Prezant, T., Bu, X. e Öztas, S. Mi
1555 do gene do rRNA 12S foi identificada em famí tochondrial ribosomal RNA gene mutation in a patient with
lias com essa susceptibilidade a aminoglicosídeos. A sporadic aminoglycoside ototoxicity. Am. J. Otolaryngol.
14:399, 1993; Xing, G., Chen, Z., e Cao, X. Mitochondrial rRNA
mutação ocorre em uma região muito conservada da and tRNA and hearing function. Cell Res. 17:227, 2007; and
sequência do rRNA que está envolvida na ligação do Wilson, F. H., Hariri, A., Farhi, A., Zhao, H. et al. A cluster
aminoglicosídeo; algumas mutações na mesma re of metabolic defects caused by mutation in a mitochondrial
gião conferem resistência aos antibióticos, e a região tRNA. Science 306:1190, 2004.
236 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Deleção de um Códon, Enovelamento Incorreto e Degradação Prematura: Fibrose Cística (OMIM 219700)
Fibrose cística (CF) é a doença autossômica recessi 1 de ligação ao ATP, no lado citoplasmático da mem
va mais comum em caucasianos, com uma frequência brana plasmática. Como em várias outras mutações
de cerca de 1 em 2.000. O gene CF tem 230 kb de com CF, a proteína com deleção da Phe 508 não se dobra
primento e inclui 27 exons que codificam uma proteí corretamente no ER e não é corretamente glicosilada
na de 1.480 aminoácidos. A proteína conhecida como ou transportada para a superfície celular. Em vez dis
regulador de condutância transmembrânica da fibrose so, é degradada no citoplasma. No entanto, em células
cística ou CFTR (p. 515) é um canal de cloreto regu cultivadas em baixas temperaturas ou com adição de
lado por AMP cíclico. Ela contém dois domínios que chaperones químicos como glicerol, a proteína mutan
atravessam a membrana, cada um com seis regiões te dobra-se, é transportada e funciona adequadamen
transmembrânicas, dois domínios de ligação a ATP, e te. Drogas que simulam a interação de chaperone com
um domínio regulatório que inclui vários sítios de fos a CFTR mutante, e/ou auxiliam em seu dobramento
forilação. Sua complexa via de dobramento é influen e transporte para a membrana, são uma abordagem
ciada por vários chaperones. terapêutica em potencial para essa forma de fibrose
cística.
Os epitélios na CF caracterizam-se pelo transporte
defeituoso de eletrólitos. Os órgãos mais fortemente Cheung, J. C., e Deber, C. M. Misfolding of the cystic fibro
afetados incluem os pulmões, o pâncreas e o fígado, sis transmembrane conductance regulator and disease. Bio
e os efeitos que mais ameaçam a vida envolvem se chem. 47:1465, 2008; Plemper, R. K. e Wolf, D. H. Retrograde
creções mucosas muito viscosas, que levam à doença protein translocation: Eradication of secretory proteins in
pulmonar obstrutiva crônica e a infecções persisten health and disease. Trends Biochem. Sci. 24:266, 1999; e
tes nos pulmões. Em cerca de 70% dos pacientes, há Egan, M. E., Pearson, M., Weiner, S. A., Rajendran, V. et al.
uma deleção dos três nucleotídeos que codificam a Curcumin, a major constituent of turmeric, corrects cystic
fenilalanina 508, normalmente localizada no domínio fibrosis defects. Science 304:600, 2004.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 237
CH3 CH3
Proteínas para Exportação Seguem a
N Via Secretória
N As proteínas destinadas à exportação e aquelas
N
destinadas à membrana plasmática, lisossomos, endos
N N somos ou sistema de Golgi são sintetizadas em ribosso
mos ligados às membranas do retículo endoplasmático
HOCH2 O rugoso (ER) (Figura 6.12).
NH OH
H2N CH
CH C
O
2
OCH3
Puromicina
sua estabilidade, solubilidade e volume físico. Os resí tetizada e pode afetar o dobramento (folding) da pro
duos de carboidratos podem ser sinais de reconheci teína.
mento que direcionam interações e direcionamento das
proteínas. Os sítios de glicosilação são especificados Glicosidases e glicosiltransferases agora modifi
cam o oligossacarídeo recém-transferido. Resíduos de
pelo aminoácido e sua sequência vizinha na proteína.
Glicosiltransferases, cujas classes estão resumidas na glicose, que foram necessários para transferir o oligos
Tabela 6.10, desempenham todas uma reação básica sacarídeo do carregador dolicol, são removidos. A gli
semelhante: um açúcar é transferido de um substrato coproteína dobrada é transportada para um comparti
doador ativado para um aceptor apropriado, geralmente mento intermediário ER-Golgi, onde a seleção ocorre
outro resíduo de açúcar que é parte de um oligossacarí e, depois, para o complexo de Golgi. Cortes adicionais
deo em construção. As enzimas apresentam especifici podem ocorrer agora, ou açúcares adicionais podem
dade para o monossacarídeo que é transferido, a estru ser adicionados. Os oligossacarídeos N-ligados resul
tura e a sequência do aceptor, e o sítio e configuração tantes são diversificados, mas duas classes são diferen
da ligação anomérica formada. ciadas. Ambas têm uma região central (core) comum
(GlcNAc2Man3) ligada a asparagina e que se origina
Na glicosilação N-ligada, um oligossacarídeo é liga do intermediário ligado ao dolicol. O tipo alta-manose
do pelo nitrogênio da amida da asparagina. A formação (high-mannose) inclui resíduos de manose em várias
de oligossacarídeos N-ligados começa no lúmen do ER ligações e apresenta menos processamento a partir do
e continua no complexo de Golgi. Uma sequência espe intermediário ligado a dolicol. O tipo complexo é mais
cífica, Asn-X-Thr (ou Ser), na qual X pode ser qualquer processado e diversificado, com uma maior variedade
aminoácido exceto prolina, é necessária. Nem todas as de açúcares e ligações (Figura 6.15).
sequências Asn-X-Thr/Ser são glicosiladas porque al
gumas podem não estar acessíveis para modificação. O Na glicosilação O-ligada, oligossacarídeos são liga
antibiótico tunicamicina impede a N-glicosilação. dos por meio de grupos hidroxila de serina ou treonina
das proteínas (p. 115). A glicosilação O-ligada ocorre só
A glicosilação N-ligada é iniciada com um inter depois de a proteína ter chegado ao complexo de Gol
mediário ligado a lipídeo (Figura 6.14). O dolicol fos gi; portanto, a O-glicosilação é pós-tradução e ocorre
fato na superfície citoplasmática da membrana do ER somente em proteínas dobradas. Não há sequência de
serve como glicosil-aceptor para N-acetilglucosami aminoácidos definida na qual a serina ou a treonina deva
na. A glicosilação passo a passo e a formação de um ocorrer, mas apenas resíduos na superfície da proteína
(Man)5(GlcNAc)2-pirofosforil-dolicol ramificado no servem como aceptores para a GalNAc-transferase que
lado citosólico da membrana ocorre. Esse intermediá liga a N-acetilgalactosamina. Segue-se a adição passo
rio é, então, reorientado para a superfície luminal da a passo de açúcares ao GalNAc aceptor. Os oligossaca
membrana do ER, e quatro manoses adicionais e três rídeos formados dependem dos tipos e das quantida
glicoses são adicionadas. Um oligossacariltransfera des de glicosiltransferases em uma dada célula. Se um
se complexo ligado à membrana então transfere o oli aceptor for um substrato para mais de uma transferase,
gossacarídeo completo de seu dolicol carregador para a quantidade de cada transferase influencia a compe
um resíduo de asparagina do polipeptídeo, quando ele tição entre elas. O crescimento dos oligossacarídeos
emerge no lúmen do ER. Note que a N-glicosilação é encerra-se quando são formadas estruturas que não
cotradução; ocorre enquanto a proteína está sendo sin são mais aceptoras para qualquer outra glicosiltransfe
240 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
UMP
ETAPA B PP UDP
PP
GDP (5)
PP
Reorientação
ETAPA D
(4) P
PP
FIGURA 6.14 Biossíntese de
(3)
oligossacarídeos N-ligados no retículo
endoplasmático.
P
Etapa A: a síntese começa sobre a face cito
plasmática da membrana do ER, com a trans (3) P ETAPA E
ferência de uma N-acetilglucosamina fosfato
para um dolicol aceptor. Etapa B: a formação
da primeira ligação glicosídica açúcar-açúcar
PP
ocorre após a transferência de um resíduo
de N-acetilglucosamina. Etapa C: cinco re
síduos de manose (de GDP-manose) são Ribossomo
adicionados sequencialmente, e o oligossa
os ETAPA F
face
são
dolicol.
carídeo
adicionais
transferidos
luminal
Dolicol-açúcares
ligadoda
de
a membrana.
lipídeo
manose
de intermediários
ésão
ereorientado
(Etapa
Etapa
gerados
E)
D:
ligados
aresídu-
glicose
para
partira N
α1,6
α 1,3
α 1,2
β1,4 β1,4 β Asparagina
α 1,3
α 1,2 α 1,2
Asparagina
β 1,4 β 1,4 β
α 1,3
α2,6 β1,4 β1,2
FIGURA 6.15 Estrutura de
oligossacarídeos N-ligados.
TIPO COMPLEXO
Tipos básicos de oligossacarídeos N-liga
dos são mostrados. Cada estrutura é de
rivada do oligossacarídeo inicial ligado ao
Ácido siálico (N-Acetylneuraminic acid) Manose dolicol por ação de glicosidases e glicosil
transferases. Note a variedade de ligações
N-Acetilglucosamina Galactose
glicosídicas envolvidas.
Manα1,2Manα1,2Manα1,3
Manβ1,4GlcNAcβ1,4GlcNAcβAsn 1
Manα1,2Manα1,6
Manα1,6
Manα1,2Manα1,3
GalNANAα2,6β1,4GlcNAcβ1,2
Manα1,6
NANAα2,3Galβ1,4GlcNAcβ1,4
Manβ1,4GlcNAcβ1,4GlcNAcβAsn 2
NANAα2,6Galβ1,4GlcNAcβ1,6
NANAα2,6Galβ1,4GlcNAcβ1,3Galβ1,4GlcNAcβ1,2Manα1,3
AsnManβ1,4
GlcNAcβ1,4GlcNAcβ 3
Fucα1,2(Galβ1,GlcNAcβ1,3) Galβ1,4GlcNAcβ1,2Manα1,6
5
NANAα2,6GalNAcαSer/Thr 4
FIGURA6.16 Exemplos de estrutura
de oligossacarídeo.
Fucα1,2Galβ1,3GlcNAcβ1,3GalNAcαSer/Thr 5
As estruturas 1-3 são oligossacarídeos
N-ligados típicos dos tipos alta-manose
NANAα2,3Galβ1,3
(1) e complexo (2, 3); note a estrutura
NANAα2,6 GalNAcαSer/Thr 6
do core comum do resíduo de aspara
gina da proteína até o primeiro ponto
de ramificação. As estruturas 4-8 são NANAα2,3Galβ1,4
oligossacarídeos O-ligados comuns, que Fucα1,3 GalNAcβ1,3GalNAcαSer/Thr 7
podem ser bastante simples ou muito
complexos. Note que embora a estrutu
ra do core (GalNAc-Ser/Thr) seja dife
rente dos oligossacarídeos N-ligados, a GlcNAcα1,4Galβ1,4GlcNAcβ1,3
extremidade pode ser muito semelhan Galβ1,3
te (por exemplo, as estruturas 2 e 6, 3 Fucα1,2Galβ1,4GlcNAcβ1,6 GalNAcα
e 7). Abreviaturas: Man = manose; Gal Fucα1,2GaIβ1,4GlcNAcβ1,6 Ser/Thr 8
= galactose; Fuc = fucose; GlcNAc =
N-acetilglucosamina; NANA = ácido N
-acetilneuramínico (ácido siálico).
Manose Ácido N-Acetilneuramínico Fucose N-Acetilglucosamina
Adaptado de Paulson, J. Trends Bio
N-Acetilgalactosamina Galactose Serina/Treonina/Asparagina
chem. Sci. 14:272, 1989.
sequências de ancoragem em um único polipeptídeo Modificação por ácido polisiálico de uma proteína de
podem fazê-lo atravessar a membrana várias vezes e, adesão de célula neural é específica para a proteína e
assim, reter grande parte mergulhada na membrana. regulada durante desenvolvimento.
Tais sequências hidrofóbicas são separadas por alças
polares, cuja orientação é determinada por resíduos Importação de Proteínas por
flanqueadores carregados positivamente que predomi
nam no lado citoplasmático da membrana. Mitocôndrias É Complexa
Outros sinais de seleção determinam como proteí Mitocôndrias fornecem um problema de direciona
nas são direcionadas (como carga) para subcomparti mento especial, e defeitos no sistema podem levar a
mentos do Golgi, vários grânulos de armazenamento doenças (Correlação Clínica 6.10). A maioria das prote
e secreção e elementos específicos da membrana plas ínas mitocondriais é sintetizada no citosol por ribosso
mática. Por exemplo, proteínas solúveis são retidas no mos livres como pré-proteínas maiores. Pré-sequências
lúmen do ER em resposta a uma sequência KDEL (Lys N-terminais marcam a proteína para a mitocôndria; o
-Asp-Glu-Leu) C-terminal. Uma sequência diferente em sinal de direcionamento não é uma sequência específi
um C-terminal exposto sinaliza retenção na membrana ca, mas uma α-hélice anfifílica carregada positivamen
do ER. Alguns domínios transmembrânicos resultam te que é reconhecida por um receptor mitocondrial. As
em retenção no Golgi. Glicosilação e sulfatação polipep pré-proteínas são transportadas com a ajuda de chape
tídeo-específica de alguns hormônios glicoproteicos da rones para as mitocôndrias e são translocadas (desdo
pituitária anterior são mediadores de sua seleção para bradas) primeiro através da membrana externa por um
grânulos de armazenamento. complexo translocase da membrana externa (TOM) e
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 243
N-Acetilglucosamina Glucose
Kornfeld, S. Trafficking of lysosomal enzymes in
normal and disease states. J. Clin. Invest. 77:1, 1986;
FIGURA6.17 Direcionamento de enzimas para lisossomos. e Braulke, T., Pohl, S. e Storch, S. Molecular analysis
Glicoproteína N-ligada completa dobrada é liberada da membrana of the GlcNac-1-phosphotransferase. J. Inherit. Metab.
do ER e, antes do transporte para o complexo de Golgi, glicosidases Dis. 31:253, 2008.
removem resíduos de glicose (etapa 1). Um resíduo de manose pode
também ser removido. Etapa 2: No complexo de Golgi, uma glicosil
transferase liga um ou, às vezes, dois resíduos de N-acetilglucosa
mina fosfato ao oligossacarídeo. Etapa 3: Uma glicosidase remove
N-acetilglucosamina, deixando um ou dois resíduos de manose ficam unidas, e várias proteínas intermembranas es
6-fosfato no oligossacarídeo. A proteína é, então, reconhecida por
tão envolvidas. Proteases removem o sinal de dire
um receptor de manose 6-fosfato e direcionada para vesículas que
se destinam aos lisossomos.
cionamento para a matriz, mas podem deixar outras
Adaptado de Kornfeld, R. e Kornfeld, S. Annu. Rev. Biochem. sequências que ainda selecionam a proteína dentro
54:631, 1985. da mitocôndria, de volta para a a membrana interna,
via um complexo TIM diferente, ou para o espaço in
termembranas.
depois para a matriz mitocondrial (ou a membrana interna)
por um complexo translocase da membrana interna (TIM) Por exemplo, em resposta a uma sequência hidro
em reações dependentes de energia. A passagem ocorre em fóbica, um precursor dobrado do citocromo b2 é leva
pontos de adesão, onde as membranas interna e externa do da matriz, de volta através da membrana interna;
244 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Várias doenças surgem de uma deficiência genética A doença de Gaucher resulta da deficiência de uma
de uma única enzima hidrolítica em lisossomos (ver glucocerebrosidase, e no acúmulo de glucocerebrosí
Correlação Clínica 18.5), levando ao acúmulo de ma deo. Os sintomas na doença de Gaucher tipo I incluem
terial não-degradado. Muitas dessas doenças são alvos hepatoesplenomegalia e muitos problemas ósseos; ERT,
de terapia por reposição enzimática (ERT), na qual especialmente em crianças pequenas, tem sido bem-su
a administração endovenosa da enzima humana pu cedido na redução da gravidade da doença. A doença
rificada, que é competente para captação lisossomal, de Pompe infantil resulta da deficiência de α-1,4-glu
pode melhorar os sintomas (mas não curar o defeito cosidase ácida; ela leva ao acúmulo de glicogênio em
subjacente). lisossomos e miopatia cardioesquelética. A doença de
Fabry, causada por uma α-galactosidase-A defectiva,
A mucopolissacaridose tipo I é causada por defeitos resulta no acúmulo de esfingolipídeo e dano aos órgãos,
na α-L-iduronidase, uma enzima lisossomal que age na
que surgem aos 6-8 anos de idade eleva à morte na meia
degradação de glicosaminoglicanos. Mais de 70 muta idade. ERT nessas doenças tem mostrado algum suces
ções foram identificadas, e os sintomas variam de se so, mas o custo das enzimas purificadas para todas es
vero retardo mental e morte precoce na infância (sín sas terapias é muito elevado.
drome de Hurler), até efeitos mais brandos, incluindo
perda de audição e opacidade de córnea, mas inteligên
Yogalingam, G., Guo, X.-L., Muller, V. J., Brooks, D. A. et
cia e tempo de vida normais. Terapia de reposição en
al. Identification and molecular characterization of α-L-idu
zimática usando enzima humana normal recombinante ronidase mutations present in mucopolysaccharidosis type I
foi aprovada em 2003 e resulta em redução significativa patients undergoing enzyme replacement therapy. Hum. Mu
dos sintomas. A mucopolissacaridose tipo II (deficiência tat. 24:199, 2004; e Burrow, T. A., Hopkin, R. J., Leslie, N. D.,
de iduronato-2-sulfatase) e a mucopolissacaridose tipo Tinkle, B.T. e Grabowski, G. A. Enzyme reconstitution/repla
VI (síndrome de Maroteaux-Lamy, deficiência de N-ace cement therapy for lysosomal storage diseases. Curr. Opin.
tilgalactosamina) também foram aprovadas para ERT. Pediatr. 19:628, 2007.
Direcionamento ineficiente para mitocôndrias tocondrial. Valina (em lugar de alanina) na posição 16
pode ter importantes consequências. Acidemia lática na sequência de direcionamento resulta na retenção
resultante de deficiências no complexo piruvato desi parcial da enzima na membrana mitocondrial interna,
drogenase (PDH) tem sido associada a mutações em atividade de MnSOD reduzida, e capacidade reduzida
vários genes, mais comumente a subunidade X-ligada de detoxicar as espécies reativas de oxigênio que são
E1a. Uma mutação puntual resultando em uma subs geradas pelo consumo de álcool.
tituição Arg→Pro no sinal de direcionamento mito
condrial resulta na importação reduzida de E1a, baixa Defeitos em proteínas dos mecanismos de impor
atividade de PDH, e múltiplos sintomas, neurológicos tação e seleção também podem resultar em doenças.
e outros. Direcionamento errado para mitocôndrias A síndrome da surdez distonia foi ligada a defeitos no
ocorre em alguns casos de hiperoxaluria primária tipo componente TIM Tim 8 (ver Correlação Clínica 6.6 para
1. Alanina/glioxilato aminotransferase normalmente uma causa diferente de surdez relacionada a mitocôn
catalisa a conversão de glioxilato em glicina nos pe drias). Defeitos no Tim 14 foram ligados a uma rara
roxissomos. Mutações puntuais separadas, que criam cardiomiopatia com ataxia. Níveis diminuídos do cha
um sinal de direcionamento mitocondrial e alteram o perone Hsp60 da matriz mitocondrial estão ligados a
dobramento e a dimerização da enzima, resultam na número reduzido e morfologia atípica de mitocôndrias
localização da enzima na mitocôndria; função pero e a casos de paraplegia espástica e insuficiência multi
xissomal reduzida; deposição de oxalato no rim, trato sistêmica.
urinário e em outros locais; e eventual insuficiência
renal. Seleção e localização errada nas mitocôndrias, Robinson, B. H. Lactic acidemia and mitochondrial dise
em alguns casos, é um fator de doença hepática seve ase. Mol. Genet. Metab. 89:3, 2006; e Mackenzie, J. A., and
ra em alcoólatras. A manganês superóxido dismutase Payne, R. M. Mitochondrial protein import and human health
(MnSOD) está normalmente localizada na matriz mi and disease. Biochim. Biophys. Acta 1772:509, 2007.
soras
de A é um meio
clivagem
enzimas. decomum
proteínas
Proteases de ativação
precur-
digestivas são S
Cadeia B
S TYR
PHE
LEUCYSGLYSERHIS
10 LEUVAL GLUALALEUTYRLEUVAL CYS PHE
mento
a
sores
cionados
exemplos
secreção.
zimogênios
e ativados
em
clássicos
Assim,
grânulos
inativos
por
(p.
o tripsinogênio
proteólise
1058).
de são
armazena-
Precur-
acondi-
após
é GLY GLY
HIS
GLUARG
ASN
GLN 20
VAL
clivado
xapeptídeo dar tripsina maise um
paraamino-terminal, o qui
he- 1 PHE
NH+3
motripsinogênio é clivado para formar
quimotripsina e dois peptídeos (p. FIGURA6.19 Maturação da pró-insulina humana.
1069). Após clivagem nos dois pontos indicados por setas, resíduos de arginina 31, 32 e 65 e
resíduo de lisina 64 são removidos para produzir insulina e peptídeo C.
Redesenhado de Bell, G. I., Swain, W. F., Pictet, R., Cordell, B., Goodman, H. M. e
Rutter, W. J. Nature 282:525, 1979.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 247
cicliza-se espontaneamente com frequência, for quinases muito específicas. Atividade de quinase
mando um resíduo de piroglutamil. O amino-ter é uma propriedade de muitos receptores de fato
minal também pode ser elongado pela adição de res de crescimento nos quais a ligação do fator de
um aminoácido (ver Seção 6.8 sobre degradação crescimento estimula a divisão celular. Oncogenes,
de proteínas). responsáveis em parte pela transformação celular
e proliferação de células tumorais, frequentemente
• Formação de pontes dissulfeto intercadeias ou in
têm atividade de tirosina quinase e mostram forte
tracadeia: catalisada pela dissulfeto isomerase, a
homologia com receptores de fatores de crescimen
formação de dissulfeto pode evitar o desdobramen
to normais. Existem dúzias de outros exemplos;
to de proteínas e sua passagem através de mem
em conjunto, as proteína quinases e as proteína
branas, de modo que também se torna um meio de
fosfatases controlam a atividade de muitas proteí
localização. Como no caso da insulina, pontes dis nas que são centrais para o desenvolvimento celu
sulfeto podem ligar covalentemente polipeptídeos
lar normal e anormal.
separados e podem ser necessárias para função.
• ADP-ribosilação: a toxina diftérica modifica mais
• Modificação de cisteína: a S-palmitoilação ajuda
a diftamida, um resíduo de histidina modifica
interações com a membrana e o tráfego de algumas da (Figura 6.20) do EF2, por ADP-ribosilação. A
proteínas. As subunidades g das proteínas Ghete
atividade do EF2 e, portanto, a síntese proteica,
rotriméricas (p. 544) são modificadas por ligação
são ambas inibidas. ADP-ribosilação fisiológica,
tioéster de um isoprenoide a uma cisteína na, ou não mediada por toxinas bacterianas, geralmente
próxima da, extremidade carboxi-terminal. A defi
envolve modificação reversível de resíduos de ar
ciência múltipla de sulfatases surge de capacidade ginina e cisteína e é importante na sinalização da
reduzida de executar uma modificação pós-tradu
célula e de proteínas regulatórias e de superfície.
ção de cisteína (Correlação Clínica 6.12).
• Formação de g-carboxiglutamato: resíduos de áci
• Modificação de lisina: acetilação e metilação de
do glutâmico em várias proteínas da coagulação do
e-amino grupos de lisinas nas histonas modulam
sangue, incluindo protrombina e fatores VII, IX e X,
suas interações com o DNA. Uma fração da histona
H2A é também modificada por ligação isopeptídi são modificados. O g-carboxiglutamato quela íons
ca do e-amino grupo de uma lisina com a glicina cálcio, que são necessários à coagulação do san
gue (p. 1010). Essa modificação requer vitamina K.
C-terminal da ubiquitina, uma proteína pequena
Ela pode ser bloqueada por derivados da cumarina
com muitas funções regulatórias. Biotina também
(p. 1018), que antagonizam a vitamina K. Os deriva
é ligada a algumas carboxilases por ligações amida
dos cumarínicos são anticoagulantes terapêuticos.
a lisina (p. 799).
• Grupos hidroxila de serina e treonina: além da
glicosilação, fosforilação reversível por proteína Biossíntese de Colágeno Requer
quinases e proteína fosfatases é muito comum e Muitas Modificações Pós-Tradução
funcionalmente importante. Um exemplo clássico
é a fosforilação de um resíduo de serina da glico Os colágenos são as proteínas mais abundantes no
gênio fosforilase pela fosforilase quinase (p. 655). homem. A família do colágeno inclui pelo menos 28
Resíduos de tirosina são fosforilados por tirosina espécies diferentes da proteína predominantemente
248 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
relatada em proteínas.
A deficiência múltipla de sulfatases é uma rara doença com deficiência múltipla de sulfatases catalisam essa
lisossômica de acúmulo. Os indivíduos afetados desen modificação com eficiência significativamente dimi
volvem-se lentamente e, a partir do segundo ano de nuída, e as sulfatases não-modificadas são catalitica
vida, perdem a capacidade de ficar em pé, sentar ou mente inativas.
falar; deformidades físicas e deficiências neurológicas
se desenvolvem, e é comum a morte antes dos 10 anos Muitas moléculas biológicas são sulfatadas, por
de idade. Há uma severa ausência de todos os tipos de exemplo, glicosaminoglicanos, esteroides e glicolipíde
sulfatases. A degradação de moléculas sulfatadas de os. Sulfatação insuficiente é também responsável por
pende da atividade de várias sulfatases relacionadas, doenças. Por exemplo, sulfatação insuficiente dos glico
a maioria das quais são lisossomais. Deficiências de saminoglicanos condroitim sulfato e queratam sulfato
sulfatases individuais são também conhecidas, e vá (p. 685) de cartilagem resulta em importantes deformi
rias doenças distintas estão ligadas a defeitos de uma dades esqueléticas.
única enzima. Schmidt, B., Selmer, T., Ingendoh, A. e von Figura, K. A
novel amino acid modification in sulfatases that is deficient
A deficiência múltipla de sulfatases surge de um de in multiple sulfatase deficiency. Cell 82:271, 1995; e Dierks,
feito em uma modificação pós-tradução que é comum T., Schmidt, B., Borissenko, L. V., Peng, J. et al. Multiple sul
a todas as enzimas sulfatases. Em todos os casos, um fatase deficiency is caused by mutations in the gene encoding
resíduo de cisteína da enzima é normalmente conver the human C-formylglycine generating enzyme. Cell 113:435,
tido em Ca-formilglicina. Fibroblastos de indivíduos 2003.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 249
Na síndrome de Ehlers-Danlos tipo VI, a lisil hi A síndrome do chifre occipital é também conheci
droxilase está deficiente. Pelo menos 20 mutações da como síndrome de Ehlers-Danlos tipo IX ou cutis
diferentes são conhecidas, resultando em colágenos laxa (elastose cutânea), e está associada com a sín
tipos I e III (p. 109) com conteúdo diminuído de hi drome de Menkes do cabelo encarapinhado. Defeitos
droxilisina e, consequentemente, ligações cruzadas em um gene que codifica uma ATPase do trans-Golgi
menos estável entre as fibrilas de colágeno. Algumas transportadora de cobre está por trás dessas doenças,
ligações cruzadas entre lisina e alisina ocorrem, mas que aparecem como uma deficiência na atividade da
não são tão estáveis e não amadurecem tão bem como lisil oxidase cobre-dependente e, consequentemente,
ligações cruzadas contendo hidroxilisina. Hidroxilisi
na é também sítio de glicosilação, mas a função dessa em defeitos nas ligações cruzadas do colágeno. As ca
racterísticas da síndrome do chifre occipital incluem
modificação não está clara. As características clínicas
pele flácida e mole e o aparecimento, durante a ado
incluem acentuada hiper-extensibilidade da pele e das
lescência, de chifres ósseos occipitais. Na síndrome
articulações, cicatrização deficiente de feridas e defor
de Menkes do cabelo encarapinhado, uma doença va
midades músculo-esqueléticas. Alguns pacientes têm
uma forma mutante de lisil hidroxilase com uma cons riável, mas frequentemente mais grave, os pacientes
tande de Michaelis para ácido ascórbico mais alta do apresentam problemas neurológicos como convulsões
que a enzima normal. Consequentemente, respondem e retardo no desenvolvimento, incapacidade de se de
a altas doses de ácido ascórbico. senvolverem, cabelo característico e, às vezes, morte
na infância ou quando ainda bebês. Uma mulher que
estava tomando altas doses de uma droga quelante de
Pinnell, S. R., Krane, S. M., Kenzora, J. E. e Glimcher, M. cobre, penicilamina, deu à luz uma criança com uma
J. A heritable disorder of connective tissue: hydrozylysine síndrome tipo-Ehlers-Danlos adquirida que, subse
-deficient colagen disease. N. Engl. J. Med. 286:1013, 1972; quentemente, melhorou. Os efeitos colaterais da tera
e Yeowell, H. N., e Walker, L. C. Mutations in the lysyl hydro
pia com penicilamina incluem cicatrização deficiente
xylase 1 gene that result in enzymatic deficiency and the
clinical phenotype of Ehlers-Danlos syndrome type VI. Mol. e pele hiper-extensível. Animais deficientes em cobre
Gen. Metab. 71:212, 2000. também apresentam ligações cruzadas deficientes na
elastina e no colágeno, novamente em virtude da ne
cessidade de íons cuproso para a lisil oxidase.
Um exemplo claro de regulação mensagem-especí mRNA alvo por uma endonuclease RISC chamada sli
fica é a síntese da proteína que se liga a ferro ferritina. cer e outras nucleases que degradam o mRNA.
Em ausência de ferro, uma proteína repressora liga-se
ao elemento de resposta ao ferro (IRE), uma estrutura Várias outras classes de RNA pequeno foram identi
em haste-alça da sequência líder 5! do mRNA da ferriti ficadas. Os RNAs pequenos de interferência (siRNAs)
na (p. 1116). Esse mRNA é sequestrado para uso futuro. são gerados a partir do RNA dupla-fita; eles podem ser
A ácido d-aminolevulínico sintase, uma enzima da bios endógenos ou derivados de vírus e funcionam como o
síntese do heme, também é regulada por um 5!-IRE no miRNA. Outras classes são transcritas a partir de se
seu mRNA. Diferentemente, mais receptor de ferritina quências repetitivas do DNA, derivadas de transcritos
é necessário se o ferro estiver limitado; seu mRNA tem fita-simples, e podem ser maiores do que os miRNAs. O
IREs em sua região 3! não traduzida. A ligação da pro RNAi de interferência sintetizado quimicamente mime
tiza o miRNA e é uma ferramenta laboratorial valiosa e
teína repressora estabiliza o mRNA e prolonga seu tem um potente agente terapêutico.
po de vida. Muitos mRNAs regulados por crescimento,
incluindo os de proteínas ribossômicas, têm uma sequ-
ência de polipirimidinas em sua sequência líder. Uma
proteína que se liga a polipirimidinas ajuda a regular 6.8 DEGRADAÇÃO E TURNOVER
sua tradução. DE PROTEÍNAS
Além de seu papel na transferência de informa Os tempos de vida das proteínas variam muito. As
ção (mRNA) e tradução (tRNA, rRNA), o RNA é mui células do cristalino não são substituídas e suas proteí
to importante na regulação da expressão gênica em nas não são recicladas. A hemoglobina dura os 120 dias
múltiplas funções biológicas, geralmente de maneira de vida do eritrócito. Algumas proteínas da coagulação
tecido específica. Várias classes de pequenos RNAs se do sangue sobrevivem apenas alguns dias, de modo que
ligam a grupos específicos de proteínas e interagem os hemofílicos só estão protegidos por um curto período
com o mRNA para regular a transcrição e a tradução após transfusão ou injeção de fatores necessários. Os dia
em processos denominados silenciamento do RNA e béticos requerem injeções frequentes de insulina, uma
interferência com RNA. No homem, existem quase vez que o hormônio precisa variar (ver Correlação Clínica
500 genes diferentes de micro-RNAs (miRNA). RNAs 21.8, p. 893). As enzimas metabólicas variam quantita
maiores em “grampo” são processados no núcleo por tivamente, dependendo da necessidade ou de mudança
uma nuclease Drosha e, em seguida, por uma endonu na situação; por exemplo, a concentração de enzimas do
clease citoplasmática chamada Dicer, para gerar RNAs ciclo da ureia muda em resposta à dieta. As proteínas
dupla-fita com 21-23 nucleotídeos de comprimento. também são danificadas por oxidação, proteólise, des
Uma RNA helicase separa as fitas, uma das quais é li naturação ou outras modificações irreversíveis. Erros de
gada por um complexo silenciador induzido por RNA tradução e dobramento levam a proteínas não-funcionais,
(RISC), cujo componente central é uma proteína Ar e o processamento proteolítico gera peptídeos não-fun
gonauta. O RISC guia o miRNA para sequências com cionais, como o peptídeo-C da pró-insulina. Mecanismos
plementares no mRNA, geralmente na região 3!-não de descarte são necessários; a proteólise reduz as pro
traduzida. A formação de um duplex mRNA-miRNA teínas indesejadas a peptídeos e, eventualmente, a ami
imperfeito reprime a tradução, mas não afeta imedia noácidos. A maioria desses aminoácidos é reciclada para
tamente a estabilidade do mRNA. A interação coope sintetizar novas proteínas, mas alguns são metabolizados
rativa de múltiplos miRNAs com um mRNA aumenta e seus produtos de degradação são excretados. Proteases
a eficiência de inibição. Os complexos miRNAmRNA digestivas, como pepsina, tripsina, quimotripsina e elas
podem ser direcionados para os corpos P citoplas tase, hidrolisam proteínas da dieta e não participam da
máticos para armazenamento ou degradação. Dicer e reciclagem intracelular de proteínas, mas os aminoácidos
RISC também geram duplexes perfeitamente comple que geram contribuem para a reserva metabólica usada
mentares de moléculas pequenas de RNA com mRNA. na tradução. Isso é particularmente necessário para ami
Esses complexos resultam na clivagem e inativação do noácidos essenciais (ver Tabela 19.1, p. 774).
254 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
O
Digestão Intracelular de Algumas
Etapa 1a PPi UB C OH
Proteínas Ocorre em Lisossomos
ATP
A digestão intracelular de proteínas provenientes
do ambiente extracelular ocorre dentro de lisosso E1SH
Ubiquitina e SUMO
A ubiquitina desempenha importantes papéis, além cionadas modificadoras (SUMO), cuja conformação e
da degradação de proteínas. A ligação reversível de ligação às proteínas alvos são muito similares à da ubi
ubiquitina às histonas H2A e H2B não está relaciona quitina, também funcionam na regulação transcrição
da com turnover (reciclagem), uma vez que as proteí e outros aspectos da regulação celular, algumas vezes
nas são estáveis, mas a modificação afeta a estrutura com efeitos opostos ao da ubiquitina.
da cromatina e a transcrição. A ubiquitina participa do
alinhamento e segregação dos cromossomos, do reparo
do DNA, e da regulação da transcrição na resposta in Schnell, J. D. e Hicke, L. Non-traditional functions of
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flamatória. Ubiquitinação é um sinal para endocitose e
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lisossomos. Frequentemente, essas funções empregam naling. Science 315:201, 2007; e Liu, B., e Shuai, K. regulation
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Termos Chaves
Aminoacil tRNA sintetase Direcionamento proteico Mutações silenciosas Polissomo
Anticódons Fatores de elongação Mutações supressoras Proteassomo
Chaperone Fatores de iniciação Mutações de terminação Regra do N-terminal
Códons Fatores de terminação Oligossacarídeo alta-manose Regulação traducional
Códons de iniciação Glicosiltransferase Oligossacarídeo tipo-com Retículo endoplasmático
Códons de terminação Glicosilação N-ligada plexo Ribossomo
Código genético Glicosilação O-ligada Partícula de reconheci RNA de interferência
mento de sinal
Colágeno tripla-hélice Modificação pós-tradução RNA silenciador
Peptidase sinal
Complexo RNA indutor Monocistrônico Sequência de ancoragem
silenciador Peptídeo sinal
Mutações com mudança Tradução
Degradação associada ao na fase de leitura (fra Peptidil transferase
Translocon
retículo endoplasmático meshift) Policistrônico
Ubiquitina
Mutações puntuais
D. há aminoacil-tRNA sintetases separadas para dois domínios que atravessam a membrana, dois domí
todos os aminoácidos da proteína funcional. nios que interagem com ATP e um domínio regulatório.
D. há uma aminoacil-tRNA sintetase separada O defeito mais comum está no gene de um dos domínios
para cada espécie de tRNA. de ligação a ATP. O resultado é uma proteína que não
dobra corretamente no retículo endoplasmático, não é
3. Durante a iniciação da síntese proteica, adequadamente glicosilada, e não é transportada para
A. metionil-tRNA aparece no sítio A do complexo a superfície celular. Em vez disso, é degradada no cito
de iniciação 80S. sol em proteassomos. Uso de drogas que favorecem a
B. eIF3 e a subunidade ribossômica 40S partici interação de chaperones com a proteína mutante é uma
pam da formação do complexo de pré-inicia abordagem terapêutica em potencial.
ção. 7. Chaperones
C. eIF2 é fosforilado por GTP. A. são sempre necessários para dirigir o dobra
D. o mesmo metionil-tRNA é usado durante a mento de proteínas.
elongação. B. quando ligados a proteínas aumentam a velo
E. um complexo de mRNA, subunidade ribossô cidade de degradação de proteínas.
mica 60S e certos fatores de iniciação é forma C. geralmente se ligam a regiões fortemente hi
do. drofílicas de proteínas desdobrada.
4. Durante o estágio de elongação da síntese proteica D. às vezes mantêm proteínas em um estado des
eucariótica, dobrado para permitir sua passagem através
A. o aminoacil-tRNA recém-chegado liga-se ao de membranas.
sítio P. E. favorecem a agregação de proteínas em pla
B. uma nova ligação peptídica sintetizada pela cas.
peptidil transferase requer hidrólise de GTP. 8. O direcionamento de uma proteína a ser degradada
C. o peptidil-tRNA é translocado para um sítio em proteassomos geralmente requer ubiquitina. Na
diferente no ribossomo. função da ubiquitina, todas as seguintes são verda
D. estreptomicina pode causar liberação prema des, exceto
tura do peptídeo incompleto. A. ATP é necessário para ativação da ubiquitina.
E. formação da ligação peptídica ocorre pelo ata B. forma-se uma ligação peptídica entre o carbo
que do grupo carboxila do aminoacil-tRNA xi-terminal da ubiquitina e um e-amino grupo
que está chegando ao amino grupo da cadeia de uma lisina.
peptídica nascente. C. ligação de uma proteína a ubiquitina nem sem
5. A formação da insulina madura inclui todos os se pre a marca para degradação.
guintes, exceto D. o aminoácido N-terminal é um determinante
A. remoção de um peptídeo sinal. de seleção para degradação.
B. dobramento (folding) em uma estrutura tri D. ATP é requerido pela enzima que transfere a
dimensional. ubiquitina para a proteína a ser degradada.
C. formação de pontes dissulfeto. Questões 9 e 10: O colágeno é incomum em sua com
D. remoção de um peptídeo de uma região inter posição em aminoácidos e requer uma grande varieda
na. de de modificações pós-tradução para convertê-lo em
E. g-carboxilação de resíduos de glutamato. uma molécula funcional. Dada a complexidade da sínte
se de colágeno, existem muitas doenças, resultando em
6. A estreptomicina liga-se à subunidade pequena de fragilidade estrutural do tecido conjuntivo, causadas
ribossomos procarióticos e por defeitos no processo. O escorbuto leva a um coláge
A. causa liberação prematura do peptídeo incom no menos estável, com hidroxiprolina insuficiente.
pleto.
9. A 4-hidroxilação de resíduos prolil específicos du
B. impede ligação das subunidades 40S e 60S. rante a síntese do colágeno requer todos os seguin
C. interfere com a iniciação da síntese proteica. tes, exceto
D. inibe a atividade da peptidil transferase. A. Fe2+.
E. age como uma N-glicosidase. B. uma sequência de aminoácidos específica no
sítio de hidroxilação.
Questões 7 e 8: Fibrose cística é uma doença genéti
ca frequente em caucasianos. O gene CF codifica uma C. ácido ascórbico.
proteína chamada regulador transmembrânico de con D. co-hidroxilação de lisina.
dutância da fibrose cística (CFTR), que funciona como E. cadeias a individualizadas, ainda não organi
um canal de cloreto regulado por cAMP. A proteína tem zadas em uma tripla hélice.
262 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
10. Boa parte da formação do pró-colágeno ocorre no oligossacarídeos do tipo alta manose na proteína.
retículo endoplasmático e no complexo de Golgi, o Essa glicosilação N-ligada
que requer um peptídeo sinal. Todas as afirmati A. ocorre somente depois da proteína ter sido
vas seguintes sobre o direcionamento de proteínas completamente traduzida e dobrada.
para o ER são verdadeiras, exceto
B. não requer nenhuma sequência específica de
A. o peptídeo sinal geralmente tem uma extre aminoácidos.
midade N-terminal carregada positivamente e
uma sequência de aminoácidos hidrofóbicos. C. ocorre pela transferência de uma cadeia oli
gossacarídica de um dolicol fosfato carregador
B. peptídeo sinal emergindo de um ribossomo li para a proteína.
vre liga uma partícula de reconhecimento de
D. possui uma cadeia de oligossacarídeo ligada a
sinal (SRP).
serina ou treonina.
C. o peptídeo sinal é geralmente clivado da prote
ína antes da proteína ser inserida na membra E. contém somente manoses na cadeia.
na do ER. 12. O sinal de direcionamento para a mitocôndria é:
D. o encaixe (docking) da proteína ocorre, na A. uma sequência de ancoragem hidrofóbica.
verdade, no receptor de SRP e serve para ligar B. uma a-hélice amfipática carregada positiva
SRP ao ER. mente.
E. SRP e proteína de encaixe (docking) não en C. manose 6-fosfato.
tram no lúmen do ER, mas são reciclados.
D. um ou dois grupos de aminoácidos básicos.
Questões 11 e 12: Várias doenças ocorrem em de E. uma sequência Ser-Lys-Leu (SKL) carboxi
corrência defeitos nos sinais de direcionamento que -terminal.
dirigem proteínas para organelas específicas. A doen
ça da célula I (mucolipidose II), caracterizada por re Problemas
tardo psicomotor severo e anormalidades esqueléticas, 13. A mutação mais comum na fibrose cística é a dele
surge de um defeito no direcionamento de proteínas ção de três bases consecutivas no gene de um dos
para os lisossomos. O direcionamento errado também domínios de ligação de ATP. Como a proteína desse
pode causar problemas. Na hiperoxalúria primária tipo gene poderia estar relacionada com uma proteína
I, uma enzima que normalmente funciona em peroxis normal?
somos, em virtude de mutações que criam um sinal de 14. Algumas proteínas podem ser degradadas nos li
direcionamento mitocondrial, localiza-se nas mitocôn sossomos. Como isso difere da degradação de pro
drias. teínas nos proteassomos?
11. Pacientes com doença da célula I não têm a enzi
ma que transfere N-acetilglucosamina fosfato para
Respostas
1. A Essa é a definição da degeneração. B e E não se te. E: o mRNA associa-se primeiro com a subuni
sabe se ocorrem, embora às vezes o tRNA leia ape dade 40S.
nas as primeiras duas bases de um triplete (osci
4. C Isso é necessário para liberar o sítio A para o
lação ou wobble), e às vezes bases incomuns ocor
tRNA seguinte. A: o aminoacil-tRNA que está che
ram no anticódon. C denota os códons de parada
gando liga-se ao sítio A. B: a formação da ligação
(nonsense). D é um desvio da universalidade do
peptídica não requer outra fonte de energia além
código, encontrado em mitocôndrias.
do aminoacil-tRNA. D: a estreptomicina inibe a
2. C Ligações entre um tRNA e um aminoácido incor formação do complexo de iniciação 70S procarió
reto menor podem se formar, mas são rapidamente tico e causa leitura errada do código genético. E:
hidrolisadas. A e B: o ATP e o aminoácido reagem o par de elétrons do amino grupo realiza o ataque
para formar um aminoacil-adenilato ligado à enzi nucleofílico sobre o carbono carbonílico.
ma; PPi é liberado no meio. D: alguns aminoácidos,
5. E A g-Carboxilação é especialmente importante
como hidroxiprolina e hidroxilisina, surgem por
em várias proteínas da coagulação do sangue, mas
modificação co- ou pós-tradução. E: uma aminoacil não na formação da insulina. A: pré-pró-insulina
-tRNA sintetase pode reconhecer qualquer uma de
é inserida no ER. B: todas as proteínas, exceto as
várias espécies de tRNA para um dado aminoácido.
fibrosas, devem se dobrar em uma forma tridimen
3. B Este então se liga ao mRNA. A: Metionil-tRNAMeti sional. C: uma pró-insulina dobra e forma pontes
aparece no sítio P. C: fosforilação de eIF-2 inibe ini dissulfeto antes da cadeia ser clivada. D: isso é
ciação. D: metionil-tRNAeMet é usado internamen chamado peptídeo C.
CAPÍTULO 6 SÍNTESE DE PROTEÍNAS: TRADUÇÃO E MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUÇÃO • 263
6. CAlterando-se as interações entre tRNA, mRNA e 11. C A cadeia é ligada à amida de uma asparagina em
subunidaderibossômica, interfere com a iniciação e uma sequência Asn-X-Thr/Ser. A, B e D: essas são
também causa leitura errada. A: puromicina, pare características do tipo O-ligado. E: N-acetilgluco
cida com aminoacil-tRNA, faz isso. B: estas são su samina também está presente.
bunidades eucarióticas. D: cloranfenicol faz isso. E:
12. B Esta é reconhecida por um receptor mitocon
esse é o efeito de ricina e de toxinas relacionadas.
drial. A: isso mergulharia a proteína na membrana
7. D Esta é apenas uma das muitas funções que os do ER. C: esse é o sinal para o lissosomo. D: esse
chaperones exercem. A: muitas proteínas dobram direciona para o núcleo. E: esse é o sinal para os
espontaneamente de modo correto. B: proteínas peroxissomos.
com dobramento errado são reconhecidas e rapi
13. Deleção de um códon inteiro significa que um ami
damente degradadas. C: chaperones se ligam às
noácido em particular não estará presente na pro
regiões hidrofóbicas de proteínas desdobradas. E:
teína. Não é comum que a deleção de três nucleotí
proteínas desdobradas são as de maior possibilida
deos cubra dois códons, de modo que não seria de
de de fazerem isso.
se esperar uma mutação com mudança na fase de
8. E ATP é necessário na ativação da ubiquitina e nas leitura (frameshift).
etapas de protease, mas não aqui. B e D: ambos es
14. A degradação nos proteassomos geralmente re
tão corretos. C: a ligação com histonas não resulta
quer adição de ubiquitina à proteína. As proteínas
em sua degradação.
são levadas para os lisossomos por endocitose, e
9. D Lisina é hidroxilada, mas por uma enzima dife enzimas presentes nos lisossomos as degradam.
rente. A e C: prolil hidroxilase requer ambos Fe2+ Proteínas extracelulares específicas ligam-se a re
e ácido ascórbico. B: a sequência é –X-Pro-Gly-. E: ceptores da superfície celular em depressões enca
hidroxilação é um evento co-tradução. padas por clatrina. A invaginação da membrana e
de receptores ligados a ligante forma vesículas que
10. C A peptidase sinal localiza-se na superfície lu
minal do ER. A: estas são características comuns, podem fundir com lisossomos. Novamente, as pro
teínas são degradadas por enzimas lisossomoais.
juntamente com um segmento polar que a peptida
se sinal reconhece. B, D e E: todas são característi
cas essenciais do processo.
264 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
PARTE II CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 265
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
7 Plasmídeo
Promotor lacZ
Sítio de
e Biotecnologia Gene de
restrição B
resistência
a antibiótico
Gerald Soslau
Professor Titular, Drexel University College of Medicine
Conceitos Chaves
• A reação da polimerase em cadeia (PCR) é usada • Transcrição reversa gera cDNA a partir de mRNA
para determinar as sequências dos ácidos nuclei celular. Uma biblioteca de cDNA consiste de todos
cos de genes, de seus sítios regulatórios e de seus os cDNAs produzidos a partir do total de mRNA
produtos. celular.
• Endonucleases de restrição (RE) geram molécu • Diferentes vetores podem ser recombinados com
las de DNA para síntese de moléculas de DNA re DNA estrangeiro, com o número de pares de ba
combinante. Moléculas de DNA de duas espécies ses indo de poucos milhares a centenas de milha
diferentes podem ser clivadas com a mesma RE, res. Pequenos insertos de DNA podem representar
gerando moléculas com extremidades fitas únicas o cDNA de um gene expresso, enquanto insertos
complementares, que podem ser aneladas e liga muito maiores são necessários para carregar um
das. Muitas cópias do DNA recombinante podem gene genômico, com íntrons e éxons, juntamente
ser geradas se uma espécie de DNA for um vetor com os sítios regulatórios a montante e a jusante
que replicará em uma bactéria ou célula. (upstream e dowsntream, respectivamente).
• A clonagem de uma célula contendo uma molécula • Vetores de expressão são espécies de DNA que com
recombinante específica requer técnicas para se binam com “genes” estrangeiros funcionais de modo
lecionar uma única bactéria ou célula com o DNA que, quando introduzidos em uma bactéria ou célu
de interesse, depois replicar a célula de modo que la, o “gene” recombinante é transcrito e traduzido.
todas as células filhas tenham o mesmo DNA re • Mutagênese sítio-dirigida com DNA recombinante
combinante. clonado pode resultar na perda seletiva de uma re
• Bibliotecas genômicas são geradas com a multi gião do DNA, a adição ou a perda de um ou alguns
plicidade de moléculas de DNA recombinante que poucos nucleotídeos, ou a troca seletiva de um úni
têm pedaços do DNA de um genoma inteiro ligados co nucleotídeo. “Genes” alterados são utilizados
a um vetor e transformados em bactérias ou célu para estudar a estrutura e a função da proteína
las. Clones específicos podem ser selecionados. codificada.
• Técnicas de hibridização de ácidos nucleicos com • A regulação da expressão gênica em estados de
sondas marcadas de DNA ou RNA podem detectar doenças ou metabolicamente alterados pode ser
padrões de DNA polimórfico nos DNAs genômicos estudada por tecnologias de DNA recombinante,
de diferentes indivíduos digeridos por endonu incluindo tecnologias de ácidos nucleicos comple
cleases de restrição, espécies específicas de RNA e mentares (antisense), introdução de genes nor
clones portando um RNA recombinante específico. mais onde há genes alterados e destruição de genes
em animais inteiros (animais knockout).
PCR Quantitativo em Tempo Real do DNA/cDNA. Essa técnica é empregada para identi
ficar a expressão diferencial de genes específicos em
PCR quantitativo em tempo real (qRT-PCR) acopla a tecidos normal versus doente, em que o produto gênico
reação de amplificação do PCR tradicional com a quan pode ter um papel no desenvolvimento de células anor
tificação simultânea do DNA sintetizado após cada ciclo. mais (Correlação Clínica 7.2).
Essa técnica permite que se calcule o número de cópias
de uma sequência de DNA em um genoma. Também se
pode usar o método para determinar o nível relativo
de expressão de um gene em uma célula, iniciando 7.3 ENDONUCLEASES DE
-se a reação com RT-PCR (reverse transcriptase-PCR, RESTRIÇÃO, MAPAS
transcriptase reversa PCR), produzindo um cDNA como
molde para o PCR. Em ambos os casos, a quantificação DE RESTRIÇÃO E
do DNA produzido deve ser comparada com um gene
interno de manutenção (housekeeping), cujo nível de SEQUENCIAMENTO DO DNA
expressão é quase igual em todas as células que estão
sendo estudadas. Hoje, existem algumas variações das
técnicas empregadas, sendo algumas mais rigorosas na
Endonucleases de Restrição
quantificação calculada do que outras, mas apenas o Hidrolisam Seletivamente DNA
processo mais direto será descrito aqui.
As endonucleases de restrição são capazes de dis
Embora RT-PCR/PCR geralmente usem primers secar seletivamente moléculas de DNA de muitos tama
anteverso e reverso que geram DNAs produtos na fai nhos e origens em fragmentos menores. Elas conferem
xa de 300-600 pb, qRT-PCR frequentemente emprega alguma proteção a bactérias contra vírus invasores
primers que distam entre si de apenas 100 bases. O (bacteriófagos). Sequências de DNA bacteriano nor
método descrito aqui tira vantagem do fato do cromo malmente reconhecidas por uma endonuclease de res
fluor SYBR green só se ligar ao DNA dupla-fita e não trição são protegidas de clivagem em células hospe
ao DNA simples-fita. Quando se liga ao DNA dupla-fita, deiras por metilação de bases no palíndrome. O DNA
fluoresce com muitas vezes mais brilho do que quando viral não-metilado é reconhecido como estrangeiro e é
está livre em solução. O DNA é amplificado a partir de hidrolisado. Inúmeras endonucleases de restrição tipo
moldes de DNA ou cDNA em presença de SYBR green II estão hoje disponíveis comercialmente (ver p. 62 para
em um instrumento de PCR que mede a fluorescência discussão de atividades de endonucleases de restrição).
do complexo SYBR green-DNA em cada ciclo. Portanto,
o aumento na fluorescência a cada ciclo é proporcional à As endonucleases de restrição permitem a constru
síntese em tempo real do DNA amplificado. Um gráfico ção de um mapa de restrição, no qual o ponto de cli
do log das unidades de fluorescência versus número de vagem no DNA é identificado. Espécies purificadas de
ciclos dá uma relação linear durante a fase de ampli DNA que contêm sequências susceptíveis estão sujeitas
ficação logarítmica do PCR. A parte linear da curva é à clivagem por endonucleases de restrição. Controlan
comparada com o padrão interno conhecido de manu do-se o tempo de exposição de moléculas de DNA pu
tenção (housekeeping) para quantificação do produto rificadas à clivagem, é gerada uma população de frag
PCR em Tempo Real Quantitativo (qRT-PCR) na Análise de um Gene Associado com Câncer de Próstata
Câncer de próstata é o tumor maligno predominante tático no câncer de próstata. qRTPCR confirmou que
em homens norte-americanos. Não existe cura conhe ASAP1 (que codifica uma proteína ativadora de GTPase
cida para o câncer de próstata, depois que tenha ocor do fator de ADP-ribosilação) estava sendo mais expres
rido metástases. Portanto, é muito importante identifi sa (up-regulated) na linhagem celular metastática.
car biomarcadores que estão associados com a doença Além disso, a inibição da expressão de ASAP1 em cé
metastática e que podem servir como novos alvos tera lulas de câncer de próstata por RNA pequeno de inter
pêuticos. Duas linhagens celulares foram desenvolvidas ferência (siRNA; ver p. 206) reduziu muito o potencial
a partir de um paciente com câncer de próstata que, metastático dessas células por análise in vitro. Esse
quando transplantadas em camundongos imunodefi gene pode ser um alvo importante para o tratamento
cientes, ou apresentaram potencial metastático ou fo clínico do câncer de próstata metastático.
ram não-metastáticas. A análise diferencial dos genes
expressos nas duas linhagens celulares detectou um Lin, D., Watahiki, A., Bayani, J., Zhang, F. et al. ASAP1, a
gene, ASAP1, na linhagem metastáticas, que não havia gene at 8q24, is associated with prostate cancer metastasis.
sido anteriormente associado com o processo metas Cancer Res. 68:4352, 2008.
270 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
5.3
7.9 A+
AC+D
+D 2.2
2.6 C
B Método de Clivagem
No passado, os estudos da evolução das espécies Análise do mtDNA pode ser usada para estudar os
dependiam exclusivamente de mudanças anatômicas padrões de migração de pessoas que se assentaram
observadas em registros fósseis e na datação por car em diversas regiões geográficas, mas possuem os mes
bono. Esses estudos têm sido apoiados pelas análises mos padrões gerados por enzimas de restrição (poli
moleculares das sequências e dos tamanhos de genes morfismo de comprimento de fragmentos de restrição
específicos ou moléculas inteiras de DNA. Alterações [RFLP]). Os nativos americanos foram agrupados em
em uma molécula específica de DNA de diferentes es quatro haplogrupos principais, com base em seus pa
pécies podem ser rapidamente verificadas por mapea drões de restrição de mtDNA. Esses grupos parecem
mento de restrição, que requer uma preparação pura de ser descendentes do povo Clovis (Paleoíndio) que mi
DNA. Mitocôndrias de mamíferos contêm uma molécu grou da Ásia e da Sibéria e entrou na América do Norte
la de DNA circular fechada com 16.569 pb, que pode ser imediatamente antes do período da grande glaciação. O
rapidamente purificada de células. O DNA mitocondrial momento desse evento migratório varia de estudo para
(mtDNA) pode ser empregado diretamente para o estu estudo. Entretanto, a análise do mtDNA, amplificado de
do de mudanças evolutivas em DNA, sem a necessidade fezes fósseis (coprolitos humanos) no Oregon, parece
de clonar um gene específico. provar que seres humanos povoaram as Américas antes
do chamado povo Clovis. As sequências de mtDNA re
O mtDNA foi purificado de babuíno da Guiné, ma presentam os haplogrupos A2 e B2 fundadores dos Na
caco rhesus, gibão e do homem, e foi clivado por 11 en tivos Americanos, e as amostram precedem os restos
donucleases de restrição diferentes. Os mapas de res Clovis por, pelo menos, 1.000 anos.
trição foram alinhados com relação à direção e ao sítio
nucleotídico por onde a replicação do DNA se inicia.
Uma comparação dos sítios de endonucleases de restri
Brown, W. M., George, M., Jr., e Wilson, A. C. Rapid evo
ção permitiu calcular o grau de divergência nas sequ-
lution of animal mitochondrial DNA. Proc. Natl. Acad. Sci.
ências de nucleotídeos entre as espécies. A velocidade USA 76:1967, 1979; Schurr, J. G. Mitochondrial DNA and the
de substituição de bases (calculada a partir do grau de people of the new world. Amer. Sci. 88:246, 2000; Gilbert,
divergência versus tempo de divergência) é cerca de M. T., Jenkins, D. L., Gotherstrom, A., Naveran, N. et al. DNA
10 vezes maior do que as mudanças no genoma nuclear. from pre-Clovis human coprolites in Oregon, North Ameri
Essa alta taxa de mutação da molécula de mtDNA fa ca. Science 320:786, 2008; e Balter, M. DNA from fossil feces
cilmente purificada faz dela um excelente modelo para breaks Clovis barrier. Science 320:37, 2008.
estudar as relações evolutivas entre espécies.
OH
diferente. Os ddNTPs são incorporados aleatoriamente
H 3! 2!
Didesoxinucleosídeo trifosfato H H durante a síntese enzimática do DNA e causam termina
ção da cadeia. Como o ddNTP está presente no tubo de
FIGURA7.3 Estrutura de desoxinucleosídeo trifosfato e reação em baixa concentração em relação ao dNTP cor
didesoxinucleosídeo trifosfato. respondente, a terminação da síntese de DNA ocorre ale
O grupo 3!-OH está faltando na ribose componente dos dideso atoriamente em todos os possíveis sítios complementares
xinucleotídeos trifosfato (ddNTP). Essa molécula pode ser in do DNA molde. Isso gera moléculas de DNA de tamanhos
corporada em uma molécula de DNA em crescimento por uma
variáveis, marcadas na extremidade 5!, que podem ser
ligação fosfodiéster com seu 5!-fosfato. Uma vez incorporado,
o ddNTP bloqueia o prosseguimento da síntese da molécula
separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida. As
de DNA, uma vez que não tem o grupo aceptor 3!-OH para um espécies marcadas são detectadas por autorradiografia
novo nucleotídeo. de raios-X, e a sequência é lida.
272 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
DNA de interesse
5! 3!
35S 5!
“Primer universal”
DNA polimerase
TUBO 1 TUBO 2 TUBO 3 TUBO 4
Mistura +ddGTP ddG ddC ddA ddT
de reação +dGTP
+dATP Eletroforese em gel
de poliacrilamida Sequência
+dCTP Topo
+dTTP C
A
FIta molde G
5! 3! G
T
C CC C C
35S 5! T
T
G G
de DNA
Síntese 35S 5! A
C
G
A
35S 5! C
C
G
G
35S 5!
Fundo
G Autoradiografia do gel
(a) Bacteriófago M13 recombinante (b) Eletroforese em gel de poliacrilamida da mistura de reação
Inicialmente, esse método requeria um molde de cos do método enzimático de Sanger são empregados;
DNA fita-única, produção de um oligossacarídeo inicia entretanto, cada ddNTP tem uma marca fluorescente,
dor complementar específico, e uma preparação relati com um fluoróforo de cor diferente. Como cada ddNTP
vamente pura do fragmento Klenow da DNA polimerase colorido termina a reação, gerando oligonucleotídeos de
I de E. coli. Essas dificuldades foram superadas, e mo diferentes tamanhos com fluoróforos de diferentes co
dificações simplificaram o procedimento. res, não é necessário fazer quatro tubos de reação. Uma
única reação é realizada, com os produtos separados
Os métodos de PCR e Sanger são combinados para por eletroforese capilar e sequenciados por um sequen
sequenciamento direto de regiões pequenas do DNA de ciador de DNA automatizado, de alto desempenho. A
interesse. O produto dupla-fita do PCR é empregado di análise do cromatograma de uma amostra e a sequência
retamente como molde. As condições são estabelecidas derivada é apresentada na Figura 7.5.
de modo que uma fita de DNA fundido (molde) anele
com o primer em preferência ao reanelamento com a O método de sequenciamento por corante-termina
fita complementar. O sequenciamento, então, segue a dor é, como o método de Sanger, capaz de sequenciar 400
reação de terminação da cadeia por didesoxi padrão bases de uma vez. Novos métodos, que baixariam muito
(tipicamente com Sequenase substituindo a polimerase o custo e, concomitantemente, aumentariam muito ota
Klenow), com síntese de cadeias de comprimentos aleató manho das cadeias de DNA que estão sendo seqüencia
rios, ocorrendo como extensão do primer do PCR. Esse das, estão sendo desenvolvidos e explorados. O objetivo
método foi utilizado com sucesso para o diagnóstico de final desses métodos mais desenvolvidos é a capacidade
doenças genéticas (Correlação Clínica 7.4). de sequenciar rapidamente o genoma inteiro de indivídu
os, a um custo inferior a US$ 1.000,00. A realização desse
objetivo permitiria aos clínicos e aos cientistas correla
Sequenciamento por Corante cionar genes alterados ou mutados com doenças genéti
cas, prever a progressão clínica de doenças, e desenvol
Terminador ver drogas ou terapias gênicas para cada indivíduo.
ça
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15
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que
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Testing
muta-do
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O
oO
A.,
EcoRI EcoRI
7.4 DNA RECOMBINANTE,
CLONAGEM E SELEÇÃO DE DNA1 DNA2
3! 3!
1A 1B 2B
DNAs de Diferentes Fontes Podem
Ser Ligados para Formar uma Nova 5! 2A 5!
de uma molécula maior complexa, tal como o genoma FIGURA7.6 A formação do DNA recombinante a partir
de um vírus ou humano, e a amplificação do fragmento de fragmentos gerados por endonuclease de restrição
de DNA. Foram preparados DNAs recombinantes que contendo extremidades coesivas.
combinam fragmentos de DNA de bactérias com frag Muitas endonucleases de restrição hidrolisam DNA de modo
mentos humanos, vírus com vírus, e assim por diante. desencontrado, gerando fragmentos com regiões de fita-única
A ligação de dois pedaços diferentes de DNA é conse nas suas extremidades 3! e 5!. Fragmentos de DNA gerados a
guida por uma endonuclease de restrição e uma DNA partir de moléculas diferentes com a mesma endonuclease de
ligase. São usadas muitas endonucleases de restrição, restrição têm extremidades fita-única complementares, que po
dem ser “aneladas” e ligadas covalentemente com uma DNA
variando em sua especificidade de sequência de nucleo
ligase. Todas as diferentes combinações são possíveis numa
tídeos (Seção 7.3). Algumas hidrolisam as duas fitas do mistura. Quando dois fragmentos de DNA de diferentes origens
DNA de modo desencontrado, produzindo extremida se combinam, resulta uma molécula de DNA recombinante.
des grudentas, ou coesivas (Figura 7.6), enquanto ou
tras cortam as duas fitas simetricamente, produzindo
uma extremidade cega. Uma enzima de restrição espe Vetores de DNA Recombinante São
cífica corta o DNA exatamente na mesma sequência
de nucleotídeos, independentemente da fonte do DNA Produzidos por Clonagem
(bactéria, planta, mamífero etc.). Uma molécula de
Incorporando-se um DNA recombinante em uma
DNA pode ter nenhum ou inúmeros sítios de reconhe
célula que permita replicação do DNA recombinante,
cimento para uma endonuclease de restrição em parti
pode ser conseguida a amplificação do DNA de interes
cular. O corte desencontrado resulta em fragmentos de
se. É empregado um DNA carregador, ou vetor de clo
DNA com extremidades fita-única. Quando diferentes
nagem. Plasmídeos bacterianos são ideais como vetores
fragmentos de DNA gerados pela mesma endonuclease
de DNA recombinante.
de restrição são misturados, suas extremidades fita
-única podem hibridizar ou anelar. DNA ligase une os Muitas bactérias contêm um único cromossomo cir
dois fragmentos para produzir uma molécula de DNA cular de aproximadamente 4 × 106 pares de bases (pb)
recombinante. e moléculas de DNA minicirculares chamadas plasmí
Os fragmentos de DNA que contêm extremidades deos. Os plasmídeos geralmente contêm apenas poucos
milhares de pares de bases e raramente estão associa
cegas também podem ser ligados, mas com eficiência
dos com os cromossomos maiores. Genes em um plasmí
muito menor. A eficiência é aumentada adicionando-se
deo incluem os que conferem resistência a antibióticos
enzimaticamente caudas de poli(dA) a uma espécie de para a bactéria, um atributo útil na seleção de colônias
DNA, e caudas de poli(dT) à segunda espécie. Os frag
específicas da bactéria. Os plasmídeos replicam-se in
mentos com caudas complementares podem ser anela
dependentemente da replicação do principal cromos
dos e ligados.
somo bacteriano. Um tipo de plasmídeo, os plasmídeos
de controle relaxado, pode estar presente em dezenas
ou centenas de cópias por bactéria, e sua replicação
depende exclusivamente das enzimas do hospedeiro
que têm meias-vidas longas. Portanto, a replicação de
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 275
é identificar as bactérias que carregam Plasmídeo reanelado Plasmídeo recombinante Sequências lineares de
vetores recombinantes, com genes tetr sem um fragmento de com o DNA inserido DNA recombinante
DNA estrangeiro inativa o gene tetr
não-funcionais, e que são, portanto,
sensíveis a tetraciclina.
2 Transformação de interesse
As bactérias resistentes à ampicilina
são plaqueadas e crescidas em placas
de agar contendo ampicilina (Figura
7.9). Placas réplicas são feitas tocando ampr tetr ampr tetr não cresce
FIGURA7.10 PCR multiplex para analisar uma região de DNA de interesse quanto a mutações.
Uma região do DNA em uma molécula complexa de DNA é amplificada por PCR com primers que são complementares a sequências
flanqueadoras da região do DNA de interesse (etapa 1). O produto do PCR é, então, usado como molde simultaneamente por múltiplos
pares de primers (etapa 2a) que são complementares ao longo do DNA (aqui eles cobrem três segmentos: a, b e c). Esse procedimento
requer conhecimento prévio do DNA ou do gene normal. A etapa 2a é repetida para o DNA derivado de um paciente com mutação(ões)
em potencial na região do DNA de interesse (etapa 2b). Os produtos do DNA amplificados pela etapa de PCR multiplex (etapas 2a e b)
são, então, analisados por eletroforese em gel de agarose para verificar se a amostra do paciente contém uma mutação (etapa 3).
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 279
Colônias azuis
Técnica de Southern Blot para blots), como descrito a seguir, e de proteínas (Western
blots) para filtros de nitrocelulose ou membranas de
Identificar Fragmentos de DNA nylon.
A transferência de espécies de DNA separadas por
eletroforese em gel de agarose para um filtro, para aná Indivíduo A Indivíduo B Indivíduo C
lise, foi desenvolvida na década de 1970 por E. M. Sou
thern, e é uma ferramenta indispensável. O método é
chamado técnica de Southern blot (Figura 7.13). Uma DNA genômico humano
mistura de fragmentos gerados por endonuclease de Clivagem com uma
restrição pode ser separada conforme seu tamanho por endonuclease
eletroforese em gel de agarose. O DNA é desnaturado de restrição
Considera-se geralmente que a maioria dos tumores Portanto, uma célula feminina pode conter um cro
é de origem monoclonal; isto é, um evento raro altera mossomo X com o gene HGPRTase possuindo 2 sítios
o genoma de uma única célula somática de modo que Bam HI (resulta em um fragmento de DNA de 24 kb)
as células passam a apresentar crescimento anormal, ou 3 sítios Bam HI (resulta em um único fragmento
gerando uma massa tumoral, com todas as células fi detectável de DNA de 12 kb). Essa figura mostra os
lhas carregando o genoma igualmente alterado. Prova resultados esperados para a análise do DNA de célu
de que um tumor é monoclonal versus policlonal pode las tumorais para determinar sua origem monoclonal
ajudar a distinguir hiperplasia (produção e crescimen ou policlonal. Como esperado, três tumores humanos
to aumentados de células normais) de neoplasia (cres examinados por esse método mostraram ter origem
cimento de células novas ou tumorais). A detecção de monoclonal.
polimorfismos de comprimento de fragmentos de res
trição (RFLPs) em amostras de DNA submetidas a Sou
thern blot permite definir a origem clonal de tumores 24 kb
humanos. Se as células tumorais fossem coletivamen
te derivadas de células parentais diferentes, deveriam
12 kb
conter uma mistura de marcadores de DNA característi
cos de cada célula de origem. Entretanto, um marcador HhaI sítios
de DNA idêntico em todas as células tumorais indicaria
uma origem monoclonal. A análise é limitada ao sexo
feminino, para tirar vantagem do fato de cada célula ter B1
apenas um cromossomo X ativo, de origem paterna ou B2 B3
materna, com o segundo cromossomo X sendo inativo.
A ativação ocorre aleatoriamente durante embriogê
pPB1.7
nese e é fielmente mantida em todas as células filhas,
com metade das células carregando um cromossomo X (a)
materno ativado e a outra metade, um cromossomo X
paterno ativado. 24 kb
com 12 kb derivado de um cromossomo X ativo (metilado). Vogelstein, B., Fearon, E. R., Hamilton, S. R., and Fein
(3) Clivado com Bam H1 mais Hha I; tumor monoclonal com berg, A. B. Use of restriction fragment length polymorphism
o fragmento de 24 kb derivado de um cromossomo X ativo to determine the clonal origin of tumors. Science 227:642,
(metilado). (4) Clivado com Bam H1 mais Hhal, tumor po 1985.
liclonal. Todos os tumores estudados apresentaram padrões
iguais aos da Linha 2 ou Linha 3.
Polimorfismo de Conformação de Cadeia Única para Detecção de Mutações Espontâneas que Podem Levar
a SIDS
A síndrome da morte súbita infantil (SIDS) é uma (proteína associada com o canal de sódio) na amostra
causa importante de morte durante o primeiro ano de de DNA do bebê, mas não dos pais. A mutação substi
vida nos Estados Unidos. Estudo prospectivo em mais tuiu um resíduo de serina por uma asparagina em uma
de 34.000 recém-nascidos que foram monitorados por região muito conservada da proteína, que se presume
eletrocardiografia indicou uma forte correlação entre participe da função do canal de sódio. A mutação não
risco aumentado de SIDS e intervalo QT prolongado foi detectada em 200 indivíduos controles. A conclu
em seu ECG. Com base nesse estudo, decidiu-se pro são foi que o bebê tinha uma mutação espontânea em
curar uma mutação em um ou mais dos genes que se um gene associado com intervalo QT prolongado e isso
sabe estarem relacionados com a síndrome do QT lon contribuiu para um evento tipo SIDS. Após tratamen
go em um bebê de 44 dias de idade, que se apresentou to, a criança ficou livre dos sintomas por volta dos 5
cianótica, apneica e sem pulso ao pronto socorro de anos de idade. Esse estudo indica o valor potencial do
um hospital. A arritmia da criança com um interva exame eletrocardiográfico neonatal para reduzir mor
lo QT prolongado foi estabilizada com múltiplos ele talidade infantil por SIDS.
trochoques DC, seguidos de tratamento com drogas.
DNA genômico foi preparado a partir de linfócitos do Schwartz, P. J., Priori, S. G., Dumaine, R., Napolitano, C.
sangue periférico do bebê e de seus pais. Um gene et al. AA molecularmolecular linklink betweenbetween thethe suddensudden infantinfant deathdeath syn-syn
associado com a síndrome do QT longo continha a drome and the Long-QT syndrome. N. Engl. J. Med. 343: 262,
substituição de AAC para TCC na posição 2971 a 2972 2000.
mRNAX + mRNAY
outros RNAs
400 bases
SondaZ
+
mRNAZ e sondas não
hibridizadas
(c) Reações de amostras de RNA de diferentes tecidos analizadas por eletroforese em gel de poliacrilamida
o o o
o ã ã r
400 bp
300 ã
r a
ç b
d r m
l e
r e
l
a o u é e
P C P C P FIGURA7.14 Ensaio de proteção de nuclease.
O mRNA celular total pode ser isolado de diferentes tecidos.
Sondas de DNA fita-única que são complementares às se
quências conhecidas de diferentes genes transcritos (mRNAx,
mRNAy, mRNAz) são hibridizadas com a mistura de RNAs. A
250 bp
digestão com uma ribonuclease hidrolisará as regiões de RNA
fita-única de mRNA não-hibridizado com a sonda de DNA e
todas as espécies de RNA que não-hibridizaram. Só os híbridos
DNA-RNA protegidos da nuclease permanecerão para análise
por eletroforese em gel de poliacrilamida. A expressão dife
rencial de genes em diferentes tecidos é, então, facilmente
observada.
CAPÍTULO 7 DNA-radioativo
DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA
(DNA*) + Proteína(s) • 285
mRNA como Molde para Síntese de contém uma alça fita-única, que é reconhecida e digeri
da pela nuclease S1. As extremidades do cDNA devem
DNA Usando Transcriptase Reversa ser modificadas antes da clonagem em um vetor. Um
método envolve a incubação de moléculas de cDNA com
O RNA mensageiro pode ser reversamente transcri
extremidades retas com moléculas ligantes (linker) e
to em cDNA, e o cDNA pode ser inserido em um vetor uma DNA ligase de bacteriófago T4, que catalisa a liga
para amplificação, identificação e expressão. Células
ção de moléculas de extremidades retas (Figura 7.17).
de mamíferos normalmente contêm 10.000-30.000 es As moléculas linker sintéticas contêm sítios para endo
pécies diferentes de moléculas de mRNA em um dado
nucleases de restrição, que são agora clivados com a en
momento do ciclo celular. Em alguns casos, entretanto, zima apropriada, para inserção do cDNA em um vetor
uma determinada espécie de mRNA pode chegar a 90%
clivado com a mesma endonuclease.
do mRNA total, tal como o mRNA de globina em reti
culócitos. Muitos mRNAs estão normalmente presentes
em apenas poucas cópias (1-14) por célula. Uma biblio
5! Cap
teca de cDNA pode ser construída a partir do mRNA
oligo dT(12–18) AA...An 3!
celular total, mas se apenas poucas cópias do mRNA Cauda de poli A
de interesse estiverem presentes, pode ser muito difícil mRNA
Adição do primer
identificar o cDNA. Métodos que enriquecem a popula
ção de mRNAs ou seus cDNAs correspondentes permi 5!
AA...An 3!
tem reduzir o número de espécies diferentes de cDNA TT(12–18)5!
em uma biblioteca de cDNA e aumentam muito a proba mRNA
bilidade de identificação do clone de interesse. Transcriptase reversa
dATP, dCTP,
mRNA Desejado Pode Ser Enriquecido por dGTP, dTTP
Técnicas de Separação
5! AA...An 3!
O RNA mensageiro pode ser separado por tamanho TT(12–18)5!
por eletroforese em gel ou centrifugação. O isolamento Híbrido cDNA: mRNA
O DNA do bacteriófago (p.292) é o vetor mais conve RNA Celular Total como Molde para
niente e eficiente para criar bibliotecas de cDNA porque Síntese de DNA Usando RT-PCR
pode ser amplificado facilmente e armazenado indefini
damente. Dois bacteriófagos vetores, lgt10 e lgt11, bem Métodos alternativos para construir bibliotecas de
como suas construções mais novas, têm sido emprega cDNA empregam uma técnica de transcriptase rever
dos para produzir bibliotecas de cDNA. As bibliotecas sa-PCR (RT-PCR) e eliminam a necessidade de puri
de cDNA em lgt10 são examinadas apenas com sondas ficar o mRNA. Essa estratégia é apresentada na Figu
de ácidos nucleicos marcados quando a sequência do ra 7.18 e começa com a produção, pela transcriptase
DNA é desconhecida, enquanto as de lgt11, um vetor reversa, de um híbrido DNA-mRNA. O método usa a
de expressão, também podem ser examinadas com an transferase terminal para adicionar uma cauda homo
ticorpo para a produção da proteína ou do antígeno de polimérica dG à extremidade 3!, seguida de hidrólise
interesse. Se a sequência do cDNA desejado for conhe do mRNA. Primers para PCR são sintetizados para hi
cida, então PCR é usado para examinar o bacteriófago bridizar com as caudas dG e dA, e terminam com duas
recombinante. sequências de endonucleases de restrição diferentes.
O cDNA resultante amplificado por PCR e, então, hi
drolisado com duas endonucleases de restrição dife
3!
dA12-18
rentes para clonagem direcional (p. 275) em um vetor
dT12-18 apropriado.
cDNA 5!
Linker 1 mólecula
DNA:mRNA
Híbrido
mRNA:de 5! AAAAA(A)n 3!
S1 nuclease Adição do primer oligo(dT)
Etapa "RT": +
transcriptase reversa
RE1
3!
5! TTTTT 5! n 3!
AAAAA(A)
3! GGGGG
5!AAAAA(A)nGGGGG 3!
TTTTT 5!
Hidrólize com duas
RE1, RE2 endonucleases Hidrólise do RNA
de restrição com NaOH
3! GGGGG TTTTT 5!
E. coli foram geneticamente alteradas para permitir a de DNA recombinante, uma origem de replicação para
replicação de vírions recombinantes específicos. propagação em bactérias, e um sítio cos para acondi
cionamento de moléculas recombinantes em partículas
Examinando (Screening) Bibliotecas de de bacteriófagos. O bacteriófago com DNA de cosmídeo
Bacteriófagos recombinante pode infectar E. coli e injetar seu DNA
na célula. Vetores cosmídeos contêm apenas cerca de
Uma biblioteca em bacteriófago pode ser examinada 5 kb das 50 kb do DNA do bacteriófago e, portanto, são
plaqueando-se o vírus sobre uma camada contínua de incapazes de dirigir sua replicação e organização de
bactérias (um tapete de bactérias) crescidas sobre pla novas partículas de fago infectantes. Em vez disso, o
cas de agar (Figura 7.20). Fagos individuais vão infec DNA do cosmídeo recombinante circulariza-se e replica
tar, replicar e lisar uma célula. Os vírions descendentes como um grande plasmídeo. Colônias bacterianas con
então infectam e subsequentemente lisam bactérias tendo os recombinantes de interesse são selecionadas
imediatamente adjacentes ao local da primeira célula e amplificadas por métodos semelhantes aos descritos
infectada, criando uma região clara ou uma placa nota para plasmídeos.
pete bacteriano opaco. O fago de cada placa é coletados
em um filtro de nitrocelulose (como para a placa réplica)
e o DNA é fixado ao filtro com NaOH. A localização dos E.coli crescida
em placa de agar
fragmentos de DNA clonados de interesse é determi recoberta com o
nada por hibridização do DNA ligado ao filtro com uma bacteriófago λ
recombinante
sonda marcada de DNA ou RNA, seguida de autorradio
grafia. Os bacteriófagos da placa correspondentes aos
híbridos marcados ligados ao filtro são coletados e am
plificados em bactérias, para análise posterior. O PCR
também é empregado se a sequência total ou parcial do
DNA desejado for conhecida. Nesse caso, coletam-se Placas
partes de várias placas e, se o DNA de interesse estiver
presente em uma ou mais, uma região pode ser ampli
ficada com um par de primers apropriados por PCR. O
produto do PCR é, então, detectado por eletroforese em
Fazer réplica
gel. Bibliotecas de DNA complementar em bacteriófa em nitrocelulose
gos também são construídas, contendo os braços cos do da placa de agar
fago. Se o cDNA for recombinado com DNA de fago que
permita a expressão do gene, como lgt 11, placas po Hibridizar com
dem ser examinadas imunologicamente com anticorpos sonda de 32P DNA
específicos para o antígeno de interesse. ou RNA
Fragmento de DNA
clonado
Clonando Fragmentos de DNA em
Autorradiografia de raios-X
Cosmídeos e Vetores Cromossomos
FIGURA7.20 Examinando (screening) bibliotecas
Artificiais genômicas em bacteriófago l.
E. coli competente é crescida até atingir confluência em uma
Embora o fago l seja o vetor mais comumente usa placa de agar e, depois, recoberta com o bacteriófago recom
do para construir bibliotecas de DNA genômico, o com binante. Desenvolvem-se placas onde bactérias são infectadas
primento de muitos genes excede o tamanho máximo e, subsequentemente, lisadas pelo fago l. Réplicas da placa
do DNA que pode ser inserido entre os braços do fago. podem ser feitas tocando-se a placa com um filtro de nitrocelu
Um vetor cosmídeo pode acomodar insertos de DNA lose. O DNA é desnaturado e fixado à nitrocelulose com NaOH.
estrangeiro de aproximadamente 45 kb. Cromossomos O DNA fixado é hibridizado com uma sonda marcada com 32P e
artificiais de bactéria (BACs) e cromossomos artifi exposto ao filme de raios-X. O autorradiograma identifica a(s)
placa(s) contendo o DNA recombinante de interesse.
ciais de levedura (YACs) foram desenvolvidos para clo
nar fragmentos de DNA de 100–200 e de 200–500 kb
de comprimento, respectivamente. Embora seja difícil Procedimentos de clonagem padrão e alguns méto
trabalhar com vetores cosmídeos e YACs, suas biblio dos novos são empregados para construir YACs. Frag
tecas permitem a clonagem de genes grandes com suas mentos muito grandes de DNA estrangeiro são unidos
às sequências de DNA da levedura, uma que funciona
sequências regulatórias flanqueadoras, bem como famí
lias de genes ou genes contíguos. como telômeros (extremidades distais dos braços do
cromossomo) e outra que funciona como centrômero
Vetores cosmídeos são intermediários entre vetores e como origem de replicação. O DNA do YAC recom
plasmídeos e bacteriófagos. Cosmídeos contêm um gene binante é introduzido na levedura por transformação.
de resistência a antibiótico para seleção de moléculas Os YACs construídos são projetados de modo que a
290 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
O Uso de Camundongo Transgênico com Cromossomo Artificial de Levedura (YAC) para Estudar a Doença
de Huntington
Frequentemente, é difícil ou impossível estudar a que as proteínas htt normal e mutada não estavam pre
função de uma proteína mutante na gênese de uma doen sentes nos núcleos de camundontos WT nem nos dos
ça humana. O desenvolvimento de modelos animais é camundongos Y128 com 1 mês de idade; a proteína htt
uma ferramenta valiosa para estudar doenças huma mutada foi detectada no núcleo apenas no striatum dos
nas, como a doença neurodegenerativa que aparece no camundongos Y128 com 2 meses de idade; e à medida
adulto, doença de Huntington (HD) (OMIM 143100). A que os camundongos Y128 envelheciam mais, embora
HD é causada pela expansão do trinucleotídeo CAG no um pouco de htt mutante fosse detectada nos núcleos
éxon 1 do gene HD, resultando em sequências de poli de outras regiões do cérebro, sua concentração aumen
glutamina na proteína codificada por Huntington (htt). tou e ficou maior no striatum. O striatum é a região pre
As sequências de poliglutamina resultantes parecem dominantemente afetada tanto na HD humana como
ser tóxicas para regiões específicas do cérebro. Um nos camundongos Y128 de 2 meses de idade, e o acú
modelo de camundongo transgênico foi gerado com um mulo de htt também foi correspondente à idade em que
transgene YAC contendo o gene HD humano completo defeitos motores e cognitivos foram observados pela
mais as sequências de 25 kb a montante e 120 kb a ju primeira vez nesses camundongos. Parece que o início
sante, para garantir a inclusão das regiões regulatórias da localização nuclear da proteína htt mutante no stria
endógenas. Foram criados camundongos YAC contendo tum é o principal responsável pela degeneração seletiva
46, 72 e 128 repetições CAG. O modelo transgênico com observada na HD. O mecanismo de como a proteína htt
YAC 128 refletiu melhor a doença humana. Esses ca mutante exerce seus efeitos tóxicos quando localizada
mundongos apresentaram déficit motor e cognitivo se no núcleo é desconhecido, mas acredita-se que envolva
melhante aos observados no homem. A proteína htt tipo modificação da expressão gênica e possivelmente ativa
selvagem é encontrada principalmente no citoplasma, ção de apoptose.
enquanto a proteína mutante localiza-se no núcleo. A
avaliação com anticorpos anti-htt dos tecidos cerebrais Van Raamsdonk, J. M., Warby, S. C., and Hayden, M. R.
de camundongos tipo selvagem (WT) e de camundon Selective degeneration in YAC mouse models of Huntington
gos Y128 com 1 mês e 2 meses de idade demonstrou Disease. Brain Res. Bull. 72: 124, 2007.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 291
Subclone
HindIII BglI Transformar
bactéria
uma Plasmídeo
com
Uma biblioteca
sonda
a sequência de em
defago
DNAl ou
interesse. éOexaminada
RNA sele-
DNA para BamHI
é feito, eéum
cionado clonado,
pequeno
o mapa
segmento
de restrição
é sub- Sonda marcada com 32P 1aBglI E.coli
1a Purificarefazernicktranslation
lation. emeum
clonado Essa
purificado marcado
sonda
plasmídeo,
marcada
por amplificado,
nické, trans-
então,
ma
para
das
postas.
periores,
o DNA
DNA. uma
sobreposição,
maneira
procurar
Sesubclonado
Emdeve-se
muitas genomas
que
éoutrasnão
então
o ter
clone
sequências
sonda desequências
cuidado
de
tratado
de
contenha
DNA dainicial,
eucariotos
DNA para uma
sobre-
repetitivasmes-
subclonadoque
su-
de Amplificar por infecção
Gene 1 1a
Clones sobrepostos
em fagoλ
1a Gene 2 2a Gene 3 3a
transcrever um gene (p. 319). O mRNA transcrito de monal aberrante ou ausente. A Figura 7.22 mostra um
um gene eucariótico recombinante, entretanto, não é plasmídeo vetor generalizado para a expressão de um
traduzido em um sistema bacteriano porque não tem a gene de mamífero. Lembre-se que o gene inserido deve
sequência de reconhecimento bacteriano, a sequência estar na forma de cDNA de seu mRNA correspondente,
Shine-Dalgarno, necessária para orientá-lo adequada uma vez que o sistema bacteriano é incapaz de remover
mente em um ribossomo bacteriano funcional. Vetores íntrons do pré-mRNA transcrito. O DNA deve ser inse
de expressão facilitam a transcrição funcional de in rido em registro com os códons da extremidade 3! da
sertos de DNA. Um gene estrangeiro pode ser inserido proteína bacteriana quando se cria a proteína de fusão.
em um desses vetores a jusante de um promotor regu Isto é, a inserção deve ocorrer após um códon triplete
lado, mas dentro de um gene bacteriano, comumente o da proteína bacteriana e no começo de um da proteína
gene lacZ. O mRNA transcrito do DNA recombinante eucariótica para garantir tradução correta. Finalmente,
contém a sequência Shine–Dalgarno do lacZ, códons para gerar um transcrito funcional, o gene estrangeiro
de uma parte da extremidade 3! da proteína lacZ, se deve ser inserido na orientação correta em relação ao
guidos por códons do gene estrangeiro de interesse promotor. Isso pode ser conseguido por clonagem di
completo. O produto proteico é uma proteína de fusão, recional.
que contém alguns aminoácidos N-terminais da pro
teína lacZ e a sequência completa do produto proteico Proteínas eucarióticas sintetizadas em bactérias são
estrangeiro. frequentemente instáveis e são degradadas por protea
ses intracelulares. Proteínas de fusão, entretanto, são
geralmente estáveis. Os aminoácidos codificados pelo
Genes Estrangeiros Expressos em genoma procariótico podem ser clivados da proteína
de fusão purificada por procedimentos enzimáticos ou
Bactérias Permitem Síntese de suas químicos. Uma estratégia para contornar a instabilida
de intracelular de algumas proteínas é produzir uma
Proteínas Codificadas proteína estrangeira que seja secretada. Isso requer a
Muitos vetores plasmídeos e bacteriófagos permitem clonagem do gene estrangeiro em um vetor tal que a
a expressão de genes eucarióticos em células bacteria proteína de fusão sintetizada contenha um peptídeo
nas. Bactérias em replicação rápida tornam-se uma fá sinal que seja reconhecido pela peptidase sinal bacte
brica biológica para produzir grandes quantidades de riana, que processa adequadamente a proteína para
proteínas específicas, que têm valor em pesquisa, bem secreção.
como clínico e comercial. Como exemplo, tecnologias
recombinantes produziram hormônios proteicos huma
nos para tratamento de pacientes com produção hor
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 293
cabilidade do vetor. São usados elementos de controle dores de seleção, tanto em células bacterianas como de
derivados de vírus com uma ampla faixa de hospedei mamíferos.
ros, por exemplo, papovavírus, vírus símio 40 (SV40),
vírus do sarcoma de Rous e citomegalovírus humano. Genes Estrangeiros Expressos em Células
O vetor deve conter uma sequência de origem de re Eucarióticas Transformadas por Vírus
plicação viral (ori). Fatores proteicos específicos, co
dificados por genes inseridos no vetor ou introduzidos A Figura 7.23 mostra a expressão transitória de um
previamente no genoma do hospedeiro, reconhecem e gene transfectado em células COS, um sistema comu
interagem com a sequência ori para iniciar a replicação mente usado para expressar genes eucarióticos estran
do DNA. geiros. As células COS são células de símio cultivadas,
que foram transformadas com um genoma de SV40 com
Seleção de Células Eucarióticas origem defectiva. O genoma viral defectivo foi integrado
ao genoma da célula hospedeira e expressa constante
Transfectadas Usando Células Mutantes e
mente proteínas virais.
Nutrientes Específicos
É importante crescer seletivamente as células trans
fectadas, uma vez que elas frequentemente represen
tam apenas 10–20% da população celular. Um gene que Genoma
normal
confere resistência a uma droga ou confere capacidade
Núcleo
seletiva de crescimento pode ser incorporado a uma cé CV1 Célula
lula. Isso se consegue por cotransfecção, na qual dois
vetores diferentes são eficientemente captados por cé
lulas, um que carrega o marcador de seleção e outro
que carrega o gene de interesse. Na maioria dos casos,
Vírus SV40
mais de 90% das células transfectadas carregam am defectivo na origem
bos os vetores. Dois marcadores de seleção comumente
DNA de
empregados são os genes da timidina quinase (tk) e da SV40
di-hidrofolato redutase (dhfr). A timidina quinase é ex mRNA
pressa na maioria das células de mamíferos, nas quais
COS 1
participa da via de recuperação (salvage) de timidinas.
Proteínas
Estão disponíveis várias linhagens de células mutantes, de SV40
que não apresentam um gene funcional de timidina qui
DNA estrangeiro
nase (tk–) e não sobrevivem em meio de cultura conten Células transfectadas de interesse
do hipoxantina, aminopterina e timidina. Só as células com um plasmídeo de
mutantes tk– cotransfectadas com um vetor carregando expressão recombinante,
contendo
ori selvagem
SV40
o gene tk, geralmente originário do vírus herpes sim ori
plex, crescerão no meio. Na maioria dos casos, essas SV40 tipo selvagem
Vírus infectantes, que são normalmente líticos para que pode ser conveniente e rapidamente identificada.
células infectadas, não são produzidos porque a origem Um gene repórter comumente usado é o gene da clo
de replicação viral está defectiva. As proteínas de SV40 ranfenicol acetiltransferase (CAT) de bactérias. Essa
expressas pela célula COStransformada interagem com enzima acetila e inativa cloranfenicol, um inibidor de
uma ori SV40 normal presente em um vetor transfecta síntese proteica em células procarióticas. O efeito de
do e, assim, promovem a replicação repetida do vetor, um elemento regulatório sobre a expressão do gene
que pode chegar ao número de 105 moléculas/célula. CAT pode ser então determinado. O elemento regulató
Células COS transfectadas morrem após 3–4 dias, pos rio pode ser mutado antes da inserção no vetor que car
sivelmente em virtude da sobrecarga tóxica do DNA rega o gene repórter, para determinar suas exigências
epissômico do vetor. espaciais e de sequência.
Elementos regulatórios podem não ter sítios de en pla-fita que pode ser transferido para E. coli susceptível,
donucleases de restrição. Em tais casos, mutações por onde a fita de DNA mutado serve de molde para novas
deleção são feitas pela linearização do DNA clonado por fitas (+), que carregam o nucleotídeo mutado.
clivagem com endonuclease de restrição à jusante da se
quência regulatória. O DNA é, então, sistematicamente
RE1 Elemento
truncado com uma exonuclease, que remove nucleotíde potencialmente
os a partir das extremidades livres de ambas as fitas do regulatório
DNA linearizado. Digestão mais longa gera fragmentos
de DNA menores. A Figura 7.25 demonstra como muta
ções maiores por deleção (gerando fragmentos meno DNA DO DNA
res) podem ser testadas quanto à atividade funcional. VETOR CLONADO
A hidrólise do DNA ocorre em ambas as extremidades
do vetor linearizado e destrói o sítio de endonuclease
de restrição original (RE2). Um sítio de endonuclease de
restrição único é restabelecido para circularizar nova Linearizar
RE2
com
mente a molécula de DNA truncada, para manipulações RE2
posteriores visando avaliar a função da sequência dele
tada. Isso é feito por ligação das extremidades retas com RE2 RE1 RE2
um DNA linker, um oligonucleotídeo sintético contendo
um ou mais sítios para endonucleases de restrição. Os
Digerir com
linkers ligados são cortados com a enzima apropriada, exonuclease Bal 31 por
permitindo a recircularização e a ligação do DNA. tempos crescentes
As placas de bacteriófago, que contêm o DNA mu uma molécula de plasmídeo recombinante mutada,
tado, são examinadas por hibridização com uma son com falhas (nicks) nas duas fitas. A mistura de reação
da marcada do oligonucleotídeo original carregando o é então tratada com uma endonuclease, Dpn-1, que di
nucleotídeo alterado. Ajustando-se a temperatura de gere seletivamente o DNA parental metilado (não-mu
lavagem da sonda hibridizada, apenas os híbridos com tado). Os plasmídeos remanescentes do DNA mutado
pareamento perfeito permanecerão complexados clivado (não-metilados) são transformados em células
com o DNA mutado, enquanto os oligômeros com nu competentes, que ligam a falha e replicam os plasmí
cleotídeo pareado erroneamente se dissociarão do DNA deos recombinantes mutados.
tipo-selvagem.
Ácidos Nucleicos
+Dpn 1
Complementares
DNA parental hidrolizado
com Dpn 1, uma endonuclease
(Antisense) em Pesquisa e
Terapêutica
Ácidos nucleicos complementares ou
antisense (RNA ou DNA) são usados para
Transformado
em E.coli competente estudar a expressão intracelular e a função
de proteínas específicas. Os ácidos nuclei
cos antisense naturais e sintéticos, que
são complementares a mRNA, inativam-no
e bloqueiam a tradução. Existem centenas,
talvez milhares, de microRNAs diferentes
(RNA antisense) codificados no genoma
humano. Cada tipo celular expressa dife
rentes combinações desses microRNAs
FIGURA7.28 Mutagênese sítio-dirigida de DNA fita-dupla. que regulam seletivamente a expressão
Uma molécula de DNA recombinante pode ser mutada em um sítio selecionado gênica em nível de RNA. RNAs antisense
por meio de síntese de primers complementares que contêm um nucleotídeo tanto naturais como sintéticos são proces
que não é complementar à fita de DNA parental, mas que são complementares sados pela, ou associados com o complexo
entre si. Os primers são estendidos por PCR deixando falhas (nicks, X) em cada proteico RISC (RNA-induced silencing
fita que é ligada após transformação em E. coli competente. O DNA parental
complex, completo silenciador induzido
metilado (Me) é removido por hidrólise com a endonuclease Dpn 1, antes da
transformação. por RNA), que apresenta o RNA antisen
se 21 oligomérico (21-mero) ao RNA sense
(geralmente mRNA), e as fitas complementares hibridi
7.10 APLICAÇÕES DA zam. O RNA sense/antisense é então reconhecido para
destruição/inibição (RNA de interferência [RNAi]). Os
TECNOLOGIA DO DNA RNAs naturais ou sintéticos maiores do que 21-mero
RECOMBINANTE devem ser hidrolisados até o tamanho apropriado por
uma enzima chamada Dicer, resultando no RNA peque
Os métodos do DNA recombinante são aplicáveis a no de interferência (siRNA, small-interfering RNA).
numerosas disciplinas biológicas, incluindo agricultura, A introdução estável de siRNA em células pode reduzir
estudos de evolução, biologia forense e clínica médica. permanentemente ou nocautear a expressão de genes
A engenharia genética pode introduzir proteínas novas específicos. As tecnologias de RNAi estão sendo atual
ou alteradas em grãos (por exemplo, milho), de modo mente usadas em vários laboratórios como ferramenta
que eles contenham aminoácidos essenciais para o ho- de pesquisa para elucidar a função de genes específicos
mem, mas frequentemente ausentes de proteínas vege e por muitas companhias farmacêuticas e de biotecno
tais. Toxinas letais a insetos específicos, mas inócuas ao logia para desenvolver terapêuticas baseadas em RNAi.
homem, podem ser introduzidas em grãos para protege A introdução de ácidos nucleicos antisense em células
rem as plantas, evitando assim o uso de pesticidas que abriu novas possibilidades para explorar como proteí
agridem o meio ambiente. O DNA isolado de células do nas seletivamente reprimidas funcionam nessa célula.
líquido amniótico de uma mulher grávida pode ser ana Esse método também é muito promissor no controle de
lisado quanto a doenças genéticas no feto. Quantidades infecções virais. A tecnologia antisense e a mutagêne
minúsculas de DNA de amostras biológicas preservadas se sítio-dirigida são partes da genética reversa (do gene
em antigos depósitos de alcatrão ou em tundras con para o fenótipo), que modifica seletivamente um gene
geladas foram amplificadas e sequenciadas para estu para avaliar sua função, enquanto a genética clássica
300 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
depende do isolamento e da análise de células que con recentemente que RNAs antisense dupla-fita ligeira
têm mutações aleatórias que possam ser identificadas. mente maiores, que são substratos para a Dicer, são ini
Um segundo uso do termo genética reversa refere-se ao bidores mais eficientes da expressão gênica. Acredita
mapeamento e, no final, à clonagem de um gene huma -se que isso se deva à participação da Dicer na formação
no associado com uma doença para a qual os agentes do complexo RISC (Correlação Clínica 7.11B).
moleculares são ainda desconhecidos.
5!
5!
3!5!3! RNA antisense
O uso de RNA pequeno de interferência, siRNA A maioria das drogas vendidas atualmente, que agem
(RNA antisense) para regular a expressão gênica de no Sistema Nervoso Central (SNC), é dirigida para o tra
proteínas do HIV-1 em células doentes requer a entrada tamento de dor. As duas classes principais de analgésicos
eficiente do siRNA nas células alvos. Um aptâmero foi são as drogas opioides e os anti-inflamatórios não-este
engenheirado para reconhecer e se ligar seletivamente roídicos. Frequentemente, porém, essas drogas não são
a gp120 (glicoproteína 120). A gp120 é uma proteína efetivas ou perdem sua potência no tratamento de dor
do HIV-1 que é expressa na membrana de células infec crônica. Demonstrou-se em um modelo que o receptor
tadas. Um aptâmero é uma molécula de ácido nuclei acoplado a proteína G NTS2, no SNC, está envolvido na
co capaz de se ligar seletivamente a moléculas alvos, transmissão da dor. O RNAi (RNA de interferência) foi
como proteínas específicas. Moléculas quiméricas de empregado para diminuir a expressão do gene NTS2 em
aptâmero anti-gp120 e anti-tat/rev siRNA foram produ camundongos. Descobriu-se que o uso de um 27-mero
zidas por ligação covalente das duas espécies. O siRNA (RNA antisense do mRNA de NTS2) que serviria como
era um 27-mero que serve de substrato para a Dicer. O siRNA substrato da Dicer (DsiRNA) suprimiu eficiente
aptâmero-siRNA foi captado seletivamente pelas célu mente a expressão de NTS2. O DsiRNA foi suspenso em
las infectadas por HIV-1 expressando dp120. O siRNA um lipídeo catiônico, i-Fect, e administrado na coluna
27-mero foi então processado intracelularmente pela espinal do rato por injeção intratecal. A administração
Dicer gerando um siRNA 21-mero inibitório anti-tat/rev. de uma dose baixa de DsiRNA melhorou a dor por até 3-4
O nocaute da expressão dos genes do HIV-1 tat/rev, jun dias, correspondendo à redução da expressão da pro
tamente com o efeito antiviral do aptâmero anti-gp120, teína receptora NTS2 no mesmo período de tempo. Esse
teve um efeito inibitório combinado sobre a replicação tipo de tratamento com DsiRNA pode, finalmente, ajudar
do HIV-1. O uso de quimeras aptâmero-siRNA é muito a reduzir a dor crônica intratável no homem.
promissor para o tratamento sistêmico de infecções por
HIV e outras doenças que apresentam marcadores de Zhou, J. I., Li, H., Li, S., Zaia, J. e Rossi, J. J. Novel dual inhi
superfície como potenciais alvos. bitory function aptamer-siRNA delivery system for HIV-1 the
rapy. Mol. Therapy 16:1358, 2008. Dore-Savard, L., Roussy, G.,
Dansereau, M. A., Collingwood, M. A. et al. Central delivery of
Dicer-substrate siRNA: A direct application for pain research.
Mol. Therapy 16:1331, 2008.
que é dirigido pelo sistema retroviral de integração. A plas cópias do gene são microinjetadas no pró-núcleo
integração, entretanto, é geralmente um evento alea do óvulo fecundado. O DNA estrangeiro se insere alea
tório que pode ter consequências deletérias. Estudos toriamente no DNA cromossômico. Se um inserto in
indicam que a maquinaria de integração viral é seleti terromper um gene celular crítico, o embrião morrerá.
vamente direcionada a sequências alvos específicas no Geralmente, eventos mutagênicos não-letais resultam
DNA do hospedeiro por interações proteína-proteína, da inserção do DNA estrangeiro no cromossomo.
para evitar esses problemas em potencial.
Animais transgênicos vêm sendo usados atualmente
Animais Transgênicos para estudar os elementos regulatórios no DNA, a ex
pressão de proteínas durante a diferenciação, a espe
Para investigar o papel de um produto gênico especí cificidade tecidual e o papel de produtos de oncogenes
fico no crescimento e no desenvolvimento de um animal sobre crescimento, diferenciação e indução de tumori
inteiro, o gene deve ser introduzido no óvulo fecundado. gênese. Tais tecnologias devem permitir substituir ge
Genes estrangeiros podem ser inseridos no genoma de nes defeituosos no embrião em desenvolvimento (Cor
um óvulo fecundado. Animais que se desenvolvem a par relação Clínica 7.13).
tir de tal óvulo fecundado carregam o gene inserido em
todas as células e são chamados animais transgênicos. Camundongos Knockout
A Figura 7.30 delineia um método popular para criar A criação de um animal com um gene específico des
animais transgênicos. O gene de interesse é geralmen truído em todas as células permite aos pesquisadores
te uma molécula de DNA recombinante clonada com definir a função biológica do gene, se sua perda não for
seu próprio promotor ou é clonada com um promotor letal. Os princípios básicos por trás da criação de um ca
diferente, que pode ser regulado seletivamente. Múlti mundongo null, ou knockout, envolvem a inativação de
302 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Terapia Gênica: Genes Normais Podem Ser Introduzidos em Células com Genes Defectivos
A. Terapia gênica para tratar a doença da imunodefi do que o observado em estudos anteriores. Ambos os
ciência combinada severa (SCID) (OMIM 102700) bebês tiveram seus sistemas imunes normalizados o
suficiente após 3 meses para deixarem o isolamento
Mais de 4.000 doenças genéticas são conhecidas,
protetor do hospital.
muitas das quais são debilitantes ou fatais. A maioria
é, no momento, incurável. Com o advento de novas Uma moratória sobre a terapia gênica para SCID-X1
tecnologias de biologia molecular, a aplicação clínica foi introduzida em 2003 pela indução de uma síndrome
da transferência de genes e da terapia gênica está se tipo-leucemia em 2 das 14 crianças europeias tratadas
tornando uma realidade. Doenças que resultam de uma para essa doença. A leucemia de células T foi causada
deficiência da adenosina desaminase (ADA) ou de pela inserção retroviral e up-regulation do gene LMO2
uma mutação no gene que codifica uma subunidade de que codifica um fator de transcrição necessário para
vários receptores de citocinas, γc, são apenas duas das hematopoiese. Espera-se que modificações futuras no
muitas doenças genéticas que podem ser completamen vetor usado para a terapia gênica possam evitar a apa
te curadas pela terapia gênica. rente inserção preferencial do retrovírus próximo a ge
nes ativos.
ADA é importante na recuperação de purinas, ca
talisando a conversão de adenosina em inosina ou de
soxiadenosina em desoxiinosina. Ele contém 363 ami
noácidos e tem atividade mais alta no timo e em outros B. Terapia gênica para tratar a Amaurose Congênita de
tecidos linfoides. Mais de 30 mutações no gene ADA es Leber
tão associadas com a doença da imunodeficiência com Um interessante uso da terapia gênica foi recente
binada severa (SCID, severe combined immunodefi mente relatado para corrigir a função visual na amau
ciency disease), uma doença autossômica recessiva.
As crianças imuno-comprometidas geralmente morrem rose congênita de Leber, que representa múltiplas
formas de distrofias graves de bastonetes-cones, here
nos primeiros anos de vida, em decorrência de fortes in ditárias recessivas de início na infância. Uma proteí
fecções. A primeira terapia gênica autorizada no homem na de 65 kD é um componente chave do ciclo visual e
começou em 14 de setembro de 1990, com o tratamento
é codificada pelo gene RPE65 no epitélio pigmentado
de uma menina de 4 anos de idade com deficiência de da retina. Um gene RPE65 não-funcional causa uma
ADA. As células T do sangue periférico da paciente fo
perda de 11-cis retinal, que é necessário para que as
ram cultivadas com fatores de crescimento adequados.
células fotorreceptoras vermelhas respondam à luz.
O gene ADA foi introduzido nessas células por trans
Parece que crianças possuem uma via alternativa para
ferência gênica mediada por retrovírus. Um retrovírus
a disponibilidade de 11-cis retinal, que desaparece à
modificado foi construído para conter o gene ADA hu
medida que ficam mais velhas. As crianças com a do
mano, de modo que ele fosse expresso em células hu
manas sem replicação viral. As células T modificadas, ença têm função visual que diminui com a idade, com
a degeneração progressiva das células cones fotorre
carregando um gene ADA normal, foram então rein
ceptoras. Três pacientes (idades 17–23) receberam
troduzidas na paciente por transfusão autóloga. Níveis
a administração cirúrgica de um vetor viral adeno
de ADA de apenas 10% do normal são suficientes para
-associado recombinante contendo a sequência codi
normalizar o paciente. A paciente, 10 anos mais tarde e
ficadora do RPE65 humano, no espaço subretinal de
com a idade de 13 anos, estava viva e bem, e mantinha um olho. No momento da cirurgia, todos os pacientes
células T gene-corrigidas em um nível de 20–25% do
tinham alguma função visual com boa iluminação,
total de células T. mas visão limitada ou nenhuma com pouca luz. Os re
A doença hereditária ligada ao X, SCID-X1, resulta sultados desse estudo indicam que pacientes com de
no bloqueio da diferenciação de linfócitos T e natu generação avançada de células cones fotorreceptoras
ral killer (NK). SCID-X1 resulta de uma mutação na obtêm modesta melhora na função visual com terapia
subunidade γc do receptor de citocinas, comum aos gênica com RPE65. Postula-se que tal terapia gênica
receptores das interleucinas 2, 4, 7, 9 e 15. A metodo em pacientes mais jovens traga mais benefícios do que
logia do tratamento, para pacientes de 8 e 11 meses em adultos.
de idade, foi semelhante à empregada em pacientes
Blaese, R. M., Progress toward gene therapy. Clin. Im
SCID com deficiência de ADA; essa doença tende a ser mun. Immunopath 61:574, 1991; Mitani, K., Wakamiya, M.
menos grave do que SCID-X1. Os estudos de SCID-X1 e Caskey, C. T. Long-term expression of retroviral-transdu
transduziram células-tronco CD34+ com um vetor re ced adenosine deaminase in human primitive hematopoietic
troviral carregando o cDNA γc normal. Isso resultou progenitors. Human Gene Therapy 4:9, 1993; Anderson,
em um nível muito mais alto de transdução do gene W. F. The best of times, the worst of times. Science 288:627,
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 303
2000; Cavazzana-Calvo, M., Hacein-Bey, S., de Saint Basile, 2003; Bainbridge J. W., Smith, A. J., Barker, S. S. Robbie,
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Hacein-Bey, S., VonKalle C., Schmidt, M., McCormack, N. P. Maguire, A. M., Simonelli, F., Pierce, E. A., Pugh, E. N., Jr. et
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patients after gene therapy for SCID-X1. Science 302:415, amaurosis. N. Engl. J. Med. 358:2240, 2008.
A população homogênea de
células ES com o gene
“deletado” é expandida
FIGURA7.31 Geração de um
camundongo knockout.
Células embrionárias em cultura podem
ser manipuladas pela tecnologia de re
combinação para conterem um gene de
Cruzamento para fectivo ou “deletado”. As células alteradas
obter o filhote raro podem ser introduzidas em um blastocisto
com o gene alterado
que é, então, implantado numa mãe ado
em suas células
Implante do blastocisto Camundongo germinativas Filhotes inteiramente tiva. Filhotes que têm o gene “deletado”
em mãe adotiva albina quimérico identificado pretos com o gene não-funcional em todas as suas células
visualmente, com alterado podem, então, ser selecionados – o animal
pelos pretos
knockout.
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 305
Dolly foi morta por eutanásia em 2004 em decorrên se diferenciar em todos os tipos de células do corpo.
cia de uma doença progressiva de pulmão associada Essas células poderiam ser induzidas a formar células
com o que parecia ser um processo de envelhecimento normais de qualquer tecido, para substituir tecidos de
prematuro. Não está claro se esses defeitos resultaram fectivos em pacientes.
do processo de clonagem e/ou de fatores ambientais.
Entretanto, as técnicas de clonagem continuam a ser Células-troncos embrionárias são células pluripo
exploradas com a expectativa de que tenham grande tentes que podem se desenvolver em qualquer tipo de
valor terapêutico. Recentemente uma fêmea de camun célula do organismo, em presença de ambiente e de
dongo foi criada a partir de dois óvulos de fêmeas, con moléculas sinalizadoras corretos. Muitas esperanças e
tornando um processo chamado de imprinting. O im preocupações éticas surgiram em torno do desenvolvi
printing determina que alguns genes ativos devem ser mento e uso de células-troncos embrionárias para o tra
doados pela mãe e outros, pelo pai. Normalmente em tamento de muitas doenças humanas. Estudos recentes
briões de mamíferos engenheirados com dois conjuntos demonstraram que células somáticas humanas podem
de cromossomos de fêmea ou macho não se desenvol ser reprogramadas para se tornarem células-troncos
vem. O camundongo fêmea criado a partir de duas mães tipo-embrionárias, pluripotentes. A introdução estável
viveu até a idade adulta e teve sua própria ninhada de de quatro fatores de transcrição, Oct 4, Sox2, Klf4 e
filhotes. Myc, em células somáticas de camundongo ou huma
nas por vetores virais resultou na formação de células
Com o sucesso da criação da Dolly e o isolamento -troncos pluripotentes induzidas (iPS). Embora muito
de células-troncos embrionárias humanas (hESC), os trabalho seja necessário para demonstrar a segurança
cientistas começaram sua luta para combinar as duas de usar essas células iPS para o tratamento clínico de
técnicas, para criar células-troncos embrionárias gene doenças, seu potencial é enorme. Além disso, células
ticamente ajustadas a um paciente específico, a clona iPS podem ser paciente-específicas para eliminar qual
gem terapêutica. Um passo importante nessa direção quer resposta imune.
foi dado pelo esforço hercúleo de se criar uma única
linhagem de hESC derivada de uma blástula clonada.
A blástula clonada foi criada por inserção do núcleo de DNA Recombinante em Agricultura
uma célula de cumulus humana (células que ficam em Tem Impacto Comercial
torno do óvulo no ovário) em um óvulo humano anu
cleado, e este foi colocado em um ambiente químico Talvez o maior ganho para a humanidade seja o
adequado para induzir a replicação. A linhagem hESC uso prático da tecnologia recombinante para a melho
cresce normalmente em cultura e poderia ser capaz de ria agrícola de grãos. Devem ser identificados e isola
306 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
dos os genes que codificam propriedades como maior 7.11 GENÔMICA, PROTEÔMICA
produtividade em grãos, crescimento rápido da planta,
resistência a condições adversas como períodos áridos E ANÁLISE POR
ou frios, e o tamanho da planta. Novos genes, não co
muns em plantas, podem ser engenheirados em plantas MICROARRAY
para conferir resistência a insetos, fungos ou bactérias.
Genômica é o estudo das características molecula
Finalmente, genes de proteínas estruturais podem ser res do genoma inteiro. Inclui a sequência do genoma,
modificados para conter aminoácidos essenciais que a identificação dos genes e de suas sequências regu
não estão normalmente presentes, sem modificar a fun
latórias, além do padrão de expressão gênica. Dúzias
ção da proteína. A produção de plantas com novas pro
de genomas procarióticos e eucarióticos, bem como
priedades genéticas requer a introdução de genes em mais de mil vírus, foram sequenciados (Tabela 7.1). O
células da planta que podem se diferenciar em plantas sequenciamento de numerosos genomas de micróbios
inteiras. marinhos adicionou recentemente cerca de um mi
A nova informação genética presente em plasmídeos lhão de novos genes aos 180.000 genes documentados.
da galha da coroa (crown gall) pode ser introduzida Estima-se que existam mais de 10 bilhões de genes no
em plantas infectadas com bactérias de solo conheci repertório da Terra. Um único gene pode dar origem
das como agrobactérias. Agrobactérias naturalmente a múltiplas espécies de proteínas em virtude da esco
lha do splicing do RNA transcrito e do processamento
contêm um plasmídeo da galha da coroa ou Ti (indutor
de tumor), cujos genes integram-se em um cromosso pós-tradução variável da proteína produzida. O comple
mo da célula infectada. Os genes do plasmídeo levam a mento de proteínas de uma célula é chamado de proteo
célula de planta hospedeira a produzir novas espécies ma. Proteômica é o estudo das proteínas expressas em
de aminoácidos chamados opinas (como, por exemplo, tecidos em várias condições, interações de proteínas
os aminoácidos derivados de arginina e piruvato, octo e modificações de proteínas. A Correlação clínica 7.15
pina, ou arginina e α-cetoglutarato, nopalina), que são descreve como a proteômica tem sido usada para diag
necessários para o crescimento bacteriano. Uma galha nosticar estágios iniciais de câncer por identificação de
da coroa, ou massa tumoral de células indiferenciadas biomarcadores associados a tumor.
de plantas, desenvolve-se no local da infecção bacteria
na. Novos genes engenheirados no plasmídeo Tipodem
ser introduzidos em células de plantas na infecção com Análise de Microarray
a Agrobactéria. As células podem, então, ser crescidas
A análise de genomas e proteomas foi muito facili
em cultura e induzidas a rediferenciar em plantas intei tada pelo desenvolvimento das tecnologias de micro
ras. Cada célula poderia conter a nova informação gené
matrizes ou microarrays desenvolvidas primeiro para
tica e representaria uma planta transgênica. analisar ácidos nucleicos. A hibridização de ácidos nu
Algumas limitações na produção de plantas com cleicos e a formação de complexos antígeno-anticorpo
propriedades genéticas melhoradas devem ser supera têm sido intensamente empregadas nas técnicas des
das antes que significativo avanço no suprimento de ali critas nas seções anteriores para a análise de uma ou
mentos para o nosso mundo possa ser realizado. É claro, algumas poucas espécies macromoleculares. Entre
genes de características desejadas devem ser identifica tanto, técnicas com um rendimento alto são neces
dos e isolados. Grãos importantes como milho e trigo sárias para analisar simultaneamente as centenas ou
também não podem ser transformados por plasmídeos milhares de genes expressos em uma célula. As técni
cas de microarray dependem das mesmas interações
Ti; portanto, outros vetores devem ser identificados. Foi
thern,
macromoleculares
Northern e descritas
Western blots.
anteriormente da sonda
A fixação em Sou-
alcançado um sucesso significativo no desenvolvimento
de plantas de grãos resistentes a insetos e vírus. Re
centemente, engenheiros genéticos inseriram um gene de DNA a superfícies sólidas impermeáveis reduz os
estrangeiro em plantas de ervilha para produzir uma volumes das soluções e os tempos necessários para hi
proteína que inibe a alimentação de larvas de gorgulho bridização. Microarrays de DNA são produzidos por
(ou broca) com sementes de ervilha. Isso permitirá o adições, controladas por computador, de microgotas
armazenamento de ervilhas e outras sementes de le de sequências de DNA clonadas ou sintetizadas por
PCR, a uma lâmina de vidro com um substrato poli-L
gumes sem a necessidade de proteção com fumigantes
químicos (atualmente, fazendeiros brasileiros perdem -lisina ao qual essas sondas de DNA ficam covalente
20–40% de seu feijão armazenado em decorrência de mente ligadas. O DNA ou o RNA a ser analisado é mar
pestes). cado isotopicamente ou por fluorescência e, depois, é
hibridizado com as sondas fixadas sobre a superfície
do vidro (Figura 7.32). Reações positivas são detec
tadas e quantificadas por imagem de alta-resolução e
análise em computador. Muitos microarrays de DNA
estão disponíveis que focalizam genes selecionados
envolvidos em processos discretos ou em vias como a
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 307
TABELA 7.1 Uma Lista Parcial de Espécies Procarióticas e Eucarióticas Cujos Genomas Foram Sequenciados
Espécie Tamanho do Genoma
Procariotos
(mais de 100 micróbios) Hemophilus influenzae 1,83 Mb
Chlamydia pneumoniae 1,23 Mb
Neisseria meningitides 2,27 Mb
Vibrio cholerae 4,0 Mb
Número de cromossomos
Eucariotos simples Saccharomyces cerevisiae (levedura) 16
Plasmodium falciparum (protozoário da malária) 14
Anopheles gambiae (pernilongo) 3
Drosophila melanogaster (mosca de fruta) 5
Plantas Avena sativa (aveia) 7
Hordeum vulgare (cevada) 7
Oryza sativa (arroz) 12
Zea mays (milho) 10
Vertebrados Danio rerio (peixe paulistinha) 25
Gallus gallus (galinha) 39
Mus musulus (camundongo) 21
Rattus norvegicus (rato) 22
Homo sapiens (homem) 24
transdução de sinal e a apoptose. Um exemplo especí podem ser facilmente deduzidos a partir dessa imagem
fico de expressão gênica alterada em células infecta única, uma vez que muitos genes podem ser ligados ou
das por malária é apresentado na Figura 7.33. desligados por vias subsequentes durante a transição
para o estado celular final. Genes corregulatórios envol
DNA oligonucleotídeos (geralmente com 20 ou mais vidos na mudança entre diferentes estados metabólicos
bases) também podem ser sintetizados sobre microma ou de doenças poderiam ser determinados por análise
trizes fixadas a uma lâmina de vidro. O tamanho da mi de microarray em múltiplos pontos no tempo, entre
cromatriz pode variar de 1 × 10 × 5 μm a 100 × 100 × os estágios inicial e final da expressão gênica alterada.
20 μm. Milhares de oligonucleotídeos diferentes, cada A análise computacional de microarrays gerados ao
um complementar a um gene específico, podem serimo longo do tempo podem agrupar genes que parecem ser
bilizados no que é chamado um chip de DNA. Um único expressos coordenadamente. Análise de grupos (clus
chip microarray para o genoma humano, que estará ters) permite a identificação de genes com potencial
disponível comercialmente, contém 1 milhão de sondas para corregularem a alteração da célula de um estado
oligonucleotídicas. Esse chip de DNA detectará cerca para outro.
de 50.000 RNA transcritos de aproximadamente 30.000
genes humanos. Esses microchips biológicos são com Os microarrays de proteínas são produzidos com
paráveis a microchips eletrônicos, uma vez que ambos anticorpos ou proteínas não-anticorpos fixados a lâmi
são capazes de executar múltiplas reações em paralelo nas ou filtros que podem capturar proteínas alvos em
com alta eficiência. uma amostra, de modo similar aos usados em micro
arrays de DNA. Outras sondas proteicas estão sendo
Os microarrays permitem a análise da expressão desenvolvidas para microarrays de proteínas como
do genoma inteiro ou de genes de uma via seleciona sequências sintéticas curtas de DNA ou RNA (aptâ
da. Os genes expressos em um tecido específico, ou em meros) que ligam seletivamente proteínas específicas.
um determinado estado metabólico ou doença, pode As matrizes de proteínas são geralmente produzidas
riam dar indicações sobre quais genes estão ativos na com proteínas recombinantes que podem ser geradas
condição específica. Infelizmente, uma única placa de a partir de bibliotecas de expressão de cDNA tecido
microarray dá uma fotografia estática dos genes genô -específicas. Esses microarrays podem, então, ser ra
micos expressos em uma condição em particular. Genes pidamente analisados com anticorpos específicos com
regulatórios envolvidos na expressão alterada final não marcador fluorescente. Essa abordagem foi empregada
308 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
A. Análise de Micromatrizes de Ácidos Nucleicos no guns exemplos de RTKs incluem os receptores dos fa
Câncer de Mama tores de crescimento EGFR, PDGFR e VEGFR. Desco
briu-se que múltiplos RTKs ativam PI3K no GBM pela
A modalidade de tratamento de pacientes com câncer análise de extratos de células tumorais incubados com
de mama depende, em grande parte, do estado do re matrizes de anticorpos contra RTK. Aqui os anticor
ceptor de estrógeno (ER) nas células tumorais. Tumores pos, específicos para muitos RTKs, são fixados a um
receptor de estrógeno-positivos geralmente respondem suporte sólido e se ligarão aos RTKs celulares. O RTK
bem à terapia adjuvante com hormônio ou com droga, ativado presente no extrato celular é fosforilado em
enquanto tumores ER-negativos geralmente não. Pa resíduos de tirosina que são facilmente detectados no
cientes com tumores ER-negativos têm respostas va complexo RTK-anticorpo por um segundo anticorpo
riáveis à quimioterapia, e não há indicadores conhecidos conjugado com peroxidase de raiz forte (HRP) con
para prever o prognóstico pós-operatório. O RNA celular tra fosfotirosinas. Então, um substrato (fluorescente
amplificado derivado de 10 pacientes ER-negativas, que ou colorido) para HRP é usado para identificar quais
morreram em 5 anos de câncer de mama, e de 10 pacien RTKs ativas estavam presentes em um extrato de cé
tes ER-positivas que estavam vivas, livres da doença, foi lulas tumorais. Após identificação de quais RTKs esta
analisado em uma micromatriz (microarray) de cDNA vam envolvidas na ativação da PI3K em uma linhagem
consistindo de 25.344 genes. A análise detectou 71 genes celular tumoral em particular, inibidores específicos
com maior expressão no grupo que morreu do que no de RTKs foram testados quanto à sua capacidade de
que sobreviveu, e 15 genes expressos em maiores níveis reduzir a formação de colônias e a viabilidade celular.
nas sobreviventes versus as que morreram. Um sistema Um único inibidor de RTK teve pouco efeito, e inibi
de classificação (scoring) foi desenvolvido com base em dores duais de RTKs foram mais efetivos. Entretanto,
marcadores gênicos para classificar pacientes com tu o uso de três inibidores de RTKs foi o mais efetivo.
mor de mama ER-negativo em grupos com prognóstico Ensaios de tumores GBM humanos primários não-tra
ruim versus um prognóstico bom. O sistema de classifi
tados demonstraram que todos continham múltiplas
cação parece ter um alto grau de precisão e pode ajudar RTKs fosforiladas, enquanto os tecidos de especimens
a dirigir protocolos de tratamento e definir novos genes de cérebro normal não tinham nenhuma ativação de
alvos para tratamento com drogas. tectável de RTK. Esses estudos demonstram a capa
cidade de determinar rapidamente o complemento de
RTKs ativadas em amostras de GBM de pacientes, de
B. Tecnologia de Micromatrizes de Anticorpos para modo que os clínicos possam personalizar seus trata
Tratar Tumores de Cérebro mentos com drogas.
Glioblastoma multiforme (GBM) é o tumor mais Nagahata, T., Onda, M., Emi, M., Nagai, H. K. et al. Expres
comum no sistema nervoso central em seres huma sion profiling to predict postoperative prognosis for estrogen
receptor-negative breast cancer by analysis of 25,344 genes
nos adultos e, infelizmente, um dos tipos mais letais
on a cDNA microarray. Cancer Sci. 95: 218, 2004. Stommel,
de câncer. Ativação anormal de componentes da via J. M., Kimmelman, A. C., Ying, H., Nabioullin, R., Ponugoti, A.
da fosfatidilinositol-3-quinase (PI3K) é uma caracte
H. et al. Coactivation of receptor tyrosine kinase affects the
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Receptores tirosina quinases (RTKs) ativam PI3K. Al 287, 2007.
MICROARRAY
SUPEREXPRESSOS
DURANTE A MALÁRIA
SEM MUDANÇA DE
EXPRESSÃO EM
VIRTUDE DA
INFECÇÃO
SUBEXPRESSOS
DURANTE A MALÁRIA
FIGURA7.33 Análise por microarray de expressão gênica em camundongos infectados com um parasita de malária de
roedor.
DNA, RNA ou oligonucleotídeos, representando parte ou todo o quimiocinas, seus receptores, moléculas de adesão, moléculas
genoma ou as proteínas celulares, ou anticorpos, representando coestimulatórias, fatores imunorregulatórios, fatores de trans
parte do proteoma celular, são fixados sobre um suporte imper crição, e proteínas de transdução de sinal, entre outras.
meável. As sondas fixadas reagem com os componentes celula
res apropriados marcados, que formarão um complexo estável Amostras: RNA de esplenócito de camundongo não-infectado
por hibridização ou interações proteína–proteína. A identifica foi usado para sintetizar cDNA com o marcador fluorescente
ção de ácidos nucleicos ou proteínas que se associam com as Cy3 (verde). RNA de esplenócito de camundongo no dia 8 da
amostras fixadas no microarray permite a análise da expressão infecção com um parasita de malária de roedor foi usado para
gênica celular em células mantidas em várias condições. sintetizar cDNA com marcador fluorescente Cy5 (vermelho).
As sondas de DNA marcadas para fluorescência e misturadas
Microarrays de DNA de camundongo foram produzidos para o foram hibridizadas com a matriz de oligonucleotídeos alvos.
genoma de camundongo, que contém 13.443 oligonucleotídeos Genes que estão superexpressos em camundongos infectados
sintéticos representando os genes bem caracterizados de ca com malária são vermelhos, e os que são subexpressos nesses
mundongo. Cada oligonucleotídeo tem 70 bases de comprimen animais são verdes. Genes que não são afetados pelo parasita
to, derivados da extremidade 3! de cada gene, otimizado para da malária são amarelos.
minimizar hibridização cruzada com todos os genes conheci
dos de camundongo. A matriz inclui um conjunto abrangente Dados são de trabalho não-publicado do laboratório do Dr. Ja
de genes relacionados com o sistema imune, codificando um mes Burns, Departamento de Microbiologia, Drexel University
subconjunto de linfócitos e marcadores de ativação, citocinas, College of Medicine.
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312 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Termos Chaves
α-complementação didesoxinucleosídeo trifos mutagênese sítio-dirigi reação da polimerase em
ácidos nucleicos antisense fato dainverso cadeia (PCR)
análise por microarray DNA complementar Northern blot RNA de interferência,
(ou micromatrizes) (cDNA) PCR aninhado RNAi
animais transgênicos DNA recombinante PCR multiplex RNA pequeno de interfe
bibliotecas de bacteriófago endonuclease de restrição rência (siRNA)
PCR quantitativo em tem
caminhar pelo cromossomo ensaio de deslocamento de po real sequenciamento com se
mobilidade eletroforética quenciamento direto
(chromosome walking) plasmídeos
sequenciamento por sho
camundongo knockout (ou ensaio de proteção de nu polimorfismo de compri
cleas genômica tgun
nocaute) mento de fragmento de
células pluripotentes
corante-terminador hibridização in situ restrição (RFLP) sítio de policlonagem
inativação por inserção polimorfismo de conforma Southern blot
ção de fita-única (SSCP) terapia gênica
cromossomos artificiais de mapas de restrição
bactéria (BACs) microRNA proteína de fusão transfecção
cromossomos artificiais de mutagênese por PCR proteômica vetor cosmídeo
levedura (YACs) vetores de expressão
Questões 7 e 8: Nos Estados Unidos, uma causa im A. não ocorrerá se o gene contiver um íntron.
portante de morte de bebês durante o primeiro ano B. ocorre mais eficientemente se cDNA for usado
de vida é a síndrome da morte súbita infantil (SIDS). no vetor.
Um estudo mostrou uma forte correlação entre o ris
co aumentado de SIDS e aumento no intervalo QT no C. não requer inserção direcional do gene no ve
tor.
eletrocardiograma. Em uma criança, um gene asso
ciado com a síndrome do QT longo tinha uma substi D. requer
e promotor
que o“engenheirados”
vetor tenha elementos
no vetor.
enhancer
tuição de AAC por TCC. Esse gene codifica uma pro
teína associada com o canal de sódio. A mutação foi E. não requer que o vetor tenha uma origem de
detectada por polimorfismo de conformação de cadeia replicação (ori).
única (SSCP, single-strand conformation polymor
10. A expressão de um gene eucariótico em procario
phism).
tos envolve
7. Qual(is) das seguintes afirmativas sobre SSCP A. uma sequência Shine-Dalgarno (SD) no
está(ão) correta(s)? mRNA.
A. A migração eletroforética em gel de poliacrila
B. ausência de íntrons.
mida de DNA pequeno, fita-única, na técnica
de SSCP depende parcialmente da conforma C. elementos regulatórios a montante do gene.
ção secundária. D. uma proteína de fusão.
B. Deve existir um sítio de endonuclease de res E. todos os anteriores.
trição na região estudada para que SSCP fun
Questões 11 e 12: O DNA genômico total foi isolado de
cione.
três indivíduos, digerido separadamente com uma en
C. Marcação radioativa não é usada nessa técni donuclease de restrição a fragmentos, e os fragmentos
ca. foram separados em gel de agarose em um campo elé
D. Não é necessário conhecer a sequência do trico. O gene de interesse foi isolado e analisado usando
DNA a ser estudado. a técnica de Southern blot. Cada amostra individual
E. Todas as anteriores estão corretas. apresentou duas bandas. As bandas eram idênticas em
8. dois dos indivíduos. No terceiro, uma banda era idêntica
Para se conseguir quantidade suficiente de DNA
a uma banda dos outros dois, mas a segunda banda era
para analisar, o DNA é amplificado por uma reação
de peso molecular mais baixo do que dos outros. Esse é
de polimerase em cadeia (PCR). Em um PCR, um exemplo de polimorfismo de comprimento de frag
A. a sequência de nucleotídeos do DNA a ser am
mento de restrição (RFLP).
plificado deve ser conhecida.
11. Uma explicação razoável para esse RFLP é que o
B. a amostra é protegida de calor, que causaria a
gene do terceiro indivíduo
desnaturação do DNA.
A. não tinha a sequência de reconhecimento para
C. a função dos oligonucleotídeos na mistura de
reação é atuar como primers para a síntese de a endonuclease de restrição.
DNA novo. B. tivesse uma mutação no sítio de clivagem.
D. o produto final é DNA fita-única. C. tivesse um sítio de reconhecimento adicional
E. o DNA original pode ser amplificado apenas para a endonuclease.
cerca de 10 vezes. D. tivesse uma deleção de um segmento do gene.
E. tivesse passado por uma clivagem aleatória.
Questões 9 e 10: A tecnologia do DNA recombinante
tem usos de interesse médico. Uma é a terapia gênica, 12. A técnica de Southern blot:
que introduz um gene normal em células contendo um A. transfere fragmentos de DNA do gel de agaro
gene defectivo. A primeira terapia gênica humana au se para um filtro de nitrocelulose.
torizada foi aplicada a uma menina de 4 anos de idade B. requer que os fragmentos de DNA permane
com deficiência severa combinada de deficiência imune, çam dupla-fita.
que tinha o gene da adenosina desaminase (ADA) de
fectivo. Um retrovírus modificado foi construído para C. requer que o DNA seja marcado radioativa
conter o gene da ADA humana, que poderia ser expres mente antes da adição ao gel de agarose.
so em células humanas sem a replicação do vírus. Outro D. altera a posição dos fragmentos de DNA du
uso clínico para a tecnologia do DNA recombinante é rante o processo.
levar bactérias em replicação rápida a produzirem gran E. amplifica a quantidade de DNA.
des quantidades de proteínas específicas, por exemplo,
proteínas humanas como hormônios. Problemas
9. A expressão de genes recombinantes em células de 13. O autorradiograma de raios-X de uma fita de um
mamíferos fragmento de DNA sequenciado pelo método de
314 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Respostas
1. E Aquecimento e resfriamento cíclicos são parte do mRNA antisense. A: ácidos nucleicos antisense
do processo de PCR, não do mapeamento de restri ligam-se ao mRNA, bloqueando a tradução. C: se
ção. A e B: mapeamento de restrição envolve todos não agora, no futuro. Nucleotídeos de DNA anti
os graus de hidrólise. A hidrólise parcial dá frag sense foram produzidos que inibem infecção viral.
mentos de tamanhos variáveis, e a hidrólise com D: reagem com ambos, DNA e RNA.
pleta dá os menores fragmentos possíveis. C e D:
7. A A substituição de uma única base geralmente
os fragmentos são separados eletroforeticamente
modifica a conformação o suficiente para mudar a
por tamanho no gel de agarose, que é corado para
mobilidade, detectada por SSCP. B: SSCP é o mé
revelar o DNA.
todo de escolha se não houver sítio de restrição. C:
2. D A DNA ligase conecta covalentemente frag DNA é amplificado por PCR na presença de nucle
mentos mantidos juntos por interações das extre otídeos marcados radioativamente. Deve haver um
midades coesivas. A: esse é o tipo mais desejável método para detecção das bandas. D: SSCP requer
de endonuclease de restrição para uso, mas não é conhecimento prévio da sequência.
essencial. B: endonucleases de restrição que pro
8. C Os oligonucleotídeos hibridizam com os mol
duzem extremidades retas também podem ser usa
des fita-única na região de interesse, de modo que
das, se necessário. C: isso é usado em conjunção
a replicação possa começar. A: DNA de sequência
com poli(dA) se forem utilizadas endonucleases de
desconhecida pode ser usado, mas deve ser inse
restrição que produzem extremidades retas, mas
rido em um vetor com regiões flanqueadoras co
não é essencial para a preparação de DNA recom
nhecidas. B: a amostra deve ser aquecida a 90°C
binante. E: cDNA é apenas um tipo que pode ser
para separar as fitas de DNA. D: PCR produz DNA
usado.
dupla-fita (dsDNA). E: com automação, a amplifi
3. A O DNA estrangeiro é inserido em um gene de cação pode ser de milhões de vezes.
resistência a antibiótico, destruindo-o. B: a resis
9. D Sistemas eucarióticos requerem elementos
tência deve-se aos plasmídeos. C: ver o comentário
de controle, que não são necessários em sistemas
em A, acima. D: a marcação radioativa detecta o
bacterianos. A: expressão pode ser melhorada se
DNA de interesse, não as colônias que contêm o um íntron estiver presente. B: cDNA não possui os
DNA clonado.
elementos de controle necessários. C: o gene deve
4. B Usa uma DNA polimerase RNA-dependente ser inserido na orientação correta, em relação aos
(transcriptase reversa). A e C: sistemas procarióti elementos de controle. E: o vetor precisa replicar;
cos não podem remover íntrons para gerar mRNAs por isso precisa da sequência para promover repli
transcritos funcionais – por isso, o cDNA não con cação.
tém as sequências desses elementos. D: a cauda de
10. E A: a sequência SD é necessária para o ribosso
poli(A) da extremidade 3! do mRNA é usada como
mo bacteriano reconhecer o mRNA. B: bactérias
primer para fazer a fita complementar ao mRNA não têm a maquinaria intracelular para remover
molde. E: uma vez que a primeira fita tenha sido
íntrons do mRNA. C: elementos regulatórios apro
sintetizada, ela se torna o molde para a fita comple
priados são necessários para permitir ao DNA ser
mentar. O cDNA é dupla-fita.
transcrito. D: uma proteína de fusão pode ser um
5. E Pode aceitar DNA de 200-500 kb. A: bacteriófa produto da reação.
go é muito bom para insertos de DNA de cerca de
11. D Isso responderia por uma banda ter menor peso
15 kb. B: BAC pode aceitar DNA de 100-200 kb. C:
molecular. A, B e E: o sítio de clivagem tem uma
cosmídeos aceitam insertos de cerca de 45 kb. D:
sequência de reconhecimento específica. C: isso
vetores plasmídeos podem ser muito úteis, mas só
daria mais do que duas bandas.
podem aceitar pedaços pequenos de DNA.
12. A Isso ocorre por eluição do gel por uma solução
6. B Isso colocaria a fita antisense do DNA sob con
salina concentrada. B: o DNA é hidrolisado por ál
trole do promotor, com a subsequente transcrição cali e o DNA fita-única liga-se ao filtro. C: a sonda
CAPÍTULO 7 DNA RECOMBINANTE E BIOTECNOLOGIA • 315
para identificar as bandas no filtro é marcada com molde e os oligonucleotídeos primers acontece, e
radioisótopo. D: as posições no filtro são idênticas altas temperaturas, quando o DNA funde. A Taq
às do gel. E: não acontece. DNA polimerase, isolada de organismos termofíli
cos descobertos em uma fonte quente, é estável em
13. A sequência é CCT GAT C CC A GT CT, lendo de
altas temperaturas e torna a ciclagem possível sem
5! para 3!. A autorradiografia da fita complementar
adição de nova polimerase após cada ciclo. A DNA
deveria ter bandas para ddG em 1, 2, 7, 8, 9 e 13; ddC polimerase PhusionTM de Alta Fidelidade, que foi
em 4 e 11; ddA em 3, 6, 12 e 14; ddT em 5, 10 e 15.
desenvolvida comercialmente, tem propriedades
14. O PCR requer ciclagem de temperatura entre bai ainda mais desejáveis.
xas temperaturas, quando a hibridização do DNA
316 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
PARTE II CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 317
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
8
Regulação da
Expressão Gênica
Daniel L. Weeks
Professor Titular, Carver College of Medicine, University of Iowa
John E. Donelson
Professor Titular, Carver College of Medicine, University of Iowa
Conceitos Chaves
• A transcrição gênica fornece a ligação entre o re� Em organismos eucarióticos, a maioria dos genes é
servatório de informação genética no DNA e a ex� monocistrônica.
pressão do RNA e, finalmente, das proteínas.
• A transcrição pode ser ativada ou reprimida em
• Os genes geralmente incluem um promotor não� resposta a sinais nutricionais, ambientais ou outros
�transcrito que fica a montante da parte do gene sinais celulares. As respostas regulatórias objeti�
que codifica a proteína. vam fornecer expressão gênica apropriada �s con�
Os transcritos codificados por organismos proca� dições existentes, frequentemente pela incorpora�
•
ção de moléculas pequenas, que são indicadores
rióticos são frequentemente policistrônicos, agru� das condições celulares, como correguladores.
pando genes que codificam proteínas com funções
interrelacionadas unidas sob um controle comum. • O controle da transcrição frequentemente depende
318 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
n
ro
pe ac
o l
rD
pu mal K yrB h
sdR pan metD
el purA p proA
m
tsx
rE
haargE pa lip
pol r
ilv A c
E
hl
pyr E pyrA
aro
mtlxyl D
pyr C
malT
plsB
pur B
4.6 milhões
de pares de bases
operon
tyr R
str trp
rgR
a
argGtol m
CerCser A t nalA
m
an
aro FIGURA 8.1 Mapa genético parcial de
D E. coli.
uerC pab
hyCc
ys r cA B As localizações de alguns poucos dos
e purC ptsl oC
gylAar his
4.300 genes do genoma circular de E.
coli são mostradas. Três operons discu�
tidos neste capítulo são indicados.
Reproduzido com permissão de Stent,
G. S. e Calendar, R. Molecular Genetics,
o An Introductory Narrative. San Fran�
pe
ron cisco: Freeman, 1978, p.289; modificado
de Bachmann, B. J., Low, K. B. e Taylor,
A. L. Bacteriol. Rev. 40:116, 1976.
Bactérias também respondem a mudanças nutricionais 1.021 aminoácidos cada. LacY codifica uma permease,
desligando rapidamente a síntese de enzimas não mais uma proteína de 275 aminoácidos da membrana celu�
necessárias. Por exemplo, E. coli sintetiza triptofano lar que participa do transporte de açúcares, incluindo a
como produto final de uma via biossintética específica. lactose, através da membrana. LacA codifica a b�galac�
Entretanto, se o triptofano estiver presente no meio, a tosídeo transacetilase, uma enzima de 275 aminoáci�
síntese das enzimas dessa via para. O processo é cha� dos que transfere um grupo acetil do acetil�CoA para
mado repressão, e impede que as bactérias usem sua b�galactosídeos. Das três proteínas, só a b�galactosida�
energia para fazer proteínas desnecessárias. se participa de uma via metabólica conhecida. A perme�
ase ajuda a lactose a passar pela membrana celular. A
Indução e repressão são manifestações do mesmo transacetilase pode estar associada com reações de de�
fenômeno. O sinal para ambos é a molécula pequena sintoxicação e excreção de análogos não�metabolizados
que é um substrato da via metabólica ou um produto de b�galactosídeos.
da via, respectivamente. Essas moléculas pequenas são
chamadas indutores, quando estimulam a indução, e As mutações em lacZ ou lacY que inativam a b�ga�
correpressores, quando causam repressão. lactosidase ou a permease impedem a célula de quebrar
lactose ou de adquiri�la do meio, respectivamente. As
mutações em lacA, que inativam a transacetilase, não
8.3 OPERON LACTOSE DE parecem afetar o crescimento e a divisão celulares.
lacP
CAP lacO
mRNA
Sem o indutor, a transcrição ocorre em nível muito bai� Tem forte afinidade por seu principal sítio de ligação no
xo. Em presença do indutor, a transcrição começa no DNA, chamada operador ou lacO, que fica entre lacP
lacP e prossegue por todos os três genes até um termi� e lacZ. LacO fica parcialmente sobreposto a lacP, de
nador da transcrição, localizado logo após lacA. Assim, modo que o repressor ligado impede que a RNA polime
os genes são expressos coordenadamente; todos são rase se ligue a lacP e inicie a transcrição.
transcritos em uníssono ou nenhum é transcrito.
Além de reconhecer e se ligar a lacO, o repressor
A presença de três sequênciasências codificadorascodificadoras nana mes�mes� tem forte afinidade por moléculas do indutor do ope�
ma molécula de mRNA sugeresugere queque asas quantidadesquantidades re�re� ron lactose. Cada monômero liga�se a uma molécula
lativas das três proteínas sejam sempre as mesmas em de indutor, o que causa uma mudança conformacional
condições variáveis de indução. O indutor éé umumum �inter��inter��inter� que diminui muito a afinidade do repressor por lacO
ruptor” molecular que influencia a síntese de uma es� (Figura 8.3). Assim, quando o indutor está presente, o
pécie de mRNA para todos os três genes. Entretanto, a repressor não mais se liga a laço, e a RNA polimerase
quantidade de cada uma das três proteínas éé comumen�comumen�comumen� começa a transcrição a partir do promotor.
te diferente, por causa das diferenças nas velocidades
de tradução ou de degradação das próprias proteínas. O estudo do operon lactose foi muito facilitado pela
descoberta de algumas moléculas pequenas, como iso�
O mRNA induzido pela lactose tem uma meia�vida propiltiogalactosídeo (IPTG), que servem fortuitamen�
de cerca de 3 min. Portanto, a expressão do operon te de indutores, mas não são metabolizadas pela b�ga�
pode ser alterada muito rapidamente. A transcrição lactosidase. Esses indutores gratuitos ligam�se como
cessa assim que o indutor não está mais presente, as indutores � molécula do repressor.
moléculas de mRNA existentes desaparecem em minu�
tos, e as células param de fazer as proteínas. A proteína repressora age em trans; isto é, ela éca�éca�ca�
paz de se difundir até seu local de ação. Algumas mu�
tações em lacI alteram ou removem aminoácidos do
Repressor do Operon Lactose É uma repressor, que são partes do sítio de ligação ao indutor.
Essas alterações não afetam a afinidade do repressor
Proteína Difusível pelo operador, de modo que o repressor fica sempre li�
gado ao operador, mesmo em presença do indutor, e os
O gene regulatório do operonlactose, lacI, codifica o genes lacZYA nunca são transcritos acima de um ní�
repressor lactose, cuja função é controlar a iniciação da velbasal muito baixo. Outras mutações em lacI trocam
transcrição dos genes estruturais lac. LacI localiza�se os aminoácidos do sítio de ligação ao operador e dimi�
imediatamente �� montantemontantemontante dosdosdos elementoselementoselementos controlado�controlado�controlado� nuem a afinidade do repressor pelo operador. Assim, o
res do grupo lacZYA. Entretanto, um gene regulatório repressor não se liga ao operador, e os genes lacZYA
não precisa ficar próximo do grupo de genes que regu�
são continuamente transcritos. Tais mutações são mu
la. A transcrição de lacI não é regulada; esse gene é
tações repressor�constitutivas porque os genes lac são
transcrito a partir de seu próprio promotor em baixa permanentemente expressos. Alguns mutantes lacIra�
velocidade, que é relativamente independente do esta� ros aumentam a afinidade do repressor pelo operador.
do da célula. Nesses casos, moléculas do indutor podem se ligar ao
repressor, mas são menos efetivas em liberar o repres�
O repressorlactose é sintetizado como um monôme�
ro de 360 aminoácidos, que formam um homotetrâmero sor do operador.
ativo. Geralmente, há cerca de 10 tetrâmeros por célula.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 321
(a) lacl
Promotor Operador
lacZ lacY lacA
mRNA lac; isto é, são mutações ope
rador-constitutivas. Nesses casos, a
sequência de DNA do operador tem
um ou mais pares de bases trocados,
de modo que o repressor não mais
se liga tão fortemente � sequência.
Assim, o repressor é menos efetivo
em impedir que a RNA polimerase
comece a transcrição.
monomérico
Repressor
lacl Promotor Repressor
Operador lacZ lacY lacA
tetramérico Diferentemente das mutações em
(b) lacI, que codifica o repressor difusí�
β–Galactosidase Permease Acetilase vel, mutações no operador não mu�
dam uma proteína difusível. Estas
exercem sua influência sobre a trans�
crição apenas dos três genes lac
que ficam imediatamente � jusante
do operador, na mesma molécula de
DNA. Se um segundo operon lac for
introduzido em uma bactéria, em um
Indutor plasmídeo recombinante, o operador
de um operon não influencia a ação
do outro operon. Portanto, um ope�
ron com um operador tipo�selvagem
será reprimido nas condições nor�
Repressor Repressor mais, enquanto na mesma bactéria
monomérico tetramérico engenheirada, um segundo operon
com uma mutação operador�consti�
FIGURA 8.3 Controle do operon lac.
tutiva será transcrito continuamente.
(a) O repressor tetramérico liga�se ao operador e impede a transcrição dos genes es�
truturais. (b) O indutor liga�se ao repressor tetramérico, o que impede que o repressor Mutações no operador são fre�
se ligue ao operador. A transcrição dos três genes estruturais pode ocorrer a partir do
quentemente denominadas cis-do
promotor.
minantes, para enfatizar que elas
afetam apenas genes adjacentes,
Os mutantes repressor�constitutivos ilustram as ca� na mesma molécula de DNA. Mutações cis�dominantes
racterísticas de um sistema de controle negativo. Um ocorrem em sequências de DNA que são reconhecidas
repressor ativo, em ausência de um indutor, desliga a por proteínas e não em sequênciasuênciasências dedede DNADNADNA quequeque codifi�codifi�codifi�
expressão dos genes estruturais lac. Um repressor ina� cam proteínas difusíveis. Mutações trans-dominantes
tivo resulta na expressão constitutiva, não�regulada, ocorrem em genes que especificam produtos difusíveis.
desses genes. Usando as técnicas de DNA recombinante Portanto, mutações cis�dominantes também ocorrem em
descritas no Capítulo 7, um plasmídeo contendo o gene sequências de promotor e de terminação de transcrição,
lacI tipo selvagem (mas não o resto do operon lactose) enquanto mutações trans�dominantes também ocorrem
pode ser introduzido em células mutantes constitutivas em genes de subunidades proteicas da RNA polimerase,
lacI. Tais células sintetizam moléculas de repressor de proteínas ribossômicas, e assim por diante.
ativas e inativas. Nessas condições, ocorre a regulação
normal, tipo selvagem, do operon lactose. Portanto, em A Figura 8.4 mostra a sequência do operador e do
termos genéticos, a indução tipo�selvagem é dominante promotor lac. A sequência do operador tem um eixo de
sobre o mutante constitutivo. simetria díade. A sequênciaência dada fitafita superior,superior, nono ladolado es�es�
querdo do operador, é quase idêntica � da fita inferior,
no lado direito; apenas três diferenças ocorrem. Essa
Sequência Operador do Operon simetria na sequênciaência dede reconhecimentoreconhecimentoreconhecimento dododo DNADNADNA re�re�re�
Lactose É Contígua a um Promotor e flete a simetria do repressor tetramérico e facilita a for�
te ligação das subunidades do repressor ao operador.
Três Genes Estruturais Simetria díade na sequência de DNA fita�dupla é uma
característica comum de muitos sítiossítios dede ligaçãoligação ouou re�re�
Os elementos de controle �� montantemontantemontante dosdosdos genesgenesgenes es�es�es�
conhecimento dede proteínas,proteínas, incluindoincluindo aa maioriamaioria dosdos sí�sí�
truturais do operon lactose são o operador e o promo� tios de reconhecimento de endonucleases de restrição.
tor. O operador foi identificado, como lacI, por mutações
que afetam a transcrição da região lacZYA. Algumas O operador lac, de cerca de 30 pb, é uma fração
dessas mutações resultam na síntese constitutiva do extremamente pequena do genoma total de E. coli e
322 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Operador
Promotor
5! GGAAAGCGGGCAGTGAGCGCAACGCAATTAATGTGAGTTAGCTCACTCATTAGGCACCCCAGGCTTTACACTTTATGCTTCCGGCTCGTATGTTGTGTGGAATTGTGAGCGGATAACAATTTCACACAGGAAACAGCTATGACCATG 3!
3! CCTTTCGCCCGTCACTCGCGTTGCGTTAATTACACTCAATCGAGTGAGTAATCCGTGGGGTCCGAAATGTGAAATACGAAGGCCGAGCATACAACACACCTTAACACTCGCCTATTGTTAAAGTGTGTCCTTTGTCGATACTGGTAC 5!
ocupa uma fração ainda menor do volume da célula. presente para sobrepujar este efeito anti-indutor da
Entretanto, os aproximadamente 10 repressores tetra� lactose.
méricos estão também confinados a uma pequena fra�
ção do volume celular. Como o gene do repressor fica
muito próximo do operador lac, o repressor não precisa RNA Polimerase e uma Proteína
se difundir para longe, se sua tradução começar antes Reguladora Reconhecem a
de seu mRNA ter sido completamente sintetizado. Mais
importante, o repressor tem uma baixa afinidade geral Sequência do Promotor do Operon
por todas as sequênciasências dede DNA.DNA. QuandoQuando oo indutorindutor liga�liga�
�se ao repressor, sua afinidade pelo operador é reduzida Lactose
cerca de 1.000 vezes, mas sua afinidade por sequências Imediatamente � montante do operador lac está o
aleatórias de DNA é inalterada.inalterada. Portanto,Portanto, todostodos osos re�re� promotor. Essa sequência contém os sítios de ligação
pressores lactose da célula estão em associação fraca para a RNA polimerase e para a proteína ativadora de
com DNA. Quando a ligação do indutor libera uma mo� catabólito (CAP; também chamada proteína receptora
lécula de repressor do operador, ela rapidamente se liga de cAMP ou CRP) (Figura 8.4). O local ao qual a RNA
� regiãoregião próximapróxima dodo DNA.DNA. Portanto,Portanto, aa induçãoindução redistri�redistri� polimerase se liga foi identificado por abordagens gené�
bui o repressor no DNA, em lugar de gerar moléculas de ticas e bioquímicas. Mutações puntuais e deleções (ou
repressor que se difundem livremente. inserções) nessa região afetam dramaticamente a liga�
Como a lactose entra numa célula em primeiro lugar, ção da RNA polimerase. Os pontos finais da sequência
se o gene lacY que codifica a permease está reprimido � qual a RNA polimerase se liga foram identificados por
e, no entanto, a permease é necessária para o trans� experimentos de proteção contra DNase. A RNA polime�
porte de lactose através da membrana celular? Mesmo rase purificada foi ligada � região do promotor lac clo�
no estado reprimido, há um nível basal muito baixo de nada no DNA de um bacteriófago ou de um plasmídeo, e
transcrição do operon lac, que fornece cinco ou seis esse complexo proteína�DNA foi digerido com DNase I.
moléculas de permease por célula. Talvez isso seja sufi� O segmento de DNA protegido da degradação pela DNa�
ciente para levar algumas poucas moléculas de lactose se foi recuperado, e sua sequência foi determinada. As
para dentro da célula e iniciar o processo. extremidades desse segmento protegido variaram ligei�
ramente entre diferentes moléculas de DNA, mas cor�
Outra observação curiosa é que a lactose não é o in� respondiam estreitamente aos limites do sítio de ligação
dutor natural do operon lactose. Quando o repressor é da RNA polimerase mostrado na Figura 8.4.
isolado de células completamente induzidas, a molécula
pequena ligada a cada monômero do repressor é alolac O sítio de ligação da RNA polimerase não tem ele�
tose, não lactose. Alolactose, como a lactose, é composta mentos simétricos, como a sequência do operador. Isso
não é surpreendente, uma vez que a RNA polimerase
de galactose e glicose, mas a ligação entre os dois açú�
cares é diferente. Uma reação secundária da b�galacto� deve se associar com o DNA de modo assimétrico para
sidase (que normalmente quebra lactose em galactose e que a transcrição se inicie em apenas uma direção. En�
glicose) converte esses dois produtos em alolactose. tretanto, a parte da sequência do promotor reconhecida
pela CAP contém certo grau de simetria.
Consequentemente, algumas poucas moléculas de
lactose são captadas e convertidas pela b�galactosidase
em alolactose, que se liga ao repressor e induz o operon.
Proteína Ativadora de Catabólito
Confirmação de que a lactose não é o realindutor vem de Liga Promotor Lactose
experimentos indicando que a ligação da lactose com o
repressor purificado, na realidade, aumenta a afinidade E. coli prefere usar glicose a outros açúcares
do repressor pelo operador. Portanto, no estado induzi� como fonte de carbono. Por exemplo, se tanto glicose
do, uma pequena quantidade de alolactose precisa estar como lactose estiverem no meio, as bactérias metabo�
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 323
0.3 0
Operon Triptofano É Controlado por
50 100 130
Tempo (min) uma Proteína Repressora
FIGURA 8.5 Inexistência de síntese de ß-galactosidase Em E.coli, o triptofano é sintetizado a partir de áci�
em E. coli quando glicose está presente. do corísmico, por uma via de cinco etapas, catalisada
Bactérias estão crescendo em um meio contendo inicialmente por três enzimas (Figura 8.7). O operon triptofano
0,4 mg/mL de glicose e 2 mg/mL de lactose. A ordenada da contém cinco genes estruturais que codificam essas
esquerda indica a densidade óptica da cultura em crescimento, três enzimas (duas das quais contêm duas subunidades
um indicador do número de células bacterianas. A ordenada da
diferentes). À montante desse grupo de genes fica um
direita indica as unidades de b�galactosidase por mililitro. Note
que o aparecimento de b�galactosidase é retardado até que a
promotor, onde a transcrição começa, e um operador,
ao qual se liga uma proteína repressora codificada por
glicose tenha se acabado.
Redesenhado de Epstein, W., Naono, S. e Gros, F. Biochem.
um gene trpR separado. A transcrição do operon lacto�
Biophys. Res. Commun. 24:588, 1966. se está geralmente desligada, ou reprimida, a menos
324 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
Polipeptídeos
mRNAs Componente IASase Componente II ASase PRA Isomerase TSaseβ TSaseα
Complexos
enzimáticos Col2 Coll2 α2β2
que seja induzida por uma molécula indutora pequena. normais, cerca de 20 moléculas do repressor dimérico
O operon triptofano, por outro lado, está sempre ativo, estão presentes. O repressor deve estar complexado
ou desreprimido, a menos que seja reprimido por uma com duas moléculas de triptofano para se ligar ao ope�
molécula pequena correpressora, que para o operon rador. Lembre�se que o repressor lactose liga�se a seu
triptofano é o próprio triptofano. operador só na ausência do seu indutor.
A biossíntese de triptofano é regulada pela síntese e O repressor triptofano também regula a transcrição
atividade das enzimas que catalisam a via. Por exemplo, de trpR, seu próprio gene. À medida que o triptofano se
a antranilato sintetase, que catalisa a primeira etapa, acumula nas células, o complexo repressor�triptofano
contém duas subunidades codificadas por trpE e trpD, se liga a uma região a montante de trpR, desligando sua
e sua atividade enzimática é regulada por inibição por transcrição e mantendo o equilíbrio de 20 repressores
retroalimentação (feedback). Esse é um meio comum, por célula. O operador trp ocorre inteiramente dentro
de curto prazo, para regular a primeira etapa de com� do promotor trp, e não adjacente a ele (Figura 8.8). O
prometimento de uma via metabólica. O triptofano operador é uma região de simetria díade, e o mecanis�
pode se ligar a um sítio alostérico da antranilato sinte� mo para impedir a transcrição é o mesmo do operon lac�
tase e impedir sua atividade catalítica. Portanto, � me� tose; isto é, a ligação do complexo repressor�correpres�
dida que a concentração de triptofano sobe, ele inibe a sor ao operador impede a ligação da RNA polimerase.
antranilato sintetase. O triptofano também éé umumum corre�corre�corre�
pressor que desliga a transcrição do operon triptofano. A repressão diminuia velocidade de iniciação da trans�
A inibição por feedback é um controle de curto prazo, crição no promotor trp em cerca de 80 vezes. (O nível ba�
com um efeito imediato sobre a via, enquanto a repres� sal dos produtos do gene operon lactose é cerca de 1.000
são demora mais, mas tem o efeito mais permanente de vezes mais baixo do que o nível induzido). Entretanto, o
reprimir a transcrição. operon triptofano contém elementos regulatórios adicio�
nais. Um promotor secundário, designado por trpP2, loca�
O repressor triptofano é um homodímero cujas su� liza�se dentro da sequência codificadora de trpD (Figura
bunidades têm 108 aminoácidos cada. Em condições 8.7) e não é regulado pelo repressor triptofano. A trans�
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 325
Peptídeo lider
Met Lys Ala Ile Phe Val Leu Lys Gly Trp Trp Arg Thr Ser term
pppAAGUUCACGUAAAAAGGGUAUCGACA AUG AAA GCA AUU UUC GUA CUG AAA GGU UGG UGG CGC ACU UCC UGA
1 20 40 60
AACGGGCAGUGUAUUCACCAUGCGUAAAGCAAUCAGAUACCCAGCCCGCCUAAUGAGCGGGCUUUUUUUUGAACAAAAUUAGAG
80 100 120 140
Operon
his Met-Thr-Arg-Val-Gln-Phe-Lys-His-His-His-His-His-His-His-Pro-Asp
Sequência do peptídeo lider Aminoácidosregulatórios
pheA
leu
thr
ilv His
Met-Lys-His-lle-Pro-Phe-Phe-Phe-Ala-Phe-Phe-Phe-Thr-Phe-Pro
Met-Thr-Ala-Leu-Leu-Arg-Val-lle-Ser-Leu-Val-Val-lle-Ser-Val-Val-Val-lle-lle-lle-Pro-Pro-Cys-Gly-Ala-Ala-Leu-Gly-Arg-Gly-Lys-Ala
Met-Ser-His-lle-Val-Arg-Phe-Thr-Gly-Leu-Leu-Leu-Leu-Asn-Ala-Phe-lle-Val-Arg-Gly-Arg-Pro-Val-Gly-Gly-lle-Gln-His
Met-Lys-Arg-lle-Ser-Thr-Thr-lle-Thr-Thr-Thr-Ile-Thr-lle-Thr-Thr-Gly-Asn-Gly-Ala-Gly Phe
Thr lle
Leu
FIGURA 8.11 Sequências dos peptídeos líderes especificados por operons biossintéticos de E. coli.
Todas as sequências de peptídeos líderes contêm múltiplas cópias do(s) aminoácido(s) sintetizado(s) por enzimas codificadas pelo
operon.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 327
O
tRNA não carregado
no sítio A
Proteína relA
GDP + pppGpp
ppGpp +
GTP ATP AMP
Proteínas ribossômicas
Ribosomo parcialmente
Bloqueio de síntese de
organizado
rRNA e tRNA
A imensa maioria dos genes bacterianos tem locali� quência de cerca de 10–7 por geração, a mesma taxa de
zação fixa no cromossomo. De fato, os mapas genéticos mutações puntuais espontâneas. Esses segmentos mó�
de E. coli e de Salmonella typhimurium são muito veis do DNA são chamados elementos transponíveis ou
semelhantes, indicando a ausência de muito movimento transposons (Figura 8.15). Alguns genes de transposons
evolutivo para a maioria dos genes em cromossomos bac� bacterianos controlam a presença e a transposição do
terianos. Há uma pequena classe de genes bacterianos, próprio transposon, enquanto outros, geralmente genes
entretanto, na qual cópias recém�duplicadas de genes de resistência a antibióticos, fornecem � bactéria uma
�saltam” de um local para outro no genoma com uma fre� vantagem seletiva sobre outras bactérias.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 329
O
CORRELAÇÃO CLÍNICA 8.3
NH CCH3
A síndrome
índrome de Rubstein�Taybi (OMIM 180849), ca�
racterizada por retardo mental e outras anomalias de
desenvolvimento, é causada por mutações puntuais,
pequenas deleções e rearranjos no gene CBP. Defei�
(b)
tos de desenvolvimento mais graves correspondem a
FIGURA 8.18 A força da associação histona-DNA é substancialmente mais mutações. A perda completa
modificada pela acetilação de resíduos de lisina na do produto do gene CBP é provavelmente letal.
extremidade N-terminal das histonas.
As histonas que compõem o core octâmero contêm resíduos de Petrij, F., Giles, R. H., Dauwerse, H. G., Saris, J. J. et
lisina que, em virtude de seu grupo lateral carregado positiva� al. Rubistein�Taybi syndrome caused by mutations in the
mente, podem promover interação com as ligações fosfodiés� transcriptional co�activator CBP. Nature 376:348, 1995; e
ter carregadas negativamente do DNA. Modificação das lisinas Wolffe, A. P. The cancer�chromatin connection. Sci. and
por acetilação substitui as cargas positivas por grupos acetil Med. 6:28, 1999.
neutros, e enfraquece a interação eletrostática entre o core
octâmero e o DNA. Esse processo é reversível, e a acetilação e
a desacetilação de histonas é um modo de afrouxar ou apertar
a estrutura da cromatina.
Redesenhado de Wolffe, A. P. The cancer�chromatin connec� presso. Os padrões de metilação são conservados após a
tion. Sci. Med. 6:28, 1999.
replicação por uma hemimetilase (que reconhece a me�
tilação na fita parental e metila a fita recém�replicada).
interage com o domínio C�terminal da subunidade gran� Mais recentemente, sugeriu�se que a metilação do DNA
de da RNA polimerase II, rompendo as matrizes nucleos� que resulta em silenciamento de genes possa ser indu�
sômicas de maneira dependente de ATP. O resultado é a zida pela ação de siRNA (short interfering RNA) que é
abertura de regiões de DNA para interação com fatores complementar � sequência que é metilada.
de transcrição e, assim, facilita a ativação gênica. Há me�
nos complexos SWI/SNF na célula do que genes sendo
Citosina 5-metilcitosina
transcritos, sugerindo que o complexo SWI/SNF funcio�
H N H H N H
ne de forma catalítica (Correlação Clínica 8.3).
5 4N H3C N
3
seletiva para manter uma região regulatória. De fato, 8.8 COMPLEXO DE PRÉ
as ilhas CpG são mais comumente encontradas em re�
giões de promotores de genes. A metilação do DNA fre� INICIAÇÃO EM
quentemente se correlaciona com a falta de atividade
transcripcional. Acredita�se que isso seja mediado por EUCARIOTOS: FATORES
proteínas que reconhecem e ligam DNA metilado, o que DE TRANSCRIÇÃO, RNA
impede a ligação de fatores de transcrição. A metilação
do DNA correlaciona�se com a desacetilação de histo� POLIMERASE II E DNA
nas, fornecendo dois meios de repressão de transcrição
em uma localização específica (Figura 8.20). Ao contrário da RNA polimerase bacteriana, a RNA
polimerase II eucariótica não faz ligação sequência�es�ência�es�
A hipermetilação do DNA é uma característica co� pecífica com promotores eucarióticos. Ao contrário, um
mum de células em tecido canceroso. Há evidências complexo de iniciação é formado pelo contato inicial do
crescentes de que metilação ocorre em genes que codi� promotor com o fator de transcrição geral TFIID. TFIID
ficam proteínas que encaminhariam células em divisão é um dentre pelo menos seis fatores de transcrição ge�
anormal para a morte celular programada (apoptose). rais (TFIIA, TFIIB, TFIID, TFIIE, TFIIF e TFIIH) ne�
Por outro lado, em células totipotentes ou pluripoten� cessários � transcrição basal pela RNA polimerase II.
tes de mamíferos, como o óvulo fecundado e as células A nomenclatura TFII reflete que são fatores de trans�
do início do desenvolvimento embrionário, o DNA sofre crição envolvidos na organização do complexo de pré�
desmetilação quase global. �iniciação da RNA polimerase II (Tabela 8.1).
TFIIA
TFIIB
TFIIA
TBP
(c)
+1 TFIIB
TFIIA TFIID
TFIIF
RNAPII
TFIIB
(d)
TFIIB TFIIF
O TFIID fica para trás, ainda ligado ao TATA box, a transcrição. Enhancers diferem das sequências do
para promover a montagem de complexos de pré�ini� promotor em dois aspectos importantes. Primeiro,
ciação adicionais. O TFIIF prossegue com a RNA po� enhancers podem estar localizados a muitos milhares
limerase II durante a fase de elongação, mas os outros de pares de bases de distância do sítio de montagem
fatores gerais de transcrição se dissociam do complexo do complexo de pré�iniciação e podem estar tanto �
de elongação. montante como � jusante do sítio de início de trans�
crição. Segundo, o elemento enhancer pode agir em
qualquer orientação. Os fatores de transcrição que se
Promotores Eucarióticos e Outras ligam aos elementos de resposta próximos do ponto de
Sequências Que Influenciam início de transcrição podem agir diretamente sobre o
complexo de iniciação ou por meio de proteínas que
Transcrição fazem uma ponte com o complexo de iniciação (ver Fi�
gura 8.30). É bastante comum que as proteínas que in�
Promotores de genes eucarióticos transcritos pela fluenciam a transcrição exerçam essa função de ponte.
RNA polimerase II são operacionalmente definidos
Entretanto, a distância linear entre um enhancer e
como as sequências que influenciam a iniciação da o complexo de pré�iniciação pode ser muito grande.
transcrição de genes. A característica marcante dos Fatores de transcrição ligados a enhancers são apro�
promotores eucarióticos é sua utilização de múltiplos ximados do complexo de pré�iniciação por meio de do�
sítios de ligação para fatores de transcrição para regu� bra do DNA. Isso ajuda a explicar como o enhancer
lar atividade gênica. Em geral, esses sítios de ligação
pode funcionar a distância e porque a orientação da
ficam relativamente próximos ao TATA box, que mar�
ca o local de montagem do complexo de pré�iniciação. sequência do enhancer não importa. Contanto que a
proteína tenha se ligado ao enhancer, o alinhamento
Outras sequências consensos frequentemente encon�
correto da proteína com o complexo de pré�iniciação é
tradas em promotores eucarióticos incluem CAAT box
ajustado quando o DNA se dobra.
e GC boxes (Figura 8.23). A posição exata do CAAT
box e as posições, orientação e número de GC boxes
variam entre os promotores. O CAAT box serve de sítio
de ligação para vários fatores de transcrição diferentes,
Projeto Modular de Fatores de
incluindo NF1. A presença de um CAAT box geralmente Transcrição Eucarióticos
indica um promotor forte. O GC box fornece sítio de li�
gação para o fator de transcrição SP1 e é característico Fatores de transcrição eucarióticos têm múltiplos
de muitos genes zeladores (housekeeping). domínios que estabelecem interações específicas. Os
domínios de reconhecimento do DNA contribuem com
A ligação de fatores de transcrição a outras sequên� a ligação sítio�específica, e os domínios de ativação
cias em promotores pode ser influenciada por uma mo� fazem contato com os fatores gerais de transcrição, a
lécula sinalizadora, como hormônios associados com RNA polimerase II e outros reguladores da transcrição.
fatores de transcrição de resposta a esteroides, ou por Muitos fatores de transcrição também têm domínios
modificação de aminoácidos, como fosforilação. As se� de dimerização, que promovem a formação de homo�
quências de DNA que ligam tais fatores de transcrição dímeros ou heterodímeros, domínios de interação com
regulados são frequentemente chamadas elementos de proteínas, que permitem a associação com proteínas
resposta. Os fatores de transcrição podem ser exclusi� como histona acetilase, ou domínios que se ligam a coa�
vos de tecidos específicos ou aparecerem em momentos tivadores. Coativadores incluem hormônios esteroides e
específicos do desenvolvimento. A eficiência relativa cAMP, que mudam a capacidade do fator de transcrição
das sequências regulatórias dos promotores depende de para se ligar ao DNA ou servir de ativador. Os domínios
sua orientação ou direcionamento, e pode ser diminuí� envolvidos em tais atividade podem ser agrupados em
da alterando�se sua distância do TATA box. alguns poucos motivos característicos.
Muitos genomas celulares ou virais também têm
elementos enhancers, que ligam proteínas que ativam
Motivos Comuns em Proteínas Que
Sítio de início de transcrição Ligam DNA e Regulam Transcrição
CAAT box
Vários motivosmotivos dede aminoácidosaminoácidos sãosãosão comumentecomumentecomumente en�en�en�
contrados em fatores de transcrição (reguladores de
TATA box
ação trans). Eles incluem proteínas hélice-volta-hélice
= 10 nucleotídeos
(HTH, helix-turn-helix), dedos de zinco, hélice-alça
FIGURA 8.23 Sequências de DNA em genes transcritos em
-hélice (HLH, helix-loop-helix) e região básica zíper
eucariotos geralmente contêm um TATA box, e podem de leucina (bZIP) (p. 336).336).). EssesEssesEsses motivosmotivosmotivos estãoestãoestão presen�presen�presen�
conter um CAAT box, GC boxes e múltiplos sítios de ligação tes em cerca de 80% das proteínas que se ligam �s se�
para fatores de transcrição. quências específicas.
336 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
FIGURA 8.25 Dois diferentes motivos dedos de Zn são encontrados em fatores de transcrição.
Embora ambas as proteínas dedos de Zn usem a ligação coorde� Zn. (b) A classe Cx de proteínas dedos de Zn comumente tem
nada de uma molécula de Zn para assumir sua estrutura final, há dois domínios dedos de Zn. A α-hélice de um dedo de Zn liga�
diferenças notáveis entre os dois motivos principais que foram �se ao DNA na fenda maior, enquanto a α�hélice do outro dedo
identificados. Ambas as classes tiram vantagem da formação de de Zn suporta essa interação por interações hidrofóbicas com o
estrutura em α-hélice para formar domínios que se ligam � fenda domínio de ligação ao DNA. As proteínas dedos de Zn da classe
maior do DNA. (a) A classe C2H2 inclui proteínas que podem Cx normalmente se ligam ao DNA pela formação de dímeros. É
ter muitos domínios dedos de Zn. Cada α�hélice de um dedo de mostrada em (c) a interação do dímero receptor de estrógeno
Zn tem o potencial de se ligar de modo sequência�específico a com cada monômero fazendo contato com o DNA. Moléculas de
sítios ao longo da fenda maior. O resultado pode ser uma pro� Zn são indicadas por esferas.
cissão de interações proteína�DNA, cada uma dependente da (a) Reproduzido de Voet, D. e Voet, J. G., Biochemistry, 2. ed.,
sequência específica das cadeias laterais dos aminoácidos en� New York: Wiley, 1995. Ó (1995) John Wiley and Sons, Inc. Parte
contrados em cada domínio em α�hélice da proteína dedos de (b) e (c) gentilmente cedidas por C. Pabo, M.I.T.
Regulando os Reguladores
8.9 REGULAÇÃO DA
Os fatores de transcrição são regulados de várias
EXPRESSÃO GÊNICA formas. Provavelmente, os exemplos mais simples são
EUCARIÓTICA os que são sintetizados só em células especializadas ou
em momentos específicos do desenvolvimento. Alguns
Como indicado aqui, uma região relativamente pe� são regulados pela ligação a cofatores, que podem ini�
quena de uma proteína regulatória pode ser dedicada bir ou estimular sua ligação com o DNA. Para os fato�
� ligação sequência�específica ao DNA, enquanto ou� res de transcrição que formam dímeros, a formação
tros domínios estão envolvidos em interações proteína� de complexos homo� ou heterodiméricos não�produ�
�proteína ou com o ligante. Vários domínios de ativação tivos pode alterar a ligação ao DNA ou as interações
característicos foram identificados, incluindo domínios proteína�proteína que permitem a ativação de genes.
ácidos (alta concentração de aminoácidos com cadeias A modificação pós�tradução, como processamento ou
laterais ácidas), domínios ricos em glutamina, e domí� fosforilação de proteínas, pode afetar a ligação do fa�
nios ricos em prolina. Experimentalmente, a superpro� tor de transcrição ao DNA ou a outras proteínas, e sua
dução de qualquer desses domínios por técnicas de re� capacidade de ir do citoplasma para o núcleo (Correla�Correla�
combinação, mesmo sem seus domínios de ligação ao ções Clínicas 8.4 e 8.5).
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 339
O tamoxifeno, uma droga usada no tratamento do Entre os genes recentemente identificados como
câncer de mama, é um inibidor competitivo do recep�recep�
recep� causadores de doença cardiovascular humana es�
tor de estrógeno (ER). As células do câncer de mama tão dois que codificam fatores de transcrição. Um,
respondem ao estrógeno normal com aumento na sua Nkx2�5, é uma proteína contendo homeodomínio.
taxa de proliferação. O estrógeno ativa o receptor de Proteínas homeodomínios frequentemente estão
estrógeno, enquanto o tamoxifeno impede a ativação envolvidas na regulação do destino celular em cé�
normal e reduz a transcrição dos genes regulados pelo lulas embrionárias, e Nkx2�5 regula genes envolvi�
receptor de estrógeno, reduzindo assim o crescimento dos na formação do coração. Mutações em um alelo
das células
Institute afirmou,
do câncer
em de
2004:
mama.
�Os Obenefícios
NationaldeCancer
tamo� de Nkx2�5 estão ligadas a defeitos átrio�septais e
defeitos de condução. A mutação nula (null) no ca�
xifeno no tratamento do câncer de mama estão bem mundongo é letal ao embrião. Mutações em outro
estabelecidos e superam de longe os riscos em poten� gene, Tbx, são responsáveis pela síndrome de Holt�
cial”. Entretanto, o tratamento com tamoxifeno pode �Oram. A síndrome de Holt�Oram frequentemente
aumentar o risco de câncer uterino. A causa aparente inclui defeitos átrio�septais (ASD), defeitos ventrí�
está na presença de dois subtipos de receptores de es� culo�septais (VSD), defeitos de condução e defeitos
trógeno (a e b). No tecido mamário existem ambos os no desenvolvimento de mãos e braços.
subtipos , mas o receptor de estrógeno�a predomina
no tecido uterino. No tecido uterino, tamoxifeno apa�
rentemente ativa o receptor�a, ao invés de inibi�lo. O Barigana, M. Tracking down mutations that can stop
resultado é o estímulo da transcrição, conjuntamente the heart. Science 128:32, 1998; Schott, J. J., Benson, D.
com os fatores de transcrição fos e jun. W., Basson, C. T., Pease, E. et al. Congenital heart disease
caused by mutations in the transcription factor NKX2�5.
Paech, K., Webb, P., Kuiper, G., Nilsson, S., Gustafsson, Science 281:108, 1998; e Li, Q. Y., Newbury�Ecob, R. A.,
J.�A., Kushner, P. J. e Scanlan, T. S. Differential ligand ac� Terrett, J. A., Wilson, D. I. et al. Holt�Oram syndrome is
tivation of estrogen receptors ERa and ERb at AP1 sites. caused by mutations in TBX5, a member of the Brachyury
Science 277:1508, 1997. (T) gene family. Nature Genetics 15:21, 1997.
Como os enhancers podem agir a longas distâncias os pesquisadores que estudam esse gene, mas é confu�
e em qualquer orientação, deve existir um modo que ga� sa para a maioria dos outros. Entretanto, muitas carac�
ranta que eles atuem no gene correto. Isso é conseguido terísticas dos fatores de transcrição descritas aqui são
pelo uso de sequências isoladoras que estabelecem os ilustradas pelo controle transcripcional do gene do re�re�
limites de influência de um enhancer. Isoladores são ceptor de lipoproteína de baixa densidade (LDL). Esse
sequências de DNA que, quando ligadas � proteína dedo gene é transcrito em resposta � falta de colesterol ce�
de Zn CCTF (fator de ligação a CCCTF) e posicionadas lular. A transcrição aumentada leva a uma quantidade
entre um enhancer e o TATA box, impedem a ativação aumentada do receptor de LDL e � captação aumentada
gênica mediada pelo enhancer. Uma atividade adicio� de LDLs e de seu colesterol do sangue (p. 743).
nal dos isoladores é impedir a propagação da heterocro�
matina, o que levaria ao silenciamento de genes. O promotor do gene do receptor de LDL tem um
TATA box e sítios de ligação para uma variedade de
fatores de transcrição conhecidos (Figura 8.28). O
Ativação da Transcrição do Gene TATA box é o sítio de ligação de TFIID e de formação
do complexo de pré�iniciação com a RNA polimerase II.
do Receptor de LDL Ilustra Muitas Existem três sítios de consensos para ligação do fator
de transcrição Sp1 que contém dedo de zinco (lembre�
Características Encontradas na �se que Sp1 liga�se a GC boxes em promotores). Sp1
Regulação Gênica Eucariótica tem um domínio de ativação rico em glutamina, que se
acredita que ajude a recrutar TFIID para o TATA box.
A descrição da regulação da expressão de genes eu� Esse recrutamento requer um fator adicional, chamado
carióticos específicos pode rapidamente se transformar o cofator necessário � ativação de Sp1 (CRSP, cofactor
numa �sopa de letras” de fatores de transcrição e regu� required for Sp1 activation). Entretanto, a ligação de
ladores de fatores de transcrição, que faz sentido para Sp1 não é suficiente para ativar a transcrição do gene.
340 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
(a) Colesterol suficiente (b) Baixo colesterol leva ao transporte de SREBP (c) Região N-terminal liberada de SREBP
mediado por SCAP para o cis-Golgi e o pode mover-se para o núcleo.
processamento que libera a região terminal de SREBP
SREBP Protease
Protease
SCAP
SCAP
SCAP
FIGURA 8.29 SREBP é liberado de um precursor ligado à membrana pela ação de protease.
(a) A proteína de ligação ao elemento de resposta a esterol colesterol e move�se, com SREBP, para o cis�Golgi, onde duas
(SREBP) é sintetizada como uma proteína precursora que deve proteases diferentes clivam SREBP, (c) permitindo que o do�
ser processada proteoliticamente antes de atuar como fator de mínio citoplasmático se dirija ao núcleo. Dessa forma, SREBP
transcrição. O precursor fica preso � membrana do ER por duas não ativa o gene do receptor de LDL, a menos que os níveis de
regiões que atravessam a membrana. Fica firmemente associado colesterol estejam baixos.
com a proteína ativadora da clivagem de SREBP (SCAP), mas Adaptado de Brown, M. S., Ye, J., Rawson, R. B. e Goldstein, J.
permanece não�processado quando os níveis de colesterol na L. Regulated intermembrane proteolysis: A control mechanism
membrana do ER são normais. (b) SCAP sente níveis baixos de conserved from bacteria to humans. Cell 100:391, 2000.
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 341
Tratamento de Câncer Usando Drogas Que Têm Como Alvo a Modificação de Histonas e de DNA: Terapia
Epigenética
Tanto a metilação do DNA como a modificação de mitirem que a acetilação das histonas seja mantida e a
histonas influenciam a expressão gênica. Por exemplo, estrutura da cromatina fique mais aberta. O inibidor de
a metilação do DNA está normalmente associada com HDAC vorinostat foi recentemente aprovado pelo FDA
uma redução na expressão gênica, e, em alguns tipos para tratamento de linfoma de células T cutâneo.
de cancer, a hipermetilação do DNA é encontrada na
região do promotor de genes supressores de tumor. A O uso desses inibidores, individualmente e como
metilação do DNA, mediada pela DNA metiltransfera� parte de tratamentos combinados com outras terapias
se (DNMT), pode ser inibida por 5�azacitidina e outros para o câncer, é muito promissor.
análogos de nucleotídeos. Vários desses compostos fo�
ram aprovados pelo FDA para o tratamento da síndro�
Gore, S. D. Combination therapy with DNA methyl�
me miodisplástica e de leucemia. Outros análogos de transferase inhibitors in hematologic malignancies. Na
nucleotídeos e análogos não�nucleotídeos que inibem ture Clinical Practice Oncology 2:S30, 2005; Lyko, F. e
DNMT estão sendo procurados. Brown, R. DNA methyltransferase and the development of
epigenetic cancer therapies. J. Nat. Cancer Inst. 97:1498,
Inibidores da histona deacetilase (HDAC) também 2005; e Schmidt, K. Lamarckism Revisited: Epigenetics
vêm sendo procurados, com o objetivo de reestimular and Its implications for Modern Health Care. Sequenom
a expressão dos genes supressores de tumor, por per� White Paper, 2007.
342 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
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Termos Chaves
cromatina
correpressor
atenuação
acetilação epigenético histona promotor
fator de transcrição motivo de ligação ao DNA
metilação
indutor
nucleossomos região de ligação (linker)
fenda maior repressor
fenda menor RNA polimerase
dedo de zinco fosforilação sequência líder
elemento de
elementos decontrole
resposta hélice�alça�hélice operon transcrição
hélice�volta�hélice policistrônico zíper de leucina
enhancer
B. são tanto mais efetivos quanto mais próximos C. todos os transposons têm aproximadamente o
estiverem do TATA box. mesmo tamanho.
C. podem estar a milhares de pares de bases de D. os pontos de inserção devem estar em uma se�
distância da montagem do complexo de pré� quência consenso.
�iniciação. E. a transposase pode reconhecer as extremida�
D. podem estar � montante ou � jusante do início des repetitivas do transposon e participar da
da transcrição. clivagem do local receptor.
E. ligam fatores de transcrição que interagem
Questões 11 e 12: Genes presentes em uma região do
com o complexo de iniciação somente após
DNA que está na forma de heterocromatina muito con�
formação de uma alça no DNA.
densada não podem ser transcritos. Para serem trans�
8. Fatores de transcrição são frequentemente proteí� critos, essa região do DNA deve mudar para uma estru�
nas que se ligam a sequências específicas e, muito tura mais aberta; isso pode ocorrer por acetilação de
provavelmente, têm um ou vários motivos estrutu� histonas por uma acetiltransferase como CBP, (proteí�
rais específicos. O motivo hélice�volta�hélice na de ligação a CREB, CREB Binding Protein). CREB
A. coordena zinco entre cisteínas e histidinas. é um fator de transcrição. A síndrome
índrome de Rubinstein�
�Taybi é causada por mutações no gene CBP. Pacientes
B. junta duas proteínas por interações hidrofóbi�
com Rubinstein�Taybi são mentalmente retardados e
cas entre leucinas.
têm outras anomalias de desenvolvimento, a gravidade
C. forma dímeros mantidos juntos por interação das quais depende da extensão da mutação.
de uma hélice de cada monômero.
11. Na cromatina,
D. tem uma hélice que reconhece e se liga � fenda
maior do DNA, enquanto interações hidrofó� A. um nucleossomo consiste de quatro moléculas
bicas com uma segunda hélice estabilizam a de histonas envolvendo um núcleo de DNA.
estrutura. B. o DNA posicionado de modo que as fendas
E. é o único motivo que se liga � fenda maior do maior e menor fiquem do lado de fora do nu�
DNA. cleossomo é mais acessível para a transcrição
do que com as fendas voltadas para o interior.
Questões 9 e 10: O problema de bactérias patogênicas C. o DNA deve ser completamente removido da
se tornarem resistentes a um grande número de antibi� estrutura do nucleossomo para a transcrição.
óticos é uma grande preocupação para a saúde pública.
D. o DNA de ligação (linker) é o único DNA ca�
Uma cepa bacteriana em um paciente que está sendo
paz de ligar fatores de transcrição.
tratado com um antibiótico pode subitamente ficar re�
sistente não só �quele antibiótico, mas também a outros, E. o octâmero de histonas consiste de oito tipos
embora não tenha sido exposta aos outros antibióticos. diferentes de proteínas histonas.
Isso ocorre quando a bactéria adquire um plasmídeo de 12. A acetilação de histonas pode levar a uma estrutu�
outra cepa que contém vários transposons diferentes. ra mais aberta do DNA por
9. Todas as frases seguintes descrevem transposons, A. enfraquecer a atração eletrostática entre as
exceto histonas e o DNA.
A. um modo de incorporação permanente de re� B. levar as histonas a interagirem com o domínio
sistência a antibióticos a um cromossomo bac� C�terminal (CTD) da RNA polimerase.
teriano. C. causar repulsão eletrostática entre as histonas
B. contêm sequências
ências repetidas terminais inver� e o DNA.
tidas curtas. D. facilitar a metilação do DNA.
C. codificam uma enzima que sintetiza guano� E. atrair fatores de transcrição para o DNA.
sina tetrafosfato e guanosina pentafosfato, o
que inibem mais transposição. Problemas
D. incluem pelo menos um gene que codifica uma 13. Qual será o estado de transcrição do operon lac em
transposase. (a) presença de glicose e (b) ausência de glicose,
E. contêm número variado de genes. em ambos os casos com lactose presente, se hou�
ver uma mutação que produz uma adenilato ciclase
10. Na operação de transposons
inativa?
A. tipicamente o transposon move�se de seu local
original e reposiciona�se em um local diferen� 14. Em um operon de síntese de um aminoácido que é
te. controlado, total ou parcialmente, por atenuação,
por que a presença do aminoácido impede a trans�
B. um transposon duplicado deve ser inserido na
crição do operon inteiro, enquanto a ausência do
mesma molécula de DNA do original.
aminoácido a permite?
CAPÍTULO 8 REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA • 345
Respostas
1. B Indução e repressão estão entre os mecanis� crição dos genes de rRNA e tRNA, desligando a
mos usados para controlar operons. A: os genes es� síntese de proteínas em geral. Esta é a resposta es�
truturais estão sob controle coordenado. C: o ope� tringente.
rador e o promotor são elementos da mesma fita
10. E Isso foi demonstrado para o transposon Tn3. A:
de DNA do operon que controlam, não difusíveis.
D: geralmente, a regulação de operadores permite a maioria das transposições envolve a geração de
uma cópia adicional do transposon, que é depois
certo grau de falha. E: outro mecanismo para regu�
inserido em algum outro lugar do DNA. B: a cópia
lação de um operon é a atenuação.
poderia ser inserida em uma molécula diferente de
2. D Se o operador for incapaz de se ligar ao repres� DNA. C: o comprimento varia consideravelmente,
sor, a velocidade de transcrição será maior do que dependendo do número de genes incorporados no
o nível basal. A: o produto do gene lacI é a proteína transposon. D: a maioria dos sítios�alvos parece ser
repressora. Quando essa proteína se liga ao indu� bastante aleatória em sua sequência,ência,, apesarapesarapesar dedede al�al�al�
tor, não mais se liga ao operador e a transcrição au� guns transposons tenderem a se inserirem em hot
menta. A incapacidade de se ligar ao indutor impe� -spots específicos.
de essa sequência. B e C: em presença de glicose,
11. B A montagem do complexo de iniciação da trans�
ocorre a repressão por catabólito. A glicose baixa
crição e outras proteínas envolvidas na expressão
o nível intracelular de cAMP, de modo que não há
gênica precisam ter acesso �s fendas do DNA. A
complexo CAP�cAMP para ativar a transcrição. E:
e E: o core ou cerne dos nucleossomos é um oc�
o operon lac não envolve correpressão.
tâmero de duas moléculas de cada uma de quatro
3. A Operons são mecanismos procarióticos. B, C e histonas diferentes. C: um deslocamento de cinco
D: um operon é a unidade regulatória completa de pares de bases na associação do DNA com o core
um conjunto de genes agrupados, incluindo os ge� de histonas é suficiente para mudar a orientação
nes estruturais, genes regulatórios e elementos de das fendas e permitir o acesso. D: parece que é o
controle, como o operador. E: um operon pode ter DNA associado com o nucleossomo que está envol�
mais de um promotor, como o operon triptofano de vido na ligação de fatores de transcrição e outras
E. coli. proteínas.
4. E O mecanismo não está esclarecido, mas a ini� 12. A A acetilação de um e�amino grupo de lisinas
ciação da transcrição do rRNA é inibida. próximo � extremidade N�terminal das histonas
5. A A metilação é na citosina. B: este é um sítio de muda uma carga positiva para uma espécie neutra,
ligação para vários fatores de transcrição. C: este é de modo que há menos atração pelos fosfatos ne�
o ponto ao qual se liga a RNA pol II. D: este é o sítio, gativos do DNA. B: as histonas não interagem di�
no operon lac, onde se liga a proteína ativadora de retamente com o CTD da RNA polimerase II. C: a
catabólito. E: isso significa o domínio C�terminal mudança é de positivo para neutro, não�negativo,
de uma proteína e não é uma sequência de DNA. de modo que não há repulsão eletrostática. D: a
metilação do DNA afeta a transcrição, mas é um
6. E A: TBP é parte do fator geral de transcrição fenômeno separado da acetilação de histonas. E: o
TFIID. B: muitas proteínas estão envolvidas. C: a nucleossomo sofre reposicionamento.
atividade de helicase está associada com um dos
fatores de transcrição (TFIIH). D: o CTD deve es� 13. Normalmente, a glicose baixa o nível intracelular
tar na forma não�fosforilada para que a RNA poli� de cAMP. Portanto, há pouco ou nenhum comple�
merase entre no complexo de pré�iniciação. xo CAP�cAMP para ativar a transcrição, de modo
que a transcrição do operon é baixa. A mesma si�
7. B São parte da região do promotor. A: são se� tuação existiria nessa mutação. Normalmente, na
quências de DNA, não proteínas. C, D, e E: são ca� ausência de glicose, cAMP éé alto,alto,alto, ooo controlecontrolecontrole posi�posi�posi�
racterísticas dos enhancers, que também são se� tivo é exercido, e o operon lac é transcrito. Nessa
quências de DNA, mas geralmente não fazem parte mutação, cAMP não pode se formar uma vez que a
do promotor. enzima que catalisa sua formação está defectiva.
8. D A volta tem apenas quatro aminoácidos, de Não há controle positivo, e o operon lac não será
modo que as duas hélices ficam bem próximas. A: transcrito eficientemente.
esse é o dedo de zinco. B: esse é chamado zíper de 14. Tais operons codificarão um peptídeo líder que tem
leucina (bZIP). C: isso é característico da hélice� um ou mais códons para o aminoácido em ques�
�alça�hélice. E: todos os motivos têm alguma parte
tão. Uma vez que o RNA do peptídeo líder tenha
que se liga � fenda maior.
sido sintetizado, pode formar diferentes estruturas
9. C Essas guanosina�fosfatos são sintetizadas pelo secundárias dependendo de o ribossomo parar ou
produto do gene relA; elas inibem o início da trans� não nessa região. Se o ribossomo não parar porque
346 • PARTE II TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO
nal
há aminoácido
tRNAde carregado),
terminaçãosuficiente
ae estrutura
a síntese
(e,para.
secundária é um si�
consequentemente,
Se o ribossomo regado, a estrutura secundária que se forma não
é reconhecida como um sinal de terminação e a
transcrição do operon continua.
parar em decorrência da insuficiência de tRNA car�
PARTE III CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 347
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
9
Proteínas II:
Relações
função
de Proteínas
emEstrutura-
Famílias
Richard M. Schultz
Professor Titular, Strich School of Medicine, Loyola University of Chicago
9.1
CONTEÚDO
9.2 INTRODUÇÃO,
MOLÉCULAS DE348
ANTICORPOS: A SUPERFAMÍ- CORRELAÇÕES CLÍNICAS
9.1 As Proteínas do Complemento, 351
9.2 Funções de Diferentes Classes de Anticorpos, 352
LIA DE PROTEÍNAS IMUNOGLOBULINAS, 349
9.3 Imunização, 353
9.3 PROTEÍNAS COM UM MECANISMO CATALÍTICO
9.4 Formação de Fibrina em um Infarto do Miocár
COMUM: SERINO PROTEASES, 357
dio e Uso de Ativador de Plasminogênio Tecidual
9.4
9.5 HEMOGLOBINA
O
381
COMPLEXO PROTEICO
E MIOGLOBINA,
DA LÂMINA
367 BASAL, Recombinante (rt-PA), 358
9.5 Envolvimento de Serino Proteases em Metástase
de Células Tumorais, 360
9.6 Hemoglobinopatias, 368
Conceitos Chaves
IMUNOGLOBULINAS pervariável que se liga ao antígeno, alvo específico
• As moléculas de imunoglobulinas contêm sequên- para aquele anticorpo.
cias
dobras
pesadas (H) da estrutura
homólogas
de imunoglobulinas
repetidas básica
que
nasproduzem
cadeias
de quatro
leves
múltiplas
polipep-
(L) e • A dobra de imunoglobulina é uma superdobra, que
aparece em uma ampla variedade de moléculas
com sequência e função não-homóloga.
tídeos (LH)2.
• As dobras de imunoglobulinas de diferentes ca
• Os
anticorpos.
mover
ção domínios
é ligar
a polimerização
o antígeno,
N-terminaisemdas
ativarclasses
o complemento
cadeias
específicas
L e eHpro-
(os
de SERINO PROTEASES
deias associam-se para formar domínios cuja fun
• As serino proteases são definidas por um mecanis
mo catalítico comum com resíduos de aminoácidos
essenciais catalíticos idênticos.
• As serino proteases tipo-tripsina têm duas dobras
domínios VL–VH) possuem uma região de alça hi- em b-barril, compreendendo a unidade catalítica
348 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
com os resíduos do sítio catalítico na fenda inter um sítio heme para outros sítios heme na estrutura
domínio. Por evolução convergente, outras famílias quaternária.
de serino proteases evoluíram com uma estrutura
• Prótons e moléculas de 2,3-bisfosfoglicerato que se
terciária não-homóloga, mas com um mecanismo
dissociam da hemoglobina à medida que ela muda
catalítico idêntico ao das proteases na família tipo da conformação desoxi- para a oxi-regulam o equi
-tripsina.
líbrio da associação-dissociação de oxigênio por
• AA expecificidadeexpecificidade dede substratosubstrato parapara diferentesdiferentes subs-subs meio de alterações em suas concentrações.
tratos fisiológicos entre as proteases da família da
• A hemoglobina sequestra NO para entregar para a
tripsina é determinada pelas regiões de alça das
parede do capilar na conversão para a conforma
estruturas em dobras, que permite interações de
ção desoxi.
sítio secundário com os substratos polipeptídicos.
ESTRUTURA DA LÂMINA BASAL
• Proteases catalizam reações pela estabilização da
estrutura tetraédica e oxiânion do estado de tran • A lâmina basal é um complexo estrutural extra
sição hidrolítico. celular molecularmente organizado, composto de
As serino proteases são geralmente sintetizadas múltiplas subunidades proteicas, com um núcleo in
•
terativo que consiste de colágeno tipo IV, laminina,
como zimogênios, ativadas por uma protease a
nidogênio/entactina e heparam sulfato perlecam.
montante em uma cascata de enzimas, e inibidas
por inibidores proteicos conhecidos como serpinas. • As proteínas da lâmina basal estão presentes em
diferentes isoformas, e as isoformas expressas em
HEMOGLOBINA E MIOGLOBINA um tecido em particular são características do te
• As cadeias da hemoglobina e da mioglobina têm es cido que sintetiza sua membrana basal associada.
truturas dobradas idênticas. Laminina e colágeno tipo IV se autopolimerizam,
•
• Um grupo prostético heme é parte do sítio de liga formando redes moleculares definidas, com sítios
ção de O2 nas cadeias de globinas da hemoglobina de ligação para coproteínas e para proteínas recep
e da mioglobina. toras celulares.
• A hemoglobina tem uma estrutura quaternária • A laminina da lâmina basal fica interconectada
com quatro unidades heme que ligam oxigênio com o citoesqueleto intracelular das células vi
com cooperatividade positiva por meio de mudan zinhas nos sítios receptores de adesão focal das
ças conformacionais na subunidade transferida de membranas plasmáticas celulares.
nantes antigênicos.
Cadeia
Regiões
Um hapteno é uma molécula pequena que não é pesada constantes (C)
capaz, sozinha, de induzir a produção de anticorpos CH3 CH
Região Imunoglobulinas de
determinante de
complementariedade uma Classe Contêm
3 S S S S 2
CH CH3
Regiões CH Homólogas
As diferenças em sequência das
regiões CH entre classes de imuno
globulinas determinam as caracte
COOHCOOH terminal
rísticas de cada classe. Em algumas
FIGURA 9.2 Estrutura diagramática de IgG. classes, a sequência CH promove
As cadeias leves (L) são divididas em dobras Ig VL (sequência variável de aminoácidos) polimerização de moléculas com a
e CL (sequência constante de aminoácidos). As cadeias pesadas (H) são divididas em estrutura básica (LH)2. Assim, anti
VH e CH1, CH2 e CH3. Os sítios de ligação de antígeno são VH–VL. Os polipeptídeos de corpos da classe IgA estão frequen
articulação (hinge) interconectam domínios. As posições de ligações cistina inter e temente presentes como estruturas
intracadeia são mostradas. diméricas [(LH)2]2. Do mesmo modo,
De Cantor, C. R. e Schimmel, P. R. Biophysical Chemistry. Parte I. San Francisco:
moléculas de IgM são comumente
Freeman, 1980. Reproduzido com permissão de Sr. Irving Geis, New York.
pentâmeros [(LH)2]5. As diferentes
pervariáveis de cinco a sete resíduos em VL e três ou cadeias H, que são identificadas por suas sequências
quatro regiões hipervariáveis, de seis a 17 resíduos, no homólogas de aminoácidos, são designadas por g, a, d,
domínio VH são comuns. Essas são as regiões determi- e e m, e ocorrem nas classes IgG, IgA, IgM, IgD e IgE,
nantes da complementaridade (CDRs), que formam o respectivamente (Tabela 9.1; Correlação Clínica 9.2).
As Proteínas do Complemento
O sistema do complemento consiste de pelo menos IgG ou IgM Clq, Clr, Cls Cla C2, C4
30 proteínas do complemento distintas no plasma (ver C4b• C2aC3
p. 1006 para suas designações). Essas proteínas par C4b • C2a • C3b C5, C6, C7, C8, C9
ticipam de uma cascata bioquímica que atua na eli lise
minação de patógenos e materiais estranhos de um
organismo. Três vias distintas (vias clássica, da lecti (A linha acima designa protease ativa). Além disso,
na e alternativa, ver figura) utilizam diferentes sinais a membrana da célula alvo ligada a C5b tem atividade
iniciais para ativar o sistema do complemento. As três de opsonização e imuno aderência, promovendo a des
vias convergem no fator C3 para formar os fragmentos truição da célula alvo por células fagocíticas. O produto
de proteína C3a e C3b, que promovem os eventos de C5a com C3a contribui para a inflamação.
ativação.
A via alternativa pode ser ativada por polissacarí
Muitas das proteínas do complemento são precurso deos de microrganismos invasores, na ausência de um
resinativos ou zimogênios de enzimas serino proteases. anticorpo específico, ou por agregados de IgA. A via al
Na ativação, elas ativam a proteína seguinte da via pela ternativa envolve properdina e fator D. O fator D cliva
clivagem de uma ligação peptídica específica na proteí proteolicamente B em produtos Ba e Bb, que na super
na substrato, fazendo que se torne uma serino protease fície da célula alvo se ligam ao C3, e C3 nesse comple
ativa. A ativação por hidrólise de uma ligação peptídica xo hidrolisa autocataliticamente uma ligação peptídica
específica é um método importante para a ativação de para produzir C3a e C3b. C3b combina-se com Bb para
proteases extracelulares. Por exemplo, as enzimas seri produzir uma C3 convertase, diferente da convertase
no proteases que catalisam a formação do coágulo san formada na via clássica, que age mais sobre moléculas
guíneo, a fibrinólise de coágulos de sangue e a digestão de C3 no sangue para produzir quantidades aumenta
de proteínas da dieta no intestino são ativadas princi das de C3a e C3b (ver figura, via 3).
palmente por proteases específicas a montante (p. 1007
A via da lectina é ativada pela opsonina, uma lectina
e 1057). Essas vias de ativações sucessivas de protease
que liga manose (MBL), que se liga a polissacarídeos de
constituem cascatas nas quais ocorre amplificação do
manose na suprefície do microrganismo invasor. A MBL
eventos desencadeante.
da superfície celular então se liga às serino proteases
A via clássica é iniciada pela ligação dos anticorpos MBL-associadas MASP-1 e MASP-2. Esse complexo é
IgG ou IgM a antígenos na superfície externa de células semelhante ao complexo C1 da via clássica e cliva C4 no
bacterianas invasoras, protozoários ou células tumo complexo C2—C4 para produzir C4b, que converte C3
rais. Na ligação a um antígeno celular, o sítio de ligação em C3a e C3b (figura, via 2).
de complemento da região Fc do anticorpo é exposta,
Proteases extrínsicas liberadas de leucócitos ou ati
como resultado de uma mudança conformacional. Isso
vadas por outras vias também podem ativar o sistema
permite a ligação das proteínas C1 do complemento ao
complemento independentemente dos complexos con
anticorpo ligado à superfície celular. O complexo C1 é
vertases (figura, via 4).
composto pelas proteínas C1q, C1r e C1s. As proteínas
C1r e C1s do complexo sofrem uma mudança confor Anormalidades no sistema do complemento po
macional e tornam-se enzimas serino proteases ativas dem resultar em doenças inflamatórias, infecções
na superfície celular. O complexo C1 ativado (C1a) hi por patógenos recorrentes, doenças autoimunes in
drolisa uma ligação peptídica em C2 e C4, e então se cluindo artrite reumatoide, lesão glomerular e doen
associa também com a superfície celular. O complexo ças oculares como uveíte e degeneração macular. O
agora proteoliticamente ativo C2a—C4b é a convertase complemento desempenha um papel na isquemia e
C3 da via clássica (figura, complexo 5) e hidrolisa uma em doenças cardiovasculares, e no transplante de ór
ligação peptídica em C3 para produzir os produtos C3a gãos e de tecidos.
e C3b. C3a é uma anafilatoxina que causa a ativação
de plaquetas e neutrófilos, degranulação de mastócitos
Markiewski, M. M. e Lambris, J. D. The role of comple
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recrutamento de células inflamatórias. C3b liga-se à su spotlight. Am. J. Pathology 171:715, 2007; Okroj, M., Hei
perfície da célula alvo e o complexo C2—C4—C3b ati negård, D., Holmdahl, R e Blom, A. M. Rheumatoid arthritis
vado hidrolisa proteoliticamente C5 para produzir C5a and the complement system. Ann. Med. 39:517, 2007; e Zip
e C5b. C5b ativada associa-se com C6, C7, C8 e múlti -fel, P. F., Mihlan, M. e Skerka, C. The alternative pathway of
plas moléculas de C9, que se ligam à superfície celular complement: a pattern recognition system. Adv. Exp. Med.
bacteriana e iniciam a lise da membrana. Biol. 598:80, 2007.
352 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Iniciada pelo complexo atígeno-anticorpo Iniciada por estruturas de carboidratos Iniciada por estruturas estrangeiras da superfície celular
C1q se liga ao anticorpo associados ao petógeno: MBL/ficolinas. Ligados à superfície: C3/C3H2
B O→C3a +C3b
Proteases associadas com C1q: C1r e C1s Proteases associadas: MASP1, MASP2 →Ba +Bb
ação da
protease D
C4→ C4b+C2a
C4 C2→ C2a+ C2b
Properdina
C3b Bb
C2 (6)
C4b C2a C3 convertase
(5)
C3 convertase
Proteases extrínsicas (4):
C3 Elastase, Trombina,
C3a Calicreína
C3b+C4b,C2a
C5 convertase (7)
Lise de bactéria
(9)
C5a
C6, C7, C8, Complexo de
Inflamação C5b (C9)n ataque a membrana
C5
(8)
Vias da Ativação do Complemento. As três vias são a invasora (9). Esquema de cores: resultados, vermelho; ati
clássica (1), da lectina (2) e alternativa (3). Adicionalmen vadores, marrom; enzimas proteolíticas, laranja; substratos
te, proteases extrínsicas (4) podem ativar o sistema com proteicos inertes, azul.
plemento. A clássica C3 convertase (5) é gerada por ambas
as vias clássica e lectina, enquanto um complexo C3 conver
tase diferente (6) é formado na via alternativa. O produto
Redesenhado de Markiewski, M. M. e Lambris, J. D. Am.
C3b participa no complexo C5 convertase (7). Os resultados
J. Pathology 171:715, 2007.
das vias convertase são inflamação (8) e lise da bactéria
A classe IgA de imunoglobulinas é encontrada, pri IgM, os anticorpos IgG promovem fagocitose no plasma
mariamente, em secreções mucosas (brônquica, na e ativam complemento.
sal, e secreções mucosas intestinais, lágrimas, leite e
As funções biológicas normais das classes IgD e IgE
colostro). Eles são a defesa inicial contra a invasão de
patógenos virais e bacterianos, antes de sua entrada no não são conhecidas; contudo, IgE desempenha um pa
plasma ou outro espaço interno. pel importante em respostas alérgicas, como choque
anafilático, febre do feno e asma.
A classe IgM é encontrada somente no plasma. São
A deficiência de imunoglobulinas geralmente causa
os primeiros anticorpos induzidos em quantidades
susceptibilidade aumentada a infecções. Agamaglobu
significativas na exposição a um novo antígeno estra
linemia ligada ao X e imunodeficiência variável comum
nho. Eles promovem a fagocitose de microrganismos são exemplos. A doença mais comum é a deficiência se
por macrófagos e leucócitos polimorfonucleares, e letiva de IgA, que resulta em infecções recorrentes dos
também são potentes ativadores do complemento (ver seios da face e do trato respiratório.
Correlação Clínica 9.1). Eles ocorrem em muitas se
creções externas, mas em níveis menores do que os
de IgA. Cerutti, A., Qiao, X., e He, B. Plasmocytoid dendritic
cells and the regulation of immunoglobulin heavy chain
A classe IgG ocorre em alta concentração no plas class switching. Immunology and Cell Biol. 83:554, 2005;
ma. Sua síntese em resposta a antígenos estranhos de Rosen, F. S., Cooper, M. D. e Wedgewood, R. J. P. The pri
mora um período de tempo mais longo do que o de IgM. mary immunodeficiences. N. Engl. J. Med. 333:431, 1995;
Em concentração máxima, estão presentes em concen e Wines, B. D., e Hogarth, P. M. IgA receptors in health and
tração significativamente mais alta do que IgM. Como disease. Tissue Antigens 68:103, 2006.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 353
Imunização
Uma vacina para imunização consiste de células para a produção de anticorpos e aumentam as con
bacterianas mortas, vírus inativados, parasitas mor centrações iniciais de anticorpo antígeno-específico
tos, formas não-virulentas de bactérias vivas, toxinas produzidos. Essa é a base para a proteção fornecida
bacterianas desnaturadas ou proteínas recombinan por imunização.
tes. A introdução de uma vacina em um ser humano
leva à proteção contra uma forma virulenta de mi Vacinas introduzidas recentemente para adultos in
crorganismos ou agentes tóxicos que contêm o mes cluem a vacina pneumocóccica (para evitar pneumonia
mo antígeno. Antígenos em material não-virulento induzida por Diplococcus pneumoniae), vacina con
causam diferenciação de células linfoides, de modo tra hepatite B e vacina contra influenza. A composição
que produzam anticorpos contra o antígeno estranho, da última muda todo ano, para acompanhar as varia
e diferenciação de algumas células linfoides em célu ções antigênicas do vírus influenza.
las de memória. As células de memória não secretam
anticorpos, mas colocam anticorpos contra o antíge
no em sua superfície externa, onde atuam como fu Barouch, D. H. Challenges in the development of a HIV
turos sensores para o antígeno. Essas células de me 1 vaccine. Nature 455:613, 2008; Benkö, S., Magyarics, M.,
Szabó, A. e Rajnavölgyi, E. Dendritic cell subtypes as prima
mória são radares de longa duração para o antígeno ry targets of vaccines: The emerging role and cross-talk of
potencialmente virulento. Quando da reapresentação pattern recognition receptors. Biol. Chem. 389:469, 2008;
do antígeno, mais tarde, a ligação do antígeno com
Moscicki, A. HPV vaccines: Today and in the future. J. Ado
o anticorpo da superfície celular das células de me lescent Health 43:S26, 2008; Pejawar-Gaddy, S. e Finn, O. J.
mória estimula tais células a se dividirem em células Cancer vaccines: accomplishments and challenges. Critical
produtoras de anticorpos e novas células de memó Reviews in Oncology-Hematology 67:93, 2008; e Webby, R.
ria. Uma vez que ocorra a introdução de um antígeno, J. e Sandbulte, M. R. Influenza vaccines. Frontiers in Bios
as células de memória reduzem o tempo necessário cience 13:4912, 2008.
Sítio de reconhecimento
do antígeno 3+NH N
Peptídeo de + H3
VH articulação VH
(hinge) NH
VL VL + H3
NH3++ N
CH1 CH1 3
3+
H
N CH2 CH2
Peptídeo
conversão
de C CL VH VH
L papaína
(switch) Ponte de dissulfeto VL VL Fc
CH2CH2 +
CH1 CH1 CH3 CH3
Carboidrato CL CL Fab
–OOC COO–
FIGURA9.8 Hidrólise de IgG em dois fragmentos Fab e um Fc por papaína, uma enzima proteolítica.
isto é, g1, g2, g3 e g4, que dão origem aos isotipos de IgG lhantes e padrão de dobras estabilizado por uma liga
IgG1, IgG2,
quências dasIgG3
trêseproteínas Figura
IgG4. A dos genes-g.
9.9 apresenta as
Há homologiase ção cistina. Mais tarde, na evolução, mais duplicações
de gênicas levaram aos múltiplos genes (g1, g2, g3 e g4), que
95% na sequência de aminoácidos entre esses genes. codificam as regiões constantes das classes IgG.
CH
H3
H3C
HC C O O
P
F O CH3 H3
H3C O
+ Enzima Ser OH HCOPO
C C CH3
H
CH3
Enzima Ser
FIGURA9.11 Reação de diisopropilfluorofosfato (DFP) com a serina do sítio ativo em uma serino protease.
As serino proteases frequentemente ativam outras plos de proteólise limitada porque apenas uma ou duas
serino proteases a partir de sua forma precursora ina ligações peptídicas específicas, dentre as centenas da
tiva, chamada zimogênio, por clivagem de uma ligação proteína substrato, são hidrolisadas. Em condições de
peptídica específica. Esse mecanismo de ativação de desnaturação, contudo, essas mesmas proteases hidro
zimogênio permite às serino proteases participarem lisam múltiplas ligações peptídicas que levam à digestão
de processos fisiológicos cuidadosamente controlados de peptídeos, proteínas, e até a autodigestão (autólise).
como coagulação do sangue (Correlação Clínica 9.4), Acredita-se que várias doenças como enfisema, artrite,
fibrinólise, ativação do complemento (ver Correlação trombose, metástase no câncer (Correlação Clínica 9.5)
Clínica 9.1), fecundação e produção de hormônios (Ta e algumas formas de hemofilia resultem da falta de re
bela 9.2). As ativações de serino proteases são exem gulação de serino proteases específicas.
Acredita-se que o ativador de plasminogênio uroqui catalítica por uPA secretada pelas células tumorais ou
nase, uma serino protease, seja necessário para a me estromais no ambiente de células tumorais permite que
tástase de células de câncer. A metástase é o processo as células tumorais degradem as proteínas da matriz
pelo qual uma célula de câncer deixa um tumor primá extracelular e invadam, pela matriz, formando focos de
rio e migra, pelos sistemas sanguíneo ou linfático, para tumores secundários.
outro tecido ou órgão, onde um tumor secundário cres
ce. A síntese aumentada do ativador de plasminogênio
tipo uroquinase (uPA) tem sido correlacionada com a Annecke, K., Schmitt, M., Euler, U., Zerm, M., et al. uPA
capacidade aumentada de produzir metástases em mui and uPAI-1 in breast cancer: Review of their clinical utility
tos tipos de câncer. O uPA ativa o plasminogênio, for and current validation in the prospective NNBC-3 trial. Adv.
mando plasmina. O plasminogênio está ubiquamente Clinical Chemistry 45:31, 2008; Harbeck, N., Kates, R. E.,
Gauger, K., Willens, A., et al. Urokinase-type plasminogen
localizado no espaço extracelular e sua ativação a plas
mina pode causar degradação de proteínas na matriz activator (uPA) and its inhibitor PAI-1: novel tumor-derived
factors with a high prognostic and predictive impact in breast
extracelular, através da qual células tumorais metastá cancer. Thrombosis and Hemostasis 91:450, 2004; e Hilden
ticas migram. A plasmina também pode converter pró brand, R. e Schaaf, A. The urokinase-system in tumor tissue
-colagenase em colagenase, que promove a degradação cology
stroma 34:15,
of breast and breast cancer cell invasion. Int. J. On-
2009.
do colágeno da membrana basal que circunda os capi
lares e o sistema linfático. Essa promoção de atividade
Serino Proteases Apresentam Notável Como estes são significativamente menores do que os
Especificidade na Hidrólise de Ligações naturais, eles interagem apenas com o sítio catalítico (sí
tio primário de ligação S1) e são ditos sítio ativo-dirigi
Peptídicas
dos. Estudos com substratos pequenos e inibidores indi
Muitas serino proteases preferem hidrolisar ligações cam que o sítio de hidrólise em substratos polipeptídicos
peptídicas próximas a um tipo específico de aminoáci é flanqueado por aproximadamente quatro resíduos, em
do. Assim, a tripsina quebra preferencialmente no lado ambas as direções, que se ligam à enzima e interferem
carboxílico dos aminoácidos básicos arginina e lisina, na reatividade da ligação hidrolisada. Os dois resíduos
e a quimotripsina quebra no lado carboxílico de resí- do substrato que contribuem com a ligação a ser hidroli
duos de aminoácidos de cadeia lateral hidrofóbica gran sada são denominados por P1—P1!. Assim, nos substratos
de, como triptofano, fenilalanina, tirosina e leucina. A da tripsina, o resíduo P1 será lisina ou arginina, e nos
elastase quebra no lado carboxílico de resíduos hidro substratos da quimotripsina o resíduo P1 será um amino
fóbicos pequenos, como alanina. Uma serino protease ácido hidrofóbico. A interação do resíduo P1 com o sítio
é tipo-tripsina, tipo-quimotripsina ou tipo-elastase se S1 permite a interação primária entre o substrato e a en
tiver especificidade semelhante à das enzimas citadas. zima. Os outros resíduos de aminoácidos que interagem
A especificidade por um certo tipo de aminoácido só da proteína substrato são chamados P4—P2 e P!2—P!4 em
indica uma preferência relativa da enzima. A tripsina cada lado da ligação susceptível, respectivamente. As
também cliva ligações peptídicas em seguida a aminoá regiões complementares da enzima que se ligam a es
cidos hidrofóbicos, mas a uma velocidade muito menor ses resíduos do substrato são designadas por subsítios
do que para os aminoácidos básicos. Portanto, a espe S4—S4! (Figura 9.12). Essas são as interações secundá
cificidade de hidrólise de uma ligação peptídica pode rias com o substrato, fora de S1—S!1, que determinam, em
não ser absoluta, mas pode ser mais bem descrita como última análise, a especificidade de uma protease por um
uma faixa de alvos mais prováveis. Nem todos os sítios substrato proteico em particular. Assim, a serino prote
de hidrólise contendo aminoácidos idênticos numa pro ase da coagulação fator Xa só quebra em uma arginina
teína substrato são igualmente susceptíveis. A tripsina específica da protrombina, para produzir trombina. É a
hidrolisa cada uma das ligações peptídicas de arginina interação secundária que permite que o fator Xa reco
de uma proteína em particular com velocidades catalíti nheça a arginina específica que quebra na protrombina.
cas diferentes, e algumas podem requerer uma mudan As interações de P4—P!4 com os subsítios S4—S!4 são não
ça conformacional para ficarem acessíveis. -covalentes. O sítio de ligação estendido do substrato in
terage com o sítio de ligação da enzima para produzir
A especificidade de serino proteases por ligações uma estrutura em folha-b entre a enzima e o substrato, o
peptídicas específicas foi determinada com substratos que posiciona a ligação peptídica susceptível do substra
sintéticos, com menos de 10 aminoácidos (Tabela 9.3). to na posição S1—S1! (Figura 9.13).
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 361
Glicil H— 1
Leucil H3C
H3 CH CH2 1,6 × 104
Metionil CH3 C
—S—CH2—CH2— 2,4 × 104
CH2
Ac-Ala-NH2 1
Ac-Pro-Ala-NH2 1,4 × 101
Ac-Ala-Pro-Ala-NH2 4,2 × 103
Ac-Pro-Ala-Pro-Ala-NH2 4,4 × 105
Ac-Ala-Pro-Ala-Pro-Ala-NH2 2,7 × 105
aCalculado /Km em
bCalculado a partir de valores de kcat/K encontrados
Thompson,para C. e Blout, E. R. Biochemistry
R. N-acetilaminoácido metil ésteres
12:57,
em substratos
1973. de quimotripsina.
Serino Proteases São Sintetizadas zados em células do fígado e são secretados no sangue,
para subsequente ativação, após lesão vascular, por ou
como Zimogênios e em Proteínas tras serino proteases. Os zimogênios são geralmente de
signados pela adição do sufixo -ogênio ao nome da en
com Múltiplos Domínios zima; como no tripsinogênio e no quimotripsinogênio.
As serino proteases são sintetizadas como zimogê Em alguns casos, o zimogênio é chamado pró-enzima;
nios, que requerem proteólise limitada para produzir a por exemplo, o zimogênio da trombina é protrombina.
enzima ativa. Os zimogênios da coagulação são sinteti
Asp 189
− Ser 190
O
S2 S1
O Tyr 39
O S1 S2
H Gly 193 S3
Gln 175 S3 Ser 214 H + H
Ser 195
S5 N N – Phe 41 O
N
S4 O H
Gly 216 N
O H H O H
H H
Asn 97
N O H N
H O H
N H
H H N
O H N O
O Lys 318
O Tyr 320
OH P Asn 321
O H 1
P
2 P
H N 3
N Cys 316
Thr 310 N P
3
P9 Glu 312
Ser 314
P
7 P5
sendo quase que simetricamen TABELA 9.4 Estruturas de Serino Proteases Determinadas por Cristalografia de
uma
te
alças
dois
apresentadas
região
domínios
se combinam cada
para um
de superfície
por
dobrados. que
formar
Essas
dos
se Raios-X
EspéciedeOrigem InibidoresPresentes Resolução (Å)
Enzima
CH2
CH
inibidor pancreático bovino de tripsina).
cMais alta resolução para essa molécula, das múltiplas determinações.
TABELA 9.5 Sobreposição Estrutural de Serino Proteases Específicas da Família da Tripsina e Comparação da Sequência
de Aminoácidos Resultante
Número dos
Aminoácidos na Número de Resíduos Número de Resíduos
Comparação Sequência EstruturalmenteEquivalentes Quimicamente Idênticos
Protease 1 Protease 2
tico. Portanto, a família das serino proteases constitui em qualquer serino protease. (3) Serino proteases eu
uma série de proteínas estruturalmente relacionadas, carióticas apresentam alta similaridade de sequência e
que usa uma serina cataliticamente ativa. Durante a estrutural. (4) Genes que codificam serino proteases
evolução, a estrutura básica em dois domínios e os resí são organizados de modo similar (Figura 9.17). Seus
duos cataliticamente essenciais foram mantidos, mas as padrões éxon-íntron mostram que cada um dos resí
regiões das interações secundárias (regiões das alças) duos cataliticamente essenciais (Ser-195, His-57 e Asp
mudaram para fornecer as diferentes especificidades 102) está em um éxon diferente. A histidina e a seri
frente aos substratos, ativadores e inibidores, relativos na essenciais ficam quase adjacentes ao limite de seus
aos seus diversos papéis fisiológicos. éxons. A homologia cruzada entre espécies na estrutura
gênica suporta o conceito de que as serino proteases
evoluíram a partir de um gene primordial comum. (5)
Serino Proteases Têm Relações A porção catalítica das serino proteases compreende
dois domínios, de tamanhos aproximadamente iguais.
Estrutura-Função Semelhantes O sítio catalítico fica em sua interface ou na fenda en
As relações entre a estrutura e a função fisiológica tre os dois domínios. (6) A estrutura tridimensional do
das serino proteases são resumidas como se segue: (1) sítio catalítico das serino proteases é complementar à
apenas um resíduo de seri
na é cataliticamente ativo H D S
Uroquinase D S
Fator VII
ções no quimotripsinogênio,
esses três resíduos invariá FIGURA9.17 Organização de éxons e íntrons nos genes de serino proteases.
veis são denominados Ser O t-PA é um ativador de plasminogênio tecidual, e o NGF é um fator de crescimento neural que
195, His57 e Asp 102, e cha contém uma estrutura homóloga à de serino protease. Os éxons estão mostrados por caixas, e
mados tríade catalítica. os íntrons por linhas que fazem a conexão. A posição dos códons de serina, histidina e aspartato
Essa numeração, baseada do sítio ativo são designados por S, H e D, respectivamente. As caixas vermelhas, à esquerda,
em seu número na sequên mostram as regiões que codificam o peptídeo sinal NH2-terminal, que é clivado antes da secreção.
As caixas mais claras, à direita, representam parte da sequência transcrita em RNA mensageiro
cia do quimotripsinogênio,
(mRNA), mas não traduzida em proteína. As setas indicam os códons de resíduos nos quais a
é usada para identificar tais
ativação proteolítica do zimogênio ocorre.
resíduos, independentemen Redesenhado e modificado de Irwin, D. M., Roberts, K. A. e MacGilliwray, R. T. J. Mol. Biol.
te de suas posições exatas 200:31, 1988.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 365
TABELA 9.6 Sequências Invariáveis em Torno da Serina (S) e da Histidina (H) Cataliticamente Essenciais
Enzima Sequência (Resíduos Idênticos à Quimotripsina Estão em Negrito)
Quimotripsina A F H em
Resíduos F Torno
C G G da SHistidina
L I NCataliticamente
E N W V V Essencial
T A A H* C G V T T S D
Tripsina Y H F C G G S L I N S Q W V V S A A H C Y K S G I Q
Elastase pancreática A H T C G G T L I R Q N W V M T A A H C V D R E L T
Trombina E L L C G G S L I S D R W V L T A A H C L L Y P P W
Fator X E G F C G G T I L N E F Y V L T A A H C L H Q A K R
Plasmina M H F C G G T L I S P E W V L T A A H C L E K S P R
Calicreína plasmática S F Q C G G V L V N P K W V L T A A H C K N D N Y E
Tripsina de Streptomyces – – – C G G A L Y A Q D I V L T A A H C V S G S G N
Subtilisina V G G A S F V A G E A Y N T D G N G H G T H V A G T
Quimotripsina A C A Gem–Torno
Resíduos – – da
A Serina
S G Cataliticamente M G D S* G G P L V
V – – S S CEssencial
Tripsina C A G Y – – L E G G K – D S C Q G D S G G P V V
Elastase pancreática C A G – – – G N G V R – S G C Q G D S G G P L H
Trombina C A G Y K P G E G K R G D A C E G D S G G P F V
Fator X C A G Y – – D T Q P E – D A C Q G D S G G P H V
Plasmina C A G H – – L A G G T – D S C Q G D S G G P L V
Calicreína plasmática C A G Y – – L P G G K – D T C M G D S G G P L I
Tripsina de Streptomyces C A G Y – P D T G G V – D T C Q G D S G G P M F
Subtilisina A G V Y S T Y P T N T Y A T L N G T S M A S P H
Fonte: Barrett, A. J. Em: A. J. Barrett e G. Salvesen (Eds.), Proteinase Inhibitors. Amsterdam: Elsevier, 1986, p.7.
366 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
homólogos à tripsina. Entretanto, uma classe separada exata desses grupos doadores de pontes de hidrogênio
de serino proteases descoberta primeiro em bactérias no sítio ativo é uma característica estrutural cataliti
não tem homologia estrutural com a família da tripsina camente crítica das enzimas proteases.
de mamíferos. A serino protease subtilisina, isolada de
Bacillus subtilis, hidrolisa ligações peptídicas e contém
uma serina ativada, com uma histidina e um aspartato Inibidores Proteicos Específicos de
em seu sítio ativo e uma estrutura de sítio ativo comple
mentar ao estado de transição da reação hidrolítica, mas Serino Proteases
seu sítio ativo surge de regiões estruturais da proteína A evolução da família das serino proteases para
que não apresentam nenhuma homologia de sequência participação em processos fisiológicos promoveu uma
ou estrutural com a família da tripsina. Serino proteases evolução paralela de inibidores. Proteínas específicas
da família da subtilisina são também encontradas em cé inibem a atividade das serino proteases quando seu
lulas humanas. Este é um exemplo de evolução conver papel fisiológico termina (Tabela 9.7). Assim, a coagu
gente de um mecanismo catalítico enzimático. Aparen lação é limitada ao local da lesão vascular e a ativação
temente, um gene completamente diferente desenvolveu do complemento leva à lise somente das células que
o mesmo mecanismo catalítico para hidrólise peptídica. apresentam antígenos estrangeiros. A incapacidade de
controlar essas proteases, como por uma deficiência
de um inibidor específico, pode levar a consequências
Mecanismo de Catálise das Serino indesejáveis, como formação de trombos iniciando in
Proteases farto do miocárdio e acidente vascular cerebral, ou a
reações descontroladas do complemento em doenças
Todas as serino proteases tipo-tripsina catalisam a autoimunes. Esses inibidores naturais de serino pro
hidrólise da ligação peptídica por um mecanismo catalí teases são denominados serpinas, em referência a seri
tico idêntico, com as ações coordenadas de um sítio ati ne protease inhibitors (inibidores de serino protease).
vo Ser-195, His-57 e Asp-102. Esses resíduos ficam em Estes ocorrem em animais que produzem as proteases,
domínios diferentes dos dois domínios que compõem mas surpreendentemente são também encontrados em
a unidade catalítica. Na proteína dobrada, as estrutu plantas que não têm proteases.
ras tridimensionais aproximam esses resíduos
na interface do domínio que compreende o sítio
primário de catálise (Figura 9.18). Os nitrogê
nios do imidazol das His-57s formam pontes de
hidrogênio com o gOH da Ser-195 e a cadeia la
Ser-195 Tetraedro
teral carboxilato do Asp-102. Na hidrólise cata His-57
lisada pela protease, a histidina funciona como O Oxiânion
uma base catalítica geral e o gOH da serina for Asp-102 +
– H N N H.. .............. O
.. – H N
..
ma um ester intermediário transitório covalente O ..
.. ... ..........
.. ... O
com uma parte do substrato. Esses mecanismos C-terminal . . ........
H
do substrato N .... C N
envolvendo a Ser-195 e a His-57 facilitam a que ..
...
bra da ligação peptídica susceptível do substrato H Pontes de hidrogênio
C Estabilizam o estado
ligado ao sítio ativo. de transição
CLIVAGEM
+
Alem dos três aminoácidos cataliticamente –Asp-189
INTERMEDIÁRIO
essenciais do sítio ativo, todos os sítios ativos TETRAÉDICO N-terminal
têm características que estabilizam a estrutura do substrato
do estado de transição da reação. O estado de
transição é a estrutura de maior energia na via
da reação à qual o substrato é elevado. A veloci FIGURA9.18 Estabilização da estrutura da reação do estado de
transição da hidrólise de peptídeo pela tripsina.
dade da reação depende da energia necessária O substrato polipeptídeo é mostrado em vermelho, com os átomos do car
para atingir a estrutura do estado de transi bono a, cadeia lateral (lisina) e ligação peptídica lábil do resíduo P1 do
ção, e as enzimas aceleram as velocidades da substrato. A ligação peptídica lábil está em uma estrutura intermediária
reação, reduzindo a energia necessária para como aquela do estado de transição da reação proposta, na qual a ligação
atingir a estrutura do estado de transição. Uma peptídica entre o carbono da carbonila e o nitrogênio está sendo quebrada,
enquanto a ligação entre o gO da Ser-195 e o carbono da carbonil está sen
forma de reduzir essa energia é estabilizar a es
trutura do estado de transição hidrolítico. To do feita. Nessa estrutura, o carbono da carbonila é ligado transitoriamente
dos os sítios ativos das serino proteases contêm a quatro átomos diferentes, e o oxigênio da carbonila está carregado nega
tivamente. A enzima ativa está em azul e contém Ser-195, His-57 e Asp-102
dois grupos doadores de pontes de hidrogênio
cataliticamente essenciais. A cadeia polipeptídica do sítio ativo da enzima
orientados e posicionados para doar pontes de contribui com duas pontes de hidrogênio que estabilizam a estrutura do
hidrogênios que estabilizam a estrutura do es estado de transição.
tado de transição (Figura 9.18). A localização Modificado de figura de Stroud, R. M. Sci. Am., 231:74, 1974.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 367
A Hemoglobina α α
50
Humana Ocorre em γ
β
Várias Formas
Uma molécula de hemoglobina
% da
síntese
40
total de 30
globina
20
consiste de quatro cadeias polipep
ε
tídicas, duas de cada com duas se ζ β
10 γ
quências diferentes. Cada cadeia δ
contém um grupo prostético heme
6 12 18 24 30 36 1 6 12 18 24 30 36 42 48
que liga oxigênio. Na ligação de O2 Nascimento
a uma molécula de hemoglobina Idade pós-concepcional (semanas) Idade pós-natal (semanas)
para formar Hb(O2)4, os quatro sí
FIGURA9.19 Mudanças na produção de cadeias de globina durante o
tios de ligação de O2 agem de maneira
desenvolvimento.
cooperativa. A forma majoritária de Redesenhado de Nienhuis, A.W. e Maniatis, T. Em: Stamatoyannopoulos, G., Nienhuis, A.
hemoglobina humana adulta, HbA1, W., Leder, P., e Majerus W. (Eds.), The Molecular Basis of Blood Diseases. Philadelphia:
consiste de duas cadeias a e duas Saunders, 1987, p. 68, na qual a referência de Weatherall, D. J. e Clegg, J. B., The Tha
cadeias b (a2b2). O polipeptídeo a lassemia Syndromes, 3. ed., Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1981, é citada.
368 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Hemoglobinopatias
Há bem mais de 800 hemoglobinas humanas mu Hemoglobinas mutantes que formam meta-hemo
tantes conhecidas. As mutações causam instabilidade globina incluem HbIwatea87His→Tyr e HbHydeParkb92His→Tyr,
na estrutura da hemoglobina, afinidade aumentada ou nas quais as histidinas proximais F8 das cadeias a e b,
diminuída por oxigênio, ou um aumento na taxa de oxi e na HbSaskatoonb63His→Tyr,
respectivamente, as histidinas
estão mutadas. Na Hbdistais
Bostona58His→Tyr
de Ligação de O2
As quatro subunidades globinas da hemoglobina e NN His F8 Proximal
a única da mioglobina contêm, cada uma, um grupo COO–
N
prostético heme. Um grupo prostético é uma parte
não-polipeptídica que forma uma parte funcional de
uma proteína. Sem seu grupo prostético, uma proteína
é denominada apoproteína. Com seu grupo prostético,
é uma holoproteína.
N Fe N
Nas hemoglobinas e mioglobina, o heme é protopor
firina IX (p. 814), com um átomo de ferro em seu centro O2
(Figura
se O2 9.20). O ferro está no estado ferroso (carga +2) N N
na hemoglobina e na mioglobina funcionais, onde pode
His E7
formar cinco ou seis ligações covalentes, dependendo Distal N
está ou não ligado. Quatro ligações são com os
átomos de nitrogênio pirrólico da porfirina. Como os
anéis pirrólicos e os carbonos de ligação fazem parte
do mesmo sistema aromático, esses átomos ficam em FIGURA9.21 Ligações de ligantes com o átomo ferroso
um plano comum. O Fe2+ ligado à porfirina tende a fi na oxi-hemoglobina.
car no mesmo plano da porfirina. A quinta e a poten
cial sexta ligações
oxi-globinas, O2 com o Fe2+ são dirigidas para um HC2 Tyr
FG2
eixo perpendicular ao plano do anel porfirínico (Figura
9.21). A quinta ligação é com um nitrogênio do imidazol F9 CD2
NA2 G19
H5
AB1
COO– COO–
CH2 CH2 A1
H1
CH2 CH2
GH4
C CH C
CH3 C C C C
H2O CH3 FIGURA 9.22 Estruturas secundária e terciária
CNNC
C N Fe NC características das globinas da hemoglobina.
CH CH As cadeias laterias da His F8 proximal, His E7 distal, Tyr HC2 e
H2O Val E11 são mostradas. Outros aminoácidos da cadeia polipep
CH2
CH C C C C CH3 tídica são representados pelas posições do carbono-α apenas;
as letras M, V e Preferem-se às cadeias laterais metil, vinil e
C CH C CH2
propionato do heme.
CH3 CH Reimpresso com permissão de Perutz, M. Br. Med. Bull.
32:195, 1976.
deias laterais carregadas positivamente da arginina e dos quais 83 são invariáveis. Apenas 15 resíduos in
da histidina. Nas cadeias da hemoglobina, uma diferen variáveis são idênticos aos resíduos invariáveis das ca
ça na sequência de aminoácidos dessa região do sítio de deias globinas das hemoglobinas de mamíferos. Embora
ligação do heme leva à estabilização dos propionatos da exista uma surpreendente variabilidade de sequência,
porfirina por interação com um imidazol de histidina as estruturas secundária e terciária são quase idênticas
não-carregado e com moléculas de água do solvente, na (Figura 9.23). Além disso, todas as cadeias de globina
superfície externa da molécula. funcionam na ligação, de forma reversível, do oxigênio.
Contudo, quando se compara as sequências da mioglo
bina com as sequências das cadeias globina da hemoglo
Cristalografia por Raios-X Definiu bina, as mudanças são principalmente conservativas e
as Estruturas da Hemoglobina e da preservam as propriedades físicas dos resíduos (Tabe
la 9.9). Mudanças de sequência entre as sequências de
Mioglobina mioglobina e hemoglobina são parcialmente explicadas
pelo fato de a mioglobina agir como um monômero; por
As estruturas das formas desoxi e oxi da hemoglo tanto, muitas de suas posições de superfície interagem
bina e da mioglobina foram resolvidas por cristalogra com água e impedem que outra molécula de mioglobina
fia de raios-X. De fato, a mioglobina de cachalote foi a se associe. Diferentemente, os resíduos de superfície
primeira proteína cuja estrutura foi determinada por das subunidades individuais da hemoglobina formam
essa técnica, seguida pela hemoglobina de cavalo. Es pontes de hidrogênio e contatos não-polares com ou
sas estruturas mostram que cada globina consiste de tras subunidades na estrutura quaternária. As histi
múltiplas regiões a-hélice, conectadas por voltas que dinas proximal e distal ao ferro heme são preservadas
permitem o dobramento em uma forma esferoidal ca em todas as cadeias de globina, assim como os bolsões
racterística da dobra de globina (Figura 9.22 e Figura hidrofóbicos do heme que formam contatos essenciais
3.37, p. 105). não-polares com o heme.
FG2 FG2
COO– CD2
CD2
COO– F9
F9
H24 C7
F6 C7 CD1
HC5 CD1 C3 M P
C3 M P
C5 F8 C5
F8 CD7 G1 CD7
G1
E7 V E7 E1
V E1
M D1
M D1 C1
C1 B14 F1 G5 D7
F1 G5 D7
B16
H16 V
V M E5
H16 M E5
G15 B5
G15 B5
EF1
EF1 EF3
EF3 B1
B1 NA1 A16
A16
+ E20
E20 NH3 G19
G19
AB1
AB1 NA2 H5
H5
+ A1 H1
H3N A1 H1
GH4
GH4
(a) (b)
MIOGLOBINA Val Leu Ser Glu Gly Glu Trp Gln Leu Val Leu Hid Val Val Ala Asp Val Ala Gly Jis
Cavalo Val Leu Ser Ala Ala Asp Thr Asn Val LyS Ala Ala Val Gly His Ala Gly Glu Tyr
Val Gln Leu Ser Gly Glu Glu Ala Ala Val Leu Ala Leu Val Glu Glu Glu Val
Humana Val Leu Ser PrO Ala Asp Thr ASn Val LyS Ala Ala Val Ala His Ala Gly Glu Tyr
Val His Leu Thr PrO Glu Glu Ser Ala Val Thr Ala Leu Val Val Asp Glu Val
Gly His Phe Thr Glu Glu Asp Ala Thr Ilu Thr Ser Leu Val Val Glu Asp Ala
Val His Leu Thr PrO Glu Glu Thr Ala Val ASn Ala Leu Val Val Asp Ala Val
11 13 14 15 16 C1 3 CD1 D1
MIOGLOBINA Gln Asp Ilu Ilu Leu Phe LyS Ser HiS PrO Glu Thr Phe Arg LyS His LyS Thr
Cavalo Ala Ala Glu Met Phe Leu Gly Phe PrO Thr Thr Phe His Asp Ser His
Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Gly
Humana Ala Ala Glu Met Phe Leu Ser Phe PrO Thr Thr Phe His Asp Ser His
Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Thr
Gly Thr Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Ser
Gly Ala Gly Leu Leu Val Val Tyr PrO Trp Thr Phe Ser Gly Asp Ser Ser
E1 7 12 14 E 15 16 17 18 19 20
MIOGLOBINA Glu Ala Glu Met Lys Ala Ser Glu Asp HiS Gly Leu Ala Leu Gly Ala Ilu Leu LyS
Cavalo Ser Ala Gla HiS Gly Ala Gly Leu Thr Le Ala Val Gly
Pro Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ser Phe Gly Glu Gly Val His
Humana Ser Ala Gln HiS Gly Ala Ala Leu Thr ASn Ala Val Ala
PrO Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ala Phe Ser Asp Gly Leu Ala
Ala Der Ala Ilu Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ser Leu Gly Asp Ala Ilu LyS
PrO Asp Ala Val Met Asn PrO LyS HiS Gly Leu Ala Phe Ser Asp Gly Leu Ala
EF1 2 3 4 5 6 F1 2 5 FG1 G1
MIOGLOBINA LyS Gly His Glu Ala Glu Leu Lys PrO Ala Gln Thr His Lys Ilu PrO Ilu LyS Tyr
Cavalo Leu Leu POr Gly Ala Leu Ser Asp ASn His Leu Arg Val Asp PrO Val
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Ala Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Humana Val Met PrO ASn Ala Leu Ser Ala Asp His Leu Arg Val Asp PrO Val
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Thr Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ala Gln Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
Leu Leu LyS Gly Thr Phe Ser Gln Glu Asp Leu His Val Asp PrO Glu
5 6 7 8 G9 10 11 12 13 14 15 18 H1 H3
MIOGLOBINA Leu Glu Phe Ser Glu Ala Ilu Ilu His Val Ser Gly Phe Gly Ala Asp Ala Gln Gly
Cavalo LyS | Leu Ser His Cys Leu Ser Thr Val ASn Phe Thr PrO Ala Val HiS
Arg | Leu Gly ASn Val Ala Leu Val Arg LyS Phe Thr PrO Glu Leu Gln
Humana LyS Leu Ser His Cys Leu Val Thr Ala Ala Phe Thr PrO Ala Val HiS
Srg Leu Gly Asn Val Val Cys Val His LyS Phe Thr PrO PrO Val Gln
LyS Leu Gly Asn Val Val Thr Val Ilu LyS Phe Thr PrO Glu Val Gln
Arg Leu Gly Asn Val Val Cys Val Arg LyS Phe Thr PrO Gln Met Gln
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 18 19 23 HC1 2 3
MIOGLOBINA Ala Met ASn Ala Leu Glu Leu Phe Arg LyS Ilu Ala Tyr LyS Leu Gly Tyr Glu Gly
Cavalo Ser Ley Asp Phe Leu Ser Ser Val Ser Thr Leu Thr Tyr Arg
Ser Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala ASn Leu Ala His Tyr His
Humana Ser Leu Asp Phe Leu Ala Ser Val Ser Thr Leu Thr Tyr Arg
Ala Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala ASn Leu Ala His Tyr HiS
Ser Trp Gln Met Val Thr Gly Val Ala Ser Leu Ser Ser Tyr HiS
ala Tyr Gln Val Val Ala Gly Val Ala Asn Leu Ala His Tyr His
Fonte: Baseado em diagrama de Dickerson, R.E. e Geis, I. The Structure and Function of Proteins. New York: Harper & Row, 1969, p. 52.
"Mioglobina de cachalote. Os resíduos que são idênticos estão dentro dos retângulos. A, B, C, ... designam diferentes hélices de estrutura terciária
(ver texto).
Aproximadamente 70% dos resíduos participam das entre as hélices são designadas por AB, BC, CD, ..., GH,
O:-hélices da dobra de globina, gerando sete O-hélices respectivamente. A região não-helicoidal da extremidade
na cadeia o e oito na cadeia B. Essas últimas oito re NH2-terminal é designada por NA, e a da extremida
giões helicoidais são comumente chamadas A–H, co de COOH-terminal é HC (Figura 9.22). Os resíduos de
meçando pela extremidade NH2-terminal. As regiões aminoácidos são numerados Sequencialmente a partir
372 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
pO2 em capilares de
de 1 em cada uma das hélices e regiões inter-hélices
músculo ativo pO2 nos pulmões
designadas por letras. Esse sistema de numeração per 1.0
mite a discussão sobre regiões e resíduos específicos,
que desempenham papéis funcional e estrutural seme Mioglobina
lhantes na hemoglobina e na mioglobina. )
( Hemoglobina (pH 7,4)
o
ã
ç 0.5
a
r
u
Um Equilíbrio Simples Define a t
a
S
Ligação de O2 à Mioglobina
A associação do oxigênio com a mioglobina é ca
racterizada por uma constante de equilíbrio simples 60
20 40 80 100
(Equações 9.1 e 9.2). A [MbO2] é a concentração em so P50 pO2 (torr)
lução de oximioglobina, a [Mb] a de desoximioglobina, e
a [O2] é a de oxigênio, todas em unidades de moles/litro.
A constante de equilíbrio, Keq, tem unidade de moles/ FIGURA9.24 Curvas de ligação de oxigênio para
mioglobina e hemoglobina.
litro. O valor da Keq é dependente do pH, da força iônica Os gráficos colocam a curva da mioglobina próxima do valor
e da temperatura. zero de pO2 nesse sistema de coordenada. Se o eixo do pO2
Mb + O2 K⇌eq fosse expandido em torno da região da P50 da mioglobina, a
MbO2 (9.1) sensibilidade menor da variação de Y na mioglobina com a mu
dança na concentração de oxigênio em relação à hemoglobi
Keq = [Mb] · [pO2] na seria demonstrada (ver Índice de Cooperatividade, Tabela
(9.2)
[MbO2] 9.10). O índice, baseado nos coeficientes de Hill observados,
mostra a mioglobina muda de Y = 0,1 para Y = 0,9 com uma
Como o oxigênio é um gás, é conveniente expres mudança de mais de 81 vezes na concentração de oxigênio,
sar sua concentração como pressão de oxigênio, em enquanto para a hemoglobina basta uma variação de 4,8 vezes
na concentração de oxigênio.
torr (1 torr equivale à pressão de 1 mm Hg a 0 °C e
gravidade padrão). Na Equação 9.3, essa conversão de
unidades foi feita como mostra a troca de símbolos: P50, Uma manipulação algébrica simples da Equação 9.6
a constante de equilíbrio, e pO2, a concentração de oxi leva à Equação 9.7. Tomando-se o logaritmo de ambos
gênio, sendo expressa em torr. os lados da Equação 9.7, resulta na Equação 9.8, a Equa
ção de Hill. Um gráfico do log [Y/(1 - Y)] versus log pO2,
[Mb] · pO2 de acordo com a Equação 9.8, gera uma linha reta, com
P50= (9.3)
[MbO2 inclinação igual a 1 para a mioglobina (Figura 9.25).
Este é o gráfico de Hill, e a inclinação (nH) é o coefi
Em uma curva de ligação ou de saturação de oxigê ciente de Hill (Equação 9.9).
nio, a fração de sítios de ligação de oxigênio que contêm
1−
YY pO2
oxigênio (Y, Equação 9.4) é colocada na ordenada ver
sus pO2 (concentração
] de oxigênio), na abscissa. O va P50 (9.7)
lor de Y é definido para a mioglobina pela Equação 9.5. Y
Substituindo-se na Equação 9.5 o valor de [MbO2] obtido log = = log pO2 − log P50 (9.8)
na Equação 9.3, e, depois, dividindo-se tudo por [Mb], 1−Y
resulta na Equação 9.6, que mostra a dependência entre
Y e o valor da constante de equilíbrio P50 e da pO2. A
partir das Equações 9.3 e 9.6, o valor de P50 é igual a pO2
quando Y = 0,5 (50% dos sítios disponíveis ocupados),
daí a designação da constante de equilíbrio por P50.
Mioglobina
número de s´ıtios de ligaç˜ao ocupados nH = 1,0
Y = número total de s´ıtios de ligaç˜ao em soluç˜ao (9.4)
l
go Hemoglobina
nH = 2,8
Y = [MbO2]
[Mb] + [MbO2 (9.5)
Y 1,5 18,7
log = nH log pO2 − constante (9.9) 2,0 9,0
1−Y
2,8
3,5 4,8
3,5
Cooperatividade positiva de
O significado do coeficiente de Hill para a associação 6,0 2,1 substrato
cooperativa do O2 é avaliado quantitativamente como
apresentado na Tabela 9.10. Um índice de cooperativida 10,0 1,6
de, Rx, é calculado, o qual mostra o número de vezes de 20,0 1,3
mudança na pO2 necessário para mudar Y de um valor Fonte: Baseado na Tabela 7.1 de Cornish-Bowden, A. Principles of
de Y = 0,1 (10% dos sítios ocupados) para um valor de Y Enzyme Kinetics. London: Butterworths Scientific Publishers, 1976.
= 0,9 (90% dos sítios ocupados), para os valores de coe
ficiente de Hill encontrados experimentalmente. Para a A energia da ligação de O2 supera a interação repul
mioglobina, nH = 1 e uma mudança de 81 vezes na con siva entre a His F8 e a porfirina, e o átomo ferroso move
centração de oxigênio é necessária para mudar o valor -se para dentro do plano da porfirina. Esta é a posição
de Y = 0,1 para Y = 0,9. Para a hemoglobina, nH = 2,8, e termodinamicamente mais estável para o oxi-heme, o
uma mudança de apenas 4,8 vezes na concentração de átomo de ferro com seis ligantes tendo um ligante axial
oxigênio é necessária para a mesma mudança de Y. em cada lado do plano da porfirina, e a repulsão esté
rica de um ligante axial é equilibrada pela repulsão do
Mecanismo Molecular de Cooperatividade segundo ligante axial do lado oposto, quando o átomo
na Ligação de O2 ferroso está no centro. O raio do átomo de ferro com seis
ligações também é reduzido, de modo que ele caiba no
Dados de difração de raios-X da desoxi-hemoglo centro da porfirina sem distorção da conformação da
bina mostram que os átomos ferrosos na realidade porfirina.
situam-se fora do plano de suas porfirinas em cerca de
0,4–0,6 Å. A configuração eletrônica do átomo ferroso Como a repulsão estérica entre a porfirina e a His
com cinco coordenações na desoxi-hemoglobina tem F8 na conformação desoxi deve ser superada na asso
um raio ligeiramente maior do que a distância entre o ciação com O2, a ligação do primeiro O2 é caracteriza
centro da porfirina e cada átomo de nitrogênio pirróli da por uma constante de afinidade relativamente bai
co. Consequentemente, o ferro só pode ser colocado no xa. Entretanto, após a ligação de O2 ao primeiro heme,
centro da porfirina com alguma distorção na confor a mudança do ferro para o centro da porfirina dispara
mação da porfirina. Provavelmente mais importante uma mudança conformacional nas outras subunidades
é que, se o átomo de ferro ficar no plano da porfirina, da molécula de hemoglobina. Essa mudança resulta
o imidazol da His F8 proximal vai interagir desfavora em uma maior afinidade do O2 pelos outros sítios heme
velmente com a porfirina. Essa interação estérica des desocupados.
374 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
C
O do O2 a uma das subunidades heme da molécula tetra
NH
mérica empurra a conformação molecular do estado
CH2 CH conformacional T para o R. A constante de afinidade
Histidina
para O2 é maior no estado R por um fator de 150-300,
repulsive
Contato HC
HN C proximal dependendo das condições da solução.
CH
C CH N
CH
3
C CH CH3 Hemoglobina Facilita o Transporte
C C
N C
O CH2
Grupo C CH C
CH2
N Fe C
C CH de CO2 e NO
Heme N
C N CH
C C
CH3
CH2
A sobrevivência das células depende da capacidade
O C C C C da hemoglobina dos eritrócitos entregar O2 para o meta
CH2 C CH3
CH CH2
O bolismo celular e para facilitar o transporte de CO2, das
O
CH2 células para os pulmões. A hemoglobina também liga o
C
Valina vasodilatador NO, e o entrega para as paredes vascula
CH3
Distal CH CH res dos tecidos. O equilíbrio conformacional entre T e
CH3 O
C CH
N R da molécula de hemoglobina controla a entrega de O2,
NH HN CO2 e NO para seus locais corretos. Em decorrência das
O CH mudanças no pKa dos grupos ácidos das cadeias laterais
C
CH
entre as conformações T e R, o equilíbrio TR é regu
CH2 Histidina
C
Distal lado pela concentração do íon hidrogênio. As mudanças
NH
no pH ligam a entrega de O2 e NO para os tecidos com o
transporte de CO2 para longe dos tecidos.
FIGURA9.26 Impedimento estérico entre a histidina
proximal e a porfirina na desoxi-hemoglobina.
Redesenhado de Perutz, M. Sci. Am. 239:92, 1978. Copyright© Diminuição no pKa de Grupos Ácidos
(1978), Scientific American, Inc. Todos os direitos reservados.
com Carga da Conformação T para R
A mudança de conformação envolve os seguintes
eventos
puxa o Fe2+
sequenciais
para dentro
interligados: da aporfirina.
do plano(1) ligação de O2
Libera Prótons
(2) O A Equação 9.10 mostra a liberação de prótons à me
movimento do Fe2+ move a His F8 proximal ligada em dida que a conformação T é convertida na conformação
direção à porfirina. (3) A posição da hélice F covalen R. Essa liberação de prótons no pH do sangue é o efeito
temente ligada, da qual a His F8 faz parte, consequen Bohr alcalino e é de importância fisiológica.
temente muda. (4) A dobra de interligação FG da subu
nidade muda de posição; isso desestabiliza a interação HbT +4O2 ⇌ HbR(O2)4 + nH+ (9.10)
não-covalente da dobra FG com a hélice C da subunida
de adjacente na interface das subunidades a1b2 ou a2b1
O2 O valor de n na Equação 9.10 (equivalentes de pró
(Figuras 9.27 e 9.28). (5) A estrutura da globina adja tons liberados quando uma molécula de desoxi-Hb é
cente muda para uma conformação que permite que o convertida em oxi-Hb) varia entre 1,2 e 2,7, dependen
se ligue ao seu heme com maior afinidade. do das condições da solução e da concentração de íon
cloreto e de 2,3-bisfosfoglicerato. De acordo com a lei de
Assim, os contatos entre as subunidades FG e Cagem
ação das massas, o aumento na concentração de íons hi
como um comutador entre dois arranjos diferentes da
drogênio no lado direito da Equação 9.10, força o equilí
dobra FG de uma subunidade e da hélice C da subu
brio para a esquerda, em direção a concentrações cres
nidade adjacente. A nova conformação permite que os
centes de desoxi-Hb e O2 livre. A atividade metabólica
resíduos de His F8 nas cadeias da desoxiglobina aproxi
celular elevada aumenta a liberação de ácido carbônico
mem suas porfirinas na associação com O2 com menos
a partir de CO2 e ácido lático (p. 620), e consequente
repulsão estérica (Figura 9.28). O2 liga-se aos hemes
mente eleva a concentração de íons hidrogênio (acidez)
desocupados na conformação modificada, com maior
do sangue no ambiente celular. O aumento de acidez
afinidade. Além disso, interações iônicas que estabili
força a oxi-Hb para desoxi-Hb com a dissociação de O2,
zam a conformação desoxi (Figura 9.29) são quebradas
que é entregue para as células que estão metabolizan
pela mudança de conformação induzida pela ligação do
do. Essa é uma alça de retroalimentação (feedback),
O2 a um dos hemes, permitindo que a conformação oxi na qual o resíduo ácido metabólico celular sinaliza um
de outras subunidades se forme mais facilmente.
aumento na dissociação de O2, necessário para a conti
A conformação desoxi da hemoglobina é a tensa ou nuidade do metabolismo celular. O aumento na concen
estado conformacional T. A forma oxi, com maior afini tração de íons de hidrogênio induz a entrega de O2 por
dade por O2, é relaxada ou estado conformacional R. meio de seu efeito sobre o equilíbrio entre as conforma
O mecanismo alostérico descreve como a ligação inicial ções R e T da molécula de hemoglobina.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 375
89
Val His92
FG1 Leu
85 98 FB
F6 88
Asn102
G4
Fe
Pirrol Fe Prrol 1
Leu86
F7 CO Val
67
Leu31 E11
Cδ B13
Leu91 Lys66
Val93 Cε
FG3 Leu83 E10
FG5 Leu28
His87
Fe F4
B10 His63
E7
CH4 CH2
C
Gly29
O B11
(a) (b)
FIGURA 9.28Diagramas de barras e preenchimento de espaço desenhados por computação gráfica mostrando os
movimentos dos resíduos na vizinhança do heme na transição da desoxi-hemoglobina para a oxi-hemoglobina.
(a)A linha preta delineia a posição da cadeia polipeptídica e His síduos de aminoácidos em uma subunidade b usando diagrama
F8 na monóxido de carbono hemoglobina, um modelo de oxi de preenchimento de espaço. A identificação dos resíduos está
-hemoglobina. A linha vermelha delineia as posições das mesmas no centro de densidade para a conformação desoxi.
regiões para desoxi-hemoglobina. A posição do átomo de ferro é Redesenhado com permissão de Baldwin, J. e Chothia, C. J. Mol.
mostrada por círculos. Os movimentos são da uma subunidade Biol. 129:175, 1979. Direitos autorais 1979, Academic Press.
a. (b) São mostrados movimentos semelhantes na posição de re Inc. [London] Ltd.
Em pH mais alto, a curva é deslocada para a esquerda e gue vizinho e entra nos eritrócitos. Lá o CO2 é rapida
o valor de P50 diminui, refletindo uma maior afinidade mente convertido, pela ação da enzima anidrase carbô
por O2. nica, em ácido carbônico por uma reação de hidratação
(Equação 9.11).
+NH3H10 α1 Lys
CO2 + H2O H2CO3 (9.11)
COO– –OOC A4α1 Asp H2CO3 HCO3– + H+ (9.12)
HC3 α2 *H3+
NNA1 α1 Val
Arg Cl–
Subsequentemente, o ácido carbônico dissocia-se
espontaneamente em HCO3– e um H+ (Equação 9.12). O
Gua+ –OOC
+ H9 α1 Asp HCO–3 se difunde para fora dos eritrócitos e é carregado
COO–H3NC5 α1 Lys para o pulmão pelo plasma (Figura 9.32). Esse trans
porte de CO2 dos tecidos para o pulmão no plasma como
FG1 β2HC3 β2 His
bicarbonato (HCO3–) é conhecido como transporte iso
Asp COO– *Im+ -hídrico. Aproximadamente 70–80% do CO2 produzido
CD2 β2 GluCOO– Gua+ FG4 α1 Arg pelas células é transportado para o pulmão por esse
mecanismo.
FIGURA 9.29 Pontes salinas entre subunidades da desoxi
Os íons hidrogênio que se dissociam do ácido car
hemoglobina que são quebradas na oxi-hemoglobina.
Im+ é imidazol, Gua+ é guanidina, e os resíduos marcados com bônico ligam-se à hemoglobina, de acordo com a Equa
asteriscos são responsáveis por aproximadamente 60% do efei ção 9.10, e forçam a Hb(O2)4 a dissociar seu O2, que se
to Bohr alcalino. difunde para fora do eritrócito, em direção às células
Redesenhado de Perutz, M. Br. Med. Bull. 32:195, 1976. do tecido. A hemoglobina então age como um tampão
do pH do sangue, ligando os íons hidrogênio produzi
O Transporte de CO2 e de O2 é Ligado por dos pelas células em metabolismo e impedindo que o
Prótons do Efeito Bohr pH do sangue se torne muito ácido. Os prótons se ligam
a cadeias laterais como o imidazólio da His-146(b) nas
Células em metabolismo utilizam O2 e produzem duas cadeias b. A desoxi H+.Hb é transportada para os
CO2. O CO2 produzido pelas células difunde para o san pulmões, nos eritrócitos.
CAPÍTULO 9 PROTEÍNAS II: RELAÇÕES ESTRUTURA-FUNÇÃO EM FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS • 377
CO3 + Hb(O2)4
)
P50 pH
(b)
expirado
Eritrócitos
plasma
HCO
COpara
2-3 em
o ar
capilaresHCO
do pulmão
-3 + H+Hb + 4O2 O2
mais baixo
para células
dos tecidos
CO2 + H2O
H2 anidrase carbônica
p(O)2 (torr)
CO3 + Hb(O2)4
P50
plasma
-3 HCO-3 + H+Hb + 4O2 O2
FIGURA 9.31 Mudança na curva de saturação de do ar
oxigênio-hemoglobina para valores mais altos de P50
com queda no pH (aumento em [H+]). FIGURA 9.32 Transporte iso-hídrico de CO2 como
bicarbonato.
(a) Reações nos eritrócitos, nos tecidos. O CO2 difunde para os
Nos pulmões, as mesmas reações que ocorreram eritrócitos a partir dos tecidos e é convertido em ácido carbôni
nos tecidos são agora forçadas na direção reversa co pela anidrase carbônica (Equação 9.11). O ácido carbônico
próton que se dissocia
espontaneamente se dissocia
do ácidoecarbônico
m H+ e HCO(H+
–3 (Equação
em negrito)
9.12).
liga-se
O
pela alta concentração de O2 no pulmão. A alta con
centração pO2 converte H+Hb(T) na conformação
à desoxi-Hb, forçando o equilíbrio de O2-Hb de oxi-hemoglobina
Hb(O2)4(R), os prótons se dissociam (Equação 9.10)
e combinam com para desoxi-hemoglobina (Equação 9.10), com a dissociação de
moléculas de HCO3–, que se difundem O2, que difunde para fora dos eritrócitos, para os tecidos. O HCO3
de volta para os eritrócitos a partir do plasma, para se difunde para fora dos eritrócitos e é transportado no plasma
formar ácido carbônico (H2CO3, reverso da Equação para os pulmões (fora da célula). (b) Reações nos eritrócitos em
9.12). A anidrase carbônica dos eritrócitos converte nível do pulmão. No pulmão, a alta pressão de O2 força as reações
H2CO3 em CO2 e H2O (reverso da Equação 9.11). O CO2 na direção oposta. As reações são o inverso das dos capilares.
378 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
(a) Eritrócitos nos capilares dos tecidos b] (Figura 9.36). O BPG tem uma carga de menos cinco
(Figura 9.34) e é fortemente atraído pelas cargas po
dasCO
células
2 CO2 + HbNH2
sitivas do sítio de ligação da interface b–b. Na confor
dos tecidos mação R, o tamanho do bolsão de ligação fica menor,
HbNH-CO2– + H+ + Hb(O2)4
tornando o BPG incapaz de caber facilmente no bolsão
de ligação. Portanto, a conversão de T para R leva a uma
H+Hb + 4O2 O2
dissociação do BPG ligado.
para as células
dos tecidos
COo2 ar HC HO P O
para CO2 + HbNH2
OJ O C OJ
HbNH-CO2– + H+ + Hb(O2)4 P H
OJ
H+Hb + 4O2 O2
FIGURA 9.34 Estrutura do 2,3-bisfosfoglicerato (BPG). A
do ar
molécula tem uma carga de –5 em pH 7,4.
FIGURA 9.33 Transporte de CO2 como carbamino
hemoglobina.
pressão pO2
(a) Reações nos eritrócitos, nos tecidos. O CO2 difunde-se em capilares
músculo ativode pressão(torr)
pO2
para os eritrócitos e reage com o amino grupo NH2-terminal de nos pulmões
cadeias de hemoglobina para formar carbamino-hemoglobina
(Equação 9.13). A reação libera um próton (H+ em negrito),
que promove a dissociação de O2 da hemoglobina. O O2 difun
de-se para fora dos eritrócitos, para os tecidos. (b) Reações )
P50 BPG p(O)2
nos eritrócitos em nível do pulmão. No pulmão, a alta pressão mais alta
de O2 força as reações na direção oposta, levando à expiração
de CO2 do pulmão. As reações são o inverso das dos capilares.
VEIA ARTÉRIA
1 HS SH O2
2 O2 HS SH O2
ββααCO CO2 ββ
α
2 α
T O2 R O2
HSON SH ONS
2 SH O
5 6 O 2
β β β β
α α α α
X-SNO
O2 T O2 R O2
X-SNO
CO2
8 HSON SH 7 HS SH
β β β β
α α CO2 α α
T 4 O2 T
4 ββ
HS SH β SH O2
3 O2 HS
NO
β
αNOTα NOααR O
A Estrutura Molecular da Lâmina curtos, cada um formado por uma cadeia diferente, e um
braço longo composto por todas as três cadeias. Há cinco
Basal É Formada a Partir de uma genes distintos que codificam uma cadeia a e três para
cada uma das cadeias b e g, que se combinam para for
Rede de Laminina e Colágeno mar pelo menos 12 isoformas abg distintas. Diferentes
Tipo IV domínios na estrutura ligam-se ao perlecam e ao nido
gem, e pelo menos dois domínios contêm sítios de ligação
A estrutura do complexo de proteínas da lâmina ba para receptores de superfície celular. Perto da superfície
sal é produzida pela conexão de redes planas de lamini celular, as moléculas de laminina se autoassociam para
na e colágeno tipo IV. As moléculas do nidogem/entac formar uma estrutura em rede, em folheto, por meio de
tina e do proteoglicano perlecam ligam essas redes. A interações entre sítios de ligação nos domínios dos bra
estrutura polimérica da laminina inicia a formação da ços curtos da estrutura cruciforme (Figura 9.43).
membrana basal, facilitada por sua ligação a receptores
celulares (Figura 9.41). Rede de Colágeno Tipo IV
Rede de Laminina As moléculas de colágeno contêm três cadeias poli
peptídicas que inicialmente se associam por interações
A laminina é composta por três cadeias polipeptídi não-covalentes (p. 107). Colágenos que formam fibri
cas (a, b e g) ligadas por pontes dissulfeto. Cada cadeia las, como o colágeno tipo I, contêm longos trechos das
contém cerca de 1.500 aminoácidos, e o peso molecular sequências repetitivas (Gly-Pro-X)n/(Gly-HyPro-Y)n
da isoforma laminina-1 tem aproximadamente 800 kD. A contendo uma prolina ou hidroxiprolina (HyPro) e uma
estrutura geral parece como uma cruz assimétrica (Fi glicina aproximadamente a cada três resíduos (p. 109).
gura 9.42). A estrutura cruciforme contém três braços Hidroxiprolina é um aminoácido derivado, formado pela
(a) (d)
Núcleo Citoplasma
(b)
Membrana celular
(c)
α
N
prolina hidroxilase no retículo endoplasmático a par super-helicoidal. Esta molécula com três cadeias cons
tir de resíduos de prolinas na cadeia nascente de pró titui a unidade protomérica do colágeno.
-colágeno. O alto conteúdo de prolina e hidroxiprolina
gera uma conformação helicoidal para essa sequência O Colágeno tipo IV não forma estruturas fibrilares
conhecida como hélice de poliprolina tipo II (p. 109). como colágeno tipo I, mas uma rede em folheto. Os po
Essa hélice é caracterizada por três resíduos por volta lipeptídeos do colágeno tipo IV contêm regiões de sequ-
da hélice (n = 3), com uma Gly a cada três resíduos for ências (Gly-X-Pro)n/(Gly-HyPro-Y)n que formam regiões
mando uma borda longitudinal de glicinas ao longo de de tripla-hélice em forma de bastão, mas ao contrário do
um lado da hélice que promove a autoagregação de três tipo I, essas regiões são separadas por domínios de liga
polipeptídeos, cada um em uma conformação helicoidal ção e globulares que quebram as regiões super-helicoi
de poliprolina, em uma estrutura em tripla-hélice ou dais (Figura 9.44). O domínio globular da extremidade
FIGURA 9.44 Diagrama do protômero de colágeno tipo IV composto por três Nidogen/Entactina
cadeias polipeptídicas.
A linha superior mostra a localização, na estrutura primária, da região NC1, a re
Interconecta Redes de
gião da tripla-hélice central (TH) com a estrutura super-helicoidal, e a região 7S Laminina e de Colágeno Tipo IV
N-terminal. As barras pretas, linhas e caixas mostram as localizações das múltiplas
interrupções da sequência de Gly-X-Y nas cadeias de colágeno tipo IV. As duas isoformas, nidogem-1 e ni
Redesenhado de Yurchenco, P. D. Assembly of basement membrane networks. Em: dogem-2, têm 46% de homologia. Am
Yurchenco, P. D., Birk D. E. e Mecham R. P. (Eds.), Extracellular Matrix Assembly bas as formas são compostas por três
and Structure. New York: Academic Press, 1994, 351. Copyright © (1994) Elsevier. domínios globulares (G1, G2 e G3) se
parados por uma região de ligação en
C-terminal do protômero é chamado domínio NC1 (não tre G1 e G2 e uma região mais longa em forma de bas
-colágeno 1). Esse domínio C-terminal é precedido por tão entre G2 e G3 (Figura 9.46). O domínio G3 é uma
uma região central em tripla-hélice (TH) e uma região dobra em hélice-b composta de fitas-b antiparalelas
de articulação conectando a uma região de tripla-hélice que aparecem como lâminas de uma hélice de avião.
menor (7S) na extremidade N-terminal. É semelhante a uma dobra da proteína receptora de
LDL. Os nidogens ligam-se à laminina pela interação
Na montagem da rede de colágeno tipo IV, cada pro da interface da hélice-b com os domínios III e IV da
tômero liga-se a outro por uma interação cabeça-cabeça laminina (Figura 9.47). Outros sítios em nidogem for
Protômero
2
1
Dímero Hexâmero NC1
250 nm 25 nm
Domínio 7S
Domínio 7S
200 400 600 800 1000 1200 FIGURA9.46 Estrutura do nidogem. Estrutura
RGD esquemática da molécula de entactina/
* nidogem-1.
NH2 * * 1 2345
* 6 COOH
Os sítios potenciais para ligação de cálcio são marca
E/N-1
dos por asteriscos. Sítios de ligação de colágeno tipo
G1 G2 G3 IV e proteoglicano ficam no domínio G2, e o sítio de
Linha Bastão
ligação de laminina fica no domínio G3. A sequência
RGD (Arg-Gly-Asp) liga-se a receptores celulares tipo
Colágeno tipo IV Laminina
integrina.
proteoglicano
Redesenhado de Erickson, A. C. e Couchman, J. R. J.
motivo tipo-EGF motivo tipo-Thyroglobulin Região homóloga ao receptor de LDL Histochem. Cytochem. 48:1291, 2000.
hélice-β
do nidogem
(a) (b)
FIGURA 9.47 Detalhes moleculares das interações moleculares entre o nidogem e a laminina.
(a) Diagrama da fita do complexo hélice-b do nidogem do do Ca-traço e cadeias laterais formando a interação são mostrados
mínio G3 com módulos LE3-5 de laminina. As fitas b são nume em dourado. As linhas tracejadas verdes mostram as pontes de
radas na folha-b da hélice. (b) Vista da interação do nidogem hidrogênio.
com o domínio LE4 de laminina e a porção adjacente do domí Reimpresso com permissão de Takagi, I., Yang, Y., Lu, J., Wang,
nio LE3 da laminina. As porções do esqueleto do nidogem como H. e Springer, T. A. Nature 424:969, 2003.
mam complexos com o colágeno tipo IV e o perlecam param sulfato com laminina. Outros sítios do heparam
(Figura 9.48). sulfato ligam-se a receptores celulares e outros ainda, a
fatores de crescimento como TGF-b.
Proteoglicano de Heparam Sulfato
Perlecam Interconecta Redes de Laminina Colágeno IV
Laminina
e de Colágeno Tipo IV
Nidogen/entactina
HS
H S
S H
H
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388 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Termos Chave
MOLÉCULAS DE ANTI domínio b-barril HEMOGLOBINA mecanismo halostérico
CORPO estabilização do estado de 2,3-bisfosfoglicerato mioglobina
cadeias H transição alterações no pKa P50
cadeias L evolução convergente carbamino-hemoglobina transporte de CO2
classe imunoglobulina endopeptidase coeficiente de Hill transporte de NO
dobra de imunoglobulina sítio ativo-dirigido conformações R e T transporte de O2
fragmento Fab exopeptidase cooperatividade positiva LÂMINA BASAL
fragmento Fc homologia de sequência efeito Bohr contato focal
regiões contante e variável pró-enzima efeito iso-hídrico membrana basal
hapteno resíduos catalíticos HbA1 nidogem
região hiper-variável serino proteases HbF perlecam
SERINO PROTEASES serpina histidina distal rede de colágeno
ácido g-carboxiglutâmico zimogênio histidina proximal rede de laminina
Questões 7 e 8: Acredita-se que uma serino protease C. são inativadas pela reação com uma molécu
seja necessária para a metástase de células canceríge la de diisopropilfluorofosfato por molécula de
nas. As células tumorais secretam o ativador de plas proteína.
minogênio tipo-uroquinase (uPA), uma serino protease D. são exopeptidases.
que ativa o plasminogênio em plasmina. A plasmina E. reconhecem apenas os aminoácidos que con
causa a hidrólise de proteínas da matriz extracelular.
tribuem para a ligação a ser quebrada.
Ela também ativa pró-colagenase em colagenase; isso
degrada o colágeno. A destruição de proteínas da ma 10. Todas as seguintes são características da classe
triz extracelular permite que as células tumorais inva das serino proteases, exceto
dam a matriz para formar locais secundários de tumor. A. só um resíduo de serina é cataliticamente ati
7. A estrutura da lâmina basal é produzida pela cone- vo.
xão de redes planares de lamininas e colágeno tipo B. substratos proteicos naturais e inibidores li
IV. Qual(is) das seguintes afirmativas sobre eles gam-se muito fortemente à protease.
está(ão) correta(s)? C. os genes que codificam serino proteases são
A. Ambos laminina e colágeno tipo IV são com organizados de modo semelhante.
postos por três cadeias polipeptídicas. D. unidades catalíticas apresentam dois domí
B. Laminina tem uma estrutura cruciforme. nios estruturais de tamanhos drasticamente
C. Laminina e colágeno tipo IV são interconecta diferentes.
dos por um proteoglicano de heparam sulfato. E. a conversão de zimogênio na enzima ativa ge
D. Colágeno tipo IV contém sequências repetiti ralmente envolve uma ou mais reações hidro
vas de (Gly-HyPro-Y)n. líticas.
E. Todas as anteriores.
A. Questões 11 e 12: Há mais de 800 hemoglobinas mu
8. Além da serina, os outros dois resíduos essenciais tantes humanas. As mutações podem causar insta
no sítio catalítico das serino proteases são bilidade, levando à rápida degradação, alterações na
afinidade por oxigênio, ou oxidação mais rápida do Fe2+
prolina e hidroxiprolina.
do heme para Fe3+. Tudo isso altera a capacidade da he
B. histidina e aspartato. moglobina desempenhar suas funções fisiológicas. Na
C. histidinas proximal e distal. mutação HbCowtown, a histidina 146 que contribui com
D. aminoácidos C-terminal e N-terminal. 50% do efeito Bohr, é perdida. A regulação da dissocia
ção do oxigênio por prótons é impedida, a conformação
E. aspartato e glutamato.
T é desestabilizada em relação à conformação R, e afi
Questões 9 e 10: Quando um vaso sanguíneo sofre uma nidade por oxigênio é aumentada.
lesão, o processo de coagulação inicia-se para evitar 11. Acredita-se que todos os seguintes contribuam
a perda de sangue e manter a integridade do sistema para a estabilidade da conformação desoxi ou T da
circulatório. A coagulação é um processo no qual os hemoglobina, exceto
zimogênios são convertidos em serino proteases ativas
A. um raio iônico maior do íon ferroso seis-co
em um processo em cascata, passo a passo, tendo como
ordenado em comparação com um íon cinco
resultado final a produção de um coágulo de fibrina com
-coordenado.
ligações cruzadas. Em um infarto do miocárdio, o pro
cesso pode ser ativado a tal ponto que o fluxo sanguíneo B. interação estérica não-tensionada da His F8
para o músculo cardíaco é diminuído. A via da fibrinó com o anel da porfirina quando o ferro está
lise para dissolver coágulos de fibrina também envolve acima do plano.
a ativação de zimogênios em serino proteases ativas, C. interações entre a dobra FG (FG corner) de
sendo que a etapa final é a ativação de plasminogênio uma subunidade e a hélice C da subunidade
em plasmina, que age diretamente sobre o coágulo de adjacente.
fibrina. Um dos tratamentos atuais para o infarto do D. interações iônicas.
miocárdio é a rápida administração de t-PA (ativador
de plasminogênio tecidual). Na realidade, é usado o 12. Quando a hemoglobina é convertida da forma deso
xi (T) para oxi-hemoglobina (R),
t-PA recombinante, produzido pela tecnologia do DNA
recombinante. A. ela torna-se mais ácida e libera prótons.
9. Serino proteases B. a formação de carbamino é promovida.
A. hidrolisam ligações peptídicas envolvendo os C. a ligação de 2,3-bisfosfoglicerato (BPG) é fa
grupos carboxílicos de resíduos de serina. vorecida.
B. são caracterizadas por terem vários sítios ati D. NO ligado é transferido para a glutationa.
vos por molécula, cada um contendo um resí E. todas as anteriores estão corretas.
duo de serina.
390 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Respostas
1. B Haptenos são moléculas pequenas e não são ca são resíduos importantes na hemoglobina. D e E:
pazes de, sozinhas, elicitar a produção de anticor esses não estão envolvidos.
pos; portanto, não são antígenos. Eles podem atu
ar como determinantes antigênicos se estiverem 9. C Essa é a característica principal das serino pro
teases e das serino hidrolases, em geral. A: elas
covalentemente ligados a uma molécula maior, e
têm várias especificidades. B: há apenas um sítio
haptenos livres podem se ligar fortemente aos an
ativo por molécula. D: são todas endopeptidases.
ticorpos assim produzidos. E: um “sítio ativo estendido”, contendo a ligação a
2. E Ver Figuras 9.2. A: as folhas-b alinham-se face ser hidrolisada e cerca de quatro aminoácidos em
a face. B: as regiões V e C são adjacentes umas às ambos os lados, é responsável pela especificidade.
outras. C: as regiões de complementaridade são as
10. DOs domínios são de tamanhos aproximadamente
regiões variáveis tanto das cadeias pesadas como
iguais.
leves [V(H)–V(L)]. D: a ligação de antígeno é não
-covalente. 11. A O íon ferroso seis-coordenado tem menor raio iô
nico do que as espécies cinco-coordenadas, e cabe
3. E As regiões CH determinam a classe. A: existem
justo no centro do anel porfirínico, sem distorção.
duas cópias de cada um dos dois tipos de cadeias
polipeptídicas. 12. A A histidina carregada positivamente não é mais
estabilizada por estreita proximidade com um gru
4. A A hemoglobina tem quatro cadeias e quatro sítios
po carboxilato do aspartato. Este é o efeito Bohr.
para ligação de oxigênio, enquanto a mioglobina B: H+ aumentado favorece a dissociação de grupos
tem uma cadeia e um sítio para ligação de oxigênio.
carbamino; isso é o que acontece no pulmão. C: o
Cada sítio para ligação de oxigênio é um heme.
BPG não se liga efetivamente a oxi-hemoglobina
5. emOs
B HCO
prótons
–3 e H+,liberados
que se liga
como
à oxi-hemoglobina,
H2CO3 dissociam-se porque o bolsão de ligação é muito pequeno. D: na
faci oxi-hemoglobina, NO liga-se à cisteína e é trans
litando a liberação de O2 para os tecidos. A: muito ferido para a glutationa quando o O2 é liberado (a
pouco
de carregarestá
CO2 nesta forma. C: este é outro modo forma R reverte para a forma T).
CO2. D: o efeito Bohr libera H+ quando
13. A ligação de BPG à hemoglobina estabiliza a con
desoxi Hb capta O2. E: a anidrase carbônica fica
formação T, de modo que para qualquer quantida
nos eritrócitos.
de de O2, menos O2 será ligado à hemoglobina. Isso
6. D Um coeficiente de Hill maior do que 1 indica coo desloca a curva de saturação para a direita e au
peratividade positiva, o que a hemoglobina tem. A: menta a P50. O equilíbrio apresentado ilustra que o
um coeficiente de 1,0 indica não-cooperatividade; aumento de BPG leva à liberação de O2, o que deve
isso daria uma curva hiperbólica de saturação de acontecer para que o O2 penetre nos tecidos.
oxigênio. B: esse coeficiente indica um equilíbrio H+BPG×Hb + 4O2 Hb(O 2)4 + BPG + nH+
simples, que é o que a mioglobina mostra. C: o co
(Equação 9.14 do texto)
eficiente é entre 0 e 1 para cooperatividade nega
tiva. A mioglobina é um peptídeo único e não mos 14. A defesa inicial contra patógenos no muco nasal
tra cooperatividade. E: o gráfico de Hill é o log de são as imunoglobulinas da classe IgA. Se o organis
cada valor para uma curva de saturação normal e mo invadir o plasma, as imunoglobulinas IgM são
fornece uma linha reta. As inclinações, que são os os primeiros anticorpos induzidos. Com o tempo,
coeficientes de Hill, diferem. os anticorpos da classe IgG são sintetizados e vão
atingir concentrações mais elevadas do que os an
7. E Todos esses contribuem para a lâmina basal que,
ticorpos IgM.
com o colágeno fibrilar ligado ao lado de fora, é
chamada membrana basal.
8. B São designados Ser-195, His-57 e Asp-102, com
base na numeração da quimotripsina, independen
temente dos números reais das proteases individu
ais. A: esses são encontrados no colágeno. C: esses
PARTE III CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 391
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
10
Enzimas:
Classificação,
Cinética e Controle
Henry Weiner
Professor Titular, Purdue University
Conceitos Chaves
IMUNOGLOBULINAS zima e do substrato e são descritas pela equação
• As enzimas são proteínas que catalisam reações de Michaelis�Menten, na qual um termo, Km, está
químicas por meio do aumento na taxa de conver� relacionado com quão bem o substrato liga�se �
são de um substrato específico em um produto es� enzima. Outro termo cinético, kcat, indica quão ra�
pecífico. pidamente a enzima converte o substrato em pro�
duto.
• As enzimas diminuem a energia de ativação das
reações por meio da estabilização do substrato de • Compostos químicos específicos inibem a ligação
uma forma que permite a formação do produto. do substrato e a velocidade de catálise. Muitas dro�
Esse é chamado estado de transição. gas são inibidoras de enzimas por se ligarem ao
sítio de ligação do substrato ou a diferentes domí�
• As coenzimas, a maioria derivada de vitaminas,
nios da proteína.
são participantes essenciais de muitas reações en�
zimáticas; algumas são quimicamente alteradas e • AlémAlém dosdos sítiossítios dede ligaçãoligação dodo substratosubstrato ee dodo cofa�cofa�
outras não mudam durante a reação. Algumas es� tor da enzima, algumas enzimas possuem sítios de
tãoão covalentementecovalentemente ligadasligadas �� enzima.enzima. ÍonsÍons metá�metá� ligação adicionais (sítios alostéricos) de modo que,
licos são necessários para a atividade de algumas quando um composto (ligante) se liga, ele regula a
enzimas; eles estão frequentementefrequentemente ligadosligados �� pro�pro� atividade catalítica. Esses ligantes (modificadores
teína ou a um cofator. ou efetores alostéricos) geralmente induzem a uma
mudança na estrutura da enzima. As propriedades
• AA químicaquímica dasdas transformaçõestransformações enzimáticasenzimáticas estáestá re�re� catalíticas de algumas enzimas são modificadas
lacionada com os princípios químicos gerais, como por modificação covalente.
catálise ácido�base e ataque nucleofílico. A catálise
enzimática é mais eficiente porque os grupos que • As enzimas tecido�específicas liberadas no sangue
protonam (ácidos gerais) ou desprotonam (bases a partir de células danificadas são quantificadas
gerais) e aminoácidos nucleofílicos fazem parte da para determinar a condição clínica. As enzimas
enzima. são também usadas no tratamento de algumas con�
dições médicas.
• AsAs velocidadesvelocidades dasdas reaçõesreaçõesões catalisadascatalisadascatalisadascatalisadas porporporpor enzi�enzi�enzi�enzi�
mas estãoão relacionadasrelacionadasrelacionadas comcomcom aaa concentraçãoconcentraçãoconcentração dadada en�en�en�
TABELA 10.1 Resumo das Classes de Enzimas e Principais geiramente diferentes. A lactato desidrogenase é uma
Subclasses proteína tetramérica, que consiste dos monômeros M e
H, e pode ter cinco estruturas tetraméricas diferentes
1. Óxido�redutases �. Transferases
(Tabela 10.�).
Hidroxilases
Oxigenases
Catalase
Peroxidases
Redutases
Oxidases
Desidrogenases Transaldolase
e transcetolase
Acil, metil, glicosil TABELA 10.2 Isozimas da Lactato Desidrogenase
e fosforiltransferase
Tipo Composição Localização
Quinases
Fosfomutases LDH1 HHHH Miocárdio e eritrócitos
LDH� HHHM Miocárdio e eritrócitos
3. Hidrolases �. Liases
LDH3 HHMM Cérebro e rim
Amidases
Fosfolipases
Tiolases
Fosfatases
Peptidases
Glicosidases
Esterases Decarboxilases
Aldolases LDH� HMMM
Hidratases LDH5 MMMM Fígado e músculo esquelético
Desidratases
Sintases
Liases Classe 1: Óxido-redutases
Desaminases Enzimas da classe 1 catalisam reações de oxida�
Ribonucleases ção–redução, e são chamadas óxido�redutases. Oxida�
ção significa a perda de elétrons, e redução significa a
5. Isomerases 6. Ligases adição de elétrons. Os elétrons são removidos de um
Isomerases
Epimerases
Racemases Sintetases substrato (doador ou redutor) que é oxidado, e adicio�
Carboxilases nado a um segundo substrato (aceptor ou oxidante) que
é reduzido. Muitos aceptores de elétrons diferentes são
Mutases (nem todas) usados em sistemas biológicos (p. 579). As desidroge�
nases são tipicamente denominadas na direção de oxi�
dação. Exemplos são lactato desidrogenase em vez de
número), (�) remove hidrogênio como um íon hidreto piruvato redutase e gliceraldeído�3�fosfato desidroge�
com NAD+ como o aceptor de elétron (segundo núme� nase em vez de 1,3�bisfosfoglicerato redutase.
ro), e (3) os substratos para a enzima podem ser princi�
palmente alcoóis primários (terceiro número). (�) O úl� Reações de oxidação e redução incluem os seguintes
timo número é reservado para diferenciar cada enzima pares de doadores–aceptores: ligações carbono–carbo�
que catalisa a mesma reação geral, mas com substratos no saturada–insaturada, alcoóis–aldeídos, aldeídos–
diferentes. A lactato desidrogenase (1.1.1.�7) catalisa ácidos e aminas–minas. Oxigênio molecular (O�) como
uma reação idêntica � da álcool desidrogenase, mas o um aceptor de elétrons está envolvido em uma varie�
substrato é lactato. As enzimas são frequentemente de� dade de reações irreversíveis de oxidação–redução. As
nominadas pela direção da reação de importância na monoxigenases catalisam a inserção de um grupo hi�
célula. droxi no substrato, com o outro átomo de oxigênio aca�
bando na água (Figura 10.1), enquanto as dioxigenases
Frequentemente, são dados nomes arbitrários a en� incorporam ambos os átomos de O� em um substrato.
zimas; por exemplo, aldolase foi o nome dado e ainda Os citocromos P�50 (p. ��3) compõem um importante
usado para a enzima que catalisa uma reação de con� grupo de enzimas que usa oxigênio no metabolismo de
densação aldólica entre gliceraldeído 3�fosfato e di�hi� xenobióticos como drogas e toxinas; essas enzimas con�
droxiacetona fosfato (p. 617), e lisozima para uma en� vertem compostos saturados em um álcool, uma reação
zima que quebra paredes celulares de bactérias. Houve de hidroxilação usando um dos átomos de oxigênio da
um esforço para abandonar o nome trivial em favor do molécula de O� para o grupo hidroxila.
nome sistemático de muitas enzimas, mas a literatura
continua a conter referências a ambos os nomes para
muitas enzimas. Classe 2: Transferases
Isoenzimas são diferentes formas estruturais de Membros dessa grande família transferem um gru�
uma proteína que catalisa a mesma reação. Sãoão produ�produ� po químico de uma molécula para outra; portanto, têm
tos de genes diferentes, possuem diferentes graus de dois substratos e produzem dois produtos. A hexoquina�
identidade de sequência,ência,ncia, eee podempodempodem terterter propriedadespropriedadespropriedades ci�ci�ci� se transfere um grupo fosfato do ATP para um aceptor
néticas diferentes. Existem duas isoenzimas da lactato como a glicose (Figura 10.�). Uma enzima que transfe�
desidrogenase, uma forma cardíaca (H) e uma forma re fosfato para outra molécula usando um nucleotídeo
muscular (M), que têm sequências de aminoácidos li� trifosfato como o doador é chamada uma quinase;
394 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
O
CH2OH 2−CH2OPO3
Tolueno
O
+ ATP4−Mg2+ + ADP3− + H
+
CH3
+ α-D-Glicose α-D-Glicose 6-fosfato
O2
FIGURA 10.2 Reação de fosforilação.
Fosforilação de glicose por ATP catalisada pela hexoquinase.
Benzil O
álcool
CH3 CSCoA
+
CH2OH
+ NH2
(a) H2O
OH
O2 +
OH O
Catecol C CH3
NH
(b) OH
COCOOH
+
CoASH
Ácido cis,cis-Mucônico
FIGURA 10.3 Acetilação de resíduos de aminoácidos em
FIGURA 10.1 Reações de oxidação catalisadas por uma proteína.
enzimas.
Hidroxilação do tolueno, um solvente industrial, e oxigenação
do catecol por uma oxigenase. + COO– O COO– + COO–
Classe 3: Hidrolases
Hidrolases catalisam reações de hidrólise, que é a
adição de água a uma ligação química (Figura 10.5). OH
Isso é essencialmente uma transferência de um —OH
da água para o substrato, mas as enzimas não são clas� CH2
HOCH
HCOH +
NH3
HCOH
CH2 CHCOO−
CH2OPO32−
D-Frutose 1,6-bisfosfato HO
OH
3,4-Di-hidroxifenilalanina (DOPA)
CH2OPO32− O
DOPA descarboxilase
C0 CH
CO2 (PLP)
CH2OH
Di-hidroxiacetonafosfato HCOHOPO32−
CH2
D-Gliceraldeído
+
3-fosfato CH2 CH2 NH3
Dopamina
Classe 5: Isomerases
FIGURA 10.7 A síntese de dopamina envolve uma reação
As enzimas desta classe estão envolvidas com o mo� de liase.
vimento de um grupo ou de uma dupla�ligação dentro A síntese de dopamina requer piridoxal fosfato (PLP).
da mesma molécula. Estes incluem a troca de posição
de uma hidroxila ou uma carbonila, como a encontra� é chamada uma mutase quando um fosfato é movido
da quando glicose�6�fosfato é convertida em frutose�6� de um carbono para outro dentro da mesma molécula,
�fosfato (p. 616), e no movimento de uma dupla liga� como ocorre com a fosfoglicerato mutase que converte
ção de uma posição para a adjacente, como encontrado ��fosfoglicerato em 3�fosfoglicerato (Figura 10.8). Iso�
no metabolismo de ácidos graxos (p. 715). A enzima merases e epimerases podem mudar a estereoquímica
396 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Considerações Termodinâmicas
COO–
Energia é necessária para formar o material de par�
H COH O–
tida de uma reação e para formar o produto de uma
CH2 O PO– reação. Essa energia é denominada calores de forma
O ção. Existe uma relação termodinâmica entre a dife�
3-Fosfoglicerato
rença de energia necessária para formar o material de
partida (reagentes) e para formar os produtos. A dife�
FIGURA 10.8 Interconversão de 2- e 3-fosfogliceratos. rença de energia é AG0, e as unidades podem ser expres�
sas em kilojoules/mol (kJ/mol) ou em kilocalorias/mol
HCOH
C O
CH2OH CH2OH
(kcal/mol) (Um Olhar Mais Atento 10.1). Quando o
equilíbrio da reação é estabelecido, a concentração de
epimerase C O cada um é relacionada como indicado na Equação 10.1:
HOCH HCOH
AG0 = –�,3 RT × log [Produtos]/[Reagentes] (10.1)
HCOH
NH3 H NH3+
H COO− H
δ+
C C + NH3 + H+ C C COO− H
C H
C COO−
H
H
H+
modo que o carbono que fazia parte da dupla ligação cionada � ligação peptídica, o grupo carbonila torna�
(planar) agora é uma estrutura tetraédrica. O estado �se tetraédrico e, assim, tem de mudar seu ângulo de
de transição é aquele no qual a ligação está começando ligação e forma. O estado de transição não é o interme�
a se formar e a geometria está mudando. Para mudar a diário tetraédrico, mas é a conformação que levaria a
forma do substrato é necessário energia, de modo que ele se a ligação covalente realmente se formar. Durante
ele se pareça com o estado de transição, e a velocidade a reação, não só a ligação carbono–oxigênio do grupo
de uma reação é inversamente proporcional � energia carbonila do substrato muda de planar para tetraédri�
necessária para chegar ao estado de transição. Um grá� ca, mas uma carga negativa se desenvolve no oxigênio,
fico da energia de reação é apresentado na Figura 10.13 que precisa ser estabilizado.
e usado para mostrar a variação de energia necessária
para converter um substrato ao estado de transição. No
estado de transição, existe uma entidade que nunca foi C H(Aminoácido)
··
observada ou isolada. A entidade do estado de transição O H
N H O H H(Aminoácido) Oδ−
H
pode prosseguir para dar produto ou pode retornar ao ··
+
C··
H
N C··
δ+ N
material de partida. Um catalisador simplesmente di� H
minui a energia do estado de transição (AE*), aumen� ·· ··
O
tando assim a velocidade de sua formação a partir do
(Aminoácido) H H
material de partida.
Substrato Estado de transição
nentes interajam. A enzima pode adicionar ou remover não apenas associados com um carbono. O carbânion
prótons de um substrato, mudando sua carga, ou um então pode atacar o grupo carbonila para formar a nova
grupo neutro da enzima ficando iônico. A remoção de ligação. A enzima mantém os dois substratos próximos
um próton torna o grupo mais nucleofílico, que é um entre si, aumentando a probabilidade de colisão favorá�
grupo (nucleófilo) que atacará um centro positivo. Por vel, e está envolvida na polarização da ligação carbonila
exemplo, OH– é mais nucleofílico do que a água, e cis� e remoção do próton.
teína ionizada é mais nucleofílica do que o átomo de
enxofre não�ionizado. Do mesmo modo, enzimas po�
dem protonar um grupo para torná�lo positivo, de modo H2COPO32− H2CO H2COPO32−
que ficará mais susceptível ao ataque nucleofílico. Na
C O + H2COH C O
hidrólise de uma ligação peptídica, o grupo OH– mais
nucleofílico, e não a água, ataca a ligação. Além disso, H2COH H2COPO32− HO C H
o ataque será em um grupo carbonila polarizado, em
H C OH
que o átomo de carbono teria uma carga parcial posi� Di-hidroxiacetona Gliceraldeído-3
tiva, e não um grupo carbonila não�polarizado (Figura fosfato fosfato HC OH
vantagem das enzimas que usam catálise ácida geral e Frutose 1,6-bisfosfato
(a)
básica geral é que no pH fisiológico neutro, elas podem
catalisar reações mesmo que as concentrações de OH– e COPO32− H2COPO32− H2COPO32−
H+ sejam muito baixas.
δ+C Oδ− −H+ δ+C O− CO−
HCH OH HC OH HC
≠ OH
TS
(b)
C
H NAD+ NADH
··COO− CH3 C+COO− CH3C COO−
longe do grupo fosforoso, tornando�o mais susceptível ao ata�
que do nucleófilo.
NAD+ NADH
+
H As enzimas não apenas funcionam realizando ca�
tálise geral ácido e base, mas em alguns casos o subs�
(b) Saturado Insaturado
trato forma uma ligação covalente com a enzima. Qui�
FIGURA 10.18 Oxidação de lactato e uma ligação motripsina e gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase são
carbônica saturada. exemplos de enzimas assim (Figura 10.�0). Em ambos
(a) Lactato para piruvato. (b) Ligação saturada para ligação os casos, um aminoácido nucleofílico ataca um grupo
insaturada. Essas reações sofrem uma reação tipo iônica, em� carbonila. Até algumas quinases funcionam por catá�
bora o íon hidreto (H–) esteja envolvido. lise covalente; o ATP inicialmente se liga � enzima, e o
fosfato é transferido para um resíduo nucleofílico for�
Adição e Remoção de Prótons mando uma enzima fosforilada; nesse caso, um grupo
hidroxila de uma serina ou treonina é ativado e faz o
A maioria das enzimas adiciona e remove prótons ataque inicial. O substrato, então, entra e é ativado pela
eficientemente, mas em geral de um modo singular. As base geral na enzima; a base ataca o grupo fosfato, for�
proteases podem polarizar o grupo carbonila da ligação mando o produto final.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 401
O OH OPO3 H OH OPO3
10.4 SÍTIO ATIVO DE UMA
Enzima–SH + HCC CH2 2− ESC C CH2 2−
ENZIMA
desidrogenase
gliceraldeído
3-fosfato H OH H
gliceraldeído tio-hemiacetal O sítio ativo de uma enzima é pequeno comparado
(a) 3-fosfato ao tamanho total da molécula de proteína. A maioria
dos resíduos de aminoácidos não fica em contato com
O O
o substrato (Figura 10.��). As distâncias e os ângulos
Enzima–OH + R NCR′ E O C R′ entre os resíduos catalíticos da enzima e do substrato
devem ser exatos para permitir que ocorra a catálise. A
H
maioria dos aminoácidos da proteína funciona como um
(b) quimotripsina peptídeo acil éster grande arcabouço para permitir o alinhamento correto
FIGURA 10.20Alguns substratos formam uma ligação dos grupos funcionais dos substratos. Uma mutação de
covalente com uma enzima.
um resíduo distante do sítio ativo pode levar uma enzi�
(a) Gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase e (b) quimotripsina ma a ter sua atividade alterada. Isso é ilustrado na Figu�
funcionam formando primeiro um intermediário covalente com ra 10.�3 para uma mutação puntual que foi introduzida
o substrato. na aldeído desidrogenase de fígado humano.
Configuração L Configuração D
CH3
COO− COO−
C19
+
NH
+ 3CH CH NH3
Y203
CH3
alanina
HOCH
COO−
CH3 COO−
CHOH
CH3
NAD+ lactato
CH2OH CH2OH
H
H OH H O
HOH H OH H (H,OH)
HO O
H OH H OH
Maltose (ligação α)
Enzima
CH2OH O CH2OH
H H O
OH H O OH H (H,OH)
FIGURA 10.26 Ligação de três pontos de um substrato
HO H simétrico a um sítio assimétrico de ligação de substrato.
H OH H OH Glicerol quinase, por causa dos sítios de ligação assimétricos
para o —H e o grupo —OH do glicerol, liga apenas o grupo
Celobiose (ligação β)
α!�hidroximetil ao sítio ativo. Um estereoisômero resulta da
FIGURA 10.24 As enzimas podem diferenciar entre reação da quinase, L�glicerol 3�fosfato. O sítio ativo é a caixa
ligações a e b. � direita.
Uma enzima que hidrolisa maltose, não hidrolisa celobiose.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 403
A química do sítio ativo, em alguns casos, envolve Muitos substratos de ocorrência natural são op�
uma porção limitada do substrato, mas as partes ad� ticamente ativos. A esteroquímica do produto pode
jacentes do substrato podem ser necessárias para que dar uma pista do mecanismo que a enzima emprega.
a reação ocorra. Por exemplo, a peptidase de proces� Por exemplo, se a reação produzir um íon carbânion,
samento de proteína mitocondrial requer pelo menos poderia se esperar que o produto fosse racêmico.
1� resíduos antes do sítio de hidrólise para funcionar. Entretanto, uma reação de íon carbânion catalisa�
Lisozima, uma enzima que hidrolisa paredes celulares da por enzima produzirá um produto com retenção
de bactérias, envolve resíduos de açúcares localizados de configuração estereoquímica. O íon carbânion
em ambos os lados da ligação a ser quebrada (Figura não estaria livre em solução, mas estaria associado
10.�7). A ligação de resíduos adjacentes de açúcares com a enzima, de modo que o ataque nucleofílico que
ajuda a criar uma mudança de conformação no açúcar, está entrando poderia vir apenas na mesma direção
na ligação que está sendo quebrada. Assim, o sítio ativo do grupo que está saindo. Retenção da configuração
é mais do que apenas os resíduos de aminoácidos en� também pode ser conseguida por uma enzima que
volvidos na quebra ou na formação da ligação; é uma funciona com catálise covalente. Reações catalisa�
região complexa da enzima que pode ajustar sua estru� das por um mecanismo pingue�pongue (p. �19) en�
tura para acomodar o substrato correto e estabilizar o volvem duas etapas de inversão, que geram um pro�
estado de transição. duto com retenção da configuração. Como exemplo, a
fosforólise de um dissacarídeo começa com o açúcar
na conformação b e termina com um produto fosfo�
rilado, que também é b. A ligação do substrato � en�
zima causa inversão para uma configuração α, mas o
fosfato ataca para dar outra inversão, resultando em
retenção da configuração. Se a reação ocorresse por
um ataque direto do fosfato sobre o substrato, então
o produto seria invertido. A inversão de configuração
em um carbono opticamente ativo geralmente ocorre
quando há um complexo ternário e o nucleófilo ataca
o substrato.
Substrato
hexassacarídeo
HCNH2 H C NH2
H N+ + H−
Anel de nicotinamida Anel de nicotinamida
(oxidada) (reduzida) H H N H
) H O Íon deH:hidreto,– H H O
NAD+ Hidreto NADH
4 3 (a) do substrato
+ C NH2 C NH2
D 5
A
N
( O
H
6 2
o .. H+ O
e N+ N
d
ít 1
o –O .
e
l O CH2 .. CH3 C COO− CH3CCOO−
c
u P O
n
i
d O H H H −H−
a
n
i H H (Para NAD+)
n O OH OH (b) Lactato Piruvato
e NH2
d
a
a O N
d
i N FIGURA 10.30 NAD está envolvido em reações de
P
m
a M– P oxidação–redução.
n
it A O O CH2
o
(a) O grupo nicotinamida do NAD+ aceita um íon hidreto (H�)
c O N N
i
N H H quando oxida o substrato. (b) Lactato doa o íon hidreto quan�
H H do oxidado a piruvato.
OH OH
NADP+ contém um P
nesta 2!-hidroxila
nos reservatórios celulares de NAD+ ou NADP+, ficando
FIGURA 10.28 Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e disponível para outras reações. As razões NAD+/NADH
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP). e NADP+/NADPH são independentes de uma desidro�
406 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
genase específica, mas medem o estado de oxidação/ fumárico (Figura 10.3�) ou de um ácido graxo saturado
redução do compartimento celular (p. 579). Desidro� para um insaturado, envolve reações de desidrogena�
genases NAD�dependentes estão mais frequentemente ses flavina�dependentes. No caso da monoamina oxi�
envolvidas no catabolismo, e as NADP�dependentes no dase, uma enzima contendo flavina, um íon hidreto é
anabolismo. removido da amina, mas o aceptor final dos elétrons é
o oxigênio molecular, levando � formação de peróxido
Quase todas as desidrogenases NAD(P)�dependen� de hidrogênio.
tes possuem um motivo estrutural semelhante (dobra
de Rossmann) envolvido no domínio de ligação da
coenzima; o motivo da álcool desidrogenase é apresen� H H H
tado na Figura 10.31. H2C
1
C C C
5
CH2OH Ribitol
H3 OH OH OH
6 5 1 2O
H3 9 N N
C 8
10 Dimetil
C 7 4 NH3 isoaloxazina
O
Riboflavina
H H H O
H2CCCCCH2OPOH
OH OH OH OH
N N CO
H3C
NH
H3C N C
N N N
As duas formas de coenzima da riboflavina são
FMN (flavina mononucleotídeo) e FAD (flavina ade
nina dinucleotídeo). A vitamina riboflavina consiste N
do anel heterocíclico isoaloxazina (flavina) conectado O O
3
miquinona (um radical livre). As coenzimas de flavina 7a 7
6
5a
5
4a
4
N
não são encontradas livres em solução, mas ligadas ou H3C N H
O
muito fortemente ou covalentemente. São considera�
das um grupo prostético no último caso. Isso requer
que uma enzima envolvida em uma reação de oxidação Flavina adenina dinucleotídeo (FAD) (oxidada)
gerando flavina reduzida ligada, também execute a re� FIGURA 10.33 Flavina adenina dinucleotídeo (FAD).
dução de outro substrato, de modo que flavina oxidada
seja regenerada.
HO NH2
R1
O N
3 N
HOHO O Glu 270 C O H NH
N N
OCH2O O O O
O O HO C O– +127
H P O P P CH2 Arg
O
O– H H
–O O OH2 H H CH2 NH R
Mg Zn2+
H2O OH2 HO OH
OH2 FIGURA 10.39 Estabilização do estado de transição do
intermediário tetraédrico pelo Zn2+.
A carga positiva do Zn�+ estabiliza a carga negativa que se de�
FIGURA 10.37 Papel do Mg2+ como um complexo ligado senvolve nos oxigênios do carbono tetraédrico do estado de
pelo substrato no sítio ativo das quinases. transição. O intermediário tetraédrico então colapsa como in�
Na hexoquinase, o fosfato terminal do ATP é transferido para a dicado pelas setas, resultando na quebra da ligação peptídica.
glicose, formando glicose 6�fosfato. Mg�+ coordena com o ATP
para formar o verdadeiro substrato e pode fragilizar a ligação Tyr 248
P�O terminal do ATP para facilitar a transferência do fosfato
para a glicose. Há sítios de ligação específicos (azul claro) na Arg 145
enzima (azul mais escuro) para glicose (superior � esquerda,
em vermelho), bem como para os resíduos de adenina e ribose
no ATP (preto).
Glu 270
Zn2+
• •
• •
O
FIGURA 10.40Zn2+ no mecanismo de reação da
C
carboxipeptidase A.
CH3δ+H O Zn�+ ligado � enzima gera uma hidroxila nucleofílica a par�
tir de água ligada, que ataca a carbonila da ligação peptídica,
FIGURA 10.38 Ligação de uma carbonila a Zn2+. como indicado pela seta. O Glu �70 ajuda por puxar o próton
A ligação de Zn�+ � carbonila de um aldeído resulta em tornar o da água ligada ao zinco.
átomo de carbono parcialmente positivo e mais receptivo para Redesenhado de Lipscomb, W. N. e Robert A. Welch Found.
aceitar um íon hidreto do NADH. Conf. Chem. Res. 15:1�0, 1971.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 409
Além do papel na ligação entre enzima e substrato, Por exemplo, Zn�+ liga�se a quatro ligantes. Na ál�
metais também ligam�se diretamente � enzima para cool desidrogenase, o Zn�+ estrutural tem quatro ami�
estabilizá�la em sua conformação ativa ou, talvez, para noácidos ligados a ele, enquanto o Zn�+ do sítio ativo
induzir a formação de um sítio ativo. O Mn�+ tem tal tem apenas três, com a água ou o substrato servindo
papel, bem como metais alcalinos fracamente ligados como o quarto. Alguns compostos como o íon azida
(Na+ ou K+). Na piruvato quinase, K+ induz uma mu� (N3–) ou monóxido de carbono (CO) ligam�se ao sítio
dança de conformação inicial, que é necessária, mas de ligação do substrato em metais, impedindo assim
não suficiente, para a formação do complexo ternário. que a enzima ou a proteína se ligue ao seu substrato
Quando o substrato se liga, K+ induz uma segunda mu� correto.
dança conformacional no complexo ternário cataliti�
camente ativo, como indicado na Figura 10.�1. A álcool Papel de Metais em Oxidação e Redução
desidrogenase de mamíferos é singular porque possui
duas moléculas de Zn�+ por subunidade; uma está en�
Íons metálicos, como cobre e ferro, com menos do
volvida na catálise, enquanto a outra tem um papel que um complemento completo de elétrons em sua ca�
estrutural. Cada íon metálico está preso a ligantes; mada mais externa, podem aceitar ou doar elétrons em
nesse caso, são as cadeias laterais dos aminoácidos da reações de oxidação–redução, mas íons monovalentes
proteína. (Na+ e K+) ou íons divalentes (Zn�+, Mg�+ ou Ca�+) com
suas camadas externas de elétrons completas, não.
é a concentração inicial, [A0], de modo que a equação de substrato e formação de produto. A equação da velo�
pode ser reescrita como cidade para formação de produto reflete que o material
está sendo produzido (k1[A]), mas também está sendo
ln[A] = –kt +[A]0 perdido quando volta para o material inicial (–k�[P]). O
sinal negativo mostra que o material está sendo removi�
Portanto
do. Uma equação semelhante é escrita para a mudança
ln[A/A0] = –kt (10.7) no material de partida. Como no equilíbrio
Um gráfico de ln[A] versus tempo é uma linha reta k1[A] = k�[P] então k1 / k� = [P]/[A] (10.1�)
com uma inclinação de –k (Figura 10.�3).
A razão k1/k� é a constante de equilíbrio Keq, e é
igual a [P]/[A]. Embora as constantes de velocidade in�
dividuais de uma reação reversível sejam independen�
tes da constante de equilíbrio, a razão entre as cons�
tantes é limitada pela constante de equilíbrio. A última
]
A
[ está relacionada com a energia livre necessária para
n
l
inclinação =−k fazer A e P (chamada calor de formação). A cinética
de reações complexas é apresentada em Um Olhar Mais
Atento 10.�.
tempo
Equilíbrio
FIGURA 10.43 Um gráfico de ln[A] versus tempo para
Produto (P)
uma reação de primeira ordem.
o
ãçartne
Para efeitos de comparação, o termo meia-vida é fre�
quentemente usado. A meia�vida (t1/� out50%) é o tempo cnoC
que levaria para que 50% do substrato fosse convertido
em produto. Como o valor [A/A0] seria 0,5 e o ln[0,5] = Substrato (A)
–0,69, isso leva a
ou meia�vida é igual a 0,69/k. Portanto, quanto maior FIGURA 10.44 Gráfico de desaparecimento de substrato e
a constante de velocidade, mais rapidamente a reação formação de produto.
depletará metade do substrato. O decaimento radioa� Para uma reação reversível, não ocorre mudança na concentra�
tivo é um exemplo de reação de primeira ordem, como ção de substrato ou produto no equilíbrio.
são reações catalisadas por enzimas sob determinadas
condições.
10.7 CINÉTICA ENZIMÁTICA
Reações Reversíveis DE REAÇÕES COM UM
Muitas reações são reversíveis. Isto é, SUBSTRATO
A⇌
k1 Uma reação catalisada por enzima é como uma reação
P
k2 de segunda ordem. Assim, � medida que a concentração
de substrato aumenta, a velocidade da reação aumenta,
Pode�se escrever uma equação de velocidade para a como mostra a Figura 10.�5. A velocidade diminui du�
formação de produto P ou para o material de partida A. rante o curso da reação porque a concentração de subs�
trato está diminuindo ou o produto está começando a
d[P]/dt = k1[A] – k�[P] (10.9) se acumular. Considerando�se que a reação é reversível,
d[A]/dt = k1[A] – k�[A] (10.10) chegará ao equilíbrio. Calculando�se a velocidade inicial
(v0) (ou seja, velocidade antes que o produto comece a
No equilíbrio, quando não há mudança nas concen� se acumular) da reação em diferentes concentrações de
trações dos componentes, a velocidade de formação de substrato, pode�se obter a curva apresentada na Figura
um componente é igual � velocidade de formação do 10.�6. A velocidade fica de ordem zero com relação ao
outro. A Figura 10.�� é um gráfico de desaparecimento substrato em altas concentrações de substrato. Isto é,
412 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Reações Complexas
O deslocamento nucleofílico é uma reação orgânica de formação de produto porque ele não pode ser for�
comum que ocorre em reações bioquímicas. Uma forma mado mais rapidamente do que a velocidade da etapa
geral da reação é R–X + Y→ Y–R + X (onde R represen� mais lenta. Isso significa que a velocidade de formação
ta parte de um composto orgânico e X e Y representam de produto será descrita pela equação da velocidade
um componente como um grupo álcool ou amino). A = –kdo
concentração
d[R–X]/dt componente
1[R–X]. Essa reação
Y. é independente da
reação pode ocorrer de dois modos diferentes, cada um Isto é, a reação é de
levando a uma equação de velocidade diferente. primeira ordem. Pode�se dizer que a reação é de ordem
zero com relação a [Y], significando que a reação é inde�
A primeira possibilidade é que o composto R–X se pendente da concentração de Y. (Lembre�se que [Y]0 =
dissocie, formando R+ + X–. Em seguida, Y pode atacar 1.)Aumentar a concentração de Y não terá efeito algum
R+ para formar o produto final, R–Y. A segunda possibi�
sobre a velocidade da reação.
lidade é Y atacar R–X diretamente, deslocando X para
formar o mesmo produto final. As equações cinéticas Na reação de Y atacando R–X, o termo da velocida�
para as duas reações são diferentes. de contém as concentrações de ambos os substratos.
da
Istoordem
é, d[R–Y]/dt
tradicional.
= –k�[R–Y][Y],
A uma reação de segun�
A velocidade da primeira etapa da reação de R–X principal diferença entre as
dando R+ + X– é duas vias de reação é que a etapa mais lenta em uma
d[R–X]/dt = –k[RX] envolve o estado de transição de R–X indo para R+ +
X–. Na outra, a etapa de transição envolve Y atacando
Para a segunda metade da reação, R+ + Y, a veloci� R–X (Figura 10.�5). Reiterando, a cinética conta algo
dade é dada por k’[R+][Y]. Se a primeira etapa for mui� sobre as etapas mais lentas que ocorrem durante uma
to lenta em comparação com a segunda etapa, então a reação. A etapa mais lenta que ocorre durante uma rea�
velocidade geral será governada só pela primeira etapa. ção catalisada por enzima é chamada a etapa limitan�
Em cinética, só as etapas lentas são medidas. Para ilus� te da velocidade.
trar, vamos admitir que R–X vá para R+ + X– a uma ve�
locidade de 10 mM/min, e o ataque de Y sobre R+ ocorra A cinética de reações complexas ocorre no monito�
a 1.000 mM/min. Então, quando uma molécula de R+ é ramento do fluxo de compostos por uma via metabólica.
formada, ela muito rapidamente torna�se o produto fi� A velocidade da etapa mais lenta é a que governará a
nal. Aumentar a etapa rápida não alterará a velocidade velocidade de formação de produto.
O O
O P O P O− NH3+ O O
O−
CH3 O−
CH3 CH2 CH + NH3 CH3CH2CHCH3 + −OP O P O−
O− O−
(a) ionização +
O O CH3CH2CCH3
H
+
O P O P O− O O NH3
CH3 O− lenta NH3 +
O
O− O−
CH2 CHCH3 −O P O P O− rápida CH3 CH2 C CH3
O− O− H
v = k [substrato]
(b) deslocamento direto H
O CH3 CH2CCH3
O P O O
P− lenta NH3+
CH3 O−
CH3 +
CH2 CH O O
−O P O P O−
NH3
O− O−
v = k¢[substrato][NH3]
Reações de deslocamento nucleofílico. (a) Mecanismo de função da concentração de apenas um substrato, enquanto no
ionização. (b) Mecanismo de deslocamento direto. Note que, deslocamento direto a velocidade depende das concentrações
no mecanismo de ionização, a velocidade da reação é uma de ambos os substratos.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 413
Tempo
Vmáx
FIGURA 10.47 Curvas de progressão em concentrações
variáveis de enzima e concentrações de saturação de
substrato. Vmáx2
A velocidade inicial (v0) dobra quando a concentração de enzi�
ma dobra. Como as concentrações de substrato são as mesmas,
as concentrações finais de equilíbrio do produto serão idênti�
cas em todos os casos; entretanto, o equilíbrio será alcançado
em velocidade menor nos ensaios contendo pequenas quanti�
dades de enzima. Km [S]
As duas fases do modelo de Michaelis�Menten para imunológicos com anticorpo específico para a enzima
ação enzimática, ligação seguida de modificação do revelaram quantidades semelhantes da proteína em
substrato, são ilustradas pelos estudos de uma família comparação com eritrócitos normais. Essa descoberta
com gota. O paciente excretava três vezes a quantidade demonstra que a ligação do substrato, refletida no Km, e
normal de ácido úrico por dia e tinha níveis muito au� o evento químico subsequente da catálise, que é refle�
mentados de 5!�fosforribosil�α�pirofosfato (PRPP) em tido na Vmáx, são fases separadas do processo catalítico
seus eritrócitos. O PRPP é um intermediário da bios� geral. Essa situação aplica�se apenas aos mecanismos
síntese de AMP e GMP, que são convertidos em ATP enzimaticos em que k3>>k�.
e GTP. O ácido úrico é um produto de degradação de
AMP e GMP. Ensaios in vitro revelaram que a ativida� Becker, M. A., Kostel, P. J., Meyer, L. J. e Seegmiller, J.
de da PRPP sintetase nos eritrócitos do paciente estava E. Human phosphoribosyl pyrophosphatase synthetase: In�
aumentada três vezes. O pH ótimo e o Km da enzima creased enzyme specific activity in a family with gout and
para ATP e ribose 5�fosfato estavam normais, mas Vmáx excessive purine synthesis. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 70:
estava aumentada três vezes! Esse aumento não era �7�9, 1973.
devido a um aumento na quantidade de enzima; testes
Se a reação for mais complexa, como da enzima. Supõe�se que a concentração de substrato é
⇌k
1 ES 3−→K ES 5−→K E+P maior do que a de enzima, de modo que durante o curso
E+S (10.�0) inicial da reação que está sendo medida o valor de [S]
k2
não varia. Obviamente, vários valores de [S] podem ser
onde ES! representa uma forma modificada, mas inde� usados, mas para todos permanecerá constante duran�
pendente, do complexo, então a equação da velocidade te a reação. Para a reação simples E + S ES → E + P,
fica a concentração de enzima é sempre a soma da energia
livre e do substrato ligado � enzima; isto é,
k3k5/(k3 + k5)[Et][S]
v = k5 (10.�1) [Et] = [Ef] + [ES] (10.�3)
(k2 +k3)/k1(k3 +k5) +[S]
[Et] é a concentração total de enzima e [Ef] é a concen�
Exame das Equações 10.17 e 10.�1 revela que a for�
ma generalizada da equação é tração de enzima livre. É Ef que é necessária em uma
reação para interagir com o substrato. A concentração
v = Constante[Et][S]
Constante + [S] (10.��) de enzima livre não é medida diretamente, mas a con�
centração de enzima total é conhecida. Isso significa
que
Esta é a mesma equação geral da Equação 10.18. As
[Et] – [ES] = [Ef] (10.��)
constantes de velocidade do numerador são agrupadas
para se tornarem o termo kcat, enquanto as constantes Se existirem outras formas da enzima, como uma
do denominador são definidas como Km. Assim ambos, forma com um inibidor (p. ��0), então a Equação 10.��
kcat e Km, são tipicamente compostos por um conjun� deveria ser expandida para incluir todas as formas da
to complexo de constantes de velocidade individuais. enzima.
As constantes específicas que compõem os termos são
relacionadas com o mecanismo cinético real e a mag� Significado do Km
nitude das constantes de velocidade individuais. Por
exemplo, se o valor de k3 for muito maior do que k5 na Km consiste de várias constantes de velocidade e
não é uma constante de dissociação derivada (Kd). Seu
Equação 10.�1, kcat seria reduzida em k5 porque a soma
de k3 e k5 seria essencialmente o valor de k3. Se, entre� valor, entretanto, é usado frequentemente para indicar
tanto, as duas constantes de velocidade tiverem valores quão bem um substrato interage com uma enzima. Um
semelhantes, então kcat seria composta de muitos ter� Km
nidade
de 10–7
pelaMenzima
indica que
do que
o substrato for uma maior afi�
se o Kmtem
mos, bem como Km cujas unidades são concentração. to menor o valor de Km 10–5 M. Quan�
, mais forte é a interação entre
Concentração de Enzima Livre substrato e enzima. Embora o Km não seja uma cons�
tante de dissociação, valores menores significam que é
A derivação da equação de Michaelis�Menten re� necessário menos substrato para ligar 50% da enzima
quer uma determinação cuidadosa de todas as formas (Correlação Clínica 10.�).
416 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Além disso, indivíduos afetados eram heterozigo� Crabb, D. W., Edenberg, H. J., Bosron, W. F. e Li, T.�K. Ge�Ge�
notypes for aldehyde dehydrogenase deficiency and alcohol
tos, tendo genes para a enzima glutamato ativa e a
sensitivity: The ALDH�� allele is dominant. J. Clin. Invest.
enzima lisina essencialmente inativa. Esperava�se que 83:31�, 1989; e Zhou, J. e Weiner, H. Basis for half�of�the� site
sua enzima tivesse 50% de atividade, mas tinha ati� reactivity and the dominance of the K�87 oriental subunit
vidade muito baixa. ALDH forma tetrâmeros com os over the E�87 subunit in heterotetrameric human liver mito�
dois
e são formas (E�
K� monômeros homotetraméricas
, E3K, E�K�, EK3das
e K�), onde E�
subunidades chondrial aldehyde dehydrogenase. Biochemistry 39:1�019,
�000.
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 417
Além da mudança de composição de isoenzimas da e 8,5 para b�. A etapa determinante da velocidade
aldeído desidrogenase em alguns asiáticos, diferentes da álcool desidrogenase é a liberação do NADH. O
isoenzimas da álcool desidrogenase (ADH) são também NADH é mantido na enzima por ligações iônicas en�
observadas. A ADH é codificada por três genes, que pro� tre os fosfatos da coenzima e as argininas das posi�
duzem três polipeptídeos diferentes, α, b e g. Três alelos ções �7 e 369. Na isozima b1, essa interação iônica
são encontrados para o gene b, que diferem em uma úni� não é quebrada até que o pH seja bastante alcalino, e
ca base nucleotídica; isso causa substituição por argini� o grupo guanidina da arginina comece a dissociar o
na. As substituições são apresentadas a seguir: H+. A substituição de aminoácidos com valores de pK
mais baixos, como na b� e b3, enfraquece a interação
Resíduo 47 Resíduo 369 e abaixa o pH ótimo. Como a liberação de NADH é
mais altos os
facilitada, que para
dovalores deb1Vmáx para b� e b3 são também
b1 Arg Arg .
b� His Arg
Burnell, J. C., Carr, L. G., Dwulet, F. E., Edenberg, H. J.,
b3 Arg Cys Li, T. K. e Bosron, W. F. The human b3 alcohol dehydroge�
nase subunit differs from b1 by a Cys� for Arg�369 substitution
A forma b3 de fígado tem atividade de ADH com um which decreased NAD(H) binding. Biochem. Biophys. Res.
pH ótimo próximo de 7, comparado com 10 para b1, Commun. 1�6: 1��7, 1987.
Ka 1 + Kia Kb 1 + [B]
Kb
tas enzimas que usam coenzimas que não se dissociam
1 1
υ = V Ka [B] 1
A
+
Vmáx empregam reações pingue�pongue.
máx
−
1 Kmapp
Kia Kb
[B]
Intercepto = 1+
1
Vmáx Frequentemente se deseja saber o Km para apenas
um dos substratos. Fazendo�se a reação em presença de
1
1
1−
Ka [A] concentrações muito altas do substrato A e variando�se
V1 Kia a concentração de B é possível determinar uma Kmapp
para o substrato B. Isso é possível porque, quando [A]
FIGURA 10.53 Gráfico duplo-recíproco de velocidade >> Ka, a equação da velocidade se reduz a uma equação
inicial para uma reação sequencial.
de Michaelis�Menten simples.
O substrato B é fixado em concentrações especificadas, e o
substrato A varia. A equação da velocidade é
(
Ka KiaKbK
aB A
1 + Vmáx
1 ( KbB
v1 = Vmáx 1+ )
1+ ) 10.9 INIBIDORES
Muito do nosso conhecimento básico das vias meta�
bólicas foi obtido pelo uso de inibidores de enzimas es�
mecanismo pingue�pongue, o fazem ligando ATP ou ou� pecíficas. Compostos farmacêuticos são hoje projetados
tro nucleotídeo trifosfato primeiro e, depois, fosforilan� como inibidores de enzimas específicas, e muitos com�
do a enzima. O ADP se dissocia, e o segundo substrato postos de ocorrência natural são inibidores (Correlação
liga�se � enzima fosforilada, seguindo�se a transferên� Clínica 10.7). Compostos inibitórios podem se ligar �
cia do fosfato para produzir o aceptor fosforilado. Mui� enzima livre ou ao complexo ES e afetar a velocidade da
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 421
COO– COO–
Succinato Malonato
Inibição Competitiva
FIGURA 10.55 Substrato e inibidor da succinato
Inibição competitiva ocorre quando um inibidor desidrogenase.
compete com o substrato pela ligação com a enzima li�
vre. Alguns inibidores competitivos são estruturalmen�
ES será uma função de [S], [I], Km e Ki (k5/k6). Como Et
te semelhantes ao substrato ou ao produto, enquanto
= Ef + ES + EI, a Equação 10.31 é obtida.
outros são estruturalmente bem diferentes. Por exem�
plo, o malonato é um inibidor competitivo da succinato k3k1[Et][S]
desidrogenase (Figura 10.55 e p. 573), ligando�se pre� v=
(k2 +k3)(1+[I]/Ki) +k1[S] (10.31)
sumivelmente ao sítio de ligação de substrato. O pirazol
é um inibidor competitivo da álcool desidrogenase, mas Dividindo todos os termos por k1, dá a Equação
sua estrutura é bastante diferente do substrato. Se um 10.3�, uma vez que (k� + k3)/k1 é Km em ausência de I.
inibidor se ligar ao sítio ativo ou a um sítio diferente e
impedir que S se ligue, a reação seria como a da Figura k3[E][S]
v = Km(1+[I]/[Ki]) +k1[S] (10.3�)
10.56. O inibidor compete com o substrato pela ligação
com a enzima, de modo que, quando existe uma con�
centração muito alta de substrato, a ação do inibidor Note a semelhança entre as Equações 10.3� e 10.16.
será sobrepujada. A quantidade de enzima no complexo Várias constantes são encontradas no denominador,
422 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
e podem ser agrupadas para serem chamadas Kmapp. alto, de modo que o inibidor possa funcionar mesmo em
Como [I] é constante, o termo 1 + [I]/Ki é uma constan� presença de concentrações até altas do substrato. Bai�
te. O Km medido em presença de inibidor será um Kmapp, xos valores de Ki (ligação forte) são desejáveis de modo
mas é o verdadeiro Km vezes (1 + [I]/Ki). A presença do que grandes quantidades de inibidor não precisam ser
inibidor fará a reação ficar mais lenta em concentrações necessárias para inibir a enzima.
mais baixas de substrato porque as constantes do deno� k1 k3
E+S ES E+P
minador são maiores do que se o inibidor não estivesse k2
+
presente. Só quando [S] é muito maior do que Kmapp,
I
Vmax seria obtida quando o denominador fosse apenas
[S]. Nessas condições, virtualmente nenhum inibidor k5 k6
estaria ligado � enzima (Correlação Clínica 10.8). Am�
bos o substrato e o inibidor competem pela ligação, de EI
modo que aumento na concentração de substrato su�
perará a ação do inibidor. Terapeuticamente, inibidores FIGURA 10.56 Reação de um inibidor competitivo
competitivos são úteis apenas se o valor de [I]/Ki for reagindo com a enzima livre.
k1 ES k3 1v
E+S E+P
k2 +
I
1
k5k6 [S]
NH2 O
Ser
Região hidrofóbica Região polar
Tetra-hidrofolato Redutase
sivas de um microorganismo produzirão menos efeitos sutis que existem entre isozimas de enzimas de mamí�
colaterais em pacientes. Um exemplo clássico são as feros estão sendo exploradas para produzir inibidores
sulfas, porque bactérias convertem ácido p�aminoben� específicos. Um exemplo é o sildenafil (nome comercial
zoico em ácido fólico, enquanto seres humanos não têm Viagra), uma droga para disfunção erétil, que inibe uma
a enzima para essa reação (Figura 10.63). Diferenças isozima espefícica da fosfodiesterase (p. �63). Pode�se
Um Caso de Envenenamento
O pessoal que trabalha em pronto socorro encon� esses neurônios. Os efeitos mais proeminentes do en�
tra muitos casos de envenenamento por pesticidas e venenamento por pesticidas no homem são paralisia
deve estar equipado para reconhecer e tratar esses dos músculos respiratórios e edema pulmonar. Se mi�
casos. Muitos dos inseticidas comuns são compostos nistrada precocemente, uma droga como pralidoxima
organofosforados, que inibem irreversivelmente a ação pode deslocar o alquilfosfato do pesticida ligado � se�
da acetilcolinesterase, AChE, nas fibras pós�sinápticas rina do sítio ativo e regenerar a AChE ativa.
dos neurônios colinérgicos (p. 970), pela formação de
ésteres de fosfato estáveis com uma serina específica
do sítio ativo da esterase. A inibição da AChE impede Main, R. Em: E. Hodgson e F. E. Guthrie (Eds.) Intro
a hidrólise da acetilcolina na sinapse, resultando em duction to Biochemical Toxicity. New York: Elsevier, 1980,
estimulação constante dos órgãos finais inervados por p. 193.
O
O OR
N CHNO POR O H CHNOPOR
N OR
CH3 O seryl (enzima)
CH3
seryl (enzyme)
descobrir que um composto é es� TABELA 10.5 Drogas Representativas que Inibem Enzimas Específicas
pecífico para uma enzima in vitro, Droga Enzima Alvo Doença
mas também pode inibir enzimas
não testadas no processo de análi� Amrubicina Topoisomerase � Quimioterapia do câncer
se (screening). Drogas represen� Antabuse Aldeído desidrogenase
tativas que são inibidores de en� Alcoolismo
zimas são apresentadas na Tabela Captopril Enzima conversora de angiotensina Hipertensão
10.5. As Correlações Clínícas 10.11
Celebrex Cicloxigenase � Artrite
muito
e 10.1�específicos.
descrevemUmdoisOlhar
exemplos
Mais
Digoxina ATPase trocadora de Na+�K+ Problemas cardíacos
Atento 10.6 descreve um método
para identificação rápida de novos Hycamtin Topoisomerase 1 Quimioterapia do câncer
inibidores e ativadores de enzi� Lipitor 3�hidroxi�3�metilglutaril CoA
mas. Colesterol alto
Viagra Fosfodiesterase 5 Disfunção erétil
H2N S NH2
O
Sulfanilamida
CORRELAÇÃO CLÍNICA 10.11
O
H2N C O−
Testosterona e Câncer de Próstata
Foram encontrados inibidores de enzimas em com� de modo que novos compostos químicos biologicamen�
postos naturais que ocorrem em plantas, bactérias e te ativos podem ser identificados. A vantagem dessa
fungos. Um procedimento de varredura de uma biblio� abordagem é que os compostos com uma variedade de
teca química é usado para pesquisar novos inibidores estruturas diferentes pode ser testada, sem uma ideia
de enzimas, especialmente pela indústria farmacêuti� preconcebida de qual deveria ser a estrutura do efetor.
ca. Dezenas de milhares de compostos e extratos de Dependendo do ensaio, é possível analisar qualquer
produtos naturais são rapidamente testados quanto � tipo de efetor.
sua capacidade de inibir uma enzima ou afetar uma
função celular. Diferentes combinações de materiais Assay Guidance Manual 5.0. Eli Lilly and Company e
de teste são roboticamente adicionados ao sistema de NIH Chemical Genomics Center, �008. Disponível em http://
teste. Os que afetam a enzima são, então, analisados www.ncgc.nih.gov/guidance/manual_toc.html.
I C
S
S
I I
+
(a)
A 2 S
A A PRPP
–
j j j j j j
S S Pi
i i i i i i
ATP
Ribose
(b)
sinclinação > 1
Sem cooperatividade cooperatividade
e positiva
d
a inclinação = 1
d
i
c
o nenhuma cooperatividade
l
e
V
Cooperatividade
inclinação < 1
cooperatividade negativa
(a) [S] −2
−1 −2 −1 0 1 2 3
log [s]
e
1 d
a
d
i Cooperatividade −3
c
o
le
V
Sem cooperatividade
FIGURA 10.66 Gráfico de Hill para uma enzima alostérica.
S S
S S S
O modelo coordenado propõe que as duas conforma� cAMP, a subunidade R liga�se com a subunidade C cau�
ções estão em equilíbrio na ausência do ligante, e o equi� sando inibição da atividade. Quando cAMP liga�se com
líbrio é deslocado para a conformação ligada ao ligante. a subunidade R, ocorre uma mudança conformacional
Os dois estados do modelo coordenado são chamados T de R levando � dissociação de R e C. A subunidade C
(tenso ou taut) e R (relaxado) (Figura 10.67b). Embo� está agora cataliticamente ativa.
ra ambos os estados possam ligar ligantes, um estado o
A calmodulina (p. 51�), uma proteína que liga Ca�+,
liga mais fortemente. Ativadores e substratos ligam�se
ao estado R e deslocam o equilíbrio preexistente para é uma subunidade regulatória de algumas enzimas que
usam Ca�+ como modulador de sua atividade. Ligação
o estado R. Com mais proteína no estado R, é mais fácil de Ca�+ � calmodulina causa uma mudança conforma�
para a molécula seguinte de substrato ou ativador se li�
gar. Inversamente, inibidores favorecem o estado T. Na cional, permitindo que ela se ligue � enzima dependen�
te de Ca�+.
presença de um inibidor, é mais difícil para o substrato
se ligar � conformação T. Embora esse modelo explique o
comportamento cinético de muitas enzimas, não explica
facilmente a cooperatividade negativa.
10.11 REGULAÇÃO DE VIAS
METABÓLICAS
Subunidades Regulatórias Modulam A integração fisiológica de muitas enzimas em uma
via metabólica, bem como a interrelação dos produtos
a Atividade de Subunidades de uma via com a atividade de outras vias, é controlada.
Catalíticas Não é necessário regular a atividade de todas as enzi�
mas de uma via. Ao contrário, a modulação da atividade
O sítio de ligação alostérica, como discutido, é con� de uma ou mais enzimas chaves da via é suficiente. Uma
siderado como residindo na mesma subunidade do sítio reação catalisada por enzima é geralmente mais lenta
catalítico, e todas as subunidades da enzima são idênti� que as outras. Esta é a etapa limitante da velocidade
cas. Em várias enzimas, existe uma subunidade protei� da via. Portanto, a velocidade de fluxo de substratos na
ca regulatória distinta. Essas subunidades regulatórias sequência é dependente de uma enzima da via inteira.
(R) não têm função catalítica, mas sua ligação com a A alteração das propriedades cinéticas dessa única en�
subunidade catalítica (C) modula a atividade da subu� zima tem um grande efeito sobre a velocidade de forma�
nidade catalítica por meio de uma mudança de confor� ção do produto final.
mação induzida. A proteína quinase A (PKA) é regula�
da por esse mecanismo (Figura 10.68). Em ausência de Outro ponto importante para regular uma via me�
tabólica é a primeira reação irreversível que é especí�
fica para a via; essa etapa é chamada etapa de com
R R prometimento. A enzima limitante da velocidade não
Proteína é necessariamente a que catalisa a etapa de compro�
quinase metimento. Além disso, em algumas vias um substra�
inativa
Subunidade Subunidade to intermediário serve de intermediário para duas ou
catalítica catalítica mais transformações metabólicas, cada uma levando
C C
a produtos diferentes. A regulação das enzimas des�
ses pontos de ramificação, poderia controlar o fluxo de
cAMP metabólitos por ambas as vias. A atividade de enzimas
associadas com a etapa de comprometimento ou com
cAMP cAMP
a etapa limitante da velocidade pode ser regulada de
várias formas.
R R
Concentração Celular de Enzima
+
Muitas enzimas indutíveis têm meias�vidas de me�
nos do que 1 h, enquanto muitas enzimas constitutivas
C C Proteína
quinase
têm meias�vidas de dias. As células regulam a concen�
ativa tração de enzimas modificando a velocidade de sínte�
se de novo em nível de transcrição ou tradução. Por
FIGURA 10.68 Modelo de enzima alostérica com exemplo, a glicose reprime a síntese de novo de piruva�
subunidades catalítica (C) e regulatória (R) separadas. to carboxiquinase, a enzima limitante da velocidade na
A subunidade regulatória da proteína quinase A contém uma conversão de piruvato em glicose. Se glicose suficien�
região de pseudossubstrato em sua sequência primária que se
te estiver disponível no sangue, há um nível baixo de
liga ao sítio do substrato da subunidade catalítica. Em presen�
ça de cAMP, a conformação da subunidade R muda, de modo piruvato carboxiquinase no fígado. Níveis sanguíneos
que a região de pseudossubstrato não pode mais se ligar, resul� baixos de glicose levam a um aumento na enzima e au�
tando em liberação de subunidades C ativas. mento na síntese de glicose.
432 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
ser quantificadas no plasma. Infelizmente, enzimas diagnóstico de um defeito enzimático específico leva a
idênticas são encontradas na maioria dos tecidos. Em um tratamento clínico racional que recupera a saúde do
alguns casos, entretanto, diferentes isozimas (p. 393) paciente. Outro exemplo de como isozimas são usadas
ocorrem em diferentes órgãos; estas são úteis para pro� para o diagnóstico de doenças é o padrão de isozimas
pósitos diagnósticos, se liberadas de um tecido doen� da lactato desidrogenase em função do tempo após um
te. Por exemplo, uma isozima da álcool desidrogenase infarto do miocárdio (Figura 10.71 e Tabela 10.�). Não
que é específica para o fígado e uma forma de fosfatase só a atividade enzimática total aumenta, mas há uma
ácida encontrada primariamente na próstata são úteis mudança no padrão de isozimas. Mais LDH1, encon�
para identificação específica de doenças nesses órgãos. trada primariamente no miocárdio e em eritrócitos, é
Para algumas enzimas, as isozimas tecido�específicas encontrada. Nesse exemplo, LDH5 está aumentada, in�
apresentam diferentes propriedades cinéticas, de modo dicando lesão hepática no paciente. Portanto, complica�
que a determinação dos valores de Km e kcat pode ser ções secundárias da insuficiência cardíaca podem ser
usada para determinar de que tecido são provenientes. monitoradas. Após duas semanas, o padrão de isozimas
retorna ao que estava no paciente sadio.
A avaliação do tempo de aparecimento e desapa�
recimento de enzimas específicas no plasma permite Análise cinética de creatina quinase e lactato desi�
o diagnóstico do envolvimento de órgãos específicos. drogenase é útil para propósito diagnóstico. Isozimas
A Figura 10.70 ilustra as variações tempo�dependente de CPK e LDH são plotadas na Figura 10.7� em função
das atividades plasmáticas de enzimas do miocárdio do tempo após lesão cardíaca. A lesão tecidual libera
após um ataque cardíaco. Tais perfis permitem que se CPK� no sangue nas primeiras 6�18 h após um infarto,
estabeleça quando o ataque ocorreu e se o tratamento mas a liberação de LDH demora mais do que o apa�
será eficaz. A Correlação Clínica 10.15 descreve como o recimento de CPK� em um a dois dias. Normalmente,
Glutamina
CO2
ATP carbamoil-fosfato Carbamoil
fosfato Orotato
sintetase
J
DNA dCDP dTTP
orotato
fosforibosil
transferase
Citidina
orotidina
5!-fosfato
decarboxilase
Uridina UMP Orotidina 5!-fosfato
434 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
6x CPK
a
c normal
it
á
m
iz 5x FIGURA 10.70 Cinética de liberação de
n 3x
normal enzimas cardíacas no soro após infarto
e
o do miocárdio.
ã
ç
v
a CPK, creatina quinase; LDH, desidrogena�
e
l normal
e se láctica; HBDH, α�hidroxibutirato desi�
a
d 2x HBDH
drogenase. Tais perfis cinéticos permitem
o
ã
s Normal
normal que se determine onde o paciente está,
n LDH
e
tx com relação ao infarto e � recuperação.
E Nota: CPK sobe rapidamente, mas breve�
mente; HBDH sobe lentamente, mas per�
siste.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Reproduzido com permissão de Coodley,
Dor
peito
no Dias depois do episódio E. L. Diagnostic Enzymes. Philadelphia:
Lea & Febiger, 1970, 61.
2
12 horas
Metabolômica e Proteômica
1 Com os espectrômetros de massa tornando�se instrumen�
tos relativamente comuns, muitos pesquisadores estão usan�
0 do�os com a esperança de encontrar metabólitos específicos,
proteínas ou enzimas relacionados com tumores. Esses meta�
4 bólitos e proteínas poderiam ser empregados como marcado�
res de tipos específicos de tumores. Espera�se que enzimas e
3
proteínas singulares, associadas com vários estados de doen�
ças, sejam identificados no plasma. Essas enzimas e proteí�
nas deverão ser purificadas e caracterizadas para determinar
2 24 horas
seus efeitos sobre a atividade celular normal.
Geralmente, enzimas encontradas em órgãos não FAD são facilmente medidas porque suas formas redu�
estão presentes no soro, a menos que ocorra lesão no zidas absorvem luz na faixa visível. Muitas enzimas que
tecido. Portanto, a medida dos níveis séricos de enzi� não reduzem diretamente NAD(P) ou FAD geram pro�
mas pode ser diagnóstico de um estado de doença. En� dutos que são substratos para desidrogenases NAD(P)
saios para medida de enzimas plasmáticas são baseados ou FAD�ligadas. Acomplando�se duas reações enzimá�
no controle do sistema de ensaio, incluindo tempera� ticas, pode�se determinar a atividade da enzima de in�
tura, pH e concentração de substratos, cossubstratos e teresse.
cofatores. O Km da enzima a ser determinada deve ser
As enzimas, como reagentes, são usadas para me�
conhecido. Geralmente, os ensaios são realizados em
condições de Vmáx, embora não precisem ser. As condi� dir metabólitos em analisadores clínicos automáticos. A
ções de ensaio são otimizadas para as propriedades da glicose oxidase, uma enzima que oxida glicose, é usada
enzima normal, o que pode não medir corretamente os clinicamente para medir a concentração de glicose em
níveis de uma enzima variante porque o pH ótimo e/ou líquidos corpóreos. Ensaios para colesterol empregam
o Km para o substrato e os cofatores podem ser diferen� colesterol oxidase, e, para triacilgliceróis, é empregada
tes da enzima normal. Os ensaios enzimáticos medem a lípase. Os testes podem ser completados em poucos
a concentração de produto formado ou substrato rema� minutos usando pequenas quantidades de plasma. As
nescente em função do tempo. Em algumas reações, os enzimas podem ser imobilizadas em uma bicamada
produtos ou substratos absorvem luz; é medida a mu� sólida, com cofatores e reagentes indicadores, que se
dança de absorção de luz em função do tempo. tornam cromóforos quando reduzidos. No caso da co�
lesterol oxidase, o peróxido de hidrogênio é um produto
Foram sintetizados muitos substratos, nos quais eles da reação da oxidase, e o peróxido formado oxida um
ou seus produtos são compostos cromóforos (absorvem corante sem cor para um produto colorido, mediado por
luz ou emitem fluorescência). As coenzimas NAD(P) e uma peroxidase, outra enzima.
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Termos Chaves
ajuste induzido micas estabilização do estado de inibidores como drogas
ativadores cooperatividade negativa transição inibidores competitivos
catálise ácidae básica cooperatividade positiva estado de transição inibidores não�competiti�
geral energia deativação fosfatases vos
catálise covalente enzimas gráficos (ou plotes) duplos� isozimase doenças
coenzimas �recíprocos Ki
equação de Michaelis–
cofatores Menten inibidores Km
considerações termodinâ� equilíbrio inibidores acompetitivos Km(app)
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 437
ligação forte reações de dois substratos regulação de uma via sítio ativo
metais reações irreversíveis plote de Hill uso terapêutico de enzimas
reação pingue�pongue reações redox quinases velocidade máxima
reação sequencial reações reversíveis sítio alostérico vitaminas
D. esperaria�se que tivesse maior afinidade pelo lação pelos produtos finais da via (ATP, GTP). Estes são
substrato do que a enzima mitocondrial. modificadores alostéricos negativos de PRPP sintetase.
E. produz um nível baixo de estado estacionário 11. Todas as afirmativas seguintes sobre efetores alos�
(steady-state) de acetaldeído após consumo téricos estão corretas, exceto que eles
de álcool. A. podem aumentar a afinidade da enzima por
Questões 9 e 10: Um técnico de pesquisa, trabalhan� seu substrato.
do com compostos organofosforados, deve fazer exames B. podem diminuir a afinidade da enzima por seu
de sangue semanais para a atividade da acetilcolines� substrato.
terase. Geralmente, a atividade de esterase permanece C. ligam�se ao sítio de ligação do substrato.
relativamente constante por algum tempo e, depois, cai
D. causam uma mudança conformacional da en�
abruptamente a zero. Se isso acontecer, o técnico deve
parar imediatamente de trabalhar com os compostos zima.
organofosforados. Esses compostos organofosforados E. podem mudar ou o Km ou a Vmáx da reação.
formam ésteres estáveis com o grupo hidroxila de uma 12. A maioria das enzimas alostéricas
serina crítica para a esterase.
A. é monomérica.
9. Na esterase, a serina transfere um próton para um B. tem mais de uma subunidade.
resíduo de histidina. Qual dos seguintes está corre�
to? C. apresenta apenas interações homotrópicas.
A. A serina está agindo como um ácido geral. D. apresenta apenas interações heterotrópicas.
B. A histidina está agindo como um ácido geral. E. liga o efetor alostérico sem afetar a ligação de
outros ligantes.
C. A serina e a histidina formam um intermediá�
rio covalente.
Problemas
D. A enzima seria relativamente insensível a va�
riações de pH. 13. Um experimento para medir velocidade versus
E. A serina está agindo como um catalisador de concentração de substrato foi realizado, primeiro
transmissão de estabilização. em ausência da substância A e depois em presença
da substância A. Os seguintes dados foram obtidos:
10. Compostos organofosforados inativam a esterase
por Velocidade em Velocidade em
A. inibição competitiva. [S] ausência de A presença de A
B. inibição acompetitiva. (μM) µmol/min µmol/min
C. inibição não�competitiva. �,5 0,3� 0,�0
D. inibição suicida.
3,3 0,�0 0,�6
E. inibição irreversível.
5,0 0,5� 0,36
Questões 11 e 12: Gota é uma doença na qual ácido 10,0 0,69 0,56
úrico está aumentado no sangue e na urina. Um paciente
que excretava três vezes a quantidade normal de ácido A substância A é um ativador ou um inibidor? Se
úrico tinha níveis sanguíneos muito altos de PRPP, um inibidor, que tipo de inibidor é?
intermediário da biossíntese de AMP e GMP, que são pre� 14. Para o experimento do problema 13, calcule o Km
cursores de ATP e GTP. A degradação desses compostos e a Vmáx tanto em ausência como em presença da
produz ácido úrico. A PRPP sintetase do paciente tinha substância A. Esses resultados são consistentes
valores de Km e Vmáx normais, mas era insensível � regu� com sua resposta para a questão 13?
Respostas
1. E O sítio ativo contém toda a maquinaria, incluin� uma reação. D: isso é determinado pelo número de
do as cadeias laterais de aminoácidos envolvidos reagentes. E: DG0 está relacionado com a diferença
na catálise da reação. A�D são todos possíveis, mas entre os calores de formação dos reagentes e pro�
nenhum é necessariamente verdadeiro. dutos – uma constante.
2. C Um catalisador diminui a energia do estado de 3. A Cátions metálicos são deficientes em elétrons
transição, acelerando assim a velocidade de sua e podem aceitar pares de elétrons, funcionando
formação. A: calor de formação é a energia para como ácidos de Lewis, mas não doam elétrons a
formar reagentes ou produtos. B: Keq é governada outros grupos funcionais. C: ao contrário, �s vezes
pelos calores de formação, que são constantes em eles aceitam pares de elétrons de grupos de ca�
CAPÍTULO 10 ENZIMAS: CLASSIFICAÇÃO, CINÉTICA E CONTROLE • 439
deias laterais de aminoácidos. D: fazendo isso, eles serina na proteína facilita sua capacidade de trans�
podem ser quelados, o que pode estabilizar a estru� ferir um próton e, assim, agir como um nucleófi�
tura correta. E: �s vezes são quelados pelo substra� lo. B: bases aceitam prótons. C: nenhuma ligação
to, sendo o quelato o substrato real. covalente é formada. D: a capacidade da histidina
aceitar um próton é muito pH�dependente. E: isso
4. A Resíduos da enzima interagem com o substrato não é provável.
enquanto ele está no estado de transição, baixando
a energia de ativação. B: isso exigiria mais energia 10. E O éster de fosfato não se dissocia e a enzima
para chegar ao estado de transição. C: seria difí� não é restaurada. A, B e C: esses tipos de inibidores
cil para o produto se dissociar. D: uma chave para ligam�se � enzima e/ou complexo enzima�substrato
muitas reações é a enzima adicionar ou remover reversivelmente. D: um inibidor suicida é formado
prótons do substrato para torná�lo mais ou menos a partir do substrato e permanece covalentemente
nucleofílico. E: a catálise é reversível, embora con� ligado � enzima. Organofosfatos não são substratos
siderações termodinâmicas possam fazer algumas para a esterase.
reações parecerem irreversíveis.
11. C “Allo” significa outro. A e B: efetores alostéricos
5. D A reação D é irreversível; se não fosse contro� podem ser positivos ou negativos. D: isso altera a
lada, o Cpd 5 poderia chegar a níveis tóxicos. A: afinidade pelo substrato. E: classe K altera Km e
o controle da reação A controlaria a produção de classe Valtera Vmáx.
ambos os Cpd 3 e 6. B: a reação B não está na rota
12. B A maioria é oligomérica. A: apenas duas en�
direta. C e E: as reações C e E são livremente rever�
zimas alostéricas monoméricas são conhecidas.
síveis, de modo que não precisam ser controladas.
C e D: interações homotrópicas e heterotrópicas
6. B Este é o número de moléculas de substrato con� são comuns. E: o princípio do alosterismo é que
vertidas por unidade de tempo, por molécula de a ligação de um ligante afeta a ligação de outros
enzima. A e E: estes referem�se ao Km. C: quanto ligantes.
mais alta a kcat, mais rápida é a reação. D: kcat/Km é
igual a Keq, de modo que ambos devem mudar para 13. Tome os recíprocos de ambos [S] e v e construa um
gráfico de Lineweaver�Burk. Você descobririá que
manter o equilíbrio. as duas curvas cruzam o eixo y no mesmo ponto,
7. A Conversão de aldeído em ácido é uma oxidação. mas a curva em presença de A cruza o eixo x mais
É da subclasse desidrogenases, como indicado pela próximo da origem. Esse padrão indica que A é um
presença de NAD+. inibidor competitivo.
8. C A menor afinidade (maior Km) torna mais di�
14. –1/Km Km 1/Vmáx Vmáx
fícil para a enzima remover CH3CHO. A: isozimas,
por definição, catalisam a mesma reação. B: é pou� Ausência de A –0,1� 7,1 0,8 1,�5
co provável que uma enzima ative outra enzima. D:
com maior afinidade (menor Km), a reação estaria Presença de A –0,08 1�,5 0,8 1,�5
ocorrendo em alta velocidade, removendo, assim,
Com um inibidor competitivo, Vmáx permanece cons�
CH3CHO. E: esses efeitos são devidos a uma alta
tante (certifique�se que você entende o motivo),
concentração de estado estacionário (steady-state).
mas o Km aparente é mais alto. É necessário mais
9. A Ácidos doam prótons. Ácidos gerais são fraca� substrato para alcançar uma dada velocidade por�
mente ionizados em pH fisiológico. O ambiente da que o substrato precisa competir com o inibidor.
440 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
PARTE III CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 441
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
11
Citocromos P450 Adenina
Ribose
Fosfato
Fosfato
Ribitol
Citocromo P450
Redutase
Citocromo b5
2e- O
N N -
CH3 1e Fosfato
?
NADPH
N N CH3 Ribitol
e Óxido Nítrico O
[FAD] H
CC
N NN-
H33C 1e[FMN]O
O
N
N+3N
Fe
C
CNCCitocromoP450
C N C
N Fe N
CCN
Sintases
Linda J. Roman
Professora Associada, University of Texas Health Science Center at San Antonio
Conceitos Chaves
• Citocromos P450 catalizam a incorporação de um • O óxido nítrico (NO, nitric oxide) é uma molécula
átomo de oxigênio tanto em substratos naturais sinalizadora produzida por monooxigenação cata
quanto em compostos estranhos. Eles contêm lisada pelas óxido nítrico sintases (NOSs, nitric
heme (ferro porfirina IX); o ferro é reduzido pelos oxide synthases), que contêm FAD, FMN e heme
elétrons doados por uma redutase contendo FAD ligados a uma única molécula que funciona como
ou FMN. Seus espectros derivam do quinto ligante um homodímero. O NO é derivado do grupo guani
axial do ferro heme com um resíduo de cisteína em dino da L-arginina, e a N-hidroxi-L-arginina é um
cada uma das proteínas. intermediário da reação.
• A oxigenação de esteroides produz produtos re • As NOSs são compostas por dois domínios distin
gião-específicos e estereoespecíficos, que são es tos, um contendo FAD e FMN, e o outro contendo
senciais para a diferenciação sexual (andrógenos e heme, conectados por uma sequência de ligação à
estrógenos) e para o equilíbrio metabólico e eletro calmodulina. A ligação de Ca2+-calmodulina é ne
lítico (corticosteroides e mineralocorticoides). cessária para a transferência de elétrons entre os
Alguns citocromos P450 possuem menor especi domínios. Tetra-hidrobiopterina e Zn também são
•
necessários.
ficidade pelo substrato e metabolizam compostos
exógenos, para gerar produtos mais polares para • As NOSs são codificadas por três genes, produzin
eliminação. Alguns produtos são mais tóxicos do do NOSI (NOS neuronal), NOSII (NOS indutível)
que os substratos originais, mas o metabolismo e NOSIII (NOS endotelial). A NOSI é constitutiva
subsequente neutraliza tais efeitos. A maioria das mente expressa, principalmente em músculo es
drogas é metabolizada por inúmeros citocromos quelético e neurônios do sistema nervoso central e
P450 específicos no retículo endoplasmático. Fre periférico. Ela é ativada pela ligação com calmodu
quentemente ocorrem interações droga–droga. lina, e o NO produzido atua como um neurotrans
missor e modulador da contratilidade muscular.
• Alguns citocromos P450 podem ser induzidos, en
quanto outros são constitutivos. Existem 57 citocro • A NOSII éé primariamenteprimariamente encontradaencontrada ememem neutró-neutró-neutró
mos P450 humanos; 50 ocorrem no retículo endoplas filos, macrófagos, astrócitos e hepatócitos. Ela é
mático e requerem NADPH-citocromo P450 redutase. induzida por citocinas; a calmodulina fica ligada
em condições fisiológicas basais. A NOSII atua na
• A hidroxilação mitocondrial de esteroides requer
resposta imune precoce, produzindo NO como um
elétrons provenientes do NADPH, que passam
agente citotóxico contra patógenos.
por uma redutase que contém FAD, uma proteína
ferro-enxofre, adrenodoxina, e finalmente para o • A NOSIII é primariamente encontrada em célu
citocromo P450. las endoteliais vasculares, ligada à membrana ca
veolar por resíduos de miristoil e palmitoil. Ela é
• Polimorfismos genéticos foram demonstrados na
constitutivamente expressa e ativada por Ca2+. A
população humana tanto em citocromos P450 como
NOSIII produz NO como vasodilatador, o qual age
em NADPH-citocromo P450 redutase. As mutações na guanilato ciclase das células musculares lisas
podem resultar no metabolismo reduzido de drogas
adjacentes, levando por fim à vasodilatação.
e no metabolismo anormal de esteroides sexuais.
11.1 INTRODUÇÃO
O citocromo P450 constitui uma família singular de prostaglandinas, leucotrienos e retinoides; (3) inativa
heme proteínas, presente em bactérias, fungos, insetos, ção ou ativação de agentes terapêuticos; (4) conversão
plantas, peixes, mamíferos e primatas, que catalisam de produtos químicos em moléculas altamente reativas,
a monooxigenação (ou seja, inserção de um átomo de que podem produzir dano celular indesejado; (5) inibi
oxigênio molecular) de uma variedade de compostos ção ou indução enzimática, resultando em interações
estruturalmente diversos. Os substratos para esse sis droga–droga e efeitos adversos.
tema enzimático incluem tanto compostos sintetizados
endogenamente, como colesterol, hormônios esteroi As óxido nítrico sintases são enzimas bidomínios,
des e ácidos graxos, quanto compostos exógenos, como consistindo de um domínio contendo heme (ou oxige
drogas, aditivos de alimentos, componentes da fumaça nase) ee umum domíniodomínio contendocontendo ��avinaavina (ou(ou(ou redutase).redutase).redutase). Es-Es-Es
de cigarros, pesticidas e compostos químicos, que são sas enzimas catalisam a formação de óxido nítrico, uma
ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele. Os citocro molécula gasosa radical livre muito reativa que funcio
mos P450 estão envolvidos em (1) produção de hor na na neurotransmissão, na regulação hemodinâmica
mônios esteroides; (2) metabolismo de ácidos graxos, ou na resposta imune, dependendo do tecido no qual é
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 443
produzido. Como os citocromos P450, as óxido nítrico a-hélice, e a outra metada é folha-b e outras estrutu
sintases são enzimas contendo heme que catalisam a ras; uma longa hélice-I atravessa a enzima, por trás do
monooxigenação
ooxigenação de seus substratos, usando mecanis heme. Esse arcabouço básico é conservado em todos os
mos catalíticos semelhantes. A seguir, serão discutidos citocromos P450 conhecidos, embora a localização rela
tanto os citocromos P450 como as óxido nítrico sintases tiva possa diferir e alguns elementos minoritários pos
em detalhes, enfocando tanto as semelhanças como as sam estar faltando. As proteínas de mamíferos contêm
diferenças entre os dois sistemas. uma sequência N-terminal de ancoragem à membrana
e sequências internas de associação à membrana, que
levam essas proteínas a ficarem profundamente mergu
11.2 CITOCROMOS P450: lhadas na membrana.
máx 450 nm
H3
H3C
H3C
C e H R
11.3 SISTEMAS DE
N C
N C O
TRANSPORTE DE
ELÉTRONS CITOCROMOS NH
P450 O
R H
NADPH-Citocromo P450 Redutase É
N N O
a Flavoproteína Doadora de Elétrons
no Retículo Endoplasmático N
NH
O
A maioria dos citocromos P450 de mamíferos é en
contrada profundamente mergulhada no lado citoplas
mático do retículo endoplasmático (fração microssomal) FADH2
(reduzido)
ou FMNH2
de hepatócitos, de células renais e adrenocorticais, de
células ovarianas e testiculares, e de células do trato res FIGURA 11.3 Anel isoaloxazina de FMN ou FAD em seus
piratório. Cinquenta das 57 isoformas de citocromo P450 estados oxidado, semiquinona (forma reduzida por 1e–)
humanas, são do tipo microssomal. Esses citocromos ou completamente reduzido (reduzido por 2e–).
P450 usam uma única NADPH-citocromo P450 reduta
se, uma proteína periférica de membrana, de 76,6 kDa,
contendo �avina adenina dinucleotídeo (FAD) e �avina
mononucleotídeo (FMN) como grupos prostéticos, para
a entrega de elétrons. A estrutura cristalina da isoforma
humana é apresentada na Figura 11.4. Até a recente ca
racterização das óxido nítrico sintases, a P450 redutase
FMN
FIGURA 11.4 Diagrama em fitas da citocromo P450 redutase
humana baseado em sua estrutura cristalina.
Três domínios são apresentados: o domínio de ligação FMN (azul), o do FAD NADP+
mínio de ligação FAD/NADPH (verde) e o domínio de conexão interme
diária (púrpura). Cofatores são mostrados em modelos hastes-e-bolas:
azul,FMN; amarelo, FAD; vermelho, NADP+. A figura foi reproduzida
utilizando-se o programa Molscript (Kraulis, P. J. Molscript: A programs
to produce both detailed and schematic plots of protein structures. J.
Appl. Cryst. 24:946, 1991). Generosamente fornecida pelo Dr. Jung-Ja
P. Kim, Professor Titular de Bioquímica, Medical College of Wisconsin,
antes da publicação.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 445
Produto (SOH)
NADPH
2e Substrato (S) H2O (2nd)
e Potenciais Redox (mV)
[FAD FMN] [FMN
NADPH –FAD] P450 do retículo endoplasmático
Citocromo
Redutase
P450 P450-Fe P450-Fe
(Oxidado)
3+ P450-Fe3+
S O–– 2e
NADPH −324
– 2 Citocromo
Redutase
P450 FAD −290
FMN −270
P450 heme −300
(1st)
e S 3+ Ciclo do P450-Fe3+ –
Citocromo P450 S O–
– 2
P450 heme
+ substrato −230
P450-Fe
S 2+ P450-Fe 2+
S O2
O2
ligação de substrato aumenta tanto a afinidade quanto heme do citocromo P450. Uma segunda proteína, adre
a taxa de associação do complexo P450/redutase; esse nodoxina, que também fica fracamente associada com
mecanismo faz sentido porque um P450 “vazio” mono a membrana mitocondrial interna, contém um grupo
polizando a redutase seria não-produtivo. ferro-enxofre que serve de centro redox para essa molé
cula e funciona como uma lançadeira de elétrons entre
Em algumas reações, a transferência do segundo o FAD da adrenodoxina redutase e o ferro heme de um
elétron pode não ser diretamente da P450 redutase, citocromo P450 mitocondrial. Uma molécula de adreno
mas pode ocorrer a partir do citocromo b5, uma peque
doxina recebe um elétron da sua �avoproteína redutase
na heme-proteína (15,2 kDa) que pode ser reduzida
mitocondrial e interage com uma segunda adrenodoxi
pela P450 redutase ou por outra �avoproteína ligada ao na, que depois transfere seu elétron para um citocromo
micromosso, a NADH-citocromo b5 redutase. Algumas P450 específico. Componentes do sistema citocromo
reações catalisadas por citocromos P450 específicos re P450 mitocondrial são sintetizados no citosol como pre
querem citocromo b5 para atividade enzimática ótima, cursores de maior peso molecular, transportados para
possivelmente porque o citocromo b5: (1) altera a afini dentro da mitocôndria, e processados por proteases em
dade da interação P450/redutase, (2) altera a afinidade proteínas maduras de menor peso molecular.
do P450 por um substrato em particular, ou (3) aumen
ta a taxa de transferência do segundo elétron para o
heme P450.
11.4 CITOCROMO P450:
NADPH-Adrenodoxina Redutase É a NOMENCLATURA E
Flavoproteína Doadora de Elétrons ISOFORMAS
em Mitocôndrias Em virtude do grande número de citocromos P450
que foram identificados (mais de 7.000 até fevereiro
Os citocromos P450 mitocondriais são encontrados de 2008), um sistema de classificação das enzimas em
na membrana interna das mitocôndrias e estão envol grupos funcionais e nomenclatura teve de ser desenvol
vidos em reações de hidroxilação de esteroides. Sete vido. O sistema escolhido é baseado em classificação
das 57 isoformas humanas são desse tipo. Esse siste de acordo com a identidade relativa das sequências de
ma de transferência de elétrons requer duas proteínas aminoácidos das enzimas. A superfamília dos citocro
adicionais, a NADPH-adrenodoxina redutase (51 kDa), mos P450 é, assim, dividida inicialmente em famílias,
que contém um único grupo prostético FAD, e adreno nas quais a identidade da sequência de aminoácidos dos
doxina, uma proteína ferro-enxofre de 12,5 kDa, para membros é superior a 40%. A família é designada pelo
formação de produto (Figura 11.7). A adrenodoxina re prefixo “CYP”, em referência a cytochrome P450, segui
dutase fica só fracamente associada com a membrana do por um numeral arábico (por exemplo, CYP1, CYP2,
mitocondrial interna e não pode transferir diretamen CYP3 etc.). As famílias são ainda divididas em subfamí
te nem o primeiro nem o segundo elétron para o ferro lias, nas quais a identidade das sequências de amino
ácidos dos membros é superior a 55%.
Adrenodoxina
A subfamília é identificada por uma
Adrenodoxina letra maiúscula adicional (por exem
Redutase Adenina 3+ 1e-
Fe –S plo, CYP1A, CYP1B, CYP1C etc.). Os
Ribose membros individuais de cada subfamí
2+
Fosfate Fe –S lia são, então, numerados na ordem em
-
Fosfate 1e- 1e que foram identificados (por exemplo,
Ribitol CYP1A1, CYP1A2, CYP1A3 etc.). Embo
N N ra os citocromos P450 sejam enzimas, os
2e- H C
3
O
NADPH C N C termos isoenzima ou isozima não são
H C N
3 N 3+
N Fe N usados para descrever essas proteínas;
[FAD] O
C N C em vez disso, é usado o termo forma ou
isoforma.
cada isoforma metabiliza uma ampla variedade de subs de nitrogênio, enxofre e fósforo e reações de desaloge
tratos. A Tabela 11.2 lista as isoformas envolvidas no nização também são catalisadas por formas de citocro
metabolismo de compostos endógenos; essas isoformas mos P450.
geralmente reconhecem apenas um ou dois substratos
específicos, e estes são apresentados na tabela. Tanto substratos endógenos e como exógenos são
metabolizados por citocromos P450. Os substratos en
dógenos incluem colesterol, esteroides, prostaglandi
nas e ácidos graxos. Nesses casos, as reações são mais
11.5 CITOCROMOS P450: estéreo- e região-específicas, e os citocromos P450 se
SUBSTRATOS E FUNÇÕES ligam apenas a substratos específicos. Substâncias exó
genas (xenobióticos, significando “estranhos à vida”)
FISIOLÓGICAS incluem muitas drogas, compostos químicos, contami
nantes ambientais e aditivos alimentares. Os citocro
Citocromos P450 metabolizam uma variedade de mos P450 desse grupo são menos discriminativos entre
compostos lipofílicos de origem endógena ou exógena. os substratos e oxidam esses compostos primariamente
Como mostrado na Figura 11.8, os citocromos P450 po lipofílicos (hidrofóbicos) para torná-los mais solúveis
dem catalisar a hidroxilação do átomo de carbono de em água (hidrofílicos) para excreção.
um grupo metil, a hidroxilação do carbono metileno de
um alcano, a hidroxilação de um anel aromático para
formar um fenol, ou a adição de um átomo de oxigênio
em uma dupla ligação para formar um epóxido. Tam
bém podem catalisar reações de desalquilação, nas
quais grupos alquila ligados a átomos de oxigênio, ni
trogênio ou enxofre são removidos. Oxidação de átomos
448 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Citocromos P450 Participam da no córtex adrenal e nos órgãosórgãos sexuais.sexuais. AmbosAmbosAmbos ososos sis-sis-sis
temas de citocromos P450, mitocondrial e microssomal
Síntese de Hormônios Esteroides (retículo endoplasmático), sãosão necessáriosnecessários parapara conver-conver
e da Oxigenação de Compostos ter colesterol em aldosterona e cortisol no córtex adre
nal, testosterona nos testículos, e estradiol nos ovários.
Endógenos Os citocromos P450 são responsáveis por várias
A importância das reações catalisadas por citocro etapas da síntese adrenal de aldosterona, o mineralo
mos P450 com substratos endógenos é ilustrada pela corticoide responsável por regular o equilíbrio de sal
síntese dos hormônios esteroides a partir de colesterol, e água, e cortisol, o glucocorticoide que governa o me
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 449
Hidroxilação Alifática
R—CH2—CH3 R—CH2—CH2—OH
R—CH2OH—CH3
Hidroxilação Aromática
R R OH
Epoxidação
R—CH2
R CH2—CH3 R R—CH—CH—CH3
O
O
Reações de Desalquilação
N-desalquilação
R—CH2—CH2—NH—CH3 R—CH2—CH2—NH—CH2OH R—CH2—CH2—NH2 + HCHO
O-desalquilação
R—CH2—CH2—O—CH3 R—CH2—CH2—O—CH2OH R—CH2—CH2—OH + HCHO
S-desalquilação
R—CH2—CH2—S—CH3 R—CH2—CH2—S—CH2OH R—CH2—CH2—S + HCHO
N-Oxidation Reactions
Aminas Primárias
Aminas
R—CH2—CH2—NH2 R—CH2—CH2—NH—OH
Secundárias
R—CH2—CH2—NH—CH3 R—CH2—CH2—NOH—CH3
O
Sulfoxidação
R—CH2—S—CH2R R—CH2—S—CH2R
FIGURA 11.8 Reações
Desalogenização comuns catalisadas por
F3C—CHBrCl F3C—COOH + HCl + HBr citocromos P450.
450 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Colesterol
CYP11A1
Corticosterona
CYP11B1 CYP11B1
Cortisol
CYP11B2
18-OH-Corticosterona
CYP11B2
Aldosterona
um anel aromático é produzido no anel A do esteroide do no metabolismo do ácido araquidônico por CYP4As
produzido. Nessa reação complexa, múltiplas reações e CYP4Fs no homem, é um potente vasoconstritor. Os
de hidroxilação são catalisadas por uma única enzima EETs, formados por CYP1A, 2B, 2C e 2J no homem, são
citocromo P450, CYP19A1 ou aromatase, para formar o vasodilatadores derivados do endotélio. Os CYP4As
anel aromático com a remoção do grupo metil em C19. também catalisam a hidroxilação de prostaglandinas e
A Figura 11.11 detalha a reação de aromatização. Duas ácidos graxos, ativando ou inativando esses importan
reações sequenciais de hidroxilação no metil C19 resul tes fatores regulatórios.
tam na introdução de um grupo aldeído. A etapa final
pode envolver um ataque peroxidativo em C19, com a Citocromos P450 produzem metabólitos vitais para
perda do grupo metil e a eliminação do átomo de hi a manutenção da homeostase em outros sistemas tam
drogênio, para produzir o anel aromático. Todas as três bém. O CYP7A1 catalisa a primeira etapa, e limitante
da velocidade, da síntese de ácidos biliares no fígado
reações de hidroxilação são catalisadas por CYP19A1.
A complexidade da produção de hormônios esteroides (p. 747 e 1078). No fígado, o CYP27B1 catalisa a 1-hi
durante a gestação e o papel das formas de P450 são droxilação da 25-hidroxi-vitamina D3, formada no rim,
para produzir o metabólito 1,25-di-hidroxi, que é a for
ilustrados na Correlação Clínica 11.2.
ma ativa desse hormônio, importante no desenvolvi
Citocromos P450 também metabolizam outros com mento e na manutenção dos ossos (p. 1094), enquanto
postos endógenos que estão envolvidos em processos CYP24A1 está envolvido na degradação ou na inativa
fisiológicos e, assim, regulam sua atividade. Por exem ção de metabólitos da vitamina D. No sistema imune, o
plo, o ácidoácido araquidônicoaraquidônico éé metabolizadometabolizado porpor citocro-citocro leucotrieno B4 é um agente quimioatrativo de leucóci
mos P450 para formar ácidos 19- e 20-hidroxieicosa tos polimorfonucleares, que é hidroxilado por CYP4F3
tetraenoicos (HETEs), ácidos epoxieicosatetraenoicos para o menos ativo 20-hidroxileucotrieno B4, vital na
(EETs) e ácidos di-hidroxieicosatetraenoicos (DiHE inativação da resposta imune. O ácido retinoico é meta
TEs). Esses metabólitos funcionam na regulação dos bolizado por CYP26A1 no derivado 4-hidroxi, que pode
sistemas vascular, renal, pulmonar e cardíaco e nas res ter maior atividade do que o ácido retinoico em certos
postas in�amatória e de crescimento. 20-HETE, forma órgãos, onde desempenha um papel no ciclo celular e
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 451
21 CH3 20 22
CH3
Citocromos P450 Oxidam Substratos
CH3 Lipofílicos Exógenos
CH3 CH3 Os substratos exógenos metabolizados por citocro
mos P450 incluem drogas terapêuticas, agentes quí
micos usados em locais de trabalho, subprodutos in
HO dustriais que se tornam contaminantes ambientais e
Colesterol (C-27)
aditivos alimentares. Os citocromos P450 humanos en
volvidos no metabolismo xenobiótico são apresentados
NADPHO2 na Tabela 11.1, p. 448. Esses citocromos P450 apresen
tam ampla especificidade de substrato, oxidando uma
OH
CH3
enorme variedade de xenobióticos, particularmente
CH3
compostos lipofílicos. A adição de um grupo hidroxila
CH3
torna o composto mais polar e, assim, mais solúvel no
ambiente aquoso da célula. Muitos compostos exógenos
CH3 CH3 são muito lipofílicos e se acumularão dentro de células
ao longo do tempo, potencialmente interferindo com a
função celular, a menos que sejam metabolizados em
HO produtos mais hidrofílicos.
22-Hidroxicolesterol Estima-se que CYP3A4 metabolize aproximadamen
te 50% das drogas terapêuticas, CYP2D6 aproximada
NADPHO2
mente 20%, CYP2C9 e 2C19 aproximadamente 15%,
OH e CYP1A2, CYP2A6, CYP2B6 e outros metabolizem os
CH3 restantes 15% das drogas. CYP3A4 é o principal P450
CH3 que metaboliza drogas no homem. Está presente no
CH3 OH
trato gastrointestinal e no fígado, e é responsável pela
baixa biodisponibilidade oral de muitas drogas. Como
CH3 CH3
os citocromos P450 têm tais amplas especificidades de
substratos, um composto pode ser metabolizado por
mais de uma isoforma de citocromo P450 e/ou em dife
HO
rentes locais, como mostra a Figura 11.12 para o com
20,22-Di-hidroxicolesterol posto diazepam.
OH
CH3
O
Diazepam (Valium) N
Ativo
HO Cl N
CYP
HO19A1 O2
OH
NO
CYP2C19 CYP3A4
CH3
H N O
HO
OH
19-Hidroxi
Cl N Cl N
CYP 19A1 O2
Nordazepam Temazepam
OH
HO OH
CYP3A4 CYP2C19
HNO
HO
OH
H2O Cl N
OH
Oxazepam
O Inativo
(Figura 11.5, via do meio). A quantidade de acetami o metabolismo de outros substratos de CYP2E1. O grau
nofen que é metabolizada por CYP2E1 é normalmente de lesão hepática depende do momento e da quantidade
baixa, em comparação com a glucuronidação e a sul de acetaminofen tomado. Superdosagem de acetamino
fatação. As pequenas quantidades de NAPQI formadas fen resulta em mais chamadas dos centros de controle
são rapidamente conjugadas com glutationa (p. 811) em de envenenamento nos Estados Unidos do que qualquer
um metabólito não-tóxico. Entretanto, se os níveis de outra substância farmacológica. Além disso, de acordo
glutationa estiverem baixos, NAPQI escapa da conjuga com a American Liver Foundation, 35% dos casos
ção com glutationa e reage com componentes dos hepa envolvendo insuficiência hepática são causados por
tócitos, causando lesão celular. Normalmente, os níveis envenenamento por acetaminofen. Uma descrição dos
de CYP2E1 presentes são baixos em comparação com efeitos do álcool sobre o metabolismo de acetaminofen
outras formas de P450, e a produção de NAPQ1, quando é apresentada na Correlação Clínica 11.4.
doses normais de acetaminofen são ingeridas, é peque
na. Entretanto, a ingestão de grandes quantidades de Como exemplificado para benzo[a]pireno e acetami
acetaminofen causará um aumento na produção de NA nofen, o sistema P450 pode produzir metabólitos tóxi
PQI, o que pode causar lesão hepática grave. Outro fator cos. A formação de compostos tóxicos pelo citocromo
na toxicidade hepática induzida por acetaminofen é que P450, entretanto, não significa que ocorrerá lesão celu
lar ou tumor. Outros processos celulares determinarão
o consumo de bebidas alcoólicas induz CYP2E1, o que
aumenta a produção de NAPQI. Contudo, o álcool tam a extensão da lesão celular; por exemplo, conjugação
bém é um substrato para esse citocromo P450 e inibirá do benzo[a]pireno-7,8-di-hidrodiol-9,10-epóxido pela
456 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
O
HNCCH3
HNCCH3 O
O Glucuronídeo HNCCH3
Benzo[a]pireno
Morte
OP4502
OSulfato
OH
O OO Celular
Proteína
CYP2E1 HNCCH3
OH
GSH
O
HNCCH3
O Acetaminofen NAPQI
Benzo[a]pireneo-7,8-epóxido
epóxido GSH
HNCCH3
O
hidrolase
OH
Acetaminofen é uma das medicações analgési zar o acetaminofen em NAPQI, aumentando o risco
cas (alívio da dor) e antipiréticas (redutor de febre) de lesão hepática.
mais usadas. Está disponível isolado ou como com
ponente de mais de 100 medicações vendidas sem O período de tempo e a quantidade de álcool consu
receita médica.médica. AA viavia dodo metabolismometabolismo dodo acetami-acetami-acetami mido por dia afetam a quantidade de CYP2E1 expressa
nofen é apresentada na Figura 11.15. O consumo de em hepatócitos. A quantidade de acetaminofen consu
álcool, um indutor e substrato de CYP2E1, tem um mida é o principal fator determinante do risco, uma
profundo efeito sobre o metabolismo de acetamino vez que as doses normalmente recomendadas não ge
fen. O consumo de álcool equivalente a uma garra ram suficiente NAPQI para induzir lesão de células he
fa de vinho de 750 ml, seis latas de cerveja de 350 páticas. Doses mais altas de acetaminofen aumentam
ml, ou 250 ml de uma bebida de graduação alcoólica o risco de lesão às células hepáticas, visto que mais
80, num período de 6 a 7 horas, causa um aumento droga será metabolizada pela via de CYP2E1. Ambas
as vias de sulfatação e glucuronidação são essenciais
de 22% no metabolismo de acetaminofen mediado
por CYP2E1, que se manifesta várias horas após a para determinar a quantidade de acetaminofen que
ingestão do álcool. Assim, o tempo entre o último será metabolizada por CYP2E1. Além disso, os níveis
consumo de álcool e administração de acetaminofen de glutationa intracelular são críticos, uma vez que a
pode ser muito crítico no desenvolvimento da lesão glutationa forma conjugados com NAPQI para prote
hepática induzida por acetaminofen. Em uma pes ger o fígado desse metabólito reativo. Em presença de
soa bebendo álcool, o metabolismo do acetaminofen altos níveis de NAPQI, a glutationa é rapidamente con
tomado concomitantemente ou logo depois de parar sumida e não pode mais proteger contra a lesão.
de beber é retardado porque o etanol, assim como o
acetaminofen, é um substrato para CYP2E1 e, por Brunner, L. J., McGuinness, M. E., Meyer, M. M. e Munar,
tanto, compete pela ligação. No consumo crônico de M. Y. Acute acetaminophen toxicity during chronic alcohol
use. U.S. Pharmacist Sept:HS11-HS19, 1999. Esse artigo
álcool, CYP2E1 é induzido e quantidades maiores de
pode ser visto na página da internet: http://www.us-pharma
N-acetil-p-benzoquinonaimina (NAPQI) são produ cist.com/; e Thummel, K. E., Slattery, J. T., Ro, H., Chien, J.
zidas; contudo, o álcool pode realmente proteger o
Y., Nelson, S. D., Lown, K. E. e Watkins, P. B. Ethanol and
fígado da lesão induzida por acetaminofen, se toma production of the hepatotoxic metabolite of acetaminophen
do ao mesmo tempo ou pouco antes. Se acetamino in healthy adults. Clin. Pharmacol. Ther. 67:591, 2000. Slat
fen for tomado várias horas após a ingestão de álcool, tery, J. T., Nelson, S. D. e Thummel, K. E. The complex inte
o álcool já foi metabolizado e níveis aumentados de raction between ethanol and acetaminophen. Clin. Pharma
CYP2E1 estarão, então, disponíveis para metaboli col. Ther. 60:241, 1996.
atividade de P450, bem como polimorfismos ocorrendo Os efeitos indesejados que podem ocorrer quando
em um gene P450, podem produzir resultados inespe os níveis de citocromos P450 são induzidos ou inibidos
rados. por outras drogas são chamados interações droga–dro
ga. Se essas drogas indutoras ou inibidoras forem ad
ministradas com outras drogas que são normalmente
Interações Droga–Droga metabolizadas pelas enzimas P450, o tempo de vida
dessas drogas será alterado. Se essas drogas afeta
Muitas drogas induzem a formação do citocromo
rem sistemas críticos, o resultado pode ser fatal. Por
P450 que as metaboliza. Outras drogas causam inibi
ção da atividade de P450. Alterar o metabolismo de uma exemplo, CYP2E1 é induzido por álcool ou isoniazida.
Ele também metaboliza anestésicos, como halotano e
droga em particular a partir de sua taxa prevista pode
en�urano, a compostos que danificam proteínas hepáti
causar efeitos inesperados e adversos, e é preocupação
cas. O sistema imune então ataca essas proteínas anor
especial em indivíduos que tomam uma combinação de
mais, produzindo uma forma de hepatite. Pessoas com
drogas. Para drogas que são dependentes do metabo
atividade acima do normal de CYP2E1 produzida pela
lismo de P450 para sua eliminação do corpo, a inibição
ingestão de álcool têm risco aumentado desse tipo de
levará ao acúmulo da droga original até concentrações
hepatite reativa a um anestésico.
que podem ser tóxicas. Por outro lado, a indução da
isoforma P450 necessária para metabolizar uma droga Interações droga–droga também ocorrem com
específica pode levar ao supermetabolismo e a concen CYP3A4, um dos P450 mais importantes para metabo
trações subefetivas. lizar drogas e o P450 mais abundante no fígado e no in
458 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
testino delgado. Os níveis de CYP3A4 são induzidos por complexidade do processo de indução é ilustrada por
rifampicina, anticonvulsivantes como carbamazepina e CYP2E1 no fígado humano versus de rato. A proteína
fenitoína, e glucocorticoides como dexametasona, e são CYP2E1 é induzida em ambas as espécies por molécu
inibidos por antifúngicos como cetoconazol, inibidores las orgânicas pequenas, como etanol, acetona ou pira
da protease de HIV, bloqueadores de canal de cálcio, ci zol, ou em condições de jejum ou diabetes. No homem,
closporina, antibióticos como eritromicina, antidepres os níveis do mRNA dessa proteína não são afetados, e
sivos SSRI e até suco de grapefruit. Alguns poucos dos a indução é provável que ocorra por estabilização de
muitos compostos metabolizados por essa enzima são CYP2E1 humana contra degradação proteolítica. En
apresentados na Tabela 11.1. tretanto, em ratos diabéticos, a indução de seis vezes
da proteína CYP2E1 é acompanhada por um aumento
Na realidade, parece que a mistura de indutores e/ou de 10 vezes no mRNA, sem envolver aumento na trans
inibidores de CYP3A4 com várias drogas (que podem, crição do gene, sugerindo estabilização do mRNA.
elas mesmas, serem indutores ou inibidores) pode ter
efeitos indesejados ou até fatais. Tomar rifampicina, um Proteínas receptores citosólicos específicos foram
indutor de CYP3A4, com contraceptivos orais, que são indicadas por alguns agentes indutores. Um dos mais
metabolizados por CYP3A4, tem resultado em menor amplamente estudados é o receptor de aril hidrocar
eficácia dos contraceptivos, levando a gestações inde boneto (ou Ah), que interage com 2,3,7,8-tetraclorodi
sejadas. Tomar cetoconazol ou até tomar suco de gra benzo-p-dioxina (TCDD) e causa indução de CYP1A1,
pefruit, ambos inibidores de CYP3A4, juntamente com CYP1A2 e CYP1B1. Este é um exemplo de composto
o anticoagulante warfarina, pode levar a sangramento que persiste nos ambientes lipídicos da célula por lon
excessivo. As consequências clínicas que se relacionam gos períodos de tempo e pode induzir carcinogênese.
com aa inibiçãoinibição ouou aa induçãoindução dede enzimasenzimas queque metabo-metabo Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são ligantes
lizam drogas são apresentadas na Correlação Clínica para o receptor de Ah, e produzem um complexo ligan
11.3, e na Correlação Clínica 11.5. te-receptor que é deslocado para dentro do núcleo pelo
translocador nuclear do receptor de Ah (Arnt, Ah re
Os mecanismos de indução de citocromos P450
ceptor nuclear translocator), onde se liga a elementos
ocorrem em nível transcripcional ou pós-transcriptio de resposta específicos nas regiões regulatórias a mon
nal (por exemplo, estabilização do mRNA ou diminui
tante dos genes dos citocromos P450. A Figura 11.16
ção na degradação da proteína). Não é possível prever
ilustra esse processo.
o modo de indução com base no composto indutor. A
A indução de citocromos P450 específicos pode O agente fitoterápico amplamente utilizado erva de
diminuir os efeitos terapêuticos de drogas, porque São João, que pode ser adquirido sem receita médica,
aumentos nos níveis hepáticos de P450 aumentam a também induz a atividade de CYP3A4, levando à pos
taxa de metabolismo e, portanto, a inativação e/ou a sibilidade dos indivíduos que ingerem a erva poderem
excreção de drogas. A indução do sistema P450 tam não receber os benefícios terapêuticos de drogas que
bém pode ter efeitos adversos por causa da formação são substratos para CYP3A4. Uma redução nos níveis
aumentada de metabólitos tóxicos (também Correla plasmáticos de contraceptivos orais, drogas antiprote
ção Clínica 11.4). ase de HIV, a droga imunossupressora ciclosporina ou
certas estatinas usadas para reduzir os níveis de co
A indução de CYP3A4, por exemplo, pela droga anti lesterol, pode ocorrer porque todas essas drogas são
tuberculose rifampicina, pode aumentar muito a elimi substratos para CYP3A4. Como a erva de São João é
nação do contraceptivo oral etinil estradiol, causando considerada uma substância natural, e não uma droga,
níveis plasmáticos subefetivos da droga, o que aumenta os indivíduos podem tomar esse agente sem avisar seu
o risco de gravidez. Tratamento com as drogas anticon médico ou saber seus efeitos sobre a eficácia de outras
vulsivantes fenitoína e carbanezepina também pode drogas que estejam tomando.
induzir CYP3A4 e reduzir a potência contraceptiva do
etinil estradiol. É imperativo que uma mulher tomando Roby, C. A., Anderson, G. D., Kantor, E., Dryer, D. A. e
etinil estradiol como contraceptivo oral, simultanea Burstein, A. H. St. John’s wort: effect on CYP3A4 activity.
mente com um indutor de CYP3A4, aumente a dose do Clin. Pharmacol. Ther. 67:451, 2000; e Shader, R. I. e Oes
contraceptivo ou use um método contraceptivo alterna terheld, J. R. Contraceptive effectiveness: cytochromes and
tivo ou outra droga. induction. J. Clin. Psychopharmacol. 20:119, 2000.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 459
L + R Polimorfismos Genéticos de
União do ligante (L) ao receptor específico (R) Citocromos P450
(AhR, CAR, PXR, ou PPAR)
Além da exposição a vários agentes indutores que
L podem mudar o padrão de expressão dos citocromos
P450 no fígado e em outros órgãos, os indivíduos
Ligação do parceiro do receptor heterodimérico Arnt ou RXR
(Arnt ou RXR) podem diferir em suas taxas metabólicas para dro
para formar o complexo ligante–receptor heterodimérico gas específicas em virtude dos genes de citocromos
L
P450 singulares ou dos alelos que possuem,ou seja,
polimorfismos. Um polimorfismo é uma diferença na
de
Reconhecimento do elemento
genes P450 específicos pelo
decomplexo
resposta receptor
do DNA Gene P450 sequência do DNA encontrada em 1% ou mais de uma
população. Essas diferenças na sequência do DNA
podem levar a diferenças no metabolismo de drogas.
L
Gene P450 Como estas são variações genéticas, muitas delas es
5! tão presentes em grupos étnicos específicosíficos quequeque po-po-po
Elemento de resposta
dem, portanto, experimentar efeitos adversos mais
Regulação da transcrição do gene frequentes com certas drogas. Estima-se que 40%
Síntese aumentada do mRNA dos genes P450
das diferentes formas de citocromo P450 humanas
FIGURA 11.16 A interação de um ligante com seu receptor e que metabolizam xenobióticos sejam polimórficas.
com o parceiro do receptor, formando receptores complexos
heterodiméricos que iniciam a indução de formas de
Polimorfismos genéticos em CYP2D6 foram es
citocromo P450. tudados intensamente e 65 alelos diferentes foram
identificados. A população pode ser dividida em me
tabolizadores intensivos ou metabolizadores ruins,
Outro sistema receptor para genes P450 é o recep dependendo dos níveis de expressão de CYP2D6. Se
tor X de pregnano (PXR), que regula os genes CYP3A. não houver outro modo de eliminar uma droga em par
Pregnano refere-se a esteroides de 21 carbonos, como ticular do sistema, os metabolizadores ruins podem ter
o metabólito de progesterona 5α-pregnano-3,20-diona, risco de reações adversas a drogas. Por outro lado, os
que é um ligante de PXR e um potente indutor do gene metabolizadores intensivos podem descobrir que mui
CYP3A4 humano. Além dos esteroides de 21 carbonos, tas drogas são ineficientes.
outros compostos estruturalmente diferentes, como
carbamazepina (uma droga usada no tratamento de Muitas pessoas provenientes da Etiópia e da Ará
convulsões) e rifampina (uma droga antituberculose), bia Saudita apresentam expressão elevada de CYP2D6.
bem como a erva de São João (um agente fitoterápico Essa isoforma metaboliza uma variedade de drogas,
vendido sem receita médica, usado no tratamento de tornando-as ineficientes; muitos antidepressivos e neu
alterações de humor), são ligantes de PXR. PXR liga rolépticos são importantes exemplos. Por outro lado,
-se ao receptor X de retinoide (RXR) para formar um pró-drogas serão intensamente ativadas: codeína será
complexo heterodimérico (PXR-RXR), que se liga espe convertida muito rapidamente em grandes quantidades
cificamente a elementos de resposta na região �anque de morfina.
adora 5! dos genes CYP3A. Lembre-se que aproximada Diferentemente, muitos indivíduos não têm 2D6
mente 50% das drogas prescritas são metabolizadas por funcional. Esses pacientes serão predispostos à toxi
essa forma de citocromo P450. cidade de drogas causada por antidepressivos e neu
Outro indutor dos genes dos citocromoa P450 é o fe rolépticos, mas considerarão a codeína ineficiente em
nobarbital. Essa indução é mediada pelo receptor cons virtude da falta de ativação. Perexilina (um bloqueador
titutivo de androstano (CAR), que também forma um de canal de cálcio) foi retirada do mercado por causa
da neuropatia causada em pacientes com 2D6 inativo.
complexo heterodimérico com RXR para interagir com
seu elemento de resposta específico, na região 5!-�an Até mesmo a remoção de beta-bloqueadores pode ser
queadora dos genes CYP2B. Dois esteroides androsta dificultada (por exemplo, propranolol) em pessoas de
nos endógenos, androstanol e androstenol, são também ficientes em 2D6. A Correlação Clínica 11.6 discute os
ligantes de CAR e, quando qualquer ligante está ligado efeitos de polimorfismos.
a CAR, eles impedem a interação do complexo recep Embora o polimorfismo genético de um citocromo
tor CAR-RXR com a proteína SRC-1. SRC-1 é um coa P450 em particular possa afetar o metabolismo de um
tivador de receptores nucleares e é necessário para a conjunto discreto de compostos, polimorfismos gené
ativação da transcrição por CAR. A administração de ticos da citocromo P450 redutase, a única e obrigató
fenobarbital ou de outro indutor tipo fenobarbital induz ria doadora de elétrons para os 50 membros da classe
o deslocamento dos androstanos ligantes, permitindo a microssomal de citocromos P450, poderiam ter efeitos
ligação de SRC-1 e a transcrição do gene CYP2B. mais globais e drásticos no metabolismo de substratos
endógenos e xenobióticos. De fato, o bloqueio completo
460 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Múltiplos alelos foram demonstrados para aproxi da população asiática, 4% a 7% da africana e afro-ame
madamente 40% dos genes P450 humanos. Esses po ricana, e 3% da caucasiana não têm a forma ativa do
limorfismos genéticos podem produzir proteínas P450 gene CYP2C19.
defectivas. Uma descrição do CYP21 polimórfico e de
sua importância no metabolismo de um composto en Polimorfismos de CYP2C9 ocorrem em menos de
dógeno foi apresentada na Correlação Clínica 11.1. A 0,003% da população africana ou afro-americana,
ausência de atividade de um citocromo P450 pode cau 0,08% da asiática e 0,36% da caucasiana. A ausência de
uma CYP2C9 funcional pode ter sérias consequências
sar muitos problemas, em virtude do acúmulo de dro
gas terapêuticas que não podem ser metabolizadas. A no metabolismo de S-warfarina, uma droga adminis
descoberta de efeitos hipotensivos exagerados com a trada por via oral, usada para inibir a coagulação do
droga anti-hipertensiva debrisoquina levou à caracte sangue em pacientes que sofreram um ataque cardíaco
rização de indivíduos que metabolizavam muito inefi ou um acidente vascular cerebral, para evitar
vitar a recor
cientemente substratos de CYP2D6. Aproximadamen rência de coágulos que oferecem risco de vida. Os níveis
te 5 a 10% da população caucasiana, 8% da africana plasmáticos da droga devem ser mantidos dentro de
uma faixa específica porque quantidades excessivas da
e afro-americana, e 1% da asiática são deficientes na
forma cataliticamente ativa de CYP2D6. Além da de droga causam sangramento descontrolado e, possivel
brisoquina, outras drogas que são metabolizadas por mente, morte. A warfarina é metabolizada por CYP2C9,
CYP2D6 são esparteína, amitriptilina, dextrometorfan para eliminação. CYP2C9*3 é um variante alélico no
e codeína. No caso da codeína, CYP2D6 em indivíduos qual isoleucina é substituída por leucina no resíduo 359,
normais catalisa a O-desmetilação de aproximadamen resultando em perda substancial de atividade enzimáti
te 10% da codeína a morfina. Os indivíduos que não têm ca. Indivíduos deficientes em CYP2C9 podem requerer
o gene normal de CYP2D6 são incapazes de catalisar apenas 0,5 a 1 mg de warfarina por semana, em com
essa reação e, assim, não obtêm os efeitos analgésicos paração com os 4 a 5 mg por dia prescritos para um
associados à codeína. indivíduo com CYP2C9 normal. Se uma dose de 5 mg de
warfarina for tomada por alguém que não tem CYP2C9
Um polimorfismo genético associado com CYP2C19 funcional, o sangramento descontrolado poderia resul
foi demonstrado em indivíduos que metabolizam mal a tar de um simples corte.
mefenitoína, uma droga usada no tratamento da epilep
sia; CYP2C19 hidroxila C4 do S-enantiômero da mefeni Ingelman-Sundberg, M., Oscarson, M. e McLellan, R. A.
toína para inativar o efeito fisiológico. Os metabolizado Polymorphic human cytochrome P450 enzymes: An opportu
res ruins dessa droga sofrem efeitos sedativos maiores, nity for individualized drug treatment. Trends Pharmacol.
com dosagens normais. Aproximadamente 14% a 22% Sci. 20:342, 1999.
(knocking out) do gene da citocromo P450 redutase um importante lipídeo de membrana. No homem, uma
em modelo animal é embriologicamente letal a esses forma relacionada de P450, CYP51A1, catalisa a des
animais. Recentemente, mutaçõesões humanas que alte metilação de lanosterol, uma reação que é essencial na
ram a atividade desse gene foram descritas possuindo síntese de colesterol. Embora as proteínas CYP51 hu
efeitos profundos (Correlação Clínica. 11.7). mana e de levedura sejam semelhantes, há diferenças
suficientes para permitirem que agentes os antifúngi
Inibição Terapêutica de Citocromo cos azóis sejam inibidores efetivos da formação de er
gosterol. Como discutido anteriormente, entretanto,
P450 esses agentes também podem induzir ou inibir citocro
mos P450 humanos nativos, possivelmente levando ao
Como os citocromos P450 estão presentes em quase fenômeno de interação droga–droga.
todos os organismos e como desempenham funções tão
importantes na homeostase celular, a inibição seletiva Certos tumores, como tumores de mama, são depen
dessas enzimas é de importância clínica. Inibidores azol dentes de estrógeno para seu crescimento. Portanto, a
(cetoconazol, itraconazol e �uconazol), por exemplo, são inibição da síntese de estrógeno sem inibir a produção
usados para controlar as infecções por fungos contraí de outros hormônios esteroides poderia servir como
das por pacientes com AIDS, pacientes com câncer em uma ferramenta quimioterápica seletiva para reduzir
quimioterapia, e pacientes tratados com drogas immu e eliminar tumores. CYP19A1, o citocromo P450 que
nossupressoras. Em levedura, CYP51 catalisa a desme catalisa a formação de estradiol a partir de androste
tilação de moléculas de esterol na síntese de ergosterol, nediona, é um alvo atraente para esse tipo de inter
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 461
Foram encontradas mutações na NADPH-citocromo alguns desses pacientes. Como não há redundância na
P450 redutase humana que resultam em um fenótipo parte de transferência de elétrons do sistema citocro
para o paciente de malformações esqueléticas caracte mo P450 microssomal, seria de se esperar que defeitos
rizadas por craniosinostoses, sinostoses radioulnar ou na citocromo P450 redutase tivessem efeitos diversos e
radioumeral e/ou fêmures arqueados, um conjunto de pleiotrópicos, dependendo da gravidade do efeito sobre
traços clínicos conhecido como síndrome de Antley– sua atividade. Além disso, vários citocromos P450 po
Bixler. Esses pacientes também apresentaram esteroi deriam interagir com diferentes resíduos da superfície
dogênese desordenada e hiperplasia adrenal congênita da redutase, e assim seriam afetados diferencialmente
(CAH). Como descrito na Correlação Clínica 11.1, um por mutações em tais resíduos. Portanto, dependendo
defeito na CYP21A2 é a causa mais comum de CAH. do local da mutação na estrutura da redutase (Figura
Como a deficiência de citocromo P450 redutase po 11.4) e da alteração resultante das atividades enzimá
tencialemente afeta a atividade dos três citocromos ticas ou das interações proteína–proteína, as mutações
P450 estereoidogênicos (CYPs 19A e 17A, bem como podem variar muito quanto à gravidade e ao fenótipo
CYP21A, Figura 11.8), padrões variáveis e anormais resultante.
de hormônios esteroides são observados nesses ca
sos, resultando em fêmeas supervirilizadas e machos Fluck, C. E., Tajima, T., Pandey, A. V., Arlt, W. et al.
subvirilizados. As vias envolvidas no desenvolvimento
Mutant P450 oxidoredutase causes steroidogenesis with
embrionário do esqueleto estão também claramente and without Antley-Bixler syndrome. Nat. Genet. 36:228,
afetadas em alguns pacientes deficientes na citocromo 2004; e Scott, R. R. and Miller, W. L. Genetic and clinical
P450 redutase, e o metabolismo de drogas mediado por features of P450 oxidoredutase deficiency. Horm. Res. 69:
citocromo P450 estava comprometido em pelo menos 266, 2008.
O domínio redutase da NOS é estruturalmente mui A cadeia geral de transferência de elétrons e o meca
to semelhante ao da citocromo P450 redutase (compa nismo pelo qual as NOSs formam NO é semelhante aos
re a estrutura cristalina do domínio redutase da nNOS dos citocromos P450, mas há algumas diferenças signifi
na Figura 11.19 com o da citocromo P450 redutase na cativas na regulação do processo de transferência de elé
Figura 11.4, p. 444). Eles compartilham quase 60% de trons. O mais óbvio é que as NOSs constituitivas reque
homologia de sequência, e a arquitetura geral e as es rem ligação com calmodulina. A calmodulina não está
truturas de subdomínios, o domínio FMN, o domínio ligada à enzima nos níveis intracelulares basais de cálcio.
de conexão e o domínio de ligação de FAD/NADPH são É necessário um in�uxo de cálcio para elevar a concen
muito semelhantes entre si. A diferença estrutual pri tração de cálcio, aumentando a ligação de cálcio à calmo
mária entre as duas é a inclusão, no domínio redutase dulina (p. 514). O complexo cálcio–calmodulina liga-se
da NOS, de vários elementos regulatórios, que são ape e ativa NOSs. Em ausência de ligação com calmodulina,
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 463
volvido em muitas cascatas de transdução de sinal (p. (Figura 11.22) em uma retroalimentação (feedback)
549). A forma inativa da guanilato ciclase solúvel tem positiva. O NO foi implicado na sinalização neural, na
um heme penta-coordenado, ligado por uma histidina neurotoxicidade, na plasticidade sináptica, no aprendi
na subunidade b. NO liga-se como sexto ligante para zado e na memória, bem como na percepção de dor.
formar um heme hexa-coordenado, e causa quebra da
ligação heme-histidina, gerando o complexo nitrosil
penta-coordenado ativo da guanilato ciclase solúvel GTP cGMP
pré-sináptico
Terminal
(Figura 11.21). A ativação da guanilato ciclase solú
vel causa aumento de até 400 vezes na taxa de forma SGC Ca2+
ção de cGMP. Os níveis de cGMP são regulados por um CaM
equilíbrio entre a atividade da guanilato ciclase e da Glutamato Receptores
fosfodiesterases (PDE), particularmente PDE5, especí
fica para cGMP, que hidrolisa cGMP a 5!-GMP, desligan
Ca2+/
do-se assim o sinal. NMDA CaM
L-arg Ca2+/
NOSI NO
CaM
NOSI
NOSI é encontrada primariamente em músculo es
quelético e em neurônios, tanto do sistema nervoso cen Neurônio pós-sináptico
tral como do periférico. É uma enzima solúvel, embora
se localize na membrana via interações proteína–prote FIGURA 11.22 NO produzido por NOSI no sistema
ína com uma gama de proteínas regulatórias e de loca nervoso central.
lização. É expressa constitutivamente, o que significa Nesse caso, NO é produzido pela célula pós-sináptica e vol
que não é normalmente induzida em nível transcrip ta para a célula pré-sináptica, onde ativa sGC, criando cGMP
cional, e é ativada pelo in�uxo de cálcio. No caso da que ativa PKG. PKG fosforila proteínas nas vesículas de neu
rotransmissor, levando à liberação de mais neurotransmissor e
NOSI (e da NOSIII, p. 466), calmodulina (p. 514) não
potenciando o sinal.
está ligada à enzima nos níveis intracelulares basais de
cálcio. É necessário um in�uxo de cálcio para elevar a Além de seus domínios oxigenase e redutase, NOSI
concentração intracelular de cálcio, permitindo que a tem um domínio PDZ N-terminal de 300 aminoácidos,
calmodulina se ligue e, assim, ative a formação de NO. que medeia sua interação com outras proteínas. No sis
A quantidade de NO sintetizado no estado ativado é tema nervoso central, o domínio PDZ da NOSI interage
muito baixa, isto é, picomolar. O NO produzido serve com a proteína de densidade pós-sináptica PSD-95. O
como um neurotransmissor nos sistemas nervosos cen receptor NMDA também interage com PSD-95, aproxi
tral e periférico. No músculo esquelético, o NO também mando muito NOSI e o receptor NMDA, de modo que
serve de mediador da força contrátil. NOSI fica diretamente exposta ao cálcio entrando pelo
canal iônico do receptor NMDA ativado.
No sistema nervoso central, o NO é produzido ge
ralmente pela nNOS no neurônio pós-sináptico, mas di O NO é muito diferente de outros neurotransmisso
funde de volta na sinapse para o neurônio pré-sinápti res conhecidos (p. 965). O NO é sintetizado por deman
co. A síntese de NO é regulada pelo in�uxo de cálcio por da e não pode ser armazenado em vesículas lipídicas,
canais dependentes de receptor, isto é, após estímulo uma vez que se difunde livremente através de membra
pós-sináptico dos receptores de N-metil-D-aspartato nas. A ação do NO não é terminada por degradação ou
(NMDA) pelo neurotransmissor excitatório glutamato. recaptação, mas é removido por interação com seu alvo,
A guanilato ciclase é ativada por NO, produzindo cGMP, que é um segundo mensageiro intracelular, e não um
que regula a síntese dos neurotransmissores norepine receptor ligado à membrana.
frina e glutamato, aumentando assim a produção de NO
No sistema nervoso periférico, NO é produ
Inativo Ligado Ativo
zido pela nNOS de neurônios mioentéricos dos
His
sistemas gastrointestinal, pulmonar, vascular e
His
α1NO β1 α1 His β1 α1 β1
urogenital. No sistema gastrointestinal, NO está
Fe2+
FeFe
FeF envolvido na motilidade intestinal e no controle
Fe2+
FeFee2+
FeFeFeF
Fe 2+2+
2 do esfíncter pilórico. O NO medeia a principal via
NO broncodilatadora no sistema pulmonar humano
NO e está envolvido no controle neural do sistema
vascular, particularmente importante no �uxo
FIGURA 11.21 Ativação da guanilato ciclase solúvel por NO. sanguíneo cerebral. No sistema urogenital, NO
Redesenhado com base em figura de Bellamy, T. C. e Garthwaite, J. The está envolvido no controle uretal e da bexiga e na
receptor-like properties of nitric oxide-activated soluble guanylate cycla ereção peniana. Durante a excitação sexual, o NO
se in intact cells. Mol. Cell. Biochem. 230:165, 2002. é liberado dos nervos adjacentes aos vasos san
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 465
Os níveis de nucleotídeos cíclicos (cGMP e cAMP) que está localizada em fotorreceptores da retina, e um
presentes nas células são dependentes não só de dos efeitos colaterais às vezes relatados com o uso de
sua formação pelas adenilato ou guanilato ciclases, Sildenafil é uma coloração azul-esverdeada na visão do
mas também de sua degradação por fosfodiesterases paciente.
(PDEs), que os hidrolisam aos 5!-nucleotídeos e, as
sim, desempenham um papel crítico na modulação Como PDE5 está presente no músculo liso vascular,
das vias de sinalização desses segundos mensageiros. o Sildenafil causa uma reduçãoão leve,leve,leve, clinicamenteclinicamenteclinicamente in-in-in
A inibição da destruição de nucleotídeos cíclicos por significante, na pressão sanguínea, em decorrência da
PDE prolongaria a resposta fisiológica desencadeada vasodilatação, mas, o que é mais importante, exacerba
pelos nucleotídeos cíclicos. O Sildenafil (Viagra), uma muito os efeitos de nitratos e de doadores externos de
droga prescrita para disfunção erétil, é um potente NO, como a nitroglicerina, usada para angina, causan
inibidor da PDE5, que é específica para cGMP e é en do uma hipotensão potencialmente fatal. Esses efeitos
contrada primariamente no corpo cavernoso humano hipotensivos ocorrem independentemente da sequên-ên
e no músculo liso vascular e gastrointestinal. No pê cia e/ou horário das drogas. O Sildenafil é, portanto,
nis, o NO produz ereção por uma via dependente de contraindicado para pacientes em uso de nitratos de
cGMP, como discutido no texto. À medida que cGMP qualquer forma. Além disso, o Sildenafil é metaboli
é degradado por PDE5, o sinal vasodilatador éé atenu-atenu zado pelas vias dos CYP2C9 e 3A4. A inibição dessas
vias por outras drogas pode aumentar a concentração
ado, e a ereção desaparece. O Sildenafil inibe a PDE5,
retardando a degradação de cGMP e, assim, prolon plasmática de Sildenafil, intensificando os efeitos co
gando a ereção. laterais.
Cheitlin, M.D., Hutter, A. M., Brindis, R. G., Ganz, P., Kaul,
O Sildenafil é muito seletivo para PDE5 em relação
S., Russell, R. O., et al. Use of Sildenafil (Viagra) in patients
a PDE3, uma PDE específica para cAMP envolvida na with cardiovascular disease. J. Am. Coll. Cardiol. 33:273,
regulação da contratilidade cardíaca. Isso é importante 1999; Corbin, J. D., Francis, S. H. e Webb, D. J. Phosphodieste
porque a inibição de PDE3 aumenta a incidência de ar rase type 5 as a pharmacologic target in erectile dysfunction.
ritmias cardíacas e diminui a mortalidade a longo prazo Urology 60:4, 2002; e Seftel, A. D. Phosphodiesterase type 5
em pacientes com insuficiência cardíaca. Curiosamen inhibitor differentiation based on selectivity, pharmacokine
te, o Sildenafil também inibe, em menor grau, PDE6, tic, and efficacy profiles. Clin. Cardiol. 27: I14, 2004.
466 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
se), bem como micróbios como, por exemplo, bactérias in�amatórias crônicas, incluindo artrite reumatoide,
e micobactérias (tuberculose e lepra), fungos e até cé doença de Crohn e asma, em que pode potencialmente
lulas tumorais. Os alvos celulares do NO produzido pela exacerbar algumas situações, embora efeitos protetores
NOSII são heme-proteínas contendo metal, como cito também tenham sido descritos.
cromos P450, e proteínas ferro-enxofre, como aconitase
e os complexos mitocondriais I e II, todos os quais são
inibidos. O NO também reage com grupos tiol e tirosi NOSIII
nas, causando nitrosação ou oxidação de proteínas, e
NOSIII é encontrada primariamente em células
com oxigênio ou superóxido, formando compostos óxi
endoteliais vasculares, que recobrem todos os vasos
dos de nitrogênio muito reativos, por exemplo, peroxini
sanguíneos e miócitos cardíacos. Está localizada na
trito. Esses intermediários reativos causam uma varie
membrana em virtude da miristoilação cotradução e
dade de alterações no DNA, incluindo clivagem de fita
palmitoilação pós-tradução da extremidade N-termi
e deaminação. Essas modificações, portanto, afetam
nal. Como a NOSI, é expressa constitutivamente e é ati
muitas enzimas metabólicas cruciais, levando a efeitos vada pelo in�uxo de cálcio, que se liga à calmodulina
citostáticos e citotóxicos contra esses patógenos.
facilitando sua ligação com ambas NOSI e NOSIII para
Embora o NO seja essencial para a funçãoão antimi-antimi ativação. A quantidade de NO sintetizado no estado ati
crobiana dos macrófagos, a superprodução de NO pela vado é muito baixa, isto é, picomolar, e o NO produzido
NOSII foi implicada no choque séptico circulatório in serve de vasodilatador do músculo liso vascular, me
duzido por citocina. O choque séptico é caracterizado diado por ligante e dependente do �uxo. O NO também
por uma resposta in�amatória sistêmica à infecção mi desempenha funções antitrombóticas e anti-in�amató
crobiana, na qual a pressão sanguínea cai rapidamente, rias, por inibir adesão e agregação de plaquetas e leu
mediada pela superprodução de NO, levando à queda cócitos. Além disso, NO também inibe angiotensina II,
na perfusão dos tecidos e no aporte de oxigênio e, even um vasoconstritor.
tualmente, à falência múltipla dos órgãos. A hipotensão
A síntese de NO pela NOSIII é ativada em resposta
nesses pacientes é geralmente refratária às drogas va
a aumento do cálciocálcio apósapós ligaçãoligação dede ligantesligantes comocomo ace-ace
soconstritoras convencionais. O papel do NO no choque
tilcolina, bradicinina, histamina ou insulina, ou após
séptico e as intervenções terapêuticas com inibidores
estresse de �uxo (shear stress), a força mecânica do
de NOS são discutidos na Correlação Clínica 11.9.
�uxo sanguíneoíneo sobresobre aa superfíciesuperfície luminalluminal dodo endoté-endoté
Além de ser produzido durante a in�amação aguda, lio vascular. Velocidade aumentada do �uxo sanguíneo,
o NO é gerado pela NOSII durante a in�amação crô portanto, estimula aa liberaçãoliberação dede cálciocálcio ee aumentaaumenta aa ati-ati
nica. NOSII está presente e ativa em várias condições vidade da NOSIII, levando à vasodilatação.
Embora o NO seja essencial nas funções tumorici de choque séptico. Curiosamente, embora a inibição
da e bactericida de macrófagos, a superprodução de da NOS eleve a pressão sanguínea e a resistência vas
NO (pela NOSII) tem sido implicada no choque sépti cular sistêmica rapidamente e com sucesso, ela tam
co circulatório induzido por citocina, no homem. No bém causa uma progressiva queda no débito cardíaco
choque séptico, a produção excessiva de NO leva a e exacerba a disfunção de órgãos,órgãos,s, levandolevandolevando aaa morta-morta-morta
uma importante vasodilatação sistêmica e uma que lidade aumenada nos ensaios clínicos. Assim, o NO
da rápida e geralmente fatal da pressão sanguínea, o desempenha um papel prejudicial no choque séptico,
que gera um suprimento insuficiente de sangue e oxi devido à sua mediação da hipotensão, mas também
gênio para órgãos periféricos, eventualmente levando pode desempenhar um papel benéfico na sobrevivên
à falência múltipla dos órgãos. O choque séptico está cia, talvez devido às propriedades do NO na vasodi
associado com uma taxa de mortalidade extrema latação localizada ou na antiagregação plaquetária,
mente elevada de 50%–70%; mais pessoas morrem na antiadesão de leucócitos, na antiapoptose ou an
anualmente de choque séptico do que de infarto do tioxidação.
miocárdio, acidente vascular cerebral, trauma, ou
câncer de pulmão ou mama. A hipotenção induzida
Assreuy, J. Nitric oxide and cardiovascular dysfunction
por NO nesses pacientes ocorre pelo mecanismo de in sepsis. Endocr. Metab. Immune Disord.-Drug Targets 6:
relaxamento da musculatura lisa, isto é, ativação da 165, 2006; Cauwels, A. Nitric oxide in shock. Kidney Int. 72:
guanilato ciclase. Intervenção terapêutica com inibi 557, 2007; and Vallance, P. Nitric oxide: Therapeutic opportu
dores de NOS está sendo investigada para tratamento nities. Fund. Clin. Pharmacol. 17: 1, 2003.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 467
O NO se difunde para fora da célula endotelial e para Assim como para NOSI, os níveis de cGMP são regu
dentro das células musculares lisas adjacentes, onde se lados por um equilíbrio entre a atividade da guanilato
liga e ativa a guanilato ciclase solúvel, que faz cGMP ciclase e das fosfodiesterases, que hidrolisam cGMP a
(Figura 11.23). cGMP ativa a proteína quinase G, uma 5!-GMP e, assim, desligam a atividade da proteína qui
quinase dependente de cGMP que fosforila uma varie nase G e a vasodilatação. Vários tratamentos terapêuti
dade de canais, incluindo canais de cálcio tipo L, e re cos são baseados na administração de NO, tanto dire
ceptores, todos levando à inibição do in�uxo de cálcio tamente como em uma forma precursora. A Correlação
na célula muscular lisa. A vasoconstrição do músculo Clínica 11.10 discute o uso da administração direta de
liso vascular requer in�uxo de cálcio, o qual se liga à NO como tratamento terapêutico.
calmodulina que, por sua vez, ativa a quinase muscular
de cadeia leve (MLCK). MLCK então fosforila a cadeia NOSIII tem uma sequência N-terminal peculiar, que
leve da miosina (MLC, myosin light chain), levando à sofre miristoilação em um ponto, e palmitoilação em
formação de pontes cruzadas entre as cabeças de mio dois outros pontos dessa sequência,ência, localizandolocalizando aa en-en
zima na membrana, onde é direcionada para cavéolas
sina e o filamento de actina, resultando na contração
(p. 1001). A inibição do in�uxo de cálcio leva à diminui do plasmalema. As cavéolas são pequenas invaginações
ção no estímulo de MLCK pela calmodulina e diminuição da membrana plasmática, caracterizadas pela presen
na fosforilação de MLC, causando desenvolvimento di ça de proteínas chamadas caveolinas, que servem para
minuído da tensão do músculo liso e, portanto, vasodi organizar e ligar moléculas sinalizadoras como recep
latação. cGMP aumentado também causa diretamente tores, proteínas G e NOS, na membrana plasmática.
Nas concentrações citoplasmáticas baixas de cálcio, a
desfosforilação de MLC, por ativação da MLC fosfatase.
Nitroglicerina, mais corretamente chamada glice NO. O mecanismo dessa redução não está esclarecido,
ril trinitrato (GTN), foi sintetizada pela primeira vez mas ALDH2 pode também estar envolvida nessa etapa,
por Ascanio Sobrero, em 1846. Como GTN era extre e demonstrou-se que membros da cadeia mitochondrial
mamente explosiva e muitos acidentes fatais aconte de transporte de elétrons reduzem nitrito a NO. Alter
ceram, Alfred Nobel desenvolveu um procedimento, nativamente, um importante mecanismo de redução de
em 1864, para estabilizar GTN misturando-a com ter nitrito pode ser por reação direta com hemoglobina de
ra diatomácea. A fortuna que ele fez com a dinamite é soxigenada ou mioglobina.
a base para os Prêmios Nobel, conferidos anualmente
na Suécia para contribuições excepcionais nos cam Quando usado por longos períodos de tempo para
pos de física, química, fisiologia ou medicina, litera condições crônicas, GTN perde gradativamente sua
tura, economia e paz mundial. Logo depois, em 1867, eficácia. Vários mecanismos foram propostos para
Sir Thomas Lauder Brunton relatou, pela primeira explicar a tolerância do paciente a essa droga. A bio
vez, o uso de amil nitrato inalado em seus pacientes transformação insuficiente de GTN pela ALDH2, que
com dores no peito e, em 1879, William Murrell pu ocorre na depleção de uma ALDH2 redutora, ou o
blicou um artigo descrevendo o uso do composto de aumento no estresse oxidativo, em virtude do meta
maior duração e mais convenientes que o GNT para bolismo mitocondrial prejudicado, são duas possibi
aliviar melhor a dor da angina pectoris. O GTN fun lidades.
ciona por meio da dilatação das artérias do coração,
permitindo assim mais oxigenação do tecido. Ironica Beretta, M, Gruber, K., Kollau, A., Russwurm, M., et al.
mente, Murrell morreu em 1912 de insuficiência car Bioactivation of nitroglycerin by purified mitochondrial
díaca não-tratada, nunca tendo tomado GTN, e Nobel and cytosolic aldehyde dehydrogenases. J. Biol. Chem.
283: 17873, 2008; Chen, Z. Q., Zhang, J., and Stamler, J. S.
recusou-a quando foi prescrita por seu médico para
Identification of the enzymatic mechanism of nitroglycerin
doença cardíaca.
bioactivation. Proc. Natl. Acad. Sci., USA 99: 8306, 2002;
Só em 1987, mais de um século após a publicação Marsh, N., and Marsh, A. A short history of nitroglycerine
and nitric oxide in pharmacology and physiology. Clin. Exp.
de Murrell, que o óxido nítrico liberado no metabolis
Pharm. and Physio. 27: 313, 2000; Napoli, C., and Ignarro,
mo de GTN foi postulado como sendo o agente ativo da L. J. Nitric oxide-releasing drugs. Annu. Rev. Pharmacol.
dilatação dos vasos sanguíneos coronários. Só 15 anos Toxicol. 43: 97, 2003; e Wells, W. From explosives to the
mais tarde, o mecanismo da liberação do óxido nítrico gas that heals. Escrito para “Beyond Discovery: The Path
da nitroglicerina foi elucidado. A aldeído desidrogenase from Research to Human Benefit,” 2002. Esse artigo pode
mitocondrial (ALDH2) metaboliza GTN a 1,2-glicerol ser acessado em http://www.beyonddiscovery.org/content/
dinitrito e nitrito. O nitrito e mais reduzido, formando view.article.asp?a_318.
468 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
O óxido nítrico distribuído sistemicamente causa disfunção erétil, para aumentar ou prolongar os efeitos
hipotensão sistêmica, limitando drasticamente sua uti vasodilatadores do NO inalado. Como discutido na Cor
lidade como agente terapêutico. Por outro lado, o óxido relação Clínica 11.8, o Sildenafilinibe a quebra de cGMP
nítrico que é inalado, teoricamente deveria relaxar a por inibir a fosfodiesterase específica para cGMP, PDE5,
vasculatura pulmonar, mas qualquer excesso de NO que uma isoforma muito expressa no pênis, retina e tecido
atingisse a corrente sanguínea seria eliminado por óxi pulmonar. Em pacientes com hipertensão pulmonar, a
-hemoglobina, impedindo assim a vasodilatação sistê vasodilatação pulmonar mediada pelo NO inalado foi
mica. De fato, estudos demonstraram que a inalação de aumentada e prolongada pelo tratamento conjunto com
NO aumenta a oxigenação sistêmica de recém-nascidos Sildenafil.
hipoxêmicos com hipertenção pulmonar persistente do
recém-nascido (PPHN). NO inalado também diminui a Curiosamente, embora o NO inalado não tenha efei
incidência de, e mortalidade por, displasia broncopul to sobre a pressão sanguínea sistêmica, outros efeitos
monar (BPD) em bebês prematuros. Em adultos, doen sistêmicos foram relatados, incluindo inibição plaquetá
ça pulmonária obstrutiva crônica (COPD) foi tratada ria e leucocitária, que resulta em trombose diminuída e
com sucesso com uma combinação de oxigênio suple redução na lesão por isquemia/reperfusão. Acredita-se
mentar e NO; tal regime reduziu a pressão arterial pul que esses efeitos sistêmicos sejam mediados por tióis de
monar e a resistência vascular pulmonar e aumentou o baixo e de alto peso molecular, originários do sangue,
débito cardíaco nos pacientes tratados. que reagem com NO e o transportam em sua forma está
vel pelo corpo. A hemoglobina S-nitrosilada e albumina
Entretanto, muitos pacientes não respondem à te sérica, bem como outras nitrosaminas, ferro-nitrosilas e
rapia com NO inalado. Além disso, os efeitos do NO lipídeos nitrados são mediadores propostos.
são transitórios e desaparecem quando o tratamento é
descontinuado, exigindo terapia contínua. Aproxima Bloch, K. D., Ichinose, F., Roberts, J. D., Jr., and Zapol, W.
damente, 70% do NO inalado é excretado na urina na M. Inhaled NO as a therapeutic agent. Cardiovascular Res.
forma de nitrato, em 48 h. Vários estudos descreveram 75: 339, 2007; e Griffiths, M. J. D. and Evans, T. W. Inhaled ni
o uso de Sildenafil, uma droga usada no tratamento de tric oxide therapy in adults. N. Engl. J. Med. 353: 2683, 2005.
CAPÍTULO 11 CITOCROMOS P450 E ÓXIDO NÍTRICO SINTASES • 469
O óxido nítrico produzido pela eNOS nas células lugar de óxido nítrico, exacerbando ainda mais o es
endoteliais vasculares é responsável pela regulação do tresse oxidativo. Na ausência de NO e na presença de
tônus vascular, pela inibição da agregação e adesão de estresse oxidativo, várias vias pró-in�amatórias e pró
plaquetas e leucócitos, pela expressão diminuída de -ateroscleróticas são ativadas; essa é a base molecular
genes pró-in�amatórios, e limitação da proliferação primária da disfunção endotelial.
de células musculares lisas vasculares. Defeito na fun
ção endotelial, disfunção endotelial, é caracterizado O tratamento com drogas antioxidantes, como vi
tamina C ou E, não restaura a biodisponibilidade dos
por síntese reduzida de NO levando a vasoespas
níveis de NO, nem melhora o desempenho cardíaco,
mo aumentado, in�amação vascular e trombose, e é
talvez porque as vitaminas não eliminam o superóxido
comumente visto conjuntamente com outros fatores
antes que ele reaja com o NO. Uma das classes de dro
de risco cardiovasculares, como diabetes, hiperten
gas mais eficazes éé aa dasdas estatinas,estatinas, queque funcionamfuncionam di-di-di
são, aterosclerose ou hipercolesterolemia. Acredita
minuindo o estresse oxidativo, via inibição da atividade
-se que estresse oxidativo vascular, devido à produção
da NADPH oxidase, uma fonte importante de produção
aumentada de espécies reativas de oxigênio, particu
de superóxido, e aumentando a produção de NO pela
larmente superóxido, contribua para a disfunção en
eNOS, via expressão proteica e fosforilação. Inibidores
dotelial devida, em parte, à reação do superóxido com
da enzima conversora de angiotensina (ACE) e agonis
NO para formar peroxinitrito. Não apenas menos NO
tas do receptor de angiotensina II também aumentam
está disponível para sua função biológica protetora,
mas o pexorinitrito é um poderoso agente oxidante e efetivamente o desempenho cardíaco. Essas drogas di
minuem a formação/ação da angiotensina II, uma pro
nitrosante de moléculas, que pode danificar moléculas
teína que ativa as NADPH oxidases, reduzindo assim o
de proteínas, DNA e lipídeos. Nitração covalente de
estresse oxidativo.
resíduos de tirosina de proteínas por espécies reativas
de oxigênio é frequentemente usado como um marca Forstermann, U. Oxidative stress in vascular disease:
dor de estresse oxidativo. Peroxinitrito é também res Causes, defense mechanisms, and potential therapies. Nat.
ponsável pela depleção de tetra-hidrobiopterina, que Clin. Pract. Cardiovasc. Med., 5, 338, 2008; e Liao, J. K.
leva ao desacoplamento da transferência de elétrons Beyond lipid lowering: The role of statins in vascular protec
na eNOS, levando a eNOS a produzir superóxido, em tion. Int. J. Cardiol. 86: 5, 2002.
Muitos processos de doenças, como hipertenção, Todas as NOSs produzem NO, que desempenha
hipercolesterolemia e diabetes, levam a disfunção funções tão diversas como neurotransmissão, vaso
endotelial, que é caracterizada pelo comprometimento dilatação, relaxamento muscular e citotoxicidade. As
das funções normais das células endoteliais, incluindo consequências do NO podem ser benéficas, como na
vasodilatação e mediação da adesão plaquetária. Um manutenção do tônus vascular, aquisição de memória e
dos principais marcadores da disfunção endotelial é a aprendizado, e proteção contra a invasão de patógenos,
biodisponibilidade diminuída de NO, em decorrência da bem como deletéria, como no choque séptico ou na in
função diminuída de NOSIII. A Correlação Clínica 11.12 �amação crônica e respostas mutagênicas. O resultado
discute algumas funções possíveis para o NO em os me final do NO produzido depende de onde está sendo pro
canismos da disfunção endotelial. duzido, da regulação de sua produção, de quanto está
sendo produzido e que outras espécies reativas estejam
presentes.
470 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
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Termos Chaves
arginina
citocromo P450
cGMP
calmodulina
cálcio cortisol heme proteína metabolismo de drogas
DHEA hidrofóbico metabolismo de xenobió
�avina interações droga–droga ticos
�avoproteína metabolismo de ácido metabolismo do oxigênio
fosforilação graxo mono-oxigenase
citocromo P450 redutase guanilato ciclase metabolismo de carcinó NADPH
genos neurotransmissão
citrulina heme
472 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
B. CYP2E1 está aumentado e converte acetami por infecções bacterianas que produzem endotoxinas.
nofen em uma forma não tóxica. Tal hipotensão é frequentemente refratária ao trata
C. Ingeridos ao mesmo tempo, álcool e acetami mento com drogas vasoconstritoras convencionais.
nofen competem pelo CYP2E1, de modo que Essa hipotensão pode ser causada por uma superpro
menos metabólito tóxico é formado. dução de óxido nítrico, pela forma induzida da óxido
nítrico sintase (NOS). Administração de inibidores de
D. Com intervalo de tempo maior, só o álcool rea
NOS, específicos para essa forma, pode ser um trata
ge com CYP2E1.
mento apropriado para tais pacientes.
E. Nenhuma das anteriores.
11. O óxido nítrico
Questões 9 e 10: Como fitoterápicos são drogas que A. é formado espontaneamente por uma redução
não requerem prescrição médica, muitos pacientes não de NO2.
informam seus médicos que estão usando tais produ B. é sintetizado só em macrófagos.
tos. Um paciente foi informado por seu médico que seu
nível de colesterol sanguíneo não estava respondendo C. é sintetizado a partir de arginina.
à droga estatina, geralmente efetiva, que ele estava to D. age como um potente vasoconstritor.
mando. O paciente estava tomando, também, a erva de E. tem três isoformas.
São João, um agente fitoterápico, para melhorar seu hu
12. Óxido nítrico sintase
mor. A erva de São João induz uma atividade de citocro
mo P450 (CYP3A4). As estatinas são um grupo, dentre A. catalisa uma reação de dioxigenase.
muitas drogas, metabolizadas por CYP3A4. B. é semelhante aos citocromos P450 porque liga
zinco e tetra-hidrobiopterina.
9. A indução de citocromos P450
A. ocorre só por compostos exógenos. C. aceita elétrons do NADH.
D. usa um �uxo de elétrons de NADPH para FAD,
B. ocorre só em nível transcripcional.
para FMN, para ferro-heme.
C. necessariamente resulta de transcrição au E. é inibida por Ca2+.
mentada do mRNA apropriado.
D. requer a formação de um complexo indutor Problemas
-receptor. 13. O fenobarbital é um potente indutor de citocromo
D. pode ocorrer por processos pós-transcripcio P450. A warfarina, um anticoagulante, é um subs
nais. trato do citocromo P450, de modo que a droga é
10. As estatinas podem ser consideradas xenobióticos metabolizada mais rapidamente do que o normal.
Se o fenobarbital for dado a um paciente, sem mu
(substâncias exógenas metabolizadas pelo corpo). dar a dosagem de warfarina, o que aconteceria? O
Muitos xenobióticos são oxidados por citocromos
que aconteceria se a dosagem de warfarina fosse
P450 para
ajustada para uma resposta adequada e, então, o
A. torná-los carcinogênicos.
fenobarbital fosse retirado, sem ajustar a dose de
B. aumentar sua solubilidade em um ambiente warfarina?
aquoso.
14. A hiperplasia adrenal congênita (CAH) ocorre
C. aumentar sua deposição no tecido adiposo. em virtude de uma deficiência de CYP21A2, uma
D. aumentar sua atividade farmacológica. 21-hidroxilase do retículo endoplasmático. A doen
E. todos os anteriores. ça resulta em cortisol diminuído, ACTH aumenta
do, hormônios androgênicos aumentados e proble
Questões 11 e 12: Alguns pacientes apresentam pro mas relacionados com o equilíbrio salino. Explique
funda hipotensão após cirurgia abdominal complicada porque isso acontece.
Respostas
1. E Várias famílias gênicas são conhecidas. A: todos trar na membrana. C: se isso fosse verdade, o �u
os citocromos são heme-proteínas. B: os tipos de xo de elétrons não ocorreria da forma que ocorre.
substratos são hidrofóbicos. É classificado como D: NADPH é necessário para as reações mediadas
monoxigenase. C: este é o doador de elétrons por citocromo P450 no retículo endoplasmático e
usual. D: a mudança de hexa- para penta-coor na mitocôndria. E: centros ferro-enxofre desempe
denado dá ao composto um potencial de redução nham um papel em alguns, mas não em todos os,
mais positivo. sistemas.
2. B O heme pode aceitar apenas um elétron de cada 3. A Essa enzima é uma das duas proteínas de ma
vez, enquanto NADPH sempre doa dois de cada míferos conhecida que fazem isso. B: a ligação é
vez. A: NADPH passa só elétrons; não precisa en eletrostática. C: algumas redutases fazem isso, mas
474 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
não essa. D: só algumas reações catalizadas pela 10. B Xenobióticos oxidados por citocromo P450 são
enzima o fazem. E: existem redutases NADH-de geralmente muito lipofílicos, mas devem ser excre
pendentes, mas são enzimas diferentes. tados no meio aquoso da urina ou da bile. A: isso
pode acontecer, mas certamente não é o propósito.
4. B a proteína ferro-enxofre é a adrenodoxina. A: só C: fazem isso antes da oxidação. D: oxidação tende
tem FAD. C: fica fracamente associada com a mem
a reduzir a atividade farmacológica.
brana. D e E: adrenodoxina atua como uma lan
çadeira de elétrons entre a redutase e o heme do 11. C O outro produto é a citrulina. A: é formado a par
citocromo P450. tir de arginina. B: uma das isoformas da NO sintase
foi encontrada em macrófagos, mas isoformas neu
5. D A: isso ocorre se os variantes alélicos codifica
ronal e endotelial também existem. D: óxido nítri
rem proteínas inativas ou menos ativas. B: se hou
co é um vasodilatador. E: três isoformas de óxido
ver duplicação gênica, um indivíduo pode ter quan
nítrico sintase foram identificadas, mas óxido nítri
tidades maiores da proteína ativa. C: pode haver
co é um composto específico.
maior expressão de variantes alélicos em popula
ções étnicas específicas. 12. D Essa é uma de duas enzima de mamíferos que
usam ambos, FAD e FMN. A: a reação é uma mo
6. E O2 é ativado, levando a esses produtos tóxicos.
noxigenação. B: citocromos não se ligam a eles.
A: superóxido resulta da transferência. B e C: isso C: o doador é NADPH. E: o sistema requer Ca2+-
não acontece. D: o NO aumenta cGMP, e o NO não
-calmodulina, pelo menos as isoformas neuronal e
é formado em ausência de substrato.
endotelial.
7. B Esses são mecanismos comuns para aumentar
13. Se a warfarina for metabolizada e removida mais
a solubilidade em água. A: isso ocorre, mas nor
rapidamente pelo citocromo P450, sua eficiência
malmente em pequenas quantidades; o produto,
terapêutica é diminuída. Com a mesma dosagem,
NAPQ1, é o metabólito tóxico. C: glutationa é con
será menos eficiente como anticoagulante. Se o fe
jugada com NAPQ1 e o torna não-tóxico. D e E: não
nobarbital for retirado, os níveis de citocromo P450
ocorrem. cairão como tempo, até o nível não-induzido. Sem
8. C A competição diminui a produção de NAPQ1, modificação no nível de warfarina, eventualmente
o metabólito tóxico. A: ambos são substratos. B: haverá possibilidade aumentada de hemorragia.
CYP2E1 converte acetaminofen no metabótilo tó
14. Essa enzima converte 17-OH-progesterona em
xico. D: álcool é metabolizado mais rapidamente,
11-desoxicortisol, o precursor do cortisol. Ela tam
de modo que o CYP2E1 que ele induziu está dispo
bém converte progesterona em 11-desoxicorticos
nível para metabolizar acetaminofen.
terona, um precursor da aldosterona, que regula o
9. E Pode haver uma estabilização do mRNA ou uma equilíbrio salino. O cortisol diminuído leva a uma
diminuição da degradação da proteína. A: tanto secreção aumentada de ACTH graças a diminui
substâncias endógenas como exógenas podem in ção no controle de retroalimentação (feedback).
duzir citocromo P450. B e C: modificação trans ACTH elevado por período longo causa hiperpla
cripcional é apenas um dos mecanismos de indu sia adrenal e produção aumentada de hormônios
ção. D: isso foi demonstrado na indução de alguns androgênicos. Anormalidades no desenvolvimento
compostos, mas não todos. sexual são comuns em crianças com CAH.
PARTE III CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 475
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
12
Membranas Biológicas:
Estrutura, Receptores
e Transporte de Solutos
Thomas M. Devlin
Professor Emérito, Drexel University College of Medicine
Conceitos Chaves
• Os principais lipídeos de membranas biológicas são • As proteínas de membrana são classificadas em
glicerofosfolipídeos, esfingolipídeos e colesterol. integrais (fortemente ligadas) ou periféricas (que
A composição em lipídeos específicos varia com a se dissociam facilmente). As proteínas integrais
fonte da membrana. têm um único segmento ou múltiplos domínios de
aminoácidos que atravessam a bicamada lipídica.
• Em meio aquoso, lipídeos anfipáticos podem formar Algumas formam estruturas homo- ou hetero-oli
esferas (micelas) e vesículas (lipossomos), que têm
goméricas. Proteínas periféricas usam vários meios
uma membrana consistindo de uma bicamada de
para ligação à superfície da bicamada. A composi
lipídeos distribuídos aleatoriamente. Os grupos po
ção em proteínas varia dependendo da função da
lares ficam em contato com o meio aquoso. As mem
membrana.
branas biológicas têm uma estrutura semelhante.
476 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Lipídeo Proteína
(b)
X
Retículo
endoplasmático O Cabeça
polar
Nuclear O P O–
Mitocondrial
Mitocondrialexterna O
interna O O
C O C O
FIGURA 12.2 Porcentagem de lipídeos e proteínas em
várias membranas celulares. CH2 CH2
Os valores são para fígado de rato, exceto para a mielina e a
CH2 CH2
membrana plasmática de eritrócito humano. Os valores do
fígado de outras espécies, incluindo a humana, indicam um CH2 CH2
padrão semelhante. CH2 CH2
CH2 CH2
Caudas
Glicerofosfolipídeos São os CH2 CH2 hidrofóbicas
CH2 CH
Membranas
CH2 CH
Os glicerofosfolipídeos (fosfoglicerídeos) têm uma
CH2 CH2
molécula de glicerol com um fosfato esterificado no
carbono α (Figura 12.3) e dois ácidos graxos de ca CH2 CH2
deia longa esterificados nos átomos de carbono rema CH2 CH2
nescentes (Figura 12.4). O glicerol não contém car
CH2 CH2
bono assimétrico, mas os átomos de carbono α não
são estequiometricamente idênticos. A esterificação CH2 CH2
de um fosfato a um carbono α torna a molécula as CH2 CH2
simétrica. Glicerofosfolipídeos de ocorrência natural
CH2 CH2
são designados pelo sistema de numeração estereoes
pecífica (sn) (Figura 12.3), discutido na p. 728. CH3 CH3
(a) (b)
1,2-Diacilglicerol 3-fosfato, ou ácido fosfatídico,
é o composto parental dos glicerofosfolipídeos. Uma FIGURA 12.4 Estrutura de glicerofosfolipídeo.
(a) Ácidos graxos de cadeia longa são esterificados em C1 e C2 do
ponte fosfodiéster com glicerol liga colina, etanola
mina, serina, glicerol e inositol (Figura 12.5). Fosfa L-glicerol 3-fosfato. X pode ser H (ácido fosfatídico) ou um dentre os
vários alcoóis apresentados na Figura 12.5. (b) Modelo de preenchi
tidiletanolamina (etanolamina glicerofosfolipídeo ou mento de espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
cefalina) e fosfatidilcolina (colina glicerofosfolipídeo (b) Cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
478 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
H –O OP
O
Serina CC
HOCH2 +O
NH3 OH O
O O O O
H
C CO O C CO O
Glicerol HOCH2 CCH2 OH
CH2 CH2 CH2 CH2
OH
alifáticas
Cadeias
longas Cadeias
H H alifáticas
H OH longas
Inositol
OH OH
OH OH H FIGURA 12.7 Fosfatidilglicerol fosfoglicerídeo
H (cardiolipina).
H OH
Dois ácidos graxos são esterificados em C1 e C2
FIGURA 12.5 Estruturas dos principais alcoóis do glicerol nos glicerofosfolipídeos; os principais são
esterificados ao ácido fosfatídico para formar apresentados na Tabela 12.1. Um ácido graxo satura
glicerofosfolipídeos. do fica geralmente em C1 do glicerol, e um ácido graxo
insaturado em C2. Existem entre 500 e 1.000 espécies
moleculares de lipídeos nas membranas, principalmen
ou lecitina) são os glicerofosfolipídeos mais comuns nas te por causa do número de possíveis combinações de
membranas (Figura 12.6). Fosfatidilglicerol fosfogli ácidos graxos em diferentes fosfo e esfingolipídeos. A
cerídeo (Figura 12.7) (difosfatidilglicerol ou cardio designação das diferentes classes de fosfolipídeos não
lipina) contém dois ácidos fosfatídicos ligados por um especifica os ácidos graxos que contêm. A fosfatidilcoli
glicerol e é encontrado quase que exclusivamente nas na geralmente contém ácido palmítico ou esteárico em
membranas mitocondriais internas e em membranas C1, e um ácido graxo insaturado C18, oleico, linoleico ou
bacterianas. Inositol, um hexa-hidroxi álcool, é este linolênico, em C2.
rificado ao fosfato no fosfatidilinositol (Figura 12.8).
Diferentes derivados fosforilados estão localizados em Fosfatidiletanolamina contém ácido palmítico ou olei
diferentes membranas; fosfatidilinositol 4-fosfato pre co em C1, mas um ácido graxo poli-insaturado de cadeia
domina no Golgi, fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato nas longa, como o ácido araquidônico, na posição C2. Cada
membranas plasmáticas, e fosfatidilinositol 3-fosfato tipo de membrana celular tem uma composição distinta
CH3
O CH2N
CH2 + CH3 O CH2CH2NH3
+
CH3
OPO– O PO–
O O
CCO O
CH2alifáticas
Cadeias
longas
CH2 CH2 CH2
Cadeias
alifáticas
longas
Fosfatidilcolina Fosfatidiletanolamina
(a) (b)
H H
2 3
UM OLHAR MAIS ATENTO 12.1
H OH O–
OH OH 4 Pode estar
1
OH H P OH presente em Fosfatidilinositóis Têm Muitas Funções
C-4 ou
6 5
H O C-4 e C-5
Os fosfatidilinositóis, nas células, têm várias fun
O H OH
ções. Eles estão envolvidos nas membranas como
fontes de segundos mensageiros (p. 552), na ativação
O P O–
de canais iônicos de membranas (p. 497),497),), nanana ativa-ativa-ativa
O ção de enzimas, envolvidos na endo- e na exocitose,
CH2 CHCH2
e como âncoras de proteínas (p. 490).490).). Fosfatidilinosi-Fosfatidilinosi-Fosfatidilinosi
tol 4,5-bisfosfato é a fonte dos segundos mensageiros
O O
CO inositol trisfosfato e diacilglicerol (p. 553), que estão
CO envolvidos na ação de alguns hormônios. Presume
CH2 CH2 -se que fosfatidilinositol 3-fosfato e fosfatidilinositol
3,5-bisfosfato estejam envolvidos no controle do trá
fego de membranas em endossomos. Também estão
Cadeias envolvidos com o citoesqueleto e o controle da for
alifáticas ma e da mobilidade celular, e estão implicados em
longas
funções citosólicas e nucleares. Enzimas que meta
FIGURA 12.8 Fosfatidilinositol. bolizam fosfatidilinositóis foram ligadas a doenças
Grupos fosfato também são encontrados em C-4 ou C-4 e C-5 humanas.
do inositol. Os grupos fosfato adicionais aumentam a carga da
cabeça polar desse glicerofosfolipídeo. Di Paolo, G. e De Camilli, P. Phosphoinositides in cell
regulation and membrane dynamics. Nature 443: 651,
de grupos ácidos graxos em seus glicerofosfolipídeos. A 2006.
composição em ácidos graxos dos lipídeos tem um im
pacto significativo na função da membrana. Grupos de
ácidos graxos do mesmo tecido em diferentes espécies células de câncer metastático, sugerindo um papel para
são muito semelhantes. A composição em grupos acil os lipídeos nas propriedades invasivas dessas células.
pode mudar em diferentes condições
nutricionais e patofisiológicas. COOH COOH COOH
voso e no coração, mas não no fígado. FIGURA 12.9 Conformação de grupos ácidos graxos em fosfolipídeos.
Mais de 50% dos etanolamina glicero (a) Ácidos graxos saturado (palmítico) e insaturado (palmitoleico) com duplas liga
ções em trans são cadeias retas em sua conformação de mínima energia, enquanto
fosfolipídeos do coração humano são
uma cadeia (palmitoleico) com uma dupla ligação cis tem uma dobra. A dupla ligação
plasmalogênios. Altos níveis de lipí trans é rara em ácidos graxos de ocorrência natural. (b) Modelos de preenchimento de
deos com ligação éter foram identifi espaço. Ver Figura 12.3 para esquema de cores.
cados nas membranas plasmáticas de Cortesia do Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
480 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
+
NH3
Esfingolipídeos Estão Presentes nas
Cabeça polar CH2 Membranas
CH2 Os aminoalcoóis esfingosina (D-4-esfingenina) e di
O -hidroesfingosina (Figura 12.11) são a base dos esfingo
O P O–
lipídeos. Um grupo acil graxo de cadeia longa saturado
ou insaturado em ligação amida com o amino grupo da
O esfingosina (Figura 12.12) é uma ceramida, que é seme
CH2 CH CH2 lhante em estrutura ao diacilglicerol. Várias substitui
O O
ções são encontradas no grupo hidroxila de C1. As es
hidrofóbicas
Caudas CH CH2
fingomielinas, os esfingolipídeos mais abundantes em
C O
tecidos de mamíferos, têm fosforilcolina esterificada
em C1 (Figura 12.13) e são classificadas como fosfoli
CH2 CH2 pídeos. Esfingomielina e colina glicerofosfolipídeos são
semelhantes em estrutura e apresentam muitas proprie
dades em comum; ambos são anfipáticos. A composição
Cadeias em ácidos graxos da esfingomielina varia de tecido para
alifáticas longas tecido; a esfingomielina da mielina contém predominan
temente ácidos graxos de cadeia mais longa (C24).
FIGURA 12.10 Etanolamina plasmalogênio.
Note a ligação éter da cadeia alifática em C1 do glicerol.
CH2OH CH2OH
Glicerofosfolipídeos São Anfipáticos CH
Esfingosina
HC
CH2
C NH2
OH CH
CH2 NH2
H HC OH
Glicerofosfolipídeos são anfipáticos, contendo uma
extremidade polar e uma não-polar. A carga da extre
midade polar (grupo da cabeça) consiste de um fosfato CH CH2
carregado (pK∼2), que é negativamente carregado em
CH2
pH 7,0, e qualquer carga dos grupos (bases) do fosfato
(Tabela 12.2). Colina e etanolamina glicerofosfolipí (CH2)11 (CH2)11
deos são zwitterions em pH 7,0, com uma carga nega CH3 CH3
tiva no fosfato e uma carga positiva no nitrogênio. Fos
Di-hidrosfingosina
fatidilserina tem uma carga positiva no grupo a-amino (D-4-esfingenina) (D-di-hidrosfingenina)
da serina e duas cargas negativas, uma no fosfato e uma
no grupo carboxila da serina, com uma carga final de FIGURA 12.11 Estruturas da esfingosina e da di
–1. Diferentemente, glicerofosfolipídeos contendo ino hidroesfingosina.
sitol e glicerol têm apenas uma carga negativa no fos
fato. Os derivados 4-fosfoinositol e 4,5-bisfosfoinositol Glicoesfingolipídeos contêm um açúcar ligado por
são compostos muito polares, com cargas negativas no uma ligação b-glicosídica ao grupo C1 OH de uma ce
fosfato. A extremidade não-polar dos glicerofosfolipí ramida; não contêm fosfato e não são carregados. Um
deos consiste de cadeias hidrocarbônicas hidrofóbicas subgrupo é o dos cerebrosídeos, que contêm ou glicose
de grupos acil graxo ligados. (glucocerebrosídeos) ou galactose (galactocerebrosí
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 481
CH3 H OH
HOH HCH2OH
CH3 N+ CH3
CH2 HO H O
H O(β)
CH2
CH2
O
H C NH
O P O–
H C OH OC
O
HC
(CH2 CH2
CHOH
CH2
CH CH2
CH NH
CH3
CH2)11 CH3
H C OH C O
(CH2)19
HC CH2
CH CH2
CH2 CH2 H C NH
CH2 CH2 H C OH OC
CH2
FIGURA 12.15 Estrutura de um sulfatídeo.
(a) CH3
H3C CH2
CH CH2
CH3 CH3
17 CH2 CH
CH3
C D
CH3
A B
3 5
HO
(a)
(b)
Fosfatidiletanolamina Cardiolipina
Membrana % dos componentes lipídicos
Membrana % dos fosfolipídeos
0 100 0 100
Plasmática Plasmática
Golgi Golgi
Retículo Retículo
endoplasmático endoplasmático
rugoso rugoso
Nuclear Nuclear
Mitocondrial Mitocondrial
externa externa
Mitocondrial Mitocondrial
interna interna
(a) (b)
hormônios e fatores de crescimento, como facilitadores sistemas aquosos. Estão presentes em muitas mem
do movimento transmembrânico de solutos e íons, e branas, mas particularmente na mielina, onde repre
como enzimas envolvidas na transdução de sinais (p. sentam cerca de 50% do componente proteico. Lipofili
529). Cerca de 30% dos genes de células de mamíferos na, uma importante lipoproteína da mielina do cérebro,
codificam proteínas de membrana. contém mais de 65% de aminoácidos hidrofóbicos e
ácidos graxos covalentemente ligados. (Ver p. 489 para
As proteínas de membrana são classificadas com
uma discussão sobre a localização e a ligação de proteí
base na facilidade de separar a proteína dos lipídeos nas de membrana.)
da membrana. O isolamento das proteínas integrais de
membrana (intrínsecas) requer o rompimento da mem
brana por detergentes ou solventes orgânicos e, quando Carboidratos de Membranas
isoladas, geralmente contêm lipídeos firmemente liga
dos. Essas proteínas ficam imersas no meio lipídico da São Parte de Glicoproteínas ou
membrana (p. 487).487).). ElasElasElas contêmcontêmcontêm sequênciassequênciassequências dedede amino-amino-amino
ácidos hidrofóbicos, que constituem os segmentos da
Glicolipídeos
proteína em contato com os lipídeos da membrana. A Os carboidratos estão presentes nas membranas
natureza hidrofóbica dessas proteínas, e, portanto, sua como oligossacarídeos covalentemente ligados a pro
insolubilidade em água, tornou difícil determinar suas teínas (glicoproteínas) e a lipídeos (glicolipídeos). Os
estruturas tridimensionais e estudar suas propriedades açúcares nos oligossacarídeos incluem glicose, galac
funcionais. tose, manose, fucose, N-acetilgalactosamina, N-ace
tilglucosamina e ácido N-acetilneuramínico (ácido
Proteínas periféricas de membrana (extrínsecas)
siálico) (Figura 12.18 e Apêndice). As estruturas das
são fracamente ligadas à superfície da membrana lipí
glicoproteínas e dos glicolipídeos são apresentadas
dica. Tratamento com soluções salinas de diferentes nas páginas 678 e 749, respectivamente. O carboidrato
forças iônicas, pHs ácidos ou básicos do meio, ou cliva
fica na superfície extracelular da membrana plasmá
gem de lipídeos covalentemente ligados, liberam essas
tica e na superfície luminal do retículo endoplasmá
proteínas. As proteínas periféricas de membrana são
tico. As funções dos carboidratos ligados a proteínas
subclassificadas com base em seu modo de ligação à
incluem reconhecimento e adesão célula–célula e ação
membrana (p. 487).487).). MuitasMuitasMuitas proteínasproteínasproteínas periféricasperiféricasperiféricas fraca-fraca-fraca
como receptor. Há pouco ou nenhum carboidrato livre
mente ligadas são típicas proteínas globulares solúveis
nas membranas.
em água.
CH2OH
O
12.3 MICELAS, BICAMADAS
H H
H LIPÍDICAS E LIPOSSOMOS
OH H
HO OH
N-Acetil-α-D-glucosamina Vesiculares
CH2OH A característica estrutural básica das membranas
O deve-se às propriedades físico-químicas dos glicerofos
HO H
H
folipídeos e esfingolipídeos. Esses compostos anfipáti
OH H
cos, com uma cabeça hidrofílica e uma cauda hidrofó
H OH bica (Figura 12.19a), interagem em sistemas aquosos
para formar esferas, chamadas micelas (Figura 12.19b).
H HNCOCH3 Os grupos das cabeças polares ficam no lado de fora da
N-Acetil-α-D-galactosamina esfera, enquanto as caudas hidrofóbicas interagem para
excluir água. As micelas têm apenas uma superfície po
H
lar, que é o lado apresentado para a fase aquosa. Podem
O
H H ser preparadas micelas contendo um único lipídeo ou
CH3 uma mistura de lipídeos. A concentração de lipídeos
HO
H HO
OH
necessária para formar micelas é a concentração mi
celar crítica (p. 1083). A formação de micelas também
OH H depende da temperatura e, se uma mistura de lipídeos
α-L-Fucose estiver presente, da razão entre as concentrações dos
diferentes lipídeos. A estrutura de uma micela é muito
H estável, graças às interações hidrofóbicas entre as ca
O deias hidrocarbônicas e à atração dos grupos polares de
H O
CH3 C N HCOH COOH cabeça pela água. Micelas são importantes na digestão
HCOH intestinal e na absorção de lipídeos (p. 1083).
CH2OH
H H H OH Bicamadas Lipídicas Sintéticas e
Lipossomos
OH H
II Lipídeos anfipáticos, como glicerofosfolipídeos, tam
N-Acetil-D-neuramínico
bém podem formar uma estrutura em bicamada, com
FIGURA 12.18 Estruturas de alguns carboidratos de duas camadas de lipídeos. Nessa estrutura existe um
membrana. contato mínimo das cadeias hidrocarbônicas com a
água. Os grupos da cabeça polar ficam na interface en
tre o meio aquoso e o lipídeo, e as caudas hidrofóbicas
interagem, criando um ambiente interior hidrofóbico
que exclui a água (Figura 12.19c). Essa conformação
Cabeça polar
Cauda
hidrofóbica
Lipídeos São Distribuídos tre as bicamadas lipídicas das membranas é lento, mas
ocorre. A assimetria de lipídeos é mantida por transpor
Assimetricamente nas Membranas tadores de lipídeos, que catalisam o movimento unidi
recional de lipídeos específicos de uma camada para a
Os lipídeos são distribuídos assimetricamente nas
outra, às vezes contra seu gradiente de concentração.
duas bicamadas das membranas biológicas. Cada ca
mada tem uma composição diferente em glicerofosfo Uma subclasse de transportadores de lipídeos ATP-de
pendentes, aminofosfolipídeo translocases ou flippa
lipídeos e esfingolipídeos. A distribuição assimétrica
ses específicas para fosfatidilserina e fosfatidiletanola
de lipídeos da membrana plasmática de eritrócito hu mina, catalisa o transporte desses aminoglicerolipídeos
mano é apresentada na Figura 12.23. Esfingomielina
da camada extracelular para a citoplasmática. São res
predomina na camada externa, enquanto fosfatidileta
ponsáveis por manter a baixa concentração desses fos
nolamina é predominante na camada lipídica interna.
folipídeos na camada externa da membrana plasmática.
Fosfatidilinositóis não são mostrados na Figura 12.23
Um transportador para fora ATP-dependente, chamado
em virtude de suas baixas quantidades, mas localizam
floppase, é não-específico para fosfolipídeos. Um ter
-se primariamente na camada interna; a quantidade
ceiro tipo de transportador de lipídeos, fosfolipídeo
varia de acordo com o tecido. A distribuição de coles
scramblase, facilita a mistura bidirecional de fosfolipí
terol entre a bicamada não é apresentada. Os lipídeos
deos entre as duas camadas, distribuindo aleatoriamen
das membranas intracelulares também são distribuídos
te os fosfolipídeos entre as camadas. É não-específico
assimetricamente, mas não com o mesmo padrão da
em relação aos fosfolipídeos, não depende de ATP, e é
membrana plasmática. A assimetria responde por algu
mas das diferenças funcionais entre as duas camadas. estimulado pelo aumento do Ca2+ intracelular. A fosfoli
pídeo scramblase 1 (PLSCR1) pode ser reversivelmen
A assimetria dos lipídeos é estabelecida durante a te palmitoilada-despalmitoilada e contém um sítio de
biossíntese das membranas no retículo endoplasmático. fosforilação para a proteína quinase C, para controle de
O movimento transverso não-catalizado (flip-flop) en atividade (p. 552). A scramblase desempenha um im
portante papel na cascata da coagulação mediada por
células (p. 1007), e no reconhecimento pelo sistema
50 Fosfolipídeos totais retículo-endotelial das células que estão morrendo (p.
1034).). EmEm ambasambas asas respostas,respostas, oo movimentomovimento dede fosfa-fosfa
Camada externa tidilserina da camada interna para a camada externa
leva à exposição de fosfatidilserina na superfície extra
celular e uma mudança na carga da superfície.
25 Esfingomielina
Fosfatidilcolina
Proteínas Integrais de Membrana
l
atotodmegatnecreP
As interações de proteínas com as membranas bio
lógicas são ilustradas na Figura 12.24. Proteínas inte
Outros grais de membrana ficam mergulhadas na membrana,
com uma orientação definida, determinada por sua es
trutura primária. Seus segmentos transmembrânicos
contêm sequências ricas em aminoácidos hidrofóbicos
como leucina, isoleucina, valina e fenilalanina, que fi
Fosfatidilserina cam em contato com o meio lipídico. Algumas têm gran
des domínios globulares em contato com o ambiente
25
Fosfatidiletanolamina aquoso em um ou em ambos os lados da membrana, e
algumas, particularmente as da membrana plasmática,
são glicoproteínas.
Lado
extracelular
N
N
PI
– – – – –
Lado + + + + +
citosólico
3
210 tão envolvidas na transdução
intracelular de sinal (p. 529).
a
it
a
p
o
Seus diferentes métodos de
r
d
i
h
ligação são ilustrados na Figu
e
d ra 12-24c-f. Algumas se ligam
e
c
i −1
d
a proteínas integrais de mem
n
Í brana, como a anquirina que se
−2
liga ao canal de ânions nos eri
−3 0 63 126 trócitos (Figura 12.24c). Fosfo
189 252 lipídeos de membrana carrega
Número do resíduo de aminoácido dos negativamente interagem
com as regiões carregadas
FIGURA 12.26 Gráfico de hidropatia da aquaporina 1 de eritrócitos humanos.
positivamente das proteínas e
O índice de hidropatia de um aminoácido é um valor que indica sua tendência hidrofóbica ou
produzem ligação eletrostática
hidrofílica. Quanto mais positivo o valor, mais hidrofóbico é o aminoácido; um valor positivo é
um bom indicador se o aminoácido estará ou não em contato com um ambiente aquoso. Seg (Figura 12.24d); em alguns ca
mentos da proteína contendo uma alta proporção de aminoácidos hidrofóbicos são considera sos, Ca2+ é mediador da ligação.
dos como segmentos transmembrânicos putativos. Várias proteínas periféricas
têm sequências curtas de ami
transmembrânicas. Com um número par de segmentos noácidos hidrofóbicos em uma extremidade, que servem
transmembrânicos, a extremidade carboxila também de âncora (Figura 12.24e). Outras proteínas periféricas
fica no lado citoplasmático. Um motivo comum de proteí de membrana têm um domínio específico conservado
nas integrais é a oligomerização dos mesmos monômeros que se liga não-covalentemente ao grupo de cabeça ino
(complexos homoméricos) e oligomerização de monôme sitol 3-fosfato do fosfatidilinositol fixado na membrana
ros diferentes (complexos heteroméricos). (Figura 12.24f). Algumas proteínas têm várias formas
diferentes de ligação.
Proteínas integrais de membrana contêm domínios
específicos para interação com ligantes, para atividade
Extracelular
catalítica ou de transporte, e para ligação de carboidra
tos. A presença de lipídeos ligados e sítios específicos
para moléculas de água sugerem um alto grau de varia
bilidade estrutural e funcional. Elas não são estruturas
rígidas, e suas formas na membrana podem ser altera
das por interação com outras proteínas e com moléculas
pequenas. Os efeitos moduladores de lipídeos em uma
proteína podem refletir-se em mudança na ordenação e
na fluidez da membrana, bem como em uma influência
direta sobre a atividade da proteína. Muitas proteínas
integrais ligam lipídeos específicos por interações não
-covalentes entre os grupos de cabeça carregados, bem
como com a cauda hidrofóbica. Exemplos da influência
de lipídeos sobre a atividade de proteínas são a neces
sidade de fosfatidilcolina para a atividade da b-hidroxi
butirato desidrogenase (p. 718), e a estabilização dos
complexos da cadeia respiratória por cardiolipina (p.
480).). AtividadeAtividade máximamáxima dada diacilgliceroldiacilglicerol quinasequinase ocor-ocor
re com fosfatidilcolina com cadeias C18, e o colesterol Intracelular
foi implicado na atividade de várias bombas de íons da FIGURA 12.27 Múltiplos segmentos transmembrânicos
membrana e receptores de acetilcolina. em a-hélice.
Modelo em fita do monômero da AQP1 de eritrócito humano.
Múltiplos segmentos transmembrânicos em a-hélice formam uma
estrutura tubular. A extremidade amino-terminal é azul, e a car
Proteínas Periféricas de Membrana: boxi-terminal é vermelha. Seis hélices inclinadas que atravessam
a membrana circundam dois hemiporos (alças com hélices curtas
Âncoras Lipídicas – turquesa e laranja) que se encontram no centro da bicamada. A
seta branca ilustra o canal aquoso através da proteína.
Proteínas periféricas de membrana ficam sobre a
Figura reproduzida com permissão de Kozono, D., Yasui, M.,
superfície da membrana e podem ser facilmente remo King, L. S. e Agre, P. Aquaporin water channels: atomic struc
vidas, sem romper a bicamada lipídica. Muitas têm uma ture and molecular dynamics meet clinical medicine. J. Clin.
associação transitória com a membrana, com ligação e Invest. 109:1395, 2002. Copyright © (2002) Amer. Soc. Clin.
religação cíclicas. Isso controla sua atividade. Muitas es Invest. via Copyright Clearance Center.
490 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
CH2
Uma âncora dessas envolve fosfatidilino
NH S
sitol (ver Figura 12.8, p. 479), ligado a um
glicano consistindo de etanolamina, fosfa COOC
(GPI)
Fosfatidilinositol Fosfatidilinositol Glicano (etanolamina, Acetilcolina esterase
fosfato, manose, Fosfodiesterase alcalina
manose, manose e Anidrase carbônica
glucosamina) Moléculas de adesão célula–célula
Hidrolases de superfície celular
Lipoproteína lipase
Proteína scrapie príon
Antígenos de superfície
Miristoil
e hidroxi éster
Tioéster Ácido mirístico (C14
(C14)) Ligação
glicina
–SH dena
ouN-terminal
–OH
amida Receptor b-adrenérgico
Receptores acoplados a proteína G
Proteína quinase c-CAMP
Receptor de insulina
Subunidade a de proteína G
Outra forma de ligação a lipídeo de uma proteína pe Proteínas e Lipídeos Difundem nas
riférica envolve uma ligação tioéter entre a proteína e
os lipídeos isoprenoides farnesil (C15) ou geranilgeranil Camadas da Membrana
(C20) (Figura 12.29). As ligações são chamadas prote As interações entre diferentes lipídeos e entre lipí
ínas CAAX preniladas porque o isoprenoide é ligado
deos e proteínas são muito complexas e dinâmicas. Há
a um resíduo de cisteína na sequência Cys – Alifático uma fluidez na porção lipídica das membranas, e lipíde
– Alifático – qualquer resíduo, próximo à extremidade os e proteínas individuais podem se mover rapidamente
carboxi-terminal. O X aparentemente determina qual pela superfície das membranas. Com membranas arti
isoprenoide é ligado; glutamina, metionina ou serina ficiais, o grau de fluidez é dependente da temperatu
são necessárias para a ligação de farnesil, e leucina ra. Em temperaturas baixas, os lipídeos estão em um
para geranilgeranil. Proteínas CAAXpreniladas são ge
estado de gel-cristalino, restringindo sua mobilidade; à
ralmente ligadas à superfície citoplasmática. medida que a temperatura sobe, ocorre uma transição
de fase, com um aumento de fluidez (Figura 12.30). Nas
membranas biológicas, há uma mistura de fases líquida
-ordenada e líquida-desordenada, presumivelmente de
pendendo da composição em lipídeos e em proteínas,
e não de uma transição do estado gel-cristalino para
líquido-cristalino. De fato, interações entre lipídeos
HN H
C C HN H
C C e proteínas levam a variações nos estados ordenado
O O
-desordenado ao longo da membrana, e a diferenças de
CH2 CH2
fluidez em diferentes áreas.
S S
Membranas com glicerofosfolipídeos contendo gru
pos ácidos graxos de cadeia curta e insaturados têm
maior fluidez. Duplas ligações em cis nos ácidos graxos
insaturados dos fosfolipídeos causam dobras na cadeia
hidrocarbônica; isso impede a disposição densa das ca
deias e cria bolsões nas regiões hidrofóbicas. O coles
terol, com sua estrutura em anel plano e rígido, reduz
o enrolamento das cadeias de ácidos graxos e reduz a
fluidez. O significado clínico de colesterol elevado no
sangue sobre a fluidez das membranas celulares é des
crito na Correlação Clínica 12.2. O íon Ca2+ diminui a
fluidez das membranas por sua interação com os gru
pos de cabeça, carregados negativamente, dos fosfoli
pídeos, reduzindo a repulsão entre os grupos polares e
(a) (b)
aumentando a proximidade entre as moléculas de lipí
FIGURA 12.29 Âncora isoprenoide tioéter para ligação de deos. Isso causa a agregação dos lipídeos em conglome
proteínas de membrana. rados e reduz a fluidez. A distribuição assimétrica dos
(a) Âncora farnesil. (b) Âncora geranilgeranil. fosfo- e esfingolipídeos leva a uma diferença na fluidez
FIGURA 12.30 Estrutura da bicamada lipídica acima (estado desordenado) e abaixo (estado ordenado) da temperatura de
transição.
Figura reproduzida com permissão de Voet, D. e Voet, J. Biochemistry, 2. ed., New York: Wiley, 1995. Copyright © (1995) John Wiley
& Sons, Inc.
492 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
das duas camadas. As cadeias hidrocarbônicas dos lipí mada com uma distribuição diferente de lipídeos, em
deos são flexíveis, produzindo um maior grau de fluidez comparação com a membrana circundante. Portanto,
no centro hidrofóbico do que mais próximo à superfície, as membranas biológicas são, na realidade, um mosai
onde há mais restrições pelas porções mais rígidas das co fluido de microdomínios diferentes (Figura 12.31).
cadeias hidrocarbônicas. Nas membranas plasmáticas, constituem uma porcen
tagem significativa da área total. A função das balsas
A composição em cadeias de ácidos graxos dos fos lipídicas é segregar e concentrar proteínas especí
folipídeos e em cholesterol das membranas é alterada ficas, para facilitar sua atividade. As balsas menores
pela dieta, por alterações no Ca2+ intracelular, radicais são montadas e desmontadas constantemente e difun
livres e peroxidação de lipídeos, levando a uma mudan dem-se livremente na membrana. As membranas plas
ça na fluidez da membrana. Anestésicos aumentam a
máticas e as membranas destinadas a interagir com
fluidez das membrane in vitro e podem agir in vivo por a membrana plasmática, como o lado trans do com
meio de seu efeito sobre a fluidez das membranas de cé plexo de Golgi, contêm uma grande quantidade desses
lulas específicas. A anestesia é induzida por compostos microambientes, mas eles também podem ocorrer em
estruturalmente não-relacionados, tendo em comum a outras membranas celulares. Balsas de membranas
solubilidade em lipídeos. Foram relatadas mudanças na são definidas como microambientes pequenos (10–200
fluidez de membranas na hipercolesterolemia, hiper nm), heterogêneos, dinâmicos, enriquecidos em coles
tenção, diabetes mellitus, obesidade, alcoolismo, esqui terol e esfingolipídeos. Os lipídeos em todas as balsas,
zofrenia e doença de Alzheimer. entretanto, não estão necessariamente no mesmo es
tado físico-químico. A concentração mais elevada de
colesterol as torna menos fluidas do que o ambiente
Microdomínios de Complexos lipídico circundante. O colesterol é importante na or
Lipídeo–Proteína Estão Presentes ganização das balsas lipídicas do complexo de Golgi e
na manutenção de sua integridade e função. Os domí
nas Membranas nios podem desempenhar uma função no transporte
de colesterol.
Existe uma distribuição heterogênea, e não homo
gênea, de lipídeos e proteínas nas membranas. Estão A camada externa das balsas tem uma concentração
presentes microdomínios contendo lipídeos e proteínas mais alta de ceramidas e glicoesfingolipídeos (p. 480),
específicos. Esses domínios, chamados balsas lipídi que geralmente contêm ácidos graxos de cadeias mais
cas ou lipid rafts, são estruturas organizadas na bica longas. Seu acúmulo na camada externa leva a áreas
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 493
de membranas de maior espessura. A camada interna Membranas plasmáticas de células de alguns tecidos
contém fosfolipídeos com cadeias acil mais saturadas contêm cavéolas, invaginações pequenas tipo-frascos,
do que nas áreas não-balsas, o que permitem maior cuja composição em lipídeos é semelhante à das balsas
adensamento das cadeias. Assim, os lipídeos nas mem lipídicas; elas têm um alto conteúdo de colesterol e gli
branas ficam mais ordenados e mais densamente dis coesfingolipídeos. Cavéolas contêm as proteínas que se
postos do que na bicamada circundante. Além disso, in ligam a colesterol caveolinas-1, -2 ou -3, que podem ser
terações eletrostáticas de grupos de cabeça, interações responsáveis por estabilizar a estrutura.
hidrofóbicas de colesterol com fosfolipídeos e glicoli
pídeos específicos, e interações proteína-lipídeo limi Balsas lipídicas têm importantes funções em muitos
tam o movimento dos lipídeos. Por meio de interações processos celulares, incluindo seleção e tráfego de mem
proteína-proteína e proteína-lipídeo, balsas menores se branas e polarização celular. Fatores de crescimento e
agrupam para formar subdomínios maiores, ordenados, sinalização por receptor proteína G também envolvem
na membrana. Alguns desses localizam-se em regiões balsas de membranas. Foram relatadas funções para as
específicas da membrana plasmática. balsas lipídicas na patogênese de condições como doen
ças de Alzheimer, Parkinson, cardiovasculares, lúpus
eritematoso sistêmico e HIV. Bactérias, príons (Correla-Correla
ção Clínica 3.6, p. 118), vírus e parasitas utilizam balsas
lipídicas de células para sua infectividade.
lares, isto é, ligantes gerados por uma célula para mudar tores têm um alto grau de especificidade pelos ligan
a atividade de outra célula, reagem ou com receptores na tes, e alguns receptores respondem a estímulos como
membrana plasmática ou com receptores intracelulares. luz e temperatura (Tabela 12.7). Existem também re
Ligantes tais como moléculas carregadas, peptídeos e ceptores da membrana plasmática, como os receptores
proteínas, não podem atravessar a membrana por cau tipo-Toll (TLR, Toll-like receptors) que induzem uma
sa de sua carga ou tamanho, e reagem com receptores resposta quando bactérias ou vírus se ligam; a ligação
na membrana plasmática, na superfície extracelular da estimula uma defesa do hospedeiro contra os patógenos
membrana. Moléculas que podem se difundir através invasores. O transporte de proteínas destinadas à se
da membrana plasmática, como esteroides, ligam-se a creção entre o retículo endoplasmático e o Golgi envol
receptores intracelulares solúveis. Sinais intracelulares ve receptores de membrana que reconhecem sinais de
podem se ligar a receptores solúveis ou a receptores no seleção específicos codificados pela carga, na proteína.
lado citoplasmático da membrana. Há uma variedade de
respostas iniciais à interação ligante–receptor, incluindo TABELA 12.4 Respostas Celulares à Interação Ligante–
a ativação de uma enzima, liberação de uma molécula Receptor
intermediária que é reconhecida por um intermediário
Estímulo de crescimento e diferenciação
subsequente em uma via de sinalização, ou abertura de
um canal na membrana para permitir o fluxo de íons. As Modulação do sistema nervoso periférico e central
principais vias de transdução de sinal são apresentadas
no Capítulo 13 (p. 525), e as respostas dos tecidos às Controle do sistema reprodutor
moléculas sinalizadoras serão descritas na apresentação Regulação de processos metabólicos
dos processos celulares individuais.
Estímulo de funções imunológicas
A sinalização entre células permite que células indivi
duais respondam às necessidades do organismo inteiro; TABELA 12.5 Classificação dos Receptores da Membrana
respostas representativas à ligação do ligante ao recep Plasmática
tor são apresentadas na Tabela 12.4. Existem centenas
do Receptor
Classificação Exemplos
Insulina
de receptores diferentes na membrana plasmática; a Ta
de Receptores
bela 12.5 apresenta as três classes principais. O grupo
maior e mais diversificado de receptores de membrana Acoplado a proteína G Glucagon
é o dos receptores acoplados a proteína G (p. 542), que Acetilcolina
ocorre tanto em células procarióticas como eucarióticas.
tirosina quinase
Catalítico:
Os receptores de membrana são classificados com Eritropoietina
base na homologia de estrutura da proteína e no me
canismo; receptores representativos com seus ligantes/ Transporte de íon Ácido g-aminobutírico
atividades são apresentados na Tabela 12.6. Os recep Glutamato
químico. Troca contínua de moléculas de soluto de um água que circunda muitos solutos deve ser removida an
lado para o outro ocorre depois do equilíbrio ser atingi tes que o soluto entre no meio lipídico. Íons inorgânicos
do, mas não há acúmulo em nenhum dos lados, pois isso e moléculas orgânicas carregadas não se difundem em
criaria um gradiente de concentração. velocidade significante em virtude de sua atração pela
água e da exclusão de espécies carregadas pelo am
biente hidrofóbico das membranas. Moléculas orgânicas
não-carregadas, como açúcares, são essencialmente
s
excluídos, assim como peptídeos, proteínas e ácidos nu
é Transporte mediado
v
a cleicos, em virtude de seu tamanho e carga. Se ocorrer
t
a
o
t
difusão, a velocidade será lenta demais para atender às
n
e necessidades celulares.
m
i
v a
o n
mar
e b
d m
e e
d
Mecanismos Baseados em Proteínas
a m
i a
d
c m
lo u
para Deslocamento
e e
Vd
Várias centenas de sistemas mediados por proteí
Difusão nas, cada um com um conjunto diferente de proteínas,
evoluíram para facilitar o movimento de água, íons,
Concentração de soluto nutrientes, produtos residuais metabólicos e macro
moléculas através de diferentes membranas celulares.
FIGURA 12.33 Cinética do movimento de uma molécula As proteínas envolvidas em cada sistema de diferentes
de soluto através de uma membrana.
organismos, e até mesmo entre órgãos de uma espécie,
A velocidade inicial de difusão é diretamente proporcional à
concentração de soluto. No transporte mediado, a velocidade são muito semelhantes, mas não idênticas. Um sistema
alcançará uma Vmáx quando o transportador ficar saturado. de classificação funcional das proteínas de transporte
de membrana, recomendado pela International Union
Gases, como O2, N2, CO2, NO, CO e H2S, e moléculas of Biochemistry and Molecular Biology (IUBMB)
lipofílicas difundem-se através das regiões hidrofóbi (Tabela 12.8), divide-as em classes, subclasses, famí
cas de uma membrana. A água difunde-se sob pressão lias e subfamílias com base no mecanismo de trans
osmótica, mas na maioria das células a velocidade não porte e suas propriedades. Muitas das proteínas estão
atende às necessidades de equilíbrio rápido das fases presentes só em procariotos; muitas outras em ambos,
aquosas em ambos os lados da membrana plasmática; procariotos e eucariotos, incluindo mamíferos. Existe
uma família de proteínas, as aquaporinas, facilita o mo uma homologia estrutural das proteínas de muitas das
vimento transmembrânico da água (p. 596). A capa de subfamílias. A discussão a seguir focaliza os sistemas
barril-b (p. 97) com um canal cheio de água de 0,6 a 3 ao fechamento do canal. Alguns têm vários domínios
nm de diâmetro (Figura 12.34). Algumas bactérias e para ligação do ligante, o que permite cooperativida
plastídeos estão presentes nas membranas externas das de na ligação. Abertura e fechamento são realizados de
mitocôndrias (porinas). Várias porinas bacterianas diferentes formas, incluindo (1) segmentos transmem
consistem de estruturas barril-b com 16 fitas antipara brânicos a-helicoidais que revestem o poro movendo-se
lelas, com pontes de hidrogênio entre os vizinhos mais como um corpo rígido que se inclina, gira ou dobra, e
próximos ao longo da cadeia. Alças polipeptídicas re (2) uma extremidade terminal ligada que oscila para
vestem a parede interna do barril, limitando a largura dentro do canal, fechando-o fisicamente.
do canal e restringindo o tamanho das moléculas capa
zes de se difundir através dele. Essa subclasse de canais A ligação de acetilcolina ao receptor nicotínico de
tem uma ampla faixa de seletividade para substrato, de acetilcolina abre o canal, permitindo o fluxo de Na+
para dentro da célula. Isso é importante na transmis
íons inorgânicos a proteínas. As porinas podem ser não
-seletivas ou apresentar algum grau de seletividade, e são de sinal elétrico neuronal (p. 965). Outros canais
algumas permitem a passagem de qualquer molécula são controlados pela ligação de neurotransmissores (p.
menor do que um tamanho limite específico. ), cAMP (p. 549),
535), ), inositol 1,4,5-trisfosfato, diacil
glicerol (p. 552) e proteínas G (p. 542). A abertura da
maioria dos canais é muito rápida, permitindo surtos
de fluxo iônico de 107 íons por segundo através da mem
brana. Essa velocidade é necessária porque muitos des
ses canais estão envolvidos na condução nervosa e na
contração muscular. A superfície de um terminal ner
voso pode conter várias centenas de diferentes canais,
incluindo canais voltagem-dependentes de Ca2+ e K+,
canais de K+ dependentes de Ca2+, canais de Cl–, canais
ligante-dependentes e canais ativados por estiramento.
Alguns canais são controlados não só pela ligação do
ligante, mas também por fosforilação-defosforilação.
Um grande número de agentes farmacológicos é usado
terapeuticamente para modular canais; os que inibem
são chamados antagonistas.
Fonte: King, L. S., Kazono, D. e d Agre, P. From structure to disease: The evolving tale of aquaporin biology. Nature Rev.: Mol. Cell Biol. 5:687, 2004.
causar expansão ou contração dos compartimentos As aquaporinas são proteínas intrínsecas de mem
envolvidos. Ocorre difusão não-facilitada de água atra brana pequenas, hidrofóbicas, com várias sequências de
vés de membranas biológicas, mas é lenta demais para aminoácidos muito conservadas. Elas se organizam nas
responder às velocidades requeridas de movimento de membranas em homotetrâmeros (Figura 12.35). Cada
água. Mais de 200 proteínas de canais diferentes em monômero, consistindo de seis domínios transmembrâ
plantas, bactérias, insetos e vertebrados permitem o nicos a-helicoidais, contém um poro de água distinto.
deslocamento de água e de outras moléculas pequenas AQP1 do eritrócito humano contém um motivo de se
e, como grupo, são chamadas aquaporinas (AQP). Doze quência muito conservado, consistindo de asparagina
aquaporinas de mamíferos foram identificadas, que são -prolina-alanina em duas alças separadas. As alças se
divididas por homologia de sequência de aminoácidos dobram para dentro da bicamada lipídica, como uma
e características funcionais em canais que são seleti ampulheta, formando um canal aquoso. A seletividade
vos só para água (aquaporinas) e os que permitem o deve-se a uma constrição do canal com cerca de 2,8 Å, o
deslocamento de água e de pequenos solutos (aquagli que limita o tamanho das moléculas que podem passar.
ceroporinas). As aquaporinas permitem o movimento A passagem aquosa de AQP1 (Figura 12.36) é revestida
de H2O, mas não de íons hidrônio (H3O+), mantendo por resíduos hidrofóbicos conservados e alguns poucos
assim o gradiente de pH através da membrana celular. resíduos hidrofílicos que atraem H2O, mas não molécu
O homem tem pelo menos 10 aquaporinas e aquaglice las carregadas como H3O+. Moléculas de água aparente
roporinas (AQP0 a AQP9); os locais de expressão de mente fluem através do canal em uma fila indiana (um
aquaporinas selecionadas no homem são apresentados de cada vez).
na Tabela 12.9. Alguns tecidos têm várias isoformas di
ferentes, com diferentes funções; o rim tem pelo menos Além de água, AQP1 permite o deslocamento de
sete isoformas, localizadas em pontos diferentes ao lon CO2, AQP3 de glicerol, e AQP9 de glicerol, ureia, polióis,
go do néfron e do ducto coletor. A Correlação Clínica purinas, pirimidinas, nucleosídeos e monocarboxilatos.
12.3 descreve a distribuição das aquaporinas nos rins e AQP1 é inibida reversivelmente por HgCl2.AQP2 no rim
exemplifica alterações patofisiológicas. As aquaporinas humano está sob controle hormonal, e pelo menos três
de plantas contribuem para a captação de água pelas outras podem ser controladas por pH.
raízes, a transpiração e a dessecação de sementes.
500 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
A função primária do rim é regular o pH do sangue, humanos sem atividade de AQP1 do rim aparentemente
eliminar produtos tóxicos do metabolismo e regular não têm problemas detectáveis em condições normais,
o equilíbrio hídrico do corpo. Cada rim contém cerca mas podem ter em condições de estresse (desidrata
de um milhão de néfrons, as unidades funcionais mul ção). Espera-se que condições clínicas adicionais ve
ticelulares do tecido. Cada néfron tem várias regiões nham a ser atribuídas a alterações nas outras aquapo
distintas (ver diagrama), cada uma com funções mui rinas.
to específicas no processamento do filtrado do sangue,
que ocorre no glomérulo. Uma grande quantidade de
sangue é filtrada (cerca de 150 L/dia), e a água deve
ser reabsorvida no néfron e nos ductos coletores, ex
ceto cerca de 1,5 L, que são excretados como urina. As
aquaporinas são responsáveis pela recuperação de água
do filtrado à medida que ele flue pelo lúmen do néfron.
Como indicado no diagrama, pelo menos sete diferen
tes isoformas de aquaporinas, localizadas em diferentes
pontos ao longo do néfron e dos ductos coletores, são
responsáveis pela reabsorção de água.
Canais iônicos de Na+, Ca2+, K+ e Cl– Cada canal iônico consiste de subunidades glico
controlados por voltagem proteicas específicas, como estruturas homo- e hete
ro-oligoméricas (Tabela 12.10). As grandes subunida
Os canais individuais voltagem dependentes (VIC) des a (cerca de 260 kDa) contêm o canal condutor do
para Na+, Ca2+ e K+ são controlados pelo potencial elétri íon. Elas têm quadro domínios homólogos, cada um
co transmembrânico. Eles abrem e fecham muito rapida com seis segmentos transmembrânicos, conectados
mente (milissegundos) e, em células de mamíferos, são por alças intracelulares e extracelulares, num total
responsáveis pela geração de sinais elétricos conduzidos de 24 segmentos transmembrânicos (Figura 12.37).
por neurônios e outras células excitáveis. Os canais iôni Subunidades acessórias (b, gou δ) não têm estrutura
cos são membros de uma grande superfamília encontra comum; algumas têm vários segmentos transmemb
da em bactérias, archaea, vírus e eucariotos. No homem, rânicos, e outras são proteínas periféricas localizadas
existem seis tipos de canais de Ca2+ e pelo menos dez ti inteiramente intra- ou extracelularmente. Estão ge
pos de canais de K+, respondendo a diferentes estímulos. ralmente envolvidas na regulação do canal; subunida
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 501
180H – + Na+ a, b1 e b2
Repulsão K+ 4a, b
192N P +A
A R195 eletrostática
AAA P 76
β2 NH3+ ψ
ψ
α +H3N β1 Canais Nicotínicos de
Acetilcolina (nAChR)
O canal nicotínico de ace
12345 + 6 1 2345 + 6 1 2345 +
6 6 1 2345
+
tilcolina, também chamado
+ + + +
receptor de acetilcolina, é um
–OOC Sensor Poro P P P Drogas COO– exemplo de canal regulado por
de voltagem ligante, no qual a ligação de
acetilcolina (Figura 12.39) abre
P
COO– o canal. O nome dual é usado
+H3N P P
para diferenciar esse receptor
de outros receptores de acetil
FIGURA 12.37 Estrutura de subunidades do canal de Na+ voltagem-dependente.
As estruturas primárias das subunidades do canal de Na+ voltagem-dependente são ilustra colina, que funcionam de modo
das como um diagrama de dobramento transmembrânico. Cilindros representam prováveis diferente. O canal é expresso
segmentos de a-hélice. Os cilindros vermelhos representam o sensor de voltagem e cilin os na sinapse nervo-muscular (p.
dros azuis, os segmentos do poro (ver Figura 12.38). Linhas grossas representam as cadeias 971) e é um membro de uma
polipeptídicas de cada subunidade, com comprimentos aproximadamente proporcionais ao superfamília de canais iônicos
número de resíduos de aminoácidos nos subtipos de canais de Na+ cerebrais. Os domínios transmissor-dependentes, que
extracelulares das subunidades b1 e b2 são apresentados como estruturas globulares. São inclui os receptores de seroto
indicados os sítios de fosforilação da proteína. nina, ácido g-aminobutírico e
Redesenhado de Catterall, W. A., Goldin, A. I. e Waxman, S. G. Internat. Union of Pharm.
glicina (p. 964). Acetilcolina
XXXIX. Compendium of voltage-gated ion channels: Sodium channels. Pharmacol. Rev.
difunde para a membrana do
55:575, 2003.
músculo esquelético,, ondeonde inte-inte
-dependentes (p. 967);967);; eleseleseles aparentementeaparentementeaparentemente têmtêmtêm 121212 seg-seg-seg rage com o receptor de acetilcolina, abrindo o canal e
mentos helicoidais transmembrânicos. Canais de Cl– permitindo que íons carregados positivamente e pe
regulam o volume celular, estabilizam o potencial de quenos eletrólitos, mas não íons carregados negativa
membrana, estão envolvidos na transdução de sinal, e mente, fluam através do canal. O complexo do canal
regulam o transporte transepitelial. O regulador trans consiste de um complexo pentamérico de duas subu
membrânico da fibrose cística é um canal de Cl–. nidades a e uma de cada subunidades b, g e δ (Figura
12.40). Cada subunidade a é glicosilada, e duas outras
Os canais iônicos voltagem-dependentes têm um pa subunidades contêm lipídeos covalentemente ligados.
drão de expressão específico em diferentes tecidos. No Todas as subunidades têm extremidades N- e C-termi
homem, há um número considerável de doenças heredi nais extracelulares, quatro domínios que atravessam
tárias de canais iônicos, chamadas canalopatias, causa a membrana (M1, M2, M3 e M4), com uma longa alça
das por mutações nos canais de ânios e cátions (ver Cor-Cor citoplasmática entre M3 e M4, que contém sítios con
relação Clínica 23.8, p. 994). A Correlação Clínica 23.12, sensos para fosforilação por proteína quinases. Cin
p. 1001,1001,, descrevedescrevedescreve mudançasmudançasmudanças nosnosnos canaiscanaiscanais dedede cátionscátionscátions vol-vol-vol co domínios M2 justapostos (um de cada subunidade
tagem-dependentes em doenças musculares miotônicas. proteica) formam o poro condutor de íons. Os domí
nios M2 de canais receptores cátion-seletivos, como o
receptor nicotínico de acetilcolina, são enriquecidos
em aminoácidos carregados negativamente na “boca”
Lado intracelular do poro. Essa região funciona atraindo cá
extracelular
tions como Na+ e repelindo ânions como Cl–. A ligação
do neurotransmissor aos sítios extracelulares do com
plexo do receptor induz rearranjos muito pequenos e
sutis dos domínios M2. Esse rearranjo quase instan
tâneo remove as barreiras energéticas para o fluxo iô
nico pelo poro recoberto por água. A fosforilação da
subunidade a é necessária para a atividade. O fecha
Lado mento do canal ocorre em um milissegundo, em decor
citoplasmático rência da rápida hidrólise da acetilcolina e dissociação
dos produtos, acetato e colina, da proteína.
Citoplasma
12.8 PROTEÍNAS DE
TRANSPORTE DE
MEMBRANA
Figura 12.41 Modelo de um canal na junção tipo fenda
(gap junction). Proteínas de transporte de membrana facilitam o
movimento de íons e moléculas através de uma mem
brana ligando-se e fisicamente movendo-os para chega
rem ao ambiente do lado oposto da membrana. Deve-se
tosólicos estão envolvidos na importação e exportação
notar que o movimento físico do substrato não requer
nuclear de proteínas. Carioferina b medeia a exporta
ção de macromoléculas ligadas a nucleoporinas e uma que a proteína mova realmente o substrato através de
toda a espessura da membrana. Como será discutido,
proteína GTPase, Ran. Proteínas destinadas ao núcleo, uma pequena distância pode mover o substrato entre
do citoplasma, contêm sequências curtas de aminoáci
dois ambientes diferentes da proteína. Para a maioria
dos, chamadas sequências de localização nuclear, que das substâncias, a velocidade do transporte mediado é
fazem delas alvos para a importação. O transporte pelo
significativamente maior do que a simples difusão por
complexo do poro nuclear ocorre por difusão facilitada uma membrana lipídica.
das proteínas carregadoras solúveis e complexos carre
gadores-macromoléculas. A atividade é regulada. Se S1 for o soluto no lado 1, e S2 no lado 2, então o
transportador promove o estabelecimento do equilíbrio
como se segue:
(a) (b) [S1] [S2]
C
Os colchetes representam a concentração de soluto.
Se o transportador (T) for incluído, a reação fica
M
[S1] + T [S –T] [S2] + T
Se nenhuma energia de outra fonte for gasta, a con
E centração em ambos os lados da membrana será igual
no equilíbrio, mas se houver gasto de energia, pode
ser estabelecido um gradiente de concentração. Como
numa reação catalisada por enzima, o transportador
M
aumenta a velocidade, mas não determina o equilí
brio final. A proteína transportadora está inalterada
C no final da reação. Sua atividade pode ser avaliada nos
mesmos termos cinéticos de uma reação catalisada por
20Å
enzima, porque tem especificidade pelo substrato a ser
Figura 12.42 Organização molecular de uma gap junction transportado, cinética definida, catalisa um transporte
cardíaca recombinante. vetorial, e é afetada por inibidores competitivos e não
Modelo desenvolvido a partir de cristalografia eletrônica. (a) -competitivos. O transportador demonstra cinética de
Uma visão lateral completa é mostrada. (b) A densidade foi saturação (Figura 12.33, p. 496), enquanto a difusão
cortada para mostrar o interior do canal. M, bicamada da mem
simples não. Constantes como Vmáx e Km são determi
brana; E, espaço extracelular; C, espaço citoplasmático.
nadas para transportadores. Teoricamente, um trans
Reimpresso com permissão de Unger, V. M., Kumar, N. M., Gi
lula, N.B. e Yeager, M. Science 283: 1176, 1999. Com permis portador pode facilitar o movimento de um soluto em
são de AAAS. ambas as direções através da membrana, mas na maio
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 505
ria das situações há um movimento unidirecional em transportador mude de modo a ter menor afinidade
virtude do grande AG0’ da reação. (maior Km) pelo substrato. Uma mudança conforma
cional do transportador pode levar a uma diminuição
A maioria dos transportadores tem um alto grau na afinidade. Finalmente, na recuperação, etapa 4, o
de especificidade estrutural e estéreo-especificidade
transportador retorna à sua conformação original, após
para o substrato. No transporte mediado de D-glico
liberação do substrato.
se nos eritrócitos, o Km para D-galactose é 10 vezes
maior, e para L-glicose 1.000 vezes maior do que para
D-glicose, demonstrando uma afinidade muito menor
por D-galactose e L-glicose. O transportador prati Lado 1 Lado 2
Reconhecimento: S1 + T1 S – T1
Transporte: S – T1 S – T2
Liberação: S – T2 T2 + S2 4 Recuperação
Recuperação: T2 T1
(12.3)
membrana plasmática que mantém os gradientes de 2. um mecanismo antiporte, no qual dois ou mais so
Na+ e K+ (p. 511). Outro exemplo surpreendente é um lutos são transportados em direções opostas em
transportador ativo das células parietais das glândulas um processo fortemente acoplado, que não utiliza
gástricas, que é responsável pela secreção de HCl no qualquer forma de energia a não ser a do gradiente
lúmen do estômago (p. 1067). O pH do plasma é cerca de potencial eletroquímico; o gradiente através da
de 7,4 (4 × 10–8MH+), e o pH luminal do estômago pode membrana de um soluto pode conduzir o movimen
chegar a pH 0,8 (0,15 MH+). H+ é transportado contra to do outro soluto.
um gradiente de concentração de 1 × 106. Considerando
3. um mecanismo simporte, no qual duas ou mais es
que não haja componente elétrico, a energia para se
pécies são transportadas juntas na mesma direção,
creção de H+ nessas condições é calculada a partir da
em um processo acoplado, que não usa qualquer
Equação 12.2 e é 38 kJ mol/L (9,1 kcal mol/L) de HCl.
forma de energia a não ser a do gradiente de poten
cial eletroquímico de um substrato; o gradiente de
um soluto dirige o movimento do outro soluto.
Transportadores de Membrana de
Mamíferos
As duas classes principais de transportadores de cé
lulas de mamíferos (ver Tabela 12.8) são CORRELAÇÃO CLÍNICA 12.4
• transportadores dirigidos por potencial eletro
químico, que movem seus substratos através de Doenças Que se Devem à Perda de Sistemas de
uma membrana utilizando o gradiente de con Transporte de Membranas
centração do substrato ou outro soluto, e Várias condições patológicas são devidas a altera
• transportadores ativos primários, que re ções em um sistema de transporte para componentes
querem o investimento de energia metabólica celulares específicos. Os indivíduos com uma dimi
para mover o substrato. nuição na captação de glicose do trato intestinal não
têm o transportador específico de glicose-galactose
Células de mamíferos têm uma grande variedade acoplado a sódio. Síndromes com má absorção de fru
de transportadores e, em muitos casos, usam dife
tose são causadas por uma alteração na atividade do
rentes subfamílias de transportadores para deslocar sistema de transporte para frutose. Na doença de Har
o mesmo substrato, dependendo das necessidades es tnup, ocorre uma diminuição no transporte de ami
pecíficas da célula ou tecido. Sistemas de transporte noácidos neutros nas células epiteliais do intestino e
estão presentes em plantas, bem como em membranas dos túbulos renais.
intracelulares, incluindo mitocôndrias, lisossomos,
peroxissomos e endossomos. O número de transporta Na cistinúria, a absorção renal de cistina e dos
dores ativos presentes em uma membrana em um dado aminoácidos básicos lisina, arginina e ornitina é
tempo estabelece a velocidade máxima de captação anormal, resultando na formação de cálculos re
por uma célula ou organela. Assim, em muitos casos, nais de cistina. No raquitismo hipofosfatêmico,
a síntese da proteína transportadora e sua incorpora resistente à vitamina D, a reabsorção renal de fos
ção em uma membrana controla a concentração de um fato é anormal. Recentemente, tem havido relatos
substrato específico em uma célula ou compartimento sobre doenças baseadas em genética, envolvendo
celular. Todos esses sistemas de transporte são regu os transportadores de substratos para dopamina e
lados, permitindo o controle momento a momento do creatinina, e o transportador mitocondrial de as
transporte. Muitas doenças genéticas são atribuídas a partato glutamato. Os vários transportadores ativos
defeitos nos vários sistemas de transporte (Correlação que requerem ATP foram implicados em várias con
Clínica 12.4). dições patofisiológicas.
Evans, L., Grasset, E., Heyman, M., Dumontier, A. M.,
et. al. Congenital selective malabsorption of glucose and
12.9 TRANSPORTADORES galactose. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr. 4: 878, 1985;
DIRIGIDOS POR POTENCIAL Mueckler, M. Facilitative glucose transporters. Eur. J.
Biochem. 219: 713, 1994; deGrauw, T. J., Cecil, K. M.,
ELETROQUÍMICO Byars, A.W., Salomons., G. S. et al. The clinical syndrome
of creatine transporter deficiency. Mol. Cell. Biochem.
244: 45, 2003; e Pederson, P. L. Transport ATPases in
Os transportadores dirigidos por potencial
biological systems and relationship to human disease: A
eletroquímico utilizam brief overview. J. Bioenergetics Biomembranes 34: 327,
1. um mecanismo uniporte, onde um único soluto é 2002.
transportado por difusão mediada ou de modo de
pendente do potencial de membrana se o soluto for
carregado;
508 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Centenas de tais transportadores foram descritos, concentração normal de glicose no sangue. D-Galacto
muitos exclusivamente em bactérias, com especifici se, D-manose, D-arabinose e vários outros D-açúcares,
dade para íons inorgânicos, açúcares, aminoácidos bem como glicerol, são deslocados por algumas isofor
e outros intermediários metabólicos. A Tabela 12.11 mas. GLUT5, das membranas do sarcolema de múscu
ilustra a variedade de solutos transportados em célu lo esquelético, transporta frutose preferencialmente.
las eucarióticas por esse mecanismo. Muitos dos trans GLUT1 é importante para suprir eritrócitos e células do
portadores têm 2 a 24 sequências transmembrânicas cérebro com glicose. A velocidade de captação de glico
putativas a-helicoidais. Os transportadores direciona se pelo GLUT2 de baixa afinidade aumenta em paralelo
dos por potencial eletroquímico demonstram cinética com a elevação da concentração de glicose no sangue,
de saturação, especificidade para o substrato que está e tem um papel importante na absorção intestinal de
sendo movido através da membrana, e especificidade açúcares (p. 1073). Em células do fígado, GLUT2 cata
para inibidores. lisa tanto o influxo como o efluxo de glicose, sendo res
ponsável pela exportação de glicose (p. 616); em células
b pancreáticas, GLUT2 está envolvido na detecção dos
Transportadores Dirigidos níveis de glicose no sangue. GLUT4 é um transportador
que responde à insulina (p. 615) no tecido adiposo, no
por Potencial Eletroquímico músculo cardíaco e no músculo esquelético. A atividade
Representativos de alguns transportadores de glicose no músculo é esti
mulada por exercício e hipóxia, aparentemente porque
Glicose É Deslocada por um Mecanismo de há uma necessidade de aumentar a utilização de glicose
Uniporte Passivo pelo tecido. Vários análogos de açúcares, assim como a
floretina e a 2,4,6-tri-hidroxiacetofenona (Figura 12.47)
Uma família de transportadores de glicose (GLUT) são inibidores competitivos.
facilita o transporte de D-glicose através da membrana
plasmática de células de mamíferos por um mecanismo Glicose e Aminoácidos São Deslocados
uniporte. Os genes da família GLUT são expresso de com Na+ por um Mecanismo Simporte
forma tecido-específica.
O gradiente eletroquímico de Na+ (força sódio-mo
Os transportadores de glicose, chamados GLUT1,
tiva, SMF) através da membrana plasmática (p. 14) é
GLUT2 e assim por diante (Tabela 12.12), todos têm uma fonte de energia para o movimento simporte de
12 segmentos transmembrânicos, com significativa si Na+ com açúcares, aminoácidos, íons e outras molécu
milaridade de aminoácidos. A maioria está na membra las pequenas. Existem mais de 400 transportadores ex
na plasmática, onde a direção do movimento da glico
pressos nessa família de proteínas. Como descrito ante
se é, geralmente, de fora para dentro. Dependendo do riormente (p. 506), a SMF é gerada pelo transporte de
gradiente de concentração, entretanto, GLUT1 de eri Na+ acoplado à hidrólise de ATP (Figura 12.48); inibi
trócito facilita o transporte em ambas as direções, de ção da síntese de ATP levará à dissipação do gradiente
monstrando a reversibilidade do sistema. Os três trans de Na+ e à parada do transporte.
portadores de alta afinidade (GLUT1, GLUT3 e GLUT4)
funcionam in vivo em velocidades próximas à velocida O mecanismo geral do cotransportador de sódio/gli
de máxima porque seus valores de Km são inferiores à cose (SGLT) é apresentado na Figura 12.49. O diagra
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 509
OH Lado 1 Lado 2
HO CCH2CH2
O OH Transporte S1 S2
conduzido
por ATP ADP + Pi
OH
Floretina ATP
Transport S1 S2
OH conduzido
por Na+
Na+ Na+
HO OH C
O CH3 Na+gé
O mantido Na+
radiente Na+
O gradiente de Na+ se dissipa no processo, mas a bactérias; quatro são expressos no homem. Algumas
ATPase trocadora de Na+/K+ continua a restabelecê-lo. isoformas são expressas nos túbulos proximais renais
Portanto, a energia metabólica na forma de ATP está e no epitélio do intestino delgado (p. 1067). Todos os
indiretamente envolvida no transporte porque ela é ne SGLTs têm uma estrutura central comum com 13 hé
cessária para manter o gradiente de Na+. Inibição da lices transmembrânicas, mas diferentes isoformas têm
ATPase trocadora de Na+/K+ leva a uma diminuição no segmentos transmembrânicos adicionais, incluindo o
gradiente de Na+, impedindo assim a captação de glico SGLT1 humano, que tem 14. Os SGLTs podem catali
sar um movimento uniporte de Na+ e água em ausên
se por esse mecanismo.
cia de glicose. Na+ liga-se a uma cavidade extracelular
Mais de 37 membros da família de genes SGLT fo do transportador, induzindo uma alteração conforma
ram identificados em células animais, de leveduras e cional que aumenta a afinidade do transportador por
510 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Glicose Glicose
2 Na+ 2 Na+
CI– 2CI–
3 Na+ 3 Na+ HCO3– HCO3–
2 K+ 2 K+
ADP + Pi
ATP
mento do substrato contra seu gradiente químico família foram descritos em bactérias, para captação e/
ou eletroquímico; e ou efluxo de K+, Mg2+, Ca2+, Ag+, Zn2+, Co2+, Pb2+, Ni2+,
Cd2+ e Cu2+.
2. a proteína transportadora pode ser transitoria
mente fosforilada durante o processo de transpor As membranas plasmáticas de todas as células de
te, mas o substrato não é fosforilado ou modificado. mamíferos catalisam a reação
Essa família de transportadores catalisa o desloca ATP Na++K+
−→ ADP + Pi (12.4)
mento de um soluto contra seu gradiente de concen Mg2+
tração, levando à criação de um gradiente químico ou
eletroquímico. Como todos os transportadores, são ca com uma necessidade absoluta de íons Na+ e K+, e de
racterizados por cinética de saturação, especificidade Mg2+, um cofator das reações que requerem ATP. O
para um ou alguns substrato parecidos e capacidade transportador é responsável pela manutenção das con
de serem inibidos. Esses transportadores são encontra centrações altas de K+ e baixas de Na+ no citoplasma
dos em todos os organismos vivos. Células de mamífe das células de mamíferos (p. 14). Tecidos excitáveis,
ros utilizam ATP ou outro nucleosídeo trifosfato como tais como músculo e tecido nervoso, e células ativamen
fonte de energia. Os transportadores que utilizam ATP te envolvidas no movimento do íon Na+, tais como as de
são também chamados ATPases, indicando sua ativida glândula salivar e córtex renal, têm altas atividades da
de enzimática na hidrólise de ATP durante o desloca ATPase trocadora de Na+/K+. Estima-se que este trans
mento. Decarboxilação, transferência de metil, óxido portador use cerca de 60–70% do ATP sintetizado por
-redução e absorção de luz podem servir para conduzir células nervosas e musculares e cerca de 35% do ATP
o transporte em outros organismos. gerado em um indivíduo em repouso.
Os sítios de ligação dos cátions e do ATP estão em o potencial transmembrânico das células. A hidrólise
domínios diferentes da subunidade a. A subunidade b é do ATP pelo transportador só ocorre se Na+ e K+ forem
muito glicosilada, facilita a inserção da subunidade a na deslocados. Um modelo para o movimento de Na+ e K+
membrana após a síntese e estabiliza o complexo; pode é apresentado na Figura 12.53. A proteína sofre mudan
também funcionar ativamente na atividade de trans ças conformacionais durante as quais Na+ e K+ movi
porte. O transportador do rim contém uma subunidade mentam-se por distâncias curtas dentro da proteína.
g, que pode influenciar os parâmetros cinéticos da ati Esta transição conformacional diminui a afinidade do
vidade. A fosforilação da subunidade a requer a ligação sítio de ligação pelos cátions, resultando na liberação
de Na+ e Mg2+, mas não de K+, embora a defosforilação do cátion em um meio em que a concentração é mais
exija a ligação de K+, mas não de Na+ ou Mg2+ (Figura alta do que aquela da qual ele foi transportado.
12.52). O complexo proteico tem duas conformações
distintas, e é classificado como um transportador tipo Várias isoformas do transportador são reguladas por
E1-E2, para indicar a mudança de conformação. diferentes mecanismos, incluindo a concentração de
substrato, o citoesqueleto, inibidores circulantes e uma
variedade de hormônios. A atividade requer fosfolipíde
Citoplasma os; o transportador tem sítios de ligação para cerca de
30 moléculas de lipídeos, e os níveis de ácido docosa
2K+ E1 ATP 3Na+ E1 ATP
E1 ATP -hexaenoico (ácido graxo poli-insaturado de cadeia
longa) no cérebro correlaciona-se com a atividade de
2 K+ 3 Na
ATPase. Esteroides cardiotônicos, como digitalis, são
inibidores da ATPase trocadora de Na+/K+ e aumentam
ATP
E2 2 K+ ADP
a força de contração do músculo cardíaco por alterarem
P
E1
a excitabilidade do tecido. Ouabaína (Figura 12.54) é
3 Na+ um dos inibidores mais ativos da ATPase trocadora de
Pi Na+/K+; liga-se à subunidade pequena, na superfície ex
H2O Na+ terna da membrana.
P P E2 P
E2 E2 O Deslocamento de Ca2+É Catalisado por
2 Na+
2 K+
2 K+ 2 Na+ um Transportador Ativo Primário
Extracelular
Cálcio é um importante mensageiro intracelular,
FIGURA 12.52 Sequência proposta de reações e que regula muitos processos celulares, desde o meta
intermediários na hidrólise de ATP pela ATPase trocadora bolismo de carboidratos até a contração muscular. O
de Na+/K+. Ca2+ citosólico é cerca de 0,10 mM, mais de 10.000 ve
E1 e E2 são diferentes conformações da enzima. Fosforilação zes menor do que o Ca2+ extracelular. O Ca2+ no citosol
da enzima requer Na+ e Mg2+, e defosforilação envolve K+. aumenta rapidamente por liberação de Ca2+ do retículo
endoplasmático ou sarcoplasmático ou abertura tran
O movimento de Na+ e K+ é um processo antiporte sitória dos canais de Ca2+ da membrana plasmática,
eletrogênico, com três íons Na+ movendo-se para fora e permitindo o fluxo de Ca2+ a favor do grande gradien
dois íons K+ para dentro da célula, para cada molécula te de concentração (p.501). Para restabelecer os níveis
de ATP hidrolisada. Isso leva a um aumento na carga citosólicos baixos, Ca2+ é transportado ativamente por
positiva externa e é parte do mecanismo para manter duas ATPases transportadoras de Ca2+ (Ca2+ ATPa
3 Na+
2 K+
lar
do elu
La trac
Ex P
ATP
P
ATP
2 K+
ADP ATP
o 3 Na+ P
do lic
La itosó
C ATP
FIGURA 12.53 Modelo para deslocamento de Na+ e K+ através da membrana plasmática pela ATPase trocadora de Na+/K+.
(1) Transportador na conformação 1 liga Na+. (2) Transportador na conformação 2 desloca e libera Na+. (3) Transportador na con
formação 2 liga K+. (4) Transportador na conformação 1 desloca e libera K+.
CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 513
ses) diferentes, uma transportando Ca2+ de volta para A Ca2+-ATPase dodo retículoretículo sarcoplasmáticosarcoplasmático dodo mús-mús
o lúmen do retículo endoplasmático ou sarcoplasmáti culo (SERCA) está envolvida nos ciclos de contração-re
co, e a outra para fora da célula, através da membrana laxamento do músculo, representando 80% das proteí
plasmática. As Ca2+-ATPases são transportadores tipo nas integrais de membrana do retículo sarcoplasmático
P, fosforilados por ATP em um resíduo aspartil; exis e ocupando um terço da área de superfície (p. 998).
tem em dois estados conformacionais, sendo portanto Consiste de uma única cadeia polipeptídica com dez hé
transportadores do tipo E1-E2. lices transmembrânicas (Figura 12.55). Dois Ca2+ são
deslocados do citosol para o lúmen contra um grande
gradiente de concentração (104), em uma troca antipor
O O te por 2 H+ por ATP hidrolisado. No estado E1 (Figura
12.56), os sítios de ligação têm uma alta afinidade por
OH CH Ca2+ e são acessíveis do citosol, enquanto no estado E2
3 os sítios de ligação de Ca2+ têm baixa afinidade e ficam
OH OH abertos para o lúmen. A forma livre de Ca2+ mostra
CH2
grandes diferenças conformacionais em relação à forma
OH
ligada a Ca2+(Figura 12.56). Os dois Ca2+ ficam ligados
lado a lado, circundados por quatro hélices transmem
O
brânicas. Foi proposto que a Ca2+-ATPase do retículo
H OH sarcoplasmático também possa desempenhar um papel
O na termogênese por ligação de Ca2+, seguida de hidróli
HO
CH3
H H H se de ATP, mas liberando o Ca2+ de volta no citosol, sem
H deslocamento do cátion. A energia da hidrólise do ATP
OH OH é liberada como calor. Um peptídeo pequeno, sarcolipi
na, aumenta a produção de calor.
FIGURA 12.54 Estrutura de ouabaína, um esteroide
cardiotônico e potente inibidor da ATPase trocadora de
Na+/K+.
Citoplasma
E1 ATP 2 Ca2+ E ADP E1
ATP P
1
2 Ca2+ 2 Ca2+
ATP
P P
Hélice
E2 P E2 E2
E
2 Ca2+
i 2 Ca2+
Ca2+
Lúmen
O gene responsável por CF foi identificado em Kunzelmann K. e Mall M. Pharmacotherapy of the ion trans
1989, e foram encontradas mais de 800 mutações le port defectin cystic fibrosis. Clin. Exp. Pharm. Physiol. 28:857,
vando a CF. A mutação mais comum afeta cerca de 2001. Zeitlin, P. L. Therapies directed at the basic defect in cystic
fibrosis. Clin. Chest Med. 19:515, 1998. Frizzell R. A. Functions
70% dos pacientes e é uma deleção de uma única
of the cystic fibrosis transmembrane conductance regulator pro
fenilalanina na posição 508 da proteína, mas muta tein. Am. J. Respir. Crit. Care Med. 151:54, 1995. Naren, A. P.,
ções missence (sentido errado), nonsense (intro Cormet-Boyaka, E., Fu, J., et al. CFTR chloride channel regula
duz códon de terminação), frameshift (mudança na tion by an interdomain interaction. Science 286:544, 1999.
Lado extracelular K+
K+Ionóforo
K+
K+
K+ Lado citoplasmático
(a) FIGURA 12.62 Mecanismo proposto para
atividades ionoforéticas de valinomicina
e nigericina.
Lado extracelular H+ K+ (a) Transporte por valinomicina; (b) Trans
porte por nigericina. Irepresentaionóforo. O
H K H complexo valinomicina-K+ é carregado posi
tivamente e o deslocamento de K+ é eletro
Ionóforo – gênico, levando à criação de uma separação
–H de cargas através da membrana. Nigericina
desloca K+ em troca de um H+ através da
K
membrana, e o mecanismo é eletricamente
neutro.
K+ H+Lado citoplasmático
Diagrama adaptado de Pressman, B. C.
(b) Annu. Rev. Biochem. 45:501, 1976.
518 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Dímero de
gramidicina A
Transportadores com cassete de ligação a ATP (ABC) dente de ATP de uma ampla variedade de substâncias
são uma superfamília de proteínas com várias subfa e estão presentes em muitos tecidos diferentes. Alguns
mílias que contêm todas um domínio de ligação a ATP são encontrados em formas mutantes em várias doenças.
conservado e diversos domínios transmembrânicos. Os A seguir são apresentados transportadores ABC selecio
membros da superfamília catalisam o transporte depen nados, seus substratos e doenças relacionadas.
Note que as doenças genéticas que envolvem os Borst, P. e Elferink, R. O. Mammalian ABC transporters
transportadores ABC incluem uma variedade de condi in health and disease. Annu. Rev. Biochem. 71:537, 2002.
ções patofisiológicas, afetando vários tecidos diferentes
e vários sistemas bioquímicos.
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CAPÍTULO 12 MEMBRANAS BIOLÓGICAS: ESTRUTURA, RECEPTORES E TRANSPORTE DE SOLUTOS • 521
Scarborough, G. A. Structure and function of the P tribution, metabolism, excre-tion, and toxicity. Drug
type ATPases. Curr. Opinion. Cell Biol. 11:517, 1999. Discovery Today 13:379, 2008.
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nomics 9:105, 2008. Biophys. 476:3, 2008.
Termos Chaves
ácido fosfatídico ligante glicerofosfolipídeos proteínas integrais
âncora de glicosilfosfatidi canal de Na+ glicoesfingolipídeos proteínas periféricas
linositol canal nicotínico de acetil ionóforos receptores
aquaporinas colina (receptor) junções comunicantes toxinas formadoras de
assimetria da membrana cardiolipina (gap junctions) poros
ATPase trocadora de Na+/ ceramida ligação pirofosfato transporte ativo primário
K+ colesterol lipídeos anfipáticos transporte dirigido por
ATPases transportadoras complexos do poro nuclear lipossomos potencial eletroquímico
de Ca2+ transporte eletricamente
cotransportador de sódio/ mecanismo antiporte
aumento e diminuição de glicose silencioso
mecanismo simporte
expressão (up e down transportadores com cas
difusão mediada por pro mecanismo uniporte
regulation) sete para ligação de ATP
teína
calmodulina micelas (ABC)
esfingolipídeos
canais microdomínios transportadores mitocon
esfingomielina
canais de íons voltagem modelo do mosaico driais
fluidez da membrana
-dependentes moléculas sinais transportadores tipos P, V
força sódio motiva eF
canais regulados por plasmalogênio
fosfatidilinositol
B. ligação eletrostática entre fosfolipídeos e gru 3. O deslocamento de Ca2+ através de uma membrana
pos positivos da proteína. envolve todos os seguintes exceto
C. por um grupo hidrofóbico curto em uma ex A. transporte ativo por ATPases transportadoras
tremidade da proteína. de Ca2+.
D. ligação pelo grupo carboxila carregado da ex B. manutenção da [Ca2+] muito mais alta na célu
tremidade carboxila da proteína. la do que no líquido extracelular.
E. ligação não-covalente a fosfatidilinositol da C. fosforilação do transportador.
membrana. D. regulação pela ligação de um complexo Ca2+
-calmodulina ao transportador em eucariotos.
2. Características de um sistema de transporte me
diado incluem E. transportadores diferentes para o transporte
para dentro do lúmen ou para fora, através da
A. ligação não-específica do soluto ao transpor membrana plasmática.
tador.
4. Membranas celulares típicas
B. liberação do transportador da membrana após
o transporte. A. são compostas em cerca de 90% por fosfolipí
deos.
C. uma velocidade de transporte diretamente
proporcional à concentração de soluto. B. têm proteínas tanto integrais como periféri
cas.
522 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
tação diminuída de glicose no trato intestinal não têm brana plasmática de células:
um transportador específico de glicose-galactose. Nes A. envolve uma enzima que é uma ATPase.
sas doenças, os sistemas de transporte são cotranspor
B. é um sistema simporte.
tadores Na+/(aminoácido) ou (glicose).
C. move Na+ para dentro ou para fora da célula.
11. Este tipo de sistema de transporte
D. é um sistema eletricamente neutro.
A. move Na+ e o aminoácido ou a glicose em dire
E. na membrana, hidrolisa ATP independente
ções opostas através da membrana.
mente do movimento de Na+ e K+.
B. usa a energia do gradiente de Na+ (SMF) para
concentrar a outra substância, contra seu gra Problemas
diente.
13. Desenhe uma curva ilustrando a velocidade de mo
C. resulta na hidrólise de ATP durante o trans vimento de um soluto através de uma membrana
porte. em função da concentração do soluto para (a) O2 e
D. é o mesmo codificado pela família de genes de (b) captação de glicose no eritrócito.
resistência a múltiplas drogas (Mdr). 14. Que tipo de transportador é o receptor de acetilco
E. é o único tipo de sistema usado para transpor lina de membrana de músculo esquelético, e como
tar glicose através de membranas. é controlado?
12. Um tipo diferente de sistema de transporte que
mantém os gradientes de Na+ e K+ através da mem
Resposta
1. D Uma única carga eletrostática provavelmente
não seria suficiente. A: um exemplo é a ligação de
anquirina ao canal de ânions nos eritrócitos. B: a carga negativa dos fosfolipídeos está envolvida. C: este seria
inserido na bicamada lipídica. E: um domínio específico liga-se ao grupo de cabeça do inositol 3-fosfato.
2. E Isso é essencial para conseguir que o soluto seja uma descrição de aquagliceroporinas. B: elas não
transportado através da membrana. A: a especifici transportam H3O+. C: elas são proteínas integrais
dade de ligação é uma parte integrante do processo. que atravessam a membrana. E: canais requerem
B: a recuperação do transportador a sua condição controles.
original é uma das características do transporte
7. D Esse é um mecanismo comum para ancorar a pro
mediado. C: apenas em baixas concentrações de
teína à membrana. A: esteroides podem se difundir
soluto; transportadores apresentam cinética de sa
através da membrana plasmática e têm receptores
turação. D: transporte ativo, movimento contra um
intracelulares. B: esta é apenas uma das três classes
gradiente, também é transporte mediado.
principais de receptores da membrana plasmática.
3. B O Ca2+ extracelular é cerca de 10.000 vezes mais C: os receptores podem ser superexpressos (upre
alto do que o intracelular. A: este é um transpor gulated) ou subexpressos (downregulated) para
te ativo primário. C: estes são os transportadores modificar a resposta celular a um ligante. E: existe
tipo P (fosforilação ocorre em um aspartato). D: uma variedade de respostas iniciais à ligação recep
essa ligação diminui o Km para Ca2+ e aumenta o tor-ligante, incluindo a abertura de um canal.
transporte de Ca2+. E: esses são conhecidos como
CERCA e PMCA. 8. E A assimetria é mantida por flipases e flopases
dependentes de ATP. A: difundem-se livremente e
4. B Algumas proteínas ficam mergulhadas na mem podem se agrupar em domínios maiores. B: mover
brana, enquanto outras ficam na superfície. A: isso um grupo de cabeça carregado através do centro
é mais do que o total de lipídeos. C: o colesterol da lipídico da membrana é termodinamicamente des
membrana não é esterificado. D: todo carboidrato favorável. C: a área de maior fluidez é o centro da
da membrana está na forma de glicoproteínas e gli
membrana. D: colesterol é uma molécula rígida que
colipídeos. E: este é um componente minoritário. diminui a fluidez.
5. A Ionóforos transportam por mecanismos passivos 9. B As hélices geralmente formam o canal com ca
mediados. B e C: estes são os dois tipos principais deias laterais hidrofílicas revestindo o canal, e
de ionóforos. D: valinomicina transporta K+ por um as hidrofóbicas voltadas para o centro lipídico da
mecanismo uniporte. Também há sistemas anti
membrana. A: isso descreve um poro; canais são
porte que são eletroneutros. E: valinomicina tem
uma afinidade por K+ 1.000 vezes maior do que por bastante específicos. C: canais voltagem-depen
dentes, como o de Na+, são controlados assim, mas
Na+.
outros, como o canal nicotínico de acetilcolina, são
6. D Elas se organizam em homotetrâmeros, com cada regulados quimicamente. D: grupos de canais de
monômero formando um poro específico. A: esta é membrana funcionam juntos para formar uma jun
524 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
ção comunicante (gap junction). E: substâncias 12. A O transportador de Na+, K+ é a ATPase trocadora
podem se mover em qualquer direção, determina de Na+/K+. C e D: é um sistema antiporte, vetorial
da pelo gradiente de concentração. (Na+ para fora), eletrogênico (3 Na+, 2 K+). E: hi
drólise de ATP não é inútil.
10. A Essas são as características comuns. B: operam
por vários mecanismos, incluindo transportadores 13. Ver Figura 12.32. (a) O2 cruza a membrana por sim
e receptores. C: procariotos e eucariotos os têm. ples difusão; portanto, a velocidade aumenta com
D: CFTR é incomum por apresentar ambas as fun a concentração, como ilustrado pela curva inferior
ções. E: alguns, como os codificados pela família da figura. (b) A captação de glicose pelos eritróci
de genes MDR ou o transportador de colesterol tos é um transporte passivo mediado, de modo que
para fora das células, são glicoproteínas-P, mas ou deve mostrar cinética de saturação, como ilustrado
tros não são. pela curva superior na figura.
11. B Estes são transportadores ativos secundários 14. Este também é chamado canal nicotínico de acetil
Na+-dependentes. A: estes são simportes, movendo colina, e é um exemplo de um canal regulado por
ambas as substâncias na mesma direção. C: o ATP agonista. A acetilcolina interage com o receptor de
é usado para manter o gradiente de Na+, não no acetilcolina na membrana, causando uma mudança
transporte de aminoácidos ou glicose. D: Mdr são conformacional na proteína que abre o canal e per
transportadores ABC. E: glicose também pode ser mite que cátions (mas não ânions) fluam através. A
transportada por um sistema uniporte passivo. hidrólise da acetilcolina, com a liberação dos pro
dutos, fecha o canal.
PARTE III CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 525
FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
13
Fundamentos
P P
P P
da Transdução de Sinal
George R. Dubyak
Professor Titular, Case Western Reserve University School of Medicine
Conceitos Chaves
• A comunicação entre células envolve a sinalização • Receptores de superfície celular iniciam reações
intercelular via moléculas secretadas (hormônios, que mudam rapidamente as concentrações intra
neurotransmissores e outros mediadores) e cas celulares de moléculas pequenas que são segun
catas de sinalização intracelular reguladas por re dos-mensageiros, como nucleotídeos cíclicos, íons
ceptors que se ligam às moléculas secretadas. Os Ca2+ ou metabólitos de lipídeos.
receptores incluem: (1) proteínas de superfície ce
• Dois tipos principais de comutadores moleculares
lular que se ligam a moléculas secretadas hidrofíli
cas ou grandes, e (2) proteínas intracelulares que controlam a transmissão de sinais intracelulares:
(1) o estado de fosforilação de proteínas; e (2) pro
se ligam a moléculas hidrofóbicas secretadas.
526 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
teínas G que, quando ligadas a GTP, alternam entre superfície celular e incluem os receptores senso
estados conformacionais que ligam ou desligam a riais envolvidos na visão, no olfato e no paladar.
atividade de outras proteínas.
• Proteínas Gregulam a atividade de outras proteínas
• Algumas proteína quinases e fosfatases são ativi incluindo enzimas que sintetizam segundos men
dades intrínsecas de proteínas que são receptores sageiros, canais iônicos que controlam o potencial
de superfície celular, os quais ligam fatores de cres de membrana ou o fluxo de íons regulatórios, e ou
cimento; outras são proteínas separadas que são tras proteína quinases.
reguladas por associação transitória com proteínas
da superfície celular ou pela ligação com segundos • Combinações de diferentes reações de sinalização
intercelular e intracelular constituem redes de si
mensageiros pequenos.
nalização que permitem às células de um órgão ou
• Proteína quinases e fosfatases regulam a sinaliza tecido responder a mudanças na função de células
ção intracelular por mudança no estado de fosfo em outros órgãos ou tecidos; essas redes de sina
rilação e função de: (1) enzimas, incluindo outras lização garantem a homeostase num organismo in
quinases e fosfatases; (2) canais iônicos e trans teiro.
portadores de íons; (3) fatores de transcrição; e (4)
• Expressão ou função aberrante de proteínas sina
proteínas estruturais que regulam forma, tamanho
lizadoras, incluindo moléculas secretadas, recep
e mobilidade celulares.
tores, proteínas G e proteína quinases é a causa
• Proteínas G são reguladas por sua interação com subjacente de doenças humanas comuns, incluindo
outras proteínas que aumentam a velocidade de muitos tipos de câncer, insuficiência cardíaca, dia
troca GTP/GDP pelas proteínas G; estas incluem betes e alguns distúrbios de comportamento; cerca
os receptores acoplados a proteína G (GPCR), que de 50% das medicações mais comumente usadas
constituem a maior superfamília de receptores de têm proteínas sinalizadoras como alvos.
13.1 TRANSDUÇÃO DE SINAL (ou seja, transmitir informação de uma para a outra)
de várias formas diferenes (Figura 13.2). Uma requer
ENTRE CÉLULAS que elas estejam em contato físico direto; esse modo é
justácrino ou contato-dependente. Um segundo modo,
A comunicação ou transdução de sinal entre células mais comum, é independente de contato e envolve a
e tecidos consiste de duas fases. A transdução de sinal liberação de moléculas secretadas pela célula emisso
intercelular caracteriza a passagem de um sinal de uma ra. As moléculas secretadas difundem-se pelo espaço
célula para células alvos por meio do ambiente extrace extracelular até as células alvos, onde interagem com
lular. A transdução de sinal intracelular compreende a proteínas receptoras, resultando em uma ativação da
decodificação bioquímica desse sinal quando recebido sinalização intracelular e função alterada. Esse último
pelas células alvos, um processo que envolve a regula modo permite comunicação intercelular entre células se
ção passo a passo de proteínas sinalizadoras intrace paradas por grandes distâncias, por exemplo, células
lulares, o que finalmente resulta em função alterada em diferentes tecidos ou órgãos ou entre células sepa
das proteínas envolvidas no metabolismo, na regulação radas por pequenas distâncias. A sinalização contato
gênica, no transporte de membrana e na mobilidade ce -independente por moléculas secretadas inclui quatro
lular (Figura 13.1). A combinação da sinalização inter modos: endócrino, parácrino, sináptico ou neuronal
celular e intracelular permite às células de um órgão ou e autócrino. Esses modos são diferenciados por: (1) a
tecido responder às mudanças na função de células em distância real entre as células emissora e alvo; e (2) a
outros órgãos ou tecidos, para garantir a homeostase no natureza bioquímica das moléculas secretadas.
organismo inteiro.
Sinalização Justácrina ou Contato
dependente
13.2 TRANSDUÇÃO DE SINAL Na sinalização justácrina, as células se comunicam
INTERCELULAR por um de dois mecanismos. Um é por canais de jun
ções comunicantes (gap junctions) que permitem a
transferência direta de pequenos íons, metabólitos e
Dois Modos Fundamentais de moléculas de segundos mensageiros entre células vizi
Transdução de Sinal Intercelular nhas. A estrutura e a função desses canais são descri
tas em detalhes na p. 497 e nas Figuras 12.41 e 12.42,
A sinalização intercelular descreve os mecanismos p. 504. O segundo mecanismo envolve a interação de
pelos quais uma célula (a célula “emissora”) envia uma uma proteína expressa na superfície da célula emissora
mensagem para mudar a função de outra célula (a célula com uma proteína receptora expressa na superfície da
“alvo” ou receptora). Duas células podem se comunicar célula alvo (Figura 13.2a). Essa interação muda a con
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 527
Membrana Íons
plasmática
Neurotransmissor
Receptor Citosol
Enzima ativada
(d) Receptores acoplados
aacoplad a prroteína
proteína G
Neurotransmissor ou ormônioho
Neurotrannsmisso hormônio FIGURA 13.4 Principais classes
de receptores de superfície
celular para moléculas
sinalizadoras secretadas.
Redesenhado com base em figu
ra de Alberts, B. et al. Essential
Cell Biology, 2. ed. New York:
Ptí
Proteína G Ei
Enzima Ptí
Proteína G ativada
tid Ei
Enzima ativada
tid
Garland Science, 2004.
exemplo, o neurotransmissor acetilcolina interage com diferencialmente em vários tecidos ou células, ou pode
um receptor canaliônico ligante-dependente que causa ser coexpresso no mesmo tecido ou célula. Mais ainda,
contração do músculo esquelético, ou com um recep subtipos de receptores frequentemente ativam respos
tor acoplado a proteína G que causa relaxamento do tas de transdução de sinal opostas. Isso complica muito
músculo cardíaco (Figura 13.5). Todos os neurotrans o desenho e o teste de agonistas e antagonistas sintéti
missores, por exemplo, acetilcolina, serotonina e dopa cos, e é uma importante razão pela qual a maioria das
mina, reconhecem uma dúzia ou mais de subtipos de drogas dirigidas a receptores tem efeitos colaterais pe
receptores. Cada subtipo de receptor pode ser expresso rigosos quando usada inadequadamente.
Receptor canal
iônico acetilcolina
dependente
FIGURA 13.5
Características
básicas de subtipos
Acetilcolina Receptor para Acetilcolina de receptores como
acetilcolina
receptores proteicos
acoplado a
proteína G funcionalmente
distintos que ligam
Contração aumentada uma molécula
sinalizadora
Contração diminuída extracelular comum.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 531
NH2 O
N N N
N 1 2–
CH3(CH2)XC OCH2 PO3
OPO32–
N N N N NH2 O 2 O 6 5
O
Inositol
1,4,5-trisfosfato
Término da Transdução de Sinal por ser catalisado por enzimas específicas (por exemplo, as
acetilcolinesterases) presentes na superfície das célu
Receptores de Superfície Celular las alvos. Certas neurotoxinas atuam como inibidores
da quebra de neurotransmissores.
As células expressam múltiplos mecanismos que
permitem a elas terminar ou atenuar suas respostas a As células também podem terminar a transdução
vários hormônios, neurotransmissores ou mediadores de sinal por regulação da disponibilidade funcional de
locais. Esses mecanismos permitem que as células re receptores, um processo conhecido como adaptação
tornem ao seu estado basal, pré-estímulo, e impedem ou dessensibilização. Se exposta repetidamente a um
a superativação ou ativação inadequada das funções agonista específico, uma célula adapta sua sensibili
controladas por um dado receptor (Figura 13.10). Eles dade àquele agonista. Ao longo do tempo, uma célula
incluem: (1) redução da disponibilidade de agonista na tornar-se-á cada vez menos sensível a uma concentra
vizinhança extracelular de uma célula alvo, (2) inter ção de agonista que normalmente causa máxima ativa
nalização e degradação do complexo agonista-receptor ção. Essa dessensibilização resulta de vários processos.
ligado, e (3) modificação rápida do receptor (por exem Primeiro, muitos receptores são rapidamente interna
plo, por fosforilação), de modo que se torne inativo ou lizados quando ligados a seus ligantes agonistas. Esses
dessensibilizado. complexos receptor–ligante são incorporados em en
dossomos, e a subsequente acidificação dos endosso
O mecanismo mais simples para terminar a trans mos causa dissociação dos complexos ligante-receptor.
dução de sinal é reduzir a concentração extracelular do Alguns endossomos contendo receptor sem ligante são
agonista secretado. A eficiência e a rapidez desse meca encaminhados de volta à membrana plasmática, onde
nismo são determinadas por: (1) a estabilidade do agonis os receptores podem ser reincorporados na superfície
ta secretado, (2) o tamanho ou a capacidade do comparti da membrana. Outros endossomos são encaminhados
mento extracelular no qual o agonista é secretado, e (3) aos lisossomos, onde ambos, ligante e receptor protei
a proximidade entre as células emissoras e as células al co, são degradados. Assim, ao longo do tempo, haverá
vos. É difícil terminar a sinalização endócrina por redu menos receptores na superfície da membrana. Segundo,
ção da disponibilidade do agonista rapidamente porque um mecanismo muito mais rápido de dessensibilização
os hormônios são secretados em um ambiente extrace envolve modificação estrutural do receptor, o que re
lular de grande capacidade. Diferentemente, redução sulta em inativação funcional. Tais receptores inativos
rápida na disponibilidade de agonista desempenha um permanecem na superfície da membrana e podem até
papel significativo no término da sinalização sináptica; ligar agonista. Entretanto, eles não podem disparar as
neurotransmissores são secretados localmente em um etapas intracelulares da transdução de sinal. Em mui
espaço de capacidade muito baixa, a fenda sináptica, tos casos, inativação funcional de um receptor deve-se
e difundem rapidamente para longe. Algumas células à fosforilação da própria proteína do receptor. Assim,
também reduzem ativamente a concentração de agonis enquanto o receptor ocupado por agonista estimula
ta próximo por reacumulação do agonista liberado (por uma cascata de eventos de transdução de sinal envol
exemplo, recaptação sináptica de neurotransmissores vendo ativação de proteína quinases, algumas dessas
como serotonina e dopamina) ou por metabolização do proteína quinases fosforilam o próprio receptor; isso
agonista extracelular. O metabolismo extracelular pode então inativa aquele receptor. Este é um tipo clássico
de regulação por retroalimentação ne
Receptor Receptor Proteína
gativa. Dependendo do receptor, essa
ativo dessensibilizado de receptor Agonista inativação funcional pode ser revertida
rapidamente ou lentamente.
Desacoplamento
Cascata de
sinalização da cascata de
sinalização
Endossomo
Lisossomo
13.5 RECEPTORES CANAIS Cl– for a espécie permeada, a célula se tornará hiper
polarizada (Figura 13.12). Receptores cátion-seletivos
IÔNICOS LIGANTE são controlados pelos neurotransmissores excitatórios
(acetilcolina, glutamato, serotonina e ATP), enquanto
-DEPENDENTES receptores ânion-seletivos são controlados pelos neu
A sinalização muito rápida (milissegundos) é neces rotransmissores inibitórios (ácido g-aminobutírico
sária nas sinapses nervo–nervo ou nervo–músculo. As [GABA] e glicina). A ativação desses canais iônicos neu
sim, receptores de neurotransmissores precisam mudar rotransmissor-dependentes muda o potencial da mem
as respostas celulares via um número mínimo de etapas brana plasmática da célula, resultando na regulação
enzimáticas, porque algumas reações bioquímicas são secundária (ativação ou inibição) de muitos tipos de ca
relativamente lentas (segundos– minutos). Muitos neuro nais voltagem-dependentes, incluindo canais voltagem
transmissores (mas não todos) ligam-se a receptores que -dependentes para Ca2+. Mudanças na atividade desses
são canais iônicos ligante-dependentes (ver Figura 13.4a, canais alterará a concentração citosólica de Ca2+, um
p. 530). Os ligantes extracelulares para esses receptores segundo mensageiro chave. Por sua vez, o Ca2+ citosó
são invariavelmente moléculas orgânicas muito pequenas lico aumentado determina respostas agudas em células
como aminoácidos, aminas substituídas ou nucleotídeos. alvos, como a liberação exocitótica de vesículas conten
Estes são acondicionados em vesículas e liberados, via rá do neurotransmissor de neurônios ou a contração de
pida exocitose, nas sinapses. Como esses ligantes são tão células musculares, ou respostas de longo prazo, como
pequenos, eles se difundem rapidamente (Figura 13.11). ativação da expressão gênica sensível a Ca2+. A maioria
Os ligantes ligam-se a seus receptores com baixa afinida dos neurotransmissores que ativa receptores canais iô
de (KD micromolar a milimolar). Isso permite rápida dis nicos ligante-dependentes também pode interagir com
sociação do complexo ligante-receptor após redução da outros subtipos de receptores, que são receptores aco
concentração extracelular do neurotransmissor. plados a proteína G. Assim, os receptores de acetilcoli
na são receptores nicotínicos (porque também ligam
A ligação do neurotransmissor aos sítios extrace a droga nicotina), que são canais ligante-dependentes,
lulares de ligação do ligante de tais receptores dispa ou receptores muscarínicos (porque também ligam a
ra uma mudança quase instantânea na conformação droga muscarina), que são acoplados a proteína G.
do receptor, que permite que íons permeiem através
do complexo proteico do receptor. O fluxo desses íons
Na+
muda rapidamente o potencial de membrana da célula. Neurotransmissor
excitatório
+ + + + + +
Terminação nervosa – – – – – –
Neurotransmissor Cl–
inibitório
+ + + + + + + + + +
Neurotransmissoraumentado
Neurotransmissor
na sinapse ligado a receptor iônico
ligante-dependente
– – – – – – – – – –
Mudança no potencial de
Influxo de Cl– mantém membrana polarizada, dimi
membrana ou concentração
nuindo a probabilidade de gerar um potencial de ação
Íons iônica intracelular
Fator de crescimento
extracelular FIGURA 13.14
Membrana
Mudanças
plasmática conformacionais e
Espaço funcionais em um
extracelular receptor tirosina
quinase durante
a ativação por
P P P P Citoplasma
ligação de fator de
Domínio
tirosina Proteínas crescimento.
quinase Tirosina intracelulares
de
Redesenhado com base
fosforilada P P P P fosforiladas
ligadasatirosinas
sinalização em figura de Alberts,
B. et al. Essential Cell
Receptor
INATIVO
quinase
tirosina Atividade de
estimulada
quinase Receptor tirosina Biology, 2. ed. New
quinase York: Garland Science,
ATIVO 2004.
538 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.1
Família de Receptores Tirosina Quinases ErbB/HER Como Alvos para Quimioterapia do Câncer
Receptores pertencentes à família ErbB/HER estão senvolvimento de várias terapias por drogas que têm
ligados a muitos tipos diferentes de câncer humano. A esses receptores como alvos. Um grupo consiste de
superexpressão do gene ErbB1 humano, que codifica o anticorpos monoclonais que se ligam a domínios extra
receptor de EGF (HER1), é comum em câncer de bexiga, celulares funcionalmente significativos de diferentes
mama, rim, próstata e pulmão de célula não-pequena. subtipos de HER. Trastuzumab (Herceptin® da Genen
Um gene ErbB1 mutante produz um receptor que não tech) é um anticorpo anti-HER2 que tem sido usado no
tem o domínio extracelular de ligação a EGF, e este é tratamento dos cânceres de mama caracterizados pela
muito expresso nos glioblastomas, que correspondem a superexpressão de ErbB2/HER2. Seu mecanismo de
25% dos tumores de cérebro humano adulto. ErbB3 e ação envolve o recrutamento de fatores imunes que ma
ErbB4 humanos codificam os receptores HER3 e HER4, tam as células tumorais e também suprimem a dimeri
que se ligam a proteínas extracelulares da família NRG zação constitutiva de HER2. Cetuximab (IMC-C225 ou
(neurregulina/herregulina/neu) de fatores de cresci Erbitux® da ImClone), um anticorpo contra o domínio
mento e diferenciação. ErbB3 está frequentemente su de ligação de EGF da proteína ErbB1/HER1, impede a
perexpresso em câncer de mama, cólon, próstata e es ativação induzida por ligante do receptor. Ele está sen
tômago, enquanto superexpressão de ErbB4 ocorre em do testado em pacientes com câncer de célula escamosa
tumores de células da granulosa ovariana. ErbB2 codifi de cabeça e pescoço ou de câncer de pulmão de célula
ca a proteína HER2, que não liga nenhum fator de cres não-pequena. Uma variedade de moléculas pequenas
cimento extracelular conhecido. Entretanto, HER2 pode foi projetada para atingir os domínios intracelulares ti
formar homodímeros ou heterodímeros com receptores rosina quinase das proteínas ErbB/HER. Essas drogas
HER1, HER3 ou HER4 ocupados por fator de crescimen são inibidores competitivos dos sítios de ligação de ATP
to. Como a dimerização ativa a atividade intrínseca de das quinases, particularmente do subtipo ErbB1/HER1.
tirosina quinase dessa proteína, mesmo modesta supe Estes estão sendo sendo testados em pacientes que so
rexpressão de HER2 pode alterar a regulação normal frem de cânceres de pulmão de célula não-pequena que
do crescimento celular. É significativo que a expressão não responderam a outras quimioterapias.
do gene ErbB2 esteja amplificada em até duas ordens
de grandeza em 20–30% dos indivíduos com câncer de Roskowski, R., Jr. The ErbB/HER receptor protein-tyro
mama invasivo. A expressão aberrante dos genes ErbB/ sine kinases and câncer. Biochem. Biophys. Res. Commun.
HER em múltiplos cânceres humanos tem levado ao de 319:1, 2004.
tantes funções sinalizadoras no desenvolvimento dos contra decapentaplégico” (mothers against decapen
tecidos nos estágios fetal e neonatal e na manutenção taplegic) ou MAD, e uma proteína de C. elegans cha
de um fenótipo de tecido diferenciado em organismos mada SMA; o nome é uma combinação das duas). Em
adultos. Como no caso dos receptores tirosina quina seu estado defosforilado, SMADs adotam uma confor
ses, mutações nos receptores de TGF-b e em outros mação dobrada, que impede sua interação com outras
receptores serina/treonina quinases contribuem para a SMADs e também mantém sua localização como pro
iniciação ou a progressão de certos cânceres. teínas citosólicas. Entretanto, a fosforilação pelos re
ceptores quinases ativados permite que certos subtipos
Da mesma forma, esses receptores compõem pro
de SMAD se desdobrem e formem complexos diméricos
teínas de membrana plasmática com uma extremidade com outros subtipos de SMAD. Essa dimerização tam
amino-terminal extracelular, uma única região trans bém expõe sequências de localização nuclear (NLS)
membrânica, e uma extremidade carboxi-terminal in nas SMADs, o que resulta em deslocamento do comple
tracelular, que contém o domínio catalítico. Também xo citosólico para o núcleo, onde os dímeros de SMAD
formam complexos homodiméricos quando seus ago interagem com outras proteínas regulatórias de genes
nistas ligam-se aos domínios extracelulares vizinhos para modular a transcrição dos genes envolvidos no de
(Figura 13.18). A mudança conformacional decorrente senvolvimento de órgãos ou diferenciação de tecidos.
resulta em uma subunidade catalítica fosforilando sua
subunidade parceira em resíduos de serina/treonina.
Essa fosforilação inicial permite que a subunidade
parceira recrute e fosforile proteínas citoplasmáticas
chamadas SMADs, que compreendem uma família de
fatores regulatórios de genes. (Proteínas SMAD são ho
mólogas a uma proteína de Drosophila chamada “mães
540 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Membrana plasmática
13.7 RECEPTORES DE
MAP-quinase-quinase-quinase
CITOCINAS
GTP
As citocinas representam outro grupo de polipep
Proteína ATPADP
Ras ativa tídeos secretados que agem como reguladores autócri
P nos/parácrinos de crescimento e diferenciação. Muitas
citocinas controlam o crescimento e a diferenciação de
MAP-quinase-quinase
células hematopoiéticas (formadoras de sangue), in
ATP
cluindo os vários tipos de células brancas ou leucóci
tos. Por essa razão, algumas citocinas são conhecidas
P P ADP
como interleucinas, porque regulam a transferência de
informação entre diferentes tipos de leucócitos durante
MAP-quinase
os vários estágios das respostas imune e inflamatória
ATP
(CorrelaçãoCorrelação ClínicaClínica 13.2).13.2).). OutrasOutrasOutras citocinascitocinascitocinas sãosãosão chama-chama-chama
das interferonspor sua habilidade de interferir com as
ADP
mudanças de função induzidas em células e tecidos in
fectados por patógenos virais ou bacterianos. Como os
fatores de crescimento que se ligam a receptores cata
P de
citosólicas
Proteínas
membrana ou P Proteína
regulatória
de genes
nuclear líticos, as citocinas ligam-se a seus receptores corres
pondentes com alta afinidade e desencadeiam a rápida
ativação da cascatas de proteína quinases e o acúmulo
de proteínas
Mudança
ou de
rápida
membrana
citosólicas
de atividade naMudanças
expressão
de proteínas
conduzem sinalizadoras
a mudanças fosforiladas
de longa duraçãoque, no final,
na expressão
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.2
núcleo e associação com outras proteínas regu FIGURA 13.19 Cascatas de sinalização intracelular iniciadas por
latórias de genes. receptor prototípico não-catalítico de citocina.
542 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Outros receptores de citocinas recrutam proteínas te-dependentes. Muitas importantes proteínas sensiti
adaptadoras, que iniciam a montagem de complexos vas são receptores acoplados a proteína G, incluindo a
proteína quinases, que culminam no deslocamento ci rodopsina (ver p. 980 e Figura 23.21) e os muitos recep
tosol-para-núcleo do complexo NFκb (nuclear factor tores para percepção de gosto e cheiro, cujos ligantes
of activated B-cells, fator nuclear de células B ativa verdadeiros são muito pouco conhecidos. Muitos GPCR
das), um importante fator de transcrição para regula estão envolvidos na regulação aguda de respostas fisio
ção da expressão de genes envolvidos em múltiplos lógicas críticas como contratilidade cardíaca, metabo
tipos de respostas imune e inflamatória. Muitos recep lismo e comportamento complexo. Esses receptores ou
tores de citocinas também desencadeiam a ativação de suas vias de sinalização a jusante são os alvos para mui
cascatas de MAP quinases. tas das drogas mais usadas no tratamento de doenças
humanas (Correlações Clínicas 13.3 e 13.5).
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.3
Receptores de Quimiocinas Acoplados a Proteína G como Alvos para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
Entre os cerca de 1.000 genes humanos que codifi tanto, diferentes cepas de HIV infectavam preferencial
cam receptores acoplados a proteína G está o subgrupo mente linfócitos T (vírus T-tróficos) ou monócitos-ma
de receptores de quimiocinas, que são muito expressos crófagos (vírus M-tróficos), e análises epidemiológicas
em leucócitos (células brancas do sangue). Quimioci revelavam indivíduos que eram muito resistentes à
nas compõem aproximadamente 50 fatores polipeptí infecção por cepas de HIV M-trópico. Essa resistência
dicos que são secretados por múltiplos tipos celulares deve-se a mutações no gene que codifica CCR5, um re
(por exemplo, células epiteliais e células estromais) ceptor de quimiocina que é muito expresso em monóci
de vários tecidos. São ligantes agonistas para 19 tipos tos-macrófagos; essas mutações resultam em expressão
de receptores de quimiocinas, que são diferencial baixa ou nula da proteína CCR5 de superfície celular.
mente expressos nas várias classes de leucócitos (por Assim, cepas M-trópicas de HIV requerem a presença
exemplo, monócitos, linfócitos T, linfócitos B, células de ambos CCR5 e CD4, como correceptores, para infec
natural killer), que executam respostas imune e in tar eficientemente monócitos-macrófagos.
flamatória críticas em tecidos invadidos por patógenos
invasores (protozoários, bactérias ou vírus). Quimioci CXCR4, um receptor de quimiocina que é muito
nas funcionam como agentes: (1) quimiotáticos que re expresso em linfócitos T, funciona como um correcep
crutam leucócitos para a localização tecidual infectada; tor com CD4 para ligação de gp120 de cepas T-tróficas
(2) reguladores de vias de sinalização dependentes de de HIV. Significativamente, a capacidade de CCR5 e
proteína G envolvidas na morte rápida ou no sequestro CXCR4 se ligarem a gp120 não requer a ativação de pro
de patógenos, e (3) indutores da expressão gênica que teínas da família Gi, à qual esses receptores estão nor
contribuem para imunidade adaptativa de longo prazo malmente acoplados. Embora a ativação de proteína G
a patógenos. Não é surpreendente que o bloqueio ou a por CCR5 e CXCR4 não seja obrigatória para a entrada
inativação da sinalização por receptores de quimioci de HIV, a ligação de gp120 a esses receptores induz a
nas possa contribuir para uma ampla faixa de doenças ativação funcional das cascatas de sinalização a jusante
infecciosas A descoberta de que o vírus da imunodefici da proteína G. Parece que a ativação dessas vias de si
ência humana (HIV) utiliza GPCR endógeno de quimio nalização nas células infectadas por HIV pode facilitar
cinas para infectar e matar leucócitos efetores imune é a quimioatração de leucócitos não-infectados e, assim,
de particular relevância. ajudar na propagação e disseminação do vírus no sujei
to infectado. A identificação de CCR5 e CXCR4 como
A entrada de HIV em leucócitos requer a interação correceptores de HIV despertou grande interesse no
direta da glicoproteína do envelope viral (gp120) com desenvolvimento de ligantes antagonistas que atenua
proteínas da superfície extracelular da célula alvo do riam seletivamente a ligação de gp120 e retardariam a
hospedeiro. A proteína de membrana CD4, um receptor colonização e a disseminação desse patógeno devasta
imune crítico de linfócitos T helper, é um alvo impor dor em sujeitos infectados.
tante para a ligação de gp120. Isso explica porque as
células T helper são drasticamente reduzidas na maio Sodhi, A., Montaner, S. e Gutkind, J. S. Viral hijacking of
ria dos pacientes infectados por HIV que desenvolvem G protein-coupled receptor signaling networks. Nature Rev.
AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). Entre Mol. Cell Biol. 5:998, 2004.
A estrutura terciária de GPCR em membranas biológi rearranjos adequados dos domínios que atravessam a
cas envolve um agrupamento de sete hélices transmem membrana ou a exposição dos sítios de reconhecimento
brânicas que controla as conformações e aposição das da proteína G nas alças e cauda intracelulares.
alças intracelulares e da extremidade carboxi-terminal.
Ligantes grandes, como hormônios polipeptídicos, ligam A interação transitória entre o receptor ocupado
-se às alças extracelulares, enquanto ligantes pequenos, pelo agonista e sua proteína G afeta a função de ambos.
As mudanças funcionais da proteína G são descritas na
como acetilcolina e epinefrina, ligam-se ao bolsão for
mado pelos segmentos que atravessam a membrana. Em próxima seção. A principal mudança no receptor após
ambos os casos, a ligação causa um rearranjo das hélices sua ligação com uma proteína G é que sua afinidade
que atravessam a membrana e muda as conformações pelo agonista é significativamente reduzida, e isso ge
das alças intracelulares e do carboxi-terminal, expondo ralmente leva à dissociação do agonista. O receptor sem
sítios de reconhecimento para proteínas G específicas. agonista assume sua conformação inativa com perda de
Assim, um GPCR ocupado por um agonista pode formar sua capacidade de interagir com a proteína G. A pro
transitoriamente um complexo com uma proteína G. Um teína G dissocia do complexo receptor-proteína G e o
antagonista pode se ligar ao receptor, mas não causa os receptor retorna ao seu estado inativo, sem ligante.
544 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Proteínas G Heterotriméricas a13 da família G12/13 estimulam GEFs para uma varieda
de de GTPases pequenas da família Rho envolvidas em
Proteínas G que são funcionalmente acopladas com migração celular, regulação da forma celular e divisão
GPCR consistem de complexos heterotriméricos de su celular (Correlação Clínica 13.4).
bunidades a, b e g (Figura 13.21). A subunidade a, a
As subunidades b (∼35 kDa) e g (10 kDa) são pro
maior, é uma proteína relativamente hidrofílica, na faixa
de 39-46 kDa. Essa subunidade contém o sítio de ligação teínas muito hidrofóbicas e, em condições não-desna
para nucleotídeo de guanina, a atividade de GTPase que turantes, são isoladas como um complexo dimérico.
é crítica para a regulação correta da interação receptor– Complexos bg purificados, isolados de uma proteína G,
proteína G, e os domínios que interagem com as várias podem frequentemente ser recombinados com a subu
proteínas efetoras. Vinte subunidades a distintas são nidade a específica, purificada, de uma segunda pro
agrupadas em várias subfamílias com base em caracte teína G, para produzir um heterotrímero, que é fun
rísticas estruturais e tipo de acoplamento com proteínas cionalmente indistinguível do heterotrímero nativo da
efetoras específicas e cascatas de segundos mensageiros. segunda proteína G. O complexo bg é necessário para
As subunidades as (subunidades a estimulatórias) da a interação da subunidade a com receptores. Além dis
família Gs estimulam a adenilato ciclase e resultam em so, os complexos bg de algumas proteínas G ativadas
um aumento no cAMP intracelular (Correlação Clínica também interagem diretamente com, e ativam, uma va
a
13.4). Diferentemente, as subunidades ai (subunidades riedade de proteínas efetoras a jusante. Por exemplo,
inibitórias) da família Gi inibem a adenilato ciclase e dímeros
certos canais
bg derivados
de K+ do de
coração,
Gi controlam a abertura de
reduzem os níveis celulares de cAMP. As subunidades induzindo assim hiper
ao e az, que também pertencem à família Gi, preferen polarização do miócito cardíaco e uma diminuição nos
cialmente modulam canais iônicos voltagem-dependen batimentos cardíacos.
tes em tecidos excitáveis. A família Gi também inclui as
subunidades at (t de transducina), as proteínas G que
fazem a transdução da percepção de luz pelo GPCR tipo Ciclo da Proteína G
rodopsina, que estimulam a cGMP fosfodiesterase e ra Em seu estado basal, o complexo heterotrimérico
inclui as subunidades
pidamente diminuem a oqcGMP
, a11, aintracelular.
15, a16, que são
A família Gq
acopladas abg tem GDP no sítio de ligação de nucleotídeo da su
bunidade a (Figura 13.22). A velocidade de liberação
com a fosfolipase C e desencadeiam aumento de três de GDP em presença de receptores não-ocupados (con
(diacilglicerol)
segundos mensageiros:
e Ca2+. Finalmente,
IP3 (inositol trisfosfato), DAG dições basais) é baixa, mas não zero. A atividade de
as subunidades a12 e
GTPase intrínseca da subunidade a converte GTP em
GDP e Pi. Enquanto Pi é rapidamente liberado, o GDP
GPCR
permanece ligado por um tempo muito mais longo. Essa
N
liberação sequencial torna a reação da GTPase irrever
sível. A a-GDP apresenta alta afinidade pelo dímero bg, e
o heterotrímero é, portanto, regenerado. Consequente
mente, no estado estacionário não-estimulado, apenas
γγ uma pequena fração das moléculas de proteína G está
na conformação ativa (GTP ligado). Na interação de um
C α complexo heterotrimérico com GPCR ocupado por ago
β β
nista, a velocidade de liberação de GDP é aumentada
GDP em mais de uma ordem de grandeza. Isso permite que
GTP, que é muito mais abundante do que GDP no cito
sol, ligue-se à subunidade a e desencadeie a dissocia
ção da a-GTP do dímero bg. As subunidades a liberadas
αi αs αq αl2 e os dímeros bgentão interagem com enzimas efetoras a
jusante, para mudar os níveis de segundo mensageiro. A
ativação da proteínas G por GPCR ocupado por agonis
GTP GTP GTP GTP
ta é mais catalítica do que estequiométrica. Assim, de
pendendo do tipo de GPCR, uma molécula de receptor
diminuem
Canais
Fosfolipases
iônicos
cAMP Aumento Fosfolipase C Rho GEFs ocupado por agonista pode interagir sequencialmente
de cAMP
com 10–100 moléculas de proteína G trimérica; isso
Fosfodiesterases resulta em grande amplificação do sinal nos estágios
Ativação mais iniciais da ativação de GPCR. Embora a ativida
de GTPases da de intrínseca de GTPase das subunidades a liberadas
família Rho
garanta que a dissociação do complexo heterotrimérico
FIGURA 13.21 Principais subclasses de proteínas G abgserá transitória, a velocidade geral de repetição do
heterotriméricas que são ativadas por receptores com 7 ciclo será aumentada enquanto houver GPCR ligado a
domínios transmembrânicos acoplados a proteína G. agonista na membrana plasmática da célula.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 545
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.4
A glândula pituitária desempenha um papel central desempenham papéis críticos na ligação e na hidróli
na regulação do estado endócrino de mamíferos por se do GTP. Tais mutações diminuem muito a ativida
secretar uma variedade de hormônios que regulam a de da GTPase e, assim, causam a ativação constitutiva
função de outros órgãos, incluindo fígado, tireoide, de Gs e adenilato ciclase. O aumento na atividade da
adrenal e glândulas reprodutoras. A liberação desses adenilato ciclase aumenta muito a geração de cAMP, a
hormônios é regulada por neurotransmissores, neu ativação da proteína quinase A (PKA), a fosforilação
ropeptídeos e outros hormônios liberados pela região PKA-dependente de CREB e de outras proteínas regu
hipotalâmica do cérebro. Por exemplo, o hipotálamo e latórias de genes cAMP-sensíveis e, consequentemente,
as células da pituitária conhecidas como somatotropos a expressão de genes indutíveis por cAMP, como o do
atuam de forma coordenada para controlar a liberação GH. Mutações semelhantes de gsp foram encontradas
de Hormônio de Crescimento (GH, growth hormone), em tumores corticotrópicos da pituitária, que hiperse
que regula o metabolismo e o crescimento celular em cretam ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), com
muitos tecidos periféricos. O hormônio liberador do consequente superprodução de hormônios glucocorti
hormônio de crescimento (GHRH, growth hormone coides pelo córtex adrenal.
releasing hormone), derivado do hipotálamo, é um
Os dois aminoácidos alterados nos mutantes gsp de
agonista de um receptor acoplado a proteína Gs que
é expresso por células somatotrópicas da pituitária. ocorrência natural foram identificados por estudos bio
cAMP aumentado em resposta a esse receptor ativa químicos in vitro como significativos para a regulação
a transcrição dependente de CREB do gene GH e re da atividade de GTPase. A arginina-201, que é substituí
sulta em síntese aumentada e liberação de GH. Certos da por cisteína no mutante gsp mais comum, é o sítio
tumores da pituitária causam hipersecreção de GH, aceptor para a ADP-ribosilação covalente induzida pela
o que, em adultos, causa acromegalia, uma condição toxina da cólera. A glutamina-227, que é substituída por
alanina ou outros aminoácidos em algumas mutações
caracterizada por padrões de crescimento anormal
em muitos tecidos. Tais tumores são geralmente não gsp, é uma glutamina conservada localizada no domí
-metastáticos, e acredita-se que surjam da replicação nio comutador-II, que passa por movimentos confor
de células únicas, transformadas, da pituitária, que macionais grandes, dependendo se GTP ou GDP está
adquiriram uma vantagem de crescimento ou sobre ligado à subunidade a. A substituição desse resíduo de
vivência em decorrência de mutações espontâneas em glutamina em todas as subunidades a conhecidas causa
genes regulatórios chaves. atividade de GTPase diminuída, e é amplamente usada
para gerar versões ativas das várias proteínas G em es
Cerca de 30–40% dos tumores de pituitárias que tudos de animais transgênicos.
secretam GH no homem expressam uma versão mu
tada do gene GNAS1, que codifica a subunidade as da Lania, A., Mantovani, G. e Spada, A. Genetics of pituita
proteína Gs. O gene mutado, chamado gsp, resulta de ry tumors: Focus on G protein mutatíons. Exp. Biol. Med.
substituições de um único aminoácido, em resíduos que 228:1004, 2003.
Hormônio ou Hormônio ou
GPCR neurotransmissor neurotransmissor ligado
P P
P P
P P
Ligação Ativação de
proteína quinases FIGURA 13.23 Fosforilação
(GRK, PKA, PKC) do receptor como um
importante mecanismo para
Estado basal: Estado ativado: Estado dessensibilizado:
GPCR não-ocupado, GPCR ocupado por GPCR fosforilado é dessensibilização/inativação
nível baixo de ligante, nível alto de desacoplado da de receptores acoplados a
segundo mensageiro segundo mensageiro produção de segundo mensageiro proteína G.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 547
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.5
Na insuficiência cardíaca congestiva, o coração é in sangue para a circulação sistêmica. Entretanto, isso
capaz de bombear o sangue em quantidades suficientes significa que o coração trabalhará mais (maior débito
para a perfusão adequada dos tecidos periféricos. A in energético) e precisará de maior quantidade de oxigê
suficiência cardíaca resulta de adaptações dos miócitos nio e metabólitos (ácidos graxos e glicose) para gerar
cardíacos para a manutenção do débito cardíaco após essa energia.
lesão do miocárdio ou carga hemodinâmica excessiva,
como pressão alta do sangue. Essas adaptações incluem Em decorrência da função reduzida do miocárdio
hipertrofia do miocárdio e ativação do sistema simpáti como consequência da doença crônica, a insuficiência
co, especialmente a liberação de norepinefrina e epine cardíaca desencadeia uma secreção aumentada de epi
frina de nervos adrenérgicos cardíacos, o que aumenta nefrina/norepinefrina para fornecer uma hiperativação
a contratilidade do miocárdio. Esses mecanismos adap compensatória das respostas sinalizadoras inotrópicas
tativos, no final, acabam sendo inadequados e resultam descritas. Embora isso aumente inicialmente a ativação
em doença progressiva do desempenho cardíaco. dos receptores b1 e b2, também induz sua dessensibi
lização crônica e down-regulation. Mais ainda, esses
Esta mudança de resposta adaptativa para mal receptores b ativam progressivamente outras cascatas
-adaptativa é particularmente evidente em alterações de sinalização. Por exemplo, receptores b1 estimulam
no sistema de sinalização do receptor b-adrenérgico. cascatas que são predominantemente mal-adaptativas,
Em miócitos cardíacos normais, a epinefrina ativa os como expressão diminuída de genes de sobrevivência e
receptores b1- e b2-adrenérgicos, acoplados a proteína ativação aumentada de sinais pró-apoptóticos. Duran
G, que estimulam a adenilato ciclase, aumentam o acú te o desenvolvimento da insuficiência cardíaca, ocorre
mulo de cAMP e ativam a proteína quinase A (PKA). uma diminuição na razão entre receptores dos subtipos
PKA fosforila canais de Ca2+ tipo L, sensíveis a di-hi b1 e b2. A insuficiência cardíaca também aumenta a ati
dropiridina, e fosfolambam, um regulador alostérico da vidade de GRK2/bAR-quinase que fosforila os recepto
ATPase deslocadora de Ca2+ do retículo sarcoplasmáti res e os desacopla da ativação nas vias de sinalização
co (SR) cardíaco. A fosforilação dos primeiros aumenta dependentes de proteína G.
o tempo que esses canais permanecem abertos em res
Embora possa parecer paradoxal, o tratamento
posta à despolarização, e resulta em influxo aumentado
da insuficiência cardíaca é baseado em antagonistas
de Ca2+. Fosfolambam não-fosforilado reprime a função
da bomba Ca2+-ATPase do SR. Quando fosfolambam é b-adrenérgicos (b-bloqueadores), mais comumente me
fosforilado pela PKA, esse efeito inibitório é relaxado e toprolol ou bisoprolol, que são muito seletivos para os
resulta em uma velocidade e intensidade aumentadas receptores b1. A eficiência da terapia com b-bloqueado
de bombeamento de Ca2+ pelo SR. A ação combinada res parece envolver a repressão das vias de sinalização
do influxo de Ca2+ aumentado na membrana plasmáti mal-adaptativas ativadas pelos receptores b1. Estudos
ca (pelos canais tipo L) e o sequestro aumentado de clínicos recentes demonstraram a utilidade de carve
Ca2+ no SR resulta em maior liberação de Ca2+ induzida dilol, que bloqueia não-seletivamente ambos os recep
por Ca2+ do SR durante os potenciais de ação cardíacos tores b1- e b2-adrenérgicos, mas também antagoniza os
subsequentes. Assim, durante o estímulo adrenérgico, receptores a1-adrenérgicos que são muito expressos
mais Ca2+ é liberado durante cada potencial de ação, em células musculares lisas vasculares. Esses recepto
resultando em uma contração mais forte (efeito ino res ativam a cascata Gq/fosfolipase C e a liberação das
trópico positivo). Contudo, o Ca2+ liberado é também reservas de Ca2+ sensíveis a IP3 causando contração do
mais rapidamente sequestrado pelo SR, resultando em músculo liso, com consequente constrição dos vasos
um ciclo mais rápido de contração/relaxamento (efeito sanguíneos. O antagonismo dessas últimas respostas
cronotrópico positivo). Assim, em nível do órgão intei diminui a resistência ao fluxo sanguíneo e a quantidade
ro, a estimulação b-adrenérgica do coração resulta em de trabalho necessário para o coração realizar débito
contrações mais fortes e mais sangue bombeado por cardíaco efetivo.
contração do coração (stroke volume ou fração de eje
ção) e em um ciclo contração/relaxamento mais rápido Lohse, M. J., Englehardt, S. e Eschenhagen, T. What is
(frequência cardíaca). O débito cardíaco (fração de eje the role of b-adrenergic signaling in heart failure? Circ. Res.
ção x frequência cardíaca) é aumentado, enviando mais 93:896, 2003.
reguladas pelas subunidades as de proteínas Gs. Entre adenilato ciclase e inibir outras. As subunidades ai das
tanto, o complexo de subunidades bgde várias proteínas proteínas Gi podem inibir diretamente certos subtipos
G (incluindo Gs) pode estimular algumas isoformas de de adenilato ciclase (Figura 13.25).
548 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
N N
CORRELAÇÃO CLÍNICA13.6
Sinalização por Óxido Nítrico/cGMP Como Alvos Terapêuticos em Doenças Cardíacas e Vasculares
As células endoteliais que revestem as superfícies glicerina provavelmente alivia a angina por diminuir a
internas de todos os vasos sanguíneos são importantes carga de trabalho cardíaco e a necessidade de oxigê
fontes do óxido nítrico usado para o relaxamento das nio do miocárdio via efeitos vasoditaladores sobre as
células musculares lisas vasculares. Nesses miócitos, a veias que retornam o sangue para o coração (pré-car
geração de cGMP pela guanilato ciclase solúvel é esti ga), e por diminuição da pressão sanguínea periférica
mulada pelo óxido nítrico gerado por células endoteliais (pós-carga), por meio de efeitos vasodilatadores sobre
adjacentes. O cGMP induz relaxamento dos miócitos e artérias sistêmicas.
vasodilatação dos vasos sanguíneos com aumento no
fluxo sanguíneo aos tecidos vizinhos. Mudanças seme Viagra® é o nome comercial do citrato de Sildenafil,
lhantes podem ser produzidas por drogas que aumen que é usado para tratar disfunção erétil. O Viagra® ini
tam a produção de óxido nítrico. Os níveis de cGMP são be seletivamente a nucleotídeo cíclico fosfodiesterase
também regulados pelas fosfodiesterases (PDE) que tipo 5 (PDE5), que é muito expressa em músculo liso
convertem cGMP em GMP. Assim, drogas que inibem as vascular. É 80 a 4.000 vezes menos potente como ini
isoformas vasculares de PDE aumentam o fluxo sanguí bidor de outras isoformas de nucleotídeo cíclico PDE,
neo em tecidos específicos. incluindo PDE3, que é expressa predominantemente no
músculo cardíaco. Essa é apenas 10 vezes mais seletiva
Angina pectoris é o nome formal para dor no para PDE5 versus PDE6, que é a PDE predominante na
peito, sentida por pacientes com diferentes tipos de retina. Quando os vasos sanguíneos do tecido erétil são
insuficiência cardíaca. A nitroglicerina é comumente vasodilatados em resposta à liberação de NO e ativação
prescrita e rapidamente alivia a angina (ver Correla-Correla da guanilato ciclase, a inibição da quebra de cGMP pelo
ção Clínica 11.10, p. 467). Ela é metabolizada em óxido Viagra leva a níveis maiores e mais sustentados de acú
nítrico e também se liga diretamente a proteínas sen mulo de cGMP e ativação de PKG. Isso aumenta a vaso
síveis a óxido nítrico (como a guanilato ciclase solú dilatação no tecido erétil. Altas doses de Viagra podem
vel). Assim, pode induzir relaxamento do músculo liso levar a alterações leves na visão de cores, em decorrên
e vasodilatação. Como a nitroglicerina alivia a angina cia dos efeitos colaterais sobre a PDE6 da retina.
não é completamente entendido. As artérias coroná
rias e a microvasculatura cardíaca durante a insufici Ignarro, L. J., Napoli, C. e Lascalzo, J. Nitric oxide donors
ência coronária provavelmente já estão maximamente and cardiovascular agents modulating the bioactivity of nitric
dilatadas, por causa da isquemia local. Então, a nitro oxide, Circ. Res. 90:21, 2001.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 551
Trocador de Ca2+
13.11 TRANSDUÇÃO conduzido por Na+ Bomba de Ca2+
DE SINAL Ca2+
Ca2+
BASEADA EM Membrana
[Ca2+] 10–3M
CÁLCIO plasmática
Regulação da ATP
Na+
Concentração Citosólica ATP ADP + Pi
ADP + Pi
[Ca2+] 10–7M
de Ca2+
Ca2+ é um importante reguladorin
tracelular de muitas funções celulares
Citoplasma
fundamentais, incluindo: contração
em todos os tipos de músculos, secre
ção de hormônios e neurotransmisso Ca2+
A concentração basal de Ca2+ livre no citosol da Ca2+. Essa ATPase permite que o Ca2+ seja acumulado
maioria dos tipos celulares é mantida em aproximada até uma concentração de cerca de 1 mM (10–3 M) no
mente 10–7 M (Figura 13.28). Pequenos aumentos no lúmen do ER/SR; isso é equivalente à concentração de
Ca2+ citosólico livre, para 10–6 M, ativam rápida e ma Ca2+ no espaço extracelular. Esse Ca2+ acumulado pode
ximamente as várias funções celulares reguladas por ser liberado no citosol por dois tipos de canais de Ca2+
Ca2+. Como a concentração extracelular de Ca2+ é 10–3 localizados no ER/SR, que são regulados por sinais gera
M, existe um gradiente de concentração de 10.000 ve dos por muitos tipos de receptores de superfície celular.
zes para o Ca2+ através da membrana plasmática, e a O primeiro é um canal amplamente expresso, conhecido
força motriz para o rápido influxo de Ca2+ é ainda au um
como
ou canal
segundo
o receptor
de Ca2+
mensageiro,
de
dependente
1,4,5-inositol
é trisfosfato (IP3) (IP3R)
mentada pelo potencial de membrana negativo do lado rapidamente
de IP3 (Figura
gerado
13.29).
quando
IP3,
de dentro. Em células excitáveis, como neurônios e cé
lulas musculares, o influxo de Ca2+ envolve canais de fosfolipase C é estimulada por diferentes hormônios ou
Ca2+ voltagem-dependentes (ver Tabela 12.10, p. 501). neurotransmissores. Um tipo diferente de canal de li
Esse tipo de via de sinalização por Ca2+ é geralmente beração de Ca2+ ligante-dependente é expresso no ER/
iniciado pelos receptores canais iônicos para neuro SR de músculo esquelético e cardíaco. Este é conhecido
transmissores excitatórios, como acetilcolina, glutama como o receptor de rianodina (RyR) ou canal de libera
to, serotonina e ATP. A membrana plasmática também ção de Ca2+ sensívelarianodina porque liga a drogaria
contém dois sistemas de transporte, o transportador nodina (Figura 13.30). Em músculo cardíaco, os canais
antiporte Na+/Ca2+ e a ATPase transportadora de Ca2+, RyR são controlados pelo Ca2+ que entra pelos canais da
que eficientemente bombeia o excesso de Ca2+ para fora membrana plasmática voltagem-dependentes sensíveis
do citosol (Figura 13.28). a droga que bloqueiam canais, conhecidas como di-hi
dropiridinas. Esse jogo de múltiplos canais de Ca2+ para
Íons Ca2+ são eficientemente concentrados dentro do regular a função do músculo cardíaco é chamado libera
ER (chamado retículo sarcoplasmático ou SR em célu ção de Ca2+ induzida por Ca2+. No músculo esquelético,
las musculares) por bomba ATPase transportadora de os canais RyR abrem-se via interações diretas proteí
552 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
Molécula sinalizadora
Receptor
Recept tor ligado
ligad
a
a proteína
eína G
prote G Pl 4,5-bisfosfato
Fosfolipase C-β [Pl(4,5)P2]
ativada Diacilglicerol
P
P
Subunidade
da Gq α P P P Proteína
Subunida
ativada 1,4,5-trisfosfato
Inositol quinase C
ativada
(IP3 P
) Ca2+
Lúmen do Abre canal de
retículo liberação de Ca2+
endoplasmático IP3-dependente
FIGURA 13.29 Mobilização dos
reservatórios de Ca2+ do retículo
endoplasmático e ativação da proteína
quinase C por receptores que estimulam
a hidrólise de fosfolipídeos de inositol
mediada por fosfolipase C.
Voltagem
despolarizadora Canal de Ca2+ voltagem-dependente
na–proteína com os canais de Ca2+ voltagem- e di
sensível a di-hidropiridina
-hidropiridina-sensíveis; essa regulação é possível
Exterior
porque SR no músculo esquelético forma contatos
diretos com invaginações especializadas da mem
Citoplasma
brana plasmática.
13.12 TRANSDUÇÃO DE
SINAL BASEADA EM
FOSFOLIPÍDEOS
Metabolismo Regulado de
Fosfolipídeos como um Componente
de Vias Intracelulares de Sinalização
A transdução de sinal por muitos receptores de
superfície celular envolve a ativação de uma ou mais
fosfolipases que catalisam a hidrólise de diferentes
classes de fosfolipídeos (por exemplo, fosfolipídeos de
inositol ou colina). Várias classes de fosfolipases catali
sam a produção de diferentes produtos que agem como FIGURA 13.32 Principais classes de fosfolipases usadas na
segundos mensageiros ou reguladores da produção transdução de sinal mediada por receptor.
de segundos mensageiros (Figura 13.32). Fosfolipase
C (PI-PLC) hidrolisa fosfolipídeos de inositol gerando tivamente minoritário que é gerado por fosforilação de
inositol fosfatos e diacilgliceróis como segundos men duas hidroxilas do resíduo de inositoldo fosfatidilino-
sageiros. Inositol fosfolipídeos podem ser mais fosfori sitol. A hidrólise de PIP2 é catalisada por fosfolipases
lados por fosfoinositídeo-3-quinase (PI-3K) para pro tipo C (PLC), com alta seletividade para inositolfosfoli
duzir fosfatidilinositol-3,4,5-trisfosfato (PIP3), outro pídeos (Figura 13.32), e gera dois segundos mensagei
segundo mensageiro cuja função é descrita mais adian ros: (1) o produto hidrossolúvel IP3 e (2) diacilglicerol
te. Fosfolipase D (PLD) hidrolisa predominantemente (DAG), um produto hidrofóbico. Enzimas PI-PLCb são
fosfolipídeos de colina ou etanolamina para produzir ativadas por interação com subunidades a de proteínas
ácido fosfatídico, que é subsequentemente hidrolisado G da família Gq/11
Diferentemente, asou as subunidades
enzimas PI-PLCg bg da família Gi.
por ácido fosfatídico fosfo-hidrolases (PAP), gerando são ativadas por
diacilglicerol. Fosfolipase A2 (PLA2) ataca vários fos fosforilação de tirosinas e associação com receptores
folipídeos para produzir ácidos graxos livres, como áci tirosina quinase. Algumas tirosina quinases não-recep
do araquidônico, e liso-fosfolipídeos. tores também fosforilam enzimas PLC.
ção prolongada de DAG. PC-PLD e PC-PLD são ativadas teínas regulatórias de genes. A capacidade das enzimas
indiretamente durante a estimulação do receptor por PKC regularem direta ou indiretamente a fosforilação de
uma complexa rede de sinais primários, que induzem fatores de transcrição caracteriza o papel crítico da PKC
Ca2+, GTPases pequenas e proteína quinase C. na regulação do crescimento, diferenciação ou morte de
muitas células e tecidos.
Sinal de sobrevivência
Pl{4,5}P2
PP PPP
Pl(3,4,5)P3 PPP PPP Citoplasma
P P Domínios
PH P P
BAD inativada
PKB ativa P P
BAD P 14-3-3
Figura 13.33 Papel da fosfatidilinositol protein
3-quinase e da proteína quinase B nas
cascatas de sinalização intracelular por Fosforilação de BAD Inibiçãp de
3,4,5-fosfatidilinositol trisfosfato. apoptose
Redesenhado com base em figura de Alberts, Proteína inibitória
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CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 555
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Termos Chaves
adenilato ciclase fosfolipase potência ligante-dependente
agonista GTPase pequena proteína adaptadora receptor ligado a enzima
antagonista guanilato ciclase proteína efetora receptor nuclear
calmodulina hormônio proteína Gheterotrimérica segundo mensageiro
canal de influxo de Ca2+ internalização do receptor proteína quinase regulada serina/treonina quinase
canal de liberação de Ca2+ ligante por segundo mensageiro sinalização autócrina
citocina MAP quinase sinalização justácrina sinalização endócrina
dessensibilização do re mediador local receptor sinalização parácrina
ceptor neurotransmissor receptoracoplado a proteí sinalização sináptica
eicosanoide na G
nucleotídeo cíclico tirosina quinase
fator de crescimento receptor canal iônico
nucleotídeo cíclico fosfo
fosfatase diesterase
E. é encontrada apenas em células musculares 10. Baixa atividade de GTPase na proteína mutada
lisas. resulta em ativação constitutiva de Gs e adenilato
ciclase porque
Questões 7 e 8: A psicose maníaco-depressiva pode A. a subunidade a ligada a GTP não forma nova
ser causada por superatividade de certas células do sis
mente o trímero abg.
tema nervoso central, talvez causada por níveis anor
malmente elevados de neurotransmissores que estimu B. a proteína G ligada a GTP liga-se mais forte
lam a transdução de sinal baseada em fosfolipídeos (por mente ao receptor de membrana.
exemplo, fosfatidilinositol [PI]). Lítio tem sido usado, há C. GTP reage diretamente com adenilato ciclase
muitos anos, para tratar psicose maníaco-depressiva. para ativá-la.
Em presença de Li+, o sistema PI é desacelerado, a des D. a forma trimérica da proteína G é estabilizada.
peito do estímulo continuado, e as células ficam menos
E. adenilato ciclase é fosforilada mais facilmente.
sensíveis a esses estímulos. Li+ pode ter duas funções:
inibição da fosfatase que defosforila inositol trisfosfato Questões 11 e 12: A família ErbB/HER de genes de
e interferência direta com a função de proteínas G. receptores tirosina quinase é ligada a muitos tipos dife
7. O sistema PI começa com ativação da fosfolipase rentes de câncer humano. Superexpressão de qualquer
C, que inicia uma sequência de eventos incluindo desses genes levaria a um aumento dos vários recep
todos os seguintes, exceto tores. ErbB2 codifica a proteína HER2. Esse receptor
não liga nenhum fator de crescimento extracelular
A. ativação de IP3 por ação de uma fosfatase.
conhecido, mas forma dímeros com outros receptores
B. aumento da concentração intracelular de Ca2+. HER ligados a fator de crescimento. Mesmo expressão
C. liberação de diacilglicerol (DAG) de um fosfo modesta de HER2 pode alterar a regulação normal do
lipídeo. crescimento celular.
D. ativação de proteína quinase C. 11. Qual das seguintes afirmativas sobre receptores ti
E. fosforilação de certas proteínas citoplasmáti rosina quinases está correta?
cas. A. O domínio catalítico fica na extremidade N
8. Qual das seguintes afirmativas sobre proteínas G -terminal.
está correta? B. A ativação da quinase requer ATP.
A. Proteínas G ligam o hormônio apropriado na C. Fator de crescimento ligado ao receptor de
superfície celular. sencadeia dimerização, que ativa a atividade
B. GTP está ligado à proteína G no estado de re de quinase.
pouso. D. A tirosina quinase ativa pode fosforilar outras
C. A subunidade a pode ser estimulatória ou ini proteínas, mas não a si mesma.
bitória porque tem duas formas. E. Todas as anteriores.
D. A adenilato ciclase pode ser ativada só se as 12. A proteína Ras é um regulador crítico da prolifera
subunidades a e b da proteína G estiverem as ção celular, e sua atividade é aumentada por tirosi
sociadas uma com a outra. na quinase ativada. Elementos de sua ação incluem
E. A hidrólise de GTP é necessária para as subu todos os seguintes, exceto
nidades da proteína G se separarem. A. formação de GMP cíclico.
Questões 9 e 10: O hormônio liberador de hormônio B. proteínas adaptadoras ligam a tirosinas fosfo
de crescimento (GHRH) produzido pelo hipotálamo li riladas do receptor tirosina quinase.
ga-se ao seu receptor na pituitária e leva à produção de C. recrutamento e estímulo de proteína ativada
hormônio de crescimento (GH) em virtude do aumento por Ras.
do AMP cíclico. Certos hormônios da pituitária resul D. troca de GDP por GTP na proteína Ras.
tam em hipersecreção de GH em decorrência de uma
E. iniciação de uma cascata na qual várias quina
mutação que produz uma proteína Gs-a com atividade
ses são ativadas sequencialmente por fosfori
de GTPase muito diminuída.
lação.
9. Elementos levando a aumento de AMP cíclico em
resposta a ligação de GHRH a seu receptor incluem Problemas
A. ativação de uma proteína G monomérica. 13. Como a elevação de AMP cíclico em células eu
B. ativação de adenilato ciclase por subunidade carióticas leva à transcrição alterada de certos ge
as de uma proteína Gs. nes?
C. ativação da nucleotídeo cíclico fosfodiesterase. 14. Como neurotransmissores excitatórios e inibitó
D. ativação de proteína quinase A. rios diferem em seus efeitos sobre canais iônicos
ligante-dependentes?
E. todos os anteriores.
CAPÍTULO 13 FUNDAMENTOS DA TRANSDUÇÃO DE SINAL • 559
Respostas
1. B Um hormônio é liberado no sangue e viaja até GTP permite que as subunidades de reassociem.
o tecido alvo. A: um tipo celular é tanto o emissor D: a subunidade a, quando dissociada das outras
como o alvo. C: esta é uma sinalização dependente duas, interage com a enzima para ativá-la ou inibi
de contato. D: as células estão em vizinhança ime -la, dependendo se for uma as ou ai.
diata uma da outra. E: este é um tipo de sinaliza
9. B Adenilato ciclase então converte ATP em cAMP.
ção parácrina, usada por células nervosas.
A: receptores acoplados a proteína G são todos he
2. E A: coisas como hormônios esteroides. B: uma terotriméricos. C: isso diminuiria cAMP por hidró
vez ligado ao ligante, os receptores citosólicos des lise a AMP. D: AMP cíclico ativa a proteína quinase,
locam-se para o núcleo. C e D: ligam-se a elementos não o contrário.
regulatórios a montante e aumentam ou reprimem
10. A a-GTP dissocia do dímero bg. B: proteínas G
a transcrição. não se ligam ao receptor. C: é a a-GTP que ativa a
3. B Este é um dos modos pelo qual ocorre transdu enzima. D: ver A. E: ativação da adenilato ciclase é
ção de sinal. A: também reagem como moléculas uma mudança conformacional, não fosforilação.
sinalizadoras muito hidrofílicas. C e D: estas são
11. C É por isso que HER2 altera o crescimento,
formas pelas quais receptores de superfície celular
embora não ligue fator de crescimento. A: a ex
podem atuar. E: isso é verdade apenas se o recep
tremidade N-terminal é extracelular e é o sítio de
tor for acoplado a uma proteína G.
ligação do ligante; o sítio catalítico deve estar em
4. D Todos são possíveis. um domínio intracelular. B: a dimerização causa a
ativação; uma vez ativado, usa ATP para fosforilar
5. B Esta é uma proteína ubíqua que liga Ca2+. A:
proteínas. D: a primeira proteína fosforilada é o
Ca2+-calmodulina regula algumas quinases, mas
próprio receptor, que depois atrai outras proteínas
não esta. C: segundos mensageiros são geralmen
para serem fosforiladas.
te moléculas pequenas ou íons. D: é o complexo
Ca2+-calmodulina que regula. E: calmodulina liga 12. A Este não é um mecanismo que produz um se
o Ca2+ que entra, mas não é parte do canal que per gundo mensageiro pequeno. B a E: estas são etapas
mite que entre. sequenciais.
6. C A enzima solúvel tem baixa afinidade quando o 13. A ligação de cAMP à proteína quinase A leva as
heme não tem uma molécula gasosa ligada. A e B: subunidades catalíticas a se dissociarem das re
a enzima ligada à membrana é estimulada quando gulatórias, expondo sequências de localização
ANF liga-se a seu receptor, mas não NO. D: é um nuclear nas subunidades catalíticas. Estas podem
dímero. E: a enzima solúvel está presente na maio se deslocar para o núcleo, onde podem fosforilar
ria dos tipos celulares. e ativar proteínas regulatórias de genes reguladas
por cAMP (CREBs), que controlam genes contendo
7. A IP3 é a forma ativa. A ação da fosfatase sobre
elementos regulatórios sensíveis a cAMP (CREs).
ele torna-lo-á inativo, quando convertido em ino
sitol. B: IP3 causa liberação de cálcio. C e D: este 14. Neurotransmissores excitatórios (por exemplo,
é o outro segundo mensageiro e ativa a proteína acetilcolina, glutamato) ligam-se a receptores
quinase C. E: isto é o que a proteína quinase C faz. cátion-seletivos e permitem que íons como Na+
entrem, despolarizando a membrana. Neurotrans
8. C Qual forma é liberada depende do hormônio
missores inibitórios (por exemplo, GABA, glicina)
específico e do receptor que reagiram. A: o recep
ligam-se a receptores ânion-seletivos e permitem
tor liga ao hormônio, e o complexo interage com
que âníons como Cl– entrem, hiperpolarizando a
a proteína G. B e E: GDP está ligado à enzima em
membrana.
repouso. Sua substituição por GTP leva a subuni
dade a a se dissociar. Na realidade, a hidrólise de
560 • PARTE III FUNÇÕES DE PROTEÍNAS
PARTE IV CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 561
VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
14 δ β
α α
ATP
β α β
Bioenergética, ADP + Pi F1
b2
Mitocôndria e Lado N
γ
ε
F0
Diana S. Beattie
Professora, West Virginia University School of Medicine
Conceitos Chaves
• Energia é conservada em organismos vivos por • Piruvato, o produto final do metabolismo da glico
oxidação de combustíveis metabólicos e é armaze se, é oxidativamente descarboxilado à acetil-CoA
nada como ligações de alta energia do ATP para pelo complexo regulado piruvato desidrogenase.
fornecer energia para reações de biossíntese, con
• Acetil-CoA, o produto final do catabolismo de car
tração muscular e transporte ativo de íons.
boidratos, lipídeos e proteínas, é oxidado pelo ciclo
• A energia livre de Gibbs prediz a direção de uma do ácido tricarboxílico localizado na matriz mito
reação enzimática e está relacionada com a cons condrial, produzindo NADH e FADH2.
tante de equilíbrio.
562 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
• NADH e FADH2 são oxidados pela cadeia dede trans-trans substratos e de intermediários para dentro e para
porte de elétrons, organizada em quatro grandes fora da matriz mitocondrial.
complexos enzimáticos na membrana mitocondrial
• Mitocôndrias de mamíferos têm um DNA circular
interna, pela transferência de elétronsétronstrons ememem umaumauma sé-sé-sé
singular, que codifica proteínas da cadeia de trans
rie de etapas até o aceptor terminal de elétrons, o
porte de elétrons, ATP sintase e RNA ribossômico
oxigênio.
mitocondrial. Doenças resultam de mutações em
• A energia liberada durante as reações oxidativas genes mitocondriais.
da cadeia de transporte de elétrons é conservada
• A transferência, passo a passo, de elétrons para o
como gradiente de prótons e de cargas através da
oxigênio resulta na formação de ânions superóxido
membrana mitocondrial interna. O gradiente dirige
(O–),2 peróxido de hidrogênio (H2O2) e radicais li
a síntese de ATP catalizada pela ATP sintase. Esse
vres de hidrogênio (OH·), que causam dano celular
processo é denominado fosforilação oxidativa.
por peroxidação lipídica, oxidação de proteínas e
• Sistemas de transporte localizados na membrana mutações no DNA.
mitocondrial interna facilitam o movimento de
NADP+
ATP Liga Sistemas de Produção e
FIGURA 14.1 Relação energética entre produção (catabolismo)
de Utilização de Energia e utilização (anabolismo) de energia.
Quebra oxidativa de alimentos é um processo exergônico que libera
A relação entre as funções de produção e de utili energia livre e poder redutor, que são capturados como ATP e NADH
zação de energia das células está ilustrada na Figura ou NADPH, respectivamente. Processos anabólicos são endergônicos
14.1. A energia é derivada da oxidação de combustí e usam energia química armazenada como ATP e NADPH.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 563
CN HC
Ligações
alta energia
de Ligação
alta de
energia N C
N
H C O
O O O H2O Pi O O
iOPOPOPOCH2 O iOPOPOCH2 O HCOH
iO Oi Oi H H H H iO Oi H H H H H
DRibose Lipídeo
A primeira lei da termodinâmica afirma que energia A velocidade de uma dada reação depende da ener
não pode ser criada nem destruída. Essa lei da conser gia livre de ativação, mas não da magnitude de AG.
vação de energia estipula que, embora energia possa ser Além disso, a variação de energia livre em um processo
convertida de uma forma em outra, a energia total de bioquímico é a mesma, independentemente da via ou
um sistema permanece constante. Por exemplo, ener do mecanismo usado para chegar ao estado final. A va
gia química disponível em um combustível metabólico, riação de energia livre de uma reação química está re
como glicose, é convertida, na glicólise, em energia quí lacionada com a constante de equilíbrio. Por exemplo,
mica de ATP. No músculo esquelético, a energia química uma reação pode ser descrita como
envolvida em ligações fosfato ricas em energia do ATP
é convertida em energia mecânica, durante a contração A+BC+D
muscular. A energia de um gradiente osmótico eletropo e a constante de equilíbrio é expressa como
tencial de prótons através da membrana mitocondrial é
convertida em energia química durante a síntese de ATP. Keq = [C][D]/[A][B]
A segunda lei da termodinâmica diz respeito à en Em condições padrões, quando reagentes e produ
tropia. Entropia, designada por S, é uma medida ou tos estão presentes inicialmente em concentrações 1 M,
indicador do grau de desordem ou casualidade de um à pressão de 1 atm e 1 M [H+] ou pH 0, a variação de
sistema. Entropia é vista como a energia de um sistema energia livre padrão é definida como AG0!. Bioquímicos
que não está disponível para realizar trabalho útil. To modificaram essa expressão de modo que a energia li
dos os processos, sejam químicos ou biológicos, tendem vre padrão é calculada em pH 7,0 ([H+] = 10–7 M), no
a progredir em direção à situação de máxima entropia. qual as reações biológicas geralmente ocorrem. Nessas
Assim sendo, sistemas vivos que são muito ordenados, condições, a variação de energia livre é expressa como
nunca estão em equilíbrio com seu ambiente, uma vez AG0! e K!eq. Como o valor de AG é zero no equilíbrio, a
que equilíbrio em um sistema resulta quando o acaso seguinte relação é descrita:
ou a desordem (entropia) está no máximo. Em sistemas
biológicos, portanto, é quase impossível quantificar AG0! =–RTln K!eq
mudanças de entropia, já que tais sistemas raramente
onde R é a constante dos gases, que é 1,987 cal/mol × °K
estão em equilíbrio. Para maior simplicidade e por sua
ou 8,144 J/mol X°K, dependendo se a variação na ener
utilidade inerente nessas considerações, é empregada gia livre é expressa em calorias (cal) ou joules (J) por
uma grandeza chamada energia livre.
mol, e T é a temperatura absoluta em graus Kelvin (K).
Como discutido, DG0! de uma reação representa a enzimáticas com variações positivas de energia livre
energia livre disponível em uma reação quando substra podem ser acopladas a, ou direcionadas por, reações
tos e produtos estão presentes em concentrações 1 M. com variações de energia livre negativas. Em uma via
Essa situação não ocorre em células, já que biomoléculas metabólica como a glicólise, várias reações têm valores
raramente estão presentes em concentração 1 M. Por de DG0! positivos ou valores de DG0! próximos de zero,
tanto, uma expressão relacionada com as concentrações enquanto outras reações têm valores de DG0! altos e ne
intracelulares reais de substratos e produtos fornece in gativos, que direcionam a via inteira. A consideração
formações quanto ao trabalho disponível em uma reação. crucial é que a soma dos valores de DG0! de todas as
A expressão de DG, em qualquer concentração de subs reações de uma via deve ser negativa para que tal via
trato ou produto, inclui a variação de energia para uma seja termodinamicamente viável. Como para todas as
concentração 1 M de substrato e produto para chegar ao reações químicas, reações enzimáticas individuais de
equilibro (DG0!), e a variação de energia para alcançar uma via metabólica ou a via como um todo seriam faci
uma concentração 1 M de substratos e produtos: litadas se as concentrações de reagentes (substratos)
excederem as de produtos.
DG = DG0! + RTln([C][D]/[A][B])
TABELA 14.2 Variações de Energia Livre e Valores Calóricos para Metabolismo Total de Vários Combustíveis Metabólicos
DG0! Valor Calórico
Composto Peso
Molecular kJ/mol (kcal mol–1) kJ/g (kcal g–1)
Glicose 180 –2.864 –686 15,9 3,81
Lactato 90 –1.361 –326 15,1 3,62
Palmitato 256 –9.987 –2.380 38,8 9,30
Tripalmitina 809 –31.772 –7.510 38,8 9,30
Glicina 75 –976 –234 13,0 3,12
566 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
COOi Oi
Enolpiruvato
O O– O– O–
+
HO P O– HO P O HO P O– HO P O– (isomerização espontânea)
O– O– O O– CH3
C O
(a) Formas de ressonância do fosfato
COOi
(b) Pirofosfato
Variações de Energia Livre Podem
FIGURA 14.5 (a) Formas de ressonância do fosfato. (b) Ser Determinadas a partir de
Estrutura do pirofosfato.
Reações Enzimáticas Acopladas
Segundo, muitos arranjos de ligações de alta ener
gia contêm grupos de cargas eletrostáticas semelhan O valor de AG0! de hidrólise do fosfato terminal do
ATP é difícil de determinar simplesmente porque a Keq
tes localizadas em estreita proximidade entre si. Como da reação está muito deslocada para a direita.
cargas iguais se repelem, consequentemente a hidrólise
de ligações ricas em energia alivia essa situação e con ATP + HOH ADP + Pi + H+
fere estabilidade aos produtos de hidrólise. Terceiro,
a hidrólise de certas ligações ricas em energia resulta Entretanto, o AG0! da hidrólise do ATP é determi
na formação de um composto instável, que pode iso nado indiretamente graças à natureza aditiva das va
merizar espontaneamente para formar um composto riações na energia livre já discutidas aqui. Assim, a
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 567
energia livre de hidrólise do ATP é determinada adicio possível, e síntese de ATP é o resultado. ATP pode
nando-se o AG0! de uma reação que utiliza ATP, como a transferir seu grupo fosforil terminal para formar um
hexoquinase, ao AG0! de uma reação que quebra fosfato composto de caráter de alta energia relativamente se
do produto da reação da hexoquinase, glicose 6-fosfato melhante (ou seja, creatina fosfato na reação da cre
(G6P), como indicado aqui. atina quinase [Figura 14.7]) ou compostos de energia
Glicose + ATP hexoquinase G6P + ADP + H+ consideravelmente mais baixa, como glicose 6-fosfato,
na reação da hexoquinase (Figura 14.7). Tais trans
AG0! =–16 kJ/mol
ferências são cruciais na ligação das vias metabólicas
G6P + HOHglicose6-fosfatase
AG0! = glicose + Pi que produzem energia com as que usam energia em
+ H+
–14 kJ/mol células vivas.
As energias livres de hidrólise de outros compostos Embora nucleotídeos de adenina sejam os principais
ricos em energia são determinadas de maneira similar. envolvidos na geração ou na conservação de energia,
vários nucleosídeos trifosfatos, incluindo ATP, estão
envolvidos na transferência de energia em vias biossin
Energias de Ligações de Alta téticas. O nucleotídeo de guanina GTP é a fonte de ener
gia na gluconeogênese e na síntese proteica, enquanto
Energia de Vários Grupos Podem Ser UTP (uracil) e CTP (citosina) são utilizados na síntese
Outro
Transferidas de um Composto para de glicogênio e de lipídeos, respectivamente (ver p. 31
para as estruturas). A energia das ligações fosfato do
ATP pode ser transferida para os outros nucleotídeos
pela nucleosídeo difosfato quinase ou pela nucleosídeo
Compostos ricos em energia podem transferir vá monofosfato quinase (Figura 14.8). Dois nucleosídeos
rios grupos para um composto aceptor, de modo ter difosfatos são convertidos em um nucleosídeo trifosfa
modinamicamente possível, em presença de uma en to e um nucleosídeo monofosfato em várias reações de
zima apropriada. Os intermediários ricos em energia
nucleosídeo monofosfato quinase, como a da adenilato
da glicólise, 1,3-bisfosfoglicerato e fosfoenolpiruvato,
quinase (Figura 14.9). Assim, a ligação fosfato terminal
podem transferir seus grupos fosfatos de alta energia rica em energia do ATP pode ser transferida para os
para o ADP nas reações da fosfoglicerato quinase e da
nucleotídeos apropriados, e utilizadas em vários pro
piruvato quinase, respectivamente (Figura 14.7). Os
cessos biossintéticos.
valores de AG0! dessas duas reações são –18,8 e –31,3
kJ/mol, respectivamente, e, portanto, a transferência
do fosfato de “alta energia” é termodinamicamente
(d)NDP ATP
fosfoglicerato quinase
1,3iBisfosfoglicerato 3iFosfoglicerato Função difosfato
Nucleosídeo
quinase
+ Energia
ADP ATP
creatina quinase
Creatina creatina fosfato NMP ATP
ATP ADP
Nucleosídeo
ΔGD! +6,3 kJ/mol(+1,5 kcal/mol) monofosfato quinase + Energia
(b)
Pi
NDP
hexoquinase ADP
Glicose glicose 6ifosfato
2ADP O
CH2
β-Mercaptoetilamina
Adenilato quinase (mioquinase) CH2
NH
CH2 NH2
C O
N N
ATP + AMP Adenina
C CH3 OPOPOCH2O
CH2
DA ACETIL H3C O O –
COENZIMA A D-Ribose
O– O– O
O grupo acetato que serve de fonte de
combustível para o ciclo dos ácidos tricarbo OH
OP
xílicos (TCA) é derivado das principais vias O
oxidativa
Piruvato Desidrogenase É um
Complexo Multienzimático FIGURA 14.13 Complexo piruvato desidrogenase de E.
coli.
O piruvato é convertido em acetil-CoA pelo comple
(a) Micrografia eletrônica. (b) Modelo molecular. (As esferas
xo multienzimático piruvato desidrogenase brancas são as 24 subunidades de transacetilase, as esferas
pretas são os 12 dímeros de piruvato desidrogenase, as esferas
Piruvato + NAD+ + CoASH
NADH +→H+
acetil-CoA + CO2 +
cinzas são os seis dímeros de di-hidrolipoil desidrogenase.) O
complexo enzimático foi corado negativamente com fosfotun
gstato (×200.000). Cortesia do Dr. Lester J. Reed, University
DG0! =–33,4 kJ/mol of Texas, Austin.
O mecanismo dessa reação é mais complexo do que
poderia ser inferido da estequiometria geral. Três dos co Piruvato Desidrogenase É Rigorosamente
fatores, tiamina pirofosfato (TPP), lipoamida e flavina Regulada
adenina dinucleotídeo (FAD), são ligados às subunida
des do complexo. A reação tem um DG0! de –33,4 kJ/mol O complexo piruvato desidrogenase é regulado de
e, portanto, é irreversível em condições fisiológicas. O dois modos. Primeiro, dois produtos da reação, acetil
complexo piruvato desidrogenase de mamíferos contém -CoA e NADH, inibem o complexo de modo competiti
três tipos de subunidades catalíticas associadas em um vo, como inibidores de retroalimentação (feedback).
complexo multienzimático de massa 7 a 8,5 × 106 kDa Segundo, o complexo piruvato desidrogenase passa por
para o complexo de rim, coração ou fígado. As subuni fosforilação e defosforilação. O complexo é ativo quando
dades catalíticas e seus cofatores associados são apre defosforilado e inativo quando fosforilado. Inativação é
sentados na Tabela 14.3. O arranjo das subunidades ca realizada por uma proteína quinase Mg2+-ATP-depen
talíticas de piruvato desidrogenase (Figura 14.13) em dente, que fica firmemente ligada ao complexo. Ativação
um complexo multiproteico confere maior eficiência à é realizada por uma fosfoproteína fosfatase, que também
reação geral, uma vez que os intermediários ficam for fica associada com o complexo e funciona de modo Mg2+
temente ligados às subunidades e não são liberados no e Ca2+-dependente. A regulação diferencial da piruvato
meio circundante. desidrogenase quinase e da fosfatase é a chave da regu
lação geral do complexo. Produtos da enzima estimulam
O mecanismo da reação é ilustrado na Figura 14.14. a reação da proteína quinase, levando a uma inativação
O grupo funcional TPP participa da formação de um in do complexo (Figura 14.15). A atividade do complexo
termediário covalente. Ácido lipoico é ligado por uma é estimulada por Mg2+ e Ca2+, um potente ativador da
CH3 C SLipSH
COOi
Acetil-CoA É Usado por
CoASH Várias Vias Diferentes
TPP Tiamina pirofosfate
Os destinos do acetil-CoA gera
Lip Lipoamida
do na matriz mitocondrial incluem
FIGURA 14.14 Mecanismo do complexo multienzimático piruvato desidrogenase. (1) completa oxidação do grupo
A piruvato desidrogenase catalisa a descarboxilação oxidativa do piruvato e a transfe acetil no ciclo TCA para geração de
rência do grupo acetil primeiro para lipoamida. A di-hidrolipoil transacetilase transfere energia; (2) conversão do excesso
o grupo acetil da lipoamida para a coenzima A. A di-hidrolipoil desidrogenase oxida a de acetil-CoA nos corpos cetônicos
lipoamida reduzida. acetoacetato e β-hidroxibutirato no
fígado; e (3) transferência de unida
des acetil como citrato para o citosol, com subsequente
Piruvato Desidrogenase síntese de ácidos graxos de cadeias longas (p. 627) e es
Piruvato Acetil CoA teróis (Figura 14.16).
–
NAD+ –
NADH+H+ 14.4 CICLO DOS ÁCIDOS
TRICARBOXÍLICOS
(a)
O acetil-CoA produzido nas vias catabólicas gerado
ras de energia da maioria das células é completamente
Piruvato
Pi
oxidado a CO2 em um ciclo de reações denominado ciclo
Desidrogenase
(Inativa)
dos ácidos tricarboxílicos (TCA). Esse ciclo é também
chamado o ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs, em
Fosfatase
homenagem a Sir Hans Krebs que postulou suas carac
NADH
AcetilCoA +
CoASH
NAD+
ADP – Mg2+ terísticas essenciais em 1937. A localização primária das
ADP
Ca2+ + enzimas do ciclo TCA é mitocondrial, embora isoenzi
Quinase mas de algumas enzimas estejam presentes no citosol.
Pi Essa localização é apropriada, uma vez que o complexo
piruvato desidrogenase e a sequência da β-oxidação de
Piruvato – + ácidos graxos, as duas fontes primárias de acetil-CoA,
também estão localizadas nas mitocôndrias. Quatro re
Piruvato ações do ciclo TCA transferem elétrons para NAD+ ou
Desidrogenase
(Ativa) FAD. Os NADH ou FADH2 resultantes são então oxida
dos pela cadeia de transporte de elétrons mitocondrial
(b) (cadeia de transferência de elétrons ou cadeia respirató
ria) para gerar energia, que é usada para formar ATP por
FIGURA 14.15 Regulação do complexo multienzimático fosforilação oxidativa (p. 589). As enzimas da cadeia de
piruvato desidrogenase.
transporte de elétrons e as envolvidas na síntese de ATP
(a) Piruvato desidrogenase é inibida por seus produtos, acetil-CoA
e NADH. (b) Piruvato desidrogenase é também inativada por fos
são localizadas exclusivamente em mitocôndrias. A Fi
forilação e ativada por defosforilação. A fosfatase é estimulada por gura 14.17 é uma visão geral das reações do ciclo TCA. Na
íons Mg2+ e Ca2+. A quinase é estimulada por ATP, NADH e acetil primeira etapa, o resíduo acetil do acetil-CoA é conden
-CoA e inibida por CoASH, NAD+ e ADP. sado com oxaloacetato (um ácido dicarboxílico de quatro
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 571
Uma variedade de doenças do metabolismo de pi a tratamento dietético no qual uma dieta pobre em car
ruvato foi detectada em crianças. Algumas envolvem boidratos é administrada. Os pacientes podem entrar
deficiências das subunidades catalíticas ou regulató em choque por causa da acidose láctica, uma vez que o
rias do complexo piruvato desidrogenase. Crianças decréscimo na entrega de O2 inibe a piruvato desidroge
com deficiência de piruvato desidrogenase geralmente nase e aumenta o metabolismo anaeróbico. Alguns pa
apresentam níveis séricos elevados de lactato, piruva cientes foram tratados com dicloroacetato, um inibidor
to e alanina, o que produz uma acidose láctica crônica. da proteína subunidade quinase do complexo piruvato
Frequentemente apresentam defeitos neurológicos gra desidrogenase. A inibição completa da quinase, que ini
ves, que geralmente resultam em morte. O diagnóstico be a enzima, ativará, assim, o complexo enzimático.
da deficiência de piruvato desidrogenase é geralmente
feito pelo ensaio do complexo enzimático e/ou de suas Patel, M.S. e Harris, R.A. Mammalian α-keto acid
subunidades enzimáticas em culturas de fibroblastos de dehydrogenase complexes: Gene regulation and genetic de
pele retirados do paciente. Alguns pacientes respondem fects. FASEBJ. 9:1164, 1995.
O O
carbonos) para formar citrato (um ácido tricarboxílico CoASH
Acetil CoA
*CH3*CSCoA *CSCoA +
de seis carbonos). Após rearranjo dos carbonos do citra HO C COOJ
*CH2 H2O *COOJ
to, duas reações de descarboxilação oxidativa produzem
duas moléculas de CO2, duas moléculas de NADH + H+, *CH2
uma molécula de succinato (um ácido dicarboxílico de O HO C COOJ
quatro carbonos) e uma ligação de alta energia em GTP. CCOOJ COOJ
CH2 CH2
Mais duas oxidações produzem outro NADH + H+ mais
um FADH2 e regeneram oxaloacetato.
CH2COOJ Citroil-SCoA COOJ
Km da reação, também pode ser um fator importante no para rato; a LD50, a dose letal para 50% dos animais
controle dessa reação. que o consomem, é 0,2 mg por quilograma de peso cor
poral.
CH3C S CoA
Acetil CoA
COOi H20
NADH Oxaloacetato
CH2
COOi CoASH
C O
+H+ &22²
COOi
& + NAD+ Citrato &+
+2 sintase +2 & &22² H20
Malato
CH2 desidrogenase
COOi &+
Fumarase Citrato
&22²Aconitase COOi H2
COOiH20 LiMalato CH2
COOi C COOi
)XPDUDWR
HC
CH cisAconitato
CH
COOi
O
FADH2 Aconitase
Succinato
desidrogenase
FAD TRICARBOXÍLICOS
CICLO
ÁCIDOS
DOS COOi
&+
COOi ,VRFLWUDWR
+ & &22²
CH2
+2 & +
Succinato
CH2 Succinil
sintetase
CoA Isocitrato
COOi
GDP &+
&+
6 &R$ NADH
+ H+
αicetoglutarato
desidrogenase
CoASH &22² desidrogenase
Isocitrato &22²
&+
&22² &22²
6XFFLQLO&R$ NAD+ & 2
2[DORVXFFLQDWR
CO2 +
α²&HWRJOXWDUDWR
FIGURA 14.18 Ciclo dos ácidos tricarboxílicos.
Carbonos marcados com asterisco indicam o destino dos carbonos do grupo acetil.
Succinato é oxidado a fumarato pela succinato de de transferência de elétrons, como será discutido na Se
sidrogenase, uma enzima complexa fortemente ligada ção 14.6. A succinato desidrogenase é fortemente inibi
à membrana mitocondrial interna. A succinato desi da por malonato e oxaloacetato, e é ativada por ATP, Pi
drogenase é composta de uma subunidade de 70 kDa e succinato. Malonato inibe a succinato desidrogenase
que contém o sítio de ligação ao substrato (FAD cova competitivamente com relação ao succinato, em virtu
lentemente ligado a um resíduo de histidina), uma su de da grande semelhança estrutural entre o malonato e
bunidade de 30 kDa que contém três centros de ferro o succinato (Figura 14.19).
-enxofre (não-hemínico), e duas pequenas proteínas
hidrofóbicas. A enzima é uma flavoproteína típica, na Fumarato é, então, hidratado para formar L-malato,
qual elétrons e prótons são transferidos do substrato pela fumarase. A fumarase é um homotetrâmero (200
por meio de FAD covalentemente ligado e dos centros kDa) e é estereoespecífica para a forma trans do subs
de ferro-enxofre, nos quais o ferro não-hemínico sofre trato (a forma cis, maleato, não é substrato) (Figura
oxidação e redução. Os elétrons são, então, transferidos 14.19). A reação é livremente reversível em condições
para a coenzima Q para transporte posterior na cadeia fisiológicas. A Correlação Clínica 14.2 descreve uma de
ficiência genética de fumarase.
574 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
CH2
COOi CH2
COOi
Malonato H COOi succinato desidrogenase gera 1,5 ATPs. Uma ligação de
C
alta energia é formada como GTP na reação da succinil
-CoA sintetase. Assim, o rendimento líquico em ATP ou
COOi
Succinato H Maleato seus equivalentes (ou seja, GTP) para a completa oxida
ção de um grupo acetil no ciclo TCA é 10.
A deficiência de enzimas do ciclo TCA é rara, indi afetados, ambos os pais têm a metade dos níveis nor
cando a importância dessa via para a sobrevivência. En mais da atividade enzimática, mas são clinicamente
tretanto, foram descritos váriosários casoscasosos dedede severaseverasevera defici-defici-defici normais, como seria de se esperar em uma doença au
ência de fumarase em mitocôndrias e citosol de tecidos tossômica recessiva. A primeira mutação caracterizada
(por exemplo, linfócitos do sangue). A doença é carac no gene da fumarase contém uma glutamina substituí
terizada por grave déficit neurológico, encefalomiopatia da por um resíduo de glutamato 319.
e distonia, que se desenvolvem logo após o nascimento.
A urina contém quantidades anormais de fumarato e Bourgeron, T., Chreiten, D., Poggi-Bach, J., et. al. Muta
níveis elevados de succinato, α-cetoglutarato, citrato e tion of the fumarase gene in two siblings with progressive
malato. As isoenzimas mitocondrial e citosólica da fu encephalopathy and fumarase deficiency. J. Clin. Invest.
marase são derivadas de um único gene. Em pacientes 93:2514, 1994.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 575
Citrato
Atividade
Ácidos Tricarboxílicos
do Ciclo dos Oxaloacetato i Isocitrato ATP
ADP
é Cuidadosamente
Regulada Malato αCetoglutarato
+
Ca2+ ++
Fumarato
Vários fatores regulam o ciclo
TCA. Primeiro, o suprimento de
unidades
do piruvato
acetil,
(pelasejam
glicólise)
derivadas
ou de Succinato Ca2+
+
graxos para dentro das mitocôn FIGURA 14.24 Exemplos representativos de interações regulatórias do ciclo TCA.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 577
condições fisiológicas. O meio mais provável para regu rante a glicogenólise. Esses efeitos do Ca2+ asseguram
lar a reação da citrato sintase é a disponibilidade dos que o desenvolvimento de tensão e o suprimento de
substratos acetil-CoA e oxaloacetato. Como discutido, energia no tecido muscular estejam integrados, seguin
concentrações muito baixas de oxaloacetato (menores do a estimulação nervosa.
do que o Km para oxaloacetato da citrato sintase) estão
presentes nas mitocôndrias.
As Membranas Mitocondriais
Interna e Externa Têm Diferentes
Composições e Funções
As mitocôndrias contêm uma membrana exter
na e uma membrana interna estrutural e funcio
Membrana mitocondrial
externa nalmente mais complexa (Figura 14.26); o espaço
Crista entre as membranas é o espaço intermembranas.
Matriz As enzimas envolvidas na transferência de energia
da ligação γ-fosforil do ATP, como adenilato quina
FIGURA 14.26 Diagrama dos compartimentos submitocondriais.
Esferas verdes representam a localização da porção F1 da ATP sintase se, creatina quinase e nucleosídeo difosfato quinase,
da membrana mitocondrial interna. estão localizadas no espaço intermembranas (Tabe
la 14.4). A membrana externa consiste em cerca de
cada hepatócito de mamíferos contendo 800–2.000 mi 30–40% de lipídeos e 60–70% de proteínas, com relati
tocôndrias. Ao contrário, eritrócitos não contêm mito vamente poucas proteínas enzimáticas ou de transpor
côndrias e obtêm energia apenas da glicólise. te. É rica na proteína integral de membrana chamada
porina (ou VDAC, canal de ânions voltagem-dependen
Mitocôndrias têm diferentes formas, dependendo te), consistindo em folhas β que formam um canal que
do tipo celular. Na Figura 14.25, as mitocôndrias do permite a passagem através da membrana de partícu
fígado são quase esféricas, enquanto as encontradas las de até 10 kDa. Monoamina oxidase e quinurenina
Complexo I
NADH desidrogenase
_1
FMN 2 O2 H2O
Centros Fe-S Complexo III Complexo IV
NADH:ubiquinona (Q)
Complexo de citocromo bc1 Complexo de citocromo aa3
óxido redutase
Reserva de Heme tipo 2b Heme tipo 2a
Citocromo c
UQ/UQH2 Centro Fe-S Rieske Íons Cu
Heme tipo c (cyt c1)
Complexo II
Ubiquinol (QH2):citocromo c Citocromo c oxidase
Succinato desidrogenase óxido redutase
FAD (covalente)
Centros Fe-S
Heme tipo b
óxido redutase
FIGURA 14.27Visão geral dos complexos e das vias de transferência de elétrons na cadeia mitocondrial de transporte de
elétrons.
580 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Coenzima Qox
Citocromo b (Fe3+)
+ 2e–+e–coenzima
citocromo
Qred b (Fe2+) +0,10
+0,12
O
CH3
CH3O CH3 CH3
ei + H+
(a)
OH
CH3
CH3O CH3 CH3
O . [CH2 CHCCH2]nH
O
Forma semiquinona de coenzima Q (radical livre)
ei + H+
OH
CH3
CH3O OH CH3
CH3
(b) O [CH2 CHC CH2]nH
Cys Cys
Cys
Cys
Cys
Cys Cys
Cys Cys
Cys
Fe1S0Cys4 Fe2 Cys
S2Cys4
Cys
Fe4S4Cys4
Enxofre
Ferro
Enxofre em cisteina
O complexo III contém dois hemes tipo b, um bL de um elétron para o heme do citocromo c1. O ânion ubi
potencial alto (+0,50 V) e um bHde potencial baixo (0,10 semiquinona fortemente redutor, formado no sítio QO
V), mais o citocromo c1. A transferência de elétrons por após a transferência do primeiro elétron do ubiquinol,
esse complexo é mais bem explicada pelo ciclo Q, no rapidamente transfere um elétron para o citocromo bL,
qual quatro prótons são deslocados através da mem que então transfere um elétron para o heme de alto po
brana para cada dois elétrons transferidos do ubiquinol tencial do citocromo bH no lado Qi. O citocromo bH re
para o citocromo c (Figura 14.38). Para que a transfe duzido então transfere esse elétron para ubiquinona no
rência de elétrons continue, são necessários dois sítios sítio Qi, para formar uma ubisemiquinona estável. Para
de ligação de ubiquinona ou ubiquinol no complexo bc1: completar o ciclo Q, uma segunda molécula de ubiqui
um sítio de oxidação de ubiquinol (QO), envolvendo o nol é oxidada no sítio QO, com a liberação de outros dois
heme b de baixo potencial (heme bL), localizado no lado prótons e a transferência de um elétron para a proteína
positivo (P) da membrana, onde inibidores como mi ferro–enxofre e o segundo elétron para o heme bL. O
xotiazol e stigmatelina se ligam; e um sítio redutor de heme bL transfere um elétron para bH e finalmente para
ubiquinona (Qi), envolvendo o heme b de alto potencial a ubisemiquinona do sítio Qi para formar ubiquinol, com
(heme bH) localizado no lado negativo (N) da membra a captação de dois prótons da matriz. O ciclo Q explica
na, onde inibidores como antimicina se ligam. Oxidação como, durante a oxidação de dois ubiquinóis no sítio QO,
de ubiquinol no sítio QO resulta na transferência de um quatro prótons são liberados no espaço intermembra
elétron para o grupo 2Fe2S da proteína ferro–enxofre, nas, enquanto dois prótons são captados do lado da ma
com a liberação de dois prótons para o espaço inter triz para reduzir ubiquinona no sítio Qi, um rendimento
membranas. A proteína ferro–enxofre então transfere final de dois prótons liberados por ubiquinol oxidado.
CH2 C CH2 C CH C
HO CH3
H3C CH CH2
N N
Fe3+
N N CH
O C 3
H
CH2 CH2
Proteína
HOOC CH2 CH2COOH
Cys (14)
Heme a
CH2 S Cys (17)
N N N N H
Fe3+ Fe3+
H N N CH N N
3C CH3 3 CH3
dade I, com o heme coordenado por átomos de nitrogê Aceita-se, atualmente, que a transferência de dois elé
nio de resíduos conservados de histidina. Os planos de trons do NADH para O2 resulte no deslocamento de 10
ambos os hemes ficam perpendiculares à membrana. A prótons através da membrana, quatro em cada um dos
subunidade Itambém contém um átomo de cobre (CuB) complexos I e IV e dois no complexo III. O gradiente ele
que, com o heme a3, forma um centro binuclear envolvi troquímico assim formado fornece a energia potencial
do na transferência de elétrons do heme a para O2 (Fi que é usada para direcionar a síntese de ATP pela ATP
gura 14.38). A subunidade II tem um domínio grande sintase (p. 589).
que se projeta da face citosólica da membrana interna,
onde se liga citocromo c reduzido, e contém dois átomos
de cobre ligados por grupos sulfidrila a dois resíduos de 4Cytc
cisteína (chamados CuA). A subunidade III contém sete Espaço intermembranas
Fe Lado P
hélices transmembrânicas com domínios extramemb- 4ei
rânicos insignificantes, mas nãonão possuipossuipossui nenhumnenhumnenhum trans-trans-trans 4H+
portador redox. As subunidades II e III localizam-se em CuA 4ei
lados opostos da subunidade I; o papel da subunidade III
não está esclarecido. Elétrons são transferidos do cito
cromo c reduzido primeiro para o sítio CuA, depois para Fe
o heme a e, finalmente, para o centro binuclear conten
do CuB e heme a3, onde ocorre a transferência de quatro 4ei Membrana
elétrons para o oxigênio (Figura 14.39 e Um Olhar Mais
Atento 14.2). A transferência de quatro elétrons para
Fe CuB
formar água resulta na captação de quatro prótons da
matriz para reduzir oxigênio e no movimento de quatro
prótons através da membrana mitocondrial, contribuin
do com o gradiente eletroquímico (Figura 14.39).
4H+ O2 2H2O 4H+ Matriz
Lado N
(Substrato) (bombeado)
His His
FIGURA 14.39 Vias de transferência de elétrons pela
2+
CuB N N citocromo c oxidase.
Fe3+ His
O citocromo c liga-se à superfície da subunidade II e transfe
His L
re elétrons para o CuA. Elétrons são transferidos de CuA para
N N heme a e, depois, para o centro binuclear (heme a3 e CuB),
onde oxigênio é reduzido a água. Quatro prótons são trans
feridos para o centro binuclear para redução de oxigênio, e
quatro prótons são bombeados através da membrana por um
&REUH´%µ +HPHa canal diferente.
FIGURA 14.38 Centro binuclear da citocromo c oxidase A Figura 14.40 indica os sítios onde inibidores es
indicando heme a3 e CuB. L é um ligante desconhecido, pecíficos se ligam e bloqueiam o fluxo de elétrons. Ro
mas proposto. tenona, um inseticida comumente usado, liga-se este
quiometricamente ao complexo I e impede a redução da
ubiquinona. Piericidina, Amital e outros barbituratos,
Inibidores da Cadeia de Transporte incluindo halotanos usados em anestésicos, também
de Elétrons inibem o complexo I por impedirem a transferência de
elétrons dos centros ferro-enxofre para a ubiquinona. O
Uma imagem dinâmica da cadeia de transporte de complexo II é inibido por carboxina e tenoiltrifluoroace
elétrons se desenvolveu com a ampliação do conheci tona, bem como por malonato, que atua como inibidor
mento da química detalhada dos diferentes complexos competitivo do substrato succinato. Antimicina, um an
da cadeia respiratória (Figura 14.40). Cada complexo tibiótico, inibe a transferência de elétrons pelo comple
existe independentemente na membrana interna e é xo III por se ligar ao sítio Qi e bloquear a transferência
livremente móvel. Os complexos I e II, e as outras fla de elétrons do heme bH do citocromo para a ubiquinona.
voproteína desidrogenases, difundem na membrana e Outros antibióticos, como mixotiazol e a stigmatelina,
transferem elétrons para a ubiquinona da membrana inibem a transferência de elétrons pelo complexo III
(pool). O ubiquinol também se difunde livremente na por se ligarem ao sítio QO e bloquearem a transferência
membrana e é oxidado pelo complexo III. Elétrons são de elétrons do ubiquinol para o centro 2Fe2S da prote
transferidos do complexo III para o citocromo c, que se ína ferro–enxofre. O complexo IV é inibido por cianeto
move ao longo da superfície da membrana até o com (CN–), azida (N3–), H2S e monóxido de carbono (CO).
plexo IV, onde seus elétrons são transferidos para O2. Cianeto e azida ligam-se fortemente à forma oxidada do
588 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Elétrons são transferidos do citocromo c reduzido de quatro prótons da matriz, para formar água. Como
para o sítio CuA na subunidade II e, depois, para o heme todos os transportadores redox presentes no complexo
a na subunidade I do complexo IV (Figura 14.43). O para
IV sãoágua
transportadores
requer quatro um elétron
deelétrons, as ereações
a redução
catalisa
de O2
Cu
mitindo
A e o heme
rápida
a são
transferência
localizadosdea 1,5
elétrons.
Å umum dodo
Elétrons
outro,outro, per-per
são, das pelo complexo IV evoluíram para impedir a libera
então, transferidos para o centro binuclear, constituído ção de intermediários tóxicos de oxigênio parcialmente
por CuB e heme a3, onde ocorre a transferência final de
elétrons reduzidos, tais como superóxido, peróxido de hidrogê
feridos parauum
ar, formando
para m2O
O . Inicialmente, dois elétrons são trans nio ou radicais hidroxila (ver Seção 14.10). Todos os in
Dois elétrons adicionais
derivado
2 fortemente
sãoperóxido
transferidos
ligadodoao oxigênio
centro
com captação
binucle fortemente ligados
termediários formados na redução
ao centro binuclear
do Oe 2são
permanecem
(O22–). impedidos
de se dissociar até que água seja produzida.
Espaço Matriz
intermembranas mitocondrial
mitocondrial
Ciclo dos ácidos tricarboxílicos
Malato
α–Cetoglutarato
4 H+
Isocitrate
NADH
FMN Succinato
Complexo I 1
Fe S(4)
Piruvato
FAD
Complexo II α–Glicerol fosfato (FAD)
Fe S
Oxidação de ácidos graxos
e corpos cetônicos
Coenzima
Q
β –Hidroxibutirato
β –Hidroxiacil CoA
2 H+ FAD
Citocromo b
Acil Graxo CoA
2Fe 2S
Complexo III 2
Citocromo c1
heme a3 (Fe3+) e impedem a transferência de elétrons pela seguinte equação, na qual Z é o valor absoluto de
do heme a para o centro binuclear. Diferentemente, o carga, f é a constante de Faraday e ψ é o potencial de
monóxido de carbono liga-se à forma reduzida do heme membrana:
a3 (Fe2+) competitivamente com O2 e impede a transfe
rência de elétrons para O2. Assim, inibição do transporte DG0! = 2,3 RTDpH + Zfψ
mitocondrial de elétrons resulta em prejuízo da função Em mitocôndrias respirando ativamente, a varia
geradora de energia da fosforilação oxidativa, levando à ção de pH observada através da membrana é 0,75–1,0
morte do organismo (Correlação Clínica 14.3).
unidades de pH, e a do potencial de membrana é de
A Figura 14.40 também indica os três sítios onde 1,5–2,0 V. Portanto, o DG0! calculado é grosseiramente
prótons são deslocadosdeslocados atravésatravés dada membranamembrana mitocon-mitocon 200 kJ para o deslocamento de 10 H+ através da mem
drial durante o transporte de elétrons, contribuindo brana durante a transferência de elétrons do NADH
para a formação do gradiente eletroquímico usado para para o O2. O DG0! também pode ser calculado a partir
da diferença entre os potenciais redox padrões do par
a síntese de ATP. Quatro prótons são deslocados por
transferência de elétron nos complexos I e IV, enquanto redox. O DG0! calculado para o par redox NADH e O2
dois prótons são deslocados no complexo III. é 219 kJ/mol (Seção 14.6), sugerindo que a energia das
reações de transferência de elétrons é eficientemente
capturada no potencial eletroquímico. A energia arma
zenada no gradiente de prótons e de cargas e no gra
14.7 FOSFORILAÇÃO diente eletroquímico, também chamada força próton
OXIDATIVA -motiva, direciona a síntese de ATP pelo movimento de
prótons a favor do gradiente eletroquímico através da
A energia liberada durante a transferência de elé ATP sintase por um mecanismo que será discutido mais
trons para o O2 via cadeia mitocondrial de transporte adiante nesta seção.
de elétrons é usada para deslocar prótons através da
membrana interna e estabelecer um gradiente de pró Espaço intermembranas
tons (Figura 14.41). Isso torna o espaço intermembra H+ H+ H+ H+ H+ H+ Lado P
nas mais acídico, e o espaço da matriz, mais alcalino. Si + H+ + + H+ H+ + H+ + + H+ H+ pH
Mitocondria Mitocondria
de fígado
de fígado
Succinato Succinato
2,4-Dinitrofenol ADP
o
i o
i
n n
ê ê
g
ix g
i
o x
o
e e
d d Oligomicina
o o
ã
ç ã
a ç
rt a
rt
n n
e
c e
n Cianeto c 2,4-Dinitrofenol
o n
C o
C
O2 = 0 O2 = 0
Tempo Tempo
(a) (b)
δ β
α α
ATP
β α β
FIGURA 14.46ADP
Modelo
+ Pi da F1 F1
b2
Lado P H+
gradiente de prótons, uma vez que os prótons bombe F0
ados através da membrana durante a transferência de
elétrons fluem de volta para a matriz pelo domínio F0. F0-ATP sintase mitocondrial,
Adição do domínio F1 de volta àsàs membranasmembranas nuasnuas per-per um motor molecular com rotação.
mite a formação de um gradiente de prótons, já que F1 A síntese de ATP ocorre nas subunidades β de F1, enquanto
reconstitui com F0 e bloqueia o fluxo de prótons através F0 contém um canal de prótons. Em F0, as subunidades c da
de F0. A ATP sintase inteira pode ser isolada e, quando membrana são ligadas pela haste contendo γe e de F1 e cons
incorporada em vesículas de membrana artificial, sin tituem um rotor. As duas subunidades b de F0, juntamente
tetiza ATP quando um gradiente eletroquímico é es-ées-es com as subunidades α e β e a subunidade d constituem um
estator (elemento estrutural não móvel). Prótons fluem pelas
tabelecido através da membrana. A ATP sintase é um
subunidades a e c de F0, fazendo o rotor girar, resultando em
complexo com múltiplos componentes de 480-500 kDa mudanças conformacionais das subunidades β, onde ATP é
por cinco
(Tabela 14.6 e Figura 14.46).
subunidades não-idênticas
O domínio (α,
F1β, é composto sintetizado.
γ, d e e),
e e e uma estequiometria de subunidades de α3, β3, γ, d
com Síntese de ATP em F1
massa de 350-380 kDa. Sítios de ligação para
ATP e ADP estão presentes nas subunidades α e β. Os O mecanismo de síntese de ATP por F1 foi derivado
sítios catalíticos ficam nas subunidades β, enquanto de experimentos de troca de isótopos, que revelaram
a função dos nucleotídeos ligados às subunidades a é que em presença de quantidades estequiométricas de
desconhecida. A subunidade γ forma o núcleo central ADP, ATP e fosfato inorgânico, com F1 isolado, a reação
de F1, enquanto a subunidade d
pode estar envolvida na ligação TABELA 14.6 Subunidades da F1F0-ATP Sintase de Escherichia coli
do domínio F1 à membrana. O
domínio F0 da enzima de E. coli Subunidade Massa
Complexo Proteica (kDa) Estequiometria
consiste de três subunidades
madas a, b e c,
hidrofóbicas não-idênticas, cha-
que estão presen F1 α 55 3
Síntese de ATP em F1
e β alternadas formam o botão de F1, com a únicaúnica su-su-su
O mecanismo de mudança de ligação sugere que (Figura 14.48a
bunidade γ formando um eixo
e b). Cada subunidade
central no
β centro de F1
as três subunidades β adotam diferentes conforma
assume uma
ções que mudam durante catálise, com apenas uma conformação diferente, dependendo da presença de
subunidade funcionando como o sítio catalítico. substrato. Assim, F1 cristalizado em presença de ADP
Como mostra a Figura 14.51, uma subunidade tem e um análogo não-hidrolizável de ATP revelou a ligação
uma conformação aberta (O, open), com uma bai do análogo de ATP a uma subunidade β, ligação de ADP
xa afinidade por ligantes e está vazia. Uma segunda
a uma segunda subunidade β, e uma terceira subunida
subunidade tem uma conformação frouxa (L, loose), de β vazia (Figura 14.48c).
com uma baixa afinidade por ligantes e é inativa, en
quanto a terceira subunidade tem uma conformação O modelo de síntese de ATP que se desenvolveu é
apertada (T, tight), que tem uma alta afinidade pe que prótons fluem através da membrana primeiro ligan
los ligantes e é ativa na catálise. De acordo com esse do-se a resíduos de aminoácidos acídicos conservados
modelo, a síntese de ATP ocorre na subunidade β na na subunidade a de F0. Os prótons então se ligam a um
conformação T. Durante a catálise, ADP e Pi ligam-se resíduo de aminoácido conservado presente na subu
à subunidade β na conformação L. A energia forne nidades c, fazendo o anel das subunidades c ligado às
cida pela passagem de prótons de F0 para F1 resulta subunidades γe e rodar. O movimento da subunidade γ
nas seguintes mudanças conformacionais: o sítio T causa mudanças conformacionais nas subunidades β à
contendo ATP muda para a conformação O, com libe medida que a subunidade γ se associa sequencialmente
ração do ATP, o L muda para a conformação T, com com cada subunidade β, uma de cada vez. As subuni
síntese de ATP, e o sítio O muda para a conformação dades a e b de F0 mais a subunidade d de F1 formam o
L, ligando ADP e Pi. De acordo com esse modelo, a estator que mantém as subunidades α e β em posição,
energia liberada pela transferência de elétrons é con enquanto as subunidades γ e c formam o rotor em mo
servada como um gradiente de prótons, que dirige as vimento. (Ver Um Olhar Mais Atento 14.4, p. 578, para
mudanças conformacionais na ATP sintase, resultan evidências experimentais desse mecanismo proposto.)
do na ligação de substratos, síntese de ATP sobre a
enzima e liberação do produto ATP.
594 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
O modelo de mudança de ligação propõe que a su por adição de ATP. Experimentos semelhantes foram
bunidade γ deve se mover em uma direção durante a realizados usando o complexo F1/F0 inteiro, nos quais
síntese de ATP e na direção oposta durante a hidrólise o complexo de subunidades c girou juntamente com a
do ATP, de forma que a hidrólise de ATP resulte em subunidade γ, como indicado pela actina fluorescente
formação de um gradiente de prótons. A rotação da su ligada a uma subunidade c. Em ambas as condições
bunidade γ de uma única subunidade F1 foi demonstra experimentais, o movimento do rotor não foi contínuo,
da pela ligação de um polímero de actina fluorescente mas ocorreu em etapas discretas de aproximadamente
à subunidade γ de um F1 na qual as subunidades α3β3 120°, o que éé consistenteconsistente comcomcom ooo movimentomovimentomovimento passopassopasso aaa pas-pas-pas
foram fixadas a uma lâmina de microscopia (ver figu so da subunidade γ de uma subunidade β para outra.
ra). Rotação da subunidade γfluorescente foi observada ATP sintase é o menor motor molecular conhecido.
para isso é que, em pH 7, o ADP tem três cargas nega Lançadeiras de Substrato
tivas, enquanto o ATP tem quatro. Portanto, a troca de
um ATP por um ADP resulta em movimento para fora Transportam Equivalentes de
de uma carga negativa, que é equivalente a importar
um próton. O potencial de membrana estabelecido du Redução Através da Membrana
rante a transferência de elétrons é positivo fora, o que Mitocondrial Interna
favoreceria o transporte para fora do ATP, mais carre
gado negativamente do que o ADP. A adenina nucleotí Os nucleotídeos envolvidos em reações celulares
deo translocase está presente em altas concentrações, de oxidação–redução (por exemplo, NAD+, NADH,
até 14% da proteína total, na membrana interna. Assim, NADP+, NADPH, FAD e FADH2) e CoA e seus derivados
é pouco provável que o transporte de adenina nucleo não são transportados através da membrana mitocon
tídeos através da membrana mitocondrial interna seja drial interna. Assim, para transportar equivalentes de
limitante da velocidade de síntese de ATP. redução (por exemplo, prótons e elétrons) do citosol
para a matriz ou o inverso, são necessários mecanismos
Um segundo transportador essencial para a fosfori de lançadeiras de substrato.
lação oxidativa é o transportador de fosfato, que trans
porta fosfato citosólico mais um próton para a matriz Duas lançadeiras para transporte de substrato são
(Figura 14.50). Esse simporte também depende do gra mostradas na Figura 14.51. A lançadeira malato–aspar
diente de prótons, uma vez que fosfato e prótons são tato e a lançadeira α-glicerol–fosfato são empregadas
transportados numa razão 1:1. O transporte de ADP e em vários tecidos para deslocar equivalentes de redu
de fosfato requer uma fração significativa da energia ção do citosol para a matriz, para oxidação e geração de
presente no gradiente eletroquímico produzido duran energia. Sua operação requer que as enzimas apropria
te a transferência de elétrons. Por isso, a força próton das estejam localizadas em ambos os lados da membra
-motiva fornece energia para a síntese de ATP pela ATP na e que os transportadores corretos estejam presentes
sintase, bem como para a captação dos dois substratos na membrana mitocondrial interna.
necessários.
Na lançadeira glicerol–fosfato, estão envolvidas
duas glicerol fosfato desidrogenases diferentes, uma
Membrana no citosol e outra na face externa da membrana mito
mitocondrial condrial interna. O NADH produzido no citosol é usado
Citosol interna Mitocôndria
para reduzir di-hidroxiacetona fosfato a glicerol 3-fos
Adenina fato pela isoenzima citosólica. O glicerol 3-fosfato, por
nucleotídeo
translocase sua vez, é oxidado pela isoenzima mitocondrial, uma
flavoproteína, para produzir di-hidroxiacetona fosfato
ADP3i e FADH2, que é oxidado pela cadeia de transporte de
ATP4i
elétrons.
ATP
ADP + Pi
Acetil CoA
captação por mitocôndrias vizinhas. Nas mitocôndrias, ração de um próton do grupo carboxila do ácido graxo
Ca2+ regula o complexo piruvato desidrogenase, bem livre. A UCP-1 é um membro da família de transporta
como as isocitrato e α-cetoglutarato desidrogenases. dores mitocondriais que inclui a adenina nucleotídeo
Uma consequência da captação de altas concentrações translocase e o transportador de fosfato, mas com um
de Ca2+ pelas mitocôndrias é a abertura de um poro na poro específico para o transporte de prótons para a
membrana externa, levando à liberação de citocromo c matriz. Estímulo crônico induzido por frio do recep
no citosol e ativação da apoptose. tor β-adrenérgico por epinefrina resulta em transcri
ção aumentada do gene UCP-1, estímulo da biogênese
mitocondrial e eventual hiperplasia do tecido adiposo
Membrana marrom. Em mamíferos grandes, como cães, gatos e
mitocondrial primatas que não hibernam, incluindo o homem, de
interna
pósitos discretos de gordura marrom estão presente
ao nascimento, mas ficam dispersos durante o desen
Citosol Matriz volvimento posterior.
Requer Quatro outras proteínas desacopladoras, UCP-2,
energia
UCP-3, UCP-4 e UCP-5, com sequências semelhantes
à da UCP-1, foram descobertas em outros tecidos que
não o tecido adiposo marrom. A presença de proteínas
Ca2+ Ca2+ desacopladoras em tecidos como músculo esquelético
sugeriu investigações acerca do possível papel dessas
proteínas na regulação do gasto energético e, talvez, na
obesidade. O desenvolvimento de agentes farmacológi
cos que afetam proteínas desacopladoras foi sugerido
como um tratamento para obesidade. Recentemente, foi
FIGURA 14.53 Transportador mitocondrial de cálcio. sugerido que as proteínas desacopladoras possam im
pedir a formação de espécies reativas de oxigênio nas
mitocôndrias.
Proteínas Desacopladoras
O tecido adiposo marrom desempenha um papel
importante na termogênese sem tremores de recém
-nascidos, em animais que hiber
nam e em animais experimentais
com termogênese induzida pela
dieta. O agente primário envolvido
na termogênese induzida por frio
na gordura marrom é a proteína de Frio é sentido
sacopladora UCP-1, que se localiza pelo hipotálamo
Cérebro
exclusivamente na membrana mito
Nervo simpático
condrial interna do tecido adiposo
Célula
marrom. UCP-1 carrega prótons da
adiposa marrom
matriz mitocondrial e atua desaco
plando a síntese de ATP do trans Norepinefrina
Receptor
Adrenérgico H+ H+
porte de elétrons (Figura 14.54). UCP1
Termogênese resulta de ativação H+
Origem
14.9 GENES MITOCONDRIAIS E
DOENÇAS 12S
rRNA
Cyt b
F PT
As mitocôndrias contêm seu próprio genoma, um 16S
V
rRNA
DNA circular de fita-dupla que contém genes estru E ND6
turais para 13 proteínas da cadeia de transporte de MELAS
L LHON
elétrons, incluindo sete subunidades do complexo I ND1 LHON
LHON ND5
(NADH:ubiquinona óxido-redutase), uma subunidade I
Q L
(citocromo b) do complexo III (ubiquinol:citocromo c M S
óxido-redutase), três subunidades do complexo IV (ci ND2 W H
A
tocromo c oxidase) e duas subunidades do complexo V N
LHON
C ND4
(ATP sintase) (Tabela 14.7). O DNA mitocondrial (mtD Y MERRF R
NA) também contém genes que codificam dois RNAs ri S D G
COI K ATpase8
bossômicos (rRNAs) e todos os RNAs transportadores ND4L
COIII
(tRNAs) necessários para a síntese proteica em mito COII ND3
côndrias (Figura 14.55). As mitocôndrias, entretanto,
ATpase6
não são organelas que se autorreplicam porque mais
de 90% de todas as proteínas mitocondriais são codifi FIGURA 14.55 Mapa de genes no DNA mitocondrial.
cadas no DNA nuclear, sintetizadas no citosol e depois Os genes indicados CO1, CO11 e CO111 codificam subunida
importadas para as mitocôndrias. des da citocromo c oxidase, ND codifica subunidades do com
plexo I, e ATPase codifica subunidades da ATP sintase. As ban
Defeitos mitocondriais foram implicados em várias das vermelhas escuras indicam por letras únicas os genes para
doenças degenerativas do envelhecimento, incluindo os tRNAs. LHON indica a localização das mutações que causam
doenças de Parkinson e de Alzheimer. Várias doenças Neuropatia Óptica Hereditária de Leber. Mutações no tRNA
resultam de mutações pontuais no mtDNA envolvendo da leucina (L) causam MELAS (encefalopatia mitocondrial,
acidose láctica e atividade tipo-acidente vascular cerebral), e
ou tRNAs ou um dos genes estruturais. Outras doen
ças resultam de deleções de partes grandes do mtDNA. aquelas no tRNA da lisina (K) causam MERRF (epilepsia mio
clônica e fibras vermelhas rotas).
Geralmente, essas doenças resultam de atividade dimi
nuída da cadeia de transporte de elétrons, o que leva ao
acúmulo de piruvato e ácidos graxos com consequente
acidose láctica e acúmulo de triglicérides. A velocidade Outras mutações em genes mitocondriais levam a
de síntese de ATP está também diminuída, resultando fraqueza muscular progressiva, retinite pigmentosa
em fraqueza muscular e intolerância a exercício. Uma (perda da resposta da retina), perda de audição e ata
característica marcante de todas as doenças mitocon xia (ação muscular descoordenada), juntamente com
driais é sua herança materna, porque essencialmente aumento e deterioração do músculo cardíaco. Os efeitos
todas as mitocôndrias presentes em um óvulo fecunda deletérios do envelhecimento também podem resultar
do derivam do óvulo. Ver Correlações Clínicas 14.4, 14.5 de mutações que se acumulam no mtDNA ao longo da
e 14.6 para uma discussão das doenças que resultam de vida do indivíduo, que são causadas por agentes que da
mutações no mtDNA. nificam o DNA, como radicais de oxigênio.
TABELA 14.7 Subunidades dos Complexos de Transporte de Elétrons Codificadas pelo DNA Mitocondrial Humano
Número Total de Número de Subunidades
Complexo Subunidades CodificadaspeloDNAMitocondrial
A primeira doença mitocondrial a ser elucidada riação na quantidade de mtDNA mutado em um tecido,
em nível molecular é a neuropatia óptica de Leber, de como consequência da distribuição aleatória do mtD
herança materna (LHON), que afeta o sistema ner NA mutante nas células filhas durante a divisão celu
voso central, incluindo os nervos ópticos, causando lar. Pacientes com uma percentagem menor de mtDNA
cegueira de início súbito no princípio da idade adulta, mutado desenvolvem cegueira de início súbito e outros
em decorência da morte do nervo óptico. Em quase sintomas típicos de LHON no princípio da idade adulta.
todas as famílias, LHON resulta da troca de uma úni Pacientes com uma percentagem mais alta de mtDNA
ca base nos genes mitocondriais que codificam três mutado, no qual uma alanina conservada é substituída
subunidades do complexo I (ND1, ND4 e ND6), o que por uma valina em ND6, desenvolvem uma doença gra
reduz a atividade da NADH:ubiquinona óxido-reduta ve caracterizada pelo início precoce de disfunçãoão gene-gene
se (complexo I). ralizada de movimentos, dificuldade de fala e retardo
mental.
A gravidade das doenças mitocondriais depende da
quantidade de mtDNA mutado presente em uma dada Chalmers, R. M. e Schapira, A. H. V. Clinical, biochemi
célula ou tecido. A presença de centenas ou milhares de cal and molecular genetic features of Leber’s hereditary optic
mitocôndrias em cada célula permite considerávelável va-va neuropathy. Biochim. Biophys. Acta 1410:147, 1999.
Mutações no tRNA da leucina causam a encefalopa Cortesia de Dr. D. N. Landon, Institute of Neurology,
tia mitocondrial comun, acidose láctica e atividade ti University of London.
po-acidente vascular cerebral (MELAS, mitochondrial
encephalopathy, lactic acidosis and stroke-like acti
vity) (OMIM 540000). Os músculos esqueléticos pare A consequência bioquímica dessas duas mutações
cem com fibras vermelhas rotas, mas retêm a atividade em tRNAs é síntese proteica mitocondrial deficiente,
da citocromo c oxidase. A gravidade dos sintomas varia levando a atividades diminuídas do complexo I e da ci
com a percentagem de mtDNA mutado. Pacientes com tocromo coxidase.
>85% do DNA mutado apresentam os sintomas mais
graves no sistema nervoso central, aqueles com 5–30% Wallace, D. C. Mitochondrial diseases in man and mouse.
do DNA mutado frequentemente apresentam-se com Science 283:1482, 1999.
diabetes mellitus de herança materna e surdez.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 601
Reação de Fenton
Bactérias OH
Fe2+ + H2O2 Fe3+ + OH + OHi
Fe2+
O2 Reação de Haber²Weiss H2O2
H+
i + H2O2 O2 + H2O + OH
O2i
FIGURA 14.57 As reações de Fenton e Haber–Weiss para O2
formação de radical hidroxila tóxico.
Cyt. b
NADPH NADP+
Produção de Espécies Reativas de
Oxigênio FIGURA 14.59 Explosão respiratória (ou burst
respiratório) em fagócitos.
Embora processos oxidativos em células geralmente Uma cadeia de transferência de elétrons envolvendo um cito
resultem na transferência de elétrons para o O2 para cromo b singular transfere elétrons do NADPH para o oxigênio,
com a formação de ânion superóxido. Superóxido é convertido
formar água sem a liberação de intermediários, um pe
em radical hidroxila, que mata bactérias, subsequentemente
queno número de radicais de oxigênio é inevitavelmen endocitadas por fagócitos.
te formado em decorrência do vazamento nas reações
de transferência de elétrons. A principal fonte intrace
lular de radicais de oxigênio é a cadeia de transporte de citocromo P450 localizado no retículo endoplasmático
elétrons mitocondrial, na qual o superóxido é produzido também pode produzir radicais de oxigênio.
por transferência de um elétron para O2 a partir da se
miquinona estável produzida durante a redução de ubi Uma fonte adicional de ROS em muitos tecidos no
quinona pelos complexos I e II, ou durante a oxidação corpo, incluindo neutrófilos, é o sistema oxidase NA
de ubiquinol pelo complexo III (Figura 14.58). O supe DPH-dependente ligado à membrana. A inflamação por
róxido também pode ser produzido por transferência de infecção bacteriana em neutrófilos resulta em ativação
um elétron de uma flavina, como FMN. As espécies rea da NADPH oxidase, que produz superóxido em um pro
tivas de oxigênio produzidas nas mitocôndrias incluem cesso conhecido como explosão respiratória (ou burst
superóxido, peróxido de hidrogênio e radical hidroxila. respiratório). A conversão de superóxido em radical hi
Espécies tóxicas de oxigênio também são produzidas droxila mata as bactérias, que são depois englobadas
em peroxissomos, nos quais ácidos graxos de cadeia por fagócitos (Figura 14.59). Em uma infecção aguda, a
longa e outros compostos são oxidados por transferên produção de radicais de oxigênio e a morte de bactérias
cia de dois elétrons do FADH2 para o O2, com formação são processos eficientes; entretanto, em infecções pro
do peróxido de hidrogênio, que é facilmente converti longadas, os fagócitos tendem a morrer, liberando radi
do no radical hidroxila (ver Figura 14.56). O sistema cais de oxigênio tóxicos, que afetam as células vizinhas.
te ocorrem durante a perfusão de tecidos com soluções servadas nas mãos de idosos. Essas manchas “da idade”
contendo altas concentrações de O2, como acontece em contêm o pigmento lipofuscina, que é provavelmente
pacientes que sofreram um episódio isquêmico no qual uma mistura de lipídeos unidos por ligações cruzadas e
níveis localizados de O2 estavam reduzidos, em virtude produtos da peroxidação de lipídeos, que se acumulam
de um bloqueio de uma artéria e, depois, passaram por ao longo de toda uma vida. Uma consequência
ência signifi
procedimentos trombolíticos ou outros processos para cativa da peroxidação de lipídeos é permeabilidade au-au
remover o bloqueio (Correlação Clínica 14.8). mentada de membranas, levando a um influxo de Ca2+
e outros íons, com subsequente inchamento da célula.
Aumentos semelhantes na permeabilidade de membra
Dano Causado por Espécies Reativas nas de organelas podem resultar em má-distribuição de
íons e causar dano intracelular. Por exemplo, acúmulo
de Oxigênio de quantidades excessivas de Ca2+ nas mitocôndrias
Espécies reativas de oxigênio causam danos a todas pode desencadear apoptose.
as principais classes de macromoléculas das células. Os
Prolina, histidina, arginina, cisteína e metionina são
fosfolipídeos das membranas plasmática e de organelas
susceptíveis a ataque por radicais hidroxila, com sub
estão sujeitos a peroxidação de lipídeos, uma reação
sequente fragmentação de proteínas, ligação cruzada e
em cadeia de radicais livres, iniciada pela remoção de
agregação. Proteínas danificadas por radicais de oxigê
hidrogênio de um ácido graxo poli-insaturado por um
nio podem ser alvos de digestão por proteases intrace
radical hidroxila. Os radicais lipídicos resultantes rea
lulares.
gem, então, com O2, formando radicais peróxi de lipíde
os e peróxidos de lipídeos, juntamente com malondial A consequência
ência mais importante dos radicais de oxi
deído, que é solúvel em água e pode ser detectado no gênio é o dano ao DNA mitocondrial e nuclear, resultan
sangue. O efeito da peroxidação de lipídeos no homem do em mutações. A ligação não-específica de íonss ferro
é exemplificado pelas manchas escuras comumente ob- so (Fe2+) ao DNA pode resultar em formação localizada
604 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
A oclusão de uma artéria coronária importante du A formação de ROS durante a reperfusão do mio
rante infarto do miocárdio resulta em isquemia ou su cárdio também resulta em níveis diminuídos de óxido
primento diminuído de oxigênio para a área afetada, le nítrico (NO), uma importante molécula sinalizadora,
vando a células danificadas, o infarto. Após um infarto reduzindo assim seus efeitos protetores como acúmulo
agudo do miocárdio, a reperfusão precoce com terapia de neutrófilos, inativação de radicais superóxido e me
adequada resulta em redução do tamanho do infarto e lhora do fluxo sanguíneo coronário. Durante a reper
um melhor prognóstico clínico para o paciente. A res fusão do coração isquêmico, a presença do radical de
tauração do fluxo sanguíneo no tecido isquêmico, en oxigênio peroxinitrito (ONOO–), produzido a partir de
tretanto, pode danificar o coração em um processo de NO e superóxido, foi observada. O peroxinitrito tam
nominado lesão por reperfusão do miocárdio. Durante a bém pode contribuir para a baixa recuperação da fun
reperfusão, o miocárdio isquêmico fica sujeito a mudan ção mecânica em corações isquêmicos.
ças bioquímicas rápidas, que podem causar ainda mais
danos ao miocárdio. Essas mudanças incluem a rápida A isquemia/reperfusão do miocárdio representa
um problema clínico associado com trombólise, an
restauração da transferência de elétrons pela cadeia de
transporte de elétrons mitocondrial, com a concomitan gioplastia e cirurgia para colocação de pontes coroná
rias (bypass). Lesões no miocárdio, em decorrência
te geração de ROS, que também são geradas pela xan
tina oxidase presente em células endoteliais e, algumas de isquemia/reperfusão incluem disfunção contrátil
horas mais tarde, pela NADPH oxidase localizada em cardíaca, arritmias e dano irreversível aos miócitos. A
neutrófilos. Esses níveis aumentados de ROS causam isquemia também pode surgir durante cirurgia, espe
dano ao coração, por contribuírem com a sobrecarga de cialmente durante transplante de tecidos. Pesquisas
Ca2+ intracelular, restauração rápida do pH intracelular atuais de possíveis intervensões para evitar lesão por
e inflamação. O aumento no Ca2+ intramitocondrial leva reperfusão concentram-se no melhor entendimento dos
à abertura do poro de transição mitocondrial (MRP), fatores envolvidos na lesão, especialmente a abertura
que desencadeia apoptose e subsequente morte celular. de PTP mitocondrial, que resulta em morte celular por
ROS também danificam o retículo sarcoplasmático e a apoptose. Ensais clínicos estão em andamento para tes
membrana celular por peroxidação de lipídeos, indu tar novas hipóteses para reduzir a lesão por reperfusão.
zem desnaturação de enzimas e causam dano oxidativo O uso aumentado de procedimentos invasivos na clí
ao DNA. O rápido aumento nos níveis intracelulares de nica médica indica a importância do desenvolvimento
ATP, que ocorre quando oxigênio é introduzido durante de métodos para proteger contra a lesão por isquemia/
a reperfusão, em decorrência do estímulo da transfe reperfusão.
rência de elétrons estímulo mitocondrial, combinado
com os altos níveis de Ca2+ intracelular e restauração Yellon, D. M. e Hausenloy, D. J. Myocardial reperfusion in
do pH fisiológico, pode resultar em hipercontratura e jury. N. Engl. J. Med. 357:1121, 2007.
resultante morte dos cardiomiócitos.
de radicais hidroxila, que atacam bases individuais e Defesas Celulares Contra Espécies
causam quebras de fitas. O DNA mitocondrial é mais
susceptível ao dano, uma vez que a cadeia de transporte Reativas de Oxigênio
de elétrons é uma fonte importante de radicais tóxicos
élulas que vivem em um ambiente aeróbico de
Células
de oxigênio. Além disso, o DNA nuclear está protegido
senvolveram múltiplas formas para remover espécies
de dano permanente por uma capa protetora de histo
reativas de oxigênio e, assim, se protegem contra seus
nas, bem como por mecanismos ativos e eficientes de
efeitos deletérios. Os mamíferos têm três isozimas dife
reparo do DNA. Dano ao mtDNA geralmente resulta em
rentes da superóxido dismutase, que catalisam a con
mutações que afetam a produção de energia. Os sinto
mas nos indivíduos afetados são manifestados em pro versão de superóxido em peróxido de hidrogênio (Figu
ra 14.60). A forma citosólica da supersóxido dismutase
cessos que requerem energia, como a contração mus
contém Cu/Zn no seu sítio ativo, assim como a enzima
cular. Um exemplo das consequências de uma mutação
extracelular; entretanto, a enzima mitocondrial contém
somática no gene mitocondrial do citocromo b que pode Mn no seu sítio ativo. O peróxido de hidrogênio é remo
ter sido causada por radicais de oxigênio é apresentado
na Correlação Clínica 14.6. vido pela catalase, uma enzima contendo heme presen
te nas concentrações mais altas em peroxissomos e, em
menor escala, em mitocôndrias e citosol.
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 605
dos níveis de glutationa e, assim, na prevenção do dano FIGURA 14.61 Glutationa peroxidase remove peróxido
oxidativo àsàs célulascélulascélulas ééé manifestadamanifestadamanifestada nanana doençadoençadoença heredi-heredi-heredi de hidrogênio bem como peróxidos de lipídeos.
tária que resulta em baixos níveis de glicose 6-fosfato Elétrons são transferidos para o peróxido de hidrogênio dos
desidrogenase (ver Correlação Clínica 16.1, p. 669), na grupos sulfidrila da glutationa reduzida (GSH), para formar
qual o estresse oxidativo resulta em anemia hemolíti água e glutationa oxidada (GSSG). A glutationa redutase, en
ca aguda. Os níveis de glutationa no fígado são críticos tão, reduz GSSG a GSH, com NADPH como agente redutor.
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606 • PARTE IVVIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
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Termos Chaves
adenina nucleotídeo trans- centros ferro–enxofre complexo IV: citocromo c espécies reativas de oxi
locase ciclo do ácido tricarboxílico oxidase gênio
adenosina trifosfato citocromo b, citocromo c constante de equilíbrio F1F0
ATP sintase
anabolismo
cadeia
catabolismo
elétrons
de transporte de complexo I: NADH-ubiqui desacopladores flavina adenina dinucleo
nona óxido-redutase DNA mitocondrial tídeo
complexo II: succicinato doenças mitocondriais flavina mononucleotídeo
-ubiquinona óxido-redutase energia livre força próton-motiva
complexo III: ubiquinol-ci equivalente de redução fosforilação oxidativa
catalase tocromo c óxido-redutase
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 607
8. Suponha que o defeito específico era uma piruvato Questões 11 e 12: Cianeto é um veneno potente e de
desidrogenase mutada (a primeira subunidade ca ação rápida. Liga-se ao heme do citocromo a3 da cito
talítica), com fraca ligação com seu grupo prosté cromo oxidase. Morte ocorre por anóxia tecidual, es
tico. Nesse tipo de defeito, às vezes um grande au pecialmente no sistema nervoso central. Um antídoto
A.
mento, na dieta, do precursor do grupo prostético, para o envenenamento por cianeto, que deve ser usa
ajuda. Nesse caso, aumento de qual dos seguintes do rapidamente, é a administração de um nitrito para
poderia ser útil? converter oxi-hemoglobina em meta-hemoglobina. A
Ácido lipoico. meta-hemoglobina compete com o citocromo a3 pelo
cianeto.
B. Niacina (para NAD).
C. Ácido pantotênico (para CoA). 11. Cianeto
D. Riboflavina (para FAD). A. só inibe minimamente a cadeia de transporte
E. Tiamina (para TPP). de elétrons porque a citocromo oxidase é um
componente terminal da cadeia.
Questões 9 e 10: Existe um número de doenças mito B. inibe a respiração mitocondrial, mas a produ
condriais decorrentes de mutações em genes mitocon ção de energia não é afetada.
driais que codificam proteínas mitocondriais outRNAs
C. também liga o cobre da citocromo oxidase.
mitocondriais. A Neuropatia Óptica Hereditária de Le
D. liga-se ao Fe3+ do citocromo a3.
ber (LHON) decorre de trocas de uma única base nos
genes mitocondriais que codicam três subunidades do E. o envenenamento também poderia ser reverti
complexo I, diminuindo sua atividade. LHON afeta o sis do por aumento na concentração de O2.
tema nervoso central, incluindo o nervo óptico, causan
do cegueira de início súbito no início da idade adulta.
12. Se cianeto for adicionado a mitocôndrias acopla
9. O complexo I das, que estão oxidando ativamente succinato,
A. transfere elétrons diretamente do NADH para A. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol causa
ubiquinona. rá hidrólise de ATP.
B. pode transferor elétrons do NADH2 para a suc B. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol res
cinato desidrogenase, bem como para NADH. taurará a oxidação de succinato.
C. não contém centros ferro–enxofre. C. o fluxo de elétrons vai parar, mas a síntese de
D. transfere elétrons acoplados ao transporte de ATP continuará.
quatro prótons através da membrana. D. o fluxo de elétrons vai parar, mas a síntese de
E. éé consideradoconsideradoconsiderado umumum transportadortransportadortransportador móvelmóvelmóvelmóvel dededede elé-elé-elé-elé ATP pode ser restaurada por adição subse
tronsporque pode percorrer a face externa da quente de 2,4-dinitrofenol.
membrana interna. E. adição subsequente de 2,4-dinitrofenol e do
10. Uma incapacidade de reoxidar NADH em decor inibidor de fosforilação oligomicina causará
rência de um defeito do complexo I hidrólise de ATP.
A. inibiria a isocitrato desidrogenase e, portanto, Problemas
diminuiria a velocidade do ciclo TCA.
13. Para a reação A B, DG0! = –29,7 kJ/mol. A 37°C,
B. forçaria o equilíbrio oxaloacetato–malato em
–2,303 RT = –5,94 kJ/mol. Qual a razão de equilí
direção ao oxaloacetato.
brio B/A?
C. estimularia a lançadeira α-glicerol fosfato a
transportar equivalentes de redução. 14. Usando piruvato marcado com 14C em seu grupo
ceto, pela reação da piruvato desidrogenase do ci
E. causaria a difusão livre de NADH da mitocon
clo TCA, onde o carbono marcado estaria ao final
dria para o citosol.
de uma volta do ciclo TCA? Onde o carbono marca
D. forçaria o equilíbrio succinato-fumarato em do estaria ao final da segunda volta do ciclo?
direção ao succinato.
Respostas
1. B Alta energia não se refere a uma alta energia de côndria para ser usado como uma fonte de acetil
formação (estabilidade da ligação). Uma ligação de -CoA citoplasmático. B: fumarato é produzido du
alta energia é assim designada porque tem uma rante a degradação de fenilalanina e tirosina. D:
alta energia livre de hidrólise. Isso poderia surgir α-cetoglutarato pode ser formado a partir de glu
pelas razões A, C, D ou E. tamato. E: oxaloacetato é produzido pela piruvato
2. carboxilase, e é usado na gluconeogênese. Eviden
C A: citrato é transportado para fora da mito
temente, a maioria dos intermediários do ciclo dos
CAPÍTULO 14 BIOENERGÉTICA, MITOCÔNDRIA E METABOLISMO OXIDATIVO • 609
ácidos tricarboxílicos desempenha múltiplas fun I, mas o complexo I não pode reagir com a succina
ções no corpo. to desidrogenase. E: este é o citocromo c.
3. D ATP e ADP são transportados em direções 10. A Essa é a enzima chave reguladora do ciclo TCA.
opostas. A e B: equivalentes de redução do NADH B: malato é a forma reduzida, de modo que seria
são transportados através da membrana, assim favorecido. C: a enzima citossólica usa NADH e
como o grupo acetil do acetil-CoA, mas NADH e transporta equivalentes de redução para dentro da
acetil-CoA não podem atravessar. C: dos nucleotí mitocôndria. A enzima mitocondrial é FAD-ligada.
deos, só ATP e ADP são transportados. E: como D: NADH não atravessa a membrana. E: essa rea
NADH, NADPH não atravessa a membrana. ção é FADH2-ligada.
4. A Essa é a utilização direta da energia. B: o movi 11. D É por isso que a meta-hemoglobina é um antí
mento de prótons é da matriz para o espaço inter doto eficiente, uma vez que também tem Fe3+. B:
membranas, de forma que o último se torna mais respiração e produção de energia são acopladas, de
positivo. C: só alguns transportadores de elétrons modo que inibindo uma, inibe a outra também. C:
têm energia suficiente para bombear prótons. D: cobre é uma parte importante da citocromo oxida
nenhum íon negativo é transportado com o próton, se, mas o cianeto não se liga a ele. E: o problema é
de modo que surge um gradiente de cargas. E: a a incapacidade de reagir com O2, não falta de O2.
energia é necessária para liberar o ATP da subuni
12. A O cianeto inibe o transporte de elétrons no sí
dade, não para a síntese em si.
tio III, bloqueando o fluxo de elétrons pelo sistema.
5. D Isso está correto. A: ambos ficam associados Em mitocôndrias acopladas, a síntese de ATP tam
com a membrana mitocondrial interna. B: essa é a bém para. A adição de um desacoplador permite
função do domínio F0. C: ambos ligam-se e síntese que a ATPase mitocondrial (que está normalmente
de ATP ocorre. E: mudanças de conformação de di dirigida no sentido da síntese) opere e catalise a
ferentes subunidades são importantes nas ações de reação favorável de hidrólise de ATP, a menos que
ambos os domínios. seja inibida por um inibidor de fosforilação, como a
oligomicina.
6. A A transferência de quatro elétrons para o oxi
gênio produz água. Radicais de oxigênio ocorrem 13. DG0! =−RTln K=−2,303 RTlog K. Substituição dá
quando elétrons são adicionados passo a passo ao log K = 5. K é, então, 100.000, de modo que B/A =
O2. B: H2O2 também é incluído como oxigênio reati 100.000/1.
vo porque pode produzir ·OH. C: H2O2 é degradado
14. O carbono ceto marcado do piruvato torna-se o
pela catalase. D: todos esses estão sujeitos a oxida
carbono da carboxila marcada no acetil-CoA. Após
ção, com efeitos deletérios. E: a glutationa peroxi
condensação com oxaloacetato, o primeiro gru
dase catalisa essa reação.
po carboxila do citrato fica marcado. Essa marca
7. A Ca2+ elevado favorece a desidrogenase ativa, é retida nas reações subsequentes até succinato.
mas por ativação da fosfatase. B, C e D: NADH e Entretanto, o succinato é um composto simétrico
acetil-CoA ativam a piruvato desidrogenase quina para a enzima, de modo que, na realidade, ambos
se, inativando assim a piruvato desidrogenase. O os grupos carboxila do succinato ficam marcados.
piruvato inibe a quinase, favorecendo a desidroge Isso significa que o oxalato regenerado é marcado
nase ativa. em ambos os grupos carboxila ao final de uma volta
(na verdade, metade das moléculas é marcada em
8. E TPP é o cofator da primeira reação, que des um grupo carboxila e metade no outro, mas isso
carboxila o piruvato. A e C: esses são cofatores da não pode ser diferenciado experimentalmente).
di-hidrolipoil transacetilase. B e D: esses são cofa
Note que CO2 não é marcado. Na segunda volta,
tores da di-hidrolipoil desidrogenase.
acetil-CoA marcado na mesma carboxila é adicio
9. D Isso contribui para a força próton-motiva ne nado, mas, desta vez, ao oxaloacetato marcado.
cessária para a síntese de ATP. A e C: a transfe Ambos os grupos carboxila do oxaloacetato são
rência não é direta, mas ocorre por FMN e centros liberados como CO2, de modo que este estará mar
FeS. B: elétrons são transferidos do NADH para cado, bem como o oxaloacetato regenerado.
FMN ligados a uma das subunidades do complexo
610 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
15
PARTE IV
Vias Metabólicas e seu controle
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 611
Metabolismo
Glicogênio G C
de Carboidratos I:
Principais Vias
Metabólicas e Seu Controle
Robert A. Harris
Professor Emérito Distinto e Professor Eméritoérito ��o���ter��o���ter �e�e �io���mi����io���mi��� �n�i�n��n�i�n� �ni�er��ni�er�
sity ���oo� of Me�i�ine
Conceitos Chaves
• ca
mamíferos
A glicose épara
(ausênciametabolizada
de formar
oxigênio)
ATP.
por
produz
Atodas as células
glicólise
duas moléculas
anaeróbi�
de da glicólise e é regulada tanto negativamente como
positivamente por efetores alostéricos.
• Gluconeogênese, a formação de glicose a partir
de lactato e de ATP a partir de uma molécula de
de substratos não�carboidratos, é necessária para
glicose. A glicólise aeróbica (presença de oxigênio)
manter a glicose sanguínea e envolve as enzimas
produz duas moléculas de NADH e de piruvato. O
glicolíticas que catalisam reações reversíveis. As rea�
NADH deve ser reoxidado para que a glicólise con�
ções da glicólise que são irreversíveis são contorna�
tinue.
das por reações específicas da gluconeogênese. Al�
• to�1�quinase
A glicólise éé reguladaregulada
catalisa aemememetapa
trêstrêstrêsde
etapas.etapas.etapas.
comprometimento AAA 6�fosfofru�6�fosfofru�6�fosfofru� guns aminoácidos são glucogênicos, mas os ácidos
graxos com número par de carbonos não são.
612 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
• A gluconeogênese é inibida por insulina e estimu� • A glicogênio sintase existe em uma forma fosfori�
lada por glucagon, mediados pela regulação dos lada, que é dependente para atividade da presença
estados de fosforilação de enzimas regulatórias. de glicose 6�fosfato, um efetor alostérico positivo, e
Efeitos de longo prazo, estimulatórios do glucagon uma forma não�fosforilada, que é independente de
e inibitórios da insulina, sobre a gluconeogênese glicose 6�fosfato.
são mediados por indução e repressão de enzimas
• A glicogênio fosforilase, uma enzima chave na de�
chaves de vias glicolítica/gluconeogênica. gradação do glicogênio, é ativada por AMP e ini�
• Quando a glicose é abundante, o fígado e o músculo bida por glicose e ATP, e é ativada também por
esquelético sintetizam e armazenam glicogênio. O uma cascata de sinalização envolvendo proteína
músculo esquelético utiliza o glicogênio armazena� quinases.
do para a síntese de ATP durante o exercício, e o
• Doenças do armazenamento de glicogênio são cau�
fígado libera glicose a partir do glicogênio quando
sadas por defeitos hereditários em enzimas envol�
os níveis de glicose sanguínea estão baixos. O mús�
vidas na degradação do glicogênio.
culo não libera glicose livre.
tecidos, a glicólise é só uma via fornecedora de energia DGlicose glicólise 2 piruvato PDH
2 acetil CoA
de emergência, capaz de produzir 2 moles de ATP a par
tir de 1 mol de glicose, em ausência de oxigênio (Figura
2 Llactato 2CO2 TCA 4CO2
15.2). Quando o suprimento de oxigênio de um tecido
é interrompido, os níveis de ATP ainda podem ser man
tidos pela glicólise, pelo menos por um curto período. Nenhum
paraOa2 glicólise
é necessário Necessidade
desidrogenase
de O2(PDH)
para amais
piruvato
Poderiam ser dados muitos exemplos, mas a capacidade atividade do ciclo TCA
de utilizar a glicólise como uma fonte de energia é par
ticularmente importante durante o nascimento natural FIGURA 15.3 A glicólise é uma via preparatória para o
de bebês humanos. Com a exceção do cérebro, a circu metabolismo aeróbico da glicose.
lação do sangue diminui para a maioria das partes do PDH refere-se ao complexo piruvato desidrogenase, TCA ao ciclo
dos ácidos tricarboxílicos.
corpo do bebê durante o parto. Normalmente, o cérebro
não é privado de oxigênio durante o parto, mas outros
glicose). Isso tem importantes consequências a serem
tecidos passam a depender da glicólise para seu supri
consideradas em detalhes mais adiante. A importân
mento de ATP, até que um suprimento normal de oxigê
cia da glicólise como uma via preparatória é mais bem
nio esteja disponível. Isto economiza oxigênio para ser
exemplificada pelo cérebro, que tem uma necessidade
usado pelo cérebro, ilustrando um dos muitos mecanis
absoluta de glicose. O piruvato produzido pela glicólise
mos que evoluíram para assegurar a sobrevivência do
é oxidado a CO2 nas mitocôndrias. Um cérebro humano
tecido cerebral em momentos de estresse. Oxigênio não
adulto usa aproximadamente 120 g de glicose por dia
é necessário para a glicólise; de fato, o oxigênio pode para suprir sua necessidade de ATP. Diferentemente, a
suprimir indiretamente a glicólise pelo efeito Pasteur,
glicólise com lactato como produto final é o principal
que será considerado mais adiante (p. 628). Contudo,
mecanismo de produção de ATP em alguns outros te
a glicólise ocorre em células com um suprimento abun
cidos. Os glóbulos vermelhos não têm mitocôndrias e,
dante de oxigênio molecular. Contanto que as células
portanto, não podem converter piruvato em CO2. A cór
também contenham mitocôndrias, o produto final da
nea, o cristalino e regiões da retina têm um suprimento
glicólise em presença de oxigênio é o piruvato, e não
limitado de sangue, e também são desprovidos de mito
o lactato. O piruvato é, então, completamente oxidado
côndrias (porque as mitocôndrias absorveriam e difra
a CO2 e H2O pelo complexo piruvato desidrogenase e
tariam a luz), e dependem da glicólise como o principal
enzimas do ciclo TCA alojadas dentro das mitocôndrias
mecanismo para produção de ATP. A medula renal, os
(Figura 15.3). A glicólise, portanto, prepara o palco
para a oxidação aeróbica do carboidrato. O processo ge testículos, os leucócitos e as fibras musculares brancas
ral d glicólise e da oxidação mitocondrial do piruvato a têm relativamente poucas mitocôndrias e são, portan
to, dependentes quase que totalmente da glicólise como
CO2 e H2O tem a seguinte equação:
fonte de ATP. Os tecidos que dependem primariamente
D-Glicose(C6H12O6)
→ 6 CO2 + 6 H2O
+ 6+O2
32+ATP4
32 ADP3–
– + 32+OH–P2–i
32 → da glicólise para a produção de ATP, consomem cerca
de 40 g de glicose por dia, em um adulto normal.
a
A. Glóbulos vermelhos B. Células do tecido cerebral a
Glicose Glicose
b b
Pentoses
fosfato c Glicose 6-P Pentoses
fosfato c
Glicose 6-P
d d
(2) Piruvato
(2) Lactato– (2) CO2 f
(4) CO2
b h b
Pentoses
fosfato c d i Pentoses
fosfato c d h
Glicose 6-P Glicogênio Glicose 6-P i Glicogênio
j
g
Gordura
(4) CO2
E. Células do parênquima a
hepático b
Glicose
Pentoses
fosfato c Glicose 6-P Glicogênio
FIGURA 15.4 Visão geral das principais vias
h pelas quais a glicose é metabolizada dentro
de células de tecidos específicos do corpo.
Glucuronídeos n d l A. Glóbulos vermelhos. B. Células do tecido
i cerebral.C. Células de tecido muscular e cardíaco.
D. Células de tecido adiposo. E. Células do parên�
Glicose m (2) Piruvato (2) Lactato– quima hepático. (�) Transporte de glicose para
(2) CO2 f dentro de uma célula por um transportador de
(2) H+
e glicose (GLUT). (b) Fosforilação da glicose por
(2) AcetilCoA hexoquinase. (�) Via das pentoses fosfato. (�) Gli�
cólise. (e) Transporte de ácido láctico para fora da
j g célula. (f) Descarboxilação do piruvato pela piru�
VLDL VLDL k
Gordura vato desidrogenase. (g) Ciclo TCA. (�) Glicogêne�
(4) CO2 se. (i) Glicogenólise. (j) Lipogênese. (k) formação
e liberação de lipoproteínas de densidade muito
baixa (VLDL). (�) Gluconeogênese. (m) Hidrólise
de glicose 6�fosfato e liberação de glicose da célu�
la para o sangue. (n) Formação de glucuronídeos
(desintoxicação de drogas e bilirrubina por conju�
gação) pela via do ácido glucurônico.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 615
fígado é o primeiro tecido importante a ter oportunida� (transportador de glicose 4). Na ausência de insulina,
de de remover glicose do sangue da veia porta. Quando GLUT4 existe em vesículas intracelulares, onde não
a glicose sanguínea está alta, o fígado remove glicose pode facilitar o transporte de glicose (Figura 15.5). A
para glicogênese e glicólise. Quando a glicose sanguí� ligação da insulina ao seu receptor na membrana plas�
nea está baixa, o fígado fornece glicose ao sangue por mática inicia uma cascata de sinalização que promove
glicogenólise e gluconeogênese. O fígado é também o o deslocamento e a fusão de vesículas contendo GLUT4
primeiro órgão exposto ao sangue que flui do pâncreas com a membrana plasmática, colocando assim o GLUT4
e, portanto, está exposto às concentrações mais altas onde pode facilitar o transporte de glicose. A glicose
de glucagon e insulina. Os efeitos desses importantes captada por células musculares e cardíacas pode ser
reguladores hormonais dos níveis de glicose sanguínea utilizada pela glicólise para dar piruvato, que é usado
serão discutidos mais adiante. pelo complexo piruvato desidrogenase e ciclo TCA para
fornecer ATP. O músculoúsculo ee ooo coraçãocoraçãocoração sintetizamsintetizamsintetizam quan�quan�quan�
tidades significativas de glicogênio, um importante
Glicose É Metabolizada combustível que esses tecidos acumulam para consumo
Diferentemente em Várias Células posterior.
A glicose é metabolizada principalmente por glicó� Como no músculo, a captação de glicose pelo teci�
lise em eritrócitos (Figura 15.4A). O transporte atra� do adiposo é dependente de, e estimulado por, insulina
vés da membrana plasmática é catalisado por GLUT1 (Figuras 15.4D e 15.5). O piruvato, como em outras cé�
(transportador de glicose 1; p. 508). Como essas célu� lulas, é gerado pela glicólise e é oxidado pelo comple�
las são desprovidas de mitocôndrias, o produto final xo piruvato desidrogenase, formando acetil�CoA, que é
da glicólise é ácido láctico, que é liberado no sangue. usado primariamente para síntese �e no�o de ácidos
A glicose usada pela via das pentoses fosfato em eri� graxos. A glicólise também fornece carbono para a sín�
trócitos fornece NADPH para manter a glutationa no tese de glicerol 3�fosfato (não mostrado), necessário
estado reduzido, o que tem um papel importante na para síntese de triacilglicerol (p. 707). O tecido adiposo
destruição de peróxidos orgânicos e H2O2 (ver Figura pode realizar glicogênese e glicogenólise, mas sua capa�
14.61, p. 605). Peróxidos causam danos irreversíveis a cidade para esses processos é muito limitada em rela�
membranas, DNA e outros componentes celulares, e de� ção ao músculo, ao coração e ao fígado.
vem ser removidos para evitar lesão
e morte celular. Insulina
O fígadoígado temtemtem ooo maiormaiormaior númeronúmeronúmero dedede caminhoscaminhoscaminhos paraparapara uti�uti�uti� Estágio de óxido-redução-fosforilação (Figura 15.6�):
lizar glicose (Figura 15.4E). A captação de glicose ocor� 2D�gliceraldeído
→ 2 L�lactato–
3�fosfato2�
++ 4 ATP4– + 2 Pi2– + 2 H+ →
4 ADP3–+
reindependentemente de insulina por meio de GLUT2,
um transportador de baixa afinidade e alta capacidade 2 H2O
de transporte de glicose. Glicose é usada pela via das Soma:
pentoses fosfato para a produção de NADPH, que é ne�
cessário para a síntese redutora (síntese �e no�o de →
D�Glicose
2 L�lactato–
+ 2ADP3–
+ 2 ATP4–
+ 2 Pi2– →
ácidos graxos e colesterol), a manutenção da glutationa + 2 H2O
reduzida e numerosas reações catalisadas por sistemas
enzimáticos do retículo endoplasmático. Uma função O estágio preparatório envolve investimento de duas
vital da via das pentoses fosfato é o fornecimento de moléculas de ATP para converter a glicose em frutose
ribose fosfato para a síntese do resíduo de açúcar de 1,6�bisfosfato. O ATP é “investido”, e não perdido, nes�
nucleotídeos, como ATP e aqueles do DNA e do RNA. se estágio porque háhá subsequentesubsequenteente ganhoganhoganho maiormaiormaior ememem eta�eta�eta�
O armazenamento de glicose como glicogênio é uma pas posteriores. O estágio de quebra “cliva” a frutose
característica particularmente importante do fígado. A 1,6�bisfosfato em duas moléculas de gliceraldeído 3�fos�
glicose também é usada na via do ácido glucurônico, fato. No estágio de óxido�redução�fosforilação, duas
que é importante na desintoxicação de drogas e de bi� moléculas de gliceraldeído 3�fosfato são convertidas em
lirrubina (p. 674 e 821). O fígado realiza glicólise, sendo duas moléculas de lactato, com a produção de quatro
que o piruvato produzido é usado como fonte de acetil� moléculas de ATP. O processo total, portanto, gera duas
�CoA para oxidação completa pelo ciclo dos ácidos tri� moléculas de lactato e duas moléculas de ATP a partir
carboxílicos e para síntese de ácidos graxos. A glicólise de uma molécula de glicose.
também fornece carbono para a síntese do resíduo de
glicerol do triacilglicerol, que é sintetizado pelo fígado Estágio Um: Preparação da Glicose
durante a produção de lipoproteínas de densidade mui�
to baixa (VLDL) (p. 744). O fígado também converte Embora a reação da hexoquinase (Figura 15.6�)
precursores de três carbonos (lactato, piruvato, glicerol consuma ATP, ela representa um bom início da glicólise
e alanina) em glicose pelo processo de gluconeogênese, porque retém glicose como glicose 6�fosfato (G6P) no
para suprir as necessidades de glicose de outras células citosol, onde todas as enzimas glicolíticas estão loca�
e do cérebro. lizadas. Os ésteres de fosfato são carregados e hidro�
fílicos e, portanto, não podem atravessar membranas
celulares. A fosforilação da glicose pelo ATP é uma
reação termodinamicamente favorável, irreversível em
15.3 VIA GLICOLÍTICA condições celulares. A reação inversa não pode ser usa�
da para sintetizar ATP.
Glicose é combustível e queima em tubo de ensaio,
gerando calor e luz, mas, é claro, nenhum ATP. As cé� A reação seguinte, catalisada pela fosfoglucose iso�
lulas usam cerca de 30 etapas para levar glicose a CO2 merase, é facilmente reversível, e não está sujeita a re�
e H2O, um processo aparentemente ineficiente, já que gulação.
pode ser feito em uma única etapa em tubo de ensaio.
Entretanto, reações colaterais e algumas das etapas re� A 6�fosfofruto�1�quinase (ou fosfofrutoquinase�1)
ais utilizadas pela célula para oxidar glicose a CO2 e catalisa a fosforilação dependente de ATP da frutose
H2O levam à conservação de uma quantidade significa� 6�fosfato (F6P) para frutose 1,6�bisfosfato (FBP). Essa
tiva de energia na forma de ATP. Em outras palavras, enzima está sujeita a regulação por vários efetores, e é
as células produzem ATP pela “queima” controlada de frequentemente considerada a enzima regulatória cha�
glicose, sendo que a glicólise representa apenas as pri� ve da glicólise. A reação é irreversível e usa o segundo
meiras etapas, apresentadas na Figura 15.6. ATP necessário para “preparar” a glicose.
CH2OH H
CH2O P
HO
H OH O
H H
OH ATP
hexoquinase
ADP H O H
H H
HO OH H OH
H OH OH
Glicose Glicose 6-fosfato
CH2OPO fosfoglucoseisomerase
CH2OH
ADP
ATP
HFrutose
HOH 6-fosfato
OH
H OH HCOH
O
CH Pi desidrogenase
gliceraldeído
3-fosfato O
COP
HCOH
CH2OP NAD+ NADH, H+ CH2OP
fosfoglicerato
quinase ADP
CH2OP OP ATP
O CH2
H H OH
OH O O
OH H CO– CO–
Fosfoenolpiruvato
2-Fosfoglicerato
OH
P ADP piruvato
fosfoglicerato
mutase
quinaseATP OP
Frutose 1,6-bisfosfato
frutose-bisfosfato
aldolase HCO HCOH
CH2 CH2
(a) 3-Fosfoglicerato
CH2 C O
Di-hidroxiacetona
fosfato Frutose 1,6-bisfosfato HCOH H2O
H OHH H OH
OH ou HOCH OP O
CO–
HCOH
(b) CO–
O
CH2 (c)
CH2 Piruvato
COP C O
CH3
NADH, H+
O NAD+
O L O lactato
CH2
C OP CH CO– desidrogenase
OH triose
isomerase
fosfato HCOH
CH2 HOCH
OP
Gliceraldeído
CH3
3-fosfato -Lactato
o que lhe dá condições de participar de uma reação sub� A reação final envolve o acoplamento dos compo�
sequente que forma ATP. A reação geral pode ser vista nentes endergônico e exergônico, dando uma variação
como o acoplamento de uma reação exergônica muito de energia livre padrão de +6,3 kJ/mol (1,5 kcal/mol).
favorável com uma reação endergônica desfavorável. A
O
reação exergônica é aquela na qual um aldeído é oxida�
do a um ácido carboxílico, a qual é depois acoplada com NAD+ O Soma:
+ HPO42J RCH + NAD+ + HPO42J
uma meia reação endergônica, na qual NAD+ é reduzido O
a NADH. R COPO32J + NADH + H+, ∆G°! + 1,5 kcal molJ1
O O
R CH + H2O RCOH + 2H+ + 2eJ Essa reação é totalmente reversível nas células. O
mecanismo catalítico envolve gliceraldeído 3�fosfato re�
NAD+ + 2H+ + 2eJ NADH + H+
agindo com o grupo sulfidrila de um resíduo de cisteína
A reação geral (soma das meias reações) é bastante para gerar um tio�hemiacetal (Figura 15.7). Uma reação
exergônica. interna de oxidação�redução ocorre, na qual o NAD+li�
gado é reduzido a NADH e o tio�hemiacetal é oxidado
R O
CH NAD+ H2 O a um tiol éster de alta energia. O tiol éster reage com
o Pi para formar o anidrido misto e regenerar o grupo
+ + O R COH +
sulfidrila livre. O anidrido misto se dissocia da enzima
O
e NAD+ exógeno substitui o NADH ligado. Deve�se no�
D H2O R COH NADH H, G° 10,3 kcal mol 1 tar que um grupo ácido carboxílico livre (—COOH) não
é gerado a partir do grupo aldeído (—CHO) durante a
Um segundo componente endergônico da reação é a reação. Ao contrário, a enzima gera um grupo carboxila
formação de um anidrido misto entre o ácido carboxíli� na forma de um tiol éster de alta energia, que é conver�
co e o ácido fosfórico. tido pela reação com Pi em um anidrido misto de ácidos
carboxílico e fosfórico.
O O
Essa reação catalisada pela gliceraldeído 3�fosfato
RCOH + HPO42J R C O
desidrogenase requer NAD+ e produz NADH. Como o
O
citosol tem só uma quantidade limitada de NAD+, a
HPO42 RCOPO32 H2O, ∆G° 11,8 kcal mol1 continuidade da atividade glicolítica só pode ocorrer
se NADH for reoxidado a NAD+; caso
contrário, a glicólise vai parar, por falta
O OH de NAD+. As opções que as células têm
SH HC R
S C R
para regeneração de NAD+ a partir de
Gliceraldeído NADH são descritas em uma sessão pos�
3fosfato H
desidrogenase condensação Tiohemiacetal terior (p. 620).
Na reação seguinte, a fosfoglicerato
NAD+ NAD+
quinase produz ATP a partir do compos�
to de alta energia 1,3�bisfosfoglicerato
(Figura 15.6�). Esse é o primeiro ponto
óxidoredução de produção de ATP na glicólise. Como
do
deslocamento
nucleotídeo NADH interna
duas moléculas de ATP foram investidas
para cada molécula de glicose no está�
NAD+
gio preparatório, e como duas moléculas
de 1,3�bisfosfoglicerato são produzidas a
SH O O
partir de cada glicose, todo o ATP “inves�
P OC R Pi S C R tido” é recuperado nessa etapa. O sistema
Tioéster gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase�
transferência
�fosfoglicerato quinase é um exemplo
de acil de fosforilação em nível de substrato, na
NADH NADH qual um substrato participa de uma rea�
ção catalisada por enzima que gera ATP
ou GTP. Fosforilação em nível de substra�
FIGURA 15.7 Mecanismo catalítico da gliceraldeído 3-fosfato to contrasta com fosforilação oxidativa
desidrogenase. catalisada pela cadeia de transporte de
Os círculos grandes representam a enzima; os círculos pequenos, o sítio de ligação
elétrons mitocondrial e ATP sintase (p.
de NAD+; RCOH, o grupo aldeído do gliceraldeído 3�fosfato; �SH, o grupo sulfidrila
do resíduo de cisteína localizado no sítio ativo da enzima; e �, as ligações de alta 589). Observe que a combinação da glice�
energia do tioéster e do anidrido misto. raldeído 3�fosfato desidrogenase e da fos�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 619
foglicerato quinase faz o acoplamento de uma oxidação o efetor alostérico mais importante da hemoglobina, em
(um aldeído é oxidado a um ácido carboxílico) com uma condições fisiológicas e patológicas que afetam o pH in�
fosforilação (um anidrido misto de um ácido carboxíli� tracelular de eritrócitos (Um Olhar Mais Atento 15.1).
co e um ácido fosfórico é formado), sem o envolvimento
de um sistema de membrana. Enolase elimina águaágua dodoo 2�fosfoglicerato2�fosfoglicerato2�fosfoglicerato paraparapara for�for�for�
mar fosfoenolpiruvato (PEP) na reação seguinte (ver
Fosfoglicerato mutase converte 3�fosfoglicerato em Figura 15.6�). Essa reação gera um fosfato de alta
2�fosfoglicerato. EstaEsta éé umauma reaçãoreação completamentecompletamente re�re� energia a partir de um de nível energético muito mais
versível, na qual 2,3�bisfosfoglicerato é um intermediá� baixo. O DG0’ de hidrólise do fosfoenolpiruvato é –61,9
rio obrigatório no sítio ativo. kJ/mol (–14,8 kcal/mol), enquanto o de 2�fosfoglicera�
to é –17,6 kJ/mol (–4,2 kcal/mol). A piruvato quinase
E�fosfato + 3�fosfoglicerato E + 2,3�bisfosfoglicerato (Figura 15.6�) realiza outra fosforilação em nível de
E + 2,3�bisfosfoglicerato E�fosfato + 2�fosfoglicerato substrato. Essa reação não é reversível em condições
Soma: 3�fosfoglicerato 2�fosfoglicerato intracelulares.
O envolvimento de 2,3�bisfosfoglicerato nessa reação A última etapa da glicólise é uma reação de óxido�
cria uma necessidade absoluta de quantidades catalíti� �redução francamente reversível, catalisada pela lac�
cas desse composto nas células.células. IssoIssoo podepodepode serserser consta�consta�consta� tato desidrogenase (Figura 15.6�). O piruvato é redu�
tado observando�se que E�P não pode ser gerado sem zido para dar L�lactato e NADH é oxidado a NAD+. A
2,3�bisfosfoglicerato e, da mesma forma, que 2,3�bisfos� direção para frente dessa reação é a única reação do
foglicerato não pode ser gerado sem E�P. As célulasélulas re�re� corpo na qual L�lactato pode ser produzido. A direção
solvem esse problema sintetizando 2,3�bisfosfoglicerato inversa dessa reação é a única reação do corpo na qual
a partir de 1,3�bisfosfoglicerado com uma 2,3�bisfosfo� L�lactato pode ser utilizado. A lactato desidrogenase é,
glicerato mutase. portanto, responsável pela produção e pela utilização
de L�lactato.
O O
CH2
COPO32J COJ
+H+ Rendimento em ATP e Equação
2J
HCOH HCOPO3
Balanceada da Glicólise Anaeróbica
OPO32J CH2OPO32J
A conversão de uma molécula de glicose em duas mo�
3�fosfoglicerato e Pi
1,3-Bisfosfo-D-glicerato 2,3-Bisfosfo-D-glicerato
léculas de lactato resulta na formação líquida de duas
moléculas de ATP. Duas moléculas de ATP são usadas no
Essa enzima é bifuncional, servindo como muta� estágio preparatório, mas as etapas subsequentes produ�
se para a formação de 2,3�bisfosfoglicerato, e também zem quatro moléculas de ATP, de modo que o rendimen�
como fosfatase que hidroliza 2,3�bisfosfoglicerato em to total líquido é de duas moléculas de ATP.
. Todas as células contêm as quan�
tidades minúsculas de 2,3�bisfosfoglicerato necessárias
para produzir a forma fosforilada (E�P) da fosfoglice�
1/2 Glicose
rato mutase recém�sintetizada. Em notável contraste
com as outras células do corpo, eritrócitos contêm con�
centrações muito altas de 2,3�bisfosfoglicerato, o qual ADP 1,3Bisfosfoglicerato 2,3BP
Gm
utase
funciona como um importante regulador alostérico
negativo da ligação do oxigênio com a hemoglobina (p. ATP 2,3Bisfosfoglicerato
378). Em contraste com as quantidades extremamente tase
fosfa
pequenas de glicose usadas para 2,3�bisfosfoglicerato B PG )
3Fosfoglicerato 2,3
em outras células, 15 a 25% da glicose convertida em BC
(R
e
lactato em eritrócitos segue o �es�io �PG para a sínte� tas
Pi fa
fos
se de 2,3�bisfosfoglicerato (Figura 15.8). Deve�se notar IP
M
que o desvio BPG contorna a etapa da PGK. Portanto,
nãoão háhá produçãoproduçãoprodução líquidalíquidalíquida dedede ATPATPATP quandoquandoquando glicoseglicoseglicose ééé con�con�con� 2Fosfoglicerato
vertida em lactato via desvio BPG. O 2,3�Bisfosfoglice�
rato é também hidrolizado em eritrócitos pelas inositol Lactato
polifosfato múltiplas fosfatases (MIP fosfatases) (Fi�
gura 15.8). Ao converter 2,3�BPG em 2�fosfoglicerato, FIGURA 15.8 As reações do desvio do
2,3-bisfosfoglicerato (2,3-BPG) são catalisadas pela
em lugar de 3�fosfoglicerato, a MIP fosfatase expande
enzima bifuncional, 2,3-BPG mutase/fosfatase.
o desvio BPG, por contornar a reação catalisada pela
2,3�BPG é também hidrolisado a 2�fosfoglicerato pelas múl�
fosfoglicerato mutase. A excepcional sensibilidade da tiplas inositol polifosfato fosfatases (MIP fosfatases), assim
MIP fosfatase a variações de pH sugere que a atividade
chamadas porque a inositol múltipla fosfatase foi identificada
dessa enzima possa ajustar a concentração de 2,3�BPG, antes do 2,3�BPG como sendo substrato dessa enzima.
620 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
→
D�Glicose
2 L�lactato–
+ 2ADP3– + 2 Pi2– →
+ 2ATP4– NADH Gerado pela Glicólise Deve
+ 2 H2O
ser Oxidado de Volta a NAD+: Papel
As células têm apenas uma quantidade limitada de
ADP e Pi. O fluxo pela glicólise é dependente de um su� da Lactato Desidrogenase e das
primento adequado desses substratos. Se o ATP não for
utilizado para realização de trabalho, a glicólise para
Lançadeiras de Substrato
por falta de ADP e/ou Pi. Consequentemente, o ATP Glicólise Anaeróbica
gerado deve ser usado em processos relacionados com
trabalho normal para que a glicólise ocorra. O uso de
NADH e NAD+ não aparecem na equaçãoequaçãoção balancea�balancea�balancea�
ATP para qualquer processo relacionado com trabalho da de soma da glicólise anaeróbica porque a geração de
é representado simplesmente por
NADH e sua utilização são acopladas (balanceadas) na
ATP4– + H2O → ADP3– + Pi2– + H+ + “trabalho” via (ver Figura 15.6�). Duas moléculas de NADH são ge�
radas pela gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase, e duas
Quando as quantidades são dobradas e adicionadas são utilizadas pela lactato desidrogenase. NAD+ está
à equação anterior da glicólise, excluindo o trabalho reali� disponível só em quantidades limitadas e deve ser rege�
zado uma vez que isso é necessário para o t�rno�er do nerado que a glicólise possa continuar. As duas reações
ATP, a equação total balanceada fica envolvidas são
D�Glicose → 2 L�lactato– + 2H+ D�Gliceraldeído 3�fosfato ++NAD+
→ 1,3�bisfosfo�D�glicerato NADH+P
+i →
H+
Isso mostra que a glicólise anaeróbica gera ácido,
que pode criar importantes problemas para o corpo Piruvato + NADH + H+ → L�lactato + NAD+
(descrito mais adiante na Correlação Clínica 15.5),
uma vez que o pH intracelular deve ser mantido perto A soma das reações é
da neutralidade para atividade enzimática ótima.
D�Gliceraldeído 3�fosfato + piruvato + Pi →
→ 1,3�bisfosfoglicerato + L�lactato
piruvato, e não lactato, como produto final da glicólise. CH3CH + NAD+ + H2O CH3COJ + NADH + 2H+
A membrana mitocondrial interna não é permeável ao Acetaldeído Acetato
NADH (p. 594), mas a lançadeira malato–aspartato e
a lançadeira glicerol–fosfato (ver Figura 14.51, p. 597) O NADH gerado pela última etapa pode ser usado
transportam equivalentes de redução para dentro do diretamente pela cadeia de transporte de elétrons mi�
espaço da matriz mitocondrial (p. 578). O fígado faz tocondrial. Entretanto, o NADH gerado pela álcool desi�
mais uso da lançadeira malato–aspartato, mas algumas drogenase citosólica é oxidado de volta a NAD+ por uma
células musculares são mais dependentes da lançadei� das lançadeiras de substrato (ver Figura 14.51, p. 597).
ra glicerol–fosfato. Os sistemas de lançadeiras movem
equivalentes de redução do citosol para dentro da mito� Assim, a capacidade de oxidar álcool é depende da
côndria, mas não transportam equivalentes de redução capacidade do fígado para transportar equivalentes de
da mitocôndria para o citosol. A soma de todas as rea� redução do citosol para dentro das mitocôndrias por es�
ções da lançadeira malato–aspartato é simplesmente ses sistemas de lançadeiras.
NADHcitosol + H+
→ NAD+citosol + citosol
NADH + mito
NAD+ + H+
mito →
mito Formação de Glucuronídeo
Glucuronídeos hidrossolúveis de bilirrubina e de vá�
brana
A lançadeira
mitocondrial
glicerol
interna
fosfato Figura FADH
(verproduz 14.40, 2p.na
588).
mem� rias drogas (p. 447) são eliminados na urina e na bile.
O Para a formação de glucuronídeos, UDP�glicose (ver es�
sítio ativo da glicerol 3�fosfato desidrogenase mitocon� trutura na p. 674) é oxidada a UDP�ácido glucurônico
drial é exposto na superfície citosólica da membrana
(ver estrutura na p. 675) por
mitocondrial interna. A soma de todas as reações da
lançadeira glicerol fosfato é UDP�D�glicose + 2 NAD+ + H2O →
→ UDP�ácido D�glucurônico + 2 NADH + 2H+
NADHcitosol
→ NAD++citosol
H+citosol
+ FADH
+ FAD
2 membrana interna →
membranainterna
Primariamente no fígado, esse ácido glucurônico
O NADH mitocondrial formado pela atividade da lan� “ativado” é transferido para uma molécula aceptora
çadeira malato–aspartato pode ser usado pela cadeia não�polar, como a bilirrubina ou um composto (R�OH)
de transporte de elétrons mitocondrial para a produção estranho ao corpo.
de 2,5 moléculas de ATP por fosforilação oxidativa.
UDP�ácido D�glucurônico + R�OH →
NADHmito H+ +mito
→+NAD+ 2 + 2,5 ADP + 2,5 Pi →
0,5+O2,5 → R�O�ácido glucurônico + UDP
ATP + H2O
O NADH gerado pela primeira reação é reoxidado
Diferentemente, o FADH2 formado pela lançadeira pelas lançadeiras de substrato. Como a oxidação de eta�
glicerol fosfato dá apenas 1,5 moléculas de ATP. nol e a conjugação de drogas ocorrem no fígado, as duas
ocorrendo juntas podem sobrecarregar a capacidade
FADH2membrana
→ FADmembrana
interna +interna
0,5 O+2 +
1,51,5
ATP
ADP+H Pi → das lançadeiras de substrato. Isso explica o conselho de
+21,5
O não misturar a ingestão de compostos farmacologica�
Assim, o rendimento em ATP da oxidação do NADH mente ativos com álcool (ver Correlação Clínica 15.1).
gerado pela glicólise é 3 ou 5, dependendo da lançadeira
de substrato usada para sua oxidação.
Reagentes Sulfidrila e Fluoreto
Lançadeiras São Importantes para Inibem a Glicólise
Outras Vias de Óxido-redução A gliceraldeído 3�fosfato desidrogenase é inibida por
reagentes sulfidrilas por causa do resíduo de cisteína
Oxidação de Álcool cataliticamente importante em seu sítio ativo. Durante
um ciclo catalítico, o grupo sulfidrila reage com glice�
Álcool (ou seja, etanol) é oxidado a acetaldeído com
raldeído 3�fosfato para formar um tio�hemiacetal (ver
produção de NADH pela álcool desidrogenase. Figura 15.7). Reagentes sulfidrila, que são frequente�
O mente compostos contendo mercúrio ou compostos
CH3CH2OH + NAD+ CH3CH + NADH + H+ alquilantes como iodoacetato, impedem a formação do
Etanol Acetaldeído tio�hemiacetal (Figura 15.9).
622 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Álcool e Barbituratos
A intoxicação aguda por álcool aumenta a sensibilida� bilidade aos barbituratos (tolerância cruzada) e induz
de aos efeitos depressores gerais dos barbituratos. Barbi� os citocromos P450 do retículo endoplasmático do fíga�
turatos e álcool interagem com o canal de cloreto ativa� do envolvidos nas reações de hidroxilação de drogas.
do por g�aminobutirato (GABA). A ativação desse canal Consequentemente, o alcoólatra sóbrio pode metabo�
inibe o disparo neuronal, o que pode explicar os efeitos lizar os barbituratos mais rapidamente. Isso monta o
depressores de ambos os compostos. Essa combinação seguinte cenário: um alcoólatra sóbrio tem problemas
é muito perigosa, e as doses normalmente prescritas de para dormir, mesmo após tomar várias pílulas para dor�
barbituratos são potencialmente letais quando tomadas mir, porque seu fígado tem capacidade aumentada de
com etanol. Além disso, o etanolinibe o metabolismo dos hidroxilar o barbiturato contido nas pílulas. Frustado,
barbituratos, prolongando assim o tempo que os barbi� ele consome mais pílulas e, depois, álcool. O sono vem,
turatos permanecem ativos no corpo. A hidroxilação de mas pode ser seguido de depressão respiratória e mor�
barbituratos pelo sistema citocromo P450 NADPH�depen� te, porque o alcoólatra, embora menos sensível aos bar�
dente do retículo endoplasmático do fígado é inibida pelo bituratos quando sóbrio, permanece sensível ao efeito
etanol. Isso diminui a formação de derivados hidrossolú� sinérgico do álcool.
veis dos barbituratos para eliminação pelos rins e bile.
Os níveis sanguíneos de barbituratos permanecem altos Misra, P. S., Lefevre, A., Ishii, H., Rubin, E. e Liber, C. S.
e causam maior depressão do SNC. Increase of ethanol, meprobamate and pentobarbital meta�
bolism after chronic ethanol administration in man and in
Surpreendentemente, o alcoólatra sóbrio é menos rats. Am. J. Me�. 51:346, 1971; e Tabakoff, B., Cornell, N.,
sensível aos barbituratos. O consumo crônico de etanol Hoffman, P. L. Alcohol tolerance. Ann. Emerg. Me�. 14:1005,
aparentemente causa alterações adaptativas na sensi� 1986.
Quando os níveis de glicose no sangue estão eleva� de um dos transportadores sobrecarregados da cadeia
dos, as células do corpo que são incapazes de restringir de transporte de elétrons para oxigênio produz o radi�
a captação de glicose ficam vulneráveis ao dano causado cal superóxido. O radical superóxido ativa a poli(ADP�
pelo excesso de glicose intracelular. As células mais sus� �ribose) polimerase, uma enzima de reparo do DNA que
ceptíveis são encontradas na retina, no rim, e os neurô� ADP�ribosila grupos sulfidrila livres de muitas enzimas,
nios de nervos periféricos, locais precoces do dano no incluindo o resíduo de cisteína do sítio ativo da gliceral�
diabetes. Superprodução do radical superóxido (O2–·) por deído 3�fosfato desidrogenase. Inibiçãoção parcialparcial dada glicó�glicó�
mitocôndrias é a causa primária do dano, pelo menos em lise por essee mecanismomecanismo podepode contribuircontribuir parapara oo danodano in�in�
parte em virtude da inativação da gliceraldeído 3�fosfato duzido pela hiperglicemia nas células susceptíveis.
desidrogenase, uma enzima necessária para a glicólise. A
oxidação da sobrecarga de glicose nessas células resul� Brownlee, M. Banting Lecture 2004. The pathology of
ta em redução excessiva da cadeia de transporte de elé� diabetic complications: A unifying mechanism. Di�betes 54:
trons mitocondrial. Transferência de um único elétron 1615, 2005.
quando a glicólise acontece em presença do arsenato, uma vez que a força de controle das etapas de uma via
sendo que o ATP investido no estágio preparatório é linear deve somar 1,0, por definição.
balanceado pelo ATP gerado na etapa da piruvato qui�
nase. A arsenólise também interfere com a formação de
ATP por fosforilação oxidativa, daí a toxicidade do arse� O
HCOH
CH2OPO32J
15.4 REGULAÇÃO DA '*OLFHUDOGHtGRIRVIDWR
GLICÓLISE HAsO42J
NAD+
Como em outras vias complexas que envolvem múl�múl� NADH + H+
tiplas etapas, oo fluxofluxo pelapela glicóliseglicólise éé determinadodeterminado pe�pe�
las atividades de várias enzimas, e não por uma única
O
enzima �imit�nte �� �e�o�i���e. A informação quan�
COAsO32J
titativa quanto à contribuição relativa de uma enzima
para o fluxo por uma via em um conjunto específico de HCOH
condições é mais bem determinada a partir da forç� �e CH2OPO32J
�ontro�e da enzima. O efeito que uma pequena inibição
$UVHQDWRIRVIR'JOLFHUDWR
da atividade de uma enzima tem sobre o fluxo por uma
via é usado para determinar a força de controle de uma
espontânea
enzima de acordo com a equação HAsOH422O
J H+
Força de controle = Mudança no fluxo
Mudança na atividade da enzima
O
Para ilustrar, considere que a inibição de 10% de COi
uma enzima em particular não tenha efeito sobre o flu�
xo. A força de controle da enzima é, então, zero (0 di� HCOH
OPO32J
vidido por 10). Agora, considere que a inibição de 10% CH2
de uma enzima resulte em 10% de inibição do fluxo. A )RVIR'JOLFHUDWR
força de controle seria 1,0 (10 dividido por 10), o que
FIGURA 15.10 O arsenato desacopla a oxidação de
significa que o fluxo é inteiramente dependente da ati�
fosforilação na reação da gliceraldeído 3-fosfato
vidade da enzima nessas condições. Agora, considere desidrogenase.
que inibição de 10% de uma enzima resulte em apenas
5% de inibição do fluxo pela via. A força de controle é Uma vez que a regulação do fluxo pela glicólise é
agora 0,5 (5 dividido por 10), o que significa que metade dependente do tecido e do estado nutricional e hormo�
do controle do fluxo é determinada por essa enzima. O nal, as enzimas da glicólise com maior força de controle
resto do controle é exercido por uma ou mais etapas, são a hexoquinase, a 6�fosfofruto�1�quinase e a piruva�
624 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
to quinase (Figura 15.11). Essas enzimas são reguladas reação quase�equilíbrio, e é pouco provável que seja
por efetores alostéricos e/ou modificação covalente. regulada. Quando a razão de ação das massas é consi�
deravelmente diferente de Ke�, considera�se que a enzi�
Uma enzima não�regulatória tem maior chance de ma catalisa uma reação não�equilíbrio, e é geralmente
catalisar uma re�ção próxim� �o e��i��brio, enquan� regulada. A comparação de razões de ação das massas
to uma enzima regulatória tem mais chance de catali� e constantes de equilíbrio para enzimas da glicólise no
sar uma re�ção for� �o e��i��brio. A atividade de uma
fígado indica que muitas catalisam reações de equilí�
enzima não�regulatória traz rapidamente seus substra� brio. As reações da glucoquinase (isoenzima hepática
tos e produtos às concentrações de equilíbrio. Uma en� da hexoquinase), 6�fosfofruto�1�quinase e piruvato qui�
zima regulatória não é ativa o suficiente para equilibrar
nase, no fígado, estão longe do equilíbrio, sugerindo
seus substratos e produtos. Se uma reação catalisada que sejam pontos prováveis de regulação.
por enzima está próxima do equilíbrio ou não, isso pode
ser determinado comparando�se a constante de equilí�
brio estabelecida para a reação com a razão de ação das Hexoquinase e Glucoquinase Têm
massas existentes dentro de uma célula. A constante de
equilíbrio para a reação A + B → C + D é definida por
Propriedades Diferentes
[C][D] Quatro isoenzimas diferentes da hexoquinase (I, II,
Keq = III e IV) são expressas de maneira tecido�específica no
[A][B]
corpo. As isoenzimas da hexoquinase encontradas na
onde os colchetes indicam as concentrações de equilí� maioria dos tecidos (I, II e III) têm um Km baixo para gli�
brio. A razão de ação das massas é calculada de modo cose (<0,1 mM) em relação a sua concentração no sangue
semelhante, exceto que são usadas as concentrações de (�5 mM) e são fortemente inibidas pelo produto glicose
estado estacionário (ss) de reagentes e produtos dentro 6�fosfato (G6P). O último é importante porque impede
da célula. que a hexoquinase comprometa todo o fosfato inorgânico
de uma célula na forma de hexoses fosforiladas (Correla�
[C]ss [D]ss ção Clínica 15.3). Embora a reação da hexoquinase não
Raz˜ao de aç˜ao das massas =
[A]ss[B]ss esteja em equilíbrio, em virtude da inibição imposta pela
G6P, o nível no qual a hexoquinase é expressa nas células
Se a razão de ação das massas for aproximadamen� pode ter um impacto importante na taxa de glicólise das
te igual à Ke�, considera�se que a enzima catalisa uma células (Um Olhar Mais Atento 15.3).
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 625
Intolerância a Frutose
Pacientes com intolerância hereditária à frutose são Embora pacientes com intolerância à frutose sejam
deficientes na enzima do fígado (aldolase B) que que� particularmente sensíveis a esse açúcar, os seres huma�
bra a frutose 1�fosfato em di�hidroxiacetona fosfato e nos em geral têm uma capacidade limitada para lidar
gliceraldeído. Três isoenzimas (A, B e C) são expressas com a frutose. A capacidade do fígado normal para fos�
em mamíferos. A aldolase B está presente em maiores forilar frutose excede muito sua capacidade de quebrar
quantidades no fígado. Ela age sobre ambas frutose frutose 1�fosfato. Isso significa que o uso de frutose pelo
1�fosfato e frutose 1,6�bisfosfato, mas tem afinidade fígado é mal controlado e que o excesso de frutose pode
muito maior (menor Km) para a frutose 1,6�bisfosfato. depletar o fígado de Pi e de ATP. A frutose foi testada,
O consumo de frutose por um indivíduo com deficiência por pouco tempo, em hospitais como um substituto de
de aldolase B resulta em acúmulo de frutose 1�fosfato e glicose em pacientes mantidos em nutrição parenteral.
depleção de Pi e ATP no fígado. As reações envolvidas A suposição que orientou o teste foi a de que frutose se�
são as da frutoquinase e das enzimas da fosforilação ria uma fonte de calorias melhor do que glicose porque
oxidativa. sua utilização é relativamente independente do estado
de insulina de um paciente. Logo, verificou�se que a ad�
Frutose + ATP → frutose 1�fosfato + ADP ministração de grandes quantidades de frutose por via
endovenosa resulta em severa lesão hepática. Tentati�
ADP + Pi + energia fornecida pela cadeia
vas semelhantes foram feitas para substituir glicose por
de transporte de elétrons → ATP
sorbitol e xilitol, mas estes também tendem a depletar o
Soma: Pi + frutose → frutose 1�fosfato fígado de ATP e, como a frutose, não devem ser usados
em nutrição parenteral.
Comprometer Pi como frutose 1�fosfato torna im�
possível para as mitocôndrias do fígado gerarem ATP
Steinmann, B., Gitzelmann, R. e Van den Berghe, G. Di�
por fosforilação oxidativa. Os níveis de ATP caem ver�
sorders of fructose metabolism. Em: Scriver, C.R., Beaudet,
tiginosamente, tornando impossível para o fígadofígado de�de�de� A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met�bo�i� �n� Mo�e�
sempenhar suas funções normais. Os danos às células ����r ��ses of �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York: McGraw�
resultam, em grande parte, pelo fato de estas ficam �Hill, 2001, p. 1489. Ali, M., Rellos, P. e Cox T.M. Hereditary
incapazes de manter os gradientes iônicos normais pe� fructose intolerance. J. Me�. Genet. 35:353, 1998; e Wong, D.
las bombas dependentes de ATP. As células incham e Hereditary fructose intolerance. Mo�. Gen. Met�b. 85: 165,
sofrem lise osmótica. 2005.
Hexoquinase II e Câncer
Via de regra, cânceres de crescimento rápido me� o 18F é administrada aos indivíduos com suspeita de
tabolizam glicose mais rápido do que células normais, câncer. Grandes quantidades de 18F�2�desoxiglicose�6�
pelo menos em parte porque a superexpressão de he� �P acumulam�se nas células cancerosas que metabo�
xoquinase II dá às células cencerosas maior capacidade lizam glicose rapidamente. A ausência de um grupo
enzimática para fosforilação de glicose. Além disso, a hidroxila na posição 2 do resíduo de 2�desoxiglicose
forte ligação da hexoquinase II com a membrana mi� impede a continuação do metabolismo da 18F�2�deso�
tocondrial externa dá à enzima prioridade para o ATP xiglicose�6�P.
produzido por fosforilação oxidativa. A capacidade ex�
cepcional que as célulasélulas cancerosascancerosascancerosas têmtêmtêm paraparapara ooo meta�meta�meta� Mathupala, S. P., Ko, Y. H., e Pedersen, P. L. Hexokinase II:
bolismo de glicose é usada para detectar o câncer por Cancer’s Double�edged sword acting as both facilitator and
tomografia por emissão de pósitrons (PET, positron gatekeeper of malignancy when bound to mitochondria. On�
emission tomogr�p�y). 2�Desoxiglicose marcada com �ogene 25:4777, 2006.
to, o fígado usa glicose a uma velocidade significativa aconteceria se a glucoquinase tivesse o Km baixo carac�
apenas quando os níveis de glicose sanguínea estão terístico de outras hexoquinases, porque estaria então
muito elevados e diminui seu uso de glicose quando completamente saturada nas concentrações fisiológicas
os níveis de glicose sanguínea são baixos. Esse efeito de glicose. Por outro lado, uma forma de hexoquinase
tamponante sobre os níveis de glicose sanguínea não de baixo Km é uma boa escolha para tecidos como o cé�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 627
Diabetes Mellitus
Diabetes mellitus é uma doença crônica caracteriza� sobre o sistema nervoso simpático) podem resultar em
da por erros no metabolismo de carboidratos, lipídeos e anomalias transitórias no teste de tolerância à glicose.
proteínas. Dois tipos principais são clinicamente reco� Por causa desses problemas, a hiperglicemia de jejum
nhecidos: tipo 1 (ver Correlação Clínica 21.8, p. 893) e (> 126 mg/dl) seria, provavelmente, o teste sine ���
tipo 2 (ver Correlação Clínica 21.7, p. 892). non para o diagnóstico de diabetes. A captação de gli�
cose por tecidos sensíveis à insulina, isto é, muscular
Em pacientes sem hiperglicemia de jejum, o teste e adiposo, é diminuída no estado diabético. O paciente
de tolerância à glicose por via oral pode ser usado para diabético ou não tem insulina ou desenvolveu resis�
diagnóstico. Ele consiste em determinar o nível de gli� tên�i� à ins��in� nesses tecidos. A resistência à in�
cose sanguínea no estado de jejum e em intervalos de sulina resulta de anomalias no receptor de insulina ou
30–60
–60 min., por 2 h ou mais, após o consumo de car� em etapas subsequentes, mediadoras dos efeitos me�
ga de 100 g de carboidrato. Em indivíduos normais, a tabólicos da insulina. Células do parênquima hepático
glicose sanguínea retorna aos níveis normais em 2 h não requerem insulina lina para captar glicose. Sem insu�
após ingestão do carboidrato. Em diabéticos, a glicose lina, contudo, o fígado tem capacidade diminuída para
sanguínea atinge um nível mais alto e permanece ele�
remover glicose do sangue. Isso é explicado, em parte,
vada por períodos de tempo mais longos, dependendo
por atividade diminuída de glucoquinase e a perda de
da gravidade da doença. Entretanto, muitos fatores ação da insulina sobre enzimas chaves da glicogênese
podem contribuir para um teste de tolerância à glico� e da via glicolítica.
se anormal. O paciente deve ter consumido uma dieta
rica em carboidratos nos três dias anteriores, presu� Taylor, S. I. Insulin action, insulin resistance and type 2
mivelmente para permitir a indução das enzimas das diabetes mellitus. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W.
vias de utilização da glicose, por exemplo, glucoquina� S. e Valle, D. (Eds.), T�e Met�bo�i� �n� Mo�e����r ��ses of
se, acil graxo sintase e acetil�CoA carboxilase. Qua� �n�erite� Dise�se, 8. ed., New York: McGraw�Hill, 2001, p.
se todas as infecções (até mesmo um resfriado) e o 1433; American Diabetes Association web site www.diabetes.
estresse menos definido (presumivelmente por efeitos orp/home.jsp.
como ácidos graxos e corpos cetônicos (citrato), e (d) para satisfazer a demanda de energia. O efeito Pasteur
a razão insulina/glucagon do sangue (frutose 2,6�bis� ocorre em parte em virtude da inibição por ATP da gli�
fosfato). cólise, no nível da 6�fosfofruto�1�quinase. Isso pode ser
facilmente entendido, uma vez que o ATP é um inibidor
Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por da 6�fosfofruto�1�quinase, e muito mais ATP é gerado
ATP e AMP na presença de oxigênio do que na sua ausência. Como
a 6�fosfofruto�1�quinase é fortemente inibida em con�
O efeito Pasteur refere�se à inibição da utilização de centrações de ATP (2,5�6 mM) normalmente presentes
glicose e ao acúmulo de lactato que ocorre quando a nas células, variações relativamente pequenas na con�
respiração (consumo de oxigênio) é iniciada em células centração de ATP que ocorrem com �ers�s sem oxigê�
anaeróbicas. É perfeitamente compreensível em base nio não podem justificar as grandes mudanças no fluxo
termodinâmica, uma vez que a oxidação completa da pela 6�fosfofruto�1�quinase. Contudo, variações muito
glicose a CO2 e H2O gera muito mais ATP do que a gli� maiores ocorrem nas concentrações de AMP, um efetor
cólise anaeróbica. alostérico positivo da 6�fosfofruto�1�quinase (ver Fi�
gura 15.11). A concentração de estado estacionário de
Glicólise
AMP quando oxigênio é introduzido cai drasticamente,
D�Glicose + 2ADP3– + 2 Pi2– → 2 L�lactato– + 2ATP4– diminuindo a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase, su�
primindo a glicólise e respondendo, em grande parte,
Oxidação Completa pelo efeito Pasteur. Os níveis de AMP caem automatica�
+ 66 O2
D�Glicose→ CO2++
326ADP3– Pi2– + 32 H+ →
H2O ++3232ATP4– mente quando os níveis de ATP sobem porque a soma
dos nucleotídeos de adenina em uma célula, isto é, ATP
+ ADP + AMP, é quase constante na maioria das condi�
As célulasélulas usamusam ATPATP parapara fornecerfornecer aa energiaenergia neces�neces� ções fisiológicas, e a quantidade de ATP é sempre mui�
sária a seus processos inerentesinerentes dede trabalho.trabalho. ComoComo mui�mui� to maior do que a quantidade de AMP. Além disso, os
to mais ATP é produzido a partir de glicose em presença nucleotídeos da adenina são mantidos em equilíbrio no
de oxigênio, muito menos glicose precisa ser consumida citosol pela adenilato quinase, que catalisa a reação re�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 629
versível de 2 ADP → ATP + AMP. A constante de equi� tas, elas catalisam um ciclo fútil (ATP + H2O → ADP
líbrio (K!eq) para essa reação é dada por + Pi + “calor”) e são, portanto, capazes de diminuir
mutuamente sua “eficiência”. Entretanto, AMP inibe a
[ATP][AMP]
Keq = [ADP]2 frutose 1,6�bisfosfatase, o que é oposto ao efeito que o
AMP tem sobre a 6�fosfofruto�1�quinase. Assim, uma
pequena queda no [ATP] desencadeia um aumento per�
Como essa reação opera próximo do equilíbrio em
centual grande no [AMP] o que, por sua vez, sinaliza um
condições intracelulares, a concentração de AMP é
dada por grande aumento na conversão líquida de frutose 6�fos�
fato para frutose 1,6�bisfosfato, devido ao seu efeito so�
[AMP] = Keq
[ATP]
[ADP]2 bre essas duas enzimas. Isso aumenta o fluxo glicolítico
por aumentar a quantidade de frutose 1,6�bisfosfato
disponível para o estágio de quebra.
Como as concentrações intracelulares [ATP] >>
[ADP] >> [AMP], uma pequena diminuição no [ATP] A diminuição do lactato, que ocorre por causa do
causa um aumento percentual substancialmente maior efeito Pasteur, é facilmente explicada pelo fluxo glico�
no [ADP], e como [AMP] está relacionado com o quadra� lítico diminuído. Além disso, a lactato desidrogenase
do de [ADP], um aumento percentual ainda maior no perde a competição com os sistemas de lançadeiras de
[AMP]. Graças a essa relação, uma pequena diminuição substratos pelo NADH e a competição com o complexo
no [ATP] leva a um aumento percentual maior no [AMP] piruvato desidrogenase pelo piruvato.
do que a diminuição percentual no [ATP]. Isso torna o
[AMP] um excelente sinal do estado energético da cé� Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por
lula e um importante regulador alostérico da atividade pH Intracelular
da 6�fosfofruto�1�quinase. A efetividade da 6�fosfofru�
Faria sentido que o lactato, como produto final da
to�1�quinase é influenciada por [AMP] por outro modo,
glicólise, inibisse a enzima regulatória mais importante
ainda. A frutose 1,6�bisfosfatase catalisa uma reação da glicólise. Entretanto, são os íons hidrogênio e não o
irreversível, que éé opostaoposta àà reaçãoreaçãoeação dadada 6�fosfofruto�1�6�fosfofruto�1�6�fosfofruto�1�
lactato que inibem a 6�fosfofruto�1�quinase (ver Figura
�quinase.
15.11). Como mostra a Figura 15.15, a glicólise anaeró�
Frutose 1,6�bisfosfato + H2O → frutose 6�fosfato + Pi bica gera ácido láctico, e a célula deve dispor dele como
tal ou sofrer as consequênciasênciass negativasnegativasnegativas dadada acidifica�acidifica�acidifica�
A frutose 1,6�bisfosfatase fica muito próxima da ção. Isso explica porque glicólise excessiva baixa o pH
6�fosfofruto�1�quinase no citosol de muitas células. Jun� do sangue e leva a uma situação médica de emergência
conhecida como acidose láctica (Cor�
Glicose relação Clínica 15.5). As membranas
Sangue plasmáticas contêm um simporte para
lactato e íons hidrogênio que permite
a transferência de ácido láctico para a
corrente sanguínea. Esse mecanismo
a Citosol de defesa impede que o pH fique tão
baixo que os tecidos produzindo ácido
Membrana
plasmática
láctico tornem�se “picles” (Correlação
Glicose
Acidose Láctica
É caracterizada porpor altosaltos níveisníveis sanguíneossanguíneosíneos dedede lac�lac�lac� oxigênio, portanto, aumenta a produção de lactato e
tato, geralmente superiores a 5 mM, com diminuição diminui a utilização de lactato. A última também pode
no pH do sangue e nas concentrações de bicarbonato ser diminuída por doenças hepáticas, etanol e várias
(ver Correlação Clínica 1.2, p. 11). Acidose láctica é outras drogas. Foi bem documentado que fenformina,
a forma mais frequente de acidose metabólica e pode uma droga que foi usada para tratar a hiperglicemia do
ser consequênciaência dede superproduçãosuperprodução dede lactato,lactato, subuti�subuti� diabetes tipo 2, induz acidose láctica como consequên�
lização de lactato, ou ambos. A produção de lactato é cia da inibição do complexo I da cadeia mitocondrial
normalmente equilibrada pela utilização de lactato, de de transporte de elétrons. A deficiência de tiamina,
modo que normalmente lactato não está presente no comum em alcoólatras desnutridos, causa acidose lác�
sangue em concentrações superiores a 1,2 mM. Todos tica como uma consequência da perda de atividade do
os tecidos podem produzir lactato por glicólise anae� complexo piruvato desidrogenase. A tiamina deve ser
róbica, mas a maioria dos tecidos não produz grandes administrada imediatamente em pacientes com acido�
quantidades uma vez que são bem supridos de oxigê� se láctica grave.
nio e mitocôndrias. Entretanto, todos os tecidos res�
pondem com um aumento na geração de lactato quan� Bicarbonato é geralmente administrado em uma
do a oxigenação é inadequada. Uma queda no ATP em tentativa de controlar a acidose associada com acúmulo
virtude da fosforilação oxidativa diminuída aumenta de ácido láctico. A chave para o sucesso do tratamento,
a atividade da 6�fosfofruto�1�quinase. Assim, os teci� entretanto, é encontrar e eliminar a causa da superpro�
dos precisam depender da glicólise anaeróbica para dução e/ou subutilização de ácido láctico, o que, muito
produção de ATP em tais condições, e superproduzem frequentemente, envolve a restauração da circulação de
ácido láctico. Um bom exemplo é o exercício muscular, sangue oxigenado.
que pode depletar o tecido de oxigênio e causar uma
Newsholme, E. A. e Leech, A. R. �io��emistry for t�e
superprodução de ácido láctico. Hipóxia tecidual ocor�
Me�i��� ��ien�es. New York: Wiley, 1983; Kruse, J. A e Carl�
re, contudo, em todas as formas de choque, durante son, R. W. Lactate metabolism. Crit. C�re C�in. 3:725, 1985;
convulsões e em doenças envolvendo insuficiência cir� Stacpoole, P. W. Lactic acidosis and other mitochondrial di�
culatória e pulmonar. sorders. Met�bo�ism 46: 306, 1997; Ammari, A. N. e Schulze,
K. F. Uses and abuses of sodium bicarbonate in the neona�
O principal destino do lactato no corpo é com� tal intensive care unit. C�rr. Opin. Pe�i�tr. 14:151, 2002; e
pleta combustão a CO2 e H2O ou conversão de volta Klein, M., Weksler, N., e Gurman, G. M. Fatal metabolic aci�
em glicose, pelo processo de gluconeogênese. Ambos dosis caused by thiamine deficiency. J. Emer. Me�. 26:301,
requerem oxigênio. A disponibilidade diminuída de 2004.
Clínica 15.6). O transporte de ácido láctico para fora cose. A maioria desses tecidos pode usar glicose, mas
da célula requer que sangue esteja disponível para levá� prefere oxidar ácidos graxos e corpos cetônicos. Isso
�lo para longe. Quando o fluxo sanguíneo é inadequado, ajuda a economizar glicose para tecidos, como o cére�
por exemplo, no coração durante um ataque de angina bro, que são absolutamente dependentes dela. A oxida�
pectoris ou no músculo esquelético durante exercício ção de ácidos graxos e corpos cetônicos eleva os níveis
intenso, os íons hidrogênio não conseguem escapar das de citrato citosólico, o que inibe a 6�fosfofruto�1�quina�
células em velocidade suficiente. No entanto, a necessi� se (ver Figura 15.11) e diminui a utilização de glicose.
dade de ATP, manifestada por um aumento no [AMP],
pode subrepujar parcialmente a inibição da 6�fosfofru�
to�1�quinase por íons hidrogênio. Acúmulo desequili� Controle Hormonal da 6-Fosfofruto
brado de íons hidrogênio, então, causa dor que, no caso
do músculo esquelético, pode ser aliviada simplesmente
1-quinase por cAMP e Frutose
parando o exercício. No coração, descanso ou agentes 2,6-bisfosfato
farmacológicos que aumentam o fluxo sanguíneo ou di�
minuem a necessidade de ATP nos miócitos podem ser Frutose 2,6�bisfosfato (Figura 15.16), assim como
eficazes (Correlação Clínica 15.7). AMP, é um efetor alostérico positivo da 6�fosfofruto�1�
�quinase e é um efetor alostérico negativo da frutose
Regulação da 6-Fosfofruto-1-quinase por 1,6�bisfosfatase (ver Figura 15.11). Na realidade, sem sua
Citrato presença, a glicólise não poderia ocorrer no fígado por�
que a 6�fosfofruto�1�quinase teria atividade insuficiente
Muitos tecidos preferem usar ácidos graxos e corpos e a frutose 1,6�bisfosfatase seria ativa demais para a con�
cetônicos como combustíveis oxidáveis no lugar da
da gli� versão de frutose 6�fosfato em frutose 1,6�bisfosfato.
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 631
onde e –P são usados para indicar enzimas des� proteína quinase A
fosforilada e fosforilada, respectivamente. A fosforila�
ção causa uma mudança na conformação que afeta o
ATP ADP
sítio ativo da enzima. A atividade de algumas enzimas é P ²P
aumentada, enquanto a de outras éé diminuídadiminuída porporpor fos�fos�fos� i H2O
forilação. Muitas enzimas são reguladas por esse tipo
de modificação covalente, que pode ser revertida sim� fosfoproteína fosfatase
plesmente removendo�se o fosfato. Independentemente
de a fosforilação ou desfosforilação ativar a enzima, a FIGURA 15.21 Modelo geral de regulação de enzimas por
enzima ativa é chamada de forma a, e a enzima inativa, fosforilação-defosforilação.
Os símbolos e –P indicam que diferentes conformações e
forma b. Do mesmo modo, a ação de uma proteína qui�
nase é sempre oposta à de uma fosfoproteína fosfatase, estados de atividade da enzima são produzidos, em virtude da
fosforilação�defosforilação.
que catalisa a reação de
–P + H2O → + Pi
A Enzima Bifuncional 6-Fosfofruto
Em conjunto, criam um sistema cíclico de controle
(Figura 15.21), tal que a razão da enzima fosforilada para 2-quinase/Frutose 2,6-bisfosfatase É
a desfosforilada depende das atividades relativas da pro� Regulada Por Fosforilação
teína quinase e da fosfoproteína fosfatase, ambas quase
que invariavelmente também sujeitas a regulação. Geralmente, uma enzima sujeita a fosforilação é ou
ativada ou inativada como um resultado de fosforila�
ção. A natureza bifuncional da 6�fosfofruto�2�quinase/
6Fosfofruto2quinase frutose 2,6�bisfosfatase torna�a singular nesse aspecto.
Uma única fosforilação da 6�fosfofruto�2�quinase/fru�
ATP ADP tose 2,6�bisfosfatase de fígado inativa a atividade en�
Frutose 6fosfato Frutose 2,6bisfosfato zimática de quinase, mas ativa a atividade enzimática
Pi H2O de fosfatase (Figura 15.22). Desfosforilação tem efei�
tos opostos. Isso fornece um mecanismo muito sensível
Frutose 2,6bisfosfatase para estabelecer a concentração intracelular de frutose
2,6�bisfosfato em células hepáticas, em reposta a mu�
FIGURA 15.19 Reações envolvidas na formação e na danças nos níveis sanguíneos de glucagon ou epinefrina
degradação da frutose 2,6-bisfosfato.
(Figura 15.23). Níveis aumentados de glucagon ou epi�
nefrina, agindo por meio dos receptores de glucagon da
OH membrana plasmática e dos receptores b�adrenérgicos,
respectivamente, têm o efeito comum de aumentar os
CH2
níveis intracelulares de cAMP. Este ativa proteína qui�
CH O nase A, que fosforila um resíduo de serina da 6�fosfofru�
HNC
to�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase (Figura 15.24), o
que inibe a atividade de quinase e ativa sua atividade
Cadeia peptídica
+ de fosfatase. A queda resultante em frutose 2,6�bisfos�
ATP4i fato torna a 6�fosfofruto�1�quinase menos efetiva e a
frutose 1,6�bisfosfatase mais efetiva, inibindo assim a
Mg2+ glicólise no nível da conversão de frutose 6�fosfato em
frutose 1,6�bisfosfato. Uma diminuição no glucagon ou
na epinefrina do sangue resulta no efeito oposto. Uma
OPO32i
CH2
SURWHtQDTXLQDVH$
HN CH O
C
$73 $'3
Cadeia peptídica 3).D)3!DVHE 3).E)3!DVHD
+
ADP3i 3L +2 ²3
+
H+ IRVIRSURWHtQDIRVIDWDVH
FIGURA 15.20 Enzimas sujeitas a modificação covalente FIGURA 15.22 Mecanismo de modificação covalente da
são geralmente fosforiladas em resíduos específicos de 6-fosfofruto-2-quinase/frutose 2,6-bisfosfatase.
serina. O nome da enzima é abreviado por 6�PF�2�K/F�2,6�P’ase. As
Resíduos de tirosina e treonina também são sítios importantes letras a e b indicam as formas ativa e inativa das enzimas, res�
de modificação covalente pela fosforilação. pectivamente.
634 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Adenilato Epinefrina
Glucagon Receptor
ciclase
Receptor de Adrenérgico
glucagon
+
Gs Gs
Membrana
ATP
plasmática
cAMP
Proteína quinase A
ATP ADP
Frutose 6P
ATP
Pi
PFi2iKa/Fi2,6iP!ase b PFi2iKb/Fi2,6iP!ase a
iP
ADP
Frutose2,6P2
Receptor de Insulina
glucagon ou Adenilato Receptor
β-adrenérgico ciclase de insulina
Gs +
Membrana
plasmática
+ –
proteína quinase A
ATP ADP
Frutose 6-P
ATP
Pi
–P
todas com efeitos opostos aos do glucagon e da epinefri� se no coração para atender à demanda aumentada de
na (Figura 15.25). Insulina, portanto, age estimulando ATP, causada por um aumento sinalizado por epinefri�
a taxa de glicólise. na na carga de trabalho. Como no fígado, a epinefrina
age no coração por meio de um receptor b�adrenérgi�
co da membrana plasmática, promovendo a formação
Coração Contém uma Isoenzima de cAMP (Figura 15.26). Isso resulta em ativação da
Diferente da 6-Fosfofruto-2 proteína quinase A que, por sua vez, fosforila a 6�fos�
fofruto�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase. Entretanto,
quinase/Frutose 2,6-bisfosfatase diferentemente do que acontece no fígado, fosforilação
da enzima bifuncional no coração aumenta, em vez de
Um aumento no nível sanguíneo de epinefrina tem diminuir, os níveis de frutose 2,6�bisfosfato. Isso porque
um efeito completamente diferente sobre a glicólise do a isoenzima da enzima bifuncional expressa no coração
coração, em comparação com o fígado. Embora a glicó� é diferente da isoenzima expressa no fígado. A fosforila�
lise seja inibida no fígado para economizar glicose para ção da isoenzima cardíaca ocorre em um sítio que ativa,
uso por outros tecidos, a epinefrina estimula a glicóli� em vez de inibir, a atividade da quinase (Figura 15.27).
636 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
(SLQHIULQD
$GHQLODWR 5HFHSWRU
FLFODVH $GUHQpUJLFR
+ *V
0HPEUDQD
SODVPiWLFD
$73 F$03
+
3URWHtQDTXLQDVH$
$73 $'3
²3
3).E $73 3).D
$'3
)UXWRVH3 )UXWRVH3
6-Fosfofruto-2-quinase/Frutose-2,6-bisfosfatase e o Câncer
Tumores agressivos geralmente crescem mais rá� hipóxia da enzima bifuncional pela proteína quinase
pido do que novos vasos sanguíneos podem ser forma� ativada por AMP (AMPK) cause um aumento ainda
dos a partir dos já existentes. Isso pode resultar em maior na atividade de quinase em relação à atividade
um centro de células carentes de oxigênio no interior de fosfatase. Como consequência, o aumento no AMP
de tumores que poderiam morrer por necessidade do que ocorre em resposta a hipóxia ativa AMPK, que au�
ATP normalmente produzido por fosforilação oxidati� menta a atividade de 2�quinase da enzima bifuncional,
va. Entretanto, as células cancerosas têm uma grande que aumenta a produção de 2,6�bisfosfato, o qual ativa
capacidade de sobreviver a hipóxia, graças àà capaci�capaci�capaci� a 6�fosfofruto�1�quinase, que aumenta a taxa de gli�
dade excepcional que possuem de gerar ATP pela via cólise, que, por sua vez, gera o ATP necessário para
glicolítica. Expressão de uma forma de 6�fosfofruto�2� satisfazer as necessidades energéticas das células de
�quinase/frutose 2,6�bisfosfatase induzida por hipóxia câncer em hipóxia.
é uma das principais razões para a atividadeatividade glicolí�glicolí�
tica singular das células de câncer. Como no fígado, Kim, S.�G., Manes, N. P., El�Maghrabi, M. R., e Lee, Y. –H.
a atividade de quinase excede muito a atividade de Crystal structure of the hypoxia�inducible form of 6�phos�
fosfatase da enzima bifuncional não fosforilada em cé� phofructo�2�kinase/fructose�2,6�biphodphatase (PFKFB3):
lulas de câncer. É notável, e em completo contraste A possible new target for cancer therapy. J. �io�. C�em. 281:
com o fígado, que a fosforilação da forma induzida por 2939, 2006.
TIGAR e Câncer
TIGAR significa glicólise induzida por TP53 (pro� por p53 reduz frutose 2,6�bisfosfato, que reduz a ativi�
teína 53 tumoral) e regulador de apoptose (TP53��n� dade de 6�fosfofruto�1�quinase, que por sua vez reduz o
���e� G�y�o�ysis �n� Apoptosis Reg���tor). Como fluxo pela via glicolítica. Como a glicólise é importante
subentendido por seu nome, a TIGAR regula a glicólise para a sobrevivência e o crescimento de células de cân�
e a apoptose e é induzida por ativação do gene TP53. cer (ver Um Olhar Mais Atento 15.4), superexpressão
O gene TP53 codifica a proteína supressora de tumor da TIGAR por p53 reduz a probabilidade de formação
p53, um fator de transcrição que regula a expressão de de tumor. A perda desse mecanismo regulatório como
várias proteínas, incluindo TIGAR, que impede o de� uma consequência de mutações no gene TP53 é comum
senvolvimento do câncer. A TIGAR é estruturalmente no câncer.
parecida com o domínio bisfosfatase da enzima bifun� Bensaad, K., Tsuruta, A., Selak, M. A., Vidal, M. N. et al.
cional 6�fosfofruto�2�quinase/frutose�2,6�bisfosfatase. TIGAR, a p53�inducible regulator of glycolysis and apoptosis.
Não tem atividade de quinase, mas possui atividade de Ce�� 126:107, 2006; e Green, D. R. e Chipuk, J. E. p53 and me�
fosfatase para frutose 2,6�bisfosfato. Indução da TIGAR tabolism: Inside the TIGAR. Ce�� 126:30,2006.
A gluconeogênese permite a manutenção dos níveis mitocôndrias, os equivalentes de redução do NADH são
sanguíneos de glicose muito tempo depois de toda a transportados para dentro das mitocôndrias pela lan�
glicose da dieta ter sido absorvida e completamente çadeira malato–aspartato ou pela lançadeira glicerol–
oxidada e da glicose armazenada como glicogênio ter fosfato para síntese de ATP por fosforilação oxidativa.
sido consumida. H+NAD+
NADH + → + 0,5+O2,5ATP
2 + 2,5 ADP
+ H2O+ 2,5 Pi →
(2) Lactato (2) Piruvato Aminoácidos
ou
Aminoácidos (2) Oxaloacetato (2) Propionato
FADH2→
+ FAD
0,5 O+2 1,5
+ 1,5
ATP
ADP
+H Pi →
+21,5
O
(2) Glicerol (2) Trioses fosfato Frutose A consequência é que cinco a sete moléculas de ATP
podem ser formadas por molécula de glicose em tecidos
Glicose periféricos que participam do ciclo da alanina. No ciclo
de Cori (Figura 15.30�), só duas moléculas de ATP por
FIGURA 15.29Vias resumidas da gluconeogênese, molécula de glicose são produzidas.
ilustrando os principais substratos precursores para o
processo. →ATP
6 6 (ADP
fígado++P2i)(ADP
fígado +
+2PIATP
)eritrócitos →
eritrócitos
Piruvato– + 2ATP4– →
6ATP ureogênese
Ureia
4ATP 2NADH
→ fosfoenolpiruvato3– + 2ADP3– +
2–
2 Piruvato
Glicose
+ Pi + 2 H+
2iNH2
Portanto, a conversão de piruvato
2 Alanina 2NAD+ 3i5 em PEP durante a gluconeogênese cus�
ATP
glicólise O2
ta à célula duas moléculas de ATP. Isso
contrasta com a conversão de PEP em
2ATP
2 Piruvato piruvato durante a glicólise, que gera
apenas uma molécula de ATP.
2iNH2
Muitas das enzimas da glicólise são usadas na glu� Gluconeogênese Usa Muitas Enzimas
coneogênese a partir de lactato. Entretanto, reações di� Glicolíticas na Direção Inversa
ferentes são necessárias ao processo porque a glicólise
produz dois ATPs, enquanto a gluconeogênese requer As enzimas da glicólise operam na direção inversa
seis ATPs por molécula de glicose, e três etapas da gli� para converter PEP em frutose 1,6�bisfosfato durante
cólise são irreversíveis, a saber, as reações catalisadas a gluconeogênese. A geração de equivalentes de redu�
por glucoquinase, 6�fosfofruto�1�quinase e piruvato ção (NADH) pela lactato desidrogenase é equilibrada
quinase. pelo uso de equivalentes de redução pela gliceraldeí�
do�3�fosfato desidrogenase. A 6�Fosfofruto�1�quinase
A etapa inicial da lactato gluconeogênese é a con� catalisa uma reação irreversível e não pode converter
versão de lactato em piruvato pela lactato desidroge� FBP em frutose 6�fosfato. Um modo de contornar isso
nase (Figura 15.31). O NADH gerado é necessário para é fornecido pela frutose 1,6�bisfosfatase, que hidrolisa a
uma etapa subsequente da via. O piruvato não pode ser
frutose 1,6�bisfosfato a F6P (Figura 15.33).
convertido em fosfoenolpiruvato (PEP) pela piruvato
quinase porque a reação é irreversível nas condições in� A fosfoglicose isomerase é completamente reversível
tracelulares. O piruvato é convertido em PEP pelo aco� e funciona na glicólise e na gluconeogênese. A glicose
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 641
12Glicose
12Pi
12 Glicose 6fosfato
12 Frutose 6fosfato
12Pi
12 Frutose 1,6bisfosfato
Pi NAD+
NADH + H+
Piruvato
1,3Bisfosfoglicerato
ADP
ATP
3Fosfoglicerato Citosol Mitosol
gluconeogênese
glicose
se
6�fosfatase
6�fosfatase é uma
parasubstitui
liberação
(Figura na15.34),
aproteína
glucoquinase
corrente nada
integral
sendo
sanguínea.ínea.
sua
última
membrana
funçãoetapa da
AAA glico�glico�glico�
gerar do Glicose É Sintetizada a Partir da
Maioria dos Aminoácidos
Todos os aminoácidos, exceto leucina e lisina, po�
retículo endoplasmático, com seu sítio ativo disponível
para hidrólise de G6P na superfície luminal (Figura dem fornecer carbono para a síntese de glicose por gluco�
neogênese (p. 638). Se o catabolismo de um aminoácido
15.35). Um transportador move G6P através da mem�
produzir piruvato ou oxaloacetato, síntese de glicose
brana do retículo endoplasmático. Um defeito genético
pode ocorrer a partir desse aminoácido. Oxaloacetato é
no transportador ou na fosfatase interfere com a gluco� um intermediário da gluconeogênese, e piruvato é facil�
neogênese e resulta em acúmulo de glicogênio no fíga�
mente convertido em oxaloacetato pela piruvato carbo�
do, como discutido mais adianta para o metabolismo de
xilase (ver Figura 15.31). O catabolismo de aminoácidos
glicogênio.
fornece carbonos para o ciclo TCA em vários pontos.
Enquanto ocorrer a síntese de intermediários do ciclo
TCA, a síntese de oxaloacetato continuará. Reações que
levam à síntese de intermediários do ciclo TCA são cha�
madas reações anapleróticas (anaplerose), e sustentam
642 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
bela 15.1). Os aminoácidos glucogênicos dão origem Assim, não ocorre síntese de um intermediário do ci�
à síntesesíntese dede piruvatopiruvato ouou oxaloacetato,oxaloacetato, enquantoenquanto ami�ami� clo TCA durante a oxidação completa de acetil�CoA pelo
noácidos que são, ambos, glucogênicos e cetogênicos, ciclo TCA. É, portanto, impossível, para animais, a reali�
também geram o corpo cetônico acetoacetato, ou ace� zação de síntetize de glicose a partir de acetil�CoA.
til�CoA que é facilmente convertido em acetoacetato.
Acetil�CoA é o produto final do metabolismo de lisina,
e acetoacetato e acetil�CoA são produtos finais do me� Glicose Pode Ser Sintetizada a partir
tabolismo de leucina. Não existe nenhuma via que seja
capaz de converter acetoacetato ou acetil�CoA em pi�
de Ácidos Graxos com Número
ruvato ou oxaloacetato. Acetil�CoA não pode ser usado Ímpar, mas Não com Número Par de
para síntese de glicose porque a reação do complexo
piruvato desidrogenase é irreversível. Carbonos
Piruvato + NAD+ + CoASH → A maior parte dos ácidos graxos encontrados no ho�
→ acetil�CoA + NADH + CO2. mem tem cadeias lineares, com número par de átomos
de carbono. Seu catabolismo por oxidação de ácidos
TABELA 15.1 Aminoácidos Glucogênicos e Cetogênicos graxos, seguida de cetogênese ou oxidação completa
Glucogênicos Cetogênicos Ambos a CO2, é resumida na Figura 15.37. Como acetil�CoA e
outros intermediários da oxidação de ácidos graxos de
Glicina Leucina Treonina número par não podem ser convertidos em oxaloaceta�
to ou qualquer outro intermediário da gluconeogênese,
Serina Lisina Isoleucina é impossível sintetizar glicose a partir de ácidos graxos.
Valina Fenilalanina Uma exceção a essa regra aplica�se aos ácidos graxos
ramificados com grupamentos metil (por exemplo, áci�
Histidina Tirosina do fitânico, um produto de quebra da clorofila; ver dis�
Arginina Triptofano cussão da doença de Refsum, Correlação Clínica 17.6, p.
701), e aos ácidos graxos com número ímpar de átomos
Cisteína de carbono. O catabolismo desses ácidos graxos gera
propionil�CoA.
Prolina
Ácido graxo com número ímpar (n) de átomos de
Hidroxiprolina
carbono → (n – 3)/2 acetil�CoA + 1 propionil�CoA
Alanina
Propionil�CoA é um bom precursor da gluconeogê�
Glutamato nese, uma vez que gera oxaloacetato (Figura 15.38) por
uma via anaplerótica (ver Figura 19.53, p.. 802).802).802). Pro�Pro�Pro�
Glutamina pionil�CoA é também produzido durante o catabolismo
Aspartato de valina e isoleucina (ver Figura 19.50, p. 800), e na
conversão de colesterol em ácidos biliares (ver Figura
Asparagina 18.42, p. 748).
Metionina Às vezes afirma�se, sem muita precisão, que gor���
r� não po�e ser �on�erti�� em ��rboi�r�to (g�i�ose)
Poderia�se argumentar que oxaloacetato é gerado a pe�os �nim�is. Isso certamente é verdade para ácidos
partir de acetil�CoA pelo ciclo TCA, por meio dessa sé� graxos com número par de átomos de carbono. Contu�
rie de reações. do, o termo gor��r� geralmente se refere aos triacilgli�
Acetil�CoA → citrato → 2 CO2 + oxaloacetato cerois, que são compostos por três grupos O�acil com�
binados com uma molécula de glicerol. Hidrólise de um
Contudo, isso não considera o oxaloacetato neces� triacilglicerol gera três ácidos graxos e glicerol, sendo o
sário para a formação de citrato, a partir de acetil�CoA. último composto um excelente substrato para a gluco�
neogênese (Figura 15.39).
Acetil�CoA + oxaloacetato → citrato + CoA
Fosforilação do glicerol pela glicerol quinase pro�
Descarboxilação de citrato pelo ciclo TCA regenera duz glicerol 3�fosfato, que é convertido pela glicerol
oxaloacetato. 3�fosfato desidrogenase em di�hidroxiacetona fosfato,
um intermediário da via gluconeogênica (ver Figura
Citrato →→ 2 CO2 + oxaloacetato
15.31, p. 641). Dependendo do estado nutricional, o
Somando essas reações, obtém�se a reação para último estágio da glicólise pode competir com a via
uma volta do ciclo TCA. gluconeogênica e converter di�hidroxiacetona fosfato
em lactato (ou em piruvato, para subsequente oxida�
Acetil�CoA → 2 CO2 + CoA ção completa a CO2 e H2O).
644 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Glicose
Alanina
(2) Gliceraldeído 3-fosfato Glu α-KG
Pi (2) NAD+
(2) NADH Piruvato Citosol
(2) 1,3-Bisfosfoglicerato
Espaço
(2) OAA (2) NAD+ Piruvato
NAD+ da
CO2 matriz
Ureia Orn
Citrulina Orn
Citrulina
Asp Piruvato
Asp
α-KG
FIGURA
relação
Abreviaturas:
com
15.36aOAA,
Via
síntese
da
oxaloacetato;
gluconeogênese
de ureia. Asp, aspartato;
a partir de
Orn,
alanina
ornitina;
e sua
Glu, Glu
Glu
CO2
Piruvato
α-KG
CH3
CH2OH
Propionil CoA
HCOH
HOCH
HCOH
CH2OH
½ Glicose
'6RUELWRO
FIGURA 15.38 Via da gluconeogênese a partir de
propionil-CoA.
A seta grossa refere�se às etapas do ciclo TCA mais etapas da DSorbitol + NAD+ Dfrutose + NADH + H+
gluconeogênese.
FIGURA 15.41 Via responsável pela formação de sorbitol
e frutose a partir de glicose.
Glicerol
vador alostérico da 6�fosfofruto�1�quinase e um inibidor glicólise no fígado. Uma razão glucagon/insulina baixa
alostérico da frutose 1,6�bisfosfatase. O glucagon, por tem os efeitos opostos. A razão glucagon/insulina au�
meio do seu segundo mensageiro cAMP, reduz a fruto� menta quando gluconeogênese é necessária, e diminui
se 2,6�bisfosfato por estimular a fosforilação da enzima quando a glicose é abundante no trato gastrointestinal.
bifuncional 6�fosfofruto�2�quinase/frutose 2,6�bisfosfa� O glucagon sinaliza a indução de grandes quantidades
tase, que inativa a atividade de quinase, mas ativa a ativi� de PEP carboxiquinase, frutose 1,6�bisfosfatase, glico�
dade de fosfatase. A queda induzida por glucagon dos ní� se 6�fosfatase e várias aminotransferases. Um modelo
veis de frutose 2,6�bisfosfato leva à redução na atividade de como isso ocorre é apresentado na Figura 15.43. Li�
da 6�fosfofruto�1�quinase, enquanto a frutose 1,6�bisfos� gação de glucagon ao seu receptor da membrana plas�
fatase fica mais ativa (Figura 15.42). O efeito final é con� mática aumenta cAMP, que ativa a proteína quinase A.
versão aumentada de FBP em F6P e um aumento cor� Proteína quinase A, então, fosforila uma proteína cha�
respondente na taxa de gluconeogênese. Um aumento na mada proteína ligante ao elemento de resposta a cAMP
frutose 6�fosfato também favorece a gluconeogênese por (CREB, �AMP�response e�ement bin�ing protein),
inibir a glucoquinase, via sua proteína inibitória. Os efei� um fator de transcrição que, quando fosforilado, liga�se
tos da insulina são opostos aos do glucagon, por ativa� a um elemento de resposta a cAMP (CRE, �AMP�res�
ção por sinalização da cAMP fosfodiesterase, inibição da ponse e�ement), um elemento de ação �is dentro da
proteína quinase A, e ativação da fosfoproteína fosfatase. região regulatória dos genes responsivos a cAMP. CREB
fosforilada promove a transcrição de genes de enzimas
gluconeogênicas chaves, como PEP carboxiquinase. Por
Glucagon
Receptor Adenilato repressão da transcrição gênica, o glucagon reduz as
de glucagon ciclase
quantidades de glucoquinase, 6�fosfofruto�1�quinase, e
+
piruvato quinase. A insulina tem ação oposta à do glu�
cagon por meio de uma cascata de sinalização mediada
por quinases que culmina na inativação de um fator de
transcrição para genes de enzimas glucogênicas cha�
+ ves (p. 928; Figura 22.21). Quando a síntese de glicose
Gs
não é necessária, a síntese das enzimas gluconeogêni�
cas chaves diminui, e a síntese das enzimas glicolíticas
cAMP
chaves aumenta em decorrência de uma queda na razão
Citosol +
glucagon/insulina do sangue.
Proteína quinase A
FIGURA 15.43 Glucagon promove a transcrição do gene piruvato + NADH + H+ lactato + NAD+
da PEP carboxiquinase. Soma: etanol + piruvato acetaldeído + lactato
Abreviaturas: PEPCK, PEP carboxiquinase; CRE, elemento de ou
resposta a cAMP; CREB, proteína que se liga ao elemento de res� oxaloacetato + NADH + H+ malato + NAD+
posta a cAMP. Soma: etanol + oxaloacetato acetaldeído + malato
15.6 GLICOGENÓLISE E
GLICOGÊNESE
Glicogênio É a Forma de
Armazenamento de Glicose
A glicogenólise refere�se à quebra de glicogênio em
glicose ou glicose 6�fosfato; a glicogênese refere�se à
síntese de glicogênio. Esses processos ocorrem em qua�
se todos os tecidos, mas especialmente no músculo e
no fígado. No homem bem alimentado, o conteúdo de
glicogênio do fígado pode responder por até 10% do
peso úmido desse órgão. O músculo armazena menos
glicogênio quando expresso na mesma base – um máxi�
mo de apenas 1%–2% do seu peso úmido. Entretanto,
a maioria das pessoas tem mais músculo do que fígado,
com o total do glicogênio muscular chegando ao dobro
da quantidade de glicogênio hepático.
contrasta com proteínas e ácidos nucleicos em virtude A maior parte do glicogênio muscular é consumida
dessa ramificação, mas, é claro, é uma forma de arma� por esse tecido, sem formação de glicose livre. Entre�
zenamento de combustível e não catalisa reações e nem tanto, em decorrência da forma como os ramos são cor�
contém informação em uma célula. tados, cerca de 8% do glicogênio muscular é convertido
em glicose livre no tecido, a maior parte da qual sofre
glicólise no músculo. Como músculo não tem glicose
CH2OH CH2OH 6�fosfatase e a maior parte da glicose livre formada é
O O catabolizada, o glicogênio muscular não é importante
para a manutenção dos níveis de glicose sanguíneaínea du�du�
O O O rante o jejum. Ao contrário, o glicogênio hepático é uma
fonte crítica de glicose sanguíneaínea nono estadoestado pós�absor�pós�absor�
Ligação glicosídica α1,4 tivo. PorPor outrooutro lado,lado, glicogêneseglicogênese nono músculomúsculo desempe�desempe�
nha um papel importante na redução dos níveis de gli�
(a)
cose no sangue após uma dieta rica em carboidratos.
CH2OH Glicogênese hepática contribui, mas pode ser menos
O importante do que a síntese de glicogênio no músculo.
ro, de o indivíduo em consideração estar confi� FIGURA 15.47 Variações nos níveis de glicogênio, no fígado, entre
nado ou correndo muito. refeições e durante o jejum noturno.
650 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
2–
→ (glicose)n�1
(Glicose)n + Pi →
+ a�D�glicose
1�fosfato2–
fosfoglucomutase
Glicogênio Fosforilase Inicia
Glicogenólise Glicose 6fosfato
glucose CO2
A glicogênio fosforilase catalisa a fosforólise do gli� 6fosfatase
Glicose
(no fígado)
P
cogênio, uma reação na qual Pi é usado para clivar li� glicólise
(no músculo)
gações glicosídicas a�1,4, para gerar glicose 1�fosfato.
Essa reação sempre ocorre em extremidades não�redu� i
e primariamente a CO2 em fibras musculares vermelhas normal de componentes intracelulares deve ser degra�
(Figura 15.49). Como nenhum ATP precisou ser inves� dado. A incapacidade de degradar glicogênio captado
tido para produzir G6P a partir de glicogênio, a equação por lisossomos cria um grave problema médico, descrito
final da glicogenólise seguida pela glicólise é na Correlação Clínica 15.11.
→ (glicose)n–1
(Glicose)n +
+ 23 lactato– 2–i + H+ →
ADP3– ++33PATP4–
+ 2 H2O
CH2OH CH2OH
O O
HO(Glicose)n
OH
�glucano ramificadora remove um bloco de cerca de
UDPglicose
7 resíduos glucosil de uma cadeia em crescimento e o
transfere para outra cadeia, para produzir uma ligação
glicogênio sintase
(Glicose)n + 1
a�1,6 (Figura 15.52). O novo ramo deve ser introduzido
a uma distância de, pelo menos, quatro resíduos gluco�
UDP sil do ponto de ramificação mais próximo. Portanto, a
criação da estrutura altamente ramificada do glicogê�
FIGURA 15.51 Via da glicogênese.
nio requer as ações coordenadas da glicogênio sintase e
da enzima ramificadora. A reação final balanceada para
Glicogênese Requer Enzimas a síntese de glicogênio é
Singulares →
(Glicose)n
(glicose)n+1
+ glicose
+ 2 ADP3– + 2 P+H
+ 2ATP4– i2– +
2O2H+
→
A primeira reação (Figura 15.51) é a da glucoquina�
se no fígado e hexoquinase em tecidos periféricos. Como já observado, a combinação de glicogenólise
e glicólise gera três moléculas de ATP por resíduo glu�
Glicose + ATP → glicose 6�fosfato + ADP
cosil.
A fosfoglucomutase então forma glicose 1�fosfato.
→ (glicose)n–1
(Glicose)n +
+ 2 3lactato–
ADP3– + 3 P
ATP4–
2–i + H+→
A última reação gera UDP�glicose, uma molécula de Lembre�se, entretanto, que a síntese e a degradação
glicose ativada, a partir da qual o glicogênio pode ser de glicogênio são normalmente efetuadas em momentos
sintetizado. A formação de UDP�glicose torna�se ener� diferentes em uma célula. Por exemplo, fibras muscula�
geticamente favorável e irreversível pela hidrólise de res brancas sintetizam glicogênio durante o repouso,
pirofosfato em fosfato inorgânico, pela pirofosfatase. quando glicose é abundante e menos ATP é necessário
para a contração muscular. O glicogênio é depois usado
4–
PPi + H2O → 2 P2–i durante períodos de esforço. Embora não seja um pro�
cesso muito eficiente, o armazenamento de glicose na
A glicogênio sintase então transfere o resíduo glu� forma de glicogênio fornece às células um combustível
cosil ativado da UDP�glicose para o carbono 4 de um de reserva que pode ser mobilizado rapidamente.
resíduo glucosil da cadeia de glicogênio em crescimen�
to, para formar uma nova ligação glicosídica no grupo
hidroxila do carbono 1 do açúcar ativado. A extremi�
dade redutora da glicose (carbono 1, um aldeído que
pode reduzir outros compostos durante sua oxidação
para um ácido carboxílico) é sempre adicionada a uma
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 653
7\U2+
ATP fosforilase
+ quinase b Pi
fosfoproteína
cAMP + proteína
quinase A Ca2+
+ fosfatase
–
H2O
fosforilase
ADP ATP quinase a –P
ADP
Glicose
–
Fosforilase b + AMP Fosforilase a
– –P
ATP
Pi H2O
fosfoproteína
fosfatase
–
FIGURA 15.54 Regulação da glicogênio fosforilase
por modificação covalente e efetores alostéricos.
A fosforilação converte a glicogênio fosforilase e a fos�
forilase quinase de suas formas inativas b em suas for�
cAMP ATP + Insulina
ADP
mas ativas �.
Ca2+
cAMP Diacilglicerol
Insulina
+ dependente
proteína
de+quinase
calmodulina + glicogênio
quinase
proteínaA + fosforilase
quinase proteínaquinaseC −
+ sintasequinase-3 +
Pi H2O
fosfoproteína
fosfatase
– +
subunidade no complexo (a4b4g4d4). A atividade cata�+ fosforiladas na transição da forma inativa b para a for�
lítica reside na subunidade g; as subunidades a, b e d ma ativa �. A proteína quinase A só pode exercer efeito
exercem controle regulatório. As subunidades a e b são sobre a fosforilase via fosforilação e ativação da fosfori�
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 657
lase quinase. Portanto, um sistema bicíclico é necessá� rápido que todo o glicogênio armazenado em fibras
rio para a ativação da fosforilase em resposta aos sinais musculares brancas poderia ser convertido em glicose
mediados por AMP. 6�fosfato em segundos.
Ca2+
Diacilglicerol
Glicogênio
Retículo
i Ca2+
+ endoplasmático
UDPGlicose Glicogênio
Glicose 1P
i ²
Piruvato Glicose
Glicose UDPiglicose
GORDURA
Glicose 1iP
Glicose 6iP
Glicose Membrana
plasmática
Glicose
CH2OH P
Controle Neural da Glicogenólise no
1,2Diacilglicerol Inositol
Músculo Esquelético 1,4,5trisfosfato
Excitação nervosa da atividade muscular é media� FIGURA 15.60 Fosfolipase C cliva fosfatidilinositol
da por mudanças na concentração intracelular de Ca2+ 4,5-bisfosfato em 1,2-diacilglicerol e inositol
(Figura 15.62). Um impulso nervoso causa despolariza� 1,4,5-trisfosfato.
ção da membrana, que causa liberação de Ca2+ do re�
tículo sarcoplasmático para o sarcoplasma das células
CAPÍTULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE • 661
Ca2+
+
Epinefrina
Receptor
iAdrenérgico Retículo
Adenilato Ca2+
endoplasmático
ciclase
Glicogênio
+
Gs + i
+
ATP cAMP
UDPiglicose
Glicogênio
Glicose 1iP
Glicose 6iP
Lactato
i
+
Piruvato
UDPiglicose
Lactato CO2
Glicose 1iP
Lactato Membrana
Glicose 6iP plasmática
Piruvato
Insulina aumenta a utilização de glicose, em parte
Lactato CO2
por promover glicogênese e inibir glicogenólise no mús�
culo e no fígado. Estímulo por insulina do transporte
de glicose é essencial para esses efeitos no músculo,
Membrana
plasmática
mas não no fígado. Os hepatócitos têm um transporta�
dor de glicose de alta capacidade, insensível à insulina
FIGURA 15.61 AMP cíclico medeia estímulo da (GLUT2), enquanto células de músculo esquelético e
glicogenólise no músculo por ß-agonistas (epinefrina). adipócitos têm um transportador de glicose sensível à
O receptor b�adrenérgico é um componente intrínseco da insulina (GLUT4) (p. 508). Insulina aumenta o número
membrana plasmática que estimula a adenilato ciclase por
de proteínas do transportador de glicose 4 associadas
meio de uma proteína G estimulatória (Gs).
com a membrana plasmática por promover seu deslo�
camento de um reservatório intracelular (ver Figura
Insulina Estimula Glicogênese em Músculo 15.5). A insulina promove acúmulo de glicogênio em
e Fígado ambos os tecidos por ativar a glicogênio sintase e inibir
a glicogênio fosforilase.
Um aumento na glicose sanguínea sinaliza liberação
de insulina das células b do pâncreas. Os receptores de
insulina, nas membranas plasmáticas de células sen�
síveis à insulina, respondem à ligação de insulina por
uma cascata de sinalização que promove uso de glico�
se (Figuras 15.63 e 15.64). O pâncreas responde a uma
queda na glicose sanguínea com menor liberação de in�
sulina, e maior liberação de glucagon. Esses hormônios
têm efeitos opostos sobre a utilização de glicose pelo
fígado, estabelecendo assim o pâncreas como um “apa�
relho” de sintonia fina que impede flutuações perigosas
nos níveis sanguíneos de glicose.
662 - PARTE IV VIAS METABOLICAS E SEU CONTROLE
Insulina Insulina
Y Receptor
G) de insulina
Cascata de Sinalização
mediada por quinases
Cascata de Sinalização
mediada por quinases
i UDP-glicose
Glicose 1–P
UDP-glicose
Glicose 1–P
Glicose 6–P
Glicose 6–P
Membrana Membrana
Glicose plasmática Glicose plasmática
FIGURA 15.63 A insulina age por um receptor de FIGURA 15.64 A insulina age por um receptor de
membrana plasmática para promover glicogénese no membrana plasmātica para promover glicogénese no
musculo. fígado.
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CAPITULO 15 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I: PRINCIPAIS VIAS METABOLICAS E SEU CONTROLE • 663
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Termos Chaves
6-fosfoſruto-1-quinase efetores alostéricos frutose 2,6-bisfosfatase hexoquinase
6-fosfoſruto-2-quinase enzima bifuncional frutose 2,6-bisfosfato indução e repressão de en
acetil-CoA enzima COrtadora de ramos glicogénese ZlſſlaS
de Ca2+ do retículo sarcoplasmático do músculo. Muitos 11. A primeira etapa do metabolismo hepático de fru�
processos produtores de calor são estimulados de modo tose é
descontrolado pela liberação de Ca2+, incluindo glicóli� A. isomerização a glicose.
se e glicogenólise.
B. fosforilação a fructose 1,6�bisfosfato por ATP.
9. Ca2+ aumenta glicogenólise por C. fosforilação a frutose 1�fosfato por ATP.
A. ativação da fosforilase quinase b, mesmo em D. fosforilação a frutose 6�fosfato por ATP.
ausência de cAMP. E. clivagem pela aldolase.
B. ligação com a fosforilase b.
12. Os produtos inicialmente produzidos pela ação da
C. ativação da fosfoproteína fosfatase.
aldolase sobre o substrato formado a partir de fru�
D. inibição da fosfoproteína fosfatase. tose são
E. proteção do cAMP de degradação. A. duas moléculas de di�hidroxiacetona fosfato.
10. Fosforilação–desfosforilação e ativação alostérica B. duas moléculas de gliceraldeído 3�fosfato.
A.
de enzimas desempenham papeis no estímulo da C. duas moléculas de lactato.
degradação de glicogênio. Todos os seguintes re�
D. di�hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3�fosfa�
sultam em ativação enzimática, exceto
to.
fosforilação da fosforilase quinase. E. di�hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído.
B. ligação de AMP à fosforilase b.
C. fosforilação da fosforilase. Problemas
D. fosforilação da proteína quinase A. 13. Se uma célula for forçada a metabolizar glicose
E. desfosforilação da glicogênio sintase. anaerobicamente, quão rapidamente a glicólise te�
ria de ocorrer para gerar a mesma quantidade de
Questões 11 e 12: Pacientes com intolerância here� ATP que seria obtida se metabolizasse glicose ae�
ditária à frutose são deficientes na forma hepática da róbicamente?
enzima aldolase. O consumo de frutose leva a uma de�
14. O ciclo da alanina requer mais ATP por molécula
pleção de ATP e Pi no fígado, o que, por sua vez, leva
de glicose formada do que o ciclo de Cori. Por quê?
a lesão celular. Grande parte da lesão celular pode ser
atribuída à incapacidade de manter gradientes iônicos
normais por bombas dependentes de ATP.
Respostas
1. A A concentração de glicose no sangue é �5 mM. portante; seu papel é realizado no fígado pela glu�
S0,5 da glucoquinase é �7 mM. B: a glucoquinase é coquinase.
hepática e, ao contrário da hexoquinase muscular,
5. E Para entrar no sangue, glicose deve estar livre,
não é inibida por glicose 6�fosfato. não fosforilada. A: glicogênio é degradado a glicose
2. C AMP é um regulador alostérico que alivia a 1�fosfato, que é convertida em glicose 6�fosfato. B:
inibição por ATP. B e D são provavelmente impor� frutose é metabolizada a di�hidroxiacetona fosfato,
tantes reguladores fisiológicos no músculo, e E é que pode prosseguir na glicólise ou reverter a gli�
crítico no fígado. cose 6�fosfato, dependendo do estado da célula. C e
D: cadeias carbônicas de aminoácidos e lactato são
3. B O fígado deriva a energia necessária para glu�
substratos para gluconeogênese.
coneogênese da oxidação aeróbica de ácidos gra�
xos. A: o fígado é um órgão essencial no ciclo de 6. C A hidrólise de pirofosfato a fosfato inorgânico
Cori; ele é aeróbico. C: em tecidos anaeróbicos, o torna a reação irreversível. A: glicose 1�fosfato rea�
produto final da glicólise é lactato; em tecidos ae� ge com UTP. B: é um intermediário da síntese, mas
róbicos, é piruvato, mas lá é provável que o piruva� não da degradação. D: é adicionado apenas em li�
to seja oxidado aerobicamente. D: gluconeogênese gação α�1,4. E: a enzima ramificadora remove uma
requer seis moléculas de ATP por glicose sintetiza� cadeia de unidades glicosil da extremidade de uma
da; glicólise gera duas moléculas de ATP por glico� ramificação longa e move para outro lugar.
se metabolizada.
de Cori. E: alanina não faz parte do ciclo
7. A Lactato deve ser convertido em piruvato para
iniciar a gluconeogênese. B: NADH desloca oxaloace�
4. C Quando glucagon do sangue sobe, A é ativada tato para malato. C e D: o NADH não está na mi�
produzindo cAMP; cAMP ativa B, e B inativa C. tocôndria. E: equivalentes de redução de NADH
Baixos níveis de frutose 2,6�bisfosfato aumentam podem ser deslocados para a mitocôndria pela lan�
a atividade de D. E não é uma enzima hepática im� çadeira, mas as grandes quantidades geradas pelo
666 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
metabolismo de álcoolálcool sobrecarregamsobrecarregamsobrecarregam aaa capacida�capacida�capacida� 12. E Gliceraldeído pode ser convertido em gliceral�
de da lançadeira e da oxidação mitocondrial. deído 3�fosfato de modo que os dois produtos ali�
mentam a via glicolítica ou a gluconeogênese.
8. E CREB é ativada por fosforilação (e levaria a
aumento de enzimas gluconeogênicas), mas insu� 13. Anaerobicamente, há um rendimento de 2 moles
lina promove desfosforilação. A: isso é verdade. B: de ATP/mol de glicose. Aerobicamente, o mesmo
gluconeogênese é dependente do suprimento de rendimento de 2 ATPs é obtido, mais 2 NADH, por�
ácidos graxos para o fígado, para fornecer energia. que piruvato é o produto. Vamos assumir que a cé�
C: isso ocorre pela ativação da cAMP fosfodieste� lula use a lançadeira malato�aspartato, onde cada
rase. D: isso promove desfosforilação de enzimas NADH rende 2,5 ATP. Portanto, há um rendimento
chaves, por exemplo, aumentando a síntese de gli� de 7 moles de ATP/mol de glicose. Cada piruvato
cogênio e reduzindo a glicogenólise. é convertido em acetil�CoA, e o AcCoA é oxidado
pelo ciclo dos ácidos tricarboxílicos. Cada mol de
9. A A subunidade g da fosforilase quinase é uma
piruvato então rende 12,5 moles de ATP ou 25 mo�
proteína tipo�calmodulina. Ambas as formas a e b
da enzima são ativadas por Ca2+. B e E: isso não les de ATP para os 2 piruvatos. Isso dá um total
de 32 moles de ATP/mol de glicose aerobicamente.
acontece. C e D: Ca2+ não afeta a fosfatase.
(Ver Capítulo 14) Portanto, a glicólise deve ocor�
10. D A proteína quinase A catalisa fosforilações, mas rer 16 vezes mais rápido em condições anaeróbicas
é ativada por ligação com cAMP. A e C: ambas as para gerar a mesma quantidade de ATP de quanto
enzimas são fosforiladas em suas formas a. B: fos� ocorre aerobicamente.
forilase b é ativada alostericamente por ligação
14. Ambos os ciclos requerem a mesma quantidade de
com AMP. E: a forma a da sintase é a forma não�
ATP para converter piruvato em glucose (lactato em
�fosforilada.
piruvato e alanina em piruvato). No ciclo da alani�
11. C O ADP formado é convertido em ATP às custas na, o NADH produzido não é utilizado para reduzir
de Pi. A incapacidade de metabolizar mais fruto� piruvato a lactato e poderia ser oxidado pelo siste�
se 1�fosfato resulta em depleção de Pi. A: isso não ma de transporte de elétrons para produzir energia.
acontece. B: isso requeriria duas fosforilações. D: Mas o ciclo alanina deixa no fígado o nitrogênio do
isso não acontece no fígado. E: a frutose deve ser amino, que deve ser descartado como ureia. Isso re�
fosforilada primeiro. quer quatro ATPs por molécula de ureia produzida,
e esse ATP não é consumido no ciclo de Cori.
PARTE IV CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 667
Vias Metabólicas e seu controle
16
Metabolismo H
COO–
O –O SO
3
CH2OH
H
O
O–
H
OH H O H
de Carboidratos II: H
OH
H H
H
H
HNCOCH3
n
e Glicoconjugados
Nancy B. Schwartz
Professora Titular, University of Chicago
Conceitos Chaves
• A fosforilação da glicose mediada por hexoquina glicose-6-fosfato como NADPH, ao passo que a gli
ses produz glicose-6-fosfato, que tem papel funda cólise promove produção de energia.
mental como precursor comum para diversas vias
• A via pentose fosfato fornece ribose 5-fosfato para
metabólicas que utilizam glicose.
a síntese de ácidos nucleicos.
• O metabolismo de glicose-6-fosfato pela via das
• A via das pentoses fosfato degrada a molécula de açú
pentoses fosfato conserva os equivalentes redox de
car um carbono de cada vez, em duas fases distintas.
668 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
• A primeira etapa, e limitante da velocidade, na via • A N-glicosilação envolve uma via de montagem
das pentoses fosfato é catalisada pela glicose-6 ligada ao dolicol e uma via de processamento em
-fosfato desidrogenase, que oxida glicose-6-fosfato multi-compartimentos celulares.
a 6-fosfogluconato. As estruturas dos glicanos modulam numerosas
•
• A maioria dos componentes açúcares de biomolé interações moleculares como sinalização celular,
culas é derivada da glicose por uma variedade de adesão e ativação de receptor.
transformações químicas e interconversões. Açú
• Doenças genéticas da glicosilação causam ampla
cares ligados a nucleotídeos são elementos chave
variação de fenótipos, com exemplos em todas as
para muitas transformações de açúcares, assim
especialidades médicas. Muitas doenças genéticas
como para a síntese de polissacarídeos complexos.
do metabolismo de carboidratos complexos resul
• Oligo- ou polissacarídeos são ligados a proteínas tam de deficiências de glicosidases.
por um número limitado de ligações N- ou O-glico
sil em glicoproteínas e proteoglicanos.
16.1 VIA DAS PENTOSES Em certas condições metabólicas, a via das pento
ses fosfato pode terminar nesse ponto, com utilização
FOSFATO do NADPH para reações biossintéticas redutoras e da
ribose 5-fosfato como um precursor na síntese de nucleo
tídeos. A equação geral pode ser escrita como
A Via das Pentoses Fosfato Tem
ribose
Glicose
5-fosfato
6-fosfato
+2+ NADPH
2 NADP+++2H+
H2O+CO
Duas Fases
2
A via das pentoses fosfato fornece um meio para de
gradar a cadeia carbônica de uma molécula de açúcar,
um carbono de cada vez. Contudo, essa via não constitui Interconversões de Pentoses Fosfato
um conjunto de reações consecutivas que levam direta
mente ao CO2, mas ocorre em duas fases. Na primeira,
Levam a Intermediários da Glicólise
a hexose é descarboxilada a pentose por duas reações Se for necessário mais NADPH para biossíntese re
de oxidação que formam NADPH; na segunda, por uma
dutora do que ribose 5-fosfato para incorporação em
série de transformações, seis moléculas de pentose so
nucleotídeos, um sistema de interconversão de açúca
frem rearranjos para gerar cinco moléculas de hexose.
res (Figura 16.2) formará açúcares trioses, tetroses,
hexoses e heptoses a partir das pentoses, e fornecerá
Oxidação de Glicose 6-Fosfato uma ligação reversível entre a via das pentoses fosfato
e a glicólise, por meio de intermediários comuns. Xilu
Conserva Equivalentes Redox como lose 5-fosfato é formada por isomerização da ribulose
NADPH e a Descarboxilação Fornece 5-fosfato pela fosfopentose epimerase, de modo que
ribulose 5-fosfato, ribose 5-fosfato e xilulose 5-fosfa
Pentoses Fosfato to existem como uma mistura em equilíbrio e podem
sofrer transformações catalisadas por transcetolase e
A primeira reação catalisada pela glicose 6-fosfato transaldolase.
(G6P) desidrogenase (Figura 16.1) é a desidrogenação
da G6P para formar 6-fosfoglucono-δ-lactona e NA A transcetolase requer tiamina pirofosfato (TPP) e
DPH, e é um importante ponto regulatório dessa via. O cátions divalentes, transfere uma unidade C2 de glico
interesse especial nessa enzima advém da severa ane aldeído ativo de xilulose 5-fosfato para ribose 5-fos
mia que pode resultar da ausência de G6P desidrogena fato e produz sedo-heptulose e gliceraldeído 3-fosfato,
se em eritrócitos ou da presença de uma das muitas va um intermediário da glicólise. Alterações na transce
riantes genéticas da enzima (Correlação Clínica 16.1). tolase podem levar à síndrome de Wernicke-Korsakoff
A lactona produzida nessa reação é um substrato para (Correlação Clínica 16.2). A transaldolase transfere
a gluconolactonase, o que garante que a reação ocorra uma unidade C3 (di-hidroxiacetona) da sedo-heptulose
por completo. O equilíbrio geral de ambas as reações 7-fosfato para o gliceraldeído 3-fosfato, formando eri
fica muito deslocado na direção do NADPH, mantendo trose 4-fosfato e frutose 6-fosfato, outro intermediário
uma alta razão NADPH/NADP+ nas células. Uma se da glicólise. A transcetolase produz frutose 6-fosfato e
gunda desidrogenação e descarboxilação, catalisada gliceraldeído 3-fosfato, a partir de eritrose 4-fosfato e
pela 6-fosfogluconato desidrogenase, produz a pentose xilulose 5-fosfato. A soma dessas reações é
fosfato ribulose 5-fosfato e uma segunda molécula de
NADPH. A ribulose 5-fosfato é, então, isomerizada a 2 Xilulose 5-fosfato + ribose 5-fosfato
ribose 5-fosfato por meio de um intermediário enediol. 2 frutose 6-fosfato + gliceraldeído 3-fosfato
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 669
NADP+ NADPH + H+
Deficiência
A deficiência de glicose-6-fosfato
de Glicose
Desidrogenase
CORRELAÇÃO 6-Fosfato
CLÍNICA 16.1 desidrogena- CH2OPO32– CH2OPO32–
H H
OH O OH HO
HO H 6-fosfato
glicose OH
H H O
H HO
H OH desidrogenase H OH
Glicose
das
para
se da
homem
dessa
é
normal
tretanto,
mentar
ficiência
mente
estiver
disso,
assim, eade
as
(G6PD)
glutationa
de pode
seéem
ao
particularmente
NADPH
pentoses
manter
membrana
enzima
leve,
proteger
quando
aumentada,ligadas
velocidade
células
reduzida
podem
G6P não
as
defeito
aestar
glutationa
fosfato ao
da
presente
velocidadeaenzimático
eritrócitos.
contra
demanda via
desidrogenase
dos Os
importante,
oxidar
éé
eritrócitos,
necessária
areduzem
células
em uma
do
não
em
peroxidação
principal
cromossomo
de
glicose
deseu mais
via
apara
uma
até 400
de
adequadamente.
utilização
NADPH
eritrócitos
estado
tornando
NADP+
tipo A,
comum
conseguem
vez
éX.
de milhões
anormal.
reduzido
de
velocidade
lipídeos.
com no
via
au-
a En-
integrida-
suficiente
A
que
produção
assim
relativa-
NADPH
enzima
Além
de-
os
e,
A 6-fosfato 6-Fosfoglucono-δ-lactona
de
140 As manifestações
aminoácidos,
mas.pessoas
mutações noforam
causando
mundo
descritas
clínicas
inteiro. mais
amplanessa
variedade de de
Aproximadamente
proteína
frequentes da
sinto-
516 C 6-fosfo- H2O
gluco-lactonase
H+
mia
da nana
um
hemolítica
deficiência
antipiréticos
administrados
aparentemente
susceptibilidade
drogas
ciência
sidrogenase
indicações
por
hemolítica
é, que
aguda,
atividade
de
agente
de
em
maioria
ou
G6PD
aaguda de
das
são
eritrócitos,
inofensivas,
àantibióticos
pacientes
exógeno.
doença
que
existem
pode
glicose
éicterícia
vezes, uma
geralmente
hemolítica
eocorrer emdas
susceptíveis,
Quando
deficiências
foi
como
a 6-fosfato
devida
base
neonatal48-96
certasuma
antimaláricos,
de
induzida
desencadea-
a (G6P) de-
são
primeiras
sulfa
genéticas
e drogas,
anemia
hs.
ane-
defi-
por
A O O–
C
HC OH
HOC H
H C OH
HC OH
HCOPO32–
6-Fosfogluconato
NADP+
6-fosfogluconato
desidrogenase CO2
NADPH + H+
O H H
HCOH
HC
H H
HCOPO32–
HCOH
C OH C O
HCOH
isomerase
ribose5-fosfato
HC
+
OH
HCOPO32–
H
eritrócitos deficientes na enzima mais susceptíveis
Ribose 5-fosfato Ribulose 5-fosfato
à hemólise por uma ampla variedade de compostos.
Essa deficiência ilustra a interação de hereditarie FIGURA 16.1 Fase oxidativa da via das pentoses fosfato:
dade e ambiente na produção de doença. A conduta formação de pentoses fosfato e NADPH.
mais efetiva na deficiência de G6PD é prevenir a he
mólise evitando o estresse oxidativo. A deficiência
completa de G6PD é letal. Como a xilulose 5-fosfato é derivada da ribose 5-fos
fato, a reação final começando com ribose 5-fosfato é
Luzzatto, L., Mehta, A. e Vulliamy, T. Glucose 6-phos
phate dehydrogenase deficiency. Em: Scriver, C. R., Beau 3 Ribose 5-fosfato
det, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). The Metabolic and 2 frutose 6-fosfato + gliceraldeído 3-fosfato
Molecular Bases of Inherited Disease, 8. ed., New York:
McGraw-Hill, 2001, III, 4517; e Cappellini, M. D., and Fio Portanto, o excesso de ribose 5-fosfato, produzido
relli, G. Lancet 371:64, 2008. no primeiro estágio da via das pentoses fosfato ou a par
tir da degradação de ácidos nucleicos, é eficientemente
convertido em intermediários da glicólise.
670 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
HCOH
H
HOHC
Ribose
H
HCOH
O CH
5-fosfato
C HOH
OPO3
H
O HC
O C HC
H HOPO3
OH
C OPO3
OH
C O
HOCH
HCOH
HCOPO32–
HC
Ribulose
H
HCOH
H
CC5-fosfato
OH
OPO3
O fosfopentoseisomerase
fosfopentose
epimerase H transcetolase HC OPO3 transaldolase H
2– HC
Gliceraldeído
H 3-fosfato
OH 2–
Frutose 6-fosfato
+
tra O + H
H C
H C OH
2– 2–
C O HCOH
HO
HCOH
C H H C OPO3
HC
H C OH Eritrose 4-fosfato
Xilulose H
5-fosfato H HC OH
2– + H
Sedo-heptulase 7-fosfato C O
H 2– neslatoesc HO C H
H C OH
HC OPO32–
H C OH O H
H
C
HC
HO
HCOH
H C
C H
OH
OPO3
O
Xilulose 5-fosfato
2–
Gliceraldeído 3-fosfato
2–
Glicose 6-Fosfato Pode Ser para gerar cinco moléculas de G6P. A equação geral, en
tão, se torna
Completamente Oxidada a CO2
5 glicose
6 glicose
6-fosfato
6-fosfato
+ 6 CO12
+ 2 + NADP+
12 NADPH
+ 7 H2O
+ 12
A completa oxidação da glicose 6-fosfato (G6P) a H+ + Pi
CO2, com redução de NADP+ a NADPH, também pode
ocorrer (Figura 16.3). G6P entra continuamente nessa E a reação final é
via, e CO2 e NADPH são produzidos na primeira fase.
glicose 6-fosfato + 12 NADP+ + 7 H2O
Uma equação balanceada inclui a oxidação de seis mo
6 CO2 + 12 NADPH + 12H+ + Pi
léculas de G6P a seis moléculas de ribulose 5-fosfato
e seis de CO2. Isso resulta na transferência de 12 pa
res de elétrons para o NADP+, a quantidade necessária
para oxidação total de uma glicose em seis CO2. As seis
moléculas de ribulose 5-fosfato são, então, rearranjadas
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 671
(6) NADP+
Gliceraldeído 3-fosfato
N-Acetilmanosamina
ATP
N-Acetlmanosamina 6-P
fosfoenolpiruvato
Ácido N-Acetilneuramínico 9-P
–Pi
Ácido CMP-N-acetilneuramínico CTP ÁcidoN-Acetilneuramínico
FIGURA 16.4 Vias de formação de açúcares ligados a nucleotídeos e interconversões de algumas hexoses.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 673
Frutosúria Essencial (OMIM 229800) e Intolerância a Frutose (OMIM 229600): Deficiência de Frutoquinase
e de Frutose 1-Fosfato Aldolase
A Frutose pode corresponder a 30–60% do total de ragia, hepatomegalia, uricemia e eventual insuficiência
carboidratos ingeridos por mamíferos, e é predominan renal. A ingestão de frutose ou a ingestão prolongada
temente metabolizada por uma via frutose-específica. por crianças pequenas afetadas pode levar à morte. A
A frutoquinase está deficiente na frutosúria essencial. frutose 1-fosfato aldolase pode também estar deficiente,
Essa doença é uma anomalia metabólica assintomática situação na qual frutose 1-fosfato acumula-se dentro das
benigna, que parece ser herdada como um traço autos células (ver Correlação Clínica 15.3, p. 626).
sômico recessivo. Após a ingestão de frutose, os níveis
sanguíneos e urinários de frutose dos indivíduos afeta Steinmann, B., Gitzelmann, R. e Vanden Berghe, G. Disor
dos ficam excepcionalmente elevados; contudo, 90% da ders of fructose metabolism. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A.
frutose ingerida por eles é eventualmente metabolizada. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). The Metabolic and Molecular
Diferentemente, a intolerância hereditária à frutose é Bases of Inherited Disease, 8. ed. New York: McGraw-Hill,
caracterizada por grave hipoglicemia, icterícia, hemor 2001, I:1489.
ÉFLGR'JOXFXU{QLFRIRVIDWR
Ácido Glucurônico É Formado por
Oxidação de UDP-Glicose ÉFLGR'JOXFXU{QLFR
A formação de aminoaçúcares, H H
nismo
6-fosfato
componentes
6-fosfato
polissacarídeos
e
re constituintes
por
A glucosamina
(Figura
transamidação;
ée formada
glutamina
importantes
16.9).
de
complexos
6-fosfato
aantibióticos,
partir
por
a glucosamina
esse
de
de
pode
humanos
oligo-
frutose
meca-
ocor-
ser
e H C OH HC OH H CC OH
NADPH HC OH HCC OH
H C OH
HOC
CO
desidrogenase
L-gulônico O–
HO
H C H
OH O H C H
H C OH C OH
H C H C OH O C OH
O OC
O–
N-acetilada a N-acetilglucosamina Ácido D-Glucurônico Ácido L-Gulônico Ácido L-Ascórbico
6-fosfato, seguida por isomerização a
N-acetilglucosamina 1-fosfato e forma β-L-hidroxiácido desidrogenase
ção subsequente de UDP-N-acetilglu
NAD+
cosamina. O último é um precursor da
síntese de glicoproteínas e de UDP-N
-acetilgalactosamina, que é necessária
H ATP H H
para a síntese de proteoglicanos. A fru
na
Ácidos
São
N-Acetilglucosamina
tose
está
negativaDerivados
Siálicos
significativa
pele,
20%(ver
6-fosfato-glutamina
sob
do
onde
Figura
fluxo
controle
por
essa
em
de de
UDP-N-acetilglucosami-
16.4).
glicose.
via
certos
decorresponde
retroalimentação
Essa
tecidos
transamidase
regulação
como
a até
éa H C OH xilulose quinase HC OH HC OH
NADPH HC –CO2 C O
HCOH HC OH HC OH
HOCH redutase
xilulose HO C H β-ceto-L-gulonatodescarboxilase HO C H
H C OH CC O O
HCOH HC OH HC OH
H
O–
Xilitol L-Xilulose Ácido 3-Cetogulônico
NAD+
H H
mínico,
de Outroum
glucosamina
açúcares
produto
membro
C9
é o ácido uma família
dadeN-acetilneura-
UDP-N-acetil- HC OH H C OH
C O C O
HO C H HO C H
de (Figura 16.10).
2-epimerase
licos
UDP-N-acetilglucosamina
produz
chamados por uma
AN-acetilmano-
epimerização
ácidos siá- H HC
HC OH OH
OPO3 Via das pentoses fosfato
H C OH 2–
H
samina. Essa reação provavelmente
ocorre por trans eliminação de UDP D-Xilulose Xilulose 5-fosfato
Glutamina
Frutose
H 6-fosfato transamidase CH2OPO32−
O32−POCH2
H O OHOH H OH
−OOC(CH2CHCOO− HO H H
UDP CH2OH
CH2OHO H Glutamato
)2+
CH2OH Glucosamina
CH2OH 6-fosfato
OH
aminoaçúcares.
H H O H H O H
HO H H –UDP HO H HO H
OH OH
OH H OH +H2O N
OH CO CO
H C
NH O H NH H H
CH3
CH3 CH3
CH2OPO32– COOH O H
2–
O
O O+ CH2
COPO3 H CHOH
HN OH OPO32– COO–
CH2
OH
H H N Pi H3C CCHOH
H OH
HO H H C O N-acetilneuraminato H
9-fosfato sintase H
CH3
O H
CHOH COO–
H3C C HN
CHOH
+ CTP
CH2OH
H H OH CTP: acilneuraminato
H citidililtransferase
OH H PPi
O H
O O
CHOH
Ácido N-Acetilneuramínico H3C C HN OPOCH2 Citidina
CHOH
CH2OH
H H OH O–
H
OH H
Ácido CMP-N-Acetilneuramínico FIGURA 16.10 Biossíntese de ácido
CMP-N-acetilneuramínico.
fíceis. Contudo, surgiram certas generalizações. A liga GalNAc 1→3 Gal 1→3 GalNAc O-Ser/Thr
ção covalente do açúcar com a proteína é uma caracte
1→2 1→2
rística essencial da estrutura da glicoproteína, e apenas
um pequeno número de tipos de ligações é encontra Fuc NeuAc
do (p. 116). Os três tipos principais de ligações glico
peptídicas, como mostra a Figura 16.11, são N-glicosil A classe complexa é exemplificada pelas substân
com asparagina (Asn), O-glicosil com serina (Ser) ou cias dos grupos sanguíneos ABO e Lewis(ver Correla
ção Clínica 16.8), na qual o oligossacarídeo é N-glico
treonina (Thr), e O-glicosil com 5-hidroxilisina, geral
mente confinada aos colágenos. Ligações N- ou O- estão sidicamente ligado à asparagina. Essas glicoproteínas
presentes em muitas glicoproteínas e ligam dois tipos comumente contêm uma estrutura central (core) que
de oligossacarídeos (simples e complexo). A classe consiste de resíduos de manose (Man), ligados a N-ace
simples tem uma estrutura central (core) de galactose tilglucosamina (GlcNAc) na estrutura.
(Gal) ligada por ligação β(1-3) a N-acetilgalactosamina (Man)n 1→4 Man 1→4 GlcNAc 1→4 GlcNAc Asn
(GalNAc) ligada por ligação O-glicosídica a resíduos de
serina ou treonina. L-Fucose (Fuc), ácido siálico (Neu A diversidade estrutural de glicoproteínas N-ligadas
Ac) e N-acetilgalactosamina estão presentes na extre surge de remoção e modificação desse core para pro
midade não-redutora. A estrutura geral é a seguinte: duzir um amplo repertório de subtipos de N-glicanos
alta-manose, híbrido ou complexo.
H
CH2OH CH2 NH2
H O
H OCH
H H COOH
HO OH C
NH O
HO
H OH
H
CH2OHO
H
OH
CH3HH2NCH
O CH
NH2
CH2
COOH
2
FIGURA 16.11 Estrutura dos três tipos FIGURA 16.12 Biossíntese do oligossacarídeo central (core) das
principais de ligações glicopeptídicas. glicoproteínas ligadas por asparagina-N-acetilglucosamina. Dol, dolicol.
680 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Manα-Manα Glc
CH3 CH3
Manα
Manα-Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
(CH2 C CHCH)n CH2 CHCH2 CH2O PO3H2
Glcα-Glcα-Manα-Manα-Manα
Dolicol fosfato
Manα-Manα (Glc)2
Manα
Dolicóis são poliprenóis (C80-C100) que contêm 16-20 Manα-Manα Manβ-GlcNAcβ-GlcNAc-Asn
unidades isopreno, nos quais a unidade final é saturada. Manα-Manα-Manα
Manα (Man)4
Fonte: Jacken, J. e Matthijs, G. Congenital disorders of glycosylation: A rapidly expanding disease family. Ann. Rev. Gemonics Hum.
Genetics 8:261, 2007.
NeuAc(6)αGal (5)
ß GIcNAc (4)
ß
Man
NeuAcαGalßGIcNAc ß
(3)
α
Aula, P., Janlanko, A. e Peltonen, L. Aspartylglucosami D. (Eds.). The Metabolic and Molecular Basesof Inherited
nuria. Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, Disease, 8. ed. New York: McGraw Hill, 2001, III: 3507.
léculas a serem encontradas e reconhecidas por outras na superfície do vírus. Embora a diversidade de estru
células, anticorpos, vírus e bactérias. Por exemplo, o turas de glicanos seja enorme, a especificidade é dada
repertório de glicanos fornece biomarcadores oncofe pelas enzimas de glicosilação, glicosiltransferases e gli
tais e de células tronco que refletem a especificidade cosidases. Assim, a regulação de processos biossintéti
de ligação de vários anticorpos monoclonais; uma das cos desses biopolímeros abundantes e diversos direcio
barreiras para neutralização do HIV por anticorpos é a na os mecanismos moleculares pelos quais os glicanos
rede de carboidratos protetores que cobre os antígenos contribuem para o desenvolvimento e para doenças.
1 NT: desde a década de 1970, o nome mais usado para designar um “mucopolissacarídeo” é glicosaminoglicano. Apesar disso, as doenças do cata
bolismo desses compostos, que resultam no seu acúmulo dentro dos lisossomos e excreção aumentada na urina (mucopolissacaridúria), ainda são
chamadas mucopolissacaridoses, razão pela qual o termo “mucopolissacarídeo” ainda aparece, às vezes, na literatura.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 683
de Fabry α-Galactosidase
covalentemente a um esqueleto proteico. Seis classes
de Gaucher β-Glucoceramidase distintas são reconhecidas: condroitim sulfato, derma
tam sulfato, queratam sulfato, heparam sulfato, hepa
de Krabbe β-Galactoceramidase rina e hialuronato. Certas características são comuns
às diferentes classes de glicosaminoglicanos. Essas lon
metacromática
Leucodistrofia Arilsulfatase A gas cadeias heteropolissacarídicas não-ramificadas são
(cerebrosídeo sulfatase) compostas, em grande parte, por unidades dissacarídi
cas repetitivas, consistindo de uma hexosamina e um
Beutler, E. e Garabowski, G. Gaucher Disease. Em: ácido urônico. Grupos sulfatos, ligados por ligações és
Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), ter a certos monossacarídeos ou por ligações amida ao
The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disea grupo amino da glucosamina, são substituintes comuns
se, 8. ed. New York: McGraw Hill, 2001, III: 3635. dos glicosaminoglicanos. Somente o hialuronato não
é sulfatado e não é covalentemente ligado a proteína.
As carboxilas dos ácidos urônicos e os grupos sulfatos
contribuem para a natureza fortemente carregada dos
16.5 PROTEOGLICANOS glicosaminoglicanos. Sua carga elétrica e sua estrutura
macromolecular são importantes em suas funções como
Proteoglicanos são macromoléculas complexas que lubrificantes e elementos de sustentação no tecido con
podem ser compostas em 95% ou mais de carboidratos, juntivo. Os glicosaminoglicanos dos proteoglicanos são
parecendo mais polissacarídeos do que proteínas. Suas componentes predominantes da matriz extracelular e
cadeias de carboidratos são chamadas glicosaminogli das superfícies celulares, onde participam da adesão e
canos (ou mucopolissacarídeos), especialmente em da sinalização celular.
referência às doenças de acúmulo, as mucopolissacari
doses, que resultam de uma incapacidade de degradar Hialuronato É um Copolímero de
essas moléculas (ver Correlação Clínica 16.14).
N-Acetilglucosamina e Ácido Glucurônico
O hialuronato difere dos outros tipos de glicosami
Existem Seis Classes de noglicanos. É não-sulfatado, não-covalentemente liga
Proteoglicanos do a proteína, e produzido tanto por bactérias como por
células animais. O hialunorato é classificado como gli
Proteoglicanos consistem de uma ou mais de mui cosaminoglicano em virtude de sua similaridade estru
tas cadeias de glicosaminoglicanos diferentes, ligadas tural com esses polímeros, consistindo exclusivamente
684 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
H
O
H H H O H H O H O Dermatam Sulfato Contém
H H O–
OH H O OH H O– H
O
OH H
Ácido L-Idurônico
OSO3
H HNSO3 H H H
O dermatam sulfato difere do con
H H H H OH H HNCOCH3
– – n droitim sulfato por seu ácido urônico
n
UDP-Xyl
UDP
[Esqueleto protéico]-Ser
-Ser-Xyl UDP-Gal
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA UDP
SO4– n
(UDP, PAP)n
-Ser-Xyl-Gal
(UDP-GalNAc,
UDP-GlcUA, PAPS)n UDP-Gal
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA
UDP
SO4–
PAP
-Ser-Xyl-Gal-Gal
PAPS
UDP-GlcUA
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc-GlcUA
UDP
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA
UDP
-Ser-Xyl-Gal-Gal-GlcUA-GalNAc
UDP-GlcUA
UDP-GalNAc
FIGURA 16.15 Síntese do proteoglicano de condroitim
sulfato. UDP
Xyl, xilose; Gal, galactose, GlcUA, ácido glucurônico; GalNAc,
N-acetilgalactosamina; PAPS, fosfoadenosina fosfossulfato.
NH2
N
N
NH2 O O
ATP ADP
5!
N –O S O P O CH2 N
N O N
2–
SO4 O O O O– H H
5!
ATP –O S O P O CH2 O N H O H
N
3!
O O– H H OH
PPi
H OH H –O P O
3!
OH –O
A importância da sulfatação é enfatizada pela prepon se, de UDP-glicose em ácido UDP-glucurônico (ver Fi
derância de condições condrodistróficas em animais e gura 16.4). Como a xilose é o primeiro açúcar adiciona
no homem, causadas por deficiências no processo de do durante a síntese de condroitim sulfato, dermatam
sulfatação (Correlação Clínica 16.13). sulfato, heparina e heparam sulfato, o efeito mais pre
coce da síntese diminuída de esqueleto proteico seria o
A síntese dos outros glicosaminoglicanos requer acúmulo de UDP-xilose, que ajuda a manter o equilíbrio
reações adicionais de transferases, específicas para os entre a síntese da proteína e dos glicosaminoglicanos.
açúcares e as ligações apropriados. A finalização fre
quentemente envolve O-sulfatação, epimerização, ace Os proteoglicanos, assim como as glicoproteínas e
tilação ou N-sulfatação. A síntese de proteoglicanos e os glicolipídeos, são degradados pela ação sequencial
de glicoproteínas é regulada pelo mesmo mecanismo, de proteases e glicosidases, desacetilases e sulfatases.
no nível da síntese de hexosamina. A reação da fruto Muitas das informações sobre o metabolismo e a degra
se 6-fosfato-glutamina transamidase (ver Figura 16.4) dação dos proteoglicanos foram derivadas do estudo
está sujeita à inibição por retroalimentação pela UDP das mucopolissacaridoses (Correlação Clínica 16.14).
-N-acetilglucosamina, que está em equilíbrio com UDP Essas doenças genéticas são caracterizadas pelo acú
-N-acetilgalactosamina. Da mesma forma, as concen mulo tecidual e excreção urinária de produtos hetero
trações de UDP-xilose e de ácido UDP-glucurônico são -oligossacarídicos derivados da quebra incompleta dos
rigorosamente controladas pela inibição por UDP-xilose proteoglicanos, por causa de uma deficiência de uma ou
da conversão, catalisada pela UDP-glicose desidrogena mais hidrolases lisossomais.
Mucopolissacaridoses
Doenças genéticas humanas caracterizadas por relativamente leves, enquanto o retardo mental é se
excessivos acúmulo e excreção de oligossacarídeos de vero. Coletivamente, a incidência das mucopolissaca
proteoglicanos são as mucopolissacaridoses. Essas ridoses é 1 por 30.000 nascimentos. A deficiência de
doenças resultam de deficiência de uma ou mais sulfatases múltiplas (MSD) é caracterizada por ati
hidrolases lisossomais, que são responsáveis pela vidade diminuída de todas as sulfatases conhecidas.
degradação de dermatam e/ou heparam sulfato. A Evidência recente sugere que uma modificação co- ou
síndrome de Hurler e a síndrome de Sanfilippo são pós-tradução de uma cisteína para ácido 2-amino-3
condições autossômicas recessivas, enquanto a sín -oxopropiônico é essencial para a atividade de sulfa
drome de Hunter é ligada ao X. As síndromes de tase, e que uma falta dessa modificação resulta em
Hurler e de Hunter são caracterizadas por anomalias MSD. Essas doenças podem ser detectadas por diag
esqueléticas e retardo mental que, em casos graves, nóstico pré-natal, uma vez que o padrão metabólico
podem resultar em morte prematura. Diferentemen apresentado pelas células afetadas obtidas do líquido
te, os defeitos físicos na síndrome de Sanfilippo são amniótico é muito diferente do normal.
bOs números entre parênteses referem-se às enzimas que hidrolisam essas ligações.
Neufeld, E. e Muenzer, J. 2001. Mucopolysaccharidoses. The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease,
Em: Scriver, C. R., Beaudet, A. R., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.). 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2001, III:3421.
688 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Embora proteoglicanos continuem sendo definidos cadeia de glicosaminoglicano, e seus tamanhos e quan
com base nas cadeias de glicosaminoglicanos que con tidades relativas podem variar com desenvolvimento,
têm, novos foram descritos com base principalmente idade ou doença. Muitos genes que codificam os es
em propriedades funcionais ou localização. Agrecam e queletos proteicos dos proteoglicanos e as enzimas da
versicam são as espécies extracelulares predominan biossíntese foram clonados, revelando que as proteínas
tes; sindecam, CD44 e trombomodulina são proteínas relevantes pertencem a famílias de origem e possíveis
integrais de membranas; neurocam, brevicam, cere funções relacionadas.
brocam e fosfacam são basicamente restritos ao siste
ma nervoso. Muitos proteoglicanos (ou seja, agrecam,
sindecam e betaglicam) carregam mais de um tipo de
Bibliografia
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Termos Chaves
ácido siálico dolicol fosfato heparina sulfato
heparam
glicosilação
glicosiltransferase
NADPH
mucopolissacarídeo
hialuronato oligossacarídeo
ácido glucurônico
carboidrato
agrecam epimerização oxidação
glicoproteína pirofosforilase
glicosaminoglicano proteoglicano
condroitim sulfato glicose-6-fosfato redução
dermatam sulfato glicose-6-fosfato desidroge ribulose-5-fosfato
descarboxilação nase transamidação
desidrogenação glicosidase nucleotídeo açúcar via das pentoses fosfato
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 689
9. O papel da fosfomanose isomerase é a interconver 11. Provavelmente a doença descrita é causada por um
são de defeito
A. manose 6-fosfato e manose 1-fosfato. A. na capacidade de gerar manose 6-fosfato.
B. glicose 6-fosfato e manose 6-fosfato. B. na atividade de glicosidase lisossomal.
C. frutose 6-fosfato e manose 6-fosfato. C. no gene que codifica um transportador de sul
D. frutose 1-fosfato e manose 1-fosfato. fato.
E. glicose 6-fosfato e manose 1-fosfato. D. na PAPS sintetase.
E. em uma sulfatase.
10. Na CDG tipo Ic, um defeito em uma enzima que
transfere um resíduo glucosil para um precursor 12. Sulfatação é um importante componente da sínte
dolicol pirofosfato alta-manose, a estrutura de car se
boidrato seria parte de A. da maioria dos proteoglicanos.
A. glicoproteína N-ligada. B. do hialuronato.
B. glicoproteína O-ligada. C. da maioria das glicoproteínas.
C. proteoglicano. D. da bilirrubina conjugada.
D. glicosaminoglicano. E. de todos os anteriores.
E. lipídeo complexo.
Problemas
Questões 11 e 12: Um bebê apresentava múltiplas
13. Qual é a função da transaldolase e da transquetola
anomalias esqueléticas, com as mais proeminentes sen
se no metabolism da glicose?
do tronco curto e membros pequenos. A urina estava
livre de oligossacarídeos parcialmente degradados ou 14. Frutosuria essencial é um defeito na frutoquina
oligossacarídeos de proteoglicanos. A concentração de se, enquanto intolerância à frutose é um defeito na
sulfato no sangue e a atividade de hidrolase ácida ex frutose 1-fosfato aldolase. Qual dessas duas doenças
tracelular estavam normais. leva a severa hipoglicemia após ingestão de frutose
e por quê?
Respostas
1. B A glicose e a manose fosfatos estão, ambas, em 4. C A estrutura do core também contém galactose
equilíbrio com a frutose 6-fosfato por ação das fos e N-acetilgalactosamina. A: apenas ácido siálico é.
fo-hexose isomerases. A: ocorre por meio de uma Fucose vem de CDP-manose. B: geralmente en
epimerase, no nível de UDP-galactose. C e D: essa contrados na periferia do carboidrato. D: estrutura
oxidação da glicose é catalisada pela UDP-glicose do core dos carboidratos N-ligados contém manose
desidrogenase, e o produto pode ser descarboxi e N-acetilglucosamina. E: a unidade repetitiva é
lado a UDP-xilose. E: de novo, uma epimerização hexosamina e ácido urônico.
ocorre no intermediário nucleotídeo.
5. B Esta é uma distinção importante das glicopro
2. C O homem não produz ácido ascórbico. A: o teínas que, por definição, não têm unidade repeti
grupo ácido carregado aumenta a solubilidade em tiva em série. A: esses são os carboidratos dos pro
água, que é um importante papel fisiológico do teoglicanos. C: a maioria sim, mas hialuronato, não.
ácido glucurônico, por exemplo, no metabolismo D: existem pelo menos seis classes diferentes. E:
de bilirrubina. B e D: descarboxilação de ácido carboidratos estão ligados por ligações covalentes.
UDP-glucurônico dá UDP-xilose, que é um potente
inibidor da oxidação da UDP-glicose ao ácido. E: a 6. E A degradação é lisossomal; deficiência de uma
redução de ácido D-glucurônico a ácido L-gulônico ou mais hidrolases lisossomais leva ao acúmulo de
leva a ascorbato, bem como a xilulose 5-fosfato proteoglicanos nas mucopolissacaridoses. A: espe
para a via das pentoses fosfato. cificidade de substrato rigorosa para as enzimas é
importante na determinação do tipo e da quantida
3. B Embora a reação da glicose 6-fosfato desidro de dos proteoglicanos sintetizados. A formação de
genase, específica para NADP, seja reversível, hi aceptores proteicos específicos para o carboidrato
drólise da lactona assegura que o equilíbrio geral também é importante. B e D: os níveis de ambos,
fique deslocado na direção de NADPH. A e C: essas xilose e ácido glucurônico, são controlados assim;
usam NAD, não NADP. D: isso não ocorre. E: es xilose é o primeiro açúcar adicionado na síntese de
sas enzimas são partes da via das pentoses fosfato, quatro dos seis tipos, e acumular-se-ia se a síntese
mas catalisam reações livremente reversíveis, que
do esqueleto proteico diminuisse. C: isso é necessá
não usam NADP. rio para a formação da maioria dos proteoglicanos.
CAPÍTULO 16 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS II: VIAS ESPECIAIS E GLICOCONJUGADOS • 691
17
Metabolismo Fígado
corpos*
Glicerol
cetônicos
Richard W. Hanson
Professor Leonard & Jean Skeggs de Bioquímica, Case Western Reserve University School of
Medicine
Conceitos Chaves
• Triacilgliceróis são moléculas hidrofóbicas que • A maioria dos tecidos pode construir triacilglice
constituem a principal reserva de combustível em róis a partir de acil-CoAs e glicerol 3-fosfato.
todos os organismos. Em mamíferos, a maioria dos Os ácidos graxos são convertidos em acetil-CoA
•
triacilgliceróis é encontrada no tecido adiposo.
por b-oxidação e, depois, usados como combustível
• No estado alimentado, há deposição de gordura, em muitos tecidos.
como triacilglicerol, no tecido adiposo, embora o te
• Durante jejum prolongado, os corpos cetônicos,
cido adiposo quebre o triacilglicerol para fornecer
acetoacetato e b-hidroxibutirato, são sintetizados
combustível para outros tecidos durante o jejum.
a partir de acetil-CoA no fígado. O uso de corpos
• Os ácidos graxos são sintetizados principalmente cetônicos como combustível pelo cérebro e outros
no fígado pela adição sequencial de unidades de tecidos é uma importante adaptação ao jejum pro
dois carbonos, usando acetil-CoA derivado da gli longado.
cose da dieta e de outros combustíveis.
• A síntese e a quebra de ácidos graxos são regula
• Os ácidos graxos podem ser modificados por elon das para promover armazenamento de energia no
gação da cadeia e adição de duplas ligações para estado alimentado e mobilização de energia no es
produzir uma família de moléculas. Em mamíferos, tado de jejum. Além disso, a mobilização de ácidos
alguns ácidos graxos poli-insaturados só podem graxos a partir do triacilglicerol armazenado é re
ser produzidos a partir de precursores, ácidos gra gulada para atender às necessidades celulares de
xos essenciais da dieta. energia.
17.1 INTRODUÇÃO
Os lipídeos são moléculas hidrofóbicas, o que sig
nifica que não são solúveis em água e tendem a se au
toassociarem em fases lipídicas separadas. A maioria
dos lipídeos contém, ou é derivada de, ácidos graxos
(Figura 17.1). Os lipídeos têm muitas funções biológicas
importantes. Os triacilgliceróis (Figura 17.2) formam
a principal reserva de combustível do corpo. Outros li
pídeos, incluindo os fosfolipídeos, os glicolipídeos e o
colesterol, são constituintes cruciais das membranas FIGURA 17.1 Ácidos graxos de cadeia longa.
biológicas; as singulares propriedades de superfície ati Esquerda: palmítico (saturado). Direita: cis-palmitoleico (in
va dessas moléculas permitem a elas formar o esqueleto saturado). Esquema de cores: H, branco; C, cinza; O, vermelho.
da membrana, separando e definindo compartimentos Cortesia de Dr. Daniel Predecki, Shippensburg University, PA.
aquosos em células. Os lipídeos superfície-ativos têm
outras funções importantes, incluindo manutenção da
integridade alveolar nos pulmões e solubilização de
substâncias não-polares nos fluidos corpóreos. Final
mente, alguns lipídeos são importantes moléculas sina
lizadoras. Ácidos graxos, hormônios esteróides e eico
sanóides, incluindo prostaglandinas, são importantes
na comunicação entre as células. Outros lipídeos têm
funções sinalizadoras dentro das células.
Ácidos Graxos São Cadeias Alquila FIGURA 17.3 Ácidos graxos de cadeia muito longa.
O O O
O O O
HC O C R HCO C R HC OH HC OCR
rativamente, quimicamente inertes. Os ácidos graxos de glicogênio no fígado e no músculo. Isso representa
muito insaturados de triacilgliceróis são muito mais cerca de 1.000 kcal de energia, o que é menos do que a
susceptíveis à oxidação não-enzimática. necessidade de um dia. Diferentemente, o mesmo indi
víduo armazena ∼16 kg de triacilglicerol, o que fornece
energia suficiente para sobreviver a várias semanas de
Hidrofobicidade dos Triacilgliceróis É jejum. Ao contrário dos estoques de glicogênio e amino
ácidos, que são limitados, os estoques de triacilglicerol
Importante para Suas Funções podem se expandir muito, dependendo da ingestão ca
Os triacilgliceróis e outros lipídeos complexos são lórica. Isso torna o triacilglicerol uma excelente reserva
insolúveis em água porque as longas cadeias hidrocar de combustível, mas também pode levar à obesidade e,
bônicas dos ácidos graxos constituintes não formam em alguns casos, diabetes (Correlações Clínicas 17.1 e
pontes de hidrogênio. Consequentemente, tendem a 17.2). O tecido adiposo é uma fonte significativa de hor
se associar entre si ou com outros grupos hidrofóbi mônios que regulam o apetite, e a gordura subcutânea é
cos, como esteróis e as cadeias laterais de aminoácidos também importante na regulação da temperatura por
hidrofóbicos. Essa insolubilidade em água é essencial que fornece uma camada de isolamento.
para o armazenamento de triacilgliceróis e para a mon
tagem das membranas biológicas.
17.3 TRANSPORTE
Os triacilgliceróis são formas muito mais eficientes
para o armazenamento de energia do que o glicogênio. INTERÓRGÃOS DE
Numa base de peso, triacilgliceróis rendem quase 2½ ÁCIDOS GRAXOS E SEUS
vezes mais ATP na oxidação completa do que o glico
gênio. Além disso, os triacilgliceróis são armazenados PRODUTOS PRIMÁRIOS
sem água associada, enquanto o glicogênio é hidrofílico
e liga cerca de duas vezes o seu peso em água. Portanto, Em todos os mamíferos, o transporte e o armazena
o rendimento energético por grama de triacilglicerolar mento de ácidos graxos é regulado pelo estado dietético.
mazenado é cerca de quatro vezes a do glicogênio hidra O triacilglicerol é armazenado no estado alimentado, com
tado. Seres humanos armazenam muito mais combus deposição no tecido adiposo. Durante o jejum, o triacilgli
tível como triacilglicerol do que como glicogênio. Uma cerol do tecido adiposo é hidrolisado, e os produtos são
pessoa média, pesando 70 kg, armazena cerca de 250 g distribuídos por todo o corpo para serem usados para pro
dução de energia. À medida que o jejum progride, o fígado
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 697
Obesidade
converte ácidos graxos em corpos cetônicos, acetoace O transporte de lipídeos apresenta problemas sin
tato e b-hidroxibutirato, que são liberados no sangue e gulares, porque essas moléculas (especialmente triacil
tornam-se uma importante fonte de energia para muitos gliceróis, colesterol e seus ésteres) são insolúveis em
tecidos. Esses processos são resumidos na Figura 17.6. água. Consequentemente, os lipídeos são transportados
na corrente sanguínea em lipoproteínas plasmáticas ou
698 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Papel Chave do Metabolismo de Ácidos Graxos no Diabetes Tipo 2: Um Tributo a J. Denis McGarry
O falecido Denis McGarry, um colaborador de lon Embora o efeito de economia de combustível dos
ga data deste livro, escreveu um artigo premonitivo em ácidos graxos seja uma clara vantagem para a so
1992 entitulado “What if Minkowski had been ageusic? brevivência, existe também uma desvantagem na
An alternative angle on diabetes”. Oskar Minkowski obesidade, que é frequentemente caracterizada por
(1858-1931) e Josef von Mering foram os primeiros a uma alta concentração de ácidos graxos no sangue.
perceber que o pâncreas produz uma substância que Isso reduz a captação e o metabolismo de glicose no
regula o nível de glicose no sangue; sua pesquisa levou, músculo esquelético, resultando em um aumento nos
finalmente, ao isolamento da insulina das células b do níveis de jejum da glicose sanguínea e um aumento
pâncreas. O conceito de diabetes como uma doença do concomitante na secreção de insulina. A condição re
metabolismo de carboidratos começou com observa sultante é chamada resistência à insulina (níveis
ções antigas de que a urina diabética é doce. Diz a lenda elevados de glicose e insulina no sangue). Nos está
que o Dr. Minkowski colocou seu dedo na urina de um gios precoces da resistência à insulina, as células b
paciente diabético, provou e notou que era “doce como pancreáticas produzem insulina suficiente para regu
mel”. Até hoje, o diabetes é amplamente visto como lar a glicose sanguínea. Entretanto, a superprodução
um desequilíbrio no metabolismo de carboidratos. Dr. prolongada de insulina pode causar insuficiência das
McGarry levantou a suposição humorística de que, se células b, resultando em diabetes tipo 2. Embora essa
Minkowski fosse ageusico (ou seja, incapaz de sentir sa progressão não ocorra em todos os pacientes obesos,
bor), mas pudesse sentir o cheiro de acetona na urina, a resistência à insulina evolui para diabetes em ~40%
o diabetes teria sido classificado como uma doença do dos pacientes ao longo de 5-10 anos. Atualmente,
metabolismo de lipídeos, e não de carboidratos. Esta é mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo
uma importante percepção no diabetes tipo 2 (não-in têm diabetes tipo 2 e há uma previsão de crescimento
sulino-dependente), que está associado com obesidade dramático desse número nos próximos 20 anos. Mais
e resistência à insulina. alarmante, diabetes tipo 2 substituiu diabetes tipo 1
como a forma predominante dessa doença entre as
Como a maior parte das reservas energéticas huma crianças. A prevenção e o tratamento do diabetes
nas é triacilglicerol, esse combustível é extremamente
tipo 2 são, é claro, importantes prioridades médicas;
importante, particularmente durante o jejum. Após uma em muitos casos, a resistência à insulina é reversível
refeição, a glicose é rapidamente removida do sangue e com a perda de peso e o aumento de exercício, parti
usada para obtenção de energia ou armazenada como cularmente em estágios iniciais.
glicogênio; em algumas horas, o homem muda para oxi
dação de ácidos graxos como principal fonte de energia, Em seu artigo, Denis McGarry observou que a rees
com os corpos cetônicos tornando-se importantes du terificação de ácidos graxos em triacilglicerol é um fa
rante o jejum prolongado. Após três dias de jejum, até o tor crítico na regulação de sua concentração no sangue.
cérebro metaboliza corpos cetônicos. O metabolismo de Essa previsão é amplamente suportada pelo amplo uso
gordura em lugar do suprimento limitado de glicose é clínico atual das drogas antidiabéticas tiazolidinedio
chamado economia de combustível. Os ácidos graxos nas, que agem no receptor nuclear PPARγ2. Essas dro
desempenham um papel importante nesse processo por gas baixam os ácidos graxos livres do plasma, em parte
inibirem a utilização de glicose no músculo esqueléti aumentando a velocidade de reesterificação de ácidos
co. Em 1963, Phillip Randle e colaboradores propuse graxos em triacilgliceróis no tecido adiposo branco, re
ram o que é hoje conhecido como a hipótese de Randle, movendo, assim, ácidos graxos do sangue. Dr. McGar
que afirma que a oxidação de ácidos graxos bloqueia o ry estava, claramente, à frente do seu tempo ao prever
metabolismo de glicose por inibir enzimas regulatórias a importância da regulação do metabolismo de ácidos
chaves envolvidas na utilização de glicose, incluindo a graxos no controle do diabetes.
fosfofrutoquinase e o complexo piruvato desidrogena
se (ver Capítulo 15) e inibe a síntese de glicogênio no McGarry, J. D. What if Minkowski had been ageusic? An
músculo esquelético. Ácidos graxos também diminuem alternative angle on diabetes. Science 285:766, 1992; Roden,
muito a captação de glicose do sangue por bloquearem M. How FFA inhibits glucose utilization in human skeletal
muscle. News Physiol. Sci. 19:92, 2004; Randle, P. J. Regula
o recrutamento de GLUT 4 do retículo endoplasmático
tory interactions between lipids and carbohydrates: the glu
para a superfície celular. Isso se deve, em parte, à ati cose fatty acid cycle after 35 years. Diabetes Metabol. Rev.
vação de isoformas específicas de proteína quinase C, 14:263, 1998; e Zimmet, P. Alberti, K. G. M. M. e Shaw, J. Glo
bem como do fator de transcrição NF-kB, por acil-CoAs baland social implications of the diabetes epidemic. Nature
geradas pelo metabolismo de ácidos graxos. 414:782, 2001
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 699
tioesterase para produzir ácido palmítico livre (Figura Ácido Graxo Sintase de Mamíferos É um
17.9). A especificidade dessa enzima determina o com Polipeptídeo Multifuncional
primento da cadeia do ácido graxo produzido. Note que,
nesse estágio, os grupos sulfidrila da ACP e da sintase As reações delineadas acima são a sequência básica
estão ambos livres, de modo que outro ciclo de síntese para síntese de ácidos graxos em todos os organismos.
de ácidos graxos pode começar. O produto liberado é O complexo enzimático ácido graxo sintase catalisato
convertido em palmitoil-CoA, preparando-o para modi das essas reações, mas sua estrutura e suas proprieda
ficação ou incorporação em lipídeos complexos. des variam consideravelmente. Em Escherichia coli, o
complexo é composto por enzimas separadas. Diferen
temente, a ácido graxo sintase de mamíferos é compos
(CH2 O ta por duas subunidades idênticas, cada uma das quais
CH3)14 C SACP + H2O é um polipeptídeo multienzimático que contém todas as
tioesterase atividades catalíticas. Há também variações na enzima
entre espécies de mamíferos e entre tecidos.
CH3 (CH2)14 COO– + ACPSH
A cadeia de ácido graxo em crescimento fica sem
FIGURA 17.9 Liberação de ácido palmítico da ácido graxo pre ligada à proteína multifuncional e é transferida se
sintase pela tioesterase. quencialmente entre o grupo 4!-fosfopanteteína da ACP,
que é um domínio da proteína, e o grupo sulfidrila da
O
CH3 CH2(CH2)13 COO–
PhP SH CH3CSCoA
(ou butiril CoA)
Cys SH CoASH SH
O
PhP S C CH3
–OOC COO–
HS Cys
SH
O
Repetem-se as reações O
1 - 5, seis vezes CH2 C CoA)
(ou metilmalonil SCoA
1
CoASH
HS PhP O
O
PhP
Cys SC
S C CH3
CH2
CH3CH2CH2CS Cys
PhP
Cys S O2 O O
CO2
6
O
PhP C CH2 C CH3
CH3CH2CH2SC
SH 3,4,5
redução
Cys SH
desidratação
redução
cisteína da proteínanaenzima
Cys = 4!-fosfopanteteína
PhP
proteína transportadora de acil
PhP SH
= ácido graxo sintase
FIGURA 17.10 Mecanismo proposto para elongação de ácidos graxos Cys SH
pela ácido graxo sintase de mamíferos.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 703
cisteína da b-cetoacil-ACP sintase, durante a reação de Para descrever a conversão geral de acetil-CoA em
condensação (Reação 2, Figura 17.8 e 17.10). palmitato, o ATP usado na formação de malonil-CoA
deve ser incluído.
Os níveis de ácido graxo sintase nos tecidos são con
trolados pela velocidade de sua síntese e degradação. O
Como mostra a Tabela 17.3, a insulina aumenta a veloci 7 CH3CSCoA + 7 CO2 +7 ATP
dade de síntese de ácidos graxos por estimular a trans O
crição do gene da ácido graxo sintase, aumentando as 7JOOCCH2CSCoA + 7 ADP + 7 P
i
sim os níveis de enzima no fígado e em outros tecidos.
Os fatores que estão envolvidos na regulação da lipo
Então, a estequiometria da conversão de acetil-CoA
gênese em mamíferos são apresentados na página 704.
em palmitato é
Estequiometria da Síntese de Ácidos O
Graxos 8 CH3 C SCoA
O + 7 ATP +14 NADPH + 14 H+
CH3 (CH2)14COOJ
C + 7 CO2 + 14+14
NADP+
C NADPH
SCoA
+ 8 CoASH
+
+14 H++ 6 H2O
ACC Insulina
Longo prazo Síntese da enzima aumentada
diminuída Hormônio da tireoide, dieta rica em
carboidrato, insulina
Jejum, dieta rica em gordura, via baixa
insulina e alto glucagon. Ácidos graxos
poli-insaturados (PUFAs) também inibem
síntese
Ácido graxo sintase Longo prazo Síntese da enzima aumentada Dieta rica em carboidratos via insulina
Síntese da enzima diminuída Jejum, dieta rica em gordura, via baixa
insulina e alto glucagon. PUFAs também
inibem síntese
Biossíntese de Outros Ácidos Graxos que não o Palmitato
Ácido graxo sintase Síntese aumentada de ácidos graxos de cadeia Metilmalonil-CoA/malonil-CoA
ramificada aumentados
Síntese de ácidos graxos de cadeia curta Expressão de tioesterase específica na
glândula mamária
Estearil-CoA Síntese de enzimas aumentada Insulina, hormônio da tireoide,
dessaturase hidrocortisona, colesterol da dieta
Síntese de enzimas diminuída PUFAs da dieta
704 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
O oxaloacetato gerado pela clivagem de citrato no A estequiometria real desse processo é mais compli
citosol não é facilmente transportado de volta para cada, porque o transporte de citrato e de outros ácidos
a mitocôndria. Em vez disso, ele é reduzido a malato di- e tricarboxílicos através da membrana mitocondrial
pela isoforma citosólica da NAD malato desidrogena interna ocorre por meio de trocas um para um. As ve
se. O malato, então, sofre descarboxilação oxidativa a locidades de fluxo são provavelmente controladas por
piruvato, catalisada pela NADP malato desidrogenase uma composição de gradientes de concentração de vá
(também chamada enzima málica). O piruvato entra na rios desses sistemas de troca.
NADPH+NADP+ + H+ Piruvato
carboxilase
Malato
Síntese de
ácidos graxos NADPNAD++ H+
Malato Complexo
NADPNADH piruvato
desidrogenase
+ H+ desidrogenase
Acetil CoA
ADP + Pi
ATP Citrato
FIGURA 17.11 Transferência de acetil ATP-Citrato liase sintase
CoA da mitocôndria para o citosol Citrato Citrato
para biossíntese de ácidos graxos
pela via de clivagem do citrato.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 705
Estearoil-CoA Dessaturase
Em vertebrados, a dessaturação de ácidos graxos NADPH + H+ enoil-CoA
ocorre no retículo endoplasmático, e as reações e en redutase
zimas que introduzem duplas ligações cis são signifi NADP+
dos graxos também podem sofrer reações de oxidação Formação de Hidroxiácidos Graxos no
não-enzimática, criando produtos que danificam cons Tecido Nervoso
tituintes celulares e podem ter efeitos patológicos.
Dois processos diferentes produzem a-hidroxiáci
Em mamíferos, duplas ligações podem ser adiciona dos graxos em mamíferos. Um ocorre nas mitocôndrias
das apenas na metade proximal dos acil graxo-CoAs;
de muitos tecidos e age sobre ácidos graxos de cadeia
não podem ser adicionadas depois de C9. Consequen
relativamente curta. O outro só foi demonstrado no
temente, os ácidos linoleico (18:2) e linolênico (18:3) sistema nervoso, onde produz ácidos graxos de cadeia
são ácidos graxos poli-insaturados necessários na dieta longa hidroxilados em C2, que são necessários na for
(Figura 17.13). Esses ácidos graxos essenciais são obti mação de alguns lipídeos da mielina. A enzima do cére
dos na dieta a partir de plantas e de peixes de água fria. bro que catalisa essa reação é uma monooxigenase que
Existem duas séries de ácidos graxos poli-insaturados. requer O2 e NADH ou NADPH, e preferencialmente usa
A dupla ligação distal do ácido linoleico está a seis car ácidos graxos C22 e C24. Esse processo é fortemente co
bonos do grupo metil; é chamado n-6 ou w-6. Uma se ordenado com a síntese de esfingolipídeos que contêm
gunda série, n-3 ou w-3, tem a dupla ligação distal a três ácidos graxos hidroxilados (ver p. 748).
carbonos do grupo metil. Um isômero do ácido linolêni
co faz parte desta série.
O Ácido Graxo Sintase Pode
CH3(CH2)3(CH3CHCH)n(CH2)mCOOH
Fórmula básica da série do ácido linoleico
Produzir Outros Ácidos Graxos além
do Palmitato
CH3 (CH2 CHCH)n (CH2)m COOH
Os principais ácidos graxos sintetizados no homem
Fórmula básica da série do ácido linolênico para armazenamento de energia são palmitato e seus
FIGURA 17.13 As séries linoleico e linolênico. produtos de modificação. Entretanto, menores quanti
dades de ácidos graxos diferentes são sintetizadas para
Os ácidos graxos essenciais são modificados por outros propósitos. Dois exemplos são a produção de áci
elongação e dessaturação para formar os ácidos graxos dos graxos mais curtos do que o palmitato na glândula
poli-insaturados encontrados em mamíferos. Uma va mamária e a síntese de ácidos graxos de cadeia ramifi
riedade de ácidos graxos poli-insaturados é sintetizada cada em algumas glândulas secretórias.
no homem usando dessaturases que introduzem duplas
ligações nas posições 4, 5 ou 6 (Figura 17.14). Essas en O leite contém ácidos graxos com cadeias que são
zimas atuam apenas na síntese de ácidos graxos poli mais curtas do que o palmitato. As quantidades relati
-insaturados porque elas só podem usar substratos com vas dos ácidos graxos produzidos pela glândula mamá
uma dupla ligação na posição 9. Essa elongação e des ria variam com a espécie e com o estado fisiológico do
saturação ocorrem em qualquer ordem. A conversão de animal. Em ruminantes, a via de síntese de ácidos gra
ácido linolênico em ácido todo cis-4,7,10,13,16,19-doco xos, que normalmente produz palmitato, é modificada
sa-hexaenoico no cérebro é um exemplo específico de para sintetizar ácidos graxos tão curtos quanto C4. Isso
tal sequência de reações.
O
CH3 (CH2 CHCH)3 CH2 CH2CH2 CH2CH2 CH2CH2 CCoA
Ácido linolênico
"Δ6-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CH2 CH2CH2 CCoA
elongação
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CH2 CH2CH2CH2 CH2 CCoA
"Δ5-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3 CH2CHCHCH2CHCHCH2CH2 CH2 CCoA
elongação
O
CH3(CH2 CHCH)3CH2CHCHCH2CHCHCH2CH2 CH2CH2 CH2 CCoA
"Δ4-dessaturase"
O
CH3(CH2 CHCH)3CH2CHCHCH2CHCHCH2CHCHCH2 CH2 CCoA
Ácido todo-cis-4,7,10,13,16,19-docosa-hexaenoico
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 707
A
o e
s
Acil Graxo-CoAs Podem Ser
C a
r
li u
o
r
a
t
a
s
Reduzidos a Alcoóis Graxos
e
ts s
e
e d
" O Muitos fosfolipídeos contêm cadeias de ácidos
CH3 (CH2)6+n CH2 CH2 CH2 CH2CH2 CH2 (CH2)2 C CoA graxos em ligação éter, em vez de ligação éster. Os
precursores sintéticos dessas cadeias éter-ligadas
FIGURA 17.14 Posições na cadeia de ácido graxo onde são alcoóis graxos (Figura 17.15), em lugar de ácidos
dessaturação pode ocorrer no homem. graxos. Esses alcoóis são formados em vertebrados
Em mamíferos, devem existir pelo menos seis carbonos adiante da por uma redução em duas etapas, NADPH-ligadas,
ligação que está sendo dessaturada. de acil graxo-CoAs, no retículo endoplasmático. Em
tecidos que produzem quantidades relativamente gran
é feito pela expressão de tioesterases solúveis, que cli des de lipídeos contendo éter, a produção simultânea
vam cadeias mais curtas da ácido graxo sintase. O leite de ácidos graxos e alcoóis graxos é rigorosamente co
humano não contém nenhum ácido graxo com cadeia ordenada.
menor do que 10 carbonos.
CH2OH
fosfato
Gliceraldeído 3-fosfato HO CH
Glicose glicólise gliceroneogênese
Piruvato 2–
CH2 OPO3
Di-hidroxiacetona fosfato
Glicerol 3-fosfato
NADH + H+
O
NAD+
R C SCoA
aciltransferase
Glicerol 3-fosfato Acil-di-hidroxiacetona fosfato CoASH
NADPH + H+
Pool de acil O
graxo-CoA HO CH2
CH O C R
NADP+
Éter
lipídeos
Ácidos lisofosfatídicos CH2 O PO32–
Ácido lisofosfatídico
Pool
graxo-CoA
de acil
O
O R C SCoA
aciltransferase
Ácidos fosfatídicos Lipídeos CoASH
complexos
Pi
O
Diacilgliceróis R C CH2 O C R
O CH
CH2 O PO32–
Triacilgliceróis
Ácido fosfatídico
FIGURA 17.16Vias de síntese de triacilglicerol.
Alguns desses intermediários são usados como precursores para a síntese de FIGURA 17.17 Síntese de ácido fosfatídico a
lipídeos de membrana. partir de glicerol 3-fosfato.
rivada da glicose via glicólise; no estado de jejum, no te gerando diacilglicerol, que é então acilado a triacilgli
cido adiposo e no fígado, o glicerol 3-fosfato é derivado cerol (Figura 17.18).
de gliceroneogênese (p. 709). No fígado, há uma fonte
adicional de glicerol 3-fosfato; glicerol pode ser fosforila O ácido fosfatídico é também um intermediário cha
do pela glicerol quinase, que é muito ativa nesse tecido. ve na síntese de outros glicerolipídeos (p. 733). Em uma
via alternativa, a di-hidroxiacetona fosfato é acilada, re
Ácidos graxos são ativados para prosseguimento no duzida a ácido lisofosfatídico e, depois, acilada uma se
metabolismo por conversão em seus ésteres de CoA nas gunda vez para formar ácido fosfatídico (Figura 17.16).
seguintes reações: Embora esta não seja uma via muito importante na sín
tese de triacilgliceróis, é importante para a síntese dos
O
acil-CoA lipídeos de membrana com cadeias alquila éter-ligadas.
R C OJ + sintase
ATP + CoASH
A síntese de triacilgliceróis segue uma via diferente
O
em células epiteliais do intestino delgado. Essas células
RCSCoA + AMP + PPi + H2O captam 2-monoacilgliceróis e ácidos graxos livres do in
testino, que são os principais produtos de digestão dos
Essa reação de duas etapas tem um acil adenilato triacilgliceróis da dieta pela lipase pancreática. Uma
(acil graxo-AMP) como intermediário. A reação geral enzima das células da mucosa acila esses monoacilgli
é direcionada pela hidrólise do pirofosfato produzido a ceróis usando acil-CoAs como substratos. Os diacilgli
dois Pi. ceróis resultantes podem ser acilados para formar triacil
gliceróis, que são acondicionados em quilomícrons.
A síntese de triacilgliceróis envolve a formação de
ácido fosfatídico, que é formado por duas acilações se Análise dos triacilgliceróis humanos mostra que
quenciais do glicerol 3-fosfato para formar ácido liso cada posição do glicerol é esterificada com ácidos gra
fosfatídico e, depois, fosfatídico (Figura 17.17). O ácido xos de diferentes composições. Ácidos graxos satura
fosfatídico é usado na síntese de triacilglicerol com a dos são encontrados preferencialmente na posição 1,
hidrólise do grupo fosfato pela fosfatidato fosfatase, e ácidos graxos insaturados nas posições 2 e 3. Dois
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 709
CH2 O PO32–
Ciclo Triacilglicerol-Ácido Graxo Via
Ácido fosfatídico Gliceroneogênese
A liberação de ácidos graxos livres do tecido adiposo
fosfatidato
fosfatase é uma adaptação metabólica crítica no jejum. A quan
tidade de ácidos graxos liberados pelo tecido adiposo,
O
entretanto, excede a quantidade usada para obtenção
de energia por outros tecidos. Até 60% desses ácidos
O CH2 O C R
graxos são redepositados no tecido adiposo como tria
R C O CH + Pi cilgliceróis. Tanto o fígado como o tecido adiposo de
CH2 OH
sempenham um papel importante nesse processo (Cor
relação Clínica 17.3). No estado alimentado, o glicerol
Diacilglicerol 3-fosfato para síntese de triacilglicerol é derivado da
glicose via glicólise. Durante o jejum, entretanto, a en
O trada de glicose no tecido adiposo é limitada porque a
RC SCoA
concentração de insulina é baixa e a glicose está sendo
aciltransferase usada por outros tecidos. Nesse estado dietético, glice
CoASH
rol 3-fosfato é sintetizado em ambos os tecidos, adiposo
e hepático, pela gliceroneogênese. Como mostra a Fi
O gura 17.19, substratos que entram no ciclo dos ácidos
O CH2 O C R tricarboxílicos, como piruvato, glutamato ou aspartato,
podem suportar a gliceroneogênese. Essa via é essen
R C O CH O
cialmente uma versão abreviada da gluconeogênese,
CH2 O C R na qual o malato formado no ciclo dos ácidos tricarbo
xílicos deixa a mitocôndria e é convertido em oxaloa
Triacilglicerol
cetato no citosol. A fosfoenolpiruvato carboxiquinase
FIGURA 17.18 Síntese de triacilglicerol a partir de ácido então converte oxaloacetato em fosfoenolpiruvato, que
fosfatídico. é convertido em di-hidroxiacetona fosfato e, depois, em
glicerol 3-fosfato, que é usado para a síntese de triacil
fatores importantes que determinam a composição em glicerol. A enzima chave desse processo é a fosfoenol
ácidos graxos de cada posição do glicerol são a especi piruvato carboxiquinase; sua atividade é induzida no
ficidade das aciltransferases envolvidas e a disponibi fígado e no tecido adiposo durante o jejum.
lidade relativa dos diferentes ácidos graxos no pool de
acil graxo-CoAs.
17.6 UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS
Mobilização de Triacilgliceróis GRAXOS PARA PRODUÇÃO
Requer Hidrólise DE ENERGIA
A primeira etapa na mobilização dos ácidos graxos Ácidos graxos da circulação são captados pelas célu
armazenados para produção de energia é a hidrólise dos las e usados para produção de energia, primariamente
triacilgliceróis. Várias lipases catalisam essa reação, e a em mitocôndrias, em um processo integrado com gera
sequência de hidrólise das três cadeias acil é determi ção de energia a partir de outras fontes. Ácidos graxos
nada pelas especificidades das lipases envolvidas. são quebrados em acetil-CoA nas mitocôndrias, com a
O
produção de NADH e FADH2. Esses três produtos são,
depois, usados na matriz mitocondrial para produção
OCR
O CH2 de energia via ciclo dos ácidos tricarboxílicos e fosfori
RC CH O 3H2O lipases
lação oxidativa.
O triacilglicerol que é armazenado no tecido adipo gos transgênicos aumenta a velocidade da gliceroneo
so é hidrolisado a ácidos graxos livres (FFA) durante o gênese, resultando em obesidade.
jejum para fornecer energia para tecidos como músculo
esquelético e cardíaco, e indiretamente para o cérebro, A lógica metabólica do ciclo triacilglicerol/ácido
via corpos cetônicos. Hormônios, principalmente insu graxo reside provavelmente na importância dos ácidos
lina, controlam esse processo. À medida que o nível de graxos como combustíveis durante o jejum. Para ga
insulina cai durante o jejum, a velocidade de hidrólise de rantir que exista FFA suficiente no sangue, mais FFA
triacilgliceróis (lipólise) aumenta, resultando em libera é liberado das células adiposas do que o necessário; o
ção de FFA do tecido adiposo. Um aspecto surpreenden que não é usado é reesterificado a triacilglicerol e re
te desse processo é o destino dos FFA; em seres huma depositado no tecido adiposo, com um pequeno custo
nos em jejum, até 65% desses FFA são reesterificados a energético. O ciclo triacilglicerol/ácido graxo consome
3%–6% da energia de uma molécula de triacilglicerol;
triacilgliceróis no fígado e em outros tecidos periféricos.
No fígado, os triacilgliceróis produzidos são liberado no aparentemente, é melhor ter o combustível necessário
sangue como VLDL e enviado de volta para o tecido adi disponível e pagar por isso energeticamente, do que
poso, para deposição como triacilglicerol. Esse processo ficar sem ele em um momento crítico! A velocidade de
foi chamado o ciclo triacilglicerol/ácido graxo. reesterificação de FFA no ciclo triacilglicerol/ácido
graxo é um fator chave na determinação da concen
A síntese de triacilglicerol em tecidos de mamífe tração de estado estacionário de FFA no sangue, um
ros requer glicerol 3-fosfato, que pode ser derivado da parâmetro que está diretamente envolvido na etiologia
glicose da dieta, via glicólise, no estado alimentado. do diabetes tipo 2 (ver Correlação Clínica 17.2). As tia
Durante o jejum, quando a baixa insulina inibe a uti zolidinedionas, uma classe de drogas antidiabéticas,
lização de glicose, o glicerol 3-fosfato para a reeste induzem a atividade de PEPCK no tecido adiposo e
rificação de FFA é gerado por gliceroneogênese, uma aumentam a velocidade de reesterificação a triacilgli
versão abreviada da gluconeogênese. Nessa via, piru cerol via gliceroneogênese nesse tecido, suportando o
vato – ou compostos que podem gerar piruvato, como importante papel desse processo na manutenção da
alanina ou lactato – é convertido em glicerol 3-fosfato homeostase lipídica.
via di-hidroxiacetona fosfato (Figura 17.19). Estudos
recentes mostraram que a gliceroneogênese, e não a Nye, C., Kalhan, S. C. e Hanson, R. W. Reassessing the
glicólise, é a via predominante para síntese de glicerol pathway of triglyceride synthesis in adipose tissue. Trends
3-fosfato, mesmo durante o estado alimentado. A en in Endocrinol. and Metab. 19: 356, 2008; Reshef, L. Ol
zima chave da via da gliceroneogênese é a fosfoenol swang, Y. Cassuto, H. Blum, B. et al. Glyceroneogenesis and
the triglyceride/fatty acid cycle. J. Biol. Chem. 278:30413,
piruvato carboxiquinase (PEPCK), que é muito ativa 2003; Jensen, M. D., Ekberg, K. e Landau, B. R. Lipid meta
no tecido adiposo marrom e branco. Se a expressão do bolism during fasting. Am. J. Physiol. Endocrinol. Metab.
gene PEPCK for abolida no tecido adiposo de camun 281:E789 2001; e Tordjman, J. Khazan, W. Antoine, B. Chau
dongos, a gliceroneogênese é inibida e o estoque de vet, G. et al. Regulation of glyceroneogenesis and phosphoe
triacilglicerol é reduzido. Ao contrário, super-expres nolpyruvate carboxykinase by fatty acids, retinoic acid and
são do gene PEPCK no tecido adiposo de camundon thiazolidinediones. Biochimie 85:1213, 2003.
Triacilglicerol
Lipase hormônio-sensível
NADH NAD+
Glicerol
Di-hidroxiacetona-P 4 Glicerol
3-fosfato
Alanina, Lactato
Ácidos graxos livres FIGURA 17.19 A via da
GDP
GTP gliceroneogênese no fígado
PEP Oxaloacetato
e no tecido adiposo.
3 CO2 Piruvato Durante o jejum, essa via, que
NADH é uma versão abreviada da glu
1Acetil CoA
2 coneogênese, produz glicerol
Oxaloacetato
NAD+ 3-fosfato para síntese de tria
NADH
NAD+ Citrato
Aspartato cilglicerol. As enzimas chaves
Malato Malato da glicerogênese são (1) piru
vato carboxilase, (2) as formas
α-Cetoglutarato mitocondrial e citosólica da
NAD malato desidrogenase,
(3) fosfoenolpiruvato carboxi
quinase e (4) glicerol 3-fosfato
Glutamato desidrogenase.
Ácidos Graxos São Ativados por brana mitocondrial externa. Acilcarnitina e carnitina
Conversão em Acil Graxo-CoA livre são então trocadas na membrana mitocondrial
interna pela carnitina-acilcarnitina translocase. Final
A primeira etapa da utilização de um ácido graxo mente, o grupo acil graxo é transferido de volta para
é sua ativação a um acil graxo-CoA. Essa reação é ca CoA pela carnitina palmitoiltransferase II (CPT II) no
talisada por enzimas do retículo endoplasmático e da lado da matriz da membrana interna. Esse processo
membrana mitocondrial externa, e é a mesma usada na funciona primariamente no transporte de acil graxo
síntese de triacilgliceróis. Os acil graxo-CoAs são libe -CoAs com 12–18 carbonos. Anomalias genéticas nes
rados no citosol. se sistema levam a graves consequências patológicas
(Correlação Clínica 17.4). Diferentemente, a entrada
Carnitina Transporta Grupos Acil Através de ácidos graxos de cadeia mais curta é independen
da Membrana Mitocondrial Interna te de carnitina; eles cruzam a membrana mitocondrial
interna como ácidos graxos livres e são ativados a seus
A maioria dos acil graxo-CoAs de cadeia longa é for derivados CoA na matriz. CPT I é um importante pon
mada fora da mitocôndria, mas é oxidada na matriz. A to de regulação da oxidação de ácidos graxos porque
membrana mitocondrial é impermeável a CoA e seus sua velocidade controla a entrada de ácidos graxos na
derivados. Ácidos graxos são transportados para dentro mitocôndria e, portanto, determina o suprimento de
da mitocôndria usando carnitina (4-trimetilamino-3 substratos para b-oxidação na matriz mitocondrial.
-hidroxibutirato) como transportador. O processo é re Malonil-CoA, que é o produto da acetil-CoA carboxilase
sumido na Figura 17.20. e um intermediário chave na síntese de ácidos graxos
+ (p. 700), é um inibidor da CPT I.
CH3 C N(CH3)3
H H
Acil graxo CoA
Membrana Acil-CoA CPT I
mitocondrial Sintase
externa FAD Proteína
acil-CoA
FADH2
1. desidrogenase
Proteína
–
malonil CoA
H O
Carnitina Acilcarnitina
CH3 (CH2)nCCCSCoA
H
trans-2-Enoil CoA
H2O
2. enoil-CoA hidratase
Membrana Translocase
mitocondrial
interna
Matriz
mitocondrial 3. H O
CH3(CH2)nCCH2CSCoA
CPT II
OH
3-L-Hidroxiacil CoA
NAD+
3-L-hidroxiacil-CoA
β-Oxidação Acil CoA CoASH desidrogenase
NADH + H+
CH3 (CH2)nCCH2CSCoA
mitocôndria como acilcarnitinas para oxidação.
A inibição da carnitina palmitoiltransferase I (CPT I) por malonil-CoA regula a β-Cetoacil CoA
velocidade de oxidação de ácidos graxos.
CoASH
zima. Como no ciclo dos ácidos tricarboxílicos, o FADH2 4. β-cetoacil-CoA tiolase
transfere seus elétrons para enzimas da via da fosforila
ção oxidativa, regenerando FAD.
CH3 O O
dupla ligação trans para um 3-L-hidroxiacil-CoA, que Acil graxo CoA Acetil CoA
é oxidado para um intermediário 3-cetoacil-CoA, com (2 átomos C a menos)
Cada uma das quatro reações apresentadas na Figu Uma característica singular da oxidação de ácidos
ra 17.21 é catalisada por várias enzimas diferentes, que graxos de cadeia longa é que as etapas da enoil-CoA
têm especificidades para substratos de diferentes com hidratase, da 3-hidroxiacil-CoA desidrogenase e da b−
primentos de cadeia. Por exemplo, pelo menos, quatro -cetotiolase são todas catalisadas por um complexo li
enzimas catalisam a primeira etapa de desidrogenação. gado à membrana das três enzimas, chamado proteína
Elas são acil-CoA desidrogenases de cadeia-muito-lon trifuncional. Esse complexo é distinto das enzimas que
ga, de cadeia-longa, de cadeia-média e de cadeia-curta catalisam a oxidação de acil-CoAs de cadeias média e
(VLCAD, LCAD, MCAD e SCAD). VLCAD, que oxida curta, todas proteínas solúveis da matriz mitocondrial.
acil-CoAs de cadeia linear na faixa de C12 a C24, dife A Correlação Clínica 17.5 descreve deficiências genéti
re dos outros membros da família porque é associada cas de acil-CoA desidrogenases.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 713
Deficiências Genéticas no Transporte por Carnitina (OMIM 212140) ou na Carnitina Palmitoil Transferase
(OMIM 600650)
Várias doenças resultam de anomalias genéticas no tura do tecido muscular, é frequentemente obser
transporte de ácidos graxos de cadeia longa através da vada. A doença é geralmente descrita como a forma
membrana mitocondrial interna. Elas se originam de muscular da deficiência de atividade de CPT II. Mu
deficiências no nível de carnitina ou na síntese e trans tações causando perda mais severa (90% ou mais) da
porte de acilcarnitinas. Mutações podem afetar a carni atividade de CPT II podem ter sérias consequências
tina palmitoiltransferase (CPT) ou a carnitina-acilcar no início da infância. Estas são geralmente desenca
nitina translocase mitocondrial. deadas por períodos de jejum e incluem hipoglicemia
hipocetótica, hiperamonemia, disfunção cardíaca e,
Duas categorias de deficiência de carnitina, pri às vezes, morte. Morbidade e mortalidade semelhan
mária e secundária, são hoje reconhecidas. A deficiên tes estão associadas com mutações no gene da CPT
cia primária de carnitina é causada por um defeito
I hepática. Até o momento, apenas alguns poucos
no transportador de carnitina de alta afinidade, da
pacientes com deficiência de CPT I hepática foram
membrana plasmática de tecidos como músculo, rim, descritos, provavelmente porque a doença é frequen
coração e fibroblastos (mas, aparentemente, não de temente letal. Nenhum defeito na isoforma muscular
fígado, onde opera um transportador diferente). Re da CPT I foi descrito.
sulta em níveis extremamente baixos de carnitina
nos tecidos afetados e no plasma (em decorrência da O primeiro paciente com deficiência da carnitina
incapacidade renal de reabsorver carnitina). Os sin -acilcarnitina translocase foi descrito em 1992. Os si
tomas clínicos da deficiência de carnitina vão desde nais clínicos incluem coma hipoglicêmico intermitente,
câimbras musculares recorrentes leves, até fraqueza hiperamonemia, fraqueza muscular e cardiomiopatia.
grave e morte. Os níveis muito baixos de carnitina A doença mostrou-se fatal aos três anos de idade. Vá
no coração e no músculo esquelético comprometem rios casos adicionais, com sintomatologia semelhante,
seriamente a oxidação de ácidos graxos de cadeia foram relatados desde então.
longa. A terapia com carnitina na dieta, que eleva a
concentração plasmática de carnitina e força sua en Essas doenças podem ser tratadas com uma dieta
trada nos tecidos de maneira inespecífica, é frequen pobre em ácidos graxos de cadeia longa e evitando-se
temente benéfica. A deficiência secundária de car o jejum, para minimizar condições nas quais os tecidos
nitina está frequentemente associada com defeitos requerem oxidação de ácidos graxos para obtenção de
hereditários na via da b-oxidação. Essas doenças fre energia. A dieta também pode ser suplementada com
quentemente ocasionam acúmulo de acilcarnitinas, triacilgliceróis de cadeia média, porque esses ácidos
que são excretadas na urina (ver Correlação Clínica graxos entram nas mitocôndrias por um mecanismo in
17.5), depletando, assim, a reserva de carnitina. Es dependente de carnitina.
sas acilcarnitinas também podem impedir a captação
Stanley, C. A., Hale, D. E., Berry, G. T., et al. A deficiency
de carnitina livre pelos tecidos. of carnitine-acylcarnitine translocase in the inner mitochon
drial membrane. N. Engl. J. Med. 327:19, 1992; Roe, C. R.
Existem várias deficiências diferentes de CPT. A e Dong, J. Mitochondrial fatty acid oxidation disorders. Em:
forma mais comum resulta de mutações no gene CPT Scriver, C. R., Beaudet, A. L., Sly, W. S. e Valle, D. (Eds.), The
II, que causa uma perda parcial da atividade enzimá Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease, Vol.
tica. Os pacientes geralmente apresentam fraqueza II, 8. ed. New York: McGraw-Hill, 2001, II: 2297; e Bonnefont,
muscular durante exercício prolongado, quando os J. P., Demaugre, F., Prip-Buus, C., Saudubray, J. M., et al. Car
músculos dependem muito de ácidos graxos como nitine palmitoyltransferase deficiencies. Mol. Gen. Metab.
fonte de energia. Mioglobinúria, decorrente de rup 68:424, 1999.
Rendimento Energético da sete FADH2 e sete NADH. Com base na estimativa atual do
rendimento em ATP na fosforilação oxidativa (p. 589),
ß-Oxidação de Ácidos Graxos cada FADH2 rende 1,5 ATPs e cada NADH gera 2,5 ATPs
quando oxidados pela cadeia de transporte de elétrons.
Cada ciclo de b-oxidação produz um acetil-CoA, um Portanto, a oxidação de sete NADH e um FADH2 produz
FADH2 e um NADH. Na oxidação de palmitoil-CoA, sete 28 ATPs A oxidação de cada acetil-CoA no ciclo dos áci
clivagens de ligações carbono–carbono ocorrem, com a dos tricarboxílicos rende 10 ATP (p. 590), de modo que
formação de dois acetil-CoAs na última clivagem. As os oito fragmentos de dois carbonos de uma molécula
sim, a b-oxidação do palmitato produz oito acetil-CoAs,
de palmitato produzem 80 ATP, dando um total de 108
714 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Deficiências de acil-CoA desidrogenases represen ção de ácidos graxos deficiente no músculo, promove
tam um grupo de defeitos hereditários, descoberto re utilização de glicose, levando a profunda hipoglicemia.
centemente, que afetam a primeira reação da b-oxida O acúmulo de acil-CoAs de cadeia média nos tecidos
ção de ácidos graxos. Foram descritos pacientes com força seu metabolismo por vias alternativas, incluindo
mutações que afetam enzimas com especificidade para w-oxidação e transesterificação a glicina ou carnitina.
diferentes comprimentos de cadeia. Essas mutações A excreção urinária excessiva dos produtos da reação
incluem a acil-CoA desidrogenase de cadeia muito lon (ácidos dicarboxílicos de cadeia média, juntamente
ga (VLCAD), a acil-CoA desidrogenase de cadeia lon com ésteres de cadeia média de glicina e carnitina) são
ga (LCAD), a acil-CoA desidrogenase de cadeia média sinais diagnósticos dessa doença. Muitos casos ante
(MCAD) e a acil-CoA desidrogenase de cadeia curta riormente diagnosticados como síndrome tipo-Reye
(SCAD). Os pacientes com essas mutações autossômi ou síndrome da morte súbita na infância eram, de
cas recessivas compartilham muitos dos mesmos sinais fato, devidos a deficiência de MCAD. Pacientes com
clínicos. A mais bem caracterizada é a deficiência de essa doença são tratados evitando-se jejum prolongado
MCAD, que, apesar de somente ter sido reconhecida em e pela ingestão de uma dieta rica em carboidratos. Su
1982, é hoje considerada um dos mais comuns de todos plemento da dieta com carnitina repõe a carnitina que
os erros inatos de metabolismo. é perdida pela excreção aumentada de acilcarnitinas.
Isso é consistente com o fato de que as complicações
A deficiência de MCAD geralmente se manifesta du metabólicas da deficiência de MCAD só aparecem quan
rante os primeiros dois anos de vida. Os sintomas típi do os tecidos do corpo ficam muito dependentes de áci
cos, que se observam após um período de jejum de 12 dos graxos como fonte de energia.
horas ou mais, incluem vômitos, letargia e, frequente
mente, coma, acompanhados de hipoglicemia hipoce Rinaldo, P., Matern, D. e Bennett, M. J. Fatty acid oxida
tótica e acidúria por dicarboxílicos. A ausência de ceto tion disorders. Annu. Rev. Physiol. 64:477, 2002; e Wanders,
se por jejum deve-se ao bloqueio da oxidação hepática R. J. A., Vreken, P., den Boer, M. E. J., et al. Disorders of mi
de ácidos graxos, que também causa desaceleração da tochondrial fatty acyl CoA b-oxidation. J. Inher. Metab. Dis.
gluconeogênese. Esse bloqueio, acoplado com a oxida 22:442, 1999.
ATP. Entretanto, dois equivalentes de ATP são usados ß-Oxidação de Alguns Ácidos
para ativar palmitato a palmitoil-CoA (1 ATP é conver
tido em 1 AMP + PPi). Portanto, cada ácido palmítico Graxos Requer Etapas Adicionais
rende 106 ATP/mol na oxidação completa. A importân
cia dos ácidos graxos no suprimento das necessidades A via de b-oxidação oxida ácidos graxos saturados
energéticas do metabolismo humano é discutida na pá com número par de átomos de carbono a acetil-CoA. En
gina 874. tretanto, outros ácidos graxos da dieta, incluindo aque
les com duplas ligações cis, com cadeias ramificadas e
com número ímpar de átomos de carbono, requerem
Comparação entre Síntese e etapas adicionais para sua completa oxidação. Essas
etapas permitem que esses ácidos graxos sejam usados
Oxidação de Ácidos Graxos como combustíveis e impedem seu acúmulo. Outras
reações catalisam a a- e a w-oxidação de ácidos graxos.
As vias de síntese e oxidação de ácidos graxos são
A a-Oxidação ocorre em C2, em vez de C3, como ocorre
semelhantes. Entretanto, como muitas vias pareadas na b-oxidação, enquanto a w-Oxidação ocorre na extre
anabólicas e catabólicas, a síntese e a oxidação de áci midade metil da molécula de ácido graxo.
dos graxos não são o reverso uma da outra. As dife
renças críticas entre as duas vias são apresentadas na
Tabela 17.4, e incluem diferentes localizações celulares, CH3 O
diferentes cofatores (NADPH na biossíntese e FAD e
CH2CSCoA
NAD+ na oxidação) e o uso de ATP para direcionar a
formação de malonil-CoA para síntese de ácido graxo. FIGURA 17.22 Propionil-CoA.
Essas diferenças permitem que ambas as vias ocorram
no sentido direta porque o DG < 0 para ambas. As dife
renças também permitem regulação independente, que
impede ciclo fútil.
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 715
OH O O O
Oxidação de Ácidos Graxos Insaturados
CH COH CH3 (CH2)n C C OH
Requer Enzimas Adicionais
O
Os ácidos graxos insaturados são utilizados por
CH3 (CH2)n COH + CO2
b-oxidação, mas reações adicionais são necessárias
para lidar com duplas ligações cis. O metabolismo
começa com vários ciclos de b-oxidação, o que gera Algumas dessas hidroxilações ocorrem no retículo
intermediários que têm duplas ligações perto do car endoplasmático e na mitocôndria e envolvem monoo
bono da carboxila. Duplas ligações começando em xigenases (família P450) que requerem O2 e NADH ou
átomos de carbono ímpares ou pares requerem dife NADPH. A a-hidroxilação de ácidos graxos também
rentes estratégias. A oxidação de linoleil-CoA, (18:2) ocorre em peroxissomos. Esta é particularmente im
(Figura 17.23) ilustra esse processo. A b-oxidação portante no metabolismo de ácidos graxos de cadeia ra
gera um intermediário enoil-CoA com uma dupla liga mificada (Correlação Clínica 17.6). Um ácido graxo de
ção cis entre C3 e C4, em lugar do intermediário com cadeia ramificada, como fitanoil-CoA, que é derivado da
uma ligação trans entre C2 e C3 que é necessário para clorofila da dieta, sofre a ação de uma hidroxilase, em
a enoil-CoA hidratase. Enoil-CoA isomerase muda o uma reação envolvendo a-cetoglutarato, Fe2+ e ascor
cis-D3 para um trans-D2-enoil-CoA, que pode então bato, com a geração de 2-hidroxifitanoil-CoA e formil
ser metabolizado por b-oxidação. -CoA. O último é metabolizado a CO2 via ácido fórmico.
O 2-hidroxifitanoil-CoA é, depois, metabolizado a ácido
Um segundo problema ocorre quando a dupla li pristânico, que passa pela b-oxidação.
gação cis do acil-CoA intermediário reside entre C4 e
C5. Nesse caso, a ação da acil-CoA desidrogenase dá -Oxidação Dá Origem a Ácidos
origem a um trans-2, cis-4-enoil-CoA. Sobre este, age Dicarboxílicos
a 2,4-dienoil-CoA redutase, que produz um trans-3
enoil-CoA, usando equivalentes de redução de NADPH. A w-Oxidação é outra via minoritária para oxidação
Enoil-CoA isomerase então produz trans-2-enoil-CoA, de ácidos graxos, que ocorre no retículo endoplasmáti
que é um substrato para b-oxidação. co de muitos tecidos. Nessa via, a hidroxilação ocorre
no carbono metil da extremidade oposta da molécula, a
716 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
H HH H
O
C C C C
CH3(CH2)4 CH2 CH2(CH2)4 CH2 CH2 CSCoA Linoleoil CoA
βOxidação O
3CH3 C SCoA
H HH H
O
C C C C
CH3(CH2)4 CH2 CH2CSCoA Um cis-3-enoil CoA
enoil-CoA isomerase
H H H C SCoA
C C C C
CH3(CH2)4 CH2CH2 H
Um trans-2-enoil CoA
O
βOxidação CH3C SCoA
H H
C C O
acil-CoA desidrogenase
H C C H H O
2,4-dienoil-CoA NADPH + H+
redutase NADP+
H O
enoil-CoA isomerase
O
H
CH3(CH2)4CH2CH2CCCSCoA Um trans-2-enoil CoA
H
βOxidação
O
5CH3 C SCoA
FIGURA 17.23 Oxidação de linoleil-CoA.
partir
tremidade
se quedo
requer
grupo
metil.
O2carboxila, ou nousa
A w-Oxidação uma monooxigena-
carbono vizinho à ex- podem ser mais oxidados no citosol a ácidos dicarboxí
licos, pela ação sequencial de álcool e aldeído desidro
e NADPH. Ácidos graxos hidroxilados genases citosólicas. Os ácidos graxos de cadeia média
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 717
Embora a a-oxidação de ácidos graxos seja relati Pacientes com uma doença genética rara chamada
vamente minoritária em termos de produção total de doença de Refsum não têm a enzima de peroxissomos
energia, é significativa no metabolismo de ácidos gra que catalisa a a-hidroxilação e acumulam grandes
xos de cadeia ramificada da dieta. O principal exemplo quantidades de ácido fitânico em seus tecidos e no soro.
é o ácido fitânico, um produto metabólico do fitol, que é Isso leva a graves problemas neurológicos como retinite
um constituinte da clorofila. O ácido fitânico é um cons pigmentosa, neuropatia periférica, ataxia cerebelar e
tituinte significativo da gordura do leite e de animais. surdez neurológica. A restrição de produtos derivados
Esse ácido não pode ser oxidado pela b-oxidação em do leite e de carne de ruminantes, na dieta, resulta na
virtude da presença do grupo 3-metil. É metabolizado diminuição do ácido fitânico plasmático e na regressão
por a-hidroxilação seguida de desidrogenação e des dos sintomas neurológicos.
carboxilação. b-Oxidação pode degradar completamen
Wanders, R. J. A., van Grunsven, E. G. e Jansen, G. A. Lipid
te a molécula resultante, produzindo três moléculas de
metabolism in peroxisomes: enzymology, functions and dys
propionil-CoA, três moléculas de acetil-CoA e uma mo functions of the fatty acid a- and b-oxidation systems in hu
lécula de isobutiril-CoA. mans. Biochem. Soc. Trans. 28:141, 2000.
CH3 CH(CH2CH
)3(CH2)3CH(CH2)3 CHCH2 COOH
Ácido fitânico
são os principais substratos para essa via. As reações HGM-CoA É um Intermediário da Síntese
gerais são de Acetoacetato a partir de Acetil-CoA
O O
Os corpos cetônicos são formados no fígado (e, em
CH3 (CH2)n C OH HOCH2(CH2)n COH menor escala, na córtex renal durante o jejum prolon
O O
gado). Sua síntese ocorre na matriz mitocondrial e co
meça com a condensação de duas moléculas de acetil
HO C(CH2)n C OH -CoA para formar acetoacetil-CoA, em uma reação que
é o inverso da etapa final da b-oxidação (Figura 17.25).
Esses ácidos dicarboxílicos formam ésteres de CoA A enzima envolvida, b-cetotiolase, é uma isoenzima da
em qualquer um dos grupos carboxila e, depois, passam enzima que funciona na b-oxidação. HGM-CoA sintase
pela b-oxidação para produzir ácidos dicarboxílicos de catalisa a condensação de acetoacetil-CoA com outra
cadeia mais curta, como ácidos adípico (C6) e succínico molécula de acetil-CoA, para formar b-hidroxi-b-me
(C4). Esse processo ocorre primariamente nos peroxis tilglutaril-coenzima A (HGM-CoA). A HGM-CoA liase
somos. então cliva HMG-CoA para produzir ácido acetoacético
e acetil-CoA.
Corpos Cetônicos São Formados a
O O
partir de Acetil-CoA
CH3 C CH2 C OH
Os corpos cetônicos são produtos hidrossolúveis
da oxidação de lipídeos, que são formados nas mito Ácido acetoacético
O O O O O
CH CCH2CSCoA CH3 CC
CH2 OJ + H+ CH3CCH3 + CO2
3
Acetoacetil CoA
O A formação de acetona é desprezível em condições
CH3CSCoA HMG-CoA sintase normais, mas em altas concentrações de acetoacetato,
Acetil CoA que pode ocorrer na cetoacidose diabética grave (Cor
CoA relação Clínica 17.7), a acetona pode chegar a níveis su
ficientemente altos para ser detectada no hálito.
OH
HOOCCH2CCH2CSCoA
O
HMG-CoA é também um intermediário da síntese
de colesterol (p. 738). Entretanto, o HMG-CoA usado
CH3 na síntese de corpos cetônicos e na de colesterol está
3-Hidroxi, 3-metil-glutaril CoA presente em reservatórios metabólicos diferentes. O
(HMG CoA) HMG-CoA usado para cetogênese é sintetizado nas
mitocôndrias hepáticas (e renais) por uma isozima da
O HMG-CoA sintase que é expressa em altos níveis du
HMG-CoA liase CH3CSCoA
rante o jejum prolongado. Além disso, a HGM-CoAliase,
Acetil CoA que converte HMG-CoA em acetoacetato e acetil-CoA,
O é expressa só em mitocôndrias hepáticas (e renais). Di
CH CCH2COOH ferentemente, o HMG-CoA para síntese de colesterol é
3
Acetoacetato feito em baixos níveis no citosol de muitos tecidos por
NADH + H+ uma isozima citosólica da HMG-CoA sintase.
espontânea β-Hidroxibutirato
desidrogenase
CO2 NAD+ Utilização de Corpos Cetônicos por
CH3 O OH Tecidos Não-Hepáticos Requer a
C
Acetona CH3 CH3CHCH2COOH
b-Hidroxibutirato
Formação de Acetoacetil-CoA
Acetoacetato e b-hidroxibutirato produzidos pelo
FIGURA 17.25 Os corpos cetônicos são sintetizados a
partir de acetil-CoA em mitocôndrias hepáticas. fígado são excelentes combustíveis para muitos tecidos
não-hepáticos, incluindo músculo cardíaco, músculo
esquelético e cérebro, particularmente quando o su
Acetoacetato Forma D-b-Hidroxibutirato e primento de glicose é baixo (jejum prolongado) ou é
Acetona deficientemente usada (deficiência de insulina). Nessas
condições, esses tecidos oxidarão ácidos graxos livres,
Parte do acetoacetato é reduzida a D-b-hidroxibu cuja concentração no sangue aumenta à medida que os
tirato nas mitocôndrias pela b-hidroxibutirato desi níveis de insulina caem. Durante o jejum prolongado, os
drogenase. Note que o produto da b-hidroxibutirato corpos cetônicos substituem a glicose como combustí
desidrogenase é o D-b-hidroxibutirato, enquanto o b− vel, particularmente no cérebro, que começa a usar cor
-hidroxibutiril-CoA formado durante a b-oxidação é o pos cetônicos após 2-3 dias de jejum. Isso reduz a ne
isômero L. A extensão dessa reação depende da razão cessidade de produção de glicose por gluconeogênese
intramitocondrial NAD+/NADH. Como a b-hidroxibu durante o jejum prolongado, “economizando”, assim, a
tirato desidrogenase tem muita atividade no fígado, as proteína muscular que fornece aminoácidos para a glu
concentrações de seus substratos e produtos são man coneogênese (p. 638). Acetoacetato e b-hidroxibutirato
tidas perto do equilíbrio. Portanto, a razão entre b-hi também servem de precursores para a síntese de lipíde
droxibutirato e acetoacetato no sangue reflete a razão os cerebrais durante o período neonatal.
NAD+/NADH nas mitocôndrias hepáticas. Durante o je
jum, essa razão é relativamente alta por causa do NADH Corpos cetônicos são metabolizados nas mitocôn
gerado pela oxidação de ácidos graxos, favorecendo a drias de tecidos não-hepáticos. A b-hidroxibutirato
formação de b-hidroxibutirato; no homem em jejum desidrogenase converte b-hidroxibutirato em acetoace
de uma noite, a razão b-hidroxibutirato/acetoacetato é tato por uma oxidação NAD-ligada na matriz mitocon
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 719
A popularidade atual de dietas pobres em carboi cretada na urina, e uma parte é eliminada pela respi
dratos para perda de peso enfatiza a importância do ração. Poderia isso ser responsável pela maior perda de
metabolismo de corpos cetônicos como combustíveis peso observada em indivíduos na dieta de Atkins? Para
no homem. A mais conhecida dessas foi populariza comparação, após sete dias de jejum, a taxa de excre
da pelo falecido Dr. Robert Atkins em seu livro Dr. ção urinária diária de acetoacetato e b-hidroxibutirato
Atkins’ Diet Revolution, que vendeu mais de 6 mi no homem é aproximadamente 110 mmol/dia; a taxa de
lhões de cópias. A dieta de Atkins é rica em gordu excreção é ainda menor no início do jejum (60 mmol/dia
ra e proteína e muito pobre em carboidratos (menos após dois dias de jejum). Essa excreção poderia con
de 20 g/dia durante a fase inicial) e tem sido muito tribuir para o balanço calórico negativo e a perda de
controversa entre os médicos em virtude de seu alto peso característicos da dieta de Atkins, embora a perda
conteúdo de gordura. Os indivíduos que fazem essa de energia não exceda 100 kcal/dia. É mais provável,
dieta frequentemente perdem uma quantidade consi entretanto, que o alto conteúdo de gordura da dieta de
derável de peso, a despeito da promessa do autor que Atkins reduza o apetite e, assim, a ingestão de alimen
os pacientes podem “parar de contar calorias e medir tos. Além disso, na ausência de carboidratos, a dieta é
porções”. Estudos clínicos controlados demonstraram monótona e persistência é um grande problema.
que indivíduos obesos perdem mais peso em uma die
ta rica em gordura/pobre em carboidratos do que em Em geral, a cetose surge quando a oxidação de glico
uma dieta isocalórica com níveis mais altos de carboi se é suprimida e o catabolismo de gordura é acelerado.
dratos. Surpreendentemente, uma notável queda foi Existem dois tipos de cetose: a cetose normal do jejum
observada nos níveis de triacilgliceróis no sangue de e a hipercetonemia patológica da cetoacidose diabéti
indivíduos em uma dieta rica em gordura/pobre em ca. Nenhum outro combustível do sangue humano pode
carboidratos. Por exemplo, um teste de dois anos que mudar tão drasticamente como corpos cetônicos e ain
comparou uma dieta pobre em carboidratos/rica em da ser compatível com a vida. Após uma noite de jejum,
gordura (uma dieta tipo Atkins) com uma dieta pobre a concentração de corpos cetônicos é aproximadamen
em gordura/rica em carboidratos, uma dieta no estilo te 0,05 mM, mas essa concentração pode subir para 2
Mediterrâneo, foi feito em 322 sujeitos, com um BMI mM após dois dias de jejum e para 7 mM após 40 dias,
uma mudança de 140 vezes na concentração. Em um
médio de 31. Os indivíduos da dieta rica em gordura/
pobre em carboidratos perderam em média 10,2 libras estudo original, O. E. Owen e colaboradores demonstra
ram que durante o jejum prolongado, acetoacetato e b−
(4,7 kg) comparados com uma perda de 6,4 libras (2,9
kg) para o grupo da dieta rica em carboidratos/pobre -hidroxibutirato substituem a glicose como o combustí
em gordura. Além disso, houve uma redução em 20% vel predominante no cérebro. Isso reduz a necessidade
na razão de colesterol total para HDL colesterol no de síntese de glicose a partir de aminoácidos derivados
grupo da dieta rica em gordura, e uma redução de ape de proteína muscular e do fígado. O músculo consome
nas 12% nessa razão para os indivíduos da dieta rica avidamente corpos cetônicos logo no início do jejum,
em carboidratos. Os autores concluíram que a dieta mas muda para oxidação de ácidos graxos à medida que
rica em gordura/pobre em carboidratos era mais segu o jejum progride, economizando assim corpos cetônicos
ra para o consumo humano a longo prazo, e que trouxe para o metabolismo do cérebro. Portanto, corpos cetô
benefícios metabólicos; eles sugeriram que esta fosse nicos são um combustível normal para uma variedade
considerada em programas de perda de peso para pa de tecidos, e são parte de um padrão complexo de me
cientes obesos. tabolismo de combustíveis que ocorre durante o jejum
no homem.
Na dieta de Atkins, a mobilização de ácidos graxos
do tecido adiposo e sua conversão pelo fígado em cor Owen, E. E., Morgan, A. P., Kemp, H. G., Sullivan, J. M., et
pos cetônicos (b-hidroxibutirato, acetoacetato e aceto al. Brain metabolism during fasting. J. Clin. Invest. 46: 1589,
na) é central. A dosagem de corpos cetônicos na urina 1967; Feinman, R. D. e Fine, E. J. Thermodynamic and me
tabolic advantage of weight loss diets. Metabolic Syndrome
é o método prescrito para determinar o estado metabó
and Related Disorders 1:209, 2003; Samaha, F. F., Iqbal, N.
lico durante a dieta, uma vez que, mesmo quantidades Seshadri, P. Chicano, K. L. et al. A low-carbohydrate, as com
pequenas de carboidratos na dieta reprimem a síntese pared with a low-fat diet in severe obesity. N. Engl . J. Med.
de corpos cetônicos, principalmente por inibirem a li 348:21, 2003; e Shai, I., Schwarzfuchs, D., Henkin, Y., Shahar,
pólise no tecido adiposo. À medida que a concentração D. R. et al. Weight loss with a low-carbohydrate, Mediterrane
de corpos cetônicos sobe no sangue, uma fração é ex an, or low-fat diet. N. Engl. J. Med. 359: 229, 2008.
720 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Ácidos graxos
Aminoácidos
2 Acetil-CoA
Ciclo TCA
cetotiolase
CoA
Acetoacetil-CoA 2 Acetil-CoA
Acetil-CoA
HMG-CoA
cetotiolase
sintase
CoA CoA
Hidroximetilglutaril-CoA Acetoacetil-CoA
Succinato
HMG-CoA
liase tioforase Succinil-CoA
Acetil-CoA
Acetoacetato Acetoacetato
FIGURA
e utilização
17.26
deSíntese
corpos
mitocôndria hepática mitocôndria de músculo,
cetônicos. cérebro e outros tecidos
drial. O acetoacetato é, então, convertido em seu deri mas difere da b-oxidação mitocondrial em três aspec
vado CoA pela acetoacetato:succinil-CoA transferase tos importantes. Primeiro, a desidrogenação inicial é
(tioforase), que está presente em tecidos que usam cor realizada por um sistema de oxidase que usa O2 e pro
pos cetônicos, mas não no fígado. Succinil-CoA serve de duz H2O2 (Figura 17.27). A H2O2 formada é consumida
fonte de CoA. A reação é apresentada na Figura 17.26. A pela catalase. As etapas remanescentes são as mesmas
b-cetotiolase converte o acetoacetil-CoA em dois acetil do sistema de b-oxidação mitocondrial. Segundo, as
-CoAs, que entram no ciclo dos ácidos tricarboxílicos enzimas de peroxissomos e de mitocôndrias diferem
para produção de energia. em sua especificidade; as enzimas de peroxissomos
preferem ácidos graxos de mais do que oito carbonos.
Em resumo, as vias de síntese e utilização de corpos Embora as mitocôndrias de fígado de rato realizem a
cetônicos compartilham várias etapas. Entretanto, há oxidação completa de acil graxo-CoAs até acetil-CoA,
etapas que são específicas para cada via. As enzimas a b-oxidação em peroxissomos de fígado não vai além
chaves da síntese de corpos cetônicos, HMG-CoA sinta de octanoil-CoA (C8). Portanto, os peroxissomos encur
se e HMG-CoAliase, são expressas no fígado (e na córtex tam ácidos graxos de cadeia longa até um ponto no qual
renal), mas não em outros tecidos. A enzima chave da a b-oxidação possa ser completada nas mitocôndrias.
utilização de corpos cetônicos, acetoacetato;succinil É interessante notar que as tiazolidinedionas, drogas
-CoA transferase, está presente em muitos tecidos, mas antidiabéticas que reduzem a resistência periférica à
não no fígado. Essas diferenças garantem que os corpos
insulina e diminuem os níveis de triacilglicerol em pa
cetônicos sejam produzidos no fígado e utilizados em cientes, causam um grande aumento nos peroxissomos.
outros tecidos.
CH3 O
Funções flavoproteína-H2 O2
Graças a esses diversos papéis metabólicos, não é sur Regulação no Estado de Jejum
preendente que a ausência congênita de peroxissomos
funcionais, um defeito hereditário conhecido como sín O jejum resulta em uma mudança drástica no meta
drome de Zellweger, tenha efeitos tão devastadores (ver bolismo de lipídeos, com parada da deposição de lipídeos
Correlação Clínica 1.7, p. 212). e dependência do triacilglicerol armazenado. À medida
que a concentração de glicose no sangue diminui, há
um decréscimo paralelo na concentração de insulina na
17.7 REGULAÇÃO DO circulação.
Há também um aumento de epinefrina e glucagon,
METABOLISMO DE os quais elevam o nível de cAMP hepático e ativam a
LIPÍDEOS proteína quinase A. No tecido adiposo, há uma fosfo
rilação aumentada da lipase hormônio-sensível e da
perilipina, resultando em um aumento na quebra de
Regulação no Estado Alimentado triacilglicerol e na liberação de ácidos graxos livres e
O metabolismo de lipídeos no homem é controlado glicerol desse tecido (ver Tabela 17.2, para um resumo
pelo estado dietético do indivíduo via um conjunto com desses controles).
plexo de sinais hormonais. Depois de uma refeição que
No fígado, essas mudanças hormonais levam a uma
contém lipídeos, carboidratos e proteínas, o lipídeo da
diminuição na síntese de ácidos graxos, em virtude
dieta é depositado como triacilglicerol no tecido adipo da redução nos níveis de enzimas chaves (ver Tabela
so. Além disso, os carboidratos e os aminoácidos da die
ta, em excesso em relação ao necessário para energia 17.3). Há também inibição da enzima limitante da ve
locidade, acetil-CoA carboxilase, por causa da fosfori
ou para síntese de proteínas, são convertidos em ácidos
lação cAMP-dependente da enzima. A glicólise é tam
graxos e depositados no tecido adiposo como triacilgli
bém inibida; isso diminui o suprimento de acetil-CoA
cerol. O principal hormônio anabólico, insulina, é ne para a lipogênese. O fígado começa a produzir corpos
cessário para síntese de ácidos graxos e para a forma
ção de triacilglicerol no tecido adiposo. Um resumo é cetônicos à medida que o jejum progride, em virtude
de um aumento na taxa de oxidação de ácidos graxos
apresentado nas Tabelas 17.2 e 17.3. A insulina age em
causado pelos níveis aumentados de ácidos graxos no
dois níveis; induz a transcrição de genes que codificam
sangue. Durante o jejum prolongado, cerca da metade
enzimas críticas das vias de síntese e armazenamento
dos ácidos graxos que entram no fígado é convertida em
de lipídeos (regulação de longo prazo) e controla pro
corpos cetônicos e liberada no sangue para utilização
cessos como captação de glicose e hidrólise de triacil
por tecidos como músculo, coração e (após dois dias de
glicerol (regulação de curto prazo).
jejum) o cérebro, economizando assim o uso de glicose.
A insulina estimula a síntese de ácidos graxos por au
mentar os níveis de enzimas chaves, incluindo a ácido
graxo sintase, a NADP-malato desidrogenase (enzima Regulação da Oxidação de Ácidos
málica) e a acetil-CoA carboxilase, no fígado, por induzir Graxos
a transcrição de seus genes. A insulina também estimula
a síntese de glicose 6-fosfato desidrogenase e 6-fosfoglu A velocidade de oxidação de ácidos graxos na mi
conato desidrogenase, as duas enzimas da parte oxidati tocôndria é controlada pela regulação da entrada de
va da via das pentoses, que geram parte do NADPH que substratos nessa organela. A enzima chave é a carnitina
é necessário para a síntese de ácidos graxos. O efeito de palmitoiltransferase I (CPT I), que sintetiza acilcarni
curto prazo da insulina na síntese hepática de ácidos tina a partir do acil-CoA citosólico (ver Figura 17.20).
graxos é exercido pela ativação de uma fosfoproteína No fígado, a acetil-CoA carboxilase é ativada no esta
fosfatase específica, que remove fosfato da acetil-CoA do alimentado, porque os níveis da enzima são altos,
carboxilase, ativando assim essa enzima. O fluxo aumen a fosforilação cAMP-dependente é baixa, e a enzima é
tado pela glicólise é também importante para fornecer ativada por citrato. A alta concentração resultante de
acetil-CoA para a síntese de ácidos graxos. malonil-CoA estimula a síntese de ácidos graxos, mas
bloqueia a oxidação de ácidos graxos por inibir a CPT I.
No tecido adiposo, a insulina é necessária no estado Essa regulação impede um ciclo fútil. Ao contrário, no
alimentado para captação de glicose via GLUT 4. O meta estado de jejum, a atividade da acetil-CoA carboxilase
bolismo dessa glicose via glicólise fornece glicerol 3-fos no fígado é baixa porque os níveis da enzima estão di
fato para a síntese de triacilglicerol. A insulina também a minuídos, a enzima está fosforilada, e o citrato também
quebra de triacilglicerol por inibir a lipólise, evitando as está diminuído. A CPT I está ativa e a oxidação de áci
sim um ciclo fútil. Como no fígado, a insulina exerce seus dos graxos ocorre em alta velocidade, nessas condições,
efeitos de curto prazo por meio da ativação de fosfopro em virtude dos baixos níveis de malonil-CoA.
teína fosfatases. Isso diminui a fosforilação de proteínas
chaves, incluindo a lipase hormônio-sensível e a perilipi A oxidação de ácidos graxos no músculo é também
na, levando à quebra diminuída de triacilgliceróis. regulada por malonil-CoA, embora esse tecido não sin
722 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
tetize ácidos graxos. O músculo contém uma isoenzima graxos no estado de jejum e a inibe no estado alimen
da acetil-CoA carboxilase que produz malonil-CoA ex tado.
clusivamente para regulação da CPT I. A enzima é ati
vada por citrato e inibida por fosforilação. É fosforilada A segunda quinase, que é regulada por AMP, liga a
pela proteína quinase A e por uma quinase dependente velocidade de oxidação de ácidos graxos com o estado
de AMP. A fosforilação pela primeira enzima permite energético do músculo. No músculo em repouso, os ní
que a oxidação de ácidos graxos seja regulada pelo esta veis de AMP são baixos. Como resultado, a quinase de
do dietético. No estado alimentado, a alta concentração pendente de AMP está inativa, a acetil-CoA carboxilase
de insulina resulta em baixos níveis de fosforilação. A está ativa e o malonil-CoA que é gerado inibe a CPT I e a
acetil-CoA carboxilase produz malonil-CoA, que inibe a oxidação de ácidos graxos. No músculo em exercício, al
CPT I e bloqueia a oxidação de ácidos graxos. Ao con tos níveis de AMP ativam a proteína quinase. A inibição
trário, no estado de jejum, a alta concentração de cAMP resultante da acetil-CoA carboxilase resulta em baixos
estimula a fosforilação da acetil-CoA carboxilase, re níveis de malonil-CoA e a ativação de ambos, CPT I e
sultando em sua inibição.Como consequência, a CPT I oxidação de ácidos graxos. Essa regulação permite que
facilita a entrada de ácidos graxos na mitocôndria para o exercício estimule a velocidade de oxidação de gordu
ra, por meio da produção aumentada de AMP.
oxidação. Essa regulação promove a oxidação de ácidos
A maioria dos livros de bioquímica trata extensa Esse efeito representa um eixo cérebro-fígado, uma
mente do papel crítico dos ácidos graxos no metabo vez que a elevação da concentração de ácido oleico no
lismo energético e, para isso, enfatiza as vias de sua sangue não altera a produção hepática de glicose. O
síntese, degradação e modificação. Entretanto, os efeito do ácido oleico no cérebro depende da ativação
ácidos graxos também funcionam como moléculas de canais de K+ pela proteína quinase C (PKC); várias
regulatórias, que desempenham um papel chave no isoformas de PKC são ativadas por ácidos graxos. Ou
controle da expressão gênica, do apetite e da síntese tro ponto de regulação é o intestino delgado superior.
hepática de glicose. Os ácidos graxos da dieta regulam Há evidências em roedores e no homem indicando que
a expressão gênica por alterarem a atividade de um a gordura ativa um eixo intestino-cérebro-fígado, que
dentre vários receptores ativados por proliferadores sinaliza a saciedade e controla a síntese e a liberação
em peroxissomos (PPARs, peroxisome proliferator de glicose pelo fígado. A administração direta de áci
-activated receptors), que são fatores de transcrição dos graxos no intestino superior aumenta os níveis de
da família dos receptores nucleares. A importância LCFA-CoA e reprime a produção hepática de glicose.
dos PPARs no controle da homeostase energética é A importância desse eixo é estabelecida por experi
exemplificada pelo amplo uso clínico de tiazolidine mentos mostrando que o efeito de LCFA-CoA é aboli
dionas, que são antagonistas do PPARγ, para o contro do quando a inervação do intestino pelo nervo vago é
le do diabetes (ver Correlação Clínica 17.1 para uma interrompida. Fica claro que a visão dos ácidos graxos
discussão detalhada sobre a função desses fatores de apenas como combustível para o metabolismo energé
transcrição). Os ácidos graxos ativam os PPARs e pro tico e como constituintes de lipídeos complexos é uma
movem a deposição de triacilglicerol e a utilização de super-simplificação. Essas moléculas também desem
glicose pelos adipócitos. Os ácidos graxos de cadeia penham funções complexas na regulação de adapta
longa (LCFA, long chain fatty acids) também atuam ções metabólicas à disponibilidade de nutrientes.
no cérebro para regular o apetite via seus derivados
CoA. A administração de ácido oleico nos ventrículos
Yki-Jarvinen, H. Thiazolidinediones. N. Engl. J. Med.
do cérebro de rato suprime o apetite por diminuir a
351: 1106, 2004; Wang, P.Y., Caspi, L., Lam, C. K., Chari, M.,
expressão de neuropeptídeos hipotalâmicos que au et al. Upper intestinal lipids trigger a gut-brain-liver axis to
mentam1 o apetite (neuropeptídeo Y e proteína rela regulate glucose production. Nature 452: 1012, 2008; Jump,
cionada com agouti); ácidos graxos elevados no hipo D. B., Botolin, D., Wang, Y., Xu, J., et al. Fatty acid regulation
tálamo sinalizam um excesso de energia. Esse efeito é of hepatic gene transcription. J. Nutr. 135: 2503, 2005; e Lam,
independente da leptina, um hormônio produzido no T. K., Schwartz, G. J. e Rossetti, L. Hypothalamic sensing of
tecido adiposo e um inibidor chave do apetite de ma fatty acids. Nat. Neurosci. 8: 579, 2005.
míferos (ver Correlação Clínica 21.1). A administração
_
de ácido oleico no cérebro também diminui muito a
1 No original, “neuropeptídeos que inibem o apetite”. Porém, tanto o
produção hepática de glicose e a atividade da glico neuropeptídeo Y como AGRP (proteína relacionada com agouti) indu
se 6-fosfatase, uma enzima chave da gluconeogênese. zem ou aumentam o apetite, induzindo obesidade (N.T.).
CAPÍTULO 17 METABOLISMO DE LIPÍDEOSI: … • 723
Ácidos Graxos Como Moléculas quinase C, bem como os fatores de transcrição PPARγ
e NFkB que, por sua vez, inibem a ação da insulina por
Regulatórias meio do bloqueio da ativação de intermediários da via
de sinalização da insulina. Esses efeitos dos ácidos
Os ácidos graxos são, eles próprios, moléculas regu
graxos têm dramáticas consequências na regulação do
latórias no fígado, no músculo e no tecido adiposo. No metabolismo de carboidratos no músculo (Correlação
músculo, acil-CoAs de cadeia longa ativam a proteína Clínica 17.2 e 17.8).
Bibliografia
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Termos Chaves
ácido fosfatídico ATP citrato liase lançadeira carnitina/car oxidação de ácidos graxos
ácido graxo sintase cetogênese nitina (b-oxidação)
ácido palmítico coenzima A (CoA) lipase hormônio-sensível perilipina
ácidos graxosessenciais,
insaturados, (saturados,
de corpos cetônicos lipase pancreática peroxissomos
dessaturação de ácido lipase triglicéride do adi propionil-CoA
cadeia ramificada) graxo poso proteína carregadora de
ácidos graxos poli-insatu
livres elongação de ácido graxo lipogênese acil
enzima málica lipólise quilomícron
rados lipoproteína de densidade síntese de ácidos graxos
glicerol 3-fosfato
acilgliceróis (mono, die muito baixa (VLDL) tecido adiposo branco
glicerol quinase
tri) lipoproteína lipase
gliceroneogênese tecido adiposo marrom
anaplerose/cataplerose malonil-CoA via da clivagem de citrato
insulina
E. é derivado primariamente da glicose, via gli quando a primeira etapa da b-oxidação produz um
cólise, no estado alimentado. intermediário trans enoil-CoA?
Problemas 14. Como a oxidação de um ácido graxo de 17 carbo
nos (de plantas) leva à produção de propionil-CoA?
13. Como a b-oxidação de um ácido graxo insaturado Seja específico em sua resposta.
lida com a dupla ligação cis de ocorrência natural,
Respostas
1. D É ativada por citrato e inibida por acil graxo requerem o sistema da carnitina. A: isso nunca é
-CoAs de cadeia longa. C: como cAMP aumenta verdade. B: oxidação em peroxissomos não requer
quando energia é necessária, é consistente que carnitina, mas este não é um sistema de peroxisso
em um processo que utilize energia seja inibido. E: mos. D: ácidos graxos hidroxilados não são cons
controle de longo prazo relaciona-se com síntese tituintes comuns de triacilgliceróis. E: o fígado é
da enzima e responde adequadamente a mudanças incapaz de sintetizar glicose a partir de ácidos gra
na dieta. xos com um número par de átomos de carbono.
2. B A: quebra de CO2 de malonil-CoA é a força mo 9. E A e D: é importante entender que a b-oxidação,
triz para a reação de condensação, de modo que a por si só, gera FADH2 e NADH, que podem ser reo
cadeia cresce dois átomos de carbono por vez. C: xidados para gerar ATP. B: a oxidação de ácidos
em mamíferos, palmitato é liberado como ácido li graxos geralmente aumenta durante o jejum. C: b−
vre; a conversão em éster de CoA é por uma enzi -oxidação é um processo geral, que requer peque
ma diferente. D: é importante entender que apenas nas modificações para oxidar quase que qualquer
ACP liga o malonil-CoA que entra, de modo que ácido graxo da célula.
ele deve ser liberado antes que outra adição pos
10. D A e E: b-oxidação vai até o fim; corpos cetô
sa acontecer. E: acetil-CoA é adicionado primeiro,
nicos são formados por um processo separado. B,
para formar o fundamento para o resto da cadeia. C: corpos cetônicos são formados, mas não usados,
3. B A: dessaturação ocorre no retículo endoplas em mitocôndrias hepáticas; HMG-CoA citosólico é
mático. C: ácidos graxos de ocorrência natural são um precursor de colesterol. Corpos cetônicos não
cis. D: elongação e insaturação podem ocorrer em são facilmente sintetizados pelo músculo.
qualquer ordem. E: se isso fosse verdade, podería
11. C Isso não ocorre em extensão significativa no
mos fazer ácido linoleico.
tecido adiposo. A, B e D: a adição sequencial de
4. D ApoC-II liga a lipoproteína à enzima. A-C: estas acil graxo-CoAs ao glicerol 3-fosfato forma ácido
são características da lipase hormônio-sensível. E: lisofosfatídico, depois ácido fosfatídico, cujo fosfato
esta é a lipase pancreática. é removido antes da adição do terceiro resíduo de
ácido graxo. E: esta é a formação de a-glicerol fos
5. A A presença de um grupo metil impede o pro
fato no adiposo.
cesso de b-oxidação neste ponto. B: uma vez ul
trapassado o grupo metil, a b-oxidação pode 12. E Esta é a via primária no fígado e no tecido adi
prosseguir. C: a reação é por uma hidroxilase que poso. A: o fígado pode formá-lo a partir de glicerol
adiciona uma ligação OH. D: durante as fases da a− porque tem glicerol quinase. B: ambos os tecidos
-oxidação, energia é produzida. E: esta hidroxilase têm a mesma via. C e D: esses são substratos para
usa ascorbato como agente redutor. a gliceroneogênese no estado de jejum e requer fos
foenolpiruvato carboxiquinase.
6. D É por isso que é chamada w-oxidação. A: ocor
re no retículo endoplasmático. B: esta é a-oxida 13. Quando vários ciclos de b-oxidação produzem um
ção. C: ácidos graxos de cadeia média são substra intermediário com uma dupla ligação cis entre
tos preferidos. E: o grupo hidroxila requer álcool e C3 e C4, a enoil-CoA isomerase muda cis D3 para
aldeído desidrogenases para convertê-lo em ácido. trans D2 enoil-CoA e a b-oxidação continua. Se
outra dupla ligação cis for encontrada entre C4 e
7. A Atroca do grupo acil entre CoA e carnitina não
C5, primeiro a desidrogenase normal, depois uma
requer energia adicional. B: isso é catalisado pela
redutase com NADPH, seguida pela enoil-CoA iso
carnitina-acilcarnitina translocase. C: CPT I fica
merase agem sobre a molécula para produzir um
no lado externo da membrana, e CPT II fica no lado
da matriz da membrana interna. D e E: apenas a trans 2-enoil-CoA. A b-oxidação continua.
porção acil da molécula é transportada; as molé 14. b-Oxidação prossegue normalmente, mas a cliva
culas de CoASH permanecem em seus respectivos gem final pela tiolase gera acetil-CoA e propionil
compartimentos. -CoA. Propionil-CoA não é substrato para SCAD
(acil-CoA desidrogenase de cadeia curta), de modo
8. C Como ácidos graxos de cadeia média atraves
que a b-oxidação termina.
sam a membrana mitocondrial diretamente, não
PARTE IV CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 727
Vias Metabólicas e seu controle
18
Metabolismo
Acetil CoA
CE
de
Vias
Lipídeos
do Metabolismo
Especiais
II: β-oxidação
FFA
SR-BIApoA-1
Fígado FFA HL CE
HDL 2
CE
Robert H. Glew
Professor Emérito, University of New Mexico
18.1
CONTEÚDO
18.2
18.3
18.4
18.5
18.6 PROSTAGLANDINAS
INTRODUÇÃO,
FOSFOLIPÍDEOS,
COLESTEROL,
ESFINGOLIPÍDEOS,
LIPOXIGENASE728
738
E 728
ÁCIDOS
748
E TROMBOXANES, 756 CORRELAÇÕES CLÍNICAS
18.1 Remoção (clearance) de Eritrócitos: Papel da
Fosfatidilserina, 731
18.2 Síndrome do Desconforto Respiratório, 732
18.3 Tratamento da Hipercolesterolemia, 747
18.4 Aterosclerose, 747
18.5 Diagnóstico da Doença de Gaucher em um Adul
to, 756
OXIEICOSATETRAENOICOS, 761
Conceitos Chaves
• A maioria das células sintetiza os principais glice A redutase é o alvo para a classe estatina de drogas
rofosfolipídeos e esfingolipídeos a partir de compo para baixar o colesterol. O colesterol é o precursor
nentes da dieta e de intermediários metabólicos. da síntese de ácidos biliares e hormônios esteroi
Ambos são componentes majoritários das membra des, como testosterona, estrógeno, glucocorticoi
nas celulares. des e mineralocorticoides.
• Os glicerofosfolipídeos têm outras funções, incluin • As lipoproteínas plasmáticas, incluindo HDL, LDL,
do as de componentes do surfactante pulmonar. A quilomícrons, VLDL e uma variedade de proteínas
fosfatidilcolina desempenha um papel no processo acessórias, transportam colesterol e triacilglice
dependente de HDL que transporta colesterol dos róis no sangue. A colesteril éster transferase de
tecidos periféricos para o fígado, e fosfolipídeos sempenha um importante papel no processo. LDL
contendo inositol servem de segundos mensageiros e os receptores de LDL são os principais elementos
e como sítios de ligação de proteínas na superfície regulatórios, que controlam os níveis de colesterol
celular. no plasma e nos tecidos.
• O colesterol é sintetizado a partir de acetil-CoA em • Existem várias classes de esfingolipídeos, in
um processo com múltiplas etapas, nas quais a sín cluindo esfingomielina, cerebrosídeos, globosí
tese de mevalonato, catalisada pela HMG-CoA re deos, gangliosídeos e sulfatídeos. A degradação
dutase, é a etapa regulada, limitante da velocidade. dos esfingolipídeos envolve enzimas lisossomais;
728 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
uma deficiência genética de uma ou mais dessas • O ácido araquidônico é o precursor de hormônios
enzimas resulta no acúmulo de esfingolipídeos e lipídicos que incluem prostaglandinas, leucotrie
glicosaminoglicanos parcialmente catabolizados nos e lipoxinas, que são mediadores de vários fe
nos tecidos. nômenos inflamatórios. As enzimas chaves dessas
vias são a cicloxigenase e a lipoxigenase.
3 OH
H H myo-Inositol
trutura do glicerol é desenhada na projeção de Fischer,
com o grupo hidroxila C2 projetando-se para a esquerda HO 4 5 H6
da página, os átomos de carbono são numerados como
H OH
mostra a Figura 18.1. Quando o sistema de numeração
estéreo-específica (sn) é utilizado, o prefixo sn- é usa FIGURA 18.2 Estrutura de alguns grupos polares comuns
do antes do nome do composto. Os glicerofosfolipídeos de fosfolipídeos.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 729
Fosfatidilglicerol
O
FIGURA 18.5 Estrutura do fosfatidilglicerol e
R2 O H2COCR
H2 1 fosfatidilinositol.
COCH O
C OP OCH2CH2
+
NH3
A cardiolipina é um fosfolipídeo muito acídico (car
ga -2), o qual é composto por duas moléculas de ácido
O–
fosfatídico ligadas covalentemente por uma molécu
Fosfatidiletanolamina la de glicerol (Figura 18.6). Ocorre primariamente na
membrana interna de mitocôndrias de tecidos metabo
O licamente ativos (por exemplo, músculo cardíaco) e em
R2 O H2
H2COC R1 membranas bacterianas. A cardiolipina está presente
na membrana de Treponema palladium e é o antígeno
COCH O
+ detectado no teste de Wasserman para sífilis. A síndro
C OP OCH2CH NH3
me de Barth é uma doença mitocondrial rara, ligada ao
O– COO– X, causada por um defeito no gene RAZ, que codifica
Fosfatidilserina a proteína tafazin, que é necessária para a síntese de
cardiolipina. Pacientes com essa doença hereditária
O apresentam cardiomiopatia, miopatia esquelética e mi
O H2COCR1
tocôndrias anormais.
R2 COCH
H2 O
COPOCH2CH2N+(CH3)3 O O
O– O H2COCR1 H2COPOCH2 O
Fosfatidilcolina (lecitina) R2 COH
C O
O– HO C H O– HC OCR3
O
Fosfatidilinositol, um fosfolipídeo acídico que ocor
re em membranas de mamíferos (Figura 18.5), é bas FIGURA 18.6 Estrutura da cardiolipina.
730 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Os fosfolipídeos da membrana plasmática das célu Há evidências de que a anemia e o tempo de vida
las, incluindo os eritrócitos, são distribuídos assimetri abreviado de eritrócitos em certas condições patoló
camente: a camada externa, voltada para o espaço ex gicas, tais como intoxicação por chumbo e uremia em
tracelular, contém os lipídeos de colina fosfatidilcolina pacientes com insuficiência renal, podem se dever a ex
e esfingomielina, enquanto a camada interna, voltada posição aumentada de fosfatidilserina nos eritrócitos.
para o citoplasma, contém fosfatidiletanolamina e fos Uma enzima chamada semblase transporta fosfatidilse
folipídeos carregados negativamente, incluindo fosfati rina da camada interna da membrana plasmática para
dilserina. Os macrófagos contêm receptores de fosfati a camada externa. A semblase é inativa em células sa
dilserina que ligam, internalizam e degradam células dias; entretanto, essa enzima sensível ao cálcio é ativa
que expõem fosfatidilserina. O envelhecimento normal da quando células são expostas a indutores de estresse
dos eritrócitos está associado com a exposição de fos (por exemplo, choque osmótico, depleção de ATP, expo
fatidilserina na superfície da membrana plasmática, o sição a espécies reativas de oxigênio), que aumentam a
que sinaliza para células do sistema dos macrófagos que concentração intracelular de cálcio.
devem removê-las da circulação.
Kempe, S. K., Lang, P.A., Eisele, K. et al. Stimulation of
erythrocyte phosphatidylserine exposure by lead ions. Am.
J. Cell Physiol. 288:C396, 2005.
As propriedades de detergente
dos fosfolipídeos, especialmente fos
expiração
inspiração atelectasia fatidilcolina, são importantes na bile
para ajudar na solubilização do coles
terol. Produção e secreção deficientes
de fosfolipídeos na bile podem levar à
formação de cálculos de colesterol e
de pigmentos biliares na vesícula. Os
Alvéolo totalmente expandido Alvéolo parcialmente vazio Alvéolo colabado fosfolipídeos de membrana são um
no final da inspiração no final da expiração por falta surfactante
reservatório de mediadores lipídicos
FIGURA 18.9 Papel do surfactante na prevenção da atelectasia. que regulam muitas vias e processos
metabólicos. Fosfolipases catalisam a
manas antes do termo, testes de screening no líquido liberação desses mediadores. Fosfatidilinositol e fosfa
amniótico podem detectar recém-nascidos com risco tidilcolina são fontes de ácido araquidônico para a sín
de síndrome do desconforto respiratório (RDS) (Cor tese de prostaglandinas, tromboxanes, leucotrienos e
relação Clínica 18.2). Estes são úteis para determinar compostos relacionados.
a hora certa de partos eletivos, para determinar se a
mãe deve receber uma terapia pré-natal, com corticos Inositídeos São Importantes na Função da
teroide, para acelerar a maturação do pulmão fetal, ou Membrana
na aplicação de terapia preventiva ao recém-nascido. A
dexametasona tem sido usada em recém-nascidos com Fosfolipídeos contendo inositol (inositídeos), especi
doença pulmonar crônica (displasia bronco-pulmonar). ficamente fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato (PIP2) (Figu
Embora a terapia com corticoesteroide seja eficiente, ra 18.10), desempenham um papel central nos sistemas
em alguns casos, para melhorar a função pulmonar, em de transdução de sinal. Quando certos hormônios se
outros, causa anomalias periventriculares no cérebro. ligam a seus receptores (p. 528), PIP2 da camada inter
O surfactante exógeno humano, administrado por meio na da membrana plasmática é hidrolisado pela fosfoino
de instilação intratraqueal, é amplamente usado para dispara
sitidase aCliberação
(PIC) em de
i nositol
Ca2+ do
1,4,5-trisfosfato
retículo endoplasmático,
(IP3), que
tratar RDS.
e 1,2-diacilglicerol (DAG), que aumenta a atividade da
Insuficiência respiratória devida à insuficiência de proteína quinase C (PKC) (Figura 18.11). A remoção do
surfactante também ocorre em adultos, cujas células lular de Ca2+
5-fosfato do IPdeclina.
3 abole o Osinal
1,2-diacilglicerol
e a concentração
é convertido
intrace
II
tipo tenham sido destruídas como efeito colateral ad
verso de medicamentos imunossupressores ou de dro em ácido fosfatídico pela diacilglicerol quinase (Figura
gas quimioterápicas (por exemplo, bleomicina). 18.12). Ácido fosfatídico, um produto da ação da fosfoli
732 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
Síndrome do desconforto respiratório (RDS, respi é 2,0 ou mais. O risco do desenvolver RDS quando a
ratory distress syndrome) é uma importante causa razão L/S é 1,5–1,9 é aproximadamente 40%, e cerca
de morbidade e mortalidade neonatal em muitos pa de 75% para razão inferior a 1,5. Embora a razão L/S
íses. É responsável por, aproximadamente, 15–20% ainda seja muito usada para prever o risco de RDS, os
de todas a mortes de recém-nascidos em países oci resultados não são confiáveis se o líquido amniótico
dentais, e um pouco menos em países em desenvolvi estiver contaminado com sangue ou mecônio. A deter
mento. A doença afeta apenas bebês prematuros, e a minação de palmitoil fosfatidilcolina saturada (SPC),
incidência varia diretamente com o grau de prematu fosfatidilglicerol e fosfatidilinositol, permite também
ridade. Bebês prematuros desenvolvem RDS em virtu prever o risco de RDS. Terapia de reposição usando
de da imaturidade de seus pulmões, por deficiência do surfactante exógeno de pulmão humano e de animal é
surfactante pulmonar. A maturidade do pulmão fetal eficaz na prevenção e no tratamento de RDS.
pode ser avaliada pela razão lecitina/esfingomielina
(L/S) no líquido amniótico. A razão L/S média na gra Merritt, T. A., Hallman, M., Bloom, B.T. et al. Prophylactic
treatment of very premature infants with human surfactant.
videz normal aumenta gradualmente com a gestação, N. Engl. J. Med. 315:785, 1986; e Simon, N.V., Williams, G.
até cerca de 31 ou 32 semanas, quando o valor sobe H., Fairbrother, P. F., Elser, R. C. e Perkins, R. P. Prediction
rapidamente. A razão de 2,0 é característica do nas of fetal lung maturity by amniotic fluid fluorescence polari
cimento a termo, e é alcançada com idade gestacional zation, L/S ratio, and phosphatidylglycerol. Obstet. Gynecol.
de 34 semanas. Na maturidade pulmonar, a razão L/S 57:295, 1981.
O P O–
O
O H2COCR1
FIGURA 18.10 Estrutura do COC
R2 H
fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato (PIP2 ou
PtdIns(4,5)P2). H2C OH
O
H2O Diaciglicerol (DAG)
O H2COCR1
+
R2 CO C H O
O–
H2COPIns4,5P2 –O
O
P
O–
Fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato O H O
HO O P O–
HO
OH H O–
H H
H O
O P O–
O–
FIGURA 18.11 Geração de 1,2-diacilglicerol e inositol
1,4,5-trisfosfato pela ação da fosfolipase C sobre fosfatidilinositol Inositol
1,4,5-trisfosfato (IP3)
4,5-bisfosfato.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 733
Inositol
1,3,4,5-tetraquisfosfato
Biossíntese de
ATP 3-quinase Fosfolipídeos
fosfolipase C
O Ácido Fosfatídico É
Fosfatidilinositol 4,5-bisfosfato Diacilglicerol + Inositol 1,4,5-trisfosfato
Sintetizado a Partir de
Fosfatidilinositol-5 ATP a-Glicerofosfato e Acil
5!-fosfomonoesterase
ATP quinase diacilglicerol Graxo-CoA
quinase
Ácido Ácido 1-α-fosfatídico (comumente
Fosfatidilinositol-4-fosfato fosfatídico Inositol 1,4-bisfosfatochamado ácido fosfatídico) e 1,2-dia
cil-sn-glicerol são intermediários
Fosfatidilinositol-4 inositolpolifosfato
ATP quinase comuns das vias de síntese de fosfo
fosfatase
lipídeos e de triacilgliceróis (Figura
18.13). Todas as células sintetizam
Fosfatidilinositol Inositol 4- fosfato fosfolipídeos em algum grau (exce
to eritrócitos maduros), enquanto a
inositolmonofosfato biossíntese de triacilgliceróis só ocor
fosfatase re no fígado, no tecido adiposo e no
FIGURA 18.12 Vias de síntese e remoção intestino. Na maioria dos tecidos, a
de inositol 1,4,5-trisfosfato e diacilglicerol via de síntese de ácido fosfatídico co
intracelulares. myo-Inositol
meça com α-glicerol 3-fosfato (sn-gli
cerol 3-fosfato). A fonte mais geral de α-glicerol 3-fos
sitol 1,3,4,5-tetraquisfosfato. Uma família de fosfatases fato, particularmente no tecido adiposo, é a redução do
converte Ins(1,4)P2 em mio-inositol (Figura 18.12), que intermediário glicolítico di-hidroxiacetona fosfato, pela
então entra no pool de fosfolipídeos. α-glicerol 3-fosfato desidrogenase.
Além de ser um componente das membra
nas e fonte de ácido araquidônico para sínte H2C
CH2OH
se de prostaglandinas e leucotrienos (p. 762), HO C H Glicerol 3-fosfato
fosfatidilinositol serve para ancorar (âncora de
GPI) certas glicoproteínas à superfície exter OPO32–
na (p. 490). Um importante problema médico O
refere-se a parasitas tripanossomatídeos (por transferase
glicerolfosfato:acil R1C SCoA
exemplo, Trypanosoma brucei, que causa a CoA
doença do sono). Esse parasita tem resistido a
O
abordagens imunológicas para tratamento por
H2C O C R1 α-Lisofosfatidato
mudar seus antígenos de superfície. A super
fície externa da membrana plasmática é reco HO CH (ácido α-lisofosfatídico)
O H2C O
C O
FIGURA 18.16
R2COCH O 3 AdoMet R2COC OR Biossíntese de
O R1 O H2C C 1
fosfatidilcolina
Citidina Fosfatidiletanolamina
C O– CH2N
H3+ O C OP
H O–
O OCH2CH2N+)(CH33
O a partir de
H2 OPOCH2H3 3 AdoHcys H2 fosfatidiletanolamina
e S-adenosilmetionina
(AdoMet) e S-adenosil
Fosfatidilcolina homocisteína (AdoHcy).
POPOCH2N
O O + O H2COCR1
R2COC O H2C O C R1
O– CH2 + H2 H C OH
H2PONH
R2CCC H O COO– + H+
+
O– COH COCH2C 3
O– H
CDP-etanolamina 1,2-Diacilglicerol
fosfatidilserina
fosfotransferase
etanolamina CO2 descarboxilase
O O H2C O C R1
O H2C OCR1 R2 O O
R2COCH O H2C O P O CH2CH2 NH+3
H2C OPOCH2N
O– CH2 +H3 + CMP O–
cado por serina. Como não há alteração no número ou Caso se torne necessário, para uma célula, a remoção
no tipo de ligações, essa reação é reversível e não re de alguns ácidos graxos indesejados, como o ácido esteá
quer ATP ou qualquer outro composto de alta energia. rico da posição sn-2 da fosfatidilcolina, e a substituição
O fosfatidilinositol é feito a partir de CDP-diacilglicerol deste por um mais insaturado, como o ácido araquidôni
e mioinositol livre (Figura 18.20) pela fosfatidilinositol co, isso pode ser feito pela ação da fosfolipase A2, seguida
sintase do retículo endoplasmático. por uma reação de reacilação. A inserção de ácido ara
quidônico na posição 2 da sn-2-lisofosfatidilcolina pode
ser realizada por acilação direta, a partir do araquidonil
Distribuição Assimétrica de Ácidos -CoA pela araquidonil-CoA transacilase (Figura 18.22),
O O
O citidina OH C
H2C O C R1 HO OH O H2 O C R1
R2COCH O O + OHOH R2COCH O OH + CMP
OP OH H2CO P
H2C O P O
O– O
OH
O– O– OH OH
OH
+ O – O–
O – Fosfolipídeo
C O–
O–
Éter glicerolipídeos são sintetizados a partir de
Lisofosfatidilcolina DHAP, ácidos graxos de cadeia longa e alcoóis graxos
O de cadeia longa, como resumido na Figura 18.25.A acil
R2 CSCoA
di-hidroxiacetona fosfato é formada pela acil-CoA:di
-hidroxiacetona fosfato aciltransferase (enzima 1). A
CoASH ligação éter é introduzida pela alquildi-hidroxiacetona
fosfato sintase (Figura 18.25, enzima 2), por troca do
O grupo 1-O-acil da acildi-hidroxiacetona fosfato por um
O H2C O C R1 álcool graxo de cadeia longa. A sintase ocorre em pero
R2 C O C H O xissomos. A síntese de plasmalogênio é completada pela
H2CO P OCH2CH2N(CH3)3
+ transferência de um ácido graxo de cadeia longa do seu
doador CoA para a posição sn-2 do 1-alquil-2-liso-sn-gli
O–
Fosfatidilcolina cero-3-fosfato (Figura 18.25, Reação 4). Pacientes com
a síndrome de Zellweger não possuem peroxissomos e
FIGURA 18.22 Síntese de fosfatidilcolina por reacilação são incapazes de sintetizar quantidades adequadas de
O plasmalogênio (ver Correlação Clínica 1.7, p. 22).
de lisofosfatidilcolina, onde R2—C— || representa ácido
araquidônico.
Essa reação é catalisada pela acil-CoA:1-acilglicerol-3-fosfoco
lina O-aciltransferase.
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 737
H2CO R1 O
CO O H2COCR1
HOC H O + R2COCH O
+
H2CO P OCH2CH2 N(CH+3)3 H2CO P OCH2CH2NH3
O– O–
Lisofosfatidilcolina Fosfatidiletanolamina
O O
R2 O H2COC R1 H2CO CR1
COCH O +HOC H O
+
H2CO P O CH2CH2N(CH+3)3 H2CO P OCH2NH
CH2 3
O– O–
Fosfatidilcolina Lisofosfatidiletanolamina
Acilação
Palmitoildireta
CoA Dipalmitoil-lecitina Glicerolfosfocolina
(surfactante)
Via de troca
sn-1-Palmitoil-lisolecitina sn-1-Palmitoil-lisolecitina
C O O
R1C CoA H2OP O–
H2COCR1 R2OH
H2COH
H2 O O CO O 2
COPO– CoA
1 C O– R1CO– H2COR2
R3 CO O
O– H2 O C O–
H2OP O–
DHAP 4
O H2COR2 NADPH + H+
3
R3C O CH O
NADP+
C
H2O P OCH2CH2 N(CH
+ 3)3 R3 CoA
O–
6 CMP Colina plasmalogênio Pi H2COR2
CDP-colina HOCH O
O H2OP
C O–
OC O–
R3COCH
H2COR2
H2OH
C 5 OR2 C
O
CoA
C CH O
H2O
H2C O P O–
O–
18.3 COLESTEROL pídeos da bile, que são produzidos no fígado (p. 1089).
Um distúrbio crônico do metabolismo de fosfolipídeos
no fígado pode levar à deposição de cálculos ricos em
Colesterol É Amplamente colesterol no trato biliar. Os sais biliares, que são me
tabólitos do colesterol, também ajudam a solubilizar o
Distribuído nas Formas Livre e colesterol. O colesterol da bile protege as membranas da
vesícula biliar dos efeitos potencialmente irritantes ou
Esterificada lesivos dos sais biliares. O colesterol é também precur
O colesterol é um composto alicíclico cuja estrutu sor da vitamina D (p. 1094).
ra inclui (1) o núcleo per-hidrociclopentenofenantreno
com seus quatro anéis fundidos, (2) um único grupo
hidroxila em C3, (3) um centro insaturado entre C5 e
C6, (4) uma cadeia hidrocarbônica ramificada de oito
membros ligada ao anel D em C17, e (5) um grupo metil
(designado por C19) ligado à posição C10, e outro grupo
metil (designado por C18) ligado à posição C13 (Figu
ras 18.26 e 18.27). O
CH3(CH2)14OC
12 17
13
FIGURA 18.28Estrutura do colesteril (palmitoil) éster.
11 16
D
1 9
C O colesterol total é medido no laboratório clínico
2 10 14 15 pela reação de Liebermann–Burchard. A razão entre o
8
A B colesterol livre e o esterificado é determinada por cro
3 5 7 matografia gás-líquida ou por cromatografia líquida de
4 6 fase reversa de alta pressão (HPLC).
FIGURA 18.26 O anel ciclopentenofenantreno. Colesterol é um Componente de
22 24
Membranas e Precursor de Sais Biliares e
21 26
20 25 Hormônios Esteroides
23
18 17 27
O colesterol é derivado da dieta ou sintetizado de
novo em todas as células do corpo. É o principal este
19 rol humano e um componente de todas as membranas.
É especialmente abundante nas estruturas mieliniza
3 das do cérebro e do sistema nervoso central, mas está
HO
presente em pequenas quantidades na membrana mito
FIGURA 18.27 Estrutura do colesterol (5-colesteno-3ß-ol). condrial externa (p. 484). Diferentemente do plasma,
em que a maior parte do colesterol está esterificado, o
O colesterol tem solubilidade muito baixa em água; colesterol das membranas celulares está na forma livre.
a 25 oC, o limite de solubilidade é aproximadamente A estrutura em anel do colesterol não pode ser metabo
0,2 mg/dL, ou 4,7 μM. A concentração real de coleste lizada a CO2 e água no homem. A excreção de colesterol
rol no plasma de uma pessoa sadia é, geralmente, 150 ocorre por meio do fígado e da vesícula biliar para o
a 200 mg/dL. Esse valor é quase duas vezes a concen intestino, na forma de sais biliares. O colesterol é o pre
tração normal de glicose no sangue. Essa alta concen cursor imediato dos sais biliares sintetizados no fígado;
tração de colesterol no sangue é possível graças às li eles facilitam a absorção de triacilgliceróis e de vitami
poproteínas plasmáticas (principalmente LDL e VLDL), nas lipossolúveis da dieta (p. 1083).
que contêm grandes quantidades de colesterol (p. 114).
Apenas cerca de 30% do total de colesterol plasmático O colesterol é o precursor de vários hormônios este
está livre (não-esterificado); o restante é colesteril és roides (p. 938), incluindo progesterona, corticosteroi
teres, nos quais um ácido graxo de cadeia longa, geral des (corticosterona, cortisol e cortisona), aldosterona
mente ácido linoleico, é esterificado na hidroxila C3 do e os hormônios sexuais estrógeno e testosterona. Em
anel A. Esse resíduo de ácido graxo aumenta a hidrofo bora todos os hormônios esteroides sejam estrutural
bicidade do colesterol (Figura 18.28). mente relacionados com, e bioquimicamente derivados
de, colesterol, eles têm propriedades fisiológicas muito
O colesterol, um componente ubíquo e essencial das diferentes. O esqueleto hidrocarbônico do colesterol
membranas celulares de mamíferos, é abundante na também ocorre em esteróis de plantas, por exemplo no
bile (a concentração normal é 390 mg/dL, apenas 4% ergosterol (Figura 18.29), um precursor da vitamina D,
do qual é esterificado). O colesterol livre é parcialmente que é convertido na pele pela irradiação ultravioleta em
solubilizado pela propriedade de detergente dos fosfoli vitamina D2 (p. 1094).
CAPÍTULO 18 METABOLISMO DE LIPÍDEOS II: VIAS DO METABOLISMO DE LIPÍDEOS ESPECIAIS • 739
21 22
23 26 O C SCoA O C SCoA
20
CH3 25
24 CH2 O CH2
CH3
27 CO + CH3 C SCoA +H2O HO C CH3 + CoA SH
CH3
CH3 CH2
COOH
HO Acetoacetil CoA Acetil CoA HMG CoA
CHO
CH2
COO–
CH3 + 2NADPH + 2H+ HO CCH3 + CoA + 2NADP+ As últimas etapas da biossíntese de colesterol
CH2 envolvem a fusão “cabeça-a-cabeça” de duas mo
léculas de farnesil pirofosfato para formar o es
COO–
qualeno e, finalmente, a ciclização do esqualeno
HMG CoA Mevalonato para gerar o colesterol. A formação da molécula
C30 do esqualeno (Figura 18.33) pela esqualeno
FIGURA 18.31 Reação da HMG-CoA redutase. sintase do retículo endoplasmático libera dois
grupos pirofosfato e requer NADPH. Provavel
Ácido Mevalônico É um Precursor de mente, ocorrem vários intermediários. Por rotação em
torno de ligações carbono-carbono, a conformação do
Farnesil Pirofosfato esqualeno indicada na Figura 18.34 pode ser obtida.
As reações que convertem mevalonato em farnesil Note que a forma geral do esqualeno lembra a do co
pirofosfato são resumidas na Figura 18.32. A transfe lesterol e que o esqualeno é desprovido de átomos de
rência passo a passo do grupo fosfato terminal de duas oxigênio.
moléculas de ATP para o mevalonato (A) para formar
A síntese de colesterol a partir de esqualeno pela es
5-pirofosfomevalonato (B) é catalisada pela mevalona
qualeno sintase prossegue pelo intermediário lanoste
to quinase (enzima I) e pela fosfomevalonato quinase
rol, que contém o sistema tetracíclico de anéis fundidos
(enzima II). Descarboxilação de 5-pirofosfomevalona
e uma cadeia lateral de oito carbonos:
to pela pirofosfomevalonato descarboxilase gera D3
-isopentenil pirofosfato (D). Nessa reação, são produ Esqualeno → esqualeno 2,3-epóxido → lanosterol
zidos: dependente de ATP, ADP, Pi e CO2. Acredita-se
que descarboxilação-desidratação ocorram por meio A enzima do ER que catalisa essa reação é bifun
do intermediário 3-fosfomevalonato 5-pirofosfato (C). cional e contém atividade de esqualeno epoxidase ou
O isopentenil pirofosfato é convertido no seu isômero monooxigenase e de ciclase (lanosterol ciclase). As
alílico 3,3-dimetil-alil pirofosfato (E) pela isopentenil muitas ligações carbono–carbono formadas durante a
pirofosfato isomerase. A condensação de 3,3-dimetil ciclização do esqualeno são geradas de maneira coorde
-alil pirofosfato (E) e 3-isopentenil pirofosfato (D) pro nada, como indica a Figura 18.35. O grupo OH do la
duz geranilpirofosfato (F). nosterol projeta-se para cima do plano do anel A; isto é,
está na orientação β. Nessa sequência de reações, um
A condensação passo a passo de três unidades iso grupo OH é adicionado a C3, dois grupos metil sofrem
pentenil C5 para formar farnesil pirofosfato C15 (G) é deslocamentos, e um próton é eliminado.
catalisada por uma preniltransferase citosólica chama
da geraniltransferase. A ciclização é iniciada pela formação de epóxido en
tre os futuros C2 e C3 do colesterol, sendo o epóxido
formado às custas de NADPH.
CH2
A B C D
I C
CH2 C CH3
CH2
COO–
CH2 OH CH2 OH
COO– enzima
II CH2 OH
COO– O OP
O– CH2
OPP
CH2
O O
O P O P OH
Farnesil pirofosfato
O– O–
+
O O
HO O–
P O P O
O–
Farnesil pirofosfato
NADPH, H+
2PPi + NADP+
Esqualeno 2,3-epóxido
ciclase
NADH
O2
R NADPH R NADPH
O2 HO CH3 R
CH3
HCOOH
R NAD
O2+ R NADPH
R
CO2
NADPH
HO O
CH3 CH3
Zimosterol
R NADPH
O2 R′ NADPH R′
HO HO HO
7-Desidrocolesterol Colesterol
FIGURA
em colesterol.
18.36 Conversão de lanosterol R R′
Apo-48
Quilomícrons
LDL(or IDL)
ApoE ApoC-II ApoA-I
Adipócito
Intestino FA
HDL +
glicerol
HDLApoEApoC-II TG
Enterócito Apo-48
ApoA-I Glicose
MG + FA Quilomícrons
ApoB-48
TG
MG + FA
Lipase pancreática
TG
Gordura da dieta
(TG)
As lipoproteínas são partículas esféricas, com os As lipoproteínas são os veículos pelos quais o co
lipídeos mais hidrofóbicos, como colesteril-ésteres e lesterol e seus ésteres e triacilgliceróis são transpor
triacilgliceróis, localizam-se no centro, sequestrados tados pelo corpo. Por exemplo, uma função da LDL é
para longe da água, enquanto colesterol livre (não-es entregar colesterol para os tecidos periféricos que re
terificado), fosfolipídeos e proteínas ficam organizados querem colesterol para a formação de membranas ou
na superfície (ver Figura 3.47, p. 114). Os fosfolipídeos a síntese de hormônios esteroides. O colesterol trans
anfipáticos e as proteínas mantêm os lipídeos, muito in portado para o fígado dos tecidos periféricos e o co
solúveis, em solução. As apoproteínas da superfície das lesterol em quilomícrons regulam a síntese hepática
partículas também funcionam como ligantes para re de colesterol (Figura 18.37). Diferentemente, a HDL,
ceptores celulares e cofatores para enzimas envolvidas que é rica em colesterol, mas pobre em triacilglicerol,
no metabolismo de lipoproteínas. carrega colesterol da periferia para o fígado, onde é
744 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
excretado na bile como colesterol ou após conversão A HDL é sintetizada principalmente no fígado e, em
em sais biliares. O VLDL e os quilomícrons transpor menor escala, no intestino, e tem a função singular de
tam triacilgliceróis para serem usados para obtenção ser um reservatório de apoE e apoC-II, que são ativa
de energia (por exemplo, músculo) ou armazenados dores da lipoproteína lipase. É secretada como apopro
(por exemplo, células adiposas). teína A-1 sem fosfolipídeos ou triacilglicerol. A HDL
regula a troca de apoproteínas e de lipídeos entre vá
As lipoproteínas plasmáticas são substratos para rias lipoproteínas no sangue. Partículas de HDL doam
várias enzimas do sangue. A lipoproteína lipase é liga apoE e apoC-II para quilomícrons e VLDL. Uma vez que
da à superfície luminal do endotélio vascular por liga os triacilgliceróis dos quilomícrons e de VLDL tenham
ção com proteoglicanos de heparam sulfato e hidrolisa
sido extensamente hidrolisados e essas lipoproteínas
triacilgliceróis de VLDL e quilomícrons. É ativada pela tenham sido transformadas em LDL e quilomícrons re
apolipoproteína C-II (apoC-II) e pela heparina libera manescentes, respectivamente, as apoE e apoC-II retor
da de mastócitos e de células do sistema macrófago/ nam a HDL (Figura 18.37).
retículo-endotelial. Os ácidos graxos liberados pela
lipoproteína lipase podem ser, depois, captados pelas HDL também participa da remoção do excesso de
células e oxidados por β-oxidação, incorporados em colesterol de células e seu transporte para o fígado para
fosfolipídeos para organização de membranas ou, em eliminação como colesterol e sais biliares. Esse fenô
adipócitos, armazenados como triacilgliceróis. Esses meno é chamado transporte reverso de colesterol (Fi
ácidos graxos são incorporados na gordura do leite, gura 18.38). É o colesterol livre (não-esterificado) que
na glândula mamária. A hidrólise de triacilgliceróis troca facilmente entre lipoproteínas e a membrana plas
também resulta na liberação de fosfolipídeos, coles mática de células. A transferência de colesterollivre da
terol livre e apolipoproteínas intercambiáveis na capa membrana plasmática para apoA-I ou uma espécie de
de superfície e sua transferência para outras lipopro HDL pobre em lipídeos para produzir o que é chamado
teínas circulantes, especialmente HDL. À medida que pré-β HDL ou HDL nascente é mediada por um trans
os quilomícrons perdem seu núcleo de triacilglicerol, portador de membrana chamado transportador cas
tornam-se os quilomícrons remanescentes, menores, sete de ligação a ATP (ABCA-1). O ABCA-1 também
que são ricos em colesteril-ésteres, ligam-se a recep transfere fosfolipídeos, juntamente com o colesterolli
tores específicos nas membranas hepáticas e são cata vre, da membrana para o HDL nascente, para produzir
bolizados no fígado, após endocitose (Figura 18.37). É HDL3. Ausência do transportador ABCA-1 resulta na
claro que as lipoproteínas são dinâmicas em estrutura deficiência de HDL chamada doença de Tangier. Mais
e composição. adição de colesterol esterificado a HDL3 produz HDL2.
Tecido periférico
Membrana plasmática
PL BCA1
FC
A liso-PC Tecidos
FC CE
PC
Pré-β HDL
HDL 3 LCAT
(HDL nascente) LCAT CE FC
ApoA-1
PC
VLDL liso-PC
Acetil CoA CE
CE CETP
SR-BI CE
β-oxidação FFA
ApoA-1 LpL
IDL HDL 2
FFA PL
CE
PLTP
Fígado FFA
HL LPL
CE FA
LDL
HDL 2
CE
Colesterol Fosfatidilcolina
CH Colesteril-éster Lisofosfatidilcolina
O
O
O H2COC R1
O H2COC R1
OR C R2 + HO C H O
R +OH R2 OC O +
H2C OP OCH2CH2N (CH3)3
+
OP
COCH2N)3
H2CH2 (CH3
O–
O–
Tratamento da Hipercolesterolomia
Muitas autoridades recomendam a dosagem de co segunda linha de terapia é com drogas. Colestiramina e
lesterol plasmático em indivíduos assintomáticos, por colestipol são drogas ligantes de sais biliares que pro
medida do colesterol plasmático. Um nível inferior a movem sua excreção, aumentando a síntese hepática de
200 mg% é considerado desejável; acima de 240 mg%, sais biliares e a captação de LDL pelo fígado. A lovas
requer análise de lipoproteínas, especialmente deter tatina inibe a HMG-CoA redutase, diminui a síntese en
minação de LDL-colesterol. A redução de LDL-coleste dógena de colesterol e estimula a captação de LDL pelo
rol depende da restrição de colesterol na dieta a menos receptor de LDL. A combinação de lovastatina e colesti
de 300 mg/dia, de calorias para atingir o peso corporal ramina, às vezes, é usada na hiperlipidemia severa.
ideal, e da ingestão de gordura total para menos do que
30% do total de calorias. Aproximadamente, dois ter Expert Panel. Evaluation and treatment of high blood cho
ços da gordura deveria ser mono- ou poli-insaturada. A lesterolin adults. Arch. Intern. Med. 148:36, 1988.
Aterosclerose
Aterosclerose é a principal causa de morte em paí ceptores que captam LDL acetilada ou LDL complexada
ses ocidentais industrializados. O risco de desenvolvê-la com dextran sulfato; entretanto, essa via não é regulada
está diretamente relacionado com o LDL-colesterol plas pelo conteúdo celular de colesterol. A distorção do su
mático e inversamente relacionado com o nível de HDL bendotélio leva à agregação plaquetária na superfície do
-colesterol. Isso explica porque o primeiro é frequente endotélio e liberação de mitógenos derivados de plaque
mente chamado colesterol “ruim”, e o último colesterol tas, como o fator de crescimento derivado de plaquetas
“bom”, embora quimicamente não exista diferença. Na (platelet derived growth factor, PDGF), que estimula
aterosclerose, a parede arterial contém colesteril-és o crescimento de células musculares lisas. A morte das
teres acumulados em células derivadas da linhagem células esponjosas leva à deposição do lipídeo celular e
monócito-macrófago, há também proliferação de células fibrose. A placa aterosclerótica resultante estreita o vaso
musculares lisas e fibrose. A anomalia mais precoce é a sanguíneo e leva à formação de trombo, o que precipita o
migração de monócitos do sangue para o subendotélio infarto do miocárdio (ataque cardíaco).
da artéria. Essas células então se diferenciam em macró
fagos e acumulam colesteril-ésteres derivados da LDL Wick, G, Knoflach, M. e Xu, Q. B. Autoimmune and inflam
plasmática. Parte da LDL pode ser captada por vias que matory mechanisms in atherosclerosis. Annu. Rev. Immu
não requerem receptor de LDL. Por exemplo, existem re nol. 22:361, 2004.
748 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
OH
Microrganismos do intestino modificam os ácidos CH3 O C NCOOH
CH2
graxos primários em ácidos graxos secundários. Os
H
ácidos desoxicólico e litocólico são derivados dos áci CH3
dos cólico e quenodesoxicólico, respectivamente, pela
remoção de um grupo OH (ver Figura 18.42). A trans
formação de colesterol em ácidos biliares requer (1) HO H OH
-CoA. A serina fornece C1, C2 e o amino-grupo da esfin A ceramida é sintetizada a partir de di-hidroesfin
gosina, e o ácido palmítico fornece os demais átomos de gosina (esfinganina) e um acil graxo-CoA de cadeia
carbono. A condensação de serina e palmitoil-CoA é ca longa, por uma enzima do retículo endoplasmático. A
talisada pela serina palmitoiltransferase, uma enzima di-hidroceramida é um intermediário que é, depois,
dependente de piridoxal fosfato. A força que direciona dessaturado em C4 e C5 (Figura 18.48). Ceramida não
a reação é fornecida pela clivagem da ligação reativa é um componente dos lipídeos de membrana, mas sim
tioéster de alta energia do palmitoil-CoA e pela libera um intermediário na síntese e no catabolismo de glicoes
ção de CO2 da serina (Figura 18.45). Redução do grupo fingolipídeos e esfingomielina. As estruturas de impor
carbonila da 3-ceto-di-hidroesfingosina pela 3-cetoes tantes esfingolipídeos humanos são apresentados na
finganina redutase, para produzir esfinganina (Figura Figura 18.49, de forma esquemática.
18.46), ocorre às custas de NADPH. Inserção da dupla
ligação na esfinganina produz esfingosina.
Esfingomielina É um Esfingolipídeo
HH
que Contém Fósforo
CHC CH2OH A esfingomielina, um importante componente das
OH
Glicerol
OH membranas do tecido nervoso, é um fosfolipídeo. Como
essa ceramida fosfocolina contém uma carga negativa e
uma carga positiva, é neutra em pH fisiológico (Figura
18.50). Os ácidos graxos mais comuns na esfingomielina
H HH são ácidos palmítico (16:0), esteárico (18:0), lignocérico
CH3)(CH212CCC3C2 C1H2OH (24:0) e nervônico (24:1). A esfingomielina da mielina
contém, predominantemente, ácido lignocérico e ácido
H OH NH2
nervônico, enquanto a da massa cinzenta contém princi
Esfingosina
palmente ácido esteárico. Acúmulo excessivo de esfingo
FIGURA 18.44 Comparação das estruturas de glicerol e mielina ocorre na doença de Niemann-Pick. A conversão
esfingosina (trans-1,3,di-hidroxi-2-amino-4-octadeceno). de ceramida em esfingomielina pela esfingomielina sin
tase envolve a transferência de um resíduo de fosfocolina
da fosfatidilcolina (lecitina) (Figura 18.51).
Ceramidas São Amidas de Ácidos
Graxos Derivadas de Esfingosina Glicoesfingolipídeos Geralmente
A esfingosina é o precursora da ceramida, uma amida Contêm Galactose ou Glicose
derivada de ácido graxo de cadeia longa da esfingosina,
As principais classes de glicoesfingolipídeos são ce
que constitui a estrutura central dos esfingolipídeos. O
ácido graxo é ligado ao grupo 2-amino da esfingosina por rebrosídeos, sulfatídeos, globosídeos e gangliosídeos.
uma ligação amida (Figura 18.47). Mais frequentemente, Nos glicolipídeos, o grupo da cabeça polar ligado à es
o grupo acil é ácido beênico, um ácido graxo saturado fingosina é uma molécula de açúcar.
de 22 carbonos, mas outros grupos acil de cadeia longa
Cerebrosídeos São Glicosilceramidas
podem ser usados. Os dois domínios hidrocarbônicos de
cadeia longa na molécula de ceramida são responsáveis Cerebrosídeos são ceramida mono-hexosídeos; os
pelo caráter lipídico dos esfingolipídeos. mais comuns são galactocerebrosídeo e glucocere
O O
CH3 )(CH214CSCoA + –OOC CHCH2 Mn2+
OH CH3)(C
CH214CHCH2OH + CO2 + CoASH
+ piridoxalfosfato
NH3 NH2
CH3 O
)(CH212 CH2 CH2 CCH CH2OH CH3)(CH212CH2CH2CHCHCH2OH
H++NADPH
(CH2)20 C SCoA
FIGURA 18.47 Estrutura de uma ceramida (N-acil CH3 (CH2)12 CH2 CH2 CHCHCH2OH
esfingosina). OH NH
Esfingomielina
FADH2
cer Fosfocolina
Esfingolipídeos neutros H
C(CH2)20 CH3
O
Galactosilceramida cer Gal
Ceramida
CH3)(CH212 H
CCCHCHCH2 O tidades de sulfatídeo acumulam-se no sistema nervoso
+
OPOCH2 CH2N)(CH33 central na leucodistrofia metacromática, em virtude de
H OH NH O— uma deficiência da sulfatase lisossomal.
C
O )(CH216CH3
6CH2OH
Galactocerebrosídeo + PAPS → C
→ PAP + galactocerebrosídeo 3-sulfato O R OH
A estrutura do PAPS, algumas vezes chamado sulfa FIGURA 18.55 Estrutura do galactocerebrosídeo sulfato
to ativado, é mostrada na Figura 18.56. Grandes quan (sulfolipídeo).
O H2COCR
H CHC
CH3(CH2)12CCH CH2OH + RCOCH
H2 P
O
H OH C
NH CO OCH2N(CH3
CH2)3
+
O–
O R
Ceramida Fosfatidilcolina
O H2COCR
H O
CH3(CH2)12CCHCH2OPOCH2
CHC CH2 +
N(CH3)3 + RCOCH
H OH NH O– H2COH
C Diacilglicerol
O R
Esfingomielina
O O Átomo de carbono
PO–
–O O
S O O– OCH2 O O
P Adenina
1 COO– COO–
H H H H
2 CO COH
3 CH2 CH2
OH
4 CHOH O CHOH
CNCH
O
O O
O–
5 CH3 CH3 C N C H
HCOH HCOH
TABELA 18.2 Estruturas de Alguns Gangliosídeos Comuns dula óssea. A degradação começa com o engurgitamen
Nome Estrutura Química to das membranas de leucócitos e eritrócitos, que são
Código ricos em lactosilceramida (Cer-Glc-Gal) e hematosídeo
(Cer-Glc-Gal-NANA). No cérebro, em sua maioria, os
GM3 Galβ→4Glcβ→Cer cerebrosídeos são gangliosídeos e, particularmente du
3 rante o período neonatal, o turnover dos gangliosídeos
↑ é intenso. O catabolismo de esfingolipídeos é resumido
aNANA na Figura 18.59. Essa via requer enzimas que clivam
GM2 GalNAcβ→4Galβ→2Glcβ→Cer ligações específicas, incluindo a- e β-galactosidases,
3 uma β-glucosidase, uma neuraminidase, hexosamini
↑ dase, fosfodiesterase esfingomielina-específica (esfin
aNANA gomielinase), uma sulfato esterase (sulfatase) e uma
GM1 Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer amidase ceramida-específica (ceramidase). Importan
3 tes características da via catabólica são: (1) todas as
↑ reações ocorrem dentro dos lisossomos; (2) as enzi
aNANA mas são hidrolases; (3) o pH ótimo das enzimas está
GD1a Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer na faixa ácida, pH 3,5-5,5; (4) a maioria das enzimas
3 3 é relativamente estável e ocorre como isoenzimas, por
↑ ↑ exemplo, hexosaminidase A (HexA) e hexosaminidase
aNANA aNANA B (HexB); (5) as enzimas são glicoproteínas e frequen
Gd1b Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer temente ocorrem firmemente ligadas à membrana lisos
3 somal; (6) os intermediários adjacentes da via diferem
↑ por uma molécula de açúcar, um grupo sulfato ou um
aNANA8←aNANA resíduo de ácido graxo e são formados pela remoção de
GT1a Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer um constituinte de cada vez, como açúcares e sulfato,
3 3 por reações irreversíveis.
↑ ↑
aNANA←aNANA aNANA O catabolismo de esfingolipídeos normalmente fun
GT1b Galβ→3GalNAcβ→4 Galβ →4Glcβ→Cer ciona bem, sendo todos os glicoesfingolipídeos e esfin
3 3 gomielina degradados até seus constituintes. Entretan
↑ ↑ to, quando a atividade de uma enzima da via está muito
aNANA aNANA8←aNANA reduzida em decorrência de um erro genético, então,
GQ1b Galβ→3GalNAcβ→4Galβ→4Glcβ→Cer o substrato dessa enzima se acumula e é depositado
3 3 dentro dos lisossomos dos tecidos nos quais o catabo
↑ ↑ lismo daquele esfingolipídeo normalmente ocorre. Uma
aNANA8←aNANA aNANA8←aNANA deficiência enzimática foi descrita para a maioria das
reações da Figura 18.59. Essas doenças, chamadas es
fingolipidoses, são resumidas na Tabela 18.3.
Várias doenças de armazenamento de lipídeos en Características comuns das doenças de armazena
volvem acúmulo de glicoesfingolipídeos contendo ácido mento de lipídeos são (1) geralmente apenas um único
siálico. As duas gangliosidoses mais comuns envolvem esfingolipídeo se acumula nos órgãos envolvidos, (2)
os gangliosídeos GM1 (GM1 gangliosidose) e GM2 (doença a porção ceramida é comum aos vários lipídeos arma
de Tay-Sachs). zenados, (3) a velocidade de síntese do lipídeo que se
acumula é normal, (4) uma enzima catabólica está fal
A GM1 gangliosidose é uma doença metabólica au tando, e (5) a deficiência enzimática ocorre em todos
tossômica recessiva caracterizada por função psicomo os tecidos.
tora deficiente, retardo mental, hepato-esplenomegalia
e morte nos primeiros anos de vida. O grande acúmulo
cerebral e visceral de GM1 deve-se a uma acentuada de
Ensaios Enzimáticos para Esfingolipidoses
ficiência de β-galactosidase. O diagnóstico de uma esfingolipidose é feito a partir
da biópsia do órgão envolvido, geralmente medula óssea,
fígado ou cérebro, com base nos aspectos morfológicos
Esfingolipidoses São Doenças da aparência muito característica do armazenamento
Lisossomais de Armazenamento de lipídeos dentro dos lisossomos. O ensaio da ativida
de enzimática confirma o diagnóstico. Leucócitos pe
Os esfingolipídeos são degradados dentro dos lisos riféricos, fibroblastos de pele em cultura e vilosidades
somos de células fagocíticas, particularmente os his coriônicas, que normalmente expressam a enzima rele
tiócitos ou macrófagos do sistema reticulo-endotelial vante, são usados para o propósito de diagnóstico. Em
localizados primariamente no fígado, no baço e na me alguns casos (por exemplo, doença de Tay-Sachs), soro
754 • PARTE IV VIAS METABÓLICAS E SEU CONTROLE
NANA
NANA
Cerβ Gluβ Galβ GalNAc β Gal
neuraminidase
NANA
Cer β GluβGalβ GalNAcβ Gal (GM1)