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Mecânica dos

Fluídos e Hidráulica
Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S586m Silva, Lucas Henrique Maldonado da


Mecânica dos fluídos e hidráulica / Lucas Henrique
Maldonado da Silva. Paranavaí: EduFatecie, 2022.
81 p.: il. Color.

1. Mecânica dos Fluídos. 2. Hidráulica. 3. Hidrodinâmica. 4.


4. Hidrostática. 5. Hidrometria. 6. Física. I. Centro Universitário
UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23 ed. 532


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Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
Carlos Eduardo Firmino de Oliveira
AUTOR

Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva


● Doutorado (conclusão 2023) em Agronomia (Irrigação e drenagem) pela Univer-
sidade Estadual de Maringá.
● Mestre em Ciência de Alimentos (Universidade Estadual de Maringá).
● Especialista em Docência no Ensino Superior (Unicesumar).
● Engenheiro Agrônomo pela UEM (Universidade Estadual de Maringá).
● Graduação Sanduíche em Ingeniería Agroalimentaria (Universitat Rovira I Virgili
– Tarragona – Espanha)
● Docente do curso de Engenharia Agrônomica (Unifatecie).

Experiência em irrigação e drenagem com ênfase em quimigação de culturas


olerícolas e dimensionamento de sistema de micro irrigação. Experiencia internacional na
área de tecnologia e processamento de produtos agropecuários e conservação pós colheita.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4290861540061963


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), gostaria de convidá-lo (a) a embarcar nessa nova expe-
riência a fim de aprofundar seus conhecimentos sobre mecânicas de fluídos e hidráulica.
Difícil é a primeira impressão que temos sobre esse assunto, mas não se preocupe que
através desse material você terá acesso a esse conteúdo de forma didática e objetiva
para te ajudar a entender melhor.
Na Unidade I começaremos pela introdução a mecânica de fluídos e hidráulica e
sua história, também teremos a explanação dos conceitos necessários para a construção de
uma base sólida do conhecimento que irá auxiliar você nos estudos das próximas unidades.
Entenderemos as propriedades dos fluídos que são muito importantes para que possamos
compreender a hidráulica como um todo. Também veremos aspectos mais práticos de como
tubos e conexões são produzidos e as finalidades de cada um na hidráulica.
Na Unidade II, aprenderemos mais sobre hidrodinâmica e hidrostática, estudaremos
alguns conceitos e algumas leis criadas por importantes cientistas nessas duas áreas e
aprenderemos a explicação científica para certos fenômenos que notamos no nosso dia-a-dia.
Já na Unidade III continuaremos a falar um pouco de hidrostática, mas também
daremos início ao estudo da hidrodinâmica, para podermos entender melhor como mensurar
certas grandezas que são importantes para o estudo da hidráulica.
Enfim, a Unidade IV irá nos trazer uma série de informações sobre condutos
forçados, aprenderemos como funciona a condução de fluidos através de sistemas
pressurizados e quais fatores podem influenciar nisso. Essa unidade vai nos ajudar a ligar
todas as informações aprendidas na disciplina até o momento.
Portanto, não vamos nos preocupar com o nome complexo do assunto e aproveitar
esse momento para ampliar nossos conhecimentos. Espero que esse material possa
contribuir para sua formação profissional.

Muito obrigado e bons estudos!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Introdução a Hidráulica e Seus Conceitos

UNIDADE II.................................................................................................... 23
Hidrodinâmica e Hidrostática Parte I

UNIDADE III................................................................................................... 42
Hidrostática Parte II e Hidrometria

UNIDADE IV................................................................................................... 60
Condutos Forçados
UNIDADE I
Introdução a Hidráulica
e Seus Conceitos
Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva

Plano de Estudo:
● Introdução;
● Conceitos;
● Propriedades dos fluidos;
● Tipos de tubos e suas finalidades.

Objetivos da Aprendizagem:
● Entender o que é mecânica dos fluidos e hidráulica;
● Conceituar e compreender as propriedades dos fluidos;
● Compreender os tipos de tubos existentes e
para qual finalidade devemos utilizá-los.

3
INTRODUÇÃO

Bem-vindo (a) a primeira unidade.

Nesta unidade, daremos início aos estudos de mecânica dos fluídos e hidráulica.
Para isto, vamos começar com uma introdução a hidráulica e seguiremos pelos seus
conceitos a fim de entender melhor o que é a mecânica dos fluidos e qual a relação com a
hidráulica. Passaremos também por um pouco da história da hidráulica para que possamos
entender como chegamos em todo conhecimento dos dias atuais.
Também iremos aprender alguns conceitos importantes para o seguimento dos
estudos mais à frente, por isso é muito importante que possamos construir uma base sólida
nessa unidade para podermos compreender melhor as próximas.
Vamos trabalhar com as propriedades de um fluido para podermos entender seu
comportamento e como isso afeta a forma de movimentarmos eles de um ponto a outro.
Por fim, essa unidade trará um pouco de informação mais prática e aplicada, pois falaremos
sobre os tipos de tubos disponíveis no mercado e qual a finalidade de cada um.

Espero que você possa aproveitar bem essa unidade e bons estudos.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 4


1. INTRODUÇÃO

1.1 O que é hidráulica


A palavra hidráulica tem origem do grego e é a junção das palavras hydor (água) e
aulos (condução), portanto significa condução de água. Como definição teórica, hidráulica
é o estudo do comportamento dos fluídos (água entre outros líquidos) tanto em repouso
quanto em movimento (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).
A hidráulica pode estar relacionada a diferentes líquidos e áreas como agrícola, civil
e industrial. Neste material será abordado o uso da hidráulica principalmente na condução
de água para finalidades agrícolas. Dessa maneira pode-se dizer que a hidráulica sempre
estará presente quando precisarmos movimentar água de um ponto ao outro.
A hidráulica pode ser dividida em hidráulica geral e hidráulica aplicada. A hidráulica
geral por sua vez pode ser dividida em hidrostática, hidrodinâmica e hidrometria.

1.2 História da hidráulica


Devido à grande necessidade de água pelo ser humano, a hidráulica sempre esteve
presente na história da humanidade. Essa história começou lá atrás, com o surgimento
das primeiras sociedades urbanas organizadas. Temos relatos da existência de canais de
irrigação e redes coletoras de esgoto construídos na Mesopotâmia desde 3750 a.C. O Egito
também contribui para essa história realizando importantes obras hidráulicas. Já na Assíria,
o primeiro aqueduto para o sistema público de abastecimento de água foi construído em
691 a.C (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 5


Analisando as contribuições científicas dentro da história da hidráulica, Arquimedes
contribuiu com alguns princípios da hidráulica ainda no ano de 250 a.C. A partir do século XVI
chafarizes e fontes se tornaram um símbolo na Itália, e muitos estudiosos se dedicaram a
essas observações. Importantes estudiosos como Simon Stevin, Galileu Galilei, Evangelista
Torricelli e Daniel Bernoulli constituíram a base do conhecimento que temos hoje na hidráulica.
Com o desenvolvimento de tubos de ferro fundido, que poderiam trabalhar com
maiores pressões, com o emprego de novas máquina hidráulicas e com o crescimento das
cidades, o avanço da hidráulica aconteceu de maneira acelerada no século XIX. Com o
avanço da tecnologia e o surgimento do processamento de dados, foi possível compreen-
der e simular melhor fenômenos que até então era impossível, ampliando ainda mais o
conhecimento nessa área (GUEDES, 2018).

1.3 Áreas da hidráulica


Como mostrado anteriormente, a hidráulica pode ser dividida em diferentes áreas.
Primeiramente será falado sobre a hidráulica geral, ou também conhecida como hidráulica
teórica. Essa área pode ser subdividida em três sub áreas (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015):
● Hidrostática: Estuda os fluidos em repouso, ou seja, sem movimento (estáticos);
● Hidrodinâmica: Estuda os fluidos em movimento;
● Hidrometria: Estuda os métodos e instrumentos para medição de grandezas
relacionadas a hidráulica.

Resumindo então, essa área pode ser entendida como o estudo sobre a água
estática, em movimento e como medimos essas variações.
Já a segunda parte da hidráulica conhecida como hidráulica aplicada irá estudar
a aplicação dos conhecimentos obtidos na hidráulica teórica. Dessa maneira pode ser
relacionada com os conhecimentos segundo cada área de aplicação específica.
As áreas de atuação da hidráulica aplicada segundo Netto e Fernández (2015) são:
1.3.1 Urbana
● Sistema de abastecimento de água;
● Sistema de esgoto sanitário;
● Sistema de drenagem de água das chuvas;
● Canais de transporte de água.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 6


1.3.2 Agrícola
● Sistema de drenagem;
● Sistema de irrigação;
● Sistema de água potável e esgoto.

1.3.3 Instalações prediais


● Industrias;
● Comerciais;
● Residenciais;
● Públicas.

1.3.4 Lazer e paisagismo;


● Estradas;
● Controle de enchentes e inundações;
● Geração de energia;
● Navegação e obras marítimas e fluviais.

Vale ressaltar a hidráulica aplicada à área agrícola, cujo o engenheiro agrônomo


poderá atuar trabalhando com irrigação por exemplo.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 7


2. CONCEITOS

2.1 Pressão
A pressão pode ser definida como a relação entre força e área. Essa força será
chamada de força peso quando é multiplicado a massa daquele corpo pela a aceleração
da gravidade. Para exemplificar, se inserir um peso de 10 kg (98,1 N) sobre uma área
de 5 m2, a pressão será de 19,62 N m-2. Se aumentar a área para 10 m2, essa pressão é
reduzida pela metade, sendo de 9,81 N m-2. Dessa maneira é claro que a pressão depende
diretamente da área em que a força peso está sendo exercida.
Já para fins hidráulicos e para entender a relação da coluna de um fluido com a
pressão, a área não tem influência direta nessa pressão. Por isso é comum encontrar a
pressão em metros de coluna daquele fluído.
Uma coluna de água está representada na Figura 1, e essa exerce uma pressão
sobre a área que se encontra sob a sua base. Na mesma, são apresentadas à altura da
coluna de água (representada pelo h), o peso específico da água (representado por g) e a
área da base (representada por A) (ZANINI, 2016).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 8


FIGURA 1 - PRESSÃO DA COLUNA DE ÁGUA

Fonte: Zanini (2016).

Para obter o volume contido na coluna de água, é necessário multiplicar a área (m²)
pela altura (m) obtendo o volume (m³). Com a multiplicação pelo peso específico (kg m-³),
o peso total (kg) que essa coluna de água possui será obtido.
Volume (m3)=A*h
Peso da coluna de água=A*h* g

Esse peso da coluna de água exerce uma pressão sobre a área disponível, cau-
sado, portanto, a pressão. Sabendo o peso (força peso) da coluna de água, obtemos a
pressão através da divisão do peso pela área.

Simplificando, temos:

Geralmente a pressão da coluna de água é representado pela unidade de metros


de coluna de água (m.c.a). Como o peso específico da água tem pouca variação a fins
práticos, sendo geralmente considerado 1000 kgf m-3 e 1 m.c.a é equivalente a 1000 kgf
m-2, podemos estabelecer que a pressão da coluna de água é igual à altura desta coluna
(ZANINI, 2016). Por isso a pressão em coluna de um fluído independe da área na qual está
exercendo essa pressão.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 9


2.2 Condutos forçados e livres
Condutos podem ser definidos como caminhos ou vias no qual podem ser utilizados
para conduzir líquidos, mais especificamente no caso da hidráulica agrícola a água.
Entretanto esses condutos podem ser divididos em forçados ou livres (ELGER et al., 2019).

● Condutos forçados: quando o fluido escoa com uma pressão diferente da


pressão atmosférica (maior ou menor). Exemplo: tubulação de PVC pressurizada,
a tubulação é o conduto que irá transportar água e através de uma moto bomba
inserimos pressão nessa tubulação para que a água possa se movimentar.
● Condutos livres: quando o fluido escoa com uma pressão igual a pressão at-
mosférica. Exemplo: um canal de escoamento de água, o canal é o conduto, porém
a água se move sem a necessidade de pressurização.

Com as seguintes definições apresentadas, neste material será tratado apenas de


condutos forçados, mais especificamente as tubulações necessárias para movimentar água.

2.3 Número de Reynolds


O número de Reynolds é um parâmetro adimensional utilizado a fim de determinar
o regime de escoamento da água tanto em condutos forçados, quanto condutos livres
(NETTO e FERNÁNDEZ, 2015). O número de Reynolds para condutos forçados é
determinado pela seguinte fórmula:

V = Velocidade média do fluido no conduto (m s-1);


D = diâmetro do conduto (m);
Vis = viscosidade cinemática do fluído (m² s-1).

Com o aumento da velocidade ou diâmetro do tubo, o número de Reynolds é


aumentado. Já quando a viscosidade do fluido aumenta, o número de Reynolds diminui.

2.4 Rugosidade
Na produção de qualquer tubo, seja ele de PVC, aço galvanizado ou aço inox
a parede do tubo não é perfeita. Existe uma rugosidade na parede desse tubo que irá
influenciar diretamente o fluxo da água no interior dessa tubulação (GUEDES, 2018).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 10


FIGURA 2 - RUGOSIDADE DA PAREDE INTERNA DE UM TUBO

Fonte: Guedes (2018).

A rugosidade é medida para diferentes materiais, apresentando esses valores de


rugosidade absoluta (ε) tabelados. Já a rugosidade relativa é encontrada através da divisão
entre rugosidade absoluta e o diâmetro do tubo, sendo, portanto, quanto maior o diâmetro,
menor a rugosidade relativa (CARVALHO, 2009).

2.5 Perda de carga


A condução de água em condutos forçados deve levar em consideração o atrito da
água com a parede da tubulação. Como mostrado anteriormente essa parede não é perfei-
ta, tendo uma rugosidade característica que causa maior atrito. Existe também a influência
de peças da tubulação como cotovelos, uniões, curvas entre outros.
Esse atrito que pode ser maior ou menor, dado as condições que a tubulação e
o fluido se encontram, podendo causar perdas de carga. Diferentes fórmulas podem ser
empregadas para calcular essa perda de carga.

2.6 Sistema de unidades


São estabelecidas sete unidades como unidades fundamentais, segundo o Sistema
Internacional de Unidades (SI). Para a hidráulica, como destaque são: comprimento
(metro – m), massa (quilograma – kg) e tempo (segundo – s).
Os sistemas mais empregados são:
● CGS: centímetro, grama e segundo;
● MKS: metro, quilograma e segundo;
● MKS técnico: metro, quilograma-força, segundo.

O sistema CGS e MKS são absolutos, já que independem das condições locais
onde as medições são realizadas. Já o sistema MKS técnico depende do local, já que
a aceleração da gravidade pode apresentar variação espacial, porém muitas vezes essa
variação é desconsiderada para fins práticos por ser uma variação pequena (ZANINI, 2016).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 11


3. PROPRIEDADES DOS FLUIDOS

3.1 Massa específica (ρ)


É a relação entre a massa do material e o volume ocupado por essa massa, também
podendo ser chamada de densidade absoluta. É importante ressaltar que trata-se de massa,
ou seja, não é considerada a aceleração da gravidade. Portanto, a massa específica não
irá sofrer alterações ao ser aferida em locais diferentes. Essa propriedade é alterada com a
mudança de temperatura do líquido (CARVALHO, 2009).

ρ = massa específica (kg m-3)


M = massa (kg);
V = volume (m³).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 12


TABELA 1 - VARIAÇÃO DA MASSA ESPECÍFICA DA ÁGUA EM RELAÇÃO

A VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Fonte: Cirillo et al. (2001) e Azevedo Netto et al. (1998).

3.2 Peso específico (g)


Já o peso específico leva em consideração a aceleração da gravidade, já que peso
é força multiplicado pela aceleração da gravidade. Para fins teóricos, existirá diferentes
pesos específicos conforme a altitude varia por exemplo, pois a aceleração da gravidade é
afetada pela diferença de altitude. Essa propriedade é alterada também com a mudança de
temperatura do líquido (CARVALHO, 2009).

g = peso específico (N m-3)


M = massa (kg);
g = aceleração da gravidade (m s-2);
V = volume (m3).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 13


TABELA 2 - VARIAÇÃO DO PESO ESPECÍFICA DA ÁGUA EM RELAÇÃO

A VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Fonte: Cirilo, Coelho e Baptista (2001) e Azevedo Netto et al. (1998).

3.3 Densidade relativa


É a relação entre a massa específica (ρ) de um líquido e a massa específica de um
líquido referência (ρ1). Nesse caso a água a 4 °C é tomada como referência, apresentando uma
massa específica de 1000 kg m-3. Para fins práticos, a densidade relativa da água é considerada
1, devido a pequena variação existente quando alterada a temperatura (CARVALHO, 2009).

δ = densidade relativa (adimensional)


ρ = massa específica (kg m-3);
ρ1 = massa específica da água a 4 °C (kg m-3).

3.4 Pressão de vapor (PV)


A pressão de vapor é definida como a pressão nas quais as fases líquidas e gasosas
coexistem. Tendo uma pressão acima da PV existirá apenas a fase líquida, abaixo da PV a
fase gasosa. A mudança de fases pode ocorrer de duas maneiras. A primeira com mudança
da temperatura e a segunda com mudança da pressão (CARVALHO, 2009).
Quando é aumentada a temperatura da água, mas a pressão se mantém a mesma,
ocorre a evaporação. Já se a temperatura for um valor fixo e ocorrer uma pressão abaixo da
PV, a vaporização do líquido ocorre de forma localizada, o que é chamado de cavitação. Isso
é de extrema importância em sistemas hidráulicos, já que a queda de pressão no sistema
abaixo da PV do líquido pode causar cavitação e trazer danos a instalação (ZANINI, 2016).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 14


Portanto, quanto maior a temperatura no sistema, maior será a pressão de vapor. Na
figura 3 é demonstrado diferentes linhas representando 3 diferentes temperaturas (T1, T2 e
T3), sendo a T3 a maior delas. Com isso a PV aumenta conforme aumenta a temperatura,
sendo necessário mais pressão para que o fluido esteja na forma líquida ou gasosa em
relação a T1 que é a menor temperatura demonstrada.

FIGURA 3 - VARIAÇÃO DA PRESSÃO DE VAPOR EM RELAÇÃO A VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Fonte: Adaptado de: Carvalho (2009).

3.5 Viscosidade
A viscosidade é a propriedade que o líquido tem de resistir a deformações. Na
hidráulica pode-se dizer que essa deformação seria o escoamento do líquido. Quanto mais
viscoso o líquido, maior sua resistência ao escoamento, fazendo com que seja necessária
mais energia para transportá-lo. É importante entender que com a redução da temperatura,
a viscosidade da água aumenta, tendo seu escoamento dificultado (CARVALHO, 2009). Na
Tabela 3 é demonstrado a viscosidade da água em diferentes temperaturas.

TABELA 3 - VARIAÇÃO DA VISCOSIDADE DA ÁGUA EM RELAÇÃO A VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Fonte: Cirilo, Coelho e Baptista (2001) e Azevedo Netto et al. (1998).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 15


4. TIPOS DE TUBOS E SUAS FINALIDADES

4.1 Tipos de tubos e processo de fabricação


Os tubos podem ser classificados como metálicos e não metálicos. Os metálicos
podem ser ferrosos ou não ferrosos (TESTEZLAF e MATSURA, 2015). Já os não metálicos
podem ser plásticos ou de outros materiais. Abaixo são apresentados alguns exemplos:
Metálicos:
● Ferrosos: Metálicos ferrosos: aço-carbono, aço-liga, ferro fundido, ferro forjado,
ferro-ligado, ferro nodular;
● Não ferrosos: cobre, latão, cobre-níquel, alumínio, níquel e ligas, chumbo, titânio.

Não metálicos:
● Plásticos: cloreto de polivinil (PVC), polietileno, acrílicos, acetato de celulose,
epóxi, fenólicos;
● Outros materiais: cimento amianto, concreto armado, vidro, cerâmica, porcela-
na, barro vidrado.

A produção desses tubos difere conforme o material a ser utilizado e a espessura da


parede desejada. Para os metálicos é apresentado os seguintes processos de fabricação:
laminação, fundição, forjagem e extrusão. Já os não metálicos podem ser produzidos
através de: extrusão e fundição. Como o foco é a hidráulica aplicada a agricultura, os
tubos utilizados são basicamente tubos de materiais plásticos como PVC e polietileno
(TESTEZLAF e MATSURA, 2015).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 16


Esses dois tipos de tubo são produzidos a partir do método de extrusão, cujo as
matérias primas poliméricas são misturadas e passam por uma máquina extrusora, que
aquece essa matéria prima a fim de realizar a fusão do material, que então sai da máquina
através de uma matriz que dá a forma e o diâmetro definido para aquele tubo.
Cada tipo de tubo deve ser escolhido conforme a necessidade da aplicação, levando
em consideração custo, durabilidade e resistência a pressão.

4.2 Tipos de conexões


Diversas são as conexões que podem ser utilizadas para a montagem de estruturas
hidráulicas. Tais peças são de extrema importância já que podem conferir maiores perdas
de carga localizada para o sistema. Essas conexões servirão para unir os segmentos de
tubo e dar forma e direção ao sistema.
Diferentes são as formas que os tubos podem ser ligados, sendo a escolha de-
pendente de diferentes fatores como: diâmetro do tubo, material do tubo, finalidade da
conexão, localização dessa conexão, custo, segurança exigida desse sistema, pressão de
trabalho, temperatura de trabalho e necessidade do monte e desmonte da estrutura.
Segundo Testezlaf e Matsura (2015) temos as principais ligações:
● Ligação rosqueada: São de baixo custo e fáceis de serem realizadas. Muito uti-
lizada para tubos com menos de 2”. São ligações de menor resistência mecânica, podendo
ocasionar vazamentos. Geralmente são utilizados para estruturas de baixo risco. Tem como
desvantagem o enfraquecimento do tubo (diminui a espessura), por isso são utilizadas em
tubos de espessura maior. Normalmente tubos de aço galvanizado utilizam exclusivamente
ligações rosqueadas.
● Ligação soldada: consiste na ligação de tubos com o uso de solda por fusão
ou encaixe. Para tubos plásticos a solda por encaixe é amplamente utilizada e consiste na
utilização de luvas ou uniões sem rosca que recebem adesivos especiais para unir a peça
juntamente ao tubo. Tem boa estanqueidade e resistência mecânica, porém não possibilita
a desmontagem do sistema, sendo necessário cortar os tubos.
● Ligação flangeada: se utiliza de duas flanges que são colocadas na ponta de
cada tubo e através de parafusos e um anel de vedação, são unidas. A estanqueidade
depende totalmente da compressão realizada em função do aperto dos parafusos. Sua
principal vantagem é a facilidade de montar e desmontar o sistema, sendo muito importante
para sistemas de irrigação móveis.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 17


● Ligação de ponta e bolsa: o tipo de ligação mais antigo e consiste em uma pré-
disposição do tubo para que seja realizada. Os tubos já vêm de fábrica com a bolsa em uma
das extremidades e a ponta lisa na outra. A ponta lisa encaixa na bolsa fazendo a conexão.
Esse tipo de ligação é rápido e barato, porém depende de um material elástico e que tenha
boa estabilidade em relação a alterações de temperatura. Esse tipo de ligação é amplamente
utilizado para conexão de tubos de PVC utilizado em sistemas de esgoto residencial.

4.3 Diâmetro e pressão nominal


O diâmetro de tubos é padronizado por diferentes normas da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas). Para tubos de PVC destinados a irrigação, as normas exis-
tentes são: ABNT NBR 14311:1999; 14312:1999; 14654:2001; 15282:2005. Existem outras
normas internacionais para tubos de PVC utilizados na irrigação como ASABE (American
Society of Agricultural and Biological Engineers) - ASAE/ASABE S376.2 (R2010) e da ISO
(Internacional Organization for Standardization) - ISO 16422:2014.
No geral, o tubo deve ser designado pelo diâmetro nominal (DN), que não tem a
especificação real do tubo, mas sim uma medida aproximada do diâmetro do tubo (tubo
de PVC DN 50 PN 40 tem 50,5mm de diâmetro externo e 49,3 mm de diâmetro interno).
Dessa forma, tubos de diâmetro externo igual, porém com maior espessura da parede
terão um menor diâmetro interno.
Outra característica dos tubos é a pressão nominal (PN), que está diretamente
ligada ao material e espessura da parede. Dessa maneira, um tubo de mesmo DN, pode
ter diferentes PN, basta variar a espessura da parede. Para tubos de PVC por exemplo, um
tubo de DN 50 (50 mm) PN 40 apresenta parede de 1,2 mm enquanto um PN 80 apresenta
1,9 mm, isso altera o diâmetro interno do tubo, porém torna ele mais resistente a maiores
pressões. Quanto maior o PN, maior a pressão suportada (TESTEZLAF e MATSURA, 2015).
Os tubos destinados a irrigação apresentam os seguintes PN:
● PN 40: suporta pressão de 40 m.c.a e possui DN 35, 50, 75, 100, 125 e 150;
● PN 60: suporta pressão de 60 m.c.a e possui DN 50, 75 e 100;
● PN 80: suporta pressão de 80 m.c.a e possui DN 35, 50, 75, 100, 125 e 150;
● PN 125: suporta pressão de 125 m.c.a e possui DN 100, 150, 200, 250 e 300;

Outro material muito utilizado para tubos na irrigação é o polietileno (PE). Para
tubos de polietileno utilizados na irrigação a ABNT possui a NBR 11795:2008, a ISO possui
a ISO 8779:2010, 8796:2004 e 13460:1998. Esse tipo de tubo apresenta diferenças em
relação a densidade do material utilizado sendo: PEAD (alta densidade), PEMD (média
densidade), PEBD (baixa densidade), PEBDL (baixa densidade linear).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 18


É comum encontrar tubos de PE com DN 10, 13, 14, 15, 16, 17, 20 e 26 e apenas
dois PN sendo 30 e 40. Esses tubos também possuem diferentes espessuras de parede
variando de 0,15 a 0,85 mm (TESTEZLAF e MATSURA, 2015).
O material complementar traz mais informações a respeito desse tema.

SAIBA MAIS

Os engenheiros e arquitetos da Roma antiga são reconhecidos até hoje devido o incrível
domínio e tecnologia desenvolvida em épocas tão remotas. A construção de aquedutos que
resistem até os dias de hoje prova a eficiência da construção romana. Esses aquedutos
tiveram enorme importância de levar água potável para a população das antigas cidades
romanas. Conheça cinco desses aquedutos que resistem até hoje e podem ser visitados:
Aqueduto de Segóvia (Espanha), Pont du Gard (França), Aqueduto de Valens (Turquia),
Pont de les Ferreres (Espanha) e Acueducto de los Milagros (Espanha).

Fonte: Conte (2013).

REFLITA

“A diferença entre o possível e o impossível está na vontade humana.”

Fonte: Louis Pasteur.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 19


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da nossa primeira unidade, com isso, podemos compreender


melhor o que é a hidráulica e qual a sua importância para a humanidade, seja nas cidades
ou no meio rural. Também conseguimos entender algumas características importantes dos
fluídos que estão diretamente ligadas ao dimensionamento dos sistemas hidráulicas.
Ter bem fixado o que é massa específica, peso específico, densidade relativa,
pressão de vapor e viscosidade será muito importante no seguimento dos estudos nas
próximas unidades. Espero que você possa ter aproveitado da melhor maneira essa unidade
e nos vemos na Unidade II para continuarmos em busca de mais conhecimento.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 20


LEITURA COMPLEMENTAR

Alguns materiais já são pesquisados a fim de reduzir o uso de plásticos nas


aplicações da hidráulica. A pesquisa intitulada: “utilização da serragem na produção de
compósitos plástico-madeira” Yamaji et al. (2004) buscou uma maneira de reduzir o uso
de plásticos na produção de tubos. Esta pesquisa foi realizada na Universidade Federal do
Paraná (UFPR – Curitiba) em conjunto com a indústria Roguiplast na cidade de Bauru – SP
e buscou utilizar materiais reciclados da indústria de serraria para a produção de compostos
plástico-madeira. Foi realizado uma mistura entre polietileno de baixa densidade – PEBD e
serragem de madeira. Os resultados demonstram que a mistura pode receber até 20% de
madeira sem afetar as características técnicas.
Fonte: Yamaji e Boundelle (2004).

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 21


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Engenharia de Irrigação: tubos e acessórios
Autores: Roberto Testezlaf e Robson Eiji Matsura.
Editora: Unicamp – Faculdade de Engenharia Agrícola.
Sinopse: O livro aborda o tema de tubulações e acessórios sob o
ponto de vista de engenharia de irrigação, enfoque pouco explo-
rado nos textos dedicados a essa área. Em razão do histórico de
desenvolvimento da irrigação em nosso país, com a participação
de poucos fabricantes nacionais, onde predomina a importação
de equipamentos e tecnologias, os cursos de engenharia deram
baixa prioridade para o ensino de dimensionamento de equipa-
mentos, preocupando-se mais com a formação em projetos de
sistemas. Dessa forma, esse documento procura dar uma pers-
pectiva diferenciada para esse tópico, ampliando as informações e
especificações técnicas de materiais, explicando os princípios de
operação e detalhando procedimentos de instalação e métodos de
manutenção de tubulações e acessórios empregados na irrigação.

FILME/VÍDEO
Título: Cómo se fabrica: Fábrica de fabricación de tubos de PVC
Ano: 2021
Sinopse: Você está na fábrica de tubos de PVC. Você verá como
é feito: tubos de PVC de plástico. Neste vídeo, você conhecerá
passo a passo o processo de fabricação de tubos de PVC. Neste
vídeo, você verá como a máquina para fabricar tubos de PVC faz
tubo PVC com acabamento perfeito.

UNIDADE I Introdução a Hidráulica e seus Conceitos 22


UNIDADE II
Hidrodinâmica e
Hidrostática Parte I
Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva

Plano de Estudo:
● Regimes de escoamento;
● Equação da continuidade;
● Teorema de Bernoulli;
● Lei de Pascal e Lei de Stevin.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o que são os regimes de escoamento
e sua influência no dimensionamento hidráulico;
● Conceituar e entender a equação da continuidade
e o teorema de Bernoulli;
● Compreender a Lei de Pascal e de Stevin.

23
INTRODUÇÃO

Bem-vindo (a) a segunda unidade.

Dando continuidade aos nossos estudos de mecânica dos fluidos e hidráulica,


estaremos falando um pouco mais sobre hidrodinâmica e hidrostática. Para melhor com-
preensão dessa unidade, os conceitos aprendidos anteriormente serão essenciais.
Vamos começar aprendendo sobre os regimes de escoamento para que possamos
entender o que irá influenciar no dimensionamento hidráulico. Esse é o primeiro passo para
começarmos a falar mais sobre alguns aspectos importantes da hidráulica como vazão,
velocidade de escoamento e diâmetro da tubulação. Aqui conseguimos estudar de uma
forma mais aplicada.
Algumas equações e leis serão apresentadas nessa unidade, esse ponto é de
extrema importância para que possamos entender como chegamos ao conhecimento atual
e os parâmetros que utilizamos para o dimensionamento do sistema hidráulico.
Primeiro, falaremos da equação da continuidade que vai estar ligada diretamente
com o regime de escoamento. Vamos entender o que é o famoso teorema de Bernoulli que
irá tratar do princípio de conservação da energia e veremos que é de extrema importância
para dimensionamentos.
Trataremos de duas leis específicas, a Lei de Pascal e a Lei de Stevin. Ambas
irão trazer a explicação de certos fenômenos que notamos no nosso dia-a-dia, mas muitas
vezes não entendemos como funciona.

Espero que você possa aproveitar bem essa unidade e bons estudos.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 24
1. REGIMES DE ESCOAMENTO

Ao conduzirmos água, seja por condutos livres ou forçados, a trajetória desse fluido
ocorre de diferentes formas conforme as condições no qual está submetido. No caso específico
de condutos forçados, existe uma pressão diferente da atmosférica sendo exercida sobre a
massa fluida de água por exemplo. Dessa maneira em 1883, Osborne Reynolds realizou
experimentos para entender como ocorria esse escoamento (GUEDES, 2018).
O experimento consistiu na injeção de corante no meio da massa líquida em movi-
mento. Com a alteração da velocidade do escoamento, Reynolds fez suas observações. Em
baixas velocidades o fluxo de corante não se misturava com a massa fluida, percorrendo
uma trajetória paralela. Esse fluxo foi estabelecido como laminar (BISTAFA, 2017).
Com o aumento da velocidade, o fluxo do corante mostrava uma trajetória diferente,
mais irregular. Nesse tipo de fluxo denominado como turbulento, a trajetória da partícula não
pode ser prevista. Esse tipo de fluxo é o mais comumente encontrado. Entre o escoamento
laminar e turbulento temos o regime de transição. Na Figura 1 podemos observar a trajetória
das partículas conforme cada regime de escoamento (CARVALHO, 2009).

FIGURA 1 - DIFERENTES REGIMES DE ESCOAMENTO

Fonte: Carvalho (2009).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 25
Com essas observações, Reynolds estabeleceu parâmetros para determinar qual
o regime de escoamento. Essa classificação é baseada no número de Reynolds no qual foi
conceituado na primeira unidade e o cálculo está relacionado a velocidade de escoamento,
diâmetro da tubulação e viscosidade cinemática do fluido. A equação a seguir pode ser
utilizada para calcular o número de Reynolds para condutos forçados (ZANINI, 2016).

V = Velocidade média do fluido no conduto (m s-1);


D = diâmetro do conduto (m);
Vis = viscosidade cinemática do fluido (m² s-1).

O regime laminar será determinado quando o número de Reynolds for abaixo de 2000.
Caso o número de Reynolds seja maior que 4000, o regime será turbulento. Entre 2000 e 4000
será o regime de transição. Dessa maneira, quanto maior a velocidade ou o diâmetro, maior
será o número de Reynolds tendendo ao regime turbulento (MARTINS e GUKOVAS, 2010).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 26
2. EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

No tópico anterior, foi demonstrado que o diâmetro da tubulação e a velocidade


tem relação direta com o regime de escoamento da água. A equação da continuidade irá
demonstrar como funciona essa relação diâmetro velocidade.
Inicialmente é necessário compreender o conceito de vazão. A vazão é o volume
de fluido escoado em determinado tempo por uma tubulação em questão (GRIBBIN, 2014).
É comum encontrar dados de vazão nas seguintes unidades: m3 s-1, m3 h-1, L h-1 e L min-1.
A equação abaixo é utilizada para calcular uma vazão:

Q = Vazão (m3 s -1)


A = Área do tubo (m2)
V = Velocidade do escoamento (m s-1)

A equação da continuidade tem como base o princípio da conservação de massa.


Sendo assim, o volume de água que escoa na região 1 tem que ser igual ao volume de
água que escoa na região 2, mesmo que exista uma diferença de área entre essas duas
regiões (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015). Portanto, vazão na região 1 (Q1) é igual a vazão
na região 2 (Q2).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 27
Através dessa equação é possível investigar a velocidade de escoamento no interior
da tubulação quando existe variação nos diâmetros. Para a determinação da área do conduto
é utilizado a equação que fornece a área de um círculo, sendo a equação abaixo:

A = Área do tubo (m²)


D = Diâmetro do tubo (m)
Essa área então calculada fará parte da equação da continuidade que é dada da
seguinte forma:

Portanto:

A1 = Área 1 (m2)
V1 = Velocidade média do fluido na região 1 (m s-1)
A2 = Área 2 (m2)
V2 = Velocidade média do fluido na região 2 (m s-1)

Portanto se diminuir o diâmetro da tubulação a área será menor enquanto a


velocidade do escoamento será maior. Isso ocorre, pois, um tubo de menor diâmetro tem
menos espaço, ou seja, uma mesma quantidade de água terá que passar por um espaço
menor. Para que a vazão seja mantida, a velocidade de escoamento deve ser maior.
Para fins práticos, podemos exemplificar através da utilização de uma redução
da tubulação de 60 mm (6 cm) para 32 mm (3,2 cm). A velocidade na região com tubo
de 60 mm é de 3,54 cm s-1 O escoamento na região de maior diâmetro será com uma
menor velocidade em relação ao escoamento na região de menor diâmetro. Isso será
provado através da equação da continuidade. Será utilizado unidades diferentes do sistema
internacional para evitar a utilização de notação científica e ficar mais fácil o entendimento.
Portanto o diâmetro será expresso em cm e a velocidade em cm s-1.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 28
FIGURA 2 - ESQUEMA DA REDUÇÃO DE DIÂMETRO DA TUBULAÇÃO

Fonte: Zanini (2016).

Dessa maneira, a velocidade passou de 3,54 cm s-1 para 12,45 cm s-1 com uma
diminuição de 2,8 cm no diâmetro da tubulação. Calculando o número de Reynolds
para as duas condições, será obtido 2.124 para a tubulação de 60 mm e 3.984 para a
tubulação de 32 mm.
O regime de escoamento será classificado como de transição. Nota-se que com
o aumento do diâmetro é possível diminuir o número de Reynolds e alterar o regime de
escoamento de turbulento para laminar onde haverá menor perda de carga.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 29
3. TEOREMA DE BERNOULLI

O teorema de Bernoulli é baseado no princípio de conservação da energia. Através


desse teorema é possível compreender as diferenças de velocidade e pressão em dois
pontos diferentes da tubulação (ZANINI, 2016). Para exemplificar é apresentada a Figura 3.

FIGURA 3 - ESQUEMA DE DOIS PONTOS A SEREM ANALISADOS PELO TEOREMA DE BERNOULLI

Fonte: Zanini (2016).

A água escoa do ponto 1 para o ponto 2. É possível notar uma diferença do diâmetro.
No ponto 1 o diâmetro é maior, e no ponto 2 o diâmetro é menor. Nota-se também que o
ponto 1 está a uma altura Z1 em relação a referência e o ponto 2 está a uma altura Z2. Essa
diferença de altura é chamada de altura piezométrica e será utilizada na equação de Bernoulli.
As constantes nesse sistema são a densidade da água e a gravidade que não
vão sofrer alterações entre os dois pontos. No ponto 1 existe uma pressão (P1), uma
velocidade (V1) e uma área (A1) que está relacionado ao diâmetro da tubulação nesse
ponto. No ponto dois também existe uma pressão (P2), uma velocidade (V2) e uma área
(A2) que é menor que a A1.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 30
Com base no que foi anteriormente explicado sobre a equação da continuidade, ao
reduzir a área da tubulação haverá um aumento da velocidade. Portanto V2 é maior do que
V1. Resumindo: A2 menor que A1 e consequentemente V2 maior que V1.
A equação de Bernoulli portanto é dada da seguinte maneira:

g: gravidade (9,81 m s-2)


D: Densidade da água (1000 kgf m-3)
V1: Velocidade no ponto 1 (m s-1)
P1: Pressão no ponto 1 (kgf m-2)
Z1: Altura piezométrica do P1 (m)
V2: Velocidade no ponto 2 (m s)
P2: Pressão no ponto 2 (kgf m-1)
Z2: Altura piezométrica do P2 (m)

Se simplificar a equação considerando que não existe uma diferença de altura


piezométrica entre os pontos e que a gravidade e a densidade da água são constantes, a
equação pode ser apresentada da seguinte forma:

Com a diminuição da área A1 para A2, aumenta-se a velocidade naquele ponto,


portanto a pressão no ponto 1 será maior para que exista uma igualdade. Segue o
exemplo com números:

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 31
Dessa maneira, o aumento da velocidade no ponto 2 de 1 m s-1 reduziu a pressão de
1000 kgf m-2 para 740 kgf m-2. Portanto quanto maior a velocidade no ponto, menor a pressão.
Incorporando o conceito de altura piezométrica, que seria a diferença de altura
entre dois pontos em relação a uma referência, isso causa alterações na pressão entre os
pontos. Dessa maneira é necessário considerar essa diferença de altura quando ela existir.
Novamente, exemplificando com números com a inserção de alturas piezométricas
de 4 m no P1 e 2 m no P2.

Então, com uma diferença de cota de 2 metros a pressão no ponto 2 é maior que no
ponto 1 mesmo com velocidade superior. Isso ocorre devido a diferença de altura na qual
está contribuindo para o aumento da pressão no ponto 2.
O entendimento da influência da altura piezométrica é importante para o dimen-
sionamento de sistemas hidráulicos para irrigação. Se a condução da água ocorrer de
um ponto mais alto para um ponto mais baixo, essa diferença de cota irá contribuir para
a pressurização do sistema. Já caso precise conduzir a água de um ponto mais baixo
para um mais alto, essa diferença de altura deverá ser somada a pressão final necessária
(TESTEZLAF e MATSURA, 2015).
Até o momento, o fluido a ser deslocado foi considerado um fluido perfeito (incom-
pressível, sem atrito interno, sem viscosidade e com massa específica constante). Entre-
tanto, para um fluido real devemos levar em consideração esses 4 fatores. Entre eles o
atrito que causa uma perda de energia, essa perda de energia pode ser chamada de perda
de carga (hf) e será acrescentada na equação de Bernoulli. Mais à frente será demonstrado
como calcular essa perda de carga (ZANINI, 2016).
A equação de Bernoulli considerando a perda de carga fica da seguinte maneira:

Hf: Perda de carga (m)

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 32
Ao trabalhar com água, é muito comum a unidade de pressão ser dada em metros
de coluna de água (m.c.a). Abaixo segue a Tabela 1 com a conversão de algumas unidades
de pressão para m.c.a. Conforme explicado na Unidade I, é essa pressão depende da
altura da coluna de água e independe da área na qual essa coluna exerce pressão. Isso faz
com que a pressão seja a mesma, independente do diâmetro do tubo.

TABELA 1 - UNIDADES DE MEDIDAS PARA CONVERSÃO EM M.C.A


Metro de coluna
Unidade Conversão
de água (m.c.a)
1000 kgf/m² 1 ÷ 1.000
1 kgf/cm² 10 x 10
1 kPa 0,1 ÷ 10
1 hPa 0,01 ÷ 100
1000 Pa 0,1 ÷ 10.000
Fonte: Adaptado de: Zanini (2016).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 33
4. 4 LEI DE PASCAL E LEI DE STEVIN

A lei de Pascal determina que uma pressão exercida em um ponto específico no


interior do fluido se transmite com a mesma intensidade para todos os pontos deste fluido.
Para facilitar o entendimento, a Figura 4 exemplifica um êmbolo de uma seringa que tem
sua saída ligada a um conector com 5 saídas (ZANINI, 2016).

FIGURA 4 - ESQUEMA DE UM ÊMBOLO COM SAÍDA MÚLTIPLA

Fonte: Zanini (2016).

Ao realizar uma força nesse êmbolo, haverá uma pressão sendo realizada,
que será transmitida para os 5 pontos de saída de forma igual. Essa lei permite utilizar
equipamentos como prensas e elevadores hidráulicos. Dessa maneira, com uma menor
força exercida sobre uma área menor, é possível levantar objetos pesados sobre uma
área maior (ZANINI, 2016). Para ficar mais compressível, um exemplo com números é
mostrado. Na figura 5 é apresentado o esquema de um elevador hidráulico.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 34
FIGURA 5 - ESQUEMA DE UM ELEVADOR HIDRÁULICO

Fonte: Zanini (2016).

É apresentado duas bases de áreas distintas, a base A1 (menor) e A2 (maior). Essa


base maior tem 5 vezes do tamanho da base A1. Essas bases se intercomunicam através
de um fluido. Na base menor a força exercida é a força 1 (F1) e na base maior a força 2
(F2) que é responsável por elevar o carro que tem peso de 3.000 kgf. Dessa forma as bases
se encontram no mesmo nível, ou seja, em equilíbrio. Para que manter o elevador nessas
condições é necessário calcular o valor da F1.
A F2 será de 3.000 kgf já que esse é o peso do veículo. A A2 é igual 5 vezes a A1.
Estando em condição de equilíbrio haverá, portanto:

Dessa forma, A1 * 5 irá multiplicar o outro lado da equação.

Como será multiplicado a parte de cima por A1 e depois será dividido por A1
novamente, é possível eliminar essas duas operações.

Então o 5 passa a dividir o 3000 para obter a F1 isolada:

Com a alteração da área da outra base, é necessário aplicar uma força 5 vezes
menor que a força necessária para levantar o veículo. Isso só é possível pois a F1 aplicada
sobre a área menor se transmite para todos os pontos do fluido que irá elevar a segunda
base. Essa é uma das aplicações práticas da lei de Pascal.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 35
A Lei de Stevin determina que a pressão exercida pela coluna de um fluido não
depende da área na qual essa coluna se apoia, mas apenas da sua altura. Sendo assim,
se mudar a área de contato dessa coluna de fluido a pressão exercida será a mesma. Essa
pressão exercida por uma coluna de fluido estático pode ser chamada de pressão hidrostática.
Através da Lei de Stevin é possível explicar como objetos de diferentes diâmetros
(diferentes áreas) irão manter a mesma altura de coluna de água quando estão interligados.
Na figura 6 é demonstrado três vasos de diferentes formas, ou seja, de diferentes áreas e
volumes. Mesmo com as diferenças o líquido se encontra no mesmo nível, isso demonstra
que a pressão exercida para que o líquido chegue a determinado nível independe da área
do recipiente.

FIGURA 6 - VASOS COMUNICANTES DE STEVIN

Fonte: Almeida (2019).

Isso pode ser explicado matematicamente da seguinte maneira:

Sabe-se que:

Dessa maneira:

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 36
Se ocorre a multiplicação o por um valor e depois a divisão pelo mesmo valor
ocorre a operação inversa, obtendo o valor inicial. Dessa maneira é possível eliminar essas
duas operações. Ao final então, haverá:

Por isso a pressão de uma coluna de fluido independe da área dela. Portanto para
definir a pressão em um ponto específico da coluna de um fluido, é necessário multiplicar
o valor da coluna de fluido pelo peso específico do fluido. Quando o valor da pressão é
expressado em metros de coluna de água, pode-se simplificar sendo a pressão no ponto
igual a diferença de altura (h) na coluna em relação ao ponto referencial. Isso ocorre, pois
a unidade de medida já está considerando o peso específico da água.
Na hidráulica, a principal aplicação da Lei de Stevin é na determinação da pressão
em diferentes pontos. Dessa maneira, a diferença de pressão entre um ponto e o outro
pode ser encontrada através da diferença de altura entre esses dois pontos (TOLENTINO
JR, 2019). Como exemplo a Figura 7.

FIGURA 7 - DETERMINAÇÃO DE PRESSÃO EM DIFERENTES PONTOS DE UM SISTEMA

Fonte: Zanini (2016).

Para definir a diferença de pressão entre os pontos deve-se somar a diferença


entre as alturas, independente da área (ZANINI, 2016). Na superfície do líquido a pressão é
de 1 atmosfera ou 10,33 m.c.a. Já a pressão no ponto 1 será de 10,33 m.c.a + h1. A pressão
no ponto 2 será 10,33 m.c.a + h2. A diferença de pressão entre o ponto 1 e o 2 será h2 – h1

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 37
SAIBA MAIS

Essa unidade tratou dos regimes de escoamento classificados como: turbulento, laminar
e de transição. Essa classificação é a principal, entretanto é possível classificar o regime
de escoamento também conforme o tempo, sendo permanente e não permanente. Para
que o regime de escoamento seja permanente, a pressão e a velocidade devem ser
constantes não variando conforme o tempo. Já o não permanente ocorre essa variação.
Para exemplificar, existe uma caixa d’agua com a sua saída na base aberta. Se a repo-
sição de água nesse reservatório for igual ao volume que está sendo escoado, o nível
de água será sempre o mesmo, mantendo a pressão e a velocidade constante. Se não
repor a água, o nível irá diminuir e a pressão e velocidade irão reduzir com o passar do
tempo até que o escoamento cesse.

Fonte: Guedes (2018).

REFLITA

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”

Fonte: Antoine-Laurent de Lavoisier (1777).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parabéns, chegamos ao final de mais uma unidade. Com o avanço na disciplina,


estamos conseguindo aplicar os conceitos anteriormente aprendidos. Nessa unidade
aprendemos um pouco mais sobre a hidrostática e a hidrodinâmica. A principal diferença é
o que na hidrostática pensamos no fluido em repouso. Já na hidrodinâmica falamos sobre o
escoamento do fluido e as variações que podemos ter em velocidade e pressão.
Então aprendemos que a lei de Stevin está relacionada com a hidrostática e o que
é a pressão hidrostática da coluna de um fluido. Também aprendemos que a lei de Pascal
está relacionada com a hidrodinâmica e demonstra que a pressão quando exercida em um
ponto do fluido se transmite com igual intensidade em todas as direções.
Com isso, estudamos as aplicações práticas dessas duas leis quando falamos de
regime de escoamento, equação da continuidade e Teorema de Bernoulli. Notamos que
esses três pontos vão ser importantes nas próximas unidades. O regime de escoamento
poderá ser alterado conforme alteramos o diâmetro da tubulação. Com essa alteração de
diâmetro veremos que com a equação da continuidade podemos verificar alteração na
velocidade de escoamento em diferentes pontos da tubulação. Por último, o teorema de
Bernoulli nos explica que aumentando a velocidade de escoamento em um ponto a pressão
será diminuída e vice-versa.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 39
LEITURA COMPLEMENTAR

Com o avanço da tecnologia diferentes simuladores computacionais foram e são


a cada dia criados com a intenção de facilitar a projeção de um sistema hidráulico. Com
um software essas variações podem ser feitas de maneira muito rápida e podemos ter
diferentes valores simulados. Isso nos ajuda a prever diversas situações, além de verificar a
influência de diferentes materiais sobre as condições de escoamento do sistema hidráulico.
A monografia intitulada “Simulador computacional para fluidos incompressíveis” Madeira
(2006) foi desenvolvida com esse intuito. Através do desenvolvimento de uma aplicação
com a linguagem de programação Java, foi possível obter um simulador que calcula o
diâmetro, a vazão e a perda de carga conforme são alteradas as condições. Através do
simulador também é possível alterar o fluido que será utilizado, a temperatura desse fluido
e o material da tubulação. Com esse tipo de ferramenta, a aplicação prática da mecânica
de fluidos e hidráulica é facilitada no dia-a-dia.
Fonte: Madeira (2006).

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 40
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História do universo
Autores: Edmac Trigueiro
Editora: Novo Século
Sinopse: Durante muito tempo na história da humanidade, a religião
encarregou-se de explicar o sobrenatural. Naquele passado não tão
distante, não havia escolha, pois não existia ciência. Assim, a única
forma de acedermos as origens do Universo era apegando-nos ao
que nos ensinava a mitologia e o que nos legava a religião. Hoje, en-
tretanto, parte deste espaço é ocupado pela ciência. O crescimento
e a consolidação da cosmologia produziram uma enorme gama de
textos científicos, que consultamos com o intuito de produzir este
trabalho. Foi muito gratificante descobrir que hoje a ciência já permi-
te que se conte o desenrolar da história do Universo. Como somos
privilegiados por vivermos na época atual! Lembremo-nos daqueles
que subiam nos zigurates, na antiga Babilônia, só para apreciarem
melhor o céu, na tentativa de desvendar seus mistérios.

FILME/VÍDEO
Título: Escoamento Laminar, Escoamento Turbulento e Número
de Reynolds
Ano: 2021
Sinopse: Nesse vídeo mostro a diferença entre escoamento laminar
e turbulento. Reynolds estudou como o regime de escoamento em
uma tubulação poderia ser modificado se fossem alterados o diâ-
metro do tubo, a velocidade do escoamento ou as propriedades de
massa específica ou viscosidade do fluido. O resultado da pesquisa
foi um parâmetro adimensional, chamado de número de Reynolds.

UNIDADE III Hidrodinâmica


Introdução a Hidráulica
e Hidrostática
e seusParte
Conceitos
I 41
UNIDADE III
Hidrostática Parte II
e Hidrometria
Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva

Plano de Estudo:
● Pressão relativa e pressão atmosférica;
● Medições de pressão relativa;
● Orifícios e bocais;
● Escoamento com nível constante e variável.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender novos conceitos da hidrostática;
● Aprender como mensurar pressões através da hidrometria;
● Conceituar e compreender o escoamento
através de orifícios e bocais;
● Conceituar e entender o teorema de Torricelli.

42
INTRODUÇÃO

Bem-vindo (a) a terceira unidade.

Já superamos metade do conteúdo da disciplina. Agora nessa unidade, vamos


finalizar o assunto sobre hidrostática e entraremos na hidrometria, na qual aprenderemos
como medir as pressões de que tanto falamos.
Inicialmente conceituaremos a pressão, falaremos sobre pressão relativa e pressão
atmosférica para que possamos entender melhor o que são essas pressões e suas
influências nos sistemas hidráulicos. Além disso, vamos aprender maneiras de aferir tais
pressões para que possamos levar o aprendizado um pouco mais para a prática.
Tendo esses conceitos explanados, seguiremos para o teorema de Torricelli, que
irá nos introduzir no mundo do escoamento através de orifícios e bocais. Pensando na
irrigação agrícola isso é importante e poderemos ver que observações do nosso dia-a-dia
podem ser explicados através dessas novas informações.
Por último, vamos falar dos tipos de escoamento que podemos ter, verificando
a influência que a variação do nível do reservatório por exemplo pode exercer nesse
escoamento. Podemos novamente levar para os fins práticos para que você entenda de
maneira mais fácil esse conteúdo.

Espero que você possa aproveitar bem essa unidade e bons estudos.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 43


1. PRESSÃO RELATIVA E PRESSÃO ATMOSFÉRICA

1.1 Pressão atmosférica


A atmosfera terrestre é formada por diferentes proporções de gases. Esse fluido
exerce uma pressão sobre a superfície terrestre. A essa pressão exercida é dado o nome
de pressão atmosférica (Patm). O valor dessa pressão atmosférica pode variar principal-
mente com a alteração de altitude, por isso o valor padrão da Patm é ao nível do mar
(ALVARENGA; MORAES e AZEVEDO, 2015).
A existência da pressão atmosférica foi demonstrada pelo físico e matemático
italiano chamado de Evangelista Torricelli. Ele realizou um experimento cujo demonstrou a
existência da pressão atmosférica e também aferiu um valor para essa pressão.
O experimento de Torricelli consistiu em um tubo preenchido com mercúrio que
foi vertido em uma cuba também com mercúrio. Esse sistema então entrou em equilíbrio,
se estabelecendo uma coluna de mercúrio de 760 mm (experimento feito ao nível do mar)
dentro do tubo (ZANINI, 2016). Na Figura 1 está o esquema do experimento realizado.

Figura 1 - Esquema do experimento de Torricelli

Fonte: Zanini (2016).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 44


A pressão atmosférica está atuando sobre o líquido na cuba. Também representado
está o ponto A no mesmo nível do ponto B que se encontra no interior do tubo. Como a Lei
de Stevin diz que a pressão entre dois pontos que se encontram no mesmo nível é igual,
sabe-se que a pressão no ponto B tem o mesmo valor da pressão atmosférica.
Com isso, foi determinado que a pressão atmosférica ao nível do mar é de 760
mm de Hg (mercúrio). Na hidráulica geralmente é utilizado a medida de metro de coluna
de água para referir-se a pressão. A água é 13,596 vezes mais leve que o Hg. Então para
converter mm de coluna de Hg para metros de coluna de água a seguinte conta é realizada:

Portanto, a pressão atmosférica ao nível do mar (também chamada de atmosfera


física – atm) é de 760 mm de Hg ou 10,33 m.c.a. Abaixo na Figura 2 é apresentado
algumas outras conversões:

FIGURA 2 - EXEMPLO DE CONVERSÕES DE ATM FÍSICA PARA OUTRAS UNIDADES DE MEDIDA

Fonte: Zanini (2016).

1.2 Pressão relativa


Conforme visto anteriormente, a pressão atmosférica normalmente ocorre apenas
ao nível do mar. Porém existem outras maneiras de aferir a pressão em outras condições,
tendo então a pressão relativa. Na Figura 3 é apresentado um esquema para melhor enten-
dimento cada situação.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 45


FIGURA 3 - RELAÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA E PRESSÃO RELATIVA

Fonte: Zanini (2016).

Primeiramente é apresentado a Patm normal que é a citada anteriormente, a


pressão atmosférica ao nível do mar. Depois a pressão atmosférica local (Patm local) que
irá ser aferida no local e sofrerá influência principalmente da altitude (ZANINI, 2016).
Então para exemplificarmos: qual é a pressão atmosférica no topo do Everest que
se encontra a aproximadamente 8.847 metros de altitude? A pressão atmosférica local é de
253 mm de Hg (3,44 m.c.a), ou seja, 77% menor do que a pressão que encontrada ao nível
do mar. Essa é a pressão atmosférica local, ela leva em consideração as diferenças locais.
Quanto maior a altitude menor a pressão atmosférica, já que uma coluna de fluido menor
exerce pressão sobre aquela superfície.
Depois é apresentada a pressão manométrica. Essa pressão é aferida com base
na Patm local. Portanto, se for inserido pressão em uma tubulação por exemplo, a pressão
manométrica será positiva. Já se for realizado uma sucção nessa tubulação a pressão mano-
métrica será negativa, pois haverá uma pressão abaixo da Patm local. É necessário entender
que a pressão manométrica tem como o zero a Patm local (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).
Já a pressão absoluta é quando se tem a pressão manométrica somada a Patm local
(ZANINI, 2016). Se a Patm local é de 9,0 m.c.a e for realizado uma pressão na tubulação
de 3,0 m.c.a, haverá uma pressão absoluta de 12 m.c.a. No caso de pressão manométrica
negativa, está será subtraída do valor da Patm local.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 46


2. MEDIÇÕES DE PRESSÃO RELATIVA

Diferentes instrumentos podem ser utilizados para aferir a pressão manométrica no


local. Cada uma apresenta suas vantagens e desvantagens. A seguir será exemplificado as
principais maneiras que podem ser utilizadas.

2.1 Piezômetro
O piezômetro é um dos equipamentos mais simples para a aferição de pressão
relativa. Apresenta boa exatidão e pode medir pressões relativamente pequenas, porém
apenas pressões positivas. O piezômetro consiste em um tubo transparente que será in-
serido em um ponto no sistema. O fluido irá formar uma coluna nesse tubo que poderá ser
medida. Através da multiplicação do peso específico pela altura da coluna teremos a pres-
são manométrica. Quando se trabalha com água, essa pressão será então em metros ou
centímetros de coluna de água (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015). Na Figura 4 é apresentado
o esquema de um piezômetro inserido na tubulação.

FIGURA 4 - ESQUEMA DE UM PIEZÔMETRO

Fonte: Zanini (2016).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 47


2.2 Tubo em U
É um instrumento indicado para medir pressões pequenas, no entanto consegui
aferir pressões positivas ou negativas. Consiste em um tubo em forma de U que será inserido
em um ponto do sistema. Uma ponta do U é inserida no sistema e a outra fica aberta sob
influência da Patm local. O fluido irá descer e formará uma coluna na segunda parte do U
que fica aberta. Através da altura formada na coluna, é aferida a pressão (ZANINI, 2016).
Se a coluna estiver abaixo do nível cujo o tubo em U foi inserido, será aferido uma
pressão negativa. Se a coluna estiver acima do nível, será uma pressão positiva. Na Figura
5 é possível verificar a medição de uma pressão no ponto A, no qual a coluna está abaixo
do nível, ou seja, uma pressão negativa (sucção).

FIGURA 5 - ESQUEMA DE UM TUBO EM U PARA AFERIR PRESSÃO

Fonte: Zanini (2016).

2.3 Manômetro metálico (Bourdon)


O manômetro de Bourdon é o mais comumente utilizado, já que facilita a aferição da
pressão apresentando geralmente a escala em duas unidades diferentes. Ele consiste em
uma caixa redonda metálica que possui uma haste flexível ligada a um tubo do tipo Bourdon.
Essa haste flexível ao sofrer a pressão do fluido se distende e aciona a engrenagem que
movimenta o ponteiro. Através da escala impressa no manômetro é possível aferir diretamente
a pressão (ZANINI, 2016). Na Figura 6 está o esquema de um manômetro de Bourdon.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 48


FIGURA 6 - ESQUEMA DE UM MANÔMETRO METÁLICO

Fonte: Zanini (2016).

Esse tipo de manômetro pode sofre desgaste ao longo do tempo ou até mesmo defeitos
de fábrica. Isso leva a imprecisão. Uma forma de reduzir o desgaste é a utilização de algum
líquido nas partes móveis que reduza as vibrações dessas partes. Geralmente é utilizado a
glicerina no interior do manômetro a fim de evitar tais problemas (TOLENTINO JR, 2019).
Esse tipo de manômetro também pode medir pressões negativas, entretanto ele é
chamado de vacuômetro e o ponteiro irá trabalhar de forma invertida nesse caso. Na Figura
7, podemos ver um manômetro com glicerina no seu interior e com escala em psi (escala
em vermelho) e bar (escala em preto).

FIGURA 7 - MANÔMETRO METÁLICO INSTALADO EM SISTEMA

DE IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 49


3. ORIFÍCIOS E BOCAIS

A forma mais comum utilizada para armazenar água é através de um reservatório, ou


a famosa caixa d’água. Ao utilizar a água desse reservatório, a água irá sair por um orifício.
Através da tubulação irá ser conduzida até o ponto final desejado. A forma de escoamento
da água por esse orifício apresenta particularidades que serão apresentadas neste tópico.

3.1 Coeficiente de contração


Quando se tem um orifício no reservatório e a água escoa por ele, é formado um jato.
Ao passar por esse orifício o jato sofre uma compressão. A relação entre a área contraída e
a área do orifício é chamada de coeficiente de contração (ZANINI, 2016).
Na Figura 8 é possível entender como se dá esse escoamento. O reservatório está
representado com o orifício a uma altura H do nível. O ponto 2 é a área desse orifício.

FIGURA 8 - ESQUEMA DE UM ESCOAMENTO POR ORIFÍCIO

Cc: Coeficiente de contração (adimensional)


S2: área contraída após passar pelo orifício (m²)
S: área do orifício (m²)

Fonte: Zanini (2016).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 50


3.2 Teorema de Torricelli e coeficiente de descarga
Para fins hidráulicos, é importante conhecer a velocidade de escoamento no orifício.
Esse ponto seria o indicado pelo número dois na Figura 8.
É possível determinar essa velocidade para um reservatório com nível constante.
Nesse caso a altura da coluna de água será sempre a mesma, mantendo a pressão
constante (TOLENTINO, 2019).
Para determinar essa velocidade, deve-se utilizar o teorema de Bernoulli. No
primeiro caso considerando o reservatório com nível constante (Figura 8):
P1 = P2 = Pressão atmosférica. Z1 – Z2 = h (altura da coluna de água)
Como o nível é constante a velocidade no ponto 1 = 0.

Valores iguais em ambos os lados anula a operação. Então:

O Z2 será subtraído no outro lado da equação. Sabe-se que Z1 – Z2 = h

O 2 * g irá multiplicar o outro lado da equação

A operação inversa de V2 elevado ao quadrado é a raiz quadrada

Portanto para reservatórios de nível constante, a raiz quadrada de 2 multiplicando


a gravidade e a altura da coluna será igual a velocidade da água no orifício pelo qual
está escoando.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 51


A velocidade calculada é maior que a velocidade real no ponto, isso ocorre devido
ao atrito causado pelas paredes do orifício. Essa velocidade real pode ser aferida de
forma instrumental. Com esses dois dados é então calculado o coeficiente de velocidade
(TOLENTINO JR, 2019).

CV: Coeficiente de velocidade (adimensional)


Vreal: Velocidade real (m s-1)
V2: Velocidade calculada (m s-1)

Para obter o coeficiente de descarga portanto, será utilizado o coeficiente de


velocidade e o coeficiente de contração visto anteriormente.

Cd: Coeficiente de descarga (adimensional)


CV: Coeficiente de velocidade (adimensional)
CC: Coeficiente de contração (adimensional)

3.3 Efeito de bocais no escoamento


Bocais podem ser definidos como tubos curtos que são acoplados a orifícios. O
principal objetivo de um bocal é direcionar o jato no escoamento. Os bocais são utilizados
em aspersores, bicos de pulverização entre outros (ZANINI, 2016).
Dessa maneira conforme é alterado a forma do bocal ocorre alteração na vazão.
Isso tudo depende do coeficiente de descarga visto anteriormente. Na Figura 9 são
demonstrados alguns exemplos de formas de bocais e os seus valores de Cc, Cv e Cd.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 52


FIGURA 9 - EXEMPLO DE DIFERENTES BOCAIS E COEFICIENTES MÉDIOS

Fonte: Zanini (2016) apud Azevedo Netto et al. (1998).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 53


4. ESCOAMENTO COM NÍVEL CONSTANTE E VARIÁVEL

Dois tipos de escoamento podem ser vistos quando trabalhamos com o escoamento
por orifícios. O primeiro como já falado anteriormente, seria com o reservatório e nível
constante. Dessa maneira a pressão exercida pela coluna de água é sempre a mesma e
a velocidade de escoamento se mantém igual ao longo do tempo. Consequentemente a
vazão se mantém (ZANINI, 2016).
Já no caso de um reservatório com nível variável, a altura da coluna de água
vai diminuindo conforme o escoamento ocorre. Isso altera a velocidade no decorrer
do escoamento, tendo uma vazão cada vez menor com o passar do tempo, até que o
escoamento cesse (TOLENTINO JR, 2019).
Para entender na prática, basta realizar furos em diferentes alturas em uma garrafa
PET. Ao enchê-la de água com os furos tampados e depois liberar para que ocorra o
escoamento, será possível visualizar que a distância do jato no primeiro orifício vai ser
menor enquanto dos furos mais abaixo são maiores e vão diminuindo.

4.1 Calculando vazão


A pressão utilizada para o escoamento da água é importante para manter uma
vazão. A vazão é o volume de um fluido que escoa por determinado sistema hidráulico em
um determinado tempo. Então, quando se tem um poço artesiano que pode fornecer 0,5 m3
s-1, sabe-se que essa é a vazão do poço (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 54


Diferentes maneiras podem ser utilizadas para medir essa vazão. A primeira maneira
seria de forma indireta, através do diâmetro do conduto (tubulação) e da velocidade da
água que será aferida de forma direta. Segundo a equação da continuidade em que:

Q: Vazão (m3 s-1)


A: Área do conduto (m2)
V: Velocidade do escoamento (m s-1)

Portanto sabendo o diâmetro da tubulação, é possível calcular a área da seguinte


maneira:

A: Área (m2)
D: Diâmetro da tubulação (m)

Uma outra maneira de calcular a vazão é de maneira direta. Através de um


recipiente com volume conhecido, é cronometrado o tempo necessário para completar
todo o volume deste recipiente. Dessa maneira será obtido o volume total e o tempo que
levou para encher o recipiente.

Q: Vazão (L s-1)
V: Volume do recipiente (L)
T: Tempo para encher o recipiente (s)

Como exemplo: uma mangueira encheu um balde de 20 litros em 10 segundos. A


vazão é, portanto, de 2 litros por segundo ou 0,002 m³ por segundo.

1 m³ de água é o mesmo que 1000 litros. Então:

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 55


Como a vazão é dada em m³ por segundo, para encontrar a vazão em m³ por hora,
basta multiplicar a vazão por 3600 que é quantos segundo existem em uma hora. Para o
exemplo demonstrado seria, portanto:

SAIBA MAIS

Os bicos de pulverização são quase imperceptíveis ao vermos um enorme pulverizador


auto propelido. No entanto são de extrema importância quando buscamos uma aplicação
eficiente e com boa cobertura.
Diversos são os tipos de bico para pulverizar, alguns exemplos são: leque plano padrão;
leque plano uniforme; cone cheio e cone vazio. Cada tipo de bico pode entregar um
tamanho de gota diferente (mais fino ou mais grosso) e consequentemente uma vazão
diferente. Essa diferença está baseada no tamanho do orifício e forma do bocal que
iremos ter naquele bico.
Conforme a escolha de um bico com determinado diâmetro do orifício e forma do bocal
podemos aplicar defensivos de maneira diferenciada, com objetivos diferentes. No
entanto, é necessário atenção para o desgaste e entupimento desses bicos, já que isso
pode causar variação no diâmetro do orifício e consequentemente alteração no tamanho
da gota e na vazão.

Fonte: Benassi et al. (2020).

REFLITA

“O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”

Fonte: Isaac Newton (1683).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 56


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dessa unidade, conseguimos avançar um pouco mais para os aspectos


práticos da mecânica dos fluidos e hidráulica. Entendemos que mesmo sem conseguirmos
ver, existe uma grande coluna de fluido na atmosfera que exerce uma pressão sobre
a superfície. Essa pressão que chamamos de pressão atmosférica está diretamente
relacionada a altitude, o que nos leva aos conceitos de pressão relativa que está ligada a
referência que adotamos para iniciar as medidas.
Dentro da hidráulica o conceito de pressão manométrica é um muito importante, já
que utilizamos essa pressão para dimensionar um sistema hidráulico. A pressão manométrica
pode ser positiva quando exercemos pressão em uma tubulação por exemplo, ou negativa
quando seccionamos essa tubulação.
Entendemos melhor como podemos aferir a pressão, podendo utilizar um piezômetro,
tubo em U ou manômetro metálico. Com o entendimento completo sobre pressão, partimos
para o escoamento da água. O diâmetro de um orifício e a forma de um bocal podem
influenciar na velocidade e vazão na qual a água será escoada.
Vimos que um nível constante ou variável de um reservatório também irá influenciar
no escoamento da água. Por fim aprendemos como calcular a vazão do escoamento e a
relação dessa vazão com o diâmetro do conduto e com a velocidade que a água estará
sendo escoada. Sabemos então que vazão é um volume escoado em determinado tempo.
Aumentando o diâmetro da tubulação ou a velocidade do escoamento, aumentamos a vazão.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 57


LEITURA COMPLEMENTAR

A utilização de aspersores na irrigação é muito comum. Estes equipamentos atuam


através de um orifício que irá realizar o escoamento da água de forma pulverizada para
irrigarmos uma cultura. O diâmetro desse orifício pode ser ajustado em alguns modelos de
aspersores, regulando então a sua vazão. Um trabalho realizado por Castro et al. (2019) no
laboratório de irrigação do Instituto Federal do Rio de Janeiro (campus pinheiral) teve como
objetivo demonstrar a influência do diâmetro do orifício do aspersor.
Foram regulados diferentes diâmetros do orifício do aspersor e aferidos a vazão e
a uniformidade de distribuição. Os resultados demonstraram que com o aumento do orifício
a vazão aumentou, chegando a um patamar de estabilidade. A uniformidade de distribuição
teve influência da variação do diâmetro do orifício, sendo que uma abertura intermediária
apresentou melhor uniformidade de distribuição na irrigação.
Fonte: Castro et al. (2019).

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 58


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Hidrometria Aplicada
Autor: Irani dos Santos, Heinz Dieter Fill, Martha Sugai e Homero
Uba.
Editora: Lactec.
Sinopse: O livro hidrometria aplicada aborda metodologias e
técnicas de medição dos recursos hídricos em termos de quantidade
e qualidade e divide-se em oito capítulos: hidrologia e hidrometria;
medições de variáveis hidrológicas; levantamentos topográficos
e batimétricos; medição de vazão líquida; curva de descarga;
medição do transporte de sedimentos; coleta de amostras para
monitoramento de qualidade da água; monitoramento de estuários
e ambientes marinhos. Os termos tratados são de interesse de
profissionais e técnicos envolvidos diretamente na atividade de
coleta e análise de dados ou atuantes na esfera de tomada de
decisão, como também de estudantes, professores e pesquisadores
ligados à área de recursos hídricos.

FILME/VÍDEO
Título: Oficina de experimentos PET:A Garrafa Furada
Ano: 2012
Sinopse: Nesse experimento podemos visualizar a influência da
altura de coluna d’agua sobre o escoamento por orifícios em um
reservatório com nível variável.

UNIDADE III Hidrostática Parte II e Hidrometria 59


UNIDADE IV
Condutos Forçados
Professor Me. Lucas Henrique Maldonado da Silva

Plano de Estudo:
● Classificação dos movimentos;
● Perda de carga contínua;
● Perda de carga localizada;
● Anormalidades em sistemas hidráulicos.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e exemplificar os tipos de movimento de escoamento;
● Compreender e calcular perda de carga contínua e localizada;
● Conhecer tipos de anormalidades em sistemas hidráulicos.
.

60
INTRODUÇÃO

Bem-vindo (a) a quarta unidade.


Chegamos a última unidade da disciplina de mecânica dos fluidos e hidráulica.
Nessa unidade conseguiremos estudar conceitos mais próximos da prática e entender a
importância do que vimos até agora.
Vamos iniciar a unidade conceituando e exemplificando os tipos de movimentos
que podemos ter no escoamento de água em um sistema hidráulico. Após isso vamos
entender o que é a perda de carga contínua, qual a influência da rugosidade do tubo que
utilizamos e compreender melhor as características dos tipos de materiais utilizados.
Essa unidade trará um pouco mais de aplicação prática em que vamos compreen-
der as formas que podemos calcular a perda de carga contínua. Vamos falar sobre métodos
teóricos e métodos empíricos. Com isso poderemos calcular a perda de carga contínua
através da fórmula de Hazen-Williams.
Vamos falar também sobre a perda de carga localizada e quais tipos de acessórios
podem ser encontrados em um sistema hidráulico. Além é claro de calcularmos esse tipo
de perda de carga.
Para finalizar a unidade, vamos falar um pouco sobre o tipo de anormalidades que
podemos encontrar em sistemas hidráulicos como o golpe de Aríete e a cavitação.

Espero que você possa aproveitar bem essa unidade e bons estudos.

UNIDADE IV Condutos Forçados 61


1. CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS

O movimento do fluido em condutos forçados pode ser classificado em permanente


e variável. Essa classificação está diretamente ligada com a velocidade do fluido e com a
pressão que está sendo fornecida para esse sistema que consequentemente afetam a vazão.
Segundo Zanini (2016) as classificações são:
Permanente: possui vazão constante
● Uniforme: Não tem alteração na velocidade nem na pressão fornecida entre
dois pontos dentro do sistema.
● Variável: Apresenta alteração na velocidade e na pressão entre dois pontos
dentro do sistema. No entanto a vazão ao final é a mesma.
Não permanente: possui vazão variável tendo variação na velocidade e pressão
fornecida também.

Para melhor entendimento, será utilizado um exemplo de um reservatório. Na


Figura 1 está apresentado o esquema.

FIGURA 1 - ESQUEMA DE DIFERENTES SITUAÇÕES DE ESCOAMENTO PARA UM RESERVATÓRIO

Fonte: Zanini (2016).

UNIDADE IV Condutos Forçados 62


Para todos os casos exemplificados na Figura 1 a vazão e o nível de água do
reservatório são constantes. Isso significa que sempre haverá a mesma pressão fornecida
para o sistema já que a coluna de água será igual sempre.
No caso A o diâmetro da tubulação também é igual em todo o comprimento L, por
isso não terá nenhuma alteração de velocidade no decorrer do escoamento. Dessa maneira
esse é o movimento permanente uniforme.
No caso B ocorre uma diminuição do diâmetro da tubulação ao longo do comprimento
L. Por isso, haverá um aumento de velocidade que irá acelerar esse movimento. Com variação
da velocidade e uma vazão constante será um movimento permanente variável. Como a
velocidade aumenta gradualmente, o movimento será então gradualmente acelerado.
No caso C ocorre o aumento do diâmetro da tubulação ao longo do comprimento L.
Isso irá causar uma diminuição da velocidade que irá retardar esse movimento. Novamente
terá uma variação da velocidade com a vazão constante. Nesse caso será o movimento
permanente variável gradualmente retardado.
Tendo esses mesmos casos, porém com uma variação no nível da água
(consequentemente da pressão fornecida) e da vazão. A classificação será um movimento
não permanente, podendo ser acelerado ou retardado conforme as alterações que ocorrer
no diâmetro da tubulação (ZANINI, 2016).

UNIDADE IV Condutos Forçados 63


2. PERDA DE CARGA CONTÍNUA

2.1 Natureza da perda de carga


Na segunda unidade foi tratado do teorema de Bernoulli, no qual era aplicado para
fluidos perfeitos que não apresentam viscosidade e são incompressíveis. No caso da água que
é um fluido real, ocorre a perda de energia causada pelo atrito da água com as paredes do tubo
e também pelo atrito interno entre as moléculas de água (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).
Por isso é necessário calcular o que é chamado de perda de carga (hf) que foi acrescida
ao final da equação de Bernoulli para adequar a equação quando utilizada para fluidos reais.
Portanto, a equação de Bernoulli é apresentada da seguinte maneira:

g: aceleração da gravidade (9,81 m s-2)


D: Densidade da água (1000 kgf m3)
V1: Velocidade no ponto 1 (m s-1)
P1: Pressão no ponto 1 (kgf m-2)
Z1: Altura piezométrica do P1 (m)
V2: Velocidade no ponto 2 (m s-1)
P2: Pressão no ponto 2 (kgf m-2)
Z2: Altura piezométrica do P2 (m)
Hf: perda de carga (m)

UNIDADE IV Condutos Forçados 64


Essa perda de carga pode ser classificada como (MARTINS e GUKOVAS, 2010):
● Contínua: é a perda de carga que ocorre nos trechos retilíneos da tubulação.
● Localizada: é a perda de carga que ocorre devido as singularidades da tubulação
como por exemplo conexões, medidores, válvulas etc.

A perda de carga contínua é predominante. Já a perda de carga localizada será


mais problemática em sistemas dotados de um número maior de acessórios como em
instalações prediais e estações de bombeamentos (TOLENTINO JR, 2019).

2.2 Rugosidade de tubos


Quando o regime de escoamento é laminar a perda de carga ocorre somente devido
ao atrito interno. Nesse regime, a água forma um filme nas paredes da tubulação reduzindo
a praticamente zero o atrito com a rugosidade da parede do tubo (GUEDES, 2018).
Quando o regime de escoamento é turbulento, esse filme já não é formado. Dessa
maneira ocorre o atrito interno das moléculas e também o atrito com a rugosidade da parede
do tubo. Portanto, a perda de carga é resultado dessas duas fontes de atrito (GUEDES, 2018).
Raramente é possível obter um regime de escoamento laminar para a água. Dessa
maneira a rugosidade do tubo importa, sendo que essa característica depende de alguns
fatores como: processo de fabricação; envelhecimento do tubo; desgaste do tubo e tipo de
material (CARVALHO, 2009).
Essa rugosidade será determinada por um valor em mm no qual é apresentado
na Tabela 1.

TABELA 1 - RUGOSIDADE ABSOLUTA (MM) PARA DIFERENTES TIPOS DE MATERIAIS

Fonte: Carvalho (2009).

UNIDADE IV Condutos Forçados 65


2.3 Determinação da perda de carga contínua
A perda de carga contínua pode ser calculada através de diferentes metodologias,
sendo teóricas (fórmula universal) ou empíricas (Hazen-Williams). Algumas limitam o uso
para determinadas condições, outras não.

2.3.1 Fórmula Universal (Darcy-Weisbach)


A fórmula universal de Darcy-Weisbach pode ser utilizada sem nenhuma restrição. É
válida para qualquer tipo de fluído, temperatura e tanto para fluxo laminar quanto turbulento
(NETTO e FERNÁNDEZ, 2015). Abaixo segue a equação:

Em que:
Hf: perda de carga (metros de coluna do fluido)
f: coeficiente de atrito (adimensional)
L: comprimento da tubulação (m)
D: diâmetro da tubulação (m)
V: velocidade média do fluido (m s-1)
g: aceleração da gravidade (9,81 m s-2)

A dificuldade para a utilização da fórmula universal é a determinação do


coeficiente de atrito que depende do número de Reynolds e da rugosidade relativa do
material utilizado. Diferentes são as fórmulas que podem ser utilizadas para determinar o
coeficiente de atrito (ZANINI, 2016).
Para o regime laminar:
● Equação de Poiseuille

Para o regime turbulento:


● Von Karman (tubos lisos)

Onde: R é o número de Reynolds

● Nikuradse (tubo rugoso)

Em que: D é o diâmetro e ε a rugosidade relativa.

UNIDADE IV Condutos Forçados 66


Devido a essa dificuldade na determinação do coeficiente de atrito (f) algumas
fórmulas empíricas podem ser utilizadas para determinar a perda de carga contínua. A
principal é a fórmula de Hazen-Williams (ZANINI, 2016).

2.4 Fórmula de Hazen-Williams


Alguns princípios devem ser seguidos para que a fórmula de Hazen-Williams seja
utilizada (FRIZZONE et al., 2012) São eles:
● Aplicado para escoamento de água a temperatura ambiente;
● Regime de escoamento turbulento.

A fórmula de Hazen-Williams foi inicialmente recomendada apenas para diâmetros


acima ou igual a 50 mm. No entanto, segundo Zanini (2016) tem sido empregada para
diâmetros menores devido os bons resultados observados.
Abaixo é apresentada a equação de Hazen-Williams:

Cujo:
Hf: perda de carga contínua (m)
L: comprimento retilíneo da tubulação (m)
D: diâmetro da tubulação (m)
Q: vazão (m3 s-1)
C: coeficiente de Hazen-Williams (tabelado)

A perda de carga é calculada baseada no comprimento total da tubulação, no diâmetro,


na vazão do sistema e no coeficiente de Hazen-Williams. O coeficiente C depende da rugosidade
do material utilizado na fabricação do tubo (ZANINI, 2016) e é apresentado na Tabela 2.

UNIDADE IV Condutos Forçados 67


TABELA 2 - COEFICIENTE C DE HAZEN-WILLIAMS CONFORME CADA MATERIAL

Fonte: Guedes (2018).

Para facilitar o entendimento, é apresentado um exemplo com números. Para


um caso específico de um sistema hidráulico com 150 metros retilíneos de tubulação em
PVC (C = 140) com diâmetro de 75 mm (0,075 m) e vazão de 28,8 m3 h-1 (0,008 m3 s-1).
A perda de carga será:

Essa é, portanto, a forma mais comum na qual a perda de carga contínua é


calculada. Essa perda de carga calculada é somada a pressão manométrica final que é
necessária para recalcar água de um ponto a outro.

UNIDADE IV Condutos Forçados 68


3. PERDA DE CARGA LOCALIZADA

As perdas de carga localizada são ocasionadas devido às mudanças bruscas no


escoamento. Mudanças de direção do fluxo de escoamento e mudanças da seção da
tubulação são exemplos que causam perda de carga localizada. Por isso peças inseridas
no sistema, tais como curvas, reduções e válvulas causam perda de carga localizada
(MARTINS e GUKOVAS, 2010).
O principal motivo para tais peças causarem a perda de carga localizada é devido
ao aumento da turbulência nessas regiões. Isso faz com que ocorra maior choque entre as
moléculas e consequentemente perdendo energia (ZANINI, 2016).
Uma maneira de calcular a perda de carga localizada é através da equação abaixo:

No qual:
Hfloc: perda de carga localizada (m)
K: coeficiente de perda de carga (adimensional)
V: velocidade de escoamento (m s-1)
g: aceleração da gravidade (9,81 m s-2)

UNIDADE IV Condutos Forçados 69


O coeficiente K para calcular a perda de carga localizada é tabelado para cada
tipo de peça. Esse coeficiente foi determinado experimentalmente para as principais peças
utilizadas. Na Figura 2 é apresentado o coeficiente K para as principais peças utilizadas em
sistemas hidráulicos.

FIGURA 2 - QUADRO COM VALORES DO COEFICIENTE K PARA PRINCIPAIS PEÇAS

UTILIZADAS EM SISTEMAS HIDRÁULICOS

Fonte: Zanini (2016).

No entanto, a maneira mais comum de calcular perda de carga localizada é através


do método de comprimentos equivalentes. Nesse caso foi determinado experimentalmente o
valor de um comprimento virtual de tubulação para cada peça (Figura 3). Essa determinação
ocorre em função do diâmetro da tubulação (ZANINI, 2016).
Como mostrado anteriormente, o comprimento total da tubulação determinava
a perda de carga contínua. Pelo método de comprimentos equivalentes é transformado
a perda de carga localizada de uma peça em um valor de comprimento equivalente ao
daquela tubulação com determinado diâmetro.

UNIDADE IV Condutos Forçados 70


Por exemplo, uma curva de 45° (25 mm de diâmetro) representa 0,2 m de
comprimento virtual. Já por exemplo uma válvula de globo totalmente aberta (25 mm de
diâmetro) representa 8,2 m de comprimento virtual.
Dessa maneira é possível fazer o levantamento de todas as peças especiais presentes
no sistema hidráulico e através da tabela determinar quantos metros (comprimento virtual)
deverão ser somados a perda de carga contínua para obter a perda de carga total do sistema.
Como exemplo, um sistema hidráulico projetado com diâmetro de 75 mm em PVC
(C = 140), com 150 metros de tubulação e vazão de 28,8 m3 h-1 (0,008 m3 s-1). Nesse
sistema possui:
2 cotovelos 90° raio médio: 2,1 m * 2 = 4,2 m
1 curva 45°: 0,6 m
Comprimento total: 4,2 + 0,6 = 4,8 m + 150 m de tubulação = 154,8 m

Considerando a perda de carga localizada haverá um aumento da perda de carga


de 6,69 (calculado no exemplo anterior) para 6,91 m. Isso representa um aumento de 3,2%.

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FIGURA 3 - QUADRO COM VALORES DE COMPRIMENTOS VIRTUAIS PARA PEÇAS

ESPECIAIS EM FUNÇÃO DO DIÂMETRO

Fonte: Guedes (2018).

UNIDADE IV Condutos Forçados 72


4. ANORMALIDADES EM SISTEMAS HIDRÁULICOS

4.1 Golpe de aríete


Golpe de aríete é uma das principais anormalidades que pode ser encontrada em
sistemas hidráulicos. Ao ocorrer o golpe de aríete a tubulação sofre uma “pancada” na qual
pode danificar tubos e conexões, levando até mesmo ao rompimento ou esmagamento da
tubulação e de tais peças (NETTO e FERNÁNDEZ, 2015).
Esse fenômeno ocorre devido a uma variação súbita de pressão no interior da
tubulação. Geralmente essa mudança de pressão está associada a mudança de velocidade.
Seja uma aceleração ou desaceleração do fluxo de água (CARVALHO, 2009).
A forma mais comum de ocasionar o golpe de aríete no sistema é com o fechamento
rápido de um registro por exemplo. Este fechamento interrompe subitamente o fluxo de água
causando uma sobre pressão interna, causando o golpe no sistema (CARVALHO, 2009).
Outras causas que ocasionam o acontecimento do golpe de aríete são (ZANINI, 2016):
● Rompimento súbito de algum ponto da tubulação;
● Partida ou parada de bombas;
● Obstrução súbita da seção do tubo em algum ponto;
● Presença de bolsões de ar ou vapor no interior da tubulação;

No entanto, o golpe de aríete pode ser utilizado de forma positiva na hidráulica. É o


exemplo do carneiro hidráulico que é utilizado por produtores para recalcar água sem o uso
de bombas e consequentemente de energia elétrica.

UNIDADE IV Condutos Forçados 73


O carneiro hidráulico conta com uma válvula de sucção, que ao ser acionada causa
o golpe de aríete na tubulação, fazendo com que a água retorne no sentido do reservatório
alimentador. Essa água que retorna com uma sobre pressão acaba sendo recalcada para
o reservatório desejado (YKEDA; BARBOSA e DEL PINO, 2019).
O carneio hidráulico é instalado em desnível ao reservatório que irá alimentar o
sistema para posteriormente recalcar água. O material complementar apresenta mais
informações sobre o carneiro hidráulico e sua instalação.

4.2 Cavitação
A cavitação é um fenômeno que ocorre geralmente na moto bomba utilizada
para recalcar água. A cavitação ocorre devido à queda de pressão no sistema durante o
movimento do fluido. Essa queda de pressão está associada a um aumento da velocidade
do fluxo do fluido no interior do sistema. Quando essa pressão fica abaixo da pressão de
vapor do fluido que está sendo recalcado, bolhas são formadas no interior da tubulação
devido a vaporização do fluido (CARVALHO, 2009).
Essas bolhas no interior da tubulação podem causar trincas microscópicos na
tubulação ou nos rotores da bomba por exemplo. Causando danos ao sistema de forma
geral (ZANINI, 2016).
Algumas medidas podem ser tomadas para evitar a cavitação:
● Elevar o nível do reservatório que irá abastecer o sistema;
● Rebaixar o nível do ponto de sucção;
● Manter a tubulação sempre cheia;
● Diminuir a temperatura do fluido;
● Diminuir a velocidade de escoamento.

UNIDADE IV Condutos Forçados 74


SAIBA MAIS

Saiba que a dificuldade no aprendizado da disciplina de mecânica de fluidos e hidráulica


atinge diversos estudantes. No geral, são estudados alguns conceitos abstratos que
não é possível enxergar isso de forma clara. Essas características acabam dificultando
o aprendizado dos alunos. Baseado nesse problema, Panzera (2016) desenvolveu uma
ferramenta pedagógica baseado na linguagem de programação Visual Basic com o
intuito de facilitar o aprendizado da disciplina.
A ferramenta consiste em uma interface computacional que permite o aluno observar
solução de problemas relacionados a conceitos como: linha piezométrica; perda de carga
e comportamentos hidráulicos. A utilização dessa ferramenta associada a mediação do
professor no ensino pode facilitar o entendimento dos alunos. Esse é um exemplo da
tecnologia aplicada ao ensino que pode trazer grandes benefícios.

Fonte: Panzera (2016).

REFLITA

“Se você quiser descobrir os segredos do Universo, pense em termos de energia, fre-
quência e vibração.”

Fonte: Nikola Tesla (1910).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da quarta unidade de mecânica dos fluidos e hidráulica. Essa foi
uma unidade que trabalhou mais conceitos práticos, podendo mostrar as aplicações dessa
disciplina. Entendemos como funciona os tipos de movimento, no qual temos um movimento
permanente se temos vazão constante e o não permanente caso a vazão seja variável.
Compreendemos de onde advém a perda de carga no sistema hidráulico e como
podemos calcular essa perda. Falamos sobre a influência da rugosidade do tubo sobre a
perda de carga contínua, sendo maior quando temos materiais mais rugosos. Aprendemos a
calcular a perda de carga através de métodos teóricos como a fórmula universal que depende
do fator de atrito e também através de modelos empíricos como a fórmula de Hazen-Williams.
Ao falarmos de perda de carga localizada, entendemos sua dependência das peças
acessórios utilizadas no sistema e que depende do diâmetro dessas peças. Compreendemos
como utilizar o método de comprimento equivalente, no qual temos um valor tabelado para
cada peça segundo seu diâmetro, no qual acrescemos ao comprimento da tubulação para
obter a perda de carga total do sistema.
Por fim discutimos sobre anormalidades no sistema como golpe de aríete e a
cavitação. Compreendemos que o golpe de aríete ocorre devido a uma variação súbita de
pressão no sistema. A cavitação também foi explicada, mostrando que este fenômeno está
ligado a queda de pressão abaixo da pressão de vapor. A água então vaporiza no sistema
e formas bolhas de vapor no interior da tubulação que com o tempo vão danificando peças
do sistema como rotor da bomba e a própria tubulação.
Espero que tenha aproveitado o conteúdo e aprendido mais sobre a mecânica dos
fluidos e hidráulica.

UNIDADE IV Condutos Forçados 76


LEITURA COMPLEMENTAR

O carneiro hidráulico é um equipamento que utiliza o golpe de Aríete de forma


positiva para que a água possa ser bombeada sem a necessidade de energia. Além disso
o carneiro hidráulico não depende de uma mão de obra especializada para sua utilização e
a manutenção é baixa e simples. Resumidamente o dispositivo deve ser instalado em uma
cota abaixo do nível do reservatório (pelo menos 1 metro) no qual irá bombear a água. Com
a água descendo no sentido do carneiro hidráulico a água ganha velocidade, ao chegar no
limite da válvula de sucção a mola da mesma é acionada e se fecha, causando a abrupta
mudança de velocidade da água. Essa alteração causa um aumento de pressão no sistema
que irá bombear a água que continua entrando no sistema para o local desejado.
Para evitar o retorno da água bombeada para o reservatório, existe a válvula de
retenção que permite a água subir, porém ao cessar a pressão ela não retorna. Conforme
o diâmetro utilizado para a produção do carneiro hidráulico maior a capacidade e distância
de bombeamento (podendo bombear para até 400 m de distância) no entanto mais desnível
inicial é necessário. Ykeda, Barbosa e Bel Pino (2019) demonstram a necessidade de
estabelecer novos modelos de carneiro hidráulico para melhora do rendimento do uso
dessa energia gerada pelo golpe de Aríete, consequentemente aumentando a vazão e a
altura de bombeamento.
Fonte: Ykeda, Barbosa e Del Pino (2019).

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Perda de carga nas conexões de emissores sobre tubos
de polietileno: análise dos diferentes aspectos envolvendo
equações de perda de carga em fluxo turbulento nos sistemas de
microirrigação
Autor: Greco de Guimarães Cardoso Gabriel
Editora: Novas Edições Acadêmicas
Sinopse: Nos projetos hidráulicos de irrigação são contabilizadas
as perdas de carga totais, que seriam as perdas continuas ou
principais e as localizadas, objetivando maximizar a uniformidade
de distribuição de água, caracterizando um conjunto motobomba
adequado ao sistema de irrigação e com isso, minimizando os
custos anuais e de implantação do projeto. O procedimento de
dimensionamento de uma linha lateral de micro irrigação necessita
avaliar com precisão as perdas de carga distribuídas na tubulação
e as perdas de carga localizadas nas inserções dos emissores
com os tubos. Estas perdas localizadas podem ser significativas
quando comparadas com as perdas de carga totais, devido ao
grande número de emissores instalados ao longo da linha lateral.
Este trabalho reporta os resultados de um experimento sobre per-
da de carga distribuída, fator de atrito e perda de carga localizada
em conexões de emissores “on-line” em tubos de polietileno de
pequeno diâmetro.

FILME/VÍDEO
Título: Carneiro Hidráulico Epagri - Montagem e Instalação
Ano: 2015.
Sinopse: Veja passo a passo como fazer a montagem e a
instalação do carneiro hidráulico modelo Epagri, que faz sucesso
em todo o Brasil.

UNIDADE IV Condutos Forçados 78


REFERÊNCIAS

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CASTRO, M. C., JUNIOR, M. D. F. V., ESTEVES, J. S. S., LEITE, L. N. P. Efeito do me-


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TOLENTINO JR, J. B. Hidráulica agrícola. Curitibanos: [s.n], 2019. Ebook. Disponível em:
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plástico-madeira. Floresta, 2004.

YKEDA, G. E; BARBOSA, F. S.; DEL PINO, M. A. I. T. Estudo do rendimento de bombea-


mento para um protótipo de carneiro hidráulico de PVC. Revista agrogeoambietal, 2019.

ZANINI, J. R. Hidráulica, teoria e exercício. Jaboticabal: Editora UNESP, 2016.Ebook.


Disponível em: encurtador.com.br/kIQV6. Acesso em: 12 out. 2021.

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ZANINI, J. R. Hidráulica, teoria e exercício. Jaboticabal: Editora UNESP, 2016.Ebook.
Disponível em: encurtador.com.br/kIQV6. Acesso em: 12 out. 2021.

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CONCLUSÃO GERAL

Parabéns caro (a) aluno (a)

você concluiu o estudo teórico disciplina de mecânica dos fluidos e hidráulica.


Muitos conceitos novos e algumas contas foram demonstradas nessa disciplina e espero
que você possa ter aproveitado o máximo possível.
Iniciamos nossos estudos falando sobre a introdução a mecânica dos fluidos e a
hidráulica. Entendemos um pouco mais sobre a história da hidráulica e falamos de alguns
conceitos importantes que utilizamos nas outras unidades. As propriedades dos fluidos
que aprendemos nessa unidade foi de extrema importância para o restante do estudo.
Finalizamos a Unidade I falando sobre tipos de tubos, como são fabricados e para que
serve cada tipo de tubo.
Já na Unidade II, discutimos os regimes de escoamento, logo utilizamos conceitos
como o número de Reynolds que aprendemos na primeira unidade. Falamos também sobre
a equação da continuidade, teorema de Bernoulli e as leis de Pascal e Stevin, informações
essas importantíssimas para seguirmos adiante na disciplina. Vimos a relação entre vazão,
área do conduto e velocidade, além de entender as diferenças de velocidade e pressão que
podemos encontrar entre dois pontos de uma mesma tubulação.
Na Unidade III finalizamos a parte de hidrostática, aprendendo o que é pressão
atmosférica e pressão relativa. Entramos, então, no estudo da hidrometria a fim de aprender
como medimos essas pressões. Através do teorema de Torricelli entendemos melhor o
escoamento através de orifícios e bocais.
A nossa última unidade tratou de questões mais práticas no qual classificamos o
tipo de movimento (permanente e não permanente) conforme a vazão do sistema. Também
aprendemos o que são as perdas de carga contínua e localizada e de onde surgem. Além
de utilizarmos métodos teóricos e práticos para calcular tais perdas.
Para finalizar, falamos de anormalidades que ocorrem em sistemas hidráulicos, tais
como golpe de aríete e cavitação. Com isso concluímos o conteúdo e agora entendemos
melhor como funciona a hidráulica e quais fatores irão interferir quando forem dimensionar
um sistema hidráulico, principalmente quando estudarem irrigação agrícola.

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