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Fundamentos Histórico-

Teórico-Metodológicos do
Serviço Social (60 e 80)
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

EduFatecie
E D I T O R A
2021 by Editora EduFatecie
Copyright do Texto © 2021 Os autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

O48f Oliveira, Irení Alves de


Fundamentos histórico-teórico-metodológicos do Serviço
Social (60 e 80) / Irení Alves de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie,
2021.
138 p. : il. Color.

ISBN 978-65-87911-37-3

1. Serviço social. 2. Fundamentos do serviço social. I. Faculdade


de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. II. Núcleo de
Educação a Distância III. Título.

CDD : 23 ed. 361.3


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AUTORA

Professora Irení Alves de Oliveira

● Especialista em Docência no Ensino Superior (2016)


● Tecnóloga em Marketing (2016)
● Bacharel em Serviço Social (2015)
● Pós-Graduanda em Design Thinking e Criatividade nas Organizações
● Professora Formadora EAD
● Supervisora Acadêmica de Estágio

Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/6087805875284804

Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acom-


panhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina
de estágio supervisionado curricular obrigatório.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Caro(a) aluno(a), é com imensa satisfação que apresento a disciplina de Funda-


mentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social: década de 60 e 80 e convido
você a se apropriar dos conteúdos que serão abordados ao longo das quatro unidades, em
que serão destacados assuntos relevantes, tanto neste processo formativo quanto quando
estiver atuando como assistente social.
A construção deste material tem como objetivo destacar a formação e o trabalho
profissional na contemporaneidade, preparando você para entender sobre o projeto profis-
sional e o assistente social na luta de classes.
Desta forma, na Unidade I você irá estudar três pontos importantes sobre o trabalho
do assistente social e destaco que no primeiro ponto, logo no início, são abordados três
aspectos relevantes que possibilitarão a reflexão sobre o trabalho que os profissionais
precisam desenvolver e sobre a questão social mediante ao mercado de trabalho. Também
serão apresentados o trabalho e o Serviço social, bem como o processo de trabalho que
todos estão inseridos. Por fim serão apresentadas as mudanças sociais ou, como abordado
por Iamamoto, as transformações societárias que, de certa forma, ampliaram o mercado de
trabalho para os assistentes sociais.
Já na Unidade II será destacado sobre a formação profissional, serão abordadas
algumas reflexões iniciais na contemporaneidade, destacando os desafios que a categoria
enfrentou ao reconstruir o projeto de formação. Entre os anos 1960 a 1980, a profissão
passou por um processo de ruptura com a prática conservadora enraizada nas práticas
profissionais, necessitando rever o projeto de formação. Durante esse percurso houve
conquistas, mas também dilemas que são relevantes para que se possa entender todos os
fatos históricos que envolvem o projeto de formação profissional; atualmente destacam-se
algumas exigências e perspectivas sobre a formação. É evidente que nesse percurso o
debate sobre os temas abordados no movimento de reconceituação foi importante para
entender a política de prática acadêmica que foi muito bem apresentada no método de BH.
Na sequência, será estudado na Unidade III que, para entender o projeto profissão,
foi preciso buscar a concepção de mundo, entendendo as quatros notas e os tipos de con-
cepção. Você deve estar se perguntando o porquê de estudar isso. Ora, caro(a) aluno(a),
o Serviço Social por si só traz uma bagagem histórica que fundamenta as bases teóricas e
metodológicas da profissão. Para entender tudo que está ao redor da profissão, é preciso
entender o contexto histórico e a concepção de mundo sobre o processo histórico que tem
o ser humano como ponto principal. Fique tranquilo(a), pois esse assunto está descrito
na primeira parte da unidade. Depois estudará sobre a crítica que Marx fez em seu livro o
Capital - volume 01 sobre a economia política que envolve a relação capital X trabalho. Em
seguida entenderá o conceito de trabalho e práxis, de forma separada. Por fim, o projeto
profissional e o motivo da emancipação humana ser considerada para além do direito e da
cidadania burguesa.
E em nossa Unidade IV entenderá sobre o termo “quefazer profissional”, porque e
quando surgiu esta dúvida e como o fazer profissional é realizado atualmente. Em seguida
serão apresentados os quatro projetos considerados importantes. O primeiro é o que funda-
menta as bases teóricas, éticas, políticas e metodológicas da profissão e, por este motivo,
foram escolhidas as dimensões ético-política e teórico-metodológico frente aos diferentes
projetos. Para finalizar, destacamos quatros pontos importantes para refletir sobre alguns
questionamentos, com a finalidade de encontrar respostas sobre a profissão.
Espero que o conteúdo desta apostila contribua no seu crescimento enquanto
futuro(a) assistente social.

Bons estudos e até a próxima.

Prof.ª Irení Alves de Oliveira


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 4
O Trabalho Profissional na Contemporaneidade

UNIDADE II.................................................................................................... 33
Formação Profissional na Contemporaneidade

UNIDADE III................................................................................................... 67
O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na
Sociedade do Capital

Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

UNIDADE IV................................................................................................. 103


O Assistente Social na Luta de Classes
UNIDADE I
O Trabalho Profissional na
Contemporaneidade
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

Plano de Estudo:
● O Serviço Social na Contemporaneidade;
● Trabalho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as
transformações societárias recentes;
● Demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o Serviço Social na contemporaneidade,
entendendo as mudanças e os desafios profissional;
● Compreender o termo trabalho e o Serviço Social e o redimensionamento
da profissão ante as transformações societárias recentes;
● Destacar as principais demandas e respostas no que se refere
a categoria profissional aos projetos societários.

4
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade você irá se debruçar sobre o trabalho
profissional do assistente social na contemporaneidade. Para entender esse assunto, é
preciso dividir em três tópicos, sendo eles: o Serviço Social na contemporaneidade; Traba-
lho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias
recentes; e as demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários, em
que serão explanados temas importantes, referentes ao fazer profissional.
Portanto, na primeira parte você estudará sobre os desafios que o assistente social
vivencia cotidianamente; aqui serão destacados três aspectos reflexivos sobre a profissão,
levando a busca do entendimento sobre a questão social e o mercado de trabalho. É ne-
cessário fazer um breve resgate histórico sobre a origem do termo “questão social” para
entender as desigualdades sociais no Brasil e, assim, compreender o mercado de trabalho
profissional, principalmente do assistente social. Afinal, foi por meio dos problemas sociais
que houve a ampliação de diversos campos de atuação, porém também propiciou as mu-
danças nos campos de atuação e o surgimento de grandes desafios no fazer profissional.
Já na segunda parte será estudada a origem o termo “trabalho”. Esse é um ponto
importante para compreender o Serviço Social na sociedade e como a profissão está inse-
rida e inscrita na divisão social e técnica do trabalho através da prática profissional. A partir
desse entendimento, o processo de trabalho passa a fazer parte da vida do homem em meio
a sociedade. Assim, você irá entender o processo de trabalho do assistente social, para
depois compreender sobre o redimensionamento da profissão antes das transformações
societárias, que se voltam para as mudanças no mercado de trabalho profissional.
E, por fim, a terceira parte abordará as demandas profissionais no âmbito das
relações entre o Estado e a sociedade. Serão destacados alguns pontos reflexivos con-
siderados pela grande autora Iamamoto, como ocultos no VII Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, enfatizando que os
profissionais precisam compreender as condições de trabalho ao buscar respostas para o
fazer profissional.
Espero que tenha um excelente estudo!

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1. O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

No contexto contemporâneo, a revolução tecnológica acabou estabelecendo novos


padrões de produção e gestão, tendo, por trás de todo esse avanço, a grande hegemonia,
conhecida como capital financeiro. Com isso, houve um aumento do desemprego, além
de gerar o subemprego. Nesse aspecto, a acumulação de capital não se configura como
sinônimo de equidade e sim das diversas expressões da questão social. De um lado temos
a concentração do lucro e poder, do outro, o pauperismo e a luta pela sobrevivência.
Mediante a esse cenário, os assistentes sociais são desafiados diariamente nos
mais diversos campos de atuação. Primeiro, pelo aumento da demanda voltada para os
serviços sociais; segundo, pela diminuição dos recursos, principalmente na esfera pública,
criando padrões cada vez mais rigorosos sobre a possibilidade da população ter acesso
aos direitos.
Isso nos leva a refletir sobre três aspectos acerca da profissão.
Primeiro, para entender o Serviço Social na contemporaneidade é necessário li-
bertar-se da visão interna e centralizadora que aprisiona muitos profissionais. Para isso, é
necessário ampliar os horizontes, observando as mudanças do cotidiano na relação entre
Estado e a sociedade; não perdendo as características da profissão e, ao mesmo tempo,
rompendo com o pensamento conservador e endógeno. Ou seja, no aspecto de ajuda
na forma evolutiva da caridade e da filantropia baseado nas obras de Tomás de Aquino e
Vicente de Paula (MONTANÕ, 2007).

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Segundo, entender a profissão nos dias atuais e as mudanças na sociedade, princi-
palmente no âmbito do trabalho, mas especificamente na estrutura de produção refletida na
nova forma de organização e gestão do trabalho. O Serviço Social é uma profissão espe-
cializada e inscrita na divisão social e técnica do trabalho, compreende que os assistentes
sociais têm um Código de Ética Profissional, sendo considerado um profissional autônomo
e qualificado.
Terceiro, considerar o Serviço Social como trabalho é o mesmo que favorecer a
produção e reprodução da vida social. Antunes (2006) destaca que a satisfação no tra-
balho não está voltada para as relações sociais e sim na necessidade da produção de
objetos, constituindo a materialidade e subjetividade das classes que vivem do trabalho. Ao
confirmar a primazia do trabalho na sociedade e ao indagar o papel do Serviço Social no
processo de produção e reprodução da vida social, existe um ponto de partida e um norte.
Porém essa não é a prioridade do mercado, mas sim privilegiar a distribuição de riquezas
dentro do sistema capitalista, considerado o “portador de valor-trabalho e de mais-valia. O
trabalho é, pois, uma atividade que se inscreve na esfera da produção e reprodução da vida
material” (IAMAMOTO, 2012, p. 25).
Em síntese, um dos maiores desafios enfrentados pelos assistentes sociais atual-
mente é interpretar a realidade e desenvolver um trabalho criativo, capaz de preservar os
direitos a partir das demandas que surgem no cotidiano. Em qualquer situação é preciso
ser um profissional com objetivos claros, não apenas um executor de tarefas. É olhar para
além da profissão, rompendo com qualquer visão rotineira e burocrática que envolve os
profissionais de Serviço Social, entendendo que a questão social é o seu objeto de trabalho
nos diversos espaços sócio-ocupacionais no mercado de trabalho que está inserido.

1.1 Questão Social e o Mercado de Trabalho

Caro(a) aluno(a), acredito que já tenha estudado em outras disciplinas sobre a


questão social, pois bem, vamos recapitular sua origem. De acordo com Castel (1998), o
termo questão social foi mencionado pela primeira vez no ano de 1831 no jornal legitimista

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La Quotidienne. Chamou a atenção do governo francês ao enfatizar a necessidade de en-
tender além do poder do capitalismo, destacando que existia uma “questão social” carente
buscando por respostas emergentes. Ou seja, o Estado precisava atender o pauperismo que
a classe trabalhadora estava vivenciando em decorrência do processo de industrialização.
Mas por que foi preciso recapitular a origem do termo questão social?
Ora, caro(a) aluno(a), ter em mente a origem do termo “questão social” faz toda
a diferença, primeiro porque o processo de industrialização ocasionou o pauperismo e
empobrecimento da classe operária, gerando diversos problemas sociais. Isso chamou a
atenção da classe burguesa e do Estado, que precisava de algum mecanismo para atender
as necessidades emergentes da classe operária, para continuar vendendo a sua força de
trabalho. O segundo motivo é que a questão social se tornou o objetivo do trabalho do as-
sistente social, e, para analisar as suas variações, principalmente na atualidade, é preciso
entender a origem e o contexto em que a questão social passou a ser reconhecida pelo
Estado, classe operária e burguesia.
Com isso, entender a questão social é captar as múltiplas formas de pressão social,
decifrando a realidade do cotidiano, pois pensar nos problemas sociais na contemporanei-
dade pode ser um desafio. A globalização econômica reproduz o pauperismo nas diversas
formas ao longo da existência do ser social.
Sobre a questão social no Brasil, Iamamoto (2009) destaca que a transição do
capitalismo competitivo para o monopolista não foi estruturada por uma burguesia com forte
tendência para a democracia e o nacionalismo, marcando o país com um sistema restrin-
gido e oligárquico. Com isso, a desigualdade social aumenta a ponto de ser considerada
indissociável do sistema capitalista, incorporando múltiplas expressões da questão social
que se enraizaram na sociedade.
Segundo Piana (2009), a questão social no Brasil deve ser considerada como algo
grave, pois atinge todos os setores e camadas sociais e está constantemente ameaçada
pela pobreza e exclusão. Isso porque a realidade da atual política salarial aumenta esse
problema, principalmente ao construir uma sociedade coesa e clara por meio das relações
democráticas e interdependentes.
Partindo desta lógica, Arcoverde (2000) enfatiza que a questão social no Brasil
assume diversas formas e possui características orgânicas relacionadas à desigualdade e
injustiça social referente à organização do trabalho e da cidadania. Isso se deu por meio
do atual modelo de produção e reprodução que o país adotou com o processo escravista,
industrial, Fordista-Taylorismo e a reorganização produtiva.

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Dessa forma, a expressão “questão social” passa a ser resultado da relação entre
produção e reprodução social causada pela concentração da riqueza. O assistente social
tem a missão de decifrar as diversas formas da desigualdade social na atualidade e dar
transparência às iniciativas que visam a restauração ou enfrentamento imediato. É um
profissional capacitado a formular e implementar propostas por meio das políticas sociais
nos órgãos públicos e/ou privados nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais.
Mas acredito que você agora deve estar se perguntando, o que a questão social
tem a ver com o mercado de trabalho profissional?
Pois bem, para entender o mercado de trabalho profissional, especificamente do
Serviço Social, é preciso ter em mente que o objeto (questão social) que deu base para a
profissão foi resultado das demandas ocasionadas pela sociedade capitalista, formando a
opressão por meio da produção e reprodução material. Para atender os problemas sociais,
foi necessário que profissionais capacitados pudessem atuar nos espaços/serviços promo-
vidos pelo Estado para atender os interesses da burguesia.
Antes da década de 1980, a maior concentração da atuação profissional estava
voltada aos serviços promovidos pelo Estado; após essa década houve uma ampliação nos
campos de atuação, tanto público quanto privado. Veja a seguir alguns espaços sócio-ocu-
pacionais dos dias atuais.

FIGURA 2 - ALGUNS CAMPOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Fonte: a autora.

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Conhecer alguns dos espaços de atuação profissional é importante e relevante à
categoria, principalmente para você, caro(a) aluno(a), que está no processo de formação
profissional. Então, te convido a pesquisar na internet e estudar os campos de atuação
apresentados para entender o que o assistente social faz, ou seja, as habilidades e com-
petências e os instrumentos de trabalho utilizados nesses espaços de atuação. Ah, e fica à
vontade para pesquisar os demais campos de atuação que aqui não foram mencionados,
mas que podem te auxiliar e dar um norte quanto a escolha do espaço que pretende atuar.
O surgimento de novos campos de atuação é simplesmente pelo fato da sociedade
capitalista ter evoluído, fazendo surgir as novas expressões da questão social e a necessi-
dade da atuação do assistente social. Porém é preciso entender que as mudanças no mer-
cado de trabalho, de certa forma, desafiam a todos os cidadãos diariamente, principalmente
os assistentes sociais. Conhecer essas mudanças faz toda a diferença para não se tornar
um profissional estagnado, pois é preciso progredir e evoluir, analisando a necessidade da
sociedade.

FIGURA 3 - MUDANÇAS NO MERCADO DE TRABALHO

Para entender melhor sobre as mudanças no mercado de trabalho, vamos analisar


alguns pontos apresentados por Iamamoto (2012). Primeiro o serviço público: existe um re-
cuo das responsabilidades e ações do Estado na esfera social, refletindo na deterioração do
orçamento e prestação de serviços sociais públicos. Isso implica na resolução dos problemas
sociais, transferindo-os para a sociedade civil, onde as grandes empresas econômicas pas-
sam a se preocupar e intervir nas questões sociais numa perspectiva de “filantropia corpora-
tiva”, por meio das Organizações da Sociedade Civil (OSC), conhecida como Organizações
não-governamentais (ONG).

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Neste aspecto as OSC são consideradas como um campo amplo para os assistentes
sociais, assumindo a responsabilidade das políticas públicas e sociais no país, porém neces-
sitam de uma série de parcerias para se manter no mercado. Como uma forma de fiscalizar
os serviços prestados para a sociedade, o Estado atua muitas vezes como mantenedora dos
repasses por meio das verbas públicas, o que chama a atenção da autora supracitada, enfa-
tizando a distinção entre o serviço público e estatal. Com isso, temos serviços, considerados
públicos, que acabam sendo terceirizados pelas entidades, criadas por pessoas que buscam
minimizar os problemas sociais por meio de serviços socioassistenciais.
No que se refere à Previdência Social após a reforma, a solução de problemas sociais
foi de encontro com a perspectiva da privatização, o que compromete a universalização dos
direitos sociais garantidos pela Constituição. O governo reduziu os benefícios para pessoas
com renda mínima de 5 a 10 anos e transferiu uma valiosa participação no mercado de
seguro social para o setor privado, que é o quinto maior mercado de previdência privada do
mundo. Com isso, os serviços passam a ser fragmentados pelos padrões comerciais, tendo o
Estado como responsável pelo atendimento ao setor dos mais pobres e excluídos.
Outra mudança no mercado de trabalho profissional é no âmbito empresarial, que
contrata o assistente social para eliminar as tensões, criando comportamento de produ-
ção para a redução do absenteísmo, atuando no relacionamento interpessoal na área de
trabalho. Nesse aspecto é preciso ficar atento(a) para não cair nas armadilhas da visão
endogenista, atendendo as necessidades da sociedade capitalista.
Caro(a) aluno(a), essas mudanças no mercado de trabalho são uma forma de
atender aos interesses da sociedade capitalista e do Estado. Esse processo segue desde
o surgimento da profissional, o fato é o que os assistentes sociais precisam saber, enquan-
to profissionais regulamentados por um Código de Ética e com um Projeto Ético Político
(assunto para a terceira unidade), quais são as atitudes que precisam tomar mediante as
situações cotidianas. Será que o assistente social precisa decifrar a realidade apresentada
pela sociedade, compreendendo que as mudanças são um meio e não um fim; que cabe
somente ao assistente social lutar pelos direitos sociais, garantindo o seu espaço no mer-
cado de trabalho.
É importante destacar que a atuação profissional junto aos Movimentos Sociais além
de ser uma competência profissional está prevista a na Lei que regulamenta a profissão (Lei
nº 8.662/1993), no art. 04 inciso IX, “prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em
matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e
sociais da coletividade” ( CFESS, 1993, p. 45). Assim como previsto no Código de Ética do/a

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Assistente Social em relação às entidades da categoria e demais Organizações da Sociedade
Civil, a qual constituiu no art. 12 - b como um direito do assistente social em “apoiar e/ou par-
ticipar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação
e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania”. (CFESS, 1993, p. 34).
Um outro serviço que o assistente social pode e deve atuar são no campo da asses-
soria e consultoria, a qual também está previsto na Lei que regulamenta a profissão no art.
04 inciso -VIII, a qual consiste como competência do assistente social “prestar assessoria e
consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras
entidades” ( CFESS, 1993, p. 45).
“Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvol-
vida por um profissional com conhecimento na área, que toma a realidade
como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. O
assessor não é aquele que intervém, deve, sim, propor caminhos e estratégias
ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm autonomia em acatar
ou não suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém estudioso,
permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar claramente
suas proposições.” (BRAVO & MATOS, 2014, p. 31).

Caro(a) aluno(a) se analisar a diferença entre assessoria e consultoria é minima,


mas ambas são importantes e faz a diferença no fazer profissional, principalmente porque
tanto a consultoria que é mais pontual como a assessoria que remete a ideia de assistir
estão ligadas, devendo considerar que não podem ser compreendidas como sinônimo de
supervisão, ação extensionista e não é um trabalho precarizado e/ou temporário. Deve-se
entender que se trata de uma atribuição privativa do assistente social e que cabe aos
profissionais conhecer e se aprofundar tanto o como, onde e quando realizar uma asses-
soria e consultoria. Mas, fique tranquilo certamente você irá se aprofundar nestas áreas
de atuação, o importante é entender que esses espaço sócio-ocupacionais foram e são
fundamentais para a atuação profissional e por meio deles outros locais de trabalhos foram
e estão surgindo.
2. TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: O REDIMENSIONAMENTO DA PROFISSÃO
ANTE AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS RECENTES

Caro(a) aluno(a), desde a sua origem, o trabalho tornou-se fundamental na vida do


homem em meio a sociedade. Com a ascensão do capitalismo esse conceito foi modifican-
do, dando espaço para a produção e reprodução de mercadorias. Dessa forma, tivemos
a divisão de classes – de um lado temos o sistema capitalista e a busca pelo aumento de
lucro; do outro os trabalhadores, que vendem a força de trabalho para a sua sobrevivência
–, gerando problemas sociais que foram as consequências desse cenário, como o paupe-
rismo e a luta de classes.
Nessa perspectiva é que surge o Serviço Social, uma profissão inscrita na divisão
social e técnica do trabalho. Ao longo de sua existência passou por grandes mudanças e
conquistas na categoria profissão, principalmente no processo de trabalho mediante às
transformações societárias, exigindo dos profissionais que repensassem no fazer profissio-
nal, algo que os assistentes sociais precisam realizar constantemente, analisando os fatos
ocorridos na sociedade para entender o contexto atual.
Dessa forma, vamos analisar, a seguir, o termo trabalho e seu processo em relação
ao Serviço Social.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 13


2.1 O Trabalho e Serviço Social

O termo “trabalho” originou-se da busca do homem em atender às suas neces-


sidades. De acordo com Marx (1989) o trabalho consiste na ação do homem em meio
à natureza e ao modificá-la, modifica a si mesmo, ou seja, o trabalho é algo produzido
pelo próprio homem, com a finalidade de modificar a natureza e, assim, atender às suas
necessidades, considerado como a categoria fundante do mundo e a base dos homens em
qualquer sociedade.
No entanto, o sentido do trabalho mudou-se com a sociedade capitalista. Lessa
(2007) destaca que o trabalho passou a ser usado para produzir mercadorias por meio da
exploração da força de trabalho. Nessa perspectiva não é reconhecido como uma forma
de realização humana, mas como uma forma de sobrevivência por meio da produção e
reprodução a partir do modo de trabalho.
É nessa perspectiva que o Serviço Social se originou, ou seja, para atender as
necessidades emergentes da classe trabalhadora em prol dos interesses da sociedade
capitalista. Porém, com o passar dos anos, a categoria repensou na prática profissional,
isso aconteceu a partir do Movimento de Reconceituação e dos seminários (Araxá, Teresó-
polis, Sumaré e Alto da Boa Vista) e dos Congressos que reuniram diversos profissionais,
conquistando o reconhecimento do Serviço Social como uma profissão inscrita e inserida
na divisão social e técnica do trabalho, atuando na perspectiva liberal e autônoma regida
por um Código de Ética que regulamenta a profissão.
Devemos ter em mente que, assim como a sociedade capitalista mudou a forma
de trabalho, a prática profissional do assistente social também sofreu mudanças, principal-
mente com a variação das expressões da questão social. A exigência de analisar a prática
profissional no contexto das relações de trabalho é porque o assistente social também vende

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 14


a sua força de trabalho, mantendo uma relativa independência na definição de prioridades
e estilos de trabalho, e seu controle sobre suas próprias atividades é diferente daquelas em
que está engajado, por exemplo, os trabalhadores da linha de produção.
Tendo a linguagem como instrumento básico de trabalho, as atividades desenvol-
vidas pelos assistentes sociais estão intimamente relacionadas à sua teoria, metodologia,
conhecimentos técnicos e formação moral e política. Suas atividades dependem da capa-
cidade de ler e monitorar os processos sociais, construindo os relacionamentos e vínculos
no âmbito do trabalho.
Cabe destacar aqui, caro(a) aluno(a), que a autonomia relativa dos assistentes
sociais se deve ao natural, este tipo de especialização do trabalho é para trabalhar com
indivíduos em sociedade, não com coisas inertes, eles interferem na reprodução material e
social do trabalho por meio da prestação de serviços sociais. Seu trabalho está localizado
principalmente no campo do pensamento político, exigindo que os profissionais exerçam as
funções de controle quanto à ideologia dominante da classe subordinada, cujos campos de
trabalho são interceptados por tensões e interesses de classe.
É possível mudar o significado de seu comportamento para uma direção social
diferente da direção esperada pelo empregador, como no sentido de estabelecer a cidada-
nia para todos; a realização da sociedade, os direitos políticos; a formação de uma cultura
pública democrática e o desenvolvimento da esfera pública. Isso decorre das próprias
características contraditórias das relações sociais que constituem a sociedade capitalista.
Entre eles, atualmente, existem interesses sociais diametralmente opostos que se refratam
no âmbito institucional, definem as forças sociais e políticas que lutam pela hegemonia,
definem o consenso de classe e estabelecem uma forma de controle social a ele vinculado.
Embora a existência do processo de alienação envolvendo mão de obra contratada
não possa ser eliminada, é na referida dimensão política na prática profissional que se abre
a possibilidade de neutralizar a alienação dessa atividade. Para os trabalhadores, isso é
um esforço e um grande desperdício de energia, porque o trabalho é uma mercadoria indi-
visível para os trabalhadores. Tomar posse da dimensão criativa e as condições subjetivas
do trabalho vão interferir na direção social do seu trabalho e essa é uma luta que deve ser
realizada todos os dias.
De acordo com Iamamoto (2012), devido às suas qualificações profissionais, o as-
sistente social possui relativa autonomia teórica, técnica e ética política na realização das
atividades, mas estas dependem dos meios e recursos para a sua realização, não sendo
propriedade do assistente social porque está envolvido no trabalho. Alguns dos meios e condi-

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 15


ções necessários são alienados, sendo os métodos e as condições de realização do trabalho,
por exemplo, as diretrizes estipuladas pelas políticas sociais públicas ou empresariais.
Mas é importante entender que as relações de poderes institucionais e as priori-
dades políticas são estabelecidas pela instituição que o profissional presta o serviço, já a
mobilização humana e a pressão social são condições externas. Cabe ao assistente social
compreender esses fatores, tendo em mente que as políticas sociais e as expressões da
questão social relacionadas na área de trabalho não podem ser consideradas como algo
externo, pois se tratam das atribuições profissional, devendo estar claro no momento da
atuação para não tomar para si o que de fato não faz parte da prática profissional.

2.2 O Processo de Trabalho e o Serviço Social

O processo de trabalho é a combinação entre os meios onde o homem se estabelece


e a força produzida pelo seu trabalho. Para chegar a esse processo, o homem precisa trans-
formar uma determinada matéria, seja ela bruta ou natural, tendo um resultado favorável, de
forma que alcance a conversão do produto para a satisfação humana (OLIVEIRA, 2001).
Marx (1989) salienta que o processo de trabalho é uma atividade exclusivamente
executada pelo homem, com a finalidade de transformar seu objeto de trabalho, adaptando
uma matéria natural à necessidade humana, transformando a sua forma original na satisfa-
ção plena de outro homem. Nesse aspecto, o processo de trabalho passa por três estágios,
primeiro: a atividade realizada tem propósito, segundo: um objeto, e terceiro: os meios em
que deverá acontecer todo o processo de trabalho.
Para Duarte (1995), o processo de trabalho só alcança uma finalidade a partir do
resultado, ou seja, por meio do produto produzido pela mão do homem, que além de satisfa-

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 16


zer a necessidade humana cria um determinado valor de uso em que o trabalho objetiva na
produção de uma mercadoria. Consequentemente, o objeto de trabalho está petrificado na
força humana e nos resultados atingidos. Esse conceito se dá por meio do trabalho, criado
pela produção de um ou mais homens, a fim de atender a uma determinada necessidade.
No processo de trabalho as atividades realizadas significam alterar os objetos de
trabalho que são projetados para atingir seus objetivos. Nesse sentido, o processo sai no
produto, que é considerado como uma espécie de valor de uso. Quando o processo de
trabalho gera o valor de uso do produto outros valores de trabalho são inseridos como ma-
teriais de produção e os produtos têm o mesmo valor de uso e constituem os materiais de
produção da obra. Portanto, o produto não é apenas o resultado, mas também a condição
do processo de trabalho.
O processo de trabalho se configura em dois tipos: o simples, que são atividades
baseadas no objetivo ou trabalho em si, seus objetos no ambiente; e o abstrato, que reflete
no valor de troca ou no preço das mercadorias, tendo o sistema capitalista como o detentor
de todo o processo de trabalho.

REFLITA

Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide
a ação do sujeito, ou seja, o próprio trabalho que requer meios ou instrumentos para que
possa ser efetivado. Em outros termos, todo processo de trabalho implica uma matéria-
-prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que po-
tenciam a ação do sujeito e objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado
a um fim, que resulta em um produto.

Fonte: Iamamoto (2012, p. 61).

No que se refere ao processo de trabalho do Assistente Social, pode considerar


que está ligada à divisão social e técnica do trabalho e na atuação do profissional na presta-
ção dos serviços sociais. Segundo Iamamoto (2012), o processo de trabalho do Assistente
Social foi definido após a reafirmação da proposta de currículo mínimo do curso de Serviço
Social, composto por 200 oficinas locais, regionais e nacionais, realizadas pela Associação

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 17


Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Tendo o entendimento que a
atuação do Assistente Social faz parte do processo de trabalho constituído historicamente
na sociedade de forma coletiva, porém com características particulares de que o serviço
ofertado nos espaços de trabalho devem ser particulares aos assistentes sociais.
Para pensar no processo de trabalho do Assistente Social, é preciso considerar
esta dupla determinação: a do valor de uso e do valor, ou seja, como um processo de
produção de produto ou determinação da qualidade do serviço e o processo influente ao
nível da produção ou distribuição de valor ou mais-valia. Devendo considerar que o trabalho
do assistente social na esfera pública nem sempre teve conexão de forma direta com o
trabalho e produção de valor, o que nos chama a atenção para entender o processo de tra-
balho nos diversos espaços sócio-ocupacionais. Ou seja, na política de assistência social
o processo de trabalho não está ligado diretamente na produção de valor, ao contrário das
empresas em que é explícita, no processo de trabalho, a atuação frente à reprodução da
força de trabalho.
Mas é importante compreender que o processo de trabalho do assistente social
se constitui pelo objeto de trabalho, ou seja, as expressões da questão social e o meio de
trabalho, bem como os instrumentos utilizados nos diversos espaços de atuação – que, de
certa forma, viabilizam os direitos sociais gerando efeito na sociedade.
Portanto, com base nesse entendimento, pode-se considerar que o Serviço Social
é uma profissão especializada e inserida no processo de trabalho, que presta serviço ao
empregador. De certa forma, também vende a sua força de trabalho, mas deve ter em
mente que a prestação de serviço deve ser privativa, ou seja, executada somente por um
assistente social que se apropria de habilidades e competências privativas.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 18


2.3 Redimensionamento da Profissão Antes das Transformações Societárias

Para entender as profundas mudanças sociais ou as transformações societárias, é


necessário considerar a crise do capital, e, para entender esse contexto, vamos nos apro-
fundar nos estudos de Netto (2012). Ele destaca, no texto Crise do capital e consequências
societárias, que a crise do capital surgiu na década de 1970 e redesenhou a imagem do
capitalismo contemporâneo, apresentando novas características. Segundo o autor, as
mudanças tiveram relação com o mundo do trabalho produzindo falsas conclusões no que
se refere ao fim da classe trabalhadora e o fim do proletariado. No entanto, embora a
transformação esteja intrinsecamente relacionada à produção, ela envolve a sociedade
como um todo.
Além do crescente grau de autonomia controlado pelo Estado, a desregulamen-
tação das atividades financeiras também tem levado a fluxos extraordinários no tempo e
no espaço e, no campo da produção, esse fluxo permite a formação de capital, uma rede
produtiva capaz de conversão rápida.
Isso tem impacto na cooperação com a economia do trabalho vivo, aumentando a com-
posição orgânica do capital e implicando no crescimento do trabalho excedente. Na verdade,
o chamado “mercado de trabalho” sofreu uma reorganização completa e todas as inovações
levaram às precárias condições de vida de um grande número de vendedores de mão de obra,
a ordem do capital é uma ordem do desemprego, geralmente aceita na informalidade.
Segundo o autor supracitado, as mudanças em curso têm interferido na estrutura
de classes da sociedade burguesa, que mudou com o desaparecimento das antigas classes
e estratos sociais. Mudanças que aparecem no plano das metas econômicas de classe e
suas relações, como as mudanças no plano subjetivo da ideologia. Devido a esse proces-
so de divisão social e tecnológica do trabalho, a classe trabalhadora passou por grandes
transformações. Essa mudança também afetou os níveis médio e tradicional da burguesia.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 19


Outro aspecto que chama a atenção do autor é o imediatismo como realidade, o
que desqualifica a distinção entre aparência e essência, ou seja, a realidade e sua comple-
xidade de forma curta. Mediante a essas informações pode-se considerar que o movimento
pós-moderno se desenvolveu e se tornou um sintoma das mudanças em curso na socieda-
de, o que corresponde à própria estrutura obsessiva das mercadorias.
No que se refere ao Serviço Social, Iamamoto (2012) enfatiza que os assistentes
sociais no órgão público, que é considerado o setor que mais contrata, têm vivenciado o
emprego instável, como redução de licitações públicas, demissão de funcionários instáveis ​​
e exercício de contenção salário, falta de incentivos à carreira, terceirização, acompanhado
de instabilidade, emprego temporário, perda de direitos. O que nos chama a atenção quanto
às mudanças no mercado de trabalho (assunto abordado na primeira parte desta unidade)
no setor público.
De acordo com a análise de Cardoso (2016), face a esse enquadramento e face
à tendência de alteração do perfil do mercado de trabalho, a atuação profissional dos as-
sistentes sociais adota uma nova configuração e isso gerou demandas por meio do fluxo
de capital na crise e da reorganização política das classes subordinadas que enfrentam
empregos instáveis ​​e dispersos. Com isso, a demanda por trabalho profissional surge no
setor estatal e privado. Nessas duas áreas, a nova imagem do mercado de trabalho ocupa-
cional apresenta uma visão de redução da demanda por ocupações do setor público e um
aumento no setor privado.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 20


3. DEMANDAS E RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL
AOS PROJETOS SOCIETÁRIOS

O ponto de partida para entender as demandas profissionais no âmbito das relações


entre o Estado e a sociedade é que a prática profissional não tem o poder milagroso de se
manifestar, sendo compreendida através da história da sociedade que faz parte. Portanto,
expor a prática profissional cotidiana é inseri-la no quadro das relações sociais básicas da
sociedade, é entendê-la no tenso jogo das relações entre classes sociais, entre classes e
o Estado brasileiro.
Nesse aspecto, considerar a primazia da produção social é entender que o papel
básico da produção da vida real, ou seja, a produção de indivíduos sociais engajados em
atividades de trabalho estabelecidas são formas de compreender as demandas estabele-
cidas nas sociedades que compõem uma personalidade social, como expresso no mundo
capitalista hoje, também registra os princípios básicos da exclusão social política e aliena-
ção. Com isso, para entender a demanda profissional é importante realizar uma análise
histórica considerada como a chave da resolução dos problemas sociais.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 21


3.1 Demandas Profissionais: Uma Análise a Partir Do VII Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais

Caro(a) aluno(a), no intuito de explanar sobre as demandas profissionais, é no viés


de análise da Iamamoto (2012) é que vamos nos aprofundar em alguns temas abordados
no VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de
São Paulo, sendo promovido pelo Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, ANAS,
ABEPSS e SESSUNE, nos dias 25 e 28 de maio, tendo como tema “O Serviço Social
e os desafios da modernidade - os Projetos Sócio-Políticos em confronto na sociedade
contemporânea” (DIAS, 2019).
Primeiro ponto a ser abordado é sobre a profissão ter um olhar voltado mais para
o Estado e menos para a sociedade, com isso destaca-se que a reflexão sobre o fazer
profissional acaba tendo prioridade na intervenção do Estado por meio das políticas so-
ciais extraindo os efeitos na sociedade, no entanto é preciso entender que as políticas
sociais acaba sendo importante para a atuação profissional, o que deixa como reflexão
que o Estado não explica a sociedade, visto que os fundamentos do Estado encontra-se
na própria sociedade civil e, neste ponto, é importante ter um olhar para a sociedade e aos
movimentos das classes sociais.
Segundo, é sobre o escopo que pode ser atribuído às demandas profissionais, ou
seja, a consideração dos processos e mercados de trabalho do país. Portanto, por exemplo,
se não analisamos as mudanças que ocorrem no processo de trabalho e as peculiaridades
do mercado de trabalho urbano e rural, como explicar as demandas advindas da sociedade
às quais atuamos?

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 22


Terceiro, a análise das ações realizadas pelo Estado em que a política acaba sendo
determinação da economia, quando entramos na análise de direitos sociais e política so-
cial, isentamos o capital, no máximo, ela só pode ser vista da perspectiva da distribuição da
riqueza social. Reconhecer que a sociedade capitalista e sua desigualdade são “naturais”,
ao analisar as necessidades profissionais parece ser essencial manter uma aliança profun-
da entre economia e política.
Quarto e último ponto, é a propensão de considerar a sociedade brasileira com uma
perspectiva urbana, dificilmente em um debate da categoria, o processo social da agricultura
parece estar relacionado a essa questão e as cidades correm o risco de aparecer no antigo
dualismo urbano e rural. Essa preocupação acabou sendo baseada no compromisso com
a proteção agrícola e urbana enraizada na sociedade brasileira, tentando entender onde o
Estado e a sociedade capitalista estão expandindo a reprodução do capital como a aquisição
da propriedade da terra, se apropriando das terras e provocando o afastamento dos trabalha-
dores que lutam pela terra, alterando as relações de trabalho até no âmbito rural.
A partir desses pontos reflexivos, pode-se notar que há uma consistente relação
com o processo de precarização enraizada em nossa sociedade, levando o trabalho a
um status de falência, simplesmente pelo fato de haver mudanças no mundo do trabalho,
alterando as suas relações e, consequentemente, aumentando as demandas no processo
de trabalho do assistente social. Essa alteração está mudando o modo de vida da classe
trabalhadora, que busca pelo serviço do assistente social devido ao estilo de vida ter so-
frido alteração e muitas vezes vivenciando a pobreza extrema. Outro ponto reflexivo a ser
considerado é que o Estado, em nome do capital, não só interveio na agricultura, mas em
vários departamentos de produção. Mudou o trabalho e o estilo de vida dos trabalhadores
da indústria urbana e secundária.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 23


3.2 As Condições de Trabalho e Respostas Profissionais

A pressão da população usuária sobre a demanda dos serviços está cada vez
maior, isso devido ao aumento da pauperização e a falta de recurso em algumas instituições
prestadoras de serviços sociais, que acaba inviabilizando o trabalho dos assistentes so-
ciais, principalmente nos serviços mais necessitados, como a saúde; educação; habitação
e entre outros. Isso aumenta o processo de seleção em relação aos atendimentos, o que
torna os direitos sociais pouco acessíveis.
Mediante a essa restrição quanto à capacidade de atendimento, o profissional do
Serviço Social se vê cada vez mais restringido na atuação, executando um trabalho bu-
rocrático, com uma visão de favoritismo, em que tanto o empregador quanto o usuário do
serviço acabam tendo a visão “moça boazinha”. Com isso o assistente social acaba tendo
dificuldade em exercer o seu trabalho enquanto profissional capacitado e especializado.
Para entender sobre a restrição quanto à capacidade no atendimento, a autora
Iamamoto (2012) destaca que, antes, os critérios em relação à provisão de cesta básica
era o desemprego, no entendo como esse fator tem aumentado muito nos últimos anos e
o valor dos alimentos também aumentaram, acabou tendo outros critérios quanto ao rece-
bimento do benefício, e um deles é a pobreza extrema. Com isso pode-se considerar que
os direitos dos trabalhadores estão se tornando invisíveis; fora os profissionais que ficam
impossibilitados de trabalhar pela falta de recursos. Nesse tipo de situação fica evidente
o anseio em relação ao papel do assistente social mediante a dificuldade de planejar e
executar propostas de trabalho.
Essa realidade instável, principalmente no serviço público, os profissionais não de-
vem fazer parte e/ou deixar-se abater. Não devemos criar impasses ou desilusões do fazer

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 24


profissional, pelo contrário, os profissionais precisam superar a posição fatalista e aquelas
visões idealizadas. Nessa perspectiva, a realidade se torna um obstáculo e isso acaba
tornando o trabalho impossível e o motivo é porque se tem uma visão da realidade ideal,
que nem sempre condiz com a história atual. Ou seja, tornando impossível os processos
econômicos, políticos e culturais que o constituem, nomeadamente seus desafios espor-
tivos e oportunidades de emprego e às vezes, acaba sendo esquecido que as mudanças
nesta estrutura não dependem apenas do fazer profissional.
Cabe destacar que essa não é a única maneira possível em relação à prática profis-
sional, existem outras forças sociais e políticas a que podemos nos unir, como profissionais
e cidadãos. Essas forças advém da luta pelos direitos sociais já conquistados e a busca
pela participação dos usuários e das Organizações da Sociedade Civil.
Nós, assistentes sociais, temos dado respostas importantes a esse respeito, ou
seja, da direção do nosso campo de trabalho. Tendo em vista a história e a conexão estru-
tural do nosso trabalho sob assistência pública é decisivo o papel em garantir os direitos
já conquistados pela Constituição Federal, de 1988. Demonstrando, assim, não estar
imobilizado, mas, acreditando ser possível exercitar nossa cidadania, zelando pelo apro-
fundamento e consolidação do processo democrático, cujo rumo depende, decisivamente,
das manifestações por parte da sociedade civil.

SAIBA MAIS

“O discurso que trata a assistência como um direito partícipe do processo de constitui-


ção da cidadania, enfatizando a sua função redistributiva de renda, tem sido repetido, de
forma inconseqüente e superficial, por vezes usado como um passe de mágica, capaz
de ‘livrar’ o Serviço Social do estigma da pobreza, atribuindo um verniz mais ‘moderno’
à profissão. Esse discurso, ao abstrair do debate a realidade da vida do público que
tem sido alvo das políticas assistenciais - carente de condições mínimas de defesa da
própria vida - pode ser fonte de ilusões e de desvios de rota, colocando em xeque as
pretensões e resultados anunciados”.

Fonte: Iamamoto (2012, p. 162 - 163).

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 25


Caro(a) aluno(a), como mencionado anteriormente, pode causar a subdivisão entre
política e economia na análise de políticas sociais para o reino da distribuição de riqueza,
levando a desigualdade na produção, o que torna os direitos vistos somente no âmbito da
política. Resultando em provisões para medidas baseadas em desvios críticos do sistema
ao implementar políticas públicas de assistência, ou seja, se ajudar obtenha tratamento “sa-
tisfatório” por parte do país a partir dos seguintes métodos: por meio da alocação racional
e eficaz de recursos é possível realizar uma avaliação equilibrada da gestão da pobreza
e pelo conjunto de medidas própria e burocrática da administração, que pode conduzir a
realização a cidadania e a política social e por si só não bastam para torná-la efetiva.
É importante destacar que o debate sobre a assistência merece ser aprofundado
para que ser capaz de se concentrar em propostas não imaginárias que reconhecem
limitações estruturais de qualquer política de ajuda em um país de alta concentração de
terra e capital não signifique a exclusão social de grande parte da população e o direito
básico de sobreviver.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 26


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade e espero que os estudos apreendidos
tenham auxiliado quanto ao entendimento do trabalho profissional na contemporaneidade, pois
se trata de um assunto que deve ser discutido constantemente pela categoria profissional. As
mudanças na sociedade implicam no fazer profissional e ter o entendimento dessas mudanças
é o que faz a diferença no momento da atuação nos diversos campos de atuação.
Para que os assuntos sejam fixados vamos fazer alguns resgates dos principais
pontos abordados nesta unidade, mas quero aqui deixar o convite para que busque outras
fontes de pesquisas e leia o livro da autora Iamamoto: O serviço Social na Contempora-
neidade: trabalho e formação profissional, pois, além de ser um livro importante para a
categoria profissional, foi por meio dele que extrai o conteúdo desta unidade. Acredito ser
de grande relevância para o seu processo de formação.
Pois bem, na primeira parte da unidade foram apresentados três aspectos reflexivos
que considero importantes e que devem sempre acompanhar você no momento da atua-
ção, principalmente por ter estudado nas disciplinas de Fundamentos Históricos Teóricos
Metodológicos do Serviço Social sobre a origem da profissão, a qual destaca a trajetória
dos profissional, principalmente na relação conservadora com base da igreja católica e o
rompimento desta doutrina avanço a uma profissão com bases teóricas mais precisas.
E ao analisar toda a trajetória e entendo que nos dias atuais o Serviço Social é con-
siderado uma profissão liberal regida por um Código de Ética Profissional e com um Projeto
Ético Político que auxilia os profissionais no momento da atuação para que não tenha uma
postura conservadora, executando tarefas rotineiras e para isso preciso ter compreensão
do fazer profissional para que consiga realizar o trabalho rompendo com a visão endógena
enraizado na profissão.
Entender que a profissão não é sinônimo de “ajuda” é o que irá fazer a diferença
no momento da atuação profissional. Mesmo que o mercado de trabalho profissional passe
por mudanças e os campos de atuação sejam ampliados devido às diversas demandas ad-
vindas da sociedade e, consequentemente, surjam as burocracias, é preciso ter em mente
que o fazer profissional depende de nós para fazer a diferença na sociedade.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 27


LEITURA COMPLEMENTAR

(...)

O Movimento de Reconceituação no Brasil pode ser entendido como um conjunto


de características novas que o Serviço Social articulou, rearranjando suas tradições e sua
assunção do contributo de tendências do pensamento social contemporâneo, procurando
investir-se da instituição de natureza profissional, dotada de legitimidade prática, com res-
postas às demandas sociais, à sua sistematização e validação teórica, mediante a remissão
às teorias e disciplinas sociais (NETTO, 1994).
Foi também um processo global que envolveu toda a profissão em decorrência
da laicização, implicando a construção de um pluralismo profissional, porém sem atenuar
as contradições do cariz comum às suas vertentes. O esforço de validação teórica Netto
(1994) procurou dar fundamento sistemático a todos os componentes do processo profis-
sional (análises, diagnósticos etc.) e recorreu a um elenco de fontes teóricas, ideológicas
e culturais para operar aquela fundamentação. Para além do esforço de validação teórica,
cabe destaque, no Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, a instaura-
ção do pluralismo teórico, ideológico e político questionando a exclusividade da tradição
positivista. Tal questionamento foi possível em face do momento conjuntural.
O processo de declínio da ditadura civil-militar abre fendas significadas a outras
duas vertentes que, no Seminário de Sumaré, realizado pelo CBCISS, no período entre
20 e 24 de novembro de 1978, se encontra numa situação de abertura, com certeza for-
çada (considerando a pressão de profissionais que estavam havia tempos na luta pela
redemocratização da sociedade brasileira e pela superação não só do tradicionalismo na
profissão, mas também do conservadorismo), para a introdução, explícita do marxismo,
que em tempos de chumbo não podia sequer ser nomeado e seus adeptos, reunidos em
uma pequena vanguarda que catalisou o chumbo repressivo desse período e que manteve
altiva a relevância do pensamento de Marx na e para a profissão.
Esse processo não ocorreu sem problemas, e vários estudos já foram realizados a
respeito da aproximação e apropriação do marxismo pelo Serviço Social. Cabe destacar o
estudo realizado por Netto (1994).
O Seminário de Sumaré (1978), realizado sob o apagar das luzes da hegemonia
burguesa, manifestou-se principalmente (não mais exclusivamente) por meio da tese de
livre-docência de Ana Augusta de Almeida (1978), depois publicada, e apontou uma “nova

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 28


proposta” para o Serviço Social. Na dialética entre continuidade e ruptura com o passado
profissional, percebeu-se, nessa perspectiva, que apesar de apresentar elementos renova-
dores, ainda ponderava a herança profissional de cunho religioso e conservador do lastro
do Serviço Social europeu.
E isso num momento em que posturas conservadoras encontravam grandes difi-
culdades de cristalização na (auto)representação profissional, em face de dois importantes
elementos que rechaçam qualquer tentativa de resgate do tradicionalismo: a laicização
profissional e a crescente ponderação de tendências católicas de cunho anticapitalista.
No entanto, existiam núcleos no Serviço Social que estavam interessados num
empreendimento restaurador. Tais núcleos deveriam operar com o fito de resistir às modifica-
ções trazidas pela proposta modernizadora e de aproveitar o insuperável lastro conservador,
associado aos novos dilemas prático-operacionais não resolvidos por aquela perspectiva.
Por outro lado, procedia também aproveitar o clima sociocultural em que dimensões
psicológicas e individuais ganham destaque na trama das relações sociais, permitindo o
resgate das tradicionais práticas face to face, além de neutralizar as vertentes que recorriam
aos influxos do pensamento crítico-dialético. A nova roupagem do conservadorismo exigia
e valorizava a elaboração teórica para as práticas profissionais, criticando os substratos
recolhidos das Ciências Sociais.
Em síntese, tratava-se da rejeição dos padrões teórico-metodológicos da tradição
positivista considerados inadequados para apreender a existência humana. A explicação do
“pensamento causal” deveria ser substituída pela compreensão, através de uma vinculação
com o pensamento fenomenológico. Os valores da “Reatualização do Conservadorismo”
eram os cristãos, e os objetivos constituíam um repúdio às práticas ajustadoras, dando
prioridade à “transformação social”, pela via exclusiva do indivíduo (NETTO, 1994).
O Seminário de Sumaré (assim como o IV Seminário de Teorização do Serviço Social
realizado em Alto da Boa Vista, entre os dias 5 e 9 de novembro de 1984) teve um número
representativamente menor de profissionais, em face dos seminários de Araxá e Teresópolis
(CBCISS, 1980). Os conferencistas e os temas das conferências em Sumaré também pos-
suíam uma característica diferenciada e que até então não tinham tido espaço de debate no
interior da profissão, desde as primeiras manifestações do Movimento de Reconceituação.
O seminário foi dividido em três direções teóricas e metodológicas: positivismo,
fenomenologia e a “dialética”. Houve aqui um novo direcionamento. A modernização da pro-
fissão não era mais referendada numa única vertente, sendo que a vertente modernização
conservadora participou desse seminário com pouca expressão.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 29


O caminho para elucidar essa abertura teórica oferecida pelo CBCISS consistiu na
movimentação e rearticulação dos assistentes sociais em face do relaxamento da opressão,
característica do Estado burguês nesse período, tendo em vista a política de reforma do
próprio governo militar, autocrático e burguês.
O segmento resistente, questionador e de vanguarda da profissão denunciava a
direção modernizadora e conservadora em suas posições e formulações. Por esse motivo,
é patente a inflexão do CBCISS, inaugurando a interlocução plural, motivada pelo envol-
vimento da profissão no debate e no enfrentamento político, pressionando por mudanças
na conjuntura brasileira, ao empurrar para a frente a busca da autonomia da democracia
brasileira e de marcar posição na recusa do desalento da perspectiva modernizadora.
(...)
Fonte: Aquino (2019, p. 572 - 574).

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 30


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO 01
Título: O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e for-
mação profissional.
Autor: Marilda Villela Iamamoto.
Editora: Cortez.
Sinopse: Este livro comporta uma nova e inquietante agenda de
questões para o trabalho e para a formação profissional do as-
sistente social. O Serviço Social sente hoje os impactos de uma
nova conjuntura, que lhe coloca o desafio de repensar a formação
profissional em tempos de novas demandas e de investimentos.

LIVRO 02
Título: O Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profis-
sionais.
Autor: Autores diversos.
Editora: Editado pelo CFESS e ABEPSS.
Sinopse: este livro reúne textos que abordam uma temática es-
sencial ao trabalho dos(as) assistentes sociais e para a formação
de estudantes de Serviço Social e, certamente, será uma referên-
cia obrigatória nos debates sobre as competências e atribuições
profissionais no âmbito das políticas sociais e na realização de
direitos.

FILME/VÍDEO
Título: À Procura da felicidade
Ano: 2006
Sinopse: Em À Procura da Felicidade, Chris Gardner (Will Smith)
é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros.
Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda
(Thandie Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai
solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de
apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para
conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno.
Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora
de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua
esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contra-
tado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus
problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o
que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a
dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que
consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias
melhores virão.

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 31


WEB

Caro(a) aluno(a), o VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais que aconteceu


em 1992 foi um marco para a categoria. Mesmo com o áudio baixo, vale a pena assistir.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=WM7b34IIEGg

UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 32


UNIDADE II
Formação Profissional na
Contemporaneidade
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

Plano de Estudo:
● A formação profissional na contemporaneidade.
● O debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação
e aprofundamento do marxismo.
● Política de Prática Acadêmica: o método BH.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos;
● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação;
● Identificar os aspectos legais da contabilidade;
● Compreender as características da informação e quem as utiliza.

33
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), esta é a segunda unidade da apostila, que irá estudar sobre o
processo formativo contemporâneo. Para a sua compreensão, o assunto foi dividido em
três partes, explanando sobre a formação profissional na contemporaneidade; o debate
contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do
marxismo; e a política de prática acadêmica: o método BH.
Nesta unidade abordarei assuntos e temas importantes para entender o processo
formativo em Serviço Social. Para isso utilizarei como base principal o livro Serviço Social
na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional, de Marilda Villela Iamamoto, e,
como forma de direcionar você para a leitura e entendimentos, destacarei alguns pontos
importantes ao longo das próximas páginas.
Na primeira parte você irá estudar sobre a reformulação do currículo mínimo por
meio dos debates advindos da categoria, destacando os desafios encontrados para a
reconstrução do projeto de formação, as conquistas e dilemas nos anos de 1980 e as
exigências e perspectivas do projeto de formação profissional na contemporaneidade.
Já na segunda parte será abordado o processo formativo profissional a nível da
herança marxista, que esteve em consonância com o Movimento de Reconceituação con-
siderado como um legado profissional; destacando o início da formação em Serviço Social,
os motivos que levaram esse movimento na categoria, tendo como ênfase o Movimento de
Reconceituação no Brasil e a perspectiva crítica dialética que levou a vários debates por
meio dos Congressos. Nesta parte será destacado o III Congresso Brasileiro de Serviço
Social, que aconteceu no ano de 1979, conhecido como Congresso da Virada. A partir dos
temas abordados é necessário repensar no processo formativo.
Por fim, a terceira parte, em que será realizada uma análise sobre a prática aca-
dêmica da Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora; por meio das resoluções sobre as
Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, saiu na frente e se fez necessário um
movimento por meio dos professores e alunos para entender as diretrizes e a matriz curricu-
lar do processo formativo. Assim, buscou-se aprofundar nos fundamentos e as dimensões
da política e prática acadêmica para entender o processo formativo na contemporaneidade.

Desejo uma boa leitura!

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 34


1. A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

Caro(a) aluno(a), para pensar a formação profissional nos dias atuais, é preciso
refletir sobre temas discutidos na atualidade, além de pesquisar e decifrar as novas de-
mandas que envolvem o Serviço Social. Mas é necessário que os profissionais busquem
se aprofundar em teorias e informações para subsidiar a criação de propostas no ato da
atuação profissional, sendo capaz de elaborar programas, projetos e formular e implemen-
tar as políticas sociais para atender as necessidades da sociedade.
Para entender as discussões da categoria acerca da formação profissional na con-
temporaneidade, é preciso ter em mente que houve uma reformulação no currículo a partir
de um crítico debate envolvendo as unidades de ensino, por meio dos professores, alunos
e profissionais, dirigido pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABEPSS).
O objetivo foi a construção e implementação de um novo projeto de formação profissional
que atribuísse as três dimensões – ensino, pesquisa e extensão –; o intuito era incorporar
o Serviço Social no meio acadêmico.
De acordo com a Iamamoto (2012), a proposta do debate foi dar continuidade ao
processo formativo, rompendo com qualquer visão endógena que enfraquece a categoria,
preservando os avanços já conquistados e identificando as mudanças no mercado do
trabalho, principalmente nas relações entre o Estado e a sociedade. Com isso, a forma-
ção profissional se manifesta a partir de novas tendências e condições decorrentes do
processo social, contribuindo em relação à construção de respostas consideradas sólidas

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 35


que antecipam as particularidades das diversas expressões da questão social no mundo da
sociedade capitalista. Esse é um dos requisitos para garantir a atualização da profissão, e é
a condição de que sua sociedade necessita, ou seja, a continuidade de sua reprodução no
mercado de trabalho capitalista e a ampliação de seu espaço profissional.
Nesse aspecto, os requisitos de formação profissional devem estar ligados ao mer-
cado de trabalho, detectando os problemas sociais e expressando as necessidades postas
na sociedade, principalmente as tendências no processo de acumulação capitalista e política
governamental. É importante que as contradições e dificuldades decorrentes das desigualda-
des e as lutas de classes sejam pontos de discussões e o meio para entender os aspectos da
exploração e dominação do capital, buscando respostas acerca do fazer profissional.
Desse modo, a formação profissional passa a ser a condição para a manutenção da
sobrevivência do Serviço Social e, assim como qualquer outra profissão, se torna inscrita
na divisão social e técnica do trabalho. A reprodução depende de sua utilidade social, ou
seja, de sua capacidade de atender as necessidades da sociedade sendo esta a fonte de
suas demandas (IAMAMOTO, 2004).
Foi a partir destas reflexões que a formação profissional precisou de uma reformu-
lação que pudesse ser consistente com o novo estado da demanda profissional no mercado
de trabalho, detectando e entendendo as necessidades da sociedade; precisando de
profissionais competentes para responder de forma crítica e criativa aos desafios trazidos
por profundas mudanças no processo de produção e no país, principalmente no impacto
na formação das classes sociais, o que de certa forma apresenta-se com um desafio na
reconstrução do projeto da formação profissional.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 36


1.1 Os Desafios na Reconstrução do Projeto de Formação Profissional

Vivenciamos grandes transformações no mundo contemporâneo, entre essas


modificações temos o modelo de produção e acumulação capitalista que traz profundas
alterações na sociedade e uma reestruturação no governo e nas relações com a classe
trabalhadora. Essas transformações são iminentes, acompanhado a um claro ajuste de
fundos públicos, favorecendo a sociedade capitalista, sendo propícios à reprodução do
trabalho, retraindo os investimentos governamentais para a seguridade social e o emprego.
Esse processo reflete na reorganização da política industrial e neoliberal caracterizada pelo
modelo de regulação econômica internacional fordista/keynesiana, como mostrar refração
clara no processo de trabalho (IAMAMOTO, 2012).
Caro(a) aluno(a), é por meio desse contexto que se pode entender o debate em
todos os campos culturais pós-modernismo que começou na década de 1970. Observado
no mundo contemporâneo, o enfrentamento da crise e o próprio processo de acumulação
capitalista, que a autora destaca como as mudanças no mundo do trabalho, apresentando
novos desafios e considerando a formação profissional de assistentes sociais como algo
importante.
Nas palavras de Harvey (1992) a dificuldade em conter as contradições inerentes
ao capitalismo é entendida como a rigidez do capital fixo, ou seja, este sistema acaba
tendo o controle do trabalho e do mercado, com isso tem-se o aumento nos indicadores em
relação a produtividade e a elevação da taxa de lucro do capital, além do apoio do Estado
que por sua vez reduz os fundos fiscais para apoiar o chamado “estado de bem-estar”,
sendo responsável por fornecer e implementar comportamentos sociais que podem corrigir
a exclusão social e as condições para o bem coletivo, legitimando o próprio Estado.
Desta forma, Iamamoto (2012) destaca que é preciso buscar reverter o efeito desse
processo que acaba causando diversos problemas sociais, em outras palavras, é o mo-
mento de racionalizar a produção e a industrialização, analisando os ajustes estruturais e

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 37


fortalecendo o trabalho, questionando sobre a produção e o consumo em massa advinda
pelo padrão fordista, que traz não apenas a mudança tecnológica, mas a introdução de
novas linhas de produtos, mercados e liquidez regional de capital, tendo funcionários fáceis
de controlar, a consolidação de capital e medidas destinadas a acelerar o turnover.
Para Harvey (1992), a flexibilidade do fluxo de trabalho; mercado de trabalho;
produtos e métodos de consumo são características do departamento de produção, novo
método de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados, especialmente altas
taxas de juros para fortalecer negócios, tecnologia e inovação organizacional. Com isso, a
acumulação flexível envolve mudanças rápidas e o desenvolvimento desequilibrado entre
departamentos e regiões, criando um extenso movimento para o emprego, bem como novas
indústrias subdesenvolvidas.
Neste aspecto, Tapia (1994) destaca que as grandes empresas acabaram estabe-
lecendo um processo horizontal com um modelo mais enxuto, que criou uma rede ao seu
redor com pequenas médias e um processo mais mecanizado. Esse formato estabelecido
em muitas empresas, principalmente de médio e grande porte, acarretou o processo de
exclusão da mão-de-obra qualificada e, consequentemente, gerou o desemprego e a pre-
carização nas relações de trabalho. A partir dessas estruturas implantadas na sociedade,
a partir do sistema capitalista, é que há grandes implicações na construção estrutural no
mundo do trabalho.

SAIBA MAIS

O processo de transformações, que vêm ocorrendo no “mundo do trabalho”, altera subs-


tancialmente a demanda de qualificação de profissionais de Serviço Social, tornando
necessário que adquiram uma centralidade no processo de formação profissional, por-
que têm uma centralidade na contemporaneidade da vida social

Fonte: Iamamoto (2012, p. 180).

O desenvolvimento da formação profissional permite que os assistentes sociais


compreendam criticamente a tendência atual de expansão capitalista e sua influência nas
mudanças de funções tradicionalmente atribuídas à indústria e tipo treinamento necessário

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 38


para produção e nova modernização, bem como as formas de gestão do trabalho. Isso
ilustra a mudança nas condições de trabalho e vida dos colaboradores considerado como
alvo dos serviços profissionais, bem como as demandas alocadas no ambiente empresarial,
por exemplo.
É evidente que esses fatores são considerados como desafios na reconstrução
do projeto de formação profissional, que deve estar claro quanto às mudanças referem-se
à conversão da atuação no campo da política social, por meio do ajuste nas diretrizes e
ações governamentais para responder uma crise compatível com os padrões neoliberais
das organizações internacionais, especialmente do fundo monetário internacional.
De acordo com Chauí (1995), a declaração neoliberal se encaixa como uma luva
na política brasileira revivida aos preceitos da privatização, considerada como uma tradição
autoritária exclusiva do estado. Com isso, temos uma sociedade hierárquica na qual há
uma relação de controle quanto aos direitos sociais, o que pode caracterizar como um
desafio na reconstrução da formação profissional. Não ter entendimento quanto aos pontos
tratados até aqui pode gerar dificuldades no momento da atuação.

1.2 Conquistas e Dilemas no Projeto Profissional nos Anos 1980

Caro(a) aluno(a), considerando o debate sobre formação profissional na década


de 1980 é que irei apresentar as principais conquistas e os problemas enfrentados pela
categoria. Para entender esses pontos, aprofundarei nas teorias da Iamamoto, uma grande
referência para compreender o processo formativo.
Iamamoto (2012, p. 185) destaca que “os rumos assumidos pelo amplo debate
efetuado na década de 1980 apontaram, ainda, para o privilégio - ainda que a não exclusivi-
dade - de uma teoria social crítica, desveladora dos fundamentos da produção e reprodução
da questão social”. Ou seja, desenvolver um perfil que pudesse configurar as habilidades

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 39


técnicas e políticas em resposta do fazer profissional de forma mais eficaz e competente,
reunindo forças sociais para defender cabalmente a democracia.
A primeira conquista a ser destacada é sobre a base do processo formativo que tem
afirmado a necessidade de orientar a formação profissional para estabelecer uma imagem
profissional com habilidades teóricas e críticas, adotando um método consistente em rela-
ção ao enfrentamento dos problemas sociais enraizados na sociedade fundamentada em
teorias de grandes filósofos.
A outra conquista foi a construção de um novo Código de Ética Profissional, que
está em vigor até os dias atuais, interligado ao processo de formação profissional dos as-
sistentes sociais. Dentro das discussões sobre a formação profissional também se encontra
como eixo necessário o contexto histórico, teórico e metodológico do Serviço Social que
tem como base explicar o processo constitutivo da profissão. Tem como objetivo principal a
compreensão da relação entre o Estado, a sociedade e o mundo do trabalho.
Cabe destacar que a história social é considerada algo determinante para a trajetória
do Serviço Social, expressamente ligado à prática e à teórica, Entende-se que a profissão está
condicionada à totalidade, principalmente nas variantes relações que envolvem a produção/
reprodução da vida social, que, de certa forma, acaba sistematizando as ações profissionais.
Em relação aos dilemas enfrentados pela categoria, refere-se primeiramente ao dis-
tanciamento sobre as bases teóricas sistemáticas e metodológicas que envolvem a prática
profissional cotidianamente. Como destacado por Martinelli (1993), o anseio de trabalhar
com as mediações nos campos de atuação pode possibilitar ao profissional refletir de forma
isolada, elevando os níveis da singularidade em relação ao fazer profissional, o que torna
o desenvolvimento no seu aspecto mais amplo. Para não cair nessa armadilha é preciso
compreender as dimensões de forma mais universal, buscando a lógica que as particularida-
des devem ser tidas na singularidade após uma análise do contexto social atual.
Outro dilema encontrado é dentro do âmbito do ensino, que pode encontrar uma
lacuna em relação às estratégias e táticas sobre a instrumentalização da ação profissional.
Nesse sentido, é preciso compreender a dificuldade em relação ao fazer profissional, pois
a falta desse entendimento poderá levar aos mitos do tecnicismo e à dificuldade ao realizar
o fazer profissional.
E, por fim, o último problema está relacionado diretamente ao manuseio prático dos
profissionais em investir na produção e pesquisa acadêmica, sabendo que os assistentes
sociais atuam nos diversos campos sócio-ocupacionais, mas não investem na pesquisa o

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 40


que pode dificultar no fazer profissional, principalmente ao entender os problemas sociais
que fazem parte da atuação profissional cotidiana.

1.3 O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade:


Exigências e Perspectivas

Caro(a) aluno(a), compreender as contradições postas na sociedade é a premissa


para estabelecer o projeto de formação profissional, comprometido com a formulação e
implementação de políticas sociais, além de acompanhar a dinâmica do mundo do trabalho
e seu mercado. Uma das exigências que podem ser vistas na reconstrução do projeto
da formação profissional é a iniciativa aos assistentes sociais de progredir nas condições
de vida da classe trabalhadora e suas formas de luta e organização, além de captar os
problemas explícitos na sociedade.
Para isso, é importante que os profissionais não demonstrem interesses voltados
somente para a organização em que estão inseridos, mas que busquem a articulação entre
os trabalhadores no sentido de garantir os direitos. Para isso, é preciso buscar um desejo
intenso quanto ao fazer profissional e evitar criar resistência mediante a situação posta no
momento da atuação, estando preparado em relação aos problemas sociais que devem ser
enfrentados.
De acordo com a Iamamoto (2012, p. 198), “isso implica a ruptura com o papel
tutelar, por vezes escondido em um discurso de sua negação - que demarca as ações
burocratizadas, tecnicistas e tradicionais do assistente social”. Ou seja, a falta por busca de
conhecimento mediante a situação posta ao profissional pode levá-lo ao status de negação
e/ou realizar atividades que não são condizentes ao assistente social. Com isso o profissio-
nal acaba se dispondo de uma relação de afastamento com o usuário por estar diante de

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 41


um fato estranho. Nesse sentido, exige-se que o profissional busque pelo conhecimento,
que, de certa forma, o levará a outro patamar, além de saber o que está exposto no seu co-
tidiano e entender a dinâmica na sociedade, o que torna essencial na atuação profissional.
Sendo assim, compreender a prática e o projeto de formação profissional pode fazer toda
a diferença.
No que se refere à perspectiva do projeto de formação profissional, é preciso en-
tender que as condições apresentadas para os novos assistentes sociais é o que fará a
diferença para que consigam constituir uma nova cidadania como estratégia política que
administre uma cultura pública e democrática, não recorrendo ao individualismo. Nesse
aspecto, pode-se considerar que a cidadania se concentra na integração da política gradual
no direito de exercer em sociedade.
Esse processo é explicado na busca pela conversão de espaço, atualmente regis-
trado na área de política social, ampliando sua possibilidade de ser ocupado pela sociedade
civil. Ampliar os canais de intervenção da população na gestão de materiais é opor-se à
tendência de privatização das relações sociais; persistir na história política do Brasil é a
forma de minimizar os assuntos públicos. O maior grau de Estado emerge e o maior grau
de privatização da sociedade.
Neste sentido, Iamamoto (2012) enfatiza que o Serviço Social tem condições e po-
tenciais que privilegiam a prática, pois está intimamente relacionado ao cotidiano da classe
trabalhadora. Para reproduzir a prática profissional no caminho traçado requer estudos
frequentes e conhecimento para fornecer subsídios necessários no momento da atuação
profissional. Nesse sentido, é preciso que os profissionais estejam engajados nos assuntos
abordados nas universidades e participem de eventos que possam agregar entendimento
ao que se pretende almejar, tendo embasamento teórico que permite a excelência na exe-
cução do trabalho, contribuindo no novo desenvolvimento histórico.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 42


2. O DEBATE CONTEMPORÂNEO DA RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL: AMPLIAÇÃO E APROFUNDAMENTO DO MARXISMO

Caro(a) aluno(a), compreender as particularidades do Serviço Social brasileiro é


fundamental no processo de formação profissional, principalmente no âmbito da herança
marxista, em consonância com o Movimento de Reconceituação, conforme refletido pela
categoria profissional latino-americano entre os anos de 1965 a 1975.
Nesse sentido, apresentarei de forma breve os principais fatos históricos do Movi-
mento de Reconceituação que, de certa forma, são considerados por Iamamoto (2012) como
um legado para a profissão; destacando que as temáticas foram a bases para os fundamentos
históricos e teóricos do Serviço Social e a renovação da categoria na contemporaneidade.
É importante destacar que a profissão é entendida como um produto histórico, logo,
adquire o sentido de compreensibilidade na história da sociedade, sendo parte e expressão
dela. Por este motivo o Serviço Social é considerado como uma profissão especializada no
trabalho coletivo, inscrita na divisão social e técnica do trabalho, passando a dar ênfase na
necessidade histórica advinda das relações sociais.
Portanto, o seu significado deriva da relação entre classes a partir das diversas
expressões da questão social. Cabe ao profissional de Serviço Social decifrar os problemas
sociais causados pela sociedade capitalista.
A partir deste viés é que vamos nos aprofundar, entendendo o legado da profissão.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 43


2.1 Movimento de Reconceituação: o Legado da Profissão

O processo de formação profissional em Serviço Social na América Latina surge no


Chile, no ano de 1925. Segundo Castro (2000), a primeira escola de Serviço Social, funda-
da por Alejandro Del Río, tem a sua origem unificada à ação do Estado e da Igreja católica,
porém com uma ligação mais densa na expansão estatal. A lógica era formular um plano
claro para a classe dominante, parte da fase aguda da luta de classes, graves dificuldades
financeiras e crise nacional. Nessa mesma perspectiva é que a escola de Serviço Social
é fundada em outros países, como no Brasil, em 1936, no Uruguai e Peru, em 1937, e na
Argentina, em 1940.
Acredito que você deve estar se perguntando o que o surgimento das primeiras
escolas de Serviço Social tem a ver com o Movimento de Reconceituação.
Ora, caro(a) aluno(a), a proposta por trás das primeiras escolas de Serviço Social
era atender as necessidades do Estado e da sociedade capitalista por meio das interven-
ções na luta de classes, ou seja, atendendo aos interesses dominantes, tendo uma postura
conservadora e tradicionalista. Postura essa que só muda com o processo de renovação do
Serviço Social, na segunda metade da década de 1960, com o Movimento de Reconceitua-
ção do Serviço Social na América latina, expressando crítica ao Serviço Social tradicional.
De acordo com Faleiros (1987, p. 51), “a ruptura com o Serviço Social tradicional
se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação
nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora e explora-
dora”. O processo de ruptura do Serviço Social tradicional foi tão denso que durou quase
duas décadas. Acosta (2008) destaca que o Movimento de Conceituação aconteceu no
Brasil, em Porto Alegre, no ano de 1965, no I Seminário Regional Latino-Americano de Ser-
viço Social, consequentemente nos seminários dos demais países, como Uruguai (1966);
Argentina (1967), Chile (1969), Bolívia (1970), repetindo em Porto Alegre (1972).

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 44


Segundo Iamamoto (2012, p. 205), “o movimento de reconceituação, tal como se
expressou em sua tônica dominante na América Latina, representou um marco decisivo no
desencadeamento do processo de revisão crítica do Serviço Social no continente”, princi-
palmente pelo fato dos profissionais se aproximarem da teoria marxista, sendo necessário
que a categoria debatesse sobre as bases teóricas da profissão.
Todo movimento tem como fonte a emancipação de direitos. Na busca por conquis-
tá-los, pode extrair pontos positivos ou negativos, principalmente quando esse movimento
envolve uma categoria profissional que atua diretamente na sociedade. Para entender me-
lhor, destaquei quatro conquistas e três equívocos com o Movimento de Reconceituação,
baseada nas teorias de Netto (2005b).

QUADRO 1 - CONQUISTA E EQUÍVOCOS

A articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana: sabe-se que,


entre os assistentes sociais latino-americanos, um ativo intercâmbio veio ocorrendo
desde 1940; esta interação, todavia, realizava-se notadamente sob a inspiração de
instituições confessionais que instrumentalizavam o Serviço Social ou, a partir de
1950, sob a tutela de organização dos Estados Americanos (OEA); com a Recon-
CONQUISTA 01 ceituação se põe na ordem do dia um intercâmbio e uma interação profissional di-
ferentes, apoiados no explícito reconhecimento da urgência de fundar uma articula-
ção profissional continental que respondesse às problemáticas comuns da América
Latina, uma unidade construída autonomamente, sem as tutelas confessionais ou
imperialistas. Em poucas palavras, a continentalidade reivindicada era a de Martí e
Vasconcelos, não a de Monroe ou Roosevelt.
A explicitação da dimensão política da ação profissional: como toda expressão con-
servadora, o tradicionalismo do Serviço Social ocultava a dimensão política da ação
CONQUISTA 02 profissional numa pretensa assepsia ideológica. O tradicionalismo profissional foi,
sempre, visceralmente político, tão visceral quanto inconfessado. Coube à Recon-
ceituação, desde os seus primeiros passos, trazer à luz do dia a dimensão política
que é constitutiva de qualquer intervenção social; e porque em geral o fez pela
esquerda, o tradicionalismo que jamais recusaram a politização pela direita comba-
teu-a incansavelmente.
A interlocução crítica com as ciências sociais: o “Serviço Social tradicional” cons-
truía como um receptáculo passivo, um vazadouro acrítico dos produtos das ciên-
cias sociais acadêmicas (notadamente norte-americanas); a Reconceituação, incor-
CONQUISTA 03 porando a crítica do tradicionalismo, lançou as bases para uma nova interlocução
do Serviço Social com as ciências sociais, abrindo-se a novos influxos (inclusive da
tradição marxista) e sintonizando-se com tendências diversificadas do pensamento
social então contemporâneo.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 45


A inauguração do pluralismo profissional: o monolitismo próprio do tradicionalismo
foi subvertido pela Reconceituação com ela, rompeu-se o viés segundo o qual a pro-
fissionalidade implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas,
CONQUISTA 04 a Reconceituação concedeu carta de cidadania a diferentes concepções acerca da
natureza, do objetivo, das funções, dos objetivos e das práticas do Serviço Social,
inclusive como resultado do recurso a diversificadas matrizes teórico-metodológi-
cas.
A correta denúncia do conservadorismo próprio do tradicionalismo, disfarçado em
“apoliticismo” conduziu, muitas vezes, a um ativismo político que obscurece as fron-
EQUÍVOCOS 01 teiras entre a profissão e o militanismo de onde, por vezes, a hipostasia das dimen-
sões políticas do exercício profissional, posto então como um ofício heroico e/ou
messiânico.
A recusa às “teorias importadas” (resposta, num primeiro momento, ao hegemonis-
mo das ciências sociais acadêmicas norte-amercicanas) derivou numa relativização
EQUÍVOCOS 02 da universalidade teórica que, no limite, infirmava a validade da teorização produ-
zida noutras latitudes, redudando na valorização da produção teórica “autóctane”,
presumidamente mais “adequada” às nossas particularidades histórico-sociais.
O confucionismo ideológico, que procurava “sintetizar” as inquietudes da esquerda
cristã e das novas gerações revolucionárias “não-orgtodoxas” e “não-tradicionais”
(uma vez que, na generalidade dos casos, a esquerda “tradicional” ou “ortodoxa”,
quase sempre conotada pela pertinência aos Partidos Comunistas latino-america-
EQUÍVOCOS 03 nos, pouco participou do processo), acabou por engendrar a eclética mistura de Ca-
milo Torres, Guevara e Paulo Freire com Louis Althusser e Mao Tse-Tung. Curiosa
e paradoxalmente, a Reconceituação, que abriu o diálogo do Serviço Social como
a tradição marxista, recolheu desta, quase sempre, o que nela havia de menos vivo
e criativo.

Fonte: Netto (2005b, p. 11-13).

Caro(a) aluno(a), é evidente que o Movimento de Reconceituação teve outras con-


quistas e até mesmo equívocos, mas vamos nos atentar a esses apresentados, entendendo
o quão importante foi para a categoria, considerado como um marco, principalmente pelo
fato da profissão romper com o conservadorismo e tradicionalismo que estava enraizado
no processo formativo profissional. Certamente ainda há muito para melhorar, mas não
podemos esquecer do que já foi conquistado.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 46


2.1.1 O movimento de reconceituação no Brasil

No ano de 1964 começa no Brasil a ditadura militar, durando até o ano de 1985 e
deixando uma herança desastrosa na população. Com um regime opressor não foi difícil
de entender que o Movimento de Reconceituação iniciasse no território brasileiro, tendo im-
pacto peculiar na “renovação do Serviço Social com exigências próprias do projeto ditatorial
e permitiu a consolidação de um perfil de profissionais bastante diverso do tradicionalismo”
(NETTO, 2005b, p. 16).
No entanto, não foi somente com o regime opressor da ditadura militar que a
renovação do Serviço Social aconteceu, mas um misto de fatores históricos advindo do
quadro da autocracia burguesa, além da relação complexa que a categoria adquiriu desde
o surgimento da profissão levando legitimidade a colapso da forma tradicional e conserva-
dora, levando a categoria a busca pela identidade profissional além da “fundamentação e
legitimação para as suas concepções profissionais” (NETTO, 2005b, p. 141).
De acordo com Iamamoto (2004), a identidade profissional é formada a partir de
um certo pano de fundo histórico e tem novas conotações com o desenvolvimento das
sociedades nacionais. Se a imagem dos judeus, da justiça moderna e da caridade, em sua
trajetória, marca o serviço social, então se desvelou o movimento de revisão do setor em
nível latino-americano, denominado Movimento de Reconceituação do Serviço Social, con-
siderado como um marco para a profissão que está bem presente na literatura profissional
mais recente como forma de entender um fato histórico e divisor de águas para a profissão.
Neste sentido Netto (2005a, p. 17) destaca que
É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura
começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentir no Brasil as
ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma
crítica radical do tradicionalismo - e essas ressonâncias reverberam tanto
mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, como
claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem dos
anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário-sindical e o

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 47


protagonismo dos chamados novos sujeitos sociais, abriu novas perspectivas
para os assistentes sociais que pretendiam a ruptura com o tradicionalismo.
E estes assistentes sociais investiram fortemente em dois planos: na organi-
zação da categoria profissional e na formação acadêmica.

Nesse aspecto, a formação profissional requer um suporte teórico e metodológico


sólido, necessário à reconstrução da prática e ao estabelecimento de estratégias de ação,
mas também à preparação no campo da investigação para melhorar a qualificação cien-
tífica dos assistentes sociais e do eixo privilegiado da produção, principalmente na teoria
das questões relacionadas ao seu campo de atuação e à realidade social mais ampla.
Para os assistentes sociais, a concretização dessa visão também precisa superar a óbvia
indefinição da profissão, formulando o currículo, o que tende a exprimir uma variedade de
disciplinas, porque os temas básicos ou eixos claros não as consideram. Nesse sentido, a
definição do Serviço Social desempenha um papel decisivo na formação acadêmica e um
“sólido suporte teórico-metodológico, necessário à reconstrução da prática” (IAMAMOTO,
2004, p. 164).
Certamente, as condições históricas que aconteceram no Brasil entre as décadas
de 1960 a 1980 devem ser consideradas como algo importante para a categoria profis-
sional, pois foi a partir desses fatores que tivemos a crítica ao tradicionalismo baseada
na restauração das conquistas do escotismo, apropriado a descrever o desenvolvimento
de um Serviço Social crítico no país tendo o Movimento de Reconceituação com a base
fundamental para uma análise marxiana.

2.1.2 A perspectiva crítico-dialética

De acordo com Iamamoto (2012, p. 210), “o encontro do Serviço Social com a


perspectiva crítico-dialética deu-se por meio do filtro da prática político-partidária, por meio

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 48


dela muitas inquietudes foram transferidas da militância política para a prática profissional”.
Ou seja, a categoria precisou mudar o seu posicionamento mediante à preocupação que a
categoria estava vivenciando, precisando estabelecer na identidade a prática profissional.
A autora supracitada enfatiza que a primeira aproximação com a crítico-dialética
levou ao compromisso político dos profissionais, que mostra a necessidade de uma pers-
pectiva de classe ao analisar os papéis sociais, principalmente a profissão inserida na so-
ciedade. Essa perspectiva é apenas a prática e a política provarão que não são suficientes
para mostrar o patrimônio intelectual do Serviço Social e sua prática nos jogos da relação
com o poder do Estado com o movimento da classe social.
Tais requisitos não dependem apenas do comportamento moral político, mas tam-
bém assumem que existe uma consciência teórica que pode descrever o processo social
e a consciência teórica que surge das relações econômicas e da luta do povo, exigindo da
categoria um conhecimento científico amplo e crítico por meio dos debates teóricos que
levam à construção de uma teoria que atenta aos profissionais.
Iamamoto (2012, p. 2012) destaca que houve “outra característica desse encontro
do Serviço Social com a tradição marxista decorre dos condutos teóricos pelos quais se
processou tal aproximação”, mas não se destinou aos recursos clássicos e atuais e não teve
uma abordagem concisa quanto à teoria crítica do marxismo oficial. Em vez disso, buscou
em outras fontes pela militância política, apreciando outras abordagens teóricas, moldando
a reconceituação por meio dos múltiplos “marxismo”, ou seja, houve uma aproximação da
teoria de Marxista, mas sem o Marx.
Neste sentido, o movimento de reconceitualização se viu preso à uma antiga contra-
dição “epistemologia de esquerda e direita”. Essa fantasia potencial também é a produção
de consciência teórica pela luta de classes, dirigida direta e unilateralmente pela vontade
política, destacando dois dilemas dentro da prática profissional: o fatalismo – inspirado
pela explicação da vida social naturalizada, além da subjetividade humana – e o messia-
nismo – ligado a um propósito individual com a perspectiva voluntária, sem divulgação de
movimentos sociais que integram a prática profissional a este movimento.
Essas são algumas das características advindas do Movimento de Reconceituação.
No Brasil não foi diferente em relação às expressões isoladas e da subjetividade humana.
É evidente que o processo de ruptura com o conservadorismo não aconteceu
da noite para o dia, foi preciso muito estudo, estabelecendo um extenso processo de
aprofundamento teórico, que aconteceu com os documentos dos seminários (Araxá, em
1967, Teresópolis, em 1970, Sumaré, em 1978, e Alto da Boa Vista, em 1984). Iamamo-

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 49


to (2012) enfatiza que o desenvolvimento crítico é causado pela história inédita e pelas
condições profissionais da sociedade brasileira, criando o ponto de ruptura que pode ser
localizado em dois importantes campos: na crítica marxista ao próprio marxismo e na base
do marxismo e do fundamento do conservadorismo e ajuste de interpretação da história
profissional.

2.2 O Debate Brasileiro Contemporâneo e a Tradição Marxista

Caro(a) aluno(a), não existe dúvida de que a história do Serviço Social, de certa
forma, assumiu gradativamente o debate do quadro de crise brasileira. Mas foi a partir
da ditadura militar que surgiu a contribuição decisiva na luta pela ampliação da fundação
metodológica e teórica da profissão.
De acordo com Iamamoto (2012), houve um marco simbólico que reposicionou a
direção da categoria, acontecido no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em
São Paulo, “Convenções do Anhembi”, em 1979. Nessa reorganização, a comissão de
honra composta pelos ministros de estado consiste em trabalhadores brasileiros; na reu-
nião de encerramento, ministros, metalúrgicos e líderes do movimento popular. A Proposta
era expandir pela maioria dos membros do Congresso a reflexão sobre as posições dos
profissionais que acreditam que a fusão é essencial, capacitação profissional para a luta
dos trabalhadores na busca pela conquista dos espaços sócio-ocupacionais.
Nesse aspecto, a autora supracitada considera que o Serviço Social é marcado
pelo caráter crítico, tanto na interação com as forças sociais quanto os movimentos pre-
sentes no cotidiano da atuação profissional, independente se estão ligadas às vertentes
não-marxistas e/ou marxistas. De qualquer forma, a vertente marxista passou a fazer parte
dos debates no seio da categoria. Isso indica que à medida que o Serviço Social modifica
a direção ao “marxismo” é purificado o ecletismo original e revelado o conteúdo oculto. A

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 50


primeira aproximação pode ser entendida como análise e intervenção profissional mais
sólida, portanto, expande o aprofundamento do marxismo no Serviço Social brasileiro e a
sua teoria passa a ter resultados reais para a categoria.
Se o Movimento de Reconceitualização proporcionou uma aproximação com a teo-
ria marxista, logo, o trabalho provém de uma derivação clara do marxismo. Sobre a análise
do Serviço Social no Brasil na década de 1980, é possível considerar uma colisão com
a tradição marxista, ou seja, a produção de Marx estabelece pensar em uma sociedade
que de lado tem o capitalismo, que utiliza da mão-de-obra para fortalecer a produção e
reprodução da matéria, e do outro lado temos o Estado, que cria mecanismo para atender
os problemas sociais, voltado para os interesses estatais.
Desta forma, o encontro do Serviço Social com a teoria marxista é considerado im-
portante para a categoria profissional, rompendo com os laços tradicionais e uma herança
conservadora. Principalmente pela vertente marxista ser considerada como uma teoria crí-
tica, que envolve ao mesmo tempo a análise histórica da profissão na sociedade brasileira,
promovendo uma análise mais profunda sobre os fundamentos teórico-metodológicos do
Serviço Social.
Iamamoto (2012) apresenta dois eixos importantes de grande debate para a cate-
goria profissão em relação a teoria marxista, sendo eles: a) a crítica teórico-metodológica
tanto do conservadorismo como do marxismo vulgar, colocando a polêmica em torno das
relações entre teoria, história e método, com claras derivações no âmbito da formação
profissional, abordando pontos essenciais para que a categoria pudesse discutir; e b) a
construção da análise da trajetória histórica do Serviço Social no Brasil. Com essas temá-
ticas fica evidente que a profissão precisou estabelecer, nas raízes da profissão, estudos
mais concretos e sólidos com desenvolvimento mais profundo, reconstruindo a história da
profissão a partir da evolução e mudança na sociedade, entendo que todos os fatores histó-
ricos foram e são fundamentais para entender o processo formativo na contemporaneidade.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 51


3. POLÍTICA DE PRÁTICA ACADÊMICA: O MÉTODO BH

Caro(a) aluno(a), para entender sobre a política de prática acadêmica, faz-se


necessário destacar sobre a análise que a Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora
(UFJF) realizou após a aprovação da nova proposta do currículo mínimo, considerando
que prática passou a fazer parte de um vasto processo em relação a proposta da formação
profissional, construída de forma coletiva e envolvendo diferentes etapas.
O objetivo era entender a ampla ligação no ensino teórico e prático, além da
pesquisa e extensão, que se resume em uma sequência de debates ao longos dos anos
1970/80, tendo o envolvimento dos professores e alunos como forma de melhorar o projeto
acadêmico e profissional a partir das transformações na sociedade, como forma de enten-
der a nova dinâmica da sociedade capitalista no mundo contemporâneo.
Com a nova proposta do currículo mínimo para o curso de Serviço Social, no ano
de 1996, a UFJF se antecipou em implementar as políticas de prática acadêmica em con-
soante às diretrizes curriculares da ABEPSS, sendo a base para o entendimento da nova
formação profissional.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 52


3.1 Os Fundamentos da Política de Prática Acadêmica

Um dos elementos essenciais da formação é a base para formular a política da


prática acadêmica, é a particularidade do sistema universitário, a sua natureza pública,
como local privilegiado de formação profissional. Há uma visão que as instituições de
ensino superior devem desempenhar papel fundamental pela busca do conhecimento e
qualificações especializadas para atender às necessidades do mercado de trabalho e neste
sentido as universidades assumem um papel importante na sociedade.
Segundo Iamamoto (2012), a nova proposta do currículo de graduação em Serviço
Social elaborado pela antiga Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS) –
atual Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) – é fruto de
um grande acúmulo de debate sobre a formação profissional. Para isso foram necessárias
muitas trocas de experiências para obter os resultados acadêmicos esperados.
A proposta para desenvolver o projeto de formação ocorreu por meio do reconhe-
cimento do Serviço Social como uma profissão especializada no trabalho coletivo, sendo
parte fundamental da divisão técnica social do trabalho. A questão social é considerada como
a base fundamental para a profissão, tendo como proposta relevante entender as teorias
metodológicas que permitem decifrar o seu processo social, um elo indissociável entre co-
nhecimento e realidade, analisados a partir das atividades realizadas na ação profissional.
Com isso, o assistente social consegue encontrar situações específicas a partir
do objeto de trabalho, considerando as situações postas na sociedade para compreender
o fenômeno social específico com o qual os profissionais precisam lidar diariamente de
acordo com a realidade vivenciada, podendo desencadear a possibilidade de mudança,
decifrando o processo sociais, seja nas decisões gerais ou como sua expressão específica,
superando a lacuna entre os discursos teóricos gerais sobre a sociedade e o capitalismo.
É importante destacar que há uma preocupação dentro da categoria em relação
à prática acadêmica, que está relacionada ao ensino a partir das três dimensões: teórico-

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 53


-metodológico, ético-político e técnico-operativo, sendo que estão relacionadas à atividade
de cunho curricular, considerada de caráter obrigatório, aqui podemos destacar a atividade
- estágio que é considerada como um espaço privilegiado de contato direto do acadêmico
com o cotidiano profissional, onde vivencia a experiência profissional (assunto que vamos
nos aprofundar mais a frente).
A proposta de formação profissional em Serviço Social é também a criação do perfil
profissional a partir das qualificações, teorias e práticas, entendendo os métodos e funda-
mentos da instrumentalidade técnica. O objetivo é reconhecer o ensino prático, com base
nas três dimensões mencionadas, entendendo que a formação também envolve o ensino
e a pesquisa. Os trabalhos acadêmicos são peça fundamental para entender o processo
de formação, expandindo a perspectiva interdisciplinar, sendo fundamental o entendimento
que o Serviço Social não deve ser considerado como trabalho, mas é incluído na divisão
social e técnica na realidade histórica do país.
Caro(a) aluno(a), é preciso entender que os problemas sociais também devem fazer
parte do processo formativo e entender que as lutas sociais, as políticas sociais públicas
e os serviços privados não devem ser entendidos de forma isoladas, pois é a partir do
entendimento desses fatores com bases teóricas que se pode chegar ao desenvolvimento,
implementação e reformulação de fatores de intervenção política.
A necessidade de realizar pesquisa deve surgir sempre que se depara com um
problema social; a busca pelo conhecimento sobre a realidade deve ser inesgotável, tendo
sempre uma postura investigativa permanente na prática profissional, mantendo sempre a
postura de um profissional investigativo referente ao exercício profissional e as demandas
que se deparar no cotidiano. Portanto, pode-se considerar que a política da prática acadê-
mica inclui diferentes dimensões na vida universitária, sendo elas o ensino teórico e prático,
pesquisa e extensão.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 54


3.2 As Dimensões da Política de Prática Acadêmica

Caro(a) aluno(a), a política de prática acadêmica é regida pela integração do ensino


(teoria e prática), pesquisa e extensão, por meio das disciplinas contempladas no currículo
e prática de centro temático de pesquisa, tornando-se o núcleo estratégia de expressão das
três dimensões, consideradas indissociáveis dentro da prática nas instituições universitá-
rias e para entender sobre as três dinâmicas destacarei a seguir baseado nas teorias da
Iamamoto (2012).
● Extensão: é um processo educacional, cultural e científico que esclarece que
ensino e pesquisa são indissociáveis ​​e promovem essa relação, a transição
entre universidade e sociedade. Uma série de atividades que estabelece uma
conexão orgânica entre eles e os interesses e necessidades das universidades
e da sociedade organizada em seus vários níveis. Portanto, uma das caracte-
rísticas salientes das extensões é atender às necessidades sociais por meio de
projetos e atividades de ensino e pesquisa, permitindo que as universidades
cruzem fronteiras internas. Expansão da reificação e expansão do escopo
público da organização Universidade – para a comunidade – democratizar e
reverter atividades de fortalecimento da esfera pública. Portanto, a extensão
não se limita em laboratórios ou em estruturas burocráticas das Universidade,
imposta à população de alto a baixo, sem interesses e necessidades dos dife-
rentes segmentos de mercado envolvidos, nem pode ser uma substituição para
responsabilidades relacionadas ao poder público municipal e estadual.
● Pesquisa: desempenha um papel fundamental no processo de formação
profissional de assistentes sociais, atividades privilegiadas de consolidação a
conexão entre a educação universitária e a realidade social e método teórico e
tamanho real da soldagem, nesse sentido o trabalho social é indissociável de

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 55


seus componentes éticos e políticos. Visto que o serviço social é uma profissão,
a dimensão-hipótese da intervenção real tem base de metodologia teórica,
com um recurso para explicar a vida social, para este fim possuir o legado de
metodologia teórica deixado pelas ciências sociais e pela comunidade científica
os direitos humanos e teoria social crítica como esclarecimento a realidade. É
importante entender que a pesquisa só se concretiza quando se tem situações
concretas consideradas essenciais para superar a perspectiva teórica da com-
petência profissional e a matriz do pensamento.
● Ensino teórico-prático: a proposta de ensino profissional para embasar o novo
currículo, estabelece uma organização para o ensino da teoria e prática do
serviço social em três núcleos complementares da fundação, eles vêm juntos a
um conjunto de conhecimentos necessários em diferentes níveis, compreender
o trabalho dos assistentes sociais na sociedade presente é preciso entender o
núcleo da teoria da vida e as bases metodológicas da sociedade, o cerne da
base da história social da sociedade e o núcleo da base de trabalho profissional.
Portanto é importante privilegiar o ensino teórico prático, bem como os grupos
de pesquisas temáticas, o estágio de supervisão, trabalho de conclusão de cur-
so, as oficinas por meio das disciplinas de pesquisa, estratégias e tecnologias
em serviço Social.

Entender as dimensões da extensão; pesquisa e ensino – teórico e prático – faz


toda a diferença no processo formativo profissional, principalmente quando são destacados
os métodos teóricos, metodológicos e operacionais por meio dos núcleos temáticos como
forma de atender às demandas do mercado de trabalho, identificando novas necessidades
sociais, o que torna expansão e diversificação do espaço de ocupação do Serviço Social.
Você deve estar se perguntando o que são os núcleos temáticos.
Ora, caro(a) aluno(a), os núcleos temáticos são os recursos que incorporam a
extensão, pesquisa e ensino, conhecidos como instâncias pedagógicas. Normalmente são
os professores do corpo docente, responsáveis pela organização da prática acadêmica re-
lacionado ao estágio supervisionado obrigatório, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
as oficinas práticas e os seminários, voltado para as Diretrizes Curriculares do curso de
Serviço Social redigido pelo Projeto Pedagógico do Curso (PPC). De acordo com a Iama-
moto (2012, p. 282 - 283), os núcleos temáticos reúnem os seguintes requisitos referente à
extensão, pesquisa e ensino teórico-prático.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 56


a) Ao nível da extensão: programas, projetos e atividades de extensão
universitária. b) Ao nível da pesquisa: os projetos de pesquisa curriculares;
realizados sob a orientação da disciplina de Pesquisa em Serviço Social;
os projetos de pesquisas docentes e a iniciação científica. c) Ao nível do
ensino teórico-prático: o estágio supervisionado, atividade curricular obri-
gatória que implica a inserção do aluno no espaço sócio-ocupacional, tendo
em vista a capacitação para o exercício do trabalho profissional, o que requer
supervisão acadêmica e profissional sistemática; o Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), monografia requerida como exigência para expedição de
diploma e obtenção do grau de bacharel; as oficinas de prática, instâncias
que propiciam aos discentes, nos períodos iniciais da sua vida universitária,
oportunidades de ampliação de sua formação cultural e artística, de conhe-
cimento e pesquisa sobre a questão social e uma aproximação à realidade
profissional; as oficinas de supervisão, que realizam o acompanhamento
acadêmico do estagiário, um dos recursos de integração entre o conteúdo
das disciplinas curriculares e o estágio supervisionado, conforme os objetivos
pedagógicos definidos por período do curso. Aos elementos supra referidos
se acrescem as atividades complementares nas três dimensões citadas,
envolvendo seminários, palestras, cursos, monitorias etc. (grifo nosso).

Ou seja, o núcleo temático envolve as três dimensões por se tratar de requisitos


importantes no processo formativo, como as atividades de extensão que prepara o aluno
do curso de Serviço Social para o desenvolvimento de programas e projetos que são consi-
derados importantes para o profissional. Depois temos o estágio supervisionado curricular
obrigatório que, além de ser uma conquista, prepara o(a) estagiário(a) na criação do perfil
profissional. E, por fim, o Trabalho de Conclusão de Curso, considerado como um trabalho
importante para obtenção do diploma, assuntos que vamos entender melhor a seguir.

3.3 Processo Formativo na Contemporaneidade

Caro(a) aluno(a), o Serviço Social passou por grandes mudanças em relação à


atuação profissional, uma profissão advinda das práticas assistencialistas promovidas

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 57


pelas ações da igreja católica. Durante a Era Vargas passou a ser reconhecida como pro-
fissão, tendo a primeira escola de Serviço Social no ano de 1936, porém deveria atender
os interesses estatal e da sociedade capitalista. Mediante a tantos problemas sociais e
um Estado totalmente autoritário (regime militar) é que a categoria profissional começou a
repensar nas práticas profissionais. A partir do Movimento de Reconceituação é que houve
as primeiras discussões sobre o processo formativo e as bases teóricas da profissão.
Diante de todo esse breve resgate histórico é que destacarei o processo formativo
na contemporaneidade, com foco no estágio supervisionado obrigatório e o trabalho de
conclusão de curso. Acredito que você deve estar se perguntando por que iremos priorizar
somente esses dois pontos. As demais disciplinas não são importantes?
Caro(a) aluno(a), entenda que todas as disciplinas que compõem a matriz curricular
do seu curso são importantes e, acredite, em algum momento irá desfrutar de alguma teoria
ou prática vivenciada. Sendo assim, não deixe de estudar, ler e se aprofundar as obras dos
autores referência, como a Marilda Villela Iamamoto, José Paulo Netto, Vicente de Paula
Faleiros, Maria Lúcia Martinelli, Yolanda Guerra, Maria Cecília Minayo, Ivanete Boschetti,
entre outros autores que auxiliam no processo formativo. Ah, não esqueça de acessar as
resoluções do Serviço Social no site do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)! Mas,
aqui, destacarei o Estágio supervisionado obrigatório e o TCC, porque compõem as três
dimensões que estudamos anteriormente.
Pois bem, antes de adentrar no assunto referente ao Estágio e ao TCC destacarei
sobre as diretrizes curriculares do curso de Serviço Social. De acordo com a ABEPSS (s.d.),
o processo de solidificação das diretrizes curriculares aconteceu no ano de 1996, advindo
do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em 1979, conhecido
como Congresso da Virada, após a criação das bases do Currículo Mínimo, que aconteceu
no ano de 1982, considerado um marco para o processo formativo. No entanto, somente na
convenção geral da ABESS (antiga ABEPSS), no ano de 1993, que houve a necessidade
de revisar o currículo mínimo, de 1982, no entanto só foi efetivado no ano de 1996.

REFLITA

Entre 1994 e 1996 ocorreram diversos momentos coletivos envolvendo a comunidade


acadêmica e toda a categoria profissional em um amplo e democrático debate sobre as
Diretrizes Curriculares. Segundo o documento da ABESS/CEDEPSS de 1996 foram:
200 oficinas locais, em 67 unidades de formação acadêmicas filiadas à ABESS, 25 ofi-
cinas regionais e 02 nacionais.

Fonte: ABEPSS (s.d., on-line).

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 58


Segundo a ABEPSS (1996, p. 3), a proposta de Diretrizes Curriculares de 1996 tem
“base na compreensão de que uma revisão curricular supõe uma profunda avaliação do
processo de formação profissional face às exigências da contemporaneidade”. Dessa for-
ma, foi promulgada a Lei 9394/1996, considerando apropriado o processo de padronização
e definição das Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social.
De acordo com a ABEPSS (s.d.), no ano de 1999 as Diretrizes Curriculares fo-
ram elaboradas por uma equipe especialista, compondo as competências e habilidades,
princípios da formação profissional, a nova lógica curricular, os tópicos de estudo, estágio
supervisionado, trabalho de conclusão de curso (TCC) e as atividades complementares. Por
fim e em vigência, há as diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social (Resolução
nº 15, de 13 de março de 2002) aprovada pelo MEC (apresentada na íntegra no Material
Complementar. Sugiro a leitura).
O Estágio Supervisionado e o Trabalho de Conclusão de Curso devem ser
desenvolvidos durante o processo de formação a partir do desdobramento dos
componentes curriculares, concomitante ao período letivo escolar. O Estágio
Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir
da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitá-lo
para o exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática. Esta
supervisão será feita conjuntamente por professor supervisor e por profissional
do campo, com base em planos de estágio elaborados em conjunto pelas
unidades de ensino e organizações que oferecem estágio (ABEPSS, 2002).

Considerando a informação apresentada, entende-se que ambos precisam ser


realizados durante o curso em Serviço Social. Ou seja, caro(a) aluno(a), até o final deste
curso você terá a oportunidade de realizar o estágio supervisionado curricular obrigatório
e o trabalho de conclusão de curso (TCC). Acredito que são importantes e fundamentais
para o processo formativo, principalmente pelo fato de ambos oportunizarem relacionar
teoria e prática, aplicando todo o conhecimento adquirido nas outras disciplinas. Agora você
entende por que o destaque foi para o estágio e o trabalho de conclusão de curso!
É a partir do estágio e do TCC que você entenderá todo o processo formativo,
ou seja, as metodologias estudadas, as bases teóricas e os instrumentos utilizados para
compreender o trabalho profissional do Serviço Social na sociedade.
Segundo Iamamoto (2012), o estágio supervisionado é uma atividade que faz
parte do curso, considerada como obrigatória e sendo realizada por estagiários que estão
em processo formativo e devidamente matriculados no curso de Serviço Social em uma
unidade de ensino credenciada. A carga horária estabelecida pela universidade deve ser
cumprida de acordo com as normativas e previsto no Projeto Pedagógico do Curso, poden-
do ser realizada em qualquer campo de atuação profissional que tenha um assistente social

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 59


devidamente contratado no quadro de funcionários. Também é possível realizar projetos de
extensão, recebendo as supervisões de assistente sociais.
Os estagiários devidamente matriculados na(s) disciplina(s) de estágio deverão ser
acompanhados por professor(es) da instituição de ensino em todo o processo, normalmente
conhecido como supervisor acadêmico. O assistente social deverá inserir o(a) estagiário(a)
e acompanhá-lo durante o cumprimento da carga horária, induzindo-o à reflexão sobre a
teoria e prática. Em relação ao supervisor de campo, esse profissional deverá sistematizar
as atividades que o(a) estagiário(a) irá realizar a partir do que foi acordado na unidade
de ensino. Ele tem como função acompanhar todas as atividades acordadas, refletindo,
juntamente com o(a) estagiário(a), sobre as bases teóricas e práticas para a criação do
perfil profissional.
Já o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um requisito fundamental para obter
o diploma de graduação em Serviço Social, esse é o trabalho que os alunos precisam apre-
sentar e sistematizar todo o conhecimento adquirido durante os anos anteriores. Destacando
o resultado do processo de investigação da pesquisa teórica e prática, esse é o momento de
uma formação profissional, por meio de uma temática que resume o processo formativo e a
linha de pesquisa, refletindo nas experiências adquiridas com o estágio, sendo compreendido
por meio de uma metodologia bibliográfica ou de campo (IAMAMOTO, 2012, p. 286)
Caro(a) aluno(a), o motivo de abordar sobre o estágio supervisionado obrigatório e
o trabalho de conclusão de curso (TCC) foi para entender o quão enriquecedor é para o(a)
aluno(a) de Serviço Social. É por meio deles que tudo o que estudar poderá fazer sentido.
Repito mais uma vez, fará toda a diferença no seu processo formativo, não é à toa
que o estágio e TCC são considerados uma conquista no processo formativo. Mas fique
tranquilo(a), no momento certo você irá entendê-los melhor.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 60


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da segunda unidade e, é com alegria que des-
taco a importância de estudar o processo formativo na contemporaneidade, as mudanças
que, ao longo da trajetória histórica da profissão, nos proporcionaram grandes conquistas e
aprendizados e o quão importante foi o Movimento de Reconceituação.
Não podemos deixar de agradecer aos profissionais que lutaram e conquistaram
o processo formativo que nos deparamos atualmente. Profissionais que entre os anos de
1960 a 1980 realizaram grandes debates que fundamentam as bases teóricas, metodológi-
cas e técnicas da profissão e aprendemos no processo formativo.
A partir dessa informação, vamos recapitular alguns pontos importantes estuda-
dos nesta unidade, sabendo que foi dividida em três partes. Na primeira parte abordamos
sobre a formação profissional na contemporaneidade, destacando pontos importantes que
fortaleceram a profissão. Foi preciso romper com a visão endógena que acabou enfra-
quecendo a categoria, permitindo que os assistentes sociais pudessem compreender, de
forma crítica, as tendências atuais e a expansão do capitalismo e a sua influência nas
mudanças da sociedade. Também foi destacado sobre o debate de formação profissional
na década de 1980, apresentando as principais conquistas e os problemas enfrentados
pela categoria e as exigências e perspectivas sobre o processo formativo, destacando os
novos profissionais.
Na segunda parte foi destacado sobre os debates, dando foco ao Movimento de
Reconceituação, com ênfase no Brasil, movimento este que é considerado um marco para a
categoria, principalmente por ter discutido sobre o processo formativo. Também foi destaca-
do no debate a base teórica, tendo como dimensão marxista a perspectiva crítica-dialética
e a tradição marxista nos debates contemporâneos.
Já na terceira e última parte desta unidade você, caro(a) aluno(a), estudou sobre
a políticas de prática acadêmica, com foco no método da Universidade Federal de Juiz
de Fora. Entendeu os fundamentos e as dimensões da política de prática acadêmica do
Serviço Social a partir das atualizações na diretriz curricular, que aconteceu nos anos 1996,
1999 e 2002, vigente até os dias atuais. Essas atualizações na diretriz curricular do curso
de Serviço Social foram uma conquista para o processo formativo.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 61


LEITURA COMPLEMENTAR

DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL


RESOLUÇÃO Nº 15, DE 13 DE MARÇO DE 2002

Estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social. O Presiden-


te da Câmara de Educação Superior, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o
disposto na Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e ainda o Parecer CNE/CES 492/2001,
homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 9 de julho de 2001, e o
Parecer CNE/CES 1.363/2001, homologado em 25 de janeiro de 2002, resolve:

Art. 1º As Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, integrantes dos


Pareceres CNE/CES 492/2001 e 1.363/2001, deverão orientar a formulação do projeto
pedagógico do referido curso.

Art. 2º O projeto pedagógico de formação profissional a ser oferecida pelo curso de


Serviço Social deverá explicitar:
a) o perfil dos formandos;
b) as competências e habilidades gerais e específicas a serem desenvolvidas;
c) a organização do curso;
d) os conteúdos curriculares;
e) o formato do estágio supervisionado e do Trabalho de Conclusão do Curso;
f) as atividades complementares previstas.

Art. 3º A carga horária do curso de Serviço Social deverá obedecer ao disposto em


Resolução própria que normatiza a oferta de curso de bacharelado.

Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as


disposições em contrário. ARTHUR ROQUETE DE MACEDO

1- Perfil dos Formandos


Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implemen-
tando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 62


exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos usuários do Serviço
Social no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho.

2 - Competências e Habilidades
A) Gerais A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-me-
todológica e ético política, como requisito fundamental para o exercício de atividades
técnico-operativas, com vistas à • compreensão do significado social da profissão e de
seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as
possibilidades de ação contidas na realidade; • identificação das demandas presentes na
sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão
social; • utilização dos recursos da informática.

B) ESPECÍFICAS A formação profissional deverá desenvolver a capacidade de •


elaborar, executar e avaliar planos, programas e projetos na área social; • contribuir para
viabilizar a participação dos usuários nas decisões institucionais; • planejar, organizar e
administrar benefícios e serviços sociais; • realizar pesquisas que subsidiem formulação de
políticas e ações profissionais; • prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração
pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas so-
ciais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; • orientar a população
na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos; • realizar visitas,
perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social.

3 - Organização do Curso
• Flexibilidade dos currículos plenos, integrando o ensino das disciplinas com outros
componentes curriculares, tais como: oficinas, seminários temáticos, estágio, atividades
complementares; • rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e
do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais
o profissional se defronta; • estabelecimento das dimensões investigativa e interpretativa
como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teo-
ria e realidade; • presença da interdisciplinaridade no projeto de formação profissional; •
exercício do pluralismo teórico-metodológico como elemento próprio da vida acadêmica e
profissional; • respeito à ética profissional; • indissociabilidade entre a supervisão acadêmi-
ca e profissional na atividade de estágio.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 63


4 - Conteúdos Curriculares
A organização curricular deve superar as fragmentações do processo de ensino
e aprendizagem, abrindo novos caminhos para a construção de conhecimentos como
experiência concreta no decorrer da formação profissional. Sustenta-se no tripé dos co-
nhecimentos constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional, quais
sejam: • núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um
conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social;
• núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, que remete
à compreensão das características históricas particulares que presidem a sua formação e
desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais; • núcleo de fun-
damentos do trabalho profissional, que compreende os elementos constitutivos do Serviço
Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica, metodológica
e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o
planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. Os núcleos
englobam um conjunto de conhecimentos e habilidades que se especifica em atividades
acadêmicas, enquanto conhecimentos necessários à formação profissional. Essas ativida-
des, a serem definidas pelos colegiados, se desdobram em disciplinas, seminários temáti-
cos, oficinas/laboratórios, atividades complementares e outros componentes curriculares.

5 - Estágio Supervisionado e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


O Estágio Supervisionado e o Trabalho de Conclusão de Curso devem ser desen-
volvidos durante o processo de formação a partir do desdobramento dos componentes
curriculares, concomitante ao período letivo escolar. O Estágio Supervisionado é uma
atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço
sócio-institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe
supervisão sistemática. Esta supervisão será feita conjuntamente por professor supervisor
e por profissional do campo, com base em planos de estágio elaborados em conjunto pelas
unidades de ensino e organizações que oferecem estágio.

6- Atividades Complementares
As atividades complementares, dentre as quais podem ser destacadas a monitoria,
visitas monitoradas, iniciação científica, projeto de extensão, participação em seminários,
publicação de produção científica e outras atividades definidas no plano acadêmico do
curso.

Fonte: ABEPSS (2002).

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 64


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO 01
Título: Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios
críticos
Autor: Marilda Villela Iamamoto
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro oferece aos assistentes sociais uma síntese
crítica das problemáticas centrais da profissão, iluminadas por um
foco teórico singular e tratadas com a sua reconhecida compe-
tência. Painel das grandes polêmicas dos anos oitenta, a herança
conservadora do Serviço Social e sua ultrapassagem, a profissão e
a divisão social do trabalho, a questão social e a era do monopólio,
a formação profissional e suas perspectivas, esta obra é mais que
um documento, contém elementos programáticos para permitir ao
Serviço Social enfrentar, com êxito, os desafios do futuro.

LIVRO 02
Título: Ditadura e Serviço social: uma análise do Serviço Social no
Brasil pós-64
Autor: José Paulo Netto
Editora: Cortez
Sinopse: O que ocorreu no Serviço Social brasileiro nos anos
1960 a 1980? Que processos determinaram a extraordinária re-
novação experimentada por ele? Como e por que os assistentes
sociais desenvolveram, neste período, concepções e propostas
tão diferentes? Quais as relações entre esta renovação e a ditadu-
ra militar? Como a teorização do Serviço Social se relaciona com
a cultura e a sociedade brasileiras? Este livro pretende responder
a estas indagações de forma rigorosa e original. José Paulo Netto
oferece um texto severo, combativo, em uma obra polêmica.

FILME/VÍDEO 01
Título: Os estagiários
Ano: 2013
Sinopse: Quando são demitidos, dois homens na casa dos 40
começam a procurar por um novo trabalho. Apesar de não sabe-
rem nada de tecnologia, eles são contratados como estagiários no
Google, local em que convivem com chefes vinte anos mais novos
do que eles.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 65


FILME/VÍDEO 02
Título: Um senhor estagiário
Ano: 2015
Sinopse: Começar um novo emprego pode ser um grande desa-
fio, especialmente para alguém aposentado. Tentando voltar ao
mercado de trabalho, o viúvo Ben Whittaker, de 70 anos, aproveita
a oportunidade para se tornar um estagiário sênior em um site de
moda. Ben logo se torna popular entre seus colegas de trabalho
mais jovens, incluindo Jules Ostin, a chefe e fundadora da em-
presa. O charme, a sabedoria e o senso de humor de Whittaker
o ajudam a desenvolver um vínculo especial e uma bela amizade
com Jules.

UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 66


UNIDADE III
O Projeto Ético-Político do Serviço
Social Brasileiro e Formação na
Sociedade do Capital
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

Plano de Estudo:
● Concepção de mundo;
● Crítica da Economia Política e o Serviço Social;
● Serviço Social, práxis e trabalho;
● O Projeto Ético - Político do Serviço Social brasileiro: emancipação humana, para
além dos direitos e da cidadania burgueses.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a concepção de mundo;
● Analisar a crítica da economia política para o Serviço Social;
● Entender o Serviço Social a práxis e o trabalho;
● Contextualizar sobre o Projeto Ético do Serviço Social Brasileiro.

67
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta terceira unidade você irá compreender o Projeto Ético Pro-
fissional do Serviço Social brasileiro e a formação na sociedade capitalista. Para entender
todo contexto, esta unidade será dividida em quatro partes. Primeiramente será apresen-
tada a concepção de mundo – seu significado para alguns autores e a relevância para o
Serviço Social –, depois compreenderá a crítica da economia política a partir das teorias de
Marx e o Serviço Social neste contexto. Em seguida serão apresentados alguns conceitos
do que é o trabalho na vida do homem, a concepção da práxis e o Serviço Social dentro
desse contexto. Por fim, o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro.
Portanto, na primeira parte será apresentada a concepção de mundo a partir das
quatro notas, destacadas por Gramsci, em sua obra Caderno do Cárcere - volume 01, e os
tipos de concepção de mundo, apresentados por Dilthey. Após esses entendimentos, será
destacada a concepção de mundo para o Serviço Social, tendo o entendimento de que tudo
está ligado ao processo histórico.
Na segunda parte, estudaremos sobre a crítica da economia política que Marx,
em seu livro O Capital - volume 01, apresenta sobre o processo de produção ao capital,
tendo outros estudiosos a missão de dar continuidade aos estudos de Marx atualmente.
Dentro desse contexto é que o Serviço Social assume o compromisso com a sociedade,
principalmente com a classe trabalhadora.
Na terceira parte são destacados os principais conceitos sobre o trabalho na vida
do homem, utilizaremos autores considerados fundamentais para o Serviço Social. Em
seguida destacarei sobre o conceito de práxis, apresentando as formas e os níveis, para
depois compreender essa concepção para o Serviço Social, que é fundamental para o
profissional entender a importância da práxis no momento da atuação.
Por fim, na quarta parte dessa unidade, considero importante para você, aluno(a),
entender a importância do Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social, em que
momento esse projeto surgiu, quais são as bases que o fundamentam, a importância de
entender o projeto societário e profissional e a emancipação humana que é considera para
além do direito e como a sociedade capitalista está organizada.

Bons estudos!

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 68
1. CONCEPÇÃO DE MUNDO

Entender a concepção de mundo é de extrema relevância para a atuação pro-


fissional, principalmente pelo fato da conexão com o processo histórico; fator este que
sempre precisamos analisar para dar um parecer mais preciso sobre determinada situação/
problema na sociedade.
Mas, para entender esse conceito, analisaremos a teoria de Dilthey (1977), que
afirma que a concepção de mundo não é um produto do pensamento e não decorre do puro
desejo de compreender. A compreensão da realidade decorre do conjunto das ideias que
traz o mistério da vida, levada a uma conexão consciente e necessária para os problemas e
soluções a partir da concepção de mundo. Isso o autor considera como produto da história,
ou seja, é por meio da história que o ser humano adquire a capacidade da consciência
humana, a visão da vida e do mundo em consonância com a época a ser analisada e/ou
vivida, tendo a concepção de mundo.
Para o autor supracitado a vida é apresentada de forma singular semeada por
toda a terra. É considerada como a base da concepção do mundo ao empreender propicia
respostas ao mistério da vida. Com isso, a imagem do mundo se torna a base para valorizar
a vida e compreender o mundo e, de acordo com a mesma legitimidade da avaliação da
vida e a compreensão do mundo, produzem uma disposição suprema da consciência, seja
ela crítica ou não.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 69
Segundo Gramsci (2004), o ser humano pode ter consciência de algo de forma
grupal ou por si próprio. Mesmo no mais simples desempenho de qualquer atividade inte-
lectual a concepção do mundo é incluída, seja no momento da crítica ou simplesmente da
consciência, por exemplo, é possível pensar sem ter consciência crítica. Neste aspecto, ao
participar de uma concepção de mundo, imposta por grupos sociais, o ser humano pode
ter consciência de algo que foi posto a ele e/ou elaborar a própria concepção de mundo
de uma maneira mais consciente e crítica. Para isso, é preciso entender a concepção de
mundo posta a ele, ou seja, é preciso entender a história que está inserida, tendo consciên-
cia crítica em relação à própria decisão. Assim, torna-se o guia dos próprios pensamentos
e não aceita as imposições dos grupos sociais, com isso, temos um paradoxo atrelado à
concepção de mundo.
A estrutura da concepção de mundo e sua diferenciação na forma singular entram em
momentos imprevisíveis, como: as mudanças na vida, nos tempos, modificações no contexto
da ciência, o gênio das nações e dos indivíduos, o interesse pelos problemas, as ideias de-
rivadas de contextos históricos, a compensação pela localização histórica sempre adequada
a formações de classe mundial, reagrupando experiências, emoções e ideias importantes,
componentes e significado geral. No entanto, uma vez que a legitimidade dita a profundidade
da estrutura, a regularidade lógica não é agregação, mas forma (DILTHEY, 1977).
É importante destacar que a concepção de mundo é desenvolvida sob diferentes
condições, como: clima, raça e a nação determinada pela história e formação estatal, sendo
desenvolvida em condições diversas e muitas vezes especializadas. O fato é que a forma
do conceito de mundo se desenvolve na vida do ser humano, que luta entre si com base no
controle e poder, a partir do entendimento do contexto histórico.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 70
1.1 As Quatro Notas da Concepção de Mundo

Com a finalidade de contextualizar as quatro notas da concepção de mundo, vamos


nos aprofundar nas bases teóricas de Gramsci (2004), facilmente encontrado no volume 1
do Caderno do Cárcere.
Primeira nota: do ponto de vista da concepção de mundo, pertencemos sempre a
um determinado grupo, todos os elementos sociais com a mesma forma de pensar e agir.
As massas ou coletivos são considerados submissos, a questão é: qual é o tipo histórico
de submissão entre as massas das quais participamos? Quando o conceito de mundo não
é crítico e coerente, mas acidental e decomposto? O fato é que pertencemos às múltiplas
massas, nossas próprias personalidades, até certo ponto, contêm elementos do homem das
cavernas e os mais modernos e progressistas princípios científicos. Em todos os estágios
históricos, um localista próximo e uma intuição para a filosofia do futuro são as caracte-
rísticas de um ser humano globalmente unificado. Portanto, criticar o conceito de mundo
significa unificá-lo, torná-lo coerente e elevá-lo ao nível que o pensamento do mundo mais
desenvolvido pode alcançar, portanto, também significa, até certo ponto, criticar todas as
filosofias que ainda existem.
Segunda nota: não se pode separar a filosofia da história, nem se pode separar
a cultura da história sem compreender a sua história. O conceito deste mundo, certos
problemas trazidos pela realidade são destaques de hoje, como pensar em enfrentar um
problema que, muitas vezes, estava fora de alcance e intransponível no passado. O pre-
sente é o ponto determinante para entender o passado, isso significa que as situações que
enfrentamos na vida são o que nos determina no mundo. Mediante à análise de entender a
história, passado e presente, é preciso ter em mente que existem as classes sociais, tendo

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 71
os dominantes e os dominados. Para compreender esse contexto é preciso conhecer a
cultura e a filosofia advinda de um contexto histórico.
Terceira nota: se cada linguagem contiver elementos quanto ao conceito de mun-
do e de cultura, o maior ou menor também pode ser julgado de acordo com a língua de
cada um, reduzindo a visão do mundo. Pessoas que falam apenas dialetos ou entendem
a língua nativa em vários graus, inevitavelmente participam de um certo grau de intuições
limitadas, sem esforço, rígidas e desatualizadas relacionadas às tendências ideológicas
que dominam a história mundial. Seus interesses serão limitados, seja por uma corporação
e/ou pela economia, universal ou não. Nem sempre é possível aprender outras línguas para
se manter em contato com a vida cultural diferente, os estrangeiros devem, pelo menos, ser
proficientes em sua língua nativa. Uma grande cultura pode ser traduzida para a linguagem
de outra grande cultura, a saber as ricas e diversas línguas nacionais da história podem ser
traduzidas a qualquer outra grande cultura, que deve ser expressa em todo o mundo, mas
usando dialetos, não se pode fazer a mesma coisa.
Quarta nota: criar uma cultura não é apenas fazer descobertas primitivas, também
significa que o mais importante é divulgar criticamente a verdade que foi descoberta, por
meio da socialização, pode-se dizer, portanto, transformá-lo na base de ações importantes,
elementos de coordenação e ordem intelectual e moral. Fazer um grupo de pessoas pensar
coerentemente na realidade atual é um fato filosófico, mais importante e mais primitivo
do que a descoberta, o gênio filosófico com novas verdades ainda é legado de pequenos
grupos intelectuais que, muitas vezes, precisam entender sobre a concepção de mundo
para compreender o legado dos pequenos grupos.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 72
1.2 Tipos De Concepção de Mundo

De acordo com Dilthey (1977), a concepção do mundo está ligada a alguns concei-
tos. Para entender cada um, é importante destacar a distinção da concepção do mundo em
relação às regiões culturais, pois além de ser considerada a base, consiste na coexistência
econômica, social, na lei e no Estado. Há uma divisão de trabalho em todos os lugares,
as pessoas são numeradas de forma ímpar, dando uma contribuição definitiva em uma
determinada posição da história. A vontade está presa nas tarefas atribuídas e restritas, que
mostram a conexão teleológica do domínio.

REFLITA

A ciência, mediante o conhecimento, suscita na conexão prática da vida uma regulação


racional do trabalho; encontra-se assim na mais estreita relação com a práxis, e como
também está submetida à lei da divisão do trabalho, cada investigador impõe-se a si
uma tarefa limitada num domínio determinado e num lugar definido do trabalho cogniti-
vo. Mais ainda, a própria filosofia está sujeita, nas suas funções, a esta divisão do tra-
balho. Pelo contrário, o génio religioso, poético ou metafísico vive numa região em que
está subtraído à vinculação social, ao trabalho em tarefas restritas, à sua subordinação
ao acessível dentro dos limites do tempo e da situação histórica. Toda a consideração de
semelhante vinculação falsificou a sua compreensão da vida, que se deve contrapor ao
dado de um modo inteiramente ingénuo e soberano. Torna-se já inverdade em virtude da
circunscrição do olhar, da consideração de uma situação temporal – por uma tendência
qualquer. Em semelhante região da liberdade brotam e desenvolvem-se as valiosas e
poderosas concepções do mundo.

Fonte: Dilthey (1977, p. 20-21).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 73
A concepção de mundo pode diferenciar a partir das regulamentações de Leis, da
sua estrutura posta na sociedade e os tipos religiosos, artísticos e metafísicos que apresen-
tarei a seguir, a partir dos conceitos de Dilthey (1977).
● Concepção religiosa: surge no mundo a partir de uma conexão vital com o
ser humano, considerado como um recurso de dominação que vai além do ho-
mem primitivo, como: caçador, cultivador e trabalhador, que, por si só, já causa
mudanças no mundo exterior por meio da produção. A concepção religiosa tem
como base observar para si forças de seres superiores, pregando a boa relação
e união com essas forças, tendo no espírito religioso a concepção de estar
sempre correto, entendo que a alma progressiva conhece a fixação da alma no
mundo supersensível. Considerado como um produto histórico, a religião, ape-
sar de impor disciplina na vida, mantém uma posição de que não está vinculada
a tradições de origens obscuras e duvidosas. Em síntese, “a religião, as coisas
e os homens recebem o seu significado por meio da fé na presença de uma
força supra-sensível neles operante” (DILTHEY, 1977, p. 25).
● Concepção artística: uma obra de arte significa algo único, em certo sentido,
é elaborada a partir da relação entre ser produzida como uma expressão ideal
de referência de vida, dar cor e conectar-se de forma simétrica à proporção de
som e ritmos, é um processo e eventos da alma. A criação artística em si não
tem nada em comum com a visão de mundo, no entanto, a relação entre a cor
da pele do artista e suas obras levou a uma relação secundária entre as obras
de arte e concepção do mundo. O movimento histórico da relação entre a arte
e as ideias do mundo reside em que o tipo de arte se aprofunda no físico de um
artista, fazendo parte do seu contexto histórico.
● Concepção metafísica: todo o processo de geração e consolidação de uma
concepção de mundo leva a demandas para aumentar sua consciência de
eficácia universal. As diferenças surgem baseadas nas características racionais
do trabalho metafísico, alguns marcam estágios de desenvolvimento, como
dogmatismo e crítica, outros abrangem todo o curso de porquê uma carreira ser
derivada da metafísica, ou seja, revela os conteúdos contidos na compreensão
da realidade e na valorização da vida e das coisas. O objetivo é a possibilidade
de resolver os problemas colocando a base da metafísica, tropeçando no empi-
rismo, racionalismo, realismo e idealismo advindo da ideia básica é claramente

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 74
expressa, ou seja, a tese de uma ideia geralmente começa a partir da teoria
da concepção de mundo determinando como funciona. A consciência histórica
permite-nos superar as diferenças restringidas pelas condições de orientação,
formando assim um sistema unificado com validade universal.

Caro(a) aluno(a), entender os tipos de concepção de mundo faz toda a diferença


para a atuação profissional, visto que a origem da profissão se deu por meio das ações da
igreja católica que busca uma conexão vital com o ser humano por meio da fé, fato esse
que não faz parte da atuação profissional, mas que precisamos entender por fazer parte da
concepção de mundo, que, por sua vez, é produto da história. Já a concepção artística, por
ser a referência da vida, que está ligada ao contexto histórico, é o que se refere ao entender
este conceito. Por fim, a concepção metafísica leva à compreensão maior, ou seja, em
relação ao universo que busca a lógica do empirismo, realismo, racionalismo e idealismo
para entender o que está posto na sociedade.

1.3 Concepção de Mundo e Serviço Social

Com base nas informações apresentadas sobre a concepção de mundo e para


entender a perspectiva do Serviço Social, irei tomar como base para fundamentar esses
conceitos as ideias da Vasconcellos (2017). Tomou para si o comprometimento com o prin-
cípio, propósito e objetivo da libertação humana, o assistente social tem, em suas bases
teóricas, a necessidade de transformar a realidade do indivíduo em seu meio social que se
destina ao conceito de mundo e ao significado interior da existência e do comportamen-
to humano. Nesse aspecto, quando o indivíduo se torna parte da história é considerado
imutável na realidade objetiva, ou seja, deixa de existir qualquer possibilidade e qualquer

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 75
ação. Neste sentido, nos faz cair na incapacidade total, a impressão de estar paralisado em
circunstâncias incompreensíveis e inevitáveis.
Mediante à ideia de que a concepção do mundo é o produto da história e se
analisarmos a sociedade capitalista, logo teremos o conceito de que o desemprego e a
exploração do trabalho são a base para o aumento de riqueza, tendo consonância com
o pauperismo. Ao compreender as bases teóricas de Lukács (1969) entendemos que um
indivíduo age de forma subjetiva, imaginando o significado de suas atividades por meio do
processo de alienação do capital, caindo em uma visão de mundo, que não há sentido, e
todas as atividades se reduzem a uma aparência simples que imprime completamente o
estado puro. Não é incomum que o tédio se torne um monstro quando se perde o objetivo
e a esperança.
Segundo Vasconcelos (2017), se, por um lado, o desenvolvimento intelectual da
classe trabalhadora não pode determinar mecanicamente sua emancipação, se não há teoria
revolucionária, não pode haver movimento revolucionário, afinal, a classe trabalhadora pode
determinar-se mutuamente na relação de oposição e luta. É possível que um dos trabalha-
dores com o apoio de outros trabalhadores ascendam à condição de classe de hegemonia.
De acordo com Carnoy (1988), a hegemonia pode se expressar na sociedade como
uma forma e/ou um meio principal, ou seja, como um conjunto de sistemas, ideologias,
práticas e agentes, incluindo intelectuais, que constitui uma cultura de valores dominantes
e que busca, na luta de classes, a garantia de seus direitos. Nesse ponto, as instituições,
que constituem um sistema hegemônico, são significativas, principalmente quando é es-
tabelecido, no contexto, um equilíbrio entre as classes, estendendo o poder e controle à
sociedade civil por meio dessas mesmas instituições.
Neste aspecto, além do poder e da lógica do modo de produção, a explicação sobre
como a classe trabalhadora e a sociedade capitalista está organizada e tem ligação com o
poder da consciência e da ideologia. Em relação a consciência é entendo como algo que
podemos chegar a um consenso e/ou entendimento sobre as relações sociais capitalistas
e estratégias, considerada como a base para obter o consentimento positivo das massas
por meio da auto-organização da classe trabalhadora e dentro desse contexto é que o
assistente social precisa estar inserido. Já a ideologia está ligada às normas reguladoras,
envolvendo a política, religião, economia e cultura como meio de garantir os interesses indi-
viduais, coletivos e/ou de uma pequena parcela da sociedade, o que nos leva a considerar
que esses pontos são importante e que o assistente social precisa entender para expressar
a sua posição de forma crítica fundamentada em bases teóricas e concretas.
Profissionais que tomam como referência os projetos de anticapitalismo e eman-
cipação, ao se dirigirem aos intelectuais em processo de autoformação permanente da
sociedade do capital, podem dar uma contribuição moderada para fazer a teoria penetrar
nas massas, tornando a teoria um poder que só pode ser alcançado com a prática, a crítica

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 76
fundamental, a criatividade e a autoconsciência. Na dialética, esse processo corre o risco
permanente de ser facilmente alinhado e se desenvolve no âmbito do próprio movimento
de alienação do capitalismo.
Diante dessa complexidade, os trabalhadores e assistentes sociais, que optam por
projetos profissionais como assalariados, enfrentam problemas diretamente relacionados
à formação da subjetividade de cada indivíduo social, conscientes ou não do seu papel.
Entre os que têm tais condições pelo seu nível superior, por exemplo, os assistentes
sociais que desempenham o papel fundamental na vida do ser humano e na promoção
do desenvolvimento social, têm melhores condições do que outros para determinar quais
caminhos favorecem as práticas democráticas e emancipatórias e quais são os obstáculos
intransponíveis. Pode-se, a partir dos próprios intelectuais, proporcionar uma vantagem
relativa ao processo de ruptura (VASCONCELOS, 2017).
Neste sentido, a contradição fundamental entre trabalho e capital está relacionado
na produção social da sociedade e voltado para as condições da exploração do trabalho,
a riqueza e meios de produção básico, ocupado pela propriedade privada que conduz à
autonomia relativa dos assistentes sociais.
Com isso, a atuação dos assistentes sociais acaba tendo o sentido de contribuir
para a formação, mobilização e organização dos trabalhadores na busca da libertação
humana, promovendo a melhoria e a reconstrução das condições dos trabalhadores na
sociedade capitalista, portanto, os assistentes sociais passa a ter a função social de atuar
sobre a essência da personalidade dos trabalhadores transmitindo costumes, valores, nor-
mas, princípios, padrões sociais, conhecimentos e informações de acordo com o conteúdo
veiculado ao direito, com base na garantia que norteia a classe trabalhadora através das
atividades profissionais.
Em síntese, como estudamos, a concepção de mundo está ligada à história, e
tem o ser humano como base fundamental para compreender tal conceito. A partir desse
entendimento o indivíduo consegue ter consciência, seja ela crítica ou não. Por meio desta
informação é que o Serviço Social se encontra; primeiro, compreende o contexto histórico
que o indivíduo está inserido e segundo, intervém no problema que afeta a vida desse
indivíduo.
Se analisarmos a concepção de mundo que envolve o Serviço Social não podemos
deixar de pensar na relação entre o trabalhador e o capital, relação que deu origem à
profissão que tem como objeto de estudo as expressões da questão social. Entender todo
este contexto é o que faz a diferença no momento da atuação, principalmente de que a
concepção de mundo está ligada à história.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 77
2. CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA E O SERVIÇO SOCIAL

De acordo com Lukács (2003) nas circunstâncias históricas para uma classe, o
conhecimento exato da sociedade passa a ser condição direta para sua autoafirmação na
luta, quando para esta classe o autoconhecimento significa o conhecimento correto de toda
a sociedade. No que diz respeito ao conhecimento, quando esta classe é um sujeito e um
objeto, a teoria é, portanto, imediata e apropriadamente envolvida no processo de revolução
social, esta é a premissa de que teoria e prática são unificadas e a função revolucionária
da teoria se torna possível.
Neste aspecto, conhecer as condições postas na sociedade é o que faz a diferença
na luta pelos direitos, sendo o conhecimento a base fundamental. Partindo deste preceito e
para entender a crítica da economia política é que vamos nos aprofundar nas bases teórica
de Marx (1989) e Netto - Braz (2006).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 78
2.1 Economia Política de Forma Clássica

O termo “economia política” se originou do grego “Politeia e Oikonamika”, no ano


de 1615, sendo discutido somente nos primeiros 20 anos do século XIX. Isso passou a
designar uma certa instituição teórica, mas não significou que a economia política tornou-se
um campo teórico e sistematizado. Entre os maiores representantes da economia política
clássica, Smith e Ricardo, embora seus conceitos teóricos sejam diferentes, aparentemente
apresentam duas características principais de teorias expostas por duzentos anos (NETTO;
BRAZ, 2006, p. 29).
O primeiro relaciona-se com a essência da teoria: não é um sujeito especializado
e participativo, tentando recortar os objetos específicos da realidade social e analisá-los de
forma autônoma. Os dois autores mencionados e alguns autores antes deles focalizaram
sua atenção em questões relacionadas a trabalho, valor e dinheiro, interessado em ques-
tões de relações sociais. Essas questões apontam claramente as constantes mudanças
na sociedade de forma irrefutável, desde a generalização das relações de mercado e sua
expansão para o mundo do trabalho.
A segunda característica da economia política clássica está relacionada à maneira
como os autores tratam as principais categorias e instituições econômicas, principalmente
referente à moeda, capital, lucros, salários, mercados, propriedade privada, entre outros.
Para os autores, as categorias naturais e instituições são descobertas pela razão humana
e estabelecidas na vida social, elas permanecerão eternas em sua estrutura básica.
Essas características, indicam o compromisso sócio-político da economia políti-
ca clássica, com isso, o liberalismo clássico constitui a arma ideológica da luta entre a
burguesia e o Estado autocrático e o antigo regime. Aos olhos dos teóricos, os interesses
da burguesia revolucionária e a burguesia revolucionária enfrentam os beneficiários do
sistema feudal.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 79
Segundo Netto e Braz (2006), entre esses teóricos, a influência do naturalismo
jurídico e do liberalismo não é uma sorte, mas eles mostram que suas realizações inte-
lectuais fazem parte do quadro mais amplo da ilustração. Como todos sabemos, esse é o
processo da burguesia se movendo em direção à construção de seu domínio; um capítulo
importante frente ao sistema feudal, marcou um enorme progresso histórico. Neste aspecto
a economia política clássica exprime a ideologia da burguesia, nessa época esta classe
estava na vanguarda da luta social e liderou um processo revolucionário que destruiu o
antigo regime, a razão era nada mais do que a maior e mais nova ciência mais típica, a
sociedade burguesa.
Portanto, a economia política clássica com o programa da revolução burguesa não
transformou seus grandes representantes, como Smith e Ricardo, em defensores cegos e
acríticos da nova ordem social emergente. No que diz respeito à revolução burguesa da
época, ela exprimia o desejo de libertação da humanidade. Esses clássicos têm uma visão
ampla que lhes permite expor com profunda objetividade os problemas suscitados pelo
surgimento da nova sociedade. A objetividade das questões teóricas sociais é diferente da
neutralidade, precisamente porque não são neutras e defendem uma ordem social mais
livre e avançada que o feudalismo, por isso os clássicos podem enfrentar a nova economia
e a sociedade sem restrições e a causa do problema e o aumento do lucro e a reprodução
do trabalho.

2.2 A Crítica da Economia Política e o Serviço Social

Ao longo do século XX, a sociedade capitalista passou por grandes mudanças e


processos não estudados por Karl Marx, considerados como fenômenos do sistema ca-
pitalista. Esses fenômenos e processos foram objetos de análise e pesquisas inspirados
em Marx, estudos que visam esclarecer e integrar-se ao sistema teórico estabelecido pelo
autor em seu livro O Capital, fazendo uma crítica à economia política a partir do processo de

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 80
produção do capital. No processo de expandir a reserva de conhecimento, muitos avanços
e novas descobertas foram feitas, iremos aprofundar nisso a seguir.
Segundo Netto e Braz (2006), Marx aproximou-se das ideias revolucionárias que
germinavam no movimento operário europeu pouco depois de haver concluído o seu curso
de filosofia (1841) e de 1844 até a sua morte, todos os seus esforços foram dirigidos para
contribuir na organização do proletariado para que este, rompendo com a dominação de
classe da burguesia, realizasse a emancipação humana.
Os autores supracitados destacam que, para Marx, o sucesso do protagonista da
revolução proletária depende em grande medida de uma compreensão estreita com a rea-
lidade social. Nesse aspecto, Marx acreditava que a ação revolucionária seria mais eficaz,
não se baseando no conceito de utopia, mas em uma teoria social que reproduz idealmente
os movimentos reais e objetivos da sociedade capitalista.
De acordo com Marx (1989, p. 961), “a estrutura econômica da sociedade capitalis-
ta surgiu da estrutura econômica da sociedade feudal. A dissolução desta última liberou os
elementos daquela”, que tem o trabalhador como produtor direto somente após a libertação
dos “servos” tornando-se vendedores de mão de obra para o aumento do lucro do capital.
O Movimento histórico que transformou produtores em trabalhadores se destaca da se-
guinte forma: de um lado temos os assalariados, que se consideram livres da escravidão;
por outro lado, esses trabalhadores recém-libertados só podem se tornar seus próprios
vendedores após terem sido roubados todos os seus meios de produção. Portanto o ponto
inicial do desenvolvimento dos trabalhadores assalariados e capitalistas é a “conquista dos
trabalhadores”.
Neste aspecto, para Netto e Braz (2006), a pesquisa de Marx esclareceu o surgi-
mento, a consolidação e o desenvolvimento da sociedade capitalista e a teoria social das
condições de crise. Os resultados mostram que a sociedade burguesa não é uma orga-
nização social destinada a constituir o fim da evolução humana; mas histórica e efêmera,
a forma de organização social contém contradições e tendências que podem superá-la,
criando um outro tipo de sociedade, a sociedade comunista que não marca o fim da histó-
ria, mas é apenas o ponto de partida de uma nova história, uma história estabelecida por
humanos libertados.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 81
SAIBA MAIS

O capital não é uma bíblia, nem sequer talvez um método, mas, como o próprio subtítulo
que Marx lhe deu, uma “contribuição à crítica da economia política”. Esse é o caminho
e certamente como crítica ele não aborda, senão tangencialmente, algumas das princi-
pais estruturas do capitalismo contemporâneo, seus problemas e pontos de superação.
Mas, como um dos textos fundamentais da modernidade, ele abre as portas para sua
compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo, tarefa para que são
chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação, esse trabalho de
Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era.

Fonte: Marx (1989, p. 6).

De acordo com Vasconcelos (2017), a sociedade capitalista é considerada como um


movimento social histórico. Ao refletir sobre a teoria de Marx, observa-se que aponta a pobreza
como um “fator essencial” da ordem social burguesa. Mas calma, caro(a) aluno(a), Marx faz
uma crítica à sociedade capitalista e ao seu modo de produzir riqueza. Neste aspecto, para
a autora, na ordem social dominante, não há como encontrar uma solução para a pobreza,
portanto, do ponto de vista do capital, a restrição é eliminar o sofrimento e transformar os
“pobres” cada vez mais pobres, porém atender ao mínimo para a sobrevivência.
E, para que essa visão seja modificada, é preciso rever a estrutura capitalista
imposta na sociedade, isso significa que o objetivo da erradicação da pobreza precisa
estabelecer uma nova ordem social, não a exploração da regra, classe, raça e gênero,
mas a consciência de que todos têm o direito de riqueza e não é preciso explorar a classe
trabalhadora para aumentar a riqueza. Nesse aspecto o assistente social atua, tendo o
compromisso com a sociedade por meio do Código de Ética Profissional.
Desse modo, pode-se entender por que o programa social na democracia bur-
guesa visa eliminar o sofrimento e não a pobreza. Eliminar o sofrimento como insistem
as instituições do capital internacional e o banco mundial, aderindo à prática dos países
periféricos transformando a situação de grande número de trabalhadores. Isso tem um
efeito no sistema, afinal, os pobres consomem mais do que os capitalistas, o que levou a
um aumento dos fundos públicos e arruinou o capital.
Portanto, sem reduzir o excedente populacional, a eliminação do sofrimento permite
que uma grande força de trabalho desafie uma parte do mercado de trabalho, o que leva a

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 82
uma redução ainda maior nos salários pagos a cada vez menos trabalhadores qualificados,
gerando o exército industrial de reserva.
Nesse sentido, não há como determinar as novas expressões da questão social,
visto que os problemas sociais decorrem das determinadas leis gerais da acumulação,
e adquirem novas dimensões e manifestações com o desenvolvimento da acumulação e
as mudanças experimentadas pelo próprio capitalismo. Portanto, tomar as soluções dos
problemas sociais (mesmo as soluções dos problemas sociais reivindicados por alguns
assistentes sociais e outros profissionais) como meta da sociedade do capital, razão pela
qual a sociedade precisa mudar, mesmo que pensemos que é possível manter e replicar
sem acumular capital sem usar trabalho (NETTO; BRAZ, 2007).
Assim, segundo Vasconcelos (2017), no contexto da sociedade capitalista, ainda
que se trate de uma questão social multideterminada, implica também a troca midiática de
componentes históricos, políticos e culturais, fundamentalmente determinante na explo-
ração do trabalho pelo capital. Portanto, sem eliminar a exploração do trabalho, toda luta
contra seu impacto político, econômico, social e humano, inclusive os chamados proble-
mas sociais, mais cedo ou mais tarde mostrará as limitações dos sintomas enfrentados,
consequências e impactos. Ou seja, realizar reformas e permanecer em uma sociedade
que depende do homem para viver da exploração do homem. Mas deve ficar claro que a
exploração existe em diferentes formas históricas de organização social.
Caro(a) aluno(a), é importante destacar que a crítica de Marx sobre a economia
política foi uma verdadeira revolução teórica, na investigação e análise decisivas da lei do
fluxo de capitais. Ele usou todo o poder da preparação científica, da cultura e da inteligência
para lançar as bases da compreensão e desenvolvimento da sociedade burguesa. Neste
sentido, a economia política clássica forneceu conhecimento teórico para a estrutura e
dinâmica econômica da sociedade burguesa, a análise das leis do movimento do capital e
da descoberta do marxismo na segunda metade do século XIX é válida até hoje, pois por
mais de 150 anos, nossa sociedade ainda está subordinada ao capitalismo.
Portanto, o próprio trabalho do marxismo só é possível pela existência da econo-
mia política clássica antes, por conter elementos que foram historicamente processados ​​e
considerados na perspectiva de uma nova metodologia, elementos que predizem o fluxo e
o controle do capital e que cabe ao assistente social entender.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 83
3. SERVIÇO SOCIAL, PRÁXIS E TRABALHO

Caro(a) aluno(a), o trabalho faz parte da vida do homem desde a origem do mundo
e com o passar do tempo grandes filósofos começaram a estudar esse conceito, analisando
todo o processo histórico da sociedade a partir da ascensão do capitalismo. Um exemplo
clássico são as teorias de Karl Marx, que, até os dias atuais, são referências para estudio-
sos e profissionais.
A partir dos estudos de Karl Marx, mais especificamente no seu método –materia-
lismo histórico dialético –, é que foram revelados os fatos absolutos; históricos; a política e
o social, de forma que o homem pudesse refletir sobre a sua própria história, tornando um
participante do desenvolvimento da humanidade, buscando uma visão transformadora com
base na defesa da prática revolucionária.
Com isso, esse filósofo deu início aos estudos da práxis, que não podem ser uma
mera redução do trabalho, pelo contrário, deverão ser humanizadas, garantindo as pos-
sibilidades concretas dos seres humanos para que se desenvolva de forma criativa, sem
estar ligado na disciplina do trabalho, com a finalidade de uma redução da jornada de
trabalho considerada como pré-requisito. Através das informações apresentadas, vamos
nos aprofundar de forma breve nos conceitos a seguir.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 84
3.1 O Trabalho

Caro(a) aluno(a), a concepção do trabalho aparece em um sentido muito preciso,


considerada como uma atividade humana que transforma a natureza em mercadorias, con-
siderada necessária para a reprodução social. Nesse sentido, Lessa (2002) destaca que a
categoria fundadora do mundo do trabalho deu-se pela existência humana, tendo o trabalho
como uma atividade que transforma a essência natural do indivíduo e toda a sociedade da
qual participa, é considerada como a autoconstrução e melhoria do ser humano, permitindo
que as classes sociais fica cada vez mais desenvolvidas.
O trabalho é um elemento constituinte da existência social, que, por sua vez, não se
reduz e nem se esgota no trabalho. Quanto mais as pessoas se desenvolvem na sociedade
mais sua objetividade pode transcender no espaço, diretamente relacionado ao trabalho. O
desenvolvimento da existência social significa o surgimento da racionalidade, sensibilidade
e atividades, que criam seus próprios objetos com base no trabalho necessário. Nesse
aspecto, a existência social não é apenas trabalho e sim a criação da objetivação para
além do universo, considerada como uma categoria teórica mais abrangente, ou seja, uma
categoria prática que envolve o trabalho. Na verdade, esse é seu modelo, mas o conteúdo
incluído ultrapassa todo o assunto de objetificação humana (NETTO; BRAZ, 2006).
Para Lessa (2002) a concepção do trabalho só existe no mundo humano, consi-
derada como uma categoria exclusiva para o desenvolvimento em meio a sociedade, o
autor destaca que o trabalho sempre fez parte da sociedade. Desta forma, a função que o
trabalho executa no interior da reprodução social é um processo unificado e, apenas nesta
dimensão, passa a ser considerada como algo fundamental no mundo do homem.
Neste aspecto, o trabalho é entendido como o fundador do mundo humano. Essa
declaração é essencial para a compreensão da existência social, a comunicação entre o
homem e a natureza se realiza na prática e é planejada pela consciência, portanto, a escolha
entre as alternativas pode ser um objeto, mudando a realidade e criando novas situações.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 85
Além disso, se o trabalho promover a construção e transformação do mundo e atuar por meio
da compreensão de outros saberes e habilidades, novas demandas serão geradas.
De acordo com Lukács (1979, p. 87) “o trabalho é, antes de tudo, em termos gené-
ticos, o ponto de partida da humanização do homem, de refinamento de suas faculdades,
processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo”. Além do que, o tra-
balho foi processado como âmbito único do desenvolvimento, todas as outras formas de
atividades de pessoas ligadas a diferentes valores só podem ser o trabalho autônomo que
pode atingir um nível superior após o trabalho.
Segundo Marx (1989), o trabalho é a categoria central na vida do homem, consi-
derada como formador de valor de uso, mas não deve ser entendida como condição da
existência humana e sim um elemento da sua existência em meio a sociedade, tendo o
papel de mediar as trocas orgânicas entre o homem e a natureza, ou seja, entre a vida
humana e o meio do trabalho. Nesse sentido, temos o processo de trabalho que utiliza do
material natural e se adapta às necessidades humanas, assim, modificando sua forma e
atendendo aos interesses da sociedade capitalista que utiliza da consciência comum para
aumentar o seu lucro e poder. “a consciência comum pensa os atos práticos, mas não faz
da práxis – como atividade social transformadora – seu objeto; não produz – nem pode
produzir, como veremos uma teoria da práxis” (VÁZQUEZ, 1980, p. 10).

3.2 A Práxis

Caro(a) aluno(a), se pesquisar na internet o termo “práxis”, observará que seu


significado está voltado para a “prática”, mas se analisarmos o sentido desse termo na
teoria marxista o conceito muda. De acordo com alguns estudos realizados, me deparei que
o termo práxis para Marx tem o significado de atividade livre e criativa em que o homem
é capaz de produzir e criar algo que transforma o seu mundo e seu processo histórico.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 86
Isso porque, para o filósofo, o homem não deve ficar à mercê do sistema capitalista, e,
como já destacado, deve buscar uma visão transformadora com base na defesa da prática
revolucionária. A partir disso, o conceito da práxis refere-se a uma dimensão da prática,
uma atividade do personagem utilitário e prático, ligada às necessidades atuais.
Neste sentido, Vázquez (1980, p. 245) destaca que “toda práxis é atividade, mas
nem toda atividade é práxis”, ou seja, a prática é uma atividade consciente, o que significa
não só o propósito da atividade, mas também o seu subjetivo. Com isso, a prática passa a
ter um significado que vai além de uma atividade social, algo que transforma e muda as leis
naturais por meio da criação e, consequentemente, o homem que, ao produzir algo, muda
a si mesmo. A matéria-prima das atividades pode mudar, resultando em diversas formas
de práxis, como: produtivo, artístico, experimental, político e teórico, que vamos analisar a
seguir por meio de um quadro informativo.

QUADRO 1 - AS FORMAS DE PRÁXIS

Dentre as formas fundamentais de práxis está a atividade prática produtiva, ou relação


material e transformadora que o homem estabelece por meio de seu trabalho com a
natureza. Graças ao trabalho, o homem supera a resistência dos materiais e forças
Produtivo naturais e cria um mundo de objetos úteis que satisfazem certas necessidades. Mas
como o homem é um ser social, esse processo só se realiza sob certas condições so-
ciais, isto é, no quadro de certas relações que os homens contraem como agentes de
produção nesse processo, e que Marx denomina precisamente relações de produção.
Artístico Outra forma de práxis é a produção ou criação de obras de arte. Assim como o traba-
lho humano é a transformação de um material no qual uma determinada forma é im-
pressa, exigida não por uma necessidade prático-utilitária, mas por uma necessidade
humana geral de expressão e comunicação. Na medida em que a atividade artística
não é limitada pela utilidade material que o produto da obra deve satisfazer, ela pode
levar o processo de humanização que de forma limitada já ocorre no trabalho huma-
no até suas últimas consequências. Por isso, a prática artística permite a criação de
objetos que elevam a capacidade de expressão a um grau superior e a objetificação
humana já revelada nos produtos do trabalho. O trabalho artístico é, antes de tudo, a
criação de uma nova realidade e uma vez que o homem se afirma criando ou huma-
nizando tudo o que toca, à práxis artística ampliando e enriquecendo a realidade já
humanizada com suas criações é uma práxis essencial para o homem.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 87
Experimental Entre as formas de atividade práxis realizadas sobre um determinado assunto, é tam-
bém necessário incluir a atividade científica experimental que satisfaça, em primeiro
lugar, as necessidades da investigação teórica e, em particular, as de teste de hipóte-
ses. Essa forma de práxis é aquela que se manifesta quando o pesquisador atua sobre
um objeto material, modificando as condições em que um fenômeno opera à vontade.
Esse é o significado da experimentação como práxis científica. O pesquisador produz
fenômenos que são uma reprodução daqueles que ocorrem em um ambiente natural,
mas os produz precisamente para poder estudá-los em um ambiente artificial em la-
boratório sem as impurezas e perturbações que ocorrem no ambiente natural e que,
por esse motivo, torna seu estudo difícil. Na medida em que se trata de produzir certos
fenômenos usando o instrumento físico apropriado, a atividade científica experimental
é obviamente uma forma de prática. É uma atividade objetiva que dá origem a um
produto ou resultado real e objetivo.
Político Essa atividade prática do homem oferece várias modalidades, nele se inserem os
diversos atos que visam a sua transformação como ser social e, portanto, a mudar
suas relações econômicas, políticas e sociais. Na medida em que sua atividade toma
por objeto não um indivíduo isolado, mas grupos ou classes sociais, e mesmo toda a
sociedade, pode ser chamada de práxis social, embora em um sentido amplo todas as
práticas tenham um caráter social, pois só o homem Ele pode realizá-lo contratando
certas relações sociais e, ainda, porque a modificação prática do objeto não humano
se traduz, por sua vez, em uma transformação do homem como ser social.
Teórica A atividade teórica como um todo, também considera ao longo de seu desenvolvimento
histórico, ela só existe pela e em relação à prática, pois nela encontra seu fundamen-
to, seus fins e o critério de verdade, como tentaremos mostrar mais adiante. Mas por
mais próximas que sejam as relações entre uma atividade e outra, a atividade teórica
em si não mostra as características que consideramos proativas na práxis e, portanto,
não devemos colocá-la no mesmo plano das formas de atividade prática de antes. nós
examinamos. Em nossa opinião, a atividade teórica não é em si uma forma de práxis.

Fonte: Vázquez (1980, 253-261).

De acordo com o autor supracitado, além das formas existem os níveis de práxis
em que de um lado tem-se a práxis criadora e reiterativa e do outro reflexiva e espontânea,
que apresentarei a seguir.
Práxis criadora: a prática criativa pressupõe que haja uma relação estreita entre
as dimensões subjetiva e objetiva, ou seja, entre o que planejamos e realizamos. Isso sig-
nifica idealizar e implementar ideias, no entanto, esse processo é simultâneo e inseparável,
seu jeito, seu resultado. Portanto, o projeto e sua implementação precisam ser alterados e
corrigidos pelo caminho, é por isso que confirmamos que se trata de um processo.
Práxis reiterativa: a repetibilidade é sua característica e por causa da repetição
sob essas circunstâncias, pensa e completa entre objetivos e subjetividade. Essa ruptura
significa resultados obtidos por meio de processos repetidos e da prática criativa. É operado
aqui com base no modelo previamente construído; em outros casos a situação é diferente

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 88
de quando foi originalmente criado. Nesse caso, tudo que precisa fazer é repetir ou imitar
outras ações.
Práxis espontânea e práxis reflexiva: a consciência que antes é chamada de
prática não se extingue da práxis espontânea ou reflexiva, por isso ambas as práxis não
serão apresentadas de forma separada, pois a atividade espontânea está presente no seio
da atividade reflexiva e, para qualificar a prática como espontânea ou reflexiva, deve ser
levado em consideração o grau de consciência que se tem de uma atividade prática que
está sendo desenvolvida.
É importante levar em consideração as formas e os níveis da práxis, pois, ao
analisar um determinado conjunto de objetivações humanas, deve-se ir além do que está
exposto, compreendendo que a práxis está ligada à consciência de um determinado fato,
podendo transformar o ser social.

3.3 Serviço Social Como Práxis

Caro(a) aluno(a), como destacado anteriormente por diversos intelectuais, o tra-


balho é o ponto de partida da humanização e fundador no mundo do homem; considerada
como categoria central na vida do homem e uma atividade que transforma a natureza em
mercadorias; um elemento constituinte da existência social e uma categoria exclusiva dos
homens, entre outros fatores que transforma a vida em meio a sociedade.
Entender a importância do trabalho na vida do homem faz toda a diferença quando
atua como assistente social, principalmente ao diferenciar a práxis da categoria com a
do trabalhador. Nesse sentido, Costa (1999) destaca ser fundamental a compreensão e
distinção de ambas práxis, pois é por meio desse entendimento que o assistente social
poderá atuar frente às diversas expressões da questão social.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 89
Portanto, a autora supracitada destaca que o trabalhador muda uma matéria da
natureza por meio do processo de trabalho, muitas vezes não pensa, simplesmente age por
meio da linha de produção, podendo usar um pedaço de ferro para transformar algo, tendo
leis fixas como objetivos para segui-las. Já o assistente social atua sobre o comportamento
de indivíduos, forma e o conteúdo de agir nas relações sociais também dependem dos
próprios pensamentos e sentimentos do indivíduo por meio da reação individual de cada
fato histórico. Além dos assistentes sociais atuarem sobre os indivíduos para fortalecê-los
e incentivá-los a agirem em uma determinada situação. Logo, a práxis do assistente social
não deve ser comparada com a dos demais trabalhadores, visto que a matéria que trans-
forma o meio de trabalho é diferente.
O assistente social transforma as relações sociais e estas são qualitativa-
mente (ontologicamente) diferentes da matéria natural. Por isso a práxis
do assistente social é, no dia a dia, completamente diferente da práxis do
operário. Não apenas seu local social é muito distinto (o operário trabalha
na fábrica ou na agricultura e o assistente social, na enorme maioria das
vezes, em órgãos públicos ou ONGs), mas a própria atividade é em tudo
muito distinta. Essa é a razão de a preparação profissional de um assistente
social ser tão distinta da de um operário. Os conhecimentos e as habilidades
requeridas são muito diversas, em cada caso. E isto decorre do fato de que
eles atuam sobre uma matéria e atendem a necessidades sociais em tudo
distintas (LESSA, 2012, p. 67).

Neste sentido, comparar a práxis do assistente social com os demais trabalhadores


pode ser um equívoco, não apresentando bons resultados ideológicos. Mas é importante
entender essa distinção, pois o maior público atendido pelos assistentes sociais são os
trabalhadores e entender o papel de cada um na sociedade faz toda a diferença que acaba
aproximando o assistente social dos seus usuários ao invés de afastar.
O assistente social, portanto, não apenas não “trabalha” como o operário,
como ainda é um “trabalhador” distinto do operário. O que os aproxima é
apenas a forma de sua inserção no mercado de trabalho, o fato de serem
assalariados. Mas, por baixo dessa semelhança superficial, há enormes
distinções ontológicas: suas práxis são muito distintas; atendem a funções
sociais muito diferenciadas e, além disso, pertencem a distintas classes
sociais (LESSA, 2012, p. 72).

Portanto, não tem sentido comparar a atuação dos assistentes sociais com os de-
mais trabalhadores, muito menos com outros profissionais, como: psicólogos, pedagogos,
advogados, médicos, entre outros, pois a prática ontologicamente é diferente e os assis-
tentes sociais atuam sobre as relações sociais nas mais diversas expressões da questão
social advindas da sociedade capitalista.
De acordo com Vasconcelos (2017) é na sociedade capitalista que o trabalho se
torna um modelo prático da exploração estimulada pela burguesia como forma de obter
lucros. Neste sentido, os trabalhadores reproduzem esse modelo prático em diferentes

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 90
níveis e em todas as instâncias da vida social, incluindo profissionais de ensino superior,
que fazem parte da classe trabalhadora. Do ponto de vista das necessidades da burguesia
e da acumulação, o Serviço Social foi criado para atender às suas necessidades, com isso
os profissionais são considerados trabalhadores assalariados, atuando sobre a renda das
mercadorias na produção e no trabalho.
Podemos então perceber que os assistentes sociais em instituições públicas
ou em empresas privadas, de um modo ou de outro, com uma mediação ou
outra, vivem da riqueza produzida pelos operários. Por isso, tal como todas
as outras “classes de transição”, os assistentes sociais são assalariados
porém não são operários. E, pela mesma razão, diferente da totalidade da
“classe de transição”, o proletariado é a única classe que vive da riqueza
por ela produzida. É por essa razão, e não por qualquer outra, que os ope-
rários conformam a única classe que nada tem a perder com a superação
da sociedade capitalista a “não ser seus grilhões”; por isso os operários são,
ao fim e ao cabo, a única classe social historicamente comprometida com a
superação da propriedade privada (LESSA, 2012, p. 72).

Portanto, não podemos considerar o Serviço Social como trabalho que vive da
riqueza produzida, mas uma categoria capaz de atender as necessidades da classe traba-
lhadora. Caro(a) aluno(a), o Serviço Social como práxis é considerado de forma consciente,
planejado e avaliado, é parte e expressão da prática social que inclui o trabalho, as ativi-
dades fundadoras da existência social e a base das atividades econômicas, no entanto a
alienação e exploração modificaram a sociedade que criaram e produziram os problemas
sociais, fatores indispensáveis na sociedade capitalista.
Em síntese, os assistentes sociais devem atuar de forma propositiva, entendendo
a importância do trabalho na vida do ser humano. Mas, enquanto categoria regida por um
Código de Ética e com um Projeto Ético Político, precisa ter em mente que o Serviço Social
como práxis deve ter consciência do todo, exercer a profissão ao nível da práxis de forma
criativa e reflexiva, tendo na criticidade um fator importante para compreender as relações
sociais e os diversos problemas postos na sociedade. O Serviço Social como práxis tem
o papel de buscar uma visão transformadora com base na prática revolucionária, tendo o
Projeto Ético Político como o ponto de partida.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 91
4. O PROJETO ÉTICO - POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO:
EMANCIPAÇÃO HUMANA, PARA ALÉM DOS DIREITOS E DA
CIDADANIA BURGUESES

Caro(a) aluno(a), a incorporação do Projeto Ético Político Profissional do Serviço


Social Brasileiro aconteceu a partir do ano de 1990, e logo após tivemos o novo Código
de Ética Profissional, de 1993, e a nova Lei nº 8.662/1993, que regulamenta a profissão
vigente até a presente data; e as diretrizes curriculares, em 1996, materializando o projeto
profissional. Consideradas o tripé que dá visibilidade teórica e ético-política, destacando a
profissão na divisão social e técnica do trabalho, no âmbito das relações sociais por meio
da teoria social marxiana.
Como destacado na segunda unidade entre os anos de 1960 a 1980 a categoria
realizou debates por meio de congressos e outros encontros para que a ruptura com o
conservadorismo acontecesse, por meio do processo histórico de luta pela hegemonia é
que o Projeto Ético Político se constituiu e o que vamos nos aprofundar a seguir.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 92
4.1 Uma Breve Contextualização do Projeto Ético Político

Como destacado, o Projeto Ético Político da profissão é resultado de um processo


histórico e luta pela constituição da hegemonia por meio de debates que reuniram diversos
assistentes sociais da época para o avanço da profissão. Ao analisar esse processo his-
tórico, mais especificamente entre os anos de 1960 a 1980 fica evidente que foram quase
30 anos de muitas discussões e reflexões acerca da profissão até se chegar a intenção de
ruptura, configurando definitivamente o rompimento com o conservadorismo.
De acordo com Netto (2005), houve três momentos marcantes para a profissão, até
se chegar ao Projeto Ético Político, que foi a perspectiva modernizadora, e tinha como
propósito adequar o Serviço Social em relação ao instrumento de intervenção. As discus-
sões acerca da perspectiva modernizadora se deram por meio dos textos dos seminários
de Araxá e Teresópolis.
O segundo foi a reatualização do conservadorismo, que se aprofunda na he-
rança histórica e conservadora da profissão, substituindo as bases teórico-metodológicas,
tendo como referência o crítico-dialético, inspirado na fenomenologia. Por fim, a intenção
de ruptura com o Serviço Social tradicional, diferente das anteriores, apresenta uma crítica
sistemática ao desempenho tradicional e os estudos teóricos, metodológicos e ideológicos
que envolvem a profissão, com o desejo de romper com qualquer herança do pensamento
conservador. Utilizando da teoria marxista para entender a sociedade capitalista, a luta da
classe trabalhadora e seus interesses imediatos, fato que aconteceu no período da ditadura
militar.
O Projeto de Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro considera a
profissão como um produto histórico, que se constitui em uma forma de trabalho coletivo na
divisão social e técnica do trabalho e seu significado social e ideológico pertence ao leque
das relações sociais entre suas diversas classes sociais. O projeto de intenção de ruptura

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 93
do país foi formulado no contexto de uma transição democrática em um contrato de cima
para baixo da classe dominante, acordado pelos militares.
O projeto foi resultado da ampla mobilização da classe trabalhadora do ambiente
social no final dos anos 1970, mas foi na década de 1980 que combinou a consolidação teó-
rica e política da ruptura do Serviço Social no Brasil e a expressou nas seguintes categorias
de organizações: política sindical, formação acadêmica e prática profissional.
As consequências dos ajustes estruturais no campo das infraestruturas e supe-
restruturas afetaram os assistentes sociais, incluindo os assalariados, os participantes do
trabalho coletivo, a divisão social e técnica do trabalho e o trabalho profissional, que têm
base social em muitas manifestações dos problemas sociais da história da indústria. O
debate profissional precisa percebê-lo interna e externamente, a fim de analisar as deci-
sões que o influenciam e moldam, conquistar a hegemonia, por meio do projeto de ruptura
com o conservadorismo, tendo a direção sociopolítica profissional por meio de diferentes
processos de lutas sociais.
O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro expressa o reco-
nhecimento das demandas e anseios da massa trabalhadora e está vinculado a um projeto
societário arraigado na vida social brasileira que contradiz a oposição da sociedade capita-
lista. Com isso, temos o projeto profissional, que propõe o campo da conquista no quadro
progressista da luta social e democrática do país, portanto o projeto societário e profissional
é importante, que analisaremos a seguir.

4.2 Projetos Societários e Projeto Profissional

De acordo com Netto (1999, p. 2), “os projetos societários são projetos coletivos;
mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos,
como propostas para o conjunto da sociedade”. Ou seja, se constitui em um macro projeto
como sugestão para toda a sociedade, mas somente o projeto societário tem essa caracte-
rística, em outros projetos coletivos não existe essa amplitude e inclusividade.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 94
De acordo com Teixeira e Braz (2009, p. 3), “tanto os projetos societários quanto
os projetos coletivos vinculam-se a práticas e atividades variadas da sociedade. São as
próprias práticas/atividades que determinam a constituição dos projetos em si”. Ou seja,
ambos devem ter em sua base uma relação com a prática e a atividade, que está posta na
sociedade, levando em consideração o caráter político e ideológico. Assim como apresen-
tado no Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro, que tem em sua base
a prática e atividade que os profissionais deverão realizar que está atrelada aos três pilares
que fideliza o PEP, que são: Código de Ética Profissional; as diretrizes curriculares e a Lei
que regulariza a profissão, para entender o que está posto na sociedade e como o projeto
deve ser desenvolvido mediante a luta de classes.
Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e
simultaneamente, projetos de classe, ainda que refletem mais ou menos
fortemente determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas
etc.). Efetivamente, as transformações em curso na ordem capitalista não re-
duziram a ponderação das classes sociais e do seu antagonismo na dinâmica
da sociedade (NETTO, 1999, p. 2-3).

Se analisar o contexto histórico da nossa sociedade pode-se considerar que os


projetos societários são necessários, pois é por meio deles que existem os demais projetos,
considerando que a história da sociedade até os dias de hoje é a história da luta de classes,
a classe em luta levantou objeções a interesses antagônicos que transcendem as dimen-
sões históricas. É importante destacar que o projeto societário responde aos interesses da
classe trabalhadora, dispondo de condições que favorecem o enfrentamento dos problemas
postos pela ordem burguesa.
Os Projetos profissionais mostram autoimagem profissional e escolhem valores
para legitimar a sociedade, definir e priorizar seus objetivos e funções, formular requisitos
para exercício, como: teoria, prática e institucionais para o exercício, o comportamento
dos profissionais estabelece a base de seu relacionamento com os usuários em outras
organizações e instituições profissionais, privadas e sociais (NETTO, 1999, p. 4).
Nesse sentido, o autor supracitado destaca que os projetos profissionais também
são estruturas dinâmicas que podem responder às mudanças no sistema de demanda
social de operação profissional, mudar para aspectos econômicos, históricos e culturais,
evolução teórica e prática da própria profissão e mudanças na composição social dos grupos
profissionais. Por todos esses motivos, projetos profissionais também serão atualizados e
modificados.
De acordo com Teixeira e Braz (2009), o projeto profissional está vinculado a um
projeto societário e o eixo central está relacionado à direção do desenvolvimento social e as

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 95
disputas entre os projetos societários é o que determina, em última instância, a transforma-
ção ou a persistência de uma determinada ordem social. Portanto, os projetos profissionais
seriam inimagináveis sem a existência do projeto societário que está presente em qualquer
projeto coletivo, incluindo o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro.

4.3 Emancipação Humana, Para Além Dos Direitos e da Cidadania Burgueses

O termo emancipação humana foi utilizado por Marx (2010) na sua obra Sobre a
questão judaica, publicada em 1844, nos Anais Franco-Alemães, fazendo uma crítica ao
Estado Político a partir das publicações dos artigos do jovem hegeliano Bruno Bauer entres
os anos de 1842 e 1843, devido os judeus não aceitarei a religião posta pelo Estado, o
cristianismo, com isso eram privados dos direitos políticos.
O Estado cristão só conhece privilégios. O judeu possui dentro dele o privi-
légio de ser judeu. Como judeu ele tem direitos que os cristãos não têm. Por
que almeja direitos que ele não tem e dos quais gozam os cristãos? Ao querer
emancipar-se do Estado cristão, o judeu pede que o Estado cristão renuncie
ao seu preconceito religioso. Acaso ele, o judeu, renuncia ao seu preconceito
religioso? Teria ele, portanto, o direito de pedir a alguém tal abdicação da
religião? O Estado cristão, por sua própria essência, não pode emancipar o
judeu; mas, arremata Bauer, o judeu, por sua própria essência, não pode ser
emancipado. Enquanto o Estado for cristão e o judeu judaico, ambos serão
igualmente incapazes tanto de conceder quanto de receber a emancipação.
O Estado cristão só pode se relacionar com o judeu na qualidade de Estado
cristão, isto é, privilegiando, ao permitir o isolamento do judeu em relação aos
demais súditos, mas fazendo com que sinta a pressão das demais esferas
isoladas, e permitindo que ele sinta tanto mais essa pressão pelo fato de se
encontrar em oposição religiosa à religião dominante (MARX, 2010, p. 33-34).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 96
O termo Estado cristão foi utilizado por Bauer para tratar sobre a emancipação dos
judeus, no entanto Marx se apropria desse termo para criticar o Estado, que não deve ter
um posicionamento na base religiosa, visto que o Estado é político. Para Marx (2010), não
se trata mais de retomar o caminho da Revolução Francesa e entrar no caminho certo,
mas de uma revolução inédita e sem precedentes, esta não é apenas uma questão de
emancipação política, mas uma questão de alcançar a emancipação humana.
Do caráter individual e liberal da emancipação, questionado por Marx parte
dos direitos humanos instituídos pela Revolução Francesa, que resultaram
em momentos contraditórios: “por um lado, revolucionaram as relações feu-
dais; por outro, cercam o indivíduo em seu egoísmo, na sua propriedade, na
sua liberdade, perdendo a dimensão da totalidade onde está inserido (LUIZ,
2008, p. 119).

Neste sentido, a emancipação política só faz sentido quando vemos a emancipação


humana e esse deve ser um passo histórico no caminho da libertação humana. Sabendo
que a libertação política é limitada, ou seja, só cria uma democracia formal, declarando
direitos e liberdades que não podem realmente existir em uma sociedade burguesa, para
Marx (2010), a emancipação política deve ser parcial, não tendo lado privilegiado, o que
não acontece na realidade.
De acordo com Luiz (2008), a emancipação humana se dá no processo de inferir o
círculo dos indivíduos sem considerar a sociedade, transformando suas relações pessoais
em uma dimensão social, como uma força social organizada na construção democrática de
outra sociedade. Para o autor, a consideração de Marx é radical: “a emancipação humana
só poderá ser alcançada fora da sociedade burguesa, com a superação dos interesses
individuais, da dominação e da falta de liberdade” (LUIZ, 2008, p. 118).
Ao analisar as bases do conceito marxista entende-se que há uma herança deixada
pelos predecessores e o alicerce fundamental da emancipação humana é a possibilidade
dos seres humanos terem o controle da sua história de forma consciente e sistemática,
que para Marx não precisa ser um iluminista, nem um indivíduo liberal, mas alguém que
dá forma ao mundo. A emancipação humana só poderá acontecer se o homem estiver
disposto a fazer tal mudança.
De acordo com Bressan (2009), a emancipação humana começou a ser citada
de forma mais aguda no Serviço Social a partir da década de 1990. Tem causado esco-
lhas valiosas para o projeto profissional, neste aspecto, uma base ética que fundamenta
essas escolhas é a liberdade tida como valor ético, a emancipação e o aprofundamento
da democracia conforme regido no Código de Ética Profissional de 1993 nos princípios
fundamentais.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 97
I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais; [...] IV Defesa do aprofundamento da democracia,
enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente pro-
duzida (CONSELHO FEDERAL DE ASSISTENTES SOCIAIS, 1993, p. 24,
grifos nossos).

Neste aspecto, o conceito da emancipação humana que fundamenta o Projeto Ético


Político profissional nos revela um projeto que rompe com a realidade existente na socieda-
de, conforme criticado por Marx, sendo destacadas a liberdade, a emancipação humana e a
democracia como fatores importantes que não encontram espaço na sociedade capitalista.
Uma das indagações contidas no PEP é o que os profissionais devem fazer no momento
da atuação profissão, ou seja, ter em mente o significado da liberdade, democracia e eman-
cipação humana – os valores recebidos e como devem ser produzidos. Identificando que
esses valores também remetem ao dever para com uma sociedade futura, entendendo que
na sociedade capitalista esses valores são limitados e isto deve estar claro na defesa do
projeto profissional.
O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro expressa os
principais valores ideológicos, como: liberdade, emancipação e democracia, que possibi-
lita superar as condições desafiadoras mediante à situação posta na sociedade, como a
opressão e dominação, além do trabalho alienado. Entender a emancipação humana, como
surgiu e seu significado, vai além dos direitos regidos na Constituição Federal de 1988, pois
é por meio da emancipação humana que a sociedade consegue ter uma perspectiva melhor
em relação ao futuro e o assistente social enquanto profissional regulamentado e inscrito
na divisão social e técnica do trabalho tem o dever de estar à frente. Por esse motivo o
projeto profissional precisou existir e fazer parte da categoria profissional e cabe somente
a nós, assistentes sociais, lutar pela garantia dos direitos e não retroceder as conquistas já
alcançadas.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 98
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade. Tenho certeza de que a
cada unidade os conteúdos apreendidos vão fazendo mais sentido sobre a profissão e o
que o assistente social faz e a sua importância na sociedade.
Entender alguns conceitos é relevante e importante, como, por exemplo, os que
foram apresentados nesta unidade – a concepção de mundo, que nada mais é do que o
processo histórico do ser humano e a peça fundamental para entender a realidade já vivida
ou a que está sendo vivida. Isso faz toda a diferença no momento da atuação profissional,
visto que os assistentes sociais, para realizar um atendimento e dar o parecer, muitas
vezes, precisa fazer resgates históricos da concepção de mundo analisada.
Um segundo conceito que considero importante para a categoria profissional é a
crítica econômica política feita por Karl Marx em seu livro O Capital - volume 1, e que depois
outros estudiosos deram sequência. Entendendo como a sociedade capitalista e a classe
trabalhadora funcionavam mediante a um processo de produção do capital, fator importante
para que os assistentes sociais entendam, afinal, a categoria tem em sua base teórica a
criticidade e a busca pela compreensão do real e do tangível.
Outro conceito importante para a categoria é o entendimento do trabalho na vida
do homem e a práxis que está voltada à prática, relacionando a atividade consciente e re-
volucionária, tendo formas e níveis relevantes para compreender todos e qualquer conceito
posto na sociedade e entender tanto o conceito trabalho quanto práxis é relevante para a
categoria profissional. Primeiro porque as práticas do assistente social são iguais às dos
demais profissionais/trabalhadores e dentre os níveis da práxis o que mais precisa ser
utilizado no seio da categoria é a criatividade e a reflexividade.
E não podemos deixar de falar sobre o Projeto Ético Político da Profissão do Ser-
viço Social brasileiro, que teve a sua origem no ano de 1990 e tem em sua base o Código
de Ética Profissional, as Diretrizes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão sendo
fundamentada pela liberdade, democracia e emancipação humana pela busca e garantia
dos direitos sociais.

Espero que esse estudo tenha te ajudado e desejo bons estudos!

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 99
LEITURA COMPLEMENTAR

Projeto Ético Político do Serviço Social

(...)

Os projetos profissionais são impensáveis sem esses pressupostos, são infundados


se não os remetemos aos projetos coletivos de maior abrangência: os projetos societários
(ou projetos de sociedade). Quer dizer: os projetos societários estão presentes na dinâmica
de qualquer projeto coletivo, inclusive em nosso projeto ético-político.
Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conser-
vadores. Entre os transformadores, há várias posições que têm a ver com as formas (as
estratégias) de transformação social. Assim, temos um pressuposto fundante do projeto
ético-político: a sua relação ineliminável com os projetos de transformação ou de conserva-
ção da ordem social. Dessa forma, nosso projeto filia-se a um ou outro projeto de sociedade
não se confundindo com ele.
Não há dúvidas de que o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro está
vinculado a um projeto de transformação da sociedade. Essa vinculação se dá pela pró-
pria exigência que a dimensão política da intervenção profissional põe. Ao atuarmos no
movimento contraditório das classes, acabamos por imprimir uma direção social às nossas
ações profissionais que favorecem a um ou a outro projeto societário.

(...)
Fonte: Teixeira (2009).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 100
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO 01
Título: Código de ética do/a Assistente Social comentado.
Autor: Maria Lucia Silva Barroco, Sylvia Helena Terra
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro preenche uma lacuna. Não havia até agora um
texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor,
de 1993, na sua totalidade. As autoras comentam o Código em
seus fundamentos sócio-históricos e ontológicos, bem como em
suas reais possibilidades de materialização, no contexto de uma
sociabilidade fundada na acumulação e na propriedade privada.

LIVRO 02
Título: Economia Política: uma introdução crítica.
Autor: José Paulo Netto e Marcelo Braz
Editora: Cortez
Sinopse: Essa obra permite a compreensão da constituição e do
desenvolvimento do modo de produção capitalista, bem como das
principais categorias de análise a partir das quais Marx elaborou
sua genial crítica. Mantendo-se fiéis à impostação teórico-metodo-
lógica do filósofo alemão bem como incorporando às suas lições
o que mais fecundo produziu a chamada tradição marxista, os
autores fornecem os elementos principais para o debate sobre as
condições de existência do capitalismo e, o que é mais importante.
de sua superação rumo a uma organização societária onde o ser
social possa realmente ver-se emancipado dos processos alienan-
tes e potencialmente barbarizantes impostos pelo capital.

FILME/VÍDEO 01
Título: Germinal
Ano: 1993
Sinopse: durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram
explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições mise-
ráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os mora-
dores de uma grande mineradora, decidem realizar uma greve e
se rebelar contra seus chefes, causando o caos.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 101
FILME/VÍDEO 02
Título: O poço
Ano: 2019
Sinopse: Exibido pela Netflix, O Poço conta a história de um lugar
misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois
reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de
níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos
eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma
oportunidade de solidariedade
Link do vídeo: Disponível na Netflix

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 102
UNIDADE IV
O Assistente Social na Luta de Classes
Professora Esp. Irení Alves de Oliveira

Plano de Estudo:
● O que fazer profissional;
● Os quatro projetos profissionais;
● A escolha ético-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais;
● Respostas profissionais: tendências, limites, consequências e possibilidades não
exploradas.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o conceito do quefazer profissional;
● Contextualizar os quatros projetos profissionais
● Conceituar a escolha ética-política e teórico-metodológica frente
aos diferentes projetos profissionais;
● Apresentar as respostas profissionais, dentre as tendências,
limites, consequências e possibilidades que não foram exploradas.

103
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta quarta unidade vamos abordar temas relevantes em relação
ao assistente social na luta de classes, temas pelos quais te farão refletir sobre a prática
profissional como por exemplo o quefazer profissional; os quatro projetos, o porquê da
escolha ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes projetos profissionais e
as respostas sobre as tendências, limites, consequências e possibilidades não exploradas
e para entender melhor sobre esses temas foi preciso dividir esta unidade em quatro partes
e para dar embasamento utilizei como base central a teoria a autora Ana Maria de Vascon-
celos em seu livro “a/o assistente social na luta de classes: projetos profissional e mediação
teórica-prática” que recomendo a leitura para entender o que foi exposto nesta unidade.
Diante disso, destaco de forma breve o que irá encontrar nas quatros partes desta
unidade, sendo que na primeira apresentarei sobre a dúvida que se tinha após a regula-
mentação da profissão, era um misto de clareza com uma prática voltada para atender aos
interesses da sociedade capitalista e do Estado, nesta parte apresenta-se um antes de
depois do o quefazer profissional em relação ao Movimento de Reconceituação, um fato
que marcou a categoria. Na segunda parte serão apresentados os quatro projetos, sendo
que o primeiro é considerado o mais importante, pois aborda conceitos que vai de encontro
com o rompimento com a prática conservadora, os outros três projetos estão voltados para
a prática profissional, mas ainda encontram resquícios conservadores.
Já na terceira unidade serão destacados os motivos que levaram à escolha de duas
bases consideradas importantes para a fundamentação do projeto, sendo que o primeiro
está baseado nos preceitos éticos contidos no Código de Ética Profissional e o segundo
nas bases teóricas que proporcionam ao assistente social entender a realidade posta no
cotidiano. E por fim, a quarta parte traz quatro pontos importantes abordados em forma de
questionamentos para que possa refletir sobre o fazer profissional para que possa entender
toda a dinâmica que envolve o assistente social criando assim respostas no momento do
exercício profissional.
Espero que os conteúdos contidos nesta unidade possam te fazer refletir e entender
o contexto que o assistente social está inserido.

Bons estudos!

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 104


1. O QUE FAZER PROFISSIONAL ?

O termo “quefazer profissional” surge na Era Vargas, quando a profissão se con-


solida/regulamenta, estruturada por meio de um olhar mais perceptivo do que está exposto
na sociedade para atender aos interesses da ordem burguesa. Com isso, a inserção do
assistente social passa a ser sob o controle e a submissão da classe trabalhadora por
meio das instituições sociais criadas pelo Estado, mas que em alguns momentos tinha o
envolvimento da igreja católica nas ações realizadas.
No entanto, neste período, por mais que a profissão tivesse referências teóricas
da Europa voltadas para entender as relações sociais capitalistas, não se tinha grandes
investimentos teórico-metodológicos que privilegiasse o técnico-operativo com base argu-
mentativa, capaz de entender o processo social como algo mais complexo. Neste sentido os
comportamentos tornaram-se neutros, apresentando respostas prontas diante do problema
social exposto e, em algumas situações culpabilizando, responsabilizando ou individuali-
zando a classe “menos favorecida”, o que de certa forma fortalecia a ordem burguesa.
Neste período o “quefazer profissional” era organizado de forma fragmentada em
relação ao processo social, a questão social era entendida como algo natural e a cada
expressão posta na sociedade aplicava-se os métodos da Mary Richmond (estudo, diag-
nóstico, tratamento, avaliação e alta) de forma isolada. Ou seja, eram realizados em uma
pessoa e/ou família, entendo que o problema poderia ser apenas um e/ou um conjunto.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 105


Para resolver o problema teria que tratar no individual e, com isso, fragmentava o processo
social, separando os fatos ocorridos do contexto histórico.
Caro(a) aluno(a), se recapitular a trajetória do Serviço Social no Brasil – desde o
processo de industrialização até os dias atuais, observará que a sociedade, de forma geral
– Estado, sistema capitalista, processos de trabalho, trabalhadores, profissões e profissio-
nais, inclusive o Serviço Social e assistentes sociais –, passaram por grandes mudanças,
havendo a necessidade de se atualizar e/ou modernizar a partir do contexto histórico atual.
Diante dessas mudanças, tanto o pensar quanto o quefazer profissional precisou passar
por esse processo de atualização e modernização que apresentarei no quadro a seguir.

QUADRO 1 - O QUE FAZER PROFISSIONAL - ANTES DE DEPOIS

Antes dos anos de 1960/1980 Depois dos anos de 1960/1980


*Terapia comunitária, familiar, de idosos, de trabalhadores apo-
sentados ou em processo de aposentadoria, dependentes quí-
micos etc.
*Utilização de instrumentos; recursos e técnicas como: estudos
socioeconômicos, genograma, cadastramentos, operação de
*Tratamento de casos, grupos e co- sistemas informatizados (comunicação e gerenciamento de in-
munidades formações).
*Dinâmicas de grupos e processos (des) educativo, tais como:
educação ambiental; orientação burocrática de acesso a políti-
cas/programas/benefícios e cumprimento de condicionalidades,
de regras, códigos de conduta e disciplina empresariais; avalia-
ção funcional/para contratação etc.

Fonte: Vasconcelos (2017, p. 281).

É evidente que houve uma mudança grandiosa em relação ao quefazer profissional,


pois antes se tinha um modelo reproduzido no estudo, diagnóstico, tratamento, avaliação
e alta baseado no método clínico de Mary Richmond, que tem na base dos estudos o
tratamento de doenças na concepção de saúde com falta de doença.
Nesse sentido, o Serviço Social de Caso acabou sendo resumido no estudo dos
problemas sociais de um indivíduo, ampliando para um caso social apresentando um plano
de tratamento, sendo diagnosticado a partir do desenvolvimento e das potencialidades, por
meio das entrevistas e acompanhamento para que o indivíduo pudesse resgatar a sua au-
toestima e, somente após apresentar uma melhora do comportamento é que o profissional
poderia dar alta e se analisasse necessário daria continuidade ao tratamento, dependendo
do grau de evolução.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 106


A partir da intenção de ruptura e o processo de renovação, o estudo “caso social”,
que era utilizado no Serviço Social conservador e tradicionalista, deixa de fazer parte do
quefazer profissional, porém pode ser encontrado no cotidiano dos profissionais que atuam
em hospitais emergenciais. Isso pode ser um retrocesso para a categoria, uma vez que
esse método não tem uma base profunda em relação ao todo, no entanto cabe ao assis-
tente social identificar e melhorar o seu processo de atuação a partir da nova concepção
do Serviço Social.
Nos dias atuais, o quefazer profissional deve estar incorporado nas diferentes
demandas e segmentos da classe trabalhadora, por meio das políticas públicas e na luta
contra a opressão e discriminação, além da busca pela democracia e emancipação huma-
na, entendendo a dimensão da exploração do trabalho da grande parcela da sociedade e
a concentração de riqueza da pequena parcela, tendo a noção de que o usuário do serviço
que está inserido é sujeito de direitos.
O que fazer profissional atualmente apresenta muitos avanços, tendo o profissional
o papel de estudar continuamente, além de pesquisar, planejar e executar políticas públi-
cas e sociais. A parte técnica conta com instrumentos importantes, como: laudos; perícias;
pareceres; estudos sociais; visitas domiciliares; entrevistas. Além da realização de preen-
chimento de cadastro; acolhimentos; orientações; encaminhamentos, terapias (familiares e
comunitária); projetos sociais; participação em movimentos sociais, entre outros que fazem
parte do quefazer do assistente social.
É evidente que as mudanças dentro da categoria profissional, principalmente no
quefazer profissional deu-se por meio dos avanços adquiridos ao longo dos debates que
aconteceram entre os anos de 1960 a 1980. Considerado por muitos profissionais como um
marco para a categoria, que saiu de um método mais centralizado, ampliando os horizontes
e entendendo o papel da profissão na sociedade, principalmente pelo fato de que antes
buscava atender os interesses da sociedade capitalista e do Estado e hoje busca pela
liberdade, democracia e emancipação humana, na luta pela garantia dos direitos.
Cabe destacar que o quefazer profissional, assim como os demais atributos do
assistente social, precisa estar em constante mudança. Sempre evoluindo e melhorando
as forças do que deve ser feito e como deve ser feito, nunca perdendo o compromisso
ético, político e metodológico que envolve os profissionais, tendo a capacidade de decifrar
a realidade social posta no cotidiano nos diversos campos de atuação.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 107


2. OS QUATROS PROJETOS PROFISSIONAIS

Caro(a) aluno(a), o desenvolvimento do Serviço Social no contexto histórico brasi-


leiro foi importante para a consolidação da categoria profissional. Entre os anos de 1960 a
1980 houve muitas atualizações, principalmente na parte teórica e prática que envolve os
profissionais; os projetos contribuíram para tal feito por meio de destinos históricos diferentes.
Segundo Vasconcelos (2017, p. 293), “as fronteiras teóricas e ético-políticas entre
esses projetos são bem delimitadas, a depender das referências teóricas e ético-políticas
que os sustentam e que sustentam os sujeitos profissionais”, isso porque os projetos ainda
tinham o caráter conservador, com exceção do primeiro projeto – que irei abordar a seguir.
Este é considerado pela autora como o único projeto anticapitalista, abordando caracterís-
ticas para romper com o conservadorismo.
Os demais projetos são importantes quando se analisa a perspectiva do cotidiano
e da prática. Em resumo, os projetos apresentados de certa forma destacam características
importantes em relação às estratégias, habilidades e recursos essenciais para o profissional.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 108


2.1 Projeto Com Influência da Tradição Marxista

Segundo Netto (1999), este projeto originou-se do processo de enfrentamento e


denúncia do conservadorismo, iniciado durante o período de transição das décadas de
1970 para 1980 com a ruptura intencional. Em seu desenvolvimento e no processo de
integração política teórica e ética, o projeto foi denominado Projeto Ético Político Profissio-
nal do Serviço Social Brasileiro, na década de 1990, estando vigente até a data presente,
baseado nos princípios do Código de Ética Profissional do Assistente Social; no processo
de formação - Diretrizes curriculares da ABEPSS e na Lei que regulamenta a profissão –,
abordando de forma explícita a referência teórica social crítica de Karl Marx.
Caro(a) aluno(a), é importante destacar que os 11 princípios contidos no Código de
Ética são os referenciais teórico-metodológicos e técnico-operacionais contidos no progra-
ma de formação apresentado pela ABEPSS (1996). Podemos compreender os aspectos
de socialização, emancipação, revolução e anticapitalismo contidos no projeto, que tem
como propósito superar o conservadorismo histórico enraizado na profissão, fortalecendo
a ruptura, principalmente com a ordem burguesa, tendo a emancipação humana como um
dos objetivos principais para a concretização do Projeto Ético Político.
Esse projeto profissional proporciona uma elaboração orgânica e substantiva da
pesquisa e geração de conhecimento, pois a pesquisa é o elemento básico do papel da
distribuição e integração profissional. Nesse sentido, além do uso adequado do conhe-
cimento histórico e da socialização dos resultados da pesquisa realizada por assistentes
sociais, é necessário encontrar meios, canais e métodos para sintetizar o progresso como
um todo, principalmente nas realizações e nos avanços dos pesquisadores em relação à
parte teórica técnico operativo

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 109


todo/a assistente social, no seu campo de trabalho e intervenção, deve de-
senvolver uma atitude investigativa: o fato de não ser um/a pesquisador/a
em tempo integral não o/a exime de querer de acompanhar os avanços dos
conhecimentos pertinentes ao seu campo trabalho, quer de procurar conhe-
cer concretamente a realidade da sua área particular de trabalho. Este é o
principal modo para qualificar o seu exercício profissional, qualificação que,
como se sabe, é uma prescrição do nosso próprio Código de Ética (NETTO,
2009, p. 20).

Neste sentido, o projeto profissional impõe vínculos com movimentos, lutas sociais
e organizações representativas de trabalhadores de diferentes classes para fortalecer a
formação, mobilização e organização dos trabalhadores, apoiando as lutas coletivas anti-
capitalistas e emancipatórias.
Portanto, por meio do Projeto Ético Político do Serviço Social brasileiro, uma série
de teorias, metodologias e referenciais éticos políticos sustentam toda a ação do profissio-
nal que busca pela hegemonia da direção social voltada para o Serviço Social.
Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro —, que tem sua substância
na legislação (Código de Ética, Lei de Regulamentação da Profissão [Lei n.
8.662/1993] e Projeto Formação ABEPSS); na produção de conhecimento
que alcança, para além da petição de princípios, ser mediada pela teoria
social crítica; nas práticas profissionais e políticas mediadas pelo projeto e
na luta política da categoria, capitaneada pelos seus organismos de repre-
sentação (Conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO) (VASCONCELOS,
2017, p. 299).

Em síntese, esse é o projeto que sempre orientou os debates teóricos e manteve a


hegemonia, estando presente na luta política e no processo organizativo profissional. Seu
maior desafio é não ter mediado ou estar mediando a maioria das práticas profissionais, in-
dependente do campo de atuação, também instaurada na formação profissional, conforme
evidenciado em múltiplos estudos sobre a idade da formação e da atuação profissional dos
assistentes sociais brasileiros.

2.2 Projeto de “Cariz Tecnocrático”

Esse projeto herdou a perspectiva modernizadora dos anos de 1960 a 1970 e “re-
novada pela ofensiva neoliberal e reciclada por outras teorias sistêmico- organizacionais,
que lhe oferecem cauções para a sua inserção nas instituições diretamente controladas
pelo capital” (NETTO, 1996, p. 126).

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 110


De acordo com Silva (2017, p. 68), esse projeto, denominado por Netto como mo-
dernizadora, dispõe de um eixo estruturante definido atualmente como “fiel depositária do
legado modernizador”. Tem como uma das questões centrais a “integração empreendedora
dos indivíduos”, ou seja, possibilita o empoderamento do indivíduo tendo-o de modo central
por meio das suas virtudes, “ressaltando traços nitidamente meritocráticos”.
Neste sentido, Vasconcelos (2017, p. 301 ) destaca que o conhecimento a ser ad-
quirido para o exercício profissional deve estar voltado para o “empoderamento, população
de risco, capital humano, capital social, exclusão social, fragilização de vínculos afetivos,
famílias vulneráveis, caso social”, concepções de reciclagem e continuidade baseados em
conceitos pós-modernos que rejeitam visões holísticas e refletem sugestões neoliberais
que auxilia em alcançar o desempenho profissional.
Com isso, Silva (2017, p. 68) enfatiza que o “cariz tecnocrata denúncia o profissional
a ser formado: o técnico bem adestrado, aqui entendido como aquele que deve conhecer o
necessário para sistemicamente e criativamente operar o instituído, dinamicamente adap-
tado às fronteiras institucionais”. Ou seja, esse projeto apresenta que a prática precisa ser
realizada de forma técnica e mecanizada, seguindo aquilo que foi solicitado pelo empre-
gador e atendendo somente o necessário, de forma sistematicamente e organizada. Neste
sentido, não se pode retroceder às práticas realizadas com o método da Mary Richmond.
Caro(a) aluno(a), não quero aqui enfatizar que esse método não foi importante para a
categoria da época, mas atualmente não se deve aplicar, devendo ter o entendimento das
bases teóricas na atualidade.
Além do destaque sobre o “técnico adestrado”, há outro ponto que marcou esse
projeto, que foi a submissão de muitos profissionais à ordem do capital. Segundo Silva
(2017, p. 68) não foi encontrada nenhuma indagação sobre a estrutura da ordem burgue-
sa, mas as “inevitáveis tensões causadas por desarranjos momentâneos racionalmente
e tecnicamente administrados”, o que aproxima esse projeto para uma próxima vertente,
respondendo as contradições ontológicas enraizadas na sociedade capitalista.
Para Vasconcelos (2017, p. 301), esse ponto deve seguir “noções recicladas e
sustentadas em concepções pós-modernas que, recusando a perspectiva de totalidade,
refletem propostas neoliberais que facilitam o caminho para uma atuação profissional”.
Ou seja, é necessário que os profissionais estejam concentrados nos problemas sociais
imediatos com foco no indivíduo e/ou grupo que estejam em situações de vulnerabilidade,
tendo a noção que ao mesmo tempo que tem respostas sobre as questões do capital deve
disponibilizar acesso aos direitos, fortalecendo o coletivo.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 111


De acordo com a autora supracitada, um projeto é determinado pela maioria dos
profissionais não por causa de uma escolha consciente, mas porque, em alguns casos, eles
precisam se definir por meio de uma determinada direção e a escolha do projeto deve estar
alinhado com o seu compromisso, no caso dos assistentes sociais com os trabalhadores/
usuários do serviço que está vinculado. É nesse contexto, e entendo a funcionalidade da
sociedade capitalista, que o projeto cariz tecnocrático tem permeado, ou seja, na luta de
classes, por meio da prática cotidiana, que deve ter a necessidade de buscar nas teorias
o saber da prática. Profissão por meio da formação continuada, tendo a certeza do dever
cumprido em meio a sociedade,e não devendo ser braços da classe dominante seguindo a
prática conservadora.

2.3 Projeto Assentado numa “Vertente Neoconservadora”

Segundo Netto (1996), esse projeto é inspirado na epistemologia pós-moderna,


seguindo a tendência popular das chamadas ciências sociais. Sua chave é revisar os
fundamentos da conquista anti-conservadora na década de 1980, promovendo uma reen-
tronização nas práticas tradicionais, dotá-las de um discurso legalizado de caráter cultural,
estimular e apoiar os apelos da sociedade civil à cidadania e realizar ações-chave no âmbito
das petições de solidariedade e parceria de todos os níveis.
Essa perspectiva é a preferida — nem sempre conscientemente — de parte
expressiva dos assistentes sociais, principalmente, de grande parte dos que
tomam como objeto de investigação e/ou priorizam, na atuação profissional,
questões relacionadas à raça, etnia, gênero, geração e orientação sexual
(VASCONCELOS, 2017, p. 304).

Neste sentido, no âmbito da produção do conhecimento, os assistentes sociais, que


se referem num conceito pós-moderno, partem da crítica ao marxismo por não entender
ou dar resposta às peculiaridades do indivíduo, influenciando e favorecendo o mesmo
posicionamento dos assistentes sociais que escolhem essa mesma direção social nas
atividades profissionais. Já na prática profissional, a referência também vem de uma com-
preensão não crítica a partir da noção fundamentada de modismos e facilitadores, vendo o
Serviço Social Clínico e suas ramificações, que atualmente estão sendo difundidos no campo

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 112


das políticas de assistência social por meio do uso extensivo de terapia comunitária, terapia
familiar e ferramentas como o genograma. Neste caso são assistentes sociais que aderem o
psicossocial como função e não como campo ou área de atuação (VASCONCELOS, 2017).
De acordo com a autora supracitada, esses profissionais que realizam as suas
atividades na terapia familiar e comunitária têm como foco o tratamento social e/ou de
doenças físicas ou mental de indivíduos e famílias e utilizam a psicologia social como fun-
ção em vez do campo de atividade; realizam atividades de maneira humana e entusiástica
e frequentemente usam a prevenção de possíveis crises familiares no processo de recupe-
ração e revitalização, focalizando e/ou influenciando os indivíduos, não somente no alívio
da pobreza e do sofrimento, mas também no desemprego, na violência, a ignorância e a
subjetividade incompleta, que são frutos da lógica capitalista.
Em outras palavras, esse comportamento intencional não só leva a buscar pela
cidadania para compensar a pobreza e o sofrimento, mas também conquista os direitos
ocultados pela exploração do trabalho, advinda da produção de riqueza gerada pela so-
ciedade capitalista. Ou seja, compensar a pobreza e o sofrimento no sentido de “salvar as
coisas bonitas da pobreza” é uma característica típica da mídia burguesa, no sentido de
embelezar, ocultar e encobrir a pobreza ou o sofrimento material e espiritual.
Uma das maiores contradições do assistente social é afirmar uma opção pelo
projeto profissional e reclamar, ao mesmo tempo e/ou como finalidade, ações
que buscam: “remover bloqueios” ao desenvolvimento individual; a prevenção
“como um processo restaurador e revitalizador das possíveis crises familiares
e conjugais” ou pessoais; “liberar potencialidades com base na utilização de
recursos próprios ou do meio”, tendo em vista o “aperfeiçoamento do usuário”
e “comportamentos que facilitem a relação entre casais e famílias” (VASCON-
CELOS, 2017, p. 311).

Ora, se sabemos que, numa sociedade capitalista, a verdadeira relação entre


os diferentes estratos da classe trabalhadora (os pobres e os miseráveis ​​que entram no
mercado de trabalho formal ou informalmente ou separados dele) não funciona e jamais
desempenha um papel subjetivo de prosperidade e libertação, sujeito a condições destruti-
vas insustentáveis, exploração e mutilação, como discutimos no início. Neste sentido, como
encontrar recursos e potencialidades em áreas nas quais a sociedade ainda não investiu?
O que nos leva a compreender que o Serviço Social clínico pode até demonstrar um certo
desejo de aliviar o sofrimento do ser humano, mas não vai até a raiz deste sofrimento
eliminando a causa. O assistente social deve ficar atento às bases teóricas aprendidas para
não cair nas armadilhas das práticas tradicionalistas que não pertencem mais ao seio do
Serviço Social atual.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 113


2.4 Projeto que Constitui Uma “Vertente Aparentemente Radical”

De acordo com Vasconcelos (2017), mesmo partindo dos princípios básicos do


Código de Ética, neste caso, de uma perspectiva fragmentada, a intenção do projeto
cancela abertamente as qualificações de “teorização sistemática e pesquisa rigorosa”
dessa perspectiva. Netto (1996) destaca que há estrutura em múltiplas razões, seja no
anticapitalismo romântico, inspiração religiosa ou na glorificação do conhecimento popular
do povo. Os valores que clamam pela unidade até os dias atuais estão perdendo o centro
do catolicismo, seja na rejeição implacável da universalidade da modernidade, no irraciona-
lismo aberto, ou no relativismo mais importante.
Neste ponto, parece ser uma das questões centrais desta vertente, ou seja, a refe-
rência da religião, tendo como meta a humanização do capitalismo e o reformismo que nem
sempre se apresentou de forma clara e consciente na busca de consenso na desigualdade.
Segundo Vasconcelos (2017) os assistentes sociais que priorizam esse projeto
nem sempre estarão atuando de forma consciente, isso porque poderão ser movidos pe-
las coisas, ou por uma fonte de pensamento radical. Se por um lado assumem, investem
e priorizam tradições revolucionárias, por outro lado não vão questionar e/ou encobrir a
exploração do trabalho e a concentração da riqueza, não vão justificar a propriedade so-
cial dos meios básicos de produção, portanto, não estão comprometidos com um sistema
econômico sem exploração de classes, raças e gêneros e não há união de pessoas livres
e emancipadas.
Neste sentido, se levar em conta o pano de fundo ou negar a luta entre os trabalha-
dores e o sistema capitalista é a mesmo que negar toda a luta de classes que já aconteceu
no contexto histórico. Com isso o movimento de libertação da luta contra o “capitalismo sel-
vagem” é visto como o caminho para a libertação, buscando a humanização do capitalismo,
não na luta contra este sistema, mas na luta daqueles que necessitam, além da defesa do
meio ambiente. Não na tradição do socialismo ecológico, mas na prévia das características
das classes, mas na busca pela garantia dos direitos daqueles que reivindicam.
Mészáros (2005) destaca que na luta anticapitalista não se pretende promover a
despolitização e a compensação da transição de classe do objeto, eles precisam mediar bem

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 114


seu trabalho, porque sua vitória final é por meio da hipoteca do trabalho, como uma atividade
humana autorrealizável e educação para a libertação, a menos que acreditemos que não haja
generalização do trabalho como atividade humana auto realizável a libertação é possível.
De acordo com Vasconcelos (2017), Harvey chamou a atenção para como as lutas
setoriais, que não constituem o anticapitalismo, em última instância, endossam o capital.
Ao falar sobre os marxistas, eles mencionaram que os obstáculos naturais são a segunda
contradição do capitalismo.
[...] mas há sempre um perigo em subestimar limites naturais supostamente
“puros” em detrimento da concentração sobre a dinâmica capitalista que é
a força das mudanças ambientais em primeiro lugar e das relações sociais
(de classe em especial) que movem essas dinâmicas em certas direções
ambientalmente perversas.A classe capitalista, é óbvio, está sempre feliz,
nesse ponto pelo menos, de ter seu papel descolado e mascarado por uma
retórica ambientalista que não a toma como criadora do problema. Quando
os preços do petróleo subiram no verão de 2008, foi útil reclamar da escassez
natural, quando as companhias petrolíferas e os especuladores eram os cul-
pados (HARVEY, 2011, p. 69-70 apud VASCONCELOS, 2017, p. 316).

Numa perspectiva holística, considerando que existe apenas um projeto de tradição


marxista, como o Projeto do Serviço Social Brasileiro, essas questões só podem ser enten-
didas em suas múltiplas decisões. Além de seu evidente radicalismo, dado o crescimento
obrigatório do capital anualmente para garantir o processo de acumulação, esse processo
espalha suas consequências por toda a vida social.
Nesse sentido, o projeto profissional deve ser baseado na perspectiva marxista,
pois nos permite mergulhar na raiz do problema, obrigando-nos a questionar sobre o en-
volvimento dos assistentes sociais e demais profissionais nas consequências humanas,
sociais, econômicas, ambientais e culturais da humanidade.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 115


3. A ESCOLHA ÉTICO-POLÍTICA E TEÓRICO-METODOLÓGICA FRENTE A
DIFERENTES PROJETOS PROFISSIONAIS
Escolher conscientemente ou se “enquadrar” numa das linhas de desen-
volvimento indicadas antes, as quais raramente se constituem em projetos
claros e definidos como o projeto assentado na perspectiva marxista, não
faz de um assistente social melhor ou pior do que qualquer outro indivíduo
social/profissional. A coragem e a boa intenção estão presentes na vida social
em tudo, mas elas em si mesmas não garantem objetivações idealizadas,
principalmente, se contrárias e inconvenientes aos interesses do capital
(VASCONCELOS, 2017, p. 317).

Caro(a) aluno(a), não existe projeto certo ou errado, muito menos criticar outro pro-
fissional por achar que escolheu o projeto que não vai de encontro com o que a categoria
e/ou você escolheu para seguir. Lembre-se, os projetos apresentados foram idealizados
por profissionais que se aprofundaram em bases teóricas a partir do contexto histórico da
época vivida, cabendo a nós (e incluo você, pois será um(a) futuro(a) assistente social)
entender cada projeto, mas não seguir preceitos que não condizem com as bases teóricas
e metodológicas da profissão. Como destacado pela autora supracitada, a partir de uma
das obras de José Paulo Netto, ter “consciência política não é o mesmo que consciência
teórica”, ou seja, é preciso conhecer e se aprofundar nos estudos apreendidos, tendo a
consciência das bases teóricas, pois só assim poderá atuar de forma consciente e crítica,
sem julgamentos desnecessários.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 116


Como já referimos, aquelas linhas de desenvolvimento do Serviço Social,
como afirma Netto, não são excludentes. Como antecipado pelo autor, elas
se cruzam, se complementam, se imbricam, se aliam e se interpenetram. A
novidade, obscurecida no âmbito da luta pela manutenção da hegemonia do
projeto profissional, fica por conta de segmentos da categoria que, afirmando
tomar o projeto profissional como referência, no que o fazem ecleticamente,
se põem em aliança com perspectivas que negam não só seus princípios
fundamentais, mas suas referências teórico-metodológicas e, muito frequen-
temente, técnico-operativas (VASCONCELOS, 2017, p. 318).

Ou seja, os quatro projetos apresentados, de certa forma, foram importantes para


a categoria, pois a finalidade era buscar por um projeto profissional que fosse favorável
aos interesses da classe trabalhadora. No entanto deve-se ficar atento para não cair nas
armadilhas do conservadorismo, uma prática já rompida pela categoria profissional, mas
que encontra requisitos no segundo, terceiro e quarto projetos já apresentados.
Neste sentido, o projeto profissional que muitos autores abordam é o projeto com
teor marxista e, se recapitular o que foi estudado na segunda unidade desta apostila, obser-
vará que desde o Movimento de Reconceituação já era debatido sobre as bases teóricas de
Karl Marx, principalmente na análise teórica-crítica voltada para o processo de formação,
das bases teóricas e metodológicas e da prática profissional.
Para que os assistentes sociais possam atender aos requisitos, é necessário pro-
blematizar de forma sistemática as práticas diárias numa perspectiva holística. Para que as
possibilidades teóricas sejam mantidas pelos projetos profissionais, baseados em projetos
emancipatórios é imprescindível ter o entendimento que não sejam confundidos com falsas
promessas, ou seja, que precisa de algo eficaz para que se tenha uma visão mais aberta
e persistentes em relação ao marxismo, tendo a “fundamentação histórica-concreta que as
atualize e as promova no jogo de forças sociais vivas, organizadas e conscientes dos seus
interesses” (VASCONCELOS, 2017, p. 321).
De acordo com Netto (1996), somente um ponto de vista teórico crítico é que pode
compreender os movimentos históricos envolvidos na transformação social atual, bem
como seus efeitos negativos causados pelas diversas expressões da questão social. Além
do ponto de vista relacionado aos projetos sociais anticapitalistas sem romantismo utópico,
que pode garantir a sociedade um componente libertador e ao profissional meios para
entender o contexto como um todo, analisando de forma crítica e analítica, fundamentada
nos conceitos teóricos metodológicos de forma ética política.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 117


3.1 Por que Ética-política e Teórico-metodológica?

Caro(a) aluno(a), acredito que você deve estar se perguntando por que da escolha
ética-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais.
Ora, ao optar pelo projeto profissional, os assistentes sociais precisaram entender
a dimensão da profissional, tendo a escolha ético-política, que destaca o compromisso que
a categoria assumiu frente a classes trabalhadora por meio da transformação social, e a
teórico-metodológica, relacionada à fundamentação do referencial teórico que envolve a
categoria profissional, abordando todo o conhecimentos já adquirido ao longo dos grandes
debates idealizados pela categoria, orientando os profissionais em relação à prática e ao
fazer profissional.
Ambas dimensões são consideradas de extrema relevância para a categoria frente
aos diferentes projetos mencionados anteriormente e, ao longo da trajetória do Serviço
Social no Brasil, trouxeram grandes reflexões para se chegar ao projeto profissional ideal.

SAIBA MAIS

Caro(a) aluno(a), o tripé que sustenta o projeto profissional é: Código de Ética Profissio-
nal, Lei de Regulamentação da Profissão e as Diretrizes Curriculares.

Fonte: a autora.

De acordo com a Iamamoto (2012, p. 77), “ o Código de Ética nos indica um


rumo ético-político, um horizonte para o exercício profissional”, mas que pode conter um

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 118


grande desafio caso a conduta profissional não se materialize aos princípios éticos no seu
cotidiano. Neste sentido, para a autora, o profissional precisa evitar que se “transforme em
indicativos abstratos, deslocando do processo social”. Com isso, podemos destacar que a
ética deve ser entendida pelo profissional como valor central, tendo o compromisso com a
liberdade, a democracia e a emancipação humana, fatos importantes e previstos no Código
de Ética. O profissional que seguir esses preceitos terá “repercussões efetivas nas formas
de realização do trabalho profissional e nos rumos a ele impressos”.
Para a autora supracitada, esse rumo ético-político requer um profissional mais
informado, ou seja, com conhecimento de forma crítica, que seja competente e culto em
relação à postura mediante as situações relacionadas. Neste sentido, é preciso romper com
ideias que não têm relação com o fazer profissional (a autora utiliza o termo “teoricismo”),
quebrando com a corrente de ideias e/ou doutrinas que não tiveram êxito na categoria.
Poderia até ter sido importante para dar embasamento às teorias utilizadas pelos profissio-
nais atualmente, mas não é utilizada de forma pragmatista, o que acaba aprisionando os
profissionais na prática de “fazer por fazer” para atender a interesses imediatistas.
Por outro lado, o requisito que se deve adotar é de decifrar o processo social, suas
desigualdades e a estratégia de ação para enfrentá-los, pressupondo a habilidade teórica
a realidade posta no cotidiano, tendo a capacidade técnica e ético-política do “como fazer”
a “o quê fazer”, sem ignorar suas raízes em meio ao processo social.

REFLITA

Os princípios constantes no Código de Ética são focos que vão iluminando os caminhos
a serem trilhados, a partir de alguns compromissos fundamentais acordados e assumi-
dos coletivamente pela categoria. Então ele não pode ser um documento que se “guarda
na gaveta”: é necessário dar-lhe vida por meio dos sujeitos que, internalizando o seu
conteúdo, expressam-no por ações que vão tecendo o novo projeto profissional no es-
paço ocupacional cotidiano.

Fonte: Iamamoto (2012, p. 78).

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 119


Caro(a) aluno(a), mediante tudo o que já estudou até aqui e ao recapitular em
outras disciplinas, observará que o Serviço Social, ao longo de sua trajetória, não dispõe
de métodos e teorias próprias. Por ser uma profissão inscrita na divisão social e técnica do
trabalho, é fundamental que se tenha uma matriz teórico-metodológica que possa viabilizar
aos profissionais uma leitura crítica da realidade social, fornecendo subsídios e princípios
para a intervenção.
Tendo em mente que o teórico-metodológico não se trata de um script sobre as
estratégias técnicas e o procedimento que o assistente social deve seguir à risca, mas é
importante entender a realidade que está posta na prática cotidiana, por meio de uma base
teórica que apresenta de forma metodológica as contradições, bem como as tendências e
as relações sociais, criando um nível de pensamento e de ideologias que seja considerado
fundamental para um posicionamento crítico.
Neste sentido, o teórico-metodológico vai além dos procedimentos, técnicas
e estratégias que o assistente social pode realizar, que, para Iamamoto (1994, p. 174),
refere-se ao “modo de ler, de interpretar, de se relacionar com o ser social; uma relação
entre o sujeito cognoscente – que busca compreender e desvendar essa sociedade – e o
objeto investigado”. Portanto, está intimamente ligado à forma de explicar a sociedade e
os fenômenos que a constitui; isso significa a aplicação da teoria e os ângulos visíveis da
leitura social para explicar os problemas sociais.
Caro(a) aluno(a), as bases do teórico-metodológico estão previstas na proposta da
ABEPSS de 1996, Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, que define a formação
profissional, além do ético-político e o técnico-operativa, destacado da seguinte forma:
A competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política são
requisitos fundamentais que permite ao profissional colocar-se diante das
situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza os projetos
societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de trabalho
(ABEPSS, 1996, p. 13).

É neste sentido que podemos destacar o motivo do Projeto Ético Político com
influência na tradição marxista ser o projeto escolhido pela categoria, primeiro porque esse
projeto tem em suas bases o tripé profissional – o Código de Ética Profissional, as Diretri-
zes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão –, sendo o eixo para as dimensões
ético-política e teórico-metodológica e também a técnico-operativa, que não está prevista
nos demais projetos.
Portanto, o projeto com influência da tradição marxista (Projeto Ético Político) acabou
sendo escolhido pela categoria, não simplesmente pelo fato de destacar como um projeto
anticapitalista, mas porque aborda as características para romper com o conservadorismo.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 120


Tendo um amadurecimento nas bases: teórico-metodológico e ético-político do Serviço So-
cial, que direcionou a categoria para a construção do projeto profissional, comprometidos
com os valores da emancipação humana, a liberdade e a democracia, repudiando todas as
formas de exploração e preconceito, posicionando em favor da classe trabalhadora.
De acordo com Vasconcelos (2017, p. 336), “consolidar o projeto profissional na
formação e na prática exige redirecionar a produção de conhecimento da área, tendo em
vista a possibilidade de potencialização das lutas sociais”, e isso certamente impactará o co-
tidiano dos assistentes sociais. Para realizar esse redirecionamento, é necessário entender
o projeto profissional em toda a sua substância, o que requer priorizar ações conscientes,
críticas, criativas e reflexivas junto à classe trabalhadora, na produção de conhecimento,
seja na prática docente, nos atendimentos com os usuários e/ou na gestão de algum projeto
social, sendo necessário conhecer a realidade que está inserido, entendendo a dimensão
do projeto profissional mediante à sociedade.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 121


4. RESPOSTAS PROFISSIONAIS: TENDÊNCIAS, LIMITES, CONSEQUÊNCIAS E
POSSIBILIDADES NÃO EXPLORADAS

Caro(a) aluno(a), os pontos abordados nesta parte da unidade são um resgate do que
já foi apresentado anteriormente, mas olhando para alguns pontos em destaques levando-o(a)
à reflexão sobre a prática profissional. Pontos estes muito bem destacados por Vasconcelos
(2017), que utilizaremos para nos aprofundar nos limites e consequências que acarretam a
profissão, bem como as tendências e possibilidades que ainda não foram exploradas, mas
que devem ser avaliadas pelos profissionais engajados com a prática profissional.
Assim, apresentarei alguns questionamentos, com a finalidade de que possa bus-
car respostas quanto ao fazer profissional, entendendo que a profissão está inscrita na
divisão social e ética do trabalho. Por mais que seja uma profissão liberal, faz parte da
classe trabalhadora, considerada também como uma assalariada, mas que tem uma práxis
social que se difere dos demais trabalhadores e profissionais. Cabe destacar que a postura
ética, o aprofundamento teórico e comprometimento com a prática profissional é o que irá
diferenciar dos demais profissionais até mesmo dentro da própria categoria e, para isso, é
preciso refletir acerca do seu papel na sociedade.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 122


4.1 Limites e Consequências

Caro(a) aluno(a), existe uma cultura dentro da própria categoria, que, devido à pro-
fissão possuir o menor valor, deve se submeter aos diversos pedidos advindos de outros
setores e/ou da chefia. Mesmo não indo ao encontro do “quefazer profissional” da atualidade,
muitos profissionais acabam tendo medo e/ou receio de falar e/ou se expressar como deve-
riam. Esse posicionamento, infelizmente, pode se enraizar desde o momento da graduação,
se prolongando para o exercício profissional, isso porque há uma disputa de poder, dentro da
própria categoria, para se manter no cargo, principalmente cargos elevados.
Para que fique claro o contexto acima, seguimos com a seguinte situação: um
profissional recém formado se depara com uma chefia burocrática e autoritária, que não
possibilite-o a criar, planejar e executar a sua função como deveria dentro de uma deter-
minada política/serviço e mediante a uma gestão ultrapassada acaba limitando este profis-
sional recém contratado para realizar as funções básicas e/ou a um exercício de práticas
assistencialistas, fica nítido que não conhece o que o assistente social de fato faz.
Neste caso é importante ter em mente as habilidades e competências, a dimensão
teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo e os deveres e obrigações do assis-
tente social, além do toda a base teórica e metodológica que rege a profissional deve fazer
parte do cotidiano, mostrando a importância do profissional dentro daquela política/serviço
e lutando pelo que acredita ser o melhor e isso é claro baseado na garantia dos direitos
humanos e sociais.
O que nos leva a refletir, será que aceitar todas as solicitações, mesmo que vá
contra ao que está previsto no Código de Ética e/ou torcer pela troca da chefia ou ainda não
realizar o que lhe é solicitado e criar um combate ou disputa de poder é a melhor solução?

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 123


Certamente, gostaria de ter uma resposta pronta ou um manual para lhe auxiliar
quando essa situação acontecer, mas, de fato, nós enquanto indivíduos somos livres para
escolher “o que” e “como” devemos nos comportar e agir diante de uma situação.
Ora, caro(a) aluno(a), não é uma tarefa fácil, mas devemos ter em mente que,
o que determina ser um bom assistente social são as escolhas e atitudes que tomamos
baseadas no caráter ético e comprometido para com a sociedade.
Neste sentido, devemos levar em consideração que, somos profissionais que
atuam frente às diversas expressões da questão social e o fato de não compreender a si-
tuação vivenciando no cotidiano, poder gerar um desconforto e assim criando um limitador,
principalmente se não souber lidar com situações advinda de chefia que cria barreiras em
relação ao fazer profissional. Neste ponto, adquirir uma postura pela qual busca por poder
ou criar um combate de fato não é o melhor caminho para se chegar a uma solução, para
isso, é preciso entender todo contexto e buscar o que é melhor para todos e claro realizar
um trabalho transparente e ético.

REFLITA

Somente por meio de alianças entre os próprios assistentes sociais, incluindo aqueles
que possuem cargo elevado, é que podemos enfrentar coletivamente os desafios en-
contrados na prática diariamente.

Fonte: a autora.

De acordo com Vasconcelos (2017) sob a orientação do projeto profissional, face


aos inúmeros e complexos conflitos de interesses, o desafio é conscientizar todos os
assistentes sociais sobre o seu papel e dar respostas precisas e necessárias. Além de
questionar a demanda imediatista, que muitas vezes é atendida devido às exigências da
instituição pela qual está inserido.
Tendo a ciência que existem muitas contradições no campo da luta de classes e que
precisamos entender os problemas decorrentes das diferentes expressões da questão social
e alcançando o consenso para atender esses problemas e desenvolver comportamentos e
atitudes que acaba conduzindo a lidar com os conflitos inerentes à relação vivenciada.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 124


É importante ter em mente que os limites podem ser um problema diante desse
complexo de interesses e disputas. Nesse caso, o desafio é dificultar os acessos e as ne-
cessidades imediatas advindas pelos usuários do serviço que está inserido. É fundamental
que se tenha uma postura coerente com o que está previsto no projeto profissional, que,
por muitos anos, foi discutido e debatido pela categoria, que tem em sua base o tripé da
profissão e a liberdade, democracia e emancipação humana.
Acredito que você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com as res-
postas pela qual busca sobre a profissional. Ora, é preciso conhecer os limites que surgem
desde o processo formativo até o exercício profissional, para entender as consequências
encontradas no fazer profissional.
No que se refere às consequências encontradas no fazer profissional, podem ser
entendidas como a resistência que alguns profissionais ainda têm em relação ao projeto
profissional, mesmo sabendo que o Serviço Social é legalizado e reconhecido como uma
categoria profissional. Isso mostra claramente a falta de conhecimento e entendimento
sobre o fazer profissional, pois isso gera impactos grandiosos e consequências não só para
o profissional, mas para todos que estão envolvidos.
Nesse aspecto é preciso que o assistente social tenha um profundo conhecimen-
to sobre o projeto profissional para que possa contribuir com o processo democrático e
emancipatório que envolve toda a sociedade. Isso depende somente do profissional, não
confundindo a intenção com o que de fato deve ser feito, sempre se fazendo algumas
perguntas relevantes como: quais as consequências para a classe trabalhadora, caso eu
não siga os preceitos contidos no projeto profissional? Ou ainda, quais as consequências
caso não me dedique em aprofundar nas bases teóricas que envolvem o Serviço Social?
O fato é que independente dos limites e consequências a serem enfrentados, é de
extrema importância conhecer o projeto profissional e ter clareza sobre os princípios conti-
dos no Código de Ética Profissional e profundo conhecimento sobre as bases teóricas que
envolvem o assistente social; entender que o Serviço Social é uma profissão regulamentada
com uma práxis social que atende os requisitos necessários para o fazer profissional, tendo
o compromisso com a classe trabalhadora na garantia dos direitos.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 125


4.2 Tendências e Possibilidades Não Exploradas

No âmbito do sistema capitalista, temos diversos fatores que levaram a classe


trabalhadora a lutar pelos seus direitos. Mediante esse contexto de conflitos é que o
Serviço Social surgiu para atender os interesses da sociedade capitalista, exercendo as
suas atribuições sobre os trabalhadores. Entre os anos de 1960 a 1980 a categoria se viu
na necessidade de mudar todo esse contexto em que estava envolvida, rompendo com
as práticas conservadoras, buscando, nas bases teóricas marxistas, entender a relação
capital X classe trabalhadora. Frente a todo o contexto, buscou por um projeto profissional
que pudesse dar um norte ao fazer profissional.
De acordo com Vasconcelos (2017), o projeto profissional é uma resposta para a
luta de classes e as atividades realizadas atualmente pelos assistentes sociais é fruto da
alienação e fragmentação vivenciada pela massa trabalhadora que acarretou diversas ex-
pressões da questão social. Isso levou os assistentes sociais a refletirem sobre a tendência
teórica que fundamenta a categoria, dando base para a atuação profissional.
Desta forma, o projeto profissional faz parte do projeto societário que é considera-
do mais abrangente, porém seu foco possibilita entender as tendências emancipadoras e
democráticas, a práxis social no capitalismo e as lutas de classes. O assistente social deve
entender não o que é possível, mas o que é necessário para a concretização do projeto
profissional, pois é por meio desse projeto que o exercício profissional é potencializado e
aponta as tendências que envolvem a profissão, além das possibilidades, alternativas e até
os limites das atividades realizadas.
É importante ter em mente que as tendências da profissão vão além das exigências
e dificuldades encontradas durante o exercício profissional. É preciso ter um olhar crítico
e reflexivo sobre tudo que envolve a profissão, sendo comprometido com a emancipação

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 126


humana, a democratização e a busca pelo conhecimento; entendendo o seu papel em meio
a sociedade, sabendo que, diante de todo os avanços que a categoria conquistou ao longo
dos anos, ainda temos possibilidades que não foram exploradas.
Sendo assim, cabe aos futuros assistentes sociais decifrar tal realidade. Mas calma!
Essa ação não é exclusiva para os futuros assistente sociais e sim para todos aqueles que
estão engajados com o projeto profissional, pois, diante desse complexo campo da luta
de classes, sempre surgirá algum problema, cabendo à categoria o papel de desvendar,
criando novas possibilidades a partir de estudos sistemáticos e qualificados envolvendo os
assistentes sociais.
Diante disso, é necessário destacar que a prática profissional depende de fatores
internos e externos e, embora os assistentes sociais precisam utilizar o sistema como me-
canismo básico de seu trabalho assalariado, há um paradoxo. Embora, muitas vezes, os
assistentes sociais não confiem nos recursos e materiais disponíveis, o que pode levá-los a
serem reféns de uma prática conservadora e neste caso, é preciso ir além dos seus limites.
Entendendo que o fazer profissional deve ser baseado nos princípios éticos que
envolve a categoria, entendendo que as consequências que nos trouxe até aqui foram
fundamentais para a criação de um projeto profissional, destacando que as tendências ad-
quiridas aos longo da existência da profissão deu-se por meio de diversos fatores históricos
que foram essenciais, para que a profissão tivesse uma base teórica e metodológica.
Neste sentido é preciso ter em mente que a profissão de Serviço Social alcançou
um patamar elevado, que de certa forma possibilitou mecanismos de trabalho que funda-
menta o exercício profissional e ainda continua possibilitando novas práticas e ações que
não foram exploradas, mas que poderão ser.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 127


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade e é com grande tristeza
que anuncio que esta é a nossa última unidade. Espero que os conteúdos abordados tenham
proporcionado muitos saberes, mas também despertado o interesse em buscar em outras
bases teóricas mais sobre a profissão, principalmente nos conteúdos abordados até aqui.
Se recapitular o que apreendeu nesta unidade, verá um breve resgate histórico so-
bre a profissão e perceberá o quão importante é que se faça esses resgate, pois é preciso
entender o que aconteceu na profissão, principalmente entre os anos 1960 a 1980, quando
tudo começou a fazer sentido, principalmente sobre o exercício profissional que realizamos
nos dias atuais.
Entender sobre o quefazer profissional foi importante, uma vez que esse ponto foi
resgatado na Era Vargas, mas se intensificou após o Movimento de Reconceituação e a busca
pelo rompimento com o conservadorismo que durou quase 30 anos, sendo considerado por
muitos assistentes sociais como um avanço para a categoria. Mas entender todo o processo
é o que dá sentido sobre a forma como os assistentes sociais atuam nos dias de hoje.
Um outro ponto que merece destaque são os quatro projetos abordados, que dentre
os 30 anos de grandes conquistas foram construídos, mostrando os avanços e consequên-
cias ao adotarem e/ou seguirem alguns dos projetos. Destaco que os quatro projetos foram
importantes, mas o primeiro é o que dá mais sustentação para que os assistentes sociais
consigam atuar frente às expressões da questão social; isso porque apresenta o tripé da
profissão, além da democracia, liberdade e emancipação humana, que faz parte de uma
conquista maior.
E não podemos deixar de destacar sobre a escolha, os motivos que os profissio-
nais escolheram as dimensões ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes
projetos profissionais e os quatro pontos importantes que nos fazem questionar e refletir
sobre o fazer profissional. Isso nos apresenta respostas que nos possibilita ir além da práti-
ca profissional, entendendo que estamos inseridos em uma sociedade e que devemos lutar
junto à classe trabalhadora, base fundamental para entender o projeto profissional.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 128


LEITURA COMPLEMENTAR

O exercício profissional mediado pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social:


questões candentes.
O Serviço Social no Brasil, desde a década de 1960, vem passando por grandes
transformações no plano teórico-prático (Iamamoto e Carvalho, 1983; Netto, 1991 e Castro,
1993). Desde o final da década de 1970, vem se desenvolvendo e consolidando um projeto
de profissão sintonizado com os interesses, necessidades e demandas históricas da classe
trabalhadora, nos seus diferentes segmentos.
Entendemos que, na sua origem, este projeto parte da consciência de que a liber-
dade, como garantia da autonomia, da emancipação e da plena expansão dos indivíduos
sociais, na busca de uma ordem societária sem dominação/exploração de classe, etnia
e gênero, não se conquista e se conserva através de reformas como fins em si mesmos,
sejam elas de ordem moral ou econômica. A liberdade, assim como a autonomia, o poder,
conquista-se, desenvolve-se, aperfeiçoa-se e conserva-se através de transformações
econômicas, políticas e sociais dialéticas, que assegurem (para além da ampliação e con-
solidação da cidadania com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos, mesmo
considerados como direitos indissociáveis, como podemos apreender no Código de Ética
do Assistente Social (CFESS, 1993), uma organização social fundada na “socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida”, o que significa não só a radicali-
zação do processo democrático em curso, mas a superação da democracia burguesa por
uma humanidade emancipada.
Ou seja, uma organização social onde o trabalho explorado seja substituído pelo
trabalho associado, o que impõe como consequência uma nova ordem societária, sem ex-
ploração/dominação de classe, etnia e gênero. Isso significa, reafirmando a essencialidade
de uma ordem social alternativa ao capital no sentido de preservar o homem e a natureza,
sustentar como patamar a plena participação de “produtores associados” na tomada de
decisão em todos os níveis de controle político, cultural e econômico, mantendo como
finalidade a autonomia, a emancipação e o pleno desenvolvimento de cada um, através “da
universalização da educação emancipadora e da universalização do trabalho como ativi-
dade humana autorrealizadora” (Mészáros, 2005), fruto de uma sociedade fundada, como
afirmou Marx, “na livre associação de livres produtores”, “onde o livre desenvolvimento de
cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 129


Entretanto, após mais de duas décadas de consolidação do projeto profissional
enquanto petição de princípios da categoria dos assistentes sociais brasileiros, o qual tem
resultado tanto numa produção de conhecimento/”massa crítica” que favorece sua dire-
ção social, quanto na organização e participação de segmentos expressivos da categoria
em lutas sociais e na organização da própria categoria, as respostas que a maioria dos
assistentes sociais vem dando, histórica e conjunturalmente, às demandas dos diferentes
segmentos da classe trabalhadora, os quais clamam por um enfrentamento com a ordem
econômica e política dominante, não estão sendo mediadas pelas indicações do projeto
profissional, o que, consequentemente, não tem favorecido mais ao trabalho do que ao
capital, como anunciado no projeto como possibilidade, diante da prioridade dada pelos
assistentes sociais às respostas às requisições institucionais.
Assim, parece-nos que traduções práticas do projeto profissional não predominam
no âmbito da atividade profissional, seja na formação, na gestão e no planejamento e reali-
zação das atividades socioassistenciais e, atualmente, na produção de conhecimento, con-
siderada em sentido amplo. Não predominam, principalmente, no que se refere à atividade
profissional junto a indivíduos e grupos dos diferentes segmentos da classe trabalhadora,
diante de uma preocupação e priorização, consciente/intencional ou não, das requisições
institucionais, pelos assistentes sociais, assim como não predominam no processo de for-
mação, seja nas faculdades públicas, seja nas privadas.
Pôr em destaque as ações desenvolvidas junto a indivíduos e grupos não quer
dizer que elas sejam vistas de forma isolada no exercício profissional, processo que, tendo
em vista uma prática consciente, crítica, criativa e propositiva, envolve, apreendido o coti-
diano profissional como parte e expressão da realidade social, pelo menos: planejamento
— investigação/produção de conhecimento —, gestão e viabilização de recursos, ações
educativas, articulações políticas, mediações institucionais, avaliação (ver, a seguir, o item
“contextualização da atividade”). Do mesmo modo, a atenção direta aos usuários atravessa
e é atravessada por processos que envolvem o planejamento, a gestão e a avaliação das
próprias políticas e serviços sociais. Apreendido em si mesmo e descolado desses pro-
cessos, o contato direto com os usuários — através de entrevista, reunião, visita domiciliar
etc. — torna-se burocrático e vazio.
Neste contexto, não podemos deixar de destacar o que consideramos uma involução
no que se refere ao exercício profissional junto a indivíduos e grupos. Se por um lado, tanto
por parte das instituições públicas e privadas/ONGs, o assistente social vem cada vez mais
sendo requisitado a prestar assessoria, consultoria na realização de projetos; a assumir a

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 130


gestão de unidades socioassistenciais e assessorar gestores; a assumir que ificação de téc-
nicos de nível médio e elementar das instituições em que trabalha; por outro lado, ao ser cada
vez mais requisitado a capacitar técnicos de nível elementar, médio ou voluntários com fins
de prestar atenção direta aos usuários dos serviços socioassistenciais, o assistente social vê
seu papel ser substituído por esses técnicos ou voluntários. São dois processos — gestão e
capacitação — que vêm apartando os assistentes sociais da possibilidade de realizar seu po-
tencial educativo e formador nos processos de mobilização e organização dos segmentos de
trabalhadores, onde estão inseridos profissionalmente. Quanto mais afastados dos usuários,
mais os assistentes sociais estarão submetidos e submissos às requisições institucionais e
aos interesses específicos de gestores e demais profissionais e menos com condições de dar
sua contribuição em processos que favoreçam alianças tanto entre os diferentes segmentos
da classe trabalhadora, como “alianças entre os descontentes e os despossuídos” (Harvey,
2011). Isso não significa que estar junto ao usuário garanta a realização pelo assistente social
do papel educativo e formador necessário
(...)
Fonte: Vasconcelos (2017, p. 433 - 457).

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 131


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: A/O Assistente Social na Luta de Classes: Projetos Profis-
sional e Mediações Teóricos-Práticas
Autor: Ana Maria de Vasconcelos
Editora: Cortez
Sinopse: É diante da permanente possibilidade de insurgência
dos/as trabalhadores/as contra o modo de produção capitalista,
que a burguesia nacional e internacional se encontra entre sua ne-
cessária vitimização por um lado e criminalização por outro. As/Os
assistentes sociais e demais profissionais podem dar sua modesta
contribuição aos únicos que portam interesses e necessidades que
coincidem com os interesses do gênero humano: os trabalhadores
e as trabalhadoras de todo o mundo.

FILME/VÍDEO 01
Título: Laranjas e Sol
Ano: 2011
Sinopse: Baseado em fatos, o filme conta a história de Margaret
Humphreys, uma assistente social do Reino Unido responsável
por descobrir um dos maiores esquemas de tráfico infantil da
Europa, envolvendo o governo da Grã-Bretanha, que deportava
crianças pobres de maneira forçada para países como a Austrália
e o Canadá.

FILME/VÍDEO 02
Título: O Corajoso coração de Irena Sendler
Ano: 2009
Sinopse: Em Varsóvia no ano de 1940, A polonesa Irena Sendler
é uma católica servidora social que, para evitar deportação, salva
milhares de crianças judias da morte durante a Segunda Guerra
Mundial.

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 132


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UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 137
CONCLUSÃO GERAL

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim do nosso estudo e espero que o conteúdo


aprendido nas quatro unidades desta apostila tenha lhe proporcionado o entendimento do
trabalho e formação profissional, bem como o projeto profissional e porque os assistentes
sociais devem estar envolvidos com a luta de classes.
A escolha dos assuntos que foram abordados reflete sobre a formação e o trabalho
do assistente social. Tivemos como base autores como Iamamoto e Vasconcelos, que con-
tribuíram de forma direta para que os assuntos pudessem ser apresentados a você.
Desta forma, vamos recapitular alguns pontos importantes apresentados ao longo
das quatro unidades que considero serem relevantes, tanto para o processo formativo
quanto para a atuação profissional. O primeiro ponto a ser destacado é sobre a formação
e toda a trajetória histórica que envolve esse processo – os dilemas, as conquistas por trás
de grandes debates que levaram o processo formativo para outro patamar, envolvendo os
acadêmicos e professores a refletir sobre a política de prática acadêmica à nível ensino,
pesquisa e extensão. Outra conquista nesse processo foi a oportunidade dos acadêmicos
em vivenciarem as experiências do processo de trabalho por meio da prática dos estágios
que faz toda a diferença na formação.
Sobre o trabalho do assistente social, dentro de toda a discussão acerca do proces-
so formativo, também foi debatido sobre a práxis que envolve os assistentes sociais, além
do projeto profissional que dá um norte aos profissionais em relação ao entendimento do o
que fazer profissional, projeto que tem em suas bases o método marxista, que faz entender
sobre a dinâmica entre o capital e o trabalho. A categoria busca pela emancipação humana,
a democratização e a liberdade da classe trabalhadora. Tem como referência o Código
de Ética, a Lei que regulamenta a profissão, e as Diretrizes curriculares, que dão base
para entender sobre as dimensões ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo,
consideradas importantes para compreender o processo de trabalho do assistente social
em meio a sociedade brasileira.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 138


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