Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini
UNIFATECIE Unidade 2
Diretor Administrativo Rua Cândido Bertier
Prof. Ms. Renato Valença Correia
Fortes, 2178, Centro,
Secretário Acadêmico Paranavaí, PR
Tiago Pereira da Silva (44) 3045-9898
Coord. de Ensino, Pesquisa e
Extensão - CONPEX
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
UNIFATECIE Unidade 3
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman Rodovia BR - 376, KM
de Araújo 102, nº 1000 - Chácara
Jaraguá , Paranavaí, PR
Coordenação Adjunta de Pesquisa
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme (44) 3045-9898
UNIDADE I....................................................................................................... 4
Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
UNIDADE II.................................................................................................... 21
Sociologia Brasileira:
UNIDADE III................................................................................................... 37
Sociologia Brasileira: Caio Prado Junior
UNIDADE IV................................................................................................... 55
Sociologia Brasileira: Raymundo Faoro, Jessé Souza e Djamila
Ribeiro
UNIDADE I
Sociologia Brasileira:Gilberto Freyre
Prof. Mestre Paulino Peres
Plano de Estudo:
● Gilberto Freyre e seus esforços para compreender o brasileiro;
● Hibridismo: as relações durante a colonização;
● O papel dos indígenas na formação do Brasil;
● Jesuíticas, africanos e portugueses.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a formação do Brasil a partir de suas relações coloniais;
● Entender a relação entre os três povos formadores do Brasil e como
os três contribuíram para o que somos hoje;
● Analisar como Gilberto Freyre estabeleceu uma
explicação totalizante do Brasil;
● Compreender o conceito de democracia racial e sua
importância para a sociologia brasileira.
4
INTRODUÇÃO
O Brasil precisa ser compreendido através de suas relações sociais. Foi isso
que pensou Gilberto Freyre quando escreveu Casa Grande & Senzala em 1933. Um dos
maiores intelectuais de nossa história explicou o Brasil tentando trazer o que há de melhor
na cultura indígena, europeia e africana. Ele viu a influência destas etnias como positivas
para o Brasil.
Nesta unidade levantaremos os principais conceitos de Gilberto Freyre presentes
em sua obra Casa Grande & Senzala para compreender como este autor compreende o
Brasil e o brasileiro.
Os conceitos de democracia racial, hibridismo, miscibilidade e adaptabilidade serão
analisados e como eles contribuem para a formação do Brasil. Veremos a importância
desse autor não só para o Brasil e sua compreensão, mas também para a popularização
da sociologia brasileira.
Desde o século XIX que pretendia-se no Brasil a criação de uma teoria generalizadora
da nação para explicar o Brasil através da relações entre as três etnias existentes nestas
terras: indígenas, europeus e africanos. Na primeira metade do século XX Gilberto Freyre
foi o responsável por colocar no papel essa ideia em seu célebre livro, Casa Grande &
Senzala. Freyre e suas teorias sobre o Brasil se tornaram famosas dentro e fora do país.
Freyre entrou para a história da história e sociologia do Brasil, mas não sem críticas.
Em Casa Grande & Senzala, Freyre analisa a colonização do Brasil e América
apresentando a origem do povo brasileiro, sua cultura, formação social, étnica e econômica.
Analisando a mistura das três etnias para a formação do Brasil se pergunta: quem é o povo
brasileiro?
Ao analisar a colonização nos Estados Unidos percebe semelhanças no regime
patriarcal estadunidense com o brasileiro: grandes fazendas agrícolas, elite branca liderada
pelo senhor de escravos, exploração da mão de obra escravizada, violência psicológica e
física, papel secundário da mulher. Também destaca suas diferenças: no Brasil, segundo
ele, o senhor de escravos era menos dado aos castigos corporais para evitar rebeliões,
revoltas ou fugas, gerando assim um melhor convívio entre as etnias possibilitando uma
construção nacional baseada na mistura das “raças”.
As várias epidemias de sífilis (doença trazida pelos portugueses) foi apenas mais
um retrato da violência. De fato, a violência contra a mulher preta colaborou com o aumento
populacional da colônia. Assim, com essa mistura, Freyre aponta a influência da cultura
africana sobre a europeia. Cultura que atinge a alimentação, a vida sexual, a religião e a
vida doméstica. Ou seja, as relações durante a colonização proporcionaram um hubridismo
cultural.
A cultura europeia dominou a africana após os conflitos existentes entre povos dos
dois continentes o que resultou na escravização daqueles que perderam. Com a escravidão
africana a questão racial passou a fazer parte do cotidiano da Colônia, se estendeu pelo
Império e República e faz parte do nosso presente. A supremacia da raça branca, desde
aquela época, tenta impor-se num jogo de identidades, na narração da nação brasileira:
“o fortalecimento de indentidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles
membros dos grupos étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de
outras culturas” (HALL, 2006, p. 50).
A colonização aconteceu em um processo de equilíbrio e antagonismos regionais
dentro de uma só nação e o povo era ligado à obediência às elites devido ao fato da classe
dominante ser portuguesa ou descendente de portugueses e obedeciam os interesses da
metrópole.
A chegada dos portugueses ao Brasil arruinou toda a estrutura social e econômica
antes aqui predominante. As várias etnias indígenas foram dizimadas e o comunismo
primitivo foi deixando de existir. Mas, para Freyre, algo de muito bom surgiu aqui após
todo tipo de violência, a Democracia Racial, resultado da relação entre brancos, pretos e
indígenas.
Para isso, é necessário entender que a Casa-grande era o lugar de excelência
da manifestação do caráter brasileiro. Ela, a Casa-grande era residência quase feudal de
poder. Ou seja, os brancos dominam.
REFLITA
Na obra na cita você terá contato com a obra de Freyre utilizada neste capítulo,
através do artigo de Silva. Casa Grande & Senzala é uma das obras mais importantes
da intelectualidade brasileira. O mito da democracia racial ainda é muito estudado e é
necessário que seja compreendido.
LIVRO
Título: Casa Grande & Senzala
Autor: Gilberto Freyre.
Editora: Global.
Sinopse: Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre
publica “Casa Grande & Senzala”, livro que revoluciona os estudos
no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade
literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados
quase 90 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura,
mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela
mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de
Fernando Henrique Cardos.
FILME/VÍDEO
Título: Terra Vermelha
Ano: 2008.
Sinopse: Um grupo de indígenas vivem em uma fazenda
trabalhando como escravos e ganham alguns trocados para
posarem como atração turística. Eles decidem reivindicar suas
terras e de seus ancestrais, começando um grande conflito com
os fazendeiros.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=nOCFZWF_Wb4
Plano de Estudo:
● Sergio Buarque, o oposto de Gilberto Freyre;
● Sergio Buarque e a culpa dos portugueses;
● Sergio Buarque e o Homem Cordial;
● Sergio Buarque, o homem cordial e a política brasileira
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a origem e formação do Brasil à partir da colonização
portuguesas e suas consequências;
● Entender os aspectos culturais dos portugueses e
sua herança deixa a nós, brasileiros;
● Analisar como Sergio Buarque construiu uma explicação totalizante do Brasil;
● Compreender o conceito de homem cordial e sua
importância para a sociologia brasileira.
21
INTRODUÇÃO
Sergio Buarque de Holanda, assim como Gilberto Freyre, constrói uma narrativa
a partir da análise das relações culturais do Brasil colonial presentes na relação entre os
portugueses dominantes e indígenas e africanos dominados. Mas ao contrário de Freyre,
Holanda vê a influência portuguesa no Brasil como algo negativo e duradouro em nosso
comportamento.
Na unidade II levantaremos os principais conceitos de Sergio Buarque utilizados em
seu mais famoso livro, Raízes do Brasil, escrito em 1936, para compreender o brasileiro.
Vamos buscar compreender porque o autor entende a influência da colonização
portuguesa como negativa, a partir da análise sobre a suporta desorganização, falta
de planejamento dos portugueses. Entenderemos também porque coloca a alcunha de
aventureiro aos portugueses e como toda essa construção teórica ajuda a desenvolver o
conceito de homem cordial e como esse conceito, para ele, representa bem o povo brasileiro.
Sergio Buarque tenta definir, mas não de forma absoluta, a identidade nacional
brasileira através do conceito de homem cordial onde a nossa cordialidade enfatiza
o predomínio de relações humanas baseadas nas emoções. Este aspecto de nossa
cordialidade estaria presente, por exemplo, no excesso de diminutivos como expressão
de afeto: o “Joãozinho”, a “Terezinha”, o “bonitinho” expressam bem, segundo ele, nosso
caráter emocional.
Cordial então, não está ligado à forma como se entende no dia-a-dia, como alguém
que é educada com a outra, mas está relacionado diretamente à origem desta palavra “cor”
que é a mesma origem de palavras como “coração” e “cardíaco”.
Uma denúncia importante de Sergio Buarque. Ao afirmar que o poder político, através
de relações cordiais, está nas mãos de um pequeno grupo, exclui o povo brasileiro. Apesar
de sua dura afirmação sobre nosso povo ser demasiadamente cordial, demasiadamente
afetivo e pouco racional, não poupou a elite brasileira dessa alcunha. Para ele a elite
brasileira é tão cordial quanto as massas.
Assim sendo, acreditava que apenas uma revolução poderia apagar no brasileiro
os resquícios de nossa história colonial influenciada pelos portugueses e começar a
traçar uma história nossa, diferente e particular. Entretanto, Sergio Buarque não acredita
realmente que o brasileiro pudesse fazer uma revolução, pois considera nosso povo passivo
e distante de grandes mudanças sociais. Alguns descordaram de Holanda, pois afirmam
que o mesmo desconsiderou as revoltas de escravos, a formação de quilombos, revoltas
como a Conjuração Baiana, Revolta dos Malês, além das revoltas regenciais como balaiada
e cabanagem ou ainda os dois anos de guerra pela independência localizadas na província
da Bahia.
SAIBA MAIS
Sérgio Buarque de Holanda foi casado com a intelectual e escritora Maria Amélia de
Holanda, apelidada Memélia. Com Maria Amélia, Sérgio teve sete filhos, entre os quais:
o músico, cantor e compositor Chico Buarque de Holanda; a cantora e compositora
Miúcha; a cantora, compositora, atriz, dramaturga e produtora Ana de Holanda; e a
cantora e compositora Cristina Buarque. Miúcha, filha já falecida de Sérgio, era mãe da
cantora, compositora e produtora Bebel Gilberto, cujo pai era o cantor e compositor João
Gilberto.
REFLITA
“A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem
do coração”
Sergio Buarque, assim como Gilberto Freyre escreveu na década de 1930 e ambos
tentaram construir uma explicação total do Brasil a partir de suas origens miscigenadas.
Apesar serem membros da elite brasileira, serem intelectuais de destaque, de se esforçarem
intelectualmente com o mesmo propósito, tiveram conclusões diferentes sobre o Brasil.
Buarque de Holanda dispende esforços para mostrar porque o Brasil não deu certo.
Ele em sua obra demonstra insatisfação com a herança cultural herdada dos portugueses,
ao qual considerava afetivos e desorganizados. Holanda encontra seu bode expiatório, a
colonização portuguesa e a partir dos hábitos coloniais destes constrói a ideia do brasileiro
de sua época, o brasileiro cordial.
O homem cordial demonstra que ele não vê a população do país de forma positiva,
muito pelo contrário, ele afirma que nossos hábitos, aparentemente benignos, na realidade
são o nosso grande problema. Nossas relações intimistas e familiares foram estendidas
para espaços onde nunca deveriam ter entrado, sobretudo o espaço público, sendo assim,
o brasileiro cordial fez do espaço público extensão de sua própria casa.
Essas relações cordiais, emotivas, segundo Holanda, deveriam ser superadas para
que o Brasil pudesse avançar como civilização. Somente uma revolução poderia nos tirar
do legado português e nos deixaria livres para a construção de uma história brasileira.
Sergio Buarque, apesar de mostrar-se negativo em relação ao nosso passado e
presente, apresentava certo otimismo quando falava em revolução. Via no Brasil potencial
para que pudéssemos superar nossos problemas e deixar de ser uma nação desorganizada,
corrupta e frágil.
As recentes críticas intelectuais ao seu conceito de homem cordial vão em direção
à ideia de que ele não acreditava no país e que inferiorizava o povo brasileiro. O conceito de
Holanda realmente é bem duro em relação ao comportamento brasileiro, entretanto não o liga
ao futuro do Brasil, mas ao seu passado e sua herança patrimonialista portuguesa. Portanto
injusto é dizer que Holanda não possuía uma visão otimista do Brasil, muito pelo contrário,
quando afirma que devemos realizar uma ruptura com nosso passado colonial, está afirmando
seu otimismo em relação a nós mesmos. Sua expectativa por uma revolução, parece ser uma
torcida fiel a um Brasil realmente livre de seu passado e com certeza, não cordial.
Acesse o material abaixo do Autor Sergio Costa e realize uma leitura aprofundada:
LIVRO
Título: Raízes do Brasil
Autor: Sergio Buarque de Holanda
Editora: Cia. Das Letras
Sinopse: Nunca será demasiado reafirmar que Raízes do Brasil
inscreve-se como uma das verdadeiras obras fundadoras da
moderna historiografia e ciências sociais brasileiras. Tanto no
método de análise quanto no estilo da escrita, tanto na sensibilidade
para a escolha dos temas quanto na erudição exposta de forma
concisa, revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico com
talentos evidentes de grande escritor. A incapacidade secular de
separarmos vida pública e vida privada, entre outros temas desta
obra, ajuda a entender muito de seu atual interesse. E as novas
gerações de historiadores continuam encontrando, nela, uma fonte
inspiradora de inesgotável vitalidade. Todas essas qualidades
reunidas fizeram deste livro, com razão, no dizer de Antonio
Candido, "um clássico de nascença".
FILME/VÍDEO
Título: Raízes do Brasil: uma cinebiografia de Sergio Buarque de
Holanda
Ano: 2003
Sinopse: O filme Raízes do Brasil é um documentário dirigido por
Nelson Pereira dos Santos a respeito da vida e da obra do escritor
e jornalista Sérgio Buarque de Holanda, autor da obra Raízes do
Brasil. O lançamento do longa-metragem no Brasil, em 2004, foi
uma homenagem ao centenário de nascimento de Sérgio Buarque
de Holanda (1902). O documentário inclui imagens do arquivo
pessoal do escritor e cenas históricas.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=etUEsguoUx4
Plano de Estudo:
● Caio Prado Junior: vida e obra;
● Caio Prado Junior: um intelectual materialista;
● Caio Prado Junior: a formação étnica do Brasil contemporâneo;
● Caio Prado Junior: análise da obra Formação do Brasil contemporâneo.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância da origem do pensamento
materialista dialético de Caio Prado;
● Entender sua análise como materialista e não do ponto de vista
cultural como Freyre e Holanda;
● Analisar como Caio Prado Junior construiu uma
explicação totalizante do Brasil;
● Compreender como a lógica econômica portuguesa determinou a lógica
econômica e social na formação do Brasil.
37
INTRODUÇÃO
O paulista Caio Prado Junior foi mais um cientista social brasileiro que se propôs a
entender o Brasil, mas não do mesmo ponto de vista de seus antecessores, Gilberto Freyre
e Sergio Buarque de Holanda. Os dois anteriores ao realizarem suas análises históricas e
sociológicas do Brasil investiram em uma abordagem cultural. Caio Prado, marxista, fez
uma análise materialista dialética. A análise da estrutura brasileira foi seu grande foco.
Nasceu na capital paulista em 1907, de família aristocrática, foi ensinado em
casa. Sua origem elitista contrasta com sua abordagem social materialista. Mesmo rico,
sempre teve uma vida discreta e simples. Em sua infância e adolescência não conseguia
compreender porque ele e sua família tinham tanto e os demais habitantes brasileiros tinham
tão pouco, assim logo se interessou pelos estudos sobre o capital, pobreza, desigualdades
e classes sociais.
Na década de 1920 a efervescência intelectual e política reinava em São Paulo.
Um período de rebeldia na capital paulista o estimulava o que o levou a militar na esquerda
política brasileira desde 1928. Logo, o Brasil viveria a “Revolução de 1930”, iniciamos a Era
Vargas, expansão da democracia e dos direitos para logo em seguir sofrermos um Golpe de
Estado em 1937, ascensão do fascismo e início da segunda guerra mundial. Os anos 1930
foram da esperança ao fracasso e Caio Prado, durante o Estado Novo (1937-1945) escreve
em 1942 sua obra mais famosa, Formação do Brasil Contemporâneo.
As discussões teóricas sobre marxismo hoje são comuns na academia e fora dela
o nome de Marx é utilizado com propósitos diversos. A popularidade do nome de Marx hoje
nada é comparada ao marxismo do início do século XX no Brasil. As propostas socialistas
já eram conhecidas nas maiores cidades em industrialização, pois imigrantes europeus as
conheceram na Europa e aqui ela era estimulada. Mas ainda não tínhamos intelectuais
marxistas, eram poucos e seus escritos não tinham grande circulação. Caio Prado surge um
dos primeiros nomes de maior importância declaradamente marxistas na intelectualidade
brasileira.
Materialista-histórico-dialético, Caio Prado, dentro de um objeto de estudo escolhido,
relacionava a identidade (tese) à negação desta identidade (antítese) de modo que a última
substituiria a primeira formando uma nova identidade/tese (síntese). Esse processo seria,
portanto, cíclico, dialético.
Assim como em Marx, Caio Prado não assume a dialética (tese/antítese/síntese)
como algo espiritual, como ocorria na dialética de Hegel, mas sim, material (influência do
materialismo de Feuerbach). Da mesma forma que Marx, Caio Prado assume o materialismo
como condições materiais e históricas da sociedade, portanto, o materialismo é o método
utilizado pelos marxistas baseado nas condições materiais de uma sociedade.
O autor deixa claro sua análise econômica (materialista) sobre a sociedade brasileira
e também o aspecto contraditório (dialético) de sua explicação sobre o Brasil. Caio Prado
compreende o país através da produção cafeeira e da força produtiva por trás dela, a
escravidão.
A economia colonial baseada na monocultura latifundiária prejudicava o país,
portanto, para ele, seria através da economia que o Brasil deixaria de ser um país periférico.
O marxista Caio Prado, ao contrário de que desavisados ingênuos críticos do socialismo
dizem não realizou em sua obra uma orientação para a formação de uma Brasil socialista,
muito pelo contrário, o autor afirmava que para o Brasil fazer parte do grupo de países
dominantes seria necessário o desenvolvimento das relações capitalistas de produção.
Pode parecer que há aqui uma contradição, mas não, Caio Prado é um marxista fiel ao
determinismo econômico de Karl Marx.
Caio Prado acreditava que as relações de produção capitalistas deveriam se
desenvolver até o ponto que o desenvolvimento das forças produtivas iria entrar em
confronto com as relações de produção. A luta entre essas classes em um sistema de
produção capitalista levaria o proletariado a uma revolução socialista. Isto é, assim como em
Neste trecho, Caio Prado Junior, concorda com Gilberto Freyre quando afirma
sobre a capacidade do português de se misturar com outras raças, Gilberto Freyre chamou
isso de miscibilidade.
Essa mistura existente em nosso povo é, para Caio Prado, a principal e mais
importante característica do povo brasileiro e que surgiu nos relacionamentos econômicos
dentro da colônia. Para além disso, também alerta para o preconceito de cor existente no
Brasil que também é fruto desta mestiçagem.
Formação do Brasil contemporâneo, publicado por Caio Prado Junior em 1942, tem
como objetivo entender o sentido da colonização brasileira. Esta importante obra segue a
linha de raciocínio de teoria total de explicação do Brasil também presente em Casa Grande
& Senzala (1933), assim como também em Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de
Holanda.
Esta obra investiga o Brasil desde o início da Colônia até a formação do Brasil como
país independente. Ao apresentar os problemas brasileiros da época em que escreve, a
década de 1940, mostra que são consequências da colonização, que é mais um ponto
convergente com Freyre e Holanda. Sua análise, portanto, objetiva fornecer informações
necessárias para a explicação do Brasil do fim da primeira metade do século XX.
O autor enfatiza que o Brasil serviu como objeto dos interesses do mercantilismo
português, sendo uma colônia de exploração com característica latifundiária de monocultura
e exportador de alimentos. Caio Prado já dizia nos anos 1940 que estas características
ainda eram as mesmas de sua época e nós, aqui no século XXI podemos atestar que o
Brasil ainda mantém essa lógica, salvo a questão da monocultura. Diversificamos mais
nossa produção, mas ainda é baseada na produção latifundiária de produtos primários.
Outra característica importante citada por Caio Prado em A formação do Brasil
contemporâneo é o trabalho escravo que deixou no país marcas racistas que permaneciam
em sua época e até ainda permanecem.
1
Fonte: ALVARENGA, D. G1/IBGE. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noti-
cia/2021/07/21/com-pandemia-industria-perde-ainda-mais-participacao-no-pib-e-agronegocio-ganha-prota-
gonismo.ghtml. Acesso em: 05 ago. 2022.
1
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/21/com-pandemia-industria-perde-ainda-mais-participacao-no-pib-e-
agronegocio-ganha-protagonismo.ghtml Pesquisado em: 25/06/2022
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/brasil-registrou-recorde-de-23-milhoes-vivendo-na-pobreza-em-2021-aponta-fgv/
2
Pesquisado em 03/07/202
3
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59557761. Acesso em: 07 jul. 2022.
REFLITA
Fonte: PRADO JÚNIOR, C. Frases, Citações, Pensamentos. 2020. Disponível em: https://www.dico-
citations.com/pensamentos/o-grande-problema-brasileiro-e-levantar-o-nivel-dessa-massa-da-populacao-
-porque-cultura-e-um-fato-coletivo-e-nao-individual-e-preciso-usar-o-maximo-dos-recursos-do-pais-para-
-dar-saude-e-educacao-pa/. Acesso em: 20 jun. 2022.
PRADO JUNIOR. C. Evolução política do Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 2012.
LIVRO
Título: Formação do Brasil contemporâneo
Autor: Caio Prado Junior.
Editora: Companhia das Letras.
Sinopse: Formação do Brasil contemporâneo é dos textos mais
influentes sobre as relações entre nação e colônia no processo
histórico que originou o Brasil. E é a ele, sobretudo, que Caio Prado
Jr. deve seu lugar como grande intérprete do país. Marxista e
militante ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), o autor não
via, porém, o materialismo histórico como um conjunto de fórmulas a
serem aplicadas, sem mediações históricas e analíticas, a qualquer
realidade. Isso o levou, aguçado por uma grande sensibilidade em
relação ao Brasil, desenvolvida também nas muitas viagens que fez
pelo país e pelo gosto em fotografá-lo, a promover uma verdadeira
“nacionalização do marxismo”. Publicado em 1942, Formação do
Brasil contemporâneo é um clássico do pensamento social e da
historiografia brasileira que vem mobilizando estudiosos e atores
políticos, seja para aceitar suas teses, problematizá-las ou mesmo
rejeitá-las. Como poucos, o livro conseguiu formar nossa visão das
origens coloniais do Brasil e do seu legado à nação.
FILME/VÍDEO
Título: Cabra marcado para morrer
Ano: 1984.
Sinopse: Início da década de 60. Um líder camponês, João Pedro
Teixeira, é assassinado por ordem dos latifundiários do Nordeste.
As filmagens de sua vida, interpretada pelos próprios camponeses,
foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos
depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth
Teixeira e seus dez filhos, espalhados pela onda de repressão
que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme
passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio
de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma
família de camponeses durante os longos anos do regime militar.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=4-HBPSqqonU
Plano de Estudo:
● A sociologia de Raymundo Faoro;
● Jessé Souza e o ataque ao homem cordial;
● Jessé Souza e o ataque ao conceito de patrimonialismo;
● Djamila Ribeiro e a luta pelo antirracismo no Brasil
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender os principais conceitos de Raymundo Faoro
em sua obra Os Donos do Poder;
● Entender a crítica de Jessé Souza ao conceito de Homem Cordial de Sergio Buarque
de Holanda e como este conceito contribui com a elite do Brasil;
● Compreender a crítica do autor ao conceito de patrimonialismo de Raymundo Faoro e
como este conceito também contribuiu com a elite brasileira;
● Analisar as relações raciais no Brasil as compreendendo como existentes e que sua
resolução envolve lutas e conquistas.
55
INTRODUÇÃO
Através de sua análise, Faoro explica sociologicamente o Brasil em que vivia. Sua
principal obra Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro foi escrito em
1958. A década de 1950 é marcada por um país que vivia uma nova democracia de apenas
treze anos. Faoro escreve pouco tempo depois do suicídio de Vargas, um presidente que
havia governado o país sob a alcunha de “pais dos pobres”. Durante 15 anos consecutivos
Vargas esteve no palácio do Catete (antiga sede do poder federal), dentre estes, sete como
ditador. Vargas representava bem a continuidade da prática das relações patrimonialistas no
Estado brasileiro. O ex-presidente assumiu a presidência da república prometendo acabar
com o uso da máquina pública para beneficiar as oligarquias cafeeiras, mas, se mantém
no poder através de manobras políticas e um golpe de Estado (1937). Vargas na verdade,
representava a continuidade dos “donos do poder.
Vargas, retorna ao poder em 1951, desta vez através do voto popular, e enfrenta
grandes dificuldades de governar. Sem uma Constituição que lhe dava plenos poderes
tinha dificuldades de exercer suas práticas patrimonialistas. Agora deveria dividir o Estado
brasileiro com outros representantes do patrimonialismo.
É importante destacar ainda, que para Faoro, o Estado é capturado por uma elite
política e uma elite da iniciativa privada, sendo estes os responsáveis pelo
baixo desenvolvimento econômico e social brasileiro está respaldado nessa
intrínseca relação entre o Estado burocrático e a iniciativa privada, naquilo
que se constitui no estamento burocrático, uma relação através da qual a
classe econômica se fortalece e expande com apoio estatal (ABRITA e SIL-
VA, 2018, p. 209-210).
Estes grupos privados mantém uma intrínseca relação econômica com o Estado,
promovendo benefícios para os agentes estatais em troca de apoio econômico. Estes
grupos econômicos são os mesmos que financiam a campanha de diversos políticos.
O culturalismo agora havia ganhado espaço nas academias por todo o mundo
e justificava porque algumas sociedades serem ricas e outras não. O uso da explicação
religiosa baseada na experiência cultural protestante havia se tornado moda. Alguns eram
mais evoluídos por questões culturais. O racismo como explicação científica para julgar uns
mais evoluídos que outros havia saído de moda.
Mas não para Jessé Souza, pois para ele o paradigma culturalista foi uma falsa
ruptura com o racismo científico e que esse paradigma culturalista tomou conta da
intelectualidade brasileira por muito tempo.
Ao afirmar que existem culturais mais evoluídas que outras, também estamos tendo
uma atitude racista, ou pior, pois substituímos a raça pela cultura passando uma impressão
de rigor científico onde na realidade é uma expressão racista camuflada.
Jessé Souza é direto em sua crítica a Sergio Buarque e da mesma forma o é com
Raymundo Faoro. Ele percebe que juntamente ao conceito de Homem cordial o conceito
utilizado por Faoro, patrimonialismo, são utilizados pela elite, para justificar os abusos
cometidos pela elite econômica que não está presente no Estado.
Patrimonialismo, de acordo com Jessé Souza, é a figura do Estado demonizado por
uma elite puramente estatal que atua com a única e exclusiva função de drenar o patrimônio
público para sua posse, usando para isso o poder do Estado e do cargo que ocupa.
Incorporar a ideia de patrimonialismo é desastroso, de acordo com Souza, pois
essa ideia teria sido absorvida pela população brasileira e se tornou ponto de partida
inconsciente para qualquer pensamento a respeito do Estado brasileiro, de modo que toda
reflexão possui conclusões semelhantes, pois estão acorrentadas dentro de um mesmo
paradigma.
Para Raymundo Faoro, nosso patrimonialismo teria sido uma herança cultural da
colonização portuguesa, mas Jessé nos leva a questionar o patrimonialismo desenvolvido
primeiro por Sergio Buarque e depois por um de seus seguidores, Faoro. O autor nos leva
a questionar não somente a ideia de um povo inferior, mas também questionar essa visão
negativa do Estado brasileiro. Souza quer nos mostrar que o problema do Brasil não está
nem no povo e nem no Estado e que acreditar nisso é acreditar realizar a vontade daqueles
que criaram esses mitos.
Djamila Ribeiro está presente nesta obra e é necessário destacar que sua vida
acadêmica é dedicada à sua luta contra o racismo e misoginia. Aqui nesta obra, foi
selecionada e indiretamente, Djamila Ribeiro continua lutando por suas pautas, pois de
todos os autores selecionados, Djamila Ribeiro é a uma mulher e também a única negra.
Isto, aparentemente não quer dizer muita coisa, mas, segundo a própria Djamila, diz muito.
A autora é uma mulher preta de origem pobre e graduou-se em filosofia na Unifesp
e hoje é professora na PUC-SP. Todos os demais autores aqui apresentados são homens,
brancos e filhos da elite brasileira. Djamila enfrentou o que milhões de outros passam
no Brasil. Diante das dificuldades que se deparou por ser mulher, preta e pobre, decidiu
escrever um manual que auxiliasse o brasileiro para tornar-se antiracista.
A autora inicia sua obra apontando que sabemos pouco sobre o racismo no país.
Primeiro porque fomos ensinados que a população preta não teve história, que eram todos
iguais, que eram conformados com o trabalho escravo. Tudo o que sabemos é que estes
seres humanos foram escravizados e que aceitaram a sua escravidão. Sabemos pouco
sobre os quilombos (inclusive o de Palmares), não sabemos sobre a revolta dos Malês
em Salvador, também desconhecemos a Conjuração Baiana e não sabemos nada sobre a
Revolta da Chibata. Uma ignorância aparentemente inocente, mas não é. Não sabemos da
história dos negros no Brasil porque não quiseram nos contar. A história desses povos lhes
foi negada.
SAIBA MAIS
Fonte: RODRIGUES, K. Oracy Nogueira, o homem que desvendou o racismo brasileiro. 2020.
Disponível em: https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1883-oracy-nogueira-o-homem-que-
-desvendou-o-racismo-brasileiro.html. Acesso em: 20 jul. 2022.
“O que de fato cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista? O
autoquestionamento – fazer perguntas, entender seu lugar e duvidar do que parece
‘natural’ - é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência, que privilegia
uns e oprime outros”.
LIVRO
Título: Pequeno manual Antirracista.
Autora: Djamila Ribeiro.
Editora: Companhia das Letras.
Sinopse: Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila
Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude,
branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em onze
capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de
reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre
discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade
pela transformação do estado das coisas. Já há muitos anos se
solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa
sociedade, criando desigualdades e abismos sociais: trata-se de
um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato
de vontade de um sujeito. Reconhecer as raízes e o impacto do
racismo pode ser paralisante. Afinal, como enfrentar um monstro
desse tamanho? Djamila Ribeiro argumenta que a prática
antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais
ainda: é uma luta de todas e todos.
FILME/VÍDEO
Título: Medida provisória
Ano: 2020.
Sinopse: Em um futuro distópico, o governo brasileiro decreta uma
medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado
escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional.
O Congresso então aprova uma medida que obriga os cidadãos
negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas
origens. Sua aprovação afeta diretamente a vida do casal formado
pela médica Capitú (Taís Araújo) e pelo advogado Antonio (Alfred
Enoch), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge),
que mora com eles no mesmo apartamento. Nesse apartamento,
os personagens debatem questões sociais e raciais, além de
compartilharem anseios que envolvem a mudança de país. Vendo-
se no centro do terror e separados por força das circunstâncias,
o casal não sabe se conseguirá se reencontrar. O longa é uma
adaptação de "Namíbia, Não!", peça de Aldri Anunciação que o
diretor e ator Lázaro Ramos dirigiu para o teatro em 2011.
ALVARENGA, Darlan. Com pandemia, indústria perde ainda mais participação no PIB e
agronegócio ganha protagonismo. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noti-
cia/2021/07/21/com-pandemia-industria-perde-ainda-mais-participacao-no-pib-e-agrone-
gocio-ganha-protagonismo.ghtml. Acesso em: 25 jun. 2022.
COSTA, Sergio. O Brasil de Sergio Buarque de Holanda. Scielo, São Paulo, v. 29, n. 3, p.
821-840.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 2000.
PRADO JÚNIOR. Caio. Evolução política do Brasil. São Paulo: Cia. Das Letras, 2012.
RIBEIRO, D. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Cia das Letras, 2019.
SILVA. M. L. A. M. Casa Grande & Senzala e o mito da democracia racial. Revista brasilei-
ra de ciências sociais, São Paulo, v. 39, n. 39, 2017.
SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à lava jato. São Paulo: Leya, 2017.
CONCLUSÃO GERAL
74
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
www.unifatecie.edu.br