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DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL
E DIREITOS
INDIVIDUAIS
Bruno Fonseca da Silva
Camila Bolfarini Bento
Ana Lucia Guimarães
Natália de Souza Pelinson
Valdir Lamim-Guedes Junior

gente criando o futuro


DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E DIREITOS
INDIVIDUAIS

AUTORIA
BRUNO FONSECA DA SILVA,
CAMILA BOLFARINI BENTO, ANA
LUCIA GUIMARÃES,
NATÁLIA DE SOUZA PELINSON E
VALDIR LAMIM-GUEDES JUNIOR
Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Bruno Fonseca da Silva

Camila Bolfarini Bento

Ana Lucia Guimarães

Natália de Souza Pelinson

Valdir Lamim-Guedes Junior

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

© Ser Educacional 2022

Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro

Recife-PE – CEP 50100-160

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.

Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio

ou forma sem autorização.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo

artigo 184 do Código Penal.

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SILVA, Bruno Fonseca da. / BENTO, Camila Bolfarini. /
GUIMARÃES, Ana Lucia. / PELINSON, Natália de Souza. /
JUNIOR, Valdir Lamim-Guedes.

Desenvolvimento Sustentável e Direitos Individuais.

ISBN:
Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.
Sumário

Unidade 1
Introdução............................................................................................................................... 15
Os problemas ambientais da atualidade...................................................................... 17
A interdisciplinaridade nas questões ambientais....................................................... 20
Um convite para repensar o amanhã............................................................................ 22

Conceitos e definições......................................................................................................... 23

Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e


no mundo................................................................................................................................. 33

Movimentos mundiais.......................................................................................................... 35

Marcos históricos da educação ambiental no Brasil.................................................... 39

Base conceitual da educação ambiental......................................................................... 42


A política nacional brasileira para a educação ambiental....................................... 45
Educação ambiental formal............................................................................................ 46
Educação ambiental não formal.................................................................................... 53

Conceitos e objetivos da educação ambiental............................................................... 54

Referências bibliográficas.................................................................................................. 58

Unidade 2
Responsabilidade socioambiental.................................................................................... 66
O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental.......................... 67
A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade........... 69
A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial.......... 70
Sumário

Aspectos legais..................................................................................................................... 73
Leis socioambientais brasileiras................................................................................... 74
A responsabilidade socioambiental além das exigências legais ........................... 75

Desenvolvimento sustentável............................................................................................. 77
Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável............................................... 79
As três dimensões da sustentabilidade........................................................................ 83

Debates mundiais.................................................................................................................. 84
Agenda 21.......................................................................................................................... 85
Agenda 2030...................................................................................................................... 86

Contexto atual........................................................................................................................ 88
Ecoeficiência..................................................................................................................... 89
Os 7 R’s da sustentabilidade........................................................................................... 90

Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão................................... 90


Paradigma econômico, social e ambiental.................................................................. 92
Empresa sustentável........................................................................................................ 93
Modelos de gestão ambiental........................................................................................ 95

Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão............................ 96


Fontes de orientação estratégica.................................................................................. 97
A Norma ISO 26000........................................................................................................... 98
Indicadores e índices de sustentabilidade................................................................ 102
Tecnologias resultantes da gestão ambiental........................................................... 104

Marketing ambiental.......................................................................................................... 105


Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor................................................. 106
Iniciativas de marketing ambiental............................................................................. 107
Sumário

Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do desenvolvimento ��������������� 108


O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental............................ 109
Promoção do desenvolvimento: o papel da educação ambiental......................... 112

Referências bibliográficas................................................................................................ 118

Unidade 3
A Ética nas Relações Humanas........................................................................................ 126
Raízes históricas da população brasileira................................................................. 126
Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero................................................ 128

Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica............................................................... 136

A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia....................................................................... 139

O Ensino da Ética nas Instituições................................................................................... 143

Educação das Relações Étnico-Raciais......................................................................... 145


Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.......................................... 147

Referências bibliográficas................................................................................................ 149

Unidade 4
Direitos humanos................................................................................................................ 152
Raízes históricas da população brasileira................................................................. 152
Conceituação e princípios dos direitos humanos..................................................... 154
Universalismo e multiculturalismo.............................................................................. 156
Ação comunitária e participação democrática........................................................ 157
Ética, direitos humanos e violência............................................................................. 160
Sumário

Cenário atual e tendências da ética e da cidadania................................................ 161


Ética e política......................................................................................................... 163
Ética na saúde......................................................................................................... 164

Ética nas redes sociais...................................................................................................... 164

Educação, ética e cidadania hoje.................................................................................... 167


Fundamentação e inversão ideológica dos direitos humanos............................... 171
Direito internacional dos direitos humanos e seus sistemas de proteção global e
regional ........................................................................................................................... 171

Referências bibliográficas................................................................................................ 173


O autor

O professor Bruno Fonseca da Silva é


graduado em Geografia (Licenciatura)
e Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente pela Universidade Federal de
Pernambuco, atuando desde 2013 em
estudos relacionados às ciências am-
bientais. Suas pesquisas concentram-
se no monitoramento ambiental, por
meio da análise de elementos químicos,
radioisótopos e compostos orgânicos
para avaliação da qualidade do ar – utili-
zando organismos vivos (líquens) – e do
solo. Tem publicações, participações em
eventos científicos e ministração de cur-
sos e palestras.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3215963517080495

Dedico este livro a todos que buscam compreender e se preocupam com as


causas ambientais – e principalmente aos cientistas da sociedade civil, que
defendem e procuram solucionar problemas sobre a temática.

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A autora

A professora Camila Bolfarini Bento


é Doutora e Mestre em Biotecnologia e
Monitoramento Ambiental pela Univer-
sidade Federal de São Carlos (2020), li-
cenciada em Biologia (2020) e Bacharel
em Engenharia Agronômica pela Uni-
versidade Estadual Paulista (2012).

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3230386423166043

Dedico este trabalho aos meus professores, por todos que acrescentaram
conhecimento teórico e prático desde a minha formação de base até a pós-
graduação. Agradeço por serem profissionais tão dedicados nessa árdua e
nobre tarefa de formar pessoas intelectual e socialmente.

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A autora

Olá, meu nome é Ana Lucia. Sou Dou-


tora em Ciências Humanas e possuo
mais de vinte anos de atuação como
professora na Educação Superior. Além
disso, tenho doze anos de militância
como dirigente sindical da causa dos
professores, o que me agrega conhe-
cimentos e experiências para locali-
zar-me como autora nesta disciplina.
Portanto, atuar e defender a causa da
educação, laica, democrática e de qua-
lidade é mais que um princípio em mi-
nha formação e trajetória profissional,
é um compromisso de ofício.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5544834203408615

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A autora

A professora Natália de Souza Pelin-


son é Mestra (2013) e Doutora (2018) em
Ciências pela Escola de Engenharia de
São Carlos da Universidade de São Pau-
lo (EESC-USP). Formada (2010) em En-
genharia Ambiental pela Universidade
Federal de Viçosa - Minas Gerais (UFV),
tem experiência com educação ambien-
tal em projetos de extensão universitá-
ria e saneamento rural.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7546156506679687

Dedico este material à Wangari Maathai (1940–2011), uma ativista ambiental


e política do Quênia, que estudou biologia nos Estados Unidos e voltou ao
seu país para seguir uma carreira pautada nas questões socioambientais.
Em 2004, Maathai recebeu o Prêmio Nobel da Paz pela luta por direitos das
mulheres e do meio ambiente.

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O autor

O professor Valdir Lamim-Guedes é


doutor em Educação pela Universidade
de São Paulo (USP, 2019), mestre em Eco-
logia de Biomas Tropicais pela Universi-
dade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2011)
e graduado em Ciências Biológicas pela
também Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP, 2008). É especialista em
Eduação Ambiental (EESC-USP, 2015), De-
sign Instrucional para EaD (UNIFEI, 2014)
e Jornalismo Científico (UNICAMP, 2015).

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3473994189361010

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UNIDADE

1
Introdução
Atualmente, a humanidade apresenta forte
preocupação com as questões ambientais. No
sentido restrito, utilizamos o termo “ambien-
te” para nos referirmos aos aspectos da natureza,
como a água, as plantas, os “animais”; mas conside-
ramos a “sociedade” como algo à parte, como se não
houvesse um elo entre ambos. Qual motivo, porém, para
inserimos aspas nos respectivos termos?
Porque somos educados, ou doutrinados, a restringi-los em seus sig-
nificados. Quando abordamos a palavra “animais”, em certo ponto, infe-
riorizamos as demais espécies por sermos seres pensantes – mas, nisso,
fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos
respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos como sociais; todavia,
negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro.
Nessa direção, chegamos ao limite: da abundância de recursos naturais,
mas também do preconceito, iniciando uma corrida contra o tempo para
equilibrar a balança, e alcançarmos a harmonia.
Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemen-
te de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao
outro, fazendo com que se estruture uma pirâmide social (Figura 1), o que,
em determinados momentos, acarreta discriminação.
No entanto, por qual motivo falamos de ser humano e sociedade, se
a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida com outra:
afinal, somos também ambiente? Se a resposta for positiva, o
que nos levaria a pensar que questões sociais não são dis-
cutidas na temática ambiental? O primeiro exer-
cício necessário é a reflexão de que não existe
diferença entre sociedade e ambiente: ser hu-
mano e o seu meio constituem algo mútuo
e unitário. A compreensão é aparentemente
simples, mas torna-se complexa ao tentarmos
colocá-la em prática.

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Classe A
Renda mensal 37,4%
acima R$ 14.695 3,6%
da renda nacional

das famílias
Classe B
Renda mensal 15% 26,5%
R$ 4.720 a R$ 14.695 das famílias da renda nacional

Classe C
27,9% 22,6%
Renda mensal das famílias da renda nacional
R$ 1.957 A R$ 4.720
Classe D/E 13,6%
da renda
53,5%
Renda mensal das famílias
nacional

até R$ 1.957

Figura 1. Modelo de pirâmide social brasileira, classificada pela renda. Fonte: IBGE (2015) apud Mussi, 2017, p. 20.

Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar


esse discurso socioambiental com afinco. Talvez seja a busca pela sensi-
bilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a po-
pulação às questões socioambientais procura estimular seu engajamento
e trabalho efetivo, com a finalidade de um ambiente de melhor convívio.
Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restri-
ta às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioambien-
tal realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção
do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente
são formas de trabalho. Dessa forma, o trabalho é o produto dos fenôme-
nos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma
meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia.

CONTEXTUALIZANDO
A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para
elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos
homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção
de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho
abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e
sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema
(LESSA, 2012).

Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos


com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem.

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Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de di-
versas áreas – humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz
uma forma de construção de conhecimento – nem sempre convergente –, e
essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar no-
vos conhecimentos. É o que se denomina dialética.
Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois
o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementa-
ção do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos
que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação
do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma
importância para compreendermos o ambientalismo.

CITANDO
Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publi-
cada pela primeira vez em 1981. O livro, que faz uma abordagem estrutural
histórica, filosófica e sociológica sobre o tema, traz a seguinte definição
de dialética pelo autor: “O modo de pensarmos as contradições da rea-
lidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente
contraditória e em permanente transformação” (KONDER, 2008, p. 8).

Os problemas ambientais da atualidade


A crescente demanda por uma soberania econômica dos países implica sé-
rios problemas ambientais. Para movimentar a “máquina” financeira e se tor-
narem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram
das questões do ser humano e seu meio. É complexo afirmar que os governos
são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo his-
tórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as
multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral,
torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a
manutenção de empregos, geração de rendas e afins.
Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada
cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão su-
porte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também
ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 17


de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restauran-
tes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os ser-
viços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita
a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos
anos, gera maior engajamento.
Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também,
um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio físico ocasionou a devasta-
ção de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de co-
bertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à ma-
nutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que foram poluídos – em
ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de
bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos
não pôde acompanhar a demanda.
Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na
geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de parti-
culados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por
indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2).

AR ÁGUA

TERRA FOGO
Figura 2. Ilustração dos problemas ambientais da atualidade. Fonte: SOUZA, 2014.

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Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram
impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de
outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma
elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo fo-
ram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra
raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre
o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, co-
mentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força,
mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as
legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham
obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito.

CURIOSIDADE
A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia,
desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social
da mulher. Realizou um trabalho crucial sobre a radioatividade, sendo a
primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel
duas vezes em categorias científicas distintas, química e física. Lutou
contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico
é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de
física, química e na medicina.

É importante perceber que as atividades relacionadas à economia estarão


sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a ne-
cessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade
e o meio físico.
A educação é uma ferramenta “libertadora” para a erradicação dos pro-
blemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O
esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de ci-
dadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada
a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação
será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro.
As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desen-
volvimento socioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo
de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desen-
volvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é per-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 19


ceptível o crescimento do número de mortes por câncer devido à poluição, da
procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento
etc. – e isso influencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As me-
lhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no traba-
lho para modificação – formas de ação denominadas práxis.

DICA
A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação des-
se conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores
(2016), chamado: “O conceito de práxis e a formação docente como ciên-
cia da educação”. Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia,
os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito.

A interdisciplinaridade nas questões ambientais


Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema cau-
sa-efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá-los para
fixá-los em nosso cotidiano. Podemos classificá-los em:
1. Discriminação por questões de classe, gênero, raça e etnia;
2. Exploração irregular de recursos naturais;
3. Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico;
4. Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas;
5. Desmatamento e caça predatória;
6. Exploração de mão de obra;
7. Emissão constantes de poluentes atmosféricos;
8. Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos.
As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates
e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como
principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem
o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma
única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para
essa finalidade.
Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para
implementar tecnologias industriais de recuperação de áreas degradadas – mas
tem o conhecimento necessário para compreender as causas humanas que le-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 20


varam à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profis-
sional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios – mas
pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor
uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importân-
cia do trabalho conjunto das diferentes áreas.
No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdivi-
dir esse trabalho conjunto em três aspectos:
1. Multidisciplinar: cada área contribui com seu conhecimento, sem modifi-
cações; há uma espécie de ponto de vista;
2. Interdisciplinar: as áreas do conhecimento adentram-se umas nas outras
e formam uma interligação de conhecimentos;
3. Transdisciplinar: não existem áreas de conhecimento. Tudo é contínuo,
sem ocasionar espécie alguma de divisão ou interrupção.
Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, de-
vido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente.
No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não
apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a
interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um
engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas
em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta
sua formação.
Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tecno-
lógica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou as-
suntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sentido,
os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimento,
demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua construção
exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados.
No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado
e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas
como obrigatoriedade no processo de construção de
suas dissertações e teses. Caso o trabalho não tenha
esse escopo, poderá ser penalizado com reprovação. As

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 21


questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesqui-
sa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos huma-
nos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente.

Um convite para repensar o amanhã


Nossas formas de agir, sejam elas positivas ou negativas, implicarão no
futuro. Como forma de refletir sobre a exposição anteriormente realizada,
percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos
físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo comple-
xo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos
os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer
um novo amanhã, e repensá-lo significa transformar nossas atitudes e pro-
por ações de melhoria.
Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de so-
berba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética
que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada
em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivencia-
mos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes – e, ao
realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as con-
sequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vi-
vemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos.
As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos
propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um
trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio
é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, con-
sequentemente, nossa felicidade.
Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em
ambos os aspectos, financeiro e moral – pois pas-
samos a refletir sobre o coletivo, e não somente
sobre as questões individuais. Procuremos, por-
tanto, sempre fazer esse exercício de pensar no
próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e so-
bre o amanhã.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 22


Conceitos e definições
Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento
é construtivo. A academia exige constantes reflexões sobre suas teorias, pois é
dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, de-
vemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simples-
mente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo
existe a necessidade de constantes e diferentes formas de leituras – livros, notas,
artigos, comunicações curtas –, e essas questões dúbias são erradicadas quando
entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos.
Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e definições utilizados frequen-
temente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são
passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em
constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo sur-
gimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pen-
samento teórico.
Socioambiental/ambiental
Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais)
as relações existenciais entre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem
como produto o trabalho.
Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um
equilíbrio. Torna-se importante a fixação dessa “balança equilibrada”, pois duran-
te séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes:
ora, a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre
no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi funda-
mental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografia.
A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse
o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar
os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pen-
samento, denominada determinista, foi elaborada por
Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideolo-
gias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos pri-
meiros relatos escritos sobre a implementação das
questões sociais sobre o ambiente.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 23


Meio ambiente
Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais.
Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos
a palavra “meio”, estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação
existente, não se deve realizar essa inferência.
Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos
físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abran-
gente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados)
a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser
usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais.
Áreas degradadas
Umas das maiores problemáticas
ambientais existentes atualmente é a
degradação ambiental. O termo é em-
pregado principalmente para estudos
de solos e ecossistemas.
As atividades humanas, principal-
mente de industrialização, agricultura,
pecuária, e mineração, destacam-se no
desmatamento e improdutividade do
solo, por meio do lançamento de rejei-
tos, como elementos químicos tóxicos.
Ao dizermos que uma área é degrada-
da, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e reque-
rem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de so-
los, afluentes e reflorestamento.
No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são cons-
tantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartí-
culas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recupera-
ção de solos e rios.
Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de
patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série
de profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, administradores, biólogos
e afins.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 24


Desertificação
A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das
Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada,
somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degra-
dação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fa-
zendo surgir áreas áridas e semiáridas.
Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano,
alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeiro, países
como os Estados Unidos entraram na “corrida”, com o intuito de adquirir lucros,
contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu terri-
tório. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos
países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados
nas Américas, África e Europa.
No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região
Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco,
que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agri-
cultura por inundação, associada à topografia do terreno e alta evapotranspiração
devido às condições climáticas, ocasionou a formação de extensas camadas de
sais no solo, tornando-o improdutivo e causando abandono das áreas. As pesqui-
sas estão concentradas nos aspectos de impactos socioambientais, bem como na
tentativa de mitigar o problema.

Figura 3. Solo salinizado no município de Cabrobó, Pernambuco, um dos núcleos de desertificação brasileiro. Fonte: MAIA, 2015.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 25


As problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores
sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um im-
pacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos
moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo
a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e
afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famí-
lias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamen-
tais sobre o tema.
Efluentes
Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental
são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em
nossas atividades do cotidiano. O processo de “chegada, recebimento” da água
é denominado afluente; e a “saída”, denominada efluente.
Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como
gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de
grande discussão, pois o destino, em sua maioria, são os rios. Ao serem lança-
dos em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente
no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento
e manutenção da vida aquática.
Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capaci-
dade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres
humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde.

ASSISTA
A série Aruanas , produzida pela Rede Globo, demonstra com cla-
reza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O
enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela
mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes,
com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio,
ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à
ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é
demonstrada a morte gradativa dessas pessoas.

Atualmente, há empreendimentos com estações de tratamento e moni-


toramento constante, por meio de análises químicas que atendem às legisla-
ções ambientais.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 26


Pesquisas nessa temática registram grandes avanços, principalmente
pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a
utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de
tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutili-
zação para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo.
No Brasil, a importância do tema reflete-se na construção de linhas de pes-
quisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o
problema e buscar soluções.
Bioenergia
As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarreta-
ram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia
tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro.
Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas
condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementa-
ção de fontes limpas e renováveis.
A bioenergia é compreendida como aquela que acarreta menores níveis de
impactos ambientais, composta por fontes sustentáveis. Matérias-primas como
biomassa, sol, vento, são consideradas formas de energia limpa (Figura 4).

Solar Eólica Ondas

Geotérmica Biomassa Mini-hídricas

Figura 4. Principais fontes de energia limpa. Fonte: CreaJR-PR, 2010.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 27


É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum
nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado.
Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem par-
ticulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocar-
bonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos
apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis,
com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante
atenção e acompanhamento.
A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção
de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados
da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais
importantes.
Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e
eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, princi-
palmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses
modais energéticos também é outra problemática. Compreender tais problemas
é importante para entendermos que, mesmo em se tratando de uma energia
sustentável, há alguma forma de impacto.
Economia verde
Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram
um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de
trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente.
Seu propósito sustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como
na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é deno-
minado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte
de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra
restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucra-
tividade, com diminuição de custos.
Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes de-
bates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos
estão gradativamente reestruturando suas linhas produti-
vas e investindo em tecnologias sustentáveis. Já os setores
públicos têm uma tendência em incentivar essa transição,
principalmente para atingir as metas propostas em acordos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 28


de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que de-
vem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem
-estar, sem ocorrência de danos.
Padrões de consumo
Vivemos numa sociedade em que somos “forçados” ao constante consumo,
e essa atividade é de suma importância para manutenção econômica. Por quais-
quer produtos utilizados necessitar, em seu processo, de alguma matéria-prima
originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas.
O consumismo demasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recur-
sos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões
de consumo, estamos nos referindo à forma como a sociedade adquire e descar-
ta seus bens – roupas, eletrodomésticos, calçados e afins.
O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo cons-
ciente, uma atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se apren-
deu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar uma mu-
dança nessa forma de pensar é complexo.
Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mu-
dança de atitudes – e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já
que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá
ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendi-
mento para questões básicas e essenciais de manutenção diária.
Mudanças climáticas
Para compreensão desse tema,
uma primeira definição precisa ser es-
clarecida, que é a diferença entre clima
e tempo. O tempo é algo mutável – um
dia poderá ser de sol, e o outro é de
chuva. Já o clima é uma observação das
modificações do tempo numa faixa mí-
nima de 30 anos.
Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande mo-
dificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar
sérios riscos à qualidade de vida da população. Áreas de climas frios, por exem-
plo, podem apresentar constante aquecimento.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 29


As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da proble-
mática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e oca-
sionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas. Esse processo
é denominado aquecimento global.
Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temáti-
ca. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aque-
cimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no
contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de
glaciação e deglaciação.
Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasio-
nados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os
principais responsáveis por esse processo atualmente.
Desenvolvimento sustentável
Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias
que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da
emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas tam-
bém é usualmente empregada nessa temática.
A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é
considerada uma forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnoló-
gicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas
as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso des-
sa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da popula-
ção, em uma tentativa de diminuir as desigualdades.
Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários
altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substi-
tuição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies
devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar
um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão
sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus;
entretanto, muito ainda precisa ser realizado.
Preservação e conservação
Esses termos, diferentemente do pensamento comum, têm significados to-
talmente opostos. A preservação é designada para áreas com proteção total,
em que não pode ocorrer nenhuma forma de intervenção humana. Quando se

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 30


trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fo-
mentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com
legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo
como punição de descumprimento multas e/ou prisões.
O desrespeito a essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de
ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso
de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal,
são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as
áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e
afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face
esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas,
em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas.
Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de
novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os
estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há
muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a importân-
cia de proteção das respectivas áreas, especialmente em um contexto em que,
em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos.
Ecologia, ecossistemas e biomas
A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos
com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa,
busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações
fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrema
complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para
obtenção de resultados.
O bioma é compreendido pela delimitação de uma região com característi-
cas (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem defini-
das. No território brasileiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado,
Caatinga, Pantanal e Pampa.
Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos
e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências.
Esse é um conceito bastante utilizado e estudado pelos
ecologistas. Contudo, os setores de tecnologia da informa-
ção também têm-se apropriado dessa terminologia.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 31


Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos
debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais,
empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação
de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo
das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação.
Equidade social
A busca por uma sociedade mais justa é uma das lutas ambientais atuais. A
questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua
relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais.
O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e
evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua apli-
cação ampliada: a equidade.
Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento
e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar o caso,
ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da
justiça (Figura 5).

Igualdade Equidade

Figura 5. Exemplificação da diferença entre igualdade e equidade social. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/08/2020.

Segurança alimentar
Esse tema pode ser definido como a capacidade de produção e distribuição
de alimentos seguros para toda a população. As políticas voltadas a mecanis-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 32


mos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas enti-
dades governamentais, é denominada soberania alimentar.
A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles
voltados à disponibilidade de terra, água e fertilizantes. O contexto também está
relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como
obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são
relacionadas à segurança alimentar.
Resíduos sólidos
Esse tema é definido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descar-
tado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados e/ou reu-
tilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas
ambientais atuais.
No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n°
12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, res-
ponsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de infor-
mações sobre o gerenciamento de resíduos.
Contudo, falhas envolvendo aspectos financeiros inviabilizam um trabalho efeti-
vo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes
como cidadãos são importantes pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco
executado na sociedade.
Racismo estrutural
Vivemos em uma sociedade diversificada. Contudo, as políticas étnicas e de res-
peito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas.
No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determi-
nado grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado
neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma
cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa,
sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural.

Histórico dos debates a respeito de ética e


responsabilidade social no Brasil e no mundo
Os debates sociais sobre as responsabilidades e valores éticos ocorrem todos
os dias. As mesas redondas e eventos científicos são constantes no mundo inteiro,

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 33


sendo eles responsáveis por traçar e fomentar a compreensão do hoje e promo-
ver ações que terão efeitos significativos em curto ou longo prazo. Os meios aca-
dêmicos e as universidades são os principais polos desses debates, destacando-se
as Ciências Humanas, embora não sejam exclusivas nessas mesas.
Uma visão de aspecto mundial
O debate sobre a reponsabilidade social tem seu principal início marcado pela
Revolução Industrial no século XVIII. A situação precária de trabalho, em maioria
exploratórios, fez diversos teóricos debaterem a problemática.
Entre as teorias realizadas, uma se encontra em debate até os dias atuais: Karl
Marx elabora as primeiras formulações sobre o capitalismo. A corrente de pensa-
mento de Marx era uma dura crítica à exploração exacerbada da classe operária,
e, em contrapartida, aos lucros e à concentração de renda que estavam nas mãos
dos grandes donos de empreendimentos. Além disso, as teorias de Marx também
contemplavam questões ambientais devido aos altos níveis de poluição que se
alastravam pela Europa.
As problemáticas relacionadas ao trabalho exploratório fizeram a classe operá-
ria procurar lutar por alguma forma de garantia de direitos. Esse fator estava atre-
lado, também, à constante modernização fabril, que diminuiu a dependência de
mão de obra e fez com que antigos artesões se tornassem desempregados. Essas
perspectivas levaram os operários a lutar e a construir os sindicatos, reconhecidos
pelo parlamento inglês após várias lutas, que também resultaram no surgimento
de movimentos grevistas.
Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas
ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social
foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções
de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preo-
cupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pau-
tas ambientalistas.
O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma im-
portante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso
de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu
discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, pre-
conceito racial e consumo consciente, dando margem a ou-
tros debates pouco comentados naquele período.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 34


O Brasil no caminho da responsabilidade social
Após o período da Ditadura Militar e constituição do Brasil como democra-
cia, novos debates surgiram. A elaboração da Constituição garantiu as legisla-
ções trabalhistas anteriormente reduzidas durante a ditadura. A liberdade de
expressão e de imprensa é devolvida, ampliando a ascensão sobre os proble-
mas sociais, principalmente relacionados à pobreza, existentes devido à liber-
dade dos pesquisadores das ciências humanas definirem seus estudos sem a
ocorrência de algum tipo de retaliação.
A reforma agrária é outro importante marco, que possibilitou a distribui-
ção e posse de terras para os pequenos agricultores. Diferentemente do que
se imagina, esse grupo de trabalhadores são os principais responsáveis pelo
abastecimento alimentício nacional. As grandes lavouras, as agroindústrias,
têm foco na manutenção do mercado internacional, uma vez que o Brasil é um
dos principais centros do agronegócio mundial.

Movimentos mundiais
A Segunda Guerra Mundial teve
fim no ano de 1945 e deixou conse-
quências graves para humanidade. O
mundo precisava reestruturar-se fi-
sicamente e economicamente. Além
da morte de milhares de pessoas,
outro grande grupo ficou sem acesso
a alimentos e suprimentos de neces-
sidades básicas. Fatores como esses
impulsionaram o problema da fome
existente em diversos países do mun-
do, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrí-
cola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países
como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que ace-
lerassem a produção agrícola.
Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas
ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriquei-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 35


ro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem
como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam
protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apre-
sentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles
realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa.
A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pes-
ticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde hu-
mana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno.
Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os
impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança,
que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o
desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com
níveis mais baixos de impactos ambientais.
Conferência de Estocolmo
O fim da Segunda Guerra também
ocasionou outras preocupações am-
bientais. O relatório produzido pelo
Clube de Roma em 1972 apontou um
problema de crescimento rápido da po-
pulação e que os recursos naturais não
conseguiriam suprir as necessidades.
Naquele mesmo ano, a ONU de-
cidiu realizar a primeira reunião com
chefes de Estado que procurassem
tratar dos problemas ambientais, de-
nominada Conferência Mundial do
Homem e do Meio Ambiente, popu-
larmente conhecida como Conferência
Figura 6. Notícia de jornal brasileiro sobre a Conferência
de Estocolmo (Figura 6). de Estocolmo. Fonte: FEITOSA, 2018.

Problemas como catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível es-


cassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais foram de-
batidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que pro-
movia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 36


primeira vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente,
com os aspectos ambientais.
A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das institui-
ções governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação
do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, em 1988.
A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a
mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos
fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões
econômicas).
Protocolo de Quioto
Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído
o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada
apenas no ano de 2005.
Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida
no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de ga-
ses do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera.
Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de
CO2, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos
de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito
em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mer-
cado internacional.
Eco 92 e Rio + 20
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente
conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos
temas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176)
de todo o planeta.
Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava de-
finir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tor-
nou-se o início da ascensão global das discussões sobre
os problemas ambientais, tendo como foco a busca
por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o
relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para ela-
boração do Protocolo de Quioto.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 37


Figura 7. Registro do encerramento da Eco 92. Fonte: ROZARIO, 1992.

A Rio+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a rea-
firmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve
como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou
formas de soluções futuras. Um grande diferencial do encontro foi a intensifi-
cação dos debates voltados à implementação da economia verde.
Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável
Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados
Unidos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o de-
senvolvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados
17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvi-
mento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro,
também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20.

Figura 8. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 2015.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 38


Marcos históricos da educação ambiental no Brasil
O primeiro registro da institucionalização da educação ambiental no Bra-
sil ocorreu em 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente
(SEMA). A SEMA pode ser considerada o início do processo de conscientização da
sociedade brasileira sobre a necessidade de preservação do meio ambiente para
a manutenção e melhoria da qualidade de vida.
Com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) pela Lei Fe-
deral n.  6.938/81, foram explicitados conceitos relacionados à conscientização
ambiental e à promoção da educação ambiental em diferentes níveis de ensino e
setores da sociedade (art. 2°, caput, X). Assim, podemos considerar que a PNMA
foi o primeiro marco da educação ambiental formal no País.
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental pro-
pícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvi-
mento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e
à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes
princípios: [...]
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a edu-
cação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação
ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981, n.p.).
A Constituição do Brasil de 1988 reforça a consolidação da EA no País ao defi-
nir, no artigo 225, o direito de todos ao acesso de um ambiente ecologicamente
equilibrado e, em seu inciso VI, a necessidade de promoção da EA, ao menos no
contexto educacional ou formal:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público: [...]
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino
e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente
(BRASIL, 1988, n.p.).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 39


Note que temos em nossa Constituição Federal, portanto, explicitamente
a definição de que a promoção da educação ambiental deve ser responsa-
bilidade do poder público. Porém, vale observar que a obrigatoriedade do
Estado em estabelecer as bases da EA no contexto formal não dispensa a
participação social no processo de conservação e proteção ambiental.
A Conferência, Earth Summit, ou Eco-92, possibilitou a adoção do Trata-
do de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global. Já a Agenda 21 reforça a perspectiva de atribuição de poder aos
grupos comunitários e, com o apoio do Ministério da Educação na Rio-92,
foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras
coisas, reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos para via-
bilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e da
manutenção da vida humana. Infelizmente, a Carta já admitia a existência
da lentidão de produção de conhecimentos e a falta de comprometimento
dos gestores públicos em relação à fiscalização da legislação de um modelo
educacional que não resolve as reais necessidades do País.

DICA
A Agenda 21, definida pela ONU na Eco-92, reafirma, dentre outros
princípios básicos, a reorientação da educação a um desenvolvi-
mento ambientalmente sustentável e o aprofundamento da cons-
cientização pública. Em consonância com esta, em 2015 criou-se
a Agenda 2030, um plano de reafirmação das metas estabelecidas
em 1992 que também dá continuidade aos esforços das agora 192
nações que fazem parte do tratado.

Posteriormente, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação


Ambiental no País. Em uma análise inicial, podemos perceber que a PNEA é resul-
tado de inúmeras ideias debatidas em diversos eventos nacionais e internacionais
acerca das questões ambientais. Em especial, pode ser percebida em seu texto a
adoção de conceitos apresentados pela Carta de Belgrado. Assim, a determinação
da responsabilidade do poder público se dá de forma concorrente (nas esferas de
poder federal, estadual e municipal), também com o intuito de incentivar a ampla
participação das organizações não governamentais (ONGs) e de toda a sociedade
na elaboração e execução de programas de educação ambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 40


2010
Lei federal de educação
ambiental não formal

2004
Criação do Programa Nacional de Educa-
ção Ambiental (PRONEA)

1999
Instituição da Política Nacional
da Educação Ambiental (PNEA)

Earth Summit (Eco 92) 1992

Artigo 225 (Constituição):


direito a um ambiente
ecologicamente equilibrado 1988

1973
Criação da Secretaria Especial do Meio
Ambiente (SEMA)

Figura 9. Linha do tempo simplificada dos principais eventos relacionados à EA no contexto brasileiro.

Ressalta-se que, na prática, não há uma ocorrência que


seja mais importante, sendo todas as ações e todos os proje-
tos necessários para que seja possível atingir os
objetivos coletivos com o desenvolvimento da
consciência ambiental a partir da criticidade
dos cidadãos. No próximo tópico, analisare-
mos alguns dos principais conceitos da edu-
cação ambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 41


Base conceitual da educação ambiental
Primeiramente, para definir as bases conceituais da educação ambiental, é
necessário ressaltar que ao longo do aprimoramento dessa ferramenta perce-
beu-se que o público a ser considerado, na realidade, é toda a sociedade. Assim,
enfatizamos que a EA é considerada formal quando aplicada em qualquer nível
da educação formal (estudantes, professores e funcionários de escolas, universi-
dades e institutos). Adicionalmente, a educação não formal engloba campanhas,
projetos e outras atividades práticas que envolvem diferentes grupos populacio-
nais (trabalhadores, gestores públicos e agricultores, por exemplo).
Assim, a PNEA definiu a educação ambiental e destacou a importância do de-
senvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização e à organização
da coletividade sobre questões ambientais. No art. 1º da PNEA, a definição de
educação ambiental é apresentada:
Art 1º. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, es-
sencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,
1999, n.p.).
No art. 2º, a PNEA complementa que a educação ambiental é “um componen-
te essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999, n.p.). Por fim, a PNEA define como
princípios básicos da EA:
Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando
a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cul-
tural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva
da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 42


VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regio-
nais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade
individual e cultural (BRASIL, 1999, n.p.).
Assim, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA), apresentando conceitos e definições. Desta forma, podemos sintetizar
que o público-alvo da EA são tanto os integrantes da educação formal quanto
os da não formal. Ressalta-se que os objetivos de ensino em ambientes formais
são construir conhecimento científico e desenvolver a relação dos alunos com
a natureza por meio de pedagogias de aprendizagem ativa, como trabalho de
campo e experiências ao ar livre (PARRA et al., 2020).
Assim, mais do que se informar sobre processos que envolvem nossa vida so-
cioeconômica, é necessário priorizar o desenvolvimento da EA como ferramenta
de participação social e crítica. No Quadro 1, há uma síntese das principais dife-
renças entre educação ambiental e informação ambiental.

QUADRO 1. PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


VERSUS INFORMAÇÃO AMBIENTAL

Informação ambiental
Educação ambiental
• Disponibiliza fatos e opiniões sobre problemas
• Aumenta a consciência pública e o conhecimento
ambientais;
das questões ambientais;
• Não se preocupa com o ensino do pensamento
• Auxilia no desenvolvimento do pensamento;
crítico e emancipatório;
• Aumenta as habilidades de resolução de
• Não gera diretamente ferramentas para
problemas e tomada de decisão;
resolução de problemas;
• Não defende um único ponto de vista, fomenta
• Pode apresentar apenas um ponto de vista
a análise crítica.
sobre a questão ambiental de interesse.

Fonte: EPA, 2018, n.p.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 43


Observe que a informação ambiental deve possuir qualidade e não ser ten-
denciosa em sua transmissão; mas é a EA que define como essencial o aumento
da consciência pública ambiental a partir de ensinamentos contínuos de pensa-
mento crítico, reforçando as habilidades individuais e a análise de fatos utilizan-
do o raciocínio lógico.
Outra distinção que cabe em uma breve análise é acerca da educação de for-
ma mais ampla e sua comparação com a EA. É consenso que a educação, além
de instruir, já traz em si o conceito de propiciar o desenvolvimento da capacidade
crítica e o senso de responsabilidade. Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Opri-
mido, enfatiza que a educação é um processo complexo de conscientização cole-
tiva. Hoje, compreendemos que a educação ambiental faz parte desse processo.
De fato, podemos considerar que ambientalismo não é uma opção, mas uma
responsabilidade e um aspecto fundamental para a construção de uma socie-
dade coesa e que respeita as leis de proteção do ambiente que ocupa (SAYLAN;
BLUMSTEIN, 2011). Isso se refere às responsabilidades de proteção ambiental,
mas também em compreender minimamente como os ciclos ocorrem: na ex-
tração de recursos naturais, na geração de resíduos, na produção agrária e/ou
industrial, entre outros.
Tendo em vista o desenvolvimento necessário para sociedades mais susten-
táveis, os cidadãos precisam ser apoiados e ensinados a superar quaisquer la-
cunas ou desafios importantes para integrar esta sociedade sustentável (PARRA
et al., 2020). Assim, a educação ambiental se concentra na promoção do conhe-
cimento ambiental e no aprimoramento de atitudes e valores ecologicamente
corretos, bem como na conquista da cidadania e das habilidades cognitivas de
alto nível necessárias para promover um estilo de vida ecologicamente correto.
A educação para a cidadania ambiental deve auxiliar os alunos
a compreenderem a complexidade dos sistemas socioecológicos
e a identificar as causas estruturais da degradação ambiental.
Com isso em mente, a educação para a cidadania
ambiental amplia a perspectiva do aspecto local
para o global e enfatiza as interrelações e inter-
dependências. Além disso, a aprendizagem da
sustentabilidade é um conceito multinível que
ocorre tanto no nível individual quanto no nível

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 44


dos agregados sociais, grupos, organizações e a sociedade como um todo
(PARRA et al., 2020).
O conhecimento de como mudar democraticamente uma sociedade e os
efeitos da justiça social dessas mudanças local e globalmente não foram, pelo
menos no início, suficientemente enfatizados na educação para a sustentabili-
dade, posto que suas raízes estão na educação ambiental e possuem foco mais
estreito na proteção ambiental e conservação de recursos (PARRA et al., 2020).

DICA
Você sabe o que significa uma educação ambiental crítica? Para compreen-
der melhor o processo emancipatório da educação sobre o qual a EA vem
sendo discutida e desenvolvida, sugerimos a leitura dos seguintes textos:
“Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação”, es-
crito por Isabel Cristina de Moura Carvalho, e “Educação ambiental crítica”,
estruturado por Mauro Guimarães.

A política nacional brasileira para a educação ambiental


O termo educação ambiental (EA) é muito utilizado, apesar de muitas pessoas
não saberem sua definição. Assim, algumas distorções podem ocorrer, e a prá-
tica da EA pode ser prejudicada. Nesse sentido, Silva Junior et al. (2018, n. p.)
destacam que a democratização e a divulgação das formas que temos para inte-
ragir com o meio ambiente de maneira responsável ainda é muito frágil, em uma
sociedade que não exerce, no cotidiano, hábitos que favorecem o fortalecimento
da temática em questão.
Dessa forma, começamos esse tópico destacando que uma maior preocupa-
ção com o meio ambiente é necessária, bem como o reconhecimento do papel
crucial da educação para melhorar a relação do ser humano com o meio. Para
isso, é preciso que haja em todas as bases da sociedade ferramentas para traçar
diretrizes para o surgimento de mais iniciativas de conscientização ambiental.
A escola é um espaço em que os estudantes podem se tornar pessoas mais
atentas quanto à importância da conservação e restauração do meio ambiente,
fomentando a proteção também da biodiversidade, de um modo geral (SILVA
JUNIOR et al., 2018).
A educação é um processo contínuo, de elevada relevância e, por isso, se fa-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 45


zem necessários planejamentos complexos para que
possamos obter resultados satisfatórios, colaboran-
do para as reflexões de ensino e aprendizagem que
ultrapassem as salas de aula. Cada vez mais, precisamos
de nos formar como cidadãos, críticos e responsáveis pela
preservação dos recursos naturais.
A educação ambiental não deve ser entendida como um tipo
especial de educação, mas como uma série de etapas contínuas
ao longo processo de aprendizagem, em que coexiste a filosofia da contribuição
participativa em que todos (família, escola e comunidade) devem estar envolvidos
(SILVA JUNIOR et al., 2018).
Por esse motivo, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) brasileira
visou traçar diretrizes não apenas para a EA formal, que ocorre nas escolas, mas
também para a EA não formal, englobando a diversidade de atores sociais e a
importância de todos construirmos coletivamente uma preocupação que paute
as ações e decisões regionais e nacionais.

Educação ambiental formal


Uma questão importante dentro do sistema educacional superior é propiciar
a especialização na área de formação e também em áreas científicas semelhantes
ou relacionadas. A relevância se dá, justamente, pelas conexões interdisciplinares
e pela transferência teórico-conceitual decorrente de novos resultados científicos.
Nesse contexto, é importante que cada país explicite em sua política de educação
ambiental a importância de toda a sociedade para a conservação ambiental e os
possíveis papéis das mais diversas áreas de formação técnica nessa conservação.
Assim, os atores socioeducativos envolvidos nas atividades de EA devem assu-
mir as ações em termos de aumento do conhecimento científico, e também possi-
bilitar a existência e qualidade de vida das próximas gerações. Desse modo, ao nível
da consciência humana, é visível um peso científico-axiológico, segundo o qual são
estabelecidas conexões entre diferentes níveis de realidade (COSTEL, 2015).
Para tanto, Costel (2015, n. p.) explicita que para se tornar pragmático um
sistema social deve ser construído, antes de mais nada, sobre a educação es-
pontânea. Em segundo lugar, acreditamos que uma perspectiva de política social

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 46


efetiva envolve uma abordagem específica sobre a educação
ambiental. Portanto, as correspondências sociais e meto-
dológicas transpõem em plano operacional às finalidades
inscritas na diligência educacional.
Nas últimas duas décadas, no entanto, inúmeras pessoas ao
redor do mundo se preocuparam (e continuam se preocupando) com as ques-
tões interligadas de meio ambiente e desenvolvimento ambientalmente susten-
tável. Desta forma, temos nos tornado cada vez mais conscientes da necessida-
de de mudanças nas escolhas de hábitos e nos padrões nacionais e globais de
desenvolvimento, consumo e comércio.
Portanto, poderíamos considerar um erro pensar que apenas a educação
ambiental nas escolas seria suficiente para a transição para a sustentabilidade, a
menos que grandes reformas educacionais pudessem ser implementadas e que
projetos em consonância com outros setores da sociedade fossem executados.
Nesse momento, destacamos que a educação ambiental está prevista na
Constituição Federal, em seu artigo 225º (Inciso VI), que estabelece que é dever
do Estado e de todos de “promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”
(BRASIL, 1988). A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n.
9.795, em seu artigo 3º, determina que, como parte de um processo educativo
mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:
I - Ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constitui-
ção Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão
ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recupera-
ção e melhoria do meio ambiente; II - Às instituições educativas,
promover a educação ambiental de maneira integrada aos progra-
mas educacionais que desenvolvem; III - Aos órgãos integrantes do
Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de
educação ambiental integradas aos programas de conservação,
recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - Aos meios de co-
municação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na
disseminação de informações e práticas educativas sobre meio am-
biente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 47


- Às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas,
promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores,
visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de tra-
balho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no
meio ambiente; VI - À sociedade como um todo, manter atenção
permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que pro-
piciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a
identificação e a solução de problemas ambientais (BRASIL, 1999).
Assim, percebemos que a EA é uma questão que precisa ser incentivada e fo-
mentada simultaneamente pelo Estado e por muitos outros setores da sociedade.
Em seu artigo 4º (Inciso VII), a PNEA valoriza a abordagem articulada das ques-
tões ambientais locais, regionais e nacionais. Enquanto isso, em seu artigo 8º (In-
cisos IV e V) há um evidente incentivo à busca de alternativas curriculares e meto-
dológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e
regionais, incluindo a produção de material educativo com o contexto social em
questão (BRASIL, 1999).
Em seu artigo 9º, a PNEA também define que se entende por educação am-
biental, na educação escolar, aquela que é desenvolvida no âmbito dos currícu-
los das instituições de ensino públicas e privadas, englobando (BRASIL, 1999):
I. Educação básica:
a. Educação infantil;
b. Ensino fundamental;
c. Ensino médio.
II. Educação superior;
III. Educação especial;
IV. Educação profissional;
V. Educação de jovens e adultos.
Vale destacar que devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar
para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância
(SOUZA et al., 2018).
Ainda que a EA seja prevista em toda a idade escolar e a PNEA
tenha sido instituída em 1999, atualmente, os educadores ainda
encontram dificuldades e desafios para implementar a educa-
ção ambiental no cotidiano escolar. Por isso, mantém-se a discus-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 48


são sobre a maneira que a temática ambiental vem
sendo trabalhada pelos professores que a desen-
volvem nas escolas.
Quando pensamos na educação ambiental, de-
vemos inserir atividades práticas em todos os níveis da
educação formal e informal, de modo que trabalhemos
as aplicações de EA diariamente. Isso é uma proposição fun-
damental, pois colabora para que haja envolvimento dos edu-
candos em questões sobre as problemáticas do meio ambiente, e propicia um
sentimento importante de pertencimento e transformação, em que cada um tem
responsabilidades e pode colaborar para a construção de um mundo melhor.
De maneira geral, a escola pode ser um dos locais mais propícios para a rea-
lização de iniciativas de educação ambiental, por propiciar a inovação de costu-
mes que não se limitam apenas aos conceitos ambientais, podendo ainda englo-
bar questões culturais e sociais. Acredita-se que, assim, poderíamos alcançar um
resultado mais efetivo e promissor diante das situações vivenciadas no contexto
socioambiental, e que englobam o descarte do lixo de forma incorreta, os impac-
tos ambientais e biodiversidade e, também, o tipo de interação ecológica que há
nas relações humanas com a natureza.
No artigo 10º da PNEA, se especifica que a educação ambiental deve ser de-
senvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente, em
todos os níveis e modalidades do ensino formal:
§ 1º A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina
específica no currículo de ensino; § 2º Nos cursos de pós-graduação,
extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educa-
ção ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de
disciplina específica; § 3º Nos cursos de formação e especialização
técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado con-
teúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a
serem desenvolvidas (BRASIL, 1999).
Nesse sentido, sabendo que a educação ambiental é um processo permanen-
te e contínuo, não deveríamos limitá-la ao espaço escolar, pois é importante tê-la
como hábito no ensino do educando (SOUZA et al., 2018). Assim, podemos en-
tender que a EA formal continuará a ser aprimorada com a incorporação de no-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 49


vos significados sociais e científicos em
relação ao meio ambiente e às dinâ-
micas que possuímos com o local que
ocupamos. Justamente devido a esse
dinamismo da sociedade, a questão
ambiental no processo educativo de-
veria começar na infância, corroboran-
do para a formação de gerações mais
conscientes e preocupadas com pau-
tas ambientais, tais como a proteção
da biodiversidade e o enfrentamento
das mudanças climáticas.
Ficou especificado que a dimensão
ambiental precisa constar nos currí-
culos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.
Além disso, “os professores em atividade devem receber formação complementar
em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cum-
primento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental”
(BRASIL, 1999).
Souza et al. (2018, n. p.) destacam a dúvida de como a EA está sendo conduzida
no ensino da educação ambiental no cotidiano da sala de aula. A abrangência das
atividades dos docentes engloba a participação e gestão dos sistemas de ensino.
Dessa forma, os professores podem incluir escolhas metodológicas distintas, vi-
sando fomentar pontos de análise e valorização da consciência da diversidade,
respeitando as diferenças ecológicas, étnico-raciais, de classes sociais, de necessi-
dades especiais e de gênero. As diretrizes de ensino de EA são muito diversificadas
e podem servir como ferramenta, aproximando conceitos complexos
das comunidades de atuação.
Em seu trabalho de análise, Silva e Almeida (2018,
n. p.) notaram que os principais desafios das ações
práticas de EA nas escolas estão vinculados a ques-
tões de: espaço da escola, número de estudan-
tes e de professores com disposição para passar
por processos de formação continuada na área em

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 50


questão, participação e dedicação da direção da escola, melhor participação do
governo estadual, dentre muitos outros problemas. Com isso, algumas barreiras
poderiam surgir, limitando as práticas de EA e tornando as atividades pontuais.
Em contextos em que a prática de EA ainda não ocorre de forma contínua, uma
alternativa é proceder visitas em centros especializados que possam instruir edu-
candos e educadores e mostrar um caminho a ser percorrido. Nesse contexto, há
no Brasil um tipo especial de centro de educação ambiental, relacionado com as
fazendas e florestas. A Escola da Floresta é um exemplo desses centros. Nela, há
variedade de possibilidades a serem explorados por pessoas de todas as idades.
A Figura 2 mostra a realização de uma trilha dos sentidos com crianças de uma
escola em visita. Note que atividades como essa podem ser adaptadas à realidade
de muitas escolas brasileiras.

Figura 10. Realização da trilha de sentidos, para aumentar a percepção do ambiente em que ocupamos e a busca pela recone-
xão com a natureza. Fonte: Escola da Floresta. Acesso em: 17/05/2021.

Uma das maiores dificuldades para que o currículo escolar possa abranger a
EA de forma habitual e com a profundidade de discussão que se desejaria, pode
ser uma consequência do modelo adotado pelo nosso sistema escolar. As atuais
preocupações da educação se concentram em notas, desempenho, competição,
esforço individual, sucesso pessoal e padrões hierárquicos de relacionamentos
pessoais. O ensino de EA deve ser pensado de forma coletiva, emancipatória, críti-
ca e transversal a muitas diferentes áreas de aprendizagem.
Apesar de tais observações fazerem parte de muitas realidades, Souza et al.
(2018, n. p.) afirmam que, nos últimos anos, foi possível observar uma expansão
da educação ambiental no ensino formal das escolas brasileiras. Em contraste a

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 51


essas pontuações, Silva e Almeida (2018, n. p.) destacam que, de modo geral, pro-
fessores de todas as modalidades de ensino, na maioria das vezes, não possuem
orientação e nem material para esse trabalho de construção da EA.
Mesmo que essa temática tenha se tornado uma realidade no ensino formal
em muitas localidades do Brasil, sabe-se das dificuldades e desafios que a educa-
ção ambiental ainda tem que enfrentar no cotidiano escolar e na heterogeneidade
de oportunidade entre nossas cidades. Silva e Almeida (2018, n. p.) destacam que
a temática ambiental dificilmente está presente nos cursos de formação dos pro-
fessores, uma vez que os cursos de formação continuada, geralmente, são desti-
nados aos professores de ensino fundamental e médio, bem como os materiais
produzidos e disponibilizados.
No âmbito da aplicação da EA nas escolas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional (LDB), sancionada em 1997, já delineava a educação ambiental como
tema transversal. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Biologia, por
exemplo, explicitam que a EA precisa de ser trabalhada de forma interdisciplinar e
em consonância com o contexto social e econômico.
Para que sejam realizados trabalhos de qualidade em EA, se faz necessário
um comprometimento dos sistemas governamentais e das políticas públicas di-
recionadas à temática ambiental, proporcionando aos professores uma formação
adequada para o desenvolvimento de projetos, com a qualificação para o trabalho
em consonância à PNEA. Contudo, em alguns casos, tal política não está presente
e, muitas vezes, cabe ao professor buscar uma formação continuada, de maneira
independente, dispondo de seus próprios recursos (SILVA; ALMEIDA, 2018).
De forma complementar, analisou-se que rodas de educação, escuta e nar-
rativas ficcionais são destacadas como traços e atividades fundamentais para os
processos de formação de professores que estão se tornando educadores am-
bientais (GALIAZZI et al., 2018). Galiazzi et al. (2018, n. p.) explicam que
os professores de uma comunidade de aprendizagem organizada
em rodas de educação e comprometidos com os prin-
cípios do diálogo, da escuta, do compartilhamento de
saberes e ações podem se tornar educadores am-
bientais experientes em processos educativos em
que as relações de saber são processos horizontais
e contínuos. Como educadores e professores ambien-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 52


tais, eles podem ensinar o valor de ouvir e aceitar diferentes pontos de vista.
Sendo assim, diante das adversidades e situações locais enfrentadas, as práti-
cas pedagógicas cotidianas como a aplicação de projetos de educação ambiental,
envolvendo as escolas, os educandos, suas famílias e entorno, poderão figurar
como local de reflexão. Essa reflexão pode ser mais efetiva se focada na cons-
trução coletiva de alternativas e, diante das necessidades observadas em cada
realidade, propiciar que intervenções socioambientais possam ser propostas. A
construção fora dos ambientes escolares, por sua vez, se refere à educação am-
biental não formal, que estudaremos no próximo tópico.
Um exemplo muito comum de prática de educação ambiental no Brasil são
as hortas escolares. Devemos valorizar tais ações e observar que os ensinos vão
além das práticas de EA formal. Em muitos contextos, a horta da escola possi-
bilita uma interação da comunidade do entorno, fomentando a coletividade das
ações realizadas.

Educação ambiental não formal


Silva Junior et al. (2018, n. p.) definem que a educação ambiental é um cam-
po de conhecimento que se encontra em construção e gera desenvolvimentos
à medida que tenhamos a prática cotidiana dos envolvidos nesse processo. O
engajamento público significativo e a responsabilidade exigem um entendimen-
to comum do que esperar e demandar das partes envolvidas nos projetos de
educação ambiental.
A Conferência de Tbilisi (1977), dentre seus princípios básicos, já considerava
que a educação ambiental deve ser um processo contínuo e permanente, come-
çando pelo pré-escolar e continuando ao longo de todas as fases do ensino for-
mal e não-formal, com aplicação interdisciplinar, de modo que se adquira uma
perspectiva global e equilibrada.
Curiosamente, as perspectivas dos praticantes e dos participantes sobre os
resultados da educação ambiental são pouco estudadas, particularmente por-
que uma compreensão das aspirações dos participantes para a educação am-
biental é complexa, apesar de essencial, para garantir que ela atenda às suas
necessidades e que eles continuem se engajando. É particularmente importante
compreender os benefícios que os participantes de projetos não formais de edu-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 53


cação ambiental podem obter com a participação nos projetos (WEST, 2015).
No contexto da educação ambiental não formal, há linhas de ações destina-
das ao planejamento, gestão, monitoramento e avaliação de programas e políticas
ambientais nas três esferas de governo, em sintonia com os setores sociais. Esse
sistema fortalece o diálogo da escola com a comunidade e movimentos sociais
(BADR et al., 2017).
A PNEA, em seu artigo 13º, definiu a educação ambiental não formal como
sendo as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade
sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da
qualidade do meio ambiente. Nesse sentido, o Poder Público, em níveis federal,
estadual e municipal, incentivará:
I - A difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espa-
ços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de
temas relacionados ao meio ambiente; II - A ampla participação da escola, da
universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução
de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - A
participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas
de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organiza-
ções não-governamentais; IV - A sensibilização da sociedade para a importância
das unidades de conservação; V - A sensibilização ambiental das populações tra-
dicionais ligadas às unidades de conservação; VI - A sensibilização ambiental dos
agricultores; VII - O ecoturismo (BRASIL, 1999).
Este aspecto não formal da EA é de extrema relevância para que os dife-
rentes atores da sociedade possam construir inúmeras práticas colaborativas
em formato de projetos e programas, aprimorando as abordagens pautadas em
políticas públicas, mas também com parcerias com setores não-governamentais,
como empresas e ONGS.

Conceitos e objetivos da educação ambiental


A educação ambiental é um campo multidisciplinar que integra diversos ra-
mos de estudo, como química, física, ciências humanas, ciências médicas, ciências
biológicas, agricultura, saúde pública e engenharia sanitária. Dessa maneira, a EA
coloca em pauta a importância da proteção e conservação do meio ambiente.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 54


O fato de a sociedade ter falhado em aceitar sua responsabilidade socioam-
biental resultou no ato de nos colocarmos no centro de nossas relações, afas-
tando-nos do meio natural do qual fazemos parte e acreditando que devemos
dominar nosso ambiente. Infelizmente, a situação em que nos encontramos
atualmente, pautada pelo conceito de que o ser humano pode controlar o meio
ambiente sem respeitar ciclos naturais, está na raiz de grande parte do que é
ensinado nas escolas.
A criação de educandos ambientalmente conscientes em uma sociedade que
não reconhece a gravidade dos problemas ambientais que enfrenta provavel-
mente não terá muito impacto sobre esses problemas (SAYLAN; BLUMSTEIN,
2011). Isso porque existe uma desconexão fundamental entre o que aprende-
mos na escola e como nos comportamos em nosso meio social, pelo menos no
que diz respeito à educação ambiental. Embora essas variações possuam difícil
medição, essa desconexão é facilmente percebida e precisa ser encarada como
uma necessidade a ser superada. Fazer isso exige resiliência, criatividade, sensi-
bilidade e esforço de todas as classes sociais e econômicas.
Não é errado pensarmos a EA como uma adjetivação da educação, uma vez
que tornar esta última apta à educação ambiental é uma necessidade de nosso
presente, e isso se justifica devido ao fato de a EA enfatizar aspectos da educa-
ção que muitas vezes foram e são marginalizados, mal interpretados e podem
causar uma diversidade de impactos em muitas esferas da sociedade.
Os componentes principais da educação ambiental são: I) conscientização
e sensibilidade em relação aos desafios ambientais; II) compreensão das dinâ-
micas relacionadas ao meio ambiente; III) atitudes de preocupação e motivação
para melhorar ou manter a qualidade ambiental; IV) habilidades para identificar
e ajudar a resolver problemas; V) participação em atividades para
resoluções coletivas.
Nesse contexto, a Resolução n. 422/2010 estabeleceu “dire-
trizes para conteúdos e procedimentos em ações,
projetos, campanhas e programas de informação,
comunicação e educação ambiental no âmbi-
to da educação formal e não-formal, realizadas
por instituições públicas, privadas e da socieda-
de civil” (CONAMA, 2012, p. 1088).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 55


CURIOSIDADE
A educação para a cidadania ambiental é definida como o tipo de educação
que cultiva aptidões, valores, atitudes e competências necessárias que um
cidadão deve possuir para ser capaz de agir e participar da sociedade como
agente de mudança em escala local, nacional e global (HADJICHAMBIS;
REIS, 2020). Essa abordagem é importante para capacitar os cidadãos a
praticarem seus direitos e deveres ambientais, bem como para identificar
as causas estruturais subjacentes aos problemas ambientais, levando em
consideração a justiça inter e intrageracional (ENEC, 2018a).

Um dos objetivos da EA é que a sociedade compreenda a relação de inter-


dependência entre os ecossistemas naturais e as interações sociais humanas.
Assim, podemos adquirir conhecimento à medida que desenvolvemos compe-
tências para conservar e preservar o meio ambiente. Diante disso, torna-se im-
prescindível que os atuais padrões de conduta individual sejam alterados e mo-
dificados para outros mais coletivos e ambientalmente adequados. Dessa forma,
é possível destacar que são objetivos específicos da educação ambiental:
• Conhecimento acerca das diferentes questões ambientais: compreen-
der a multiplicidade de interações ambientais e sociais entre os elementos que
compõem tais sistemas;
• Desenvolvimento da conscientização ambiental: prover ferramentas
para que os grupos sociais compreendam diferentes problemas, sensibilizando
-os para que atuem na resolução dessas questões;
• Ampliação das habilidades socioambientais: desenvolver valores sociais
para que haja fortalecimento da motivação relacionada à conservação do meio
ambiente, bem como à recuperação de áreas já afetadas por impactos negativos
devido a atividades antrópicas;
• Desenvolvimento de competências: incentivar habilidades específicas
que possibilitem a operacionalização dos conhecimentos e das atitudes coletivas
desenvolvidas, tornando-as ações ambientais concretas;
• Participação social: proporcionar oportunidades e o ensejo de que todo cida-
dão participe de atividades e projetos na solução de questões am-
bientais de variada complexidade e em diferentes contextos.
Ressalta-se que o desenvolvimento da consciência am-
biental passa obrigatoriamente pela análise crítica do meio
que ocupamos, das ações que praticamos, das responsabili-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 56


dades que temos e quais ações podemos empregar
para que tenhamos participação (prática). A par-
ticipação social é, portanto, uma peça-chave para
não apenas atuarmos de forma corretiva (em relação
aos problemas já existentes) como também para agirmos
de forma preventiva, protegendo os diferentes sistemas
ambientais e prevenindo que novos problemas se tornem
inevitáveis e/ou irreversíveis.
Assim, observe que a EA se relaciona ao contínuo processo educativo formal
e não formal, de forma a adquirir conhecimentos teóricos e práticos sobre o
ambiente e em consonância com a adaptação do comportamento social frente
às mudanças ambientais observadas.
Metodologicamente, é fundamental que a análise das interrelações sociais e
ambientais seja bem embasada para que toda a sociedade se torne apta a com-
preender os problemas ambientais e as potenciais soluções a serem implemen-
tadas. De certa forma, tanto no campo de atuação formal quanto no não formal,
a sociedade precisa ser participativa, a fim de que a integração seja voltada à
solidariedade com as futuras gerações, como previsto na Constituição Brasileira
em seu artigo 225.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 57


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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 64


UNIDADE

2
Responsabilidade socioambiental
Nos últimos séculos, o ser humano passou a interferir cada vez mais nos
processos naturais. Ao longo do século XX, inúmeros avanços tecnológicos e
crescimento econômico foram obtidos. Com o aprimoramento tecnológico e
inúmeras descobertas em todas as áreas do conhecimento, passamos a con-
trolar os elementos da natureza e a aumentar sua capacidade de produção.
Muitos desses avanços visaram à produção e o consumo sem avaliar questões
de risco ambiental e social.
O crescimento populacional no pós-guerra (com consequente aumento
pela demanda por combustíveis fósseis, alimentos e tecnologia) resultou em
um fluxo enérgico desequilibrado ecossistemicamente. Há muitos anos esta-
mos sendo alertados sobre a insustentabilidade dos hábitos de consumo re-
sultantes da economia capitalista.
Atualmente, as sociedades tornaram-se cada vez mais complexas e conec-
tadas. Desenvolveu-se o modo globalizado de vida, sendo que padrões de
consumo adotados em escala mundial resultam em perdas progressivas de
características geográficas, regionais e culturais, bem como na contaminação
ambiental, que resulta em perda de diversidade de fauna e flora.
Nesse mesmo contexto, surge o termo responsabilidade socioambien-
tal. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a responsabilidade so-
cioambiental está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e políticas
que tenham entre seus principais objetivos a sustentabilidade. Responsabi-
lidade socioambiental também pode ser compreendida como um conjunto
de práticas exercidas por cidadãos, governos e empresas públicas
e privadas que têm por objetivo providenciarem a inclusão social
(responsabilidade social) e o cuidado com o meio ambiente (res-
ponsabilidade ambiental).
Se de um lado temos observado diversas atividades que
causam degradação socioambiental e colocam em risco a
qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações,
do outro há diversas organizações se mobilizando para nos
conscientizar da necessidade de mudança para que o plane-
ta Terra e a humanidade possam coexistir (Figura 1).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 66


Figura 1. Mobilização popular enfatizando a necessidade de mudança para um perfil responsável socioambientalmen-
te. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020.

O nascimento do mundo globalizado e a questão


socioambiental
Nos últimos 250 anos, os impactos causados pelas diversas mudanças de-
correntes do desenvolvimento industrial ainda não estão totalmente dese-
nhados e são debatidos por diversas organizações e meios de comunicação.
Nos dias de hoje, podemos dizer que a máxima do desenvolvimento industrial
é a globalização.
Para chegarmos ao mundo como conhecemos hoje, o mundo globalizado,
alguns momentos históricos foram cruciais. A Revolução Industrial intensi-
ficou o uso e a pressão sobre os recursos naturais renováveis e não reno-
váveis para atender à intensificação da produção industrial em escala. Com
a maior demanda por trabalhadores nas indústrias e em busca de “uma vida
melhor” – aos moldes capitalistas –, muitas pessoas saíram do campo para
morar nas cidades, processo que culminou na urbanização. A revolução
verde levou ao campo das tecnologias nunca vistas, permitindo incrementos
anuais na produtividade de vegetais e carnes, comercializados para atender a
demanda interna e externa das redes de mercado global.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 67


EXPLICANDO
Recursos naturais renováveis são aqueles que possuem maior capaci-
dade de manutenção e não se esgotam facilmente, são exemplos: água,
solo, matéria orgânica e vento. Os recursos naturais não renováveis são
aqueles que se esgotam quando usados sem práticas sustentáveis e seu
tempo de reposição não é comparado à cronologia de vida humana, são
exemplos: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e ener-
gia nuclear. Com exceção à energia nuclear, todos os exemplos citados
são de origem fóssil.

Estas transformações foram e são acompanhadas pelos impactos negativos


ao meio ambiente e à perda de características sociais: há aumento das áreas
desmatadas, da poluição atmosférica, do solo e hídrica, perda de biodiversida-
de, os produtos consumidos não são corretamente descartados, há aumento
da desigualdade social, entre outros (Figura 2).

Figura 2. Poluição ambiental resultante da produção industrial. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020.

Nos dias de hoje, uma vez que é indiscutível que diversas fronteiras ecoló-
gicas mundiais foram ultrapassadas, o mundo globalizado vem exigindo conti-
nuamente modelos de produção de bens e serviços obtidos por meio de tecno-
logias que repensem questões de competitividade e que considerem formas de
mitigação do impacto social e ambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 68


A importância da avaliação dos danos que a produção e os processos têm
sobre o ambiente e a sociedade toma forma neste contexto. Além da avaliação,
ações de gestão que contribuam para o desenvolvimento ambiental e para o
despertar da responsabilidade socioambiental devem ser propostas por gover-
nos, empresas e cidadãos.

A responsabilidade socioambiental como compromisso


da modernidade
Assistimos em noticiários, nas redes sociais e vivemos diretamente as ques-
tões ambientais. Comumente, ouvimos falar sobre responsabilidade socioam-
biental. Isso vem acontecendo porque o mundo moderno se deu conta de que
os impactos dos nossos hábitos de produção e consumo não estão alinhados
com o poder de resiliência do planeta, uma vez que seus recursos são limitados.
Por esse motivo, instituições públicas e privadas, organizações governa-
mentais e não governamentais têm se dedicado cada vez mais a programas
de implementação de práticas socioambientais e de conscientização da popu-
lação. A ideia consiste em identificar, eliminar ou, ao menos, reduzir o impacto
negativo que uma determinada atividade possa causar.

EXEMPLIFICANDO
Diversas organizações governamentais e não governamentais se dedicam
à causa socioambiental. Veja alguns exemplos a seguir:
• Plano nacional de juventude e meio ambiente (PNJMA);
• Agenda ambiental na administração pública;
• Instituto de pesquisas socioambientais (IPESA);
• Instituto socioambiental (ISA);
• Fundo casa socioambiental;
• Verdejar socioambiental;
• Instituto Ethos.

Uma vez que elas já existem e não se mostraram totalmente efetivas, as


práticas de responsabilidade socioambiental vão além de Leis. Atualmente, os
programas devem fomentar e inserir a responsabilidade socioambiental como
um compromisso diário a ser adotado pela sociedade, de forma a garantir a
existência de um mundo melhor para as futuras gerações.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 69


Lembrando que se trata de uma vertente global, diversas ações podem
ser adotadas a fim de inserir as práticas de responsabilidade socioam-
biental no dia a dia pessoal e profissional. Hoje, a sociedade sabe identifi-
car cidadãos, instituições, organizações e empresas que investem em po-
líticas e na cultura organizacional sustentável, posicionando-se de forma
ética e responsável.

A responsabilidade socioambiental governamental,


cidadã e empresarial
Todos são responsáveis pela elaboração, difusão e aplicação das práticas
de responsabilidade socioambiental; entre seus agentes, estão os governos, as
cidades e as empresas.
O governo atua na pauta socioambiental, formulando leis e ações de cons-
cientização que atingem a sociedade civil e empresarial. Para que os cidadãos
se tornem cientes, possam exigir e exercer a responsabilidade socioambiental,
o governo deve encontrar meios para que as políticas públicas estejam próxi-
mas dos cidadãos, divulgando-as nos meios de comunicação e redes sociais,
adequando currículos escolares e financiando instituições de pesquisa. Além
disso, a gestão socioambiental deve ouvir os cidadãos por meio de seus repre-
sentantes municipais e estaduais, bem como a iniciativa privada e as organiza-
ções não governamentais. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e
suas esferas são responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas que
tenham como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis. Além
disso, também é responsabilidade do governo promover o crescimento do País
adotando práticas de desenvolvimento sustentável, ou seja, grandes obras de
interesse social devem fazer uso de práticas sustentáveis e serem baseadas em
estudos de impacto ambiental.
As cidades e seus cidadãos têm o compromisso de exercer as práticas
de responsabilidade socioambiental. Para isso, como mostra o Quadro 1,
existem diversas ações que podem ser adotadas no nosso dia a dia. De-
vemos exigir dos governantes, políticas que fomentem tal temática e dar
preferência ao consumo de produtos e serviços de empresas atuantes na
causa socioambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 70


Quando nos colocamos como agentes ativos das práticas de responsabili-
dade socioambiental, estamos indiretamente praticando assistencialismo, in-
clusão social, inclusão digital e educação ambiental! Envolver-se nessas ações
nos torna cidadãos participativos e responsáveis, além disso, as questões
socioambientais vêm se tornando cada vez mais importantes e moldando-se
como um dever de todos.

QUADRO 1. PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL QUE


PODEM SER ADOTADAS NAS CIDADES

Prática Exemplo

Comprando de empresas que apoiam a causa sus-


Faça escolhas conscientes
tentável.

Indo de bicicleta, metrô, carona, ônibus ou cami-


Estimule o uso do transporte alternativo
nhando.

Atualizando os aparelhos eletrônicos, em vez de


Avalie a necessidade de consumir
trocá-los.

Informando-se sobre práticas ilegais como trabalho


Busque a origem dos produtos
infantil.

Pratique a coleta seletiva Separando embalagens plásticas do lixo orgânico.

Participe de atividades recreativas Organizando festas folclóricas e tradicionais.

Conheça os produtos da sua região Comprando diretamente do agricultor indo ao co-


mércio local.

Converse sobre meio ambiente Falando com vizinhos sobre as opções sustentáveis
existentes na cidade.

Evite fontes não renováveis Consumindo etanol e produtos biodegradáveis.

Os cidadãos exercem a responsabilidade socioambiental individual. Ela


consiste em atitudes individuais reiteradas para uma maior preservação do
ambiente a nossa volta. Devemos pensar que ela deve ser praticada individual-
mente, mas por todos nós, resultando em uma ação coletiva e de grande poder
ambiental. São exemplos de responsabilidade socioambiental individual:
• Evitar usar sacolas e embalagens plásticas;
• Não desperdiçar alimentos;
• Separar e reciclar o lixo;
• Armazenar e destinar corretamente o óleo de cozinha;

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 71


• Economizar água e energia elétrica, usando de forma racional;
• Adquirir eletrodomésticos com baixo consumo de energia.
As empresas que aderem à responsabilidade socioambiental buscam co-
nhecer as características regionais, ouvir seus colaboradores e possuem pro-
cessos e/ou serviços ambientalmente corretos. Elas reconhecem a sua respon-
sabilidade socioambiental e assumem voluntariamente compromissos que vão
para além dos requisitos reguladores convencionais, aos quais estão necessa-
riamente vinculadas. Procuram elevar o grau de exigência das normas relacio-
nadas com a proteção ambiental, com o desenvolvimento social e com o res-
peito aos direitos fundamentais, adotando uma cultura organizacional aberta
em que interesses de todas as esferas se conciliam em direção a uma aborda-
gem global da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável.
Como podemos observar na Figura 3, adotando as práticas de responsabili-
dade socioambiental e estratégias de marketing, além dos benefícios sociais e
ao meio ambiente, as empresas também melhoram sua imagem corporativa e
aumentam seus lucros. Ocorre ainda a valorização da marca, maior fidelização
dos clientes, redução dos custos, aprimoramento da comunicação externa e o
melhor desempenho dos empregados.

Figura 3. Ao adotar as práticas de responsabilidade socioambiental há geração de lucro. Fonte: Shutterstock. Acesso
em: 30/09/2020.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 72


Empresas podem adotar práticas de responsabilidade socioambiental por
meio da adoção de programas e projetos de inclusão social ou digital, de direi-
tos das mulheres e inserção no mercado do trabalho de maneira igualitária,
por programas de alfabetização, reciclagem, reflorestamento e recuperação de
áreas degradadas e destinação e/ou liberação correta de resíduos industriais
(efluentes ou gasosos).

Aspectos legais
No que diz respeito às leis de responsabilidade socioambiental, pode-
se dizer que o Brasil possui uma das legislações mais complexas e avan-
çadas do mundo. O cumprimento das leis socioambientais nacionais é, em
sua grande parte, de aspecto jurídico, mas também podem ser aplicáveis
às pessoas físicas.
A Constituição Federal de 1988 prevê que toda pessoa, física ou jurídica,
que apresentar conduta ou atividade que cause dano ao meio ambiente estará
passível de sanções penais administrativas, que serão aplicadas independente-
mente da obrigatoriedade de recuperar o dano causado. O poluidor é a pessoa
jurídica ou física responsável, direta ou indiretamente, pelo dano causado. O
sujeito se responsabilizará pelo dano ambiental real e potencial, que será es-
tipulado por entidades da área. Uma vez que o meio ambiente é um direito da
atualidade e das gerações futuras, os prejuízos e dimensões do dano são de
interesse mundial, o que torna a ação jurídica de extrema relevância. Contudo,
há grande dificuldade na comprovação da escala do dano causado, devido à
complexidade de mensuração, assim, a responsabilidade deverá ser objetiva.
O Estado, uma vez que é o responsável pela saúde pública, também pode
ser responsabilizado pelo dano causado ao meio ambiente quando há omis-
são de sua responsabilidade legal.
A Constituição Federal, alicerçada nos valores da solidariedade, dignidade
humana e justiça social, instituiu o “estado social”, que deve orientar as rela-
ções sociais e econômicas. Para que cidadãos, governos e empresas exerçam
práticas de responsabilidade socioambiental, devemos ter em mente que, an-
tes de qualquer coisa, há necessidade da regulação das políticas e dos direitos
sociais, entre eles, educação, saúde, habitação e assistência social.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 73


Uma vez que há uma forte tendência de mudança com relação à adoção de
uma postura ambientalmente correta, a responsabilidade socioambiental as-
sociada às penalidades legais e exercida pelas leis, normas e infrações devem
ser conhecidas e praticadas pela sociedade civil, governos e empresas.
Nas empresas, há a responsabilidade socioambiental empresarial, que tem
natureza de responsabilidade jurídica caracterizada como encargos sociais que,
quando não cumpridos, resultam em multas e/ou penalidades. Os encargos so-
ciais têm origem na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Eles são os custos
pagos pelo empregador sobre a folha de pagamento de salário dos colaboradores.

Leis socioambientais brasileiras


O Quadro 2 lista algumas das leis ambientais mais importantes no País.
Existem também as leis estudais e municipais, bem como os órgãos que se
certificam de que elas estão sendo cumpridas, como o Conselho Nacional
de Meio Ambiente (CONAMA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA).

QUADRO 2. EXEMPLOS DE LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS

Lei Definição

Lei 6.766/1979 Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências.

Dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanis-


Lei 6.938/1981
mos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados


Lei 7.347/1985 ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.

Estabelece os instrumentos para a gestão dos recursos hídricos de domí-


Lei 9.433/1997
nio federal.

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas


Lei 9.605/1998
e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências.

Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal,
Lei 9.985/2000 institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e
dá outras providências.

Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável;


Lei nº 11284/2006 institui, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o Serviço Florestal
Brasileiro.

Lei 11.445/2007 Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 74


Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de
Lei 12.305/2010
12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências.

Estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de


preservação permanente e as áreas de reserva legal; a exploração flor-
estal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos
Lei 12.651/2012
produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e
prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus ob-
jetivos. também conhecido como código florestal.
Fonte: BRASIL. Acesso em: 01/10/2020.

A Lei 5.452 é uma das principais leis sociais brasileiras; ela rege os direitos
dos trabalhadores. Nela, são discutidas questões sobre registro em carteira de
trabalho e rescisão contratual, vale-transporte, descanso semanal remunera-
do, pagamento de salário, férias, fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS),
décimo terceiro salário, hora extra, adicional noturno, aviso prévio, licença ma-
ternidade e paternidade.
A responsabilidade social empresarial aborda questões que vão além das
regulamentadas por lei. Ela trabalha a igualdade de oportunidades. Deve
considerar os critérios de promoção dos funcionários, igualdade de gênero e
pessoas com deficiência, acidentes de trabalho, capacitação continuada para
o aprimoramento do nível do conhecimento do colaborador, além da relação
ética entre os colaboradores.

A responsabilidade socioambiental além das exigências


legais
Quando uma empresa ou organização segue leis de cunho socioambiental ou
normas determinadas por lei, ela está exercendo seu papel como pessoa jurídi-
ca, ou seja, a empresa está somente seguindo os aspectos jurídicos inerentes ao
seu setor. Ser uma empresa social e ambientalmente responsável vai além das
obrigações legais e econômicas: significa que ela se posiciona e atua no combate
aos problemas, buscando o desenvolvimento socioambiental sustentável.
A série ISO (International Organization for Standardization – organização in-
ternacional para padronização) estabelece sistemas de gestão na cultura orga-
nizacional de empresas. As séries ISO são compostas por normas que vão além
das exigências legais e algumas podem se tornar tão importantes que passam
a ser exigidas em lei. As normas ISO no Brasil são controladas pela ABNT NBR
(Associação Brasileira de Normas Técnicas).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 75


A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a
empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decor-
rentes de sua atividade, objetivando tornar-se sustentável no curto e no longo
prazo. A norma estabelece algumas práticas:
• Implementação de um sistema de gestão ambiental;
• Rotulagem ambiental;
• Análise de desempenho ambiental;
• Análise de ciclo de vida;
• Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos;
• Comunicação ambiental;
• Mitigação das mudanças climáticas.
A adoção das normas também pode trazer benefícios, como:
• Redução de custos devido ao uso de matéria-prima, água e energia de
forma consciente;
• Captação de novos clientes, devido à inserção no mercado ambiental;
• Melhoria dos processos inter e intra setoriais, bem como, da cultura orga-
nizacional;
• Menor risco de falência;
• Abertura a patrocínios e boa visão internacional;
• Possível diversificação setorial;
• Adesão de novos grupos de clientes;
• Maior qualidade e controle dos produtos, serviços e processos.
A série ISO 9000 fornece meios para implementação e monitoramento con-
tínuo de técnicas para otimização de processos pela implementação de um
sistema de gestão da qualidade. As normas que compõem a série ISO 9000
estão sempre sendo atualizadas e são conhecidas e desejadas por empresas
do mundo todo. Aderir às normas ISO 9000 traz uma série de benefícios:
• Aumento da produtividade;
• Redução de custos;
• Produtos e serviços de maior qualidade;
• Credibilidade e reconhecimento interno e externo;
• Visão mais ampla do fluxo de trabalho;
• Segurança nos procedimentos internos;
• Colaboradores engajados e integrados.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 76


A série ISO 45001 implementa um sistema de gestão de saúde e segurança
ocupacional com foco na melhoria do desempenho das empresas em termos
de saúde e segurança do trabalho. Segundo a própria norma, uma organização
é responsável pela saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores e outros
que podem ser afetados por suas atividades. Esta responsabilidade inclui pro-
mover e proteger sua saúde física e mental.
Podem ser citadas como benefícios da implementação da norma ISO 45001
em uma empresa:
• Gerenciamento de risco e acidentes de trabalho;
• Redução de afastamentos por acidente de trabalho;
• Maior qualidade de vida e melhor relacionamento empregador x empregado;
• Redução dos prejuízos financeiros devido a processos trabalhistas.
A ISO 50001 tem objetivo de melhorar a eficiência enérgica das empresas. Im-
plementando um sistema de gestão de energética, a empresa tem como benefícios:
• Uso de tecnologias modernas e eficientes;
• Redução dos custos com energia;
• Redução da emissão de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas.
A adoção das normas ISO atesta a responsabilidade no desenvolvimento
das atividades de uma empresa. Para sua obtenção e manutenção, são realiza-
das auditorias periódicas por uma empresa certificadora, que deve ser creden-
ciada e reconhecida por órgãos nacionais e internacionais. Organizações que
aderem às normas ISO possuem sistema de manejo integrado e se colocam no
mercado como responsáveis socioambientalmente.

Desenvolvimento sustentável
O crescimento econômico no século XX se desenvolveu nos moldes capita-
listas, passando a depender do consumo cada vez maior de energia e recursos
naturais (recursos renováveis e não renováveis). Atrelado a isto, da década de
1950 em diante, a preocupação com uma eminente explosão demográfica glo-
bal resultante do crescimento dos países pobres causou um interesse global
pelos temas populacionais. Iniciaram-se diversos movimentos para controlar
a fecundidade dos países pobres. Na Conferência Mundial de População,
realizada pela ONU em Bucareste, 1974, de um lado, os países desenvolvidos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 77


articulavam que, para reduzir a pobreza, deveriam haver programas de estí-
mulo à redução do crescimento da população por meio de redução da taxa de
natalidade, do outro, os países pobres e em desenvolvimento defendiam que
políticas de desenvolvimento eram necessárias.
Após longos períodos de debates, constatou-se que os moldes de desen-
volvimento até então adotados poderiam ser insustentáveis, e novos meios
de produção e consumo deveriam ser adotados uma vez que a disponibilidade
dos recursos era finita.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a produção sustentável
baseia-se na incorporação, ao longo do ciclo de vida de bens e serviços, de
medidas que minimizem os custos ambientais e sociais resultantes da ação hu-
mana. Sobre consumo sustentável, entende-se como o uso de bens e serviços
suficientes para atender às necessidades básicas, proporcionando melhor qua-
lidade de vida, enquanto reduz o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, a
geração de resíduos e a emissão de poluentes.
De acordo com o Relatório de Brundtland, os principais objetivos das políti-
cas de desenvolvimento sustentável seriam os seguintes:
• Retomar o crescimento;
• Alterar a qualidade do desenvolvimento;
• Atender às necessidades essenciais do emprego, educação, alimentação,
saúde, energia, água e saneamento;
• Manter um nível populacional sustentável;
• Conservar e melhorar, por meio da tecnologia, as bases dos recursos;
• Incluir o meio ambiente e a economia nas decisões que afetem a sociedade.
Para atingir tais objetivos de produção e consumo, a modificação das or-
ganizações deveria ser contínua, contar com o apoio da ciência e manter-se
dinamicamente equilibrada. Práticas produtivas exploratórias, predatórias e
que visassem o lucro deveriam dar espaço para relações sociais justas e para
bem-estar dos seres vivos.
Em um primeiro momento, a busca pelo desenvolvimento sustentável das
nações parece limitar seu potencial de desenvolvimento. Na realidade, deve-se
entender o desenvolvimento sustentável como um conjunto de práticas que
não limite o desenvolvimento econômico, mas que considere que os recursos
naturais são finitos e devem ser usados sob um viés conservacionista. Assim,

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 78


se estabelece um paradigma que consiste em diminuir o consu-
mo e a exploração dos recursos renováveis e não renováveis pe-
los países desenvolvidos, garantindo que países industrializados
– em desenvolvimento – possam se modernizar, proporcionando
qualidade de vida às suas populações em sinergia com o meio ambiente.
Muito se discute sobre desenvolvimento sustentável; às vezes, há consen-
so entre as atitudes a serem adotadas, às vezes, não há. De fato, diversas ações
foram tomadas e cada vez fica mais evidente que ainda há muito a ser feito.

ASSISTA
A Organização das Nações Unidas vem se posicionando
como uma grande difusora das ideias de desenvolvimen-
to sustentável no mundo todo. Assista ao vídeo da Cúpula
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentá-
vel, realizada em 2015.

Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável


Chegamos a um ponto em que assuntos relacionados aos impactos da ação
humana, bem como sobre a necessidade das práticas de responsabilidade so-
cial são vistos diariamente nos meios de comunicação. Cada dia mais é exigido
que a sociedade adote uma postura de mudança diante de seus meios de pro-
dução e de suas opções de consumo.
As consequências do desenvolvimento em condições de insustentabilidade
fizeram com que diversos cientistas discutissem a transgressão das fronteiras
planetárias. As fronteiras planetárias se referem ao poder de fornecimento de
recursos e da resiliência do planeta diante dos hábitos e moldes de produção e
consumo. O conceito pode ajudar a sociedade civil e o poder público na defini-
ção de modelos de produção seguros para a humanidade e a vida na Terra. As
nove fronteiras planetárias, segundo Martine e Alves, são:
[...] mudanças climáticas; mudança na integridade da biosfe-
ra (perda de biodiversidade e extinção de espécies); depleção
da camada de ozônio estratosférico; acidificação dos oceanos;
fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e nitrogênio); mudan-
ça no uso da terra; uso global de água doce; concentração de

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 79


aerossóis atmosféricos; e introdução de poluentes orgânicos,
materiais radioativos, nanomateriais e microplásticos. Das nove,
quatro já foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da
integridade da biosfera, mudança no uso da terra e fluxos bio-
geoquímicos (MARTINE; ALVES, 2015, p. 445).
Sobre o aquecimento global e mudanças climáticas, devemos conside-
rar duas situações. A primeira trata do efeito estufa natural, que consiste na
absorção, pelos gases do efeito estufa, dos raios infravermelhos emitidos pela
superfície terrestre. Este processo permite que a superfície terrestre se man-
tenha em temperaturas ideais para os seres vivos. A segunda situação aborda
o efeito estufa antrópico, no qual o aumento da concentração atmosférica dos
gases do efeito estufa, causados pelo uso excessivo de recursos não renová-
veis – como os combustíveis fósseis –, resulta no aumento da temperatura da
superfície terrestre, chamado de aquecimento global (Figura 4).

Sol

Ativ
ida
des
al
tur h um
na an
fa as
tu O CO au
N2
es

2
m
to

en
i
Efe

tam
os
CH
4

gas
CH 4

es
de e
feito
estufa
2
CO

N 2O

Figura 4. À esquerda, efeito estufa natural e, à direita, efeito estufa causado pela atividade humana que resulta em
aumento da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, entre eles o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4)
e o óxido nitroso (N2O). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 30/09/2020.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 80


A sociedade vem discutindo ativamente as consequências do segundo caso,
bem como as formas de mitigar as emissões reduzindo a velocidade das mu-
danças climáticas causadas pelo aquecimento global.
Os cientistas relatam que, caso nenhuma ação seja tomada, eventos ex-
tremos podem começar a acontecer, como: aumento da temperatura dos
oceanos, ondas de calor, alteração dos regimes pluviométricos, desertifica-
ção, derretimento das calotas polares, redução da diversidade de fauna e
flora, entre outros.
O termo “pegada de carbono” refere-se ao consumo individual diante das
práticas de responsabilidade ambiental, ou seja, o quanto os hábitos de uma
pessoa podem impactar o desenvolvimento sustentável do planeta. A pegada
de carbono pode ser calculada, tornando-se um índice, geralmente, expresso
em emissão de dióxido de carbono – um dos principais gases do efeito estufa
causado pelo homem – que quantifica o efeito da utilização dos recursos sobre
a bioesfera. Estes dados individuais podem ser extrapolados para medir os
efeitos da atividade humana, servindo como base para elaboração de políticas
públicas e desenvolvimento de novos produtos.

CURIOSIDADE
Você pode calcular a sua pegada de carbono pessoal ou simplesmente sa-
ber mais sobre a pegada de carbono na sua região. Fornecendo informa-
ções sobre sua dieta, seus hábitos de transporte e consumo de energia,
uma calculadora especializada fará os cálculos e você poderá comparar
sua pegada com a de pessoas de outros países.

Sem dúvida, não podemos conceber um mundo sem uso


de fontes energéticas. Porém, existem diversas alternativas
sendo disponibilizadas e aprimoradas pela ciência. Diante
desse contexto, abordamos a ideia de energia limpa.
Ela vem de fontes de energia renováveis (Figura 5), e
quando optamos por utilizá-las, estamos reduzindo
a emissão de gases do efeito estufa para a atmos-
fera. São exemplos de energia limpa aquelas pro-
venientes de fontes solares, eólicas, geotérmicas,
hidráulicas e maremotrizes.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 81


Energia poluente/fontes não Energia limpa/fontes
renováveis renováveis

Figura 5. Energia derivada de recursos não renováveis e a energia limpa proveniente de fonte de energia renováveis.
Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/10/2020.

Empresas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa em seus pro-


cessos produtivos podem comercializar créditos de carbono. Esse mercado
internacional cresce anualmente. Os créditos baseiam-se na quantidade de gás
não emitido para a atmosfera, sendo que cada crédito se refere a uma tonelada
de dióxido de carbono equivalente (t CO2e). Não somente o dióxido de carbono
é contabilizado, outros gases causadores do aquecimento global também, mas
seus valores são calculados considerando sua equivalência em moléculas de
dióxido de carbono.
Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e cons-
cientes em relação à produção e à origem dos alimentos. Nesse sentido, a
agricultura intensiva vem avançando lentamente na busca de tecnologias e
processos que minimizem problemas de poluição e degradação dos recursos
naturais e que ofereçam produtos seguros ao consumidor final. Podemos ci-
tar o zoneamento econômico-ecológico, a agricultura de precisão, a fixação
biológica de nitrogênio, as práticas de controle da erosão do solo, os sistemas
de plantio direto e o manejo integrado de pragas. Além disso, a produção
orgânica será decisiva como a agricultura do futuro, assim como os sistemas
agroflorestais, a agricultura sintrópica e o consumo local. Cada vez mais,
os consumidores buscam opções de produtos originários do modelo orgânico
de produção. Tais sistemas resultam em sustentabilidade no curto e no longo
prazo, uma vez que são baseados em práticas de responsabilidade socioam-
bientais com abordagens integradas. Os processos produtivos nesses siste-
mas são baseados nos mecanismos e processos naturais que eliminam o uso
dos agrotóxicos e fertilizantes sintéticos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 82


As três dimensões da sustentabilidade
A responsabilidade socioambiental é alcançada por meio da adoção de
práticas de desenvolvimento sustentável por empresas, por políticas governa-
mentais e pela atuação do cidadão. Ela se concretiza sob o emprego das três
dimensões da sustentabilidade, como mostrado na Figura 6.
A esfera social, sob uma perspectiva sustentável de produção e consumo,
deve considerar a qualidade de vida dos seres humanos tendo em vista a di-
versidade cultural, étnica, religiosa e de gênero, bem como questões regionais
da comunidade.
Do ponto de vista econômico, deve-se considerar o papel da sociedade na
rentabilidade e a viabilidade empresarial por meio de ações ganha-ganha, de
forma que haja retorno, na forma de lucro, ao investimento realizado pelo ca-
pital privado e qualidade de vida aos colaboradores.

Social

SUSTENTABILIDADE

Ambiental Econômica

Figura 6. Tripé da sustentabilidade. Fonte: BERLATO; MERINO; FIGUEIREDO, 2018. (Adaptado).

Na esfera ambiental da sustentabilidade, os processos de produção e


consumo deverão considerar a adoção de práticas ambientalmente corretas.
Termos como ecoeficiência, pegada de carbono, energia limpa e sete R’s pro-
porcionarão uma cultura organizacional ambiental nas empresas, residências
e espaços públicos, uma vez que conduzem ao desenvolvimento do perfil de
responsabilidade socioambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 83


Debates mundiais
Em 1972, a ONU convoca a Conferência das Nações Unidas para o Meio Am-
biente, em Estocolmo, e a pauta ambiental começa a ser debatida oficialmente,
resultando no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Após al-
guns anos depois da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente de
1983, nasce um grande marco da pauta ambiental elaborado pela Comissão
de Brundtland, o relatório nomeado como Nosso futuro comum.
Após a Conferência, diversos outros eventos discutiram os ideais e os meios
de conduzir o desenvolvimento mundial para os moldes do desenvolvimento
sustentável. Em 1988, uma união entre a ONU Meio Ambiente e a Organiza-
ção Meteorológica Mundial (OMM) resultou na criação do Painel Intergover-
namental para as Mudanças Climáticas (IPCC), sendo que os resultados de
pesquisas sobre mudanças climáticas realizadas no mundo todo são reunidas
e relatórios e planos de ação são publicados periodicamente. A famosa Cúpula
da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi um marco de sua década,
pois discutiu a importância de se agregar os componentes sociais, econômi-
cos e ambientais nas buscas pelo desenvolvimento sustentável e finalizou a
Agenda 21. O Protocolo de Kyoto, de 1997, estabeleceu metas obrigatórias de
redução das emissões de gases de efeito estufa nos 37 países signatários.
Em 2000, a Cúpula do Milênio das Nações Unidas definiu oito objetivos con-
cretos e mensuráveis, que foram acompanhados em escala nacional, regional e
global. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram resultado
de uma série de cúpulas multilaterais realizadas na década de 90 sobre as condi-
ções do desenvolvimento humano. A formulação dos ODM contou
com especialistas renomados de diversas áreas que estiveram
focados na redução da pobreza extrema observada, principal-
mente, nos países pobres e em desenvolvimento.
Todos os países signatários da época aderiram ao acor-
do, comprometendo-se em inserir em suas políticas,
ações para alcançar os objetivos. Os oito objetivos do
milênio foram definidos conforme o Quadro 3. Eles
deveriam ser atingidos até 2015, quando seriam então
discutidos novamente.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 84


QUADRO 3. OITO OBJETIVOS DEFINIDOS NA CÚPULA DO
MILÊNIO DAS NAÇÕES UNIDAS

Objetivos Descrição

Objetivo 1 Erradicar a pobreza extrema e a fome

Objetivo 2 Alcançar o ensino primário universal

Objetivo 3 Promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres

Objetivo 4 Reduzir a mortalidade infantil

Objetivo 5 Melhorar a saúde materna

Objetivo 6 Combater HIV, malária e outras doenças

Objetivo 7 Garantir a sustentabilidade ambiental

Objetivo 8 Desenvolver parcerias globais para o desenvolvimento

Fonte: ROMA, 2019.

Em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realiza-


da na África do Sul, discutiu os compromissos e metas da Agenda 21 e analisou
suas conquistas, para então conceber uma Agenda 21 reformulada, com ações
concretas e tangíveis em relação àquelas estabelecidas em 1992.
Em 2015, foi definida uma nova agenda, a Agenda 2030. Ela foi desenvolvida
em um trabalho conjunto entre governos, entidades e sociedade civil. Entre
outros, foram definidos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS’s), que tiveram como base os ODM’s. Os ODS’s são o que se tem de mais
atual com relação às metas em direção a um mundo mais sustentável.

Agenda 21
A Cúpula da Terra, também conhecida como Eco-92 ou Rio 92, realizou-se
no Rio de Janeiro, em 1992, e finalizou a Agenda 21. Nela, determinou-se a

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 85


relevância dos países em parceria com empresas, organizações governamen-
tais e não governamentais em se comprometerem com estudos para avaliar e
combater os problemas socioambientais. Desde a sua finalização, a Agenda 21
foi aprimorada e adaptada a condições mais palpáveis para os níveis de desen-
volvimento de cada País. É importante lembrar que cada País desenvolveu sua
Agenda 21, inclusive o Brasil.
Ela discutiu assuntos de extrema relevância socioambiental, como: comba-
te à pobreza, mudança nos padrões de consumo, cooperação internacional,
proteção e promoção da saúde humana, proteção da atmosfera e de ecossiste-
mas, proteção da biodiversidade, proteção da infância, desenvolvimento rural,
Dia da Mulher, fortalecimento das populações indígenas, dos trabalhadores,
dos agricultores, do comércio e da indústria etc.

CONTEXTUALIZANDO
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvol-
vimento (CNUMAD) finalizou a Agenda 21, um documento dividido em 40
capítulos que aborda os meios para que seja adotado em escala planetá-
ria um padrão de desenvolvimento sustentável. No total, 192 países acor-
daram e assinaram a Agenda 21.

A partir da Agenda 21, pôde-se refletir sobre a ação humana segundo os


moldes industriais e capitalistas. De forma sinérgica, buscou-se (e busca-se até
os dias atuais) promover a qualidade de vida e não apenas o crescimento indi-
vidual estimulado pela produção e consumo injustificado.

Agenda 2030
Em 2015, durante uma Assembleia Geral da ONU que ocorreu nos Estados
Unidos, elaborou-se um plano guia para a ação da comunidade internacional,
que elencava os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169
metas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, considerando
os parâmetros sustentáveis de uso dos recursos naturais.
O documento Transformando o mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimen-
to sustentável, que deve ser cumprido até 2030, traz um plano de ação para as
pessoas, o planeta e a prosperidade.
Os 17 ODS’s são:

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 86


QUADRO 4. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Objetivos Descrição

Objetivo 1 Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.

Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e


Objetivo 2
promover a agricultura sustentável.
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as
Objetivo 3
idades.
Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
Objetivo 4
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

Objetivo 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para


Objetivo 6
todos.
Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à
Objetivo 7
energia para todos.
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,
Objetivo 8
emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e
Objetivo 9
sustentável e fomentar a inovação.

Objetivo 10 Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.

Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes


Objetivo 11
e sustentáveis.

Objetivo 12 Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Objetivo 13 Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.

Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marin-
Objetivo 14
hos para o desenvolvimento sustentável.
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres,
Objetivo 15 gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e
reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
Objetivo 16 sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições
eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
Objetivo 17
desenvolvimento sustentável.
Fonte: Plataforma Agenda 2030. (Adaptado). Acesso em: 01/10/2020.

Os objetivos e metas definidos na reunião devem ser inseridos na realidade


de cada País signatário, considerando suas prioridades internas, mas voltando-
se para um desenvolvimento global. Eles são integrados e indivisíveis, e mes-
clam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentá-
vel: a econômica, a social e a ambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 87


Contexto atual
Atualmente, a população brasilei-
ra é de, aproximadamente, 212 mi-
lhões de pessoas distribuídas ao lon-
go das 27 unidades federativas que
compõem nosso País. Um dos princi-
pais indicadores que revela a riqueza
de um País é o seu Produto Interno
Bruto (PIB), que calcula o valor de
toda a riqueza produzida por um País
considerando o desempenho dos três
setores que compõem a economia.
Em 2019, o PIB do Brasil foi de R$ 7,3
trilhões e a ordem de participação
dos setores neste resultado foi: ser-
viços, indústria e agropecuária (IBGE, 2020). Com este resultado, o País ficou
entre as dez maiores economias do mundo (FUNAG, 2020).
Em contraponto, é o segundo País em área florestal no mundo com, aproxi-
madamente, 12% do território coberto por florestas. Apesar de usarmos mais
fontes de energia não renováveis do que renováveis (56,5%), usamos mais fon-
tes renováveis do que o resto do mundo. Além disso, há riqueza de fauna e
flora, biomas diversificados e uma imensa diversidade étnico-cultural.
Uma vez que possui relevância econômica e ambiental e que há contínuo
fortalecimento de um perfil mundial voltado à questão da responsabilidade
socioambiental, o País posiciona-se em um contexto estratégico, no sentido de
que as organizações brasileiras podem se destacar mundialmente de maneira
positiva na geração de ambientes sustentáveis de produção e consumo.
Nesse sentido, há destaque para organizações alicerçadas em atitudes con-
cretas, que adotam não somente ideologias, mas que praticam rotineiramente
as pautas mais atuais do desenvolvimento sustentável, como ecoeficiência e os
7’Rs. Para isso, elas aprimoram-se e se reposicionam, utilizando a tecnologia, a
diversidade e os recursos sociais e ambientais do nosso País, garantindo credi-
bilidade nacional e internacional.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 88


Ecoeficiência
O termo ecoeficiência refere-se ao uso consciente dos recursos naturais nos
processos produtivos e de consumo, de forma que não deixe de atender às neces-
sidades das pessoas. Produtos ecoeficientes devem focar no uso consciente de
matéria-prima renovável em processos produtivos que minimizem a geração de
resíduos, além disso, devem apresentar elevada produtividade sem deixar de lado
a qualidade. Basicamente, significa produzir mais com menos.
O conceito envolve a sociedade como um todo, uma vez que o governo deve
incentivar esse tipo de produção (fomentando pesquisas, subsidiando e divulgan-
do) e as empresas devem adaptar seus processos e procedimentos operacionais.
Um sistema pode ser chamado de ecoeficiente se conseguir produzir de acor-
do com oito elementos fundamentais:
• Minimizando o uso de materiais dos bens e serviços;
• Minimizando o uso de energia na produção de bens e serviços;
• Minimizando a dispersão de tóxicos;
• Fomentando a reciclabilidade dos materiais;
• Maximizando a utilização sustentável de recursos renováveis;
• Estendendo a durabilidade dos produtos;
• Promovendo a educação dos consumidores para um uso mais racional dos
recursos naturais e energéticos.
Algumas perguntas podem ser feitas pelos consumidores para analisar a ecoe-
ficiência do produto:
• Ele minimiza o uso de fontes energéticas e maximiza a uti-
lização sustentável de recursos renováveis?
• Ele utiliza em sua composição materiais tóxicos?
• Ele descarta materiais tóxicos em seu processo produtivo?
• Os materiais utilizados são recicláveis ou biodegra-
dáveis?
• O produto promove seu uso racional?
• A marca adota a ideia de desenvolvimento sus-
tentável?

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 89


Os 7 R’s da sustentabilidade
Os 7 R’s são um conjunto de práticas de educação ambiental para garantir a
mudança de hábitos em prol do desenvolvimento sustentável. A questão cen-
tral é a de repensar costumes e hábitos, reduzindo o consumo e o desperdício.
Os 7 R’s são verbos que nos passam a sensação de ação. Observe a Figura 7.

Repensar

Reutilizar Recusar

Reciclar Reduzir

Reintegrar Reparar

Figura 7. Os sete R’s.

Repense seus hábitos, consuma o que é realmente necessário. Recuse pro-


dutos e serviços de origem insustentável, conheça a origem da matéria-prima.
Reduza o lixo gerado e, assim, o gasto energético no processo. Repare seus
produtos quebrados em vez de comprar novos. Reintegre, por exemplo, com-
postando o lixo orgânico. Recicle o lixo, separe-o e leve para reciclagem. Se
não pode reciclar, reutilize, dando funções novas e sustentáveis aos produtos.
O foco está em pensar que não existe jogar fora!

Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão


No mundo globalizado, as empresas têm se mostrado responsáveis pelo direcio-
namento da economia dos países ou de conjuntos de países. Entretanto, por muitos
anos, o setor empresarial viveu uma realidade própria, em geral, desvinculada das

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 90


questões sociais e ecológicas. Os modelos de produção não estavam em sintonia com
as necessidades sociais e ambientais.
No passado, uma das maiores dificuldades para que as empresas adotassem a
gestão ambiental se baseava em uma ideia distorcida de que o investimento em
meio ambiente não atraía lucros, fazendo com que os custos fossem repassados aos
consumidores, resultando no aumento dos preços (COMINI et al., 2013).
Em um contexto de intensas discussões sobre moral, ética e justiça, diversos paradig-
mas vêm sendo quebrados. Se a situação vem mudando, os resultados positivos podem
ser entendidos, em grande parte, como consequência da intensa atuação das políticas
sociais e ambientais formuladas a partir de dados científicos e apoiadas pela população.
A aderência aos pressupostos das ações de responsabilidade socioambiental tam-
bém resulta da percepção de que, ao investir no compromisso voluntário de um futu-
ro sustentável, está-se agindo coerentemente com o mercado que migra em direção
ao desenvolvimento sustentável e ao contínuo aumento de sua rentabilidade.
Atualmente, sabe-se que as empresas que adotam práticas de responsabilidade
socioambiental possuem benefícios como: redução dos custos, valorização da marca,
transparência nas atividades, mais fidelização de clientes, melhor comunicação exter-
na, melhor desempenho dos processos e dos empregados.
A responsabilidade socioambiental empresarial se refere às ferramentas de ges-
tão que analisam o cumprimento dos temas e que conduzem a empresa ao desenvolvi-
mento sustentável. Empresas comprometidas com essa questão atendem a itens como:
• Transformação em desempenho positivo das leis, regulamentos e normas de
adesão voluntária às quais está sujeita;
• Conhecimento e promoção voluntária e proativa de ações de desenvolvimento
sustentável regional, nacional e internacional;
• Possíveis danos ao meio ambiente e os impactos sociais causados por seus pro-
dutos, processos e instalações são previamente identificados;
• Conhecimento antecipado de treinamentos e planos de evacuação em casos de
emergência ambiental;
• Conhecimento dos métodos de resposta em casos de prevenção ou mitigação
dos impactos adversos;
• Ciência, por parte da população local, do segmento da empresa e dos impactos,
positivos e negativos, decorrentes da sua atuação na região;
• Acessibilidade aos produtos e instalações.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 91


Paradigma econômico, social e ambiental
As instituições públicas zelam pelo que é de interesse coletivo da popula-
ção por meio de normas, valores e regras. As instituições particulares pos-
suem caráter privado uma vez que guardam os interesses individuais.
Apesar das distinções entre instituições públicas e privadas, o meio am-
biente, pelo fornecimento de recursos, e a sociedade, por meio da sua força de
trabalho, além de estarem intimamente relacionados e possuírem caráter pú-
blico, são as bases para a existência empresarial. Assim, pode-se dizer que as
empresas se colocam como instituições públicas com função social, pois lidam
subjetiva e materialmente com a sociedade e com o meio ambiente, que são de
extrema importância para a humanidade e pauta internacional.
Consequentemente, espera-se que as empresas possuam uma postura
compromissada, que deve se espelhar nas questões econômicas, sociais e
ambientais. Desse modo, devem exercer suas atividades com base nas três
­dimensões da sustentabilidade para que trabalhem em equilíbrio com as
questões econômicas, sociais e ambientais.
Por muitos anos, na economia capitalista, a obtenção de lucro se mostrou
um dos principais meios para se estimar o sucesso empresarial. Decorre disso
o fato de que, muitas vezes, as empresas se esquecem da ética e agem a partir
de atos oportunistas. Os países se diferem quanto às leis sociais e ambientais
que possuem, geralmente, refletindo seu grau de desenvolvimento. Um país em
desenvolvimento pode se tornar menos atrativo para a permanência de empre-
sas devido às leis sociais, fiscais ou ambientais que venham a promulgar. Diver-
sas vezes é possível constatar que agir de acordo com o que as leis preconizam
pode não ser suficiente para atender às expectativas da sociedade em relação às
empresas. As relações entre países e instituições públicas e privadas devem ser
fortalecidas para garantir a transparência das atividades empresariais.
Diversas são as partes interessadas (stakeholders) que afetam e são afe-
tadas, influenciam e são influenciadas pelas empresas e que, muitas vezes,
possuem interesses conflitantes entre si e em relação à empresa (Diagrama
1). É importante entender que buscar o melhor para si não resulta em atingir o
melhor para todos, então, as partes interessadas devem atuar de modo que se
equilibrem, considerando os três pilares da sustentabilidade.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 92


DIAGRAMA 1. PARTES INTERESSADAS (STAKEHOLDERS) QUE
AFETAM O DESEMPENHO DE UMA EMPRESA

Comunidade
Grupos políticos Proprietários
financeira

Governo Grupos ativistas

Fornecedores Empresa Consumidores

Grupos de
Concorrentes defesa dos
consumidores
Associações
Empregados Sindicatos
comerciais

Fonte: BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016, p. 22. (Adaptado).

Atualmente, sabe-se a importância do desenvolvimento sustentável para


garantir melhor qualidade de vida para a população e um futuro sustentável
para as gerações seguintes. A atuação empresarial, nesse contexto, deve agir
ativamente e em articulação com projetos que evitem a crise social e ética de
paradigmas econômicos, sociais e ambientais.

Empresa sustentável
Segundo Carroll (1979), a responsabilidade social das empresas compreen-
de as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade
tem em relação às organizações em um determinado período. Uma empresa
responsável socioambientalmente deve ter como objetivo o desenvolvimento
sustentável e, por meio dele, exercer, em suas relações internas e externas, o
cumprimento das questões legais e o posicionamento ético de modo integra-
do, considerando todas as expectativas das partes interessadas.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 93


Sempre haverá dificuldades para implantar as práticas de responsabilidade
socioambiental, já que envolvem uma diversidade de questões que se tradu-
zem em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e
externos à empresa (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016).
Todavia, no Brasil, a Constituição Federal definiu que as empresas devem
observar os seguintes princípios:
• Soberania nacional;
• Propriedade privada;
• Função social da propriedade;
• Livre concorrência;
• Defesa do consumidor;
• Defesa do meio ambiente;
• Redução das desigualdades regionais e sociais;
• Busca do pleno emprego;
• Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte que tenham sua
sede e administração no País.
Desse modo, a Constituição Federal brasileira traz à tona a ideia de desen-
volvimento sustentável, colocando-o como uma das razões para a limitação
da atuação de uma empresa quando ameaça o uso racional dos recursos.
Empresas sustentáveis não esperam que leis ambientais sejam elabora-
das pelos países, e sim pensam globalmente e agem localmente, adotando
as três dimensões da sustentabilidade em suas atividades (Diagrama 2). Es-
sas três dimensões abrangem a sustentabilidade econômica, social e am-
biental, mas também abarca questões de:
• Sustentabilidade espacial: referente a uma configuração
rural-urbana equilibrada, que avalia soluções para os assenta-
mentos humanos;
• Sustentabilidade cultural: referente ao respeito pela plu-
ralidade apropriada à cultura local;
• Sustentabilidade política: ressalta a necessidade
de processos democráticos consolidados;
• Sustentabilidade institucional: relacionada
à atividade pública e às suas relações com outras
instâncias da sociedade.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 94


DIAGRAMA 2. TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE

SOCIAL

SUSTENTABILIDADE

AMBIENTAL ECONÔMICA

Fonte: BERLATO; MERINO; FIGUEIREDO, 2018, p. 4. (Adaptado).

Modelos de gestão ambiental


O triple bottom line (resultado triplo) é um modelo de gestão empresarial
criado a partir das dimensões da sustentabilidade, e possui como pressuposto
básico que a responsabilidade social das empresas deve contribuir para a su-
peração das crises socioambientais.
Esse modelo propõe uma abordagem em que todas as formas de capital se-
jam favorecidas ao longo do tempo por meio de uma gestão econômica, social
e ambiental responsável.
No modelo tradicional, as empresas obtêm aumento de valor de mercado com
geração de lucro líquido e consequente aumento da riqueza dos acionistas. Na esfe-
ra econômica do tripé da sustentabilidade, as empresas também obtêm desempe-
nho financeiro positivo, mas consideram os custos sociais e ambientais envolvidos
em seus processos. Na esfera social, o capital social que estão construindo deve ser
considerado e seu conhecimento vislumbrado como fator de competitividade. Na
esfera ambiental, o diferencial desse modelo está na obtenção de lucro líquido am-
biental por meio da adoção do conceito de capital natural baseado no modo como
a empresa lida com a manutenção dos recursos naturais e os serviços ambientais.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 95


A partir do modelo triple bottom line, desenvolveram-se os 3 Ps – profit, peo-
ple e planet (lucro, pessoas e planeta), cuja aplicação está restrita às empresas,
à medida que se associa a dimensão econômica ao lucro, conforme ilustra a
Figura 1 (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016).

Sustentabilidade empresarial

Responsabilidade socioambiental empresarial

P P
L E L
U S A
C S N
R O E
O A T
S A

Figura 1. O modelo 3 Ps. Fonte: BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016, p. 61. (Adaptado).

Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos


de gestão
A sobrevivência e o sucesso de uma organização estão diretamente rela-
cionados à sua capacidade de atender às necessidades e expectativas dos pro-
prietários, dos clientes e da sociedade.
De acordo com a ABNT (2012), uma vez que as decisões e atividades têm impac-
to ambiental, ações entre organizações públicas ou privadas e o meio ambiente
devem atuar no sentido de reduzi-los, sendo conveniente que a organização adote
uma abordagem integrada que considere as implicações econômicas, sociais, na
saúde e no meio ambiente de suas decisões e atividades, direta e indiretamente.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 96


Muito se tem trabalhado ao longo das últimas décadas para garantir que as
práticas de responsabilidade socioambiental sejam exercidas pelas empresas e
para que estejam alinhadas ao conceito de desenvolvimento sustentável.
As práticas de responsabilidade socioambiental reestruturam a cultura or-
ganizacional das empresas, influenciando as diversas instâncias da gestão em-
presarial, tais como: a gestão financeira, o marketing, a produção, a gestão de
pessoas, a logística e o desenvolvimento de produtos.
Desse modo, é importante entender melhor os indicadores, certificações,
tecnologias e instrumentos de gestão que podem ser adotados pelas empresas
em busca de um desempenho ambiental eficiente.

Fontes de orientação estratégica


O ciclo PDCA (plan, do, check, act, ou seja, planejar, fazer, verificar e agir) busca
a melhoria contínua dos processos das organizações (Diagrama 3). Questões sobre
como adotar novos ou como fazer a melhoria de processos já existentes buscando
um melhor desempenho socioambiental podem ser resolvidas a partir dessa técnica.

DIAGRAMA 3. CICLO PDCA

Corrigir problemas
O que é ne-
e melhorar a
performance. cessário.

Agir Planejar

Verificar Fazer

O que O que precisa ser


funciona. feito.

Fonte: PATEL; DESHPANDE, 2017, p. 197. (Adaptado).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 97


Esse ciclo garante dois tipos de ações corretivas:
• Ação corretiva temporária: busca a resolução do problema já instaurado;
• Ação corretiva permanente: consiste na investigação e eliminação das
causas e, portanto, visa a sustentabilidade do processo.
A ideia do ciclo PDCA é realizar o planejamento, estabelecendo claramente os
objetivos e as metas para que as ações sejam programadas com embasamento. Além
disso, descreve os processos que envolvem o problema para entendê-lo e para identi-
ficar as áreas para melhorias. Para isso, a utilização de fluxogramas e mapas dos pro-
cessos é importante. Muitas ferramentas estão disponíveis para coletar e interpretar
dados, como histogramas, gráficos de execução, de dispersão e de controle.
Compreendido o cenário atual, deve-se implementar o programa estabelecido,
promovendo a organização e o treinamento de funcionários e/ou parceiros. As solu-
ções decididas devem ser implementadas individualmente. É importante que os res-
ponsáveis se certifiquem de que todas as etapas foram totalmente compreendidas.
A fase de verificação é caracterizada por uma aprendizagem significativa. Há
a oportunidade de desenvolver planos atualizados, elevando o processo a novos
patamares, em vez de simplesmente consertar o que deu errado na fase anterior.
Se os resultados forem negativos, o trabalho de melhoria deve recomeçar na fase
de planejamento, pois, caso contrário, as soluções testadas passam para a fase de
ação. A verificação deve ser feita continuamente pelo monitoramento e elabora-
ção de relatórios que evidenciem com clareza os resultados alcançados.
A atuação deve promover a melhoria contínua. Uma vez que o ciclo atingiu
essa etapa, as soluções são preparadas para implementação final e, possivelmen-
te, para adoção por outros setores da organização. Nessa etapa, deve-se adotar
normas e certificações para reconhecimento nacional e internacional das melho-
rias realizadas, e, para manter a melhoria, é preciso repetir o ciclo continuamente.

A Norma ISO 26000


A obtenção de certificados pelo atendimento de padrões técnicos sobre produ-
tos, processos produtivos, métodos e ensaios é um grande diferencial para as em-
presas. Em alguns casos, a norma que fornece o certificado é tão importante que
se torna uma lei. Criada em 1947 e mais conhecida por sua sigla ISO, a principal
organização de normalização é a International Organization for Standardization.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 98


O objetivo da ISO é desenvolver padrões e atividades para facilitar as trocas de
bens e serviços no mercado internacional e promover a cooperação entre os paí-
ses nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016).
As normas de gestão da ISO se aplicam a qualquer organização, pois não são
normas de conteúdo, mas de procedimentos que podem se adequar ao segmen-
to da empresa que a adota. Todas elas adotam o ciclo PDCA para melhoria con-
tínua dos processos. A certificação requer auditorias periódicas de avaliação.
A ISO possui normas adotadas mundialmente, entre as mais importantes es-
tão as séries ISO 9000, de gestão da qualidade, e a ISO 14000, sobre sistemas de
gestão ambiental.
A norma ISO 26000 foi desenvolvida para organizações que querem adotar
um sistema de gestão focado em responsabilidade social e desenvolvimento
sustentável. Por fazer uso de termos como “pode” ou “convém que” em seu tex-
to, pode-se dizer que é uma norma-guia não certificável que busca, por meio de
suas diretrizes, mais fazer indicações e recomendações do que exigir ou tornar
algo obrigatório.
A norma ISO 26000 aborda sete temas centrais voltados para a responsabili-
dade social das organizações:
• Governança organizacional;
• Direitos humanos;
• Práticas de trabalho;
• Meio ambiente;
• Práticas leais de operação;
• Questões relativas aos consumidores;
• Envolvimento e desenvolvimento da comunidade.
Essa norma elenca princípios específicos associados ao meio ambiente, que
discutem quatro questões centrais definidas por uma descrição de expectativas
relacionadas ao desenvolvimento sustentável, sendo eles:
• Princípio da responsabilidade ambiental: além de cumprir leis vigentes, con-
vém que a organização assuma a responsabilidade pelos impactos ambientais causa-
dos por suas atividades ao meio ambiente em geral; convém que não deixe de atuar em
busca de desempenho positivo, mas que, para isso, reconheça seus limites ecológicos;
• Princípio da precaução: onde houver ameaças de danos graves ou irrever-
síveis ao meio ambiente ou à saúde humana, convém que não se utilize da falta

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 99


de certeza científica para postergar o uso de medidas eficazes que impeçam a
degradação ambiental ou danos à saúde humana em função dos custos. Con-
vém que a organização considere os custos e benefícios de longo prazo e não
somente os custos de curto prazo de uma medida;
• Gestão de risco ambiental: convém que programas sejam utilizados pelas
organizações a partir de uma perspectiva baseada em riscos e na sustentabili-
dade, para avaliar, evitar, reduzir e mitigar riscos e impactos ambientais de suas
atividades. Convém que sejam elaboradas e aplicadas atividades de conscien-
tização, além de procedimentos de resposta a emergências, bem como meios
de divulgar informações sobre incidentes ambientais e para reduzir e mitigar
impactos ambientais na saúde e na segurança, causados por acidentes;
• Poluidor pagador: de acordo com a extensão do impacto ambiental na socie-
dade, convém que a organização arque com os custos da poluição causada por suas
atividades e providencie as ações corretivas, totalmente ou à medida que a poluição
se adeque aos níveis permitidos. O custo da poluição e a quantificação dos benefícios
econômicos e ambientais da prevenção devem ser internalizados pelas organizações.
Desse modo, as empresas devem considerar o emprego da gestão ambiental
seguindo abordagens estratégicas, como: ciclo de vida de produtos, avaliação de im-
pacto ambiental, produção mais limpa e ecoeficiência, abordagem por sistemas de
produto-serviço, uso de tecnologias e práticas ambientalmente saudáveis, práticas
de compras sustentáveis (priorizar produtos ou serviços com impactos minimizados
e fazer uso de sistemas de rotulagem confiáveis) e aprendizagem e conscientização.
O Quadro 2 destaca as principais questões abordadas pela ISO 26000.

QUADRO 2. QUESTÕES CENTRAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ABORDADAS PELA NORMA ISO 26000

Questão Descrição

Convém identificar e reduzir emissões atmosféricas.

Convém identificar e reduzir descargas na água.

Convém fazer a gestão de resíduos.


Prevenção da
poluição Convém reduzir o uso e fazer descarte correto de produtos químicos tóxicos
e perigosos.

Convém identificar e reduzir poluições sonora, odorífera, visual, luminosa,


de vibração, de emissões eletromagnéticas, radioativa, agentes infecciosos,
emissões sem um ponto de partida definido e perigos biológicos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 100


Convém promover a eficiência energética.

Uso Convém promover a conservação, uso e acesso à água.


sustentável
de recursos Convém promover a eficiência no uso de materiais.

Convém promover a minimização da exigência de recursos por parte de um produto.

Convém medir, registrar e relatar suas emissões significativas de GEE*.

Convém implementar medidas otimizadas para reduzir e minimizar as emis-


sões diretas e indiretas de GEE progressivamente.

Convém analisar a quantidade e o tipo de combustíveis usados dentro da or-


ganização e implementar programas para melhorar a eficiência e a eficácia.

Convém evitar ou reduzir emissões de GEE provenientes do manejo do solo.


Mitigação e
adaptação
Convém praticar, sempre que possível, a economia de energia.
às mudanças
climáticas Convém considerar se tornar “neutra em carbono”, implementando medidas
para compensar emissões de GEE.

Convém considerar projeções futuras para o clima global e local.

Convém identificar oportunidades para evitar ou minimizar os danos associa-


dos às mudanças climáticas.

Convém implementar medidas para responder a impactos existentes ou previstos.

Proteção do Convém valorizar e proteger a biodiversidade.


meio ambi-
ente e da bio- Convém valorizar, proteger e restaurar os serviços de ecossistemas.
diversidade e
restauração Convém promover o uso sustentável do solo e dos recursos naturais.
de habitats
naturais Convém estimular um desenvolvimento urbano e rural ambientalmente favorável.

*GEE: gases do efeito estufa.

Se a organização elaborou e mantém um sistema de gestão ambiental seguindo


os requisitos da norma ISO 14001, deve haver grandes chances dos princípios da
norma ISO 26000 terem sido atendidos, principalmente o princípio da gestão do ris-
co ambiental. A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem
que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decor-
rentes de sua atividade, objetivando se tornar sustentável no curto e no longo prazo.
A norma ISO 14001 estabelece práticas de responsabilidade ambiental, como:
• Implementação de um sistema de gestão ambiental;
• Rotulagem ambiental;
• Análise de desempenho ambiental;
• Análise de ciclo de vida;

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 101


• Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos;
• Comunicação ambiental;
• Mitigação das mudanças climáticas.

Indicadores e índices de sustentabilidade


Os indicadores e índices podem ser usados para avaliar o desempenho em
relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável e compará-lo entre cida-
des, países, blocos econômicos e organizações públicas e privadas; estimam se
as instituições estão crescendo econômica e ambientalmente de acordo com o
objetivo proposto.
Os indicadores são compostos por parâmetros ou valores, analisados em
grupos ou isoladamente a partir de estratégias de gestão definidas antecipada-
mente. A partir dos indicadores são avaliadas as condições do sistema de gestão
e se a estratégia adotada previamente está gerando resultados. Desse modo,
são importantes por informarem às partes interessadas sobre o desempenho
positivo ou negativo em uma determinada questão.
Nesse sentido, indicadores que avaliam os resultados das ações de respon-
sabilidade socioambiental empresarial capturam e antecipam tendências para
informar os tomadores de decisão, assim como orientam o desenvolvimento e o
monitoramento de políticas e estratégias. Os indicadores do desenvolvimento
sustentável (indicadores de sustentabilidade) informam se o desempenho da
empresa está ocorrendo em harmonia com o meio ambiente e têm papel impor-
tante no monitoramento, na avaliação e na efetivação do desenvolvimento sus-
tentável. Os indicadores de sustentabilidade analisam se o impacto ambiental
gerado por uma empresa permite que o planeta seja resiliente.
Os indicadores ambientais devem ser:
• Comparáveis: devem permitir comparações e mostrar as mudanças ocorridas;
• Equilibrados: devem distinguir o mau e o bom desempenho;
• Contínuos: devem ser formulados a partir de critérios similares e conside-
rar períodos comparáveis;
• Temporais: devem ser revistos regularmente para permitir o uso de
medidas atualizadas;
• Claros: devem ser de fácil compreensão.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 102


Os indicadores de desenvolvimento sustentável do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) são exemplos importantes para mostrar o grau de
­desenvolvimento sustentável no Brasil. O IBGE analisa indicadores de sustentabi-
lidade considerando as três dimensões da sustentabilidade, dos quais destacam-se:
• Concentrações de poluentes no ar e em áreas urbanas;
• Queimadas e incêndios florestais;
• População residente em áreas costeiras;
• Acesso a tratamento de esgoto;
• Espécies extintas ou em risco;
• Crescimento populacional;
• Mortalidade infantil;
• Consumo de energia per capita.

DICA
No Brasil, a construção de indicadores de desenvolvimento
sustentável se integra ao conjunto de esforços para
concretização das ideias e princípios formulados na
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, de 1992.
É importante conhecer as diversas informações sobre
como estamos trabalhando rumo ao desenvolvimento
sustentável. O documento é interativo e de acesso gratuito.

Para a formulação de indicadores de desenvolvimento sustentável empresarial,


pode-se citar os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis,
criados pelo Instituto Ethos. A ferramenta elabora indicadores a partir de um ques-
tionário e tem como foco avaliar o grau de incorporação da sustentabilidade e da res-
ponsabilidade social aos negócios, auxiliando na definição de estratégias, políticas e
processos. Trata-se de uma ferramenta gratuita de aprendizagem, avaliação e monito-
ramento das ações de responsabilidade socioambiental, estruturada em temas e sub-
temas com um questionário agrupado em dimensões baseadas na norma ISO 26000.
Os indicadores são diferentes dos índices. Os índices são feitos da junção
de um conjunto de indicadores e são instrumentos de tomada de decisão e
previsão, pois permitem conhecer o endividamento e os riscos associados
para os investimento e funcionam como um retrato das condições da empresa,
­refletindo sua saúde econômica, social e ambiental.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 103


Como exemplo, pode-se citar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE
B3), que é uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das ações de
sustentabilidade das empresas constantes nas listas da B3 (Brasil Bolsa Balcão) sob
o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equi-
líbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. O ISE B3 está fundamenta-
do na eficiência econômica e na equidade ambiental, além de possuir transparên-
cia em seus processos, uma vez que também possui fundamentos na governança
coorporativa e na promoção da justiça social. Atualmente, o ISE B3 se caracteriza
como um norteador para os fundos de investimento e valoriza as empresas de ca-
pital aberto ao lidar com uma questão tão demandada pela sociedade atual.

DICA
Entenda o que é, conheça sua missão, fundamentos, objetivos
estratégicos e a versão atual do Questionário ISE B3.

Muitas empresas prestadoras de serviços estratégicos fazem a análise dos


índices de sustentabilidade por meio de softwares de gestão de indicadores
ambientais, por plataformas de análise de vulnerabilidade e licenciamento am-
biental, auxiliando na adoção de programas e selos ambientais. Infelizmente,
na maioria das vezes, tais serviços estão disponíveis somente para empresas
de grande porte devido ao seu alto custo.

Tecnologias resultantes da gestão ambiental


A adoção de práticas de responsabilidade socioambiental nas estratégias
de gestão empresarial tem permitido, se não exigido, o desenvolvimento de
tecnologias inovadoras, tanto na produção de bens quanto na prevenção de
impactos negativos ao meio ambiente. Tais tecnologias estão disponíveis em
diversos segmentos empresariais e, em geral, são resultado de demandas dos
clientes. Pode-se afirmar que, na atualidade, para ser considerado um bom
processo ou produto não basta ser eficiente industrialmente, também há a ne-
cessidade de ser eficiente ambientalmente.
Algumas tecnologias com melhor desempenho ambiental já devem estar pre-
sentes no seu dia a dia. O Quadro 3 destaca alguns exemplos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 104


QUADRO 3. EXEMPLOS DE NOVAS TECNOLOGIAS ADOTADAS EM PRODUTOS E PROCESSOS

Processo/Produto Vantagem Desvantagem

Linha branca de Geração de lixo resultante da


Menor consumo de energia.
eletrodomésticos troca de eletrodomésticos.

Menor consumo de energia;


Lâmpadas de LED Maior durabilidade; Custo mais elevado.
Menos descarte de lixo.

Dispensa o uso de combustível Custo elevado;


Carros elétricos
fóssil. Dificuldade de ganhar o mercado.

Redução da toxicidade devido à


Tintas remoção de metais pesados na Menor durabilidade.
composição.

Redução do uso de defensivos Custo inicial elevado;


agrícolas; Necessidade de treinamento;
Drones na agricultura
Redução do custo de produção a Dificuldade para chegar ao
longo prazo. pequeno produtor.

Embalagens de fécula Reduz o uso de plástico; Custo elevado;


de mandioca Biodegradável. Menor durabilidade.

Menor consumo de energia; Custo inicial elevado;


Painéis solares Redução dos valores das contas São necessários técnicos para
de energia. instalação.

Tecnologias industriais que resultam na redução do consumo de água


ou da queima de biomassa, que reduzam a geração de resíduos
ou que aumentem a eficiência dos processos de tratamento de
efluentes, bem como que resultam em produtos com
menor utilização de elementos tóxicos ou de fon-
tes não renováveis têm sido foco dos setores de
pesquisa e desenvolvimento de empresas e de
instituições de pesquisa, pois trazem benefícios
econômicos e ambientais.

Marketing ambiental
O marketing ambiental ou marketing verde é uma estratégia adotada
para promover a divulgação e aumentar as vendas de produtos e serviços que
tenham bases ambientalmente corretas. Por meio dele é possível vincular uma
marca, produto ou serviço a uma imagem ecologicamente correta.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 105


Os produtos e serviços passíveis do marketing ambiental devem ser resultado
de um impacto ambiental mínimo, tanto ao se considerar os elementos que com-
põem o produto quanto os que estão relacionados ao seu processo produtivo.
Diante da crescente demanda por práticas de sustentabilidade, o marketing
ambiental pode trazer às empresas vantagens competitivas, o recrutamento
de novos clientes e a garantia de sua sobrevivência no mercado.
Existem quatro pilares elaborados para que as empresas possam aplicar o
marketing ambiental em seus produtos ou serviços de modo sustentável:
• Ser ecologicamente correto;
• Ser economicamente viável;
• Ser socialmente justo;
• Ser culturalmente aceito.

Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor


Na maioria dos países, a preocupação com o meio ambiente cresceu. Ques-
tões sobre o uso de fontes de energia renováveis, sobre o desmatamento, as
mudanças climáticas e a poluição atmosférica são apontadas como os maiores
problemas ambientais da atualidade.
Os consumidores, de modo geral, consideram importante comprar produtos e
serviços de empresas que respeitam o meio ambiente, mas quando são questiona-
das sobre o que é importante para decidir consumir de uma empresa, preocupações
básicas relacionadas a custo-benefício são listadas antes de questões sobre respon-
sabilidade socioambiental e produtos ambientalmente corretos. Preço bom, quali-
dade, confiabilidade e atendimento ao cliente estão entre os atributos empresariais
mais importantes entre os consumidores. Essas respostas indicam que, de acordo
com o posicionamento dos clientes, as empresas não devem sacrificar os fundamen-
tos da marca para as questões ambientais, entretanto, devem manter um equilíbrio
entre os atributos desejados e o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Em geral, consumidores estão dispostos a comprar mais produtos ambien-
talmente corretos e a pagar até 10% a mais para produtos ecológicos, mas mui-
tos relatam problemas que prejudicam a compra, como a rotulagem confusa
ou não confiável, preço muito discrepante em comparação aos produtos não
verdes, falta de disponibilidade e pouca variedade.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 106


Os consumidores de produtos ambientalmente corretos procuram produ-
tos que usem menos embalagens plásticas, e sim biodegradáveis ou recicláveis;
além disso, apoiam-se nas informações presentes nas embalagens e em certifi-
cações para decidir sobre qual produto comprar.

Iniciativas de marketing ambiental


É necessário que as empresas realizem a divulgação de ações de marketing
ambiental aos seus clientes somente depois de realmente adotarem uma pos-
tura ambientalmente correta em sua cultura organizacional, por meio de ações
de responsabilidade socioambiental.
Para fazer propagandas sobre essa postura ambientalmente correta, as pe-
quenas e grandes empresas podem:
• Adotar os 3 Rs da sustentabilidade: reduzir, reutilizar e reciclar;
• Incorporar os 4 Ss: aceitação social, satisfação do consumidor, segurança
e sustentabilidade;
• Usar selos verdes (certificação ambiental) para legitimar o posicionamen-
to da empresa;
• Participar de programas de promoção dos três pilares da sustentabilidade;
• Escolher fornecedores e parceiros ecologicamente corretos.
Empresas conhecidas no mundo todo têm adotado iniciativas ambientais e
divulgado suas ações em todos os meios de comunicação disponíveis, sendo
exemplos de destaque:
• Microsoft: já foi eleita a empresa mais sustentável do mundo. Desenvolveu, por
exemplo, um sistema de inteligência artificial para combater o aquecimento global;
• Coca-cola: em 2012, mudou a cor das latas e rótulos para conscientizar a
sociedade sobre a necessidade proteção dos ursos polares, um dos
personagens símbolos da marca;
• Nike: criou o Making App para inspirar designers
de moda a trabalhar com materiais ecológicos a par-
tir de seus produtos;
• Toyota: desenvolveu o Prius, o primeiro veí-
culo híbrido do mundo.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 107


Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do
desenvolvimento
A criação de grupos de trabalho
pode auxiliar na construção de uma
importante ferramenta de coorde-
nação e efetivação das práticas de
responsabilidade socioambiental, ao
possibilitarem a construção compar-
tilhada de projetos de cooperação,
articulação e promoção do desen-
volvimento sustentável, que dão di-
reção comum e estratégica às ques-
tões econômicas, sociais e ambientais. Tais ferramentas são os meios para
superar as hierarquias institucionais e as relações de poder entre setores,
políticas e segmentos sociais.
Dentro dos pressupostos do desenvolvimento sustentável de propor, esti-
mular, promover e monitorar as ações de responsabilidade socioambiental e
a minimização dos impactos negativos sociais e ambientais, a adoção destas
ferramentas acabará por:
• Estimular discussões sobre responsabilidade socioambiental nas organi-
zações e divulgar legislações e normas;
• Potencializar o resultado de ações de capacitação;
• Construir e organizar conhecimento e objetivos de aprendizagem;
• Propiciar o uso racional de matéria-prima, equipamento, força de traba-
lho, imóveis, infraestrutura e contratos;
• Aperfeiçoar o uso de recursos orçamentários;
• Aumentar as colaborações entre as instituições de ensino e pesquisa e as
organizações públicas e privadas;
• Realizar o intercâmbio de experiências entre os signatários.
A construção de espaços para comunicação e troca de experiências permite
o estabelecimento de conceitos, objetivos e direções comuns, propiciando con-
dições para o planejamento participativo de ações que exijam contribuições de
diferentes setores.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 108


Apesar de ser uma importante estratégia na busca pelo desenvolvimento sus-
tentável, o diálogo intersetorial não é simples. Ao praticá-lo será preciso lidar com
diferentes pontos de vista e culturas organizacionais para a tomada de decisão e
para encontrar a solução de problemas.
O trabalho cooperado e intersetorial é um instrumento relevante para a opera-
cionalização do conceito e de ações de responsabilidade socioambiental, com base
nos pressupostos teóricos e metodológicos da promoção da sustentabilidade.
Atualmente, a promoção da cooperação e da articulação intersetorial pode
ser considerada componente central das políticas de responsabilidade socioam-
biental. Elas objetivam a mudança de postura e a quebra de paradigmas, repre-
sentando uma nova forma de gerenciamento que transcende a fragmentação das
políticas públicas e promove a gestão participativa.

O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental


Podemos estabelecer algumas conexões entre a gestão das cooperativas e
as ações de responsabilidade socioambiental, seguindo o conceito dos três pi-
lares da sustentabilidade. O (I) contexto econômico permite a dinamização da
economia em micro e macroescala, seja por meio da interação com o mercado,
ou pela política equitativa distribuição de renda baseada na produção do coope-
rado. O (II) contexto social das cooperativas propicia a distribuição regional da
renda em termos equitativos, levando em consideração a geração de emprego
e desenvolvimento de pequenas localidades, o que permite a distribuição do
capital financeiro regionalmente e homogeneamente. O (III) contexto ambiental
fundamenta-se na ideia de que as bases cooperativistas estruturam-se consi-
derando o estabelecimento de relações de equilíbrio com o meio ambiente. O
conceito de unidade e trabalho em equipe das cooperativas permeiam as ideias
de parceria, cooperação e colaboração de trabalho.
O cooperativismo está apoiado em cinco valores, sendo eles: equidade, so-
lidariedade, justiça social, liberdade e democracia (CHAVES et al., 2009). Ao preo-
cupar-se com o bem-estar social, o cooperativismo contempla ações de gestão
voltadas para a responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, responsabilida-
de socioambiental e cooperativismo alinham-se, pois ambos são formados por
indivíduos que além de trabalharem seguindo as mesmas pautas econômicas,

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 109


sociais e ambientais, atuam em prol de uma sociedade mais justa hoje e no futuro.
A atuação responsável socioambientalmente nas comunidades não é algo novo
para as cooperativas, na realidade, elas foram criadas com o objetivo de resolver
reclamações e problemas comuns de um grupo de pessoas. Assim, sempre estive-
ram fundamentadas na comunidade que as criou. Pode-se dizer que a responsabi-
lidade socioambiental compõe a essência do cooperativismo.
Analisando os princípios cooperativistas, ficam claras as relações entre coo-
perativismo e responsabilidade socioambiental:
• Adesão livre: as cooperativas são organizações voluntárias,
abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e
assumir as responsabilidades como cooperadas, sem discrimi-
nações sociais, raciais, políticas, religiosas ou de gênero;
• Gestão democrática livre: as cooperativas são organizações
democráticas, controladas por seus cooperados, que partici-
pam ativamente na formulação das suas políticas e nas toma-
das de decisões;
• Distribuição dos lucros: os cooperados contribuem equita-
tivamente e controlam democraticamente o capital de suas
cooperativas;
• Autonomia e independência: as cooperativas são organizações
autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos cooperados;
• Promoção da educação, formação dos membros e aprimora-
mento social: as cooperativas promovem a educação e a for-
mação de seus cooperados, dos representantes eleitos, dos
gerentes e de seus funcionários, de forma que estes possam
contribuir eficazmente para o desenvolvimento da cooperativa;
• Promoção do capital social: as cooperativas trabalham para o
desenvolvimento sustentado das suas comunidades, através de
políticas aprovadas pelos cooperados;
• Cooperação entre as cooperativas: para as cooperativas pres-
tarem melhores serviços a seus cooperados e agregarem força
ao movimento cooperativo, devem trabalhar em conjunto com
as estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais (OCE-
PAR, 2016 apud OLIVEIRA, 2017, p. 83).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 110


A cultura organizacional que adota os sete princípios cooperativistas está fo-
cada no capital social, se diferindo, assim, da cultura organizacional empresa-
rial tradicional, que é fundamentada na geração de capital financeiro (Quadro 1).

QUADRO 1. COMPARATIVO ENTRE COOPERATIVA E EMPRESA VOLTADA PARA GERAÇÃO


DE CAPITAL FINANCEIRO

Cooperativa Empresa tradicional


É uma sociedade de pessoas. É uma sociedade de capital.
Tem como objetivo a prestação de serviços
O objetivo principal é o lucro financeiro.
aos associados.
Número ilimitado de associados. Número limitado de acionistas.
Controle democrático onde um homem faz
Cada ação possibilita um voto.
um voto.
Assembleia baseada no número de
Assembleia baseada no capital financeiro.
associados.
Não é permitida a transferência das quotas. Transferências das ações a terceiros.
Operações do associado com a cooperativa. Dividendo proporcional ao valor das ações.
Fonte: GIESE; BÜTTENBENDER, 2015, p. 10.

O cooperativismo é gerido pela


vontade coletiva e concretizado após
a conivência de todos os sócios coo-
perados. Ainda assim, as cooperati-
vas necessitam de uma gestão flexí-
vel para que possam se adaptar às
tendências e exigências do mercado
globalizado, sem deixar de conservar
seus valores e princípios como orga-
nização social.
Os cooperados possuem respon-
sabilidades perante a sociedade, a comunidade e, principalmente, os pró-
prios cooperados. Quando adequadamente implementada, a cooperativa
pode melhorar a imagem da organização e consolidar uma identidade organi-
zacional positiva economicamente, socialmente e ambientalmente.
Existem diversas organizações cooperativistas que exercem práticas de res-
ponsabilidade socioambiental. Vamos conhecer alguns exemplos no Quadro 2.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 111


QUADRO 2. EXEMPLOS DE ORGANIZAÇÕES COOPERATIVISTAS

Cooperativa fundada em 1963, no Paraná, fornece


assistência técnica e implementos agrícolas aos seus
associados, comercializa aves e produtos agrícolas nos
mercados nacional e internacional, fabrica rações e
desenvolve pesquisas econômicas. Como exemplo de
ação de responsabilidade socioambiental, desenvolveu
Copacol
diversos programas, entre eles estão os programas Volta às
Aulas e Programa de Profissionalização do Produtor Rural,
destinados a aumentar a autoestima dos funcionários,
associados e pessoas da comunidade que não puderam
concluir o Ensino Fundamental. Foi a primeira empresa
do setor agroindustrial do País a aderir aos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Cooperativa fundada em 2003, em São Paulo, tem como
objetivo a reciclagem, a separação, a destinação correta e
a venda dos resíduos orgânicos e inorgânicos. Além disso,
Cooperlínea
presta serviços, ministra palestras de conscientização e
educação ambiental, de normatização e de cooperativismo
ambiental. Conquistou, em 2004, a Certificação de
Responsabilidade Social ISO 14001.

Cooperativa fundada em 2003, em São Paulo, tem como


objetivo a produção de hortaliças, legumes, cogumelos e
Caisp frutas convencionais, orgânicas e hidropônicas de maneira
consciente. Os produtos orgânicos são livres de agrotóxicos,
assim, busca-se um equilíbrio entre o ser humano e a natureza.
A linha orgânica possui certificação e selo da ECOCERT.

DICA
Acesse os sites oficiais das cooperativas COPACOL, COPERCICLA e CAISP
para saber um pouco mais sobre suas histórias e trajetórias.

Promoção do desenvolvimento: o papel da educação


ambiental
A educação ambiental está presente na Constituição Federal, em seu artigo
225, inciso VI, que estabelece que promover a educação ambiental em todos
os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente é dever do Estado e de todos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 112


Sobre educação ambiental entendem-se os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sus-
tentabilidade (BRASIL, 2018, p. 43).
Tal conceito nos faz refletir sobre o
fato de que a educação ambiental não
exclui o desenvolvimento, mas o reali-
za levando em consideração a capaci-
dade de resiliência do planeta.
Podemos inferir que a educação
ambiental abarca o direito jurídico,
pois é instrumento de efetivação do
direito e da necessidade dos seres hu-
manos ao desenvolvimento ambiental
equilibrado, condição indispensável à
dignidade de vida das gerações viven-
tes e das futuras. Somente por inter-
médio da educação, a humanidade
será capaz de compreender a relevân-
cia das questões ambientais e sua in-
ter-relação com o meio ambiente.
As discussões sobre educação ambiental remetem a um antigo e amplo
histórico nacional e internacional. Durante a Rio-92, um evento realizado
no Rio de Janeiro que foi marco das discussões sobre meio ambiente, foi
elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis
e Responsabilidade Global. Nele, foram estabelecidos princípios, diretrizes
e planos de ação fundamentais para a promoção da educação para as so-
ciedades sustentáveis. Eles enfatizaram a importância do pensamento e das
atitudes críticas, coletivas e solidárias, da interdisciplinaridade, da multipli-
cidade e da valorização da diversidade.
No Quadro 5, vamos conhecer os dezesseis princípios da educação para
sociedades sustentáveis e responsabilidade global.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 113


QUADRO 5. PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E
RESPONSABILIDADE GLOBAL

Dezesseis princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global

1. A educação é um direito de todos;

2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, promovendo a
transformação e a construção da sociedade;
3. A educação ambiental tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e
planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações;

4. A educação ambiental não é neutra, e sim ideológica, constituindo-se como ato político;

5. A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, com enfoque


interdisciplinar na relação entre ser humano, natureza e universo;
6. A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos
direitos humanos;
7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações
em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico;
8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de
decisão, em todos os níveis e etapas;
9. A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história
indígena e culturas locais, assim como promover a diversidade cultural, linguística
e ecológica;
10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações,
promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base, que estimulem os
setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a condução
de seus próprios destinos;

11. A educação ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento;

12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas para trabalharem
conflitos de forma justa e humana;
13. A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e
instituições, visando criar novos modos de vida que atendam às necessidades básicas
de todos;
14. A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação em massa,
que devem se comprometer com o interesse de toda a sociedade;

15. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações;

16. A educação ambiental deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência ética
sobre todas as formas de vida, com as quais compartilhamos este planeta, respeitando seus
ciclos vitais e impondo limites à exploração das demais formas de vida pelos humanos.

Fonte: BRASIL, [s.d.]c.

A partir daí, diversos programas foram emoldurados na busca do desenvol-


vimento de uma sociedade que compreenda a importância do meio ambiente.
Não obstante, quando se trata dos meios para a implementação da educação
ambiental, é possível identificar uma grande diversidade de concepções.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 114


Existem diversas correntes sobre a concepção de meio ambiente que se
encaixam em diferentes perspectivas teóricas. Porém, é importante que, ape-
sar das diferenças, se mantenha o foco na problemática do assunto e na busca
por soluções condizentes com a realidade e a aplicabilidade dos grupos sociais.
Existem quinze correntes de educação ambiental divididas em dois grupos,
que apresentam uma pluralidade de proposições inerentes a cada contexto (Qua-
dro 6). Todas possuem em comum a preocupação com o meio ambiente e o reco-
nhecimento da importância da educação para promover o equilibro ambiental.

QUADRO 6. CORRENTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

n° Grupo Corrente Enfoque


1 Tradicional Centrada nas relações com a natureza.
Naturalista Objetiva a reconstrução da ligação entre os seres
humanos e a natureza.
A educação deve estabelecer sua função social,
Conservacionista
gerando consciência ambiental.
Usa a crise ambiental como razão para a busca
Resolutiva
de informação social.
Desenvolver uma abordagem sistêmica para a
Sistêmica
compreensão das realidades ambientais.
Científica Associar o desenvolvimento de conhecimentos e
habilidades à solução dos problemas ambientais.
Considera as conexões entre natureza, sociedade
Humanista
e processos históricos.
Enfatiza o desenvolvimento ambiental a partir
Moral/ética
do cognitivo, afetivo e moral.
2 Recente Cunho analítico e racional das realidades e dos
Holística
problemas ambientais atuais.
Aderem à concepção de “pensar global e agir
Biorregionalista
local” da Agenda 21.
Práxica Aprender para a ação e pela ação.
Analisa as dinâmicas sociais de base observadas
Crítica social
nas problemáticas ambientais.
Reestabelecimento de relações harmônicas com
Feminista a natureza no que tange às práticas de dominação
masculina.
Prática de educação ambiental de acordo com a
Etnográfica
realidade cultural de cada grupo.
O meio ambiente é entendido como uma esfera
Ecoeducação
de interação essencial para uma educação.
Transformar os modelos de produção e consumo da
Sustentabilidade
sociedade em prol das gerações presentes e futuras.
Fonte: SAUVÉ, 2005. (Adaptado).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 115


Todas as correntes citadas possuem em comum a preocupação com o meio
ambiente e o reconhecimento da importância da educação para promover o
equilibro ambiental. Independentemente da corrente, a educação ambiental
deve promover um ambiente de transformação individual e coletiva das atua-
ções humanas que causam a crise socioambiental.
O objetivo é que, por meio da educação ambiental, entenda-se que o am-
biente pode ser utilizado para benefício econômico e social da humanidade,
desde que ela seja capaz de usufruir dos recursos naturais sem causar impac-
tos negativos significantes (ALENCASTRO; SOUZA-LIMA, 2015).
Até aqui a educação ambiental foi abordada como meio de promover o de-
senvolvimento a partir de um viés ambiental. Discutimos seus conceitos, sua
importância e suas diversas correntes. Agora, vamos conhecer um pouco so-
bre as políticas, os programas, as ações e os projetos governamentais que es-
tão em vigor no Brasil e são voltados para essa pauta.
No Brasil, existe a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que é
coordenada por um órgão gestor que atua em articulação com o Ministério da
Educação e o Ministério do Meio Ambiente. O PNEA subsidia e qualifica ações
capazes de promover a educação ambiental em todos os níveis e modalidades
de ensino, seja em caráter formal ou não formal. A partir das políticas do PNEA,
foi lançado o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), em 2003.
O ProNEA apresenta diretrizes, princípios, visão, missão, objetivos, público e
linhas de ação que orientam a educação ambiental no Brasil, assegurando, de
forma integrada e articulada, o estímulo aos processos de mobilização, for-
mação, participação e controle social das políticas públicas
ambientais. Como podemos observar, o ProNEA atua em
articulação intersetorial com as demais políticas fede-
rais, estaduais e municipais, incluindo IBAMA, SISNA-
MA, PNUMA etc.
A missão do ProNEA é:
promover educação que contribua para um projeto de sociedade
que integre os saberes nas dimensões ambiental, ética, cultural,
espiritual, social, política e econômica, impulsionando a dignidade,
o cuidado, o bem viver e a valoração de toda forma de vida no
planeta (BRASIL, 2018, p. 26).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 116


Assim,
o ProNEA tem como eixo orientador a perspectiva da sustenta-
bilidade com base no Tratado de Educação Ambiental para So-
ciedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e define como
diretrizes do programa:
• Transversalidade, transdisciplinaridade e complexidade;
• Descentralização e articulação espacial e institucional, com
base na perspectiva territorial;
• Sustentabilidade socioambiental;
• Democracia, mobilização e participação social;
• Aperfeiçoamento e Fortalecimento dos Sistemas de Educação
(formal, não formal e informal), Meio Ambiente e outros que te-
nham interface com a educação ambiental;
• Planejamento e atuação integrada entre os diversos atores no
território (BRASIL, 2018, p. 23).
A partir do ProNEA o governo vem desenvolvendo diversas linhas de ações
estratégicas, como as observadas no Quadro 7.

QUADRO 7. LINHAS DE AÇÕES ESTRATÉGICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PRONEA

Proporcionar meios interativos e democráticos para que a sociedade


Educomunicação possa produzir conteúdos e disseminar conhecimentos por meio da
comunicação ambiental voltada para a sustentabilidade.

É o fichário da educação ambiental. Fornece informações, textos,


Coleciona
experiências e ações na área de educação ambiental.

Reúne vídeos com conteúdo socioambiental para serem exibidos em


Circuito Tela Verde
todo território nacional e em algumas localidades fora do País.

Promove o incentivo à implantação de espaços socioambientais para


Projeto Salas Verdes
atuarem como potenciais centros de informação e formação ambiental.

É uma ferramenta digital que tem o objetivo de divulgar ações que


Plataforma Educares
ajudem a enfrentar os desafios da implantação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS).

É uma iniciativa que busca levar o futebol até as regiões pouco ex-
Concurso de Redação
ploradas pelas grandes competições, aliando aos eventos o conceito
da Copa Verde
de sustentabilidade.
Fonte: BRASIL, [s.d.]b. (Adaptado).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 117


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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 124


UNIDADE

3
A Ética nas Relações Humanas
Iniciamos mais uma etapa para juntos pensar a questão ética nas relações
humanas. Em nosso debate e apendizado teremos muitos temas para abordar,
como: diversidade cultural, étnica e religiosa e de gênero; bem como debater
as questões éticas e as relações com os princípios de cidadania na sociedade
tecnológica; distinguir e conhecer questões vinculadas ao debate sobre intole-
rância, racismo e xenofobia; como também demostrar a importância do ensi-
no da ética nas instituições. Falamos tanto em considerar o bem comum, em
construir uma cidadania de liberdade e respeito ao outro e, agora, chegamos
ao momento de saber se estamos entendendo sobre como estão e como de-
vemos considerar as relações humanas do ponto de vista moral. Será que ser
de uma religião ou cultura diferente nos faz tratar nossos vizinhos, parentes e
amigos de forma hostil ou segregadora? Vamos estudar e conhecer mais estas
realidades, como também entender nossa origem, nossas raízes históricas, e
apostar no conceito de ética que nos trouxe até aqui. Agora vamos entender as
raízes de nosso povo!

Raízes históricas da população brasileira


Somos miscigenados! E esse fato ocorreu em razão da mistura de diversos
grupos humanos que aconteceu no país antes e, principalmente depois da co-
lonização. São inúmeras as raças que favoreceram a formação do povo brasi-
leiro. Segundo Freitas (2021), os principais grupos foram os povos indígenas,
africanos, imigrantes europeus e asiáticos.
• Povos indígenas: antes do descobrimento do Brasil, o território já era ha-
bitado por povos nativos, nesse caso, os índios. Existem diversos grupos indí-
genas no país, entre os principais estão: Karajá, Bororo, Kaigang e Yanomani.
No passado, a população desses índios era de quase 2 milhões de pessoas.
• Povos africanos: grupo humano que sofreu uma migração involuntária,
pois foram capturados e trazidos para o Brasil, especialmente entre os séculos
XVI e XIX. Nesse período, desembarcaram no Brasil milhões de negros africa-
nos, que vieram para o trabalho escravo. Os escravos trabalharam especial-
mente no cultivo da cana-de-açúcar e do café.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 126


• Imigrantes europeus e asiáticos: os primeiros europeus a chegarem ao
Brasil foram os portugueses. Mais tarde, por volta do século XIX, o governo bra-
sileiro promoveu a entrada de muitos imigrantes europeus e também asiáticos.
Na primeira metade do século XX, pelo menos quatro milhões de imigrantes
desembarcaram no Brasil. Dentre os principais grupos humanos europeus,
destacam-se: portugueses, espanhóis, italianos e alemães. Em relação aos po-
vos asiáticos, podemos destacar japoneses, sírios e libaneses.

Figura 1. Miscigenação no Brasil. Fotos: Jen Theodore / Tatiana Zanon / Kindred Hues / Unsplash

CONTEXTUALIZANDO
‘Dia do Índio’: estudo revela 305 etnias e 274 línguas entre
povos indígenas do Brasil, acesse.

Darcy Ribeiro (1995), em seus estudos sobre uma visão etnográfica da so-
ciedade brasileira em épocas remotas se destacou ao escrever sobre a socie-
dade brasileira, ressaltando as influências que recebemos das matrizes pelas
quais o Brasil é formado e sobre os estragos causados pelos europeus, como a
peste, a disputa por território e a escravização dos índios.
Dessa forma, o referido autor afirma que nesse momento surgia
uma nova etnia, segundo ele, “era o brasileiro que surgia cons-
truído com os tijolos dessas matrizes à medida que elas iam sen-
do desfeitas.” (RIBEIRO, 1995, p. 30).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 127


ASSISTA
Assista ao vídeo sobre miscigenação no Brasil

O Brasil, por ser um país onde a miscigenação é aflorada, carrega consigo


benefícios e malefícios. O benefício da miscigenação ocorrida no Brasil se deve
a diversidade de raças, culturas e etnias, que resultou numa grande riqueza
cultural distribuída de forma diversa pelas regiões do país. Por esse motivo,
encontramos inúmeras manifestações culturais, costumes, pratos típicos, en-
tre outros aspectos, no entanto, o tipo de colonização e a forma como se deu
a miscigenação também traz o peso da herança cultural muito rica, mas muito
marcada por uma série de situações que ainda prevalecem na população racis-
mo, xenofobia e preconceito l (ARAÚJO E SOUZA, 2013).

DICA
Leia mais sobre o racismo no Brasil. Acesse o QR Code.

Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero


Nada mais oportuno do que entender cultura e diversidade cultural após
termos debatido muito as demandas do conceito de ética. Assim, vamos iniciar
tecendo a definição de cultura. Lembrando logo de início que cada um tem a
sua e a vida segue rica e bem fecunda porque somos diferentes, mas podemos
comunicar nossas diferenças e construir novas possibilidades de viver.
Geertz (1989) ao abordar os estudos sobre cultura refere que a atividade
do antropólogo é interpretar, cada cultura pode ser entendida como um texto.
Cada texto é uma interpretação. Para ele, a cultura constitui-se como formas
de ações significativas, simbólicas. A cultura parece estar oculta na mente dos
homens e se expressa em suas ações. Ele afirma que é possível enxergar a cul-
tura de um povo porque ela está expressa em suas relações sociais.
O autor mostra que a cultura se revela a partir de uma descrição densa, pois

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 128


são as ações produzidas, percebidas e interpretadas que a definem. Geertz
(1989) está, então, atrás da teia de significados de cada sociedade. Ele não de-
fende a ideia de ter que “se tornar um nativo” para conhecer a fundo uma cul-
tura, mas sim estar familiarizado com o grupo que se pretende compreender.

Figura 2. Cultura como teia de significados. Fonte: Pixabay.

É importante o destaque trazido pelo antropólogo sobre a cultura ser com-


preendida pela teia de significados, isso porque se as relações se traçam com
interligações de valores e símbolos e tradições, tudo o que dá sentido dinâmico
à cultura vemos com olhos de necessidade de compreensão do que vem a ser
a diversidade cultural.
O autor mostra que o ponto de vista do nativo é sempre uma construção
cultural que se dá após a pesquisa. Cada cultura define o que é “ser humano”. O
antropólogo só tem acesso a isso a partir desses símbolos. Para Geertz (1989),
as situações universais são sempre descritas de forma singular, seu enfoque
privilegia as situações particulares.
Dessa forma, a cultura é única para cada grupo e singular em cada indivíduo.
No mundo existem milhares de trações culturais, símbolos, pensamentos, mani-
festações e identidades culturais, tal diversidade enriquece nosso mundo social.
Para Cuche (2012), o conceito de identidade ganha destaque com o nasci-
mento do multiculturalismo, o qual nos mostra a face de que os imigrantes e
as diversas minorias buscam o direito da diferença, o direito de ter uma identi-
dade própria digna de respeito. Por outro lado, os grupos maioritários colocam
em debate tal pretensão, temendo, entre a expansão de múltiplas identidades
que competiriam para enfraquecer e fragmentar a identidade nacional, a pró-
pria sustentação do Estado.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 129


EXPLICANDO
Cultura: conjunto de pensamentos, sentimentos, atitudes, trações, símbolos,
hábitos e valores que pertencem a um grupo. Dão sentido a sua identidade
cultural, sua marca como grupo.
Diversidade Cultural: é o reconhecimento de diferentes culturas para diferentes
grupos sociais.

Figura 3. Diversidade Cultural. Fonte: Pixabay.

Para Bergamaschi (2008), a diversidade cultural e a presença de inúmeros povos


indígenas com suas tradições e línguas marcam nossa diversidade étnica e cultural.
Alves e Barros (2009) definem que a diversidade cultural está relacionada aos as-
pectos distintivos de uma cultura para outra, uma riqueza dada pela capacidade dos
humanos de criar e transformar o legado que receberam. As identidades culturais
aparecem a partir das manifestações culturais.
O debate sobre a questão da diversidade cultural, que abre para todo um feixe
de outros debates importantíssimos, nos faz pensar que com a educação podemos
formar indivíduos que entendam que ser diferente é poder trazer algo novo na troca
cultural. A fundamentação do respeito da ética está no bojo dessa compreensão.
Em meio aos pensamentos sobre a diversidade, podemos pensar também a di-
versidade étnica, religiosa e de gênero.
Quanto a diversidade étnica, temos muito a comemorar desde que superamos
a explicação da existência de diferentes culturas pelo conceito de raça, para o con-
ceito de etnia. Uma vez que se concluiu que falar em raça é apontar diferenças pura-
mente biológicas, físicas, sem considerar as questões de fundo cultural para a com-
preensão dos diferentes povos. Com o conceito de etnia, vemos um alargar dessa
possibilidade de entendimento do outro.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 130


Gomes (2004) mostra que o uso de etnia se ampliou para referências a povos
diferentes como judeus, índios, negros, entre outros, enfatizando seus processos
históricos e culturais.
No Brasil, o termo relações étnico-raciais é muito utilizado para debater as ques-
tões de relações raciais e étnicas, que estão muito além da cor da pele e das origens
culturais. Há um misto desses olhares na alocação e interpretação dos lugares sociais
que os indivíduos ocupam na sociedade. Portanto, falar de raça ou de etnia em nossa
cultura vai trazer um apanhado de significações de quem fala, como fala e por que
fala, o chamado “lugar de fala”. É também com estas construções que nascem concei-
tos e alocações culturais denominadas de racismo, preconceito e discriminação. Estes
podem ser de raça ou etnia, mas tendem a ser explicados pela questão racial.
Enquanto o preconceito é definido como uma percepção sobre as coisas, muitas
vezes herdada por conta da socialização recebida, a discriminação é a própria práti-
ca do preconceito. Assim, o racismo trata-se de uma construção ideológica de que
existem raças diferentes e que estão submetidas a uma hierarquia de classificação
como inferiores e superiores. Nesse caso, essa teoria sempre acaba por delegar aos
negros os mais baixos graus de status social na sociedade. O racismo é uma teoria
perversa, que separa e agride os indivíduos que pertencem ao grupo discriminado.

Figura 4. Racismo e preconceito. Fonte: Wikicommons

A diversidade étnico-racial deve ser pensada por toda a comunidade escolar, pe-
los gestores educacionais que são importantes na formação dos indivíduos.
Compreender que negros e brancos têm sua importância e valor cultural é co-
laborar para o entendimento da diversidade cultural e étnica. É importante saber
que a cultura afro-brasileira compõe nossa trajetória de formação de nação. Não

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 131


é possível falar de diversidade étnica sem considerar que o Brasil, após a abolição,
atravessou grandes lutas pelo reconhecimento desta cultura que inclui as lutas so-
ciais, a miscigenação, a discriminação, o sincretismo.

DICA
Para saber mais leia o texto Diversidade étnico-racial, inclusão
e equidade na educação brasileira: desafios, políticas e práticas
no link, acessando o QR Code.

Vemos no Brasil, de forma muito clara, a existência de um preconceito racial con-


tra negros e mulatos. A igualdade de oportunidades é divulgada e tolerada. Temos
lei contra o Racismo.

DICA
LEI 7.716/1989 (LEI ORDINÁRIA) 05/01/1989.

Entretanto, ainda assim as ligações íntimas com pessoas de cor não são vistas
com bons olhos. Os mulatos passam por menor discriminação que os negros, mas
também são discriminados e sofrem preconceito. Constantemente presenciamos
discussões que envolvem o preconceito racial e a discriminação étnica dos indiví-
duos, com falas como: “você é negro”, “você é indígena”, “por isso não conseguiram
obter êxito em nada…”. Por aí vai.
A discriminação e o preconceito ocorrem também em relação as questões re-
ligiosas, normalmente há uma perseguição e preconceito com as reli-
giões de matrizes africanas. Incrível que normalmente entendemos
que a religião deve trazer coisas boas aos indivíduos, pois nelas os
mesmos depositam sua fé espiritual e dedicam-se
professando. No entanto, por ignorância, ou mes-
mo maldade, muitos indivíduos constroem guer-
ras, matam e perseguem religiões diferentes das
suas. O etnocentrismo predomina nesses casos e
faz com que a religião de uma pessoa seja considera-
da a melhor ou a que tem mais pureza, etc.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 132


CONTEXTUALIZANDO
Para saber mais leia a reportagem Diversidade Religiosa no
link, acessando pelo QR Code.

A superação deste fenômeno de pejoração negativa das diferentes religiões só


acontece quando os indivíduos estão disponíveis para conhecer a diversidade reli-
giosa. Conhecer é importante para melhor conviver. Isto não significa converter-se.
Quando estudamos um pouco, vemos que o catolicismo tradicional também
teve influência africana no culto de santos de origem africana como: São Benedito,
Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró
ou Santo Antônio Etíope); no culto de santos também há aqueles que podem ser
associados aos orixás africanos como São Cosme e Damião. O próprio São Jorge
(Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã), além daqueles oriundos da criação
de santos populares como a Escrava Anastácia.

Figura 5. Diversidade religiosa. Fonte: Rogério Chimello.

É comum ver que igrejas pentecostais do Brasil, que são contra as religiões de
origem africana, na realidade têm várias influências destas, como se nota em práti-
cas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entida-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 133


des espirituais (vistas como maléficas). O Catolicismo nega a existência de orixás e
guias, já as igrejas pentecostais os denominam como demônios.
A ideia de sincretismo religioso, a transculturação das religiões, como ocorre na
umbanda, por exemplo, tem origem nos fatores histórico-culturais da história do
Brasil. Por isso, é preciso compreender que a diversidade religiosa existe e precisa
ser respeitada.
No cenário relativo a compreensão das relações de gênero e sua diversidade
também não encontramos eco no respeito. Pois na atualidade vemos que a concei-
tuação que acrescenta nessa polêmica é a de que orientação sexual e identidade de
gênero são diferentes e precisam ser compreendidas.

EXPLICANDO
Orientação Sexual refere-se à atração sexual e à afetividade que um indivíduo
sente por outro.
Diversidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica
que pode ter, ou não, relação com seu sexo biológico.

TABELA 1. SOBRE ORIENTAÇÃO SEXUAL.

Orientações Sexuais Definições

Heterossexual Indivíduo que sente atração pelo sexo oposto.

Homossexual Indivíduo que sente atração pelo mesmo sexo.

Bissexual Indivíduo que sente atração pelos dois sexos.

Assexual Indivíduo que não sente desejo sexual.

Pansexual Indivíduo que aprecia todos os gêneros sexuais.

Fonte: Criação da autora de acordo com https://bit.ly/2SR1o9m.

Gonçalves (1999) fala, em seus estudos, a respeito de como a sociedade Paresí,


do grupo indígena denominado Aruak, localizado no Estado de Mato Grosso, cons-
trói simbólica e culturalmente o dimorfismo sexual tendo como foco de análise sua
mitologia e seu complexo ritual. Ele demonstra como a categoria diferença é algo
construído, tal qual nos indica a ideia de gênero sobre os indivíduos na vida social.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 134


Em outros termos, analisa-se a diferença e a construção de gênero como fenômeno
englobado por um pensamento geral sobre o que significa a diferença no mundo.
Assim, segundo o autor, a diferença de gênero informa ao mesmo tempo que
produz e é produzida por esta ideia da diferença que não é universal e sim construí-
da culturalmente. Dessa forma, são as posições culturais construídas por homens e
mulheres, a partir do olhar que eles têm do compromisso com suas escolhas pau-
tadas na orientação sexual e na diversidade de gênero, que dão sentido às suas
histórias e lugares nessa discussão. É importante entender como os indivíduos tem
se referenciado, a partir desse olhar.

TABELA 2. SOBRE DIVERSIDADE DE GÊNERO.

Diversidade de Gênero Definições

Indivíduo que se identifica com seu sexo biológico.

Cisgênero Masculino é homem.

Feminino é mulher.

Indivíduo tem uma identidade diferente do seu sexo biológico.

Transexuais - um homem que se enxerga como mulher ou uma


mulher que se enxerga como homem.
Transgênero
Transgênero - deve assumir definitivamente o corpo com o
qual se identifica e, em muitos casos, pode desejar atravessar
procedimentos de redesignação sexual ou terapias hormonais.

Indivíduo que oscila entre masculino e feminino. Por exem-


plo, uma mulher que se identifica com o gênero masculino,
Não Binário
mas não realiza procedimentos de readequação física (ape-
nas assume um comportamento condizente com seu gênero).

Fonte: Criação da autora de acordo com https://bit.ly/2SR1o9m.

Esses conhecimentos são importantes pois levam ao combate de práticas de


preconceito e discriminação, fundamentados em ideologias homofóbicas e de vio-
lências de gênero.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 135


DICA
Para saber mais leia o texto Educação, relações de gênero e diversidade
sexual no link e assista aos vídeos ifsctv | Diversidade de gêneros e Gênero
e diversidade.

Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica


Iniciaremos agora toda uma reflexão e conceituação sobre a relação ética e
a sociedade tecnológica que estamos vivendo.
Morin (2000) nos apresenta às demandas da educação e da sociedade do
conhecimento em tempos atuais, mostrando que esta impõe aos indivíduos
uma escola que lhes faça sentido, que lhes seja capaz de resgatar a formação
do ser completo. Em sua visão, a escola de hoje deve oferecer aos indivíduos
além do ensino básico com cálculos, língua escrita e falada, precisa trazer tam-
bém as interfaces com as ferramentas e inovações tecnológicas trazidas pela
era da comunicação e informação.
É importante marcar que o conhecimento e a informação estão no centro
do mundo atual. O perfil de indivíduo que se exige, mediante estas deman-
das, é de quem consegue ser flexível, polivalente, empreendedor e altamente
adaptável. Alguém que é criativo, inovador e está sempre sendo desafiado por
questões profissionais e pessoais. Um mundo em que se fala o tempo todo a
respeito de busca de soluções viá-
veis. Os próprios modelos educa-
cionais voltam-se para esta pers-
pectiva. Isto significa que o aluno
a ser formado tem que ser prepa-
rado para enfrentar este aparato
de necessidades impostas pela
sociedade do conhecimento e da
informação. Figura 6: Sociedade do Conhecimento. Fonte: Freepik.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 136


Nesta sociedade digital, educar um indivíduo para desenvolver sua cidada-
nia plena também envolve construir valores de respeito, responsabilidade e
participação colaborativa com a comunidade.

ASSISTA
Para saber mais assista ao vídeo Educação na Sociedade do
Conhecimento no link.

Assistimos a uma era em que a tecnologia está no bojo de todas as coisas


que realizamos no mundo social.
Levy (1999) traz à cena os conceitos de cibercultura e ciberespaço para
mostrar a amplitude de nossas trocas de conhecimento e aprendizagem na
era digital. Nesse sentido, o autor ainda produz associado ao pensamento de
Kerckhove (1995), o conceito de inteligência coletiva, constituindo-se em inteli-
gências conectadas, isto é, o uso colaborativo das várias inteligências mediante
processos de comunicação e tecnologias em rede. Este novo desenho peda-
gógico de formação dos indivíduos propõe uma revisão da forma tradicional
de ensinar e aprender, a construção de saberes e as trocas comunicacionais
ganham uma dimensão mais personalizada.

EXPLICANDO
Cibercultura: cultura que emerge com o advento das trocas comunicacionais
advindas do computador. Conhecimentos, valores, informações e saberes que
se constroem a partir do mundo virtual.
Ciberespaço é o virtual, as redes de conexão.

O que precisamos entender é como funcionam, nesse caso, os


princípios da ética e cidadania em um contexto de valorização da
comunicação virtual.
Com o exposto acima, focamos em mostrar que a
ética passa a ser uma questão central no contexto
das trocas e construções virtuais, tanto no âmbito
da vida pública como na vida privada. Nesse sentido,
ser ético é pensar no que fazemos, na medida de nossas

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 137


ações, considerando quem somos e com quem nos relacionamos. Além da ên-
fase na reflexão sobre o outro e o planeta em que habitamos.

Figura 7: Ética e Tecnologia. Fonte: Freepik.

Para Dewey (1979) é a partir da reflexão que emerge a dúvida, a perplexidade,


o ato de pensar. Ela também envolve o ato de pesquisar, para resolver a dúvida e
esclarecer a tal perplexidade. Dessa forma, o autor nos aponta o caminho para
nossas questões éticas contemporâneas.
Além dele, também Castoriadis (1979) diz que a reflexão deve sinalizar o conhe-
cimento para investigar, explicitar e questionar os conteúdos sociais e culturais.

ASSISTA
Para saber mais assista ao vídeo Renato Janine Ribeiro debate
ética, política e os desafios da Educação no link.

Olivé (2000), em seus estudos, colabora com nossa reflexão sobre deveres mo-
rais do cientista e do tecnólogo em nossos tempos. Para ele, cientistas devem ter
a consciência da responsabilidade e das consequências do trabalho que realizam.
Esta responsabilidade inclui informar a sociedade com precisão sobre seus expe-
rimentos e resultados. Também, os tecnólogos devem avaliar com cautela e serie-
dade as tecnologias produzidas e suas amplitudes. Avaliar não só a eficiência, mas
sobretudo, os impactos no meio social e natural.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 138


O autor ainda ressalta que os cidadãos, a grosso modo, também têm respon-
sabilidade na avaliação das tecnologias e em sua aceitação e propagação. Assim,
eles devem buscar informações adequadas sobre a natureza da ciência e da tecno-
logia, que estão propagando bem como de seu uso e consequências.

DICA
Para saber mais leia a reportagem O dilema ético dos bebês geneticamente
modificados no link e assista ao vídeo A Engenharia Genética mudará tudo
para sempre.

Com tantas discussões no terreno da ética, é preciso focar que ser cidadão é
estar situado na ordem social de forma participativa, mas considerando que ape-
sar da evolução tecnológica é preciso pontuar nossas ações locais e globais, pre-
senciais e virtuais, de forma eticamente responsável.

A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia


É muito comum, diante do que vimos até aqui, presenciarmos na sociedade
globalizada e tecnológica, sentimentos de exclusão social, violência e intole-
rância.
No ano de 2001, realizou-se a Conferência Mundial contra o Racismo, Dis-
criminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa na cidade de Durban, África
do Sul. Esta conferência foi um culminar das demandas mundiais para o en-
frentamento de um cenário sociopolítico extremamente grave em nível mun-
dial: o combate ao racismo e intolerância.
Trata-se de compreender que indivíduos, povos e nações estavam cada vez
mais praticando e incentivando realidades de exclusão e segregação social,
que em muitos casos levam ao extermínio.
Mesmo diante de outros instrumentos legais e históricos para esse fim, foi
necessário organizar a Conferência de 2001.
Listamos aqui alguns dos instrumentos que foram implementados sob a

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 139


égide das Nações Unidas com intuito de promover a igualdade e combater a into-
lerância:
• Implementação de um sistema de gestão ambiental;
• Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948);
• Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966);
• Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966);
• Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres (1979);
• Convenção sobre os Direitos da Criança (1989).
Apesar do aparato legal acima referido, os dados mundiais seguiram apontan-
do que seres humanos ainda são vítimas de ideologias e tratamento racista e segre-
gacionista, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e o advento da
globalização, que trouxeram próprios de seus campos. Por isso a urgência de novas
medidas e esforços focados em nível nacional e internacional.

Figura 8: Intolerância racial. Fonte: Nações Unidas.

Para avançarmos, consideramos que é preciso definir o que vem a ser


racismo, xenofobia e intolerância, objetos de nossa discussão.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 140


EXPLICANDO
Racismo: significa preconceito e discriminação de indivíduos e grupos
fundamentados em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas
entre os povos.
Xenofobia: sentimento de desconfiança, antipatia, receio de pessoas que não
são familiares ao meio de quem julga, ou ainda daqueles que não são do país de
quem julga.
Intolerância: capacidade mental de não desejar reconhecer e respeitar
diferentes valores, sentimentos, opiniões de grupos e pessoas que não
pertencem a quem avalia.

Para seu melhor entendimento, vamos pensar a seguinte situação:


em uma sala de aula de uma escola particular, com alunos brasileiros,
encontramos um aluno muçulmano, que se veste tal qual sua cultura, um
aluno com autismo e apenas duas crianças negras. Todos os dias as crian-
ças negras são isoladas das brancas, mas a convivência se dá de forma re-
gular. Ao observar essa situação, uma professora de Sociologia começou
a incentivar a integração desses alunos, crianças de 12 a 14 anos. Então,
em conversa com uma do grupo de crianças brancas, a mesma falou que
não gostaria de sentar com seus colegas negros para fazer trabalho de
grupo porque seus pais disseram que os negros são menos competentes
que os brancos. A professora teve que fazer toda uma explicação sobre a
história dos negros no Brasil e as teorias racistas para seus alunos, pois
estava diante de um caso de racismo.
Mas não parou por aí, a professora ainda observou o tratamento de
exclusão que aquela turma dava ao aluno muçulmano, não satisfeita com
aquela situação, chamou um grupo de alunos que praticavam a segrega-
ção do aluno muçulmano para uma conversa. Então, descobriu falas so-
bre a ideia de que os estrangeiros que vem do oriente médio podem ser
homens bombas e, ainda, que “vem tirar onda aqui no nosso País”, fala
de uma criança durante a conversa com a professora. Nesse caso, a re-
ferida professora estava diante de xenofobismo, intolerância. Assim, ela
tratou de construir as suas próximas aulas baseadas em vídeos e textos
que pudessem ensinar sobre a cultura oriental, a respeito de convivência
e respeito.
Finalmente, não precisamos dizer que o aluno autista era ali um in-
visível, nenhum aluno preocupava-se com sua presença. Fato este que

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 141


levou a mesma professora a organizar atividades em que ele pudesse ser
incluído nas relações sociais daqueles alunos. Além disso, a professora
escreveu um projeto e propôs à Escola a realização de oficinas e reuniões
que incluíssem as temáticas apresentadas, com os pais.

Figura 9: Ética na Sala de Aula. Fonte: Pixabay.

Diante de tal conceituação, podemos avaliar o peso negativo destas atitudes e


práticas em nossa sociedade. Daí a necessidade de sabermos que importantes deci-
sões saíram da Conferência de Durban, que em linhas gerais foram:
• Problemas enfrentados pelas vítimas de tais flagelos (com particular destaque
para as mulheres, pessoas de origem africana e asiática, povos indígenas, migrantes,
refugiados e minorias nacionais) e medidas específicas para aliviar o seu sofrimento;
• Problema da discriminação múltipla;
• Importância da educação e sensibilização pública no combate ao racismo;
• Problemas particulares colocados pela globalização;
• Aspectos positivos e negativos das novas tecnologias;
• Importância da recolha de dados, da pesquisa e do desenvolvimento de
indicadores no domínio da discriminação;
• Previsão de medidas destinadas para garantir a igualdade nas áreas do
emprego, da saúde e do ambiente;
• Importância de garantir o acesso das vítimas às vias de recurso eficazes e
de assegurar a sua reparação pelos danos sofridos;
• Papel dos partidos políticos e da sociedade civil, nomeadamente ONG e
juventude, na luta contra o racismo.

Fonte: https://bit.ly/2F9oyC4. Acesso em 01 de maio de 2019.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 142


Ainda temos muito a saber sobre os conceitos de racismo e xenofobia que
são processados de forma estrutural, fundamentando guerras santas e étni-
cas, como ocorre no Oriente Médio na atualidade. Tal situação de desumanida-
de tem tirado a vida de muitas famílias, mulheres, homens, jovens e crianças.

DICA
Para saber mais leia o texto Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância
e a reportagem A história por trás da foto do menino sírio que chocou o mundo
no link.

Santos (2016) ao descrever motivos pelos quais se pratica o xenofobismo, mostra


que o migrante é visto como “de fora” em um território que é dominado por alguém
que acredita “ser seu”, o que leva a imputar ao migrante a aceitação de suas práticas
e sua submissão a seu modo de vida. Caso isso não venha a ocorrer, ou seja, quan-
do o migrante se percebe e busca estabelecer-se como um ser de direitos, o qual
estando presente naquela comunidade sente o desejo de participar das decisões
da vida política, social etc., o dominante começa a se sentir incomodado e busca
nas práticas racistas e xenofóbicas uma forma de coação e reação a esse migrante.
Fanon (2008), sobre o entendimento do racismo, colabora com a ideia de que uma
sociedade tende a ser racista como um todo, pois, em seu olhar, não existem “meios
racismos”. Pode ter, também, uma parte da sociedade mais racista que a outra. De fato,
ainda existem muitas pessoas que pensam que o migrante que chega em outra terra,
isso vale para o Brasil também, consiste em uma ameaça para o trabalhador no mundo
do trabalho local, o que pode reforçar a xenofobia reproduzida pela população.
De qualquer forma, é preciso que através da educação e da formação de valores mo-
rais e éticos, os indivíduos possam receber o antídoto para este mal do século XXI: a se-
gregação de pessoas, que se redefine como uma realidade de afastamento, isolamento.

O Ensino da Ética nas Instituições


Para que alcancemos a proposta que abordamos acima, uma formação
educacional em nível local e global, que alcance a tolerância das diferenças cul-

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 143


turais, das perspectivas de fluxo migratório, da liberdade de se exercer como
ser humano portador de direitos em qualquer região do planeta, é importante
consolidar matrizes curriculares que incluam conceitos e ensinamentos sobre
ética, sobretudo, abordagens práticas de vida que possibilitem a reflexão com
base na moral e na ética.
Chauí (2004) destaca a importância de ensinar ética por conta da con-
vivência em espaços grupais. Para Carvalho (1999), nas organizações en-
sinar e aprender sobre ética fundamenta a regulação e garante qualidade
nas relações humanas, servindo também como indicativo do desenvolvi-
mento organizacional.
Olhando mais de perto a inserção da ética nos currículos da educação su-
perior, vemos que nos anos 70, no Brasil, ela passa a fazer parte do currículo de
Administração e negócios, um momento em que se inicia uma ampla iniciativa
social e educacional para discussão de responsabilidade social, trocas interna-
cionais e desafios éticos regionais do ponto de vista de estratégias econômicas.

DICA
Para saber mais leia o texto Ética, Instituições e Desenvolvimento.

Capra (2002) destaca que as instituições universitárias precisam reformular


currículos que contemplem a formação ética pois, segundo ele, elas têm o pa-
pel de formar os novos profissionais. Já Sequeiros (2000), prima pelo ensino da
ética da solidariedade na educação como um todo, pois acredita que a criança
desde cedo deve conhecer a consciência ética. No entanto, Vallaeys (2003) infe-
re que os valores dominantes das universidades atuais são o individualismo, a
posse, a competência e a dominação.
A partir da década de 90 e a massificação da educação supe-
rior, uma grande amplitude de oportunidades de Cur-
sos e Disciplinas com ênfase mercadológica, muitas
Instituições viram a possibilidade de agregar à sua
missão, através da propaganda, os valores de for-
mação ética e responsabilidade social, conforme nos
mostra Calderon (2005).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 144


Figura 10: Ética e Instituições. Fonte: Pixabay.

Em uma sociedade capitalista selvagem, em que muitos comportamentos


não prezam as relações éticas, é muito comum ouvirmos várias reclamações de
falta de ética na política e na sociedade como um todo. Nesse caso, a inclusão
da ética nos currículos, sobretudo universitários, torna-se uma urgência aca-
dêmica, para que continue a se constituir como um elemento fundamental nas
relações humanas.
Cuvillier (1947) marcou os seguintes pontos a serem observados na forma-
ção ética dos profissionais:
a. Através da profissão o indivíduo se realiza plenamente, provando sua
capacidade, habilidade, sabedoria, inteligência e formando sua personalidade
para vencer obstáculos;
b. O nível moral dos homens é elevado pelo seu exercício profissional;
c. Na profissão os homens mostram sua utilidade à comunidade.

ASSISTA
Para saber mais assista ao vídeo Mario Sergio Cortella -
Educação, Convivência e Ética no link.

Educação das Relações Étnico-Raciais


Você sabia que existe uma importante forma de tratar da questão racial nas
escolas? Esse tipo de conteúdo relacionado a origem do Brasil e a relevância

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 145


que deve ser dada aos povos originários e introduzidos é trabalhado na educa-
ção das relações étnico-raciais.
Essa temática começou a ser introduzida, em âmbito legal, na Lei de Diretri-
zes e bases da educação em 1961 - LDB/1961, onde já se verificava a coibição de
tratamento diferencial na escola baseado na raça (NEGREIROS, 2017).
Segundo Negreiros (2017),
O processo de constituição da educação das relações étnico-ra-
ciais como política pública é completamente paralelo à composição
das políticas de promoção da igualdade racial, como observado no
capítulo anterior. É possível afirmar que o ponto de afluência des-
sa política é a aprovação da Lei 10.639/2003, ocorrida no mesmo
período de diversas legislações que estabelecem e organizam as
políticas de promoção da igualdade racial no Brasil. Contudo, no
contexto das políticas educacionais, essas ações relativas à temáti-
ca étnico-racial são recentes (NEGREIROS, 2017, p. 66).
Foi só com a Constituição de 1988, a educação como política social universal,
com o objetivo de formar os estudantes para a vida e para o mercado de trabalho.
Nessa mesma constituição, dita cidadã, foram ratificados o princípio da igualdade,
do padrão de qualidade e do respeito à diversidade (NEGREIROS, 2017).
Com a atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei n. 9.394, de 20
de dezembro de 1996, a educação é compreendida como um sistema que engloba:
• Educação Infantil
• Educação Básica
• Educação de Jovens e Adultos
• Educação Profissional
• Educação Superior
• Educação Especial.
Nessa lei a educação é classificada como dever do Estado,
com igualdade de acesso e condições de permanên-
cia aos estudantes, essa condição está diretamen-
te relacionada com o respeito à diversidade cul-
tural, social e étnica.
É importante que você saiba, caro(a) aluno(a)
que, ainda segundo a LDB 9394/96, o currículo

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 146


escolar deve ter uma base comum que condiga com os
valores culturais do País e o respeito às características
regionais no currículo específico de cada região. Então se
durante seus estudos na educação básica e no ensino médio
você estudou sobre questões culturais, sociais e étnicas regio-
nais e nacionais saiba que esse estudo é fundamental para que
você tenha conhecimento sobre nosso país!
Essa mesma lei indicava a necessidade do ensino da história do Brasil que
inclua e contemple a participação de pessoas negras e indígenas em sua for-
mação, o que é, de fato, extremamente relevante como um compromisso do
Estado brasileiro para diminuir as desigualdades e a reparação histórica com
índios e negros. (NEGREIROS, 2017)
Assim a lei deixa claros quais são os objetivos que escolas e como se deve
dar a formação de pessoas sobre a questão das relações étnico-raciais no país.
Os objetivos são:
• Possibilitar o reconhecimento de pessoas negras na cultura brasileira a
partir de seu próprio ponto de vista;
• Promover o conhecimento da população brasileira sobre a história do Bra-
sil com a visão de mundo da população negra;
• Formar os professores para ministrarem disciplinas que contemplem a
perspectiva negra na história, cultura e sociabilidade do País assim como que
saibam combater e discutir sobre o racismo e seus efeitos (dentro e fora do
ambiente escolar);
• Propiciar a reeducação para relações étnico-raciais plurais e diversas. (NE-
GREIROS, 2017)
É importante que você saiba que, independente de sua formação, você pre-
cisa saber sobre a sua origem e a origem de seu povo e só por meio da educa-
ção que é possível você respeitar a etnia do outro, conhecer o seu país e sua
formação e entender de cultura, diversidade e da riqueza do seu país.

Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana


Entendemos a pouco sobre a LBD 9394/96 e a importância que deve ser
dada a questão étnica e racial, mas essa lei ainda ficava subjetiva em algumas

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 147


questões, assim foi criada a Lei 10.639/2003 que veio especificar, detalhar e
obrigar o ensino de História e Cultura-Brasileira e Africana na Educação Básica,
alterando a LDB a fim de:
• Promover um currículo escolar antirracista e valorativo da população negra;
• Promover a inserção da história e cultura africana e afro-brasileira, porém
sem estabelecer um limite temporal para a sua implementação, nem o mínimo
dessa inserção no currículo.
Essa lei acabou traçando um caminho de um maior entendimento em rela-
ção a educação das relações étnico-raciais, primeiro por que contempla inte-
gralmente a proposição expressa pelo MNU na Convenção do Negro na Consti-
tuinte em 1986, que indicava: “É obrigatória a inclusão nos currículos escolares
de 1º e 2º graus, do ensino de História da África e da História do Negro no
Brasil.” (Convenção do Negro na Constituinte, 1986). Segundo porque estabele-
ce que o ensino de história deva considerar as matrizes africanas, indígenas e
europeias da formação do Brasil.
Para Dias (2005) essa inclusão é muito pouco, “diante de toda a produção
existente sobre a tensão no Brasil no que se refere à raça e, em especial, às con-
dições da população negra, mas representa um avanço, se considerada a total
omissão no projeto apresentado pelas entidades dos professores”.

CONTEXTUALIZANDO
Por meio dessa lei foram criados o Parecer CNE/CP
03/2004, de 10 de março de 2004 que trata das diretrizes
curriculares para a Educação das Relações Étnico-Ra-
ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana e da Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004
que, de fato, as institui e você pode acessar nesse link.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 148


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janeiro de 2022.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 150


UNIDADE

4
Direitos humanos
Nesta última Unidade de Ensino de nossa disciplina, aprenderemos sobre
Direitos Humanos, tais como o direito à vida, educação, trabalho, liberdade
de opinião, princípios e relações com ações comunitárias de participação de-
mocrática; refletir questões e situações ligadas à ética, direitos humanos e
violência; como também identificar o cenário atual e as tendências da ética e
cidadania. Veremos ainda a responsabilidade de governos de garantirem esses
direitos. Entenderemos que só é possível participar das decisões políticas de
um país a partir do exercício da cidadania plena, ancorada na ética, se temos
condições democráticas para esta participação. Enfim, faremos uma reflexão
sobre ausência de direitos e perpetuação da violência para entendermos o que
está acontecendo hoje com as práticas de ética e cidadania. Você também está
curioso para debater estes temas? Vamos lá!

Afirmação histórica dos direitos humanos


Como se originou os direitos humanos? Podemos dizer que foi a partir das
duas revoluções, a americana e a francesa. A revolução americana ou Declara-
ção dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos que assegurava alguns direi-
tos aos nascidos naquele país como o direito à vida, à liberdade, à igualdade
e à propriedade.
Esses direitos estabelecidos asseguravam a população que o governo não
poderia atacá-los sem base jurídica, ou seja, sem o devido processo e julga-
mento dentro dos parâmetros da lei.
Em 1789, estourou a Revolução Francesa que foi redigida a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, baseada em ideais iluministas e no
tripé: igualdade, liberdade e fraternidade. Essa declaração tinha por objetivo
assegurar que “nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro –
o que representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o
Antigo Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes, o rei”.
Mas foi em 1948 que foi publicada a carta oficial dos direitos humanos, a
famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual asseguraria para a
humanidade, os seus direitos básicos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 152


CONTEXTUALIZANDO
Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada
após 3 anos da criação da Organização das Nações
Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro
de 1945.
Os países foram adotando os ideais dessa declaração
em suas constituições. No Brasil não foi diferente já que
a Constituição Federal de 1988, está totalmente alinhada
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Quer saber mais sobre a constituição brasileira de 1988?
acesseo link através do QR Code.

Figura 1: Dia Internacional dos Direitos Humanos. Fonte: a autora.

Mas, afinal o que são os seus direitos, quanto humano?


São uma série de direitos básicos assegurados a todo e qualquer ser huma-
no sem distinção de classe social, raça, nacionalidade, religião, cultura, profis-
são, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante possível que possa
diferenciar os seres humanos.
Segundo Porfírio, (2022), é importante que você, como pessoa com direitos
e deveres, saiba:
• Os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o reconhecimento de
que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da vida humana
que devem ser respeitados e garantidos.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 153


• A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida a fim de resguar-
dar os direitos já existentes desde que houve qualquer indício de racionalidade
nos seres humanos. Assim sendo, ela não criou ou inventou direitos em seus
artigos, mas se limitou a escrever oficialmente aquilo que, de algum modo, já
existia anteriormente à sua redação.
• A liberdade e da igualdade deve estender-se a todos os seres humanos.
• todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no do-
cumento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita.
• ninguém pode ser mantido em regimes de escravidão ou servidão nem pode
ser submetido à tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento degradante.

DICA
Quer saber todos os detalhes os direitos estabelecidos na
Declaração, acesse o link através do QR Code.

Conceituação e princípios dos direitos humanos


O conhecimento dos Direitos Humanos acende uma chama de luta social,
coletiva e ao mesmo tempo individual. É importante destacar que os direi-
tos humanos envolvem a proteção de nossa cidadania em nível mundial. Por
isso não podemos colaborar para que discriminações, intolerância e opressão
aconteçam com qualquer indivíduo.
Mas o que são direito humanos? Inicialmente convém destacar que são
a base de uma relação respeitosa entre iguais e diferentes no
mundo social. Nossa Constituição de 1988, por exemplo, a De-
claração Universal de Direitos Humanos de 1948,
definida e divulgada pela ONU – Organização
das Nações Unidas, já preconizava no art. 1º
que: “[...] todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e em direi-
tos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em es-
pírito de fraternidade”.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 154


EXPLICANDO
Direitos humanos: são aqueles constituídos pelos direitos naturais,
garantidos a todos os cidadãos e que devem ser estendidos a todos os
indivíduos, sem distinção de gênero, classe social, posição política, etnia,
religião ou nacionalidade.

Segundo Franzoi (2003), é no contexto pós Segunda Guerra Mundial (1939-


1945) que houve a publicação em 10 de dezembro de 1948, da Declaração
Universal dos Direitos Humanos pela ONU (Organização das Nações Unidas).
O autor remonta que tal documento se fez necessário para que pudéssemos
lembrar e combater, exterminar todo e qualquer ato de atrocidade, violência,
semelhantes aos que aconteceram durante o conflito. Esse documento é o re-
sultado das lutas por direitos historicamente constituídos e traz a perspectiva
de igualdade e liberdade entre homens e mulheres.
Mas é preciso compreender o significado desses direitos, no senti-
do de valorizar sua existência e aplicabilidade. Nesse sentido, para Piovesan
(2005) a efetivação dos Direitos Humanos refere-se a uma aspiração e necessi-
dade universal de reconhecermos a nós mesmos como seres humanos, únicos,
que não são julgados pelas suas diferenças para acessar espaços e culturas. Tal
movimento dá respeito a valorização da dignidade da pessoa humana.

DICA
Texto: Ética e Direitos Humanos

De uma maneira geral devemos destacar que os três princípios fundamentais


dos Direitos Humanos são:
• Inviolabilidade da pessoa: não sacrificar um indivíduo com o motivo de que
será para o benefício de outro.
• Autonomia da pessoa: assegura a liberdade de ação para qualquer indivíduo
desde que este não prejudique outros.
• Dignidade da pessoa: os indivíduos devem ser julgados e tratados conforme
seus atos, unicamente.
Depreende-se que os Direitos Humanos são os direitos e liberdades de todos
os seres humanos. Ressaltamos algumas características desses direitos, sendo:

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 155


• Universalidade: todo e qualquer ser humano é sujeito ativo esses direitos, in-
dependente de credo, raça, sexo, cor, nacionalidade, convicções;
• Inviolabilidade: esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma
pessoa ou autoridade;
• Indisponibilidade: esses direitos não podem ser renunciados. Não cabe ao par-
ticular dispor dos direitos conforme a própria vontade, devem ser sempre seguidos;
• Imprescribilidade: eles não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois
têm caráter eterno;
• Complementaridade: os direitos humanos devem ser interpretados em con-
junto, não havendo hierarquia entre eles.

DICA
Vídeo: Direitos Humanos - Teoria Geral: Conceito e Premissas Filosóficas.
Texto: Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Universalismo e multiculturalismo
Um importante destaque que quero fazer aqui é que os Direitos Humanos
se estendem a toda a humanidade, ou seja, é universal e abarca todas as cultu-
ras, portanto multicultural.
Por esse motivo estão detalhadas na declaração os seguintes artigos:
• Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o docu-
mento da declaração também vale para todos, não importando as diferenças.
• Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as
violações da lei que as atingirem.
• Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja,
que não foram resultados de um processo legal que comprove o ato como de-
terminação de uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida.
• Artigo 10 º — todo mundo tem direito a um julgamento of icial,

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 156


público, imparcial e justo.
Portanto, eles não servem para proteger ou beneficiar alguém e condenar
outros, mas têm aplicação geral. Então, frases repetidas pelo senso comum,
como “Direitos Humanos servem para proteger bandidos”, não estão corretas,
visto que os Direitos Humanos são uma proteção a todos os humanos.

Ação comunitária e participação democrática


O ser humano imagina-se incluído em dois grupos societais: um deles mos-
tra-se como alguém que sente a necessidade de ser conduzido, aceita e espera
confortavelmente aquilo que o Estado oferece como políticas públicas, ou de-
cisões políticas, sociais e econômicas. O outro grupo busca constantemente a
chama acesa do questionamento, da participação, da vontade de transformar
e de estar construindo as decisões acima referidas.
Dessa forma, consideramos significativo destacar o conceito de comunida-
de para pensarmos seu papel no âmbito democrático.

EXPLICANDO
Comunidade: sociologicamente é um grupo de indivíduos que além
de possuírem a residência em comum do ponto de vista geográfico,
compartilham cultura e tomam parte de uma história compartilhada, têm
objetivos e metas comuns, partem das demandas comuns.

Figura 2: comunidade. Fonte: Freepik

Paul (1987) aponta que uma comunidade, para alcançar um excelente grau
de participação, em um projeto comunitário, por exemplo, deve se voltar aos
seguintes objetivos:

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 157


• Empoderamento – alto nível de consciência coletiva e de força política. O
autor mostra que precisa de uma forte iniciativa com ações e organização que
possam influenciar processos de mudanças.
• Capacity building - compartilhamento de tarefas relacionadas à adminis-
tração do projeto de transformação. Também diz respeito a monitoramento e
construção da sustentação do projeto.
• Eficácia: quando o projeto caminha junto com as demandas da comunida-
de. Corresponde e atende essas demandas.
• Eficiência: a procura de consenso com interação e cooperação para avan-
ços e não atrasos. Cumprindo metas e prazos. Intensa participação comunitária.
• Compartilhamento de custos: compartilhamento de gastos do projeto a
ser desenvolvido, com a finalidade de baratear o projeto.
Quando falamos em ”democracia participativa”, estamos lidando com a si-
tuação de uma participação popular na tomada de decisões, sobretudo, políti-
cas. Esse conceito evoca a ideia de uma proporcionar a oportunidade de par-
ticipação às pessoas, criando canais de debate que incentivem o pensar sobre
questões políticas, diretamente ligadas ao exercício de sua cidadania.
Uma proposta de entendimento e clareza sobre a ideia de ação da comuni-
dade em uma perspectiva democrática volta-se para a situação do conceito de
gestão democrática presente nas escolas.
Nascimento (2012) afirma que o trabalho em equipe voltado à qualidade de
ensino é a grande base para uma gestão democrática e participativa nas esco-
las. Paro (2002) considera fundamental que a gestão escolar tenha a consciên-
cia de que precisa estar sujeita a mecanismos de controle e fiscalização pela
própria comunidade na qual se insere.
Fortalecendo estas ideias, Gadotti (1995) nos lembra que descentralização
e autonomia devem andar lado a lado. A luta pela conquista da autonomia na
Escola é reflexo da luta na própria sociedade.
Assim, tal qual apresentamos aqui, é necessário que o entendimento da
condução democrática esteja presente, favorecendo o estado de participação
da comunidade. Na escola, bem como no Estado, uma gestão participativa e
democrática deve envolver: participação propriamente dita, descentralização
e transparência. Sobre o cenário desta concepção se realizar na escola, Freire
(1995) mostra que a participação política das classes populares deve ocorrer

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 158


através de seus representantes, seja
na tomada de decisões, seja na defini-
ção de um projeto de ação.
É notável que tanto na escola
quanto na sociedade é são necessá-
rios canais democráticos que possibi-
litem a participação dos indivíduos no
processo de tomada de decisões. Para
que a participação da comunidade
aconteça de forma efetiva, é preciso
também que a mesma conheça que Figura 3: democrática. Fonte: a autora.

canais existem para sua atuação. Observando a imagem abaixo, vemos estas
formas de participar:

Formulam, acompanham e avaliam as políticas. Neles, qualquer


Conselhos Municipais
cidadão pode participar, apresentar projetos e dar sua opinião.

São obrigatórias para a discussão da lei de Diretrizes Orçamen-


Audiências Públicas tárias (LDO) e também podem ser requisitadas para o debate
de problemas que afetem a cidade.

Ouvidoria Pública Municipal Atende reclamações de problemas relacionados à prefeitura.

Permite que o cidadão proponha uma ação contra ato que


Ação Popular
lese o patrimônio.

Com o aval de 5% dos eleitores do município, qualquer cida-


Iniciativa Popular
dão pode apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal.

Ao Ministério Público, possibilita a abertura de procedimen-


tos de investigação de supostos atos irregulares praticados
Representações contra o interesse público. Caso seja ao Tribunal de Contas,
o cidadão pode denunciar irregularidades ou ilegalidades na
administração pública.

Fonte: a autora.

Dessa forma, vemos que cada grupo representado nos diálogos recebe a
oportunidade de apresentar suas ideias e prováveis soluções para os entraves.
Isso supera, com certeza, o fato de ter uma visão unilateral em que somente
uma classe, ou grupo, toma decisões e avaliam ações, pois todos os níveis en-
volvidos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida no coletivo.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 159


Ética, direitos humanos e violência
A temática dos direitos humanos apresenta relevância na constituição da lógi-
ca jurídica do século XXI. Nesse sentido, mostra-se com traços do passado e uma
perspectiva de futuro. Sobre os direitos humanos, vemos a necessidade de uma
ampla análise histórico-filosófica, além de um grande conhecimento jurídico.
A questão da violência está na ordem do dia. Como podemos nos posicionar
do ponto de vista ético em relação as diferentes situações que saltam aos nossos
olhos diariamente. Temos assistido muitas cenas de desrespeito aos direitos hu-
manos. Muitas atitudes de violência e precarização da ordem social.
Schilling (2007) destaca que a violência em nossa sociedade está presente des-
de a fala das pessoas no dia a dia, até mesmo na mídia e nos discursos políticos.
Para a autora existem diversos tipos de violência, desde a que acontece na família
até a que configura a criminalidade. Violência física, psicológica, social e emocional.
Nesse sentido, viver em um Estado Democrático de Direito como o nosso
é experimentar práticas de respeito às diferenças e direitos humanos. Tudo
isso é muito significativo e completo na letra fria do papel, pois na prática as-
sistimos violência contra a mulher, violência contra o idoso, violência contra a
orientação sexual, crimes de ódio, corrupção, violência policial, entre outras.

EXPLICANDO
Estado democrático de direito é aquele em que os governantes seguem o
que está previsto nas leis, isto é, deve ser respeitado e cumprido o que é
definido pela lei.

Figura 4: Estado Democrático de Direito. Fonte: Freepik.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 160


Como entendemos a violência em relação aos Direitos Hu-
manos? Vemos, por exemplo, que a educação é direito de to-
dos e dever do Estado, tendo por princípios: a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola; a liberdade
de aprender, de ensinar, pesquisar e ampliar o pensamento, a arte
e o saber; o pluralismo de ideias e de vertentes pedagógicas; a coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino; a gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais; a valorização dos profissionais do ensino; a gestão
democrática do ensino público e a garantia do padrão de qualidade.
Nesse caso, infração ao respeito dos direitos humanos está diretamente
vinculada à impunidade. No Brasil existe a emenda constitucional 45 de 2004,
que federaliza crimes contra os Direitos Humanos. Assim, quando ocorre a vio-
lação a um direito humano, esta é logo transferida para o sistema de justiça
nacional. Mas o ideal seria criar políticas públicas que se voltassem ao combate
direto à violência. Como o Estado apresenta dificuldades nesse projeto, assisti-
mos, na maioria das vezes, os pobres sendo mais vitimados pela violência. Pois,
no fundo, há uma inércia para estabelecer punições e, também, a conivência
com ações de violência física e simbólica.
No que tange ao campo da ética, vemos que ética e violência caminham para lados
diferentes. Já que violência remete a tudo o que age usando a força para ir contra a nature-
za de algum ser, esmagando-o, torturando-o, desorganizando-o. Nesse sentido, podemos
afirmar que a sociedade aponta que uma atitude violenta em nada colabora para uma vida
justa e solidária. Dessa forma, afirmamos que violência se opõe à ética porque não consi-
dera o respeito e o compromisso de manter a integridade física e moral dos indivíduos.

Cenário atual e tendências da ética e da cidadania


A realidade social não está pré-concebida e os indivíduos podem atuar so-
bre os processos coletivos. Assim, é possível que os homens criem e recriem
novas propostas de convivência que esbarram em amplas discussões acerca
dos conceitos de ética e cidadania. Sobretudo, as questões que envolvem os
estudos de robótica, as investigações científicas sobre células tronco, a própria
possibilidade de instituição do poder de certos grupos e pessoas poderem de-
ter o porte de arma.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 161


Assim, para Singer (2002), uma pessoa vive dentro de uma esfera do ético quan-
do se preocupa com a justificativa de sua ação, já que só o fato da pessoa querer
justificar, podendo estar certa ou errada, demonstra que há uma pauta ética.
Valls (2000) mostra que a moral está diretamente ligada às ações práticas
dos seres humanos. Ele chama a atenção para o fenômeno da massificação
e do autoritarismo dos meios de comunicação e das políticas. Pois, segundo
ele, os homens mesmo cientes de seu papel fundamental como executores da
moral, conseguem agir eticamente. Ele traz o questionamento de que até que
ponto é possível o homem escolher entre o bem e o mal.

ÉTICA
MORAL

CARÁTER

Figura 5: Ética na atualidade. Fonte: a autora.

Em tempos atuais, a educação ocupa um lugar importante para a forma-


ção do cidadão participativo e solidário, consciente de seus deveres e direitos
e, sem falar em propostas de educação com direitos humanos. Dessa forma,
pode-se construir a base para uma amplitude maior do que vem a ser uma edu-
cação democrática, apontando o caminho para a democracia como o regime da
soberania popular, com pleno respeito aos direitos humanos.
No que se refere ao mundo do trabalho, por exemplo, Solomon (2006) des-
taca que o estudo da ética se faz primordial pelas infrações que aparecem em

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 162


jornais no mundo dos negócios. Tal proposta deveria ocorrer a partir da com-
preensão profunda das experiências práticas.
Bauman (2011) também colabora com as reflexões entre a “Era da Ética”,
típica da modernidade, e a “Era da Moral”, peculiar da pós-modernidade. Ele
apresenta a ideia de “ser-junto-com-o-outro”. A ética e a moral da pós-moder-
nidade, para ele relacionam-se com a responsabilidade moral incondicional
que cada pessoa pode desenvolver por meio de suas atitudes ao “estar junto
com o outro” na vida pregressa.
Segundo o autor, diferentes sujeitos devem ser capazes de decisões pró-
prias sem serem coagidos por um sistema normativo. Eles constroem o senso
de responsabilidade que os auxilia para lidar com situações que exigem con-
senso, instituindo a questão ética.
A moral, no olhar de Bauman (2011), consiste em categoria contingente e
incontível. Para ele, a relação com o desconhecido traz a possibilidade de reco-
nhecimento de uma humanidade. Vejamos algumas situações em que a ética
e a cidadania aparecem e os sujeitos devem usar esse senso de racionalidade.
Ética e política
Um problema que tem incomodado muito a realidade social brasileira está
relacionado com a questão da corrupção na política. Será que aqueles que são
eleitos democraticamente, com o voto direto, com a perspectiva de represen-
tar a vontade geral e que governam voltados para seus interesses pessoais,
estão agindo de forma ética? Há uma falta de ética no exercício da política no
meio social? Como fica a questão da cidadania relacionada a questão ética em
tempos atuais?

O analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o
preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas. O analfabeto...
Bertolt Brecht

Figura 6: O Analfabeto Político

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 163


Ética na saúde
O comportamento ético em atividades de saúde deve considerar um enfo-
que de responsabilidade social e também a expansão dos direitos da cidada-
nia, pois sem cidadania não há saúde.
A ética da responsabilidade e a bioética envolvem o cuidado do outro, por-
tanto, compete ter consciência em desenvolver esta postura. Dessa forma, ve-
mos que a ética deve reconhecer o valor de todos os seres vivos e encarar os
humanos como um dos pontos que formam a base da vida.
Clotet (2003) aponta que a bioética é uma ética aplicada que está preocupa-
da com o uso adequado das novas tecnologias na área das ciências médicas e
das soluções pertinentes aos dilemas morais que sejam apresentados.

DICA
Texto: princípios da bioética e o cuidado na enfermagem.

Ética nas redes sociais


As Redes Sociais também têm se mostrado como um importante canal de
informação e trocas comunicacionais. Ao mesmo tempo em que informam,
também desinformam. Relacionando com a questão ética, temos a grande dor
de cabeça do momento, as chamadas Fake News. Estas provocam desequilí-
brio, afetações emocionais e transtornos, principalmente naqueles que são os
alvos dessas notícias falsas. As Fake News reforçam preconceitos,
ódio contra indivíduos ou grupos sociais. Imaginem o impacto
que a sociedade teve sobre a falsa notícia da existência de um
“Kit Gay” imposto nas Escolas. Essa ideia par-
tiu de um projeto verdadeiro que fazia parte
de um dos programas do Governo Federal,
mas foi manipulada e disseminada total-
mente desvirtuada, com a perspectiva de
dizer que haveria uma suposta ideologia de
gênero e sexualidade firmada para as escolas.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 164


A questão ética aparece fortemente no fato
de que antes de compartilhar essas no-
tícias que causam impacto, bem como
todas as outras que compartilhamos ou
postamos, é sempre preciso checar a veraci-
dade da informação.
Schudson (2017) afirma que a notícia falsa pode
interferir no cotidiano do cidadão e das redações
jornalísticas. Segundo ele, no jornalismo, por exem-
plo, é preciso ter responsabilidade com a questão da
reprodução de notícias falsas, exageradas ou até mesmo
corrompidas. Kunczik (2001) aplica o termo disfunção quando ocorre as notí-
cias servirem de ameaça à estabilidade social. Pois, conforme Wolf (1987), a
circulação de notícias falsas destrói a cidadania de forma severa. Ainda, em
seu olhar, os meios de comunicação têm a função de trazer a possibilidade de
alertar o cidadão e apresentar instrumentos para definição de ações diárias.
Como detectar notícias falsas, segundo Kieky e Robertson (2017):
• Considere a fonte – veja se tem credibilidade;
• Considere o autor - faça uma breve pesquisa sobre ele;
• Confirme a data;
• Fontes de apoio - encontre bases de informações; as fontes que se rela-
cionam ou tratam do assunto – é preciso identificá-las;
• Considere todos os lados – ser contra uma ideologia não quer dizer que
a notícia é falsa;
• Verifique se é piada – há sites que fazem piadinhas com determinados
temas;
• Leia mais – é preciso ler sobre o assunto. Quando você pesquisa e lê
mais sobre um assunto, percebe se a informação a ser compartilhada tem ou
não veracidade.

DICA
Texto: o impacto das fake news e o fomento dos discursos
de ódio na sociedade em rede: a contribuição da liberdade
de expressão na consolidação democrática.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 165


Figura 7: Fake News. Fonte: Freepik.

Enfim, a discussão sobre ética e cidadania, levando em consideração o que es-


tamos vivendo em uma sociedade que precisa da convivência harmônica, é preciso
haver compatibilidade entre o ideal da sociedade almejada e o estilo de vida cons-
truída, sem isso não é possível pensar em uma sociedade ética como realidade.
Na atualidade, o sujeito que possui a cidadania é aquele detentor de direi-
tos, mas também de deveres. Deve ter ciência de sua participação na socieda-
de e que precisa contribuir coletivamente. A cidadania deve perpassar interes-
se e participação, precisa haver interesse pelo bem comum.
Uma outra perspectiva tem a ver com a sociedade de risco que estamos vi-
vendo. Isto significa que pensando sobre o crescimento da civilização tecnológica,
vemos um número muito grande de difusão e proliferação dos riscos. Riscos que
afetam as sociedades em conjunto, revelando a crise da sociedade industrial.
Para Giddens(1991), a sociedade moderna organiza-se levando em conta o
distanciamento tempo-espaço, diferentemente das sociedades pré-modernas,
nas quais as relações entre os indivíduos estavam construídas
nas referências locais. Nesse caso, a explicação para situa-
ções e fenômenos que ali se processavam, eram situadas
na lógica do conhecimento e interação cotidianos que,
por sua vez, promoviam a organização social com base
nas redes de confiança, depositada nos laços de paren-
tesco e alianças.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 166


Caso qualquer coisa perturbasse o equilíbrio daquela ordem social, o grupo
encontraria resolução para aquele problema, valorizando a confiança locali-
zada. Já nas sociedades atuais, conforme deriva do pensamento de Giddens,
estas constroem seu esquema de funcionamento e racionalização social funda-
mentadas em uma relação de confiança dos indivíduos em sistemas abstratos,
fichas simbólicas, que podem ser entendidos como o progresso do conheci-
mento técnico e científico. Portanto, vivemos riscos de acreditar nos sistemas
simbólicos, no virtual e, a partir destas crenças, também construímos nossas
posições éticas e cidadãs.

Figura 8: Sociedade e crenças nos sistemas simbólicos. Fonte: Freepik.

Educação, ética e cidadania hoje


No texto de Immanuel Kant que segue, que foi retirado de um coletânea
intitulada “Theoretical Philophy”, editado por David Walford e Ralf Merbote,
temos algumas reflexões importantes sobre ensinar a pensar para a vida. O
trecho apresentado aqui faz parte do “Anúncio do Programa do Semestre de
Inverno de 1765-1766” e propõe uma reflexão que traz em si a própria valoriza-
ção da educação para o bem coletivo.
Ensinar a pensar
Espera-se que o professor desenvolva no seu aluno, em pri-
meiro lugar, o homem de entendimento, depois, o homem

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 167


de razão, e, f inalmente, o homem de instrução. Este pro-
cedimento tem esta vantagem: mesmo que, como acontece
habitualmente, o aluno nunca alcance a fase f inal, terá mes-
mo assim benef iciado da sua aprendizagem. Terá adquirido
experiência e ter-se-á tornado mais inteligente, se não para
a escola, pelo menos para a vida.
Se inver termos este método, o aluno imita uma espécie de
razão, ainda antes de o seu entendimento se ter desenvol-
vido. Terá uma ciência emprestada que usa não como algo
que, por assim dizer, cresceu nele, mas como algo que lhe
foi dependurado. A aptidão intelectual é tão infrutífera
como sempre foi. Mas ao mesmo tempo foi corrompida num
grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria. É por esta
razão que não é infrequente deparar-se-nos homens de
instrução (estritamente falando, pessoas que têm estudos)
que mostram pouco entendimento. É por esta razão, tam-
bém, que as academias enviam para o mundo mais pessoas
com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer
outra instituição pública.
[...]Em suma, o entendimento não deve aprender pensa-
mentos mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nós qui-
sermos exprimir, mas não levado em ombros, de maneira a
que no futuro seja capaz de caminhar por si, e sem tropeçar.
A natureza peculiar da própria f ilosof ia exige um método
de ensino assim. Mas visto que a f ilosof ia é, estritamente
falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingi-
ram a maturidade, não é de espantar que se levantem dif i-
culdades quando se tenta adaptá-la às capacidades menos
exercitadas dos jovens. O jovem que completou a sua ins-
trução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai
aprender f ilosof ia. Mas isso é impossível, pois agora deve
aprender a f ilosofar. [...] Para que pudesse aprender f ilo-
sof ia teria de começar por já haver uma f ilosof ia. Teria de
ser possível apresentar um livro e dizer: «Veja-se, aqui há

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 168


sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos conf iar.
Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê-lo, se f izerem
dele as vossas fundações e se construírem com base nele
daqui para a frente, serão f ilósofos». Até me mostrarem tal
livro de f ilosof ia, um livro a que eu possa apelar, [...] permi-
to-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a con-
f iança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a
capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nos-
so cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro
consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadure-
cida, se em vez disso os enganássemos com uma f ilosof ia
alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em
seu benefício. Tal pretensão criaria a ilusão de ciência. Essa
ilusão só em cer tos lugares e entre cer tas pessoas é aceite
como moeda legítima. Contudo, em todos os outros luga-
res é rejeitada como moeda falsa. O método de instrução
próprio da f ilosof ia é zetético, como o disseram alguns f iló-
sofos da antiguidade (de zhtein). Por outras palavras, o mé-
todo da f ilosof ia é o método da investigação. Só quando a
razão já adquiriu mais prática, e apenas em algumas áreas,
é que este método se torna dogmático, isto é, decisivo. Por
exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução
não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés,
deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós
formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, con-
tra ele. O que o aluno realmente procura é prof iciência no
método de ref letir e fazer inferências por si. E só essa prof i-
ciência lhe pode ser útil. Quanto ao conhecimento positivo
que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo — isso
terá de ser considerado uma consequência acidental. Para
que a colheita de tal conhecimento seja abundante, basta
que o aluno semeie em si as fecundas raízes deste método.
Immanuel Kant
Tradução de Desidério Murcho

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 169


Compreender a criação de novos desenhos de sujeito pensante e participa-
tivo, em uma sociedade em que as tecnologias da informação e das comuni-
cações são cada vez mais reais e oferecem um mapa cognitivo das relações e
saberes sociais que indicam o progresso da humanidade, é fundamental para
se estabelecer um diálogo entre indivíduo, cultura e educação.

EXPLICANDO
A Fraude – o caso Bahrings (com Ewan Mc Gregor) Contabilidade;
Governança Corporativa; Ética e Responsabilidade Social; Evidenciação e
Informação à Sociedade.
Ameaça Virtual (Com Tim Robbins e Ryan Philiphe) Tecnologias da
informação; Liderança; Clima organizacional; Ética; Responsabilidade
social corporativa; Qualidade de vida no trabalho.
Com o dinheiro dos outros (Com Danny de Vito e Gregory Peck)
Inovação tecnológica; Ética e responsabilidade social; Governança cor-
porativa; Liderança; Finanças; Globalização e internacionalização dos
mercados; Clima organizacional.
Erin Brockovich (Julia Roberts e Albert Finney)
Ética e responsabilidade social corporativa; Gestão ambiental; Liderança;
Negociação empresarial; Administração de conflitos; Trabalho em equipe.
Minority Report: a nova lei (Com Tom Cruise)
Tecnologias da informação; Tele trabalho; Ética; Invasão de privacidade;
Responsabilidade social corporativa.
O Náufrago (Com Tom Hanks e Helen Hunt)
Qualidade de vida no trabalho; Clima organizacional; Planejamento de
carreira; Recrutamento e seleção; Treinamento e desenvolvimento de
pessoal; Planejamento corporativo.

Nesta Unidade vimos que existem situações e questões na atualidade


que precisam estar pautadas pelo olhar da ética e cidadania,
afinal, ser cidadão é colaborar para a garantia de que o res-
peito e a preservação das relações seja fundamental. Vimos
ainda que tanto na política, quanto na saúde
e nas trocas via redes sociais, é preciso ter
compromisso com a moralidade das par-
ticipações e atuações. Finalmente, des-
tacamos o papel que a educação tem
na formação de indivíduos pensantes e
responsáveis por suas ações no seio da
sociedade.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 170


Fundamentação e inversão ideológica dos direitos
humanos
Apesar de ter mais de 70 anos de existência e dos significativos avanços le-
gais, culturais, ético e sociais para a humanidade, ainda existe no mundo várias
ditaduras, governos autoritários e infrações a esses direitos.
No Brasil, uma clara expressão de infração a essa declaração foi a Ditadu-
ra Militar, ocorrida entre 1964 e 1985, quando, em seus anos mais pesados,
centenas de pessoas foram presas arbitrariamente, exiladas, torturadas e até
mortas por causas das suas orientações políticas ou pela afronta ao governo
ditatorial (PORFÍRIO, 2022).
Também esbarramos em alguns problemas em relação à garantia dos Direi-
tos Humanos no mundo, como a longínqua guerra da Síria, a tomada do Afega-
nistão pelo Talibã, governos ditatoriais como os existentes em países Africanos,
Coreia do Norte, Venezuela e Rússia.
Os indicadores das infrações a declaração são as altas taxas de homicídios,
em especial de jovens, moradores de periferias e negros; o abuso policial e as
execuções cometidas por policiais ou milícias; o falho sistema prisional, que se
encontra em crise; as ameaças aos defensores dos Direitos Humanos; a miséria
e a alta desigualdade social; a violência contra a mulher; e o trabalho em situa-
ções análogas à escravidão.
Estar atento os direitos previstos em nossa constituição e combater injus-
tiças sociais devem ser as armas de nós, cidadãos do mundo contra esses des-
mandos de políticos no mundo

Direito internacional dos direitos humanos e seus


sistemas de proteção global e regional
Para terminar nossa conversa sobre direitos humanos, é importante que
você saiba quais são os sistemas globais de proteção aos direitos humanos.
Por serem estruturas internacionais, respeitadas, assinadas e ratificadas por
pactos, tratados, convenções, declarações, comissões, estas contêm mecanis-
mos apropriados de acompanhamento, fiscalização e cobrança de informações
dos países signatários acerca das ações protetivas e afirmativas de tutela dos
direitos humanos.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 171
A ONU, tem esse intuito de administrar
a paz mundial e cobrar dos países o com-
promisso com acordos que visem a prote-
ção do homem, do meio ambiente, econo-
mia e das futuras gerações.
Segundo Freitas (2015), os mecanismos con-
temporâneos de implementação dos Direitos Hu-
manos pela ONU são vários e complexos, surgiram
através da Carta de São Francisco, mas efetivamente
se concretizaram a partir da Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948, são eles:
• Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos: foi adotado pela As-
sembleia Geral das Nações Unidas em 19 de dezembro de 1966, constituindo,
assim, um pacto de amplitude mundial. Sua entrada em vigor ocorreu em 1976,
quando se atingiu o número mínimo de adesões estipulado, 35 países.
• Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: foi pla-
nejado com o objetivo de tornar juridicamente importantes os dispositivos da De-
claração Universal dos Direitos Humanos, determinando a responsabilização in-
ternacional dos estados signatários por eventual violação dos direitos estipulados.
• Sistemas Regionais: Sistema Europeu, o Sistema Interamericano,
Sistema Africano;
• O Tribunal Penal Internacional possui competência para julgar quatro tipos
de crimes: crimes contra a humanidade, crimes de genocídio, crimes de guerra e
crimes de agressão. Seu princípio principal funda-se na complementariedade e
subsidiariedade, possuindo como característica o fato de ser permanente.
Agora que você sabe sobre a importância da Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos e da existência de tratados e pactos globais para que eles sejam
cumpridos, junte-se a inúmeras pessoas que cobram seus direitos civis, econô-
micos, sociais e políticos e exija de seus governantes que eles sejam respeitados!

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 172


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