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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO 4
SIMBOLOGIA 5
CAPÍTULO 1: NUTRIENTES E SEU USO
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA NUTRIÇÃO ANIMAL 6
Um pouco de História
Considerações sobre alimentação animal
Conceitos iniciais
Comparação entra a composição dos animais e vegetais
CLASSIFICAÇÃO DOS NUTRIENTES 12
Carboidratos
Lipídios
Proteínas
DIGESTIBILIDADE 22
Digestibilidade aparente vs verdadeira
Determinação da digestibilidade
PROCESSOS DIGESTIVOS NAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS 25
CAPITULO 2: METABOLISMO DOS NUTRIENTES
METABOLISMO DA ÁGUA 39
Estrutura da água
Funções da água
Distribuição na água no organismos animal
Absorção da água
Exigência de água
Qualidade da água
Tratamento da água
METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 48
Funções metabólicas dos CHO’s nos monogástricos
Fontes de glicose sanguínea
Gliconeogênese vs Glicólise
Conversão de glicose em gordura
Oxidação completa da glicose em CO2 e água, produzindo ATP
Reutilização da glicose via Ciclo de Cori
Hipertemia maligna e pickled pigs

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METABOLISMO DE LIPÍDIOS 49
Funções da gordura
Síntese dos ácidos graxos
Síntese dos triglicerídeos
Mobilizição dos TG
Utilização dos AG para produção de energia
Deficiência genética em carnitina ou em carnitina palmitoil transferase
Influência dos CHO’s e do colesterol sobre o metabolismo de lipídios
Regulação do colesterol plasmático
Complexos de lipídios circulantes no sangue
Estabilidade das gorduras
Produção de calor através do tecido marrom
METABOLISMO DE PROTEÍNAS 57
Síntese, degradação e turnover de proteínas
Aminoácidos
Tranporte de AA entre orgãos
Ciclo glicose-alanina
Funções especiais de alguns AA
Desbalanço entre AA
Antagonismo entre AA
Algumas doenças causadas por erros de metabolismo envolvendo
fenilalanina
Síntese da uréia e ácido úrico
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS PROTEÍNAS 65
Proteína bruta
Proteína digestível
Medidas de qualidade protéica
Valor biológico ou balanço de nitrogênio
Escore químico
Índice de AA essenciais (IAAE)
Ensaios biológicos
Qualidade da proteína para ruminantes
METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS, LIPÍDIOS E PROTEÍNAS NOS
RUMINANTES 71
Carboidratos
Gorduras
Proteínas
O uso da uréia (NNP)
METABOLISMO DE MINERAIS E VITAMINAS 79

2
DOENÇAS METABÓLICAS 86
Tetania das pastagens ou hipomagnesemia
Timpanismo
Febre do leite
Síndrome da vaca gorda
Acidose láctica
Laminite
Cetose ou toxemia da gestação
Problemas metabólicos em função da mudança de alimentação
CAPÍTULO 3:USO DOS NUTRIENTES PARA MANTENÇA E
PRODUÇÃO
NECESSIDADES ENERGÉTICAS DOS ANIMAIS 94
Metabolismo basal
Fluxo da energia dos alimentos no organismo
MÉTODOS PARA MEDIR PRODUÇÃO DE CALOR E RETENÇÃO DE
ENERGIA 100
Calorimetria indireta
Balanço de carbono e nitrogênio
NECESSIDADES PROTÉICAS 102
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS ANIMAIS
Mantença ou manutenção corporal 105
Produção
BIBLIOGRAFIA 117

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APRESENTAÇÃO

Tenho dedicado muito de meu trabalho na Universidade como professora de graduação,


principalmente na area de nutrição e alimentação dos animais domésticos. Desta forma,
trabalhando com estudantes de Agronomia e Veterinaria, em uma fase intermediária dos cursos,
percebo muitas falhas em nosso sistema de ensino de terceiro grau: turmas muito grandes, elevada
carga horária, dissociação entre conteúdos, fraca formação dos alunos em conteúdos básicos,
dificuldades de várias ordens em associar teoria e prática, etc… Também tenho visto como é difícil
para o aluno libertar-se deste conhecido sistema e decorre daí uma das peculiaridades dos
estudantes que convivo: a maioria lê muito pouco. Grande parte dos alunos faz um curso de
graduação baseada nos materiais de aula, na maioria das vezes transparências, que contêm
informações pontuais, servindo muito bem como um guia, para o professor nas aulas expositivas,
mas de pouco valor para leituras futuras, estudo e sedimentação de conceitos fundamentais, por
parte dos alunos.
Por isso decidi organizar esta apostila. Ela não tem por objetivo esgotar os assuntos
apresentados, nem ser um trabalho de revelância acadêmico-científica. Tem sim, o objetivo de
auxiliar os alunos de graduação na descoberta da área de nutrição, suas relações com outras áres,
como a bioquímica, e de servir como material didático para as aulas em questão e quem sabe
incentivá-los a outras leituras.

Professora Andréa Machado Leal Ribeiro

Agradecimento
Agradeço ao Professor Enio Rosa Prates pela ajude na correção dos textos e por suas
valiosas idéias.

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SIMBOLOGIA

Nesta apostila serão usadas as seguintes abreviaturas:

E ENERGIA
AA AMINOÁCIDOS
AAE AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS
AANE AMINOÁCIDOS NÃO-ESSENCIAIS
AG ÁCIDOS GRAXOS
AGV ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS
CHO’S CARBOIDRATOS
TG TRIGLICERÍDIOS
N NITROGÊNIO
NNP NITROGÊNIO NÀO-PROTÉICO
ÁC ÁCIDO
DIG DIGESTIBILIDADE
ID INTSTINO DELGADO
TGI TRATO GASTRINTESTINAL
C CARBONO

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA NUTRIÇÃO ANIMAL

Uma das mais importantes características dos organismos é sua habilidade em capturar,
transduzir, usar e conservar energia (E) para a continuidade da vida. No nosso planeta, a vida
depende do fluxo contínuo de E que é emitida do espaço através da radiação eletromagnética.
Alcançando a terra, a E é capturada por moléculas de clorofila presente nas plantas verdes e
bactérias fotossintéticas que empregam esta E para reduzir CO2 em glicídios e outros componentes.

E=luz
6CO2 + H20 C6H12602

A energia capturada dirige o processo da vida de praticamente todos os organismos


unicelulares até multivertebrados. Assim, os organismos podem ser vistos como máquinas
bioquímicas que extraem energia química dos compostos orgânicos, pelo processo do catabolismo
(desdobramento dos nutrientes), e conectam-na em funções que sustentam a vida.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A importância de uma alimentação de boa qualidade para a saúde dos seres vivos é
conhecida desde a antigüidade. Hipócrates, o Pai da Medicina, dizia que “os alimentos
mesquinhos debilitam o organismo”. Naqueles tempos, os produtos de origem animal eram
considerados de alto valor alimentício porque tinham composição semelhante à do organismo
humano. Entretanto, foi graças à química e a bioquímica que os maiores avanços na área de
nutrição ocorreram e Lavoisier (1743 a 1794), o pai da química, também é considerado o pai da
nutrição.
Até o século XIX considerava-se que as necessidades deviam ser cobertas por 3 nutrientes
essenciais: PROTÍDIOS, GLICÍDIOS e LIPÍDIOS. Mas ao usar-se estes alimentos purificados, viu-
se que não eram suficientes, pois os animais apresentavam sintomas de deficiências nutricionais.
Hoje sabe-se que as exigências situam-se em torno de 50 fatores nutricionais e além
daqueles acima mencionados ainda há os minerais, as vitaminas e a água Esta última, apesar de
parecer óbvia, muitas vezes não recebe a devida importância e consideração tanto sob o aspecto
quantitativo como qualitativo.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE ALIMENTAÇÃO ANIMAL

 O setor de alimentação animal é um importante elo dentro da agroindústria brasileira. Utiliza


anualmente quase 60% da produção nacional de milho, consome 35% da produção de farelo de
soja, representando assim um importante cliente da produção agrícola brasileira. Movimenta
uma indústria química para a produção de insumos tais como vitaminas, aminoácidos, aditivos,
etc... para a nutrição animal.

 É também um importante polo de desenvolvimento tecnológico para a produção de proteína


animal para alimentação humana, pois representa uma base sólida para a produção de carne,
ovos, leite, etc.

 A indústria de alimentação animal movimenta anualmente 28,6 milhões de toneladas de produto


que representou no ano de 1997 algo ao redor de US$ 6 bilhões (FONTE: Alimentação animal,
janeiro, fev., 1998).

 60 a 80% do custo da produção animal é representado pela alimentação. Para aves e suínos este
percentual fica em torno de 70%, enquanto que para leite e carne é de 50-60%(animais em
confinamento).

 Mais de 30% do PIB nacional vem do Agrobussines e neste, a indústria de transformação tem
um papel importante.

 Fome é problema mundial, mesmo que setorizado. Incluem-se aí principalmente países do 3º


mundo aonde as desigualdades sociais reforçam este quadro.

 Saúde e alimentação são a base da produção animal. Porém, é importante lembrar que a
alimentação pode prevenir doenças.

 O mercado de pet (animais de estimação) cresce 15% ao ano gerando um volume de US$ 660
milhões de negócios no mercado interno brasileiro, US$ 6 bilhões na Europa e 8 bilhões nos
EUA. Em 1998 no Brasil existiam 27 mil lojas especializadas neste tipo de negócio.

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CONCEITOS INICIAIS 1

NUTRIÇÃO: Estudo do conjunto de processos físicos, químicos e biológicos mediante os


quais o animal utiliza o alimento a fim de reparar os tecidos gastos, promover crescimento ou
atender produções.
É a ciência que estuda a manutenção da vida e as substâncias capazes de cumprir este fim.

ALIMENTAÇÃO: Estudo dos alimentos e dos padrões de exigências nutritivas dos animais
a fim de alimentá-los econômica e eficientemente. O animal está alimentado se além de
nutrido, está saciado de sede e fome.

NUTRIENTE: Componente do alimento, substância química com estrutura definida, capaz


de desempenhar uma função de atendimento no processo de manutenção da vida ou da produção.
O conceito atual é mais amplo, pois inclui outras substâncias que não são componentes de
alimentos como vitaminas sintéticas, sais inorgânicos quimicamente puros ou aminoácidos
sintéticos.
Ex: lisina (AA), ácido acético (AGV), glicose...

ALIMENTO: É toda substância que contém um ou mais nutrientes (geralmente 1 grupo), que
dada ao animal tem a propriedade de fornecer-lhe o nutriente e saciar a sensação de fome e sede.
Não possui fórmula química.
Ex: grão de arroz, farelo de arroz, grão de milho

DIETA: refere-se aos alimentos que compõem uma ração. Não indica necessariamente ração
equilibrada.

RAÇÃO: total do alimento consumido pelo indivíduo em 24 horas. Na prática os dois termos são
usados como sinônimos.

MATÉRIA SECA DO ALIMENTO: alimento livre de umidade. É a porção que permanece no


alimento quando toda a água é removida.

ALIMENTO SECO AO AR OU COMO É DADO: alimento com seu conteúdo normal de


umidade, sem prévia secagem.

FIBRA BRUTA: parte do alimento composta por lignina, celulose e hemicelulose. É a parte
menos digestível do alimento.

ALIMENTO CONCENTRADO: alimentos que possuem até 18% de Fibra Bruta.

1
Este texto foi baseado no material didático produzido pelo Prof. Enio Rosa Prates , para a disciplina AGR124 -
Nutrição e Alimentação Animal

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ALIMENTO VOLUMOSO: possui mais do que 18% de Fibra Bruta.

ALIMENTOS PROTÉICOS : capazes de formar tecidos devido a grande quantidade de


proteína. Também chamados de concentrados protéicos . O percentual de proteína situa-se acima
de 18/20%.

ALIMENTOS ENERGÉTICOS: fornecem energia. São alimentos que possuem menos do que
18% de FB e menos do que 18 a 20% de Proteína. Também são chamados de concentrados
energéticos.

CONCENTRADO: mistura de ingredientes de reconhecido valor biológico que ao ser adicionada


a outros ingredientes determinados, transforma a mistura final numa ração balanceada
nutricionalmente. No concentrado, um dos nutrientes pode se destacar sobre os outros.

Há diferentes tipos de concentrados em função do tipo de nutriente que se destaca.


Ex: CONCENTRADO ou SUPLEMENTO PROTÉICO, se destaca por ter elevado teor protéico;
CONCENTRADO ou SUPLEMENTO ENERGÉTICO, se destaca por ter elevado teor de energia;
CONCENTRADO ou SUPLEMENTO MINERAL;
CONCENTRADO ou SUPLEMENTO VITAMÍNICO.

METABOLISMO: é o conjunto de transformações que sofrem os nutrientes no organismo


animal, após serem absorvidos no trato digestivo. Inclui o desdobramento dos nutrientes, a síntese
de constituintes celulares, a transformação da energia.
O fornecimento das substâncias necessárias é feito através do ANABOLISMO e a eliminação
dos produtos indesejáveis é feita através do CATABOLISMO.

METABOLISMO DE MANUTENÇÃO OU BÁSICO: corresponde às necessidades do


organismo animal durante um período de 24 horas para mantê-lo em repouso, sem perda nem
ganho de peso.

METABOLISMO DE PRODUÇÃO: é a parcela adicional destinada a atender um trabalho útil


qualquer: lactação, ganho de peso, etc...

PADRÕES DE ALIMENTAÇÃO: conhecimento das necessidades dos animais e seu


respectivo atendimento.

NUTRIENTES ESSENCIAIS E NÃO ESSENCIAIS

ESSENCIAIS: aqueles exigidos pelo animal e que não são sintetizados pelo organismo, ou se
sintetizados, a velocidade de síntese não é suficiente para preencher as necessidades diárias.
Portanto, deve vir na ração.

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NÃO ESSENCIAIS: aqueles igualmente exigidos pelo animal, mas que são sintetizados pelo
organismo em quantidades suficientes a fim de preencher as necessidades diárias.

COMPARAÇÃO ENTRE A COMPOSIÇÃO DOS ANIMAIS E VEGETAIS

Uma das principais diferenças entre animais e vegetais é que, nos primeiros, as paredes das
células do organismo são constituídas principalmente de proteínas, enquanto que nas plantas são
compostas de celulose e outros carboidratos estruturais. Além disso, nas plantas a reserva alimentar
é armazenada, na maioria dos casos, em forma de amido. Nos animais, a principal fonte de reserva
energética é a gordura corporal. As fontes de energia também diferem fundamentalmente nos dois
casos: enquanto que as plantas podem usar a energia fornecida pelo sol para elaborar compostos
orgânicos com a matéria inorgânica retirada do solo e do ar, os animais vivem dos compostos
orgânicos ricos em energia, tendo sido, a maioria destes compostos, elaborados pelas plantas
(alimentos de origem vegetal).

Quadro 1. COMPOSIÇÃO CORPORAL DOS ANIMAIS

Água % Gordura % Proteína % Mat.Mineral


Terneira leit. ao nascer 74,2 2,8 18,9 4,1
Vaca leiteira 59,0 17,7 18,3 5,0
Terneiro de corte ao nascer 71,8 4,0 19,9 4,3
Boi - 310 kg 60,3 16,6 18,6 4,5
Boi gordo - 680 kg 43,5 37,6 15,7 3,2
Suino - 45 kg 66,8 16,2 14,9 3,1
Suino - 135 kg 42,5 42,6 11,6 2,1

No Quadro 1, observe que o teor de água diminui com a idade, enquanto que o teor de
gordura aumenta. Quanto à proteína e matéria mineral, não há alterações tão substanciais a não ser
quando o acúmulo de gordura é muito grande (note que os valores referidos são percentuais e não
absolutos).
Compare os quadros 1 e 2 e verifique como nos alimentos, o teor de água é variável, e
como é baixo o teor de gordura. Observe também que o percentual dos nutrientes está na
dependência do teor de umidade do alimento. Quanto mais seco (milho) mais alto é o percentual
dos outros nutrientes.

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Quadro 2. COMPOSIÇÃO DE ALGUNS ALIMENTOS

Alimento Água Gordura Proteína Mat.mineral Carboidratos


Pastagem 68 1,1 5 2,8 23,1
Milho(planta 76 0,6 2,0 1,3 20,4
inteira)
Milho(grão) 14,6 3,9 8,9 1,3 71,3
Feno de 8,6 1,7 15,5 9,0 65,1
Alfafa

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CLASSIFICAÇÃO DOS NUTRIENTES

CARBOIDRATOS

GLICÍDIOS OU CARBOIDRATOS ?

O termo carboidrato é derivado do termo hidrato de carbono. Usava-se esta nomenclatura


para substâncias que continham carbono, hidrogênio e oxigênio, estando estes últimos na mesma
proporção que encontrados na água, isto é, 2 hidrogênios para 1 oxigênio (CH2O)n. Entretanto, hoje
aceita-se como carboidratos vários compostos que além dos elementos citados acima, contêm
fósforo, nitrogênio ou enxofre. Além disso alguns compostos não têm H e O na proporção citada
(ex: desoxiribose- C5H10O4), mas são classificados como carboidratos.
Já o termo glicídios deriva do grego glukus que significa doce e compreende
exclusivamente os açúcares redutores e seus compostos, embora o termo seja usado como
sinônimo aos carboidratos corriqueiramente.

Carboidratos (CHO’S) são polihidroxi-aldeídos ou cetonas ou substâncias que produzem


estes compostos por hidrólise. São os maiores constituintes dos alimentos consumidos por animais,
excepto carnívoros. São os componentes mais importantes das plantas, constituindo 75% da
matéria seca das mesmas. Nas plantas, os carboidratos de dificil solubilidade (celulose e
hemicelulose) são responsáveis pela estrutura e firmeza das mesmas. Os mais solúveis, como
amido, formam a energia de reserva. Em contraposição, nos animais são encontrados em pequenas
quantidades na forma de glicose (sangue) e glicogênio (músculo - constituindo-se em torno de 1%
da matéria seca corporal total).
Há várias classificações para CHO’S. A mais comum é aquela que os divide em 3 grupos
principais:
(1)monossacarídeos ou açúcares simples;

Ex: Pentoses- C5H10O5- (xilose, ribose… )


Hexoses-C6H12O6- (glicose, frutose, galactose…)

(2) oligossacarídeos ( de 2 a 8 unidades);

Ex: Sacarose, lactose, maltose

(3) polissacarídeos

Ex: Pentosanas (xilanas), Hexosanas (amido, glicogênio, celulose, frutosanas),


Heteropolissacarídeos (hemicelulose, pectina)

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Quadro 1. Classificação dos carboidratos em função do tamanho e característica da cadeia

Dissacarídeos Monossacarídeos resultantes da hidrólise


-lactose 1 glicose + 1 galactose
-sacarose 1 glicose + 1 frutose
-maltose 1 glicose + 1 glicose

Polissacarídeos
-amido Varias unidades de glicose
a)amilose (cadeia aberta) longa todas ligações  1-4
b)amilopectina (cadeia ramificada) ligações  1-4 e  1-6
-glicogênio glicose
só frações ramificadas, semelhante à amilopectina
-celulose glicose
diferencia-se do amido (amilose) por ser 1-4, mas é linear
-hemicelulose polímero de outras oses que não glicose como
xilose, galactose, arabinose, com ligações 1-4
(linear)
-pectina polímero de ácido urônico ,  1-4 (linear) mistura
de arabinose, galactose, etc...

Observações:

- Lignina: não é CHO. É um polímero de fenóis.

- Por hidrólise ácida ou ação de enzimas, oligossacarídeos e polissacarídeos são quebrados em


vários produtos intermediários e finalmente em monossacarídeos

POLISSACARÍDEOS NÃO AMÍDICOS

Nos vegetais, a maior parte dos nutrientes está dentro das células. O acesso a estes
compartimentos exige a ruptura das paredes celulares, as quais são compostas principalmente de
dois grupos de polissacarídeos: pentosanas e ß-glucanas, também chamados de polissacarídeos
não amídicos (PNA). Estes polissacarídeos aparecem em altas quantidades em cereiais outros que
o milho, como por exemplo aveia e cevada. Do ponto de vista da digestão, uma das mais
importantes características destes polissacarídeos é a alta viscosidade, formando um bolo alimentar
de difícil digestão/absorção e maior teor de água nas fezes. Além disso influenciam qualquer
processo de ruptura da parede celular. Se na moagem, por exemplo, estas paredes não forem
quebradas, os nutrientes altamente digestíveis contidos no seu interior, também terão sua digestão
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comprometida. Hoje em dia, com o uso crescente dos chamados alimentos alternativos ao milho e à
soja e com o desenvolvimento da biotecnologia, há a possibilidade de ao usar-se cereais de
inverno, adicionar também à ração, enzimas exógenas que auxiliam na digestão dos PNA.

LIPÍDIOS

Lipídios são compostos orgânicos insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos
com importantes funções bioquímicas e fisiológicas nas plantas e tecidos animais.

Os lipídios de importância na nutrição podem ser classificados como:

LIPÍDIOS SIMPLES: são ésteres de ácidos graxos (AG) com vários álcoois. Óleos, gorduras
(triglicerideos) e ceras entram nesta categoria. Gordura e óleos são ésteres de ácidos graxos com
glicerol e ceras são ésteres de AG com outros álcoois que não o glicerol.

LIPÍDIOS COMPOSTOS: são ésteres de ácidos graxos contendo grupos adicionais ao álcool e
ao AG. Estes grupos podem ser fosfolipídios, glicolipídios e lipoproteínas. Fosfolipídios são
gorduras contendo ácido fosfórico e nitrogênio. Glicolipídios são gorduras contendo carboidratos e
lipoproteínas são lipídios combinados com proteínas no sangue e em outros tecidos.

LECITINA:Exerce uma ação impotante de emulsificação no transporte dos


lipídios ao fígado e também de emulsificação na digestão das gorduras. Auxilia na
formação de micelas a nível de lúmen intestinal, principalmente com altas taxas de
AG. saturados e “soapstocks”. São fosfolipídios que dados em altas quantidades diz-se
emagrecedores. Em teoria, se houver muita ingestão de gorduras, há bloqueio na
digestão de outros nutrientes e passagem mais rápida pelo TGI (princípio do óleo de
rícino). Mas para isto seria necessária uma quantidade muito grande. Também é
usado como auxiliar em problemas circulatórios. Participa da formação de
membranas celulares e componentes celulares como a mitocôndria.

DERIVADOS DE LIPÍDIOS: substâncias derivadas dos grupos anteriores quando submetidos à


hidrólise. São os AG, glicerol e outros álcoois.

ESTERÓIS: são lipídios com estruturas de fenantreno ou isopreno. Colesterol, androgênios,


estrógenos, progesteronas, 7-dehidrocolesterol (vitamina D2), ergosterol (vitamina D3).

A unidade básica das gorduras é o ácido graxo. A estrutura básica dos ácidos graxos é uma
cadeia de dois (2) a 24 carbonos ou mais e um grupamento carboxila (COOH) no final da mesma.

R(cadeia de carbonos) COOH

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Exemplo: (1) Ácido Acético (2C): CH3 COOH
Produto de fermentação bacteriana

(2) Ácido Mirístico (14C): CH3 CH2(12) COOH


Característico da gordura do leite

ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS

São considerados essenciais porque o organismo não é capaz de sintetizá-los em


quantidades suficientes. São eles:

- Ácido linolêico C 18:2,


Ambos são encontrados no óleo de linhaça (linho,flax seed)
- Ácido linolênico C 18:3

- Ácido araquidônico C 20:4, encontrado no óleo de amendoim

Na prática, o -linolênico e o araquidônico podem ser sintetizados a partir do primeiro.


Portanto, as aves necessitam na dieta de ácido linolêico e -linolênico. Além disso, são AG
relativamente abundantes nos alimentos. Somente em casos de dietas extremamente ricas em
amido e proteína (exemplo: dieta a base de mandioca e farelo de soja cuja gordura tenha sido
completamente extraída) fornecidas por um longo periodo, é que se pode gerar quadros de
carência. Com a deficiência observa-se animais de pele rugosa, com fendas, descamações, perda de
pelo e perda de apetite.

ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA –3 e ÔMEGA –6

Observou-se que grupos humanos como os Japoneses, que têm alto consumo de peixes, e
Esquimós que se alimentam de mamíferos marinhos, cuja gordura possui altos niveis de ácido
linolênico, ác. linolêico e ác. Araquidônico, têm baixa incidência de doenças coronarianas, baixo
nível de colesterol sérico e menor nível de triglicerídios.
Chamam-se ácidos graxos n-3 ou -3 o ácido graxo linolênico e seus produtos
(docosahexanóico –C22:6, eicosapentanóico – C20:5)) e n-6 ou -6 o ácido graxo linolêico e seus
produtos (araquidônico).

Omega-3 (Linolênico) Omega-6 (Linolêico)

AG. Eicosapentanóico (20:5) Araquidônico (C20-4)


AG. Docohexanóico (22:6)
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Estes ácidos graxos, também chamados de PUFAs (ácidos graxos poliinsaturados C18,
C20 e C22), são armazenados como fosfolipídios das membranas celulares e contribuem para sua
integridade e fluidez. Podem ser liberados pela ação de fosfolipases e agir na comunicação celular.
PUFAs liberados servem como precursores para os eicosanoides (prostaglandinas, leucotrienes e
tromboxanas. Em aves, os eicosanóides regulam quase todo sistema fisiológico, incluindo postura,
desenvolvimento embrionário, crescimento, imunidade, desenvolvimento ósseo, termorregulação e
comportamento (Klasing, 1998).

ÁCIDOS GRAXOS COM NÚMERO ÍMPAR DE CARBONOS

São dificilmente encontrados nos alimentos vegetais ou de origem animal, mas são
resultantes da fermentação microbiana.

Exemplo: Ácido Propiônico (3C)

ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS E INSATURADOS:

 ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS são ácidos graxos cujos carbonos estão ligados a 2
hidrogênios ou 3 (no C terminal), portanto possuindo ligações simples entre carbonos

-C–C–C…

 ÁCIDOS GRAXOS INSATURADOS são ácidos graxos onde alguns carbonos estão unidos
por 2 ou 3 enlaces, tendo para isso, sido retirados os hidrogênios.

C=C

São AG mais propensos à rancificação, pois ao invés de hidrogenar (aonde há um enlace


entre carbonos, entra um hidrogênio), podem oxidar (neste caso há combinação com oxigênio).

ÍNDICE DE IODO (II) E GORDURA DE RESERVA

Índice de iodo é uma medida do grau de SATURAÇÃO (hidrogenação) dos AG da gordura.


Os ácidos graxos aceitam Iodo em suas ligas duplas, com muita avidez, na proporção de 2 átomos
de iodo para cada liga dupla. O índice indica o número de gramas de I absorvido por 100 gramas de
gordura. Uma gordura totalmente saturado tem índice de iodo ZERO. Já uma gordura líquida como
16
o óleo de linhaça tem índice de iodo de 175 a 202. Quanto mais elevado o II, menor o ponto de
fusão (a uma menor temperatura, a gordura passa do estado sólido para o líquido).

Quadro 2. Firmeza da gordura produzida em função do tipo de alimentação de suínos

Suplemento grau de II AG saturados AG insaturados


firmeza
4,1% óleo de soja Mole 75,7 33,8 61,9
4,1% óleo de milho Mole 76,3 33,0 61,8
11% óleo de milho Oleoso 97,2 23,1 72,4
4,1% óleo de algodao Duro 64,4 43 50,7

GORDURA CORPORAL X GORDURA DOS ALIMENTOS

Conforme o preço, as vezes é vantajoso alimentar os suínos com grãos inteiros de soja, ao
invés do farelo (grão depois de extraído o óleo). Porém, neste caso a gordura do animal ficará
extremamente mole (frigoríficos rejeitam e consumidores também). Uma solução prática é
alimentar estes animais na fase de terminação com um cereal rico em amido e retirar a soja. O
primeiro, ao transformar-se em gordura no fígado, produzirá uma gordura firme. Portanto, as
gorduras originadas de carboidratos são saturadas (duras) enquanto que gorduras originadas de
lipídios são variáveis, em monogástricos, conforme a dieta. Neste caso, se os AG originários da
dieta são insaturados a gordura corporal será mole. Se os AG da dieta forem saturados a gordura
corporal será dura.
Como exemplo temos que o ponto de fusão da gordura do cachorro ocorre aos 20C.
Pode ir aos 40C se o animal for alimentado com sebo de carneiro, ou diminuir para OC se
alimentado com óleo de semente de linho.

Em ruminantes, como há uma série de transformacões que ocorrem no rúmem (a principal é


a HIDROGENAÇÃO que transforma os triglicerídios insaturados da dieta em saturados), a gordura
do corpo não varia com a alimentação. Neste animais o AG que predomina , independente do
alimento, é o AG ESTEÁRICO (C18:0).

Quadro 3. CARACTERÍSTICAS DAS GORDURAS DE DIFERENTES ESPÉCIES

CARACTERÍSTICAS SUÍNOS-AVES BOVINOS OVINOS


Relação AG 0,3-0,8 0,1 0,004
poliinsaturado/saturado
Gordura intramuscular (%) 1,1-2,4 2,5 6,5
Colesterol (mg) 50-60 70 70-90

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“SOAPSTOCK ACIDULADOS”: subproduto da indústria de alimentação humana, com ácido
sulfúrico. A maioria são AG livres. Tem E menor do que o óleo do qual se origina. Há maior
seletividade na absorção porque AG saturado de cadeia longa são pouco absorvidos.

SABÕES DE CÁLCIO:

No TGI os AG livres se combinam com íons de Ca formando sabões orgânicos que não são
absorvidos passando para as fezes inalterados. Sob o ponto de vista nutricional esta união tem mais
importância sobre a absorção de Ca do que sobre a absorção das gorduras.

PROTEÍNAS

CLASSIFICAÇÃO DAS PROTEÍNAS:

Proteínas são polímeros complexos de aminoácidos, sendo que a ligação entre 2 AA é


chamada de ligação peptídica entre a carboxila de um AA (COOH) e o grupamento amino (NH2)
de outro.

FUNÇÕES DAS PROTEÍNAS:

- ESTRUTURAL: a maioria das proteínas corporais estão presentes como componentes das
membranas celulares, e em outras posições estruturais como pele, cabelos, cascos;

- TRANSPORTE: as lipoproteínas carregam os TG até o fígado e deste ao tecido adiposo;

- REGULAÇÃO DO METABOLISMO: também as proteínas do plasma, enzimas, hormônios, e


antígenos são importantes como reguladoras do metabolismo, mesmo que não contribuam muito
para o total de proteína do organismo;

-GENÉTICA: ácidos nucléicos compondo DNA(desoxiribose) e RNA(ribose).

CLASSIFICAÇÃO DAS PROTEÍNAS (em função da solubilidade em água, ácidos, bases e


álcoois):

-Globulinas : solúveis em água ou em bases ou ácidos diluídos ou em álcool;

-Fibrosas: insolúveis em água, resistentes á enzimas digestivas


Exemplo:Queratina com alto teor de cistina -15%), mas muito resistente à digestão
(penas);
18
-Conjugadas: têm “algo mais na célula”, além do componente protéico
Exemplos:
1)núcleo proteína: ac. nucléico

2)lipoproteína: lecitina, colesterol

3)Glicoproteína: secreções mucosas, lubrificantes

AMINOÁCIDOS (AA):

São moléculas que contém N e são o resultado da hidrólise das proteínas. Há mais de 200
AA que foram isolados na natureza, embora somente em torno de 20 sejam componentes das
proteínas.

São opticamente ativos e podem ter configurações D e L comparados com o D-


gliceraldeído. Os AA das estruturas protéicas são L-AA.
Através da transaminação um AA D pode ser convertido em L-AA, com exceção dos AA
lisina e treonina que não transaminam.

Através da cadeia lateral , os AA podem ser classificados em:


- não polar (hidrofóbicos)
- polar (hidrofílicos)

Dentro dos polares há sub-classificações:


- neutros
- ácidos
- básicos

AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS:

São aqueles que não são sintetizados pelo organismos em quantidades suficientes e devem
portanto, vir da alimentação .

19
Quadro 4. Aminoácidos essenciais ( para ratos)
1)ARGININA* 7)LISINA
2)FENILALANINA 8)METIONINA
3)HISTIDINA 9)TREONINA
4)ISOLEUCINA 10)TRIPTOFANO
5)LEUCINA 11)VALINA
6)GLICINA (para aves)

Para suínos (8):ARGININA, HISTIDINA E GLICINA não são essenciais


Para humanos (8): HISTIDINA E GLICINA não são essenciais

*ARGININA: é formada no tecido dos mamíferos, mas a taxa de síntese não é suficiente para
alcançar as necessidades dos animais em crescimento.

AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS CRÍTICOS: são aqueles que não são sintetizados pelo
organismos em quantidades suficientes e devem portanto, vir da alimentação. A diferença neste
caso, é que são aminoácidos que comumente também são deficientes nos alimentos.

1)lisina
2)metionina
3)triptofano

ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS:

-PRIMÁRIA: seqüência linear dos AA

-SECUNDÁRIA: pontes de H entre os grupamentos imino (NH) e os carboxil (C=O)

-TERCIÁRIA: a interação causa dobras e estas são importantes para a atividade biológica da
cadeia.
Ex: Quando há a inativação da enzima anti-tripsina na soja, o que ocorre é exatamente uma
modificação na estrutura desta proteína, e como conseqüência, uma alteração na atividade
biológica da mesma.

-QUATERNÁRIA: mais de 1 cadeia polipeptídica


Ex: hemoglobina

DESNATURAÇÃO DE PROTEÍNAS

Ocorrência de alterações estruturais alterando também a função, porque a função de uma


proteína está diretamente ligada à sua forma. Altera estruturas secundárias, terciárias e
20
quaternárias. Os agentes que promovem alterações estruturais são os raios ultra-violeta,
detergentes, metais, calor…
As temperaturas dentro do preparo de rações para animais atuam dentro de limites rígidos a
fim de promover uma proteína de qualidade:
Exemplo: tostar os grãos de soja ou o farelo de soja inibe fatores antinutricionais (antitripsina). Se
houver um excesso de tostagem (excesso de temperatura ou tempo) , pode haver decréscimo na
solubilidade desta proteína. Neste caso há uma tal complexação das estruturas que dificulta a ação
das enzimas digestivas. Também com altas temperaturas pode ocorrer uma reação de
caramelização, chamada de reação de Maillard. Nesta, ocorre uma ligação entre aminoácidos
(principalmente lisina) e acúcares impedindo a digestão do conjunto formado.

Quadro 5.
Quadro de comparação da composição quantitativa entre carboidratos, lipídios e proteínas

Composição CHO’S PROTEÍNAS * LIPÍDIOS


(%)
C 44 52 76
H 6 7 12
O 49 23 12
N - 16 -
*1% de S no caso dos AA sulfurados metionina, cisteina e cistina

21
DIGESTIBILIDADE 2
A medida da composição química de um alimento é só o ponto de partida para a avaliação
do seu valor nutritivo. 0 valor real é obtido quando se sabe o que o animal faz com os nutrientes
que consome. Só tem valor real para o animal a porção do material ingerido que é digerida.

Digestibilidade é a relação entre a quantidade de alimento que o animal ingere e a que


digere (parcela efetivamente assimilada). Esta relação quando expressa de forma percentual é
chamada de COEFICIENTE DE DIGESTIBILIDADE.

Crampton define a digestibilidade aparente da matéria seca ou de algum outro constituinte


do alimento (proteína, gordura, etc...) como sendo a fração do nutriente que não foi recuperada nas
fezes.

DIGESTIBILIDADE APARENTE VS VERDADEIRA

Porquê você vai encontrar na bibliografia da área o termo digestibilidade APARENTE. Isto
porque entende-se que parte dos nutrientes encontrados nas fezes não tem sua origem no alimento
consumido. São originários de descamações do epitélio intestinal, resíduos de enzimas e
microorganismos presentes no intestino grosso. Descontando-se esta porção (que é difícil de ser
efetivamente medida) teríamos a digestibilidade VERDADEIRA.

A digestibilidade constitui uma determinação indispensável para avaliação de um alimento


e tem sido longamente utilizada na avaliação de forragens para ruminantes, e, de concentrados ou
misturas para monogástricos. Uma série de fatores influenciam os dados de digestibilidade obtidos
com animais, entre os quais a espécie animal, freqüência de alimentação, restrição da água,
temperatura ambiente e nível de alimentação.

No caso das forrageiras, com o avanço da maturidade da planta, observa-se uma diminuição
na digestibilidade da matéria seca, o mesmo acontecendo com a digestibilidade da proteína, e da
energia. Além disso, a digestibilidade aparente da proteína é significativamente e positivamente
correlacionada com o teor de proteína bruta das forragens.

Na maioria dos sistemas de alimentação dos ruminantes o nível de produção é baixo porque
o consumo de matéria seca é baixo e o que é ingerido é de baixa digestibilidade. Ressalta assim, a
importância da digestibilidade: porque à medida que a forragem se torna mais digestível, o
consumo também tende a aumentar, com reflexos positivos na produção animal.

Para minerais e vitaminas não se faz ensaios de digestibilidade, mas sim balanço
nutricional. Estes nutrientes são excretados nos elementos sólidos ou líquidos após terem sido
usados pelo organismo animal e desempenhado suas funções. Portanto pela definição de
digestibilidade o termo não caberia neste caso.
2
Este texto foi baseado no material didático produzido pelo Prof. Enio Rosa Prates , para a disciplina AGR124 -
Nutrição e Alimentação Animal
22
DETERMINAÇÃO DA DIGESTIBILIDADE

Para chegar-se ao valor de digestibilidade, são desenvolvidos os experimentos com a


finalidade de avaliar, através do animal, a utilização de um nutriente em particular, e também de
quantificar o consumo de nutrientes digestíveis.

A digestibilidade dos alimentos é determinada na base dos nutrientes individuais. 0


procedimento de um experimento de digestibilidade envolve as quantidades do nutriente
consumido e o total de excreção fecal do mesmo nutriente. A digestibilidade aparente do nutriente
é a fração do nutriente ingerido que não é recuperado nas fezes. Por exemplo, se 100 unidades de
um nutriente são ingeridos e subseqüentemente 25 unidades são recuperadas nas fezes, as 75
unidades restantes são a fração aparentemente digerida.

A equação para calcular o coeficiente aparente de digestibilidade de um nutriente é:

Nutriente Consumido - Nutriente Excretado nas Fezes X 100

Nutriente Consumido

A pesagem quantitativa da porção de alimento consumido é relativamente simples:pesa-se o


fornecido e as sobras do cocho. Contudo, deve-se tomar cuidado para estar certo de que a amostra
de alimento colhida para análise química seja representativa do alimento consumido.

Para a determinação quantitativa das fezes produzidas, em experimentos com não


ruminantes, uma substância de referência corada , chamada marcador, pode ser dada no início e no
fim do período de teste de um alimento (Exemplo: óxido férrico). As fezes são coletadas no
período que transcorre entre o aparecimento dos dois indicadores. Isto indica a excreção fecal que
"pertence" ao consumo do alimento estudado.

Este processo não funciona para ruminantes, porque parte do alimento, a mais dificilmente
atacada pelos microorganismos, permanece no rúmen mais tempo do que o resto. Portanto, a
seqüência da excreção fecal não corresponde necessariamente à seqüência do alimento consumido.
Para experimentos de digestão com ruminantes (também com coelhos e cavalos) é necessário
estabelecer um fluxo uniforme de alimento através do aparelho digestivo do animal. Uma ração é
dada em intervalos regulares sob condições aproximadamente constantes durante um período
preliminar. A coleta de fezes começa depois e é feita por um período de 5 à 10 dias.

23
COLETA DE FEZES

Coleta em Gaiolas - Os animais, geralmente machos, são confinados em gaiolas


especialmente construídas para a coleção quantitativa de fezes, sem contaminação pela urina ou
pelo alimento. As aves são confinadas em gaiolas construídas para a coleção total das excreções.

Coleta em Sacos - Um saco para coleção apropriadamente preso ao animal, é usado quando
o animal não pode ser confinado a gaiolas metabólicas. Este método é utilizado especialmente para
a coleta de fezes de animais em pastejo.

Uso de Indicadores - A excreção fecal pode ser estimada com o uso de indicadores. Uma
substância indigestível (por exemplo óxido crômico, ou lignina) é misturada com o alimento. Se o
consumo do indicador é conhecido, a excreção fecal pode ser calculada pela relação percentual do
indicador na matéria seca das fezes. A fórmula é a seguinte:

digest.(%)= % indicador fezes - % indic. no alimento x 100


--------------------------- ------------------------
% indicador nas fezes

Exemplo:
-% do indicador nas fezes = 2%
-% do indicador no alimento = 1%

Digestibilidade = 2-1 x 100 = 50%

Se a relação entre o indicador e o nutriente é determinada no alimento e nas fezes, a


digestibilidade do nutriente pode ser determinada, sem a medida quantitativa, tanto do material
ingerido como das fezes produzidas. (Neste caso não é necessário coletar todas as fezes e medir
consumo total).

Digestibilidade de um nutriente do alimento(no exemplo, proteína) quando é usado


indicador:

- Dig. = 100 x (100 % ind. alim ) x ( % proteína fezes)


------------------- ----------------------
( % ind. Fezes) ( % proteína alimento)

Exemplo lignina (indicador) no alimento: 5%


- lignina nas fezes : 10%
- Proteína do alimento: 12,5%

24
- Proteína das fezes: 10%

Dig. Proteína 100 (100. 5/10 x 10/12,5) = 60%

Em geral existe estreita correlação entre os resultados com método do indicador e o método
convencional de coleção total de fezes.

DIGESTIBILIDADE INDIRETA (cálculo por diferença):

A1guns alimentos não devem ser ministrados sozinhos. Por exemplo, se formos determinar
a digestibilidade do farelo de soja, ou melaço para vacas, alimentando-os somente com estes
alimentos, por um longo período, provocará doenças nos animais em vez de obter a resposta de
digestibilidade. Nestes casos precisamos recorrer a métodos indiretos. Dois experimentos de
digestibilidade devem ser conduzidos, No primeiro, uma ração auxiliar é fornecida e sua
digestibilidade determinada. Na segunda fase, a digestibilidade dos nutrientes da ração auxiliar
adicionada ao alimento em questão é determinada.
Supõe-se que a digestibilidade da ração auxiliar permanece constante nos dois
experimentos e assim, a digestibilidade dos nutrientes no alimento pode ser calculado por
diferença.

MÉTODOS “in vitro”:

A técnica de fermentação ruminal é usada com a finalidade de reproduzir certas condições


próprias do rúmem -retículo, simulando, desta forma, os processos digestivos que ocorrem no
animal, a nível de laboratório.

Há outros métodos em laboratório “in vitro", tais como métodos enzimáticos (celulase,
pepsina, pancreatina, quimiotripsina e papaína) , os testes microbiológicos (bactérias e protozoários,
os testes com insetos (Tribolium sp.).

MÉTODOS “in situ”

Proporcionam o estudo da digestibilidade dos alimentos nas várias secções do TGI a fim de
obter-se a quantidade e proporção em que são absorvidos e o local preferencial aonde ocorre esta
absorção. Com o uso de marcadores especiais, os animais são mortos e o TGI é dividido em vários
segmentos e o conteúdo de cada um é analisado de acordo com o marcador e o nutriente em estudo.
Outras técnicas incluem o uso de animais vivos, modificados cirurgicamente. Neste caso o uso de
cânulas, que permitem a amostragem do conteúdo do TGI, é outro método empregado.

25
PROCESSOS DIGESTIVOS NAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

DIGESTÃO: atividade do aparelho digestivo e glândulas acessórias preparando o alimento para


digestão e absorção dos nutrientes.
Processo pelo qual substâncias complexas (quando alimento) são desdobradas em
substâncias mais simples, aptas a serem absorvidas.

ABSORÇÃO: passagem das substâncias mais simples, do trato gastrointestinal (TGI) para o
sangue, a fim de serem metabolizadas .

 São digeridos carboidratos, proteínas, gorduras, enquanto que são absorvidos H20, matéria
mineral, ácidos graxos, açúcares simples (glicose, frutose, galactose), AA, álcoois e
vitaminas.

O TRATO GASTRINTESTINAL

Em sua forma mais simples é um tubo contínuo dentro de outro tubo que seria o corpo. O
epitélio é continuo. É preso dentro da cavidade do corpo pelo tecido mesentérico.
Simplificadamente, pode-se dividir em 4 as ações relacionadas ao aproveitamento dos
alimentos/nutrientes pelos animais:

1.digestão
2.absorção
3.metabolização
4.excreção (rins, pulmão, pele...)

TIPOS DE DIGESTÃO

Há dois tipos de digestão basicamente, ambas ocorrendo em todos os animais. Há


diferenças na importância de cada um deles dependendo do tipo de trato gastrintestinal dos
animais. Os tipos são: digestão hidrolítica e digestão fermentativa.
O primeiro tipo prevalece nos animais carnívoros e naqueles que dependem muito do
estômago. Estes animais têm relativamente pouca fermentação e dependem de suas próprias
enzimas para hidrólise das macromoléculas dos alimentos.
O segundo é predominante nos animais herbívoros. Estes dependem grandemente da
digestão fermentativa que ocorre no TGI (digestão esta, feita pelos microorganismos). Para tal
possuem um espaçoso local de fermentação em uma das partes do trato.
Nos dois tipos de animais encontramos ambas as formas de digestão. O que varia é a
importância que cada uma delas assume no aproveitamento dos alimentos.

26
ETAPAS E SECREÇÕES DO PROCESSO DE DIGESTÃO:

1) MASTIGAÇÃO: tem por objetivo aumentar a superfície de exposição do alimento para


melhorar a ação das enzimas. Nos ruminantes os movimentos são laterais e ocorre a apreensão do
alimento com o auxilio da língua. Nos suínos e eqüinos os movimentos são verticais.

1.SECREÇÕES SALIVARES: produzidas pelas glândulas salivares e podem ser


divididas em 3 grupos:
a)sublingual: produz secreção mista(mucosa e serosa) nos homens
b)submaxilar: é mista em equinos e suínos
c)parótida: produz secreção serosa

OBS: A saliva tem um pH de 6,5 a 7,3 nos monogástricos. Já nos ruminantes alcança um pH de
8,5.

- secreções serosas: são as secreções que contêm enzimas (Ex: - amilase ou


ptialina) e agem no desdobramento do amido (sua ação é pequena devido ao
pouco tempo de permanência do alimento no local).

- secreções mucosas: secretam muco. São consideradas as mais importantes. Têm


como funções a lubrificação, a proteção, e o transporte do alimento.

CONTROLE DA SECREÇÃO: Pode ser dividido em duas fases:

1.fase cefálica: estímulo pela visão, odor, imaginação...


2.fase de contato: mecânico ou químico (sabor). Ocorre quando o alimento entra em contato com a
mucosa.

DIFERENÇAS ENTRE ESPÉCIES:

- cavalos :secreção da glândula parótida não é contínua.


- bovinos: secreção é contínua e fundamental, porque tem função tamponante para manter o pH
ruminal, e é indispensável à sobrevivência das bactérias.
- Aves: pardais têm atividade enzimática. A maioria das aves domésticas não têm, só mucosa.
-Suínos: a secreção enzimática é a mais importante.
- Homens: a serosa é a mais importante.
- Cão, Gato e Ruminantes: não possuem amilase salivar.

As secreções salivares podem variar de indivíduo para indivíduo.

2) DIGESTÃO: tem por objetivo prosseguir com a preparação do alimento para a futura
absorção, isto é, quebra dos componentes alimentares através de enzimas e
27
secreções. São basicamente 4 as secreções que atuam neste processo: suco
gástrico, suco pancreático, suco biliar e secreções epiteliares, além de
hormônios que ajem na regulação do processo.

A nível de estômago atua o SUCO GÁSTRICO que é secretado na mucosa


do estômago por glândulas secretoras. O suco gástrico tem as seguintes
frações:

a)HCl: se apresenta em concentração variável em função do alimento, do indivíduo e


da quantidade de saliva. Tem como funções solubilizar minerais, ativar a
pepsina, exercer uma ação anti-séptica contra microorganismos ingeridos com
o alimento e determinar a secreção de secretina (responsável pela secreção do
suco pancreático). Secretina é o hormônio que irá liberar o suco pancreático que
por sua vez contem íons bicarbonato. Isto inibirá a ação do HCl (processo chamado
de retroalimentação negativa).

b) MUCINA: protege o epitélio da ação do HCl e em ruminantes tem função anti-


espumante
- Exemplo: Animais que produzem mais mucina têm menos propensão ao timpanismo
espumoso.

c) PEPSINA: é secretada como pepsinogênio (forma inativa) e após ativada à pepsina


(forma ativa). A própria pepsina tem capacidade de hidrolizar parcialmente o pepsinogênio,
já que ela hidrolisa proteínas. O pH ótimo de ação é de 1,5 a 2,5. Por sua ação as proteínas
são degradadas a polipeptídios.

d) LIPASE GÁSTRICA: hidrolisa gorduras de baixo ponto de fusão e já emulsionadas.


Ação mais completa na digestão das gorduras é feita pela lipase pancreática a nível
intestinal.

e) RENINA: É mais abundante nos lactentes. Tem ação de coagular a caseína (leite).

f) FATOR INTRÍNSECO: é uma glicoproteína com função de transportar a vitamina


B12. Juntas vão ao íleo onde a B12 é absorvida. Sem o FI não haverá identificação da
vitamina, que entra na parede intestinal por pinocitose.

CONTROLE DA SECREÇÃO GÁSTRICA:

1.fase cefálica (sistema parassimpático-vago)


“ Água no estômago corresponde à água na boca”.

28
2.fase gástrica: alimento chega ao estômago e ativa a secreção devido ao seu
volume(mecanicamente)e a sua composição (quimicamente).

3.Fase intestinal: nutrientes chegam no duodeno e inibem secreção gástrica. Alimento que chega
ao estômago aumenta o pH, ativa células G, com isso há aumento de secreção
de gastrina que vai ao sangue, aumenta produção de HCl, e há diminuição de
pH. Esta acidificação inibe a continuidade de produção da gastrina.
O estímulo no lúmen intestinal se dá através da distensão mecânica, da presença
de acidez e da osmolaridade. Como resposta a este estímulo haverá a liberação
de
hormônios como a secretina e o CCK, entre outros.

A nível intestinal atuam o suco pancreático, suco biliar e as secreções produzidas pelas
próprias celulas intestinais.

SUCO PANCREÁTICO: ao contrário do suco gástrico, possui pH alcalino, entre 7,8 e 8,2.
É responsável pela presença de quase todas as enzimas necessárias para a
degradação completa dos alimentos.

Pâncreas: considerado um orgão acessório. Único orgão que secreta uma secreção capaz de
digerir todos os nutrientes. Está situado logo abaixo e atrás do estômago. É considerado um orgão
com função endócrina (secreta hormônios insulina e glucagon no sangue) e exócrina secretando
duas soluções: uma contem elevada concentração de íons bicarbonato e a outra, um grande número
de enzimas.

Composição do suco pancreático:

a) ENZIMAS PROTEOLÍTICAS: atacam proteínas. Há duas que são endopeptidases (rompe a


parte interna da cadeia polipeptídica) e uma terceira que é exopeptidase (rompe a parte externa da
molécula).
ativada por ENTEROQUINASE
Tripsinogênio Tripsina

ativada por TRIPSINA


Quimiotripsinogênio Quimotripsina

ativadas por TRIPSINA


Procaboxipeptidades Carboxipeptidases
(A e B) (A e B)

29
b) LIPASE PANCREÁTICA: desdobra os lipídios em di e monoglicerídeos ou ácidos graxos e
álcoois.

c)AMILASE PANCREÁTICA: ação semelhante à amilase salivar, porém mais efetiva porque
atua por mais tempo.

Controle das secreções pancreáticas:

1. sistema nervoso (vago)

2.humoral:

SECRETINA: hormônio secretina vai ao sangue e atua nas células do duto pancreático
liberando secreção de bicarbonato e auxiliando no aumento da secreção biliar.
Quando chega o HCl no duodeno com o alimento, a secretina é estimulada a liberar HC03
do suco pancreático e também potencia a liberação do HC03 pela bile.
A secretina foi o primeiro hormônio a ser descoberto. Injetava-se no cachorro e o pâncreas
liberava solução com alta concentração de íons HCO3.

CCK: outro hormônio, porém responsável pela liberação do suco que contém as enzimas.
O estímulo são AA e AG no duodeno. Auxilia no esvaziamento da vesícula biliar.
Também tem ação inibitória sobre a mobilidade do estômago. O nome CCK é devido sua
ação na vesícula biliar (Chole= bile, Kystis= vesícula - colecistocinina).

PIG (peptídio inibidor gástrico): hormônio peptídio intestinal

VIP: peptídio hormônio intestinal vaso ativo - parece ser mais importante em aves do que
a secretina

SECREÇÃO BILIAR

Função da bile é desdobrar gorduras (ativa lipase pancreática 3x a 4x). Também é


alcalinizante (secretora de HC03). É produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar. É
formada por sais biliares, fosfolipídeos, colesterol, bilirrubina, íons...
A bilirrubina vem da destruição dos glóbulos vermelhos:
hemiglobina bilirrubina absorvida fígado

30
ANATOMIA DO TRATO DIGESTIVO

1)BOCA: principal função é a apreensão dos alimentos

-ovinos, coelhos e caprinos:lábios, língua e incisivos


- bovinos: língua e palato duro (não têm incisivos superiores)
- eqüinos: dentes e lábios
- aves: bico

2a)ESÔFAGO: canal condutor. Nos ruminantes a deglutição é feita com o auxílio das paredes;
nas aves por gravidade. Não possui glândula, somente células secretoras de muco para facilitar
passagem do alimento.

2b) PAPO ou inglúvio. É uma dilatação do esôfago. Reservatório nas aves. Finalidade de
umedecer e macerar o alimento. Secreta muito muco, sem enzimas. Quase não há absorção.
LEITE DE PAPO: Pombas (só durante o período de reprodução) produzem uma substância no
papo de onde se alimentam os filhotes, composta de prolactina e rica em lipídios:aves regurgitam.
Tanto a fêmea como o macho a produzem.

3a) ESTÔMAGO:
CÁRDIA e PILORO (início e final do orgão): são abertos por esfíncteres. Nos mamíferos a cardia
deve ser bem fechada para não ir HCl para o esôfago.
Crianças com esfíncteres ainda não desenvolvidos têm problemas de dor de barriga por sair fácil as
secreções do estômago.

3a) PRÓVENTRICULO (estômago verdadeiro das aves): parte glandular do estômago das aves.
Mucosa rica em glândulas secretoras de suco gástrico como as demais espécies. O volume do órgão
é bastante reduzido e o alimento fica aí pouco tempo. Os alimentos se embebem no suco que
exercerá sua ação posteriormente.

3b) RÚMEM: 80% do total. Fermentação através de enzimas microbianas resulta em produção
de ácidos graxos voláteis (AGV) . A absorção dos AGV é na própria parede ruminal.

3c) RETÍCULO: 5% do total. Junto com rúmen . Serve para movimentar o alimento.

3d) OMASO ou folhoso: 7% do total. Há, neste local, grande absorção d'agua.

3e) ABOMASO: 8% do total. Parte glandular. É estômago verdadeiro, se compararmos aos


monogástricos.

4) MOELA: porção muscular do estômago, sem secreção de enzimas. Tem ação semelhante aos
dentes que maceram e moem. Exerce ação mecânica de esmagamento dos alimentos.
31
5) DUODENO: secreção de bile e suco pancreático

6) INTESTINO DELGADO: duodeno + jejuno + íleo


Digestão intensa e absorção rápida nas aves e bovinos.

7) CECO: no porco selvagem e cavalo correspondente a um vaso de fermentação.


Secreta mucina. Nos homens é chamado de apêndice
Porco doméstico foi criado com grãos: ceco pouco desenvolvido. Não há nos ruminantes.

8) INTESTINO GROSSO: importante para o porco selvagem e cavalo (absorção das


fermentações do ceco-AGV). Secreta muco. Absorção basicamente de água.

9) ÂNUS: nas aves é CLOACA (saída comum ao sitema urinário, reprodutor e digestível).

CAPACIDADE DO TGI

-Homem 6 l
-Porco : 27 l
-Cavalo: 90 l
-Bovino: 260 l
-Ovino: 30 l

- Observe que um ovino adulto (75 kg) tem peso similar ao peso de um homem adulto. No
entanto, a capacidade digestiva total é 5 vezes maior e comparando somente o estômago, este é 20
vezes maior.
- Porco (190kg) pesando 2x mais que o ovino, tem um pouco menos de capacidade digestiva total
do segundo.

IMPLICAÇÕES DAS VÁRIAS CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS

1. AVES: não possuem local para fermentação: dietas com baixo teor de fibras. Podem usar
pequenas sementes de casca dura em função da moela.
- Saída do duto biliar está no fim do ID e deve haver um processo de antiperistaltismo para voltar a
bile que as vezes chega também até a moela.

2. SUÍNOS: anatomicamente têm capacidade para digestão hidrolítica e fermentativa. Animais em


confinamento são alimentados como aves, não usando sua capacidade fermentativa.

32
3. BOVINOS: têm digestão basicamente fermentativa. Animais recebendo muito grão não
aproveitam estas características.

4. EQUINOS: têm digestão fermentativa com diferença de local e na capacidade, que é muito
menor, quando comparada a um ruminate. O vaso fermentador (CECO) é depois do estômago e é
menor que a capacidade volumétrica do rúmem, o que implica em várias refeições (pequenas) por
dia (maior número de horas pastando). Chegam no Intestino Grosso glicídios do tipo fibroso
(celulose e hemicelulose) e são absorvidos como AGV. Outros glicídios já foram digeridos e
absorvidos no intestino delgado. A absorção de AA e pequenos peptídios é muito pequena no
intestino grosso. O uso de uréia para equinos teria este incoveniente.

DIGESTÃO NOS RUMINANTES

MASTIGAÇÃO: duas mastigações. A 1ª é rápida para que os alimentos sejam reduzidos a


partículas deglutíveis. A 2ª é realizada com maior eficácia, ocorrendo após regurgitação do bolo .

SALIVA: não contém enzimas (a amilase está ausente). É somente formada por muco produzido
em grandes quantidades (acima de 200 l). Tem alto poder tampão (pH = 8,2) Contém também
uréia, P, Mg, Cl que servem de nutrientes para microorganismos. Seis a 7 kg de ácido acético são
produzidos no rúmem/dia. Portanto, a manutenção de um pH neutro no rúmem não é tarefa das
mais fáceis.

ESTÔMAGO: multicavitário formado por rúmem, retículo, omaso e abomaso. Os três primeiros
são pré-estômagos.

RÚMEM E RETÍCULO: digestão fermentativa. (Não é o animal quem controla e sim os


microorganismos e a dieta.)

RÚMEM = NICHO ECOLÓGICO = CÂMARA DE FERMENTAÇÃO


(70 kg com 15% de MS)

-temperatura constante (39ºC)


-anaerobiose
-pH ± constante: acidez regulada pela saliva (5,5 a 7,4)
-suprimento continuo de alimento
-contrações (motilidade): camada flutuante se umedece e leva partículas p/ omaso
-formação de gases e expulsão: CO2 + CH4
-produção de 75% Ac.acético : 15% Ac.propiônico: 10% Ac.butírico que são a
principal fonte de energia p/ruminantes
-absorção de AGV, ácidos graxos de cadeia curta (outros), amônia e H20
33
DEGRADAÇÕES NO RÚMEM

GORDURAS:

a)sofrem hidrólise Gorduras AG + Glicerol


b)sofrem hidrogenação: AG não saturados AG saturados

GLICÍDIOS:

-a)bactérias produzem celulase que rompe ligações B 1-4 da celulose resultando em AGV.

PROTEÍNAS:
a) enzimas proteolíticas dos microorganismos desdobram proteínas em aminoácidos (AA),
peptídios, NH3, CO2
b) alguns AA usados para produção de energia
c) sofrem processo de resíntese pelos microorganismos que usam proteína e AA ou formam AA a
partir de radical nitrogenado (amônia) e cadeias carbonadas (cetoácidos)
d) amônia caso não seja usada por microrganismos será absorvida na parede ruminal indo, via
sangue, para fígado sendo transformada em uréia, ou será reciclado via saliva.

Amônia fígado uréia saliva ou urina

VITAMINAS:

a) síntese no rúmem de vitaminas K e do complexo B.

MINERAIS:

a) devem vir da dieta. Nào há produção endógena.

FISIOLOGIA DA DIGESTÃO

RUMINANTES:
 ruminante jovem é como monogástrico: em função da dobra retículo-omaso (goteira esofagiana)
leva o leite direto para omaso e daí para abomaso. Se o leite cai no rúmem, entra em putrefação,
dando diarréia
 Até 3 semanas: leite e H20 direto para abomaso
 Após 8 semanas: alimentados em balde começam a ter problemas com a dobra que não
funciona bem.
34
Atividade enzimática:
 Amido para ruminante não induz a atividade da amilase e maltase. No entanto como o amido
vai para o rúmem quem o digere não são as enzimas e sim os microorganismos.

 Se o amido for colocado direto no abomaso não será bem aproveitado (50%). Aumenta a
pressão osmótica e diminui absorção de H20 (diarréia). Para aumentar a digestibilidade,
esquentar o amido. No rúmem ele é 100% digerido.

MONOGÁSTRICOS:
 Amido é 100% digerível.
 Suínos desmamados aos 14 dias devem receber dietas diferentes dos desmamados com 5 a 6
semanas. Nos primeiros, dietas deverão conter alta porção de subprodutos do leite (lactose).

AVES:
 não há lactose
 alfa amilase em algumas espécies atua até no papo
 celulose não é digerida, pois não há atividade microbiana
 alguma hemicelulose é desdobrada

EQUINOS:
 similar aos suínos, porém no ceco digerem celulose (em menor quantidade que ruminantes)

DIGESTÃO E ABSORÇÃO DOS NUTRIENTES

a) DIGESTÃO DOS CARBOIDRATOS

São absorvidos como monossacarídeos:


- glicose
- galactose
- frutose

SECREÇÕES:

1. Amilase salivar (em não ruminantes) rompe ligações α1-4


2. No estômago a amilase salivar é bloqueada pelo pH ácido
3. No intestino, α-amilase pancreática atua nas ligações α1-4 da amilose resultando em

maltose

(maltase)

35
2 moléculas de glicose

4. Quanto à amilopectina, as ligações α- 1-6 dextrina são assim desdobradas:

α- 1-6 dextrina

(1-6 glicosidase)

glicose + isomaltose

(isomaltase)

2 glicose

ABSORÇÃO DOS CHOS :


 maior parte é absorvida no duodeno e íleo
A concentração de glicose dentro da célula é maior que fora. Logo, o movimento será
contra um gradiente de concentração: transporte ativo.

 Frutose : absorvida por mecanismo de difusão facilitada, custo E é zero


 Glicose (GLI): Sódio (Na) se liga a ela + transportador e chega junto à célula epitelial onde
há liberação de Na e GLI. O Na sai da célula usando ATP. Para entrar leva GLI consigo (2).

 Galactose: compete 1:1 com glicose. Transportador pega aquele que estiver em maior
quantidade.

 Pinocitose: recém nascidos

b) DIGESTÃO DOS LIPÍDIOS

Absorção dos lipídios é limitada: muita gordura conduz a distúrbios digestivos

Ação das secreções:


-lipase gástrica desmembrou gorduras (ação pequena em função do pH do
estômago)
-lipase pancreática rompeu ácidos graxos e triglicerídios : atacou os triglicerídeos na
posição 1 e 3
-bile auxiliou
- Lipase amilar: no terneiro que só bebe leite

36
Dinâmica da absorção das gorduras

MONOGÁSTRICOS

I. Gorduras são previamente emulsificadas pelos sais biliares tendo sua superfície mais exposta.
II. Depois, hidrolisadas pela lipase pancreática
III. No lúmem formam-se micelas
As gotículas de gordura têm 5.000 Ang.
As micelas têm de 30 a 200 Ang. O que diminuiu o tamanho foi a emulsificação

IV. São absorvidas nas microvilosodades intestinais (1000Ang)


V. Dentro da célula da mucosa intestinal serão reesterificados (AG + MG) compondo os TG os
quais passam a se constituir o centro de uma formação estrutural envolvida por uma película de
proteína, fosfolipídio e colesterol chamada de QUILOMICRON que é a forma pela qual as
gorduras entram na corrente sanguínea ou linfática.
VI. Os sais biliares continuam o trabalho no lúmen e depois são reabsorvidos no íleo.
Dentro da célula: nova síntese de TG
VII. Proteínas lipossolúveis acompanham as gorduras

RUMINANTES

I. Lipases e esterases microbianas fazem a hidrólise parcial das gorduras, dividindo-as em ác.
graxos e glicerol
II. O glicerol resultante é fermentado e transformado em ácido propiônico
III. Os AG e os TG intactos vão para o intestino aonde sofrem ação similar aos monogástricos
IV. A gordura protegida segue o mesmo caminho exemplificado em III.

DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS

I. Proteínas no estômago desdobradas em polipeptídios menores, através da pepsina, que chegam


ao duodeno.
II. O suco pancreático continua rompendo em di ou tripeptídios, através da tripsina, quimotripsina,
procarboxipeptidase, elastase.. Podem ser assim absorvidos ou na mucosa na presença de
outras proteases são desdobrados em AA simples.
III.Absorvidos como AA, di ou tripeptídios por transporte ativo

ABSORÇÃO:
 Os D-AA são absorvidos como tal e dentro das células transaminam para L-AA
 AA-L são absorvidos preferencialmente aos D, provavelmente pela especificidade do sistema
transportadores
 Há sistemas transportadores para di ou tripeptídios, para AA neutros, AA ácidos e AA
básicos
37
EX: arginina e lisina competem pelo mesmo transporte (são AA básicos)
leucina e isoleucina competem pelo mesmo transporte

Para ruminantes ler item “Degradações no rúmem”

38
METABOLISMO DA ÁGUA

ÁGUA: O NUTRIENTE ESQUECIDO3

A água é a substância mais abundante nos seres vivos, compreendendo de 45 a


70% de peso total da maioria dos organismos vivos. A percentagem de água no corpo
depende de vários fatores tais quais idade, % de gordura corporal e espécie.
A água é, ao lado do oxigênio, o nutriente mais essencial à vida. Mesmo assim, é
um nutriente muitas vezes negligenciado. Maynard afirma que o ser vivo pode perder
praticamente todas as suas reservas de gordura, pode perder metade de sua proteína e
ainda continuar vivo, mas se perder mais do que 10% de sua água, morre.
A água influencia profundamente todas as interações moleculares de sistemas
biológicos. Como a maioria das reações biológicas, interações entre moléculas, transporte
de nutrientes e reações de transferência de energia ocorrem em meio predominante
aquoso, o conhecimento de algumas propriedades fisico-químicas da água é essencial. No
corpo, a água é o solvente geral e o meio no qual ocorrem todos os processos metabólicos.
A água constitui-se no meio ideal para o transporte de materiais, tanto orgânicos,
como inorgânicos. Ao concentrar ou diluir o meio interno, também influencia os processos
enzimáticos que ocorrem nos tecidos . E, por último, a água é o solvente adequado para
manter a temperatura corporal dos animais. Em condições de estresse pelo calor, a água
tem um papel fundamental nos mecanismos de perda de calor (sudação, transpiração e
evaporação pulmonar).

ESTRUTURA DA ÁGUA

Sua forma é triangular, e não linear, e o ângulo de ligação entre os átomos de H e


O é de 104,3º.
O núcleo de O puxa elétrons para longe dos núcleos de H, o que deixa a região
em torno desse núcleos com carga resultante positiva. A molécula de água é, portanto,
uma estrutura eletricamente polar.
Outra característica da água está no fato de suas moléculas terem grande
afinidade umas pela outras. Uma região com carga positiva em uma molécula de água
tende a se orientar para uma região com carga negativa em uma de suas vizinhas. O
resultado da atração entre um átomo de oxigênio de uma molécula de água com o
hidrogênio de outra constitui uma ponte de hidrogênio. No gelo, a estrutura cristalina
permite que todas as possíveis pontes de hidrogênio sejam feitas. Na água líquida, há um
ordenamento parcial, onde aglomerado de moléculas com pontes de H estão
continuamente se formando e se desfazendo. Em um dado instante, à temperatura

3
Partes deste texto foram extraídas do capitulo “Potabilidade e exigência de água nas diferentes faixas etárias dos
suínos. IN: Tópicos em Produção Animal- I. RIBEIRO, A . M.L. ; BERNARDI, M.L.; KESSLER, A . M. p. 280-
291.1999.

39
ambiente, cada molécula de água forma pontes de hidrogênio com, em média, 3,4 outras
moléculas de água vizinhas.
A polaridade e a capacidade de formação de pontes de H da água tornam-na
uma molécula com alta capacidade de interação. A água é um excelente solvente para
moléculas polares. O motivo é que ela enfraquece enormemente as forças eletrostáticas e
as pontes de H entre as moléculas polares, competindo com suas atrações . Em
consequência, as atrações eletrostáticas entre iontes são pronunciadamente enfraquecidas
na presença da água . A pequena tendência da água à ionização é também de importância
crucial para a estrutura e função das biomoléculas. A molécula de água e seus produtos de
ionização, H+ e OH-, influenciam profundamente a estrutura, a automontagem e as
propriedades de todos os componentes celulares, incluindo enzimas e outras proteínas,
ácidos nucléicos e lipídios.

Seu alto calor específico (energia calórica necessária para aumentar de 1ºC a
temperatura de um grama de água) é útil para as células e organismos, pois possibilita que
a água atue como tampão de calor, permitindo que a temperatura de organismos
permaneça relativamente constante, mesmo com flutuações da temperatura do ar e
produção metabólica de calor.
Outra característica importante da água é o alto valor do calor de
vaporização, usando o excesso de calor corporal para evaporar o suor e o vapor da
respiração.
A água não é apenas o solvente universal, mas também participa diretamente de
uma grande variedade de reações, como do sistema tampão do sangue, formação de ATP,
síntese de ácido clorídrico no trato digestivo e hidrólise de nutrientes. Basta lembrar que a
energia necessária para a manutenção da vida é obtida através da oxidação de alimentos, e
água e dióxido de carbono são os produtos terminais da oxidação dos compostos
orgânicos.

FUNÇÕES:

1.Melhor solvente da natureza: permite solubilização e transporte de AA, glicose, íons minerais,
vitaminas hidrossolúveis, etc...
Auxilia na separação de sais em íons. Fundamental na digestão, absorção, secreção e excreção.

2. Regulação da temperatura corporal devido a 3 propriedades físicas:


2.1 condutividade térmica
2.2 alto calor específico
2.3 alto calor latente de vaporização

3.Condução do som e da luz : glândula ocular , ouvido

4. Solvente de produtos químicos que estimulam gosto, visão...

40
5. Lubrificação (trato intestinal, juntas...)

6. Amortecedor de choques (líquido no cérebro, líquido amniótico)

7. Baixa viscosidade : facilita circulação sangüínea sem grandes gastos do coração

8. Fundamental para produção de leite , ovos...

DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO ORGANISMO ANIMAL

H2O do alimento H2O da bebida

ESTÔMAGO ( rúmen)

INTESTINOS H2O das fezes

- epiderme PLASMA SANGUÍNEO rins


- leite (6,5%)
- pulmão
FLUÍDO INTERSTICIAL
(3O,5%)

FLUIDO INTRACELULAR
(63%)

“TURNOVER” DE ÁGUA - Balanço de água no organismo animal

Os animais alcançam suas necessidades de água através da água ingerida, da água


do alimento (10 a 12% do alimento seco ao ar) e da água metabólica. Por outro lado, as
principais vias de perda de água são a urina, as fezes e a evaporação através da superfície
corporal e do trato respiratório. O Quadro 1 mostra um balanço de água típico para suínos
em crescimento, em condições de termoneutralidade.

Quadro 1. Balanço de água típico para suínos em crescimento, em condições de


termoneutralidade.
Fontes ml Perdas ml
Água de beber 4.000 Urina 2.930
Água metabólica 990 Perdas respiratórias 1530
Água no alimento 200 Fezes 250
Retenção nos tecidos 480
TOTAL 5.190 5.190
41
Água na urina: as quantidades de água excretadas na urina variam muito,
dependendo do consumo e de mecanismos de eliminação dos produtos de catabolismo
como sais e uréia, para os quais a água serve como solvente. Quanto maior a quantidade
de proteína da dieta, maior a perda de água e maior a exigência de consumo da mesma.
Este aumento no consumo também está ligado ao fato de dietas altas em proteína
formarem menos água metabólica no catabolismo dessa proteína.
 2NH3 + 3ATP + 3H2O +CO Uréia + 2ADP +AMP +Pi
 Nas aves , a secreção é mais vantajosa no que diz respeito à economia
de água, pois excreta ácido úrico, numa forma mais sólida

A água presente nas fezes é pouco afetada pelo consumo de água. A magnitude
das perdas está mais relacionada com a natureza da dieta. A umidade das fezes aumenta
com a adição de fibra e outros alimentos que tenham qualidades laxativas. No geral,
quanto maior a proporção de material indigestível, maior a perda de água pelas fezes .
A perda nas fezes também varia conforme a espécie.
EX : ovinos e caprinos x bovinos
zebuínos x bovinos

A água metabólica é formada pela oxidação dos alimentos, já que água e dióxido
de carbono são os produtos terminais da oxidação dos combustíveis fisiológicos. Para
cada tipo de nutriente há uma quantidade típica de água metabólica possível de ser
formada .

 100g de carboidratos: 60g H2O


 100g de proteínas: 42g H2O
 100g de lipídios : 108 g H2O

Além das perdas mencionadas via urina e fezes há também as perdas via pulmões
(respiração), muito importante para animais como as aves que devido à cobertura de penas
não transpiram com facilidade, as perdas através das glândulas sudoríparas ( sudação) e as
perdas via transpiração (pele) que assumem importância em espécies como o cavalo e o
homem.

Sinais para beber

Os mais potentes mecanismos estão relacionados com a desidratação celular e os


sistema angiotensina II - renina. Angiotensina é um dos hormônios que atuam como
moduladores da sede e parece ser o indutor da sede tanto em aves como em mamíferos.
Esta substância atua no centro regulador da ingestão, no hipotálamo.. Por outro lado, se
ocorrer redução do volume sanguíneo devido à desidratação, os rins secretarão um
hormônio chamado renina que determinará a produção de angiotensina II.
42
ABSORÇÃO DE ÁGUA

Grande parte da água ingerida pelos animais é absorvida nos diferentes segmentos
do trato digestivo. A absorção de água depende de vários fatores, entre eles as relações
osmóticas que ocorrem no intestino delgado .
As células do epitélio intestinal são ligadas próximas da borda apical pelas junções
firmes. A água para ser absorvida passa, principalmente, através das junções firmes.
Porém, ela também pode entrar nas células epiteliais pelas membranas que tem uma
camada lipoprotéica, atravessada por pequenos poros. Neste caso, a água absorvida se
mistura com o conteúdo celular e é levada até as bordas laterais da célula, segundo o
gradiente osmótico estabelecido pelas bombas ativas de pequenas moléculas como sódio e
glicose.
A água é transportada através da membrana intestinal pelo processo de difusão,
que obedece aos princípios da osmose. Assim, quando o quimo está diluído, a água é
absorvida. Porém, a água também pode ser transportada em direção oposta, do plasma
para o quimo. Este transporte é observado quando soluções hiperosmóticas são lançadas
no duodeno provenientes do estômago.
Ocorre absorção de água no íleo, no jejuno, no ceco e no intestino grosso,
mas as quantidades absorvidas variam muito.
Quando substâncias dissolvidas são absorvidas do lúmen do intestino para o
sangue, a pressão osmótica do quimo diminui. A água difunde-se tão rapidamente através
das junções firmes, que ela acompanha quase instantaneamente as substâncias absorvidas.
Portanto, à medida que os íons e nutrientes são absorvidos, é verificada a absorção de seu
equivalente osmótico de água.
A absorção de água no intestino delgado depende em grande parte da
natureza e das proporções dos solutos no lúmen do intestino. A água é mais
prontamente absorvida quando está sozinha, como é o caso da água de bebida, ou
quando acompanhada de alimento que, após a digestão gástrica, forma uma solução
com pressão osmótica menor do que a do plasma sangüíneo .
Outro fator que afeta a absorção de água nos intestinos delgado e grosso é a
natureza dos componentes glicídicos do alimento. Polissacarídios como a pectina, tendem
a formar géis no trato digestivo. Os géis retêm a água e reduzem a absorção através do
intestino. Estes alimentos, que aumentam a proporção de água das fezes, normalmente tem
efeitos laxativos .

EXIGÊNCIA DE ÁGUA

Exigências metábolicas estão bem definidas. Exigências práticas não. O consumo


de água depende de vários fatores como: tamanho corporal, consumo alimentar, lactação,
temperatura ambiente, tipo de ingredientes da dieta e substâncias químicas (incluindo
medicamentos e sabor) ingeridos, estado de saúde, estresse e diferenças individuais.

43
A quantidade de água ingerida em um período de 24 horas é considerável quando
comparada ao peso de alimento seco metabolizado. Como regra prática, a necessidade de
água é ao redor de 1 mililitro para cada kcal de energia metabolizável da dieta.

 1ml de H2O para cada Kcal de EM do alimento

1g de MS ___ libera 4 Kcal de EM


1g de MS ___ exige 4 ml de água

Ex: 15 kg de MS/dia ____ 60L de H2O

 ARC 1980: IW= consumo de água (kg H2O/dia)

IW= 2,15 Id + 0,73 M + 12,3


Id=kg MS/dia
M= kg leite/dia
Resultado = 12,3 kg/dia nas condições européias

Recomendação prática: "água limpa e fresca à vontade"

O conteúdo mineral, a quantidade e a qualidade da proteína, influenciam o


consumo de água. O consumo de água aumenta em função do aumento de sal na dieta.
Este aumento é mais em função da necessidade de manter a homeostase de cloretos do que
de sódio. Todos os aminoácidos supridos em excesso, em função de um desbalanceamento
da proteína ou de um excesso de proteína da dieta, são desaminados e o nitrogênio é
excretado na urina.
Em situações livres de estresse, as exigências de água estão relacionadas também
com a superficie corporal. Nestes casos, os animais, sem estresse calórico e sem estarem
em lactação, podem ingerir água de 5 a 6% do peso corporal/dia.

QUALIDADE DA ÁGUA

Qualidade da água é medida de acordo com três critérios principais:


microbiológico, físico e químico. Outros fatores como idade do animal e saúde também
devem ser levados em conta porque eles afetam a resposta individual dos animais.

Características microbiológicas- A água pode conter uma variedade de microorganismos


incluindo bactérias e vírus. São exemplos Salmonella spp, vibrio cholera, Leptospira spp
e Escherichia coli. A prática usual é utilizar o grupo de coliformes totais (fecais e não
fecais) como indicadores da qualidade sanitária da água, enquanto que o indicador para
águas sujas é o grupo de coliformes fecais.

44
Características físicas- A cor da água pode influenciar a aceitabilidade, podendo
constituir-se um indicativo da presença de contaminantes. A turbidez, que é a quantidade
de partículas suspensas na água, pode ser um indicativo de contaminação se a causa for
resíduo de dejetos ou de indústrias. Porém, se a causa for argila ou silte em suspensão,
não há porque se preocupar quanto à saúde dos animais.

Características químicas- São de grande interesse visto que níveis excessivos de


minerais causam a maior parte dos problemas relacionados com qualidade de água.

Sais Dissolvido Totais (SDT)- Todos os minerais contribuem para este item, pois
ele é a soma de toda a matéria inorgânica dissolvida em uma amostra de água. No entanto,
somente alguns desses minerais causam problemas. Como exemplo, tem-se cálcio e
magnésio, que não possuem efeito adverso na saúde a menos que presentes em níveis
muito altos. Por outro lado, a presença de sulfatos, mesmo em níveis moderados, pode
causar forte diarréia. Se SDT estão abaixo de 1.000 ppm, a água é de boa qualidade.
Acima desse valor, análise posterior deve ser feita para saber quais os minerais presentes.

Quadro 2. Avaliação da qualidade da água para suínos, baseado nos SDT

TDS COMENTÁRIOS
< 1000 Seguro Sem riscos para suínos
1000 – 2999 Satisfatório Pode ocorrer diarréia
3000 – 4999 Satisfatório Pode ocorrer recusa
temporária à água
5000 – 6999 Razoável Altos níveis devem ser
evitados para porcas em
lactação e gestação
7000 – 10000 Inadequado Risco para porca em
gestação, lactação ou suínos
jovens ou àqueles expostos a
estress calórico
> 10000 Não recomendado
Adaptado de FRASER et al., 1993

Dureza- Na prática, dureza é representada pela soma dos íons cálcio e magnésio e muitas
vezes é confundida com SDT. A dureza não tem efeito na saúde animal, mas, em
condições de supersaturação, pode haver a formação de precipitados sólidos, sobretudo
em altas temperaturas. Os sabões precipitados aderem à superfície interna de tubos, filtros
e bebedouros diminuindo a vazão de água. A água é considerada “mole” quando a dureza
está abaixo de 50 ppm; acima de 300 ppm é considerada muito dura.

45
Quadro 3. Classificação de dureza da água

Dureza (mg/l ) Descrição


0 – 50 Branda
50- 150 Moderadamente pesada
150 –300 Pesada
> 300 Muito pesada
extraído de PEAVY et al (1986)

pH- pH inadequado é um problema raro. A maioria das amostras encontra-se


dentro da faixa aceitável de 6,5 a 8,5. Entretanto, um alto pH prejudica a eficiência de
cloração e um baixo pH causa precipitação de alguns agentes anti-bacterianos presentes na
água, o que poderia acarretar a presença de resíduos destes compostos na carcaça dos
animais (sulfonamidas, por exemplo).

Cloretos- Geralmente encontram-se em baixos níveis no subsolo. Em situações


específicas podem estar presentes em níveis elevados ( entre 250 e 500 ppm), podendo dar
à água um sabor desagradável. Se o cloreto e o sódio (sal comum) estão presentes em altos
níveis (áreas litorâneas), os animais bebem muita água, resultando em diarréia e grande
produção de urina. Este problema pode ser minimizado reduzindo o sal comum da dieta.

Ferro e Manganês- Ferro e Manganês freqüentemente ocorrem juntos e não


apresentam problemas em relação à saúde nas concentrações normalmente encontradas.
No entanto, pequenas quantidades destes dois metais podem causar problemas de cor na
água. Além disso, algumas bactérias usam compostos de Fe e Mn como fonte de
energia e isto pode ocasionar problemas de gosto e odor. Devido a suas propriedades
oxidativas, precipitam no estado de óxidos e podem tampar as telas finas dos bebedouros.
Uma cloração aguda pode temporariamente resolver este problema, mas deve ser repetida
regularmente. Neste caso, um método indicado é misturar 25L de água sanitária em 900L
de água e deixar por uma noite o reservatório sem uso.

Sulfatos: sulfatos de sódio e de magnésio são laxativos, podendo provocar


diarréias, principalmente em animais jovens.

Nitratos e nitritos: o nitrato não é particularmente tóxico, desde que não haja
mecanismos para que ocorra sua redução para a forma de nitrito. Este último diminui a
capacidade de transporte de oxigênio no sangue por sua combinação com a hemoglobina
formando metahemoglobina levando à morte entre 1,5 e 5 horas após uma ingestão de
dose letal.

46
TRATAMENTO DA ÁGUA

CLORAÇÃO: A eficiência vai depender da quantidade de nitritos, ferro, amônia,


matéria orgânica e pH. Quanto mais alta, mais Cloro.

AMACIANTES: muitos tipos são disponíveis. O mais comum é uma unidade de troca de
íons, onde sódio é colocado no lugar de cálcio e magnésio, o que faz que a dureza
diminua, mas o total de SDT fique alto. Portanto, é importante saber que amaciar a água
fará a quantidade de Na aumentar.

Taxa de vazão de água na criação de animais domésticos

A água potável é uma fonte limitada e limitante na produção. As perdas de água


nas instalações aumentam o volume dos efluentes, os custos de armazenagem, o
processamento dos efluentes, o transporte e a aplicação e acarretam problemas de
deposição aceitável no ambiente. Por este motivo, a taxa de vazão de bebedouros deve ser
sempre motivo de preocupação por parte do técnico. Além disso, vazões adequadas
evitarão que os animais ingiram menos água do que o necessário, seja por jatos muito
fortes que afugentam os mesmos, seja por vazões muito pequenas que demandam muito
esforço.

47
METABOLISMO DE CARBOIDRATOS

Os CHO’S no organismos são a fonte essencial de energia e o material que dá origem à


biossíntese de gorduras e AA não-essenciais. Os produtos resultantes da digestão dos CHO’S
ofertados aos monogástricos diferem consideralvelmente daqueles dos ruminantes. No primeiro
caso, o produto resultante mais importante é a GLICOSE, que se origina principalmente do amido,
constituinte básico da alimentação de suínos e aves e que é absorvida nesta forma ou como outra
“ose”, no intestino delgado . Para ruminantes, entretanto, CHO’S solúveis e insolúveis são
fermentados a ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS (AGV), sendo estes a fonte energética mais
importante e o ponto de partida para a biossíntese de constituintes corporais. Os AGV são
absorvidos na parede ruminal indo para a circulação sanguínea para então serem transportados aos
orgãos.

FUNÇÕES METABÓLICAS DOS CHO’S NOS MONOGÁSTRICOS

Glicose é a principal fonte de energia para animais monogástricos e é transportada pelo sangue
que mantém a concentração desta substância dentro de limites rígidos. Em humanos e animais de
um estômago só, a concentração fica entre 70 e 100 mg/ml; em ruminantes é mais baixa – 40 a 70
mg/ml, e em aves mais alta – 130-260 mg/ml. Esta concentração é resultado de dois processos
diferentes:

(1) entrada de glicose no sangue a partir do intestino (dieta), figado e outros orgãos;
(2) retirada de glicose do sangue para tecidos como figado, músculos, rins, cérebro… e seu uso
para oxidação ou biossíntese.

O nível de glicose no sangue é mantido pela conversão da glicose circulante em glicogênio


(GLICOGÊNESIS, sendo o principal lugar o figado) e pela reconversão do glicogênio em glicose
(GLICOGENÓLISE).

Alimento abundante
Glicose Glicogênio

Jejum

FONTES DE GLICOSE SANGUÍNEA

(1) Absorção de glicose a partir da digestão de oligo e polissacarídeos.


(2) Biossíntese de glicose a partir de fontes não glicídicas como AA, ácido lático, ácido propiônico
e glicerol, particularmente no figado (GLICONEOGÊNESE). Para omnívoros esta glicose
formada é considerável, mas nunca é maior do que a quantidade obtida via alimento. Para
48
carnívoros, como sua dieta é pobre em CHO’s, a maior parte da glicose provém da biossíntese,
principalmente a partir de aminoácidos.
(3) Glicogênio armazenado no figado serve como um reservatório de glicose.

GLICONEOGÊNESE vs GLICÓLISE

Gliconeogênese é o processo inverso da glicólise. É a formação de glicose a partir de outros


compostos como AA e glicerol. Piruvato, o composto intermediário mais importante na
transformação de substâncias glicogênicas em glicose, é transformado pela enzima piruvato
quinase em oxalacetato que é transformado em fosfoenolpiruvato. Duas moléculas deste composto
C3 são condensadas para formar uma molécula de glicose (C6).

Piruvato Oxalacetato (2) Fosfoenolpiruvato Glicose

CONVERSÃO DE GLICOSE EM GORDURA

A quantidade de glicose que pode ser reservada como glicogênio é limitada. Assim, quando
a ingestão de CHO’S excede a quantidade necessária para produzir energia e reservá-la como
glicogênio, esta é convertida à gordura. Este caminho envolve a quebra de glicose a piruvato e
este em AcetilCoA que por sua vez pode ser convertida em ácidos graxos de cadeia longa. Por
outro lado, o processo invertido, de converter ácidos graxos de cadeia longa em glicose, não existe,
pois não há enzima capaz de carboxilar acetilCoA em piruvato.
Os ácidos graxos formados podem ser estocados como triglicerídeos no tecido adiposo ou
usados imediatamente para produção de energia, particularmente nos músculos. O glicerol presente
nos triglicerídios deriva da glicose.

OXIDAÇÃO COMPLETA DA GLICOSE EM CO2 E ÁGUA PRODUZINDO ATP

Glicose é a unica fonte de energia nas celulas vermelhas do sangue e quantitativamente é o


combustível mais importante para o cérebro, tecido nervoso e músculo.
A completa oxidação da glicose se dá através da descarboxilação do piruvato a acetilCoA
que entra no ciclo do ácido tricarboxilico (ciclo de Krebs). O ciclo envolve a condensação de um
composto C2 (acetilcoA) com um composto C4 (ácido oxalacético) produzindo um composto C6
(ácido cítrico), com a subsequente perda de CO2 em dois momentos até produzir um composto C4
levando ao reaparecimento do ácido oxalacético.
A produção total de ATP a partir da oxidação de 1 mol de glicose é de 38 ATP:

 38 x 52 = 1976 kJ por mol de GLI (52 kJ por mol de ATP)


 Quantidade de calor liberada na oxidação completa de 1 mol de glicose = 2870 kJ
 Eficiência do processo = 1976/2870 = 69%

49
Uma alternativa à oxidação completa da glicose, via ciclo de Krebs, é o chamado CICLO
DAS PENTOSES. Esta via ocorre somente em alguns tecidos como fígado, tecido adiposo e
glândula mamária, locais aonde ocorre uma importante síntese de ácidos graxos. Isto porque neste
ciclo o principal produto formado é a coenzima reduzida NADPH fundamental para a síntese dos
ácidos graxos.
A produção de ligações ricas em energia é muito próxima, quantitativamente, daquela
obtida na oxidação da glicose via ciclo de Krebs.

Glicose–6-fosfato + 12 NADP+ 6Co2 + PO43- +(NADPH + H+)

REUTILIZAÇÃO DA GLICOSE VIA CICLO DE CORI

O glicogênio muscular armazenado serve como uma fonte anaeróbica, quando a glicose não
pode ser totalmente oxidada no ciclo de Krebs por falta de O2 suficiente. Sob condições
anaeróbicas, a glicose mobilizada a partir do glicogênio muscular, é transformada em lactato.
Como o lactato não pode ser metabolizado no músculo, passa para o sangue é captado pelo figado
para a ressíntese de glicose e depois glicogênio.

Hipertemia maligna e pickled pigs (“suínos em conserva”)

Em pacientes com hipertemia maligna vários agentes, inclusive o popular anestésico


halotano, produzem um dramático aumento na temperatura corporal, acidose
metabólica e respiratória e rigidez muscular. A morte ocorre geralmente na primeira
vez que a pessoa é anestesiada. Um fenômeno similar, mas não idêntico, ocorre em
suínos, chamada síndrome do estresse porcino. Esta doença genética geralmente se
manifesta quando os animais estão sendo transportados para o abate. A carne dos
suínos mortos devido à síndrome é pálida (pale), exudativa (watery) e com um pH
muito baixo (por isso o termo em inglês pickled). O músculo é considerado o
primeiro sítio de ação da síndrome. Este torna-se rígido e gera ácido láctico e calor,
este último talvez por uma acelerada hidrólise de ATP:

ATP + H2O ADP + Pi + calor

50
METABOLISMO DE LIPÍDIOS
Lipídios são caracterizados por seu grande valor energético. Uma das explicações para isto
é que são moléculas não associadas com água e, portanto com maior concentração de energia por
peso. Uma grama de um lipídio típico produz em torno de 9,45 kcal de calor quando
completamente queimado, comparado com 4,1 kcal de um carboidrato típico. Desta forma diz-se
que as gorduras são 2,25 x mais energéticas do que proteínas e carboidratos. Além disso, lipídios
são fundamentais como formadores des membranas, combinados neste caso com outros grupos de
nutrientes como carboidratos (glicolipídios) ou minerais (fosfolipídios) a fim de dar um caráter
anfíbio (parte hidrofílico, parte hidrófobo) a estas membranas.

Nas dietas animais a gordura corresponde a menos do que 20% dos nutrientes totais; em
particular no caso de aves alcança um máximo de 5 a 7%; em ruminantes um máximo de 3 a 4% e
nos graõs a gordura não representa mais do que 5%.

No organismo animal os lipídios são armazenados na forma de triglicerídios no FÍGADO e


no TECIDO ADIPOSO. É importante pensar no porque dos animais terem reservas na forma de
lipídios e não de outro grupo de nutrientes. Por serem mais concentrados energeticamente
(possuem menos água), são necessários em menor quantidade. Basta imaginarmos que para a
mesma quantidade de energia encontrada num homem de 70 kg, se seu tecido de reserva fosse
glicogênio, este homem teria que pesar 55 kg a mais.

FUNÇÕES DA GORDURA

São 3 as funções das gorduras a saber:

(1) reserva de ATP; representa uma grande fonte de energia, com digestibilidade superior a 80%.
(2) isolante ao frio;
(3) transporte e armazenamento das vitaminas lipossolúveis A,D,E e K

Além disso serve como aglutinante nas rações e melhora a palatabilidade das mesmas.

SÍNTESE DOS ÁCIDOS GRAXOS

A síntese dos AG que não são provenientes da dieta, é feita no fígado, principalmente, a
partir de moléculas intermediárias do metabolismo dos carboidratos, alguns aminoácidos e outros
AG . Na maioria das vezes, o ácido palmítico (AG saturado, de 16 carbonos) é o primeiro a ser
sintetizado e os outros AG são modificações deste primeiro. ACETILCOA é a fonte direta de todos
os átomos de carbono para esta síntese e os AG são construídos pela adição sequencial de 2
unidades de carbono, até o grupo carboxila no final da cadeia. Nos mamíferos, a enzima que
intermedia esta síntese é a ácido graxo sintetase. A maior parte desta biossíntese ocorre no citosol
da célula.
51
Os outros AG (com exceção dos AG essenciais) são formados pela modificaçao do
palmitato através de 3 processos- elongação (aumento da cadeia de C), desaturação(colocação de
ligas duplas entre C) e hidroxilação (colocação de um grupo hidroxil no carbono- 2 para formação
de esfingolipídios entre outros).

SÍNTESE DOS TRIGLICERÍDIOS

São 3 os principais locais de síntese:

1)Fígado
2)Tecido adiposo
3)Glândula mamária

A predominância do primeiro sobre o segundo local e vice-versa depende da espécie. Assim


é que nos suínos, a maioria da síntese é feita do tecido adiposo, enquanto que nas aves, o principal
local de síntese é o fígado. Nas vacas e ovelhas, 1/3 da síntese se dá no fígado e 2/3 no tecido
adiposo.

MOBILIZAÇÃO DOS TG

O primeiro passo em recuperar um AG armazenado para produzir energia é a hidrólise dos


TG. As lipases no tecido adiposo são as enzimas- chave do processo. Os AG e Glicerol
hidrolisados pelas lipases do tecido adiposo são liberados no sangue circulante, aonde os AG são
ligados a albuminas séricas e transportados aos tecidos para uso. O glicerol volta ao fígado aonde
participa nas rotas glicolíticas ou gliconeogênicas.

UTILIZAÇÃO DOS AG PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA

Este proceso ocorre dentro da mitocôndria e também dentro dos peroxisomas e está
integrado com procesos de produção de energia de outras fontes (Vide capítulo sobre distúrbios
metabólicos-cetose). Os intermediários ricos em energia produzidos a partir de AG são os mesmos
que os obtidos a partir de açucares, isto é, NADH e FADH2, e os estágios finais do processo
oxidativo também são os mesmos, ou seja, o metabolismo da AcetilCoA pelo ciclo de Krebs e a
produção de ATP no sistema de transporte de elétrons na mitocôndria.
Os AG são oxidados por um mecanismo similar porém invertido, mas não idêntico, ao do
processo de síntese do palmitato. Isto é, unidades de 2 carbonos são removidas sequencialmente a
partir do grupo carboxila após passos de desidrogenação, hidratação e oxidação para formar ß-
cetoácidos que são divididos por tiólise.
Já que a maioria dos AG estão fora da mitocôndria, e que a membrana é impermeável à
coenzima A e seus derivados, deve haver alguma maneira de fazer este transporte eficientemente
para dentro da organela. Uma molécula chamada CARNITINA faz esta interface. No lado de fora,
o grupo acyl (AG ativado) liga-se à carnitina. Esta (acil carnitina) passa pela membrana

52
mitocondrial e a carnitina é novamente liberada para refazer a viagem de volta. Este transporte
ocorre com AG de cadeia longa (C12 a C18). Em contraste, AG de cadeia curta, podem atravessar
livremente a membrana mitocondrial, portanto, são carnitina-independentes.

Deficiência genética em carnitina ou em carnitina palmitoil trasferase

Há várias doenças causadas por anormalidades no sistema de transporte de


AG para dentro da membrana mitocondrial que podem causar deficiência de
carnitina ou mal funcionamento da enzima carnitina palmitoil transferase. Os
sintomas clínicos podem variar muito e vão desde moderada, mas recorrente dor
muscular, até fraqueza severa e morte. Ocorre acúmulo patológico de TG nos
músculos, já que os AG são ineficientemente transportados para dentro da
mitocôndria a fim de serem oxidados. Terapia com carnitina adicional se mostra
eficiente, bem como o aumento, na dieta, de TG contendo AG de cadeia médias que
são carnitina-independente. Quando a deficiência é enzimática é menos
problemático, ocorrendo dores musculares somente com exercícios intensos. Neste
caso, TG não se acumulam nos músculos.

Influência dos CHO's e do colesterol sobre o metabolismo de lipídios

Dietas com elevada concentração de sacarose aumentam a propensão à


aterosclerose, e a elevados teores de triglicerídios e colesterol no plasma. Nos EUA a
aterosclerose é a primeira causa de mortes em humanos. O colesterol no soro
também tem relação com aterosclerose. Gorduras animais saturadas como o ovo, a
manteiga, sebo, toucinho, aumentam colesterol do soro. Triglicerídios no sangue
também estimulam a síntese do colesterol sanguíneo, assim como reduzem sua
excreção. Ao contrário, AG insaturados aumentam a excreção do colesterol. A
gordura saturada não deveria exceder 10% da gordura total máxima, que por sua
vez não deve passar de 35% das calorias totais da dieta.
Os riscos de enfermidades coronarianas também aumentam conforme
aumenta a idade, com o aumento de lipídios no soro, com hipertensão, nos fumantes,
com obesidade, com stress psicológico e em função da carga genética. Além disso,
pessoas do sexo masculino são mais propensas a estes problemas. Desta forma, desde
1940, há uma tendência mundial em diminuir a gordura animal na dieta e substituí-
la por gordura insaturada, além da inserção cada vez maior no mercado de produtos
livres de gordura (fat free) ou com baixo teor de gordura (produtos light).

REGULAÇÃO DO COLETEROL PLASMÁTICO

O fluxo de lipídios não pode ser feito na forma de moléculas livres. Os triglicerídios são
transportados ligados a lipoproteínas. Há lipoproteínas de baixa densidade (LDL- low density

53
lipoprotein), que contêm mais gordura do que proteína, e as de alta densidade (HDL-high density
lipoprotein) com mais proteína do que gordura. Em saúde humana, mais importante do que a
quantidade de triglicerídios plasmáticos é a relação entre HDL e LDL.

O colesterol também circula junto a estas lipoproteínas, especialmente com LDL. O


colesterol pode ser obtido pelo organismo pela via alimentar e pela biossíntese no fígado e
intestino. A perda do mesmo se dá através das fezes e pelo catabolismo dos sais biliares. Os pontos
de regulação são:
-síntese de colesterol pelo fígado é regulada pela ingestão através de retroalimentaçao negativa.
Portanto, a ingestão de colesterol inibe síntese hepática.

-ácidos graxos saturados: estimulam síntese de colesterol e reduzem sua excreção.Podem alterar
entre 15 a 20% os níveis de coleterol plasmático.

-ácidos graxos insaturados: aumentam a excreção de colesterol.

-estresse, fumo, sexo das pessoas: também são fatores de influência.

- o número de receptores hepáticos para LDL é influenciado pela genética, idade, sexo (mulheres
após menopausa diminuem capacidade de sintetizar receptores).

COMPLEXOS DE LIPÍDIOS CIRCULANTES NO SANGUE:

1) QUILOMICROM: TG envolvidos por uma película de proteína, fosfolipídio e colesterol.


Forma pela qual as gorduras entram na corrente sanguínea ou linfática.
2) VLDL: 50% TG, 15% fosfolipídeos, 15% colesterol e 10% proteína.
São sintetizados no figado e transportam TG endógenos do figado para os tecidos periféricos.
3)LDL: 45% coleterol, 23% proteína, 20% fosfolipideos e 10% trigliceridios.
É’ o maior carreador de colesterol no sangue.
4)HDL: 55% proteína, 23% fosfolipídios e 16% colesterol e 4% TG.
São sintetizados no figado e intestino. Carregam colesterol endógeno e fosfolipídios dos tecidos
para o sangue.

Cálculos biliares

A bile contém não somente sais biliares como também colesterol, e fosfolipídios.
Se a proporção entre os 3 não estiver dentro de limites muito rígidos, parte do
colesterol se precipita na vesícula ou no duto biliar, formando cálculos. Com a
obstrução podem haver problemas digestivos (grande parte da gordura não será
absorvida, esteatorréia...). Sem a secreção de bile, a bilirubina (pigmento biliar
formado pela degradação da porçao heme da hemoglobina) acumula-se no sangue e
tecidos produzindo uma coloração amarela chamada icterícia. Há no mundo alguns
54
grupos étnicos mais propenso a estes distúrbios como os índios americanos. As
mulheres são também duas vezes mais propensas do que os homens a terem cálculo
biliar.

ESTABILIDADE DAS GORDURAS

Gorduras facilmente rancificam, oxidando-se. A oxidação é um processo altamente


destrutivo que afeta os ingredientes e as dietas animais. Como resultado, afeta o desempenho
animal e aumenta os custos de produção.
A degradação oxidativa das gorduras começa no enlace de C-H adjacente à liga dupla entre
carbonos. A reação é autocatalítica e a menos que seja interrompida, cresce geometricamente. Sem
seu controle, há formação de peróxidos, radicais livres e polímeros de ácidos graxos. Há inúmeras
evidências de que radicais livres causam danos às membranas e estão relacionados à presença de
doenças (diminuição da capacidade imunológica) e à morte. Nas aves a oxidação dos alimentos
pode causar encefalomalácea e diátesis exudativa, pior conversão alimentar, crescimento lento, má
pigmentação e aumento da mortalidade. Nos suínos pode ocorrer inflamação do tecido adiposo e
inapetência. A formação de sub-produtos secundários à oxidação como aldeídos e cetonas, reduz a
palatabilidade do alimento. A sequência da reação oxidante pode dividir-se em 3 fases descritas por
Wiseman (1986). A fase inicial pode ter como catalisadores vários fatores como luz, metais,
exposição ao oxigênio e temperatura. Esta reação pode parar através da ação de antioxidantes que
"limpam" os radicais livres acabando com a sequência de propagação.

Início RH R . + H.
Propagação .
R + O2 RO2 .
RO2 . + RH .
R + ROOH

Terminação . .
R +R R : R

A-H + R . RH + A .
Onde:
RH: molécula de ácido graxo
H: átomo de H lábil
O2: oxigênio molecular

. : elétron desemparelhado
55
. .
R . e RO2 : radical livre
R : R- dois ácidos graxos que se ligaram (polimerização)
ROOH: peróxido orgânico
A-H: antioxidante

Como principais anti-oxidantes naturais temos a vitaminas A, C e E, além de haver outros


anti-oxidantes artificiais (BHT, BHA) que também podem ser adicionados ao ingrediente propenso
à rancificação a fim de garantir a estabilidade do mesmo. Portanto, sempre que se fizer uso de
ingrediente propenso à peroxidação, como gorduras, óleos, ou oleaginosas maceradas, deve-se
adicionar preventivamente algum agente anti-oxidante.

Produção de calor através do tecido marrom

A produção de calor pode ser feita por duas formas : através do tremor
muscular e do não-tremor. Neste último, o principal responsável é o chamado tecido
adiposo marrom, presente em animais jovens e também em animais que hibernam. É
chamado desta forma por possuir muitas mitocôndrias e portanto ser muito
vascularizado, apesar da mitocôndrias serem morfologicamente distintas daquelas
presentes no fígado. É encontrado em locais específicos como perto da escápula, no
tórax, pescoço e abdomem.
Como é a ação do tecido marrom? Na cadeia respiratória, o transporte de
elétrons é usado para aumentar a concentração de prótons (H+) na intermembrana
mitocondrial e este gradiente de prótons constitui uma reserva de energia. A energia
é obtida através da permissão de que os prótons voltem para a matriz e, através de
enzimas específicas, esta volta se liga à produção de ATP. No entanto, a membrana
do tecido marrom tem agentes "desconectadores". O principal é uma proteína
chamada termogenina que permite que os prótons vão e venham através da matriz
sem a devida produção de ATP. Consequentemente, esta reserva acumulada de
energia no gradiente de prótons aparece na forma de calor.

56
METABOLISMO DE PROTEINAS

A palavra proteína se origina do grego proteios e quer dizer primeiro. A designação é


apropriada, visto ser a proteína o componente mais fundamental do tecido animal . Todas as células
contêm proteínas e seu suprimento, via dieta, deve ser contínuo ao longo da vida. As proteínas são
necessárias para reparar tecidos já formados, para o crescimento dos tecidos novos e para a
formação dos produtos animais como leite e ovos. A maioria dos alimentos protéicos são de
origem animal, desta forma a produção de proteínas torna-se o principal objetivo da produção
animal.
São compostos orgânicos de alto peso molecular que, além de conter C, O e H, também
possui N e, em alguns casos, S. Cada espécie tem suas proteínas específicas. Logo, um grande
número de proteínas ocorrem na natureza.

Quando uma proteína é ingerida via alimentação a eficiência de hidrólise da mesma


determina o grau de absorção dos AA individuais e contribui para seu valor nutricional. O valor
nutricional também é dado pelo balanço de aminoácidos absorvidos. Como exemplo temos que
uma proteína pode ser facilmente hidrolisada, mas se não for bem balanceada, ainda que somente
um AA esteja em deficiência, ela não terá um bom valor nutritivo.

A absorção das proteínas se dá via absorção de AA ou di e tripeptídios. Somente nas


primeiras 24 horas de vida é que recém-nascidos absorvem proteínas intactas por pinocitose. Não
há evidências que proteína intacta seja necessária, mas sim aminoácidos. Algumas espécies
utilizam nitrogênio não protéico (NNP) para síntese microbiana de AA como é o caso de
ruminantes adultos, que podem depender inteiramente de NNP.

Deficiência de proteína na dieta é muito comum, seja porque a maioria das fontes
energéticas são baixas em proteína, seja porque os suplementos protéicos são caros. Por dia, a
proteína exigida é maior para animais em crescimento do que para animais em mantença; para
machos do que para fêmeas e varia conforme a espécie, o tipo e fase de produção em que o animal
se encontra (ex: vaca leiteira no pico de produção requer mais proteína do que uma vaca que não
está produzindo).

SÍNTESE, DEGRADAÇÃO E “TURNOVER” DE PROTEÍNAS

“Turnover” é a taxa em que os constituintes protéicos são repostos. Em magnitude chega a


ser 5 a 10 vezes maior do que a quantidade da proteína ingerida. 80% dos AA para síntese tecidual
vêm da decomposição de proteínas teciduais e só 20% vem da dieta.

57
Quadro 1.Turnover da proteína total do corpo em várias espécies (animais adultos)
Espécies Peso Vivo (kg) “Turnover” protéico (g/kg de peso por
dia)
Rato 0,510 20,5
Coelho 3,6 18,0
Cachorro 10,2 12,1
Ovelha 67 5,3
Homem 77 5,7
Vaca 628 3,7
Adaptado de Garlick, 1980

Aminação

Dos 19 AA comumente presentes no corpo, 9 deles podem ser sintetizados, particularmente


no fígado. O esqueleto de carbono destes AA pode vir de carboidratos, gorduras ou AAE. O grupo
-amino se origina de íons amônia (aminação) ou a partir de amino grupos de outros AA
(transaminação).

Exemplo: ácido glutâmico se forma pela aminação do cetoácido -cetoglutarato proveniente da


quebra de açúcares

COOH COOH

CO NH3 + NADH CHNH2 + NAD + H2O

CH2 CH2

CH2 CH2

COOH COOH

-cetoglutarato ácido glutâmico

OBS.: a enzima necessária para a síntese de ácido glutâmico requer NIACINA que é uma
vitamina.

Transaminação
É uma reação reversível entre um animoácido e um cetoácido, permitindo que um
aminoácido se transforme em outro. A coenzina da vitamina B6 (PIRIDOXINA), chamada
58
Piridoxal fosfato, catalisa reações deste tipo. No exemplo abaixo, ácido oxalacético (cetoácido) e
ácido glutâmico (AA), transformam-se e ácido aspártico (AA) e ácido -cetoglutárico (cetoácido)
respectivamente.

COOH COOH COOH COOH

CH2 CH2 CH2 CH2

CO CH2 CH2NH2 + CH2

COOH CHNH2 COOH CO

COOH COOH

Ác. oxalacético + ác. glutâmico ác. aspártico + ácido -cetoglutárico

Outros AA não essenciais são formados por transaminação a partir de produtos do


catabolismo dos ácucares:

 ALANINA a partir de PIRUVATO

 SERINA a partir de ácido 3-fosfoglicérico

 GLICINA obtida a partir de SERINA

A conversão dos D-AA em L-AA tanbém se faz por transaminação, com exceção de
lisina e treonina, pois faltam as transaminases específicas.

Desaminação

É uma reação que resulta na perda de amônia e na conversão do aminoácido em seu


cetoácido correspondente. Este pode ser oxidado para formação de energia, usado para síntese de
glicose ou convertido à gordura.

RCH(NH2)COOH + ½ O2 RCOCOOH + NH3

Descarboxilação

59
A descarboxilação de um AA leva à formação de substâncias importantes biologicamente
como serotonina e histamina (requeridas para certas funções do tecido nervoso), ácido p-
aminobutírico (no cérebro), taurina (constituinte da bile).
R R

CHNH2 CH2NH2

COOH CO2

TRANSPORTE DE AA ENTRE ORGÃOS

Alanina e Glutamina são quantitativamente os AA mais importantes para transporte entre


tecidos. Eles também são os principais AA liberados do músculo para o sangue (30 a 40% do
total). No músculo, alanina é principalmente formada por trasaminação dos AA ramificados
(leucina, isoleucina e valina) com o ácido pirúvico. A glutamina é formada pela transferência de
amônia ao ácido glutâmico.

COOH + NH3 + ATP CONH2 + ADP + Pi

CH2 CH2

CH2 CH2

CHNH2 CHNH2

COOH COOH
Ácido glutâmico Glutamina

CICLO GLICOSE- ALANINA:

Este ciclo tem objetivo de fornecer ao fígado precursores para a síntese de glicose, à
semelhança do Ciclo de Cori para lactato. A alanina serve como um veículo para transferir
nitrogênio originário, principalmente dos AA de cadeia ramificada, do músculo para o fígado, para
conversão em uréia.

Fígado Sangue Músculo

Glicose
Glicose Glicose

Pivuvato Uréia Piruvato


NH2

60
NH2
Alanina Alanina
Alanina Aminoácidos

FUNÇÕES ESPECIAIS DE ALGUNS AA

HISTIDINA HISTAMINA

GLICINA PURINA

ÁCIDO ASPÁRICO PURINA/ PIRIMIDINA

GLUTÂMICO PIRIMIDINA

LISINA CARNITINA

TRIPTOFANO NIACINA
SEROTONINA
FENILALANINA

TIROSINA NOREPINEFRINA

HORMÔNIOS DA TIRÓIDE

DOPAMINA, MELANINA

SERINA ETANOLAMINA COLINA

METIONINA CREATINA CREATININA (rim)


EPINEFRINA

CISTEÍNA CISTÍNA

TAURINA

DESBALANÇO ENTRE AA

É uma mudança na proporção de AA que deprime o consumo alimentar e o crescimento.


Estes desbalanços são consequência particularmente da adição de um ou mais AA essenciais em
uma dieta de baixa proteína, que serve como dieta controle. Os efeitos adversos podem ser

61
prevenidos, ou mesmo revertidos pela adição de uma quantidade relativamente pequena do AA
limitante.

Exemplo: quando a quantidade de lisina de uma dieta à base de arroz é mantida e aumenta-se o
conteúdo de treonina aos poucos, alcança-se um ponto em que o crescimento dos ratos é
retardado. Reverte-se este quadro acrescentando mais lisina à dieta. O mesmo acontece quando a
treonina é mantida e a lisina aumenta. Ocorre desproporção entre o primeiro e o segundo AA
limitante.

ANTAGONISMO ENTRE AA

Refere-se à depressão no crescimento que pode ser revertida com a adição de um AA


estruturalmente similar ao antagônico.
Exemplo: excesso de lisina em aves causa depressão no crescimento. Esta depressão pode ser
revertida colocando-se arginina adicional.
Difere do desbalanço porque o AA suplementado para reverter quadros negativos não precisa ser
necessariamente o AA limitante, mas sim um AA estruturalmente similar ao colocado em
excesso.

No exemplo abaixo uma dieta de caseína suplementada com metionina é fornecida. A


adição de 3% de leucina causa uma depressão no crescimento só prevenida com a adição de valina
e isoleucina. Com adição de treonina (o AA limitante neste tipo de dieta) não há reversão do
quadro.

Efeito da suplementação de vários AA dados a ratos na ação da leucina em retardar crescimento


Caseína (%) L-leucina (3%) Suplementos de Amino ácidos Ganho de Peso (g
em 2 semanas)
9 - - 33
9 3,0 - 9
9 - 0,9% DL-treonina 44
9 3,0 0,9% DL-treonina 8
9 3,0 0,5% DL-isoleucina 31
9 3,0 0,5% DL-isoleucina 23
9 0,5% DL-isoleucina 30
+ 1,2% DL-valina
Adaptado de Bondi, 1987.

Exemplos de antagonismos:

1) lisina x arginina
2) arginina x glicina x metionina
3) metionina x treonina
62
4) histidina x fenilalanina x tirosina
5) treonina x glicina
6) leucina x valina x iso valina

Toxicidade

Toxicidade ocorre quando o efeito adverso do AA em excesso não pode ser revertido pela
suplementação com outro AA. Metionina, tirosina e triptofano, numa quantidade de 2 a 3 vezes a
mais do que a exigência, podem causar sérias irregularidades, além de atraso no crescimento.
Excesso de tirosina causa lesões nos olhos. A ação tóxica da metionina (a mais tóxica de todos
AA) é atribuída à inibição da síntese de ATP, já que a metionina pode ficar ligada à adenosina.

Algumas doenças causadas por erros de metabolismo envolvendo


fenilalanina:

FENILCETONÚRIA:É uma doença causada pela deficiência de uma enzima do


metabolismo dos AA. O nome decorre da excreção de ácido fenilpirúvico
(fenilcetona) na urina. Também é possível analisar o nível de fenilalanina no sangue:
mais de 20 mg/100ml é considerado positivo. Há falta da enzima fenilalanina
hidroxilase que participa da hidroxilação de fenilalanina em tirosina. Há severos
sintomas neurológicos como baixo QI. Outros sintomas são falta de melanina
ocasionando pele, olhos sem coloração (além de outros tecidos internos, aonde
melanina normalmente se acumula- melanina se forma a partir de tirosina). O
tratamento convencional é baseado em oferecer à criança uma dieta com pouca
fenilalanina até os 4, 5 anos e restringir proteína na dieta por vários anos ou por
toda a vida. A doença também pode ser causada pela falta do cofator da enzima
bipterina. Como este também é necessário para síntese de neurotransmissores, as
funções do sistema nervoso central são seriamente afetadas havendo deficiência de
precursores de serotonina e catecolaminas.

ALBINISMO: falta a enzima tirosinase e melanina não é formada.

DOENÇA DE PARKINSON: caracterizada por tremor muscular contínuo em


função da degeneração das células especializadas em produzir dopamina, um
meurotransmissor. Os sintomas podem ser aliviados em parte fornecendo-se dopa,
precursor da dopamina, apesar da degeneração celular continuar mesmo com o
tratamento.

SÍNTESE DA URÉIA E ÁCIDO ÚRICO

Uréia é formada no fígado por um mecanismo cíclico (descoberto por Krebs)


1) amônia + C02 = carbamil fosfato

63
2)carmabil fosfato + ornitina = citrulina
1) citrulina + N do ácido aspártico = arginosuccinato
2) arginosuccinato separa-se em arginina e fumarato. Este última retorna para o CK e a arginina se
divide em ornitina (ciclo) e URÉIA

NH3 + CO2
URÉIA carbamil fosfato
ornitina citrulina
aspartato

arginina arginosuccinato

fumarato

Custo de produzir uréia: são necessárias 4 ligações fosfato (3ATP e 1 P~P). Além disto, 0,9
mol de ATP é usado na excreção. Assim o custo total é de 4,9 mol de ATP ( ou 0,43MJ) por 1 mol
de uréia.
As aves excretam ácido úrico, ao invés de uréia. Enquanto que em humanos uréia perfaz
80-90% do N urinário, em aves o ácido úrico é o veículo de 60-80% do N, e a amônia, 10 a 15%. A
biossíntese de ácido úrico ocorre no fígado e rins. A glicina é um dos precursores do ácido úrico, o
que a torna altamente exigida em aves. Mesmo que sintetizada nos tecidos, pode faltar em animais
em crescimento. O último passo – oxidação da xantina a ácido úrico- é controlada pela xantina
oxidase, que contém MOLIBDÊNIO.

Uso do nitrogênio não-protéico por não ruminantes:

Mamíferos não produzem a enzima urease, logo qualquer hidrólise da uréia depende dos
microorganismos do TGI. Somente parte do nitrogênio total pode vir desta fonte. Amônia pode ser
absorvida no rúmen, omaso, ID e ceco. Quanto mais elevado o pH do meio, maior é a taxa de
absorção.

64
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS PROTEÍNAS

1) PROTEÍNA BRUTA (PB)

Quimicamente a proteína de um alimento é calculada a partir de seu conteúdo em


nitrogênio. Assume-se que:

1) todo N está na forma de proteína (o que não é verdade, pois além dos AA há nitratos, nitritos,
aminas, etc...)
3) toda proteína contém 160g N/kg ( o que também resulta em uma simplificação, pois a
quantidade de N depende da origem da proteína) .

Fator de conversão do N em PB de acordo com o tipo de alimento


Ovos, carne, peixe 6,25
Leite e derivados 6,38
arroz 5,98
Cevada, centeio, trigo 5,83
Soja 5,71
Amendoim 5,46

2) PROTEÍNA DIGESTÍVEL

PD é o N do alimento que deve ser digerido e absorvido. A proteína digestível é obtida por
ensaios de digestibilidade e pode ser aparente ou verdadeira. Pode também ser obtida “in vitro”
incubando-se o alimento com pepsina por 48 horas a 37oC.

MEDIDAS DE QUALIDADE PROTÉICA

TAXA DE EFICIÊNCIA PROTÉICA (TEP)

TEP = ganho em peso (g)/ proteína consumida (g)

A resposta se dá em termos de ganho de peso por unidade de proteína ingerida. Os valores


podem ser afetados por sexo, idade, período do experimento, nível de proteína na dieta, etc...

65
30 ovo
PER 20 caseina
semente de algodão
10 glúten
2 4 6 8 10
consumo de N (g)

VALOR BIOLÓGICO OU BALANÇO DE NITROGÊNIO (Thomas e Mitchell)

A porção que atende as necessidades do animal é chamada valor biológico da proteína. Isto
é, entende-se por VB (Valor Biológico) a capacidade de uma determinada proteína do alimento de
preencher as necessidades específicas de aminoácidos de um animal. Portanto, o VB não é fixo
para uma determinada proteína, mas variável, e depende do nível de energia, da ração, da espécie
animal que ingere este alimento e da proporção de aminoácidos da dieta em relação aos
aminoácidos da proteína a ser sintetizada, para obter determinado produto animal. Assim por
exemplo, uma proteína pode ter baixo valor biológico para aves e ter VB médio ou alto para
ruminantes.

Pode ser definido como o nitrogênio (N) absorvido que é retido pelo animal. Um ensaio é
conduzido medindo-se N ingerido, N fecal e N urinário.

VB = Ningerido - (Nfecal + Nurinário) / Ningerido- Nfecal

A fórmula acima se refere ao valor biológico APARENTE, porque deste, o certo seria
descontar o N fecal endógeno e o N urinário endógeno, isto é, aquele N que não é proveniente da
dieta que esta sendo analisada.
Nestes testes, a proteína ofertada deve ser suficiente para permitir uma retenção de N
adequada, mas não deve estar em excesso. Neste caso, haveria um catabolismo aumentado,
diminuindo o VB. Pela mesma razão, outros nutrientes não protéicos também devem ser ofertados
para evitar excesso de catabolismo protéico a fim de fornecer energia.

Exemplo de cálculo do VB VERDADEIRO de uma proteína para manutenção e crescimento de


ratos:

-comida consumida diariamente (g) 6,0


-% de N na dieta 1,04
-N consumido por dia (mg) 62,6
-N excretado na urina (mg) 32,8
-N endógeno excretado (mg) 22,0
-N excretado nas fezes (mg) 20,9
-N fecal excretado (mg) 10,7

66
VBV= 62,6 - (20,9 - 10,7) - (32,8 - 22,0) / 62,6 - (20,9 - 10,7)

VBV = 0,79 ou 79%

 Nfecal metabólico: presente nas fezes, mas não vem da dieta: nitrogênio de resíduos biliares,
das células epiteliais descamadas, da síntese intestinal (N bacteriano).

 N urinário endógeno: está na urina, mas provém do desgaste dos tecidos e não do N do
alimento em questão.

Os dois são obtidos alimentado-se os animais com dietas isentas de N.

Para animais em crecimento sempre haverá uma superestimação do valor biológico da


proteína. Neste caso, o ensaio biológico chama-se “balanço de nitrogênio” e serve para comparar
dois ou mais tipos de dieta num grupo de animais da mesma idade, e não para chegar-se a um
resultado absoluto de valor de uma proteína.

A mistura de AA absorvidos é necessária para a síntese das proteínas teciduais. A


eficiência na síntese depende parcialmente em quão similar estiver a proporção de AA absorvidos
com a proteína a ser formada e parcialmente em quanto esta proporção pode ser modificada.

O corpo tem pouca capacidade de manter AA na sua forma livre e se um AA não for usado
para síntese será imediatamente quebrado para produzir energia ou transformado em outro AA. Se
houver 2 proteínas: (1) com excesso de lisina e deficiência de metionina e outra (2) excesso de
metionina e deficiência de lisina. Considerando as duas separadamente, ambas terão VB baixo.
Fornecendo as duas, aumentamos o VB. Na prática é isto que ocorre: alguns alimentos
suplementam outros em termos protéicos.

ESCORE QUÍMICO

Neste conceito considera-se que a qualidade é dada pelos aminoácidos essenciais (AAE)
comparados com uma proteína considerada padrão, que é a proteína do ovo.

Exemplo: Lisina no trigo x Lisina no ovo

27g/kg x 72g/kg = 27/ 72 = 0,37 ou 37% da riqueza da proteína padrão

ÍNDICE DE AA ESSENCIAIS (IAAE)

Neste caso, todos os aminoácidos essenciais são considerados


n
IAAE = a/a2 x b/be x c/ce x......x j/je
67
aonde:
a,b,c,...j = concentração (g/kg) destes AA na proteína teste
ae, be,ce....je = concentração destes AA no ovo
n= número de AA que entraram no cálculo

Digestibilidade de AA

Muitos dos AA que aparecem nas fezes foram produzidos pelos microorganismos do
intestino grosso. Desta forma para ter-se a medição exata do que foi aproveitado da dieta, muitos
pesquisadores preferem outras técnicas como a digestibilidade ileal. Esta é obtida por modificação
cirúrgica no animal, por diferença entre os AA ingeridos e os que saíram na parte final do íleo.

ENSAIOS BIOLÓGICOS

Compara-se o fornecimento de uma dieta com todos os AA na dose requerida versus uma
dieta com deficiência em um ou mais AA e observa-se ganho de peso, conversão alimentar,
consumo de alimento (variáveis de desempenho), status sanguíneo, imunológico, etc..

QUALIDADE DA PROTEÍNA PARA RUMINANTES

A eficiência no uso do N está na dependência da sincronia entre a liberação de NH3


(degradabilidade dos constituintes nitrogenados da dieta) e da disponibilidade de energia oriunda
dos CHO's da dieta. Mesmo com proteínas de boa qualidade, se a desaminação for rápida, o NH3 é
produzido no rúmem mais rápido do que os microorganismos podem utilizá-lo para síntese de AA
e será absorvido e excretado como uréia. A velocidade e extensão da quebra das proteínas depende
de fatores como a área de contato para o ataque microbiano, a consistência física e a natureza
química da proteína. Portanto, este valor varia de acordo com a situação alimentar. Medidas da
concentração ruminal de amônia refletem um balanço entre quebra de proteínas e síntese sob
condições especificas.

O conceito de digestibilidade parece não estar relacionado com solubilidade, já que caseína,
um tipo de proteína que é rapidamente degradada no rúmem, não é prontamente solúvel, enquanto
albumina, que resiste à quebra, o é.
A disgestibilidade da proteína bacteriana é mais baixa do que a dos protozoários (74% x
91%).

Alguns sistemas para medir qualidade de proteína para ruminantes foram desenvolvidos
baseados no conceito de proteína metabolizável (EUA e Inglaterra-ARC) baseado no conceito de
proteína degradável x proteína não degradável (a fração que escapou da ação microbiana do
rúmem). No caso do conceito americano, proteína metabolizável é a parte da proteína da dieta que

68
é absorvida pelo animal e está disponível para uso a nível tecidual. Neste caso parte dos AA usados
provêm da proteína da dieta que escapou da ação do rúmen e parte é proteína microbiana.

Balisando os dois sistemas, encontra-se o conceito de DEGRADABILIDADE, ou a fração


de proteína que é degradada no rúmem. A proporção de proteína que escapa da ação do rúmem
pode ser estimada in vivo medindo o consumo de N, o N não amoniacal e o N microbiano que
chegam ao duodeno.

Degradabilidade = 1 - N não amoniacal no duodeno - N microbiano


N ingerido na dieta

O método requer medidas acuradas do fluxo duodenal. Para saber qual é o N microbiano
usa-se marcadores como S35, P32, N15. Marcadores diferentes podem variar em até 100% os
resultados. Além disso, também podem haver variações em função no nível de alimentação, do
tamanho e da frequência da dieta. Por fim, a fórmula acima mostrada ignora a fração endógena de
N, que normalmente varia em torno de 50 a 200g/kg de N duodenal.

Outro método para estimar a degradabilidade protéica diz respeito a incubar no rúmen um
saquinho de fibra sintética contendo a dieta a ser testada. Neste caso,

Degradabilidade = Ninicial - Ndepois da incubação

Ninicial

Muitos são os fatores que interferem no resultado final como a relação entre o tamanho de
amostra e o tamanho dosaquinho, o tipo de náilon (porosidade do material), o tipo da amostra, o
tempo de retenção (quanto maior, maior a taxa de desaparecimento), etc...

Valores publicados para degradabilidade dos alimentos são muito variáveis, mesmo assim podem
ser classificados grosseiramente conforme o quadro abaixo:

Degradabilidade de algumas proteínas

classe degradabilidade Exemplos

A 0,71 a 0,90 feno,silagem,cevada


B 0,51 a 0,70 milho flocado, cozido, farelo de soja
C 0,31 a 0,50 farinha de peixe*

* A farinha de peixe é considerada um alimento muito protegido da decomposição ruminal,


também chamada de proteína “by-pass”.

Proteína não degradável ou “by-pass”


69
A proteína microbiana tem um balanço de AA menos favorável do que muitas proteínas
oridinárias de alimentos. Assim, seria mais eficiente se estas passassem pelo rúmen, sem sofrer
ataque dos microorganismos, diretamente para o intestino delgado. A esta proteína que passa
intacta, dá-se o nome de “by-pass”, escape ou não-degradável.
Há muito interesse em saber quanto da proteína de um alimento é não degradável, porém os
dados apresentam muita variabilidade. Proteínas com alto “by-pass” säo: farinha de peixes, de
sangue, de carne, leite, cevada.
Secar forragens aumenta a resistência à degradabilidade, além de tratamento com formaldeído,
tanino, hidróxido de sódio, calor (farelo de soja tratado com extração mecânica-calor- tem maior
taxa de by-pass do que o tratado com solvente). Mesmo com pastos de boa qualidade, a adição de
uma proteína “by-pass” apresenta efeitos benéficos, pois o pasto é altamente degradável em
amônia.

Suplementos para gado de corte comparando o uso de proteína by-pass


Suplemento normal 32%PB “By-pass” 32% “By-pass” 64%
Farelo de soja 55% Alfafa desidratada 72% Alfafa dsd.20% PB 39%
17% PB
Alfafa desidratada 41% Farinha carne 15% Farinha Carne 34%
Minerais 4% Alfafa des.20% PB 8% Farinha Sangue 14%
Uréia 3,2% Uréia 9,7%
Minerais 1,8% Minerais 3,3%

A vantagem de usar-se proteína “by-pass” é que a quantidade de proteína verdadeira pode ser
reduzida e a quantidade de uréia usada pode aumentar. Teoricamente o custo da ração deve baixar.

70
METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS, GORDURAS E
PROTEÍNAS NOS RUMINANTES

CARBOIDRATOS

Há diferenças fundamentais entre ruminantes e monogástricos quanto ao aproveitamento


dos carboidratos da dieta e os produtos finais de seu metabolismo. A grande maioria dos
carboidratos presentes na dieta de ruminantes são celulose, hemicelulose, amido, pectina e
frutosanas. Os CHO’S são fermentados no rúmem a ÁCIDOS GRAXOS VOLATEIS (AGV)
devido à ação das enzimas microbianas. Desta forma a celulose presente nas forragens e
praticamente não utilizada pelas espécies monogástricas , é muito bem aproveitada pelos
ruminantes devido à habilidade dos microorganismos em quebrá-la.

Os principais AGV encontrados no líquido ruminal são acético, propiônico e butírico, mas
também encontramos pequenas quantidades de fórmico, isobutírico, valérico, isovalérico e
capróico. Estes ácidos graxos de cadeia ramificada se originam da quebra de proteínas
(desaminação do aminoácido valina formando o AG isobutírico, ou desaminação da leucina
formando o AG isovalérico).

CH3
CH.COOH (isobutírico)
CH3

CH3.CH
CH.COOH (isovalérico)
CH3

Alguns gases como metano, dióxido de carbono e hidrogênio são sub-produtos da


fermentação ruminal. Uma pequena porção dos CHO’S ingeridos escapa à ação dos
microrganismos passando intactos para o estômago verdadeiro e intestino delgado.

Os principais AGV formados no rúmem são absorvidos na própria parede ruminal (75% no
rúmem, 20% no abomaso e omaso) e são transportados aos tecidos via sangue. Processos de
catabolismo para suprir energia ou biossíntese de compostos como gorduras são feitos a partir de
ácido acético e butírico, enquanto que produção de glicose é feita a partir do ácido propiônico. Nos
ruminantes os sistemas enzimáticos necessários para o metabolismo dos AGV podem ser vistos
como uma adaptação destes animais para poderem usar os produtos finais da atividade microbiana.
Desta forma os AGV fazem o papel que a glicose tem para monogástricos, principalmente no que
diz respeito à produção de energia.

71
A quebra dos CHO’S em AGV pode ser vista com mais detalhes em bibliografia
especifica. Ela é divida em dois estágios:
(1) hidrólise extracelular dos carboidratos complexos (celulose, hemicelulose, pectina) em
dissacarídeos (celobiose, maltose, xilobiose) e em açúcares simples;

(2) os produtos de (1) são usados rapidamente pelos microrganismos e são quebrados em
AGV através de enzimas intracelulares. Nesta fase, o ácido pirúvico é o metabólito central do qual
os AGV se originam.

ÁCIDO PIRÚVICO

Ácido Láctico Oxalacético Fórmico + Ácido Acético


(CH3.CHOH.COOH) (HCOOH) (CH3.COOH)

Propiônico Succínico CO2 + H2


(CH3.CH2.COCH)

Propiônico Metano Ácido Butírico


(CH4) (CH3.CH2.CH2.COOH)

METABOLISMO DA GLICOSE

A glicose em ruminantes, mesmo que em níveis baixos na corrente sanguinea (observar


diferenças na glicemia entre ruminantes e monogástricos), é fundamental para síntese de açúcar do
leite, para o feto, para síntese de glicogênio muscular, para alguns tecidos como o cérebro,
eritrócitos e para a formação de NADPH. Como é muito pequena a quantidade de glicose absorvida
no intestino delgado do ruminante, esta deve ser biossintetizada. Neste momento, a
GLICONEOGÊNESE assume-se como via principal no ruminante para formação desta glicose e o
principal precursor neste caso é o ácido propiônico. A glicose, presente no ruminante, se origina
do ácido propiônico (40 a 60%); de aminoácidos (20%) e de AG de cadeia ramificada, ácido láctico
e glicerol. Um detalhe interessante é que a atividade enzimática para gliconeogênese é muito baixa
no figado de animais lactantes, já que sua alimentação é muito semelhante a de monogástricos.

GORDURAS

Os lipídios nas dietas de ruminantes geralmente contêm alta proporção de ácidos graxos
insaturados (lembrar que o pasto é rico em insaturados e pobre em saturados). No rúmem há uma
grande hidrólise por conta das lipases microbianas, liberando ácidos graxos livres e permitindo que
72
o glicerol seja transformado em AGV. Os ácidos graxos poliinsaturados (linoleico e linolênico) são
hidrogenados pelas bactérias produzindo ácido esteárico. Menos do que 10% dos ácidos graxos
insaturados da dieta escapam à ação dos microorganismos. Desta forma, há uma grande
transformação nas gorduras ingeridas e a maioria das gorduras chegam no intestino delgado como
ácidos graxos saturados (principalmente palmítico e esteárico).

Apesar da maioria dos AG. insaturados ser destruída no rúmem, os ruminantes não se
ressentem da falta de ácidos graxos essenciais. A pequena quantidade de AG. essenciais que passa
pelo rúmem ou é absorvida no ID é suficiente para as necessidades destes animais.

Os microorganismos ruminais também são capazes de produzir ácidos graxos com


numero ímpar de carbonos (propiônico) e ácidos graxos de cadeia ramificada a partir dos AA
leucina, isoleucina e valina. Estes ácidos são eventualmente incorporados no leite e na gordura
animal. Portanto, por tudo o que foi falado, no intestino delgado do ruminante a grande maioria das
gorduras chega na forma de ácidos graxos livres, saturados.

GORDURAS PROTEGIDAS

Para pré-ruminantes, altos níveis de gordura são usados nos substitutivos do leite (15 a
30%).. Nos anos 70, foram desenvolvidos, na Austrália, estudos protegendo gorduras insaturadas
da ação dos microorganismos ruminais. Uma camada de proteína é usada para cobrir a superficie
das gotas de óleo e após é tratada com formaldeído. O complexo é degradado nas condições ácidas
do abomaso. Isto faz com que aumente a taxa de AG insaturados no plasma, leite e gordura
corporal.

Efeito do fornecimento de lipídios poliinsaturados protegidos na forma de óleo de girassol

ácido linoleico (% )
Tipo de animal Dieta protegida Não-protegida
Novilhas
Gordura intramuscular 23 5
Gordura do rim 30 5
Gordura subcutânea 20 4
Vacas em produção
Gordura do leite 20-30 5
Adaptado de Van Soest, 1982.

Além do que foi falado, para vacas de alta produção, sobretudo no início da lactação, torna-
se interessante o uso de gordura na dieta. Na verdade, dietas com alta concentração energética
precisam de gordura. Estas gorduras têm uma energia bruta em torno de 2 vezes mais alta que
forragens e cereais; a EM é 3 vezes maior, e a líquida, 4 vezes. Gorduras tem a vantagem de criar
espaço para outros nutrientes devido a sua alta concentração energética. É importante não esquecer,
73
no entanto, que as gorduras podem exercer efeitos importantes na fermentação ruminal e por
conseguinte nas respostas em desempenho.

PROTEÍNAS

Em função da presença dos microorganismos ruminais, o modo de utilização das proteínas


nos ruminantes difere totalmente dos monogástricos.. Estes microorganismos caracterizam-se por
seu alto potencial em sintetizar todos os AA, inclusive os essenciais. Assim, os ruminantes são
mais independentes em relação à qualidade da dieta. Além disso, torna-se possível suplementar os
alimentos com nitrogênio não-protéico (NNP) como sais de amônio ou uréia.

A utilização das proteínas pelos ruminantes segue estes passos:

 Durante a passagem do alimento pelo rúmem, parte da proteína é degradada a peptídios pela
ação das proteases. Estes são posteriormente catabolizados à aminoácidos e os últimos à
amônia, ácidos graxos e CO2

Proteases Peptidases desaminação


Proteínas peptidios aminoácidos

esqueletos de C +NH3 ácidos graxos voláteis + CO2 + NH3

 Os produtos de degradação formados no rúmem, em particular amônia, são usados por


microorganismos na presença de fontes de energia (carboidratos), para a síntese de proteínas e
outros constituintes celulares dos microoganismos, como os ácidos nucléicos.

 Parte da amônia liberada no rúmem não pode ser usada pelos microorganismos; é absorvida,
desta forma na corrente sanguínea e transformada em uréia, no fígado. A maior parte que não é
utilizada pelo animal, é excretada como uréia. Outra parte pode ser reciclada via saliva.

 Células microbiana (bactérias e protozoários) que contêm proteínas como seu componente
principal passam, junto com proteínas da dieta que não foram alteradas, para os demais
compartimentos e após para o intestino delgado. A proporção da proteína total que é digerida
no rúmem, varia de 70 a 80% ou mais para a maioria das dietas a 30-40% para as menos
solúveis.

 A digestão e absorção da proteína microbiana e dietética no intestino delgado se dá da mesma


forma que para espécies monogástricos, isto é com o auxilio de proteases endógenas.

O USO DE URÉIA (NNP)


74
URÉIA: Sal granulado muito higroscópico. É fonte de N para os microorganismos do rúmen..

Possui equivalente protéico de 262 a 281%, ou seja, cada 1 kg de uréia pode ser transformado em
2,62 a 2,81 kg de proteína.

De que forma é utilizada pelo ruminante?

NH2
1) 0 = C Urease AMÔNIA (2NH3 + CO2)
NH2

2) CARBOIDRATOS Enzimas microbianas AGV + CETOÁCIDOS

(Aqui o processo pode emperrar se faltarem CHOS


prontamente disponíveis)

3) NH3 + CETO ÁCIDOS Enzimas AA

4) AA Enzimas Proteolíticas PROTEÍNAS MICROBIANAS

Enzimas Proteolíticas do suco digestivo


5) PROTEÍNAS MICROBIANAS AA LIVRES P/

ABSORÇÃO

 Processos 1 a 4 ocorrem no rúmen

 Processo 5 ocorre no abomaso

ASPECTOS PRÁTICOS NO USO DA URÉIA:

- Período de ajuste : 2 a 4 semanas

- Baixo nível de proteína orgânica na dietas (não se deve usar uréia com alimentos que contenham
mais do que 13% de PB porque pode produzir intoxicação por NH3. Além disso, o uso da uréia
diminui com altos níveis de proteína alimentar.
75
-Suplementos devem ser muito bem misturados. Pode-se diluir em água para melhor uniformizar.
Não deixar os animais comerem as sobras.
Ex: cana picada (20%) + pasto + uréia regada

-Evitar fornecer uréia para animais fracos e famintos

-Não permitir muito consumo (100 a 200g) em pouco tempo (1 a 2 horas)

-Não administrar uréia em animais em jejum por mais de 36 horas

-Iniciar gradativamente o uso da uréia: partir de 30 g/dia até 150 g animal adulto/dia

- Não interromper bruscamente o uso de uréia

- Relação N:S deve ficar entre 10/1 e 15/1. Usar sulfato de Ca ou Na. Se houver deficiência de S,
a síntese dos AA sulfurados ficará prejudicada.

- Melhora a síntese protéica a partir de uréia o uso com alfafa desidratada e solúveis secos de
destilaria

- Não deixar à vontade somente uréia. No cerrado do Brasil mistura-se com sal mineral e deixa-se
no cocho na estação seca numa proporção de 45% de uréia : 55% de sal

- Não usar uréia junto com soja crua. Esta contém Urease que ajuda a desdobrar a uréia
rapidamente em NH3.

-Quando uréia for mistura a melaço limitar a oferta, pois melaço por ser muito palatável, induz a
um sobreconsumo. A proporção ideal é 9:1 de melaço:uréia

- A melhor fonte de carboidratos para serem consumidos com uréia são grãos de cereais, pois
hidrolisam rapidamente e portanto, tornam-se prontamente disponíveis.

QUANTIDADES A SEREM FORNECIDAS:

GRAMAS DE URÉIA
 Rações rica em amido 80 a 150
 Rações médias em amido 60 a 90
 Rações pobres em amido 50 a 70
 Sem cereais ou melaço 30 a 50
 Palhas 1% de uréia
 Concentrados até 3% de uréia (97 kg: 3kg)
 Por 100 kg de peso vivo 35 g de uréia

76
LIMITAÇÕES NO USO DA URÉIA

Uréia não é uma fonte satisfatória de N para animais alimentados principalmente com
forrageiras de baixa qualidade. Na tabela abaixo pode-se ver que quando as novilhas foram
alimentadas com semente de algodão, elas responderam pouco ao uso de uréia comparada à
inclusão de farinha de peixe ou farelo de soja + uréia. Quando alimentadas com palha de cevada
ou de milho, o desempenho também foi muito baixo. Embora estudos in vitro mostrem que uréia
estimula a digestão da celulose, na prática não ocorre o mesmo. A diferença é que estudos de
laboratório usam recipientes não permeáveis, enquanto que no animal a amônia pode ser absorvida
através da parede ruminal ou passar para o abomaso. Em ambos os casos a amônia não será mais
aproveitada pelas bactérias, embora eventualmente seja reciclada voltando diretamente para o
rúmen ou via saliva. Em pH 7 ou mais alto, a amônia é rapidamente absorvida. Logo, adicionando-
se amido suficiente para que haja a redução de pH, a utilização de uréia tende a melhorar.

Uso da uréia e sua eficiência como suplemento protéico em gado de corte

Ganho dia, kg Consumo alimentar


Forragem Suplemento
Com semente algodão
Uréia 0,51 7,92 0,36
80%uréia,20%far 0,59 7,94 0,48
peixe
80%uréia, 20%far.soja 0,71 8,44 0,96
Com palha de cevada
80%uréia,20%far.soja 0,2 4,72 0,21
Com palha de milho
80% uréia, -0,08 2,98 0,24
20%far.soja

 88 dias de alimentação
Adaptado de Church,1991

Toxidez da uréia

Amônia tem pH 8,8. Excesso de NH3 é absorvido na parede ruminal aumentando nível sangüíneo,
alterando células nervosas. Os sintomas são:

- Inquietação, salivação excessiva, tremor muscular. Segue descoordenação,


dificuldade respiratória. O animal urina e defeca mais frequentemente. Morte (podem ocorrer
espasmos tetânicos) ocorre 30 minutos a 2,5 horas após intoxicação

77
Como TRATAMENTO usa-se água fria ou gelada , pois diminui ureálise, ou 8 a 10 litros
de vinagre.

Além da uréia, outras fontes de NNP são:


 acetato de amônia (18%)
 bicarbonato de amônia (18%)
 uréia pura (46,7%)

NNP x % de PB na dieta e qualidade da protéina

A uréia deve ser usada quando não há excesso de N amoniacal no rúmen. Isto significa
menos do que 5mg de N de NH3/l de líquido ruminal. Se houver grande quantidade de proteína
protegida na dieta, pode-se aumentar a quantidade de N amoniacal dada. As bactérias adaptam-se
em 2 a 3 dias ao uso da uréia e o fígado também.

Normalmente dietas com mais de 13% de PB sugerem quantidades de NH3 ruminal suficiente para
síntese bacteriana. Portanto, não seria o caso de adicionar NNP. O NH3 em excesso sai pelo
sistema porta e irá ser excretado via urina. Abaixo de 8% de PB na dieta constitui um estado
carencial de N para o animal e para a síntese bacteriana. Nesta situação haverá diminuição do N
urinário e reciclagem de uréia através da saliva e via sangue para suprir deficiência. Quando o
animal está subnutrido o músculo fornecerá NH3 para continuar o metabolismo nitrogenado a nível
ruminal e obviamente o animal estará num processo de catabolismo dos tecidos de reserva. O uso
de uréia nesta situação só é aconselhável, se acompanhado de uma fonte energética.

78
METABOLISMO DE MINERAIS E VITAMINAS

MINERAIS

O tecido animal e os alimentos contêm ao redor de 45 elementos minerais em várias concentrações.


Os chamados macroelementos estão presentes em altas concentrações (acima de 70mg/kg de peso vivo).
Dentre os elementos restantes, presentes em menores concentrações, encontram-se os elementos traços
essenciais ou microminerais (Tabela 1).

Tabela 1. Macro e microminerais essenciais aos animais

MACROMINERAIS MICROMINERAIS
Exigências em % Exigências em ppm
Cátions Ânions ferro Manganês
Cálcio Cloro cobre Selênio
Potássio Enxofre cobalto Molibdênio
Sódio Fósforo iodo Zinco
Magnésio Cromo Flúor
Vanádio* Sílica*
Níquel* Arsênico*
*aves e ratos

 Os elementos orgânicos C, H, O, N , correspondem a 96% do peso do organismo.


Já, os elementos inorgânicos estão assim distribuídos quantitativamente:
 Os macrominerais correspondem a 3,46%
 Os microminerais correspondem a 0,55%

Para ser considerado essencial, é preciso que em dietas purificadas aonde falte somente o elemento em
questão, haja uma queda de desempenho e sintomas de deficiência nos animais. Os sintomas devem
desaparecer, se na dieta for adicionado o elemento faltante.

Os minerais têm 3 funções gerais:

1) cálcio e fósforo: são os principais componentes estruturais dos ossos e dentes, provendo rigidez e
resistência. Magnésio, flúor e sílica também estão presentes.

2) Uma pequena fração se Ca , Mg e P e a maioria do Na, K e Cl estão presentes como eletrólitos e têm a
importante função de manter o balanço eletrolítico e a pressão osmótica do organismo. Eles regulam a

79
permeabilidade de membrana e têm efeito sobre a excitabilidade muscular e nervosa. Também os sais na
saliva e nos fluídos do TGI são um meio apropriado para a ação de enzimas e crescimento de
microorganismos.

3) Elementos traços (microminerais) são parte integral de certas enzimas (Zn, Se, por exemplo) ou outros
compostos biológicos importantes como hemoglobina (Fe), Vitamina B12 (Co), tiroxina (I). Também
podem ser ativadores de enzimas (Ca).

Fontes de minerais

A maioria dos minerais que os animais necessitam encontram-se nos alimentos concentrados e
pastagens. As fontes adicionais são os suplementos de origem animal (farinha de ossos) ou de origem
geológica (fosfatos de cálcio, cloreto de sódio) Água de beber é uma fonte pequena de minerais. Para os
animais que pastam, a contaminação com solo pode também ser fonte de minerais.
A concentração dos minerais nas plantas depende da composição do solo, espécie em questão, do
estágio de maturidade, das condições climáticas e do manejo da cultura (fertilização, irrigação, etc…).
A parte vegetativa da planta tende a variar mais em concentração de minerais do que os grãos ou
sementes. A concentração em microminerais também tende a variar mais do que de a macrominerais.

Fontes de Ca  a maioria é bem usada pelas espécies domésticas. Somente a digestibilidade pode
diminuir com a idade.
* Fontes de Ca sem P: farinha de ostras (sambaquis com ossos fossilizados - P), calcário.

Fontes de P  ao contrário do Ca, o P contido nos alimentos não é bem utilizado por animais
monogástricos. Nos vegetais, aproximadamente metade do P está ligada ao ácido fítico, e este P presente
nesta união (fitina) é mal usado pelas espécies monogástricas. A recomendação é considerar , para efeito de
utilização, somente 1/3 do P dos vegetais. Por outro lado, ácido fosfórico e fosfatos mono, di e tricálcicos
são bem utilizados.
Fosfatos da Ilha de Curaçao e coloidais  pior utilizados pela maioria dos animais.
Algumas fontes de P são ricas em flúor  desfluorizar para prevenir intoxicação (cuidar no
processo para evitar a formação de compostos de P insolúveis).

* Fontes de P sempre associadas ao Ca: farinha de ossos, fosfato mono ou bicálcico, fosfato
monossódico, fosfato monoamônico , farinha de carne, peixe, rochas fosfatadas (desde que desfluorizadas).

 Forrageiras leguminosas e proteínas animais tendem a ser ricas em microminerais

80
Absorção de minerais

A maior parte é absorvida como íons. O principal sítio de absorção é o intestino delgado e a parte
anterior do intestino grosso. Em ruminantes, pode haver alguma absorção ao nível do rúmen. Uma grande
quantidade de minerais contidos nos sucos digestivos pode ser reabsorvida com os minerais da dieta. Desta
forma, e também em função de absorção/ressorção óssea , fica difícil obter-se valores de digestibilidade de
minerais.
A utilização de certos minerais varia muito com o meio no qual ele está envolvido (se com
produtos orgânicos ou inorgânicos). Interrelações entre minerais e entre minerais e compostos orgânicos,
podem resultar em aumento ou diminuição de sua utilização. Um aumento na concentração de determinados
íons no meio intestinal, pode levar a precipitações de sais insolúveis (Exemplo: um excesso de P pode
causar precipitação de íons de Ca e um excesso de Mo causa precipitação de Cu). Por outro lado, há
componentes orgânicos como AA e peptídios que aumentam a absorção de certos minerais ao formarem
soluções quelatadas. (Quelatos: compostos solúveis formados entre compostos orgânicos e íons metálicos.).

Prevenção de deficiências

Quando as exigências do animal não “fecham” com a disponibilidade no alimento consumido, as


rações devem ser suplementadas com fontes concentradas destes elementos. Comercialmente usa-se
misturas de minerais (premix mineral) . Também podem ser usados blocos palatáveis para os animais
lamberem, tratamento da água com sais solúveis ou injeções de liberação lenta. Não esquecer que a
fertilização do solo é uma prática importante para correção de deficiências minerais.

* Minerais que devem ser considerados sempre na alimentação : NaCl, P, Ca, Mg, S, Cu, Fe, I, Mn,
Zn, Co, Se.
Na nutrição prática, se preocupar com :

 Ca, P, Na
 Mn (aves), Zn (suínos), Se

Análise de Minerais

1) cinzas

queima na mufla a 600OC


Alimento CINZAS

Este processo é deficiente na análise de minerais pelas seguintes razões:

-Não indica os minerais presentes

81
-Não indica os voláteis, que no processo foram perdidos

- Minerais podem ser combinar com o O2, como óxidos ou carbonatos, fazendo com que o peso
final seja maior que o inicial)

-Não define disponibilidades (Exemplo: Fe na forma ferrosa é melhor absorvida que férrica)

-Não estabelece relação entre minerais

2) Análise por espectrofotometria: mais acurada

VITAMINAS

Vitaminas (originárias do termo amina vital) são definidas como um grupo de compostos orgânicos
complexos presente em quantidades muito pequenas nos alimentos que são essenciais para o metabolismo
normal e cuja falta causa doenças nutricionais. São requeridas em pequenas quantidades (microgramas a
miligramas por dia). A maioria das vitaminas age como coenzima; outras não têm este papel, mas exercem
funções específicas. McDowell (1989) faz uma distinção entre vitaminas (presentes nos alimentos) e
substâncias que são sintetizadas pelo organismo. Exemplos são: ácido ascórbico para a maioria das espécies
(este caso ele não é considerado vitamina), niacina sintetizada a partir do triptofano e vitamina D obtida a
partir de precursores na pele ativados pela luz ultravioleta.
Classicamente as vitaminas são divididas em dois grupos baseadas na solubilidade na água ou em
solventes de gordura, sendo divididas em vitaminas lipossolúveis- A,E,D e K- e as hidrossolúveis -
complexo B, vitamina C e colina.
As vitaminas hidrossolúveis diferem das lipossolúveis em muitos aspectos. Em primeiro lugar, a
maior parte destes compostos é rapidamente excretada quando suas concentrações sobrepassam o limiar
renal. Assim, toxicidades são raras. É comum ouvir-se que não há “reservas corporais”. O que ocorre, na
verdade, é que as reservas metabólicas são muito lábeis e a depleção pode ocorrer em semanas ou poucos
meses.
As vitaminas hidrossolúveis são coenzimas para muitas reações bioquímicas e, portanto, é sempre
possível analisar status de uma dessas vitaminas medindo atividade enzimática no plasma. São utilizadas
principalmente nas rotas para produção de energia ou hematopoiesis. Deficiências das primeiras (as que
atuam nas rotas energéticas) produzem vários sintomas que se sobrepõem. Em muitos casos, a vitamina
participa em tantas reações que é impossível estabelecer a causa bioquímica exata de um dado sintoma.
Entretanto, é possível generalizar, em função do papel central no metabolismo da energia que estas
vitaminas têm, que as deficiências se mostrarão primeiramente nos tecidos de crescimento mais rápido.
Sintomas típicos incluem dermatite, glossite (inchaço e vermelhidão na língua), machucaduras nas
comissuras labiais, e diarréia. Em vários casos, o tecido nervoso também é afetado em função de sua alta
demanda por energia ou por efeitos específicos de algumas vitaminas. Alguns dos sintomas neurológicos
mais comuns incluem depressão, confusão mental e perda de coordenação motora.. Em alguns casos
desmielinização e degeneração do tecido nervoso também ocorrem.

82
Já as vitaminas lipossolúveis T6em funções mais específicas e pode-se diagnosticar com mais
clareza sintomas provocados por suas deficiências. Assim que temos como deficiência de vitamina A
chamada cegueira noturna ( retinol age na transmissão do estímulo de luz dos olhos ao cérebro), vitamina K,
problemas de coagulação sangüínea, vitamina D, raquitismo entre outras. Outra característica destas
vitaminas é que são absorvidas com as gorduras. Portanto condições favoráveis para absorção de gorduras
como adequado fluxo de bile, formação de micelas favorecem absorção das primeiras. Já a absorção das
hidrossolúveis não é afetada pelas mesmas condições. As lipossolúveis têm reservas apreciáveis no
organismos, ao contrário da hidrossolúveis, que com exceção da B12, devem ser repostas continuamente. As
primeiras são excretadas primariamente nas fezes, enquanto que as hidrossolúveis são na urina. Por fim as
vitaminas hidrossolúveis são geralmente pouco tóxicas, enquanto que grandes quantidades das
lipossolúveis podem causar problemas sérios de toxidez..

Vitaminas são geralmente destruídas pelo calor, luz solar, oxidação e condições de armazenamento
(mofo). Por isso a compra, o manuseio e a estocagem devem ser feitos cuidadosamente.

Tabela 2. Vitaminas lipo e hidrossolúveis e seus sinônimos


Vitamina Sinônimo
Lipossolúveis

Vitamina A Retinol
Vitamina D2 Ergocalciferol
Vitamina D3 Colecalciferol
Vitamina E Tocoferol
Vitamina K1 Filoquinona
Vitamina K2 Menaquinona
Vitamina K3 Menadiona

Hidrossolúveis
Tiamina Vitamina B1
Riboflavina Vitamina B2
Niacina Vitamina PP, B3
Vitamina B6 Piridoxamina
Ácido pantotênico Vitamina B5
Biotina Vitamina H
Ácido fólico Vitamina M
Vitamina B12 Cobalamina
Colina
Vitamina C Ácido ascórbico

Fontes de vitaminas

83
Quase todos os alimentos têm vitaminas. A quantidade varia com o tratamento, o armazenamento,
a espécie, parte da planta...

Vitaminas lipossolúveis Fontes


Vit. A e caroteno Plantas verdes e tecidos orgânicos como o fígado.
Vit. D Forragens secas ao sol (feno), azeite de fígado de peixe ou carne, leve
animais, esteróis animais.
Vit. E Germes dos grãos e óleos de gérmen. Em concentração média nas p
verdes e fenos.
Vit. K Sintética (quando os animais não realizarem síntese intestinal adequada

Vitaminas hidrossolúveis Encontradas em produtos animais e de peixe, forragens verdes, produ


fermentação, farinha de sementes oleaginosas e algumas partes de sem
Raízes e tubérculos são fonte médias a pobres em vitaminas.

B12 Produzida unicamente por microorganismos (portanto, também pro


no rúmen). Logo, só é encontrada nos tecidos animais, em alguns pro
de fermentação e nas fezes dos animais.

Na prática devemos nos preocupar com:

 Vit A : principalmente para monogástricos


 Vit E: se houver gorduras mal conservadas (peroxidação de lipídios)
 Vit D : conforme regime de criação
 Complexo B : riboflavina
Vit B12 (ausente nos alimentos de origem animal)
 Colina

Fatores que afetam o uso de minerais e vitaminas

1)Espécie
 RUMINANTES X MONOGÁSTRICOS

84
Nos ruminantes , cavalos e coelhos não é necessário adicionar à dieta vitamina K e vitaminas do complexo
B, pois estas são produzidas por microoganismos ruminais. Preocupar-se com: A, D, E e D(climas
temperados). Se o pasto é de boa qualidade terá boa oferta de minerais e vitaminas.

2)Condições de criação
 A CAMPO X CONFINADO
Influenciará a exigência de se incluir ou não vitamina D na ração

3) Tipo de alimento
 SILAGEM X FENO
Silagem é rica em A, mas pobre em D enquanto que feno é rico em D e pobre em A (oxidação)

4) Tipo de anti-coccidiano usado


 SULFAS são antagônicas à Vitamina K em aves

5) Fase de produção
VACAS SECAS x PRODUZINDO
FRANGOS DE CORTE x PODEIRAS

6) Quantidade de alimento x Composição do alimento


Nunca esquecer de que de nada vale um alimento rico nos nutrientes procurados se você não puder
dispor dele na quantidade necessária!

Estabilidade das vitaminas

VITAMINAS ESTÁVEIS
CALOR OXIDAÇÃO MINERAIS LUZ
COLINA AC. FÓLICO AC. PANTOTÊNICO AC. PANTOTÊNICO
AC. FÓLICO AC. PANTOTÊNICO D
RIBOFLAVINA COLINA
D

VITAMINAS INSTÁVEIS
CALOR OXIDAÇÃO MINERAIS LUZ
TIAMINA TIAMINA TIAMINA AC. FÓLICO
AC. PANTOTÊNICO A A RIBOFLAVIMNAD
A E K
E
K

 As mais sensíveis : lipossolúveis


 Não guardar minerais e vitaminas juntos
 Não estocar
85
Interações

 B12 e ÁCIDO FÓLICO: deficiência de B12 bloqueia regeneração de ac. Fólico

 VIT E e Se
A glutationa peroxidase da qual o Se faz parte atua como mediadora em reações que destroem os peróxidos
ao nível de plasma e interior das células
A vit E atua ao nível de membrana celular prevenindo a modificação de suas estruturas normais

 NIACINA e TRIPTOFANO : a primeira é obtida a partir do segundo que , entretanto, não é


considerado uma pró-vitamina .

 COLINA e METIONINA : obtém-se a primeira a partir da metionina.

 B12 e Co: Cobalto faz parte da estrutura da vitamina B12

 BIOTINA e AVIDINA : avidina é uma antivitamina que inibe a biotina. Presente na clara crua de
ovo

 K x DICUMAROL (trevos) e SULFAS

 vit C e vit E: vitamina C regenera a Vitamina E

86
DOENÇAS METABÓLICAS

TETANIA DAS PASTAGENS OU HIPOMAGNESEMIA

É uma desordem metabólica associada a dietas baseadas em forragens aonde os teores de


magnésio são deficientes. Ocorre em alta incidência em climas temperados, incluindo a Argentina.

CAUSA: teores muito baixos de magnésio (hipomagnesemia) no sangue e especialmente no fluído


cérebro-espinhal. Os sinais são: descoordenação, convulsão, alta mortalidade dos indivíduos
afetados.

Na primavera as forragens tendem a diminuir o teor de magnésio e aumentar o de ácidos


orgânicos que agem no sentido de sequestrar o Mg no rúmem de forma indisponível. Alta adubação
com nitrogênio e tempo frio intensificam o problema. Altas taxas de sódio, potássio e cálcio na
dieta também podem induzir ao quadro.

Dois mecanismos estão postulados para explicar a disordem:


(1) inibição competitiva da absorção de magnásio (por exemplo com potássio e cálcio);
(2) quelatação dos ions de magnésio por fluídos corporais (como os ácidos orgânicos)

PREVENÇÃO: fornecer aos animais uma mistura mineral que contenha adequados níveis de Mg
ou adubar pastagem com óxido de magnésio.

TIMPANISMO

Distensão do rúmem e retículo devido ao acúmulo de gases de fermentação. Ocorre um mal


funcionamento do mecanismo de eructação e a produção de gás torna-se maior do que sua
expulsão.

TIMPANISMO DE GAS LIVRE x ESPUMANTE


Ausência de espuma no rúmem

Sobrecarga do retículo-rúmem inibindo a Gases de fermentação ficam retidos na


eructação. massa em digestão formando bolhas
Acidose também inibe eructação ou Bolhas aumentam de tamanho e massa
mobilidade gástrica, bem como alcalose alimentar se expande: sólidos na região da
Obstrução mecânica; drogas ou toxinas que cárdia impedem abertura para eructação
diminuem a mobilidade.

Defeito anatômico

87
CAUSA: consumo excessivo de leguminosas e ração com muitos grãos.
Alfafa causa timpanismo mesmo estando seca (feno).
 Alfafa tem enzimas pectina-metil-esterase que transformam pectina em ácido péctico e junto
com Cálcio forma espuma dura de gás que prende as bolhas.
 As outras leguminosas são potenciais no caso de úmidas (com orvalho) ou no estádio inicial.
(Leguminosas novas e ricas em água fazem diminuir produção de saliva.)

A resposta do animal ocorre em função de substâncias presentes na planta + atividade dos


microorganismos no rúmem + resposta fisiológica dos animais

Características animais importantes: - motilidade do rúmem


- reflexo da eructação
-velocidade de alimentação
-composição e volume da saliva

 Os animais propensos ao timpanismo geralmente têm abundante flora ruminal que ataca
mucina que é anti-espumante.

SINTOMAS: - distensão do lado esquerdo do rúmen


- animal para de pastar ou diminui consumo
- diminui eructação (andar cambaleante, respiração dificil, pode ocorrer
vômito
- 30 minutos após animal cair sobrevem a morte

PRECAUÇÕES: -Evitar excesso de leguminosas (30% leguminosas/70% gramíneas)


-Fornecer alimentos grosseiros antes do pasto fresco
-Exercício quando instalado o processo
-Uso de cânula esofágica

AGENTES ANTI-ESPUMANTES: - óleo vegetal


- óleo mineral
- silicone, detergentes
- glicerol

FEBRE DO LEITE (HIPOCALCEMIA)

Esta doença é observada em vacas altamente produtoras, logo após o parto. O Ca sérico
abaixa para a metade dos níveis normais (normal:2,5 mmol/litro). Os animais entram em letargia,
há espasmos musculares (tetania), a cabeça inclina em direção ao corpo e em casos extremos
ocorre paralisia, inconsciência e morte. Ocorre um descompasso entre a rapidez e capacidade com
que a glândula paratireóide mobiliza o Ca ósseo e as necessidades do momento (demanda extra).
88
É responsável por 5 a 8% de morte nos rebanhos dos EUA. Estima-se perdas de 500 kg de
leite na lactação, além do fato de aparecer 1 caso visível para cada 5 casos subclínicos.

A regulação do cálcio plasmático se dá por 3 hormônios:

 Paratormônio (PTH)
 Calcitonina (CT)
 Vitamina D3

Os 3 atuam nos ossos, rins e intestinos

PTH, secretado pela paratireóide, responsável por incrementar a ressorção do Ca (retirada de Ca do


osso) ósseo, aumenta a excreção renal de fosfato e reduz a eliminação renal de Ca. Não tem efeito
direto a nível intestinal.Hipercalcêmico.

CALCITONINA: secretada como resposta ao nível elevado de Ca plasmático. Ação antagônica ao


PTH reduzindo a taxa de desdobramento ósseo. Tem ação hipocalcêmica.

VITAMINA D3: no figado transforma-se em 25-hidroxicolecalciferol e no rim em 1,25-


dihidroxicolecalciferol. Atua a nível intestinal aumentando absorção de Ca e a nível ósseo aumenta
a ressorção óssea de Ca. O efeito hipercalcêmico da D3 pode ser tanto, que um excesso da mesma
pode causar raquitismo ou osteomalácea por remoção excessiva de Ca ósseo.

MEDIDAS PREVENTIVAS

 Administrar doses maciças de vitamina D durante 7 a 10 dias antes do parto


(estimular ressorção de Ca ósseo)
 Fornecer dietas baixas em Ca com níveis moderados a altos de P
Exemplo: (4-5:1- Ca:P) dieta pós-parto
(1: 1) dieta pré-parto
OBS: Alfafa e trevos são baixos em fósforo, o que dificulta esta prática. Feno de aveia é
mais indicado, pois tem relação Ca:P de 1:1.
 Fornecer Ca endovenoso

USO DE DIETAS ANIÔNICAS

Na década de 70 pesquisadores Noruegueses viram que vacas alimentadas com forragens


tratadas com ácido hidroclorídrico ou ácido sulfúrico diminuíam a incidência de hipocalcemia.
Ocorre que o uso de compostos ácidogênicos (que diminuem o pH do sangue) favorece a ação de
alguns hormônios que liberam Ca dos ossos e aumentam sua absorção intestinal e renal. As dietas
aniônicas levam portanto à uma leve acidose sanguínea. Porém a dieta tem pouca palatabilidade.

Balanço entre K e Na x S e Cl
89
Vacas em lactação têm ração alcalina (H2CO3): não se deve usar dietas aniônicas

Se há forragens altas em K o efeito será menor.


% de K
Aveia 2.43
Desmodium 1.40
Alfafa 1.94
Trevo 2.10
Azevém 0.5-0.3

Balanço catiônico-aniônico (BCA)

BCA (meq/100g) % de hipocalcemia Retenção placenta % concepção


-7.5 29 0 -
+18.9 67 25 -
-25 19 22 71
+5.0 50 21 54

Fontes aniônicas:
 Sulfato de amônia NH4SO4
 Sulfato de Ca CaSO42H2o
 Sulfato de Mg
 Cloreto de amônia NH4Cl
 Cloreto de Ca
 Cloreto de Mg

ÁCIDOSE LÁCTICA

Normalmente o ácido láctico é continuamente produzido no rúmen, mas seu nível é menor
do que 1 mmol/litro. Uma queda no pH ruminal induz mudanças na microflora que resultam na
super- produção de ácido láctico que chega a níveis de 20 a 300mmol/litro. Neste caso, o pH
ruminal pode descer até 4,5 ou menos. O ácido láctico é então absorvido e a acidose torna-se
sistêmica, baixando pH sanguíneo. O alto nível de ácido láctico aumenta a osmolaridade do
conteúdo ruminal, drena água do sangue e causa desidratação e hemoconcentração. Clostridium
spp. que produz tiaminase prolifera-se nestas condições podendo causar poliencefalomalácea.
Silagem muito ácida também pode provocar acidose.

Amido consumido bactérias fermentação (as bactérias normais morrem e


surgem

90
Streptococcus bovis, produtoras de ácido láctico) ác. láctico (aumento rápido,
aumenta

concentração no rúmem e sangue) p H sangue diminui hemoconcentração

ACIDOSE

SINTOMAS:
-anorexia
depressão do sistema cardiovascular
-pressão sangüínea cai
-aumentam batimentos cardíacos
-coma com temperatura normal
-morte

TRATAMENTO: Administar bicarbonato de Na, carbonato de cálcio, óxido de Mg (2 a 3% de


bicarbonato na dieta).
Tratamento de casos mais graves: evacuar o rúmen, administrar óleos minerais ou drogas para
diminuir absorção de ácido e toxinas (histaminas) e acelerar evacuação do intestino. Bicarbonato
de Na serve para evacuar rapidamente o rúmen. Tratamento com anti-histamínico as vezes resulta
eficiente.
Após o tratamento, fornecer inóculo fresco e feno de boa qualidade.

LAMINITE

É caracterizada por inflamação nos cascos. Aparece com mudanças bioquímicas atribuídas
ao ácido láctico e toxinas de bactérias causando danos no sistema circulatório.
O excesso de amido resulta em produção de coliformes e clostrídios que produzem toxinas
causando danos no sistema circulatório particularmente nas pequenas arteríolas do casco. A
circulação na extremidade fica prejudicada e resulta em inflamação e danos.
Na laminite por pasto uma etiologia similar está envolvida com altos níveis de carboidratos
solúveis e proteínas na forragem “luxuriante” causando fermentação anormal.

CETOSE OU TOXEMIA DA GESTAÇÃO

Ocorre em vacas no início da lactação ou ovelhas gestando fetos múltiplos. É causada por
hipoglicemia devido a uma demanda excessiva de glicose ocorrendo quando o animal se encontra
em balanço negativo de energia. Também é chamada de “Gliconeogênese patológica”.
Quando o animal está em balanço negativo de energia, as reservas de gordura são
mobilizadas. Noventa (90%) por cento dos triglicerídios ao serem hidrolizados são constituidos de
ácidos graxos e somente 10% é glicerol, o único de ambos que é gliconeogênico. 60% dos AA das
proteínas são gliconeogênicos, mas sua mobilização é muito limitada. Este quadro para ruminantes

91
é ainda mais crítico, pois estes animais não absorvem diretamente glicose e sim a produzem
indiretamente através do ácido propiônico. Portanto, os animais em um quadro de cetose,
mobilizam excessivamente suas reservas de gordura, mas paralelamente há falta de precursores da
glicose, entre eles, ácido oxalacético. Desta forma ocorre um acúmulo de acetilCoA que na
impossibilidade de ser oxidada no ciclo de Krebs acaba transformando-se em corpos cetônicos (ß-
hidroxibutirato, acetoacetato e acetona). Acetoacetato e ß-hidroxibutirato são ácidos relativamente
fortes. Na cetose, eles não são oxidados completamente, produzem acidose e são excretados na
urina, desperdiçando energia. Acetona, sendo volátil, pode ser detectada pelo odor no ar expirado.

SINTOMAS: diminui consumo alimentar, animais ficam deprimidos, cai a produção de leite e
aumenta conteúdo de gordura do leite.

PREVENÇÃO: prevenir um sobreconsumo alimentar antes do parto e um sub-consumo após. Uma


alternativa de manejo é acostumar fêmeas prenhes a grande quantidade de forragem para aumentar
a capacidade de ingestão no momento necessário.

TRATAMENTO: Para ovelhas é necessário tratar a hipoglicemia temporária. Danos no fígado e


rins podem acontecer, bem como mortalidade. O feto pode morrer e agravar a situação da mãe.
Tratamento com corticosteróides podem ter algum sucesso. Neste caso há a mobilização de
proteína tecidual que fornecerá AA glicogênicos. A incidência de hipoglicemia pode ser reduzida
prevenindo o sobreconsumo de energia ANTES e o sub-consumo DURANTE o período crítico.

Niacina em grande quantidade pode diminuir a mobilização de ácidos graxos (Erdman, 1992) e seu
efeito nos quadros de cetose vem sendo estudado.

Níveis de metabólitos no sangue e figado de ruminantes normais e hipoglicêmicos


Vacas Ovelhas
Normal Hipoglicemia Normal Hipoglicemia
Sangue (mmol/litro)
Glicose 2,8 <2,2 2,8 >1,7
Corpos cetônicos 1,7 >5,2 0,7 3,5
Ácidos graxos livres 0,3 0,6-2,0 0,3 1,0-2,0

Figado (% do peso)
Glicogênio 3,0 >0,8 3,0 0,3
Gordura 3,0 >10,0 3,0 >20,0

SÍNDROME DA VACA GORDA

Fenômeno que ocorre dias após o nascimento do terneiro em vacas que pariram muito gordas.

SINTOMAS:
92
- depressão
- Perda de apetite
- Fraqueza geral

Embora semelhante à cetose há diferenças:

 Na maioria das vezes é associada a outros problemas como febre do leite


 Retenção da placenta
 Torção de abomaso
 Mastite
 Aumento da temperatura em função de infecção associada
 Os corpos cetônicos apresentam-se altos, mas não são a causa principal
 Glicose sanguínea pode estar alta ou baixa

O problema é de manejo porque fêmeas secas, por longos períodos, ficam recebendo
alimentos energéticos como silagem e não são separadas dos animais que estão em lactação. Assim
tem-se animais obesos. Quando o animal não come (no pós-parto), o figado é invadido por grande
quantidade de ácidos graxos livres e desenvolve-se um figado graxo e a recuperação é dificil.

93
NECESSIDADES ENERGÉTICAS DOS ANIMAIS4

METABOLISMO BASAL

0 funcionamento de um ser vivo pode ser comparado a uma máquina de combustão. No


caso do ser vivo, a máquina deve funcionar do nascimento à morte e terá necessidade de
combustível de acordo com sua potência. Para manter em uma aceleração fixa e pré-determinada
mínima (manutenção de vida, mantença) as necessidades variarão de acordo com o tamanho da
máquina.

Isto significa que para manter um animal de 400 kg é necessário gastar mais energia do que
para manter um animal de 100 kg de peso. Mas animais do mesmo peso necessitarão de
quantidades similares de combustível para se manterem vivos.

Contudo o motor representado pelo animal desempenha outras atividades. Cada nova
função representa um acréscimo necessário de energia. Um animal que esteja crescendo ou que
produz leite, necessita de maior quantidade de energia do que outro do mesmo peso que não esteja
crescendo ou produzindo leite.

Deste modo é fácil compreender que existem requisitos fundamentais para manter a vida,
que são relativamente fixos, e requisitos variáveis, para a produção animal, dependentes do tipo e
nível de produção.

Um animal que não recebe alimento continuará a viver por algum tempo às expensas dos
seus tecidos corporais, oxidando seus constituintes corporais para obter a energia necessária para
respiração, circulação, tonus muscular e outras atividades vitais. A energia, ao final, aparecerá
como calor e poderá ser medida diretamente num calorímetro de respiração. A mesma acontecerá
em animais alimentados e/ou produzindo. A diferença deste caso em relação ao primeiro, é que o
calor final produzido será maior.

Quando se consideram as exigências energéticas para manutenção (mantença) é usual


discutir primeiro o catabolismo em jejum ou a energia do metabolismo basal (MB) (também
chamada de taxa de metabolismo basal) que é a produção de calor durante o jejum. Em outras
palavras, a taxa de metabolismo basal é uma medida, em unidade de calor (kcal ou kJ), do
catabolismo dos tecidos para fornecerem energia durante o jejum.

O chamado catabolismo em jejum varia com as condições em que o animal se encontra, mas
é bastante constante em condições pré-determinadas. O valor mínimo do catabolismo em jejum é
chamado de taxa de metabolismo basal e sua medida é obtida quando as seguintes condições são
satisfeitas:

4
Este texto foi baseado no material didático criado pelo Prof. Enio Rosa Prates , para a disciplina AGR124 -
Nutrição e Alimentação Animal
94
a) Antes do jejum, as condições nutritivas do animal devem ser boas;
b) A temperatura ambiente deve ser 25C, dentro da faixa de termoneutralidade. Quando a
temperatura normal ambiente é muito diferente deste valor, haverá necessidade de um
tempo de adaptação.
c) O animal deve estar descansando, mas não dormindo. O metabolismo diminui 7%
durante o sono, mas é bom lembrar que os ovinos e bovinos não dormem do mesmo
modo que os outros animais. Este estado de repouso não é fácil de conseguir e, portanto,
o valor é geralmente estimado na base de 12 horas em pé e 12 horas deitado. O valor do
dia padrão não é o mesmo do obtido no repouso, porque manter-se em pé aumenta o
catabolismo em jejum de 10-15%, exceção feita para os cavalos.
d) O animal deve estar em um estado post-absortivo, isto é, nenhum nutriente capaz de ser
absorvido deve permanecer no trato digestivo.
e) Animal não deve estar estressado.

Para ruminantes estas condições são difíceis de se conseguir e normalmente considera-se o


ponto em que a produção de metano atinge um mínimo dentro do rúmem. Outra maneira de
chegar-se a este ponto é usar um tempo padrão de jejum: 2 dias para aves, 4 dias para porcos, 3 a 4
dias para ruminantes. Porém estes valores podem ser consideravelmente influenciados pelo plano
de nutrição anterior.

Para medir o metabolismo em jejum, o animal deve estar acostumado a um aparellho


chamado de calorímetro de respiração e isto pode levar semanas. Na verdade, a verdadeira taxa de
metabolismo basal é raramente medida. Em geral mede-se metabolismo em repouso, metabolismo
padrão ou outro valor. É portanto, essencial, especificar exatamente as condições usadas para a
determinação do mesmo.

Uma das mais intrigantes observações na área da bioenergética é que a produção de calor
basal diminui rapidamente com o aumento do peso corporal, quando é vista por unidade de peso
(Tabela 1). Assim, o MB de animais pequenos como o rato é 20 a 25 vezes maior do que de
grandes animais como os bovinos. Isto mostra que o peso não é uma boa referência para medir
metabolismo basal. Por outro lado, observou-se que o metabolismo basal varia diretamente com a
superfície corporal, em função das relações de troca de calor do animal com o ambiente.

MB = K x A,
onde MB é metabolismo basal e A é área.

OBSERVAÇÃO: A área “efetiva” de superfície está realmente relacionada com o fluxo


sangüíneo abaixo da superfície da pele e não com a área geométrica.

A taxa de metabolismo basal para animais adultos é constante por unidade de peso
elevada à potência 0,75 para adultos (W0,75) (ver Tabela 1). Brody mostrou que a média da
produção de calor em 24 horas, de uma forma geral entre os animais homeotérmicos é:

95
MB= 70,5 kcal * W0,75

O peso vivo de um animal elevado à potência 0,75 é chamado peso metabólico ou


tamanho metabólico do animal.

Não devemos esquecer que a equação acima é uma generalização estatística e que o valor
70,5 kcal é uma média entre valores extremos de 40 a 140 kcal. Por exemplo, Blaxter mostrou que
os bovinos apresentam valores 15% maiores e os ovinos 15% menores do que o valor de 70,5
kcal/W0,75 dado por Brody.

O MB é afetado pelos hormônios, particularmente o da tireóide. Drogas, como a


tiouracila, baixam o MB e, portanto, aumentam a eficiência do alimento. A castração tem efeito
similar.

Tabela 1. Valores típicos do metabolismo de jejum para animais adultos por animal, por kg de peso
e por quilo de peso metabólico, em MJ.
Animal Peso vivo (kg) Por animal Por kg de peso Por kg de W0,75
Vaca 500 34,1 0,068 0,32
Porco 70 7,5 0,107 0,31
Homem 70 7,1 0,101 0,29
Ovelha 50 4,3 0,086 0,23
Galinha 2 0,6 0,300 0,36
Rato 0.3 0,12 0,400 0,30
McDonald et al., 1995

Tabela 2. Valores utilizados para cálculo das exigências diárias de energia para o metabolismo
basal de animais adultos (K)
Kg W0,75 metabolismo basal K
Vaca 500 105,4 70,5 x 105,4 7.431 kcal/dia
Carneiro 50 18,8 70,5 x 18,8 1.325 kcal/dia

O metabolismo basal é um conveniente “ponto de partida” para medir vários incrementos


energéticos. Desta forma, as exigências nutritivas energéticas de mantença são maiores que a do
metabolismo basal, pois, além dele, incluem-se aí os gastos energéticos para buscar alimento,
deglutí-los, digerí-los e metabolizá-los, além da locomoção e outros movimentos voluntários
(Tabela 3).

Baseando-se no MB, tem-se na tabela a seguir o cálculo do metabolismo basal e das


exigências energéticas diárias de mantença de bovinos e ovinos adultos.

96
Tabela 3. Valores utilizados para cálculo das exigências diárias de energia para mantença,
na forma de energia digestível (ED), energia metabolizável (EM) ou energia líquida (EL), em kcal.
Peso Peso Metabólico MB Mantença (kcal/dia)
0,75
Kg W EDa EMb ELc
Vaca 500 105,4 7431 14545 11805 8748
Carneiro 50 18,8 1325 2594 2106 1560
0,75 0,75 0,75
a= 138 * kg ; b= 112* kg ; c= 83* kg

Para fins de produção, as exigências diárias são calculadas adicionando à mantença a


quantidade de energia dos produtos formados diretamente pelo animal (kcal do leite, do ovo, do
tecido etc.) e o calor produzido ao formá-los.

FLUXO DA ENERGIA DOS ALIMENTOS NO ORGANISMO

Os animais necessitam “energia" para manter as estruturas celulares dos tecidos e do


organismo. Toda esta energia é obtida do alimento que o animal ingere. O alimento serve ao
mesmo tempo como fonte de energia e como matéria prima para a construção de compostos
complexos como proteína, gorduras, ácidos nucléicos e outros.

Quanta energia o animal pode extrair de seus alimentos?

Como extrai esta energia?

O alimento ingerido sofre redução no tamanho das partículas pela mastigação e pela ação
das enzimas digestivas (nos ruminantes também pela ação dos microorganismos) dando produtos
de hidrólise que serão absorvidos. O rendimento energético em termos de número de moléculas
que serão absorvidas de uma quantidade fixa de alimentos depende da composição do alimento,
isto é, da natureza das substâncias complexas que o compõem.

Portanto da matéria que é ingerida como alimento (energia total contida no alimento
ingerido) , somente uma parte passa ao meio interno do animal. Assim, durante o processo
digestivo, ocorrem perdas energéticas devidas a:

1. Alimento que não sofre digestão: constitui a maior porção da perda energética em alimentos
muito grosseiros. É a parte que aparece nas fezes.
Normalmente para qualificá-lo mede-se o valor calórico que as fezes contêm, por combustão na
bomba calorimétrica. Este valor é chamado "energia das fezes” (EF) mas não é real, pois parte da
matéria (energia) presente nas fezes teve origem endógena (do próprio animal), e é constituída por
células da mucosa intestinal, enzimas digestivas já desnaturadas, secreções biliares e ainda células
da microflora. Este componente endógeno da energia perdida junto com as fezes é conhecido como
Energia Fecal metabólica (EFm) e seu valor deve ser reduzido da energia total das fezes

97
produzidas para poder conhecer-se, com exatidão, qual a fração da energia do alimento que não foi
digerida (EF-EFm).

2. Gases que são formados durante a digestão: durante o processo digestivo nos animais forma-
se metano e CO2. Também H2, CO, acetona e H2S são formados em pequenas quantidades. Os
gases são eliminados por via intestinal ou por eructação. Isto significa perda de energia. As perdas
energéticas na forma de produtos gasosos da digestão são quantitativamente importantes nos
ruminantes, mas não nos monogástricos.

3.Perdas energéticas na urina. Sabendo-se que cada mol de uréia ao ser queimado libera 636 KJ
de energia, percebe-se a urina também é uma fonte de perda energética. Da mesma forma que as
fezes, existe um componente endógeno e um componente alimentar. (ver capítulo “Exigências
proteicas dos animais”)

4. Energia utilizada e liberada na forma de calor: Neste ítem entram vários tipos de fontes de
produção de calor

a) Calor de digestão - Cd: liberado durante os processos de mastigação, digestão, absorção e


assimilação dos compostos orgânicos
b) Calor usado para termorregulação -Ct: no frio os gastos em aquecer o animal são maiores
do que no verão.
c) Calor de fermentaçao - Cf, produzido pelos microorganismos do rúmem. Dietas com alta
concentração de fibras produzem maior Cf do que dietas prontamente digestíveis
d) Calor de atividade - Ca: atividade muscular voluntária. Animais criados em regime
extensivo, têm maiores perdas por Ca do que animais criados confinadamente.

A Energia para produção também conhecida como retenção de energia ou energia


recuperada, ficará na forma de proteína e/ou gordura ou sai na forma de leite, ovos, pelo, feto….

Devido aos métodos empregados para medir as perdas energéticas que ocorrem no
organismo animal, utiliza-se um esquema operacional da utilização de energia. Tal esquema é
empregado tanto para definir as exigências energéticas dos animais como para expressar o
conteúdo de energia disponível nos alimentos e segue abaixo.

98
ESQUEMA DE UTILIZAÇÃO DE ENERGIA

ENERGIA BRUTA (EB)


Energia fecal (EF)
1. Originária do alimento
2. Originária do metabolismo

ENERGIA DIGESTÍVEL APARENTE (ED)


A. Produtos Gasosos da Digestão (PGD)
B. Energia Urinária (EU)
1. Originária do alimento
2. De origem endógena

ENERGIA METABOLIZÁVEL (EM)

Energia na forma de calor:


1.Calor produzido para mantença (corresponde ao calor
produzido no jejum(MB))
2. Calor produzido na digestão, absorção e assimilação
3. Termorregulação
4. Calor produzido pela fermentação ruminal
5. Calor produzido pela atividade física

OBS: parte deste valor é creditadopara mantença (EMm)

ENERGIA RECUPERADA (para produção) (EMp)

Calor produzido no processo de produção


1.No crescimento
Energia para produção (ELp) 2. Na engorda
1. Crescimento 3. Na lactação, etc…
2. Engorda
3. Leite
4. Lã
5. Reprodução
6. Trabalho

99
MÉTODOS PARA MEDIR PRODUÇÃO DE CALOR E
RETENÇÃO DE ENERGIA

A produção de calor é medida por vários modos:

Calorimetria direta: os animais perdem calor por radiação, convecção, condução , evaporação da
água e pela urina e fezes.
Neste método o animal fica fechado numa câmara equipada para medir a perda de calor através do
aquecimento de água que circula em volta da câmara. São necessários aparelhos caros,
principalmente para grandes animais.

Calorimetría indireta: é feita através da estimativa de :

-consumo de O2
-produção de CO2

C6H12O6 + 6O2= 6 CO2 + 673 kcal

Classe de nutriente Produção média de calor (kcal) por litro de O2


consumido
CHOS 5,05
gorduras 4,7
proteínas 4,8

RETENÇÃO DE ENERGIA (E recuperada) = EM - produção de calor

Técnica de abate comparativo : Compara-se a composição tecidual de animais antes e depois de


aplicado algum tratamento.

Ex: Carcaça seca da ave na bomba calorimétrica no dia X de vida carcaça seca da ave no 1 dia
de vida

Para bovinos: medir gravidade específica que depende da quantidade de gordura e proteína do
tecido é mais vantajoso, visto ser muito caro e trabalhoso o procedimento em função do tamanho
dos animais
.
 vantagens do método: o ambiente em que o animal se desenvolve tende a simular as condições
normais, ao contrário das câmaras respiratórias.

100
 devantagem: custo, principalmente para animais grandes, muita mão-de-obra; animais
comparados não são o mesmo (por isso são necessárias repetições para diminuir o erro
experimental detrminado pela variação individual).

Neste caso a produção de calor é obtida por diferença:

Produção de calor = alimento ingerido - (fezes + urina + carcaça)

BALANÇO DE CARBONO E NITROGÊNIO

As principais formas nas quais a energia é retida são gordura e proteína; pois a reserva de
CHO é muito pequena. Se o C e o N consumidos e excretados são medidos então a deposição de
tecidos pode ser calculada.

Para quantificar-se tecido magro e gordura assume-se que :


Carcaça % nitrogênio % de carbono
proteína 16 52
gordura - 76,7

 1) C retido = C consumido -C excretado (na excreta e na respiração)


 2) N retido = Nconsumido (alimento) - N excretado (fezes e urina)
 3)Proteína retida = nitrogênio retido(g) x 6,25
 4)C retido como proteína= Proteína retida x 0,52
 5) C retido como gordura= C total - C retido como proteína
 6) Gordura retida(g)= C retido como gordura/76,7

Energia retida calculada:

 energia como proteína= proteína retida x 5,65 kcal/kg


 energia como gordura= gordura retida x 9,4 kcal/kg
 energia total= energia como proteína + energia como gordura

 Produção de calor= EM- energia retida

101
NECESSIDADES PROTÉICAS

Segundo Lehninger (1980), as proteínas são as moléculas orgânicas mais abundantes das
células e perfazem 50% ou mais de seu peso seco. No organismo desempenham funções
importantes e diversificadas: manutenção da estrutura do animal (colágeno, elastina, proteínas
contráteis dos músculos, queratinas); transporte de nutrientes (no plasma e eritrócitos); são os
catalisadores do processo metabólico animal, (enzimas digestivas, enzimas dos processos celulares
degradativos e de síntese); responsáveis pelo controle geral do metabolismo (hormônios com
estrutura protéica); defesa do organismo (anticorpos) e transmissão de caracteres hereditários
(nucleoproteínas).Por outro lado, as cadeias carbonadas dos aminoácidos, resultantes dos processos
de desaminação, são também fontes de energia celular.

As deficiências em proteína e energia usualmente causam modificações imediatas e


importantes na produção animal.

Deficiências apreciáveis na proteína total ou na qualidade da proteína refletem-se na


diminuição do consumo voluntário e menor eficiência do alimento.

Por outro lado um grande excesso de proteína na dieta também reduz a eficiência da ração
pelo aumento do incremento de calor que produz.

Ao contrário da maior parte dos minerais e vitaminas que se acumulam no organismo (são
estocados) e cuja deficiência na alimentação não resulta em reposta imediata de alteração de
produção, a estocagem de proteína parece ser muito limitada, razão pela qual seu aporte pela dieta
deve ser constante.

Para chegar às necessidades de proteína parte-se do estudo de balanço de nitrogênio ou seu


equivalente protéico (N x 6,25). Para manter o organismo em equilíbrio nitrogenado é necessário
repor as perdas nitrogenadas, através da dieta.

Num animal adulto, que não está em produção, estas perdas são :

NAS FEZES:
- Resíduos protéicos da dieta que não foram digeridos e, portanto, não foram absorvidos (N fecal).
- Resíduos nitrogenados de microflora (N metabólico).
- Resíduo de epitélio e dos fluidos digestivos (N endógeno)

NA URINA:
- Excreção nitrogenada proveniente do metabolismo intermediário das proteínas (turnover proteico)
e ácidos nucléicos (N urinário)
- Os animais em crescimento necessitam N para o anabolismo dos tecidos. Para os animais
produzindo leite, ovos e lã também é necessário mais nitrogênio, para a síntese destes produtos.
102
ATENÇÃO: A porção de proteína que foi absorvida após a digestão pode ser usada para
satisfazer as exigências de proteína do organismo ou usada para energia.

PROTEÍNA
METABOLIZÁVEL

EXCREÇÃO URINÁRIA ENERGIA NECESSIDADES


PROTÉICAS

H2O CO2

Em dietas sem proteínas o nitrogênio continua a ser excretado e o seu nível na urina
gradualmente assume um valor mínimo. O tempo que leva a alcançar este mínimo depende do
nível de nutrição protéica prévia. Este mínimo é chamado nitrogênio urinário endógeno (NUE).
Para determinar este valor é importante que a dieta seja adequada em todos os nutrientes, exceto o
N. Principalmente o nível de energia assume um papel crítico, porque se houver deficiência
energética os animais farão catabolismo dos seus tecidos para fins energéticos e isto resultará numa
determinação de N endógeno aumentada.

A determinação é sempre difícil de fazer, pois os animais têm dificuldade de consumir os


alimentos com baixo teor de proteína. Há também a perda nitrogenada fecal endógena que deve ser
compensada pela dieta, o que complica mais o problema.

Em mamíferos adultos, foi observado um valor constante de NUE e proporcional ao peso


metabólico e seu valor é dado por:

NUE = 146 mgN/kg0,75/dia

Para fins de mantença a exigência protéica mínima é calculada como sendo 3,4 vezes maior
que a excreção urinária endógena.

Mantença = 3,4 x 146 mgN/kg0,75/dia

Para manter o animal em equilíbrio nitrogenado é necessário substituir as perdas diárias.


Por esta razão é necessário conhecer o valor biológico (VB) das proteínas da dieta para transformar
as necessidades diárias de N, em necessidade de proteína. Leva-se em conta, em primeiro lugar, a
digestibilidade da proteína.

103
Imagine que as necessidades nitrogenadas mínimas de mantença de um animal são de 45
gramas de N por dia, isto significa 281 g de PB (45 x 6,25). Se uma ração contiver proteína cujo
valor biológico seja de 50% para a espécie animal, serão necessárias 562 g de PB deste alimento
para devolver ao organismo o que foi perdido para mantê-lo.

Portanto, a exigência de manutenção N ou proteína varia com o valor biológico da proteína.


Costuma-se expressar exigências protéicas em base de valores biológicos médios dos alimentos e
de rações comuns, e como tal aparece nas tabelas de necessidades.

Para calcular as exigências diárias de proteína com fins de produção, adiciona-se às


exigências de mantença (que são relativamente fixas) o total de proteína na forma de produto diário
do animal (proteína em 10 kg de leite, em 1 ovo, em 200g de aumento diário de peso do animal em
crescimento).

Para os monogástricos é mais correto considerar as necessidades de aminoácidos


individuais, principalmente os essenciais. Nos padrões de alimentação modernos, já estão
especificadas estas necessidades, estabelecidos pela pesquisa. Porém, muito falta saber sobre a
interação que alguns aminoácidos exercem sobre outros alterando as necessidades de aminoácidos
individuais, e a relação entre aminoácidos essenciais e não-essenciais.

104
EXIGÊNCIAS NUTRITIVAS DOS ANIMAIS5

MANTENÇA OU MANUTENÇÃO

Quando um animal está produzindo carne, leite, descendência, lã, ovos ou trabalho,
aproximadamente a metade do alimento consumido é usada para manter os processos orgânicos
que devem prosseguir, esteja ou não o animal produzindo. Esta exigência por nutrientes é chamada
exigência de mantença.

As exigências de mantença podem ser definidas como a quantidade de um determinado


constituinte orgânico que, fornecida, substituirá somente a quantidade que foi perdida pelo
organismo. Ou seja, é a quantidade de alimento que mantém o animal em equilíbrio, sem ganhar ou
perder substâncias / peso. O animal pode estar em equilíbrio em relação a um nutriente, mas estar
ganhando ou perdendo outro. Usualmente, é dito que mantença é um estado em que o animal não
está ganhando ou perdendo peso. Vem a ser o estado de bem-estar e boa saúde sem que o animal
cresça, engorde, esteja prenhe ou produzindo algum produto, o que na prática, em produção animal,
é uma situação rara de acontecer,exceção feita para animais de companhia (pets).

O conceito de mantença só existe para animais adultos .

As necessidades nutritivas de mantença são fundamentais para a manutenção da saúde e


da vida animal. As quantidades são relativamente fixas e proporcionais ao tamanho do animal.

Os nutrientes para mantença são: energia para as funções vitais (manter a temperatura
corporal, atividade dos sistemas vitais, locomoção, trabalho de ingerir, digerir os alimentos e
metabolizar os nutrientes), proteína para repor os tecidos corporais, minerais para reparar as perdas,
vitaminas envolvidas nas rotas metabólicas, água e níveis muito baixos de alguns ácidos graxos
não-saturados.

PRODUÇÃO

Crescimento

Os organismos crescem por hiperplasia – um aumento no número de células, por


hipertrofia – um aumento no tamanho das células existentes- e por um aumento no fluído extra-
celular. A taxa máxima de crescimento das células depende de fatores genéticos. Um animal
somente expressa seu potencial energético se suas exigências nutricionais forem atendidas.

5
Este texto foi baseado no material didático produzido pelo Prof. Enio Rosa Prates, para a disciplina AGR124 -
Nutrição e Alimentação Animal

105
Aumento em forma e peso dos músculos, ossos, órgãos e tecidos conectivos. A função
produtiva do crescimento é explorada principalmente para a produção intensiva de carne.
As exigências nutritivas são altas, principalmente em sistemas intensivos de manejo e em
animais de crescimento rápido. A necessidade de proteína em quantidade e qualidade (para os
monogástricos) é elevada e crítica devido à natureza de ganho de peso na fase de crescimento, que
é essencialmente aumento de músculo, tecido conectivo e osso. A energia da dieta deve ser alta
pois deve garantir o trabalho bioquímico global. Praticamente toda a energia é utilizada nos
trabalhos de síntese, uma vez que a deposição de gordura nos tecidos é pequena.
As necessidades de minerais são altas, principalmente Ca, P e Mg, que participam da
estrutura do esqueleto. As vitaminas e minerais menores são exigidos por estarem relacionados
com o metabolismo intermediário, atuando como cofatores de sistemas enzimáticos. Das
vitaminas, destaca-se a vit. D, relacionada à absorção do Ca e ao metabolismo ósseo. A água é
também essencial, uma vez que o teor de água do músculo sem gordura é de 75-80%.
A taxa de crescimento diário varia com as espécies de acordo com o tamanho adulto. O
incremento, expresso como percentagem do peso vivo, é menor para as espécies maiores e diminui
gradativamente do nascimento à maturidade.

Engorda

É função produtiva explorada para a produção de carne. Prevê o acabamento do animal


para abate.
A engorda é mais econômica quando o animal está ainda em crescimento, uma vez que os
ganhos de peso dos animais adultos são devidos somente à deposição de gordura, a qual substitui
proporcionalmente a água do organismo.
A engorda vem a ser a deposição de energia consumida além das necessidades
metabólicas na forma de tecido adiposo, nos órgãos e tecidos do organismo.
A deposição de gordura dá-se na forma de tecido adiposo abdominal, intermuscular e
subcutâneo, na ordem citada, e é, em geral, indesejada. A forma de deposição de gordura
intramuscular, carne marmorizada, é a buscada e tem por finalidade melhorar a maciez, a
suculência e o sabor das carnes.
Das necessidades nutritivas para engorda, destaca-se a energia. Níveis altos de energia são
necessários, o nível de proteína não é crítico e tem importância no sentido de manter adequado
consumo de alimentos e a digestibilidade dos mesmos. Em relação às necessidades de minerais e
vitaminas, aqueles relacionados com o metabolismo da energia têm seus níveis aumentados
(vitaminas do complexo B).

Eficiência da utilização do alimento para produção de carne

Informações sobre a relação entre proteína e gordura depositadas no ganho de peso dos
animais são importantes para determinar a energia necessária, já que estes 2 componentes variam
consideravelmente quanto ao seu conteúdo energético. Esta relação depende sobretudo, da idade do

106
animal, mas também do nível nutricional. Um excesso de E, aumenrando a taxa de ganho, também
aumenta o percentual de gordura no ganho de peso acima do esperado para a idade respectiva.
A síntese de proteína muscular produz uma alta taxa de ganho, pois o músculo contém um
conteúdo de umidade muito alto (75%). Ao contrário, a gordura é depositada livre de água, na
verdade, repõe a água. Daí que a mudança no valor energético de 1 g de ganho de peso produzido
por deposição de gordura é 11 vezes maior do que aquela obtida por 1 g de proteína muscular. Por
isto, a engorda é considerada a forma mais cara de ganho de peso.

Trabalho

Os músculos são os agentes através dos quais o trabalho mecânico é realizado; na


contração destes são catabolizados nutrientes.
Em 1866, dois atletas subiram numa montanha na Suíça de 2000 m sem N na comida por
17 h e mediram sua uréia antes e depois. Não houve aumento substancial. O N excretado podia ser
representativo de somente uma parte do catabolismo que deve ter ocorrido para fazer aquele
trabalho.
1879 Kellner mostrou que se o alimento fosse suficiente, o cavalo não aumentava o
catabolismo protéico com o trabalho. Se a restrição alimentar acontecesse, então uma grande
quantidade de N era excretada.
Hoje é aceito que não há quebra muscular no trabalho e a E necessária é suprida por
alimentos não-nitrogenados. No entanto se o alimento for insuficiente, proteína tecidual, assim
como gordura corporal irão ser catabolisados.
A principal reação química que ocorre no músculo é a conversão de glicogênio muscular
em ácido lático, com produção de ATP, também chamada de glicólise anaeróbica.

A química do músculo em ação

Duas proteínas são de especial importância na contração muscular: miosina e actina. O


encurtamento deste processo é a característica essencial da contração muscular.
A E química é fornecida pelo ATP, resultando em E mecânica e calor:

ATP ADP + H3P04 + E MECÂNICA + CALOR

A eficiência máxima do processo é de 40%.

O músculo tem pouca reserva de ATP. Quem fornece o ATP restante é a fosfocreatina que
está presente em grandes quantidades e serve como reserva lábil de ATP.

FOSFOCREATINA + ADP ATP + CREATINA

107
O processo é reversível e acontece no descanso muscular. O músculo recarrega para
manter o nível de fosfocreatina. Este processo precisa de uma fonte de ATP que é dada pela quebra
da glicose. O glicogênio pode suprir a quantidade inicial, porém a maior parte vem do sangue. A
glicose é completamente catabolisada, na presença de O2, produzindo 38 ATP. Por outro lado, o
músculo tem a capacidade de quebrar glicose anaerobicamente. Isto é importante num pico de
atividade muscular. O produto final é o lactato.

GLICOSE + 2 fosfato + 2ADP 2 lactato + 2 ATP

Além de menos eficiente, o processo de glicólise anaeróbica não pode durar muito tempo
porque o acúmulo de ácido láctico causa “rigor” muscular. No entanto, este processo permite
esforços muito maiores do que aqueles permitidos somente pela glicólise aeróbia, por causa da
limitação no suprimento de todo o O2 necessário. Quando isso acontece, o déficit de O2 é chamado
de débito de O2.

Exemplo:
Um atleta não pode consumir mais do que 4 l de O2/min, mas pode desempenhar um
trabalho que exigiria 30 l/min porque ele pode entrar em débito de O2. Se continuar o
trabalho, pode resultar em fadiga muscular.

Exigências energéticas: pela fisiologia do trabalho muscular, é evidente que a exigência principal
para este é a ingestão de alimentos produtores de energia. Tal necessidade é mais facilmente
visualizada como energia líquida, representando a energia química que o organismo deve consumir
a fim de produzir o trabalho em questão.

Exigências protéicas: parece impossível que não aumentem as exigências para proteína com o
trabalho. Destruição e renovação devem existir em maiores taxas (maior “turnover”). Os resultados
dependem muito do tipo de dieta que o animal estava comendo. Se há, porém, algum aumento no
catabolismo, ele é pequeno.
Forbes mostrou os mesmos resultados anteriores mostrando que aumento na excreção de
N não aumentou com exercícios, ao contrário do que atletas pensam. Pesquisas em outras espécies,
no entanto, sugerem que o consumo protéico deveria ser incrementado durante o trabalho, embora
tal incremento não seja especificamente reclamado para a atividade muscular. Num estudo com
trabalhadores de minas, determinou-se exigências mínimas de proteína (7, 8 g /dia). Notou-se,
entretanto, que a capacidade de trabalho diminuiu e houve depressão psíquica quando a ingestão
diminuiu abaixo de 10 a 9 g. (abaixo das exigências de um homem sedentário- NRC).
Estudos alemães, da 2a guerra, mostraram que a capacidade de trabalho diminuiu com
menos proteína daquela exigida na mantença.
Apesar da crença entre cientistas que não há aumento de exigências protéicas com aumento
da atividade muscular, as pesquisas nas últimas duas décadas mostraram que, em humanos,
atividades como maratona e levantamento de peso, alteram significativamente o metabolismo
protéico, aumentando as exigências. Durante uma maratona, a proteína pode contribuir com 5

108
a10% da energia gasta, talvez até mais, se houver depleção de glicogênio. O mesmo vale para
atletas aumentando a massa muscular, principalmente no início do treinamento. No entanto, não há
evidência que excesso de proteína irá aumentar a massa muscular, bem como o uso de AA como
suplementos. Ao contrário, há potenciais danos, como a ingestão de AA sulfurados por mulheres,
levando a uma maior excreção de cálcio na urina, que pode contribuir para descalcificação óssea.
Por outro lado, como já foi falado, ingestão de proteína de origem animal tem efeitos psíquicos
positivos.
Uma relação entre proteína:energia satisfatória para um cavalo inativo é de 1:10. Durante
trabalho pesado a E praticamente dobra e seria 1:20. Relações amplas podem manter bem os
cavalos, mas a eficiência de utilização da E diminui porque a digestibilidade da ração é deprimida e
perdas metabólicas de calor aumentam.

Exigências em minerais: na respiração em trabalho intenso há substanciais perdas de Sódio e


Cloro. Há uma perda mínima de Ca, Fe e P no suor. Pode-se dizer, no entanto, que o trabalho
pesado não tem nenhum efeito sobre o equilíbrio cálcio:fósforo em cavalos. A demanda por sal
pode ser atendida pela alimentação à vontade.
O fósforo envolvido no trabalho (ATP) mereceu estudos durante a primeira guerra mundial,
quando ficou estabelecido que bebidas com fosfato tinham resultados benéficos.
Alguma destruição da hemoglobina e ressíntese pode ser esperada em virtude de aumento
de consumo de O2, mas não envolve um aumento nas exigências de Fe, porque há grande economia
de Fe no organismo.

Exigências em Vitaminas: não há razão para na atividade muscular aumentar-se exigências de


vitaminas lipossolúveis. Forbes mostrou que não há maiores exigências em vitamina A, D ou K.
Deficiência de tiamina resulta em marcada deterioração na habilidade de realizar trabalho,
porque sendo coenzima na utilização dos CHO´s é importante na produção de E.
Riboflavina (FMN, FAD) e niacina (NAD, NAPH) também têm papel importante na
energia liberada. Suas necessidades crescem proporcionalmente ao aumento da energia da ração.
No cavalo o perigo de carência fica diminuído porque há boa síntese microbiana no
intestino grosso e ceco. Isto não quer dizer, entretanto, que seja suficiente quando o trabalho é
aumentado.

Produção de lã

O peso da lã produzida pelas ovelhas varia muito de uma raça para outra , de modo que
um valor médio não tem outra utilidade senão de servir de exemplo.
Suponhamos um velo de 3500 g, que representa a produção anual de uma ovelha de 63 kg.
Na realidade, o conteúdo de lã pura será de 2250 g, correspondendo às 900 g restantes, à mistura
lanolina e suarda. As fibras de lã são formadas quase que completamente pela proteína queratina.
A queratina se caracteriza por seu elevado teor de aminoácido sulfurado cistina, que,
embora não seja um aminoácido essencial, é sintetizado a partir da metionina, que o é. Por isso, é

109
muito provável que a eficiência com que a proteína do alimento pode ser convertida em lã, dependa
de suas proporções respectivas de cistina + metionina.
Em contraste com as necessidades de proteína para a produção de lã, as de energia
parecem ser relativamente pequenas. Para produzir um velo de 3150 g, a ovelha retém umas 45
kcal diárias, o que, comparando com as 1200 kcal diárias de seu metabolismo em jejum, é muito
pouco (ainda que não se conheça a eficiência com que a energia metabolizada pode ser
transformada em lã).
Em experimentos mais recentes, se demonstrou que, se a dieta das ovelhas contém um
mínimo de 8% de proteína bruta, a quantidade de lã que se produz guarda mais relação com a
ingestão de energia que com a de proteína.
Com níveis inferiores aos de manutenção, quando o animal emagrece, o crescimento de lã,
ainda que pouco, continua. Ao se melhorar o plano de nutrição e ganhar peso, a ovelha aumenta
também a produção de lã. Os períodos de fome podem causar uma redução brusca no crescimento
de lã, o que deixa um ponto lábil em cada fibra, dando lugar ao defeito conhecido como ruptura.
A nutrição da ovelha exerce influência sobre a qualidade da lã. Os níveis elevados de
nutrição aumentam o diâmetro das fibras de lã, e é significativo que as lãs mais finas procedem de
regiões com condições nutritivas menos favoráveis.
Nos últimos períodos de desenvolvimento da prenhez da ovelha, se ela não for bem
alimentada, o feto sofrerá: 1o.) redução de seu peso ao nascer; 2o.) redução dos folículos
secundários, que originarão as fibras de lã e, conseqüentemente, redução da lã quando adulto.

Reprodução

Efeitos da alimentação sobre o início e continuidade da capacidade reprodutiva

Nos bovinos e ovinos, o nível de nutrição atua principalmente sobre a puberdade, sendo
que, quanto mais depressa crescer um animal, mais rapidamente atingirá a maturidade sexual. Já
nos suínos, resulta em gordura excessiva, que irá atrasar o início da capacidade reprodutora. Na
prática, o que decide se um animal pode ou não ser usado para reprodução é o seu porte. Na
puberdade, os animais são demasiado pequenos para a cobertura. Se a demanda nutritiva da
prenhez se somar às demandas do crescimento, poderá resultar numa diminuição em seu
desenvolvimento para chegar à maturidade, além da falta de uma estrutura óssea apropriada para o
corte.
Na ejaculação média de um touro há 0,5 g de matéria seca. Portanto, as necessidades
nutritivas para produção de espermatozóides são pequenas quando comparadas com a manutenção
de outros processos, como crescimento e produção de leite. Desta maneira, para a produção do
sêmen, basta ração de manutenção apropriada à espécie e ao tamanho. A alimentação abundante
dos machos só reflete o desejo dos criadores de evitar a escassez de sêmen que comprometeria a
reprodução da totalidade do rebanho. É importante saber da existência de um metabolismo basal
mais elevado nos machos do que nas fêmeas. Portanto, as exigências de energia para a manutenção
dos machos deverão ser maiores.
Geralmente, vacas e porcas são acasaladas enquanto estão lactando ou no período
imediatamente posterior e, devido ao manejo, seu plano de nutrição está muito acima do plano de

110
mantença. Diferente é com as ovelhas, em que existe um período de vários meses entre o final da
lactação e o começo do período de cria, tempo no qual as fêmeas podem ser alimentadas em um
nível pouco superior ao de mantença. Porém, tem-se observado que ovelhas melhor alimentadas
durante este período pesam mais ao começo da estação de cria e são mais propensas à ovulação
múltipla, podendo ter gêmeos ou trigêmeos. A ovulação múltipla pode ser facilitada passando-se as
ovelhas de uma dieta de manutenção à outra que produza ganho de peso - “flushing”- duas ou três
semanas antes de começar o período reprodutivo. Este procedimento freqüentemente faz aumentar
o número de nascimentos em 10% ou mais.
Os animais que recebem uma ração insuficiente manifestam certa redução na fertilidade.
Nos machos, pode manifestar-se por uma diminuição na secreção de espermatozóides ou das
secreções acessórias. Nas fêmeas, dá lugar a uma interrupção da função ovárica. A sub-alimentação
tem que ser muito aguda e prolongada para produzir todos os seus efeitos. A relação entre super-
alimentação e capacidade reprodutiva também estão relacionadas. Animais muito gordos são
estéreis; porcas muito gordas podem produzir óvulos sem apresentar sinais de estro, pois os
estrógenos, provavelmente, são absorvidos pela gordura corporal.

Efeitos das deficiências de nutrição específicas na produção de óvulos e


espermatozóides

Uma deficiência de proteína diminui o apetite e resulta na falta de outros nutrientes. Os


efeitos mais graves por deficiência de proteína na reprodução são mais visíveis nos animais em
crescimento do que nos adultos. Quando os reprodutores têm deficiências de vitaminas ou de
minerais, aparecem sintomas gerais de deficiência antes que se manifestem transtornos graves na
capacidade reprodutora, o que significa que a função reprodutiva é mais resistente a estas
deficiências que outras atividades do organismo.
Vitamina A: Na falta, causa primeiro cegueira e depois degeneração dos testículos,
degeneração do epitélio germinativo e azoospermia, enquanto que, nos bovinos, pode haver
incapacidade do animal efetuar a cobertura devido à incoordenação muscular que se instala. Nas
fêmeas novas, ocorre infantilismo genital, transtorno da maturação folicular e da ovulação,
queratinização da vagina.
Vitamina E: Sua falta, nos suínos, ocasiona uma diminuição das funções reprodutoras;
nas aves, causa esterilidade no macho; nos roedores, produz degeneração seminal e perda de libido
no macho e, na fêmea, impossibilidade de levar a termo uma gestação completa (aborto).
Dos minerais, o cálcio e o fósforo exercem nos bovinos as seguintes consequências:
função ovárica afetada, atraso no aparecimento do primeiro cio, irregularidade de ciclos e anestros.
No macho podem ocorrer transtornos na motilidade espermática e diminuição de libido. Esta
deficiência pode ser corrigida pela administração de farinha de osso. Nas porcas, a deficiência de
manganês influi negativamente na reprodução, pelo que tem sugerido a interação cálcio-fósforo-
manganês na reprodução. O iodo atua através da tireóide provocando a sensibilização do ovário às
gonadotrofinas hipofisárias ou, indiretamente, na atividade metabólica geral. Também o magnésio,
cobre, ferro, cobalto e o zinco têm sido considerados como influenciadores da capacidade
reprodutiva.

Prenhez:
111
Nas gestantes, quanto maior o tempo de prenhez, maior o tamanho e peso do útero, pois a
deposição de nutrientes aumenta na razão direta do avanço da prenhez.

Tabela 2. Crescimento do feto de ovelha em função do tempo de gestação


20 semanas 30 semanas
Água 10 l 20 l
Nitrogênio 100 g 250 g
Matéria seca 1 kg 2 kg
Energia 5 kcal 15 kcal

No início da gestação, é pequena a necessidade de nutrientes mas, no último terço, é


necessário um aumento da dieta para um melhor desenvolvimento do feto.
O calor produzido pelo feto acarreta um maior metabolismo basal na mãe. O incremento
térmico aumenta com o avanço da prenhez e, com o aumento de peso, aumentam gradualmente as
exigências de energia para manutenção.
As necessidades energéticas de uma vaca prenhe são 1,5 vezes maiores do que as de uma
vaca não-prenhe. Durante a prenhez, as necessidades de energia aumentam muito mais do que seria
atribuído à energia armazenada pelo feto. O ganho de peso dos animais prenhes é muito maior do
que o peso correspondente ao produto da concepção. Isto se dá devido ao crescimento da mãe
(fêmeas jovens). Nas fêmeas velhas, ocorre o mesmo com menor intensidade (anabolismo da
prenhez).
Em geral, a maior parte do peso ganho na prenhez se perde no período de lactação que
segue.
Nos primeiros tempos de prenhez, não sendo necessários muitos nutrientes para as
glândulas mamárias, estas não se desenvolvem muito. No entanto, no terço final da prenhez, existe
uma maior necessidade de nutrientes para que as glândulas mamárias façam uma reserva para os
primeiros tempos do período de lactação. Embora quantitativamente não seja importante o aumento
das necessidades nutritivas no início da prenhez, a qualidade é importante devido à morfogênese
que está ocorrendo.
No caso em que a mãe não recebe alimento suficiente, o feto é capaz de adquirir todos os
nutrientes utilizando as reservas maternas. Esta propriedade é evidente no que se refere ao ferro,
elemento que o feto recebe em quantidade suficiente mesmo quando a mãe é anêmica. Quando a
deficiência é muito grande, as duas partes saem prejudicadas.
A falta de vitamina A em grandes quantidades pode ocasionar anormalidade nas crias ou
morte.
A sub-alimentação da mãe pode causar a morte uterina ou problemas no nascimento.

Lactação:

A produção de leite é o tipo de exploração zootécnica que mais exige dos animais. O leite
das várias espécies tem composição típica como pode ser observado na tabela seguinte.

Tabela 3. Composição média do leite das várias espécies


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Espécie Água % MS % Proteína % Gordura % Lactose % P%
Vaca 87,2 12,8 3,5 3,7 4,9 0,095
Ovelha 80,1 19,2 5,8 8,2 4,8 0,166
Cabra 86,5 13,2 3,6 4,0 5,4 0,104
Égua 89,0 9,4 2,7 1,6 6,1 -
Porca 80,4 20,1 5,4 8,3 5,0 0,151
Mulher 87,5 12,5 1,0 4,4 7,0 0,013
Mainard e Loosli.

A observação destes dados indica que se faz necessário o fornecimento adequado de


proteína para a síntese das proteínas do leite (onde predomina a caseína) e energia para a síntese de
gordura e da lactose.
Evidentemente, o fornecimento de água é importante e indispensável à síntese do leite.
Como a composição do leite permanece praticamente constante em proteína, lactose, cálcio e
fósforo, torna-se evidente que o aporte destes nutrientes na dieta deve ser garantido para que haja
produção. No início da lactação, sob influência hormonal, mesmo que a dieta seja deficiente, o
animal usará seus próprios tecidos na síntese do leite, mas esta dependerá das reservas teciduais
que, por sua vez, estão relacionadas ao estado nutritivo antes do parto.
O leite, sendo secretado pela glândula mamária com constituintes típicos (caseína e
lactose), depende da atividade biossintética das células da glândula para ser produzido.
A gordura é o único componente do leite que é afetado sensivelmente pela dieta. O total
de gordura depende da raça, mas níveis baixos de fibra na ração fazem cair a gordura do leite. Isto
ocorre porque o precursor bioquímico da gordura do leite é o ácido acético produzido na
fermentação do rúmen e, quando o animal recebe níveis muito altos de concentrado, a concentração
relativa deste ácido baixa.
O animal em lactação necessita níveis altos de energia para a síntese dos componentes do
leite e, para o trabalho biossintético correspondente em nível glandular. Cálcio, fósforo e vitamina
D são muito importantes.

Produção de ovos

Boas poedeiras têm uma produção média de 280-300 ovos/ano e os ovos pesam
aproximadamente 57 g, tendo um valor energético de 90 kcal e sua composição química está
expressa na Tabela 2. Em teoria, esses dados podem servir como uma base para o cálculo de
nutrientes para as poedeiras, mas é duvidoso que a informação que possuímos sobre a eficiência da
transferência dos nutrientes do alimento ao ovo seja suficiente para se fazer o cálculo. Houve
tempo em que se racionava uma certa quantidade de alimento para manutenção e outra para a
postura. Hoje em dia, se dá alimento “ad libitum”, e os padrões alimentares para poedeiras se
expressam, iguais aos de outras aves, em proporção de nutrientes, e não em quantidades.
A necessidade de cálcio é muito alta devido ao teor deste elemento na casca do ovo. Em
dietas muito baixas em cálcio, este é retirado do esqueleto e, à medida que as reservas ósseas das
aves diminuem, os ovos têm suas cascas cada vez mais finas, até parar a postura. Cerca de 30% do
cálcio do esqueleto pode ser removido nestas condições, com sérias consequências para a ave.

113
Tabela 4. Composição média do ovo de galinha
Ovo total (inclusive casca) % Apenas parte comestível %
Água 65,6 73,6
Proteínas 12,1 12,8
Lipídios 10,5 11,8
Glicídios 0,9 1,0
Cinzas 10,9 0,8

Tabela 5. Composição dos minerais no ovo (%)


Ca 2 Mg 0,03 K 0,07 S O,11
P 0,12 Cl 0,09 Na 0,07 Mn 0,015
Fe 1,6 I 0,007 Cu 0,09

As aves mantêm constante sua ingestão de energia, comendo mais ou menos segundo o
conteúdo energético da dieta (quanto maior a Energia, menor o consumo). Quando o conteúdo
energético é maior ou menor que 2800 kcal/kg, é necessário ajustar as proporções de proteína e dos
demais nutrientes ao conteúdo energético para que a ingestão daqueles permaneça constante.
Em dietas com baixo conteúdo energético, há o risco de se reduzir a ingestão total de
energia (por limitação de volume) ou, ao contrário, em dietas excessivamente ricas em energia,
pode haver aumento do peso dos ovos (mas essas dietas ricas ocasionam uma excessiva deposição
de graxa na galinha).
A energia necessária para produzir um ovo padrão de 50 g é de 122 kcal; uma galinha de
2,7 kg necessita 335 kcal de energia metabolizável por dia para sua mantença. Se o seu nível de
produção é de 70% (5 ovos por semana), sua exigência total de energia ao dia será:

335 + 70 x 122 = 420 kcal de Energia Metabolizável (EM)


100

Salienta-se , neste cálculo, que 80% dos nutrientes que a galinha consome são
direcionados para mantença e somente 20% vão para a produção. Até que a ave alcance peso e
idade adequados ao início da postura (mais ou menos às 20 semanas de idade), 80% dos nutrientes
consumidos vão para crescimento e 20% para mantença.

114
Tabela 6. Comparação das exigências nutricionais de acordo com a espécie e função zootécnica

Espécie Fase de Peso vivo EM/dia PB/dia Ca (g) P (g)


produção (Mcal) (%)

Bovinos
Novilhas 400 com 16,1 8,1 0,27 0,20
último1/3 ganho /dia
prenhez de 0,4 kg
Vacas 400 13,1 7,0 0,17 0,17
maduras,
2/3 prenhez
Vacas Média 17,9 10,2 0,29 0,22
aleitando habilidade
Touros em 800 22,6 6.8 0.21 0,21
mantença
Vacas 400kg + 23,0 (L) 0,7 kg 59,4g 36,6 g
produzindo 20l/dia de + 12,01 (M) (M) + (0,37%) (0,23
leite leite com =35,01 1,680kg %)
3,5% gord. (L) =
16%
SUINOS
Terminação 5-10 3,24/kg de 20 0,80 0,65
ração = 1,49
Mcal
50-100 3,275/kg de 13 0,50 0,40
ração=10,18
Mcal
AVES
Poedeiras Em 2,9/kg de 12 0,60 0,30
crescimento ração
14-20
semanas
Poedeiras Em 2,9/kg de 14,5 3,4 0,32
produção ração
Frangos de 0-3 semanas 3,1/kg de 21 1,0 0,45
corte ração
Perus 0-4 semanas 2,8/kg de 28 1,2 0,6
ração

EQUINOS ED (Mcal)

115
Potros 6 meses, 14,5 725 29,6 16,4
180kg c/
ganhos de
0,7kg/dia
Mantença 400 13,4 536 16 11,2

Início 400 22,9 1141 44,8 28,9


lactação
Trabalho 400 26,8 1072 32 23
intenso
(L) Exigências para produção do leite
(M) Exigências para mantença
Adaptado de Church, 1991.

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