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SAÚDE MENTAL

VESPASIANO
2023
APRESENTAÇÃO

Seja em instituições especializadas na área ou não, a atuação do profissional


de enfermagem na assistência à pacientes com problemas mentais é essencial. O
cuidado em saúde mental exige uma equipe multidisciplinar, e o profissional da
enfermagem tem papel importante, oferecendo cuidado terapêutico, e garantindo
uma assistência segura, integral e de qualidade. Sem a necessidade de processos
invasivos, a comunicação se torna o principal instrumento do profissional de
enfermagem em saúde mental, permitindo e criação de uma relação de confiança,
humanizada e diferenciada, entre paciente e enfermeiro. A disciplina de Saúde
Mental aborda psicopatologias, tratamentos e aspectos culturais de doenças
mentais.

Elaborada por:

Ariane Costa Dada


Terapeuta Ocupacional graduada pela FCMMG
Pós-graduada em Saúde Mental pela UFMG.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E CONCEITOS...................................................................... 4
2. ESTUDO DA PERSONALIDADE ................................................................... 7
3. A HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA ........................................ 13
4. A REFORMA DA ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA ....................................... 22
5. POLÍTICA NACIONAL E SERVIÇOS EM SAÚDE MENTAL ........................ 28
6. FUNÇÕES PSIQUICAS E SINAIS E SINTOMAS ........................................ 42
7. PRINCIPAIS TRANSTORNOS PSIQUICOS ................................................ 51
8. ALCOOLISMO E DROGAS .......................................................................... 76
9. CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO ................................ 87
10. RELACIONAMENTO COM O PACIENTE ................................................. 97
11. MORTE E LUTO ...................................................................................... 105
12. SAÚDE DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ................................... 109
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 115

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1. INTRODUÇÃO/ CONCEITOS

Saúde:

A Saúde foi definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como


"estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas como ausência
de doença".

Essa definição é considerada complexa e multidimensional, envolvendo três


domínios: saúde física, saúde social e saúde psicológica/mental.

A Saúde física está relacionada ao vigor do corpo, à ausência de doenças


instaladas e à presença de comportamentos potencialmente promotores de saúde.

A saúde social relaciona-se com fatores socioculturais em saúde, tais como o


status socioeconômico, educação, etnicidade, cultura e gênero. Além disso, envolve
habilidades interpessoais, capacidade para desenvolver e manter relacionamentos
significativos com família e amigos e apoio social em situações de crise.

A Saúde Psicológica/ mental diz respeito à capacidade de pensar de forma


clara, ter boa autoestima e senso geral de bem-estar. Este domínio inclui também a
habilidade de resolução de problemas, criatividade e estabilidade emocional.

Considera-se que esses domínios exercem influência mútua uns sobre os


outros. Por exemplo, um indivíduo com baixo nível socioeconômico, pode ter pouco
acesso à informação e baixa probabilidade de emissão de classes de
comportamentos que garantam sua saúde física, o que pode interferir em sua
qualidade de vida e na sensação de bem estar (saúde psicológica).

Da mesma forma, um indivíduo com boas habilidades para resolução de


problemas (saúde psicológica) pode ter maior facilidade para desenvolver e manter
vínculos sociais significativos (saúde social), o que o deixa menos propenso ao
desenvolvimento de um quadro depressivo e a consequente deterioração de sua
saúde física.

Saúde Mental:

É o termo utilizado em nossa sociedade para determinar os padrões normais


de comportamento. Uma pessoa é considerada com a mente sadia quando suas
atitudes estão de acordo com o meio em que ela vive e não em uma relação
passiva, rígida ou fora dos padrões de normalidade determinados pela sociedade.
Conclui-se então, que Saúde Mental é o conjunto de atitudes humanas adequadas à
situação de vida do sujeito permitindo que o mesmo encontre soluções satisfatórias
para seus conflitos.

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Normalidade x anormalidade

O que torna um ser Normal? O que o torna ―mais‖ normal em detrimento de


outros?

Segundo a definição Léxica: do Lat. Normale / conforme à norma ou à regra


comum; que serve de regra, de modelo; exemplar; habitual; ordinário;

As definições de normalidade bem como a de anormalidade são variáveis,


dependendo da sociedade. De modo geral, normal é um estado padrão: o que é
considerado correto, justo sob algum ponto de vista. É o oposto da anormalidade. A
normalidade muitas vezes se dá por conta de uma maioria em comum, sendo
anormal aquele que contraria esta maioria. A normalidade também se dá por um
resultado padrão ao realizar uma operação com alta probabilidade de se repetir.

Do ponto de vista social esses dois conceitos estão baseados nas crenças de
determinada comunidade sobre aquilo que considera ideal para uma pessoa
conduzir sua vida em relação aos outros.

Muitas são as normas sociais adotadas por diferentes culturas para indicarem
a adequação conforme a faixa etária, o gênero, a profissão e a categoria social.

A normalidade abrange não só o comportamento da pessoa como também


sua vestimenta, suas atitudes, corte de cabelo, gostos, expressões faciais,
vocabulário que utiliza e a apropriação de contextos e relacionamentos sociais.
Aqueles que não obedecem às regras culturais estipuladas são vistos como distintos
engraçados ou até mesmo perigosos.

Em algumas culturas (africanas especialmente) há a crença de que pessoas


são possuídas por espíritos, sendo uma atitude culturalmente definida como
anormal; porém não é qualquer pessoa que pode ser possuída, pois isto é
rigorosamente controlado pelas normas culturais da mesma forma como a
circunstância da possessão, o modo e a maneira de comunicação que se dará.

Então, normalidade e anormalidade são comuns a todas as sociedades. O


extremo descontrole de comportamento é considerado como um problema social
importante, independente da cultura.

Critérios de Normalidade

Os critérios de normalidade são diversos. Nesse sentido, o que faz o


profissional adotar um ou outro critério depende das próprias opções filosóficas,
ideológicas e pragmáticas (Canguilhem, 1978). Vale citar os critérios mais
conhecidos em psicopatologia:

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 Normalidade como Ausência de doença: nesse prisma, a saúde é vista
como ―ausência de sintomas, sinais ou doenças‖. Assim, o indivíduo normal é
aquele não portador de transtorno mental definido. Pelo olhar crítico, esse
critério é significativamente falho e redundante, em que define a saúde não
pelo que ela é, mas sim pelo que ela não é, pelo que lhe falta (Almeida Filho;
Jucá, 2002).

 Normalidade ideal: nesse ramo, a normalidade é vista de forma utópica.


Assim, estabelece-se a norma ideal, o suspostamente ―sadio‖ e ―mais
evoluído‖ a partir de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários, e, em
algumas ocasiões, dogmáticos e doutrinários.

 Normalidade estatística: o conceito de normalidade é visto como aquilo que


se observa com mais frequência na população geral. Logo, ele se aplica a
fenômenos quantitativos. Os indivíduos nos extremos das curvas de
distribuição passam a ser considerados anormais ou doentes. Esse critério
também é bastante falho, já que nem sempre fenômenos muito frequentes
são um sinal de normalidade ou os extremos são, anormal. Pode-se citar
como exemplo: cáries dentárias, uso abusivo de álcool, presbiopia, sintomas
ansiosos e depressivos leves, entre outros.

 Normalidade como bem-estar: a OMS definiu a saúde como ―completo bem-


estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença.
Esse conceito também, infelizmente, é criticável, já que é difícil defini-lo de
forma objetiva, por ser muito vasto e impreciso. Além disso, pode-se cair na
categoria de utopia, na qual poucas pessoas estariam realmente ―saudáveis‖.

 Normalidade funcional: esse critério baseia-se na funcionalidade do ser, em


que o fenômeno patológico é disfuncional a ponto de produzir sofrimento à
própria pessoa ou ao seu grupo social.

 Normalidade como processo: nesse sentido, a normalidade é vista de forma


dinâmica, e não estática. Assim, há de se considerar os aspectos dinâmicos
do desenvolvimento psicossocial, das estruturações e reestruturações ao
longo do tempo, de crises e mudanças próprias do ciclo de vida da pessoa.
Vale salientar que este conceito é muito aplicado na psiquiatria infantil, do
adolescente e do idoso.

 Normalidade Subjetiva: esse critério utiliza a perspectiva subjetiva do sujeito


como a principal categórica na determinação do estado de saúde do mesmo.
Esse quesito falha, infelizmente, nas pessoas em fase maníaca, em que se
sentem ―muito bem e saudáveis‖, mas, na verdade, possuem um transtorno
mental grave.

 Normalidade como liberdade: vale citar que alguns estudiosos do ramo


fenomenológico e existencial, como Henri Ey, creditam à doença mental como
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perda da liberdade existencial, como um constrangimento do ser, fechamento
e fossilização das possibilidades existenciais.

Desse modo, há diversos critérios de ―o normal e o patológico‖, que devem ser


estudados de maneira crítica e reflexiva. Nesse sentido, a finalidade não é julgar se
um conceito é melhor do que outro, mas sim, estar atento à funcionalidade do
conceito inserido em determinado fenômeno que se deseja trabalhar, lembrando que
também há o viés filosófico do profissional. Além disso, alguns casos podem
associar vários critérios de normalidade ou doença, de acordo com o objetivo de
estudo.

Doença Mental:

Doença significa desvio do estado normal, ou seja, desvio da saúde. Doença


Mental é uma maneira defeituosa de viver em que o indivíduo não se comporta de
acordo com as expectativas da sociedade. Não encontrando assim, soluções
satisfatórias para seus conflitos. Por exemplo, quando nos vemos diante de uma
situação difícil de ser vencida, como ser avaliado na escola em uma prova difícil ou
concorrer a um novo emprego, entramos em ansiedade. Se esta for construtiva,
superamos a situação e crescemos; se não, não conseguimos superá-la e a
ansiedade gera um comportamento doentio.

O conceito atual de doença mental, culturalmente construído de acordo com o


modelo biomédico predominante, consiste em um desequilíbrio psíquico que pode
se manifestar por meio de sinais e sintomas, dificultando o desenvolvimento da vida
cotidiana da pessoa em sofrimento psíquico.

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2. ESTUDO DA PERSONALIDADE

A personalidade é uma palavra de origem grega que vem de Persona, que


significa uma máscara, um personagem, uma identidade. É associada ao
comportamento observável de uma pessoa.

A personalidade pode ser definida então como o conjunto de características


que determinam os padrões pessoais e sociais de uma pessoa, sua formação é um
processo gradual, complexo e único a cada indivíduo.

No senso comum o termo personalidade é usado para descrever


características marcantes de uma pessoa, como ―essa pessoa é extrovertida ou
aquela menina é tímida‖ e etc, porém o conceito de personalidade está relacionado
às mudanças de habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, e ao modo

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constante e particular do indivíduo perceber, pensar, sentir e agir, além da
interferência de fatores culturais e sociais nessas características.

Na Psicologia a Personalidade é uma organização dos vários sistemas


físicos, fisiológicos, psíquicos e morais que se interligam, determinando o modo
como o indivíduo se ajusta ao ambiente em que vive.

Existem muitas teorias que estudam a personalidade, porém uma das mais
importantes na história do estudo de personalidade é de Freud.

Sigmund Freud é uma das figuras históricas mais marcantes do século XX. É
considerado o pai da psicanálise - método de investigação e clínica. Sigmund Freud
foi o responsável pela revolução no estudo da mente humana. Nascido em 6 de
maio 1856 em Freiberg, Morávia, hoje República Checa, Freud foi o primogênito de
Jacob Freud e de Amalie Nathanson, morou em Viena, capital da Áustria, por quase
todos os seus 83 anos de vida. Aos 17, ele ingressou na Universidade de Viena, no
curso de Medicina.

Sigmund Freud, por Max Halberstadt, em 1922.

Notório por ser um aluno brilhante, durante os anos de faculdade, trabalhou


intensamente no laboratório de neurofisiologia, até formar-se em 1881.

O doutor realizou diversas contribuições para as áreas de medicina,


psicologia, literatura, filosofia, política, entre outras. No entanto, seu principal feito,
enquanto profissional da área de saúde e especialmente da mente humana, é ter
criado uma importante teoria, a psicanálise ou teoria freudiana.

Vamos falar sobre dois pilares da psicanálise para a investigação do


funcionamento psíquico: a Teoria Topográfica e a Teoria Estrutural.

A TEORIA TOPOGRÁFICA E A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

Segundo as concepções de Freud, a Teoria Topográfica reúne três estruturas


que representam os diferentes níveis da consciência humana. Esses sistemas, por
consequência, definem nossas ações e sentimentos – ou seja, estruturam a
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personalidade – considerando que a mente é a origem de quem somos. Entenda as
partes descritas nessa teoria!

CONSCIENTE

O consciente abriga os conteúdos que estão mais elevados em nossa mente.


Nesse nível, estão nossos pensamentos lúcidos, os sentimentos percebidos, as
experiências memorizadas, as ideias claras e os objetivos. Enfim, tudo o que é
acessível à nossa consciência está nesse sistema.

PRÉ-CONSCIENTE

O pré-consciente é como uma ponte entre as duas outras partes. Aqui, é


possível acessar determinados elementos da mente, como os conhecimentos
arquivados, emoções internalizadas, lembranças esparsas e outros mais. Esses
conteúdos permanecem em nosso aparelho psíquico e podem ser trazidos ao nível
consciente sem muita dificuldade.

INCONSCIENTE

Para Freud, é no sistema inconsciente que habitam as raízes dos problemas


emocionais. É ali que moram os instintos, os elementos reprimidos e censurados
desde a infância. O que existe nessa região da mente não pode ser voluntariamente
resgatado pelo indivíduo. Algumas técnicas psicanalíticas têm justamente esse
objetivo: entender o que está no inconsciente.

A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE DE ACORDO COM A TEORIA


ESTRUTURAL

Id, ego e superego: esses são os três componentes da Teoria Estrutural, que
representam, respectivamente, os impulsos, a racionalidade e o senso de moral.
Cada uma dessas partes é responsável por diferentes aspectos da personalidade e
definem como o indivíduo age e se relaciona com outras pessoas. Conheça um
pouco mais!

ID

Esse componente faz parte do sistema inconsciente e está associado aos


impulsos e desejos mais submersos do ser humano. O id quer alcançar o prazer a
qualquer custo, não é barrado por limites, razões e moral. É um elemento
absolutamente primitivo, instintivo, intolerante à frustração e movido pelo
imediatismo.

EGO

O ego é guiado pela racionalidade, pelo realismo e pela capacidade de


controlar os impulsos. Essa estrutura atua de forma moderadora entre os instintos
do id e as interações que o indivíduo cria no ambiente. A função do ego é encontrar
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o equilíbrio entre os dois outros componentes (id e superego) para assegurar a
integridade da personalidade. Apesar de conter elementos inconscientes como o Id
funciona muito mais a nível consciente e pré-consciente, dessa forma, comandado
pelo princípio da realidade, o Ego cuida dos impulsos do Id e muitos dos desejos
acabam sendo não satisfeitos, mas sim reprimidos.

SUPEREGO

Trata-se de estrutura mais refinada da personalidade, é onde residem os


valores e a moral de cada pessoa. O superego atua na repressão dos desejos, no
sentimento de culpa, no cumprimento das regras sociais e na punição de ações e
emoções. É desenvolvido a partir da transmissão de princípios transmitidos pelas
gerações antecedentes, por isso é um sistema parcialmente consciente que serve
como censor das funções do ego, de onde derivam sentimentos de punição, medo e
culpa. O superego tem três objetivos: inibir (através de punição ou sentimento de
culpa) qualquer impulso contrário às regras e ideais por ele ditados (consciência
moral), forçar o ego a se comportar de maneira moral e conduzir o indivíduo à
perfeição - em gestos, pensamentos e palavras (ego ideal).

Desse modo, podemos considerar o Id como sendo o componente biológico,


o Ego como o psicológico e o Superego como o social da personalidade,
trabalhando juntos sob a liderança do Ego.

Uma pessoa gostou de um objeto e sente-se tentada a roubá-lo (ID).


Imediatamente pensa: Não posso, não devo roubá-lo (Superego) e chega à
conclusão de que se ela trabalhar e economizar parte do seu salário poderá adquiri-
lo (Ego).

https://lucasnapoli.files.wordpress.com/2012/03/homer-simpson-angel-devil15.jpg

Nos termos de Freud, o segredo para uma personalidade saudável é o


equilíbrio da interação entre as três instâncias psíquicas. Caso contrario, a
personalidade será desajustada.

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Desajuste da Personalidade

Ocorre pela predominância de um dos níveis do aparelho psíquico:

 ID: os indivíduos que tem predominância do ID, são impulsivos, instintivos,


agem conforme a emoção.

 Ego: os indivíduos guiados pelo ego, são práticos, cautelosos e racionais.

 Superego: os indivíduos guiados pelo superego agem de acordo com os


padrões sociais e são angustiados, tímidos e indecisos.

A estreita relação entre o Id, o ego e o superego resulta em comportamento


de influência mútua entre as estruturas psíquicas do indivíduo. Portanto, estes três
componentes (id, ego e superego) compõem o modelo de estruturas psíquicas. A
estrutura da personalidade representa as bases constantes (elementos psíquicos
fundamentais) sobre as quais se estabelece o funcionamento psíquico de um sujeito.

Como vimos, com a Teoria Topográfica e a Teoria Estrutural, Freud buscou


compreender a formação da personalidade e os elementos que compõem a psique
humana. Suas conclusões foram e ainda são consideradas um respaldo teórico
fundamental para a psicanálise.

Os modelos de identidade, assim como as divisões topográficas da mente,


foram identificados e analisados por Freud a partir de sua experiência na clínica. Ao
observar os transtornos psicológicos que muitos indivíduos apresentavam, constatou
a existência de níveis inconscientes em nossa mente. Afirmando não haver uma
descontinuidade entre os processos mentais, o autor se dedica a identificar os níveis
obscuros da psique humana. A partir dessas análises ele pode afirmar que a parte
de nosso cérebro mais importante na definição da personalidade não é a consciente,
mas a inconsciente.

A psicanálise se interessa principalmente pelo desenvolvimento da psique


durante a infância. Isso porque vê como primordial o papel da família na formação
da personalidade. Devido a essa concepção, defende-se que é a partir do Complexo
de Édipo que se estrutura a psique.

COMPLEXO DE ÉDIPO

Trata-se de um conjunto de sentimentos hostis e amorosos que o filho sente


em relação à mãe. Seriam desejos que surgem de forma inconsciente durante a
infância. O nome foi inspirado na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles. Nela, o
autor grego conta a história de um filho que matou o pai e casou-se com a mãe, isso
antes de saber do parentesco entre eles. Quando descobriram ser mãe e filho já
haviam, inclusive, constituído uma nova família. Com a notícia, a mãe se suicidou,
enquanto Édipo arranca os próprios olhos. Para tratar do fenômeno de identificação
entre filha e mãe, Freud utilizava o termo Complexo de Édipo feminino. Nesse, a
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identificação da filha com a mãe seria tão intensa que a primeira competiria com a
segunda pelo amor do pai.

Na concepção psicanalítica, a nossa formação na infância – baseada no


Complexo de Édipo – determina em qual das três estruturas clínicas da
personalidade nos encaixamos. E mais: uma vez determinada a estrutura psíquica
de um indivíduo, ela jamais mudará.

Quais são os tipos de estruturas existentes?

A neurose, a psicose e a perversão. Cada qual destas estruturas apresenta


um discurso, um posicionamento frente a vida, sintomas e sinais bem característicos
quando adoecem ou quando seu desejo se faz presente.

A NEUROSE, de longe a mais comum, manifesta-se no indivíduo por meio do


recalque, está intimamente ligada à angústia. A Neurose é uma reação exagerada
do sistema emocional em relação a uma experiência vivida. Caracteriza-se
principalmente por ansiedades, fobias, manias ou comportamentos obsessivos. Essa
maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações
vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais,
seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo sem
que exista uma causa vivencial aparente.

A PSICOSE é condição mental mais grave, caracteriza-se por distúrbios


graves da percepção, pensamento e comportamento. Pode incluir alucinações,
delírios e comportamento socialmente bizarro. Afeta sua capacidade de julgamento.

A PERVERSÃO é uma estrutura de personalidade na que a busca pelo prazer


é constante. A pessoa sabe que existem normas, são capazes de reconhecê-las,
mas tendem a transgredi-las. Características: traços impulsivos, agressivos, hostis,
extrovertidos; são confiantes em si mesmos; baixos teores de ansiedade; ausência
de sentimento de culpa ou remorso; narcísicos e vaidosos; atos e comportamentos
antissociais; criadores de intrigas e conflito no meio em que se encontram;
sexualmente ativos e pervertidos; indiferentes ao afeto ou reação do outro e
geralmente cometem abusos de poder, coerção moral, chantagens e extorsões com
muita facilidade.

A psicopatia é algo muito ―valorizado‖ na nossa cultura contemporânea –


onde o esperto e o malandro é mais do que aquele que faz as coisas como ditam as
regras (é o psicopata versus o Neurótico). A falta de compromisso com o outro, a
ausência de empatia e culpa são erroneamente e romanticamente confundidos
como capacidade de liderança, pulso firme, poder e influencia pessoal.

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3. HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA PSIQUIATRICA

Nos séculos A.C. o conceito de doença mental estava ligado a explicações


mágico-religiosas. A loucura era aceita como uma imposição divina, uma
interferência dos deuses. Por consequência, o modo como a sociedade a encarava
tornava-se ambíguo, pelo fato de que tanto poderia ser o enfermo um portador, ou
intérprete da vontade divina, como também um castigado pelos deuses ou um
amaldiçoado. Desta forma o tratamento não poderia ser aplicado de maneira
diferente. Este tinha como objetivo controlar, apaziguar ou expulsar estas forças
maléficas.

Na Grécia Antiga, mesmo que os distúrbios mentais fossem encarados ainda


com origem sobrenaturais, procurou-se em causas somáticas a origem dos
distúrbios mentais. Neste novo pensamento, a doença era causada pelo
desequilíbrio interno, originado pelos humores corporais.

Hipócrates (460-377 A.C) numa visão organicista compreendia a doença


mental como uma alteração ou mesmo uma patologia cerebral desencadeada por
um desequilíbrio dos humores básicos como sangue e bílis. A melancolia, por
exemplo, era descrita como quadro de tristeza causado pela ―bílis negra‖ do fígado.

Também neste modelo surge, pela primeira vez, a descrição da histeria, que
curiosamente era atribuída ao deslocamento do útero (hístero), por falta de
atividades sexuais. Pode parecer engraçado, mas acreditava-se que se movendo
pelo corpo, o útero poderia atingir o cérebro, causando dispneia, palpitação e até
desmaios. Recomendava-se então, como terapêutica, o casamento para viúvas e
moças, além de banhos vaginais com ervas para atrair o útero de volta ao seu local
de origem.

Platão (429-347 A.C) considerava que a perda da razão era uma doença da
alma, e que uma das formas dessa doença era a loucura. Dessa forma, a loucura
era entendida como um desarranjo na ordenação do sistema da alma. Por isso ele
mencionava que as alterações mentais dependiam de três partes: a orgânica
(doença), a ética (comportamento inadequado que gerou a perda da razão) e a
divina (a loucura é uma doença da alma).

Eram concepções bastante amplas para a época, já considerando aspectos


psicológicos como parte da doença mental, mesmo com o conhecimento mais
restrito.

No Império romano, o tratamento dos transtornos mentais adquiriu novas


ideias, que defendiam uma maior relação individual entre o médico e o portador de
transtornos mentais, e se diferenciava as alucinações das ilusões, recomendando-se
que o tratamento da primeira doença fosse realizado em salas iluminadas, devido ao
medo que o portador de alucinações tinha da escuridão.

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Ao contrário da concepção grega, que atribuía à migração do útero a causa
da histeria, Galeno (130-200 A.C) afirmava que a doença mental poderia ter origem
orgânica ou psíquica e considerava que a saúde dependia do equilíbrio entre o
racional e irracional. Afirmava que a retenção do líquido feminino pela abstinência
sexual causava envenenamento do sangue, originando as convulsões. Assim, a
histeria não tinha uma causa sexual-mecânica, como afirmava o paradigma grego,
mas uma causa sexual-bioquímica. Entretanto, para o eminente médico romano, não
apenas a retenção do líquido feminino era a causa dos distúrbios psíquicos. Para o
alívio das mulheres da época, e das de hoje, o homem também tinha suas
alterações mentais oriundas da retenção do esperma. Desta forma, as relações
sexuais e a masturbação, para Galeno, serviriam de alívio para as tensões.

Deixando de lado a questão das flutuações dos líquidos seminais, a verdade


é que foi graças aos romanos que, pela primeira vez, surgiu uma concepção
diferente com relação aos doentes mentais. Foram criadas leis em que se
detalhavam as várias condições, tais como insanidade e embriaguez, que, se
presentes ao ato do crime, poderiam diminuir o grau de responsabilidade do
criminoso. Outras definiam a capacidade do doente mental para contratar
casamento, divorciar-se, dispor de seus bens, fazer testamento e até testemunhar.

Com o fim do Império Romano, em 476 D.C., iniciou-se um período que a


História denominou de Idade Média. Foi também o período em que o cristianismo se
expandiu. Muitos chamam a Idade Média de ―Idade das Trevas‖, mas não é pela
falta de energia elétrica, que ainda não havia sido descoberta, e sim, devido ao fato
de todo pensamento cultural estar ligado às ideias religiosas. Isso fez com que todas
as descobertas no campo científico e nos outros campos do conhecimento humano
progredissem muito lentamente.

Neste período, o conceito de doença mental que surgiu foi a de uma doutrina
dos temperamentos, isto é, do estado de humor do paciente. ―Melancolia‖ era o
termo utilizado com frequência para descrever todos os tipos de enfermidades
mentais.

Constantino Africano (1020-1087), fundador da Escola de Salermo, descreveu


os sintomas de melancolia como sendo a tristeza – devido à perda do objeto amado-
, o medo – do desconhecido -, o alheamento – fitar o vazio – e a culpa e temor
intenso nos indivíduos religiosos.

São Tomás de Aquino (1225-1274) descreveu a mania – fúria patológica-, a


psicose orgânica – perda de memória – e a epilepsia, além de comentar também
sobre a melancolia. Mas Aquino acreditava que a causa e o tratamento da doença
mental dependiam fortemente da influência dos astros sobre a psique e do poder
maléfico dos demônios.

Apesar de todas essas concepções científicas, seguindo o pensamento


religioso da época, a possessão da mente de uma pessoa por um espírito maligno, e
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suas alterações verbais e de comportamento, retornou como a principal causa dos
distúrbios mentais, como havia sido em épocas anteriores.

A partir dos séculos XIV e XV o entendimento sobre doença mental mudou


radicalmente, sendo associado às bruxarias ou pactos com o demônio. Era o
domínio da igreja. O ―tratamento‖ ocorria em mosteiros, sob o jugo dos religiosos.
Desta forma, muitos dos portadores de alienações mentais encontram a ―cura‖ para
seus males nas fogueiras e nos patíbulos de suplícios.

Com o passar dos anos o tratamento foi se tornando mais rígido, embasado
na ideia de aliança satânica, as possessões. Os clérigos realizavam o exorcismo e
queimavam as pessoas para obter a ―purificação‖. Muitas pessoas foram mortas em
grandes fogueiras em praça pública, vítimas da hegemonia da igreja e da cultura da
época. Aos doentes mentais que escapavam a essa ―terapêutica‖ imposta pelas
ideias religiosas da época, o abandono à própria sorte foi o que restou.

Nos séculos XV, XVI e XVII muitas instituições para loucos foram criadas,
tendo como cuidadores ex presidiários, cuja principal ferramenta de trabalho era o
chicote, sendo auxiliados por cães. O tratamento era à base de violência e
humilhação. Nos dias de festas, se cobrava uma irrisória ‗entrada‘ para ver os loucos
enjaulados, exibidos como ‗troféus‘, tornando-se a diversão da cidade. A loucura era
vista como uma coisa cômica, engraçada, desrespeitando a pessoa doente.

Durante todo o período da Idade Média, as epidemias como ―a peste negra‖


aliadas à ―lepra‖ causavam grande medo na população. Quando estes ―flagelos‖
começaram a se dissipar, achava-se que uma nova ameaça pairava sobre a
população: os ―loucos‖, criminosos e mendigos. Se por um lado, realmente liberta de
muitos preceitos religiosos a ciência pode caminhar um pouco mais livremente, para
os portadores de enfermidades mentais novas nuvens tempestuosas se
aproximavam.

Para uma sociedade que iniciava um processo de produção capitalista, a


existência de indivíduos portadores de transtornos mentais, ou de alguma forma
―inúteis‖ à nova ordem econômica (tais como os ―loucos‖, os criminosos e os
mendigos), andando livres de cidade em cidade tornava-se uma ameaça. Os antigos
―depósitos de leprosos‖, cuja ameaça já não se fazia tão presente, abriram suas
portas para a recepção destes novos ―inquilinos‖. Sem preocupar-se em resolver
esses problemas sociais, a nova ordem político-social decidiu pelo isolamento
destes seres considerados ―improdutivos‖. Excluídos do mundo, os enfermos
mentais foram trancafiados nos porões das prisões juntamente com todos aqueles
que por algum motivo não participavam da nova ordem mundial. A semente dos
manicômios havia sido plantada.

As instituições para loucos, no decorrer da história, receberam diversas


denominações, tais como hospícios, asilos, manicômios, hospitais psiquiátricos; mas
independente do nome como eram conhecidas, todas elas tinham a mesma
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finalidade: esconder o que não se desejava que fosse visto. As primeiras instituições
com a finalidade de esconder aquilo que não se queria mostrar datam do século XV,
iniciadas na Europa, particularmente na Espanha em Zaragoza, e na Itália em
Florença, Pádua e Bérgamo.

Vale ressaltar que muitas bibliografias apontam o primeiro hospício como


sendo o fundado pelo Frei Jofre, em Valência, na Espanha, em 1410. Na verdade,
esta instituição não passava de um hospital geral com caráter de albergue para
pobres. No século XVII os manicômios abrigavam além dos doentes mentais
também os demais marginalizados da sociedade, que igualmente perturbavam a
ordem social, dentre os quais se citam os mendigos, desempregados, criminosos,
prostitutas, doentes crônicos, alcoólatras e pessoas sem domicílio. E o
enclausuramento coletivo destas pessoas, consideradas incômodas à sociedade,
ocorreu no intuito de esconder a miséria que era gerada pela desordem social e
econômica da época. O cuidado, nestas instituições era prestado por religiosas que
almejavam o perdão de seus pecados. Com essa mistura de doentes e não-doentes,
estes locais tornaram-se depósitos de marginalizados, que excluídos e
enclausurados, não eram cidadãos.

Ainda que vozes se levantassem clamando por um tratamento mais digno aos
alienados e, por conseguinte se fizesse uma seleção mais nítida das ―anomalias
mentais‖, a ideia de que ―os loucos‖ eram perigosos e inúteis permaneceu na
sociedade até os fins do século XVIII.

Em 1789 (século XVIII), novos ventos sopraram na Europa Ocidental. A


ordem absolutista, onde o Rei mandava sozinho à revelia dos anseios do povo,
entrou em falência, e ideias mais liberais e libertadoras passaram a ser discurso
constante, principalmente na França, onde a revolução vitoriosa levou grande parte
daqueles que não se importavam com os problemas das cabeças alheias e
perderem as suas.

Mas com a nova ordem social que se instalava, era preciso uma nova
conceituação da loucura e, principalmente, de suas formas de atendimento. A partir
desta nova concepção social de loucura, a clausura deixa de ser sinônimo de
exclusão e passa a assumir um caráter terapêutico: era necessário isolar o paciente
em locais adequados – nos manicômios – afastando-o do meio que gerava os
distúrbios. Era o início do tratamento alienista, o tratamento moral. O movimento
alienista tinha como principais elementos de tratamento o isolamento e o tratamento
moral. Pinel, Esquirol, Ferrus são alguns representantes do movimento alienista,
iniciado no século XVII.

O tratamento moral baseava-se em terapias afetivas e psicopedagógicas,


permitindo o diálogo entre o médico e o doente. E o isolamento era considerado
terapêutico.

16
Philippe Pinel

Philippe Pinel nasceu em 1745 e faleceu


em 1826, na França. Filho de médico
formou-se em medicina em 1773. Em
1792 Pinel tornou-se o médico chefe do
asilo para homens Bicetrê, em Paris, onde
desenvolveu uma nova forma de
tratamento aos pacientes, que muitos
autores atualmente consideram como a
primeira reforma da psiquiatria.
Descendo aos subterrâneos da incompreensão humana, representados por
esses porões, Pinel encontrou acorrentados às paredes fétidas e sombrias seres
―humanos‖, que ali jaziam há quase meio século, condenados pelo ―crime‖ de serem
portadores de transtornos mentais.

Com uma proposta de tratamento humanitário para os doentes, aliados à


prática de docência, Pinel desenvolveu uma corrente de pensamento de médicos
especialistas em doenças mentais, aprimorando as descrições detalhadas dos
transtornos mentais através de longas observações.

Uma das principais atitudes que Pinel teve foi separar os doentes mentais dos
demais marginalizados, isolando estes doentes para realizar o tratamento. Isso
demonstrou que havia distinções entre doente e não-doente, diferente do que se
podia pensar antes, quando todos enclausurados tinham os mesmos adjetivos e
eram aglomerados no mesmo espaço.

Na época, os doentes além de confinados eram também acorrentados como


precaução contra fugas e agressões. Pinel os libertou das correntes para que eles
experimentassem a liberdade de poder caminhar naquele pequeno espaço da cela.
Outra ação pioneira deste médico diz respeito ao uso apenas da camisa-de-força
durante as crises de agitação e violência. Além da utilização deste recurso,
rotineiramente eram utilizadas também as correntes e imobilizações.

Pinel estava à frente de sua época. Apesar destas formas de tratamento


parecerem absurdas e violentas para os dias de hoje, para o século XVIII eram
consideradas como ―avançadas‖. E Pinel buscava uma nova forma de tratamento
que não maltratasse tanto o paciente. A ideia inicial de Pinel sobre o isolamento do
doente mental pode ser considerada como razoável, pois separou os doentes dos
demais e ofereceu tratamento, que para a época foi satisfatório.

O problema do isolamento iniciou-se a partir do longo período de tempo que o


doente passava internado, afastado da família e da sociedade. Este fato
desencadeou um processo de exclusão e estigmatização do doente mental, ou mais
popularmente, do louco. O número de marginalizados também foi aumentando com
o passar dos anos, o que causava uma superlotação naqueles depósitos.
Esquirol

Esquirol nasceu em 1772 e faleceu em 1840. Conheceu Pinel em 1799, em


Paris. E também foi um dos atuantes reformadores das instituições psiquiátricas da
época.

Fundou o primeiro curso para tratamento das enfermidades mentais. Lutou


pela aprovação da primeira Lei de Alienados na França. Em 1827 adquiriu uma
grande propriedade onde criou uma casa de saúde para os alienados, nas
condições que ele julgava adequadas e necessárias. O trabalho de Esquirol teve
grande influência na criação do Hospício de Alienados Pedro II, no Brasil.

A escola francesa, inaugurada com Pinel, trouxe muitas inovações neste


campo, como por exemplo, a influência de tóxicos nas alterações do
comportamento, a conceituação de esquizofrenia e a divisão dos portadores de
doenças mentais em duas classes: os degenerados, que apresentariam estigmas
morais e físicos, sendo propensos a apresentar acessos delirantes; e os não-
degenerados, que eram indivíduos normais, porém predispostos ao transtorno
mental.

Enquanto os alienistas franceses desenvolviam suas observações clínicas, na


Alemanha uma nova corrente com relação aos transtornos mentais surgia: a
psiquiatria. Essa corrente seguiu os caminhos da medicina, recebendo um
reconhecimento internacional, e o estabelecimento de um sistema moderno de
estudo dos transtornos mentais.

Nesta nova corrente de pensamento do campo dos transtornos mentais,


estava um médico de origem austríaca chamado Sigmund Freud. Formado em um
ambiente científico fervoroso, Freud, um neurologista com um grande censo de rigor
experimental, conservou a ideia da importância deu um método científico para
compreender o psiquismo e sua estreita relação com os processos físicos e
fisiológicos.

Através de observações, Freud desenvolveu os conceitos de ―inconsciente e


repressão‖, nos quais a emoção estava ligada às ideias reprimidas podia afetar o
comportamento nos eventos do presente.

Início das instituições hospitalares no Brasil

A loucura no Brasil só começa a ser objeto de intervenção do Estado a partir


da chegada da família Real. Então, muitas mudanças ocorrem no período que
segue, exigindo um controle efetivo sobre o crescimento da sociedade. Dessa forma,
a medicina, enquanto mecanismo reordenador do social passa a desenhar o projeto
do qual emerge a psiquiatria brasileira.

18
O tratamento oferecido aos loucos era de péssima qualidade. Os doentes
mentais ficavam sob a responsabilidade das santas casas de misericórdia, sendo
abrigados em porões. O atendimento oferecido não incluía cuidados médicos, visto
que a principal finalidade era fornecer abrigo, alimento e cuidados religiosos aos
alienados. Era necessário reestruturar o atendimento prestado a estas pessoas.

Em 1830, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro realizou um diagnóstico


da situação dos loucos na cidade. Sendo assim, os loucos passaram a ser
reconhecidos como doentes mentais, e como tal mereciam um espaço próprio para
tratamento e recuperação. Assim, a medicina reivindicava os espaços para tratar a
doença mental, e solicitava a abertura de instituições específicas para esta clientela,
com o lema: ―Aos loucos o hospício! ‖. Isso ocorreu na intenção de que os loucos, de
fato, tivessem o direito a tratamento médico e a cuidados de saúde.

Na intenção de expor uma posição crítica da classe médica e entendendo a


clausura como forma de tratamento, foi iniciada a luta pela abertura dos hospitais
psiquiátricos. O isolamento de Pinel ainda permanecia em voga, sendo
compreendido como uma boa e adequada terapêutica.

Este movimento pela criação de instituições específicas para doentes mentais


resultou na instalação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro. Este foi inaugurado
em 1852, durante o Segundo Reinado, denominado Hospício de Alienados Pedro II,
no Rio de Janeiro. Posteriormente, por seu grande porte e pelas decorações de luxo
que possuía ficou conhecido como ―palácio dos loucos‖. E no período de 1852 a
1886 muitas instituições psiquiátricas foram criadas em todo território nacional,
devido à necessidade de atender a esta demanda.

Vale aqui apresentar alguns nomes importantes deste período.

João Carlos Teixeira Brandão

Teixeira Brandão, como era


mais conhecido, era médico, e foi
considerado um dos primeiros
alienistas do Brasil. Em 1883 ele
assumiu a direção do Hospício de
Alienados Pedro II, onde entrou em
confronto com o poder das freiras e
com a administração.

Teixeira Brandão foi um dos grandes responsáveis pela desanexação do


hospício da Santa Casa de Misericórdia. Com este evento de desanexação o
hospício passou a chamar-se Hospício Nacional de Alienados. Então, em 1904 ele
fundou a Escola Alfredo Pinto, a primeira a formar enfermeiros no país.

19
Em 1902 tornou-se deputado federal e elaborou a primeira lei de assistência
aos alienados (decreto 132, de 23 de dezembro de 1903). Neste ano de 1902
também deixou o hospício para dedicar-se à política. Teixeira Brandão faleceu em
1921.

Juliano Moreira

Juliano Moreira nasceu em


1872, em Salvador. Concluiu o curso
de Medicina em 1891, aos 19 anos.
Em 1903 assumiu a direção do
Hospício Nacional de Alienados, cargo
em que permaneceu por 27 anos.
Durante este longo período, fez muitas
transformações no hospício.

Incinerou as camisas-de-força; abriu espaços para diálogo com os pacientes;


criou sessões e pavilhões; separou as crianças dos adultos e homens de mulheres;
criou lugares para epilépticos e tuberculosos. Afirmava que com enfermeiros
preparados era possível reduzir pela metade o número de pacientes que se
tornavam crônicos. Foi um grande reformador da instituição em si, melhorando,
dentro do possível, a qualidade do atendimento prestado ao doente mental. Juliano
Moreira faleceu em 1933.

Mais tarde, em 1941, foi criado o Serviço Nacional de Doenças Mentais –


SNDM, durante o primeiro período do governo de Getúlio Vargas. Nesta época cerca
de 80% dos leitos psiquiátricos concentravam-se em hospitais públicos como São
Pedro no Rio Grande do Sul (Figura 01), fundado em 1884, e Juqueri (Figura 02) em
São Paulo, fundado em 1898. Estes hospitais eram tidos como o eixo orientador da
assistência psiquiátrica. Assim estava consolidada a política macro hospitalar
pública como a principal intervenção sobre a doença mental.

Figura 01: Hospital Psiquiátrico São Pedro

Fonte: www.saude.rs.gov.br

20
Figura 02: Hospital Psiquiátrico Juqueri

Fonte: <www.adhemar.debarros.nom.br>

Em 1946, conforme o decreto lei 8.550 que autorizava a realização de


convênios com o governo estadual para a criação de hospitais psiquiátricos, houve
grande e rápido crescimento dessas instituições em vários estados. Na tentativa de
afastar a loucura, a maioria destas instalações eram extremamente distantes das
zonas urbanas.

O incentivo dado à criação dos hospitais psiquiátricos resultou na exclusão


dos doentes mentais da sociedade, os quais eram abandonados nesses locais por
suas famílias. Muitas das pessoas hospitalizadas tornaram-se moradoras dos
hospitais em virtude dos longos anos de isolamento social e também da
dependência de serviços como abrigo e alimentação impostos pelas suas condições.
Estas pessoas já haviam perdido a família, a rede de apoio social (quando existente)
e inclusive sua própria vida.

Nise da Silveira (1905-1999)

Vale ressaltar aqui a


importância de Nise da Silveira, que foi
psiquiatra, e no período de 1946 a
1974 dedicou-se ao Centro
Psiquiátrico Nacional onde fundou e
dirigiu uma seção de terapia
ocupacional, modificando aos poucos
a rígida rotina daquele hospital.

Foi por intermédio de sua oficina que muitos ‗loucos‘ puderam expor seus
conflitos e sentimentos por meio da arte (pintura e modelagem, em particular),
revelando-se grandes artistas e, acima de tudo, pessoas, com suas diferentes
histórias de vida. Os produtos de expressão de seus pacientes passaram a fazer
parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, a partir de 1952.

21
Nos anos 50, 60 e 70, durante o regime militar, o governo instituiu uma
política de privatização dos hospitais psiquiátricos, terceirizando a assistência,
deixando de conceder assistência direta através dos hospitais públicos. Este período
foi denominado indústria da loucura. As pessoas que tinham acesso ao poder e à
economia (médicos, empresários, políticos) passaram a ser proprietários de
hospitais psiquiátricos. A partir disso, aconteceu um movimento de internação
indiscriminada e até sem indicação, porque hospital sem doente não gera lucro.

Medicamentos/Tratamentos:

A utilização de substâncias como terapêutica no campo das doenças mentais


já ocorresse desde a Antiguidade, é a partir do século XIX que o uso de substâncias
(HALDOL®) que agem diretamente no sistema nervoso central passaram a ser
amplamente difundidas, sendo várias delas sintetizadas na segunda metade do
século. Foi no final dos anos 1930, que para os casos de transtornos mentais graves
houve a introdução do tratamento de choque e da psicocirurgia, sendo esta última
introduzida somente baseada nos resultados da experimentação animal, sem
qualquer base teórica, anatômica ou fisiológica. Após expectativas ilusórias, estas
práticas foram limitadas a condições clínicas específicas. Ao término da Segunda
Guerra Mundial, iniciou-se a terapia medicamentosa, com bastante sucesso.

___________________________________________________________________

4. A REFORMA DA ASSISTÊNCIA PSIQUIATRICA

Reforma Psiquiátrica

A ineficiência do modelo de assistência psiquiátrica que existia até a Segunda


Guerra Mundial, prioritariamente hospitalocêntrico (hospital psiquiátrico), exigia uma
transformação na Psiquiatria.

O movimento da Reforma Psiquiátrica surgiu depois da Segunda Guerra,


inicialmente na Europa, na intenção de transformar ou até mesmo extinguir os
hospícios, manicômios e hospitais psiquiátricos existentes. Outro ponto a considerar
é que o período de guerra adoeceu muitos soldados, afetando também sua saúde
mental. Isto contribuiu para que, no pós-guerra, se pensasse uma nova maneira de
tratamento na área da saúde psiquiátrica que não demorasse tanto tempo quanto
uma internação psiquiátrica e que fosse menos deteriorante do que esta.

Juntamente com o desejo coletivo de construir uma sociedade mais livre e


igualitária, a descoberta dos medicamentos psicotrópicos e a utilização da
psicanálise e da saúde pública serviram como propulsores dos diferentes
movimentos reformistas da psiquiatria. Os idealizadores da reforma psiquiátrica
tinham muitos motivos concretos e consistentes para suas críticas ao modelo
hospitalocêntrico de atenção. Como aponta Costa-Rosa (2000) as relações que se
22
desenvolvem no interior do hospital psiquiátrico são dominantes, verticalizadas (―de
cima para baixo‖) evidenciando a hierarquia, subordinação, exclusão, expropriação
do saber e a divisão do trabalho e dos saberes em especialidades.

Como já foi visto anteriormente, a principal forma de tratamento no modelo


hospitalocêntrico era a medicamentosa, não oferecendo oportunidades ao paciente
de retomar sua vida e suas atividades e voltar ao seu espaço de convivência. O
doente era efetivamente paciente: aquele que aguarda passivamente por
tratamento, cuidado e atenção. Tendo em vista as muitas limitações observadas
neste modelo de tratamento e por, historicamente, estar vivenciando um momento
de crescimento econômico e de reconstituição social, no pós-guerra, era necessário
lançar um novo olhar à loucura e à doença mental.

Então se iniciam os movimentos de reforma psiquiátrica em todo o mundo.


Estes movimentos resultaram em dois rumos principais que foram colocados ao
manicômio: num primeiro momento realizando ações reformistas no interior de
hospitais psiquiátricos, como foi o caso da psicoterapia institucional e a comunidade
terapêutica; ou seu fechamento a exemplo da psiquiatria de setor, psiquiatria
comunitária (desinstitucionalização) e psiquiatria democrática. A partir de agora
veremos como se constituíram cada um desses movimentos reformistas.

PSICOTERAPIA INSTITUCIONAL

A psicoterapia institucional foi desenvolvida na França, sendo influenciada


pela psicanálise. Constituiu-se na tentativa mais forte de salvar o manicômio. Como
considerava que os muros do hospital não era o que construía o manicômio, mas
sim as pessoas que faziam parte dele, tanto profissionais quanto doentes, era
imprescindível que a terapia envolvesse todos, entendendo que a instituição em seu
conjunto era que deveria ser tratada.

A psicoterapia institucional é então definida como um conjunto de ações,


desenvolvidas no interior do hospital psiquiátrico, que permite a criação de espaços
de transferência; é o significante do coletivo e do individual. As formas terapêuticas
de institucionalização eram baseadas na reinvenção, na revolução permanente do
hospital psiquiátrico e na criação de instituições alternativas.

A psicoterapia institucional foi à base para a setorização da psiquiatria,


realizada em um segundo momento, também na França.

COMUNIDADE TERAPÊUTICA

A lógica da comunidade terapêutica, iniciada na Inglaterra, eram grupos de


discussões, onde o doente participava como responsável por seu tratamento
juntamente com o médico, ainda no interior do hospital psiquiátrico. A
responsabilidade do tratamento pelo médico era dividida com os demais membros
da comunidade, ou seja, os doentes.

23
A comunidade terapêutica, em seu íntimo, mantinha princípios como
democratização de opiniões, tolerância, comunicação, liberdade de expressão,
confronto com a realidade, atividades coletivas, participação do coletivo nas
decisões.

A crítica a esses dois modelos reformistas é a de que o doente não retornava


à sociedade, mas criava-se uma micro sociedade no interior desses espaços, ainda
fazendo a separação entre doente e não doente mental. Não havia uma
interlocução com o mundo social externo aos muros hospitalares.

PSIQUIATRIA DE SETOR

A setorização ou psiquiatria de setor, também desenvolvida na França,


buscava a estruturação de um serviço público e de qualidade para o tratamento da
população com problemas mentais, para que tivessem acesso universal à saúde e
ao tratamento da doença mental, contemplando igualmente uma ação em saúde
pública que não ocorria no antigo espaço do hospital psiquiátrico. Eram criados
locais de acordo com setores para que o atendimento não ficasse centralizado
apenas em uma instituição e fosse desenvolvido na comunidade.

Era a busca de um atendimento mais humanizado, afastando o doente o


menos possível de sua família e comunidade, proporcionando ao mesmo o máximo
de autonomia.

A setorização na França ocorreu como consequência da psiquiatria


institucional. Ainda assim, se tem muitos hospitais como centro de referência no
atendimento às questões de psiquiatria e saúde mental.

PSIQUIATRIA COMUNITÁRIA (DESINSTITUCIONALIZAÇÃO)

A psiquiatria comunitária consiste num processo de reformulação da


assistência - experiência dos Estados Unidos. Inicia a ideia de
desinstitucionalização. Além de sair da instituição hospitalar, também era preciso
valorizar a pessoa e não apenas sua doença, diferenciando-a da loucura. Oferecer,
igualmente, apoio e suporte necessários às famílias destes doentes para que as
relações de poder dentro da família sejam modificadas. O paciente estava em sua
comunidade, onde era conhecido, o que poderia ser considerado um fator positivo
para que ele fosse auxiliado pela comunidade. O processo de desinstitucionalização
não significa apenas ―retirar‖ o doente de dentro do hospital psiquiátrico, mas sim de
construir condições para que ele seja assistido em suas necessidades, com
qualidade e sempre que for preciso.

Então, a partir dos movimentos de reforma psiquiátrica o foco da atenção em


saúde mental deixa de ser a doença mental e passa a ser a produção da saúde
mental. A intenção é reconstruir com o doente mental, anteriormente
institucionalizado, sua vida, suas relações, suas atividades. É considerá-lo como

24
membro da sociedade, que tem sua contribuição no coletivo e que possui
capacidades e habilidades.

PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA

A psiquiatria democrática, experiência italiana, era baseada no fechamento


dos hospitais psiquiátricos, sendo devidamente assegurado pela legislação
conforme veremos a seguir. Também visava à construção de centros de saúde
mental nos bairros para que os pacientes fossem atendidos em sua comunidade, em
serviços com portas abertas, acentuando a liberdade como forma de tratamento. A
ideia principal deste modelo de reforma era fazer com que o paciente retornasse à
sociedade e, na medida do possível, retomasse suas atividades, sua vida.

A Lei 180 aprovada em maio de 1978 assegurava o fechamento dos hospitais


psiquiátricos e a criação de serviços alternativos na comunidade. Estabelecia, dentre
outras diretrizes, que:

a) eram proibidas novas internações a partir da promulgação da lei e também


a construção de novos hospitais psiquiátricos;

b) os serviços psiquiátricos na comunidade, no território, deveriam garantir


atendimento contínuo. Poderiam dispor de leitos (não mais do que quinze)
em unidades em hospitais gerais;

c) a intervenção jurídica em casos de internação contra a vontade do


paciente.

Franco Basaglia foi o principal


ator da reforma psiquiátrica italiana.
Nasceu em Veneza, Itália, em 1924,
falecendo em 1980. Era médico e ao
ingressar no hospital psiquiátrico de
Gorizia na condição de diretor (1968),
iniciou ações no intuito de transformá-lo
em uma comunidade terapêutica.

Porém, com o passar do tempo, percebeu que somente a humanização da


assistência não seria suficiente para superar a miséria, por exemplo, dos internos.
Então, iniciou o movimento de transformação radical, no sentido de extinguir o hospital
psiquiátrico. Uma nova proposta de abordagem da questão da loucura deve, não
apenas substituir o hospital psiquiátrico por um modelo de assistência, mas sobretudo
fazer vigorar os direitos do cidadão louco, sua condição de sujeito dos direitos
humanos e civis.

25
A Reforma Psiquiátrica Brasileira

O movimento reformista no Brasil teve início no final dos anos 70, sendo
contemporâneo à Reforma Sanitária. A Reforma Psiquiátrica brasileira foi influenciada
pelo movimento reformista italiano.

O ponto crítico para o início do movimento de reforma psiquiátrica foi a Crise da


Divisão Nacional de Saúde Mental, que era o órgão do Ministério da Saúde
responsável pela formulação das políticas de saúde mental. A crise ocorreu devido às
precárias condições de trabalho, inadequação do quadro de recursos humanos,
queixas salariais e o modelo médico-assistencial predominante. Aconteceu, então, a
greve dos trabalhadores em 1978, quando se inicia a organização do Movimento dos
Trabalhadores em Saúde Mental – MTSM, no Rio de Janeiro. Este movimento,
inicialmente, organizou um quadro de críticas ao modelo clássico e hegemônico de
tratamento, o médico-terapêutico. Na intenção de desenvolver uma ação no campo
social da psiquiatria, este movimento elaborou um pensamento crítico com relação à
saúde mental, permitindo visualizar a inversão desse modelo, por meio da
desinstitucionalização. Com isso foram abertas as portas à reforma psiquiátrica, pois
uma parte da classe dos trabalhadores resolveu que queria mudar. Obviamente,
tiveram o apoio dos pacientes, seus familiares e de uma considerável parte da
sociedade.

Em 1987 ocorreram fatos importantes para que a Reforma Psiquiátrica desse


mais um passo à frente. Em julho deste ano ocorreu a I Conferência Nacional de Saúde
Mental, no Rio de Janeiro. Esta conferência tinha como propostas gerais a ampliação
do conceito de saúde, incluindo em seus determinantes as condições gerais de vida, a
participação popular na saúde mental e considerou também a questão dos
trabalhadores da área, sugerindo que estes revisassem a efetivação do seu papel
dentro desse novo modelo de atenção à saúde mental. Esta conferência proporcionou
que se pensasse em saúde não somente como ausência de doenças, mas a
correlacionando com a vida social, cultural, econômica e política da pessoa.

O lema do II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde


Mental ocorrido em dezembro de 1987, cujo lema clamava ―Por uma sociedade sem
manicômios‖, apresentou três eixos básicos. O primeiro eixo era referente à ampliação
da discussão da loucura, indo além de seu aspecto meramente assistencial.

Outro ponto era com relação à organização dos profissionais de saúde mental
com o Estado, para que fossem reconhecidos como trabalhadores da saúde pública. E
o terceiro e último eixo buscava a reflexão sobre a prática profissional concreta, no
cotidiano, para que houvesse efetivamente a ruptura com o isolamento social.
Também atenta à necessidade de participação da sociedade nas discussões
relacionadas à assistência em saúde mental e psiquiatria visto que a sociedade possui
sua parcela de responsabilidade nesta questão.

26
Inspirado na lei Basaglia (Lei 180 – maio/ 1978) o então deputado Paulo
Delgado (PT-MG) apresentou um projeto de lei ao Congresso Nacional, no ano de
1987, que propunha uma mudança radical no que se referia à assistência em saúde
mental. No projeto de lei constava que seriam proibidas novas internações em
hospitais psiquiátricos e que a rede hospitalar psiquiátrica seria extinta em até cinco
anos. Propunha também tratamentos alternativos e a interferência da autoridade
judiciária que julgaria a internação ou não, quando solicitado pelo paciente. Este
projeto de lei tramitou por 12 anos no Senado, sofrendo várias modificações. O
interesse político e econômico para que os hospitais psiquiátricos se mantivessem em
pleno funcionamento dificultaram o andamento do processo de reforma.

A Declaração de Caracas, aprovada por aclamação na Conferência do dia 14 de


novembro de 1990, destaca a reestruturação da assistência psiquiátrica, revisando o
papel hegemônico e centralizador do hospital psiquiátrico enquanto única forma de
tratamento. Reflete sobre a psiquiatria na comunidade, na busca da promoção de
novos modelos, modelos alternativos ao cuidado oferecido à pessoa em sofrimento
psíquico.

Somente no dia 06 de abril de 2001 é que foi sancionada a lei nº10. 216
(também chamada Lei Paulo Delgado), que dispõe sobre a Reforma Psiquiátrica no
Brasil. Neste momento algumas mudanças básicas tiveram início. A começar pela
nomenclatura dada ao doente mental: não se usa mais paciente, mas usuário, no
sentido de que ele é um usuário de um serviço de saúde, serviço de saúde mental
especificamente.

Do modelo hospitalocêntrico passamos ao modelo psicossocial, que busca um


olhar abrangente sobre este ser humano que sofre de um transtorno mental. A família,
de culpada e ―sem serventia‖ torna-se aliada e parceira no tratamento do seu familiar
doente. Talvez essas sejam pequenas mudanças, mas que configuram o novo olhar
que está sendo proposto à saúde mental.

O modelo psicossocial apresenta pontos relevantes em sua prática, tais como a


interdisciplinaridade, a relação com o usuário e suas implicações subjetiva e
sociocultural, o usuário considerado o participante principal de seu tratamento, o
incentivo para que a família e a sociedade assumam a parte de seu compromisso na
atenção e no apoio à pessoa em sofrimento psíquico, e a ênfase na reinserção social e
a recuperação da cidadania do usuário. No modelo proposto pela reforma à intenção é
que o usuário seja visto como cidadão, que têm direitos e deveres e não como uma
doença com código, sinais e sintomas apenas.

A Reforma Psiquiátrica, processo de mudança no plano assistencial, propõe


uma nova organização dos serviços públicos de saúde destinados a tratar a loucura. É
nesse contexto que surge a proposta de serviços abertos, regionalizados e com
capacidade para atender aos usuários em diferentes momentos. Mas ela não deve ser
entendida apenas como a mudança do modelo de atenção e a substituição dos
manicômios por serviços de atenção diária.
27
É um movimento social de inclusão, de reintegração social e de reconstrução, na
busca – cotidiana e permanente – do novo lugar do doente mental na sociedade.
Rompendo com a tradição asilar, cria-se um novo modelo que lança mão de diferentes
recursos terapêuticos para possibilitar tratamento, preservando a cidadania dos ditos
―doentes mentais‖.

Desta forma se configura uma nova política, a política de saúde mental,


constituída para atender a todas essas mudanças que o movimento de Reforma
Psiquiátrica propôs à psiquiatria.

___________________________________________________________________

5. POLÍTICA NACIONAL E SERVIÇOS EM SAÚDE MENTAL

5.1. Legislação em Saúde Mental

5.1.1. Lei nº10.216, de 06 de abril de 2001

É a lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Dispõe sobre a proteção e os direitos da pessoa portadora de transtorno mental e


redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que


trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça,
cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família,
recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno,
ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus


familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no
parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas


necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua


saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;


28
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade
ou não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu


tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a


assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais,
com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em
estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que
ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os


recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente


em seu meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer


assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços
médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em


instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos
mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no
parágrafo único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação


de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de
suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação
psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e
supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a
continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico


circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a


pedido de terceiro; e
29
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve
assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de
tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do


paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico


devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se
localize o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas,


ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do
estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser
adotado quando da respectiva alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou


responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo
tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente,


pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do
estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e
funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento


serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares,
ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável,
no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser
realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal,
e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho
Nacional de Saúde.

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão
nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República.


FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

30
5.1.2. Portaria GM nº336, de 19 de abril de 2002

É a portaria que estabelece os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. Define


as três modalidades de serviço: CAPSI, CAPSII e CAPSIII, que tem o mesmo objetivo,
diferindo-se em alguns aspectos de funcionamento. Deverá realizar o atendimento,
prioritariamente, a pacientes com transtornos mentais severos e persistentes com seu
território, em regime de tratamento intensivo, semi-intensivo e não-intensivo.

Deve se constituir em serviço ambulatorial de atenção diária que funcione sob a


lógica do território. Não deve funcionar em estrutura hospitalar, tendo área física
específica e independente. Podem funcionar junto aos limites da área física de
hospitais gerais, desde que mantenham equipe própria, com acesso privativo e
estrutura independente.

O CAPSI possui capacidade de atendimento para municípios com população


entre 20.000 e 70.000 habitantes. O CAPSII atende uma população de 70.000 a
200.000 habitantes e o CAPSIII, acima de 200.000 habitantes. E os CAPSi,
direcionado para atendimentos de crianças e adolescentes, e o CAPSad para
atendimento de álcool e outras drogas, são caracterizados como CAPSII.

Os CAPS possuem características que são comuns a todos tais como:

a) responsabilizar-se pela organização da demanda e da rede de cuidados em


saúde mental no território;

b) possuir capacidade técnica para desempenhar papel de regulador da porta de


entrada da rede assistencial no território;

c) coordenar atividades de supervisão de unidades hospitalares no seu território;

d) supervisionar e capacitar equipes de atenção básica e outros serviços no


território;

e) realizar e atualizar o cadastramento de pacientes que fazem uso de


medicamento essencial ou excepcional na área de assistência.

As características específicas são mostradas na tabela abaixo:

31
Os atendimentos no serviço também são comuns a todos os CAPS, como:

a) Atendimento individual;

b) Atendimento em grupos;

c) Oficinas terapêuticas;

d) Visitas e atendimentos domiciliares;

e) Atendimento à família;

f) Atividades comunitárias visando à reinserção social do paciente;

g) Os pacientes receberão uma refeição quando permanecerem por 4 horas


no serviço, e duas, quando permanecerem 8 horas.

Os atendimentos específicos são relacionados na tabela abaixo:

32
Define ainda que os serviços devam oferecer atendimento em três regimes de
tratamento: intensivo (acompanhamento diário), semi intensivo (acompanhamento
frequente, mas não diário – geralmente duas vezes por semana) e não intensivo
(menor frequência – em geral, duas vezes no mês).

5.1.3. Portaria GM nº106, de 11 de fevereiro de 2000

Esta portaria trata da criação dos Serviços Residenciais Terapêuticos no


Sistema Único de Saúde, para portadores de transtornos mentais.

Explica o que vem a ser a residência terapêutica, definindo-a como modalidade


de atendimento substitutivo ao modelo hospitalocêntrico. Institui as competências do
SRT, suas normas e critérios de inclusão nesta modalidade de atendimento. Apresenta
as características físico-funcionais que o serviço deve possuir, e dá outras definições.

Cabe ressaltar os princípios e diretrizes nos quais devem se basear o Projeto


Terapêutico do serviço:

a) ser centrado nas necessidades dos usuários, visando à construção


progressiva da sua autonomia nas atividades da vida cotidiana e à ampliação da
inserção social;

b) ter como objetivo central contemplar os princípios da reabilitação psicossocial,


oferecendo ao usuário um amplo projeto de reintegração social, por meio de programas
de alfabetização, de reinserção no trabalho, de mobilização de recursos comunitários,
de autonomia para as atividades domésticas e pessoais e de estímulo à formação de
associações de usuários, familiares e voluntários;

c) respeitar os direitos do usuário como cidadão e como sujeito em condição de


desenvolver uma vida com qualidade e integrada ao ambiente comunitário.

33
Define, ainda, a equipe responsável pelo SRT e seus usuários, e como se dará
esta assistência.

5.1.4. Portaria GM nº816, de 30 de abril de 2002

Institui no Sistema Único de Saúde o Programa Nacional de Atenção


Comunitária a Usuários de Álcool e Outras Drogas.

Possui seis objetivos, que são:

I – Articular as ações desenvolvidas pelas três esferas de governo destinadas a


promover a atenção aos pacientes com dependência e/ou uso prejudicial de álcool ou
outras drogas;

II – Organizar e implantar rede estratégica de serviços extra-hospitalares de


atenção aos pacientes com esse tipo de transtorno, articulada à rede de atenção
psicossocial;

III – Aperfeiçoar as intervenções preventivas como forma de reduzir os danos


sociais e à saúde, representados pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas;

IV – Realizar ações de atenção/assistência aos pacientes e familiares, de forma


integral e abrangente, com atendimento individual, em grupo, atividades comunitárias,
orientação profissional, suporte medicamentoso, psicoterápico, de orientação e outros;

V – Organizar/regular as demandas e os fluxos assistenciais;

VI – Promover, em articulação com instituições formadoras, a capacitação e


supervisão das equipes de atenção básica, serviços e programas de saúde mental
locais.

Define as competências e atribuições do programa em cada instância de


governo, e dá outras disposições.

5.1.5. Portaria GM nº52, de 20 de janeiro de 2004

Cria o Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar Psiquiátrica


no Sistema Único de Saúde – 2004 reafirmando a diretriz política de redução
progressiva de leitos. Os três componentes principais do Programa são:

1) a redução progressiva de leitos (por módulos de 40 leitos), constituindo nova


classificação para os hospitais a partir do número de leitos SUS, com recomposição
das diárias.

2) estímulo às pactuações entre gestores e prestadores para que a redução se


dê de forma planejada, prevendo a assinatura de um Termo de Compromisso e
Ajustamento entre as partes na garantia de efetivação do programa;

34
3) redirecionamento dos recursos financeiros da internação para a atenção
extra-hospital ar em saúde mental. Em suma, este programa estabelece um
mecanismo organizador do processo de redução de leitos, com incentivo financeiro
pela redução (priorizando os hospitais de menor porte) e pela melhor qualidade de
assistência, aferida pelo PNASH – Psiquiatria.

5.1.6. Parecer CT.SM.1 de 16 de setembro de 2020.

Competência técnico-científica, ética e legal dos


profissionais de Enfermagem nos procedimentos de
Acolhimento em Saúde Mental.

Dentro do contexto da atenção psicossocial especializada, temos os Centros de


Atenção Psicossocial (CAPS), instituídos a partir da Portaria GM n° 336, de 19 de
fevereiro de 2002. Os CAPS são definidos como um serviço ambulatorial de atenção
diária que funciona segundo a lógica do território e podem ser classificados como
CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS Álcool e drogas e CAPS Infanto-juvenil. Os CAPS
têm como escopo de trabalho: acolhimento inicial; construção do projeto terapêutico
singular; atendimento individual; atendimento em grupos; atendimento em oficinas
terapêuticas; visitas domiciliares; atendimento à família; atividades comunitárias
focalizando a integração do doente mental na comunidade e sua inserção familiar e
social e, nos CAPS III possibilidade de acolhimento noturno.

O acolhimento representa uma das diretrizes da Política Nacional de


Humanização (PNH) do SUS e pode ser entendido como o primeiro contato do usuário
que procura o serviço de saúde, além de uma estratégia que garante acesso universal
com vistas à integralidade (BRASIL, 2001).

Na prática de saúde mental, Brasil (2013) conceitua acolhimento inicial como o


primeiro atendimento, a partir de demandas espontâneas ou articuladas entre
unidades, incluindo as situações de crise no território, e fundamenta-se na escuta
qualificada.

A avaliação do paciente em sofrimento mental baseia-se, minimamente, na


investigação dos vínculos dele com serviços de saúde mental do território; queixa
principal; história da moléstia atual (tratamento psicoterápico/psiquiátrico anterior);
dinâmica familiar (convívio e ambiente familiar); desempenho escolar; uso de álcool e
drogas (tipo de droga e frequência de uso); emoções/ comportamentos; vontade de se
matar ou matar alguém (pensamento de morte, planos e tentativas suicidas);
alimentação; sono; atividades extraescolares, entre outros (BOLSONI et al., 2016).

Quanto ao aspecto técnico-científico, é possível dizer que todos os profissionais


de Enfermagem possuem competência para realizar o acolhimento. O enfermeiro
possui competência técnica para a realização do acolhimento no contexto na consulta
de enfermagem, avaliando os problemas de enfermagem e planejando intervenções.

35
Sob o aspecto legal, o artigo 11, inciso I, alínea ―m‖, da Lei do Exercício
Profissional da Enfermagem nº 7.498, de 25 de junho de 1986, preconiza que o
Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe, privativamente, a
execução de cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas. Leva em
conta ainda o Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987, que regulamenta a Lei do
Exercício Profissional da Enfermagem, que, em seu artigo 11º, inciso I, alínea ―i‖, diz
que ―ao enfermeiro incumbe, PRIVATIVAMENTE Consulta de Enfermagem‖.

CONCLUSÃO

Os profissionais de Enfermagem possuem competência técnico-científica, ética e


legal para a realização do acolhimento em toda a rede de atenção à saúde.

Os profissionais Enfermeiros possuem competência técnico-científica, ética e


legal para a realização do acolhimento em Saúde Mental, no contexto da consulta de
enfermagem.

Ao profissional de nível médio cabe observar, reconhecer e descrever sinais e


sintomas, ao nível de sua qualificação – conforme art.11 do Decreto n° 94.406/87 -
auxiliando o Enfermeiro na tomada de decisão de indicar ou não a hospitalidade
noturna. Os profissionais podem ainda auxiliar o enfermeiro no acolhimento em
atividades como: aferição de dados vitais, acompanhamento de pacientes para os
fluxos do serviço, administração de medicamentos, coleta de exames, entre outras
atividades supervisionadas pelo enfermeiro.

Quadro 1: Competência do profissional de enfermagem em procedimentos


relacionados à realização do Acolhimento em Saúde Mental

36
5.2. Política Nacional de Saúde Mental

De acordo com o novo modelo de atenção à saúde mental, denominado


psicossocial, fez-se necessário adequar as condições políticas, econômicas e sociais
para que ele fosse implantado de forma a atender às necessidades dos usuários,
familiares e sociedade.

Era exigida a implantação de uma rede de atenção integral à saúde mental de


âmbito nacional, sendo adaptada pelos estados, conforme suas necessidades,
facilidades e dificuldades. A rede de atenção integral à saúde mental é um conjunto de
dispositivos sanitários e socioculturais que partem de uma visão integrada da vida da
pessoa, desenvolvendo intervenções educativas, assistenciais e de reabilitação, de
base comunitária. A ideia de rede tem como eixo a municipalização, a territorialidade e
a produção de saúde. Fazem parte da rede de atenção integral à saúde mental:

a) atenção básica em saúde mental: atendimento oferecido pelas Unidades


Básicas, contemplando ações desde proteção e promoção da saúde até o
diagnóstico e tratamento da doença, e a participação do Programa de Agente
Comunitário de Saúde – PACS e Estratégia Saúde da Família – ESF (antigo
PSF);

b) atenção especializada em saúde mental: contempla: 1. serviços em nível


ambulatorial: ambulatório com equipe de saúde mental, ambulatório
especializado em saúde mental e Centro de Atenção Psicossocial – CAPS; 2.
serviços em nível hospitalar: hospital-dia, serviços de urgência e emergência
psiquiátricas, leitos ou unidade psiquiátrica em hospital geral; 3. Serviço
Residencial Terapêutico.

5.2.1. Atenção em nível ambulatorial

 Ambulatórios

O ambulatório atende transtornos mentais menores, o que representa em torno


de 9% da população brasileira.

Este dispositivo é normatizado pela Portaria/ SNAS nº224 de 29 de janeiro de


1992, que orienta para o atendimento ambulatorial em saúde mental. O ambulatório
deverá conter equipe multiprofissional composta por diversas categorias profissionais
especializadas (médico psiquiatra, médico clínico, enfermeiro, psicólogo, assistente
social, pessoal auxiliar, entre outros), cuja composição e atribuições ficam a cargo do
órgão gestor local. A equipe deverá desenvolver atividades individuais (consulta,
psicoterapia), grupais (grupos operativos, terapêutico, de orientação, sala de espera,
educação em saúde), comunitárias e visitas domiciliares.

37
 Unidades Básicas de Saúde

Segundo a legislação de 1992, o atendimento ambulatorial também envolve o


atendimento na unidade básica de saúde, tendo, portanto, as mesmas especificações
do que o atendimento em ambulatórios.

Porém, com o advento do Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS


e o Programa, hoje chamada Estratégia Saúde da Família – ESF, foi realizada em 2001
uma oficina de trabalho para discutir a inclusão das ações de saúde mental nas
unidades básicas de saúde. E uma das recomendações foi à implantação de equipes
de saúde mental – ESM para atuarem concomitantemente às ESF, na área de
abrangência, tratando dos casos de saúde mental. Em alguns locais do Brasil isto foi
implantado e mostram bons resultados.

Mas ainda há a ideia de que saúde mental não pode ser atendida na atenção
básica, por ser uma especificidade que exige grande conhecimento e manejo. É mais
fácil encaminhar o usuário para um atendimento especializado em saúde mental do
que tentar ações junto à família e à comunidade deste usuário, aproximando-o de suas
redes de suporte para o sucesso de seu tratamento.

 Centro de Atenção Psicossocial – CAPS

Os CAPS são serviços substitutivos, constituindo-se em serviços ambulatoriais


de atenção diária. Estes serviços têm a responsabilidade de atender pessoas com
transtornos mentais severos e persistentes, trabalhando segundo a lógica da
territorialidade. Deve garantir também que as relações entre trabalhadores e usuários
sejam centradas no acolhimento, no vínculo e na responsabilização de cada membro
da equipe. A atenção prestada por este serviço deve incluir ações dirigidas aos
familiares e comprometer-se com a inserção social dos usuários, respeitando as
possibilidades individuais bem como os princípios de cidadania que minimizem o
estigma, promovendo melhor qualidade de vida aos usuários.

Os CAPS são regulamentados pela Portaria GM nº336 de 19 de fevereiro de


2002 que define e estabelece as diretrizes para o funcionamento destes serviços.

Aqui é importante saber que os CAPS são categorizados de acordo com seu
porte e a clientela que atendem, recebendo as denominações de CAPSI, CAPSII,
CAPSIII, CAPS e CAPSad. A equipe dos serviços também é definida de acordo com
sua categoria.

Dentre as atividades que o serviço deverá desenvolver para seus usuários


constam atendimentos individuais (medicamentoso, psicoterapia, orientação), grupais
(oficinas terapêuticas, psicoterapia de grupo), visitas domiciliares, atendimento à família
(tanto individual como em grupos), e fornecer refeições de acordo com o tempo de
permanência do usuário no serviço: um turno terá direito a duas refeições e dois turnos,
a três refeições.

38
O CAPS para entrar em funcionamento deve ser cadastrado junto ao Ministério
da Saúde. Para realizar o cadastramento deve-se atender às diretrizes da portaria
nº336/ 2002 e também apresentar um projeto terapêutico. O projeto terapêutico é um
documento em que constam os objetivos do serviço, as atividades que serão
desenvolvidas, os profissionais que as desenvolverão, dentre outras informações. Para
melhor sistematizar o serviço, o CAPS utiliza o Plano Terapêutico Individual – PTI, que
é um documento onde estão colocadas as atividades que determinado usuário
participará bem como outras informações, tais como a medicação que o mesmo está
utilizando.

A expansão destes serviços foi fundamental para a mudança do cenário da


atenção em saúde mental no Brasil. O Ministério da Saúde considera os CAPS como
serviços estratégicos e ordenadores no que tange a organização da rede de atenção
integral à saúde mental em determinado território.

Rede de Atenção à Saúde Mental Fonte: Ministério da Saúde, 2004.

5.2.2. Atenção em nível hospitalar

 Hospital-dia

O hospital-dia tem caráter de atenção hospitalar na assistência em saúde


mental, sendo um recurso intermediário entre a internação e o ambulatório. O serviço
funciona cinco dias na semana (de segunda a sexta-feira), com carga horária de 8
horas diárias para cada paciente. Atende em média 30 pacientes-dia, contando com
equipe multiprofissional. O serviço deverá estar situado em área específica,
independente de a estrutura hospitalar, tendo salas para grupos, refeitório, área
externa (ao ar livre) e alguns leitos para repouso dos usuários. Preferencialmente é um
serviço regionalizado, atendendo a uma população de determinada área geográfica,
fazendo parte da rede de atenção integral à saúde mental.

As atividades propostas para este tipo de serviço são semelhantes às


desenvolvidas no CAPS, tendo o usuário o direito a três refeições diárias. Este serviço
foi um dos primeiros do Sistema Único de Saúde a garantir o cuidado em sistema de
39
―portas abertas‖ à pessoa com transtorno mental e, portanto teve uma relevância
histórica no processo de transformação da assistência psiquiátrica.

 Serviços de urgência e emergência psiquiátrica

Estes serviços têm o objetivo de evitar a internação em hospitais, para que o


usuário retorne o mais rapidamente ao convívio social. Geralmente são atendimentos
que ocorrem em modalidade de pronto-socorro ou pronto-atendimento, 24 horas, e
contam com leitos de internação com duração máxima de 72 horas e equipe
multiprofissional. Devem ser regionalizados e desenvolver atividades como avaliação
(médica, psicologia e social), atendimentos individuais (medicamentoso, orientação),
grupais e atendimento à família (orientação, esclarecimentos).

Atendem episódios agudos dos transtornos mentais, com algum tipo de risco
que necessitem de intervenção imediata.

A alta deverá referenciar o usuário a algum serviço extra-hospitalar. Havendo


necessidade de continuidade da internação, deverá encaminhar o usuário a outro
dispositivo hospitalar.

 Leitos ou Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral

O objetivo destes dispositivos é oferecer retaguarda hospitalar quando a


internação se fizer necessária. Igualmente aos demais serviços contam com equipe
multiprofissional. Os leitos não podem ultrapassar 10% da capacidade do hospital, não
podendo passar de 30 leitos. Devem ter, além do espaço próprio hospitalar, salas para
atividades e área externa. As atividades desenvolvidas neste espaço contemplam as
mesmas oferecidas nos serviços de urgência e emergência, contando ainda com a
preparação do usuário para a alta hospitalar.

5.2.3. Serviços Residenciais Terapêuticos – SRT

Nos primeiros resultados obtidos pelo processo de Reforma Psiquiátrica, surgiu


à questão do que fazer com os pacientes que tinham plenas condições de alta
hospitalar, mas não contavam mais com apoio social e familiar. Então, na II
Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em 1992, foi proposto que se
pensasse em estratégias para implantação de ―lares abrigados ou protegidos‖, assim
chamados inicialmente.

As residências terapêuticas são alternativas de moradia para pessoas com


transtornos mentais que não contam com suporte familiar e social adequados,
especialmente os egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos.
Constituem-se em casas em espaço urbano, podendo atender de 1 até no máximo 8
usuários, contando sempre com apoio de profissionais, seja de equipe de CAPS,
unidade básica ou outros profissionais da saúde em condições de atendê-los.

40
O SRT é assegurado pela Portaria nº106 de 11 de fevereiro de 2000. A
regulamentação destes serviços é toda visando à inserção do usuário na comunidade.
O SRT deverá estar vinculado a algum serviço ambulatorial, geralmente os CAPS.
Estes, por sua vez, deverão atuar na assistência e supervisão das atividades da
residência, tendo, no mínimo, um profissional de nível superior e dois de nível médio,
com especialização, experiência ou capacitação na área de saúde mental.

Os moradores das residências terapêuticas podem ser egressos de hospitais


psiquiátricos, pessoas em acompanhamento em CAPS com dificuldades para moradia
e moradores de rua com transtorno mental, que não possuam essa rede de suporte,
para que possam ser incluídos nessa modalidade.

É de fato uma casa, um lar. As pessoas que ali residem são responsáveis pela
casa, como se fossem as ―donas‖. Lá eles cozinham, lavam, arrumam, limpam, cuidam,
como se estivessem na sua casa.

5.2.4. Dia Nacional da Luta Antimanicomial no Brasil

No dia 18 de maio é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial no


Brasil. Neste dia, todas as pessoas envolvidas ou mesmo simpatizantes do movimento
de reforma psiquiátrica no país realizam atividades de informação e esclarecimento à
população em geral sobre as questões de saúde mental, reforma, loucura, outros.

As agendas são as mais variadas: palestras, feiras com exposição de trabalhos


produzidos em serviços de saúde mental, caminhadas, shows, apresentações artísticas
de grupos da saúde mental, panfletagem, apresentação de vídeos, conferências,
inauguração de serviços de saúde mental, distribuição de materiais, entre outros.

Esta data é comemorada há anos no país das mais diversas formas dependendo
do local, mas com o mesmo objetivo: deixar claro que a cidadania é um direito de
todos. É um momento de ―mostrar a nova cara da loucura‖: indo às ruas, falando
abertamente de doença e saúde mental, loucura, tratamento; mostrando que todos,
mesmo aqueles que não têm um doente na família, são responsáveis pelos passos
para frente ou para trás do movimento reformista. É mostrar podemos conviver com as
diferenças e que estas são importantes na construção de um mundo verdadeiramente
democrático. É a oportunidade de envolver a sociedade mais ampla nesta luta que
preza a vida.

41
5.2.5. Dados da rede de atenção psicossocial (raps) no sistema único de saúde (sus).

 CAPS:

Atualmente, o Brasil conta com 2.742 (dois mil, setecentos e quarenta dois) CAPS
habilitados, distribuídos em 1.845 (um mil, oitocentos e quarenta e cinco) municípios
em todos os Estados e no Distrito Federal, totalizando um investimento de incentivo de
custeio anual de R$ 1.234.308.138,00 (um bilhão, duzentos e trinta e quatro milhões,
trezentos e oito mil e cento e trinta e oito reais) para essa modalidade de serviço.

 Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017

Em 2017 foi normatizado o CAPS AD IV, para atendimentos de pessoas com


quadros graves e intenso sofrimento decorrentes do uso nocivo e dependência de
substâncias psicoativas, especialmente do crack, através da Portaria nº 3.588, de 21
de dezembro de 2017. Tais unidades apresentam plantão médico e equipe
multiprofissional completa 24h, atendendo às urgências e emergências desta
população.

___________________________________________________________________

6. FUNÇÕES PSÍQUICAS – SINAIS E SINTOMAS DOS TRANSTORNOS


MENTAIS

As funções psíquicas são elementos criados para compreender a composição do


funcionamento de uma pessoa. Quando elas têm desempenho adequado são sinais
que contribuem para qualidade de vida satisfatória. Mas, quando estão em disfunção,
são sinais e/ou sintomas que indicam adoecimento psíquico quantitativo e/ou
qualitativo.
42
Segundo Cheniaux (2017) e Dalgalarrondo (2019) podemos ter vários tipos de
funções psíquicas distintas, mas, que se complementam ao serem executadas. Elas
são detalhes que muitas vezes ficam imperceptíveis em uma avaliação psíquica, então
é interessante conhecer um pouco e formar a noção de que em uma avaliação são
compiladas inúmeras informações.

A avaliação das funções psíquicas tem sido altamente utilizada na área da


enfermagem por sua grande importância na avaliação e no planejamento da
assistência em saúde mental.

Os sinais e sintomas também precisam continuar sendo observados e


registrados por toda a equipe que atende o paciente a fim de manter uma avaliação
dinâmica dele e ajustar o tratamento sempre que se faça necessário. Nesse aspecto, a
participação do técnico de enfermagem é essencial, devendo este conhecer os sinais e
sintomas mais comuns e estar atento as suas manifestações nos pacientes a fim de
transmiti-las ao restante da equipe.

Em um transtorno mental podem estar presentes vários deles ao mesmo tempo,


assim como um mesmo sintoma pode pertencer a quadros psíquicos diversos. Nem
sempre os nomes são muito fáceis de serem gravados, mas é importante para o
técnico de enfermagem engajado na Saúde Mental ter melhor compreensão dos
termos usados pelo restante da equipe a fim de estabelecer com ela uma troca
adequada.

6.1. Consciência

É onde se desenvolvem todos os processos mentais, tais como sensações,


pensamentos e emoções em certo instante. Utiliza-se o termo lucidez para conceituar
o estado normal de consciência. A consciência é que faz de nós mesmos seres
psíquicos vinculados à realidade. Sua alteração apresenta várias formas.

As principais alterações da consciência constituem-se em:

 Obnubilação: pensamento pouco claro, com perturbação na percepção e


atitudes. Caracterizado pela lentidão de compreensão, alteração do curso
do pensamento, certo grau de desorientação e pouca sonolência. O
indivíduo não consegue ter uma percepção globalizada das situações,
havendo geralmente considerável diminuição no padrão de
sensopercepção, pouquíssimo entendimento das impressões sensoriais e
lentidão da compreensão. Normalmente, a pessoa mostra-se confusa;
 Sonolência: sedação anormal, na qual a pessoa desperta ao receber
estímulos;
 Estupor ou torpor: falta de reação e de consciência com relação ao
ambiente, em que a pessoa desperta apenas com estímulos dolorosos
intensos, os quais cessando, a pessoa volta ao estado de inconsciência;

43
 Coma: é o grau mais intenso de inconsciência. A pessoa não é capaz de
despertar sob estímulo algum;
 Estado crepuscular: consciência perturbada por alucinações e delírios, e
quando retorna ao estado de consciência normal, não recorda do
acontecido ou tem dificuldade para fazê-lo. O paciente pode aparentar
estar em pleno domínio de sua consciência, mas há um estreitamento da
mesma. É como se o paciente estivesse totalmente voltado ―para dentro‖.
Mostra-se psiquicamente ausente, age ―no automático‖ e sem objetivos
claramente definidos. Muito comum em pessoas com epilepsia, em
momentos que antecedem à crise. ;
 Despersonalização e desrealização: acontece quando o indivíduo não
reconhece a si e o que o rodeia, perdendo a sensação de familiaridade,
deixando de reconhecer a própria identidade.
 Alterações da consciência corporal: apresenta estranhamento ou não
reconhecimento de partes do próprio corpo, como no caso de uma jovem
que ao ser questionada quem era sua acompanhante, respondeu: ―Ela diz
que é minha mãe‖.

6.2. Atenção

Atenção é quando se focaliza seletivamente algumas partes da realidade. A


atenção define-se pelo direcionamento da consciência e estado de concentração
mental sobre determinado objeto. Caracteriza-se por selecionar, organizar e filtrar as
informações, funcionando como uma filmadora. É um processo de extrema importância
em determinadas áreas, como na educação, já que se exige, por exemplo, a um aluno
que preste atenção às matérias lecionadas pelo professor, ignorando estímulos visuais,
sonoros ou outros, como o que se está a passar fora da sala de aula. Para que
aconteça, é necessário que o indivíduo esteja em estado de alerta (desperto). Como
alterações mais comuns, podemos citar a dificuldade de concentração ou inatenção e a
mudança constante de focos de atenção ou distração, que podem vir a acontecer nos
casos em estamos sob efeito do sono ou de alguma droga, sem que com isso se
configure em alteração duradoura.

Atenção é a concentração da atividade psíquica sobre os estímulos que a


solicitam. Dentre as alterações da atenção, destaca-se:

 Hipovigilância: diminuição da capacidade de estar atento a novos


estímulos; Não consegue focar a atenção.
 Distratibilidade (Distração): incapacidade de concentração da atenção,
a qual é desviada para estímulos irrelevantes;
 Hipervigilância: sensibilidade excessiva para novos estímulos;
 Desatenção seletiva: bloqueio dos estímulos que geram ansiedade ou
aflição;

44
 Cegueira por desatenção: é um efeito da atenção seletiva, quanto mais
o foco da atenção está centrado no estímulo selecionado, maior será a
possibilidade de percebê-lo, processá-lo e lembrá-lo conscientemente e,
ao mesmo tempo, menor será a possibilidade de perceber e lembrar os
outros estímulos. Ao contrário, objetos podem passar pela extensão
espacial do nosso foco de atenção e mesmo assim não serem ―vistos‖ se
eles não forem especificamente focados.

6.3. Sensopercepção

Sensopercepção é a capacidade que desenvolvemos de formar uma síntese de


todas as sensações e percepções que temos a cada momento e com ela formamos
uma ideia do nosso próprio corpo e de tudo o que está à nossa volta. Para isso,
fazemos uso de todos os nossos órgãos dos sentidos.

É a função mental que possibilita a tomada de conhecimento sobre o ambiente e


o próprio corpo. Dentre as alterações de sensopercepção relacionam-se:

 Ilusões: percepção errônea de estímulos sensoriais externos reais, ou


seja, há deformação do objeto real;
 Alucinação: percepção sensorial falsa não associada a estímulos reais,
isto é, a pessoa percebe como real algo que não existe. Podem ser
auditivas, táteis, visuais, olfativas, gustativas, cinestésicas; Assim, numa
alucinação auditiva, o paciente não dirá ―parece que ouço vozes‖, e sim,
―as vozes voltaram e estão me dizendo para não escutar o que você diz‖.

6.4. Orientação

Trata-se da capacidade da pessoa em situar-se com relação a si mesma e ao


ambiente, no tempo e no espaço (dados estes que dependem também da memória,
atenção e percepção).

As principais alterações que envolvem a orientação são:

 Desorientação: perturbação da orientação referente ao tempo, local ou


pessoas. Amnésica (dificuldade de memorizar), amencial (turvação da
consciência) e oligofrênica (em virtude de deficiência intelectual /
inteligência).
 Dupla orientação: a orientação anormal coexiste juntamente com a
orientação normal, o indivíduo oscila entre uma orientação adequada e
uma inadequada, misturando os dados, como um paciente que sabe que
mudou de século, mas continua afirmando estar em 1959.

45
6.5. Memória

Consiste na capacidade de adquirir, reter e utilizar uma experiência vivenciada.


Toda informação que pode ser armazenada nos circuitos neurais e que tem influência
no funcionamento do cérebro depois de ter sido ―fixada‖ na mente. Nossa memória tem
níveis diferentes de conservação temporal dos dados adquiridos. Alguns deles se
esvaem com a passagem dos anos, outros se tornam mais difíceis de detectar,
enquanto determinadas informações ficam meio apagadas e são arduamente
reconstituídas. Essa é mais uma prova de que existem vários tipos de memórias.

Existem diferentes categorias de memória que vão nos mostrar que memorizar
datas, nomes e lugares não é o mesmo que aprender a andar de bicicleta. Aquilo que
aprendemos e lembramos são processados por diferentes áreas do cérebro. De acordo
com essas áreas, cada memória realiza um tipo diferente de função no cérebro
humano. Veja abaixo, as memórias que funcionam de acordo com a duração da
informação:

 A memória ultrarrápida - a retenção não dura mais que segundos. Por


exemplo, ouvir alguém ditando um número de telefone, na hora você
lembra, mas quando passa uns segundos é incapaz de recordar.

 A memória de curta duração (ou memória de trabalho e de curto prazo) -


tem acesso rápido e limitado, nesta área a informação não dura mais que
segundos. Nesta memória temos a memória operacional que servirá para
organizar a realidade percebida pelo cérebro. Através dela, armazenamos
informações essenciais para a resolução de problemas, para uso do
raciocínio rápido ou elaboração de comportamentos (que podem ser
esquecidos a seguir). Ex.: Lugar onde estacionamos o carro.

 A memória de longa duração (ou permanente) - é responsável por


armazenar todo o conhecimento de uma pessoa. O tempo de acesso para
recuperação de informações em comparação aos outros tipos de memória
é muito maior. Podendo durar dias, semanas ou até mesmo anos.
Consolidação é o processo de armazenar novas informações nessa
memória.

As principais alterações de memória são:

 Amnésia: incapacidade total ou parcial para recordar experiências


passadas. Pode ser de origem orgânica ou emocional;
 Paramnésia: falsificação ou ilusão da memória pela distorção da
recordação;
 Hipermnésia: grau exagerado de retenção e recordação de experiências
passadas.

46
6.6. Inteligência

A inteligência refere-se basicamente à totalidade das habilidades cognitivas da


pessoa.

Basicamente, são dois grupos de patologias que apresentam alterações de


inteligência: a demência, na qual o déficit intelectual é involutivo (inicia após a pessoa
ter alcançado um determinado nível de inteligência) e o retardo mental (deficiência
intelectual ou déficit cognitivo), em que o déficit ocorre pela interrupção do processo de
desenvolvimento.

6.7. Afetividade

Estados psíquicos afetados pela agradabilidade ou desagradabilidade, dão cor,


brilho e calor as vivências. Surgem como consequência de ações que visaram uma
satisfação de necessidade. Incluem emoções, sentimentos, paixões e humor.
Caracteriza-se pela capacidade de experimentar sentimentos e emoções frente a
situações diversas.

Dentre as alterações da afetividade, selecionamos as seguintes:

 Euforia: alegria exagerada, geralmente acompanhada por ideias de


grandeza;
 Depressão: tristeza profunda acompanhada de lentificação dos
processos psíquicos;
 Labilidade afetiva: grande facilidade para mudar o estado afetivo;
 Embotamento afetivo: diminuição da modulação afetiva, mímica facial e
corporal monótona;
 Ambivalência afetiva: existência de estados afetivos opostos em relação
à determinada situação ou objeto;
 Inadequação afetiva: incoerência entre o estímulo desencadeante e a
expressão afetiva;
 Ansiedade: sentimento de desconforto e apreensão, caracterizado por
inquietação, tremores, taquicardia, sudorese;
 Fobia: temor insensato, obsessivo e angustiante em determinadas
situações;

6.8. Pensamento

É o processo pelo qual ocorre a assimilação, formulação e condução das ideias,


articulando-as em sequência lógica, formulando novas ideias.

O pensamento é dividido em produção, que é a natureza do pensamento; em


curso, como acontece a articulação das ideias; e conteúdo, referente ao tema e à
natureza das ideias.

47
As alterações referentes à produção configuram-se basicamente em duas:
pensamento lógico, que respeita as noções de causa, tempo e espaço; e o
pensamento mágico, não há acordo com a realidade.

Quanto às alterações do curso, destacamos:

 Inibição do pensamento: ocorre a lentificação do pensamento, pouco


produtivo e com pobreza de temas;
 Ideias sobrevalorizadas e obsessivas / Perseveração: quando a
pessoa se apega a um termo, palavra ou assunto e utiliza-o em todos os
seus discursos, apresentam-se como ideias que assumem papel central
no pensamento do indivíduo. É o indivíduo fanatizado, cuja convicção
acerca de sua ideia superestimada desafia toda argumentação em
sentido contrário, tal pensamento passa a ser dirigido exclusivamente
pela emoção, comumente por uma emoção doentia e com total descaso
para com a lógica ou para com a razão.
 Aceleração do pensamento: ocorre a excitação dos processos
psíquicos;
 Fuga de ideias: verbalizações rápidas e contínuas que promovem
constante mudança de ideias;
 Desagregação: as ideias surgem sem conexão alguma, não há uma linha
lógica de raciocínio;
 Bloqueio: interrupção abrupta do pensamento, antes que um pensamento
ou ideia seja terminado. Em seguida há uma pausa, e a pessoa não se
recorda do que falava anteriormente.

Com relação às alterações de conteúdo, citam-se:

a) Pobreza de conteúdo: pensamento oferece poucas informações, é vago e


repetitivo;

b) Delírios/ ideias delirantes: falsa crença, não condizente com a realidade. Os


delírios podem ter várias apresentações.Tipos de delírios:

 Erotomaníaco: acreditam que são amados por pessoa do sexo oposto


que ocupa posição de superioridade. Pode também ser uma pessoa
normal e estranha.
 De grandeza: acreditam possuir algum grau de parentesco com
personalidade importante, possuir grande e irreconhecível talento
especial ou acham-se possuidores de grande fortuna.
 De ciúme: sem motivo evidente, ficam convencidos da infidelidade do (a)
parceiro (a) (roupas desarranjadas podem ser um dos motivos). É mais
frequente em mulheres.
 Persecutório: mais comum. Acreditam ser vítimas de conspiração,
48
traição, espionagem, perseguição, envenenamento, alvo de comentários
maliciosos, etc.
 Somático (parafrenia): maiores possibilidades de alucinações. Convicção
de que emite odores fétidos de sua pele, boca, reto, que está infestada
por insetos na pele ou dentro dela e que possui deformações de certas
partes do corpo ou órgãos que não funcionam.
 Místicos: o indivíduo afirma ser (ou estar em comunhão com, receber
mensagens ou ordens de) um novo messias, um Deus, Jesus, um santo
poderoso ou, até, um demônio. O paciente sente que tem poderes
místicos, que entrou em contato com Nossa Senhora, com o Espírito
Santo ou com o demônio, que tem missão mística religiosa importante
neste mundo, que é portador de uma mensagem religiosa fundamental.
Os delírios religiosos costumam ter aspecto grandioso, enfatizando a
própria importância do sujeito que delira.
 Culpa: o indivíduo afirma, sem base real para isso, ser culpado por tudo
de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas que o cercam.
Também creem ter cometido um grave crime, ser uma pessoa indigna,
pecaminosa, suja, irresponsável, que deve ser punida pelos seus
pecados. O delírio de culpa ou autoacusação é bastante característico
das formas graves de depressão.

Exemplos:

―Maria refere que a sua irmã a observa 24 horas por dia através de câmaras que
instalou nos pregos da sua casa, diz também que a mesma finge agradá-la preparando
comidas gostosas, porém coloca veneno nelas.‖

―João faz todas as suas atividades (exceto banho) utilizando óculos de sol. O mesmo
diz que possui raios vermelhos nos olhos que podem atingir as pessoas se retirar o
óculos. Fala que adquiriu este poder pois é o imperador da galáxia e precisa defende-
la.‖

―Márcio se julga pecador diante dos deuses por sentir vontade de masturbar-se e às
vezes chegar ao ato de fazer. Por este motivo, já tentou cortar o pênis diversas vezes e
atualmente passa a maior parte do tempo em orações pedindo perdão.‖

―Aline vai até a delegacia fazer uma denúncia de que um familiar faleceu e deixou uma
grande herança para ela, porém, seu marido tomou posse de todos os bens. Ela chora
muito dizendo que precisa da sua cobertura em Manhattan.‖

49
6.9. Conduta

Este termo refere-se ao comportamento das pessoas, considerando seus


aspectos mais amplos.

Apresentamos como principais alterações as que seguem:

 Frangofilia: impulso para destruir objetos que estejam por perto;


 Compulsão: atos repetidos que a pessoa realiza para aliviar um
desconforto. Geralmente a pessoa tem consciência de seus atos
irracionais.
 Perversões sexuais: desvio relacionado ao interesse e à prática sexual,
tais como exibicionismo, gerontofilia, necrofilia, pedofilia, zoofilia;
 Autismo: comportamento alheio ao mundo externo, criando um mundo
interno;
 Auto agressividade: atos agressivos contra si mesmo, como
automutilação e ações suicidas;
 Conduta sedutora: a pessoa mantém comportamento sedutor com
relação ao outro a fim de ganhar sua simpatia ou despertar-lhe desejos
sexuais.

6.10. Linguagem

A linguagem é a forma de manifestação de sinais conscientes para que haja


comunicação entre as pessoas, sendo exteriorizado por um comportamento motor, a
fala. Destacamos as principais alterações na linguagem:

 Disartria: dificuldade na articulação devido a problemas de fonação


(sistema nervoso);
 Disfasia: ocorre perda de memória dos sinais de linguagem, relacionado
ao déficit cognitivo;
 Pobreza da fala: restrição na qualidade da fala, respostas podendo ser
monossilábicas;
 Pobreza de conteúdo da fala: a pessoa fala muito, mas as informações
que transmite são vagas;
 Neologismo: palavras criadas pela pessoa ou que já existem, mas
utilizadas em outro sentido;
 Gagueira: repetição de sons e sílabas ou paradas involuntárias, que
comprometem a fluência verbal.
 Ecolalia: repetição das últimas palavras que chegam ao ouvido da
pessoa;
 Mutismo: é a ausência de linguagem oral;
 Jargonofasia: expressão na linguagem do pensamento desagregado.
Conhecido como ―salada de palavras‖.
 Alexia: incapacidade para leitura;
50
6.11. Sono

Podem ocorrer como um sintoma ou como o próprio transtorno mental, ou ainda,


como reação adversa a determinados medicamentos.

As principais alterações de sono são:

 Insônia: é a falta de sono durante uma parte ou toa à noite (ou período
habitual de sono do indivíduo). Pode ser inicial (a pessoa custa a ―pegar
no sono‖ – mais característica de quadros de ansiedade), ou terminal (a
pessoa acorda de madrugada e não consegue voltar a dormir – mais
característico da depressão).

 Narcolepsia: é sono em excesso durante todo o dia.

6.12. Psicomotricidade / Movimento

Todo fenômeno psíquico termina em eventos motores. A psicomotricidade acaba


sendo a exteriorização e o resultado da elaboração interna dos estímulos.

Capacidade de projetar o modelo psíquico consciente ou inconsciente para a


ação.

 Estereotipia: o indivíduo costuma repetir continuamente e sem necessidade


determinados movimentos, sem que haja uma lógica facilmente observável.

 Tiques: são movimentos rápidos e involuntários, também repetitivos.

 Catalepsia: que é uma atitude de imobilidade, tal como se fosse uma


estátua, mantida pela pessoa inclusive com posturas aparentemente
incômodas, típica da catatonia.

 Hipercinesia: movimentação global aumentada. (Quadros de agitação


psicomotora, excitação, irritabilidade).

___________________________________________________________________

7. PRINCIPAIS TRANSTORNOS PSIQUICOS

Existem diversos transtornos mentais, com apresentações diferentes. Eles


geralmente são caracterizados por uma combinação de pensamentos, percepções,
emoções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com
outras pessoas.

51
Entre os transtornos mentais, estão a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a
esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de
desenvolvimento, incluindo o autismo e por uso de substâncias como álcool e drogas.

De acordo com a Classificação Internacional de Transtornos Mentais e de


Comportamento (CID-10), os transtornos mentais configuram-se como uma doença
que possui características psicológicas relacionadas às alterações do modo de pensar
e/ou do humor interligadas a uma angústia expressiva, produzindo prejuízos no
desempenho global no campo psicossocial, ocupacional e familiar, associada a
comprometimento funcional resultante de disfunção biológica, social, psicológica,
genética, física ou química (IACOPONI, 1999). Passaremos ao estudo dos principais
transtornos mentais que tendem a surgir.

7.1. Demência e Alzheimer (F 00 – CID 10):

A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum e também é um termo


geral usado para descrever as condições que ocorrem quando o cérebro não mais
consegue funcionar corretamente. O Alzheimer causa problemas na memória,
pensamento e comportamento. Nos estágios iniciais, os sintomas de demência podem
ser mínimos, mas pioram conforme a doença causa mais danos ao cérebro. A taxa de
progresso da doença é variável conforme a pessoa, contudo, pessoas portadoras de
Alzheimer vivem em média até oito anos após o início dos sintomas.

Apesar de não haver atualmente tratamentos que impeçam o progresso da


doença de Alzheimer, há medicamentos para tratar os sintomas de demência. Nas
últimas três décadas, as pesquisas sobre demência proporcionaram uma compreensão
muito mais profunda sobre como o Alzheimer afeta o cérebro. Hoje em dia, os
pesquisadores continuam a buscar tratamentos mais eficientes e a cura, além de
formas para impedir o Alzheimer e melhorar a saúde cerebral.

Problemas com a memória, dificuldade principalmente em lembrar informações


recentemente aprendidas, são normalmente os primeiros sintomas da doença de
Alzheimer.

Conforme envelhecemos, nossos cérebros mudam e podemos ocasionalmente


apresentar dificuldades para lembrar alguns detalhes. No entanto, a doença de
Alzheimer e outras demências causam uma perda de memória e outros sintomas
significativos o suficiente para interferir com a vida diária das pessoas. Esses sintomas
não são naturais do envelhecimento.

Além da perda de memória, os sintomas de Alzheimer incluem:

 Problemas para completar tarefas que antes eram fáceis.

 Dificuldades para a resolução de problemas.

 Mudanças no humor ou personalidade; afastamento de amigos e familiares.


52
 Problemas com a comunicação, tanto escrita como falada.

 Confusão sobre locais, pessoas e eventos.

 Alterações visuais, como problemas para entender imagens.

Nem toda perda de memória é causada por Alzheimer. Algumas causas de


sintomas, tais como efeitos colaterais de medicamentos e deficiências de vitaminas,
são reversíveis.

7.2. Esquizofrenia (F 20 – CID 10)

A esquizofrenia é uma doença grave e persistente que resulta em


comportamento psicótico, pensamento concreto e dificuldades no processamento das
informações, nos relacionamentos interpessoais e na resolução de problemas.

A esquizofrenia manifesta-se entre os 17 e 25 anos, podendo apresentar


pequenas variações nesta faixa.

É caracterizada quando durar seis meses no mínimo, incluindo pelo menos um


ano de sintomas da fase ativa, com presença de dois ou mais sintomas psicóticos.

Encontramos várias alterações das funções psíquicas na esquizofrenia, como


por exemplo: Atenção (dificuldade em manter a atenção, concentração deficiente,
facilidade de distração, incapacidade de utilizar a atenção seletiva), Sensopercepção
(alucinações e ilusões), Memória (dificuldade em se lembrar de e usar a memória
armazenada e possível comprometimento de memória a curto e longo prazo),
Afetividade (dificuldade em reconhecer e descrever os sentimentos, chamado de
alexitimia; ausência de sentimentos, emoções, interesses ou preocupações, chamado
de apatia; pouca ou nenhuma habilidade para experimentar prazeres, brincadeiras,
intimidade e proximidade, que denominamos anedonia), Pensamento (inibição ou
aceleração do pensamento, fuga de ideias, desagregação, delírios), Conduta
(catatonia, marcha anormal, autismo, deterioração da aparência, agressividade,
agitação, comportamento repetitivo, choro e risos imotivados, medo e retraimento nas
interações), Linguagem (associações frágeis, conteúdo ilógico, incoerência, salada de
palavras, neologismos, fala apressada e conturbada, pobreza da fala).

Eugen Bleuler foi um médico famoso que se dedicou ao estudo da esquizofrenia.


Bleuler descreveu os ―quatro As‖, o qual caracterizou como sintomas primários da
esquizofrenia:

1. Associações (pensamento e linguagem): também denominado como


afrouxamento dos nexos associativos, que seria a falta de uma relação lógica entre
pensamento e ideias, o que torna a fala e o pensamento vagos, imprecisos, difusos e
não focalizados;

2. Afeto (afetividade): o estado afetivo seria inadequado à situação vivenciada.


Pode ocorrer embotamento afetivo (a pessoa não expressa sentimento algum) ou
53
expressão de sentimentos opostos ao esperado em determinada situação. Exemplo:
morte da mãe do paciente: o esquizofrênico pode se comportar de duas formas: ou não
expressará sentimento algum ou vai rir ao invés de chorar pelo fato ocorrido;

3. Autismo (conduta): o paciente se afasta do ambiente externo e real e retrai-


se para um mundo à parte que ele criou em suas fantasias. Pode ocorrer confusão
sobre o que é real e o que aconteceu apenas em seu mundo autista;

4. Ambivalência (afetividade): seriam as emoções opostas ocorrendo ao


mesmo tempo, fazendo com que o esquizofrênico seja incapaz de tomar decisões ou
fazer escolhas devido aos sentimentos conflitantes simultâneos. Exemplo: amor e
ódio, alegria e tristeza.

Esses quatro sintomas seriam os principais para realizar o diagnóstico de


esquizofrenia, sendo os demais caracterizados como sintomas secundários.

Apresenta-se desta forma para que não esqueçamos que os quatro As de


Bleuler são também alterações das funções psíquicas. Mas eles são de grande
importância para facilitar o diagnóstico da esquizofrenia.

Esses sintomas podem aparecer no estado agudo desta patologia e, não


necessariamente, estarão sempre presentes.

- Tipos de esquizofrenia

Existem cinco tipos de esquizofrenias. Seguiremos apresentando cada uma


delas, conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição
– DSM – IV4.

 Esquizofrenia Paranoide: este tipo de esquizofrenia é caracterizado


basicamente por delírios sistematizados, geralmente persecutórios e de
grandeza; e de alucinações auditivas frequentes. Não apresenta
comportamentos sugestivos do tipo desorganizado ou catatônico. Ao
contrário, mostra-se desconfiado, tenso, reservado ou propenso a discutir
sobre qualquer coisa, podendo ser hostil e agressivo. Mostra menor
regressão das faculdades mentais, da resposta emocional e do
comportamento do que os demais tipos. Possuem melhor prognóstico.
 Esquizofrenia Desorganizada: é caracterizada por discurso e
comportamento desorganizados e embotamento afetivo (ou afetividade
inadequada). Não apresenta características de catatonia. O aparecimento
deste tipo de esquizofrenia ocorre antes dos 25 anos de idade. Há
regressão acentuada a um comportamento primitivo e desinibido. A
interação social e o contato com a realidade são deficientes. A aparência
pessoal e o comportamento são desleixados. Risos imotivados e trejeitos
faciais são bastante comuns. O paciente pode ter algumas manias
estranhas.

54
 Esquizofrenia Catatônica: caracterizada por um distúrbio psicomotor
acentuado, que pode envolver imobilidade ou atividade excessiva. O
esquizofrênico catatônico pode apresentar estado de inatividade ou
mutismo (incapacidade de articular palavras) e posturas anormais. A este
conjunto de sintomas denomina-se estupor ou torpor catatônico. O
contrário do estado de estupor é o furor catatônico, caracterizado por
agitação extrema, acompanhada de ecolalia (repetição das palavras sem
sentido) e ecopraxia (comportar-se ou agir como a outra pessoa, copiá-la,
sem motivo).
 Esquizofrenia Indiferenciada: este tipo de esquizofrenia inclui aqueles
pacientes que possuem sintomas variados e não se enquadrarem nas
anteriores. Dentre as características dos sintomas variados inclui delírios,
alucinações, fala incoerente e comportamento inadequado.
 Esquizofrenia Residual: é caracterizada pela presença de evidências
contínuas de perturbação esquizofrênica, sem sintomas ativos. Sintomas
comuns: embotamento afetivo, retraimento social, comportamento
excêntrico, pensamento ilógico e leve afrouxamento de associações.

Farmacoterapia

As drogas antipsicóticas, também chamadas de neurolépticos, são as principais


no tratamento da esquizofrenia. Alguns antipsicóticos de ampla utilização são
clozapina (Leponex), risperidona, haloperidol (Haldol), clorpromazina (Amplictil),
flufenazina (Flufen depot).

A esquizofrenia é uma doença mental que afeta muitas pessoas, bem como
suas famílias e comunidades. É, talvez, a mais conhecida psicopatologia e por isso é
muito estigmatizante. As tentativas de suicídio são bastante frequentes nestes
pacientes.

7.3. Paranoia ou Transtorno Delirante Persistente (F 22 – CID 10)

É uma psicose delirante crônica. Há delírios, porém, com a manutenção da


clareza e da ordem do pensamento, da vontade e da ação. Uma das características
principais é a presença de um ou mais delírios não bizarros que persistem por pelo
menos um mês. Não são delírios desorganizados, pelo contrário, são compreensíveis
aos ouvintes.
As alucinações não são marcantes e nem habituais, embora possam existir.
Quando existem, as táteis ou olfativas são mais frequentes. O lado social não fica tão
prejudicado como, por exemplo, na esquizofrenia.
A seguir, elencamos algumas manifestações experimentadas por pacientes com
diagnóstico da doença. Confira:

 Crença inabalável em algo que não é verdadeiro ou que não está baseado na
realidade;

55
 Pensamentos não excêntricos ou surreais, que podem envolver situações como
ser perseguido, enganado, envenenado ou conspirado;

 Percepção equivocada de experiências, ou seja, situações que não são


verdadeiras ou que são exageradas;

O paciente, geralmente, continua a funcionar normalmente no ambiente social,


independente dos seus pensamentos. O comportamento dele não é estranho ou
inusitado. Porém, alguns pacientes com transtorno delirante podem ficar tão
preocupados com os delírios criados em suas mentes, que acabam tendo suas vidas
afetadas de forma significativa.

7.4. TRANSTORNOS DE HUMOR

Geralmente oscilamos entre um estado de ânimo mais elevado (elação) e um


mais baixo. Quem nunca acordou indisposto para uma atividade, ou nunca se sentiu
―eufórico‖ com alguma boa notícia? No entanto, isso não costuma prejudicar nossas
atividades diárias. Quando o indivíduo fica fixado em uma destas polaridades, ou varia
entre elas de forma muito intensa, a ponto de começar a prejudicar sua vida habitual,
podemos falar em transtornos do humor.
Os transtornos do humor são também chamados transtornos afetivos, pois se
caracterizam principalmente por dificuldades na área do afeto, que é nossa capacidade
de vivenciarmos internamente nossos sentimentos.

7.4.1 Mania – (F 30 – CID 10)

Os episódios de mania caracterizam-se por uma alegria patológica. O indivíduo


apresenta um ritmo acelerado, fala muito (e geralmente alto), trocando constantemente
de assunto (fuga de ideias), movimentam-se amplamente, tem energia de sobra, tanto
que, muitas vezes não consegue dormir (hiperatividade). Mostra-se eufórico, com
autoestima exagerada (achando que pode tudo), a sexualidade também pode estar
exacerbada, gosta de atrair atenções. Não acha que tenha problema algum, o que
muitas vezes prejudica a aceitação do tratamento. Às vezes, evolui para um episódio
claramente psicótico e a pessoa passa a apresentar delírios, alucinações e
comportamento estranho.
Há uma variedade de graus de gravidade, sendo o mais leve a chamada
hipomania, caracterizada por euforia, hiperatividade e desinibição mais leves.

7.4.2 Depressão – ( F 32 – CID 10)

A depressão não é o mesmo que ―baixo astral‖, por mais que esteja incluída na
gíria como ―fulano está na maior ―deprê‖. Ao contrário da tristeza comum, a depressão
caracteriza-se por um estágio mais prolongado e grave de abatimento do humor. A
pessoas com depressão apresenta tristeza patológica com perda da autoestima,
reclama de falta de ânimo, cansaço fácil e de não sentir interesse por nada.
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Outros sintomas identificados na CID-10 são: concentração e atenção reduzidas,
autoconfiança reduzida, ideias de culpa e inutilidade, visões desoladas e pessimistas
do futuro, ideias ou atos autodestrutivos ou lesivos ou suicídio (dependendo da
gravidade do episódio) e dificuldades em relação ao sono e apetite.
Este é um transtorno muito frequente (em torno de 20%) dos pacientes em
geral). Pode apresentar-se em diferentes graus, podendo ser leve, moderada ou
grave, mais incapacitante em alguns casos, menos incapacitante em outros. Algumas
pessoas, embora se sentindo todo o tempo mal e deprimidas, continuam
desempenhando suas atividades cotidianas.
Quanto à causa, a depressão pode ser dividida em endógena, psicogênica ou
somatogênica.
A depressão endógena é vista como de origem interna, indefinida. Embora o
primeiro episódio possa se dar após alguma perda ou crise, os outros geralmente não
apresentam causas observáveis. Geralmente é uma forma grave de depressão,
apresentando grande risco de suicídio (10 a 15% dos casos). Antigamente era
chamada de depressão psicótica. Responde melhor a tratamento medicamentoso.
A depressão psicogênica tem suas causas mais facilmente localizadas na
história de vida do indivíduo, que apresenta fatos que o levaram aos sintomas. Tanto
que já foi chamada de depressão reativa ou situacional. Os sintomas são menos
graves que na depressão endógena, e o risco de suicídio, embora existente, é menor.
Responde melhor à psicoterapia do que ao tratamento medicamentoso.
A depressão somatogênica é aquela causada por algum fator de alteração
principalmente orgânico, como o uso de algumas medicações (por exemplo, alguns
tipos de anti-hipertensivos, anti-inflamatórios e contraceptivos orais) ou ainda a
interrupção do uso de psicoestimulantes.

Para diagnosticar um transtorno depressivo maior, são utilizados os critérios do


DSM-V (Diagnostic and Statitical Manual of Mental Disorders). Segundo esse manual,
para diagnóstico de transtorno depressivo, é necessário a presença de 5 ou mais
sintomas, por no mínimo 2 semanas. Desses 5 sintomas, obrigatoriamente 1 deles tem
que ser humor deprimido OU perda do prazer (anedonia).

Os sintomas podem ser:


 Humor deprimido
 Redução intensa do interesse ou prazer
 Alterações do sono – pode ser insônia ou hipersonia
 Alterações do apetite, levando a ganho ou perda de peso
 Agitação ou retardo psicomotor – no retardo psicomotor o indivíduo pode
apresentar a fala lenta e baixo tom de voz
 Fadiga ou perda de energia
 Dificuldade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões
 Sensação de culpa ou de inutilidade
 Pensamentos sobre morte, ideação suicida ou até mesmo planejamento suicida.
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Muitos desses sintomas são relatados pelo paciente, até mesmo por afetarem
grandemente as suas atividades diárias. Além disso, ao ver o paciente, na maioria das
vezes é possível notar a tristeza, o descuido com a aparência e a tendência ao choro.
O tratamento deve ser uma associação de medidas não farmacológicas (psicoterapia)
e farmacológicas (medicamentos antidepressivos, como por exemplo: Amitriptilina,
Paroxetina, Sertralina, Fluoxetina, Citalopram, Cloropramina, entre outros).

7.4.3 Transtorno Afetivo Bipolar – ( F 31 – CID 10)

É um dos tipos de transtornos de humor, caracterizado por episódios maníacos e


depressivos. Essas variações podem se dar em intervalos de dias, semanas ou meses,
e é comum falarmos em ―fase de mania‖ e ―fase depressiva‖. Na verdade, uma pessoa
muito raramente apresenta apenas mania, como descrito anteriormente, o mais comum
é que ela intercale episódios maníacos com episódios depressivos. O transtorno bipolar
também pode se apresentar de forma mais grave ou mais leve, quando é chamado de
ciclotimia.
No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníaco-
depressiva, porque, durante a crise, algumas pessoas ficam realmente psicóticas, ou
seja, apresentam uma afecção muito grave da psique com alucinações e delírios, o
grau extremo desse transtorno de humor.
Farmacoterapia
O medicamento mais utilizado é o carbonato de lítio (Carbolim, Carbolitium) que
é um estabilizador do humor. Outras drogas também podem ser utilizadas para tratar a
mania como os anticonvulsivantes: carbamazepina (Tegretol), ácido valpróico
(Depakene) e clonazepam (Rivotril).

7.5. TRANSTORNOS DE ANSIEDADE:

Ansiedade é um problema psicológico que se traduz por um sentimento de


insegurança, com ou sem fundamento real. A ansiedade é uma sensação derivada de
momentos de preocupação, tensão e apreensão sentida como antecipação a
problemas. Quando esta sensação é experimentada em momentos estressantes, em
que as pessoas se veem frente a situações difíceis e decisões importantes, é
considerada normal.
A ansiedade pode ser acompanhada de manifestações como: secura de boca,
batimentos cardíacos acelerados, transpiração excessiva, entre outros. Mas a
ansiedade passa a ser considerado um transtorno, quando o indivíduo a experimenta
de maneira exagerada, relacionado a preocupações excessivas e não realistas com
situações que a maioria das outras pessoas enfrentariam com pouca dificuldade. Este
transtorno costuma ser duradouro e crônico, ou seja, o paciente sofre com o estado de
ansiedade elevado durante anos, com pequenos períodos de melhora.
Todos nos somos ansiosos em determinado momento da vida sem que isso seja
patológico.
58
Causas da ansiedade

O nosso Sistema Nervoso Central e a nossa mente necessitam de uma situação


de conforto e de segurança para usufruir a sensação de repouso e de bem-estar.
Quando a nossa percepção nos alerta para uma situação de perigo a este estado
acontece o estado ansioso.
 A ansiedade no inicio é uma reação normal, um sinal de alerta.
 As dificuldades da vida são habitualmente o fator desencadeante da ansiedade.
 A dor e o abuso de certas substâncias (café, chá, tabaco, álcool, drogas) podem
desencadear episódios de ansiedade.
Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já é
por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver
ansiosamente passou a ser considerada uma condição do homem moderno ou um
destino comum a que todos estamos, de alguma maneira, condicionados.
Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contato com o novo, com
situações inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados
ansiosos.
O novo por sua vez tem a capacidade de potencializar a sensação de medo no
sentido de que algo ruim ou perigoso pode vir á acontecer. Mas existe uma diferença: o
medo ocorre como uma resposta a um perigo real e a ansiedade ocorre sem qualquer
tipo de perigo objetivo.

Tipos de Ansiedade Normal

A ansiedade é uma reação normal, dita bio adaptativa. Ou seja, é uma resposta
do corpo a algum tipo de estressor externo; por exemplo, diante de uma ameaça (um
predador), o organismo deve reagir aumentando seu ritmo para que este possa se
preparar para a fuga. O ritmo cardíaco aumenta, a respiração aumenta sua frequência.
Portanto, todas estas reações são normais e preparam o indivíduo para enfrentar o
estressor externo.

Patológica

A ansiedade patológica caracteriza-se pela intensidade prolongada à situação


precipitante, tornando difícil o controle dos sintomas físicos causando prejuízo na
atividade social, dificultando e impossibilitando a adaptação. Ao contrário da ansiedade
normal, a patológica paralisa o indivíduo, trazendo prejuízos ao seu bem-estar.
A ansiedade é uma sensação difusa, que se manifesta através de diversos
sintomas.
Sintomas Físicos: Falta de ar; Taquicardia; Nervosismo; Suores; Problemas
digestivos (prisão de ventre, enjoos, gases); Fome exagerada (gula). Os sintomas

59
físicos da ansiedade indicam que seu emocional não está bem. Portanto, não adianta
apenas tratar os sintomas físicos, mas tratar das causas emocionais que geram esta
ansiedade.
Sintomas Psicológicos: Medos irracionais e sem sentido; Sentimento
exagerado de irritação: ficar irritado e provocar brigas e discussões por nada; Ingestão
exagerada de bebidas alcoólicas ou calmantes, como modo de aliviar as tensões;
Choque entre exigências conflitantes; Perfeccionismo; Impulsos autodestrutivos; Medo
exagerado de magoar os outros.
Existem, portanto, vários níveis de ansiedade, desde manifestações ligeiras aos
ataques de pânico com quadros fóbicos.

7.5.1 Transtorno de ansiedade generalizada - TAG (F 41.1 – CID 10):

Uma das maneiras de diferenciar a ansiedade generalizada da ansiedade


normal é através do tempo de duração dos sintomas. A ansiedade normal se restringe
a uma determinada situação, e mesmo que uma situação problemática causadora de
ansiedade não mude, a pessoa tende a adaptar-se e tolerar melhor a tensão
diminuindo o grau de desconforto com o tempo, ainda que a situação permaneça
desfavorável.
Ansiedade generalizada é persistente que não ocorre exclusivamente nem
mesmo de modo preferencial numa situação determinada. Os sintomas compreendem
nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na
cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico.

7.5.2 Agorafobia: (F 40.0 – CID 10)


A agorafobia é um transtorno ansioso, no qual a pessoa tem um medo
desproporcional de situações dentro de locais, que podem ser transporte público,
parque, uma fila, a rua. Algumas pessoas desenvolvem agorafobia após ataque de
pânico em situação agorafóbica típica. Outros simplesmente se sentem desconfortáveis
em tais situações e podem nunca, ou apenas mais tarde, ter ataques de pânico nelas.
A agorafobia muitas vezes interfere no funcionamento e, se for grave o suficiente, pode
fazer com que a pessoa fique fechada em casa.

7.5.3 Fobia Social (F 40.1 – CID 10)

Ansiedade intensa e persistente relacionada a uma situação social. Pode


aparecer ligado a situações de desempenho em público ou em situações de interação
social. A pessoa pode temer, por exemplo, que os outros percebam seu "nervosismo"
pelo seu tremor, suor, rubor na face, alteração da voz, etc. Pode levar à evitação de
situações sociais e um certo sofrimento antecipado.

60
7.5.4 Fobias Específica (F 40.2 – CID 10)
Como o próprio nome diz, são fobias restritas a uma situação ou objeto
altamente específicos, tais como, animais inofensivos (zoofobia), altura (acrofobia),
trovões e relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados (claustrofobia), doenças
(nosofobia), dentista, sangue, entre outros. A incapacitação da pessoa no dia a dia
depende do tipo de fobia e de quão fácil é evitar a situação fóbica.
As fobias atingem cerca de 10% da população. Em geral surgem na infância ou
adolescência, persistindo na idade adulta se não são tratadas adequadamente.
Acometem mais frequentemente pessoas do sexo feminino (com exceção da fobia
social, que atinge igualmente homens e mulheres). Depressão, uso de drogas e álcool
podem ocorrer frequentemente associados aos transtornos fóbico-ansiosos.
O tratamento das fobias se faz com a associação de medicamentos com
psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados pertencem ao grupo dos
antidepressivos; os ansiolíticos também são frequentemente indicados. A psicoterapia
auxilia na compreensão de fatores que podem agravar ou perpetuar os sintomas
fóbicos.

7.5.5 Transtorno de Pânico (F 41.0 – CID 10):

A Síndrome do Pânico é caracterizada pela ocorrência de frequentes e


inesperados ataques de pânico. Os ataques de pânico, ou crises, consistem em
períodos de intensa ansiedade e são acompanhados de alguns sintomas específicos
como taquicardia, perda do foco visual, dificuldade de respirar, sensação de irrealidade.

7.5.6 Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC (F 42 – CID 10)

Estado em que se apresentam obsessões ou compulsões repetidamente,


causando grande sofrimento à pessoa. Obsessões são pensamentos, ideias ou
imagens que invadem a consciência da pessoa. Há vários exemplos como dúvidas que
sempre retornam (se fechou o gás, se fechou a porta), etc. As compulsões são atos
repetitivos que tem como função tentar aliviar a ansiedade trazida pelas obsessões.
O tratamento mais indicado é a combinação de psicoterapia com medicamentos
tranquilizantes e antidepressivos. No geral, o tratamento pode dividir-se em três partes:
 Medicação: geralmente antidepressivos e benzodiazepíncos (calmantes/
ansiolíticos) são as medicações mais comumente empregadas, quando o
psiquiatra ou o clínico julga necessário usá-las;
 Psicoterapia: fundamental para saber a origem da ansiedade e como lidar
com ela; a associação medicação + psicoterapia tem ótimos resultados;
 Mudança de hábitos de vida: exercícios físicos, acupuntura, yoga,
otimização dos horários de trabalho, higiene do sono, criação de "áreas
de lazer" na grade horária semanal. Tais mudanças também são
fundamentais para auxiliar o indivíduo a ficar menos ansioso.
61
7.5.7 Estresse Pós Traumático (F 43.1 – CID 10):

Estado ansioso com expectativa recorrente de reviver uma experiência que


tenha sido muito traumática. Por exemplo, depois de ter sido assaltado, ficar com medo
de que ocorra de novo, ter medo de sair na rua, ter pesadelos. Essa condição causa
sofrimento intenso e prejuízos a vários aspectos da vida, como trabalho e
relacionamentos.
Vale destacar que mesmo quem não foi vítima direta de tais situações pode
receber o diagnóstico. Testemunhar uma agressão ou ser informado que um familiar
sofreu um acidente grave, por exemplo, também são possíveis fatores
desencadeantes.
A pessoa pode apresentar sintomas como:
 Lembranças persistentes - reviver involuntariamente o trauma através de
memórias angustiantes e repetitivas, pesadelos ou sensação de que o
evento traumático está acontecendo novamente (―flashbacks‖).
 Reações físicas - circunstâncias que remetem à lembrança do trauma
podem desencadear sintomas fisiológicos, incluindo sudorese, náusea e
tremores.
 Comportamento de esquiva - evitar lugares, pessoas e atividades que
trazem recordações dolorosas. A pessoa também pode ser incapaz de
lembrar ou falar sobre o ocorrido.
 Excitação exagerada - inclui ficar em estado de alerta constante,
explosões de raiva, dificuldade para dormir e para se concentrar.
 Crenças e emoções negativas - por exemplo, dificuldade de confiar nos
outros e manter relacionamentos próximos; perda de interesse em
atividades; sentimento de culpa e vergonha.

7.6. Transtorno de Somatização (F 45 – CID 10):

O transtorno de somatização é definido por Lipowski como a tendência para


experienciar e comunicar distúrbios e sintomas somáticos não explicados pelos
achados patológicos, atribui-los a doenças físicas e procurar ajuda médica para eles.
(Lipowski, 1988). O curso da doença é crônico e flutuante, acarretando prejuízos ao
comportamento social, interpessoal e familiar. As queixas podem abranger vários
sistemas orgânicos ou diferentes tipos de sintomas como problemas gastrintestinais
(vômitos, dor abdominal, náuseas, excesso de gases digestivos, diarreia, etc.); dores
(extremidades, costas, juntas, micção e outras); problemas neurológicos (amnésia,
dificuldade para deglutir, perturbação no andar, paralisia, etc.); sintomas sexuais após
atitude sexual (indiferença, impotência, sensação de ardor nos órgãos genitais).

7.7. Transtornos Conversivos (F 44 – CID 10):

O transtorno conversivo é uma forma de somatização — a expressão de


fenômenos mentais como sintomas físicos (somáticos).

62
O transtorno conversivo tende a se desenvolver durante o final da infância ou no
início da vida adulta, porém pode ocorrer em qualquer idade. É mais comum entre
mulheres.

Os sintomas do transtorno conversivo quase sempre se desenvolvem


abruptamente e o início pode muitas vezes ser associado a um evento estressante.
Tipicamente, os sintomas envolvem déficits aparentes na função motora voluntária ou
sensorial, mas algumas vezes incluem tremores e consciência prejudicada (sugerindo
convulsões) e maneirismos anormais de membro (sugerindo outro transtorno físico ou
neurológico geral). Por exemplo, os pacientes podem apresentar coordenação ou
equilíbrio prejudicado, fraqueza ou paralisia de um braço ou de um membro inferior ou
perda da sensibilidade em uma parte do corpo, convulsões, não responsividade,
cegueira, visão dupla, surdez, afonia, dificuldade de deglutição, sensação de uma
bola na garganta e retenção urinária.

Pacientes podem ter um único episódio ou episódios esporádicos repetidos; os


sintomas podem se tornar crônicos. Normalmente, os episódios são breves.

O tratamento se dá através de psicoterapia e, em casos mais agudo, do uso de


medicações para alívio sintomático da ansiedade, quando intensa, diminui o
sofrimento psíquico e pode ajudar o paciente a tolerar o quadro.

7.8. TRANSTORNOS ALIMENTARES:

Os Transtornos alimentares são definidos como desvio do comportamento


alimentar que podem levar ao emagrecimento extremo ou à obesidade, entre outros
problemas físicos e incapacidade.

Os transtornos alimentares são todos aqueles que se caracterizam por


apresentar alterações graves na conduta alimentar.

Os principais tipos de transtornos alimentares são a Anorexia nervosa e a


Bulimia nervosa.

Essas duas patologias são intimamente relacionadas por apresentarem alguns


sintomas em comum como a ideia prevalente envolvendo a preocupação excessiva
com o peso, uma representação alterada da forma corporal e um medo patológico de
engordar.

7.8.1 Anorexia Nervosa (F 50.0– CID 10):

A anorexia nervosa é um transtorno emocional que consiste numa perda de


peso derivada e num temor intenso da obesidade.

Anorexia é a redução ou perda do apetite, que resulta em uma extrema magreza


do indivíduo.

63
A anorexia é causada por distúrbios psicológicos em que a pessoa afetada,
mesmo sendo magra, se vê gorda, e desejando emagrecer cria inapetência alimentar,
resultando consequentemente em redução do peso corpóreo.

A Anorexia nervosa acomete preferencialmente mulheres jovens entre 14 e 18


anos.

Os sintomas mais frequentes são:

 Medo intenso de ganhar peso,

 Pouca ingestão de alimentos,

 Dietas severas com imagem corporal distorcida

 Sentimento de culpa e depreciação por ter comido.

 Hiperatividade e exercícios físicos excessivos.

7.8.2 Bulimia Nervosa (F 50.2 – CID 10):

A Bulimia nervosa é um transtorno mental que se caracteriza por episódios


repetidos de ingestão excessiva de alimentos num curto espaço de tempo, seguido por
preocupação exagerada sobre o controle do peso corporal, preocupação esta que leva
a pessoa a adotar condutas inadequadas e perigosas para sua saúde.

Os episódios de compulsão alimentar ocorrem em segredo, por isso raramente


são presenciados por outras pessoas.

Alguns destes episódios são previamente planejados, mas geralmente ocorrem


de forma impulsiva.

Bulimia é um transtorno alimentar que se caracteriza pela ingestão de uma


grande quantidade de alimentos, geralmente ricos em calorias, seguida por métodos
compensatórios.

Esses métodos compensatórios podem ser:

 Uso de laxantes ou diuréticos, a prática de exercícios físicos intensos ou a


indução do vômito;

 Vômitos auto induzidos representam o comportamento compensatório


mais comumente utilizado pelos pacientes que sofrem de bulimia;

 Os vômitos são provocados seguidamente aos episódios de compulsão.

64
 Alguns pacientes podem chegar a vomitar até 20 vezes por dia. Os
vômitos se tornam tão "comuns" que pacientes se tornam capazes de
vomitar quando querem.

 O ato de purgar reduz temporariamente o desconforto físico causado pela


sensação de "estufamento" gástrico, além de amenizar o medo de ganhar
peso pelas crises compulsões.

Os principais sintomas são:

 Comer compulsivamente e as escondidas.

 Condutas inapropriadas para compensar a ingestão compulsiva para não


ganhar peso

 Uso excessivo de fármacos, laxantes, diuréticos e vômitos auto-


provocados.

 Mudança do estado emocional, tais como depressão, tristeza,


sentimentos de culpa.

A BULIMIA E A ANOREXIA SÃO DIFERENTES, EM TERMOS ALIMENTARES.

Na bulimia ocorre a compulsão por alimentos seguida por métodos


compensatórios. Na anorexia a pessoa deixa de se alimentar, perdendo peso
rapidamente, chegando às vezes a um estado de desnutrição severa que pode levar à
morte. Todos estes transtornos alimentares compartilham alguns sintomas em comum,
tais como desejar uma imagem corporal perfeita e favorecer uma distorção da
realidade diante do espelho.

7.8.3 Comedores Compulsivos (F 50.8 – CID 10):

O paciente apresenta episódios de voracidade alimentar levando a ingerir


grande quantidade de alimentos em curto espaço de tempo.

No transtorno do comer compulsivo não há preocupação mórbida e irracional


com o peso e a forma do corpo e nem se utilizam de métodos purgativos depois, como
ocorre na Bulimia.

7.9. TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE:

Podemos definir personalidade como uma construção hipotética formada pelo


conjunto de características determinantes do modo de conduta de cada pessoa. Trata-
se, então, da forma característica de ser, de pensar e de se relacionar com o mundo e
com a própria existência e experiência de vida. Quando os traços de personalidade,
65
conjunto de padrões que são exibidos amplamente em contextos sociais e pessoais
importantes, são inflexíveis e mal adaptados, causam desconforto subjetivo
possibilitando o diagnóstico de transtorno de personalidade.

Os transtornos de personalidade são um grupo de doenças psiquiátricas em que


a pessoa tem um padrão de pensamento e comportamento bastante rígido e mal
ajustado. Sem tratamento, que envolve psicoterapia e medicamentos, o problema
costuma ter longa duração e causa sofrimento e dificuldade nos relacionamentos
pessoais e em outras áreas.

Os transtornos de personalidade são classificados em categorias que têm


características comuns.

7.9.1 Transtorno de personalidade paranoide – (F 60.0 – CID 10):

Pessoas com esse transtorno tendem a desconfiar dos outros e achar que vão
ser enganadas. Por causa disso, elas podem ser hostis ou emocionalmente
desapegadas.

7.9.2 Transtorno de personalidade esquizoide – (F 60.1 – CID 10):

Provoca falta de interesse em relações sociais. Quem tem o problema é


indiferente às interações sociais.

7.9.3 Transtorno de personalidade antissocial/ dissocial – (Psicopatia) (F 60.2 –


CID 10):

Quem tem o transtorno não reconhece os sentimentos e necessidades de


outros. Também pode repetidamente mentir, agredir, roubar e ter comportamentos
ilegais.
Este distúrbio é caracterizado por atos antissociais e criminosos, que ocorrem
devido à incapacidade de conformar-se e adaptar-se às regras sociais.
Neste grupo os pacientes apresentam um exterior normal, mas suas histórias
evidenciam funcionamentos vitais desordenados. Mentiras, fugas de casa, furtos,
brigas, abuso de drogas e outras atividades ilegais são características que, em geral,
se iniciam durante a infância e adolescência.
Podem mostrar-se exuberantes e sedutores para uns, e manipuladores e
exigentes para outros.
Não apresentam sintomas de ansiedade e depressão nem delírios, apesar de
ameaçar suicídio. Possuem boa inteligência verbal.
Outras características: convencem quando querem algo que lhe renda fama e
dinheiro; promiscuidade; abuso sexual (de crianças e dos próprios cônjuges), com
ausência de remorso de suas atitudes.

66
7.9.4 Transtorno de personalidade borderline – (F 60.3 – CID 10):

As características principais incluem o medo do abandono, relacionamentos


intensos e instáveis, explosões emocionais extremas, comportamento autodestrutivo e
sentimento crônico de vazio.
Esses pacientes situam-se no limite entre neurose e psicose, e caracterizam-se
por afeto, humor, comportamento, relações e autoimagem muito instáveis. Encontram-
se frequentemente em oscilações de humor.

7.9.5 Transtorno de personalidade histriônica – (F 60.4 – CID 10):

Pessoas com este transtorno são altamente emotivas e dramáticas, têm uma
necessidade excessiva de atenção e aprovação e podem usar a aparência física para
consegui-la.

7.9.6 Transtorno de personalidade esquiva – (F 60.6 – CID 10):

Pessoas que evitam a interação social e são extremamente sensíveis aos


julgamentos negativos dos outros; elas podem ser tímidas e isoladas socialmente e ter
sentimentos de inadequação.

7.9.7 Transtorno de personalidade dependente – (F 60.7 – CID 10):

Causa necessidade de ser cuidado e medo de estar sozinho, além de dificuldade


de separar-se de seus entes queridos ou tomar decisões por conta própria. Quem tem
o problema pode ser submisso e tolerar relações abusivas.

7.10. TRANSTORNOS DOS HÁBITOS E DOS IMPULSOS

São caracterizados por atos repetidos, sem motivação racional clara,


incontroláveis, e que vão em geral contra os interesses do próprio sujeito e aqueles de
outras pessoas. O sujeito indica que seu comportamento está associado a impulsos
para agir. A causa para estes transtornos não é conhecida.

7.10.1 Jogo Patológico – (F 63.0 – CID 10):

Transtorno que consiste em episódios repetidos e frequentes de jogo que


dominam a vida do sujeito em detrimento dos valores e dos compromissos sociais,
profissionais, materiais e familiares.

67
7.10.2 Roubo patológico [cleptomania] – (F 63.2 – CID 10):

Transtorno caracterizado pela impossibilidade repetida de resistir aos impulsos


de roubar objetos. Os objetos não são roubados por sua utilidade imediata ou seu valor
monetário; o sujeito pode, ao contrário, quer descartá-los, dá-los ou acumulá-los. Este
comportamento se acompanha habitualmente de um estado de tensão crescente antes
do ato e de um sentimento de satisfação durante e imediatamente após sua realização.

7.11. TRANSTORNOS DA SEXUALIDADE

Sexualidade interfere, de forma direta ou indireta, na vida humana desde a vida


intrauterina e acompanha todas as etapas de desenvolvimento, obedecendo a fatores
internos e externos (cultura).

Observa-se que a sexualidade pode funcionar como fonte de desenvolvimento


(equilíbrio) ou como fonte de problemas e/ou patologias.

Se classificam em: Disfunções sexuais, Disforias de gênero e Parafilias.

7.11.1 Disfunções sexuais: (F 52 – CID 10):

Refere-se à dificuldade sentida por uma pessoa ou casal durante qualquer


estágio da atividade sexual, incluindo desejo, excitação ou orgasmo (frigidez, da
impotência e da ejaculação precoce).

Distúrbios sexuais são usualmente diagnosticados quando são parte importante


das alterações da sexualidade de um indivíduo. Podem existir por toda a vida, ser
adquiridos devido a experiências de vida ou a patologias clínicas e/ou psiquiátricas.

Dificuldades de relacionamento podem levar ao aparecimento de patologias da


sexualidade humana e vice-versa. Essas dificuldades podem ou não desencadear
ansiedade na pessoa afetada, dependendo do quadro clínico e da visão que a pessoa
possui sobre a importância de sexo em sua vida. As alterações da função sexual
continuam sendo altamente prevalentes e causadoras de sofrimento. É comum que
estas alterações sejam escondidas com muito conflito pela pessoa acometida,
ocasionando solidão, ansiedade e sintomas de depressão.

7.11.2 Transtorno de identidade de gênero (F 64 – CID 10):

É um transtorno psicológico caracterizado pela disforia de gênero, desconforto


persistente com o sexo imposto no nascimento e por um sentimento de inadequação
no papel social deste gênero.

Frequentemente o tratamento inclui hormônios e cirurgia de resignação sexual.


O objetivo do tratamento endócrino, psicológico e cirúrgico está em levar o individuo a

68
se sentir mais confortável com sua identidade de gênero, aumentar seu bem-estar
psicológico e atingir auto realização.

7.11.3 Transtornos da preferência sexual (Parafilias) - (F 65 – CID 10):

Parafilias: ―para‖ = paralelo

―filia‖ = amor, apego

São impulsos sexuais muito intensos e recorrentes por fantasias e/ou


comportamentos não convencionais; é quando há necessidade de se substituir a
atitude sexual convencional por qualquer outro tipo de expressão sexual (sendo a única
maneira da pessoa ficar excitada); é uma compulsão que impede outras alternativas
sexuais.

 Sadismo - (F 65. 5 – CID 10):

Excitação sexual com o sofrimento do outro; geralmente ocorre nos primeiros


anos da vida adulta e é crônico.

 Masoquismo - (F 65. 5 – CID 10):

Ato de ser humilhado, espancado, submetido ao sofrimento; alguns fantasiam


que estão sendo estuprados, presos, etc., outros agem por conta própria
picando-se com alfinetes, automutilando-se, etc; geralmente é crônico.

 Exibicionismo - (F 65.2 – CID 10):

Exposição dos próprios genitais a um estranho (às vezes se masturba ou


enquanto fantasia, se expõe); geralmente ocorre antes dos 18 anos; torna-se
menos severa após os 40 anos.

 Voyeurismo - (F 65.3 – CID 10):

Observar indivíduos (geralmente estranhos, sem suspeitar que estão sendo


observados) que estão nus, a se despirem ou em atividade sexual; através da
observação se tem a excitação sexual; geralmente não é tentada nenhuma
atividade sexual com a pessoa observada; frequentemente fantasiam uma
experiência sexual com a pessoa observada; geralmente ocorre antes dos 15
anos e tende a ser crônico.

 Fetichismo (F 65.0 – CID 10):

Uso de objetos inanimados (ex: calcinhas, soutiens, meias, sapatos, botas, etc.);
geralmente se masturba enquanto segura, esfrega ou cheira o objeto ou pode
pedir ao parceiro que use; caso não haja o objeto, pode haver também a
disfunção erétil; tende a ser crônico e geralmente inicia-se na adolescência.

 Pedofilia - (F 65.4 – CID 10):


69
Atividade sexual com crianças ou pré-púbere (13 anos ou menos); o pedófilo
deve ter 16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a vítima; alguns
preferem meninos, outros meninas; outros preferem os dois; com meninas a frequência
é maior; alguns pedófilos ameaçam a vítima; geralmente começa na adolescência
(existem algumas exceções); tende a ser crônico.

 Frotteurismo - (F 65.81 – CID 10):

Tocar ou esfregar-se em uma pessoa sem seu consentimento; geralmente


ocorre em locais com muitas pessoas.

 Parafilia sem outra especificação - (F 65.8 e F 65.9 – CID 10):

Escatologia telefônica (telefonemas obscenos); necrofilia (cadáveres);


parcialismo (foco exclusivo em uma parte do corpo); zoofilia (animais); cropofilia
(fezes); urofilia (urina), etc.

7.12. TRANSTORNOS COMUNS NA INFÂNCIA:

7.12.1 Autismo (F 84 – CID 10):

O autismo, também chamado de Transtorno do Espectro Autista, é um


Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) que tem influência genética e é causado
por defeitos em partes do cérebro, relacionado às habilidades sociais e de
comunicação.

As causas do Autismo:

A maior parte da pesquisa atual busca identificar a contribuição dos fatores


genéticos e ambientais para o autismo. Muito embora alguns fatores genéticos tenham
sido identificados, sabemos pouco ainda.

A exposição a agentes ambientais, tais como os agentes infecciosos (rubéola da


mãe, ou o citomegalovírus), ou a agentes químicos (talidomida ou valproato) durante a
gravidez podem causar o autismo.

Aproximadamente, de 10 a 15% dos casos possuem uma causa genética


específica, do tipo Síndrome do X-Frágil (dosagem cromossômica).

O Autismo é marcado por três características fundamentais:

 Inabilidade para interagir socialmente;

 Dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos


simbólicos;

 Padrão de comportamento restritivo e repetitivo.

70
Caracteriza-se por dificuldades significativas na comunicação e na interação social,
além de alterações de comportamento, expressas principalmente na repetição de
movimentos, como balançar o corpo, rodar uma caneta, apegar-se a objetos. Todas
essas alterações costumam aparecer antes mesmo dos 3 anos de idade, em sua
maioria, em crianças do sexo masculino.

Para o autista, o relacionamento com outras pessoas costuma não despertar


interesse. O contato visual com o outro é ausente ou pouco frequente e a fala, usada
com dificuldade. Algumas frases podem ser constantemente repetidas e a
comunicação acaba se dando, principalmente, por gestos.

Sinais e Sintomas do Autismo:

Segundo a ASA (Autism Society of America), indivíduos com autismo


usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:

 Dificuldade de relacionamento com outras pessoas

 Riso inapropriado

 Pouco ou nenhum contato visual - não olha nos olhos

 Aparente insensibilidade à dor - não responde adequadamente a uma situação


de dor

 Preferência pela solidão; modos arredios - busca o isolamento e não procura


outras crianças.

 Rotação de objetos - brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais


variados objetos

 Inapropriada fixação em objetos

 Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade - muitos têm problemas de


sono ou excesso de passividade

 Ausência de resposta aos métodos normais de ensino - muitos precisam de


material adaptado

 Insistência em repetição desnecessária de assuntos, resistência à mudança de


rotina.

 Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)

 Procedimento com poses bizarras (colocar-se de pé numa perna só; impedir a


passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada
maneira os alisares)

 Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)


71
 Recusa colo ou afagos - bebês preferem ficar no chão que no colo

 Age como se estivesse surdo - não responde pelo nome

 Dificuldade em expressar necessidades - sem ou limitada linguagem oral e/ou


corporal (gestos)

 Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente

 Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode
arrumar blocos

 Desorganização sensorial - hipo ou hipersensibilidade, por exemplo, auditiva.

 Não faz referência social - entra num lugar desconhecido sem antes olhar para o
adulto (pai/mãe) para fazer referência antes e saber se é seguro.

Na adolescência e vida adulta, as manifestações do autismo dependem de como


as pessoas conseguiram aprender as regras sociais e desenvolver comportamentos
que favoreceram sua adaptação e autossuficiência.

O tratamento para o autismo normalmente é um programa intenso e abrangente


que envolve a família da criança e um grupo de profissionais.

De um modo geral o tratamento tem 4 objetivos:

 Estimular o desenvolvimento social e comunicativo;

 Aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas;

 Diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com o acesso às


oportunidades de experiências do cotidiano; e

 Ajudar as famílias a lidarem com o autismo.

O autismo é fundamentalmente uma forma particular de se situar no mundo e,


portanto, de se construir uma realidade para si mesmo.

7.12.2 Retardo Mental / Deficiência Mental / Deficiência Intelectual (F 70, F 71, F


72, F 73 – CID 10):

A deficiência mental é uma condição na qual as pessoas têm inteligência abaixo


da média, que limita a sua capacidade de funcionar normalmente. A condição, que está
presente desde o nascimento ou na infância, tem muitas causas diferentes. Seus
efeitos variam entre leve, moderada, grave e profunda.

Também pode ser definida como uma condição onde houve interrupção do
desenvolvimento mental, prejudicando o nível global de inteligência, as aptidões de
aprendizado, de fala, de habilidades motoras e sociais.

72
Normalmente é definido por três condições:

 Restrições significativas em duas ou mais áreas de habilidades


adaptativas. (comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades
sociais, relacionamento interpessoal, autossuficiência, habilidades
acadêmicas e para o trabalho, lazer, saúde, segurança, relação
comunitária);

 Um QI de 70 ou menos;

 Manifestar-se antes dos 18 anos.

Quando falamos em sintomas, estes podem variar de pessoa para pessoa. Na


maioria dos casos os indivíduos são atingidos de maneira leve pelos sintomas que
torna as pessoas somente um pouco mais lentas com relação às outras quando se
trata de adquirir novas habilidades e informações.

Existem vários graus que pode ser auferido através de teste de quociente de
inteligência (QI):

 Deficiência Intelectual leve ou branda - crianças com QI entre 50-69.

 Deficiência Intelectual Moderada (ou treinável) - crianças com QI entre 35-49.

 Deficiência Intelectual Severa - QI entre 20 e 40

 Deficiência Intelectual Profunda - QI inferior a 20

Causas:

 Condições genéticas

Resultam de anormalidades nos genes herdadas dos pais, devidas a erros de


combinação genética ou de outros distúrbios dos genes ocorridos durante a gestação.
Centenas de distúrbios genéticos associam-se a deficiência mental. Alguns exemplos
são a fenilcetonúria, a Síndrome de Down e a Síndrome do X frágil.

 Problemas durante a gestação

O uso de álcool ou outras drogas durante a gestação pode levar a deficiência


mental. Alguns trabalhos têm relacionado o fumo na gestação com um risco maior de
deficiência mental na criança. Outros problemas incluem a desnutrição, toxoplasmose,
infecção por citomegalovírus, rubéola e sífilis. Gestantes infectadas pelo vírus HIV
(AIDS) podem passar o vírus para a criança levando a dano neurológico futuro.

 Problemas ao nascimento

73
Qualquer condição de estresse aumentado durante o parto pode levar a lesão
cerebral do bebê; contudo, a prematuridade e o baixo peso ao nascer são fatores de
risco independentes mais frequentes que qualquer outra condição.

 Problemas após o nascimento

Doenças da infância como catapora, sarampo, coqueluche e a infecção pelo


Haemophilus tipo B, que podem levar a meningite e encefalite, também podem causar
danos ao cérebro. Acidentes, intoxicações por chumbo, mercúrio e outros agentes
tóxicos também podem causar danos irreparáveis ao cérebro e sistema nervoso.

 Estado socioeconômico

A desnutrição também pode levar a deficiência mental.

Alguns estudos também sugerem que a pouca estimulação, que ocorre em


áreas muito desprovidas das experiências culturais e ambientais normalmente
oferecidas às crianças, pode surgir como causa.

A expectativa pode ser mais curta, e parece que quanto mais grave, menor a
expectativa de vida.

7.12.3 Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ( F 90 – CID 10):

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um problema de


desatenção, hiperatividade, impulsividade ou uma combinação destes. Para que esses
problemas recebam um diagnóstico de TDAH, eles devem se apresentar fora de um
limite normal para a idade e o desenvolvimento da criança.

O TDAH é o transtorno comportamental infantil mais frequentemente


diagnosticado. Ele afeta aproximadamente de 3 a 5% de crianças em idade escolar. O
TDAH é diagnosticado muito mais frequentemente em meninos do que em meninas.

O TDAH pode ser herdado geneticamente, mas sua causa não é clara.
Independentemente da causa, ele parece se estabelecer cedo na vida da criança,
enquanto o cérebro está se desenvolvendo. Estudos de imagem sugerem que o
cérebro de uma criança com TDAH é diferente do de uma criança normal.

Os sintomas de hiperatividade infantil são:

 Inquietude: a criança não para quieta, mesmo quando é necessário,

 Falta de atenção: a criança não presta atenção suficiente e algo, esquece-se o


que tem para fazer,

 É impulsivo: a criança age antes de pensar, responde antes que se termine a


pergunta,

74
 Falta de persistência: não termina tarefas e evita as que necessitam de algum
esforço,

 Falta de concentração: é desorganizada e não segue as instruções dadas pelos


adultos,

 Aborrece-se facilmente e por isso, tem baixa autoestima,

 Finge-se de surda para não atender aos pedidos.

Muitos pais e profissionais da saúde e da educação têm dificuldades em


diagnosticar a hiperatividade, pois ficam na dúvida, se o que falta à criança é limites. O
diagnóstico é baseado em sintomas muito específicos, que devem estar presentes em
mais de um ambiente. As crianças devem apresentar pelo menos seis sintomas de
desatenção ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade antes dos 7anos. Os
sintomas devem estar presentes pelo menos há seis meses, ocorridos em dois ou mais
ambientes e não serem provocados por outro motivo. Os sintomas devem ser graves o
suficiente para resultar em dificuldades significativas em muitos ambientes, inclusive
em casa, na escola e no relacionamento com os demais.

Se houver suspeita de TDAH, a criança deve passar por uma avaliação médica.
A avaliação pode consistir em:

 Questionários para pais e professores;

 Avaliação psicológica da criança E da família, incluindo testes de QI e


psicológicos; Exames completos mentais, nutricionais, físicos, psicossociais e de
desenvolvimento.

O TDAH é uma doença crônica de longa duração. O tratamento para TDAH é


uma parceria entre médico, pais ou responsáveis e a criança. Pode se utilizar
medicação e terapia comportamental.

Se não tratado adequadamente, o TDAH pode provocar:

 Abuso de álcool e de drogas

 Fracasso escolar

 Problemas para manter o emprego

 Problemas com a lei

Cerca de metade das crianças com TDAH seguirão tendo sintomas


problemáticos de desatenção ou impulsividade na idade adulta. Entretanto, os adultos
costumam ser mais capazes de controlar o comportamento e mascarar as dificuldades.

_____________________________________________________________________

75
8. ALCOOLISMO E DROGAS

Drogas:

Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no


organismo que modifica suas funções. As drogas naturais são obtidas através de
determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Exemplo a cafeína (do café), a
nicotina (presente no tabaco), o ópio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da
maconha). As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso
técnicas especiais.

O termo droga presta-se a várias interpretações, mas comumente suscita a ideia


de uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando lhe as
funções, as sensações, o humor e o comportamento. Na verdade o termo droga
envolve também medicamentos como os analgésicos, estimulantes, alucinógenos,
tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As psicotrópicas
são as drogas que tem tropismo e afetam o Sistema Nervoso Central, modificando as
atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas de várias
formas: por injeção, por inalação, via oral, injeção intravenosa ou aplicada via retal
(supositório). As drogas estão classificadas em três categorias: as estimulantes, os
depressores e os perturbadores das atividades mentais.

O fenômeno da Dependência

O comportamento de busca e repetição do uso de drogas obedece a dois


mecanismos básicos não patológicos: o reforço positivo e o reforço negativo. O reforço
positivo refere-se ao comportamento de busca do prazer: quando algo é agradável à
pessoa busca os mesmos estímulos para obter a mesma satisfação. O reforço negativo
refere-se ao comportamento de evitação de dor ou desprazer. Quando algo é
desagradável à pessoa procura os mesmos meios para evitar a dor ou desprazer,
causados numa dada circunstância. A fixação de uma pessoa no comportamento de
busca do álcool e/ ou outras drogas obedece a esses dois mecanismos acima
apresentados. No começo a busca é pelo prazer que a droga proporciona. Depois de
um período, quando a pessoa não alcança mais o prazer anteriormente obtido, não
consegue mais parar porque sempre que isso é tentado surgem os sintomas
desagradáveis da síndrome de abstinência, e para evitá-los a pessoa mantém o uso da
droga. O reforço positiva e negativo são mecanismos ou recursos normais que
permitem às pessoas se adaptarem ao seu ambiente.

Tolerância

A tolerância é a necessidade de doses maiores de uma droga para a manutenção


do efeito obtido no início com doses menores. Se no começo uma dose de uísque era
suficiente para uma leve sensação de tranquilidade, depois de duas semanas (por
exemplo) são necessárias duas doses para o mesmo efeito. Nessa situação se diz que

76
o indivíduo está desenvolvendo tolerância ao álcool. O mesmo ocorre com outras
drogas que causam dependência.

Os primeiros indícios de tolerância não significam, necessariamente, dependência,


mas é o sinal claro de que a dependência não está longe. A dependência é simultânea
à tolerância. A dependência será tanto mais intensa quanto mais intenso for o grau de
tolerância.

Abstinência

A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas


observado nas pessoas que interrompem o uso de droga/álcool após longo e intenso
uso. As formas mais leves de abstinência se apresentam com tremores, aumento da
sudorese, aceleração do pulso, insônia, náuseas e vômitos, ansiedade depois de 6 a
48 horas desde o último consumo. A síndrome de abstinência leve não precisa
necessariamente surgir com todos esses sintomas, na maioria das vezes, inclusive,
limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade.

A síndrome de abstinência torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium


tremens. Nesse estado o paciente apresenta confusão mental, alucinações,
convulsões. Geralmente começa dentro de 48 a 96 horas a partir da ultima dose de
bebida ou droga. Para se fazer o diagnóstico de abstinência, é necessário que o
paciente tenha pelo menos diminuído o volume de ingestão da substância, ou seja,
mesmo não interrompendo completamente é possível surgir a abstinência. Alguns
pesquisadores afirmam que as abstinências tornam-se mais graves na medida em que
se repetem, ou seja, um dependente que esteja passando pela quinta ou sexta
abstinência estará sofrendo os sintomas mencionados com mais intensidade, até que
surja um quadro convulsivo ou de delirium tremens. As primeiras abstinências são
menos intensas e perigosas.

Delirium Tremens

O Delirium Tremens é uma forma mais intensa e complicada da abstinência.


Delirium é um diagnóstico inespecífico em psiquiatria que designa estado de confusão
mental: a pessoa não sabe onde está, em que dia está, não consegue prestar atenção
em nada, tem um comportamento desorganizado, sua fala é desorganizada ou
ininteligível, a noite pode ficar mais agitado do que de dia. A abstinência e várias outras
condições médicas não relacionadas ao alcoolismo ou uso de drogas podem causar
esse problema. Como dentro do estado de delirium da abstinência alcoólica são
comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium
Tremens.

Um traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as


alucinações táteis e visuais em que o paciente "vê" insetos ou animais asquerosos
próximos ou pelo seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um
estado de agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. Pode

77
ocorrer também uma forma de alucinação induzida, por exemplo, o entrevistador
pergunta ao paciente se está vendo as formigas andando em cima da mesa sem que
nada exista e o paciente passa a ver os insetos sugeridos.

O Delirium Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos


dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida ao
desequilíbrio hidroeletrolítico do corpo.

Síndrome de Dependência

É um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual


o uso de uma substância ou uma classe de substâncias alcança uma prioridade muito
maior para um determinado indivíduo, do que outros comportamentos que antes tinham
mais valor.

Uma característica central da síndrome da dependência é o desejo


(frequentemente forte e algumas vezes irresistível) de consumir drogas psicoativas as
quais podem ou não terem sido prescritas por médicos.

Dependência Física

Consiste na necessidade sempre presente, a nível fisiológico, o que torna


impossível a suspensão brusca das drogas. Essa suspensão acarretaria a chamada
crise da "abstinência". A dependência física é o resultado da adaptação do organismo,
independente da vontade do indivíduo. A dependência física e a tolerância podem
manifestarem-se isoladamente ou associadas, somando-se à dependência psicológica.
A suspensão da droga provoca múltiplas alterações somáticas, causando a dramática
situação do "delirium tremens".

Isto significa que o corpo não suporta a síndrome da abstinência entrando em


estado de pânico. Sob os efeitos físicos da droga, o organismo não tem um bom
desenvolvimento.

Dependência Psicológica

Em estado de dependência psicológica, o indivíduo sente um impulso irrefreável,


tem que fazer uso das drogas a fim de evitar o mal-estar. A dependência psicológica se
caracteriza pela relação entre a pessoa e o objeto de seu vício. Caso abstenha-se do
uso daquela atividade, ela passará por stress e mal-estar, então sente que deve utilizar
a substância. São frequentemente presentes nas drogas que causam dependência
psicológica efeitos como o relaxamento, alegria, euforia e sensação de poder e
percepção maiores. A dependência psicológica indica a existência de alterações
psíquicas que favorece a aquisição do hábito.

Em estado de dependência psíquica, o desejo de tomar outra dose ou de se


aplicar, transforma-se em necessidade, que se não satisfeita leva o indivíduo a um
profundo estado de angústia, (estado depressivo). Esse fenômeno não deverá ser

78
atribuído apenas as drogas que causam dependência psicológica. O estado de
angústia, por falta ou privação da droga é comum em quase todos os dependentes e
viciados.

Requisitos Básicos da Dependência

1) Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;

2) Dificuldade no controle de consumir a substância em termos do seu início,


término ou níveis de consumo;

3) Estado de abstinência fisiológica quando o uso cessou ou foi reduzido


(sintomas de abstinência ou uso da substância para aliviá-los);

4) Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância


psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos
por doses mais baixas;

5) Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do


uso da substância psicoativa, aumento do tempo necessário para obter ou
tomar a substância psicoativa ou para se recuperar dos seus efeitos;

6) Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de


consequências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por
excesso de álcool, depressão consequente a período de consumo
excessivo da substância ou comprometimento cognitivo relacionado à
droga.

Overdose

Sobre dose, superdose, dose excessiva ou overdose são termos utilizados


cientificamente para se denominar a exposição do organismo a grandes doses de uma
substância química, seja ela um medicamento, uma droga ou outros.

Popularmente, refere-se à exposição a doses excessivas de uma droga, ocorrendo


ou não a intoxicação, isto é, havendo ou não sinais e sintomas clínicos que debilitam o
organismo, provocando a falência de órgãos vitais como coração e pulmões, sendo
uma das suas principais causas de morte entre dependentes químicos.

Os efeitos variam de indivíduo para indivíduo devido a vários fatores, tais como:

 Tipo de droga ingerida;

 Quantidade;

 Vias de administração;

 Procedência da droga;

79
 Constituição física e psicológica do usuário

 Circunstâncias em que ocorre a overdose

Sintomas comuns são problemas respiratórios e perda de consciência. Muitas


mortes por sobre dose poderiam ser evitadas, se o indivíduo em crise por sobre dose
recebesse socorro especial imediato. Devemos ressaltar que os amigos ou a(s)
pessoa(s) que o socorrem terão o direito ao anonimato, não correndo o risco de serem
delatados.

8.1 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool – (F 10 CID


10)

O uso, abuso e dependência de álcool são os distúrbios mais comuns relacionados


às drogas. As pessoas que sofrem deste distúrbio são chamadas alcoólatras ou
alcoolistas. O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo
excessivo e prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e
regular de bebidas alcoólicas, e todas as consequências decorrentes.

A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos


pacientes quanto a sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais é
mais difícil fazer o diagnóstico, pois os limites entre o uso "social" e a dependência nem
sempre são claros. Quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se
tratar é porque já se passou muito tempo, e diversos prejuízos foram sofridos. É mais
difícil de reverter o processo.

Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma


social, e os usuários tendem a evitar esse estigma. Esta defesa natural para a
preservação da autoestima acaba trazendo atrasos na intervenção terapêutica. Para se
iniciar um tratamento para o alcoolismo é necessário que o paciente preserve em níveis
elevados sua autoestima sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra, fato muito
difícil de conseguir na prática.

É muito mais comum do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros


problemas psiquiátricos prévios ou mesmo precipitante. Os transtornos de ansiedade,
depressão e insônia podem levar ao alcoolismo.

Dependência ao Álcool

Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário


venha tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e
preencher pelo menos três dos seguintes critérios:

1) Apresentar tolerância ao álcool -- marcante aumento da quantidade ingerida


para produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos

80
sintomas de embriaguez ou outros resultantes do consumo de álcool apesar da
continua ingestão de álcool.

2) Sinais de abstinência -- após a interrupção do consumo de álcool a pessoa


passa a apresentar os seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do
pulso (acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação
psicomotora, ansiedade, convulsões, alucinações táteis. A reversão desses
sinais com a reintrodução do álcool comprova a abstinência. Apesar do álcool
"tratar" a abstinência o tratamento de fato é feito com diazepam ou
clordiazepóxido dentre outras medicações.

3) O dependente de álcool geralmente bebe mais do que planejava beber.

4) Persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper o uso.

5) Emprego de muito tempo para obtenção de bebida ou recuperando-se do efeito.

6) Persistência na bebida apesar dos problemas e prejuízos gerados como perda


do emprego e das relações familiares.

8.2 Drogas

8.2.1 Cannabis sativa (F 12 CID 10)

A planta Cannabis sativa, quando devidamente cortada, seca, picada e enrolada,


forma o ―baseado‖, como é conhecido o cigarro de maconha, erva, marijuana, como é
mais comumente conhecida; alterando a percepção sensorial.

Os efeitos desta droga são euforia, sensação de lentificação do tempo, distúrbio


de coordenação motora, retraimento social, dilatação dos vasos sanguíneos das
conjuntivas (olhos vermelhos), taquicardia, aumento do apetite (larica), boca seca,
vontade de rir, sono e comprometimento da memória recente.

Os usuários pesados da maconha estão em risco de doença respiratória crônica


e câncer de pulmão.

A maconha causa dependência psicológica em longo prazo.

A intoxicação por Cannabis aumenta a sensibilidade aos estímulos externos, as


cores ficam mais intensas e há lentificação subjetiva do tempo. Em doses elevadas,
conduz à despersonalização e desrealização. Por 8 a 12 horas após o uso da droga o
usuário apresenta comprometimento das habilidades motoras que interfere em
atividades como conduzir um veículo, por exemplo.

O delirium por intoxicação é caracterizado por um acentuado comprometimento


na cognição e nas tarefas de desempenho.

Em casos de gestação, a droga atravessa a barreira placentária e aumento o


risco de baixo peso ao nascer e menor circunferência cefálica.
81
A abstinência pode ser obtida por meio de intervenção direta, como a
hospitalização ou monitoramento constante e atento em ambulatórios variando de três
dias a quatro semanas após o uso da droga.

A farmacoterapia indicada está baseada em ansiolíticos, para diminuir a


ansiedade, e antidepressivos, se necessário.

8.2.2 Cocaína (F 14 CID 10)

A cocaína é uma das drogas mais aditivas, abusadas, perigosas e causadoras


de vício. É extraída da folha seca de coca (Erythroxylon coca), transformada em pó.

É um alcaloide (C17H21NO4) que causa estimulação do sistema nervoso central


(SNC).

É também conhecida como neve, branquinha, coca. O crack é a forma mais


potente de cocaína. Usuários de crack recorrem a comportamentos extremos para
obterem a droga.

A dependência e o abuso de cocaína podem ser suspeitados quando há


alterações inexplicáveis na personalidade da pessoa usuária. As alterações comuns ao
uso da droga são: irritabilidade, dificuldade de concentração, compulsividade, insônia
severa e perda de peso. Os usuários ausentam-se de suas atividades num período de
30 minutos à uma hora para inalarem a droga. Por causar vasoconstrição, os usuários
geralmente apresentam congestão nasal, para a qual utilizam sprays
descongestionantes.

A intoxicação é caracterizada por alterações comportamentais e psicológicas,


tais como euforia ou embotamento afetivo, ansiedade, tensão, raiva, distúrbio do juízo
crítico, dentre outros, observados durante ou logo após o uso da droga. Em paralelo a
estes sintomas, dois ou mais sintomas, quais sejam: taquicardia ou bradicardia,
midríase, aumento da pressão arterial, confusão, convulsão, dentre outros.

A abstinência é caracterizada por disforia, anedonia, fadiga, hipersonolência e,


às vezes, agitação. Pode ocorrer ideação suicida. No uso moderado ou leve os
sintomas de abstinência cessam em 18 horas; no uso pesado podem durar até duas
semanas, atingindo pico em dois a quatorze dias. As pessoas em abstinência buscam
os efeitos em outras drogas como álcool, sedativos, ansiolíticos.

O maior obstáculo para ser superado com o usuário de cocaína é a intensa


avidez (desejo ardente) pela droga.

A farmacoterapia normalmente usada é com ansiolíticos. A carbamazepina


também tem sido utilizada na desintoxicação do usuário.

82
8.2.3 Alucinógenos (F 16 CID 10)

As substâncias alucinógenas, também conhecidas como psicodélicas ou


psicotomiméticos, induzem à alucinação, causando a perda do contato com a
realidade, expansão e elevação da consciência.

Os alucinógenos podem ser de duas origens: naturais ou sintéticos. Alguns


exemplos de alucinógenos encontrados na natureza são: psilocibina (alguns
cogumelos), mescalina (cacto peiote) e harmina. Na classe dos sintéticos o clássico é o
dietilamina do ácido lisérgico, mais conhecido por LSD, sintetizado em 1938.

A dependência e o abuso de alucinógeno existem embora o uso prolongado


desta substância não seja comum.

A intoxicação por esta droga é caracterizada por alterações de comportamento


(ansiedade e depressão acentuada, medo de perder o juízo, ideação paranoide,
comprometimento no julgamento), de percepção (intensificação subjetiva das
percepções, despersonalização, ilusões, desrealização) e também por alguns sinais
fisiológicos (midríase, taquicardia, sudorese, tremores, visão turva, palpitações).

8.2.4 Nicotina (F 17 CID 10)

A nicotina é um alcaloide básico, de coloração amarela e cheiro desagradável.


A forma mais comum da nicotina é o tabaco fumado em cigarros, cachimbos e
charutos. Estudos têm mostrado que a nicotina é tão aditiva quanto à cocaína. O
sistema dopaminérgico afetado pelo uso da nicotina é o mesmo afetado pela cocaína.

A dependência de nicotina desenvolve-se rapidamente e é aumentada por fortes


fatores sociais como o incentivo de fumar em determinadas situações.

A abstinência é caracterizada pela cessação abrupta do uso de nicotina ou


redução considerável, dentro de 24 horas por, no mínimo, quatro dias apresentando os
seguintes sinais: humor deprimido, insônia, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de
concentração, inquietação, bradicardia, aumento do apetite. Estes sinais afetam
consideravelmente o usuário de nicotina em sua vida cotidiana. Os sintomas da
abstinência podem desenvolver-se em duas horas após o último cigarro, alcançando
um pico em 24 – 48 horas, tendo duração de semanas e até meses.

A avidez pelo uso de nicotina é muito forte, o que dificulta quando o usuário
deseja parar de fumar.

Muitos psicofármacos têm sido utilizados na farmacoterapia nos casos de uso de


nicotina. Gomas de mascar com nicotina como a lobelina, clonidina e antidepressivos
têm sido utilizadas para auxiliar no tratamento do uso de nicotina. A administração
transdérmica de nicotina (adesivos de nicotina) também tem sido muito utilizada.

83
8.2.5 Opiaceos (F 11 CID 10)

Opioide e opiáceo são palavras originadas de ―ópio‖, que é o suco da papoula


Papaver somniferum (contém morfina dentre os 20 alcaloides que possui). Opioide é
um narcótico sintético que se assemelha a um opiáceo em sua ação. A DSM-IV utiliza
a nomenclatura opioide para abranger ambas as classes (opioide e opiáceo).

Os opiáceos sintetizados a partir de opiáceos naturais mais comuns são a


heroína (diacetilmorfina) e a codeína (3-metoximorfina).

Os opiáceos e opioides podem ser consumidos oralmente, inalados ou injetados


(intravenoso ou subcutâneo). Os sintomas ao uso incluem sensação de calor, peso
nas extremidades, boca seca, coceira no rosto e, em particular, no nariz, e rubor facial.

A intoxicação é caracterizada por alterações comportamentais e psicológicas


(euforia seguida por apatia, disforia, agitação ou retardo psicomotor, julgamento
comprometido) e alguns sintomas fisiológicos, a saber: miose, fala arrastada,
sonolência, comprometimento na atenção e/ ou memória, e torpor ou coma.

A abstinência caracteriza-se por cessação ou redução de uso pesado e


prolongado, administração de algum antagonista de opioides após um período de uso
de opioide, presença de três ou mais dos seguintes sintomas: humor disfórico, dores
musculares, lacrimejamento, midríase, sudorese, insônia, entre outros.

A farmacoterapia inclui o uso de substitutos para os opioides, que suprimem os


sintomas da abstinência. Exemplos: a metadona, levo-a-acetilmetadol (LAMM),
buprenorfina. Também são utilizados os antagonistas de opiáceos, que bloqueiam os
efeitos destes, tais como a naloxona e naltrexona.

8.2.6 Heroína (F 19 CID 10)

A heroína induz analgesia, sonolência e alterações do humor. É o opiáceo mais


utilizado por dependentes de opioides.

A síndrome de abstinência de heroína inicia de seis a oito horas depois da última


dose, após um período de uma a duas semanas de uso contínuo.

A síndrome de abstinência atinge seu ponto máximo no segundo ou terceiro dia


e reduz em sete a 10 dias. Mas alguns sintomas podem perdurar até seis meses ou
mais.

8.2.7 Sedativos, Ansiolíticos e Hipnóticos (F 13 CID 10)

Os sedativos são drogas que reduzem a tensão subjetiva e induzem à


tranquilidade mental. E os ansiolíticos atuam reduzindo a ansiedade. Os hipnóticos
são utilizados na indução do sono.

84
Em doses elevadas, sedativos e ansiolíticos induzem ao sono, como os
hipnóticos. Da mesma forma, os hipnóticos em doses baixas conduzem à sedação
diurna, mecanismo de atuação dos sedativos e ansiolíticos.

Essas drogas estão disponíveis em via oral e intravenosa (injetável).

As drogas relacionadas a esses grupos de medicação são os benzodiazepínicos


e os barbitúricos. Além das indicações psiquiátricas estes medicamentos podem ser
utilizados como antiepilético, relaxante muscular, anestésico.

• Benzodiazepínicos

Exemplos de benzodiazepínicos (BDZ) são o diazepam, flurazepam, oxazepam


e clordiazepóxido. Os BDZ são utilizados primariamente como ansiolíticos, hipnóticos,
antiepiléticos, anestésicos e para a abstinência do álcool.

• Barbitúricos

Os barbitúricos são drogas mais antigas do que os BDZ. Atualmente, essas


drogas são encontradas e comercializadas por traficantes. Os exemplos delas são o
secobarbital (vermelhinho, demônio vermelho), pentobarbital (jaquetas amarelas,
amarelos) e uma combinação de secobarbital e amobarbital (arco-íris). Todas as três
substâncias supracitadas estão sob a mesma forma de controle legal que a morfina.

A intoxicação por essas três drogas é caracterizada por alterações


comportamentais e/ ou psicológicas, tais como comportamento sexual ou agressivo
inadequados, instabilidade de humor, julgamento comprometido. Também é
acompanhada de pelo menos um sinal físico, quais sejam: fala arrastada,
incoordenação, marcha instável, comprometimento da atenção e/ ou da memória,
estupor ou coma.

A sintomatologia da síndrome de abstinência de sedativos, ansiolíticos e


hipnóticos inclui o tremor aumentado das mãos; insônia; alucinações ou ilusões visuais,
táteis ou aditivas transitórias; agitação psicomotora; ansiedade; convulsões.

A gravidade da síndrome de abstinência associada aos BDZ depende da


dosagem e da duração do uso. O início dos sintomas ocorre dois a três dias após a
cessação do uso, mas com drogas de longa ação, como o diazepam, o tempo de
latência antes do início dos sintomas pode ser de seis dias. Os sintomas
apresentados são: ansiedade, disforia, fotossensibilidade, sudorese, contrações
musculares. O tratamento da abstinência consiste em redução gradativa da dosagem,
podendo utilizar a carbamazepina.

A sintomatologia da síndrome de abstinência de barbitúricos vai de sintomas


leves, ansiedade, fraqueza, sudorese, até sintomas severos como convulsões, delirium
e morte. Os sintomas aparecem nos três primeiros dias de abstinência e as convulsões
ocorrem no segundo/terceiro dias quando os sintomas estão piores. Uma opção de

85
tratamento da abstinência é substituir os barbitúricos de longa duração pelo
fenobarbital, que não produz sintomas tóxicos.

Tratamento:

Tem como objetivo proporcionar a completa abstinência do uso de drogas. Quando


se trata de vício em substâncias que causam dependência física, a retirada é efetuada
paulatinamente e/ou por substituição.

Em 2004 foi publicado pelo Ministério da Saúde A Política do Ministério da Saúde


para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Nesta publicação o
Ministério comprometeu-se com a prevenção, tratamento e reabilitação de usuários de
álcool e outras drogas, bem como com a formulação, execução e avaliação de uma
política pública de atenção a esta clientela, tendo como um dos objetivos atingirem a
abstinência destes usuários. O objetivo maior desta política é criar novas condições e
novos caminhos para serem trilhados por estes usuários.

No assunto em pauta é comum trabalhar-se com a redução de danos. A redução


de danos é um dos possíveis métodos para tratamento de dependência química, não
sendo o único. Mas é uma prática que gera bons resultados, porque aumenta o grau
de liberdade e a corresponsabilidade do usuário, e também estabelece vínculos fortes
entre usuário e equipe de profissionais, que também são corresponsáveis por este
usuário. É construída uma rede de vínculos sociais para fortalecerem o usuário na sua
decisão. Também são fornecidas informações sobre os danos que as drogas causam
na vida da pessoa, alternativas de lazer e atividades livres de drogas, buscam (ré)
construir e manter a rede social de suporte do usuário, dentre outros. E há a
distribuição de material como seringas descartáveis e preservativos masculinos como
forma de incentivar o uso destes materiais prevenindo danos maiores à saúde.

A questão das drogas também está muito relacionada com o início da vida sexual,
com as condutas de grupos de amigos. Há uma grande relação entre Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS com o uso de drogas injetáveis. Por isso
que se deve pensar numa proposta que abranja todas as idades, classes sociais, sexo,
cor, enfim, todos que se envolvem com as drogas.

O Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e


Outras Drogas é regulamentado pela Portaria GM nº816 de 30 de abril de 2002.

Os CAPSad são os mais conhecidos dispositivos no âmbito do SUS para o


tratamento, prevenção e promoção à saúde de usuários de álcool e outras drogas.

As campanhas contra o uso de drogas são bastante veiculadas na mídia em geral e


também este é um assunto que vem sendo abordado mais frequentemente em escolas
e universidades, pelo elevado número de jovens dependentes químicos.

86
É um assunto que deve permear as conversas em família, quebrando o tabu e
alertando os jovens para os riscos que correm ao, somente, experimentarem qualquer
droga.

Algumas campanhas contra o uso de drogas:

___________________________________________________________________

9. CLASSIFICAÇÃO, TRATAMENTO E ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM

Classificação:

Atualmente, as classificações utilizadas em psiquiatria são duas. A primeira


consiste na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde, mais conhecida como CID, cuja versão mais atualizada é a décima, a qual
chamou CID-10, desenvolvido em 1992. O CID-10 apresenta todas as doenças
existentes no mundo. É dividida por grupo de doenças, que recebem uma letra e que
podem ser sub-classificados, acompanhando a letra e um número. Os transtornos
mentais estão no Capítulo V - Transtornos mentais e comportamentais e são
representados pela letra F.

87
A outra classificação utilizada em psiquiatria é o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais – (DSM-5, 5ª edição) da Associação Psiquiátrica
Americana. Possui três eixos principais: I – transtornos clínicos; II – transtornos de
personalidade e retardo mental; e III – transtorno físico que esteja presente além do
transtorno mental. Publicado em 2013, foi o resultado de um processo de doze anos de
estudos, revisões e pesquisas de campo realizados por centenas de profissionais
divididos em diferentes grupos de trabalho. O objetivo final foi o de garantir que a nova
classificação, com a inclusão, reformulação e exclusão de diagnósticos, fornecesse
uma fonte segura e cientificamente embasada para aplicação em pesquisa e na prática
clínica.Uma classificação correlaciona-se com a outra.

88
Tratamento em Psiquiatria:

Podemos utilizar dois tipos de terapias para o tratamento em psiquiatria e


saúde mental: o medicamentoso e as psicoterapias.
Dentre as psicoterapias pode-se citar a psicanálise, a intervenção de crise, a
psicoterapia de grupo e a terapia familiar, dentre outras.

 A psicanálise trabalha com os problemas do paciente que derivam


principalmente do passado. Quando pensamos em psicanálise logo vem à
mente um divã onde paciente fala e o analista escuta. E realmente é isso,
só que de forma a contribuir na recuperação do paciente. A análise auxilia
na redução da intensidade dos conflitos e na possibilidade de encontrar
novas maneiras de lidar com impulsos que não podem ser reduzidos. A
psicanálise é indicada para alguns tipos de transtornos tais como os de
ansiedade (fobias, transtorno obsessivo-compulsivo), transtornos
depressivos leves, alguns transtornos de personalidade e alguns transtornos
do controle dos impulsos e sexuais. Tem o objetivo maior de eliminar os
sintomas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

 A intervenção de crise é oferecida a pessoas incapacitadas ou severamente


perturbadas por uma crise. Alguns critérios de seleção são utilizados para a
participação nesta modalidade terapêutica: história de uma situação
perigosa, recente e que produziu ansiedade; evento precipitante que
intensificou a ansiedade; evidência do estado de crise psicológica;
motivação para superar a crise; capacidade para reconhecer as razões da
crise. A terapia consiste na compreensão conjunta da psicodinâmica e sua
responsabilidade pela crise. O terapeuta e o paciente atuam
conjuntamente, buscando solucionar a crise. Uma breve hospitalização pode
ocorrer no intuito de diminuir a ansiedade. O resultado mais notável desta
terapia é a capacidade do paciente de se tornar melhor equipado para
enfrentar outras adversidades.

 Psicoterapia de Grupo: é um tratamento no qual pessoas


enfermas emocionalmente, cuidadosamente selecionadas, são
inseridas em um grupo, guiadas por um terapeuta para ajudarem-se
mutuamente na mudança da personalidade. As duas principais qualidades
do grupo é que possibilita a opinião imediata entre os participantes, e
oportuniza que todos (terapeuta e pacientes) observem as respostas que
são dadas no e para o grupo, propiciando a variedade de transferências. É
importante que haja uma preparação dos pacientes antes de iniciar o grupo
por parte do terapeuta, fazendo explicações e deixando-se à disposição para
questionamentos e dúvidas. O terapeuta, na psicoterapia de grupo, assume
o papel de facilitador basicamente, deixando que os componentes do grupo
conduzam o mesmo. Os grupos não devem ter mais do que 15 e nem
89
menos de três participantes. A frequência para a realização dos grupos pode
variar de semanal a quinzenal, sendo que o importante é sua continuidade.
A duração fica na média de uma a duas horas, não podendo se estender
mais do que isso, porque torna-se cansativo e dispersivo.

 Terapia Familiar
É destinada às famílias com elevado número de conflitos. Consiste em
entrevistas com a família em sua totalidade, sendo adequadamente
conduzida e orientada pelo terapeuta. Os encontros ocorrem, em geral,
semanalmente, sendo necessárias duas horas para o momento.
As técnicas variam, conforme o que se deseja trabalhar.
Os objetivos da terapia familiar são cinco:
a) resolver ou reduzir o conflito e a ansiedade na família;
b) favorecer a percepção e o preenchimento das necessidades emocionais
uns dos outros, dentro da família;
c) promover relações de papéis adequados;
d) fortalecer a capacidade de cada um e da família como um todo; e
e) influenciar a identidade e os valores familiares, para que busquem a saúde.
Sendo que o objetivo principal é integrar a família no sistema maior, chamado
sociedade.

Terapias Medicamentosas
Os medicamentos psiquiátricos, psicofármacos ou psicotrópicos são grupos
de substâncias químicas que trabalham no sistema nervoso central. Por afetarem os
processos mentais, alteram a percepção, emoções e comportamentos dos
pacientes. Assim, é possível ―se desligar‖ dos sintomas dos transtornos mentais,
combatendo-os.
Há dezenas de psicofármacos no Brasil para o tratamento do mesmo
transtorno ou de transtornos diversos. O seu uso vai depender da orientação do
profissional. A escolha do medicamento leva em consideração uma variedade de
fatores particulares, como história pessoal do paciente, idade, patologias físicas,
histórico de doenças e resposta a usos anteriores. O uso também poderá ser
associado à psicoterapia dependendo do quadro clínico. Ademais, os transtornos
mentais apresentam peculiaridades e sintomas semelhantes que tornam o
diagnóstico preciso mais demorado. Não é incomum o paciente experimentar mais
de um remédio até encontrar aquele que aja da maneira desejada.
São subdivididos em antipsicóticos, antidepressivos, ansiolíticos,
antiparkinsonianos, anticonvulsivantes, dentre outros.

Medicamentos psiquiátricos para depressão

1. Fluoxetina
É um dos medicamentos mais utilizados para o tratamento da depressão,
ansiedade, síndrome do pânico, bulimia, disforia e outros. Ele aumenta os níveis de
90
serotonina, o neurotransmissor responsável pela regulagem do humor, bem-estar,
sono, apetite, entre outras funções. É ideal para transtornos que causam o
desequilíbrio na produção de serotonina.
A recomendação da fluoxetina é ingeri-la diariamente. Os efeitos positivos
começam a se manifestar no período de 2 a 6 semanas. Por isso, se não notar
diferença logo nos primeiros dias, é completamente normal.

2. Escitalopram
Indicado para pacientes depressivos e ansiosos, além dos que apresentam
síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno de ansiedade
social, é um dos medicamentos mais recomendados pelos médicos. O escitalopram
corrige as concentrações danosas de neurotransmissores no cérebro, aumentando
os níveis de serotonina entre os neurônios. Combate os sintomas da depressão
aguda mais rápido do que outros medicamentos.
A melhora clínica é visível entre 2 a 6 semanas. Em alguns casos, a ação
terapêutica pode ocorrer em apenas quatro semanas. Embora apresente efeitos
colaterais, é um dos medicamentos psiquiátricos mais seguros.

3. Mirtazapina
Mirtazapina é um antidepressivo tetracíclico que aumenta a quantidade de
serotonina e noradrenalina, associado às funções executivas e dores físicas, no
neurônio. Esse aumento dos neurotransmissores gera melhoras nos sintomas da
depressão.
Costuma ser mais rápido do que outros antidepressivos. Os efeitos positivos
já começam a surgir entre 2 a 4 semanas. Para balancear os efeitos colaterais
(aumento de peso, sonolência e disfunção sexual), pode ser utilizada em associação
com outros medicamentos indicados pelo médico.

4. Citalopram
Este medicamento é próprio para o tratamento da depressão, do pânico e do
transtorno obsessivo compulsivo. Os principais efeitos do citalopram são observados
entre 2 a 4 semanas após o início do uso. Atua corrigindo as concentrações
inadequadas de neurotransmissores, como a serotonina.

91
Medicamentos psiquiátricos para ansiedade

1. Diazepam
Gera alívio sintomático da ansiedade e outras patológicas associadas à
síndrome da ansiedade generalizada, incluindo também insônia e síndrome do
pânico. O diazepam produz um efeito calmante no corpo e também funciona como
sedativo. O efeito é notado após 20 minutos de sua ingestão, sendo que sua
concentração máxima é atingida de 30 a 90 minutos depois de sua administração.

2. Bromazepam
Indicado para ansiedade, tensão, transtornos do humor e esquizofrenia. Em
doses baixas, reduz a tensão e ansiedade e, em mais elevadas, tem efeito sedativo
e relaxante muscular. Seu uso é recomendado apenas em quadros graves ou
incapacitantes.

3. Alprazolam
O alprazolam é usado no tratamento de transtornos de ansiedade e do
pânico, com ou sem agorafobia. Ele atua principalmente no sistema nervoso central,
por isso, pode haver leve comprometimento de reflexões leves e sonolência durante
o dia. Reduz a manifestação de sintomas como tensão, apreensão, irritabilidade,
insônia, taquicardia, hiperatividade, etc.

4. Lorazepam
Atua como controle do transtorno de ansiedade generalizada ou para o alívio
dos sintomas no cotidiano. Pode ser também usado como medicação complementar
no tratamento da ansiedade em estados psicóticos e depressão profunda. Age em
diversos receptores em locais diferentes do sistema nervoso central, diminuindo a
geração de estímulos nervosos dos neurônios. Dessa forma, reduz a ansiedade.

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Medicamentos psiquiátricos antipsicóticos

Medicamentos antipsicóticos são próprios para o tratamento de psicoses,


caracterizada pela perturbação da mente, particularmente a esquizofrenia e o
transtorno afetivo bipolar (TAB). As psicoses provocam reclusão social, insônia, falta
de motivação e dificuldades para executar tarefas diárias. Não há uma causa única,
mas, sim, um conjunto de variáveis. Porém, acredita-se que o neurotransmissor
dopamina, envolvida no controle dos movimentos, aprendizado, humor e emoções,
esteja implicado.

1. Clozapina
Usado na redução do risco de comportamento suicida em pacientes com
esquizofrenia ou transtorno esquizo afetivo. É recomendado quando há reincidência
da tentativa de suicídio e funciona como bloqueador do receptor D4, ou receptor de
dopamina, no cérebro.

2. Amissulprida
A amissulprida atua rapidamente no organismo, melhorando tanto os
sintomas positivos, associados aos comportamentos psicóticos incomuns em
pessoas saudáveis, como alucinações, delírios e perturbações do pensamento;
quanto aos sintomas negativos, caracterizados pela interrupção de emoções e
comportamentos normais, como redução da fala, do afeto e do prazer pela vida. A
ação terapêutica possui dois picos: um efeito uma hora após a ingestão e o
segundo, entre 3 a 4 horas.

93
3. Quetiapina
A quetiapina é um antipsicótico atípico. É usada para tratar insônia,
esquizofrenia, quadros de depressão e ansiedade (como um potencializador),
transtorno bipolar. A quetiapina age de forma diferente em cada região do cérebro.
Nas áreas centrais, ela bloqueia a dopamina, assim, diminui sintomas de insônia,
irritabilidade, ansiedade e controla também o impulso.
Em pessoas que apresentam esquizofrenia, ajuda a diminuir delírios e
alucinações. As doses neste caso são mais altas. Ela também melhora o humor e as
interações sociais. Os efeitos dependem da dose utilizada. Os efeitos começam a
aparecer entre 2 a 4 semanas.

4. Risperidona
Este antipsicótico trata esquizofrenia, transtorno de estresse pós-traumático,
transtorno bipolar e irritabilidade associada com o autismo. Sua ingestão pode ser
tanta pela via oral quanto injetada no músculo. Atua também em distúrbios que
causam agressividade, desconfiança e isolamento social. O tempo de ação dela é
após 1 hora da ingestão.

Anticonvulsivante

Também chamados anticonvulsivos, estes fármacos são utilizados


especificamente na prevenção e no tratamento de crises convulsivas, mais
enfaticamente, nos casos de epilepsia.

94
Possuem mecanismos de ação distintos, mas todos com efeitos
antiepilépticos. Na tabela abaixo é possível reconhecer os mais utilizados no
mercado.

Vale ressaltar que muitos medicamentos são utilizados para vários


problemas. Essa classificação serve apenas para facilitar no estudo dos
psicofármacos, sendo que um mesmo medicamento pode ser indicado para outra
patologia diferente desta classificação.
Exemplo disto é o carbonato de lítio (Carbolim, Carbolitium, Litiocar,
Neurolithium) que pode tanto ser indicado como antipsicótico como estabilizador de
humor.

ENFERMAGEM NA SAÚDE MENTAL

Atua em diversas atividades terapêuticas: atendimento individual


(acolhimento), atendimento em grupo (orientação, palestras), oficinas terapêuticas,
atividades comunitárias, acompanhamento do uso de medicação, atendimento aos
familiares e visitas domiciliares.
O propósito é o de realizar intervenções de enfermagem, adequando o
processo de cuidados oferecidos aos pacientes em tratamento, como parte do plano
terapêutico.

As Oficinas Terapêuticas

Segundo Brasil (1991), oficinas terapêuticas se caracterizariam como


atividades grupais de socialização, expressão e inserção social.
As oficinas terapêuticas são atividades que proporcionam um momento para a
interação, promovendo a autonomia e a criatividade dos sujeitos por meio da arte e
educação, reforçando os instrumentos terapêuticos e contribuindo para o tratamento.
95
A expressão ―oficina terapêutica‖ vem sendo utilizada para designar
atividades desenvolvidas em saúde mental nos CAPS e em outros dispositivos de
tratamento.
Existe uma pluralidade de atividades que utilizam esta nomenclatura. Uma
―oficina terapêutica‖ pode ser um espaço de criação, espaço de atividades manuais
ou espaço de promoção de interação, pode ser espaço de aprendizado e
possibilidade de renda.

Objetivo da Enfermagem trabalhando com oficinas:

As equipes de saúde mental inseridas nos CAPS e em especial a de


enfermagem vem buscando alternativas que possam contribuir para o
desenvolvimento de novos caminhos dos cuidados em enfermagem de forma a
procurar a resolução de problemas no campo das relações e convivência com a
loucura, em substituição a medicalização centrada na expressividade de sintomas.
Objetivos:
 Estimular o autocuidado;
 Incentivo a socialização;
 Educação e promoção à saúde;
 Prevenção ao uso de drogas;
 Relacionamento interpessoal (autoestima e convivência);
 Hábitos de vida saudável.
Utiliza recursos como: jogos educativos, materiais recicláveis, jornais e
revistas, musicas, objetos de higiene pessoal, dentre outros.
Tipos de Oficinas:
 Artesanato (Pintura, Costura, Tapeçaria, reciclados)
 Esporte / Jogos
 Teatro / Música e Dança (Expressão corporal)
 Geradores de renda (Horta, Artesanato, culinária)
 Alfabetização / Leitura
 Higiene e cuidados pessoais (Higiene corporal e Salão de beleza).

96
___________________________________________________________________

10. RELACIONAMENTO COM O PACIENTE

A forma de relacionamento que o Técnico em Enfermagem estabelece com


as pessoas que irá atender pode contribuir no processo de melhoria do estado de
saúde do paciente, bem como criar conflitos e confusões que prejudicarão o mesmo.
É importante que o Técnico saiba que vai lidar com vários tipos de indivíduos em
idades diversas, personalidade e estados emocionais diferentes e, portanto, que
cada um tem um jeito de ver e de relacionar com a doença. Vários pontos devem ser
considerados no atendimento aos pacientes, tais como:

 Comportamento do próprio profissional;

 Dificuldades que advêm da própria pessoa, como: preocupações, problemas


pessoais, estado de humor, interesses, medos, anseios, preconceitos e
outros comportamentos que atrapalham uma boa interação entre o Técnico
de Enfermagem e paciente.

Portanto, o Técnico de Enfermagem deve buscar sempre se auto examinar na


tentativa de não misturar os problemas pessoais com os do paciente.

Qualidade no Atendimento:

Atendimento é todo serviço prestado pelo profissional que tem contato direto
com o público. O bom atendimento faz parte da nova conscientização em que o
papel do profissional deve ser cumprido com responsabilidade.

O técnico de enfermagem é peça fundamental na imagem do hospital ou de


outra instituição de saúde. Pois, ele é o responsável pelo atendimento e representa,
para o paciente, a imagem da instituição. Quanto melhor o paciente (o cliente, no
caso) for atendido, maior será a satisfação do profissional que o atende e melhor
será a imagem da instituição.

Para obter o bom atendimento é necessário administrar bem o tempo e


planejar bem as tarefas a serem cumpridas.
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Planejar: É estabelecer objetivos; traçar direções e estabelecer alternativas
para se atingir as metas; decidir sobre qual caminho usar; definir prazos para
alcançá-los; prever os obstáculos possíveis.

Como Preparar-se para atender o Paciente:

1. Gostar do trabalho.

2. Aceitar o paciente sem ideias preconcebidas.

3. Estar convicto de que o paciente tem o direito de ser bem atendido.

4. Conscientizar-se de que o paciente é a razão de estarmos nesse


trabalho.

5. Manter-se atualizado sobre as normas e rotinas.

6. Conhecer a organização da instituição, principalmente do setor em que


trabalha.

7. Conhecer as pessoas a quem seu trabalho está ligado.

8. Fazer com que o local de atendimento esteja sempre limpo e em boas


condições.

9. Dispor, do melhor modo possível, os materiais e os equipamentos.

10. Obter, com antecedência o material necessário ao atendimento.

11. Usar roupas adequadas.

12. Ter posições e atitudes adequadas.

Como Atender bem o Paciente:

1. Dedicar-lhe toda a atenção.

2. Ser rápido e eficaz.

3. Ouvi-lo cuidadosamente.

4. Ajudá-lo a se expressar.

5. Fazer-lhe perguntas de esclarecimento.

6. Ser claro, completo e objetivo em suas explicações.

7. Estar seguro do que diz.

8. Ter sempre respostas corretas.

9. Articular bem as palavras.


98
10. Escolher as palavras de acordo com o grau de instrução da pessoa a
quem está atendendo.

11. Graduar a altura e o timbre da voz, de acordo com a situação.

12. Convencer o paciente, sem pressioná-lo.

13. Ser oportuno, sutil e flexível.

Observação:

Comportamento de Pacientes Psiquiátricos: é função da equipe de


enfermagem observar os pacientes psiquiátricos de forma adequada, objetiva e
contínua. Os membros da equipe devem estar juntos ao paciente o tempo suficiente
para aprender as informações que podem ser importante.

Informações Importantes: expressão facial, tonalidade de voz, vestimenta,


aparência física, participação nas atividades de lazer e rotina, comunicação de
problemas somáticos, relacionamento familiar, aderência ao tratamento, sinais e
sintomas comuns dos transtornos mentais, entre outros.

A observação não terá sentido se não for anotada pelo profissional de


enfermagem para que todos tomem conhecimento. Devem-se observar os mesmos
eventos ou outros, repetidamente.

Anotações de Enfermagem:

Anotação de Enfermagem é um documento legal, onde são registrados todos


os fatos ocorridos com o paciente num determinado período de tempo.

Roteiro para anotação de Enfermagem

Data.

Horário.

Sinais Vitais.

Higiene e aparência. Alimentação e hidratação.

Medicação (dose, via de administração) e aceitação.

Funções fisiológicas (necessidades).

Sinais e Sintomas

Ideias que expressa.

Atividades que realiza ou participa.

Comportamento social e relacionamento com os demais.


99
Sono e repouso.

Exames feitos e encaminhamentos para outros setores.

Queixas.

Intercorrências.

A anotação deve conter cabeçalho com a identificação do paciente (nome completo


e registro hospitalar), ser descritiva e clara, seguindo uma sequência lógica,
coerente e sem rasuras fundamentadas na observação criteriosa, livre de
preconceitos e ou julgamentos.

Relações Interpessoais Terapêuticas:

Relação Interpessoal Terapêutica é a relação entre paciente, profissional e


familiar que ajuda a promover a recuperação do paciente.

Para entender uma relação interpessoal é preciso lembrar que:

 Uma pessoa é resultado das relações interpessoais que teve durante sua
vida. Há sempre uma relação de causa e efeito.

 Ninguém sai ileso de um encontro com outra pessoa.

 Os efeitos podem ser construtivos ou destrutivos, para uma ou ambas as


partes.

Antes de tudo é preciso ser simpático. Mostrar-se disponível, amar ao


próximo e, claro, ter habilidades interpessoais.

Quem ajuda age como agente facilitador no estabelecimento de relações


significativas.

Quem precisa de ajuda busca atenção por não poder cuidar de si mesmo.
100
Existem algumas características necessárias para se estabelecer uma relação
terapêutica:

 Ser capaz de aceitar o paciente como ele é.

 Reconhecê-lo como ser único e importante.

 Ser sincero

 Estar disponível.

 Ser empático (colocar-se no lugar do outro).

 Ter sensibilidade.

 Assumir uma atitude não crítica.

 Inspirar segurança, sendo firme no modo de agir.

 Desenvolver um interesse genuíno.

 Ter habilidades interpessoais.

Além destas características, o profissional de enfermagem deve ser capaz de


compreender o significado do comportamento do paciente. Os doentes mentais
possuem dificuldades em relacionar-se com os outros, por essa razão, eles se
beneficiam das relações interpessoais terapêuticas.

Oferecimento de Apoio:

O profissional de enfermagem deverá transmitir confiança, interesse,


aceitação e compreensão, ajudando o paciente nos momentos de tensão e nas
necessidades básicas.

Além disso, para oferecer o devido apoio ao paciente, o profissional deverá:

 Conversar com o paciente dando-lhe oportunidade de expressar seus


sentimentos e utilizando as técnicas terapêuticas de comunicação adequadas
a cada paciente.

 Ajudá-lo a resolver a situação apresentada e a reconhecer suas limitações.

 Ajudá-lo a ressaltar as características sadias, bem como seus progressos e


sucessos.

 Evitar acentuar a ansiedade do paciente.

 Mostrar-se disponível para ajudá-lo sempre que necessário.

101
Colocação de Limites:

Colocação de limites é o processo em que uma pessoa especialmente


preparada adota medidas terapêuticas com o objetivo de limitar as manifestações
inadequadas de comportamento de outra pessoa.

Essas medidas não devem ter a finalidade de punição, mas sim de


desenvolver um comportamento socialmente aceitável.

O limite deve ser colocado em situações como:

 Paciente transgride normas de comum acordo. Exemplo: não respeita a


ordem de chegada para fornecimento de algo.

 Exige privilégios e torna-se reivindicador.

 Tenta assumir liderança estimulando comportamento negativo dos demais


pacientes.

 Em presença de agitação e agressividade que pode prejudicar os demais e a


si mesmo.

 O paciente que instiga determinadas pessoas contra outras para obter


ganhos.

 Paciente que apresente comportamento que gere ansiedade ou irritação nos


demais.

A colocação de limites a comportamentos deve ser:

 Uniforme: todos os profissionais devem adotar a mesma conduta.

 Explicada ao paciente a causa de tal medida, enfatizando o seu caráter não


punitivo.

 Avaliada periodicamente para verificar se está apresentando bons resultados.

 Reforçada positivamente quando se perceber o esforço do paciente para


melhorar o comportamento.

Medidas de Segurança:

 Participar ativamente das passagens de plantão.

 Manter vigilância constante, particularmente dos pacientes delirantes e com


quadros de mania.

 Impor limites, sempre que necessário. Explicar as normas e rotinas aos


pacientes.

102
 Manter os pacientes muito agitados em ambientes com poucos estímulos e
sob supervisão mais direta.

 Avisar ao supervisor ou ao médico, quando não for possível controlar a


agressividade do paciente, para medidas mais específicas.

 Ajudar o paciente a expressar seus pensamentos.

 Observar a segurança e condições de equilíbrio dos pacientes.

COMPORTAMENTOS DO
AÇÕES ADEQUADAS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
PACIENTE
 Observa-se o comportamento do paciente no
manejo de objetos que possam ser utilizados para
suicídio
 Informa aos membros da equipe que fiquem
O paciente promete suicidar-se alertas
 Comunica o fato a enfermeira ou médico
 Registra no prontuário do paciente e no livro de
ocorrências de enfermagem
 Procura identificar os motivos de tal
comportamento
O paciente agride determinado  Ajuda o paciente a mudar de atitude se seus
profissional motivos são reais
 Registra a ocorrência em relatório de enfermagem

 Procura entender porque o comportamento do


paciente lhe causa medo
 Evita demonstrar receios ao paciente
 Estimula os pacientes a se relacionarem com o
O paciente causa medo ao que lhes causa medo, através de atitudes
técnico ou aos outros pacientes conjuntas
 Estimula discussão do assunto em reuniões de
grupo
 Registra a ocorrência

103
 Estimula o paciente a manifestar seus
sentimentos
 Proporciona ao paciente um ambiente mais
tranquilo
 Procura ajuda-lo a identificar as causas do
O paciente chora choro
 Procura ajudar o paciente a enfrentar a
situação
 Estimula o paciente a participar do
tratamento
 Registra o comportamento do paciente

 Deixa o paciente se manifestar livremente


O paciente diz coisas sem  Procura manter-se tranquilo quando
sentido não consegue entender o que ele diz
 Registra o comportamento do paciente

 Evita ridicularizar ou contradizer o paciente


 Verifica a veracidade do que o paciente relata
 Demonstra interesse por seus problemas
 Discute o assunto em reunião de grupo
O paciente apresenta  Encaminha o paciente para atividades
alucinações ocupacionais e recreativas
 Estimula o paciente a se relacionar com os
demais
 Registra o comportamento do paciente e os
fatos que relata

 Ouve o paciente sem fazer críticas


 Evita contradizer o paciente
 Incentiva o paciente a se relacionar com os
demais
O paciente que diz que as  Estimula o paciente a participar de atividades
pessoas falam mal dele ou ocupacionais e recreativas
querem prejudicá-lo
 Leva o assunto para ser discutido em reuniões
de equipe
 Registra o comportamento do paciente

104
 Procura ser atencioso e firme com o paciente
 Manter contatos pequenos e frequentes com o
paciente
 Demonstra interesse, fazendo perguntas sobre
seu sono, alimentação, conforto, etc.
O paciente que se isola
 Estimula o paciente a se relacionar com os
demais
 Registra seu comportamento, principalmente os
sinais de progresso no seu relacionamento com
as pessoas

 Evita adotar atitude de piedade


 Ouve suas queixas com atenção
 Valoriza as atividades que o paciente executa
 Evita colocar o paciente em ambiente muito
O paciente deprimido
alegre, enquanto estiver na fase aguda
 Procure manter neutralidade de humor
 Mantêm-se alerta ao paciente pelos riscos de
suicídio

 Ouve o que o paciente diz


 Evita ironizar ou rir do paciente
O paciente que diz ser outra  Aceita o comportamento do paciente
pessoa, ser o demônio ou ser o como expressão de sua doença
Cristo  Estimula o paciente a participar de atividades
 Chama o paciente pelo seu nome correto
 Registra seu comportamento

11. MORTE E LUTO

Ao longo da vida, ocorrem perdas significativas de pessoas ou algo que


despertam sentimentos de revolta, tristeza e trazem um vazio interno profundo.
Aprender a conviver com a ausência e a saudade é algo extremamente complicado
e variável de um indivíduo para o outro. Vivemos momentos de negação, raiva,
negociação, depressão e aceitação. São as chamadas fases do luto.

Luto

A maioria de nós pensa que o Luto se refere apenas a um sentimento de


tristeza profunda relacionado a perdas de pessoas queridas. Na verdade, o Luto

105
reflete um processo de adaptação após o encerramento de um ciclo. A morte de
alguém, o fim de um relacionamento, a saída de um emprego, até mesmo a venda
de uma casa, podem desenvolver o Luto em um indivíduo.

Fases do Luto:

A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, em sua obra ―Sobre a morte e o


morrer‖, identificou a reação psíquica de cada paciente em estado terminal e
formulou as cinco fases do luto ou perspectiva da morte: negação, raiva,
negociação, depressão e aceitação. É mais comum que as pessoas que passam por
esse processo apresentem pelo menos dois desses estágios e não toda a
sequência.

1. Negação:

É a primeira fase do luto e se manifesta como uma defesa psíquica, onde a


pessoa se nega a acreditar no que ocorreu e de alguma forma, tenta não entrar em
contato com a realidade e prefere não falar sobre o assunto. É uma fase de dor
intensa e dificuldade para lidar com a perspectiva da ausência. No caso de a pessoa
estar com uma doença grave / incurável, o paciente nega a realidade da doença,
acha que foi um engano, que será corrigido posteriormente.

2. Raiva:

A segunda fase se caracteriza pelo sentimento de revolta com o mundo e


todos, onde o indivíduo se sente injustiçado e não se conforma pelo o que está
passando. Ocorre a conexão com a realidade e a percepção que não é possível
reverter a situação. No paciente doente, por exemplo, ele admite estar com uma
doença terminal, mas fica se perguntando ―por quê isto acontece comigo?‟ Sua
atitude passa a ser raiva, que se volta contra o médico, contra a medicina, contra a
equipe de saúde, contra os familiares, contra Deus, entre outros.

3. Negociação ou Barganha:

Na terceira fase, a pessoa negocia consigo mesma. É uma tentativa de aliviar


a dor e ponderar possíveis soluções para sair daquela circunstância. Normalmente,
relaciona-se a uma conjuntura religiosa e promessas a um Deus. Em caso de
doença, é quando o paciente tenta superar seu mau através de promessas. Nessa
fase, surgem as promessas de oração, caridade, entre outras visando sempre se
livrar da doença.

4. Depressão:

Nesta quarta fase ocorre a reclusão da pessoa para o seu mundo interno,
onde ela passa a se isolar e a se considerar impotente frente ao ocorrido.
Geralmente, é a fase mais duradoura do processo do luto, caracterizada por um
sofrimento intenso. Para o paciente com uma doença incurável, essa fase é

106
marcada pela interiorização, o paciente começa a preferir o silêncio e o isolamento,
não quer receber visitas e nem acompanhar os fatos.

5. Aceitação:

Quinta e última fase do luto, o indivíduo não se sente mais desesperado e já


consegue enxergar a realidade como ela é. Ocorre assim, a assimilação e aceitação
por completo da perda ou morte de forma consciente. Com relação ao paciente na
fase final de doença, é quando ele passa a ter uma atitude ativa e compreensão de
sua vida e sabe que sua morte está próxima.

O luto é um processo necessário e crucial para preencher o vazio deixado por


qualquer perda significativa, fazendo com que a vida de quem o passou, prossiga.

Lembre-se que nem sempre os indivíduos vão passar por todas as fases do
luto de forma tão clara. E que ele pode experimentado de maneiras bem diferentes
dependendo da formação psíquica do indivíduo, da sociedade em que vive e de
suas experiências pessoais anteriores.

Apesar, de o luto ser um processo fisiológico, natural e muitas vezes


necessário, o luto também pode se apresentar como luto patológico ou persistente.
Nestes casos o sofrimento é por demais intenso ou prolongado e não permite que o
indivíduo retorne a sua própria vida após a perda, sendo necessário
acompanhamento e eventualmente até tratamento farmacológico.

Ajuda ao Paciente com doença grave e incurável:

O paciente com uma doença em estágio terminal enfrenta inúmeras perdas:


trabalho, planos futuros, relacionamentos humanos, entre outras; além de conviver
com vários medos: medo da morte e do que vai acontecer na sua ausência; medo
da perda do corpo; medo da solidão e da perda dos familiares e amigos; medo do
sofrimento e da dor; medo da perda de identidade.

O técnico de enfermagem pode ajudar o paciente a vencer alguns dos medos


citados acima:

Chamar o paciente pelo nome para reforçar sua identidade.


Ensinar ao paciente que dor e sofrimento são sentimentos diferentes: a dor sem
significado torna-se sofrimento. É importante aprender a dar nome aos sentimentos.
Promover atividades que estimulem a curiosidade.

Direitos do Paciente com doença em estágio terminal:


1) Ser tratado como ser humano até a sua morte.
2) Ter esperança sempre.
3) Expressar seus sentimentos e emoções frente à morte.

107
4) Participar das decisões referentes aos seus cuidados e tratamentos.
5) Receber cuidados médicos e de enfermagem mesmo que os objetivos de
cura mudem para os de conforto.
6) Ser avaliado na dor e no desconforto.
7) Estar acompanhado no momento de sua morte.
8) Ter suas questões respondidas honestamente.
9) Não ser enganado.
10) Receber ajuda dos familiares, no momento da aceitação da morte, e que
estes também sejam ajudados.
11) Morrer em paz e com dignidade.
12) Conservar sua individualidade.
13) Ter seu corpo respeitado.
14) Ser cuidado por pessoas sensíveis e competentes que possam ajudá-lo a
enfrentar a morte e garantir sua privacidade.

Tanatologia - Definição de Morte:


Esta não é uma questão simples, pois nela estão implicados elementos
religiosos, filosóficos, culturais e científicos. Pode-se dizer que, ao longo dos séculos
existiram duas noções de morte: uma filosófica religiosa, geralmente não
constatável; e outra observável, durante muito tempo identificada com a cessação
da respiração e das batidas cardíacas.
A evolução da ciência e da técnica tem sua influência na hora de definir a
morte. Na profissão médica, generalizou-se bastante a identificação da morte com
cessação irreversível da atividade cerebral. E essa convicção vem penetrando no
público em geral e, embora lentamente, vem sendo acolhida em um número
crescente de legislações. A parada cardíaca ocorrida na cirurgia com coração
aberto, a frequente reanimação depois de uma parada cardíaca espontânea, bem
como o pulmão artificial, ajudaram chegar a conclusão que a vida não tem sede no
coração, nem nos pulmões, como classicamente se acreditava.
Pouco a pouco, vai-se firmando a convicção que a sede da vida está no
cérebro e que a morte se dá com a parada de funcionamento do mesmo.

Respeito ao modelo de morte da pessoa:


Há modelos de morte que as pessoas desejam para si próprios. Há desejos
impossíveis de se atender e outros que podem ser atendidos. A primeira coisa que o
doente pede a sociedade é que respeite, dentro do possível, seu modelo original de
enfocar e viver a morte. No entanto, frequentemente, a equipe de saúde, os
familiares e a própria sociedade, impõem aos doentes um tipo de morte que não
108
corresponde aos seus legítimos desejos.
Há vários obstáculos que impedem a realização dessa exigência. O mais
radical consiste no fato de que falta uma consciência suficientemente esclarecida de
que cada doente quer viver sua própria morte e tem o seu próprio conceito de morte.
Além disso, na organização dos cuidados da saúde, não há ou são muito
deficientes os canais de comunicação com o doente, tendo em vista saber os seus
desejos relacionados à morte.

___________________________________________________________________

12. SAÚDE DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

Saúde mental associada ao trabalho (SMAT) vem discutindo a relação entre


os transtornos mentais e o trabalho desempenhado em diversos âmbitos. Em
particular, a associação entre o surgimento de transtornos mentais e o trabalho
desenvolvido por profissionais de saúde decorre de várias causas. Em geral, a
elevada carga horária aliada ou não com a baixa remuneração, trabalhar em mais de
um estabelecimento e vínculo de trabalho estabelecido por contrato
temporário/precário podem corresponder às causas de aparecimento de algum
transtorno mental ao longo da vida.

Além disso, atender diariamente pacientes com diferentes doenças, enfrentar


a dor, o sofrimento, a morte, o excesso de trabalho, a elevada responsabilidade e
atividades de plantão também podem corresponder às causas desses problemas.

Para os profissionais que lidam diretamente com o atendimento em saúde


mental, a vulnerabilidade à sobrecarga emocional, bem como o medo em ser
agredido e o cansaço ao final do expediente podem favorecer o estresse, a
ansiedade, a depressão, dentre outros transtornos, contudo, isso não
necessariamente irá ocorrer com todos os profissionais que lidam com pacientes
psiquiátricos diariamente. Da mesma forma que os outros profissionais da saúde que
trabalham envolvidos na psiquiatria tendem aos transtornos mentais advindos do
trabalho que desempenham.

Dessa forma, é importante monitorar a saúde desses profissionais, visto que


muitas vezes o sofrimento e o desgaste mental sofrem uma banalização, e muitos
trabalhadores não dão a importância devida aos seus problemas de saúde, podendo
em um futuro próximo ter a qualidade de sua assistência comprometida e, dessa
forma, evoluir para um quadro mais complicado de seu estado emocional e de
saúde.

A carga de trabalho está ligada aos riscos ocupacionais, interagindo com


corpo e mente do trabalhador de tal forma que se o corpo sofre, a mente também
sofre. Assim, o desgaste mental é defendido como principal causa das SMAT.
109
Os trabalhadores submetidos a altas demandas psicológicas apresentam
índices de baixo suporte de trabalho, com fator de risco para adoecimento e
ausência de fator protetor. Há diversos fatores que contribuem para que ocorram
transtornos mentais relacionados ao trabalho, entre eles: sobrecarga e jornadas
excessivas de trabalho, padrão de sono e vigília comprometidos, baixa
remuneração, mais de um vínculo e processos de trabalho.

Síndrome de Burnout

A chamada Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma


das consequências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por
exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade
com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional).

O termo Burnout é uma composição de burn=queima e out=exterior,


sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e
emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço.

Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional


com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com
outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda
(médicos, enfermeiros, professores). De fato, esta síndrome foi observada,
originalmente, em profissões predominantemente relacionadas a um contato
interpessoal mais exigente, tais como médicos, psicanalistas, carcereiros,
assistentes sociais, comerciários, professores, atendentes públicos, enfermeiros,
funcionários de departamento pessoal, telemarketing e bombeiros. Hoje, entretanto,
as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa
com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que
obedecem técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de
trabalho submetidas à avaliações.

Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do


contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a
pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma
que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer
inútil.

Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome


de Burnout está a pouca autonomia no desempenho profissional, problemas de
relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou
clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e falta de
cooperação da equipe.

Os sintomas básicos dessa síndrome seriam, inicialmente, uma exaustão


emocional onde a pessoa sente que não pode mais dar nada de si mesma. Em
seguida desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas, como por exemplo, um

110
certo cinismo na relação com as pessoas do seu trabalho e aparente insensibilidade
afetiva. Finalmente o paciente manifesta sentimentos de falta de realização pessoal
no trabalho, afetando sobremaneira a eficiência e habilidade para realização de
tarefas e de adequar-se à organização.

Esta síndrome é o resultado do estresse emocional incrementado na


interação com outras pessoas. Algo diferente do estresse genérico, a Síndrome de
Burnout geralmente incorpora sentimentos de fracasso. Seus principais indicadores
são: cansaço emocional, despersonalização e falta de realização pessoal.

Considera-se a Síndrome Burnout como provável responsável pela


desmotivação que sofrem os profissionais da saúde atualmente. Isso sugere a
possibilidade de que esta síndrome esteja implicada nas elevadas taxas de
absenteísmo ocupacional que apresentam esses profissionais.

Trabalho em turnos e Noturno

O efeito dos turnos nos trabalhadores:

Nossa sociedade é representada por seu aspecto onde o homem tem sua
vida social e ritmo orgânico ligada à vivência diurna, ou seja, o homem costuma
acordar no período da manhã, onde temos a luz do dia e dormir durante a noite
(quando o sol se põe). A organização temporal do trabalho em turnos e noturno traz
inegáveis prejuízos para a saúde do trabalhador, tanto no aspecto físico, como
psíquico, emocional e social; em virtude das organizações do trabalho, ocorrem
marcas indeléveis no trabalhador.

O trabalho em turnos e noturnos pode ser causa de uma série de distúrbios


fisiológicos e psicossociais devido às mudanças dos ritmos biológicos,
dessincronizarão familiar e social da vida do trabalhador, levando, a um quadro
designado como Síndrome de má adaptação do trabalho em turnos.

Num primeiro mês de trabalhos em turnos e noturnos, o trabalhador já pode


apresentar algumas manifestações agudas como a insônia, excessiva sonolência
durante o trabalho, distúrbios do humor, aumento de acidentes e problemas
familiares, sociais e emocionais. Após alguns anos nesta forma de trabalho, o
indivíduo passa a apresentar algumas manifestações crônicas como desordens do
sono, doenças cardiovasculares e gastrointestinais, absenteísmo, separação e
divórcios. Esta inadaptação do trabalhador aos turnos e noturnos, pode também
leva-lo ao uso abusivo de substâncias para dormir e uso de álcool, sem contar a
presença de uma fadiga crônica e manifestações contínuas de estresse. Este
quadro, de uma forma geral, pode levar em conta também a segurança e vigília do
trabalhador, causando posteriormente, acidentes de trabalho que podem leva-lo a
sérios riscos de vida ou mesmo a morte.

Segundo estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente


cerca de 20% das populações dos países desenvolvidos trabalham no período da
111
noite. Nos grandes centros urbanos, é cada vez mais comum estabelecimentos
como postos de gasolina, farmácias, lojas de conveniência e redes de supermercado
funcionarem 24 horas ininterruptas. Além disso, longe de ser uma opção, trabalhar
no turno da noite faz parte da rotina de profissionais como médicos plantonistas,
enfermeiros e vigilantes, entre tantos outros.

O instituto ISMA (International Management Stress Association), realizou um


estudo no Brasil no qual constatou que 40% dos trabalhadores que exercem sua
atividade no turno da noite desenvolvem algum distúrbio na visão, em casos mais
extremos podendo chegar à cegueira. De acordo com o estudo da Unidade do
Sonho de Barcelona e do Serviço de Neurofisiologia do Hospital da Paz de Madri, os
profissionais que atuam no turno da noite perdem cinco anos de vida para cada
quinze anos trabalhados. Além disso, eles se divorciam três vezes mais do que os
profissionais com jornadas durante o dia e têm 40% mais chances de apresentar
problemas cardiovasculares, neuropsicológicos e digestivos.

O trabalho noturno é tão nocivo à saúde do trabalhador que a legislação


brasileira prevê o direito de este profissional receber uma compensação, tanto em
horas como em salário, pela sua jornada noturna. Esta compensação é chamada de
adicional noturno.A hora noturna, nas atividades urbanas, deve ser paga com um
acréscimo de no mínimo 20% (vinte por cento) sobre o valor da hora diurna.

Recomendações para trabalho em turnos e noturnos

As medidas para lidar com os efeitos adversos do horário de trabalho não são
propriamente soluções para esses problemas, mas recomendações que visam
minimizar as dificuldades dos trabalhadores quanto à saúde e ao bem-estar
psicossocial. Essas medidas incluem mudanças nos esquemas temporais de
trabalho e intervenções que permitem aos trabalhadores lidar com o esquema de
trabalho ou tendem a reduzir suas consequências.

Há uma complexa rede de fatores que podem ser modificados para facilitar a
tolerância do trabalhador ao trabalho em turnos. Além das medidas coletivas, o
próprio trabalhador pode adotar algumas rotinas especiais para lidar melhor com
seus horários de trabalho.

Essas medidas individuais em relação ao sono, por exemplo, sugere-se que


hábitos regulares facilitam a tolerância ao trabalho em turnos, recomenda-se que o
trabalhador deve dormir, no mínimo, 6 horas. Dormir em quartos silenciosos, escuros
e com temperatura agradável também são recomendações que devem ser
realizadas pelo trabalhador.

 Na medida do possível, deve-se diminuir o número de noites trabalhadas (12 x


36, alternando manhã e noite)

112
 Deve-se estabelecer sistemas de revezamento que reduzam o débito de sono
(evitar o trabalho em mais de duas noites seguidas, e um período de pelo menos
24 horas após cada período de trabalho noturno)

 Deve-se estabelecer sistema de trabalho que reduza ao mínimo o


desajustamento social (os dias de folga coincidir com o fim de semana)

 Procurar ter flexibilidade em assuntos dessa natureza (existir mais de um


sistema de rodízio e dividir igualmente as vantagens e desvantagens de cada
um com todos).

 Estabelecer um número de horas de trabalho compatível com a natureza das


tarefas (trabalhos de grande exigência física, grande exigência mental,
atividades ao ar livre, devem ser desenvolvidos em número menor de horas).

 Estabelecer um horário de revezamento que não prejudique o sono (turnos de 8


horas sendo 7, 15 e 23 – por exemplo – prejudicam menos o sono).

CUIDAR DE SI PARA CUIDAR DO OUTRO

O cuidado é o nosso instrumento de trabalho, e ao mesmo tempo é causador


de danos à saúde do cuidador. Por esse motivo, precisamos aprender a nos cuidar,
evitar ou reduzir os danos desta ocupação, para assim podermos prestar um
cuidado mais adequado.

Geralmente, os enfermeiros, carregam consigo o estigma de serem pessoas


que se doam aos outros, pessoas que "vivem" para cuidar dos outros. Realmente
nossa função primordial é cuidar, e procuramos fazer isso muito bem. No entanto,
esquecemos, com frequência, de cuidar de nós mesmos.

Algumas representações que se fazem a respeito dos profissionais da


enfermagem são relacionadas a anjos, super-heróis, visão romântica e ilusória de
pessoas que não sentem dor, não têm necessidades, nem horários, nem família.
Mas nós, enfermeiros, sabemos que isso não é verdade. Somos sim pessoas
comuns, que têm família, sentimentos e dificuldades.

O autoconhecimento é a base do sucesso da maioria dos grandes


profissionais. Só quem sabe o que é pode saber aonde pode e deve chegar. No
caso dos enfermeiros, esse conhecimento pode ser relacionado à qualidade do
cuidado que podemos prestar, ou seja, precisamos saber quem e o que somos em
que acreditamos, para podermos prestar aos outros o cuidado que desejamos, sem
esquecer que para cuidar do próximo precisamos antes cuidar de nós mesmos, e
para cuidar de nós mesmos precisamos nos conhecer, o que denota a formação de
um "círculo-vicioso".

113
Cuidar de si, da nossa dor, do nosso fracasso, do medo, da raiva, da inveja,
da humilhação, do sentimento de impotência perante determinada situação, cuidar
de tudo o que nos abate e deprime, é o meio pelo qual podemos chegar a tocar em
outro ser. Cuidar daquilo que nos faz mal possibilita a chegada serena perante o
outro ser que precisa de cuidado.

Alguns cuidados que podemos ter com nós mesmos:

• Fazer controle médico e odontológico mediante consultas/exames –


preocupar-se com a saúde, prevenção e tratamento de doenças e a buscar auxílio
com outros profissionais;

• Alimentar-se adequadamente – a importância da alimentação em relação a


suprir as necessidades do organismo, manter uma boa saúde e alimentar-se bem
para repor o desgaste;

• Praticar exercícios físicos –ajuda a relaxar e repor as energias, aliviando o


desgaste;

• Fazer coisas de que gosta - realizar atividades que proporcionassem prazer,


descontração e relaxamento;

• Preocupar-se com a autoimagem – gostar de si, sem esquecer que o


enfermeiro representa um modelo para as pessoas no que diz respeito ao cuidar de
si, pois é um profissional de saúde.

• Relacionar-se – compartilhar experiências e entender as pessoas com as


quais se convive;

• Estabelecer prioridades – saber aproveitar o tempo, e para isso é necessário


se organizar e redefinir metas;

• Adequar sono e repouso – é necessário para que seja possível repor as


energias, prevenir o cansaço e o desgaste.

• Preocupar-se com seu próprio estado emocional, afetivo, espiritual, mental e


psicológico – procurar descansar, não misturar sentimentos da vida profissional com
os da vida pessoal e dar valor a sua vida espiritual, reforçando suas crenças, através
da prece ou outras práticas de cunho espiritual.

114
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