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Física Geral

Prof. Dr. Renã Moreira Araújo


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A663f Araújo, Renã Moreira


Física Geral / Renã Moreira Araújo. Paranavaí:
EduFatecie, 2022.

101 p.: il. Color.

1. Física. 2. Mecânica. 3. Cinemática. 4. Gravidade (Física).


I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III.
Título.

CDD: 22 ed. 692.5


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Carlos Eduardo Firmino de Oliveira
AUTOR

Professor Dr. Renã Moreira Araújo

● Licenciatura em Física na Universidade Estadual de Maringá (UEM).


● Bacharel em Meteorologia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
● Mestre em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
● Doutor em Ciências - Universidade Federal do Paraná (UFPR).
● Professor universitário – UniFatecie.
● Professor de Matemática e Física no Colégio Fatecie Max e Fatecie Premium.
● Consultor agrometeorológico.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/5333294957135117

Professor, pesquisador e consultor. Possui experiência em agrometeorologia, relação


entre clima e grandes culturas, instalação e calibração de instrumentos agrometeorológicos.
Colabora com levantamento sistemático de informações para auxílio na modelagem agrícola
de cana-de-açúcar. Realiza consultoria agrometeorológica em cooperativas. Ministra aulas
no Ensino Fundamental, Médio e nas graduações de Engenharia da Produção, Engenharia
Agronômica, Administração e Ciências Contábeis no Centro Universitário UNIFATECIE
(Universidade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná).
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o
início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Neste material, foram
abordados diversos assuntos com muitos exemplos e comentários para facilitar os estudos
da disciplina de Física Geral I. Proponho, junto a você, construir nosso conhecimento sobre
diversos tópicos nos quais serão essenciais para sua formação acadêmica. A proposta
da ementa é trazer conceitos relacionados ao dia a dia para facilitar o futuro exercício da
profissão escolhida pelo acadêmico deste curso.
Na Unidade I, começaremos a nossa jornada definindo as grandezas fundamentais e
o Sistema Internacional de Unidades. Trataremos das grandezas relacionadas ao estudo da
Mecânica, analise dimensional e conversão de unidades. Em seguida, faremos exemplos de
estimativas, ordem de grandezas e aplicações na agronomia. Estas noções são necessárias
para que possamos trabalhar o segundo módulo do livro, que irá tratar do estudo da Cinemática. 
Já na Unidade II, vamos dedicar exclusivamente ao estudo da cinemática, em que
trataremos de conceitos do movimento unidimensional e bidimensional. Será mostrado os
conceitos de velocidade, aceleração, trajetória, entre outros. Por fim, faremos exemplos
que utilizem as equações do movimento, para verificar a quantidade de informações que
esse conhecimento é capaz de nos fornece.
Depois, na Unidade III, estudaremos as famosas leis de Newton, suas consequências
e aplicações. Você, aluno (a), ficará impressionado com a quantidade de fenômenos do
cotidiano que podemos usar as leis de Newton para explicar e prever acontecimentos.
Por fim, vamos falar de trabalho, energia mecânica, energia potencial, energia
cinética e conservação de energia. São conceitos que são simples para analisar situações
cotidianas, como será mostrado em exemplos.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 4
Grandezas Físicas e a Mecânica

UNIDADE II.................................................................................................... 25
Introdução a Cinemática

UNIDADE III................................................................................................... 48
Leis de Newton e Aplicações

UNIDADE IV................................................................................................... 74
Energia Mecânica
UNIDADE I
Grandezas Físicas
e a Mecânica
Prof. Dr. Renã Moreira Araújo

Plano de Estudo:
● Grandezas Fundamentais e o Sistema Internacional de Unidades;
● Grandezas da Mecânica;
● Analise dimensional e conversão de unidades;
● Estimativas e ordem de grandeza;
● Estimativa na Engenharia Agronômica.
.

Objetivos da Aprendizagem:
● Aprender a fazer conversão de unidades;
● Classificar grandezas;
● Compreender o que é ordem de grandeza;
● Entender a importância da mensuração
de uma grandeza física.

4
INTRODUÇÃO

No início da civilização não existia um padrão para medidas e para as grandezas.


Isso era algo que prejudicava o dia a dia das pessoas, pois se tornava difícil entrar em
consenso no comércio, nas prestações de serviços, compras e etc. Quando surgiu a moeda
(tratamos aqui moeda como dinheiro), foram necessários padronizar as principais grandezas
para que as pessoas falassem a mesma linguagem e facilitasse o comércio.
Por exemplo, faz sentido caso alguém chegue até você e diga “o comprimento do
meu carro é de 9,84 pés”? A princípio ficaríamos pensativos, tentando entender que medida
é essa. E aí que está o xis da questão: pés é uma das diversas unidades de medida para
mensurar a mesma grandeza: o comprimento. Neste caso em especial, a pessoa apenas
está lhe dizendo que o comprimento do carro dela é de 3 metros.
Assim, a ciência e a engenharia se baseiam em experimentos que sejam repetíveis. E
por isso são estabelecidas regras para que seja possível realizarmos medições e comparações.
O estudo dessas grandezas e medidas será o foco do nosso primeiro tópico deste módulo.
Em seguida, vamos dar ênfase aos padrões das três grandezas fundamentais
usadas na Mecânica: o comprimento, o tempo e a massa. Após, iremos abortar analise
dimensional e conversão de unidades.
Para finalizar o módulo, vamos ter uma noção de estimativa, ordem de grandeza e
de algarismos significativos.
O objetivo dessa primeira parte de nossa disciplina é fornecer a você aluno (a),
ferramentas básicas que serão utilizados na Cinemática, na Dinâmica e na Energia Mecânica.
Será abordado a teoria e logo em seguida exemplos que fazem uso dos conceitos explanados.
Por fim, desejo a você uma ótima leitura, e prometo que o que aprenderá fará você
observar o mundo com um novo olhar.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 5


1. GRANDEZAS FUNDAMENTAIS E O SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES

Padronizar as medidas foi uma necessidade da evolução da sociedade. A muito tempo,


cada país, cada região e cidade tinha seu próprio sistema de medidas. As unidades utilizadas
nessas medidas eram imprecisas e arbitrárias. Isso acontecia pois, por exemplo, várias medidas
faziam uso de partes do corpo humano, como o pé, a braça, o palmo, a polegada e o côvado.
Agora, faça um exercício mental. Imagine a confusão que isso gerava no comércio.
De uma cidade para outra, tudo que fosse comercializado, era preciso ficar convertendo
as unidades de medida. E isso vai além – as pessoas não tinham o total conhecimento e
domínio das conversões de unidades, uma vez que os padrões eram subjetivos.
Por esse motivo, atualmente, existem padrões de medidas de tal maneira que as
grandezas podem ser comparadas, e temos ainda experimentos para estabelecer essas
medidas e comparações.
Mesmo criado os padrões fundamentais que vamos discutir a seguir, a Ciência
continua em busca de maiores precisões. Os físicos buscam desenvolver relógios com
cada vez mais precisão para que possam ser comparados com a maior exatidão possível,
pois relógios distantes um dos outros e não sincronizados, não teríamos o GPS (Global
Positioning System), funcionando da maneira precisa que funciona hoje em dia.
Antes de vermos as grandezas fundamentais, precisamos separar o que é
grandeza e o que é unidade de medida. Grandeza é tudo aquilo que é medido, que pode
ser mensurável. Podemos então afirmar que massa, aceleração, tempo e volume, são
exemplos de grandezas, pois podemos medi-los.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 6


Pode-se dizer que grandezas são conceitos universais. Massa e tempo no Brasil é
o mesmo que massa e tempo na Europa, ou na Lua. São grandezas medíveis.
Mas então o que é unidade de medida? Unidade de medida é o nome que atribuímos
as mensurações das grandezas (HALLIDAY et al., 2016). O metro é o exemplo clássico – metro
(m) é a unidade de medida da grandeza comprimento. Temos o quilograma, que é a unidade
de medida padrão para a grandeza massa. A confusão que acontecia no passado não era
com as grandezas físicas, e sim com as unidades de medidas que não eram padronizadas.
Agora que sabemos a diferença e o significado de grandezas e unidades, vamos
estudar as grandezas fundamentais e o que é usado no Sistema Internacional de Unidades (SI).
Existem muitas grandezas físicas, que fica difícil de pontuar todas elas em um
curso introdutório de Física. Além disso, outras áreas da Ciência também possuem suas
grandezas. No entanto, em 1971, no 14ª CGPM – Conferência Geral de Pesos e Medidas,
foram estabelecidas sete grandezas fundamentais, das quais qualquer outra grandeza
pode ser obtida, relacionando duas ou mais grandezas fundamentais. Assim, tem-se
o que é chamado de Sistema Internacional de Unidades (SI), que padronizou as sete
grandezas fundamentais, bem como a unidade padrão utilizada e o símbolo. A Tabela 1
mostra quais são essas grandezas.

TABELA 1 – GRANDEZAS, UNIDADES DE MEDIDAS E SÍMBOLOS DEFINIDOS PELO


SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)
GRANDEZA UNIDADE SÍMBOLO
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Temperatura kelvin K
Quantidade de matéria mol mol
Intensidade de carga elétrica ampère A
Intensidade luminosa candela cd

Fonte: Sales e Maia, 2011.

Por convenção, temos que estabelecer algumas regras: quando escrevemos a


unidade por extenso, utilizamos letra minúscula, até mesmo quando for em homenagem a
alguma pessoa. Por exemplo, a unidade de medida no SI para massa é o quilograma, e não
“Quilograma”. A única exceção é quando falamos da unidade de medida da temperatura
utilizada pela maioria dos países, que é a escala Celsius. Já os símbolos têm uma convenção
um pouco mais detalhada – serão escritos com iniciais maiúsculas quando forem em
homenagem a alguém e não se flexionam no plural.

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Assim, como SI foi possível acabar com o inconveniente causado pela
arbitrariedade das diversas unidades de medidas adotadas nos países. Claro que ainda
existem unidades diferentes, mas o padrão adotado pelo SI torna fácil a conversão de
qualquer unidade para a unidade padrão.
Qualquer outra grandeza e unidade que você veja, é chamada de grandeza ou unidade
derivada. Isso quer dizer que qualquer grandeza pode ser explicada em função das grandezas
fundamentais. O mesmo acontece com as unidades. A Tabela 2 traz alguns exemplos de
grandezas derivas, qual é o nome adotado e o símbolo que é usado para a unidade.

TABELA 2 – EXEMPLOS DE GRANDEZAS DERIVADAS, NOME E SÍMBOLO USADO NA


UNIDADE, DE ACORDO COM O SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)

Fonte: Corradi et al., 2008.

Algumas unidades derivadas são tão comuns que recebem símbolos próprios.
Por exemplo, para a força costuma-se usar o newton (N), para a frequência costuma-se
usar o hertz (Hz) e etc.
Nesta disciplina, o foco é compreender a Mecânica, parte da física que estuda os movi-
mentos e que faz uso de três grandezas fundamentais (Comprimento, Tempo e Massa) e suas
derivadas (velocidade, aceleração, newton e etc). Vamos entender o que são essas grandezas.

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2. GRANDEZAS DA MECÂNICA

Conforme comentado, vamos usar três grandezas fundamentais e suas derivadas


em nossa disciplina. Por isso, é importante entendermos qual é a atual convenção para as
grandezas Comprimento, Tempo e Massa.
Comprimento: O metro já foi definido com base na distância entre a linha do
Equador e o Polo Norte – era a décima milionésima parte dessa distância, que em seu total
somava 107m. Em seguida, foi usado uma barra de platina-irídio padrão, convencionando
assim o metro padrão e a partir dela, foram elaboradas cópias e distribuídas nas diversas
partes do planeta para uso em laboratórios de calibração e medição.
Lá em 1960 o padrão foi atualizado para ter mais precisão e replicabilidade, e
passou a ser usado um padrão atômico. Com a definição adotada, o metro passou a ser
igual a 1.650.763,73 comprimentos de onda de uma determinada luz. A definição formal
“o comprimento de onda, no vácuo, de determinada luz vermelho alaranjada emitida por
átomos de criptônio (86Kr) (CORRADI et al., 2008).
Mas, em 1983 ainda foi feito uma atualização na definição do metro, que podemos
dizer que tornou mais universal e replicável a mensuração do metro padrão. O metro foi
definido baseado na velocidade da luz no vácuo (c = 299.792.458 m s-1), e tem como
definição formal e atual o seguinte:
“O metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um
intervalo de tempo igual a 1/299.792.458 do segundo” (CORRADI et al., 2008, p. 32).

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Isso é o mesmo que dizer que em 1 s, a luz percorre a distância equivalente à
299.792.458 m.
Massa: A massa foi baseada em um protótipo físico assim como o metro foi por
durante um tempo. O quilograma usado como padrão também é de platina e irídio, e
fica guardado na França no Bureau Internacional de pesos e Medidas. Esse objeto tem
exatamente o que chamamos de 1 quilograma.
No Brasil temos cópia do quilograma padrão, que fica sob responsabilidade do
Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Até o momento, ainda é
utilizado o quilograma padrão como medida oficial do quilograma. Porém, em escala atômica,
tem-se um padrão que é bastante utilizado em medidas que necessitam de precisão elevada.
Esse padrão baseia-se no átomo de carbono (12C), que tem exatamente 12 unidades de
massa atômica, e a relação entre o padrão atômico e o padrão do quilograma é:

Com base nisso, é possível definir massas utilizado o átomo de carbono.

Tempo: A unidade padrão no SI para tempo é o segundo, que já passou por


várias convenções até chegar ao que podemos dizer ser altamente precisas. O segundo
já foi definido como uma fração do dia solar médio, sendo 1/86400 do dia. No entanto, ao
longo dos meses, os dias variam em milésimos de segundo devido a irregularidade na
rotação da Terra. Além disso, era necessário a definição do dia solar médio, trabalho sobre
responsabilidade dos astrônomos, e por esses fatores, a precisão das medidas do segundo
baseado nesse padrão eram limitadas.
Na 13ª CGPM em 1967 a definição de segundo passou a ser baseado em um
padrão atômico:
“O segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição
entre os níveis hiperfinos do estado fundamental do Césio 133” (CORRADI et al., 2008, p. 30).
Isso significa que o segundo passou a ser baseado na frequência da radiação
emitida por um isótopo de átomo de Césio.
Com esse padrão, é possível reproduzir em qualquer lugar do globo terrestre e
calibrar com grande precisão os relógios e aparelhos de medidas de tempo.
Essas são as três grandezas fundamentais que iremos usar no decorrer de nossa
disciplina. Contudo, a Tabela 3 informa qual é a definição das sete grandezas fundamentais
definidas pelo SI.
Agora que temos noção das grandezas fundamentais e das unidades de medidas
utilizadas no SI, vamos entender o que é análise dimensional e conversão de unidades.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 10


TABELA 3 – GRANDEZA FUNDAMENTAL E SUAS RESPECTIVAS DEFINIÇÕES DE
ACORDO COM O SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)
GRANDEZA DEFINIÇÃO NO SI
Comprimento (m) O metro é a distância percorrida pela luz no vácuo em
1/299.792.458 s.
Massa (kg) O quilograma é a massa do corpo-padrão Internacional preservado
em Sèvres, na França.
O segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação
Tempo (s) correspondente a transição entre os dois níveis hiperfinos do estado
fundamental do átomo de 133Cs.
O kelvin é igual a 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto
Temperatura (K)
triplo da água.
O mole é a quantidade de substância de um sistema que contém
Quantidade de matéria (mol) tantas entidades elementares quantos átomos de carbono em 0,012
kg de carbono-12.
O ampère é a corrente que em dois fios paralelos de comprimento
Intensidade de carga
infinito, separados de 1 m, provoca uma força magnética por
elétrica (A)
unidade de comprimento de 2∙10-7 N/m.
A candela é a intensidade luminosa na direção perpendicular da
Intensidade luminosa (cd) superfície de um corpo negro cuja área é de 1/600.000 m2 na
temperatura de solidificação da platina a uma pressão de 1 atm.

Fonte: Corradi et al., 2008.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 11


3. ANÁLISE DIMENSIONAL E CONVERSÃO DE UNIDADES

Na Física, precisamos relacionar as grandezas físicas de maneira clara e objetiva,


sem deixar espaço para ambiguidades ou interpretações equívocas. Para isso, fazemos
uso da matemática como a linguagem para expressar os conceitos físicos.
Conforme dito anteriormente, grandeza é aquilo que conseguimos mensurar, de
uma forma ou de outra. Isso é o mesmo que dizer que a dimensão de uma grandeza física
indica a sua natureza, independentemente da unidade utilizada. Não faz diferença se a
distância entre duas cidades é expressa em metros, quilômetros ou léguas, a distância
continua sendo o comprimento entre as duas cidades. Aqui formalizados o conceito de
dimensão. Dimensão nada mais é do que qual grandeza está sendo avaliada. No exemplo
citado, a dimensão é o comprimento.
Para indicar qual a dimensão analisada, usamos o símbolo [ ] e temos então para
o comprimento a representação de sua dimensão [L], para a dimensão massa [M] e para o
tempo temos [T]. Alguns autores utilizam nomenclaturas diferentes para as dimensões aqui
estudadas, mas isso não faz diferença na análise dimensional.
Suponhamos que você queira entender o que significa a unidade da grandeza
potência, o watt, representado pela letra W na física, em homenagem ao engenheiro escocês
James Watt. A potência de um aparelho qualquer em funcionamento é a quantidade de
energia de um joule em casa segundo:

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 12


O Joule por sua vez, compreende a quantidade de energia necessária para a
aplicação de uma força de um newton durante um percurso de um metro:

E, a unidade newton é a unidade de força exercida sobre um corpo de massa igual


a 1 kg que lhe induz uma aceleração de 1 ms-2 na mesma direção da força. Assim temos:

Portanto, em termos das grandezas fundamentais, o watt pode ser escrito:

Agora, trocando as unidades do SI pelo simbolismo de dimensão, temos:

E o que isso significa afinal? Essa analise dimensional mostra que potência é
diretamente proporcional à massa e pelo quadrado do comprimento e inversamente
proporcional ao quadrado do tempo e, independente do sistema de unidades utilizado, a
unidade de potência sempre terá essa característica.
Podemos também encontrar expressões matemáticas generalizadas que
envolvendo a analise dimensional. Suponha por exemplo que queremos encontrar quais
são os expoentes da aceleração a e do tempo t para a expressão matemática que relaciona
a posição x de um carro em função do tempo de viagem. Considere que o carro esteja
movendo-se com uma aceleração constante a, e que tenha começado a viagem a partir do
repouso em um instante que chamaremos de t=0s.
Nessa situação, a posição x do carro é dependente da aceleração a e do tempo
t utilizado durante a viagem. Em termos de comprimento [C], aceleração [A] e tempo [T],
podemos escrever o seguinte:

Porém, a aceleração é dada por [C] [T]-2. Substituindo na equação acima ficamos
com a relação:

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 13


Analisando os expoentes, notamos que
Portanto, a analise dimensional da posição x que é grandeza de comprimento [C], é
proporcional ao comprimento e ao quadrado do tempo, e tem uma relação dada por:

Futuramente, vamos encontrar qual é o fator de proporcionalidade dessa relação.


Com a análise dimensional conseguimos verificar se existe coerência dimensional,
e isso traz um benefício pratico na física, ao realizar operações matemáticas, mantendo a
coerência entre as grandezas e unidades de medidas.
Um exemplo clássico, faz sentido somar maças com laranjas? O mesmo raciocínio
é valido nas grandezas físicas. Só é permitido somar termos em uma equação se possuírem
a mesma unidade de medida. Vamos aos exemplos:
Em um recipiente é colocado três diferentes quantidades de água, 5l, 300ml e 35ml.
Somando temos:

Um outro exemplo para quem gosta de carros importados. Alguns modelos


importados possuem em seu velocímetro duas unidades de medida, o km h-1, que é adotado
no Brasil, e a Milhas h-1, que é adotado nos E.U.A. por exemplo. Se você estiver trafegando
em uma rodovia brasileira, em que a velocidade máxima permitida é de 100 km h-1, e você
estiver olhando no velocímetro e estiver marcando 100 mi h-1, você será multado?
Com certeza. Isso acontece, pois, 1 milha equivale a 1,60934 km.

Ou seja, 100 mi h-1 equivale a mais de 160 km h-1, velocidade 60% acima da
máxima permitida no exemplo, e o resultado seria infração gravíssima, com multa,
suspensão do direito de dirigir e recolhimento do documento de habilitação. Imagina a
dor de cabeça para poder resolver isso, e tudo por abusar da velocidade e usar a unidade
de medida não costumeira no Brasil.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 14


Algo mais cotidiano que a converter milhar por hora para quilômetros por hora e
vice-versa, é a conversão de quilômetros por hora para metros por segundo. Para converter.
Note a relação abaixo:

Ou seja, quando a intenção é converter quilômetros por hora para metros por
segundo, multiplicamos o valor pelo fator de 0,2778. Um carro viajando a uma velocidade
de 72 km h-1 está a uma velocidade de 20 ms-1. Isso é o mesmo que dizer que, a cada
segundo, o carro percorre uma distância de 20 metros.
Na prática, é difícil e ruim de lembrar o valor do fator 0,2778. Por isso, usamos o
fator 3,6, que é o resultado de 1/0,2778. Agora, fazemos a conversão de maneira inversa a
descrita no parágrafo anterior. Quando a intenção é transformar a grandeza quilômetros por
hora para metros por segundo, dividimos o valor por 3,6. Quando a intensão é o contrário,
multiplicamos por 3,6. O esquema abaixo ilustra essa conversão (Figura 1).

FIGURA 1 - ESQUEMA PRÁTICO PARA CONVERSÃO DE UNIDADE DE MEDIDA DE VELOCIDADE

Fonte: O autor (2021).

A conversão de unidades é bastante cobrada em exercícios na área da Física, e


serve para mudanças de unidades de medida, conferir coerência em equacionamentos
e definir grandezas. Esses conceitos serão empregados ao longo dos exemplos que
forneceremos no material.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 15


4. ESTIMATIVAS E ORDEM DE GRANDEZA

Definimos como ordem de grandeza de algo a potência de dez do número que


descreve a quantidade dessa grandeza. Por exemplo, se a quantidade de algo aumenta
três ordens de grandeza, dizemos que ela é 1000 vezes maior. É o mesmo que dizer que é
103 vezes maior que a anterior.
Podemos estimar que um corredor amador costuma correr cerca 10 km em um dia
de treino comum. Podemos ainda afirmar que uma pessoa que caminha apenas 1 km por dia
não é capaz (a menos que se esforce muito) de competir em uma maratona de 100 km, isto
é, de duas ordens de grandeza em relação ao que costuma exercitar, pois 100 km = 102 km. A
ordem de grandeza de melhoria para que um corredor amador consiga participar da maratona
é de uma ordem (101), já a pessoa que caminha, é de duas ordens de grandeza (102).
Vamos a outro exemplo. Suponha que a espessura da banda de rodagem de um
pneu seja 1 cm, e sabendo que o pneu foi projetado para percorrer 100.000 km, quanto do
pneu foi gasto para percorrer uma viagem de 10.000 km?
Fica fácil de verificar que o desgaste do pneu é de 1cm/100.000 km, ou
cm/km. Como foi percorrido 104 km, então:

Ou seja, o pneu foi desgastando em 10%. Que tipo de cálculo acabamos de fazer?
Chamamos reflexos desse tipo de estimativa. Estimativa é basicamente a capacidade de
obter o valor da grandeza física de um fenômeno ou situação.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 16


Vamos fazer a estimativa de quantos fios de cabelo uma pessoa tem na cabeça.
Para isso, vamos supor duas medidas, a espessura de um fio de cabelo e a área do couro
cabeludo. O fio de cabelo tem aproximadamente entre 0,052 mm a 0,071 mm de diâmetro
(LOPES e LABURÚ, 2004). Vamos adotar o valor da 0,07 mm, ou seja,

Qual vai ser a área ocupada por um único fio de cabelo?

no qual o raio r é metade do diâmetro d. Substituindo o valor admitido para o


diâmetro temos:

Essa é a estimativa da área ocupada por um fio de cabelo. Agora, vamos estimar
a área da cabeça.
Suponha a cabeça tenha 20 cm de diâmetro, isso resulta em um raio de 10 cm=0,1m.
Usando a fórmula da área de uma esfera:

Vamos admitir que metade da área da cabeça possui cabelo, então, teremos uma

área estimada para o couro cabeludo de aproximadamente 15,71∙10-3m2


Sabemos que na superfície do couro cabeludo existe muito espaço entre os
fios, quando comparamos a espessura do fio com os espaços. Caso não existisse esse
espaço, a quantidade de fios de cabelo seria a área do couro cabeludo dividido pela área
de cada fio. Temos:

Esse resultando está dando na ordem de 106, uma ordem de grandeza acima do
que se tem na literatura a respeito da quantidade de fios. Um adulto, tem entre 150 a 250
mil fios de cabelo, valor de ordem de grandeza de 105.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 17


O que fizemos de errado? Bom, é uma estimativa, e estimativas não são exatas.
A espessura do fio de cabelo e o diâmetro foram dois valores que estimamos baseado na
literatura. Vamos pensar um pouco, o que não estamos considerando e que é importante
para essa estimativa?
A resposta está nos espaços vazios entre os fios de cabelo. A maneira na qual
calculamos, assumimos que casa pedacinho do couro cabeludo tem cabelo, e sabemos
que isso não é uma verdade.
O que queremos deixar aqui de reflexão é que estimativas possuem erros, que
dependendo dos valores de entrada, a estimativa perder o sentido devido a valores
absurdos, superestimados ou subestimados.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 18


5. ESTIMATIVA NA ENGENHARIA AGRONÔMICA

Estimativas são usados em diversos campos. Vamos para um exemplo na área da


agronomia. Veremos como pode ser calculado a distribuição das sementes para se ter uma
população de plantas homogênea e contribuir para o máximo rendimento produtivo.
O primeiro passo é o cálculo da densidade de semeadura. Vamos supor que a
cultura seja soja. Utiliza-se espaçamento entre as linhas de cultivo de 40 a 50 cm. O número
de plantas por metro linear é calculado pela expressão:

Imagine que um agricultor tenha interesse de cultivar 250.000 plantas em um


hectare (hectare representa 10.000 m2), com espaçamento entrelinhas de 40 cm. O número
de plantas que será distribuído por metro na linha de cultivo é:

Um fator importante é a taxa de semeadura. Afinal, nem todas as sementes planta-


das germinam. A porcentagem de geminação é indicada nas embalagens de sementes. A
quantidade de semente que deve ser plantada é dada pela equação:

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 19


Para nosso exemplo, vamos considerar 80% de germinação:

Sempre usamos o valor inteiro superior, no caso, 13 sementes (não tem como
plantar 12 sementes e meia). Agora, vamos definir quantas sementes serão necessárias
para cultivar um hectare. Para isso, devemos usar uma porcentagem ligeiramente acima da
quantidade de sementes que foi obtida por metro linear, isso porque, parte das sementes
podem sofrer danos mecânicos no plantio, ataque de pragas, fungos, bactérias. Vamos
inserir 10% a mais na quantidade de sementes no campo. A equação do número de
sementes por hectare fica:

No nosso exemplo:

É preciso plantar 342.720 sementes por hectare para ter uma população de 250.000
plantas por hectare. Se voltarmos a primeira equação do exemplo, teremos:

Precisamos, com as condições assumidas, de 14 sementes por metro linear. O


próximo passo é saber o “peso” (no próximo módulo veremos que a palavra peso é usada
de forma errada no cotidiano) de 1000 sementes, para sabermos quantos quilogramas de
semente serão necessárias para plantar um hectare. Em geral, o peso de 1000 sementes de
soja fica entre 140 g a 220 g. Também é uma informação que vem rotulada na embalagem.
Agora, basta realizar uma regra de três. Assumindo que 1000 semente tem 200 g:

Multiplicando cruzado e isolando x:

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 20


Que aplicação fantástica de conhecimentos simples sobre dimensão de
comprimento, área, quantidade. Vimos que com considerações simples, conseguimos
realizar o planejamento do plantio de uma cultura. Pode-se ir mais além, calculando o
tempo necessário do plantio, quantidade de implementos, funcionários, gastos e etc.
Acredito que tenha ficado claro que conhecimentos como o mostrado nesse módulo
pode ser usado no cotidiano e em áreas do conhecimento.

SAIBA MAIS

Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (em latim: Philosophiae naturalis principia


mathematica, também referido como Principia Mathematica ou simplesmente, Principia)
é uma obra de três volumes escrita por Isaac Newton, publicada em 5 de julho de 1687.
Newton publicou outras duas edições, em 1713 e 1726.
Mesmo após séculos de suas publicações, essas obras são o berço de grande parte da
Ciência que usamos hoje, e permitiu uma evolução histórica na maneira de observar
os movimentos.

Fonte: NEWTON, I. Principia: Princípios Matemáticos de Filosofia Natural: Edusp; 1ª edição. 2018.

REFLITA

“O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza
e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode
mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram.”

Fonte: Albert Einstein.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 21


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Física as vezes é considerada uma disciplina difícil no meio acadêmico. Porém,


na verdade, ela é uma disciplina que possui muitas aplicações práticas, mas que precisa de
um formalismo matemático para poder descrever os fenômenos.
Vimos nesse módulo ferramentas básicas que serão utilizadas no entendimento
da disciplina. Aprendemos que existe um padrão global e formalismo matemático que é
importante para a compreensão da Física, da Ciência e da natureza.
Fomos capazes de realizar estimativas, com a suposição de alguns valores iniciais,
e fechamos o módulo com uma aplicação de cálculos simples e de grande varia para a
área agronômica, ou administrativa de uma propriedade ou cooperativa. Os conceitos de
estimativas e ordem de grandeza podem ser explorados em qualquer área do conhecimento.
Agora, vamos entrar no estudo de movimentos. Iniciaremos com a Cinemática,
nosso assunto do próximo módulo.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 22


LEITURA COMPLEMENTAR

Vimos as grandezas e unidades de medidas adotadas pela maior parte dos países
e pelo meio acadêmico, definido pelo SI. Contudo, a Inglaterra e o EUA costumam usar
unidades de medidas diferentes.
Nesses países, sistema para medir comprimentos se baseia na polegada, no pé,
na jarda e na milha. A seguir tem-se o quanto equivale cada uma delas em nosso sistema
métrico decimal.
Polegada = 2,54 cm
Pé = 30,48 cm
Jarda = 91,44 cm
Milha terrestre = 1.609,344 m
Os EUA justificam que sua não adesão ao SI seria o custo que atualmente teria
para a indústria se adaptar.

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 23


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Física de Sears & Zemansky: Volume I: Mecânica: Volume 1
Autores: Hugh D. Young; Roger A. Freedman.
Editora: Pearson Universidades.
Sinopse: Desde sua primeira edição, esta tem sido uma obra de
referência por causa de sua ênfase nos princípios fundamentais
de física e em como aplicá-los. Sua clareza e didática minuciosa,
assim como a extensa gama de exercícios e exemplos
explicativos, desenvolvem nos alunos habilidades de identificação,
estabelecimento, execução e avaliação de problemas.

FILME/VÍDEO
Título: Interestelar.
Ano: 2014
Sinopse: Após ver a Terra consumindo boa parte de suas
reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de
verificar possíveis planetas para receberem a população mundial,
possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew
McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão
sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne
Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele
seguirá em busca de uma nova casa. Com o passar dos anos, sua
filha Murph (Mackenzie Foy e Jessica Chastain) investirá numa
própria jornada para também tentar salvar a população do planeta.
Link do vídeo: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-114782/
trailer-19536810/

UNIDADE I Grandezas Físicas e a Mecânica 24


UNIDADE II
Introdução a Cinemática
Prof. Dr. Renã Moreira Araújo

Plano de Estudo:
● Movimento retilíneo uniforme;
● Movimento retilíneo uniformemente variável;
● Movimento vertical;
● Movimento de projéteis.

Objetivos da Aprendizagem:
● Aprender a identificar e trabalhar com movimentos em duas dimensões;
● Compreender o movimento unidimensional com velocidade constante;
● Saber identificar e analisar movimentos uniformemente variados.

25
INTRODUÇÃO

Agora vamos estudar os movimentos de objetos. Inicialmente, trataremos da


cinemática, que é a área da Mecânica que estuda os movimentos sem se preocupar com
a força que causa o movimento.
Assim, vamos estudar a rapidez com que objetos percorrem intervalos determinados.
Esse estudo tem aplicações por exemplo no desempenho de tecnologias dos carros de
corridas; estudo do movimento de placas tectônicas; mapeamento do fluxo sanguíneo por
artérias parcialmente obstruídas; controle de velocidade nos tráfegos diários; planejamento
de logística empresarial, agrícola e etc.
Vamos iniciar com conceitos gerais do movimento, como posição, referencial e
deslocamento, e em seguida iremos estudar as equações que relacionam as grandezas
físicas tempo e comprimento, que chamamos na Física de Cinemática. Iremos estudar os
movimentos dos objetos em uma única dimensão. Conceitos estes que tem aplicações
importantes não apenas no cotidiano, mas em várias áreas da Ciência.
E para fechar este módulo, vamos expandir os conceitos aprendidos em uma
dimensão para movimentos na vertical e movimentos em duas dimensões, também
chamado de movimentos de projéteis.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 26
1. MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORME

Neste tópico, vamos trabalhar com os movimentos em linha reta e sem considerar
a aceleração, o chamado Movimento Retilíneo Uniforme, MRU.

1.1 Posição e deslocamento


Para definir uma posição no espaço é preciso ter algum referencial. Por exemplo,
caso lhe perguntem qual é a sua posição nesse momento, qual seria sua resposta? A mais
sensata seria, “minha posição em relação à quê?”. Se for em relação à rua, estou a alguns
metros, se for em relação ao centro da cidade, estou a alguns quilômetros.
É notório que para definir uma posição, tem-se que escolher um referencial, que
nada mais é do que um ponto do espaço em relação ao qual determina-se a posição
de uma partícula (partícula para nossos estudos é o objeto em questão; algumas vezes
iremos chamar de corpo). O ponto definido no espaço, costuma ser a origem do sistema de
coordenadas utilizado. Como estamos trabalhando inicialmente com MRU, nosso sistema
será uma linha reta, com uma origem em 0 m, e a posição no espaço em determinado
tempo será definido em relação à origem (Figura 1).

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
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e a Mecânica 27
FIGURA 1 - A POSIÇÃO DE UM OBJETO É INDICADA EM RELAÇÃO A UM EIXO MARCADO
EM UNIDADES DE COMPRIMENTO QUE SE ESTENDE INDEFINIDAMENTE PARA OS DOIS
SENTIDOS. O NOME DO EIXO EM UMA DIMENSÃO COSTUMA SER EIXO X

Fonte: O autor (2021).

Definir a posição ou localizar um objeto é determinar a posição do objeto em relação


ao ponto de referência de um eixo, como pode ser visto na Figura 2. O sentido positivo do
eixo indica que a posição do objeto aumenta o valor, e geralmente adotamos esse sentido
para a direita. Já o sentido para a esquerda, indica o sentido oposto, e que o objeto está em
uma posição negativa em relação a origem.
Por exemplo, se uma partícula estiver localizada em x = 3 m, indica que ela está no
sentido positivo e a 3 m da origem. Se estiver localizada em x = - 3 m, a partícula também
está a 3 m da origem, no entanto agora está no sentido oposto, e por isso nesse caso é
preciso explicitar o sinal negativo.
É possível relacionar a posição x de um objeto com o tempo t de acordo com a
função x = f(t). Para isso, vamos entender o que é deslocamento:
Suponha que em um tempo inicial t0, um automóvel esteja na posição inicial x0. Depois
de um instante t, o automóvel estará em outra posição x. observe que o carro variou o espaço
na trajetória descrita e a essa variação no espaço denominamos de deslocamento, que pode
ser algebricamente descrito por Δx = x – x0, no qual a letra grega delta indica variação, dado
pela posição final menos a posição inicial. Definindo, portanto, deslocamento:
“Uma mudança da posição x0 para a posição x é associado um deslocamento Δx,
dado por Δx = x – x0”.
Vale salientar que deslocamento é uma grandeza vetorial, ou seja, possui módulo,
direção e sentido. No estudo de caso vamos trabalhar especificamente com lançamento
de projéteis e trataremos com ênfase os conceitos de vetor. Por enquanto, precisamos
entender que vetor é um ente matemático que possui três medidas: o módulo (valor
absoluto, magnitude, valor numérico), que é a distância numérica entre as posições; a
orientação que é dividida em duas partes – direção, que pode ser vertical ou horizontal; e
sentido – para a direita ou esquerda, para cima ou para baixo. No Sistema Internacional
de Unidades (SI) o deslocamento é dado pelo metro (m).

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 28
Para entrarmos no conceito de velocidade média, temos que diferenciar o que é
distância percorrida de deslocamento. Deslocamento é sempre a menor distância entre
duas posições ocupadas por um objeto na trajetória. Já distância percorrida, ou espaço
percorrido, é a soma numérica de todo o espaço percorrido pelo objeto durante a trajetória.
Vamos ao exemplo: Considere que um avião voe 600 km de oeste (O) para leste e
logo após voe 300 km de leste (L) para oeste (O). O espaço total percorrido por esse avião
é a soma dos deslocamentos oeste leste mais oeste leste, ou seja, Dt = 600 km + 300 km =
900 km. Já o deslocamento, é a posição entre o instante inicial e o instante final. O módulo
do deslocamento Δx = x – x0 = 600 km – 300 km = 300 km. Lembrando que deslocamento
é uma grandeza vetorial, então precisamos dizer qual o módulo, a direção e sentido. Neste
caso, o deslocamento do avião foi de 300 km de oeste para leste.

FIGURA 2 - EXEMPLO DE DISTÂNCIA PERCORRIDA E DESLOCAMENTO DE UM AVIÃO

Fonte: O autor (2021).

1.2 Velocidade Média, Velocidade Instantânea e Velocidade Escalar Média


É simples compreendermos o conceito de velocidade. Velocidade nada mais é do
que a medida da rapidez ou lentidão com que os objetos se movem. A velocidade é dada
então pela razão com que a posição varia no tempo. De forma algébrica e genérica temos:

Existem três velocidades distintas no estudo da cinemática, e o que difere é a


maneira na qual é realizado a medida.
A velocidade escalar média é a razão entre a distância total percorrida e o tempo
gasto durante todo o percurso:

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
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e a Mecânica 29
Observe que como utilizamos a distância total percorrida e essa sempre é positiva,
temos que a velocidade escalar média será positiva. Possui apenas módulo, pois não é
vetorial. Pode-se usar v̅ ou vm para descrever velocidade média.
Já a velocidade média é dada pela razão entre o deslocamento e o tempo
necessário para efetuar o mesmo:

No qual x é a posição final do objeto; x0 é a posição inicial, t é o tempo final do


percurso e t0 é o tempo inicial. No caso do movimento retilíneo, como o movimento ocorre
em linha reta, caso a distância percorrida for igual ao deslocamento do objeto, a velocidade
média e a velocidade escalar média serão iguais.
Outra característica importante do movimento retilíneo é que o objeto se move
com velocidade constante, ou seja, em qualquer instante do percurso a velocidade será a
mesma. Podemos escrever a seguinte relação:

Por fim, a velocidade instantânea v informa qual a velocidade do movimento em um


determinado instante de tempo t. É definida por:

Ao se tomar a derivada da função posição em relação ao tempo em cada instante,


tem-se a velocidade instantânea do objeto. Portanto, a velocidade instantânea é a velocidade
definida em um ponto, associada a um determinado tempo.
É possível encontrar a velocidade de objetos com base em gráficos da posição do
objeto em função do tempo. Observe o gráfico abaixo (Figura 3).

UNIDADE II
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e a Mecânica 30
FIGURA 3 - GRÁFICO DA POSIÇÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO. A INCLINAÇÃO DA LINHA
VERMELHA É A VELOCIDADE MÉDIA DO OBJETO

Fonte: O autor (2021).

A inclinação da reta entre dois pontos do gráfico de posição em função do tempo do


movimento de um objeto é igual à velocidade média desse corpo. No caso acima, teremos
que a velocidade média é:

Vejamos um exemplo. O gráfico abaixo descreve o movimento de um objeto (Figura 4).


Qual a velocidade média entre os instantes t = 2s e t = 5 s? Note que no instante inicial o objeto
estava na posição 9 m e no instante final estava na posição 5 m. Algebricamente:

Em qualquer instante do movimento descrito, podemos encontrar a velocidade


instantânea do objeto com base na reta tangente à curva. Isso é o mesmo que afirmar que a
derivada da função da posição em relação ao tempo fornece a velocidade instantânea do objeto.

FIGURA 4 - GRÁFICO DA POSIÇÃO EM FUNÇÃO DO DE UM OBJETO EM MOVIMENTO

UNIDADE II
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Fonte: Sales e Maia (2011).

Note ainda no gráfico que entre o instante inicial á aproximadamente 3 segundos,


o deslocamento aumenta, o que descreve velocidade positiva. Próximo aos 3 segundos,
o objeto descreve uma inclinação nula, e nesse ponto teremos velocidade zero e inversão
do movimento. O objeto começa a “andar de marcha ré”. E o que acontece próximo aos 7
segundos? Fica de exercício para você leitor descrever.

1.3 Equação horária do espaço


Agora, voltando ao caso da descrição algébrica, podemos definir uma equação geral
para os casos de estudo de movimentos retilíneos uniformes. Considere novamente a equação:

Suponha que o instante t0=0, podemos reescrever a equação:

ou melhor:

Obtemos o que denominamos de equação horária do espaço para movimentos


retilíneos uniformes. Observe que temos quatro incógnitas e que podemos trabalhar com
essa característica.

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2. MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORMEMENTE VARIÁVEL

2.1 Aceleração
Acabamos de obter a equação para o caso em que a velocidade de movimento de
um objeto é constante. Mas e quando a velocidade possui variação? Para existir variação
de velocidade em movimentos retilíneos, é necessário que ocorra aceleração.
A aceleração média é definida como o quociente entre a variação da velocidade e
o intervalo de tempo entre dois instantes:

em que v é a velocidade no instante t e v0 é a velocidade no instante inicial t0. Já,


caso o interesse for saber o valor da aceleração em cada instante de tempo da trajetória,
tem-se que calcular a aceleração instantânea, fornecida por:

Quando é fornecido um gráfico de velocidade versus tempo, a aceleração média


entre dois pontos da curva é fornecida pela inclinação da reta entre os dois pontos, similar
a velocidade média para gráficos de posição versus tempo. O mesmo acontece para a
aceleração instantânea: é calculada pela inclinação da reta tangente no ponto em questão
do gráfico de velocidade versus tempo.

UNIDADE II
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FIGURA 5 - GRÁFICO DA VELOCIDADE EM FUNÇÃO DO TEMPO. A INCLINAÇÃO DA
LINHA VERMELHA É A VELOCIDADE MÉDIA DO OBJETO

Fonte: O autor (2021).

2.2 Classificação do movimento


Considere um bloco em uma rampa, sem atrito. Vamos adotar um sistema: para
a direita é deslocamento positivo, para a esquerda é negativo. Podemos classificar o
movimento em relação ao sentido de duas formas, movimento progressivo e movimento
retrógado. Se o bloco se movimenta para a direita, a favor da trajetória, com velocidade
positiva, temos movimento progressivo. Caso o bloco seja movimentado para a esquerda,
no sentido contrário a trajetória adotada, temos movimento retrogrado.

FIGURA 6 - RAMPA COM UM BLOCO EM MOVIMENTO PROGRESSIVO

Fonte: O autor (2021).

E quando o objeto possui aceleração, como fica a nomenclatura?

UNIDADE II
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e a Mecânica 34
Vamos analisar primeiro o movimento do bloco progressivo. Se o movimento é
progressivo, e a aceleração da gravidade ajuda a aumentar a velocidade do bloco, isto é,
a velocidade e a aceleração estão no mesmo sentido, teremos um movimento acelerado.
Agora, suponha que o bloco esteja ainda em movimento progressivo, mas algo está
acelerando-o no sentido contrário, fazendo com que a velocidade diminua, temos o que
chamamos de movimento retardado.
Agora, vamos analisar o movimento retrógado, aquele no qual a velocidade está
para a esquerda no sistema que adotamos. É como se estivéssemos dando “marcha ré”
no bloco. Caso a aceleração seja negativa, a velocidade do bloco irá aumentar em módulo,
isto é, a velocidade está cada vez mais elevada, mas no sentido contrário a trajetória e
teremos um movimento acelerado. Agora, suponha que a velocidade seja retrograda, e
que a aceleração seja positiva, o que vamos ter é que a velocidade, em módulo, será cada
vez menor, e temos novamente o movimento retardado. O Quadro 1 abaixo fornece um
esquema para o que foi dito.

QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO DO MOVIMENTO ACELERADO EM RELAÇÃO AO


SENTIDO E À VARIAÇÃO DO MÓDULO DA VELOCIDADE

Fonte: Adaptado de: Maia e Sales, 2011.

Resumindo, podemos afirmar que quando o sentido a velocidade e da aceleração


são os mesmos, teremos movimento acelerado e, quando o sentido da velocidade e da
aceleração forem diferentes, teremos movimentos retardados.

2.3 Equação horária da velocidade


Vamos estudar casos em que a velocidade irá variar com a mesma taxa, ou seja, a
aceleração será constante ao longo da trajetória.

UNIDADE II
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A aplicação do conceito de aceleração constante é de grande relevância em diversas
áreas do dia a dia. Apesar das equações serem elaboradas para casos idealizados, elas
possuem uma excelente precisão para a maior parte dos experimentos do cotidiano. Como
veremos no próximo tópico, movimentos em queda livre é apenas um caso particular das
equações que vamos aqui descrever.
Vamos voltar a equação .Considere o instante inicial t0 = 0, a equação
se torna:

Essa é a equação horária da velocidade e sua validade é apenas quando se tem


aceleração constante. Graficamente, podemos interpretar que a velocidade descrita por objeto
baseado em um gráfico de a versus t é o resultado da área sob a curva do gráfico (Figura 7).

FIGURA 7 - GRÁFICO DE ACELERAÇÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO. A ÁREA SOB A


CURVA DO GRÁFICO REPRESENTA A VELOCIDADE ATÉ O INSTANTE T

Fonte: O autor (2021).

2.4 Equação horária do espaço


Já deduzimos a equação horária do espaço para o movimento retilíneo uniforme,
ou seja, aquele em que a aceleração é nula. Agora, vamos inserir a aceleração na equação
e expandir ela para movimentos retilíneos uniformemente variáveis.

UNIDADE II
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e a Mecânica 36
Como estamos trabalhando com aceleração constante, a velocidade varia, mas com
uma taxa constante. Podemos calcular a velocidade média como sendo a média aritmética
das velocidades entre dois instantes:

Substituindo v pela equação horária do da velocidade na equa-


ção acima:

Lembrando que velocidade média também é dado por:

considerando e igualando vm
com v̅ que são as mesmas variáveis:

Temos a chamada equação horária do espaço para movimentos retilíneos


uniformemente variado. Observe que caso a aceleração seja nula, a equação se torna
a mesma deduzida para movimento retilíneo uniforme . Em gráfico de
velocidade versus tempo, a variação ∆x é fornecida pela área sob a curva do gráfico.

2.5 Equação de Torricelli


E quando trabalhamos em algum caso em que o tempo não é levado em conta, é
possível relacionar as demais grandezas? Para isso existe a equação de Torricelli. Vamos
a dedução.
Vamos elevar os dois lados da equação ao quadrado:

Usando a equação horária do espaço para substituir o


termo entre parênteses na equação anterior temos:

Assim, chegamos à equação de Torricelli, na qual conseguimos trabalhar com as


grandezas velocidade, distância e aceleração sem ter conhecimento do tempo utilizado
para o movimento.
Vamos mostrar a aplicação dessas equações, mas já usando um caso especial, o
movimento de queda livre.

UNIDADE II
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e a Mecânica 37
3. MOVIMENTO VERTICAL

Movimento na vertical é todo movimento que acontece na vertical próximo à


superfície da Terra. Temos dois casos: a queda livre, que ocorre quando a velocidade
inicial do objeto é nula; e o lançamento vertical, que ocorre quando o objeto recebe uma
velocidade inicial não nula, fazendo o mesmo ser movido para cima em relação a superfície
terrestre. O que ambos os casos têm em comum é que existe aceleração, que adotamos
com orientação para cima e para baixo, com módulo constante de 9,8 m s-2.
Tanto a queda livre como o lançamento vertical são particularidades do Movimento
Retilíneo Uniformemente Variado (MRVU). Ao lançarmos um objeto qualquer para cima,
temos a combinação de lançamento vertical e queda livre. As equações que vimos até o
momento podem ser adaptadas para uso nesse tipo de situação. O cuidado que é preciso
ter são nos sinais atribuídos as grandezas que fazem parte.
Antes de vermos alguns exemplos, vale salientar que a aceleração da gravidade
não é a mesma em todos os pontos da superfície da Terra e na atmosfera. A medida que
nos afastamos da Terra, o valor da aceleração da gravidade diminui. Isso ocorre, pois, o
módulo de g é inversamente proporcional à altitude. Outro detalhe é que o valor de 9,81
m s-2 é valido para latitudes de 45° e ao nível médio do mar. Nos polos do planeta Terra, o
valor sobe para 9,83 m s-2 e na linha do Equador o valor é de 9,78 m s-2. No entanto, devido
à baixa variação do módulo de g, comumente utiliza-se o valor de 9,81 m s-2 nos exercícios.
Suponha que a base de uma nuvem de onde cai as gotas de chuva esteja a
2000 m acima da superfície da Terra. Se for desconsiderado a resistência do ar, qual é a
velocidade da gota ao atingir o solo?

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 38
Como não sabemos o tempo do percurso, vamos usar a equação de Torricelli,
e trocar a aceleração da equação por g, que é a aceleração da gravidade. A aceleração
aponta para baixo, e a velocidade tem o mesmo sentido da aceleração, então temos um
movimento acelerado.

Para transformar essa velocidade de metros por segundo para quilômetros por
hora, basta multiplicar por 3,6, e temos que a velocidade da gota seria de 713 km h-1. Agora
imagine como seria estar debaixo de uma chuva dessas. Ainda bem que tem algo que não
deixa a gota de chuva atingir tamanha velocidade.
As gotas de chuva ou de qualquer objeto que caia de uma altura considerável,
aumentam a velocidade até um valor limite e após esse limite a velocidade se torna constante.
Temos inicialmente MRUV e depois MRU. O responsável por causar a velocidade limite é
a resistência do ar. Algo interessante é que caso não existisse o ar e fosse queda livre
de objetos no vácuo, a velocidade final não iria depender das características do objeto,
como forma, densidade, massa. É estranho enxergarmos isso, mas sim, se fosse no vácuo,
a velocidade final de uma pena ou de uma bola de boliche que foram abandonadas da
mesma altitude, seriam as mesmas.

FIGURA 8 - EM UMA QUEDA LIVRE, O MOVIMENTO TEM INÍCIO COM MOVIMENTO


ACELERADO E DEPOIS O MOVIMENTO SE TORNA UNIFORME, DEVIDO À
RESISTÊNCIA DO AR

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
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e a Mecânica 39
Vamos para um exemplo mais elaborado, mas antes, precisamos definir algumas
coisas. Em movimentos verticais, por convenção: a direção do movimento é ao longo do
eixo y vertical e não ao longo do eixo x horizontal; todas as grandezas que possuírem
orientação vertical de baixo para cima será adotado sinal positivo (+) e para as grandezas
orientadas de cima para baixo será adotado sinal (-); para cima é adotado sentido positivo;
a aceleração da gravidade g em queda livre é negativa, isto é, para baixo e com direção
para o centro da Terra. Assim, nas equações, a aceleração à é substituído por –g.
Suponha uma bola de beisebol lançada verticalmente para cima, a partir do solo, e
com uma velocidade inicial de 40 ms-1. Vamos desprezar a resistência do ar e para facilitar
os cálculos, iremos adotar a aceleração da gravidade com módulo g = –10 ms-2. Qual vai
ser a altura máxima atingida por ela bola de beisebol?
Para resolver exercícios de física, o ideal é anotar previamente as informações que
temos. Que chamamos de dados:
Velocidade inicial V0 = 40 ms-2
Aceleração da gravidade g = –10 ms-2
Posição inicial x0= 0 m (superfície)

Como não temos a informação do tempo gasto, podemos usar a equação de


Torricelli, no qual o ∆x é a altura máxima percorrida atingida pela bolinha. Outro detalhe
é que, na altura máxima, a bola de beisebol sofre uma inversão de velocidade, e nesse
instante, a velocidade é nula. Substituindo os dados fornecidos:

Portanto, a altura máxima atingida pela bola é de 80 m. E qual foi o tempo gasto
durante a subida? Vamos agora usar a equação horária da velocidade:
e lembrando que no ponto mais alto a velocidade é nula, temos:

Ou seja, o tempo gasto durante a descida foi de 4 segundos. E qual a duração do


movimento? A duração do movimento é dada por duas vezes o tempo de subida, pois, a
bola sai de um ponto e retorna para o mesmo ponto durante o movimento. Assim, temos
que o tempo total são de 8 segundos. É possível saber em quanto tempo após ter sido
lançada, a bola irá atingir 60 m do solo? Como foi dito, a equação vista nesse módulo nos
permite tirar várias informações.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 40
Nesse caso, é sim possível, e basta usar a equação horário do espaço:

Como Xo = 0 a equação se torna

Queremos saber o tempo quando x = 60m, então:

Ao resolver a equação de segundo grau, teremos duas soluções, 2 segundos e


6 segundos. Interpretando esse resultado, temos o seguinte: em 2 segundos, a bola de
beisebol passa pelos 60 m de altura durante a subida, e aos 6 segundos, a bola passa pelo
mesmo ponto, mas durante a decida.
E qual a velocidade da bola ao passar por esse ponto? Vamos utilizar agora a
equação horária da velocidade:

Substituindo o tempo da subida, temos:

Substituindo o tempo da descida, obtemos:

Os valores em módulo têm o mesmo resultado. Podemos calcular ainda qual a


velocidade da bola ao retornar ao chão:

Esse valor faz sentido, já que a velocidade de chegada é igual a velocidade de saída.

Temos três pontos para salientar. A velocidade no ponto mais alto de uma trajetória
lançada verticalmente é instantaneamente nula; a velocidade em um dado ponto da trajetória
tem o mesmo valor, tanto na subida quanto na descida; o tempo gasto entre o início do
lançamento até o ápice, e entre o ápice até a descida, são os mesmos (SALES e MAIA, 2011).
Ficou evidente nessa parte do conteúdo que com as equações horárias do Movimento
Retilíneo Uniformemente Variável podemos estudar os movimentos, desde que a origem
da força não seja levada em consideração. No próximo tópico, vamos ter uma breve noção
a respeito do movimento de projéteis.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 41
4. MOVIMENTO DE PROJÉTEIS

Uma vasta aplicação das equações do movimento é utilizada em diversas áreas


do conhecimento. Por exemplo, engenheiros aeronáuticos precisam ter conhecimento das
curvas que os pilotos fazem durante as manobras, já que determinadas curvas podem fazer
o piloto perder a consciência por alguns segundos. Engenheiros esportivos tem interesse
na trajetória, velocidade, ângulo, que um jogador irá lançar a bola em direção à cesta.
Note que os exemplos acima citados não condizem com movimentos horizontais,
nem tão pouco com movimentos puramente verticais, mas sim com movimentos em duas
dimensões, ao mesmo tempo. É disso que se trata um lançamento de projétil, que pode
ser definido como qualquer corpo que seja lançado com uma velocidade inicial, e que terá
a trajetória descrita pela resistência do ar e pela aceleração da gravidade. De modo geral,
nessa disciplina, não vamos considerar a resistência do ar.
Consideramos um plano cartesiano, com duas dimensões, a horizontal é o eixo
x e a vertical é o eixo y. No lançamento de projéteis, o movimento acontece nessas duas
direções, simultaneamente, com aceleração constante em uma direção e na outra com
velocidade constante. Mas, como é feito isso? Observe a Figura 9.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 42
FIGURA 9 - CURVA CARACTERÍSTICA DESCRITA POR UM PROJÉTIL E AS COMPO-
NENTES DA VELOCIDADE AO LONGO DA TRAJETÓRIA

Fonte: Sales e Maia, 2011.

Note que o movimento é decomposto nas duas direções, horizontal e vertical.


Isso facilita estudar movimentos de projéteis, pois não serão necessárias novas equações
para tal, apenas adaptações.
Na horizontal usamos as equações de movimentos com velocidade constante, ou
seja, a aceleração será nula e a velocidade irá depender da velocidade inicial na qual foi
lançada o objeto.
Já na vertical, faz-se uso das equações com aceleração igual a –g. Assim, basta
usar as equações com ax=0 e ay=-g. O modelo mais simples para movimentos de projéteis
é o formato de uma parábola.
Existem equações generalizadas que fornecem a altura máxima atingida pelo
projétil, o alcance máximo, o tempo da trajetória. A formulação e exemplos dessas equações
serão abordadas em nosso estudo de caso.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
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e a Mecânica 43
SAIBA MAIS

Uma matéria da revista Super Interessante intitulada “Catapulta: a história da invenção que
mudou a história das guerras”, publicada em 30 de outubro 2019, traz o seguinte trecho:
[…] Até então, os exércitos eram formados apenas pela infantaria (tropas que avançam
a pé) e a cavalaria (tropas que avançavam a cavalo e, hoje, em veículos blindados).
A partir das catapultas, eles passaram a contar também com uma terceira arma: a
artilharia, especializada no lançamento de projéteis a grande distância.
Simplesmente não havia mais cidade – não importava o tamanho do muro – que pudesse
resistir a um ataque persistente. E, quanto maior, melhor: engenhos gigantescos como
os trebuchets fizeram com que o pânico tomasse conta dos defensores como nenhuma
outra arma. Afinal, tomar uma pedrada enorme ou ser atravessado por uma superflecha
destruía a moral de qualquer um. […].
Essa matéria deixa claro que o conhecimento do movimento, da trajetória e lançamentos
de projéteis, com certeza influenciou o percurso da história da humanidade.

Fonte: ONÇA, F. Catapulta: a história da invenção que mudou a história das guerras. Super interessante,
2019. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/a-mae-de-todas-as-guerras/. Acesso em: 03 jan. 2022.

REFLITA

“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente


persistente.”

Fonte: Albert Einstein.

UNIDADE II
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a Cinemática
e a Mecânica 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecemos neste módulo o conceito de posição, deslocamento, referencial,


velocidade e aceleração. Desenvolvemos equações para descrever os movimentos de
objetos. Vimos que é possível descrever e encontrar as grandezas que envolvem um
movimento, a partir de algumas grandezas iniciais.
No entanto, até o momento, não foi considerado quem é o responsável pelo
movimento, isto é, o que causa o movimento propriamente dito. Esse será o assunto
abordado no próximo módulo.
Futuramente, vamos ver outra maneira para descrever o movimento, baseado na
conservação de energia. Assunto do nosso quarto e último módulo.

UNIDADE II
I Introdução
Grandezas Físicas
a Cinemática
e a Mecânica 45
LEITURA COMPLEMENTAR

Os conceitos da Física podem ser aplicados nos esportes por exemplo. A matéria
intitulada “Física e futebol: ciência aplicada nos dribles, chutes e defesas” conta um pouco
de fenômenos físicos, principalmente da mecânica, que explica cientificamente o drible,
as cobranças de falta e de pênalti. É uma leitura agradável e descontraída, que possibilita
enxergarmos um pouco mais do que estudamos e do que vamos estudar.

Fonte: BUMBEERS, F. Física e futebol: ciência aplicada nos dribles, chutes e


defesas. Editora Globo, 2015. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/blogs/Cien-
cia-em-jogo/noticia/2015/02/fisica-e-futebol-ciencia-aplicada-nos-dribles-chutes-e-defesas.
html. Acesso em: 03 jan. 2022.

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e a Mecânica 46
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Curso de Física Básica: Mecânica (Volume 1)
Autor: Herch Moysés Nussenzveig
Editora: Blucher.
Sinopse: Este curso universitário de Física Básica destina-se aos
estudantes de Engenharia, Física, Matemática, Química e áreas
correlatas. O objetivo é apresentar uma discussão detalhada e
cuidadosa sobre os conceitos e princípios básicos da Física, com
ênfase na compreensão das ideias fundamentais. Os tópicos dis-
cutidos compreendem cinemática, dinâmica, leis de conservação,
gravitação, mecânica dos corpos rígidos e forças de inércia. Há
240 problemas propostos, todos com respostas. Os problemas
foram elaborados com vistas a ilustrar os principais conceitos e
resultados, contribuindo para sua melhor compreensão, indicar
aplicações a uma variedade de situações concretas, aprofundar e
generalizar resultados. Nesta 5ª edição, o texto foi inteiramente re-
visto e atualizado, bem como aprimorado, com nova apresentação
gráfica e novas ilustrações.

FILME/VÍDEO
Título: Gravidade.
Ano: 2013.
Sinopse: Matt Kowalski (George Clooney) é um astronauta
experiente que está em missão de conserto ao telescópio Hubble
juntamente com a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock). Ambos são
surpreendidos por uma chuva de destroços decorrente da destruição
de um satélite por um míssil russo, que faz com que sejam jogados
no espaço sideral. Sem qualquer apoio da base terrestre da NASA,
eles precisam encontrar um meio de sobreviver em meio a um
ambiente completamente inóspito para a vida humana.
Link do vídeo: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-178496/
trailer-19513156/

UNIDADE II
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e a Mecânica 47
UNIDADE III
Leis de Newton
e Aplicações
Prof. Dr. Renã Moreira Araújo

Plano de Estudo:
● A Primeira Lei de Newton;
● A Segunda Lei de Newton;
● A Terceira Lei de Newton;
● Aplicações e consequências das Leis de Newton.

Objetivos da Aprendizagem:
● Capacidade de resolver problemáticas que
apliquem as Leis de Newton;
● Conceituar e contextualizar as Leis de Newton;
● Enuncias as três Leis de Newton.

48
INTRODUÇÃO

Vamos estudar a famosa dinâmica, área de estudo que não apenas descreve o
movimento, mas compreende o motivo do mesmo.
Historicamente, Galileu Galilei (1564-1642) foi quem mudou o conceito que permeava
por mais de dois milênios. Ele mostrou que um objeto é possível estar em movimento, mesmo
se não tiver nenhuma ação externa sendo exercida sobre o corpo. E foi além, mostrou que um
objeto, desde que isolado do meio, é capaz de manter movimento com velocidade constante.
O que Galileu fez, foi introduzir a ideia de movimento retilíneo uniforme.
Mais adiante, surgiu uma das mentes mais talentosas que viveu na humanidade até
hoje. Isaac Newton (1642-1727), que dentre suas publicações, deixou um legado para a
humanidade, intitulado “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica”, que em uma tradução
livre é “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, no qual ele descreveu os movimentos
de objetos e planetas, mas com explicações sólidas envolvendo a natureza do movimento.
Newton mostrou que é possível descrever a natureza em termos de equações, e
estudar e prever os movimentos celestes. Tamanha foi a precisão dos estudos de Newton
a respeito dos movimentos celestes, que evidenciou que a órbita do planeta Urano não
condizia perfeitamente com a teoria e o equacionamento matemático da dinâmica, e esse
fato permitiu descobrir Netuno antes da observação. Ao ser realmente observado o planeta,
a dinâmica de Newton ficou ainda mais marcada na história e hoje seus estudos são a base
da Mecânica Clássica.
Nesse módulo vamos compreender o que diz as três leis desenvolvidas por Newton
e algumas consequências dessas leis. Para isso, três conceitos iniciais devem ser conside-
rados. O primeiro é que, os corpos em movimento aqui estudados terão apenas movimento
de translação e serão tratados como partículas, isto é, não serão envolvidas rotações e a
distribuição de massa interna dos corpos serão homogêneas. O segundo conceito é que as
leis de Newton funcionam em partículas com velocidades bem menores que a da velocida-
de da luz (aproximadamente 300.000 km s-1). Essa última convenção não prejudica nossos
estudos, uma vez que as velocidades do cotidiano que vamos trabalhar são muito menores
que a da velocidade da luz. E o terceiro e último ponto é que quando falarmos de corpo,
objeto ou partícula, estaremos fazendo referência a mesma coisa.
Muito bem, vamos agora para a famosa Mecânica Clássica.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 49


1. A PRIMEIRA LEI DE NEWTON

Já aconteceu de você estar andando de skate, bicicleta ou patinete e de repente,


uma pedra surge em sua frente e seu meio de transporte para, mas você segue o movimento
inicial e ganha alguns ralados nos joelhos, nas palmas das mãos ou até coisa pior. Pois
é, algo tão simples, que vivemos lá na nossa infância, é o mesmo princípio que causa
acidentes mais graves. E de quem é a culpa? Se um dia você precisar necessariamente
encontrar um culpado quando algo desse tipo acontecer, pode colocar na 1ª Lei de Newton.
A tirinha abaixo mostra parte do enunciado dessa lei (Figura 1).

FIGURA 1 - EXEMPLO DE OCORRÊNCIA DA 1ª LEI DE NEWTON

Fonte: Maia e Sales (2011).

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 50


O que temos aqui é uma propriedade intrínseca da matéria, a de uma tendência
natural de uma partícula não alterar o seu estado de movimento. Isso quer dizer que,
caso uma partícula esteja em repouso, ela tenderá a manter-se em repouso e, caso
uma partícula tenha uma velocidade constante, ela tenderá a manter sua velocidade
constante. Surge o Princípio da Inércia de Galileu, que ficou conhecida como a primeira
lei de Newton, que dependendo da literatura utilizada pode mudar um pouco a maneira
de ser enunciada. Vamos adotar a seguinte:
Todo objeto permanece em seu estado de repouso ou de movimento retilíneo e uniforme,
a menos que seja obrigado a mudar aquele estado por ação de forças exercidas sobre ele.
Mas, se massa atrai massa, que é o que gera a gravidade, então sempre existe
forças atuando sobre os corpos, e consequentemente não existe inércia? Bom, para isso,
temos o conceito de referências inerciais. Referencial inercial é qualquer referência em
relação ao objeto estudado e que não tenha aceleração entre a referência e o objeto.
Por exemplo, a Terra pode ser considerado um referencial inercial para todos os
movimentos pequenos que ocorrem em sua superfície e atmosfera. Isso porque, ao ana-
lisarmos o movimento entre duas locomotivas, a Terra está parada em relação as duas
locomotivas. Já, ao fazermos um estudo do movimento de uma locomotiva em relação a
Lua por exemplo, não aplica o conceito de referencial inercial, pois temos o movimento da
locomotiva em relação a Terra, e da Terra em relação a lua.
Outro exemplo de referencial não inercial é um elevador acelerado. Quem está den-
tro do elevador, segurando uma caneta, dirá que a caneta está em equilíbrio estático, isto é,
parada. Já um observador de fora do elevador, irá dizer que a caneta está em movimento
retilíneo vertical uniformemente variado, ou seja, mudando a velocidade do movimento. Em
nossa disciplina, vamos tratar de movimentos com referências inerciais.
A primeira lei de Newton tem uma implicação matemática que diz que, caso a força
resultante (termo que veremos adiante) for nula, o objeto está parado, em equilíbrio está-
tico. Caso a força resultante seja nula, mas o objeto estiver em movimento, significa que o
mesmo está com velocidade constante, descrevendo um movimento retilíneo uniforme, o
que pode ser chamado de equilíbrio dinâmico.
Podemos usar o conceito de inércia para viajar para muito longe no espaço? Com
certeza. E isso é usado. Quando uma espaçonave se move no vácuo do espaço sideral, e
longe o suficiente de planetas para não sofrer efeitos das gravidades, uma vez que essa
espaçonave é colocada em movimento, ela irá manter sua velocidade constante e em
linha reta até que alguma força externa a influencie.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 51


2. A SEGUNDA LEI DE NEWTON

No início do módulo anterior, ao falarmos de grandezas físicas comentamos sobre


a massa, que é uma das grandezas universais, algo que pode ser mensurado, em diversas
unidades de medidas, mas que a unidade convencionada no SI é o metro. Mas, o que vem
a ser massa? Uma definição formal para massa é que ela está relacionada a inércia. Massa
é uma propriedade física das partículas e corpos, e que a sua resistência a mudanças de
velocidade, quando aplicada alguma força, é o que chamamos de massa.
Vamos entender melhor. O que tem mais massa, um carro popular ou um cami-
nhão? Claro que é o caminhão. Agora, outra pergunta, o que é mais fácil tirar do repouso e
fazer movimentar? O carro. E o qual é mais fácil de parar o movimento? Também é o carro.
E o que ambos têm de diferente? Podemos dizer que é o tamanho, o motor e etc. Mas aqui,
o que difere o carro e o caminhão são suas quantidades de massa. Note que, quanto maior
a massa, mais difícil de mudar seu estado de movimento. Por isso, dizemos que a inércia é
uma definição para massa, pois quanto mais massa, ou seja, mais inércia um corpo possuir,
mais força externa exigirá para mudar sua aceleração.
Existem outras maneiras de definir massa. E é aí que entra a segunda lei de Newton.
Lei que torna possível realizar previsões sobre o movimento dos corpos. Sempre que existir
variação de velocidade em algum corpo ou partícula, seja no módulo da velocidade, seja
na direção ou sentido, é porque ocorreu aceleração, e o responsável por essa aceleração
é o que chamamos de força.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 52


Uma vez que aceleração gera mudança na velocidade, então existe alguma
relação entre força e aceleração. E foi isso que Isaac Newton conseguiu mostrar. A força é
diretamente proporcional à aceleração. Ou seja, quanto maior a força, maior a aceleração
exercida sobre um objeto. Matematicamente temos:

E quem é essa constante? É justamente a massa do corpo analisado. O que a


segunda Lei de Newton nos diz é que “Forças são interações entre corpos que são capazes
de causar variações em sua velocidade”.
Mas, e se tivermos mais de uma força sendo exercida sobre um corpo? Podemos
substituir todas as forças pelo somatório vetorial. Por exemplo, observe a Figura 2. Podemos
substituir todas as forças envolvidas por uma única força, que é a resultante vetorial.

FIGURA 2: TODAS AS FORÇAS EXERCIDAS EM UM CORPO PODE SER SUBSTITUINDO


PELA FORÇA RESULTANTE VETORIAL

Fonte: O autor (2021).

Como força é proporcional a aceleração, e aceleração é uma grandeza vetorial,


temos, portanto, que força também é uma grandeza vetorial. Isso quer dizer que cada
força envolvida, tem um módulo, uma direção e um sentido. A força final, a força dada pelo
somatório vetorial da contribuição de cada uma das forças envolvidas, é chamada de força
resultante. Podemos agora enunciar a maneira mais conhecida da segunda lei de Newton:
“A força resultante que age sobre um corpo é igual ao produto da massa do corpo pela
aceleração” (HALLIDAY et al., 2016, p. 325).
Matematicamente, podemos escrever

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 53


Em que a flecha em cima da letra serve para indicar que se trata de uma grandeza
vetorial, isto é, possui módulo, direção e sentido. Como a aceleração é a derivada da
velocidade, a força resultante também pode ser expressa por:

Assim, a segunda lei de Newton pode ser generalizada pela expressão:

Em situações no qual tem-se forças em três dimensões, decompõe-se a força em


seus respectivos eixos x, y e z e calcula-se a força resultante em cada direção:

A unidade de medida usada para força no SI é o newton, que é a quantidade de


força necessária para fazer uma massa de 1 kg possuir aceleração de 1 m s-2. Existem
outras unidades de medidas que são adotadas em países específicos como por exemplo, a
dina, que é usado no sistema CGS e corresponde 1 dina = 1 g cm s-2.
Vejamos dois exemplos da segunda lei de Newton.
Se uma força resultante horizontal para a direita de 150 N for aplicada a uma pessoa
de 50 kg, qual é a aceleração?
Usando a equação da segunda lei de Newton, temos:

Mas e a direção e o sentido? Bom, como temos uma única força aplicada, a direção
e sentido da aceleração será a mesma da força, no caso, horizontal para a direita.
Agora, um exemplo mais elaborado. Suponha um disco de roquei, que se move
sobre uma quadra de gelo, de atrito desprezível e ao longo do eixo x e com movimento em
uma única dimensão.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 54


Três forças estão atuando sobre o disco de roquei de massa de 0,4 kg. A primeira
força possui módulo de 8 N, a segunda é tem módulo de 4 N e a última é que
possui valor de 2 N e faz um ângulo de 45° com a horizontal, conforme a Figura 3.
Qual é a aceleração no caso 1?

FIGURA 3 - FORÇAS PRODUZINDO ACELERAÇÕES HORIZONTAIS EM UM DISCO DE ROQUEI

Fonte: Adaptada de Halliday et al., 2016

Para resolver esse tipo de problema, usamos uma técnica chamada de diagrama
de corpo livre, que consiste em redesenhar a problemática, geralmente tratando o corpo
como um ponto, no caso aqui, o disco de roquei, e fazendo a representação das forças
envolvidas por setas, já que força é grandeza vetorial. Na Figura 4 temos a representação
do diagrama de corpo livre para esse caso.

FIGURA 4 - DIAGRAMAS DE CORPO LIVRE EM UM DISCO DE ROQUEI

Fonte: Adaptada de: Halliday et al., 2016

Como vamos relacionar a aceleração com a força resultando que age no disco
usando a segunda lei de Newton, e nesse caso só é possível aceleração apenas na
horizontal, podemos escrever a equação:

Na situação 1, temos:

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 55


Portanto, a aceleração será na horizontal, da esquerda para a direita, com módulo
de 20 m s-2.
Na situação 2, temos duas forças envolvidas. Usando a segunda lei de Newton na
direção do eixo x:

As forças envolvidas causam uma força resultante que acelera o disco no sentido
positivo da direção x com módulo igual à 10 m s-2.
E a terceira situação? Como procedemos?
Aqui é preciso decompor a força 3 na componente x. Note que a componente da
força 3 na direção x pode ser escrita como F3,x=F3 cos θ, onde θ é o ângulo entre a força e
a direção x. agora, usando a segunda lei de Newton temos:

Assim, a força resultante nesse caso 3 acelera o disco no sentido negativo do eixo
x, com módulo de 6,46 m s-2. E caso estivem as três forças exercidas ao mesmo tempo?
Ficará de atividade ao leitor.
Mais um exemplo que use decomposição de forças. Uma força quando desenhada
no plano cartesiano pode ser substituindo por suas componentes na direção x e na direção
y, conforme ilustra a Figura 5.

FIGURA 5 - DECOMPOSIÇÃO DE FORÇAS NAS COMPONENTES X E Y

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 56


Matematicamente temos as relações:

Suponha a situação dada na Figura 6. Qual o valor da força resultante? Note que
temos três forças vetoriais e seus respectivos ângulos. Precisamos decompor cada força
nas direções x e y.

FIGURA 6 - DISTRIBUIÇÃO DE FORÇAS PARA CÁLCULO DE FORÇA RESULTANTE

Fonte: O autor (2021).

Podemos chamar a força de 80 N com angulação de 30°, de a força de 100


N com ângulo com o eixo x de 135° (resultado de 180°- 45°) e de a força de 50 N com
240° em relação ao eixo x (resultado de 180° + 60°). Separando os componentes (vamos
trabalhar com número arredondados):
Na direção x:

Na direção y:

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 57


Somando todas as formas na direção x e y:

Temos na direção x uma resultante negativa e na direção y uma resultante positiva,


indicando que a direção da força resultante está no segundo quadrante, mesmo quadrante
onde está localizado a força F2. E qual o módulo e o ângulo?

O ângulo pode ser calculado pela propriedade de tangente

Esse valor permite dois ângulos, -62,7° ou 117,3°, que é resultado de -62,7° +
180°. No entanto, pelos valores das componentes da força resultante vimos que a força
resultante está situada no segundo quadrante do plano cartesiano, portanto, a direção é de
118° em relação ao eixo y.
Vamos avançar para a terceira e última Lei de Newton.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 58


3. A TERCEIRA LEI DE NEWTON

Dois corpos possuem interação entre si quando puxam ou empurram um ao outro,


isto é, quando um corpo exerce uma força sobre o outro. Suponha a seguinte situação, um
lápis apoiado em um caderno, conforme a Figura 7.

FIGURA 7 - LÁPIS APOIADO EM UM CADERNO SOBRE O PLANO DE UMA MESA

Fonte: O autor (2021).

Existe uma interação entre o lápis e o caderno, pois, o lápis exerce uma força
sobre o caderno, e o caderno também exercer uma força sobre o lápis, ambas
horizontais, mas com sentidos opostos. Podemos representar a situação descrita por um
diagrama de corpo livre (Figura 8).

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 59


FIGURA 8 - A FORÇA QUE O LÁPIS EXERCE SOBRE O CADERNO É O MESMO QUE A
FORÇA QUE O CADERNO EXERCE SOBRE O LÁPIS, MAS COM SENTIDOS DIFERENTES

Fonte: O autor (2021).

Vejamos o que afirma a terceira Lei de Newton.

“Quando dois corpos interagem, as forças que cada corpo exerce sobre o outro são
iguais em módulo e têm sentidos opostos” (HALLIDAY et al., 2016).
Podemos equacionar essa lei de duas maneiras, a primeira, usando apenas o
módulo das forças, e como os módulos possuem o mesmo valor, temos:

E a segunda, na forma vetorial. Note que na forma vetorial o sinal negativo é necessário
para indicar que as forças possuem a mesma direção, mas os sentidos são opostos.

Todas as vezes em que dois corpos estiverem interagindo entre si, sempre terá ao
menos um par de forças que é chamado de par de forças da terceira lei.
Pode surgir a pergunta, mas o lápis e o livro estão parados, e mesmo assim existe
um par de forças na horizontal? A resposta é que, mesmo em repouso, existe sim um par
de forças na horizontal, e que a somatória de ambas, que é a força resultante (lembre-se da
segunda lei) é nula. E vamos além, mesmo se o sistema lápis-caderno estivesse em MRUV,
a terceira lei ainda continua existindo, mas agora teríamos ao menos mais uma força no
sistema e que precisaria ser avaliada.
Portanto, temos três pontos importantes a respeito da terceira lei de Newton
(SALES e MAIS, 2011):

- Uma força nunca irá aparecer sozinha, ou seja, sempre teremos forças aos pares,
chamada de ação e outra de reação;
- Cada uma das forças aparece em um corpo;
- Os pares de forças terão o mesmo módulo e direção, mas sentidos contrários.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 60


Vamos a um exemplo. Um velocista precisa dar uma arrancada no início da corrida.
Para isso, ele apoia um de seus pés em um bloco que é fixado ao chão para não deslizar no
momento da arrancada. Na arrancada, a aceleração é praticamente na horizontal. Suponha
que um velocista de 70 kg exerça uma força sobre o bloco e que a aceleração seja de 20
ms-2, qual é o valor da força produzida?
Usando a segunda lei de Newton F=ma, o módulo da força horizontal realizada pelo
velocista sobre o bloco fixado na pista é de:

Se o velocista exerce uma força sobre o bloco, quem é que impulsiona o velocista
para frente? A resposta é que quando o velocista empurra o bloco, exercendo uma ação,
o bloco exerce uma força de reação, de mesma direção e intensidade, mas com sentido
contrário. Então, apesar de soar estranho, a arrancada do velocista é resultado da força de
reação que o bloco faz, ou seja, o bloco é quem impulsiona o velocista.
A terceira lei de Newton explica também do porquê uma pessoa, quando presa
em um pântano, ou areia movediça, não é capaz de sair ao puxar o próprio cabelo, por
exemplo. Isso porque o cabelo e a pessoa, são o mesmo corpo, mesmo sistema, e não um
par de ação de forças em corpos distintos. Quando empurramos um móvel, a geladeira por
exemplo, você exerce uma força na geladeira, e ela exerce uma força de sentido contrário
à sua força. O movimento só vai acontecer quando a força de ação realizada por você, for
maior que a força que prende a geladeira ao chão, rompendo o equilíbrio estático.
No próximo tópico, vamos ver consequências e particularidades das leis de Newton:
A força peso, a força normal, a força de atrito e a tensão.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 61


4. APLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DAS LEIS DE NEWTON

Agora que vimos separadamente as três leis de Newton, somos capazes de analisar
sistemas que envolvam forças. Cada situação de interação entre corpos deve ser analisada
com cautela, pois cada caso é distinto de outros. No entanto, existem algumas situações
que são similares, e que podem ser nomeadas.
Vamos ver situações em que damos nomes especiais as consequências das leis
de Newton. Serão elas a força peso, a força normal, a força de atrito e a tensão. Veremos
a parte teórica e exemplos de situações que envolvam cada uma delas.
Em cada situação, o primeiro passo será desenhar o diagrama de corpo livre, que
consiste em descrever as forças com flechas e os corpos analisados como pontos ou figuras
geométricas simples. Lembrando que não consideramos os movimentos de rotação e nem
a heterogenia da massa interna dos corpos.

4.1 A força peso


Você já deve ter ouvido a seguinte expressão “massa atraí massa”. Essa é uma
das maiores verdades da física. O planeta Terra atraí os corpos para centro da Terra,
verticalmente e para baixo. A Terra atraí a Lua, a Lua atraí a Terra. O Sol atraí os planetas,
e os planetas atraem o Sol. Isso é o que chamamos de força gravitacional. Quanto maior a
massa de um corpo, maior sua força gravitacional e sua capacidade de atrair outros corpos.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 62


Então, se todo corpo que tem massa atrai outro, eu estou nesse comento atraindo
o planeta Terra? Sim! Eu estou nesse momento atraindo o computador ou o celular que está
à minha frente? A resposta é sim. Contudo, a força gravitacional exercida por corpos
de massa pequena é tão baixa que não é considerada nos exercícios cotidianos. Por isso,
quando falarmos aqui em força gravitacional, será a força que o planeta Terra exerce sobre
os corpos que estão ao alcance de sua força gravitacional.
Considere um paraquedista em queda livre, com massa m, sobre o efeito da
gravidade, com aceleração de módulo g. Desprezando o atrito exercido pelo ar, temos que
a única força sobre o paraquedista é a força gravitacional Usando a segunda lei de
Newton, considerando um plano cartesiano com eixo y na vertical durante a trajetória, com
sentido positivo para cima. Podemos escrever o seguinte:

em que o sinal negativo indica direção da força gravitacional e da aceleração da


gravidade, e ficamos com:

Ou seja, o módulo da força gravitacional é o resultado do produto da massa pela


aceleração da gravidade.
Agora, suponha que o paraquedista chegou ao solo e está em repouso em relação
ao eixo vertical. A segunda lei de Newton também pode ser aplicada ao paraquedista e
seu módulo também será dado por Fg=mg. Chegamos ao ponto em que podemos definir
o peso P de um corpo. Imagine o seguinte: ao você segurar o seu celular na mão, a força
gravitacional está agindo sobre o celular, mas o que não o deixa cair? Você vai me dizer
que é a sua mão, mas na verdade, em termos físicos, o que não deixa o celular cair é a
força de módulo igual a força gravitacional do celular, mas de sentido contrário, para cima. A
força peso é o módulo da força necessária para impedir que um corpo caia em queda livre,
e possui módulo igual a força gravitacional, na superfície terrestre, e tem sentido para cima.
Considerando um referencial inercial, qualquer corpo em contato com a superfície
terrestre possui duas forças, a força gravitacional , apontada para o centro da Terra, e
uma força voltada para cima, que equilibra o corpo, de módulo P. Considerando o corpo em
repouso no eixo y, na vertical e aplicando a segunda lei de Newton:

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 63


“Peso P de um corpo é igual ao módulo Fg dá força gravitacional que age sobre o
corpo”. Assim, força peso é expressa por:

E aqui vamos corrigir um erro comum no nosso dia a dia. Vimos que o peso de
um corpo ou objeto é proporcional a massa e a aceleração da gravidade do local. Temos o
costume de subir em uma balança e dizer por exemplo, “meu peso é de 85 kg”. Precisamos
deixar bem claro, peso e massa são grandezas diferentes. Peso é o módulo da força
gravitacional, que por sua vez é dependente da aceleração da gravidade e essa muda de
um local para outro. Massa é uma propriedade intrínseca da matéria, e em qualquer lugar
do espaço, dentro da mecânica clássica, terá o mesmo valor. Já o peso não.
O exemplo clássico é na Terra, uma pessoa com massa de 100 kg, terá uma força
peso média de 981 N (peso é uma força, por isso a unidade de medida no SI é o newton).
Já a mesma pessoa, caso estivesse na Lua, que tem uma aceleração da gravidade de 1,6
ms-2, teria o peso de 160 N. E em Marte? Marte possui uma gravidade de 3,724 ms-2 em
sua superfície, e a mesma pessoa teria 372,4 N. Nas três localidades, a massa continuaria
sendo os mesmos 100 kg.
Mas o que está errado, o valor dado na balança ou a nossa expressão “peso”? Na
verdade, balanças são dispositivos calibrados para mostrar a força peso, quando a unidade
de medida é newton, quilogramas-força, ou calibrada para mostrar a massa, quando a unida-
de de medida é o quilograma. No cotidiano, as balanças comuns de banheiro, de farmácias,
academias e consultórios são calibradas para mostrar a massa. Portanto, a partir de agora
vamos mudar a expressão: “meu peso é de 85 kg” para “minha massa é de 85 kg”.
Para finalizar esse assunto, saiba que 1kgf é o peso de um corpo de massa 1kg
submetido à aceleração da gravidade de 9,8m s-2.

4.2 A força normal


Uma caixa repousa sobre uma mesa. A mesa exerce uma força sobre a caixa, caso
contrário, a caixa estaria em queda livre. A força perpendicular à superfície da mesa, que
equilibra a força da gravidade, damos o nome de força normal. A direção da força normal
sempre é perpendicular à superfície de contato entre os dois corpos envolvidos, e por isso
chamamos de força normal, representada por N.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 64


Essa força normal é a resposta Inter atômicas da mesa em relação a força gravitacional
da caixa. São deformações minúsculas provocadas pela interação entre dois corpos (Figura 9).

FIGURA 9 - UMA CAIXA SOBRE UMA MESA, COM A INDICAÇÃO DA FORÇA


GRAVITACIONAL E FORÇA NORMAL PERPENDICULAR À SUPERFÍCIE DA MESA

Fonte: O autor (2021).

A Figura 10 mostra o diagrama de corpo livre para a situação descrita. As únicas


forças que estão presentes são as forças verticais e . Tomando o eixo vertical y e
convencionando o sentido positivo para cima, podemos escrever com a segunda lei de Newton:

Se o sistema estiver em repouso, isso é, sem aceleração vertical, a força normal


terá módulo igual a mg. Caso exista aceleração vertical, como em um elevador em movi-
mento por exemplo, o módulo da força normal muda.

FIGURA 10 - DIAGRAMA DE CORPO LIVRE PARA O SISTEMA CAIXA MESA

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 65


4.3 Força de Atrito
O que é uma superfície totalmente lisa? Seria aquela na qual podemos lançar um
objeto, como um disco por exemplo, e ele ficaria em movimento eternamente sobre essa
superfície. É fácil de ver que não existe uma superfície totalmente lisa. Nem mesmo uma
pista de gelo muito bem lapidada é perfeita. Podemos enxergar que, quando aplicamos
uma força sobre um disco de metal sobre uma pista de gelo, o disco irá deslizar por
um espaço considerável, mas chegará um ponto que o movimento irá cessar. Mesmo
desconsiderando a resistência do ar, como o movimento é parado se não temos nenhuma
força contrária à direção da trajetória?
Na verdade, desde o início do movimento temos sim uma força, na mesma direção
do movimento e com sentido contrário, e essa é a força de atrito. De forma macroscópica,
o movimento é parado principalmente devido as irregularidades existentes na superfície.
De forma microscópica, a força de atrito é uma interação de atração dos átomos próximos
um dos outros (Figura 11).

FIGURA 11 - A FORÇA DE ATRITO SEMPRE SE OPÕE A DIREÇÃO DO MOVIMENTO

Fonte: O autor (2021).

Onde é mais fácil de empurrar um carrinho de mão, em uma quadra de areia ou


no asfalto? A quadra de areia é mais irregular, ou seja, mais rugosa que o asfalto, por
isso a força de atrito é maior na areia do que no asfalto. Superfícies polidas facilitam os
deslizamentos dos corpos.
As principais características da força de atrito são: sempre se opõem ao movimento;
depende da rugosidade da superfície (que por sua vez é determinado pelo coeficiente de
atrito); é proporcional à força normal do corpo; converte a energia relacionada a velocidade
em outro tipo de energia que é transportada para o meio (SALES e MAIA, 2011).
Um exemplo da última característica são as pastilhas de freio de uma bicicleta.
Quando a roda gira com alta velocidade, as pastilhas são ativadas, fazendo tocar a borracha
com o aro, gerando atrito. Esse atrito, por sua vez, transforma a energia relacionada a
velocidade, chamada de energia cinética, para energia térmica, calor.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 66


Por isso, quanto maior a velocidade, maior o atrito ao acionar os freios e maior o
calor transportado para as pastilhas.
Quando resolvemos trocar a mesa de lugar na cozinha, percebemos que para
iniciar o movimento, é necessário exercer uma força ligeiramente maior do que a força
que é preciso para manter o movimento depois de iniciado. Entra aqui os conceitos de
atrito estático e atrito dinâmico.
O atrito estático é o atrito que atua quando não existe movimento, ou seja, quando
não há deslizamentos. Seu valor é dado por:

em que μat é o coeficiente estático. O máximo da força de atrito estático é igual à


menor força necessária para dar início ao movimento.
O atrito cinético, também chamado de dinâmico, existe quando ocorre o deslizamento
dos corpos. Após iniciado o movimento, e quando o atrito estático for rompido pela força
aplicada ao corpo, temos início ao movimento e a força de atrito será regida pelo atrito
cinético. A força de atrito cinético é sempre menor que a força que está sendo aplicada
sobre o objeto, e o cálculo é realizado por:

na qual μd é o atrito dinâmico. A seguir, temos um gráfico que representa de forma


generalizada a relação entre força de atrito e a força aplicada em um corpo (Figura 12).

FIGURA 12 - FORÇA DE ATRITO ESTÁTICO E CINÉTICO

Fonte: Maia e Sales 2011.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 67


Vamos realizar um cálculo. Suponha que uma caixa de 300 kg seja puxada
horizontalmente sobre uma superfície por uma força de 900 N. Considere o coeficiente
de atrito entre a caixa e a superfície de 0,2 (coeficiente de atrito é adimensional). Qual é
a aceleração adquirida pela caixa? Para fins de facilitar os cálculos, use a aceleração da
gravidade com módulo de 10 ms-2.
Aplicando a segunda lei de Newton, a força resultante será dada pela diferença
entre a força exercida horizontalmente na caixa e a força de atrito:

4.4 Tração
Quando um fio, cabo, ou linha é preso a um corpo e esticado, o fio aplica uma força
no corpo com orientação na direção do fio. Chamamos essa força de tração porque o fio está
puxando, ou tracionando o objeto. A tração do fio, representado pela letra T, tem módulo da
força exercida sobre o objeto. Isso significa que, por exemplo, se uma força que está sendo
exercida sobre um objeto por um fio e tem módulo de 100 N, a tração também terá 100 N.
É comum não considerar a massa do fio nos exercícios, pois a massa do fio
em relação ao corpo analisado é muito menor, sendo desprezível. Consideramos o fio
inextensível, que é o mesmo que dizer que o comprimento do fio não muda durante o
processo de tração. O propósito do fio ou algo similar é ligar dois corpos e exercer forças
de módulo T, mesmo que os corpos e o fio estejam passando por polias sem massa, sem
atrito, ou estejam acelerados.
Observe a situação da Figura 13. Considere os dois blocos, A e B, com massas de
mA e mB, respectivamente. Considere ainda que a massa do bloco A é maior que a massa
do bloco B, que não haja atrito na polia e nem do bloco A com a superfície. Vamos obter
uma equação genérica para a aceleração do sistema.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 68


FIGURA 13 - DOIS BLOCOS UNIDOS POR UM FIO QUE PASSA POR UMA ROLDANA

Fonte: Maia e Sales 2011.

O primeiro passo é realizar o diagrama de corpo livre (Figura 14), indicando as


forças em cada bloco e sistema de referencial adotado. Adotamos aceleração para baixo.
No bloco A, a força normal e a força peso se cancelam.

FIGURA 14 - DIAGRAMA DE CORPO LIVRE PARA DOIS BLOCOS UNIDOS POR UM FIO
QUE PASSA POR UMA ROLDANA

Fonte: Maia e Sales 2011.

Lembrando que a segunda lei de Newton nos diz que o somatório das forças resul-
tantes é igual a massa vezes a aceleração, temos, para o bloco A e bloco B,

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 69


Substituindo a equação de cima na tração T da equação de baixo, e em seguida
isolando a aceleração, ficamos com:

Observe que quando o valor da massa do bloco A, for muito maior que a massa
do bloco B, a equação irá tender para zero, isto é, não teremos aceleração. Agora, caso o
bloco B possua uma massa considerável em relação ao bloco A, teremos uma aceleração.
Um valor interessante de analisar é quando as massas dos blocos forem iguais, pois, nesse
caso, a aceleração será metade da aceleração da gravidade.

SAIBA MAIS

Alguns filmes de ficção ficam marcados pela sua fidelidade com a Física. O filme
Gravidade (2013), que é um drama emocionante que aborda, entre tantas questões,
a luta pela sobrevivência e pela superação dos nossos entraves é um desses filmes.
Muitos dos acontecimentos que estão no filme costumam cair nas provas de vestibular,
do Enem e até mesmo em concursos públicos, como por exemplo, perguntas do tipo
“Como calcular a velocidade dos destroços na atmosfera?”; “Quais os efeitos da falta
de gravidade?”; “Qual a função da nossa atmosfera e o que acontece com o organismo
quando falta oxigênio?”. E aí leitor, você consegue responder essas perguntas?

Fonte: O autor (2021).

REFLITA

“A gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem colocou
os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo que é ou que
pode ser feito.”
Isaac Newton

Fonte: TINER, J. H. Isaac Newton: Inventor, Scientist and Teacher. Milford, Michigan, U.S.: Mott Media, 1975.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 70


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste módulo estudamos as três leis de Newton e vimos alguns casos especiais
de suas aplicações e exemplos. Com esses conceitos, abre-se as portas para resolver
inúmeras situações do cotidiano. O conhecimento e aplicação das leis de Newton possui
uma universalidade na Ciência, pois sua aplicabilidade é imensa.
Para nossa disciplina, vimos um pouco da capacidade das leis de Newton. Outras disci-
plinas mais especificas trabalham apenas com os conceitos das leis interligadas. Por exemplo,
as disciplinas de mecânica clássica, mecânica dos sólidos, mecânica dos fluidos e etc. Pode-se
dizer que toda disciplina que estude movimentos, tem o envolvimento das leis de Newton.
Contudo, o movimento pode ser estudado por um outro ponto de vista, no qual baseia-
se na energia e conservação de energia. Esse será o assunto do nosso próximo módulo.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 71


LEITURA COMPLEMENTAR

Está se perguntando onde está aquela física contada nos filmes de ficção científica,
com velocidades próximas a velocidade da luz, buracos negros, buracos de minhoca?
Calma, a física que vimos nessa disciplina é a física básica, aplicada a fenômenos simples
do cotidiano. Mas, quer dar uma espiada na física de Einstein? Indicamos a leitura do artigo
“Uma visão do espaço na mecânica newtoniana e na teoria da relatividade de Einstein”.

Fonte: PORTO, C. M.; PORTO, M. B. D. S. M. Uma visão do espaço na mecâ-


nica newtoniana e na teoria da relatividade de Einstein. Revista Brasileira de Ensino
de Física [online]. 2008, v. 30, n. 1 Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1806-
11172008000100017. Acesso em: 10 dez. 2021.

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 72


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução à Mecânica Clássica.
Autor: Aline Rossetto da Luz.
Editora: InterSaberes.
Sinopse: A mecânica clássica é o ramo da física que analisa os
movimentos dos corpos, baseando-se em conceitos desenvolvidos
por físicos clássicos, como Galileu Galilei e Isaac Newton, que,
mais tarde, foram reformulados por Hamilton e Lagrange. Neste
livro, abordamos os principais aspectos da mecânica clássica,
revelando as características de seu funcionamento e os principais
cálculos que auxiliam em sua compreensão. Junte-se a nós nesse
estudo.


FILME/VÍDEO
Título: Isaac Newton: O Último Mágico
Ano: 2013.
Sinopse: Isaac Newton – um brilhante matemático Racionalista
ou um mestre do Ocultismo? Essa biografia inovadora revela um
Newton eremita e tirano, um herege e um alquimista. Imagens
mágicas se combinam com atores e especialistas para trazer à
vida o maior génio científico Britânico em suas próprias palavras.

WEB
Sinopse: Esse vídeo traz algumas curiosidades interessantes de
maneira leve e descontraída sobre a vida do gênio Isaac Newton.
50 fatos sobre Isaac Newton.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=GKR2jKAvwRY

UNIDADE III Leis de Newton e Aplicações 73


UNIDADE IV
Energia Mecânica
Prof. Dr. Renã Moreira Araújo

Plano de Estudo:
● Trabalho Mecânico e Energia;
● Energia Cinética e o Teorema do Trabalho;
● Energia Potencial;
● Energia Mecânica e conservação de energia.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar trabalho mecânico;
● Compreender os tipos de energia mecânica;
● Estabelecer a importância da conservação de energia mecânica.

74
INTRODUÇÃO

Neste módulo vamos trabalhar o conceito de energia mecânica e conservação de


energia. Vamos usar o conceito de força aprendido no módulo anterior e o conceito de
deslocamento e aceleração aprendidos no módulo II. Mas, o que é energia?
Quando falamos em energia o que vem a nossa mente é a energia elétrica.
Vamos quebrar essa ideia. Energia elétrica é apenas uma das diversas formas de energia
existentes. Por isso é difícil definir energia de maneira simplória.
De forma oficial e sucinta, podemos dizer que energia é uma grandeza escalar,
ou seja, um valor numérico, e que está associada ao estado de um ou mais objetos. Ficou
claro? Com certeza não. Vamos usar uma analogia.
Imagine que cada valor do saldo de várias contas bancárias sejam as formas de
energia. Existem regras para manipular os saldos bancários. Podemos fazer via TED, via DOC,
atualmente via PIX. No entanto, há de concordar que, se tivermos dez contas bancárias, e fizermos
transferências entre essas contas, o total do saldo somando as dez contas continuará sendo o
mesmo. Podemos afirmar que existiu “conservação do dinheiro”. O mesmo serve para energia.
Energia é um número que associamos a um sistema de um ou vários objetos. Caso
uma força faça um objeto entrar em movimento, a energia do objeto irá variar, mas a do
sistema que abrange o objeto e os demais não irá.
Com base nesse princípio e em inúmeros experimentos, ficou convencionado
que se o número que atribuímos à energia for adequadamente definido, é possível usar a
conservação de energia para prever resultados e construir equipamentos e máquinas que
fizeram e fazem a humanidade evoluir. Temos aqui uma das maiores verdades do universo,
que até hoje em nenhum experimento foi provado o contrário: A energia de um sistema se
conserva.
Isso quer dizer que podemos transformar os diferentes tipos de energia e gerar
movimento, mas ao gerar o movimento, a energia não é perdida, ela será transformada,
armazenada ou dissipada.
Voltando ao exemplo bancário. Os valores dos saldos são, portanto, os tipos de
energia, e as transferências bancárias são as maneiras nas quais é transferida a energia.
Energia e transferência de energia são conceitos distintos. E nesse módulo, vamos tratar
de um tipo de energia, a energia mecânica, que pode ser dividida em outras energias, como
a cinética e a potencial. Iremos concentrar na transformação de energia realizada pelo
conceito de trabalho.

UNIDADE IV Energia Mecânica 75


1. TRABALHO MECÂNICO E ENERGIA

Ao fim do século XIX, já era consenso no meio cientifico das várias formas de
energia existentes: energia química, eletromagnética, luminosa, mecânica, térmica e etc.
No entanto, nem todos as energias era possível converter em outra. Com o avanço da pes-
quisa, os cientistas conseguiram mostrar que o calor é um tipo de transferência de energia
mecânica microscópica; conseguiram mostrar que energia química é energia de ligação
entre os átomos; energia luminosa é energia eletromagnética e que a energia radiante é
a energia luminosa, porém invisível. Mais adiante, no século XX, compreenderam que a
energia radioativa é proveniente da energia nuclear dos átomos (SALES e MAIA, 2011).
Todo esse entrelaçamento de tipos de energia se tornou possível, como dito, em
pesquisas e experimentos, que por sua vez foram utilizadas ferramentas matemáticas e o
conceito de trabalho, que é o nosso foco neste momento da disciplina.
Qualquer atividade que é realizada precisa de algum tipo de energia. Desafio você
leitor, a obter no planeta Terra, alguma atividade que não necessite de energia. Quando
dormimos, nosso corpo gasta energia química, que foi obtida dos alimentos que consumimos.
Quando nos movimentamos, estamos usando energia mecânica (energia associada a
movimentos); quando empurramos um carro atolado, estamos usando energia mecânica;
as plantas, quando fazem fotossíntese, estão usando energia eletromagnética proveniente
da luz solar e transformando em energia química. Até mesmo ao pensar, estamos usando
energia para realizar as sinapses em nosso cérebro.

UNIDADE IV Energia Mecânica 76


Como nossa disciplina está voltado à Mecânica, precisamos falar sobre os
movimentos. Pense o seguinte: é trabalhoso empurrar um carro atolado, dá trabalho nos
movimentarmos; é trabalhoso pensar. Note que usamos a palavra trabalho com a intenção
não literal, mas sim, na energia demandada para realizar as atividades.
Na física, usamos a palavra trabalho como sendo a maneira de transferir energia
entre objetos. Fisicamente, só consideramos trabalho em situações em que a aplicação de
força causa alteração de velocidade de objetos, ou seja, alteração do estado de movimento.
Quando uma força constante é aplicada com direção horizontal sobre um objeto
pesado, o objeto se move na mesma direção e sentido em que foi aplicada a força. Dizemos
que foi realizado um trabalho sobre o objeto, se a força causar um deslocamento no mesmo.
Reforçando: só ocorre realização de trabalho quando a força aplicada é capaz de criar ou
alterar o movimento (SALES e MAIA, 2011).
Considere os dois casos abaixo (Figura 1). Na situação descrita na esquerda, a
força que está sendo aplicada sobre o bloco possui uma inclinação com a horizontal de um
ângulo θ, e esse fato faz o bloco mover para a direita, ou seja, ter deslocamento. Agora,
note a situação da direita. A força está agindo com direção perpendicular à horizontal, de
maneira que não acontece deslocamento.

FIGURA 1 - FORÇA INCLINADA APLICADA A UM BLOCO, GERANDO DESLOCAMENTO


(ESQUERDA). FORÇA PERPENDICULAR AO PLANO, NÃO GERANDO
DESLOCAMENTO (DIREITA)

Fonte: O autor (2022).

Entramos no conceito de trabalho do ponto da Física. O trabalho não é


simplesmente dependente do módulo da força, mas envolve a componente da força
na direção do deslocamento causado. Quanto maior o deslocamento, maior o trabalho
realizado. Denominamos trabalho por W e deslocamento por d. No entanto, o trabalho é
um escalar, ou seja, um valor numérico.

UNIDADE IV Energia Mecânica 77


A força e o deslocamento são grandezas vetoriais. Para relacionar dois vetores
e resultar em um escalar, é usado o produtor escalar (∙). Assim, trabalho é fornecido pela
relação:

Quando é realizado o produtor escalar entre dois vetores, o resultado será um valor
numérico multiplicado pelo cosseno do ângulo entre os vetores. Dessa forma, o trabalho W
realizado por uma força é dado por:

em que θ é o ângulo entre a força F e o sentido do deslocamento do objeto.


Portanto, somente a componente da força na direção do deslocamento resulta em trabalho
(HALLIDAY et al., 2016).
Com base nesse conceito e voltando a Figura 1, podemos notar que na situação
da esquerda, o fato de a força ter uma inclinação faz o bloco mover para a direita e ter
deslocamento. Já na situação ilustrada pelo bloco da direita, o ângulo entre a força e direção
do movimento é de 90°, e cos 90° = 0. Ou seja, forças na perpendicular não são capazes de
gerar deslocamento e consequentemente não realizam trabalho (CORRADI et al., 2008).
Podemos escrever trabalho de uma outra maneira:

Neste caso, já estamos assumindo que a componente da força que irá causar o
movimento é a na direção horizontal x: Fx=F cosθ. E que o deslocamento d é dado por uma
variação no espaço ∆x.
Até o momento foi utilizado uma força constante. Contudo, quando se tem uma
força variável, é preciso usar a integral e assumir que o deslocamento será em uma única
dimensão e o trabalho total será fornecido pela integral (soma) dos produtos escalares das
forças que variam nos infinitesimais deslocamentos :

Uma vez que trabalho é a quantidade de energia gerada para deslocar o objeto, e
por ser um valor numérico, podemos afirmar que trabalho não tem direção e nem sentido,
e sim apenas o módulo e a unidade de medida.
No Sistema Internacional de Unidades, a unidade de trabalho é o joule (J), em
homenagem ao físico inglês James Prescot Joule (1818-1889). Um joule corresponde ao
trabalho gerado por uma força de 1 newton para deslocar 1 metro:

UNIDADE IV Energia Mecânica 78


Lembrando que existem outras unidades de medida para a grandeza trabalho. Por
exemplo, nos EUA costumam usar o erg:

A conversão entre joule e erg é dado por:

O trabalho é uma grandeza física homogênea à energia. Isso significa que quando
falamos em unidades, as duas grandezas são equivalentes. Temos outras unidades para
indicar trabalho, como a caloria, usada para processos térmicos (1cal=4,18J); o EletronVolt
(1ev=1,6∙10-19J); e o quilowatt-hora, que é usado nas contas de energia elétrica de nossas
residências.
É possível obter o valor do trabalho resultante a partir de gráfico. Claro que dependendo
da situação apresentada no gráfico é preciso conhecer as técnicas de cálculo integral. Em
outros casos, um conhecimento prévio das áreas de figuras geométricas é o suficiente.
Quando é mostrado um gráfico que descreve a relação de uma força constante
com o deslocamento, o trabalho resultante será fornecido pela área apresentada pelo
gráfico abaixo da linha horizontal, ou seja, o trabalho total é a área do retângulo fornecido
pelo gráfico (Figura 2).

FIGURA 2 - MÉTODO GRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO TRABALHO REALIZADO POR


UMA FORÇA CONSTANTE

Fonte: O autor (2022).

No caso acima, a força é constante e a área do retângulo será a altura F multiplicado


pelo deslocamento d. Contudo, nem todos os casos teremos a presença de força constante
durante todo o deslocamento e teremos a situação como a descrita na Figura 3 por exemplo.

UNIDADE IV Energia Mecânica 79


FIGURA 3 - MÉTODO GRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO TRABALHO REALIZADO POR
UMA FORÇA VARIÁVEL

Fonte: O autor (2022).

O trabalho irá continuar sendo fornecida pela relação da força pelo deslocamento,
no entanto, agora a força é dada pela curva e o trabalho será dado pelo cálculo da área
entre a curva e o eixo x do gráfico, e será necessário calcular a integral da função dada pela
força para encontrar o resultado.

UNIDADE IV Energia Mecânica 80


2. ENERGIA CINÉTICA E O TEOREMA DO TRABALHO

Vimos até o momento o trabalho mecânico, ou seja, trabalho relacionado a movimentos,


e qual a sua relação com a energia. Foi definido que para acontecer trabalho é obrigatoriamente
preciso haver variação do estado de movimento. Mas por que isso é essencial?
Considere uma força constante, de módulo, direção e sentido constantes. Considere
também que essa força seja paralela ao sentido do deslocamento, de tal maneira que o
ângulo formado entre o deslocamento e a força constante seja 0° (Figura 4).

FIGURA 4 - FORÇA AGINDO SOBRE UM OBJETO, COM DIREÇÃO E SENTIDO DO


DESLOCAMENTO

Fonte: O autor (2022).

Usando a definição de trabalho mostrado no tópico anterior, temos que:

UNIDADE IV Energia Mecânica 81


A segunda lei de Newton nos diz que a força é proporcional a massa e aceleração
(F=ma), substituindo na equação acima temos:

Resgatando a equação de Torricelli visto no segundo módulo:

Vamos fazer algumas operações algébricas para chegarmos a um teorema


importante da Dinâmica. Primeiramente, vamos dividir por 2 ambos os lados da equação
de Torricelli, obtendo:

Multiplicando ambos os lados pela massa do objeto em questão:

Ou seja, a última equação nos mostra que existe uma relação entre a variação
da velocidade de um objeto de massa m com o trabalho. O lado esquerdo chamamos de
variação da Energia Cinética ∆Ec, e o lado direito já é o nosso conhecido trabalho:

A energia cinética é proporcional ao quadrado da velocidade do objeto. Logo, nos


casos em que a velocidade de um objeto dobre, a energia cinética será 4 vezes maior;
caso a velocidade triplique, a energia cinética irá ser 9 vezes maior. Dessa forma, pode-
mos afirmar que só acontece trabalho caso ocorra variação do estado de movimento do
objeto, que em termos técnicos é o mesmo que dizer que só existe trabalho se acontecer
variação da energia cinética do objeto.
Fizemos a demonstração de que a variação da energia cinética é igual ao trabalho
realizado por uma força constante usando uma única força. E caso tivéssemos diversas
forças sob o objeto? Seria necessário realizar o somatório vetorial e calcular a força
resultante, para depois calcular o trabalho.
A relação entre a variação da energia cinética e o trabalho realizado por uma força
é chamado de Teorema do Trabalho-Energia ou Teorema da Energia Cinética.

UNIDADE IV Energia Mecânica 82


Com esse teorema, notamos que é possível transferir energia de um objeto para
outro objeto. Em processos térmicos por exemplo, que envolvem transferência de calor, a
medida do calor nada mais é do que a representação do trabalho que milhões de moléculas
realizam sobre as paredes de um recipiente qualquer.
Imagine um dispositivo fechado e que contenha uma embolo na parte superior, e
que pode ser movido dependendo do que acontece com um gás que está dentro do dis-
positivo. Inicialmente, o gás não está “agitado”, ou seja, as partículas possuem velocidade
baixa e consequentemente a velocidade também é baixa.
Agora, vamos aquecer esse dispositivo na parte inferior. As moléculas que estão
dentro do dispositivo irão receber calor do fogo, ou seja, energia, e ficarão mais “agitadas”,
aumentando a velocidade e consequentemente a energia cinética. Essa energia cinética
será tamanha que irá fazer o êmbolo deslocar para cima em relação a sua posição inicial.
Temos aqui um exemplo de que a variação da energia cinética das moléculas (ocorrida devi-
do ao calor transferido) gerou trabalho (deslocamento do embolo para cima). Essa situação
é o princípio de máquinas térmicas que fazem uso da energia para gerar movimentos.
Vamos ilustrar alguns exemplos.
Qual é a energia cinética de um automóvel com massa de 960 kg e que se move a
uma velocidade constante de 14,4 km h-1?
Primeiro, precisamos converter a velocidade que está em quilômetros por hora
para metros por segundo.

Em seguida, vamos utilizar a definição de energia cinética de um objeto e substituir


os valores conhecidos:

Outro exemplo. Sabendo que a energia cinética de um objeto é de 4.000J e que a


massa desse objeto é de 20 kg, qual é a velocidade do objeto?
Usando a definição de energia cinética temos:

UNIDADE IV Energia Mecânica 83


Como o que nos interessa no momento é o módulo da velocidade, isto é, apenas
seu valor positivo, temos que a velocidade do objeto é de 20 m s-1.
Um exemplo que envolve variação de energia cinética: Um motociclista desloca-se
a 72 km h-1 em uma via retilínea. Em dado momento, a velocidade é alterada para 108
km h-1. Sendo a massa do conjunto (moto+motociclista) 350 kg, determine a variação de
energia cinética sofrida pelo motociclista.

Primeiro, converter as unidades e em seguida aplicar a variação da energia cinética:


Velocidade inicial: 72 km h-1 ÷ 3,6 = 20 m s-1
Velocidade final: 108 km h-1 ÷ 3,6 = 30 m s-1
Energia cinética final:

Energia cinética inicial:

A variação da energia cinética:

UNIDADE IV Energia Mecânica 84


Vamos ao último exemplo deste tópico. Um cabo de um caminhão reboque puxa
um carro montanha acima (Figura 5). A força que é aplicada ao reboque tem intensidade de
4000N, e está sendo deslocado com uma velocidade de 18 km h-1. Sabendo que do início da
subida até o topo da montanha, o tempo gasto para puxar reboque são de 10 minutos, qual é
o trabalho realizado pela força? Desconsidere as forças de resistência do ar e de atrito.

FIGURA 5 - CARRO SENDO PUXADO POR UM CAMINHÃO REBOQUE MONTANHA ACIMA

Fonte: Adaptado de shutterstock.


https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/tow-truck-city-road-assistance-service-1846831474

Nesse caso, podemos usar a definição de trabalho:

Não temos o deslocamento total d, mas podemos usar a relação entre distância e
tempo:

Lembrando que para resolver exercícios desse tipo, o ideal é passar todas as
unidades para o Sistema Internacional de Unidades (SI). Assim, a velocidade e o tempo:

Ou, no caso da velocidade, bastava dividir pelo fator 3,6, como foi mostrado no
segundo módulo. Agora temos:

UNIDADE IV Energia Mecânica 85


Então temos uma subida de 3000 m ou 3 km. Substituindo os valores encontrados
na equação do trabalho:

Assim, o trabalho total realizado é de 1,2∙107J.

Vimos exemplos de variação de energia cinética, no caso em que houve aumento da


velocidade e consequentemente aumento da energia cinética, e vimos exemplo envolvendo
o Teorema da Energia Cinética. Surge uma indagação: é possível perder energia cinética?
E se sim, para onde vai a energia perdida?
A energia cinética de um objeto pode ser diminuída em dois casos: quando ela
é convertida e armazenada na forma de energia potencial (elástica ou gravitacional); ou
quando há forças dissipativas capazes de transformá-la em outras formas de energia, como
a força de atrito, que é capaz de transformar a energia cinética em energia térmica por
exemplo. Assim, caso não existam forças dissipativas, a energia cinética de um objeto
pode voltar ao seu módulo inicial, uma vez que, nesse caso, ela será convertida em energia
potencial sem que haja perdas.
Forças dissipativas são aquelas em que existem forças no sistema capazes de
“roubar” a energia cinética e converter em alguma outra forma de energia. Por exemplo, um
carro em movimento possui energia cinética, e quando acionamos os freios, existe atrito de
tal forma que diminui a velocidade do carro, diminuindo sua energia cinética, e para onde
vai o restante da energia? É convertido em forma de calor nas rodas. Assim, temos energia
cinética, de movimento, sendo convertida em energia térmica.
E acima foi citado que é possível armazenar a energia cinética em forma de energia
potencial. Esse será o tema do nosso próximo tópico.

UNIDADE IV Energia Mecânica 86


3. ENERGIA POTENCIAL

Energia potencial é uma outra maneira de armazenar energia, e está relacionada


a posição na qual o objeto é colocado. A energia potencial pode ser convertida em outras
formas da própria energia potencial ou também poder ser convertida em energia cinética,
com a utilização de uma força aplicada ao objeto.
A energia potencial acontece com a aplicação de uma força conservativa no corpo.
Isso é o mesmo que dizer que independentemente do caminho adotado pelo objetivo,
a energia potencial não será influenciada. A energia potencial é dependente apenas da
diferença entre as posições final e inicial do objeto.
Forças conservativas são aquelas forças que são capazes de armazenar energia e
que pode ser utilizada em momentos futuros. Adicionalmente, força conservativa é aquela
que é capaz de converter um tipo de energia em outra maneira de energia.
Observe a Figura 6, desprezando o atrito com a superfície na parte inclinada e a
resistência do ar, a variação de energia do objeto A e do objeto B será a mesma. Isso ocorre
porque nesse caso, a força responsável pelo deslocamento é a força peso, que nada mais é
do que uma particularidade da força devido a atração gravitacional entre corpos que possuem
massa. Note que mesmo o objeto A percorrendo uma trajetória maior em relação ao objeto
B, a diferença das alturas dos objetos em relação à superfície é a mesma. Teremos a mesma
variação da energia potencial nesse caso, pois a força peso é uma força conservativa.

UNIDADE IV Energia Mecânica 87


FIGURA 6 - MÉTODO GRÁFICO PARA OBTENÇÃO DO TRABALHO REALIZADO POR
UMA FORÇA VARIÁVEL

Fonte: O autor (2022).

A energia potencial pode ser dividida em duas maneiras, a energia potencial


gravitacional e a energia potencial elástica. Estas duas energias são energias conservativas:
independente da trajetória descrita pelo objeto, o que irá interessar para a energia potencial
será a diferença entre a posição inicial e a posição final. No exemplo acima, note que é
possível os objetos A e B voltarem a posição de origem, basta aplicar força no sentido
contrário a força peso e recolocá-los na posição inicial.
Já a força de atrito e a força de resistência do ar não são forças conservativas. No tópico
anterior comentamos sobre a transformação de energia cinética em energia térmica devido
ao atrito dos pneus. Nessa mesma linha de raciocínio: se estivermos andando de bicicleta,
e estivermos no topo de uma colina, basta “deixar” a bicicleta descer a colina. A força peso
irá gerar o movimento. Temos inicialmente uma energia potencial gravitacional armazenada
devido à altura da colina em relação a planície logo abaixo. Ao iniciar o movimento, a bicicleta
irá aumentar a velocidade, e chegará um momento que será preciso frear.

UNIDADE IV Energia Mecânica 88


Ao frear, será atritado as borrachas do freio com a roda da bicicleta e gerar calor.
Ao chegar na planície e parado o movimento, a energia cinética será nula (não tem
velocidade) e a energia potencial gravitacional também será nula, pois, mesmo com a
força peso, não será mais possível gerar movimento. Para onde foi toda a energia que
havia no sistema inicialmente?
Foi convertida em energia térmica, através do atrito. Agora, é possível usarmos
essa energia térmica de volta, e fazer a bicicleta retornar à posição inicial, no topo da
colina? Claro que não é possível, isso porque a força de atrito é uma força dissipativa:
dissipa a energia e não conseguimos usar de volta, para retornar à posição inicial e voltar
a armazenar a energia.
Para ter aumento ou diminuição da energia potencial é preciso a ação de forças
conservativas. E quanto isso acontece, afirmamos que as forças realizaram trabalho sobre o
objeto. Lembrando que trabalho é o fenômeno na qual uma forma de energia é transformada
em outra forma de energia por meio da aplicação de força. No exemplo da bicicleta descendo
a colina, a força peso realiza trabalho sobre a bicicleta, gerando movimento e velocidade,
ou seja, transformando a energia potencial gravitacional armazenada em energia cinética.
Com o conhecimento adquirido até o momento, podemos afirmar: a quantidade de energia
armazenada em um objeto corresponde a medida da capacidade de realizar trabalho.
Estamos falando de energia, e no SI a unidade de medida é o joule (J). Quando
falamos em energia potencial, 1 joule é a quantidade de energia necessária para elevarmos
a 1 metro de altura um peso igual a 1 newton (CORRADI et al., 2008).
Vamos falar inicialmente da energia potencial gravitacional. Essa energia está rela-
cionada à altura de um objeto em relação ao solo. É uma grandeza escalar e dependente
unicamente do seu módulo, fornecido no SI em J. Matematicamente é:

Em que:
Ep: energia potencial gravitacional (J – joules)
m: massa do corpo (kg – quilogramas)
g: aceleração da gravidade (m s-2)
h: altura do corpo em relação ao solo (m – metros)

Algo que merece atenção na energia potencial é a altura h. Essa altura é dada em
relação a algum ponto em referência.

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Por exemplo, um objeto que esteja situado na parte de cima de um muro (Figura 7),
tem energia potencial gravitacional em relação ao chão. Já quando esse objeto está no solo,
a energia potencial em relação ao solo é nula, uma vez que o objeto se encontra no mesmo
nível de referência e não possui diferença de altura (Figura 7).

FIGURA 7 - ENERGIA POTENCIAL DE UM OBJETO. NO PONTO A O OBJETO POSSUI


ENERGIA POTENCIAL EM RELAÇÃO AO SOLO. NO PONTO B, A ENERGIA POTENCIAL
EM RELAÇÃO AO SOLO É NULA, POR NÃO EXISTIR DIFERENÇA DE ALTURA

Fonte: O autor (2022).

Vamos ver alguns exemplos.


Uma garrafa pet com massa de 2 kg está sobre uma mesa e se encontra a uma
altura de 75 cm em relação ao solo. Qual é a energia potencial armazenada nessa garrafa?

E se a garrafa estiver em uma prateleira a 3m de altura em um mercado de vendas


por atacado?

UNIDADE IV Energia Mecânica 90


4. ENERGIA MECÂNICA E CONSERVAÇÃO DE ENERGIA

Chegamos à parte final de nossa disciplina, no qual vamos tratar da energia


mecânica e sua conservação. Considere um objeto qualquer que tenha massa e esteja
em movimento livre pelo espaço, e que possua uma certa velocidade, sem sofrer qualquer
alteração em seu movimento devido a ação de forças. Neste caso, dizemos que o objeto
está dotado unicamente de energia cinética. Contudo, caso esse objeto passe a ter alguma
interação, seja magnética, gravitacional ou elástica, o objeto terá também uma parte de sua
energia na forma de energia potencial.
Assim, podemos juntar os dois tipos de energia estudados em um único objeto:
energia cinética será a energia relacionada à velocidade do objeto; energia potencial será
a energia armazenada ou estocada no objeto. Temos aqui a famosa energia mecânica: o
total de energia relacionada ao estado de movimento de um objeto.
Em outras palavras, a energia mecânica EM de um objeto qualquer é fornecida pela
soma entre a energia ciência EC e a energia potencial EP:

Assim, a energia mecânica de um objeto estará distribuída nas duas outras formas
de energia.

UNIDADE IV Energia Mecânica 91


Podemos usar as equações que descrevem a energia cinética e a energia potencial
para obter a energia mecânica total do objeto:

Vamos fazer um exemplo.


Suponha que uma caixa d'água cúbica, de 10.000 l, esteja preenchida até a metade
de seu volume total. Suponha ainda que essa caixa esteja posicionada a 10 m de altura em
relação ao solo. Qual é a energia mecânica dessa caixa d'água. Para facilitar os cálculos,
utilize a aceleração da gravidade g = 10 m s-2.
A energia mecânica da água dentro da caixa d’água é dada pelo somatório da
energia cinética mais a energia potencial:

Á água dentro da caixa está em repouso, ou seja, sua velocidade inicial é nula.
Substituindo os dados fornecidos na equação acima temos:

Escrevendo em notação científica:

Portanto, a energia mecânica da água da caixa d´água desse exemplo é de 7,5 105 J.
Outro exemplo. Um caminhão de 1500 kg desloca-se, a 10 m s-1, sobre um viaduto
de 10 m, construído acima de uma avenida movimentada.

UNIDADE IV Energia Mecânica 92


Determine o módulo da energia mecânica do caminhão em relação à avenida.
Considere g = 10 m s-².

Note que a energia mecânica desse caminhão é aproximadamente 3 vezes menor


que a energia mecânica da caixa d’água do exemplo anterior.
Falaremos agora sobre a conservação da energia mecânica.
A conservação de energia, assim como a conservação de massa, é um dos
princípios não apenas da física, mas da natureza. No caso da conservação de energia, isso
quer dizer que em um sistema, a quantidade de energia é conservada. Usando um linguajar
menos formal, é o mesmo que dizer que a energia nunca será criada ou irá desaparecer,
mas sofrerá transformações para outras formas de energia.
Dando ênfase a conservação de energia, temos a conservação de energia
mecânica. Esse princípio nos fornece o seguinte: em um sistema em que não exista
interações com forças dissipativas, a energia se conserva. Ou seja, caso seja irrelevante
a força de atrito por exemplo (que poderia transformar a energia em energia térmica), a
energia mecânica será conservada.
Imagine uma caixa deslizando sobre uma rampa rugosa, com atrito elevado.
É notório que uma parte da energia cinética da caixa será dissipada e a superfície em
contato com a caixa e o fundo da caixa sofrerão um leve aumento de temperatura.
Microscopicamente, é como se a energia cinética da caixa, energia ligada a velocidade,
fosse transferida para os átomos da superfície rugosa, aumentando o grau de oscilações
dos átomos e consequentemente aumentando a temperatura.
Esse fenômeno acontece quando freamos um carro: os discos de freios ficam mais
quentes, dependendo da intensidade da freada e do atrito gerado.
Nesses dois casos descritos, parte da energia cinética foi transformada em energia
térmica e não teremos conservação de energia, por se tratar de sistemas não conservativos.

UNIDADE IV Energia Mecânica 93


Agora, imagine se a superfície por onde a caixa deslize não tivesse atrito, ou fosse
uma superfície de gelo, com um atrito muito pequeno, a ponto de ser desprezado, a energia
cinética sofreria alteração? Sim, provavelmente a caixa iria deslizar cada vez mais rápido.
Contudo, a altura da caixa em relação ao solo seria cada vez menor, ou seja, teríamos
diminuição da energia potencial. Nesse caso, estamos falando de um sistema que não tem
forças dissipativas e a energia será, ora cinética, ora potencial, e quando somadas, terá
sempre o mesmo valor, pois a energia mecânica é conservada.
Observe o pêndulo na Figura 8. Vamos desprezar o atrito do fio com o ponto no qual
está fixado, e o atrito da bolinha com o ar. Vamos usar o ponto mais baixo como referência,
na linha tracejada. Analisaremos o estado do movimento em três pontos, A, B e C.
No ponto A, a bolinha irá parar por um instante e a velocidade será nula. Nesse
ponto, a energia mecânica, que é dada pela soma da energia potencial mais a energia
cinética, será puramente potencial, uma vez que a energia associada a velocidade é nula.
No ponto B, a bolinha estará no ponto mais baixo da trajetória e não terá diferença de altura
com o nível de referência. Nesse momento, a velocidade da bolinha será máxima, a energia
potencial será nula e a energia mecânica será puramente cinética. No ponto C, a energia
será idêntica a energia no ponto A.

FIGURA 8 - ANALISE DA ENERGIA MECÂNICA EM UM PÊNDULO

Fonte: O autor (2022).

E nos pontos D e E? Nesses pontos, a bolinha terá os dois tipos de energia, a cinética
e potencial. Isso acontece pois, temos diferença de altura em relação ao nível de referência,
fato que permite a bolinha ainda ter energia armazenada para ser convertida em velocidade; e
temos velocidade, que por sua vez é responsável pela energia cinética. O principal fato desse
caso é que nos pontos A, B, C, D e E, a energia mecânica do sistema será a mesma, ora dada
apenas pela energia potencial, ora apenas pela energia cinética, ora pela associação de ambas.

UNIDADE IV Energia Mecânica 94


Matematicamente, temos que em um sistema ideal, sem forças dissipativas, a
energia mecânica em dois pontos será a mesma em módulo. No entanto, os valores das
energias potenciais e cinéticas ao longo da trajetória irão variar, mas a soma de ambas
permanecerá a mesma.
No caso do pêndulo, podemos escrever por exemplo:

Onde:

EMA: Energia mecânica no ponto A.


EMB: Energia mecânica no ponto B.
ECA: Energia cinética no ponto A.
EPA: Energia potencial no ponto A.
ECB: Energia cinética no ponto B.
EPC: Energia potencial no ponto B.
vA;vB: Velocidades nos pontos A e B, respectivamente.
hA;hB: Alturas em relação ao nível de referências dos pontos A e B, respectivamente.

Note que a conservação de energia não depende da massa, uma vez que a equação
acima, pode ser dividida em ambos os lados pela massa da bolinha e se torna:

Vejamos um exemplo da aplicação da conservação de energia mecânica.


A Figura abaixo mostra uma diversão que é oferecida em alguns parques aquáticos,
chamado de tirolesa. A pessoa desce de uma altura determinada sendo sustentada por uma
roldana, que está presa em um cabo de aço esticado. Em um certo momento, a pessoa
solta a roldana e cai na água da piscina ou lago.
Suponhamos que uma pessoa de 100 kg saia do repouso no ponto A, desça até
o ponto B segurando-se na roldana e que durante esse percurso ocorra perda de 36% da
energia mecânica do sistema, devido a dissipação de energia causada pelo atrito entre
o cabo de aço e a roldana.

UNIDADE IV Energia Mecânica 95


Ao atingir o ponto B, a pessoa solta a roldana e cai na água, no ponto C. O centro
de massa da pessoa entre o ponto A e C tem uma diferença de 5 m. Usando aceleração da
gravidade igual a 10 m s-2, desprezando a massa da roldana e a resistência do ar, qual a
velocidade que a pessoa atinge ao tocar na água?

FIGURA 9 - ILUSTRAÇÃO DA TRAJETÓRIA DESCRITA POR UMA PESSOA EM UMA TIROLESA

Fonte: O autor (2022).

Se houve dissipação de 36% da energia mecânica do sistema, então a energia


mecânica final (cinética) é igual a 64% da energia mecânica inicial (potencial gravitacional).

Note que a massa da pessoa não influencia no resultado. Ou seja, uma pessoa de
50 kg por exemplo, chegaria à superfície aquática com a mesma velocidade.

UNIDADE IV Energia Mecânica 96


SAIBA MAIS

A física está presente no nosso cotidiano, e muitas das vezes nem sequer percebemos. Ao
entrar em um carro por exemplo, você está desfrutando não apenas dos conceitos físicos,
mas também do resultado de pesquisas realizadas por anos e testadas nos carros protótipos.
Uma atividade em que tem-se grande desenvolvimento tecnológico e que faz uso dos
conceitos vistos nesse módulo são as corridas de fórmula 1. Os pesquisados procuram
desenvolver pneus que tenham atrito o suficiente para manter os carros no chão e
estáveis, mas que também não prejudiquem o movimento do carro, buscando a máxima
eficiência na relação pneu-solo.
No link temos um jornal que resume alguns conceitos da física presentes na Fórmula 1.
É uma leitura descontraída e repleta de curiosidades. Para saber mais acesse: https://
fisica.alegre.ufes.br/sites/fisica.alegre.ufes.br/files/jornal_online_9a_edicao_0.pdf

Fonte: A Física Ontem e Hoje: A física e a formula 1. Pibid Física, 9º ed, 2014. Disponível em: https://fisi-
ca.alegre.ufes.br/sites/fisica.alegre.ufes.br/files/jornal_online_9a_edicao_0.pdf. Acesso em: 25 fev. 2022.

REFLITA

“O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está


morto não muda!”

Fonte: Clarice Lispector.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim do nosso quarto módulo. Nesse módulo fomos capazes de


compreender o conceito de trabalho e a relação com força e deslocamento. Aprendemos
também o que é energia cinética, energia potencial e energia mecânica.
Finalizamos o módulo com um dos princípios mais importantes da física, a
conservação de energia mecânica.
Esses conceitos estudados podem ser aplicados em diversas situações do cotidiano
de engenheiros, físicos, químicos, arquitetos e etc. Desejamos que você faça bom aproveito
da aprendizagem e que continue buscando conhecimento na área.

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LEITURA COMPLEMENTAR

Os Jogos Olímpicos iniciaram na Grécia Antiga e estão presentes até os dias de


hoje. Nesse evento, ocorre a competição de atletas de todas as nacionalidades nos diversos
esportes que fazem parte das Olimpíadas.
Um dos esportes que está presente nos Jogos Olímpicos é o Lançamento de
Martelo. O intuito é atingir a maior distância possível após o lançamento. O “martelo” na
verdade é uma esfera de metal que pesa 4kg na modalidade feminina e 8kg na masculina.
Essa esfera é presa na extremidade de um cabo de aço e uma manopla, tendo o conjunto
completo um comprimento de 1,2 metros, aproximadamente.
Para atingir o objetivo dessa modalidade, alguns conceitos físicos são utilizados,
que auxiliam no melhor desempenho do atleta e do lançamento. Um esporte que parece
simples, possui uma riqueza de conceitos físicos que podem ser explorados, como
movimento circular, o lançamento de projéteis e a conservação de energia.

Fonte: MISS, G. F. O Lançamento de Martelo das Olímpiadas e a Física. UniCentro


Paraná, 2021. Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2021/08/19/o-lancamen-
to-de-martelo-das-olimpiadas-e-a-fisica/. Acesso em: 25 fev. 2022.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Fundamentos da Física
Autor: David Halliday, Robert Resnick, Jearl Walker.
Editora: LTC.
Sinopse: Sucesso há mais de três décadas e obra de referência
na área, ''Fundamentos de Física – Volumes 1 a 4'' apresenta um
estudo introdutório completo e abrangente. Essa novidade vai
permitir aos docentes de cursos de graduação em engenharia
e demais áreas de Ciências Exatas o uso de recursos atuais e
diferenciados em suas aulas e apresentações. Os estudantes
também contam com materiais específicos oferecidos mediante
cadastro. Os autores buscaram aprimorar o texto e a pedagogia
aplicada à obra, por meio do grande apelo visual proporcionado
por ilustrações coloridas e outros recursos didáticos como boxes,
tabelas e seções especiais, que facilitam e organizam os assuntos
abordados. Da mesma forma, os conteúdos teóricos foram mais
bem vinculados ao cotidiano prático e real, com a apresentação
de exemplos, problemas e ensaios ligados a diversas áreas – o
que retira da disciplina o aspecto meramente científico e a eleva
ao caráter essencial para a compreensão e o desenvolvimento do
mundo que nos cerca.


FILME/VÍDEO
Título: Perdido em Marte
Ano: 2015.
Sinopse: Na ficção científica, um astronauta é enviado com uma
equipe para Marte para fazer um trabalho de campo. Chegando
lá, eles são surpreendidos com uma tempestade e seus amigos
acreditam que ele está morto. O ponto alto do filme é ver como
ele vai fazer para sobreviver e retornar à Terra. Conceitos físicos
vistos na disciplina estão presentes no filme.

UNIDADE IV Energia Mecânica 100


REFERÊNCIAS

CORRADI et al. Fundamentos de Física I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

HALLIDAY, D; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física, volume 1. Rio de


Janeiro: LTC, 2016.

LOPES, E. M.; LABURÚ, C. E. Diâmetro de um fio de cabelo por difração (um experimen-
to simples). Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 18, n. 2, ago. 2001.

SALES, G. L.; MAIA, M. C. Física Básica I. Fortaleza: UAB/IFCE, 2011.

101
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a), chegamos ao fim da nossa disciplina, onde conseguimos
abordar os principais temas relacionados a Física Geral I.
Na Unidade I, apendemos os conceitos sobre grandezas fundamentais e unidades
de medida, estimativas, ordem de grandezas e algumas aplicações desses conceitos.
Em seguida, usamos os conhecimentos adquiridos e desenvolvemos juntos as
equações da Cinemática, estudando o movimento de objetos sem nos preocuparmos em
como foram gerados.
Na Unidade III entramos no universo deslumbrante e explicativo da natureza de
acordo com as leis de Newton. Vimos diversas situações onde essas leis são o suficiente
para detalhar e prever com grande precisão situações cotidianas.
Por fim, na Unidade IV, estudamos os conceitos de energia mecânica e sua
conservação, fechando o nosso curso.
Desejamos a você aluno(a), que faça bom uso dos conhecimentos passados
em nosso material e nas aulas. Que seja capaz de seguir em frente, lembrando que
a Mecânica é uma das vertentes da Física que descreve não apenas a natureza, mas
também o universo e nossas vidas.

Um grande abraço. Até a próxima.

102
+55 (44) 3045 9898
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