Você está na página 1de 92

Ética e Deontologia

na Educação Física
Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo
Professor Esp. Guilherme França Fusco

EduFatecie
E D I T O R A
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

K79e Kojo, Cleber Henrique Sanitá


Ética e deontologia na Educação Física / Cleber Henrique
Sanitá Kojo, Guilherme França Fusco. Paranavaí: EduFatecie,
2022.
91 p. : il. Color.

ISBN 978-65-80055-70-8

1. Educação Física. 2. Ética profissional. I. Fusco, Guilherme


França. II. Centro Universitário UniFatecie. III. Núcleo de
Educação a Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 174.9


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577
https://orcid.org/0000-0001-5409-4194

EduFatecie
E D I T O R A
UNIFATECIE Unidade 1
Reitor EQUIPE EXECUTIVA Rua Getúlio Vargas, 333
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira
Centro, Paranavaí, PR
Editora-Chefe
Diretor de Ensino Profa. Dra. Denise Kloeckner (44) 3045-9898
Prof. Ms. Daniel de Lima Sbardeloto
Diretor Financeiro
Editor Adjunto
Prof. Eduardo Luiz
Campano Santini Prof. Dr. Flávio Ricardo UNIFATECIE Unidade 2
Guilherme
Rua Cândido Bertier
Diretor Administrativo
Prof. Ms. Renato Valença Correia Assessoria Jurídica Fortes, 2178, Centro,
Profa. Dra. Letícia Baptista Paranavaí, PR
Secretário Acadêmico Rosa (44) 3045-9898
Tiago Pereira da Silva
Ficha Catalográfica
Coord. de Ensino, Pesquisa e Tatiane Viturino de
Extensão - CONPEX Oliveira
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza
Zineide Pereira dos UNIFATECIE Unidade 3
Coordenação Adjunta de Ensino Santos Rodovia BR - 376, KM
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman 102, nº 1000 - Chácara
de Araújo Revisão Ortográfica
e Gramatical Jaraguá , Paranavaí, PR
Coordenação Adjunta de Pesquisa Profa. Esp. Bruna (44) 3045-9898
Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Tavares Fernandes

Coordenação Adjunta de Extensão Secretária


Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Geovana Agostinho
Daminelli
Coordenador NEAD - Núcleo de
Educação à Distância
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Setor Técnico
Fernando dos Santos
Barbosa www.unifatecie.edu.br/site
Web Designer
Thiago Azenha
Projeto Gráfico, Design
Revisão Textual e Diagramação As imagens utilizadas neste
Beatriz Longen Rohling André Dudatt livro foram obtidas a partir
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante do site Shutterstock.
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto

Projeto Gráfico, Design e www.unifatecie.edu.br/


Diagramação editora-edufatecie
André Dudatt
edufatecie@fatecie.edu.br
AUTORES

Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo

● Especialista em História e Geografia pela Faculdade Integrada do Vale do Ivaí;


● Especialista em Gestão Escolar, Supervisão e Orientação pela ESAP - Faculda-
des Integradas do Vale do Ivaí;
● Especialista em Educação de Jovens e Adultos pela ESAP – Faculdades Inte-
gradas do Vale do Ivaí;
● Licenciado em História pela UNESPAR – FAFIPA, Paranavaí;
● Licenciado em Sociologia pela UNAR - Centro Universitário de Araras “Dr. Ed-
mundo Ulson”;
● Docente da educação básica (Fundamental e Médio) da SEED, PR;
● Docente da educação básica (Médio) do Colégio Fatecie Premium;
● Docente do ensino superior nos cursos de Arquitetura, Administração e Ciências
Contábeis na UniFatecie;
● Supervisor de tutoria e Tutor da EAD UniFatecie.
● Ampla experiência como docente da educação básica (ensinos fundamental e
médio);
● Professor de cursinhos pré-vestibulares em história e filosofia e prática docente
na educação à distância.

Professor Esp. Guilherme França Fusco

● Especialista Personal Trainer pela UNESPAR - FAFIPA;


● Licenciatura Plena pela UNESPAR - FAFIPA;
● Mestrando de didática e metodologias – UNESPAR – FAFIPA;
● Docente da educação básica (Fundamental e Médio) da instituição privada.
● Docente e orientador da Educação Tecnológica da Rede Federal de Ensino no
IFPR – Campus Paranavaí.
● Ampla experiência como docente na educação básica (fundamental e médio);
● Professor de ensino médio integrado da Rede Federal de Ensino.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

É uma enorme satisfação recebê-lo em nosso curso de Ética e Deontologia na


Educação Física. A partir de agora, iniciaremos uma viagem ao tempo para esmiuçar, nas
experiências filosóficas, algumas explicações para a formação moral pessoal, social e
profissional, buscando, é claro, entender nossa formação profissional, ou seja, um olhar
para um horizonte futurístico, depositando nele nossa aprendizagem como uma forma de
expectativa.

Em nossa viagem filosófica, a procura desses espaços de experiências da forma-


ção ética e moral, iremos iniciar, logo na unidade I, a busca do entendimento sobre o que é
ser ético, pois na nossa sociedade muito se fala sobre ter uma conduta ética, mas não se
tem uma formação correta desse conceito: muitos se dizem éticos profissionalmente, mas
sequer sabem o que é ser ético. Assim, você conhecerá os conceitos de ética e moral.

Em seguida, você entenderá que o ser humano é feito de desejos e vontades e que
isso compreende a uma responsabilidade humana, pois sabemos que temos um dever a
cumprir e, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade sem saber o que ela é de fato.

Já na unidade II desta apostila, conheceremos alguns filósofos importantes com


suas ideias para formação do indivíduo. Apresentaremos os conceitos básicos da filosofia
moral de Sócrates e de Aristóteles, além da compreensão da ideia de dever e de intenção
do cristianismo na moral humana.

Apresentaremos, ainda nessa unidade, o conceito de natureza humana proposta


por Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que você irá
conhecer perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano, além da visão
ética e liberdade proposta por Espinosa.
Nas unidades III e IV, retomaremos o fascínio sobre o assunto desta disciplina,
observando, lendo ou estudando as unidades I e II, pois é o início de um grande desafio
que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção conjunta sobre a ética, os esportes e
a educação física. Vale ressaltar que iremos verificar os Valores Éticos e Morais no Sistema
CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional de Educação Física), além do código de
ética profissional, exercício profissional e vida profissional do indivíduo, identificando, as-
sim, os valores para o estudo do esporte para o indivíduo e para sociedade. Conheceremos
também a ética e a docência, além de como o fair play e o “olimpismo” fazem parte de
nossa profissão. Ressaltaremos ainda a importância do docente dentro dos conselhos de
classe embasados na sua profissão.

Ao fim dessa apostila, espero que seu horizonte de expectativas seja modificado,
uma vez que todos nós, seres humanos e profissionais, somos frutos de uma formação
moral e ética de uma determinada sociedade e, dessa forma, devemos agir com responsa-
bilidade dentro da profissão e da sociedade vigente.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 7
Os Valores e a Moral

UNIDADE II.................................................................................................... 24
Teorias Morais

UNIDADE III................................................................................................... 47
Ética, Esportes e Educação Física

UNIDADE IV................................................................................................... 69
Conselhos de Classe e Participação
UNIDADE I
Os Valores e a Moral
Professor Especialista Cleber Henrique Sanitá Kojo

Plano de Estudo:
• Os Valores e a Moral
• O Caráter Histórico, Social e Pessoal
• A Espécie do Ato Moral
• A Estrutura do Ato Moral
• Desejo e Vontade
• Responsabilidade, Dever e Liberdade

Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer os Conceitos e Definições de Moral e Ética;
• Entender a Valorização: Valores e diferenças culturais;
• Contextualizar todo o processo histórico, social e pessoal de Ética e Moral;
• Estabelecer os pontos do ato moral e suas divisões;
• Compreender a diferença de desejo e vontade humana, além da responsabilidade, dever
e liberdade.

7
INTRODUÇÃO

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) estudante, preste muita atenção, pois se em você ocorreu um despertar
ou um fascínio sobre assunto desta disciplina, observando a profissão escolhida, é o início
de um grande desafio que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção conjunta sobre
a ideia de ética e moral, visto que em nossa sociedade se fala muito do ser ético, mas não
se tem uma formação correta desse conceito, muitos se dizem éticos profissionalmente,
mas não sabem nem o que é ser ético. Vamos conhecer os conceitos de Moral e ética e
suas subdivisões para interpretarmos os componentes que a constroem, uma vez que,
em nosso dia a dia, indicamos valores as pessoas, e vamos entender em qual momento
devemos usar e identificar esse processo.
Dentro desse desafio, iremos conhecer muito além da ética e moral, considerando
que o ser humano é feito de desejos e vontades, o que nos faz perceber, através do senso
comum, que isso compreende a responsabilidade humana, além de sabermos que temos
um dever a cumprir e que, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade sem saber o que é
liberdade de fato.
Por fim, vamos conhecer o processo da liberdade humana e todo seu ato moral.
Assim, esperamos um docente com um posicionamento ético e social de maneira positiva
e construtiva na sociedade, tornando-se um profissional exemplar e que some no desen-
volvimento social e humano.

Muito obrigado e bom estudo!

UNIDADE I Os Valores e a Moral 8


1 OS VALORES E A MORAL

Em pleno século XXI, ainda confundimos ética, moral, valores, entre outras pala-
vras e/ou conceitos. Vale ressaltar que, constantemente, encontramos o uso ambíguo de
palavras como “moral e ética”, “valores e ética” e “valores e normas”. Você consegue rapi-
damente diferenciar e definir cada uma delas? Caso você conheça, é um passo gigantesco
para estudo de nossa disciplina. No entanto, precisamos diferenciá-las para não causar
confusão em nossa vida. Assim, você poderá melhorar sua comunicação e a elaboração
do pensamento. Qual o código de ética de sua profissão? Esperamos que embarque nessa
viagem filosófica para que se crie um profissional reflexivo, crítico, responsável com a so-
ciedade, com as normas legais e compreendendo melhor seu papel social.
Antes de começar diretamente os debates sobre valores, moral e ética, tema
este muito discutido e pouco conhecido verdadeiramente pelas pessoas, empresas e,
até mesmo, por profissionais em plena atuação de suas funções, quero compartilhar um
pensamento adquirido no decorrer do tempo, do senso comum, do conhecimento científico,
entre outros, ou seja, destaco que vivemos numa sociedade na qual os valores morais são
levados em consideração em vários setores da sociedade, principalmente em uma época
onde as redes sociais são repletas de pessoas que acreditam ter conhecimento de tudo,
seja em relação à posição política, religiosa, entre outros. Porém, a maioria não sabe ou
não compreende o verdadeiro significado de valores, moral e ética.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 9


Diante disso, precisamos compreender Moral e Ética, pois vale ressaltar que am-
bas se completam e, assim, podemos debater como, por exemplo, os valores. No dicionário
Aurélio online (2014), a definição das palavras Ética e Moral são as seguintes:
(ÉTICA, 2020): substantivo feminino: Segmento da filosofia que se dedica à
análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de agir do
ser humano, geralmente tendo em conta seus valores morais. [Por Extensão]
Reunião das normas de valor moral presentes numa pessoa, sociedade ou
grupo social: ética parlamentar; ética médica.
(MORAL, 2020): Preceitos e regras que, estabelecidos e admitidos por uma
sociedade, regulam o comportamento de quem dela faz parte. Leis da ho-
nestidade e do pudor; moralidade. [Filosofia] Parte da filosofia que trata dos
costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens nas relações
com seus semelhantes.

Já etimologicamente, o termo “moral” vem de More (latim) e significa costume,


enquanto “ética” é Ethos (Grego), também significando costume.
Você sabe dizer o significado da palavra costume? De onde vêm os costumes?
Os costumes de cada sociedade originam-se dos valores instituídos por ela e orientam o
agir das pessoas, promovendo, assim, uma convivência saudável entre os indivíduos, ou
seja, os valores são características morais que todos os seres humanos possuem. Servem
ao indivíduo para orientar seus comportamentos e ações, na satisfação de determinadas
necessidades.
Após compreendermos os costumes, temos que dar um passo à frente em nosso
estudo e adentrarmos nas características morais, complementando filosoficamente nosso
futuro conceito de ética e moral.
Observe a imagem abaixo:

Figura 1 - Características Morais

Fonte: o autor.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 10


Podemos afirmar, portanto, que valores como os citados acima norteiam o homem
e seu agir em sociedade, tornando-a uma sociedade onde a convivência é totalmente pos-
sível e norteando até mesmo suas leis.
Um ponto de extrema importância para a compreensão dos valores é entender
que eles podem variar de acordo com a sociedade, ou até mesmo entre grupos sociais
diferentes. Por exemplo, se perguntar a uma brasileira o que ela acharia da ideia caso seu
marido lhe fizesse a proposta de ter várias mulheres, provavelmente, ela teria a atitude de
se separar, ao passo que em países muçulmanos é normal o homem ter várias esposas.
Da mesma forma, é normal, nos países muçulmanos, o uso da burca e, para nós, o uso
de biquínis, ou seja, em uma sociedade, o cobrir o corpo ou não depende de cada cultura
adquirida através de sua moral formando os valores de um grupo de indivíduos. Portanto,
o que é moral para mim pode ser imoral para outros.
Diante disso, podemos afirmar que os valores morais são baseados em vários
fatores, como cultura, tradição, religião, convivência diária, entre outros de um determinado
grupo ou de um povo. Vale ressaltar que a manutenção dos valores morais de uma socie-
dade vem determinar comportamentos e a orientação de como agir do grupo em questão,
garantindo, assim, a ordem e a existência de uma sociedade.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 11


2 CARÁTER HISTÓRICO, SOCIAL E PESSOAL

Num primeiro momento, podemos afirmar que os valores morais citados acima são
herdados, pois, quando nascemos, já existe uma cultura determinada na sociedade e, com
isso, aprendemos desde cedo as suas regras, seguindo-as e absorvendo-as sem perceber
e identificando como agir moralmente ou imoralmente.
Nesse determinado ponto, devemos diferenciar a Ética da moral, pois, segundo
Comte-Sponville (1998. Pg 14), “A Moral ordena; a Ética aconselha. A Moral responde à
pergunta: “o que devo fazer?”; a Ética, à pergunta: “como devo viver?”. Assim, podemos
afirmar que a moral não é algo definido cientificamente, mas objeto desse algo científico e
a ética estuda os atos humanos, atos estes que devem ser “Conscientes, Livres e Voluntá-
rios”, pois, assim, podemos confirmar a afirmação de Comte-Sponville acima.
No cotidiano ouvimos a afirmação de que alguém foi imoral, porém você já parou
para pensar sobre o conceito de imoral? Já ouviu falar em amoral? E no não moral? Qual
a diferença de imoral, amoral e não moral? Talvez você já deva estar pensando que agora
começamos com a “chatice” e complicação. No entanto, estas dúvidas são de fácil entendi-
mento e compreensão, como nas definições abaixo:
● A Moral é o ato que está de acordo com uma norma ética ou indicação de
conduta social;
● Já o Imoral é o ato que fere uma norma ética ou uma conduta estabelecida pela
moral social ou individual. É o ato pelo qual se dão os anti valores: da injustiça,
do mal, etc. (vai contra a introjeção da norma);
● Amoral é o ato que não pode ser avaliado do ponto da ética ou da moral,
pois nele não se dão as condições transcendentais para a moralidade (não há
introjeção);
● Não-moral é o ato em que não estão envolvidos diretamente os valores morais,
como, por exemplo, assistir a um jogo de futebol ou ir à praia.
Observe a imagem abaixo, criada no powerpoint para auxiliar na compreensão do
tema:

UNIDADE I Os Valores e a Moral 12


Figura 2 - Diferença entre ética e moral

Fonte: o autor.

Com o texto e a imagem acima, podemos compreender melhor os atos morais e


entender que eles são uma espécie de ponto final. Assim, para facilitar esse processo de
se agir moralmente, também chamado de “atos morais”, e analisá-los enquanto fenômenos,
vamos dividi-los em duas categorias: as espécies e a estrutura e agir moralmente ou atos
morais.

I. Espécies de atos morais: divididas em três categorias que estudamos acima,


os chamados de atos morais (positivos), atos imorais (negativos) e atos amorais
(não sabe qual a moral da sociedade vigente);
II. Estrutura dos atos morais: é formada pela soma de três elementos – a forma-
ção, a motivação e a situação.

Podemos acrescentar ainda que, dentro do caráter histórico da moral, temos sua
formação em vários períodos históricos, seja no período feudal na Idade Média, da moral
burguesa na Idade Moderna, entre outros. Assim, afirmo que a moral pode ser considerada
um fato histórico que, para o momento, é instituído, mas pode ser modificada com o tempo
sem cometer anacronismos, considerando cada moral em cada período. Segundo Adolfo
Sanchez Velasquez (2017, p. 80), esse historicismo moral no campo da reflexão ética tem
três direções fundamentais a ser respeitada.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 13


a) DEUS COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: No caso as normas morais deri-
vam de um poder sobre-humano [...]. Logo, as raízes morais não estariam no
próprio homem, mas fora e acima dele.
b) A NATUREZA COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: A conduta moral do ho-
mem não seria senão um aspecto da conduta natural, biológica. [...] Teriam
origem nos instintos, e, por isso, poderiam ser encontradas não só naquilo que
o homem é como ser natural, biológico, mas inclusive nos animais, pois Darwin
chega a afirmar que os animais experimentam sentimentos humanos como o
amor, a felicidade, a lealdade entre outros.
c) O HOMEM COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: O homem é dotado de uma
essência eterna e imutável inerente a todos os indivíduos [...]. A moral cons-
tituiria um aspecto dessa maneira de ser, que permanece e dura através das
mudanças históricas e sociais.

Essas três concepções históricas têm origem fora do homem como um ser histórico,
pois, na primeira, presenciamos um ser superior, onipotente, onipresente e onisciente, que
não precisa do homem, já o segundo, no mundo natural, seguido do terceiro, baseia-se no
homem abstrato, fora da sociedade e da história. Assim, todas afirmam que a moral inde-
pende do homem, mesmo que constituída desde sua origem, pois as sociedades instituem
sua moral independentemente do indivíduo e do tempo. Você talvez compreendeu com
facilidade, pois na história temos o surgimento da propriedade privada que elimina a moral
comunal existente anteriormente. Você pode compreender que, na atualidade, as morais
que seus avós possuíam já mudaram com o tempo e você sente todos os dias no seu
cotidiano. Assim é na história, com a moral aplicada na divisão do trabalho, na sociedade
escravista, entre outras. Para exemplificar, podemos afirmar que era normal descartar o ne-
gro como um ser humano simplesmente pela sua cor, pois acreditavam ser superiores pela
cor da pele, o Darwinismo social aplicado e aceito em um determinado período histórico.
Será que você aceitaria a moral inserida na sociedade medieval, onde reinava o
Teocentrismo, no qual Deus era o centro do universo e o homem era desprezado até o
aparecimento do antropocentrismo e da ascensão da sociedade burguesa?
Historicamente, a moral vai sendo construída com a evolução da sociedade, pois
tínhamos a divisão do trabalho e o desprezo humano na revolução industrial com explora-
ção desacerbada do trabalho infantil, feminino, chegando ao ponto de incendiar uma fábrica
com as mulheres dentro, dando origem ao dia das mulheres e à valorização feminina.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 14


Também temos o movimento feminino, que busca a igualdade moral até hoje. Para exem-
plificar, podemos citar as tribos dos pigmeus, onde o sexo e o casamento são liberados aos
10 anos de idade, ou em tribos africanas, onde as mulheres têm seu órgão genital mutilado,
pois o prazer é exclusivo ao sexo masculino.
Vale ressaltar que esse processo histórico da moral vem sendo construído e consti-
tuído dependendo dos atos morais implantados em diferentes sociedades. Por isso, iremos
falar agora das espécies de atos morais.

2.1 Espécies de Atos Morais


Para se entender melhor os atos morais, vamos apresentar a você a divisão destes
nas três vertentes citadas acima, ou seja, os chamados atos morais, imorais e amorais.
Iremos começar pelos chamados atos morais, que consistem em quando afirmamos
que são os atos nos quais o indivíduo possui conhecimento e entendimento, ou seja, ele
tem “ciência” das regras da sociedade e das normas para convivência coletiva, escolhendo
livremente segui-las, reconhecendo e compreendendo a importância das regras sociais
impostas.
Já os chamados de atos imorais são parecidos com os atos morais. No entanto, o
indivíduo faz a opção de não aceitá-las ou obedecê-las, ou seja, os atos imorais são aque-
les em que o indivíduo sabe que existem regras de convivência coletiva e toma a decisão
individual de não segui-las, pois ele não aceita que essas regras impostas têm validade ou
importância social.
O mais simples dos três são os atos amorais, pois o indivíduo não possui ciência
alguma da existência de normas e regras vigentes da sociedade. Por exemplo, um de-
terminado indivíduo chega a um novo país e tem comportamentos proibidos para aquele
determinado território sem ter compreensão disso.

2.2 Estrutura do Ato Moral


Para iniciarmos e implantarmos o mundo moral, precisamos ter uma consciência
crítica, também chamada de consciência moral, que avalia todas as normas e regras vi-
gentes na sociedade, orientando assim o agir humano. Vale ressaltar que a escolha é a
consciência humana chamada para que ocorra o discernimento entre o valor moral e atos
morais.
Podemos analisar e entender que a filosofia em si estuda toda a ética e moral
humana, indicando se você é um sujeito moral, imoral ou amoral de uma determinada
sociedade. Assim, podemos afirmar que, para complementar essa teoria filosófica, temos

UNIDADE I Os Valores e a Moral 15


o chamado ato moral, que apresenta dois aspectos: o chamado de normativo e o fatual,
ou seja, o normativo consiste em todas as regras que devem ser seguidas, já o fatual
apresenta a decisão humana de segui-las ou não. Destacando ainda que o normativo são
as normas ou regras de ação, o que explica o “dever ser”, Já o fatual são os atos humanos
enquanto se realizam efetivamente.
Segundo Adolfo Sanchez Velásquez (2017, p. 80), o ato moral é ligado a um sujeito
real que pertence a uma determinada comunidade humana historicamente determinada
com normas ou regras, como a citação abaixo:
O ato moral como ato de um sujeito real que pertence a uma comunidade
humana, historicamente determinada, não pode ser qualificado senão em
relação com o código moral que nela vigora. Mas seja, qual for o contexto
normativo e histórico-social no qual o situamos, o ato moral se apresenta
como uma totalidade de elementos – motivo, intenção ou fim, decisão pes-
soal, emprego de meios adequados, resultados e consequências – numa
unidade indissolúvel.

Assim, podemos dizer que o ato será moral quando estiver de acordo com as regras
estabelecidas pela sociedade vigente.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 16


3 DESEJO E VONTADE

Após compreender que a Moral é um conjunto de regras que norteiam e orientam as


pessoas, devemos acrescentar que isso só funciona se ocorrer a aceitação dessas normas,
mesmo elas sendo exteriores ao indivíduo. Vale ressaltar que o ser humano evolui com o
tempo, cresce em “graça” e estatura, pois a palavra graça, aqui, quer dizer a maturidade.
Quando o homem abandona a infantilidade e passa a ter uma maior consciência de seus
atos, passa a tomar decisões que fazem parte de seu ser, como os desejos e vontades.
Você já parou para pensar na diferença entre desejos e vontades? Como saber agir
contra os desejos?
Você precisa saber distinguir a diferença entre desejo e vontade, pois afirmo que
será impossível dominar nosso corpo de emoções implícitas ou explícitas e ter um ótimo
controle sobre nossa vida. Vale ressaltar que a definição de desejo consiste nas necessida-
des do corpo, o chamado “tesão” sem controle, um instinto humano. Já a vontade consiste
em quando você decide algo, uma ação pela qual você deixou a mente vencer corpo, as
situações que a mente domina, como, por exemplo, a vontade de comer chocolate, ou seja,
ela é mais calma e tranquila, enquanto o desejo envolve compulsão. Importante salientar
ainda que o desejo pode estar atrelado a sonhos e fantasias, enquanto a vontade está
ligada à ânsia. Desejo são relacionados também a sentimentos e emoções, enquanto a
vontade está ligada à lógica e à razão.
Para agir contra os desejos, precisamos nos lembrar de tudo que foi estudado
sobre a moral e praticá-la rotineiramente. Será que conseguimos entender a relação entre
desejos e vontades e suas diferenças? Para exemplificar melhor a diferença observe o
quadro abaixo:

Quadro 1 - Diferenças Entre Desejo E Vontade

DESEJO VONTADE
* Provêm de estímulos dos sentidos * Provêm do pensamento e da razão.
* Precisa se consumir. * Precisa se realizar.
* Satisfaz caprichos e fantasias. * Satisfaz necessidades na luta pela vida.
* Prevalecem as forças do instinto. * Prevalecem as forças da razão e da lógica.
* É tênue e indireto. * É firme e direta.
* De regra, depende do consentimento. * Só depende da própria criatura e do seu
de outras criaturas. “Querer”.
* Utiliza artifícios e artimanhas. * Vai direta ao alvo.
* Leva aos vícios da conduta. * Não contamina nem leva aos vícios.
* É impulsivo e de difícil controle. * É racional, controlada pelo pensamento.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 17


* Não fortifica o caráter. * Realça e fortalece o caráter.
* Coloca pouca força na consumação. * Exige força e luta para vencer.
* É aleatório, inconstante, variável. * Ajusta-se às circunstâncias e objetivos.
* É quase sempre imediatista. * É persistente e exige paciência.
Fonte: Samel (2010).

3.1 Responsabilidades, Dever e Liberdade


Após estudarmos toda consciência moral, imoral e amoral acima, podemos
considerar aparentemente confusa a ideia de relacioná-las com liberdade, não é? Como
ser livre e ser moral ao mesmo tempo? Parece confuso. Entretanto, podemos construir a
compreensão juntos, pois o conflito ou da retórica utilizada acima ou a consciência humana
é uma das principais razões que nos separa dos animais, nos permitindo a racionalidade
e o desenvolvimento do saber, além da separação do verdadeiro ou falso. Essa “graça”
é transformada em consciência moral, que nos permite a observação de nossa própria
conduta e, assim, formular juízos sobre nossos atos, tanto no passado quanto no presente
e no futuro. Logo, ao analisarmos e julgarmos nossas ações, podemos fazer escolhas que
nortearão a vida. Essa possibilidade de escolher sua vida, podemos chamar de liberdade.
A liberdade vem atrelada às nossas escolhas, que nem sempre são as ideais, pois,
através da coerção, podemos determinar ações que às vezes não são livres, como, por
exemplo, quando bandidos sequestram um membro da família e exigem que tomemos
atitudes não éticas, tirando-nos a liberdade e fazendo com que, nesse período de sequestro,
nos esqueçamos da consciência moral.
Claro que, quando somos livres para decidir e fazer nossas escolhas, nos tornamos
responsáveis por nossas ações, ou seja, assumimos as ações dos atos conscientemente,
respondendo pelas consequências praticadas. Vale ressaltar que o comportamento moral é
livre e responsável, além de obrigatório dentro da sociedade vigente, criando em você, em
mim e em nós o que chamamos de dever.
Desse modo, quando somos responsáveis e cumprimos nosso dever, somos livres,
cumprindo nosso dever moral. É importante destacar que, assim, o dever moral não vem de
uma causa externa, mas, sim, através da norma livremente assumida. Ainda podemos afir-
mar que essa responsabilidade não deve ser interpretada como defesa de um relativismo,
onde todas as formas de conduta podem ser aceitas livremente.
Os direitos do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir
do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da moralidade.
Por certo cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto,
aprender a conviver com outras, reconhecer a unilateralidade de seu ponto
de vista. E com isso está obedecendo à sua própria moral de uma maneira

UNIDADE I Os Valores e a Moral 18


especialíssima, tomando os imperativos categóricos dela como um momento
particular do exercício humano de julgar moralmente. Desse modo, a mo-
ral do bandido e a do ladrão tornam-se repreensíveis d ponto de vista da
moralidade pública, pois violam o princípio da tolerância e atingem direitos
humanos fundamentais (GIANOTTI, 1992, p. 245).

A responsabilidade vai criar um dever comportamental moral, pois o compromisso


humano é a obediência da decisão tomada por cada ser humano.

SAIBA MAIS
“Vontade distingue-se de desejo. O desejo não depende de escolha, surge involunta-
riamente em nós. Já a vontade supõe a disposição consciente para agir e depende do
poder de reflexão para satisfazer ou não o desejo. Seguir o impulso do desejo sempre
que ele se manifesta é negar e moral e a possibilidade de qualquer vida em comum”.
Fonte: Aranha (2003).

REFLITA
Na sua obra a República, Platão relata a lenda sobre um anel que tornaria invisível
quem conseguisse virar o engaste para dentro. Foi o que teria acontecido ao pastor Gi-
ges, que vivia a serviço do rei da Lídia. Após ter se salvado de um terremoto, ele retirou
de um cadáver o referido anel. Ao perceber que podia ficar invisível sempre que quises-
se, entrou no castelo, seduziu a rainha, tramou com ela a morte do rei e obteve o poder.
Esse mito nos faz pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem uma ação. Se pu-
desse ficar invisível em uma loja, você roubaria um celular, por exemplo? Ou o que seria
determinante para que, mesmo invisível, você roubasse?
Fonte: Aranha (2003).

UNIDADE I Os Valores e a Moral 19


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro acadêmico (a), chegamos ao final dessa unidade e, no decorrer dela, con-
templamos diversas temáticas sobre a relação entre ética e moral e suas vertentes. Você
consegue se lembrar? Espero que nesse momento do processo de ensino/aprendizagem
você esteja encantado ou fascinado, sabendo diferenciar ética de moral, valores e moral,
desejo de vontade, além de identificar a responsabilidade, dever e liberdade.
Você aprendeu que, em nosso cotidiano, valorizamos as pessoas sem entender a
ideia de valores. Agora, sabendo o que são valores, você poderá identificar melhor essa di-
ferença, afirmando que uma pessoa corajosa, respeitosa e humilde é uma pessoa virtuosa.
Demonstramos o caráter histórico, social e pessoal da moral e, com isso, apren-
demos desde cedo que as regras da sociedade são impostas. Com isso, passamos a agir
moralmente ou imoralmente, conhecendo até mesmo o ser amoral.
Acredito que ler trechos sobre a espécie da moral e a estrutura da moral tenha
acarretado em você um entendimento da formação moral do indivíduo, fazendo com que
você se reconheça nesse processo.
Além disso, conhecemos as diferenças de desejos e vontades com exemplos de
comparações para que o indivíduo se torne um ser moral em todos os aspectos, entenden-
do que a liberdade tem em sua composição a responsabilidade e o dever.
Por fim, quero agradecer a você por esse tempo de estudos que passamos juntos,
com a certeza de que o conhecimento adquirido acerca dos valores e da moral vão promo-
ver em você uma corrente de expansão desse conhecimento, pois, durante o processo, foi
descortinada toda beleza e riqueza desse processo de formação humana.
Enfim, sucesso e nos vemos no próximo capítulo.

Obrigado!

UNIDADE I Os Valores e a Moral 20


WEB COMPLEMENTAR

Leia também:

FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética & Justiça.


2008. Disponível em: http://www2.fm.usp.br/gdc/docs/iof_83_1-9_etica_e_moral.pdf

MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Moral e Ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas (Portu-
guês)
• Autor: Yves de la Taille
• Editora: Artmed - 1ª edição
• Sinopse: a obra reúne as leituras, pesquisas e reflexões de Yves
de la Taille, professor no Instituto de Psicologia da USP, ampla-
mente reconhecido por seus estudos sobre a chamada Psicologia
Moral – ciência preocupada em desvendar por quais processos
mentais uma pessoa chega a intimamente legitimar, ou não, re-
gras, princípios e valores morais. Neste texto, são apresentados
conceitos de moral e ética; saber fazer, a dimensão intelectual;
querer fazer, a dimensão afetiva, o despertar do senso moral e a
personalidade ética.

LIVRO
• Título: Ética e Moral - A Busca dos Fundamentos.
• Autor: Leonardo Boff
• Editora: Vozes - 9ª edição
• Sinopse: contra a apatia dominante acerca do que é bom ou
mau, certo ou errado em termos éticos e morais, Leonardo Boff
apresenta reflexões que visam criar clareza e motivações para um
comportamento ético e moral responsável e à altura dos desafios
contemporâneos.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 21


LIVRO
• Título: Moral - Uma Introdução À Ética.
• Autor: Bernard Williams
• Editora: Wmf Martins Fontes - 1ª edição
• Sinopse: este ensaio notável sobre a moral, escrito por Bernard
Williams, trata do problema de se escrever sobre filosofia moral
e oferece uma alternativa animadora àquelas abordagens mais
sistemáticas que, não obstante, parecem deixar de lado todas as
questões importantes. Williams distingue, analisa e explica uma
série de posições morais significativas, desde o puro amoralismo
até as noções de moralidade a coerência de cada uma elas e
somente depois começa então a tratar da natureza do «bem» e
de sua relação com as responsabilidades e decisões, os papéis,
os critérios e a natureza humana. Os capítulos finais constituem
uma fascinante investigação sobre a natureza da moral, levando
em conta não só a felicidade, mas também outras metas e ideais
humanos.

FILME/VÍDEO
• Título: O Mundo de Sofia
• Ano: 1999
• Diretor: Erik Gustavson
• Sinopse: adaptação cinematográfica do romance homônimo
escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991. O livro foi escrito
originalmente em norueguês, mas já foi traduzido para mais de 50
línguas, tendo sua 1ª edição em português em 1995.
Sofia, quando está prestes a completar 15 anos, recebe duas
mensagens anônimas em sua caixa de correio (Quem é você? De
onde vem o mundo?), bem como um cartão postal dirigido a ‘Hilde
Moller Knag, a/c Sofia’. Pouco depois, também recebe um curso
de filosofia.
Com essas comunicações misteriosas, Sofia se torna uma aluna
do misterioso filósofo Alberto Knox. Ele começa totalmente anôni-
mo, mas, conforme a história continua, ele revela cada vez mais
sobre si mesmo. Os papéis acabam de fato sendo dele, mas o
cartão postal não: ele vem de uma outra pessoa chamada Albert
Knag, um major das forças de paz da ONU no Líbano.
Juntos, enredam em diversas aulas e aventuras pela história,
passando pela Grécia de Sócrates, a Idade Média, o Iluminismo, a
Revolução Francesa e a Revolução Russa. Enquanto viajam pelo
Mundo da Filosofia, História e das Artes, investigam quem é Hilde
Moller Knag, que tem a mesma idade de Sofia.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 22


FILME/VÍDEO
• Título: O Jardineiro Fiel
• Ano: 2005
• Diretor: Fernando Meirelles
• Sinopse: uma ativista (Rachel Weisz) é encontrada assassinada
em uma área remota do Quênia. O principal suspeito do crime é
seu sócio, um médico que encontra-se atualmente foragido. Pertur-
bado pelas infidelidades da esposa, Justin Quayle (Ralph Fiennes)
decide partir para descobrir o que realmente aconteceu com sua
esposa, iniciando uma viagem que o levará por três continentes.

FILME/VÍDEO
• Título: Laranja Mecânica
• Ano: 1971
• Diretor: Stanley Kubrick
• Sinopse: no futuro, o violento Alex (Malcolm McDowell), líder de
uma gangue de delinquentes que matam, roubam e estupram, cai
nas mãos da polícia. Preso, ele recebe a opção de participar em
um programa que pode reduzir o seu tempo na cadeia. Alex vira
cobaia de experimentos destinados a refrear os impulsos destru-
tivos do ser humano, mas acaba se tornando impotente para lidar
com a violência que o cerca.

UNIDADE I Os Valores e a Moral 23


UNIDADE II
Teorias Morais
Professor Especialista: Cleber Henrique Sanitá Kojo

Plano de Estudo:
• A Filosofia moral de Sócrates e de Aristóteles;
• A ideia de dever e de intenção do cristianismo;
• A Natureza humana de Rousseau;
• As leis da razão Kantiana;
• A Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever;
• A Ética de Espinosa;
• A Concepção contemporânea de virtude e Racionalismo ético.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer a Filosofia moral de Sócrates e de Aristóteles;
• Entender a ideia de dever e de intenção do cristianismo;
• Compreender a Natureza humana de Rousseau;
• Conhecer a moral da razão prática proposta por Kant;
• Entender Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever;
• Conhecer a Ética de Espinosa;
• Conhecer e comparar a concepção contemporânea de virtude e o Racionalismo ético.

24
INTRODUÇÃO

Seja muito bem-vindo(a)!

Olá, caro(a) amigo(a)! Vamos continuar nossa viagem filosófica sobre ética e Moral.
Espero que tenha ocorrido em você um despertar sobre o tema com a unidade anterior, te
deixando ansioso pelo nosso próximo encontro e/ou nosso próximo capítulo. Acredito que
o fascínio apresentado no início da unidade anterior tenha sido atingido com excelência
e despertado uma nova forma de se pensar. Venho, então, propor uma continuidade do
assunto desta disciplina, sugerindo uma viagem ainda maior, pois, a partir de agora, co-
nheceremos as teorias de alguns filósofos que permearam a formação moral e ética de
muitas sociedades, tanto no passado quanto no presente, passando, ainda, a transportar
conhecimentos discutidos por grandes pensadores atuais em todos os ambientes sociais,
seja nas instituições de ensino superior, até nas rodas cotidianas, sem falar do meio virtual,
como em canais de vídeos, debates e até mesmo em redes sociais, fazendo com que suas
teorias sejam entendidas e absorvidas por várias sociedades..
Proponho a você o entendimento de conceitos básicos da filosofia moral de Sócra-
tes e de Aristóteles, além da compreensão da ideia de dever e de intenção do cristianismo
na moral humana.
Devemos, então, continuar essa viagem pelo conceito de natureza humana proposta
por Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que passaremos
também pela perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano. Também
é válido destacar que essa viagem passará, ainda, pela visão ética e liberdade proposta
por Espinosa.
Dentro desse desafio da viagem, conheceremos muito além de conceitos de ética
e moral, pois passaremos pela concepção contemporânea de virtude e do racionalismo
ético, finalizando o trajeto na contribuição da psicanálise à ética humana. Espero que esteja
preparado. Assim partiremos agora!

Muito obrigado e bom estudo!

UNIDADE II Teorias Morais 25


1 A FILOSOFIA MORAL DE SÓCRATES E ARISTÓTELES

Por que estudar as diferentes correntes teóricas sobre a Ética? Por que começar-
mos por Sócrates e Aristóteles? Talvez você se pergunte: o que pode me acrescentar essas
teorias?
Podemos começar afirmando que essas correntes teóricas poderão construir um
profissional ético e responsável na sociedade atual e, com certeza, essa viagem come-
çando pelo berço da civilização pode nos nortear a condução ética e moral de nossas
vidas. Vale ressaltar que, quando estudamos a história da filosofia, percebemos que não
existe uma ética existente, mas, sim, éticas, pois, com o passar do tempo, essas teorias
são aproveitadas e debatidas por outros pensadores que formulam novas ideias éticas e
morais que conduzem a sociedade e, assim, essas teorias podem constituir em nosso “ser”
e nossa formação, podendo tornar nossas afirmações éticas e consistentes nos diálogos
cotidianos e em nossa formação e de várias outras pessoas dentro da sociedade.
Podemos, então, começar nossas reflexões sobre o mundo grego, que é conside-
rado o berço da civilização atual e onde podemos buscar a compreensão moral humana,
pois, se fizermos uma viagem além do proposto no título do capítulo, podemos começar
afirmando a importância de Sócrates para filosofia, pois a filosofia é dividida no momento
histórico como antes e depois de Sócrates, ou seja, temos filósofos pré-socráticos e pós-so-
cráticos. Parece confuso, mas não é: os filósofos pré-socráticos embasaram seus estudos
no princípio de tudo, a origem das coisas, a cosmologia, ou seja, Tales de Mileto, por
exemplo, dizia que o princípio de tudo era a água, quanto Anaximandro nos dá a definição

UNIDADE II Teorias Morais 26


Arché e Apeíron, onde o princípio de tudo seria o indeterminado; já Anaxímenes afirma
que o princípio de tudo era o ar, ou seja, os filósofos pré-socráticos não se preocuparam
com o homem em si, mas com o princípio de tudo. Vale ressaltar que a partir de Sócrates
passamos a ter a análise do ser, do homem e assim nascem os conceitos de ética e moral.
Vamos começar conhecendo um pouco de Sócrates, que era filho de um escultor
e de uma parteira, herança essa que o leva a “esculpir”, ou seja, fazer uma representação
autêntica do homem, pois uma das críticas ferrenhas de Sócrates seriam os sofistas – ter-
mo traduzido como “sábios”. É importante destacar que Sócrates não gostava dos Sofistas,
afirmando que eles não se interessavam pela autenticidade humana, ou seja, ele intitulava
os sofistas como mercenários do saber, defensores apenas do que lhes interessava, come-
çando, assim, a desvendar o que posteriormente seria intitulado de moral e ética.
Um grande ponto a ser destacado é que Sócrates saía nas Ágoras, (praças públi-
cas) conversando com as pessoas e dando demonstrações de que era preciso unir o saber
e o fazer, a consciência intelectual à consciência prática, ou seja, a moral em si. Assim,
Sócrates entra em uma das principais críticas aos sofistas, a questão da consciência moral,
afirmando que o autoconhecimento é o ponto necessário para a ação humana e a moral,
originando a célebre frase inscrita no oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates
tendia, ainda, a um diálogo crítico, também chamado de dialética, criando, assim, duas
ideias básicas que nortearam seus pensamentos, a chamada de Ironia e Maiêutica.
Para exemplificar melhor, podemos apresentar as ideias de ética e moral para o Só-
crates. Vamos começar então pelo conceito de moral de Sócrates, pois ele foi o fundador da
ciência moral e da ideia da racionalidade humana, identificando assim a ação racional que
vai nortear a moral humana. Já a Ética socrática afirmava que o homem deveria obedecer
às leis impostas, pois só assim ele seria identificado como ser humano, pois, para Sócrates,
essa obediência era o divisor de águas entre o que chamamos de civilizatório e de barbárie.
Para ele, devemos respeitar as leis, atingindo, assim, o ápice que é a coletividade. Vale
ressaltar que Sócrates, para valorizar seu pensamento sobre moral e ética, não dava im-
portância à questão social, buscando o autoconhecimento, o que contrariava a sociedade
na época e resultou em sua acusação por “corruptor da juventude”, sendo injusto com os
deuses da cidade. Assim, Sócrates foi condenado pelos gregos a beber cicuta – veneno
feito com a planta de mesmo nome. Entretanto, mesmo condenado, ele não negou suas
ideias, apresentando uma força moral de quem não teme algo por ser ético.
Algum de vós poderia talvez altercar-me: “Sócrates, não te envergonhas de
haveres exercido tal atividade, que agora coloca em risco tua vida? Eu res-
ponderia a este: “Não falas bem se pensa que alguém tendo capacidade de
fazer algum bem, mesmo sendo pequeno, deva calcular os riscos de vida ou

UNIDADE II Teorias Morais 27


de morte e não deva olhar o injusto e se pratica as ações de homem honesto
e corajoso ou de infame e mau. Estás enganado, se pensas que um homem
de bem deve ficar pesando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades
de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em
seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes.” (PLATÃO,
2008, p. 80).

Assim como Sócrates e seu discípulo Platão, temos Aristóteles, que sofreu tantos
com os sofistas quanto por não ser grego. Talvez você se pergunte: Como assim? Aristóte-
les foi aluno de Platão, discípulo direto de Sócrates, não assumindo, por ser macedônico,
a academia filosófica no lugar de Platão, tendo que abandonar a Grécia, retornando no
período de dominação macedônica sobre os gregos. Aristóteles foi mentor direto de Ale-
xandre Magno (Alexandre o Grande), tornando-se respeitado e podendo fundar sua própria
escola, o chamado “Liceu”.
Podemos afirmar que Aristóteles tem grandes obras a serem estudadas. No en-
tanto, precisamos saber que ele era filho de um médico chamado Nicômaco e uma de
suas principais obras foi em homenagem a seu pai, ou seja, Ética a Nicômaco, através
da qual Aristóteles aprofunda a discussão sobre as questões éticas do mundo, dizendo
que a Ética é a parte do estudo filosófico que nos ajuda diretamente a refletir sobre as
práticas humanas, afirmando também que tudo o que fazemos deve alcançar o bem ou o
que pareça o bem naquele momento, ou seja, devemos alcançar a filosofia moral chamada
por ele de “Eudamonia”, termo grego de vida feliz, vida boa. Dessa forma, segundo ele, o
homem pode atingir a “Felicidade e a Virtude”, isso utilizando-se da razão. Tais afirmações
também estão em sua obra intitulada de metafisica.
Para concluir a felicidade tão importante para ética de Aristóteles, iremos citar um
pequeno trecho do Journal of Ancient Philosophy Vol. II 2008 Issue 2, que diz o seguinte
sobre a virtude e a felicidade em Aristóteles:
“Dado que a felicidade é certa atividade da alma segundo perfeita virtude,
deve-se investigar a virtude, pois assim, presumivelmente, teremos também
uma melhor visão da felicidade. (FRATESCH, 2008, p.05). Revista acadêmica
da Unicamp (EN I 13 1102ª5-10)).

REFLITA
Aristóteles, fiel aos princípios de sua filosofia especulativa, e após ter feito
uma análise e um estudo da psicologia humana, verifica que em todos os
seus atos o homem se orienta necessariamente pela ideia de bem e de
felicidade e que nenhum dos bens comumente procurados (a honra, a
riqueza, o prazer) preenche esse ideal de felicidade. Daí a sua conclusão:
primeiro, a felicidade humana deverá consistir numa atividade, pois o ato
é superior a potência; segundo, deverá ser uma atividade relacionada
com a faculdade humana mais perfeita que é a inteligência […]” (COS-
TA,1994, p. 67).

UNIDADE II Teorias Morais 28


2 A IDEIA DE DEVER E INTENÇÃO DO CRISTIANISMO

Em nossa vida é comum encontrarmos seguidores da religião cristã em todos os


setores da sociedade, desde a pessoa com menos recursos financeiros até a mais rica.
Temos também indivíduos com o mínimo de conhecimento científico até os intitulados
intelectuais. Mas qual é o fascínio dessa religião? Por que tantos seguidores? Talvez você
e eu somos cristãos e não entendemos seu surgimento e até a sua importância filosófica.
Devemos, então, abandonar qualquer tipo de preconceito religioso existente e analisar sua
importância para a construção filosófica. Você analisará essa evolução e importância neste
tópico. Vamos lá?
Para iniciar esse debate filosófico, vamos resgatar o contexto do surgimento dessa
religião no mundo, pois, historicamente, o homem sempre teve sua vida ligada ao misticismo
e, na maioria das vezes, essas religiões tinham um caráter político, com uma dominação
nacional e territorial. Vale ressaltar que o cristianismo nasce aproximadamente no século
I, digo aproximadamente porque estudiosos afirmam que o calendário gregoriano cristão
possui um erro de alguns anos. Enfim, o cristianismo nasce com os ensinamentos deixados
por Jesus Cristo e se espalha pelo mundo através de seus seguidores que afirmavam a
existência de um único Deus, contrariando as religiões existentes até o momento, com
exceção do Judaísmo, que também acredita em um único Deus. Se, na antiguidade, a
religião era ligada a um território ou a uma comunidade social, no cristianismo era ligada
às pessoas que possuem “fé”, nos que creem. Isso pode ser explicado quando afirmamos

UNIDADE II Teorias Morais 29


que a vida, a ética e a moral do cristão não são definidas por sua relação com a sociedade,
mas, sim, na sua única e íntima relação com Deus.
A religião cristã se espalha pelo mundo através dos discípulos de Jesus, que pas-
sam a contar seus legados para o mundo, dentre eles Paulo e João. Paulo era filho de um
tecelão e de alta posição no império romano, pois adquiriu sua cidadania romana e passou
a ter uma visão cruel em relação aos cristãos, ou seja, perseguia os seus seguidores. Após
sua conversão, Paulo andou por vários e vastos territórios espalhando os conceitos básicos
do cristianismo, até sua morte.
Com base nessas afirmações, vamos abordar aqui o que chamamos de “Filosofia
Patrística”, ou seja, trabalharemos uma corrente filosófica cristã que resultou do esforço fei-
to pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja, pois
essa filosofia recebeu tal nome devido aos primeiros teólogos do cristianismo, os Padres da
igreja, que traduzido significa “Pais da Igreja” (Padre = Pai).
O cristianismo com a filosofia patrística ganhou uma forma de conciliação entre o
pensamento filosófico dos gregos e romanos e, com essa conciliação, ocorreu uma ade-
são dos pagãos e essa religião. A filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da
evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia
dos antigos.
Nos primeiros séculos da era cristã, os escritos de Aristóteles e Platão haviam
desaparecidos e, com isso, o cristianismo absorveu ideias das escolas helenísticas e
greco-romanas, como o estoicismo e do neoplatonismo apresentando a ideia do uno, do
qual emanariam todas as realidades, começando pelo Logos. O cristianismo, por sua vez,
baseia-se na fé, na bíblia, criada no concílio de Niceia, pois a bíblia vem da palavra grega
biblion, que significa conjunto de livros – como a palavra biblioteca, que remete a um local
de muios livros –, ou seja, a bíblia é um conjunto de livros unificados a um único livro. É de
importante destaque que a bíblia foi dividida entre antigo testamento, que é a Torá (o livro
sagrado dos judeus), e nos livros sagrados deixados pelos seguidores diretos de Jesus.
Assim, podemos afirmar que a origem do cristianismo está em acreditar nos ensinamentos
da palavra revelada, pois para os cristãos a verdade vem direto do Espírito Santo, ou seja,
os filósofos não precisam mais se dedicar na busca da verdade, pois ela já foi revelada.
Enfim, começamos então o maior desafio filosófico que é conciliar a fé e a razão.
A partir desse desafio, nos é proposto que a ética cristã vai tomar um lugar impor-
tante na sociedade, pois vamos encontrar o lado espiritual através da fé e o lado humano
através da caridade cristã. É importante salientar que a obediência à palavra revelada vai

UNIDADE II Teorias Morais 30


formar, no campo da moral, a ideia de dever, uma norma de conduta moral e ética. Você
consegue reconhecer um cristão através de sua conduta ética? Talvez nessa sociedade
atual com tantas manipulações seja um pouco difícil, mas não deveria, pois o verdadeiro
cristão segue essa ideia filosófica e deveria ser fácil reconhecer, pois o seu seguidor tem
um dever a cumprir. Já quando se fala do interior humano, da interioridade falamos de in-
tenção, que deve ser julgada eticamente, pois Deus é onipotente, onipresente e onisciente
e conhece sua intenção ética e moral.
Dessa forma, podemos verificar na fala de Marilena Chauí abaixo que o primeiro
contato ético se estabelece através dessa relação com Deus
A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do indivíduo
e Deus, entre a alma invisível e a divindade. Como consequência, passou-se
a considerar como submetido ao julgamento ético tudo quanto, invisível aos
olhos humanos, é visível ao espírito de Deus, portanto, tudo quanto acontece
em nosso interior. O dever não se refere apenas às ações visíveis, mas
também às intenções invisíveis, que passam a ser julgadas eticamente. Eis
por que um cristão, quando se confessa, obriga-se a confessar pecados co-
metidos por atos, palavras e intenções. Sua alma, invisível, tem o testemunho
do olhar de Deus, que a julga (CHAUÍ, 2003, p. 37).

Assim, podemos demonstrar a formação ética absorvida pela relação com Deus,
apontando toda questão do sobrenatural que forma a origem de nossas atitudes e práticas
na sociedade, ou seja, tudo que nos torna um ser ético na sociedade.

SAIBA MAIS
Você já ouviu falar em Santo Agostinho? Junto com São Tomás de Aquino, é considera-
do um dos mais célebres doutores da igreja, sendo valorizado em várias religiões, com
frases que norteiam a vida cotidiana até os dias atuais. Vale ressaltar que suas obras
guiaram o pensamento cristão medieval e suas obras como as Confissões são conside-
radas trabalhos a serem seguidas por filósofos, historiadores, entre outros autores de
diversas áreas.
Você conhece alguma de suas frases? Que tal essa: “A medida do amor é amar sem
medidas”? Santo Agostinho.

Fonte: Santo Agostinho (2002).

UNIDADE II Teorias Morais 31


3 A NATUREZA HUMANA DE ROUSSEAU

Rousseau é um filósofo nascido na cidade Genebra que, em seus estudos, tentou


analisar o homem e apontou alguns problemas na relação sociedade e indivíduos, afirmando
que a sociedade é perversa e corrompe o homem. Sendo assim, ele propunha ao indivíduo
uma busca ao sentimento para resgatar sua natureza que seria boa. Ele acredita que a
natureza é um estado primitivo que tem origem na sociedade, ou seja, que ela é espon-
tânea, liberta de toda escravidão, pois, de acordo com ele, a sociedade impõe ao homem
uma forma fútil de agir e de se relacionar, promovendo nele um estado de inércia no qual
os deveres humanos são esquecidos, o que torna o homem um ser orgulhoso e cheio de
vaidades. Vale destacar que, para ele, o homem primitivo vive de acordo com as necessida-
des, atingindo a tão importante felicidade, sem angústias e sem desespero, evitando fazer
o mal para outros indivíduos.
Um ponto importante em relação ao homem destacado por Rousseau é que ele deve
valorizar a liberdade, pois ela não é só um direito adquirido, mas, sim, um dever da natureza
humana que deve promover a convivência harmoniosa da sociedade, pois a natureza do
homem, quando pura e sem interferência da sociedade, pode promover uma sociedade
comum e sem individualismos. Você já parou para pensar nas pessoas que ficam paradas
em sinais de trânsito pedindo alguma ajuda? Pensou em pessoas que passam fome e
matam, roubam, sequestram, entre outros? Vale apontar que, se você e eu voltássemos à

UNIDADE II Teorias Morais 32


natureza humana, ao primeiro amor, ao estado natural primitivo, resgataríamos a essência
natural humana.
Nós estamos presos a uma sociedade egoísta e individualista que nos exclui uns
dos outros. Você conseguiu entender a ideia proposta por Rousseau? Esse pensador acre-
dita na bondade humana e que a sociedade afasta o homem de sua verdade, promovendo
sentimentos que os destroem, uma vez que, com o processo de socialização, o homem cria
o senso moral, desnecessário no mundo natural. Rousseau acredita, ainda, que a razão
leva o homem para fora de si, de sua natureza, por isso ele propõe um contrato social para
que ocorra uma vontade geral da sociedade, apresentando todos as falhas do homem que
foge de sua natureza. Assim, a proposta é que tudo seja harmonioso.
A comunhão com a natureza é a única forma de preservação da verdadeira
essência do homem. Um retorno ao arquétipo, as origens. Uma transposição
da ordem social para a ordem natural que tem como consequência a recon-
quista da verdadeira liberdade e felicidade. Mas as leis eternas da natureza
e da ordem existem [...]. Elas estão escritas no fundo de seu coração pela
consciência e pela razão; é a estas que ele deve sujeitar-se para ser livre […].
A liberdade não está em nenhuma forma de governo, ela está no coração do
homem livre, ele a carrega por toda parte com ele […] (BARROS, 2018, p.
199).

Sendo assim, podemos entender a base do seu pensamento através do contrato


social, tornando a relação e a convivência em sociedade algo viável e harmonioso.

UNIDADE II Teorias Morais 33


4 A MORAL DA RAZÃO PRÁTICA DE KANT

Você já se desafiou em sua vida? Já criticou o que pensa ou pensou? Já parou para
tentar superar algo que está em duas frentes? Que tal tentar responder a essas perguntas
ou a perguntas como “o que posso saber? O que posso esperar? O que devo fazer?”.
Tais dúvidas são constantes na vida de algumas pessoas, ao passo que são total-
mente desnecessárias para outras. Porém, existiu um filósofo que se preocupou em buscar
soluções para dúvidas parecidas com essas: esse filósofo era chamado de Emanuel Kant,
um filósofo alemão, professor universitário, considerado por vários pensadores como um
dos filósofos mais influentes dos tempos modernos. Sua filosofia tem uma grande crítica na
relação entre racionalismo e empirismo e, com suas propostas, procura superar esse tema
destacando a Razão através da crítica pura para saber seus limites. Superando a ideia na
capacidade plena da razão, sem analisá-la ou criticá-la, podemos afirmar ainda que Kant
faz a crítica ao chamado dogmatismo, que é quando a razão acredita em algo sem discutir,
sem debater, acreditando e pronto, como, por exemplo, alguns dogmas da igreja católica,
nos quais aquilo não se discute, ou seja, o dogmatismo pode ser considerado um limite
para razão pura, um conhecimento conveniente.
Kant escreveu duas obras importantes: a chamada “Crítica da Razão Pura e Crítica
a Razão Prática”, na qual ele nos aponta uma razão teórica e uma prática que se comple-
mentam como diz Höffe (2005, p. 187):

UNIDADE II Teorias Morais 34


[...] a razão prática não é nenhuma outra que a razão teórica; só há uma
razão, que é exercida ou prática ou teoricamente. De modo geral a razão
significa a faculdade de ultrapassar o âmbito dos sentidos, da natureza. A
ultrapassagem dos sentidos pelo conhecimento é o uso teórico da razão, na
ação é o uso prático da razão.

A razão pura também é chamada por Kant de filosofia transcendental, aquela que
ocorre quando temos conceitos, definições puras que atingimos através de análises da
própria razão. Já a razão prática procura nos apontar um princípio para a moralidade, pois,
para ele, a moral não vem da experiência, o que tornaria a moral fraca e sem sentido.
Segundo Andrade (2011), a filosofia prática de Kant busca a implantação de uma lei
moral que seja um princípio prático universal a ser seguido. Essa parte da filosofia kantiana
traz o que podemos chamar de uma fundamentação da moralidade, encontrando uma lei
central para determinar o agir com moralidade entre os homens, respeitando a vontade, o
dever e a liberdade, temas esses abordados em outros momentos de nossa disciplina.
Para prosseguir o raciocínio, responda a pergunta a seguir para você mesmo: você
se acha livre? Você pode ser livre e ético ao mesmo tempo? Assim que responder a si
mesmo, poderemos prosseguir com a ideia de Kant, pois, para ele, a razão prática diz que
somos livres e essa razão que tomamos e utilizamos nos dá o conceito real para decidirmos
entre ser moral ou imoral. Vale ressaltar que a razão prática nos dá autonomia em relação
à liberdade, ao agir, determinando nossas ações concretas.
A moral proposta por Kant nos leva a definir o chamado dever, que, por sua vez,
não diz respeito a um indivíduo ou a outro, mas, sim, a todos os seres humanos, pois temos
a partir daí uma razão moral com princípios racionais, uma vez que o próprio Kant (2008)
dizia que a “virtude é a força da máxima do homem em sua obediência ao dever”.

4.1 As Leis da Razão Kantiana


Você respeita as regras sociais? Sempre agiu dentro das leis da sociedade? Como
seres racionais que você e eu somos, agimos dentro das regras e leis sociais, pois, segundo
Kant, temos razão e, por isso, respeitamos o que nos é imposto. Mas que leis são essas?
Como analisá-las? Kant diz a você que essas leis podem ser categóricas ou hipotéticas.
Observe o quadro a seguir para melhor compreensão:

UNIDADE II Teorias Morais 35


Quadro 1 - Imperativo Hipotético E Categórico

IMPERATIVO HIPOTÉTICO IMPERATIVO CATEGÓRICO

Faz isso, mas na verdade quer fazer aqui- Faz isso e pronto.
lo.
Cumpra tudo o afirma, ou o que prometeu, Cumpra tudo o afirma, ou o que prometeu.
isso se você quer receber olhares de apro-
vação na sociedade.
Você pode ser acostumado, condicionado Você pode ser desacostumado, incondicio-
se.... nado se....
O comando é o meio de se atingir o obje- O comando é o objetivo em si.
tivo.
A vontade vem de algo exterior a você. A vontade tem autonomia, ou seja, vem de
si, de você.
Independente da Razão Dependente da Razão.

Fonte: O Autor.

Para explicar melhor a proposta kantiana e a tabela acima, devemos afirmar que o
imperativo hipotético visa um fim direto, te condiciona a esse fim. Já o chamado de impera-
tivo categórico é uma imposição, um dever imposto pela razão.
Assim, podemos ter noções morais utilizando a razão e abandonando o que está
pronto e acabado, ou seja, não acreditamos em tudo. Um exemplo clássico dessa afirmação
seria utilizarmos a razão e, assim, jamais compartilhar as chamadas “fake news” nas redes
sociais, uma vez que procuraremos analisá-las racionalmente, não acreditaremos no pronto
e acabado.

UNIDADE II Teorias Morais 36


5 A PERSPECTIVA HEGELIANA E DE BÉRGSON DE CULTURA E DE DEVER

Nos itens anteriores, estudamos a filosofia kantiana e também as ideias de Rous-


seau, que, por sua vez, buscaram a conciliação sobre o dever humano e a natureza humana,
isso relacionado à moral. No entanto, não deixam claro a relação de ética, cultura e dever.
Hegel vem investigando essa problemática e afirma que temos que superar as propostas
de Rousseau e Kant, pois ambos analisaram somente o homem e a natureza humana, se
esquecendo de olhar com calma para relação homem e cultura, sem falar das relações
pessoais entre os indivíduos, como entre as famílias, por exemplo. É importante frisar que
essas relações pessoais entre os indivíduos determinam a moral e a ética dessas pessoas:
imagine você que, desde pequeno, ouviu de seus pais “devolva esse lápis. Não é seu.”,
ou seja, ouviu seus responsáveis ensinando-o o certo e o errado, o correto e o incorreto, o
justo e o injusto. Como desprezar essa relação familiar e pessoal no exercício da vida ética?
Apesar de conhecer a importância dos estudos kantianos e de Rousseau, Hegel
afirma que somos sujeitos históricos e culturais, ou seja, construímos nossa moral e, nesse
processo de construção, todas as instituições que compõem nossa sociedade são importan-
tes, pois é através delas que formamos o que estudamos no primeiro capítulo: os valores.
A formação ética vai além de nossas vontades, ou seja, essas instituições apontam
para além de nossa vontade individual, criando a ideia que chamamos de dever. Outro
ponto a ser destacado é que não devemos cometer anacronismos, pois apesar de for-
marmos nossa moralidade na cultura de uma sociedade, essa sociedade pode ter novas

UNIDADE II Teorias Morais 37


partes culturais com o passar do tempo, ou seja, as normas morais da época dos seus avós
podem não ser as mesmas propostas a você. Por isso, Hegel considerava que, cumprindo
o dever imposto pela sociedade em que vivemos, podemos ser livres e seguir as normas
morais da sociedade, respeitando toda sua influência.
Outra afirmação importante destacada por Hegel é que, utilizando a razão, pode-
mos perceber essa mudança de uma sociedade para outra e até mesmo dentro de uma
sociedade. Isso ocorre quando começamos a transgredir as regras morais vigentes.
Você já deve ter ouvido seus avós ou seus pais dizendo “na minha época, só de
meu pai olhar, eu já sabia que depois tinha uma surra”. Talvez ouviu também “ai de mim se
passasse pelo meio da conversa de pai e a visita sem pedir licença”. Diante disso, perce-
bemos que, sendo verdade ou uma fantasia do seu responsável, essas falas nos ensinam
a compreender que a sociedade muda culturalmente e nos molda moralmente.
No século XX, Bergson, complementa a filosofia hegeliana da relação do dever e o
tempo/cultura, apontando o que ele chama de moral aberta e moral fechada.
A moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma so-
ciedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É a
moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por nós. Em
contrapartida, a moral aberta é uma criação de novos valores e de novas
condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética nova. Os
criadores éticos são, para Bergson, indivíduos excepcionais – heróis, santos,
profetas, artistas -, que colocam suas vidas a serviço de um tempo novo,
inaugurado por eles, graças a ações exemplares, que contrariam a moral
fechada vigente. (CHAUÍ, 2000, p. 40).

Já Hegel,
diria que a moral aberta bergsoniana só pode acontecer quando a moralidade
vigente está em crise, prestes a terminar, porque um novo período histórico-
-cultural está para começar. A moral fechada quando sentida como repressora
e opressora, e a totalidade ética, quando percebida como contrária à subje-
tividade individual, indicam aquele momento em que as normas e os valores
morais são experimentados como violência e não mais como realização ética
(CHAUÍ, 2000, p. 41).

Assim, podemos afirmar que tanto Hegel quanto Bergson nos aproximam ainda
mais do ser moral com suas críticas e seus complementos.

UNIDADE II Teorias Morais 38


6 A ÉTICA DE ESPINOSA

O filósofo holandês Baruch Espinosa viveu no século XVII e deixou uma ideia
destacada por vários estudiosos, sendo considerado por muitos um dos grandes nomes
do debate sobre ética e liberdade. Espinosa (2017) considera que Deus não é um ser
transcendente separado daquilo que criou, ou seja, é uma substância que criou o universo
inteiro e não se separa da matéria, por isso do termo “Deus sive Natura”: Deus ou Natureza.
Para Espinosa, todos os seres têm uma ligação com o ser divino e ele dá a essa
ligação o nome de Conatus, ou seja, uma força vital que expressa o corpo e a alma juntos.
Parece loucura esse início de conteúdo, mas não é. Para ele, há as paixões alegres e
paixões tristes, que não se separam e que crescem de acordo com cada uma, como, por
exemplo, os desejos e vontades, que surgem mais das alegres do que das tristes. Se você
ainda não entendeu, vamos começar explicando como elas nascem.
Desejos nascidos da tristeza: “[...] (inveja, ódio, medo, orgulho, ciúme, vingança)
são mais fracos por que impedem o crescimento, corrompem as relações e as orientam
para as formas de exploração e destruição” (ARANHA, 2013, p. 194).
Desejos nascidos da alegria:
[...] (amor, amizade, generosidade, benevolência, gratidão) são mais fortes
porque aumentam nossa capacidade de agir e de pensar, permitem o de-
senvolvimento humano, facilitam o encontro de pessoas (ARANHA, 2013, p.
194).

UNIDADE II Teorias Morais 39


Enfim, podemos afirmar, em outras palavras, que a alegria faz o corpo e alma
expandirem seus talentos, fazendo com que o ser humano se afaste das coisas tristes.
Vale destacar seu pensamento diferente dos outros filósofos estudados que classificam a
razão superior aos sentimentos, não cabendo a ela o controle dos afetos humanos. Para
Espinosa (2017), os desejos jamais serão dominados por uma ideia ou uma vontade, mas
somente por outro sentimento mais forte. Mas onde entra a liberdade nisso? De acordo
com ele, a liberdade não pode ser corrompida por nada se houver as paixões tristes que
reservam o ser humano e não os torna escravos.
Devemos, pois, nos dedicar, sobretudo, à tarefa de conhecer, tanto quanto
possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente seja, assim,
determinada, em virtude do afeto, a pensar aquelas coisas que percebe clara
e distintamente e nas quais encontra a máxima satisfação (ESPINOSA, 2017,
p. 217).

Espinosa foi excomungado de sua religião e, a partir daí, começou a desenvolver


suas teses, nas quais ele valoriza a felicidade humana, descartando a tradição cristã que,
para ele, faz com que o homem se torne fraco e sem valor. O autor afirma que ninguém é
totalmente livre e sempre é ligado a algo na vida, não podendo agir como quer ou como
bem entender, pois sua ética afirma que o homem acaba tornando-se escravo das paixões.
Para Espinosa (2017), Deus é uma força, um ser, grande e poderoso que não
tem tempo para voltar o olhar aos insignificantes humanos, ou seja, Deus, para ele, não é
responsável pelo que acontece com você, pois você é fruto das suas próprias escolhas.
Absorvendo a Ética de Espinosa, o homem tem paz, pois passa acreditar que sua salvação
nasce do conhecimento próprio.

SAIBA MAIS

A liberdade é, provavelmente, a maior conquista humana e, com isso, temos diversos


filósofos que passaram a estudar e publicaram várias obras abordando a liberdade em
si. Entre eles, podemos citar Marx, Sartre, Descartes, Kant e outros. Por exemplo, Des-
cartes afirmou que a liberdade é motivada pela decisão humana e, muitas vezes, essa
vontade depende de outros fatores, como dinheiro ou bens materiais.

Fonte: Santos (2017).

UNIDADE II Teorias Morais 40


7 A CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE VIRTUDE E O RACIONALISMO ÉTICO

A concepção contemporânea de virtudes é repleta de fatores sociais e lógicos, uma


vez que devemos considerar e focar na virtude e no caráter humano, o que nos possibilita
entender melhor as profissões e suas características básicas.
Adaptando o que diz Solomon (2006), a vida corporativa para profissão, e, por fim
seu sucesso, vai depender do caráter e da personalidade do profissional. Vale ressaltar
que as virtudes profissionais vão depender do local e da cultura onde se aplicam, pois os
valores adquiridos pelo profissional vão nortear toda a instituição representada por ele.
Ainda de acordo com Solomon (2006), Aristóteles considera que as virtudes são
definidas com a prática humana na sociedade e do próprio ser humano em questão. Assim,
a soma das virtudes do indivíduo e da instituição que ele exerce sua profissão satisfaz
as necessidades da sociedade, pois contempla todos os desejos humanos e as relações
interpessoais.
Podemos afirmar que, até o momento, conhecemos diversas teorias sobre ética,
nas quais algumas se completam e outras se diferem, mas podemos chegar à conclusão de
que ela, bem como suas virtudes, é extremamente necessária para que ocorra uma ótima
convivência em sociedade.
Toda profissão e instituição precisam de indivíduos com virtudes capazes de somar,
contemplando a missão proposta por ambas. Pergunto, então, a você: quais as virtudes
você tem ou pode adquirir para se somar a sua profissão e/ou para instituição em que vai

UNIDADE II Teorias Morais 41


oferecer e/ou exercer seu trabalho? Pense e reflita na importância da sua virtude, pois, na
contemporaneidade, temos muitos desafios para sua virtude – desde o consumo do álcool
até mesmo as redes sociais podem demonstrar a virtude humana desenfreada. A partir
daí você pode utilizar a Razão, ou o racionalismo ético, isso em todas suas vertentes, pois
temos definições diferentes de razão também, que se completam.
Observe abaixo algumas explicações para as diferentes formas de racionalismo:
I. No sentido metafísico, doutrina segundo a qual nada existe que não
tenha sua razão de ser, de tal maneira que por direito, senão de fato, não
há nada que não seja inteligível.
II. Doutrina segundo a qual todo conhecimento certo provém de princípios
irrecusáveis, a priori, evidentes, de que ela é consequência necessária,
e por si sós, os sentidos não podem fornecer senão uma ideia confusa e
provisória da verdade. (Descartes, Espinoza, Hegel)
III. Doutrina segundo a qual só nos devemos fiar na razão (sistemas de
princípios universais e necessários) e não admitir nos dogmas religiosos
senão o que ela reconhece como lógico e satisfatório segundo a luz
natural. (Teólogos, definição dominante até século XIX).
IV. A experiência só é possível para um espírito que tenha disciplina intelec-
tual: fé na razão, na evidência e na demonstração; crença na eficácia da
luz natural. (Kant).

GOMES, W. B. Relações entre Psicologia e Filosofia: A psicologia filosófica.


Psicologia/Filosofia, Porto Alegre, [S.I.], 2003. Disponível em: http://www.
ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm. Acesso em 20/01/2019.

Mesmo com tantas definições acima, você pode entender o racionalismo ético,
mesmo que superficialmente, associando-se à virtude contemporânea debatida em vários
momentos e compreender que você precisa se encontrar na sociedade, fazendo suas es-
colhas para ser um profissional de excelência.

UNIDADE II Teorias Morais 42


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro acadêmico (a), chegamos ao final de mais uma unidade e, no decorrer dos
estudos, contemplamos diversas temáticas sobre ética e moral, englobando vários pensa-
dores. Você consegue se lembrar? Lembra-se da Filosofia moral de Sócrates e Aristóteles?
Espero que nesse momento do processo de ensino/aprendizagem você se reconheça
inserido na sociedade, contemplando a filosofia moral estudada. Espero que tenha se
encantado com a formação da moral cristã durante a história.
Continuamos nossa viagem pelo conceito de natureza humana proposta por Rous-
seau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Você conheceu também a perspectiva
hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano. Além disso, essa viagem apresentou
a visão ética e liberdade proposta por Espinosa. Será que agora depois de tudo você se
sente livre?
O desafio proposto a você durante nossos estudos foi o de conhecer muito além
de conceitos de ética e moral, analisando e se conectando a concepção contemporânea de
virtude e do racionalismo ético. Espero que esteja preparado para o conhecimento de sua
profissão nos próximos capítulos. Enfim, sucesso e nos vemos no capítulo seguinte!

Obrigado!

UNIDADE II Teorias Morais 43


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: “Crítica da razão prática”
• Autor: Immanuel Kant
• Editora: Vozes - 4ª edição
• Sinopse: crítica da razão pura, principal obra de Immanuel Kant,
divide a história da filosofia em duas: antes e depois da Crítica.
Num momento em que a filosofia dividia-se em racionalistas de um
lado e empiristas de outro, procurou Kant demonstrar que o nosso
conhecimento é, necessariamente, tanto empírico como racional,
inaugurando, com isso, uma posição singular no debate filosófico,
criando as bases para a Teoria do Conhecimento como disciplina
filosófica. Entrar no universo da Crítica da razão pura é aceitar o
desafio, colocado pelo próprio Kant, de evitar o dogmatismo sem
cair no relativismo; evitar o absoluto sem cair no nada.

LIVRO
• Título: “Ética”
• Autor: Spinoza
• Tradutor: Tomaz Tadeu
• Editora: Vozes – 2ª edição
• Sinopse: a publicação da Ética, do filósofo holandês Benedictus
de Spinoza, em nova tradução, constitui-se em um marco para a
Autêntica Editora, que completa, neste ano de 2007, uma década
de existência. Ela consolida o nosso projeto de publicar traduções
de obras, antigas ou modernas, consideradas clássicas, iniciativa
que teve início com O Panóptico, de Jeremy Bentham. A importân-
cia que lhe concedemos é assinalada não apenas pela decisão de
publicá-la em edição bilíngue, mas também pela especial preocu-
pação com os aspectos gráficos. Dada a constante remissão de
Spinoza a passagens anteriores do texto (proposições, definições,
axiomas, etc.), buscou-se dar-lhe um formato que facilitasse o
movimento de ir e vir da leitura. É, entretanto, o cuidado com o
trabalho de tradução que deve, acima de tudo, ser ressaltado. O
princípio normativo foi o da produção de um texto que, sem deixar
de ser fiel à expressão de Spinoza, estivesse mais próximo do
léxico e da sintaxe da língua presentemente utilizada do Brasil. O
que podemos assegurar é que a tradução que ora entregamos aos
leitores é o resultado de um trabalho demorado e meticuloso, que
se beneficiou da confrontação com traduções para outras línguas,
da consulta a comentaristas de variadas orientações filosóficas e
dos indispensáveis recursos fornecidos pela informática.

UNIDADE II Teorias Morais 44


LIVRO
• Título: “Ética a Nicômaco”
• Autor: Aristóteles – Edson Bini
• Editora: Vozes – 4ª edição
• Sinopse: uma das mais expressivas e fecundas obras do pen-
samento grego e uma das que mais influenciaram a posteridade
do mundo ocidental. Ética a Nicômaco revela o mais produtivo e
laborioso filósofo da antiguidade às voltas com a conceituação e
a investigação dos elementos fundamentais da ciência do caráter
e dos costumes. Trata-se de texto de referência indispensável e
obrigatório a todos os estudantes e cultivadores da filosofia, das
artes e das ciências humanas, destacadamente o direito, a psico-
logia, a antropologia, a sociologia e a política.

FILME/VÍDEO
• Título: Feitiço do Tempo
Título original: Groundhog Day
• Ano: 1993
• Diretor: Harold Ramis
• Roteirista: Harold Ramis e Danny Rubin
• Sinopse: este filme apresenta as duas pontas da ética kantiana.
Phil Connors, um homem egoísta, começa a experimentar o mesmo
dia uma e outra vez na aldeia Punxsutawney no dia de Groundhog.
A resposta inicial de Connors às novas circunstâncias é repleto de
hedonismo. Ele rouba, bebe em excesso, dirige imprudentemente,
seduz mulheres da cidade, e tentar manipular seus colegas de
trabalho. Connors finalmente conclui que não pode continuar a
vida que ele leva. Connors toma uma decisão que alinha com ética
kantiana. Sua nova vida e novas ações refletem um imperativo ca-
tegórico de Kant, pelo qual uma pessoa age sem interesse pessoal
para tornar a vida das pessoas ao seu redor melhor. Através de
sua nova perspectiva de vida, consegue escapar o ciclo repetitivo.

FILME/VÍDEO
• Título: O Melhor Pai do Mundo
Título original: World’s Greatest Dad.
• Ano: (2009).
• Diretor: Frank Darabont.
• Roteirista: Frank Darabont.
• Sinopse: Lance Clayton tinha o sonho de ser um grande escritor.
Mas, hoje, ele é um professor. Um de seus alunos é seu próprio filho
Kyle, com quem ele não tem um bom relacionamento. Quando Kyle
morre de uma forma humilhante, Lance escreve um falso bilhete
de despedida para evitar constrangimentos na família e esconder
as condições vergonhosas de sua morte. O que ele não esperava
é que o texto da carta ia se espalhar e Kyle, antes considerado um
idiota, vira um ídolo no colégio. Com todas as atenções sobre ele,
Lance tem que sustentar essa mentira e decide retomar sua carreira
de escritor, escrevendo um falso diário de seu falecido filho.

UNIDADE II Teorias Morais 45


FILME/VÍDEO
• Título: À Espera de um Milagre
Título original: The Green Mile
• Ano: 1999
• Diretor: Frank Darabont
• Roteirista: Frank Darabont
• Sinopse: este filme apresenta o ano 1935. No corredor da morte
de uma prisão sulista. Paul Edgecomb (Tom Hanks) é o chefe de
guarda da prisão, que tem John Coffey (Michael Clarke Duncan)
como um de seus prisioneiros. Aos poucos, desenvolve-se entre
eles uma relação incomum, baseada na descoberta de que o
prisioneiro possui um dom mágico que é, ao mesmo tempo, miste-
rioso e milagroso.

UNIDADE II Teorias Morais 46


UNIDADE III
Ética, Esportes e Educação Física
Professor Especialista: Guilherme França Fusco

Plano de Estudo:
● Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional
de Educação Física);
● Código de Ética Profissional e exercício profissional;
● Ética e vida profissional;
● Identificando Valores para o Estudo do Esporte;
● Esporte, Ética e Intervenção no campo da Educação Física;
● Ética e docência;
● Ética no esporte, ética profissional, fair play e olimpismo;
● Ética do Profissional de Educação Física: do dever-ser ao dever-fazer.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conhecer e apontar quais são os Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/
CREFs (Conselho Federal e Regional de Educação Física);
● Entender o Código de Ética Profissional e exercício profissional;
● Compreender Ética e vida profissional;
● Identificar os Valores para o Estudo do Esporte;
● Contextualizar o Esporte, Ética e Intervenção no campo da Educação Física;
● Conhecer sobre Ética e docência;
● Compreender a Ética no esporte, ética profissional, fair play e olimpismo;
● Entender a Ética do Profissional de Educação Física: do dever-ser ao dever fazer.

47
INTRODUÇÃO

Seja muito bem-vindo (a)!


Caro (a) aluno (a), fique atento, pois identificaremos juntos as transformações que
podemos proporcionar a sociedade através do que será abordado nesta disciplina. Estu-
dando, lendo e analisando os conteúdos das unidades III e IV construiremos uma base para
triunfar sobre os instrumentos propostos. Meu objetivo é que consigamos construir uma sa-
piência sobre a Ética na Educação Física, fazendo com que se esclareça o comportamento
profissional do professor em suas áreas de atuação.
Proponho um entendimento em conjunto sobre os documentos que nos norteiam
CONFEF/CREFS (Conselho Federal e Regionais de Educação Física), acerca dos Valores
Éticos e Morais do Sistema. Vamos explorar tudo o que puder relacionar a Ética ao exer-
cício profissional e descobriremos a relação Ética e vida profissional. Direcionaremos para
a identificação dos valores dos estudos dos esportes, verificando a importância de a Ética
estar inserida nos Esportes e a sua intervenção no campo da Educação Física. Proponho
ainda que juntos possamos despertar a curiosidade sobre a importância do assunto na
sociedade e na área profissional.
Vamos explorar os conceitos Ética e Docência, trazendo valores que possamos
experimentar na prática docente. Exploraremos também situações que contextualizam a
Ética nas variadas formas de ver o esporte.
Por fim, desvendaremos a Ética do Profissional de Educação Física do dever-ser
ao dever-fazer, além de como a postura do professor interfere na resolução de situações e
vivências que possam acontecer no cotidiano.

Muito obrigado e bom estudo!

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 48


1 VALORES ÉTICOS E MORAIS NO SISTEMA CONFEF/CREFS (CONSELHO FEDE-
RAL E REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA)

Na década de 90, próximo ao ano 2000, mais exatamente em 1° de setembro de


1998, entrou em vigor a Lei n° 9.696, que dispõe sobre a regulamentação da profissão
de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de
Educação Física. Este conselho, dentro de seu estatuto, cria uma Comissão de Ética Pro-
fissional, a qual lhe dá a competência de, entre outras atribuições, zelar pela observância
dos princípios do Código de Ética do Profissional de Educação Física, trazendo em sua
Resolução n° 307/2015 o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física registrados
no Sistema CONFEF/CREFs, buscando como ideal da profissão a prestação de um aten-
dimento melhor e mais qualificado a um número cada vez maior de pessoas, tendo ainda
como referencial um conjunto de princípios, normas e valores éticos livremente assumidos,
individual e coletivamente, pelos profissionais de Educação Física.
A construção do Código de Ética para a Profissão de Educação Física
foi desenvolvida através do estudo da historicidade da sua existência, da
experiência de um grupo de profissionais brasileiros da área e da resposta da
comunidade específica de profissionais que atuam com esse conhecimento
em nosso país.
Assim, foram estabelecidos os 12 (doze) itens norteadores da aplicação do
Código de Ética, que fixa a forma pela qual se devem conduzir os Profissio-
nais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs:
I. O Código de Ética dos Profissionais de Educação Física, instru-
mento regulador do exercício da Profissão, formalmente vinculado
às Diretrizes Regulamentares do Sistema CONFEF/CREFs, defi-
ne-se como um instrumento legitimador do exercício da profissão,
sujeito, portanto, a um aperfeiçoamento contínuo que lhe permita

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 49


estabelecer os sentidos educacionais, a partir de nexos de deveres
e direitos;
II. O Profissional de Educação Física registrado no Sistema CONFEF/
CREFs e, consequentemente, aderente ao presente Código de Éti-
ca, na qualidade de interventor social, deve assumir compromisso
ético para com a sociedade, colocando-se a seu serviço primordial-
mente, independentemente de qualquer outro interesse, sobretudo
de natureza corporativista;
III. Este Código de Ética define, para seus efeitos, no âmbito de toda
e qualquer atividade física, como destinatário, o Profissional de
Educação Física registrado no Sistema CONFEF/CREFs e, como
beneficiários das intervenções profissionais os indivíduos, grupos,
associações e instituições que compõem a sociedade. O Sistema
CONFEF/CREFs é a instituição mediadora, por exercer uma função
educativa, além de atuar como reguladora e codificadora das rela-
ções e ações entre beneficiários e destinatários;
IV. A referência básica deste Código de Ética, em termos de opera-
cionalização, é a necessidade em se caracterizar o Profissional
de Educação Física diante das diretrizes de direitos e deveres
estabelecidos normativamente pelo Sistema CONFEF/CREFs. Tal
Sistema deve visar assegurar por definição: qualidade, competên-
cia e atualização técnica, científica e moral dos Profissionais nele
incluídos através de inscrição legal e competente registro;
V. O Sistema CONFEF/CREFs deve pautar-se pela transparência
em suas operações e decisões, devidamente complementada por
acesso de direito e de fato dos beneficiários e destinatários à infor-
mação gerada nas relações de mediação e do pleno exercício legal.
Considera-se pertinente e fundamental, nestas circunstâncias, a
viabilização da transparência e do acesso ao Sistema CONFEF/
CREFs, através dos meios possíveis de informação e de outros
instrumentos que favoreçam a exposição pública;
VI. Em termos de fundamentação filosófica o Código de Ética visa
assumir a postura de referência quanto a direitos e deveres de
beneficiários e destinatários, de modo a assegurar o princípio da
consecução aos Direitos Universais. Buscando o aperfeiçoamento
contínuo deste Código, deve ser implementado um enfoque cien-
tífico, que proceda sistematicamente à reanálise de definições e
indicações nele contidas. Tal procedimento objetiva proporcionar
conhecimentos sistemáticos, metódicos e, na medida do possível,
comprováveis;
VII. As perspectivas filosóficas, científicas e educacionais do Sistema
CONFEF/CREFs se tornam complementares a este Código, ao
se avaliarem fatos na instância do comportamento moral, tendo
como referência um princípio ético que possa ser generalizável e
universalizado. Em síntese, diante da força de lei ou de mandamen-
to moral (costumes) de beneficiários e destinatários, a mediação
do Sistema produz-se por meio de posturas éticas (ciência do
comportamento moral), símiles à coerência e fundamentação das
proposições científicas;
VIII.O ponto de partida do processo sistemático de implantação e
aperfeiçoamento do Código de Ética dos Profissionais de Educa-
ção Física delimita-se pelas Declarações Universais de Direitos
Humanos e da Cultura, como também pela Agenda 21, que situa a
proteção do meio ambiente em termos de relações entre os homens
e mulheres em sociedade e ainda, através das indicações referi-
das na Carta Brasileira de Educação Física (2000), editada pelo
CONFEF. Estes documentos de aceitação universal, elaborados
pelas Nações Unidas, e o Documento de Referência da qualidade
de atuação dos Profissionais de Educação Física, juntamente com
a legislação pertinente à Educação Física e seus Profissionais nas
esferas federal, estadual e municipal, constituem a base para a

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 50


aplicação da função mediadora do Sistema CONFEF/CREFs no
que concerne ao Código de Ética;
IX. Além, da ordem universalista internacional e da equivalente legal
brasileira, o Código de Ética deverá levar em consideração valores
que lhe conferem o sentido educacional almejado. Em princípio, tais
valores como liberdade, igualdade, fraternidade e sustentabilidade
com relação ao meio ambiente, são definidos nos documentos já
referidos. Em particular, o valor da identidade profissional no campo
da atividade física - definido historicamente durante séculos - deve
estar presente, associado aos valores universais de homens e
mulheres em suas relações socioculturais;
X. Tendo como referências a experiência histórica e internacional dos
Profissionais de Educação Física no trato com questões técnicas,
científicas e educacionais, típicas de sua profissão e de seu preparo
intelectual, condições que lhes conferem qualidade, competência
e responsabilidade, entendidas como o mais elevado e atualizado
nível de conhecimento que possa legitimar o seu exercício, é funda-
mental que desenvolvam suas atuações visando sempre preservar
a saúde de seus beneficiários nas diferentes intervenções ou abor-
dagens conceituais;
XI. A preservação da saúde dos beneficiários implica sempre na
responsabilidade social dos Profissionais de Educação Física, em
todas as suas intervenções. Tal responsabilidade não deve e nem
pode ser compartilhada com pessoas não credenciadas, seja de
modo formal, institucional ou legal;
XII. Levando-se em consideração os preceitos estabelecidos pela
bioética, quando de seu exercício, os Profissionais de Educação
Física estarão sujeitos sempre a assumirem as responsabilidades
que lhes cabem. (CONFEF/CREFs, 2020).

Tendo esses itens como norteadores, foram classificados alguns princípios aos
quais se pauta o Profissional de Educação Física no Art. 4° da resolução citada, tais como:
o respeito à vida e à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo, a responsabilidade
social, ausência de discriminação ou preconceito de qualquer natureza, o respeito a ética
nas diversas atividades profissionais, a valorização da identidade profissional no campo das
atividades físicas, esportivas e similares, a sustentabilidade do meio ambiente, prestação,
sempre, do melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas, com competência,
responsabilidade e honestidade e atuação dentro das especificidades do seu campo e
área do conhecimento, no sentido da educação e do desenvolvimento das potencialidades
humanas, daqueles aos quais prestam serviços.
No mesmo documento, o Art. 5° rege as diretrizes para a atuação dos órgãos in-
tegrantes do Sistema CONFEF/CREFs e para o desempenho da atividade profissional em
Educação Física, sendo elas: comprometimento com a preservação da saúde do indivíduo
e da coletividade e com o desenvolvimento físico, intelectual, cultural e social do beneficiário
de sua ação, o aperfeiçoamento técnico, científico, ético e moral dos Profissionais regis-
trados no Sistema CONFEF/CREFs, a transparência em suas ações e decisões, garantida
por meio do pleno acesso dos beneficiários e destinatários às informações relacionadas ao
exercício de sua competência legal e regimental, a autonomia no exercício da profissão,

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 51


respeitados os preceitos legais e éticos e os princípios da bioética, priorização do compro-
misso ético para com a sociedade, cujo interesse será colocado acima de qualquer outro,
sobretudo do de natureza corporativista, integração com o trabalho de profissionais de
outras áreas, baseada no respeito, na liberdade e independência profissional de cada um e
na defesa do interesse e do bem-estar dos seus beneficiários.
Por fim, quando o profissional efetua seu registro no CONFEF/CREFs, seja para
licenciatura ou bacharelado, implica em total aceitação e submissão às normas e princípios
contidos neste código.

SAIBA MAIS

“Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, super-


visionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos
e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar
treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares
e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades
físicas e do desporto”.

Fonte: Brasil (1998).

REFLITA

De acordo com Paolucci (2013), a aplicação do mesmo Código de ética também propor-
ciona a transformação da vida das pessoas para a melhor, e não somente proporciona
grandes conquistas tecnológicas e metodológicas de todas as áreas demarcadas pelos
profissionais.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 52


2 CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Compete ao CONFEF editar e alterar o Código de Ética do Profissional de Educa-


ção Física, através de uma Comissão de Ética profissional a qual tem a responsabilidade
de: propor mudanças no Código de Ética do Profissional de Educação Física, também zelar
pela observância dos princípios do Código de Ética do Profissional de Educação Física,
funcionar como Conselho Superior de Ética Profissional, examinar e julgar os recursos das
decisões dos Tribunais Regionais de Ética, inclusive, determinando diligências necessárias
à sua instrução, levando, após o julgamento, ao conhecimento do Plenário, responder con-
sultas e orientar as Comissões de Ética dos CREFs sobre o disposto no Código de Ética do
Profissional de Educação Física e no Código Processual de Ética, responder consultas e
orientar sobre a conduta esperada dos Profissionais de Educação Física. Vale ressaltar que
esse código de ética compete tanto aos licenciados como aos bacharéis.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 53


SAIBA MAIS

Revista Educação Física UNIFAFIBE, Ano II, n. 2, p. 125-142, dezembro/2013.

a) Respeito mútuo e cumprimento dos deveres sociais e políticos;


b) Senso criativo e crítico construtivo;
c) Auto valorização da cultura brasileira;
d) Respeito às diferenças;
e) Valorização do ambiente em que se vive;
f) Desenvolver auto confiança, afetividade e respeito para com seu próximo;
g) Adquirir hábitos saudáveis para sua qualidade de vida e de todos;
h) Se expressar, interpretar, e produzir conhecimento de forma verbal, matemática, grá-
fica, plástica e corporal;
i) Se utilizar de diversos recursos tecnológicos;
j) Solucionar problemas de forma lógica, criativa e intuitiva.

É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da
cultura corporal, contribuir para construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer
instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente (PCNs 2000, p. 28).

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 54


3 ÉTICA E VIDA PROFISSIONAL

Para discutirmos a Ética na vida profissional, precisamos antes levantar os questio-


namentos concernentes à formação profissional na sociedade.
Enfatizando a ética como condição primordial para os futuros profissionais,
haja vista que a ética acontece no interior do ser humano e se verifica a partir
do momento em que questionamos a ação ou conduta praticada ou que se
pretende praticar, como uma maneira de controle interno da ação humana
(D’ALVA, 2004, p. 08).

A sociedade é produto de ações individuais e coletivas. Cada profissional deve ter,


desde a sua formação, a capacidade de questionar e revisar suas ações constantemente.
Os códigos deontológicos que fazem parte da formação de cada profissão devem ser como
bússola que orienta preceitos morais e não ter caráter corporativista de proteção aos pro-
fissionais (KIPPER, 2003).
O profissional de Educação Física, por sua vez, tem uma abrangência de atuação,
a qual sua formação permite explorar inúmeros segmentos das manifestações da atividade
física além dos esportes, com suas características específicas. De acordo com o Art. 9 do
Estatuto do Conselho Federal de Educação Física – CONFEF de 2010, são elas:
Ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes mar-
ciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação,
lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exer-
cícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas
corporais, sendo da sua competência prestar serviços que favoreçam o de-
senvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou
restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento
fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e
da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento,
da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da com-
pensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da
autonomia, da autoestima, da cooperação, da solidariedade, da integração,
da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, obser-
vados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética
no atendimento individual e coletivo (CONFEF, 2010, on-line).

Contudo, esse leque de possibilidades exige uma gama de habilidades que preci-
sam ser desenvolvidas ao longo da carreira profissional. Para tal, é preciso que tenhamos
a mente aberta para compreender a dimensão da ética e sua dinâmica no mundo e com as
pessoas de diferentes culturas, sendo necessário considerar que “uma ética da complexi-
dade, da cumplicidade e da (com) paixão, requer que repensemos as ideias de prudência,
temperança e desprendimento” (ALMEIDA, 1998).

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 55


4 IDENTIFICANDO VALORES PARA O ESTUDO DO ESPORTE

Todos os conteúdos de educação física possuem valores éticos e morais. No en-


tanto, nesse momento, vamos nos prender ao esporte, pois ele é um dos grandes aliados
da educação de crianças e adolescentes. Por meio dele, valores éticos e morais, como
a socialização, a cooperação, a solidariedade, a disciplina, o espírito de equipe e tantos
outros, fundamentais para a formação integral de uma pessoa, podem ser trabalhados e
desenvolvidos (UNESCO, 2013).
O esporte tem uma participação muito importante na sociedade, seja ela em qual-
quer uma de suas dimensões citadas por (Tubino, 2001), através do esporte de participação,
competição ou esporte escolar.
Já Bracht, 1989, refere-se ao esporte como uma atividade corporal de movimento
com caráter competitivo que surgiu no âmbito da cultura européia por volta do século XVIII
e se expandiu por todos os cantos do planeta. Em seu desenvolvimento, ele assumiu as
seguintes características básicas: competição, rendimento físico-técnico, record, racionali-
zação e cientificação do treinamento.
O esporte também é importante no lado social social, pois o mesmo se apresenta
em três dimensões, seja ela no esporte escolar, através do trabalho de inclusão, relaciona-
mento saudável, tolerância, cooperativismo.
Já no esporte participação temos a socialização, o bem estar, a promoção da
saúde, além de outros benefícios igualmente citados anteriormente, por fim mas não menos
influente o esporte competição ou de rendimento, o qual tem uma visibilidade mundial, e
traz além de todo seu valor histórico, uma série de atribuições vinculadas a essa dimensão,
como por exemplo os megaeventos esportivos, as Olimpíadas, as Paraolimpíadas, a Copa
do Mundo de Futebol entre outros.
No entanto, em se tratando de esporte competição, problemas podem surgir e que
levam a necessidade de atitudes para suas coibições, como o vencer a qualquer custo, as
apostas esportivas, os interesses publicitários, além de, em algumas situações, o interesse
pessoal prevalecer sobre a ética e a moral.

REFLITA
A prática de esportes constitui um direito universal, positivado em diversos instrumentos
internacionais. Devido ao seu potencial para o desenvolvimento individual e coletivo, da
mesma forma, é componente essencial para uma educação de qualidade (UNESCO, 2013).

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 56


5 ESPORTE, ÉTICA E INTERVENÇÃO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Como abordado no item anterior, o esporte, em todas as suas dimensões, exige


que sejam regulamentadas leis e normas para que se evite, por exemplo, o descumpri-
mento das regras, o abuso, a intolerância, o desrespeito, a discriminação em qualquer
uma de suas formas e o preconceito. Para isso, existem os órgãos competentes os quais
são responsáveis por elaborar, modificar, orientar, disciplinar e fiscalizar os profissionais e
as modalidades esportivas. Através das Federações, Confederações, Ligas, Conselhos e
Entidades são estipulados as normas e deveres esportivos.
A Educação Física brasileira, bem como a Profissão de Educação Física, vive
momentos de transição e de mudanças de paradigmas, tornando-se cada
vez mais necessário evidenciar, identificar e desenvolver suas dimensões
sociais, culturais, econômicas e políticas (CONFEF, 2020, online).

No Código de Ética dos Profissionais de Educação Física (CEPEF), de 2003, (os


capítulos de I a V) encontramos um conjunto de princípios, normas, direitos, responsabili-
dades, infrações e punições que regem o trabalho dos profissionais dessa área.
Considerando as dimensões que caracterizam a Educação Física, ela é concebida
como área de conhecimento e de intervenção profissional que tem como objeto de estudo
e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do
exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial, da dança, nas pers-
pectivas da prevenção, da promoção, da proteção e da reabilitação da saúde, da formação
cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 57


gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas,
além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades
físicas, recreativas e esportivas (PARECER CNE/CES Nº 58, 2004)
Por isso a importância de discutirmos alguns assuntos relacionados a Ética no
esporte. Impossível estabelecer uma formação fundamentada nos princípios de qualidade,
competência e ética sem a identificação para qual Intervenção Profissional se destina essa
preparação, uma vez que, para tal, a formação e a intervenção profissional devem andar
juntas.
A Intervenção Profissional é a aplicação dos conhecimentos científicos, pe-
dagógicos e técnicos, sobre a atividade física, com responsabilidade ética. A
intervenção dos Profissionais de Educação Física é dirigida a indivíduos e/ou
grupos-alvo, de diferentes faixas etárias, portadores de diferentes condições
corporais e/ou com necessidades de atendimentos especiais e desenvol-
ve-se de forma individualizada e/ou em equipe multiprofissional, podendo,
para isso, considerar e/ou solicitar avaliação de outros profissionais, prestar
assessoria e consultoria (CONFEF, 2020, online).

O Profissional de Educação Física, pela natureza e características da profissão que


exerce, deve ser devidamente registrado no Sistema CONFEF/CREFs - Conselho Federal/
Conselhos Regionais de Educação Física, possuidor da Cédula de Identidade Profissional,
sendo interventor nas diferentes dimensões de seu campo de atuação profissional, o que
supõe pleno domínio do conhecimento da Educação Física (conhecimento científico, técnico
e pedagógico), comprometido com a produção, difusão e socialização desse conhecimento
a partir de uma atitude crítico-reflexiva (PARECER CNE/CES Nº 58, 2004).
No esporte, precisamos de aprimoramento do profissional em busca de novos co-
nhecimentos científicos e práticas que possam contribuir para o desempenho do esportista,
além do aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas técnicas e táticas esportivas, ou
seja, o profissional deve buscar novas fontes de conhecimento para realizar uma interven-
ção correta no processo de desenvolvimento do indivíduo e em sua profissão.
Na sua intervenção, o Profissional de Educação Física utiliza-se de procedimentos
diagnósticos, técnicas e instrumentos de medidas e avaliação funcional, motora, biomecâ-
nica, composição corporal, programação e aplicação de dinâmica de cargas, técnicas de
demonstração, auxílio e segurança à execução dos movimentos, servindo-se de instala-
ções, equipamentos e materiais.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 58


SAIBA MAIS

INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO TREINAMENTO


ESPORTIVO
Intervenção: Identificar, diagnosticar, planejar, organizar, dirigir, supervisionar, executar,
programar, ministrar, prescrever, desenvolver, coordenar, orientar, avaliar e aplicar mé-
todos e técnicas de aprendizagem, aperfeiçoamento, orientação e treinamento técnico e
tático, de modalidades desportivas, na área formal e não formal.

Fonte: Farias (2016) e Juarez (2016).

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 59


6 ÉTICA E DOCÊNCIA

Para compreendermos melhor todas as dimensões do trabalho docente, é impor-


tante sabermos que a ética é a dimensão fundante do trabalho competente, uma vez que,
no espaço da ética, somos levados a questionar a finalidade do trabalho educativo, a sua
significação, o seu sentido: para que ensinamos? Para que realizamos nosso trabalho?
Que princípios fundamentam essas ações?
É importante, para seguir adiante, estabelecer a diferença entre os conceitos de
ética e moral. Enquanto a moral se constitui num conjunto de prescrições – normas, regras,
leis – que orientam as ações e relações dos indivíduos em sociedade e que, portanto, tem
um caráter normativo, a ética é a reflexão crítica sobre a moral, é o olhar agudo que procura
descobrir os fundamentos dos valores, tendo como referência a dignidade humana e como
horizonte a construção do bem comum” (RIOS, 2009, p. 5).
Na configuração da prática pedagógica, é possível explicitar as dimensões da
competência dos professores – técnica, estética, política e ética. E tornam-se
mais claras as exigências para um trabalho docente de boa qualidade: além
de um domínio do conhecimento de uma determinada área e de estratégias
para socializá-lo, um conhecimento de si mesmo e dos alunos, da sociedade
de que fazem parte, das características dos processos de ensinar e aprender,
da responsabilidade e do compromisso necessário com a construção da
cidadania e do bem comum (RIOS, 2009. p. 5).

A forma de estabelecermos nossos relacionamentos com o colega de trabalho, com


os alunos e a forma com que estabelecemos os conteúdos e métodos de ensino deverão

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 60


ser questionadas se no final não tiverem um bem comum. É aí que a escola é considerada
uma construtora de cidadania e da felicidade, ambos de bem comum.
A Ética se fixa nos princípios do respeito, da justiça e da solidariedade, a busca
pelo reconhecimento do outro. Caso isso não aconteça, estamos propícios que aconteçam
as alienações, sejam elas, do trabalho, econômica uma alienação de caráter ético, signifi-
cando o não reconhecimento do outro, dificultando a propagação do diálogo, solidariedade
e justiça.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 61


7 ÉTICA NO ESPORTE, ÉTICA PROFISSIONAL, FAIR PLAY E OLIMPISMO

O esporte com a publicação da Carta Internacional de Educação Física e Esportes,


documento elaborado pela UNESCO, passou a ser estimulado para crianças e adolescen-
tes em incentivo ao esporte educativo (RIBEIRO, 2009, p. 5).
As questões relacionadas com a ética e a moral não são uma preocupação
recente no esporte. Passaram a ser foco de maior interesse a partir das
últimas décadas, em razão do aumento da violência e mercantilização do es-
porte, assim como os frequentes comportamentos de desrespeito às regras
manifestadas nos espetáculos esportivos (REGNIER, 1990. p. 5).

É impossível desvincular a ética esportiva da ética da sociedade, uma vez que o


esporte acontece num contexto sociocultural, vinculado a uma ética da sociedade moderna.
Na mesma proporção que se aumentam as manifestações esportivas na sociedade, também
aumentam as preocupações com a ética esportiva. Apesar do avanço dos métodos de trei-
namento e da ciência no esporte, ainda não se tem claro, por exemplo, quais os parâmetros
para uma ética da prática do esporte com crianças, como também os parâmetros para uma
ética do treinador. Bento (1990, p. 39) destaca que:
[...] o desporto não pode esquecer o” humano “e deve procurá-lo não em
apelos difusos, abstratos e pouco vinculativos, mas sim na forma concreta
como lida com cada praticante. E não deve ignorar que os limites humanos
são mais estreitos do que os manipuláveis limites biológicos e técnicos.

Os problemas levantados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) nas últimas


décadas, como torcidas violentas, extremamente impulsivas, o doping dos esportistas,
a violência dos esportistas em algumas modalidades como o hóquei e o basquetebol, a
corrupção de árbitros e dirigentes de futebol, o tráfico de atletas que assinam contratos em
branco, drogas colocadas em alimentação de atletas por treinadores inescrupulosos, sabo-
tagens, manipulação de resultados e o esporte sendo tratado como objeto de obtenção de
lucro. Vale destacar que com esses dados exemplificados acima, podemos perceber que a
Ética no Esporte necessita do empenho de todas pessoas envolvidas com este fenômeno.
O Fair Play (Espírito Esportivo) é usado como sinônimo de justiça, justiça social,
conduta honesta ou conduta imparcial. As grandes preocupações levantadas anteriormente,
como a valorização exagerada da vitória do prestígio pessoal e financeiro fizeram com que
o COI (Comitê Olímpico Internacional) apontasse que o Fair Play é a essência do esporte
e que, sem essa condição, não poderia ter essa denominação. O Comitê Internacional de
Fair Play, o Comitê Olímpico Internacional, o ICSPE e outros organismos internacionais
criaram uma comissão de especialistas de vários países para preparar um documento

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 62


sobre o Fair Play, o qual foi publicado em 1975. O documento elaborado apresentava as
seguintes orientações:
1. O Fair Play é demonstrado pelo participante das atividades esportivas,
pela observância das regras do esporte;
2. É importante reconhecer que, por trás das regras escritas, estão regras
implícitas, o espírito ou intenção correta ou leal, nas quais estão envolvidos
os competidores esportivos;
3. Os comportamentos segundo o espírito do Fair Play serão reconhecidos
pelas ações de:
- Não questionamento das decisões dos árbitros, a não ser que o regulamento
do esporte o permita;
- Jogar para vencer deve ser o primeiro objetivo, porém recusar a vitória por
qualquer meio;
- Honestidade, correção e uma atitude digna quando os outros participantes
não jogam de forma justa;
- Respeito aos colegas da sua própria equipe;
- Respeito aos adversários e o reconhecimento da importância destes para
que a competição se realize;
- Respeito aos árbitros através da atitude positiva, tentando colaborar com
este a todo momento;
- O Fair Play envolve modéstia na vitória e elegância na derrota, assim como
generosidade na criação de sinceras e duradouras relações humanas;
- O Fair Play não é uma responsabilidade apenas dos competidores.
Treinadores, árbitros, espectadores e todas as pessoas envolvidas na
competição têm um importante papel no desenvolvimento de atitudes posi-
tivas, para, principalmente, envolver os participantes da competição em um
comportamento de tolerância (INTERNATIONAL COUNCIL OF SPORT AND
PHYSICAL EDUCATION, 1975, p. 2-5).
- O fair play é uma realidade em todos os esportes e isso nasce desde as
aulas de educação física, pois nelas as crianças aprendem que o respeito
com os adversários deve ser o mesmo que tem com seu time. Vale destacar
que o profissional de educação física deve ensinar que o importante não
vencer e nem competir, mas competir de forma justa. Pois a vitória não tem
sentido se não for de forma justa.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 63


8 ÉTICA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA: DO DEVER-SER AO DEVER-FAZER

Quando falamos da atuação do profissional de Educação Física, como abordamos


no início do nosso conteúdo, estamos expostos a situações que vão de deveres oficiais da
profissão, deveres judiciários, pedagógicos e sociais. Conduzir com ética e a devida moral
desde trabalhar regularmente, dispor de uma conduta condizente à docência, decisões de
cunho ético-normativo, e por fim de interesse coletivo da sociedade.
A intervenção do profissional de educação física no fenômeno (d) esporte (o),
e, em especial na manifestação da vertente educacional é fato universalmente
consagrado, cuja relevância fêz a Assembléia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU) proclamar 2005 como o “Ano Internacional do Esporte
e da Educação Física”. (ONU, 2005, online).

Quanto a prática da moralidade no esporte implica em dever-ser bons exemplos


para a sociedade, particularmente expresso na dimensão disciplinar, destacando a conduta
correta no combate a irregularidades acerca das dimensões que o esporte está inseri-
do. Colocando em prática os bons costumes e posturas adequadas ao exercício legal da
profissão, desempenhando o “dever-fazer” de forma satisfatória aos interesses éticos da
sociedade.
O profissional de educação física precisa ter um perfil ético que se relacione com
os demais professores da instituição em que trabalhe, pois assim o mesmo terá o apoio de
todos e será aparente que não trabalha só pelo salário e sim pelo bem maior que é o aluno.
Podemos afirmar que um profissional ético de educação física, deve ter e seguir princípios
básicos para convivência no dia a dia, como se atualizar, ser honesto, competente em
relação aos conteúdos entre outros.
Uma que questão importante que o profissional deve apresentar em seu trabalho
é o respeito às diferenças e limitações dos educandos, garantindo assim que todos seus
direitos sejam cumpridos. Vale destacar que o profissional encontrará em seu cotidiano,
vários alunos com deficiências, sejam físicas e cognitivas e o mesmo deve respeitar suas
limitações adaptando sua aula promovendo uma absorção e um relacionamento direto
entre todos os alunos. Destacando ainda que essa inclusão deve ser promovida em todos
os momentos e a todas as diferenças, desde as questões de gênero até mesmo racial,
evitando assim o preconceito.
O profissional de educação física deve ser exemplo aos seus alunos, promovendo
diálogos sobre comportamentos, higiene, sem apontar casos diretamente, ou seja, promo-

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 64


ver a socialização em todos os âmbitos, promovendo assim o respeito a todos os grupos
minoritários de sua escola.
Um grande diferencial da área em questão é identificar problemas dentro da turma
e da instituição em que trabalha e tentar resolver, mas o principal é adaptar-se a sua reali-
dade com a dos alunos e escola, pois em seu cotidiano encontrará educandos em situação
vulnerabilidade social. Vale destacar que o mesmo deve sempre buscar o apoio da equipe
pedagógica relatando tudo que ocorre em suas aulas e se preciso fazer intervenção até
mesmo com o apoio do conselho tutelar.
O profissional deve então ter um compromisso com a cidadania, promovendo
interação física e jogos que forneçam uma participação coletiva e se possível inserindo a
família nesse processo de interação.

SAIBA MAIS

Dever-ser e Dever-fazer devem ser materializados e exercitados em conjunto por todos


os profissionais de educação física do Sistema CONFEF/CREFs.

Fonte: o autor.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 65


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) acadêmico (a), finalizamos essa unidade e, neste caminho, contemplamos
diversas abordagens relacionadas à ética e a moral dos profissionais de educação física,
principalmente direcionadas ao esporte. Nesse processo de ensino/aprendizagem, é im-
portante te perguntar: você se lembra deste conteúdo? Se recorda o quanto é importante a
ética e da moral dentro da profissão?
Você conseguiu explorar que, ao nosso redor, mais do que imaginamos, vivencia-
mos e somos expostos, em nosso cotidiano, a situações que confrontam nossa moralidade
e que isso deve ser estudado e aperfeiçoado durante nossa carreira profissional. Tivemos
ainda a oportunidade de explorar valores éticos relacionados ao profissional de Educação
Física e ao Esporte.
Por fim, te parabenizo por todo o seu empenho neste tema que, particularmente,
nós, profissionais de Educação Física, deveríamos ter um zelo e uma atenção especial,
expandindo assim todo o conhecimento pela prática profissional, inspirando mais pessoas
a prática da ética, moral e dos bons costumes.

Que você tenha muito sucesso e até breve na próxima etapa!

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 66


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Ética na Educação Física
Autor: Claudio Luis de Alvarenga Barbosa
Editora: Vozes - 1ª edição
Sinopse: a palavra “ética” nunca esteve tão presente nos discursos
relativos ao campo da Educação Física, como temos assistido nos
últimos anos. Vemos sua presença nos noticiários esportivos, nas
discussões sobre políticas de esporte e lazer, bem como nas dis-
cussões pedagógicas sobre Educação Física escolar. Mas poucas
são as pessoas que efetivamente entendem o sentido filosófico da
Ética. Nesse contexto, o livro procura esclarecer o que realmente
significa “ética”, enquanto um campo de investigação da filosofia.
Ao fazer isso, discute as principais questões éticas que afligem
não apenas a vida em sociedade, mas também, aquelas ligadas
diretamente ao campo profissional da Educação Física.

LIVRO
Título: Educação Física e Filosofia
Autor: Claudio Luis de Alvarenga Barbosa
Editora: Vozes – 2ª edição
Sinopse: este livro deve ser lido não apenas para profissionais
de educação física, mas por todos aqueles que querem ler um
bom livro de introdução à filosofia. Seu objetivo é fazer com que a
educação física deixe de ser apenas um instrumento em potencial
para realizar-se plenamente. Para atingir tal objetivo não basta
colocarmos o professor de educação física em contato com um
sem-número de fragmentos de conhecimentos, como algumas
vezes acontece nos cursos de graduação; é necessário que esses
conhecimentos sejam envolvidos por uma visão de totalidade, ou
seja, devem ser estudados à luz da filosofia. Se a filosofia pre-
tende explicar de forma racional o princípio ou princípios de toda
a realidade, não podemos prescindir deste conhecimento para a
adequada compreensão do papel que a educação física exerce
em nossa sociedade.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 67


LIVRO
Título: Campanhas Sistema CONFEF/CREFs
Autor: João Renato Marandino Teixeira; Enila Barbosa Bruno;
Editora: Rio de Janeiro: CONFEF/2018. ISBN 978-85-61892-11-1;
Sinopse: quando da instalação do Sistema CONFEF/CREFs, em
8 de novembro de 1998, o desconhecimento da importância do
Profissional de Educação Física, do significado da Profissão Regu-
lamentada e dos riscos ocasionados pela ausência de orientação
profissional era uma realidade.

FILME/VÍDEO
Título: Raça
Ano: 2016
Diretor: Stephen Hopkins
Sinopse: o filme retrata a vida do norte-americano Jesse Owens,
corredor que mostrou ao mundo, durante as Olimpíadas de 1936,
em Berlim, que a ideia de supremacia ariana construída por Hitler,
durante o regime nazista, era apenas uma ideia racista.

FILME/VÍDEO
Título: If I Had Wings (Se eu tivesse asas)
Ano: 2013
Diretor: Allan Harmon
Sinopse: Alex Taylor (Richard Harmon), cego desde os dois anos,
sonha em correr na de atletismo da sua escola. O pai, um oficial de
liberdade condicional, encontra-lhe um parceiro de corridas, Brad
Coleman (Jaren Brandt Bartlett), que passa o tempo a fugir da Lei.

UNIDADE III Ética, Esportes e Educação Física 68


UNIDADE IV
Conselhos de Classe e Participação
Professor Cleber Henrique Sanitá Kojo
Professor Guilherme França Fusco

PLANO DE ESTUDOS
● A Gestão Democrática;
● O Conselho Escolar;
● O Conselho de Classe;
● A Avaliação e o Acompanhamento Escolar através dos Conselhos de Classe;
● A Legalidade dos Conselhos de Classe;
● O Estudo de Caso.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
● Compreender a importância da Gestão Democrática para o funcionamento das
escolas;
● Analisar a composição do Conselho Escolar e seu funcionamento;
● Debater a importância dos Conselhos de Classe e seu funcionamento;
● Discutir as possibilidades e limitações dos Conselhos de Classe;
● Desconstruir os mitos por trás dos Conselhos de Classe;
● Conhecer a legislação e as normas dos Conselho de Classe;
● Compreender a importância do Estudo de Caso e seu papel formador.

69
INTRODUÇÃO

Olá, caro (a) aluno (a)! Tudo bem?

Seja bem-vindo a mais uma unidade, na qual poderemos compreender e refletir


sobre a importância dos Conselhos de Classe e sua verdadeira função. Saiba que esta
unidade tem como objetivo debater ao papel e a importância dos Conselhos de Classe para
um bom andamento das Instituições de Ensino de Educação Básica em nosso país.

Para que isso ocorra, faremos uma reflexão primária, buscando seus conheci-
mentos prévios. No entanto, estudaremos o mais importante sobre algumas instâncias da
gestão escolar, a partir de uma perspectiva que privilegia a Gestão Democrática dentro das
instituições de ensino, onde ocorrerá uma garantia e uma ampla participação de todos os
agentes que compõe as escolas e a educação em si. Faremos, então, uma exposição e
um debate sobre Gestão Democrática e Conselho Escolar, para que você possa conhecer,
mesmo que brevemente, as estruturas dessas instâncias.

Nosso principal foco, como você pode observar, são os Conselhos de Classe. Des-
tacando, ainda, que o Conselho de Classe é um dos momentos e/ou uma das instâncias
mais importantes das instituições escolares, pois têm um papel consultivo e deliberativo
sob diversas tomadas de decisões. Nesse sentido, compreender o seu papel e seu fun-
cionamento são fundamentais para que o educador consiga desempenhar e ocupar o seu
espaço nessa instituição entendendo a individualidade do educando.

Nesse momento, vamos refletir sobre a estrutura organizacional da escola e o


Conselho de Classe, enquanto instância colegiada, como espaço de avaliação coletiva do
trabalho escolar e como ferramenta para o processo de gestão democratizada das escolas.

Para você que está se formando para trabalhar nas escolas, é fundamental fazer
essa reflexão, na medida em que este órgão, essa instância – o Conselho de Classe – é es-
sencial na avaliação de todo processo de ensino-aprendizagem. Vale destacar que constitui

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 70


um espaço primordial para conhecer cada um dos alunos suas necessidades, habilidades
e competências.

Você irá compreender que esse espaço deve ser democrático e coletivo com obje-
tivo de avançar no desenvolvimento dos alunos e da própria escola, ele deve recuperar as
dificuldades e as falhas durante o processo.

Será possível debater com você, aluno, que o Conselho de Classe se trata uni-
camente de uma ferramenta que aprova ou retém os alunos, mas, antes de tudo, é uma
importante ferramenta de avaliação da própria instituição escolar. Por isso, conhecer os
mecanismos de seu funcionamento, através do PPP - Projeto Político Pedagógico da es-
cola onde você irá trabalhar e, mais do que tudo, participar ativamente desse espaço, é
fundamental para o processo de formação dos alunos, para que possam ser agentes da
transformação da realidade que nos cerca.

Desde já, eu desejo a você um excelente estudo.

Muito obrigado!

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 71


1 GESTÃO DEMOCRÁTICA

Você já se perguntou qual o papel da direção de uma escola? Na escola em que


você estudou, a diretora concentrava todas as funções em suas mãos? Você percebeu
a presença dos pais na escola? Em tempo, direção da escola em que você estuda ou
trabalha ouve e acata a opinião dos professores e funcionários da instituição? Se você
percebeu alguns desses pontos, talvez entenda de uma maneira melhor o que é a gestão
democrática de uma escola. Vale ressaltar que consideramos a escola como um espaço
indiscutivelmente fundamental no processo de socialização dos indivíduos e, por isso, um
ambiente de relações sociais, organizado entre indivíduos de diferentes origens, valores e
crenças que refletem as relações da nossa sociedade.
Por isso, entendemos que a escola deve cumprir um papel que vai além da aqui-
sição dos conteúdos sistematizados, além do mundo do trabalho. Podemos perceber isso
em Bagnara e Fensterserifer (2019, p. 36), os quais consideram-na crucial na “produção/
construção/transmissão de conhecimentos e saberes”.
A escola também deve criar em seus alunos um encorajamento para que o edu-
cando possa apresentar um desenvolvimento crítico, lhes fornecendo autonomia, como
afirmam Neira e Nunes (2009). Nesse sentido, é fundamental garantir ao aluno o maior
desenvolvendo possível; um ensino de qualidade que possa dar condições a esse indivíduo
de uma participação consciente, crítica e criativa na transformação da sociedade.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 72


Neste viés é que a gestão democrática no interior das escolas pode proporcionar
aos alunos uma efetiva formação para as tomadas de decisões e participação na vida
pública. Para que esse processo ocorra, é necessário que as escolas proporcionem esses
espaços de organização e debate, espaços estes que devem constar no Projeto Político
Pedagógico de cada escola.
O processo de gestão democrática nas escolas é previsto legalmente na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no artigo 206 inciso VIII: “gestão democrá-
tica do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”.
Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do
ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e
conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pe-
dagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes. (BRASIL, 1996, p.15).

Como você pode observar, a LDB informa que o processo de gestão democrática
“é objeto de regulamentação nas normas de cada sistema de ensino [...]. Os quais tomam
como referência a noção de participação como elemento emblemático da democracia”
(SOUZA; PIRES, 2018, p. 69).
É importante destacar que nossa Constituição deixa bem claro que todo o ensino
deverá ser articulado com base em vários princípios e justamente um deles é a gestão
democrática apresentada no art. 206, inciso VI, o que se amplia e/ou se adapta nas Leis
Estaduais e nas Leis Orgânicas de todos os Municípios. Destacamos, ainda, que a gestão
democrática é uma exigência constitucional e, como foi apresentado acima, a LDB (1996)
também apresenta, em seu artigo 3.º, um dos princípios que norteiam a educação escolar:
“VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos siste-
mas de ensino”.
Assim, entende-se que é extremamente necessário compreender o significado de
gestão democrática. Vale ressaltar que sempre associamos a palavra gestão à administra-
ção e que sempre atrelamos a uma chefia autoritária com decisões, muitas vezes, obscuras
e ditatoriais. No entanto a gestão deve ser democrática, contemplando toda necessidade
do cotidiano escolar, desde o processo docente, de secretaria, dos assistentes de limpeza,
de pátio, de atendimento aos responsáveis, ou seja, todo conjunto da instituição, todas as
personalidades democráticas.
No livro Democracia na Escola, de julho de 2019, em sua terceira edição, da pre-
feitura da cidade de São Paulo, elaborado com a participação dos professores de todo o

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 73


município, temos um apontamento de algumas bases e exigências para a gestão escolar
democrática, que são:
I. participação ampliada (interna e externa à escola) nos processos decisórios
de interesse da comunidade escolar, com corresponsabilidade, diálogo, res-
peito mútuo, colaboração, solidariedade;
II. clareza sobre os objetivos, os direitos e os deveres relativos a todas as
funções e tarefas desenvolvidas no âmbito escolar;
III. criação e consolidação de mecanismos e espaços de reuniões, delibe-
rações e tomada de decisões, com liberdade de palavra e voto para todos,
com respeito às divergências, com estímulo à criatividade e com destaque à
participação das famílias;
IV. conhecimento constantemente atualizado da realidade socioeconômica e
cultural dos alunos e da comunidade escolar, assim como das condições de
trabalho de docentes, técnicos e profissionais de apoio;
V. disponibilidade para questionar práticas tradicionais estabelecidas, visando
a mudanças mais eficazes e mais éticas para os fins pretendidos; transpa-
rência dos processos administrativos e pedagógicos, garantindo o acesso à
informação e a legitimidade de fiscalização;
VI. formação gradual e constante de sujeitos políticos, capazes de julgamento
crítico, de identificação dos problemas, dos diferentes interesses e deman-
das, assim como de colaboração em trabalho coletivo. Fonte: Democracia
na escola: Prefeitura de São Paulo. 2019. pg. 18.

Assim que abordarmos essas exigências da gestão democrática, teremos o exercí-


cio de uma participação de membros da instituição que refletem os princípios de igualdade
de direitos apresentando uma liberdade de exposição de ideias e um desenvolvimento da
instituição em seu papel gestor.

SAIBA MAIS

Assista a entrevista feita pelo canal Futura com a Presidente da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação, Cleuza Repulho, para compreender um pouco mais
sobre o funcionamento do processo de gestão democrática nas escolas.

Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=_a13nWelrbE
Gestão democrática da educação - Cleuza Repulho - Entrevista - Canal Futura

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 74


REFLITA

Segundo a LDB, as escolas deveriam organizar sua gestão de forma a garantir


uma ampla participação de alunos, pais, professores, funcionários e comunidade nas
tomadas de decisões. O Plano Nacional da Educação (PNE), aprovado em 2014, tinha
como uma das suas metas (meta 19):

Assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da


gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito
e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das
escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.
(MEC, 2014, online).

Nesse sentido, deveríamos ter dentro das escolas, neste momento, um espaço
muito democratizado. Mas será que podemos verificar esse avanço nas escolas? Você
já participou de alguns desses espaços?
O infográfico abaixo mostra como, de maneira geral, estão organizadas as instân-
cias que fazem parte do processo da gestão democrática nas escolas. Observe, pois, na
sequência, abordaremos brevemente duas dessas instâncias, as quais, neste momento,
são mais relevantes para os debates feitos neste capítulo. Isso não te impede de bus-
car mais referências e leituras sobre as outras instâncias citadas. A pesquisa é sempre
muito importante para a compreensão do que se discute em cada capítulo e isso, com
certeza, lhe trará uma melhor formação sobre o tema.

Figura 1 - Gestão Democrática

Fonte: Artigas (2018).

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 75


2 CONSELHO ESCOLAR

Esse é um espaço de gestão das instituições de ensino, democrático, participativo


e deliberativo. Deve funcionar em uma estrutura de colegiado através da qual as decisões
são tomadas em coletividade. Além disso, possui estatutos próprios e é obrigatório em
todas instituições escolares.
Trata-se da instância em que os professores, funcionários, secretários, pais e
alunos, além de equipe pedagógica e diretiva, auxiliam nas tomadas de decisão de fun-
cionamento das escolas. Esse é o espaço com maior de poder de tomada de decisão
das escolas, motivo pelo qual deve acompanhar de perto o desenvolvimento das escolas,
do pedagógico ao financeiro e administrativo. A caracterização deste Conselho deve estar
prevista no PPP de cada escola.
Vale ressaltar que a participação da comunidade deve ser conforme a citação
abaixo:
[...] cabe a eles deliberar sobre as normas internas e o funcionamento da
escola, participar da elaboração do projeto político-pedagógico; analisar as
questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola, propondo su-
gestões, além de acompanhar a execução das ações pedagógicas, adminis-
trativas e financeiras da escola e mobilizar a comunidade escolar e local para
a participação em atividades em prol da melhoria da qualidade da educação,
como prevê a legislação (SEED, 2019, online).

A democracia na escola só acontece com a participação de todos, quando temos


propostas que podem acrescentar ou evoluir a educação como um todo.

SAIBA MAIS
O MEC disponibilizou uma cartilha que explica, de acordo com o que prevê a LDB, o
funcionamento mais geral dos Conselhos Escolares. Vale a pena você consultar esse
material para compreender melhor essa importante instância do interior das escolas.
Fonte: MEC (2004).

No vídeo que destacamos abaixo, você poderá compreender um pouco melhor o que
são e como funcionam os conselhos escolares.

Gestão em Foco - Conselho Escolar – Canal Acervo Educa Play PR


https://www.youtube.com/watch?v=gQM4NrMeBS4

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 76


REFLITA

Com base nas leituras e no vídeo destacado, você pode imaginar os benefícios que os
conselhos escolares podem trazer à gestão escolar e á formação dos alunos? Levante
alguns pontos que possam demonstrar as possibilidades.

Fonte: os autores.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 77


3 CONSELHO DE CLASSE

Observe a imagem acima:

Com certeza você percebeu que a imagem mostra uma avaliação e, caso o aluno
não atinja seu objetivo, o que você deve fazer? Como agir na docência? Então, vamos
observar as afirmações abaixo para compreender melhor nosso papel, pois para você,
estudante de licenciatura, que um dia já foi aluno do ensino básico, essa instância é bem
conhecida.
No imaginário dos alunos, os Conselhos de Classe são quem aprova ou reprova os
alunos que não atingiram as médias anuais. Essa é uma visão limitada dessa importante
instância das escolas, principalmente para o processo de gestão democrática e para a
formação dos alunos.
Os Conselhos de Classe são, também, uma instância colegiada representativa das
várias outras instâncias escolares. Esse espaço é o que mais dá atenção para o processo
de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, os Conselhos de Classe devem debater a vida
escolar de cada um dos alunos; não somente daqueles que estão com as notas abaixo da
média.
Nesse espaço também se debatem as metodologias que devem nortear o trabalho
dos professores para que os objetivos de aprendizagem dos alunos e a sua formação sejam
mais completas, logicamente, pensando nas especificidades e necessidades de cada aluno.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 78


Os Conselhos de Classe avaliam todo o processo de ensino-aprendizagem, para
que os objetivos da escola e da formação dos alunos sejam alcançados.
Quando se discute o Conselho de Classe, discutem-se as concepções de
avaliação escolar presentes nas práticas educativas dos professores. Neste
sentido, a importância dos Conselhos de Classe e dos processos avaliativos
da escola está nas possibilidades e capacidades de leitura coletiva da prática,
bem como diante do reconhecimento compartilhado das necessidades peda-
gógicas, de modo a mobilizar esse coletivo no sentido de alterar as relações
nos diversos espaços da instituição (OLIVEIRA; MACHADO, 2020. p. 37).

Nesse sentido, os Conselhos de Classe são espaços coletivos de permanente ava-


liação do trabalho escolar, onde se tem a possibilidade de debater em grupo o que é melhor
para a escola e para os alunos, no processo de formação destes, de forma democrática.
Por esse motivo, é fundamental a participação de todos os integrantes da escola
– professores, pedagogos e direção – nesse espaço, para que se possa avaliar e encami-
nhar ações, com base no PPP da escola, de forma coletiva e democrática, para avançar
nas práticas pedagógicas e no resgate dos alunos que de alguma forma não conseguem
acompanhar o andamento das atividades.
Nesses espaços dos Conselhos de Classe, também será construída uma relação
entre os agentes que compõem esse órgão, a fim de que possam se ajudar a alcançar os
objetivos traçados pelo grupo.
Segundo Grochoska (2014, pg. 12), apud Libâneo, os objetivos do Conselho de
Classe são:
● Diagnosticar os problemas e dificuldade da escola;
● Coletar informações sobre o rendimento de cada aluno, facilitando, as-
sim, o encaminhamento das ações;
● Buscar soluções para as situações, de maneira criativa e alternativa;
● Elaborar programas ou projeto de recuperação e apoio a alunos especí-
ficos;
● Retomar o plano de ensino e corrigir rumos quando necessário;
● Identificar, por meio de registro de acompanhem-no, se houve ou não
avanços na vida escolar dos alunos.

Talvez você se pergunte: posso ter alguma atitude antes do Conselho de Classe?
A SEED, Secretaria de Educação do Estado do Paraná, afirma, em sua página (site) do
dia-a-dia-educação em 2020, que devemos realizar um pré-conselho, pois, para a SEED, o
Conselho de Classe pode ser organizado em três momentos:
I. Pré-conselho: levantamento de dados do processo de ensino e dispo-
nibilização aos conselheiros (professores) para análise comparativa do
desempenho dos estudantes, das observações, dos encaminhamentos
didático-metodológicos realizados e outros, de forma a dar agilidade ao
Conselho de Classe. É um espaço de diagnóstico.
II. Conselho de Classe: momento em que todos os envolvidos no processo
se posicionam frente ao diagnóstico e definem em conjunto as proposi-
ções que favoreçam a aprendizagem dos alunos.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 79


III. Pós-conselho: momento e que as ações previstas no Conselho de
Classe são efetivadas (SEED, 2018, on-line).

Afirma, ainda, que:


As discussões e tomadas de decisões devem estar respaldadas em critérios
qualitativos como: os avanços obtidos pelo estudante na aprendizagem, o
trabalho realizado pelo professor para que o estudante melhore a aprendiza-
gem, a metodologia de trabalho utilizada pelo professor, o desempenho do
aluno em todas as disciplinas, o acompanhamento do aluno no ano seguinte,
as situações de inclusão, as questões estruturais, os critérios e instrumentos
de avaliação utilizados pelos docentes e outros.
Cabe à equipe pedagógica a organização, articulação e acompanhamento
de todo o processo do Conselho de Classe, bem como a mediação das dis-
cussões que deverão favorecer o desenvolvimento das práticas pedagógicas
(SEED, 2018, on-line).

O Conselho de Classe, bem debatido e abordando as regras e metodologias corre-


tas, pode ser uma grande ferramenta no processo de ensino e aprendizagem, pois, além de
avaliar os alunos, pode elencar problemas e soluções no trabalho docente cotidiano.

SAIBA MAIS
O texto de Joice Maria Lamb, professora e finalista do Prêmio Educador Nota 10 2017,
publicado no site da Revista Nova Escola, na página de Gestão Escolar, apresenta
algumas dicas do que discutir nos Conselhos de Classe, para que se possa ter maior
proveito deste.

Fonte: Lamb (2018).


Link: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2105/conselho-de-classe-7-dicas-para-avaliar-os-alunos-sem-dar-sentenca

REFLITA
Você já participou de algum Conselho de Classe? Quais eram as principais discussões
que foram feitas nesse espaço?
Leia o texto disponível no link abaixo e analise os erros mais comuns cometidos nos
Conselhos de Classe.

Link: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1910/10-problemas-comuns-no-conselho-de-classe-que-voce-precisa-evitar

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 80


4 AS POSSIBILIDADES DO CONSELHO DE CLASSE

Preste atenção no que diz Iavelberg (2011, p. 23) a respeito da função dos Conse-
lhos de Classe:
A função do conselho - que deve contar, sempre que possível, com a parti-
cipação do diretor, do coordenador pedagógico e do orientador educacional,
além dos professores - não é julgar o comportamento dos alunos, mas
compreender a relação que eles desenvolvem com o conhecimento e como
gerenciam a vida escolar para, quando necessário, propor as intervenções
adequadas.

Você pode perceber através dessa afirmação que os Conselhos são muito maiores
que um julgamento dos alunos. Porém, muitas vezes você irá se deparar com esse tipo de
situação no ambiente escolar. Muitos profissionais encontram nesse espaço um momento
de desabafo das suas relações e condições de trabalho e, muitas vezes, culpam exclu-
sivamente o aluno e seus familiares pela frustração que possuem relacionadas a essas
condições de trabalho.
É preciso que você compreenda que os Conselhos de Classe, assim como todas
as instâncias colegiadas que você poderá participar quando for trabalhar na escola, devem
ser um espaço racional e não passional. Deve-se avaliar e não condenar. O espaço para
as lutas por melhorias nas condições de trabalho e de todo o sistema educacional é nos
sindicatos.
Os Conselhos devem ser de natureza consultiva e deliberativa em assuntos di-
dático-pedagógicos, reunindo professores, equipe pedagógica e direção para avaliar “as
ações educacionais e indicar alternativas que busquem garantir a efetivação do processo
de ensino e aprendizagem dos estudantes” (SEED, 2020, on-line).
Diante do que foi exposto aqui, caro aluno, é importante que você reflita sobre o
funcionamento dos Conselhos de Classe, seus objetivos e orientações, levando sempre
em conta que essa instância, deve ser democrática e colegiada, assim como deve pensar
sempre no processo educacional de formação dos alunos para que estes possam contribuir
para as transformações necessárias da nossa sociedade.
Para finalizar nosso debate, quero deixar claro a você que existe uma grande dife-
rença entre o Conselho de Classe e o conselho escolar. Fique muito atento e verifique, logo
abaixo, uma definição para que você identifique essa diferença:
O Conselho de Classe é composto essencialmente por membros da própria
escola. Ainda assim, membros da comunidade escolar podem participar como
convidados, sem poder decisório, ainda que estejam ali para enriquecer a
discussão.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 81


O Conselho Escolar, em contrapartida, faz parte majoritariamente grupos
externos ao corpo docente e à gestão, como representantes dos pais e alu-
nos, além de outros membros da comunidade da qual a instituição faz parte
(SOMOSPAR, 2020, on-line).

Dessa forma, podemos compreender melhor toda a diferença entre o Conselho de


Classe e o conselho escolar, entendendo o papel de cada um no processo educacional.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 82


5 ESTUDO DE CASO

Você já pensou em uma metodologia diferenciada para que o educando não che-
gue a precisar do Conselho de Classe? É claro que existem muitas metodologias para
melhorar o processo de ensino-aprendizagem, mas iremos debater, nesse momento, o
chamado estudo de caso. Vale ressaltar ele pode ser considerado uma das grandes ou
excelentes metodologias para que ocorra uma abordagem completa para todo processo de
ensino-aprendizagem.
Podemos destacar, ainda, que o estudo de caso tem uma grande vantagem em sua
metodologia de adotar uma abordagem simples e com orientação norteando a resposta
sem fornecê-la diretamente.
Dentro de um estudo de caso, precisamos envolver um conflito em um determinado
assunto o qual necessita de uma solução plausível. Para que isso ocorra, temos que cobrar
dos educandos um posicionamento sobre o desafio proposto, ao qual ele deve buscar as
soluções ou abordagens apropriadas, ou seja, ele deve participar do processo de propor
soluções para um caso real apresentado, desenvolvendo uma ética e moral dentro da
questão debatida. É importante salientar o papel do educador nesse processo, que precisa
abandonar métodos tradicionais e adotar essa metodologia de estudos promovendo novas
competências e habilidades em relação a sua docência. A utilização de estudos de caso
pode promover no educando uma procura e pesquisa maior sobre o assunto, momento em
que ele se empolga com todo o processo, se posicionando sobre o tema.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 83


Toda vez que você aplica um estudo de caso no processo de ensino- aprendiza-
gem, desenvolve uma solução prática e, assim, pode utilizar a estrutura dessa prática em
um nova observação.
Uma outra vantagem em utilizar o estudo de caso está intimamente ligada ao de-
senvolvimento do educando, fazendo com que ele se sinta fazendo parte do processo, se
posicionando e, em alguns momentos, expondo sua vivência, o que, muitas vezes, torna o
estudante um especialista em determinado assunto.
Enfim, podemos afirmar que a aplicabilidade do estudo de caso vai permitir que
os educandos aprendam de uma maneira diferenciada, quando eles assumem um papel
ativo no processo de aprendizagem. Como exemplo clássico, podemos destacar o estudo
de caso sobre a máfia no futebol apresentado na disciplina: como podemos melhorar a
questão da arbitragem e a ética no futebol? Assim, o aluno se sentirá parte de todo o
processo de ensino-aprendizagem.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 84


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), esperamos que os debates realizados aqui nesta unidade possam
ajudar em sua carreira nas escolas. Compreender o papel das instâncias que compõem a
organização das instituições escolares e, para além disso, participar delas, fará com que
você se torne um excelente profissional, preocupado com a formação e o desenvolvimento
do seu aluno.
Os debates que realizamos aqui fortalecem os espaços democráticos das escolas
e proporcionam o crescimento desta instituição tão importante para o processo de socia-
lização dos indivíduos. Não podemos deixar de refletir sobre elas e propormos sempre as
melhores alternativas, de forma democrática e coletiva.
Esperamos que você possa compreender a relevância deste debate e que leve
para a sua carreira profissional as possibilidades de debate e participação que se abriram
aqui nesta unidade.
Não deixe de conhecer o PPP da sua escola, é seu direito. Não deixe também de
participar das instâncias colegiadas que estão presentes na sua escola, pois é seu direito
e dever.
Esperamos ter contribuído para que você tenha uma excelente formação acadêmi-
ca e desejamos um excelente curso e uma ótima carreira profissional.

Muito obrigado.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 85


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Gestão Democrática da Educação
Autora: Dalila Andrade Oliveira
Editora: Editora Vozes
Sinopse: trabalho realizado por diversos autores, objetivando
discutir e encontrar rumos para a gestão democrática da educação
pública. A educação e alfabetização sofre influências das políticas
nacionais e internacionais, dos interesses nacionais e da globa-
lização. Junto com isso discute-se a municipalização do ensino
público, os objetivos, o desempenho e a avaliação da educação.

LIVRO
Título: Organização escolar: perspectivas e enfoques
Coleção/Série: Série Pesquisa e Prática Profissional em Pedago-
gia
Autora: Marcia Andreia Grochoska
Editora: InterSaberes
Sinopse: a obra discute a organização da instituição escolar, am-
pliando a compreensão sobre a dinâmica das relações educativas,
a construção e a aplicação dos instrumentos que regem a escola,
a intervenção no contexto escolar das organizações coletivas e a
elaboração do trabalho pedagógico. Seu conteúdo é desafiador e
instigante, pois trata da complexidade das relações entre os ele-
mentos que compõem a escola e as inúmeras formas e dimensões
que a sua organização pode assumir.

LIVRO
Título: Organização e Gestão da Escola. Teoria e Prática
Autor: José Carlos Libâneo
Editora: Heccus
Sinopse: o estudo das práticas de organização e de gestão da
escola é indispensável para a construção de uma escola democrá-
tica e participativa, que prepare os alunos para a cidadania plena.
Este livro proporciona a todos os que irão trabalhar em escolas
- diretores, coordenadores pedagógicos, professores, funcionários
técnico-administrativos - o conhecimento da organização escolar,
das formas de gestão e de competências e procedimentos neces-
sários à participação eficaz a vida da escola, incluindo a elaboração
e discussão pública do projeto pedagógico-curricular.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 86


FILME/VÍDEO
Título original: Coach Carter
Distribuidor: Paramount Pictures
Ano de produção: 2005
SINOPSE: Richmond, Califórnia, 1999. O dono de uma loja de
artigos esportivos, Ken Carter (Samuel L. Jackson), aceita ser o
técnico de basquete de sua antiga escola, onde conseguiu recor-
des e que fica em uma área pobre da cidade. Para surpresa de
muitos, ele impõe um rígido regime, em que os alunos que que-
riam participar do time tinham de assinar um contrato que incluía
um comportamento respeitoso, modo adequado de se vestir e ter
boas notas em todas as matérias. A resistência inicial dos jovens
acaba e o time sob o comando de Carter vai se tornando imbatível.
Quando o comportamento do time fica muito abaixo do desejável
Carter descobre que muitos dos seus jogadores estão tendo um
desempenho muito fraco nas salas de aula. Assim Carter toma
uma atitude que espanta o time, o colégio e a comunidade.

FILME/VÍDEO
Título original: Entre les Murs
Distribuidor: Imovision
Ano de produção: 2008
Sinopse: François Marin (François Bégaudeau) trabalha como
professor de língua francesa em uma escola de ensino médio,
localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas de ensino
buscam apoio mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos
aprendam algo ao longo do ano letivo. François busca estimular
seus alunos, mas o descaso e a falta de educação são grandes
complicadores.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 87


REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, S.: Confissões. São Paulo: Ed.Pincipis, 2002.

ANDRADE, R. C. L. A moral kantiana do Dever (Sollen). Problemata: Revista Internacional de


Filosofia, v. 5, n. 2, p. 5-19, 2014.

ANDRADE, R. Máximas e leis na filosofia prática de Kant: uma divisão inclusiva ou exclusiva?
Saberes: Revista interdisciplinar de Filosofia e Educação, n. 6, 24 fev. 2011.

ARANGUREN, JLL. Ética. 5. ed. Madri: Seleta; 1972.

ARANHA, L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 2003.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret, 2012.

AURÉLIO. Dicionário online. Disponível em: www.dicio.com.br. Acesso em 09 mar. 2020.

BENTO, J. O. A procura de referências para uma Ética do Desporto. In: Jorge Olímpio Bento e An-
tônio Marques (Eds). Actas do Fórum Desporto, Ética e Sociedade. Porto: Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, 1990.

BRACHT, V. Esporte-estado-sociedade. Campinas: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.


10, n. 2, p. 69-73, jan. 1989.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: jan. 2020.

BRASIL. Lei do Plano Nacional de Educação. Lei nº 13.005/2014. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: jan. 2020.

BRASIL. Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão


de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação
Física. D. O. U., 1998. Disponível em: https://mail.google.com/mail/u/0/#sent/QgrcJHrtsHHkdVJxDl-
tJfWLDWgtbkWPmScl?projector=1&messagePartId=0.3. Acesso em: jan. 2020.

BURNYEAT, M. Aprender a ser bom segundo Aristóteles. Sobre a ética nicomaquéia de Aristó-
teles: textos selecionados. Coordenação de Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2010.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.

CONFEF. Estatuto do Conselho Federal de Educação Física. Revista do Conselho Federal de


Educação Física. Rio de Janeiro, seção 1, p. 10, dez. 2010. Disponível em: https://www.crefsc.org.
br/principal/wpcontent/uploads/2016/04/intervencao_profissional_de_ef.pdf. Acesso em: jan. 2020.

COSTA, J. F. Ética, Espelho da Cultura. São Paulo: Ed. Rocco, 1994.

COTRIM, G. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva; 1998.

CUBELLS, SC. Compêndio de ética filosófica e história de la ética. Valência: Edicep; 2002.

DALBEN, A. I. L. de F. Conselhos de Classe e Avaliação: Perspectivas na Gestão Pedagógica da


Escola. Campinas: Papirus, 2004.

DALBEN, A. I. L. de F. Dimensões subjetivas na prática dos Conselhos de Classe. In: DALBEN, A.


I. L de F. Trabalho escolar e Conselho de Classe. Campinas: Papirus, 1995.

DELEUZE, G. Para ler Kant. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976.

DEMO, P. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Mediação, 2004.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 88


FARIAS, G. O.; JUAREZ, V. do N. Educação Saúde e Esporte. Ilhéus, Editora: Editus / UESC,
2016. Disponível em: http://books.scielo.org/id/23pcw/pdf/farias-9788574554907.pdf. Acesso em:
jan. 2020.

FERNANDES, P. C. A Filosofia Moral de Immanuel Kant: A Virtude, A Ética e o Direito. 2007. 241
f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, Marília,
2007.

FRANÇA, J. L. Alguns aspectos sobre o direito natural na Ética a Nicômaco de Aristóteles.


São Paulo: Hypnos, v. 35, 2. sem., 2015.

GIANNOTTI, J. A. Moralidade pública e moralidade privada. São Paulo: Companhia das Letras.
1992.

GROCHOSKA, M. A. Organização escolar: perspectivas e enfoques. 2. ed. rev. Curitiba: InterSa-


beres, 2014.

HERRERO, F. J. Religião e história em Kant. São Paulo: Loyola, 1991.

HÖFFE, O. Immanuel Kant. São Paulo: Martins fontes, 2005.

IAVELBERG, C. Conselho de Classe: um espaço de reflexão. 2020. Disponível em: https://ges-


taoescolar.org.br/conteudo/417/conselho-de-classe-um-espaco-de-reflexao. Acesso em: jan. 2020.

KANT, E. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KANT, E. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian. 5. ed. 2001.

KANT, E. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2004.

KANT, E. Metafísica dos Costumes – parte II. Lisboa: Edições 70, 2004.

KIPPER D. J.; MARQUES C. C.; FEIJÓ A. M. Ética em pesquisa: reflexões. Porto Alegre: EDIPU-
CRS, 2003.

KORTE, G. Iniciação à ética. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira; 1999.

LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes; 1999.

LAZZARI JR, J. C. Alguns aspectos da moral de Kant na obra Fundamentação da Metafísica


dos Costumes. Prometeus, ano 5, n. 9, p. 111-131, jan./jun., 2012. <https://webcache.googleu-
sercontent.com/search?q=cache:t15CLDCgYdsJ:https://seer.ufs.br/index.php/prometeus/article/
view/788/685+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br >. Acesso em 14 mai. 2019.

LIBÂNEO, J. C. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 3. ed. São Paulo: Cortez,
2006.

MACHADO, T. M. Notas sobre a filosofia prática de Kant. 6º Encontro de Pesquisa na Graduação


em Filosofia da Unesp. Vol. 4, nº 2, 2011. <https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/
FILOGENESE/ThomasMatiolliMachado.pdf>. Acesso em 14 mai. 2019.

MEC. Conselhos Escolares: Democratização da escola e construção da cidadania. 2004. Dispo-


nível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf. Acesso em: jan. 2020.

MELLO, M. P.; BARROSO, M. R. Profissão e corporação: limites éticos da atuação do advogado.


Sociologias, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 346-369, set./dez. 2011.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. São Paulo: Loyola; 2005.

MULINARI, F. Das Proposições Práticas da Crítica da Razão Prática Pura: Uma Análise dos Con-
ceitos Norteadores da Ética Kantiana. Clareira – Revista de Filosofia da Região Amazônica, vol. 2,
n. 2, p. 85-98, ago./dez., 2015. <http://www.periodicos.unir.br/index.php/clareira/article/view/3603>.
Acesso em 16 mai. 2019.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 89


NALINI, J. Ética geral e profissional. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais; 1999.

NASCIMENTO, J. A. B. Os benefícios da conduta ética na vida do profissional contábil. Distrito


Federal: Uniceub, 2006.

NICOLESCU, B. et al. Educação e transdisciplinaridade. São Paulo: UNESCO; USP/Escola do


Futuro; CESP, 2000.

OLIVEIRA, D.A. et al. Gestão Democrática da Educação: Desafios Contemporâneos. Petrópolis:


Vozes, 1997.

OLIVEIRA, M.; MACHADO, M. C. G. O Papel do Conselho de Classe na Escola Pública Atual.


2020. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2199-6.pdf. Aces-
so em: jan. 2020.

RIBEIRO, S. M. O esporte adaptado e a inclusão de alunos com deficiências nas aulas de edu-
cação física. Ed. UMP, Piracicaba, 2009. Disponível em: http://iepapp.unimep.br/biblioteca_digital/
pdfs/2006/INAYIPCIURCT.pdf. Acesso em: jan. 2020.

RIOS, T. A. Ética na docência universitária: a caminho de uma universidade pedagógica? São Pau-
lo: Universidade 9 de Julho, maio 2009.

SAITO, C.; FAVORETTO, D. G.; ABDO, R. C. Ética kantiana: a importância da teoria de Kant sobre éti-
ca para a filosofia contemporânea. Revista Eletrônica Sapere Aude, v. 6, ano IV, p. 25-36, jan., 2016.
<http://www.revistasapereaude.org/index.php/edicoes/anos-anteriores/ano-4-vol-1-12/ano-4-volu-
me-6-janeiro-2016/send/91-01-2016-ano-4-volume-6/330-b-etica-kantiana-a-importancia-da-teoria-
-de-kant-sobre-etica-para-a-filosofia-contemporanea-paginas-25-a-36 >. Acesso em 16 mai. 2019.

SAMEL, C. Deus e Vontade. 2010. Disponível em: https://carusosamel.webnode.com.br/news/de-


sejo-e-vontade/. Acesso em: 23 dez. 2019.

SANTOS, I. Filosofia e ciências humanas: teorias e problemas. Porto Alegre: Editorafi, 2017.

SEED. Conselho de Classe. 2019. Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/mo-


dules/conteudo/conteudo.php?conteudo=15. Acesso em: jan. 2020.

SKORUPSKI, J. Ética. In: TSUI-JAMES, E. P.; BUNNIN, N. (Orgs). Compêndio de filosofia. São
Paulo: Loyola, 2002.

SOLOMON, R. C. Ética e excelência: cooperação e integridade nos negócios. Rio de Janeiro: Civi-
lização Brasileira, 2006.

SOUZA FILHO, O. D. Ética e sociedade. In: Curso de administração pública e gestão ética. Univer-
sidade Aberta do Nordeste. Fortaleza (CE): Fundação Demócrito Rocha; 2004.

SOUZA, Â. R. de; PIRES, P. A. G. As leis de gestão democrática da Educação nos estados brasilei-
ros. Educar em Revista, Curitiba, v. 34, n. 68, p. 65-87, mar./abr. 2018.

STONE, I. F. O julgamento de Sócrates. Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.

TUBINO, M. J. G. Dimensões sociais do esporte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

VALLS, A. L. O que é ética. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

WALKER, R. Kant: Kant e a lei moral. São Paulo: UNESP, 1999.

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 90


CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, buscamos trazer para você os principais conceitos a respeito da


formação ética e moral. Para tanto, abordamos as definições teóricas e, neste aspecto,
acreditamos que tenha ficado claro o quão importante é para sociedade e para o profissio-
nal de educação física. Espero que tenha compreendido os processos éticos e morais e as
necessidades de desenvolvê-los na sociedade, promovendo, assim, pessoas aptas, tanto
na parte física quanto pessoal.
Destacamos também importância histórica de vários filósofos e suas ideias, pro-
movendo uma comparação ou, em outros momentos, uma diferenciação de filosofias e
visões, baseando sua formação em critérios sólidos que podem contribuir para o sucesso
humano. Além dos aspectos teóricos que contribuíram profundamente para o entendimento
dos assuntos aqui abordados, trouxemos vários exemplos e técnicas para uma melhor
compreensão sobre sua profissão, apresentando o código de ética profissional no âmbito
regional ou federal da educação física, possibilitando a você conhecer melhor e se posicio-
nar em relação a profissão escolhida.
Levantamos, ainda, aspectos sobre o conselho de classe no exercício da profissão
e como visualizar os educandos na sociedade. Vale ressaltar que essa visualização para
a profissão serviu para entender o presente e esmiuçar o futuro, que é algo inerente aos
profissionais de educação física que pensam na excelência profissional.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente,
desenvolvendo ainda mais suas habilidades éticas e morais para exercer sua profissão
criando cidadãos responsáveis com o corpo, saúde e responsabilidade.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

UNIDADE IV Conselhos de Classe e Participação 91


EduFatecie
E D I T O R A

+55 (44) 3045 9898


Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
www.unifatecie.edu.br/editora-edufatecie
edufatecie@fatecie.edu.br

Você também pode gostar