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Fundamentos

Epistemológicos do
Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins da Silva
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
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a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S586f Silva, Bianca Martins da


Fundamentos epistemológicos do ensino religioso / Bianca
Martins da Silva. Paranavaí: EduFatecie, 2021.

69 p.: il. Color.

1. Epistemologia da religião. 2. Teologia – História.


3. Religião – Filosofia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de
Educação a Distância. III Título.

CDD : 23 ed. 230


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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Fundamentos epistemológicos do ensino religioso / Bianca
Martins da Silva. Paranavaí: EduFatecie, 2021.

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1. Epistemologia da religião. 2. Teologia – História.


3. Religião – Filosofia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de
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Diagramação
André Dudatt
AUTORA

Professora Me. Bianca Martins da Silva

● Mestre em Filosofia Medieval pela Universidade Estadual de Maringá (UEM);


● Bacharel em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (UniCesumar);
● Especialista em Gestão Educacional pelo Centro de Ensino Superior
de Maringá (UniCesumar);
● Graduanda de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual
de Maringá (UEM);
● Professora Mediadora de Filosofia EAD - UniCesumar.
● Auxiliar de secretaria na Faculdade Maringá.

Experiência como professora formadora e conteudista na área de Filosofia e Teolo-


gia, mais especificamente em assuntos relacionados com a religião, fé e pensamento.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1360760754584718


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), meu convite a você é que possamos aprender juntos sobre a arte da
fé e do ensino religioso. Destacamos que aqui buscaremos nos desenvolver enquanto indi-
víduos que promovem um conhecimento e propagação saudável dos temas concernentes à
religião, os produtos e as marcas. Além de conhecer seus principais conceitos e definições
vamos explorar as mais diversas aplicações do desenvolvimento e gestão de marcas e
produtos pelas organizações.
Na unidade I começaremos a nossa jornada pelo conceito de produto, os diferentes níveis
que um produto pode possuir, bem como as classificações dos produtos e implicâncias nas
decisões de compra dos consumidores. Esta noção é necessária para que possamos traba-
lhar a segunda unidade do livro, que versará sobre o desenvolvimento de novos produtos.
Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a concepção de produtos.
Para isso, vamos detalhar cada uma das etapas para o desenvolvimento de um produto,
para que serve a prototipagem e o pré-teste e, por fim, as funções da do designer e emba-
lagens e sua classificação.
Depois, nas unidades III e IV vamos tratar especificamente da marca, sua concepção (cria-
ção), o desenvolvimento do posicionamento e a gestão da marca, também conhecida como
branding. Ao longo da unidade III, vamos destacar porque as marcas são tão importantes
para o sucesso das empresas e também vamos conhecer as características para a criação
de uma marca forte. E na unidade IV, vamos entender o papel da criação de valor para a
satisfação do consumidor e sua fidelização.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de
conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso
material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
O Professor de Ensino Religioso

UNIDADE II.................................................................................................... 20
A Importância da História da Religião para a Formação Humana

UNIDADE III................................................................................................... 35
Educação no Século XXI

UNIDADE IV................................................................................................... 49
O Professor de Ensino Religioso
UNIDADE I
O Professor de Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● O homem em sociedade;
● A religião;
● Religião como ação social;
● A relevância da religião.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o homem em sociedade;
● Compreender a dinâmica religiosa na sociedade;
● Estabelecer a importância da religião e ação social.

3
INTRODUÇÃO

Conforme exposto e explicado em nossa apresentação acerca do tema que será


tratado e aprofundado neste material, vamos buscar compreender a sociedade e o indiví-
duo e de que forma a religião se relaciona conosco. O que é importante entendermos é que
há uma relação direta e cíclica da religião com a sociedade e da sociedade com a religião.
Apesar de não analisarmos as peculiaridades desse processo profundamente, é
imprescindível que não nos esqueçamos desta dinâmica que faz parte e alimenta essa
relação entre o indivíduo e sociedade. Compreender a origem da religião, ainda que por um
panorama geral, é algo que será observado e analisado nesta unidade, uma vez que este
aspecto é de extrema importância para nosso conhecimento.
Desenvolver um estudo sobre religião considerando a realidade brasileira e suas
crenças, converge nossa abordagem a um aspecto partidário, ou seja, em se tratando deste
tema será necessário focarmos na principal religião considerando os aspectos culturais que
nos influenciam até hoje, ou seja, a religião cristã. Desta forma, iremos descrever um breve
histórico da religião cristã e seus principais conceitos e explicar o porquê ela nos afeta e
como a mesma se manifesta na constituição individual e social brasileira.

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1. O HOMEM EM SOCIEDADE

Quando nos dispomos a falar sobre o homem consequentemente passamos a


analisar o ser humano, e, o colocamos em uma posição de destaque considerando toda a
Natureza presente no mundo. Definido como um animal, o homem é dotado de um corpo vivo
com a capacidade de perceber o mundo, fazer escolhas e expressar suas emoções, assim,
ainda que o homem seja um animal, ele manifesta a vida de modo diferente dos outros ani-
mais chamados de irracionais, pois eles não podem sentir o valor objetivo de si mesmo e dos
outros no conjunto dos seres, nem sobre seus próprios comportamentos e sobre o mundo.
Desta forma, o homem é um animal que difere dos outros animais. (SAVIANI FILHO, 2016)
Esta concepção de colocar o homem enquanto um indivíduo participante da natu-
reza, ainda que superior a ela, pode levá-lo a achar que por ser superior aos demais seres
vivos os leva a acreditarem que realmente somos diferentes da Natureza e a tratamos
como algo que está a nosso serviço ou contra nós. Portanto, não é à toa que a humanidade
se questiona acerca de sua origem e propósito no mundo.

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REFLITA

“Com efeito, os humanos revelam a possibilidade de encontrar maneiras novas de viver,


baseados no seu sentimento do mundo e adaptando-se às situações de forma refletida e
calculada, por um aprendizado e uma construção de sua diferença (razão e sentimento).”

Fonte: Savian Filho, 2016, p. 230.

Sobre essa capacidade do ser humano de sintetizar pensamentos e criar significa-


dos para as coisas do mundo, chamamos de razão. A racionalidade faz parte do indivíduo
de modo inconsciente, por isso ao homem é comum o questionamento acerca da vida e de
seu próprio propósito.
Embora a razão seja observada como um aspecto positivo da capacidade do indi-
víduo em se colocar no mundo, há um certo debate em torno da visão acerca da Natureza.
Isto porque, a reflexão filosófica leva o homem a adotar a Natureza como algo separado
de si mesmo, e não como algo que fazemos parte. De acordo com Saviani Filho (2016),
quando afirmamos que ela é nossa morada, precisamos considerar que também “somos”
Natureza, e não apenas “estamos” nela. O nosso modo de olhar para o mundo e para
as coisas, influencia o nosso entendimento sobre o funcionamento do mundo e de nós
mesmos enquanto indivíduos.
Com o advento da modernidade, fomos impulsionados a olhar para o mundo con-
siderando seu funcionamento de forma mecânica e independente. Nos condicionamos a
olhar para o todo como uma máquina que está à disposição dos seres humanos. Foi com
o avanço da ciência, tecnologia e filosofia, que passamos a desenvolver um pensamento
mecanicista, isto é, a tendência foi adotar uma visão acerca do funcionamento do mundo
como se ele fosse um procedimento matemático, que, permite-se prever sua conclusão
assim como seu desenvolvimento, e, quando necessário alterá-lo.
De acordo com Saviani (2016), no século XVIII, com a Revolução Industrial, “o mo-
delo mecanicista se impôs definitivamente. O ser humano passava a ser entendido como o
operador da grande máquina da Natureza, deslocando-se dela e encarando-a como uma
grande reserva de materiais destinados às suas necessidades”. (SAVIANI, 2016, p. 235).
Já no século XX, a sociedade passou a sofrer algumas consequências dessa visão
mecanicista; o que inclusive foi discutido por alguns filósofos como por exemplo Martin
Heidegger. Pois, o próprio ser humano passou a se ver e ver os outros como “máquinas”,
ou seja, agora não apenas a Natureza servia o homem, mas sim, o homem passou a servir
a si mesmo, sendo visto como mais uma ferramenta da produção de objetos de consumo.

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SAIBA MAIS

Martin Heidegger (1889 - 1976) foi um filósofo, escritor e professor universitário alemão,
reconhecido como uma das figuras mais importantes do pensamento no século XX. O
enfoque de sua teoria traz uma reflexão acerca da ontologia do homem, que consiste
no estudo do ‘ser’. Ele nos convida a observarmos nossos pensamentos porque, para
ele, nossas racionalizações são conclusões de nossas práticas e vivências cotidianas.

Fonte: A autora (2021).

Convém abordarmos aqui sobre o aspecto de “cultura”. Acredita-se que o primeiro


autor a utilizar o termo tenha sido o antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917),
que descreveu a cultura como um conjunto dos conhecimentos, crenças, Direito, arte,
moral, ou seja, os costumes e habilidades que o indivíduo adquiriu em sua vivência em
determinada sociedade. Assim, é importante que ao abordar o homem, consideremos não
apenas essa diferenciação que fazemos dele em relação aos outros seres da Natureza,
mas também, de que o homem precisa sempre ser diferenciado de outro homem.
Essa dinâmica que especifica a individualidade de cada ser humano, demonstra
o quanto apesar de vivermos em uma sociedade que nos molda em como observamos o
mundo, em como ‘ser’ no mundo; além dessa cultura, o indivíduo passa a escolher como vai
viver e o que irá fazer, a partir dos primeiros ensinamentos e cultura na qual ele está inserido.
Quando estudamos a fundo a sociedade e o homem, observamos que desde os
primórdios da história da humanidade, a religião estava presente. As primeiras sociedades
gregas foram organizadas estruturalmente reconhecendo a existência de divindades que
influenciavam a vida e os acontecimentos de seus cidadãos. Desta forma, vamos prosseguir
nosso estudo buscando compreender o quanto a religião faz parte da composição de cada
ser humano, já que ela permeia nossa cultura.

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2. A RELIGIÃO

Quando nos propomos a dissertar sobre a religião, é interessante que busquemos


entender o porquê ela faz parte da nossa sociedade. Segundo Lactâncio, no séc. III e IV d.C.,
a palavra religião vem do latim, religare, que apresenta a ideia de religar, retornar, reconectar-
-se à uma divindade. Encontramos essa premissa também em Santo Agostinho (séc. IV d.C.),
em sua obra De vera religione. “Para Lactâncio (Inst. Div., IV, 28) e S. Agostinho (Retract., I,
13) [...] essa palavra deriva de religare, e a propósito Lactâncio cita a expressão de Lucrécio
‘soltar a alma dos laços da R. [Religião]’” (ABBAGNANO, 2007, p. 847).
O homem, conforme abordado no tópico anterior, possui uma insatisfação e busca
por um sentido da vida. No decorrer da história é comum observarmos essa busca por
sentido, inclusive se olharmos para outras culturas e religiões.
Em uma análise histórica, desde os primórdios da sociedade ocidental, principalmente
na sociedade grega, vemos a religião como um pilar importante na organização social (JAE-
GER, 1995). Em A República de Platão (1987), embora observamos a figuras de divindades,
a sociedade também procurava se organizar considerando a cultura e o pensamento racional
da época. Em Aristóteles, vemos que o desenvolvimento da teoria do conhecimento era pa-
ralela à existência cultural que era embasada pelos discursos religiosos pagãos. Durante a
Idade Média é que a religião foi acolhida com um embasamento teórico sólido e que passou
a ter um impacto social e cultural mais efetivo, e, nesta época, a religião em ascendência era
o cristianismo, que nos cerca ainda hoje. (JAEGER, 1995, p.19)

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Ainda na Idade Média, podemos observar e entender o por que de nossa cultura
englobar um viés religioso predominantemente cristão. A Igreja católica romana exercia
grande influência na sociedade e durante séculos estava unida ao Estado. Após o cisma
entre Igreja e Estado, a Igreja ainda exercia grande influência social pois possuía o mono-
pólio das literaturas e da própria Universidade. O ensino universitário naquela época, estava
atrelado ao fato de se dedicar à uma vida monástica e celibatária, e, ainda que os monges
tivessem acesso a grandes obras, algumas ainda lhe eram proibidas, como descreve o
autor Umberto Eco em O nome da Rosa. Este cenário demonstra o quanto estes aspectos
influenciam e muito na maneira como desenvolvemos nossa cultura e visão de mundo.
Mesmo com o fato de existirem várias filosofias e religiões no mundo, nosso acesso direto
hoje em dia está embasado nas oriundas de uma cultura ocidental, que majoritariamente é
composta por uma influência cristã.
Após Santo Agostinho ter consolidado uma base filosófica para a religião através
de suas obras, São Tomás de Aquino segue instituindo um pensamento religioso que dia-
loga argumentativamente com a razão. É ele quem desenvolve uma teologia e filosofia
que propulsiona uma “comprovação” para a existência de Deus, ao postular na Suma de
Teologia as suas cinco vias. Que são:
● Se existe uma substância que gera todas as outras, há uma causa material, e
essa causa é Deus.
● Existe um motor imóvel, ou seja, se tudo que existe é resultado das causas em
infinitas relações, essas causas devem ter uma origem, que é Deus.
● Há seres necessários e há aqueles que podem vir a ser; Deus é um ser neces-
sário e, sem ele, nada existe.
● Existem graus de perfeição nas criaturas, que são provenientes do nosso Cria-
dor. Aqueles que mais se aproximam do sagrado são mais perfeitos, sendo
eles: anjos, sacerdotes, seres humanos, animais, etc. Até que se chegue na
perfeição, isto é, Deus.
● Se no mundo há uma ordem racional, uma lógica entre causa e efeito, essa
ordem é Deus.

REFLITA

“Tomás de Aquino (1225–1274), conhecido como o príncipe da filosofia escolástica, bus-


cou pensar essas causas formais unindo-as em relação à comprovação da existência
de Deus. Para tanto, desenvolve cinco vias que a comprovariam, como você confere a
seguir.”

Fonte: LOHR, 1993.

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Segundo Lohr (1993), essas postulações de São Tomás contribuíram com a con-
solidação do cristianismo como religião oficial. O contexto político e religioso do século XVI
e XVII com as Cruzadas, garantiu historicamente os fundamentos do cristianismo e da fé.
Apesar do conflito dentro da própria religião católica que culminou na Reforma Protestante
no século XVI, liderada por João Calvino e Martinho Lutero, o pensamento ainda era em-
basado no cristianismo. E o Renascimento acaba por ser o período em que o ser humano
estende sua fronteira no que tange aos aspectos sociais, culturais e econômicos. Agora a
formação humana considera a racionalidade como fator crucial no desenvolvimento do ser
humano e a natureza passou a ser compreendida pela ciência, e não mais através do olhar
a partir de uma divindade criadora.
Essa cosmovisão da sociedade pelo viés cristão pode ser observado nos relatos
históricos que de acordo com o que Dionizio (2020) disserta, na Idade Média não há uma
dicotomia entre o pensar e a vida em si, conforme em sua obra.
Na Idade Média, a religião fundamentava toda a vida social, ao ponto que
o que conhecemos por ciências humanas só foi desenvolvido dentro dos
muros das igrejas e dos monastérios. A economia desse período era não só
organizada pela Igreja e pela Coroa, mas também as riquezas produzidas
eram destinadas a essas duas instituições. Em relação às artes, sua produ-
ção também tinha finalidades religiosas, como ornamentar, construir igrejas;
retratar a nobreza e o clero. (DIONIZIO, 2020, p.16)

Então, podemos concluir que, a nossa cultura possui uma influência da religião
muito acentuada nos vários aspectos da nossa sociedade. Com isso, mesmo que buscamos
nos desvencilhar de vários aspectos religiosos, a moralidade defende pressupostos que
encontramos também no cristianismo. Portanto, para entender como a religião se relaciona
com o homem, precisa observar sua própria cultura, e no nosso caso, o cristianismo faz
parte de toda essa gama como nos foi explicado acima.

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3. RELIGIÃO COMO AÇÃO SOCIAL

Compreendermos a ação social como uma prática religiosa, não é algo novo. Es-
pecialmente no século XVI com a Reforma Protestante é que encontramos esse braço da
religião que é a ação social. Como vimos anteriormente, nossa cultura é permeada pela
religião cristã, e por conta disso, a Bíblia é considerada por muitos como um manual de
fé e prática. Sendo assim, a moralidade acaba estando pautada em contextos bíblicos e
religiosos, ainda que não seja declaradamente afirmado, pois, como estudamos acima, a
nossa cultura foi formada por fundamentos cristãos.
Desta forma, a ação social não constitui uma prática que pode ser cumprida ou não
a depender da vontade do indivíduo. Na religião, a ação social é um fator indispensável,
pois ela chega a atestar o caráter moral e religioso do indivíduo. Com João Calvino (2008),
observamos a manifestação dessas ações no âmbito político. Sua crítica ao sistema religio-
so questionava a dicotomia entre a teoria e prática, isto é, a Igreja pregava e manifestava
a importância de uma vida pia, das boas obras, da caridade, etc; porém na praticava, a
própria Igreja disseminava essa distinção entre as pessoas preferindo e privilegiando a
classe nobre em detrimento dos pobres. O acúmulo de riquezas pela Igreja tomou uma
proporção tão exagerada que culminou na venda das indulgências.

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Foi João Calvino (2008) e outros reformadores que implementaram inicialmente
na Suíça o ensino estatal. Ou seja, ele defendia que a relevância da religião precisava
honrar os mandamentos de Cristo de maneira prática, cuidando dos menos favorecidos
e oferecendo uma vida digna. Estes pontos eram responsabilidade de todos, inclusive do
Estado, por isso, transformações sociais como um sistema de saúde e escolas financiadas
pelo governo foram criadas e implementadas neste período.

SAIBA MAIS

“Assim, as culturas desses novos territórios passam a ser vistas como primitivas ou exó-
ticas e, com isso, ocorre a comparação entre as culturas — o modo de conquista se tor-
na a imposição cultural e religiosa a esses povos. Do ponto de vista histórico e filosófico,
as práticas já iniciadas ao fim da Idade Média e pelo movimento protestante se tornam
um instrumento indispensável de trabalho: a tradução, a filologia, o detalhamento de
tudo que pudesse contribuir à história e à reflexão sobre a religião.”

Fonte: LOHR, 1993.

Neste ínterim, entra em cena Martinho Lutero, manifestando sua crítica no âmbito
teológico. Os apontamentos feitos por ele visam expor a incongruência que a Igreja apre-
sentava entre sua teoria e prática. Enquanto estava em seu mestrado, o monge agostiniano
estudava o Antigo Testamento quando ao ler o livro de Romanos se depara com o verso em
que afirma que “o justo viverá da fé”. Apesar de questionar sobre a venda das indulgências,
sua crítica exposta nas 95 teses publicada e anexada na porta da igreja em Wittenberg,
abordavam outros dogmas adotados pela Igreja na época que segundo o filósofo, eram
contra o que estava escrito nas Sagradas Escrituras. (NICHOLS, 2018)
As críticas à religião levantadas neste período de reforma causaram uma revolução
social. Indiretamente, elas promoveram uma inclusão social já que a época privilegiava a
nobreza em detrimento das demais classes sociais, conforme aborda Nichols (2018), ao
relatar que a tradução da Bíblia feita por Lutero e denominada como a Vulgata, que não
apenas traduzia as Escrituras mas expunha seu conteúdo em uma linguagem vulgar, isto é,
que todos poderiam entender.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 12


Em aspectos gerais, a religião promove ações sociais, pois principalmente a re-
ligião cristã, traz uma bagagem muito impactante no que abrange a equidade de todos
os indivíduos na sociedade. De acordo com Nichols, (2018) discurso na narrativa bíblica
levanta o pressuposto de que todos os indivíduos são iguais e dignos da redenção na
pessoa de Jesus Cristo. Nas entrelinhas, isso dá margem para toda e qualquer ação que
promova uma qualidade de vida melhor para todos os indivíduos da sociedade.

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4. A RELEVÂNCIA DA RELIGIÃO

A relevância de uma religião sempre está relacionada com os princípios e valores da


própria religião em questão. Por exemplo, quando buscamos desempenhar um papel social
baseado no budismo, isso será feito de acordo com os princípios e valores do budismo; se
buscamos isso baseado na religião islâmica, novamente, isso irá ocorrer de acordo com os
valores e princípios islâmicos, e assim sucessivamente.
Sendo assim, temos a figura 1 que demonstra os aspectos da visão, do pensa-
mento e da fala representado pelos macaquinhos com a máscara. A religião, seja ela qual
for, engloba como a vemos, como vemos sua divindade (quando houver) e também como
vemos o mundo. Da maneira que vemos, produzimos reflexões em nossa mente, e assim,
reproduzimos todos os fatores com a nossa fala. A relevância implica nesta relação.
Sabe-se que a religião cristã possui uma relevância histórica assim como estu-
damos ao longo da nossa vida. É claro que podemos observar também alguns pontos
negativos. Entretanto, a religião propicia uma revolução política, tanto para o “bem”,
quanto para o “mal”. Conforme mencionado, ela proporcionou níveis educacionais de
equidade, promoção de uma política de saúde a todos, livre acesso às Escrituras sem
a intermediação de um pastor ou líder religioso; pelo menos, de acordo com a teoria,
sabemos como deveria ser a prática.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 14


Apesar disso, vemos o outro lado do poder político que a religião pode trazer. As
Cruzadas revelam grandes atrocidades feitas em nome de Deus, foi pela maneira que os
líderes religiosos da época queimaram os pagãos, é pela palavra de Deus que a mulher foi
desvalorizada, e também, pelo nome de Deus e por um discurso religioso que Hitler chegou
ao poder, de acordo com o que Rees (2018) relata em sua obra. O desfecho de muitos
desses fatos, já conhecemos através do relato histórico.

REFLITA

“... a Revolução Industrial consolida diversas mudanças no campo social, político e eco-
nômico, visto que os meios de produção passam a ser tomados pelas máquinas, o que
acaba por intensificar o racionalismo pregado pelo Iluminismo e pela corrente materia-
lista — que a religião sucumbiria frente à evolução científica.”

Fonte: Russell, 2004.

Todavia, quando analisamos cada uma dessas situações nos fica claro o quanto uma
religião tem papel e relevância em uma sociedade. Quando abordamos “sociedade”, isso
nos permite pensar em um grupo de pessoas. Quando pensamos no coletivo, precisamos
observar aquilo que é importante para todos, ou seja, os pontos em comuns que atingem
um determinado grupo de pessoas. Em uma religião, cada pessoa com seus gostos e jeitos
singulares focam naquilo que elas têm em comum. Assim, cria-se uma massa capaz de
lutar e produzir algum resultado em sua cultura. Isso quer dizer que a religião exerce um
papel político que muitas vezes nós não nos atentamos de maneira consciente.
Considerando toda a bagagem histórica e religiosa que trazemos do cristianismo por
exemplo, vemos a revolução que esta religião causou na sociedade contemporânea. Segundo
Alves (1984), a partir do momento em que se tem uma religião em que a todos os indivíduos é
propiciada a oportunidade da redenção, nesse caso a “salvação”, é também atribuído o fator
de igualdade a todos os indivíduos, que são todos pecadores. Desta forma, somos chamados
a transmitir esses atributos da religião e aplicarmos eles à nossa sociedade.
Ainda de acordo com o mesmo autor, o profissional de ensino religioso precisa
entender e expor aos seus estudantes o fator democrático da religião. A tarefa do educador
implica em se aperfeiçoar nas ferramentas de ensino e neste caso, das religiões vigentes
na sociedade em que está inserido.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 15


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando discutimos sobre as religiões vemos que este assunto compõem um


campo denso e subjetivo das humanidades. Compreender os fatores que culminaram
na religião tal como conhecemos hoje, implica em estudarmos a história, a sociologia, a
filosofia e a psicologia.
Optamos por nesta unidade delinear um panorama histórico geral da religião e
os principais pontos que a permitiram ocupar o status que hoje ela possui. Além disso,
investimos um tempo explicando sobre a constituição do pensamento racional do homem
acerca do mundo e dele mesmo.
Estes aspectos citados, fazem total diferença na formação do profissional de ensino
religioso pois contempla a totalidade do indivíduo e instiga o professor a se capacitar nas
mais diversas áreas do conhecimento para dialogar com os alunos de maneira excelente.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 16


LEITURA COMPLEMENTAR

Com base na proposta e no conteúdo apresentado nesta primeira unidade, observa-


mos que o conhecimento geral sobre o homem, a educação e a religião são indispensáveis
para a formação do professor de ensino religioso. Os fundamentos desta ciência estão
interligados com a história do Brasil e com o funcionamento humano e social.
Desta forma, buscamos neste primeiro momento recomendar ao estudante algu-
mas literaturas e artigos que podem muni-lo desses fundamentos a fim de que ele possa
ter um panorama do que implica ser um professor em pleno século XXI. Esperamos que
estes direcionamentos facilitem a interpretação e carreira profissional dos aspirantes a
“professores de ensino religoso”.

Fonte:
NIETZSCHE, F. W. Umano tropo umano: Volume Primo. Frammenti Postumi (1876-1878)

Versioni di Sossio Giametta e Mazzino Montinari. Milano, Adelphi Edizioni S.P.A, 1965.

NIETZSCHE, F. W. Epistolario 1875-1879 (Epistolario di Friedrich Nietzsche, vol. III).

A cura di G. Campioni e Federico Gerratana, Adelphi, Milano, 1995.

NIETZSCHE, F. W. Digitale Kritische Gesamtausgabe - Digital version of the German

critical edition of the complete works of Nietzsche edited by Giorgio Colli and Mazzino Montinari.

Disponível em: http://www.nietzschesource.org/. Acesso em: 20 set. 2021.

NIETZSCHE, F. W. Humano Demasiado Humano I: um livro para espíritos livres.

Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras: 2000.

NIETZSCHE, F. W. A Gaia Ciência. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

NIETZSCHE, F. W. Ecce Homo: como alguém se torna o que é? Trad. Paulo César de Souza.

São Paulo: Companhia das Letras: 2007.

NIETZSCHE, F. W. Al di là del bene e del male Nota introdutiva di Giorgio Colli e versione

di Ferruccio Masini. Prima edizione digitale. Milano, Adelphi Edizioni S.P.A, 2015.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 17


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O nome da Rosa
Autor: Umberto Eco.
Editora: Record.
Sinopse: “Durante a última semana de novembro de 1327, em um
mosteiro franciscano italiano, paira a suspeita de que os monges
estejam cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é,
então, enviado para investigar o caso, mas tem sua missão inter-
rompida por excêntricos assassinatos. A morte, em circunstâncias
insólitas, de sete monges em sete dias, conduz uma narrativa
violenta, que atrai pelo humor, pela crueldade e pela sedução
erótica. Não apenas uma história de investigação criminal, O
nome da rosa, sucesso mundial desde sua publicação original, em
1980, é também uma extraordinária crônica sobre a Idade Média.
Essa edição de luxo, revisada pela consagrada tradutora Ivone
Benedetti, contém uma atualização da biografia de Umberto Eco,
uma nota de revisão e um glossário com a tradução dos termos em
latim utilizados pelo autor.”

FILME/VÍDEO
Título: O nome da Rosa
Ano: 1986.
Sinopse: Um monge franciscano investiga uma série de assassi-
natos em um remoto mosteiro italiano. Isso provoca uma guerra
ideológica entre os franciscanos e os dominicanos, enquanto o
monge lentamente soluciona os misteriosos assassinatos.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=V_ei9HJac9M

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 18


WEB

Este canal disponibiliza aulas e discussões sobre a filosofia e a constituição do


ser humano. Como se trata de um curso de licenciatura, ele possibilita a integração dos
conteúdos epistemológicos com a educação e ensino. Desta forma, acreditamos que possa
auxiliar a formação do profissional de ensino religioso, considerando a compreensão da
cultura atual que o professor de religião precisa ter para conversar com todas as peculiari-
dades de seus alunos.

Link do site: https://www.youtube.com/c/FilosofiaUnicesumar/about

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 19


UNIDADE II
A Importância da História da Religião
para a Formação Humana
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Os valores morais e religiosos como determinante para a formação da sociedade;
● A Moralidade e o cristianismo;
● Religião, liberdade e estado laico;
● A constituição brasileira.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a importância da religião na formação humana;
● Compreender os tipos de religiões presentes em nossa cultura;
● Estabelecer a importância da religião para a formação humana.

20
INTRODUÇÃO

Nesta unidade, vamos buscar aprofundar nossos conhecimentos sobre a relação


entre a religião e a formação humana. Como já foi apresentado, a cultura ocidental possui
influências das religiões, principalmente da religião cristã.
Precisamos compreender que esses dois aspectos compõem a cultura social, e em
outros pontos, podemos afirmar que a nossa cultura é religiosa. Desta forma, a elucidação
e aplicação do ensino religioso é considerado importante para a construção do indivíduo.
Outro fator relevante que aponta para a religião cristã de modo indireto, é a mo-
ralidade. Quando estudamos os fundamentos epistemológicos da religião percebemos o
quanto os ensinamentos encontrados na narrativa bíblica fazem parte do conceito de moral
nesta era contemporânea. Desta forma, vamos buscar compreender como se dá essa
dinâmica e o quanto ela influencia na formação do indivíduo.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 21


1. OS VALORES MORAIS E RELIGIOSOS COMO DETERMINANTES PARA
A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE

Pensar no indivíduo e suas singularidades implica em uma compreensão sobre as


facetas da cultura em que cada um está inserido. Quando abordamos sobre cultura, temos
de considerar o aspecto geográfico e religioso. Conforme mencionamos, por estarmos
inseridos dentro da cultura ocidental, vemos que os valores bíblicos estão impressos em
nossa constituição enquanto sociedade e indivíduo.
Para além dos aspectos bíblicos, observamos o que a psicologia também tem a
dizer sobre nossa formação. Com Vygotsky (1934) aprendemos que a construção do co-
nhecimento nas pessoas se dá a partir de sua mais tenra infância e pela repetição dos atos
a partir de sua volta. Todavia, não é apenas pelas ações que aprendemos pelo exemplo dos
que estão à nossa volta, no caráter subjetivo, a cultura familiar possui uma influência pri-
mordial na composição de cada ser humano. É dentro de casa que aprendemos a enxergar
quem somos e quem o outro é. A partir daí, isso irá conduzir a forma de pensamento que
cada pessoa terá em sua vida.
Claro que não podemos afirmar categoricamente que essa cultura familiar poderá
determinar a cultura e personalidade do indivíduo, entretanto, estes pontos são marcantes
para todos, pois, é dito que “o homem é produto do meio em que vive”. (MARX e ENGELS,
1848). Sendo assim, a criação de cada pessoa influencia diretamente na forma de pensa-
mento e vivência que cada um adota para si na sociedade.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 22


O que queremos explicar aqui, é que a família irá contribuir com a maneira que a
sociedade se manifesta e estipula os limites, isto é, os valores, o estabelecimento no senso
comum do que é certo e do que é errado, do que é bom e do que é ruim, etc. Isso nos leva
a outro ponto histórico que precisa ser pontuado, porque, é sabido que a religião cristã faz
parte da construção da nossa sociedade brasileira.
Nos primórdios da colonização brasileira, há a proposta de catequização dos povos
aqui existentes, além disso, vale ressaltar que a proeminência dos países que nos coloni-
zaram, os espanhóis e portugueses, eram instituições católicas. Estes pontos embasam
a concepção da sociedade brasileira desde os séculos passado até aqui no século XXI.
(DAURIGNAC, 2020) Embora existam outras religiões existentes no Brasil, a própria legis-
lação brasileira possui influência da religião cristã.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 23


2. A MORALIDADE E O CRISTIANISMO

Existe uma ideia social que afirma que moralidade é uma coisa e o cristianismo ou-
tra. Porém, ao estudarmos a origem da moralidade observamos que a grande maioria dos
teóricos dessa linha de pensamento possuíam uma coisa em comum: a mesma religião.
Ainda que a gente afirme que a sociedade na qual fazemos parte compõe um Estado laico,
fora da constituição vemos que muitos dos aspectos morais são também religiosos.
Por exemplo, muitas pessoas na sociedade afirmam que é necessário preservar os
valores da família. Mas o que seriam estes “valores da família”? Os valores familiares ten-
dem a preencher alguns pré-requisitos como a formação de uma família heteronormativa,
em que a mãe é a responsável pelas funções do lar, enquanto o pai é o responsável por
prover financeiramente esse esquema. Não vamos aqui postular que toda familia por ser
heteronormativa iria se enquadrar em todos estes pontos, porém, essa composição familiar
é um traço claramente herdado da religião.
Ao estudarmos a moralidade e sua origem encontramos o trabalho do filósofo Frie-
drich Nietzsche (1844 - 1900) intitulado a Genealogia da moral. Ele realiza um ensaio sobre
como e o por quê intitulamos práticas aceitáveis e outras inaceitáveis. Vale ressaltar que
para ele o homem é por natureza cruel e deseja constantemente externalizar sua crueldade.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 24


Ao analisar o início da trajetória humana, os indivíduos eram capazes de exercerem
suas vontades sem se preocuparem com olhares de julgamentos e repreensões, pois, pra-
ticavam aquilo que lhes davam vontade.
O pensamento deste filósofo a partir dessa obra citada acima, o coloca como o
filósofo da moralidade, criticando aspectos morais que vão desde Sócrates e de ideologias
judaico-cristãs. É possível observar inicialmente no prefácio do livro os questionamentos
do filósofo sobre qual seria nossa ideia acerca do “bem” e do “mal”, e porque consideramos
que o “bem” possui um valor superior ao do “mal”? Vale ressaltar que a crítica de Nietzsche
(1887) sobre estes aspectos não partem de uma premissa transcendente, e nem de um
‘Deus que veio revelar ao homem’, princípios de como agir. Sua crítica à moralidade tange
a oposição à ética cosmológica dos gregos como a ética dos medievais e ética racionalista
dos modernos. O questionamento do filósofo visa investigar como surgiram estes conceitos
na sociedade. (NIETZSCHE, 1998).
É na segunda dissertação que o filósofo expõe como a transvaloração do bem fez
com que os pobres fossem vistos como os bons, ou seja, por conta da “rebeldia” acerca
da opressão sofrida pelos senhores. Essa transvaloração dos valores levou a sociedade a
formular uma psicologia da consciência da moral, pois há a manifestação da má consciên-
cia e da culpa. A antiga e remota história da humanidade demonstra o quanto a crueldade
faz parte da natureza humana. No tempo em que a humanidade não se envergonha da sua
real natureza, eles eram mais felizes e pleno. Após essa constituição de uma concepção
de moral, acaba sendo gerado um mundo interior. Isto é, a partir do momento em que a
humanidade passa a ser regido pelos valores morais, conceito do que é certo e errado para
medir suas ações, os indivíduos passam a internalizar sentimentos de culpa por conta de
não permitirem que seus reais sentimentos sejam manifestados em suas ações que a partir
da ótica da moral seriam cruéis.
Essa interiorização causa a má consciência. Consciência para ele é esse instinto
que foi impedido de se exteriorizar. Essas barreiras estabelecidas pelas organizações so-
ciais fazem com que toda essa repressão se volte contra os homens, gerando assim a pior
das doenças, que é o homem que se guerreia contra seus próprios instintos. Sabemos que
o homem, naturalmente falando, é um animal feroz, quer para o interior ou para o exterior.
Desta forma, as ideias de dívida, culpa, responsabilidade, e a capacidade de fazer
promessas foram geradas a partir destes pressupostos históricos que levaram a sociedade
a se organizarem considerando uma moral que estabelecesse antônimos a ideia de “bem”.
Portanto, tudo aquilo que vai contra à moral, causam as ideias de dívidas, de culpa e ne-
cessidade de reparação aos demais indivíduos, ou seja, aqueles que foram feridos por nós.
Por isso, a humanidade desenvolveu essa culpa e má consciência acerca de si mesmos.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 25


Pela influência cristã que formulou nossa sociedade, pode ser observado o quanto
anteriormente a própria constituição ainda adotava alguns aspectos sociais de cunho estri-
tamente religioso, como por exemplo a condenação ao adultério, as relações homoafetivas,
e várias outras que ao estudarmos a história podemos compreender. O cristianismo acaba
sendo a religião oficial da sociedade brasileira, ainda que seja afirmado que o Estado é
laico. Acerca deste ponto, vamos discutir agora neste próximo tópico.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 26


3. RELIGIÃO, LIBERDADE E ESTADO LAICO

O profissional de ensino religioso deve estar ciente que exercer esta profissão no
Brasil implica em compreender como ela se relaciona com a diversidade de pensamento
religioso e político social. Assim, a construção do professor abrange o conhecimento da di-
dática educacional e das religiões como um todo. Entretanto, todos estes pontos culminam
na manifestação atual da religião, da liberdade e do Estado laico.
Neste contexto, vale ressaltar o que a constituição diz acerca disso tudo. Desde
o período da colonização no Brasil, quem era responsável pelo ensino neste período era
a Companhia de Jesus, que se tratava basicamente de um grupo religioso composto por
padres que redigiram e organizaram o ensino. Mesmo após a expulsão desta ordem religio-
sa, não houve uma integralização do ensino com uma estrutura laica (CHIZZOTTI, 1996;
CUNHA, 2007; SAVIANI, 2007).
A Constituição Brasileira de 1824, reafirma os mesmo atributos que a corte por-
tuguesa adotava, isto é, ressaltaram a união entre Estado e Igreja, e seguia os mesmo
regimes educacionais propostos pelo padroado. (BRASIL, 1824)

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 27


REFLITA

Tal heteronomia marcou também o campo educacional que sofreu forte influência do
campo religioso. A presença católica na escola brasileira ultrapassa a questão da dis-
ciplina escolar, era um problema curricular, pois praticamente todos os conteúdos de
todas as disciplinas, assim como a formação da maioria dos professores, de uma forma
ou de outra, relacionava-se com a religião católica, seja pelos padrões morais, seja pela
presença física de sacerdotes na estrutura escolar.

Fonte: Sepulveda, 2017.

Foi em 1891 que a Constituição retirou toda a influência do padroado no Brasil,


pelo menos formalmente, fazendo com que a religião deixasse de ser uma disciplina es-
colar. Entretanto, a Igreja Católica Brasileira lutou para conquistar a hegemonia no ensino
brasileiro pleiteando aliados no âmbito político que defendiam o ensino religioso como
disciplina curricular. Esta tática acabou funcionando, e, apesar de oficialmente a disciplina
ser inserida novamente na grade curricular em 1934, em alguns lugares ela estava vigente
desde 1928. (BRASIL, 1891)
O principal adversário da Igreja Católica que buscava estabelecer o ensino religioso
como disciplina obrigatória nas escolas públicas, foi o grupo chamado escolanovista. Assim
como afirma Cunha (2007), este grupo defendia a laicidade da escola pública e do governo,
sendo neste momento, o principal opositor da Igreja, que teve de agir com muita cautela
para que a disciplina fosse institucionalizada.

SAIBA MAIS

“A Bíblia é uma “legislação” cunhada na Idade Média pelas populações a quem foi dado
o direito de legislar, lembrando que tal legislação era referente ao mundo cristão e não
ao islamizado. Com a modernidade e com a ascensão da burguesia, cujo fundamento
básico é a liberdade comercial sem a interferência do Estado e da igreja, cresceu a ne-
cessidade de diminuir o grau de influência da religião na vida cotidiana. A retórica liberal,
aliada ao pensamento iluminista do século XVIII, construiu elementos teóricos fortes
na defesa da laicidade. Tornava-se fundamental, então, atacar a força hegemônica da
religião dentro do Estado.”

Fonte: Sepulveda, 2017.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 28


Podemos observar através da história que sempre houve o interesse de manter a
Escola e a Política como parceiros que trabalham juntos. Dessa forma, vemos o quanto o
Estado influenciou a disseminação da religião cristã, e vice-versa. A partir do momento em
que fica instituído a obrigatoriedade do ensino religioso como disciplina obrigatória, isso faz
com que os preceitos morais e sociais caminhem junto com os princípios religiosos.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 29


4. A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

O Ensino Religioso como disciplina enfrentou alguns desafios no meio do percurso

até ser integrada legalmente. Um desses desafios foi por conta do que Cunha (2007) deno-

minou de sintonia oscilante. Esta sintonia oscilante faz referência a disciplina de Educação

Moral e Cívica, que tendo sido criada em 1937, visava a substituição da disciplina de Ensino

Religioso. Embora a Educação Moral e Cívica também atendesse conteúdos de cunhos

religiosos, no decorrer da história essas duas disciplinas acabam se debatendo demons-

trando este caráter oscilante apontado pelo autor.

Devido aos acontecimentos históricos presentes na época, Brasil (1946), afirma

que na Constituição de 1946 , o carater nacionalista do governo que apesar de proibir

práticas comunistas, adotou alguns aspectos que lhes convinham. Sendo assim, a igreja

católica se aliou com os liberais privatistas, e por terem essa influência, o Ensino Religioso

enfim foi incluído na grade curricular. Tal questão está presente no Art. 168, referentes aos

princípios da legislação:
Art. 168. V - o ensino religioso constitui disciplina dos horários das esco-
las oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a
confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu
representante legal ou responsável. (BRASIL, 1946, online)

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 30


Neste período, foi possível o exercício da disciplina, entretanto, nos deparamos
com outro desafio. Uma vez que foi concedido o direito de ministrar aulas sobre religião,
ainda que de maneira facultativa; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/96, promulgava um revés quanto a ministração dessas aulas nas escolas públicas,
uma vez que não garantiria a remuneração aos professores. O que buscavam promover é
que as aulas fossem conduzidas por representantes religiosos.
Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas ofi-
ciais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes
públicos (grifo nosso), de acordo (sic) com a confissão religiosa do aluno,
manifestada por êle (sic), se fôr (sic) capaz, ou pelo seu representante legal
ou responsável. (BRASIL, 1996, online)

Isto quer dizer que esta vitória para o Ensino Religioso e para a igreja católica na
época, seguiram os interesses privados, beneficiando as escolas privadas que continham
uma ordenação religiosa em sua organização. Ou seja, na prática não houve a concre-
tização de uma política pública que atendesse a sociedade como um todo, a política da
constituição neste momento, visava formar nos conhecimentos morais a elite brasileira.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 31


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos abordar nesta unidade aspectos relevantes no âmbito educacional da


disciplina de Ensino Religioso. Como falamos sobre uma proposta educacional, precisamos
expor e citar as Constituições e Leis de Diretrizes de Bases do ensino brasieiro.
Desta forma, visamos contribuir com o conhecimento acerca desta área do saber
de uma forma neutra e que atenta a democracia do povo brasileiro, todavia, é nítido como
em alguns momentos da história, a religião cristã acaba por reger essa busca pela institu-
cionalização do Ensino Religioso.
Conforme exposto, houve um conflito entre Estado e Igreja para a institucionaliza-
ção desta disciplina. Esperamos que da maneira que conduzimos este conteúdo, tenhamos
contemplado os estudantes e interessados dessa área do saber e que todas as informações
e questionamentos aqui levantados, conduzam o estudante e leitor a se capacitar cada dia
mais na epistemologia desse saber.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 32


LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca servir


como base para o professor do ensino religioso não apenas quanto ao conteúdo que possa
vir a ser ensinado em sala de aula, mas também, informar sobre as questões sociológicas
que permeiam o pensamento religioso.
Importante enfatizar aqui que o professor de ensino religioso, jamais deixará de
ser primeiramente um professor. Isto quer dizer que existe uma legislação que coordena
o ensino no Brasil, e o professor de ensino religioso precisa andar em concordância com
estes aspectos. Todavia, toda lei está pautada na construção social e organização de uma
sociedade. Pensar e discutir religião, engloba vários aspectos, como neste caso, o socioló-
gico. Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

Fonte:

WEBER, M. Conceitos básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 1987.

WEBER, M. Sobre a teoria das ciências sociais. São Paulo: Centauro, 1991.

WEBER, M. Economia e sociedade. 3. ed. Brasília: UnB, 1994. v. 1.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1996.

WEBER, M. Ciência e Política: Duas Vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.

WEBER, M. Essencial sociologia. Londres: Reuni Unido. Editora Penguin, 2013.

WEBER, M. Escritos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva. 4. Ed. Brasília: UNB, 2015.

WEBER, M. Ética econômica das religiões mundiais: Ensaios comparados de sociologia


da religião. São Paulo: Editora Vozes, 2016.

WEBER, M. Metodologia das Ciências Sociais. 5. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2016.

WEBER, M. A política como vocação. São Paulo: Book Builders, 2017.

WEBER, M. Sociologia das Religiões. São Paulo: Editora Ícone, 2017.

WEBER, M. O Direito na Economia e na Sociedade. São Paulo: Editora Ícone, 2017.

WEBER, M. A política como vocação e ofício. São Paulo: Editora Vozes, 2021.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 33


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História, legislação e fundamentos do ensino religioso
Autor: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira.
Editora: Intersaberes.
Sinopse: Em História, Legislação e Fundamentos do Ensino
Religioso, Sérgio Junqueira resgata as origens históricas da dis-
ciplina no Brasil, demonstrando sua evolução desde os tempos
de nossa colonização “catequética”. Na obra, o leitor perceberá
que o desenvolvimento do Ensino Religioso nas escolas é reflexo
do amadurecimento da sociedade brasileira. Para tanto, o autor
demonstra que manter a disciplina em nossas salas de aula é uma
forma de difundir o diálogo e de compreender as diversas culturas
presentes no país.

FILME/VÍDEO
Título: Deus é brasileiro
Ano: 2003.
Sinopse: Cansado de tantos erros cometidos pela humanidade,
Deus resolve tirar férias dela, decidindo ir descansar em alguma
estrela distante. Para isso, precisa encontrar um substituto para
ficar em seu lugar enquanto estiver fora. Ele resolve então pro-
curá-lo no Brasil, já que é um país tão religioso. Seu guia nessa
busca é Taoca, um esperto pescador que vê em seu encontro com
Deus sua grande chance de se livrar dos problemas pessoais.
Juntos eles rodam o Brasil em busca de um substituto ideal.

UNIDADE II A Importância da História da Religião para a Formação Humana 34


UNIDADE III
Educação no Século XXI
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Desafios da educação no e para o século XXI - papel da religião e a escola;
● A educação no Brasil;
● O ensino religioso e seus desafios;
● A importância das religiões para o século XXI.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os aspectos educacionais;
● Compreender os tipos de didáticas do ensino;
● Estabelecer a importância da liberdade religiosa.

35
INTRODUÇÃO

Nesta unidade, nosso foco é a educação religiosa no século XXI. Conforme exposto
anteriormente, a educação no Brasil é regida por uma constituição e todos os professores
precisam estar de acordo com suas diretrizes. Desta forma, uma vez que dissertamos so-
bre estes aspectos, cabe também apresentarmos a organização do ensino brasileiro com
o século vigente.
O Brasil mesmo em pleno século XXI, ainda possui reflexos do ensino da era co-
lonial. Sobretudo, há quem afirma que estes resquícios podem oferecer certos benefícios
no que tange a prática do ensino religioso nas escolas como disciplina curricular, tendo em
vista o exercício do ensino por parte dos padres católicos. Entretanto, buscaremos discutir
nesta unidade sobre essas implicações do ensino no século XXI.

UNIDADE III Educação no Século XXI 36


1. DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO E PARA O SÉCULO XXI – PAPEL DA
RELIGIÃO E A ESCOLA

O profissional de ensino religioso deve estar ciente que exercer esta profissão
no Brasil implica em estar de acordo com aquilo que a legislação do país permite. Ou
seja, apesar de observamos que há a integralização da disciplina a partir do Estado,
ainda faz se necessário que a diversidade religiosa e cultural presentes no cenário
brasileiro seja respeitada.
O termo ‘educação’ conforme diz Olinto (2001, p.181) consiste no ato de educar,
que seria “ensinar, doutrinar, cultivar o espírito”, além de compor uma gama de “normas
pedagógicas para o desenvolvimento geral do corpo e do espírito”. Quando depara-se com
esta definição, o raciocínio que deve-se fazer é se, de fato, as escolas brasileiras estão
oferecendo uma educação de acordo com seu conceito. Receber uma educação é algo que
vai além de oportunizar uma série de informações e dispor aos alunos. E não é porque o
ensino básico inicia-se quando criança, e os indivíduos são determinados como menores
de idade por lei, que eles podem receber qualquer coisa. Todos têm o direito a receberem
uma educação de qualidade.
O doutor Agostinho dos Reis Monteiro (2003) em seu texto o pão do direito à edu-
cação afirma que:

UNIDADE III Educação no Século XXI 37


Depois do pão, a educação é a primeira necessidade do povo”, disse Danton
no tempo da Revolução Francesa, em 1793, na sessão da Convenção de 13
de Agosto. O direito à educação é uma qualidade de pão vital para uma vida
humana. (...) O direito à educação é um direito prioritário, mas não é direito a
uma educação qualquer: é direito a uma educação com qualidade de “direito
do homem. (MONTEIRO, 2003, p. 764)

Enquanto educadores precisamos ter em mente que a educação é um direito de


todos e isto não abrange uma educação que seja medíocre. Como formadores e influenciado-
res da sociedade, não podemos oferecer qualquer conteúdo aos alunos, todos os indivíduos
merecem o melhor da escola e de nós. Quando oferecemos algo mediano aos estudantes,
estaremos contribuindo com a formação de uma sociedade mediana, por isso, nosso enfoque
e busca enquanto professores deve sempre almejar o melhor para toda a sociedade.
Ainda abordando sobre a educação e o direito de todos a terem acesso a ela, po-
de-se citar o conteúdo da própria constituição vigente no Brasil. A Constituição de 1988 em
seu Art 205/ seção I, Capítulo II relata que a “educação, direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa...” (BRASIL, 1988) (I); isto permite inferir que, primeiramente, a
educação é um direito dos cidadãos e dever do Estado.
Porém, quando analisamos as políticas educacionais em pleno século XXI, é possí-
vel perceber uma divergência na aplicação desses princípios, tendo em vista que o ensino
nas escolas brasileiras tem sido sucateado pelo Estado. Os professores não recebem um
salário adequado com a demanda de suas atividades e funções e, ainda, constantemente,
tem-se ouvido notícias, que após apurações, a verba destinada a escolas são desviadas.
A escola é um meio social em que permite-se a infusão de ideologias culturais,
religiosas e políticas. Com a expansão do capitalismo a escola se moldou ao sistema em
que a preocupação de ensino visa uma capacitação para o ingresso em cursos técnicos ou
universidades com a finalidade de que os indivíduos tenham uma profissão no futuro. Não
é ruim capacitar as pessoas para empregá-las no futuro. O problema é que isto se tornou o
único objetivo da função escolar.
Isto levou com que as políticas educacionais na atualidade olhem apenas para o
lado capitalista do sistema, ao invés de buscar suprir todas as nuances dos indivíduos. As-
sim, o enfoque da educação visa o investimento a medida em que se reconhece um retorno
que esta pode trazer para a sociedade, isto é, nas áreas industriais e de produções que
gerem renda ao país. A educação passou a ser vista, segundo Zamboni (2016), pela “lógica
da relação custo-benefício”. O Banco Mundial, o maior investidor na educação afirma que:

UNIDADE III Educação no Século XXI 38


[...] a educação é a pedra angular do crescimento econômico e do desenvol-
vimento social e uma dos principais meios para melhorar o bem-estar dos
indivíduos. Ela aumenta a capacidade produtiva das sociedades e suas insti-
tuições políticas, econômicas e científicas e contribui para reduzir a pobreza,
acrescentando o valor e a eficiência ao trabalho dos pobres... (ZAMBONI,
2016, p. 73)

A escola e a religião abrangem um olhar para o indivíduo que foca nas diversas
nuances que integram os seres. Desta forma, o desafio educacional em todas as áreas con-
flita com essa concepção de ensino materialista que busca apenas capacitar trabalhadores
na sociedade. Nosso dever é buscar romper com essa cultura que objetifica o educando, e
venhamos a contribuir com uma sociedade pensante e massiva em busca dos direitos de
todos, inclusive da educação e liberdade religiosa.

UNIDADE III Educação no Século XXI 39


2. A EDUCAÇÃO NO BRASIL

A educação no Brasil conforme discutimos acima encontra diversas necessidades


de melhorias e investimentos. A implementação de políticas públicas que atendam a comu-
nidade de docentes e discentes, é urgente, porque para podermos desenvolver um bom
trabalho enquanto professores, é importante que a área de ensino seja apropriadamente
remunerada. Quando isto não acontece, o professor precisa multiplicar sua jornada de
trabalho e acaba por ter tantas demandas que a qualidade de suas funções diminui.
Além disso, abordamos como “políticas públicas” o segmento responsável por
garantir medidas dignas para a sociedade, como afirma Zamboni (2016). Ou seja, para
que um aluno frequente uma escola e consiga apreender o conteúdo que ali está sendo
ministrado, é imprescindível que o mesmo tenha em sua casa uma estabilidade mínima
que supra as necessidades de cada indivíduo. É sabido que em regiões denominadas de
comunidades carentes, uma das motivações das crianças em frequentarem a escola, é por
conta da merenda. Se uma criança não se encontra bem alimentada, bem descansada, isto
irá influenciar no desempenho escolar da mesma.
Falamos de políticas públicas não por ser algo de responsabilidade do profes-
sor, entretanto, por se tratar de aspectos que irão influenciar na rotina do professor,
vale ressaltar que devemos observar se o Estado tem cumprido com suas obrigações.
Destarte, a efetividade do trabalho de professor depende de como a sociedade está
sendo conduzida pelo governo.

UNIDADE III Educação no Século XXI 40


REFLITA

Ao propor uma reflexão sobre a educação brasileira, vale lembrar que só em meados do
século XX o processo de expansão da escolarização básica no país começou, e que o
seu crescimento, em termos de rede pública de ensino, se deu no fim dos anos 1970 e
início dos anos 1980.

Fonte: BRUINI. E. da C. Educação no Brasil. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/

educacao/educacao-no-brasil.htm. Acesso em: 01 set. 2021.

Esses aspectos até aqui abordados são pressupostos inerentes ao trabalho do


professor, inclusive o professor da disciplina de Ensino Religioso. Conforme mencionado
em outros momentos de nosso estudo, o estudante de uma escola privada acaba por facil-
mente ter acesso aos conteúdos dessa disciplina, porém, nas escolas públicas ainda nos
deparamos com estes obstáculos que acabam dificultando nosso trabalho.

UNIDADE III Educação no Século XXI 41


3. O ENSINO RELIGIOSO E SEUS DESAFIOS

Podemos afirmar que o principal desafio para a nossa disciplina de Ensino Re-
ligioso faz juz a dificuldade de um consenso entre religião e o estado. Não viemos aqui
defender que ambas as áreas devem andar lado a lado, até porque a história nos conta as
implicações desta aliança. Mas, se observarmos a constituição, ainda fica uma briga em
que sempre buscam transferir a responsabilidade, para não dizer culpa, um no outro.
Segundo SEPULVEDA, D. e SEPULVEDA, J. A. (2017), a religião vai defender que
o Estado deve proporcionar o ensino de uma disciplina que trate das religiões nas escolas
como uma disciplina que faz parte da grade curricular. Todavia, o Estado alega que por
ser laico e existirem as comunidades religiosas, a responsabilidade deste ensino deve se
concentrar nas comunidades eclesiásticas.

SAIBA MAIS

O Estado se tornou laico, vale dizer tornou-se equidistante dos cultos religiosos em as-
sumir um deles como religião oficial. A modernidade vai se distanciando cada vez mais
do cujus regio, ejusreligio. A laicidade, ao condizer com a liberdade de expressão, de
consciência e de culto, não pode conviver com um Estado portador de uma confissão.
Por outro lado, o Estado laico não adota a religião da irreligião ou da antirreligiosidade.
Ao respeitar todos os cultos e não adotar nenhum, o Estado libera as igrejas de um
controle no que toca à especificidade do religioso e se libera do controle religioso. Isso
quer dizer, ao mesmo tempo, o deslocamento do religioso do estatal para o privado e a
assunção da laicidade como um conceito referido ao poder de Estado.

Fonte: CURY, 2004, p. 183.

UNIDADE III Educação no Século XXI 42


Precisamos enfatizar também que propor uma disciplina que promova o Ensino
Religioso, necessita abordar as religiões como um todo. É justamente pela laicidade do
Estado que existe liberdade religiosa, e, portanto, deveríamos estar mais abertos para dis-
cutir sobre estes assuntos. Conforme Ames (2006), o senso comum afirma que o conceito
de que certos temas, como religião e política, não deveriam ser discutidos, justamente pelo
fato da escola ser o ambiente que aborda o Conhecimento, as especificidades das religiões
deveriam ser estudadas.
O maior desafio do Ensino Religioso está em sua própria proposta. De acordo com
Valente (2018), considerar apenas o ensino do cristianismo, que seria a religião majoritária
em nosso país, contradiz os argumentos que são usados para defender a institucionalização
do mesmo. Primeiramente, a laicidade do Estado precisa ser elogiada ao invés de criticada,
pois é justamente por ela que podemos nos expressar livremente. Em segundo lugar, é
necessário uma organização e gestão desta disciplina que observe, respeite e defenda a
totalidade da diversidade religiosa existente em nosso país.

UNIDADE III Educação no Século XXI 43


4. A IMPORTÂNCIA DAS RELIGIÕES PARA O SÉCULO XXI

Pensar sobre a religião implica em buscar responder sobre certos questionamentos


que estão arraigados na constituição do ser humano desde as primeiras eras que conhe-
cemos através da história da humanidade. Normalmente, é a religião que irá formular
respostas acerca da razão e propósito da vida. Esta área assegura um campo de discus-
são completamente abstrato, por isso, não é um ramo que proporciona exatidão em suas
explicações. (VALENTE, 2018)
Não há como aplicarmos o empirismo na fundamentação e teorias das vastas
religiões, pois a característica principal das religiões governam no que denominamos de
âmbito espiritual, que é algo que faz parte da vida das pessoas (para aqueles que não
são ateus, materialistas, etc); porém, não é a vida que vivemos nesta terra. A religião, na
verdade, propõe uma discussão do que seria o nosso pós vida, por isso, dependendo da
crença, existem várias teorias. (ALEXANDER, 2010)
A sociedade tem dificuldade de abordar características abstratas que fazem parte
da nossa realidade, como por exemplo nossas emoções. Da mesma forma que não pode-
mos utilizar objetos e materiais físicos para descrever a tristeza, a religião possui a mesma
raiz. Contamos com a sensibilidade dos seres humanos para compreender e se disporem
a estudar a ciência das religiões.

UNIDADE III Educação no Século XXI 44


Ao depararmos com a angústia em nosso cotidiano, é comum que busquemos
nas doutrinas religiosas meios para aliviar nossos sentimentos. Pelo fato das ciências não
trazerem respostas acerca destes questionamentos, é que se faz necessário as religiões
para a humanidade. Quando o homem se coloca como acima da Natureza, ele acaba por
buscar fora da Natureza, respostas a tudo aquilo que a Natureza não lhe concedeu. Essa
complexidade da religião vem de encontro com a complexidade do próprio ser humano.
(ALEXANDER, 2010)
Por estes e outros aspectos é que a religião é importante ainda no século XXI.
Não apenas sua discussão, assim como sua vivência. Cada religião se apropria de uma
linguagem e de símbolos peculiares a elas, e isso só é possível por conta da busca por
sentido que a humanidade percorre ao longo de sua existência. Se até aqui ainda discuti-
mos pressupostos religiosos, isto demonstra que, de alguma forma, elas trazem sentido ao
mundo, pois ao longo das era não foram esquecidas.

UNIDADE III Educação no Século XXI 45


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir acerca da educação no século XXI é um assunto vasto e que depende de


vários outros segmentos para contemplar seu objetivo. A educação é um direito de todos
os indivíduos e encontramos esse direcionamento em nossa política e constituição. Toda-
via, observamos que na prática, o sistema é falho em vários aspectos. Como professores
precisamos estar atentos ao funcionamento das políticas educacionais e lutarmos a favor
de melhorias sempre.
Uma vez que a sociedade constantemente sofre mudanças, a demanda de um
educador é alta pois precisa dar conta daquilo que ainda precisa ser regularizado e das trans-
formações que o ensino vem sofrendo. Neste ínterim, podemos observar a importância que
a religião possui para os indivíduos que visam discutir pontos abstratos de nossa existência.
A educação atrelada à religião levanta uma série de desafios que ainda precisamos
descobrir como enfrentar para que possamos atravessar os obstáculos que nos prendem
socialmente. Discutir sobre o Ensino Religioso é um tema latente e carente de estudo e
formulações científicas e devidamente embasadas. Assim, contamos com a dedicação de
vocês para nos auxiliar nessa caminhada.

UNIDADE III Educação no Século XXI 46


LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca servir


como base para o professor do ensino religioso não apenas quanto ao conteúdo que pos-
sa vir a ser ensinado em sala de aula, mas também, informar sobre as metodologias de
aprendizagem e as quais abordagens as mesmas se referem. Para tanto, trouxemos texto
baseados no educador que neste ano completaria seu centenário, já que o mesmo constitui
grande referência mundial no âmbito da educação.
O professor de ensino religioso é antes de mais nada um indivíduo que está sempre
aprendendo novas informações e conteúdo. Isto quer dizer que todos nós estamos sempre
dispostos diante de novas informações e precisamos sempre renovar nosso conhecimento
para nós e para os outros.
É muito importante que cada um de nós estejamos dispostos a prosseguir nessa
jornada pelo conhecimento estando sempre abertos para o novo, para as novas metodo-
logias ativas, mas também para aquilo que se constitui como base educacional em nosso
país, como toda a literatura de Paulo Freire.
Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

FONTE:

FALS BORDA, Orlando. Ciencia Propia y Colonialismo Intelectual Ciudad de México:


Editorial Nuestro Tiempo, 1970.

FALS BORDA, Orlando. Por la praxis: el problema de cómo investigar la realidad para transformarla.
In: FALS BORDA, Orlando, et al. Crítica y Política en Ciencias Sociales: el debate sobre teoría y
práctica. Bogotá: Punta de Lanza, 1978.

FALS BORDA, Orlando. Conocimiento y poder popular: Lecciones con campesinos de Nicaragua,
México, Colombia. Bogotá: Punta de Lanza; Siglo Veintiuno Editores, 1985.

FALS BORDA, Orlando. Ante la crisis del país: ideas-acción para el cambio. Bogotá: El Áncora
Editores; Panamericana Editorial, 2003.

FALS BORDA, Orlando. Una sociología sentipensante para América Latina. Compilado por Victor
Manuel Moncayo. Bogotá: Siglo del Hombre y Clacso, 2009.

FALS BORDA, Orlando. La investigación-Acción en convergencias disciplinarias. In: Antología


Orlando Fals Borda Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, 2010, p. 359-368.

FALS BORDA, Orlando. Pesquisa-Ação, ciência e educação popular nos anos 90. In: STRECK,
Danilo (Org.). Fontes da Pedagogia Latino-Americana: uma antologia. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010 [1995].

FALS BORDA, Orlando; ZAMOSC, León. Balance y perspectivas de la IAP. In: GARCÍA, Carlos
(Org.). Investigación Acción Participativa en Colombia Bogotá: Punta de Lanza; Foro Nacional
por Colombia, 1985.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Contra a escola
Autor: Fausto Zamboni.
Editora: Vide editorial.
Sinopse: Por que a escola não educa e condena tantas vidas ao
desperdício e à esterilidade? A educação (ex-ducere, conduzir
para fora) deixou de ser uma abertura à razão e ao espírito, con-
vertendo-se em engenharia social, em manipulação dos instintos
baixos para a realização da vontade de poder. O homem, não mais
educado naquilo que tem de essencialmente humano, passou a
ser instrumentalizado em vista de algum interesse econômico ou
social. Em consequência, desumanizou-se, transformando-se no
imbecil que, com base em concepções erradas acerca da nature-
za humana, cria políticas desumanas. Nessa situação de doença
linguística e espiritual, perdeu a experiência de amplas faixas da
realidade ligadas à razão e ao espírito, assim como a capacidade
de compreendê-las e expressá-las. De nada nos serve essa louca
pretensão de alterar a natureza humana e remodelar o mundo.
Cabe a nós, então, fazer o inventário dos nossos descaminhos, e
retomar a estrada mestra abandonada.

FILME/VÍDEO
Título: A onda
Ano: 2008
Sinopse: O filme do alemão Dennis Gansel apresenta a experiên-
cia conduzida por um professor diante de uma turma desmotivada,
que precisava aprender o conceito de autocracia. O diretor reforça
a importância da escola na formação dos jovens para que erros
históricos, como o fascismo, não venham a ser repetidos.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=QBKEi8qamKM

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UNIDADE IV
O Professor de Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Conceitos e definições da Pedagogia da Autonomia;
● O perfil do professor de Ensino Religioso;
● A ciência das religiões;
● A finalidade do Ensino Religioso.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a importância de uma metodologia
didática no ensino religioso.
● Compreender os tipos de metodologias e como aplicá-las.
● Estabelecer a importância da didática na religião.

49
INTRODUÇÃO

Nesta etapa de nosso estudo, vamos analisar certos aspectos do professor de


Ensino Religioso. Para tal, é importante abordarmos sobre algumas linhas pedagógicas
que guiam nosso estudo e atuação enquanto professores.
A pedagogia e a psicologia, desenvolveram certos estudos através da observação
do funcionamento do ser humano. Além disso, a filosofia e a sociologia contribuem com
este traço analítico da organização da sociedade.
O professor em geral tem um perfil e um modo de atuação que está atrelado com
a sua formação, sobretudo, vamos entender a peculiaridade do professor de Ensino Reli-
gioso, uma vez que, se trata de uma área que consolida a vida social e a crença religiosa.
Esperamos que ao fim desta unidade, estas pressupostas venham a esclarecer a posição
deste profissional e contribua com a formação do mesmo.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 50


1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

A pedagogia é uma importante área do ensino que trabalha com a capacitação de


profissionais que irão atuar nas escolas a partir das idades mais inferiores dos indivíduos.
É uma ciência que contou com a participação de diversas áreas do ensino para a sua
consolidação. Além disso, a pedagogia sofreu através do tempo, várias reformulações e
aprimoramento de sua arte, o que ocasionou na constituição de linhas pedagógicas que
delimitam o perfil do educador e a maneira que pode escolher como aplicar o ensino.
Desta forma, temos na pedagogia o que é chamado de tradições pedagógicas
liberais. Segundo Libâneo (2018), essas pedagogias são dividas entre algumas áreas, e
dentre elas, podemos conhecer as seguintes:

● A pedagogia tradicional: Trata-se de uma perspectiva metodológica que teve


seu início no século XVIII e ainda é utilizada em algumas escolas brasileiras. Ela
coloca o professor como uma figura de autoridade, pois defende que para que
a criança desenvolva um pensamento crítico, ela deve conhecer uma estrutura
sólida de informações na mais tenra idade. Com isso, as aulas constituem um
caráter expositivo e com exercícios de repetições.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 51


● A pedagogia democrática: Esta linha, por estar dentro de uma corrente liber-
tária do ensino e aprendizagem, defende a participação de todos no processo
de desenvolvimento. Assim, o aluno, os pais, os professores e funcionários, têm
o direito à participação na instituição de ensino.Ela coloca o aluno como figura
central do processo de aprendizagem, diferentemente das correntes tradicio-
nais que adotavam o professor como essa figura. Aqui, o professor é apenas um
facilitador do conhecimento.
● A pedagogia montessoriana: Esta linha de aprendizagem foi criada pela italia-
na Maria Montessori sendo uma metodologia que se concentra na experiência
e na abstração. Ela propõe que o aluno tenha em sala de aula materiais que
estimulem a aprendizagem e é ele mesmo quem escolhe o que deseja aprender
naquele dia. A proposta é que cada um aprenda no seu ritmo.Todavia, nesta pro-
posta de aprendizagem existem alguns módulos que precisam ser cumpridos,
para delimitar a avaliação e avanço de uma turma para outra. Em sala de aula,
ela permite apenas vinte alunos no máximo, e a avaliação é feita pelo professor.
● A pedagogia construtivista: Na pedagogia construtivista, é utilizado uma
metodologia de problemas hipotéticos e resoluções de problemas. O professor
não é responsável por passar o conteúdo aos alunos, mas ele também deve tra-
balhar a capacidade cognitiva dos estudantes, fazendo com que eles formulem
as soluções para os problemas, os colocando como seres autônomos dentro da
sala de aula.
● A pedagogia de Waldorf: Esta pedagogia foi criada pelo filósofo austríaco
Rudolf Steiner e é organizada em sete ciclos. O intuito é trabalhar o alunos de
maneira holística, ou seja, considerá-lo como um todo (corpo, alma e espírito).
Os ciclos são divididos em etapas biológicas, que vão de 0 a 7 anos, depois dos
7 aos 14, e o último dos 14 aos 21; todas elas sendo gerenciadas pelo mesmo
tutor, que será quem irá fazer a avaliação de cada aluno.

Dentre as tradições pedagógicas progressistas, vamos analisar as três linhas mais


importantes do movimento, baseado nos estudos de Paulo Freire (1996):

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 52


● A escola progressista libertária: Esta linha pedagógica coloca o professor
como mediador, em que ele apenas irá propor orientações aos alunos neste pro-
cesso de desenvolvimento e aprendizado. As tradições progressistas defendem
o caráter político e senso crítico que precisa ser desenvolvido nos estudantes,
assim, trabalha junto com a autonomia dos indivíduos.
● A escola progressista libertadora: A progressista libertadora seria um sistema
de ensino chamado de horizontal, em que o aluno e professor trabalham juntos
neste desenvolvimento do ensino e aprendizagem. O conteúdo trabalhado em
sala de aula é proveniente da vivência que eles tiram de seu dia-a-dia, assim, os
alunos são divididos em grupos para proporem e discutirem suas ideias.
● A escola progressista crítico-social: A escola progressista crítico-social possui
um viés democrático e político acentuado, de forma que defende que a classe
trabalhadora e menos favorecida tem o direito ao conhecimento. Ela aponta o
ensino como uma arma transformadora da sociedade, e os educadores são
responsáveis por ensinarem através das experiências sociais e a visão de cada
um acerca dos acontecimentos.

Normalmente, cada escola e professor tendem a seguir uma linha pedagógica es-
pecífica, e vale ressaltar que cada uma dessas linhas possuem desdobramentos internos
que afunilam ainda mais alguns métodos pedagógicos em que o professor pode escolher
trabalhar. E foi através da análise dessas linhas pedagógicas que o educador e filósofo
Paulo Freire desenvolveu a chamada pedagogia da autonomia.
Antagônico do sistema de ensino tradicional, Paulo Freire (1996), defende um en-
sino voltado para a construção da autonomia de cada indivíduo. Além disso, em sua última
obra publicada em vida, “A pedagogia da autonomia” levanta a importância de valorizar e
respeitar a cultura de cada aluno e suas experiências individuais. Ele questiona veemen-
temente as propostas de rigidez ética que se volta ao sistema capitalista, o que segundo
ele, é uma doutrinação dos seres humanos desde a menoridade e ainda exclui os menos
favorecidos do processo de socialização.
A pedagogia da autonomia está dentro da tendência pedagógica progressista, e vê
esse enfoque no aluno como um desenvolvimento e libertação de um sistema social que
oprime e reprime os pensamentos e posturas que os indivíduos podem ter na sociedade.
Em relação às posturas religiosas presentes na sociedade, esta linha pedagógica é muito
promissora quando aplicada juntamente a apresentação do conteúdo das disciplinas de En-
sino Religioso, pois muni o professor de ferramentas de ensino que serão éticas e eficientes
no processo de aprendizagem.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 53


2. O PERFIL DO PROFESSOR DE ENSINO RELIGIOSO

Neste tópico de nosso material queremos convidar em especial os professores de


Ensino Religioso a adotarem a pedagogia da autonomia para desempenharem seu papel
enquanto educadores nas escolas brasileiras. Conforme foi exposto em nosso estudo, a
sociedade brasileira defende a constituição de um Estado laico, em que todas as pessoas
são livres para exercerem seus direitos de ir e vir.
Considerando a diversidade social e cultural de um país com extensão geográfica
continental, que é o caso do Brasil, buscamos formar profissionais que entendam e respei-
tem essa diversidade. Uma vez que o professor entenda a positividade dessa prática dentro
da sala de aula, os alunos tendem a aprender com seu próprio exemplo. Além disso, por
possuir um caráter político, esta tendência se casa muito bem com o Ensino Religioso, pois,
como foi demonstrado anteriormente, se manifestar a favor de uma religião, implica em se
manifestar politicamente.

REFLITA

“Laico é o Estado imparcial diante das disputas do campo religioso, que se priva de
interferir nele, seja pelo apoio, seja pelo bloqueio a alguma confissão religiosa. Em con-
trapartida, o poder estatal não é empregado pelas instituições religiosas para o exercício
de suas atividades.”

Fonte: CUNHA, 2013, p. 07.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 54


O filósofo Hegel (1770-1831) afirma que a Reforma Protestante foi mais importante
do que a Revolução Francesa, porque o caráter da Reforma Protestante expressa uma
liberdade das amarras religiosas que regiam a sociedade naquela época. Vale lembrar
que naquele período, a cultura social era governada pela estrutura Estado e Igreja, e, uma
vez que ambas estivessem separadas, o homem poderia ter uma autonomia de escolha
maior, além disso, mesmo ele permanecendo na mesma religião que outrora, foi após a
Reforma que a Bíblia fora traduzida para a linguagem vulgar, assim, foi concedida também
a autonomia de verificar e questionar se aquilo que a Igreja decretava, estava de acordo
com as Escrituras Sagradas.
Mediante estas informações, vemos que o perfil do professor de Ensino Religioso
está em dialogar com os alunos para que eles se sintam livres a exporem suas crenças e
opiniões e conduzir uma discussão saudável sobre todos estes pontos. É importante que o
educador esteja apto a criar um meio neutro e livre de julgamentos, além disso, o professor
de Ensino Religioso deve se despir de sua religião ou irreligião durante o período em que
está conduzindo uma sala de aula. O intuito é permitir que os educandos cheguem às suas
próprias conclusões.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 55


3. A CIÊNCIA DAS RELIGIÕES

A ciência das religiões é a área de estudo que permite estudar e analisar todos os
tipos de movimentos e manifestações religiosas. Em se tratando do Brasil, a religião pre-
dominante como já foi abordado, seria o catolicismo. Além disso, a religião cristã acaba por
ser uma boa ferramenta de estudo pois ela contém um “manual” que rege o funcionamento
da prática religiosa. Desta forma, para definir uma prática ou comportamento cristão, basta
verificar se está de acordo com as Escrituras Sagradas. (OLIVEIRA, 2007)
Entretanto, não é porque a religião predominante no nosso hemisfério seja a cristã,
que é apenas ela que devemos e podemos estudar. No Brasil, encontramos uma comuni-
dade de fé Islâmica consolidada, e, portanto, como profissionais estudantes das religiões,
precisamos conhecer os atributos e pressupostos desta religião. Assim como ocristianismo,
neste caso, temos uma religião que possui também uma Escritura Sagrada a qual pauta
como deve ser a postura e prática de fé dos seus fiéis.
Porém, ainda encontramos diversas religiões consolidadas em nossa sociedade e
as principais são as descritas abaixo. (OLIVEIRA, 2007; NOGUEIRA, 2020)
● Cristianismo: Se ramifica entre catolicismo e protestantismo.
● Islamismo: Se ramifica entre os muçulmanos xiitas e os sunitas.
● Budismo: Se trata de uma religião em que não há uma deidade estabelecida.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 56


● Agnosticismo: É difícil afirmar que a rigor seria uma religião, mas é uma vertente
de pensamento que concebe uma maneira de ver o mundo que abrange os ques-
tionamentos que levam a uma religião.
● Espiritismo: É uma doutrina religiosa que está pautada na moral cristã, mas que
se concentra nos ensinamentos dos espíritos.
● Umbanda: Esta religião é brasileira e se trata de um sincretismo entre as religiões
católica, espírita e as religiões afro-brasileiras.
● Candomblé: O candomblé é uma religião africana que foi trazida ao Brasil pelos
africanos escravizados.
● Judaísmo: O judaísmo é a mais antiga religião monoteísta da história, embora
atualmente seja a com menos adeptos em relação às outras religiões monoteístas.
● Ateísmo: O ateísmo seria a atribuição às pessoas que não se identificam com as
religiões existentes e também não identificam uma deidade existente.

Se propor a conhecer as religiões é um campo de estudo no qual não se estuda


apenas aquela que se adeque com sua crença, mas sim se dispor a entender como se dão
as relações religiosas presente na nossa sociedade.

SAIBA MAIS

“O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do ci-


dadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino funda-
mental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quais-
quer formas de proselitismo.”

Fonte: Sepulveda, 2017, p. 08.

É importante que o professor de Ensino Religioso se alinhe às informações que


esta área de conhecimento pode proporcionar para que seu trabalho seja mais efetivo.
Considerando o fato de que em sala de aula o aluno pode se inserir dentro de qualquer uma
dessas religiões apresentadas, o educador precisa estar preparado e apto para exercer
seu trabalho conhecendo as peculiaridades e diferenças entre todas elas, e também saber
como abordar conteúdo a ser estudado.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 57


4. A FINALIDADE DO ENSINO RELIGIOSO

A finalidade da proposta do Ensino Religioso tem vistas a conscientização que a


educação religiosa busca propor. É preciso que toda a sociedade compreenda, inclusive a
comunidade religiosa, que dialogar e estudar as diversas religiões não significa blasfemar
contra sua própria crença. As religiões como um todo possuem muitos tabus e preconceitos
com as demais crenças religiosas e por isso, uma sistematização do ensino das religiões
pode contribuir com esse estigma social.
Estudar as religiões ainda traz uma conscientização sobre a diversidade cultural e
religiosa dentro do nosso país. O preconceito às religiões minoritárias, e, principalmente, as
de matrizes africanas, é um fato trágico, porém, real na nossa sociedade.
De acordo com Nogueira (2020), a intolerância religiosa também pode ser deno-
minada de racismo religioso, por conta da maneira que esse preconceito é manifestado.
Ele afirma que é comum ataques e depredações a terreiros de Umbanda e Candomblé.
Em seu livro intitulado “Intolerância Religiosa”, ele propõe um estudo tendo em vista a
epistemologia do terreiro, e afirma que estes pontos de intolerância e racismo precisam ser
tratados e enfrentados pela sociedade atual.
A intolerância acaba por ser algo não debatido nos dias sociais, pois, há um eufemis-
mo entre o modo de pensar a liberdade e diversidade em que acaba sendo tolerável o não
tolerar. Dessa forma, há um estigma no senso comum de permitir e normalizar a intolerância.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 58


SAIBA MAIS

Neste ano, o racismo religioso se agravou muito. De acordo com os dados do Disque
100, em 2016, tivemos 759 denúncias de “discriminação religiosa”; em 2017/18, a média
foi de 500 denúncias anuais e, em 2019, somente no primeiro semestre, 354 denúncias,
ou seja, certamente em 2019 a situação se agravou novamente. Vale destacar que não
é algo valorizado pelo governo que assume a presidência em 2019 e isso certamente,
fortalece as subnotificações. A polarização também religiosa é usada para o que chamo
de proselitismo político, têm agravado as perseguições e os movimentos de satanização
das religiões de origem negra e isso pode ser visto refletido no discurso espalhado no
cotidiano das pessoas principalmente nas redes sociais.

Fonte: PORTAL GELEDÉS. ‘O racismo religioso se agravou muito no Brasil nos últimos anos’.

Disponível em : https://www.geledes.org.br/o-racismo-religioso-se-agravou-muito-no-brasil-nos-ulti-

mos-anos/?noamp=available&gclid=Cj0KCQjw5uWGBhCTARIsAL70sLJJRX3zsgJqovbVBuPcUco5Zkw-

NofrTj6tDXgfPfGbrsM1CucySU7YaAp4aEALw_wcB. Acesso em: 01 set. 2021.

Pensamos que a conscientização acerca das religiões serviria de suporte para


combater as práticas inaceitáveis de intolerância e racismo religioso. Além do mais, o
conhecimento sobre as doutrinas e pensamento, tendem a capacitar os indivíduos a de-
senvolverem autonomia e senso crítico. Se identificar como praticamente de uma religião
específica, implica em conhecer os atributos de cada crença e saber como e porquê nos
manifestamos de determinada maneira.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos nesta unidade reflexões acerca das linhas pedagógicas de ensino


e aprendizagem e como o professor de Ensino Religioso pode e deve buscar se portarem
em sala de aula.
Ressaltamos também que se manifestar religiosamente significa se manifestar po-
lítica e democraticamente. Entretanto, é importante que esse exercício seja feito de modo
consciente, pois, uma vez que se compreende a importância e o efeito que o posicionamen-
to tem na sociedade, devemos fazer isso com a motivação correta.
Conforme mencionado, o conhecimento das religiões nos capacita a compreen-
dermos e respeitarmos a diversidade em todas as áreas de nossa cultura, e desejamos
que este material contribua na jornada de todos que aspiram prosseguir na área de ensino
das religiões.

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LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca servir


como base para o professor do ensino religioso com textos que abordam exatamente sobre
a prática do ensino religioso como disciplina curricular nas escolas. Conforme buscamos
abordar nas unidades deste material, o ensino religioso constitui muitas facetas, portanto,
nós enquanto professores precisamos compreender toda essa construção social, religiosa
e suas bases históricas.
A seguir temos algumas indicações de leituras que podem contribuir para todo
profissional de ensino religioso uma vez que traz uma autoridade sobre este assunto. O
processo de escolarização no Brasil como um todo sempre discutiu o ensino da religião e
da ética a fim de agregar no processo de aprendizagem de todos os alunos.
Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

Fonte:

JUNQUEIRA, S. R. A. O processo de escolarização do Ensino Religioso no Brasil.

Petrópolis: Vozes, 2002.

JUNQUEIRA, S. R. A.; NASCIMENTO, S. L. Concepções do Ensino Religioso.

Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora/MG, v. 16,


n. 1, p. 783-810, jan./jun. 2013. Disponível em:Disponível em:https://numen.ufjf.

emnuvens.com.br/numen/article/view/2141 . Acesso em: 19 ago. 2020.

JUNQUEIRA, S. R. A. Ensino Religioso: espaço dos catecismos. Horizonte, Belo

Horizonte, n. 36, p. 1283-1314, out./dez.2014.

JUNQUEIRA, S. R. A. (org.). Ensino Religioso no Brasil. São Leopoldo: Insular, 2015.

JUNQUEIRA, S. R. A.; KLEIN, R; BRANDENBURG, L. E.; Compêndio do Ensino

Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2017.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 61


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Todos os jeitos de crer
Autores: Alessandro Bigheto e Dora Incontri.
Editora: Ática.
Sinopse: Ensinar sobre religião significa também falar das rea-
lidades humanas, em suas múltiplas, complexas e atuais mani-
festações. Todos os Jeitos de Crer contribui, assim, com grande
variedade de temas transversais, que possibilitam aos alunos uma
reflexão inter-religiosa, ética, filosófica e histórica e o respeito mú-
tuo, dentro e fora da sala de aula, reforçando a visão ecumênica
e interdisciplinar da coleção. As fotografias e as obras de arte de
diversos períodos e movimentos presentes na coleção auxiliam na
compreensão e na expansão dos conteúdos, tornando o apren-
dizado mais agradável e significativo. O conteúdo é apresentado
em capítulos independentes, permitindo a escolha dos temas que
serão trabalhados ao longo do ano, na ordem em que preferir.

FILME/VÍDEO
Título: Escritores da Liberdade
Ano: 2007
Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de
um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violên-
cia. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e
há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com
que os alunos aprendam e também falem mais de suas complica-
das vidas, a professora Gruwell aposta em métodos diferentes de
ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si
mesmos, aceitando mais o conhecimento e reconhecendo valores.
Disponível no Amazon Prime.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 62


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CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Buscamos tratar neste breve ensaio sobre o Ensino Religioso um panorama geral
da história da religião e suas contribuições históricas e filosóficas. Para tanto, abordamos
as definições teóricas acerca da religião, educação e ciências da religião. Optamos por
detalhar aspectos sociais e filosóficos que permeiam a sociedade brasileira no que tange a
religião em geral. Desejamos que tudo que foi colocado até aqui tenha sido proveitoso para
sua jornada enquanto estudante dessa arte que denominamos religião.
Destacamos também a importância do respeito à diversidade religiosa, uma vez
que estudar e apresentar este tema, visa a democratização do pensamento, e, das escolhas
de cada indivíduo. Vale ressaltar que, nosso País é extenso geograficamente e em cultura,
por conta disso, buscamos explorar todos os contextos religiosos que influenciam nosso
pensamento e constituição social.
A educação, parte muito importante desse nosso estudo, esclarece o quanto o
profissional de Ensino Religioso precisa estar atento aos estudos pedagógicos e de apren-
dizagem para que o mesmo esteja apto a prever qual conteúdo deve ser abordado e qual
a melhor metodologia a ser utilizada de acordo com seu público. Desta forma, esperamos
que todo conteúdo abordado até aqui tenha sido proveitoso e instigante para que cada um
de vocês possa prosseguir em seus estudos, se profissionalizando nas áreas de interesse
que concerne a cada indivíduo.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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