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Biblioteconomia

Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira


Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V658e Vieira, Leociléa Aparecida


Biblioteconomia / Leociléa Aparecida Vieira, Lucilene
Aparecida Francisco. Paranavaí: EduFatecie, 2022.
122 p.: il. Color.

1. Biblioteconomia. 2. Ciência da Informação. I. Francisco


Lucilene Aparecida. II. Centro Universitário UniFatecie. III.
Núcleo de Educação a Distância. IV. Título.

CDD: 23 ed. 027


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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Extensão - CONPEX
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Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto

Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
André Dudatt
AUTORAS

Profª Drª Leociléa Aparecida Vieira

● Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São


Paulo (PUC/SP).
● Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
● Licenciada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (UCB).
● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
● Especialista em Administração Estratégica Em Recursos Humanos pela Univer-
sidade Tuiuti do Paraná (UTP).
● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto Brasileiro
de Pós Graduação e Extensão (IBPEX).
● Especialista em Educação a Distância: Teoria, Metodologia e Aprendizagem
pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL).
● Especialista em Educação Especial Inclusiva e Metodologias de Ensino pela
Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI).´

Funcionária aposentada do Sistema de Bibliotecas da UFPR. Foi professora em


diversas Instituições de Ensino Superior (IES), dentre elas: Grupo Uninter, Universidade
Positivo, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Faculdade Educacional da Lapa, Fa-
culdades Opet, Universidade Estadual do Tocantins. Atuou como coordenadora de cursos,
na modalidade presencial e a distância. Atualmente, compõe o Banco de Avaliadores da
Educação Superior INEP/Basis e é professora adjunta do curso de licenciatura em Pedago-
gia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – campus de Paranaguá e do Mestrado
Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei) (Polo Unespar).

Link curriculum lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/0063909006157307


Prof. Ms. Lucilene Aparecida Francisco

● Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina.


● Mestre em Políticas de Informação, pela Universidade Estadual de Maringá.
● Especialista de Gestão Pública pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina

Bibliotecária na Universidade Estadual do Paraná – Campus Apucarana. Atuou


também como bibliotecária em instituições privadas de ensino técnico e superior e como
docente no curso de especialização em Política Social da Universidade Estadual do Paraná
– Campus Apucarana.

Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6226753997220286


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Caro(a) aluno(a)!

Sejam bem vindos(as) à disciplina Fundamentos da Biblioteconomia!



Esta disciplina tem por intuito refletir sobre os fatos que contribuíram para o sur-
gimento da Biblioteconomia desde os primórdios da civilização até a contemporaneidade.
Para fazer esta trajetória dividimos o texto em quatro unidades. Vejamos!
Na Unidade 1 denominada Fundamentos da Biblioteconomia, iniciamos a caminhada
com os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Infor-
mação. Refletiremos sobre a origem da escrita e dos registros do conhecimento e as influências
que estes fatos tiveram na constituição da Biblioteconomia como área do conhecimento e,
também, discutiremos sobre a caracterização das bibliotecas enquanto espaços sociais.
Na Unidade 2 sob o título de Evolução Histórica da Biblioteconomia, iniciaremos
nosso passeio pela compreensão do vocábulo e depois dividiremos nossa trajetória em
três períodos distintos: Antiguidade que compreende desde o início da civilização; Idade
moderna que vai de 1453 até 1789, que corresponde ao período da invenção da Imprensa
e o Renascimento e, por fim, Idade Contemporânea, a partir de 1789 até a atualidade.
Na Unidade 3 intitulada Documentação, iniciaremos o percurso pelo conceito, de-
pois perpassaremos pelos aspectos concernentes sua origem e natureza, bem como, sua
finalidade em meio a crescente massa de documentos técnicos e científicos produzidos
pela humanidade, por fim, identificaremos as contribuições das teorias semióticas aos
processos de significação, dimensionamento e tratamento da informação.
Na Unidade 4: Biblioteconomia no Brasil, conheceremos sobre o panorama da
Biblioteconomia no país. Desta maneira, buscaremos na história conhecer sobre o surgi-
mento do curso e qual a razão motivou a sua criação. Discutiremos sobre as atividades do
bibliotecário e quais os desafios enfrentados por este profissional na contemporaneidade.
Ao final de cada unidade apresentamos sugestões de leituras e filmes que o(a)
ajudarão na ampliação dos seus conhecimentos e fixação do conteúdo.
O caminho é longo, mas prazeroso, então que tal iniciarmos a nossa caminhada?

Bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Fundamentos da Biblioteconomia

UNIDADE II.................................................................................................... 37
Evolução Histórica da Biblioteconomia

UNIDADE III................................................................................................... 59
Documentação

UNIDADE IV................................................................................................... 85
Biblioteconomia no Brasil
UNIDADE I
Fundamentos da Biblioteconomia
Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira
Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco

Plano de Estudo:
● Conceitualização;
● Documentação e Ciência da Informação;
● Escrita e patrimônio cultural: origem e razão de ser da área;
● Bibliotecas e a origem da Biblioteconomia.

Objetivos da Aprendizagem:
● Apresentar conceitos que fundamentam a Biblioteconomia;
● Identificar os pontos comuns e divergentes entre a Documentação
e Ciência da Informação;
● Contextualizar historicamente sobre o surgimento da escrita;
● Caracterizar a biblioteca no decorrer dos tempos e os fatos
que deram origem a Biblioteconomia.

3
INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a)!

Nesta Unidade convidamos você a conhecer sobre as origens da Biblioteconomia.


Nesse sentido, iniciaremos a nossa caminhada pela conceitualização, pois é impossível
estudarmos sobre determinada área do conhecimento se não conhecermos os seus signifi-
cados e os fatos históricos que deram a sua origem. Para tanto, dividimos o conteúdo dessa
unidade em quatro itens:
Conceitualização, onde apresentamos os diferentes conceitos atribuídos à Biblio-
teconomia;
Documentação e Ciência da Informação, a qual aborda os conceitos e origens da
Documentação e da Ciência da Informação suas relações, diferenciações e aproximações
com a Biblioteconomia;
A origem da escrita e dos registros do conhecimento e suas influências para consti-
tuição da Biblioteconomia, considerando que desde a pré-história, o homem sente a necessi-
dade de preservar registros de suas atividades e de deixar uma marca para a posterioridade;
Origem e caracterização das bibliotecas, enquanto espaços sociais destinados à guar-
da, organização e disseminação da informação e preservação da memória da humanidade.
Ao final desta unidade deixamos algumas sugestões de leitura para fixação do
conteúdo, a fim de que você assimile o conteúdo que é fundamental para a compreensão
e atuação na área.

Bons estudos!

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 4


1. CONCEITUALIZAÇÃO

Prezado(a) Acadêmico(a)!

Neste item convidamos você a conhecer o desenvolvimento conceitual da


Biblioteconomia e suas representações ao longo da história. Iniciamos nosso percurso
destacando que o termo Biblioteconomia aparece pela primeira vez em 1841 no livro
intitulado Bibliothéconomie: instructions sur L’arrangement, la conservation et l’administration
des bibliotheques, publicado por Léopold-Auguste-Costantin Hesse na França, indicando
um conjunto de técnicas de organização e gestão de bibliotecas. A Biblioteconomia se
desenvolve então de acordo com Vieira (2014) como uma prática de organização de
bibliotecas, abrangendo três grandes domínios:
● Acervo - (documentos) envolvendo as técnicas de desenvolvimento de cole-
ções, sua conservação e tratamento (catalogação, classificação)
● Leitores - (público) incluindo a recepção, comunicação, acesso aos documen-
tos, e conhecimento dos usuários e de suas necessidades.
● Espaços físicos - (instituições) envolvendo questões relacionadas à organiza-
ção administrativa, técnica, humana e financeira das bibliotecas.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 5


O conceito norte americano de Biblioteconomia ou Library Science (Ciência das bi-
bliotecas) busca aplicar a tecnologia e a teoria biblioteconômica para a seleção, organização,
gerenciamento, preservação, disseminação, criação e utilização das coleções de informação
por todos e em todos os formatos e suportes, sejam eles, físicos ou virtuais (VIEIRA, 2014).
De acordo com Cunha e Cavalcanti (2008, p. 55) o termo Biblioteconomia refere-se
às atividades de organização, administração, legislação e regulamentação de bibliotecas
ou ainda ao conhecimento e prática da organização de documentos em bibliotecas, tendo
por finalidade sua utilização.
No Quadro 1 apresentamos uma síntese do desenvolvimento conceitual do termo
Biblioteconomia ao longo da história da área e você poderá perceber que ele sofreu altera-
ções no decorrer dos tempos.

QUADRO 1 - DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL DA BIBLIOTECONOMIA

Autor Conceito Ano


Os elementos básicos da Biblioteconomia
Lee Pierce Butler (1884-1953). consistem na acumulação de conhecimento
1933
Professor e pesquisador da Escola de pela sociedade e sua transmissão contínua
Biblioteconomia de Chicago às gerações, enquanto esses processos são
atualizados por meio de registros gráficos

Samuel Clement Bradford


A Biblioteconomia ocupa-se de todos
(1878-1948), Bibliotecário, 1948
os aspectos do tratamento dos livros.
documentalista e matemático britânico.

Área que se destina ao estudo dos princípios


racionais para realizar, com a maior eficácia e
o menor esforço possível, os fins específicos
das bibliotecas. Esta área é dividida em uma
parte técnico-científica (estudo sobre seleção,
José Domingo Buonocore, pesquisador aquisição e catalogação de livros, assim como 1952
argentino da Biblioteconomia. o regime econômico, os recursos, o local e o
mobiliário da biblioteca, sua conservação e uso)
e uma parte político-administrativa (meios e
métodos mais adequados para garantir um bom
serviço público de leitura; relaciona-se com a
administração e gestão de bibliotecas).

Joseph Z. Nitecki professor Estudo empírico, racional e pragmático da


e pesquisador da Escola de 1962
relação entre o livro, o usuário e o conhecimento.
Biblioteconomia de Chicago

A Biblioteconomia é a disciplina mais


interdisciplinar de todas. Sua tarefa de ordenar,
Jesse Hauk Shera (1903–1982) relacionar e estruturar o conhecimento e os
bibliotecário, cientista da informação conceitos a torna estreitamente inter-relacionada
e professor/pesquisador da Escola de 1977
com a semântica geral, também altamente
Biblioteconomia de Chicago. interdisciplinar, epistemológica e envolvida na
linguagem, simbolismo, abstração, conceituação
e avaliação do conhecimento.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 6


Autor Conceito Ano
Edson Nery da Fonseca (1921-2014)
bibliotecário, professor e pesquisador Biblos = livros + tcheca = caixa + nomos = regra 1992
pernambucano.

A Biblioteconomia está voltada à organização,


à preservação e ao uso dos registros gráficos
humanos. Essas atividades são realizadas pelas
Tefko Saracevic (1930) bibliotecas não apenas como uma organização
Pesquisador croata, que estuda a da particular ou um tipo de sistema de informação,
Informação e Documentação. 1996
mas principalmente, como uma instituição social,
cultural e educacional indispensável, de valor
comprovado muitas vezes ao longo da história
humana e através das fronteiras das diferentes
culturas, civilizações, nações ou épocas.

União de duas palavras, “biblioteca” e


“economia” (está no sentido de organização,
Yves-François Le Coadic (1942), teórico administração, gestão). A Biblioteconomia não é
francês da área de Biblioteconomia e nem uma ciência, nem uma tecnologia rigorosa, 1996
Ciência da Informação. mas uma prática de organização: a arte de
organizar bibliotecas.

A Biblioteconomia é uma ciência que se determina


por uma prática social e que se consolida pelo
registro e codificação das experiências positivas no
uso, organização e controle dos documentos que
são buscados pelos seus conteúdos [informação].
Francisco das Chagas de Souza nasceu A Biblioteconomia opera com informação e com
no Ceará e foi professor da Universidade suporte de informação [materialmente, documento]
Federal de Santa Catarina (UFSC) de e tem na organização e controle do fluxo destes e 1996
1983 a 2015 nos sujeitos [geradores e consumidores] de infor-
mação os objetivos determinantes do seu campo
científico. Historicamente, ela trabalha com aqueles
objetos (documentos), e embora mudem formatos
e suportes, segundo o nível de atualização tecno-
lógica de cada época, os objetos de informação e
organização de seu fluxo são os mesmos.

A área do conhecimento que se ocupa com a


Maria das Graças Targino, pesquisadora
organização e a administração das bibliotecas e
da área de Biblioteconomia/Ciência da
Informação. Foi vinculada à Universida- outras unidades de informação, além da seleção, 2006
de Federal do Piauí (UFPI) aquisição, organização e disseminação de
publicações sob diferentes suportes físicos.

A Biblioteconomia é uma área que constrói


atividades técnicas e normativas com perspectiva
Jonathas Luiz Carvalho da Silva de acesso à informação para os sujeitos, é 2018
uma área do conhecimento de caráter técnico-
normativo que produz meios e práticas científicas.

Fonte: Adaptado de Silva (2018, p. 34).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 7


O quadro 1 apresenta uma síntese dos significados atribuídos à Biblioteconomia em
diferentes períodos históricos e localidades. Observamos que a Escola de Biblioteconomia
de Chicago representada pelos estudiosos Butler (1933), Shera (1957) e Nitecki (1968)
apresenta um conceito amplo direcionado aos estudos dos materiais bibliográficos, suas
relações com os usuários e à organização e recuperação da informação.
A Biblioteconomia estadunidense exerceu significativa influência na formação da
Biblioteconomia brasileira, principalmente no desenvolvimento de suas atividades técnicas,
entretanto a Biblioteconomia brasileira agrega uma dimensão social à sua prática, o que faz
suscitar debates se a Biblioteconomia seria uma disciplina/técnica/norma/regra ou uma ciência.
Nesse debate há estudiosos como Saracevic (1996) que defendem que a Biblio-
teconomia não é uma ciência, mas sim uma atividade voltada para servir aos usuários
da biblioteca com aplicação prática. Le Coadic (1996) classifica a Biblioteconomia como
uma prática de organização que consiste na arte de organizar bibliotecas, dedicando-se
a aspectos como gestão do acervo, organização de biblioteca enquanto instituição e ao
atendimento das demandas dos leitores e usuários.
Esse entendimento está relacionado ao fato das primeiras definições de Bibliotecono-
mia trazerem como traço semântico a “caixa de livro” do termo biblioteca e também os traços
de “instituição social” e “prestação de serviço”. Por ter esse viés prático, para muitos autores,
a Biblioteconomia não tem alcançado um estado de desenvolvimento suficientemente avan-
çado para que possa se estabelecer e se sustentar teoricamente, demandando buscar em
outras áreas teorias que possam fundamentar suas práticas (GALVÃO, 1993, p. 102).
Entretanto, na contemporaneidade vimos surgir novas compreensões para o termo,
qualificando-o como uma “ciência que se determina por uma prática social e que se conso-
lida pelo registro e codificação das experiências positivas no uso, organização e controle
dos documentos que são buscados pelos seus conteúdos [informação].” (SOUZA, 1996 p.
4) ou então como uma área do conhecimento que se preocupa com a organização e a ad-
ministração das bibliotecas (TARGINO, 2006), ou ainda como uma “área do conhecimento
técnico-normativo que produz e aplica meios para promover o acesso e uso da informação
para sujeitos (usuários)”. (SILVA, 2018 p. 36), por meio de serviços, produtos e modelos
direcionados à organização, gestão, uso de tecnologias e mediação de informações que
satisfaçam as demandas trazidas pelos usuários, ao mesmo que tempo em que se esta-
belece cientificamente ao desenvolver suas perspectivas técnico normativas a partir de
problemas práticos de informação do cotidiano social (SILVA, 2018).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 8


O mesmo autor argumenta que multiplicidade de conceitos atribuídos à Bibliote-
conomia confere-lhe um caráter plural e interdisciplinar que permite compreendê-la na
atualidade a partir de três fundamentos:

● Sócio-histórico, referentes práticas de organização de documentos, preserva-


ção da memória e produção e disseminação de conhecimentos;
● Técnico, normativo e científico, com vista a promover a organização/ trata-
mento, mediação, acesso, uso e apropriação da informação por meio de serviços
e produtos em ambientes de informação, especialmente bibliotecas;
● Humanista-enciclopédico, relacionado ao conhecimento das técnicas e práti-
cas documentárias e informacionais que permitem atuar com variados públicos
e áreas do conhecimento.

Isso implica em dizer que o desenvolvimento das atividades da área deve fundamen-
tar-se em aspectos estratégicos, voltados à gestão, recursos, serviços, fontes de informa-
ção e tecnologias da informação e comunicação, além de aspectos sociocognitivos, como
noções de sociedade, cultura, educação, memória, história, ética entre outros que levem a
construção de um corpus histórico, científico e humanista de atuação (SILVA, 2018).
Nessa perspectiva, a Biblioteconomia assume um caráter multidisciplinar, interdis-
ciplinar e transdisciplinar pelos diversos diálogos que constrói com outras áreas do co-
nhecimento, principalmente com as Ciências Sociais Aplicadas (administração, Economia,
Comunicação, entre outras) e com as Ciências Humanas (Filosofia, História, Educação,
Sociologia, Psicologia, dentre outras). Esse caráter disciplinar pode ser percebido a partir
do momento que notamos o quanto a Biblioteconomia assimila de conteúdos de outras
áreas, ou seja, no quanto outras áreas contribuem para o seu desenvolvimento e também
no que a Biblioteconomia tem a oferecer ou contribuir com outras áreas. Isso demonstra
que o desenvolvimento da Biblioteconomia se dá por meio da relação de cooperação, re-
ciprocidade e mutualidade estabelecida entre a Biblioteconomia e outras áreas do saber.
Conforme defende Silva (2018).
Neste item vimos os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia ao longo
da sua trajetória enfatizando que na perspectiva tradicional, Saracevic (1996) e Le Coadic
(1996) ela é concebida como uma disciplina ou uma prática voltada à organização e gestão
de acervos com vistas a sua utilização por diferentes públicos de usuários Já na concepção
moderna representada principalmente por Souza (1996) e Silva (2018) a Biblioteconomia
assume o status de ciência inter e multidisciplinar que se desenvolve a partir da prática
social de organização, gestão e disseminação da informação.

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SAIBA MAIS

Para conhecer mais sobre os fundamentos da Biblioteconomia sugerimos o vídeo “O


Visionário Paul Otlet”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cxfom91e8aA.

Sugerimos também a o artigo: Biblioteconomia: gênese,história e fundamentos e de Ana


Paula Lima Santos e Mara Eliane Fonseca Rodrigues, disponível em: https://rbbd.febab.
org.br/rbbd/article/view/248/264.

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2. DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Caro(a) Acadêmico(a)!

Neste item vamos conhecer os conceitos de Documentação e Ciência da Infor-


mação e suas relações com a biblioteconomia. Iniciamos nosso percurso apresentando
que a Documentação tem sua origem do latim; docurnentum que tem o sentido de docere
que significa ensinar, o que denota objeto de ensino e transmissão de conhecimentos e
comprovação de fatos (ROSSATO; FLORES 2015).
A Documentação, campo do conhecimento criado no final do século XIX por Paul
Otlet e Henri La Fontaine, é marcada por diversas visões de suas origens e de seu desen-
volvimento ao longo dos séculos. Assim, contrariamente à Biblioteconomia, a Documen-
tação não deriva de termos relacionados a espaço físico ou instituição social, mas sim do
documento (TANUS, RENAU, ARAÚJO, 2012).
Sua origem remete à Segunda Guerra Mundial e à crescente necessidade de informa-
ções científicas técnicas, que “[...] obrigou a engenheiros, químicos, físicos, biólogos a deixar
seus laboratórios de pesquisa e trabalho para organizarem serviços especiais de informações,
a que resolveram denominar de centros de Documentação” (GALVÃO 1993, p. 103).
Posteriormente, devido à grande produção de documentos e a necessidade de sua
organização com vistas à recuperação, iniciou-se o ensino da Documentação como disci-
plina especial, distinta da biblioteconomia, interessada em “cuidar da grande quantidade
de documentos (‘explosão documentária’) que a Biblioteconomia não conseguiu atender”
(SAMBAQUY 1978 apud GALVÃO, 1993, p. 103).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 11


Com isso percebemos que as técnicas documentárias orientam-se à análise e
disseminação de materiais diversos, como relatórios de pesquisa, normas, artigos, teses
entre outros, denominados de informação científica, a qual requereu formas específicas de
tratamento e organização. Paralelo ao surgimento dos centros de Documentação, destina-
dos a dar o tratamento necessário ao grande volume de documentos que surgira, vimos as
instituições ligadas a Biblioteconomia substituir ou acrescentar à denominação original o
termo Documentação. Conforme ocorreu com o Instituto Internacional de Bibliografia, que
em 1931, passou a ser denominado Instituto Internacional de Documentação e posterior-
mente em 1938 denominado Federação Internacional de Documentação, o qual define a
Documentação como “o processo de reunir, classificar e difundir documentos em todos os
campos da atividade humana” (GALVÃO, 1993, p. 103).
Em relação à Ciência da Informação (CI), destacamos que sua compreensão
perpassa os diferentes conceitos atribuídos ao termo informação que aparece ora como
dados registrados, ou conteúdo de um texto; ora como a experiência estocada na mente
humana. Assim, o conceito de informação, pressupõe a compreensão dos termos: dado,
conhecimento e sabedoria.
Percebemos que a exemplo do que ocorre com a Biblioteconomia, a Ciência da
Informação também é de difícil definição devido à polissemia dos termos que compõem
a expressão (ciência e informação), assim encontramos na literatura variados conceitos e
também a discussão se seria ou não uma ciência.
Defendendo a Ciência da Informação como ciência, Robredo (2005, p. 2), destaca
que “Ciência da Informação surge na Ex-União Soviética como sinônimo de informática,
processamento automatizado da informação, e nos Estados Unidos, o termo surge para
representar uma evolução teórica da biblioteconomia”, configurando-se portanto como
uma ciência multidisciplinar Já Cesarino (1973, p. 55) acrescenta que a “Ciência da In-
formação busca investigar as propriedades e o comportamento da informação e os meios
de processá-Ia para pronta acessibilidade e uso”. Esses processos incluem a criação,
disseminação, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso
da informação, estando diretamente relacionada a outras disciplinas como: matemáticas,
lógicas, linguística, psicologia, tecnologia de computadores, pesquisa de operação, artes
gráficas, comunicação, etc., constituindo-se como uma ciência interdisciplinar.
Para Costa (1990, p.140) a Ciência da Informação procura de fornecer um “[...]
conjunto de procedimentos que visam a melhorar as técnicas e métodos voltados para
o acúmulo e transferência do conhecimento”, a partir da investigação de determinados
aspectos da área da informação sem se preocupar com a aplicação prática da pesquisa e
da realização de trabalhos práticos com técnicas e métodos que possam colaborar para o
desenvolvimento da informação científica e tecnológica através de produtos e serviços.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 12


Saracevic (1974) afirma que a CI começou a se desenvolver como campo de in-
vestigação por volta de 1950, como resultado do desafio intelectual de relacionar a teoria
da informação e os processos de comunicação humana e das necessidades de solucionar
os problemas relacionados ao processamento da informação por computador. Para o autor
a CI tem demonstrado adquirir consistência de verdadeira ciência, assumindo como tema
básico de estudos, os processos de comunicação humana, em especial a comunicação
do conhecimento, compreendida como um processo básico que fundamenta e penetra
toda a atividade humana. Nas palavras do autor “Através da história, a comunicação do
conhecimento humano, na sociedade e através das gerações assumiu várias formas,
envolveu vários sistemas, dos quais, um dos mais importantes e duráveis é a biblioteca”.
(SARACEVIC, 1974, P. 45).
Borko (1968, p. 3) define ciência CI como:
[...] a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informa-
ção, as forças que governam seu fluxo, e os meios de processá-la para sua
acessibilidade e uso. A CI está ligada ao corpo de conhecimentos relativos à
origem, coleta, organização, estocagem, recuperação, interpretação, trans-
missão, transformação e uso de informação. Ela tem tanto um componente
de ciência pura, através da pesquisa dos fundamentos, sem atentar para sua
aplicação, quanto um componente de ciência aplicada, ao desenvolver pro-
dutos e serviços. (tradução nossa).

Fernandes, Cedón e Araújo (2011) fundamentados em Foskett (1980) destacam


que a Ciência da Informação enquanto disciplina, surge de uma fertilização cruzada de
ideias que incluem a arte da biblioteconomia, a computação, os meios comunicação e ciên-
cias como linguística e psicologia que tem como uma de suas preocupações as questões
relacionadas à comunicação e transferência do pensamento organizado.
Contrapondo a ideia de que Ciência da Informação tenha alcançado do status de
Ciência, Mercado (1974) alerta que a área ainda não de consolidou como ciência porque
ainda carece de métodos de validação que permitam construir uma estrutura unificadora
e possibilite realizar e comprovar hipóteses e ainda porque seu conceito é interdisciplinar
e ilimitado. Com isso, representaria apenas a intersecção entre várias disciplinas, como
linguística, psicologia, computação, por exemplo, sendo necessariamente prática. Contudo
cabe ressaltar que a Ciência da Informação apresenta traços semânticos de caráter inves-
tigativo, mas é prematuro considerá-la como ciência devido à “ausência de delimitação e
clareza nas suas várias conceituações”. (GALVÃO, 1993, p. 108).
A relação entre Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Informação, também
não é ponto pacífico entre os estudiosos das áreas. Cesarino (1973) destaca que se trata
de disciplinas diferentes, embora tenham objetivos semelhantes e se utilizem das mesmas

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 13


técnicas, instrumentos e métodos de pesquisa e trabalho. Já Saracevic (1974) destaca que a
Ciência da Informação, enquanto ciência, tem muito a contribuir para o desenvolvimento da
Biblioteconomia. Costa (1990) sugere que enquanto a Ciência da Informação realiza inves-
tigações e faz descobertas teóricas, enquanto a Biblioteconomia e Documentação aplicam
os resultados dessas investigações, havendo uma atuação colaborativa entre as três áreas.
Galvão (1993) a partir das afirmações de Shera (1980) destaca que a Documenta-
ção é um aspecto ou área de atuação da Biblioteconomia e que a Ciência da Informação
seria a base teórica da prática biblioteconômica, estabelecendo-se assim uma relação de
retroalimentação entre as duas áreas. Fonseca (1987) alega que a Biblioteconomia trabalha
com publicações primárias e seus usuários, a Documentação com publicação secundárias
e terciárias e Ciência da Informação estuda como, quando, porque e onde a informação
aparece, quem a produz, qual o seu fluxo e destino, portanto com a teoria que sustenta as
práticas tanto da Biblioteconomia quanto da Documentação.
Com base nos diferentes posicionamentos dos autores fica evidente a ausência de de-
limitação conceitual entre os termos biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação.
Assim, conforme destaca Galvão (1993, p. 111) enquanto o termo Biblioteconomia mantém tra-
ços da etimologia da palavra sem refletir o desenvolvimento da área e a evolução do conceito, a
Ciência da Informação como área interdisciplinar e “[...] não consegue, no seu desenvolvimento,
uma determinação de seus limites. Nasce na interdisciplinaridade, se perde no seu interior e
busca nos termos Documentação e biblioteconomia, muitas vezes, sua sustentação”.
Nesse item estudamos os conceitos da Documentação e da Ciência da Informação
e suas relações com a biblioteconomia. Vimos que essas áreas embora tenham sua relativa
independência, desenvolvem-se mutuamente e se inter-relacionam mutuamente tanto em
termos práticos quanto teóricos.

REFLITA

Assista ao vídeo “importância da Documentação e da tecnologia da informação” e reflita


sobre a importância da Documentação e da informação na sociedade contemporânea.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cpTFyhRShWQ

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 14


3. ESCRITA E PATRIMÔNIO CULTURAL: ORIGEM E RAZÃO DE SER DA ÁREA

Olá!

Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pela história e desvendar como se
deu o processo de escrita. De antemão, antecipamos que a civilização se divide em dois
períodos bem distintos: antes da escrita e a partir dela. Desta maneira, refletir sobre a histó-
ria da escrita “contribui não só para o nosso entendimento do mundo como de nós mesmos”
(OLSON; TORRANCE, 1997, p. 13), haja vista, que a escrita vai além do agrupamento de
letras e de junção de palavras. É por meio dela que o homem tem acesso ao mundo das
ideias e pode acompanhar os avanços vivenciados pela humanidade. Após este preâmbu-
lo, que tal conhecer como se deu a passagem da sociedade oral para a sociedade escrita?
Antes de iniciar o percurso histórico é importante apresentar o que se entende por
escrita, então buscamos em Fischer (2006, p. 14), que a conceitua como “a sequência de
símbolos padronizados (caracteres, sinais ou componentes de sinais) com a finalidade de
reproduzir geralmente a fala e o pensamento humano”.
A escrita desde a sua invenção provocou grandes transformações intelectuais e so-
ciais na humanidade, ela “tornou-se a suprema ferramenta do conhecimento humano (ciên-
cia), agente cultural da sociedade (literatura), meio de expressão democrático e informação
popular (a imprensa) e uma arte em si mesma (caligrafia) [...] (FISCHER, 2009, prefácio).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 15


A história da escrita data da pré-história, quando o homem desenhava nas paredes
das cavernas, em árvores e em rochas a representação de suas ideias e a manifestação
seus desejos e as suas necessidades por meio de objetos e figuras. Esses desenhos eram
denominados de pinturas rupestres e que, apesar de não ser um tipo de escrita, foi assim
que iniciou o processo de comunicação (registrada) entre os seres humanos.

FIGURA 1 - PINTURA RUPESTRE

Com o passar dos anos, o homem já não mais nômade, sentiu a necessidade de
registrar seus feitos, entretanto, o desenvolvimento de um sistema de escrita “formal” foi
um processo lento. Nesta caminhada, várias ferramentas foram produzidas para auxiliar a
memória, por exemplo, os pictogramas, que corresponde a representações de objetos e
conceitos traduzidos em formas gráficas; nós; paus ou ossos entalhados, tábuas em que
se escreviam as mensagens, dentre outros.
Higounet (2003, p. 17), sobre a história da escrita descreve que a
a pedra sempre foi o suporte por excelência das escritas monumentais. Os
hieróglifos egípcios, as inscrições hititas, os fragmentos de Biblos, os carac-
teres monumentais gregos e latinos são gravados na pedra dura ou vez por
outra, incisos em relevo. A escrita dita cuneiforme da Suméria e da Ásia an-
terior era, por outro lado, preferentemente traçada em tabuletas de argila
fresca, depois cozidas ao forno. Os mais antigos caracteres chineses são
gravados no bronze ou no casco de tartaruga. No templo de Maomé, os ára-
bes usavam muito ossos de camelo.

Conforme podemos perceber que até que a escrita tivesse como suporte de registro
o papel percorreu um longo trajeto: pedra; casca de árvore; tablete ou tabuinha de argila;
tablete ou tabuinha de cera; papiro e o pergaminho. Temos certeza de que você já está
curioso(a) para conhecê-los. Então vamos adiante!

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 16


Um sistema de escrita sistematizado surgiu por volta de 3.500 a.C, na Mesopotâ-
mia, quando os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Lins (2020, p. 1), esclarece
que “as sociedades antigas faziam uso da escrita para condensar informações, auxiliar
na contabilidade, armazenar materiais e preservar nomes, datas e lugares”. Os textos da
Mesopotâmia eram registrados com estiletes pontiagudos em na argila, em forma de cunha,
amolecida (FISCHER, 2006). Os famosos tabletes ou tabuinhas de argila.

SAIBA MAIS

Na Mesopotâmia (atualmente sul do Iraque e sudoeste do Irã), no ano de 3.000 a.C.,


surgiu a escrita cuneiforme, em que cada sinal passou a representar uma sílaba. A re-
gião da Síria, por volta do ano 1.500 a.C, era ocupada pelos fenícios, um povo bastante
organizado, de bom domínio da agricultura e que fazia comércio com todo o Oriente e
Ocidente. Com eles, surgiu o alfabeto fenício, que pela primeira vez associava os carac-
teres aos sons, como na escrita fonética, que temos hoje. Aquela região foi colonizada
pelos gregos e romanos e deu sua principal contribuição para o progresso cultural: a
difusão do alfabeto, que modificado, passou a transcrever outras línguas, podendo ser
considerado o ancestral de todos os alfabetos ocidentais, como o grego, de 900 a.C. e
o latino, de 700 a.C.

Fonte: Sampaio (2009).

No segundo milênio a.C, criaram-se escolas para ensinar a escrever, entretanto,


escribas era privilégio de poucos e os sacerdotes eram quem detinha monopólio da inter-
pretação dos livros sagrados, além de ser os únicos profissionais que podiam ler as men-
sagens reveladas nas entranhas dos animais sagrados (LYONS, 2011). Como podemos
perceber, desde a Mesopotâmia a escrita sempre esteve associada ao poder.
Fischer (2006, p. 17), complementa que
por volta de 2000 a.C., em Ur, a maior metrópole da região com uma popula-
ção de aproximadamente 12 mil pessoas, apenas uma pequena parcela – tal-
vez uma em cada cem ou cerca de 120 mil pessoas, no máximo - era capaz
de ler e escrever. De 1850 a 1550 a. C., a cidade-estado babilônia de Sippar,
com cerca de dez mil habitantes, abrigava apenas 185 chamados “escribas”
(ou seja, escritores oficiais em tabuletas), dos quais dez eram mulheres.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 17


É importante salientar que as tabuinhas de argila eram grandes e pesadas e que o
conteúdo nela escrito eram incontestáveis e quem duvidasse seria punido. A escrita cunei-
forme foi usada por cerca de três mil anos e “a era da escrita cuneiforme chegou ao fim com
o surgimento da escrita aramaica, com os fenícios, entre os séculos X a VII a.C., feita à tinta
em couro ou papiro” (LINS, 2020, p. 2).
Caminhando pelo nosso percurso sobre a história da escrita chegamos ao Egito
e aos hieróglifos, que corresponde a uma forma de escrita pictórica, enigmática e de
difícil compreensão, tinha cerca de 2.500 sinais. Considerada uma escrita sagrada, era
utilizada somente por sacerdotes, membros da realeza e escribas, que podiam interpretar
e reproduzir os símbolos.
A escrita hieroglífica apesar de ter uma aparência bonita era difícil de ser decifra-
da, pois os seus sinais ora exprimiam uma palavra e em outras um som, além de tomar
muito tempo para traçar ou entalhar. Assim, no Egito Antigo, “a escrita hieroglífica cursiva,
só muito mais tarde chamada de “hierática”, desenvolveu-se quase imediatamente como
instrumento prático para escrever documentos comuns – cartas, contabilidade, listas – e já
no segundo milênio a. C., também textos literários” (FISCHER, 2006, p. 43).

FIGURA 2 - ESCRITA HIERÁTICA

É mister salientar que embora se pudessem utilizar para a escrita hieróglifa, supor-
tes duros, como a pedra, o metal e a madeira, os hieróglifos eram escritos em tinta sobre o
couro, o óstraco e o papiro. A respeito desse último, Higounet (2003, p. 17), menciona que
a fabricação do papiro foi monopólio do Egito até o século VII. [...] a matéria-
-prima era o caule de um junco cultivado no vale do Nilo. As lâminas longitudi-
nais e transversais, coladas com a água do rio, formavam as folhas que eram
mandadas ao comércio cortadas em forma de rolo. Era um material bem pou-
co resistente. Seu uso só foi abandonado completamente no século XI.

Devido à pouca durabilidade o papiro foi aos poucos sendo substituído por outros
materiais para suporte para a escrita e o mais comum foi o pergaminho. Este material
surgiu na cidade de Pérgamo (Ásia), aproximadamente no Século 2 a.C e consistia na pele
de um animal (cordeiro, carneiro ou cabra), que após curtida e seca estava pronta para
receber a escrita. Era considerado um material nobre e usado nos mosteiros católicos para
registrar documentos importantes.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 18


Foguel (2016, p. 26), esclarece
foi o pergaminho que possibilitou o desenvolvimento do códex (ancestral do
livro contemporâneo), por meio da costura pelo vinco, sem que as folhas se
rasgassem ou se desgastassem pelo manuseio. Assim, os manuscritos foram
evoluindo e desenvolvendo novos suportes, até chegarem ao papel tal qual
hoje o conhecemos.

Pode-se perceber que até a civilização conhecesse a escrita alfabética, percorreu


um longo trajeto e todos os sistemas anteriores eram baseados na ideografia, isto é, as
ideias eram representadas por pinturas ou desenhos, por exemplo, a escrita cuneiforme e
a escrita hieroglífica. Queiroz (2005, p. 7), elucida que
Depois de algumas descobertas, surgiu gradualmente o quadro de uma for-
ma prototípica de escrita alfabética, a norte-semítica, formada por vinte e
dois símbolos escritos uniformemente da direita para a esquerda: uma escrita
consonântica, agora tida como o antepassado direto das escritas hebraica,
moabita, fenícia, aramaica e grega, e que teve a sua existência definitiva nos
últimos séculos do segundo milênio a. C.

Com relação ao alfabeto, “sistema de sinais que exprimem os sons elementares


da linguagem” (HIGOUNET, 2003, p.59), não se pode precisar com exatidão quando ele
apareceu, o que se sabe é que “datam de 1900 a. C. dezesseis textos escritos em língua
semítica encontrados em Serabit-el-Khadem, na península do Sinai. Nesses textos foram
reconhecidos vinte e sete sinais diferentes nitidamente alfabéticos” (QUEIROZ, 2005, p. 7).
É importante ressaltar que o alfabeto grego, desenvolvido nos séculos VI e VII
a. C, é de sua importância para a escrita da civilização, pois, ele representava os sons
da voz humana. Foi este alfabeto o intermediário ocidental entre o alfabeto semítico e o
alfabeto latino. Um elemento diferenciador no sistema de escrita alfabética é a direção da
escrita, por exemplo
os chineses e japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colunas.
Os árabes escrevem também da direita para a esquerda, mas em linhas de
cima para baixo. O grego antigo era escrito em linhas com direção alternada:
uma linha da direita para a esquerda e a linha seguinte da esquerda para a
direita, invertendo a direção das letras; a terceira linha equivalia à primeira e
a quarta à segunda e assim sucessivamente. [...] Os romanos instituíram a
escrita da esquerda para a direita em linhas, que vigora até os dias de hoje
no nosso sistema alfabético (BRASIL, [2020?]).

O alfabeto romano também conhecido como alfabeto latino, atualmente, é o sis-


tema de escrita alfabética mais utilizado no mundo. Ele é usado para escrever a língua
portuguesa e na maioria dos países colonizados pelos europeus. “Ao longo dos séculos XIX
e XX, o alfabeto latino tornou-se também o alfabeto preferencialmente adotado por várias
outras línguas, em especial pelas línguas indígenas de zonas colonizadas por europeus
que não tinham sistema de escrita próprios (FOGUEL, 2016, p. 24)

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 19


Ao refletirmos sobre a escrita alfabética, não podemos esquecer o suporte mais
utilizado nesse sistema de escrita: o papel. Os créditos pela descoberta do papel, tal como
conhecemos hoje, são atribuídos aos chineses que, após utilizarem para a escrita tiras de
bambu, as quais eram obtidas do caule da planta, rapadas internamente e colocadas para
secar e, para formar o livro, as fichas eram furadas nas extremidades e unidas por fios de
seda. Tanta persistência levou a T’sai Lun, no ano de 105 d.C a inventar o papel, porém,
no ano 751, o exército árabe atacou a cidade de Samarcanda, que na época
era dominada pelo império chinês. Técnicos de uma fábrica de papel foram
presos e levados a Bagdá. Ao descobrirem o segredo, os árabes também co-
meçaram a fazer papel, sem revelar a técnica. No século 11, a novidade che-
gou à Europa e, só depois, espalhou-se pelo Ocidente (ROPERO, 2012, [n.p.]).

Com a invenção da imprensa no século XV o papel se “imortalizou” e “todas as


ações do homem estão postas no papel: sua literatura, sua ciência, seu direito, sua religião,
etc. Tudo isso se constitui em artefatos da escrita” (QUEIROZ, 2005, p. 8).
Enfim, com relação a escrita vai além de agrupamento de signos, de “ponte” para a
leitura, mas sim, ela é um instrumento de imobilização, patrimônio cultural de um povo, pois
dela que as memórias se materializam e se imortalizam. As palavras de Higounet (2003,
p.9-10), ilustram o exposto
a escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não
apenas a guarda, ela realiza o pensamento que até então permanece em
estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem
em pedra ou papel não são apenas um meio, eles também encerram e res-
suscitam a todo momento o pensamento humano. Para além de modo de
imobilização da linguagem, a escrita é uma nova linguagem, muda certamen-
te, mas, segundo a expressão de L. Febvre, “centuplicada”, que disciplina o
pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza.

Não importa o suporte que a armazena, a escrita sempre expressará as ideias e o


pensamento da humanidade.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 20


4. BIBLIOTECAS E A ORIGEM DA BIBLIOTECONOMIA

Biblioteca Nacional. Seção de literatura

Car(o) Acadêmico(a)!

Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pelo surgimento das bibliotecas na
humanidade e que desde o princípio teve por finalidade “guardar” e, posteriormente, tam-
bém difundir o conhecimento. Veremos, também, que à medida que a informação crescia
era necessário alguém para organizá-la e, desta forma, origina a Biblioteconomia, essa
ciência, técnica e arte tão encantadora. Então, animados para a caminhada? Vamos lá!

4.1 Bibliotecas: contextualização


O vocábulo biblioteca é composto pelas palavras gregas biblion (livro) e teke (caixa)
e literalmente significa o lugar onde se guardam livros, apesar de
desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para desig-
nar um local onde se armazenam livros. Porém, nem sempre foram livros os
materiais que preenchiam as bibliotecas. Historicamente, os suportes para a
informação variaram de formato seguindo a tecnologia utilizada pelo homem.
Já foram usados materiais como tabletas de argila, rolos de papiro e pergami-
nho e os enormes códices que eram enclausurados nos mosteiros medievais
(MORIGI; SOUTO 2005, p.190).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 21


As bibliotecas fazem parte da história da humanidade desde muitos séculos antes
de Cristo, pois no Egito e na China estas instituições existiram antes do período clássico
grego, entretanto, a civilização que mais deixou provas concretas de grandes coleções
de documentos foi a assírio-babilônica, com a biblioteca e Nínive, com uma gigantesca
coleção de milhares de tijolos de barro, cujo organizador foi o rei foi Assurbanípal, (669-626
a.C.). Essa biblioteca ficou oculta durante séculos e foi descoberta na década de 1850,
pelo arqueólogo Sir Austen Henry Layard, que encontrou placas e fragmentos cobertos de
caracteres cuneiformes. As placas estavam classificadas por assuntos e identificadas por
marcas que determinavam a sua localização nas coleções (SERRAI, 1975).
Na biblioteca de Nínive se encontra uma inscrição feita pelo próprio Assurbanípal, que
diz: “Gosto de ler bons pensamentos e de cortar orelhas e narizes de meus cativos de guerra” e
o provérbio: “A escrita é a mãe da eloquência e o pai dos artistas” (LITTON, 1975, p. 34).
Litton (1975), relata que na Antiguidade, estava localizada em Mênfis, à biblioteca
de Ramsés II, faraó egípcio que reinou de 1320 a 1.200 a.C e, era denominada pelo so-
berano de “Tesouro dos remédios da Alma”. Na Grécia, tem-se conhecimento de grandes
bibliotecas e, uma delas que atraiu a atenção, foi a do filósofo Aristóteles. Após a sua morte,
passaram por várias mãos até chegar em Roma.
Continuando a caminhada pela história, encontra-se a biblioteca em Pérgamo, ci-
dade da Ásia Menor, comparável às maiores da Grécia. Suas coleções chegaram a 20.000
volumes. Daí se originaram os códigos, folhas em vez de rolos, feitos de pergaminho (MAR-
CONDES, 1976).
A biblioteca mais famosa do período da Antiguidade foi a Biblioteca de Alexandria,
fundada em 280 a.C. e ficava localizada na cidade de Alexandria, ao norte do Egito, nas
margens do Mediterrâneo. Guardava cerca de 700.000 volumes ou rolos (MARTINS, 2003).
Ela recebeu em seus recintos pesquisadores importantes que muito contribuíram para o
conhecimento humano, dentre eles: Euclides de Alexandria, Herófilo e o físico Arquimedes.
Reis (2020), a este respeito complementa que
a Biblioteca de Alexandria foi estabelecida na Dinastia Ptolemaica no século
III a.C. pelo rei Ptolomeu II. A vontade de obter conhecimento era tamanha
que criaram uma espécie de lei que reunia todos os pergaminhos das em-
barcações que aportassem na cidade de Alexandria. Eles tinham o anseio de
adquirir uma cópia de cada livro da face da terra, então pegavam os pergami-
nhos das embarcações, faziam as cópias que na época eram feitas manual-
mente e depois que ficavam com as originais e devolviam as cópias. Ou até
mesmo confiscavam as obras e compensavam os donos com uma quantia
em dinheiro. 

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 22


Desta maneira, a Biblioteca de Alexandria, reunia um enorme fluxo de informações
e tornou-se conhecida como o centro do conhecimento, infelizmente, ela foi incendiada pelo
Imperador Júlio César, 47 a.C. queimando cerca de 500.000 rolos. Restaram, aproximada-
mente, 200.0 que foram queimados por ordem do califa Osmar, 640 d.C., sob o argumento
de que “ou os livros contém o que está no Alcorão e são desnecessários ou contém o oposto
e não devemos lê-los” (VENTURI, 1998, p. 23). Essa biblioteca atualmente é conhecida
como a “biblioteca desaparecida”.
Pode-se mencionar que foi a partir da Biblioteca de Alexandria origina-se a Biblioteco-
nomia. Era preciso preparar um profissional que tivesse habilidades para reunir e classificar a
Documentação de forma que a informação pudesse ser disponibilizada ao usuário.
As palavras de Santos e Rodrigues (2013, p. 116), são esclarecedoras ao mencionar que
A necessidade de organizar, conservar e divulgar os documentos, desde o
início da escrita até a época moderna, levou as bibliotecas a criarem uma sé-
rie de procedimentos e métodos que, apesar de possuírem caráter eminente-
mente técnico, visando à resolução de problemas práticos, formaram um con-
junto de técnicas e de questões envolvendo a rotina dessas técnicas que, ao
longo do tempo, se constituíram na base da futura disciplina Biblioteconomia.

Era preciso organizar o conhecimento, até porque havia, também, bibliotecas em


outras cidades helenísticas, em Antioquia, na corte dos Selêucidas e em Péla, capital da
Macedônia. Essa última foi levada para Rom, após a derrota de Persu, o último rei mace-
dônico (GIOVANNINI, 1998).
Em Roma, também, foram instituídas muitas bibliotecas que continham grandes
acervos literários. Giovannini (1998, p. 57), descrevendo sobre este período histórico acres-
centa que
O número de bibliotecas públicas, já extraordinário na época helenística,
cresceu ainda mais durante o Império Romano, e isso prova a grande difusão
dos livros. Parece que em 370 d.C. Roma contava com 28 bibliotecas; tam-
bém em várias localidades da Itália e nas províncias havia bibliotecas [...] O
número de bibliotecas particulares também aumentou consideravelmente a
época imperial.

Entretanto, com o desaparecimento do Império Romano do Ocidente, há o en-


fraquecimento e a decadência da tradição filosófica e literária clássica sob o impulso da
nova ideologia cristã e as bibliotecas da Roma Imperial fecham-se uma após a outra, em
seu lugar aparecem as bibliotecas cristãs, com interesse centrado nos livros sagrados: “o
pouco que se preserva da tradição pagã é ainda reunido nas seções gregas e latinas, mas
as bibliotecas possuem um papel secundário, como o de fornecer material para a polêmica
contra o mundo pagão” (SERRAI, 1975, p. 144). Essa revolução intelectual coincide com a
transferência dos textos antigos do papiro para o pergaminho que, nem sempre intencional-
mente, vem constituir um filtro desfavorável à cópia e à conservação da literatura clássica.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 23


Assim, chega-se na Idade Média e o maior número de bibliotecas dessa época
pertencia às igrejas e mosteiros, pois a leitura, especialmente reservada aos domingos
e à Quaresma, era considerada ocupação normal para os monges, “exceto para alguns
negligentes e preguiçosos, que não querem dispor daquele que parece ser um implemento
essencial do mosteiro: a biblioteca” (MANACORDA, 2010, p. 120). Os livros eram ofere-
cidos em forma de códices de pergaminho e o bibliotecário medieval era responsável pela
integridade material das coleções, que eram ainda bastante limitadas, pois os manuscritos
eram raros e de difícil fabricação.
Nas últimas décadas da Idade Média, criou-se a literatura popular, surgem as
primeiras universidades e inicia-se a literatura científica, cujos frutos invadiram as biblio-
tecas da época. Com o Humanismo e o Renascimento, livros e bibliotecas adquirem uma
extraordinária importância: “uma das paixões dos estudiosos é procurar por toda parte dos
mosteiros ocidentais e orientais os clássicos que são redescobertos, copiados, comprados
e até surrupiados” (SERRAI, 1975, p. 145).
Com a invenção da imprensa, em 1450, as bibliotecas crescem rapidamente: os
sistemas medievais de conservação dos livros em armários, arcas e estantes de tampo
inclinado não são mais compatíveis com o número de livros impressos.
Antes do século XV as bibliotecas eram particulares ou ligadas a instituições. No
século XVI, devido à origem e à função surgem outros tipos de bibliotecas: as constituídas
como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral derivam das reais); as
circulantes, com pagamento de certa importância por parte do usuário; as filantrópicas, com
base financeira mista e as públicas anglo-americanas, mantidas por contribuições fiscais.
No século XVII, em 1627, Gabriel Naudé publica o Advis pour dresser um
bibliothéque, “o primeiro manual para bibliotecários, que formalizou as bases conceituais
da Biblioteconomia, abrindo caminho para a afirmação de importantes conceitos, como a
ideia de ordem bibliográfica” (SANTOS; RODRIGUES, 2013, p. 117)
Em 1659, Frederico Guilherme abre em Berlim, a primeira biblioteca pública, en-
tretanto, nem sempre públicas significava aberta a todos sem distinção e, essas, novas
bibliotecas serviam a um público selecionado e, portanto, inacessíveis a toda população.
Somente em 1676, Gottfried Wilhelm Leibniz (bibliotecário da biblioteca de Hannover) dá à
biblioteca o caráter de uma instituição pública, igualando-a à escola. A finalidade da biblio-
teca é contribuir para o progresso e para o melhoramento da humanidade.
De acordo com Santos e Rodrigues (2013, p. 119),

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 24


[...] a partir de então, a biblioteca pública passou a representar a modernida-
de, em oposição às bibliotecas da antiguidade e da idade medieval que a an-
tecederam. Em função do surgimento da biblioteca pública e do crescimento
dos periódicos, a Biblioteconomia passou a trilhar novos caminhos.

Para satisfazer as necessidades de instrução e de distração dos que não eram


sábios, estudantes ou suficientemente ricos para possuir suas próprias coleções de livros,
toma forma, a partir do século XVII, a biblioteca circulante, isto é, uma coleção de volumes
que são emprestados para leitura, mediante pagamento de pequena quantia. Além dessas,
aparecem as bibliotecas filantrópicas, aquelas que se mantêm em parte com as contribui-
ções dos usuários (SERRAI, 1975).
No século XVIII, as bibliotecas prosperam, o gosto pela indagação torna-se moda e
espalha-se em círculos sempre maiores, a razão procura esclarecer os campos tenebrosos
da história nacional e dos fenômenos naturais, e estes constituem alguns dos estímulos
que levam a um maior uso das bibliotecas e, ao mesmo tempo, a um notável aumento da
produção editorial.
Na segunda metade do século XVIII, as ideias iluministas encontraram aplicação
nas reformas jurídicas e práticas adotadas por alguns soberanos. Foram suprimidas todas
as irmandades e ordens religiosas que não tivessem finalidades hospitalares ou educativas e
suas bibliotecas foram transferidas para as bibliotecas públicas, estaduais ou universitárias.
No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias demo-
cráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não podiam deixar
de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de filantropia, com dó
dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão espiritual’ em que vivia o
trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir uma espécie de propaganda, cujo
slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como fechar uma prisão”. (MORAES, 1983, p. 16)
Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia convencido
da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele se corrompesse
com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas públicas por toda parte
da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização científica, romances históricos,
clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais de instrução técnica e profissional”.
Bibliotecas, em suma, “munidas de obras escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata
intelectual julgava destinadas a instruir ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16).
Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para re-
forçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os padrões
de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto pelo trabalho”
(COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial da divulgação dos hábitos de leitura, ficou bem mar-
cada a afinidade entre a preocupação com a presença da “massa” e com a “massificação
cultural” por um lado, e a expressão de interesses de classe, bastante primários, por outro.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 25


No que concerne ao termo Biblioteconomia, Santos e Rodrigues (2013, p. 20),
salientam que ele
foi usado pela primeira vez somente em 1839 na obra publicada pelo livreiro e
bibliógrafo Léopold-Auguste-Constantin Hesse e intitulada Bibliothéconomie:
instructions sur l’arrangement, la conservation e l’administration des
bibliothèques. Portanto, é a partir do século XIX que efetivamente as técnicas
e práticas dos bibliotecários começam a ser sistematizadas.

Ainda, no século XIX, as conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa


emigram para a Inglaterra e para os Estados Unidos da América e as bibliotecas americanas
nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a separação de bibliotecas para o povo e
bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste caso, doadas por uma classe, como uma
esmola, a outra classe menos favorecida. Para Moraes (1983, p. 16) “nunca houve nos
Estados Unidos, a mentalidade bibliotecária humanitária”.
Assim, do século XIX em diante, as bibliotecas e a Biblioteconomia adquirem sua
fisionomia atual. E hoje em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão. A
biblioteca deixou de ser um “hospital de almas” para se tornar simplesmente uma oficina de
trabalho, que pode ser utilizada por qualquer cidadão.

REFLITA

Agora que já sabemos como surgiram as bibliotecas no mundo, você já tem ideia de
como estas instituições chegaram no Brasil?

Fonte: As autoras.

No que diz respeito ao surgimento da biblioteca no Brasil, os livros chegaram a


partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do Governo-Geral em Sal-
vador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida administrativa, econômica, política,
militar, espiritual e social do país”, entretanto, “só começamos a engatinhar pelo caminho
da cultura depois do estabelecimento dos conventos dos jesuítas, franciscanos, carmelitas
e beneditinos, principalmente dos padres da Companhia de Jesus que, logo após sua
chegada, abrem Colégios na Bahia e em outras capitanias” (MORAES, 1979, p. 1), mas os
livros, assim como a instrução estavam nos conventos, pois a Igreja foi a única educadora
do Brasil até fins do século XVIII e, as bibliotecas conventuais foram, até a segunda metade
desse século, os centros de cultura e formação intelectual dos jovens brasileiros que iam
completar seus estudos em Portugal.

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Ao se referir às primeiras bibliotecas, Milanesi (1986, p. 65), tece o seguinte comentário:
elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção
ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário.
Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primei-
ras povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente
obras litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob
o respaldo do colonizador.

Esse panorama só se alterou com a chegada da família real no Brasil, em 1808.


De acordo com Moraes (1983), com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre coleção
de Diogo Barbosa Machado, a qual serviu de ponto de partida para a Biblioteca Nacional
de nossos dias. Com a corte, veio também o maquinário para que se instalasse no país a
primeira imprensa.
Na Bahia, em 1811, o Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública. Três
anos mais tarde, a Biblioteca Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos Terceiros
Carmelitas, abre as suas portas à população fluminense. “E aqui termina o período medieval
das bibliotecas brasileiras” (MORAES, 1983, p. 18).
A instalação da República no Brasil provocou mudanças sociais. As idéias liberais
advindas dos novos tempos contribuíram para o incentivo da criação de bibliotecas. Esse
esforço é assim descrito por Milanesi (1986, p. 34):
os esforços mais visíveis para a construção de um modelo de biblioteca parti-
ram de grupos diferenciados e que representavam a busca de modernização
reflexa. Para o geral da população como desde o Segundo Império, procura-
va-se construir uma biblioteca que fosse uma possibilidade de restauração hu-
manística da sociedade através do eruditismo e das filosofias regeneradoras.

A década de 1920, foi uma década marcada por crises sociais e políticas que cul-
minaram com a derrubada das oligarquias. Com isso houve o empobrecimento de algumas
cidades, em consequência, decaem as suas bibliotecas e muitas delas desapareceram.
Mas se essas bibliotecas decaíram ou desapareceram, em compensação as diretamente
sustentadas pelo governo foram crescendo pouco a pouco. A Nacional do Rio aumentou
seu acervo com a aquisição de coleções particulares e também em virtude da lei que obriga
todo editor a doar-lhe um exemplar de cada obra publicada. As dos Ministérios e das Fa-
culdades, adquirindo livros de vez em quando. As estaduais também cresceram. Tudo isso
mais por força das circunstâncias que por iniciativa direta dos respectivos governos.
Nas décadas de 1950 a 1960,
de uma maneira geral o número de bibliotecas tem crescido, raros são os
municípios que não possuem sua biblioteca, mesmo porque negar recursos
financeiros para a implantação de uma biblioteca seria o mesmo que passar
atestado de inculto, coisa indesejável para qualquer político. De uma maneira
geral elas têm sido vistas como inofensivas (CARVALHO, 1991, p. 39).

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 27


Até que chega 1964 e inicia no país a ditadura militar e as bibliotecas sofrem cen-
sura e a informação passa a ser sonegada até chegar a reabertura da democracia no país,
onde as bibliotecas voltam a desempenhar um papel relevante na sociedade e, no limiar
do século XXI, mais que nunca, acredita-se de que é preciso instalar, organizar bibliotecas
e disponibilizar a informação a todos os indivíduos, ou seja, atender a toda comunidade, a
todo cidadão.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 28


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade vimos os conceitos atribuídos à Biblioteconomia, Documentação e


Ciência da Informação e como essas áreas se desenvolvem e se relacionam. Vimos que a
Biblioteconomia está voltada à organização e a administração de bibliotecas e outras uni-
dades de informação, desenvolvendo ações de seleção, aquisição, organização e dissemi-
nação de publicações sob diferentes suportes físicos e desenvolve suas atividades técnicas
e normativas na perspectiva de proporcionar o acesso à informação. Já Documentação por
sua vez volta suas ações ao processo de reunir, classificar e difundir documentos em todos
os campos da atividade humana e a Ciência da Informação estaria preocupada em estudar
as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo, e os
meios de processá-la para sua acessibilidade e uso, fornecendo os fundamentos teóricos
necessários às práticas biblioteconômicas e documentárias.
Estudamos também como se deu o processo da escrita e pudemos perceber que a
história da humanidade se divide em dois períodos bem distintos: antes da escrita e depois
dela e, também, que desde a sua invenção provocou grandes transformações intelectuais e
sociais na humanidade. Vimos também os sistemas de escrita anteriores à escrita alfabética.
Por fim conhecemos sobre o surgimento das bibliotecas e que se, a princípio, elas
surgiram com a finalidade de guardar a informação, na contemporaneidade, elas são de
suma importância na produção e socialização do conhecimento.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 29


LEITURA COMPLEMENTAR

A transformação do mundo pela escrita


Por Maíra Valle e Alessandra Pancetti

É difícil imaginar o mundo que conhecemos sem a escrita. A maior parte dos avanços
científicos e tecnológicos, ao longo da história, está direta ou indiretamente associada ao
armazenamento e transmissão de informações. Mas a escrita não esteve sempre presente:
considerando a história do Homo sapiens, que tem por volta de duzentos e cinquenta mil
anos de existência, ela é uma invenção bastante recente. Com toda a certeza, a linguagem
oral precedeu muito o início da expressão dos homens através de símbolos gráficos. A
razão do hiato entre a fala e a escrita deve se relacionar ao alto grau de abstração exigido
por essa forma de expressão.
Inicialmente, os elementos gráficos utilizados eram apenas desenhos que repre-
sentavam diretamente aquilo que se queria expressar, como mostram as pinturas rupestres.
Assim, uma cabeça de um boi, por exemplo, representava esse animal. Três cabeças de
boi representavam três bois, e assim por diante. Entretanto, por mais simplório que isso
possa parecer hoje, para se criar e reconhecer os pictogramas, como são chamados esses
símbolos figurativos, foi necessária uma grande dose de abstração do homem primitivo.
Afinal, esses desenhos são uma representação bastante diversa da realidade, colorida e
em três dimensões. E apesar da alta exigência cognitiva, é possível que a escrita tenha
se iniciado diversas vezes, em diferentes locais, em épocas próximas, como ocorreu com
quase todas as grandes invenções humanas.
Atualmente, acredita-se que a escrita foi criada através de um processo de evolução
lento, que levou milhares de anos e foi gerado a partir da ideia de registro de propriedade ou
objetos. Segundo Marcelo Rede, professor da Universidade de São Paulo (USP) especiali-
zado em história da Mesopotâmia, a teoria da criação única da escrita, cuja difusão posterior
teria derivado em todos os outros tipos, não é plausível. Para ele, não há apenas uma razão
para o aparecimento da escrita, e sim inúmeros fatores, dentro de um contexto histórico espe-
cífico, que levaram as sociedades pré-históricas a desenvolverem esse modo de expressão.
“De fato, sobretudo como mostraram as pesquisas da arqueóloga Denise Schman-
dt-Besserat, desde o período neolítico, em plena pré-história, portanto, desde nove ou
oito mil anos a.C., várias populações do Oriente utilizavam sistemas de registros para
efetuarem o armazenamento de informações ou se comunicarem”, explica o professor da

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 30


USP. Inicialmente, isso se deu através de pequenos objetos moldados a partir da pedra ou
da argila, cujo uso ajudava no controle de produção e circulação de bens. Os chamados
token representavam diretamente o artefato em questão, como uma pequena escultura da
cabeça de um boi ou uma planta. Entretanto, às vezes eles tinham uma representação mais
abstrata como, por exemplo, uma pedra redonda representando um boi. Numa fase pos-
terior, os tokens passaram a ser envoltos por esferas de argila, as bullae. Segundo Rede,
esse foi um avanço no sistema de informações. “Isso sugere um acréscimo importante
na complexidade do sistema de registro, pois as bullae permitem reunir em seu interior
vários tokens, formando uma espécie de unidade de conta, um arquivo de informações”,
explica o historiador. Às vezes, os tokens eram impressos na argila, determinando o que
esta continha, denotando uma complexidade ainda maior entre a representação e o próprio
objeto representado. Com o passar do tempo, as bullae esféricas também desapareceram
e surgiram tabletes achatados e, ao invés dos tokens, passaram a ser utilizadas apenas
as impressões destes nos tabletes de argila. Os símbolos iconográficos impressos nesses
tabletes de argila constituíram os sinais proto-cuneiformes, pois já se assemelhavam à
forma triangular, de cunha, da escrita cuneiforme.
A escrita cuneiforme representa o mais antigo sistema de escrita de que se tem
registro. Ela apareceu na região da Mesopotâmia – atual Iraque – e, para alguns estudio-
sos, estaria associada a uma língua única, o sumério, tendo sido criada para expressar
os elementos linguísticos de maneira literária, narrativa. Por essa razão, muito estudiosos
insistem em uma criação pontual ou única da escrita. “É uma visão que repercute muito e
exagera a ideia de que o surgimento da escrita foi um verdadeiro divisor de águas, marcan-
do o fim da pré-história e o início da história propriamente dita”, afirma Rede. Dentro dessa
perspectiva, o historiador explica que, apesar de a maioria dos estudiosos acreditar que
os hieróglifos egípcios sejam resultado de um processo local, alguns ainda acreditam que
houve uma importação da ideia do registro da Mesopotâmia.
Embora não haja consenso quanto à forma como a escrita se originou, o mesmo
não se dá para a invenção do alfabeto, que surgiu depois. “No caso do sistema alfabético,
o processo de difusão funcionou largamente: originado, ao que tudo indica, na região do
Levante (entre a costa de Gaza e a Turquia), as várias formas de alfabeto foram se derivando
umas das outras e espalharam-se por todo o Mediterrâneo antigo, da Fenícia a Roma, pas-
sando pela Grécia. Assim sendo, as razões que levaram ao aparecimento da escrita variam
conforme os contextos históricos e não há uma resposta única”, completa o professor da
USP. Quando o alfabeto foi inventado, as formas escritas passaram a representar não mais

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 31


coisas, mas os sons da língua falada. Segundo ele, o registro de uma língua não pode se
esgotar na representação pictográfica, pelo simples fato de que nem todas as coisas podem
ser representadas em símbolos pictóricos. Como Rede explica, em relação à escrita suméria:
“Como dizer, a partir de uma imagem semelhante, o verbo “du”(“falar”) ou “gu”(“gritar”)? E
como distinguir “gritar”(verbo) de “grito”(substantivo)? Ou “boca”de “palavra”(“inim”)? Do mes-
mo modo, como inserir as flexões de pessoa: eu falo, tu falas etc? Ou, ainda, como indicar
tempo: eu falava, eu falo, eu falarei? Para tudo isso, um sistema puramente pictográfico se
presta mal; é necessário introduzir sinais de abstração de vários tipos”.
Segundo Margarida Salomão, linguista e professora da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF), na história da escrita ocidental, existiu um momento em que os sinais
ideogramáticos, os hieróglifos egípcios, se convencionalizaram e, a partir disso, existiu uma
simplificação. Os ideogramas simplificados passaram a ser interpretados foneticamente na
escrita fenícia e, depois, na grega, que é basicamente a que perdura até os dias de hoje. “A
escrita é baseada na significação. O primeiro período da escrita ocidental foi ideogramático,
escrevia-se uma representação da significação. E depois, para obter-se mais capacidade
expressiva, para evoluir-se tecnologicamente, é que de fato passou-se a fazer análise
fônica, e hoje, tem-se a escrita fonética, que é a mais prática de todas”, explica Salomão.
Para a linguista, a invenção da escrita conferiu uma dimensão de poder aos povos que a
possuíam, pela perspectiva de avanço tecnológico advinda dela. “A partir do momento que
se tem a escrita, passa-se a ter uma memória social. E, na verdade, os avanços tecnológi-
cos obtidos foram pautados ou tiveram como patamar a sistematização e organização dos
conhecimentos, que passaram a ser, inclusive, coletivamente partilhados. E quanto maior
a disseminação dessa memória social, mais rápida e mais violenta se tornou a evolução
tecnológica e científica”, completa.
Historicamente, junto com a escrita e logo no seu início, formou-se um grupo de
especialistas da escritura, os chamados escribas. A cultura escribal foi uma das caracte-
rísticas das sociedades do antigo Oriente Médio. Para Marcelo Rede, da USP, foi a classe
dos escribas que conferiu grande longevidade à escrita cuneiforme, que perdurou por mais
de três milênios. Mas, enquanto parte deles se dedicava ao registro das coisas cotidianas,
como contabilidade e correspondência, outros se especializavam em textos de áreas es-
pecíficas do saber, como textos literários, textos em medicina, matemática e astronomia.
“Não é, portanto, apenas uma questão de ler e escrever, mas de domínio de um campo de
saber”, completa Rede. Tal saber não era totalmente difundido pela população, mas privi-
légio de poucos. Ainda assim, para além dos textos específicos redigidos pelos escribas,

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 32


a sociedade mesopotâmica parece ter tido um grande número de pessoas capazes de
registrar a vida cotidiana, que está muito bem documentada nos escritos cuneiformes. “A
tal ponto que os textos cuneiformes formam o maior conjunto unitário de registros escritos
antes da invenção da impressão por Gutemberg”, explica o professor da USP.
Entretanto, o aparecimento e a evolução da escrita não foi, e não é, uma carac-
terística de todas as sociedades humanas. Mesmo com o aparecimento e a evolução de
diversos tipos de escrita, ainda hoje temos muito mais línguas faladas (cerca de 7000),
do que línguas escritas, que são algumas centenas. Com certeza, questões históricas
se encontram na base da discrepância entre o número de línguas escritas e faladas, em
especial a estrutura da sociedade em que a língua escrita é usada. O linguista e professor
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), José Pereira da Silva, explica que
apesar de as razões para o surgimento da escrita não estarem totalmente esclarecidas,
um dos fatores em comum na maioria das sociedades foi a existência da agricultura, da
permuta ou do comércio, o que exigia um alto grau de complexidade de governança, em
que havia uma necessidade prática do registro. “Esses primeiros documentos eram, quase
sempre, registros de bens e indicação dos seus proprietários e herdeiros. A contabilidade
foi, de início, a atividade mais documentada por escrito”, completa. Por isso, os povos cujas
sociedades eram menos complexas, como os índios americanos, que antes da chegada
dos europeus eram coletores e caçadores, não desenvolveram a escrita – afinal, não havia
uma grande necessidade da mesma. E isso se repete para os povos coletores e caçadores
ainda existentes no mundo.
Se, por um lado, fatores históricos parecem predominantes para a invenção da
escrita em uma sociedade, por outro lado, o grande número de línguas faladas com relação
às escritas demonstra o grau de dificuldade da construção de um sistema de representação
da fala. Na verdade, nossa expressão plena em um idioma exige habilidades distintas. A
linguista Margarida Salomão, da UFJF, explica que o fato de sabermos ler em uma deter-
minada língua, não significa que saibamos nos comunicar por ela escrevendo ou falando,
ou que possamos compreendê-la através da audição. Ou seja, a escrita, a leitura, a fala
e a audição são habilidades cognitivas distintas, muito embora relacionadas. Para termos
competência em cada uma delas, é necessária a prática das diferentes habilidades.
Além da exigência de diferentes habilidades cognitivas, e talvez por isso mesmo, as
línguas faladas e escritas também evoluem por caminhos diversos: é fato que em nenhuma
língua há total concordância entre sons e letras. Para Margarida Salomão, enquanto a fala,
que é a experiência cognitiva primária, evolui no tempo morfológica e fonicamente, a escrita

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 33


fica presa à sua história, depende da ortografia vigente, que normalmente é conservadora.
Sendo assim, a escrita sempre “fica para trás”, numa versão mais antiga da língua, o que
gera a discrepância entre fala e escrita. “A escrita é datada historicamente. Como a língua
prossegue mudando, do ponto de vista fônico, do ponto de vista morfológico, então a escrita é
sempre uma versão mais velha da língua que se fala, e daí tem-se esse desacordo”, completa.
Em relação à língua escrita, podemos dizer que, historicamente, as línguas escritas
nem sempre “evoluíram”de uma forma pictórica para uma forma abstrata, como em uma
série de etapas pré-determinadas que foram alcançadas paulatinamente. Em especial,
podemos dizer que a história da escrita no Ocidente, da qual vimos falando até então, não
reflete necessariamente a história de todas as línguas escritas. “A evolução do pictórico para
os símbolos concretos dos hieróglifos, por exemplo, para os abstratos que representam os
sons, não é tão generalizada como nos parece. Pois, no Oriente, a escrita ideográfica ainda
permanece”, diz José Pereira, da UERJ. E, certamente, em países como Japão, China, as
Coreias do Norte e do Sul, entre outros, a escrita ideográfica ainda é utilizada.
Segundo explicação da linguista e professora da USP, Leiko Morales, a primeira
aparição da escrita ideográfica ou logográfica chinesa é datada de meados do século VII,
e tal maneira de registrar foi, depois, “exportada” pelo Japão, onde apareceu na literatura
japonesa do século VIII. Para Morales, as principais causas que levaram ao aparecimento
da escrita no Japão foram a necessidade de desenvolvimento e de ser reconhecido como
uma nação pela China, o grande centro cultural asiático da época. “No começo, era apenas
um emprego fonético dos logogramas, respeitando-se o som chinês; mas à medida que os
japoneses iam dominando e compreendendo o significado dos logogramas, começaram
a atribuir leituras para os símbolos e, a partir daí, começa toda a complexidade”, explica
a pesquisadora. “A partir do século IX a X, já surgem os hiragana e katakana, que são
fonogramas, conhecidos como silabários, pois cada letra representa um som”, continua.
Nesse caso, a escrita ideográfica não foi nunca substituída, mas outros símbolos
foram sendo acrescidos, conforme a necessidade. “Os pictóricos fazem alusão direta aos
desenhos, depois estes passam a constituir partes de outros ideogramas ou logogramas
mais complexos, mas não desaparecem em definitivo. Eles foram preservados e são uti-
lizados até hoje”, completa. Dessa forma, no Japão, existiram desde o princípio múltiplas
leituras dos mesmos ideogramas, por conta das traduções dos logogramas chineses. Na
própria China, entretanto, as leituras dos logogramas podem ser diferentes, dependendo
da época ou da região. Como ressalta Morales, “mesmo os sons chineses são vários, uma
vez que houve incorporação de leitura de regiões e épocas diferentes, o que fez aumentar
a multiplicidades de leitura sobre o mesmo ideograma”.

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 34


Certamente, a evolução da língua escrita é um tema de grande interesse. Nós, hoje,
vivemos em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela escrita, onde os re-
lacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais, vão muitas vezes se limitar ao contato
via internet e onde as pessoas se “falam”apenas escrevendo. Além disso, os recursos da
web oferecem uma grande oportunidade de disseminação e difusão da informação escrita.
Nas palavras da professora Margarida Salomão, existe o “potencial para a universalização
do conhecimento”. Entretanto, falar e escrever não são a mesma coisa. Enquanto vivemos
em sociedade, todos aprendemos a falar, ainda bem jovens, tendo como instrutores as pes-
soas próximas junto às quais crescemos. Por outro lado, a escrita tem que ser ensinada,
normalmente em escolas, por pessoas que também foram treinadas para tal. Existe uma
“formalidade”na aquisição da escrita, uma intencionalidade, uma vez que não aprendemos
a escrever simplesmente convivendo com quem escreve. Essa intencionalidade também
existiu na criação das línguas escritas e em sua evolução, para acompanhar o ritmo das
sociedades e as várias modificações que a própria língua falada foi sofrendo.
Não há dúvida de que a invenção dessa forma de expressão delineou a história do
mundo desde a sua criação e propagação até alcançar a nossa condição atual, de “aldeia
global”, na qual pessoas de culturas diversas e regiões muito distantes geograficamente
entre si, podem se comunicar através do mesmo tipo de escrita numa mesma língua, que
por sua vez também foi ainda mais disseminada. Dos desenhos pictóricos à era da informa-
ção, a história da escrita é um capítulo fundamental na história da humanidade. Tudo que
conhecemos hoje, que transforma e valoriza nosso mundo, os livros, os filmes, a internet,
a ciência, entre tantas outras coisas, só existe devido ao sucesso dessa ferramenta. “Eu
considero que a invenção da escrita tenha sido a mais importante de todas as evoluções
tecnológicas da humanidade, porque sem ela, é muito difícil imaginar que as outras tives-
sem acontecido”, conclui Salomão.

Fonte: VALLE, Maíra; PANCETTI, Alessandra. A transformação do mundo pela escrita. ComCiência, 

Campinas,  n. 113,   2009 .   Disponível em <http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_

arttext&pid=S1519-76542009000900002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  13  ago.  2021.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História da escrita
Autor: Steven Roger Fischer.
Editora: Ed. Unesp.
Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob
uma visão atualizada. São foco de atenção às origens, funções e
mudanças cronológicas dos mais importantes sistemas de escrita
do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das escritas são
assim abordadas em todo o seu fascínio.

FILME / VÍDEO
Título: “O Nome da Rosa”
Ano: 1980.
Sinopse: É um filme baseado no romance escritor italiano Umber-
to Eco e narra sobre a biblioteca do mosteiro que guardava obras
não aceitas pela Igreja na Idade Média.
Sinopse completa do filme pode ser encontrada em:
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-sai-
ba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/

VÍDEO
Título:TV Escola: A História da Palavra – A Revolução dos Alfabetos
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T4VFpLDucBI

UNIDADE I Fundamentos da Biblioteconomia 36


UNIDADE II
Evolução Histórica
da Biblioteconomia
Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira
Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco

Plano de Estudo:
● Biblioteconomia: a primeira modernidade;
● Biblioteconomia moderna;
● Biblioteconomia contemporânea.

Objetivos da Aprendizagem:
● Apresentar a evolução histórica da biblioteconomia e seus fundamentos;
● Discorrer sobre o surgimento da biblioteconomia enquanto área do conhecimento;
● Descrever o percurso da biblioteconomia e das bibliotecas
na Antiguidade e na Idade Média;
● Contextualizar a Biblioteconomia na era moderna;
● Citar as características da Biblioteconomia na contemporaneidade.

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INTRODUÇÃO

Prezado(a) Acadêmico(a)!

Ao adentrarmos na história a fim de conhecermos sobre as raízes da bibliotecono-


mia, enquanto área do conhecimento, podemos perceber que é impossível desvinculá-la
do aparecimento das bibliotecas, haja vista, que ela surgiu da necessidade do homem em
buscar formas adequadas, eficientes e eficazes de armazenar e preservar os acervos, bem
como, disseminar a informação.
Neste percurso, podemos perceber que o processo evolutivo da Biblioteconomia
não se deu de forma igualitária em todos os países e que o seu desenvolvimento aconteceu
em conformidade com os aspectos culturais, políticos e sociais percorridos pela humani-
dade, ou seja, à medida que a sociedade evoluía a biblioteconomia se moldava e/ou se
adaptava a estas transformações.
A fim de sistematizarmos a compreensão do texto apresentamos a princípio a
etimologia da palavra e dividimos o trajeto histórico em três períodos distintos: Antiguidade
que compreende desde o início da civilização; Idade moderna que vai de 1453 até 1789,
que corresponde ao período da invenção da Imprensa e o Renascimento e, por fim, Idade
Contemporânea, a partir de 1789 até a atualidade.
O caminho é longo, então, que tal iniciarmos a nossa caminhada pelo “túnel do
tempo” das práticas biblioteconômicas?

Seja bem-vindo(a) a evolução histórica da biblioteconomia e bons estudos!

UNIDADE II
I Evolução
Fundamentos
Histórica
da Biblioteconomia
da Biblioteconomia 38
1. BIBLIOTECONOMIA: A PRIMEIRA MODERNIDADE

Caro(a) Acadêmico(a)!

Ao refletirmos sobre determinado assunto é importante conhecermos sobre a sua


etimologia. Neste sentido, o vocábulo Biblioteconomia é derivado de três palavras gregas:
biblion (livros); théke (caixa); nomos (regra) e ao juntarmos temos biblionthékenomos, ao
qual substituiu o sufixo “os” por “ia” e temos a palavra biblioteconomia que, na opinião de
Fonseca (2007, p. 1), corresponde ao “conjunto de regras de acordo com as quais os livros
são organizados em espaços apropriados: estantes, salas, edifícios”. Mey (2004, p. 73),
porém, alerta que
a palavra grega “biblion” não se poderia referir a livros, uma vez que
eles eram inexistentes para os gregos antigos; havia apenas rolos de
papiro. O papiro, este sim, vinha da cidade fenícia de Biblos (hoje no
Líbano), o que nominou o tipo de suporte em grego. Portanto, qualquer
ligação entre o suporte e a profissão não se dá através da etimologia, mas
através da própria imagem que se dá a nossas bibliotecas.

O que se pode afirmar é se torna impossível pensarmos na Biblioteconomia desvin-


culada da biblioteca, haja vista, que enquanto uma área do conhecimento ela está intima-
mente ligada ao aparecimento das bibliotecas na humanidade, isto é, da necessidade de se
organizar a informação com vistas à sua recuperação, surgiu a necessidade de se normatizar
as atividades, encontrar regras de organização e, neste contexto, “nasce” a biblioteconomia.
Ela surge, mas, precisamente na passagem da cultura oral para a cultura escrita.

UNIDADE II
I Evolução
Fundamentos
Histórica
da Biblioteconomia
da Biblioteconomia 39
De acordo com Mey (2004, p. 73), a Biblioteconomia “seria a coleta, organização
e disseminação de livros. Muitos se perguntam se a mudança de termos acarretaria mu-
dança na imagem da profissão, não a vinculando necessariamente a livros”. Será?
Talvez sim, talvez não!
O que se sabe é que desde as tabuinhas de argila até o livro impresso, sempre houve
por parte do homem o desejo de se usar várias vezes a mesma informação que lhe fosse
significativa, mas de que maneira poderia se fazer isso? Da resposta a este questionamento,
surgiram “as primeiras evidências de organização de documentos segundo seus conteúdos,
apontando esses processos e as bibliotecas primitivas da antiguidade que os realizavam
como a origem do que depois foi denominado Biblioteconomia” (ORTEGA, 2004, p. 1).
De acordo com Medeiros (2019, p. 84), desde a Antiguidade “alguns conceitos bási-
cos da biblioteconomia já estão presentes como a organização, a preservação e a utilização
das informações registradas para uso futuro, de pessoas que não se sabe quem são e nem
em que época vivem ou viverão”. Sabe-se, porém, que os acervos eram organizados de
forma rudimentar e sem uma sistematização, propriamente, dita.
“Entre esses fazeres, na Antiguidade, estão as ações de organização e armazena-
mento dos registros do conhecimento, de tabuinhas a rolos de papiro e pergaminho, assim
como as ações de preservação dos mesmos. Tais atividades de organização podem ser
vistas como os primeiros princípios da Biblioteconomia” (TANUS, 2018, p. 256).
Ortega (2004), corrobora de que a origem dos princípios da Biblioteconomia data do
terceiro milênio a.C, período em que se pode comprovar a existência das primeiras coleções
organizadas de documentos. Essa primeira biblioteca primitiva foi descoberta em 1975,
Trata-se da Biblioteca de Ebla, na Síria, cuja coleção era composta de textos
administrativos, literários e científicos, registrados em 15 mil tábuas de argila,
as quais foram dispostas criteriosamente em estantes segundo o tema aborda-
do, além de 15 tábuas pequenas com resumos do conteúdo de documentos.
A escrita era a cuneiforme, porém não no seu idioma original (o sumério), mas
numa língua desconhecida a qual se chamou eblaíta (ORTEGA, 2004, p. 2).

A autora supracitada, menciona que na civilização mesopotâmica, no segundo mi-


lênio a.C, pode constatar “a organização de documentos acompanhada de representações
para fins de recuperação: tábuas de argila eram protegidas por espécies de envelopes nos
quais estavam dispostos resumos” (ORTEGA, 2004, p. 2).
Podemos perceber que seria impossível organizar tantas tábuas de argila sem
uma sistematização. A biblioteca de Nínive pertencente ao rei Assurbanipal II (668-627
a.C), também evidencia formas sistematizadas de organizar a informação. Esta instituição
é considerada uma das mais majestosas da antiguidade. Seu acervo era composto por

UNIDADE II
I Evolução
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Histórica
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da Biblioteconomia 40
blocos de argila cozida e escrita em caracteres cuneiformes que remontam o século IX a.C.
e era “altamente organizada. As placas componentes de uma mesma obra eram reunidas
num único bloco, no qual se punha um rótulo identificador do conteúdo” (BATTLES, 2003,
p. 31); tinha, ainda, um catálogo no qual se registravam os títulos das obras e o número
das placas. Na opinião de Pereira e Santos (2014, p. 16), essa descrição sucinta das obras
pode ser considerada como o “embrião dos catálogos”
Na opinião de Souza (2005), a biblioteca de Nínive foi a primeira coleção indexada
e catalogada da história da humanidade. Ela ficou oculta durante séculos, mais precisa-
mente, até em 1845, quando foi descoberta por Sir Henry Layard e, aproximadamente,
25.000 fragmentos, podem ser encontrados atualmente no Museu Britânico, em Londres.
Battles (2003, p. 34), ressalta, ainda, que outros arquivos e bibliotecas espalhados
pela Mesopotâmia exibiam níveis igualmente elevados de organização. Havia repositórios
em que placas eram guardadas em cestas numeradas, com os títulos gravados nas bordas
da argila para facilitar a identificação. Utilizavam-se, também, de potes, tabuinhas com
fichas para identificar os textos, listas de títulos contendo as primeiras palavras do texto
que se pressupõem que seriam os catálogos utilizados na época. Nos manuscritos e nos
incunábulos medievais fazia-se uso de colofões.

SAIBA MAIS

Colofão é uma palavra derivada do grego kolophṓn e utilizado nos manuscritos e nos in-


cunábulos medievais, nota final que fornece referências sobre a obra e indicações re-
lativas à sua autoria, transcrição, impressão, lugar e data de sua feitura.

Fonte: Dicionário Houaiss (2021).

Ao refletirmos sobre organização de bibliotecas, não podemos deixar de mencionar


sobre a Biblioteca de Alexandria que durante sete séculos (entre os anos de 280 a.C a 416
d.C), reuniu o maior acervo na Antiguidade. A organização física da biblioteca foi planejada
com bastante esmero a fim de guardar seu imponente acervo. “As estantes no interior do
edifício eram circundadas por colunatas abertas expostas a brisa, formando corredores
cobertos que os estudiosos podiam utilizar para estudo ou discussão” (BATTLES, 2003,
p. 68). Já a organização do acervo se dava da seguinte maneira: os rolos eram dispostos
em pilhas e tinham etiquetas presas com o nome dos autores e títulos das obras e “nesse
ínterim, apareceu a figura do bibliotecário, que preside ao funcionamento e à organização
da instituição” (BARATIN; JACOB, 2000, p. 47).

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I Evolução
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Histórica
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Ser convidado para o cargo de bibliotecário-chefe em Alexandria era muito hon-
roso e suas atribuições além de reorganizar as obras dos autores nas áreas humanas
e filológicas cabia, ainda, a tutoria dos príncipes reais e orientá-los nas leituras, bem
como, desenvolver o gosto por elas (BARATIN; JACOB, 2000). O primeiro bibliotecário
a assumir o cargo na Biblioteca de Alexandria foi Zenódoto de Éfeso. A ele coube a
responsabilidade de editar as obras de Homero, dividindo-a com a Ilíada e a Odisséia em
vinte e quatro volumes (CHAUÍ, 2010).
Outros bibliotecários de Alexandria se destacaram, tais como: Apolônio de Rodes,
Erastótenes de Cirene, Aristarco de Samotrácia e Aristófanes de Bizâncio (MEY, 2004).
Mas, o mais importante e sábio de todos foi Calímaco de Cirene (330-243 a.C.) que cata-
logou o acervo da Biblioteca de Alexandria, em 120 volumes, criou um catálogo das obras
existentes na biblioteca, os Pinakes, que é considerado o primeiro catálogo sistematizado
de bibliotecas. Ele era composto por 120 rolos, organizados por assunto e por autor, os
quais eram listados em ordem alfabética, com uma pequena biografia de cada um deles.
Era dividido em oito seções temáticas: drama, oratória, poesia lírica, legislação, medicina,
história, filosofia e “diversos” (FISCHER, 2006). Os pinakes serviram de modelo para outras
bibliotecas em diferentes períodos históricos.
Infelizmente a Biblioteca de Alexandria foi destruída pelo fogo por várias vezes, mas,
conforme reporta Mey (2004, p. 12) ela “deixou-nos uma herança indelével, um exemplo a
ser seguido, de busca do conhecimento e da intolerância. Certamente o homem moderno
tem muito a aprender das lições de Alexandria [...]”.
Nas palavras de Medeiros (2019, p. 59)
O estudo tradicional das bibliotecas da Antiguidade compreende desde as
suas origens até a queda do Império Romano do Ocidente. Nenhuma biblio-
teca da Antiguidade encontra-se, hoje, em funcionamento, mas alguns de
seus acervos chegaram até nós, como as tabuinhas de argila da Biblioteca
de Ebla, que estão no Museu Britânico.

Somente, por meio destes “vestígios” é que podemos conhecer sobre as bibliote-
cas da antiguidade. Na Idade Média, entre os séculos V a XV d.C. as tabuinhas e papiros
foram substituídos pelo pergaminho (suporte feito de pele de animal) que, além de ser mais
resistente, possibilitava a escrita nos dois lados e a costura no dorso das páginas e recebia
o nome de códex. É mister salientar de que a Idade Média não foi um período próspero
para as bibliotecas, as quais, tinham como função guardar os livros e não disseminar a
informação, pois “as bibliotecas medievais, são, na realidade, simples prolongamentos das
bibliotecas antigas, tanto na composição, quanto na organização, na natureza e no fun-
cionamento”, as mudanças sofridas são insignificantes, decorrentes apenas de pequenas
divergências de ordem social (MARTINS, 2002, p. 71).

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Nesta mesma esteira de pensamento, Tanus (2018, p. 264), alerta que
embora, a materialidade dos suportes tenha melhorado nesse período medie-
val, as bibliotecas continuaram fechadas em si mesmas, pois apenas uma par-
cela reduzida da população tinha acesso a elas, reduzindo-as ‘depósitos’, um
local onde mais se esconde do que se revela, assim como um local de silêncio.

Segundo Martins (2002), na Idade Média encontramos três tipos de bibliotecas: as


monacais, as particulares e as universitárias, entretanto, as grandes bibliotecas medievais
se preocupavam com a guarda dos acervos e a atividades que se destacavam era a dos
monges copistas, a quem cabia o armazenamento, acondicionamento, preservação e con-
servação de livros.
No início do período medieval, as bibliotecas monacais, tidas como espaço sagra-
do, ficavam restritas aos mosteiros e aos conventos. De acordo com Milanesi (2002, p. 23)
O acesso a esses acervos guardados nos mosteiros limitava-se aos que per-
tenciam a ordens religiosas ou eram aceitos por elas. Ler e escrever eram
habilidades quase exclusivas dos religiosos e não se destinavam a leigos.
Os monges contabilizavam o seu capital pelo tamanho e qualidade de suas
bibliotecas [...]

De acordo com Martins (2002), os armários eram embutidos nas paredes, conti-
nham diversas estantes de leitura para permitir o manuseio dos infólios e nas quais todos
os livros eram acorrentados. Supõe-se que isto ocorria por medo que as obras valiosas
fossem roubadas.

FIGURA 1 - BIBLIOTECAS MEDIEVAIS

Os mosteiros maiores tinham um Scriptorium, local em que o trabalho de copistas


era distribuído aos monges, a quem cabia o “honroso” serviço de escriturário. No que diz
respeito ao suporte da escrita, pode-se perceber uma evolução, pois, por volta dos anos
600, os monges anacoretas do Egito, por falta de outro tipo de material, utilizavam cacos de

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cerâmicas ou ostracas para registrar as cópias de clássicos antigos, com o passar do tempo
estes materiais utilizados para o registro da informação foram substituídos pelas tabuinhas
cobertas de cera, as quais eram extremamente frágeis; qualquer esfregão desaparecia
tudo que tinha sido nelas registrado. Posteriormente, no século IV, as obras dos mosteiros
eram compostas por maços de folhas de papiro dobradas e, frouxamente, costuradas em
uma capa de couro e, mais tarde, foram substituídos pelos palimpsestos, pergaminhos que
foram raspados para serem utilizados como suporte para a escrita (BATTLES, 2003). As
duas principais bibliotecas monacais foram a biblioteca de Cassiodoro e a biblioteca de um
mosteiro sírio liderado por Moisés de Nisibis.
As bibliotecas mais famosas da Idade Média, destacam-se as do Montes Altos,
na Turquia, e a biblioteca Vaticana, estabelecida na Basílica de São João de Latrão, na
época do Pará Hilário. No século IX surgem as bibliotecas capitulares, ligadas à igreja e as
mais famosas são as das Catedrais de Chartres, Lyon, Reims, Cambrai, Rouen, Clermont
(MARTINS, 2002).
No que diz respeito às bibliotecas bizantinas, apesar de serem mantidas pelos
monges, foram contaminadas pelo profano pelos próprios monges que fugiram para o Oci-
dente. Martins (2002, p. 86), narra o fato da seguinte maneira:
a fuga desses monges e desses sábios de Bizâncio para o Ocidente, trazen-
do os seus manuscritos e os seus conhecimentos, por ocasião da tomada de
Constantinopla pelos turcos, em 1453, é que provocará a Renascença e, por
consequência, o fim da Idade Média.

O Studion e o Claustro de Santa Catarina, foram os mais famosos conventos bizantinos.


No que diz respeito às bibliotecas particulares, tidas como espaços privilegiados
mantidas pelos imperadores ou nobreza, eram grandes e imponentes. Algumas chegavam
a ter, aproximadamente cem mil volumes e, em muitas delas, além de contar com copistas,
também, tinha um bibliotecário a quem cabia a responsabilidade de organizar o acervo.
Uma das bibliotecas que merecem destaque nessa época foi a de Carlos Magno “detentor
de uma biblioteca com inúmeros livros ilustrados, e, Carlos V, da França, que chegou a
reunir mil e duzentos volumes, um número considerável no seu tempo, que viria a constituir
o acervo da Biblioteca Nacional de Paris” (TANUS, 2018, p. 266).
Entre os séculos XIII e XV, com a expansão das universidades, criou-se uma de-
manda de livros por parte dos estudantes e, também, um enorme avanço das bibliotecas
universitárias. Era preciso encontrar uma forma de recuperar a informação de uma forma
mais rápida e eficiente. Desta maneira, foi criado o primeiro catálogo unificado, o qual
continha o nome dos autores e das obras e a indicação em qual biblioteca monacal ela se

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encontrava armazenada. Nos fins do século XIII, as universidades instalam suas próprias
bibliotecas, cujos acervos eram doados pelos leigos ricos e instruídos, nobres e mercado-
res (BATTLES, 2003). Com as universidades, os livros pouco a pouco se distanciam do
universo religioso, de objeto sagrado e se tornam como suportes para a pesquisa. Este
fato impulsionou o aprimoramento de catálogos que auxiliariam na localização dos livros
de forma mais rápida. Na opinião de Martins (2002), foi a partir da criação das bibliotecas
universitárias é que o bibliotecário, como organizador da informação, surgiu de fato e, no
Renascimento, consolidou o seu papel como disseminador do conhecimento.
Após este passeio pelos primórdios da biblioteconomia, que tal conhecermos como
ela se “comportou” na Idade Moderna? Então, vamos adiante!!

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2. BIBLIOTECONOMIA MODERNA

Olá!
Neste item vamos conhecer o percurso da Biblioteconomia na Idade Moderna, período
que vai de 1453 até 1789, mas, precisamente, da eclosão da Revolução Francesa, perpassa
pelo período da invenção da imprensa, dos grandes descobrimentos e o Renascimento.
Conforme já pudemos observar que a gênese do trabalho biblioteconômico a prin-
cípio foi organizar os registros. Este ato permitiu que a memória da humanidade fosse
preservada, mas para que isto acontecesse foram necessárias pessoas especializadas,
cujas funções iam além de preservar a informação, mas, também a organizar de maneira
que ela pudesse ser recuperada. Nas palavras de Milanesi (2002, p. 9), “essa atividade de
buscar-o-que-foi-guardado e de guardar-o-que-foi-registrado (e de registrar-o-que-foi-ima-
ginado) é a forma possível para manter viva a memória da humanidade, forma essa em
constante aperfeiçoamento”.
De acordo com Baratin e Jacob (2000), são poucos registros que se tem sobre a
formação das bibliotecas humanistas, tanto no que diz respeito à formação de suas cole-
ções, quanto aos métodos de aquisição e catalogação do acervo. Entretanto, é a partir do
Renascimento que o bibliotecário assume, efetivamente, seu papel central de agente que
organiza o acervo e contribui para a disseminação do conhecimento; “ele surge como um
guia de ajuda na caminhada por um mundo novo e aberto” (MILANESI, 2002, p. 7). A ele
cabia desde a disposição arquitetônica até a organização das bibliotecas como um todo.

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Um acontecimento que revolucionou a história das bibliotecas e, consequentemente,
da biblioteconomia ocorreu em 1440, com a invenção da prensa tipográfica por Gutenberg.
É mister salientar que desde o século XI os chineses já conheciam os caracteres móveis (a
prensa clássica não reutilizável), entretanto, com a imprensa, além de reduzir o tempo de
reprodução do texto, diminuiu o custo do livro. “A imprensa e o papel acarretaram sensíveis
mudanças no mundo da cultura: livros passaram a ser impressos e distribuídos, semeando
frutos e vida e de morte” (ROSA, 1993, p. 118).

De acordo com Tanus (2018, p. 257),


A Idade Moderna teve como um dos marcos a imprensa dos tipos móveis, o
que possibilitou a mudança da produção manual do livro para o impresso, e,
com isso, uma maior circulação de livros e um aumento de leitores para além
das Bíblias e do círculo religioso. O livro passa, então, a ser sentido como
uma necessidade, a leitura e a escrita concomitantemente passam a ser re-
queridas e valorizadas.

As bibliotecas crescem agora rapidamente: os sistemas medievais de conservação


dos livros em armários, arcas e estantes de tampo inclinado não são mais compatíveis
com o número de livros impressos. Além disso, as reformulações sociais alteraram profun-
damente suas funções: os processos de adequamento da biblioteca às necessidades da
sociedade não acompanharam o mesmo esquema em todos os países; como seu serviço
abrange as estruturas econômicas e culturais de uma mesma nação, as bibliotecas rece-
beram incentivo nos lugares onde as escolhas políticas se fizeram tempestivamente. Uma
das manifestações mais vistosas é a aparição gradual de diferentes tipos de bibliotecas,
devido à origem e à função.

SAIBA MAIS

É mister salientar que antes do século XV, as bibliotecas eram particulares ou ligadas a
instituições. Com o século XVI e os seguintes, surgem outras bibliotecas: as constituí-
das como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral que derivam das
reais); as circulantes, com pagamento de certa importância por parte do usuário; as
filantrópicas, com base financeira mista; as públicas anglo-americanas, mantidas por
contribuições fiscais.

Fonte: as autoras

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Desta maneira, a produção bibliográfica, em larga escala, possibilitou a difusão do
conhecimento para as massas e, também, “gerou a necessidade de novas ferramentas de
organização e recuperação das coleções, que cresciam vertiginosamente. Além dos catálo-
gos e inventários que se especializaram nessa época, destacou-se o desenvolvimento das
bibliografias a partir do século XVI” (SIQUEIRA, 2010, p. 58). O livro impresso possibilitou a
difusão do conhecimento para as massas, principalmente, por meio das bibliotecas públicas
que expandiam cada vez mais os seus acervos.

REFLITA

As bibliotecas públicas, na Idade Moderna, apesar do nome nem sempre significava


que estavam abertas a toda população sem distinção. Na sua opinião, na atualidade
todo cidadão tem, realmente, acesso à informação?

Fonte: as autoras.

Um marco considerável para a história das bibliotecas se deu em 1627, com a


publicação da obra Advis pour dresser um bibliothéque, escrita por Gabriel Naudé, a qual
formalizou as bases conceituais da Biblioteconomia e forneceu conceitos importantes, den-
tre eles a ideia de ordem bibliográfica. Araujo, A. e Araujo, D. (2018, p. 5) corroboram que
a Naudé está atribuído o status de ter sido, no período moderno, um dos
primeiros a adquirir fama não somente como bibliotecário, mas como teórico
das bibliotecas. Seu Advis pour dresser une bibliothèque (1627) torna-se o
primeiro guia orgânico e coerente para a preparação de uma biblioteca ideal.

O guia elaborado por Naudé instrui como deveriam ser escolhidos e distribuídos os
livros em uma biblioteca. De acordo com Serrai e Sabba (2005, p. 80),
o projeto de biblioteca que Naudé tinha em mente era distinguido por um ca-
ráter estritamente ideal: Advis de fato expõe o modelo do que uma biblioteca
tinha que ser em termos absolutos. É essencial recordar essa característica
da idealidade concreta do desígnio naudeano: ingênua e apaixonada, límpida
e ardente, inspirada nos axiomas das heurísticas mais rebeldes e, ao mesmo
tempo, alimentada incessantemente por referências à matéria e à realidade
bibliográfica.

Assim, foram lançadas as bases da biblioteconomia moderna “não só em termos da


definição de normas técnicas e operacionais destinadas ao bom funcionamento da instituição,
mas também da abordagem cultural para a sua formação” (GUERRINI et al., 2008, p. 27).

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Outro fato que merece destaque no desenvolvimento da Biblioteconomia foi a
consolidação da biblioteca pública após a Revolução Francesa, no período de 1789 a
1799, que tinha como objetivo difundir a informação nos âmbitos da educação e cultura. De
acordo com Siqueira (2010, p. 58), “nesse contexto, nasceu a Biblioteconomia, disciplina
encarregada de organizar, administrar e cuidar da gestão de livros, bem como a figura do
profissional bibliotecário; ao lado do arquivista, tornaram-se fundamentais para a consoli-
dação institucional de arquivos e bibliotecas”. Esses profissionais são influenciados pelo
desenvolvimento tecnológico e científico reinante no século XVIII, concentram sua forma-
ção em dois aspectos: “um técnico (catalogação, classificação, paleografia) e outro voltado
à aquisição de cultura geral (história, literatura, ciências)”. Assim, no final do século XVII,
nasciam na Europa as primeiras associações profissionais de bibliotecários e arquivistas.
Neste período há, também, uma valorização das bibliotecas, pois com a democra-
tização da informação, as pesquisas científicas crescem vertiginosamente, “[...] a inovação
intelectual, mais que a transmissão da tradição, é considerada uma das principais funções
das instituições de educação superior e, assim, espera-se que os candidatos aos graus mais
elevados façam contribuições ao conhecimento” (BURKE, 2003, p. 105). Aliás, a importân-
cia da pesquisa no mundo acadêmico prevalece até os dias atuais e, as bibliotecas, sejam
elas físicas, ou virtuais continuam como centros de excelência e suporte ao pesquisador.
Pesquisar e produzir conhecimento são as trilhas que conduzem a humanidade para
a contemporaneidade e qual o papel das bibliotecas e da biblioteconomia neste contexto?

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3. BIBLIOTECONOMIA CONTEMPORÂNEA

Prezado(a) acadêmico(a)

Chegamos a contemporaneidade, período que compreende de 1789 até aos dias


atuais. E como será que a biblioteconomia se comporta neste período?
A produção bibliográfica e a pesquisa científica crescente a partir do final do século
XIX, bem como, o surgimento de diversos suportes, além, do livro impresso, sentiu-se a
necessidade de se desenvolver novas técnicas para organizar e administrar a informação,
pois a Bibliografia não atendia mais às necessidades biblioteconômicas da época.
No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias demo-
cráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não podiam deixar
de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de filantropia, com dó
dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão espiritual’ em que vivia o
trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir uma espécie de propaganda, cujo
slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como fechar uma prisão.” (MORAES, 1983, p. 16)
Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia convencido
da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele se corrompesse
com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas públicas por toda parte
da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização científica, romances históricos,
clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais de instrução técnica e profissional”.
Bibliotecas, em suma, “munidas de obras escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata
intelectual julgava destinadas a instruir ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16).

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Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para re-
forçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os padrões
de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto pelo trabalho”
(LOWENTHAL; FISKE, 1957 apud COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial da divulgação dos
hábitos de leitura, ficou bem marcada a afinidade entre a preocupação com a presença
da “massa” e com a “massificação cultural” por um lado, e a expressão de interesses de
classe, bastante primários, por outro. A preocupação com os efeitos da expansão dos meios
impressos tinha se detido mais nos interesses sociais em jogo do que propriamente na área
cultural. No caso das obras de ficção, eram evidentes as questões sociais, porém, no caso
da imprensa periódica, surgiram questões políticas, que envolviam interesses e aspirações
de classes, mais sujeitas ao controle governamental (SPERRY, 1991, p. 221).
As conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa emigram para a In-
glaterra e para os Estados Unidos da América. Entretanto, “na América, onde jamais existiu
uma aristocracia verdadeiramente tradicional, como na Europa, encarou-se o problema de
forma muito diversa” (MORAES, 1983, p. 16)
Paralelamente ao movimento europeu das bibliotecas populares, desenvol-
veu-se nos Estados Unidos um movimento bibliotecário, não encabeçado por
uma elite humanitária, mas organizado espontaneamente pelo povo. A sua
criação não partiu de uma aristocracia querendo socorrer o proletariado igno-
rante, mas do próprio povo, que sentia necessidade de instruir-se, de adquirir
uma cultura por meio da qual poderia subir socialmente. As bibliotecas ameri-
canas surgiram, como as escolas, não doadas por uma elite ou por um gover-
no benevolente, mas criadas pelo próprio povo, ávido de leitura, persuadido
de que estava adquirindo um instrumento indispensável para a luta pela vida
(MORAES, 1983, p. 16).

As bibliotecas americanas nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a se-
paração de bibliotecas para o povo e bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste caso,
doadas por uma classe, como uma esmola, a outra classe menos favorecida. Para Moraes,
(1983, p. 16), “nunca houve nos Estados Unidos, a mentalidade bibliotecária humanitária”.
Segundo Serrai (1975), por volta de 1850, nos Estados Unidos são promulgadas
leis que autorizam o emprego de certa percentagem dos impostos na construção e ma-
nutenção das bibliotecas públicas. É o primeiro passo para a realização de uma eficiente
rede nacional de bibliotecas destinadas à consulta, à leitura e ao empréstimo para o grande
público. A biblioteca toma seu lugar ao lado da escola e como integrante dela, sendo fator
de grande relevo não somente na educação, mas também na formação da consciência
cívica e comunitária dos jovens e dos adultos.

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Do século XIX em diante, as bibliotecas adquirem sua fisionomia atual. E hoje
em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão. A biblioteca deixou de ser um
“hospital de almas” para se tornar simplesmente uma oficina de trabalho, que pode ser
utilizada por qualquer cidadão, ou ainda, conforme Serrai (1975, p. 158), “é um fenômeno
ecológico, ou seja, representa apenas uma das formas que têm a função de favorecer a
comunicação entre os homens”.
E chegamos no século XX, devido ao avanço tecnológico, adentramos na Socie-
dade da Informação e com ele veio uma explosão documental, jamais, vista na história da
humanidade, o que implicou em se criar novas estratégias de organização e recuperação
da informação, inclusive se obrigou a revisar o conceito de biblioteca, a qual passou de
mero depósito de livros para um espaço “vivo” e circulante da informação (SILVA, 2013).
Nesta corrida acelerada de se registrar e disponibilizar ao usuário toda informação relevan-
te surgiram novos tipos de bibliotecas, dentre elas: a especializada, a qual foi influenciada
pelos impactos pelos avanços da ciência e da tecnologia na sociedade pós-moderna.
O papel dos bibliotecários nestas instituições deve ter por objeto oferecer a informa-
ção a um público selecionado, haja vista, que ela atende a um usuário especializado em uma
determinada área do conhecimento, pois a biblioteca especializada deve proporcionar “[...]
qualquer conhecimento ou experiência que possa ser coletada, para avançar os trabalhos
desta instituição e fazê-la, assim, atingir os seus objetivos” (FIGUEIREDO, 1979, p. 10).
No século XX, outro fato que impulsionou a Biblioteconomia foi a incorporação das
novas tecnologias da informação e comunicação (NTICs) aos seus afazeres, ou seja, as
que a internet surge como uma aliada aos serviços biblioteconômicos. Santa Anna (2015,
p. 1390), corrobora que
A internet revolucionou os fazeres profissionais dos bibliotecários devido à
sua capacidade de transferir a informação, facilitando seu acesso, rompen-
do-se barreiras geográficas e temporais. O surgimento da internet, aliado
à explosão bibliográfica, permitiu o renascimento de uma nova era na Bi-
blioteconomia. Por meio da internet, os usuários tornam-se mais exigentes,
utilizando os mecanismos do espaço digital a fim de conseguir acessar as
informações necessitadas, em um espaço cada vez mais curto de tempo e a
baixos custos.

A partir de então as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC),


não só alterou o conceito de informação, como os serviços prestados pelas bibliotecas.
Tudo pode ser acessado remotamente. Recuperar a informação é questão minutos, bastam
os “clicks”. Vivemos na era das Bibliotecas Virtuais, mas o que são elas? De acordo com
Rosetto (2002, p, 13), a biblioteca virtual é

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Histórica
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aquela que contempla documentos gerados ou transpostos para o ambiente
digital (eletrônico), um serviço de informação (em todo tipo de formato), no
qual todos os recursos são disponíveis na forma de processamento eletrôni-
co (aquisição, armazenagem, preservação, recuperação e acesso através de
tecnologias digitais).

Santa Anna (2015, p. 140), complementa que


Essas modalidades de bibliotecas se caracterizam pela alta capacidade em
processar a informação, criando vínculos de acesso ao usuário: trata-se de
um processo reversivo, pois, diferentemente das bibliotecas com acervos im-
pressos, em que o usuário precisa ir até a informação, as redes eletrônicas
vão até o usuário, transferindo informações a toda parte do mundo.

Catalogar e classificar já não é uma atividade solitária, pois as bibliotecas conecta-


das em redes permitem ao bibliotecário a socialização dos serviços técnicos; “o acondicio-
namento de estoques informacionais em formatos latentes, de modo que a informação pode
ser armazenada, tratada, gerenciada e disseminada por meio das redes digitais” (SANTA
ANNA, 2015, p. 140).
Marcondes, Mendonça e Carvalho (2006, p. 174), corroboram que as tecnologias da
informação trouxeram mudanças significativas aos serviços bibliotecários, pois possibilitou
[...] um ambiente informacional amplo, global, de alcance nunca visto pelos
antigos serviços bibliotecários, acostumados a trabalhar num ambiente de-
limitado, com uma comunidade de usuários identificável, restrita e até mes-
mo, conhecida pessoalmente. No novo ambiente e numa escala mundial,
os usuários podem ter acesso a diferentes recursos, independentes de sua
localização física.

E como a biblioteconomia e bibliotecas se encontram nesse limiar do século XXI? A


resposta a este questionamento nos é dado por Santa Anna, Gerlin e Siqueira (2013, p. 1),
“como uma onda de transformações nos fazeres profissionais devido às novas estruturas de
informação geradas com o avanço tecnológico, fato este que evidencia o início deste século
como um período de transição, principalmente com a criação de novos registros de informação”.
Nesta mesma esteira de pensamento, Santa Anna (2015, p. 151), complementa que
A biblioteca do futuro, seja ela de qualquer modalidade: híbrida, digital e/ou
virtual, embora tenda a se aproximar da virtualização, se caracterizará, no
decorrer das décadas do século XXI, como um espaço diversificado, ofere-
cendo produtos e serviços diferenciados a seus usuários, tendo em vistas as
necessidades demandadas.

Podemos perceber de que tal como a sociedade está em movimento, a biblio-


teconomia não ficou estagnada no tempo e acompanha os avanços demandados pelos
usuários, pela explosão documental, pelos artefatos tecnológicos diversificados, ou seja,
as bibliotecas estão em constante evolução, pois se em 1985, em discurso no Encontro
Nacional de Biblioteconomia e Informática, organizado pela Associação dos Bibliotecários
do Distrito Federal, Maciel proferiu as seguintes palavras

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Histórica
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da Biblioteconomia 53
É significativa a função social do bibliotecário, que, além de atuar como
destacado colaborador do homem da ciência, dos pesquisadores, dos inte-
lectuais, dos estudantes, dos artistas, propicia as condições de acesso ao
imenso tesouro das mais variadas formas de expressão da inteligência e da
sensibilidade humanas (MACIEL, 1985, p. 10)

Após transcorrerem trinta e seis anos destas palavras, é mister salientar que o
profissional bibliotecário continua a desempenhar a função social do bibliotecário e, inde-
pendente, do tipo de biblioteca em que atue: física e/ou virtual sempre tem por objeto a
mediação do conhecimento para a razão de ser de suas atividades: o usuário. Assim, as
Leis da Biblioteconomia, formuladas pelo indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan (2009),
continuam atuais neste limiar do século XXI: os livros são para usar; a cada leitor o seu
livro; a cada livro o seu leitor; poupe o tempo do leitor e a biblioteca é um organismo em
crescimento e de que as bibliotecas e a biblioteconomia, sofrem as influências da cultura
e da política, bem como, refletem os padrões vigentes pela sociedade em cada período
histórico vivenciado pela humanidade.

UNIDADE II
I Evolução
Fundamentos
Histórica
da Biblioteconomia
da Biblioteconomia 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua gênese e
pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a necessidade
de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a fim de preservar
a sua memória. Neste ínterim, surgem as bibliotecas como guardiãs do saber acumulado
pela humanidade e, desde os tabletes de argila, dos rolos de papiro e pergaminho, dos
livros impressos até os e-books, esta instituição teve por finalidade organizar, preservar e
disseminar a informação, sempre tendo em vista o usuário a que serve.
Pudemos, ainda, conhecer ainda as práticas biblioteconômicas e a evolução das
bibliotecas, desde a Antiguidade, perpassamos pela Idade Média, chegamos à Idade Mo-
derna e, neste período, cruzamos a Renascença e a invenção da imprensa e chegamos a
contemporaneidade e aqui encontramos a Sociedade de Informação, em que há o domínio
da internet em todos os segmentos da sociedade e que as bibliotecas não ficaram alheias às
mudanças causadas explosão documental e pelas tecnologias da informação e comunicação.

Esperamos que você tenha gostado desta nossa caminhada!!!!

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I Evolução
Fundamentos
Histórica
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da Biblioteconomia 55
LEITURA COMPLEMENTAR

HISTÓRIA DA BIBLIOTECONOMIA

Ao contrário do que muitos pensam a Biblioteconomia não é um curso novo e  nem


mesmo a profissão de bibliotecário é recente. Alguns autores da área dizem que a biblio-
teconomia começou logo com o surgimento das bibliotecas.  Entretanto vamos considerar
aqui que a biblioteconomia surgiu com as primeiras evidências de organização de docu-
mentos segundo seus conteúdos. No quadro abaixo é  apresentado alguns exemplos de
como funcionavam algumas bibliotecas no decorrer do tempo.

Até a criação da imprensa, onde até então os “funcionários” das bibliotecas estavam
preocupados realizar um trabalho de cópia de documentos que já existiam na biblioteca
juntamente com  a organização de coleções bibliográficas e administração de bibliotecas,
sem, necessariamente, a preocupação de explorar seus conteúdos nem, tão pouco, agilizar
o processo de comunicação da informação. Com a criação da imprensa os “funcionários” se
vêm voltados a mudar essa função de serem copiadores.

UNIDADE II
I Evolução
Fundamentos
Histórica
da Biblioteconomia
da Biblioteconomia 56
Para facilitar o acesso a informação Melvil Dewey – no século XIX -  cria o sistema
de Classificação Decimal de Dewey tendo como objetivo organizar os acervos das  biblio-
tecas,assim facilitando a busca de informação. 
O termo “biblioteconomia” foi usado pela primeira vez em 1839 na obra intitulada
“Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e l’administration des
bibliothèques”, publicada pelo livreiro e bibliógrafo Léopold-Auguste-Constantin Hesse.
Biblioteconomia - segundo FONSECA (1979), Biblioteconomia é o “conhecimento
e prática da  organização de documentos em bibliotecas”. Por organização entendem-se
as atividades desenvolvidas na condução dos serviços prestados, os quais podem ser di-
vididos em duas categorias: serviços-meio (processos técnicos) e serviços-fim (processos
informativos). Ainda de acordo com o autor, o objetivo da biblioteconomia é a utilização das
bibliotecas pelo maior número de interessados; sua finalidade é levar o conhecimento a
todos os segmentos da sociedade; sua importância resulta da explosão bibliográfica; seu
objeto são os documentos  textuais dos quais existem exemplares múltiplos (difere, neste
ponto, da arquivologia e da museologia, cujos objetos são exemplares únicos).
Fonseca considera que são atribuições exclusivas da biblioteconomia:  a democra-
tização da cultura (o saber é para todos), através das bibliotecas públicas; a preservação e
difusão do patrimônio bibliográfico da nação através da biblioteca nacional; o apoio docu-
mental ao ensino e à pesquisa através das bibliotecas escolares e universitárias; o apoio
à tomada de decisão, solução de problemas da sociedade, etc., através das bibliotecas
especializadas.

Fonte: Este texto foi extraído de: HISTÓRIA da Biblioteconomia. [s.n.t.]. Disponível em: https://sites.

google.com/site/histobiblio/historia-geral. Acesso em: 20 ago. 2021.

UNIDADE II
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Fundamentos
Histórica
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da Biblioteconomia 57
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução à biblioteconomia
Autor: Edson Nery da Fonseca.
Editora: Briquet de Lemos.
Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob
uma visão atualizada. São foco de atenção às origens, funções e
mudanças cronológicas dos mais importantes sistemas de escrita
do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das escritas são
assim abordadas em todo o seu fascínio.

FILME / VÍDEO
Título: Agora
Ano: 2009.
Sinopse: Agora é um filme espanhol dirigido por Alejandro Ame-
nábar, lançado na Espanha, em 9 de outubro de 2009. O filme é
estrelado por Rachel Weisz e Max Minghella e relata a história da
filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos
355 e 415, época da dominação romana. O filme relata a história
de Hipátia, filósofa e professora em Alexandria, no Egito entre os
anos 355 e 415 d.C. Única personagem feminina do filme, Hipátia
ensina filosofia, matemática e astronomia na Escola de Alexandria,
junto à Biblioteca. Resultante de uma cultura iniciada com Alexan-
dre Magno, passando depois pela dominação romana, Alexandria
é agitada por ideais religiosos diversos: o cristianismo, convive de
forma tensa com o judaísmo e a cultura greco-romana.

VÍDEO
Título: 05 bibliotecas lendárias e misteriosas do mundo antigo!
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zw26Bedvg9k

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UNIDADE III
Documentação
Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira
Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco

Plano de Estudo:
● Conceitos e Definições de documento;
● Origem e natureza da documentação;
● Finalidade da documentação;
● Teoria semiótica no campo da documentação.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a documentação, compreendendo sua origem e natureza;
● Compreender a importância e a finalidade da documentação;
● Identificar as contribuições da teoria semiótica
para o campo da Documentação.

59
INTRODUÇÃO

Prezado(a) Acadêmico(a)

Nesta terceira unidade conheceremos a definição de documento e o quanto o seu


conceito se ampliou ao longo do desenvolvimento social, científico e tecnológico da huma-
nidade. Observaremos os principais aspectos relativos ao contexto da origem e natureza
da Documentação, bem como sua finalidade em meio a crescente massa de documentos
técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização, com vistas a torná-la
acessível a todos os interessados.
Identificaremos ainda as contribuições das teorias semióticas aos processos de
significação, dimensionamento e tratamento da informação, com vistas ao desenvolvimento
de consistentes e condizentes interpretações das constituições textuais (verbais e não ver-
bais) para que o usuário possa compreender e construir sua própria interpretação. Veja! Já
estamos na penúltima unidade da nossa disciplina, desejamos que tenha ótimos estudos e
significativos aprendizados!

Vamos lá concluir mais uma etapa!

Bons estudos!

UNIDADE III Documentação 60


1. DOCUMENTO: DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Caro(a) Acadêmico(a)!

Iniciamos nosso percurso pelo conteúdo previsto nesta unidade identificando as


diferentes definições e concepções atribuídas ao termo documento. Para isso, partimos
da compreensão de que embora a gênese do termo esteja associada a registro escrito ou
ilustrado que possa ser transmitido em formatos diversos, a partir do século XX surgem
novas concepções, expandindo o conceito de documento para itens diversos, além dos
textuais e imagéticos.
Essa expansão inicia-se com um importante pensador e estudioso da área da
documentação, Paul Otlet (1868-1944), que traz valiosas contribuições ao estudo da
área ao considerar que os documentos consistem não apenas em palavras escritas ou
impressas, mas, também, objetos, figuras e ilustrações, partituras musicais, entre outros
elementos que tenham valor probatório e que ‘documentem’ algo (RAYWARD, 2018).
Na biblioteconomia duas correntes se sobressaem na concepção de documento
a partir do século XX: a corrente pragmática e a corrente funcionalista. A corrente prag-
mática, desenvolvida especialmente por Jesse Shera (1972) nos Estados Unidos destaca
o caráter intencional do documento e o limita aos registros gráficos, sobretudo, textuais e
audiovisuais (SMIT, 2008).

UNIDADE III Documentação 61


Já a corrente funcionalista estabelecida Paul Otlet e Suzanne Briet, consideram
o documento como um objeto concreto, pelo qual a “informação, [e] o conteúdo, ganham
forma no plano comunicacional e [sejam] simultaneamente o suporte que possibilita a sua
circulação” (COUZINET, 2009, p. 13). E, ainda, que possibilite a “guarda e preservação,
por representar alguma ação humana ou algum detalhe da natureza”.(SMIT, 2008, p. 12).
Assim, Otlet e Briet “trabalharam a noção de documento a partir de novas possibilidades,
o que abriu precedentes para pensá-lo como informação fixada em diferentes tipos de
suporte e a partir do seu papel social”. (MURGUIA, 2011, p. 45).
Nessa perspectiva, Otlet ao adotar a expressão “unidade documentária” amplia a
concepção de documento, empregando-o como termo genérico, que denota coisas infor-
mativas, armazenáveis e recuperáveis, incluindo tanto objetos naturais e artefatos, que
denotam atividades humanas, quanto modelos construídos para representar ideias, como
trabalhos de arte e textos. O documento assume, então, uma função informativa e passa a
ter suportes diversos, além do papel. (BUCKLAND, 1991).
As definições trazidas pela União Francesa dos Organismos de documentação con-
cebem o documento como: “toda base de conhecimento fixada materialmente e suscetível
de ser utilizada para consulta, estudo ou prova” (BRIET, (2016, p. 1). Assim, o documento é a
evidência (prova) de um fato, que pode ser compreendido, conforme aponta Briet (2016, p.1),
todo indício concreto ou simbólico, conservado ou registrado com os fins de
representar, reconstruir ou provar um fenômeno físico ou intelectual. “[Então...]
são documentos as fotografias e os catálogos de estrelas, as pedras em um
museu de mineralogia, os animais catalogados e expostos em um Zôo.

A autora destaca ainda, que em tempos de múltiplas e aceleradas formas de co-


municação, o menor acontecimento científico ou político, quando levado ao conhecimento
público, pode assumir características de documento, neste sentido não se restringe a texto,
mas ao acesso à evidência.
Buckland (1997) atribui ao documento quatro características: materialidade: apenas
objetos e sinais físicos; intencionalidade: pretende-se que o objeto seja tratado como evi-
dência; os objetos devem ser processados: eles devem ser transformados em documentos;
e a atitude fenomenológica: o objeto deve ser percebido como documento.
Meyriat (2016, p. 241) compreende documento como “um objeto que dá suporte
à informação, serve para comunicar e é durável”. Nesse conceito duas noções são in-
separáveis: natureza material - o objeto que serve de suporte conceitual - o conteúdo da
comunicação, a informação. Ultrapassando a ideia de que necessitaria ser um registro
escrito, nesse aspecto o autor supracitado lembra que os documentos escritos são apenas
um caso privilegiado, pois a escrita é o meio mais utilizado para comunicar uma mensagem,
reconhecendo que inúmeros outros objetos podem se tornar documentos.

UNIDADE III Documentação 62


Na concepção Meyriat (2016) a vontade do emissor não é suficiente para que um
objeto se constitua em documento. Para ilustrar essa afirmação, o autor cita o seguinte
exemplo:
Um jornal diário é feito para suportar e transmitir informações; mas se o com-
prador o usar para embrulhar os legumes, por exemplo, o jornal se transfor-
ma numa embalagem rudimentar e não é mais um suporte de informação. Ele
pode transformar-se novamente se o destinatário do pacote colocar os olhos
sobre o conteúdo e tomar conhecimento de algumas notícias (MEYRIAT,
2016, p. 242).

Para o autor a vontade de obter uma informação torna-se um elemento necessário


para que um objeto seja considerado documento, pois é no momento em que se busca a in-
formação em um objeto, cuja função original é prática ou estética, que se faz um documento.
Menezes (1998), complementando a ideia de que documentos devem ser com-
preendidos a partir de sua relação com terceiros, destaca que categorias específicas de
objetos são documentos desde sua origem, ao serem projetados para registrar a informa-
ção, no entanto, qualquer objeto pode funcionar como documento. Acrescenta, ainda, que o
documento de nascença pode fornecer informações jamais previstas em sua programação.
Usando como exemplo uma caneta, o autor comenta:
Se ao invés de se usar uma caneta para escrever, lhe são colocadas ques-
tões sobre o que seus atributos, informam a respeito de sua matéria prima,
respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de fabricação,
forma, função, significação, etc.- este objeto utilitário está sendo empregado
como documento (MENESES, 1998, p. 95).

Buscando esclarecer o que seria ou não documento, Briet (2016) enumera seis
objetos, destacando em quais situações seriam documentos.

QUADRO 1 - EXEMPLOS DE DOCUMENTOS E NÃO DOCUMENTOS

Objetos Documentos
Estrela no céu Não
Foto de estrela Sim
Uma pedra no rio Não
Uma pedra no museu Sim
Um animal selvagem Não
O animal no zoológico Sim

Fonte: elaborado pelas autoras a partir de Briet (2016)

Nesse aspecto, o que faz de um objeto documento não é a carga de informação a


ele atribuída e pronta para ser extraída, mas, sim a sua relação com um terceiro, externo
a seu horizonte original. Assim, para um objeto ser considerado como um documento é
essencial que haja “a vontade de se obter uma informação”, ainda que a intenção de seu
criador tenha sido outra. Nesta concepção o documento torna-se o produto da vontade de
informar ou a de se informar (LOUREIRO; LOUREIRO, 2013, p. 4).

UNIDADE III Documentação 63


SAIBA MAIS

Paul Marie Ghislain Otlet (1868 - 1944) nasceu em 23 de agosto de 1868, em Bruxelas,
na Bélgica, foi autor, empresário, visionário, advogado e ativista da paz. É um dos “pais”
da ciência da informação, uma área que ele inicialmente chamava de “documentação”.
Otlet criou a Classificação Decimal Universal, um dos exemplos mais proeminentes de
documentação facetada. Foi responsável pelo desenvolvimento de uma ferramenta de
recuperação de informação inicial, o “Répertoire Bibliographique Universel” (RBU), que
utilizava cartões de índice de 3x5 polegadas, usado comumente em catálogos de biblio-
tecas em todo o mundo (agora em grande parte substituído pelo advento do catálogo de
acesso público online (OPAC). Otlet escreveu inúmeros ensaios sobre como coletar e
organizar o conhecimento do mundo, culminando em dois livros, o Traité de Documen-
tation (1934) le Monde: Essa d’universalisme (1935), frequentemente citados na área.

Fonte: Sintetizado de Otlet [20??]: https://stringfixer.com/pt/Paul_Otlet. Acesso em: 20 set. 2021.

UNIDADE III Documentação 64


2. ORIGEM E NATUREZA DA DOCUMENTAÇÃO

Caro(a) Acadêmico(a)!

Para compreendermos a respeito da origem e natureza da documentação é preciso


ter em mente que este termo foi adotado inicialmente em 1903 por Paul Otlet, em um artigo
intitulado `Les Sciences bibliographiques et la documentation’, contemplando “[...] o proces-
so de fornecimento de documentos ou referências dos mesmos àqueles que precisam de
informação que eles contêm”. Otlet destaca que a documentação se refere a um corpo de
conhecimento denominado ciências bibliográficas, composto pela produção, fabricação de
material, distribuição, registro estatística, conservação e utilização, incluindo compilação,
impressão, publicação, venda, bibliografia e biblioteconomia (ORTEGA, 2009, p. 4).
A documentação caracteriza-se então, como um campo do conhecimento que
busca sistematizar elementos e fundamentar a prática de tratamento de documentos e
informação com vistas a sua recuperação. Pressupõe a atividade profissional de coleta,
gerenciamento, tratamento e difusão de informações em diferentes suportes de informação.
Surge num cenário em que a principal forma de registro do conhecimento é
a imprensa periódica, cuja publicação se dava de forma irregular, o que dificultava a
obtenção de uma visão clara e concisa das produções de uma determinada área do
conhecimento, tendo em vista o volume e a dispersão desta produção. A documentação

UNIDADE III Documentação 65


foi assim a solução encontrada para resolver o problema da desordem que acometia a
produção de documentos. Importante considerar que a documentação se desenvolve em
um contexto particular de crescente valorização da informação como insumo de alto valor
econômico, político, social e cultural e do conhecimento como status social, atrelado a
alterações no modo de produção, aumento no volume de informações e de proliferação
de periódicos voltados à circulação de informação científica e tecnológica, gerando um
caos documentário (BRADFORD, 1961).
Origina-se então, da necessidade de se ordenar os processos de adquirir, preser-
var, resumir, organizar e proporcionar acesso a documentos de diferentes espécies. Surge
da constatação de uma lacuna existente entre o preparo de um registro de atividade e
seu acesso por parte daquele que pode usá-lo como base para uma nova realização. Sua
aplicabilidade se dá na resolução dos problemas de organização da informação especia-
lizada, publicados em suportes diversos, periódicos, relatórios, patentes entre outros, ou
seja, suportes diferentes do livro. Trata-se de um movimento de cientistas, pesquisadores,
bibliotecários e bibliógrafos, do final do séc. XIX que buscava alternativas para organizar
a crescente massa documental produzida no período, conforme defende Bradford (1961).
O desenvolvimento da prática da documentação está relacionado à publicação de
periódicos de resumos da literatura científica corrente, por meio do qual os pesquisadores
poderiam identificar as produções já realizadas acerca do seu objeto de estudo. Os perió-
dicos de “resumos” foram a primeira iniciativa prática de colocar a informação registrada ao
alcance dos pesquisadores. Construíram-se, portanto, no início da arte de tornar acessível
a grande massa de informações registradas. (BRADFORD, 1961).
Sua natureza está vinculada à arte de coletar, classificar e tornar acessíveis os re-
gistros das atividades intelectuais. Desenvolve-se no intuito de se constituir em uma “chave
mestra” capaz de colocar em ordem o caos documentário que emergiu no final do séc.
XIX e dessa forma contribuir para o progresso da sociedade, pois este depende do acesso
à informação registrada. Foi amplamente adotada na Europa, para denotar um conjunto
de técnicas necessárias para o manuseio/organização/controle da explosão documentária.
Pode ser definida como:
O processo pelo qual o documentalista pode colocar ante o especialista cria-
dor a literatura existente sobre o campo de sua investigação, a fim de que ele
possa tomar pleno contato com as realizações anteriores em seu terreno, e
dessa forma, evitar a dispersão de seu esforço na realização de uma tarefa já
executada (BRADFORD, 1961, p. 68).

UNIDADE III Documentação 66


Nesta perspectiva de Juvêncio (2018, p. 35) a documentação abrange não apenas
textos manuscritos e impressos, mas tudo que possa ser empregado como meio da promoção
intelectual e de transmissão das aquisições do homem no domínio da inteligência. “É a reunião
e a coordenação de todos os documentos, conjunto que representará a experiência universal”.
Observa-se, portanto, que a classificação é a base fundamental do processo de
documentação. Contudo, os primeiros processos de classificação eram muito rudimentares
e sua evolução se deu de forma lenta. A primeira iniciativa de classificação destinada ao
uso dos livros e, não apenas, à sua venda é a publicada por Conrad Gessner, em 1948, na
forma de índice de assuntos da sua Bibliotheca Universalis, com o título: Pandectarum sive
partitionun universalium libri XXI. Isso significa dizer que até meados de 1840 nenhuma
biblioteca possuía instrumentos adequados para verificar ou levantar no seu acervo, infor-
mações sobre um determinado assunto. Somente em 1873, com Melvil Dewey é que surge
a ideia de classificação normatizada, dotada de notação decimal e de índice alfabético dos
símbolos, para ordenação dos livros nas bibliotecas. A partir de então, os bibliotecários
passaram a, além de coletar os registros impressos do esforço e do pensamento humano,
a tornar acessível a informação sobre um assunto particular (BRADFORD, 1961).
A partir de 1920 a documentação se consolida como termo geral englobando a
bibliografia e serviços de informação especializada, contudo, vários fatos anteriores foram
significativos para sua constituição e fortalecimento. O quadro abaixo sintetiza os principais
eventos que marcaram o movimento da Documentação.

UNIDADE III Documentação 67


QUADRO 3 – SÍNTESE HISTÓRICA DOS EVENTOS DA DOCUMENTAÇÃO

Ano Evento
Catálogo das bibliotecas – bibliografia
1548 Conrad Gessner: Índice de assuntos (Bibliotheca Universalis)
Princípios gerais para elaboração de catálogos de assuntos, por Panizzi (Catalogue of
1841
Printed Books in the library of the British Museum)
Destaque aos catálogos por assuntos, por Edward Edward (Handbook of Library
1859
Economy)
CDD e Relative Index por Melvil Dewey, introduzida na Inglaterra e 1893 (adotada pela
1873
Biblioteca Pública de Ashton-under-lyne)
Publicação de artigo Les Sciences bibliographiques et la documentation, abordando o
1903 fornecimento de documentos ou referências destes àqueles que precisam da informação
neles contida.
Conferência Internacional de bibliografia – IIB e Repertório Bibliográfico universal

Criação por Paul Otlet e La Fontaine do Serviço “Répertoire Bibliographique Universel”


(RBU) ou “Universal Bibliographic Repertory”. Documento que 1895 possuía 400.000
1985 entradas, chegando posteriormente em 15 milhões. A RBU buscava disponibilizar uma
síntese (fichamento) dos assuntos promovendo uma rede conceitual que possibilitasse
o acesso à informação. Primeiramente utilizou-se da CDD como instrumento de classi-
ficação, posteriormente Paul Otlet e La Fontaine desenvolveram o próprio sistema de
classificação, denominado Classificação Decimal Universal - CDU em 1905, como fer-
ramenta do processo organizacional, gerencial, de classificação e acesso à informação.
1895 Fundação do Instituto Internacional de Bibliografia - IIB
1931 Instituto Internacional de Documentação – IID
1934 Publicação do tratado da documentação – representando a amplitude e complexidade em
que se insere o objeto da documentação: o livro, o documento, a informação registrada.
1937 Federação Internacional de Documentação - FID
O Congresso Mundial de Documentação Universal, realizado em Paris marca a
maturidade da documentação em diversos aspectos como: padronização e sistemas de
classificação, normalização da catalogação e da bibliografia, produção de instrumentos
com as fontes do trabalho intelectual (anuários, repertórios, guias bibliográficos etc.),
elaboração de terminologia da documentação, adoção de novos suportes (microfilmes)
e reconhecimento de diversos tipos de informação especializada (Cartográfica,
meteorológica e administrativa)
1988 Federação Internacional de Informação e Documentação - FID

2002 Dissolução da FID.

Fonte: adaptado de Bradford (1961) e Pieruccini (2020).

A ideia da Documentação se disseminou por diversos países, além Bélgica, onde


teve origem:
● França - destacou-se como normalização e documentação (1895 – 1937, com
destaque para Suzanne Briet;
● Espanha - adotado para designar pesquisa, o ensino e a prática profissional –
Ciencia de la documentacion.

UNIDADE III Documentação 68


● Portugal - ciências documentais
● Estados Unidos - Desenvolvimento dos sistemas automáticos de armazena-
mento e recuperação da informação. Duas vertentes: a) documentação e biblio-
teconomia especializada; b) Documentação Information Retrieval – voltada aos
estudos e atividades de armazenamento e recuperação da informação por meio
de computadores.
● União Soviética - termo foi considerado polissêmico e substituído por Infor-
matika – (informação + automática). Movimento que influenciou especialmente,
países socialistas.
● Alemanha - Desenvolveu-se como Documentação e informação.

As ideias de Otlet se disseminaram sustentadas, na importância da vida intelectual,


“na possibilidade de sua transformação por meio de novos tipos de instrumentos e máquinas
para administrar e comunicar conhecimentos e na necessidade de concretizar finalmente
uma sociedade mundial nova e pacífica” (RAYWARD, 2018, p. 8).
Importante lembrar que embora a Documentação possa ser considerada como um
aspecto da Biblioteconomia difere desta, por ter o objetivo de tornar disponível a informação
original registrada em artigos de periódicos, folhetos, relatórios, especificações de patentes
entre outros materiais, cuja produção é frequente e volumosa, o que exige métodos mais
precisos. Enquanto a biblioteconomia ocupa-se de todos os aspectos do tratamento dos
livros e da informação. 

REFLITA

Nesta unidade vimos que a documentação surgiu para tratar o grande volume de do-
cumentos científicos, de forma a torná-lo acessível. Na atualidade vivemos situação
semelhante em relação aos documentos eletrônicos, você acredita que os princípios
da documentação ainda possam ser aplicados? Quais áreas ou disciplinas têm surgido
para para tratar o grande volume de dados e documentos eletrônicos?

Fonte: as autoras.

UNIDADE III Documentação 69


3. FINALIDADE DA DOCUMENTAÇÃO

Caro(a) Acadêmico(a)!

Como vimos no tópico anterior, a documentação surge no intuito de promover a sis-


tematização e o controle das publicações científicas, com vistas a sua recuperação. Desse
modo, a documentação está relacionada ao ato de “Documentar [...] reunir, classificar e
distribuir documentos de todos os gêneros em todos os domínios da atividade humana”
(BRADFORD, 1961, p. 68, grifo nosso). Desenvolveu-se quando a técnica da biblioteconomia
ainda estava em processo de evolução, buscando encontrar uma forma de organizar e repre-
sentar a crescente massa de estudos individuais, divulgados nos periódicos de associações
especializadas e outras publicações que se constituem em base para pesquisas posteriores.
A primeira iniciativa de catálogo exaustivo de toda a literatura científica periódica
trata-se da British Association, formulada por Joseph Henry, em 1855, em Washington, que
evoluiu para o Catalogue of Scientific Papers, publicado pela Royal Society a partir de 1867.
Importante destacar que esses catálogos de artigos seguiam a disposição alfa-
bética por autores. Surgem em um contexto em que a produção científica aumentará de
tal forma que se tornará impossível para um pesquisador levantar e ler toda literatura
de sua área de atuação, necessitando-se assim de um novo tipo de publicação que pu-
desse reunir e sumarizar essas publicações, permitindo a identificação das produções
e uma visão do conjunto de publicações sobre um dado tema. O primeiro periódico desse
tipo é Pharmaceutiques Zentralblatt e posteriormente Chemisches Zentralblatt, a partir de
1930 (BRADFORD, 1961).

UNIDADE III Documentação 70


Após esse periódico, surgem vários outros cobrindo várias áreas do conhecimento,
fornecendo o resumo das publicações correntes, anotações curtas ou apenas referência.
Dispondo de índices alfabéticos anuais de assunto, que podiam ser fundidos em índices
quinquenais e decenais. Possibilitando verificar os trabalhos realizados num determinado
setor nos últimos anos.
A documentação corresponde a um corrente “teórico-prática composta por princípios
e técnicas que promovam o foco na representação do conteúdo dos diversos documentos vi-
sando a ações de promoção do uso da informação”. (ORTEGA, 2009, p. 60). A documentação
buscava oferecer índices de assuntos que permitissem o acesso às informações específicas.
Isso porque se acreditava que “[...] o acesso ao conhecimento por todos os povos levaria
a uma maior compreensão da concepção da alteridade, no sentido do conhecimento das
diferenças, o que possibilitaria a paz mundial” (ORTEGA, 2009, p. 62).
Surge com a finalidade de coletar, processar, buscar e disseminar documentos,
a partir da constatação da necessidade de tornar acessível a crescente quantidade de
informação publicada, a partir da constituição de “[...] um todo homogêneo com essas
massas ignorantes, são necessários processos novos, muito diferentes daqueles da antiga
biblioteconomia, do modo como têm sido aplicados” (OTLET, 2018, p.5).
A documentação buscava então reunir o conhecimento produzido e colocá-lo à
disposição de um público cada vez maior por meio de instrumentos que permitem o acesso
aos documentos armazenados. Nessa perspectiva os catálogos correntes, retrospectivos
e coletivos constituíram-se em instrumentais documentários obrigatórios e em “[...] inter-
mediários práticos entre os documentos gráficos e seus usuários. Esses catálogos de
documentos são, eles próprios, documentos de segundo grau” (BRIET, 2016, p. 3).
A partir da necessidade da organização rigorosa do trabalho documentário, surgem
os centros e os serviços de documentação, que são as formas mais dinâmicas dos órgãos
de documentação, em diversos países como (França, 1935, 1942; Grã-Bretanha, 1928;
Países Baixos, 1937; Bélgica, 1947; Suíça, 1946), dando origem a uma nova profissão, a
de documentalista, responsável pelo trabalho de documentação. Esse profissional deveria
ter o domínio das técnicas, dos métodos e das ferramentas atinentes às práticas documen-
tárias (BRIET, 2016).
Otlet (2018, p. 5) defende que os objetivos ou finalidades “[...] da documentação
organizada consistem em poder oferecer sobre qualquer espécie de fato e de conhecimento
informações documentadas” atribuindo oito características para as informações produzidas
e reunidas pela documentação: 1) universais quanto ao seu objeto; 2) corretas e verdadeiras;
3) completas; 4) rápidas; 5) atualizadas; 6) fáceis de obter; 7) reunidas antecipadamente e
preparadas para serem comunicadas; 8) colocadas à disposição do maior número possível.

UNIDADE III Documentação 71


Para isso, de acordo com Otlet (2008, p. 6) a documentação é formada por sete
partes que se mesclam e se combinam:
a) Os documentos propriamente ditos, compreendidos como um conjunto de
fatos ou ideias apresentados em formato de texto ou imagem e ordenados se-
gundo uma classificação ou um plano determinado pelo objeto ou o propósito a
que se propõem seus redatores;
b) A biblioteca, englobando a coleção dos próprios documentos, cada um conser-
vado em sua integridade individual;
c) A bibliografia: é a descrição e classificação dos documentos, distinguindo-se
entre a bibliografia de referências e a bibliografia analítica;
d) Arquivo documentário: o arquivo, com suas pastas, incluindo as peças origi-
nais e documentos menores na íntegra ou em partes;
e) O arquivo administrativo: compreende todos os ofícios, cartas, relatórios,
estatísticas e contas relativos a uma instituição;
f) O arquivo histórico: composto por documentos antigos, comumente manus-
critos e originais, relativos à administração de tempos passados e que com-
preendem principalmente os documentos oficiais dos organismos públicos e os
documentos privados de famílias e de estabelecimentos comerciais;
g) Outros documentos, exceto bibliográficos e gráficos: a música, as inscrições
lapidares, os processos relativamente recentes pelos quais se grava e se trans-
mite a imagem da realidade em movimento e o pensamento falado.
h) As coleções museográficas: amostras, espécimes, modelos, peças diversas,
tudo que é útil para a documentação, mas que se apresenta como objetos tri-
dimensionais. É a documentação objetiva, tratada como a da biblioteca e dos
arquivos quanto à coleção, ao catálogo e à ordenação.
i) A enciclopédia: compreende o trabalho de codificação e coordenação dos pró-
prios dados. É resultado de extratos e transcrições de acordo com um plano de
sistematização único.

Para tratar diferentes tipos de documentos, Paul Otlet e Henri La Fontaine definiram
a partir do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) e do Repertório Bibliográfico Universal
(RBU) uma série de normas para registros bibliográficos, catalográficos internacionais,
formatos de documentos, especialmente a ficha de 7,5 cm por 12 cm, além de mobiliários
específicos. A Classificação Decimal de Dewey (CDD), publicada em 1976, nos Estados
Unidos, foi utilizada para a classificação de documentos. A partir de uma revisão na CDD,
desenvolveu-se um novo instrumento de classificação documentária, Classificação Decimal
Universal, amplamente utilizado na Europa (ORTEGA, 2009).

UNIDADE III Documentação 72


Nesse aspecto, a documentação se constitui e se consolida como uma série de
operações distribuídas entre diferentes pessoas e organismos incluindo:

o autor, o copista, o impressor o editor, o livreiro, o bibliotecário, o documen-


tador, o bibliógrafo, o crítico, o analista, o compilador, o leitor, pesquisador, o
trabalhador intelectual;
A documentação acompanha o documento desde o instante em que surge da
pena do autor até o momento em que impressiona o cérebro do leitor;
Ela é ativa ou passiva, receptiva ou dativa; está em toda parte onde se fale
(Universidade), onde se leia (Biblioteca), onde se discuta (Sociedade), onde
se colecione (Museu), onde se pesquise (Laboratório), onde se administre
(Administração), onde se trabalhe (Oficina) (OUTLET, 1937, p.1).

Embora a documentação desenvolva práticas próximas à biblioteconomia, a corrente


de estudos estadunidense as distingue, classificando aquela como uma área denominada
Information Retrieval ou Information Storage and Retrieval, compreendida como o conjun-
to de estudos e atividades de armazenamento e recuperação de informação por meio de
computadores, configurando como uma das principais origens da Ciência da Informação,
em 1960, nos Estados Unidos. O novo termo Ciência da Informação seria melhor definido e
mais vantajoso que o anterior (Documentação), o qual em geral era utilizado em diferentes
acepções, dificultando a compreensão e influenciando negativamente o desenvolvimento da
disciplina científica. Importante lembrar que na União soviética, o termo adotado foi Infor-
matika (informação + automática) para se referir à disciplina que estuda a estrutura e as
propriedades da informação, as leis que regem a atividade científica e informativa, sua teoria,
história, metodologia e meios de apresentação, registro, coleta, processamento, analítico
sintético, armazenamento, busca e disseminação da informação científica (ORTEGA, 2009).
A principal diferença apontada entre as disciplinas biblioteconomia, documentação
e posteriormente Ciência da Informação reside no fato de a primeira estar relacionada
a serviços de orientação da leitura, voltado à formação política, ideológica e cultural da
sociedade, enquanto as últimas têm como foco a informação técnica e científica. Fato é
que, ainda que haja colaboração entre estas disciplinas em virtude de seus fundamentos
comuns, “[...] a documentação não pode ser entendida sem a exploração da construção da
sua relação controversa com a biblioteconomia” (ORTEGA, 2009, p. 75).

UNIDADE III Documentação 73


REFLITA

A partir dos conhecimentos construídos até aqui, da sua experiência de vida, e do con-
texto atual repleto de tecnologia que permite grande produção e circulação de documen-
tos no meio eletrônico, você acredita que a distinção entre biblioteconomia e documen-
tação defendida Ortega (2009) ainda seja pertinente?

Fonte: as autoras.

UNIDADE III Documentação 74


4. TEORIAS SEMIÓTICAS NO CAMPO DA DOCUMENTAÇÃO

Caro(a) Acadêmico(a)!

Compreendidas as noções de documento e documentação e suas relações com a Bi-


blioteconomia e Ciência da Informação, partimos agora para a verificação das contribuições da
Semiótica para o estudo e trabalho no campo da informação e da documentação. Lembrando
que estas áreas são compostas por um conjunto de disciplinas basilares que dão sustentação
ao seu desenvolvimento teórico prático, por isso são consideradas interdisciplinares.
Desse modo, uma das áreas que contribuem significativamente para desenvol-
vimento da biblioteconomia, documentação e Ciência da Informação são as teorias da
linguagem, em especial a semiótica, “compreendida como ciência dos signos na natureza
e na cultura” (ALMEIDA, 2016, p. 2).
A semiótica é definida por Santaella (1983, p. 13) como “a ciência que tem por
objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, tem por objetivo o exame
dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e
sentido”. Seu campo de abrangência é vasto, mas não indefinido e seu objetivo é descrever
e analisar a forma como os fenômenos se constituem em linguagem.
Na visão de Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 25) a semiótica é uma disciplina fundamen-
tada na fenomenologia, “[...] que investiga os modos como apreendemos os fenômenos que
se apresentam à percepção e à nossa mente”. A fenomenologia busca então apresentar as
categorias formais e universais dos modos como os signos são apreendidos pela mente.

UNIDADE III Documentação 75


Moura (2006) qualifica a semiótica como uma filosofia dos signos, ou essência
genuína do signo, o seu modo de ser e a sua estrutura básica. Para esta disciplina todo
o pensamento se dá em signos. Assim, os gestos, as ideias, as cognições e até o próprio
homem são considerados entidades semióticas.
Lara (2006, p. 20) destaca que a semiótica contribui para a melhor compreensão da
linguagem documentária, destacando que:
[...] enquanto modo de organização de um conjunto de signos (um sistema
estrutural que constitui uma unidade em si mesma e que apresenta seme-
lhanças e diferenças por oposição à linguagem natural e à linguagem arti-
ficial), bem como suas características e forma de funcionamento enquanto
sistema semiótico.

Importante esclarecer que signo, na visão de Peirce corresponde aquilo que, sob
certo aspecto “representa algo para alguém, está no lugar de alguma outra coisa sob algum
aspecto ou capacidade. A principal característica do signo é que ele é sempre institucional,
estabelecido por convenção, o que o diferencia de um sinal” (LARA, 2006, p. 20).
Na área da informação e documentação, duas perspectivas teóricas da semiótica
se destacam, representadas por Ferdinand Saussure, na França e Charles Sanders Peirce,
nos Estados Unidos.
Na visão de Saussure, o processo de interpretação deve considerar como ponto
de partida o fato social subjacente a todo ato de fala, ou seja, a língua. Nessa perspectiva,
a língua é considerada um produto social da faculdade de linguagem, constituindo-se num
conjunto de convenções adotadas pelo corpo social que possibilita a comunicação, intera-
ção e compreensão entre os indivíduos (LARA, 2006).
Enquanto que para Peirce, “o conceito fundamental é o de semiose, ou o processo
onde alguma coisa funciona como signo, ou seja, significa, e que compreende o signo,
ou representamen, o interpretante e o objeto, ao qual se acrescentou depois o intérprete
e o contexto” (DASCAL, 1978 apud LARA, 2006, p. 18). Embora se considere certa con-
vergência entre as duas perspectivas, permitindo, observar a organização dos sistemas
semiológicos ou semióticos e o funcionamento dos signos nos processos de comunicação
e interpretação, elas deram origem a duas correntes distintas de estudos na área: a escola
Americana, em decorrência dos estudos de Peirce e a escola Europeia descendentes das
pesquisas de Saussure. (LARA, 2006).
Na semiótica Peirceana, o signo é uma estrutura complexa, composta por três ele-
mentos conectados que perpassam o pensamento: a) o fundamento, propriedade do signo
que o habilita a funcionar como tal; b) Objeto, algo que está fora do signo, mas possibilita
a sua interpretação, através da mediação; c) Interpretante, signo adicional, resultado do
efeito que o signo produz em uma mente interpretativa. (SANTAELLA, 2005).

UNIDADE III Documentação 76


O signo, a depender da sua relação com o objeto e interpretante pode ser, o a)
imediato, interno ao signo, ou seja, é a maneira como um signo em particular indica ou repre-
senta o objeto que está fora dele; b) Dinâmico, que determina o signo e ao que se aplica, ou
seja, todo o contexto dinâmico que circunda o signo. Da mesma forma, o interpretante pode
ser: a) imediato resultante do efeito que o signo produz na mente de seus intérpretes e b)
final decorrente do efeito que o signo produzirá na mente (SANTAELLA, 2005).
O fundamento, primeiro elemento do signo em sua relação com ele mesmo,
comanda a primeira divisão dos signos, a saber: quali-signo (qualidade); sin-signo
(existente concreto) legi-signo (leis da natureza em geral). Na relação entre signo e objetos
temos: o ícone, que representa o objeto e as qualidades que possui; o índice, fruto da
relação sin-signo com o objeto e símbolo que se dá da relação legi-signo objeto. A terceira
classificação diz respeito aos interpretantes e suas relações com o objeto, formando o
interpretante remático, dicente e o argumento. Considerando as combinações entre
esses nove tipos de signos, Peirce chegou a dez classes de signos e das combinatórias
entre as dez tríades, resultaram 66 classes de signos. O quadro 4 abaixo sintetiza as
possibilidades de classificação dos signos semióticos.

QUADRO 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS SIGNOS SEMIÓTICOS POR PEIRCE

Categorias O signo em relação a si O signo em relação ao O signo em relação ao


mesmo objeto (objetivação) interpretante (interpre-
(significação) tação)
Primeiridade Quali-signo Ícone Rema
Secundidade Sin-signo Índice Dicente
Terceiridade Legi-signo Simbólico Argumento

Fonte: adaptado de Almeida; Silva; Vertuan, 2011, p. 11.

Em relação ao processo de percepção do signo, a semiótica de Peirce, se dá em


três fases distintas: Primeiridade, Secundidade Terceiridade, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 5 - FASE DA PERCEPÇÃO DO SIGNO

1 Primeiridade Input Visual - o sentir: percepção primária, o signo é percebido pelos elemen-
tos que mais suscitam a emoção, sensação e sentimento, como as cores, as
formas e as texturas.
2 Secundidade Insight Representacional - o reagir: percepção secundária, o signo é decom-
posto em relações/associações e percebido como mensagem.
3 Terceiridade o pensar: percepção final, onde a leitura é simbólica, num contexto amplo de
significações

Fonte: Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 26).

UNIDADE III Documentação 77


Em síntese, Peirce, destaca que o conhecimento humano pode ser representado a
partir da relação triádica entre: fundamento, objeto, interpretante; em que são estabele-
cidos três níveis de relações fundamentais a) significação ou primeiridade – onde o signo
se relaciona consigo mesmo; b) objetivação ou secundidade – na relação do signo com o
objeto, faz referência ou indicação à algo, c) interpretação ou terceiridade – relacionando
signo e interpretante, suscitado interpretações diversas a depender do contexto e da vivên-
cia do sujeito interpretante (SILVA, J. e SILVA, A., 2012, p. 3).
Na perspectiva de Peirce, “a informação, no âmbito da Documentação e da Ciência
da Informação, é um signo construído intencionalmente para funcionar como elemento de
comunicação documentária” (LARA, 2006, p. 23). Portanto, a linguagem documentária,
analógica, a língua e seu funcionamento, aparece como um “signo que exerce a função
de comunicação e significação dos sistemas documentários, representando as estruturas
significantes que articulam pelo conjunto de suas relações, um sistema único e autônomo
dotado de significado (LARA, 2006).
Importante considerar que o que distingue a linguagem natural da linguagem ar-
tificial é o fato da primeira corresponder a signos linguísticos de semiose (significação)
ilimitada, onde o sentido e o significado da comunicação depende da experiência colateral
ou cultural do sujeito interpretante. A segunda, por sua vez, caracteriza-se pela formalidade
e ausência de segunda articulação, remetendo a significados unívocos que pressupõem o
conhecimento de regras próprias e explícitas do objeto e contexto da comunicação.
Nessa perspectiva, a Linguagem documentária tem o propósito de criar condições
para que os signos intencionalmente construídos orientem a interpretação segundo os
objetivos previamente estabelecidos, evitando assim, a semiose aleatória. A linguagem do-
cumentária seria então a ‘língua tradutora’ que vai indicar as possibilidades interpretativas
dos seus termos, seja por meio de associações, definições, explicações e exemplificações.
Isso significa dizer que a construção dos significados na linguagem documentária se dá sob
condições controladas de acordo com os objetivos visados (LARA, 2006).
Na biblioteconomia e Documentação a semiótica corrobora nos processos de sig-
nificação, constituindo-se num importante elemento do dimensionamento e tratamento do
seu objeto de estudo, a informação. Isso porque as atividades na área requerem frequentes
processos de interpretação e significação, especialmente as relacionadas à organização e
representação do conhecimento, que preveem a interpretação e ressignificação de diferentes
visões de mundo, que serão representadas por estruturas conceituais (linguagem documen-
tária). O que demanda a utilização de diferentes métodos para interpretar as constituições
textuais (verbais e não verbais) de forma que um terceiro elemento (o usuário) possa reco-
dificar essa interpretação, por meio de uma interpretação própria (BARROS; CAFÉ, 2012).

UNIDADE III Documentação 78


Dessa forma, a semiótica contribui significativamente para a formação dos conceitos
necessária à construção dos sistemas de organização do conhecimento e, por conseguinte,
para processo de comunicação científica, que passa pela significação e representação do
significado de um determinado signo, por um interpretante (BARROS; CAFÉ, 2012).

UNIDADE III Documentação 79


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao termo documento.


Percebemos o quanto essa denominação se ampliou a partir dos estudos de Otlet, podendo
ser atribuída a diferentes objetos, a depender do seu contexto e significado. Vimos o quanto
a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi importante para o desenvolvimento
dos sistemas de classificação, representação e organização da informação e como ela se
relaciona com a Biblioteconomia.
Constatamos que a origem da Documentação está relacionada à grande quantida-
de de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização,
de forma a torná-los acessível a quem interessar. Sua finalidade era coletar, processar,
buscar e disseminar documentos diversos a partir de técnicas previamente estabelecidas,
que pressupunham a publicação de catálogos e bibliografias que pudessem relacionar os
documentos produzidos em um determinado campo do saber.
Por fim, verificamos que Biblioteconomia e a Documentação se relacionam com
a semiótica e que os conhecimentos dessa área são fundamentais para os processos de
significação, dimensionamento e tratamento da informação, uma vez que essas atividades
requerem frequentes processos de interpretação e significação e representação por es-
truturas conceituais (linguagem documentária), demandando consistentes e condizentes
interpretações das constituições textuais (verbais e não verbais) para que o usuário possa
compreender e construir sua própria interpretação.
Para melhor aprofundamento do assunto, recomendamos a consulta aos materiais
sugeridos na leitura complementar, em especial os filmes, pois abordam de forma mais
detalhada os temas estudados nesta unidade. Esperamos que seu percurso conosco te-
nha sido significativo, e que seu aprendizado tenha contribuído para o conhecimento dos
fundamentos da área. Agora, partimos para a elaboração das atividades avaliativas e na
sequência iniciaremos nossa última unidade.

Bons estudos e até breve!

UNIDADE III Documentação 80


LEITURA COMPLEMENTAR

Um visionário belga idealizou a internet no fim do século 19


Por Daniel Junqueira

publicado em 26 de maio de 2014 14:09

A internet é algo relativamente recente, tendo sido desenvolvida na segunda me-


tade do século 20. Mas décadas antes da sua criação, um visionário belga idealizava algo
muito parecido com o que viria a se tornar a internet. Paul Otlet era um visionário que, no
fim do século 19, já pensava em maneiras de armazenar informações que poderiam ser
acessadas por qualquer pessoa no mundo.
Em 1895, Otlet apresentou sua ideia de uma “biblioteca universal” para dar acesso
a livros para qualquer pessoa no mundo. Criada em parceria com Henri La Fontaine – um
senador belga que anos depois ganhou um Prêmio Nobel da Paz – o projeto da biblioteca
universal era bastante ambicioso para a época, com o objetivo de catalogar todas as infor-
mações publicadas no mundo. Eles ganharam apoio do governo belga e colocaram o plano
em prática – chegaram a armazenar 15 milhões de entradas usando um sistema chamado
Classificação Universal Decimal. O projeto chegou a ser lançado comercialmente, e qual-
quer pessoa poderia fazer um pedido por alguma informação para recebê-la via telégrafo.
Décadas mais tarde, nos anos 1930, Otlet ainda perseguia o sonho de organizar
as informações do mundo. Ele idealizou então os “telescópios elétricos” que dariam acesso
instantâneo a livros, filmes, gravações de áudio e fotos. Isso envolvia uma rede internacio-
nal de conhecimento. Em um livro de 1935, ele ilustrou como seria essa rede:

UNIDADE III Documentação 81


Infelizmente, esta visão de Otlet não saiu do papel – ao menos não enquanto ele
estava vivo. Na década de 1940, a invasão nazista na Bélgica acabou com o sonho de
Otlet, que morreu em 1944. Mas a humanidade conseguiu criar essa rede idealizada por
Otlet, no que viria décadas mais tarde ser chamada de “internet”. Você pode ler mais sobre
a fascinante história do visionário belga neste belo artigo do The Atlantic (em inglês). [The
Atlantic via Engadget]

Fonte: JUNQUEIRA, 2014.

UNIDADE III Documentação 82


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: As Contribuições de Paul Otlet para a Biblioteconomia
Autor: Ana Maria Pereira; Márcia Silveira Kroeff; Elisa Cristina
Delfini Correa (orgs.)
Editora: Ed ACB
Sinopse: Este livro Reúne textos que buscam elucidar alguns
resultados do trabalho que Paul Otlet promoveu ou propiciou à bi-
blioteconomia, destacando que mesmo com as facilidades trazidas
pelas tecnologias, ainda buscamos soluções para problemas que
também foram vivenciados e abordados por Otlet, no século XIX,
entre eles, a quantidade de informação e de dados disponíveis; as
dificuldades em identificar um formato de descrição de recursos e
de metadados; as limitações das ferramentas de armazenamento,
de busca, de recuperação e de disseminação; e a definição de
modelos para administrar e interpretar o capital intelectual coletivo.

LIVRO
Título: Tratado de Documentação
Autor: Paul Otlet
Editora: Briquet de Lemos
Sinopse: Apresenta a teoria e a prática da documentação de Paul
Otlet. Traz importantes colaborações para a compreensão dos
termos documento e documentação.

LIVRO
Autor: Suzanne Briet
Título: O que é Documentação
Editora: Brasiliense
Sinopse: Este livro desenvolve os conceitos de Documento e do-
cumentação a partir de Paul Otlet. Apresenta vários que auxiliam
na compreensão e aplicação dos conceitos na área de biblioteco-
nomia e documentação.
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/
mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%-
C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf.

UNIDADE III Documentação 83


LIVRO
Autor: Carlos Cândido de Almeida
Título: Semiótica documental: aspectos contextuais, teóricos
e interdisciplinares
Editora: Cultura Acadêmica
Sinopse: O livro pretendeu conhecer as abordagens e as linhas
semióticas constantes do campo da Documentação na Espanha.
Para tanto, sustentou-se que a orientação semiótica dos estudos
espanhóis em Documentação ainda requeriam um tratamento
abrangente e sistematizado. Entre os resultados, destacam-se
a convergência da maior parte dos teóricos com temas semióticos
vinculados à Linguística e a necessidade de refundação de uma
Semiótica documental, seguindo as diretrizes de Izquierdo Ar-
royo. Entende-se que as abordagens semióticas possuem um
potencial para fomentar os estudos da linguagem no campo da
organização do conhecimento, contribuindo assim para a reflexão
epistemológica da Ciência da Informação no Brasil.

LIVRO
Autor: Lucia Santaella
Título: O que é Semiótica
Editora: Brasiliense
Sinopse: Este livro é um passeio pela mais jovem das ciências
humanas, a Semiótica, tendo como guia seu criador, Charles San-
ders Peirce. O trajeto proporcionará uma visão panorâmica dos
principais fundamentos, das particularidades e fronteiras desta
teoria geral dos signos. Convém lembrar que, apesar de o cami-
nho ser difícil, as belezas do lugar são muitas e é bom permanecer
com os olhos bem abertos, pois além de escondidas, elas passam
muito rapidamente.

FILME / VÍDEO
Título: O homem que queria classificar o mundo
Ano: 2002.
Sinopse: Documentário sobre a trajetória do autor, empresário,
visionário, advogado e ativista belga Paul Otlet. Trata-se do pai da
ciência da informação e da documentação (áreas com as quais
ele contribuiu por meio da criação da CDU - Classificação Decimal
Universal). No documentário, o diretor percorre o pensamento de
Otlet para organizar o mundo do conhecimento e a tentativa de
construir uma “Cidade Mundial” (Mundaneum) que serviria como
depósito para informações de todo o mundo.

UNIDADE III Documentação 84


UNIDADE IV
Biblioteconomia no Brasil
Professora Dra. Leociléa Aparecida Vieira
Professora Ms. Lucilene Aparecida Francisco

Plano de Estudo:
● O panorama da Biblioteconomia no Brasil;
● O Bibliotecário no Brasil;
● Desafios contemporâneos da profissão.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar sobre o panorama da Biblioteconomia no Brasil;
● Caracterizar quem é o bibliotecário brasileiro;
● Identificar os desafios profissionais enfrentados pelo bibliotecário
na contemporaneidade.

85
INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a)!

Nos textos anteriores vimos como a Biblioteconomia foi se consolidando enquanto


área do conhecimento e iniciou timidamente da necessidade de preparar mão-de-obra
qualificada para guardar e preservar a memória da humanidade desde os primórdios da
civilização. Frente ao exposto, nesta nossa unidade, vamos conhecer sobre o panorama
da Biblioteconomia no Brasil. Nesse sentido, iniciaremos o nosso percurso pela história dos
surgimentos dos primeiros cursos no país e qual a motivação para que eles fossem implan-
tados. Discutiremos sobre as funções e as atividades do bibliotecário que são permeadas
por um código de ética que rege sua conduta profissional. Por fim, conheceremos quais os
desafios do profissional da informação na contemporaneidade.
Temos certeza de que estão ansiosos(as) para iniciarmos a nossa caminhada,
então vamos em frente e bons estudos!

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 86


1. O PANORAMA DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL

Caro(a) Acadêmico(a)!

Que tal conhecermos sobre a trajetória da Biblioteconomia brasileira? E para iniciarmos

nossa caminhada, nada melhor do que visualizarmos a imagem da Biblioteca Nacional do Rio

de Janeiro, pois é lá se encontram as raízes do curso de Biblioteconomia no país. Antes, porém,

é necessário retrocedermos no tempo e lembrarmos de que a instalação das bibliotecas no Bra-

sil acontece muito antes do surgimento da Biblioteconomia, enquanto área do conhecimento e

como um campo para habilitar profissionais. Vejamos como tudo isto aconteceu!

De acordo com Castro (2000, p. 43), “a trajetória das bibliotecas no Brasil iniciou-se com

as ordens religiosas dos Beneditinos, Franciscanos e Jesuítas”, bem antes, da criação da Bibliote-

ca Nacional, “gênese do movimento fundador do campo de ensino da Biblioteconomia no Brasil”.

Sobre a instalação das bibliotecas no país, Fonseca (1979, p. 17), informa que

“em 1546 os Carmelitas já dispunham de um curso de teologia em Olinda: curso que não

funcionaria sem biblioteca”. Já para Moraes (1979, p. 1), a instrução e os livros chegaram

ao Brasil a partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do Governo-Geral

em Salvador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida administrativa, econômica,

política, militar, espiritual e social do país”.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 87


SAIBA MAIS

O primeiro livro a entrar no Brasil foi trazido pelo padre franciscano Henrique de Coimbra,
que o “abriu sobre um altar improvisado no Ilhéu da Coroa Vermelha de Porto Seguro,
para com ele celebrar a primeira Missa em território brasileiro, em 26 de abril de 1500”

Fonte: Fonseca, 1979, p. 17.

No século XVII, outras ordens religiosas, dentre elas, os Capuchinhos, os Merce-


dários e os Oratorianos começaram a se estabelecer no Brasil com suas bibliotecas, pois
as bibliotecas conventuais foram, até a segunda metade do século XVIII, os centros de
cultura e formação intelectual dos jovens brasileiros que iam completar seus estudos em
Portugal. Leite (apud MORAES, 1979, p. 1), corrobora que “a Igreja, foi a única educadora
do Brasil até fins do século XVIII, representadas por todas as organizações religiosas do
Clero Secular ao Clero Regular que possuíam casas no Brasil”, entretanto, ainda no final
desse século, os religiosos foram substituídos por professores régios, os conventos, como
centros de cultura e ensino, começaram a decair, o mesmo acontecendo com as bibliotecas
conventuais, que neste período entraram em decadência.
Ao se referir às primeiras bibliotecas no país, Milanesi (1986, p. 65), tece o seguinte
comentário:
elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção
ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário.
Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primei-
ras povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente
obras litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob
o respaldo do colonizador.

A maior parte da população daquela época era analfabeta, incluindo parte da popu-
lação vinda da corte. Estas bibliotecas eram inadequadas às características primitivas da
colônia, mas certamente convenientes do ponto de vista do colonizador.
Este panorama só é modificado com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808,
pois com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre coleção de Diogo Barbosa Machado,
a qual serviu de ponto de partida para a Biblioteca Nacional de nossos dias. Com a corte,
veio também o maquinário para que se instalasse aqui a primeira imprensa. Em 1811, o
Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública. Três anos mais tarde, a Biblioteca
Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos Terceiros Carmelitas, abre as suas portas
à população fluminense. “E aqui termina o período medieval das bibliotecas brasileiras”
(MORAES, 1983, p. 18).

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 88


De acordo com Silva (2010, p. 34),
O príncipe D. João nomeou logo dois bibliotecários para tomarem conta da
Biblioteca Real: frei Gregório José Viegas e o padre Joaquim Damaso. Am-
bos desempenharam suas funções até voltar para Lisboa, frei Gregório em
1821 e o padre Damaso em 1822, não querendo aderir à independência. Este
último levou consigo os Manuscritos da Coroa e alguns outros papéis. Mas
a Biblioteca Real ficou definitivamente no Rio de Janeiro. Quando em 1825,
Portugal e o Império do Brasil assinaram um tratado onde era reconhecida a
Independência, nosso governo pagou a Portugal a quantia de 2 milhões de
libras esterlinas pelos bens portugueses deixados aqui. Entre esses bens
estava mencionada a biblioteca.

No Segundo Reinado, “é a fase das bibliotecas dos liceus literários, das sociedades
beneficentes, dos gabinetes de leitura” (MORAES, 1983, p. 18). Com a República, as alte-
rações políticas, econômicas e sociais do período repercutiram inevitavelmente na forma
como se desenvolveram a literatura, a imprensa e as bibliotecas brasileiras. As ideias libe-
rais, advindas dos novos tempos, contribuíram para o incentivo da criação de bibliotecas.
É nesse contexto, que o curso de Biblioteconomia foi implantado no país pelo
Decreto 8.835 de 11 de julho de 1911, o qual estabeleceu a criação do primeiro
curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o qual “tinha por ob-
jetivo sanar as dificuldades existentes na biblioteca, há gerações, quanto à qualificação
de pessoal” (CASTRO, 2000, p. 53), entretanto, as aulas só iniciaram em abril de 1915,
devido a desistência dos inscritos, na época, funcionários da própria escola. Mueller (1985),
informa que o objetivo principal do curso era a formação de pessoal especializado para
exercer as atividades na Biblioteca Nacional e que o referido curso funcionou entre os anos
de 1915 a 1922, quando foi suspenso e só retomou em 1931.

REFLITA

Em 11 de julho de 2011 o curso de Biblioteconomia no Brasil comemorou seu cente-


nário. Na sua opinião, as pessoas que procuram realizar o referido curso são apenas
funcionários que já atuam na área?

Fonte: as autoras.

Por muitos anos, os cursos de Biblioteconomia no Brasil estiveram restritos ao


eixo Rio-São Paulo. Nesse último local, instalou-se em 1929, no Mackenzie College, o
Curso Elementar de Biblioteconomia, o qual era voltado para funcionários da biblioteca,
professores e pessoal que atuavam nas bibliotecas em outras instituições, porém, este
curso encerrou suas atividades em 1936 por ocasião do Curso de Biblioteconomia do De-
partamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que por questões políticas é fechado e
só é reaberto, em 1940, na Escola Livre de Sociologia e Política.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 89


Os ensinamentos das escolas de Biblioteconomia dos Estados de São Paulo e do
Rio de Janeiro eram totalmente diferentes. Em São Paulo, essencialmente técnica, era
influenciada pela Columbia University e, no Rio de Janeiro, seguiam os moldes da escola
francesa École de Chartes que tinha uma visão conservadora e enciclopedista. Este fato
permaneceu até 1944, quando estas diferenças entre os conteúdos ministrados se dis-
siparam (CASTRO, 2000). De 1911 até 1940, foram criados quarenta de dois cursos de
Biblioteconomia no país, desses, doze fecharam nos anos posteriores, mas os trinta cursos
restantes, distribuídos em todas as regiões brasileiras, continuaram em funcionamento
(JOB; OLIVEIRA, 2006, p. 260).
Mueller (1985), faz uma síntese história do curso de Biblioteconomia no Brasil des-
de a sua criação até 1982 e menciona que em 1944, o curso da Biblioteca Nacional
foi reformulado sob a orientação do professor do curso e seu diretor entre
1944 e 1948, Josué Montello. A reforma implicou em uma mudança nos
objetivos do curso, pois não mais se limitaria a formar profissionais para a
Biblioteca Nacional, mas, oferecendo formação básica, estaria preparando
pessoas para qualquer tipo de biblioteca (MUELLER, 1985, p. 5).

Após a reforma, a Biblioteca Nacional começou a ofertar, também, cursos em nível


fundamental e cursos avulsos. Segundo a autora supracitada na década de 1950, dois fatos
merecem atenção: a expansão no número de cursos de biblioteconomia no país e a luta
dos bibliotecários para se firmarem como uma classe profissional de nível superior. Outro
fato marcante do período, foi a realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteco-
nomia e, a partir de então, o referido evento tem se repetido a cada dois anos sob o título
de Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), com temáticas que
refletem o contexto da profissão e em locais diferentes e, em 2019, já estava na 29ª edição.
A década de 1960 é marcada pelo reconhecimento da profissão de bibliotecário,
em 1962, bem como, pelo estabelecimento de um currículo mínimo para o curso de Bi-
blioteconomia no país. Na década de 1970, a instabilidade política reinante no país não
interferiu no crescimento dos cursos e, em 1971, tinha dezessete funcionando, dos quais
onze novos cursos foram instalados entre 1970 e 1977. Foi nesta década, também, que se
iniciou o primeiro curso de mestrado, ministrado pelo Instituto Brasileiro de Biblioteconomia
e Documentação (IBBD), intitulado Mestrado em Ciência da Informação.
Na década de 1980, já existiam no país vinte e nove cursos em funcionamento,
nas diversas regiões do País e cinco cursos de mestrado. O ensino de Biblioteconomia
no Brasil, dos primórdios até 1982, pode ser visualizado na figura 1, a qual foi elaborada a
partir do texto de Mueller (1985).

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 90


FIGURA 1 - ENSINO DE BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL, DESDE A SUA CRIAÇÃO ATÉ 1982

Fonte: Mueller, 1985.

Na visão de Castro (2000), dentre as perspectivas que as dimensões educativas


da Biblioteconomia brasileira podem ser compreendidas, duas merecem destaque: a
profissional que engloba desde a formação até os estudos de mercado de trabalho e a
técnica, diz respeito aos métodos de influência, ensino humanista e ensino pragmático e
inclui as formas de controle, processamento, armazenamento da informação, o uso das
novas tecnologias e as linguagens documentárias.
No que diz respeito ao ensino da Biblioteconomia Castro (2000), divide em cinco
fases. A fase I corresponde ao período de 1879 a 1928, se inicia com o movimento orga-
nizado pela fundação da Biblioteconomia no Brasil, sob a liderança da Biblioteca Nacional
e teve influência humanística francesa. A fase II, de 1929 a 1939, houve o predomínio do
modelo pragmático americano (São Paulo) em relação ao modelo humanista francês (Rio
de Janeiro). Na fase III, de 1940 a 1961, houve a consolidação e a expansão do modelo
pragmático americano. A fase IV, de 1962 a 1969, os fatos marcantes deste período foram
a regulamentação da profissão de bibliotecário, a promulgação do código de ética profissio-
nal e a criação do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) e, por último, a fase V que
compreende o período de 1970 a 1995 e é marcado pela paralisação do crescimento quan-
titativo das escolas de graduação e dos cursos de pós-graduação. Nesse período, busca-se
a maturidade teórica da área a partir de novas abordagens emprestadas de outros campos
do saber. As fases propostas pelo autor supracitado são mais detalhadas no quadro 1.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 91


QUADRO 1 – FASES DO ENSINO DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL

Movimento fundador da Biblioteconomia no Brasil de influência humanista


FASE I: 1879-1928
francesa, sob a liderança da Biblioteca Nacional;
Realização do primeiro concurso para bibliotecário durante a gestão de Ra-
1879
miz Galvão;
1911 Criação na Biblioteca Nacional do primeiro Curso de Biblioteconomia no
Brasil, durante a gestão de Manoel Cícero Peregrino da Silva;
1915 Início das atividades do Curso da Biblioteca Nacional;
Paralisação do curso da BN, quando é estabelecido, no Museu Histórico
1923 Nacional, o Curso Technico com a finalidade de formar bibliotecários, pa-
leógrafos, arquivistas e arqueólogos
Predomínio do modelo pragmático americano em relação ao modelo huma-
FASE II: 1929-1939
nista francês;
Criação do curso do Instituto Mackenzie, marca do início da influência téc-
1929
nica americana;
1931 Retomada do curso da Biblioteca Nacional;
1935 Encerramento do curso do Mackenzie;
Criação do curso do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de
1936
São Paulo, por Rubens Borba de Moraes;
Fechamento do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São
1939
Paulo.
FASE III: 1940-1961 Consolidação e expansão do modelo pragmático;
Transferência do Curso da Prefeitura Municipal de São Paulo para a Escola
1940
Livre de Sociologia e Política – ELSP;
Início da expansão do campo do ensino pelo país, sendo criados cursos:
Bahia (1942), Escola de Filosofia Sedes Sapientiae (SP) (1944). Pontifícia
1942 Universidade Católica de Campinas (1945), Porto Alegre (1947), Departa-
mento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife (1947)
e na Escola Nossa Senhora do Sion (SP) (1948);
1944 Reforma do curso da BN durante a gestão de Rodolfo Garcia (1933-1945);
1954 Criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD).
1958 Definição da Biblioteconomia como profissão liberal e de nível superior
1961 Criação da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB).
FASE IV: 1962-1969 Uniformização dos conteúdos pedagógicos e regulamentação da profissão;
Promulgação da Lei 4084. Aprovação do primeiro currículo mínimo de Bi-
1962
blioteconomia;
1963 Primeiro Código de Ética do Bibliotecário;
1965 Criação do Conselho Federal de Biblioteconomia.
Paralisação do crescimento quantitativo das escolas de graduação e cres-
cimento quantitativo dos cursos de pós-graduação; busca da maturidade
FASE V: 1966-1995
teórica da área a partir de novas abordagens tomadas por empréstimo de
outros campos do saber.

Fonte: Castro (2000).

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 92


Em 1985, Muller refletindo sobre o futuro da Biblioteconomia no Brasil, menciona
que “a evolução do ensino de Biblioteconomia no Brasil tem progredido de maneira rápida,
impulsionada por fatores internos e externos à biblioteca” e reconhece de que havia alguns
problemas a serem resolvidos, um currículo mínimo (que estava na época em discussão),
mas o “mais importante talvez seja o entendimento da profissão, ou seja, a definição do
profissional que se deseja formar para o Brasil de hoje e do futuro a curso e a médio prazo”
(MUELLER, 1985, p. 13). Transcorridas mais de três décadas destas palavras, será que
este contexto foi alterado. Vejamos!!!!
No ano de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), n. 9.394, a qual no Art 53, assegurou autonomia para as Instituições de Ensino
Superior (IES) criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educa-
ção superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o
caso, do respectivo sistema de ensino; fixar os currículos dos seus cursos e programas,
observadas as diretrizes gerais pertinentes e estabelecer planos, programas e projetos
de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão, dentre outras funções
(BRASIL, 1996).
Em 2001, são estabelecidas as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Bibliote-
conomia, a qual menciona que a formação do bibliotecário deve proporcionar ao acadêmico
o desenvolvimento de determinadas competências e habilidades e o domínio
dos conteúdos da Biblioteconomia. Além de preparados para enfrentar com
proficiência e criatividade os problemas de sua prática profissional, produzir
e difundir conhecimentos, refletir criticamente sobre a realidade que os en-
volve, buscar aprimoramento contínuo e observar padrões éticos de conduta
(BRASIL, 2001).

São estas diretrizes que norteiam as ações dos cursos de Biblioteconomia e a


formação do profissional bibliotecário no país. O referido documento determina, ainda, as
competências e habilidades esperadas do egresso e subdivide em geral e específicas:
As competências gerais desejadas são:

● gerar produtos a partir dos conhecimentos adquiridos e divulgá-los;


● formular e executar políticas institucionais;
● elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos;
● utilizar racionalmente os recursos disponíveis; · desenvolver e utilizar
novas tecnologias;
● traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades nas
respectivas áreas de atuação;
● desenvolver atividades profissionais autônomas, de modo a orientar,
dirigir, assessorar, prestar consultoria, realizar perícias e emitir laudos
técnicos e pareceres;
● responder a demandas sociais de informação produzidas pelas
transformações tecnológicas que caracterizam o mundo contemporâneo
(BRASIL, 2001, p. 32)

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 93


As específicas discriminadas no referido documento, são:

● Interagir e agregar valor nos processos de geração, transferência e uso


da informação, em todo e qualquer ambiente;
● Criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos
de informação;
● Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza;
● Processar a informação registrada em diferentes tipos de suporte,
mediante a aplicação de conhecimentos teóricos e práticos de coleta,
processamento, armazenamento e difusão da informação;
● realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e
uso da informação (BRASIL, 2001, p. 32-33).

Conforme podemos perceber as competências e habilidades atribuídas ao egresso


do curso, são abrangentes e diversificadas.
É mister salientar que passados 110 anos da implantação do curso de Bibliote-
conomia da Biblioteca Nacional, a graduação é oferecida nas habilitações licenciatura e
bacharelado, tem duração de quatro anos e é possível cursar tanto na modalidade presen-
cial quanto à distância. De acordo com dados do último Censo de Educação Superior do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2019,
há registrados 41 cursos e, neste quantitativo, incluem-se todos os cursos, sejam aqueles
em atividade, quanto os que estão em extinção e/ou em processo de descredenciamento
voluntário. Aqui, também, percebemos um diferencial, pois, por muitos anos, os cursos de
Biblioteconomia foram ofertados somente presencialmente, entretanto, com a expansão da
educação à distância (EaD) no país e com a Lei Federal nº 12.244 de 2010 que até 2020,
todas as instituições de ensino públicas e privadas do país deveriam ter uma biblioteca
com pelo menos um livro por aluno, a procura pelo curso de Biblioteconomia aumentou,
especialmente, na EaD.
Após esta trajetória sobre a Biblioteconomia no Brasil, que tal conhecermos qual é
o perfil ou quem é o profissional bibliotecário no país?

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 94


2. O BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL

O bibliotecário no Brasil é uma pessoa graduada em curso superior de bacharelado


e/ou licenciatura em Biblioteconomia que, após registrar-se no conselho de classe da cate-
goria, se encontra habilitado para desempenhar as funções profissionais inerentes à área.
É mister salientar que o termo bibliotecário começou a ser utilizado pela Biblioteca
Nacional, a partir de 1824, por aprovação do segundo dispositivo legal, denominado Artigos
Regulamentares para o Regimento da Bibliotheca Imperial e Pública, elaborado pelo frei An-
tônio de Arrábida. Esse documento, “após a Independência do Brasil, troca-se a denominação
Biblioteca Real por Biblioteca Imperial e o administrador geral, até então chamado Prefeito
ou Zelador, passou a chamar-se Bibliotecário” (CASTRO, 2000, p. 50), entretanto, só houve
troca no nome, porque as atribuições permaneceram as mesmas que o profissional realizava
antes do referido documento, ou seja, “preocupação acentuada na ampliação do acervo em
detrimento de sua organização e conservação” (CASTRO, 2000, p. 50).
Nascimento e Martins (2017, p. 46) ilustram que
Conquanto o curso ter surgido no Brasil em 1911, a profissão de Bibliotecário
só foi reconhecida e regulamentada como profissão, no ano de 1962, ou seja,
51 anos após a implantação do primeiro curso de formação profissional. A
profissão foi legalizada pela lei 4.084 de 30 de junho do ano já citado, instituí-
da pelo então presidente da república, João Goulart.

A referida lei, dentre outros aspectos, discriminava as atribuições dos bacharéis em


Biblioteconomia da seguinte forma:

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 95


Art 6º São atribuições dos Bacharéis em Biblioteconomia, a organização, di-
reção e execução dos serviços técnicos de repartições públicas federais, es-
taduais, municipais e autárquicas e emprêsas particulares concernentes às
matérias e atividades seguintes:
a) o ensino de Biblioteconomia;
b) a fiscalização de estabelecimentos de ensino de Biblioteconomia reconhe-
cidos, equiparados ou em via de equiparação;
c) administração e direção de bibliotecas;
d) a organização e direção dos serviços de documentação;
e) a execução dos serviços de classificação e catalogação de manuscritos e
de livros raros e preciosos, de mapotecas, de publicações oficiais e seriadas,
de bibliografia e referência (BRASIL, 1962).

Estas foram as primeiras atividades definidas por lei para o graduado em Biblio-
teconomia. Em 25 de junho de 1998, a lei acima supracitada foi atualizada pela Lei n.
9.674, que em seu art. 1º, parágrafo único, reza que “a designação ‘Bibliotecário’, incluída
no Quadro das Profissões Liberais, Grupo 19, da  Consolidação das Leis do Trabalho, é
privativa dos Bacharéis em Biblioteconomia” (BRASIL, 1998), ou seja, o bibliotecário é
reconhecido como profissão liberal e, na última versão da Classificação Brasileira de Ocu-
pações (CBO), encontra-se categorizado na família dos Profissionais da Informação (JOB;
OLIVEIRA, 2006). No país, não há um consenso sobre quais profissões deveriam ser
inseridas como profissionais da informação. Constituem o núcleo deste grupo os bibliote-
cários, os arquivistas, os mestres e doutores em ciência da informação e a Biblioteconomia
é a mais antiga destas áreas (MUELLER, 2004). A este respeito Targino (2010, p. 45), tece
a seguinte consideração explica que “todos os bibliotecários são ou deveriam ser profis-
sionais da informação, mas nem todos os profissionais da informação são bibliotecários. A
eles, somam-se documentalistas, arquivistas, museólogos, administradores”.

SAIBA MAIS

A CBO não é lei, é uma portaria do Ministério do Trabalho. Não regulamenta profissões
e nem cria cargos, não representa aspirações de uma categoria de trabalhadores, é
descrição de atividades de diferentes profissões, uma nomenclatura. Não é garantia de
que as profissões ali descritas sejam regulamentadas e nem é esta sua preocupação.
As atividades refletem a realidade do grupo que representa em termos de atividades
desempenhadas nos diversos ambientes em que se faz presente o trabalhador.

Fonte: Job e Oliveira (2006, p. 268)

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 96


Santos (1996, p. 5), reconhece o bibliotecário como um profissional da informação
e assim se manifesta: “entende-se todos aqueles indivíduos que, de uma forma ou outra,
fazem da informação o seu objeto de trabalho, entre os quais, arquivistas, museólogos,
administradores, analistas de sistema, comunicadores, documentalistas e bibliotecários”.
O objeto de trabalho do bibliotecário é explicitado na Resolução CFB nº 207/2018, a
qual aprova o Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro, que fixa as normas
orientadoras de conduta no exercício de suas atividades profissionais
Art. 4º – O objeto de trabalho do bibliotecário é a informação, artefato cultural
aqui conceituado como conhecimento estruturado sob as formas escrita, oral,
gestual, audiovisual e digital, por meio da articulação de linguagens natural e/
ou artificial (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2018).

De acordo com o Guia do Estudante (2019), cujo conteúdo tem por intuito discrimi-
nar sobre as profissões a fim de orientar os sujeitos na escolha de determinada profissão,
menciona que “o bibliotecário domina técnicas de classificação, organização, conservação
e divulgação do acervo de bibliotecas ou centros de documentação”. O referido documento,
complementa, ainda que
Este graduado é responsável por organizar, conservar e divulgar acervos de
bibliotecas e centros de documentação, cuidando da classificação de livros,
papéis e arquivos digitais.

Trabalha como um administrador de dados, catalogando e armazenando li-


vros e informações, buscando sempre o melhor e mais ágil sistema de con-
sulta possível (GUIA DO ESTUDANTE ABRIL, 2019).

É importante mencionar que a profissão do bibliotecário ultrapassa os espaços


físicos de uma biblioteca, em 1996, Coelho Neto já chamava atenção para este fato,
o papel do Bibliotecário na sociedade está se alterando devido às novas tec-
nologias de informação e comunicação. Novas formas de trabalhar surgiram
porque novas ferramentas foram criadas para o controle, organização e dis-
seminação da informação. O profissional não está mais limitado ao espaço
físico da biblioteca; agora ele trabalha com vários suportes em que a informa-
ção está registrada, onde o usuário passa a ser o foco principal e não mais o
acervo, ao mesmo tempo que a disseminação passa a ter mais importância
que a preservação da informação (COELHO NETO, 1996, p. 5).

Concordamos com Coelho Neto (1996), mas, chamamos a atenção para o alerta de
Mueller (1989) de que os bibliotecários devem incorporar novas atividades sem abandonar
as ditas tradicionais, como: a preservação do conhecimento humano; a organização da infor-
mação para sua posterior recuperação; a educação, o suporte à educação formal, ao estudo
e à pesquisa; o fornecimento ao usuário de fontes e materiais que supram as necessidades
de informação deste; além do planejamento e da administração de recursos informacionais,
haja vista, que o bibliotecário auxilia na construção do conhecimento, ou seja, seu objeto
principal de trabalho é gerenciar a informação, independente do suporte e/ou do local em que
ela esteja armazenada, pois conforme explicita o Art. 2º da Resolução CFB 207/2008

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 97


Art. 2º – A profissão de Bibliotecário tem natureza sociocultural e suas princi-
pais características são a prestação de serviços de informação à sociedade e
a garantia de acesso indiscriminado aos mesmos, livre de quaisquer embar-
gos (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2018).

Assim,
as mudanças processadas no campo da ciência e da tecnologia e a incorpo-
ração dos princípios da Documentação na Biblioteconomia brasileira passa-
ram a exigir um bibliotecário mais dinâmico e participativo e, principalmente,
especializado, isto é, que conhecesse as principais fontes do campo em que
atuava, suas terminologias e o modo como o mesmo estruturava-se, enquan-
to espaço de construção de saber (CASTRO, 2000, p. 121).

Outros fatos que exigiram uma nova postura no fazer bibliotecário, especialmente,
a partir da década de 1990, foi a explosão documental e a expansão das tecnologias da
informação e comunicação, que modificou as relações profissionais e passou a exigir um
profissional mais dinâmico e com domínio das ferramentas digitais. A respeito das TICs,
Araujo (2005, p. 115), destaca sua importância, pois “pela primeira foram feitas tecnologias
que criam e fornecem informações. Essas tecnologias desenvolvem três funções de pro-
cessamento de informação: memória, computação e controle. Isso aumenta, em muito, a
capacidade humana de processar dados para produzir informação”.
Este novo cenário, exigiu que o bibliotecário adquirisse um novo perfil e, a partir
de então, ele assumiu uma nova denominação: profissional da informação, haja vista, que
suas atividades não se limitam apenas ao ambiente físico das bibliotecas e a organização
e preservação dos acervos, mas, o foco de suas atividades centraliza no gerenciamento da
informação. Frente ao exposto, o trabalho bibliotecário não se restringe apenas aos recintos
de uma biblioteca, mas, sim em qualquer instituição que necessite catalogar documentos
para acessá-los de forma rápida, eficiente e eficaz.
É incontestável que a tecnologia causou imenso impacto nas bibliotecas e nas
atividades desempenhadas pelo bibliotecário, mas ela não eliminou a necessidade do tra-
balho humano, pois, os sistemas informatizados são concebidos, mantidos e alimentados
pelos seres humanos. Isto significa que as tecnologias vieram para auxiliar o homem, não
para substituí-las, então o dito popular que a profissão do bibliotecário seria extinta com o
advento das TICs não passa de um mito, haja vista, que
o graduado em Biblioteconomia deve ter formação humanística, científica,
técnica e cultural, de modo a desempenhar atividades intelectuais, traduto-
ras das necessidades informacionais de indivíduos, grupos e comunidades,
e mediadoras do uso e da apropriação da informação, tanto em contextos
tradicionais quanto virtuais, em bibliotecas, centros de documentação ou in-
formação, centros culturais, serviços ou redes de informação e na gestão do
capital intelectual, da inovação, da memória e do patrimônio cultural, entre
outros. A observação de padrões éticos de conduta, a reflexão crítica sobre o
seu papel social, a criatividade na resolução de problemas e a preocupação
com seu aprimoramento profissional devem sublinhar o desempenho de suas
atividades (INEP, 2009, p. 11).

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 98


Frente ao exposto, o campo de atuação do profissional bibliotecário é amplo e
abrangente, pois, além de poder desempenhar suas atividades nos diversos tipos de biblio-
tecas, pode, ainda, trabalhar em outros locais, tais como: centros de pesquisas; editoras;
associações; escritórios; museus; provedores de internet, dentre outros. O Guia das Profis-
sões (2021, [n.p.]), complementa que
atualmente é bastante comum este profissional se ocupar da criação e ma-
nutenção de arquivos digitais. É crescente a necessidade das empresas de
manterem arquivos digitais de documentos antes apenas impressos. Esta
ação tem o objetivo de preservar o documento original, liberar espaço físico
ou disponibilizar estes documentos para um maior número de pessoas de
forma mais rápida.

A Resolução CFB 207/2008 acrescenta que,


Art. 3º – A atuação do bibliotecário fundamenta-se no conhecimento da mis-
são, objetivos, áreas de atuação e perfil sociocultural do público alvo da insti-
tuição onde está instalada a unidade de informação em que atua, bem como
das necessidades e demandas dos usuários, tendo em vista o desenvolvi-
mento dos indivíduos e da sociedade (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTE-
CONOMIA, 2008).

Cabe ressaltar de que a profissão de bibliotecário é instituída por entidades repre-


sentativas, dentre elas destacam-se o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), que
incorpora os Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB), que tem por intuito fiscalizar
o exercício e zelar pela ética profissional; a Federação Brasileira de Associações de Biblio-
tecários (FEBAB), que juntamente com as Associações Estaduais, que objetivam promover
a atualização profissional, por meio de eventos, cursos, publicações, dentre outros e os
sindicatos que tem por objetivo defender o profissional por meio da legislação dos fóruns
trabalhistas e negociam junto às instituições (privadas ou estatais), o piso salarial dos pro-
fissionais e demais benefícios que a lei propicia aos trabalhadores (JOB; OLIVEIRA, 2006).
Após este preâmbulo sobre o bibliotecário no Brasil, quais os desafios a serem
enfrentados por este profissional na contemporaneidade? Vejamos!!!!

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 99


3. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA PROFISSÃO

A partir do século XX, a profissão do bibliotecário, tal como as demais profissões, foi
diretamente impactada pelos avanços das Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICs), pois os usuários cada vez mais buscam recuperar a informação de forma rápida e
de qualidade, isto demanda alterações no perfil do profissional. Assim, o alerta de Walter e
Baptista (2007, p. 30), de que
é muito interessante como o aspecto visual e comportamental dos biblio-
tecários realmente permeia o imaginário popular, associando a profissão a
mulheres, em geral idosas e, especialmente, com dois adereços principais,
como uma espécie de marca registrada, que são os indefectíveis óculos e o
famigerado coque nos cabelos, além de uma postura geralmente antagônica
e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que indique um
enfático pedido de silêncio.

A imagem do bibliotecário tal como descrita há muito tempo se alterou e, neste


limiar do século XXI, a figura estereotipada propagada pela mídia de que a profissão era
exercida, em sua maioria por mulheres, que usam óculos, geralmente mal-humoradas e
que a regra máxima era silêncio no recinto das bibliotecas, deve ter totalmente, eliminada
e imagens como a figura abaixo não devem fazer parte de bancos de imagens quando
buscamos gravuras sobre o perfil do bibliotecário.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 100


FIGURA 1 - IMAGEM REPRESENTATIVA DO ESTEREÓTIPO DO BIBLIOTECÁRIO

Uma das funções a ser desempenhada pelo bibliotecário na contemporaneidade


é a de agente de transformação social. De acordo com Pires (2012), ele “deve assumir
como agente transformador com o seu enfoque informacional e consequentemente com as
mudanças ocorridas na sociedade”. O referido autor menciona, ainda, que “os bibliotecários
do terceiro milênio precisam desenvolver de forma condizente a disseminação da informa-
ção como forma de fornecer aos seus consulentes informações relevantes para que os
mesmos possam usá-las de maneira eficiente”, haja vista, que “o profissional da informação
tem assumido funções diversas, como: agente educacional, social, cultural; promovendo a
competência no uso da informação, além disso, desenvolvendo nos usuários o aprendizado
através do estímulo à leitura”.
No papel bibliotecário enquanto agente de transformação social, não podemos
esquecer da função educativa a ser desempenhada por este profissional, levando em con-
sideração que o Brasil tem uma das taxas de analfabetismo mais elevadas. De acordo com
a Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE (2019), o país tem,
aproximadamente, 11,3 milhões de pessoas analfabetas com mais de quinze anos de idade.
Baptista (2006, p. 25-26), menciona que “o grande contingente de analfabetos e co-
munidades carentes, isoladas e sem acesso às comodidades básicas, tais como alimento,
moradia, água, luz etc., provoca uma distorção entre o que as comunidades desfavorecidas
precisam e o que a biblioteca pública tem para oferecer”.
A autora supracitada alerta que “por formação, o bibliotecário é altamente qualifica-
do para desempenhar o papel social que promova a cidadania em comunidades carentes.
Porém, são poucos os que se interessam pela área, já que não há retorno quanto à remu-
neração, e a infra-estrutura oferecida é desfavorável para uma atuação efetiva” (BAPTISTA,
2006, p. 29). O que fazer para alterar esta situação? A resposta a este questionamento nos
é dado por Cunha (2019) de que combater a redução do analfabetismo no país, “ninguém
pode ficar de fora”. Segundo o autor,

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 101


o bibliotecário não pode continuar passivo, ele deve pressionar todos
os níveis de atuação governamental (municipal, estadual e federal), das
instituições privadas e organizações do Terceiro Setor. Essa pressão deve
ser voltada para a melhoria e ampliação das políticas públicas voltada
ao combate do analfabetismo. É claro que, além disso, o profissional deve
mostrar a importância das bibliotecas públicas e escolares como locais ade-
quados para receberem os futuros cidadãos que poderão ler e escrever. Há,
portanto, um longo caminho a ser percorrido pelo bibliotecário e suas
entidades profissionais (CUNHA, 2019, p. 662).

A tarefa é árdua, mas é possível, haja vista, o bibliotecário tem executado no decor-
rer de sua trajetória as tarefas de organizar e disseminar a informação. Na disseminação ou
mediação da informação, “o bibliotecário tem se aproximado dos papéis desempenhados
pelos educadores, assistentes sociais e outros que desempenham, funções na área educa-
cional/social” (BAPTISTA, 2006, p. 27).
Para Tarapanoff, Suaiden e Oliveira (2002, p. 3), um dos grandes desafios para o
bibliotecário é a alfabetização em informação, ou seja, cabe ao profissional da informação
buscar alternativas de educar a si próprios e aos outros para a sociedade da informação.
“Uma pessoa alfabetizada em informação é aquela que reconhece a necessidade da infor-
mação; organiza-a para uma aplicação prática; integra a nova informação a um corpo de
conhecimento existente; usa a informação para solução de problemas e aprende a aprender”
Frente ao exposto, a função do profissional da informação vai além de ensinar os
usuários como utilizar a biblioteca, haja vista, que o objetivo da alfabetização em informa-
ção é “criar aprendizes ao longo da vida, pessoas capazes de encontrar, avaliar e usar
a informação eficazmente para resolver problemas ou tomar decisões” (TARAPANOFF;
SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 3).
Os autores supracitados explicitam que “os bibliotecários e profissionais da
informação devem, assim como os professores, tornarem-se animadores da inteligência
coletiva dos cidadãos e dos estudantes, oferecendo ferramentas intelectuais para que os
indivíduos cooperem e produzam conhecimentos em grupo”. Neste sentido, “é necessário
que o profissional da informação atue como um mediador entre o mundo digital e a capa-
cidade real de entendimento do receptor da informação, garantindo a efetiva comunicação
e a satisfação da necessidade informacional do usuário dessa tecnologia” (TARAPANOFF;
SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 4). É preciso inovar e “a inovação passa a acontecer nas
bibliotecas quando estas percebem que somente os registros informacionais bibliográficos
já não atenderão uma sociedade conectada, participativa e com acesso rápido e vasto a
uma variedade de recursos” (PRADO; CAVAGLIERI, 2016, p. 95).
A inovação perpassa pela busca de conhecimento e aprimoramento constante,
aberto a mudanças, conforme disse Valentim em 1995

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 102


o bibliotecário precisa reencontrar seu caminho para processar a mudança
de paradigma. Ousadia é essencial! Mudança não é fácil de se executar,
requer persistência, tolerância, determinação e o mais importante, dá condi-
ções para a reflexão e o debate. Estar sintonizado com o novo paradigma é
fundamental para o profissional da informação. O terceiro milênio vai exigir
isso (VALENTIM, 1995, p. 5-6).

Após transcorrido mais de vinte e cinco anos as sábias palavras da professora


continuam ecoando. Só mencionar que o bibliotecário é agente de transformação social
não basta, é preciso “fortalecer no bibliotecário seu papel de agente transformador da so-
ciedade, oferecendo, por meio de produtos e serviços de pesquisas, ações e projetos, uma
maior abrangência da sua prática profissional. É necessário sair dos espaços seguros de
informação e desbravar o caminho para aqueles que não têm acesso”
Frente ao exposto, é mister salientar que o bibliotecário deve não só dominar as
ferramentas da informática, contribuir para o compartilhamento da informação com os
outros profissionais da informação, fazer partes de redes de relacionamento, cooperação,
catalogação cooperativa. O bibliotecário precisa, acima de tudo, desenvolver o papel social
que a ele é atribuído, ser agente de transformação de forma efetiva e propiciar que a infor-
mação transmutada em conhecimento atinja a todo cidadão independentemente de onde a
biblioteca em que atua esteja inserida. Seja realmente um agente de mudança social!

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 103


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel da biblioteca e dos profissionais que nela atuam é determinado pelo uso
da informação registrada e pela importância desta na vida das pessoas. Uma vez que a
informação se altera e a comunicação evolui, juntamente com os valores morais, hábitos,
avanços tecnológicos, estrutura social, desenvolvimento nacional, também mudam, em
cada sociedade, as expectativas em relação às bibliotecas e aos bibliotecários.
Frente ao exposto, nesta unidade refletimos sobre o percurso da Biblioteconomia
no Brasil desde os primórdios da criação do primeiro curso que visava a formar o profis-
sional para atuar nas bibliotecas. Neste sentido, no segundo momento apresentamos o
perfil do bibliotecário no país e, por último, discutimos sobre os desafios do profissional da
informação na contemporaneidade.

Foi um prazer tê-lo(a) conosco!!!

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 104


LEITURA COMPLEMENTAR

QUEM É O PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO?

O bibliotecário é um profissional de nível superior que atua no mercado de trabalho


com uma visão ampla e objetiva da sociedade e de seus variados segmentos.
Como administrador e disseminador de informação, habilita-se a adequar métodos
e técnicas de sua profissão às necessidades específicas de seu trabalho, sabendo valer-se
dos melhores recursos da Informática, Reprografia e da Microfilmagem, entre outros, para
agilizar e otimizar suas funções.
O uso instrumental do Marketing, para difundir a importância da leitura e os benefí-
cios do uso da informação a todos os tipos de usuários e promover a formação cultural do
país, são importantes papéis do Bibliotecário, enquanto agente social.
O bibliotecário está habilitado a executar planejamento de serviços bibliotecários,
planejamento físico de bibliotecas e centros de documentação e informação, organização
de acervos (bibliográficos ou não), de serviços técnicos e administrativos ligados à docu-
mentação, avaliação, assessoria, consultoria, ensino, fiscalização técnica, normalização de
documentos, análise de trabalhos técnicos e científicos, organização de bases de dados
virtuais, de intranets, de documentação para processos de certificação de qualidade, ava-
liação de conteúdo da Internet, entre outras.
O bibliotecário é capaz de atuar em qualquer função que vise a organização e
obtenção de informações e como gestor da informação e do conhecimento para atender às
necessidades de informação da sociedade.
O bibliotecário economiza tempo e recursos para seus clientes, colocando ao seu
alcance informações já selecionadas, precisas e de fundamental importância para o suces-
so das organizações.

Fonte: CRB-10. Quem é o profissional bibliotecário? Porto Alegre, 2021. Disponível em: http://www.

crb10.org.br/nbiblio.htm . Acesso em: 15 set. 2021.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 105


LEITURA COMPLEMENTAR

SETE NOMES IMPORTANTES NA BIBLIOTECONOMIA

Conheça a história de sete personalidades importantes para a profissão Bibliotecário:

Adelpha de Figueiredo: uma das primeiras Bibliotecárias brasileiras. Formou-se


pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sendo a primeira diretora da Biblioteca
Pública Municipal Mário de Andrade, em 1926.

Edson Nery da Fonseca: Bibliotecário e professor universitário brasileiro. Fun-


dador de cursos de Biblioteconomia de graduação e pós-graduação, também participou
da fundação da Universidade de Brasília (UnB), sendo responsável pela implantação da
Biblioteca Central e do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD).

Inezita Barroso: aluna destaque da primeira turma da graduação em Bibliotecono-


mia da Universidade de São Paulo (USP)

Manuel Bastos Tigre: considerado o primeiro Bibliotecário por concurso no Brasil,


exercendo a profissão por 40 anos. O dia 12 de março, Dia do Bibliotecário, foi instituído
em sua homenagem.

Shiyali Ramamrita Ranganathan: matemático e Bibliotecário na Índia, considera-


do o pai da Biblioteconomia no país. Foi professor de Biblioteconomia por aproximadamente
40 anos e autor do livro “The Five Laws of Library Science” (1931), abordando  as cinco leis
da Biblioteconomia, fundamentais para o exercício da profissão.

Zila Mamede: importante Bibliotecária brasileira responsável por reestruturar as


duas maiores Bibliotecas de Natal (RN): a Biblioteca Central da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo. Também participou
do Conselho Federal de Biblioteconomia

Laura Russo:  desenhou a primeira versão do Código de ética Profissional do


Bibliotecário. Também foi a primeira presidente da Federação Brasileira de Associações de
Bibliotecários (FEBAB) e do Conselho Federal de Biblioteconomia. Pelos seus trabalhos
na Biblioteconomia brasileira, recebeu títulos honoríficos nos Estados Unidos e  Alemanha.

Fonte: CRB-6. Dia do bibliotecário: sete nomes importantes na Biblioteconomia. Boletim Eletrônico
do CRB-6, Belo Horizonte, 10 mar. 2020. Disponível em: https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-
-bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/. Acesso: 15 set. 2021.

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 106


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História da biblioteconomia
Autor: Augusto Cesar Castro
Editora: Thesaurus
Sinopse: Resultado da tese do autor, defendida na Universida-
de de Brasília (UnB), o livro, publicado pela Editora Thesaurus,
retrata a trajetória da biblioteconomia diante de vários aspectos,
contemplando o desenvolvimento das bibliotecas, em especial,
a Biblioteca Nacional, ensino de biblioteconomia (incluindo a
construção curricular), órgãos de classe, além dos fundamentos
históricos, políticos e institucionais da profissão e atuação profis-
sional do bibliotecário. Certamente é uma das obras mais densas
e completas sobre o desenvolvimento histórico da biblioteconomia
e não somente pela narrativa em si, mas pelo teor crítico, rigoroso
e consistente com que trata a história da área.

LIVRO 2
Título: Uma análise sobre a identidade da biblioteconomia brasi-
leira: perspectivas históricas e objeto de estudo.
Autor: Jonathas Luiz Carvalho Silva.
Editora: Baluarte.
Sinopse: A obra, originada de dissertação, toca numa das ques-
tões mais negligenciadas pela Biblioteconomia: a construção da
identidade biblioteconômica.A obra divide-se em cinco capítulos
principais. Nos quais o autor busca resgatar um pouco da trajetória
histórica da Biblioteconomia

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 107


FILME / VÍDEO
Título: “O Bibliotecário”
Ano: 2004
Sinopse: Para se ser um bibliotecário, tem de se conhecer profun-
damente o Sistema Decimal Dewey, ser especialista em Internet e,
se formos o novo bibliotecário Flynn Carsen (Noah Wyle), ter de
salvar o mundo!
Wyle (E.R.) lidera um excelente elenco numa divertida e fantástica
aventura recheada de acção e efeitos especiais passada à volta
do mundo partindo da biblioteca Metropolitan até à selva Amazóni-
ca passando pelos Himalaias. Carsen, um estudante brilhante,
consegue um emprego como bibliotecário, mas que, no entanto,
se revela ser afinal um emprego muito especial: ser o guardião
de maravilhosos tesouros como, entre outros, a espada Excalibur
e a Caixa de Pandora, guardados numa zona secreta do edifício.
É então que a Irmandade da Serpente, uma seita que busca o
domínio do mundo, rouba da biblioteca uma das três partes da
mágica Lança do Destino. Apenas Flynn, ajudado por uma bonita
guarda-costas, tem os conhecimentos para travar aquele plano
maquiavélico. Mas terá ele fibra de herói? Vai ter de a encontrar,
pois terá de ultrapassar armadilhas mortais ou precipícios gelados
em cada passo do seu caminho.

FILME / VÍDEO 2
Título: Desafios da profissão do bibliotecário
Ano: 08 de maio de 2015
Sinopse: O vídeo é uma entrevista com dois profissionais bibliote-
cários realizada pela TV PUC
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Blc6r_52Wsc

UNIDADE IV Biblioteconomia no Brasil 108


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120
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) Aluno(a)!

Neste material fizemos uma caminhada pelos fundamentos que regem a Bibliote-
conomia, assim vimos os conceitos atribuídos a ela e a sua relação com a Documentação e
a Ciência da Informação. Tivemos a oportunidade de perceber que a Biblioteconomia está
voltada à organização e a administração de bibliotecas e outras unidades de informação,
desenvolvendo ações de seleção, aquisição, organização e disseminação de publicações
sob diferentes suportes físicos e desenvolve suas atividades técnicas e normativas na
perspectiva de proporcionar o acesso à informação. Estudamos, também, como se deu o
processo da escrita e o surgimento das bibliotecas no primórdio da civilização.
Seguindo em frente fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua gênese
e pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a necessidade
de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a fim de preservar a
sua memória.Pudemos, ainda, conhecer sobre as práticas biblioteconômicas e a evolução
das bibliotecas, desde a Antiguidade até chegarmos a contemporaneidade e aqui nos de-
paramos com a Sociedade de Informação, em que há o domínio da internet em todos os
segmentos da sociedade e que as bibliotecas não ficaram alheias às mudanças causadas
explosão documental e pelas tecnologias da informação e comunicação.
Continuando a caminhada conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao termo
documento e o quanto a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi importante
para o desenvolvimento dos sistemas de classificação, representação e organização da
informação e como ela se relaciona com a Biblioteconomia. Constatamos que a origem da
Documentação está relacionada à grande quantidade de documentos técnicos e científicos
produzidos e a necessidade de sua organização, de forma a torná-los acessível a quem
interessar. Verificamos que a Biblioteconomia e a Documentação se relacionam com a
semiótica e que os conhecimentos dessa área são fundamentais para os processos de
significação, dimensionamento e tratamento da informação.

121
Para concluir nosso percurso refletimos sobre a Biblioteconomia no Brasil desde
os primórdios da criação do primeiro curso, conhecemos sobre o perfil do bibliotecário
no país e, por último, discutimos sobre os desafios do profissional da informação na
contemporaneidade.
Esperamos que você tenha gostado de percorrer conosco pelos trajetos encanta-
dos da Biblioteconomia.

Nossos agradecimentos e até uma próxima oportunidade!

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