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Ciências Humanas e

Sociais
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos
2021 by Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S237c Santos, Renata Oliveira dos


Ciências humanas e Sociais / Renata Oliveira dos Santos
Paranavaí: EduFatecie, 2021.
83 p. : il. Color.

1. Sociologia. 2. Sociologia política. I. Centro Universitário


UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 301


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André Dudatt
AUTORA

Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos

● Mestra em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá.


● Graduada em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá.
● Especialista em História e Sociedade - Universidade Estadual de Maringá.
● Especialista em Educação a Distância - UNIFAMMA - Centro Universitário Me-
tropolitano de Maringá
● Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE) - Universida-
de Estadual de Maringá.
● Integrante do Grupo de Pesquisa em Educação a Distância e Tecnologia (GPEa-
DTEC) - Universidade Estadual de Maringá.
● Principais temas de interesses: Educação, Ensino de Sociologia, Políticas
Públicas, Educação a Distância (EaD), Tecnologia, Comunicação. Atualmente,
Professora de Sociologia - Educação Básica. Professora de Ciências sociais e
Áreas afins - Ensino Superior.
● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/7216942697334779
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Aprender é realmente uma grande viagem. Por isso, é necessário conhecer cada
vez mais. É com esse espírito de compreender o que ainda não se sabe que a disciplina
de Ciências Sociais está sendo proposta. Espero que você esteja aberto(a) ao novo, ao
desconhecido e que faça de cada unidade um momento de conhecimento único, inspirador
e transformador.
Saiba que quando falamos de Ciências Sociais estamos nos referindo a uma tríade
de ciência que tem como objeto de estudo as relações sociais. Assim, vamos debater sobre
a Sociologia, a Ciência Política e a Antropologia. Dessa maneira, nosso aprendizado estará
dividido assim:
Na Unidade I vamos conhecer o desenvolvimento da Sociologia como ciência por meio
de um passeio sobre sua história e também sobre o seu primeiro pensador, Augusto Comte.
Já na Unidade II iremos nos aprofundar ainda mais nos pesquisadores sociais
compreendendo a teoria dos chamados Clássicos da Sociologias, são eles: o francês Émile
Durkheim e os alemães Max Weber e Karl Marx. Você perceberá que a maneira como cada
um interpreta a sociedade é bem específica e particular e entenderá que não existe apenas
uma forma para compreender as relações sociais.
Na Unidade III você será convidado(a) a pensar algumas problemáticas sociais à
luz de autores considerados contemporâneos. Assim, conhecerá um pouco mais sobre as
discussões provocadas por Zygmunt Bauman em relação à Modernidade Líquida, Socieda-
de de Consumo e Identidade. Assim como os debates empreendidos por Pierre Bourdieu
por meio dos conceitos de Habitus, Campo e as definições sobre gostos e os capitais:
Econômico, Social, Simbólico e Cultural.
Por fim, na Unidade IV iremos discutir sobre as implicações do conhecimento pre-
tendido pela Ciências Políticas e também pela Antropologia. Dessa maneira, finalizaremos
nossa discussão por meio do entendimento dos processos políticos como fundamentais
para nossa ação em sociedade e da compreensão sobre a cultura, o respeito à diversidade
e a necessidade de promover uma sociedade mais igualitária e justa para todos.
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Sociologia como Ciência e Augusto Comte

UNIDADE II.................................................................................................... 21
Teoria Clássica da Sociologia: Émile Durkheim, Max Weber e Karl
Marx

UNIDADE III................................................................................................... 43
Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu

UNIDADE IV................................................................................................... 62
Ciência Política e Antropologia
UNIDADE I
Sociologia como Ciência
e Augusto Comte
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos

Plano de Estudo:
● Pensar Sociologicamente;
● Sociologia como Ciência: Contexto;
● Augusto Comte e o Positivismo;
● Lei dos Três estados e a Religião da Humanidade.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o que significa pensar de maneira sociológica;
● Contextualizar o surgimento da Sociologia como ciência;
● Refletir sobre a importância do pensamento de Augusto Comte;
● Entender a importância da Lei dos três estados e da Religião da Humanidade
para a formação do pensamento social.

3
INTRODUÇÃO

Você já parou para pensar na sociedade em que vive? Já se questionou alguma


vez qual a razão de existirem inúmeros problemas sociais? Afinal, que sociedade é essa?
Se você faz parte dela, como pode ajudar a transformá-la?
Bom, essa unidade tem por objetivo apresentar para você uma ciência que irá
ajudar a despertar sua capacidade crítica, o pensamento coerente e consciente. Porém,
para isso, é necessário estar atento ao mundo ao seu redor, o mundo do seu cotidiano e
como ele se apresenta para você.
É essencial que você seja capaz de questionar, de perguntar, de buscar explica-
ções que vão além do senso comum, ou seja, daquela certeza cristalizada, generalizadora
e subjetiva desenvolvida na maioria das vezes por habitarmos um determinado meio ou
grupo social.
A partir desse despertar, torna-se possível compreender que a Sociologia não é
uma ciência vazia, que não surge sem uma razão. Você verá que ela é fruto de um con-
texto histórico, social, político, econômico e cultural de um período em que as mudanças
ocorridas em todos esses aspectos exigiram uma nova forma de pensar a sociedade e
suas mudanças.
Dessa forma, essa primeira unidade abre as portas para uma nova realidade, um
novo começo, um olhar diferenciado sobre a sociedade, um desafio que vai além das leitu-
ras teóricas e ancora na realidade vivenciada no cotidiano de cada um.

Bons estudos!

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 4


1. PENSAR SOCIOLOGICAMENTE

A palavra Sociedade significa o que para você? Em algum momento você já parou
para pensar qual a razão e importância em vivermos em sociedade? Será que você já
percebeu que faz parte dela, que atua sobre ela e pode decidir os seus caminhos?
Muitas vezes acreditamos que a sociedade está toda errada, ainda mais quando
vemos na televisão os casos de corrupção política, violência doméstica, falta de segurança,
saúde e transporte.
Ficamos indignados e poucos de nós se perguntam como é possível mudar essa
realidade. Isso porque, na maioria das vezes, não nos colocamos como parte dessa so-
ciedade corrupta, violenta e desigual. É como se criticássemos algo que está à parte, à
margem e que, embora nos afete de maneira direta, parece estar distante do cotidiano.
O autor português José Saramago, em seu livro Ensaio sobre a Cegueira (1995),
diz que é necessário sempre reparar, ver, enxergar, o que está à nossa frente. Pois, às
vezes somos cegos mesmo tendo plena visão.
Porém, enganam-se aqueles que acham que sair dessa cegueira é simples e fácil.
Na verdade, é um processo, uma construção, um despertar que proporciona o desenvolvi-
mento da consciência. E o que se entende por consciência?
Segundo a filósofa Marilena Chauí (2000, p. 165), a consciência “tem como centro
a figura do sujeito do conhecimento, na qualidade de consciência em si reflexiva ou ativi-
dade permanente racional que conhece a si mesma”. Dessa forma, ser consciente é ter a
capacidade de se perceber, podendo, assim, ver o que está ao redor, de maneira racional.

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 5


É essa racionalidade autônoma de cada um que a sociologia busca despertar. O ser
social crítico não é o chato que tudo parece saber, não é aquele que impõe suas verdades
absolutas, mas sim quem consegue perceber de maneira racional, sem juízos de valor, sem
“achismos” a realidade à sua volta e questioná-la de maneira coerente.
A sociologia preza por despertar em cada um de nós, seres pensantes indepen-
dentes, que sejamos capazes de analisar o cotidiano, das coisas mais simples às mais
complexas. Pensadores que refletem sobre uma determinada notícia, uma cena de novela,
que possam ouvir e opinar sobre uma dada situação ou fala de alguma autoridade.
Ela é dinâmica, mutável, assim como a sociedade. Por isso, possibilita que novos
estudos surjam, sem que seja necessário desprezar ou descartar o que já foi estudado. Por
ser contínua, a sociedade possibilita o desenvolvimento da sociologia em uma constante
ampliação do conhecimento.
Porém pensar sociologicamente ainda é um desafio para todos nós e sabe por quê?
Porque a sociologia nos faz ver o mundo com um olhar novo, muitas vezes desconfiado,
descontente. Revela-nos um mundo que, aos poucos, esquecemos por que decidimos não
pensar sobre ele. Assim, afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2010, p. 24):
Em face de um mundo considerado familiar, governado por rotinas capazes
de reconfirmar crenças, a sociologia pode surgir como alguém estranho, ir-
ritante e intrometido. Por colocar em questão tudo aquilo que é considerado
inquestionável, tido como dado, ela tem potencial de abalar as confortáveis
certezas da vida, fazendo perguntas que ninguém quer se lembrar de fazer e
cuja simples menção provoca ressentimentos naqueles que detêm interesses
estabelecidos. Essas questões transformam o evidente em enigma e podem
desfamiliarizar o familiar [...]

Assim, é essa descoberta e estranhamento do que nos parece tão familiar que faz
a sociologia uma ciência voltada ao questionamento, à inquietação, à negação de achar
tudo natural ou normal.
Dessa maneira, para Bauman (2010), pensar sociologicamente é ter uma cons-
ciência relacional que possibilite a compreensão para além daquilo tido como uma verdade
absoluta e imutável.
Diante de uma realidade em constante mudança, torna-se imprescindível ser toleran-
te e sensível às diferenças, para que todos possam viver e conviver em sociedade de maneira
a respeitar os mais variados tipos de pensamento, conhecimentos e comportamentos.
O exercício de refletir sobre a sociedade pode ser realizado também por meio do
que o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1959) chamou de imaginação socio-
lógica. Mas, o que é necessário para despertar esse tipo de imaginação? O próprio autor
nos responde:

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O que precisam, é de uma qualidade de espírito que lhes ajude a perceber o
que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro dele
mesmo. É essa qualidade que poderemos chamar de imaginação sociológica
(MILLS, 1959, p. 09).

Podemos compreendê-la ainda como a capacidade de pensar sobre o nosso coti-


diano individual e a vivência no coletivo. Por essa razão, para despertar a imaginação so-
ciológica não podemos esquecer que é necessário conhecer o meio social em que vivemos,
as questões políticas, culturais, econômicas e sociais que são característica do espaço, do
lugar que ocupamos.
Ela privilegia o contato com aquilo que está ali, na nossa frente, com o que temos
referências diariamente e que devemos compreender mais profundamente para identificar
as raízes dos dilemas e dificuldades que temos no meio que fazemos parte.
O fato é que a mudança que desejamos na sociedade faz parte de como nos re-
lacionamos e agimos com ela. Nossas atitudes podem fazer do meio social um espaço de
convivência pacífica ou conflituosa dependendo das relações humanas que estabelecemos
cotidianamente.

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2. SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA: CONTEXTO

Algumas vezes, quando nos deparamos com algo novo, nos perguntamos de onde
e por que aquilo surgiu. Pergunta essa que nos faz buscar o sentido, o significado para algo
que nos é desconhecido.
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Sociologia, muito menos em pensamento
sociológico e nem sabia que existiam autores considerados como clássicos, que são res-
ponsáveis por essa ciência, não é mesmo?
Dessa forma, é muito importante dizer que a Sociologia não é uma ciência “vazia”
ou que surgiu “do nada” – expressão que usamos para dar sentido àquilo que não sabemos
argumentar. Pois bem, ela surgiu das novas configurações e condições sociais, políticas e
econômicas advindas das transformações que ocorreram no mundo ocidental entre o final
do século XVIII e início do século XIX. Ela surge para dar sentido a essas transformações,
explicando suas características e consequências para emergência da sociedade capitalista:
Na verdade, a sociologia, desde o seu início, sempre foi algo mais do que
uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explica-
ções sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no
rumo desta civilização (MARTINS, 1994, p. 07).

Por isso, para o autor Carlos B. Martins (1994), ela pode ser considerada uma
ciência contraditória e tensa, que ora pode representar os interesses dos dominantes ou
dar vozes aos movimentos revolucionários.

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A Sociologia surge para revelar uma nova área do conhecimento científico, tendo
como propósito pensar o mundo social, que se desenvolvia em um contexto específico, em
meio à decadência da sociedade feudal e a consolidação da sociedade capitalista.
Além disso, as chamadas Revoluções Clássicas – Revolução Inglesa, Revolução
Francesa e Revolução Gloriosa – também contribuíram para a formação dessa ciência. Afinal,
era necessário entender tudo o que estava acontecendo, como: a saída do homem do campo
para a cidade, o artesanato dando lugar aos produtos industrializados, máquinas x homens.
Vale lembrar que uma revolução tem por objetivo mudar todos os aspectos de uma
sociedade. Ela se configura como uma transformação radical. No caso da Revolução Ingle-
sa/Industrial, além do aperfeiçoamento produtivo, da introdução da máquina a vapor e do
trabalho nas fábricas, ela consolidou o poder do capitalista que tinha em suas mãos cada
vez mais terras, máquinas, fábricas e, com isso, transformava uma enorme massa humana
em trabalhadores dependentes de seu poderio.
Assim, surgia uma nova sociedade que se industrializava e se urbanizava rapida-
mente, fazendo nascer uma outra maneira de organização social. O homem agora saía
do campo e se dirigia para a cidade. Deixou de lado o trabalho artesanal e individual e
passou a fazer tudo de maneira fragmentada, ou seja, por parte, dependendo de outros
para produzir apenas um único produto.
Aliás, a produção se tornou em grande escala, em quantidade e para que isso
ocorresse não foram poupadas mulheres e crianças, que chegavam a trabalhar por 12
horas seguidas nessas fábricas. E você sabia que mediante o trabalho exaustivo muitas
crianças morriam?
Pois é, se não morriam, muitas tiveram suas mãos cortadas por máquinas, e isso
porque a função principal era a de limpá-las, isso devido ao fato de terem as mãos pe-
quenas e serem destinadas para esse tipo de trabalho. Além disso, e infelizmente, como
ainda acontece hoje em algumas funções, os homens também ganhavam mais do que as
mulheres e as crianças.
Toda essa movimentação, a vinda do homem para cidade e o trabalho nas fábricas
trouxeram consequências. As cidades ficaram cheias, o crescimento demográfico tornou-se
um problema, pois as estruturas não comportavam todo mundo. Assim, não havia moradia,
nem muito menos serviços de saúde e sanitário que pudessem suportar tamanha popu-
lação. Por exemplo, as cidades na Inglaterra, no período dos séculos XVII-XVIII, eram
pequenas e não foram pensadas para uma quantidade crescente de pessoas.

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Além desse crescimento desordenado que abriu caminho para novos problemas
sociais. Houve um aumento assustador da prostituição, dos atos de suicídio, das diferentes
formas de violência e também de doenças que se espalhavam rapidamente e mataram uma
parcela grande da população.
A organização social se transformava de maneira rápida e desordenada. As ins-
tituições sociais se desenvolviam devido a inúmeras determinações sociais e culturais
presentes nessa “nova” sociedade.
Entre tantos fatores, sem dúvida o aparecimento da classe trabalhadora ou prole-
tariado foi o marco das mudanças desse período. Ficou muito clara a divisão entre traba-
lhadores e donos das empresas, como veremos adiante em outra unidade, a divisão social
entre proletariado e burguesia.
Mediante tantas desigualdades, a classe trabalhadora nunca se calou. Promoveram
inúmeras revoltas que se configuraram desde a destruição das máquinas até a consolida-
ção de sindicatos e organizações para lutar contra os mandos e desmandos da burguesia.
Será que você já conseguiu entender a necessidade e o porquê do surgimento da
sociologia em meio a tantas mudanças?
Bom, já existiam diversas ciências, porém ainda faltava aquela que pudesse estu-
dar os problemas sociais e, como vimos, com tantas transformações, eles se multiplicaram.
Assim, os primeiros pensadores ingleses começaram a analisar a sociedade. Não
eram sociólogos de formação, até porque a ciência não estava ainda consolidada, tratava-
-se de “homens voltados para ação” (MARTINS, 1994, p.14), ou seja, procuravam entender
essas modificações e atuar sobre elas. Entre esses pesquisadores se destacam Owen
(1771-1858), William Thompson (1775-1833), Jeremy Bentham (1748-1832), que, embora
possuíssem olhares diferentes, concordavam que a sociedade precisava ser refletida. Co-
meçaram, assim, o desenvolvimento de um novo conhecimento.
O próprio pensamento estava em transformação: entrava em cena o saber RA-
CIONAL, que prioriza a compreensão não mais por meio do sobrenatural, mas sim de uma
certeza que só poderia ser comprovada por meio da observação e da experimentação, um
novo método científico que era capaz de explicar a natureza, o meio e suas consequências.
Foi assim, então, num período de mais ou menos 150 anos, ou seja, de Copérnico
a Newton, que a ciência progrediu, sendo capaz até de mudar a localização do planeta
Terra no universo (MARTINS, 1994).
Aliás, antes dessas descobertas, você acredita que muitas pessoas pensavam que
a Terra era suspensa por um gigante? Pois bem, foi a ciência racional que superou os mitos
sobrenaturais inquestionáveis, revelando ao mundo que tudo pode ter uma explicação lógica.

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3. AUGUSTO COMTE E O POSITIVISMO

Em busca de uma nova forma de pensar, surge um grupo de pensadores franceses


que, no século XVIII, desejavam transformar a sociedade. Eles foram chamados de Ilumi-
nistas, ideólogos burgueses que negavam o pensamento da sociedade feudal baseado
no poderio da igreja e dos nobres, instituindo uma nova forma de análise. Dessa maneira,
fizeram do uso da razão e da observação o caminho para a reflexão de quase todos os
aspectos da sociedade que emergia.
Esses estudos tinham como objetivo revelar como as instituições daquela época eram
injustas e muitas vezes irracionais, pois não permitiam que os homens tivessem liberdade.
Ser um cidadão, tomar decisões, indagar o que estava errado, nada disso era per-
mitido e sabe por quê? Porque, embora houvessem ocorrido tantas mudanças em relação
às questões culturais e sociais, suas estruturas permaneceram inabaladas.
Por essa razão, os iluministas não queriam apenas compreender o que estava
acontecendo, mas produzir críticas e mudanças sobre a sociedade. Transformações con-
cretas que revelassem a todos a tamanha desigualdade que existia entre os indivíduos,
assim como a falsa noção de liberdade.
Assim, o saber agora estava pautado nos fenômenos histórico-sociais, que pos-
sibilitaram não apenas estudos científicos sobre a sociedade feito por especialistas, mas
também realizados por “homens comuns” (MARTINS, 1994, p. 21), que passaram a com-
preender que a sociedade era um produto ativo, dinâmico e mutável da atividade humana,
cabendo a todos pensar sobre ela.

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Da mesma maneira como ocorreu na Inglaterra, uma grande revolução também acon-
teceu na França. Com o objetivo de derrubar a monarquia do poder, em 1789, a burguesia
toma o poder e decide mudar radicalmente o Estado, as estruturas sociais e culturais, além
de promover profundas transformações na economia e política. Foi capaz ainda de destruir
antigos privilégios de classe, o poder da igreja e incentivar a ação dos empresários.
Entretanto, tantas mudanças também causaram o caos e a desorganização. Para
alguns pensadores franceses, a revolução causou um impacto que parecia ter sido mais
para o mal do que para o bem da sociedade. Por essa razão, era necessário organizar e
aperfeiçoar essa sociedade.
Vale lembrar que, assim como na Inglaterra, em que a revolução Industrial traz
muitas situações inesperadas, não é diferente com a consolidação da Revolução Francesa,
que também propiciou um crescimento demográfico, trabalhadores sendo explorados em
suas funções, o uso de mulheres e crianças nas fábricas. Assim como os trabalhadores
ingleses, os franceses se organizaram contra as condições de miséria que viviam. Foram
tantos os enfrentamentos que os pensadores franceses buscaram soluções para organizar
e manter a sociedade em equilíbrio (MARTINS, 1994).
Por isso, uma ciência que pensasse sobre todos esses problemas era primordial
para equilibrar a sociedade. Sendo assim, a sociologia surge com um sentido prático, ou
seja, os primeiros sociólogos farão dela um caminho para repensar o problema social, de
manter e organizar a sociedade por meio da manutenção das instituições sociais, a família,
a hierarquia social.
A grande contradição desse período foi que, embora tivesse ocorrido a revolução,
os pensadores acreditavam que as bases antigas da organização social francesa poderiam
manter a ordem, ou seja, mudava-se o poder de mãos, mas não de ideologia. É como se
eles precisassem de algo mais seguro para buscar o novo.
Em meio a esses primeiros pensadores sociais, destaca-se Auguste Comte, que
será o responsável por dar início à Sociologia como ciência.
Segundo a socióloga Cristina Costa (2005), foi o positivismo que sistematizou o
pensamento sociológico. Mas, afinal, o que significa positivismo?
Bem, o positivismo tem sua origem na palavra positiva, que nada mais é do que algo
que se tem certeza, é seguro e definitivo. Derivado do cientificismo, o positivismo acredita no
poder absoluto da razão humana em investigação e conhecimento da realidade e transformá-
-la em leis de regulamentação da vida do homem, da natureza e do próprio universo.

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Essas definições surgem após o aparecimento do positivismo advindo de seu maior
formulador, o pensador francês Auguste Comte que foi capaz de sistematizar e definir o ob-
jeto, conceitos e criar uma nova metodologia de investigação pautada no estudo científico
da sociedade. Inicialmente, a sociologia foi chamada, por ele, de “FÍSICA SOCIAL”.
Segundo Quintaneiro (2009) Comte afirmava que para existir o tão sonhado equilí-
brio social, era importante reorganizar as ideias e o conhecimento que pudesse ser comum
a todos os homens. Assim, para pensar nessa nova sociedade, era necessário criar uma
forma diferenciada de se entender a realidade.
Essa realidade poderia ser entendida por meio de uma visão positiva que se desen-
volveu a partir do uso dos métodos de investigação utilizados pelos estudos das ciências da
natureza, como a observação, a experimentação, a comparação, ou seja, a racionalidade e
a realidade empírica como base certa, absoluta do entendimento da sociedade. Sendo as-
sim, a “física social” deveria buscar os acontecimentos que ocorriam de maneira repetitiva,
como era possível ver na própria natureza.
Com isso, o positivismo entendia a sociedade como um organismo, em que todas
as partes estão interligadas e que, por isso, devem funcionar de maneira harmoniosa.
Embora pareça uma grande loucura, a ideia que figurava entre esses pensadores era de
“ordem e progresso”.
Por falar em Ordem e Progresso, você já ouviu essa expressão e sabe onde ela
está registrada? Sim, na nossa bandeira nacional e isso indica que nossos republicanos do
século XIX eram adeptos dos pensamentos de Comte.
Para ele, para se reconstruir uma sociedade era necessário, primeiramente, o
estabelecimento da Ordem e assim seria possível pensar no progresso. Sua grande crítica
aos pensadores da época e até mesmo à burguesia que estava no poder, era que eles
pensavam justamente o inverso.
É inegável a importância de Auguste Comte para o início das pesquisas e da
compreensão da sociedade como um estudo científico, não é mesmo? Então, antes de es-
tudarmos mais profundamente as ideias dos considerados autores clássicos da sociologia,
vamos nos aventurar a compreender um pouco mais das ideias de Comte?

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4. A LEI DOS TRÊS ESTADOS E A RELIGIÃO DA HUMANIDADE

Bom, já sabemos que, para Comte, a sociedade devia ser reorganizada, mas isso
não deveria acontecer apenas nas estruturas/instituições sociais e sim no intelectual hu-
mano. Se cada homem tivesse seu pensamento renovado e modificado, seria capaz de
compreender a sociedade e isso determinaria uma real mudança.
Mudança essa que poderia ser entendida por meio do estudo de uma filosofia da
história e do modo de pensar existente em cada época do desenvolvimento da humanidade,
por meio da filosofia positiva e de uma nova configuração das instituições sociais, tendo
destaque para a forma religiosa que era entendida por Comte como uma parte importante
de renovação social.
Para compreender a filosofia da história, Comte criou a lei dos três estados em que
defendia que era possível entender o desenvolvimento da ciência e do espírito humano
através de três momentos distintos, identificados por ele como: Estado Teológico, Estado
Metafísico e Estado Positivo.
Sabe quando acontece uma grande catástrofe, seja enchente ou seca e alguns
jornalistas entrevistam os moradores desses lugares e muitos deles atribuem estarem vivos
por bondade divina? Repetem “Graças a Deus estou viva”, “Deus não quis o pior para mim
e a minha família”, “está seco demais porque Deus quis assim”. Pois bem, segundo Comte,
esse tipo de pensamento humano pode ser considerado um Estado Teológico.

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 14


Isso porque, diante de uma adversidade natural, o indivíduo só consegue ter uma
explicação baseada no sobrenatural, ou seja, na crença de um Deus que decide tudo por
ele. Esse estado de pensamento está baseado em uma certeza absoluta, não pautada na
própria ação do homem, mas de outro ser. Por isso, ele nada questiona, apenas aceita.
Podemos muito bem exemplificar esse estado como uma “criança”, que não pensa
por si mesma e não questiona o que não entende. Por isso, quando ela se machuca e
chora, rapidamente, a mãe pega a criança pelo braço, beija o machucado e diz: “Quando
crescer sara!” e, como num passe de mágica, ela para de chorar e volta a brincar aceitando,
plenamente, o que sua mãe disse.
O segundo momento de desenvolvimento da humanidade para Comte é o Estado
Metafísico, aqui o homem está entre a segurança de sua crença e a incerteza das primei-
ras investigações científicas. A metafísica substitui o concreto pelo abstrato e a imaginação
dá lugar à argumentação. Dessa maneira, o estado teológico passou a ser questionado, as
vontades divinas agora abrem caminho para a formação de ideias. Comte exemplifica que,
no caso da política, nesse estado os reis deveriam ser substituídos por juristas, já que a
sociedade seria baseada num contrato e na vontade geral do povo.
Podemos comparar esse estado com o nosso desenvolvimento ainda na adolescên-
cia em que desejamos uma liberdade em relação aos nossos responsáveis, mas também
desejamos ter eles por perto para tomar as decisões necessárias.
Por fim, o Estado Positivo seria o desenvolvimento pleno do pensamento humano,
nele a imaginação e a argumentação seriam substituídas pela observação. Assim, tudo
poderia ser entendido como lei em uma relação constante dos fenômenos observáveis.
Assim chegaríamos a nossa fase adulta, em que podemos decidir por tudo, tendo as ações
pessoais como determinantes para nossa vida.
Para a filosofia positiva, é impossível reduzir os fenômenos a único princípio, seja
ele a natureza ou um deus. Por isso, cada ciência deve se ocupar de um aspecto e objeto
para que se desenvolvam análises positivas e absolutas sobre diferentes fatores.
Por isso, caro(a) aluno(a), o lema principal do conhecimento positivo era: “Ver para
prever”, pois, ao prever, é possível desenvolver uma técnica, o que corresponde ao domínio
do homem em relação à própria natureza. Enfim, é possível compreender o estado positivo
como aquele que inaugura uma investigação científica real, do certo e absoluto, que não
causa dúvida, deixando no passado o poder das forças espirituais e do controle do sobre-
natural e dando um novo direcionamento para o poder material disponível entre os sábios
e os cientistas (MARTINS, 1994).

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Assim, a Sociologia surgiu como uma ciência positiva, que, ao pesquisar e observar
os fatos repetidos da sociedade, poderia se unir às demais ciências a ponto de entender
o ser humano por completo. Os estudos Comteanos se basearam na ideia de estudar a
ordem como algo estático, enquanto o progresso como dinâmico.
Além de pensar uma filosofia da história e da consolidação de uma ciência objetiva,
Comte viu na religião um campo de estudo que seria capaz de reorganizar a sociedade
de maneira positiva. Você verá que a religião defendida por ele é muito diferente das que
temos ou professamos em nosso cotidiano.
Como vimos até agora, Comte não se atreve apenas a pensar de maneira universal
os problemas sociais, muito menos acreditava que, ao reformular as instituições e reorgani-
zar a sociedade, pós-revolução, tudo estaria resolvido. Para ele, era essencial que o próprio
pensamento humano mudasse.
Por isso, além da lei dos três estados, de refletir sobre a sociologia como uma ciên-
cia, ele se dispôs nos últimos anos de sua vida a pensar sobre os princípios fundamentais
de uma nova religião, chamada por ele de Religião da Humanidade.
Com características que podem ser percebidas como inusitadas, a religião da
humanidade foi organizada da seguinte maneira: os meses do calendário receberam os
nomes de grandes personagens históricos, como o caso do filósofo René Descartes, os
dias “santos” foram batizados como dias em que deveriam ser comemoradas as grandes
obras de Dante Alighieri, William Shakespeare, Adam Smith entre outros (MARTINS, 1994).
Havia ainda outras peculiaridades, como a substituição da ideia de um Deus cristão
pela Humanidade. E seu lema era: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso
por fim”. Tratava-se de uma religião tão inovadora que a santa que a representava tinha
traços do rosto da própria esposa de Comte, Clotilde de Vaux.
Você deve estar se perguntando quem frequentava essa nova religião e até mesmo
se ela ainda existe... Bom, os frequentadores geralmente defendiam as mesmas ideias
positivistas de Comte e aqui no Brasil ainda hoje existem muitos adeptos. Ficou curioso(a)?

SAIBA MAIS

Será que você ficou interessado(a) em saber um pouco mais sobre a Religião da Huma-
nidade e a maneira como ela ainda hoje está sendo conduzida?
Bom, se você quiser mais informações acesse ao site:

http://templodahumanidade.org.br/

Fonte: a autora.

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 16


SAIBA MAIS

Você sabia que Augusto Comte foi considerado o pai do positivismo, acreditava que
era possível planejar o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo com critérios das
ciências exatas e biológicas?
Para descobrir um pouco mais sobre ele, leia: FERRARI, Márcio. Auguste Comte, o ho-
mem que quis dar ordem ao mundo. 2008.

Disponível em:

https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo.

Acesso em: 30 abr. 2021.

REFLITA

“Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à di-
versidade, daí decorrendo sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além
de experiências imediatas, a fim de que possamos explorar condições humanas até
então relativamente invisíveis”

Fonte: Bauman (2010, p. 25).

REFLITA

“O que precisam, é de uma qualidade de espírito que lhes ajude a perceber o que está
ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro dele mesmo”.

Fonte: Mills (1959, p. 09).

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 17


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Sociologia é a ciência do questionamento. Caso você tenha entendido essa afir-


mativa, é possível afirmar que já está apto(a) a pensar sociologicamente a sociedade e o
meio do qual faz parte.
Como vimos, ela é uma ciência que surge a partir de um contexto social, político,
histórico, econômico e cultural específico que marcaram as transformações humanas ain-
da no século XVIII. Dessa data para os dias atuais, a Sociologia vem se desenvolvendo
mediante as necessidades de cada período histórico que revelam a maneira como o pen-
samento de homens e mulheres estão se desenvolvendo em prol de uma sociedade mais
justa e igualitária.
Podemos entender ainda que as chamadas Revoluções Clássicas aceleram os pro-
cessos de mudanças sociais e precipitaram a iminência de uma ciência que seria capaz de en-
tender todas as transformações originárias dessas novas maneiras de ver e entender o mundo.
Os pensadores ingleses e franceses foram de grande valia para o desenvolvimento
de uma maneira de pensar baseada na racionalidade, na experimentação e observação
da sociedade para sua maior compreensão. Destaca-se neste período o pensamento de
Augusto Comte e o desenvolvimento da Física Social.
O pensamento Comteano trouxe para nossa reflexão o conceito de positivismo
expressado por meio do entendimento da Lei dos três Estados. Além disso, podemos en-
tender por que nossa bandeira nacional tem as palavras Ordem e Progresso.
Por fim, a maneira de entender a realidade defendida por Augusto Comte nos reve-
laria o que ele chamou de Religião da Humanidade e a sua forma de compreender a ciência
como parte do que deveria ser uma crença positiva.

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 18


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Aprendendo a pensar com a Sociologia.
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: Partindo de aspectos aparentemente comuns da vida
– amor, atos de consumo, trabalho, lazer, religião –, Zygmunt Bau-
man e Tim May escreveram esse livro com o objetivo de ajudar as
pessoas a entender suas vivências individuais e com os outros. Os
autores revelam como a sociologia fornece uma série de obser-
vações sobre nossas experiências e mostram as implicações de
nossos atos sobre a maneira como conduzimos nossa existência.
A edição original, publicada em 1990, foi revista por Bauman e
May e inclui temas atuais como corpo, intimidade, tempo, espaço,
desordem, risco, globalização, identidade e novas tecnologias.
Cada capítulo aborda problemas que constituem parte de nossa
vida cotidiana, dilemas e escolhas com os quais nos deparamos,
mas não chegamos a refletir. Os autores ainda sugerem questões
que podem servir de orientação para o leitor ou de plano de estu-
dos para professores e alunos. Pensar sociologicamente significa
entender aqueles que nos cercam em suas esperanças, desejos,
inquietações e preocupações. O livro ainda inclui sucinta bibliogra-
fia organizada por temas e questões para orientar professores e
alunos.

FILME/VÍDEO
Título: Ensaio sobre a Cegueira
Ano: 2008
Sinopse: Quando uma epidemia chamada cegueira branca apare-
ce em uma cidade, a mulher de um médico é a única pessoa que
ainda consegue ver. Ela vai para um abrigo com seu marido cego
e encontra todos vivendo em condições precárias. Agora ela tem
que guiar um grupo à liberdade.

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 19


WEB

• Apresentação do poema: Nada é Impossível de Mudar - Bertold Brecht. Uma


reflexão sobre a sociedade e nossa percepção sobre ela.

Link do site: https://www.youtube.com/watch?v=dQFoLaKiitc

UNIDADE I Sociologia como Ciência e Augusto Comte 20


UNIDADE II
Teoria Clássica da Sociologia: Émile
Durkheim, Max Weber e Karl Marx
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos

Plano de Estudo:
● O pensamento clássico e a importância do olhar sociológico.
● Émile Durkheim: Fato Social, Solidariedade Mecânica e Orgânica, Suicídio.
● Max Weber: Ação Social, Poder e Dominação.
● Karl Marx e o desenvolvimento de uma Sociologia Crítica.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância dos pensadores clássicos da Sociologia.
● Analisar os pensamentos de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
● Compreender e diferenciar as noções de fatos sociais, ação e
relação social e luta de classe.

21
INTRODUÇÃO

Para que você possa compreender ainda mais o pensamento sociológico, se faz
necessário conhecer os três autores clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, Max Weber
e Karl Marx. Eles são responsáveis por construir toda a base do pensamento sociológico
até os dias atuais.
Cada autor irá te apresentar uma maneira diferente de pensar a sociedade, qual é o
correto? Nenhum deles. Você irá aprender que o pensamento sociológico pode ser múltiplo e
isso não significa que exista apenas um lado certo ou errado de uma interpretação da sociedade.
O pensador francês Émile Durkheim será responsável pela Sociologia Funciona-
lista, pela definição das regras do método sociológico por meio dos Fatos sociais e pela
noção de que a consciência individual está relacionada a uma consciência maior, ou seja, a
consciência coletiva. Para esse autor, o indivíduo é moldado pela sociedade.
Já o pensador alemão Max Weber irá te apresentar à Sociologia Compreensiva e
os conceitos de Ação Social e relação social. Além da diferença entre a noção de poder
e dominação. Para esse autor, o indivíduo passa a ser chamado por Sujeito Social e é
responsável por moldar a sociedade.
Por fim, o pensador alemão Karl Marx nos ajudará a entender a sociedade por meio
da Sociologia Crítica. Ao entender o conceito de materialismo Histórico você perceberá
que, segundo este autor, as relações humanas podem ser entendidas pela luta de classe,
baseada nas questões econômicas que geram desigualdades sociais. Caberá a cada in-
divíduo a capacidade de se conscientizar em relação à sociedade por ser considerado um
ser transitório.
Embora pareça, e seja mesmo, muitas coisas novas a serem apreendidas, espero
que você possa se apaixonar por essa aventura de aprendizado por meio da Sociologia.

Bons estudos!

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1. O PENSAMENTO CLÁSSICO E A IMPORTÂNCIA DO OLHAR SOCIOLÓGICO

Você já deve ter percebido que a ciência que estamos apresentando tem muitos
caminhos a serem seguidos e refletidos, não é mesmo? Para aprofundar cada vez no saber
ou, como gostamos de dizer, no olhar sociológico, você será apresentado(a) aos chamados
autores clássicos da sociologia: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Infelizmente,
vamos explorar cada um deles de maneira sucinta, porém o que queremos revelar é
justamente a forma de pensar de cada um e como é possível enxergar a sociedade por
diferentes óticas.
Antes disso, você precisa entender que o papel da sociologia, como disciplina, é
dar forma ao processo de entendimento da relação entre eu e o outro que dependerá dos
mais diferentes fatores. Segundo Bauman (2010, p. 265), ela pode ser compreendida como
um “comentário da vida social”, que nos oferece uma porção de notas explicativas sobre as
nossas vivências e experiências que vão implicar, diretamente, no cotidiano.
Para esse autor, é possível dizer que a sociologia é o refinamento de um olhar dis-
ciplinado que irá analisar como procedemos em nossas relações no dia a dia. Ela não tem
como objetivo apontar o que é certo e errado, mas entender como socialmente definimos
essas ações. Assim, jamais existirá uma verdade absoluta.

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[...] a sociologia ilumina os meios pelos quais conduzimos nossa vida e tam-
bém questiona tal adequação com a produção de estudos e pesquisas que
incitam e desafiam a imaginação. [...] Por isso, levanta-se a possibilidade de
se pensar de modo diferente, incluindo aqueles aspectos da vida por rotina
colocados entre parênteses. Para nós, isso faz da sociologia uma disciplina
muito prática, mas talvez não como essa palavra costuma ser invocada por
quem procura transformar sua visão da sociedade em confortáveis realidade
que, como vimos, incluem por exclusão (BAUMAN, 2010, p. 266).

Assim, se faz necessário entendermos que o pensamento sociológico se trata de uma


ciência em que são atribuídas uma coleção de práticas que reivindicam uma maneira específica
de pensar, investigar e agir sobre um determinado objeto, neste caso, a sociedade. Trazendo a
esse tipo de estudo legitimidade para a pesquisa e observação de contexto variados.
Dessa maneira, os pensadores que iremos apresentar aqui são responsáveis pelo
desenvolvimento de uma ciência, por construir seus métodos de forma a pensar a socieda-
de em períodos e por meio de questões importantes para a humanidade.
Começaremos por Émile Durkheim, que, segundo Bauman (2010), foi o responsável
por buscar a base para o surgimento da sociologia como uma ciência de maneira racional,
sistemática e empírica. Para isso, o olhar científico deveria ser entendido de maneira neutra e
que fosse capaz de observar, descrever e explicar a sociedade como uma porção de coisas.
Desejando descrever corretamente e explicar o pensamento humano, o so-
ciólogo é levado (e exortado) a superar sua psique individual, as intenções e
os significados privados, de que apenas os próprios indivíduos podem falar,
e se concentrar, em vez disso, em estudar fenômenos passíveis de ser ob-
servados externamente e que, com toda a probabilidade, pareceriam iguais a
qualquer observador que focalizasse (BAUMAN, 2010, p. 273).

Para que as observações pudessem ser realizadas é que Durkheim criou as regras
do método sociológico cristalizadas pelo conceito de fatos sociais, que veremos mais à frente.
A particularidade de cada pensador clássico pode ser entendida pela maneira
como eles interpretam as questões sociais. Para Max Weber, a sociologia não poderia ser
pensada como algo neutro. Para ele, a prática sociológica deve ser refletida por meio das
mudanças sensíveis ocorridas no mundo e no interior de cada sociedade. Isso devido ao
fato de que os homens e mulheres promovem suas ações dotadas de sentido e significado.
Por essa razão, tanto você quanto eu somos responsáveis pela forma como a
sociedade está sendo construída: “As pessoas têm motivos e agem a fim de alcançar os
fins que estabeleceram para si, e esses fins explicam suas ações” (BAUMAN, 2010, p.
273). Assim, o autor criou o conceito de Ação Social e Relação Social e desenvolveu uma
sociologia baseada na compreensão histórica que poderia explicar as atitudes humanas.

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Por fim, iremos compreender o pensamento de Karl Marx, este talvez seja o autor
mais “conhecido” pela sociedade. Um conhecimento que muitas vezes é acompanhado de
distorções na maneira como foram construídos seus conceitos e as interpretações feitas em
relação a sua aplicação histórica. Com certeza termos como classes sociais, desigualdades
sociais, exploração, alienação, revolução e comunismo tendem a fazer parte de muitas
discussões em seu cotidiano. Eles podem aparecer de maneira direta em uma conversa ou
por meio de postagens via redes sociais.
O cuidado que você deve ter é de não acreditar em tudo que lê antes mesmo de
conhecer a obra ou a forma de pensar deste autor. Por exemplo, Marx, ao questionar o
Capitalismo, acredita que essa forma de organização política e social existe por promover
uma exploração e dividir a sociedade entre burguesia e proletariado. Ele não nos proíbe
de viver em uma sociedade capitalista, mas nos auxilia a interpretá-la e questioná-la de
maneira crítica.
É a sociologia crítica proposta por esse autor que nos incentiva a pensar de maneira
mais consciente e coerente sobre nossa realidade.
A maneira como enxergamos os problemas influenciará o que é considerado
a solução apropriada. Entre nossas expectativas para o futuro e as experiên-
cias obtidas no passado e no presente jaz um espaço que o pensar sociologi-
camente ilumina a partir do qual podemos aprender mais sobre nós mesmos,
os outros e as relações entre as aspirações, as ações e as condições sociais
que criamos e nas quais vivemos. A Sociologia é, assim, central para qual-
quer tentativa de nos compreendermos melhor (BAUMAN, 2010, p. 288).

Baseados nesta ideia de compreendermos o mundo de uma maneira melhor, é que


convido você a compreender um pouco mais da Sociologia como ciência por meio dos pensa-
dores clássicos e suas especificidades. Os “três porquinhos” sociólogos te ajudarão a entender
como nos tornamos sujeitos sociais e quais implicações tendem a acarretar no cotidiano.

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2. ÉMILE DURKHEIM: FATO SOCIAL, SOLIDARIEDADE MECÂNICA
E ORGÂNICA, SUÍCIDIO

O pensador francês Émile Durkheim é considerado como o “Pai da Sociologia”.


Ele é responsável por inaugurar uma nova fase do pensamento sociológico ao determinar
aquilo que Augusto Comte chamava de Física Social como Sociologia, a ciência que estuda
o homem e suas relações na sociedade. Para Durkheim, era necessário criar um novo
sistema, tanto científico quanto moral, que estivesse de acordo com a ordem industrial que
se desenvolvia.
Tornava-se, assim, importante perceber que a ideia de uma vida individual já não
era tão confortável, emergia uma pujante vida coletiva que precisava ser observada, com-
parada e refletida. Dessa maneira, o grande desafio para esse autor foi definir o objeto e o
método que melhor poderia estudar esses fenômenos coletivos.
A ciência muitas vezes parece algo distante de nós, do dia a dia, da realidade.
Para muitas pessoas ela fica restrita ao laboratório, a um saber que pode ser compreen-
dido por poucos.
Vale ressaltar ainda que, para ser ciência, é muito importante que seu objeto e o
seu método de estudo possam ser compreendidos de maneira clara. E foi exatamente essa
clareza que Émile Durkheim propôs para a compreensão da sociedade.

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O que chamava a atenção do autor eram as crenças, os comportamentos realiza-
dos pela coletividade e muitas vezes impostos por instituições sociais, como Família, Igreja,
Escola e Estado.
Você já parou para pensar como muitas vezes reproduz aquilo que lhe foi ensinado
sem questionar? Pois é, o fato de muitas vezes sermos batizados ainda recém-nascidos,
por exemplo, nos faz pensar o quanto o outro, a coletividade espera de nós atitudes já
postas. Pois não será conscientemente que um bebê escolhe qual denominação religiosa
seguir, não é mesmo?
Serão essas questões e outras que vão chamar a atenção de Durkheim: será que
somos moldados pela sociedade? Ela pode determinar o que vestimos, pensamos e como
agimos? Para o autor, a resposta correta é SIM. A sociedade é responsável por tudo isso
e, tendo essa consciência, ele foi capaz de delimitar o objeto de estudo da Sociologia,
chamando-o de FATO SOCIAL.
Na definição do próprio Durkheim, em sua obra As regras do método sociológico
(2004), ele afirma que o fato social pode ser compreendido como
Toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão da sociedade dada,
apresentando uma existência própria, independente das manifestações indi-
viduais que possa ter, “as maneiras de agir, de pensar e de sentir exterior ao
indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude da qual se impõem”,
ou ainda “maneira de fazer ou de pensar, reconhecíveis pela particularidade
de serem suscetíveis de exercer influência coercitiva sobre as consciências
particulares (DURKHEIM, 2004, p. 39).

Embora pareça muito confuso, a definição é que fato social é tudo aquilo que são
as ações, os comportamentos que são impostos de maneira coercitiva, é exterior à gente,
ou seja, foi definido fora e independente da nossa vontade e que pode ser notado em outras
sociedades, ocorrendo de maneira generalizante.
Segundo Durkheim, o fato social deve ser pensado como uma “COISA”, cabendo
ao cientista, sem paixão nenhuma e nenhum juízo de valor, entendê-lo de maneira objetiva,
descritiva, comparativa para que não exista dúvida sobre as suas afirmações. Assim, para
Durkheim, o cientista deve ser neutro em sua pesquisa, sendo capaz de fazer uma aprecia-
ção fiel e imparcial do fato social a ser investigado.
Para ser fato social é necessário identificarmos três particularidades, ele deve ser
coercitivo, exterior e generalizante (QUINTANEIRO, 2009):
COERÇÃO SOCIAL – o indivíduo age independente da sua vontade. Existem dois
tipos de forças coercitivas, representadas por Sanções. São elas as Sanções Legais e as
Sanções Espontâneas. Entende-se por Sanções Legais – aquelas que são determinadas

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por meio das leis, tornando-as inquestionáveis. Por exemplo, as leis de trânsito, ao colocar
o cinto de segurança você cumpre uma sanção legal, já parou para pensar se não houvesse
multa por não o usar se você colocaria o cinto? Caracteriza-se por Sanções Espontâneas
aquelas que são consideradas adequadas ou inadequadas por um grupo, pela sociedade.
Ações que não estão instituídas como leis, mas que na prática cotidiana recebem o mes-
mo valor que uma lei prescrita. Um exemplo, ao atravessar uma rua movimentada, você
percebe que ao seu lado existe um indivíduo com inúmeras sacolas, você é obrigado a
ajudar essa pessoa? Mesmo que não seja, ela te lançará um olhar de reprovação caso não
ofereça ajuda, correto?
Assim, esses tipos de sanções revelam como as nossas ações, muitas vezes,
podem ser determinadas pela sociedade.

EXTERIORIDADE – É uma das particularidades do fato social, ou seja, indepen-


dente se você faça ou não, queira de maneira consciente, eles acontecem, estão fora da
sua própria ação, são reproduzidos de maneira exterior a você. Tomando como exemplo
ainda a educação, independentemente de você desejar ou não, considerar ou não a forma
como o ENEM é feito, ele continuará ocorrendo sem nenhuma alteração. Você pode até
nunca ter feito um teste seletivo, isso não impede que a forma como a maioria das pessoas
ingressa na universidade seja através das provas do ENEM. Outro exemplo é que antes de
você nascer algumas regras na sua casa já estavam estabelecidas, você aprendeu a falar,
andar, comer, se comportar como a sua família determinou, não é verdade? E mesmo que
você, quando criança, não quisesse comer tal alimento ou ir dormir sem tomar banho, seus
familiares te obrigavam a isso com a afirmação que seria o melhor para você. Então, você
deve estar pensando: “Tomo banho ou como porque eu quero”, mas, para Durkheim, essas
ações não são tão simples assim e o seu querer, na maioria das vezes, sofre uma sanção
exterior do grupo ou da sociedade em que está inserido.

GENERALIDADE – Por fim, Durkheim irá afirmar que todo fato social, além de ser
coercitivo e exterior, também será generalizante, ou seja, geral por se repetir na maioria dos
indivíduos e ocorrer em diferentes sociedades. Por exemplo, o crime é um fato social, ele
acontece de maneira coercitiva, exterior e geral, em qualquer meio social ele acontece, não
importa se for com grupos ricos ou pobres, o crime faz parte da sociedade. Outro exemplo
pode ser o casamento, ele ocorre também em várias sociedades, embora sejam diferentes,
o ato de casar é o mesmo.

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Ao compreendermos o que é fato social, é importante dizer que, para Durkheim,
a sociedade deve ser entendida em seu TODO. Para ele, o que é objeto de estudo não
são as partes, os fragmentos e fenômenos sociais separados, mas sim tudo que forma a
Consciência Coletiva.
Para Durkheim, a sociedade além de ser entendida como uma coisa é pensada
também como um Organismo Vivo e, para que toda a engrenagem social possa funcionar,
é que ele desenvolveu o conceito de Solidariedade, que significa a capacidade da criação
de laços entre os indivíduos em diferentes sociedades. O autor entendia a Solidariedade de
duas maneiras: Mecânica e Orgânica (QUINTANEIRO, 2009).
Solidariedade Mecânica representa aquele tipo de sociedade em que o indivíduo
se liga diretamente sem intermediário, ou seja, em que suas funções já estão definidas
e pré-estabelecidas de maneiras simples. Além dessa definição, todos os membros des-
sa sociedade partilham das mesmas crenças e normas existentes sem questionamento,
agindo de maneira mecânica e coletiva. Nesse tipo de solidariedade os indivíduos não se
diferenciam, as formas de pensar e agir são semelhantes. Também não existe uma diferen-
ciação de bens, a educação é realizada por todos, gerando uma consciência comum. Elas
podem ser compreendidas por meio das chamadas sociedades pré-capitalistas, simples ou
não-organizadas – as sociedades indígenas ou tribais.
Solidariedade Orgânica é a marca fundamental da sociedade moderna ou Capi-
talista e isso devido ao fato de que nela nos tornamos cada vez mais individuais, especia-
lizados e isolados. Ao nos diferenciarmos geramos uma divisão social do trabalho, o que
não existia na sociedade primitiva ou que possui uma solidariedade mecânica. Será essa
acentuada divisão que formará a solidariedade orgânica. Podemos, então, compreender
mais claramente como Durkheim afirma que a sociedade era um organismo vivo. É cres-
cente a individualização daqueles que fazem parte da sociedade. Cada indivíduo passará
a exercer um tipo de função, que, embora seja sua, funcionará como uma das peças que
formam o todo social.
Parece um pouco confuso? Bom, o fato é que agora os indivíduos se tornaram
ainda mais interdependentes dos outros, ao ponto de formar uma unidade. O trabalhador
passa a conhecer apenas um fragmento do produto produzido, muitas vezes não sabe
como se inicia e nem muito mesmo como termina. Ele se torna apenas mais uma peça
entre tantas. Seu trabalho passa a ser assalariado, sua produção depende do outro e da
máquina. O trabalhador passa a ser dependente de seu patrão.

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Por fim, é muito pertinente entender a discussão que Émile Durkheim realizou sobre
a questão do Suicídio. Em geral, somos ensinados a acreditar que o ato suicida pode ser
classificado como covardia ou coragem. Porém, para esse pensador, o suicídio é um fato
social e precisa ser debatido na sociedade. Ele classificou três tipos de Suicídio:
Suicídio Egoísta – Aquele provocado por um sentimento de desamparo social,
que tem como “sintomas” a melancolia e a depressão. Dessa forma, Durkheim acreditava
que cada um de nós tende a reagir de um jeito à “solidão”, dependendo da função social
que exerce.
Suicídio Altruísta – Praticado por indivíduos que acreditam ser responsáveis pela
continuação de uma sociedade equilibrada ou por pessoas doentes, muito velhas, por fiéis
e aqueles que possuem algum tipo de ideologia política ou religiosa. Ex.: Kamikazes e
Homens-bombas.
Suicídio Anômico – Segundo Durkheim, esse tipo de suicídio está intimamente
relacionado ao desenvolvimento da sociedade moderna. Trata-se de um estágio de des-
regramento social, em que as normas estão ausentes e perderam o sentido. Os atos são
praticados de maneira individual, não respeitando o que a sociedade defende como certo
ou errado.

Segundo Durkheim, seria extremamente importante reconhecer que o alto índice


de suicídio em uma sociedade apontaria ao que ele classificou de Anomia social, ou seja,
uma anomalia ou estágio de adoecimento que poderia se encontrar um determinado grupo
social. Para que a sociedade pudesse sair dessa condição, era preciso retomar o equilíbrio
social e isso poderia ser feito por meio da ordem e regras imposta para o bem de todos.

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3. MAX WEBER: AÇÃO SOCIAL, PODER E DOMINAÇÃO

Para Weber, o indivíduo é responsável por suas escolhas e decisões. Ele tem a
capacidade de decidir e de influenciar a sociedade. Dessa forma, a ação social e a relação
social são conceitos fundamentais de sua teoria.
Entende-se por ação social toda conduta humana que possui, ou seja, é dotada
de um significado para aquele que a orienta e a realiza. Essa ação se transforma em ação
social quando a orientação dada reflete em outros indivíduos ou agentes. Compreender
essa ação social, interpretando e buscando explicar suas causalidades é para Weber o
papel fundamental da sociologia.
Cabe a sociologia entender o sentido dessa ação e o efeito causado por ela em
outros indivíduos, assim, a ação compreensiva é aquela ação com sentido que tem alguma
razão para acontecer.
Você já parou para pensar como a sua conduta humana é dotada de sentidos?
Será que você faz algo simplesmente por que tem a obrigação de fazer ou porque há algum
significado? Por exemplo, ao estudar essa unidade ela tem que sentido para você? Será a
busca por um diploma de Ensino Superior? Será apenas uma continuação dos seus estudos?
Alguma razão, de fato, deve ter para que você esteja neste momento lendo esse material.
Segundo Weber, quanto menor for a influência que o indivíduo sofre de sua cultura,
costumes ou afetos mais racional será a sua ação, podendo, assim, ser compreendida pela
sociologia, que a partir da construção de modelos ou tipos explicativos abstratos busca
desenvolver um método que possa explicar a ação do indivíduo (QUINTANEIRO, 2009).

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Com objetivo de compreender as ações humanas, o autor construiu quatro tipos
puros de ação: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores,
a ação tradicional e a ação afetiva.
● Ação racional com relação a fins – esse tipo de ação tem por propósito atingir
um fim, conquistar uma meta traçada, conseguir uma recompensa de todo es-
forço exercido, a busca de êxito.
● Ação racional com relação a valores – orientada pelos princípios e convicções
próprias do agente que tem por finalidade manter os valores que o conduzem,
legitimando sua ação. A ideia é que esse agente cumpra um dever, mantenha
suas verdades e aja para que nada seja questionado. Assim, ele manterá sua
honra, honestidade e dignidade.

As duas ações citadas até o momento foram descritas como aquelas em que a
racionalidade faz parte das decisões. Porém, as condutas humanas não são apenas racio-
nais e, assim, Weber construiu mais dois tipos de ações:
● Ação Tradicional – Esse tipo de ação é definido pelos hábitos e costumes que
por serem repetitivos passam a ser vistos como “naturais”. Diariamente, reali-
zamos esse tipo de ação. Por exemplo, existem famílias que ensinam aos seus
filhos a pedir a “benção” aos mais velhos, tios, avós, padrinhos. Essa conduta
é tradicional, pode ou não ser executada dependendo da educação e do meio
em que você vive. Assim, também é o ato de cumprimentar alguém, falar “bom
dia”/“boa tarde” é uma ação, muitas vezes, automática, mais do que desejos
sinceros e tendo consciência do que esse cumprimento realmente significa.
● Ação Afetiva – Quando uma ação é realizada por questões emocionais ime-
diatas baseada no ciúme, raiva, vingança, orgulho, amor, coragem, desejo,
compaixão, medo etc. Não se espera desse tipo de ação uma racionalidade
que determine seu fim ou valores. É uma conduta imediata e passageira depen-
dendo de inúmeros fatores. Esse tipo de ação pode ter várias consequências,
sendo os resultados os mais diversos e muitas vezes não pretendidos, por isso
ela não é racional.

Baseado nesses tipos de ações, Weber desenvolveu outro conceito, o de Relação


Social. Para o autor, quando uma conduta é orientada de maneira a afetar diferentes indi-
víduos, tendo o seu sentido e significados compartilhados por diferentes agentes, isso irá
se transformar em uma relação social:

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Quando, ao agir, cada um de dois ou mais indivíduos orienta sua conduta
levando em conta a probabilidade de que o outro ou os outros agirão social-
mente de um modo que corresponde às expectativas do primeiro agente,
estamos diante de uma relação social. [...] O que caracteriza a relação social
é o sentido das ações sociais a ela associadas pode ser (mais ou menos
claramente) compreendido pelos diversos agentes de uma sociedade (QUIN-
TANEIRO, 2009, p.118).

Dessa forma, podemos compreender que as relações sociais possuem significados


que são atribuídos por aqueles que agem tendo como referência um ou muitos indivíduos
e será a conduta desse outro que vai ser capaz de orientar a ação. Assim, o agente não é
passivo em suas ações, mas sim responsável por elas.
Outra importante discussão no pensamento Weberiano é a questão relacionada
aos conceitos de Poder e de Dominação. Segundo o pensador, o poder pode ser entendido
como a minha vontade pessoal, imposta ao outro de maneira autoritária e taxativa. Já a
dominação implica no compartilhamento de uma vontade pessoal com outras pessoas, ou
seja, aquele que manda é reconhecido pelo que é mandado, existindo uma obediência que
não necessariamente se entende como imposta, mas sim como uma condição da relação
social. O autor classificou três tipos de dominação: Carismática, Racional-Legal e Tradicio-
nal (COSTA, 2005).
Dominação Carismática – O dominante carismático é aquele que é reconhecido
pelo dominado como alguém que possui um dom ou uma graça extraordinária ao ponto
de diferenciá-lo dos demais agentes sociais. O líder carismático é capaz de dominar por
meio da fala, das atitudes que serão seguidas por todos sem questionamento e muitas
vezes de maneira irracional. Esse tipo de líder pode ser um religioso, esportista, político,
uma autoridade, transformado em uma espécie de “herói” com objetivo de salvar a todos.
Podemos citar como líder carismático diversas personalidades: Hitler, Papa, Pelé, Hebe
Camargo, Getúlio Vargas, Xuxa, Padre Marcelo Rossi entre outros. Todos eles exerceram
ou exercem uma dominação baseada no reconhecimento de um ser único, abençoado e
capaz de compartilhar dos sentidos semelhantes das ações individuais de muitos agentes.
Dominação Racional/ Legal – Esse tipo de dominação é marcado pelo apara-
to legal, a criação e o cumprimento de leis que devem reger toda a conduta humana. É
baseada em regras desenvolvidas de maneira racional que sejam capazes de manter as
relações sociais. Dessa forma, as atitudes subjetivas de cada agente social passam a ser
conduzidas e orientadas por uma ordem legítima, mantendo a coesão social, ou seja, o
equilíbrio da sociedade. Podemos identificar esse tipo de dominação não apenas nas leis
mais comuns, como as de trânsito, por exemplo, mas também na imposição de regras de
etiquetas e ações ditas como adequadas, regras políticas, muitas vezes incompreensíveis
pela maioria de nós, a violência de policiais contra manifestantes entre outros.

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Dominação Tradicional – Marcado pela repetição, pelo costume e pelo hábito.
Esse tipo de dominação ocorre mediante ao dominante inquestionável. Por exemplo, a
família real, a ação de pai e mãe sobre seus filhos, algo em que o dominante se mantém
pela tradição.

Podemos compreender que a maneira como agimos em sociedade é um compor-


tamento determinado por nós mesmo com a consciência de que a atitude tem um sentido
e significado. No caso da dominação, é possível entender que os sujeitos sociais estão
propensos a sofrer influências se não conseguirem pensar e agir por si próprios.

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4. KARL MARX E O DESENVOLVIMENTO DE UMA SOCIOLOGIA CRÍTICA

Para Karl Marx, o grande desafio de pensar a sociedade é fazer do uso da razão
não apenas como um instrumento de compreensão da realidade, mas como uma ferramen-
ta capaz de possibilitar uma mudança social, que faça com que cada um de nós sejamos
“cutucados”/provocados por uma realidade existente e impulsionados a transformá-la.
Bem, baseado na observação e compreensão da sua própria sociedade, também
mediante aos saberes já desenvolvidos nas áreas filosófica, política e científica é que Karl
Marx desenvolve seu pensamento.
Inspirado pela filosofia Hegeliana, Karl Marx absorveu de forma diferente a percep-
ção histórica, deste modo, não a via como um movimento linear capaz de evidenciar uma
evolução na sociedade e nem como resultado de uma ação oferecida de grandes homens
e suas motivações individuais.
Já que Hegel entendia a história como um processo constituído por inúmeros fa-
tores, tais como: economia, religião, política e que suas dinâmicas históricas poderiam ser
entendidas por posição de forças antagônicas – tese e antítese. Marx buscou nessa teoria
também entender a sociedade.
Mas, afinal, o que seriam essas forças antagônicas, tese e antítese? Para He-
gel, isso significava que tudo deveria ser analisado por dois lados, a ideia do quente, por
exemplo, só existe por termos o seu contraponto que é o frio, certo? Assim, também ao
compreender a história, a guerra está em contraponto à paz, como a noção de belo em
relação ao que se vê como feio.

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Enfim, será nessa contraposição que Karl Marx utilizará o método Dialético de He-
gel, para, deste modo, pensar a sociedade capitalista emergente na Alemanha do século
XVIII e XIX.
Ao utilizar o método dialético, Marx notou que os agentes sociais, embora cons-
cientes de suas ações, não poderiam ser os únicos responsáveis pela dinâmica dos
acontecimentos sociais. Para ele, existem outras forças que se opõem a simples ação ou
motivação individual.
Na teoria marxista, o homem é um ser transitório, que se supera o tempo todo e que
está inserido em um meio que é dinâmico e mutável.
Dessa forma, o homem precisa compreender seu meio e ser responsável por ele.
Nesse momento, Marx se distancia de Hegel, visto que, para ele, não bastava apenas
entender a oposição, a dialética existente na história, era necessário também que o homem
fosse capaz de agir sobre ela, transformando-a (QUINTANEIRO, 2009).
Para Marx, é fundamental capacitar o homem para o desenvolvimento de sua cons-
ciência crítica. Ao se tornar consciente de suas ações e também do meio em que vive, ele
seria capaz de sair da alienação. Mas o que seria alienação?
Bom, ao separarmos a palavra em Alien e Ação, temos a definição “fora da ação”,
ou seja, alienado seria aquele agente social que, ao desenvolver o seu trabalho, acaba
não usufruindo do produto que ele mesmo realiza, ou seja, podemos entender como o
homem ou a mulher que produzem um automóvel, porém, ao terminar o seu expediente,
vão para casa a pé, de ônibus ou bicicleta. Dessa forma, embora façam vários veículos,
carros por dia, eles não conseguem utilizar para si mesmos nenhum daqueles automóveis
que montaram (QUINTANEIRO, 2009).
Segundo Marx, não conseguir fazer o uso daquilo que produzimos é uma forma de
estar alienado de todo o processo produtivo e perceber que apenas algumas pessoas irão
conseguir usar o que foi feito.
Essa realidade permite que possamos pensar de que maneira o que fazemos em
nossos empregos cotidianamente faz ou não parte da nossa realidade e como aquilo que
desenvolvemos está presente e sendo usufruído por nós.
Karl Marx compreendeu que o método dialético apenas seria o start da sua teoria.
Ele acreditava que compreender a história era entender o ponto de partida para tudo que
acontecia na sociedade. Essa história não deveria ser entendida, como desejava Hegel,
apenas como uma interpretação da realidade atual e das anteriores, mas sim como a pos-
sibilidade de refletir a existência humana e seus desafios.

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A esse método de investigação da vida social, Karl Marx deu o nome de Materialis-
mo Histórico que se caracteriza pelo movimento do pensamento por meio da materialidade
histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento
do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens duran-
te a história (COSTA, 2005).
Segundo esse método, as relações materiais que os homens estabelecem determi-
nam a maneira como eles conduzem a sua vida, ou seja, aquilo que eles são condiz com a
sua condição material de produção.
Assim, para Karl Marx é possível compreender uma sociedade a partir da reflexão,
da forma como os homens se organizavam para a produção social de bens posto em dois
fatores essenciais: as forças produtivas e as relações de produção.
Embora interdependentes, podemos entender esses dois fatores de maneiras
separadas. Dessa forma, as forças produtivas podem ser compreendidas como as condi-
ções materiais de toda a produção, na qual se coloca o homem como principal elo entre a
natureza e a técnica/instrumento de sua transformação.
Este modelo será o desenvolvimento das forças produtivas que irão determinar o
uso de determinadas matérias-primas e tecnologias, unindo a natureza e a produção. Já as
relações de produção se dão por meio de como o homem opera a máquina e transforma
essas matérias-primas, em geral, ela se realiza por meio dos trabalhadores braçais (QUIN-
TANEIRO, 2009).
Assim, ocorre a divisão social do trabalho, a separação entre, por exemplo, o traba-
lho intelectual e o braçal, essa divisão não permanece apenas dentro das fábricas, mas se
espalha por toda sociedade.
Enfim, Marx acredita que identificar com as forças produtivas e as relações de
produção postas em cada sociedade tende a revelar a própria maneira como as classes
sociais se dividem e todos os aspectos de uma determinada sociedade. Para ele, esses
fatores determinam como o homem se vê e se movimenta em sociedade.
Para esse pensador, a exploração se acentua mais no capitalismo. Os homens foram
transformados em mercadorias, possuindo um valor de uso e um valor de troca. Você já parou
para pensar que trabalha em função de um salário? Ele é justo com a sua mão de obra?
Todas as vezes que você vai trabalhar, você está vendendo a execução do serviço/
produto, contudo, este será trocado por um determinado valor. Os professores, muitas vezes,
são questionados: “vocês só ‘dão’ aula ou trabalham?”. Você já ouviu essa expressão? Pois
bem, o que fazemos é vender conhecimento, assim, então, não “damos” aulas, mas vende-
mos nossa força de trabalho que se traduz em nossos anos de estudos e aprendizados.

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Tendo esse tipo de compreensão, Marx acreditava que se fôssemos capazes de
compreender o quanto custava nosso trabalho, a partir daí, nos tornamos críticos em rela-
ção à exploração advinda do capitalismo e adquirimos consciência para lutar pelos nossos
direitos, provocando uma revolução (QUINTANEIRO, 2009).
No caso da sociedade capitalista, a consciência de classe gera a formação de as-
sociações políticas, sindicatos, partidos, associações de bairro entre outros grupos. Todos
partilham de um mesmo objetivo, fazer com que a união de uma classe oprimida possa
defender seus interesses e combater seus opressores.
Pensando nessa possibilidade de uma união entre os proletários contra o domínio
e a exploração da burguesia, Marx e Engels resolveram escrever um Manifesto que, a
princípio, tinha como objetivo apenas apresentar um programa teórico e prático para que
todos pudessem conhecer a Liga dos Comunistas.
Entretanto, em meados de 1850, o Manifesto já tinha inúmeras versões traduzidas
e espalhadas pelo mundo inteiro. Assim, nasceu um pequeno livreto intitulado: “Manifesto
Comunista do Partido Comunista”.
Riquíssimo em suas páginas, o Manifesto do Partido Comunista (2008) cumpre a
proposta de ser uma leitura rápida e de fácil entendimento, além de salientar que a realidade
operária e burguesa descrita ali estava inserida em um contexto histórico social específico.
Lido até hoje, esse manifesto desperta muita curiosidade, assim como uma grande
admiração dos leitores. Embora seja datado de 1847, ainda hoje é apresentado sem modi-
ficações, como propuseram seus autores.
A ideia central do livro, compartilhado ainda atualmente, é o poder de mudança.
Isso aconteceria a partir do momento em que os operários entendessem sua força median-
te a exploração do capitalista. Portanto, seria o poder do operariado que possibilitaria uma
mudança radical na sociedade capitalista.
Entretanto, Marx e Engels (2008) salientaram que essa tomada de poder deveria
se realizar de forma muito consciente e concisa, para que, ao chegar ao poder, a classe
proletária soubesse exatamente o que era necessário fazer para tamanha mudança.
Dessa forma, a revolução deveria modificar todos os aspectos que formam a
sociedade como política, economia, cultura e história. Para isso, o autor refletiu sobre a
existência de uma sociedade de cunho comunista.
O comunismo pretendia submeter os homens a um poder criado pela associação
dos indivíduos em que o trabalho desenvolvido era interessante para toda sociedade. Assim,
seria possível extinguir a contradição existente entre o indivíduo privado e o ser coletivo.

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Como defendia Marx, a sociedade comunista seria a “reconstrução consciente
da sociedade humana”. Para que essa reconstrução pudesse, de fato, acontecer, Marx e
Engels viram na união do proletariado toda grande revolução da humanidade (QUINTANEI-
RO, 2009). Neste sentido, o Manifesto do Partido Comunista termina com a seguinte frase:
“Proletariado do Mundo todo, Uni-vos” (MARX; ENGELS, 2008, p. 66).
Desta maneira, quando você ouvir a palavra comunismo, não tenha medo! Nos
termos marxistas, essa forma de organização política e social nunca existiu em sua inte-
gralidade, pois os governos que se taxaram como comunista, na verdade, nunca deram a
liberdade total à população, mas sim tornaram-se pequenas ditaduras.

SAIBA MAIS

Você já deve ter compreendido que o “Mundo da Sociologia” é rico nas mais varia-
das discussões. Ficou curioso(a) para saber mais? Bom, você pode acessar algumas
publicações on-line que ajudam a pensar sociologicamente os mais diferentes temas,
problemáticas sociais e o cotidiano. Nossa indicação é a Revista Café com Sociologia,
disponível em:

https://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/issue/view/28.

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Ficou curioso(a) sobre os pensadores clássicos da Sociologia? Quer conhecer um pou-


co mais sobre Karl Marx? Então acesso ao site: Só filosofia. Disponível em:

https://filosofia.com.br/curiosidade_lista.php?categoria=Marx

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REFLITA

“A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozinhada, comida com faca e
garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas,
dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do consumo, mas
também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo,
a produção cria o consumidor”

Fonte: Marx (1974, p. 220).

REFLITA

“Moral (...) é tudo que é fonte de solidariedade, tudo o que força o individuo a contar com
su próximo, a regular seus movimentos como base em outra coisa que não os impulsos
de seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosos e fortes são
estes laços”

Fonte: Durkheim (2010, p. 338).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Você deve ter percebido que os pensadores clássicos têm suas especificidades que
nos permite entender o quão rica é a Sociologia como ciência. Pois bem, a compreensão de
que interpretar a sociedade não é uma tarefa fácil, mas sim possível, nos ajuda a entender que
vivência nela não é algo natural ou normal e por isso necessita de muita observação e análise.
Cada pensador trouxe uma maneira de perceber a sociedade e o indivíduo. Assim,
para Durkheim, é a sociedade que modela a maneira de ação das pessoas que estão
preestabelecidas exterior a elas as forçam a viver de uma maneira determinada pelo cole-
tivo. Por exemplo, a questão do suicídio, analisada pelo autor, nos mostrou o quanto essa
atitude não pode ser considerada apenas algo psíquico, mas também como resultado da
coerção social provocada pela sociedade.
Já para Max Weber, o sujeito social é responsável, por meio de suas ações, pela
construção da sociedade. Por isso, se faz necessário, segundo ele, compreender o que
ocorre socialmente através de uma perspectiva histórica e do pensamento racional que
são capazes de nos auxiliar a entender as ações e relações humanas a partir de seus
próprios interesses.
Por fim, você entrou em contato com a teoria de Karl Marx e todo o debate sobre
a luta de classes, a desigualdade social e o trabalho como mola propulsora da sociedade.
Será à compreensão crítica da força do trabalho e suas relações que Marx irá se dedicar,
como uma maneira de conscientizar os trabalhadores a lutar pelos seus direitos. Nessa
perspectiva, os homens e mulheres são vistos como seres transitórios capazes de entender
e transformar a sua realidade.
Esperamos que você tenha entendido que a Sociologia é muito mais que um olhar
opinativo e de achismos sobre a sociedade, mas sim que ela é uma ciência que utiliza
de métodos e ferramentas concretas do pensamento para desenvolver as mais diversas
formas de interpretar a vida dos sujeitos e dos grupos sociais.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A pandemia de Covid-19 é um tema que durante muitos anos ainda permanecerá


entre nós. Por essa razão será necessário desenvolver uma consciência coletiva para que
sua propagação possa ser reduzida até que todos possam ser imunizados. Faz se impor-
tante então estarmos informados corretamente sobre a doença e suas consequências. Ler,
refletir, pensar sobre ainda é o melhor caminho para combater as chamadas Fake News e
entender o quão política, social, cultural e histórico é o contexto que estamos vivendo.
Para continuar o exercício de pensar sociologicamente leia o texto indicado:

SALAS, Javier Uma pandemia de falsos dilemas que polarizam e confundem a


população. 2020. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-12-03/uma-pandemia-de-falsos-dilemas-
-que-polarizam-e-confundem-a-populacao.html. Acesso em: 10 mar. 2021.

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UNIDADE III
Sociologia Contemporânea: Zygmunt
Bauman e Pierre Bourdieu
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos

Plano de Estudo:
● Zygmunt Bauman: Modernidade Líquida
● Vida para Consumo: A Sociedade de Consumidores
● Pierre Bourdieu: Conceitos de Habitus e Campos
● A Distinção do gosto: Capital Social, Cultural, Simbólico e Econômico

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceitualizar e definir o que é Modernidade Líquida e
Sociedade de Consumo segundo Bauman;
● Compreender os conceitos de Habitus e Campos segundo Pierre Bourdieu;
● Refletir a sociedade atual por meio dos teóricos Zygmunt Bauman e
Pierre Bourdieu e o uso das teorias clássicas;
● Entender a sociedade contemporânea por meio de questões de consumo
e dos capitais: social, cultural, econômico e simbólico.

43
INTRODUÇÃO

O caminho que estamos trilhando até o momento se baseou na compreensão da


Sociologia como ciência e do desenvolvimento do pensamento clássico sociológico. Você
já compreendeu que a maneira como cada autor interpreta a sociedade é muito particular e
demanda contextos específicos de sua análise.
Agora te convido a aprofundar mais um pouco seu aprendizado junto às teorias
sociológicas que podemos identificar como contemporâneas. Nelas se destacam dois auto-
res que trouxeram para a Sociologia, durante o século XX e XXI, contribuições importantes
para o entendimento sobre o meio social e a ação de seus grupos.
Começaremos pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que faleceu em 2017, com
91 anos. Sua trajetória e a maneira como observava e entendia as questões sociais revela-
ram a todos uma forma diferenciada de interpretar os homens e mulheres em suas relações
sociais. Sem dúvida, o seu conceito de Modernidade Líquida é um dos mais disseminados
para explicar o modo atual e como temos conduzido nossos relacionamentos em âmbito tanto
pessoal quanto profissional. Além desse conceito, iremos também debater um pouco sobre a
Sociedade de Consumo que acaba por transformar as pessoas em mercadoria.
Depois vamos refletir sobre as questões levantadas pelo sociólogo francês Pierre
Bourdieu, que faleceu em 2002, aos 71 anos. A maneira como Bourdieu conduziu suas
pesquisas suscitou em inúmeros recortes das mais variadas problemáticas sociais. O autor
estudou e escreveu sobre moda, política, gostos e educação.
Vamos refletir sobre os conceitos de Habitus e Campos criados por ele e também
sua visão sobre a maneira como somos educados, seja no campo familiar quanto no esco-
lar, tende a definir nossos gostos e escolhas.
Preparado(a) para novos saberes? Espero que sim, pois, mais uma vez, você po-
derá entender que a forma como vivemos e vivenciamos o mundo não se constrói apenas
de maneira individual, mas também no coletivo.

Bons Estudos!

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 44


1. ZYGMUNT BAUMAN: MODERNIDADE LÍQUIDA

Será que você tem a sensação de que, na atualidade, nossas relações sociais
estão cada vez mais rápidas? Parece que com a globalização e a chegada das tecnologias
digitais tudo se tornou mais veloz e a capacidade de se diluir no ar é também mais fácil.
Hoje não permanecemos mais no mesmo emprego por muito tempo, não estabelecemos
laços mais duradouros e temos a sensação de que tudo pode acabar rapidamente.
A ideia de viver o hoje como se não houvesse o amanhã nos parece muito mais
significativa do que viver da maneira como nossos pais e avós viveram em meio a planeja-
mentos a longo prazo e uma vida toda organizada em começo, meio e fim.
Para Bauman (2001), é possível encarar a sociedade hoje utilizando a noção da
ideia de fluidez como metáfora. Para o autor, é através de vivenciar um estado fluído que
estamos desenvolvendo a sociedade moderna pautada na flexibilidade e mobilidade que
faz do tempo um aliado para que várias coisas possam acontecer. Assim, somos uma so-
ciedade sem uma forma imutável e estamos em constantes transformações.
Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “res-
pingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”, “pingam”, são “filtra-
dos”, “destilados”, diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos
- contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu
caminho. Do encontro com os sólidos emergem intactos, enquanto os sólidos
que encontraram, se permanecem sólidos, são alterados - ficam molhados
ou encharcados. A extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os associa à
ideia de “leveza” (BAUMAN, 2001, p. 08-09).

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 45


Bauman (2001) nos diz que, quando ainda durante a teoria de Marx, esse autor
clássico afirmou que “tudo que é sólido se derrete no ar”, isso tinha como significado pensar
que nada poderia ser considerado imutável, em especial, nas relações trabalhistas. A ideia
não era simplesmente acabar com tudo que era sólido, mas substituir aquilo que já não
funcionava e não dava mais certo.
Talvez você esteja confuso(a) neste momento, se perguntando: “mas, afinal, o que o
autor está chamando de sólido e líquido?”. Bom, o que Bauman (2001) tem como pretensão
é refletir sobre práticas e relações sociais que, tidas como sólidas, não se modificam e, por
serem previsíveis, são mais fáceis de serem administradas.
Espero que você se lembre da discussão que fizemos inicialmente, quando apresen-
tamos a ideia de que o pensar sociologicamente tira as certezas e das zonas confortáveis
do questionamento. É aceitar as coisas como elas são e pronto. O que Bauman chamou
de Líquido é justamente o oposto disso, ou seja, a fluidez faz parte de uma sociedade
moderna e contemporânea, que já não se identifica apenas como uma coisa só, mas vê na
multiplicidade uma maneira diferenciada de vivenciar o meio social.
Como exemplo dessas mudanças, em seu livro Identidade: Entrevista a Benedetto
Vecchi, Bauman (2005) relata como pensar a questão “Quem sou?” vai muito além de me
identificar com classe social, gênero, raça, crenças pré-estabelecidas e buscar encontrar seu
próprio “eu” por meio de inúmeras representações. A nossa identidade é fluida, já parou para
pensar nisso? Quantos papéis sociais você desempenha? O que faz de você, exatamente,
o que tem se tornado? “As ‘identidades’ flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha,
mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta
constante para defender as primeiras em relação às últimas” (BAUMAN, 2005, p. 19).
Assim, Bauman (2001, p. 14) afirma que o que está ocorrendo na atualidade é
“quebra de forma”, ou seja, tudo que parecia tão definido começa a ser questionado como
não sendo a única maneira de ver e pensar o mundo. Essa nova liberdade traz, então, nos-
sas questões em relação à sociedade. Por essa razão, padrões sociais serão modificados,
as configurações deverão ser repensadas e a ideia de que o diferente deve ser respeitado
surge como uma premissa de como vamos viver na realidade.
Não importa mais sermos disciplinados e moldados por estruturas que estão ultra-
passadas, mas repensar como queremos modificar a sociedade à nossa volta. Com isso, a
noção de tempo e de espaço, por exemplo, tende a se modificar.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 46


[...] o tempo moderno se tornou, antes e acima de tudo, a arma na conquista
do espaço, o espaço era sólido e impassível, pesado e inerte, capaz ape-
nas de uma guerra defensiva, de trincheiras - um obstáculo aos avanços
do tempo. O tempo era o lado dinâmico e ativo na batalha, o lado sempre
na ofensiva: a força invasora, conquistadora e colonizadora. A velocidade
do movimento e acesso a meios mais rápidos de mobilidade chegaram nos
tempos modernos à posição de principal ferramenta do poder e dominação
(BAUMAN, 2001, p. 17).

É fato que muitas coisas estão se transformando, assim até mesmo a ideia de
educação e da aquisição de saber apenas presencial tem se modificado. Será que se não
houvesse a formação por meio da modalidade de educação a distância você estaria, hoje,
fazendo sua graduação? Pois é, a ideia sólida que somente em uma sala que se promove
o ensino e o aprendizado também cai por terra neste espírito da modernidade líquida.
Outro exemplo pode ser dado por meio da ideia de família. Afinal, o que constitui
uma família? Pensar apenas que se trata de um casal heteronormativo e filhos é um pen-
samento sólido, pois sabemos que hoje existem inúmeros arranjos familiares e nenhum
pode ser considerado melhor ou pior que o outro. Admitir e lutar para que todos os tipos de
família tenham seus direitos garantidos e respeitar as diferenças é uma maneira de ver a
sociedade de forma fluida.
Por fim, o conceito de Modernidade Líquida nos mostra como estamos nos re-
lacionando e também o que nos é mais valioso na forma de um ser inacabado. Bauman
ainda discutiu sobre nosso papel como consumidores no que ele chamou de Sociedade de
consumo. É isso que veremos a seguir.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 47


2. VIDA PARA CONSUMO: A SOCIEDADE DE CONSUMIDORES

Você se considera uma pessoa consumista? Já parou para pensar se o que você
consome é por necessidade mesmo? Nós vivemos em um sistema econômico, social,
político, histórico e cultural chamado de Capitalismo. Neste sentido, nossas vidas são
controladas por aquilo que consumimos. E consumir não se resume apenas a adquirir algo,
mas sim o que isso irá representar dentro da sociedade. Por isso, é importante refletir sobre
a nossa sociedade, que, nas últimas décadas, tem promovido mais o TER do que o SER.
Vou mudar a pergunta inicial: você é feliz? Como traduziria essa felicidade? Se, ao
pensar sobre essas questões, você a justificou pensando naquilo que tens, dificilmente sua
resposta está ligada ao que você é.
Parece confuso? Mas Bauman (2008), em seu livro Vida para consumo: a transfor-
mação das pessoas em mercadoria, irá nos ajudar a refletir quanto o consumo é uma das
características marcantes da Modernidade Líquida.
Segundo Quintaneiro (2009), Marx, ao escrever seu livro O capital (2011), defendeu
que no sistema capitalista o homem, assim como todas as coisas a serem consumidas, se
tornava uma Mercadoria. Isso significa que nós temos um valor de uso e um valor de troca
na sociedade devido ao fato de vendermos nossa força de trabalho. Por exemplo, eu sou
professora, quando escrevo um material didático estou vendendo meu conhecimento por
um determinado valor, assim me torno uma mercadoria e tenho um valor de uso, ou seja,
o próprio material e um valor de troca, afinal meu trabalho pode ser trocado por um valor
monetário e, caso eu não o faça corretamente, pode ser trocado por outra pessoa.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 48


Você conseguiu entender? O que, na verdade, Marx falava era que a gente “se vende”
por um valor no capitalismo e o que recebemos determina a maneira como consumimos algo e
qual a importância disso para o meio que estamos inseridos. Se você retornar algumas páginas
atrás verá que, na reflexão na Unidade II, existe uma citação do autor falando sobre a fome
e como nós nos relacionamos com ela a partir de quanto dinheiro possuímos. Pois bem, na
Modernidade Líquida a ideia do que, como, onde, quando consumir toma outras proporções, ou
seja, nosso consumo não perpassa apenas pela questão monetária, agora ele também traduz
o que sentimos, pensamos e entendemos sobre o que devemos ou não consumir.
Hoje, através das mídias sociais e a vivência em uma sociedade em rede, temos
nos deparado com um novo tipo de consumo, aquele que é incentivado pelas próprias
pessoas, como os digitais influencers, artistas que fazem o tempo todo propaganda em
suas redes sociais.
Segundo Bauman (2008), isso reflete o quanto uma mercadoria precisa ser atraente
e desejável o tempo todo e, assim, as pessoas acabam se tornando produto e produtores
delas mesmas e isso acaba por refletir em toda sociedade: “As pessoas em busca de traba-
lho precisam ser adequadamente nutridas e saudáveis, acostumadas a um comportamento
disciplinado e possuidoras das habilidades exigidas pelas rotinas de trabalho dos empregos
que procuram” (BAUMAN, 2008, p. 15).
Neste sentido, a sociedade regula a maneira como agimos e precisamos ser vistos
transformando-nos em mercadoria para ascensão no mercado. Como estamos em uma
modernidade líquida, o mercado tende a produzir o trabalhador “flutuante” e “chateação
zero”, isso significa, na atualidade, quanto mais generalistas, flexíveis e descartáveis for-
mos, mas fácil permanecer em um mercado em constante transformação.
Os empregadores desejam que seus futuros empregados nadem em vez de
caminhar e pratiquem surfe em vez de nadar. O empregado ideal seria uma
pessoa sem vínculos, compromissos ou ligações emocionais anteriores, e
que evite estabelecê-los agora; uma pessoa pronta a assumir qualquer tarefa
que lhe pareça e preparada para se reajustar e refocalizar de imediato suas
próprias inclinações, abraçando as novas oportunidades e abandonando as
adquiridas anteriormente... (BAUMAN, 2008, p. 17-18).

Além disso, nossas próprias relações vão ser determinadas por interações hu-
manas de uma Sociedade de Consumidores. O que isso significa? Que a maneira como
nos relacionamos está mediada pelo que, como, quando e onde consumimos um produto.
Assim, tudo passa a ser uma relação entre consumidor e o produto que podem ser conside-
rados “patetas e idiotas” ou “heróis da modernidade” (BAUMAN, 2008, p. 19). Os primeiros
são aqueles enganados por falsas promessas, atraídos, seduzidos e manipulados para
consumir sem, de fato, saber utilizar ou usufruir de todos os benefícios de um produto. Já os

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 49


segundos enfrentam, de forma crítica, sua maneira de aquisição de bens e serviços, fazem
o uso da racionalidade e da autonomia para suas escolhas. Então, de um lado temos os
escolhidos e do outro o que escolhem.
Para Bauman (2008, p. 20),
Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro
virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem rea-
nimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades espera-
das e exigidas de uma mercadoria vendável.

Assim, quanto mais se consome, mais visível a pessoa tende a se tornar, por isso
as redes sociais tendem a elevar o sujeito social a uma mercadoria a ser seguida, vista,
vendida e comprada.
Busca-se, dessa maneira, tornar uma mercadoria notável, cobiçada, comentada e,
se isso ocorre, permite um destaque entre tantos produtos e consumidores. Sabe aqueles
15 minutos de fama tão sonhados por algumas pessoas? Pois bem, seria essa materializa-
ção de uma mercadoria aprovada e desejada por todos.
Essa maneira de entender a sociedade como um grande catálogo de pessoas
que precisam estar de acordo com o mercado penetra até em nossos relacionamentos
amorosos. Por exemplo, Bauman (2008) faz uma reflexão sobre o uso de aplicativos para
o encontro de uma parceira ou parceiro ideal. Para o autor é como se as pessoas já não
quisessem mais procurar de forma tradicional e escolhendo, como se escolhe um produto,
seria mais fácil não sofrer tantos danos. Isso seria possível? “Um encontro face a face
exige o tipo de habilidade social que pode inexistir ou se mostrar inadequado em certas
pessoas, e um diálogo sempre significa se expor ao desconhecido: é como se tornar refém
do destino” (BAUMAN, 2008, p. 27).
Poderíamos então através de uma Sociedade de consumidores comprarmos tudo?
O amor, podemos dizer, abstém-se de prometer uma passagem fácil para fe-
licidade e a significação. Uma “relação pura” inspirada por práticas consumis-
tas promete que essa passagem será fácil e livre de problemas, enquanto faz
a felicidade e o propósito reféns do destino - é mais como ganhar na loteria
do que ato de criação e esforço (BAUMAN, 2008, p. 33).

Você ficou assustado com essas reflexões de Bauman? Pois bem, como temos
aprendido desde o início com essa disciplina, não existe uma única maneira de interpretar a
sociedade. Por isso, o mais bacana da sociologia é justamente compreender os diferentes
vieses de pensamentos e ver como cada autor vai encarando a difícil tarefa de compreender
as relações humanas. Não julgando as certas ou erradas, mas apenas como um reflexo de
um determinado contexto e tempo.
Então vamos finalizar essa unidade com mais um autor da contemporaneidade?

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 50


3. PIERRE BOURDIEU: CONCEITOS DE HABITUS E CAMPOS

Entre os autores contemporâneos da Ciências Sociais e, em especial, da Sociolo-


gia, assim como Zygmunt Bauman e seu conceito de Modernidade Líquida, Pierre Bourdieu
também se diferenciou para compreender as relações sociais com a ajuda do pensamento
clássico, mas também para além dele.
Segundo Carvalho (2003), ao analisarmos a teoria de Bourdieu é preciso entender
que ela coloca como uma problemática a mediação entre a sociedade e o agente social,
rompendo com a separação entre dois tipos de conhecimento tidos como polares e anta-
gônicos: o objetivismo e a fenomenologia.
Para o autor, o objetivismo seria responsável por construir relações objetivas
capazes de estruturar as práticas individuais, enquanto a fenomenologia estaria ligada à
experiência primeira do indivíduo. Diante dessas diferenciações, Bourdieu propõe articular
dialeticamente o ator e a estrutura social, ou seja, o desenvolvimento de uma abordagem
de conhecimento denominada de praxiológica em que, ao mesmo tempo que entende as
relações de maneira objetivas, reconhece as disposições estruturadas em que as atualizam,
mantém e as reproduz.
Isso, na prática, significa que a maneira como estamos vivendo em sociedade não
pode ser entendida apenas como algo finito em si e, por isso, torna-se necessário entender
como essas objetividades se manifestam na prática da nossa vivência cotidiana.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 51


Bourdieu, então, criou o conhecimento denominado de praxiológica em que, ao
mesmo tempo que entende as relações de maneira objetivas, reconhece as disposições
estruturadas em que as atualizam, mantêm e as reproduz. Como afirma Carvalho (2003),
essa ideia enfatiza que aquilo que aprendemos e a maneira como reproduzimos nos é
passado por outras gerações e instituições sociais.
No sentido empregado pela escolástica, o hábito era concebido como um
modus operandi, ou seja, como disposição estável para operar numa deter-
minada direção e, através da repetição, o hábito tornava-se uma segunda
dimensão do homem, o que assegurava a realização da ação considerada.
Bourdieu reinterpreta a noção de habitus no interior do embate entre obje-
tivismo e fenomenologia definindo-o como um “sistema de disposições du-
ráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas
estruturantes (CARVALHO, 2003, p. 03).

Isso, grosso modo, tem como significado que o conceito de habitus pode ser enten-
dido como social e individual. Pois se refere a um grupo ou a uma classe, como também a
indivíduo diante de um processo de interiorização dos saberes, comportamentos e ações
que só pode se realizar por meio de uma internalização objetiva dessas práticas que se faz
tanto da forma subjetiva como também das necessidades sociais.
Assim sendo, a maneira como atuamos e pertencemos à sociedade não tem nada
de natural ou normal. Por meio das instituições sociais, como família e escola, somos di-
recionados à maneira de estar em sociedade, isso lembra o funcionalismo de Durkheim.
Entretanto, aqui, a maneira como entendemos essas estruturas é que faz toda a diferença,
pois somos atuantes nela.
Para Ortiz (1994, p. 61), Bourdieu definiu o conceito de habitus da seguinte maneira:
[...] sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas
a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e
estruturador das práticas e das representações que podem ser objetiva-
mente ‘reguladas’ e ‘regulares’ sem ser o produto da obediência a regras,
objetivamente adaptadas a seu fim sem supor a intenção consciente dos
fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingi-los e
coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de
um regente.

Assim, podemos entender que os portadores dos habitus definidos socialmente


somos nós, sujeitos sociais que fazem parte de grupos ou classes sociais e que ocupam
determinada posição dentro de uma estrutura. Assim, a tendência é que vamos agir dentro
das estruturas sociais da maneira como fomos educados para isso, seja pela família ou
escola. Porém, não é apenas a reprodução por si só, mas o entendermos de por que assim
somos levados a fazer quando entendemos o que Bourdieu chamou de Campo (CARVA-
LHO, 2003).

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 52


Para Bourdieu a noção de Campo pode ser entendida como o locus em que se
constituem as disputas entre os atores sociais por seus interesses. Neste sentido, são
os espaços em que se definem as relações de poder desenvolvidas a partir da posição
ocupada pelos atores e do assentamento das relações de poder em seu interior.
O fato é que sempre que estamos em sociedade e ocupamos determinados es-
paços sociais se faz necessário entender as regras e os jogos envolvidos nas relações de
poder que ali se estabelece e isso configura um campo.
O campo é constituído por estruturas; e são essas estruturas que reprodu-
zem as hierarquias que definem um determinado campo. Portanto, este é o
princípio do movimento perpétuo que anima esse campo e que reside na luta
produzida pelas estruturas constitutivas do mesmo. A estrutura do campo se
monta em torno de dois pólos, o dos dominantes e o dos dominados. O pólo
dominante é ocupado por aqueles agentes que possuem o máximo de capital
social, já os agentes que se situam no pólo dominado são definidos pela au-
sência ou pela raridade do capital social específico que determina o espaço
em questão (CARVALHO, 2003, 08).

Por isso, ao adentrar em um campo que é um espaço social de relações objetivas,


precisamos entender qual a posição que ocupamos para entendermos que estratégias
usaremos para fazer parte da estrutura. Dessa forma, nossas ações e escolhas jamais são
neutras, mas sim fazem parte de uma maneira de permanecermos no campo.
Assim sendo, você já parou para pensar na importância do que você consome?
Onde? Como ou quando? O que isso tem a ver com Bourdieu? E o que vamos aprender
com ele sobre a importância do desenvolvimento de algumas capitais?

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 53


4. A DISTINÇÃO DO GOSTO: CAPITAL SOCIAL, CULTURAL, SIMBÓLICO
E ECONÔMICO

A análise social proposta por Pierre Bourdieu perpassa pelo conceito de capital,
entretanto, esse autor não o relaciona apenas com a ideia econômica. Para ele, além da
economia, os capitais – cultural, social e simbólico – também podem nos auxiliar a com-
preender a sociedade. Assim, não é apenas o quanto temos no bolso que nos permite ser
quem somos socialmente, mas todo um aparato de aspectos que vão nos definindo pelo e
no meio em que estamos inseridos.
Talvez você esteja confuso(a) com a possibilidade de pensar a ideia de capital para
além daquilo que entendemos como um bem econômico e, por isso, vamos compreender
os quatros conceitos.
● Capital Econômico: é um conjunto de bens (dinheiro, patrimônio e material)
que pode ser acumulado, reproduzido e ampliado por meio de investimentos e
de relações sociais que podem gerar vínculos de interesses para sua manuten-
ção. Além disso, ele determina e reproduz as posições sociais.
● Capital Social: pode ser entendido pela expressão que usamos no cotidiano de
“Q.I.” que nada tem como quociente de inteligência, mas sim como “quem indica”,
ou seja, possuir este tipo de capital significa saber quem você conhece e quais
relações sociais estabelece com as pessoas em prol de seu próprio benefício.
Destaca-se nesta concepção três aspectos identificados como: os elementos
constitutivos; os benefícios obtidos pelos indivíduos mediante sua participação
em grupos ou redes sociais e as formas de reprodução desse tipo de capital.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 54


● Capital Simbólico: o detentor deste capital é aquele que possui o mais alto pres-
tígio social ou maior valor na composição de capital, assim como deliberam a res-
peito dos valores simbólicos das coisas, pessoas, ideias e lugares, não só dentro
do seu grupo como para os que perseguem a ascensão social. Por exemplo, você
já pensou por que usa determinada marca de roupa? As marcas representam não
somente um capital econômico como também simbólico, pois nos apresentam
para o mundo por meio de símbolos que tendem a nos representar diante da
sociedade. Podemos dizer ainda que é aquilo que representa prestígio ou honra
que podemos nos identificar dentro de um determinado grupo social.
● Capital Cultural: entender esse tipo de capital tornou-se muito importante para
o autor, pois auxilia a compreender a própria maneira como a escola pode ser
uma instituição que gera desigualdades sociais a partir do que possuímos de
cultura ao adentrar seu espaço. Ele existe de três maneiras: incorporado, objeti-
vado e institucionalizado. A maneira incorporado dá-se na forma de disposições
duráveis do organismo, que são responsáveis por constituir os gostos, o domínio
maior ou menor da língua culta/formal e as informações, ação sobre o mundo
escolar. De forma objetivado se traduz nos bens culturais que possuímos ou
adquirimos como pinturas, esculturas, músicas, leituras, o consumo de arte de
maneira geral. Por fim, o institucionalizado é aquele que vamos desenvolvendo
ao longo de nossa formação escolar baseado nos títulos acadêmicos.

Para Bourdieu (2015), a ideia do que gostamos e como usufruímos disso não é algo
natural ou normal. Segundo esse sociólogo, os bens culturais que possuímos estão dentro
de uma lógica social e sua necessidade pode ser considerada um produto da maneira como
fomos educados. Por exemplo, você tem a prática de ir a museus? Ler livros variados de
literatura? De apreciar ópera ou um balé?
Tudo isso só é possível quando somos estimulados ou já nascemos pertencentes
a uma ordem social que considerada determinante para sua permanência naquele meio:
“O olho é um produto da história reproduzido pela educação” (BOURDIEU, 2015, p. 10).
Por isso, é importante entender como os nossos olhares e a maneira como enxergamos a
sociedade tem se construído.
Neste sentido, quanto mais capital cultural possuímos mais podemos transitar em
meios sociais diferenciados, em que esses valores são considerados determinantes para
a nossa permanência nele ou não. Você sabia que o fato de estar estudando já é uma

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 55


maneira de te diferenciar na sociedade? Pois bem, quando você estiver com seu diploma,
o documento terá um peso simbólico e social muito grande e, por meio dele, é possível
pensar também na sua condição econômica.
Para Bourdieu (2015, p. 26), é importante entender que existe “o uso social da
própria coisa”, seja ela por meio de uma pintura, no saborear de um prato e até mesmo na
escolha de qual esporte praticar. Será que você já notou que até as práticas esportivas são
maneiras de classificação social? Jogar futebol é para todas as classes, afinal só se precisa
de uma bola e um espaço, mas será mesmo que não há outras coisas que diferenciam
o chamado futebol de várzea e o realizado numa “escolinha”? Mas vamos imaginar que
esse tipo de esporte seja para todos, não podemos dizer o mesmo sobre tênis, hipismo ou
automobilismo não é mesmo?
Então esses esportes também nos ajudam a pensar qual capital necessário para
ser inserido neste grupo, assim como a maneira como definem aqueles que a praticam.
Neste sentido, não pensamos apenas na coisa em si, mas também na utilidade que ela tem
na sociedade.
Enfim, para o autor, a maneira como somos educados, tanto na família como nos
meios escolares, determinam a forma de sermos vistos, ouvidos e entendidos na sociedade.
Ao consumir algo, falar sobre determinado assunto, visitar museus, exposições, teatros e
shows, tudo isso tende a determinar os espaços e as posições sociais que possuímos e
também como as pessoas que ocupam esses lugares nos reconhecem pertencentes ou não.

SAIBA MAIS

Será que você ficou curioso(a) em saber um pouco mais como Zygmunt Bauman refletiu
sobre o Amor na sociedade de consumidores e líquida? Bom, te convido a ler esse artigo
e pensar sobre como, na atualidade, estamos construindo nossas relações humanas,
amorosas e sociais.

ANGELO, T. P. Zygmunt Bauman, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Revista Mundo

Livre, Campos dos Goytacazes, v. 4, n. 1, p. 103-107, jan./jul. 2018. Disponível em: https://periodicos.uff.

br/mundolivre/article/view/39961/23035.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 56


SAIBA MAIS

Entre inúmeros estudos, Pierre Bourdieu também desenvolveu reflexões sobre a edu-
cação. Alguns pensadores brasileiros têm utilizado suas teorias para compreender a
desigualdade educacional em nosso país. Para saber mais sobre esse assunto convido
você a ler o texto:

HEY, A. P.; CATANI, A. M. Bourdieu e a educação. 2010. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/

home/bourdieu-e-a-educacao/.

REFLITA

“[...] a frequência dos museus e o nível de competência em pinturas, são outros traços
que têm todos uma forte correlação entre si, obedecem à mesma lógica e estão asso-
ciados, estritamente, ao capital escolar, hierarquizam brutalmente as diferentes classes
e frações de classe…”

Fonte: Bourdieu (2015, p. 19).

REFLITA

“As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas
e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para
defender as primeiras em relação às últimas”

Fonte: Bauman (2005, p. 19).

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 57


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, a ideia principal foi apresentar a você dois importantes pensado-
res sociais da contemporaneidade. Nossa caminhada de aprendizado se iniciou com o
conhecimento da própria ciência chamada de Sociologia, depois de seus atores clássicos
e culminou numa discussão de assuntos muito pertinentes ao contexto em que estamos
inseridos e vivenciando.
Tanto Zygmunt Bauman quanto Pierre Bourdieu não negam a presença e a
influência dos escritos teóricos de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, mas sim
contribuem para que seus conceitos possam ser refletidos à luz do século XX e continue
a reverberar no século XXI.
Muitas vezes, de tanto serem reproduzidos, alguns conceitos tornam-se bastante
conhecidos, como é o caso da Modernidade Líquida. Entretanto, é importante transformar
informação em conhecimento, com isso quanto mais você se inteirar das teorias em sua
gênese, mais será possível compreender a interpretação genuína do autor e não apenas
uma interpretação.
A ideia de uma sociedade cada vez mais fluída e rápida fez com que Bauman
refletisse sobre as ações humanas. A ideia de consumo e de Identidade faz parte de um
leque de estudos que o autor dirigiu à sociedade durante toda a sua carreira. Saberes
construídos não como verdades absolutas, mas mutáveis e atentos aos contextos sociais,
históricos, políticos, culturais e econômicos que são pensados.
Na atualidade, entender a sociedade de consumo e como ela tem desenvolvido
as relações entre as pessoas nos tende a mostrar o quanto estamos vivenciando mais o
ter do que o ser e isso é preocupante quando deixamos de aceitar o outro assim como ele
deseja ser. Por isso, a noção de “quem eu sou” nunca foi tão importante numa sociedade
em que a identidade deve ser entendida como fluída, deslocada e fragmentada. O respei-
to ao outro é de suma importância.
Já Pierre Bourdieu nos ajuda a pensar como fazemos nossas escolhas em uma
sociedade que tende a formar nossos habitus a partir de disposições duráveis de ma-
neira objetiva e de estruturas sociais formadas também pela subjetividade humana. É
importante entender como a educação familiar e escolar tende a modelar nossas ações,
assim como perceber que tudo isso faz parte de um jogo de interesses dentro de campos
determinados para nossa existência.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 58


Bourdieu nos faz pensar sobre a importância dos capitais, que não se resume
apenas à questão econômica, mas também pode ser social, simbólico e cultural. Dessa
maneira, aprendemos que a forma como consumimos algo, quando, onde e como também
não é algo simples e é determinado pelas estruturas sociais que fazemos parte, o locus, a
posição que ocupamos socialmente e a maneira como somos reconhecidos dentro dela.
Por essa razão, a educação não pode ser entendida senão como um campo em
que as desigualdades sociais estão presentes, afinal cada um de nós terá acesso a ela de
forma diferenciada. Entretanto, os títulos por ela concedidos é que vão nos abrir ou fechar
portas dependendo do grupo social que fazemos parte ou nos identificamos.
Enfim, espero que você tenha percebido o quanto a Sociologia não pode ser defini-
da apenas por um tipo de estudo ou pesquisa, assim como nós. A vivência em sociedade é
dinâmica, mutável e transformadora o tempo todo.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 59


LEITURA COMPLEMENTAR

MICELI, Sérgio. Bourdieu e a renovação da sociologia contemporânea da cultura.


Tempo soc., São Paulo, v. 15, n. 1, abr. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702003000100004 Acesso em: 05 abr. 2021.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 60


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: A modernidade líquida, “um mundo repleto de sinais
confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível”
em que vivemos, traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços
humanos, um amor líquido. A prioridade a relacionamentos em
redes, as quais podem ser tecidas ou desmanchadas com igual fa-
cilidade – e frequentemente sem que isso envolva nenhum contato
além do virtual –, faz com que não saibamos mais manter laços a
longo prazo. Mais que uma mera e triste constatação, esse livro é
um alerta: não apenas as relações amorosas e os vínculos fami-
liares são afetados, mas também a nossa capacidade de tratar um
estranho com humanidade é prejudicada. Como exemplo, o autor
examina a crise na atual política imigratória de diversos países
da União Europeia e a forma como a sociedade tende a creditar
seus medos, sempre crescentes, a estrangeiros e refugiados. Com
sua usual percepção fina e apurada, Bauman busca esclarecer,
registrar e apreender de que forma o homem sem vínculos – figura
central dos tempos modernos – se conecta.

FILME/VÍDEO
Título: A vida em si
Ano: 2018
Sinopse: O relacionamento amoroso vivido por um casal (Oscar
Isaac e Olivia Wilde), é contado através de diferentes décadas
e continentes, desde as ruas de Nova York até Espanha e como
diferentes pessoas acabam se conectando a ela através de um
evento marcante.

UNIDADE III Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu 61


UNIDADE IV
Ciência Política e Antropologia
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos

Plano de Estudo:
● Poder, Política e Estado.
● Democracia, Cidadania e Direitos;
● Cultura, Etnocentrismo e Relativismo Cultural.
● Identidade.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as definições de poder, políticas e Estado;
● Refletir sobre a relação entre democracia, cidadania e direitos;
● Compreender o conceito de cultura à luz dos estudos antropológicos;
● Analisar a importância do conceito de Identidade.

62
INTRODUÇÃO

Chegamos à Unidade IV e nosso desafio frente às Ciências Sociais será de com-


preender as discussões sobre política e cultura nos conceitos e estudos praticados pela
Ciência Política e a Antropologia.
Sabemos que por si só essas duas Ciências poderiam render materiais mais com-
plexos, porém nossa intenção aqui é fazer com que você tenha os primeiros contatos com
questões que permearam toda a sua formação, como também sua vivência em sociedade.
Quando falamos em Ciência Política você deve ter imaginado que vamos discutir
sobre candidato e partido político? Podemos também, mas o foco principal é ser capaz de
entender o que é poder e como se configuram os processos políticos daqueles que formam
um Estado, seja ele democrático, ditatorial, socialista ou totalitarista. É preciso entender
quem manda, porque manda e como manda.
Os processos políticos, na maioria das vezes, não são claros para todos, por isso é
necessário muito estudo e reflexão. Temos que ter cuidado como as mensagens e “saberes”
que nos chegam via as redes sociais, em especial, ao que se refere à política porque, em
sua maioria, as informações geradas podem se caracterizar como fake news.
Na atualidade, debater sobre política tem ocasionado situações muito desagradá-
veis, pois essas discussões estão sendo realizadas a partir de uma polarização que tem
dividido o país em A ou B sem pensar as semelhanças e diferenças destes dois polos.
Política é ação exercida pelo poder.
Além das questões envolvendo as Ciências Políticas, vamos compreender como
somos seres culturais. Refletir sobre cultura por meio da Antropologia nos ajuda a entender
as diferenças sociais e traçar um caminho para a diversidade cultural, respeitando a ideia
de que ninguém é melhor ou superior que alguém, mas apenas diferente.
Dessa maneira, vamos conversar sobre a importância da relação entre o Eu e o
Outro e como ela determina a maneira como nos comportamos, refletimos e entendemos a
sociedade. Além de pensarmos sobre “quem é você?” e como isso está inserido do diálogo
sobre identidade ou identidades.
Espero que o encontro com esses novos saberes permita você desnaturalizar o seu
olhar, a ponto de entender um pouco mais sobre as questões sociais que são produtos da
ação de cada um de nós por meio da política e também da cultura.

Bons Estudos!

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 63


1. PODER, POLÍTICA E ESTADO

Quando você pensa em poder e política, o que primeiro vem à sua cabeça? Seria
a ideia de um candidato? A noção de Direita ou Esquerda? A corrupção? Impeachment?
Preços altos? Economia? Saúde? De alguma forma tudo isso reflete quando nos propomos
a entender política e seus desdobramentos.
Nos últimos anos no Brasil temos vivido algo chamado de polarização política. Essa
ideia de apenas dois polos opostos tem transformado o debate político em brigas e confu-
sões dentro de famílias, espaços de trabalhos e conversas informais. Isso devido ao fato
de que ao invés de discutir os processos políticos, ou seja, aquilo que os escolhidos para
ocupar o poder em nosso país deveriam fazer, no Brasil discutimos pessoas separadas
apenas pela oposição do “eu gosto ou eu não gosto”.
Porém, isso não é fazer política. Segundo Ribeiro (2010), o termo política tende
a se referir a qualquer exercício de poder e as suas consequências. Afinal, só podemos
entender o poder assim que ele se materializa em ações boas e ruins. Entendendo, assim,
que poder é a capacidade de influenciar o comportamento das pessoas, de maneira crítica
como também manipuladora.
Devemos entender que política é feita de um jogo de interesses. Assim, posso
te perguntar: “quais razões levaram você a escolher seus últimos candidatos ao poder,
sendo eles, presidente, prefeitos ou vereadores?” Te questiono isso, pois as suas escolhas
deveriam ter sido pautadas no seu interesse, ou seja, como essas pessoas poderiam ajudar
você a conquistar o que deseja? Seja um emprego ou até mesmo sua formação acadêmica
e profissional?

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 64


A política passa, neste caso, a ser entendida como um processo através do
qual interesses são transformados em objetivos e os objetivos são conduzi-
dos à formulação de tomadas efetivas, decisões que “vinguem”. [...] pode-se
afirmar que Política tem a ver com quem manda, por que manda, como man-
da. Afinal, mandar é decidir, é conseguir aquiescência, apoio ou até submis-
são (RIBEIRO, 2010, p. 15).

A política pode ser entendida como a arte da razão, pois requer um olhar especial,
talentoso e muito atento de quem a pratica. Não é apenas querer algo mas saber como
compartilhar esse querer com o maior número de pessoas.
Trata-se também de uma ciência, pois nos ajuda a pensar como todo o sistema de
poder se constrói e qual sua incidência no cotidiano de cada pessoa em sociedade.
Por isso, a política deveria ser do interesse de todos. E você sabe por quê? O
teatrólogo alemão Bertold Brecht (1898-1956) nos ajuda a refletir sobre isso por meio do
seu poema: Analfabeto Político, que diz assim:
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem partici-
pa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço
do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem
das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua
ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos
os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos explo-
radores do povo (BRECHT, s.d., n.p.).

Dessa maneira, nos mantendo distantes do debate político, também nos tornamos
responsáveis por suas consequências. A falta da noção de que política é feita de interesses
e esses podem acarretar ainda mais desigualdade e desumanização permitem que te-
nhamos, ainda, uma sociedade extremamente desigual em todos os sentidos, econômico,
político, educacional, cultural e social. Para que haja mudança é preciso que exista conhe-
cimento e consequentemente ação.
Vale ressaltar que “A política não se ocupa de todos os processos de formulação e
tomada de decisões, mas somente daqueles que afetem, de alguma forma, a coletividade”
(RIBEIRO, 2010, p. 25). Ela não pode ser vista apenas pelas promessas feitas, eleições e
corrupção, como se isso não nos pertencesse também.
A política é feita de seres humanos em prol do coletivo, por isso, acreditar que todo
político é mau caráter e ladrão é algo que precisa ser repensado. Para que esse tipo de gente
não ocupe os espaços políticos, se faz necessário investigar e saber quem é o candidato que
você escolheu e como ele poderá ou não auxiliar numa sociedade mais justa para todos.
Podemos pensar também sobre política a partir da origem grega da palavra pólis
que era a forma como as cidades-Estados na Grécia Antiga eram chamadas. Neste sentido,
a política seria tudo que se relacionasse às cidades e aos cidadãos. Porém, não sei se você
sabe, mas ser cidadão naquela época era uma espécie de honraria que somente homens,
brancos e atenienses poderiam ser.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 65


Diferente do Congresso Nacional, Assembleias legislativas e câmaras municipais,
todos os debates eram feitos em espaços públicos, conhecidos como Ágoras, com o pro-
pósito de que aqueles considerados como cidadãos pudessem exercer e praticar o bem
comum, por meio de decisões coletivas.
Para se organizar cada vez mais de maneira política é que a noção de Estado tem
se consolidado ao longo da história. Quando falamos sobre Estado, você pensa em quê?
Segundo Quintaneiro (2009), Max Weber entendia o Estado como uma instituição
política, direcionado por um governo soberano, que detém o monopólio legítimo da força
responsável por direcionar as regras e leis evidenciado pelo aparato administrativo. Além
disso, quando uma regra não é cumprida a violência utilizada é considerada legítima pelo
Estado para sua própria preservação.
Neste sentido, é preciso estar atento(a) à maneira como o Estado conduz suas
ações, para que a própria história humana não tenha mais que registrar governos de cará-
ter Totalitários, como o Nazista, de Adolf Hitler, e o Fascista, de Benito Mussolini. Para isso
vamos refletir um pouco mais sobre democracia, direitos e processos políticos.

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2. DEMOCRACIA, CIDADANIA E DIREITO

Será que você já parou para pensar o que faz de você um(a) cidadão(ã)? É o pa-
gamento de impostos? É a maneira como consome em sociedade? Seria sua participação
nas eleições? Bom, tudo isso demonstra, sim, que você é um cidadão, mas, para que possa
exercer a sua cidadania, é preciso ter direitos. Estes deverão ser sempre assegurados por
um Estado que tenha no povo sua maior representatividade.
O termo cidadania pode ser entendido por meio da palavra latina civitas, que signi-
fica cidade. É nela que se desenvolve o ambiente que deve ser propício para a convivência
entre as pessoas e isso só será possível quando soubermos nossos direitos e deveres,
assim como respeitar o direito dos outros.
Após a Segunda Guerra Mundial e a morte de mais de 6 milhões de judeus, foi
necessário que os países se reunissem para que jamais algo como o holocausto pudesse
existir. A Declaração Universal dos Direitos dos Humanos, de 1948, é a maior referência ao
princípio da cidadania.
Na atualidade, podemos compreender esses direitos de três tipos:
Direitos Civis: aqueles considerados fundamentais à vida e que reconhecem a
autonomia dos indivíduos por meio da liberdade, igualdade e a propriedade privada. Tens
nesse tipo a garantia ao direito à liberdade de expressão, de integridade física, de ir e vir.
Direitos Políticos: tem como base a Constituição Federal, no caso brasileiro a
Constituição Federal Cidadã, de 1988, que está em vigor. São garantidos os meios de
eleição por voto, a candidatura do cidadão para esses cargos, a existência de partidos
políticos, de um congresso ou parlamento livre.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 67


Direitos Sociais: garantem o direito e o bem comum para todos. São pensados
em coletividade. Podem ser entendidos como o direito à educação, um salário digno, à
moradia, à saúde, à aposentadoria, ao trabalho.

Ao pensarmos nestes direitos, automaticamente estamos diante de um Estado tido


como Democrático. A democracia conclama à soberania popular em suas decisões. A ideia
é que todo poder emana do povo e tende a retornar para ele. Assim, esse tipo de governo
preza por ações em que o Estado beneficie a todos os cidadãos. Segundo Chauí (2007, n.p.):
Uma das práticas mais importante da política democrática consiste justamen-
te em propiciar ações capazes de unificar a dispersão e a particularidade
das carências em interesses comuns e, graças a essa generalidade, fazê-
-las alcançar a esfera universal dos direitos. Em outras palavras, privilégios
e carências determinam a desigualdade econômica, social e política, contra-
riando o princípio democrático da igualdade, de sorte que a passagem das
carências dispersas em interesses comuns e destes aos direitos é a luta pela
igualdade. Avaliamos o alcance da cidadania popular quando tem forças para
desfazer privilégios, seja porque os faz passar a interesses comuns, seja por-
que faz perder a legitimidade diante dos direitos e também quando tem força
para fazer carências passarem a condição de interesses comuns e, destes,
a direitos universais.

Uma das maneiras de lutar por esses direitos para o bem coletivo são as ações
propagadas pelos movimentos sociais. Estes têm como objetivo manter ou modificar uma
atitude ligada diretamente ao poder do Estado. Os movimentos sociais são sempre contra
ou a favor dos mandos e desmandos do Estado.
Você já deve ter ouvido falar que movimentos sociais são feitos por baderneiros?
Pois bem, isso não é verdade. Existem múltiplos movimentos sociais e cada um deles tem
uma história e um propósito. Por isso, eles não podem ser premeditados, pois dependem
sempre das condições e dos contextos que estão inseridos. Eles são dinâmicos e efêmeros,
podem ter uma duração curta e, se prolongadas, tendem a findar quando suas deliberações
são resolvidas ou reprimidas.
Antes da 2º Guerra Mundial, os movimentos sociais eram marcados pelas greves.
Os gritos dos trabalhadores por melhores condições de trabalho promoveram esse tipo
de ação por todo mundo. As greves no Brasil, no início do século XX, são representações
históricas da força destes movimentos:
Greves trabalhistas têm ocorrido desde o início do processo de industriali-
zação. Dos primeiros movimentos até nossos dias, os trabalhadores sempre
lutaram por melhores salários e condições de trabalho. Procuraram também
regulamentar o trabalho infantil e o feminino, além de reivindicar a diminuição
da jornada de trabalho por meio de um movimento internacional pelas oito ho-
ras diárias. Mobilizaram-se, ainda, pela organização de sindicatos e por visar
à conquista ou à efetivação de direitos, principalmente os sociais, como saú-
de, transporte, educação, previdência e habitação (TOMAZI, 2014, p. 198).

Na atualidade, os movimentos sociais não estão ligados apenas às desigualdades


econômicas de classe. Após o holocausto ficou evidente e necessário defender também a

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 68


questão das identidades e da diversidade cultural. Neste sentido, os movimentos para equi-
dade social tomaram outras proporções e as lutas pelas minorias sociais também, como
o caso do Movimento Negro, Movimento LGBTQI+, Movimento Feminista. Além desses,
podemos ainda falar dos Movimentos de caráter ambiental e dos Sem terras.
Enfim, espero que você tenha entendido que a manifestação da política por meio
do poder de ser pensada sempre através dos interesses que ela desperta. Assim como, a
importância de uma escolha consciente, a partir do momento que vivenciamos um Estado
democrático e nos entendemos como cidadãos. A luta pelos direitos civis, políticos e sociais
são importantes para a manutenção de um bem comum para todos, caso contrário corremos
o risco de fazermos parte de um estado totalitário e ditatorial.
Sendo assim, refletir sobre política vai além da polarização e tende a se ancorar
na possibilidade do entendimento dos processos políticos e suas consequências para a
formação de uma sociedade mais igualitária.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 69


3. CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL

A partir deste momento vamos conversar sobre mais uma ciência que faz parte
dos estudos da Ciências Sociais, chamada de Antropologia. Você já parou para pensar
que faz parte de uma cultura? E que ao mesmo tempo que é um produto dela, também a
produz? Pois bem, a Antropologia, segundo Laplantine (1988, p. 20), “[...] não é apenas
o estudo de tudo que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades (a
nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades
históricas e geográficas”.
Ainda para esse autor, é possível afirmar que nunca o homem parou de interrogar
a si mesmo, observando-se e buscando entender-se por inteiro. Assim, o projeto da Antro-
pologia nasce no final do século XVIII tornando o homem como um objeto de conhecimento
e não mais a natureza. Assim, cria-se a história do pensamento do homem sobre o homem
de maneira científica.
Segundo Laraia (1986), o conceito de cultura foi definido pela primeira vez por
Edward Tylor em seu livro Primitive Culture (1871), sendo tratada como um objeto de estudo
sistemático que caracterizava um fenômeno natural composto de causas e regularidades e,
por isso, permitiria um estudo objetivo e uma análise formulada por leis sobre o processo
cultural e a evolução. Ainda neste período, a ideia era baseada na ciência da natureza.
A maneira como Tylor pensou a Antropologia em meados do século XIX, e a com-
paração entre as culturas proposta por ele como uma maneira de pensar a igualdade entre

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 70


as nações, permitiu formular uma escala de civilização em que as nações europeias seriam
a representação de uma sociedade evoluída em contraposição às tribos ou sociedades
indígenas (LARAIA, 1986).
Essa maneira de pensar pode ser identificada pelo conceito de Etnocentrismo que
atribui a ideia de que uma nação, cultura e etnia pode ser considerada melhor, superior do
que a outra: “Comportamentos etnocêntricos resultam também das apreciações negativas
dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalo-
gadas como absurdas, deprimentes e imorais” (LARAIA, 1986, p. 74).
Foi baseado neste pensamento que devemos entender a invasão portuguesa no
Brasil, em 1500, afinal nós não fomos descobertos por eles, mas sim invadidos, saqueados,
mortos em nome de uma “missão civilizadora”. Para Ribeiro (1995, p.19), “Surgimos da
confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas
e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos”.
O fato é que dessa confluência é que nos tornamos um povo novo e que sempre
precisou ser pensado e tratado assim, como uma nova estrutura social. Dessa maneira,
a chegada dos portugueses nas terras brasilis pode ser entendida como um ato tanto de
genocídio, por dizimar milhares de indígenas, e também como um etnocídio, por tentar
matar uma cultura que já era existente com suas particularidades.
O etnocentrismo dos colonizadores foi responsável por uma construção de um
povo-nação que não era o resultado de formas anteriores de sociabilidade, mas sim da
concentração da força de trabalho escravo que deveria ser usada para os propósitos mer-
cantis, por meio de um processo violento de ordem e repressão (RIBEIRO, 1995).
Ainda sobre o conceito de cultura, os autores antigos acreditavam que a definir
como hábitos e costumes de um grupo já era o suficiente para o entendimento social.
Entretanto, a partir do momento que a Antropologia começou a se interessar pelas manifes-
tações diversas da humanidade, foi impossível manter a ideia de oposição entre civilizado
e primitivo. Pois as manifestações culturais estavam presentes na própria sociedade dos
pesquisadores: “O conhecimento antropológico da nossa cultura passa inevitavelmente
pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos
uma cultura possível entre tantas outras e não única” (LAPLANTINE, 1988, p. 21).
Para a antropóloga Ruth Benedict (2019), autora do livro O crisântemo e a espada:
padrões da cultura japonesa, é possível afirmar que a cultura é uma espécie de lente em
que o homem enxerga o mundo. Assim, pessoas de culturas diferentes têm visões distintas
sobre as coisas. Por isso, o modo que vemos o mundo não é simples e está ancorado

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 71


na herança cultural que recebemos, que define a ordem moral e valorativa das coisas,
comportamentos sociais e, até mesmo, a forma como agimos diante do mundo. Existe,
então, uma forma correta ou errada de estar no mundo?
Felizmente não. Pois a maneira que pensamos e estamos no mundo é determinada
por inúmeras possibilidades e fatores. Isso significa que é preciso entender que todas as
culturas são DIFERENTES e não melhores ou piores.
O antropólogo americano Clifford Geertz (2013) defendeu que a compreensão
do conceito de cultura não pode ser pensada como algo universal. Para ele é possível
entender a cultura por meio da semiótica e da ideia de Max Weber de que o homem é
um ser envolvido em uma teia de significados e sentidos criado por ele próprio, assim a
Antropologia pode ser considerada uma ciência interpretativa dos fenômenos culturais a
partir do momento que busca compreendê-los.
O fato é que todo sistema cultural tem sua própria lógica, por essa razão, entender
e respeitar suas diferenças é fundamental para humanidade. A cultura é dinâmica e está
em constante transformações. Quando somos capazes de entender uma manifestação
cultural sem julgamentos ou juízo de valor, estamos desenvolvendo um olhar baseado no
que chamamos de Relativismo Cultural.
A ideia de uma visão relativista está embasada em pontos de vistas distintos que
cada indivíduo ou grupo irá desenvolver sobre um mesmo assunto. Dessa forma, a ideia
de certo ou errado existe apenas a partir de como aquele grupo interpreta as ações, sendo,
assim, muito particulares e singulares.
Ter um olhar relativista é um exercício muito complexo e importante, pois é quando
aceitamos as diferenças que entendemos que vivemos em um mundo em que a Diversida-
de Cultural faz parte do cotidiano. Assim ações discriminatórias, preconceituosas e racistas
poderão ser extintas, pois somos capazes de entender que ninguém é melhor ou pior, maior
ou menos, superior ou inferior a ninguém, somos apenas diferentes.
Esta é uma das razões por que estudar culturas proporciona a todos nós uma
interpretação da sociedade que não se faz de maneira única, mas que nos mostra o quanto
a diversidade é responsável por formar quem somos.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 72


4. IDENTIDADE

Você já parou pra pensar “quem você é”? Parece uma tarefa fácil ou complexa?
Fazer esse exercício de refletir a própria identidade é muito mais sério do que podemos
imaginar. Afinal, em uma sociedade em que todos parecem tão iguais e são postos dentro
de padrões, podemos ter impressão de que quem somos é somente o que a sociedade
quer da gente e nada mais.
Bauman (2005) e Hall (2015) vão nos ajudar a compreender o conceito de identi-
dade. Posso já adiantar que, para ambos, essa é uma questão da modernidade e deve ser
discutida para que cada um possa ser exatamente aquilo que quiser ser e mudar todas as
vezes que achar necessário.
Segundo Bauman (2005, p. 19), “As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa
própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso
estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas”. Neste sentido,
não somos apenas uma coisa só, homem ou mulher, alto ou baixo, bom ou mau. Além des-
sas dicotomias, podemos nos reconhecer e identificar com nossa etnia, crenças, profissão,
gênero, comportamentos.
Por exemplo, eu posso ser mulher, esposa, professora, feminista, ativista, filha,
irmã, amante etc., tudo isso me complementa e me define para a sociedade. Assim, a
identidade nada mais é do que o eu em mudança.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 73


Pensar nesse conceito é uma tarefa muito recente, especialmente, quando a par-
tir da 2º Guerra Mundial passamos a discutir povo e suas culturas a partir da noção de
pertencimento e reconhecimento. Por que isso ocorreu? Porque o Holocausto, provocado
pela ação Nazista, ocorreu, justamente, com a ideia errôneo de que judeus, negros, gays
e outra minorias deveriam ser extirpadas da terra, tudo por conta de terem uma identidade
particular que não seguia uma norma e regra. Óbvio que não foi somente por conta das
manifestações culturais que esse regime “combateu”, mas o fato de existirem culturas dife-
rentes era um incômodo para Hitler e seus seguidores.
Como vimos anteriormente, podemos refletir sobre a sociedade por meio do conceito
de Modernidade Líquida, a ideia de que tudo é efêmero e líquido também pode ser aplicada
em como entendemos a diferença entre a sociedade sólida e uma sociedade líquida. A
primeira, presa por ter tudo controlado e de uma maneira só. Assim, defende o equilíbrio
dos papéis sociais bem definidos, imutável e estático. Enquanto a segunda entende que
estamos em constante mudanças e não precisamos ter apenas uma identidade, como se
fossemos uma rocha.
Para Hall (2015), as velhas identidades sólidas hoje estão dando lugar para o nas-
cimento de novas identidades deslocadas e fragmentadas. Mas será que essa mudança
seria capaz de provocar uma crise de identidade? Na verdade, só será entendida como
um problema quando as pessoas se recusarem a aceitar que não somos apenas “isto ou
aquilo”, mas uma junção de inúmeras identidades.
Hall (2015) nos ensina a refletir sobre a identidade a partir de três tipos de sujeitos.
O primeiro é o sujeito do iluminismo, que se caracteriza no individualismo de um ser huma-
no centrado e unificado, na ideia de que o “eu” basta para compreensão da sociedade. O
segundo seria o sujeito sociológico que seria a compreensão de uma identidade formada
pela relação entre o “eu” e o outro, que está costurado à estrutura que pertence. Por fim,
o terceiro, chamado de sujeito pós-moderno, recusa tudo que esses dois eram e se afirma
como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente.
É justamente essa ideia de mobilidade que está transformando a maneira como es-
tamos e nos identificamos com o mundo, pois a nossa consciência provém da experiência
e da vivência histórica de momentos variados:
A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fan-
tasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e represen-
tação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidades
desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com as quais pode-
ríamos nos identificar a cada uma delas - ao menos temporariamente (HALL,
2015, p. 12)

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 74


O propósito do conceito de identidade não é ser algo universal e único, mas explorar
as múltiplas facetas dos sujeitos sociais. E você sabe por que isso se faz necessário? Para
que sejamos capazes de respeitar as individualidades de cada um e promover políticas
públicas que não privilegiem ou se façam presentes em apenas um grupo social.
A partir do momento em que as pessoas podem afirmar que são e estão propensas
à mudança, é importante que a sociedade se modifique também. Com certeza e de maneira
bem homofóbica, você já deve ter ouvido a seguinte frase: “nossa parece que virou moda
ser homossexual!” Pois bem, isso não é nenhuma moda, mas é que o contexto que vivemos
tem tornado possível a existência, resistência e vivência daqueles que se orientam sexual-
mente para além da heteronormatividade.
Além disso, cresce cada vez mais a conquista de direitos sociais. Isso é muito
importante para mudarmos a estatística, por exemplo, de sermos um dos países que mais
mata a população LGBTQ+ no mundo. E só conseguiremos transformar essa realidade
quando compreendermos que a diversidade cultural e social faz parte da humanidade.
Por isso, ao voltar algumas páginas, você conseguirá relacionar a necessidade
de se entender política para a manutenção de uma sociedade que tem na diferença sua
característica fundante.

SAIBA MAIS

Você ficou curioso(a) para pensar mais sobre a questão da Identidade? Te convido
então a assistir a propaganda Identidade, do cineasta brasileiro Fernando Meirelles e
Nando Olival, e refletir sobre a questão posta no final do vídeo:
“Quando você vê um brasileiro assim diferente de você, quem você pensa que ele é?”
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HdHVFzKWI_Y

SAIBA MAIS

Cada cultura é diferente e, assim, o que parece normal, natural para nós pode não ser
para outros povos. Neste sentido, te convido a conhecer o Documentário - Curta Metra-
gem: Absorvendo Tabu, ganhador do Oscar de 2019. Ele nos ajuda a pensar a questão
das mulheres na cultura indiana.
Disponível em: https://www.netflix.com/search?q=absorvendo&jbv=81074663

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REFLITA

“O inferno são os outros”

(Jean Paul Sartre).

REFLITA

“O conhecimento antropológico da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conheci-


mento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultu-
ra possível entre tantas outras e não única”

Fonte: Laplantine (1988, p. 21).

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 76


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre política e cultura é algo muito necessário e importante, acredito que
tenha percebido que esses conceitos não são vazios e o entendimento sobre eles nos
fazem entender a sociedade.
Dessa forma, quando estudamos sobre política, à luz da Ciências Políticas, pode-
mos compreender a necessidade de entendermos os processos e como aqueles escolhidos
por nós podem ou não representar nossos interesses.
O fato é que debater política não é dizer se eu gosto ou não de determinado político,
mas sim analisar como ele pode contribuir, de fato, para uma mudança social que atinge a
todos. Essa não é uma tarefa fácil, porém é através dela que podemos garantir os direitos
civis, políticos e sociais determinantes numa sociedade democrática. A voz do povo precisa
ser ouvida, pois é a partir dela que a realidade pode ser desnudada, as desigualdades
sociais tendem a desaparecer e pode surgir uma sociedade mais igualitária para todos.
Ao pensarmos em igualdade e equidade social, podemos entender como ela pode
ser construída por meio do conceito de cultura, a partir de uma ciência chamada de Antro-
pologia. Mesmo que de forma sucinta podemos entender que culturas não são únicas, nem
esquisitas e muito menos estranhas, mas sim diferentes. Por isso se faz necessário ter um
olhar relativista em que possamos entender as diferenças e respeitá-las.
O respeito pode ser desenvolvido quando entendemos que podemos ser quem a
gente quiser. Dessa forma, nossa maneira de estar e ver o mundo, nossa identidade não
deve ser pensada como algo fixo e imutável, mas sim como fluída, deslocada e fragmenta-
da, que está em constante mudança.
O fato é que tanto a política como a cultura nos fazem pensar sobre a sociedade e
a maneira como as relações entre os indivíduos se desenvolvem, afinal somos produtos e
produtores do meio social. Por isso, é fundamental que você entenda que o mundo só está
como está por conta das ações humanas e, essas precisam transformar constantemente
para que todos possam ser respeitados e terem assegurado a sua existência.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 77


LEITURA COMPLEMENTAR

Para continuar pensando um pouco mais sobre Política e Cultura, que tal pensar
sobre o Brasil?
Aqui sugerimos a leitura de um artigo para o seu primeiro entendimento.

MOTTA, F. C. P. O que faz o brasil, Brasil? Revista de Administração de Empre-


sas São Paulo, v. 30, n. 2, p. 91-96, abr./jun. 1990. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901990000200009

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 78


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Ainda Estou Aqui
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Alfaguara
Sinopse: Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com
o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado
e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha
quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a
seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou
a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas.
Nunca chorou na frente das câmeras. Ao falar de Eunice, e de
sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens
Paiva fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha
num momento negro da história recente brasileira para contar - e
tentar entender - o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai,
naquele janeiro de 1971.

FILME/VÍDEO
Título: Democracia em Vertigem
Ano: 2019
Sinopse: A cineasta Petra Costa testemunha a ascensão e queda
de um grupo político e a polarização do Brasil.
Link do vídeo: https://www.netflix.com/title/80190535

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 79


MATERIAL COMPLEMENTAR

ANGELO, T. P. Zygmunt Bauman, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos.
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v. 4, n. 1, p. 103-107, jan./jul. 2018. Dispo-
nível em: https://periodicos.uff.br/mundolivre/article/view/39961/23035. Acesso em: 22 mar.
2021.

BAUMAN, Z. Aprendendo a pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BAUMAN, Z. Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de


Janeiro: Zahar, 2008.

BENEDICT, R. O crisântemo e a espada: padrões da cultura japonesa. Petrópolis: Editora


Vozes, 2019.

BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2015.

BRECHT, B. Analfabeto Político. In: PARANÁ. Secretaria da Educação. s.d. Disponível em:
http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=4701. Acesso
em: 26 mar. 2021

CARVALHO, K. F. de. Os conceitos de Habitus e Campos na teoria de Bourdieu. Cadernos


de Campo, Araraquara, n. 9, p. 101-111, 2003. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.
br/cadernos/article/view/10510. Acesso em: 05 abr. 2021.

CHAUÍ, M. Contra a violência. Autêntica: São Paulo, 2007.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

COSTA, C. Sociologia: Introdução a ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.

DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. Lisboa: Presença, 2004.

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FERRARI, M. Auguste Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo. 2008. Disponível
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GEERTZ, C. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de janeiro: Lamparina, 2015.

HEY, A. P.; CATANI, A. M. Bourdieu e a educação. 2010. Disponível em: https://revistacult.


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LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.

LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

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MARX, K. Introdução à crítica da economia política In: Manuscritos Econômico – Filosóficos


e Outros Textos Escolhidos. Os Pensadores. Vol. XXXV. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

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MICELI, S. Bourdieu e a renovação da sociologia contemporânea da cultura. Tempo soc.,


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Paulo, v. 30, n. 2, p. 91-96, abr./jun. 1990. Disponível em: https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/
files/artigos/10.1590_s0034-75901990000200012.pdf. Acesso em: 31 mar. 2021.

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PAIVA JÚNIOR, Y. E. B. de. Viver e pensar o Cotidiano. Sociologia, Ed. Escala, ano III, 32.
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to-viver-e-pensar-o-cotidiano.html. Acesso em: 01 mar. 2021.

QUINTANEIRO, T. Um toque de Clássico: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: UFMG,


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RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia


das Letras, 1995.

RIBEIRO, J. U. Política: quem manda, por que manda, como manda. Rio de janeiro: Obje-
tiva, 2010.

SALAS, J. Uma pandemia de falsos dilemas que polarizam e confundem a população.


2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-12-03/uma-pandemia-de-fal-
sos-dilemas-que-polarizam-e-confundem-a-populacao.html.

SARAMAGO, J. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SÓ FILOSOFIA. Marx – Curiosidades. s.d. Disponível em:

TOMAZI, N. D. Conecte: a sociologia para o ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2014.

UNIDADE IV Ciência Política e Antropologia 82


CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito do desen-
volvimento das Ciências Sociais e seus desdobramentos ao longo da história da humanidade.
Assim, buscamos abordar as definições teóricas sobre a história da Sociologia, o desenvol-
vimento dessa ciência por meio de seus autores clássicos e contemporâneos. Além disso,
você deve ter percebido que as Ciências Sociais são formadas de uma tríade de ciências,
Sociologia, Ciência Política e Antropologia. Mesmo que sucintamente procuramos apresentar
para você como pensar as relações sociais é uma tarefa complexa e também prazerosa.
Destacamos a importância de conhecer cada pensador da Sociologia e suas
particularidades. Assim, espero que você tenha percebido que não existe uma verdade
absoluta ao pensar as problemáticas sociais, mas sim diferentes abordagens para o seu
entendimento. Além dos clássicos, você foi apresentado(a) a dois importantes autores con-
temporâneos, Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu que nos ajudam a pensar as relações
sociais diante da realidade e o contexto que temos vivenciado nos séculos XX e XXI.
Diante dos inúmeros desafios sociais, convidei você a pensar sobre o conceito de
Política e como sua participação consciente é de extrema importância para a construção de
um país mais justo, sem desigualdade social e igualitário. Entendo que a discussão política
deve perpassar pela compreensão dos processos políticos e pela atuação daqueles que
depositamos o voto e a confiança de estar no poder. Não se esqueça, a política é a arte da
razão e um jogo de interesses.
Por fim, você também teve contato com as discussões propostas pela Antropologia e
pelo entendimento de que somos diferentes e, por isso, ao indagarmos que somos, também
é importante respeitar quem o outro é. Dessa maneira, é possível viver numa sociedade em
que o racismo, a misoginia, o sexismo, o machismo, a homofobia e qualquer outro tipo de
preconceito e discriminação possa ser extirpado das relações sociais.
Assim, acredito que, a partir de agora, você já está capacitado(a) para refletir sobre
a sociedade de uma maneira mais consciente, atuando nela de forma concreta e auxiliando
nas transformações necessárias para que o espaço social seja, de fato, para todos.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigada!

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