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Desenvolvimento Curricular

e Interdisciplinaridade na
Educação Física Escolar
Professora Me. Aline Mendes de Lima
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

L732d Lima. Aline Mendes de


Desenvolvimento curricular e interdisciplinaridade na
educação física escolar / Aline Mendes de Lima. Paranavaí:
EduFatecie, 2021.
78 p. : il. Color.

1. Educação física. 2. Educação física para crianças. 3.


Curriculo – Planejamento. I. Centro Universitário
UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 796.07


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

UNIFATECIE Unidade 1
Reitor Rua Getúlio Vargas, 333
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Diretor de Ensino (44) 3045-9898
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Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz UNIFATECIE Unidade 2
Campano Santini
Rua Getúlio Vargas, 333
Diretor Administrativo Centro, Paranavaí, PR
Prof. Ms. Renato Valença Correia (44) 3045-9898

Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva

Coord. de Ensino, Pesquisa e UNIFATECIE Unidade 3


Extensão - CONPEX Rua Getúlio Vargas, 333
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Centro, Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman
de Araújo

Coordenação Adjunta de Pesquisa UNIFATECIE Unidade 4


Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Rua Getúlio Vargas, 333
Coordenação Adjunta de Extensão Centro, Paranavaí, PR
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Coordenador NEAD - Núcleo de


Educação à Distância
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Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
André Dudatt
AUTORA

Professora Me. Aline Mendes de Lima

● Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós Graduação Associado em


Educação Física Universidade Estadual de Maringá e Universidade Estadual de
Londrina (PEF- UEM/UEL) na linha Fatores Psicossociais e Motores Relaciona-
dos ao Desempenho Humano.
● Psicóloga (Universidade Estadual de Maringá).
● Formação em Psicologia do Esporte (Consultoria, Estudo e Pesquisa em Psico-
logia do Esporte – CEPPE)
● Graduanda em Educação Física Bacharelado (Centro Universitário Ingá).
● Ex membro do Grupo de Estudos de Psicologia do Esporte e Desempenho
Humano (GEPEDH - UEM)
● Psicóloga clínica e do esporte, atendimentos individualizados e experiência na
Associação Desportiva e Recreativa Maringá (ADRM) Basquete Maringá, Seleto
Futsal Maringá, Superação Run.

Experiência de atuação profissional na psicologia do esporte, com treinamento


de habilidades psicológicas, atendendo atletas profissionais e amadores de modalidades
como corrida de rua, tênis, futebol, futsal, basquete, bolão, ginástica rítmica. Experiência
científica em temas como personalidade e lesão na corrida de rua, habilidades sociais,
motivação no esporte.

Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/3181621567835345


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Prezado (a) aluno (a) seja muito bem vindo à disciplina Desenvolvimento curricular
e interdisciplinaridade na educação física escolar! Daremos início a um percurso em direção
ao conhecimento quanto à atuação em educação física escolar e a interdisciplinaridade.
Você já parou para pensar em como é organizado um currículo escolar? Como
construir um plano de aula? Como atuar em educação física escolar de forma interdiscipli-
nar? Ou até mesmo o que é interdisciplinaridade? Nesta disciplina tentaremos responder a
esses e outros questionamentos.
Na Unidade I “Currículo e a Educação Física” você vai compreender como se dá a
organização do ensino básico, o que é um currículo escolar e o projeto político pedagógico.
Você também terá acesso a alguns direcionamentos dados pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) para o professor de Educação Física.
Na Unidade II “Planejamento: Foco na Educação Física Escolar” os temas estu-
dados serão características, organização e papel do planejamento na Educação Física
escolar. Você também vai estudar alguns aspectos do planejamento participativo. E também
quais os conteúdos essenciais da educação física para a formação do aluno, além de como
organizar um plano de aula.
Na Unidade III “Interdisciplinaridade: a Educação Física para além da quadra” co-
meçaremos a entender a interdisciplinaridade. Você também verá alguns aspectos legais
relacionados a interdisciplinaridade e as possibilidades da Educação Física.
Na Unidade IV “Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: desafios e
possibilidades” os temas serão o papel do professor de Educação Física, como construir
projetos interdisciplinares na escola. Além de como fazer avaliação no contexto da interdis-
ciplinaridade, e os desafios de uma prática interdisciplinar.
Convido você a transcender os conteúdos trazidos aqui, procure se dedicar tam-
bém às leituras complementares, sugestões de filmes e livros e reflexões. Ao final dessa
disciplina você estará um pouco mais preparado (a) para atuar em educação física escolar
e de forma interdisciplinar.

Bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Currículo e a Educação Física

UNIDADE II.................................................................................................... 23
Planejamento: Foco na Educação Física Escolar

UNIDADE III................................................................................................... 44
Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra

UNIDADE IV................................................................................................... 59
Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e
Possibilidades
UNIDADE I
Currículo e a Educação Física
Professora Me. Aline Mendes de Lima

Plano de Estudo:
● Organização do Ensino Básico;
● Currículo: definições e direcionamentos;
● Projeto Político Pedagógico;
● Base Nacional Comum Curricular e a Educação Física.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar a organização do ensino básico e as competências
a serem desenvolvidas;
● Conceituar o currículo escolar e seus três pilares;
● Compreender aspectos relacionados à elaboração e consolidação
do projeto político pedagógico;
● Estabelecer as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular
para a Educação Física.

3
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), seja muito bem vindo a Unidade I da nossa apostila de Desen-
volvimento curricular e interdisciplinaridade na educação física escolar. Aqui faremos uma
introdução às questões ligadas à organização escolar, currículo escolar, projeto político
pedagógico e orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Você já parou para pensar sobre os bastidores de uma escola? Qual o processo,
caminho trilhado para que determinado conteúdo seja estudado, ou determinada aula acon-
teça? Quais direcionamentos são seguidos na estruturação de uma aula de educação física?
Nesta unidade você compreenderá o que é educação básica, como ela é organi-
zada, quais as dez competências a serem desenvolvidas nos alunos, os seus direitos para
o aprendizado e desenvolvimento das crianças no ensino infantil, como está organizado o
ensino fundamental e médio.
Você também terá acesso a questões do currículo escolar, seus três pilares e aspec-
tos da seleção de conteúdos. Conceituação do projeto político pedagógico e pressupostos
a serem considerados para sua elaboração e consolidação.
Por fim, são apresentadas as orientações da Base Nacional Comum Curricular e
as oito dimensões do conhecimento a partir da prática corporal enquanto objetivo principal
da educação física.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 4


1. ORGANIZAÇÃO DO ENSINO BÁSICO

O Ensino Básico consiste na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino


Médio. Segundo a Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) é dever do Estado a
educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos de idade.
O principal objetivo da educação básica é desenvolver o aluno, no sentido de
promover a formação básica para o exercício da cidadania, além de fornecer meios para
progressão no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL,1996).
A Base Nacional Comum Curricular é o documento que explicita as aprendizagens
essenciais de direito de todos os estudantes, expressando assim a igualdade educacional
sobre a qual as singularidades devem ser consideradas e atendidas (BRASIL, 2018).
Isso significa que os sistemas e redes de ensino e as instituições escolares pre-
cisam realizar o seu planejamento seguindo os preceitos das aprendizagens essenciais a
todos, mas sem perder de vista a equidade, que pressupõe o reconhecimento de que as
necessidades dos estudantes são diferentes (BRASIL, 2018).
Cabe aos sistemas e redes de ensino a construção de currículos, e as escolas
precisam elaborar propostas pedagógica considerando as necessidades, possibilidades
e interesses dos estudantes, bem como suas identidades linguísticas, étnicas e culturais
(BRASIL, 2018).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 5


São consideradas dez competências gerais que devem ser desenvolvidas no
processo educacional. Competência é compreendida enquanto capacidade de mobilizar
conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioe-
mocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do
exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2018).
As 10 competências gerais da Educação Básica são (BRASIL, 2018, p. 09 - 10):
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo
físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para in-
vestigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções
(inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais,
e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e es-
crita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística,
matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e
sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhe-
cimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos
outros e do planeta.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 6


8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com
autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-
-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades,
culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos,
inclusivos, sustentáveis e solidários.
De acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil devem ser assegurados
seus direitos para o aprendizado e desenvolvimento das crianças: conviver, brincar, parti-
cipar, explorar, expressar e conhecer-se. Isso com base em cinco campos de experiência:
o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta,
fala, pensamento e imaginação; espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
(BRASIL, 2018).
O Ensino Fundamental está organizado em cinco áreas do conhecimento com intui-
to de favorecer a comunicação entre conhecimentos e saberes dos diferentes componentes
curriculares. Essas áreas do conhecimento são Linguagens (Língua Portuguesa, Arte,
Educação Física e Língua Inglesa), Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas
(Geografia e História) e Ensino Religioso. As competências específicas de cada área devem
ser desenvolvidas ao longo dos nove anos (BRASIL, 2018).
O Ensino Médio está organizado em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas
Tecnologias (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa), Matemática e suas
Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Física e Química), Ciências
Sociais e Humanas Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) (BRASIL, 2018).
De uma forma geral, e trazendo um pouco mais para Educação Física, alguns
objetivos importantes da educação física no ensino básico são primeiramente o acesso à
educação. Todos os alunos devem ter o direito de participar, independentemente da cor,
etnia, religião e gênero. Nesse sentido, cabe ao professor encontrar alternativas para a não
exclusão destes alunos (DARIDO; RANGEL, 2005).
Outro ponto é a busca pela autonomia por meio da vivência de diferentes práticas
das culturas corporais. Isso significa, por exemplo, ser capaz de manter um programa de
atividades físicas regular ao longo da vida (DARIDO; RANGEL, 2005).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 7


Também é importante desenvolver reflexão crítica, bem como a compreensão da
saúde em suas interfaces com as condições de alimentação, renda, transporte, emprego e
lazer, dentre outros, tendo em vista a realidade em qual os alunos estão inseridos (DARIDO;
RANGEL, 2005).
Ainda se tratando do Ensino Básico, é responsabilidade do professor de educação
física diversificar as vivências corporais e também de lazer. A escola deveria ser a instituição
mais incentivadora de ações educativas com o objetivo de desenvolver o lazer (DARIDO;
RANGEL, 2005).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 8


2. CURRÍCULO: DEFINIÇÕES E DIRECIONAMENTOS

O currículo é um documento caracterizado por orientações pedagógicas sobre o


conhecimento a ser desenvolvido na escola. É composto por objetivos, métodos e conteú-
dos (PARANÁ, 2008).
A proposta para o ensino da Educação Física, ou seja, seu currículo, foi formulado
com base em estudos científicos desenvolvidos por autores brasileiros e estrangeiros. O
currículo escolar representa o projeto de escolarização ou percurso no processo de apreen-
são do conhecimento científico selecionado pela escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Muito mais do que um simples documento, o currículo apresenta caráter político,
considerando que representa o projeto de futuro para a sociedade. É a consolidação de
embates políticos que produzem um projeto pedagógico vinculado a um projeto social
(PARANÁ, 2008).
Nesse sentido, pode-se dizer que o currículo escolar apresenta caráter prescritivo
para o trabalho docente, e ao mesmo tempo transcende essa parte técnica, já que também
traz intenção política ligada ao homem e sociedade que deseja formar (PARANÁ, 2008).
Segundo o Coletivo de Autores (1992) é importante destacar que a escola não
desenvolve o conhecimento científico. Há uma apropriação desse conhecimento, e um
tratamento metodológico na busca por facilitar a sua apreensão pelo aluno.
A escola desenvolve a reflexão do aluno sobre esse conhecimento, sua capacida-
de intelectual. O aluno se apropria do conhecimento científico, e o confronta com o saber
que já têm proveniente do seu cotidiano e de outras referências do pensamento humano
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 9


Em outras palavras, a escola é “o espaço do confronto e diálogo entre os conhe-
cimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são as fontes
sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade” (PARANÁ, 2008, p. 21).
O currículo é guiado por um eixo norteador, que corresponde aos fundamentos
sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos. A partir dele é construído
o quadro curricular, que é a lista de disciplinas ou atividades curriculares (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
As disciplinas de tradição curricular são: Arte, Biologia, Ciências, Educação Física,
Ensino Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Estrangeira Moderna, Língua
Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia (PARANÁ, 2008).
A Educação Física é uma área de conhecimento estruturada, pensada e fundamen-
tada enquanto disciplina. Apresenta identidade própria, especificidades, e por isso, uma
proposta curricular, conteúdos e objetivos a serem atingidos, em todos os níveis escolares
(SOUZA; ROJAS, 2008).
O currículo pode ser conservador ou técnico, quando seu eixo é a constatação,
interpretação, compreensão e explicação de determinadas atividades profissionais. Nesse
caso a reflexão pedagógica é delimitada pela explicação de técnicas e desenvolvimento de
habilidades (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Outro tipo de currículo é o que apresenta como eixo a constatação, a interpretação,
a compreensão e a explicação da realidade social complexa e contraditória aos alunos
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Nesse caso a organização curricular se baseia no questionamento do objeto de
cada disciplina curricular, colocando em destaque sua função social no currículo. Isso
considerando que o conhecimento matemático, geográfico, artístico, histórico, linguístico,
biológico ou corporal não expressa a totalidade da realidade, mas, apenas uma determina-
da dimensão dela (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A visão de totalidade do aluno se constrói a partir da síntese das diferentes contri-
buições das diversas ciências para a explicação da realidade. Por isso, nessa perspectiva
curricular nenhuma disciplina é constituída de forma isolada. A articulação dos conheci-
mentos das diversas áreas é que permitirão ao aluno constatar, interpretar, compreender e
explicar a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Nessa perspectiva então, as disciplinas são apenas um componente curricular, e
só apresentam sentido pedagógico quando seu objeto é articulado aos demais objetos
dos outros componentes do currículo (Línguas, Geografia, Matemática, História, Educação
Física, etc.) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 10


As diretrizes para a rede estadual do Paraná se baseiam nessa perspectiva crítica
e foram construídas com ampla participação de professores na constituição das disciplinas
escolares, objetivos e relações entre as diversas áreas de conhecimento (PARANÁ, 2008).
O currículo se materializa no contexto escolar por meio de uma dinâmica curricular.
A dinâmica curricular se refere a um movimento próprio da escola e se constitui por três
pilares, o trato com o conhecimento, a organização escolar e a normalização escolar (CO-
LETIVO DE AUTORES, 1992).
O trato com o conhecimento é a direção científica do conhecimento universal
enquanto saber escolar. Corresponde a criação de condições para a assimilação e a
transmissão do saber escolar, a sua organização e sistematização lógica e metodológica
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A organização escolar é o tempo (horários, turnos, jornada, sessões, módulos) e
espaço pedagógico (salas de aula, auditórios, bibliotecas, quadras) necessários para o
aprendizado. A normalização escolar se refere ao sistema de normas, padrões, registros,
regimentos, modelos de gestão, estrutura de poder e sistema de avaliação (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Existem alguns princípios para formulação de um currículo escolar ou em outras
palavras, para a seleção dos conteúdos a serem ensinados. Dentre eles a relevância so-
cial. O conteúdo deverá ajudar a compreender a realidade social concreta (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Outro princípio é a contemporaneidade do conteúdo, ou seja, o acesso ao conhe-
cimento mais moderno que existe, e os avanços da ciência e da técnica. Mas isso aliado
aos conhecimentos clássicos, que são aqueles que são fundamentais e não perdem a
contemporaneidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A adequação às possibilidades sócio-cognoscitivas do aluno também é um princípio.
O conteúdo deve estar adequado à capacidade cognitiva do aluno, seus conhecimentos e
possibilidades (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Os princípios para seleção do conteúdo envolvem alguns princípios metodológicos
e a lógica com que serão apresentados aos alunos. É importante contrapor o conteúdo
científico com os saberes do senso comum, e também, em uma perspectiva dialética, a
simultaneidade dos conteúdos (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Por exemplo, pensar ar, água, terra, homem e meio ambiente considerando a rela-
ção com o mundo social, e não esses conteúdos de forma seriada ou isolada (COLETIVO
DE AUTORES, 1992).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 11


Outro princípio curricular é a provisoriedade dos conhecimentos, ou seja, que a
produção humana (intelectual, científica, ética, moral, afetiva), manifesta um determinado
estágio da humanidade, que não foi necessariamente assim em outros momentos históricos
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
De uma forma geral, conforme o Coletivo de Autores (1992) quando se trata da
formulação de um currículo, é importante ter uma concepção ampliada. Isso significa trocar
os princípios da lógica formal (fragmentação, estaticidade, unilateralidade, terminalidade,
linearidade e etapismo), pelos princípios da lógica dialética (totalidade, movimento, mudan-
ça qualitativa e contradição).
Dessa forma será trabalhada a apropriação do conhecimento pelo pensamento, por
construção, e não uma simples transmissão de conhecimento para formação do indivíduo
isolado (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) o currículo da
Educação Básica deve oferecer ao aluno a formação necessária para o enfrentamento e
transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. Deve ser capaz de
promover formação tecnológica mas também humana.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 12


3. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Segundo o Coletivo de Autores (1992) um projeto político pedagógico é constituído


por uma intenção, ação deliberada, estratégia. É político no sentido de expressar uma ação
e é pedagógico à medida que envolve reflexão sobre a ação dos homens na realidade, bem
como as explicações das determinações dessas ações.
O projeto político-pedagógico de um educador deve ser muito bem definido. Isso
porque irá orientar a sua prática na sala de aula, no que se refere à relação estabelecida
com os alunos, o conteúdo a ser ensinado e os valores a serem desenvolvidos nos alunos
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Nesse sentido, é importante que o educador tenha clareza do projeto de sociedade
e de homem que acredita, quais interesses defende, os valores, ética e moral que deseja
consolidar em sua prática (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Além disso, deve articular suas aulas com esse projeto maior de homem e de
sociedade que deseja formar. Em outras palavras, o educador precisa se preocupar em
como o projeto político-pedagógico se realiza na escola, como se materializa no currículo
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Venâncio e Darido (2012) destacam que o projeto político pedagógico de uma es-
cola, ou mais especificamente a forma como ele é concebido, evidencia a forma de pensar
da escola, a educação e a própria Educação Física.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 13


Nas palavras dos autores: “O PPP pode constituir-se como um legítimo instrumento
para participação e envolvimento político e pedagógico dos professores, legitimar a Edu-
cação Física enquanto área de matriz pedagógica e nortear ações coletivas no cotidiano
escolar” (VENÂNCIO; DARIDO, 2012, p. 107).
Os autores também trazem um desafio em relação a isso, que é quando o poder
de decisão fica centralizado nas secretarias estaduais ou municipais. Uma forma de driblar
essa questão é obter engajamento e envolvimento dos professores no sentido de trabalhar
para encaminhar propostas próprias.
Para construção do projeto político pedagógico é importante considerar (VENÂN-
CIO; DARIDO, 2012):
- Caracterização da comunidade escolar: por meio de entrevistas, palestras,
encontros, questionários.
- Comunidade escolar: formada pelos pais, alunos, professores, funcionários,
direção, coordenação pedagógica, etc.
- Discussões e reflexões sobre a função e papel da escola na atualidade.
- Definição e caracterização do perfil e necessidades específicas dos alunos da escola.
- Definição e caracterização do perfil do corpo docente, coordenação e direção.
- Definição da concepção de educação, visão de homem e sociedade compartilhadas
pelo corpo docente, coordenação e direção.
- Definição das finalidades de cada componente curricular.
- Estabelecimento de diretrizes norteadoras relacionadas às questões atuais como
inclusão, qualidade da educação, modos de gestão escolar, etc.
- Escolhas dos componentes curriculares e áreas de conhecimento que constituirão
o currículo.
- Tempos e espaços: organização dos componentes curriculares considerando
carga horária, séries/anos, quantidades de turnos ou períodos.
- Planos de ensinos interdisciplinares: objetivos, habilidades e competências a
serem desenvolvidas, conteúdos mais relevantes, metodologia de trabalho, formas
de avaliação.
- Articulação e organização interdisciplinar entre os espaços existentes na escola:
biblioteca, sala de vídeo, laboratório de informática, laboratório de ciências,
anfiteatro, etc.
- Elaboração de projetos interdisciplinares.
- Periodicidade das reuniões pedagógicas com pais e alunos.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 14


- Fortalecimento e ampliação da formação do corpo docente.
- Definição da participação das instituições democráticas como conselhos escolares,
grêmio estudantil.
- Definição de prioridades em relação a utilização dos recursos disponíveis
(financeiros e materiais).
- Participação de alunos e professores em fóruns, seminários, congressos,
conferências, com financiamento da própria instituição ou órgãos competentes.
- Parcerias com outras instituições como universidades, ONGs, fundações, institutos.
- Calendário escolar definido pela própria escola.
- Definição de formas de avaliação do PPP, elaborado pela própria comunidade
escolar possibilitando autonomia e flexibilidade do projeto.
Todos esses aspectos foram sugeridos por professoras de Educação Física da rede
de ensino municipal que participaram de uma pesquisa dos autores Venâncio e Darido (2012).
Essas sugestões refletem a importância do trabalho coletivo e interdisciplinar no
que se refere a elaboração e concretização do projeto político pedagógico, com foco na
qualidade de formação do aluno e do trabalho do professor, transcendendo uma mera
reprodução do conhecimento (VENÂNCIO; DARIDO, 2012).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 15


4. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A EDUCAÇÃO FÍSICA

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se aplica à educação escolar, con-


forme o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº
9.394/1996).
Como o próprio nome diz, é um documento norteador que serve como base para
a estruturação do ensino no Brasil com foco em alcançar uma aprendizagem de qualidade
(BRASIL, 2018).
A BNCC integra a política nacional da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio) e foi elaborada por especialistas de diversas áreas do conhe-
cimento, e é composta por orientações para adequação dos currículos regionais e projetos
pedagógicos das escolas brasileiras (BRASIL, 2018).
Em relação aos direcionamentos específicos para a Educação Física, a BNCC traz
que a Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em
suas diversas formas, enquanto produção social e histórica e entendidas como possibilida-
de de expressão (BRASIL, 2018).
Em outras palavras, a Educação Física trabalha com o movimento humano, mas
não pura e simplesmente como deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal
ou de um corpo todo, e sim o movimento com todo o seu significado e inserção na cultura
(BRASIL, 2018).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 16


O papel da Educação Física na Educação Básica é permitir o acesso por parte do
aluno a um vasto universo cultural: saberes corporais, experiências estéticas, emotivas,
lúdicas. Experienciar essas práticas corporais permitirão aos alunos participar, de forma
autônoma, nos contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2018).
Ainda segundo a BNCC (BRASIL, 2018) existem três elementos fundamentais
comuns às práticas corporais: o movimento corporal (elemento essencial), organização
interna baseada em uma lógica específica, e produto cultural (vinculado ao lazer ou entre-
tenimento e ao cuidado com o corpo e saúde).
Importante ressaltar então que as práticas corporais são aquelas realizadas a parte
das obrigações de trabalho, domésticas, higiênicas e religiosas, as quais já possuem pro-
pósitos específicos (BRASIL, 2018).
A prática corporal deve proporcionar ao aluno o acesso a uma dimensão de co-
nhecimentos e experiências que ele não teria de outro modo. A vivência dessa prática gera
um conhecimento muito particular e insubstituível revelando a multiplicidade de sentidos
e significados inerentes às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento
(BRASIL, 2018).
Conforme a BNCC: “As práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura
e produção” (BRASIL, 2018, p. 214). É nesse sentido também, que a Educação Física se
articula com a área das Linguagens.
De uma forma mais específica, a BNCC (BRASIL, 2018) recomenda que a Edu-
cação Física seja trabalhada a partir de seis unidades temáticas: brincadeiras e jogos,
esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura. Esses temas serão
trabalhados mais especificamente na Unidade II desta apostila.
Além disso, a BNCC (BRASIL, 2018) também considera oito dimensões do conhecimento:
- Experimentação: refere-se à vivência propriamente dita das práticas corporais, o
envolvimento corporal, a experimentação. É a possibilidade de apreender as manifestações
culturais tematizadas pela Educação Física. Também é importante cuidar para que as sen-
sações geradas no momento da realização dessas vivências sejam positivas.
- Uso e apropriação: conhecimento que permite ao aluno a autonomia para as prá-
ticas corporais. Se diferencia do conhecimento gerado pela experimentação por promover
no estudante a competência necessária para um maior envolvimento nas práticas corporais
no lazer ou para a saúde. Em outras palavras consiste em viabilizar aos alunos a prática
efetiva das manifestações da cultura corporal de movimento transcendendo o ambiente da
sala de aula.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 17


- Fruição: está ligada à apreciação, ao desfrutar das experiências sensíveis geradas
pelas vivências corporais.
- Reflexão sobre a ação: conhecimentos originados da observação e análise das
vivências corporais próprias e/ou realizadas pelos outros. É um ato intencional no sentido de
formular e empregar estratégias de observação e análise para resolver desafios, aprender
novas modalidades e adequar as práticas aos interesses e possibilidades.
- Construção de valores: conhecimentos que se originam no contexto da temati-
zação das práticas corporais. Envolve a aprendizagem de valores relativos ao respeito às
diferenças, a produção e compartilhamento de atitudes e normas.
- Análise: refere-se ao “saber sobre”, ou seja, conceitos necessários para compreen-
der as características e o funcionamento das práticas corporais. Envolve conhecimentos a
respeito da classificação dos esportes, sistemas táticos de uma modalidade, o efeito de
determinado exercício físico no desenvolvimento de uma capacidade física, etc.
- Compreensão: está associada ao conhecimento conceitual, mas se refere mais
especificamente aos saberes que permitem compreender o lugar das práticas corporais
no mundo. Se refere a temas que permitem aos alunos interpretar o que está por trás das
manifestações da cultura corporal de movimento, como as dimensões éticas e estéticas,
época em que foram construídas, motivos pelos quais e por quem foram criadas.
- Protagonismo comunitário: se refere às atitudes e conhecimentos necessários
para os estudantes terem uma participação ativa na democratização do acesso das
pessoas às práticas corporais. Consiste na reflexão sobre as possibilidades que eles e a
comunidade têm de acesso a essas uma práticas onde moram, os recursos disponíveis,
agentes envolvidos.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 18


SAIBA MAIS

A Base Nacional Comum Curricular está fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Brasileira (LDB 9394/1996). A LDB 9394/96 é a legislação que regulamenta o
sistema educacional brasileiro, seja a nível público ou privado, da educação básica ao
ensino superior. Essa é a lei mais importante no que diz respeito à educação. O objeti-
vo principal da criação da LDB foi garantir o direito de acesso à educação gratuita e de
qualidade para todas as pessoas.

Fonte: Lei das Diretrizes e Bases (LDB 9394/1996).

REFLITA

Nesta unidade você teve acesso às 10 competências básicas a serem desenvolvidas


na educação básica conforme orientação da Base Nacional Comum Curricular. Como
a Educação Física pode ajudar a desenvolver essas competências? Qual o papel da
educação física frente a essa orientação?

Fonte: a autora.

A prática corporal é considerado o principal norteador dos componentes curriculares da


Educação Física. O que você entende por prática corporal? Quais experiências relacio-
nadas à prática corporal você teve na educação física escolar enquanto aluno?

Fonte: a autora.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 19


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade você compreendeu um pouco da organização de uma escola e dos


direcionamentos a serem seguidos na estruturação de uma aula de educação física do
ponto de vista das diretrizes.
A educação básica compreende o ensino fundamental e médio e precisa cumprir
o papel de desenvolver dez competências básicas nos alunos. O currículo escolar é um
dos direcionamentos seguidos no ensino e é estruturado a partir de três pilares: trato com
o conhecimento (parte científica), a organização escolar (tempo e espaço pedagógico) e a
normalização escolar (regras).
A seleção dos conteúdos que compõem o currículo escolar ocorre a partir da relevân-
cia social, contemporaneidade e adequação às possibilidades sócio-cognoscitivas do aluno.
O projeto político pedagógico irá orientar a prática no dia a dia da sala de aula, reflete
o projeto de sociedade e de homem que se quer formar, mas muitas vezes é criado pelas
secretarias estaduais e municipais. Nesse sentido é importante que o professor de educação
física participe ativamente junto com os demais profissionais da escola, na atuação conside-
rando as necessidades e características da escola e comunidade em que trabalham.
Um documento importante e que também guia a atuação nas escolas é a Base Na-
cional Comum Curricular (BNCC). Nessa unidade você compreendeu algumas orientações
considerando a prática corporal enquanto principal objetivo de trabalho na educação física.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 20


LEITURA COMPLEMENTAR

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz vários direcionamentos importantes


para o currículo da Educação Física. Conforme a BNCC, a Educação Física precisa garantir
o desenvolvimento de 10 competências específicas nos alunos. Essas competências são
retratadas a seguir.
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO FUN-
DAMENTAL (BRASIL, 2018, p. 223):
1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a
organização da vida coletiva e individual.
2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possi-
bilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de
ampliação do acervo cultural nesse campo.
3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais
e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética
corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas
consumistas e preconceituosas.
5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos
e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus
participantes.
6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às dife-
rentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade
cultural dos povos e grupos.
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvi-
mento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.
9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e
produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças,
ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo
e o protagonismo.

Fonte: Brasil (2018).

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 21


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Pedagogia da cultura corporal
Autor: Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes.
Editora: Phorte.
Sinopse: a obra propõe a ampliação de possibilidades de ensino e
aprendizagem da prática da Educação Física Escolar para profes-
sores, alunos e interessados, diante das constantes mudanças das
dificuldades e desafios encontrados no ambiente escolar. Dividida
em 5 capítulos, a obra de Neira e Nunes traz os seguintes temas:
Cultura, que fundamenta as propostas voltadas para a pedago-
gia da cultura corporal; Cultura Escolar/Cultura da Escola, tema
que analisa a cultura vivida diariamente nas escolas; Currículo e
a Educação Física, uma visão crítica para a construção de um
currículo escolar “que favoreça a pedagogia da cultura corporal”;
Cultura Corporal, tema que transporta a linguagem corporal para
questões sociais e escolares; Método de Ensino, que apresenta
propostas de experiências estudadas e vivenciadas pelos autores
diante da prática pedagógica; Considerações Finais e uma vasta
Bibliografia.

FILME/VÍDEO
Título: O melhor professor da minha vida
Ano: 2017.
Sinopse: Aos 40 anos, o professor François Foucault (Denis Po-
dalydès) leciona no renomado Liceu Henri IV, perto do Panthéon
de Paris, escola mais tradicional e prestigiada de Paris. Devido a
uma série de eventos, ele é obrigado a aceitar a transferência de
um ano para uma escola no subúrbio da cidade e teme que o pior
possa acontecer.

UNIDADE I Currículo e a Educação Física 22


UNIDADE II
Planejamento: Foco na
Educação Física Escolar
Professora Me. Aline Mendes de Lima

Plano de Estudo:
● Planejamento: características e organização;
● Papel do planejamento na Educação Física Escolar;
● Como planejar? Conhecendo o planejamento participativo;
● Quais os conteúdos da Educação Física são essenciais para a formação do aluno?;
● Planos de Aula: o que são, sua importância e como organizá-los.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar o planejamento escolar;
● Estabelecer a importância do planejamento escolar;
● Contextualizar como é realizado um planejamento;
● Compreender a construção de um plano de aula.

23
INTRODUÇÃO

Olá alunos e alunas!! Sejam bem-vindos à unidade II “Planejamento: foco na Educa-


ção Física Escolar”. Nessa unidade nós aprofundaremos os conhecimentos ligados a orga-
nização e planejamento das aulas, bem como os temas ou conteúdos a serem trabalhados.
Você já se questionou como organizar uma aula? Mais do que isso, porque é im-
portante um planejamento adequado e porque é importante ter organização, não apenas
conduzir uma aula de forma aleatória?
Os conhecimentos apresentados nesta unidade darão base para que você aprenda
a ser mais assertivo na condução de uma aula de Educação Física, considerando pontos
importantes do planejamento, organização, adequação à realidade, melhorias contínuas e
conteúdos a serem trabalhados.
A unidade começa com uma contextualização sobre planejamento e organização.
Também serão apresentadas as funções e importância do planejamento escolar, e os as-
pectos a serem levados em consideração para realizar um planejamento adequado.
Você também terá acesso aos conteúdos considerados primordiais no ensino da
Educação Física, tendo como eixo norteador as práticas culturais. Serão apresentadas as
seis unidades temáticas bem como sua estruturação conforme as séries escolares. Por fim,
você aprenderá a elaborar um plano de aula e seus respectivos itens constituintes.

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 24
1. PLANEJAMENTO: CARACTERÍSTICAS E ORGANIZAÇÃO

O trabalho docente é uma atividade sistematizada dirigida pelo professor e tem


como objetivo a aprendizagem dos alunos. Esse trabalho transcende a sala de aula estando
ligado também às exigências sociais e experiências pessoais dos alunos (LIBÂNEO, 1994).
O programa de Educação Física pode ser considerado o pilar da disciplina. Seus
principais elementos são os conteúdos de ensino (conhecimento sistematizado e distribuí-
do), o tempo pedagogicamente necessário para o processo de apropriação do conheci-
mento; e os procedimentos didático-metodológicos para transmissão desse conhecimento
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Nesse sentido, o planejamento precisa ser construído levando em consideração
esses aspectos. Nas palavras de Libâneo (1994, p. 246) “O planejamento é um processo
de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade
escolar e a problemática do contexto social”.
Portanto, o planejamento escolar abrange a organização e coordenação das ati-
vidades didáticas em relação aos objetivos propostos, e também a revisão e adequação
durante o processo de ensino (LIBÂNEO, 1994).
É um meio para programar as ações de ensino e ao mesmo tempo um momento
de reflexão e avaliação. Envolve três tipos de planejamento: o plano da escola, o plano
de ensino e o plano de aulas; e elementos como objetivos, conteúdos e métodos. (LI-
BÂNEO, 1994).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 25
O plano da escola é um documento geral, suas orientações representam as liga-
ções entre escola e sistema escolar mais amplo, e entre o projeto pedagógico e os planos
de ensino (LIBÂNEO, 1994).
A partir da proposta pedagógica curricular, o professor elaborará seu plano de ensi-
no ou plano de trabalho, que é um documento de sua autoria, que leva em consideração a
realidade e necessidades de suas diferentes turmas de atuação (PARANÁ, 2008).
No plano de ensino são explicitados os objetivos e conteúdos específicos a serem
trabalhados nos bimestres, trimestres ou semestres letivos, além das especificações metodoló-
gicas que guiarão o trabalho docente e o processo de ensino aprendizagem (PARANÁ, 2008).
O plano de ensino, portanto, é composto por ementa da disciplina, objetivos, conteúdo
programático (pode haver divisão em unidades de ensino como forma de organização dos
conteúdos a serem passados para os alunos), metodologia e cronograma (KUNZ et al., 2004).
O plano de aula é mais específico é constituído pela previsão de desenvolvimento
de conteúdo de uma aula (LIBÂNEO, 1994). No último tópico dessa apostila você terá
informações mais detalhadas sobre o plano de aula.

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 26
2. PAPEL DO PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Planejar não é apenas preencher formulários para controle administrativo, mas sim
uma possibilidade de pensar criticamente e prever futuras ações docentes, fundamentan-
do-as nas questões sociais, econômicas, políticas e culturais em que a escola está inserida
e dos atores do processo de ensino aprendizagem (pais, alunos, professores, comunidade).
(LIBÂNEO, 1994).
As funções do planejamento escolar são (LIBÂNEO, 1994):
- Especificar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente;
- Manifestar os vínculos entre posicionamento filosófico, político pedagógico e as ações
do professor em sala de aula através de objetivos, conteúdos, métodos e formas de ensino;
- Organizar o trabalho docente de forma que seja ofertado sempre um ensino de
qualidade em contraposição a rotina e improvisação;
- Considerar as exigências da realidade social e o nível de preparo e condições
socioculturais dos alunos para formulação dos objetivos, conteúdos e métodos;
- Garantir a coerência entre o trabalho docente no que se refere aos elementos
do processo de ensino aprendizagem (objetivos, conteúdos, características dos alunos,
métodos e técnicas, avaliação);
- Rever e atualizar o conteúdo do plano de ensino fazendo sempre os ajustes neces-
sários quanto a progressão no conhecimento e adequação às condições de aprendizagem
dos alunos;

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 27
- Facilitar a preparação das aulas à medida que o material didático e as tarefas do
professor e aluno podem ser selecionadas de forma mais rápida.
Um ponto importante sobre o planejamento é que ele não garante o bom andamento
do processo de ensino, é construído em função da direção, organização e coordenação de
ensino. Por isso é fundamental adequar à prática, às situações concretas e rever sempre
que necessário (LIBÂNEO, 1994).
Assim, para planejar é preciso levar em consideração os conhecimentos do proces-
so didático, metodologias específicas das matérias, e não menos importante, a experiência
prática do professor.
As Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) destacam a importância dos conteúdos
disciplinares, da sua organização e seleção, bem como a importância de que o professor
seja autor de seu plano de ensino.
Portanto, existem diretrizes nacionais e estaduais do currículo escolar, que são
documentos como, por exemplo, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), as
Diretrizes Curriculares do Paraná (2008).
As escolas possuem plano político pedagógico com base nessas orientações, e o
professor é guiado semestralmente ou anualmente por um plano de ensino, que também
pode ser detalhado ou especificado em planos de aula.
Importante destacar que alguns aspectos da organização da aula contribuem para
uma melhor participação dos alunos nas aulas, como ter um bom plano de aula (objetivos,
conteúdos, métodos e procedimentos bem definidos), estimular e motivar a aprendizagem,
avaliação do rendimento e estabelecimento de normas e exigências (LIBÂNEO, 1994).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 28
3. COMO PLANEJAR? CONHECENDO O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO

O planejamento deve orientar a tomada de decisões da escola e corpo docente


diante das situações de ensino aprendizagem, tendo como objetivo alcançar os melhores
resultados possíveis (LIBÂNEO, 1994).
O planejamento ajuda a direcionar o processo de ensino, os conteúdos a serem
ensinados, ajuda a dar orientação e segurança aos professores em sua prática em sala de
aula (GODOI; BORGES, 2019).
Sendo assim, os principais requisitos para um planejamento adequado são levar
em consideração os objetivos e tarefas da escola, exigências dos planos e programas
oficiais, condições prévias dos alunos, princípios e condições do processo de transmissão
e assimilação dos conteúdos (LIBÂNEO, 1994).
É fundamental ter clareza na direção que se quer dar ao processo educativo, por
exemplo, possibilitar a assimilação de conhecimentos científicos e desenvolvimento de
capacidades intelectuais para participação ativa no meio social. Nesse caso, os objetivos
da escola seriam formação profissional, compreensão da realidade, formação política e
cultural (LIBÂNEO, 1994).
O planejamento também requer seguir as diretrizes gerais dos programas oficiais.
Estes trazem orientações de núcleos comuns de conhecimentos e buscam assegurar o
direito à educação para todos os brasileiros. No entanto, essas diretrizes são apenas
referências, cabendo às escolas elaborar seus próprios planos. Para isso são importantes
os conhecimentos em Didática, Psicologia, Sociologia, e da disciplina específica sob res-
ponsabilidade do professor (LIBÂNEO, 1994).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 29
Outro ponto é o conhecimento prévio do aluno e seu nível de preparo, ou seja,
suas experiências anteriores, conhecimentos, habilidades, hábitos de estudo e nível de
desenvolvimento. Também cabe aqui conhecer o ambiente social em que vivem esses
alunos, linguagem utilizada, condições de vida e trabalho (LIBÂNEO, 1994).
Também é importante para o planejamento dominar os meios e condições de
condução do processo de assimilação ativa nas aulas. Isso significa que o planejamento
didático deve ser orientado pela prática na sala de aula (LIBÂNEO, 1994).
Em relação ao planejamento participativo, é possível citar a questão do plano polí-
tico pedagógico da escola. Deve ser produto de um trabalho coletivo e do consenso entre o
corpo docente, expressando seu posicionamento (LIBÂNEO, 1994).
O que se vê muitas vezes é uma preocupação maior em preparar os professores para
que eles sejam bons executores do planejamento ou politicas desenvolvidas por outros profis-
sionais que muitas vezes inclusive estão longe da sala de aula (GODOI; BORGES, 2019).
O problema é que o professor tem papel fundamental em colocar em prática o
projeto político pedagógico escolar, é um mediador e deveria ter participação também no
planejamento e construção, não se limitando apenas ao papel de executor (SACRISTÁN,
2000 apud GODOI; BORGES, 2019).
Além disso, considerando também o dia a dia de trabalho, e chegando um pouco
mais na consolidação do planejamento, é possível citar a questão da participação e inclusão
dos alunos nos planos da escola ou professor.
Segundo Libâneo (1994) quando os objetivos ou plano de aula, ou ainda as etapas
ou passos didáticos são explicitados aos alunos, a tendência é que eles participem e cola-
borem mais, evitando desobediências e conversas desnecessárias pois precisam cumprir
os objetivos da aula juntamente com o professor e colegas.

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 30
4. QUAIS OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA SÃO ESSENCIAIS PARA A
FORMAÇÃO DO ALUNO?

De uma forma geral, a Educação Física pode ser definida como uma prática peda-
gógica que, no contexto escolar, trabalha com formas de atividades ligadas à expressão
corporal, tais como jogo, esporte, dança, ginástica, que consistem na cultura corporal (CO-
LETIVO DE AUTORES, 1992).
A perspectiva da Educação Física Escolar que considera o desenvolvimento da
aptidão física do homem como objeto de estudo, acaba contribuindo historicamente para a
defesa dos interesses da sociedade capitalista (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Isso porque trabalha para educar o homem forte, ágil, apto, obediente, que respeita
normas e hierarquia, alienando-o da sua condição de sujeito histórico, que não precisa
necessariamente se adaptar, mas pode transformar a realidade social (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Nessa perspectiva o objetivo é desenvolver a aptidão física, por meio do exercício
de atividades corporais que levem ao rendimento máximo de sua capacidade física (COLE-
TIVO DE AUTORES, 1992).
Assim, o esporte acaba sendo selecionado pois remete ao alto rendimento. Nesse
sentido também são selecionadas as modalidades esportivas mais conhecidas e de maior
prestígio social (por exemplo, voleibol, basquetebol etc.) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 31
Na perspectiva da cultura corporal, o objetivo é diferente. Desenvolver uma reflexão
sobre as formas de representação do mundo que o homem produziu ao longo da história
por meio da expressão corporal (jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, ma-
labarismo, contorcionismo, etc.). Essas manifestações corporais são entendidas enquanto
formas de representação simbólica da realidade, criada historicamente e culturalmente
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também traz orientações no sentido
das práticas corporais e cultura corporal, articulando a Educação Física à área das lingua-
gens. Também considera que as vivências ligadas à prática corporal geram conhecimento
insubstituível à medida que estão aliadas aos significados sociais (BRASIL, 2018).
Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 27):
É preciso que o aluno entenda que o homem não nasceu pulando, saltando,
arremessando, balançando, jogando etc. Todas essas atividades corporais
foram construídas em determinadas épocas históricas, como respostas a de-
terminados estímulos, desafios ou necessidades humanas.

Transmitir ao aluno essa visão de historicidade, de que a produção humana é


histórica e provisória o ajudará a assumir a postura de criar outras atividades corporais
(COLETIVO DE AUTORES, 1992). Isso significa que a Educação Física poderá ajudar a
formar pessoas e não apenas sujeitos que se submetem à lógica capitalista.
Isso pode ser alcançado substituindo o individualismo por solidariedade, competição
por cooperação, instigando a criatividade, enfatizando a liberdade de expressão dos movi-
mentos, em contraposição à dominação e submissão (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
É importante ter o cuidado de não fomentar vivências e experiências de sucesso
para uma minoria e de insucesso para outros por meio da ênfase na competitividade e
concorrência (KUNZ et. al., 2004).
Outro ponto importante é que além de trabalhar a expressão corporal por meio dos
jogos, esportes, dança, ginástica, é válido acrescentar a esses conteúdos outros temas
sociais pertinentes (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Dentre esses temas estão ecologia, saúde pública, relações sociais do trabalho,
preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição do solo urbano, distri-
buição da renda, dentre outros (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
No que se refere aos conteúdos essenciais na perspectiva da cultura corporal, os
conteúdos podem ser então didaticamente distribuídos em 6 unidades temáticas: brincadei-
ras e jogos, esporte, lutas, ginástica, dança e práticas corporais de aventura (BRASIL, 2018).
A seguir serão apresentadas definições desses conteúdos bem como sugestões de
atividades a serem incorporadas na prática escolar.

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 32
O jogo corresponde a um processo criativo de modificação da realidade de forma
imaginária. É um fator de desenvolvimento à medida que estimula o pensamento criativo e
a ação para além do que se vê (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
São atividades que ocorrem com limitação de tempo, em espaço determinado,
possuem regras que são seguidas de forma coletiva. Além disso, são marcadas pela apre-
ciação do ato de brincar em si, ou seja, são atividades prazerosas (BRASIL, 2018).
Seguem algumas sugestões de temas de jogos para serem trabalhados na Educa-
ção Infantil (Pré-Escolar) e 1ª a 3ª séries do Ensino Fundamental, com base no Coletivo de
Autores (1992, p. 46):
- Reconhecimento de si mesmo e das próprias possibilidades de ação.
- Reconhecimento das propriedades externas de materiais ou objetos para jogar, sejam
eles do ambiente natural ou construídos pelo homem.
- Identificação das possibilidades de ação com esses materiais/objetos e das relações
destes com a natureza.
- Pensamento, imagem e a conceituação verbal dessa imagem.
- Interrelações com as outras matérias de ensino.
- Relações sociais: criança-família, criança-crianças, criança-professor, criança-adultos.
- Vida de trabalho do homem, da própria comunidade, das diversas regiões do país, de
outros países.
- Convivência com o coletivo, das suas regras e dos valores que estas envolvem.
- Auto-organização, a auto avaliação e a avaliação coletiva das próprias atividades.
- Elaboração de brinquedos.
Sugestões de temas a serem trabalhados com a 4ª a 6ª séries do Ensino Fundamental
(COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.47):
- Jogar tecnicamente e empregar o pensamento tático.
- Desenvolvimento da capacidade de organizar os próprios jogos e decidir suas regras.

Sugestões de jogos para 7ª a 8ª séries do Ensino Fundamental (COLETIVO DE


AUTORES, 1992, p.48):
- Organização técnico-tática e o julgamento de valores na arbitragem.
- Necessidade de treinamento e avaliação individual e coletiva para jogar bem tanto
técnica quanto taticamente.
- Decisão de níveis de sucesso.
Sugestões de temas de jogos para 1ª a 3ª séries do Ensino Médio (COLETIVO DE
AUTORES, 1992, p.48):

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 33
- Conhecimento sistematizado e aprofundado de técnicas e táticas, e da arbitragem.
- Conhecimento sistematizado e aprofundado sobre o desenvolvimento/treinamento
da capacidade geral e específica de jogar.
- Prática organizada conjuntamente entre escola/comunidade.
O esporte é uma das práticas mais conhecidas da contemporaneidade. É mar-
cado pela comparação de desempenho entre adversários, possui um conjunto de regras
formais, institucionalizadas por organizações (associações, federações e confederações
esportivas). (BRASIL, 2018).
Pode-se dizer ainda que o esporte é uma prática social e um fenômeno complexo
que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Nesse
sentido, o esporte está subordinado aos princípios da sociedade capitalista (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Suas características marcantes, como a exigência de um rendimento máximo,
comparação de rendimento, regras rígidas e racionalização dos meios e técnicas, revelam
a reprodução das desigualdades sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Para trabalhar o esporte na escola, visto que ele também faz parte da cultura
corporal, é importante focar nos valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, a
solidariedade e respeito humano (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A BNCC traz sete categorias de esporte: marca (comparar os resultados registrados
em segundos, metros ou quilos, exemplo: atletismo, remo, ciclismo, levantamento de peso);
precisão (acertar um alvo, exemplo: bocha, curling, golfe, tiro com arco, tiro esportivo);
técnico combinatório (resultado é comparado a padrões, exemplo: ginástica artística e
rítmica, nado sincronizado, saltos ornamentais); rede/ quadra dividida (arremessar, lançar
ou rebater a bola, exemplo: vôlei de quadra ou praia, tênis); campo e taco (rebater a bola
lançada pelo adversário o mais longe possível, exemplo: beisebol, críquete); invasão ou
territorial (introduzir ou levar uma bola ou outro objeto a uma meta ou setor da quadra/
campo defendido pelos adversários, exemplo: basquete, futebol, futsal, handebol, rúgbi);
combate (disputas, exemplo: judô, boxe, esgrima, taekwondo) (BRASIL, 2018).
Serão explicitadas sugestões de trabalho contemplando o futebol, atletismo, volei-
bol e basquetebol.
O futebol pode ser contemplado enquanto jogo (com normas, regras, exigências
físicas, técnicas, táticas); trabalho; espetáculo esportivo; fenômeno cultural (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 34
O atletismo é composto por práticas criadas pelo homem como correr, saltar e arre-
messar. Assim, é importante trabalhar a prática desses movimentos bem como as provas:
corridas de resistência, velocidade (com e sem obstáculos), campo (cross-country), com
aclives-declives (de rua ou pedestrianismo) revezamento, saltos (no sentido horizontal:
extensão e triplo, no sentido vertical: altura e com vara), arremesso de peso, lançamentos
(dardo, disco, martelo) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
O voleibol consiste em um jogo em que os jogadores buscam evitar que a bola
caia no próprio campo de jogo, fazendo-a cair no campo do adversário por cima de uma
rede. Podem ser trabalhados os fundamentos que servirão como base para outros jogos e
brincadeiras também. (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Os fundamentos do voleibol são saque (início da jogada), recepção (receber o saque
do adversário), levantamento (preparação para o ataque), ataque (passar a bola para o cam-
po adversário tentando dificultar a defesa), bloqueio (interceptação do ataque do adversário),
defesa (evitar que a bola caia no próprio campo) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
No basquete é disputada uma bola, utilizando apenas as mãos, o objetivo é atingir
um alvo, que é defendido pelo adversário. Os fundamentos do basquete também servem
de base para outros movimentos e jogos. Em relação a atacar, os fundamentos são jogar
a bola para o companheiro, driblar (progredir com a bola quicando-a) e arremessar (jogar a
bola em direção à cesta). A defesa é marcada por dificultar os passes, dribles e arremessos
do adversário (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Sobre as lutas, são disputas corporais marcadas por técnicas, táticas e estratégias
com objetivo de imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o adversário de um determinado
espaço. Marcada por ações de ataque e defesa. É possível trabalhar lutas brasileiras e de
diversos países do mundo (por exemplo, judô, aikido, jiu-jítsu, muay thai, boxe, esgrima,
etc.) (BRASIL, 2018).
A respeito das lutas brasileiras, destaque para a capoeira que marca a luta de eman-
cipação dos negros no Brasil. A capoeira é uma manifestação cultural e é importante que seja
trabalhada especialmente a nível de historicidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A ginástica envolve atividades como corridas, saltos, lançamentos e lutas. É uma
forma particular de exercitação que com ou sem uso de aparelhos pode permitir importantes
experiências corporais. Os fundamentos são saltar (se desprender da ação da gravidade
chegando no ar), equilibrar (vencer a ação da gravidade), Rolar/girar (dar voltas sobre os
eixos do próprio corpo), trepar (subir em suspensão pelos braços, com ou sem ajuda das
pernas, em superfícies verticais ou inclinadas), balançar (pegar impulso e se movimentar
em “vaivém”) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 35
Algumas sugestões conforme as idades, são, para alunos da educação infantil e da
1ª a 3ª série do ensino fundamental (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 55):
- Atividades que trabalhem os próprios fundamentos (saltar, equilibrar, balançar
e girar) apresentando ao mesmo tempo o ambiente natural (declives, buracos, árvores,
colinas), a própria construção da escola, praça, rua, quadra onde acontece a aula.
- Formas ginásticas organizadas para promover vivências de identificação de
sensações afetivas e/ou cinestésicas (prazer, medo, tensão, desagrado, enrijecimento,
relaxamento).
Para alunos da 4ª a 6ª série seria interessante trabalhar formas técnicas das diver-
sas ginásticas (artística, rítmica, aeróbica, etc). Além de desenvolver projetos individuais ou
em grupo de prática com apresentações na escola e para a comunidade (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Na 7ª e 8ª série também programas de formas ginásticas, mas com técnicas mais
aprimoradas e considerando os interesses dos próprios alunos, com apresentações dentro
e fora da escola, que envolvam a comunidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Para o ensino médio é possível aprofundar um pouco mais as formas ginásticas,
trazendo maior conhecimento técnico da ginástica artística e rítmica, por exemplo. Além de
formas ginásticas que impliquem conhecimento científico/técnico aprofundado da ginástica
em geral, permitindo a vivência do treinamento sem perder de vista a perspectiva crítica do
seu significado social (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A dança representa diversos aspectos da vida do homem, é uma linguagem que
permite transmitir sentimentos, emoções (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Pode ser
definida como um conjunto de práticas corporais marcadas por movimentos rítmicos e
coreografias (BRASIL, 2018).
Um ponto importante quando se trata do ensino da dança é o confronto que existe
entre as formalidades técnicas e o aspecto expressivo. Mas é importante desenvolver no
aluno as habilidades técnicas sem deixar de lado a liberdade de expressividade (COLETI-
VO DE AUTORES, 1992).
De uma forma geral, em relação ao desenvolvimento técnico, é possível abordar
os fundamentos ritmo (cadência), espaço (formas, trajetos, direções), energia (tensão,
relaxamento, explosão). Para o conteúdo expressivo, alguns possíveis temas são ações da
vida diária, estados afetivos, sensações corporais, mundo do trabalho e escola, problemas
sócio-políticos atuais (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 36
As práticas de aventura se referem à experimentação corporal ligadas a situações
de imprevisibilidade e ambiente desafiador. Podem ser de natureza ou urbanas. Exemplos
de práticas de aventura na natureza: corrida orientada, corrida de aventura, corridas de
mountain bike, rapel, tirolesa, arborismo, etc. Já as práticas de aventura urbanas são a
prática de parkour, skate, patins, bicicleta etc. (BRASIL, 2018).
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) apresentam elementos
estruturantes a serem trabalhados na disciplina de Educação Física. São conteúdos
considerados articuladores, que podem integrar, agregar aos eixos principais/ seis
unidades temáticas.
A proposta é articular cultura corporal a outros temas como corpo, ludicidade,
saúde, mundo do trabalho, desportivização, técnica e tática, lazer, diversidade e mídia
(PARANÁ, 2008).
Esses temas também podem ser chamados de temas transversais, que são as-
suntos que podem ser abordados em qualquer disciplina com foco em formar cidadãos
críticos, de bom convívio social (TEIXEIRA, 2020).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 37
5. PLANOS DE AULA: O QUE SÃO, SUA IMPORTÂNCIA E COMO ORGANIZÁ-LOS

A aula é um espaço organizado de forma intencional para possibilitar a apreensão,


por parte do aluno, do conhecimento específico da Educação Física e sua relação com a
realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
O plano de aula estabelece as diretrizes e meios de realização do trabalho do
professor. Em outras palavras, deve ser um instrumento para ação, no sentido de funcionar
como um guia de orientação prática, e devem ser constituídos por ordem sequencial, obje-
tividade, coerência e flexibilidade (LIBÂNEO, 1994).
Deve ter ordem sequencial progressiva, seguindo o fato de que os objetivos são
alcançados progressivamente, passo a passo. A objetividade seria a equivalência entre o
plano e a realidade, ou seja, as possibilidades dos alunos e professores e possibilidades
materiais da escola (LIBÂNEO, 1994).
A coerência deve existir entre os objetivos gerais, específicos, métodos e avaliação.
Precisa ser flexível e passível de alterações. Não pode ser um documento rígido conside-
rando que o processo de ensino remete a movimento e precisa ser modificado diante das
condições específicas do dia a dia em sala de aula (LIBÂNEO, 1994).
A importância de planejar uma aula se reflete no fato de que é na aula que são cria-
das as condições e meios necessários para assimilação ativa dos conteúdos, habilidades e
desenvolvimento de capacidades (LIBÂNEO, 1994).

UNIDADE III Planejamento:


Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 38
O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino, ou seja, é a especificação
em pequenas unidades para a situação didática real. Precisa ser documentado para me-
lhor orientar a ação do professor além de servir para revisões para os anos subsequentes
(LIBÂNEO, 1994).
A preparação de aulas ou construção do plano de aula, portanto, é uma tarefa
fundamental e regular que faz parte do dia a dia de trabalho dos professores. Alguns fatores
a serem levados em consideração são a duração da aula, espaço ou local de realização e
materiais disponíveis (GODOI; BORGES, 2019).
Para elaboração é importante considerar também que nem sempre será possível
concluir um assunto ou tópico em uma única aula. Segundo Libâneo (1994, p. 267):
O processo de ensino aprendizagem se compõe de uma sequência articula-
da de fases: preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas;
desenvolvimento da matéria nova; consolidação (fixação, exercícios, recapi-
tulação, sistematização); aplicação; avaliação. Isso significa que precisamos
planejar não uma aula, mas um conjunto de aulas.

Nesse sentido, o professor deve partir do tópico a ser trabalhado e desdobrá-lo em uma
sequência lógica (conceitos, problemas, ideias), proporcionando compreensão clara do assunto.
O plano de aula deve ter como base objetivos, que são os resultados esperados em
relação aos conhecimentos adquiridos e habilidades desenvolvidas. Alguns itens que de-
vem compor um plano de aula são: preparação e introdução do assunto, desenvolvimento
e estudo ativo do assunto, sistematização e aplicação, tarefas de casa (LIBÂNEO, 1994).
Para cada item deve ser indicado método, procedimentos e materiais didáticos, em
outras palavras, o caminho a trilhar para alcançar os objetivos. O professor também precisa
prever formas de verificar o rendimento dos alunos por meio de avaliações iniciais (verificação
do que o aluno já sabe), durante o processo e ao final. Podem ser informais, para análise do
progresso dos alunos, ou formais, para atribuição de notas (LIBÂNEO, 1994).
O tempo deve ser pensado apenas enquanto previsão, deve ser flexível e adaptado
à realidade da aula. É importante considerar as características dos alunos para determinar
se será necessário gastar mais ou menos tempo em cada item, por exemplo, na introdução
ao assunto, sistematização e aplicação, etc. (LIBÂNEO, 1994).
Alguns exemplos de métodos são aulas de exposição oral da matéria, discussão
ou trabalho em grupo, estudo dirigido individual, demonstração prática, aula de exercícios,
recapitulação, aula de verificação para avaliação (LIBÂNEO, 1994).
Importante destacar que o planejamento é um norte, uma orientação, mas não se pode
perder de vista as adaptações necessárias diante de imprevistos, como fatores climáticos por
exemplo (chuva, frio) e até mesmo da receptividade dos alunos ao conteúdo, por exemplo,
maior interesse ou resistência, dificuldade de aprendizagem (GODOI; BORGES, 2019).

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Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 39
O plano de aula é fundamental, portanto, para organização do tempo, planejamento
de atividades e também para motivação e participação dos alunos, quando explicitado de
forma clara. Isso porque pode estimular a participação dos alunos no cumprimento daquele
determinado conteúdo, à medida em que eles são incluídos e se sentem parte dos objetivos
a serem alcançados (LIBÂNEO, 1994).

SAIBA MAIS

A Educação Física Adaptada é uma modalidade da Educação Física que surgiu para
atender as especificidades da pessoa com deficiência. É um programa diversificado
de atividades que considera as capacidades e limitações individuais (COSTA; SOUSA,
2004). A Declaração de Salamanca (1994) se configura como um marco na educação
especial e estabelece a questão da escola para todos, no sentido de capacitar as esco-
las para atender todas as crianças conforme suas necessidades.
Para saber mais conteúdos a serem trabalhados na Educação Física conforme as res-
pectivas séries consulte a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018) ou
as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008).

Fonte: Brasil (2018) e Paraná (2008).

REFLITA

A qualidade de uma aula depende de vários fatores, como, por exemplo, fatores sociais,
psicológicos, dinâmica da escola, dentre outros. Mas, é importante que você, enquanto
professor, sempre faça algumas perguntas: os objetivos e conteúdos foram adequados
à turma? A duração da aula foi adequada? Os métodos e técnicas foram adequados
para atender às diferentes características dos alunos? Os alunos realmente tiveram um
aprendizado consolidado sendo possível seguir com os conteúdos?

Fonte: Questões baseadas em Libâneo (1994).

Nesta unidade você aprendeu sobre planejamento, plano de aula. Se imagine enquanto
professor de educação física do ensino fundamental de uma escola, iniciando uma tur-
ma nova. O que você levaria em consideração para preparar um plano de aula sem ter
contato prévio com essa turma?

Fonte: a autora

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Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 40
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado (a) aluno (a), nesta unidade você aprendeu alguns princípios e questões
associados a uma boa organização e planejamento de aula de Educação Física.
Você viu que existem três tipos de planejamento: o plano da escola, o plano de
ensino e o plano de aulas, além dos elementos como objetivos, conteúdos e métodos.
O planejamento permite a possibilidade de pensar criticamente e prever futuras
ações docentes, além de realizar avaliações contínuas para adequar os objetivos e ações
à realidade do contexto escolar em que esse planejamento será aplicado.
Também foram apresentados os requisitos para um planejamento adequado, como
levar em consideração os objetivos e tarefas da escola, exigências dos planos e programas
oficiais, condições prévias dos alunos, princípios e condições do processo de transmissão
e assimilação dos conteúdos.
Você também teve acesso a sugestões de estruturação de conteúdos das seis
unidades temáticas da Educação Física: brincadeiras e jogos, esporte, lutas, ginástica,
dança e práticas corporais de aventura.
Ao final foram apontados direcionamentos ligados a construção de um plano de
aula que consiste em um guia de orientação prática que precisa ter ordem sequencial,
objetividade, coerência e flexibilidade.

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Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 41
LEITURA COMPLEMENTAR

No texto a seguir você terá um exemplo de aula sobre “rebater” que é uma técnica
presente em diferentes esportes. Essas sugestões poderão ser utilizadas por você para
trabalhar uma técnica de forma a proporcionar reflexões e participação ativa dos alunos.

Aula sobre “rebater” (COLETIVO DE AUTORES, 1992):


O professor pode incentivar a criação de jogos pelos próprios alunos. Propor como
tema da aula “Rebater”. Colocar à disposição dos alunos materiais como: bolas de diversos
tamanhos, materiais para rebater as bolas (por exemplo, raquetes de madeira ou plástico,
pequenas tábuas estreitas e compridas que podem servir como raquetes, cabos de vassou-
ra curtos ou compridos, etc.).
Em um primeiro momento, questionar os alunos sobre as formas que poderiam ser
encontradas para bater na bola de maneira a lançá-la para o colega, que por sua vez irá
rebatê-la. Depois, propor que os alunos encontrem formas coletivas de jogos de rebater.
Finalmente, convidar os alunos a expressar seu pensamento sobre: quais os jogos mais
fáceis? Quais os mais difíceis? Quais os mais prazerosos? Quais os que podem ser feitos
com os amigos na rua?

Fonte: Coletivo de Autores (1992).

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Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 42
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Preparando-se para ser professor. Passo a Passo: manual
de didática
Autor: Adriana Salete Loss.
Editora: Appris.
Sinopse: Esta obra apresenta as contribuições da Professora
Adriana Salete Loss, na área da Didática Geral, a partir das expe-
riências empreendidas na docência no Ensino Médio e no Ensino
Superior. A autora oferece ao leitor um Manual de Didática Geral.
Perpassa o histórico da didática, a docência, o planejamento, os
objetivos e conteúdos, a metodologia e a avaliação. A autora padro-
nizou uma metodologia interessante, que facilita a compreensão
do leitor: a problematização, o desenvolvimento da temática e o
fechamento. Este Manual de Didática Geral poderá contribuir com
a formação inicial e continuada de professores, tendo em vista
que apresenta um material prático com abordagens inerentes à
Didática Geral.

FILME/VÍDEO
Título: Billy Elliot.
Ano: 2001.
Sinopse: Billy Elliot (Jamie Bell) um garoto de 11 anos que vive
numa pequena cidade da Inglaterra, onde o principal meio de
sustento são as minas da cidade. Obrigado pelo pai a treinar boxe,
Billy fica fascinado com a magia do balé, ao qual tem contato
através de aulas de dança clássica que são realizadas na mesma
academia onde pratica boxe. Incentivado pela professora de balé
(Julie Walters), que vê em Billy um talento nato para a dança, ele
resolve então pendurar as luvas de boxe e se dedicar de corpo e
alma à dança, mesmo tendo que enfrentar a contrariedade de seu
irmão e seu pai sua nova atividade.

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Currículo e a Educação
Foco na Física
Educação Física Escolar 43
UNIDADE III
Interdisciplinaridade: A Educação
Física Para Além da Quadra
Professora Me. Aline Mendes de Lima

Plano de Estudo:
● Entendendo a interdisciplinaridade;
● Aspectos legais relacionados a interdisciplinaridade;
● A Educação Física e possibilidades: foco na interdisciplinaridade.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a interdisciplinaridade;
● Compreender os direcionamentos legais;
● Estabelecer as possibilidades da Educação Física na interdisciplinaridade.

44
INTRODUÇÃO

Olá prezado (a) aluno (a)! Seja bem vindo (a) a Unidade III. O assunto agora é inter-
disciplinaridade. Você já refletiu sobre a importância de ter acesso a diferentes disciplinas e
áreas do conhecimento? Será que esses diferentes olhares e conhecimentos apresentam
relação entre si? Qual a importância da interdisciplinaridade? Como estabelecer uma atua-
ção interdisciplinar?Nesta unidade você poderá compreender o que é considerado uma
atuação interdisciplinar, as quatro competências ligadas a uma atuação interdisciplinar, e
desafios. Você verá também alguns aspectos legais a partir da Lei das Diretrizes e Bases
(Lei nº 9.394/1996) e as Diretrizes Curriculares do estado do Paraná (2008).
Por fim, considerando que a educação física é componente curricular integrado ao
projeto político pedagógico da escola, segundo a Lei das Diretrizes e Bases, serão trazidas
contribuições práticas dessa área do conhecimento e como é possível consolidar a atuação
em Educação Física de forma interdisciplinar.
É importante que você, futuro profissional da Educação Física, se prepare para
levar contribuições dessa área do conhecimento para o desenvolvimento como um todo
dos alunos, bem como trabalhar de forma relacional com outras áreas. Em outras palavras,
a prática interdisciplinar fará parte do seu dia a dia de trabalho e nessa unidade você terá
acesso a conhecimentos e reflexões para essa prática.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 45


1. ENTENDENDO A INTERDISCIPLINARIDADE

A educação ou a escola possuem a função de transcender a transmissão de conhe-


cimentos, contribuindo também para formação, autonomia e cidadania. Em outras palavras,
é importante que a escola ajude a desenvolver competências sociais, linguísticas, criativas,
visão crítica (KUNZ et al., 2004).
Professores preocupados com essa formação geralmente buscam formas de in-
troduzir elementos de ensino que levam a autonomia, reflexão, desenvolvimento humano
como um todo (KUNZ et al., 2004).
O processo educativo é por condição interdisciplinar. Isso porque reflete a prática
social, que é complexa e requer múltiplos enfoques, no caso o olhar de diferentes disci-
plinas. Em outras palavras, o conhecimento transmitido precisa ter relação com a prática
humana, nisso reside o caráter interdisciplinar (FAZENDA, 1998).
Em relação à prática educativa e sua ligação com a prática humana, segundo Li-
bâneo (1994) a educação é um fenômeno social à medida que prepara as pessoas para a
vida em sociedade.
Consiste em um processo de prover os indivíduos de conhecimento e experiências
culturais tornando-os aptos a atuar e efetuar transformações no meio social (LIBÂNEO, 1994).
Os conteúdos da prática educativa são experiências, valores, crenças, modos de
agir, técnicas e costumes acumulados por várias gerações e transmitidos de forma a serem
assimilados e recriados pelas gerações subsequentes (LIBÂNEO, 1994).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 46


Portanto, diante da multiplicidade de conteúdos e questões que abrangem o pro-
cesso educativo, é possível entender a interdisciplinaridade inerente a ele.
Sobre o caráter interdisciplinar da prática educativa, Fazenda (1998) pontua que:
- Há sempre articulação do todo com as partes e dos meios com os fins.
- Deve ser sempre em função da prática, do agir, não só teoria.
- Precisa ter uma intencionalidade partilhada, uma razão de ser.
Segundo Fazenda (1998, p. 43): “não se trata apenas de uma justaposição de
múltiplos saberes: é preciso chegar à unidade na qual o todo se reconstitui como uma
síntese que, nessa unidade, é maior do que a soma das partes”.
Uma atuação interdisciplinar se constrói desde a formação e é possível citar quatro
competências ligadas a essa atuação: intuitiva (buscar sempre novas alternativas, romper os
planos rígidos e comuns), intelectiva (capacidade de refletir, analisar, organizar ideias), prática
(organização espaço temporal), emocional (autoconhecimento, afeto) (FAZENDA, 1998).
Mas, quando falamos em interdisciplinaridade é importante se atentar a alguns
pontos, como a fragmentação ou isolamento dos conteúdos e da prática profissional em
detrimento da integração. Além do distanciamento entre o que é estudado e a realidade ou
cotidiano dos alunos.
Fazenda (1998) chama atenção para a fragmentação dos componentes curriculares
escolares. Na prática é como se os alunos recebessem conteúdos das disciplinas como se
fossem isolados entre si. A autora destaca o quanto é importante que haja integração entre
as diferentes áreas de conhecimento e as atividades didáticas.
Além desse fragmento dos conteúdos das disciplinas, acaba acontecendo nas es-
colas também uma divisão das atividades docentes, técnicas e administrativas, quando na
verdade deveria acontecer integração e um caminhar no mesmo objetivo (FAZENDA, 1998).
Outra questão fundamental quando se fala em interdisciplinaridade é também ali-
nhar os conteúdos com a vida cotidiana fora da escola. Isso dará sentido ao que é aprendido
e promoverá muito mais desenvolvimento (FAZENDA, 1998).
Em relação à Educação Física, o que acontece na prática muitas vezes são
profissionais que realizam seu trabalho de forma isolada e nem participam das reuniões
pedagógicas da escola, ou ainda a utilização da Educação Física para atingir objetivos de
outras áreas, por exemplo, a alfabetização ou até mesmo problemas de disciplina (FER-
RAZ; MACEDO, 2001).
A prática interdisciplinar realmente é complexa e desafiadora e precisa romper
alguns obstáculos, como a própria tendência a fragmentar o conhecimento e a dificuldade
em trabalhar especificidades mas de forma articulada (SOUZA; ROJAS, 2008).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 47


Segundo Fazenda (1998) a interdisciplinaridade só será efetiva na prática se o
projeto educacional tiver bem claro e bem estabelecido os objetivos que deseja alcançar e
se todos os envolvidos estiverem trabalhando na mesma direção.
A interdisciplinaridade precisa ser construída na prática: “rompidas as fronteiras
entre as disciplinas, mediações do saber, na teoria e na pesquisa, impõe-se considerar que
a interdisciplinaridade é condição também da prática social” (FAZENDA, 1998, p. 41).
A educação é um fenômeno social, um meio de transmissão de conhecimentos e
habilidades, desenvolvimento de capacidades intelectuais, pensamento crítico e criativo
para que o indivíduo atue na transformação social (LIBÂNEO, 1994).
O professor é o responsável por conduzir o processo de ensino, ocupando des-
sa forma papel fundamental na sociedade e também grande responsabilidade social
(LIBÂNEO, 1994).
Os conteúdos devem ser abordados na escola de forma contextualizada e sob
relações interdisciplinares. É necessário ensinar o aluno a sempre colocar a prova o que
lhe é ensinado, rompendo a rigidez e atemporalidade que muitas vezes são dados aos
conhecimentos (PARANÁ, 2008).
Seguindo essa perspectiva, os conhecimentos apresentados aos alunos devem
contribuir para a crítica às contradições sociais, políticas e econômicas presentes na socie-
dade (PARANÁ, 2008).
Os conhecimentos transmitidos aos alunos também devem proporcionar entendi-
mento do que há de melhor naquilo que foi produzido cientificamente, a reflexão filosófica,
a criação artística, nos contextos em que esses saberes se constituem (PARANÁ, 2008).
Para que isso ocorra a escola deve promover a prática pedagógica caracterizada
por diferentes metodologias, concepções de ensino, formas diferenciadas de aprendizagem
e avaliações, conscientizando professores e alunos da necessidade de uma transformação
emancipadora (PARANÁ, 2008).
Portanto, como o foco do processo de ensino é formar o indivíduo como um todo,
fica mais fácil compreender a importância da interdisciplinaridade e de que o professor seja
especialista na sua área mas converse e se integre com as demais.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 48


2. ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS A INTERDISCIPLINARIDADE

Segundo o artigo 2º da Resolução de 03/1998, “as propostas pedagógicas das


escolas deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado para Educação
Física e Arte como componentes curriculares obrigatórios”.
A Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) traz que a integralização curricular
pode incluir projetos e pesquisas que envolvam temas transversais, como exibição de
filmes de produção nacional, direitos humanos e prevenção de violência contra crianças e
adolescentes, educação alimentar e nutricional.
Conforme a Resolução de 03/1998 Art. 6º “Os princípios pedagógicos da Identidade,
Diversidade e Autonomia, da Interdisciplinaridade e da Contextualização, serão adotados
como estruturadores dos currículos do ensino médio”.
Nesse sentido, uma das contribuições da Educação Física pode ser aliar as prá-
ticas ligadas a cultura corporal ou atividades que envolvam movimento mas que tenham
como tema norteador alguns temas transversais ou os princípios estruturadores, como os
mencionados na Lei das Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) e na Resolução de 03/1998.
Em relação a interdisciplinaridade, algumas considerações são (BRASIL, 1998):
- O princípio é de diálogo entre todos os conhecimentos, no sentido de questiona-
mento, negação, complementação, ampliação, esclarecimentos.
- O ensino não deve ficar apenas na descrição, mas sim promover nos alunos a
capacidade de analisar, explicar, prever e intervir. Essas habilidades serão mais facilmente

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 49


desenvolvidas justamente por meio da integração das diferentes disciplinas ou áreas de
conhecimento. Cada área do conhecimento deve ter sua contribuição para o estudo comum
de problemas concretos, ou desenvolvimento de projetos de investigação e/ou ação.
- As disciplinas são recortes das áreas de conhecimentos que representam e não são
suficientes para explicar isoladamente a realidade dos fatos físicos e sociais. Por isso mesmo
é importante buscar interações que permitam uma compreensão mais ampla da realidade.
- O objetivo comum é a aprendizagem dos alunos, para isso as disciplinas devem
ser didáticas e estimular competências comuns ao mesmo tempo em que contribuem para o
desenvolvimento de diferentes capacidades. A complementaridade entre as disciplinas é in-
dispensável para um desenvolvimento intelectual, social e afetivo mais completo e integrado.
- A escola apresenta ampla responsabilidade de contribuir para a constituição de
identidades que integram conhecimentos, competências e valores que permitam o exercício
pleno da cidadania e a inserção no mundo do trabalho.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) as relações inter-
disciplinares se estabelecem quando:
- Conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina auxiliam a compreensão de um
recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina;
- Ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se conceitos, referen-
ciais teóricos e conhecimentos de outras disciplinas que possibilitem uma abordagem mais
abrangente desse objeto.
As diretrizes curriculares do Estado do Paraná (2008) trazem os aspectos interdis-
ciplinares até mesmo como base do currículo escolar. Durante a elaboração das diretrizes
foram considerados para constituição das disciplinas a sua relevância e relação com as
ciências de referência,
Isso significa que apesar das diferenças na abordagem, em outras palavras, apesar
das especificidades de cada disciplina, todas devem se estruturar a partir dos mesmos
princípios epistemológicos e cognitivos, e trazer contribuições e aplicações práticas no dia
a dia e realidade dos alunos (PARANÁ, 2008).
No entanto, as especificidades apresentam seu valor. O aprofundamento dos co-
nhecimentos organizados nas diferentes disciplinas escolares são requisito básico para o
estabelecimento e consolidação efetiva das relações interdisciplinares. É preciso um bom
conhecimento específico para a compreensão da totalidade (PARANÁ, 2008).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 50


Um ponto importante é que incluir no projeto político da escola e trabalhar a inter-
disciplinaridade também requer clareza e atuação sobre a concepção de formação que se
deseja aderir, seja conservadora ou crítica (PARANÁ, 2008).
Dependendo da forma como é trabalhada, a interdisciplinaridade pode apresentar
papel fundamental no desenvolvimento da visão crítica nos alunos. Segundo as diretrizes
curriculares do Estado do Paraná (2008, p. 20):
Tal perspectiva (perspectiva interdisciplinar) se constitui, também, como con-
cepção crítica de educação e, portanto, está necessariamente condicionada
ao formato disciplinar, ou seja, à forma como o conhecimento é produzido,
selecionado, difundido e apropriado em áreas que dialogam mas que consti-
tuem-se em suas especificidades.

A efetividade da prática interdisciplinar se dará pela adequada articulação das disci-


plinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão dos conteúdos umas
das outras (PARANÁ, 2008).
Importante destacar que a interdisciplinaridade no ensino dos conteúdos escolares
evidencia as limitações das disciplinas em uma abordagem isolada, mas também mostra as
especificidades de cada disciplina para uma possível compreensão de um objeto qualquer
(PARANÁ, 2008).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 51


3. A EDUCAÇÃO FÍSICA E POSSIBILIDADES: FOCO NA
INTERDISCIPLINARIDADE

A educação física é componente curricular integrado ao projeto político peda-

gógico da escola segundo a Lei das Diretrizes e Bases (n.9.394/1996) consolidando a

perspectiva de que o homem é um ser em movimento, que se relaciona com o mundo por

meio do movimento.
Nesse sentido, podemos falar em cultura do movimento, que é (KUNZ et al., 2004, p. 62):
conjunto integrado de ações e significados relacionados ao movimento, com-
partilhado por determinado grupo ou comunidade num determinado espaço e
tempo, e que o caracteriza, funcionando como mecanismo identitário, forma-
tivo e regulador dessa esfera da vida social.

Portanto, a Educação Física é uma área do conhecimento com foco nas práticas

corporais de movimento e apresenta especificidades pedagógicas. No entanto, o professor

de educação física pode e deve se apoiar nessas especificidades para construir trabalhos

interdisciplinares, dialogando e contribuindo para outras áreas (SOUZA; ROJAS, 2008).

Fala-se muito sobre uma educação para formação cultural, humana, pautada no

aprender a aprender e nos valores humanos. A Educação Física traz importante contribui-

ção nesse sentido já que o diálogo primário com o mundo desde o nascimento ocorre por

meio de movimentos (KUNZ et al., 2004).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 52


É pelo movimento que entendemos o mundo e as pessoas ao nosso redor. Logo,
se movimentar livremente é uma das formas de tirar as amarras das referências externas
que nos são impostas o tempo todo (KUNZ et al., 2004).
Em relação aos valores humanos, a Educação Física apresenta muito potencial
para trazer contribuições para o desenvolvimento da cidadania dos alunos, abordando te-
mas como ética, saúde, pluralidade cultural, meio ambiente, sexualidade (TEIXEIRA, 2020).
A partir das práticas corporais a Educação Física pode trazer diversas contribuições
a nível interdisciplinar. Como ajudar a melhorar as interações sociais, o agir, gesticular, se
movimentar, que são ações fundamentais para a aprendizagem de um modo geral (SOUZA;
ROJAS, 2008).
Segundo Souza e Rojas (2008, p. 209) “o fazer motor é envolver-se, concentrar-se, estar
atento, realizar operações mentais com os conceitos expostos e necessários de todos os tipos”.
Em se tratando da educação infantil, por exemplo, o movimento corporal, os gestos,
motricidade, interação com brinquedos e brincadeiras são bases para o desenvolvimento
de uma forma geral, o que implica na interdisciplinaridade (SOUZA; ROJAS, 2008).
A motricidade também vem carregada de significado e possibilidades, considerando
que é uma forma de experimentar e interagir, possibilitando descobertas e conhecimentos
sobre si, sobre o outro e o mundo. O controle motor contribui para o desenvolvimento pleno
e para a autonomia (SOUZA; ROJAS, 2008).
Em relação ao desenvolvimento da autonomia por meio da educação física, Kunz
et al. (2004) chamam atenção para a forma que o mundo atual está organizado e o quanto
as crianças estão sendo submetidas a diversas atividades além de receber informações na
velocidade do mundo eletrônico.
Antes mesmo das crianças descobrirem o mundo, lhe são impostas as referências
do mundo dos adultos, como, por exemplo, uma agenda lotada desde cedo. As crianças
precisam receber o acesso às mais modernas tecnologias e conhecimentos, no entanto,
há que se ter um cuidado para que isso não escravize nem tira a sensibilidade emocional
afetiva, nem aliene totalmente as crianças (KUNZ et al., 2004).
A recreação e os jogos, no ensino infantil, são uma oportunidade de experimentar,
descobrir, inventar, exercitar e conhecer as próprias habilidades. Há estímulo da curiosi-
dade, iniciativa e autoconfiança. Habilidades que ajudarão a melhorar a aprendizagem, o
desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção (SOUZA; ROJAS, 2008).
Segundo Souza e Rojas (2008, p. 217):

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 53


A Educação Física, ao desenvolver ludicamente as habilidades básicas tais
como correr, saltar, pular, balançar, equilibrar, escorregar, rastejar, cair, puxar,
empurrar, sentar, explorar, observar, esconder, ordenar, manipular, e muitas
outras, estará contribuindo para o crescimento intelectual, social, e motor da
criança.

O movimento permite expressão de pensamentos, sentimentos e emoções. Integra


emoções e relações sociais. Muitas vezes é visto como algo que impede a concentração
e prejudica a aprendizagem. Mas, na verdade, é um caminho possível integrar conheci-
mentos das diversas disciplinas com atividades caracterizadas por movimento e ludicidade
(SOUZA; ROJAS, 2008).
Há uma estreita relação entre o movimentar-se e a capacidade de planejar e ante-
cipar ações, construção do pensamento, apropriação da cultura. O movimento é muito mais
que simplesmente se deslocar no espaço (FERRAZ; MACEDO, 2001).
Nesse sentido, o lúdico e o movimento são fundamentais para o aprendizado e
desenvolvimento das pessoas. E deve fazer parte não apenas das aulas de Educação Fí-
sica, mas também nas atividades de outras disciplinas e áreas do conhecimento (SOUZA;
ROJAS, 2008).
É consenso que a prática de atividade física por meio de jogos e brincadeiras na
infância é muito saudável e favorável ao desenvolvimento. E também é importante para um
autoconhecimento (KUNZ et al., 2004).
A educação física também apresenta papel fundamental no que se refere ao auto-
conhecimento no sentido de proporcionar experiências de movimentos que permitem entrar
em contato com as próprias capacidades e limitações corporais (KUNZ et al., 2004).
Segundo Kunz et al. (2004, p.24 - 25): “A linguagem e o movimentar-se humano
(como diálogo com o mundo) são as poucas possibilidades que ainda nos restam para
uma melhor compreensão de quem somos e ter, a partir deles, uma melhor consciência do
mundo em que vivemos”.
Um tema que diz respeito a diversas áreas do conhecimento mas que são facil-
mente trabalhados nas aulas de Educação Física são os valores. Atividades que envolvam
respeito, tolerância, dignidade, confiança, perseverança (FERRAZ; MACEDO, 2001).
É possível e necessário superar a fragmentação do conhecimento e construir uma
Educação Física focada na articulação de todas as capacidades do aluno. É importante um
diálogo com as diversas áreas do conhecimento revendo conteúdos, métodos, processos
de aprendizado e desenvolvimento pautados também nas práticas corporais (SOUZA;
ROJAS, 2008).
Não é o caso de inventar novos conteúdos da educação física, mas ressignificar os
conteúdos tradicionalmente inseridos nos currículos escolares (esportes, danças, ginásti-
cas, lutas, jogos e brincadeiras) (KUNZ et. al., 2004) e articular as contribuições com outras
áreas do conhecimento.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 54


SAIBA MAIS

Lúdico é uma forma de expressão humana, ou seja, é uma linguagem humana. É carac-
terizado pela expressão de alegria, diversão e prazer. Pode se manifestar por meio de
brincadeiras, jogos ou em aulas de uma forma geral.

Fonte: Gomes (2004).

REFLITA

Nesta unidade você teve acesso a conteúdos ligados à importância de articular a Edu-
cação Física com outras áreas do conhecimento. Pensando nisso, como você, enquanto
professor de Educação Física, poderia trabalhar o raciocínio lógico e matemático aliado
a coordenação motora? Pense em possíveis atividades e brincadeiras que podem ser
trabalhadas na aula de Educação Física.

Fonte: a autora.

O desenvolvimento da moral e boa convivência social são pontos a serem desenvolvi-


dos no ser humano de uma forma geral. A escola apresenta papel fundamental nesse
sentido. Mas qual o papel e quais são as possíveis contribuições da Educação Física?

Fonte: a autora.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 55


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que a educação prepara as pessoas para a vida em sociedade e trans-


formação social. O processo educativo é fundamentalmente interdisciplinar já que reflete a
prática social e requer diferentes olhares, envolvendo então diversas disciplinas ou áreas
do conhecimento.
Uma atuação interdisciplinar está ligada a quatro competências: intuitiva, intelecti-
va, prática e emocional. Alguns desafios são a fragmentação ou isolamento dos conteúdos
e o distanciamento entre o que é estudado e a realidade dos alunos.
Nesta unidade você aprendeu algumas definições e direcionamentos legais quanto
à prática interdisciplinar a partir da Lei das Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996) e as
Diretrizes Curriculares do estado do Paraná (2008).
Falar em interdisciplinaridade é considerar que embora existam diferentes discipli-
nas, todas devem se estruturar a partir dos mesmos princípios, estabelecer relações entre
si e trazer contribuições e aplicações práticas no dia a dia e realidade dos alunos.
Em relação a Educação Física, você viu que é possível e necessário construir prá-
ticas interdisciplinares a partir das práticas corporais, do movimento, contribuindo para a
formação social, descobrir a si mesmo e o mundo, aprendizagem e desenvolvimento como
um todo.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 56


LEITURA COMPLEMENTAR

Nesta unidade você viu a importância de usar a criatividade para trabalhar conteú-
dos da Educação Física de forma interdisciplinar. O texto a seguir apresenta uma sugestão
de trabalho que contempla questões da Educação Física aliadas a alguns outros temas
sociais e transversais.
Exercício físico aliado a conteúdos que são trabalhados em outras disciplinas,
como, por exemplo, da área das Ciências, ou mais especificamente, Geografia, História,
Matemática e Biologia.

Como trabalhar temas sociais e transversais aliados à prática de exercício físico?


Transpondo os muros da escola e dentro das possibilidades, você pode se juntar a
professores de outras disciplinas e construir um evento a ser realizado em contato com a
natureza mas que possa trabalhar diversos temas, atividades e reflexões interdisciplinares.
Por exemplo, propor aos alunos uma atividade de acampamento na natureza. Nes-
se caso é possível oferecer aos alunos diversas atividades, desde o planejamento de quais
materiais levar, o trabalho em equipe para montagem das barracas, além da possibilidade
de praticar caminhadas recreativas, natação em rios, lagos ou mar, montanhismo e outros.
Também é possível explorar a fauna e flora.
Alguns temas que podem ser trabalhados enquanto se explora o ambiente são a
questão da devastação ou preservação do meio ambiente, a contradição de ser o homem
ao mesmo tempo construtor e predador, questões ligadas a geografia, ciências da natureza,
biologia, curiosidades sobre animais, plantas, história do local.
São diversas as possibilidades contemplando Educação Física, Matemática, Histó-
ria, Geografia e Biologia. É uma possibilidade bastante desafiadora e complexa, mas vem
mostrar que é possível construir ações interdisciplinares.
É possível realizar atividades ou eventos que contemplem especialidades ou ques-
tões mais próximas da Educação Física (como nadar, caminhar, correr, escalar, dentre ou-
tros movimentos ou práticas corporais) ao mesmo tempo em que são aliadas e integradas
a outros temas ou assuntos de outras áreas do saber.
Com um pouco de criatividade e trabalho em equipe, a interdisciplinaridade vai
se tornando possível e ajudando a construir e desenvolver indivíduos com visão crítica,
autonomia, conhecimentos gerais e integrados, e aptos a transformar seu ambiente social.
E a Educação Física certamente pode trazer grandes contribuições nesse desenvolvimento
e formação de pessoas.

Fonte: a autora com base em Coletivo de Autores (1992).

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 57


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Educação Física: interdisciplinaridade, aprendizagem
e inclusão
Autor: Vanja Ferreira.
Editora: Sprint.
Sinopse: Muito se tem falado sobre a contribuição da interdiscipli-
naridade na ciência e na educação. Esse livro, encontra subsídios
que estabelecem a inter-relação da disciplina Educação Física
com as demais disciplinas do currículo escolar, explicitando sua
importância na formação integral do educando, mostrando sua
contribuição no processo de construção do conhecimento e ainda
demonstrando de que maneira a Educação Física pode contribuir
para o processo de inclusão escolar.

FILME/VÍDEO
Título: Vem dançar
Ano: 2005
Sinopse: Pierre Dulaine (Antonio Banderas) é um dançarino de
salão profissional, que se torna voluntário para dar aulas de dança
em uma escola pública de Nova York. Pierre tenta apresentar seus
métodos clássicos, mas, logo enfrenta resistência dos alunos,
mais interessados em hip hop. É quando deste confronto nasce
um novo estilo de dança, mesclando os dois lados e tendo Pierre
como mentor. O filme retrata a mudança de comportamento dos
alunos que eram considerados rebeldes. Pierre dá aula para alunos
que ficavam na sala de retenção devido a mau comportamento.
Conforme o professor de dança confia neles e busca os entender
para além desse mau comportamento, os ajuda a descobrirem seu
potencial e habilidades.

FILME/VÍDEO 02
Título: Duelo de Titãs
Ano: 2001
Sinopse: Em 1971, a diretora de uma escola de ensino médio
em Alexandria, no estado da Virgínia, é forçada a integrar ado-
lescentes negros a um colégio só de brancos. Então, ela contrata
Herman Boone, um técnico negro, para comandar o time de futebol
americano da instituição. O entusiasmo com o famoso e venerado
esporte é colocado à prova pela tensão racial, enquanto Boone
sofre preconceitos raciais por parte dos demais técnicos e até
mesmo de jogadores do seu time. Mas, aos poucos ele conquista
o respeito de todos e torna-se um grande exemplo para o time e
também para a pequena cidade em que vive.

UNIDADE III Interdisciplinaridade: A Educação Física Para Além da Quadra 58


UNIDADE IV
Professor e os Projetos
Interdisciplinares na Escola: Desafios e
Possibilidades
Professora Me. Aline Mendes de LIma

Plano de Estudo:
● Papel do Professor de Educação Física;
● Criando e executando projetos interdisciplinares na escola;
● Avaliação no contexto da interdisciplinaridade;
● Desafios: alunos e comunidade escolar.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o papel do professor de Educação Física;
● Estabelecer a construção e atuação em projetos interdisciplinares;
● Compreender a avaliação em Educação Física Escolar;
● Expor alguns desafios da atuação interdisciplinar em Educação Física.

59
INTRODUÇÃO

Seja muito bem vindo (a) a Unidade IV “Professor e os Projetos Interdisciplinares


na escola: desafios e possibilidades”. Nessa unidade daremos continuidade ao tema inter-
disciplinaridade que teve início na unidade anterior.
Você vai poder compreender um pouco mais a fundo o papel do professor de
Educação Física diante da interdisciplinaridade. Além disso, serão apresentadas algumas
questões ligadas à construção de um projeto interdisciplinar, os benefícios de uma atua-
ção interdisciplinar.
Também serão apresentados alguns pressupostos para que um projeto interdisci-
plinar ocorra, e algumas possibilidades e ferramentas para consolidação de uma prática
interdisciplinar por parte do professor de Educação Física.
Outro assunto dessa unidade é a avaliação. Será feita uma contextualização de
como geralmente ocorrem as avaliações, bem como sugestões de como organizá-la e
estruturá-la, pensando também na Educação Física enquanto saber interdisciplinar.
Por fim, o último tópico desta unidade consiste em uma reflexão sobre os desafios de
uma prática interdisciplinar e o papel dos professores, alunos e comunidade escolar em geral.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 60


1. PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando se fala em interdisciplinaridade, a Educação Física tem suas implicações


no fazer coletivo, no planejamento e tomada de decisão em grupo, desenvolvendo trabalhos
que aproximem a Educação Física dos ideais institucionais e curriculares (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
O papel do professor de Educação Física é articular a prática de ensino ao projeto
histórico. Em outras palavras, alinhar a prática ao projeto político pedagógico da escola
e ao ser humano que se deseja formar, trabalhando na mesma direção com as demais
disciplinas (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Os conteúdos e práticas, metodologias do ensino, a transmissão e avaliação de
conteúdos devem ser constantemente analisados e referenciados nos interesses coletivos,
no projeto pedagógico e no projeto histórico (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Além disso, o processo ensino-aprendizagem da Educação Física envolve aspec-
tos de conhecimento, habilidades e atitudes, e também as condutas sociais dos alunos nas
suas mais diversas manifestações, tendo a expressão corporal como linguagem (COLETI-
VO DE AUTORES, 1992).
Quando se fala de formação global do aluno, são importantes algumas conside-
rações quanto à Educação Física. Tradicionalmente a Educação Física se resume aos
exercícios físicos e ginástica ou aos esportes e jogos (KUNZ et. al., 2004).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 61


É importante ter o cuidado de não fomentar vivências e experiências de sucesso
para uma minoria e de insucesso para outros por meio da ênfase na competitividade e
concorrência (KUNZ et al., 2004).
Além disso, outro cuidado é não cair em situações em que durante uma aula, por
exemplo, dar atenção aos considerados “mais capazes” em detrimento dos demais. Atenção
em não ficar classificando os alunos entre os “mais” e “menos” capazes para a realização
das atividades (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Importante destacar a questão do esporte, que também é muito tradicional e
abrangente no campo da Educação Física especialmente como componente curricular do
ensino fundamental e médio. Algumas críticas a essa tradição são a tendência à exclusão,
competitividade exagerada, especialização precoce (KUNZ et al., 2004).
No entanto, a Educação Física não pode abandonar o esporte. Nesse sentido é im-
portante buscar uma construção de um esporte escolar, mantendo o acesso aos fundamen-
tos técnicos e táticos necessários para o aprendizado de uma modalidade, mas usando-o
principalmente como ferramenta de desenvolvimento humano (KUNZ et al., 2004).
O professor de Educação Física pode adotar uma postura de permitir erros, em
vez de punir. Contribuir para a construção de uma perspectiva na qual o erro faz parte do
processo ensino aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Outro ponto importante em relação ao papel do professor de Educação Física é a
avaliação. Ela geralmente é usada predominantemente pelos professores e alunos para
atender as normas da escola e legislação vigente, seleção de alunos para competições ou
apresentações (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Além disso, geralmente é feita pela consideração da “presença” em aula como critério
de aprovação ou, são feitas medidas biométricas (peso, altura etc.) e de técnicas (execução
de gestos técnicos, destreza motora, qualidades físicas) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
O problema é que essa forma de avaliação e de ensino pode transformar a educação
física escolar numa atividade desestimulante e segregadora, especialmente para os alunos
que não apresentam habilidades excepcionais ou que não tenham gosto ou interesse pelo
rendimento esportivo (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Portanto, é importante que o professor de Educação Física construa uma prática
em conformidade com o projeto escolar e os demais professores, bem como com o modelo
de homem que deseja ajudar a formar. Uma atuação que priorize cooperação e evolução
pessoal em detrimento a comparações.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 62


2. CRIANDO E EXECUTANDO PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA

A interdisciplinaridade por definição requer a existência de pelo menos duas


disciplinas bases distintas e uma relação ou interação entre elas (GERMAIN, 1991 apud
FAZENDA, 1998).
Considerando que a prática interdisciplinar requer integração de conhecimentos, al-
gumas questões norteadoras a serem feitas são: por que integrar? (Favorecer a integração
das aprendizagens e dos saberes? Favorecer a gestão de classe? Promover um trabalho
temático?), o que integrar? (Objetos de estudo? Estratégias de ensino? Técnicas?), quem
integra? (Professores? Alunos? Idealizadores de programas?), como integrar? (Quais são
os métodos? Procedimentos? Situações didáticas?) (FAZENDA, 1998).
Alguns benefícios da atuação interdisciplinar são alunos mais motivados, com
melhores condições de lidar com questões e problemas complexos, maior criatividade e
atenção, melhor assimilação por conta das múltiplas conexões, desenvolvimento acadê-
mico, cognitivo e afetivo. Outros benefícios são conhecimento em campos específicos e
conhecimento geral, pensamento crítico, preparação para graduação ou profissionalização
(FAZENDA, 1998).
A ação interdisciplinar requer parceria a medida que envolve integração de saberes
diferentes daquele em que se é especialista. Isso faz com que os professores precisem
dialogar uns com os outros e trabalhar em parceria. Isso é positivo do ponto de vista de que
gera também conhecimentos mais elaborados (PESSOA, 2016).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 63


O problema é que é muito comum acontecer de uma equipe de professores le-
cionarem em conjunto no início de um curso, programa ou até mesmo ano letivo, depois,
conforme vão ficando mais seguros com as perspectivas de outras disciplinas, partem para
um trabalho individual (FAZENDA, 1998).
Nesse sentido, vale ressaltar a importância de reuniões periódicas entre os docen-
tes como ferramenta importante para o trabalho interdisciplinar. Não só no início do ano ou
do trabalho, mas de forma regular. Isso porque as reuniões favorecem um espaço de troca,
de ouvir outros saberes, compartilhar experiências e estratégias e se manter trabalhando
em equipe (PESSOA, 2016).
Algumas maneiras de trabalhar a interdisciplinaridade são por meio de seminários
de encerramento do último semestre, projetos finais, alinhamento de disciplinas trabalhan-
do de forma paralela, agrupamento de disciplinas em torno de seminários integradores
comuns, experiências externas como trabalhos de campo (FAZENDA, 1998).
Uma ferramenta interessante também para a prática interdisciplinar é a memória
registro. Consiste no registro por parte dos alunos da sua história enquanto estudante: re-
sultados de trabalhos, dificuldades e pontos positivos do processo de ensino aprendizagem
em geral (PESSOA, 2016).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 64


3. AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA INTERDISCIPLINARIDADE

A avaliação do ponto de vista tradicional foi criada pensando na preparação para


o vestibular. Mas, após reformas educacionais entende-se que novas formas de conceber
o ensino e novas formas de avaliação devem ser pensadas, com foco no desenvolvimento
máximo das capacidades dos alunos, para além do conseguir o máximo número de alunos
na universidade (DARIDO, 2017).
Em outras palavras, “a avaliação do processo ensino-aprendizagem é muito mais
do que simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos” (CO-
LETIVO DE AUTORES, 1992, p. 68).
No que se refere a Educação Física, existe a perspectiva tradicional ou esportivista
na qual ocorrem avaliações com foco na medição (medidas antropométricas) e desem-
penho das habilidades físicas e motoras. É marcada por um modelo ideal, uma norma ou
padrão correspondente ao desempenho esperado (DARIDO, 2017).
Por exemplo, teste de suficiência física, aplicado no início do ano e eficiência física
no fim do ano. Exercícios de verificação da força (abdominal, membros superiores – flexão
no solo, barra, e banco) e de coordenação geral (burpee). A partir das repetições os alunos
são classificados em fraco, regular, bom e excelente (DARIDO, 2017).
As limitações dessa perspectiva são a aplicação mecânica, descontextualizada e
aleatória: não se explicam os objetivos nem há vinculação desses exercícios com o con-
teúdo trabalhado no decorrer do ano. A avaliação tem caráter punitivo, classificatório ou de
seleção (DARIDO, 2017).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 65


Esse modelo tradicional de Educação Física escolar, bem como a forma de avalia-
ção, passou a ser alvo de críticas. O argumento é de que a avaliação deveria ser mais do
que uma tabela de pontos (DARIDO, 2017).
A preocupação então se volta para aspectos internos do indivíduo, principalmente
as dimensões psicológicas (considera-se que cada aluno chega com determinado nível de
conhecimento, experiências anteriores e características pessoais) (DARIDO, 2017).
A autoavaliação passa a ser valorizada considerando que apenas o indivíduo co-
nhece sua própria experiência, podendo definir o que é significativo da aprendizagem das
tarefas (DARIDO, 2017).
Nesse sentido, surgiu a Abordagem Crítica/ Proposta Crítico Superadora com foco
expandido para o como se adquire conhecimento, valorizando a contextualização dos fatos
e o resgate histórico. Nessa perspectiva a avaliação é uma referência para analisar a apro-
ximação ou distanciamento em relação ao eixo circular que norteia o projeto pedagógico da
escola (DARIDO, 2017).
Aos poucos o paradigma de quantificação e aplicação de testes foi sendo abando-
nado e dando espaço para um modelo mais qualitativo, seguindo critérios de observação e
frequência. O objeto de avaliação não é mais o resultado obtido pelo aluno e sim o processo
de ensino-aprendizagem. O objeto de avaliação não é mais só o aluno e sim toda a equipe
que integra o processo (DARIDO, 2017).
Na prática, muitos professores usam critérios ligados à participação, interesse e
frequência do que resultados em testes físicos. Mas, poucos informam aos alunos sobre
esses critérios. Parece que falta ao professor tratar a avaliação como um processo do inte-
resse geral. Também há pouca diversificação dos critérios, o critério quase que exclusivo é
a participação (DARIDO, 2017).
No entanto, não podemos ignorar a complexidade do objeto da Educação Física
que é o movimento. Há uma infinidade de fatores envolvidos (força muscular, resistência,
agilidade, equilíbrio, ritmo, sentimentos, cognição, afetividade, experiências anteriores,
conhecimento, etc.) o que dificulta também o estabelecimento de critérios de avaliação
(DARIDO, 2017).
Nesse sentido, alguns pontos a serem considerados são: por que avaliar? Quem
avalia? Como avaliar? O que avaliar? Quando avaliar? (DARIDO, 2017).
A avaliação deve dar ao professor elementos para uma reflexão contínua sobre
sua prática (escolha de competências, objetivos, conteúdos e estratégias), quais aspectos
devem ser revistos ou ajustados para o processo de ensino aprendizagem (DARIDO, 2017).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 66


Para o estudante a avaliação é tomada de consciência de suas conquistas, dificul-
dades e possibilidades. Para a escola é uma forma de ajudar a reconhecer prioridades e
ações educacionais que demandam maior apoio (DARIDO, 2017).
Portanto, a avaliação contribui para o autoconhecimento e análise das etapas já ven-
cidas, para alcançar objetivos previamente traçados. É um processo contínuo de diagnóstico
da situação com a participação de professores, alunos e equipe pedagógica e que deve ser
informada desde o início do ano letivo sobre a forma de avaliação (DARIDO, 2017).
A avaliação deve cumprir a função de expor as condições gerais dos alunos, for-
necer dados reais e concretos para dar base para as decisões didático-metodológicas em
relação aos ciclos de aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Em relação a quem avalia, os alunos devem participar da definição de critérios.
Professores devem expor as necessidades. A autoavaliação do aluno é uma boa forma de
desenvolvimento de autonomia. Também é indicada avaliação dos professores e processo
de ensino (DARIDO, 2017).
É importante que os envolvidos no processo de avaliação participem ativamente
da construção da avaliação. Ao aluno deve ser dada a oportunidade de expressar seus
objetivos e participar da avaliação (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Possíveis formas de avaliar são por meio de registros sistemáticos em fichários
cumulativos, reservando um período em algumas aulas para que os alunos façam autoava-
liação e avaliação da equipe pedagógica. Analisar o conhecimento sobre um assunto antes
e depois de estudá-lo é outra opção (DARIDO, 2017).
Os alunos também podem ser avaliados de forma sistemática (observações das
situações de vivência, perguntas e respostas formuladas durante as aulas) ou de forma
específica (provas, pesquisas, relatórios, apresentações). É importante adotar formas de
verificação do conhecimento mais diversificadas possível (DARIDO, 2017).
A respeito dos conteúdos da avaliação, algumas sugestões são (DARIDO, 2017):
- Aquisição de competências, habilidades, conhecimentos e atitudes dos alunos
- Dimensões cognitivas (competências e conhecimentos), motora (habilidades
motoras e capacidades físicas) e atitudinais (valores). Devem estar integradas no
processo de aprendizagem, mas na avaliação pode-se priorizar uma delas.
- Provas teóricas, trabalhos, seminários, gravações, observações sistemáticas,
testes de capacidades físicas.
Sobre “quando avaliar” é importante que seja feita uma avaliação inicial. Algumas
questões a serem feitas são (DARIDO, 2017):

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 67


- O que os alunos sabem em relação ao que eu quero ensinar?
- Quais experiências anteriores eles tiveram em relação ao conteúdo?
- Quais os seus interesses?
- Quais os estilos de aprendizagem?
Essa é uma avaliação diagnóstica, que ajudará o professor a conhecer melhor seus
alunos. Outros tipos de avaliação são a avaliação formativa, que corresponde ao processo
e ocorre no decorrer das aulas (pode ser feita ao final de cada aula ou em qualquer situação
para melhorar o processo de ensino aprendizagem). E a avaliação informativa, que ocorre
ao final do processo (DARIDO, 2017).
Para avaliação é importante considerar três dimensões: conceitual, atitudinal e
procedimental. A avaliação na dimensão conceitual é caracterizada por (DARIDO, 2017):
- Saber se os alunos aprenderam o conteúdo, adquiriram conhecimento
- Provas teóricas
- Observar o uso dos conceitos em diferentes situações/ aplicabilidade dos conteúdos
- Uma forma de avaliar é observar o uso dos conceitos em trabalhos de equipe,
debates, exposições, conversas entre os alunos. A prova escrita resolve o proble-
ma da dificuldade do professor em observar tudo isso em todos os alunos. Mas é
importante ter o cuidado então de na prova não cobrar só definição de conceito e
sim resolução de problemas, interpretação dos conceitos.

Sobre a avaliação na dimensão atitudinal (DARIDO, 2017):


- A tradição escolar não avaliou sistematicamente essa dimensão por considerá-la
subjetiva ou sem importância.
- Geralmente se avalia apenas a participação, mas a formação dos alunos enquanto
cidadãos também faz parte das aulas de Educação Física e também precisa ser
avaliada.
- Como avaliar? Trabalhando as situações de conflito (adaptação a novos movi-
mentos, uso de espaço e materiais, regras, expressões de sentimentos, inibições e
dificuldades...). Propor debate e diálogo.
- Observar nos alunos sua capacidade de aprender a reconhecer na convivência e
práticas pacíficas, maneiras eficazes de crescimento coletivo, dialogando, refletindo
e adotando uma postura democrática sobre diferentes pontos de vista.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 68


- A melhor fonte de informação é a observação sistemática de opiniões e atuações
nas atividades grupais, debates, manifestações dentro e fora da aula, distribuição
das tarefas, durante o recreio e atividades esportivas.
- Utilizar fichas de observação das atitudes dos alunos.

A avaliação na dimensão procedimental se refere a (DARIDO, 2017):


- Saber fazer/ aplicação dos conteúdos.
- Até que ponto os alunos sabem dançar, jogar, fazer pesquisa, utilizar um instru-
mento, orientar-se no espaço.
- Como avaliar? Avaliar o progresso nos testes físicos, comparando o aluno con-
sigo próprio.
- Ir além das habilidades motoras e capacidades físicas: avaliar a capacidade de
coletar notícias, confecção de livros, produção de textos.

A nota não deve ter a função de punir o aluno, mas dar um feedback sobre o pro-
cesso de ensino aprendizagem. A questão de atribuir ou não notas nas aulas de Educação
Física gera bastante debates, mas segundo Darido (2017) deve ser discutida e decidida
democraticamente por todos os interessados (escola, aluno, pais). Ainda mais em se tratan-
do da prática interdisciplinar, na qual diversas áreas do conhecimento estarão relacionadas.
A avaliação está relacionada ao projeto pedagógico da escola, e deve ser aplicada
exclusivamente para “informar e orientar para a melhoria do processo ensino-aprendiza-
gem” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 75).
Um dos papéis do professor de Educação Física também é fazer com que a ava-
liação do processo ensino-aprendizagem seja referência para a análise da aproximação ou
distanciamento do eixo curricular que norteia o projeto pedagógico da escola (COLETIVO
DE AUTORES, 1992).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 69


4. DESAFIOS: ALUNOS E COMUNIDADE ESCOLAR

A integração das diversas áreas do saber não garante a interdisciplinaridade. Ela


transcende a simples integração dos elementos do conhecimento. É necessário buscar
combinações e aprofundamento de informações (FAZENDA, 2013).
Uma atuação interdisciplinar requer antes de mais nada uma postura de debruçar-se
sobre o conhecimento, de buscar sempre mais conhecimento e se atualizar (FAZENDA, 2013).
Um desafio importante a ser citado é a preparação dos professores para uma
atuação interdisciplinar e a qualidade dessa preparação (FAZENDA, 1998). Muitas vezes
a prática interdisciplinar é confundida com uma justaposição de disciplinas diversas. Além
disso, uma preocupação dos professores costuma ser como dominar conhecimentos espe-
cíficos dessa diversidade de disciplinas (FAZENDA, 2013).
É difícil pensar em interdisciplinaridade diante da tradição tecnicista de ensino e
educação compartimentalizada. Segundo Fazenda (2013, p.76):
Quase sempre a não efetividade dessa prática decorre da ausência de co-
nhecimento do seu significado, falta alguém que tome para si o compromisso
de levá-la adiante ou, ainda, as normas educacionais apresentam-se como
obstáculos naturais à construção da interdisciplinaridade de conhecimento.
Com efeito, não será procurando quem facilite o processo que a interdiscipli-
naridade se realizará.

Nesse sentido, um desafio para os educadores é uma mudança de atitude no


sentido de superar o parcelamento do saber em direção a uma compreensão global. Além
de entender que o conhecimento interdisciplinar transcende os limites do saber escolar e
ganha força à medida que inclui as questões da vida social (FAZENDA, 2013).

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 70


A interdisciplinaridade é desafiadora e complexa visto que instiga a competência do
educador para uma reorganização do saber e produção de um novo em uma sociedade,
pode-se dizer, acostumada com o saber fragmentado (FAZENDA, 2013).
A prática interdisciplinar é uma atitude que requer coragem e muita dedicação (FA-
ZENDA, 2013). E embora a atitude inicial do professor faça toda diferença, existe o papel
dos alunos e comunidade escolar que também precisam adotar uma postura de se abrir
para o novo.
É uma prática, portanto, que envolve professores, alunos e comunidade escolar
efetuando esforço conjunto para romper com as visões fragmentadas do conhecimento;
aliar teoria e prática, ou seja, conhecimentos que tenham aplicação e estejam ligados ao
dia a dia de vida das pessoas (FAZENDA, 2013).
Além disso, é uma prática marcada pela formação integral, pela totalidade, embora
possa formar especialistas. Também envolve construção de conhecimento para além do
apenas ensinar e aprender (FAZENDA, 2013).

SAIBA MAIS

A palavra “interdisciplinar” segundo o dicionário Michaelis significa “aquilo que é comum


a duas ou mais disciplinas”, “que envolve duas ou mais áreas de conhecimento ou de
estudo”.

Fonte: Michaelis Online (2021)

REFLITA

Qual o papel do professor de Educação Física em relação à prática interdisciplinar na


Educação Física Escolar? Quais aspectos são importantes levar em consideração?
Fonte: a autora
Nesta unidade trabalhamos o tema interdisciplinaridade na Educação Física Escolar.
Mas sabemos que a postura interdisciplinar de um profissional vai se desenvolvendo
desde a graduação. Qual ou quais relações você vê entre os conteúdos estudados nes-
sa unidade e as demais disciplinas que você está estudando na graduação?

Fonte: a autora

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 71


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos à última unidade. Aqui os temas se resumiram ao papel do professor


de Educação Física, atuação em projeto interdisciplinar, avaliação e desafios para a co-
munidade escolar.
O papel do professor de Educação Física é desenvolver trabalhos que aproximem
a Educação Física dos ideais institucionais e curriculares, aliar a prática, metodologias do
ensino, a transmissão de conteúdo e avaliação aos interesses coletivos. Trabalhar questões
ligadas a conhecimento, habilidades e atitudes de uma forma geral a partir da expressão
corporal, além de priorizar a cooperação e o desenvolvimento pessoal.
No que se refere a uma prática interdisciplinar ou construção de um projeto inter-
disciplinar você viu nesta unidade que existem algumas questões norteadoras importantes:
Por que integrar? O que integrar? Quem integra? Como integrar?
A prática interdisciplinar pode ser consolidada ou facilitada por meio de reuniões
periódicas, eventos ou propostas que envolvam a escola e comunidade escolar como um
todo, e uma ferramenta sugerida foi a memória registro.
A avaliação precisa ser organizada a partir de algumas questões norteadoras como:
por que avaliar? Quem avalia? Como avaliar? O que avaliar? Quando avaliar?
Deve ser estruturada de tal forma que contribua para o autoconhecimento, sirva de
parâmetro para análise das etapas já vencidas em relação ao conhecimento, seja base para
as decisões didático-metodológicas e para as ações em direção ao alcance dos objetivos
do projeto político pedagógico como um todo.
Portanto, a interdisciplinaridade requer coragem, atitude, mudança de paradigmas
e parceria entre professores, alunos e comunidade escolar, mas traz diversas contribuições
para a formação integral dos alunos.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 72


LEITURA COMPLEMENTAR

Nesta unidade você compreendeu alguns aspectos de atuações interdisciplinares e


também como realizar avaliação nas aulas de Educação Física. A seguir você terá acesso a
um modelo ou exemplo de organização de uma aula e como pode ser realizada a avaliação.

Exemplo de uma aula de ginástica


(COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.80 - 81)
Tema da aula
Cultura corporal- afro brasileira (capoeira, xangô, maculelê, frevo, batuque, lundu).
Quadros com os significados dos temas e elementos da ginástica (saltos, giros, equilíbrios
etc.) presentes nesses temas.

Organização da aula
Parte 1: Fundamentação Teórica - quadros, cartazes, sínteses, textos simples sobre
o tema, tabelas explicativas sobre atividade cárdio-respiratória e métodos de treinamento.

Parte 2: Desenvolvimento da aula - procedimentos de introdução ao tema, expli-


cações, exercitações, experimentações, descobertas, elaboração de séries, elaboração de
uma comunicação escrita e apreciações sobre o evento aula.

Avaliações
Momento avaliativo na primeira parte da aula: após exposições teóricas dos
conteúdos os alunos precisam responder às seguintes questões: “Por que treinar e como
configurar séries de treinamento aeróbico?”. No momento seguinte, dados da realidade são
explicitados a partir do conhecimento dos alunos, os quais deverão ser ampliados durante
a aula, na busca de novas sínteses. Essas sínteses são constantemente buscadas, como,
por exemplo, na exercitação dos elementos que constituem os temas selecionados (cul-
tura brasileira, controle cardiorrespiratório, as alterações do organismo sob exercitações
e treinamento). A construção do saber é elaborada em ações comunicativas, interativas.
Destaca-se aí o esforço coletivo na ampliação da sistematização do conhecimento. Tam-
bém são ensinados encadeamento de saltos, giros, molejos, balanceios etc. e a avaliação
desse momento através da apresentação de séries compostas pelos grupos, onde ficam
evidentes as novas sínteses.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 73


Momento avaliativo na segunda parte da aula: a professora e os alunos discutem
a elaboração de novas sínteses sobre o conteúdo tratado, agora por escrito, e fazem apre-
ciações pessoais sobre a aula.
Portanto, a avaliação não se reduz a partes, no início, meio e fim de um plane-
jamento, ou a períodos predeterminados. Não se reduz a medir, comparar, classificar e
selecionar alunos. Muito menos se reduz a análise de condutas esportivo-motoras, a gestos
técnicos ou táticas.
O que se destaca é que a avaliação apresenta, em sua variedade de eventos ava-
liativos, em cada momento avaliativo, o que a constitui como uma totalidade que tem uma
finalidade, um sentido, um conteúdo e uma forma.
O sentido que se busca é a concretização de um projeto político-pedagógico arti-
culado com um projeto histórico que tem como eixo curricular a apreensão e interferência
crítica e autonomia na realidade.

Fonte: Coletivo de Autores (1992, p.80 - 81)

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 74


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Ensino híbrido: personalização e tecnologia da educação
Autor: Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto, Fernando de Mello Trevi-
sani
Editora: Penso
Sinopse: é um livro feito por professores para professores. Resul-
tado das reflexões dos participantes do Grupo de Experimentações
em Ensino Híbrido desenvolvido pelo Instituto Península e pela
Fundação Lemann, este livro apresenta aos educadores possibili-
dades de integração das tecnologias digitais ao currículo escolar,
de forma a alcançar uma série de benefícios no dia a dia da sala
de aula, como maior engajamento dos alunos no aprendizado e
melhor aproveitamento do tempo do professor para momentos de
personalização do ensino por meio de intervenções efetivas.

FILME/VÍDEO
Título: Além da Sala de Aula
Ano: 2011
Sinopse: O filme é de origem norte-americana e conta a história,
baseada em fatos reais, de Stacey Bess que desde muito pequena
demonstrou desejo de se tornar professora. Ainda recém formada,
foi convidada para lecionar em uma escola-abrigo para pessoas
sem teto e no primeiro dia de aula se deparou um a situação de
dar aula em uma sala onde não havia livros, cheia de sucatas,
crianças em diferentes idades, má alimentação, poucos recursos e
ainda teve que lidar com os furtos do que ainda lhe restara. Stacey
pensou em desistir, mas ao conhecer um pouco mais das crianças,
resolveu buscar recursos para a escola. Então, a professora fez
uma reforma na sala, e passou a distribuir comida para as crianças
se alimentarem e conseguirem prestar atenção na aula.

UNIDADE IV Professor e os Projetos Interdisciplinares na Escola: Desafios e Possibilidades 75


REFERÊNCIAS

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ciais. Brasília: UNESCO, 1994.

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em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 18 mai. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 13 mai. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

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nais para o ensino médio. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de junho de 1998. Disponí-
vel em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb03_98.pdf. Acesso em: 24 mai. 2021.

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76
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ca em tempos de reformas. Curitiba: CRV, 2019.

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KUNZ, E; PIRES, G. L.; MATIELLO JUNIOR, E.; NEVES, A.; SANTOS, A. S. B. Didática
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MICHAELIS ONLINE. Dicionário de língua portuguesa. Disponível em: https://michaelis.


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PARANÁ. Diretrizes curriculares da Educação Básica Educação Física. Secretaria de


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um processo de construção coletiva a partir da pesquisa-ação. Revista Brasileira de Edu-
cação Física e Esporte, v. 26, n. 1, p. 9

77
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a) chegamos ao final da disciplina Desenvolvimento Curricular e


Interdisciplinaridade na Educação Física Escolar. Agora podemos dizer que você conhece
um pouco mais dos bastidores de uma escola, desde questões de leis e documentos, como
planejar uma aula, até o complexo fenômeno da interdisciplinaridade.
Nessa disciplina você aprendeu o que é educação básica, como ela é organizada,
o que é um currículo escolar, projeto político pedagógico, e teve acesso a orientações da
Base Nacional Comum Curricular.
Você também compreendeu questões de planejamento e organização, como por
exemplo, funções e importância do planejamento escolar, como realizar um planejamento
adequado, considerações sobre planejamento participativo. Um ponto muito importante
foram os conteúdos essenciais no ensino da Educação Física, tendo como eixo norteador
as práticas culturais.
Por fim entramos no tema interdisciplinaridade. Foi feita uma conceituação desse
tema, esclarecimentos sobre aspectos legais, e como consolidar a atuação em Educação
Física de forma interdisciplinar.
Também foi apresentada a importância do professor de Educação Física diante
da interdisciplinaridade, aspectos relacionados à construção de um projeto interdisciplinar,
como realizar avaliações e possibilidades e desafios para a comunidade escolar que deseja
consolidar uma prática interdisciplinar.
Consideramos que ao final dessa disciplina você esteja mais preparado para atuar
como professor de Educação Física, conhecendo um pouco mais dos bastidores de um
ambiente escolar, questões burocráticas, de organização, planejamento. Além de ter sido
introduzido a interdisciplinaridade, podendo ser um agente dessa prática tão importante
para formação de pessoas no ambiente escolar.

Muito obrigada e até a próxima!!

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