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Gado de Corte

Nutrição e Formulação
de Rações para Bovinos de
Corte com Microcomputador

Antonio Ferriani Branco


Capítulo 1
Caracterização de alimentos para
bovinos de corte
Nutrição e Formulação de Rações para
Bovinos de Corte com Microcomputador

1. Caracterização de alimentos
para bovinos de corte

1.1 Introdução

O primeiro capítulo do curso tem como principais objetivos preparar os partici-


pantes para interpretar todas as informações referentes à composição e outras
características dos alimentos utilizados em nutrição de bovinos de corte, que se-
jam importantes para formulação de dietas balanceadas e, desta forma atender
às exigências desses animais.

A caracterização dos alimentos é fundamental para que se tenha êxito na utili-


zação dos mesmos na alimentação de bovinos de corte. No processo de caracte-
rização dos alimentos é importante conhecê-los quanto à composição química-
bromatológica, bem como quanto à presença de fatores antinutricionais ou outras
características que possam otimizar ou limitar o uso na alimentação animal.

No processo de caracterização é avaliada também a capacidade que os alimentos


têm em disponibilizar seus nutrientes para os processos metabólicos do organis-
mo animal. Isto é feito, em princípio, através da determinação da digestibilidade
dos componentes do alimento, ou seja, proteína, carboidratos e lipídeos e, em
seguida, avaliando-se a ingestão do alimento pelos animais.

Os alimentos são compostos basicamente por seis grupos de nutrientes:

1) Água;

2) Proteínas;

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3) Lipídeos;

4) Carboidratos;

5) Minerais;

6) Vitaminas.

As análises químicas realizadas rotineiramente nos laboratórios de Nutrição Ani-


mal fornecem informações a respeito desses componentes.

Os alimentos utilizados em dietas de ruminantes normalmente não são classi-


ficados da mesma forma que para espécies não ruminantes. Além disso, temos
que considerar que alguns alimentos usados para estas espécies apresentam
características que dificultam classificá-los nesta ou aquela categoria. Uma clas-
sificação bastante razoável para alimentos usados em dietas de ruminantes pode
ser dada como segue.

Os elementos minerais são essenciais aos animais, e como são inorgânicos, os


animais não têm a capacidade de sintetizá-los. Um determinado elemento só é
considerado como essencial a partir do momento em que a pesquisa identifica
que quando retirado da dieta, há redução na taxa de crescimento ou alterações
no metabolismo do organismo animal.

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1.2 Classificação dos alimentos




Volumosos: apresentam baixo valor energético (< 60%NDT), elevado teor de


FDN ou água, menos de 20% de proteína bruta (PB).

a) Secos
−− Fenos;
−− Resíduos Agrícolas.
b) Úmidos
−− Pastagens;
−− Forragens Cortadas;
−− Forragens Conservadas.

Concentrados: apresentam alto valor energético.

c) Protéicos: apresentam mais de 20% de PB;

d) Energéticos: apresentam menos de 20% de PB.

Co-produtos da agroindústria

Considerando a fração carboidrato e a fração protéica, temos:

»» Fontes de carboidratos:
−− Estrutural;
−− Não estrutural;

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−− Fibrosos;
−− Não fibrosos.

»» Fontes de proteína:
−− Degradada no rúmen;
−− Não degradada no rúmen, mas disponível no intestino.

1.3 Análises dos alimentos

Normalmente as tabelas de composição de alimentos para bovinos de corte


trazem a composição com base na matéria seca (MS) da seguinte forma: % de
nutrientes digestíveis totais (%NDT), energia metabolizável (EM, em Mcal/kg de
MS), energia líquida para mantença (ELm, em Mcal/kg de MS) e energia líquida
para ganho (ELg), % de proteína bruta (%PB), % de proteína degradável no rú-
men (%PDR), % de proteína não degradável no rúmen (%PNDR), % de fibra em
detergente neutro (%FDN), % de fibra em detergente neutro efetiva (%FDNe), %
de fibra em detergente ácido (%FDA) e a composição mineral, sendo os macro-
elementos dados em % e os micro-elementos dados em ppm ou mg/kg de MS.
Além disso, as tabelas trazem a composição para as vitaminas A, D e E todas em
UI/kg de MS.

O sistema de análises rotineiramente mais utilizado em nossos laboratórios ainda


é o Sistema Weende ou Análise Proximal, desenvolvido na década de 1860, na
Alemanha. Neste sistema os alimentos são divididos em água e matéria seca. A
matéria seca por seu lado é dividida em 5 componentes que são, proteína bruta,
fibra bruta, matéria mineral (cinzas), extrato etéreo e extrato não nitrogenado.

1.4 Matéria seca

A primeira divisão, em água e matéria seca, é feita através da secagem da


amostra em estufa à temperatura de 105ºC. Amostras que contenham mais de

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20% de umidade devem ser submetidas a uma pré-secagem para obtenção da


amostra seca ao ar (ASA). Estes procedimentos não são os mais recomendados
para alimentos fermentados que têm em sua composição, os chamados ácidos
graxos voláteis.

Exemplo: silagens. Portanto, %MS = 100 – %H2O.

No caso de ruminantes é fundamental a determinação da matéria seca dos ali-


mentos. Estes animais têm em seu hábito alimentar muitos alimentos ricos em
água e, além disso, o teor de água dos alimentos tem efeito sobre a ingestão
de alimentos fazendo-se necessário o conhecimento da umidade. Como há uma
grande variação no teor de umidade dos alimentos, para compara-los é impor-
tante que todos estejam numa mesma base, ou seja, matéria seca.

A partir do momento que a amostra está seca, o sistema Weende analisa-a e


divide-a em 5 partes, como citado acima.

1.5 Matéria mineral

A matéria mineral, também chamada de cinzas ou matéria inorgânica, é deter-


minada em uma mufla, pela exposição de uma sub-amostra da amostra prin-
cipal a uma temperatura que varia de 500 a 600ºC. Dessa forma, toda matéria
orgânica é queimada e no resíduo restará apenas a matéria mineral. A análise
de matéria mineral tem pouco valor sob o ponto de vista nutricional. Tal fato de-
corre principalmente da contaminação de muitos alimentos com solo. A análise
de matéria mineral é importante para obtenção da matéria orgânica e, também,
para avaliação de prováveis adulterações em determinados alimentos. Obvia-
mente que para conhecimento da riqueza mineral de uma determinada amostra
deve-se realizar análises dos minerais separadamente.

Portanto, %MO = %MS – %MM.

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1.6 Proteína bruta

A proteína bruta nada mais é do que o resultado da análise de uma determinada


amostra de alimento em relação ao nitrogênio total. No sistema Weende de
análise considera-se que as proteínas têm em média, 16% de nitrogênio e, por-
tanto, com a determinação do valor de N total do alimento, multiplicando este
valor por 6,25 (100/16) encontramos o valor de PB. Neste sistema de análise
a amostra é exposta a uma digestão ácida (ácido sulfúrico + catalisadores) sob
aquecimento, tendo como produto final o sulfato de amônio ((NH4)2SO4) que
contém todo o N da amostra. Em seguida, através de destilação usando NaOH
(50%) ocorre a liberação de amônio, que é levado até um frasco contendo uma
solução 2% de ácido bórico (H3BO3) além dos indicadores vermelho de metila e
verde de bromocresol. A reação do amônio com o ácido bórico produz o borato
ácido de amônio (NH4H2BO3) que é determinado por titulação com o ácido clo-
rídrico padronizado.

Vale ressaltar que uma parte significativa do nitrogênio do alimento pode estar
na forma de nitrogênio não protéico. A caracterização das diferentes frações do N
total de alimentos para ruminantes tem sofrido mudanças, as quais serão vistas
mais à frente.

1.7 Extrato etéreo (EE)

O extrato etéreo é obtido pela exposição de uma determinada amostra de ali-


mento sob lavagem constante com um solvente orgânico, no caso, o éter de
petróleo é o mais utilizado. O processo ocorre sob aquecimento e a lavagem
da amostra ocorre pela passagem do éter pela mesma retirando todo extrato
etéreo. A diferença de peso entre a amostra original e o resíduo nos dará a con-
centração de extrato etéreo do alimento. Nesta análise são extraídos não apenas
os lipídeos verdadeiros, mas também, outras moléculas solúveis em solventes
orgânicos tais como, vitaminas lipossolúveis, pigmentos e ceras.

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1.8 Fibra bruta (FB)

A determinação da fibra bruta também ocorre sob aquecimento e é obtida pela


exposição de uma amostra de alimento a uma solução ácida e em seguida a
uma solução básica. Após essas duas soluções terem agido sobre a amostra,
procede-se à filtragem e por diferença entre o peso da amostra original e o peso
do resíduo obtém-se a concentração de fibra bruta da amostra.

O extrato não nitrogenado é obtido por diferença deduzindo-se de 100 os valores


de cada determinação anteriormente descrita. Ou seja:

%EÑN = 100 – %PB – %EE – %FB – %MM.

Na nutrição de ruminantes, a fibra bruta é uma análise que tem merecido pouca
atenção face os problemas de interpretação que ocorrem quando se usa esta in-
formação. A análise de fibra bruta tem sido substituída pelo sistema detergente
desenvolvido por Van Soest e colaboradores.

O principal problema quando se determina FB é a quantidade variável de lignina


que ocorre nos alimentos, a qual não é digestível, e que é removida durante
esta determinação. Esta lignina removida juntamente com a hemicelulose vai
fazer parte da fração extrato não nitrogenado, que deve ter uma digestibilidade
maior que a FB. No entanto, em vários casos, a digestibilidade do EÑN é inferior
à da FB face à grande contaminação com lignina, principalmente. Neste caso,
superestima-se o valor de forrageiras de baixa qualidade em detrimento daque-
las de melhor qualidade.

1.9 Sistema detergente (FDN e FDA)

No sistema detergente (Van Soest, 1994) a amostra é exposta primeiramente


ao detergente neutro (pH 7), que após filtragem separa o conteúdo celular que

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é solúvel, da parede celular (FDN), ou seja, o resíduo retido na filtragem. O con-


teúdo celular (CC) contém amido, proteínas, lipídeos e outros compostos com
digestibilidade de praticamente 100%. A parede celular é composta por hemice-
lulose, celulose e lignina. Portanto:

%FDN = %MS – %CC, ou seja, basicamente:


FDN = Hemicelulose + Celulose + Lignina.

Dessa forma, a fibra em detergente neutro (FDN) é o mesmo que parede celular
(PC). A FDN tem uma digestibilidade que varia de 20 a 80% dependendo da
espécie forrageira e estádio de maturidade.

Em seguida a amostra é exposta ao detergente ácido (pH 2) que solubiliza a he-


micelulose e, após a filtragem ficamos com o resíduo retido que é denominado
de fibra em detergente ácido (FDA). Portanto:

%Hemicelulose = %FDN – %FDA


FDA = Celulose + Lignina

É importante destacar que duas forragens com o mesmo teor de FDA (25%) po-
dem ter qualidade totalmente diferente. A forragem 1 pode ter 20% de celulose
e 5% de lignina e, a forragem 2 pode ter 15% de celulose e 10% de lignina.
Com certeza a forragem 1 será mais digestível. A mesma abordagem pode ser
usada para a FDN. Na figura 1.1 pode-se observar as principais diferentes para
caracterização da fração fibrosa quando compara-se o sistema Weende e o sis-
tema detergente.

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Matéria mineral (1)* Matéria mineral solúvel

Extrato etéreo Lipídeos, pigmentos etc Conteúdo celular


(solúveis em
Proteína bruta Proteína, NÑP etc detergente neutro)

Açúcares, amido, pectina


Extrato não Hemicelulose
nitrogenado

}
Álcali solúvel
Lignina Parede
FDA celular
Álcali insolúvel
FDN
Fibra bruta
Celulose

Matéria mineral (2)* Cinza insolúvel (sílica)

* Matéria mineral total do sistema Weende consiste de MM (1) + MM (2).

Figura 1.1 – Comparação entre o sistema de Weende e Van Soest.

1.10 Partição do nitrogênio total (Nt) dos alimentos

O NRC (2000) adotou uma nova metodologia de análise do nitrogênio total dos
alimentos que foi introduzida a partir de trabalhos realizados na Universidade de
Cornell. O novo esquema de análises está descrito na figura 1.2, e o nitrogênio
total da amostra é dividido em 5 frações: A, B1, B2, B3 e C.

Total

Tampão borato Detergente neutro Detergente ácido

Solúvel Insolúvel Solúvel Insolúvel Solúvel


A B2/B3 A B3 A Insolúvel
B1 C B1/B2 C B1/B2/B3 C

TCA

B1

Figura 1.2 – Comparação entre o sistema de Weende e Van Soest.

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Neste método a amostra é subdividida em sub-amostras sendo a primeira tra-


tada com uma solução de tampão borato-fosfato (TBA), que solubiliza todo N
solúvel incluindo a fração A (nitrogênio não protéico) e a B1 (proteína solúvel).
Após a filtragem têm-se as proteínas insolúveis em TBA retida no resíduo (Ni).
Esta fração é determinada segundo Krishnamoorthy et al. (1983). Se o material
solúvel A + B1 for denominado N1, temos:

N1 (% do Nt) = [(Nt – Ni)/Nt] x 100

Em seguida, esta fração solúvel é tratada com uma solução de ácido tricloroacé-
tico (TCA) que precipita toda a proteína verdadeira (B1) e deixa solúvel a fração
nitrogênio não protéico (A). Após a filtragem separamos o nitrogênio não protéi-
co (solúvel) do resíduo (proteínas). Vamos denominar a fração A de N2:

B1 (% do N total) = [(N1 – N2)/Nt] x 100

Em seguida uma sub-amostra é tratada com detergente neutro e o nitrogênio


do resíduo é analisado. Assim, obtemos o FDNn que é denominado de NIDN
(nitrogênio insolúvel em detergente neutro) e a fração B2, que nada mais é que:

B2 (% do Nt) = {[(Nt – NIDN)/Nt] x 100} – N1

Nesta fração encontram-se as proteínas citoplasmáticas insolúveis. No próxi-


mo passo, uma sub-amostra é tratada com detergente ácido e o nitrogênio do
resíduo é analisado. Assim obtém-se a FDAn denominada de NIDA (nitrogênio
insolúvel em detergente ácido) que é a fração C e a fração B3.

B3 (% do Nt) = [(NIDN – NIDA)/Nt] x 100

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A fração B3 é composta por proteínas ligadas à parede celular. A fração C nor-


malmente é denominada de NIDA e se convertida em proteína (NIDA x 6,25) é
denominada de PIDA ou, proteína insolúvel em detergente ácido. Esta fração não
é utilizada pelos ruminantes.

As proteínas componentes das diferentes frações, bem como a degradabilidade


ruminal e a digestibilidade intestinal das mesmas são mostradas na Tabela 1.

1.11 Degradabilidade ruminal da proteína

Ainda com relação à proteína é importante entender outra definição, a de pro-


teína degradável no rúmen (PDR) e proteína não degradável no rúmen (PNDR),
também chamada de proteína by-pass ou proteína de escape. Apesar das pri-
meiras tentativas terem ocorrido no início do século passado, este conceito foi
cristalizado a partir dos trabalhos de Orskov e & McDonald (1979). A soma dos
valores de PDR e PÑDR deve resultar em 100%, pois ambas são dadas em re-
ferência à proteína bruta, ou seja, proteína total do alimento. Dessa forma, se a
PDR é igual a 70%, a PNDR será igual a 30%, ambas em relação aos 100% de
PB do alimento. Neste caso, se o alimento tem 9% de PB, terá 6,3% de PDR e
2,7% de PÑDR.

Essa informação é obtida pela incubação ruminal de amostras de um mesmo


alimento em sacos de náilon por vários tempos. Exemplo: 0, 3, 6, 12, 18, 24, 36,
48, 72 horas.

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Tabela 1.1 - Componentes das diferentes frações do nitrogênio


dos alimentos (NRC, 2000).

Degradabilidade
Digestibilidade
Fração Composição Ruminal
Intestinal (%)
(%/hora)

NH3, NO3, AA e Não atinge o


A Instantânea
Peptídeos intestino

B1 Globulinas 200 – 300 100

Algumas Albuminas 200 – 300 100

Maioria Albuminas
B2 5 – 15 100
Glutelinas

Prolaminas
B3 0,1 – 1,5 80
Proteínas Desnaturadas

Produtos de Maillard
C Proteínas ligadas a 0 0
Lignina

Após a incubação os saquinhos de náilon são lavados e secos e, em seguida


determina-se o N no resíduo de cada amostra que foi incubada. Após, constrói-
se uma curva de desaparecimento da PB do alimento (figura 1.3). Essa degra-
dação denomina-se de degradação potencial da proteína bruta e é obtida pela
fórmula a seguir:

P = a + b (1 - exp-ct) onde:

P = degradação potencial da proteína;


a = fração solúvel da proteína e completamente degradável;
b = fração insolúvel, mas potencialmente degradável;
c = taxa de degradação da fração b;
t = tempo de incubação

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Na figura 1.3, são mostradas 4 curvas de degradação da proteína em 4 dietas


diferentes. Nestas dietas o milho foi substituído por farelo de varredura de man-
dioca e foi estudado o efeito disto sobre a degradabilidade ruminal da proteína.
Os níveis de substituição foram 0, 33, 67 e 100%, mostrado pela legenda.

100

80
Desaparecimento (%)

60
-0,0431t
T = 37,37 + 50,23 (1-exp )
0
-0,0506t
40 T = 40,28 + 47,48 (1-exp )
33
-0,0506t
T = 42,31 + 44,09 (1-exp )
67
20 T = 44,83 + 41,57 (1-exp
-0,0650t
)
67

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Figura 1.3 – Curva da degradação potencial da PB das dietas.

O conhecimento da degradação potencial da proteína (P) de um determinado


alimento é o primeiro passo, mas o mais importante é saber quanto é efetiva-
mente degradável e, esta informação depende da taxa de passagem do material
particulado através do rúmen. Se a taxa for menor tem-se uma degradabilidade
efetiva (DE) maior, caso contrário ela será menor. A fórmula usada para calcular
a DE é:

DE = a + [(b.c) / (c+k)]; onde:

a, b e c = mesmos da equação anterior;


k = taxa de fluxo de partículas do rúmen.

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Considerando uma taxa de passagem (k) de 5%, para as dietas da Figura 3


as degradabilidades efetivas foram 52,0 (T0), 55,2 (T33), 57,6 (T67) e 60,9%
(T100), respectivamente. Na Tabela 2 pode-se ver vários alimentos utilizados na
alimentação de bovinos e seus respectivos valores de PB, PDR e PNDR.

Tabela 1.2 - Proteína bruta, degradável e não degradável em


concentrados.

% da proteína
% de bruta
Alimentos % de MSa PB na
MS
PDR PNDR

Farelo de glúten de
90,0 65,0 38,0 62,0
milho (FGM)

Soja tostada 90,0 42,0 38,0 62,0

Polpa cítrica 91,0 7,0 42,0 58,0

Milho (grão) 88,0 9,5 45,0 55,0

Farelo de algodão 90,0 45,0 57,0 43,0

Farelo de soja, 44% 90,0 50,0 65,0 35,0

Farelo de soja, 48% 90,0 54,5 65,0 35,0

Farelo de canola 92,5 41,0 72,0 28,0

Aveia (grão) 88,0 13,0 73,0 27,0

Caroço de algodão 88,0 24,0 73,0 27,0

FGM + fibra 90,0 23,0 75,0 25,0

Soja crua 90,0 42,0 75,0 25,0

Casca de soja 90,0 12,0 75,0 25,0

Trigo moído 89,0 14,0 77,0 23,0

Farelo de trigo 89,0 17,0 80,0 20,0


a
MS = matéria seca; PB = proteína bruta; PDR = proteína degradável no rúmen;
PNDR = proteína não degradável no rúmen.

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1.12 Fracionamento dos carboidratos dos alimentos

Atualmente os carboidratos presentes nos alimentos são analisados e divididos


em 4 diferentes frações: A, B1, B2 e C. A fração A contém açúcares, a B1 contém
amido e pectina, a B2 contém os carboidratos de parede celular que são digestí-
veis e a C contém os carboidratos de parede celular indigestíveis (Sniffen et al.,
1992). A composição, a degradabilidade ruminal e a digestibilidade intestinal
destas frações são mostradas na Tabela 3, e na Tabela 4 pode-se ver a proposta
para uma nova divisão de frações.

Inicialmente temos os carboidratos totais (CHOT):

%CHOT = 100 – %PB – %EE – %MM

Usando as equações de Sniffen et al. (1992) conforme descrito abaixo se pode


caracterizar as diferentes frações em percentagem dos CHOT. Para isso há ne-
cessidade de análises de: FDN, nitrogênio da FDN (PIDN), PB, lignina e amido.

C = FDN (%MS) x 0,01 x Lignina (%FDN) x 2,4


B2 = FDN (%MS) – (PIDN x 0,01 x PB (%MS)) – C
CNF = CHOT - B2 – C
B1 = [Amido (%CNF) x CNF] / 100
A = CNF – B1, onde:

FDN (%MS) = FDN em relação à MS. Determinado conforme Van


Soest et al. (1991);
Lignina (%FDN) = lignina em relação ao FDN. Determinado confor-
me Van Soest et al. (1991);
PIDN = proteína insolúvel em detergente neutro (NIDN x 6,25).
PB (%MS) = proteína bruta em relação à MS;
Amido (%CNF) = amido em relação aos carboidratos não fibrosos;
CNF = carboidratos não fibrosos. Os carboidratos não fibrosos estão
presentes no conteúdo celular e na lamela média da forragem. No
conteúdo celular são os ácidos orgânicos, açúcares, mono e oligos-
sacarídeos, amido e frutosanas. Na lamela média encontramos as
pectinas e as β-glicanas.

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Há uma diferença importante a ser considerada, entre carboidratos não fibrosos


(CNF) e carboidratos não estruturais (CNE). As pectinas e as β-glicanas fazem
parte dos carboidratos estruturais, e portanto, os CNE seriam compostos por áci-
dos orgânicos, açúcares, mono e oligossacarídeos, amido e frutosanas, ou seja,
carboidratos de conteúdo celular. Na Tabela 5 é mostrada a composição em
carboidratos não fibrosos de vários alimentos usados na alimentação de bovinos.

Outro conceito importante em relação à fração fibrosa dos alimentos e da dieta


refere-se à fibra efetiva, que significa a porcentagem do FDN que efetivamente
contribui para mastigação, ruminação e secreção salivar. Ela é medida passan-
do uma amostra do alimento ou dieta através de uma peneira com crivo de
1,18mm. A matéria seca retida nesta peneira é usada para determinar o FDN. O
FDN contido nesta amostra é denominado de FDN efetivo (FDNe), e nas tabelas
de composição de alimentos é dado em % em relação ao FDN total.

Tabela 1.3 - Composição, degradação ruminal e digestão intestinal


das frações de carboidratos.

Degradabilidade Digestibilidade
Fração Composição
ruminal (%/h) intestinal (%)

Açúcares Pouco atinge o


A 200 – 350
Ácidos orgânicos intestino 100

Amido
B1 Pectinas e 20 – 40 75
β-glicanas

Fibra disponível
B2 Hemicelulose e 2 – 10 20
celulose

Lignina
C Fibra associada a 0 0
lignina

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Tabela 1.4 - Proposta de nova classificação das frações de carboidratos.


Degradabilidade Digestibilidade
Fração Composição
ruminal (%/h) intestinal (%)
Pouco atinge o
A1 Açúcares 200 – 350
intestino 100
A2 Ácidos orgânicos 1–2 100
B1 Amido 20 – 40 75

Fibra disponível solúvel


ID = 0
B2 40 – 60
Pectinas e IG = 100
β-glicanas
Fibra disponível
insolúvel ID = 0
B3 2 - 10
Hemicelulose e IG = 100
celulose
Lignina
C Fibra associada a 0 0
lignina

Tabela 1.5 - Composição em CNE de alguns alimentos usados na


alimentação de bovinos.
% dos carboidratos não estrutu-
% CNE rais (CNE)
Alimentos
(Base MS) Pectinas e
Açúcares Amido
β-glicanas
Cevada 61,8 9,1 81,7 9,2
Milho 71,4 20,0 80,0 0,0
Aveia 42,4 4,4 95,6 0,0
Trigo 73,8 8,9 80,2 10,0
Canola 25,8 11,4 45,6 43,0
Farinha de glúten de milho 17,3 0,0 69,4 30,6
Farelo de glúten de milho 24,7 3,7 71,2 25,1
Casca de soja 14,1 18,8 18,8 62,4
Farelo de soja, 44% 34,4 25,0 25,0 50,0
Trigo moído 31,2 10,0 90,0 0,0

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1.13 Caracterização da energia dos alimentos

Os alimentos utilizados nas dietas de ruminantes devem ser caracterizados


quanto à concentração em energia, a qual pode ser apresentada de diferentes
formas. Utilizando o sistema proximal de análises mais o sistema detergente
pode-se calcular o NDT dos diferentes alimentos a partir da análise de composi-
ção e da digestibilidade da proteína, da fibra em detergente neutro, do extrato
etéreo, e dos carboidratos não fibrosos. O NDT expressa a concentração em ener-
gia dos alimentos na forma de % ou em kg/kg de MS.

NDT = PBD + FDND + CNFD + (EED x 2,25), onde:

PBD = proteína bruta digestível;


FDND = fibra em detergente neutro digestível;
CNFD = carboidratos não fibrosos digestível;
EED = extrato etéreo digestível.

O cálculo do NDT considera que os lipídeos contêm 2,25 vezes mais energia
que carboidratos e proteínas. Os valores 2,25: 1: 1 significam 9: 4: 4, ou seja, 9
kcal/g para lipídeos e 4 kcal/g para carboidratos e proteínas. Estes valores foram
obtidos com humanos e são dos valores calóricos fisiológicos. No cálculo do NDT
são consideradas as perdas urinárias.

O NDT ainda é o sistema mais utilizado pelos técnicos de campo. É um sistema de


fácil entendimento, com uma base de dados muito grande e de muita tradição.

Problemas ligados ao NDT:

1) Não considera as diferenças na eficiência de uso da energia para


manutenção e as diferentes funções produtivas;

2) A separação da FB e do EÑN da amostra não é satisfatória, pois


são materiais de digestibilidade muito diferente. O NDT superesti-
ma o valor das forragens em relação aos concentrados;

O portal do agroconhecimento 25
Nutrição e Formulação de Rações para
Bovinos de Corte com Microcomputador

3) Não quantifica as perdas através de gases e de calor, que é muito


maior para forragens que para alimentos concentrados;

4) As perdas urinárias são consideradas duas vezes, pois quando con-


sideramos o valor energético da proteína igual a 4 kcal/g, já foram
descontadas estas perdas.

É importante destacar que a energia bruta de um alimento não expressa seu valor
nutricional. Dois alimentos com o mesmo valor de energia bruta podem, no entanto,
apresentar valores totalmente diferentes de energia disponível para os processos
metabólicos. A energia bruta é obtida pela oxidação completa de uma determinada
amostra numa bomba calorimétrica, que é o aparelho usado para esta avaliação. A
energia bruta nada mais é do que o calor de combustão de um determinado ali-
mento, ou seja, a quantidade de calor liberado pela completa oxidação a CO2 e H2O.

Ao ser consumido pelo animal, parte desta energia bruta é excretada através
das fezes sendo denominada de energia fecal. A energia bruta menos a energia
excretada nas fezes (EF) dá a energia digestível: ED = EB – EF. A ED tem uma
relação com NDT da seguinte forma:

1 kg de NDT = 4,41 Mcal de ED. Para obtenção do valor de ED


(Mcal/kg de MS) a partir do NDT basta multiplicar a %NDT por
0,0441.

Além desta perda, parte da energia absorvida do alimento é excretada pela urina
(EU). No caso de ruminantes, ocorre ainda uma perda significativa de energia
através dos gases (EG) produzidos durante a fermentação ruminal, representada
pelo CH4 (metano). Esta perda de energia através do metano pode representar
de 3 a 8% de toda a EB do alimento. Descontando da energia digestível aquela
perdida através da urina e dos gases resta a energia metabolizável (EM). Assim:

EM = ED – EG – EU ou EM = EB – EF – EG – EU

26 IEPEC
Capítulo 1
Caracterização de alimentos para bovinos de corte

Normalmente se considera um valor fixo para as perdas de energia através dos


gases e da urina, o que não deixa de ser empírico. Este valor é da ordem 18% e,
assim, a EM pode ser obtida de:

EM = ED x 0,82 ou 1 kg de NDT = 3,62 Mcal de EM. Para obtenção


do valor de EM (Mcal/kg de MS) a partir do NDT basta multiplicar
%NDT por 0,0362.

A EM ainda não é aquela que ficará disponível para a manutenção e os proces-


sos produtivos do animal. Durante o metabolismo ocorre a produção de calor
decorrente da ingestão de alimentos que denominamos de incremento calórico
(IC). Este incremento calórico aparece em função da ineficiência das reações
que ocorrem durante a utilização da energia pelo organismo. Somente após
descontar-se o incremento calórico é que temos a energia líquida presente no
alimento. Assim:

EL = EM – IC ou EL = ED – EF – EG – EU – IC

No caso de gado de corte a energia líquida pode ser utilizada para manutenção
ou para funções produtivas como, por exemplo, ganho de peso, crescimento
fetal e lactação. A energia líquida de manutenção (ELm ) é sempre maior que a
energia líquida para ganho de peso (ELg). Os valores de ELm e de ELg podem ser
obtidos a partir dos valores de EM usando-se as fórmulas do NRC (2000):

ELm (Mcal/kg de MS) = 1,37EM – 0,138EM2 + 0,0105EM3 – 1,12


EMg (Mcal/kg de MS) = 1,42EM – 0,174EM2 + 0,0122EM3 – 1,65

A partição biológica da energia de um alimento ou dieta, após serem consu-


midos pelos bovinos pode ser vista na figura 1.4. Na figura 1.5 encontramos
um esquema muito prático de visualizar de forma resumida a composição dos
alimentos usados em dietas de bovinos de corte.

O portal do agroconhecimento 27
Nutrição e Formulação de Rações para
Bovinos de Corte com Microcomputador

Energia bruta

Energia das fezes

Energia digestível

Energia da urina + gases (CH4)

Energia metabolizável

Energia do incremento calórico

Energia líquida
*Manutenção
*Produção

Figura 1.4 – Partição biológica da energia no animal.

Alimento

Carboidratos PB EE MM

Fibrosos Não fibrosos

PB Amido Pectinas
e
Açucares
FDA Hemicelulose

Celulose Disponibilidade rápida Disponibilidade rápida


+ (amido = 10-50%/h) (30-50%/h)
Lignina (açúcares = 300%/h) Fermentação acética
Fermentação
propiônica e lática

Figura 1.5 – Classificação para ruminantes dos nutrientes dos alimentos.

28 IEPEC
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