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FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA - BOTUCATU


DEPARTAMENTO DE MELHORAMENTO E NUTRIÇÃO ANIMAL
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APOSTILA

Bioclimatologia

Apostila para consulta dos alunos de Graduação do Curso de


Zootecnia na disciplina de Bioclimatologia

Professor Doutor José Roberto Sartori


Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal
jrsartori@fca.unesp.br

BOTUCATU – SP
2010
ÍNDICE

Aula Título da Aula Página

01 Introdução ao estudo da bioclimatologia. Ecologia, climatologia,


bioclimatologia, adaptação e evolução dos animais............................................... 01

02 Conceitos de meteorologia básica, fatores determinantes do clima e climas e


classificação climática............................................................................................. 07

03 Considerações atuais sobre o clima e sua influência sobre o globo terrestre.......... 27

04 Instrumental meteorológico e posto meteorológico................................................ 34

05 Termorregulação em animais domésticos (aves e mamíferos)............................... 42

06 Zona de termoneutralidade e índices de adaptação e de conforto térmico.............. 58

07 Estresse e estressores. Conceitos e fisiologia. Estresse climático........................... 69

08 Estresse térmico vs parâmetros fisiológicos dos animais domésticos..................... 75

09 Características morfo-funcionais de adaptação dos animais em ambiente


tropical..................................................................................................................... 84

10 Efeitos do ambiente tropical sobre a produção animal (crescimento)..................... 92

11 Efeitos do ambiente tropical sobre a produção de leite........................................... 100

12 Efeitos do ambiente tropical sobre a produção animal (ovinos, suínos e


aves)......................................................................................................................... 109

13 Efeitos do ambiente tropical sobre a reprodução dos animais domésticos............. 120

14 Medidas alternativas para controle do estresse térmico.......................................... 128

15 Instalações para aves de postura, corte e reprodutores e seu conforto


térmico..................................................................................................................... 145
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 1

Aula 01 - Introdução ao Estudo da Bioclimatologia. Ecologia, Climatologia, Bioclimatologia, Adaptação


e Evolução dos Animais.

Prof. Dr. José Roberto Sartori

O ambiente físico é composto por quatro domínios que não se superpõem uns aos outros, mas trocam
energia entre si: atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera. Os três primeiros constituem o ar, a terra e as
águas, ao passo que o último é o conjunto de seres vivos que habitam o planeta. Entre essas quatro esferas
existem relações estreitas e interações mútuas (Figura 1) cujo equilíbrio é fundamental para a manutenção da
vida na Terra (SILVA, 2000).

a ATMOSFERA b

c
HIDROSFERA BIOSFERA

e
d LITOSFERA f
Figura 1. Relação entre os quatro domínios do ambiente físico e as principais ciências que se ocupam deles: a)
Meteorologia e Climatologia; b) Ecologia, Bioclimatologia, Biometeorologia; c) Ecologia; d)
Geografia; e) Climatologia; f) Ecologia (SILVA, 2000).

1. Ecologia: Oikos ⇒ casa; Estudo do lugar onde se vive.


Logos ⇒ estudo, saber.

Ecologia é a ciência que trata das inter-relações entre os seres vivos e entre estes e seu ambiente físico
(ERNEST HAECKEL, 1866). Segundo Ferri (1976) citado por BACCARI Jr. (1980), a Ecologia se divide
em:
a. Ecologia animal: estuda as relações entre animais e o ambiente;
b. Ecologia vegetal: estuda as relações entre vegetais e o ambiente;
c. Ecologia dos microrganismos: estuda as relações entre microrganismos e o ambiente.

A Ecologia geral cuida das interações dos seres vivos com os ambientes em que vivem, quando se
estudam os fenômenos gerais, fundamentais a todos os seres vivos (BACCARI Jr., 1980).

1.1. Alguns conceitos importantes relacionados à ecologia:


O ecossistema é formado pelos seres vivos e seu ambiente físico. A Ecologia pode ser descrita como o
estudo das inter relações dentro de ecossistemas. A biosfera é a porção da Terra na qual os ecossistemas
podem operar, isto é, o solo, a água e o ar, biologicamente habitados (PHILLIPSON, 1969). O meio ambiente
é o conjunto de elementos favoráveis ou desfavoráveis que cercam determinado ser vivo, como luz, calor,
ventos, chuvas, solo e outros seres vivos.
Um conceito de ambiente mais afeito à Zootecnia foi proposto por Campbell e Lasley (1975) citados
por BACCARI Jr. (1980), caracterizando-o como a soma total de todas as condições externas que afetam a
vida e o desempenho dos animais.

2. Meteorologia e Climatologia

2.1. Meteorologia:
A Meteorologia é o ramo da física que se ocupa dos fenômenos atmosféricos (meteoros). O seu campo
de atuação abrange o estudo das condições atmosféricas em dado instante (o “tempo”), dos movimentos
atmosféricos e as forças que os originam (dinâmica da atmosfera), do estudo das condições médias e das
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 2

flutuações temporais da atmosfera em um local (clima), definindo-se as especialidades básicas: a


Meteorologia Física, a Meteorologia Dinâmica, e a Climatologia (SENTELHAS et al., 1998).
A Meteorologia estuda os movimentos atmosféricos na baixa atmosfera e suas causas e preocupa-se
com a análise e previsão do tempo (BACCARI Jr., 1980).

2.2. Climatologia:
Estuda os climas e suas características num determinado lugar ou região; procede à análise física das
relações básicas entre os vários fatores atmosféricos, principalmente temperatura, umidade, pressão e vento.
Entre seus subgrupos podemos citar a bioclimatologia, microclimatologia, paleoclimatologia, etc (BACCARI
Jr., 1980).
A Meteorologia e a Climatologia se superpõem inevitavelmente, não havendo separação definida
entre elas (BLAIR e FITE, 1964).

2.3. Bioclimatologia (ou Biometeorologia):


A Bioclimatologia trata das inter-relações entre o clima, solo, plantas e animais (HAFEZ, 1968).
Bioclimatologia é o ramo da Climatologia e da Ecologia que trata dos efeitos do ambiente físico sobre os
organismos vivos (BACCARI Jr., 1980). Bioclimatologia é o estudo da influência do clima na vida do animal
(MÜLLER, 1989). Segundo Tommasi (1977) citado por BACCARI Jr. (1980), a Bioclimatologia é o ramo da
Ecologia que estuda as inter-relações entre os fatores físicos e químicos do ambiente atmosférico e os seres
vivos. Estuda, também, as reações e os ajustamentos dos organismos vivos às mudanças atmosféricas.
Biometeorologia estuda a influência do ambiente atmosférico sobre a fisiologia e a patologia dos
organismos vivos e seu comportamento (Johnson, 1972 citado por BACCARI Jr., 1980). Biometeorologia se
ocupa dos efeitos do estresse ambiente que limitam uma produção animal ótima (Dowling, 1974 citado por
BACCARI Jr., 1980).
Ambiente para os propósitos da Bioclimatologia, é o conjunto de tudo aquilo que afeta a constituição,
o comportamento e a evolução de um organismo e que não envolva diretamente fatores genéticos (SILVA,
2000).
Segundo BACCARI Jr. (1980), as áreas de atuação na Bioclimatologia mais enfatizadas, são: a)
influência do tempo e clima sobre microrganismos e insetos causadores de doenças nas plantas, animais e
homem; b) influência do tempo e clima sobre os processos fisiológicos no homem e animais sadios e sobre
suas doenças; c) influência do microclima das casas, instalações rurais e cidades sobre a saúde do homem e
animais; d) influência de fatores extraterrestres sobre os organismos vivos e, e) influência de condições
climáticas passadas sobre o desenvolvimento e distribuição de plantas, animais e homem.
O maior conhecimento das relações clima-animal-vegetal, que tendem a dar uma maior exatidão da
influência que o meio ambiente exerce sobre a produção agrícola e pecuária, são devidos, em grande parte, ao
desenvolvimento da Bioclimatologia, ao estudo das inter-relações diretas ou indiretas entre o ambiente
geofísico e geoquímico da atmosfera e os seres vivos (MÜLLER, 1989).
Nos países de climas quentes, o principal objetivo da bioclimatologia é estudar os efeitos do estresse
térmico (estresse pelo calor) sobre o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais de interesse zootécnico.
Os princípios da Bioclimatologia podem ajudar na adoção de instalações e métodos de manejo mais
adequados às condições tropicais. Sua aplicação prática generalizada e feita com conhecimento de causa,
poderá trazer grandes benefícios sob a forma de uma resposta mais satisfatória dos animais em termos de
produção e reprodução (BACCARI Jr., 1988).
Assim, em termos de fatores produtivos, a Biometeorologia é a ciência que se ocupa dos efeitos do
stress climático que limitam uma produção animal ótima e das estratégias de manejo ambiental visando
minimizar o stress e melhorar a produção (desempenhos produtivos e reprodutivos) e a saúde (BACCARI Jr.,
1998). Em virtude de todo aspecto do clima e tempo ter algum efeito sobre os seres vivos, o escopo da
Bioclimatologia (ou Biometeorologia) é quase ilimitado e seu conhecimento de amplo espectro (Figura 2).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 3

Geografia

Meteorologia

Bioclimatologia Etologia

Fisiologia

Patologia

Figura 2. Bioclimatologia, ramo da Ecologia, é uma ciência multidisciplinar que envolve, principalmente,
conhecimentos de Geografia, Meteorologia, Fisiologia, Etologia e Patologia (BACCARI Jr., 1998).

3. Princípios de adaptação e evolução animal

Conceito genético: geneticamente a adaptação refere-se às características animais herdáveis que


favorecem a sobrevivência de uma população num determinado ambiente. Pode ocorrer por seleção natural
envolvendo modificações evolutivas espontâneas em muitas gerações ou por seleção artificial, através da
aquisição de propriedades genéticas especificadas pelo homem (SILVA, 1988).

Conceito biológico: biologicamente a adaptação é o resultado da ação conjunta de características


morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e comportamentais, no sentido de promover o bem estar e
favorecer a sobrevivência de um organismo em um ambiente específico (SILVA, 1988).

3.1. Adaptação:
Quanto maior o grau de adaptação, maior a tendência do animal sobreviver e reproduzir-se de forma
que suas características biológicas persistem (BACCARI Jr., 1980). Segundo HAFEZ (1968), a adaptação é
um fenômeno complexo que não pode ser reduzido a um simples tipo de medida.

3.1.1. Conceitos relacionados a adaptação:


Adaptabilidade, isto é, a capacidade de se adaptar, pode ser avaliada pela habilidade do animal de se
ajustar às condições ambientes médias, assim como aos extremos climáticos (HAFEZ, 1968).
Aclimatação: é um ajustamento fisiológico adaptativo a longo prazo que resulta numa tolerância
aumentada após exposições contínuas ou repetidas a fatores estressantes do complexo climático (normalmente
é produzida sobre condições de campo) (BACCARI Jr., 1980).
Aclimação: é o ajustamento fisiológico adaptativo em resposta a uma única variável climática, por
exemplo, a temperatura (normalmente é produzida em câmaras climáticas) (BACCARI Jr., 1980).
Segundo BACCARI Jr. (1980), os animais bem adaptados se caracterizam por: 1) Mínima perda no
desempenho produtivo (peso corporal, produção de leite) durante a exposição ao estresse; 2) Alta eficiência
reprodutiva; 3) Alta resistência às doenças e 4) Longevidade e baixa taxa de mortalidade.
O tipo de animal necessário para os trópicos (Yousef et al., 1977, citados por BACCARI Jr., 1980) se
caracteriza por apresentar: 1) Alta eficiência na utilização dos alimentos; 2) Habilidade para promover a perda
de calor corporal eficazmente; 3) Habilidade para conservar a produção corporal de calor permitindo que os
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processos produtivos ocorram num nível normal, mesmo quando a temperatura do ar é alta; 4) Isolamento
contra a radiação solar (características da pele e pêlos); 5) Habilidade para suportar um alto grau de
desidratação e elevação da temperatura corporal e 6) Possuir um alto grau de resistência às doenças e parasitas
mais comuns.

3.1.2. Importância da aclimatação dos bovinos:


A aclimatação é uma forma de adaptação que caracteriza um conjunto de processos de ajustamento
que um animal deve experimentar quando transladado a um ambiente diferente do original. Os ajustamentos
fisiológicos tendem a levar a um equilíbrio entre as necessidades ambientais do organismo animal e as
possibilidades providas pela nova situação. A intervenção do meio se caracteriza por eleger os exemplares
cujo organismo possui condições que lhes facultam alcançar um equilíbrio com o ambiente. As respostas num
grupo de animais geralmente não são uniformes, ainda que em animais de mesma raça. Diferentes graus de
aclimatação têm sido descritos e classificados (Figura 3), podendo a aclimatação ser positiva ou negativa (não-
aclimatação). A aclimatação absoluta é conseguida pelos animais que, transportados para um ambiente
diferente do original, reagem mantendo intacta a capacidade produtiva. A naturalização ocorre quando os
animais, transportados para ambiente semelhante ao original, não sofrem alteração no desempenho produtivo.
A aclimatação degenerativa ocorre quando os animais, transladados para ambientes diferentes do original,
apresentam diminuição no desempenho produtivo e reprodutivo. Sobrevivem os exemplares menos exigentes
e com menor capacidade de produção. O fracasso da raça corresponde ao translado de animais de uma
determinada raça a um meio diferente do original, onde nenhum dos exemplares consegue superar o esforço
que o clima o novo ambiente impõe (BACCARI Jr., 1986).

Procedem
Mantém ou de clima NATURALIZAÇÃO
semelhante
aumentam a
Crescimento, pro-
capacidade dução de leite e
Positiva produtiva reprodução normais
original Procedem
de clima ABSOLUTA
diferente

Aclimatação
Desenvol-
vem-se median-
te longos perío- DEGENERATIVA
Capacidade
dos de ade-
fisiológica guação Crescimento retar-
Negativa alterada. dado, produção de
Desempenho leite diminuída e
Não supe- fertilidade comprometida
produtivo ram a agres-
diminuído. sividade FRACASSO
ambiental

Figura 3. Importância da aclimatação dos bovinos (Adaptado de Helman, 1977 por BACCARI Jr., 1986).

Animais homeotérmicos como os bovinos, possuem um controle termorregulador para manter a


temperatura interna num nível constante, dentro de certos limites, sob variadas condições ambientes e de
atividade. Se a temperatura corporal sofre uma elevação forçada por quaisquer meios, incluindo a atividade e
alimentação sob altas temperaturas ambientes, a morte ocorre num ponto de temperatura corporal entre 42 e
45oC (hipertermia). Durante os verões quentes podem ocorrer acentuadas quedas na produção leiteira e mortes
de vacas especializadas, devidas ao estresse pelo calor, que poderiam ser atenuadas ou evitadas se práticas de
manejo ambiental adequadas fossem aplicadas.
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3.2. Evolução
Um organismo qualquer é sempre uma conseqüência do ambiente em que vive, um fator de
modificação desse ambiente e, ao mesmo tempo, é também um fator ambiental para todos os demais
organismos da mesma e de outras espécies (SILVA, 2000).
Charles Darwin e outros depois dele expuseram o conceito de que o mundo vivo que hoje observamos
foi modelado paulatinamente, ao longo de bilhões de anos de evolução. Os organismos que hoje existem
evoluíram gradualmente de antepassados. A seleção natural foi o fenômeno responsável por este processo de
modificações contínuas nos seres vivos e a reprodução é o mecanismo fundamental da seleção natural.
Somente os indivíduos mais aptos para viver em um determinado conjunto de fatores ambientais teriam
condições para se reproduzir e deixar descendentes suficientes, de modo a influir nas gerações futuras
(variabilidade genética da população). Se uma população sobrevive e se reproduz, dizemos que ela adaptou-se
ao meio ambiente (SILVA, 2000).
Segundo Dubzhansky (1970) citado por SILVA (2000), a evolução dos organismos é, na realidade,
uma constante adaptação das populações às mudanças geológicas, climáticas e biológicas que ocorrem no
mundo em que vivemos. O caminho natural dessa adaptação é a diversificação genética, pela qual, em uma
mesma população, coexistem genótipos especializados para ocupação de diferentes nichos ecológicos ou para
sobreviverem em diferentes condições ambientais. A diversificação genética permite uma utilização mais
completa das oportunidades ambientais, com relação à que poderia ocorrer se existisse um genótipo único. A
adaptação através da diversidade genética é o processo mais freqüente seguido pela natureza.

3.2.1. Bovinos:
Admiti-se, que os bovinos tenham sido domesticados pelo homem por volta do ano 9000 a.C., no leste
da Europa (BACCARI JR., 2001), conforme mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Domesticação dos animais domésticos.


Anos A.C. Espécie Região
9000 Bovinos Leste da Europa
10900 Ovinos Iraque
9500 Caprinos Irã
9000 Suínos Turquia
5000 Búfalo d’água Paquistão
4800 Cavalo Ucrânia
5000 Dromedário Arábia Saudita
5000 Lhama Peru
3500 Alpaca Peru
10400 Cão Grã-Bretanha e América do Norte

Como a maioria dos animais domésticos, os bovinos criados nos países tropicais foram herdados de
colonizadores Europeus, sendo produtos de milhares de anos de evolução e constante adaptação a fatores
ambientais totalmente diversos daqueles que encontraram em seu novo “habitat”. Encontrando ambientes nos
quais tinham que enfrentar temperaturas elevadas, agentes patogênicos e parasitas, novos e abundantes,
alimentação diferente e freqüentemente inadequada ou insuficiente, os animais importados somente podiam
sobreviver e deixar descendentes quando seus organismos eram capazes de funcionar sob tais condições.
Sendo seletivamente mais desejáveis os indivíduos mais resistentes a certas doenças e parasitas, com tamanho
corporal mais reduzido (para melhor enfrentar o calor e as deficiências nutricionais), esses indivíduos
sobreviveram e deixaram descendentes em maior número e assim, foram progressivamente imprimindo suas
características genéticas na população. Essas modificações morfológicas que ocorreram nestes animais não
constituíram uma degeneração, mas sim, uma evolução, uma adaptação ao ambiente existente (SILVA, 2000).
Segundo SILVA (2000), em meados do século XIX (revolução industrial), com o aumento
urbanização e da demanda por alimentos, passou-se a dar importância à produtividade individual (registros
genealógicos, controles de produção, cruzamentos, introdução de novas raças e variedades). Estas mudanças
não tardaram a se refletir no Brasil e iniciou-se a importação de gado mais produtivo, zootecnicamente
melhorado nos países Europeus. O repetido fracasso nas importações, implicou numa nova ordem de estudos.
A essa nova ciência deu-se o nome de Climatologia Zootécnica (Villares, 1940) ou Bioclimatologia (Findlay,
1950).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 6

Ultimamente tem havido um certo interesse no melhoramento das chamadas raças nativas, mas tais
raças nativas estiveram em quase total abandono nos últimos 50 anos (exceção feita à raça Caracu), de modo
que, são remotas as perspectivas de um aumento significativo a curto e médio prazo na capacidade produtiva
destas. O Zebu ainda se acha muito longe de poder competir em produtividade com as raças européias
melhoradas, não por falta de potencialidade, mas devido ao menor período de melhoramento já aplicado. Na
produção de leite é onde ocorrem os problema mais sérios, pois genótipos para alta produção compatíveis aos
fatores ambientais tropicais ainda não foram identificados e disseminados suficientemente nas variedades
nativas (SILVA, 2000).
Resultados a curto prazo podem ser obtidos pela aplicação dos princípios da Bioclimatologia na
criação dos animais melhorados de origem européia, pela opção por animais que apresentem características
altamente desejáveis ao ambiente tropical, relacionadas com estrutura e coloração do pelame, pigmentação
cutânea e capacidade de sudação (SILVA, 2000).

3.2.2. Ovinos:
A criação de ovinos tem-se restringido inexplicavelmente ao Rio Grande do Sul, embora o clima dessa
região não seja dos melhores para a produção de lã de alta qualidade. A raça Merino, adaptado a climas
tropicais secos, é a que apresenta a melhor lã. A expansão da ovinocultura em outros Estados tem esbarrado
nas dificuldades de seleção de animais, já que pouco se conhece sobre as reações dos animais às condições da
região Centro-Sul do Brasil (SILVA, 2000).

3.2.3. Avicultura:
Problemas graves têm sido identificados na avicultura, que se baseia na importação de genótipos,
quase sempre impróprios para as condições tropicais. Os esforços para o desenvolvimento de linhagens
nacionais de aves têm-se concentrado na ESALQ (Piracicaba), UFV (MG) e na EMBRAPA (SC). Frangos de
corte da linhagem Ross estão sendo selecionados no Brasil pela empresa Agroceres, que através de uma
“joinventure” com a Ross Breeder, trouxe o material genético (Granjas de elite ou “Pedigree”) para o Brasil.

LITERATURA CONSULTADA:
BACCARI Jr., F. Ecologia, bioclimatologia e adaptação dos bovinos. Gado Holandês, n.92, p.18-19, 1980.
BACCARI Jr., F. Importância da aclimatação dos bovinos. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 de julho de
1986. Agrofolha, p.2.
BACCARI Jr., F. Estresse térmico causa queda na produção animal. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 de
agosto de 1988. Agrofolha, p.C-6.
BACCARI Jr., F. Adaptação de sistemas de manejo na produção de leite em clima quente. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE LEITE, I., Piracicaba, 1998. Anais... Piracicaba:
FEALQ, 1998. p.24-67.
BACCARI Jr., F. Manejo ambiental da vaca leiteira em climas quentes. Londrina: UEL, 2001. 142p.
HAFEZ, E.S.E. Adaptation of domestic animals. Philadelphia: LEA & FEBIGER, 1968. 415p.
MÜLLER, P.R. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3.ed. Porto Alegre: SULINA, 1989.
262p.
SILVA, R.G. Bioclimatologia e melhoramento do gado leiteiro. Gado Holandês, n.148, p.5-12, 1988.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) O que é ecologia?
2) Defina ecossistema.
3) Qual a diferença entre climatologia e meteorologia?
4) No seu entendimento do texto proposto, defina a bioclimatologia.
5) Pelo conteúdo do texto proposto, defina qual a diferença entre adaptação e evolução?
6) O que é aclimatação? Cite quais são os tipos de aclimatação possíveis?
7) Comente resumidamente sobre a situação dos bovinos, suínos e aves no nosso País.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 7

Aula 02 – Meteorologia Básica, Fatores Determinantes do Clima e Climas e Classificação Climática.

I. CONCEITOS DE METEOROLOGIA BÁSICA

1. ATMOSFERA TERRESTRE
Dentre todas as camadas que constituem a Terra, a atmosfera é a mais tênue, sendo sua massa
1.000.000 de vezes menor que a massa da parte sólida da Terra. Sua densidade, mesmo ao nível do mar, onde
é mais elevada, é menor que um milésimo da densidade das rochas. A maior parte da massa atmosférica é
constituída de um reduzido número de elementos, embora exista um grande número de constituintes ocupando
relativamente um diminuto volume. Existe, na atmosfera, um grupo de gases com concentrações
aproximadamente constantes (até cerca de 90 km de altitude). São os chamados gases “permanentes” ou “não
variáveis” (Tabela 1). Os demais, que não apresentam concentração fixa, são denominados “variáveis”
(Tabela 2).

Tabela 1. Constituintes “não variáveis” do ar atmosférico.


Constituinte Conteúdo (% por volume)
Nitrogênio – N2 78,084
Oxigênio – O2 20,948
Argônio – Ar 0,934
Neônio – Ne 1,818 x 10-3
Hélio – He 5,240 x 10-4
Metano – CH4 2,000 x 10-4
Criptônio – Kr 1,140 x 10-4
Hidrogênio – H2 0,500 x 10-4
Xenônio – Xe 0,087 x 10-4

Tabela 2. Constituintes “variáveis” do ar atmosférico.


Constituinte Conteúdo (% por volume)
Vapor de Água – H2O 0a7
Dióxido de carbono – CO2 0,033
Ozônio – O3 0 a 0,01
Dióxido de enxofre – SO2 0 a 0,0001
Dióxido de nitrogênio – NO2 0 a 0,000002

A atmosfera terrestre possui uma estrutura vertical extremamente variável quanto a inúmeros
aspectos: composição, temperatura, umidade, pressão, movimentos, etc. Para fins acadêmicos, costuma-se
dividir a atmosfera em várias camadas e cada camada têm características próprias, embora não seja
homogênea (Tabela 3). Para fins meteorológicos, porém, é importante saber o que ocorre na Troposfera, que é
a primeira camada da atmosfera onde ocorre a maioria dos fenômenos meteorológicos.

Tabela 3. Faixas atmosféricas.


Troposfera Camada mais baixa da atmosfera e esta em contato direto com a superfície da Terra.
Espessura de cerca de 18 km nas proximidades do Equador, diminuindo para cerca de 8
km perto dos pólos. É bastante instável e é nela que ocorrem os fenômenos
meteorológicos mais importantes.
Estratosfera Estende-se desde os limites superior da Troposfera (tropopausa) até cerca de 45 km de
altitude, sendo relativamente estável. Apresenta correntes horizontais de ventos fortes,
que tendem a dispersar extensamente as partículas sólidas e gasosas que invadem a
área, mas tais partículas ainda aí permanecem por muito tempo. Há poucas nuvens.
Mesosfera É a camada que se estende entre 45 e 75 km de altitude.
Ionosfera Entre 75 a 400 km de altitude, representa o limite entre a atmosfera e o espaço exterior.
Embora nessa grande altitude a concentração de oxigênio seja muito baixa, é nessa
camada que se forma o ozônio, O3, pela ação da radiação ultravioleta.
Adaptado de SILVA (2000).
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As partículas presentes na atmosfera apresentam raio variando de 10-3 a 102 µm. O termo aerossol é
usualmente reservado para partículas materiais que não sejam água ou gelo. Os aerossóis são importantes na
atmosfera como núcleos de condensação e de cristalização, como absorventes e espalhadores da radiação e
também, como participantes de vários ciclos químicos.

2. FATORES DE ORDEM ASTRONÔMICA


A Terra executa em torno do Sol um movimento de translação, percorrendo uma trajetória chamada
órbita terrestre. Considerando o Sol imóvel no espaço, verifica-se que a órbita terrestre tem a forma de uma
eclipse (Figura 1). A Terra efetua uma translação completa em aproximadamente 365 dias e 6 horas. Neste
movimento, ela ora se afasta ora se aproxima do Sol. O ponto em que a Terra encontra-se mais próxima ao Sol
(1o de Janeiro) denomina-se periélio e o mais afastado (1o de Julho), afélio.

Figura 1. Órbita terrestre e as estações do ano.

O movimento aparente do Sol na esfera celeste é helicoidal, em conseqüência de o eixo terrestre ser
inclinado em relação ao Plano da Eclíptica (plano que contém a trajetória da Terra em torno do Sol).
Atualmente, o ângulo entre o Plano da Eclíptica e o Plano Equatorial Celeste é de, aproximadamente, 23o27’,
como ilustra a Figura 2, e tal situação astronômica é conhecida como OBLIQÜIDADE DA ECLÍPTICA.
A combinação da obliqüidade da eclíptica e a translação da Terra causa a impressão que o Sol se
desloca na direção Norte-Sul ao longo do ano, dando origem às estações do ano, como pode ser facilmente
visualizado nas Figuras 1 e 2. De forma análoga, a rotação da Terra dá a impressão de que o Sol se desloca de
leste para oeste ao longo do dia.

Figura 2. O plano do Equador forma um ângulo de 23o27’ com o da Eclíptica. Observa-se o Círculo Polar
Ártico (a), o Círculo Polar Antártico (d), o Trópico de Câncer (b) e o Trópico de Capricórnio (c).
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As estações do ano se iniciam nos instantes denominados SOLSTÍCIOS e EQUINÓCIOS. Os


solstícios são os instantes em que o Sol se encontra mais afastado do Plano Equatorial Celeste (ou terrestre), e
equinócios, os instantes em que o Sol passa pelo Plano Equatorial. Como ilustrado na Figura 3, os dias de
solstício são 22 de junho e 22 de dezembro, e os dias de equinócio, 21 de março e 23 de setembro, podendo
haver ligeiras variações. No equinócio, o Sol incide perpendicularmente sobre um ponto do equador; no
solstício, o Sol incide perpendicularmente sobre um ponto situado no trópico, e tangencia pontos situados nos
círculos polares Ártico e Antártico. Assim, as culminações do Sol no zênite dos trópicos denominadas
solstícios ocorrem dia 22 de junho e 22 de dezembro, respectivamente, para os trópicos de Câncer e
Capricórnio.

Figura 3. Movimento anual aparente do Sol na direção Norte-Sul, associado à variação de sua declinação,
devida à obliqüidade do eixo terrestre em relação ao plano da Eclíptica.

No solstício de inverno verificamos o dia mais curto e a noite mais longa do ano e no solstício de verão, o dia
mais longo e a noite mais curta do ano. Nos equinócios, o dia e a noite tem duração igual em todo
o planeta.
Para o Hemisfério Sul, o verão se inicia em 22 de dezembro (dia de solstício de verão); o outono no
dia 21 de março (dia de equinócio de outono); o inverno no dia 22 de junho (dia de solstício de inverno); e a
primavera se inicia no dia 23 de setembro (dia de equinócio de primavera). Nota-se que para o Hemisfério
Norte, as estações ocorrem em épocas opostas, ou seja, o verão se inicia no dia 22 de junho (dia de solstício de
verão para o Hemisfério Norte); o outono se inicia no dia 23 de setembro (dia de equinócio de outono para o
Hemisfério Norte), etc (Tabela 4 ).

Tabela 4. Solstícios de verão e inverno e equinócios de primavera e outono nos Hemisférios Norte e Sul.
Data Hemisfério Sul Hemisfério Norte
22 de dezembro Solstício de Verão Dia mais longo Solstício de Dia mais curto
Noite mais curta Inverno Noite mais longa
21 de março Equinócio de Duração do dia e Equinócio de Duração do dia e
Outono noite iguais Primavera noite iguais
22 de junho Solstício de Dia mais curto Solstício de Verão Dia mais longo
inverno Noite mais longa Noite mais curta
23 de setembro Equinócio de Duração do dia e Equinócio de Duração do dia e
Primavera noite iguais Outono noite iguais
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3. RADIAÇÃO SOLAR E A ATMOSFERA

O espectro eletromagnético é o conjunto de radiações eletromagnéticas ordenadas de acordo com as


suas freqüências, seus comprimentos de ondas, ou, ainda, números de ondas. Os limites aproximados entre as
diversas faixas do espectro eletromagnético são indicados na Tabela 5.

Tabela 5. Faixas do espectro eletromagnético.


Radiação Comprimento de Onda (µm)
Raios γ, Raios x <0,001
Radiação ultravioleta 0,001 a 0,39
Luz visível 0,39 a 0,77
Radiação infravermelha 0,77 a 1000
Ondas de radar, televisão e rádio >1000

A região visível do espectro pode ser subdividida, em micrômetros, como segue:

Violeta Azul Verde Amarela Laranja Vermelha

0,39 0,45 0,49 0,58 0,60 0,62 0,77

O infravermelho, por outro lado, é dividido em infravermelho próximo, compreendendo os


comprimewntos de ondas de 0,77 a 25 µm, e em infravermelho longínquo, de 25 a 1000 µm.

Da radiação solar incidente, apenas 31% atinge efetivamente a superfície da Terra (Figura 3), sendo
isso causado pelos seguintes processos:
• Reflexão: cerca de 30% da radiação incidente é refletida pelas camadas de nuvens de volta para o
espaço, e 6% é refletida pela superfície terrestre.
• Absorção: cerca de 15 % da radiação que atinge a Terra por fora das camadas atmosféricas é
absorvida na atmosfera, pelo vapor de água, CO2 e partículas (aerossóis). Aproximadamente 3% é
absorvido na ionosfera, na formação do ozônio.
• Dispersão: dependendo da composição atmosférica, cerca de 15% da radiação solar incidente é
dispersada pelas partículas sólidas e gasosas, contribuindo para a luminosidade celeste.

As parcelas da radiação que atingem a superfície da Terra são constituídas basicamente por ondas
curtas (0,3 a 4,0 µm) (Tabela 6). As ondas longas (4,0 a 100,0 µm) são procedentes da atmosfera e da
superfície terrestre previamente aquecidas. A energia solar que atinge a superfície terrestre no nível do mar
raramente excede 1088 a 1120 W/m2, mesmo nos dias mais claros; em média, acha-se ao redor de 900 a 980
W/m2.

Tabela 6. Distribuição espectral da radiação solar ao nível do mar.


Faixa de radiação Comprimento de onda (µm) Potência (J/cm2) % de irradiância total
Ultravioleta 0,4187 0,063
C 0,200 – 0,280
B 0,280 – 0,315
A 0,315 – 0,380
Visível 3,3496 0,521
Violeta 0,380 – 0,424
Azul 0,424 – 0,492
Verde 0,492 – 0,535
Amarelo 0,535 – 0,586
Laranja 0,586 – 0,647
Vermelho 0,647 – 0,780
Infravermelho 0,780 – 3,000 2,5122 0,416
SILVA (2000).
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A banda UVC (0,20 - 0,28 µm) apresenta um efeito biológico particularmente intenso e perigoso, mas
é quase toda absorvida pela camada de ozônio e não ultrapassa a estratosfera. A banda UVB (0,28 – 0,315
µm) é importante para a síntese de vitamina D, mas apresenta riscos de dano celular quando há exposição
excessiva a ela. Os raios da banda UVA (0,315 – 0,40 µm) são menos penetrantes e estão associados à síntese
de melanina.
Considerando todas as faixas de onda da radiação solar que atingem a superfície terrestre, podem ser
atribuídos os seguintes efeitos biológicos até agira conhecidos: síntese orgânica (fotossíntese, síntese de
vitamina D), transformação da matéria (melanogênese, eritemas, efeitos bactericidas) e efeitos diversos
(fotoperiodismo, fototropismo, fototaxia, movimentos fotonásticos, germinação de sementes, fotomorfose,
estímulos nervosos e glandulares).

4. OUTROS CONCEITOS RELACIONADOS À BIOCLIMATOLOGIA


1. Meridiano: linha imaginária que une os pontos de mesma longitude. Os meridianos são semicírculos
máximos da superfície terrestre ou da esfera celeste, limitados pelos pólos; os semicírculos que os
completam são chamados antimeridianos. O meridiano de origem é aquele que passa pelo observatório
britânico de Greenwich, escolhido convencionalmente como a origem das longitudes sobre a superfície
terrestre, e como base para a contagem dos fusos horários.
2. Paralelo: cada um dos círculos imaginários que secionam o globo terrestre em planos paralelos ao
equador, unindo os pontos de mesma latitude. Cada paralelo une os pontos de mesma latitude, variando de
0o no equador a 90o nos pólos, Norte e Sul; tornam-se menores a medida em que se distanciam do equador
o maior dos paralelos); os paralelos mais importantes, além do equador, são os trópicos e os círculos
polares.
3. Longitude: distância angular entre um ponto qualquer da superfície terrestre e o meridiano inicial ou de
origem. As longitudes são contadas a partir do meridiano de Greenwich, de 0o a 180o para oeste, e de 0o a
180o para leste.
4. Latitude: distância angular entre um ponto qualquer da superfície terrestre e o equador. É contada de 0o a
90o, do equador em direção aos pólos, norte e sul.
5. Altitude: elevação vertical de um ponto acima do nível médio do mar.
6. Clima: conjunto de fenômenos meteorológicos (temperatura, pressão atmosférica, ventos, precipitações)
que caracterizam, durante um longo período, o estado médio da atmosfera e sua evolução num
determinado lugar.
7. Tempo: estado da atmosfera num determinado momento e lugar, no que diz respeito à temperatura,
umidade, pressão atmosférica, presença de nuvens, ocorrência de ventos. Os diferentes tipos de tempo
definem-se como o conjunto de condições atmosféricas momentaneamente estáveis, que voltam a ocorrer
a intervalos relativamente frequentes ou mesmo regulares.
8. Temperatura do ar: quantidade de calor existente no ar atmosférico. Os raios solares atravessam a
atmosfera e aquecem diretamente as superfícies continentais e oceânicas. O calor irradiado por essas
superfícies é que vai aquecer, indiretamente, o ar atmosférico. A temperatura do ar é percebida
subjetivamente por sensações de calor ou de frio e a medição exata é feita através da utilização de um
termômetro.
9. Calor: energia que se transfere de um sistema para outro, sem transporte de massa, e que não corresponde
à execução de um trabalho mecânico.
10. Calor sensível: o fornecimento de calor provoca geralmente uma variação da temperatura do sistema que
o recebe.
11. Calor latente: calor que deve ser absorvido por uma substância pura para que mude de estado.
12. Umidade do ar: teor de vapor de água existente na atmosfera. Umidade absoluta é a relação entre a massa
de vapor de água contida, num dado momento, em um certo volume de ar, e esse volume de ar
considerado. A umidade absoluta é medida em número de gramas de vapor de água por metro cúbico de
ar. A umidade relativa é a relação, expressa em porcentagem, entre a quantidade de vapor de água
presente em um certo volume de ar, em um dado momento, e a quantidade máxima (limite de saturação)
de vapor de água que esse volume de ar pode conter, à temperatura do momento.
13. Precipitação: quantidade de água, neve, granizo, que se precipita da atmosfera sobre o solo, em
determinado período.
14. Pressão atmosférica: efeito do peso da atmosfera sobre os corpos. A pressão atmosférica média, tomada
ao nível do mar e a 0oC é de 760 mm de uma coluna de mercúrio, ou 1013 milibares, valor aproximado ao
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 12

exercido por um corpo de 1 kg de massa sobre uma superfície de 1 cm2 de área. A pressão varia conforme
o estado da atmosfera e decresce com a altitude (800 milibares a 2000 m e 620 a 4000 m).
15. Orvalho: tipo de precipitação atmosférica em que o vapor de água se condensa e se deposita durante a
noite e pela manhã, sob a forma de gotículas muito finas, sobre a vegetação e certos corpos expostos ao ar
livre.
16. Transmissão de calor: coeficiente que caracteriza a transmissão de calor entre um sólido (ou um fluído)
a uma certa temperatura a um sólido (ou um fluído) a uma outra temperatura.
17. Termosfera: zona da atmosfera de um planeta situada acima da mesosfera e caracterizada por um forte
aumento da temperatura com a altitude. A termosfera terrestre está situada entre 85 e 600 km de altitude.
18. Estresse: conjunto de respostas metabólicas, fisiológicas e comportamentais aos agentes estressores de
qualquer natureza (emoção, frio, calor, doença, intervenção cirúrgica, choque traumático, etc) que
agridem um organismo na sua totalidade, podendo ameaçar a sua existência.
19. Ambiência: aquilo que envolve, que cerca; conjunto formado pelo meio (ar) e pelo recinto (paredes,
corpos radiantes, etc.).
20. Equinócio: época do ano em que o Sol, em seu movimento próprio aparente na eclíptica, corta o equador
celeste, e que corresponde à igualdade de duração dos dias e das noites.Há dois equinócios por ano: em 21
de março e em 23 de setembro.
21. Solstício: época do ano em que o Sol, no seu movimento aparente sobre a eclíptica, atinge a maior
declinação boreau ou austral e que corresponde à duração máxima ou mínima do dia. A passagem do Sol
nestes pontos, dia 21 ou 22 de junho e dia 21 ou 22 de dezembro, marca respectivamente o início do
inverno e do verão no hemisfério Sul. A situação é inversa no hemisfério Norte.
22. Albedo: Fração, expressa em centésimos, da energia de radiação incidente refletida ou difundida por um
corpo, superfície ou meio. O aparelho utilizado para medir o albedo é o albedômetro. Um corpo negro e
fosco possui um albedo de 0. A neve, fresca e limpa, possui um albedo próximo de 0,90, considerando os
comprimentos de onda da luz visível.
23. Insolação: ação dos raios solares sobre um objeto. Número de horas durante as quais o sol brilhou num
dia, num mês ou num ano determinado.
24. Isoterma: numa carta meteorológica, á a linha que une os pontos de temperatura média idêntica para
determinado período.
25. Isoieta: numa carta meteorológica, é a linha que une os pontos de uma região onde as precipitações
médias são as mesmas para um período considerado.
26. Isóbara: isobárica. Curva que une os pontos da Terra onde a pressão atmosférica, tomada ao nível do
mar, é a mesma num determinado instante.
27. Climograma: gráfico que representa, sobre um mesmo sistema de coordenadas, a variação anual das
temperaturas e a média das chuvas de uma estação do ano.
28. Zênite: ponto em que a vertical de um lugar encontra a esfera celeste.
29. Monções: sistema de ventos sazonais alternados, que sopram em latitudes tropicais (principalmente na
Ásia meridional), do mar para o continente no verão (monção de verão) e do continente para o mar no
inverno (monção de inverno). A monção, fenômeno da baixa e da média troposfera, está ligada a fatores
geográficos (interpenetração de massas oceânicas e continentais) e térmicos: o aumento da temperatura no
verão acarreta a formação de baixas pressões sobre o continente, atraindo o ar oceânico úmido; a
diminuição da temperatura no inverno, mais rápido sobre o continente, traz uma elevação da pressão
atmosférica e formação de ventos que se dirigem para o oceano. Os fluxos alternados atravessam o
equador.
30. Nó: unidade de velocidade, utilizada em navegação marítima ou aérea, equivalente à velocidade uniforme
que corresponde a 1 milha marítima por hora, ou seja, 0,5144 metros por segundo.
31. Brisa: vento periódico que sopra nas regiões litorâneas, alternadamente em direção ao continente ( brisa
marinha, diurna) ou em direção ao mar (brisa terrestre, noturna); e nos vales de montanha, durante o dia
em direção aos cumes, e à noite em direção ao vale, em tempo calmo. É provocada pela diferença de
aquecimento entre a terra e o mar ou entre as vertentes de jusante e de montante.
32. Fuso horário: cada uma das 24 partes em que é dividida a superfície da Terra onde todos os pontos têm,
em princípio, a mesma hora legal, e que corresponde ao fuso geométrico limitado por meridianos que
distam entre si 15o. A hora legal corresponde àquela do meridiano central de cada fuso.
33. Climatização: conjunto de operações que criam e mantêm, em determinado local, condições controladas
de temperatura, umidade relativa, velocidade e pureza do ar.
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II. FATORES DETERMINANTES DO CLIMA

1. DEFINIÇÕES:

Tempo: é o estado atual da atmosfera num determinado local e instante, sendo caracterizado pelas condições
de temperatura, pressão, concentração de vapor, velocidade e direção do vento, precipitação.

Clima: são muitas as definições de clima e aqui descrevemos apenas três das mais utilizadas.

HANN – é o conjunto dos fenômenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera em
dado local.

THORNTHWAITE – é a interação de fatores meteorológicos que conferem a uma região seu caráter e
sua individualidade.

KÖEPPEN – é o somatório das condições atmosféricas que fazem um lugar da superfície terrestre ser ou
não habitável para homens, animais e plantas.

Elementos Climáticos/Meteorológicos: são as grandezas (variáveis) que caracterizam o estado da atmosfera,


ou seja, temperatura, umidade, pressão, velocidade e direção do vento, precipitação.

Fatores Climáticos/Meteorológicos: são agentes causais que condicionam os elementos climáticos. Por
exemplo, fatores geográficos como latitude, altitude, radiação solar, continentalidade / oceanalidade.

2. ELEMENTOS E FATORES CLIMÁTICOS

1. TEMPERATURA DO AR
O calor da atmosfera provém do Sol.
Temperatura é a quantidade de calor existente no ar, que provém do calor emitido pelo Sol. A
superfície da Terra conserva o calor recebido do sol e irradia-o para a atmosfera, ocasionando o aquecimento
das camadas de ar. Essa irradiação do calor solar explica por que a superfície da Terra permanece aquecida à
noite e o fato do horário mais frio do dia ser de madrugada (momentos antes de nascer o Sol). As variações
temporais e espaciais da temperatura do ar são condicionadas pelo balanço de energia na superfície. Assim,
todos os fatores que afetam o balanço de energia influenciam também a temperatura do ar.

A temperatura do ar sofre influência de muitos fatores.


1. HORÁRIO DO DIA: a temperatura varia do dia para noite (T máxima por volta das 1500 às 1700h e T
mínima momentos antes de nascer o Sol).
2. ESTAÇÃO DO ANO: o Inverno é a estação mais fria e o Verão a mais quente.
3. ALTITUDE: quanto maior a altitude, menor a temperatura do ar, pois as camadas de ar estão mais
distantes da superfície da Terra que irradia calor e o ar mais rarefeito absorve menor quantidade de calor.
Na troposfera, via de regra, se observa uma diminuição de 1oC a cada 180 ou 200 m de altitude. Nas
primeiras camadas da estratosfera, reinam temperaturas muito baixas (50 a 60oC abaixo de zero).
4. LATITUDE: a medida que as latitudes vão se tornando maiores, as temperaturas se tornam mais baixas
(Tabela 7). Isto pode ser explicado por dois fatores: a) diferenças na inclinações dos raios solares devido a
redondeza da Terra, e b) diferenças na espessura das camadas da atmosfera. Sobre o Equador, os raios
solares incidem perpendicularmente e a medida que nos afastamos em direção aos pólos, aumenta a
inclinação dos raios solares e a espessura das camadas da atmosfera, que os raios solares tem que
atravessar (↑ massa atmosférica em PA ⇒ ↓ a quantidade de calor em PG).
5. NEBULOSIDADE: as nuvens impedem que as massas aquecidas se dispersem nas altas camadas. Por isso,
as noites sem nuvens são sempre mais frias. Durante o dia, as nuvens impedem que a irradiação solar atinja
a superfície da Terra, provocando uma diminuição da temperatura do ar.
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Tabela 7. Variação da temperatura nas diferentes latitudes.


LATITUDE Temperatura média
(em graus) Hemisfério Norte Hemisfério Sul
0 25,9 25,9
15 26,3 24,2
30 20,3 18,5
45 9,6 8,9
60 -0,8 0,2
75 -13,3 -6,8

6. DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS E DAS ÁGUAS: as diferenças na distribuição das terras e águas nos
hemisférios exercem grande influência na caracterização dos climas, uma vez que se comportam de
maneira diferente em relação a absorção e perda de calor. As águas demoram mais para aquecer e esfriar
que as terras, e estas diferenças podem ser explicadas em função de:
a) o calor específico da terra corresponde a 6/10 da água; (calor específico é a quantidade de calor (calorias)
necessária para elevar em 1oC a temperatura de 1 grama do material). (CE da água = 1cal/g/oC)
b) águas sofrem evaporação, que abaixa a temperatura.
c) calor penetra até 20 m na terra e até 100 a 200 m na água.

Assim, o Equador térmico não coincide com o Equador terrestre. Passa a 10 e 15 o de latitude Norte,
devido a diferenças na distribuição das terras e águas nos hemisférios da Terra.

7. Outros fatores que podem modificar a temperatura do ar:


• VEGETAÇÃO (diminuem a temperatura, pois impedem a irradiação solar e concentra umidade);
• CORRENTES MARÍTIMAS (quentes ou frias);
• VENTOS e CHUVAS
• CIDADES (temperaturas mais elevadas).

Medida da temperatura do ar:


Obtida através de termômetros, que podem diferir quanto ao seu elemento sensível (mercúrio, álcool,
hidro carbureto) e quanto à escala (Centígrado ou Fahrenheit). Existem, ainda, termômetros registradores,
termômetros de máxima e de mínima, termômetros de bulbo úmido, etc.
Em geral, se usa a graduação centígrada ou escala Celsius, apresentada pelo astrônomo sueco Anders
Celsius (1742), que vai de 0o (temperatura do gelo fundente) até 100o (temperatura da água em ebulição). Nos
países anglo-saxônicos, prefere-se a graduação em Fahrenheit, proposta pelo físico alemão Gabriel Daniel
Fahrenheit, na qual 32o F eqüivalem a 0o C e 212o F correspondem a 100o C. A conversão entre as graduações
pode ser feita pela fórmula:
5
C = * (F - 32) , onde C é a temperatura em o C e F a temperatura em o F.
9
As leituras de temperatura do ar nos termômetros podem ser obtidas na forma de medidas e registros,
temperatura máxima e mínima. De posse das leituras podemos calcular as temperaturas médias diárias,
mensal, do inverno ou verão, anual, etc. A comparação entre a temperatura média do dia ou mês mais quente
com a do dia ou mês mais frio, é chamada de amplitude térmica mensal ou anual, respectivamente.
Erros de leitura na temperatura do ar podem ser causados por defeitos nos termômetros, ventos e
irradiação do calor solar sobre o aparelho. Para leituras corretas, o termômetro deve estar sempre abrigado e a
uma altura entre 1,5 a 2 m.
Para se determinar a temperatura de uma região são necessárias um número muito grande de
observações, por muitos anos (500 anos, segundo HANN). Pode-se traçar as isotermas ou linhas isotérmicas,
que são linhas imaginárias unindo os pontos da superfície terrestre que apresentam as mesmas temperaturas
(HUMBOLDT).

Temperaturas máximas observadas:


• No Saara, 50o C à sombra não é raro; já foi registrado 57o C;
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• Vale da Morte (54o C), Egito, Eritréia, Mesopotânea, Arábia, noroeste da Índia, Austrália Central, são
regiões muito quentes.

Temperaturas mínimas observadas:


• Na Sibéria a temperatura chega a 50o C abaixo de zero; já foi registrado - 69,8o C;
• noroeste do Canadá, Groenlândia, Antártida, são regiões de frio intenso.

Zonas térmicas da Terra segundo KÖPPEN, em função da duração da temperatura durante o ano.
1. Zona tropical: pequena variação de temperatura, calor durante o ano, não menos de 20o C;
2. Zona subtropical: temperatura acima de 20o C (1 a 8 meses), diferença entre a Tmáx e Tmín varia de 7 a
18o C, de acordo com a altitude e latitude.
3. Zona temperada: temperatura inferior a 20o C por no mínimo 8 meses do ano; estações bem definidas.
4. Zona fria: apenas 4 meses com temperatura acima de 10o C; sem verão.
5. Zona polar: temperatura abaixo de 10o C, o ano todo.

Para se estudar convenientemente a variação anual da temperatura, não bastam as médias anuais,
torna-se preciso comparar as 12 cartas mensais.
Para se ter melhor compreensão das variações da temperatura, torna-se necessário enfatizar os
movimentos da Terra em relação ao Sol: o de rotação, em torno do seu próprio eixo, com inclinação de
23o27’, originando o dia e a noite, e o de translação, ao redor do Sol, com seu eixo praticamente paralelo a si
mesmo, propiciando um aquecimento desigual dos Hemisférios ao longo do ano e, conseqüentemente,
estações do Hemisfério Norte diferentes das do Sul (BAÊTA, 1998).
Em conseqüência da inclinação de 23o27’ do eixo de rotação da Terra, o observador vê o Sol nascer
no Leste e se pôr no Oeste exatamente nos dias 23 de setembro e 21 de março. O plano dessa trajetória se
desloca paralelamente para o Norte até dia 22 de junho e, em seguida, retorna para o Sul, até o dia 22 de
dezembro. Dessa forma, no Brasil, uma parede disposta no sentido Leste-Oeste terá a face voltada para o
Norte sempre mais ensolarada que a do Sul, com a máxima condição em 22 de junho e mínima em 22 de
dezembro (BAÊTA, 1998).

2. PRESSÃO ATMOSFÉRICA E VENTOS

A pressão atmosférica e sua medida:


A pressão atmosférica equivale ao peso de uma coluna de mercúrio com 760 mm de altura e 1 cm2 de
base. Isto significa que o ar atmosférico exerce uma pressão média de 1033 g/cm2 e um indivíduo tem sobre si
um peso de cerca de 15 toneladas. A medida da pressão atmosférica é feita através de barômetros de dois tipo:
barômetros de mercúrio (mais exatos) e aneróides (fácil transporte, menos precisos).

Variações da pressão atmosférica e suas causas:


1. HORA DO DIA: em função da temperatura;
2. ESTAÇÃO DO ANO: em função da temperatura;
3. ALTITUDE: em função da densidade das camadas de ar. Com o aumento da altitude ocorre uma
diminuição na densidade das camadas de ar. Até uns 300 m de altitude, a cada 10 a 11 m de elevação,
diminui 1 mm de pressão atm. A partir daí, a proporção é variável (Tabela 8). De acordo com a chamada
Lei de LAPLACE, enquanto a altitude aumenta em PA, a pressão atmosférica diminui em PG;

Tabela 8. Influência da altitude na pressão atmosférica.


ALTURA (metros) PRESSÃO (milímetros)
0 760
1000 674
5000 405
10000 198
11000 170
20000 41
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• TEMPERATURA: é a principal causa de variação na pressão atmosférica. Sua influência se faz sentir,
num mesmo lugar, conforme a as horas do dia, as estações do ano ou a latitude (aumenta a pressão nas
latitudes médias e nas regiões polares e a diminui no equador), conforme mostrado na Tabela 9. Tais fatos
explicam-se naturalmente, porque, com o aumento da temperatura, ocorre dilatação do ar atmosférico e, em
conseqüência, uma diminuição do seu peso e da pressão que exerce (↓ pressão atmosférica), e vice-versa.

Tabela 9. Influência da temperatura em função da latitude.


LATITUDE (em graus) PRESSÃO (milímetros)
0 758
20 759
40 762
50 761
60 756
80 761

Chama-se de isóbara ou linha isobárica, a linha imaginária que une todos os pontos de igual pressão
atmosférica, considerados como se estivessem ao nível do mar.
A maior pressão registrada foi na Sibéria (780 mmHg) e a mais baixa em Madagascár (628 mmHg).

O mecanismo dos ventos:


As diferenças de temperatura do ar atmosférico e a conseqüente formação de diferentes zonas de
pressão atmosférica, ocasionam a movimentação das massas de ar de uma região de maior pressão para outra
de menor pressão; assim formam-se os ventos. A intensidade e direção dos ventos são determinados pela
variação espacial e temporal do balanço de energia na superfície terrestre, que causa variações no campo de
pressão atmosférica, gerando os ventos de grande circulação e os movimento ciclônicos e anticiclônicos.
Assim, a troposfera está em constante troca de massas de ar. Nas zonas frias (altas pressões) formam-
se os chamados: anticiclones ou áreas anticiclonais, centros dispersores de vento, nos quais o ar se apresenta
calmo e seco. Nas zonas quentes (baixa pressão), formam-se os chamados ciclones ou áreas ciclonais, nas
quais o ar está sempre em movimento, pois para ali convergem os ventos.
A velocidade do vento é afetada, também, pela rugosidade da superfície e pela distância vertical em
que ela é medida. Quanto mais próximo da superfície, maior o efeito de atrito com o terreno, desacelerando o
movimento e diminuindo a velocidade do deslocamento do ar. A direção dos ventos é afetada pela rotação da
Terra e pela diferença de temperatura e/ou pressão entre corpos de diferentes características e relevo.

A velocidade do vento, medida através de aparelhos denominados anemômetros, é muito variável e


depende diretamente das diferenças de pressão entre as áreas ciclonais e anticiclonais. Pode ser classificada
em:
• calma atmosférica = menos de 1 m/s;
• vento fraco = 1 a 4 m/s;
• vento moderado = 4 a 8 m/s;
• vento forte = 8 a 16 m/s;
• vento violento = 16 a 25 m/s;
• furacão = mais de 25 m/s.

Tipos de ventos, que apresentam um regime especial:

a) Ventos regulares ou constantes: ocorrem na região intertropical e sopram de forma regular e constante
(alísios e contra-alísios).

a1) Alísios: sopram das regiões temperadas para o Equador, pelas camadas inferiores da atmosfera (até 2000
m), numa velocidade de 5 a 8 m/s (fraco a moderado). Não são muito regulares em sua força e direção devido
a formação de ciclones nas regiões tropicais.

a2) Contra-alísios: sopram do Equador para as regiões temperadas, pelas camadas mais altas da atmosfera.
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b) Ventos periódicos:
São ventos que sopram em períodos certos, ora numa direção, ora noutra. Seu mecanismo é explicado
em função da diferença na forma como se aquecem e se esfriam as terras e as águas.

b1) BRISAS: têm um âmbito quase universal e aparecem nas regiões banhadas pelo mar. Durante o dia,
sopram do mar para a terra (brisa marítima, das 10 h até o entardecer), pois a terras se aquece mais depressa
que o mar. Durante a noite, sopram do continente para o mar (terral ou brisa terrestre), pois a terra se esfria
mais depressa do que o mar.
Ventos análogos ocorrem em regiões montanhosas. Durante o dia sopra uma brisa de baixo para cima
( o fundo do vale se acha mais frio que o cume). Durante a noite, a brisa se dirige de cima para baixo (o cume
se esfria mais rápido que o fundo do vale).

b2) MONÇÕES: têm um âmbito mais restrito. Resultam das diferenças entre as estações do ano.
• Verão: o continente aquece-se mais depressa que o oceano (monções marítimas ou de verão). Sopram do
mar para o continente.
• Inverno: continente mais frio que o oceano (monções continentais ou de inverno). Sopram da terra para o
mar.
As monções ocorrem nas regiões banhadas pelo Oceano Índico e Extremo Oriente. Têm muita
importância no clima destas regiões:
• monções marítimas ou de verão trazem chuvas torrenciais, muitas vezes catastróficas.
• monções continentais ou de inverno ocasionam longos períodos de seca.
• quando ocorrem as mudanças de estações, mudam as direção dos ventos, e registram-se grandes
perturbações atmosféricas com a formação de ciclones e tufões.

b3) VENTOS ETÉSIOS OU ANUAIS: não passam de uma variedade das monções e possuem idêntico
mecanismo. Ocorrem na bacia do Mediterrâneo, costa da Guiné, Texas e Austrália.

c) Ventos variáveis e locais:

c1) Variáveis:
Ocorrem em regiões onde não existem os alísios e monções, especialmente em latitudes acima de 30o.
Sua direção sofre constantes alterações, pois os centros de alta e baixa pressão se deslocam com facilidade.
Na Europa ocidental:
• VENTOS DO OESTE: procedem de NO no verão e do SO no inverno.

c2) Locais: resultantes da formação de áreas ciclonais e anticiclonais , de caráter local, em função de
condições geográficas particulares de uma região.

Na América:
• PAMPEIRO: vento frio que sopra das regiões meridionais da Argentina e alcança o RS (Minuano).
• CHINOOK: sopra das Montanhas Rochosas. Sendo frio no seu movimento ascendente e tépido no seu
movimento descendente.

Na África:
• SIMUM: vento quente que levanta cortinas de areia no Saara, prolonga-se pelo Mar Mediterrâneo, e
alcança a Espanha (Solano) e as costas da Itália e Grécia (Siroco).
• CANSIM: no Egito (quente).
• HARMATÃ: no Senegal e na costa da Guiné (quente).

Na Europa:
• MISTRAL: Sul da França. Sopra do Maciço Central para o baixo Ródamo (frio).
• BORA: sopra dos planaltos da Bósnia para o Mar Adriático (frio).
• CRIVETZ: nos Bálcãs, especialmente na Romênia (frio).
• FOEHN: :na cadeia dos Alpes, sobretudo na Suíça e no Tirol (frio).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 18

3. A UMIDADE ATMOSFÉRICA E AS CHUVAS

A evaporação é responsável pela presença vapor de água no ar atmosférico, e depende , sobretudo, de


três fatores:
1. Da extensão das superfícies líquidas;
2. Da força dos raios solares;
3. Da ação dos ventos.

Umidade absoluta ou relativa:


Chama-se umidade absoluta, peso do vapor de água contido em uma quantidade de ar. Em 1 m3 de
ar, a umidade pode variar de uma quantidade mínima até 25 gramas, aproximadamente, dependendo da
temperatura.
Denomina-se umidade relativa do ar, a relação existente entre a quantidade de vapor de água
realmente contida no ar e a quantidade máxima que ele pode suportar em uma dada temperatura. Sabendo que
em 1 m3 de ar pode conter, à temperatura de 12oC, um máximo de 10 gramas de vapor de água, e verificando-
se que o ar de um determinado lugar só contém 5 gramas de vapor, dizemos que a umidade relativa é igual a
50%, e assim por diante.
Ar atmosférico está saturado quando contém o máximo de vapor de água que pode suportar em uma
determinada temperatura, ou seja, quando sua UR é igual a 100%. O grau de saturação depende da
temperatura; quanto mais elevada a temperatura, maior quantidade de vapor de água o ar atmosférico poderá
conter (Tabela 10).

Tabela 10. Quantidades de vapor d’água necessárias para que 1 m3 de ar fique saturado, em diferentes
temperaturas.
TEMPERATURA (o C) VAPOR DE ÁGUA (gramas)
-1 2,26
0 4,84
10 9,33
20 17,12
30 30,04

A umidade absoluta varia com o decorrer do dia, das estações do ano e nas diversas regiões do
planeta. É mínima ao amanhecer e máxima à tarde. Na zona equatorial pode ultrapassar 20 mm, ao passo que,
nas regiões polares, chega a ser inferior a 1 mm.
Com a umidade relativa ocorre justamente o oposto, pois é máxima ao amanhecer e mínima à tarde e é
maior no inverno e nas zonas frias, em conseqüência do papel que representa a temperatura.

A nebulosidade atmosférica:
Quando o ar atmosférico saturado de vapor de água, sofre uma diminuição de temperatura, ocorre a
condensação desse vapor, formando pequenas gotas de água que ficam em suspensão na atmosfera (nevoeiro e
nuvens). São várias as causas deste fenômeno:
1. mistura de duas massas de ar de temperatura diferentes;
2. passagem de uma porção de ar quente sobre uma superfície fria;
3. passagem de um vento frio sobre uma superfície líquida mais quente;
4. dilatação do ar e conseqüente formação de correntes ascendentes.

O nevoeiro é a nebulosidade que se forma nas camadas inferiores da atmosfera, ao contato da


superfície terrestre. As nuvens formam-se nas camadas mais elevadas e podem apresentar-se sob diferentes
aspectos: cirros (8.000 a 11.000 m), cúmulos (2.000 a 6.000 m), estratos (500 a 1.000 m) e nimbos (baixas e
escuras).

As precipitações atmosféricas:

Que ocorrem na superfície terrestre:


Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 19

• ORVALHO: forma-se nas noites claras e serenas, quando a superfície da terra fica mais fria que o ar, o
vapor de água do ar se precipita sob a forma de gotículas que encobrem os objetos e a vegetação.
• GEADA: o orvalho congela, quando a temperatura da superfície desce a menos de 0o C, formando um fino
lençol de gelo sobre a vegetação.

Que ocorrem nas altas regiões da troposfera: são resultantes do encontro de uma camada de ar frio com uma
nuvem saturada de vapor de água:
• NEVE: precipitação do vapor de água em pequenos cristais hexagonais (flocos de neve), que caem sobre a
superfície terrestre, desde que não encontrem em seu trajeto camadas de ar quentes.
• GRANIZO: resulta da precipitação do vapor de água contido nas nuvens. Caem em pequenas gotas, que se
congelam em contato com uma camada fria da atmosfera, chegando à superfície como pedras de gelo
(típicos das tempestades de verão).
• CHUVAS: são as mais importantes das precipitações atmosféricas. Ocorrem quando nuvens saturadas de
vapor de água, entram em contato com uma camada de ar frio, e precipitam-se sob a forma de gotas de
água.

A chuva pode de ocorrer de duas maneiras, principalmente:

1) Ascensão vertical das massas de ar quente, as quais tornando-se mais frias em função da altitude, fazendo
com que o vapor de água se condense sob a forma de nuvens e, em seguida, chuva;
• chuvas de convecção: se originam do movimento ascendente diurno de massas de ar (regiões equatoriais e
montanhas);
• chuvas ciclonais: típicas de áreas ciclonais ou de baixa pressão (massas de ar em constante ascensão).

2) Deslocamento horizontal das nuvens, conduzidas pelo vento para zonas de temperatura mais baixa, o que
ocasiona a formação de chuva.
• chuvas de relevo: aparecem nas encostas montanhosas, em virtude do contato das nuvens com o ar mais
frio das zonas de maior altitude.
• chuvas litorâneas: oriundas das diferenças de temperatura entre o mar e as terras.

Fatores que influenciam o mecanismo das chuvas:


• temperatura: representa papel fundamental nos processos de evaporação e condensação;
• vento: ocasiona o deslocamento das nuvens e favorece a evaporação no mar e continentes;
• florestas: sua presença promove uma diminuição da temperatura local.

A medida da quantidade de chuva (mm) é dada por um aparelho denominado de pluviômetro. Isoieta é
a linha imaginária que une os pontos que apresentam a mesma quantidade de chuva.

As regiões que recebem maior quantidade de chuvas (+ de 2000 mm/ano) são:


• Regiões intertropicais (chuvas de convecção, chuvas ciclonais e chuvas de relevo): Amazônia e Guianas,
costa da Guiné, bacia do Congo, planície do Ganges, península de Malaca e ilhas Sonda;
• Regiões restritas: costas ocidentais dos continentes (Alasca, Colúmbia Britânica, Sul do Chile, Irlanda
Ocidental, Noruega, litoral da Iugoslávia).

Entre as regiões que recebem menores quantidades chuvas (- de 250mm/ano), podemos citar:
• Zonas circumpolares (Norte do Canadá e da Sibéria);
• Áreas atravessadas pelos trópicos (Saara, Arábia, Calaari, Austrália Central);
• Planaltos circundados por altas montanhas (centro-oeste da América do Norte, Ásia Central, planaltos da
Bolívia e Argentina).

Regimes pluviométricos:
Não basta, porém, conhecer o total de chuvas caídas no espaço de um ano. Devemos conhecer a
maneira como se distribuem as chuvas nos 12 meses do ano. Isto é chamado regime pluviométrico.
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Nas regiões intertropicais, é possível reconhecer três regimes pluviométricos distintos:


1. regime equatorial: sem estação seca, com duas máximas correspondentes aos equinócios;
2. regime subequatorial: com duas estações chuvosas (primavera e outono) e duas secas (verão e inverno);
3. regime tropical: com uma estação chuvosa (verão) e uma seca (inverno).

Nas regiões subtropicais, o regime pluviométrico dominante é o:


• regime desértico: estação seca predomina na maior parte do ano (- de 250 mm/ano), quando não
totalmente. Uma verdadeira faixa de desertos acompanha os 2 trópicos.

Nas regiões temperadas, ocorrem grandes variações que podem ser sintetizadas em dois grandes regimes
pluviométricos:
1. regime mediterrâneo: chuvas de Inverno e seca no Verão. Característico da bacia do Mediterrâneo e outras
regiões (Califórnia, Chile, Cabo, Austrália Meridional);
2. regime das altas latitudes: chuvas bem distribuídas no decorrer do ano, sem uma verdadeira estação seca, e
com diferenças que se explicam pela posição geográfica, regime dos ventos, proximidade ou não do
oceano, natureza do relevo.

CLASSIFICAÇÃO DOS CLIMAS NO BRASIL

O clima, conjunto de fenômenos meteorológicos que define a atmosfera de determinado lugar, pode
ser de diversos tipos, como tropical úmido, tropical seco, subtropical, temperado e outros, que indica as
características mais notáveis da região, apresentando infinitas variações, os chamados microclimas (BAÊTA,
1998).

1. Noção de clima, tempo e tipo de tempo.


• tempo: é uma combinação passageira dos elementos;
• tipo de tempo: é uma combinação mais durável dos elementos.

Quando as combinações num determinado ponto da superfície terrestre são mais duráveis e se
sucedem de ano para ano, elas chegam a constituir o tipo de tempo desse ponto, e portanto, o clima.

2. Classificação climática de Arthur Strahler e de Wladimir Köppen adaptadas ao Brasil.


O Brasil é um dos maiores países do Globo, com uma área de aproximadamente 8.512.000 km2. Suas
terras estendem-se do Hemisfério Norte (≅ 5oN) ao hemisfério Sul (≅ 35oS). Alem de sua dimensão
continental, o Brasil é um país de grandes contrastes: solos, vegetação, topografia e climas, por exemplo.
Climaticamente, possui desde os climas equatoriais úmidos aos semi-áridos; dos temperados, com quatro
estações bem definidas, aos tropicais, com apenas estações seca e chuvosa bem diferenciadas; dos climas
continentais aos marítimos; dos montanhosos suaves, às depressões contrastantes.

REGIÃO NORTE
Localizada na faixa equatorial, esta região caracteriza-se por altas temperaturas e elevados índices
pluviais. Os principais mecanismos que explicam o regime pluvial na região resultam da combinação ou da
atuação predominante da Zona de Convergência Intertropical, das brisas marítimas, da penetração de
sistemas frontais oriundos do sul do continente, e da fonte de vapor representada pela Floresta Amazônica
e pela atuação da Cordilheira dos Andes. As precipitações são predominantemente convectivas.

REGIÃO NORDESTE
Temperaturas elevadas durante o ano todo, com amplitudes térmicas máximas em torno de 6oC. Mas a
relativa homogeneidade térmica contrasta-se com a grande variabilidade espacial e temporal das chuvas. No
litoral, a precipitação anual supera 1.600 mm, enquanto no interior não ultrapassa 400 mm em certas áreas. O
Nordeste é considerado uma região anômala: anos chuvosos, com inundações calamitosas podem seguir-se de
estiagens catastróficas.
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REGIÃO CENTRO-OESTE
Condições bastante contrastantes entre verão e inverno. O verão é essencialmente quente e chuvoso,
enquanto o inverno é menos quente e seco.

REGIÃO SUDESTE
Região que possui os maiores contrastes climáticos, em razão da diversidade de fatores que atuam:
maritimidade/continentalidade, montanhas elevadas (≅ 2700 m), depressões intermontanhosas (≅ 300 m) e
baixadas litorâneas; áreas semi-áridas (norte de MG) e regiões montanhosas, com elevadas precipitações ao
longo de todo o ano. Pouca chuva e geadas freqüentes no inverno. Temperaturas elevadas e chuvas abundantes
no verão.

REGIÃO SUL
Climaticamente mais regular; as chuvas são bem distribuídas o ano inteiro e as quatro estações do ano
são nítidas. O calor do verão contrasta-se com as geadas do inverno, passando pelas temperaturas mais amenas
do outono e primavera. Única região brasileira onde neva, ocasionalmente.

2.1. Classificação de Strahler:


Baseia-se nas áreas da superfície terrestre, controladas ou dominadas pelas massas de ar (deriva do
estudo das massas de ar). Esta classificação pertence a uma escola da climatologia chamada dinâmica, ou seja,
estuda a mecânica geral da atmosfera através das massas de ar (Figura 4 e Tabela 11).

Figura 4. Classificação climática segundo o controle de massa de ar.


Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 22

Tabela 11. Classificação de Strahler

Clima Características

Abrange a Amazônia, e se caracteriza por um clima equatorial continental,


quase todo o ano. Em algumas porções litorâneas da Amazônia, há alguma
influência da massa equatorial atlântica, que algumas vezes (no inverno)
conduz a frente fria, atingindo o sul e o sudeste da região. Embora as massas
de ar sejam em geral secas, a mEc é úmida por sua localização estar sobre uma
área com rios caudalosos e com cobertura da Floresta Amazônica, que possui
Clima Equatorial Úmido grande umidade pela transpiração dos vegetais. Portanto, é um clima úmido e
(convergência de alísios) quente.
As médias anuais térmicas mensais vão de 24ºC a 27ºC, ocorrendo baixa
amplitude térmica anual, com pequeno resfriamento no inverno. As médias
pluviométricas são altas e a estação seca é curta. Por ser uma região de
calmaria, devido ao encontro dos alísios do Hemisfério Norte com os do Sul, a
maior parte das precipitações que aí ocorrem são chuvas de convecção.

Abrange parte do território brasileiro próximo ao litoral. A massa de ar que


exerce maior influência nesse clima é a tropical atlântica (mTa). Pode ser
Clima litorâneo úmido notado em duas principais estações: verão (chuvoso) e inverno (menos
chuvoso), com médias térmicas e índices pluviométricos elevados; é um clima
quente e úmido.

Abrange os estados de Minas Gerais e Goiás, parte de São Paulo, Mato Grosso
Clima tropical
do Sul, parte da Bahia, do Maranhão, do Piauí e do Ceará. É um clima tropical
alternadamente úmido
típico, quente e semi-úmido, com uma estação chuvosa (verão) e outra seca
e seco
(inverno).

Clima tropical tendendo Abrange o Sertão do Nordeste, sendo um clima tropical próximo ao árido com
a seco pela irregularidade médias anuais de pluviosidade inferior a 1000mm. As chuvas concentram-se
de ação das massas de ar num período de 3 meses. No Sertão Nordestino, é uma espécie de encontro de
ou clima semi-árido quatro sistemas atmosféricos oriundos das massas de ar mEc, mTa, mEa, mPa.

Abrange o Brasil Meridional, porção localizada ao sul do Trópico de


Capricórnio, com predominância da massa tropical atlântica, que provoca
chuvas fortes. No inverno, tem freqüência de penetração de frente polar, dando
Clima subtropical úmido origem às chuvas frontais com precipitações devidas ao encontro da massa
quente com a fria, onde ocorre a condensação do vapor de água atmosférico. O
índice médio anual de pluviosidade é elevado e as chuvas são bem distribuídas
durante todo o ano, fazendo com que não exista a estação da seca.

2.2. Classificação de Köppen - Wladimir Köppen (1846-1940):

Pertence à escola tradicional ou separatista. Estuda separadamente os elementos do clima


(temperatura, umidade, pressão e ventos) para depois recompô-los no seu todo. Esta classificação foi adaptada
ao Brasil por Lysia Maria Cavalcante Bernardes (geógrafa de Conselho Nacional de Geografia), e por outros
geógrafos. Além de aceitar inicialmente a vegetação natural mundial como a melhor expressão do clima,
baseia-se fundamentalmente na temperatura, na precipitação e na distribuição dos valores de temperatura e
precipitação durante as estações do ano. O mérito da classificação de Köppen é incontestável, uma vez que
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 23

tem sido usada há mais de 80 anos. Uma vantagem adicional é o seu caráter didático, permitindo adaptá-la
para diferentes níveis, sendo, ao mesmo tempo, simples e detalhada (Figura 5 e Tabelas 12 e 13).

Os tipos de clima são representados por letras, sendo que:


• a primeira letra é maiúscula e representa a característica geral do clima de uma zona.
• a segunda letra é minúscula e representa as particularidades do regime de chuvas de uma dada zona.
• a terceira letra é minúscula e procura representar a temperatura de uma zona.

1a letra 2a letra
A = clima quente e úmido f = sempre úmido
B = clima árido ou semi-árido m = monçônico (com uma pequena estação seca)
C = clima subtropical ou temperado s = chuvas de inverno
w = chuvas de verão
w’ = chuvas de verão e outono
3a letra
h = quente
a = verões quentes Fazendo a combinação dessas letras, obteremos um tipo de
b = verões brandos clima.
Fazendo a combinação dessas letras, obteremos um tipo de clima.

Figura 5. Tipos de clima no Brasil, segundo Köppen.


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Tabela12. Resumo da classificação climática de Köppen adaptada ao Brasil.


Climas Símbolos Características Básicas Área de ocorrência
Af não possui estação seca Amazônia Oriental e litoral da Bahia e
Equatoriais trechos do litoral do Sudeste
Am com pequena estação seca no Grande parte da Amazônia
inverno
Aw Chuvas de verão e seca no Brasil central, parte de Minas Gerais e Bahia.
inverno Território de Roraima
Tropicais Aw’ Chuvas de verão e outono Litoral Setentrional até o Ceará
As Chuvas de outono e inverno Litoral Oriental do Nordeste (Rio Grande do
Norte até a Bahia)
Semi-árido Bsh Chuvas escassas e irregulares Sertão Nordestino
quente
Cwa Chuvas de verão e verões Domina grande parte do Sudeste e pequena
quentes porção do sul de Mato
Tropicais Cwb Chuvas de verão e verões Grosso
de Altitude brandos
Csa Chuvas de outono-inverno Planalto da Borborema do Nordeste
Cfa Chuvas bem distribuídas Sudeste de São Paulo e parte da Região Sul
durante o ano e verões
Subtropicais quentes
Cfb Chuvas bem distribuídas Rio Grande do Sul, litoral e interior da
durante o ano e verões Região Sul
brandos

Tabela 13. Classificação de Köppen


Denominação Área de Ocorrência Características

Temperaturas elevadas: médias entre 25ºC e


27ºC.
Am (equatorial) Maior parte da Amazônia
Pluviosidade elevada: médias de 1.500 a 2.500
mm/ano.

Temperatura média entre 19ºC e 28ºC,


Brasil Central; parte de pluviosidade média inferior a 2000 mm/ano.
Aw (tropical)
Minas Gerais e da Bahia Duas estações bem definidas: o verão (chuvoso)
e o inverno (seco).

Médias anuais térmicas superiores a 25ºC.


Bsh (semi-árido) Sertão do Nordeste Pluviosidade média anual inferior a 1000
mm/ano com chuvas irregulares.

Médias térmicas entre 19ºC e 27ºC.


Partes do Sudeste e sul do
Cwa (tropical de altitude) Pluviosidade média de 1500 mm/ano; chuvas de
Mato Grosso do Sul.
verão.

Médias térmicas entre 17ºC e 19ºC.


Cf (subtropical) Sul do País Pluviosidade média de 1500 mm/ano; chuvas
bem distribuídas.
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Extremos climáticos do Brasil

Maior total anual de chuvas (4515 mm) ............................................ Itapanhaú (SP)


Menor total anual de chuvas (279 mm) ............................................. Cabaceiras (PB)

Maior temperatura média mensal (dezembro, 28,9oC) ....................... Sobral (CE)


Menor temperatura média mensal (julho, 8,4oC) ............................... Alto do Itatiaia (RJ)

Maior índice mensal de chuvas (fevereiro, 1410 mm) ........................ Itapanhaú (SP)
Menor índice mensal de chuvas (julho, 0 mm) ................................... Xiquexique (BA)

Maior número de dias de chuva anual (254 dias) ............................... Javareté (AM)
Menor número de dias de chuva anual (33 dias) ................................ Remanso (BA)

Maior amplitude térmica anual (13,4oC) ............................................ Uruguaiana (RS)


Menor amplitude térmica anual (0,7oC) ............................................. Tefé (AM)

MONITORAMENTO CLIMÁTICO
Trata-se do acompanhamento do comportamento médio do estado da atmosfera e dos oceanos numa
determinada região por um longo período de tempo (mês, estação ou ano). O acompanhamento de fenômenos
como as fases quentes (El Niño) e as frias (La Niña) da Oscilação Sul são fundamentais para o País,
principalmente por causa dos diferentes impactos climáticos que ocasionam (Tabela 14).

Tabela 14. Fenômenos climáticos e seus impactos sobre o Brasil.


Fenômeno O que é/o que ocasiona Conseqüências no Brasil
1. É o aquecimento anômalo 1. Região Sul: precipitações abundantes (primavera) e
das águas do Oceano chuvas intensas de maio a julho, aumento da temperatura
Pacífico Equatorial média do ar.
Central e Oriental. 2. Região Sudeste: moderado aumento das temperaturas
médias.
2. Faz com que o padrão 3. Região Centro-Oeste: tendência de chuvas acima da
normal de circulação média e temperaturas mais altas no sul do Mato Grosso
EL NIÑO
atmosférica se altere. do Sul.
4. Região Nordeste: secas de diversas intensidades no norte
do Nordeste, durante a estação chuvosa, de fevereiro a
maio.
5. Região Norte: secas de moderadas a intensas no norte e
no leste da Amazônia. Aumento da probabilidade de
incêndios florestais.
1. É o resfriamento das 1. Região Sul: passagens rápidas de frentes frias.
águas do Oceano Pacífico 2. Região Sudeste: temperaturas abaixo da média durante
Equatorial Central e inverno e verão.
Oriental 3. Região Nordeste: frentes frias, principalmente no litoral
LA NIÑA
da Bahia, Sergipe e Alagoas.
2. Provoca mudanças no 4. Região Norte: chuvas abundantes no norte e noleste da
padrão de circulação Amazônia.
atmosférica
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PREVISÃO CLIMÁTICA
Estimativa do comportamento médio da atmosfera com antecedência de uma ou duas estações.
Utilizam-se dois métodos:
1. Método Estatístico: modelos de previsão empíricos, os quais se valem de uma correlação entre duas
ou mais variáveis, para regionalmente estimar os prognósticos de uma delas.
2. Método Dinâmico: modelos dinâmicos do sistema climático, nos quais se utiliza um conjunto de
equações físicas que simulam os movimentos atmosféricos para prever os acontecimentos futuros.
As regiões tropicais apresentam maior índice de acerto nas previsões, devido aos fatores que
determinam os fenômenos meteorológicos, que são diretamente influenciados pelas condições da superfície
(temperatura da superfície do mar e umidade do solos nos continentes). No Brasil, nas regiões Norte e
Nordeste é possível se fazer as melhores previsões climáticas.

LITERATURA CONSULTADA:
ADAS, M. Estudos de geografia do Brasil. p.72-81.
Ao encontro da natureza. 1.ed. Lisboa: Selecções do Reader’s Digest, 1978. 350p.
AZEVEDO, A. A atmosfera e os climas.
BAÊTA, F.C. Acondicionamento térmico natural de galpões avícolas. In: SIMPÓSIO GOIANO DE
AVICULTURA, III, 1998, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG/AGA, 1998. p.29-34.
SENTELHAS, P.C., PEREIRA, A.R., ANGELOCCI, L.R. Meteorologia agrícola. Apostila... Piracicaba:
ESALQ, 1998. 131p.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.
VIANELLO, R.L., ALVES, A.R. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV, 2000. 448p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Quais são as faixas atmosféricas por ordem de altitude. Comente resumidamente sobre a troposfera.
2) O que significam os termos solstício e equinócio? No hemisfério Sul, quais são os dias mais curto e o mais
longo do ano?
3) Qual a faixa de comprimento de onda da luz visível, do infravermelho e do ultravioleta?
4) O que são elementos climáticos e fatores climáticos?
5) Defina temperatura do ar e comente como é obtida sua medida.
6) A temperatura do ar num dado local pode sofrer influência de aguns fatores. Cite-os.
7) Defina pressão atmosférica e comente como é obtida sua medida.
8) A pressão atmosférica num dado local pode sofrer influência de aguns fatores. Cite-os.
9) Comente resumidamente como ocorre a formação dos ventos.
10) Quais são os tipos de ventos? Cite-os.
11) Defina umidade absoluta e umidade relativa do ar.
12) Cite quais são os tipos de precipitação atmosférica em função do local onde ocorrem.
13) Em que se baseia a classificação climática de Strahler? Cite quais os tipos de clima são propostos por ele
para o nosso país.
14) Em que se baseia a classificação climática de Köppen? Cite quais os tipos de clima são propostos por ele
para o nosso país.
15) O que são os fenômenos climáticos EL NIÑO e LA NIÑA.
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Aula 03 - Considerações Atuais Sobre o Clima e Sua Influência Sobre o Globo Terrestre

Existem muitos fatores que determinam o clima da Terra, os quais podem ser agrupados em duas
categorias: 1) fatores naturais; 2) fatores antropogênicos.

Dentre os fatores naturais, a energia solar representa papel de destaque, pois representa a quase
totalidade da energia consumida nos processos do tempo e clima. Da energia solar que chega à Terra, cerca de
1/3 é refletida de volta para o espaço e o restante é absorvido pelos diversos componentes do sistema climático
(atmosfera, oceanos, camadas de gelo, superfície da Terra, elementos vivos). A longo prazo, a energia
absorvida pelo sistema é devolvida ao espaço na forma de radiação infravermelha, mantendo-se assim, o
balanço cuja grandeza é determinada pela temperatura média do sistema Terra-atmosfera.
Este balanço pode ser alterado por fatores genericamente denominadas de “funções forçantes
térmicas”, destacando-se entre outros:
• as variações periódicas no fluxo de energia solar (ciclo solar de 11 anos). O número de manchas solares
observadas é um indicativo da atividade solar. Quando a atividade é máxima, diz-se “Sol ativo” e, quando
é mínima, “Sol calmo”;
• as variações da órbita terrestre afetam as distribuições sazonal e latitudinal da distribuição da energia solar.
O movimento de rotação e translação da Terra conferem ao Sol um movimento aparente ao longo do dia no
sentido E – W, e ao longo do ano no sentido N – S. O movimento de translação resulta nas estações do ano
e conseqüentemente no comprimento do dia (fotoperíodo) nas diferenteslatitudes, que por sua vez será
responsável pela variação da disponibilidade de energia solar;
• o efeito estufa causado por gases da atmosfera terrestre que permitem a passagem da radiação solar e
absorvem grande parte da radiação infravermelha térmica da Terra.

A. O EFEITO ESTUFA:

A energia emitida pelo sol (radiação solar) atinge a Terra e parte dela é refletida de volta ao espaço
sideral pelas camadas superiores da atmosfera. O planeta absorve o que resta da energia incidente do sol, se
aquece e por sua vez, emite calor na forma de radiação infravermelha. Essa radiação infravermelha é captada
(aquecendo) e posteriormente emitida pelas moléculas de alguma substâncias presentes na atmosfera,
denominadas de gases estufa. Com isso a temperatura do planeta aumenta. Tudo funciona como se a atmosfera
fosse uma gigantesca estufa e os gases estufa funcionam como o telhado de vidro de uma estufa. Eles
interferem no equilíbrio térmico da Terra, na medida em que bloqueiam uma parte da radiação do calor para o
espaço.
Graças ao efeito estufa natural, a temperatura média da terra mantém-se em torno de 15oC. Em sua
ausência, este valor cairia para 18oC abaixo de zero. Portanto, o efeito estufa natural é responsável pela
elevação da temperatura em 33oC, criando condições favoráveis a vida em nosso planeta.
Os principais gases “estufa” são constituintes minoritários da atmosfera, tais como o vapor d’água, o
dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso, o ozônio e os compostos de clorofluorcarbono (CFCs).
Além dos gases minoritários, as nuvens e os aerossóis provenientes de erupções vulcânicas e da
queima de combustíveis fósseis, também desempenham papel de destaque, pois são capazes de refletir a
energia radiante e esfriar o sistema Terra – Atmosfera e/ou absorver a energia radiante e esquentar o sistema
Terra – Atmosfera (efeito estufa).
Inúmeras razões comprovam a real ocorrência do efeito estufa, tais como as observações da radiação
emitida pela Terra, para o espaço, realizadas por satélites, a análise dos gases estufa em partículas de gelo
antártico (160.000 anos passados), constatando-se que as temperaturas da Terra naquele período apresentaram
uma marcha quase paralela às curvas de concentração do monóxido de carbono e do metano na atmosfera e as
variações das temperaturas durante períodos glaciais e interglaciais, que estão acompanhadas também das
flutuações no conteúdo destes gases na atmosfera terrestre (mecanismo desconhecido).
As atividades humanas podem afetar o clima, através do aumento das concentrações de gases estufas
ou a adição de outros, na atmosfera, que provocarão um aumento da temperatura média global anual do ar à
superfície da terra. Seguir-se-ão outras mudanças climáticas, como por exemplo: alterações nas precipitações
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 28

e aumento no nível dos mares. Alterações no albedo (desertificação e/ou desmatamento) afetam a quantidade
de energia solar absorvida pela superfície da Terra. Os aerossóis, partículas suspensas na atmosfera com
diâmetro de 10-3 a mais de 102 µm, emitidos pela queima de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo,
podem aumentar as nuvens de partículas baixas e isto pode baixar as temperaturas (efeito antiestufa), pois
bloqueiam e refletem a radiação solar incidente. Além disso, podem ocorrer alterações na camada de ozônio
na estratosfera devido a emissão de CFCs.
As concentrações dos gases estufas na atmosfera tem variado naturalmente na escala de tempo das
glaciações e têm aumentado a partir da era pré-industrial, graças as atividades humanas. A Tabela 1 sintetiza
os valores atuais e pré-industriais, taxas de variações e vida média dos “gases estufa” influenciados pela
atividade humana.

Tabela 1. Síntese dos gases estufas afetados pelas atividades humanas (IPCC – WMO/UNEP)
Gases Estufa CO2 CH4 CFC-11 CFC-12 N2O
Unidades de Concentração ppmv ppmv pptv pptv ppbv
Era pré-industrial (1750-1800) 280 0,8 0 0 288
Atualmente(1990) 353 1,72 280 484 310
Variação atual, por ano 0,5% 0,9% 4% 4% 0,25%
Vida média na atmosfera (anos) 50-200 10 65 130 150
ppmv = partes por milhão por volume; ppbv = partes por bilhão por volume; pptv = partes por trilhão por
volume.

GASES ESTUFAS:
A composição do ar atmosférico seco, ao nível do mar, em volume, é aproximadamente 78% de
nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros gases. Torna-se importante também destacar a presença de
quantidades variáveis de vapor de água e gás carbônico, aproximadamente 0,035% em volume, na atmosfera.
Cada uma destas substâncias tem seu ciclo na natureza, sendo importantíssimos para a manutenção da vida
dos vegetais e dos animais.

1. Vapor de água:
O vapor de água oferece a maior contribuição para o efeito “estufa”; sua concentração na troposfera é
determinada intrinsecamente no sistema climático e, em escala global, não é afetado pela atividade
humana. Porém, há controvérsias quando se refere a grandes áreas de devastação de florestas densas.O
vapor de água aumentará com o aquecimento global e por sua vez intensificará ainda mais tal aquecimento
num mecanismo de realimentação positivo. As nuvens refletem uma parte da luz solar incidente,
provocando assim um certo resfriamento. Simultaneamente, o vapor de água contido nas nuvens funciona
como gás estufa, contribuindo para o aquecimento.

2. Ozônio:
O ozônio desempenha também um papel importante no aquecimento da alta atmosfera, pela absorção de
radiação nas faixas ultravioleta, visível e infravermelha do espectro eletromagnético. Esse aquecimento,
por seu turno, atua como principal fonte de energia para os movimentos atmosféricos superiores (50 a 100
km). Assim, os efeitos do ozônio no clima são mais fortes na alta troposfera e na baixa estratosfera.
A concentração tem aumentado na alta troposfera em conseqüência da ação humana (emissão de óxidos de
nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono) e diminuído na baixa extratosfera (latitudes mais altas
do hemisfério sul) devidos aos efeitos dos CFC’s. Há indicações de uma diminuição em escala global, o
que implicaria em uma diminuição da temperatura, balanceando parte do aquecimento provocado por
outros gases, porém torna-se muito difícil quantificar os efeitos.

Estes dois mais importantes “gases estufas”, o vapor de água e o ozônio, são pouco afetados pela
atividade humana.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 29

3. Dióxido de carbono (CO2):


O gás carbônico entra na atmosfera a partir da respiração dos vegetais e animais, da decomposição e
queima das substâncias orgânicas e da atividade dos oceanos, voltando, a seguir, através da fotossíntese das
plantas terrestres e do plâncton dos oceanos. É neste ciclo que dá-se também através da sedimentação da
matéria orgânica morta, a formação do carvão mineral e do petróleo, num processo que pode levar milhões de
anos.
Embora presente em pequenas proporções, desempenha, também, a exemplo do vapor de água, o
papel de termorregulador, sendo absorvedor eficiente de radiação de ondas longas. Sua concentração
aumentou 26 % desde a revolução industrial devido a queima de combustíveis fósseis e ao desflorestamento.
Atualmente são bem conhecidas as grandezas das fontes originárias de combustível fóssil, porém não se
conhece bem a contribuição dos desflorestamentos no aumento do CO2, assim como, não se conhece bem a
quantidade que é absorvida pelos oceanos e pela biota terrestre.
De cem anos para cá, a quantidade de gás carbônico na atmosfera tem aumentado consideravelmente
de forma muito rápida em função da explosão demográfica, do desenvolvimento industrial acelerado,
desmatamentos e queimadas de florestas, etc. A civilização moderna consome muita energia que é produzida,
por usinas termoelétricas que queimam carvão mineral ou óleos combustíveis derivados do petróleo.
Automóveis consomem gasolina ou álcool etílico. Calcula-se que em uma viagem de São Paulo a Recife, um
avião a jato libera cerca de 200kg de gás carbônico na atmosfera, por passageiro transportado. Atualmente os
cálculos indicam que as quantidades de gás carbônico liberadas na atmosfera por ano, são da ordem de
1.000.000 de toneladas produzidas por fontes naturais, tais como respiração e decomposição dos seres vivos,
queimadas florestais espontâneas, liberação pelos oceanos, etc, e de 22.000 pelas fontes artificiais,
principalmente as combustões de carvão mineral e de derivados de petróleo. Conseqüentemente, o efeito
estufa vem aumentando, pois maiores quantidades de gás carbono na atmosfera absorvem cada vez mais
radiação infravermelha emitidas pela Terra, impedindo-as de escapar para o espaço exterior. Nos últimos anos
, o perigo do efeito estufa se agravou porque se constatou que não só o gás carbono e o vapor de água
absorvem o calor refletido pela Terra, mas também partículas em suspensão no ar e outros gases poluentes
como o CO, NO2, O3, CFC, CH4, que passaram a ser chamados de gases do efeito estufa; receia-se que estes
gases possam ser responsáveis até por 50% do efeito estufa.

Clorofluorcarbonos (CFC’s):
São usados como substâncias propulsoras, refrigeradoras e solventes desde 1930. Também são
utilizados na fabricação de espumas e plásticos.

Metano (CH4):
Suas concentrações dobraram com a produção de arroz (decomposição em arrozais pantanosos), com
a expansão da pecuária (produto da digestão dos ruminantes) e com a queima de biomassa, dos aterros
sanitários, dentre outras atividades.

Recentemente, duas constatações, de certa forma, surpreenderam: que os cupins da Amazônia são
grandes geradores de metano e que as grandes represas destinadas às termelétricas geram quantidades
inimagináveis de CO2 e CH4, em face dos vegetais submersos nas represas.

Óxido nitroso (NO2):


Sua concentração tem aumentado em torno de 8 %, devido às atividades humanas. É difícil especificar
suas fontes, mas acredita-se que a agricultura têm contribuído com grande parte. O NO2 é oriundo de
combustões a altas temperaturas e que ensejam que o nitrogênio do ar reaja com o oxigênio, como, também, é
oriundo de fertilizantes do solo.
Mesmo se todas as emissões de CO2 pelo homem fossem interrompidas em 1990, aproximadamente
metade da concentração já produzida permaneceria na atmosfera por volta do ano 2100. Já os CFC e CH4 tem
tempo de vida mais curto e responderiam a diminuição na emissão em poucas décadas.
O termo “estabilização atmosférica” é freqüentemente utilizado para designar o limite de concentração
dos “gases estufas” na atmosfera, em níveis aceitáveis. As quantidades em que as emissões dever ser
reduzidas a fim de estabilizar as concentrações nos níveis atuais são mostradas na Tabela 2.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 30

Tabela 2. Estabilização das concentrações atmosféricas. Reduções de emissões necessárias para estabilizar as
concentrações nos níveis atuais (IPCC-WMO/UNEP-Modificado).
Gases Estufas Reduções necessárias
Dióxido de carbono > 60%
Metano 15-20%
Óxido Nitroso 70-80%
CFC-11 70-75%
CFC-12 75-85%
HCFC-22 40-50%

É preciso conhecer as concentrações futuras de “gases estufas” para se estimar as mudanças climáticas
futuras. O aumento das concentrações destes gases produz um aumento na quantidade de energia do sistema
Terra-atmosfera, denominado “forçante radiativa”. O cálculo deste parâmetro é mais confiável que as
estimativas de mudanças climáticas (inúmeros mecanismos atmosféricos ainda pouco conhecidos). Assim, a
forçante radiativa por estar altamente correlacionada coma temperatura do sistema, funciona como base para
calcular o efeito relativo da concentração de cada gás sobre o clima. A forçante radiativa total é a soma das
contribuições dos gases individuais. A contribuição de vários gases na forçante radiativa total, durante os anos
80, está mostrada na Tabela 3.

Tabela 3. Contribuição de cada um dos gases estufas pelas atividades humanas nas alterações da forçante
radiativa entre 1980 e 1990. A contribuição do ozônio pode ter sido também significativa, mas não
pode ser ainda quantificada (IPCC-WMO/UNEP-Modificado).
Gases Estufas Reduções necessárias
Dióxido de carbono 55%
Metano 15%
Óxido Nitroso 6%
CFC-11 e 12 17%
Outros CFCs 7%

A medida que o clima começa a aquecer-se, vários processos atuam para ampliar o aquecimento
(realimentação positiva) ou para reduzir o aquecimento (realimentação negativa). O principal processo de
realimentação identificado relaciona o vapor d’água, o gelo oceânico, as nuvens, as precipitações e o nível os
mares. Os “modelos de circulação geral” (MCG) são modelos matemáticos tridimensionais que simulam
mudanças climáticas, sintetizando os processos físicos e dinâmicos já conhecidos, permitindo complexas
interações entre os vários componentes (não inclui os gases estufas). Infelizmente, muitos dos processos
envolvidos são pouco conhecidos.
Se as emissões forem mantidas no “cenário atual”, a taxa média de aumento da temperatura global é
estimada em 0,3oC por década (0,2 a 0,5oC). Isto resultará em um aumento na temperatura média global em
torno de 1oC acima do valor atual, no ano 2025, ou seja, 2oC acima da temperatura média do período pré-
industrial. Mesmo que se conseguisse estabilizar as emissões aos níveis atuais, a temperatura é prevista subir
em torno de 0,2oC por década, nas próximas décadas.
Previsões regionais e sazonais através dos modelos indicam que o aquecimento será mais rápido nos
continentes que nos oceanos; que haverá um aquecimento mínimo na Antártica e no Atlântico Norte; o
aquecimento será 50 a 100 % maior que a média global no hemisfério Norte e mais suave nas regiões cobertas
de gelo, no verão; e que as precipitações vão aumentar nas áreas continentais, médias e altas latitudes, no
inverno em torno de 5 a 10 % entre latitudes 35 e 55o Norte.
Variações no tempo que poderão ocorrer no futuro incluem: o aumento de tempestades locais severas;
variação significativa no número de dias muito quentes e noites muito frias; mudança da trajetória e da
posição dos ciclones e anticiclones afetará a variabilidade e os extremos do tempo em regiões particulares; e
aumento na freqüência e na intensidade das tempestades tropicais (furacões).
Quanto a elevação do nível dos mares até o ano 2100, o uso de modelos simples permite algumas
estimativas que ignoram variações de longos períodos, que podem estar ocorrendo. Mantido o cenário atual, as
variações esperadas no nível dos mares entre 1990 e 2100 implicam em um aumento de 6 cm por década (3 a
10 cm), lembrando-se que há uma variação local. A principal contribuição resulta da expansão térmica da
água dos oceanos e do derretimento dos glaciares.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 31

Mesmo que o efeito estufa se estabilize no momento, haverá um contínuo aumento do nível dos mares
por muitas décadas e séculos, devido ao retardamento da resposta do sistema oceano-massas de gelo.
A estrutura dos ecossistemas e distribuição das espécies são sensíveis às variações do clima e
esperam-se muitas mudanças no futuro. Tais mudanças serão controladas pelas futuras variações na
concentração de dióxido de carbono e no clima, particularmente sensíveis às variações da temperatura, das
precipitações, da umidade do solo e dos ventos extremos. No momento, os modelos usados são incapazes de
fazer estimativas confiáveis, no grau e na escala requeridas.
As conseqüências do aumento de temperatura no planeta, ocasionadas pelo efeito estufa, são inúmeras
e de difícil previsão. Vejamos a seguir alguns exemplos: Derretimento de parte das calotas polares, com o
conseqüente aumento do nível dos oceanos, causando inundações de regiões baixas à beira-mar (ex.: cidades
como Rio de Janeiro, Santos, Nova York, Veneza e países como a Holanda, Bangladesh, etc.).
Ocorreriam modificações climáticas, mais ou menos profundas, como alterações no regime das chuvas
proporcionando em determinadas regiões, um volume demasiado de chuvas provocando grandes erosões e
deslizamentos de morros e encostas, e em outras grandes estiagens causando a desertificação; tempestades e
furações mais freqüentes e mais violentos; temperaturas mais altas, trazendo prejuízos à países tropicais,
enquanto os países mais frios se beneficiam. Ocorreriam alterações na agricultura, não só devido às variações
de temperatura, as chuvas e as secas, mas também com a proliferação de pragas e insetos. A maior quantidade
de gás carbono dissolvido nos oceanos, rios e lagos, provocariam alterações no desenvolvimento de corais e
das carapaças de animais aquáticos, com reflexos em toda a vida marinha. As grandes cidades e aglomerações
industriais sofreriam ainda mais os efeitos da poluição atmosférica, por ocasião de um fenômeno
meteorológico conhecido como inversão térmica. Com a inversão térmica, a temperatura do ar aumenta
abruptamente na chamada camada de inversão; essa camada abafa a fumaça e sufoca a cidade. Todas estas
perturbações atingiriam o mundo inteiro, pois desconhecem fronteiras. A solução para todos estes problemas
são muito complicadas, e o preço a ser pago é bastante elevado.
As tentativas das nações de solucionar o problema por elas mesmas criado beiram o ridículo. Na
Conferência do Clima de 1995, em Berlim, os governos concordaram que "não foram adequadas" as medidas
tomadas no sentido de tentar a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. A Conferência do
Clima de 1996, em Genebra, terminou com uma declaração em que os países "se comprometem a negociar a
redução do uso de gases responsáveis pelo efeito estufa". O tratado firmado na Conferência do Clima de 1997,
em Kioto, estabeleceu que as 38 nações industrializadas reduziriam a emissão de gazes em 5,2% entre 2008 e
2012.

PROTOCOLO DE KYOTO

Foi adotado em dezembro de 1997, no Japão, com o objetivo de: a) fixar compromissos de redução e
limitação para os países desenvolvidos; b) trazer a possibilidade de utilização de mecanismos de flexibilidade
para que os países em desenvolvimento possam atingir os objetivos de redução de gases do efeito estufa.

QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇA DO CLIMA

Foi assinada por mais de 150 países em junho de 1992, durante a ECO-92, no Rio de Janeiro. O
objetivo principal da Convenção foi:
“... alcançar a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que
impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema clima. Esse nível deverá ser alcançado num prazo
suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que assegure que a
produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de
maneira sustentável.” (MCT/CPMG, 1999).
A convenção reconhece que a maior parcela das emissões globais, históricas e atuais de gases de efeito
estufa é originária dos países desenvolvidos, devendo estes estabelecerem medidas de redução de suas
emissões. Reconhece também que, embora as emissões per capita dos países em desenvolvimento ainda sejam
relativamente baixas, a parcela de emissões globais originárias desses países crescerá uma vez que eles
tendem a satisfazer suas necessidades sociais e de desenvolvimento. (MCT/CPMG, 1999).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 32

Ficou decidido com o evento ECO-92, realizado em junho de 1992, no Rio de Janeiro, onde se
reuniram representantes de diversos países, que em relação ao efeito estufa e outras alterações climáticas, a
falta de certeza científica não deve ser usada como motivo para adiar-se medidas preventivas e corretivas.

PAINEL INTERGOVERNAMENTAL DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DA ONU: o Efeito Estufa é


muito pior do que se imaginava.
Um relatório divulgado em 12/07/2001 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da
ONU, afirmou que as temperaturas globais vão aumentar, em média, 5,8º C até o fim do século. Tal aumento é
quase duas vezes maior que o previsto há cinco anos.Esta denúncia vem se somar a outras que asseguram que
mudanças climáticas provocarão prejuízos nas colheitas e podem diminuir em um quarto a produção de
alimentos nos países mais pobres.
O Relatório vai contra a justificativa dos EUA em não ratificar o Protocolo de Kyoto. O Presidente
dos Estados Unidos, George W. Bush afirma que não há provas de que o aquecimento global esteja
relacionado à poluição industrial. E desta forma, é injusto esperar que os Estados Unidos e outros países
industrializados assumam a responsabilidade pelo problema.
Segundo especialistas a publicação do relatório aconteceu num momento decisivo. Com os índices
apontados no estudo, muitos países devem tentar convencer os Estados Unidos a ratificarem o Protocolo de
Kyoto. Para que o Protocolo seja eficiente é necessário que os países industrializados, responsáveis pela maior
parte da emissão, assinem o acordo.
Caso os Estados Unidos - responsáveis por 36% do total de CO2 lançado na atmosfera - não
ratifiquem o protocolo, o Japão declara que também não o assina, tornando praticamente inviável se alcançar
as metas de redução dos gases poluentes.

B. CAMADA DE OZÔNIO:

O ozônio, O3, é outro constituinte da atmosfera de características peculiares. Sua presença na


superfície é bastante reduzida, podendo, entretanto, ser aumentada na presença de atividades industriais e com
a queima de combustíveis fósseis. Neste caso, é considerado poluente, em virtude de seu poder oxidante,
causando grandes danos à vegetação e à saúde animal.
A camada de ozônio que envolve a Terra (entre 15 a 30 km de altitude), funciona como um escudo
contra os raios ultravioleta do Sol (absorve radiação ultravioleta na faixa de 2400 a 3200 . Os CFCs, gases que
contém átomos de cloro e flúor, destroem o ozônio e seu uso foi regulamentado por acordos internacionais.
Pesquisadores holandeses estimaram a quantidade de ozônio na atmosfera e seus possíveis danos com
base em três cenários de emprego dos CFCs:
1. Sem qualquer restrição de uso dos CFCs: é o mais catastrófico; o número anual de casos de câncer de
pele aumentaria 325% nos EUA e 315% no noroeste da Europa em 2050.
2. Limitações prescritas pelo Protocolo de Montreal (1987): redução de 50% na emissão de CFCs em
1999 (em relação à emissão de 1986); o aumento da incidência da doença seria de 100% nos EUA e
95% no nooeste da Europa (Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Alemanha e eino Unido).
3. Restrições mais severas do acordo de Copenhague (1992): interrupção da produção dos cinco CFCs
mais danosos em 1995; o aumento da incidência da doença seria de 10% por volta do ano 2050,
segundo HARRY SLAPER, que liderou a pesquisa.

Não existem as alegadas evidências científicas e observacionais de que a camada de ozônio e o buraco
na Antártica estejam sendo afetados perlas atividades humanas. Há fortes indicações que as concentrações
desses gás sejam altamente variáveis e que o buraco seja natural, como Sir Gordon Donson observou e
afirmou há mais de 30 anos atrás. E, como tal, prevê-se que as concentrações reduzir-se-ão e que o buraco
voltará a aumentar em 1996-98, época do próximo mínimo solar, e em anos com grande atividade vulcânica.
A preocupação com o aumento do número de casos de câncer de pele parece exagerada e a eliminação dos
CFCs, a partir de 1995 para os EEUU e em 2000 para outros países, muito prematura pois não existem
substitutos adequados. Contrariamente aos CFCs, seus substitutos são gases corrosivos e tóxicos, podendo
levar à morte se inalados. Qualquer que tenha sido as bases para decidir sua imediata eliminação, certamente a
científica não foi a preponderante (MOLION, 1995).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 33

Existem pelo menos quatro argumentos, citados a seguir, que põe em dúvida a hipótese, aceita pela
maioria, de que as atividades humanas (CFCs) estariam destruindo a camada de ozônio:
1. O buraco já existia, em grandes proporções, antes do consumo desenfreado de CFCs.
2. As maiores fontes de cloro na atmosfera são naturais, na forma de aerossóis de cloreto de sódio e
gases provenientes dos oceanos. Vulcões ativos liberam na atmosfera, diariamente, centenas a alguns
poucos milhares de toneladas de enxofre, na forma de SO2, e centenas de toneladas de cloro, flúor e
bromo, infinitamente, muito mais do que a humanidade.
3. A produção fotoquímica de ozônio depende da radiação solar ultravioleta proveniente do Sol, cuja
intensidade não é constante (ciclos solares).
4. Problema da confiabilidade da instrumentação utilizada rotineiramente nas medições do ozônio.
Variações de cerca de ± 20% na média anual e até de 1000% na variação diária.

As variações das atividades solar e sísmica seriam suficientes para explicar uma variabilidade da
camada de ozônio com o tempo de 10 a 20% em torno da média (variabilidade natural, não induzida pelos
CFCs).

LITERATURA CONSULTADA:
HAHN, G.L. Global warming and potential impacts on cattle and swine in tropical and temperate areas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOCLIMATOLOGIA, I, 1995, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal:
FUNEP, 1995. p.136-173.
MOLION, L.C.B. O buraco de ozônio: o outro lado da história. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIOCLIMATOLOGIA, I, 1995, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1995. p.16-25.
VIANELLO, R.L. Considerações atuais sobre o clima e sua influência sobre o globo terrestre. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE AMBIÊNCIA E INSTALAÇÃO NA AVICULTURA INDUSTRIAL,
1995, Campinas. Campinas: FACTA, 1995. p.1-12.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Explique com suas palavras o que é o efeito estufa?
2) Quais são os principais gases estufas?
3) Como as atividades humanas podem afetar o clima da Terra?
4) O efeito estufa é benéfico ou prejudicial para a vida na superfície terrestre?
5) Dos gases estufa produzidos pela humanidade, qual o que mais contribui para a forçante radiativa e o
aumento da temperatura da atmosfera terrestre?
6) Qual a importância da camada de ozônio? Por que é dificil se afirmar se esta camada está diminuindo como
têm sido divulgado freqüentemente pela mídia?
7) O que contribui para aumentar a camada de ozônio e o que contribui para sua destruição?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 34

Aula 04 - Instrumental Meteorológico e Posto Meteorológico

1. Instrumental meteorológico: é o instrumental utilizado nas observações meteorológicas de superfície.

2. Posto meteorológico: é a área aonde são instalados os instrumentos que fornecem sucintamente, as
condições meteorológicas da superfície no momento da observação.
• local representativo da topografia geral e do clima da região;
• local aberto sem interferência de construções e vegetação, bem exposto aos ventos; local elevado em
relação a região (horizonte livre em todas as direções, afastado de mananciais e com boa drenagem);
• área mínima de 450 m2, independente da forma. Porta de acesso na face sul.
• local nivelado, sem pedras e cascalhos, gramado e cercado;
• localização geográfica é dada pelas coordenadas geográficas do local (latitude, longitude e altitude).
Botucatu = 48o26’ W grw, 22o51’ S, 786 m, respectivamente.

3. Abrigo meteorológico:
• onde são colocados os instrumentos de medição de temperatura e umidade do ar (medidos à sombra,
abrigados da radiação solar global e refletida e da precipitação);
• forma de um paralelepípedo, teto duplo, paredes de venezianas (renovação do ar), porta de duas folhas;
• madeira e pintado de branco. Montado em terreno plano, sobre grama rasteira, de fácil acesso.
• base a 1,5 a 2 m do solo (evitar microclima local).

4. Instrumentos de medição da radiação solar:


Irradiância solar (Q) é a quantidade de radiação solar por unidade de área e de tempo, recebida por
uma superfície na Terra, sendo expressa em joule/m2.s ou watt/m2 (1 J/s = 1 W). Outra forma de expresá-la é
em caloria/cm2.min, sendo que 1 cal/cm2.min = 697,7 W/m2.
A radiação solar ao penetrar na atmosfera é atenuada pelos processos de absorção e difusão. No
primeiro caso, os raios solares são parcialmente absorvidos e transformados em energia térmica. A absorção é
seletiva e causada principalmente pelos gases estufa (ozônio, vapor de água, gás carbônico, metano). A
difusão é produzida principalmente pelos gases do ar e poeiras em suspensão (aerossóis). Parte da radiação
difundida toma a direção da Terra e parte retorna ao espaço sideral determinando perdas relevantes. Assim, a
radiação solar recebida na superfície do solo, denominada irradiação solar global (Qg) compreende aquela que
atinge a superfície sem interagir com a atmosfera, denominada de irradiação solar direta (Qd), mais a fração
da radiação extraterrestre que sofre difusão na atmosfera e toma a direção da Terra, denominada de irradiação
solar difusa (Qc). A determinação da irradiação solar baseia-se nos seguintes parâmetros:
• irradiação solar direta (Qg): é a fração da radiação solar que atinge as superfície da Terra sem interagir com
a atmosfera;
• irradiação solar difusa (Qc): é a fração da radiação solar que sofre difusão na atmosfera, seletiva ou não
seletiva, e atinge a superfície da Terra;
• irradiação solar global (Qg): ao nível do solo, é a soma da radiação solar direta e difusa que atinge uma
superfície horizontal e unitária (Qg = Qd + Qc);
• irradiação solar fotossinteticamente ativa: é a radiação solar emitida na faixa de comprimento de onda de
0,4 a 0,7 µ, ou seja, a faixa visível do espectro solar;
• irradiação solar infravermelha: compreende a radiação solar de comprimento de onda acima de 0,7 µ;
• irradiação solar refletida: é a fração da radiação solar global (Qg) que é refletida pela superfície terrestre,
comumente denominada de albedo.
Os instrumentos de medição da irradiação solar global (Qg) se baseiam na transformação da energia
radiante em energia térmica.

4.1. Heliógrafo (tipo CAMPBELL-STOKES):


a) Finalidade: registrar a duração diária do brilho do sol, ou seja o número de horas de insolação, para cada
dia, em dado local.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 35

b) Descrição:
• esfera perfeita de cristal e seu suporte. A esfera concentra os raios solares, convergindo-os sobre uma tira
de papelão de cor e textura padronizados;
• armação metálica (concha) com 3 pares de ranhuras concêntricas com a esfera, nas quais são colocadas as
fitas heliográficas (fitas de registro, com divisões horárias). Eixo da esfera deve ficar sempre paralelo ao
eixo terrestre.
c) Instalação:
• dentro do cercado do posto meteorológico, em posição que nenhum objeto possa lhe fazer sombra (lado
Norte do PM no hemisfério sul). Exposição livre do nascer ao ocaso do sol, de inverno a verão.
• sobre um pilar de alvenaria de 1,0 x 0,30 x0,30 m, rebocado, face superior nivelada, faces laterais
orientadas para N, S, E e W, respectivamente.
d) Manejo:
• 3 tipos de tiras de papel que são utilizadas de acordo com a época do ano e devem ser substituídas todos os
dias, na última observação (tiras curvas compridas: outubro a fevereiro; tiras retas: março a meado de abril
e setembro a meado de outubro; tiras curvas curtas: meado de abril a agosto);
• o calor dos raios solares concentrados queima as tiras, desde que não haja nuvens capazes de interceptá-los
(interrupções na insolação, não queima as tiras). Deve-se medir todo traço visível por mais fraco que seja;
• água da chuva deve ser removida na primeira oportunidade.
e) Conservação: periodicamente limpo (pincel e pano seco). Ranhuras limpas para não dificultar a introdução
das tiras. Esfera limpa e clara para não interceptar os raios solares (falhas).
f) Dados:
• insolação diária: é a soma do número de horas e de décimos de horas de insolação, determinado
diretamente a partir das fitas queimadas;
• razão de insolação: quociente entre o número real de horas de insolação e o número máximo possível de
horas de insolação do referido dia.
• insolação mensal é a soma dos valores diários e a anual é a soma dos valores mensais.

4.2. Actinógrafo (piranógrafo de Robitzch):


a) Finalidade: medir e registrar a quantidade de energia solar que atinge a superfície da Terra, em dado local,
na unidade de tempo e área (cal/cm2.min). É um instrumento de registro secundário, proporcionando uma
precisão suficiente para fins climatológicos.
b) Descrição: caixa de metal pintada de branco, com uma cúpula de vidro em cima (proteger do vento e
umidade) que permite a chegada dos raios solares (0,3 a 0,4µ) aos elementos sensíveis, filtrando as ondas
longas. Visor de vidro lateral, permite a visualização da pena sobre a fita de registro. Três placas
bimetálicas, uma de cor preto fosco (central) e duas brancas (laterais), que dilatam-se diferentemente
gerando um esforço mecânico transmitido a um sistema de alavancas e registrado sobre uma fita colocado
sobre um tambor que gira (relógio).
c) Instalação: da mesma forma que o heliógrafo, sobre um pilar, em nível, em posição tal que nenhum objeto
possa fazer-lhe sombra.
d) Manejo: Troca-se diariamente ou semanalmente a faixa de papel, após o pôr do sol. Calibração em
laboratório especializado. Ajuste do zero sempre que necessário. Colocar tinta semanalmente na pena.
Conservar a cúpula de vidro limpa e dar corda no mecanismo do relógio.
e) Dados: Gráfico: cal/cm2.min em qualquer instante do dia. Número de horas de insolação. Total de energia
que atinge uma área em uma unidade de tempo. A integração da curva diária fornece o total diário de
radiação solar global incidente. A radiação solar média mensal é a média aritmética dos valores diários e a
radiação solar média anual é a média aritmética das médias mensais.

4.3. Piranômetro de termopar (Eppley):


a) Finalidade: Mede e registra o valor instantâneo da densidade de fluxo da radiação solar global incidente
que atinge a superfície da Terra, em dado local, na unidade de tempo e área (cal/cm2/min). É um
instrumento de alta precisão, utilizado como padrão.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 36

b) Descrição: tem um sensor constituído por um conjunto de termopares com áreas pintadas em preto fosco
(junções quentes) e branco brilhante (junções frias). As junções ficam protegidas por uma ampola de vidro
com atmosfera rarefeita e inerte, transparente a faixa de comprimento de onda de 0,3 a 4,0µ,. A diferença
de potencial estabelecida entre as junções quentes e frias, é função da diferença de temperatura entre elas
que, por sua vez, é proporcional ao total de energia incidente. A diferença de potencial é medida com um
potenciômetro ou registrada com o auxílio de um potenciógrafo.
c) Instalação: da mesma forma que o heliógrafo e o actinógrafo, sobre um pilar, em nível, em posição tal que
nenhum objeto possa fazer-lhe sombra.
d) Manejo: Troca-se diariamente ou semanalmente a faixa de papel, após o pôr do sol. Conservar a cúpula de
vidro limpa.
e) Dados: fornece as mesmas leituras do actinógrafo, porém os valores são bem mais precisos.

4.4. Piranômetro de fotodiodo de silício: o fotodiodo de silício responde à absorção de energia, gerando uma
corrente elétrica proporcional à irradiância global.
A irradiância difusa ou radiação do céu (Qc) pode ser medida com piranômetros instalados sob uma
banda metálica concêntrica à cúpula hemisférica do aparelho, a qual impede a incidência direta dos raios
solares sobre o piranômetro. A irradiância direta (Qd) é obtida pela diferença entre Qg e Qc.

5. Instrumentos de medição da temperatura do ar e do solo.

5.1. Termômetro comum ou de bulbo seco:


a) Finalidade: medir a temperatura do ar, à sombra;
b) Descrição: tubo capilar de vidro transparente, hermeticamente fechado, tendo numa extremidade um bulbo
esférico ou cilíndrico e na outra, uma pequena dilatação (câmara de expansão). O bulbo contém o elemento
sensível, o mercúrio. Paralela ao tubo capilar está a escala graduada em graus centígrados (oC),
subdivididos de dois em dois décimos (-30 a 50oC)
c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico, num suporte duplo, junto com o termômetro de bulbo úmido
(psicrômetro), em posição vertical.
d) Com o aumento ou diminuição da temperatura, o mercúrio contido no bulbo se dilata ou se contrai,
aumentando ou diminuindo, a coluna de mercúrio no tubo capilar, respectivamente. O menisco da coluna
indica a temperatura do ar no momento da medida.

5.2.Termômetro de máxima:
a) Finalidade: determinar a temperatura máxima do ar à sombra, de um dia.
b) Descrição:
• elemento sensível é o bulbo cheio de mercúrio;
• constrição na proximidade da união entre o bulbo e o tubo capilar. Com o aumento da temperatura, o
mercúrio do bulbo se dilata e transpõe o estrangulamento. Com o abaixamento da temperatura , a coluna se
rompe no estrangulamento, impedindo que o mercúrio retorne ao bulbo (fica indicada a temperatura
máxima).
c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico, num suporte duplo, junto com o termômetro de mínima, em
posição horizontal levemente inclinada.
d) Manejo: leitura como qualquer termômetro. Após a leitura, obrigamos o mercúrio a voltar para o depósito
(rotação do termômetro ou pequenas batidas na palma da mão). Leitura das 7 às 9 h da manhã, referente ao
dia anterior.

5.3.Termômetro de mínima:
a) Finalidade: determinar a temperatura mínima do ar à sombra, de um dia.
b) Descrição: Tem proporções idênticas ao de máxima. Líquido capilar é o álcool, dentro do qual tem um
haltere de vidro, porcelana ou plástico que fica imóvel quando o álcool se expande e é arrastado quando o
álcool se contrai (indica a temperatura mínima).
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c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico, na posição horizontal levemente inclinado, em suporte


apropriado, junto com o termômetro de máxima.
d) Manejo: leitura é feita na extremidade do haltere que se acha mais próxima ao menisco. Após a leitura
inclina-se o termômetro para que o haltere se desloque em posição oposta a do bulbo (nova medida).
Leitura à tarde.

5.4.Termógrafo:
a) Finalidade: registrar continuamente a temperatura do ar à sombra.
b) Descrição: elemento bimetálico, sensível às variações de temperatura, ligado a um sistema de alavancas
que determina o registro sobre uma faixa de papel colocada sobre um tambor, acionado por mecanismo de
relógio.
c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico, em nível.
d) Manejo: troca-se diariamente a faixa de papel. Regulagem quando necessário, comparando com o
termômetro de bulbo seco. Dar corda e colocar tinta, sempre que necessário.

5.5.Termômetro de solo (geotermômetro):


a) Finalidade: determinar a temperatura do solo e suas variações em função da época do ano em diferentes
profundidades.
b) Descrição: os mais comuns são do tipo coluna de mercúrio, com haste de vidro longa para profundidade
desejada (-13 a 60oC, com subdivisões de 0,2oC). Haste flexionada ficando uma parte enterrada no solo e
outra apoiado em suporte apropriado. Tem uma saliência na haste que deve ficar na superfície da terra (um
tipo de termômetro para cada profundidade).
c) Instalação: profundidades padrões de 1, 2, 5, 10, 20, 40 e 80 cm. Dispostos em uma mesma linha com
direção leste-oeste (diminuir erros de incidência solar) e extremidade superior deve aponta para o norte.
d) Manejo: na leitura, não deve ser retirado do solo.

Cálculo das temperaturas médias do ar e do solo:


Em climatologia, as temperaturas do ar e do solo são normalmente expressas em valores médios,
valores extremos e valores de amplitude. O cálculo da temperatura média é tanto mais exato quanto maior for
o número de observações no período considerado.

a) Temperatura média do ar:

INMET (MARA): Tmed = (T9h + Tmax + Tmin + 2.T21h)/5

IAC (SAAESP): Tmed = (T9h + T14h + 2.T21h)/4

Valores extremos: Tmed = (Tmax +Tmin)/2

Real (Estações automáticas):Tmed = (∑ Tar)/N, onde N é o número de observações e Tar, o valor de cada
observação.

b) Temperatura média do solo:

ALFONSI (1979): Tmed = Ts7h + Ts14h + Ts21h)/3

6. Instrumentos de medição de chuva:

6.1. Pluviômetro:
a) Finalidade: medir a precipitação pluvial em mm (altura pluviométrica); a altura pluviométrica (h) é
definida como sendo o volume precipitado por unidade de área horizontal do terreno, onde 1 mm = 1
litro/m2.
b) Descrição: recipiente com certa área de captação (S) geralmente de 200 a 500 cm2, um receptor em forma
de funil e um reservatório com torneira, pela qual é coletado um volume (V), na hora da observação.
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Precipitação pluviométrica é medida por meio da altura de água (mm). Altura que a água ficaria sobre um
solo horizontal, se não infiltrasse, evaporasse ou escorresse.
c) Instalação: preso a um mourão, área de captação a 1,5 m de altura e em nível. Livre de obstáculos que
possam interferir na coleta da água. Área plana longe dos grandes obstáculos, para evitar a turbulência do
ar.
d) Manejo: nas horas de leitura, retira-se água do reservatório em uma proveta. Se a proveta for graduada em
cm3, a altura da precipitação pluviométrica é dada pela fórmula h = (V/S).10, onde h é a altura da água em
mm, V o volume de água captada em cm3 e S a área de captação do pluviômetro em cm2. Se a proveta tiver
o mesmo calibre da área de captação e for graduada em mm, a leitura é direta.
e) o dia pluviométrico vai das 0900h do dia anterior até às 0900h do dia considerado. A quantidade diária de
chuva é a soma da água recolhida nas leituras das 0900, 1500 e 2100 h. No caso de apenas uma leitura, esta
é feita às 0900h e a chuva correspondente à aquele dia é a recolhida na hora da leitura. A precipitação
média mensal corresponde à soma dos valores diários e a anual, à soma dos valores mensais.

Obs.: a altura da neve e do granizo são realizadas pela quantidade de água recolhida no pluviômetro ou
pluviógrafo depois de liquefeita totalmente.

6.2. Pluviógrafo de sifão:


a) Finalidade: registrar continuamente a precipitação pluviométrica, dando-nos informações sobre o total de
chuvas (mm) e sobre a intensidade (mm/min ou mm/h).
b) Descrição: pluviógrafo de Hellmann Fuess. Boca de captação de 200 cm2 e depósito com bóia, que se
eleva acionado uma pena que registra em papel apropriado a duração e o total acumulado de chuva.
Esgotamento automático por sifão a cada 10 mm de chuva.
c) Instalação: sobre uma base de cimento. Idênticos cuidados do pluviômetro.
d) Manejo: troca diária ou semanal do papel, dar corda e colocar tinta.
e) Dados: registro gráfico da precipitação por hora.

7. Instrumental de medição da umidade do ar:


O peso de vapor de água presente em uma atmosfera, por unidade de volume, é chamado de umidade
absoluta.

7.1. Psicrômetro de aspiração:


a) Finalidade:
• determinar a temperatura do ar à sombra a qualquer instante (bulbo seco);
• determinar a umidade do ar através das temperaturas fornecidas pelos termômetros de bulbo seco e de
bulbo úmido.
b) Descrição: Formado por 2 termômetros idênticos de mercúrio em vidro (bulbo seco e bulbo úmido).
Ventoinha colocada sobre os termômetros. O termômetro de bulbo úmido acusa uma temperatura sempre
inferior ao de bulbo seco. Diferença entre as duas temperaturas e denominada depressão psicrométrica (∆t
= ts - tu) e permite determinar a umidade relativa do ar (UR), como mostra a Tabela 1 ou calcular a tensão
atual de vapor, com o emprego de fórmulas.
c) Instalação: os termômetros são montados verticalmente, num suporte apropriado, juntamente com os
termômetros de máxima e mínima no interior do abrigo meteorológico.
d) Manejo: encher o reservatório molhando o tecido que reveste o termômetro de bulbo úmido, ligar a
ventoinha, aguardar 1 minuto para estabilização e fazer as leituras das temperaturas.
e) O psicrômetro comum difere do psicrômetro de aspiração por não apresentar ventilação artificial, de
forma que a ventilação dos bulbos não é uniforme e a leitura menos precisa. Quando transformado em uma
aparelho registrador, passa a chamar psicrógrafo.

7.2. Higrômetro de cabelo:


a) Finalidade: medir a umidade relativa do ar.
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b) Descrição: fornece a medida da umidade relativa do ar, mediante o uso de substâncias higroscópicas
(cabelo humano) que sofre dilatação com o aumento do vapor de água que existe na atmosfera. O feixe de
cabelos é fixado em uma das extremidades e a outra é enrolada em uma roldana na qual está fixado um
ponteiro cuja ponta se encontra sobre um arco graduado de 0 a 100.
c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico;
d) Manejo: leitura direta da UR do ar no visor graduado.

7.3. Higrógrafo de cabelo:


a) Finalidade: registrar continuamente a umidade relativa do ar;
b) Descrição: a UR é correlacionada diretamente com a variação da tensão mecânica que sofre um feixe de
cabelos ao absorver ou perder umidade. Amplificada por alavancas, registrada em papel graduado de 0 a
100, colocado em mecanismo de relojoaria. A taxa de variação do feixe de cabelos não é uniforme e o
sistema de alavancas e/ou o papel de registro é concebido de forma a compensar a variação não linear do
elemento sensível.
c) Instalação: junto com o termógrafo no abrigo meteorológico;
d) Manejo: troca-se diariamente ou semanalmente a faixa de papel. Dar corda e trocar a tinta. Aferir
periodicamente, utilizando um psicrômetro com padrão.
e) termohigrógrafo: consiste de um higrógrafo fixado no mesmo chassi de um termógrafo, utilizando-se um
único tambor relógio e um gráfico subdividido em dois campos.

A umidade relativa média diária do ar é calculada pela fórmula U = (U9h + U15h + 2U21h)/4, onde U9h,
U15h, e U21h correspondem a umidade relativa às 0900, 1500 e 2100h, respectivamente. A umidade média
mensal do ar é a média aritmética dos valores médios diários e a umidade média anual do ar é a média
aritmética das médias mensais.

7.4. Sensores capacitativos: são os sensores normalmente utilizados em estações meteorológicas automáticas.
O sensor é coberto por um filme de polímero, o qual absorve vapor do ar alterando a capacitância de um
circuito ativo. É instalado juntamente com o sensor de temperatura num abrigo do tipo multi-placa.

8. Instrumental de medição de evaporação e evapo-transpiração:

8.1. Tanques de evaporação:


a) Finalidade: determinar a evaporação (perda de água por evaporação) de uma superfície livre de água em
um período qualquer.
b) Descrição: recipiente de volume avantajado, cheio de água, coberto por uma tela de arame. Tanque Classe
A (cilíndrico, diâmetro de 120 cm e altura de 25 cm). Acompanham o tanque um poço tranquilizador
(evitar ondulações), micrômetro (medir a altura da lâmina de água evaporada), termômetros de máxima e
mínima (temperatura da água, flutuam no tanque) e anemômetro (velocidade média do vento, a 0,5 m do
solo junto ao tanque).
c) Instalação: sobre um estrado de madeira pintado de branco; este, por sua vez, assentado 5 a 10 cm acima
do nível do solo e sobre um gramado em terreno plano.
d) Manejo: nível de água mantido entre 3 e 8 cm do bordo superior. Leitura do nível por intermédio de bóia
ou parafuso micrométrico.
e) Dados: A evaporação (ET) é dada pela diferença entre duas leituras consecutivas (∆h) mais a precipitação
no período (P), se houver (ET = P + ∆h). O tanque superestima a evaporação de uma superfície de água de
grande extensão, de forma que se faz necessário corrigir o valor obtido, utilizando-se um valor médio para
correção da evaporação anual do tanque “Classe A” de 0,72, ou seja, a evaporação natural de uma
superfície extensa é dada por: EN = Et . 0,72.

8.2. Evaporímetros (Pichê):


a) Finalidade: determinar o poder evaporativo do ar.
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b) Descrição: consiste de uma proveta de um centímetro de diâmetro graduada em ml, fechada em uma
extremidade e aberta na outra. De boca para baixo, escala cresce no sentido descendente. A boca é fechada
por círculo de papel de filtro de 1 ¼ de polegada. Secura do ar provoca evaporação da água através do
disco de papel.
c) Instalação: dentro do abrigo meteorológico, pendurado ao teto, de boca para baixo e geralmente do lado
direito.
d) Manejo: fazer a leitura, restituir a água quando estiver em nível muito baixo e trocar o disco. A diferença
do nível de água entre duas leituras corresponde à água evaporada no período.

9. Instrumental de medição de vento:


O vento é uma grandeza vetorial, que para sua definição exige indicação de módulo (anemômetros),
direção e sentido (cataventos).

9.1. Catavento:
a) Finalidade: instrumento de leitura direta destinado a medir a direção do vento;
b) Descrição:
• varão com uma seta na extremidade e um par de aletas sob ângulo de 22o na outra (grimpa), com seu centro
de gravidade fixado a um eixo vertical móvel;
• embaixo do eixo móvel estão fixadas quatro varetas coplanares (90o), indicando os pontos cardeais (rosa
dos ventos), N, NE, NO, S, SE, SO, E e O.
• direção que indica a seta é da onde vem o vento (direção e sentido).
c) Instalação: é fixado sobre um mastro no canto sul do PM, com seu eixo perpendicular ao horizonte e
altura de 6 m, livre de obstáculos à circulação do ar.
d) manejo: permite leituras diretas da direção do vento durante o dia (0900, 1500 e 2100h), de forma que
podemos obter as direções predominantes no dia, mês e ano.

9.2. Anemômetro de deflexão:


a) Finalidade: medir a velocidade do vento (m/s, km/h ou nó);
b) Descrição: consiste de uma haste metálica que possui na extremidade uma placa metálica retangular
móvel, colocada na vertical, que se desloca sob a força do vento, proporcionalmente a sua velocidade. Está
sempre associado a um catavento, que orienta a placa metálica na direção do vento. A determinação da
velocidade do vento é feita por uma escala semicircular numerada de 1 a 8 a partir do ponto em que é
fixada ao eixo vertical móvel do catavento, sob a placa defletora.
c) Instalação: junto ao catavento, geralmente compondo um único aparelho (por exemplo, o catavento Wild)
;
d) manejos: permite a leitura direta da velocidade do vento num determinado momento. As conexões móveis
devem ser periodicamente lubrificadas.

9.3. Anemômetro de canecas (Anemômetro totalizador de conchas tipo Robinson):


a) Finalidade: determinação do vento percorrido e da velocidade média do vento entre duas leituras
consecutivas;
b) Descrição: três canecas dispostas horizontalmente de forma radial, formando um ângulo de 120o entre si,
fixadas num eixo vertical móvel, as quais giram com velocidade proporcional à do vento. O espaço
percorrido pelas conchas é acumulado em um hodômetro. A diferença entre duas leituras consecutivas
dividida pelo tempo é igual a velocidade média do vento no período. Quando o movimento giratório do
eixo vertical é transmitido a um sistema de registro, tem-se um anemógrafo de canecas.
c) Instalação: é fixado sobre um mastro no canto sul do PM, com seu eixo perpendicular ao horizonte e
altura de 6 m, livre de obstáculos à circulação do ar.
d) manejo: suas leituras permitem obter a velocidade do vento média diária, mensal e anual.

Velocidade do vento (v) = (1000 x ∆Z)/86400, m/s, onde ∆Z = distância percorrida pelo vento num
período de 24 horas. A velocidade do vento é medida em m/s ou km/h, sendo a relação entre ambas dada por:
1m/s = 3,6 km/h.
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10. Instrumental de medição de pressão:

10.1. Barômetro:
a) Finalidade: medir a pressão atmosférica.
b) Descrição:
• barômetro de mercúrio: empregado para medidas precisas (estações meteorológicas). Consiste de um tubo
de vidro, na vertical, com extremidade superior fechada e inferior submersa em cuba de mercúrio, com
escala em mb e/ou mm. A pressão da coluna de mercúrio, contida no tubo de vidro, é igual à pressão
atmosférica existente sobre a superfície de mercúrio da cuba (76 cm em condições de temperatura e
gravidade normal).
• barômetro de cápsula anaeróide: medidas menos precisas (escritórios, residências, laboratórios, etc.).
Consiste de uma cápsula de metal deformável, com vácuo no interior. Uma pequena mola no seu interior
impede o esmagamento pela pressão atmosférica. Os movimentos nesta cápsula, provocados por variações
na pressão atmosférica, são transmitidos a um ponteiro que se desloca sobre um mostrador.
c) Instalação: não deve ficar exposto a variações bruscas da temperatura e a golpes de vento. Assim, sua
instalação não é feita no interior do cercado do posto meteorológico, mas numa sala próxima a este.
d) Manejo: a soma dos dados obtidos dividida pelo número de leituras realizadas fornece a média diária. A
média mensal é a média aritmética das médias diárias e a média anual é a média aritmética das médias
mensais.

10.2. Barógrafo:
a) Finalidade: registrar continuamente a pressão atmosférica.
b) Descrição: constituído por uma série de cápsulas anaeróides colocadas superpostas. O movimento
combinado de todas as cápsulas é ampliado por alavancas e registrado num gráfico colocado em um
tambor movido por mecanismo de relógio.
c) Instalação: sobre um suporte, junto ao barômetro de coluna de mercúrio;
d) Manejo: Aferido periodicamente com um barômetro de mercúrio. Colocar tinta, limpar a pena, trocar os
gráficos, quando necessário.

LITERATURA CONSULTADA:
MÜLLER, P.R. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3.ed. Porto Alegre: SULINA, 1989.
262p.
NAAS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo: Ícone, 1989. 183p.
SENTELHAS, P.C., PEREIRA, A.R., ANGELOCCI, L.R. Meteorologia agrícola. Apostila... Piracicaba:
ESALQ, 1998. 131p.
VIANELLO, R.L., ALVES, A.R. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV, 2000. 448p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) O que é posto meteorologico e quais as caracteristícas necessárias para sua instalação em um terreno?
2) Quais são os instrumentos meteorológicos que devem ser colocados dentro do abrigo meteorológico?
3) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição da radiação solar. Comente sobre as particularidades
de cada aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
4) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição da temperatura do ar. Comente sobre as
particularidades de cada aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
5) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição da quantidade de chuva. Comente sobre as
particularidades de cada aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
6) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição da umidade do ar. Comente sobre as
particularidades de cada aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
7) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição do vento. Comente sobre as particularidades de cada
aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
8) Cite quais são os instrumentos utilizados para medição da pressão atmosférica. Comente sobre as
particularidades de cada aum deles enfocando qual(is) sua(s) forma(s) e unidade(s) de medida.
9) O que você entende por radiação solar global?
10) O que significa dizer que choveu 10 mm a noite passada? O que isto representa?
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Aula 05 - Termorregulação em Animais Domésticos (Aves e Mamíferos)

Termorregulação, como indica a palavra, é o processo de controle da temperatura em um sistema


físico qualquer. Os organismos vivos são sistemas físicos geradores de energia térmica, a qual é produzida no
decorrer de processos metabólicos de manutenção dos fenômenos vitais (SILVA, 1996).

A temperatura de um tecido é um dos principais fatores que afetam a sua função:


A função corpórea resulta dos processos físicos e químicos sensíveis a alterações na temperatura. Se a
temperatura corpórea baixar muito os processos metabólicos ficam lentos e a função corpórea cessa. Se a
temperatura corpórea aumentar além do normal pode ocorrer a desnaturação de proteínas (45oC) e também ser
fatal (ROBINSON, 199 ).

Distinção entre regulação da temperatura e controle da temperatura:


Nos animais pecilotermos (exotérmicos), a temperatura corporal varia com o ambiente. Porém, estes
animais apresentam a capacidade de regular a temperatura corporal através de respostas comportamentais.
Dispendem menos energia para a produção de calor e geralmente vivem com uma baixa taxa metabólica. A
quantidade de energia térmica estocada depende mais da energia proveniente do ambiente externo, sendo
capazes de sobreviver a longos períodos de escassez de alimento. Exemplo: peixes, anfíbios e répteis.
Os animais homeotermos (endotérmicos), conseguem manter a temperatura corporal constante,
independente das variações térmicas do ambiente externo, pois desenvolveram mecanismos precisos de
controle da temperatura corporal, o que os permite sobreviver a uma ampla diversidade de ambiente. A
quantidade de energia térmica estocada depende essencialmente de uma elevada taxa metabólica
(taquimetabolismo), o que implica em um alto custo energético e uma procura quase constante por alimento.
Exemplo: aves e mamíferos.

A temperatura corporal depende do equilíbrio entre os mecanismos de produção, ganho e perda de


calor: O calor corporal provém do metabolismo e de fontes externas.

1) PRODUÇÃO DE CALOR (termogênese):


Os animais homeotérmicos apresentam termogênese contínua, gerando um aporte térmico como
conseqüência dos processos metabólicos que produzem a energia necessária à síntese de novas moléculas e ao
trabalho muscular, glandular e nervoso.
A energia dos alimentos é convertida em calor através dos processos metabólicos e do trabalho
(fígado, coração e músculos). De um modo geral, os tecidos que apresentam maior atividade metabólica, em
ordem decrescente, são: nervoso, glandular e muscular.

A) O calor é um subproduto de todos os processos metabólicos:


A taxa metabólica basal constitui o índice do metabolismo energético medido sob estresse mínimo
(repouso) enquanto o animal está em jejum. É maior nos homeotermos que nos pecilotermos, porque os
primeiros precisam gerar calor para manter a temperatura corporal. A taxa metabólica por quilograma de peso
corporal é maior nos pequenos que nos grandes animais (mamíferos e aves), devido a maior proporção
superfície/volume nos animais menores (Tabela 1).
O componente classificado como calor basal abrange as atividades vitais que agem durante o
completo repouso e contribui com 35 - 70% da produção média de calor diária. Algumas espécies animais
possuem menor produção térmica desta natureza e são as que melhor se adaptam a climas quentes, entretanto,
geralmente uma baixa produção de calor basal é acompanhada por menor desempenho, apresentando então
um ponto discutível em termos econômicos (NAAS, 1989). O aumento da temperatura corporal também
aumenta a taxa metabólica.
A produção de calor também pode ser medida na forma de BTU (British Thermal Units), onde 1 kcal
= 3,968 BTU. Por exemplo, a taxa metabólica basal de uma aves em jejum é de 2,75 calorias/g PV. Uma ave
pesando1,8 kg produzirá em torno de 5 kcal ou 20 BTU/hora (RUTZ, 1994). À medida que a ave vai
crescendo e tornando-se mais pesada, o calor produzido por unidade de peso vivo decresce (Tabela 2).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 43

Tabela 1 Taxa metabólica de manutenção ou repouso, M, para várias espécies, conforme diversos autores. W
é o peso corporal em kg.
Espécies M (Watts) Autor (es)
Aves (pássaros):
Atividade Normal 6,83 W0,704 ASCHOFF & POHL (1970)
Repouso 5,56 W0,726 ASCHOFF & POHL (1970)
Aves (não pássaros):
Atividade Normal 4,41 W0,729 ASCHOFF & POHL (1970)
Repouso 3,56 W0,734 ASCHOFF & POHL (1970)
Répteis:
Lagartos até 7 kg 0,378 W0,83 BENNETT & DAWSON (1976)
Cobras (Colubridae) 0,213 W0,98 GALVÃO et al. (1965)
Cobras (Boidae) 0,087 W1,09 GALVÃO et al. (1965)
Serpentes em geral 0,15 W0,86 GALVÃO et al. (1965)
Mamíferos:
Camundongos 1,91 W2/3 HEUSNER (1982)
Bovinas 6,06 W2/3 HEUSNER (1982)
SILVA (1996).

Tabela 2. Efeito do peso corporal sobre a produção de calor e umidade produzida (21oC).
Peso corporal Produção de calor Umidade produzida (kg/100 aves/dias)
(kg) (BTU/kg/h) Fecal Respiratória Total
0,5 44,0 7,2 2,4 9,6
0,9 31,9 9,2 4,9 14,1
1,4 25,3 10,5 7,1 17,6
1,8 22,0 11,4 8,8 20,3
2,3 19,8 12,4 9,4 21,8
2,7 18,0 13,3 10,2 23,5
North & Bell (1990) citados por RUTZ (1994).

As seguintes regras são apropriadas para estimar a produção de calor basal para poedeiras: poedeira
leve = 40 BTU/ave/hora; semipesada = 45 BTU/ave/hora e pesada = 55 BTU/ave/hora. Frangos de corte do
mesmo peso das poedeiras produzirão maior quantidade de calor porque os frangos crescem mais rápido e
consomem mais alimento por unidade de peso.

B) Tipos de termogênese e fatores envolvidos:


Conforme HIMMS-HAGEN (1983) há necessidade de se distinguir duas formas de termogênse, a
obrigatória e a facultativa. A primeira ocorre em todos os órgãos, principalmente nos tecidos nervoso,
glandular e muscular, sendo controlada basicamente pelos hormônios da glândula tireóide. Está associada às
reações metabólicas essenciais à vida celular e é fundamentalmente endotérmica. Inclui ainda as reações
metabólicas associadas ao processamento dos alimentos, as quais ocorrem ao nível dos intestinos, fígado e
tecido adiposo branco. A Tabela 3 mostra a quantidade de calor produzida pelo metabolismo de carboidratos,
gorduras e proteínas.

Tabela 3. Produção de calor pelos principais tipos de alimento.


Produção de calor (kcal)
Tipos de alimentos Por grama de Por litro de O2 consumido Por litro de CO2 consumido
alimento
Carboidratos 4,1 5,05 5,05
Gorduras 9,6 4,75 6,67
Proteínas 4,2 4,46 5,57
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 44

A termogênese facultativa é aquela à qual o organismo recorre apenas quando há uma deficiência
calórica (estresse pelo frio) e baseia-se em reações rápidas e de curta duração (algumas horas). O controle
primário da termogênese facultativa é nervoso, por intermédio da acetilcolina (quando envolve atividade
muscular) e da noradrenalina (quando envolve o tecido adiposo marrom - TAM).

A termogênese facultativa pode ser dividida nos seguinte tipos:

a. Termogênese induzida pela ingestão de alimentos: ocorre principalmente no TAM, sendo diretamente
controlada pela noradrenalina e, eventualmente, também pelos glicocorticóides, insulina e hormônios da
tireóide. O excesso de nutrientes ingeridos é transformado em calor no TAM e vai contribuir para
manutenção da temperatura corporal em ambientes frios.

b. Termogênese induzida pelo frio: ocorre em dois locais:

b1.) No TAM, sendo afetada diretamente pelos glicocorticóides, insulina e hormônios da tireóide;
A termogênese decorrente de não-tremor consiste em um aumento na taxa metabólica basal, causado
especialmente pela oxidação de gorduras, para produzir calor. O aumento do metabolismo é mediado pelo
aumento da secreção de tiroxina e pelos efeitos calorigênicos das catecolaminas sobre os lipídios. A produção
de calor por “nonshivering thermogenesis” ocorre principalmente no tecido adiposo marrom dos mamíferos
(com exceção dos suínos) e o calor produzido é distribuído por todo o corpo pela circulação sangüínea.
A termogênese por não tremor (“non-shivering thermogenesis”) é importante fonte de calor para
recém nascidos de mamíferos. Trata-se da produção de calor, sem contração muscular, a partir do tecido
adiposo marrom. Aparentemente esta forma de gerar calor não ocorre em aves recém-nascidas (MACARI,
1994). Entretanto, Halaqwani et al. (1971) citados por RUTZ (1994) registraram que tal mecanismo pode
ocorrer em aves adultas condicionadas a baixas temperaturas.

b2.) músculos esqueléticos, através de tremores ou calafrios, sendo induzia diretamente pela acetilcolina ou,
eventualmente, pelos glicocorticóides e catecolaminas (adrenalina e noradrenalina).
Os tremores produzem calor em decorrência da contração muscular. Consiste em um método eficaz
para aumentar a produção metabólica de calor.

c. Termogênese induzida pelo exercício físico: ocorre nos músculos esqueléticos, sendo induzida
diretamente pela acetilcolina e eventualmente pelos glicocorticóides e catecolaminas. O exercício aumenta
a taxa metabólica resultando em uma maior produção de calor.
Segundo RUTZ (1994), a atividade física da ave acompanha inversamente a temperatura ambiental,
quando acima da termoneutralidade. Trata-se de uma tentativa de reduzir a produção de calor

B) GANHO DE CALOR DO AMBIENTE:

O sol e o interior do planeta são as principais fontes de energia que permitem a vida na Terra. O calor
e a luminosidade que vêm do Sol resultam de reações termonucleares. O Sol fornece 99,98% da energia que
chega à superfície terrestre, cabendo 0,02% ao fluxo de calor do interior do planeta. Os animais absorvem
calor do ambiente além daquele produzido no organismo (metabolismo energético). Durante o dia, quase todo
calor absorvido do ambiente pelos animais provém da radiação solar, direta ou indireta (BACCARI JR.,
1989).
Os animais obtêm calor do ambiente quando a temperatura ambiente ultrapassa a corporal e/ou
quando expostos a fontes que irradiam calor (sol ou corpos aquecidos) (Figuras 1 e 2). As fontes de radiação
térmica que afetam um animal em campo aberto são: A) Radiação solar direta, B) Radiação refletida nas
nuvens, C) Radiação refletida em partículas de gases e poeiras, D) Radiação infravermelha proveniente da
atmosfera (gases estufa), E) Radiação infravermelha proveniente do solo, F) Radiação refletida no solo, rochas
e objetos e, G) Radiação infravermelha proveniente da vegetação.
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Figura 1. Fontes de radiação térmica que afetam um animal em campo aberto. A = radiação solar direta; B =
radiação refletida nas nuvens; C = radiação refletida em partículas de gases e poeira; D = radiação
infravermelha proveniente da atmosfera; E = radiação infravermelha proveniente do solo; F =
radiação refletida no solo, rochas e objetos; e G = radiação infravermelha proveniente da vegetação.

Figura 2. Ação da radiação incidente e da velocidade do vento na Criação de frangos de corte (MACARI et
al., 1994).

C) PERDAS DE CALOR:
Há perda de calor para o ambiente por irradiação da superfície corporal para um objeto mais frio, bem
como por convecção, à medida que o ar ou a água em volta são aquecidos pelo corpo, por evaporação de
secreções respiratórias, suor ou saliva e por condução para superfícies mais frias com que o animal esteja em
contato. Também há perda de pequena quantidade de calor através da urina e das fezes e nos produtos
produzidos pelos animais (leite, ovos, etc.).

1. PERDAS SENSÍVEIS: faz com que a temperatura do ambiente que circula o animal aumente. Quando a
transferência de energia implica em variação da temperatura dos corpos, os mais “quentes” perdendo e os
mais “frios” ganhando, o calor envolvido é denominado calor sensível (NAAS, 1989).
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1.1. Condução: ocorre quando o corpo está em contato com uma superfície mais fria.
• condução é a troca de calor entre dois corpos que se tocam ou mesmo partes do corpo que estejam a
temperaturas diferentes.
• ocorre a transmissão de energia térmica entre corpos que estejam em contato ou entre partes de um mesmo
corpo;
• a energia transmitida de uma partícula a outra, através da energia cinética de movimentação das moléculas
(choque entre partículas adjacentes), ou pela movimentação de elétrons livres (metais);
• o fluxo passa das moléculas de alta energia para as de baixa energia (quente → frio) e a perda de calor é
proporcional ao gradiente de temperatura e a condutividade térmica dos materiais;
• o coeficiente de condutividade térmica do material depende: 1) da densidade do material (a matéria é
sempre muito mais condutora que o ar contido em seus poros); 2) da natureza química do material
(materiais amorfos são geralmente menos condutores que os cristalinos); 3) da umidade do material (a água
é mais condutora que o ar).
• cuidados devem ser tomados com animais recém-nascidos e com o isolamento do piso (camas).
• suínos e bubalinos adultos se refrescam por condução chafurdando na lama e na água.

1.2. Convecção: ocorre quando um líquido e/ou gás é aquecido pelo corpo.
• convecção é a troca de calor entre dois corpos, sendo um deles um sólido e o outro um fluído (líquido ou
gás).
• o ar ou água em contato com a pele se aquecem, tornam-se menos densos e se deslocam expondo a pele ao
ar ou água frios (convecção natural ou passiva);
• o organismo cede calor às moléculas do ar ou água por condução;
• a perda é proporcional ao gradiente térmico entre a pele do animal e o ar ou água que a circula e a
velocidade do ar ou da água.
• convecção forçada ou ativa: neste caso, o líquido ou gás mais frio se move sobre a superfície cutânea por
meio de uma corrente de ar (ou água), ou simplesmente porque os membros ou o próprio animal estão em
movimento.
• Cuidados de vem ser tomados com animais jovens e com a presença de correntes de vento.

1.3. Radiação: emissão de irradiação infravermelha e sua absorção por objetos mais frios.
• radiação é o mecanismo de troca de calor entre dois corpos através da natureza eletromagnética que
caracteriza a onda de calor. Não há necessidade de meio de propagação, acontecendo mesmo na ausência
de meio ou vácuo.
• transmissão de energia térmica através de ondas eletromagnéticas, as quais constituem uma fração do
espectro eletromagnético que se estende desde o final da faixa de luz visível até o início da faixa de
microondas (radiação infravermelha);
• as ondas são irradiadas pelos átomos e moléculas como resultado de modificações na seu conteúdo
energético;
• a quantidade de radiação emitida depende da natureza do material, da constituição física e da temperatura
absoluta da superfície emissora.
• qualquer superfície cuja temperatura esteja acima do zero absoluto (-273,15oC ou 0oK) emite radiação
térmica, em comprimentos de onda que dependem dessa temperatura.
• embora todos os objetos emitam calor radiante, a transferência do mesmo se dá dos objetos quentes para os
frios.
• a troca de energia radiante entre dois corpos exige que o meio que os separa permita a passagem das ondas
radiantes por eles emitidas. O ar, que é chamado de transparente e diatérmano, não absorve e nem emite
energia radiante.
• a perda de calor radiante pode ocorrer mesmo quando o animal está rodeado por um ambiente
termicamente neutro ou aquecido. Pode haver perda de calor de uma animal para as paredes mais frias da
baia, mesmo que o ar ambiente esteja aquecido.

Uma superfície pode se comportar de três formas, no que concerne à radiação térmica: 1) refletindo a energia
nela incidente; 2) absorvendo essa energia e 3) transmitindo ou emitindo a energia.
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As aves se caracterizam por alta capacidade de emissão e absorção de calor. A cor das penas
influencia a radiação. Em ambientes frios, as aves que apresentam alta absorvência economizam energia
(RUTZ, 1994).
As aves perdem até 75% de calor extra produzido através de radiação, convecção e condução.
Entretanto, a velocidade de perda é influenciada pela temperatura ambiental. Quando a temperatura ambiental
estiver até aproximadamente 21oC, estes processos agem perfeitamente. Entretanto, quando a temperatura
ambiental se aproximar da temperatura corporal, os processos perdem a sua importância (RUTZ, 1994).
A perda sensível de calor é muito influenciada pelas propriedades isolantes do empenamento. A
temperatura ambiental influencia a capacidade de isolamento das penas. McFarland & Budgell (1971) citados
por RUTZ (1994) observaram que as penas se moviam em resposta a trocas de temperaturas que estimulavam
o hipotálamo, naturalmente, a partir de estímulo de termorreceptores periféricos. Portanto, a capacidade da ave
de perder calor é influenciada mais pela temperatura da pele do que pela temperatura interna central.
Outro fator importante na termorregulação de aves é a presença dos apêndices, crista e barbelas, que
podem representar 7% da área total da ave. Estas estruturas, por serem bem vascularizadas, contribuem no
processo de termorregulação das aves. A perda de calor através das cristas e barbelas é maximizada em
temperaturas ambientes acima de 30oC, através do aumento da migração do fluxo de sangue para a periferia
do corpo da ave, facilitando a liberação de calor para o ambiente (NAAS, 1997). A troca de calor sensível
pode variar de 9 a 26% quando a temperatura ambiente estiver entre -5 e 40oC.

2. PERDAS INSENSÍVEIS: esta forma de eliminar calor não aumenta a temperatura do ambiente ao redor
do animal. A transferência de energia tem seu efeito no sistema representado por mudança de estado de
agregação, sendo que o calor envolvido nesse mecanismo de troca é denominado calor latente (NAAS, 1989).

Evaporação: o animal perde calor quando a água contida no suor, na saliva e nas secreções respiratórias é
transformada em vapor de água.
• evaporação é a troca térmica úmida proveniente da mudança do estado líquido para o estado gasoso. Para
ser evaporada passando para o estado de vapor, a água necessita de um certo dispêndio de energia.
• para evaporação de 1 litro de água são necessárias 580 kcal (ROBINSON, sd);
• para evaporação de 1 grama de água são necessárias 550 cal (MACARI, et al., 1994);
• para evaporação de 1 grama de água (na superfície animal a 30oC) são necessários 579 cal (BAÊTA,
1998).
• a velocidade de evaporação é função do estado higrométrico do ar e de sua velocidade e temperatura.
• a perda de calor por evaporação é contínua, mesmo em condições termoneutra, devido a ocorrência de
difusão de água através da pele e vapor de água nas vias respiratórias;
• a perda de calor ocorre na conversão para vapor, tanto do suor secretado pelas glândulas da pele quanto da
umidade proveniente do trato respiratório (BAÊTA, 1998).

Em condições de estresse térmico, as perdas por evaporação são fundamentais, pois:


• quanto menor o gradiente térmico, entre o animal e o ambiente, menor as perdas sensíveis por condução,
convecção e radiação;
• as glândulas sudoríparas são ativadas e o animal começa a ofegar.
• é a única forma de perda de calor viável quando a temperatura ambiente se iguala ou ultrapassa a do corpo
(independe do gradiente de temperatura);
• a gotícula de água somente irá se evaporar se a pressão de vapor do meio for menor do que a da via aérea
superior ou superfície da pele. Assim, a eficiência da evaporação diminui conforme a umidade relativa do
ar aumenta e o ar fica saturado com vapor de água.
• a massa de pelame, lã ou penas influencia o processo evaporativo por sudorese, pois fixa junto a epiderme
uma camada de ar na qual a pressão de vapor atinge o nível de saturação a uma temperatura próxima à da
superfície cutânea. Esta camada de ar úmido é dificilmente removida.
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2.1. SUDORESE ou SUDAÇÃO:


Ocorre a partir de glândulas sudoríparas (écrinas e apócrinas) localizadas na derme. Todos os
mamíferos placentários possuem glândulas sudoríparas, exceto os roedores e lagomorfos. Em cães e suínos,
estas glândulas são pouco desenvolvidas. Nos mamíferos ungulados, a sudorese termorreguladora é
proveniente de glândulas apócrinas, que estão associadas aos folículos pilosos e produzem secreção contendo
proteína (94,4% de água, 5% de cloretos e outros sais e 0,5% de albumina). Nos primatas, a sudorese
termorreguladora é proveniente de glândulas écrinas que produzem secreção aquosa com composição iônica
semelhante a do plasma (99% de água e 1% de NaCl e KCl). O suor que chega à pele é uma solução
concentrada de uréia, ácido lático, íons K+ e, no caso de mamíferos ungulados, proteínas. Quando o suor é
abundante há menor reabsorção de Na+ e Cl- no tubo, e maior perda de água. O homem pode chegar a perder
1,5 kg de água/h durante este processo. A sudorese é a principal forma de perda de calor por evaporação em
eqüinos e bovinos (Tabela 4).

Tabela 4. Taxas de termólise por evaporação na superfície cutânea (W/m2).


Espécie Abaixo da TCI Acima da TCS
Homem (esforço físico) 6 816
Homem (repouso) 6 102
Porco 7 19
Ovinos 8 35
Bovinos 9 98
Galinhas 4 12
TCI = Temperatura crítica inferior. TCS = Temperatura crítica superior. INGRAN (1974).

Em bovinos submetidos ao estresse por calor, a evaporação respiratória responde por 30% do total,
correspondendo os restantes 70% à evaporação cutânea.
Na maioria das espécies, a sudorese está sob o controle de fibras nervosas simpáticas colinérgicas,
mas no eqüino tal controle parede ser coordenado por fibras simpáticas adrenérgicas.
Mister se faz salientar que embora a ave não possua glândulas sudoríparas, ainda assim consegue
perder água através da pele (difusão). Fundamentalmente, em temperaturas baixas, a quantidade eliminada
representa 80% do total da umidade perdida. Ao aumentar a temperatura ambiental, a perda aquosa cutânea
aumenta em termos absolutos, porém representa somente 40% quando a hiperpnéia começar e cai para 15%
quando a ave estiver em hiperpnéia ativa.
De acordo com McDowell (1972) citado por SILVA (1996), os animais domésticos que mais suam,
pela ordem decrescente de importância desse mecanismo para a termorregulação, são os seguintes: 1) eqüinos,
2) asininos, 3) bovinos, 4) bubalinos, 5) caprinos, 6) ovinos e 7) suínos. Contudo, existem sensíveis diferenças
entre raças.
Nos eqüinos, existe um efeito da raças sobre a taxa de sudação. TITTO (1994), verificou que a taxa de
sudação foi influenciada pela raça, e os animais Bretão, originários de regiões de clima frio, utilizam
eficientemente a sudação como via termolítica, quando comparados a animais das raças Anglo-Árabe e
Mangalarga. As perdas sudativas dos eletrólitos cloro, sódio e potássio, também variam com a raça. O mesmo
não ocorre com as minerais cálcio e magnésio.

2.2. OFEGO (hiperpnéia):


É a forma de aumentar a evaporação pelas vias respiratórias. O calor é eliminado do corpo através do
ar exterior inspirado e expirado pelo animal. Pequenos volumes tidais se movem a rápida freqüência (200
movimentos/minuto) no espaço morto respiratório. O ofego ocorre junto à freqüência ressonante do sistema
respiratório, de modo que o trabalho da respiração é minimizado e não se acrescenta à perda de calor. O
ingurgitamento vascular das mucosas respiratórias e oral, bem como o aumento da salivação, acentua a perda
de calor por evaporação. Ao ventilar o espaço morto, a hiperventilação e a alcalose são evitadas.
Constitui-se na principal forma de perda de calor por evaporação em aves, suínos e cães submetidos a
altas temperaturas. No caso dos ovinos, que são animais que suam pouco, o ofego é também muito importante.
Pequenos roedores não apresentam ofego nem suam. Passam saliva ou água sobre o pêlo. As aves, aos
primeiros sinais de estresse térmico pelo calor, aumentam a freqüência respiratória, e, em situações de estresse
severo, pode chegar até 20 vezes o valor basal. Estima-se que, em condições médias de umidade, a ave adulta
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 49

dissipa em torno de 20% do calor corporal por via latente à 15oC, 60% a 30oC e 100% a 41oC e, do calor
dissipado na forma latente, 50% ocorre pelo aparelho respiratório à 15oC e 85% a 41oC (BAÊTA, 1998).
A evaporação respiratória tem sido apontada como o principal mecanismo de termólise em ovinos
(Figura 3). Entretanto, HOPKINS et al. (1978) observaram que em animais Merino sob alta temperatura
(38oC) e baixa umidade (32%) que a evaporação respiratória contribuiu com apenas 10% da termólise
evaporativa.

Figura 3. Representação esquemática do ganho e da perda de calor entre um ovino e o ambiente


(CUNNINGHAN, 1990).

O aumento na taxa respiratória é acompanhada por um aumento na perda de umidade pelo corpo, de
forma que a ave bebe mais água para evitar a desidratação. Eventualmente, a ave bebe mais água do que
realmente exalou e o excedente é perdido através das excretas (RUTZ, 1994).

Relação entre calor sensível e insensível nas aves.


A temperatura ambiental e umidade relativa influenciam a perda de calor sensível e insensível do
corpo. Em temperaturas ambientais até 21oC, imperam as perdas sensíveis (radiação, condução e convecção).
Em temperaturas acima da termoneutralidade, aumenta a perda de calor por evaporação. Portanto, conforme
aumenta a temperatura ambiental, uma maior percentagem de perda insensível de calor e uma menor perda
sensível de calor ocorrem (Tabela 5).

Tabela 5. Efeito da temperatura ambiental sobre a produção de calor sensível e insensível em aves Leghorn.
Temperatura ambiental Calor sensível Calor insensível Produção sensível de
o
( C) (%) (%) calor/kg/h (BTU)
4,4 90 10 19,8
15,6 80 20 17,4
26,7 60 40 13,4
37,8 40 60 9,5
North & Bell (1990) citados por RUTZ (1994).

A umidade do ar é um fator importante, além da temperatura, uma vez que regula a taxa de
evaporação a partir do trato respiratório (Tabela 6). Passa a assumir maior importância quando a temperatura
ambiental atinge 25oC. Quanto maior a umidade relativa do ar, menos umidade será removida das vias aéreas,
e menor será a perda de calor corporal. Em conseqüência, quando a temperatura corporal alcança o máximo
fisiológico, sobrevém a hipertermia com prostação e morte (RUTZ, 1994).
Também podem ocorrer pequenas perdas de calor através da produção de ovos ou leite e através da
excreção de fezes e urina. SILVA & GAUDIOSI (1995) trabalhando com ovinos das raças Ideal e Suffolk
consideraram a evaporação respiratória como a principal via de termólise evaporativa nos ovinos.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 50

Tabela 6. Efeito da temperatura e umidade relativa do ar sobre a perda evaporativa de calor em aves adultas.
Clima Temperatura Umidade Relativa Perda evaporativa de
(oC) (%) calor (%)
Normal, seco 20 40 25
Normal, úmido 20 87 25
Quente, seco 24 40 50
Quente, úmido 24 84 22
Calor, seco 34 40 80
Calor, úmido 34 90 39
Romijn & Lorhorst (1966) citados por MACARI (1994).

C. TRANSFERÊNCIAS DE CALOR NO CORPO

Os tecidos são maus condutores e o calor é transferido mais efetivamente pelo sangue:
O calor é produzido principalmente nos músculos e fígado, sendo eliminado pela pele e vias respiratórias.
Logo é preciso que seja redistribuído por todo o corpo através do fluxo sangüíneo que transfere
calor para as partes mais frias (extremidades) e resfria as partes mais quentes (cérebro e vísceras
principais) (Figura 4 e Tabela 4).

Figura 4. Representação esquemática da distribuição das


temperaturas em um pônei sob condições ambientais
quentes e frias. Em condições quentes, a temperatura
corpórea central estende-se para baixo até os membros e
aproxima-se da superfície cutânea do animal. Em condições
frias, a vaso constrição nos vasos sangüíneos periféricos
resulta em um gradiente de temperatura entre as partes
centrais do corpo e as extremidades. A temperatura central
se mantêm apenas no abdômen, tórax e no cérebro do
animal. Os tecidos mais periféricos podem esfriar
consideravelmente (CUNNINGHAN, 1990).

No calor, o fluxo sangüíneo cutâneo aumenta, e isto ocorre de duas formas: 1) As arteríolas dos leitos
vasculares cutâneos se dilatam e aumenta o fluxo sangüíneo capilar; e 2) Abrem-se as anastomoses arterio-
venosas nos membros, orelhas e focinho. Desta forma, aumenta a temperatura nos membros e a perda de calor
pela pele.
No frio, o fluxo sangüíneo cutâneo diminui, pois ocorre: 1) Vasoconstrição nos leitos vasculares
cutâneos; e 2) Fechamento das anastomoses arterio-venosas. Diminui a temperatura nos membros e a perda de
calor pela pele.

Tabela 7. Gradiente médios de temperatura (oC) observados em ovinos de três raças


Variável Corriedale Ideal Suffolk
Temperatura retal 39,90 ± 0,02 39,39 ± 0,02 39,92 ± 0,02
Temperatura da epiderme 39,44 ± 0,04 38,72 ± 0,04 39,05 ± 0,04
Temperatura do interior do velo 38,46 ± 0,17 35,70 ± 0,18 37,51 ± 0,17
Temperatura externa do velo 36,35 ± 0,33 32,48 ± 0,32 33,95 ± 0,25
Temperatura ambiente 30,5 (16 a 48) 24,3 (16 a 31) 26,1 (20 a 33)
Espessura do velo (m) 0,071 0,049 0,065
Número de observações 978 460 636
(SILVA & BARBOSA, 1993).
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A troca de calor em contracorrente ao longo dos membros conserva o calor corpóreo:


O calor é transferido do sangue arterial aquecido para o venoso mais frio, e assim retorna para as
partes centrais do corpo resfriando-as. No calor, o sangue perfunde os leitos capilares mais periféricos (perda
de calor através da pele) e retorna dos leitos vasculares superficiais através de veias superficiais (fonte
adicional de perda de calor). No frio ocorre uma vasoconstrição periférica e o fluxo sangüíneo do membro é
direcionado para os leitos vasculares mais profundos que acompanham as artérias.

D. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL:


Os mamíferos e as aves normalmente regulam o produção e a perda de calor para manter a
temperatura corpórea dentro de limites estreitos.
A temperatura retal, embora seja um pouco inferior à temperatura central do animal, serve como um
bom indicativo desta (Tabela 8 e 9).

Tabela 8. Temperatura retal de mamíferos domésticos em °C.


Espécie Média Limites
Asinino 37,4 36,4-38,4
Bovino (corte) 38,3 36,7-39,1
Bovino (leite) 38,6 38,0-39,3
Cão 38,9 37,9-39,9
Caprino 39,1 38,5-39,7
Eqüino 37,7 37,2-38,2
Gato 38,6 38,1-39,2
Ovino 39,1 38,5-39,9
Suíno 39,2 38,7-39,8

Tabela 9. Temperaturas retais (variação e média) de animais domésticos em condições de termoneutralidade,


dentro da amplitude delimitada pelas temperaturas críticas inferior (TCI) e superior (TCS).
Animais Temperatura Retal oC TCI TCS
Bovinos:
Taurinos, adultos 37,5 - 39,3 (38,3) -6 27
Taurinos, bezerros 13 25
Zebuínos 38,5 - 39,7 (39,1) 7 35
Ovinos:
Europeus, adultos 38,3 - 40,0 (39,1) -2 20
Europeus, cordeiros 29 30
Deslanados 38,9 - 40,5 (39,8)
Suínos:
Adultos 38,7 - 39,8 (39,2) 0 15
Leitões 32 33
Caprinos:
Adultos 38,7 - 40,7 (39,9) 10 30
Galinhas:
Poedeiras 40,6 - 43,0 (41,7) 7 21
Frangos 13 27

PRINCÍPIOS DE REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL


Nos homeotermos, a temperatura corporal é regulada através de mecanismos fisiológicos (SNA
simpático e parassimpático) e respostas comportamentais (Sistema motor). O modelo de termorregulação em
aves é baseado em 4 diferentes unidades: 1) Receptor, 2) Controlador, 3) Efetor e 4) Sistema passivo (Figura
5). Assim, o controle da temperatura é feito pelo balanço de duas variáveis: uma associada às respostas
desencadeadas pelo aumento da temperatura e a outra às respostas desencadeadas pela redução da
temperatura.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 52

Figura 5. Interação entre ambiente –


frango de corte. A percepção dos
estímulos pelos receptores e sua
integração no sistema nervoso central
(SNC) induz a ativação de
mecanismos controladores (sistema
nervoso central e medula). A
participação dos sistemas efetores
induzem respostas para a manutenção
da homeostase orgânica (MACARI et
al., 1994).

Assim, assume-se a existências de duas populações neuronais no hipotálamo, uma respondendo ao


frio e a outra ao calor. O conceito de “set-point” termorregulador reside na influência recíproca dos sensores
de frio e de calor sobre as eferências de sistemas controladores da temperatura corporal (Figura 6 e 7).

Figura 6. Neurônios hipotalâmicos responsivos


à variação de temperatura. Os neurônios
responsivos ao calor são acionados quando a
temperatura corporal aumenta e induzem
respostas periféricas de perda de calor. Os
neurônios responsivos ao frio são ativados
quando a temperatura corporal diminui e
induzem respostas periféricas associadas à
produção de calor. Quando as atividades dos
neurônios responsivos a calor e frio se
igualam, a produção será igual à perda de
calor, e a temperatura corporal será mantida
estável. Este “ponto de atividade” é
denominado de “set point” e, para o frango de
corte, corresponde a 41oC (MACARI et al.,
1994).

Os receptores termossensíveis estão situados no sistema nervoso central, na pele e em alguns órgãos
internos.

Neurônios termossensíveis (sensores de temperatura):


a) Neurônios termossensíveis que monitoram a temperatura cerebral ou central.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 53

• área pré-óptica do hipotálamo (aumentam a freqüência de disparo em função de pequenos aumento das
temperatura. local), iniciando-se os processos de vasodilatação periférica e sudorese.
• outros neurônios hipotalâmicos e mesencefálicos:
- alguns diminuem sua freqüência de disparo em resposta ao calor;
- outros aumentam sua freqüência de disparo em resposta ao frio.

b) Neurônios termossensíveis situados na pele:


• receptores cutâneos para o frio: se encontram em maior número e são muito sensíveis a queda da
temperatura;
• receptores cutâneos para o calor.

c) Neurônios termossensíveis situados em vários locais das vísceras.

A informação proveniente dos neurônios termossensíveis centrais e periféricos é integrada no


hipotálamo para regular os mecanismos de perda ou conservação de calor (Figura 7).

Figura 7. Mecanismos de controle por retroalimentação para a regulação da temperatura corpórea. Os


receptores de temperatura na pele e nas partes centrais do corpo liberam informação para o
hipotálamo, que ajusta as respostas para conservar e produzir ou perder calor. Os resultados dessas
respostas são retransmitidos para os receptores através da circulação (CUNNINGHAN, 1990).

RESPOSTAS INTEGRADAS:
A zona de termoneutralidade ou de conforto térmico é a faixa de temperatura ambiente efetiva, dentro
da qual o custo fisiológico é mínimo e o desempenho produtivo esperado é máximo. Para poderem expressar
seu potencial genético para a produção, os animais devem contar com condições meteorológicas que,
idealmente, devem situar-se na zona de termoneutralidade, com alimentação adequada, quantitativa e
qualitativamente. Dentro da zona de termoneutralidade o animal mantém uma variação normal da temperatura
corporal, o apetite é normal e a produção ótima. Abaixo da temperatura crítica inferior os animais entram em
estresse pelo frio e precisam produzir calor para manter a temperatura corporal. Acima da temperatura crítica
superior sofrem estresse pelo calor ou térmico e necessitam mobilizar mecanismos fisiológicos de perda de
calor para manter a temperatura corporal em níveis normais. Para ocorrência de tais reações termorreguladoras
é desviada energia, a mesma que poderia ser empregada para o crescimento e desenvolvimento do animal
(ENCARNAÇÃO, 1989).
Na zona termoneutra, a temperatura corporal pode ser regulada por mecanismos vasomotores que
aumentam ou diminuem o fluxo sangüíneo cutâneo e, assim, modificam a quantidade de calor perdida por
convecção e irradiação.
Fora da zona de termoneutralidade, os animais começam a desenvolver respostas integradas
para enfrentar situações de frio ou de calor de forma a preservar sua temperatura corporal constante (Figura 8).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 54

Figura 8. A manutenção da temperatura corporal do frango de corte é função dos mecanismos de produção e
perda de calor. Assim, quando a produção é igual à perda calórica, a temperatura corporal se
mantém estável (≅ 41oC). As variações de temperatura na periferia (patas, crista, asas, etc.)
ocorrem a fim de manter a constância da temperatura corporal, em especial, a temperatura visceral
(MACARI et al., 1994).

Integração das respostas ao estresse causado pelo calor:


Com o início e aumento da atuação dos elementos climáticos causadores do estresse térmico, os
mecanismos de defesa contra o calor entram em ação em uma determinada seqüência.
Sob calor moderado o animal apresenta vasodilatação periférica (resposta inicial), que aumenta o
fluxo sangüíneo cutâneo e nos membros, aumentando a perda de calor por irradiação e convecção. À medida
que o ambiente se torna mais quente, a evaporação a partir da pele (sudorese) se intensifica sendo
suplementada de forma progressiva pelo aumento da evaporação respiratória (ofego). A evaporação é o único
método de perda de calor disponível quando a temperatura ambiente excede a cutânea (vacas a 30o C perdem
80% do calor por evaporação). O animal também busca ajustes comportamentais para diminuir a carga
térmica (busca locais sombreados, água ou lama). Se a operação de todos os meios de dissipação de calor não
é suficiente para restabelecer o equilíbrio térmico, a temperatura corporal começa a subir. Isto resultará na
diminuição do apetite e da atividade da tireóide. O nível de estresse térmico sob o qual as animais começam a
mobilizar seus mecanismos de defesa contra o calor depende grandemente da magnitude de sua produção
normal de calor. Assim, novilhas têm limites críticos mais altos de temperatura ambiente que vacas altas
produtoras, e o gado de corte limites mais altos que os do gado leiteiro. No caso, as novilhas possuem
metabolismo energético mais baixo que as vacas altas produtoras, o mesmo ocorrendo com os bovinos de
corte em relação aos de leite. O gado zebu tem metabolismo mais baixo do que o gado de origem européia.
Em aves, as cristas e barbelas aumentam se submetidas a altas temperaturas. Estas estruturas são
amplamente vascularizadas, portanto, participam ativamente na regulação térmica através da perda sensível de
calor pela ave (Freeman, 1983 citado por RUTZ, 1994).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 55

Sob estresse térmico severo, ocorre alta taxa de fluxo de sangue do núcleo para a pele do animal e,
consequentemente, alta taxa de fluxo de calor, resultando em altas temperaturas superficiais . À medida que as
perdas evaporativas tornam-se maiores, grande quantidade de calor é removida da pele por vaporização, de
forma que o sangue que circula pelas superfícies do corpo torna-se mais refrigerado (BAÊTA, 1998).

Esquema da seqüência dos mecanismos de defesa contra o calor:


1. Mecanismos vasomotores: vasodilatação periférica (“reação universal ao calor”) aumenta as perdas de
calor sensíveis;
2. Início da sudorese: perda por evaporação. Principal meio para a perda de calor nos bovinos sob
temperaturas e radiação solar elevadas. O cavalo é o melhor suador entre os animais domésticos.
3. Aumento da freqüência respiratória: perda por evaporação. Animais que não dispõe de glândulas
sudoríparas (coelhos, aves) ou estas não são funcionais (suínos), utilizam-se principalmente deste
mecanismo.
4. Alterações na atividade endócrina: o estresse térmico reduz a atividade da tireóide, há redução do
metabolismo energético.
5. Mudanças de comportamento: os animais, em geral, procuram sombra; os ruminantes diminuem as horas
de pastejo durante o dia; os suínos e os bubalinos procuram água para imergir (eventualmente também os
bovinos); tendência para menor consumo de volumosos em relação aos concentrados; inibição do apetite e
menor consumo de alimento. Diminuição na produção (leite, ganho de peso, ovos, etc.).
6. Maior consumo de água: uma vaca em lactação com 500 kg bebe, em média, 50 l diários de água quando a
21o C, aumentando esse consumo de 25 a 100% sob temperatura de 32o C;
7. Elevação da temperatura corporal;
8. Alterações na utilização da água corporal;
9. Mudanças no estado de hidratação.

Integração das respostas ao estresse causado pelo frio são:


Sob condições ambientais frias, ocorre a vasoconstrição periférica, resultando em baixo gradiente de
temperatura entre a pele e o ambiente, reduzindo as perdas por convecção e irradiação. Ocorre piloereção,
aumentando a camada de ar que proporciona um maior isolamento da superfície da pele e aumenta da
produção metabólica de calor por termogênese mediante tremores e não-tremores. A exposição prolongada ao
frio resulta em aumento da secreção de tiroxina e do metabolismo basal (aumenta a produção basal de calor).
Nas épocas mais frias do ano, a espessura da pelagem aumenta.

Choque pelo calor: ocorre quando a produção ou ganho de calor excede as perdas, resultando em um
aumento da temperatura corporal (hipertermia). Quando a temperatura corporal ultrapassa 41,5 a 42,5o C, a
função celular fica seriamente prejudicada e o animal perde a consciência. A temperatura letal é aquela na
qual ocorre a morte do animal (44 a 45o C). Segundo RUTZ (1994), a temperatura letal para aves é de
aproximadamente 47oC.

Hipotermia: ocorre quando as perdas de calor ultrapassam a sua produção e ganho, de forma que a
temperatura corporal cai a níveis perigosos. Animais jovens e doentes necessitam maiores cuidado. A
capacidade hipotalâmica de regular a temperatura corporal fica bastante prejudicada a uma temperatura abaixo
de 29o C e ocorre parada cardíaca em torno de 20o C.
O desenvolvimento da atividade termorreguladora nas aves atinge sua plenitude entre 10 a 15 dias de
vida pós-natal. Assim, o pinto recém nascido depende de fonte externa de energia, ou respostas
comportamentais para termorregulação, sendo sua temperatura ao redor de 39 a 40oC (MACARI et al., 1994).
É usual no manejo, o uso de campânulas de aquecimento nos primeiros 10 dias de vida do pinto, em
função da deficiência do sistema termorregulador do pinto. As campânulas de calor radiante são mais
eficientes que as de convecção, pois estas últimas podem aumentar a velocidade do ar pelas correntes de
convecção.

Febre: é uma elevação da temperatura corporal, resultante de um aumento no “set point”, provocado por
pirógenos exógenos e/ou endógenos (Figura 9). O organismo inicia respostas para conservar e produzir calor
até que a temperatura corporal alcance o novo “set point”. Acredita-se que a produção local de prostaglandina
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 56

(E1) no hipotálamo esteja envolvida na elevação do “set point”. Por essa razão, os bloqueadores da
cicloxigenase como a aspirina e a fenilbutazona são usados para tratar a febre.

Figura 9. Eventos envolvidos na febre. A exposição a um pirôgeno eleva o ponto fixo (“set-point) do sistema
regulador da temperatura, resultando em produção e conservação de calor para elevar a
temperatura do corpo, o que causa a febre. Quando a febre cessa, o ponto fixo abaixa, e o corpo
precisa perder calor (CUNNINGHAN, 1990).

LITERATURA CONSULTADA:
BACCARI JR., F. Manejo ambiental para produção de leite nos trópicos. In: CICLO INTERNACIONAL
DE PALESTRAS SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal:
FUNEP, 1989. p.45-53.
BAÊTA, F.C. Acondicionamento térmico natural de galpões avícolas. In: SIMPÓSIO GOIANO DE
AVICULTURA, III, 1998, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG/AGA, 1998. p.29-34.
CUNNINCHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro: GUANABARA KOGAN, 1990.
454p.
ENCARNAÇÃO, R.O. Estresse e produção animal. In: CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS
SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.111-
129.
MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 296p.
NAAS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo: Ícone, 1989. 183p.
NAAS, I.A. Ventilação e climatização para frangos de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1997, São Paulo. Anais... Campinas: FACTA, 1997. p.108-119.
ROBINSON, N.E. Termorregulação. In: CUNNINGHAM, J.G. Tratado de fisiologia veterinária. .ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 199 . cap.51, p.427-435.
RUTZ, F. Aspectos fisiológicos que regulam o conforto térmico das aves. In: CONFERÊNCIA APINCO DE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1994, Santos. Anais... Campinas: FACTA, 1994. p.99-110.
SILVA, R.G., GAUDIOSI, M.C. Termólise evaporativa em ovinos sob altas temperaturas. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE BIOCLIMATOLOGIA, I, Jaboticabal, 1995. Resumos das Comunicações...
Jaboticabal: SILVA, R.G., 1995. p.17.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000.
TITTO, E.A.L. Taxa de sudação e composição mineral do suor de eqüinos das raças bretão, anglo-árabe e
mangalarga. Botucatu, 1994. 39p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia - UNESP, Câmpus de Botucatu.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 57

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Com relação a manutenção da temperatura corporal, como os animais são classificados? Exemplifique.
2) O que significa metabolismo basal?
3) Quais são os tipos de termogênese?
4) Como um animal pode ganhar calor do ambiente?
5) O que são perdas sensíveis de calos? Exemplifique?
6) O que são perdas insensíveis de calor? Exemplifique?
7) Qual a diferença entre um animal estar com febre e com hipertermia?
8) O que significa hipotermia?
9) O que é “set-point” termorregulador e qual sua localização no corpo dos animais?
10) Como se comportam as perdas de calor sensíveis e insensíveis do corpo de um animal, a medida quea
temperatura do ambiente aumenta?
11) Qual é a relação entre a umidade relativa do ar e as perdas insensíveis?
12) Cite 5 animais cuja perda de calor por ofêgo é um mecanismo importante?
13) Cite 5 animais cuja perda de calor por sudorese é um mecanismo importante?
14) Animais recém-nascidos são muito sensíveis ao frio? Por que?
15) Quando submetemos um animal ao ambiente quente, qual a primeira alteração fisiológica que ocorre em
seu organismo? Por quê?
16) Quando submetemos um animal ao ambiente frio, qual a primeira alteração fisiológica que ocorre em seu
organismo? Por quê?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 58

Aula 06 - Zona de Termoneutralidade e Índices de Adaptação e de Conforto Térmico

I. ZONA DE TERMONEUTRALIDADE

As aves, como os mamíferos, são animais homeotermos e como tal, devem manter a temperatura
corporal relativamente constante. Para que isto aconteça é indispensável que estes animais tenham condições
de gerar ou dissipar calor de acordo com a temperatura efetiva do ambiente (PENZ JR., 1989).
A ave produz calor continuamente através do processo metabólico e atividade muscular. O calor
produzido pelo corpo deve ser eliminado ou a temperatura corporal elevar-se-á (PENZ JR., 1994).
Zona de termoneutralidade ou de conforto térmico é a faixa de temperatura ambiente efetiva, dentro
da qual o custo fisiológico é mínimo e o desempenho produtivo esperado é máximo. Para poderem expressar
seu potencial genético para a produção, os animais devem contar com condições meteorológicas que,
idealmente, devem situar-se na zona de termoneutralidade, com alimentação adequada, quantitativa e
qualitativamente. Dentro da zona de termoneutralidade o animal mantém uma variação normal da temperatura
corporal, o apetite é normal e a produção ótima.
Na zona de conforto térmico, a taxa metabólica é mínima e a homeotermia é mantida com menos
gasto energético. Assim, na zona de termoneutralidade, a fração de EM utilizada para a termogênese é mínima
e a energia líquida de produção é máxima (Mount, 1979, citado por MACARI et al., 1994).
Zona de termoneutralidade representa a amplitude de variação da temperatura ambiente dentro da qual
os animais apresentam metabolismo mínimo, sem demonstrar quaisquer sintomas de desconforto térmico
(BLIGH e JOHNSON, 1973). Nesta faixa, os animais podem manter a homeotermia somente as custas de
compensações físicas (PENZ JR., 1989). A zona de termoneutralidade é limitada em ambos os extremos pela
temperatura crítica inferior (TCI) e pela temperatura crítica superior (TCS).
Abaixo da temperatura crítica inferior os animais entram em estresse pelo frio e precisam produzir
calor para manter a temperatura corporal. Acima da temperatura crítica superior sofrem estresse pelo calor e
necessitam mobilizar mecanismos fisiológicos de perda de calor para manter a temperatura corporal em níveis
normais. Sob estresse por calor a temperatura corporal pode aumentar e chegar a hipertermia (excesso de calor
no corpo), associada a diminuição do apetite e menor ingestão de alimento (para baixar a taxa metabólica),
resultando na diminuição dos desempenhos produtivo e reprodutivo.
Dentro da zona de termoneutralidade, o gasto de energia para a mantença do animal é constante e num
nível mínimo, e a retenção de energia da dieta é máxima. Deste modo, a energia do organismo pode ser
dirigida para os processos produtivos, além dos de manutenção, não havendo desvio de energia para manter o
equilíbrio fisiológico (BACARI, 1993).
O ambiente térmico ótimo corresponde a uma amplitude de variação da temperatura bem estreita e
dentro da qual o organismo encontra condições perfeitas para a expressão de suas melhores características
(ótimo para performance, reprodução e saúde).

Temperatura crítica Temperatura crítica


inferior superior

ZONA DE TERMO
Stress pelo frio NEUTRALIDADE Stress pelo calor

Ambiente Térmico
Ótimo
Frio Quente
Baixa TEMPERATURA AMBIENTE EFETIVA Alta

Figura 1. Representação esquemática da zona de termoneutralidade (National Research Council, 1981).


Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 59

A temperatura ambiente sozinha é uma representação inadequada do ambiente térmico. A zona de


termoneutralidade é definida baseando-se na temperatura ambiente efetiva. Segundo AMES (1981), esta é um
índice do poder de aquecimento e resfriamento do ambiente em termos de temperatura de bulbo seco e inclui,
além da temperatura do ar, elementos climáticos que alteram a demanda de calor ambiente como a radiação
solar, vento, umidade e precipitação. Entretanto, freqüentemente a zona de termoneutralidade é referida
apenas em termos de temperatura do ar.

Figura 2. Temperaturas críticas ambientais (HAFEZ, 1973).

As temperaturas críticas podem variar em função do estado fisiológico, da raça ou espécie, da idade,
da ingestão de alimentos, do grau de aclimatação e de patologias e parasitoses. Valores mais altos de
temperatura crítica superior indicam maior tolerância ao calor e valores mais baixos de temperatura crítica
inferior indicam maior tolerância dos animais ao frio.
A temperatura crítica superior tende a ser excedida entre os animais de elevada produção (HAHN,
1993). No caso de uma vaca leiteira, estar sob uma temperatura acima da crítica superior (25oC), sofrerá
estresse térmico, que causará um aumento de sua temperatura corporal com a conseqüente inibição do apetite
e menor ingestão de alimentos, resultando em uma diminuição da produção de leite. Os animais submetidos ao
estresse pelo calor apresentam uma diminuição na taxa de crescimento (ganho de peso), na produção de leite e
ovos e falhas na reprodução, que baixam os índices de fertilidade dos rebanhos (BACCARI, 1988).
As aves, assim como os mamíferos, tem mais capacidade de se adaptar em ambientes frios que em
ambientes quentes, refletindo a razão porque os animais sofrem mais com o estresse causado pelo calor que
pelo frio (PENZ JR, 1989 e RUTZ, 1994). Entretanto, ao contrário dos mamíferos, as aves possuem maior
área de superfície corporal em relação ao peso, trocando mais temperatura com o meio. Assim, em caso de
queda brusca da temperatura, as aves sofrem mais que os mamíferos (RUTZ, 1994).
Em situações onde a temperatura ambiente estiver dentro da zona de termoneutralidade das aves as
perdas de calor corporal ocorrerão preferencialmente por radiação. Entretanto, quando as aves estiverem em
ambiente muito quente o mecanismo preferencialmente empregado será a evaporação. Porém, com elevada
umidade relativa do ar (acima de 60%) a eficiência da perda de calor por evaporação diminui para cerca de um
terço. Em aves, esta perda por evaporação ocorre exclusivamente pela respiração, uma vez que as aves não
tem glândulas sudoríparas (PENZ JR, 1989).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 60

v ↑ u ↑ r u
Produção e r m v a m
de leite, n a i e d i
Kg/dia t d d Zona de conforto n i d
o i a t a a
↓ a d o ç d
ç e ã e
ã ↓ o ↓
20 o ↓

-20 0 20 40oC
Figura 3. Ilustração da zona de termoneutralidade em função do efeito sobre a produção de leite. As setas
verticais sugerem a alteração da zona de termoneutralidade para a produção de leite por 3 elementos
climáticos diretos associados à temperatura como o vento, a radiação solar e a umidade relativa do
ar. A zona de termoneutralidade mais estreita é sugestiva de diferenças nesta zona devidas à espécie,
nível de aclimatação e outras influências (JOHNSON, 1965).

Um dos principais fatores que afetam a zona de conforto térmico é a idade do animal. Com o
desenvolvimento do frango de corte, e a conseqüente maturação do sistema termorregulador e aumento da
atividade energética, a zona de conforto térmico é reduzida de 35oC, com 1 dia de idade, para 24oC, com 4
semanas de idade e, para 21-22oC com 6 semanas de idade (MACARI et al., 1994). Além da idade, o peso
corporal, o nível de produção, a espécie e raça também podem afetar a zona de termoneutralidade dos animais
(Tabela 1, 2, 3 e 4).

Tabela 1. Zona de termoneutralidade ou de conforto térmico para os animais domésticos (oC).


Espécie TCI TCS Faixa Ótima
Coelho 10 30 18-21
Suínos
com 20 kg 13 26 18-21
com 60 kg 8 24 15-18
com 100 kg 5 23 15-17
Vaca leiteira
com 10 kg de leite/dia -5 26 5-15
com 22 kg de leite/dia -5 25 5-15
Ovelha
lanada -15 30 2-16
tosquiada 17 27 21-24
Caprinos 30-40
Búfalos 27 18-23
Frango de corte 24 21-22
Poedeiras 15 25 18-22
Amimais de Laboratório
Hamster 15 29 21-23
Cobaia 18 29 23-25
Rato 18 29 23-25
Camundongo 18 29 23-25
Gérbil 18 29 23-25
TCI = temperatura crítica inferior. TCS = temperatura crítica superior.
Obs.: a umidade relativa considerada adequada para os animais de laboratório situa-se entre 30 e 70 %, com
exceção do gérbil que é de 30 a 50 %.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 61

Tabela 2. Zona de termoneutralidade para bovinos leiteiros.


Autores TCI TCS Animais
RHOAD (1936) 11,0 23,0 Bovinos de origem européia
JONHNSON & VANJONACK (1976) 1,7 21,0 Vacas em lactação
HAHN (1981) 4,0 24,0 Vacas leiteiras, UR < 75%
YOUNG (1981) - 25,0 25,0 Holandesa, pico de lactação
SHARMA et al. (1988) 5,0 22,0 Vacas em lactação
SHEARE & BEEDE (1990) 5,0 25,0 Holandesas em lactação
HUBER (1990) 4,0 26,0 Holandesas em lactação
TCI= temperatura crítica inferior; TCS= temperatura crítica superior.

Tabela 3. Temperaturas retais (variação e média) de animais domésticos em condições de termoneutralidade,


dentro da amplitude delimitada pelas temperaturas críticas inferior (TCI) e superior (TCS).
Animais Temperatura Retal, oC TCI, oC TCS, oC
Bovinos:
Taurinos, adultos 37,5 - 39,3 (38,3) -6 27
Taurinos, bezerros - 13 25
Zebuínos 38,5 - 39,7 (39,1) 7 35
Ovinos:
Europeus, adultos 38,3 - 40,0 (39,1) -2 20
Europeus, cordeiros - 29 30
Deslanados 38,9 - 40,5 (39,8) - -
Suínos:
Adultos 38,7 - 39,8 (39,2) 0 15
Leitões - 32 33
Caprinos (adultos) 38,7 - 39,8 (39,9) 10 30
Galinhas:
Poedeiras 40,6 - 43,0 (41,7) 7 21
Frangos 13 27

Tabela 4. Temperaturas ambientes recomendadas para galpões de aves, suínos, vitelos e coelhos.
Animais Peso (kg) Temperatura Ideal (oC)
Aves:
Galinhas 18 a 24
Frangos novos 27 a 28
Frangos em acabamento 20 a 22
Perus novos 29
Perus em acabamento 16 a 19
Suínos confinados:
5 24 a 32
20 21 a 31
40 18 a 30
80 14 a 28
140 12 a 30
Vitelos: -5 a 20
Coelhos:
Engorda 12 a 30
Adultos 10 a 30
Filhotes novos 15 a 30
HAHN (1993).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 62

II. ÍNDICES BIOCLIMÁTICOS OU DE CONFORTO TÉRMICO


Segundo SILVA (1996), os fatores a serem considerados na determinação do conforto térmico e nas
condições de adaptação dos animais a ambientes específicos são:

Ambiente: temperatura do ar, temperatura radiante, radiação solar, umidade do ar, vento, pressão atmosférica.

Capa externa: espessura, estrutura, isolamento térmico, penetração pelo vento, ventilação, permeabilidade ao
vapor, transmissividade, emissividade, absorvidade.

Características corporais: forma corporal, tamanho e movimentos, área de superfície radiante, área exposta a
radiação solar direta, emissividade da epiderme, absorvidade da epiderme.

Respostas fisiológicas: Temperatura (epiderme, retal, etc.), taxa de sudação, trocas respiratórias, produção,
taxa de crescimento e desenvolvimento, níveis hormonais (T3, T4, cortisol, etc.), metabolismo.

O objetivo fundamental dos índices é combinar diversos fatores, de modo a que os efeitos de
diferentes ambientes, tipos de capa externa, atividades físicas e respostas fisiológicas, comportamentais,
produtivas e reprodutivas possam ser comparadas entre si, permitindo a avaliação de animais e dos ambientes.

1. ÍNDICES BASEADOS EM MEDIDAS AMBIENTAIS.


Existem diversos índices cujo objetivo é determinar a adequação de um ambiente com relação a uma
atividade ou a um tipo especificado de animal. Tais índices dificilmente podem ser de uso generalizado, uma
vez que são estruturados com base em determinados fatores ambientais, os quais podem ser importantes para
alguns animais e não para outros. Além, disso, certos índices são baseados em associações de fatores
ambientais, que ocorrem em locais determinados (SILVA, 1996).

1.1. Temperatura Operativa (To) (Herrington et al., 1937):


Baseia-se no fato de que a ação de uma determinada temperatura sobre um organismo depende da
influência combinada de outros fatores (radiação, vento, umidade, etc.).

To = (hcTa + hrTr)ho , oK

Onde: ho = hc + hr
Ta = temperatura do ar, oK
Tr = temperatura radiante média, oK
hc = coeficiente de convecção
hr = coeficiente de transferência térmica por radiação = σ (T +TTr + TsT +T)
σ = constante de Stefan-Boltzmann (5,6697 x 10-8Wm-2oK-4)

1.2. Índice de estresse térmico de Givoni (ts) (Givoni, 1963):


Destina-se a prever a taxa de sudação necessária para levar ao equilíbrio térmico, seres humanos
vestidos com roupa leve de verão.
o
ts = 35 + 6 (to - 35), C

Onde: ts = temperatura da epiderme (oC);


to = temperatura operativa (oC).

Possível utilização em eqüinos, já que nesta espécie a sudação é quase tão importante quanto para
seres humanos.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 63

1.3. Índice de temperatura e umidade (THI):


Foi desenvolvido por Thom (1958) e empregado pelo “U. S. National Weather Service” desde 1959.
Leva em consideração pesos para as temperaturas dos termômetros de bulbo seco e de bulbo úmido ou a
temperatura do ponto de orvalho para relação com o desempenho produtivo dos animais (Kelly & Bond,
1971). Os valores do índice podem ser calculados a partir da temperatura do bulbo seco mais uma medida de
umidade.

THI = ts + 0,36 tpo + 41,2 (BACCARI et al., 1983)


Onde: ts = temperaturas do termômetro de bulbo seco, oC;
tpo = temperatura do ponto de orvalho, oC.

THI = ts - 0,55.(1 -UR).(ts - 58) (KELLY & BOND, 1971)


Onde: ts = temperatura do termômetro de bulbo seco em graus Fahrenheit (oF);
UR = umidade relativa do ar expressa como uma fração decimal.

THI = 0,72.(ts + tu) + 40,6 (McDOWELL & JOHNSTON, 1971)


onde: ts = temperatura do termômetro de bulbo seco, (oC);
tu = temperatura do termômetro de bulbo úmido, (oC).

Em função de diversas combinações de temperatura e umidade relativa do ar foi estabelecido o


“Livestock Weather Safety Index” para previsão, inclusive das perdas de animais por morte, com base no
índice de temperatura e umidade. Referindo-se à publicação do “U.S. National Weather Service (1976),
ROSEMBERG et al. (1983) classificam o índice de temperatura e umidade em amplitudes, de modo que
quando ele se situa entre 75 e 78 significa ALERTA para os produtores, no sentido de que precauções são
necessárias para evitar as perdas. O THI na amplitude 79 a 83 significa PERIGO, principalmente para os
rebanhos confinados, e medidas de segurança devem ser empreendidas para evitar perdas desastrosas. Um
THI maior ou igual a 84 significa EMERGÊNCIA e providências urgentes devem ser tomadas.

Figura 4. Declínio na produção de leite em função do índice de temperatura e umidade (THI). A curva
superior refere-se a vacas de menor produção, a do meio corresponde às de produção intermediária
e a inferior às de maior produção (JOHNSON & VANJONACK, 1976).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 64

Logo, acima de 75 já ocorrem prejuízos produtivos nos animais devido ao estresse térmico. De acordo
com McDOWELL & JOHNSTON (1971), bovinos de todas as idades mostraram graus mensuráveis de
desconforto térmico com índice de temperatura e umidade igual ou superior a 78 e o desconforto se tornou
agudo à medida que o THI aumentou.
De acordo com HAHN (1985) um valor de THI igual a 70 ou menos indica condição normal, não
estressante; um valor entre 71 e 78 é crítico; entre 79 e 83 indica perigo e acima de 83 já constitui uma
emergência. Segundo este autor, tais faixas seriam válidas para animais domésticos em geral e não apenas
para vacas.
Na Figura 4, verifica-se que a produção de leite começa a declinar a partir do THI = 72, sendo a queda
maior com o aumento do valor do índice para as vaca mais produtoras, pois estas possuem taxa metabólica
mais elevada e, portanto, são mais sensíveis ao estresse térmico.

Temperatura de globo negro (BGT):


Quando, entre outros fatores, visa-se o conforto térmico animal em climas quentes, deve-se considerar
o efeito da radiação solar como uma parte significativa da transferência de calor entre um animal e seu meio
(NAAS, 1994).
O termômetro de globo negro de Vernon ou globotermômetro fornece numa só medida em graus
centígrados, uma indicação dos efeitos combinados de temperatura do ar, temperatura radiante e velocidade do
vento (BOND & KELLY, 1955), provendo uma medida indireta do calor radiante ou carga térmica radiante
(CTR) do ambiente (COX, 1979). A leitura é expressa em temperatura de globo negro (Tgl, oC).
Consiste de uma esfera oca de cobre com 15 cm de diâmetro e pintada externamente de preto fosco
para absorver o máximo de radiação infravermelha incidente. No seu interior tem um termômetro de mercúrio,
cujo bulbo situa-se no centro da esfera.
O termômetro de bulbo negro tem como desvantagem o fator custo, tornando raro o seu uso. Porém, é
possível o emprego de materiais alternativos (plástico), na sua confecção, já que os valores de temperatura
observados são similares aos obtido com o termômetro de globo convencional, com uma redução de custo de
90 % (NAAS, 1994), viabilizando o uso do termômetro de bulbo negro pelos produtores rurais, para o
monitoramento das instalações.
Segundo NAAS (1989), vários autores estudaram as aplicações práticas deste tipo de termômetro em
estudos de ambiência ou conforto térmico, e algumas das conclusões mais importantes, são:
1. A temperatura de globo está correlacionada com a “sensação de calor” e aparentemente indica o estresse
térmico sentido pelo animal.
2. Em experimentos de campo para a determinação da carga térmica radiante, o termômetro de globo
mostrou-se eficiente, apontando, por exemplo, que a utilização de sombreamento reduz em até 20% a carga
térmica radiante direta sobre os animais à pasto.
3. A utilização de uma esfera como superfície de referência, simplifica os cálculos da carga total radiante de
um certo ambiente. Naturalmente que a carga térmica sobre uma esfera é numericamente diferente da carga
térmica sobre uma pessoa ou animal, mas, para efeitos práticos, a simulação de uma esfera preta em
determinado ponto pode representar a posição de um animal.

Temperatura de globo úmido (WGT):


O termômetro de globo úmido ou “Botsball” deve ser colocado no local onde se encontra o animal, na
altura do mesmo, para que as medidas expressem de maneira o mais real possível as condições do ambiente.

1.4. Índice de globo e umidade (BGHI):


Considerando que a radiação térmica é um dos mais importantes fatores ambientais, especialmente
para animais a campo aberto, BUFFINGTON et al. (1981) propuseram para vacas leiteiras uma modificação
do THI, que denominaram Índice de Globo e Umidade (Black Globe-Humidity Index, BGHI).

BGHI = tg + 0,36tpo + 41,5


Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 65

Onde: tg = temperatura (oC) do globo de Vernon colocado no mesmo local do animal;


Tpo = temperatura do ponto de orvalho, oC.

O BGHI é um indicador mais acurado que o THI do conforto térmico de animais expostos a ambientes
tropicais, com temperaturas elevadas e radiação solar intensa.

1.5. Índice de conforto térmico para ovinos (TCI) (SILVA & BARBOSA, 1993).
Específico para a classificação de ambientes para criação de ovinos.

TCI = 0,659ta + 0,511p + 0,550tg - 0,042v

Onde: ta = temperatura do ar (oC);


p = pressão parcial de vapor d’água (kPa);
tg = temperatura do globo de Vernon;
v = velocidade do vento (m/s).

Os resultados tem demonstrado que a temperatura retal de ovinos da raça Ideal mantém-se normal e
estável sob valores de TCI entre 20 e 37, subindo até 40oC quando o TCI atingia 50. Já os animais Suffolk
aumentavam rapidamente a temperatura retal a partir de TCI=20, atingindo 40oC sob TCI=38; esta
temperatura era atingida pelos Corriedale sob TCI=43. A freqüência respiratória também sofre efeitos
significativos com a variação do TCI: estando este valor abaixo de 25, a freqüência respiratória dos Ideal
mantinha-se menos que 90 respirações/minuto, aumentando rapidamente entre TCI=35 (124 resp./min.) e
TCI=48 (280 resp./min.). O TCI é superior ao THI e ao BGHI no que se refere à avaliação do ambiente para
ovinos.
BARBOSA & SILVA (1995a) testaram a nova equação do índice de conforto térmico para ovinos
(ICT = 0,6678ta + 0,4969p + 0,5444tg + 0,1038v) comparando-o com o THI (índice de temperatura e umidade)
e com o BGHI (índice de umidade do termômetro de globo) e concluíram pela superioridade do ICT frente aos
outros índices testados.
BARBOSA & SILVA (1995b) utilizaram o ITC (ICT = 0,6678ta + 0,4969p + 0,5444tg + 0,1038v)
para fazer um zoneamento bioclimático da ovinocultura nos Estados de São Paulo e Paraná e concluíram que
as regiões Noroeste do Paraná (Nova Esperança, Paranavaí e Nova Londrina) e Noroeste e Oeste de São Paulo
(Presidente Prudente, Araçatuba, São José do Rio Preto) seriam as mais apropriadas para os animais da raça
Ideal, pelas suas características de alta temperatura e baixa umidade. Uma extensa faixa ao longo do litoral de
ambos os Estados, entrando cerca de 200 km para o interior, até os limites das cidades de Itapeva, Tatuí,
Campinas e Caconde, em São Paulo, Castro, Telêmaco Borba, Laranjeiras do Sul e Pato Branco, no Paraná,
permitiria a criação de animais da raça Suffolk e, em alguns pontos também adequada para a raça Corriedale,
não sendo favorável para a raça Ideal. A parte central de ambos os Estados abrangendo as cidades de
Botucatu, Piracicaba, Casa Branca, Ribeirão Preto, Jaboticabal, Barretos, Catanduva, Marília, Assis, em São
Paulo, e Palotina, Umuarama, Maringá, Londrina, Cambará, Jaguariaíva, Pitanga e Francisco Beltrão, no
Paraná, é adequada para a raça Corriedale e até certo ponto para a raça Suffolk.

1.6. Índice de temperatura equivalente (ETI) (BAETA et al., 1987).


Combina os efeitos da temperatura, umidade e velocidade do vento sobre o equilíbrio térmico de
vacas leiteiras. Expresso em graus oC.

ETI = 27,88 - 0,456ta + 0,010754ta2 - 0,4905U + 0,00088U2 + 1,1507V - 0,126447V2 + 0,019876Uta -


0,046313Vta

Onde: ta = temperatura do ar (oC);


U = umidade relativa (%);
V = velocidade do vento (m/s).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 66

Escalas de risco que podem ser considerada para os animais, conforme a faixa de ETI:
• ausência de problemas: .......18 a 27;
• cautela: ................................27 a 32;
• cautela extrema: ..................32 a 38;
• perigo: ..................................38 a 44;
• perigo extremo: .....................acima de 44oC.

1.7. Ambiente Equivalente:


Conforme Kerslake (1972) a taxa de termólise evaporativa requerida para eliminar toda a energia
térmica que chega a superfície da epiderme é:

Ereq = Hs - ho(ts - to), W/m2

Onde: Hs = quantidade total de calor que deve ser eliminado ao nível da epiderme.
Considerando para um determinado animal que a taxa de sudação é plenamente suficiente para manter
úmida sua epiderme, a termólise evaporativa máxima em uma dada condição ambiental será dada por:

Emax = he (Ps{ts} - Ps{ta}), W/m2

Onde: he = coeficiente de evaporação (W.m-2.kPa-1);


Ps{ts} = pressão de saturação de vapor à temperatura ts;
Ps{ta} = pressão de saturação de vapor à temperatura ta.

1.8. Índice de estresse de calor de Belding-Hatch:


Desenvolvido por Belding & Hatch (1955) para uso em seres humanos, consiste na relação entre Ereq e
Emax.

HSI = Ereq/Emax

Como a evaporação respiratória é desprezada neste índice, o mesmo não pode ser utilizado para
animais nos quais esse mecanismo seja importante.

1.9. Índice de Globo Úmido:


O conceito de índice de globo úmido (Wet Bulb GlobeTemperature, WBGT) descreve um índice do
estresse térmico total imposto por uma dada combinação de fatores ambientais sobre um indivíduo que sua,
tendo sido proposto originalmente por Yaglou & Minard (1957).

WBGT = 0,7tw + 0,2tg + 0,1ta

Onde: tw = temperatura de bulbo úmido medida em um psicrômetro exposto a radiação solar direta,
mas não ventilado artificialmente, oC;
tg = temperatura de um globo de Vernon, oC;
Ta = temperatura do ar, oC;

No caso de não ser possível dispor-se de uma medida de tw, pode ser usada a fórmula alternativa:

WBGT = 0,7tu + 0,3tg


Onde: tu = temperatura de bulbo úmido tomada da forma normal, isto é, com psicrômetro protegido
da radiação solar direta.

A principal deficiência deste índice é a não consideração do movimento do ar.


Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 67

2. ÍNDICES BASEADOS EM MEDIDAS AMBIENTAIS E FISIOLÓGICAS

2.1. Índice Ibéria de tolerância ao calor (Rhoad, 1940):


Consiste em se reunir os animais a serem comparados entre si em um curral, onde permanecem
durante as horas mais quentes do dia, sendo tomadas suas temperaturas retais duas vezes, a primeira às 10h00
e a segunda às 15h00. O processo é repetido 3 vezes, em dias não necessariamente consecutivos, uma vez que
é essencial a ocorrência de sol. Com essa seis temperaturas toma-se a sua medida média, tm, e calcula-se:

ITC = 100 - 18(tm - 38,33)

O valor do ITC varia teoricamente de zero a 100, de modo que um indivíduo cuja temperatura
corporal não se desvie da normal para a espécie (38,33oC) apresenta o índice ITC=100. Para zebuínos, o valor
de ITC está em torno de 93, para Aberdeen Angus é cerca de 52 e para Jersey 86, conforme o autor.

2.2. Índice de tolerância ao calor de Rauschenbach-Yerokhin:


Rauschenbach & Yerokhin (1975), na Rússia, propuseram um novo procedimento, semelhante ao do
Índice Ibéria, mas que seria extensivo a três espécies diferentes.

Para bovinos: ITC = 1,2ta - 20d + 52

Para ovinos: ITC = 1,0ta - 20d + 60

Para suínos: ITC = 1,4ta - 20d + 44

Onde: ta = temperatura do ar (oC);


d = diferenças entre as temperaturas retais medidas de manhã (09h00) e à tarde
(15h00). Durante este período de tempo os animais permaneceram expostos à radiação
solar direta.

2.3. Índice de seleção para adaptação de gado de corte (IS) (SILVA, 1973 e 1975):
Seleção simultânea para produção e adaptação no gado já existente nas regiões tropicais, baseada nas
relações genéticas e fenotípicas entre os caracteres de produção e aqueles associados à adaptação.
Novilhos de 18 meses de idade são colocados em um curral totalmente expostos ao sol num dia de
verão, entre as 09h00 e as 15h00, sendo medidos nesses dois horários para a temperatura retal e freqüência
respiratória.

IS = 100 - 0,026X1 - 0,064X2 - 0,009X3 - 0,133X4 + 0,281X5

Onde: X1 = temperatura retal de manhã;


X2 = aumento da temperatura retal entre dois horários;
X3 = freqüência respiratória de manhã;
X4 = logarítimo decimal do aumento da freqüência respiratória entre os dois horários;
X5 = ganho diário médio de peso entre a desmama e os 18 meses de idade.

Quanto mais alto o valor de IS, tanto maior o mérito do animal para a reprodução, uma vez que esse
valor estima o mérito genético aditivo.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 68

LITERATURA CONSULTADA:
BACCARI JR., F. Estresse térmico causa queda na produção animal. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 de
agosto de 1988. Agrofolha, p.C-6.
BARBOSA, O.R., SILVA, R.G. Índice de conforto térmico para ovinos. Revista da Sociedade Brasileira de
Zootecnia, v.24, p. 874-883, 1995a.
BARBOSA, O.R., SILVA, R.G., SCOLAR, J. et al. Utilização de um índice de conforto térmico em
zoneamento bioclimático da ovinocultura. . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOCLIMATOLOGIA,
I, Jaboticabal, 1995. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1995b. p.251-259.
HAHN, G.L. Bioclimatologia e instalações zootécnicas: aspectos teóricos e aplicados. Jaboticabal: FUNEP,
1993. 28p.
MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 296p.
NAAS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo: Ícone, 1989. 183p.
NAAS, I.A. Aspectos físicos da construção no controle térmico do ambiente das instalações. In:
CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1994, Santos. Anais...
Campinas: FACTA, 1994. p.111-118.
PENZ JR., A.M. Estresse pelo calor: efeitos em frangos de corte e matrizes. Manipulação do equilíbrio ácido-
base. . In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1989, Campinas.
Anais... Campinas: APINCO, 1989. p.139-146.
RUTZ, F. Aspectos fisiológicos que regulam o conforto térmico das aves. In: CONFERÊNCIA APINCO DE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1994, Santos. Anais... Campinas: FACTA, 1994. p.99-110.
SILVA, G.G., BARBOSA, O.R. Thermal comfort index for sheep. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF
BIOMETEOROLOGY, 13, 1993, Calgary. Proceedings... Calgary, Alberta, Canada, 1993. v.2, p.383-
392.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Defina zona de temoneutralidade?
2) O que significa temperatura crítica superior e temperatura crítica inferior?
3) Quais fatores podem alterar a zona de termoneutralidade dos animais de interesse zootécnico?
4) Qual o objetivo de se estabelecer índices bioclimáticos ou de conforto térmico para os animais de interesse
zootécnico?
5) Dados: temperatura do bulbo seco (ts = 33 oC) e temperatura do bulbo úmido (tu = 29oC), calcular:
a) Umidade relativa do ar (%)
b) Umidade absoluta do ar (g H2O/m3)
c) Temperatura do ponto de orvalho
d) Umidade de saturação do ar (g H2O/m3)
e) Índice de temperatura e umidade
f) Índice de conforto térmico para ovinos
g) Índice de temperatura equivalente
h) Índice de globo úmido
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 69

Aula 07 - Estresse e Estressores. Conceitos e fisiologia. Estresse climático.

O termo estresse foi utilizado pela primeira vez pelo austríaco Hans Seyle em 1936, que o definiu
como sendo o estado do organismo, o qual, após a atuação de agentes de quaisquer natureza, responde com
uma série de reações não específicas de adaptação (ENCARNAÇÃO, 1989).
Estresse é um termo científico muito usado, contudo é uma palavra de origem inglesa imprecisa. Seu
sentido muda de situação para situação, de uso para uso. Porém, há um significado comum na sua definição:
“estresse atua em detrimento do bem estar do organismo” (FREEMAN, 1987). Estresse é soma de reações
do organismo a agressões de ordem física, psicológica, infecciosa e outras, capazes de perturbar-lhe a
homeostase (BACCARI Jr., 1987).
O ambiente é composto de estressores que interagem entre si, incluindo todas as combinações de
condições nas quais o organismo vive (ambiente externo e ambiente interno).

Os estressores podem ser:


• mecânicos (traumatismos);
• físicos (calor, frio, umidade, eletricidade, som);
• químicos (drogas);
• biológicos (agentes infecciosos, estados de nutrição, dor, esforços corporais)
• fatores psíquicos (medo, ansiedade, isolamento)

O estresse climático é produzido por fatores climáticos podendo afetar o crescimento, a produção
(leite, ovos, lã, etc.) e a reprodução animal (Figura 1).

Temperatura corporal (TC)


Crescimento
Produção de
Temperatura (T)
Carne

Umidade (U)

Radiação solar (Rs) Stress


Σ Reprodução

Vento (V)

Produção de
Leite
Duração da Exposição (De)

Figura 1. Fatores que afetam o animal induzindo a uma carga de calor (estresse térmico ou climático) sobre
seu organismo (BACCARI Jr., 1987).

A interação entre estímulo (estressor) e resposta ao estímulo (somatório das reações não específicas ao
estressor), manifesta-se na forma de uma síndrome, a síndrome de adaptação geral (“General Adaptation
Syndrome” - GAS), com a qual o organismo tenta evitar ou reduzir os efeitos de um estressor
(ENCARNAÇÃO, 1989).

SÍNDROME DE ADAPTAÇÃO GERAL OU DE STRESS (Seyle, 1955 citado por BACCARI Jr.,
1987):
Segundo Seyle (1955) a glândula adrenal desempenha um papel central na resposta aos estímulos
nocivos (estressores) e no mecanismo de adaptação. A resposta evocada na adrenal pode ser dividida em três
fases: 1) Reação de alarme, 2) Fase de resistência e 3) Fase de exaustão (Figura 2).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 70

1) Reação de alarme:
• a adaptação ainda não foi adquirida;
• organismo mostra as alterações características da primeira exposição a um agente estressor ao qual o
organismo não estava adaptado qualitativa e quantitativamente (fenômenos não específicos);
• sua resistência diminui e, se o estressor é suficientemente intenso, pode ocorrer a morte;
• está sob controle nervoso simpático, envolvendo uma rápida liberação de catecolaminas (adrenalina e/ou
noradrenalina) pela medula da adrenal e fibras nervosas simpáticas pós-ganglionares. Estes hormônios têm
o efeito de preparar o animal para lutar ou fugir.
• manifestações típicas: taquicardia, liberação de açucares armazenados no fígado na forma de glicogênio,
redistribuição de reservas sangüíneas da pele e vísceras para os músculos e cérebro, a respiração se
intensifica e os brônquios se dilatam para receber mais oxigênio.
• hipotálamo libera o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), o qual estimula a hipófise a liberar o
hormônio corticotrófico (ACTH) e o ACTH estimula o córtex da adrenal a secretar glicocorticóides.

2) Fase de Resistência:
• a adaptação é ótima;
• caracteriza-se pelo aumento da resistência do organismo ao agente estressor ao qual foi exposto;
• os sinais característicos da reação de alarme desaparecem e a resistência aumenta acima do normal;
• é uma resposta predominantemente adrenocortical, envolvendo a liberação de glicocorticóides pelo tecido
cortical da adrenal, mobilizando rapidamente reservas corporais para serem utilizadas como fonte de
energia. Em animais domésticos, o glicocorticóide liberado é a corticosterona.
• a ação deste hormônio é promover, de uma maneira ainda indefinida, a adaptação do animal à sua nova
condição ambiental.
• também ocorre um decréscimo da atividade da tireóide resultante, provavelmente, da redução da liberação
de TSH pela hipófise anterior.

3) Fase de Exaustão:
• se estabelece quando o organismo continua exposto prolongadamente ao estressor ao qual havia
conseguido se adaptar.
• redução da atividade adrenal com um declínio alarmante da resistência;
• a insuficiência adrenal torna-se evidente e o animal morre (FREEMAN, 1985).
• mecanismos de defesa estão esgotados e as reações catabólicas continuam até que o organismo entra em
colapso e morre.

Nível normal
de Resistência
1 2 3

Figura 2. As 3 fases da síndrome de adaptação geral ou de estresse (SEYLE, 1955).

Depois da reação de alarme inicial, segue-se uma fase de resistência durante a qual a resistência ao
stress original (que continua a agir) aumenta, mas a resistência a outras espécies diminui (Figura 3). Se o
stress continua por algum tempo, a fase de resistência é substituída por uma fase de exaustão final, com
declínio alarmante da resistência a todas as formas stress (GRAY, 1976).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 71

Resistência
ao
Stress Stress Original

Normal

c
C C o
h h n
o o t
q q r
u u á
e e r
i Stress Novo
o
Reação de Fase de Fase de
Alarme Resistência Exaustão
Figura 3. Síndrome geral de adaptação de SEYLE.

Na Figura 4, está demonstrada a aclimação de vacas holandesas de produção de leite alta, média e
baixa quando expostas a 29 ºC e 50 % UR. A linha reta representa a produção esperada durante o período de
exposição ao calor, baseada na produção média de leite antes e depois da exposição ao calor (a 18 ºC). Se a
vaca é muito sensível ao calor ou é uma alta produtora, pode perder a resistência e passar para a fase de
exaustão (curva superior). A curva do meio é típica de uma vaca média produtora, a qual para muitos animais
representaria o que pode ser chamado de “aclimação parcial” ou produção estabilizada a um nível mais baixo
que a 18 ºC. Uma vaca baixa produtora (curva inferior) demonstra recuperação completa (Johnson, 1965).

18 oC Exposição ao calor 18o C


L 35
e 29 ºC
i
t
e
25
k
g
/
d Aclimação parcial
i 15
a Aclimação plena

Perda de resistência
e exaustão
1 3 5 7 9
1 3 Semanas 1 3

Figura 4. Aclimação de vacas holandesas de produção de leite alta, média e baixa quando expostas a 29 ºC e
50 % UR (Johnson, 1965).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 72

A principal função dos glicocorticóides (hormônios da adaptação) está na regulação do metabolismo


intermediário dos carboidratos, proteínas e lipídios:
• induzindo a formação de glicose pela mobilização e degradação de proteínas e gorduras (neoglicogênese).
• sua presença é necessária para as ações neoglicogênica e glicogenolítica do glucagon e da adrenalina,
respectivamente.
• inibição da síntese protéica e aumento do catabolismo com liberação de aminoácidos (aumento da excreção
urinária de nitrogênio e balanço de nitrogênio negativo).
• efeito direto sobre o tecido adiposo aumentando a lipólise e indiretamente inibindo a síntese de ácidos
graxos no fígado.
• inibem a absorção de glicose e sua utilização nos tecidos periféricos, particularmente nas células
musculares e adiposas (efeito antiinsulínico).
• efeito catabólico sobre os tecidos conjuntivo e ósseo e, principalmente sobre os órgãos linfáticos;
• seu efeito linfolítico é responsável pela atrofia do sistema timolinfático, com o aumento do número de
trombócitose e leucócitos totais e diminuição do número de eosinófilos e linfócitos, ocasionado um
enfraquecimento do sistema imunitário do organismo (imunossupressão).
• embora em pequena parcela, os glicocorticóides também participam do metabolismo do Na e K, influindo
no balanço hídrico do animal.

Na Tabela 1, encontramos um resumo da funções dos glicocorticóides e seus tecidos alvos.

Tabela 1. Efeito dos glicocorticóides e tecidos alvos.


Efeito Local de ação
Estimula neoglicogênese Fígado
Aumenta glicogênio hepático Fígado
Aumenta glicose sangüínea Fígado
Facilita a lipólise Tecido adiposo
Catabólico Músculo, fígado
Inibe a secreção de ACTH Hipotálamo, hipófise anterior
Facilita a excreção hídrica Rim
Bloqueia a resposta inflamatória Múltiplos locais
Suprime o sistema imunitário Macrófagos e linfócitos
Estimula a secreção de ácidos gástricos Estômago
STABENFELT (1993).

A secreção de glicocorticóides é controlada pelo hipotálamo. O estressor atua, via sistema nervoso
central, sobre as células neuro-secretoras do hipotálamo, as quais reagem com uma maior secreção do
hormônio liberador de corticotrofina (CRH). Através de um sistema portal de veias, o CRH é transportado do
hipotálamo até os lóbulos anteriores da hipófise (adenohipófise) e lá provoca uma elevada secreção do
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) ou corticotrofina. Circulando na corrente sangüínea, este estimula o
córtex da adrenal a produzir e secretar glicocorticóides. A concentração de glicocorticóides no plasma é
regulada por um rígido mecanismo de “feedback” negativo, o qual é demonstrado na Figura 3. Sob condições
normais, a concentração sangüínea de glicocorticóides atua, principalmente, sobre o hipotálamo, inibindo a
secreção de CRH, resultando em uma reduzida produção de ACTH e conseqüentemente, reduzida secreção
dos próprios hormônios adreno-corticais. Tão logo cai a concentração de glicocorticóides no sangue
(degradação no fígado), cessa o efeito inibidor sobre o hipotálamo, o CRH é novamente secretado e voltam a
aparecer mais ACTH e glicocorticóides no plasma (ENCARNAÇÃO, 1989).
Todavia, sob condições de estresse intenso e prolongado (crônico), os estressores estimulam
diretamente a liberação de CRH, contornando o “regulador” do hipotálamo e desprezando a influência do
“feedback” negativo. Com a ativação do eixo hipotálamo - adenohipófise -córtex adrenal, ocorrem mudanças
em quase todo o sistema endócrino. Num organismo estressado a hipófise secreta menos hormônio
somatotrófico (STH) ou de crescimento (GH), menos tireotrófico (TSH) e gonadotrófico (GTH), conduzindo a
uma redução na atividade da tireóide e gônadas, respectivamente. Dado o efeito catabólico e a neoglicogênese
estimulados pelos glicocorticóides, pode ocorrer constante degradação dos tecidos musculares e gordurosos,
assim como a inibição da síntese desses tecidos, resultando na perda de peso e redução do crescimento. Não
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 73

menos importante é o efeito dos glicocorticóides causando a atrofia do sistema timolinfático, e com isso a
queda dos linfócitos e anticorpos, responsável pela reduzida imuno-capacidade do organismo no combate a
quaisquer infecções. Caso o estado de estresse perdure demasiado, a própria adrenal não consegue sintetizar
os esteróides em quantidades suficientes, dada a grande demanda de matéria prima e energia para a produção
de seus hormônios, levando o organismo ao esgotamento, conduzindo à falta de resistência geral no
organismo e à morte (ENCARNAÇÃO, 1989).
Assim, os estressores ambientais, podem, na extensão em que excedam as capacidades de defesa e de
compensação dos animais, afetar adversamente o desempenho, a saúde e o bem-estar dos animais. O manejo
ambiental, através da seleção, projeto e operação racionais das instalações e equipamentos, pode reduzir ou
eliminar os efeitos adversos e incrementar a lucratividade da empresa pecuária (HAHN, 1993).
Modificações ambientais adquirem interesse econômico apenas quando as condições tendem a
exceder os limites de perdas nominais de desempenho. As perdas de desempenho podem ser estimadas a partir
das respostas das funções biológicas que mostram taxas de declínio do desempenho (HAHN, 1993).

Sistema Nervoso Estressor


Central
_

_
Hipotálamo
Glicocor-
ticóide + CRH

_
Hipófise

atuação nervosa
+ ACTH

atuação hormonal

Córtex adrenal

Figura 3. Mecanismo regulador da secreção de glicocorticóides.

Quantificação do estresse:
A magnitude do estresse ambiental pode ser medida de maneira indireta, através da resposta produtiva
e reprodutiva do animal. A intensidade de resposta pode ser a medida da força do estresse (MÜLLER, 1989).
Com o advento do Competitive Protein Binding (CPB) e dos radio imuno ensaios (RIA) para determinação de
hormônios séricos, muita informação tem sido obtida sobre a secreção adrenal durante as fases da síndrome de
estresse (MÜLLER, 1989).
Na maioria das espécies de mamíferos, o melhor índice de estresse parece ser a concentração
plasmática de cortisol ou corticosterona. No entanto, nas aves, estudos têm mostrado que a concentração de
hormônios da adrenal (corticosterona) não é o melhor índice de estresse. Assim, para as aves têm sido
utilizada a relação entre heterófilos/linfócitos (MACARI, 1994).

LITERATURA CONSULTADA:
BACARI JR., F. Stress e estressores. Stress climático. Gado Holandês, v.51, n.138, p.11-18, 1987.
ENCARNAÇÃO, R.O. Estresse e produção animal. In: CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS
SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.111-
129.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 74

FREEMAN, B.M. Stress and the Domestic Fowl: Physiological fact or fantasy? World’s Poultry Science
Journal, v.41, p.45-51, 1985.
FREEMAN, B.M. The stress syndrome. World’s Poultry Science Journal, v.43, p.15-19, 1987.
HAHN, G.L. Bioclimatologia e instalações zootécnicas: aspectos teóricos e aplicados. Jaboticabal: FUNEP,
1993. 28p.
MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 296p.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3ed. Porto Alegre: SULINA, 1989. 262p.
STABENFELDT, G.H. Glândulas endócrinas e sua função. In: CUNNINGHAM, J.G. Tratado de fisiologia
veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993 . cap.33, p.273-296.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Qual a definição de estresse?
2) Descreva rapidamente os eventos que ocorrem durante a reação de alarme da síndrome do estresse.
3) Descreva rapidamente os eventos que ocorrem durante a fase de adaptação da síndrome do estresse.
4) Descreva rapidamente os eventos que ocorrem durante a fase de exaustão da síndrome do estresse.
5) Cite 5 dos principais efeitos causados no organismos animal pelos glicocorticóides liberados em situações
de estresse.
6) Como pode ser feita a quantificação do estresse nos animais de interesse zootécnico?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 75

Aula 08 – Estresse Térmico vs Parâmetros Fisiológicos dos Animais Domésticos.

1. Freqüência cardíaca (FC):


A primeira reação dos animais a um ambiente quente é a vasodilatação periférica, que leva a uma
diminuição pressão sangüínea, e conseqüentemente, diminuição da freqüência cardíaca. Com o aumento da T
corporal, ocorre um aumento da T ao nível do nódulo sino-atrial, que leva a um aumento da freqüência
cardíaca. Assim, o aumento ou diminuição da FC está na dependência da intensidade do estresse. De maneira
geral, com o aumento da temperatura ambiente, ocorre um aumento da FC, a qual é mais elevada nos animais
pequenos, jovens e fêmeas. VEIGA et al. (1963), trabalhando com bovinos em Pirassununga, SP, verificaram
que a FC era mais elevada no mês mais quente (janeiro, verão) e mais baixa no mês mais frio (julho, inverno).
Em bovinos a FC normal varia de 40 a 80 bat/min. (60 - 70 bat/min vacas leiteiras). Em frangos de
corte de 250 até 550 bat/min, dependendo das condições do animal. A pressão sistólica é de 160-190 mmHg e
a diastólica de 110-150 mmHg. Fêmeas tem pressão arterial menor que machos (10 a 20 mmHg).
A pressão arterial sistêmica em frangos não é afetada por fatores como exercícios e luminosidade
apesar de grandes variações na FC. Afetada por respostas comportamentais (visão de predadores e
comportamento sexual).

Tabela 1. Freqüência cardíaca (FC) em repouso e à sombra (batimentos por minuto).


Espécie Limites (bat/min)
Bezerros (2 - 60 dias): 100 - 134
Bezerros: (2 - 12 meses): 80 - 110
Bovinos adultos: 40 - 80
Ovinos e Caprinos adultos: 70 - 80
Borrego: 80 - 100
Cordeiro: 100 - 120
Suínos: 60 - 80
Coelho: 120 - 140
Cavalo: 30 - 40
Potro (1 - 2 anos): 40 - 56
Potro 6 - 12 meses): 48 - 72
Potro (3 - 6 meses): 64 - 76
Potro (14 dias): 80 - 90
Potro(1 - 2 dias): 100 - 120
Aves: 150 - 200
Cão: 60 - 120
raças maiores: 66 - 80
raças menores: 80 - 120
Gato: 110 - 130
Camelo: 34 - 42
Búfalos
1 ano 69
2 anos 60
3 anos 59
4 a 8 anos 56
Adaptado de BADREDIN et al. (1951) e de MAREK & MOCSY (1963).

2. Freqüência respiratória (FR):


O aumento da FR é um importante mecanismo fisiológico de perda de calor por evaporação em
temperaturas elevadas. A evaporação respiratória depende do volume de ar movido por unidade de tempo
sobre as superfícies úmidas das vias respiratórias (volume/min). O volume/min resulta do volume corrente
multiplicado pelo número de respirações por minuto (FR). O volume corrente é o volume de ar inspirado ou
expirado numa respiração.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 76

No mecanismo de defesa contra o calor pelo ofego ocorre um aumento da ventilação efetuada pelo
aumento da freqüência respiratória e conseqüente diminuição do volume corrente (profundidade).

2.1. Atividade Respiratória x Sudorese:


Geralmente, animais com baixa capacidade de suar tem alta capacidade para ofegar. Em Zebus a
sudorese responde por uma maior parte da evaporação total que no gado Europeu. Dentro de uma raça, os
animais tolerantes ao calor apresentam evaporação cutânea mais alta e evaporação respiratória baixa. O custo
energético da perda de calor pelo sistema respiratório é mais alto.
Bovinos em stress térmico podem apresentar os seguintes tipos de respiração: 1) rápida e superficial
(estresse moderado); 2) lenta e profunda (estresse severo); e 3) respiração bucal, acompanhada de muita
salivação e exposição da língua (animais intolerantes ao calor).
Variações fisiológicas na freqüência respiratória podem ocorrer em função da idade, sexo, raça,
produção de leite, tamanho do corpo, gestação, exercício, hora do dia, estação do ano e temperatura ambiental.

A. TAMANHO DO CORPO:
Segundo MAREK & MOSSY (1963) a FR normal em bovinos adultos é de 10 a 16 mov/min. A FR
nos animais de grande porte é maior que a FR dos animais de pequeno porte. Ou seja, a FR varia na razão
inversa do tamanho do corpo, porém pode ser maior em animais obesos.

B. IDADE:
A medida que os animais avançam em idade a FR decresce (KLEMM et al., 1955; GILL et al., 1966;
HALES et al., 1968). Em bovinos adultos, a FR varia de 10 a 16 mov/min e a FC de 49 a 80 bat/min,
normalmente (WIRTH, 1966; BRION, 1964; GIBBONS, 1966; KELLY, 1967). BACCARI Jr. (1973),
trabalhando com bezerros zebus de 1 a 54 semanas de idade, determinou um coeficiente de correlação entre
FR e idade, r = - 0,59 (P<0,01). BACCARI Jr. (1977), observou um coeficiente de correlação entre FR e idade
de r = - 0,46 (P<0,01), em bovinos Guernsey, Jersey e Schwwyz de 1 sem. a 21 meses. Segundo HALES
(1968), a FR mais elevada nos animais jovens estaria relacionada ao seu menor volume corrente.

C. SEXO:
Em geral, as fêmeas apresentam FR mais elevada que os machos (BACCARI Jr., 1973; BACCARI Jr.,
1978). MALKMUS & OPPERMANN (1930) verificaram que com o aumento da temperatura ambiente,
houve um aumento das FR e FC, e este aumento foi maior nos animais pequenos, jovens e fêmeas em relação
aos de maior porte, adultos e machos. Os limites normais de FC observados foram de 40 a 80 bat/min.

D. HORA DO DIA:
Segundo DOMINGUES (1961), a FR aumenta ou diminui quando a temperatura do ar aumenta ou
diminui durante o transcurso do dia. Quando a UR aumenta, ocorre uma maior elevação da FR, quando a
temperatura do ar é elevada. Os aumentos na FR são mais pronunciados com temperaturas acima de 26,6 a
29,4oC.
A FR é mais elevada à tarde que de manhã em bovinos zebus e europeus e búfalos (GAALAS, 1945;
CHQUILOFF, 1964; BACCARI Jr., 1971; BACCARI Jr., 1973).

E. ESTAÇÃO DO ANO:
VEIGA et al. (1963), trabalhando com bovinos em Pirassununga – SP, observaram valores de FR dos
animais mais elevados no mês mais quente (janeiro, verão) e valores de a FR mais baixos no mês mais frio
(julho, inverno). SHARMA & SAIKIA (1974), em bovinos cruzados, verificaram valores médios de FR
maiores no verão, seguidos da primavera, outono e inverno, em ordem do maior para o menor.

F. RAÇA:
CHQUILOFF (1964) observaram que novilhas Guernsey apresentavam FR maior que novilhas Jersey
e Schwyz. BACCARI (1973) também observou diferenças na FR entre bezerros Gir, Nelore e Guzerá entre 6
a 42 sem. de idade.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 77

G. PRODUÇÃO DE LEITE:
A lactação pode elevar ao dobro a produção de calor da vaca, em função do aumento no seu
metabolismo (BIANCA, 1968). BACCARI Jr. et al. (1978), determinaram uma correlação entre FR e
produção de leite de 0,49 (P<0,01) em vacas Jersey.

H. GESTAÇÃO:
BRODY et al. (1948), trabalhando com vacas holandesas verificaram que a FR tendeu a aumentar
com o avançar da gestação. Segundo MAREK & MÓCSY (1963), a FR aumenta 2-3 mov/min no início da
gestação, 4-5 até a metade e em 6-8 ou mais, antes do parto.

I. EXERCÍCIO:
A FR aumenta na dependência da duração e intensidade do exercício, podendo duplicar e até
decuplicar (MAREK & MÓCSY (1963).

J. TEMPERATURA E UMIDADE AMBIENTE:


A partir dos 25oC, a FR aumenta progressivamente, acentuando-se acima dos 29oC e atingindo seus
valores máximos acima dos 35oC (KOLB, 1971; McDOWELL, 1975). A FR aumenta e diminui com a
elevação e a diminuição da temperatura do ar durante o dia. O aumento da UR acelera a FR, quando a
temperatura do ambiente é elevada (DOMINGUES, 1961). GAALAAS (1945), trabalhando com vacas
leiteiras Jersey, encontraram uma correlação positiva entre FR e Tar (r = 0,77) e entre FR e Tretal (r = 0,57).
Segundo DUKES (1967), em vacas leiteiras, a FR aumenta com as combinações entre valores altos de
temperatura e UR do ar. Os limites normais, em repouso, para a FR são de 18 a 28 mov/min e para a FC, de 60
a 70 bat/min. BERMAN & MORAG (1971), trabalhando com vacas holandesas de alta produção (30 a 35 kg
leite/dia), em regime de estabulação com sombra, no verão de Israel, observaram que as FR máximas
ocorreram ao redor das 1500h. ROMAN-PONCE et al. (1977) estudando bovinos leiteiros a sombra,
observaram que para uma temperatura de globo termômetro de 24,4oC, a FR foi de 54 mov/min.

Tabela 2. Valores fisiológicos normais da freqüência respiratória


Categoria Média Variação Autor
Vacas de leite - 18 - 28 Dukes (1960)
Bovinos - 10 - 40 Marek e Mocsy (1963)
Vacas holandesas de alta produção em lactação 50 24 - 88 Baccari Jr. et al. (1977)
Vacas Guersey, Jersey e Schwytz de baixa 37 24 - 64 Baccari Jr. et al. (1981)
produção em lactação
Bezerro 50 - Rosenberger (1966)
Bovino Adulto - 15 - 35 Rosenberger (1966)

Tabela 3. Freqüência respiratória (FR), em repouso e à sombra (mov/min).


Espécie Limites (mov/min)
Bovinos 10 - 40
Ovinos e Caprinos 12 - 20
Suínos 08 - 18
Coelhos 50 - 60
Cavalos 10 - 16
Aves 12 - 36
Cão 10 - 40
Gato 20 - 40
Camelo 10 - 12
Búfalos
1 ano 29
2 anos 26
3 anos 25
4 a 8 anos 24
Adaptado de BADREDIN et al. (1951) e MAREK & MOCSY (1963).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 78

Tabela 4. Valores de parâmetros respiratórios em aves em repouso.


Espécie Peso (kg) FR1 (resp./min) VAC (ml) VMR (ml/min)
Frango de corte
Macho 2,50 25 30 750
Fêmea 2,30 22 34 748
Pato
Muscovy 2,16 10,5 69 700
Peking 2,40 8,2 98 807
1
FR = freqüência respiratória; VAC = volume de ar corrente; VMR = volume minuto respiratório.
2
Considerando que os parâmetros respiratórios variam em função do peso corporal do frango, a relação
alométrica é baseada em uma função exponencial, Y=aWb, onde Y é a variável, W, o peso do frango em
quilogramas, e a e b, constantes empíricas. Por exemplo, para frangos de corte, temos: VRM = 0,5W0,72
litros/min, FR = 17,2W-0,31 resp./min e VAC = 0,0132W1,08 litros.

O estresse térmico em aves pode aumentar a FR de 25 para 250 mov/min (NAAS, 1997).

3. Temperatura Retal (TR):


A temperatura corporal depende do equilíbrio entre a quantidade de calor produzida e/ou absorvida
pelo organismo e a perda de calor.
Os bovinos, assim como todos os animais homeotérmicos, necessitam de manter a temperatura
corporal constante, dentro de certos limites. Em situações de estresse térmico, os mecanismos fisiológicos de
perda de calor são ativados para manter a homeotermia, contudo, dependendo da intensidade e duração do
stress pelo calor, pode ocorrer um aumento da temperatura corporal, denominado hipertermia.

3.1. Variações fisiológicas na temperatura retal (TR):


Segundo ROSENBERGER (1966), os valores normais de temperatura retal para bovinos adultos estão
entre 38,0 a 39,0oC. Para DUKES (1967), os limites normais de temperatura retal para bovinos adultos variam
de 38,0 a 39,3oC. Para vacas leiteiras, de 37,5 a 39,5oC, segundo MALKMUS & OPPERMANN (1930) e
GIBBONS (1966).
Existem vários fatores que podem contribuir para a variação da temperatura corporal dos animais
homeotérmicos:

A. IDADE:
Animais jovens apresentam TR mais elevada que os adultos. Segundo BACCARI et al. (1977),
bovinos das raças Guernsey, Jersey e Schwyz apresentaram um coeficiente de correlação entre idade e TR de
0,57. Para KOLB (1971), os animais jovens têm temperatura corporal superior aos adultos em função de
apresentarem um metabolismo mais intenso.
A temperatura corporal das aves é mais alta e variável que a dos mamíferos. A temperatura do pinto
ao nascimento é de aproximadamente 39oC. Sofre um incremento gradativo até atingir a temperatura da ave
adulta em 3 semanas: 41 a 42oC (RUTZ, 1994) e 41 a 44oC (NAAS, 1997). A temperatura corporal do frango
de corte varia de 41 a 42oC, no entanto, a temperatura do cérebro é 0,5 ou até 1oC menor que a temperatura
cloacal, estando esta diferença associada à presença da “arteriovenous rete”, ou seja, sistema arteriovenoso de
contracorrente (MACARI,1994).

B. PESO CORPORAL:
As aves de menor peso corporal apresentam T corporal mais elevada que aves de maior porte (RUTZ,
1994).

C. HORA DO DIA:
A TR é mais elevada à tarde do que de manhã (0,1 a 0,5oC). Segundo BERMAN & MORAG (1971),
as TR máximas nos bovinos ocorreram às 1800h e as mínimas às 0600h. PATCHELL (1954), trabalhando
com novilhas Jersey, notaram um mínimo de TR entre 0400 a 0600 h e um máximo das 1700 às 1800 h.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 79

Segundo MAREK & MOCSY (1963), a TR alcança o seu máximo entre 1700 e 1900 horas. As
elevações regulares da TR durante o dia são devidas ao aumento dos processos bioquímicos originados pela
ingestão de alimentos e movimentos do corpo.
Animais jovens mostram maiores flutuações diurnas de TR. A variação da T corporal nas 24 horas do
dia obedece a um ritmo denominado variação nictimeral, ciclo ou ritmo circadiano. A temperatura corporal
das aves é maior nos períodos de luz que nos de escuro (RUTZ, 1994).

D. SEXO:
As fêmeas exibem TR um pouco mais elevada que os machos. BACCARI Jr. (1973), com bezerros
zebus em crescimento, verificou que a TR das fêmeas foi 0,13oC maior que a dos machos. A diferença entre
sexos varia de 0,1 a 0,5oC.
Aves do sexo masculino apresentam T corporal superior à de fêmeas, como resultado de uma taxa
metabólica e atividade superiores (RUTZ, 1994).

E. RAÇA:
Raças especializadas, com alta produção leiteira a TR é maior. A TR nas vacas da raça Jersey é
inferior que nas Holandesas. Bezerros Gir e Nelore em crescimento revelaram TR inferiores (38,79 e 38,78oC,
respectivamente) à de bezerros Guzerá (38,95oC).
A T cloacal de frangos caipiras apresentam uma menor variação do que os frangos de linhagens
comerciais com o aumento da T ambiental (BOTURA et al., 1992).

F. CIO, GESTAÇÃO E PARTO:


Na vaca, durante o cio, podem ser observadas elevações da TR de até 1oC. Durante a gestação há um
aumento da TR, principalmente nos três últimos meses, o que se deve a uma contínua secreção de
progesterona (efeito termogênico) procedente do corpo lúteo e da placenta. A TR baixa 0,3 a 0,4oC, 24 a 48
horas antes do parto.
Aves durante o período de choco apresentam T corporal inferior àquelas fora do choco. Taxa
metabólica e atividade são reduzidas durante o choco. Aves em período de muda apresentam T corporal
superior àquelas em período de produção (RUTZ, 1994).

G. PRODUÇÃO DE LEITE:
Vacas em lactação exibem TR mais elevada do que vacas secas. A correlação entre TR e produção de
leite em vacas Guernsey, Jersey e Schuwyz, agrupadas, com uma produção média diária de 6 kg/vaca, foi de
0,21, significativa porém de baixa magnitude.

H. INGESTÃO DE ALIMENTOS, ÁGUA E ESTADO DE NUTRIÇÃO:


A ingestão de alimentos estimula a termogênese. Observa-se um aumento da temperatura do corpo de
0,1 a 0,9oC durante um período de 3 a 5 horas devido aos movimentos de mastigação e outros, atividade das
glândulas digestivas e dos processos de assimilação. A ingestão de grandes quantidades de água leva a uma
redução da temperatura retal. Animais em mau estado de nutrição apresentam temperaturas retais mais baixas.
A temperatura corporal em aves aumenta após o consumo de alimento (RUTZ, 1994).

I. EXERCÍCIOS:
Durante o exercício, a TR aumenta de 0,1 a 0,5oC, segundo a duração e o grau de atividade muscular e
conforme as condições do tempo. Garrotes Nelore submetidos a um exercício forçado ao sol por 20 minutos
revelaram um aumento na TR de 1,3oC, com T ar de 29oC e UR de 45%.
Em aves, a atividade aumenta a T corporal de modo que a temperatura das aves em condições de piso
é superior àquela das aves mantidas em gaiola (RUTZ, 1994).

J. TEMPERATURA AMBIENTE:
A TR aumenta com a elevação da T ambiente. SHARMA & SAIKIA (1974), trabalhando com
bezerros cruzados com alta % sangue Holandês observaram TR mais elevadas no verão que nas outras
estações. Existe uma correlação positiva entre T ambiente e TR.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 80

HAINES & KOGER (1964), na Flórida, estudaram a TR em relação a T ar em garrotes de 1 ano das
raças Angus, Brahman e Hereford, bimensalmente, por 2 anos e verificaram que a T corporal aumentou
quando a T ar subiu, com coeficientes de correlação de r = 0,61, Angus, r = 0,57, Brahman e r = 0,70,
Hereford.
BROWN et al. (1969), estudaram o aumento da TR como índice de sensibilidade de bovinos Holan.
ao calor. Nas análises de regressão, verificou-se que a TR foi altamente influenciada pela T ambiente e que as
correlações entre a TR e o THI não foram estatisticamente significativas.
A T corporal em aves aumenta com o aumento da T ambiente (RUTZ, 1994).

K. RADIAÇÃO SOLAR:
A TR é mais elevada sob radiação solar direta que à sombra. COLLIER et al. (1981) verificaram que
vacas Holandesas e Jersey, em lactação e mantidas ao sol, exibiram TR 0,9 e 0,7oC mais elevada,
respectivamente, que sua companheiras com acesso à sombra. A temperatura de globo negro foi de 38,8oC ao
sol e 30,1oC à sombra.
BACCARI Jr. et al. (1982) observaram que vacas mestiças Europeu x Zebu, em lactação, expostas ao
sol durante o dia, apresentaram TR 0,6oC mais elevada que suas companheiras com sombra à disposição. A
temperatura de globo negro foi 40,1oC ao sol e 29,6oC à sombra

4. Equilíbrio Ácido-Base e Parâmetros Sangüíneos:


Em situações de estresse calórico, a produção e/ou sobrecarga de calor sobrepuja a perda calórica, de
forma que o animal começa a ofegar, o que proporciona uma hiperventilação pulmonar com diminuição da
concentração de CO2 no sangue, levando a uma aumento no pH sangüíneo (alcalose respiratória).
FURLAN et al. (1991a) submeteram frangos de corte entre 21 e 27 dias de idade a diferentes tipos de
agentes estressores: hídrico (retirada da água por 24 h), alimentar (retirada da ração por 24 h) e estresse
térmico (34 ± 2oC por 4 h) e observaram que não houve efeito dos diferentes tipos de estresse para os
parâmetros sangüíneos (pH, pO2, pCO2, bicarbonato e excesso de bases). O estresse térmico que provocou
uma redução significativa na pO2 e na pCO2.
Num outro trabalho, FURLAN et al. (1991b) submeteram frangos machos com 42 e 49 dias de idade
de 5 linhagens comerciais, ao estresse térmico (34±2oC por 4 horas) e observaram que não houve diferenças
entre linhagens para os parâmetros sangüíneos analisados (pH, pO2, pCO2, bicarbonato, excesso de base). O
estresse aumentou a pO2 e diminuiu a pCO2, bicarbonato e o excesso de base. Para os parâmetros
hematológicos (hematócrito, hemoglobina e hemácias) não houve diferença significativa em cada linhagem,
antes e após o estresse.

Tabela 5. Valores hematológicos e bioquímicos normais de frangos com 4 a 6 semanas de idade (média ±
desvio padrão).
Parâmetros Valores
Hematócrito (%) 27,6 ± 2,60
Albumina (g/l) 12,7 ± 1.60
Proteína total (g/l) 31,5 ± 3,70
Viscosidade do plasma (CP) 0,94 ± 0,05
Viscosidade do sangue (CP) 2,14 ± 0,24
Adaptado de MACARI (1994).

NAKAGHI et al. (1993) estudando características morfométricas de heritrócitos em frangos de corte


verificaram que com exceção do perímetro e diâmetro mínimo nos animais controle, houve um efeito da idade
sobre os heritrócitos, ocorrendo um aumento nos parâmetros analisados (Tabela 6). Aos 21 dias de idade, o
estresse térmico teve efeito nos parâmetros morfométricos, sendo observada uma redução nos valores
analisados. Aos 42 dias, não foi verificado efeito do estresse sobre os parâmetros. O diâmetro máximo
aumentou com a idade, no entanto, sob condições de estresse ocorreu uma redução. Com o crescimento dos
frangos as características morfométricas dos eritrócitos são menos afetadas pelo estresse térmico.
Existe uma relação entre conforto térmico e imunocompetência em frangos O estresse calórico agudo
exerce um efeito inibitório sobre os leucócitos periféricos na produção de pirógenos endógenos (CASTRO et
al., 1994).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 81

Tabela 6. Interação entre idade e estresse para a área, volume, perímetro e diâmetro mínimo.
Parâmetro Idade (dias) Controle Estressado1
Ab 2
Área, µm 2
21 63,84 58,60Bb
42 66,98Aa 66,36Aa
Ab
Volume, µm 3
21 307,42 266,56Bb
Aa
42 331,27 326,35Aa
Aa
Perímetro, µm 21 31,03 29,03Bb
42 31,18Aa 31,02Aa
Aa
Diâmetro mínimo, µm 21 6,98 6,66Bb
Aa
42 7,17 7,17Aa
1 o o o
Temperatura inicial de 26 C, acrescida de 2 C por hora, até uma temperatura de 38 C.
2
Médias seguidas de letras iguais maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem entre si
(P>0,05) pelo teste de Tukey. NAKAGHI et al. (1993).

INGRACI et al. (1994), verificaram que independente da presença ou ausência de água, frangos não
selecionados mostraram-se mais tolerantes ao calor que as linhagens comerciais. A presença de água fresca
(25oC) foi eficaz em atenuar o aumento da T corporal e a perda de peso dos frangos submetidos ao estresse
calórico, porém não influenciou os valores de hematócrito (Tabela 07).
JUNQUEIRA et al. (1994) expuseram frangos de corte a altas temperaturas (37 a 39oC) durante 6, 12
e 18 horas aos 7 dias de idade e observaram que aos 42 dias de idade, a indução de 18 horas resultou em um
significativo aumento do VGM e da hemoglobina globular médio e diminuição do no hemácias (Tabela 08).

Tabela 7. Variação da temperatura retal, peso corporal e hematócrito dos frangos não selecionados submetidos
ao estresse calórico na presença ou ausência de água.
Idade (SEMANAS)
5 6 7 8
Temperatura retal
Presença de água 41,2A 41,5A 41,4A 41,4A
A A A
Ausência de água 41,3 41,6 41,5 41,8B
Peso Corporal
Presença de água 215A 293A 375A 456A
Ausência de água 189A 276A 325A 425A
Hematócrito
Presença de água 27A 27A 27A 26A
A A A
Ausência de água 26 26 25 27A
Médias seguidas de letras iguais nas colunas não diferem entre si (P>0,05) pelo teste de Tukey.
INGRACI et al. (1994).

Tabela 8. Temperatura corporal e parâmetros sangüíneos dos frangos aos 42 dias de idade.
Tratamento Temperatura Hemoglobina no Volume Hemoglobina Número de
corporal (oC) eritrócito globular médio globular médio hemácias
(C/mm3) (µm3) (pg/c) (C/mm3)
Testemunha 41,25 a 43,64 a 103,8 a 45,3 a 2763 a
6h 41,31 a 44,72 a 112,8 a 49,9 b 2480 ab
12 h 41,28 a 44,00 a 112,1 a 49,4 b 2461 ab
18 h 41,30 a 42,93 a 130,5 b 55,9 c 2196 b
C.V. (%) 1,34 12,70 23,9 24,3 23,7
JUNQUEIRA et al. (1994).

Segundo BACCARI Jr. et al. (1995), sob estresse térmico de 31,0oC (5o acima da TCS) ou um
THI=79 (7 unidades acima do THI crítico superior), 65 % das vacas holandesas malhadas de vermelho
conseguiram manter sua normotermia com o auxílio da termólise evaporativa respiratória mediante a
taquipnéia (mais a termólise evaporativa cutânea). Para 35% das vacas a termólise evaporativa não evitou a
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 82

hipertermia. Temperaturas de hipertermia iguais ou superiores a 40,5oC não levaram à bradpnéia, mas
associaram-se a uma elevada taquipnéia.
FURLAN et al. (1992) verificaram que o estresse calórico foi mais efetivo em afetar as variáveis
hematológicas e gasométricas de frangos, quando comparados com o hídrico e alimentar. Os parâmetros
hematológicos e gasométricos do sangue também podem ser influenciados pela linhagem e pela idade dos
frangos de corte.
Independente do tempo de suspensão da alimentação dos frangos de corte em relação ao início do
estresse calórico, o aumento da temperatura ambiente ocasionou um aumento da temperatura cloacal e do pH
sangüíneo e uma diminuição na pCO2. As aves que receberam jejum de 6 horas antes do estresse,
apresentaram uma tendência de menor T cloacal. A diminuição do consumo de alimento levou a uma redução
nos substratos metabólicos e a uma diminuição na produção de calor (GIMENEZ et al., 1992).
Segundo GREGORUT et al. (1992), o aumento da temperatura ambiente ocasionou uma diminuição
na pCO2, mas não foram observadas diferenças significativas no pH do sangue. Os frangos de corte
começaram a ofegar a partir de 28oC e os caipiras com 32oC. Apesar do estresse calórico ter provocado
alterações na pCO2, os frangos de corte e caipiras foram capazes de manter o equilíbrio ácido-básico.
BOTURA et al. (1992), trabalhando com frangos caipiras e frangos de corte, observaram que o
aumento da temperatura ambiente provocou uma redução nos níveis sangüíneos de sódio e potássio, indicando
que em condições de estresse calórico a homeostasia de Na e K é afetada.
A acidose ou alcalose faz com que a maioria das atividades metabólicas sejam comprometidas,
acarretando produções comprometidas. O estresse pelo calor faz com que os animais aumentem a FR,
aumentando o nível de CO2 expirado e levando a uma alcalose respiratória (PENZ JR., 1989):

Tabela 9. Hemograma. Valores normais nas diferentes espécies animais: Eritrograma.


Animais Valores normais
Eritrócitos Hb VG HGM VGM CHGM
(x106/µ
µml) (g/dl) (%) (pg) (fl) (%)
Bovino 5,0-10,0 8-15 24-46 14,4-18,6 40-60 30-36
Cão 5,5-8,5 12-18 37-55 19,0-23,0 60-77 32-36
Caprino 8,0-18,0 8-14 19-38 5,0-7,4 15-30 35-42
Eqüino: Tração 5,5-9,5 8-14 24-44 15,2-18,6 39-52 31-35
PSI 6,5-12,5 11-19 32-52 13,3 34-58 31-37
Gato 5,0-10,0 8-15 24-45 13,0-17,0 39-55 30-36
Ovino 8,0-16,0 8-16 24-50 9,0-13,0 23-48 31-38
Suíno 5,0-8,0 10-16 32-50 16,6-22,0 50-68 30-34

Tabela 10. Eletrólitos no sangue normal dos animais domésticos.


Bovino Canino Caprino Eqüino Felino Ovino Suíno
pH sangue 7,35-7,50 7,31-7,42 - 7,20-7,55 7,24-7,40 7,32-7,54 -
Na, mEq/l 132-152 141,1-152,3 142-155 132-146 147-156 139-152 135-150
K, mEq/l 3,9-5,8 4,37-5,65 3,5-6,7 2,4-4,7 4,0-4,5 3,9-5,4 4,4-6,7
Ca, mEq/l 2,4-3,1 2,2-2,8 2,2-2,9 2,8-3,4 1,5-2,6 2,8-3,2 1,9-2,9
Ca, mg/dl 9,7-12,4 9,0-11,3 8,9-11,7 11,2-13,6 6,2-10,2 11,5-12,8 7,1-11,6
Fosfato, mg/dl 5,6-6,5 2,6-6,2 6,5 3,1-5,6 4,5-8,1 5,0-7,3 5,3-9,6
Mg, mg/dl 1,8-2,3 1,8-2,4 2,8-3,6 2,2-2,8 2,2 2,2-2,8 2,7-3,7
Cloreto, mEq/l 97-111 105-115 99,0-110,3 99-109 117-123 95-103 94-106
Bicarbonato, 17-29 18-24 - 20-28 17,21 20-25 18-27
mEq/l
Valores do plasma seguidos pelos valores do sangue (P - S).

BARBOSA et al. (1992a,b) trabalhando com coelhos da raça Nova Zelândia em diferentes tipos de
instalação (inverno e verão): 1) gaiolas ao ar livre, sombreada com tela de sombrite de cor preta textura 7x6,
permitindo 80% de sombra; 2) gaiolas em galpão de alvenaria totalmente fechado, com lanternins; e 3) gaiolas
em galpão de alvenaria com tela de arame galvanizado nas laterais, verificaram que embora tenham ocorrido
diferenças entre estações do ano e entre instalações, os valores de todos os componentes sangüíneos
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 83

estudados, apresentaram-se dentro dos limites normais. Melhores parâmetros foram obtidos para os animais
criados nas instalações que permitiam melhor ventilação (1 e 3) e também verificaram diferenças entre
instalação e estação do ano para os valores dos diferentes constituintes bioquímicos. Contudo, estas não foram
suficientes para influenciar o desempenho dos animais, indicando que instalações mais simples e baratas como
gaiolas ao ar livre podem ser amplamente utilizadas.
ZHOU et al. (1998) verificaram que existe uma variação diurna na viscosidade sangüínea total. A
viscosidade sangüínea total é maior durante o período de escuro que no período de luz. No período de luz é
fortemente influenciada pelas altas temperaturas ambientes e pela retirada do alimento e da água.

LITERATURA CONSULTADA:
Anais do I Ciclo Internacional de Palestras Sobre Bioclimatologia Animal, UNESP, Botucatu, 1986. 129p.
Anais do Simpósio Internacional de Ambiência e Instalação na Avicultura Industrial, FACTA, Campinas,
1995. 265p.
BACCARI Jr., F. Manejo ambiental da vaca leiteira em climas quentes. Londrina: Editora UEL, 2001. 142p.
HAFEZ, E.S.E. Adaptation of domestic animals. Philadelphia: Lea & Febiger, 1968. 415p.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. Porto Alegre: Sulina, 1989. 262p.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) O que ocorre com a freqüência cardíaca em animais submetidos ao estresse pelo calor?
2) O que ocorre com a freqüência respiratória em animais submetidos ao estresse pelo calor?
3) Além da temperatura ambiente, quais os fatores que alteram a freqüência respiratória dos animais?
4) O que ocorre com a temperatura retal dos animais submetidos ao estresse pelo calor? Por quê?
5) Além da temperatura ambiente, quais os fatores que alteram a temperatura retal dos animais?
6) Quais os parâmetros sangüíneos, indicativos do equilíbrio ácido-base do organismo, são alterados em
animais submetidos ao estresse pelo calor e qual é a alteração esperada nesta situação?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 84

Aula 09 - Características Morfo-Funcionais de Adaptação dos Animais em Ambiente Tropical


Prof. Dr. José Roberto Sartori
Dra. Josiane Maria Cardoso Starling

I. ADAPTAÇÃO E CARACTERÍSTICAS CUTÂNEAS:

1. Introdução:
A superfície cutânea, constituída pela epiderme e seus anexos (pêlos, lã, glândulas sudoríparas e
glândulas sebáceas nos mamíferos, penas e penugem nas aves e estruturas córneas nos répteis e escamas nos
peixes) representa a mais extensa linha de contato entre o organismo e o ambiente. Essa condição de fronteira
determina as características da superfície externa do corpo, em função daquelas do ambiente e da natureza do
organismo do qual faz parte. A epiderme e seus anexos não são um conjunto de estruturas fixas e estáticas,
mas sim, reguláveis e dinâmicas, capazes de ajustarem-se as variações ambientais (SILVA, 2000).
A superfície externa dos animais é constituída por uma série de camadas, de fora para dentro: a) capa
externa (pêlos, penas, escamas, etc.), b) epiderme (vários extratos), c) derme (onde se inserem folículos
pilosos e glândulas sudoríparas e sebáceas, vasos sangüíneos, fibras nervosas e fibras musculares lisas) e d)
hipoderme (células adiposas e fibras musculares estriadas).

2. Capa de cobertura:
Marston (1955) citado por SILVA (2000) classificou a capa de cobertura dos animais em dois grandes
grupos funcionais: 1) proteção mecânica (espinhos, cerdas, crina) e 2) proteção térmica (lã, lanugem,
penugem, penas, pêlos).
A capa externa do corpo dos animais terrestres, constituída pelo pelame (conjunto de pêlos) ou velo
(capa de lã) nos mamíferos e pena e penugens nas aves, assume importância fundamental para as trocas
térmicas entre o organismo e o ambiente. Entre as funções da capa externa, podemos citar: o isolamento
térmico, fundamental em climas frios (regiões temperadas e circumpolares). Nas regiões tropicais, assume
funções mais ligadas a proteção mecânica da epiderme, minetismo e proteção contra radiação solar (SILVA,
2000).

3. Pelame:
Por pelame, entendemos a capa pilosa que cobre a superfície cutânea, que protege a epiderme de
lesões mecânicas e age como uma cobertura “sombreadora”, evitando o acesso direto de grande parte da
radiação solar sobre a epiderme. Este último efeito depende da estrutura dos pêlos, coloração, dimensões e
posicionamento (SILVA, 1988).
Um pelame espesso, com pêlos finos e compridos, oferece uma excelente proteção, independente da
sua cor. Mas apresenta propriedades termoisolantes acentuadas, impedindo a passagem de calor da superfície
da epiderme para o exterior. Um pelame constituído por pêlos curtos e eretos, é uma barreira menos eficiente a
radiação solar, especialmente se for de coloração clara. Oferecerá maior facilidade à passagem da energia
térmica procedente do interior do corpo, particularmente se os pêlos forem bem assentados sobre a epiderme
(zebuínos). Uma vantagem dos pêlos mais assentados é que proporcionam uma superfície externa mais
reflectante à radiação solar (diminuindo a quantidade de radiação que atinge a epiderme) e a evaporação do
suor é muito facilitada. Os pelames espessos impedem a evaporação, sendo recomendado uma tosa periódica,
tomando-se cuidado com queimaduras cutâneas nos animais expostos ao sol intenso (SILVA, 1988).

4. Pigmentação da epiderme e do pelame:

4.1. Melanina:
A melanina, pigmento negro presente na epiderme e seus anexos, é formada pela oxidação de um
composto orto-dihidroxifenilico do aminoácido tirosina, proveniente da digestão de proteínas, resultando em
um polímero insolúvel de elevado peso molecular, cuja única função conhecida é a proteção contra a radiação
ultravioleta, sendo essa função fundamental para os animais que vivem em regiões tropicais.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 85

4.2. Melanócitos:
A melanina é formada em células especializadas denominadas melanócitos, que se localizam na
camada basal da epiderme e na base dos folículos pilosos, introduzindo suas projeções entre as demais células.
A maior ou menor pigmentação cutânea deve-se a quantidade de grânulos de melanina produzidos e inseridos
nas células da epiderme, e não ao número de melanócitos. Raças bovinas tropicais apresentam a epiderme
muito mais pigmentada que as de origem européia, mas não há diferença entre elas quanto ao número de
melanócitos por unidade de área. Aliás, animais de raças européias com pelame malhado (Hereford e
Holandesa, por exemplo) também apresentam melanócitos nas áreas despigmentadas da epiderme, mas a
atividade desses está bloqueada por fatores gênicos (SILVA, 2000).

4.3. Melanogênese:
Quando um animal é exposto a radiação ultravioleta (especialmente a de ondas curtas, < 0,3µm), esta
atravessa a capa de pelame, penetra nas camadas basais da epiderme e desencadeia uma reação de oxidação da
tirosina, que vai se transformando sucessivamente em DOPA (3,4-dihidroxifenilalanina), DOPA-quinona,
DOPA-cromo, indol-5,6-quinona e finalmente melanina (Figura 1)(Seiji, 1967 citado por SILVA, 2000).

DIETA PROTEÍNAS TIROXINA


TRIIODOTIRONINA
(Tireóide)

Fenilalanina
hidroxilase Radiação UV

FENILALANINA TIROSINA Tirosinase


(Fígado)

(Epiderme)

3,4 IDROXIFENIALANINA
(DOPA)
INDOL-5,6 5,6-DIHIDROXI-INDOL
QUINONA Tirosinase
e

DOPA-CROMO
Polimerização DOPA-QUINONA

MELANINA

Figura 1. Esquema da melanogênese a partir da tirosina (Seiji, 1967).

A melanina se deposita em camadas sucessivas no interior das vesículas, as quais se transformam em


pré-melanossomos, melanossomos e posteriormente em grânulos de melanina. Quanto maior a atividade
melanogênica, maior a produção de grânulos e maior será a pigmentação da epiderme. Caso o animal não seja
mais exposto a radiação ultravioleta intensa, com o tempo a epiderme perde a coloração adquirida, à medida
que as células pigmentadas vão sendo substituídas por outras poucos ou nada pigmentadas, no processo
normal de desgaste e formação de novas células epiteliais. Nos indivíduos cuja epiderme é permanentemente
escura, existe um mecanismo genético que mantém o nível de melanogênese, independentemente das
variações na exposição à radiação ultravioleta.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 86

5. Radiação solar e características da pele e pêlos


Nas regiões tropicais, a radiação solar atinge perpendicularmente a superfície da Terra, atravessando
uma camada de atmosfera menos espessa do que os raios que atingem diagonalmente as regiões de altas
latitudes. Por esse motivo a radiação ultravioleta (UV) é mais intensa nas regiões tropicais. Enquanto a
radiação infravermelha que é a radiação térmica propriamente dita, é pouco penetrante em virtude de sua
baixa freqüência, a ultravioleta tem forte ação biológica. Uma delas é a ativação intratissular do ergosterol e
do 7-dehidrocolesterol, para a formação das vitaminas D2 e D3, respectivamente. Estas vitaminas estão
associadas à absorção de Ca e mineralização óssea, de modo que a falta de exposição aos raios UV pode levar
ao raquitismo em animais novos (SILVA, 1988).
Por outro lado, o excesso de radiação, principalmente o de ondas mais curtas (<0,3 µm), pode levar a
destruição direta dos tecidos e causar processos cancerosos. Segundo Robbins & Contran (179) citados por
SILVA (1988), a radiação ultravioleta causa dano direto ao DNA celular e causa mutações, levando a
formação de diversos tipos de carcinomas.

5.1. Cor da pele:


O fator predisponente à estes tipos de carcinomas é sempre a ausência de pigmentação melânica. Por
tais motivos desenvolveu-se pela seleção natural, uma pigmentação cutânea escura nos animais e nas raças
humanas autóctones em climas tropicais. O valor da proteção oferecida pela melanina pode ser evidenciado
por casos de fotossensibilização em bovinos da raça holandesa: nestes animais a epiderme é pigmentada
fortemente sob as malhas pretas e muito pouco nas malhas brancas. Após exposição ao sol forte, queimaduras
de até 3o grau podem ocorrer nas regiões de malhas brancas, e não ocorrem nas regiões de malha preta
(SILVA, 1988).

5.2. Cor do pelame:


Sob radiação solar direta, a quantidade de calor (raios infravermelhos) transferida ao animal depende
diretamente da cor da pelagem. A capacidade de uma superfície de absorver radiação chama-se absorvidade.
Esta varia de 0 a 1, onde o valor 0 significa nenhuma absorção, 0,5 indica que 50 % da radiação é absorvida e
1 indica absorção total. O solo nu tem uma absorvidade de 0,75 a 0,90, a areia de 0,70 a 0,82 e a rocha de 0,85
a 0,88.
A cor do pelame é de fundamental importância para a absorção de energia térmica do ambiente. Por
exemplo, Stewart (1953) citado por BACCARI Jr. (1995) verificou que uma vaca holandesa de pelagem preta
absorverá mais que o dobro de calor que uma vaca holandesa branca. Vacas Jersey de pelagem parda clara
absorvem menos calor que suas pares pardas escuras e mais calor que vacas holandesas brancas. Ademais,
num mesmo animal, como uma vaca malhada de preto, temperatura superficial sobre as malhas pretas é maior
que sobre as brancas (Tabela 1).
Em geral, considera-se que uma capa de pigmentação escura apresenta maior absorvidade para a
radiação solar de ondas curtas e portanto armazena maior quantidade de energia térmica, resultando em maior
estresse para os animais do que uma capa de coloração clara (maior refletividade). Contudo, a transmissão da
energia absorvida pela capa para a epiderme é maior nas capas de coloração clara que nas escuras.

Tabela 1. Coeficiente de absorção de pêlos de bovinos (STEWART, 1953).


Raça Cor Coeficiente de absorção
Holandesa Branca 0,41
Holandesa Preta 0,92
Guernsey Branca 0,40
Guernsey Parda 0,65
Jersey Parda clara 0,67
Jersey Parda escura 0,73

Nota-se que, embora a cor negra absorva maior quantidade de radiação térmica, a proteção contra a
radiação UV parece ser mais importante do que o superaquecimento corporal, que pode ser compensado de
outras formas (SILVA, 1988). Contudo, nos pelames de cor branca a radiação solar, especialmente a faixa do
UV, penetra mais profundamente, atingindo as camadas cutâneas (Hutchinson & Brown, 1969 citados por
SILVA, 1988).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 87

Schleger (1967) citado por BACCARI Jr. (1995), trabalhando com vacas da raça “Australian Illawarra
Shorthorn” predominantemente vermelhas, encontrou uma correlação negativa significativa entre cor da
pelagem e produção de leite média durante os primeiros 6 meses de lactação. As vacas mais) claras
produziram mais leite em 7 dos 9 rebanhos estudados. Na Flórida, vacas holandesas predominantemente
brancas produziram mais leite ao sol e à sombra que suas pares predominantemente pretas e exibiram ao sol,
freqüência respiratória e temperatura retal e superficial mais baixas. A diferença na produção de leite, ao sol,
foi de 3,9 kg/vaca/dia a mais nas vacas de pelagem branca, sendo 2,1 kg/vaca/dia à sombra, diferença de 53,8
% (Hansen, 1990 citado por BACCARI Jr., 1995).
De acordo com Silva (1987) citado por BACCARI Jr. (1995), no gado holandês, as malhas de
pelagem branca cobrem áreas de pele pouco pigmentada e considerando-se que a pele pigmentada protege
mais contra a radiação ultravioleta (causa queimaduras ou câncer de pele), bovinos holandeses de pelagens
claras seriam mais susceptíveis à estas afecções.
Os animais brancos, com pele muito pigmentada e bem providas de glândulas sebáceas, podem evitar
o risco de afecções da pele devidas à radiação solar, pois além da proteção promovida pela pigmentação, o
sebo atua como um filtro contra os raios UV. No nelore (zebu), a pelagem é branca sobre a pele preta e na raça
Jersey a pele é bem pigmentada e pelagem mais ou menos clara, atributos favoráveis em climas quentes
(Bonsma, 1966 citado por BACCARI Jr., 1995).
No clima tropical é mais favorável um pelame de cor branca ou bem clara, com pêlos grossos, curtos e
bem assentados sobre uma superfície epidérmica bem pigmentada. A função desse pelame é refletir ao
máximo a radiação infravermelha e pelo menos uma fração da faixa UV de ondas mais longas e ao mesmo
tempo permitir a perda de calor corporal. A função da epiderme escura é constituir um filtro para a radiação
UV de ondas curtas, a qual ultrapassa um pelame com as características descritas acima. Em qualquer
hipótese, é preferível um indivíduo com pelame negro com epiderme pigmentada, do que um coberto com
pêlos brancos e com epiderme despigmentada (SILVA, 1988).
A temperatura do ar, por si mesma, parece ter efeito sobre a cor da pelagem, pois novilhas zebus
Shorthorn e Santa Gertrudis mantidas em câmara climática a 27oC), exibiram pelagem mais escura que suas
pares a 10oC (Brody, 1956 citado por BACCARI Jr., 1995).

5.3. Espessura da Pele:


Bonsna, Van Marle &Hofmeyer (1953), na África do Sul, atribuíram à espessura da pele de bovinos
funções essenciais na tolerância ao calor. Sendo a pele espessa, poderia prevenir a penetração de calor.
Dowling (1955), na Austrália, fez uma série de mensurações da espessura da pele em bovinos de origem
européia e asiática, de corte e leite e chegou a conclusão que a espessura da pele não representa papel
importante na adaptabilidade de bovinos nas regiões quentes.
Tulloh (1961), na Austrália, procedeu a mensuração da pele de bovinos europeus de corte e não
constatou relações entre espessura da pele e peso vivo dos bovinos, pelo que julga improvável seu uso na
seleção de indivíduos com habilidade de ganhar peso. Hayman et al. (1966), na Austrália, verificaram que os
zebuínos Sahiwal tem a pele mais espessa do que os bovinos Jersey e que a espessura varia com a estação do
ano, sendo menos espessa no verão. Mc Dowell (1971), nos EUA divulgou esclarecimentos sobre a
sistemática de mensuração da pele de bovinos. Na sua opinião, a pele adquire espessamento em função da
idade e da sub-nutrição, variando ainda segundo as regiões do corpo do indivíduo. Admitiu que nos trópicos
secos o espessamento da pele teria vantagem, ao passo que nos trópicos úmidos a pele fina seria mais
conveniente.

6. Folículos pilosos:
Nos bovinos, a formação de folículos pilosos inicia-se por volta do 78o dia de gestação, estando bem
definidos aos 166 dias. Assim, um animal já nasce com um número definido de folículos, geneticamente
estabelecidos. Contudo, o número de folículos diminui por unidade de área com a idade, estabilizando-se a
partir dos 2 anos de idade, coincidindo com o término da fase de crescimento corporal (Tabela 2). Essa relação
amo a idade pode ser explicada pelo crescimento e expansão da epiderme, sem que haja alteração no número
total de folículos.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 88

Tabela 2. Número médio de folículos pilosos por unidade de área de superfície cutânea em bovinos de
diferentes idades, ajustados para o peso corporal.
Bovinos Idade Peso Corporal (kg) Número de folículos
Europeu Feto 3,7 23.300
Recém-nascido 31,3 5.186
2 a 10 meses 133,4 2.061
12 a 22 meses 218,6 1.413
6 anos 406,0 887
Zebu Recém-nascido 35,8 5.652
2 a 10 meses 134,7 2.446
12 a 22 meses 271,7 1530
(Adaptado de Turner et al., 1962)

Os ciclos de atividade folicular podem assumir um caráter:


1. Estacional: ocorre uma muda ou duas por ano (gatos, cães, cavalos, veados, bovinos e ovinos);
2. Ondulatório: há ondas de atividade em padrões bem definidos (animais de pele, como a raposa prateada,
arminho, etc.) e, em outros, há uma atividade irregular e aleatória (homem).
No que diz respeito à variação estacional do pelame de bovinos, têm-se observado que as vacas de
origem européia normalmente apresentam um pelame espesso e lanoso durante o inverno, ao passo que
durante o verão os pelos são curtos, grossos e medulados. Este comportamento também foi observado em
zebuínos. Nos bovinos, ocorrem duas mudas, uma na primavera quando caem os pêlos de inverno e se forma o
pelame do verão (crescem novos pêlos, curtos e grossos), e outra no outono, quando caem os pêlos de verão e
se origina o pelame de inverno (pêlos longos e finos). Essas mudas dependem tanto da temperatura ambiente
como do fotoperíodo. A condição de nutrição do animal também parece ter um efeito importante nas mudas.
No que se refere a lã dos ovinos, Wodzicka (1959) citada por SILVA (2000) estudou sua variação
estacional nas raças Merino, Hampshire e Columbia-Southdale, na Austrália, observando que a produção de lã
era sempre maior no verão que no inverno, sendo controlada pela temperatura ambiente e não pelo
fotoperíodo; esse ritmo estacional também não seria uma conseqüência da alimentação mais deficiente no
inverno.

Tabela 3. Variação estacional de características do pelame de vacas Jersey em região tropical (SILVA et al.,
1988).
Época Comprimento médio dos Espessura do pelame Pigmentação do pelame
pêlos (mm) (mm) (%)
Janeiro - março 14,75 3,17 0,47
abril - junho 16,58 4,55 0,47
Julho - setembro 17,49 5,48 0,49
Outubro - dezembro 12,80 3,23 0,43

French (1946), referiu-se à importância da camada de ar que os pêlos longos retém no inverno, para
prevenir a perda de calor. Já no verão, os pêlos curtos devem permitir a eliminação do calor corporal
excedente.

7. Glândulas sudoríparas:
As glândulas sudoríparas dos bovinos e ruminantes em geral são do tipo apócrinas e se acham sempre
associadas a um folículo piloso (epitríquias). Elas se abrem exclusivamente dentro dos folículos e suas células
secretoras descarregam no interior do lume glandular um líquido contendo materiais graxos. São constituídas
por uma camada interna de células secretoras poliédricas e por uma camada externa de miofibrilas (SILVA,
2000).
De acordo com McDowell (1972) citado por SILVA (2000), os animais domésticos que mais suam,
pela ordem decrescente de importância desse mecanismo para a termorregulação, são os seguintes: 1) eqüinos,
2) asininos, 3) bovinos, 4) bubalinos, 5) caprinos, 6) ovinos e 7) suínos. Contudo, existem sensíveis diferenças
entre raças.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 89

Existem consideráveis diferenças estruturais entre as glândulas sudoríparas de diferentes raças de


bovinos. Nay (1959) citado por SILVA (2000), verificou que as glândulas dos animais de origem européia
tendem a apresentar estruturas de diâmetro menor (até 100 mm) e com aparência enovelada, ao passo que os
zebuínos apresentam glândulas saculiformes de maior diâmetro (180 a 200 mm).
O mecanismo de ativação das glândulas apócrinas é pouco conhecido, parecendo ocorrer uma
mediação pela adrenalina, que é transportada por via sangüínea para as glândulas, ativando as miofibrilas que
as envolvem, causando sua contração e assim, a eliminação do fluido. Não há aporte de nervos simpáticos
adrenérgicos às glândulas sudoríparas. A distribuição das glândulas sudoríparas não é homogênea na
superfície corporal e algumas regiões apresentam densidade folicular (e portanto glandular) maior que as
outras: o tronco, a tábua do pescoço, a papada, o ventre e as extremidades, em ordem decrescente (SILVA,
2000).
Em bovinos submetidos ao estresse calórico, cerca de 67 a 70 % da perda de calor ocorre por
evaporação cutânea. A taxa de sudação varia de 140 - 300 g/m2, nunca sendo maior que 300 g/m2, de forma
que o animal não fica com a pele molhada, pois a evaporação é muito rápida. As perdas de calor por
evaporação cutânea podem aumentar 7 vezes, enquanto que as perdas por evaporação respiratória podem
aumentar 1,5 vezes. Os animais reduzem o consumo de alimento para reduzir o calor metabólico (redução na
disponibilidade de nutrientes) e o incremento calórico dos alimentos (rúmen). Há uma redução na atividade da
glândula tireóide com diminuição na produção de seus hormônios (T3 e T4), implicando em uma diminuição
do metabolismo e da produção (animais ociosos). Ocorre um aumento da temperatura corporal (correlação
positiva com a temperatura ambiente).

8. Perdas de calor por evaporação:


A evaporação é o meio mais eficaz de eliminação de calor corporal quando a carga térmica do
ambiente é elevada (temperatura próxima ou acima da do corpo do animal), uma vez que este mecanismo de
termólise não depende do gradiente de temperatura entre a superfície do corpo e o ambiente, e, as perdas
sensíveis (radiação, convecção e condução) estão bastantes reduzidas pois dependem do desse gradiente. A
perda de calor por evaporação depende da temperatura da superfície e da pressão de vapor do ar junto à
mesma. Quanto mais seco o ar ambiente, mais intensa será a perda de calor por evaporação.
Nos animais existem duas vias de termólise evaporativa: a respiratória e a cutânea. A primeira é mais
desenvolvida em espécies que não usam a evaporação via cutânea (aves, cães, animais com cobertura lanoso
ou pilosa muito densa e espécies que vivem em regiões muito secas, nas quais a economia de água é
importante). Nos bovinos, cerca de 1/5 da termólise evaporativa se processa através da respiração, sendo que o
principal mecanismo é a perda por evaporação cutânea através da sudorese ou sudação. Vacas adultas de raças
européias apresentam uma densidade média de 800-900 glândulas sudoríparas por cm2 de pele, ao passo que
zebuínos apresentam densidade média de até 1500 glândulas/cm2, sendo suas glândulas mais volumosas e
ativas.
Salimos (1980) citado por SILVA (1988) medindo semanalmente a taxa de sudação de vacas Jersey e
Holandesas durante 12 meses, observou taxas médias de 124, 125 e156 g/cm2 hora para HPB, HVB e Jersey,
respectivamente, durante o verão. As diferenças foram significativas, sendo que animais entre 100 e 200 dias
de lactação apresentavam taxas de sudação maiores os animais de 0 a 100 e com mais de 200 dias de lactação.
Existe uma relação entre a capacidade de suar e o comportamento dos animais a pasto. Borges (1986)
citado por SILVA (1988) acompanhou vacas holandesas a pasto durante um ano e observou que vacas com
maior capacidade de sudação dispendiam mais tempo pastando ao sol nas horas mais quentes do dia (11 - 15
horas).

9. Estresse pelo calor:

9.1. Em uma animal submetido ao estresse por calor:


a) Há uma tendência de reduzir a produção de calor corporal, o que é conseguido através da redução do
metabolismo e da atividade física;
b) A redução do metabolismo através de mecanismos endócrinos força a diminuição das atividades
produtivas, particularmente a secreção de leite. Esta redução leva ainda à diminuição no consumo de
alimento, principalmente de volumosos;
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 90

c) A queda na produção é proporcionalmente maior que a da ingestão alimentar, conseqüentemente diminui a


eficiência de conversão de alimento em leite;
d) A reprodução é muito afetada. A regularidade do ciclo estral é prejudicada e aumenta muito a perda de
embriões nos estágios iniciais. A fertilidade dos machos também é bastante prejudicada.
e) Em indivíduos em crescimento, o mesmo pode ser prejudicado, quer diretamente através da ação sobre o
sistema endócrino, quer indiretamente, através da redução na ingestão de alimento.

9.2. Interação genótipo-ambiente


Um experimento efetuado na câmara climática da Universidade de Missouri revelou que bovinos das
raças Brahman (zebu), Santa Gertrudes e Shorthorn, em crescimento, mantidos dos 3 aos 14 meses (um grupo
a 10oC e outro a 27oC), revelou que no ambiente quente o GP dos Shorthorn foi muito afetado negativamente,
o inverso ocorrendo com os Brahman. Entretanto, a 10oC os Shorthorn ganharam bem peso, o contrário
ocorrendo com os Brahman. Esses resultados indicam a presença de uma interação genótipo-ambiente: o
efeito genético na taxa de GP dependeu do ambiente no qual o crescimento ocorreu.
Os Santa Gertrudes ganharam mais peso que os Brahman e foram mais tolerantes ao calor que os
Shorthorn. Os Santa Gertrudes ganharam mais peso que os Shorthorn tanto a 27oC quanto a 10oC. Então, a
interação genótipo ambiente foi menor para os Shorthorn e Santa Gertrudes que para os Shorthorn e Brahman.
A experiência prática têm demonstrado que os bovinos Santa Gertrudes apresentam performance aceitável
tanto em regiões de clima temperado como naquelas quentes e úmidas. Talvez os Santa Gertrudes tenham uma
“adaptação cruzada”.

10. Calor diminui a fertilidade em vacas


Nos países de clima tropical ou subtropical, um dos efeitos desfavoráveis na fertilidade das vacas é a
diminuição nas taxas de concepção, nas épocas quentes do ano, em função do estresse térmico. Trabalhos
realizados na Flórida com vacas Jersey, Pardo-Suiça e Holandesas (6555 inseminações artificiais), mostraram
que as taxas de concepção diminuíram nos meses de verão, sendo de 45% (Jersey), 41% (Pardo-Suiço) e 39%
(Holandesa). As maiores taxas de concepção observadas para a Jerseyem comparação às outras duas, e da
Pardo-Suiça com relação a Holandesa, estiveram provavelmente associadas à produção de leite e respostas
fisiológicas de cada raça ao estresse térmico. Verificou-se, também, que, quando a temperatura do ar máxima
excedeu 30oC um dia após a inseminação, ocorreu uma maior queda nas taxas de concepção em vacas em
lactação (BACCARI Jr., 1990).
Os efeitos do estresse térmico sobre a fertilidade das vacas resultam de dois problemas principais: 1)
ausência de expressão do cio ou ineficiência na sua detecção e 2) mortalidade do embrião (estimada em 15 %
no gado leiteiro). Nos meses quentes há uma redução na duração do cio para cerca de 10 horas, o que diminui
a probabilidade de sucesso na detecção nos programas de inseminação artificial. Além disso, as vacas exibem
comportamento de cio menos intenso. No caso da mortalidade embrionária, observou-se uma associação entre
temperaturas elevadas do útero, um dia após a inseminação, com a queda nas taxas de concepção. Assim, a
alta temperatura no microambiente do embrião, o útero, seria um fator responsável por a prenhez não se
confirmar. Admite-se, ainda, que um decréscimo no fluxo sangüíneo para o útero (vasodilatação periférica)
seja um agente mediante o qual o estresse térmico exerceria seus efeitos negativos na fertilidade ddas vacas,
considerando-se que o fluxo de sangue para o útero é uma fonte de nutrientes, água e oxigênio para o embrião
em desenvolvimento (BACCARI Jr., 1990).
Com o objetivo de se obter taxas de concepção mais altas, nas regiões quentes, recomenda-se manejo
ambiental que inclui, principalmente, a provisão de sombra, natural (árvores) ou artificial (abrigos), nas horas
mais quentes do dia (das 10 às 16h), aliada a aspersão de água fria sobre as vacas (BACCARI Jr., 1990).

LITERATURA CONSULTADA:
BACCARI JR., F. Calor diminui a fertilidade de vacas. Folha de São Paulo, São Paulo, 20 de fevereiro de
1990. Agrofolha, p.C-4.
BACCARI JR., F. Apostila da disciplina de Stress e Produção animal. Curso de Pós-Graduação em
Zootecnia, Área de Concentração em Nutrição e Produção Animal, FMVZ - UNESP - Câmpus de
Botucatu, 1995.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 91

MÜLLER, P.R. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3.ed. Porto Alegre: SULINA, 1989.
262p.
SILVA, R.G. Bioclimatologia e melhoramento do gado leiteiro. Gado Holandês, n.148, p.5-12, 1988.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) A superfície externa dos animais é constituída por uma série de camadas. Quais?
2) O que você entende por pelame?
3) O que é melanina e qual sua importância para os animais? Qual é o precursor para síntese da melanina?
4) Que tipo de glândula sudorípara é comulmente observada em ruminantes? Comente.
5) Quais as características mais desejáveis da capa externa para bovinos que vivem em um ambiente quente,
com radiação solar intensa e baixa umidade do ar. Explique.
6) Qual a relação entre espessura da pele e resistência oa estresse pelo calor?
7) Cite quais os animais domésticos que mais suam, pela ordem decrescente de importância desse mecanismo
para a termorregulação.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 92

Aula 10 - Efeitos do Ambiente Tropical Sobre a Produção Animal (Crescimento)

As condições climáticas, tais como temperatura, umidade, vento e irradiação, podem causar estresse
calórico nos animais, diminuindo o ritmo de crescimento fetal e antes e após a desmama. Aumenta a ingestão
de água e diminui a ingestão de alimento e a quantidade de energia, para propiciar uma diminuição na
produção de calor. O ganho de peso nos animais em crescimento é muito mais afetado do que nos animais
adultos (MÜLLER, 1989).
Em climas tropicais e subtropicais, a exemplo do Brasil, a radiação solar intensa e os elevados valores
da temperatura e umidade relativa do ar no verão, geram condições de desconforto térmico quase permanentes
às aves, prejudicando seu desempenho produtivo e sendo incluídos entre os principais problemas que afetam a
exploração avícola (TINÔCO, 1994). A redução no crescimento está associada à diminuição do consumo de
alimento, a redução na taxa metabólica e ao aumento do catabolismo.
A redução no consumo de alimentos se dá via centro hipotalâmico da saciedade. Cabras saciadas
iniciam o consumo quando o hipotálamo anterior resfriado, enquanto que se for aquecido, o consumo é inibido
em cabras em jejum. Apesar do mecanismo ser ainda pouco conhecido, o estresse tem um efeito negativo
sobre o apetite. Se a temperatura ambiente aumenta acima da termoneutralidade, observa-se uma diminuição
na ingestão de forragem e mesmo inibição geral do trato digestivo (Mcdowell, 1972, citado por
ENCARNAÇÃO, 1989).
Segundo MÜLLER (1989), a causa primária da redução no crescimento está associada à diminuição
da produção de calor pelo animal, através da diminuição do consumo de alimento e do metabolismo, e com as
mudanças na utilização de energia para dissipação de calor, que implicam em desvio da energia que poderia
ser utilizada para o crescimento.

1. Crescimento pré-natal (crescimento fetal):


A temperatura ambiente é, sem dúvida, o fator climático mais importante que afeta o crescimento
fetal. A diminuição do crescimento pré-natal, se deve à diminuição da utilização de substratos (albumina do
ovo, por embriões de aves) e à diminuição da circulação sangüínea no útero, da disponibilidade de substrato e
da massa placentária na etapa final de prenhes, ocasionando atrofiamento fetal (bezerros miniaturas, comuns
em raças européias não adaptadas aos trópicos). Na Tabela 1 podemos observar que o peso ao nascer é bem
maior nas zonas temperadas do que nas tropicais. O peso ao nascer dos machos e fêmeas são semelhantes nas
zonas tropicais, enquanto que, o lógico seria o macho ser mais pesado.

Tabela 1. Diminuição do crescimento pré-natal nos trópicos.


Machos Fêmeas
Zona Temperada 42,4 40,8 Holanda
41,8 39,5 Inglaterra
Zona Tropical 32,4 32,2 Índia
32,5 30,6 Egito
30,7 30,7 Venezuela

Os bovinos europeus apresentam menor peso ao nascer quando transportado do país de origem para as
zonas tropicais, sendo esta diferença mais acentuada nos machos, que são menos adaptados que as fêmeas. Na
raça Nelore ocorreu o inverso, uma melhor adaptação no Brasil que na Índia (Tabela 2).

Tabela 2. Peso ao nascer de diferentes raças no Brasil e comparadas com o país de origem.
Raça Brasil País de Origem
M F M F
Holandesa 40,3 36,2 42,4 40,8
Charolesa 39,3 36,7 45,2 42,0
Chianina 39,5 37,0 46,0 42,0
Nelore 32,4 28,7 29,5 27,0
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 93

Segundo WENIGER (1971), a taxa de crescimento do embrião decresce proporcionalmente à duração


do estresse térmico.

2. Crescimento pós-natal:
O crescimento pós-natal em lactação depende do meio ambiente imposto ao recém nascido e dos
fatores ambientais impostos a mãe e à produção de leite. A estação do ano em que ocorre o nascimento afeta
ambos; por exemplo, quanto mais perto da primavera, maior peso dos bezerros ao desmame.

2.1. Efeitos do ambiente:


As altas temperaturas podem reduzir o crescimento de animais após o desmame, em graus diferentes,
segundo a raça, a idade, a gordura, o plano de nutrição e a umidade relativa do ar. As raças européias
diminuem o crescimento, se submetidas a uma temperatura constante acima de 24oC. Os efeitos se agravam,
ao elevarmos esta para 29 a 32oC, cessando o aumento de peso. A 41oC, sobrevêm a prostração,
principalmente se a UR do ar é alta (MÜLLER, 1989).
Em ambientes quentes, o consumo de MS/unidade de peso corporal, o quociente de digestibilidade e a
absorção intestinal é maior no gado zebu do que no gado europeu (HAFEZ, 1968).
O’Bannon et al. (1955) citados por ENCARNAÇÃO (1989) analisaram a taxa de crescimento de
novilhas de 3 populações diferentes, submetidas a temperaturas de 10 a 27oC e verificaram que os animais da
raça Brahman mostraram melhores resultados em temperaturas mais altas. Para a raça Santa Gertrudes, não
houve diferença no desenvolvimento, enquanto novilhas Shorthorns cresceram mais no frio.
VIEIRA et al. (1995) com base nos valores médios dos índices de conforto térmico analisados,
concluíram que, sob um THI=93 e BGT=37,1oC por 8 horas, durante o dia (0900 às 1700h) e THI=83 e
BGT=32,9oC por 16 horas (1700 às 0900 h), as novilhas bubalinas da raça Mediterrâneo sofreram diminuição
no consumo de alimento e depressão no ganho de peso, atribuindo-se o fenômeno ao custo fisiológico mais
elevado necessário para promover o resfriamento evaporativo (termólise respiratória e cutânea) e à
hipertermia.
As temperaturas elevadas e ar radiação solar são, dentre os fatores climáticos, os que mais causam
afecções nos bovinos. A insolação, que se deve à ação intensa da radiação solar nos dias claros, atua
diretamente sobre a cabeça do animal, onde provoca o superaquecimento do encéfalo, levando a transtornos
na irrigação sangüínea do órgão. A temperatura do corpo sobe acima do limite normal, caracterizando a
hipertermia. No “golpe de calor”, a hipertermia é devida à excessiva temperatura ambiente (épocas muito
quentes), sem intervenção direta da radiação solar. Tanto na insolação quanto no “golpe de calor”, o animal
manifesta dificuldades de locomoção e aceleração da respiração. Temperaturas corporais superiores a 42oC
são muito graves, causando transtornos no sistema nervoso central. Aos 45oC, o animal morre. A temperatura
corporal normal nos bovinos varia de 38,5 a 40,5oC (BACCARI Jr., 1989). Em suínos de 40 a 45 kg, o
crescimento mais rápido é obtido a 21 e 16oC, respectivamente (HAFEZ, 1968).
Os frangos de corte da atualidade são provenientes de linhagens de híbridos altamente produtivos. São
animais que crescem mais rapidamente e convertem ração em GP de forma muito eficiente. A zona de
conforto térmico para os frangos nas fase de crescimento e final (21 a 42 dias, em média) se situa entre 15 a
25oC, de forma que nas condições brasileiras de criação (clima tropical e sub-tropical), fatalmente serão
submetidos à períodos de estresse térmico, retardando o seu crescimento. Num experimento realizado na
câmara bioclimática, observou-se que frangos de corte submetidos ao estresse pelo calor a 32,5oC, em média,
durante o dia e 27oC durante a noite, por 12 dias consecutivos pesaram 105,5 g a menos por ave que frangos
mantidos na zona de termoneutralidade. No abate (12 dias após terem sido liberados do estresse), os frangos
previamente estressados pesaram 79g a menos que os não estressados (BACCARI Jr., 1987).
Em frangos de corte, os efeitos do estresse pelo calor começam a se tornar preocupantes,
principalmente após a 3a semana de idade, quando as aves já possuem o seu sistema termorregulador bem
desenvolvido, estão empenados, numa fase de expressivo consumo e crescimento e sua zona de conforto
térmico se encontra ao redor de 24oC (Tabela 3). Vários autores têm relatado os prejuízos causados em lotes
de frangos de corte criados em períodos quentes, em função do estresse calórico: queda de desempenho, em
decorrência de um menor consumo de ração, menores ganho de peso e peso final, piora na conversão
alimentar e aumento da mortalidade (Baccari Jr. et al., 1986, Leeson, 1986, Donkoh, 1989, Teeter, 1985 e
1989, Mendes, 1990, May e Lott, 1992 e Fabricio, 1994, citados por SARTORI et al., 1997).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 94

Tabela 3. Idade dos frangos x temperatura de termoneutralidade.


Idade das aves (dias) Temperatura ambiente (oC)
0a3 31
4a7 28
8 a 14 26
15 a 21 24
22 a 30 23
31 ao abate 21
FABRÍCIO (1994).

Acima de 25oC, tanto os frangos de corte, quanto as galinhas poedeiras, sofrem estresse térmico.
Nessas condições, as aves comem menos e tomam mais água em função do aumento da temperatura corporal,
enquanto a respiração se acelera, para aumentar as perdas de calor por evaporação. Como resultantes, o
crescimento se reduz devido ao menor ganho de peso, no caso dos frangos, e o peso dos ovos das poedeiras
diminui. A taxa de mortalidade aumenta na criação, sendo maior nos machos em comparação com as fêmeas
(BACCARI Jr., 1990b). FABRÍCIO (1994) comparando os resultados dos meses de dezembro/92 e
janeiro/93 (verão), com os dos meses de abril e maio/93 (outono), verificou diferenças significativas no
desempenho de frangos de corte (Tabela 4). Quando as aves são criadas próximas à zona de
termoneutralidade, na fase final, todos os índices avaliados foram melhores

Tabela 4. Dados comparativos em frangos com idade de 48 dias entre os meses de dezembro/92, janeiro/93 e
abril e maio/93.
Mês Peso CA Mort. I.E.E. T máx, oC UR, %
12/92 2347 c 2,076 b 7,09 c 218,83 b 28,81 65,4
01/93 2321 c 2,068 b 6,89 bc 217,71 b 28,38 77,7
04/93 2444 b 2,012 a 5,80 ab 238,39 a 26,30 78,4
05/93 2527 a 2,012 a 5,01 a 248,55 a 22,00 77,6
Fonte: Sadia Concórdia S/A Indústria e Comércio - Unidade de Chapecó. Amostra: 2.321.000 aves.
Letras iguais na mesma coluna não diferem estatisticamente (P>0,05).

BERTECHINI et al. (1991a,b) observaram uma redução linear no consumo de ração de frangos de
corte com o aumento da temperatura ambiente de 17,1 para 27,9oC, com uma redução equivalente no ganho de
peso (Tabela 05). Abaixo da temperatura termoneutra (22,2oC), houve um aumento no consumo de 1,3 % e
um aumento no ganho de peso de 0,7 % para cada 1oC. Acima da temperatura termoneutra (22,2oC) houve
uma redução no consumo de 1,9 % e uma diminuição no ganho de peso de 1,8 % para cada 1oC. Estes dados
estão em conformidade com os observados por NAS (1981), onde o consumo de ração das aves varia 1,5 %
para cada 1oC entre as temperaturas de 5 a 35oC.

Tabela 5. Efeito da temperatura ambiente sobre o desempenho de frangos de corte de 29 a 49 dias de idade.
Temperatura, oC
17,1 22,2 27,9
(15,8 a 18,3) (21,3 a 23,1) (26,9 a 28,9)
Consumo
g/ave 2711 2547 2272
Relativo 106,4 100 89,2
o
%/± 1 C +1,3 0 -1,9
Ganho
g/ave 1139 1100 990
Relativo 103,5 100 90
o
%/± 1 C +0,7 0 -1,8
Umidade relativa média de 50, 76 e 79 % para as temperaturas de 17,1, 22,2 e 27,9oC, respectivamente.
(BERTECHINI et al., 1991a,b). Média de 2 experimentos.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 95

O estresse calórico é responsável por grandes perdas no rendimento de frangos de corte, já que estas
ocorrem na fase final de criação, aumentando a mortalidade, diminuindo o peso e piorando a conversão
alimentar. A nível de campo, observa-se que a mortalidade acentua-se no final da tarde, aproximadamente
quatro horas após o pico de temperatura (que ocorre em torno das 1300 h), quando as aves ficam exaustas e
não conseguem manter a temperatura corporal (hipertermia), pois a hiperventilação pulmonar não é suficiente
eficaz na perda de calor e induz o animal à alcalose respiratória (FABRÍCIO, 1994).
O consumo de alimento diminui com o calor , enquanto que o consumo de água aumenta. Em bovinos
de corte, o consumo de matéria seca diminui 3 a 10% quando a temperatura ambiente aumenta de 25 para
35oC. Para a mesma variação, o consumo de água aumenta de 4 para 10 litros/kg de MS ingerida. As
exigências de manutenção permanecem as mesmas ou até aumentam, resultando em uma piora na eficiência
alimentar (BERGIGIER, 1989).
No caso de frangos de corte, o consumo de alimento e o calor ambiente causam um aumento na
estocagem de calor que resulta, especialmente em ambientes quentes, em uma redução do consumo de
alimentos, que pode causar a falta de algum nutriente essencial para o desenvolvimento do animal. Com
relação aos aminoácidos pode levar a falta de algum dos limitantes e provocar uma redução no ganho de peso
e também aumento do catabolismo dos demais aminoácidos que ficam sobrando. O aumento do catabolismo,
por conseqüência, aumenta a produção de calor, o que leva a reduzir ainda mais o consumo e em alguns casos
a morte das aves (PENZ JR., 1989).
No estresse térmico agudo, ocorre acentuada perda de peso, a qual é atenuada pela presença de água.
Os pintos aos 7 dias de idade perdem relativamente mais peso que os frangos (40 dias), mas apresentam ganho
compensatório adequado quando colocados em situação termoneutra (CÉSAR et al., 1994).
Independente da origem das linhagens de frangos de corte, os genótipos que apresentam as mais altas
taxas de crescimento em temperaturas baixas ou normais, são os mais afetados pelas altas temperaturas e que
os machos são bem mais sensíveis que as fêmeas. Este efeito atua em detrimento ao desempenho animal,
como também no rendimento e composição das carcaças. Genótipos selecionados com ênfase na conversão
alimentar ou para baixa ou alta deposição de gordura abdominal são menos afetados pelas altas temperaturas
(Leenstra, 1992 citado por COSTA, 1997).

Teoria termostática do controle do consumo de alimento:


Todos os animais homeotérmicos apresentam um consumo de alimento inversamente proporcional à
temperatura do meio ambiente (NRC, 1981).
A alteração do consumo de alimento, em função da temperatura ambiente, é um dos mecanismos que
possibilitam ao animal regular sua temperatura corporal dentro de um limite térmico compatível com sua
atividade metabólica. Assim, o animal diminui o consumo de alimento, quando a temperatura ambiental é alta,
e aumenta, quando é baixa. Esse comportamento alimentar está associado aos mecanismos de produção e
perda de calor.
Brobeck (1948, 1957, 1960) citado por MACARI et al. (1994) postulou a teoria termostática, segundo
a qual, as condições térmicas ambientais determinariam uma modificação da temperatura corporal profunda
que, sinalizada no hipotálamo anterior, modularia o comportamento alimentar do animal. A teoria pressupõe a
existência de um ponto de referência (“set-point”) térmico corporal, acima do qual, o consumo de alimento
seria diminuído e, abaixo, aumentado.
As críticas a essa teoria apontam justamente para a dificuldade de se estabelecer qual é o “set-point”
térmico hipotalâmico e pela constatação de que a temperatura corporal profunda é passível de modificações
temporais não relacionadas com alterações da temperatura ambiental e nem com o início e término das
refeições (Sykes, 1979, citado por MACARI et al., 1994).
Mas, como a temperatura corporal profunda é influenciada por modificações na taxa metabólica que,
por sua vez, altera-se com o nível de alimentação e/ou temperatura ambiental, é possível que outro
mecanismo, que não o do “set-point”, esteja envolvido na regulação da ingestão alimentar, via temperatura
ambiental/temperatura corporal, utilizando, talvez, a participação de hormônios calorigênicos (tiroxina,
triiodotironina) e hormônios metabólicos que atuam na partição de energia corporal (insulina, glugagon,
hormônio de crescimento, entre outros) (Ingran & Dauncey, 1986, citados por MACARI, 1994).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 96

Efeitos psicológicos:
O efeito do estresse no crescimento de animais não está relacionado unicamente à estressores de
natureza física, mas também a pressões psicológicas. Semelhantes estados de estresse, que podem resultar em
menores GP em bovinos, foram observados em várias situações: grupos confinados com maior densidade
populacional, animais de menor categoria social e em animais isolados (ENCARNAÇÃO, 1989).
Também em suínos é notório o efeito social no desempenho produtivo. Beilharz & Cox (1967) citados
por ENCARNAÇÃO (1989) acharam correlações positivas entre categoria social e peso aos 42, 98 e 154 dias
de idade. McBride et al. (1964; 1965) citados por ENCARNAÇÃO (1989), atribuíram à hierarquia social de
13 a 17 % da variação do ganho de peso vivo.

Mudanças na composição do corpo em animais em crescimento:


Além da influência sobre o crescimento, os fatores ambientais influenciam a composição do corpo
(características de carcaça e qualidade da carne). Em todas as espécies animais, o crescimento pára em
temperaturas limites (baixas ou altas) e é máximo nas zonas de conforto do animal (MÜLLER, 1989).
Fêmeas Holstein de regiões mais quentes apresentaram comprimento do corpo e altura de cernelha
menores que suas meio-irmãs paternas criadas em regiões frias (Mcdowell, 1972, citado por ENCARNAÇÃO,
1989). Porcos criados a 35oC por 8 semanas apresentaram extremidades mais longas e menos pêlos que as
testemunhas, mantidas a 25oC. Galinhas a 18oC tem elevado GP, porém a maior parte é acumulo de água, pois
o ganho calórico é mínimo. Ratas criadas de 21 a 27oC possuem menos tecido adiposo do que as criadas a
34oC. Nos animais em lactação, as reservas de gordura se esgotam com o aumento da temperatura ambiente.
Há um efeito do ambiente sobre o teor de gordura intramuscular, cor e maciez da carne, durante a engorda de
suínos e ovinos (WENIGER, 1971).

Regulação neuro-hormonal:
O crescimento animal está sujeito à regulação hormonal. Em caso de estresse há um desequilíbrio do
sistema endócrino. A hipófise secreta menos hormônio tireotrófico, reduzindo a atividade da tireóide (Faber &
Haid, 1976, citados por ENCARNAÇÃO, 1989). Esta glândula por intermédio de seus hormônios (T3, T4 e
outros), desempenha importante papel estimulando os metabolismos de proteínas, gorduras, carboidratos,
água, minerais e energia, além de sua imprescindível função no crescimento.
Segundo Mitra et al. (1972) e Mitra & Johnson (1972), citados por ENCARNAÇÃO (1989), O
estresse prolongado também inibe a secreção do hormônio do crescimento (GH). O GH é um dos principais
hormônios anabólicos, responsável pela estimulação do desenvolvimento corporal, atuando em todos os
tecidos, particularmente nos ossos, músculos, rins, fígado e tecido adiposo.
Baccari Jr. et al. (1983) citados por ENCARNAÇÃO (1989) verificaram que bezerras Holstein (5
meses de idade) expostas por 5 semanas ao estresse térmico (32 a 34oC) apresentaram um aumento na
temperatura retal e uma redução nos ganhos de peso e na concentração plasmática de triiodotironina (T3).
JOHNSON et al. citado por ENCARNAÇÃO (1989) trabalhando com os mesmos animais verificaram que o
comportamento do GH é semelhante às alterações do T3 e dos ganhos de peso. Após a exposição ao calor, os
animais voltaram a TN (20oC) e apresentara valores de T3 e ganhos diários superiores ao período pré-estresse
térmico (reações compensatórias). O GP foi correlacionado positivamente com T3 e GH e negativamente com
a temperatura retal.
Segundo Faber & Haid (1976) citados por ENCARNAÇÃO (1989), sob estresse, a hipófise diminui a
secreção dos hormônios gonadotróficos, reduzindo a atividade das gônadas e a secreção dos hormônios
sexuais. O mesmo acontece com os hormônios sexuais oriundos da adrenal, onde o eixo hipotálamo - hipófise
- córtex-adrenal é desativado pelo “feed-back negativo”, e em caso de esgotamento da glândula (estresse
crônico), a produção desses esteróides é ainda mais reduzida. Os esteróides possuem grande efeito anabólico,
estimulando o crescimento e desenvolvimento da musculatura.

Resistência orgânica:
Em casos de estresse prolongado, o efeito catabólico e a gliconeogênese, estimulados pelos
glicocorticóides, têm como conseqüência a perda de peso dos animais, pois os tecidos muscular e adiposo são
transformados em glicose, para fins de produção de energia. Outro efeito decorrente da mesma síndrome, que
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 97

influi indiretamente sobre o crescimento ou engorda é a reduzida resistência orgânica contra infecções,
quando sob elevados níveis de hormônios corticoadrenais. Altas concentrações de glicocorticóides acarretam
atrofia do timo e outros órgãos linfáticos, com conseqüente prejuízo na produção de anticorpos
(ENCARNAÇÃO, 1989).
Embora menos sensíveis às quedas de temperatura, estas também podem provocar perdas de peso e
queda de resistência em ruminantes. Não é raro o aparecimento de pneumonia e diarréia em bezerros expostos
ao frio, podendo levar à morte (ENCARNAÇÃO, 1989).
Doenças como bronquite, New Castle, laringotraqueíte, coriza, colibacilose e cólera comprometem o
sistema respiratório e é através da respiração que ocorre uma das principais trocas de calor em ambientes com
alta temperatura. Os animais tendo os pulmões e/ou os sacos aéreos comprometidos tem uma redução na
capacidade de troca que resulta em uma maior probabilidade de morrerem em condições de calor (PENZ JR.,
1989).

Período inicial de criação (animais recém-nascidos):


A amplitude térmica externa reflete diretamente na amplitude térmica interna dos galpões. Visto que
os maiores índices de mortalidade ocorrem em dias de amplitudes maiores, este tema deveria ser tratado com
mais atenção pelos pesquisadores, uma vez que o frango não resiste adequadamente às variações altas e
bruscas da temperatura ambiente. O manejo adequado, bem como as instalações com materiais construtivos de
maior inércia térmica, podem solucionar parcialmente o problema de calor excessivo. Entretanto, em dias de
amplitudes críticas e temperaturas mínimas muito abaixo da zona de termoneutralidade nas primeiras
semanas, a única solução fica sendo o aquecimento artificial adequado (NAAS, 1995).
Mesmo em ambientes nos quais a temperatura varia entre 22 a 30oC, não é aconselhável a retirada do
aquecimento na fase inicial dos frangos de corte para reduzir os custos de produção, pois a resposta
comportamental de agrupamento, não é suficiente para compensar a demanda energética sem custo adicional
extra, refletindo na piora da conversão alimentar (CAMPOS et al., 1993). Em ambientes com temperaturas
frias, ocorre uma maior produção de calor pelo organismo animal e um maior consumo de alimento.
Considerando valores de ITGU e CTR, na segunda semana de idade, as placas aquecidas
eletricamente propiciaram melhores condições ambientais para as aves quando comparadas aos outros
sistemas de aquecimento testados (campânula a gás, campânula elétrica e lâmpadas infravermelhas).
Considerando a UR, as placas aquecidas e as lâmpadas infravermelhas propiciaram as melhores condições
ambientais, com menores valores de UR e melhor qualidade de cama. A melhor observação comportamental
foi verificada no tratamento com placas aquecidas eletricamente, em que os animais ficaram tranqüilos e
uniformemente distribuídos nos círculos de proteção (ABREU et al., 1995a).
ABREU et al. (1995b) estudando o desempenho de frangos de corte frente a diferentes sistemas de
aquecimento na fase inicial, verificaram que, de forma geral, as placas aquecidas eletricamente propiciaram os
melhores resultados de desempenho produtivo para os machos e as fêmeas.
Segundo BACCARI Jr. (1990a), o resfriamento a que estão sujeitos os animais recém nascidos, nas
épocas frias do ano, se deve à excessiva perda de calor do organismo levando à queda da temperatura do corpo
(hipotermia) e, não raro, à morte. Os recém-nascidos tem pouca reserva de energia e a sua capacidade para
regular a temperatura corporal é limitada, sendo importante que logo após o nascimento o animal mame para
adquirir energia e sobreviver. A maior ocorrência de mortes se verifica quando o tempo é frio e úmido,
acompanhado de vento. Para evitar a morte dos recém-nascidos em situações de frio, deve-se secar os pêlos o
mais rápido possível após o nascimento, esfregando vigorosamente o corpo do animal com um pano seco
(estimula a atividade muscular) e protegê-lo do vento. Pode-se utilizar aquecedores elétricos e lâmpadas
infravermelha em casos mais críticos (temperatura corporal próxima a 36oC).

Nutrição:
As necessidades nutritivas de um animal também dependem da temperatura do meio. A redução ou
cessação do crescimento nas altas temperaturas deve-se, aparentemente, a: a) diminuição voluntária da
ingestão de alimentos; b) aumento do gasto de energia para dissipação de calor (aumento do ritmo
respiratório) e c) redução da quantidade de N, gordura ou água armazenada (MÜLLER, 1989). Efeito
catabólico sobre os tecidos conjuntivos e ósseos e órgãos linfáticos, com balanço negativo de nitrogênio no
organismo (inibição do crescimento).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 98

Genética:
Uma alternativa ainda pouco explorada para enfrentar o problema de adaptação às condições tropicais
é a introdução de genes maiores, tais como, os genes “pescoço pelado” (Na) e “empenamento lento” (K), nas
linhagens selecionadas utilizadas pelos produtores de pintos de corte (DAROZ et al., 1991). O efeito desses
genes são:
a) gene Na: redução no número de penas na ordem de 30%, caracterizando-se por deixar o pescoço das aves
completamente desprovido de penas (pelado);
b) gene K: conduz a um desenvolvimento tardio das penas deixando áreas do dorso das aves quase sem penas.

LITERATURA CONSULTADA:
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piso, com resistência elétrica, para criação de aves: I - índices de conforto térmico para frangos de corte.
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de Pesquisa... Campinas: FACTA, 1995a. p.237-238.
ABREU, P.G., SOARES, P.R., BAÊTA, F.C. et al. Sistemas de aquecimento tradicionais vs aquecimento em
piso, com resistência elétrica, para criação de aves: II - desempenho produtivo de frangos de corte. In:
CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1995, Curitiba. Trabalhos de
Pesquisa... Campinas: FACTA, 1995b. p.235-236.
BACCARI JR., F. Calor retarda engorda de aves. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 de agosto de 1987.
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Agrofolha, p.C-11.
BACCARI JR., F. Saiba como proteger do frio animal recém-nascido. Folha de São Paulo, São Paulo, 24 de
julho de 1990a. Agrofolha, p.C-4.
BACCARI JR., F. Planeje aviários para clima quente. Folha de São Paulo, São Paulo, 27 de fevereiro de
1990b. Agrofolha, p.C-4.
BERGIGIER, P. Effect of heat on intensive meat production in the tropics: cattle, sheep and goats, pigs. In:
CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986,
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CAMPOS, S.S., FURLAN, R.L., CASTRO, A.G.M. et al. Efeito da retirada do aquecimento na fase inicial
sobre o desempenho de frangos de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
AVÍCOLAS, 1993, Santos. Trabalhos de Pesquisa... Campinas: FACTA, 1993. p.83.
CÉSAR, R.A., FURLAN, R.L., MACARI, M. et al. Efeito do estresse calórico agudo sobre a perda de peso
em frangos de corte de diferentes idades. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
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Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 99

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algumas variáveis fisiológicas de novilhas bubalinas da raça Mediterrâneo. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE BIOCLIMATOLOGIA, I, Jaboticabal, 1995. Resumos das Comunicações...
Jaboticabal: SILVA, R.G., 1995. p.65-66.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1. Os animais submetidos ao estresse pelo calor diminuem a sua taxa de crescimento. Esta diminuição está
principalmente associada à 3 fatores. Cite-os.
2) Como o estresse pelo calor pode afetar o crescimento pré-natal?
3) No que se baseia a teoria termostático do consumo de alimento?
4) Porque os animais recém-nascidos são mais sensíveis ao frio?
5) Explique como o estresse pelo calor afeta o crescimento do animal através de sua regulação hormonal?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 100

Aula 11 - Efeitos do Ambiente Tropical Sobre a Produção de Leite

I. EFEITOS DO AMBIENTE TROPICAL SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE


As vacas, em virtude de serem animais homeotérmicos, reagem a variações da temperatura ambiente,
com objetivo de manter a temperatura corporal constante. Porém, quando há um aumento muito acentuado na
temperatura ambiente, há uma elevação na temperatura corporal, o que é chamado de hipertermia. A
hipertermia causa um aumento de 40 a 50% no índice metabólico. As reservas de glicogênio no fígado são
esgotadas e a energia é obtida mediante o uso de proteína corporal, salvo se a alimentação fornecer o
excedente. Os animais com hipertermia costumam ingerir maiores quantidades de líquidos e urinar menos. Há
uma aceleração da respiração e dos batimentos cardíacos. O corpo tenta enviar maior quantidade de sangue à
epiderme para promover ação refrescante. Em virtude da deficiência respiratória, causada pelo estresse
prolongado ou excessivo, pode advir a morte do animal. Há uma maior tolerância ao estresse em vacas secas
quando comparadas às vacas em lactação. Raças zebuínas apresentam maior resistência ao estresse que as
raças taurinas. O estresse pode-se tornar um problema crítico e ocasionar a morte dos animais. Sem dúvida,
acarretará baixas produções, pouca eficiência alimentar, elevada suscetibilidade a doenças e diminuição da
eficiência reprodutiva (PARDUE et al., 1990).
Nos trópicos a produção de leite é muito baixa e o problema principal está na adaptação das raças
leiteiras de alta produtividade de origem européia, ao ambiente composto por fatores climáticos estressantes,
tais como altas temperatura e umidade do ar e elevada incidência de radiação solar (MÜLLER, 1989). As
vacas de raças leiteiras em lactação, são particularmente sensíveis ao estresse térmico devido a sua função
produtiva mais especializada e a sua alta eficiência na utilização dos alimentos (BACCARI JR., 1989).
Os animais sob condições de pasto aberto estão expostos à: 1) radiação solar direta, sendo que parte
das ondas se refletem segundo a cor e outras propriedades do pelame, e as restantes são absorvidas na forma
de calor, 2) radiação solar refletida nas nuvens e outras partículas da atmosfera, uma parte da qual pode ser
refletida pelos pêlos dos animais e 3) radiação solar refletida pelo solo e outros objetos que rodeiam o animal.
Estas fontes de radiação se somam ao calor do próprio animal (BACCARI JR., 1989).
Em temperaturas ambiente abaixo de 4,4oC, as vacas leiteiras são obrigadas a dispor de mecanismos
de termorregulação para manter constante a temperatura corporal, porém com pouca ou nenhuma influência
na produção. Abaixo -10oC, a compensação pelo aumento do consumo de alimento não é suficiente para
manter o nível da produção de leite. Os efeitos de um aumento da temperatura ambiente acima de 23,9oC
variam segundo a espécie, a raça, o potencial produtivo, o grau de tolerância ao calor, o estágio de lactação, o
nível alimentar e o tipo de manejo a que estão submetidos estes animais (MÜLLER, 1989).
A zona de termoneutralidade para produção de leite acha-se entre -5 a 21oC para vacas Holandesas
(Johnson, 1985), sendo ligeiramente maior, 24oC, para as vacas Jersey e Schwys (Johnson, 1965). Para as
raças tropicais esse limite atinge 29oC (Worstell e Brody, 1953). Na Figura 1 são observadas as variações no
consumo de alimento e na produção de leite de animais submetidos a uma variação de temperatura de -20 a
40oC (Johnson, 1965 citado por MÜLLER, 1989). Observa-se um equilíbrio entre as duas variáveis entre -10 e
23,9oC. Os extremos, inferior e superior, produzem alterações irreversíveis.
Leite (kg) Produção de Leite
Tensão pelo frio
Consumo de Alimento
50
45
40 Tensão pelo calor
35
30
25
20
15
10

-20 -10 0 10 20 30 Temperatura ambiente, oC


Figura 1. Variações no consumo de alimento e na produção de leite de animais submetidos a uma variação de
temperatura de -20 a 40oC (JOHNSON, 1953).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 101

Para Worstel e Brody (1953) citados por MÜLLER (1989), aumentos da temperatura ambiente acima
de 15,6oC afetam o gado de origem européia. A temperatura retal em vacas altamente produtoras começa
aumentar acima dos 21,1oC, seguido de uma diminuição no consumo de alimento, na produção de leite, na
produção de calor e na freqüência cardíaca. Os animais mestiços (Europeu x Zebu) apresentam uma baixa
carga de calor atribuída à baixa taxa de metabolismo, e apresentam menor produção de leite.
Animais com produção de leite mais baixa, tem uma taxa metabólica menor e uma menor produção de
calor corporal. Desta forma, os animais tolerantes ao calor não são necessariamente os mais produtivos ou os
mais eficientes quando expostos ao estresse térmico.
Segundo PARDUE et al. (1990), vários fatores acrescentados à alta temperatura podem causar o
estresse:
1. Exposição direta à luz solar ou deficiência de sombra;
2. Esforços severos no calor, tais como e exercícios forçados;
3. Confinamento, geralmente em explorações leiteiras intensivas ou no transporte de animais por longas
distâncias;
4. Desidratação, devido a perdas acentuadas por evaporação cutânea e respiratória e diminuição do consumo
de água em função de pouca disponibilidade e elevada temperatura da água de bebida.
5. Condição do animal. Vacas gordas e aquelas com quantidade excessiva de pêlo apresentam menor
tolerância ao estresse.

1. UMIDADE X TEMPERATURA:
Acima de 18,3oC a umidade relativa do ar (UR) alta causa perdas na produção de vacas holandesas.
Segundo Johnson et al. (1962) citados por MÜLLER (1989), a UR acima de 50% afeta adversamente a
produção de leite quando a temperatura ambiente ultrapassa 18,3oC. A combinação temperatura ambiente e
UR influencia significativamente o consumo de NDT. A UR em ambientes com temperatura acima dos 26,7oC
apresenta-se como fator crítico para a manutenção do balanço calórico, assim como sobre o consumo de
alimento e a produção de leite.
MacDowell (1971) citado por MÜLLER (1989) verificou que a produção leiteira de uma vaca
Holandesa sofre uma redução de quase 50% a 29,4oC e das vacas zebuínas e cruzamentos não serem afetadas
em sua produção, a produção/lactação destes dois grupos de animais não chegaria aos níveis observados em
vacas holandesas (Figura 2).

Figura 2. Influência de diversos níveis


de temperatura, umidade relativa e
radiação térmica sobre o consumo de
energia e rendimento leiteiro do Zebu,
cruza Zebu-Europeu e vacas
Holandesas. Efeitos da temperaturas e
umidades relativas a 50% e 60% e
energia total (efeito adicional calculado
da radiação).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 102

A temperatura ótima para a produção de leite depende da espécie, raça, e grau de tolerância ao calor e
ao frio. A raça Holandesa apresenta uma diminuição na produção de leite a partir de 24oC, a Suiça e Jersey a
partir de 27oC e as Zebuínas acima de 32oC (MÜLLER, 1989).
AGUIAR et al. (1995) verificaram que um estresse térmico brando, igual ou próximo aos valores
críticos de temperatura do ar e de THI deprimiu significativamente a produção de leite de vacas holandesas,
porém em pequena magnitude, nas fases de termoneutralidade subseqüentes, mas quando as vacas
permaneceram alguns dias em condições de termoneutralidade seguintes ao estresse, revelaram capacidade de
recuperar total ou parcialmente a produção de leite no período de estresse térmico brando subseqüente.

2. Sombreamento natural e artificial:


Experimentos realizados em regiões de clima quente têm demonstrado que vacas com acesso à
sombra no verão, podem produzir até 21,5% a mais de leite que suas congêneres mantidas ao sol nas horas
mais quentes do dia. A sombra pode reduzir de 30 a 50 % a carga de calor sobre os animais (BACCARI JR.,
1989).
Mac Farlene e Stevens (1972) citados por BACCARI JR. (1989) verificaram que a sombra natural
(coqueiros espaçados a cada 10 m2) teve um efeito benéfico altamente significativo sobre as vacas cruzadas
(Holandês x Boran), que apresentaram produção de leite 18,24% superior que as vacas controle sem sombra.
Não houve efeito significativo do sombreamento sobre a produção de leite das Boran. Trabalho realizado
numa região quente e úmida da Tanzânia.
Roman-Ponce et al. (1977) citados por BACCARI JR. (1989) observaram que as vacas (Holandesas,
Jersey e Guersey) sem acesso à sombra permaneciam deitadas durante o dia, preferindo pastar no fim da tarde
e à noite. As vacas com acesso a sombra tiveram uma produção de leite diária média 10,7 % maior que suas
congêneres sem acesso à sombra.
Ingraham et al. (1979) citados por BACCARI JR. (1989) verificaram que, vacas holandesas na 1a fase
de lactação, que dispuseram de sombra, produziram 18,5 kg de leite/dia, contra 14,5 kg de leite/dia, das vacas
expostas ao sol, ou seja, 21,5% a mais de leite.
Collier et al. (1981) citados por BACCARI JR. (1989) trabalhando com vacas Holandesas e Jersey em
2 grupos (com e sem acesso a sombra), verificaram que as vacas que dispunham de sombreamento produziram
aproximadamente 16% a mais de leite que sua companheiras mantidas ao sol (médias de 15,1 e 12,7 kg de
leite/dia, paras as vacas com e sem sombra, respectivamente). Tanto a temperatura retal como a freqüência
respiratória foram mais baixas nas vacas com sombreamento.
Collier et al. (1982) citados por BACCARI JR. (1989) estudaram o efeito do estresse térmico durante
o último trimestre de gestação, sobre a produção de leite pós-parto (primeiros 100 dias) em vacas holandesas
divididas em 2 grupos (com e sem acesso à sombra) e verificaram que as vacas com acesso à sombra
produziram mais leite que suas congêneres ao sol, embora a diferença não tenha sido estatisticamente
significativa.
BACCARI et al. (1982) não observaram diferença na produção de leite de vacas com e sem sombra,
embora a temperatura retal das vacas à sombra (das 12 às 16 h) tem sido significativamente menor que das
vacas ao sol. O mesmo ocorreu para o calor radiante indicado pelo globotermômetro (Tabela 1). O não
melhoramento do produção através do sombreamento deveu-se ao baixo mérito genético das vacas (variados
graus de mestiçagem Zebu x Europeu) e às baixas produções de leite. Além disso, o material de cobertura do
estábulo (asbestos) e a orientação (Norte-Sul) não são os mais indicados.
A Tabela 2 resume os resultados obtidos por vários autores quanto aos tratamentos sombra e sol sobre
a produção leiteira (BACCARI JR., 1989). Para as raças puras o oferecimento de sombra propicia um
aumento na produção de leite. A aspersão de água também é benéfica.

Tabela 1. Condições meteorológicas, temperatura retal e produção de leite sob os tratamentos sol e sombra
para vacas mestiças.
Parâmetro Sol Sombra
Temperatura do ar, oC 29,5 29,3
Índice de temperatura e umidade, THI 79 79
Temperatura do Globotermômetro, oC 40,1 29,6**
Temperatura Retal, oC 39,4 38,8**
Produção de Leite, kg/dia 2,8 2,7
** P<0,01. BACCARI et al. (1982).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 103

Tabela 2. Produção leiteira de vacas de acordo com os tratamentos sol e sombra e porcentagem de aumento
devido à sombra.
Produção de leite, kg/dia
Sol Sombra % Autor
Holandesa, Jersey, Guersey e Schwys 15,0 16,6 10,7 ROMAN-PONCE et al. (1977)
Holandesa 14,5 18,5 21,5 INGRAHAM et al. (1979)
Holandesa e Jersey 12,7 15,1 16,0 COLLIER et al. (1981)
Mestiças (Zebu x Europeu) 2,8 2,7 0,0 BACCARI et al. (1982)
BACCARI JR. (1989).

3. Aspersão de água:
Hernàndez e Castellanos (1983) citados por BACCARI JR. (1989), numa região de clima subtropical
úmido (AWo). verificaram que o uso de banhos refrescantes melhorou o desempenho desempenho produtivo e
reprodutivo de vacas Holandesas, Schwys e cruzadas Holandês-Zebu, aumentando a produção de leite em 7%
nas raças especializadas e 19% nas cruzadas em relação às tetemunhas (sem banho). A taxa de fertilidade foi
maior nas banhadas (76% nas raças especializadas e 65% nas cruzadas) que nas sem banho (20% nas
especializadas e 37% nas cruzadas). O número de serviços foi menor nas tratadas (1,3 nas especializadas e 1,5
nas cruzadas) em relação às testemunhas (4,8 nas especializadas e 2,6 nas cruzadas).
Igono et al. (1985) citados por BACCARI JR. (1989), observaram que vacas holandesas que
receberam aspersão de água (das 11 às 17:30 h, 43 litros/h) à sombra quando a temperatura do ar excedeu
27oC apresentaram uma produção de leite significativamente maior que as vacas com sombra sem aspersão
(controle). A temperatura retal foi significativamente menor para as vacas com aspersão. A aspersão foi
benéfica mesmo durante um verão relativamente moderado e que o THI médio de 73,9 foi apenas ligeiramente
superior ao THI considerado crítico, de valor 72, a partir do qual a produção de leite começa a declinar.
Igono et al. (1992) citados por SILVA (1996) observaram a variação da produção de leite em dois
rebanhos durante um ano, nas condições de deserto, com altas temperaturas durante o dia (Arizona, EUA),
sendo que um dos rebanhos era manejado com resfriamento evaporativo no estábulo durante as horas mais
quentes do dia, ao passo que o outro não tinha este benefício (Tabela 03). A temperatura máxima diária variou
desde 18,6oC no inverno até mais de 40,5oC no verão; a umidade de 10,6% no verão a 70,1% no inverno.

Tabela 3. Efeito da temperatura ambiente sobre a produção média diária de leite de vacas da raça Holandesa
no Arizona, EUA.
Ambiente Rebanho 1 Rebanho 2
(com resfriamento) (sem resfriamento)
n kg/dia n kg/dia
Frio 8.285 30,1 ± 0,01 200 31,8 ± 0,07
Frio a morno 12.739 29,6 ± 0,01 616 29,0 ± 0,07
Frio, morno e quente 12.542 28,2 ± 0,02 712 28,4 ± 0,01
Morno a quente 8.205 26,9 ± 0,02 571 26,9 ± 0,01
Quente 8.152 25,3 ± 0,02 563 21,7 ± 0,01
IGONO (1992).

4. Recomendações gerais de manejo ambiental para vacas leiteiras nos trópicos úmidos (BACCARI JR.,
1989 e PARDUE et al., 1990):
a. Prover sombra para as vacas: procurando protegê-las da radiação solar direta, uma vez que a temperatura
do ar ao sol e à sombra é praticamente a mesma (BACCARI, 1988).
• sombreamento natural: árvores com copa frondosa e alta (3 m no mínimo);
• sombreamento artificial (abrigos):
⇒ altura de 3,70 m do nível do solo ao ponto mais baixo do telhado (pé direito);
⇒ largura de 13 m (4,64 m2 de piso por vaca);
⇒ piso de concreto com 10,5 cm de espessura e declive de 1,5 a 2 %;
⇒ distante de árvores, edifícios e outro obstáculos que possam impedir a ventilação.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 104

⇒ cobertura de telha francesa ou materiais com propriedades refletivas (alumínio ou metal galvanizado
branco).
⇒ orientação leste-oeste, no sentido do eixo longitudinal do telhado;
⇒ recomenda-se o uso de lanternim e pintar as telhas externamente de branco (cimento amianto).
• alimento e água dever ser dispostos na sombra.

b. Prover aspersão de água (fria) sobre as vacas quando a temperatura ultrapassar 27oC.
• aspersão de água sobre as vacas conduz o calor da superfície corporal para o ambiente e leva os animais a
evaporarem mais umidade da pele permitindo que as vacas utilizem o calor latente de vaporização para o
resfriamento do corpo, poupando energia que poderá ser utilizada nas funções de produção.

c. Horas de ordenha:
• segundo McDowell (1975) citado por BACCARI JR. (1989), quando a temperatura do ar é maior que
25oC, as vacas pastam mais das 6 às 10 h e reduzem o pastejo das 10 às 16 h, quando procuram a sombra.
Reiniciam o pastejo das 16 até as 20 h, e reduzem muito a partir daí, principalmente da meia-noite às 6 da
manhã (Figura 3). Portanto, para vacas mantidas em regime de pasto, recomenda-se ordenhas em períodos
de menor intensidade de pastejo. Fixar horários para a realização da ordenha em períodos mais frescos do
dia;
• entre as ordenhas, vacas devem ter livre acesso à sombra, água e alimento.

Figura 3. Padrões de pastoreio de vacas leiteiras em lactação, que consomem pastos bons quando a
temperatura diária máxima é de 20oC ou menor ou maior a 25oC (McDOWELL, 1975).

d. Efetuar controle de moscas, para minimizar o gasto de energia efetuado pelos animais para espantar as
moscas. Aplicação de vacinas de acordo com os desafios da região, desinfecções dos estábulos e demais
medidas profiláticas recomendadas.
e. Dar prioridade às vacas secas, através da elaboração de programas que visem prevenir o estresse;
f. Fornecer água fresca e limpa em abundância;
g. Realizar o manejo dos animais em pequenos grupos, com pastagens bem divididas.
h. Promover reajustes nos programas alimentares para compensar o declínio na ingestão de alimentos.
Verificam-se bons resultados quando se administra pouca quantidade de forragem e maior quantidade de
cereais (ração de maior digestibilidade que proporciona menores perdas corporais);
i. Aumentar o número de tratos alimentares (3 a 4 vezes por dias);
j. Efetuar os tratos alimentares nos períodos mais frescos do dia.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 105

Outra forma de combater o estresse é a busca de animais resistentes ao estresse. Por meio de seleção
vem sendo possível produzir linhagens que demonstrem menor sensibilidade aos estressores ou maior
capacidade de adaptação ao meio ambiente. Nesse sentido observa-se a nítida diferença entre raças dentro de
uma mesma espécie, o que permite esperanças otimistas em futuros programas de seleção e cruzamentos para
produzir mestiços que combinem as características de maior resistência às regiões tropicais.
Nos trabalhos de melhoramento devemos considerar a existência de correlações negativas entre
produção de carne (ou fertilidade) e resistência ao estresse. Assim, a seleção unilateral de animais, orientada
exclusivamente para a resistência ao estresse pode ter resultados indesejáveis sobre as características
produtivas e reprodutivas (ENCARNAÇÃO, 1989).
Deve ser buscado, em programas de seleção, a elaboração de índices de seleção, englobando
eficiência reprodutiva, produção de leite, tolerância ao calor e endo e ectoparasitas (POLASTRE, 1989).
As características que envolvem aspectos de adaptabilidade e eficiência reprodutiva revela maior
proporção de heterose do que a produção de leite, sendo que as características que abrangem a taxa de
crescimento e a qualidade do leite apresentam os menores níveis de heterose (POLASTRE, 1989).

6. Estressores psicológicos:
Estressores de natureza psicológica apresentam destacada importância na produção de leite,
principalmente em criações em regime intensivo, onde cresce a competição por alimento, local de descanso e
parceiro sexual. Elevada densidade populacional, lutas (hierarquia social), e até mesmo sensação de medo ou
inferioridade diante de um animal dominante são motivos para um estresse social e queda da produção de leite
(ENCARNAÇÃO, 1989).

6. Considerações fisiológicas:
A temperatura age sobre a fisiologia da produção de leite da seguinte forma:
a) reduz a ingestão de alimentos;
b) baixa o metabolismo (inibição da tireóide);
c) age sobre o sistema endócrino, provocando uma hipofunção da tireóide, reduzindo o tamanho desta. Esta
hipofunção da tireóide Influi no crescimento, na eficiência reprodutiva, na conversão alimentar e na
produção de leite.

No que se refere à composição do leite, vacas submetidas a altas temperaturas aumentam alguns
constituintes do leite (NNP, ácido palmítico e esteárico) e diminuem outros (graxa, sólidos totais, N total,
lactose, ácidos graxos de cadeia curta e ácido oléico).
COLLIER et al. (1982) citados por MÜLLER (1989) estudaram as modificações que o calor ocasiona
nas vacas leiteiras, quando expostas a ciclos diários de temperatura ambiente para definir mais claramente as
respostas sob condição natural. Assim que a carga de calor aproxima-se da temperatura corporal:
• diminuem as perdas sensíveis de calor (condução, convecção e radiação) e ↑ perdas insensíveis
(evaporação);
• diminui o consumo de alimento e ruminação;
• a diminuição no consumo de forragem contribui para ↓ na produção de ácido graxos voláteis e altera
relação acetato /propionato no rúmen;
• diminui o pH ruminal;
• aumento o consumo de água e a quantidade de água no rúmem e diminui a pressão osmótica do conteúdo
ruminal;
• diminui a concentração de eletrólitos (Na e K) no conteúdo ruminal e isto está relacionada com o aumento
da perda urinária de Na e das perdas de K e com a diminuição de aldosterona e aumento da prolactina no
plasma;
• se aumenta a concentração de K na dieta de animais estressados, aumenta a produção de leite e diminui a
concentração plasmática de prolactina;
• a diminuição da tiroxina, do GH e de glicocorticóides no estresse crônico parecem estar relacionados com
a diminuição do metabolismo basal durante este período;
• o aumento da freqüência respiratória também eleva o pH sanguíneo e está associado com o aumento na
excreção de bicarbonato pelo urina e suor.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 106

• aumenta a concentração de adrenalina, que está relacionada com o aumento de atividade das glândulas
sudoríparas;
• aumento na mastite clínica, relacionada a uma redução da resistência orgânica e elevação na quantidade de
patógenos;
• diminuição da circulação uterina que está associada à diminuição na taxa de concepção, diminuição no
crescimento fetal e alterações nas funções placentárias.

Assim, os animais leiteiros em períodos carentes (neonatal, reprodução e lactação) são mais sensíveis
ao estresse térmico que em outros. O estresse ambiental durante estes períodos ocasiona grandes perdas
econômicas para os produtores.

II. EFEITOS SOBRE A PRODUÇÃO DE MANTEIGA


Nas altas temperaturas há uma diminuição total dos ácidos graxos voláteis do rúmen (Kelley et al.,
1967 citados por MÜLLER, 1989). A proporção de ácido acético em relação ao ácido propiônico diminui
gradativamente à medida que aumenta a temperatura ambiente. Desta forma, é de se esperar que ocorra um
declínio na percentagem de gordura do leite.
Porém, segundo Brody citado por MÜLLER (1989), há uma tendência de aumento na percentagem de
gordura no leite à medida que aumenta a temperatura ambiente, em vacas Holandesas e Jersey e isto ocorre,
provavelmente, em função da queda na produção de leite (quanto menos leite, maior a percentagem de
gordura). Porém, este aumento na percentagem de gordura não compensa a redução na produção de leite,
quando se trata da quantidade total de gordura produzida (diminui a produção de manteiga).
Maiplles citado por MÜLLER (1989), em Uganda, comparou raças européias e zebuínas com as
locais e verificou que, embora as raças européias apresentem uma menor percentagem de gordura no leite, elas
produzem mais gordura (manteiga), pela maior produção de leite (Tabela 4). Segundo ALIM citado por
MÜLLER (1989), todas as raças nativas dos trópicos têm alta percentagem de gordura no leite (Tabela 5).

Tabela 4. Percentual de gordura no leite e produção de manteiga.


Lactação Gado Uganda Zebu x Shorthorn Holandês
(meses) Gordura Manteiga Gordura Manteiga Gordura Manteiga
(%) (libras) (%) (libras) (%) (libras)
1 5,30 7,5 5,30 4,7 3,20 22,0
2 5,60 16,5 5,60 15,0 3,30 31,5
3 6,00 15,5 5,90 14,5 3,40 32,0
4 6,10 15,0 6,00 13,0 3,15 29,0
5 6,10 14,0 6,00 11,0 3,50 28,0
6 6,25 12,5 6,25 10,0 3,55 26,0
7 6,25 11,0 6,50 7,5 3,65 25,0
8 6,60 10,0 6,60 5,1 3,80 24,0
9 6,65 7,5 6,65 4,7 4,00 22,0

Tabela 5. Percentagem de gordura no leite.


Meses Bovinos Nativos Búfalos
Janeiro 4,41 6,45
Fevereiro 4,45 6,43
Março 4,34 4,39
Abril 4,36 6,32
Maio 4,34 6,38
Junho 4,41 6,63
Julho 4,40 6,56
Agosto 4,49 6,70
Setembro 4,50 6,71
Outubro 4,49 6,70
Novembro 4,53 6,62
Dezembro 4,42 6,53
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III. INFLUÊNCIA DO CALOR SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE E GORDURA:


1. O aumento da temperatura ambiente provoca uma diminuição na produção de leite, cujo início é aos
26,5oC para Holandesa e 29,5oC para a Jersey;
2. A redução na produção de leite devido a altas temperaturas ambientes é mais brusca para a Holandesa e
mais gradual para a Jersey;
3. A associação da temperatura ambiente e UR só é preocupante acima de 24oC;
4. A redução na produção de leite ocorre paralela à diminuição no consumo de alimento;
5. As diferenças entre Holandesa e Jersey na produção de leite estão de acordo com a diferença na
temperatura retal de 1 a 2oC, mostrando que a Holandesa é menos adaptada;
6. Pode-se constatar enormes variações individuais;
7. O processo fisiológico de produção de leite produz muito calor, podendo dobrar a produção de calor
corporal. Em condições quentes o animal tem que diminuir a produção de leite para sobreviver;
8. A produção de leite tende a cessar completamente, com temperaturas ambientes muito altas (40oC ou
mais);
9. Aumenta a percentagem de gordura no leite quando as temperaturas são altas;
10. A raça Holandesa revela uma tendência mais nítida a elevar a percentagem de gordura no leite do que a
Jersey, em altas temperaturas.

1. Relações funcionais entre o ambiente climático e o desempenho de vacas leiteiras:

Declínio da produção de leite (DPL) de vacas individuais (Berry et al., 1964 citados por HAHN, 1993):
DPL = -1,075 - 1,736PN + 0,02474 (PN)(THI), kg/dia
onde : PN = nível normal da produção de leite, kg/dia;
THI = valor médio diário do índice de temperatura e umidade.

Taxa de concepção (TC) adaptado de Ingrham (1974) por HAHN (1993):


TC = 388,3 - 4,62THI, em termos de % de bezerros nascidos,
onde: THI = valor médio diário do índice de temperatura e umidade.

BACCARI et al. (1996) observaram que cabras mantiveram o consumo de alimento e a produção de
leite durante um curto período de estresse térmico (durante 14 dias, das 0800 às 1700 h, à 38,4oC, 62%UR e
temperatura de globo negro de 46,1oC), ainda que adaptações fisiológicas ao estresse térmico tenham sido
evidenciadas (aumento na taxa respiratória, no consumo de água e na temperatura retal).
Vacas leiteiras tratadas com BST em condições de clima quente claramente respondem com aumentos
na produção de leite, consumo de água, alimentos, e na produção de calor, sem sofrer efeito adverso d
temperatura retal ou equilíbrio energético. Os animais tratados sob condições de estresse dissipam a carga
extra de calor pela respiração e pele. Os resultados corroboram perfeitamente a função homeorréica do BST.
Mesmo em condições de estresse, o BST coordena as funções fisiológicas do animal para suportar os
aumentos em produção de leite. Dessa maneira, a tolerância ao calor não parece ser uma conseqüência do uso
de BST; garantindo-se suprimento adequado de água, alimento de alta qualidade e o manejo do ambientem,
pode-se, de acordo com as evidências, utilizar o BST com sucesso em condições de clima tropical e
subtropical (COLLIER e HARTNELL, 1989).

LITERATURA CONSULTADA:
AGUIAR, I.S., BACCARI JR., F., GOTTSCHALK, A.F et al. Produção de leite de vacas holandesas em
função da temperatura do ar e do índice de temperatura e umidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIOCLIMATOLOGIA, I, Jaboticabal, 1995. Resumos das Comunicações... Jaboticabal: SILVA, R.G.,
1995. p.67-68.
BACCARI JR., F., ASSIS, P.S., POLASTRE, R. et al. Shade management in tropical environment for milk
production in crossbred cows. Proc. Western Section, ASAS, v.33, p.209-210, 1982.
BACCARI JR., F. Estresse térmico causa queda na produção animal. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 de
agosto de 1988. Agrofolha, p.C-6.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 108

BACCARI JR., F. Manejo ambiental para produção de leite nos trópicos. In: CICLO INTERNACIONAL
DE PALESTRAS SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal:
FUNEP, 1989. p.45-53.
BACCARI JR., F., GONÇALVES, H.C., MUNIZ, L.M.R. et al. Milk production, serum concentrations of
thyroxine and some physiological responses of Saanen-native goats during thermal stress. Veterinária e
Zootecnia, v.8, p.9-14, 1996.
COLLIER, R.J., HARTNELL,R.J. Resposta de vacas tratadas com BST nos trópicos e subtrópicos. In:
SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL, 6, 1989.
ENCARNAÇÃO, R.O. Estresse e produção animal. In: CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS
SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.111-
129.
HAHN, G.L. Bioclimatologia e instalações zootécnicas: aspectos teóricos e aplicados. Jaboticabal: FUNEP,
1993. 28p.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3ed. Porto Alegre: SULINA, 1989. 262p.
PARDUE, F.E., WRIGHT, R.E., VINES, D.T. Redução do stress. Gado Holandês, agosto, 1990. p.28.
POLASTRE, R. Ouso de cruzamentos em bovinos de aptidão leiteira nos trópicos. In: CICLO
INTERNACIONAL DE PALESTRAS SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu.
Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.55-82.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Vacas leiteiras estão entre os animais mais sensíveis ao estresse térmico pelo calor. Por que ? Em
que fases da vida ?
2) Quais os efeitos do estresse pelo calor na produção de leite e de manteiga?
3) Em vacas leiteiras de alta produção criadas em uma região tropical, quais os cuidados podem ser tomados
para minimizar os problemas causados pelo calor?
4) Além da temperatura do ar, vários outros fatores podem contribuir para causar o estresse pelo calor em
vacas leiteiras. Cite-os.
5) Como a temperatura age sobre a fisiologia da produção de leite?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 109

Aula 12 - Efeitos do Ambiente Tropical Sobre a Produção Animal (Ovinos, Suínos e Aves)

1. OVINOS
A raça Merino é muito adaptada a zonas semi-áridas com pouca água e, resiste à desidratação em
ambientes com alta temperatura. Macfarlane et al. (1961) citado por MÜLLER (1989) provaram ser a
capacidade de concentração renal da raça Merino é igual à dos camelos. A raça a raça Merino apresenta uma
alta eficiência de perda de calor pela respiração, os carneiros de pêlo mostraram uma atividade moderada em
todos os aspectos. O Bos indicus superou o Bos taurus na evaporação através do suor. O Búfalo, o camelo e a
cabra são animais de alta adaptação a situações adversas de clima quente (Tabela 1) (MÜLLER, 1989).

Tabela 1. Características de adaptação ao clima quente.


Animais Pelagem Evaporação Conservação da água
Reflexão Absorção Respiração Suor Renal Fecal Cor da pele
Carneiro Merino + +++ +++ + ++ ++ Branco
Carneiro de pêlo ++ ++ ++ ++ ++ ++ Escuro
Cabras ++ + ++ ++ ++ ++ Escuro
Bos taurus ++ + ++ ++ + + Branco
Bos Indicus +++ ± + +++ + ++ Preto
Búfalo - - + +++ + + Preto
Camelo subtropical ++ + - +++ +++ +++ Preto
Camelo equatorial +++ ± - +++ +++ - Preto
+++ = maior efeito, alta eficiência; ++ = atividade moderada;
+ = algum efeito; ± = muito pouca ação.

Em ovinos das raças Ideal e Suffolk submetidos a altas temperaturas do ar a termólise evaporativa
processa-se principalmente através das vias respiratórias. A quantidade de água evaporada nestas condições é
em média 3,99±0,12 g/kg/h e o principal fator de variação é a freqüência respiratória, numa relação direta. Há
uma diferença entre as raças quanto a termólise evaporativa. Sob uma temperatura de 35oC, animais da raça
Ideal tendem a evaporar em média 1 g/kg/h de água a menos que os animais Suffolk. Essa diferença acha-se
associada a uma menor freqüência respiratória dos animais Ideal (SILVA e GAUDIOSI, 1995).
Macfarlane (1966) citado por MÜLLER (1989), na Austrália, estudando o comportamento da raça
Merino sob condições tropicais, tomando a lã como condição especial no estudo, observou que nas ovelhas
com lã completa, a superfície da lã absorve grande quantidade de energia radiante e reflete pouco, porém
como a lã é má condutora de calor, este não penetrou na ovelha, pois a temperatura da pele não aumentou. Nas
ovelhas com lã com extremidade cortada ocorreu o mesmo que nas ovelhas com lã completa, porém em
menores proporções. Nas ovelhas tosquiadas, a irradiação solar atingiu diretamente o corpo do ovino, havendo
penetração de calor, com aumento da temperatura da pele e da freqüência respiratória (Tabela 2).
Ostwald (1963) citado por MÜLLER (1989) mostrou que a ovelha Romney Marsh pode manter o
índice metabólico semelhante ao Merino a 40oC, porém resiste por menos tempo que este (podem sobreviver
por 4 e 9 dias, respectivamente).
Müller e Monge (1946) citados por MÜLLER (1989) verificaram que a raça Merino é mais resistentes
ao calor que as raças européias. Sua pelagem protege contra a radiação solar. As raças produtoras de carne
foram mais sensíveis ao calor e as produtoras de lã se adaptaram melhor ao calor (Tabela 3).

Tabela 2. Espessura do velo sobre a penetração de calor no animal.


Condições Compr. 35,5oC Radiação e T extremidades da T pele T retal No resp/
lã (mm) reflexão lã (oC) minuto
Lã completa 35-40 0,18 * 75,60 42,25 40,0 108
Lã só com a extre- 33-37 0,34 * 57,75 41,75 40,0 108
midade cortada
Lã tosquiada 5-8 0,36 * 52,50 52,50 39,6 230
* cal/cm2/min
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 110

Tabela 3. Temperatura retal (TR) e freqüência respiratória (FR) de diferentes raças de ovinos
Raças 25,5oC e 81 % UR 25,5oC e 100 % UR 35oC e 79 % UR
TR FR TR FR TR FR
Hampshire 39,10 116 39,00 122 39,45 134
Southdown 39,70 109 39,65 113 40,50 150
Merino 39,20 88 39,05 84 39,60 104
Rambouillet 39,35 97 39,20 94 39,85 125
Southdown x Rambouillet 38,95 84 38,75 63 39,55 105
Sulffolk x Rambouillet 39,00 41 38,85 40 39,50 78
MÜLLER e MONGE (1946).

PHILLIPS citado por MÜLLER (1989) deslocou ovinos da raça Southdown de uma latitude de 39o
(região quente - Belltsville) para 44o de latitude Norte (região fria - Middelbury) e verificou que nas duas
regiões estudadas não houve diferença significativa para peso ao nascer (Tabela 4). O peso ao desmame
diferiu significativamente entre as regiões. Houve uma pequena diferença na produção e qualidade da lã a
favor de Middelbury (região fria).

Tabela 4. Peso ao nascer e ao desmame e peso e comprimento do velo de carneiros de duas regiões com
temperaturas diferentes.
Peso ao nascer (lb) Peso ao desmame (lb) Peso do velo (lb) Comprimento do velo
(cm)
MIDD BELL BELL MIDD BELL MIDD BELL MIDD BELL
7,81 7,87 51,8 37,8 45,3 6,14 5,88 6,09 5,86

Phillips citado por MÜLLER (1989) deslocou ovinos da raça Colúmbia (carne e lã) de uma Latitude
de 45o (Middelbury - frio) para 27o Norte (Flórida - quente e úmido) verificou que não houve diferença
significativa entre as regiões para quantidade e qualidade da lã. A percentagem de cordeiros nascidos diminuiu
bruscamente de 89,7 para 30 % do 2o para o 3o ano e para 47 % no 4o ano na região quente. O peso ao
desmame foi menor na região quente, nos últimos anos (Tabela 5). Os ovinos são animais que tem grande
capacidade de adaptação, sendo que é mais favorável transferir um animal de uma região de clima quente para
uma região de clima frio, do que o contrário (Tabela 6).

Tabela 5. Peso de carneiros ao nascer, desmame e aos 1, 2, 3 e 4 anos de idade em regiões quentes e frias.
Regiões Nascer Desmame 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos
Fria Peso, lb 4,4 34,4 35,8 62,8 57,0 63,4
Quente 4,4 35,8 41,9 65,3 58,8 58,0
Fria % cordeiros - - - 86,6 100,0 64,3
Quente - - - 89,7 30,0 47,0
Fria No cordeiros - - - 1,6 1,22 1,44
Quente - - - 1,08 1,32 1,25
Fria Peso velo, lb - - 4,6 4,3 5,4 6,8
Quente - - 4,9 5,4 4,9 5,7
Fria Compr velo, cm - - 8,38 9,04 8,97 8,70
Quente - - 8,59 9,49 8,04 8,54
Peso ao desmame
F 33,0 F 37,5 F 41,1 F 28,4
Q 33,6 Q 32,7 Q 21,5 Q 26,1

FREITAS e SILVA (1995) relataram que, sob estresse calórico, as taxas de passagem da ingesta se
tornaram mais lentas, fazendo com que o tempo de retenção ruminal seja maior, possibilitando que haja um
maior tempo para a digestão das frações fibrosas dos alimentos. Frente ao estresse calórico, as reduções em
certos aspectos fisiológicos, dentre eles o tempo dedicado a ruminação, são parte da estratégia que visa manter
a homeotermia corporal, o que é fundamental para a manutenção da vida do organismo no ambiente em que
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 111

vivem. A amplitude térmica diária influencia diretamente na produção de ovos no dia seguinte. O mesmo
comportamento é apresentado pela temperatura ambiente. Ou seja, quanto maior a amplitude térmica e a
temperatura no dia anterior (às 1400h), menor a produção de ovos no dia seguinte (SILVA et al., 1995).

Tabela 6. Ajustes no consumo de alimento para cordeiros em crescimento sob condições ambientais
escolhidas (NRC, 1987), considerando a base termoneutra de 15oC.
Condição (oC) Percentual de Ajuste
15 0
25 -10
35 -25
HAHN (1993).

2. SUÍNOS
Os suínos são muito sensíveis às altas temperaturas, devido ao seu elevado metabolismo, sua capa
subcutânea de tecido adiposo e seu sistema termorregulador pouco desenvolvido (não suam). Quando a
temperatura retal atinge 44,4oC, eles morrem por hipertermia, apresentando uma concentração 9 vezes maior
de ácido lático no sangue e o pH cai para 7,37, indicando uma desorganização no processo de oxidação
(MÜLLER, 1989).
Os suínos apresentam diferentes tipos de comportamentos de adaptação diante do frio e do calor. No
frio, se agrupam e mantêm o ventre sobre o solo para diminuir perda de calor; no calor, deitam de lado com o
focinho em direção do vento. Na zona de termoneutralidade, os suínos defecam num lugar e deitam-se em
outro, porém no calor deitam-se sobre os excrementos e procuram água e lama para aumentar as perdas de
calor.
Expostos a elevadas temperatura, os suínos podem reduzir a quase nada as suas funções ajudando a
manter a temperatura corporal, ficando quase em estado de latência. Robinson citado por MÜLLER (1989)
submeteu 2 grupos de suínos a temperaturas elevadas de 32 e 35oC e verificaram que suínos submetidos a
32oC aumentam a temperatura retal até 41oC no final de 6 h, mas não morrem. Nos animais submetidos a
35oC, após 3 h de exposição, ocorreu mortalidade (Figura 1).

T retal 32oC T retal 35oC


42 42
41 41
40 40
39 39
38 38

1 2 3 4 5 6 Horas 1 2 3 4 5 6 Horas
Figura 1. Temperatura retal de suínos em função da temperatura ambiente (32 e 35oC).

Robinson citado por MÜLLER (1989) trabalhando com dois tipos de suíno de terminação rápida, em
fase de crescimento (32 - 65 kg), com pouca gordura e em fase final de crescimento (75 - 118 kg), a medida
que aumentou a temperatura ambiente, observou que os porcos menos pesados sofrem muito menos que os
mais pesados, apresentando um acréscimo menor e mais lento na freqüência respiratória (Figura 2).
Dentre os animais de interesse zootécnico, os suínos e as aves são os animais que nascem mais
desprovidos de sistema termorregulador, pois não são capazes de gerar calor extra para termorregulação por
não-tremor (“nonshivering thermogenesis”), pois não apresentam o tecido adiposo marrom. Os suínos chegam
a perder 1,7 a 7,7oC ao nascerem, sendo muito vulnerável a baixas temperaturas, o que ainda é agravado pela
hipoglicemia do recém-nascido. HEITMAN et al. citados por MÜLLER (1989) estudaram comportamento
produtivo de suínos em experimento em câmara climática para determinar a temperatura para se obter o
máximo rendimento em função do peso corporal (Tabela 7).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 112

No de Respirações
por minuto (75 - 118 kg)
160
140
120 (32 - 65 kg)
100
80
60
40

4,4 15,5 26,6 37,7


Temperatura ambiente (oC)

Figura 2. Temperatura retal de suínos em crescimento em função da temperatura ambiente.

Tabela 7. Comportamento produtivo de suínos em câmara climática.


Classes pesos Temperatura (oC)
médios (kg) 5 10 15 21 26,5 32,2 36,1 43,2
A - 45,4 - 0,622 0,714 0,908 0,898 0,636 0,177 -0,590
B - 68,1 0,577 0,667 0,802 0,981 0,826 0,517 -0,086 -1,180
C - 90,8 0,540 0,713 0,867 1,079 0,758 0,399 -0,350 -
D -113,5 0,499 0,763 0,944 0,971 0,685 0,281 -0,617 -
E – 136,2 0,463 0,804 1,017 0,942 0,617 0,163 -0,813 -
F – 158,9 0,427 0,849 1,094 0,899 0,594 0,145 -1,149 -
1. Classes A e B (jovens): melhores GP a 21oC (0,908 e 0,981);
2. Classes C e D: melhores GP a 21oC (1,079 e 0,971);
3. Classes E e F (adultos): melhores GP a 15oC (1,017 e 1,094);
4. Quando os suínos se afastam destas temperaturas, para cima ou para baixo, diminui o GP (altas
temperaturas são mais prejudiciais);
5. Suínos jovens são mais tolerantes ao calor;
6. À 32oC, somente porcos com menos de 90 kg ganharam peso;
7. À 36,1oC, todos perderam peso (menos a classe A);
8. À 43oC, todos perderam peso e poucos sobreviveram.

Marrow citado por MÜLLER (1989) concluiu que suínos entre 68 a 98 kg de peso vivo alimentados a
5 e 26,5oC, proporcionam uma carcaça tipo carne a 5oC e tipo banha a 26,5oC.
BACCARI JR. et al. (1995), com base nos índices de conforto térmico obtidos, concluíram que, para
uma mesma duração porém aumento na intensidade do estresse, de 3 unidades no THI e 2,4oC no BGT das
0800 às 1700 h e de 5 unidades e 3,0oC das 1700 às 0800 h, respectivamente, ocorreu diminuição maior no
consumo de ração das leitoas Landrace-Large White, depressão mais acentuada no ganho de peso com piora
elevada na conversão alimentar, embora a freqüência respiratória e a temperatura retal tenham diminuído
ligeiramente o que pode revelar uma ligeira adaptação fisiológica ao ambiente térmico.
A velocidade de crescimento dos suínos é afetada por altas temperaturas do ar e radiação solar direta.
Nessas condições, sendo particularmente sensíveis ao estresse térmico, os animais comem menos, devido ao
aumento da temperatura corporal, ganham menos peso e necessitam de mais alimento por unidade de ganho,
isto é, diminui a eficiência alimentar. A capacidade de suar dos suínos é muito limitada e sendo a água um
excelente agente resfriador, sua utilização é indicada na forma de aspersão direta sobre os animais,
principalmente nas horas mais quentes do dia (1000 às 1600h), além de provisão de sombra aos animais. A
redução na temperatura corporal faz com que os animais comam mais e poupem energia, que será aproveitada
para os processos de produção (BACCARI JR., 1990).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 113

Quando a temperatura ambiente efetiva está acima ou abaixo da zona de termoneutralidade (Tabela 8),
o comportamento e a utilização de alimento pelo suíno podem ser sensivelmente afetados. Quando fora da
zona de termoneutralidade, os suínos conseguem compensar (dentro de certos limites), pela mudança da taxa
metabólica, ingestão de alimentos e dissipação de calor.

Tabela 8. Zona de ternomeutralidade das diversas categorias de suínos.


Categorias Temperaturas (oC)
Leitão ao nascer 30 a 32
Leitão na primeira semana de idade 28 a 30
Leitão na segunda semana de idade 24 a 27
Leitão na terceira semana de idade 22 a 25
Leitão na quarta semana de idade 20 a 22
Leitão na quinta semana de idade 18 a 22
Leitão pós-desmame 20 a 23
Suínos de 20 a 35 kg de PV 18 a 20
Suínos de 35 a 60 kg de PV 15 a 18
Suínos com mais de 60 kg de PV 10 a 15
Cachaço 12 a 18
Porcas em gestação ou lactação 10 a 15
Bauza e Petrocelly (1986) citados por MIYADA (1996)

De forma geral quando os animais são submetidos a temperaturas abaixo da temperatura crítica
inferior, há um aumento no consumo de ração que pode ser destinado principalmente para atender às
exigências das atividades metabólicas. Por outro lado, temperaturas acima da temperatura crítica superior
proporcionam uma redução no consumo de ração, no ganho de peso e na eficiência alimentar.
Conseqüentemente, a temperatura ambiente pode ter uma influência significativa nas exigências nutricionais
dos suínos (MIYADA, 1996). Nas tabelas 9 e 10, estão mostrados os efeitos das condições de estresse de altas
e baixas temperaturas em suínos.

Tabela 9. Valores estimados do aumento do consumo de ração (g/d) provocado pelas baixas temperaturas em
suínos.
Peso vivo Temperatura crítica Temperatura ambiente efetiva
(kg) inferior (oC) 15oC 10oC 5oC
20 18 39 104 169
100 14 0 144 334
NAAS (1981) citado por MIYADA (1996).

Tabela 10. Redução do consumo de ração e ganho de peso, sob condições de estresse de calor.
Temperatura Peso vivo Redução
(oC) (kg) Consumo (g/oC) Ganho (g/oC) Referência
21 – 32 35 - 65 60 33 Heitman e Hughes, 1949
21 – 32 75 - 100 120 57 Heitman e Hughes, 1949
24 – 32 45 - 38 Heitman et al., 1958
22 – 32 68 - 60 Heitman et al., 1958
22 – 27 91 - 60 Heitman et al., 1958
19 – 27 114 - 60 Heitman et al., 1958
18 – 32 20 - 100 30 7 Hazen e Mangold, 1960
16,5 – 32 7 - 92 14 3 Seymour et al., 1964
22 – 38 13,5 8 4 Seymour et al., 1964
22 – 38 35 33 8 Seymour et al., 1964
22 – 38 65 41 12 Seymour et al., 1964
23 – 33 6 - 35 42 21 Sugaha et al., 1970
NAAS (1981) citado por MIYADA (1996)
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 114

3. AVES
A moderna avicultura para atingir melhores resultados econômico-produtivos, precisa considerar não
só os aspectos genéticos, nutricionais e sanitários, como também os aspectos ambientais, pois além de
interferirem diretamente na não expressão de potencialidades genéticas, na utilização com máxima eficiência
de nutrientes, podem interferir também fortemente sobre os aspectos sanitários das aves levando a prejuízos
incalculáveis (BAÊTA, 1997).
Dentre os fatores ambientais, os fatores térmicos representados pela temperatura do ar, umidade,
radiação térmica e movimentação do ar, são aqueles que afetam mais diretamente a ave, pois comprometem
sua função vital mais importante que é a manutenção da própria homeotermia. Fora da zona de conforto
térmico, ocorre um decréscimo na performance produtiva, reprodutiva e resistência do organismo, sendo que
extremos num e noutro sentido, podem vir a ser letais (TINÔCO, 1998).
O meio ambiente afeta muito a idade e o peso da ave à maturidade sexual, o número de ovos por
ninhada, por estação e por ano e o peso dos ovos. O aumento da duração do dia favorece a maturidade sexual.
Os criadores utilizam luz artificial para completar 17 horas de luz por dia, o que favorece a produção de ovos.
O estresse térmico diminui a produção de ovos/ave e leva à produção de ovos pequenos e de má
qualidade de casca. Temperaturas acima de 32oC diminuem o peso do ovo e a qualidade da casca (diminui a
espessura da casca), Temperaturas ambientes entre 15 e 18oC proporcionam ovos de casca “forte”. Acima de
25oC, as poedeiras diminuem consumo de ração, o que leva à uma diminuição no consumo de Ca e P, que
somado à vários outros efeitos metabólicos vão reduzir a espessura da casca dos ovos.
Temperaturas elevadas também acarretam uma queda na fertilidade e na eclodibilidade, em função de
uma menor produção de sêmen pelos galos e menor freqüência de acasalamentos (diminui a libido dos
machos). Ovos mantidos em ambiente com temperatura acima de 24oC (zero fisiológico), apresenta uma
redução na eclosão, devido a distorções na embriogênese.

Tabela 11. Redução dos índices de produtividade de poedeiras em função do aumento da temperatura
ambiente.
Temperatura, oC 15 18 21 24 27 30
Consumo/dia 130,1 126,9 120,2 113,9 106,9 93,4
No de ovos 169 174 177 175 178 166
Peso do ovo 62,9 63,0 62,9 62,9 61,6 58,9
Massa 45,8 46,6 47,7 47,1 47,0 42,0
Crescimento -0,1 0,22 0,43 0 1,93 -0,28
Temperatura retal 41,2 41,5 41,6 41,4 41,6 41,9
I.C. 2,84 2,72 2,52 2,42 2,27 2,22

De acordo com Carter (1981) citado por SILVA (1996), a temperatura ideal para produção de ovos
estaria entre 21 e 26oC. Entre 26 e 29oC ocorreria uma leve redução no tamanho dos ovos e na qualidade da
casca; entre 29 e 32oC haveria uma deterioração sensível no tamanho dos ovos e na qualidade da casca e a
produção seria afetada. Por volta de 35 a 38oC a produção seria severamente afetada, podendo ocorrer
prostração das aves.
A redução no peso dos ovos, como resultado do estresse pelo calor, é uma conseqüência da redução
no peso da clara, da gema e da casca. A perda de peso da gema é proporcional à perda na clara, mas há casos
em que houve uma redução apenas no peso da casca. Assim, parece ocorrer uma redução no peso do ovo de
0,33 g para cada 1oC de aumento na temperatura ambiente. Um efeito subseqüente dessa redução é o
significativo enfraquecimento da casca, fato de considerável importância econômica pois influi muito na
qualidade interna do ovo, na sua vida útil e estocagem, no número de ovos trincados e inutilizados.
De um modo geral, galinhas da raça Leghorn são reconhecidamente mais adaptáveis aos ambientes
quentes que as demais raças (SILVA, 1996).
A temperatura retal aves é mais alta que a dos mamíferos; galinha varia de 41,1 a 42,2oC em
comparação com a dos mamíferos, que vai de 36,4 a 39oC (HAFEZ, 1968).
Os pintos ao nascer são bastante vulneráveis, pois seu sistema termorregulador é pouco desenvolvido
e chegam a nascer com 2,5oC abaixo da temperatura normal do adulto, mas ao cabo de seis dias alcançam seus
níveis normais, estando este aumento relacionado com a saída das plumas e o aumento da atividade
metabólica que se desenvolve de acordo com o crescimento do animal (MÜLLER, 1989).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 115

A habilidade termorreguladora das aves atinge a sua plenitude entre 10 a 15 dias de vida pós-natal.
Assim, o pinto recém-nascido depende de fonte externa de calor, ou respostas comportamentais para
termorregulação, sendo sua temperatura ao redor de 39 a 40oC (MACARI et al., 1994).
A temperatura corporal das aves varia de acordo com o tamanho, raça e sexo. Assim, a Leghorn
branca tem uma temperatura retal mais elevada que a New Hampshire. Os machos, em geral, tem temperatura
mais elevada que as fêmeas (MÜLLER, 1989), provavelmente como resultado de uma taxa metabólica e
atividade superiores.
Além deste fatores citados, a temperatura corporal das aves pode variar com a atividade da animal
(maior temperatura corporal nas aves em condições de piso que em gaiola), período de muda de penas (maior
temperatura corporal que nas aves em condição normal), choco (menor temperatura corporal em função de
uma menor taxa metabólica e atividade reduzida), período de luz (maior temperatura corporal que em períodos
de escuro) e a temperatura corporal aumenta após o consumo de alimento e com o aumento da temperatura
ambiental (RUTZ, 1994).
A temperatura ótima para poedeiras adultas varia de 10 a 12oC, com poucos inconvenientes
observados na faixa de 5 a 29oC. Para pintinhos o ótimo de temperatura é de 35oC, diminuindo rapidamente
com a idade (0,5oC/dia). Com 6 semanas, a temperatura ideal é semelhante à de um adulto (16oC).
Freeman (1988) citado por RUTZ (1994) resumiu zonas de termoneutralidade pra aves registradas por
vários autores (Tabela 12). As ave, assim como os mamíferos, apresentam menos recursos para enfrentar
temperaturas acima do que abaixo da termoneutralidade (RUTZ, 1994).

Tabela 12. Zonas de termoneutralidade e limiar de respiração ofegante.


Ave Termoneutralidade Temperatura mínima
Mínima Máxima para hiperpnéia
Galináceo
Recém-nascido 35 37 40
Adulto 21 28 29
Pato de pequim
Recém-nascido 33 34
Adulto 12 30
Peru
10 dias de idade 20 30
Adulto 15 20 20
Média de vários trabalhos de FREEMAN (1988).

Mac Daniel citado por MÜLLER (1989), na Austrália, estudou os efeitos da exposição dos ovos a
diferentes temperaturas (4,5, 15 e 26,5oC e 70% de UR), no período de 1 a 7 dias antes da incubação, sobre a
eclodibilidade dos ovos, crescimento e viabilidade dos pintos em Leghorn Branca (Tabela 13) e observou que
a temperatura mais elevada (26,5oC) provocou uma maior mortalidade embrionária na 10o e 17o dias de
incubação e não afetou o peso ao nascer e no 14o dia de idade.

Tabela 13. Eclodibilidade dos ovos, crescimento e viabilidade dos pintos em Leghorn Branca
UR Temp. Duração Mortalidade Peso do pinto (g) Mortalidade no 14o
(%) (oC) (dias) embrionária (%) dia (%)
10o dia 17o dia PN 14odia
70 4,5 1a7 2,65 1,72 39,1 77,2 6,58
70 15,0 1a7 2,95 1,72 38,3 77,9 6,42
70 26,5 1a7 7,28 3,22 38,6 80,2 6,74

A mortalidade ao 14o dia não foi significativa. Embriões são mais afetados pela temperatura nos
estágios iniciais de desenvolvimento (até o 10o dia).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 116

Tabela 14. Temperatura e período de tempo ideais para estocagem de ovos em câmara fria.
Tempo de estocagem Temperatura, oC
04 a 06 dias 18 a 19
07 a 10 dias 16 a 17
mais d 14 dias 14 a 15
MORETTI, C.S. - Granjas Ito ltda.

Tabela 15. Recomendações de temperatura e umidade para ovos.


Ambiente Temperatura, °C Umidade Relativa, %
Sala de ovos 20 a 22 75
Caminhão 22 a 24 70
Câmara fria 18 75 a 85
Fonte: Big Birds S/A Produtos Avícolas.

Rao (1970) citado por MÜLLER (1989) estudou o efeito da temperatura de inverno e de verão na
Índia (região tropical), sobre a mortalidade, fertilidade, crescimento e maturidade sexual de galinhas da raça
Leghorn Branca, verificando um aumento na infertilidade, mortalidade embrionária e pintos mortos na casca
durante o verão, que refletiram em uma menor eclodibilidade (Tabela 16). Até as 8 semanas de idade, a
mortalidade foi maior no período de inverno, em função das aves não terem seu sistema termorregulador
totalmente desenvolvidos. No período de recria das aves, de 8 a 24 semanas de idade, as aves apresentaram
uma maior mortalidade no verão que no inverno, devido aos efeitos do estresse pelo calor (Tabela 17). Na
Tabela 18 pode-se observar que o ganho de peso de 1 a 24 semanas de idade foi menor nas frangas nascidas
no período de verão que no inverno, provavelmente em função de um menor consumo de alimento no verão.

Tabela 16. Fertilidade e eclodibilidade dos ovos.


Estação Total de ovos Ovos Embriões Pintos mortos Pintos
inférteis (%) mortos (%) na casca (%) nascidos (%)
Verão 6055 19,4 23,3 14,2 43,1
Inverno 7280 8,4 7,7 8,4 75,8

Tabela 17. Mortalidade (%) de pintos após o nascimento.


Estação 1a semana 2 a 8 semanas 8 a 24 semanas
(7 dias) (14 a 56 dias) (56 a 128 dias)
Verão 1,6 6,2 15,7
Inverno 4,5 12,4 3,0

Tabela 18. Crescimento das aves (em semanas).


Idade em semanas Peso em gramas
Verão Inverno
1 34,6 38,5
2 59,7 68,3
4 88,5 121,0
6 159,8 190,5
8 253,6 273,9
10 324,0 368,0
12 407,0 482,0
14 540,4 608,0
16 633,0 789,0
18 759,1 845,2
20 826,0 894,8
22 889,1 1009,0
24 965,0 1155,0
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 117

A maturidade sexual (número de dias que a franga leva para botar o 1o ovo) foi atingida mais
precocemente nas aves criadas no inverno, sendo que o peso corporal deve ter sido um dos principais fatores
que influenciaram (Tabela 19).

Tabela 19. Maturidade sexual e produção de ovos.


Estação Idade de maturidade Idade em que 50% Produção de ovos no Peso médio do ovo
sexual (dias) das aves estavam em 1o ano de idade (%) no 1o ano de vida (g)
postura (dias)
Verão 182 243 71,0 49,2
Inverno 151 190 92,0 53,1

Rao (1970) citado por MÜLLER (1989) concluiu que a galinha é um animal mais adaptado ao frio,
pois seu sistema termorregulador é adequado para reter calor corporal e não para perdê-lo.
Além do peso corporal, a luz exerce grande influência na maturidade sexual e sobre a produção das
aves em geral.
Segundo NESTOR (1970) citado por MÜLLER (1989), perus submetidos a luz artificial por 14 h/dia,
apresentaram após a 5a semana de exposição, o dobro de volume de sêmen, porém ocorre uma diminuição nas
percentagens de espermatozóides por volume de sêmen (Tabela 20).
Anchar citado por MÜLLER (1989), se referindo a aves em geral, afirmou que, quando a temperatura
ambiente se eleva de 18 para 38oC, ocorre redução no volume dos ovos, diminuição na espessura da casca,
diminuição no Ca sangüíneo das aves, aumento no consumo de água, redução do número de ovos, as aves
ficam mais excitadas e com a duração da exposição, sobrevem a morte.

Tabela 20. Estímulo de luz e produção de sêmen em Perus.


Referências Semanas
3a 4a 5a 6a 7a
Perus que não responderam às 14 h de luz (%) 35,3 28,4 6,0 4,0 2,3
Quantidade de sêmem (cm3) 0,111 0,140 0,235 0,208 0,247
Quantidade de sêmen (avaliação por
espermatozóides normais (%) 26,1 23,4 23,0 17,5 17,9

Com o aumento da temperatura ambiente podemos observar uma queda acentuada no consumo de
alimento e um aumento bastante expressivo do consumo de água. Também ocorre uma diminuição na
quantidade de excretas produzidas e no conteúdo aquoso fecal. Há um aumento muito expressivo na perda de
água por evaporação com o aumento da temperatura ambiente (Tabela 21).

Tabela 21. Efeito da temperatura ambiental sobre o consumo de água e ração e eliminação de água
(base de 100 poedeiras Leghorn/dia).
Temperatura média do aviário (oC)
4,4 10,0 15,6 21,1 26,7 32,2 37,8
Consumo ração, kg 11,8 11,6 11,0 10,0 8,7 7,0 4,8
Água ingerida por kg de ração 1,3 1,4 1,6 2,0 2,9 4,8 8,4
Consumo de água, L 15,5 16,3 17,8 20,1 25,4 33,7 40,9
Excreta produzida, kg 16,6 16,2 15,3 14,0 12,1 9,7 6,7
Conteúdo aquoso fecal, kg 13,1 13,0 12,4 11,5 10,1 8,2 5,7
Conteúdo aquoso da respiração, kg 2,1 2,9 5,1 8,8 15,3 25,5 34,5
Conteúdo (kg) aquoso fezes + respiração 15,2 16,0 17,6 20,3 25,4 33,7 40,2
North & Bell (1990) citados por RUTZ (1994).

No caso das matrizes, o excesso de calor que leva as aves a alcalose respiratória durante o dia faz com
que ocorra uma redução nos níveis de bicarbonato no sangue (compensação) e, à noite, quando da síntese da
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 118

casca, ocorre uma falta de bicarbonato para reagir com o cálcio e forma o carbonato de cálcio (CaCO3). Ou
seja, no verão as aves produzem ovos com casca mais fina. As aves tem sua produções reduzidas e isto está
relacionado à redução do consumo e conseqüente falta de nutrientes para síntese. O calor também causa uma
redução na maturação folicular e uma aumento da permanência do ovo na glândula da casca. Outro prejuízo
do calor está relacionado ao tamanho do ovo produzido. Aves sob estresse de calor têm o consumo reduzido e
também o calor faz com que a secreção de FSH diminua provocando uma diminuição do tamanho do óvulo.
Também, o calor faz com que o fluxo de sangue para a periferia aumente em detrimento da irrigação dos
órgãos, provocando uma redução de cálcio na glândula da casca o que compromete a qualidade da casca e
uma redução na síntese de albumina pela diminuição da circulação no magno. Além disso, o calor afeta a
fertilidade das fêmeas e diminui a libido nos machos (PENZ JR., 1989).
Zimmerman e Snetsinger (1976) citados por SILVA (2000) compararam o desempenho de poedeiras
sob diferentes níveis de temperatura e umidade do ar, verificando que a produção a 32oC era cerca de 94%
daquela a 16oC, ao passo que o tamanho dos ovos diminuía em 14% (Tabela 22).

Tabela 22. Desempenho de galinhas poedeiras sob diversas temperaturas em relação às observadas a 16oC.
Temperatura Produção Tamanho do Eficiência de
ambiente, oC Relativa, % ovo (%) conversão (%)
16 100 100 100
18 100 100 95
21 100 100 91
24 100 99 88
27 99 96 86
29 97 93 85
32 94 86 84

Relações funcionais entre o ambiente e o desempenho de poedeiras e frangos de corte:


1. Produção de ovos em galinhas poedeiras (OTA et al., 1953 citados por HAHN, 1993):
PO = 0,556 + 0,0389ta - 0,00179ta2 + 0,0000186ta3, em termos de número de ovos/dia por galinha
(com base em aves Rhode Island Red de 2,25 kg).

2. Taxa de crescimento individual de frangos (Ibraim et al., 1975 citados HAHN, 1993):
TCF = -0,06338 + 0,01963P + 0,003055THI - 0,00002521 (THI)2 - 0,00009061 (THI)P2, kg/dia,
onde P = peso corporal, kg.
Segundo HIGA JR. et al. (1992), o gene Na (“pescoço pelado”) proporciona melhor adaptabilidade ao
estresse térmico, fato este confirmado pelo maior peso obtido no final da criação.

LITERATURA CONSULTADA:
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suínos Large White-Landrace submetidos a stress térmico com radiação solar simulada. In: CONGRESSO
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FREITAS, J.C.M., SILVA, R.G. Comportamento ruminatório de ovinos Corriedale em ambiente tropical. In:
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HAHN, G.L. Bioclimatologia e instalações zootécnicas: aspectos teóricos e aplicados. Jaboticabal: FUNEP,
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Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 119

MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 296p.
MIYADA, V.S. Fatores que influenciam as exigências nutricionais dos suínos. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE AVES E SUÍNOS, 1996, Viçosa.
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Anais... Campinas: APINCO, 1989. p.139-146.
RUTZ, F. Aspectos fisiológicos que regulam o conforto térmico das aves. In: CONFERÊNCIA APINCO DE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1994, Santos. Anais... Campinas: FACTA, 1994. p.99-100.
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SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) O ovinos da raça Merino são muito resistentes ao calor? Por que?
2) Com relação ao ambiente, quais os cuidadas se deve tomar com os animais tosquiados?
3) Por que se recomenda a inclusão de gordura na dieta de frangos de corte e suínos estressados pelo calor?
4) Quais os efeitos do estresse pelo calor na produção comenrcial de frangos de corte?
5) Quais os efeitos do estresse pelo calor na produção comercial de ovos?
6) Quais os efeitos do estresse pelo calor na produção de ovos férteis?
7) Quais cuidados se deve ter com a estocagem de ovos férteis antes da incubação?
8) Quais os efeitos do estresse pelo calor na produção comercial de suínos?
9) Porque os suínos e as aves recém-nascidos são mais sensíveis ao frio quando comparados aos outros
animais domésticos?
10) Como se comporta a zona de termoneutralidade do suínos durantes as fases de sua vida?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 120

Aula 13 - Efeitos do Ambiente Tropical Sobre a Reprodução dos Animais Domésticos.

A produção e a eficiência reprodutiva são variáveis deprimidas durante os meses de verão,


principalmente quando altas temperaturas são associadas a alta umidade relativa do ar. A reprodução é uma
das mais atingidas, muito mais do que o ganho de peso, por exemplo (MÜLLER, 1989). A eficiência da
reprodução animal é requisito fundamental para a continuidade da espécie, bem como para o aproveitamento
industrial, seja para fins de abate como para produção de leite, ovos, lã, etc. (NAAS, 1989).
Além dos efeitos indiretos sobre a quantidade e qualidade das forragens, fatores climáticos como a
temperatura e umidade do ar, radiação solar, ventos, etc.) influenciam diretamente o sistema neuro-endócrino
e função reprodutiva dos animais (ENCARNAÇÃO, 1989).
Como o calor está relacionado com a estação do ano, especialmente em locais mais distantes do
Equador, a fertilidade está relacionada também com a época do ano. Os animais apresentam um decréscimo da
fertilidade nas épocas mais quentes do ano (“infertilidade de verão”).

1. EFEITOS SOBRE OS MACHOS

As altas temperaturas ambientais diminuem a produção e a qualidade do sêmen, reduzem o volume de


ejaculado e ocasionam uma maior proporção de espermatozóides anormais. As alterações na espermatogênese
no clima tropical é decorrência do aquecimento dos testículos e/ou dos efeitos sobre o sistema endócrino e
metabolismo do animal (ENCARNAÇÃO, 1989).
VAN RENSBURG (1965) relataram associações de mudanças nas características do sêmen e
degeneração testicular, com hipertrofia e tumores adrenais.
THATCHER e COLLIER (1981) verificaram um atraso na época de início da produção espermática
(puberdade) em carneiros e suínos em ambiente tropical. Em carneiros, o aumento da temperatura ambiente
provoca uma diminuição no libido, sendo que a raça exerce influência na ação da temperatura sobre os
processos reprodutivos dos animais domésticos. Por exemplo, carneiros da raça mediterrânea mantêm a
atividade sexual mesmo em temperaturas elevadas.
Os testículos perdem peso e os túbulos seminíferos entram em degeneração e o animal produz sêmen
de qualidade inferior (JOHNSON e GOMES, 1969).
THATCHER e COLLIER (1981) trabalhando com touros, carneiros e porcos, relatam que o
aquecimento local dos testículos ou a exposição dos animais a ambientes quentes ocasiona uma diminuição da
mobilidade espermática e um aumento de formas anormais, na 2a semana após o estresse. O calor ainda reduz
o volume total do sêmen, concentração, mobilidade e movimentos de ascensão e favorece o aparecimento de
espermatozóides anormais (piriformes). O tempo de 6 horas em temperatura retal de 41oC é o suficiente para
induzir alterações no sêmen de carneiros.
WAITES estudando a suscetibilidade ao calor nos diferentes estágios da espermatogênese, observou
que as espermatogônias são relativamente resistentes ao calor (exceto as do tipo B de touros e carneiros). Os
espermatócitos 1ários de todas as espécies domésticas passam por um estágio termossensível e se a temperatura
dos testículos aumentar, há um comprometimento da divisão destes e das espermátides. O espermatócito 1ário é
mais sensível ao calor na fase de prófase meiótica.
O calor ocasiona desprendimento do acrossoma em carneiros, uma diminuição da atividade
metabólica do sêmen (baixo valor dos índices de frutose) e uma aumento do pH do sêmen (RATHORE,
1970). Os efeitos adversos do calor sobre a produção de sêmen estão relacionados com o controle local da
termorregulação nos testículos.
A termossensibilidade dos testículos é evidente na maioria dos mamíferos pela sua localização fora da
cavidade abdominal e pela função do músculo cremaster externo, responsável pela suspensão e relaxamento
do escroto, para manutenção da temperatura dos testículos a ± 5oC abaixo da temperatura corporal
(ENCARNAÇÃO, 1989).
As respostas dos testículos ao calor são múltiplas, tais como diminuição da espermatogênese, da
qualidade do sêmen, da produção de esteróides e da circulação sangüínea nos testículos, o que implica em
uma infertilidade temporária quando da exposição do animal ou do testículo ao calor.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 121

MOORE (ratos e ovinos), BRUMMEL (macacos) e GLIFFTS (cães) estudando animais com
criptorquidismo, concluíram que as altas temperaturas da cavidade abdominal ocasionavam degeneração do
epitélio germinativo. Há exceções, como no caso de animais que mantêm os testículos dentro da cavidade
abdominal (elefante, tatu, capivara, tamanduá e aves).
A imersão do escroto de cobaias, durante 10 min em água a 47oC, provocou uma degeneração dos
túbulos seminíferos e foram necessários 45 dias para voltar às funções normais. Não se verificou nenhum
efeito quando a temperatura da água foi de 45oC.
Além do efeito do calor sobre a produção e qualidade do sêmen, também se adiciona o efeito da
temperatura após sua liberação no trato reprodutivo da fêmea.
OUTT submeteu carneiros de dupla finalidade (carne e leite) da raça Southdown a 32oC e a 10oC e
verificou que os parâmetros volume, mobilidade, concentração e percentagem de espermatozóides anormais
sofreram influência da temperatura, apresentando piores resultados no calor (Tabela 1).

Tabela 1. Condições físicas do sêmen.


Ambiente Volume de sêmen Mobilidade dos Concentração de Espermatozóides
coletado (ml) espermatozóides espermatozóides anormais (%)
(%) (10000/ml)
a 32oC 0,77 41,8 243,3 36,9
a 10oC 0,98 73,3 343,5 6,4

Na continuidade deste experimento foram acasaladas 20 ovelhas com animais dos 2 grupos e
verificou-se que a percentagem de fecundação a 32oC foi de 26% e a 10oC de 64,2% de fecundação. Assim,
pode-se concluir que a esterilidade de verão se deve a baixa qualidade do material fecundante, devido à
degeneração testicular.
RATHORE (1970), na Austrália com ovinos da raça Merino, estudou o efeito da lã na bolsa escrotal
sobre a atividade reprodutiva e não observou diferença estatística entre os animais com muita e pouca lã na
bolsa escrotal, no que se refere a atividade reprodutiva, concluindo que a lã comprida, como acontece no resto
do corpo, teria condições de agir como isolante térmico (Tabela 2).

Tabela 2. Efeito da cobertura de lã na bolsa escrotal.


Grupo1 No de ovelhas cobertas % de concepção
1 138 72,5
2 131 84,0
1 o
1 grupo: grande quantidade de lã na bolsa escrotal;
2o grupo: 2 cm de lã na bolsa escrotal.

Touros submetidos a 29,5oC por 5 semanas tiveram a espermatogênese prejudicada. Os touros


submetidos a 32 e 38oC conseguiram se recuperaram somente após 8 semanas após cessar a exposição.
No frio intenso (neve), touros produzem ejaculações insatisfatórias e sêmen de baixa qualidade. Aves
em temperatura ambiente muito baixa (8oC) apresentam um atraso no desenvolvimento sexual dos machos.

1.1. ESTRESSORES DE NATUREZA PSICOLÓGICA


Touros dominantes impedem a cobertura de vacas por touros de categoria social inferior. O calor
extremo promove uma inibição do instinto sexual e suspensão total da libido em machos.
Os fatores sociais são basicamente impostos pelo tipo de manejo, de forma que a literatura se restringe
em apontar áreas ideais por animal em baias ou espaços equivalentes, comportamento de grupos e formas de
aproximação do sexo oposto quando durante o crescimento (NAAS, 1989).
Para machos, no caso de suínos, a processo total da espermatogênese leva cerca de 40 dias. Durante
este período fatores como nutrição, manejo, doenças e estresse ambiental podem influir nesse processo de
maturação e, conseqüentemente, na fertilidade do reprodutor. Segundo NAAS (1989), estudos publicados
mostram uma queda gradativa tanto no volume como na qualidade do sêmen de suínos até cerca de 50 dias
após o estresse térmico, voltando ao normal dos 55 aos 65 dias após o estresse (Tabela 3).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 122

Tabela 3. Resumo dos resultados do estresse térmico sobre a qualidade do sêmen de suínos.
Dias após o No de Volume de sêmen (ml) No de espermatozóides por
stress Observações ejaculação
1
C S C S C S
1-15 28 29 127 107 5,9 5,2
16-30 32 32 127 101 5,4 2,9
31-45 31 33 123 99 5,3 2,7
46-58 25 29 124 94 5,4 3,4
59-73 16 21 141 101 5,4 5,5
1
C = grupo controle; S = grupo submetido ao “stress”. NAAS (1989).

2. EFEITOS SOBRE AS FÊMEAS


A redução na taxa de fertilização e o aumento na mortalidade embrionária são os fatores responsáveis
pela baixa eficiência reprodutiva nas vacas submetidas a altas temperaturas ambientais.

2.1. PUBERDADE
THATCHER e COLLIER (1981) observaram que novilhas Shorthorn e Brahman atrasam a puberdade
quando a temperatura ambiente aumenta de 10 para 27oC, porém isto não foi observado com novilhas Santa
Gertrudes. A duração do ciclo estral das novilhas foi ligeiramente aumentada, enquanto a duração e a
intensidade do cio foi deprimida.
A estação em que a ovelha nasce afeta a idade e o peso à puberdade. As ovelhas nascidas na
primavera apresentam menor peso e menor idade à puberdade. Em suínos não se verifica este efeito do
ambiente. Bovinos mantidos a 27oC alcançam a puberdade aos 13 meses, em média, e aos 10 meses quando
mantidos a 10oC. O atraso na puberdade dos animais criados nos trópicos está relacionado ao crescimento
lento.

2.2. ÉPOCA DO CIO


O fotoperíodo exerce controle na atividade sexual. Em ovelhas a percentagem de estros é
inversamente proporcional à duração do dia e à latitude. Em eqüinos, a maior freqüência de estros coincide
com os dias mais longos do ano. Os bovinos apresentam estros o ano todo. Podem ocorrer períodos de anestro
em função de deficiências na alimentação (Inverno). A primavera estimula o aparecimento do cio em regiões
temperadas. No equador, a época do cio é determinada pela temperatura, precipitação e disponibilidade de
alimentos. Nas ovelhas o estro parece ser pouco afetado, mas há indícios de que o início da estação
reprodutiva é atrasado, sob condições de estresse pelo calor (Yeates, 1953 citado por SILVA, 1996).

2.3. CICLO ESTRAL E OVULAÇÃO


As altas temperaturas não afetam a duração do ciclo estral em suínos e ovinos. Nos bovinos provoca
uma diminuição da duração do estro e aumento das ovulações silenciosas. A estação do ano afeta também a
proporção em que maturam os folículos ovarianos e o número de folículos em crescimento. Segundo
HAFEZ(1972), o óvulo não fecundado e a ovulação são os que mais sofrem com o calor. O calor provoca
maior número de ovulações, porém com cios silenciosos, que constituem um inconveniente, principalmente
para a inseminação artificial.
THATCHER e COLLIER (1981) observaram que novilhas expostas a altas temperaturas no inverno,
apresentavam ausência de ciclos e ovários inativos que voltam a atividade após aclimatação. O estresse
térmico severo pode provocar anestro em novilhas de raça pura. Assim, o estresse térmico em vacas adultas
provoca uma aumento da duração do ciclo estral e alta freqüência de anestro prolongado, maior incidência de
ovulação silenciosa e redução do período de cio de 18 para 10 h ou menos.

2.4. FECUNDAÇÃO E CONCEPÇÃO


O estresse pelo calor causa anormalidades morfológicas nos óvulos, que podem ser responsáveis pela
diminuição das concepções na primavera e verão. Isto pode ser ocasionado diretamente pela hipertermia ou
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 123

pelo desequilíbrio hormonal causado por esta. Após a fecundação, a influência do calor ocorre somente nos 7
primeiros dias de gestação, prolongando-se de 8 a 16 dias em bovinos, ovinos e suínos (HAFEZ, 1972).

2.5. GESTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO FETAL


Segundo Weniger (1971), citado por ENCARNAÇÃO (1989), a temperatura ambiente atua não só em
animais adultos e jovens, mas também em embriões. Durante a gestação, a taxa de crescimento do embrião
decresce proporcionalmente à duração do estresse térmico.
Ainda que os efeitos variem conforme a espécie, no geral, temperaturas ambientes elevadas provocam
malformações fetais (início da gestação), abortos (displasia placentária) e diminuição do peso do feto ao
nascer (final da gestação). Os períodos frios tendem a aumentar o período de gestação.
A circulação uterina é sensível ao estresse calórico, e a sua diminuição em função da vasodilatação
periférica (resposta universal ao estresse pelo calor), contribui para o aumento da temperatura no útero.
Temperaturas altas no ambiente uterino, modificam a habilidade do espermatozóide de fertilizar o óvulo e
produzir um embrião viável e aumentam a mortalidade embrionária.
A diminuição da circulação no útero também diminui a disponibilidade de água, nutrientes e
hormônios no órgão. Assim, a resposta ao estresse pode contribuir para aumentar a taxa de mortalidade
embrionária no início da prenhes e diminuir o peso ao nascer do feto, durante a etapa tardia da prenhes.
THATCHER e COLLIER associam o retardamento do desenvolvimento fetal depois do estresse pelo
calor, em ovelhas no último estágio de prenhes, com uma redução no tamanho dos cotilédones fetais e
maternais, o que resulta em diminuição da disponibilidade de nutrientes para o feto. A produção de hormônios
da placenta também pode ser reduzida com a diminuição do tamanho desta, em animais estressados.
PEATKIM estudou o efeito do calor sobre o corpo lúteo em vacas abatidas em matadouros e observou
que após intensa ação do calor (verão), o corpo lúteo estava em estado de hipoplasia nos 5 primeiros meses de
gestação e em hiperplasia nos últimos 3 meses.
OUTT acasalou ovinos mantidos a 31,5 e 8oC, e verificou que as melhores condições reprodutivas
foram obtidas quando machos e fêmeas foram mantidos a 8oC. As altas temperaturas prejudicaram a produção
de espermatozóides nos machos e a manutenção da gestação nas fêmeas (Tabela 5).

Tabela 5. Efeito da temperatura na reprodução de ovelhas.


Ovelhas mantidas a 31,5oC Ovelhas mantidas a 8oC
Carneiros 31,5oC 8 oC 31,5oC 8 oC
o
N de ovelhas 10 10 10 10
No serviços/parto 2,8 2 5,3 1,9
% fecundação (1o serviço) 50,0 40,0 50,0 60,0

Em ovelhas, as temperaturas altas não apresentam efeito tão marcante sobre a função do ovário,
quanto sobre o útero nos estágios preparatórios para a prenhes, assim como no início do desenvolvimento
embrionário. Para YEATES, o efeito adverso a altas temperaturas, em ovelhas, não se dá sobre o cio, mas sim
sobre o no de cordeiros nascidos.
DUTT et al. relataram que ovelhas adultas, submetidas à temperaturas ambientes altas (32,2oC)
apresentaram baixa taxa de fertilidade e aumento na mortalidade embrionária. As ovelhas expostas ao calor a
partir do 12o dia do ciclo estral apresentaram metade da taxa de fertilidade normal e 92 % de mortalidade
embrionária. Ovelhas não submetidas ao calor até 8o dia de fecundação apresentaram perdas embrionárias
semelhantes a taxa normal.
BROWN et al. observaram que o peso ao nascer de cordeiros é influenciado pela interação
concepção/temperatura. O estresse térmico nos últimos meses de prenhes provoca uma diminuição no
tamanho do cordeiro.
Em porcas, o aumento prolongado da temperatura ambiente nos primeiros 15 dias de gestação reduz a
sobrevivência dos embriões. WARNIK et al. trabalhando com porcas mantidas em diferentes temperaturas
(15,6 a 32,2oC) em condições naturais de sombra, não observaram diferenças significativas nas taxas de
ovulação e concepção, contudo, as porcas mantidas a 32,2oC apresentavam uma média de 10,9 embriões aos
25 dias de prenhes, enquanto que as mantidas a 15,6oC apresentavam uma média de 13,5 embriões.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 124

TROPKINS et al. verificaram que a exposição de porcas a 35oC por 24 h no 1o dia de gestação reduzia
a sobrevida dos embriões em 27 a 51 dias. WILDT et al. confirmara que porcas estressadas 2 a 3 dias após a
fecundação apresentaram uma alta taxa de mortalidade embrionária. Estudos recentes demonstraram que
porcas expostas a altas temperaturas na última semana de gestação (102 a 110 dias), produziram menos leitões
vivos.
Em aves, o calor provoca uma diminuição no número de ovos, no peso dos ovos e na espessura da
casca. As taxas de fertilidade e de eclodibilidade também são reduzidas pelas elevadas temperaturas
ambientais. Há um aumento na mortalidade embrionária relacionado, principalmente, aos cuidados no
armazenamento dos ovos antes da incubação. O aumento da duração dos dias adianta a maturidade sexual.
Generalizando, são os seguintes os pontos críticos em fêmeas:
a) efeito direto no acréscimo da temperatura retal;
b) efeito indireto devido a alimentação inadequada por efeito de excesso de calor ou frio;
c) redução no suprimento de nutrientes para o feto, uma vez que a corrente sangüínea fica alterada;
d) efeitos bioquímicos com modificações no metabolismo;
e) distúrbios no balanço endócrino.

Tabela 6. Sumário dos dados de reprodução e temperatura controlada e observações a partir do abate de
fêmeas após 25 dias da cobertura.
Temperatura de bulbo seco (oC) 26,7 30,0 33,3
Consumo médio diário, kg 2,11 2,03 1,86
Ganho de peso médio diário, kg 0,47 0,46 0,35
No de fêmeas sem cio 0 2 7
o
N de fêmeas que cruzaram e não emprenharam 5 2 3
No de fêmeas prenhes aos 25 dias 67 67 62
No médio de embriões vivos aos 25 dias 10,3 9,7 9,8
Porcas prenhes aos 25 dias, % 90,5 84,8 77,5
NAAS (1989).

2.5.1. Desenvolvimento embrionário


Hawk (1979) citado por SILVA (1996) observou que a mortalidade embrionária atinge 15% em
média, no gado leiteiro, aumentando quando os animais são expostos a altas temperaturas ambientes no início
da gestação.
As novilhas sob estresse térmico apresentaram incidências muito maiores de embriões anormais e
embriões retardados, além de um número bem menor de embriões normais.
Resultados de pesquisas com vacas leiteiras indicam que os embriões bovinos (raças européias) são
muito mais sensíveis ao estresse térmico sofrido pelas mães durante os primeiros 7 dias da gestação, cujos
efeitos incluem uma elevação da temperatura uterina resultando na redução da viabilidade dos embriões
(THATCHER et al., 1985).
Nas ovelhas, tem sido observado um forte efeito das altas temperaturas sobre as perdas de embriões
nos estágios iniciais, embora a fecundação em si pareça não ser afetada (Thwaites, 1967 e Dutt, 1963 citados
por SILVA, 1996). Embora não seja conhecido o mecanismo direto dessas perdas embrionárias, estas podem
atingir até 100% em ovelhas não adaptadas (Thwaites, 1970 citados por SILVA (1996).
A uma temperatura corporal de 40oC ocorrem nas cabras uma queda da fertilidade e perdas
embrionárias no início da gestação. Os efeitos mais nocivos ocorrem nos blastodiscos entre 21 e 42 horas
após a fecundação e quanto mais prolongada a exposição das fêmeas a altas temperaturas ambientes, mais
marcado é o efeito sobre a mortalidade embrionária (Vandeplassche, 1968 citado por SILVA, 1996).

2.5.2. Gestação avançada e período periparto


A exposição de ovelhas grávidas ao estresse de calor resulta numa elevada incidência de cordeiros
mais leves e menos desenvolvidos que o normal, além de um aumento na mortalidade de animais novos.
Trabalhos tem demonstrado que o baixo peso dos cordeiros nascidos de ovelhas submetidas ao estresse pelo
calor ocorriam independentemente do nível de nutrição das mães e envolve a suposição de que o baixo peso
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 125

ao nascer seria conseqüência de anormalidades na irrigação placentária ou de alterações no fluxo sangüíneo


para o útero (SILVA, 1996).
Hopkins et al. (1980) citados por SILVA (1996) sugerem que a diminuição na taxa de
desenvolvimento do feto, quando a ovelha sofre estresse térmico durante a gestação, seria uma conseqüência
de alterações metabólicas causadas por uma hipertermia no próprio feto.
No que se refere a bovinos, dados obtidos durante 23 anos na Flórida indicam que o peso ao nascer de
bezerros Holandeses paridos no verão é menor cerca de 6 kg, em relação ao peso daqueles nascidos nos meses
mais frios (Thatcher et al., 1982 e Collier et al., 1980 citados por SILVA (1996).

3. EFEITOS SOBRE A INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL


PREMISSA ⇒ sêmen de melhor qualidade pode ser coletado no inverno. STOTT coletou sêmen
durante o ano todo, em diferentes locais, com diferentes temperaturas. Após a inseminação, em diferentes
locais, com diferentes temperaturas verificou que houve uma depressão estacional significativa na eficiência
reprodutiva das raças com o aumento da temperatura ambiental que foi mais evidente em vacas inseminadas
em regiões quentes, o que permitiu concluir que a fêmea tem maior contribuição na diminuição da fertilidade
nas inseminações durante o verão.
A diminuição no período de cio e o maior incidências de cios silenciosos prejudicam a observação do
momento da ovulação e reduzem o sucesso da inseminação artificial.
Vacas com alta temperatura corporal no momento da inseminação apresentam baixos índices de
fertilidade. Em novilhas mantidas à 21oC no momento e após a inseminação foi observada uma alta taxa de
concepção (48 %), revelando uma correlação negativa com a temperatura retal de -0,51, quando comparada
com a taxa de 0%, obtida com novilhas expostas a temperatura de 32oC.
WILCOX observou que a temperatura da urina de vacas apresentou correlação negativa com o dia da
inseminação e o dia após a inseminação. Um aumento de 0,5oC na temperatura da urina no dia da inseminação
(38,6oC) e no dia após (38,3oC ), diminui a taxa de concepção em 12,8 e 6,9%, respectivamente. O
congelamento de sêmen do Zebu foi prejudicado quando os animais foram expostos a ambientes com 30 a
36oC durante 54 dias antes da coleta de sêmen.
BURFENING e ULBERG estudaram o efeito das altas temperaturas sobre o esperma de coelhos in
vitro e não observaram nenhuma alteração expressiva sobre a qualidade do sêmen, no entanto, a taxa de
desenvolvimento embrionário foi reduzida em fêmeas inseminadas com esperma cultivado a 40oC por três
horas, ou seja o aquecimento dos espermatozóides antes da inseminação pode causar uma diminuição na
sobrevida dos embriões. Os espermatozóides foram influenciados pelo aumento de 2oC antes da inseminação,
reduzindo a sobrevida do embrião.
JOHNATAN et al. trabalhando com bovinos leiteiros verificaram que as baixas temperaturas de
inverno favorecem o não retorno de vacas à inseminação. Os resultados da primavera também são bons
(influência do inverno). No verão houve um maior número de vacas que retornaram a inseminação declínio.
Os resultados do outonos também foram ruins, pois foram influenciados pelo verão (Tabela 7).

Tabela 7. Percentual de vacas que não retornaram a inseminação.


Estação Média das Percentuais
do ano Máximas Jersey Holandesa PB Guernsey Total
Inverno 15,6oC 66,4 74,8 69,3 70,2
o
Primavera 24,0 C 69,1 70,8 68,3 69,2
Verão 32,4oC 67,6 65,1 64,8 65,9
Outono 24,3oC 67,3 66,0 63,1 65,1

4. EFEITOS SOBRE O TRANSPLANTE DE EMBRIÕES


ALLISTON e ULBERG estudaram o efeito das temperaturas altas sobre o momento da coleta e
transferência de embriões em ovinos e concluíram que as ovelhas doadoras são prejudicadas nos 3 dias após o
cio. Já que o aumento da temperatura em torno do embrião, no momento da divisão das primeiras células,
reduz a sobrevida dos embriões, a temperatura corporal das fêmeas, logo após a inseminação, deve ser
associada à taxa de concepção.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 126

SHAT guardou 48 embriões de coelho, com 6 dias, a 35oC e transferiu-os para matrizes com
temperatura normal. Apenas 35 % dos embriões transplantados prosseguiu seu desenvolvimento. Poucos
embriões prosseguiam seu desenvolvimento quando as matrizes também eram tratadas com calor. Logo, a alta
temperatura da mãe afeta o desenvolvimento dos embriões. Em ratos os resultados foram idênticos.

5. EFEITO DA AMAMENTAÇÃO DE BEZERROS NA PERFORMANCE REPRODUTIVA DAS


VACAS
A atividade ovariana pós-parto é reduzida pelo estresse nutricional e da amamentação. O ato de
mamar provoca estímulos nervosos que induzem à elevação dos hormônios envolvidos na lactação e, por
outro lado, inibem os hormônios da reprodução. A interrupção da lactação inibe liberação dos hormônios
ligados a lactação e favorece a liberação de hormônios gonadotróficos, imprescindíveis à função reprodutiva
(ENCARNAÇÃO, 1989).

6. ESTRESSORES PSICOLÓGICOS
Além dos estressores de natureza física, fatores psicológicos influenciam a eficiência reprodutiva das
fêmeas. Galinhas de grupos mais estáveis e organizados põe mais ovos que as de grupos em contínua troca de
membros e constante desorganização. Trabalhos mostram correlações positivas entre produção de ovos e
categoria social em aves (ENCARNAÇÃO, 1989).

7. MECANISMO PELO QUAL O ESTRESSE INFLUENCIA NA FUNÇÃO REPRODUTIVA DO


ANIMAL
Os mecanismos pelos quais o estresse térmico deprime a atividade reprodutiva em machos e fêmeas
não estão totalmente elucidados e evidentemente envolvem os efeitos diretos da temperatura, alterando a
regulação do sistema nervoso, o balanço hídrico, os níveis hormonais, o balanço nutricional e o equilíbrio
bioquímico do animal.
ROSA e WAGNER (1981) indicam que em animais submetidos ao estresse prolongado, há uma
inativação do eixo hipotálamo - hipófise - gônadas, e esta ação é exercida pela glândula adrenal e seus
glicocorticóides. Naturalmente, a inibição deste sistema é função do “feedback negativo provocado pela alta
concentração de corticosteróides.
Além deste mecanismo, o efeito “feedback” negativo sobre a própria adrenal inibe a secreção de
hormônios sexuais adrenais, esteróides importantes para a função reprodutiva.
Além dos efeitos indiretos (a nível de hipotálamo e hipófise), há também o efeito dos corticosteróides
diretamente sobre os tecidos e órgãos. Tomasgard (1976) citado por ENCARNAÇÃO (1989), observou baixos
níveis de progesterona em novilhas tratados com prednisolona. Este achado foi conseqüência do efeito direto
do glicocorticosteróide sobre o desenvolvimento do corpo lúteo. Devemos considerar que existe uma
complexa interação entre os hormônios, tornando quase impossível a observação de efeitos isolados dessas
substâncias.
Vale lembrar a importância de certos fatores físicos, como a alta temperatura corporal e seus efeitos
negativos sobre a viabilidade do esperma, óvulo, ou sobre o próprio desenvolvimento do embrião em fêmeas.
Não menos importante é a baixa resistência orgânica contra infecções, em situações de estresse crônico
(glicocorticóides → atrofia do sistema timolinfático → baixa resistência). Problemas metabólicos (produção e
perda de calor) de animais não adaptados ao clima também influenciam negativamente a eficiência
reprodutiva (ENCARNAÇÃO, 1989).

LITERATURA CONSULTADA
ENCARNAÇÃO, R.O. Estresse e produção animal. In: CICLO INTERNACIONAL DE PALESTRAS
SOBRE BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL, I, 1986, Botucatu. Anais... Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.111-
129.
MÜLLER, P.B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos. 3ed. Porto Alegre: SULINA, 1989. 262p.
NAAS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo: Ícone, 1989. 183p.
SILVA, R.G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: NOBEL, 2000. 286p.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 127

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Quais os efeitos das altas temperaturas (estresse pelo calor) no processo de espermatogênese nos machos?
2) Quais os efeitos das altas temperaturas (estresse pelo calor) na maturidade sexual e atividade sexual dos
machos?
3) Quais os efeitos das altas temperaturas (estresse pelo calor) sobre o ciclo estral de fêmeas bovinas?
4) Quais os efeitos das altas temperaturas (estresse pelo calor) sobre a concepção, gestação e desenvolvimento
fetal?
5) Como o estresse pelo calor pode influenciar os resultados de inseminação artificial e transplante de
embriões?
6) Como o estresse pelo calor pode afetar a maturidade sexual das vacas?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 128

Aula 14 - Medidas Alternativas Para Controle do Estresse Térmico

1. ACLIMATAÇÃO:

Apesar das dificuldades de aclimatação do frango de corte, alguns autores têm mostrado que a
exposição prévia, contínua ou intermitente, a temperaturas elevadas, permite à ave entrar no estado de
resistência e adquirir alguma adaptação ao estresse pelo calor, reduzindo a mortalidade. Deaton et al. (1986)
citados por BRAKE (1988) expuseram aves a temperaturas diárias de 35°C, comparadas com os 29°C da
época, durante 6 dias antes da exposição a temperatura de 41°C aos 48 dias de idade (Tabela 1) e observaram
que as aves submetidas a uma maior temperatura apresentaram uma menor mortalidade aos 48 dias de idade.

Tabela 1. Efeito da exposição prévia a alta temperatura sobre a mortalidade relacionada com calor.
Ciclo diário 42-48 dias de idade (°C) Mortalidade a 41 °C aos 48 dias (%)
24-29-24 41 a
24-35-24 15 b
a,b
Letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). DEATON et al. (1986).

TEETER et al. (1989) expuseram pintos de corte a temperaturas ambientes de 29,4, 35, 40,5 e 43,3oC
durante 24 horas, 5 dias após a eclosão. Com 28 dias de idade as aves foram colocadas em duas câmaras, uma
mantida a 26oC e a outra variando de 26 a 37oC durante duas semanas. Ao término da 2a semana, as
temperaturas foram aumentadas expondo os 2 grupos a 6 horas de estresse calórico agudo. Nas aves mantidas
na termoneutralidade, nenhum benefício pode ser atribuído a aclimatação durante a fase de crescimento. Nas
aves mantidas em estresse calórico, temperaturas de aclimatação acima de 35oC proporcionaram uma melhora
no ganho de peso (Tabela 2).

Tabela 2. Efeito de 5 dias de aclimatação sobre a taxa de crescimento e sobrevivência de frangos de corte com
recria em dois meios ambientes.
Meio ambiente (fase de crescimento)
Termoneutro Estresse calórico
Temperatura de Viabilidade, Viabilidade na Ganho, g Viabilidade, Viabilidade na Ganho, g
aclimatação % fase aguda, % % fase aguda, %
29,45 100 a 41 a 1013 a 84 cd 38 a 630 a
a a a c a
35,00 99 52 998 90 44 658 b
a a a d a
40,55 98 49 1029 80 54 653 b
43,33 100 a 43 a 1036 a 93 abc 33 a 648 b
a,b,c,d
Médias dentro de uma classificação de viabilidade ou ganho alojada em qualquer um dos meios
ambientes são diferentes quando os sobrescritos diferem (P<0,05). TEETER et al. (1989)

Teeter e Smith (1988) citados por TEETER (1990) sugerem que pelo menos 50% do efeito
hipotérmico da aclimatação pode ser atribuído à redução na ingestão alimentar. Porém, independente do
consumo, a temperatura corporal também foi diminuída pela exposição anterior ao calor. As possíveis
explicações podem envolver proteínas de choque térmico.
JUNQUEIRA et al. (1994) expuseram frangos de corte a altas temperaturas (37 a 39oC) durante 6, 12
e 18 horas aos 7 dias de idade e observaram que aos 42 dias de idade, o desempenho das aves não foi afetado
pela indução do estresse térmico no 7o dia (Tabela 3).
O estresse térmico intermitente é capaz de induzir a aclimatação em frangos de corte, visto que
diminui as temperaturas retal e da pele. Este efeito, no entanto, parece diminuir quando do empenamento, por
volta da quarta semana de idade aproximadamente (GIVISIEZ et al., 1998).
ARJONA et al. (1988), relataram que a exposição de pintos com 5 dias de idade ao calor aumentava a
tolerância ao calor na idade de 42 a 49 dias, resultando em uma redução significativa na mortalidade, sem
redução da taxa de crescimento. Porém, MACARI et al. (1994), observaram que o estresse pelo calor prévio
(35oC/4h nas idades de 1 a 5 dias) tem pequeno efeito (não significativo estatisticamente) sobre a temperatura
retal em frangos que foram restressados na idade de 42 e 49 dias e que o efeito é tanto maior quanto mais
jovem o pintinho.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 129

Tabela 3. Desempenho e taxa de viabilidade dos frangos aos 42 dias de idade.


Tratamento Ganho de peso (g) Consumo de Ração Conversão Viabilidade (%)
(g) alimentar
Testemunha 1962 a 3809 a 1,94 a 98,15 a *
6h 2010 a 3918 a 1,95 a 98,15 a
12 h 1961 a 3887 a 1,98 a 96,30 a
18 h 1960 a 3875 a 1,98 a 97,22 a
C.V. (%) 3,06 3,11 2,19 7,64
* Usando a transformação arcosseno (viabilidade/100); JUNQUEIRA et al. (1994).

Técnicas de manejo no incubatório têm sido sugeridas, por exemplo, a exposição dos pintos ao
estresse pelo calor ao nascer, mas as mesmas não têm sido adotadas devido à falta de consistência nos achados
experimentais (MACARI et al., 1994).
Elevações passageiras de aproximadamente 3oC de temperatura nas fases chaves do desenvolvimento
embrionário, não alteram o rendimento de incubação, podendo até mesmo melhorá-lo. A fase embrionária
parece ser mais susceptível à alterações ambientais do que o período neo-natal, estando a capacidade
adaptativa dos embriões aos choques térmicos na dependência de novos estudos. Choques térmicos aplicados
entre o 12o e 18o dia de incubação, parecem repercutir na homeostase de frangos de corte aos 42 dias de idade.
As fêmeas parecem ser mais resistentes ao calor do que os machos (CURVELLO et al., 1994).
Sabe-se que os mamíferos tem grande capacidade de aclimatação, em especial ao frio, sendo a
produção de calor gerada pelo tecido adiposo marrom. As aves não apresentam tecido adiposo marrom, e a
termogênese está vinculada aos processos vitais e tremor muscular. Porém, trabalhos têm evidenciado que é
possível as aves aumentarem a produção de calor quando expostas ao frio, através do aumento da atividade da
enzima citocromo oxidase, sendo este efeito associado à musculatura vermelha dos animais (fibras musculares
do tipo FOG e FG) (MACARI et al., 1994). Em ambientes quentes, a aclimatação aumenta a sudorese e,
devido à maior secreção de aldosterona, a maior parte do sódio e do cloreto é reabsorvida antes que o suor
chegue a pele.
Resultados preliminares sugerem que há um aumento na expressão da proteína de choque térmico de
peso molecular 70 kDa em função do período de exposição das aves às condições de estresse térmico, porém
mais estudos são necessários para elucidar a função, localização e os mecanismos de regulação atribuídos a
estas proteínas (GABRIEL et al., 1994).
O padrão de expressão da Hsp70 constitutiva e induzida em aves selecionadas e não selecionadas
difere em função do período de exposição ao estresse térmico e das linhagens. As diferenças encontradas nos
valores de temperatura cloacal das aves analisadas parece encontrar suporte ao nível molecular quando se
analisa a expressão da Hsp70, demonstrando uma possível associação da síntese desta proteína com tolerância
ao choque térmico (GABRIEL et al., 1995a). As explicações para os resultados obtidos ainda não estão bem
claras, embora algumas investigações demonstram que um aumento na expressão do RNA mensageiro da
Hsp70 pode estar associado com termotolerância adquirida em frangos. Considerando que a indução da
síntese das proteínas de choque térmico é regulada por mecanismos transcricionais, traducionais e pós-
traducionais, estudos adicionais são necessários para elucidar os evento envolvidos na resposta ao choque
térmico nas aves (GABRIEL et al., 1995b).
Os aumentos nos níveis citoplasmáticos da Hsp70 em frangos de corte adultos submetidos a um
estresse térmico agudo parecem estar associados a um limiar de temperatura interna das aves, com este sendo
um gatilho para a síntese induzida desta proteína (GABRIEL, 1996). Segundo GIVISIEZ (1997), o estresse
calórico intermitente em frangos de corte promoveu uma indução da Hsp70 no sobrenadante e no precipitado
das amostras de fígado, ocorrendo relocalização celular da proteína por ocasião do estresse térmico severo
(41oC), com um aumento de sua quantidade no precipitado. Não ocorreu interação entre os tratamentos e o
estresse térmico agudo, demonstrando que a história térmica anterior parece não interferir na expressão da
Hsp70 em hepatócitos quando os frangos de corte são submetidos a estresse calórico agudo severo (41oC). a
expressão da Hsp70 faz parte de um complexo de respostas envolvidas na termotolerância.
Aves da linhagem Label Rouge apresentaram melhor termotolerância e menores níveis de Hsp70
durante o estresse do que as da linhagem Hubbard. Assim, apenas os níveis da proteína Hsp70 não são
suficientes para explicar a maior termotolerância destas aves. A associação do gene Na em heterozigose,
parece melhorar a termotolerância das aves (MAZZI et al., 1998).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 130

YAHAV e HURWITZ (1996) condicionaram pintos de corte pela exposição ao estresse térmico
(36±1oC; 70%UR) por 24h aos 5, ou 5 e 7 dias de idade. Durante o condicionamento o ganho de peso foi
deprimido. Devido ao rápido crescimento no período pós-condicionamento, uma completa compensação do
ganho de peso perdido foi observada no grupo condicionado no 5o dia de idade. No grupo condicionado aos 5
e 7 dias de idade, a compensação foi parcial. Aos 42 dias de idade, as alterações com o estresse calórico agudo
(35±1oC; 20 a 30%UR) resultaram em grandes e moderados aumentos da temperatura cloacal nos frangos
controles e condicionados, respectivamente. A mortalidade durante o estresse foi significativamente maior nos
controles que nos previamente expostos (condicionados). O condicionamento em idades precoces reduz as
mudanças hemodinâmicas (diminui significativamente o peso do coração e o hematócrito) e reduz a
concentração plasmática de triiodotironina. Os resultados sugerem que a redução no T3 e as mudanças
hemodinâmicas podem ser parte do mecanismo associado com o aumento da termotolêrancia através do
condicionamento pela temperatura em idades precoces.

2. RESTRIÇÃO ALIMENTAR

As aves podem ser pré-estressadas usando um fator de estresse alternado. Dado que, os fatores
estressantes propiciam uma resposta inespecífica, isto produziria efeitos aceitáveis. Este princípio foi ilustrado
por dados de Teeter et al. (1987) citados por BRAKE (1988), os quais demonstram que períodos de jejum
cada vez maiores melhoram a resistência ao estresse pelo calor (Tabela 4). Porém, o maior efeito consiste do
fato de que a restrição alimentar promove uma redução na disponibilidade de nutrientes que diminui a
atividade metabólica geral, reduzindo também a produção de calor.

Tabela 4. Efeito do tempo de retirada de alimento antes do stress por calor sobre a viabilidade de frangos de
corte.
Jejum prévio ao calor Viabilidade (%)
Ad libitum 51,6 b
6 horas 80,0 a
12 horas 86,7 a
24 horas 92,0 a
a,b
Letras diferentes diferem significativamente (P<0,05); TEETER et al. (1987).
Estresse calórico: Temperatura de 32,2oC e 55 % de Umidade relativa do ar;

Segundo MACARI et al. (1994), trabalhos têm mostrado que, pela restrição alimentar, 50% da
termogênese pode ser bloqueada quando do estresse calórico. O jejum prévio ao estresse calórico reduz a
sobrecarga termogênica e aumenta a sobrevivência dos frangos de corte ao calor. Por outro lado, jejum após a
instalação da hipertermia induzida pelo calor não tem efeito sobre os aspectos de termorregulação do frango
de corte, ou mesmo sobre a mortalidade por estresse térmico. São necessários de 180 a 200 minutos para que o
aparelho digestivo da ave fique completamente vazio (MACARI et al., 1994). Assim, a retirada do alimento
no início do estresse apresenta um resultado muito pequeno. TEETER et al. (1990) concluíram que o período
de jejum de 3 h até 6 h antes do estresse (9,5 a 12,5 h no total, respectivamente) não influenciou o ganho de
peso, porém melhorou a viabilidade e a eficiência alimentar (Tabela 5).

Tabela 5. Efeito da retirada de alimento sobre o crescimento e a viabilidade de frangos de corte criados em
condições de estresse calórico brando.
Retirada de alimento em relação ao início do Duração total do Ganho de peso, g Viabilidade, %
estresse calórico jejum, h
Sem retirada 0 569 94
Retirada no início do estresse 6,5 550 94
Retirada 3 h antes do início do estresse 9,5 561 97
Retirada 6 h antes do início do estresse 12,5 556 99
TEETER et al. (1990).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 131

Num experimento conduzido em galpões de com ventilação natural, Smith e Teeter (1988) citados por
TEETER (1990) observaram que o meio ambiente provocou um estresse moderado e o jejum de 12 horas na
5a semana de idade reduziu o ganho de peso em 7% e não afetou a viabilidade. Na 6a semana de idade, o
ambiente apresentou-se bastante estressante e as aves submetidas ao jejum apresentaram melhor viabilidade e
não houve diferença no ganho de peso. Na 7a semana, o meio ambiente promoveu um estresse crônico nas
aves e o ganho de peso e a viabilidade não sofreram nenhum impacto do período de jejum (Tabela 6).

Tabela 6. Efeito do jejum sobre a sobrevivência de frangos de corte criados sobre piso durante estresse
calórico de ocorrência natural.
Idade Temp. média, oC Ganho de peso diário, g Viabilidade, %
(semana) Inferior Superior Controle KCl Jejum Controle KCl Jejum
5a 18,9 31,1 66,8 a 64,8 ab 62,3 b 99,3 a 99,6 a 100 a
a a a a b a
6 28,9 38,9 53,2 50,6 51,9 89,0 94,9 97,3 a
a b a b a a
7 25,6 33,9 64,2 68,7 64,2 98,4 97,6 99,3 a
a,b
Médias na linha e sob mesmo cabeçalho com letras sobrescritas diferentes, diferem entre si (P<0,05).
SMITH e TEETER et al. (1988).

SARTORI (1996) verificou que independente da linhagem, Ross ou Hubbard-Peterson, o estresse


calórico determina perdas elevadas em frangos de corte machos, principalmente quando abatidos com mais de
49 dias de idade. Porém, o manejo de restrição alimentar na fase final de criação foi insuficiente para atenuar
os efeitos de temperaturas muito elevadas (acima de 30oC) sobre a mortalidade, quando os frangos,
independente da linhagem a que pertençam, são submetidos a outros tipos de estresses, como o da
manipulação para a pesagem. Nenhum benefício foi observado pelo uso da restrição alimentar sobre o
desempenho, rendimento de carcaça e gordura abdominal e composição química da carcaça. Conclui-se que, a
técnica de restrição alimentar na fase final de criação não pode ser recomendada como prática de manejo
isolada para atenuar os efeitos do estresse calórico severo em frangos corte machos, e que essa técnica pode
ser aplicada como um coadjuvante às melhorias de ambiência dos galpões.
GONZALES et al. (1995), concluíram que, em períodos de estresse térmico brando, a disponibilidade
restrita de alimento durante a noite, principalmente para os machos, propicia melhores índices de
aproveitamento da ração, mortalidade e retorno econômico. Estes resultados podem ser atribuídos a uma
maior área gastrintestinal observada nas aves que sofreram restrição, com conseqüente aumento de retenção,
digestão e absorção dos alimentos (Tabelas 7 e 8).

Tabela 7. Peso (P), ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e mortalidade no
período experimental (15 a 49 dias)1.
Característica
P, g GP, g CR, g CA Mortalidade, %
Sexo
Macho 2824 a 2415 a 4778 a 1,982 b 4,55 a
Fêmea 2398 b 2012 b 4201 b 2,092 a 1,99 b
Programa Alimentar
Ad libitum 2716 a 2322 a 4792 a 2,072 a 5,63 a
Noite 2603 b 2203 b 4347 b 1,981 b 2,44 b
Dia 2514 c 2115 c 4330 b 2,058 a 1,74 b

Médias 2611 2213 4490 2,037 3,27


1
Não houve interação significativa (P>0,05) para nenhuma das características estudadas.
a≠b≠c Na mesma coluna, significativo (P<0,05) pelo Teste de Tukey. GONZALES et al. (1995).

Trabalhando com diferentes períodos de arraçoamento, SILVA et al. (1995) observaram que aves
submetidas a alimentação contínua (24 horas) apresentaram os maiores índice de eficiência produtiva (IEP) e
índice de eficiência produtiva real (IEPR) e as aves com alimento disponível das 1100 às 1400 h e das 1800 às
0800 h apresentaram os piores resultados de IEP e IEPR, aos 35 dias de idade. Aos 24 e 42 dias de idade, não
foi observado efeito do período de arraçoamento sobre o IEP e IEPR (Tabela 9).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 132

Leeson (1986) citado por RUTZ (1996) propõe que o jejum forçado nos frangos faz com que os
animais utilizem suas reservas de gordura como fonte de energia. Durante o catabolismo dos lipídios há
formação de corpos cetônicos, que provocam acidose metabólica. Esta condição pode compensar parcialmente
a alcalose respiratória que está ocorrendo com o animal submetido ao estresse pelo calor.

Tabela 8. Cálculo do retorno econômico1 em função da disponibilidade de alimento e do sexo dos frangos de
corte aos 49 dias de idade.
Disponibilidade de Alimento
US$ Macho Fêmea
Noite Dia Ad libitum Noite Dia
Ad libitum
1. Custos de Produção 444,05 431,55 429,04 425,81 400,38 397,17
2. Receita 456,89 468,78 457,74 421,02 406,74 389,25
3. Retorno econômico 12,83 37,23 28,70 -4,77 6,36 -7,92
N° de aves final 261 278 278 279 283 284
Retorno/ave vendida 0,049 0,134 0,103 -0,017 0,022 -0,028
1
O retorno econômico foi calculado tendo como base os preços de pintinho, ração, outros custos e venda de
ave viva no mês de abril de 1995 (APA, 1995). 2Outros custos = mão de obra, medicamentos, vacinas,
"cama", gás, eletricidade. GONZALES et al. (1995).

Tabela 9. Índice de eficiência produtiva (IEP) e índice de eficiência produtiva real (IEPR) verificados nos
tratamentos nas diferentes idades.
Idade em dias
28 35 42
Alimento disponível IEP IEPR IEP IEPR IEP IEPR
24 horas 218,05 a 218,05 a 228,05 a 228,05 a 222,28 a 222,28 a
Das 18 às 8 h 227,15 a 227,15 a 220,80 ab 220,80 ab 228,57 a 228,57 a
Das 11 às 14h e das 18 às 8 h 212,18 a 217,32 a 212,35 b 212,35 b 211,48 a 216,46 a
Das 18 às 11 h 208,95 a 208,95 a 221,78 ab 225,04 a 215,98 a 218,76 a
Valores seguidos de letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de significância. SILVA et al. (1995).

Mister se faz salientar que a prática de retirada de ração não deve ser utilizada para poedeiras, pois
esta ave come pouco por hora e comerá menos ainda se for retirada a ração, podendo afetar seriamente o seu
desempenho (RUTZ, 1996). Um ponto importante que se deve levar em consideração, é que os frangos de
corte submetidos a um período de restrição alimentar, apresentam uma maior deposição de gordura durante o
período de realimentação (FURLAN et al., 1997).

3. MANEJO DE ÁGUA

a) Temperatura da Água
A temperatura da água de bebida é um dos fatores importantes na regulação da temperatura corporal
dos frangos de corte. Assim, quando em situações de estresse, a temperatura da água de bebida deve estar ao
redor de 20oC, pois auxilia na redução da temperatura corporal (MACARI et al., 1994). Neste sentido, os
efeitos benéficos do aumento no consumo de água fria ocorrem em função de um aumento tanto nas perdas de
calor sensíveis (condução, convecção e irradiação) como nas insensíveis (evaporação).
Num primeiro experimento, BEKER e TEETER (1994) não observaram efeito da temperatura da água
sobre a temperatura retal de frangos de corte em ambiente termoneutro (24oC). Porém, o fornecimento de água
a 12,8oC diminuiu a temperatura retal das aves estressadas pelo calor, enquanto que água a 24 e 41,3oC não
tiveram nenhum efeito (Tabela 10).
Com um segundo experimento (Tabela 11) feito em continuidade a este, BEKER e TEETER (1994)
chegaram as seguintes conclusões: 1) O fornecimento de água resfriada (10 e 12,8oC) diminui a temperatura
retal de aves expostas ao estresse pelo calor; 2) A temperatura da água de bebida durante exposição à elevada
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 133

temperatura ambiente é inversamente correlacionada com o consumo de alimento e a taxa de crescimento; 3)


Tanto o consumo de KCl como o aumento no consumo de água mediado pelo KCl melhoraram o consumo de
alimento e/ou a taxa de crescimento de frangos de corte estressados pelo calor consumindo água à 10 e 26,7oC
e, 4) A suplementação com KCl (0,5 %) da água à 43,7oC reduziu o consumo de alimento e o ganho de peso
das aves, mas não influenciou a viabilidade.

Tabela 10. Temperatura retal de frangos de corte expostos a 37oC por 15 min antes e após injeção de água no
papo à 12,8, 24 e 41,7oC.
Temperatura da água injetada no papo
Temperatura 12,8oC 24oC 41,7oC
ambiente AI DI AI DI AI DI
24oC 41,6 41,5 41,6 41,6 41,5 41,5
24-37oC 43,5 a 43,0 b 43,5 a 43,3 a 43,5 a 43,5 a
AI - Temperatura corporal 15 min antes da injeção. DI - Temperatura corporal 15 min após a injeção.
a,b
Médias com letras sobrescritas diferentes, diferem entre si (P<0,05). BEKER e TEETER (1994).

Tabela 11. Efeito da temperatura da água e suplementação com KCl sobre a temperatura retal (TR), ganho de
peso diário (GPD), consumo de ração (CR), taxa ganho/ração (EA), viabilidade (VI) e consumo
de água (CA) de aves expostas à ciclos 24-37oC.
Temperatura da água de bebida
10oC 26,7oC 43,3oC
0% KCl 0,5% KCl 0% KCl 0,5% KCl 0% KCl 0,5% KCl
TR a 24 oC 41,44 41,53 41,53 41,55 41,63 41,69
TR a 37 oC 42,95 bc 42,73 c 43,19 ab 42,88 c 43,29 a 43,14 a
Aumento da Temp. oC 1,5 bc 1,4 c 1,6 ab 1,5 bc 1,8 a 1,6 ab
a a b a b
GPD, g/dia 46 52 41 49 42 39 b
CR, g/dia 107 b 115 a 106 b 109 ab 103 bc 94 c
ab ab ab a b
EA 0,42 0,42 0,40 0,43 0,38 0,40 ab
VI, % 89 91 90 93 89 91
CA, ml 412 ab 452 a 348 c 429 ab 344 c 353 bc
a,b,c
Médias na mesma linha, com letras sobrescritas diferentes, diferem entre sI (P<0,05);
BEKER e TEETER (1994).

LEESON e SUMMERS (1991) sugerem o resfriamento da água de bebida como mecanismo adequado
no combate ao estresse pelo calor (Tabela 12). As aves que receberam água com temperatura mais baixa
apresentaram maior consumo de ração e na produção de ovos.

Tabela 12. Efeito da temperatura da água sobre o desempenho de poedeiras submetidas ao estresse pelo calor
(33oC).
Temperatura da água
o
33 C 2 oC
Consumo/ave/dia (g) 63,8 75,8
Produção de ovos (%) 81,0 93,0
Peso dos ovos (g) 49,0 48,5
LEESON e SUMMERS (1991).

A água de bebida é um dos mecanismos de troca térmica utilizado pelas aves. A temperatura da água
de bebida é um fator importante na regulação da temperatura corporal (SEVEGNANI et al., 1995). Segundo
MACARI (1995) a temperatura ideal da água de bebida. é de 24oC. Acima de 24oC os efeitos de trocas
térmicas são reduzidos.
A temperatura da água está diretamente relacionada com a temperatura ambiente interna do galpão e,
é em média, 3oC abaixo da temperatura ambiente. Assim, o controle ambiental torna-se ainda mais importante
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 134

quando analisamos o microclima da ave, nesse caso, a influência da água de bebida na produção
(SEVEGNANI et al., 1995).
Poedeiras submetidas à temperaturas elevadas apresentam alteração no consumo de água. O aumento
repentino na temperatura ambiente acima do limiar da ofegação, resulta na duplicação do consumo de água
(de 250 a 500 g/dia). Entretanto, este aumento não pode perdurar por mais do que 24 horas. As aves reduzem
o seu consumo de água para níveis próximos daqueles antes de serem submetidas ao estresse pelo calor. Esta
redução no consumo de água está associada a redução no consumo de ração e declínio na produção de ovos
(Smith, 1991, citado por RUTZ, 1996).

b) Adição de Sais: aumenta a viabilidade, a taxa de crescimento e a eficiência alimentar em frangos de corte e
aumenta a produção de ovos e melhora a manutenção do peso corporal em poedeiras em condições de estresse
térmico.
Nas aves, a resistência osmótica do sangue parede ser o principal fator regulador da sede. Assim, a
assim a adição de sais na água pode ocasionar variação osmótica, aumentando a quantidade de água ingerida
pelo frango. Contudo este princípio deve ser aplicado apenas em condições de estresse calórico muito
acentuado (MACARI et al., 1994). Posto que temperaturas elevadas podem causar perda de água corporal,
levando o animal à desidratação, queda no desempenho e até mesmo à morte, o aumento no “turnover” de
água promovido pelo NaHCO3, pode ser de grande relevância na manutenção do equilíbrio hídrico do animal,
sua produtividade e sobrevivência (BORGES et al., 1998).

COMPOSTOS ALCALINOS: a intensificação na produtividade de frangos e poedeiras estressados pelo calor


é uma evidência forte que sugere que a recuperação na fase intracelular é incrementada por estes eletrólitos
e/ou que estes compostos também aumentam a eficiência do resfriamento evaporativo.
• bicarbonato de potássio (KHCO3), bicarbonato de sódio (NaHCO3) e água carbonatada (Borbulhar CO2 na
água).

Melhoram o consumo de alimento e a taxa de crescimento ⇒ esta resposta parece ser devida ao íon
bicarbonato e está associada a um aumento no consumo de água.

COMPOTOS ÁCIDOS: cloreto de potássio (KCl), cloreto de amônio (NH4Cl) e cloreto de cálcio (CaCl2).

Os sais de potássio freqüentemente são mais efetivos que os de cálcio em melhorar a performance de
frangos de corte submetidos ao estresse térmico, além disso, estão correlacionados com a redução na
concentração sérica de corticosterona (Deyhim e Teeter, 1990 citados por TEETER e WIERNUSZ, 1994).
O consumo de alimento e a taxa de crescimento de frangos de corte em altas temperaturas podem ser
melhorados pela suplementação com NaHCO3, tanto na dieta como na água de bebida. Este procedimento
apresenta vantagens em relação ao uso de ácidos fracos como o NH4Cl que podem induzir à uma acidose nas
aves, especialmente durante a fase de não ofegação do estresse calórico. A resposta parece ser devida ao íon
bicarbonato e está associada com um aumento no consumo de água. Porém, a melhoria no crescimento não
compensa completamente o efeito adverso das altas temperaturas (Tabelas 13 e 14). A melhoria no peso
corporal não parece estar associada com o aumento na retenção corporal de água (BALNAVE e GORMAN,
1993).

Tabela 13. Respostas de frangos de corte em terminação à suplementação com bicarbonato de sódio
(NaHCO3) da água de bebida a 30oC.
NaHCO3 (g/l) Consumo de alimento Consumo de água (g/ave) Ganho de peso (g/ave)
(g/ave)
0 2265 4634 1188
5,6 2304 6619 1233
e.p.m. 13,1 * 59,1 ** 6,7 **
* P<0,05; ** P<0,001. BALNAVE e GORMAN (1993).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 135

Tabela 14. Respostas de frangos de corte em terminação à suplementação com bicarbonato de sódio
(NaHCO3) na ração ou na água de bebida a 21 e 30oC.
Suplementação Consumo de alimento (g/ave) Ganho de Peso (g/ave)
de NaHCO3 21oC 30oC 21oC 30oC
Nenhuma 2800 2307 1356 1158
Ração + 2713 2420 1341 1221
Água ++ 2728 2414 1359 1231
e.p.m. 16,3 ** 27,7 *
* P<0,05; ** P<0,01; BALNAVE e GORMAN, 1993
+ ++
16,8 g NaHCO3/kg ração; 8,4 g NaHCO3/l (21oC) ou 5,6 g NaHCO3/l (30oC)

A suplementação de eletrólitos na água de bebida aumenta a viabilidade, a taxa de crescimento e a


eficiência alimentar em frangos de corte (Tabela 15) e melhora a produção de ovos e a manutenção do peso
corporal em poedeiras (Tabela 16), estressados pelo calor (TEETER e WIERNUSZ, 1994).

Tabela 15. Ganho de peso (GP), consumo de água (CA), consumo de ração (CR), taxa ganho/ração (EA),
viabilidade (VI) e taxa ganho/ração corrigida (EAc) de frangos de corte em ambiente termoneutro
(TN) e quente (ET) com ( + ) e sem ( - ) 0,5 % de suplementação de mistura mineral na água de
bebida.
Termoneutralidade Estresse térmico
Variável - + - +
GP, g 1323 ab 1357 a 1194 c 1256 b
CA, ml/dia 253 b 259 b 292 a 305 a
CR, g/ave 2804 a 2667 a 2596 a 2400 b
a a b
EA 0,45 0,48 0,41 0,46 a
a a b
VI, % 95,8 94,8 88,5 89,6 b
ab a b
Eac 0,46 0,49 0,43 0,48 a
ab
Médias em uma linha com sobrescritos diferentes diferem entre si (P<0,05). Mistura mineral inclui
NaHCO3, KHCO3, KCl, NaCl, entre outros. TEETER e WIERNUSZ (1994)

Tabela 16. Efeitos da temperatura ambiente e do nível de suplementação de mistura mineral na água de bebida
sobre o consumo de ração (CR), consumo de água (CA), produção de ovos por ave dia (OAD),
peso dos ovos (PO), eficiência alimentar (EA) e mudanças no peso corporal (MPC) de poedeiras
em ambientes de termoneutralidade e estresse pelo calor.
Termoneutralidade Estresse térmico
1 2 3
Variáveis 0M +M ++ M 0M +M ++ M
CR (g/dia) 102 b 106 a 101 b 91 c 91 c 90 c
CA(ml/dia) 202 c 258 bc 285 b 282 b 327 a 293 ab
a a a b b
OAD, % 90 90,6 91,0 87,1 87,6 88,7 ab
a a a b b
PO, g 56,4 57,1 57,5 54,8 55,0 54,6 b
bc c b a a
EA 0,56 0,54 0,57 0,61 0,61 0,61 a
4 a a a c b
MPC , g 47 64 47 -35 -12 -6 b
a,b,c
Médias na mesma linha, com letras sobrescritas diferentes, diferem entre si (P<0,05).
1
Controle; 2 Nível 1 de mistura mineral (0,185% na água de bebida); 3 Nível 2 de mistura mineral (0,37% na
água de bebida); 4 MPC = perda ou ganho de peso durante o período experimental.

Segundo FONSECA et al. (1994), a adição de NaHCO3 e NH4Cl à água de bebida não afeta o
desempenho geral de frangos de corte, no entanto, a restrição alimentar nas horas mais quentes do dia resulta
em um aumento do consumo ao longo de todo período de crescimento e com tendência a piorar a conversão
alimentar (Tabela 17).
A adição de bicarbonato de sódio (NaHCO3) à ração (0,1 a 0,3%) não afeta o desempenho geral dos
frangos de corte, entretanto, a restrição alimentar (12h/dia, das 0700 às 1900h) de 22 a 42 dias de idade, afetou
negativamente o ganho de peso, bem como resultou em um maior consumo de ração e uma pior conversão
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 136

alimentar. Os machos apresentaram melhores valores de conversão alimentar e ganho de peso, mas
consumiram maior quantidade de ração. Os parâmetros sangüíneos (hematócrito, número de hemácias,
hemoglobina e número de leucócitos) não foram afetados pelos tratamentos (FONSECA et al., 1995).

Tabela 17. Desempenho de frangos de corte (22-42 dias de idade) submetidos às diferentes soluções químicas
e restrição alimentar.
Tratamentos Ganho de Peso, Consumo de Conversão Viabilidade, %
g ração, g alimentar
Água 1306,25 a 2610,62 a 2,01 a 93,33 a
NaHCO3 0,1% 1325,38 a 2564,62 a 1,94 a 97,08 a
NaHCO3 0,2% 1300,62 a 2517,25 a 1,94 a 93,34 a
NaHCO3 0,2% + NH4Cl 0,1% 1331,25 a 2552,62 a 1,92 a 97,92 a
Restrição *
Ausente 1317,81 a 2496,25 a 1,90 a 98,54 a
Presente 1313,94 a 2626,31 b 2,00 a 97,29 a
* Retirada do alimento por 6 h/dia (das 9 às 15 h); FONSECA et al. (1994).
Médias nas colunas, seguidas de mesmas letras, não diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

Segundo FONSECA et al. (1995), a adição de NaHCO3 na ração também não afeta o desempenho dos
frangos de corte, entretanto, a restrição alimentar afetou negativamente o GP e resultou em maior CR e uma
pior CA (Tabela 18).

Tabela 18. Desempenho de frangos de corte (22-42 dias) que receberam ração contendo bicarbonato de sódio
e restrição alimentar.
Tratamento Ganho de Peso, g Consumo de Conversão Viabilidade, %
Ração, g alimentar, g
Ração (R) 1280 a 2554 a 2,00 a 98,8 a
R + 0,1% de NaHCO3 1294 a 2559 a 1,98 a 97,4 a
R + 0,2% de NaHCO3 1285 a 2554 a 1,99 a 97,2 a
R + 0,3% de NaHCO3 1301 a 2558 a 1,97 a 98,4 a
Restrição *
Ausente 1309 a 2518 b 1,93 b 97,6 a
Presente 1271 b 2595 a 2,05 a 98,4 a
* Retirada de alimento por 12 h/dia (das 7 às 19 h); FONSECA et al. (1995).
Médias nas colunas, seguidas das mesmas letras, não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P>0,05).

Segundo TEETER et al. (1990), a adição de KCl na água aumentou o consumo de alimento e a taxa de
crescimento, apenas quando a temperatura da água era inferior a temperatura corporal das aves. A diminuição
da temperatura da água de beber, sem adição de sal, estimula a ingestão de alimento (Tabela 19).
A água carbonatada produz um balanço ácido-base mais favorável durante o estresse calórico agudo
do que a água da torneira pela redução das alteração no pH do sangue durante a taquipnéia. Além disso, o
consumo de altos níveis de NaHCO3 e CaCl2 podem produzir condições anormais de equilíbrio ácido-base
durante a alcalose respiratória induzido pelo estresse térmico (BOTTJE e HARRISON, 1985).

Tabela 19. Efeito da temperatura da água e KCl sobre frangos de corte sob estresse calórico.1
Temperatura. Da GPMD (g) Consumo diário de água Temperatura corporal.
o
água ( C) (ml) (oC)
Controle 0,05% KCl Controle 0,05% KCl Controle 0,05% KCl
12,7 55,4 b 60,2 ab 364 b 470 a 42,8 ab 42,7 b
c b bc a a
31,1 50,3 56,5 359 466 43,1 42,9 ab
cd d b c a
42,2 47,0 42,5 364 340 43,3 43,1 a
1
Resumo de três experimentos. TEETER et al. (1990)
abcd
Dentro de uma classificação, as médias com letras desiguais são diferentes (P<0,05).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 137

BOTTJE et al. (1989) observaram que a infusão de uma solução de 10 g/l de NH4Cl no papo durante
um período de 90 min em termoneutralidade produziu uma acidose metabólica resultante de uma redução na
concentração sangüínea de bicarbonato. O bicarbonato sangüíneo continuou a diminuir nas aves tratadas com
NH4Cl e atingiu valores que foram 30% dos controles no final do período de 90 min de estresse pelo calor. No
final do estresse térmico, as concentrações plasmáticas de lactato foram menores nas aves infundidas com
NH4Cl que nos controles. Potencialmente o NH4Cl pode corrigir a elevação do pH sangüíneo durante o
estresse pelo calor, mas poderá faze-lo, então, às custas do bicarbonato sangüínea e causar severas rupturas no
sistema tampão bicarbonato do sangue.
A água carbonatada atenua as mudanças no pH e pCO2 sangüíneas em aves submetidas ao estresse
calórico. A diminuição do pH nas aves que receberam água carbonatada, que ocorre após 4 e 5 h de exposição
ao estresse deve-se à supressão da concentração plasmática de lactato nestas aves (RAUP e BOTTJE, 1990).
AIT-BOULAHSEN et al. (1995) verificaram que o fornecimento de K como KHCO3 agravou a
alcalose respiratória e não teve êxito em influenciar a temperatura corporal ou os eletrólitos do plasma,
sugerindo que o efeito benéfico de 0,6 % de KCl pode em parte ser atribuído ao Cl que acompanha. A
hipertermia e valores de Ca++ são altamente correlacionados. Os resultados também mostraram que uma
solução de 0,6 % de KCl reduziu as respostas relacionadas ao estresse térmico e indicou uma relação entre
suplementação com KCl, Ca++ sanguíneo e temperatura corporal.
PURON et al. (1997) conduziram dois ensaios para avaliar o efeito da adição de 5% de bicarbonato de
sódio (NaHCO3) na dieta de frangos alojados em altas densidades durante meses quentes e úmidos em
Yucatan, México. No ensaio 1 obtiveram maior peso corporal e consumo de alimento, mas menos kg de
frango/m2, quando foram utilizados 10,5 machos/m2, em vez de 13,5 machos/m2. A conversão alimentar e
mortalidade foram similares para ambas as densidades. A adição de NaCO3 na dieta por 7 semanas, dos
frangos alojados com 13,5 aves/m2 melhorou a performance dos frangos e a margem de lucro em U$0,64/m2.
No ensaio 2, não foram observadas diferenças na performance de machos e fêmeas (13,5 e 15,5 aves/m2,
respectivamente) que receberam ou não, 0,5% de NaCO3 na dieta durante as últimas 2, 3 ou 4 semanas de
idade. Assim, o bicarbonato de sódio deve ser adicionado na dieta dos frangos pelo menos nas últimas 5
semanas de criação
Com relação ao ganho de peso, frangos de corte estressados pelo calor respondem positivamente a
uma suplementação contínua com KCl. Contudo, respostas de ganho limitadas são obtidas quando o
fornecimento de suplementação com KCl é restrita à porção quente do ciclo diário; assim, o tempo de
administração de KCl deve ser ditado pela relação custo/benefício (SMITH e TEETER, 1992).
Em condições de estresse calórico cíclico, frangos de corte respondem positivamente à suplementação
na água de bebida com KCL sozinho, ou em combinação com cloreto de amônio e CO2 (água carbonatada),
com relação ao peso corporal. A melhora pode ser resultado do aumento no consumo de água, além de
ajustamentos fisiológicos indeterminados. O uso deste aditivos na água dever ser considerado durante o
estresse pelo calor devido aos seus potenciais impactos econômicos positivos (SMITH e TEETER, 1993).
PURON et al. (1994) relataram que a adição de bicarbonato de sódio (0,5 a 0,6%), ácido acetilsalicílico (250
ppm) e ácido ascórbico (200 ppm) na dieta de frangos de corte não se justifica, devido aos resultados
insignificantes que estes aditivos produzem no crescimento dos frangos, na eficiência alimentar e na redução
da mortalidade.
Segundo KOELKEBECK (1992), um sistema de água de bebida carbonatada pode ser
operacionalmente eficiente em uma instalação comercial de poedeiras em gaiolas e pode melhorar a qualidade
da casca dos ovos em lotes com problemas de qualidade da casca durante o verão.

4. VITAMINA C
As aves sintetizam o ácido ascórbico no fígado em quantidade suficiente para crescimento e
metabolismo. O aumento da temperatura ambiente reduz a produção de ácido ascórbico, sendo este efeito
resultado da exaustão dos estoques e quantidades de vitaminas sintetizadas (MACARI et al., 1994).
De um modo geral, a vitamina C encontra-se em níveis normais no sangue, mas, na fase de alerta do
estresse, os níveis reduzem drasticamente ou mesmo desaparecem. Existe uma relação entre estresse, adrenais
e vitamina C. É sabido que as adrenais são as glândulas do estresse, pois elas aumentam de tamanho na fase de
resistência do estresse e esgotam o teor de vitamina C. Assim, é uma tendência lógica adicionar a vitamina C
às rações (CAMPOS, 1995). A suplementação com ácido ascórbico reduz o estresse por calor relacionado
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 138

com mortalidade de frangos de corte (Pardue, 1983, citado por BRAKE, 1988) conforme mostrado na Tabela
20.

Tabela 20. Efeito do estresse de calor e do ácido ascórbico sobre a mortalidade (%) de frangos de corte.
Ácido ascórbico dietético (ppm)
0 1000 Média
Controle 2,4 2,4 2,4 a
Calor (43 °C) 22,0 7,3 14,6 b
a a
Média 11,1 4,9
a,b
Letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). PARDUE (1983).
A ação da vitamina C parece ser pela inibição da quebra da cadeia lateral do colesterol e conseqüente
inibição da síntese de esteróides (MACARI et al., 1994). Ocorre uma inibição das enzimas 2,1-hidroxilase e
1,1-beta-hidroxilase na via biossintética de esteróides, com redução na síntese de esteróides e, possivelmente,
um aumento na síntese de andrógenos (Figura 1). O efeito líquido seria uma inibição do córtex da suprarrenal.,
efeito este, demonstrado por uma redução no nível de corticosteróides plasmáticos em frangos de corte
estressados pelo calor e que receberam suplementação com ácido ascórbico, conforme mostrado na Tabela 21
(Pardue, 1983, citado por BRAKE, 1988).
Segundo BRAKE (1988), o ácido ascórbico melhora a eficiência de reprodutoras no verão. A
suplementação com 50 ou 100 ppm aumentou o rendimento de pintos/ave em mais de 12, conforme mostrado
na Tabela 22.

Colesterol

Pregnenolona
⇓ → → Andrógenos
Progesterona
⇓ ← 2,1-hidroxilase
1,1-Deoxicorticosterona
⇓ ← 1,1-β -hidroxilase
Corticosterona

Aldosterona

Figura 1. Via biossintética esteróide (BRAKE, 1988).

Tabela 21. Efeito do stress ao calor e do ácido ascórbico sobre os corticosteróides plasmáticos (ng/ml) em
frangos de corte.
Ácido ascórbico dietético (ppm)
0 1000 Média
Controle 3,2 4,9 4,1 a
Calor (43 °C) 18,1 8,8 12,1.b
a a
Média 8,5 6,7
a,b
Letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). PARDUE (1983).

Tabela 22. Efeito do ácido ascórbico sobre a reprodução de matrizes de corte durante o verão.
Ácido ascórbico dietético (ppm)
Variável 0 50 100
Produção ave/dia (%) 50,9 b 52,8 a 54,5 a
Fertilidade (%) 93,6 b 97,3 a 95,3 ab
b a
Eclosão 88,5 90,8 90,7 a
c a
Mortalidade embrionária, % 6,04 3,43 4,71 b
b a
Pintos/ave 118,1 130,6 131,9 a
a,b,c
Letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). BRAKE (1988).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 139

RODRIGUES et al. (1994), trabalhando com aves em 2o ciclo de postura, observaram que o uso de 60
e 132 ppm vitamina C na ração melhoram, respectivamente, o peso dos ovos e a qualidade interna na fase
final (34a semana pós-muda) de postura. Porém sua inclusão não afetou a qualidade da casca na fases inicial
(4a semana pós-muda) e final de postura e reduziu o peso dos ovos na fase inicial.
Monsi e Onitchi (1991) citados por TILLMAN (1994) suplementaram as rações de matrizes de corte
em condições de estresse térmico com 0, 125, 250 e 500 ppm de ácido ascórbico e verificaram que o volume
de sêmen, o total de espermatozóides por ejaculação e a motilidade dos espermatozóides por ejaculação
aumentaram significativamente e as maiores respostas ocorreram com suplementação de 500 ppm (Tabela 23).
A concentração e a motilidade espermática não foram afetados.
Ácido ascórbico pode ser usado na ração ou água. É utilizado na água em situações emergências
quando se deseja obter níveis protetores em menos de 24 horas. Uma concentração de 1000 ppm de ácido
ascórbico na água proporcionará um nível sangüíneo de 16 µg/ml em aproximadamente 8 horas. Esta reserva
se depreciará em 24 horas (BRAKE, 1988).

Tabela 23. Efeito do ácido ascórbico sobre as características do sêmen em machos matrizes criados em
condições tropicais.
Ácido ascórbico
0 ppm 125 ppm 250 ppm 500 ppm
Volume de sêmen, ml 1 0,47 0,51 0,62 0,77
Concentração espermática, 109/ml 2,94 2,54 2,86 3,11
Espermatozóides por ejaculação, 109 1 1,42 1,32 1,84 2,40
Espermatozóides móveis por ejaculação, 109 1 0,89 0,79 1,20 1,64
Motilidade, % 59,50 58,50 62,60 68,30
1
Efeito linear do ácido ascórbico (P<0,05). MONSI e ONITCHI (1991).

A biossíntese de vitamina C é reduzida substancialmente em virtude das doenças que afetam os rins,
tais como a uremia da Bronquite Infecciosa e da Doença de Gumboro. A incidência destas doenças em frangos
de corte é mais comum durante a idade de 2 a 3 semanas. Este período coincide com a fase de estresse
imunológico e com a fase de atraso na síntese de vitamina C, sendo necessária a sua suplementação na dieta.
(BAINS, 1995). Este autor também menciona um efeito protetor da vitamina C em aves submetidas ao
estresse pelo calor e debilitadas pela Doença de Gumboro e pela coccidiose (Tabelas 24, 25 e 26).

Tabela 24. Efeito da vitamina C em frangos estressados pelo calor e com doença de Gumboro.
Vitamina C (mg/kg de ração) Melhora
0 500
Peso médio, g 1740 1970 13 %
Conversão Alimentar 1,94 1,95 -
Mortalidade, % 4,78 1,93 60 %
BAINS (1995)

Tabela 25. Efeito protetor da vitamina C em pintos de corte estressados pelo calor 1 em face da infecção pela
doença de Gumboro.
Vitamina C
(mg/kg de ração)
0 1000
Dias para a primeira morte após infecção 2 4 5
Mortalidade após 7 dias, % 37 20
1
Temperatura: 32-38oC; 2 Pintos infectados às 3 semanas de idade. Taxton et al. (1984), citado por BAINS
(1995).

Segundo RUBIN et al.(1989), no verão, níveis vitamínicos mais elevados para machos propiciam
melhores resultados de conversão alimentar devido, provavelmente, ao estresse causado pela temperatura
ambiente.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 140

Tabela 26. Efeito da vitamina C na performance de frangos expostos a 32oC e desafio de coccidiose.
Primeiros 36 dias de vida
Vit. C, mg/kg Infecção Peso, g CA CRMD, g/ave
0 Nenhuma 1030 1,40 49
1000 Nenhuma 1182 1,38 55
0 E. acervulina + E. tenella 950 1,55 48
1000 E. acervulina + E. tenella 1170 1,40 56
* Inoculação: 20.000 oocistos esporulados de E. acervulina e 5.000 de E. tenella por dia, durante 4 dias
consecutivos; Schildknecht et al. (1985) citado por BAINS (1995).

Esta vitamina atua como co-fator em sistemas enzimáticos responsáveis pela hidroxilação da vitamina
D. A vitamina C é um produto do metabolismo normal das aves mas em situações de estresse, podem
indiretamente afetar o “status” da vitamina D e seus metabólitos na ave. Alternativamente, a adição de
vitamina C poderia compensar eventuais falhas na hidroxilação da vitamina D e suas conseqüências.
Trabalhos recentes mostram que as aves antes dos 14 dias de idade e aves poedeiras na última fase do ciclo de
produção podem não estar sintetizando ácido ascórbico na quantidade necessária para atender as demandas
metabólicas (TARDIM, 1995).
Estudos em humanos e outros animais tem mostrado que o ácido ascórbico está relacionado com a
formação de ossos pelo aumento da produção de hidroxiprolina, a qual é necessária para a formação do
colágeno. O ácido ascórbico tem efeito estimulante ou sinérgico na produção de 1,25-dihidroxicolecalciferol
(1,25(OH)2D3) e também pode estar envolvido na mobilização de cálcio (pela absorção intestinal ou
reabsorção óssea). Assim, para as aves jovens adultas, a vitamina C é importante para se obter um ótimo de
homeostase de cálcio, com um metabolismo ósseo sadio, produção de ovos normais e com qualidade da casca
adequada. Parece que a ativação da 25(OH)D3 - 1 hidroxilase pela vitamina C é um fator decisivo para
permitir otimização do nível de 1,25(OH)2D, maior pré-requisito para a regulação do processo (CALDERON,
1994).
Uma das principais causas da variabilidade da resposta animal ao ácido ascórbico é a instabilidade da
vitamina C, sobretudo quando está exposta a elevada temperatura e umidade. Uma forma estável da vitamina
C (ascorbil-2-polifosfato) já se encontra disponível, com biodisponibilidade igual às formas cristalinas
recobertas com celulose ou graxas (TILLMAN, 1994). A administração de vitamina C (700 ppm) na água de
bebida de frangos de corte 24 horas antes da coleta para o abate pode ser um dos recursos a ser utilizado para
combater o estresse sofrido pelos animais durante este período, diminuindo a perda de peso (SOUZA et al.,
1993). RODRIGUES et al. (1995) verificaram que níveis de 2400 e 2800 UI de vitamina D3/kg de ração,
foram adequados para poedeiras em início e final de postura do 2o ciclo, respectivamente. A suplementação da
dieta com vitamina C não melhorou as características da casca dos ovos.

5. NICARBAZINA
O uso de coccidiostáticos, em especial a nicarbazina, pode reduzir a tolerância do frango de corte ao
calor resultando em elevada mortalidade, redução no ganho de peso e piora na eficiência alimentar. Apesar
deste achado prático, os mecanismos envolvidos ainda são desconhecidos. Trabalhos mostram que o uso da
nicarbazina altera a gravidade específica do sangue e se este efeito tem algum papel nos mecanismos
reológicos, necessita ser investigado. Outro efeito da nicarbazina é tornar o plasma hiperlipêmico e reduz a
gravidade específica (MACARI et al., 1994).

Tabela 27. Efeitos da nicarbazina, do jejum e de eletrólitos sobre a mortalidade de frangos de corte durante o
estresse calórico agudo.
Tratamento Nível de nicarbazina (ppm)
0 62 80 125
cd bc ab
Controle 37 40 58 69 a
e e e
Jejum 12 h * 2 5 10 12 e
e de de
0,5 % Kcl ** 9 15 17 22 cde
* Frangos de corte com jejum de 12 h antes do início do estresse calórico agudo; TEETER (1989).
** Adição de 0,5 % de KCl à água de beber das aves.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 141

Beers et al. (1989) citados por RUTZ (1996) propuseram que a nicarbazina reduzia a freqüência
respiratória e que a elevação na freqüência cardíaca era responsável pelo aumento da temperatura corporal.
WIERNUSZ e TEETER (1995), sugerem que o estresse térmico mediado pela toxicidade da nicarbazina pode
estar relacionado à produção de calor e isto está de acordo com o fato de que a toxicidade da nicarbazina na
mediação do estresse térmico é reduzida em aves aclimatadas.

6. ANTITÉRMICOS
FURLAN et al. (1993) não observaram nenhuma eficácia no uso da indometacina em reduzir a
hipertermia induzida pelo estresse calórico em frangos de corte, independentemente se a droga foi
administrada antes ou após o início do estresse, evidenciando que não existe nenhuma eficácia no uso de
inibidores da ciclo-oxigenase (anti-térmicos) durante o estresse térmico em frangos de corte, pois a
hipertermia induzida pelo calor não é prostaglandina dependente. MACARI et al (1995) estudando os efeitos
do Indomethacin sobre a hipertermia em frangos de corte submetidos ao estresse calórico concluíram que o
aumento da temperatura corporal durante a exposição ao calor não é dependente da síntese de prostaglandinas
e que o uso de inibidores da ciclooxigenase não é recomendado para bloquear a hipertermia causada pelo
estresse calórico em frangos de corte.

7. PERDAS DE CALOR SENSÍVEIS


MACARI et al. (1994) observaram que o estresse calórico (câmara climática a 35oC/4h) em frangos
de corte pode ser controlado pela perda de calor sensível, por condução, através do coxim plantar com o uso
da lâmina d’água (23-25oC). Em um outro experimente num galpão experimental, BELO et al. (1994)
concluíram que o estresse calórico natural (dias de muito calor com temperatura ambiente acima de 35oC,
entre 11 e 15 h) pode ser controlado pelo uso da lâmina d’água (2 cm de profundidade e 23-25oC), e que
nestas condições o comportamento alimentar do frango não é alterado. Segundo HARRISON (1994), o uso de
poleiros resfriados diminuiu a hipertermia e aumentou a ingestão alimentar quando comparados com poleiros
semelhantes, não resfriados, nas mesmas condições ambientes.

Tabela 28. Efeitos dos poleiros com água fria à nível do piso sobre o desempenho final de frangos de corte aos
51 dias de idade.
Temperatura do Peso final (kg) Ganho de peso Consumo de ração Eficiência alimentar
Poleiro (kg) (kg) (ganho/ração)
b b a
Ambiente 2,22 ± 0,06 1,77 ± 0,06 4,36 ± 0,10 0,406 ± 0,010 a
Fria 2,47 ± 0,06 a 2,02 ± 0,06 a 4,62 ± 0,10 a 0,438 ± 0,010 a
a,b
Médias em um coluna com sobrescritos diferentes, são significativamente diferentes (P<0,05);
1
A duração da exposição do poleiro foi de 35 dias. REILY et al. (1991).

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Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 144

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EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) O que é aclimatação e como pode ser utilizada como medida alternativa para controle do estresse térmico?
2) Qual o intuito de se fazer uma restrição alimentar em frangos de corte submetidos ao estresse pelo calor e
em qual período do dia se deve fazê-la para que seja mais efetiva?
3) Com relação à água de bebida, que recomendações podemos fazer para criações de aves e suínos em
regiões de clima quente?
4) Qual o intuito de se utilizar sais na água de bebida para frangos de corte submetidos ao estresse pelo calor?
5) Quais sais seriam os mais recomendados?
5) Qual efeito tem a vitamina C em animais estressado pelo calor? Por que?
6) Podemos utilizar medicamentos anti-térmicos para mininizar o desconforto de animais submetidos ao
estresse pelo calor? Por que?
7) Por que o anticoccidiano nicarbazina só é recomendado em rações inicais de frangos de corte (1-21 dias de
idade) e no verão, não se recomenda sua utilização?
8) Em quais regiões do corpo da ave encontramos grandes perdas de calor sensível?
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 145

Aula 15 - Instalações Para Aves de Postura, Corte e Reprodutores e Seu Conforto Térmico.

A produtividade ideal na avicultura, só poderá ser obtida, quando a ave estiver submetida a uma
temperatura ambiente adequada, sem nenhum desperdício de energia, tanto para compensar o frio, como para
acionar seu sistema de refrigeração (NÄÄS, 1997). O Brasil localiza-se ao Sul da linha do Equador,
predominantemente até a latitude de 30o Sul, logo na faixa mais quente do globo terrestre. A produção avícola
brasileira, por sua competitividade, requer construções simples, projetadas de forma que permitam o
condicionamento térmico natural, sendo utilizado o sistema artificial de condicionamento somente quando o
natural estiver totalmente esgotado (BAÊTA, 1995 e 1998).
Muito pouca atenção tem sido dada ao planejamento das construções, de forma a utilizar ao
máximo os recurso da própria natureza, como a ventilação natural e o paisagismo circulante. Assim, detectado
o problema de estresse calórico, os avicultores procuram amenizar a situação, com utilização de tecnologias
artificiais, na maiorias das vezes incompatíveis com a realidade local além de tecnicamente inadequadas,
como é o caso da quase totalidade dos projetos de ventilação forçada implantados (TINÔCO, 1995a). O
dimensionamento de edificações, de forma a criar um ambiente térmico ideal, dentro da instalação requer a
interação de um número muito grande de variáveis que definem os componentes da construção, os materiais a
serem utilizados, sua orientação, sua geometria, sua forma de ocupação e o conforto que a ave ocupante
necessita para ter um desempenho ideal. O maior desafio está em achar um equilíbrio entre o custo
operacional de um ambiente ideal do galpão, ou de uma monitoração mais acurada desse ambiente, de forma a
poupar o sistema termorregulador da ave, dando-lhe maior aproveitamento termodinâmico, e
conseqüentemente maximizando o potencial de sua máquina térmica (NÄÄS, 1995).

I. ADEQUAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES AVÍCOLAS AO ESTRESSE TÉRMICO.


Não existe um tipo de instalação avícola que seja ideal no combate ao estresse calórico e que possa ser
adotada em todas as regiões do mundo, porque cada região climática impõe uma exigência própria de arranjos
com vistas ao conforto térmico. Assim, o tipo de alojamento avícola deverá ser concebido de forma diferente
para regiões climáticas diferentes (TINÔCO, 1995a).
Adequar uma edificação ao clima de um determinado local significa construir espaços que
possibilitem ao animal condições de conforto (NÄÄS, 1989). O ambiente interno de uma instalação
normalmente é o resultado das condições locais externas, das características construtivas, dos materiais da
instalação, da espécie e número de animais, do manejo e das modificações causadas pelos equipamentos do
sistema produtivo e do condicionamento ambiental (BAÊTA, 1998).

1. Estudo climático:
Nos aviários abertos, que normalmente se encontram em nosso país, o estudo climático para
exploração de aves contribui para a maior produtividade das aves e menor custo de produção. Uma má escolha
na localização dos aviários resultará em custos adicionais para melhoria das instalações e na operação de
equipamentos necessários para diminuir os efeito do desconforto térmico sobre as aves. É necessário portanto,
um estudo detalhado da variação dos parâmetros ambientais para conhecermos as probabilidades de
ocorrência de períodos indesejáveis e tomarmos, com antecedência, as possíveis medidas para a sua solução
(HARDOIM, 1990).
Dentre os fatores climáticos, os mais significativos são: a radiação solar, a influência da longitude e da
latitude (determinam os valores das variáveis ligadas à irradiação solar de um determinado local geográfico), a
influência da altitude e a umidade relativa do ar (NÄÄS, 1989). Deve-se destacar que, à medida que se
desloca da linha do Equador para o sul do País, a amplitude térmica anual cresce, aumentando a importância
de soluções móveis para o acondicionamento térmico natural de inverno e de verão (BAÊTA, 1998).

2. Localização:
Refugar terrenos de baixada, evitando-se problemas de alta umidade, baixa movimentação de ar e
insuficiente insolação higiênica no inverno. Recomenda-se terrenos de boa drenagem, numa leve encosta ou
declive suave (2 a 5%), de preferência no sentido da largura do galpão, para facilitar escoamento de águas
(TINÔCO, 1995a e 1996).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 146

3. Orientação:
Para as condições brasileiras, o eixo longitudinal dos galpões deve estar orientado no sentido Leste-
Oeste, favorecendo a maior interceptação da radiação solar pelo telhado no verão, bem como maior insolação
na face Norte do galpão no inverno, em decorrência do deslocamento paralelo do plano da trajetória aparente
do Sol para o Norte, o que é desejável (BAÊTA, 1995 e 1998).

4. Disposição das construções:


O afastamento entre galpões, deve ser suficiente de forma que uns não atuem como barreira à
ventilação natural dos outros. Assim, recomenda-se afastamento de 10 vezes a altura da construção, para os
dois primeiros galpões a barlavento, sendo que do segundo galpão em diante, o afastamento deverá ser de 20 a
25 vezes a altura (TINÔCO, 1995a e 1996). Na pior das hipóteses, deve-se possibilitar afastamentos entre
galpões de no mínimo 35 a 40 m (TINÔCO, 1996). Segundo BAÊTA (1995 e 1998), a distância entre os
galpões não deve ser inferior a três vezes a largura dos mesmos. NILIPOUR (1993) recomenda pelo menos 15
a 30 m de distancia entre os galpões para prevenir obstáculos ao movimento do ar e a transmissão aérea de
enfermidades entre galpões.

5. Proteção contra insolação:

5.1. Oitões:
No caso das paredes laterais, que recebem frontalmente o sol do nascente e do poente (oitões), a
proteção pode ser feita pintando-as com cores claras, sombreando-as por meio de vegetação ou beirais,
adotando paredes de grande capacidade calorífica, como as de tijolos maciços de barro ou blocos furados com
no mínimo 15 cm de espessura (TINÔCO, 1995a e 1996). Quando as condições microclimáticas de verão
apresentarem ventos dominantes no sentido Leste-Oeste, pode-se telar estas extremidades e provê-las de
cortinas e beiral, para aproveitamento desses ventos, aumentando a circulação de ar no interior do galpão
(BAÊTA, 1995 e 1998).

5.2. Cobertura:
O tipo de telha tem influência direta sobre a quantidade de calor que chega no interior do galpão
durante o dia e que é perdida, do interior para o exterior, durante a noite, e ainda interfere na carga térmica
radiante (CTR) a que está sujeito o animal (BAÊTA, 1995 e 1998).
Um bom material de cobertura apresenta temperaturas superficiais amenas, devendo para isto ter alta
refletividade solar conjugada a alta emissividade térmica na parte superior da superfície, e baixa absorvência
solar conjugada a baixa emissividade térmica na parte inferior. A absorção de calor solar radiante pela telha é
diretamente proporcional a superfície real exposta, por isto, deve-se dar preferência às telhas não rugosas
(TINÔCO, 1995a e 1996).
Segundo TINÔCO (1995a e 1996) os telhados mais usuais podem ser constituídos dos seguintes
materiais, na seqüência de sua qualidade térmica, do melhor ao pior:
• isopor entre duas lâminas de alumínio: muito eficiente, porém de custo muito elevado.
• sapé: muito bom isolante. Susceptível ao ataque de pragas e fogo. Bons resultados na utilização sobre
coberturas de cimento amianto. Temor quanto ao comprometimento sanitário.
• madeirit: madeira compensada, 6 mm, ondulada, revestida na parte superior com lâmina de alumínio.
Durável (20 anos). Bom comportamento térmico, porém caro.
• alumínio simples: sujeito a danos pelo granizo e ventos. Menos quentes e mais caros que o amianto. Novos
são melhores que os de barro, porém se oxidam com o tempo, perdendo a vantagem inicial. Barulhentos
quando chove, podendo estressar os animais.
• barro: melhor termicamente que o amianto comum e que os de alumínio quando se oxidam. Estrutura mais
cara. Frestas que ajudam a ventilação. Dificultam a limpeza.
• amianto: mais comum. Fácil construção. Esquenta muito no sol. Melhoram termicamente quando pintados
de branco. Tintas comerciais são caras e duram até 8 anos. Tintas caseiras são baratas, mas duram menos
de 1 ano.
• chapa zincada ou ferro galvanizado: pior de todos, porém não quebra, é durável e mais barato. Quando
novo é semelhante a chapa de alumínio, porém perde a efetividade muito rapidamente, devido a corrosão.
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 147

Segundo BAÊTA (1995 e 1998), resultados experimentais têm mostrado que, avaliando o
desempenho global da cobertura, em termos de eficiência relativa à telha de alumínio nova, como sendo igual
a unidade (1,00), a eficiência dos outros materiais é a seguintes: sapé com 15 cm de espessura (1,20), telhas de
alumínio pintadas de branco por cima e preto por baixo (1,10), telhas de aço galvanizado pintadas de branco
por cima e preto por baixo (1,07), telhas de fibrocimento pintadas de branco por cima (1,04), telhas de
madeira compensada com película de alumínio por cima (1,03), telhas cerâmicas (1,00), telhas de aço
galvanizado novas (0,98), telhas de alumínio velhas (0,90) e telhas de fibrocimento velhas (0,90).
OLIVEIRA et al. (1995) verificaram que os diferentes tipos de telhas usadas nas coberturas dos
aviários não influenciaram o desempenho produtivo das aves (Tabela 1), no entanto, dependendo do tipo de
telha, pode haver variação na taxa de mortalidade (Tabela 2) e nos parâmetros ambientais (Tabela 3). Neste
contexto, a escolha do tipo de telhado, deve levar em consideração o seu custo econômico.

Tabela 2. Parâmetros de desempenho de frangos de corte, criados em aviários com diferentes tipos de telhados
(CRDIA:consumo médio de ração diária, GPDIA: ganho médio de peso diário, PMED: peso médio
das aves e MORTE: taxa de mortalidade).
Tipo de telhado CRDIA (g) GPDIA (g) PMED (kg) MORTE (%)
TAG 88,2 41,2 1,967 5,4ab
TBM 88,0 42,0 1,998 5,1b
TAL 88,2 42,2 2,020 5,3ab
TFI 90,7 42,3 2,023 6,1ab
TMA 88,2 41,7 1,993 5,8ab
TBR 91,5 42,6 2,048 6,6a
TGP 90,1 42,4 2,052 6,4ab
Médias com letras distintas na coluna, diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).
OLIVEIRA et al. (1995).

Tabela 3. Temperaturas (T1, T2, T3 e T4)1, índice de conforto térmico (ITGU), carga térmica radiante (CTR)
e velocidade do ar (VEL) no interior dos aviários com diferentes tipos de telhado.
Tipo de T1(oC) T2(oC) T3(oC) T4(oC) VEL ITGU CTR
2
telhado (m/s) (W/m2)
TAG 26,2a 27,0a 34,5a 35,9a 1,15a 74,6a 481ab
ab ab b abc a ab
TBM 25,6 26,5 32,2 33,9 1,14 73,9 475ab
ab ab b bc a ab
TAL 25,5 26,1 32,0 33,0 1,11 73,8 470b
ab ab d ab a ab
TFI 25,5 26,4 27,8 34,2 1,07 74,2 484a
ab ab b a a ab
TMA 25,2 26,4 32,3 35,8 1,07 74,0 470b
b b d c a b
TBR 24,8 25,9 25,8 31,5 1,13 73,3 478ab
TGP 24,7b 26,0ab 29,9c 32,5bc 1,10a 73,5ab 471b
Médias com letras distintas na coluna, diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).
1
T1 = ao nível das aves, T2 = globo negro, T3 = na superfície do telhado embaixo das telhas, T4 = na
superfície do telhado encima das telhas.
2
TAG = telha de aço galvanizada (0,5 mm), TBM = telha de Brasilit Maxplac (6 mm), TAL = telha de
alumínio, TFI = telha de fibrocimento com isolamento de fibra de vidro, TMA = telha de madeirit aluminizada
ondulada, TBR = telha de barro (telha plan), TGP = telha de aço galvanizada pré-pintada. OLIVEIRA et al.
(1995).

5.3. Forros:
O forro atua com uma 2a barreira física, a qual permite a formação de uma camada de ar móvel junto a
cobertura, que contribui na redução da transferência de calor para o interior da construção. Há referências de
que esta redução é de 62% ao se passar de um abrigo sem forro para um com forro simples de Duratex de 6
mm não ventilado, e de 90% no caso de forro com ventilação. O uso de forro é praticamente inexistente em
galpões avícolas por razões econômicas, dificuldade na desinfecção dos materiais (higroscópicos e porosos) e
por se tornarem abrigos para pragas (TINÔCO, 1995a e 1996).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 148

Atualmente estão sendo utilizados forros confeccionados com cortinas ou mantas plásticas, por terem
um menor custo. PERDOMO et al. (1997) verificaram que a presença de forro de PVC (manta plástica de
PVC de 200 micra) melhora o desempenho térmico do aviário e reduz os custos energéticos de aquecimento e
resfriamento da edificação.

5.4. Pinturas com cores claras e escuras:


A cor branca na face superior da cobertura possibilita uma alta refletividade solar.
A pintura branca do telhado pode reduzir o calor radiante em até 50% e diminuir a temperatura ao nível das
aves em 6 a 12oF (NILIPOUR, 1993). Uma fórmula de caiação que tem sido utilizada com sucesso consiste
em 9,1 kg de cal hidratada misturada com 19 litros de água e 1 litro de acetato de polivinil (TEETER, 1990).
A pintura externa dos telhados tem por objetivo minimizar os efeitos da incidência dos raios solares
sobre o telhado das granjas, impedindo deste modo, as altas temperaturas no interior dos galpões. Antes da
pintura é aconselhável fazer uma lavagem do telhado com sulfato de cobre, visando a retirada de limbo ou
crostas que estiverem aderidas na telha, facilitando assim, a fixação da tinta (10 kg de cal hidratada, 20 l de
água e 1 l de acetato de polivinil). Esta pintura possui durabilidade de um ano e é recomendada para telhas de
cimento amianto (ELIAN, 1986).
A pintura de cor preta na face inferior da cobertura diminui a refletividade reduzindo a CTR sobre as
aves. Quanto maior a radiação proveniente do solo aquecido e sombreado, maior a importância da pintura
negra na face interna da cobertura (TINÔCO, 1995a e 1996).
Em três dias de maior entalpia, dos períodos de outono e inverno, SEVEGNANI e NÄÄS (1998)
observaram que telhas cerâmicas sem pintura, juntamente com as telhas de cimento amianto com pintura em
látex apresentaram as menores temperaturas de globo negro quando comparadas à telhas de cimento amianto,
telhas de cimento amianto pintadas com tintas cerâmicas e telhas cerâmicas pintadas com tinta cerâmica, que
apresentaram os piores resultados. Como não foi observada diferença significativa, concluíram que a escolha
do tipo de telha deve se pautar em razões econômicas.

5.5. Uso de materiais isolantes:


O uso de materiais isolantes sobre as telhas (poliuretano e manta asfáltica com lâmina de alumínio),
sob as telhas (poliuretano, Eucatex, lã de vidro ou similares), ou mesmo formando um forro logo abaixo da
cobertura (Duralfoil) podem se constituir em ótimas proteções contra a radiação solar (TINÔCO, 1995a e
1996).
O uso de isolante térmico tipo lâmina refletiva, composta por “foil” de alumínio em ambas as faces,
unidas a um papel Kraft de alta densidade (Duralfoil), colocado à 15 cm abaixo do telhado, proporcionou
melhorias no ambiente interno do galpão que refletiram no desempenho dos frangos de corte e permitiram
aumentar a densidade de criação (OLIVEIRA et al., 1997). Os materiais isolantes tem como inconveniente o
seu elevado custo.

5.6. Materiais de grande inércia térmica:


Os materiais de grande inércia térmica (capacidade calorífica) apresentam a melhor proteção contra o
calor de insolação. Desta forma, o calor durante o dia é consumido para o aquecimento da cobertura e, durante
a noite, a cobertura tende a esfriar, de forma que o processo de transmissão de calor pela mesma é bastante
reduzido. Um exemplo é o concreto, que tem uma capacidade de proteção contra a insolação 5 vezes maior
que o Eucatex isolante de mesma espessura. As lajes, entretanto, não são usadas em abrigos de animais
domésticos devido principalmente ao seu alto custo (TINÔCO, 1995a e 1996). Materiais com grande
capacidade térmica (tijolos, concreto) podem ser utilizados com grandes vantagens em climas onde há grandes
variações de temperatura entre o dia e a noite. Estes materiais, compondo paredes e tetos espessos, reduzem a
amplitude de variação térmica diária dentro da construção, tornando a temperatura ambiente interna mais
moderada e constante, favorecendo o conforto térmico dos animais.

5.7. Comprimento do galpão:


Deve estar primariamente ligado às condições de manejo e características dos equipamentos a serem
utilizados. O comprimento em torno de 100 m tem sido bastante usado (BAÊTA, 1998).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 149

5.8. Largura do galpão:


No caso da avicultura, a largura do galpão está relacionada ao clima da região, ao projeto de
organização das gaiolas (postura) e organização dos ninhos (matrizes). Normalmente recomenda-se larguras
de 8 a 10 m para clima quente e úmido e larguras de 10 a 14 m para clima quente e seco (TINÔCO, 1995a e
1996). A largura do galpão tem grande influência no acondicionamento térmico interior, bem como em seu
custo. A largura de 12 m tem sido utilizada com mais freqüência e se mostrado adequada para o custo
estrutural (BAÊTA, 1995 e 1997).

5.9. Altura da cobertura (Pé direito):


Pode ser estabelecido em função da largura adotada, de forma que os dois parâmetros em conjunto
favoreçam a ventilação natural (Tabela 4), ou seja, quanto mais largo for o galpão, maior deverá ser a sua
altura.

Tabela 4. Altura do pé direito em função da largura do galpão.


Largura (m) Pé direito mínimo em climas quentes (m)
até 8 2,80
8a9 3,15
9 a 10 3,50
10 a 12 4,20
12 a 14 4,90
TINÔCO (1995a e 1996)

A altura do pé direito tem influência direta sobre a ventilação natural, sobre a quantidade de radiação
solar que poderá atingir o interior do galpão e sobre o fator de forma, que influi na troca de calor por radiação
entre o animal e a cobertura e entre o animal e o exterior, dentre outros. Pé direito muito alto, favorece o
acondicionamento térmico interior em condições de calor, enquanto que pé direito baixo favorece o
acondicionamento térmico interior em condições de frio (BAÊTA, 1995 e 1998).

5.10. Beirais:
Devem ser projetados para evitar a penetração de chuvas de vento e raios solares no interior do
galpão. Em regiões muito chuvosas aconselha-se inclinação de 45o em relação ao piso. Para o caso de
proteção dos raios solares pode-se determinar a largura do beiral pela fórmula: Face Norte = 23o 27’ + latitude
local; Face Sul = 23o 27’ - latitude local (TINÔCO, 1995a). De uma maneira geral, recomendam-se beirais de
1,5 a 2,5 m, em ambas as faces norte e sul do telhado, de acordo com o pé direito (TINÔCO, 1996).
Indiretamente o beiral influencia a ventilação natural devida ao termossifão. Bons resultados têm sido obtidos
com beiral de largura igual a 2 m (BAÊTA, 1995 e 1998).

5.11. Lanternins:
O lanternim, abertura na parte superior do telhado, tem a função de permitir a saída de ar quente,
principalmente durante o período de calor. Resultados experimentais têm mostrado que o fluxo de ar através
do lanternim é diretamente proporcional à sua área de abertura, à diferença de altura entre as aberturas de
entrada e saída de ar, à área das aberturas de entrada de ar e à diferença entre as temperaturas internas e
externas (BAÊTA, 1995 e 1998).
O emprego do lanternim auxilia a ventilação natural, devido ao efeito do termossifão, e atua
favorecendo as condições ambientais internas do galpão. Com o emprego de técnicas de simulação verificou-
se que, para um galpão de 12 m de largura, 96 m de comprimento, 3 m de pé direito e cobertura de cimento
amianto com inclinação de 32%, um lanternim com abertura de 1,5 m permitiria a renovação total do ar em
aproximadamente metade do tempo que gastaria na ausência do mesmo (HARDOIM et al., 1990).
São recomendados para galpões com largura iguais ou superiores a 8 m, com uma abertura de no
mínimo 10 % da largura do galpão e com uma sobreposição de telhados com afastamento mínimo de 0,40 m.
Em regiões expostas a chuvas de vento ou com grandes amplitudes térmicas, os lanternins deverão ser
equipados com sistema de fechamento (TINÔCO, 1995a e 1996).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 150

Na Tabela 5, podemos observar que o comportamento térmico de galpões com lanternim de dupla
abertura é melhor que o de abertura simples e, definitivamente melhor do que o sem abertura.

Tabela 5. Comparação entre o desempenho térmico de três modelos de telhado, no período de verão.
Horário Média do índice de conforto térmico (THI)
Sem lanternim Lanternim duplo Lanternim simples
8h 75,18a 72,21a 73,60a
11 h 83,39a 79,00b 80,33ab
14 h 85,55a 81,00b 82,13ab
17 h 77,43a 74,44a 75,25a
NÄÄS (1994).

5.12. Inclinação do telhado:


Afeta o condicionamento térmico no interior do galpão, principalmente em dois pontos: mudando o
coeficiente de forma correspondente às trocas de calor por radiação entre o animal e o telhado, e modificando
a altura entre as aberturas de entrada e saída de ar (lanternim), que quanto maior a inclinação, maior será a
ventilação devida ao termossifão. Inclinações entre 20 e 30o têm sido consideradas adequadas, atendendo
condicionantes estruturais e térmicas ambientais (BAÊTA, 1995 e 1998).

5.13. Cuidados com o espaço exterior:


A cobertura do solo pode afetar a CTR sobre as aves devido a diferença de refletividade dos diferentes
tipos de materiais e cores. Melhor opção para climas quentes é gramar as laterais do galpão. Presença de
árvores na face Leste ou Oeste é desejável para evitar a incidência solar direta dentro do galpão. A vegetação,
em geral, cria na região um microclima mais ameno (TINÔCO, 1995a e 1996). Através da fotossíntese, há
transformação de energia solar em energia química latente, sob a forma de compostos de carbono e
hidrogênio, reduzindo a incidência e absorção de radiação pelos animais (BAÊTA, 1998).
A cobertura de grama ao redor do galpão reduz a quantidade de radiação refletida, diminuindo a
entrada de calor para o interior do galpão (TEETER, 1990). Porém, o gramado deve ser mantido abaixo de 15
cm de altura para não obstruir a ventilação e não permitir a propagação de ratos e moscas (NILIPOUR, 1993).
Em condições de calor, é imprescindível a presença de vegetação cobrindo o solo ao redor de uma
instalação, bem como de árvores altas que possam sombrear o telhado, sem contudo prejudicar a ventilação
natural, oriunda de correntes de ar, que é também fundamental no processo do condicionamento térmico.
Naturalmente as árvores deverão ser caducas, para não interceptar a radiação solar sobre o telhado, no inverno
(BAÊTA, 1998).

5.14. Renques de vegetação e quebra ventos:


Os quebra-ventos naturais ou artificiais se destinam a deter ou reduzir a ação de ventos fortes ou
muito frios sobre as construções. Em sua maioria são naturais, constituídos de renques de vegetação (pinus,
casuarina, eucalipto, milho, acácia, etc), dispostos perpendicularmente à direção dos ventos dominantes. Sua
utilização mais freqüente no Brasil têm sido como proteção sanitária, funcionando como cordões de
isolamento entre núcleos. Os renques de vegetação podem ter um objetivo inverso ao dos quebra-ventos, ou
seja, têm a finalidade de criarem um microclima com temperatura mais amena que a da vizinhança dos
galpões avícolas, incrementando, assim, a ventilação natural (TINÔCO, 1995a e 1996).

5.15. Ventilação natural:


É o movimento de ar através das construções abertas causado por ventos ou diferenças de
temperaturas, o qual permite alterações e controle da pureza do ar, suprindo O2 e eliminando amônia, CO2 e
outros gases nocivos, excesso de umidade e odores (ventilação com finalidade higiênica), possibilitando,
também, dentro de certos limites controlar a temperatura e umidade do ar nos ambientes habitados (ventilação
com finalidade térmica) (TINÔCO, 1995a e 1996).

Segundo TINÔCO (1995a e 1996), a ventilação natural se baseia nos seguintes princípios:
a) Camadas de ar distintas no interior do galpão: 1) superior, de ar quente, elevado teor de ácido sulfídrico e
amônia, 2) média, de ar fresco recém-introduzido e 3) inferior, de ar frio, que se aquece rapidamente em
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 151

contato com as aves e se vicia de CO2. Assim, a temperatura do ar varia em diferentes alturas, de tal forma
que a variação de densidade do ar cria diferenças de pressão e ocorre uma ascensão vertical do ar quente. O
ar quente sobe sendo substituído pelo ar frio que entra por aberturas abaixo (efeito chaminé ou
termossifão). Assim, ressalta-se que as cortinas devem abrir de baixo para cima até o meio do pé direito do
galpão, e abrir de cima para baixo até o meio do galpão, onde se juntam. Dessa forma, se facilita a retirada
da umidade próxima a cama e do ar quente que se acumula próximo à cobertura.
b) Ventilação estática horizontal: corrente de ar de um lado do galpão (com pressão atmosférica maior) para o
outro (com pressão atmosférica menor). Esta diferença de pressão pode ser causada pela ação dos ventos
ou pela desigualdade de temperatura nas laterais do galpão, devido a sua diferente orientação em relação ao
Sol.
c) Ventilação estática vertical: quando a temperatura interna de um local, dotado de entradas e saídas de ar, é
superior a do ar exterior, estabelecem-se correntes de ar que tendem a equilibrar ambas.

Segundo NÄÄS (1989), a velocidade máxima de movimentação de ar ao redor do animal confinado


não deve exceder 0,2 m/s.

5.16. Lateral do galpão:


A lateral do galpão é composta pela mureta, na parte inferior, e por uma tela e uma cortina que vão até
a cobertura. A mureta deverá ter a menor altura possível, para permitir a entrada de ar ao nível das aves.
Porém não deve ser tão baixa que permita a entrada de água de chuva e que a cama seja jogada fora pelas
aves. A altura de 20 cm tem-se mostrado satisfatória (BAÊTA, 1995 e 1998).
Para atender inverno e verão, recomenda-se que a cortina seja afixada a dois terços da altura do pé
direito e que em condições de frio seja aberta de cima para baixo, e em condições de verão, de baixo para
cima. Para se obter o máximo de ventilação natural devido ao termossifão e devido ao vento, deve-se abrir as
duas partes, juntando-as na altura de fixação (BAÊTA, 1995 e 1998).
A tela do galpão deve ser mantida limpa, pois o pó acumulado tende a obstruir a ventilação, piorando
a qualidade do ambiente interno (NILIPOUR, 1993).

6. Piso:
O piso do galpão de ser um pouco elevado em relação à superfície de terraplanagem para facilitar
entrada de ar fresco e a drenagem de água servidas e pluviais. Pisos de concreto são os mais utilizados e
permitem uma melhor limpeza e desinfecção do galpão, porém, são de custo mais elevado. Os pisos de chão
batido são mais baratos mas de difícil desinfecção.

7. Água:
A água, preferivelmente a uma temperatura fresca, é essencial para os animais, em abundância
(Tabela 6). A água também serve como agente de resfriamento para os animais através do processo de
evaporação (resfriamento do ar, resfriamento de superfícies das instalações e/ou resfriamento por evaporação
na pele e vias respiratórios do animal).

Tabela 6. Necessidades médias de água para animais mantidos a 27oC.


Animais Litros/dia
Bovinos 64,0*
Suínos 9,5
Ovinos 5,8**
Galinhas e frangos 0,25
Perus 1,25
* Vacas leiteiras, produzindo 25 litros/dia ou mais de leite, requerem até 95 litros/dia de água, sob altas
temperaturas;
** Cordeiros em crescimento (30 kg) consomem 5 litros/dia. Animais de 65 kg consomem até 9,5 litros/dia
(HAHN, 1993).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 152

A temperatura da água de bebida é um dos fatores importantes na regulação da temperatura corporal


dos frangos de corte. Assim, quando em situações de estresse, a temperatura da água de bebida deve estar ao
redor de 20 a 24oC, pois auxilia na redução da temperatura corporal (MACARI et al., 1994). Neste sentido, os
efeitos benéficos do aumento no consumo de água fria ocorrem em função de um aumento tanto nas perdas de
calor sensíveis (condução, convecção e irradiação) como nas insensíveis (evaporação).
Em regiões de clima quente, alguns cuidados devem ser tomados com a água de bebida fornecida às
aves: proteção de fonte tipo caxambú (pedras), mangueiras bem enterradas, caixas d’água na sombra ou
enterrada, canos dentro do aviário enterrados, torneira no final do aviário para trocar a água do encanamento,
uso de gelo na água e troca de água dos bebedouros (FABRÍCIO, 1994).

II. ESTRESSE CALÓRICO: MEIOS ARTIFICIAIS DE CONDICIONAMENTO.


A primeira condição de conforto térmico dos animais, em climas quentes, é que o balanço térmico seja
nulo, ou seja o calor produzido pelo organismo animal mais o calor ganho do ambiente seja igual ao calor
perdido através de trocas térmicas por radiação, convecção, condução e evaporação (NÄÄS, 1995). Na
maioria dos casos, em épocas mais quentes do ano, o condicionamento térmico natural dos galpões não é
suficiente para manter as aves em condições de conforto térmico, de modo que precisamos lançar mão de
recursos mecânicos de ventilação e resfriamento do ar do interior dos galpões.
São vários os tipos de sistemas de acondicionamento térmico artificiais, possíveis de utilização em
galpões abertos. Contudo para o emprego destes sistemas é conveniente que, em primeira instância, a
instalação atenda às recomendações do acondicionamento térmico natural (TINÔCO, 1998).

1. Ventilação forçada (dinâmica):


A ventilação adequada é um meio eficiente de reduzir a temperatura dentro das instalações, por
aumentar as trocas térmicas por convecção. A ventilação natural representa o principal meio de dispersão de
calor da edificação e, essa perda de calor aumenta linearmente com a velocidade do ar. Assim, pode-se
incrementar as trocas térmicas em um galpão para avicultura intensiva, através da convecção forçada, ou seja,
o uso de aberturas associadas a ventiladores e exaustores. A melhoria nas instalações reflete em uma melhor
eficiência alimentar, melhor crescimento, melhor produção, melhor controle de enfermidades e parasitas,
redução da mortalidade e melhor condição de trabalho dos trabalhadores (NÄÄS, 1995).
Segundo TINÔCO (1996 e 1998), a ventilação mecânica, além de ser independente das condições
atmosféricas, apresenta as vantagens de possibilitar o tratamento do ar (filtragem, umidificação, secagem, etc.)
e a sua melhor distribuição.
A instalação de ventiladores, bem posicionados e em número suficiente é um método de comprovada
eficácia no combate ao estresse pelo calor. A quantidade e o posicionamento dos ventiladores estão
diretamente relacionados com as características das granjas (ELIAN, 1986). O dimensionamento adequado
dos ventiladores depende da vazão dos ventiladores, do volume do galpão, do número total de aves adultas
alojadas, das temperaturas externa e interna, da velocidade dos ventos e da eficiência das aberturas (NÄÄS,
1995).
A colocação dos ventiladores deve ser em contraposição ao fluxo gerado pelos demais equipamentos
colocados, ou seja deve-se optar pela colocação dos ventiladores de maneira a formar uma turbulência maior
possível, para aumentar as perdas por convecção (NÄÄS, 1995).

1.1. Sistemas de ventilação de pressão positiva: os ventiladores forçam o ar externo para dentro da
construção, com aumento da pressão do ar interno, movimentando o ar interno para fora (TINÔCO, 1998).
Devem ser dispostos com o fluxo no sentido da largura do galpão, de forma a succionar o ar fresco do
exterior, injetando-o para o interior e expulsando o ar viciado do outro lado. Assim, os ventiladores devem ser
posicionados no sentido do vento dominante. No Brasil, a maioria dos ventos dominantes vem do Sul
(TINÔCO, 1995b e 1998).
Os ventiladores devem estar à altura correspondente à metade do pé direito da construção, com o jato
direcionado levemente para baixo, sem incidir diretamente sobre as aves. A movimentação do ar em torno das
aves é capaz de provocar uma redução da sua sensação térmica, em até 8oC, quando alcança a velocidade de 2
m/s (TINÔCO, 1998). A velocidade máxima para movimentação de ar perto das reprodutoras adultas,
recomendada por vários autores, não deve exceder 0,2 m/s no inverno e 0,5 m/s no verão. Para aves jovens
este limite é bem menor (TINÔCO, 1995b). Segundo NÄÄS (1995), a velocidade máxima do vento nas aves
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 153

confinadas não deve ultrapassar 0,2 m/s, que determina limitação no uso abusivo de ventiladores. Quando a
velocidade do vento perto dos animais ultrapassar a 0,2 m/s irá acarretar problemas no trato respiratório.
Mitchell (1985) citado por NÄÄS (1997), estudando o efeito da ventilação em aves de corte adultas,
verificou que aves submetidas a 30oC, tiveram uma redução em sua temperatura superficial de 0,6oC, quando a
velocidade do vento passa de 0,3 para 1,05 m/s; contudo em aves submetidas a 20oC, este efeito não foi
observado.
A ventilação forçada, embora bastante vantajosa em relação às condições naturais, não é
satisfatoriamente eficiente, pois não possibilita a redução da temperatura do ar. A temperatura mínima que se
consegue obter no interior do galpão é exatamente aquela do ar externo usado na ventilação (TINÔCO, 1998).
Assim, o favorecimento da ventilação na dissipação de calor se anula quando a temperatura do ar se equilibra
com a do corpo da ave, sendo prejudicial para temperaturas do ar mais elevadas (TINÔCO, 1994).

a) sistema de ventilação em túnel: é utilizado em galpões com a lateral totalmente fechada por cortinas e
com aberturas nas extremidades, sem lanternins ou com os lanternis vedados. Os ventiladores são
posicionados ao longo do galpão de forma a succionar o ar de uma extremidade e levá-lo para fora na
extremidade oposta, formando uma corrente de ar que pode chegar a 2,5 m/s, gerando uma sensação de
conforto térmico nas aves que pode chegar a 6 a 8oC, abaixo da temperatura de bulbo seco. Quando a
ventilação em túnel for equipada com sistema de nebulização pode-se obter um arrefecimento adicional do
ar.

b) ventilação lateral: é utilizada em galpões com a lateral aberta; ventiladores são posicionados
transversalmente ao comprimento do galpão, no sentido do vento dominante, aproveitando assim a
ventilação natural.

1.2. Sistemas de ventilação de pressão negativa (Exaustores): força a saída do ar criando um vácuo parcial
na construção (pressão negativa), que succiona ar externo para o interior da construção. É o sistema de
ventilação mais comum nos abrigos que dispõe de controle ambiente, como no caso de incubatórios e galpões
climatizados (TINÔCO, 1998).

2. Diminuição da temperatura do ar (Sistemas de Resfriamento Adiabático Evaporativo - SRAE):


Uma das formas mais efetivas de resfriamento do ar que podem ser adotadas em instalações abertas ou
fechadas é o resfriamento adiabático evaporativo, o qual possibilita uma redução substancial da temperatura
do ar de até 11oC nas regiões mais secas e, em média 6oC nas condições brasileiras (TINÔCO, 1998).
O SRAE é capaz de tornar um sistema de ventilação comum mais efetivo, desde que os ventiladores
sejam posicionados de forma a introduzir ar externo ao ambiente, no sentido da largura do galpão (TINÔCO,
1994) e pode ser obtido por vários processos.

2.1. Resfriamento do ar interno através de nebulização associada à ventilação positiva.


O sistema de nebulização consiste de um conjunto de bicos pulverizadores instalados estrategicamente
no interior do galpão. Quando acionado, uma nuvem de gotículas de água espalhadas com o auxílio dos
ventiladores, toma conta do ambiente e faz com que a temperatura interna do galpão caia 4 a 5oC após o
funcionamento por cerca de 40 minutos (ELIAN, 1986).
Um nebulizador bem calibrado é capaz de dividir uma gota de água limpa em 611 gotículas (com
diâmetro de 0,05M), com área total de 850 vezes maior. Ao passar do estado líquido para o gasoso, a água
retira do ambiente 584 kcal para cada kg de água evaporada. Na prática, os trabalhos conduzidos no Brasil,
detectaram uma redução média de 6oC com apenas 5 min de uso dos nebulizadores (TINÔCO, 1995b e 1996).
A nebulização deve obedecer aos princípios físicos. Se a umidade do ar for alta, acima de 75 a 80%,
não é aconselhada a nebulização. Outro aspecto importante é o tamanho da gotícula de água do nebulizador.
Quanto menor o tamanho da gotícula, mais efetiva, sob aspectos da termorregulação será a nebulização. A
eficácia será ainda maior se a temperatura da água de nebulização for mais ou menos 10oC menor do que a
temperatura da pele do frango (MACARI et al., 1994).
Segundo NÄÄS (1995 e 1997), a associação de convecção forçada com um sistema que force a troca
água em vapor, por processo adiabático, como nebulizadores ou cortinas de água, melhora bastante o
desempenho da ventilação, no sentido de remoção da carga térmica por convecção e por evaporação. A
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 154

nebulização sem a utilização de ventiladores pode levar ao umidecimento da cama ou ao aumento exagerado
de umidade no ambiente. Segundo TINÔCO (1998), a utilização do sistema de nebulização deve ser associada
à ventilação por pressão positiva ou negativa.

2.2. Pulverização de água frontalmente ao ventilador ou diretamente sobre as aves.


É bastante questionável devido ao choque térmico que provoca nas aves e ao umidecimento do
ambiente e da cama. Seu uso tem se restringido à situações emergenciais nos picos de estresse térmico em
avicultura de corte e postura (TINÔCO, 1995b e 1996).

2.3. Sistema de material poroso umedecido (“Pad Cooling”) acoplado a exaustores na outra
extremidade do galpão (ventilação por pressão negativa) – SMPTV (sistema de material poroso
associado à túnel de vento).
É um dos mais efetivos para ser empregado em galpões avícolas e consiste em forçar a passagem de ar
por material poroso umedecido por gotejador de água (radiador ou “pad cooling”). Com os exaustores em
funcionamento, ocorre sucção do ar através do material poroso e no sentido do túnel de vento, interno ao
galpão. Assim, o ar externo é resfriado e conduzido por ventilação ao interior do galpão (TINÔCO, 1994 e
1995b).
Este sistema é utilizado, principalmente, em galpões climatizados que utilizam ventilação negativa.
Nas extremidades laterais de uma das cabeceiras do galpão são dispostas aberturas onde é instalado um
sistema de placas evaporativas para o resfriamento do ar que entra. Na extremidade oposta, são colocados os
ventiladores (exaustores), dimensionados para possibilitar a renovação de todo o ar do galpão a cada minuto, a
uma velocidade que pode chegar de 2 a 2,5 m/s. O bom funcionamento do sistema depende da perfeita
vedação do galpão, evitando-se perdas de ar (TINÔCO, 1998).

2.4. Aspersão de água sobre o telhado.


A aspersão de água sobre o telhado é utilizada para reduzir a temperatura da telha e circunvizinhança
nas horas de calor intenso. Deve-se, neste caso, equipar o telhado com calhas no beiral para recolhimento da
água e possibilitar seu reaproveitamento e evitar umidecimento ao redor do galpão (TINÔCO, 1995a e 1996).
A aspersão de água, em intervalos regulares, nas horas mais quentes do dia, diretamente sobre os
telhados dos galpões, proporciona uma queda da temperatura interna do galpão, porém só é viável para granjas
que possuam água em abundância próxima à criação (ELIAN, 1986).
Para diminuir as perdas de água no processo, pode-se utilizar micro aspersores no telhado. A
aplicação de um sistema de micro-asperção intermitente (5 min ligado/10 min desligado), em coberturas com
telha ondulada de cimento amianto, tem o potencial de proporcionar o seguinte retorno econômico: a) um
acréscimo no ganho de peso diário durante a última semana de criação (42-49 dias) variando de 58 g/dia.ave,
para uma instalação com ventilação deficiente, a 28 g/dia.ave, para uma instalação bem ventilada (sujeita ao
efeito de vento e termossifão); b) para casos de ventilação muito deficiente, o sistema se paga com a criação
de 4 lotes de frangos, enquanto que, para situações de melhores condições de ventilação natural, o sistema se
paga com a criação de cerca de 8 lotes de frangos de corte (RODRIGUES e NÄÄS, 1998).

2.5. Considerações gerais sobre os sistemas de resfriamento adiabático evaporativo.


O SMPVT funciona mais eficientemente que o SACVI (sistema de aspersão de água sobre a cobertura
associada com ventilação interna) na redução da temperatura interna dos galpões e que as aves de corte,
especialmente a partir da 4a semana de idade, tem sua produtividade muito comprometida pelas condições de
temperaturas elevadas (TINÔCO et al., 1993).
Com relação a aplicação dos sistemas de resfriamento adiabático evaporativo para matrizes avícolas
pesadas verificou-se uma melhoria no conforto térmico, e conseqüentemente na produtividade (produção de
ovos, ovos incubáveis e taxa de eclosão), segundo a seguinte ordem do melhor para o pior: sistema de material
poroso e tubo, sistema de nebulização e ventilação, aspersão sobre a cobertura, sistema natural e ventilação
(TINÔCO, 1995b).
A eficiência do SRAE é diretamente proporcional a diferença entre as temperaturas de bulbo seco e de
bulbo úmido (depressão psicrométrica), típica da região. Assim, o SRAE é mais eficiente em regiões quentes e
secas, entretanto , é possível notar no ciclo diurno que a maior temperatura de bulbo seco é acompanhada pela
menor umidade relativa do ar, possibilitando o uso do SRAE nas horas de maior estresse calórico (TINÔCO,
1994 e 1996).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 155

Alguns trabalhos questionam o uso de técnicas de resfriamento que promovem o acréscimo de


umidade relativa ao ambiente (a exemplo do SRAE), alegando que a alta umidade relativa decresce a
habilidade das aves em perderem calor pela respiração; entretanto, o efeito benéfico da redução das altas
temperaturas ambientes (bulbo seco), para as aves, excede a desvantagem oriunda da elevação da umidade
relativa do ar (TINÔCO, 1994).
FABRÍCIO (1994), num levantamento de lotes de frangos de corte criados com e sem nebulizador nos
meses de novembro a dezembro de 1993 na Sadia Concórdia - Unidade de Chapecó, verificou que a
mortalidade foi 2% menor nos frangos criados com nebulização com a mesma idade. A conversão alimentar e
o índice de eficiência europeu (IEE) foram melhores nas aves submetidas a nebulização (Tabela 7).

Tabela 7. Diferença de performance entre lotes criados com e sem o uso do nebulizador.
Índices Geral Com nebulizador Sem nebulizador Diferença com e
sem nebulizador
Mortalidade, % 6,66 5,82 7,82 -2,00
Idade média, dias 47,72 47,67 47,8 -0,13
Peso médio, g 2,559 2,553 2,567 -0,014
Conversão alimentar 2,086 2,067 2,114 -0,047
I.E.E. 240,46 244,27 234,99 9,28
No de aves 932.100 546.600 385.500
FABRÍCIO (1994).

MOURA e NÄÄS (1998) verificaram que os aviários com “pad cooling” apresentavam uma melhor
distribuição da temperatura no seu interior quando comparados a aviários com sistema de ventilação tipo
túnel. No que se refere ao peso vivo líquido obtido, este foi em média 800 kg maior nos dois lotes em estudo
para o aviário com “pad cooling” em relação ao com sistema de ventilação tipo túnel. Não foram observadas
diferenças significativas para conversão alimentar e viabilidade.
SILVA e NÄÄS (1998) trabalhando com nebulização em galpões de poedeiras obtiveram uma
redução na temperatura interna do aviário, uma redução na temperatura de globo negro e nos índices de
conforto térmico estudados (BGHI, THI, CTR) e uma melhora na produção total de ovos.
Segundo TINÔCO (1994 e 1996), a utilização do SRAE deve ser acompanhado de um umidostato e
um termostato, que possibilitem ao tratador ligá-lo a partir de uma determinada temperatura (geralmente 24-
25oC) e desligá-lo a partir de determinada umidade relativa do ar (geralmente em torno de 75 a 80%).
O controle automático, quando utilizado no SRAE, elimina trabalhos monótonos, como o
monitoramento da temperatura e umidade relativa do ar, elimina erros de leitura, diminui o número de horas
com mão-de-obra para a mesma produção e melhor uso da energia elétrica. Quando a temperatura do ar no
interior do galpão ultrapassar 25oC, os ventiladores são acionados imediatamente, e desligados
automaticamente quando a temperatura atingir valores inferiores a 25oC, por meio de um termostato situado
na altura das aves. Após o funcionamento do SRAE, quando a umidade do ar atingir 75% o fornecimento de
água é desligado automaticamente por meio de um umidostato (fio de cabelo) situado na altura das aves
(ABREU et al., 1995).
Os efeitos da aspersão, forro, pintura e diferentes materiais isolantes em associação às coberturas de
amianto, alumínio e barro, sobre o conforto térmico ambiente das aves foi demonstrado por MORAES et al.
(1998), conforme mostrado na Tabela 8.
Segundo CANEVER (1998), a climatização têm trazido benefícios econômicos para os primeiros
adotantes, porém, produtores quer obtiveram bons coeficientes técnicos, mesmo com sistemas manuais, serão
bem remunerados. Aqueles que apresentam escassez de mão-de-obra, ou regiões onde a remuneração é alta,
ganharão com a adoção de sistemas mais tecnificados.
A criação de frangos de corte em alta densidade tornou-se, nestes últimos dois anos, a palavra de
ordem na avicultura brasileira. Considerando-se, entretanto, os problemas decorrentes do estresse calórico no
desempenho avícola, a criação em alta densidade só se torna possível e viável com a utilização de sistemas de
acondicionamento de ambiente que sejam compatíveis com a realidade climática e com o tipo de instalações
avícolas usados em cada região do Brasil (TINÔCO, 1998).
Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 156

Tabela 8. Carga térmica de radiação à nível das aves.


Tratamento CTR (W/m2)
Barro com aspersão sobre a cobertura 485,93 A
Amianto com forro de polietileno 486,26 A
Alumínio com aspersão sobre a cobertura 491,31 B
Amianto com aspersão sobre a cobertura 492,80 B
Alumínio com poliuretano sobre a cobertura 497,11 C
Alumínio com forro de polietileno 499,76 C
Barro com revestimento de Duralfoil 499,88 C
Barro com forro de polietileno 500,71 C
Alumínio testemunha 502,96 D
Barro testemunha 503,81 D
Amianto com poliuretano sobre a cobertura 503,83 D
Amianto testemunha 503,95 D
Amianto com revestimento de Duralfoil 504,26 D
Alumínio com poliuretano sanduíche 504,41 D
Alumínio com revestimento de Duralfoil 505,48 D
Amianto com pintura Urutherm 507,42 E
Amianto com poliuretano sob a cobertura 510,07 E
Alumínio com poliuretano sob a cobertura 511,45 E
MORAES et al. (1998).

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Disciplina de Bioclimatologia – Ano Letivo de 2010 - Zootecnia. 158

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1) Que características deve ter um terreno para ser um bom local para se instalar um aviário?
2) Qual a orientação recomendada para os galpões? Por que?
3) Qual a distância mínimo entre galpões de frangos de corte?
4) O que é oitão e quais os tipos de oitões são utilizados em aviários para frangos de corte?
5) Cite 5 tipos de telha que podem ser utilizadas em galpões para criação de aves e suínos, bem como as
vantagesn e desvantagens de sua utilização?
6) Numa granja já construída, com cobertura de telhas de cimento amianto e pé direito baixo, quais recursos
podemos lançar mão para diminuir a carga térmica radiante incidente sobre as aves?
7) Como a altura e a largura do galpão e o tamanho do beiral se inter-relacionam
8) O que é lanternim? Quais as vantagens e desvantagens da sua utilização?
9) Quais os meios artificiais de condicionamento do ambiente (equipamentos) que podem ser utilizados para
melhorar as condições de microclima no interior de um galpão e minimizar os efeitos do estresse calórico?
Comente.
10) No seu entender, para se instalar um sistema de resfriamento adiabático em uma determinada região, o que
se deve levar em consideração? Se possível, defina uma ordem de importância.

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