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Teórico-Metodológicos do
Serviço Social (60 e 80)
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira
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E D I T O R A
2021 by Editora EduFatecie
Copyright do Texto © 2021 Os autores
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ISBN 978-65-87911-37-3
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André Dudatt
AUTORA
UNIDADE I....................................................................................................... 4
O Trabalho Profissional na Contemporaneidade
UNIDADE II.................................................................................................... 33
Formação Profissional na Contemporaneidade
UNIDADE III................................................................................................... 67
O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na
Sociedade do Capital
Plano de Estudo:
● O Serviço Social na Contemporaneidade;
● Trabalho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as
transformações societárias recentes;
● Demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários.
Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o Serviço Social na contemporaneidade,
entendendo as mudanças e os desafios profissional;
● Compreender o termo trabalho e o Serviço Social e o redimensionamento
da profissão ante as transformações societárias recentes;
● Destacar as principais demandas e respostas no que se refere
a categoria profissional aos projetos societários.
4
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade você irá se debruçar sobre o trabalho
profissional do assistente social na contemporaneidade. Para entender esse assunto, é
preciso dividir em três tópicos, sendo eles: o Serviço Social na contemporaneidade; Traba-
lho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias
recentes; e as demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários, em
que serão explanados temas importantes, referentes ao fazer profissional.
Portanto, na primeira parte você estudará sobre os desafios que o assistente social
vivencia cotidianamente; aqui serão destacados três aspectos reflexivos sobre a profissão,
levando a busca do entendimento sobre a questão social e o mercado de trabalho. É ne-
cessário fazer um breve resgate histórico sobre a origem do termo “questão social” para
entender as desigualdades sociais no Brasil e, assim, compreender o mercado de trabalho
profissional, principalmente do assistente social. Afinal, foi por meio dos problemas sociais
que houve a ampliação de diversos campos de atuação, porém também propiciou as mu-
danças nos campos de atuação e o surgimento de grandes desafios no fazer profissional.
Já na segunda parte será estudada a origem o termo “trabalho”. Esse é um ponto
importante para compreender o Serviço Social na sociedade e como a profissão está inse-
rida e inscrita na divisão social e técnica do trabalho através da prática profissional. A partir
desse entendimento, o processo de trabalho passa a fazer parte da vida do homem em meio
a sociedade. Assim, você irá entender o processo de trabalho do assistente social, para
depois compreender sobre o redimensionamento da profissão antes das transformações
societárias, que se voltam para as mudanças no mercado de trabalho profissional.
E, por fim, a terceira parte abordará as demandas profissionais no âmbito das
relações entre o Estado e a sociedade. Serão destacados alguns pontos reflexivos con-
siderados pela grande autora Iamamoto, como ocultos no VII Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, enfatizando que os
profissionais precisam compreender as condições de trabalho ao buscar respostas para o
fazer profissional.
Espero que tenha um excelente estudo!
Fonte: a autora.
REFLITA
Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide
a ação do sujeito, ou seja, o próprio trabalho que requer meios ou instrumentos para que
possa ser efetivado. Em outros termos, todo processo de trabalho implica uma matéria-
-prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que po-
tenciam a ação do sujeito e objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado
a um fim, que resulta em um produto.
A pressão da população usuária sobre a demanda dos serviços está cada vez
maior, isso devido ao aumento da pauperização e a falta de recurso em algumas instituições
prestadoras de serviços sociais, que acaba inviabilizando o trabalho dos assistentes so-
ciais, principalmente nos serviços mais necessitados, como a saúde; educação; habitação
e entre outros. Isso aumenta o processo de seleção em relação aos atendimentos, o que
torna os direitos sociais pouco acessíveis.
Mediante a essa restrição quanto à capacidade de atendimento, o profissional do
Serviço Social se vê cada vez mais restringido na atuação, executando um trabalho bu-
rocrático, com uma visão de favoritismo, em que tanto o empregador quanto o usuário do
serviço acabam tendo a visão “moça boazinha”. Com isso o assistente social acaba tendo
dificuldade em exercer o seu trabalho enquanto profissional capacitado e especializado.
Para entender sobre a restrição quanto à capacidade no atendimento, a autora
Iamamoto (2012) destaca que, antes, os critérios em relação à provisão de cesta básica
era o desemprego, no entendo como esse fator tem aumentado muito nos últimos anos e
o valor dos alimentos também aumentaram, acabou tendo outros critérios quanto ao rece-
bimento do benefício, e um deles é a pobreza extrema. Com isso pode-se considerar que
os direitos dos trabalhadores estão se tornando invisíveis; fora os profissionais que ficam
impossibilitados de trabalhar pela falta de recursos. Nesse tipo de situação fica evidente
o anseio em relação ao papel do assistente social mediante a dificuldade de planejar e
executar propostas de trabalho.
Essa realidade instável, principalmente no serviço público, os profissionais não de-
vem fazer parte e/ou deixar-se abater. Não devemos criar impasses ou desilusões do fazer
SAIBA MAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade e espero que os estudos apreendidos
tenham auxiliado quanto ao entendimento do trabalho profissional na contemporaneidade, pois
se trata de um assunto que deve ser discutido constantemente pela categoria profissional. As
mudanças na sociedade implicam no fazer profissional e ter o entendimento dessas mudanças
é o que faz a diferença no momento da atuação nos diversos campos de atuação.
Para que os assuntos sejam fixados vamos fazer alguns resgates dos principais
pontos abordados nesta unidade, mas quero aqui deixar o convite para que busque outras
fontes de pesquisas e leia o livro da autora Iamamoto: O serviço Social na Contempora-
neidade: trabalho e formação profissional, pois, além de ser um livro importante para a
categoria profissional, foi por meio dele que extrai o conteúdo desta unidade. Acredito ser
de grande relevância para o seu processo de formação.
Pois bem, na primeira parte da unidade foram apresentados três aspectos reflexivos
que considero importantes e que devem sempre acompanhar você no momento da atua-
ção, principalmente por ter estudado nas disciplinas de Fundamentos Históricos Teóricos
Metodológicos do Serviço Social sobre a origem da profissão, a qual destaca a trajetória
dos profissional, principalmente na relação conservadora com base da igreja católica e o
rompimento desta doutrina avanço a uma profissão com bases teóricas mais precisas.
E ao analisar toda a trajetória e entendo que nos dias atuais o Serviço Social é con-
siderado uma profissão liberal regida por um Código de Ética Profissional e com um Projeto
Ético Político que auxilia os profissionais no momento da atuação para que não tenha uma
postura conservadora, executando tarefas rotineiras e para isso preciso ter compreensão
do fazer profissional para que consiga realizar o trabalho rompendo com a visão endógena
enraizado na profissão.
Entender que a profissão não é sinônimo de “ajuda” é o que irá fazer a diferença
no momento da atuação profissional. Mesmo que o mercado de trabalho profissional passe
por mudanças e os campos de atuação sejam ampliados devido às diversas demandas ad-
vindas da sociedade e, consequentemente, surjam as burocracias, é preciso ter em mente
que o fazer profissional depende de nós para fazer a diferença na sociedade.
(...)
LIVRO 01
Título: O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e for-
mação profissional.
Autor: Marilda Villela Iamamoto.
Editora: Cortez.
Sinopse: Este livro comporta uma nova e inquietante agenda de
questões para o trabalho e para a formação profissional do as-
sistente social. O Serviço Social sente hoje os impactos de uma
nova conjuntura, que lhe coloca o desafio de repensar a formação
profissional em tempos de novas demandas e de investimentos.
LIVRO 02
Título: O Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profis-
sionais.
Autor: Autores diversos.
Editora: Editado pelo CFESS e ABEPSS.
Sinopse: este livro reúne textos que abordam uma temática es-
sencial ao trabalho dos(as) assistentes sociais e para a formação
de estudantes de Serviço Social e, certamente, será uma referên-
cia obrigatória nos debates sobre as competências e atribuições
profissionais no âmbito das políticas sociais e na realização de
direitos.
FILME/VÍDEO
Título: À Procura da felicidade
Ano: 2006
Sinopse: Em À Procura da Felicidade, Chris Gardner (Will Smith)
é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros.
Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda
(Thandie Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai
solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de
apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para
conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno.
Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora
de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua
esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contra-
tado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus
problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o
que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a
dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que
consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias
melhores virão.
Plano de Estudo:
● A formação profissional na contemporaneidade.
● O debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação
e aprofundamento do marxismo.
● Política de Prática Acadêmica: o método BH.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos;
● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação;
● Identificar os aspectos legais da contabilidade;
● Compreender as características da informação e quem as utiliza.
33
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), esta é a segunda unidade da apostila, que irá estudar sobre o
processo formativo contemporâneo. Para a sua compreensão, o assunto foi dividido em
três partes, explanando sobre a formação profissional na contemporaneidade; o debate
contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do
marxismo; e a política de prática acadêmica: o método BH.
Nesta unidade abordarei assuntos e temas importantes para entender o processo
formativo em Serviço Social. Para isso utilizarei como base principal o livro Serviço Social
na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional, de Marilda Villela Iamamoto, e,
como forma de direcionar você para a leitura e entendimentos, destacarei alguns pontos
importantes ao longo das próximas páginas.
Na primeira parte você irá estudar sobre a reformulação do currículo mínimo por
meio dos debates advindos da categoria, destacando os desafios encontrados para a
reconstrução do projeto de formação, as conquistas e dilemas nos anos de 1980 e as
exigências e perspectivas do projeto de formação profissional na contemporaneidade.
Já na segunda parte será abordado o processo formativo profissional a nível da
herança marxista, que esteve em consonância com o Movimento de Reconceituação con-
siderado como um legado profissional; destacando o início da formação em Serviço Social,
os motivos que levaram esse movimento na categoria, tendo como ênfase o Movimento de
Reconceituação no Brasil e a perspectiva crítica dialética que levou a vários debates por
meio dos Congressos. Nesta parte será destacado o III Congresso Brasileiro de Serviço
Social, que aconteceu no ano de 1979, conhecido como Congresso da Virada. A partir dos
temas abordados é necessário repensar no processo formativo.
Por fim, a terceira parte, em que será realizada uma análise sobre a prática aca-
dêmica da Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora; por meio das resoluções sobre as
Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, saiu na frente e se fez necessário um
movimento por meio dos professores e alunos para entender as diretrizes e a matriz curricu-
lar do processo formativo. Assim, buscou-se aprofundar nos fundamentos e as dimensões
da política e prática acadêmica para entender o processo formativo na contemporaneidade.
Caro(a) aluno(a), para pensar a formação profissional nos dias atuais, é preciso
refletir sobre temas discutidos na atualidade, além de pesquisar e decifrar as novas de-
mandas que envolvem o Serviço Social. Mas é necessário que os profissionais busquem
se aprofundar em teorias e informações para subsidiar a criação de propostas no ato da
atuação profissional, sendo capaz de elaborar programas, projetos e formular e implemen-
tar as políticas sociais para atender as necessidades da sociedade.
Para entender as discussões da categoria acerca da formação profissional na con-
temporaneidade, é preciso ter em mente que houve uma reformulação no currículo a partir
de um crítico debate envolvendo as unidades de ensino, por meio dos professores, alunos
e profissionais, dirigido pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABEPSS).
O objetivo foi a construção e implementação de um novo projeto de formação profissional
que atribuísse as três dimensões – ensino, pesquisa e extensão –; o intuito era incorporar
o Serviço Social no meio acadêmico.
De acordo com a Iamamoto (2012), a proposta do debate foi dar continuidade ao
processo formativo, rompendo com qualquer visão endógena que enfraquece a categoria,
preservando os avanços já conquistados e identificando as mudanças no mercado do
trabalho, principalmente nas relações entre o Estado e a sociedade. Com isso, a forma-
ção profissional se manifesta a partir de novas tendências e condições decorrentes do
processo social, contribuindo em relação à construção de respostas consideradas sólidas
SAIBA MAIS
No ano de 1964 começa no Brasil a ditadura militar, durando até o ano de 1985 e
deixando uma herança desastrosa na população. Com um regime opressor não foi difícil
de entender que o Movimento de Reconceituação iniciasse no território brasileiro, tendo im-
pacto peculiar na “renovação do Serviço Social com exigências próprias do projeto ditatorial
e permitiu a consolidação de um perfil de profissionais bastante diverso do tradicionalismo”
(NETTO, 2005b, p. 16).
No entanto, não foi somente com o regime opressor da ditadura militar que a
renovação do Serviço Social aconteceu, mas um misto de fatores históricos advindo do
quadro da autocracia burguesa, além da relação complexa que a categoria adquiriu desde
o surgimento da profissão levando legitimidade a colapso da forma tradicional e conserva-
dora, levando a categoria a busca pela identidade profissional além da “fundamentação e
legitimação para as suas concepções profissionais” (NETTO, 2005b, p. 141).
De acordo com Iamamoto (2004), a identidade profissional é formada a partir de
um certo pano de fundo histórico e tem novas conotações com o desenvolvimento das
sociedades nacionais. Se a imagem dos judeus, da justiça moderna e da caridade, em sua
trajetória, marca o serviço social, então se desvelou o movimento de revisão do setor em
nível latino-americano, denominado Movimento de Reconceituação do Serviço Social, con-
siderado como um marco para a profissão que está bem presente na literatura profissional
mais recente como forma de entender um fato histórico e divisor de águas para a profissão.
Neste sentido Netto (2005a, p. 17) destaca que
É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura
começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentir no Brasil as
ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma
crítica radical do tradicionalismo - e essas ressonâncias reverberam tanto
mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, como
claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem dos
anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário-sindical e o
Caro(a) aluno(a), não existe dúvida de que a história do Serviço Social, de certa
forma, assumiu gradativamente o debate do quadro de crise brasileira. Mas foi a partir
da ditadura militar que surgiu a contribuição decisiva na luta pela ampliação da fundação
metodológica e teórica da profissão.
De acordo com Iamamoto (2012), houve um marco simbólico que reposicionou a
direção da categoria, acontecido no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em
São Paulo, “Convenções do Anhembi”, em 1979. Nessa reorganização, a comissão de
honra composta pelos ministros de estado consiste em trabalhadores brasileiros; na reu-
nião de encerramento, ministros, metalúrgicos e líderes do movimento popular. A Proposta
era expandir pela maioria dos membros do Congresso a reflexão sobre as posições dos
profissionais que acreditam que a fusão é essencial, capacitação profissional para a luta
dos trabalhadores na busca pela conquista dos espaços sócio-ocupacionais.
Nesse aspecto, a autora supracitada considera que o Serviço Social é marcado
pelo caráter crítico, tanto na interação com as forças sociais quanto os movimentos pre-
sentes no cotidiano da atuação profissional, independente se estão ligadas às vertentes
não-marxistas e/ou marxistas. De qualquer forma, a vertente marxista passou a fazer parte
dos debates no seio da categoria. Isso indica que à medida que o Serviço Social modifica
a direção ao “marxismo” é purificado o ecletismo original e revelado o conteúdo oculto. A
REFLITA
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da segunda unidade e, é com alegria que des-
taco a importância de estudar o processo formativo na contemporaneidade, as mudanças
que, ao longo da trajetória histórica da profissão, nos proporcionaram grandes conquistas e
aprendizados e o quão importante foi o Movimento de Reconceituação.
Não podemos deixar de agradecer aos profissionais que lutaram e conquistaram
o processo formativo que nos deparamos atualmente. Profissionais que entre os anos de
1960 a 1980 realizaram grandes debates que fundamentam as bases teóricas, metodológi-
cas e técnicas da profissão e aprendemos no processo formativo.
A partir dessa informação, vamos recapitular alguns pontos importantes estuda-
dos nesta unidade, sabendo que foi dividida em três partes. Na primeira parte abordamos
sobre a formação profissional na contemporaneidade, destacando pontos importantes que
fortaleceram a profissão. Foi preciso romper com a visão endógena que acabou enfra-
quecendo a categoria, permitindo que os assistentes sociais pudessem compreender, de
forma crítica, as tendências atuais e a expansão do capitalismo e a sua influência nas
mudanças da sociedade. Também foi destacado sobre o debate de formação profissional
na década de 1980, apresentando as principais conquistas e os problemas enfrentados
pela categoria e as exigências e perspectivas sobre o processo formativo, destacando os
novos profissionais.
Na segunda parte foi destacado sobre os debates, dando foco ao Movimento de
Reconceituação, com ênfase no Brasil, movimento este que é considerado um marco para a
categoria, principalmente por ter discutido sobre o processo formativo. Também foi destaca-
do no debate a base teórica, tendo como dimensão marxista a perspectiva crítica-dialética
e a tradição marxista nos debates contemporâneos.
Já na terceira e última parte desta unidade você, caro(a) aluno(a), estudou sobre
a políticas de prática acadêmica, com foco no método da Universidade Federal de Juiz
de Fora. Entendeu os fundamentos e as dimensões da política de prática acadêmica do
Serviço Social a partir das atualizações na diretriz curricular, que aconteceu nos anos 1996,
1999 e 2002, vigente até os dias atuais. Essas atualizações na diretriz curricular do curso
de Serviço Social foram uma conquista para o processo formativo.
2 - Competências e Habilidades
A) Gerais A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-me-
todológica e ético política, como requisito fundamental para o exercício de atividades
técnico-operativas, com vistas à • compreensão do significado social da profissão e de
seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as
possibilidades de ação contidas na realidade; • identificação das demandas presentes na
sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão
social; • utilização dos recursos da informática.
3 - Organização do Curso
• Flexibilidade dos currículos plenos, integrando o ensino das disciplinas com outros
componentes curriculares, tais como: oficinas, seminários temáticos, estágio, atividades
complementares; • rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e
do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais
o profissional se defronta; • estabelecimento das dimensões investigativa e interpretativa
como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teo-
ria e realidade; • presença da interdisciplinaridade no projeto de formação profissional; •
exercício do pluralismo teórico-metodológico como elemento próprio da vida acadêmica e
profissional; • respeito à ética profissional; • indissociabilidade entre a supervisão acadêmi-
ca e profissional na atividade de estágio.
6- Atividades Complementares
As atividades complementares, dentre as quais podem ser destacadas a monitoria,
visitas monitoradas, iniciação científica, projeto de extensão, participação em seminários,
publicação de produção científica e outras atividades definidas no plano acadêmico do
curso.
LIVRO 01
Título: Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios
críticos
Autor: Marilda Villela Iamamoto
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro oferece aos assistentes sociais uma síntese
crítica das problemáticas centrais da profissão, iluminadas por um
foco teórico singular e tratadas com a sua reconhecida compe-
tência. Painel das grandes polêmicas dos anos oitenta, a herança
conservadora do Serviço Social e sua ultrapassagem, a profissão e
a divisão social do trabalho, a questão social e a era do monopólio,
a formação profissional e suas perspectivas, esta obra é mais que
um documento, contém elementos programáticos para permitir ao
Serviço Social enfrentar, com êxito, os desafios do futuro.
LIVRO 02
Título: Ditadura e Serviço social: uma análise do Serviço Social no
Brasil pós-64
Autor: José Paulo Netto
Editora: Cortez
Sinopse: O que ocorreu no Serviço Social brasileiro nos anos
1960 a 1980? Que processos determinaram a extraordinária re-
novação experimentada por ele? Como e por que os assistentes
sociais desenvolveram, neste período, concepções e propostas
tão diferentes? Quais as relações entre esta renovação e a ditadu-
ra militar? Como a teorização do Serviço Social se relaciona com
a cultura e a sociedade brasileiras? Este livro pretende responder
a estas indagações de forma rigorosa e original. José Paulo Netto
oferece um texto severo, combativo, em uma obra polêmica.
FILME/VÍDEO 01
Título: Os estagiários
Ano: 2013
Sinopse: Quando são demitidos, dois homens na casa dos 40
começam a procurar por um novo trabalho. Apesar de não sabe-
rem nada de tecnologia, eles são contratados como estagiários no
Google, local em que convivem com chefes vinte anos mais novos
do que eles.
Plano de Estudo:
● Concepção de mundo;
● Crítica da Economia Política e o Serviço Social;
● Serviço Social, práxis e trabalho;
● O Projeto Ético - Político do Serviço Social brasileiro: emancipação humana, para
além dos direitos e da cidadania burgueses.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a concepção de mundo;
● Analisar a crítica da economia política para o Serviço Social;
● Entender o Serviço Social a práxis e o trabalho;
● Contextualizar sobre o Projeto Ético do Serviço Social Brasileiro.
67
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta terceira unidade você irá compreender o Projeto Ético Pro-
fissional do Serviço Social brasileiro e a formação na sociedade capitalista. Para entender
todo contexto, esta unidade será dividida em quatro partes. Primeiramente será apresen-
tada a concepção de mundo – seu significado para alguns autores e a relevância para o
Serviço Social –, depois compreenderá a crítica da economia política a partir das teorias de
Marx e o Serviço Social neste contexto. Em seguida serão apresentados alguns conceitos
do que é o trabalho na vida do homem, a concepção da práxis e o Serviço Social dentro
desse contexto. Por fim, o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro.
Portanto, na primeira parte será apresentada a concepção de mundo a partir das
quatro notas, destacadas por Gramsci, em sua obra Caderno do Cárcere - volume 01, e os
tipos de concepção de mundo, apresentados por Dilthey. Após esses entendimentos, será
destacada a concepção de mundo para o Serviço Social, tendo o entendimento de que tudo
está ligado ao processo histórico.
Na segunda parte, estudaremos sobre a crítica da economia política que Marx,
em seu livro O Capital - volume 01, apresenta sobre o processo de produção ao capital,
tendo outros estudiosos a missão de dar continuidade aos estudos de Marx atualmente.
Dentro desse contexto é que o Serviço Social assume o compromisso com a sociedade,
principalmente com a classe trabalhadora.
Na terceira parte são destacados os principais conceitos sobre o trabalho na vida
do homem, utilizaremos autores considerados fundamentais para o Serviço Social. Em
seguida destacarei sobre o conceito de práxis, apresentando as formas e os níveis, para
depois compreender essa concepção para o Serviço Social, que é fundamental para o
profissional entender a importância da práxis no momento da atuação.
Por fim, na quarta parte dessa unidade, considero importante para você, aluno(a),
entender a importância do Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social, em que
momento esse projeto surgiu, quais são as bases que o fundamentam, a importância de
entender o projeto societário e profissional e a emancipação humana que é considera para
além do direito e como a sociedade capitalista está organizada.
Bons estudos!
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 68
1. CONCEPÇÃO DE MUNDO
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 69
Segundo Gramsci (2004), o ser humano pode ter consciência de algo de forma
grupal ou por si próprio. Mesmo no mais simples desempenho de qualquer atividade inte-
lectual a concepção do mundo é incluída, seja no momento da crítica ou simplesmente da
consciência, por exemplo, é possível pensar sem ter consciência crítica. Neste aspecto, ao
participar de uma concepção de mundo, imposta por grupos sociais, o ser humano pode
ter consciência de algo que foi posto a ele e/ou elaborar a própria concepção de mundo
de uma maneira mais consciente e crítica. Para isso, é preciso entender a concepção de
mundo posta a ele, ou seja, é preciso entender a história que está inserida, tendo consciên-
cia crítica em relação à própria decisão. Assim, torna-se o guia dos próprios pensamentos
e não aceita as imposições dos grupos sociais, com isso, temos um paradoxo atrelado à
concepção de mundo.
A estrutura da concepção de mundo e sua diferenciação na forma singular entram em
momentos imprevisíveis, como: as mudanças na vida, nos tempos, modificações no contexto
da ciência, o gênio das nações e dos indivíduos, o interesse pelos problemas, as ideias de-
rivadas de contextos históricos, a compensação pela localização histórica sempre adequada
a formações de classe mundial, reagrupando experiências, emoções e ideias importantes,
componentes e significado geral. No entanto, uma vez que a legitimidade dita a profundidade
da estrutura, a regularidade lógica não é agregação, mas forma (DILTHEY, 1977).
É importante destacar que a concepção de mundo é desenvolvida sob diferentes
condições, como: clima, raça e a nação determinada pela história e formação estatal, sendo
desenvolvida em condições diversas e muitas vezes especializadas. O fato é que a forma
do conceito de mundo se desenvolve na vida do ser humano, que luta entre si com base no
controle e poder, a partir do entendimento do contexto histórico.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 70
1.1 As Quatro Notas da Concepção de Mundo
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 71
os dominantes e os dominados. Para compreender esse contexto é preciso conhecer a
cultura e a filosofia advinda de um contexto histórico.
Terceira nota: se cada linguagem contiver elementos quanto ao conceito de mun-
do e de cultura, o maior ou menor também pode ser julgado de acordo com a língua de
cada um, reduzindo a visão do mundo. Pessoas que falam apenas dialetos ou entendem
a língua nativa em vários graus, inevitavelmente participam de um certo grau de intuições
limitadas, sem esforço, rígidas e desatualizadas relacionadas às tendências ideológicas
que dominam a história mundial. Seus interesses serão limitados, seja por uma corporação
e/ou pela economia, universal ou não. Nem sempre é possível aprender outras línguas para
se manter em contato com a vida cultural diferente, os estrangeiros devem, pelo menos, ser
proficientes em sua língua nativa. Uma grande cultura pode ser traduzida para a linguagem
de outra grande cultura, a saber as ricas e diversas línguas nacionais da história podem ser
traduzidas a qualquer outra grande cultura, que deve ser expressa em todo o mundo, mas
usando dialetos, não se pode fazer a mesma coisa.
Quarta nota: criar uma cultura não é apenas fazer descobertas primitivas, também
significa que o mais importante é divulgar criticamente a verdade que foi descoberta, por
meio da socialização, pode-se dizer, portanto, transformá-lo na base de ações importantes,
elementos de coordenação e ordem intelectual e moral. Fazer um grupo de pessoas pensar
coerentemente na realidade atual é um fato filosófico, mais importante e mais primitivo
do que a descoberta, o gênio filosófico com novas verdades ainda é legado de pequenos
grupos intelectuais que, muitas vezes, precisam entender sobre a concepção de mundo
para compreender o legado dos pequenos grupos.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 72
1.2 Tipos De Concepção de Mundo
De acordo com Dilthey (1977), a concepção do mundo está ligada a alguns concei-
tos. Para entender cada um, é importante destacar a distinção da concepção do mundo em
relação às regiões culturais, pois além de ser considerada a base, consiste na coexistência
econômica, social, na lei e no Estado. Há uma divisão de trabalho em todos os lugares,
as pessoas são numeradas de forma ímpar, dando uma contribuição definitiva em uma
determinada posição da história. A vontade está presa nas tarefas atribuídas e restritas, que
mostram a conexão teleológica do domínio.
REFLITA
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 73
A concepção de mundo pode diferenciar a partir das regulamentações de Leis, da
sua estrutura posta na sociedade e os tipos religiosos, artísticos e metafísicos que apresen-
tarei a seguir, a partir dos conceitos de Dilthey (1977).
● Concepção religiosa: surge no mundo a partir de uma conexão vital com o
ser humano, considerado como um recurso de dominação que vai além do ho-
mem primitivo, como: caçador, cultivador e trabalhador, que, por si só, já causa
mudanças no mundo exterior por meio da produção. A concepção religiosa tem
como base observar para si forças de seres superiores, pregando a boa relação
e união com essas forças, tendo no espírito religioso a concepção de estar
sempre correto, entendo que a alma progressiva conhece a fixação da alma no
mundo supersensível. Considerado como um produto histórico, a religião, ape-
sar de impor disciplina na vida, mantém uma posição de que não está vinculada
a tradições de origens obscuras e duvidosas. Em síntese, “a religião, as coisas
e os homens recebem o seu significado por meio da fé na presença de uma
força supra-sensível neles operante” (DILTHEY, 1977, p. 25).
● Concepção artística: uma obra de arte significa algo único, em certo sentido,
é elaborada a partir da relação entre ser produzida como uma expressão ideal
de referência de vida, dar cor e conectar-se de forma simétrica à proporção de
som e ritmos, é um processo e eventos da alma. A criação artística em si não
tem nada em comum com a visão de mundo, no entanto, a relação entre a cor
da pele do artista e suas obras levou a uma relação secundária entre as obras
de arte e concepção do mundo. O movimento histórico da relação entre a arte
e as ideias do mundo reside em que o tipo de arte se aprofunda no físico de um
artista, fazendo parte do seu contexto histórico.
● Concepção metafísica: todo o processo de geração e consolidação de uma
concepção de mundo leva a demandas para aumentar sua consciência de
eficácia universal. As diferenças surgem baseadas nas características racionais
do trabalho metafísico, alguns marcam estágios de desenvolvimento, como
dogmatismo e crítica, outros abrangem todo o curso de porquê uma carreira ser
derivada da metafísica, ou seja, revela os conteúdos contidos na compreensão
da realidade e na valorização da vida e das coisas. O objetivo é a possibilidade
de resolver os problemas colocando a base da metafísica, tropeçando no empi-
rismo, racionalismo, realismo e idealismo advindo da ideia básica é claramente
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 74
expressa, ou seja, a tese de uma ideia geralmente começa a partir da teoria
da concepção de mundo determinando como funciona. A consciência histórica
permite-nos superar as diferenças restringidas pelas condições de orientação,
formando assim um sistema unificado com validade universal.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 75
ação. Neste sentido, nos faz cair na incapacidade total, a impressão de estar paralisado em
circunstâncias incompreensíveis e inevitáveis.
Mediante à ideia de que a concepção do mundo é o produto da história e se
analisarmos a sociedade capitalista, logo teremos o conceito de que o desemprego e a
exploração do trabalho são a base para o aumento de riqueza, tendo consonância com
o pauperismo. Ao compreender as bases teóricas de Lukács (1969) entendemos que um
indivíduo age de forma subjetiva, imaginando o significado de suas atividades por meio do
processo de alienação do capital, caindo em uma visão de mundo, que não há sentido, e
todas as atividades se reduzem a uma aparência simples que imprime completamente o
estado puro. Não é incomum que o tédio se torne um monstro quando se perde o objetivo
e a esperança.
Segundo Vasconcelos (2017), se, por um lado, o desenvolvimento intelectual da
classe trabalhadora não pode determinar mecanicamente sua emancipação, se não há teoria
revolucionária, não pode haver movimento revolucionário, afinal, a classe trabalhadora pode
determinar-se mutuamente na relação de oposição e luta. É possível que um dos trabalha-
dores com o apoio de outros trabalhadores ascendam à condição de classe de hegemonia.
De acordo com Carnoy (1988), a hegemonia pode se expressar na sociedade como
uma forma e/ou um meio principal, ou seja, como um conjunto de sistemas, ideologias,
práticas e agentes, incluindo intelectuais, que constitui uma cultura de valores dominantes
e que busca, na luta de classes, a garantia de seus direitos. Nesse ponto, as instituições,
que constituem um sistema hegemônico, são significativas, principalmente quando é es-
tabelecido, no contexto, um equilíbrio entre as classes, estendendo o poder e controle à
sociedade civil por meio dessas mesmas instituições.
Neste aspecto, além do poder e da lógica do modo de produção, a explicação sobre
como a classe trabalhadora e a sociedade capitalista está organizada e tem ligação com o
poder da consciência e da ideologia. Em relação a consciência é entendo como algo que
podemos chegar a um consenso e/ou entendimento sobre as relações sociais capitalistas
e estratégias, considerada como a base para obter o consentimento positivo das massas
por meio da auto-organização da classe trabalhadora e dentro desse contexto é que o
assistente social precisa estar inserido. Já a ideologia está ligada às normas reguladoras,
envolvendo a política, religião, economia e cultura como meio de garantir os interesses indi-
viduais, coletivos e/ou de uma pequena parcela da sociedade, o que nos leva a considerar
que esses pontos são importante e que o assistente social precisa entender para expressar
a sua posição de forma crítica fundamentada em bases teóricas e concretas.
Profissionais que tomam como referência os projetos de anticapitalismo e eman-
cipação, ao se dirigirem aos intelectuais em processo de autoformação permanente da
sociedade do capital, podem dar uma contribuição moderada para fazer a teoria penetrar
nas massas, tornando a teoria um poder que só pode ser alcançado com a prática, a crítica
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 76
fundamental, a criatividade e a autoconsciência. Na dialética, esse processo corre o risco
permanente de ser facilmente alinhado e se desenvolve no âmbito do próprio movimento
de alienação do capitalismo.
Diante dessa complexidade, os trabalhadores e assistentes sociais, que optam por
projetos profissionais como assalariados, enfrentam problemas diretamente relacionados
à formação da subjetividade de cada indivíduo social, conscientes ou não do seu papel.
Entre os que têm tais condições pelo seu nível superior, por exemplo, os assistentes
sociais que desempenham o papel fundamental na vida do ser humano e na promoção
do desenvolvimento social, têm melhores condições do que outros para determinar quais
caminhos favorecem as práticas democráticas e emancipatórias e quais são os obstáculos
intransponíveis. Pode-se, a partir dos próprios intelectuais, proporcionar uma vantagem
relativa ao processo de ruptura (VASCONCELOS, 2017).
Neste sentido, a contradição fundamental entre trabalho e capital está relacionado
na produção social da sociedade e voltado para as condições da exploração do trabalho,
a riqueza e meios de produção básico, ocupado pela propriedade privada que conduz à
autonomia relativa dos assistentes sociais.
Com isso, a atuação dos assistentes sociais acaba tendo o sentido de contribuir
para a formação, mobilização e organização dos trabalhadores na busca da libertação
humana, promovendo a melhoria e a reconstrução das condições dos trabalhadores na
sociedade capitalista, portanto, os assistentes sociais passa a ter a função social de atuar
sobre a essência da personalidade dos trabalhadores transmitindo costumes, valores, nor-
mas, princípios, padrões sociais, conhecimentos e informações de acordo com o conteúdo
veiculado ao direito, com base na garantia que norteia a classe trabalhadora através das
atividades profissionais.
Em síntese, como estudamos, a concepção de mundo está ligada à história, e
tem o ser humano como base fundamental para compreender tal conceito. A partir desse
entendimento o indivíduo consegue ter consciência, seja ela crítica ou não. Por meio desta
informação é que o Serviço Social se encontra; primeiro, compreende o contexto histórico
que o indivíduo está inserido e segundo, intervém no problema que afeta a vida desse
indivíduo.
Se analisarmos a concepção de mundo que envolve o Serviço Social não podemos
deixar de pensar na relação entre o trabalhador e o capital, relação que deu origem à
profissão que tem como objeto de estudo as expressões da questão social. Entender todo
este contexto é o que faz a diferença no momento da atuação, principalmente de que a
concepção de mundo está ligada à história.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 77
2. CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA E O SERVIÇO SOCIAL
De acordo com Lukács (2003) nas circunstâncias históricas para uma classe, o
conhecimento exato da sociedade passa a ser condição direta para sua autoafirmação na
luta, quando para esta classe o autoconhecimento significa o conhecimento correto de toda
a sociedade. No que diz respeito ao conhecimento, quando esta classe é um sujeito e um
objeto, a teoria é, portanto, imediata e apropriadamente envolvida no processo de revolução
social, esta é a premissa de que teoria e prática são unificadas e a função revolucionária
da teoria se torna possível.
Neste aspecto, conhecer as condições postas na sociedade é o que faz a diferença
na luta pelos direitos, sendo o conhecimento a base fundamental. Partindo deste preceito e
para entender a crítica da economia política é que vamos nos aprofundar nas bases teórica
de Marx (1989) e Netto - Braz (2006).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 78
2.1 Economia Política de Forma Clássica
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 79
Segundo Netto e Braz (2006), entre esses teóricos, a influência do naturalismo
jurídico e do liberalismo não é uma sorte, mas eles mostram que suas realizações inte-
lectuais fazem parte do quadro mais amplo da ilustração. Como todos sabemos, esse é o
processo da burguesia se movendo em direção à construção de seu domínio; um capítulo
importante frente ao sistema feudal, marcou um enorme progresso histórico. Neste aspecto
a economia política clássica exprime a ideologia da burguesia, nessa época esta classe
estava na vanguarda da luta social e liderou um processo revolucionário que destruiu o
antigo regime, a razão era nada mais do que a maior e mais nova ciência mais típica, a
sociedade burguesa.
Portanto, a economia política clássica com o programa da revolução burguesa não
transformou seus grandes representantes, como Smith e Ricardo, em defensores cegos e
acríticos da nova ordem social emergente. No que diz respeito à revolução burguesa da
época, ela exprimia o desejo de libertação da humanidade. Esses clássicos têm uma visão
ampla que lhes permite expor com profunda objetividade os problemas suscitados pelo
surgimento da nova sociedade. A objetividade das questões teóricas sociais é diferente da
neutralidade, precisamente porque não são neutras e defendem uma ordem social mais
livre e avançada que o feudalismo, por isso os clássicos podem enfrentar a nova economia
e a sociedade sem restrições e a causa do problema e o aumento do lucro e a reprodução
do trabalho.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 80
produção do capital. No processo de expandir a reserva de conhecimento, muitos avanços
e novas descobertas foram feitas, iremos aprofundar nisso a seguir.
Segundo Netto e Braz (2006), Marx aproximou-se das ideias revolucionárias que
germinavam no movimento operário europeu pouco depois de haver concluído o seu curso
de filosofia (1841) e de 1844 até a sua morte, todos os seus esforços foram dirigidos para
contribuir na organização do proletariado para que este, rompendo com a dominação de
classe da burguesia, realizasse a emancipação humana.
Os autores supracitados destacam que, para Marx, o sucesso do protagonista da
revolução proletária depende em grande medida de uma compreensão estreita com a rea-
lidade social. Nesse aspecto, Marx acreditava que a ação revolucionária seria mais eficaz,
não se baseando no conceito de utopia, mas em uma teoria social que reproduz idealmente
os movimentos reais e objetivos da sociedade capitalista.
De acordo com Marx (1989, p. 961), “a estrutura econômica da sociedade capitalis-
ta surgiu da estrutura econômica da sociedade feudal. A dissolução desta última liberou os
elementos daquela”, que tem o trabalhador como produtor direto somente após a libertação
dos “servos” tornando-se vendedores de mão de obra para o aumento do lucro do capital.
O Movimento histórico que transformou produtores em trabalhadores se destaca da se-
guinte forma: de um lado temos os assalariados, que se consideram livres da escravidão;
por outro lado, esses trabalhadores recém-libertados só podem se tornar seus próprios
vendedores após terem sido roubados todos os seus meios de produção. Portanto o ponto
inicial do desenvolvimento dos trabalhadores assalariados e capitalistas é a “conquista dos
trabalhadores”.
Neste aspecto, para Netto e Braz (2006), a pesquisa de Marx esclareceu o surgi-
mento, a consolidação e o desenvolvimento da sociedade capitalista e a teoria social das
condições de crise. Os resultados mostram que a sociedade burguesa não é uma orga-
nização social destinada a constituir o fim da evolução humana; mas histórica e efêmera,
a forma de organização social contém contradições e tendências que podem superá-la,
criando um outro tipo de sociedade, a sociedade comunista que não marca o fim da histó-
ria, mas é apenas o ponto de partida de uma nova história, uma história estabelecida por
humanos libertados.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 81
SAIBA MAIS
O capital não é uma bíblia, nem sequer talvez um método, mas, como o próprio subtítulo
que Marx lhe deu, uma “contribuição à crítica da economia política”. Esse é o caminho
e certamente como crítica ele não aborda, senão tangencialmente, algumas das princi-
pais estruturas do capitalismo contemporâneo, seus problemas e pontos de superação.
Mas, como um dos textos fundamentais da modernidade, ele abre as portas para sua
compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo, tarefa para que são
chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação, esse trabalho de
Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 82
uma redução ainda maior nos salários pagos a cada vez menos trabalhadores qualificados,
gerando o exército industrial de reserva.
Nesse sentido, não há como determinar as novas expressões da questão social,
visto que os problemas sociais decorrem das determinadas leis gerais da acumulação,
e adquirem novas dimensões e manifestações com o desenvolvimento da acumulação e
as mudanças experimentadas pelo próprio capitalismo. Portanto, tomar as soluções dos
problemas sociais (mesmo as soluções dos problemas sociais reivindicados por alguns
assistentes sociais e outros profissionais) como meta da sociedade do capital, razão pela
qual a sociedade precisa mudar, mesmo que pensemos que é possível manter e replicar
sem acumular capital sem usar trabalho (NETTO; BRAZ, 2007).
Assim, segundo Vasconcelos (2017), no contexto da sociedade capitalista, ainda
que se trate de uma questão social multideterminada, implica também a troca midiática de
componentes históricos, políticos e culturais, fundamentalmente determinante na explo-
ração do trabalho pelo capital. Portanto, sem eliminar a exploração do trabalho, toda luta
contra seu impacto político, econômico, social e humano, inclusive os chamados proble-
mas sociais, mais cedo ou mais tarde mostrará as limitações dos sintomas enfrentados,
consequências e impactos. Ou seja, realizar reformas e permanecer em uma sociedade
que depende do homem para viver da exploração do homem. Mas deve ficar claro que a
exploração existe em diferentes formas históricas de organização social.
Caro(a) aluno(a), é importante destacar que a crítica de Marx sobre a economia
política foi uma verdadeira revolução teórica, na investigação e análise decisivas da lei do
fluxo de capitais. Ele usou todo o poder da preparação científica, da cultura e da inteligência
para lançar as bases da compreensão e desenvolvimento da sociedade burguesa. Neste
sentido, a economia política clássica forneceu conhecimento teórico para a estrutura e
dinâmica econômica da sociedade burguesa, a análise das leis do movimento do capital e
da descoberta do marxismo na segunda metade do século XIX é válida até hoje, pois por
mais de 150 anos, nossa sociedade ainda está subordinada ao capitalismo.
Portanto, o próprio trabalho do marxismo só é possível pela existência da econo-
mia política clássica antes, por conter elementos que foram historicamente processados e
considerados na perspectiva de uma nova metodologia, elementos que predizem o fluxo e
o controle do capital e que cabe ao assistente social entender.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 83
3. SERVIÇO SOCIAL, PRÁXIS E TRABALHO
Caro(a) aluno(a), o trabalho faz parte da vida do homem desde a origem do mundo
e com o passar do tempo grandes filósofos começaram a estudar esse conceito, analisando
todo o processo histórico da sociedade a partir da ascensão do capitalismo. Um exemplo
clássico são as teorias de Karl Marx, que, até os dias atuais, são referências para estudio-
sos e profissionais.
A partir dos estudos de Karl Marx, mais especificamente no seu método –materia-
lismo histórico dialético –, é que foram revelados os fatos absolutos; históricos; a política e
o social, de forma que o homem pudesse refletir sobre a sua própria história, tornando um
participante do desenvolvimento da humanidade, buscando uma visão transformadora com
base na defesa da prática revolucionária.
Com isso, esse filósofo deu início aos estudos da práxis, que não podem ser uma
mera redução do trabalho, pelo contrário, deverão ser humanizadas, garantindo as pos-
sibilidades concretas dos seres humanos para que se desenvolva de forma criativa, sem
estar ligado na disciplina do trabalho, com a finalidade de uma redução da jornada de
trabalho considerada como pré-requisito. Através das informações apresentadas, vamos
nos aprofundar de forma breve nos conceitos a seguir.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 84
3.1 O Trabalho
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 85
Além disso, se o trabalho promover a construção e transformação do mundo e atuar por meio
da compreensão de outros saberes e habilidades, novas demandas serão geradas.
De acordo com Lukács (1979, p. 87) “o trabalho é, antes de tudo, em termos gené-
ticos, o ponto de partida da humanização do homem, de refinamento de suas faculdades,
processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo”. Além do que, o tra-
balho foi processado como âmbito único do desenvolvimento, todas as outras formas de
atividades de pessoas ligadas a diferentes valores só podem ser o trabalho autônomo que
pode atingir um nível superior após o trabalho.
Segundo Marx (1989), o trabalho é a categoria central na vida do homem, consi-
derada como formador de valor de uso, mas não deve ser entendida como condição da
existência humana e sim um elemento da sua existência em meio a sociedade, tendo o
papel de mediar as trocas orgânicas entre o homem e a natureza, ou seja, entre a vida
humana e o meio do trabalho. Nesse sentido, temos o processo de trabalho que utiliza do
material natural e se adapta às necessidades humanas, assim, modificando sua forma e
atendendo aos interesses da sociedade capitalista que utiliza da consciência comum para
aumentar o seu lucro e poder. “a consciência comum pensa os atos práticos, mas não faz
da práxis – como atividade social transformadora – seu objeto; não produz – nem pode
produzir, como veremos uma teoria da práxis” (VÁZQUEZ, 1980, p. 10).
3.2 A Práxis
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 86
Isso porque, para o filósofo, o homem não deve ficar à mercê do sistema capitalista, e,
como já destacado, deve buscar uma visão transformadora com base na defesa da prática
revolucionária. A partir disso, o conceito da práxis refere-se a uma dimensão da prática,
uma atividade do personagem utilitário e prático, ligada às necessidades atuais.
Neste sentido, Vázquez (1980, p. 245) destaca que “toda práxis é atividade, mas
nem toda atividade é práxis”, ou seja, a prática é uma atividade consciente, o que significa
não só o propósito da atividade, mas também o seu subjetivo. Com isso, a prática passa a
ter um significado que vai além de uma atividade social, algo que transforma e muda as leis
naturais por meio da criação e, consequentemente, o homem que, ao produzir algo, muda
a si mesmo. A matéria-prima das atividades pode mudar, resultando em diversas formas
de práxis, como: produtivo, artístico, experimental, político e teórico, que vamos analisar a
seguir por meio de um quadro informativo.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 87
Experimental Entre as formas de atividade práxis realizadas sobre um determinado assunto, é tam-
bém necessário incluir a atividade científica experimental que satisfaça, em primeiro
lugar, as necessidades da investigação teórica e, em particular, as de teste de hipóte-
ses. Essa forma de práxis é aquela que se manifesta quando o pesquisador atua sobre
um objeto material, modificando as condições em que um fenômeno opera à vontade.
Esse é o significado da experimentação como práxis científica. O pesquisador produz
fenômenos que são uma reprodução daqueles que ocorrem em um ambiente natural,
mas os produz precisamente para poder estudá-los em um ambiente artificial em la-
boratório sem as impurezas e perturbações que ocorrem no ambiente natural e que,
por esse motivo, torna seu estudo difícil. Na medida em que se trata de produzir certos
fenômenos usando o instrumento físico apropriado, a atividade científica experimental
é obviamente uma forma de prática. É uma atividade objetiva que dá origem a um
produto ou resultado real e objetivo.
Político Essa atividade prática do homem oferece várias modalidades, nele se inserem os
diversos atos que visam a sua transformação como ser social e, portanto, a mudar
suas relações econômicas, políticas e sociais. Na medida em que sua atividade toma
por objeto não um indivíduo isolado, mas grupos ou classes sociais, e mesmo toda a
sociedade, pode ser chamada de práxis social, embora em um sentido amplo todas as
práticas tenham um caráter social, pois só o homem Ele pode realizá-lo contratando
certas relações sociais e, ainda, porque a modificação prática do objeto não humano
se traduz, por sua vez, em uma transformação do homem como ser social.
Teórica A atividade teórica como um todo, também considera ao longo de seu desenvolvimento
histórico, ela só existe pela e em relação à prática, pois nela encontra seu fundamen-
to, seus fins e o critério de verdade, como tentaremos mostrar mais adiante. Mas por
mais próximas que sejam as relações entre uma atividade e outra, a atividade teórica
em si não mostra as características que consideramos proativas na práxis e, portanto,
não devemos colocá-la no mesmo plano das formas de atividade prática de antes. nós
examinamos. Em nossa opinião, a atividade teórica não é em si uma forma de práxis.
De acordo com o autor supracitado, além das formas existem os níveis de práxis
em que de um lado tem-se a práxis criadora e reiterativa e do outro reflexiva e espontânea,
que apresentarei a seguir.
Práxis criadora: a prática criativa pressupõe que haja uma relação estreita entre
as dimensões subjetiva e objetiva, ou seja, entre o que planejamos e realizamos. Isso sig-
nifica idealizar e implementar ideias, no entanto, esse processo é simultâneo e inseparável,
seu jeito, seu resultado. Portanto, o projeto e sua implementação precisam ser alterados e
corrigidos pelo caminho, é por isso que confirmamos que se trata de um processo.
Práxis reiterativa: a repetibilidade é sua característica e por causa da repetição
sob essas circunstâncias, pensa e completa entre objetivos e subjetividade. Essa ruptura
significa resultados obtidos por meio de processos repetidos e da prática criativa. É operado
aqui com base no modelo previamente construído; em outros casos a situação é diferente
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 88
de quando foi originalmente criado. Nesse caso, tudo que precisa fazer é repetir ou imitar
outras ações.
Práxis espontânea e práxis reflexiva: a consciência que antes é chamada de
prática não se extingue da práxis espontânea ou reflexiva, por isso ambas as práxis não
serão apresentadas de forma separada, pois a atividade espontânea está presente no seio
da atividade reflexiva e, para qualificar a prática como espontânea ou reflexiva, deve ser
levado em consideração o grau de consciência que se tem de uma atividade prática que
está sendo desenvolvida.
É importante levar em consideração as formas e os níveis da práxis, pois, ao
analisar um determinado conjunto de objetivações humanas, deve-se ir além do que está
exposto, compreendendo que a práxis está ligada à consciência de um determinado fato,
podendo transformar o ser social.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 89
Portanto, a autora supracitada destaca que o trabalhador muda uma matéria da
natureza por meio do processo de trabalho, muitas vezes não pensa, simplesmente age por
meio da linha de produção, podendo usar um pedaço de ferro para transformar algo, tendo
leis fixas como objetivos para segui-las. Já o assistente social atua sobre o comportamento
de indivíduos, forma e o conteúdo de agir nas relações sociais também dependem dos
próprios pensamentos e sentimentos do indivíduo por meio da reação individual de cada
fato histórico. Além dos assistentes sociais atuarem sobre os indivíduos para fortalecê-los
e incentivá-los a agirem em uma determinada situação. Logo, a práxis do assistente social
não deve ser comparada com a dos demais trabalhadores, visto que a matéria que trans-
forma o meio de trabalho é diferente.
O assistente social transforma as relações sociais e estas são qualitativa-
mente (ontologicamente) diferentes da matéria natural. Por isso a práxis
do assistente social é, no dia a dia, completamente diferente da práxis do
operário. Não apenas seu local social é muito distinto (o operário trabalha
na fábrica ou na agricultura e o assistente social, na enorme maioria das
vezes, em órgãos públicos ou ONGs), mas a própria atividade é em tudo
muito distinta. Essa é a razão de a preparação profissional de um assistente
social ser tão distinta da de um operário. Os conhecimentos e as habilidades
requeridas são muito diversas, em cada caso. E isto decorre do fato de que
eles atuam sobre uma matéria e atendem a necessidades sociais em tudo
distintas (LESSA, 2012, p. 67).
Portanto, não tem sentido comparar a atuação dos assistentes sociais com os de-
mais trabalhadores, muito menos com outros profissionais, como: psicólogos, pedagogos,
advogados, médicos, entre outros, pois a prática ontologicamente é diferente e os assis-
tentes sociais atuam sobre as relações sociais nas mais diversas expressões da questão
social advindas da sociedade capitalista.
De acordo com Vasconcelos (2017) é na sociedade capitalista que o trabalho se
torna um modelo prático da exploração estimulada pela burguesia como forma de obter
lucros. Neste sentido, os trabalhadores reproduzem esse modelo prático em diferentes
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 90
níveis e em todas as instâncias da vida social, incluindo profissionais de ensino superior,
que fazem parte da classe trabalhadora. Do ponto de vista das necessidades da burguesia
e da acumulação, o Serviço Social foi criado para atender às suas necessidades, com isso
os profissionais são considerados trabalhadores assalariados, atuando sobre a renda das
mercadorias na produção e no trabalho.
Podemos então perceber que os assistentes sociais em instituições públicas
ou em empresas privadas, de um modo ou de outro, com uma mediação ou
outra, vivem da riqueza produzida pelos operários. Por isso, tal como todas
as outras “classes de transição”, os assistentes sociais são assalariados
porém não são operários. E, pela mesma razão, diferente da totalidade da
“classe de transição”, o proletariado é a única classe que vive da riqueza
por ela produzida. É por essa razão, e não por qualquer outra, que os ope-
rários conformam a única classe que nada tem a perder com a superação
da sociedade capitalista a “não ser seus grilhões”; por isso os operários são,
ao fim e ao cabo, a única classe social historicamente comprometida com a
superação da propriedade privada (LESSA, 2012, p. 72).
Portanto, não podemos considerar o Serviço Social como trabalho que vive da
riqueza produzida, mas uma categoria capaz de atender as necessidades da classe traba-
lhadora. Caro(a) aluno(a), o Serviço Social como práxis é considerado de forma consciente,
planejado e avaliado, é parte e expressão da prática social que inclui o trabalho, as ativi-
dades fundadoras da existência social e a base das atividades econômicas, no entanto a
alienação e exploração modificaram a sociedade que criaram e produziram os problemas
sociais, fatores indispensáveis na sociedade capitalista.
Em síntese, os assistentes sociais devem atuar de forma propositiva, entendendo
a importância do trabalho na vida do ser humano. Mas, enquanto categoria regida por um
Código de Ética e com um Projeto Ético Político, precisa ter em mente que o Serviço Social
como práxis deve ter consciência do todo, exercer a profissão ao nível da práxis de forma
criativa e reflexiva, tendo na criticidade um fator importante para compreender as relações
sociais e os diversos problemas postos na sociedade. O Serviço Social como práxis tem
o papel de buscar uma visão transformadora com base na prática revolucionária, tendo o
Projeto Ético Político como o ponto de partida.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 91
4. O PROJETO ÉTICO - POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO:
EMANCIPAÇÃO HUMANA, PARA ALÉM DOS DIREITOS E DA
CIDADANIA BURGUESES
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 92
4.1 Uma Breve Contextualização do Projeto Ético Político
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 93
do país foi formulado no contexto de uma transição democrática em um contrato de cima
para baixo da classe dominante, acordado pelos militares.
O projeto foi resultado da ampla mobilização da classe trabalhadora do ambiente
social no final dos anos 1970, mas foi na década de 1980 que combinou a consolidação teó-
rica e política da ruptura do Serviço Social no Brasil e a expressou nas seguintes categorias
de organizações: política sindical, formação acadêmica e prática profissional.
As consequências dos ajustes estruturais no campo das infraestruturas e supe-
restruturas afetaram os assistentes sociais, incluindo os assalariados, os participantes do
trabalho coletivo, a divisão social e técnica do trabalho e o trabalho profissional, que têm
base social em muitas manifestações dos problemas sociais da história da indústria. O
debate profissional precisa percebê-lo interna e externamente, a fim de analisar as deci-
sões que o influenciam e moldam, conquistar a hegemonia, por meio do projeto de ruptura
com o conservadorismo, tendo a direção sociopolítica profissional por meio de diferentes
processos de lutas sociais.
O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro expressa o reco-
nhecimento das demandas e anseios da massa trabalhadora e está vinculado a um projeto
societário arraigado na vida social brasileira que contradiz a oposição da sociedade capita-
lista. Com isso, temos o projeto profissional, que propõe o campo da conquista no quadro
progressista da luta social e democrática do país, portanto o projeto societário e profissional
é importante, que analisaremos a seguir.
De acordo com Netto (1999, p. 2), “os projetos societários são projetos coletivos;
mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos,
como propostas para o conjunto da sociedade”. Ou seja, se constitui em um macro projeto
como sugestão para toda a sociedade, mas somente o projeto societário tem essa caracte-
rística, em outros projetos coletivos não existe essa amplitude e inclusividade.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 94
De acordo com Teixeira e Braz (2009, p. 3), “tanto os projetos societários quanto
os projetos coletivos vinculam-se a práticas e atividades variadas da sociedade. São as
próprias práticas/atividades que determinam a constituição dos projetos em si”. Ou seja,
ambos devem ter em sua base uma relação com a prática e a atividade, que está posta na
sociedade, levando em consideração o caráter político e ideológico. Assim como apresen-
tado no Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro, que tem em sua base
a prática e atividade que os profissionais deverão realizar que está atrelada aos três pilares
que fideliza o PEP, que são: Código de Ética Profissional; as diretrizes curriculares e a Lei
que regulariza a profissão, para entender o que está posto na sociedade e como o projeto
deve ser desenvolvido mediante a luta de classes.
Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e
simultaneamente, projetos de classe, ainda que refletem mais ou menos
fortemente determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas
etc.). Efetivamente, as transformações em curso na ordem capitalista não re-
duziram a ponderação das classes sociais e do seu antagonismo na dinâmica
da sociedade (NETTO, 1999, p. 2-3).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 95
disputas entre os projetos societários é o que determina, em última instância, a transforma-
ção ou a persistência de uma determinada ordem social. Portanto, os projetos profissionais
seriam inimagináveis sem a existência do projeto societário que está presente em qualquer
projeto coletivo, incluindo o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro.
O termo emancipação humana foi utilizado por Marx (2010) na sua obra Sobre a
questão judaica, publicada em 1844, nos Anais Franco-Alemães, fazendo uma crítica ao
Estado Político a partir das publicações dos artigos do jovem hegeliano Bruno Bauer entres
os anos de 1842 e 1843, devido os judeus não aceitarei a religião posta pelo Estado, o
cristianismo, com isso eram privados dos direitos políticos.
O Estado cristão só conhece privilégios. O judeu possui dentro dele o privi-
légio de ser judeu. Como judeu ele tem direitos que os cristãos não têm. Por
que almeja direitos que ele não tem e dos quais gozam os cristãos? Ao querer
emancipar-se do Estado cristão, o judeu pede que o Estado cristão renuncie
ao seu preconceito religioso. Acaso ele, o judeu, renuncia ao seu preconceito
religioso? Teria ele, portanto, o direito de pedir a alguém tal abdicação da
religião? O Estado cristão, por sua própria essência, não pode emancipar o
judeu; mas, arremata Bauer, o judeu, por sua própria essência, não pode ser
emancipado. Enquanto o Estado for cristão e o judeu judaico, ambos serão
igualmente incapazes tanto de conceder quanto de receber a emancipação.
O Estado cristão só pode se relacionar com o judeu na qualidade de Estado
cristão, isto é, privilegiando, ao permitir o isolamento do judeu em relação aos
demais súditos, mas fazendo com que sinta a pressão das demais esferas
isoladas, e permitindo que ele sinta tanto mais essa pressão pelo fato de se
encontrar em oposição religiosa à religião dominante (MARX, 2010, p. 33-34).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 96
O termo Estado cristão foi utilizado por Bauer para tratar sobre a emancipação dos
judeus, no entanto Marx se apropria desse termo para criticar o Estado, que não deve ter
um posicionamento na base religiosa, visto que o Estado é político. Para Marx (2010), não
se trata mais de retomar o caminho da Revolução Francesa e entrar no caminho certo,
mas de uma revolução inédita e sem precedentes, esta não é apenas uma questão de
emancipação política, mas uma questão de alcançar a emancipação humana.
Do caráter individual e liberal da emancipação, questionado por Marx parte
dos direitos humanos instituídos pela Revolução Francesa, que resultaram
em momentos contraditórios: “por um lado, revolucionaram as relações feu-
dais; por outro, cercam o indivíduo em seu egoísmo, na sua propriedade, na
sua liberdade, perdendo a dimensão da totalidade onde está inserido (LUIZ,
2008, p. 119).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 97
I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais; [...] IV Defesa do aprofundamento da democracia,
enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente pro-
duzida (CONSELHO FEDERAL DE ASSISTENTES SOCIAIS, 1993, p. 24,
grifos nossos).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade. Tenho certeza de que a
cada unidade os conteúdos apreendidos vão fazendo mais sentido sobre a profissão e o
que o assistente social faz e a sua importância na sociedade.
Entender alguns conceitos é relevante e importante, como, por exemplo, os que
foram apresentados nesta unidade – a concepção de mundo, que nada mais é do que o
processo histórico do ser humano e a peça fundamental para entender a realidade já vivida
ou a que está sendo vivida. Isso faz toda a diferença no momento da atuação profissional,
visto que os assistentes sociais, para realizar um atendimento e dar o parecer, muitas
vezes, precisa fazer resgates históricos da concepção de mundo analisada.
Um segundo conceito que considero importante para a categoria profissional é a
crítica econômica política feita por Karl Marx em seu livro O Capital - volume 1, e que depois
outros estudiosos deram sequência. Entendendo como a sociedade capitalista e a classe
trabalhadora funcionavam mediante a um processo de produção do capital, fator importante
para que os assistentes sociais entendam, afinal, a categoria tem em sua base teórica a
criticidade e a busca pela compreensão do real e do tangível.
Outro conceito importante para a categoria é o entendimento do trabalho na vida
do homem e a práxis que está voltada à prática, relacionando a atividade consciente e re-
volucionária, tendo formas e níveis relevantes para compreender todos e qualquer conceito
posto na sociedade e entender tanto o conceito trabalho quanto práxis é relevante para a
categoria profissional. Primeiro porque as práticas do assistente social são iguais às dos
demais profissionais/trabalhadores e dentre os níveis da práxis o que mais precisa ser
utilizado no seio da categoria é a criatividade e a reflexividade.
E não podemos deixar de falar sobre o Projeto Ético Político da Profissão do Ser-
viço Social brasileiro, que teve a sua origem no ano de 1990 e tem em sua base o Código
de Ética Profissional, as Diretrizes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão sendo
fundamentada pela liberdade, democracia e emancipação humana pela busca e garantia
dos direitos sociais.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 99
LEITURA COMPLEMENTAR
(...)
(...)
Fonte: Teixeira (2009).
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 100
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO 01
Título: Código de ética do/a Assistente Social comentado.
Autor: Maria Lucia Silva Barroco, Sylvia Helena Terra
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro preenche uma lacuna. Não havia até agora um
texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor,
de 1993, na sua totalidade. As autoras comentam o Código em
seus fundamentos sócio-históricos e ontológicos, bem como em
suas reais possibilidades de materialização, no contexto de uma
sociabilidade fundada na acumulação e na propriedade privada.
LIVRO 02
Título: Economia Política: uma introdução crítica.
Autor: José Paulo Netto e Marcelo Braz
Editora: Cortez
Sinopse: Essa obra permite a compreensão da constituição e do
desenvolvimento do modo de produção capitalista, bem como das
principais categorias de análise a partir das quais Marx elaborou
sua genial crítica. Mantendo-se fiéis à impostação teórico-metodo-
lógica do filósofo alemão bem como incorporando às suas lições
o que mais fecundo produziu a chamada tradição marxista, os
autores fornecem os elementos principais para o debate sobre as
condições de existência do capitalismo e, o que é mais importante.
de sua superação rumo a uma organização societária onde o ser
social possa realmente ver-se emancipado dos processos alienan-
tes e potencialmente barbarizantes impostos pelo capital.
FILME/VÍDEO 01
Título: Germinal
Ano: 1993
Sinopse: durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram
explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições mise-
ráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os mora-
dores de uma grande mineradora, decidem realizar uma greve e
se rebelar contra seus chefes, causando o caos.
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 101
FILME/VÍDEO 02
Título: O poço
Ano: 2019
Sinopse: Exibido pela Netflix, O Poço conta a história de um lugar
misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois
reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de
níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos
eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma
oportunidade de solidariedade
Link do vídeo: Disponível na Netflix
UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 102
UNIDADE IV
O Assistente Social na Luta de Classes
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira
Plano de Estudo:
● O que fazer profissional;
● Os quatro projetos profissionais;
● A escolha ético-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais;
● Respostas profissionais: tendências, limites, consequências e possibilidades não
exploradas.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o conceito do quefazer profissional;
● Contextualizar os quatros projetos profissionais
● Conceituar a escolha ética-política e teórico-metodológica frente
aos diferentes projetos profissionais;
● Apresentar as respostas profissionais, dentre as tendências,
limites, consequências e possibilidades que não foram exploradas.
103
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta quarta unidade vamos abordar temas relevantes em relação
ao assistente social na luta de classes, temas pelos quais te farão refletir sobre a prática
profissional como por exemplo o quefazer profissional; os quatro projetos, o porquê da
escolha ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes projetos profissionais e
as respostas sobre as tendências, limites, consequências e possibilidades não exploradas
e para entender melhor sobre esses temas foi preciso dividir esta unidade em quatro partes
e para dar embasamento utilizei como base central a teoria a autora Ana Maria de Vascon-
celos em seu livro “a/o assistente social na luta de classes: projetos profissional e mediação
teórica-prática” que recomendo a leitura para entender o que foi exposto nesta unidade.
Diante disso, destaco de forma breve o que irá encontrar nas quatros partes desta
unidade, sendo que na primeira apresentarei sobre a dúvida que se tinha após a regula-
mentação da profissão, era um misto de clareza com uma prática voltada para atender aos
interesses da sociedade capitalista e do Estado, nesta parte apresenta-se um antes de
depois do o quefazer profissional em relação ao Movimento de Reconceituação, um fato
que marcou a categoria. Na segunda parte serão apresentados os quatro projetos, sendo
que o primeiro é considerado o mais importante, pois aborda conceitos que vai de encontro
com o rompimento com a prática conservadora, os outros três projetos estão voltados para
a prática profissional, mas ainda encontram resquícios conservadores.
Já na terceira unidade serão destacados os motivos que levaram à escolha de duas
bases consideradas importantes para a fundamentação do projeto, sendo que o primeiro
está baseado nos preceitos éticos contidos no Código de Ética Profissional e o segundo
nas bases teóricas que proporcionam ao assistente social entender a realidade posta no
cotidiano. E por fim, a quarta parte traz quatro pontos importantes abordados em forma de
questionamentos para que possa refletir sobre o fazer profissional para que possa entender
toda a dinâmica que envolve o assistente social criando assim respostas no momento do
exercício profissional.
Espero que os conteúdos contidos nesta unidade possam te fazer refletir e entender
o contexto que o assistente social está inserido.
Bons estudos!
Neste sentido, o projeto profissional impõe vínculos com movimentos, lutas sociais
e organizações representativas de trabalhadores de diferentes classes para fortalecer a
formação, mobilização e organização dos trabalhadores, apoiando as lutas coletivas anti-
capitalistas e emancipatórias.
Portanto, por meio do Projeto Ético Político do Serviço Social brasileiro, uma série
de teorias, metodologias e referenciais éticos políticos sustentam toda a ação do profissio-
nal que busca pela hegemonia da direção social voltada para o Serviço Social.
Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro —, que tem sua substância
na legislação (Código de Ética, Lei de Regulamentação da Profissão [Lei n.
8.662/1993] e Projeto Formação ABEPSS); na produção de conhecimento
que alcança, para além da petição de princípios, ser mediada pela teoria
social crítica; nas práticas profissionais e políticas mediadas pelo projeto e
na luta política da categoria, capitaneada pelos seus organismos de repre-
sentação (Conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO) (VASCONCELOS,
2017, p. 299).
Esse projeto herdou a perspectiva modernizadora dos anos de 1960 a 1970 e “re-
novada pela ofensiva neoliberal e reciclada por outras teorias sistêmico- organizacionais,
que lhe oferecem cauções para a sua inserção nas instituições diretamente controladas
pelo capital” (NETTO, 1996, p. 126).
Caro(a) aluno(a), não existe projeto certo ou errado, muito menos criticar outro pro-
fissional por achar que escolheu o projeto que não vai de encontro com o que a categoria
e/ou você escolheu para seguir. Lembre-se, os projetos apresentados foram idealizados
por profissionais que se aprofundaram em bases teóricas a partir do contexto histórico da
época vivida, cabendo a nós (e incluo você, pois será um(a) futuro(a) assistente social)
entender cada projeto, mas não seguir preceitos que não condizem com as bases teóricas
e metodológicas da profissão. Como destacado pela autora supracitada, a partir de uma
das obras de José Paulo Netto, ter “consciência política não é o mesmo que consciência
teórica”, ou seja, é preciso conhecer e se aprofundar nos estudos apreendidos, tendo a
consciência das bases teóricas, pois só assim poderá atuar de forma consciente e crítica,
sem julgamentos desnecessários.
Caro(a) aluno(a), acredito que você deve estar se perguntando por que da escolha
ética-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais.
Ora, ao optar pelo projeto profissional, os assistentes sociais precisaram entender
a dimensão da profissional, tendo a escolha ético-política, que destaca o compromisso que
a categoria assumiu frente a classes trabalhadora por meio da transformação social, e a
teórico-metodológica, relacionada à fundamentação do referencial teórico que envolve a
categoria profissional, abordando todo o conhecimentos já adquirido ao longo dos grandes
debates idealizados pela categoria, orientando os profissionais em relação à prática e ao
fazer profissional.
Ambas dimensões são consideradas de extrema relevância para a categoria frente
aos diferentes projetos mencionados anteriormente e, ao longo da trajetória do Serviço
Social no Brasil, trouxeram grandes reflexões para se chegar ao projeto profissional ideal.
SAIBA MAIS
Caro(a) aluno(a), o tripé que sustenta o projeto profissional é: Código de Ética Profissio-
nal, Lei de Regulamentação da Profissão e as Diretrizes Curriculares.
Fonte: a autora.
REFLITA
Os princípios constantes no Código de Ética são focos que vão iluminando os caminhos
a serem trilhados, a partir de alguns compromissos fundamentais acordados e assumi-
dos coletivamente pela categoria. Então ele não pode ser um documento que se “guarda
na gaveta”: é necessário dar-lhe vida por meio dos sujeitos que, internalizando o seu
conteúdo, expressam-no por ações que vão tecendo o novo projeto profissional no es-
paço ocupacional cotidiano.
É neste sentido que podemos destacar o motivo do Projeto Ético Político com
influência na tradição marxista ser o projeto escolhido pela categoria, primeiro porque esse
projeto tem em suas bases o tripé profissional – o Código de Ética Profissional, as Diretri-
zes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão –, sendo o eixo para as dimensões
ético-política e teórico-metodológica e também a técnico-operativa, que não está prevista
nos demais projetos.
Portanto, o projeto com influência da tradição marxista (Projeto Ético Político) acabou
sendo escolhido pela categoria, não simplesmente pelo fato de destacar como um projeto
anticapitalista, mas porque aborda as características para romper com o conservadorismo.
Caro(a) aluno(a), os pontos abordados nesta parte da unidade são um resgate do que
já foi apresentado anteriormente, mas olhando para alguns pontos em destaques levando-o(a)
à reflexão sobre a prática profissional. Pontos estes muito bem destacados por Vasconcelos
(2017), que utilizaremos para nos aprofundar nos limites e consequências que acarretam a
profissão, bem como as tendências e possibilidades que ainda não foram exploradas, mas
que devem ser avaliadas pelos profissionais engajados com a prática profissional.
Assim, apresentarei alguns questionamentos, com a finalidade de que possa bus-
car respostas quanto ao fazer profissional, entendendo que a profissão está inscrita na
divisão social e ética do trabalho. Por mais que seja uma profissão liberal, faz parte da
classe trabalhadora, considerada também como uma assalariada, mas que tem uma práxis
social que se difere dos demais trabalhadores e profissionais. Cabe destacar que a postura
ética, o aprofundamento teórico e comprometimento com a prática profissional é o que irá
diferenciar dos demais profissionais até mesmo dentro da própria categoria e, para isso, é
preciso refletir acerca do seu papel na sociedade.
Caro(a) aluno(a), existe uma cultura dentro da própria categoria, que, devido à pro-
fissão possuir o menor valor, deve se submeter aos diversos pedidos advindos de outros
setores e/ou da chefia. Mesmo não indo ao encontro do “quefazer profissional” da atualidade,
muitos profissionais acabam tendo medo e/ou receio de falar e/ou se expressar como deve-
riam. Esse posicionamento, infelizmente, pode se enraizar desde o momento da graduação,
se prolongando para o exercício profissional, isso porque há uma disputa de poder, dentro da
própria categoria, para se manter no cargo, principalmente cargos elevados.
Para que fique claro o contexto acima, seguimos com a seguinte situação: um
profissional recém formado se depara com uma chefia burocrática e autoritária, que não
possibilite-o a criar, planejar e executar a sua função como deveria dentro de uma deter-
minada política/serviço e mediante a uma gestão ultrapassada acaba limitando este profis-
sional recém contratado para realizar as funções básicas e/ou a um exercício de práticas
assistencialistas, fica nítido que não conhece o que o assistente social de fato faz.
Neste caso é importante ter em mente as habilidades e competências, a dimensão
teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo e os deveres e obrigações do assis-
tente social, além do toda a base teórica e metodológica que rege a profissional deve fazer
parte do cotidiano, mostrando a importância do profissional dentro daquela política/serviço
e lutando pelo que acredita ser o melhor e isso é claro baseado na garantia dos direitos
humanos e sociais.
O que nos leva a refletir, será que aceitar todas as solicitações, mesmo que vá
contra ao que está previsto no Código de Ética e/ou torcer pela troca da chefia ou ainda não
realizar o que lhe é solicitado e criar um combate ou disputa de poder é a melhor solução?
REFLITA
Somente por meio de alianças entre os próprios assistentes sociais, incluindo aqueles
que possuem cargo elevado, é que podemos enfrentar coletivamente os desafios en-
contrados na prática diariamente.
Fonte: a autora.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade e é com grande tristeza
que anuncio que esta é a nossa última unidade. Espero que os conteúdos abordados tenham
proporcionado muitos saberes, mas também despertado o interesse em buscar em outras
bases teóricas mais sobre a profissão, principalmente nos conteúdos abordados até aqui.
Se recapitular o que apreendeu nesta unidade, verá um breve resgate histórico so-
bre a profissão e perceberá o quão importante é que se faça esses resgate, pois é preciso
entender o que aconteceu na profissão, principalmente entre os anos 1960 a 1980, quando
tudo começou a fazer sentido, principalmente sobre o exercício profissional que realizamos
nos dias atuais.
Entender sobre o quefazer profissional foi importante, uma vez que esse ponto foi
resgatado na Era Vargas, mas se intensificou após o Movimento de Reconceituação e a busca
pelo rompimento com o conservadorismo que durou quase 30 anos, sendo considerado por
muitos assistentes sociais como um avanço para a categoria. Mas entender todo o processo
é o que dá sentido sobre a forma como os assistentes sociais atuam nos dias de hoje.
Um outro ponto que merece destaque são os quatro projetos abordados, que dentre
os 30 anos de grandes conquistas foram construídos, mostrando os avanços e consequên-
cias ao adotarem e/ou seguirem alguns dos projetos. Destaco que os quatro projetos foram
importantes, mas o primeiro é o que dá mais sustentação para que os assistentes sociais
consigam atuar frente às expressões da questão social; isso porque apresenta o tripé da
profissão, além da democracia, liberdade e emancipação humana, que faz parte de uma
conquista maior.
E não podemos deixar de destacar sobre a escolha, os motivos que os profissio-
nais escolheram as dimensões ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes
projetos profissionais e os quatro pontos importantes que nos fazem questionar e refletir
sobre o fazer profissional. Isso nos apresenta respostas que nos possibilita ir além da práti-
ca profissional, entendendo que estamos inseridos em uma sociedade e que devemos lutar
junto à classe trabalhadora, base fundamental para entender o projeto profissional.
LIVRO
Título: A/O Assistente Social na Luta de Classes: Projetos Profis-
sional e Mediações Teóricos-Práticas
Autor: Ana Maria de Vasconcelos
Editora: Cortez
Sinopse: É diante da permanente possibilidade de insurgência
dos/as trabalhadores/as contra o modo de produção capitalista,
que a burguesia nacional e internacional se encontra entre sua ne-
cessária vitimização por um lado e criminalização por outro. As/Os
assistentes sociais e demais profissionais podem dar sua modesta
contribuição aos únicos que portam interesses e necessidades que
coincidem com os interesses do gênero humano: os trabalhadores
e as trabalhadoras de todo o mundo.
FILME/VÍDEO 01
Título: Laranjas e Sol
Ano: 2011
Sinopse: Baseado em fatos, o filme conta a história de Margaret
Humphreys, uma assistente social do Reino Unido responsável
por descobrir um dos maiores esquemas de tráfico infantil da
Europa, envolvendo o governo da Grã-Bretanha, que deportava
crianças pobres de maneira forçada para países como a Austrália
e o Canadá.
FILME/VÍDEO 02
Título: O Corajoso coração de Irena Sendler
Ano: 2009
Sinopse: Em Varsóvia no ano de 1940, A polonesa Irena Sendler
é uma católica servidora social que, para evitar deportação, salva
milhares de crianças judias da morte durante a Segunda Guerra
Mundial.
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v. 18, n. 2., jul./dez. 2008.
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CONCLUSÃO GERAL