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Sociais
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos
2021 by Editora Edufatecie
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Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Revisão Textual
Kauê Berto
Aprender é realmente uma grande viagem. Por isso, é necessário conhecer cada
vez mais. É com esse espírito de compreender o que ainda não se sabe que a disciplina
de Ciências Sociais está sendo proposta. Espero que você esteja aberto(a) ao novo, ao
desconhecido e que faça de cada unidade um momento de conhecimento único, inspirador
e transformador.
Saiba que quando falamos de Ciências Sociais estamos nos referindo a uma tríade
de ciência que tem como objeto de estudo as relações sociais. Assim, vamos debater sobre
a Sociologia, a Ciência Política e a Antropologia. Dessa maneira, nosso aprendizado estará
dividido assim:
Na Unidade I vamos conhecer o desenvolvimento da Sociologia como ciência por meio
de um passeio sobre sua história e também sobre o seu primeiro pensador, Augusto Comte.
Já na Unidade II iremos nos aprofundar ainda mais nos pesquisadores sociais
compreendendo a teoria dos chamados Clássicos da Sociologias, são eles: o francês Émile
Durkheim e os alemães Max Weber e Karl Marx. Você perceberá que a maneira como cada
um interpreta a sociedade é bem específica e particular e entenderá que não existe apenas
uma forma para compreender as relações sociais.
Na Unidade III você será convidado(a) a pensar algumas problemáticas sociais à
luz de autores considerados contemporâneos. Assim, conhecerá um pouco mais sobre as
discussões provocadas por Zygmunt Bauman em relação à Modernidade Líquida, Socieda-
de de Consumo e Identidade. Assim como os debates empreendidos por Pierre Bourdieu
por meio dos conceitos de Habitus, Campo e as definições sobre gostos e os capitais:
Econômico, Social, Simbólico e Cultural.
Por fim, na Unidade IV iremos discutir sobre as implicações do conhecimento pre-
tendido pela Ciências Políticas e também pela Antropologia. Dessa maneira, finalizaremos
nossa discussão por meio do entendimento dos processos políticos como fundamentais
para nossa ação em sociedade e da compreensão sobre a cultura, o respeito à diversidade
e a necessidade de promover uma sociedade mais igualitária e justa para todos.
SUMÁRIO
UNIDADE I....................................................................................................... 3
Sociologia como Ciência e Augusto Comte
UNIDADE II.................................................................................................... 21
Teoria Clássica da Sociologia: Émile Durkheim, Max Weber e Karl
Marx
UNIDADE III................................................................................................... 43
Sociologia Contemporânea: Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu
UNIDADE IV................................................................................................... 62
Ciência Política e Antropologia
UNIDADE I
Sociologia como Ciência
e Augusto Comte
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos
Plano de Estudo:
● Pensar Sociologicamente;
● Sociologia como Ciência: Contexto;
● Augusto Comte e o Positivismo;
● Lei dos Três estados e a Religião da Humanidade.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o que significa pensar de maneira sociológica;
● Contextualizar o surgimento da Sociologia como ciência;
● Refletir sobre a importância do pensamento de Augusto Comte;
● Entender a importância da Lei dos três estados e da Religião da Humanidade
para a formação do pensamento social.
3
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
A palavra Sociedade significa o que para você? Em algum momento você já parou
para pensar qual a razão e importância em vivermos em sociedade? Será que você já
percebeu que faz parte dela, que atua sobre ela e pode decidir os seus caminhos?
Muitas vezes acreditamos que a sociedade está toda errada, ainda mais quando
vemos na televisão os casos de corrupção política, violência doméstica, falta de segurança,
saúde e transporte.
Ficamos indignados e poucos de nós se perguntam como é possível mudar essa
realidade. Isso porque, na maioria das vezes, não nos colocamos como parte dessa so-
ciedade corrupta, violenta e desigual. É como se criticássemos algo que está à parte, à
margem e que, embora nos afete de maneira direta, parece estar distante do cotidiano.
O autor português José Saramago, em seu livro Ensaio sobre a Cegueira (1995),
diz que é necessário sempre reparar, ver, enxergar, o que está à nossa frente. Pois, às
vezes somos cegos mesmo tendo plena visão.
Porém, enganam-se aqueles que acham que sair dessa cegueira é simples e fácil.
Na verdade, é um processo, uma construção, um despertar que proporciona o desenvolvi-
mento da consciência. E o que se entende por consciência?
Segundo a filósofa Marilena Chauí (2000, p. 165), a consciência “tem como centro
a figura do sujeito do conhecimento, na qualidade de consciência em si reflexiva ou ativi-
dade permanente racional que conhece a si mesma”. Dessa forma, ser consciente é ter a
capacidade de se perceber, podendo, assim, ver o que está ao redor, de maneira racional.
Assim, é essa descoberta e estranhamento do que nos parece tão familiar que faz
a sociologia uma ciência voltada ao questionamento, à inquietação, à negação de achar
tudo natural ou normal.
Dessa maneira, para Bauman (2010), pensar sociologicamente é ter uma cons-
ciência relacional que possibilite a compreensão para além daquilo tido como uma verdade
absoluta e imutável.
Diante de uma realidade em constante mudança, torna-se imprescindível ser toleran-
te e sensível às diferenças, para que todos possam viver e conviver em sociedade de maneira
a respeitar os mais variados tipos de pensamento, conhecimentos e comportamentos.
O exercício de refletir sobre a sociedade pode ser realizado também por meio do
que o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1959) chamou de imaginação socio-
lógica. Mas, o que é necessário para despertar esse tipo de imaginação? O próprio autor
nos responde:
Algumas vezes, quando nos deparamos com algo novo, nos perguntamos de onde
e por que aquilo surgiu. Pergunta essa que nos faz buscar o sentido, o significado para algo
que nos é desconhecido.
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Sociologia, muito menos em pensamento
sociológico e nem sabia que existiam autores considerados como clássicos, que são res-
ponsáveis por essa ciência, não é mesmo?
Dessa forma, é muito importante dizer que a Sociologia não é uma ciência “vazia”
ou que surgiu “do nada” – expressão que usamos para dar sentido àquilo que não sabemos
argumentar. Pois bem, ela surgiu das novas configurações e condições sociais, políticas e
econômicas advindas das transformações que ocorreram no mundo ocidental entre o final
do século XVIII e início do século XIX. Ela surge para dar sentido a essas transformações,
explicando suas características e consequências para emergência da sociedade capitalista:
Na verdade, a sociologia, desde o seu início, sempre foi algo mais do que
uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explica-
ções sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no
rumo desta civilização (MARTINS, 1994, p. 07).
Por isso, para o autor Carlos B. Martins (1994), ela pode ser considerada uma
ciência contraditória e tensa, que ora pode representar os interesses dos dominantes ou
dar vozes aos movimentos revolucionários.
Bom, já sabemos que, para Comte, a sociedade devia ser reorganizada, mas isso
não deveria acontecer apenas nas estruturas/instituições sociais e sim no intelectual hu-
mano. Se cada homem tivesse seu pensamento renovado e modificado, seria capaz de
compreender a sociedade e isso determinaria uma real mudança.
Mudança essa que poderia ser entendida por meio do estudo de uma filosofia da
história e do modo de pensar existente em cada época do desenvolvimento da humanidade,
por meio da filosofia positiva e de uma nova configuração das instituições sociais, tendo
destaque para a forma religiosa que era entendida por Comte como uma parte importante
de renovação social.
Para compreender a filosofia da história, Comte criou a lei dos três estados em que
defendia que era possível entender o desenvolvimento da ciência e do espírito humano
através de três momentos distintos, identificados por ele como: Estado Teológico, Estado
Metafísico e Estado Positivo.
Sabe quando acontece uma grande catástrofe, seja enchente ou seca e alguns
jornalistas entrevistam os moradores desses lugares e muitos deles atribuem estarem vivos
por bondade divina? Repetem “Graças a Deus estou viva”, “Deus não quis o pior para mim
e a minha família”, “está seco demais porque Deus quis assim”. Pois bem, segundo Comte,
esse tipo de pensamento humano pode ser considerado um Estado Teológico.
SAIBA MAIS
Será que você ficou interessado(a) em saber um pouco mais sobre a Religião da Huma-
nidade e a maneira como ela ainda hoje está sendo conduzida?
Bom, se você quiser mais informações acesse ao site:
http://templodahumanidade.org.br/
Fonte: a autora.
Você sabia que Augusto Comte foi considerado o pai do positivismo, acreditava que
era possível planejar o desenvolvimento da sociedade e do indivíduo com critérios das
ciências exatas e biológicas?
Para descobrir um pouco mais sobre ele, leia: FERRARI, Márcio. Auguste Comte, o ho-
mem que quis dar ordem ao mundo. 2008.
Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivismo.
REFLITA
“Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à di-
versidade, daí decorrendo sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além
de experiências imediatas, a fim de que possamos explorar condições humanas até
então relativamente invisíveis”
REFLITA
“O que precisam, é de uma qualidade de espírito que lhes ajude a perceber o que está
ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro dele mesmo”.
LIVRO
Título: Aprendendo a pensar com a Sociologia.
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: Partindo de aspectos aparentemente comuns da vida
– amor, atos de consumo, trabalho, lazer, religião –, Zygmunt Bau-
man e Tim May escreveram esse livro com o objetivo de ajudar as
pessoas a entender suas vivências individuais e com os outros. Os
autores revelam como a sociologia fornece uma série de obser-
vações sobre nossas experiências e mostram as implicações de
nossos atos sobre a maneira como conduzimos nossa existência.
A edição original, publicada em 1990, foi revista por Bauman e
May e inclui temas atuais como corpo, intimidade, tempo, espaço,
desordem, risco, globalização, identidade e novas tecnologias.
Cada capítulo aborda problemas que constituem parte de nossa
vida cotidiana, dilemas e escolhas com os quais nos deparamos,
mas não chegamos a refletir. Os autores ainda sugerem questões
que podem servir de orientação para o leitor ou de plano de estu-
dos para professores e alunos. Pensar sociologicamente significa
entender aqueles que nos cercam em suas esperanças, desejos,
inquietações e preocupações. O livro ainda inclui sucinta bibliogra-
fia organizada por temas e questões para orientar professores e
alunos.
FILME/VÍDEO
Título: Ensaio sobre a Cegueira
Ano: 2008
Sinopse: Quando uma epidemia chamada cegueira branca apare-
ce em uma cidade, a mulher de um médico é a única pessoa que
ainda consegue ver. Ela vai para um abrigo com seu marido cego
e encontra todos vivendo em condições precárias. Agora ela tem
que guiar um grupo à liberdade.
Plano de Estudo:
● O pensamento clássico e a importância do olhar sociológico.
● Émile Durkheim: Fato Social, Solidariedade Mecânica e Orgânica, Suicídio.
● Max Weber: Ação Social, Poder e Dominação.
● Karl Marx e o desenvolvimento de uma Sociologia Crítica.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância dos pensadores clássicos da Sociologia.
● Analisar os pensamentos de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
● Compreender e diferenciar as noções de fatos sociais, ação e
relação social e luta de classe.
21
INTRODUÇÃO
Para que você possa compreender ainda mais o pensamento sociológico, se faz
necessário conhecer os três autores clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, Max Weber
e Karl Marx. Eles são responsáveis por construir toda a base do pensamento sociológico
até os dias atuais.
Cada autor irá te apresentar uma maneira diferente de pensar a sociedade, qual é o
correto? Nenhum deles. Você irá aprender que o pensamento sociológico pode ser múltiplo e
isso não significa que exista apenas um lado certo ou errado de uma interpretação da sociedade.
O pensador francês Émile Durkheim será responsável pela Sociologia Funciona-
lista, pela definição das regras do método sociológico por meio dos Fatos sociais e pela
noção de que a consciência individual está relacionada a uma consciência maior, ou seja, a
consciência coletiva. Para esse autor, o indivíduo é moldado pela sociedade.
Já o pensador alemão Max Weber irá te apresentar à Sociologia Compreensiva e
os conceitos de Ação Social e relação social. Além da diferença entre a noção de poder
e dominação. Para esse autor, o indivíduo passa a ser chamado por Sujeito Social e é
responsável por moldar a sociedade.
Por fim, o pensador alemão Karl Marx nos ajudará a entender a sociedade por meio
da Sociologia Crítica. Ao entender o conceito de materialismo Histórico você perceberá
que, segundo este autor, as relações humanas podem ser entendidas pela luta de classe,
baseada nas questões econômicas que geram desigualdades sociais. Caberá a cada in-
divíduo a capacidade de se conscientizar em relação à sociedade por ser considerado um
ser transitório.
Embora pareça, e seja mesmo, muitas coisas novas a serem apreendidas, espero
que você possa se apaixonar por essa aventura de aprendizado por meio da Sociologia.
Bons estudos!
UNIDADE II
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1. O PENSAMENTO CLÁSSICO E A IMPORTÂNCIA DO OLHAR SOCIOLÓGICO
Você já deve ter percebido que a ciência que estamos apresentando tem muitos
caminhos a serem seguidos e refletidos, não é mesmo? Para aprofundar cada vez no saber
ou, como gostamos de dizer, no olhar sociológico, você será apresentado(a) aos chamados
autores clássicos da sociologia: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Infelizmente,
vamos explorar cada um deles de maneira sucinta, porém o que queremos revelar é
justamente a forma de pensar de cada um e como é possível enxergar a sociedade por
diferentes óticas.
Antes disso, você precisa entender que o papel da sociologia, como disciplina, é
dar forma ao processo de entendimento da relação entre eu e o outro que dependerá dos
mais diferentes fatores. Segundo Bauman (2010, p. 265), ela pode ser compreendida como
um “comentário da vida social”, que nos oferece uma porção de notas explicativas sobre as
nossas vivências e experiências que vão implicar, diretamente, no cotidiano.
Para esse autor, é possível dizer que a sociologia é o refinamento de um olhar dis-
ciplinado que irá analisar como procedemos em nossas relações no dia a dia. Ela não tem
como objetivo apontar o que é certo e errado, mas entender como socialmente definimos
essas ações. Assim, jamais existirá uma verdade absoluta.
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[...] a sociologia ilumina os meios pelos quais conduzimos nossa vida e tam-
bém questiona tal adequação com a produção de estudos e pesquisas que
incitam e desafiam a imaginação. [...] Por isso, levanta-se a possibilidade de
se pensar de modo diferente, incluindo aqueles aspectos da vida por rotina
colocados entre parênteses. Para nós, isso faz da sociologia uma disciplina
muito prática, mas talvez não como essa palavra costuma ser invocada por
quem procura transformar sua visão da sociedade em confortáveis realidade
que, como vimos, incluem por exclusão (BAUMAN, 2010, p. 266).
Para que as observações pudessem ser realizadas é que Durkheim criou as regras
do método sociológico cristalizadas pelo conceito de fatos sociais, que veremos mais à frente.
A particularidade de cada pensador clássico pode ser entendida pela maneira
como eles interpretam as questões sociais. Para Max Weber, a sociologia não poderia ser
pensada como algo neutro. Para ele, a prática sociológica deve ser refletida por meio das
mudanças sensíveis ocorridas no mundo e no interior de cada sociedade. Isso devido ao
fato de que os homens e mulheres promovem suas ações dotadas de sentido e significado.
Por essa razão, tanto você quanto eu somos responsáveis pela forma como a
sociedade está sendo construída: “As pessoas têm motivos e agem a fim de alcançar os
fins que estabeleceram para si, e esses fins explicam suas ações” (BAUMAN, 2010, p.
273). Assim, o autor criou o conceito de Ação Social e Relação Social e desenvolveu uma
sociologia baseada na compreensão histórica que poderia explicar as atitudes humanas.
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Por fim, iremos compreender o pensamento de Karl Marx, este talvez seja o autor
mais “conhecido” pela sociedade. Um conhecimento que muitas vezes é acompanhado de
distorções na maneira como foram construídos seus conceitos e as interpretações feitas em
relação a sua aplicação histórica. Com certeza termos como classes sociais, desigualdades
sociais, exploração, alienação, revolução e comunismo tendem a fazer parte de muitas
discussões em seu cotidiano. Eles podem aparecer de maneira direta em uma conversa ou
por meio de postagens via redes sociais.
O cuidado que você deve ter é de não acreditar em tudo que lê antes mesmo de
conhecer a obra ou a forma de pensar deste autor. Por exemplo, Marx, ao questionar o
Capitalismo, acredita que essa forma de organização política e social existe por promover
uma exploração e dividir a sociedade entre burguesia e proletariado. Ele não nos proíbe
de viver em uma sociedade capitalista, mas nos auxilia a interpretá-la e questioná-la de
maneira crítica.
É a sociologia crítica proposta por esse autor que nos incentiva a pensar de maneira
mais consciente e coerente sobre nossa realidade.
A maneira como enxergamos os problemas influenciará o que é considerado
a solução apropriada. Entre nossas expectativas para o futuro e as experiên-
cias obtidas no passado e no presente jaz um espaço que o pensar sociologi-
camente ilumina a partir do qual podemos aprender mais sobre nós mesmos,
os outros e as relações entre as aspirações, as ações e as condições sociais
que criamos e nas quais vivemos. A Sociologia é, assim, central para qual-
quer tentativa de nos compreendermos melhor (BAUMAN, 2010, p. 288).
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2. ÉMILE DURKHEIM: FATO SOCIAL, SOLIDARIEDADE MECÂNICA
E ORGÂNICA, SUÍCIDIO
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O que chamava a atenção do autor eram as crenças, os comportamentos realiza-
dos pela coletividade e muitas vezes impostos por instituições sociais, como Família, Igreja,
Escola e Estado.
Você já parou para pensar como muitas vezes reproduz aquilo que lhe foi ensinado
sem questionar? Pois é, o fato de muitas vezes sermos batizados ainda recém-nascidos,
por exemplo, nos faz pensar o quanto o outro, a coletividade espera de nós atitudes já
postas. Pois não será conscientemente que um bebê escolhe qual denominação religiosa
seguir, não é mesmo?
Serão essas questões e outras que vão chamar a atenção de Durkheim: será que
somos moldados pela sociedade? Ela pode determinar o que vestimos, pensamos e como
agimos? Para o autor, a resposta correta é SIM. A sociedade é responsável por tudo isso
e, tendo essa consciência, ele foi capaz de delimitar o objeto de estudo da Sociologia,
chamando-o de FATO SOCIAL.
Na definição do próprio Durkheim, em sua obra As regras do método sociológico
(2004), ele afirma que o fato social pode ser compreendido como
Toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão da sociedade dada,
apresentando uma existência própria, independente das manifestações indi-
viduais que possa ter, “as maneiras de agir, de pensar e de sentir exterior ao
indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude da qual se impõem”,
ou ainda “maneira de fazer ou de pensar, reconhecíveis pela particularidade
de serem suscetíveis de exercer influência coercitiva sobre as consciências
particulares (DURKHEIM, 2004, p. 39).
Embora pareça muito confuso, a definição é que fato social é tudo aquilo que são
as ações, os comportamentos que são impostos de maneira coercitiva, é exterior à gente,
ou seja, foi definido fora e independente da nossa vontade e que pode ser notado em outras
sociedades, ocorrendo de maneira generalizante.
Segundo Durkheim, o fato social deve ser pensado como uma “COISA”, cabendo
ao cientista, sem paixão nenhuma e nenhum juízo de valor, entendê-lo de maneira objetiva,
descritiva, comparativa para que não exista dúvida sobre as suas afirmações. Assim, para
Durkheim, o cientista deve ser neutro em sua pesquisa, sendo capaz de fazer uma aprecia-
ção fiel e imparcial do fato social a ser investigado.
Para ser fato social é necessário identificarmos três particularidades, ele deve ser
coercitivo, exterior e generalizante (QUINTANEIRO, 2009):
COERÇÃO SOCIAL – o indivíduo age independente da sua vontade. Existem dois
tipos de forças coercitivas, representadas por Sanções. São elas as Sanções Legais e as
Sanções Espontâneas. Entende-se por Sanções Legais – aquelas que são determinadas
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por meio das leis, tornando-as inquestionáveis. Por exemplo, as leis de trânsito, ao colocar
o cinto de segurança você cumpre uma sanção legal, já parou para pensar se não houvesse
multa por não o usar se você colocaria o cinto? Caracteriza-se por Sanções Espontâneas
aquelas que são consideradas adequadas ou inadequadas por um grupo, pela sociedade.
Ações que não estão instituídas como leis, mas que na prática cotidiana recebem o mes-
mo valor que uma lei prescrita. Um exemplo, ao atravessar uma rua movimentada, você
percebe que ao seu lado existe um indivíduo com inúmeras sacolas, você é obrigado a
ajudar essa pessoa? Mesmo que não seja, ela te lançará um olhar de reprovação caso não
ofereça ajuda, correto?
Assim, esses tipos de sanções revelam como as nossas ações, muitas vezes,
podem ser determinadas pela sociedade.
GENERALIDADE – Por fim, Durkheim irá afirmar que todo fato social, além de ser
coercitivo e exterior, também será generalizante, ou seja, geral por se repetir na maioria dos
indivíduos e ocorrer em diferentes sociedades. Por exemplo, o crime é um fato social, ele
acontece de maneira coercitiva, exterior e geral, em qualquer meio social ele acontece, não
importa se for com grupos ricos ou pobres, o crime faz parte da sociedade. Outro exemplo
pode ser o casamento, ele ocorre também em várias sociedades, embora sejam diferentes,
o ato de casar é o mesmo.
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Ao compreendermos o que é fato social, é importante dizer que, para Durkheim,
a sociedade deve ser entendida em seu TODO. Para ele, o que é objeto de estudo não
são as partes, os fragmentos e fenômenos sociais separados, mas sim tudo que forma a
Consciência Coletiva.
Para Durkheim, a sociedade além de ser entendida como uma coisa é pensada
também como um Organismo Vivo e, para que toda a engrenagem social possa funcionar,
é que ele desenvolveu o conceito de Solidariedade, que significa a capacidade da criação
de laços entre os indivíduos em diferentes sociedades. O autor entendia a Solidariedade de
duas maneiras: Mecânica e Orgânica (QUINTANEIRO, 2009).
Solidariedade Mecânica representa aquele tipo de sociedade em que o indivíduo
se liga diretamente sem intermediário, ou seja, em que suas funções já estão definidas
e pré-estabelecidas de maneiras simples. Além dessa definição, todos os membros des-
sa sociedade partilham das mesmas crenças e normas existentes sem questionamento,
agindo de maneira mecânica e coletiva. Nesse tipo de solidariedade os indivíduos não se
diferenciam, as formas de pensar e agir são semelhantes. Também não existe uma diferen-
ciação de bens, a educação é realizada por todos, gerando uma consciência comum. Elas
podem ser compreendidas por meio das chamadas sociedades pré-capitalistas, simples ou
não-organizadas – as sociedades indígenas ou tribais.
Solidariedade Orgânica é a marca fundamental da sociedade moderna ou Capi-
talista e isso devido ao fato de que nela nos tornamos cada vez mais individuais, especia-
lizados e isolados. Ao nos diferenciarmos geramos uma divisão social do trabalho, o que
não existia na sociedade primitiva ou que possui uma solidariedade mecânica. Será essa
acentuada divisão que formará a solidariedade orgânica. Podemos, então, compreender
mais claramente como Durkheim afirma que a sociedade era um organismo vivo. É cres-
cente a individualização daqueles que fazem parte da sociedade. Cada indivíduo passará
a exercer um tipo de função, que, embora seja sua, funcionará como uma das peças que
formam o todo social.
Parece um pouco confuso? Bom, o fato é que agora os indivíduos se tornaram
ainda mais interdependentes dos outros, ao ponto de formar uma unidade. O trabalhador
passa a conhecer apenas um fragmento do produto produzido, muitas vezes não sabe
como se inicia e nem muito mesmo como termina. Ele se torna apenas mais uma peça
entre tantas. Seu trabalho passa a ser assalariado, sua produção depende do outro e da
máquina. O trabalhador passa a ser dependente de seu patrão.
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Por fim, é muito pertinente entender a discussão que Émile Durkheim realizou sobre
a questão do Suicídio. Em geral, somos ensinados a acreditar que o ato suicida pode ser
classificado como covardia ou coragem. Porém, para esse pensador, o suicídio é um fato
social e precisa ser debatido na sociedade. Ele classificou três tipos de Suicídio:
Suicídio Egoísta – Aquele provocado por um sentimento de desamparo social,
que tem como “sintomas” a melancolia e a depressão. Dessa forma, Durkheim acreditava
que cada um de nós tende a reagir de um jeito à “solidão”, dependendo da função social
que exerce.
Suicídio Altruísta – Praticado por indivíduos que acreditam ser responsáveis pela
continuação de uma sociedade equilibrada ou por pessoas doentes, muito velhas, por fiéis
e aqueles que possuem algum tipo de ideologia política ou religiosa. Ex.: Kamikazes e
Homens-bombas.
Suicídio Anômico – Segundo Durkheim, esse tipo de suicídio está intimamente
relacionado ao desenvolvimento da sociedade moderna. Trata-se de um estágio de des-
regramento social, em que as normas estão ausentes e perderam o sentido. Os atos são
praticados de maneira individual, não respeitando o que a sociedade defende como certo
ou errado.
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3. MAX WEBER: AÇÃO SOCIAL, PODER E DOMINAÇÃO
Para Weber, o indivíduo é responsável por suas escolhas e decisões. Ele tem a
capacidade de decidir e de influenciar a sociedade. Dessa forma, a ação social e a relação
social são conceitos fundamentais de sua teoria.
Entende-se por ação social toda conduta humana que possui, ou seja, é dotada
de um significado para aquele que a orienta e a realiza. Essa ação se transforma em ação
social quando a orientação dada reflete em outros indivíduos ou agentes. Compreender
essa ação social, interpretando e buscando explicar suas causalidades é para Weber o
papel fundamental da sociologia.
Cabe a sociologia entender o sentido dessa ação e o efeito causado por ela em
outros indivíduos, assim, a ação compreensiva é aquela ação com sentido que tem alguma
razão para acontecer.
Você já parou para pensar como a sua conduta humana é dotada de sentidos?
Será que você faz algo simplesmente por que tem a obrigação de fazer ou porque há algum
significado? Por exemplo, ao estudar essa unidade ela tem que sentido para você? Será a
busca por um diploma de Ensino Superior? Será apenas uma continuação dos seus estudos?
Alguma razão, de fato, deve ter para que você esteja neste momento lendo esse material.
Segundo Weber, quanto menor for a influência que o indivíduo sofre de sua cultura,
costumes ou afetos mais racional será a sua ação, podendo, assim, ser compreendida pela
sociologia, que a partir da construção de modelos ou tipos explicativos abstratos busca
desenvolver um método que possa explicar a ação do indivíduo (QUINTANEIRO, 2009).
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Com objetivo de compreender as ações humanas, o autor construiu quatro tipos
puros de ação: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores,
a ação tradicional e a ação afetiva.
● Ação racional com relação a fins – esse tipo de ação tem por propósito atingir
um fim, conquistar uma meta traçada, conseguir uma recompensa de todo es-
forço exercido, a busca de êxito.
● Ação racional com relação a valores – orientada pelos princípios e convicções
próprias do agente que tem por finalidade manter os valores que o conduzem,
legitimando sua ação. A ideia é que esse agente cumpra um dever, mantenha
suas verdades e aja para que nada seja questionado. Assim, ele manterá sua
honra, honestidade e dignidade.
As duas ações citadas até o momento foram descritas como aquelas em que a
racionalidade faz parte das decisões. Porém, as condutas humanas não são apenas racio-
nais e, assim, Weber construiu mais dois tipos de ações:
● Ação Tradicional – Esse tipo de ação é definido pelos hábitos e costumes que
por serem repetitivos passam a ser vistos como “naturais”. Diariamente, reali-
zamos esse tipo de ação. Por exemplo, existem famílias que ensinam aos seus
filhos a pedir a “benção” aos mais velhos, tios, avós, padrinhos. Essa conduta
é tradicional, pode ou não ser executada dependendo da educação e do meio
em que você vive. Assim, também é o ato de cumprimentar alguém, falar “bom
dia”/“boa tarde” é uma ação, muitas vezes, automática, mais do que desejos
sinceros e tendo consciência do que esse cumprimento realmente significa.
● Ação Afetiva – Quando uma ação é realizada por questões emocionais ime-
diatas baseada no ciúme, raiva, vingança, orgulho, amor, coragem, desejo,
compaixão, medo etc. Não se espera desse tipo de ação uma racionalidade
que determine seu fim ou valores. É uma conduta imediata e passageira depen-
dendo de inúmeros fatores. Esse tipo de ação pode ter várias consequências,
sendo os resultados os mais diversos e muitas vezes não pretendidos, por isso
ela não é racional.
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Durkheim, Max Weber e Karl Marx 32
Quando, ao agir, cada um de dois ou mais indivíduos orienta sua conduta
levando em conta a probabilidade de que o outro ou os outros agirão social-
mente de um modo que corresponde às expectativas do primeiro agente,
estamos diante de uma relação social. [...] O que caracteriza a relação social
é o sentido das ações sociais a ela associadas pode ser (mais ou menos
claramente) compreendido pelos diversos agentes de uma sociedade (QUIN-
TANEIRO, 2009, p.118).
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Dominação Tradicional – Marcado pela repetição, pelo costume e pelo hábito.
Esse tipo de dominação ocorre mediante ao dominante inquestionável. Por exemplo, a
família real, a ação de pai e mãe sobre seus filhos, algo em que o dominante se mantém
pela tradição.
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4. KARL MARX E O DESENVOLVIMENTO DE UMA SOCIOLOGIA CRÍTICA
Para Karl Marx, o grande desafio de pensar a sociedade é fazer do uso da razão
não apenas como um instrumento de compreensão da realidade, mas como uma ferramen-
ta capaz de possibilitar uma mudança social, que faça com que cada um de nós sejamos
“cutucados”/provocados por uma realidade existente e impulsionados a transformá-la.
Bem, baseado na observação e compreensão da sua própria sociedade, também
mediante aos saberes já desenvolvidos nas áreas filosófica, política e científica é que Karl
Marx desenvolve seu pensamento.
Inspirado pela filosofia Hegeliana, Karl Marx absorveu de forma diferente a percep-
ção histórica, deste modo, não a via como um movimento linear capaz de evidenciar uma
evolução na sociedade e nem como resultado de uma ação oferecida de grandes homens
e suas motivações individuais.
Já que Hegel entendia a história como um processo constituído por inúmeros fa-
tores, tais como: economia, religião, política e que suas dinâmicas históricas poderiam ser
entendidas por posição de forças antagônicas – tese e antítese. Marx buscou nessa teoria
também entender a sociedade.
Mas, afinal, o que seriam essas forças antagônicas, tese e antítese? Para He-
gel, isso significava que tudo deveria ser analisado por dois lados, a ideia do quente, por
exemplo, só existe por termos o seu contraponto que é o frio, certo? Assim, também ao
compreender a história, a guerra está em contraponto à paz, como a noção de belo em
relação ao que se vê como feio.
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Enfim, será nessa contraposição que Karl Marx utilizará o método Dialético de He-
gel, para, deste modo, pensar a sociedade capitalista emergente na Alemanha do século
XVIII e XIX.
Ao utilizar o método dialético, Marx notou que os agentes sociais, embora cons-
cientes de suas ações, não poderiam ser os únicos responsáveis pela dinâmica dos
acontecimentos sociais. Para ele, existem outras forças que se opõem a simples ação ou
motivação individual.
Na teoria marxista, o homem é um ser transitório, que se supera o tempo todo e que
está inserido em um meio que é dinâmico e mutável.
Dessa forma, o homem precisa compreender seu meio e ser responsável por ele.
Nesse momento, Marx se distancia de Hegel, visto que, para ele, não bastava apenas
entender a oposição, a dialética existente na história, era necessário também que o homem
fosse capaz de agir sobre ela, transformando-a (QUINTANEIRO, 2009).
Para Marx, é fundamental capacitar o homem para o desenvolvimento de sua cons-
ciência crítica. Ao se tornar consciente de suas ações e também do meio em que vive, ele
seria capaz de sair da alienação. Mas o que seria alienação?
Bom, ao separarmos a palavra em Alien e Ação, temos a definição “fora da ação”,
ou seja, alienado seria aquele agente social que, ao desenvolver o seu trabalho, acaba
não usufruindo do produto que ele mesmo realiza, ou seja, podemos entender como o
homem ou a mulher que produzem um automóvel, porém, ao terminar o seu expediente,
vão para casa a pé, de ônibus ou bicicleta. Dessa forma, embora façam vários veículos,
carros por dia, eles não conseguem utilizar para si mesmos nenhum daqueles automóveis
que montaram (QUINTANEIRO, 2009).
Segundo Marx, não conseguir fazer o uso daquilo que produzimos é uma forma de
estar alienado de todo o processo produtivo e perceber que apenas algumas pessoas irão
conseguir usar o que foi feito.
Essa realidade permite que possamos pensar de que maneira o que fazemos em
nossos empregos cotidianamente faz ou não parte da nossa realidade e como aquilo que
desenvolvemos está presente e sendo usufruído por nós.
Karl Marx compreendeu que o método dialético apenas seria o start da sua teoria.
Ele acreditava que compreender a história era entender o ponto de partida para tudo que
acontecia na sociedade. Essa história não deveria ser entendida, como desejava Hegel,
apenas como uma interpretação da realidade atual e das anteriores, mas sim como a pos-
sibilidade de refletir a existência humana e seus desafios.
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A esse método de investigação da vida social, Karl Marx deu o nome de Materialis-
mo Histórico que se caracteriza pelo movimento do pensamento por meio da materialidade
histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento
do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens duran-
te a história (COSTA, 2005).
Segundo esse método, as relações materiais que os homens estabelecem determi-
nam a maneira como eles conduzem a sua vida, ou seja, aquilo que eles são condiz com a
sua condição material de produção.
Assim, para Karl Marx é possível compreender uma sociedade a partir da reflexão,
da forma como os homens se organizavam para a produção social de bens posto em dois
fatores essenciais: as forças produtivas e as relações de produção.
Embora interdependentes, podemos entender esses dois fatores de maneiras
separadas. Dessa forma, as forças produtivas podem ser compreendidas como as condi-
ções materiais de toda a produção, na qual se coloca o homem como principal elo entre a
natureza e a técnica/instrumento de sua transformação.
Este modelo será o desenvolvimento das forças produtivas que irão determinar o
uso de determinadas matérias-primas e tecnologias, unindo a natureza e a produção. Já as
relações de produção se dão por meio de como o homem opera a máquina e transforma
essas matérias-primas, em geral, ela se realiza por meio dos trabalhadores braçais (QUIN-
TANEIRO, 2009).
Assim, ocorre a divisão social do trabalho, a separação entre, por exemplo, o traba-
lho intelectual e o braçal, essa divisão não permanece apenas dentro das fábricas, mas se
espalha por toda sociedade.
Enfim, Marx acredita que identificar com as forças produtivas e as relações de
produção postas em cada sociedade tende a revelar a própria maneira como as classes
sociais se dividem e todos os aspectos de uma determinada sociedade. Para ele, esses
fatores determinam como o homem se vê e se movimenta em sociedade.
Para esse pensador, a exploração se acentua mais no capitalismo. Os homens foram
transformados em mercadorias, possuindo um valor de uso e um valor de troca. Você já parou
para pensar que trabalha em função de um salário? Ele é justo com a sua mão de obra?
Todas as vezes que você vai trabalhar, você está vendendo a execução do serviço/
produto, contudo, este será trocado por um determinado valor. Os professores, muitas vezes,
são questionados: “vocês só ‘dão’ aula ou trabalham?”. Você já ouviu essa expressão? Pois
bem, o que fazemos é vender conhecimento, assim, então, não “damos” aulas, mas vende-
mos nossa força de trabalho que se traduz em nossos anos de estudos e aprendizados.
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Tendo esse tipo de compreensão, Marx acreditava que se fôssemos capazes de
compreender o quanto custava nosso trabalho, a partir daí, nos tornamos críticos em rela-
ção à exploração advinda do capitalismo e adquirimos consciência para lutar pelos nossos
direitos, provocando uma revolução (QUINTANEIRO, 2009).
No caso da sociedade capitalista, a consciência de classe gera a formação de as-
sociações políticas, sindicatos, partidos, associações de bairro entre outros grupos. Todos
partilham de um mesmo objetivo, fazer com que a união de uma classe oprimida possa
defender seus interesses e combater seus opressores.
Pensando nessa possibilidade de uma união entre os proletários contra o domínio
e a exploração da burguesia, Marx e Engels resolveram escrever um Manifesto que, a
princípio, tinha como objetivo apenas apresentar um programa teórico e prático para que
todos pudessem conhecer a Liga dos Comunistas.
Entretanto, em meados de 1850, o Manifesto já tinha inúmeras versões traduzidas
e espalhadas pelo mundo inteiro. Assim, nasceu um pequeno livreto intitulado: “Manifesto
Comunista do Partido Comunista”.
Riquíssimo em suas páginas, o Manifesto do Partido Comunista (2008) cumpre a
proposta de ser uma leitura rápida e de fácil entendimento, além de salientar que a realidade
operária e burguesa descrita ali estava inserida em um contexto histórico social específico.
Lido até hoje, esse manifesto desperta muita curiosidade, assim como uma grande
admiração dos leitores. Embora seja datado de 1847, ainda hoje é apresentado sem modi-
ficações, como propuseram seus autores.
A ideia central do livro, compartilhado ainda atualmente, é o poder de mudança.
Isso aconteceria a partir do momento em que os operários entendessem sua força median-
te a exploração do capitalista. Portanto, seria o poder do operariado que possibilitaria uma
mudança radical na sociedade capitalista.
Entretanto, Marx e Engels (2008) salientaram que essa tomada de poder deveria
se realizar de forma muito consciente e concisa, para que, ao chegar ao poder, a classe
proletária soubesse exatamente o que era necessário fazer para tamanha mudança.
Dessa forma, a revolução deveria modificar todos os aspectos que formam a
sociedade como política, economia, cultura e história. Para isso, o autor refletiu sobre a
existência de uma sociedade de cunho comunista.
O comunismo pretendia submeter os homens a um poder criado pela associação
dos indivíduos em que o trabalho desenvolvido era interessante para toda sociedade. Assim,
seria possível extinguir a contradição existente entre o indivíduo privado e o ser coletivo.
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Como defendia Marx, a sociedade comunista seria a “reconstrução consciente
da sociedade humana”. Para que essa reconstrução pudesse, de fato, acontecer, Marx e
Engels viram na união do proletariado toda grande revolução da humanidade (QUINTANEI-
RO, 2009). Neste sentido, o Manifesto do Partido Comunista termina com a seguinte frase:
“Proletariado do Mundo todo, Uni-vos” (MARX; ENGELS, 2008, p. 66).
Desta maneira, quando você ouvir a palavra comunismo, não tenha medo! Nos
termos marxistas, essa forma de organização política e social nunca existiu em sua inte-
gralidade, pois os governos que se taxaram como comunista, na verdade, nunca deram a
liberdade total à população, mas sim tornaram-se pequenas ditaduras.
SAIBA MAIS
Você já deve ter compreendido que o “Mundo da Sociologia” é rico nas mais varia-
das discussões. Ficou curioso(a) para saber mais? Bom, você pode acessar algumas
publicações on-line que ajudam a pensar sociologicamente os mais diferentes temas,
problemáticas sociais e o cotidiano. Nossa indicação é a Revista Café com Sociologia,
disponível em:
https://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/issue/view/28.
SAIBA MAIS
https://filosofia.com.br/curiosidade_lista.php?categoria=Marx
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REFLITA
“A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozinhada, comida com faca e
garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas,
dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do consumo, mas
também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo,
a produção cria o consumidor”
REFLITA
“Moral (...) é tudo que é fonte de solidariedade, tudo o que força o individuo a contar com
su próximo, a regular seus movimentos como base em outra coisa que não os impulsos
de seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosos e fortes são
estes laços”
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Você deve ter percebido que os pensadores clássicos têm suas especificidades que
nos permite entender o quão rica é a Sociologia como ciência. Pois bem, a compreensão de
que interpretar a sociedade não é uma tarefa fácil, mas sim possível, nos ajuda a entender que
vivência nela não é algo natural ou normal e por isso necessita de muita observação e análise.
Cada pensador trouxe uma maneira de perceber a sociedade e o indivíduo. Assim,
para Durkheim, é a sociedade que modela a maneira de ação das pessoas que estão
preestabelecidas exterior a elas as forçam a viver de uma maneira determinada pelo cole-
tivo. Por exemplo, a questão do suicídio, analisada pelo autor, nos mostrou o quanto essa
atitude não pode ser considerada apenas algo psíquico, mas também como resultado da
coerção social provocada pela sociedade.
Já para Max Weber, o sujeito social é responsável, por meio de suas ações, pela
construção da sociedade. Por isso, se faz necessário, segundo ele, compreender o que
ocorre socialmente através de uma perspectiva histórica e do pensamento racional que
são capazes de nos auxiliar a entender as ações e relações humanas a partir de seus
próprios interesses.
Por fim, você entrou em contato com a teoria de Karl Marx e todo o debate sobre
a luta de classes, a desigualdade social e o trabalho como mola propulsora da sociedade.
Será à compreensão crítica da força do trabalho e suas relações que Marx irá se dedicar,
como uma maneira de conscientizar os trabalhadores a lutar pelos seus direitos. Nessa
perspectiva, os homens e mulheres são vistos como seres transitórios capazes de entender
e transformar a sua realidade.
Esperamos que você tenha entendido que a Sociologia é muito mais que um olhar
opinativo e de achismos sobre a sociedade, mas sim que ela é uma ciência que utiliza
de métodos e ferramentas concretas do pensamento para desenvolver as mais diversas
formas de interpretar a vida dos sujeitos e dos grupos sociais.
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LEITURA COMPLEMENTAR
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UNIDADE III
Sociologia Contemporânea: Zygmunt
Bauman e Pierre Bourdieu
Professora Ma. Renata Oliveira dos Santos
Plano de Estudo:
● Zygmunt Bauman: Modernidade Líquida
● Vida para Consumo: A Sociedade de Consumidores
● Pierre Bourdieu: Conceitos de Habitus e Campos
● A Distinção do gosto: Capital Social, Cultural, Simbólico e Econômico
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceitualizar e definir o que é Modernidade Líquida e
Sociedade de Consumo segundo Bauman;
● Compreender os conceitos de Habitus e Campos segundo Pierre Bourdieu;
● Refletir a sociedade atual por meio dos teóricos Zygmunt Bauman e
Pierre Bourdieu e o uso das teorias clássicas;
● Entender a sociedade contemporânea por meio de questões de consumo
e dos capitais: social, cultural, econômico e simbólico.
43
INTRODUÇÃO
Bons Estudos!
Será que você tem a sensação de que, na atualidade, nossas relações sociais
estão cada vez mais rápidas? Parece que com a globalização e a chegada das tecnologias
digitais tudo se tornou mais veloz e a capacidade de se diluir no ar é também mais fácil.
Hoje não permanecemos mais no mesmo emprego por muito tempo, não estabelecemos
laços mais duradouros e temos a sensação de que tudo pode acabar rapidamente.
A ideia de viver o hoje como se não houvesse o amanhã nos parece muito mais
significativa do que viver da maneira como nossos pais e avós viveram em meio a planeja-
mentos a longo prazo e uma vida toda organizada em começo, meio e fim.
Para Bauman (2001), é possível encarar a sociedade hoje utilizando a noção da
ideia de fluidez como metáfora. Para o autor, é através de vivenciar um estado fluído que
estamos desenvolvendo a sociedade moderna pautada na flexibilidade e mobilidade que
faz do tempo um aliado para que várias coisas possam acontecer. Assim, somos uma so-
ciedade sem uma forma imutável e estamos em constantes transformações.
Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “res-
pingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”, “pingam”, são “filtra-
dos”, “destilados”, diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos
- contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu
caminho. Do encontro com os sólidos emergem intactos, enquanto os sólidos
que encontraram, se permanecem sólidos, são alterados - ficam molhados
ou encharcados. A extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os associa à
ideia de “leveza” (BAUMAN, 2001, p. 08-09).
É fato que muitas coisas estão se transformando, assim até mesmo a ideia de
educação e da aquisição de saber apenas presencial tem se modificado. Será que se não
houvesse a formação por meio da modalidade de educação a distância você estaria, hoje,
fazendo sua graduação? Pois é, a ideia sólida que somente em uma sala que se promove
o ensino e o aprendizado também cai por terra neste espírito da modernidade líquida.
Outro exemplo pode ser dado por meio da ideia de família. Afinal, o que constitui
uma família? Pensar apenas que se trata de um casal heteronormativo e filhos é um pen-
samento sólido, pois sabemos que hoje existem inúmeros arranjos familiares e nenhum
pode ser considerado melhor ou pior que o outro. Admitir e lutar para que todos os tipos de
família tenham seus direitos garantidos e respeitar as diferenças é uma maneira de ver a
sociedade de forma fluida.
Por fim, o conceito de Modernidade Líquida nos mostra como estamos nos re-
lacionando e também o que nos é mais valioso na forma de um ser inacabado. Bauman
ainda discutiu sobre nosso papel como consumidores no que ele chamou de Sociedade de
consumo. É isso que veremos a seguir.
Você se considera uma pessoa consumista? Já parou para pensar se o que você
consome é por necessidade mesmo? Nós vivemos em um sistema econômico, social,
político, histórico e cultural chamado de Capitalismo. Neste sentido, nossas vidas são
controladas por aquilo que consumimos. E consumir não se resume apenas a adquirir algo,
mas sim o que isso irá representar dentro da sociedade. Por isso, é importante refletir sobre
a nossa sociedade, que, nas últimas décadas, tem promovido mais o TER do que o SER.
Vou mudar a pergunta inicial: você é feliz? Como traduziria essa felicidade? Se, ao
pensar sobre essas questões, você a justificou pensando naquilo que tens, dificilmente sua
resposta está ligada ao que você é.
Parece confuso? Mas Bauman (2008), em seu livro Vida para consumo: a transfor-
mação das pessoas em mercadoria, irá nos ajudar a refletir quanto o consumo é uma das
características marcantes da Modernidade Líquida.
Segundo Quintaneiro (2009), Marx, ao escrever seu livro O capital (2011), defendeu
que no sistema capitalista o homem, assim como todas as coisas a serem consumidas, se
tornava uma Mercadoria. Isso significa que nós temos um valor de uso e um valor de troca
na sociedade devido ao fato de vendermos nossa força de trabalho. Por exemplo, eu sou
professora, quando escrevo um material didático estou vendendo meu conhecimento por
um determinado valor, assim me torno uma mercadoria e tenho um valor de uso, ou seja,
o próprio material e um valor de troca, afinal meu trabalho pode ser trocado por um valor
monetário e, caso eu não o faça corretamente, pode ser trocado por outra pessoa.
Além disso, nossas próprias relações vão ser determinadas por interações hu-
manas de uma Sociedade de Consumidores. O que isso significa? Que a maneira como
nos relacionamos está mediada pelo que, como, quando e onde consumimos um produto.
Assim, tudo passa a ser uma relação entre consumidor e o produto que podem ser conside-
rados “patetas e idiotas” ou “heróis da modernidade” (BAUMAN, 2008, p. 19). Os primeiros
são aqueles enganados por falsas promessas, atraídos, seduzidos e manipulados para
consumir sem, de fato, saber utilizar ou usufruir de todos os benefícios de um produto. Já os
Assim, quanto mais se consome, mais visível a pessoa tende a se tornar, por isso
as redes sociais tendem a elevar o sujeito social a uma mercadoria a ser seguida, vista,
vendida e comprada.
Busca-se, dessa maneira, tornar uma mercadoria notável, cobiçada, comentada e,
se isso ocorre, permite um destaque entre tantos produtos e consumidores. Sabe aqueles
15 minutos de fama tão sonhados por algumas pessoas? Pois bem, seria essa materializa-
ção de uma mercadoria aprovada e desejada por todos.
Essa maneira de entender a sociedade como um grande catálogo de pessoas
que precisam estar de acordo com o mercado penetra até em nossos relacionamentos
amorosos. Por exemplo, Bauman (2008) faz uma reflexão sobre o uso de aplicativos para
o encontro de uma parceira ou parceiro ideal. Para o autor é como se as pessoas já não
quisessem mais procurar de forma tradicional e escolhendo, como se escolhe um produto,
seria mais fácil não sofrer tantos danos. Isso seria possível? “Um encontro face a face
exige o tipo de habilidade social que pode inexistir ou se mostrar inadequado em certas
pessoas, e um diálogo sempre significa se expor ao desconhecido: é como se tornar refém
do destino” (BAUMAN, 2008, p. 27).
Poderíamos então através de uma Sociedade de consumidores comprarmos tudo?
O amor, podemos dizer, abstém-se de prometer uma passagem fácil para fe-
licidade e a significação. Uma “relação pura” inspirada por práticas consumis-
tas promete que essa passagem será fácil e livre de problemas, enquanto faz
a felicidade e o propósito reféns do destino - é mais como ganhar na loteria
do que ato de criação e esforço (BAUMAN, 2008, p. 33).
Você ficou assustado com essas reflexões de Bauman? Pois bem, como temos
aprendido desde o início com essa disciplina, não existe uma única maneira de interpretar a
sociedade. Por isso, o mais bacana da sociologia é justamente compreender os diferentes
vieses de pensamentos e ver como cada autor vai encarando a difícil tarefa de compreender
as relações humanas. Não julgando as certas ou erradas, mas apenas como um reflexo de
um determinado contexto e tempo.
Então vamos finalizar essa unidade com mais um autor da contemporaneidade?
Isso, grosso modo, tem como significado que o conceito de habitus pode ser enten-
dido como social e individual. Pois se refere a um grupo ou a uma classe, como também a
indivíduo diante de um processo de interiorização dos saberes, comportamentos e ações
que só pode se realizar por meio de uma internalização objetiva dessas práticas que se faz
tanto da forma subjetiva como também das necessidades sociais.
Assim sendo, a maneira como atuamos e pertencemos à sociedade não tem nada
de natural ou normal. Por meio das instituições sociais, como família e escola, somos di-
recionados à maneira de estar em sociedade, isso lembra o funcionalismo de Durkheim.
Entretanto, aqui, a maneira como entendemos essas estruturas é que faz toda a diferença,
pois somos atuantes nela.
Para Ortiz (1994, p. 61), Bourdieu definiu o conceito de habitus da seguinte maneira:
[...] sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas
a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e
estruturador das práticas e das representações que podem ser objetiva-
mente ‘reguladas’ e ‘regulares’ sem ser o produto da obediência a regras,
objetivamente adaptadas a seu fim sem supor a intenção consciente dos
fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingi-los e
coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de
um regente.
A análise social proposta por Pierre Bourdieu perpassa pelo conceito de capital,
entretanto, esse autor não o relaciona apenas com a ideia econômica. Para ele, além da
economia, os capitais – cultural, social e simbólico – também podem nos auxiliar a com-
preender a sociedade. Assim, não é apenas o quanto temos no bolso que nos permite ser
quem somos socialmente, mas todo um aparato de aspectos que vão nos definindo pelo e
no meio em que estamos inseridos.
Talvez você esteja confuso(a) com a possibilidade de pensar a ideia de capital para
além daquilo que entendemos como um bem econômico e, por isso, vamos compreender
os quatros conceitos.
● Capital Econômico: é um conjunto de bens (dinheiro, patrimônio e material)
que pode ser acumulado, reproduzido e ampliado por meio de investimentos e
de relações sociais que podem gerar vínculos de interesses para sua manuten-
ção. Além disso, ele determina e reproduz as posições sociais.
● Capital Social: pode ser entendido pela expressão que usamos no cotidiano de
“Q.I.” que nada tem como quociente de inteligência, mas sim como “quem indica”,
ou seja, possuir este tipo de capital significa saber quem você conhece e quais
relações sociais estabelece com as pessoas em prol de seu próprio benefício.
Destaca-se nesta concepção três aspectos identificados como: os elementos
constitutivos; os benefícios obtidos pelos indivíduos mediante sua participação
em grupos ou redes sociais e as formas de reprodução desse tipo de capital.
Para Bourdieu (2015), a ideia do que gostamos e como usufruímos disso não é algo
natural ou normal. Segundo esse sociólogo, os bens culturais que possuímos estão dentro
de uma lógica social e sua necessidade pode ser considerada um produto da maneira como
fomos educados. Por exemplo, você tem a prática de ir a museus? Ler livros variados de
literatura? De apreciar ópera ou um balé?
Tudo isso só é possível quando somos estimulados ou já nascemos pertencentes
a uma ordem social que considerada determinante para sua permanência naquele meio:
“O olho é um produto da história reproduzido pela educação” (BOURDIEU, 2015, p. 10).
Por isso, é importante entender como os nossos olhares e a maneira como enxergamos a
sociedade tem se construído.
Neste sentido, quanto mais capital cultural possuímos mais podemos transitar em
meios sociais diferenciados, em que esses valores são considerados determinantes para
a nossa permanência nele ou não. Você sabia que o fato de estar estudando já é uma
SAIBA MAIS
Será que você ficou curioso(a) em saber um pouco mais como Zygmunt Bauman refletiu
sobre o Amor na sociedade de consumidores e líquida? Bom, te convido a ler esse artigo
e pensar sobre como, na atualidade, estamos construindo nossas relações humanas,
amorosas e sociais.
ANGELO, T. P. Zygmunt Bauman, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Revista Mundo
Livre, Campos dos Goytacazes, v. 4, n. 1, p. 103-107, jan./jul. 2018. Disponível em: https://periodicos.uff.
br/mundolivre/article/view/39961/23035.
Entre inúmeros estudos, Pierre Bourdieu também desenvolveu reflexões sobre a edu-
cação. Alguns pensadores brasileiros têm utilizado suas teorias para compreender a
desigualdade educacional em nosso país. Para saber mais sobre esse assunto convido
você a ler o texto:
home/bourdieu-e-a-educacao/.
REFLITA
“[...] a frequência dos museus e o nível de competência em pinturas, são outros traços
que têm todos uma forte correlação entre si, obedecem à mesma lógica e estão asso-
ciados, estritamente, ao capital escolar, hierarquizam brutalmente as diferentes classes
e frações de classe…”
REFLITA
“As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas
e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para
defender as primeiras em relação às últimas”
Nesta unidade, a ideia principal foi apresentar a você dois importantes pensado-
res sociais da contemporaneidade. Nossa caminhada de aprendizado se iniciou com o
conhecimento da própria ciência chamada de Sociologia, depois de seus atores clássicos
e culminou numa discussão de assuntos muito pertinentes ao contexto em que estamos
inseridos e vivenciando.
Tanto Zygmunt Bauman quanto Pierre Bourdieu não negam a presença e a
influência dos escritos teóricos de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, mas sim
contribuem para que seus conceitos possam ser refletidos à luz do século XX e continue
a reverberar no século XXI.
Muitas vezes, de tanto serem reproduzidos, alguns conceitos tornam-se bastante
conhecidos, como é o caso da Modernidade Líquida. Entretanto, é importante transformar
informação em conhecimento, com isso quanto mais você se inteirar das teorias em sua
gênese, mais será possível compreender a interpretação genuína do autor e não apenas
uma interpretação.
A ideia de uma sociedade cada vez mais fluída e rápida fez com que Bauman
refletisse sobre as ações humanas. A ideia de consumo e de Identidade faz parte de um
leque de estudos que o autor dirigiu à sociedade durante toda a sua carreira. Saberes
construídos não como verdades absolutas, mas mutáveis e atentos aos contextos sociais,
históricos, políticos, culturais e econômicos que são pensados.
Na atualidade, entender a sociedade de consumo e como ela tem desenvolvido
as relações entre as pessoas nos tende a mostrar o quanto estamos vivenciando mais o
ter do que o ser e isso é preocupante quando deixamos de aceitar o outro assim como ele
deseja ser. Por isso, a noção de “quem eu sou” nunca foi tão importante numa sociedade
em que a identidade deve ser entendida como fluída, deslocada e fragmentada. O respei-
to ao outro é de suma importância.
Já Pierre Bourdieu nos ajuda a pensar como fazemos nossas escolhas em uma
sociedade que tende a formar nossos habitus a partir de disposições duráveis de ma-
neira objetiva e de estruturas sociais formadas também pela subjetividade humana. É
importante entender como a educação familiar e escolar tende a modelar nossas ações,
assim como perceber que tudo isso faz parte de um jogo de interesses dentro de campos
determinados para nossa existência.
LIVRO
Título: Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: A modernidade líquida, “um mundo repleto de sinais
confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível”
em que vivemos, traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços
humanos, um amor líquido. A prioridade a relacionamentos em
redes, as quais podem ser tecidas ou desmanchadas com igual fa-
cilidade – e frequentemente sem que isso envolva nenhum contato
além do virtual –, faz com que não saibamos mais manter laços a
longo prazo. Mais que uma mera e triste constatação, esse livro é
um alerta: não apenas as relações amorosas e os vínculos fami-
liares são afetados, mas também a nossa capacidade de tratar um
estranho com humanidade é prejudicada. Como exemplo, o autor
examina a crise na atual política imigratória de diversos países
da União Europeia e a forma como a sociedade tende a creditar
seus medos, sempre crescentes, a estrangeiros e refugiados. Com
sua usual percepção fina e apurada, Bauman busca esclarecer,
registrar e apreender de que forma o homem sem vínculos – figura
central dos tempos modernos – se conecta.
FILME/VÍDEO
Título: A vida em si
Ano: 2018
Sinopse: O relacionamento amoroso vivido por um casal (Oscar
Isaac e Olivia Wilde), é contado através de diferentes décadas
e continentes, desde as ruas de Nova York até Espanha e como
diferentes pessoas acabam se conectando a ela através de um
evento marcante.
Plano de Estudo:
● Poder, Política e Estado.
● Democracia, Cidadania e Direitos;
● Cultura, Etnocentrismo e Relativismo Cultural.
● Identidade.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as definições de poder, políticas e Estado;
● Refletir sobre a relação entre democracia, cidadania e direitos;
● Compreender o conceito de cultura à luz dos estudos antropológicos;
● Analisar a importância do conceito de Identidade.
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INTRODUÇÃO
Bons Estudos!
Quando você pensa em poder e política, o que primeiro vem à sua cabeça? Seria
a ideia de um candidato? A noção de Direita ou Esquerda? A corrupção? Impeachment?
Preços altos? Economia? Saúde? De alguma forma tudo isso reflete quando nos propomos
a entender política e seus desdobramentos.
Nos últimos anos no Brasil temos vivido algo chamado de polarização política. Essa
ideia de apenas dois polos opostos tem transformado o debate político em brigas e confu-
sões dentro de famílias, espaços de trabalhos e conversas informais. Isso devido ao fato
de que ao invés de discutir os processos políticos, ou seja, aquilo que os escolhidos para
ocupar o poder em nosso país deveriam fazer, no Brasil discutimos pessoas separadas
apenas pela oposição do “eu gosto ou eu não gosto”.
Porém, isso não é fazer política. Segundo Ribeiro (2010), o termo política tende
a se referir a qualquer exercício de poder e as suas consequências. Afinal, só podemos
entender o poder assim que ele se materializa em ações boas e ruins. Entendendo, assim,
que poder é a capacidade de influenciar o comportamento das pessoas, de maneira crítica
como também manipuladora.
Devemos entender que política é feita de um jogo de interesses. Assim, posso
te perguntar: “quais razões levaram você a escolher seus últimos candidatos ao poder,
sendo eles, presidente, prefeitos ou vereadores?” Te questiono isso, pois as suas escolhas
deveriam ter sido pautadas no seu interesse, ou seja, como essas pessoas poderiam ajudar
você a conquistar o que deseja? Seja um emprego ou até mesmo sua formação acadêmica
e profissional?
A política pode ser entendida como a arte da razão, pois requer um olhar especial,
talentoso e muito atento de quem a pratica. Não é apenas querer algo mas saber como
compartilhar esse querer com o maior número de pessoas.
Trata-se também de uma ciência, pois nos ajuda a pensar como todo o sistema de
poder se constrói e qual sua incidência no cotidiano de cada pessoa em sociedade.
Por isso, a política deveria ser do interesse de todos. E você sabe por quê? O
teatrólogo alemão Bertold Brecht (1898-1956) nos ajuda a refletir sobre isso por meio do
seu poema: Analfabeto Político, que diz assim:
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem partici-
pa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço
do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem
das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua
ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos
os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos explo-
radores do povo (BRECHT, s.d., n.p.).
Dessa maneira, nos mantendo distantes do debate político, também nos tornamos
responsáveis por suas consequências. A falta da noção de que política é feita de interesses
e esses podem acarretar ainda mais desigualdade e desumanização permitem que te-
nhamos, ainda, uma sociedade extremamente desigual em todos os sentidos, econômico,
político, educacional, cultural e social. Para que haja mudança é preciso que exista conhe-
cimento e consequentemente ação.
Vale ressaltar que “A política não se ocupa de todos os processos de formulação e
tomada de decisões, mas somente daqueles que afetem, de alguma forma, a coletividade”
(RIBEIRO, 2010, p. 25). Ela não pode ser vista apenas pelas promessas feitas, eleições e
corrupção, como se isso não nos pertencesse também.
A política é feita de seres humanos em prol do coletivo, por isso, acreditar que todo
político é mau caráter e ladrão é algo que precisa ser repensado. Para que esse tipo de gente
não ocupe os espaços políticos, se faz necessário investigar e saber quem é o candidato que
você escolheu e como ele poderá ou não auxiliar numa sociedade mais justa para todos.
Podemos pensar também sobre política a partir da origem grega da palavra pólis
que era a forma como as cidades-Estados na Grécia Antiga eram chamadas. Neste sentido,
a política seria tudo que se relacionasse às cidades e aos cidadãos. Porém, não sei se você
sabe, mas ser cidadão naquela época era uma espécie de honraria que somente homens,
brancos e atenienses poderiam ser.
Será que você já parou para pensar o que faz de você um(a) cidadão(ã)? É o pa-
gamento de impostos? É a maneira como consome em sociedade? Seria sua participação
nas eleições? Bom, tudo isso demonstra, sim, que você é um cidadão, mas, para que possa
exercer a sua cidadania, é preciso ter direitos. Estes deverão ser sempre assegurados por
um Estado que tenha no povo sua maior representatividade.
O termo cidadania pode ser entendido por meio da palavra latina civitas, que signi-
fica cidade. É nela que se desenvolve o ambiente que deve ser propício para a convivência
entre as pessoas e isso só será possível quando soubermos nossos direitos e deveres,
assim como respeitar o direito dos outros.
Após a Segunda Guerra Mundial e a morte de mais de 6 milhões de judeus, foi
necessário que os países se reunissem para que jamais algo como o holocausto pudesse
existir. A Declaração Universal dos Direitos dos Humanos, de 1948, é a maior referência ao
princípio da cidadania.
Na atualidade, podemos compreender esses direitos de três tipos:
Direitos Civis: aqueles considerados fundamentais à vida e que reconhecem a
autonomia dos indivíduos por meio da liberdade, igualdade e a propriedade privada. Tens
nesse tipo a garantia ao direito à liberdade de expressão, de integridade física, de ir e vir.
Direitos Políticos: tem como base a Constituição Federal, no caso brasileiro a
Constituição Federal Cidadã, de 1988, que está em vigor. São garantidos os meios de
eleição por voto, a candidatura do cidadão para esses cargos, a existência de partidos
políticos, de um congresso ou parlamento livre.
Uma das maneiras de lutar por esses direitos para o bem coletivo são as ações
propagadas pelos movimentos sociais. Estes têm como objetivo manter ou modificar uma
atitude ligada diretamente ao poder do Estado. Os movimentos sociais são sempre contra
ou a favor dos mandos e desmandos do Estado.
Você já deve ter ouvido falar que movimentos sociais são feitos por baderneiros?
Pois bem, isso não é verdade. Existem múltiplos movimentos sociais e cada um deles tem
uma história e um propósito. Por isso, eles não podem ser premeditados, pois dependem
sempre das condições e dos contextos que estão inseridos. Eles são dinâmicos e efêmeros,
podem ter uma duração curta e, se prolongadas, tendem a findar quando suas deliberações
são resolvidas ou reprimidas.
Antes da 2º Guerra Mundial, os movimentos sociais eram marcados pelas greves.
Os gritos dos trabalhadores por melhores condições de trabalho promoveram esse tipo
de ação por todo mundo. As greves no Brasil, no início do século XX, são representações
históricas da força destes movimentos:
Greves trabalhistas têm ocorrido desde o início do processo de industriali-
zação. Dos primeiros movimentos até nossos dias, os trabalhadores sempre
lutaram por melhores salários e condições de trabalho. Procuraram também
regulamentar o trabalho infantil e o feminino, além de reivindicar a diminuição
da jornada de trabalho por meio de um movimento internacional pelas oito ho-
ras diárias. Mobilizaram-se, ainda, pela organização de sindicatos e por visar
à conquista ou à efetivação de direitos, principalmente os sociais, como saú-
de, transporte, educação, previdência e habitação (TOMAZI, 2014, p. 198).
A partir deste momento vamos conversar sobre mais uma ciência que faz parte
dos estudos da Ciências Sociais, chamada de Antropologia. Você já parou para pensar
que faz parte de uma cultura? E que ao mesmo tempo que é um produto dela, também a
produz? Pois bem, a Antropologia, segundo Laplantine (1988, p. 20), “[...] não é apenas
o estudo de tudo que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades (a
nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades
históricas e geográficas”.
Ainda para esse autor, é possível afirmar que nunca o homem parou de interrogar
a si mesmo, observando-se e buscando entender-se por inteiro. Assim, o projeto da Antro-
pologia nasce no final do século XVIII tornando o homem como um objeto de conhecimento
e não mais a natureza. Assim, cria-se a história do pensamento do homem sobre o homem
de maneira científica.
Segundo Laraia (1986), o conceito de cultura foi definido pela primeira vez por
Edward Tylor em seu livro Primitive Culture (1871), sendo tratada como um objeto de estudo
sistemático que caracterizava um fenômeno natural composto de causas e regularidades e,
por isso, permitiria um estudo objetivo e uma análise formulada por leis sobre o processo
cultural e a evolução. Ainda neste período, a ideia era baseada na ciência da natureza.
A maneira como Tylor pensou a Antropologia em meados do século XIX, e a com-
paração entre as culturas proposta por ele como uma maneira de pensar a igualdade entre
Você já parou pra pensar “quem você é”? Parece uma tarefa fácil ou complexa?
Fazer esse exercício de refletir a própria identidade é muito mais sério do que podemos
imaginar. Afinal, em uma sociedade em que todos parecem tão iguais e são postos dentro
de padrões, podemos ter impressão de que quem somos é somente o que a sociedade
quer da gente e nada mais.
Bauman (2005) e Hall (2015) vão nos ajudar a compreender o conceito de identi-
dade. Posso já adiantar que, para ambos, essa é uma questão da modernidade e deve ser
discutida para que cada um possa ser exatamente aquilo que quiser ser e mudar todas as
vezes que achar necessário.
Segundo Bauman (2005, p. 19), “As “identidades” flutuam no ar, algumas de nossa
própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso
estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas”. Neste sentido,
não somos apenas uma coisa só, homem ou mulher, alto ou baixo, bom ou mau. Além des-
sas dicotomias, podemos nos reconhecer e identificar com nossa etnia, crenças, profissão,
gênero, comportamentos.
Por exemplo, eu posso ser mulher, esposa, professora, feminista, ativista, filha,
irmã, amante etc., tudo isso me complementa e me define para a sociedade. Assim, a
identidade nada mais é do que o eu em mudança.
SAIBA MAIS
Você ficou curioso(a) para pensar mais sobre a questão da Identidade? Te convido
então a assistir a propaganda Identidade, do cineasta brasileiro Fernando Meirelles e
Nando Olival, e refletir sobre a questão posta no final do vídeo:
“Quando você vê um brasileiro assim diferente de você, quem você pensa que ele é?”
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HdHVFzKWI_Y
SAIBA MAIS
Cada cultura é diferente e, assim, o que parece normal, natural para nós pode não ser
para outros povos. Neste sentido, te convido a conhecer o Documentário - Curta Metra-
gem: Absorvendo Tabu, ganhador do Oscar de 2019. Ele nos ajuda a pensar a questão
das mulheres na cultura indiana.
Disponível em: https://www.netflix.com/search?q=absorvendo&jbv=81074663
REFLITA
Refletir sobre política e cultura é algo muito necessário e importante, acredito que
tenha percebido que esses conceitos não são vazios e o entendimento sobre eles nos
fazem entender a sociedade.
Dessa forma, quando estudamos sobre política, à luz da Ciências Políticas, pode-
mos compreender a necessidade de entendermos os processos e como aqueles escolhidos
por nós podem ou não representar nossos interesses.
O fato é que debater política não é dizer se eu gosto ou não de determinado político,
mas sim analisar como ele pode contribuir, de fato, para uma mudança social que atinge a
todos. Essa não é uma tarefa fácil, porém é através dela que podemos garantir os direitos
civis, políticos e sociais determinantes numa sociedade democrática. A voz do povo precisa
ser ouvida, pois é a partir dela que a realidade pode ser desnudada, as desigualdades
sociais tendem a desaparecer e pode surgir uma sociedade mais igualitária para todos.
Ao pensarmos em igualdade e equidade social, podemos entender como ela pode
ser construída por meio do conceito de cultura, a partir de uma ciência chamada de Antro-
pologia. Mesmo que de forma sucinta podemos entender que culturas não são únicas, nem
esquisitas e muito menos estranhas, mas sim diferentes. Por isso se faz necessário ter um
olhar relativista em que possamos entender as diferenças e respeitá-las.
O respeito pode ser desenvolvido quando entendemos que podemos ser quem a
gente quiser. Dessa forma, nossa maneira de estar e ver o mundo, nossa identidade não
deve ser pensada como algo fixo e imutável, mas sim como fluída, deslocada e fragmenta-
da, que está em constante mudança.
O fato é que tanto a política como a cultura nos fazem pensar sobre a sociedade e
a maneira como as relações entre os indivíduos se desenvolvem, afinal somos produtos e
produtores do meio social. Por isso, é fundamental que você entenda que o mundo só está
como está por conta das ações humanas e, essas precisam transformar constantemente
para que todos possam ser respeitados e terem assegurado a sua existência.
Para continuar pensando um pouco mais sobre Política e Cultura, que tal pensar
sobre o Brasil?
Aqui sugerimos a leitura de um artigo para o seu primeiro entendimento.
LIVRO
Título: Ainda Estou Aqui
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Alfaguara
Sinopse: Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com
o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado
e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha
quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a
seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou
a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas.
Nunca chorou na frente das câmeras. Ao falar de Eunice, e de
sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens
Paiva fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha
num momento negro da história recente brasileira para contar - e
tentar entender - o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai,
naquele janeiro de 1971.
FILME/VÍDEO
Título: Democracia em Vertigem
Ano: 2019
Sinopse: A cineasta Petra Costa testemunha a ascensão e queda
de um grupo político e a polarização do Brasil.
Link do vídeo: https://www.netflix.com/title/80190535
ANGELO, T. P. Zygmunt Bauman, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos.
Revista Mundo Livre, Campos dos Goytacazes, v. 4, n. 1, p. 103-107, jan./jul. 2018. Dispo-
nível em: https://periodicos.uff.br/mundolivre/article/view/39961/23035. Acesso em: 22 mar.
2021.
BRECHT, B. Analfabeto Político. In: PARANÁ. Secretaria da Educação. s.d. Disponível em:
http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=4701. Acesso
em: 26 mar. 2021
80
DURKHEIM, É. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FERRARI, M. Auguste Comte, o homem que quis dar ordem ao mundo. 2008. Disponível
em: https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai-positivis-
mo. Acesso em: 30 abr.2021.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Expressão Popular,
2008.
81
MOTTA, F. C. P. O que faz o brasil, Brasil? Revista de Administração de Empresas São
Paulo, v. 30, n. 2, p. 91-96, abr./jun. 1990. Disponível em: https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/
files/artigos/10.1590_s0034-75901990000200012.pdf. Acesso em: 31 mar. 2021.
PAIVA JÚNIOR, Y. E. B. de. Viver e pensar o Cotidiano. Sociologia, Ed. Escala, ano III, 32.
ed., p. 14-17, dez. 2010. Disponível em: http://chiehirose.blogspot.com/2012/03/1502-tex-
to-viver-e-pensar-o-cotidiano.html. Acesso em: 01 mar. 2021.
RIBEIRO, J. U. Política: quem manda, por que manda, como manda. Rio de janeiro: Obje-
tiva, 2010.
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
TOMAZI, N. D. Conecte: a sociologia para o ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2014.
Prezado(a) aluno(a),
Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito do desen-
volvimento das Ciências Sociais e seus desdobramentos ao longo da história da humanidade.
Assim, buscamos abordar as definições teóricas sobre a história da Sociologia, o desenvol-
vimento dessa ciência por meio de seus autores clássicos e contemporâneos. Além disso,
você deve ter percebido que as Ciências Sociais são formadas de uma tríade de ciências,
Sociologia, Ciência Política e Antropologia. Mesmo que sucintamente procuramos apresentar
para você como pensar as relações sociais é uma tarefa complexa e também prazerosa.
Destacamos a importância de conhecer cada pensador da Sociologia e suas
particularidades. Assim, espero que você tenha percebido que não existe uma verdade
absoluta ao pensar as problemáticas sociais, mas sim diferentes abordagens para o seu
entendimento. Além dos clássicos, você foi apresentado(a) a dois importantes autores con-
temporâneos, Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu que nos ajudam a pensar as relações
sociais diante da realidade e o contexto que temos vivenciado nos séculos XX e XXI.
Diante dos inúmeros desafios sociais, convidei você a pensar sobre o conceito de
Política e como sua participação consciente é de extrema importância para a construção de
um país mais justo, sem desigualdade social e igualitário. Entendo que a discussão política
deve perpassar pela compreensão dos processos políticos e pela atuação daqueles que
depositamos o voto e a confiança de estar no poder. Não se esqueça, a política é a arte da
razão e um jogo de interesses.
Por fim, você também teve contato com as discussões propostas pela Antropologia e
pelo entendimento de que somos diferentes e, por isso, ao indagarmos que somos, também
é importante respeitar quem o outro é. Dessa maneira, é possível viver numa sociedade em
que o racismo, a misoginia, o sexismo, o machismo, a homofobia e qualquer outro tipo de
preconceito e discriminação possa ser extirpado das relações sociais.
Assim, acredito que, a partir de agora, você já está capacitado(a) para refletir sobre
a sociedade de uma maneira mais consciente, atuando nela de forma concreta e auxiliando
nas transformações necessárias para que o espaço social seja, de fato, para todos.
Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigada!
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