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Professora Me.

Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

TUTORIA E O PROCESSO DE
MEDIAÇÃO EM EAD

PÓS-GRADUAÇÃO
EAD

MARINGÁ-PR
2011
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Polos: Diego Figueiredo Dias
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de Curso: Rachel de Maya Brotherhood
Coordenação Administrativa de Curso: Márcia Maria Previato de Souza
Assessora Pedagógica: Fabiane Carniel
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Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
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Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi e Jaquelina Kutsunugui

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR




CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:
C397 Tutoria e o processo de mediação em EaD/ Vanessa Cam
pos Mariano Ruckstadter - Maringá - PR, 2011.
59 p.

“Curso de Pós-Graduação em EaD ”.



1. Tutoria. 2.Educação. 3.EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 370


CIP - NBR 12899 - AACR/2

“As imagens utilizadas nessa apostila foram obtidas a partir do site PHOTOS.COM”.
TUTORIA E O PROCESSO DE
MEDIAÇÃO EM EAD
Professora Me. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter
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APRESENTAÇÃO
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades
para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de
sobrevivência no mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós
e pelos nossos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar
o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e
solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência
social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração
com a sociedade.

Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional
e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos
ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão
acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com
o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos,
incentivando a educação continuada.

Professor Wilson de Matos Silva


Reitor

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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância
do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e,
assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo
de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo
Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma
equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja,
possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você
construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no
ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em
linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de
linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas
as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o
desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de
forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer
anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações
de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão
organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos.
Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na
Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de
aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo


Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR

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APRESENTAÇÃO

Livro: TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD

Professora Me. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

Já passada pouco mais de uma década do século XXI, percebemos uma reestruturação do mundo
do trabalho. Novas profissões surgem advindas das novas necessidades de os homens produzirem e
reproduzirem sua vida material. Concomitante a essas necessidades e às novas profissões, surge a
necessidade de formar e capacitar para essas novas demandas. Aqui entra especificamente o papel da
educação, institucionalizada ou não.

No caso que nos interessa de modo mais próximo, o de estudos na modalidade a distância, destaca-se
uma figura fundamental e que se insere nesses parâmetros de novas profissões: o tutor. Todavia, ainda
percebemos uma indefinição do papel desse profissional, visto que o tutor é um profissional da educação.
Em outras palavras, já é, na maioria dos casos, um professor. Assim, devemos inserir nossa discussão
em um contexto de fragmentação do trabalho docente.

Nosso objetivo neste livro, bem como na disciplina de Tutoria e o Processo de Mediação em Educação
a Distância (EaD), é o de refletir criticamente sobre o papel da tutoria e da prática mediadora em cursos
na modalidade a distância. Mas o que isso significa? Bom, isso quer dizer que iremos analisar com
profundidade o papel do tutor na modalidade a distância, com o intuito de, mais que estabelecer diretrizes
e conduzir por um caminho específico, possibilitar a você, aluno e aluna, o início de um percurso que
se constituirá à medida em que juntos dermos cada passo em direção a consolidação dessa “nova”
modalidade.

Sou graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (2003) e desde então atuo como
professora. Comecei minha atividade docente no ensino presencial, ministrando a disciplina de História e
Filosofia nas séries finais do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) na rede particular de ensino. Paralelamente
às atividades docentes me especializei em Pesquisa Educacional (2005) e recebi o título de mestre em
Educação (2007). Ingressei como docente do Ensino superior no ano de 2008, quando fui convidada a
atuar na modalidade a distância. A partir desse contato com a EaD tracei uma trajetória que me deixa à
vontade para discutir essa questão da tutoria com vocês. Especialmente, porque após a minha atividade
como docente fui tutora a distância (mais tarde iremos definir os termos utilizados e o papel dos tutores)
do curso de História. Estive nos dois lados do processo: como professora e como Tutora. E é essa
experiência que gostaria de dividir com você. Aceita o convite?

Acredito que a resposta tenha sido positiva, pois você continua lendo o material! Sendo assim, vamos
juntos traçar o caminho que iremos percorrer durante nossa disciplina.

Na Unidade I estudaremos juntos os Fundamentos da Tutoria em EaD no Brasil. Iremos discutir nesta
primeira aproximação do tema um pouco da história da tutoria acadêmica na educação. Ao considerarmos

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que o tutor é um educador, e na maioria dos casos já é um profissional atuante da área de educação,
perpassaremos pela própria concepção de educação e pela relação ensino-aprendizagem em diferentes
momentos históricos para compreendermos, por meio da história, a nossa própria época. Iniciaremos pela
Antiguidade Clássica, com ênfase especial na relação entre os filósofos gregos e seus pupilos. Pode-se
considerar que os filósofos eram os tutores intelectuais que estimulavam os seus pupilos no tocante ao
cultivo da sabedoria. Continuaremos na busca da historicidade da tutoria no período que se convencionou
chamar de Idade Média, com atenção particular para o momento do surgimento da figura do tutor ligada
à instrução nas universidades medievais. Para finalizar nosso panorama, discutiremos as concepções de
educação relacionadas à tutela de um preceptor tanto na modernidade quanto na contemporaneidade.
Este é somente o primeiro passo para podermos juntos compreender o particular. Partiremos do geral a
fim de compreender a especificidade do processo que se tem hoje de tutoria na modalidade a distância
no Brasil.

Após essa trajetória pela história do homem ocidental, iremos direcionar nosso enfoque para a tutoria
no contexto da EaD no Brasil. Posso adiantar a você, acadêmico, que a tutoria é ainda um modelo em
construção, e tenho o maior prazer em dizer: você faz parte dessa história! Faz parte tanto do esforço em
compreender criticamente a tutoria quanto em sua atuação enquanto (futuro) tutor-educador.

Você deve ter percebido que nas últimas linhas já adiantamos pontos de vista em relação ao papel do
tutor. Não há como ignorar que, antes de mais nada, o tutor é um educador. E, como tal, necessita tanto
conhecer os processos pedagógicos quanto se sentir parte dele. Assim, a esse subtítulo da primeira
unidade Tutor: definição de papéis e conceitos, recai a responsabilidade de, mais que fazer afirmações
definitivas, iniciar um processo da construção da identidade do tutor na EaD que ultrapasse o âmbito
institucional, e que não se desvincule nunca da premissa de que todo tutor é um educador.

Mais importante que trazer aqui um receituário a ser seguido fielmente é apresentar a você o desafio de
construir a identidade e de assumir um papel crítico-reflexivo em sua jornada de tutoria. É nesse sentido
que nossa discussão continuará na segunda unidade, intitulada Tutoria: competências e desafios. A
partir da minha experiência e da experiência de outros tutores relatadas em artigos científicos disponíveis
em revistas acadêmicas – tanto em números especiais que versam sobre a Educação a Distância
quanto em publicações específicas que se dedicam à EaD –, bem como em livros e capítulos de livros,
discutiremos a formação, o perfil e as competências necessárias ao tutor. Além disso, consultaremos as
determinações do governo Federal no tocante às atribuições dos tutores, a fim de perceber quais são as
diretrizes do Ministério da Educação para a atividade de tutoria.

Também discutiremos sobre os desafios, que em alguns casos ainda estão vinculados à relação entre
tutores e as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em um processo de ensino-aprendizagem
que se dá, sobretudo, em ambientes virtuais, faz-se importante analisar a necessidade de formação
específica dos tutores no domínio das tecnologias disponíveis, as quais são ferramentas utilizadas na
aprendizagem e na avaliação dos alunos dos cursos da modalidade a distância. Não se trata de legar
à tecnologia um papel central, mas incorporar todos os instrumentos que possam aproximar tutores e

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alunos e que agregam possibilidades para a aprendizagem acontecer de modo efetivo.

Na terceira e última unidade, intitulada Planejamento e Organização do Trabalho em Tutoria, iremos


analisar exemplos de como planejar e organizar o trabalho de tutoria a partir da experiência de grupos
que já atuam e que relatam sua experiência em congressos da área para podermos construir um modelo
de tutoria que se enquadre em cada realidade institucional.

Aprender com a experiência mediada pela teoria faz com que o conhecimento da atividade de tutoria
aconteça de modo global, na totalidade. Para isso, iremos discutir os níveis de atuação do tutor, a
organização e planejamento do trabalho pedagógico em tutoria e a avaliação em EaD. Discutir avaliação
é sempre uma ardorosa tarefa, mas em EaD existe uma especificidade: analisar qual o lugar do tutor
nesse processo. Ele é quem acompanha todo o processo do aluno, quem corrige as avaliações. Mas
há uma outra figura que elabora a avaliação, que é o professor efetivo da disciplina. Qual o lugar desse
profissional educador no processo avaliativo? Cabe a ele avaliar ou seguir irrestritamente as orientações
do professor da disciplina? Será possível se isentar de qualquer subjetividade na correção? Não deveria ser
a avaliação um processo, e que, por acompanhar a turma, o tutor não seria o profissional desse processo
em EaD mais indicado para tal intento? Mesmo concordando que são as perguntas que movimentam as
descobertas da humanidade, tentaremos juntos esboçar respostas em consonância com a experiência e
literatura especializada disponíveis (que ainda são escassas) para essas indagações.

Muitas são ainda as questões a serem feitas sobre a atividade de tutoria, mas talvez a principal delas
ainda recaia sobre a identidade profissional. Afinal, os tutores são professores? São educadores? Mas se
são professores, educadores, o que dizer da figura do professor na modalidade a distância, aquele que
escreve o material, grava as aulas em formato de vídeo e faz conferências ao vivo? Seriam então os tutores
assessores dos professores? Mas não são eles quem tiram dúvidas, acompanham de perto o crescimento
dos alunos, suas dificuldades e, por vezes, corrigem atividades avaliativas propostas por esse terceiro
elemento, o professor da disciplina? Qual deve ser a formação do tutor? E a sua titulação? (especialista,
mestre, doutor...) Sua experiência no ensino presencial basta? Seu conhecimento pedagógico é suficiente
nessa modalidade específica? Muitas são as perguntas, e o objetivo da disciplina é suscitar tantas outras.
Você poderia agora me questionar: como assim professora, um curso não deve trazer respostas? Mais
que isso, ficarei satisfeita se incitá-los a duvidar sempre, a criticar sempre, a refletir sempre, pois o novo se
faz da síntese de múltiplos conhecimentos, e sempre é algo histórico, nunca natural. Só assim poderemos
formar educadores aptos a mudar a educação, independente de rótulos, de ser tutor, professor, mediador...

Convido você a iniciar esse processo crítico-reflexivo, a fim de traçar um caminho de constituição da EaD
para além de estereótipos, mas com o conhecimento de sua história, de seus atores e de seu alcance.
Como escreveu o poeta sevilhano António Machado: “[...] caminhante, não há caminho, faz-se caminho
ao andar”.

Desejo a você uma ótima leitura!

Professora Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

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SUMÁRIO

UNIDADE I

FUNDAMENTOS DA TUTORIA EM EAD NO BRASIL

TUTORIA: UM POUCO DE HISTÓRIA................................................................................................... 16

A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA (GRÉCIA E ROMA)........................................................17

A UNIVERSIDADE MEDIEVAL E A GÊNESE DA TUTORIA...................................................................19

A TUTORIA NO CONTEXTO DA EAD BRASILEIRA............................................................................. 21

TUTOR: DEFINIÇÃO DE CONCEITOS E PAPÉIS.................................................................................. 21

UNIDADE II

TUTORIA: COMPETÊNCIAS E DESAFIOS

FORMAÇÃO E PERFIL DO TUTOR EM EAD......................................................................................... 34

COMPETÊNCIAS DE TUTORIA EM EAD.............................................................................................. 36

O TUTOR E AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs)................................... 37

UNIDADE III

PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE TUTORIA

NÍVEIS DE ATUAÇÃO DO TUTOR..........................................................................................................47

ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM TUTORIA.......................... 49

AVALIAÇÃO EM EAD: O LUGAR DO TUTOR NO PROCESSO AVALIATIVO........................................ 50

CONCLUSÃO.......................................................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 58
UNIDADE I

FUNDAMENTOS DA TUTORIA EM EAD NO BRASIL


Professora Me. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

Objetivos de Aprendizagem

• Analisar a tutoria em uma perspectiva histórica.


• Discutir a tutoria no contexto da modalidade a distância no Brasil.
• Diferenciar as distintas modalidades de tutoria na EAD.
• Definir o conceito de tutor e o papel por ele exercido no processo de ensino-aprendizagem no ensino
a distância.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Tutoria: um pouco de História


• A tutoria no contexto da EAD brasileira
• Tutor: definição de conceitos e papéis
14 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância
INTRODUÇÃO

Prezado acadêmico,

Nesta primeira unidade iremos discutir em uma perspectiva histórica a atividade de tutoria. Esse olhar
histórico se faz necessário a fim de compreender que a atividade de tutoria esteve presente em diferentes
épocas e diferentes lugares e culturas. Assim, antes de discutirmos a especificidade da modalidade a
distância, veremos como se desenvolveu a atividade tutorial acadêmica na Antiguidade, nas Universidades
Medievais e na Modernidade.

Claro que não se pode comparar a atividade de tutoria hoje em um processo educativo específico a
diferentes contextos históricos. Todavia, olhar historicamente é importante justamente para identificarmos
mudanças e para observarmos permanências. Em outras palavras: o que mudou e o que ficou. Dessa
maneira, percebemos que somos parte de uma história, de algo que nos precede e que nos influencia em
nossas práticas pedagógicas, de maneira direta ou indireta.

Após realizarmos essa incursão histórica, iremos iniciar uma análise sobre a tutoria no contexto da
EAD brasileira. Brevemente, vamos acompanhar o estabelecimento da EAD no Brasil a fim de discutir a
atividade de tutores no contexto da legalização da modalidade a distância. Para tanto, iremos analisar a
legislação que sugere parâmetros que serviram de modelo na construção da atividade tutorial para essa
modalidade em especial.

Por fim, mas não menos importante, convido você a acompanhar com bastante atenção os tipos de tutoria
existentes atualmente com o objetivo de definirmos quais os papéis dos distintos tipos de tutores. Para
além da nomenclatura distinta em diferentes instituições, o objetivo maior dessa última parte da unidade
é compreender a atividade de tutoria. Tal intento não é simples, especialmente por não existirem muitos
trabalhos acadêmicos específicos sobre a temática. Destarte, além de contar com algumas obras gerais
que trazem capítulos sobre o tema, quero aqui compartilhar com vocês minha experiência como tutora, os
desafios pelos quais passei e a consequente aprendizagem resultante desse processo.

Já adianto a você que o tutor é um educador. Assim sendo, ao fazermos nossa incursão histórica,
discorreremos, de modo geral, sobre o papel da educação e do educador, pois partiremos do pressuposto,
que depois aprofundaremos, de que o tutor é figura central na modalidade a distância no tocante ao
processo de ensino e aprendizagem, ou seja, o tutor é um professor antes mesmo de sua atividade de
tutoria. Afinal, na maioria dos casos, ele tem formação acadêmica em cursos de licenciatura, bem como
em grande parte dos casos, já atua como docente na educação básica, ou em outros níveis de ensino.

Espero que após esta unidade você possa se posicionar criticamente acerca da atividade de tutoria e,
além de poder argumentar, seja capaz de (re)pensar constantemente sua prática de tutoria, sua prática
docente, ou quaisquer atividades que estejam relacionadas e sejam pertinentes ao tema abordado.

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TUTORIA: UM POUCO DE HISTÓRIA

A tutoria acadêmica enquanto método de ensino surgiu nas primeiras universidades da Baixa Idade Média
na Europa. Todavia, este texto parte da premissa de que a atividade de tutoria caracteriza um processo
educativo em seu sentido lato, ou seja, em seu sentido mais amplo. Dessa forma, é com tal intuito que
recorreremos ao conceito de educação desde a Antiguidade até a modernidade, que fundamenta ainda
hoje as práticas pedagógicas. Não temos, porém, a pretensão de dar conta de toda a discussão relativa à
educação em todos os momentos delineados, pois se trata de um longo período, mas sim de pensarmos
juntos sobre como a educação é uma construção social, portanto, histórica.

Ao entender a função da tutoria como uma prática educativa, ampliamos a possibilidade de compreensão
dessa atividade, uma vez que ela deve ser inserida na totalidade das relações sociais, econômicas e
culturais. Não temos a pretensão de apresentar toda a história da educação, em função do formato do
texto e por não ser esse nosso foco. Assim, fica aqui registrada a justificativa de que o nosso retorno ao
passado nesta unidade tem a finalidade específica de responder a um questionamento: quem é o tutor e
qual o seu papel na modalidade a distância?

Feita tal ressalva, começaremos com uma pergunta bastante simples, mas com uma resposta nem tão
fácil de ser dada: o que é educação? Já que nos referimos à tutoria como processo educativo, de mediação
de ensino e aprendizagem, qual o histórico de tal relação?

Entre povos considerados primitivos como, por exemplo, algumas tribos indígenas, a educação se
caracterizava por ser individualizada, imitativa e possuía como objetivo a transmissão da herança cultural
a fim de sobreviver e interpretar o mundo. O papel de educador era legado aos líderes espirituais da tribo
e aos mais velhos, considerados mais sábios. Esses educadores mediavam o aprendizado dos mais
jovens e auxiliavam o aprendiz a conhecer a natureza (GEIB et al., 2007).

Fonte: <http://www.peixotoonline.com.br/popup.html?http://
www.peixotoonline.com.br/img_not/escola.indigena.jpg>

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Aqui, podemos abrir um importante parêntese na tentativa de responder à nossa primeira questão. A
educação pode ser compreendida em seu aspecto não formal e formal. De modo geral, somos educados
desde o nosso nascimento e aprendemos em diferentes esferas sociais. Assim, pode-se compreender a
educação formal como aquela que acontece em instituições com o fim específico de educar, entre elas, a
partir da modernidade, se destaca a escola. Contudo, em todas as relações onde acontece aprendizado,
por exemplo, na família, no mundo do trabalho, na Igreja, pode-se entender como educação. Amplia-se,
dessa maneira, o conceito de educação para além dos muros escolares (BRANDÃO, 2007).

Fonte: PHOTOS.COM
Educação não: educações

A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA (GRÉCIA E ROMA)


Fonte: PHOTOS.COM

Filósofos e seus pupilos na Antiguidade Clássica

Falar da educação formal e falar da sistematização do ensino é demarcar o período de sistematização da


própria comunicação humana. Com a cultura letrada temos a possibilidade de ampliação e sistematização

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da cultura e seu ensino. Assim, temos que remeter à civilização greco-romana, considerada o berço da
civilização ocidental, para compreender a nossa própria concepção de educação:
A Antigüidade, também em pedagogia e educação, consigna ao Ocidente as suas estruturas mais
profundas: a identidade da família, a organização do Estado, a instituição-escola, mitos educativos
(nas fábulas, por exemplo) e ritos de passagem (da infância, da adolescência), um rico mostruário de
modelos socioeducativos, que vão desde a polis grega até a res publica romana, características que
se sobrepõem, se entrecortam, se entrelaçam até formar o riquíssimo tecido da educação ocidental
(CAMBI, 1999, p.37).

Retornar à Antiguidade Clássica se justifica em nossa tentativa de compreensão do histórico das relações
educativas, pois:
Da maneira como existe entre nós, a educação surge na Grécia e vai para Roma, ao longo de
muitos séculos da história de espartanos, atenienses e romanos. Deles deriva todo o nosso sistema
de ensino e, sobre a educação que havia em Atenas, até mesmo as sociedades capitalistas mais
tecnologicamente avançadas têm feito poucas inovações. Talvez estejam, portanto, entre os seus
inventos e escolas, algumas das respostas às nossas perguntas (BRANDÃO, 2007, p.35).

Outro relevante legado da Antiguidade grega é a sistematização do pensamento crítico que estabelece
diferentes modelos educativos e uma proposta de educação universalizante, a Paidia, que destinava
diferentes tipos de educação aos diferentes estratos sociais. Assim, temos a divisão de uma educação
para os nobres e outra aos plebeus.

Na Grécia “o ensino era ministrado pelos tutores, escolhidos pelos critérios da estima mútua, afetividade
e amizade. Os tutores eram responsáveis pela educação sobre honra, justiça, patriotismo, espírito de
sacrifício, autodomínio e honestidade” (GEIB et al., 2007, p. 218).

Em Roma também se percebia a diferenciação da educação formal destinada à elite, no caso específico
de Roma, aos cidadãos. Surge também a figura do paedagogo (da qual deriva a palavra em língua
portuguesa “pedagogo”), o escravo responsável por conduzir a criança nobre até a escola, e era uma
espécie de tutor que era responsável e mediava a formação (BRANDÃO, 2007; CAMBI, 1999).

Quanto à educação em Roma, pode-se afirmar que


[...] ela contribuiu com uma postura pragmática, orientada pelo critério da utilidade e da eficácia.
Preocupada com a formação do caráter moral, a educação era de responsabilidade da família e,
secundariamente, da escola, que funcionava em casas particulares, ruas, praças ou edificações
públicas, com um ensino considerado lúdico quando comparado à educação recebida no lar (GEIB
et al., 2007, p. 218).

No que diz respeito ao educador romano, “provavelmente a evolução histórica foi do escravo pedagogo
e mestre na própria família ao escravo mestre das crianças de várias familie [preceptor/tutor], ao escravo
libertus que ensina na sua própria escola” (MANACORDA, 2000).

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A UNIVERSIDADE MEDIEVAL E A GÊNESE DA TUTORIA

Universidade Medieval: o início da tutoria acadêmica


Fonte: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Ashmolean.jpg>

A educação medieval deve ser compreendida em uma perspectiva religiosa de ver o mundo. O
teocentrismo fundamentava as explicações sobre a natureza, e a educação formal nesse período era
privilégio dos nobres. Aos servos era destinada uma formação pautada na conformação e na aceitação
de sua condição na vida terrena, a qual preparava para uma vida após a morte.

Por volta do século XII, momento denominado de Renascimento Comercial e das Cidades, instalaram-se
pequenas escolas no ambiente urbano, com a finalidade de ensinar os ofícios. Os professores eram leigos
e sua nomeação era feita pelas autoridades municipais (GEIB et al., 2007, p.218).

Aos poucos foram surgindo e multiplicando-se esses espaços de educação formal. As aulas eram
oferecidas, em geral, pelos mestres artesãos em suas oficinas, os quais cobravam por esse ensino.
Paulatinamente temos escolas livres, leigas e particulares nas principais cidades que nasciam do comércio
na Baixa Idade Média.

A princípio, o ensino superior desenvolveu-se e organizou-se a partir dessas escolas livres, que ficavam
sob a responsabilidade do mestre artesão. A reunião de professores e alunos em corporações deu origem,
no século XII, às universidades. Foi na Itália, mais especificamente em Nápoles, que em 1224 surgiu a

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primeira universidade a conferir aos estudantes, ao concluírem seus estudos, uma licença para lecionar,
antes dada somente pela Igreja. Esse caráter independente caracterizou a universidade medieval como
importante espaço de produção do conhecimento (OLIVEIRA, 2007).

Nesse contexto se insere o início das atividades de tutoria. O aluno que pretendia obter tal licença deveria
“ficar sob a responsabilidade de um mestre até dominar certas habilidades, como a leitura de textos, a
definição de palavras, o significado de frases e outras” (GEIB et al., 2007, p.218). Assim que adquirisse tal
domínio, “ensinava, sob supervisão docente, a alunos mais jovens. Vê-se, assim, que o papel de tutor e
monitor está presente na origem da universidade” (Idem, Ibdem).

Ainda sobre o nascimento do sistema tutorial, não podemos perder de vista o modo religioso de ver o
mundo na medievalidade. Assim, a tutoria era uma prática educativa que consistia em uma orientação
religiosa e moral que objetivava inculcar nos estudantes tanto a fé quanto uma conduta moral (SÁ, 1998).
Compreender o mundo em uma perspectiva religiosa estava no horizonte da educação medieval. Dessa
forma, a definição de tutor nesse modelo pode ser compreendida como um protetor, um guia.

Agora que você já conhece que a origem histórica da atividade de tutoria está diretamente relacionada
ao surgimento das universidades medievais, vamos direcionar nosso olhar para a modernidade, momento
que construiu as bases econômicas, sociais, científicas e filosóficas da sociedade na qual vivemos hoje.

Falar da modernidade em poucas linhas é tarefa difícil. Não delinearemos aqui suas características,
somente a apresentaremos na perspectiva da tutoria, pois esse é nosso objetivo nesta unidade.

Na modernidade, entre os séculos XVI e XVIII, se deu o fortalecimento da atividade tutorial, especialmente
com a sistematização da educação nos colégios (GEIB et al., 2007). O modelo de ensino tutorial consistia
em alunos que viviam no colégio, geralmente internos, e que tinham por função acompanhar as turmas
e auxiliar o professor no processo de ensino-aprendizagem. Assim, pode-se dizer que o tutor deveria ser
um guia, auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos.

Com a Revolução Industrial temos o movimento de enfraquecimento da figura do tutor, pois os colégios
passaram a dar espaço às universidades, que se organizaram em diferentes modelos nos diferentes
países. Frente às novas necessidades advindas da divisão do trabalho nas fábricas, a educação nos
colégios passou a priorizar a instrução e educar para o trabalho (GEIB et. al., 2007).

Assim, pode-se afirmar que o trabalho, ao longo de toda a história humana, é fator delimitador das
atividades educativas, e só podemos compreender a educação a partir das relações de produção da
sociedade.

O sentido que se deu à tutoria a partir do século XX é o que hoje norteia os atuais programas de educação
a distância. O tutor passou a ser entendido não como guia espiritual, ou ainda como protetor, mas como
aquele que acompanha e orienta os trabalhos acadêmicos (SÁ, 1998).

Vamos agora direcionar nossa discussão para a tutoria no contexto da EaD brasileira e, na sequência,

20 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


analisar nossa questão central: quem é, afinal, o tutor? Qual o seu papel na modalidade a distância?

A TUTORIA NO CONTEXTO DA EAD BRASILEIRA

Com a criação do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), temos a ampliação e crescimento da
modalidade a distância no Brasil, que se consolidou e foi legitimada com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação 9394/96. Não nos deteremos aqui em analisar o histórico do surgimento da EaD no Brasil,
tampouco das políticas públicas para a Educação a Distância, que vocês já tiveram oportunidade de
discutir em outras disciplinas.

Todavia, devemos enfatizar que não há uma regulamentação ou descrição específica para as atividades
de tutoria. Assim, de acordo com cada instituição, foi se construindo um modelo próprio de tutoria, que
vinha ao encontro das necessidades e estrutura de cada Instituição de Ensino Superior vinculada à EaD.
O sistema adotado é o de tutoria. Contudo, a forma como na prática essa atividade se desenvolve ainda
é um processo em construção.

No contexto da EaD brasileira, a tutoria é uma atividade que se difere de acordo com a estrutura de cada
instituição de ensino, que visa atender públicos específicos e com necessidades também diferenciadas.
As especificações dadas pela UAB da função dos tutores são amplas, e veremos tais especificações no
tópico a seguir desta unidade.

A partir das experiências de tutores e alguns estudos dedicados à temática, que ainda são escassos,
vêm se construindo modelos de tutoria, e características comuns aos tutores são colocadas em foco no
esforço de compreender a função, o papel e o lugar do tutor no processo de ensino e aprendizagem em
EaD. É importante frisar que não há um modelo único, e que a tutoria no contexto da EaD brasileira ainda
é um modelo em construção, do qual todos vocês, agora, fazem parte.


TUTOR: DEFINIÇÃO DE CONCEITOS E PAPÉIS

Não há um receituário pronto para dizer quem é o tutor e qual o seu papel. Como a atividade de tutoria
está em construção, os modelos vêm sendo construídos a partir de estudos e, sobretudo, da experiência
de tutores, o que se acrescenta à compreensão e debate da questão.

Segundo o dicionário on-line Michaelis, a palavra tutor é assim definida:


tu.tor
sm (lat tutore) 1 Dir Aquele que, por disposição testamentária ou por decisão do juiz, está encarregado
de uma tutela ou tutoria. 2 O que protege, ampara ou dirige; defensor. 3 Agr Estaca ou vara cravada
no solo, para amparar e segurar uma planta cujo caule é flexível ou demasiado débil. T. dativo: o
que exerce a tutela dativa. T. legítimo: o que exerce a tutela legítima. T. testamentário: o que exerce
a tutela testamentária.

Percebemos que a palavra tutor ainda é muito utilizada no cotidiano com o primeiro sentido trazido pelo

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 21


dicionário Michaelis, ou seja, no âmbito do Direito. Todavia, com a expansão e consolidação da modalidade
a distância, cada vez mais, a palavra tutor adquire outro sentido no vocabulário dos envolvidos direta e
indiretamente com essa modalidade de ensino.

Gostaria de chamar a atenção de você, caro acadêmico, para a segunda e terceira definições do
dicionário. Temos que o tutor é alguém que ampara, protege, dirige. O tutor seria um protetor, um defensor.
Poderíamos utilizar tal acepção no contexto da EaD? De certa maneira sim. Mas o tutor defende os alunos
de quem, ou de quê?

Não podemos esquecer que o tutor deve ser profissional e ter as atribuições acadêmicas para atuar
na orientação dos alunos. Todavia, assim como os alunos que iniciam a vida acadêmica no ensino
superior presencial, os alunos em EaD se deparam com novos conteúdos, bem como com uma diferente
organização das aulas. Não é incomum alguns alunos pensarem em desistir do curso logo no início, além
dos altos índices de evasão nessa modalidade.

No caso de cursos de pós-graduação, também temos a dificuldade de interação e integração. Assim, as


definições apresentadas de protetor, defensor, caberia na atividade de tutoria em EaD, no sentido de que
cabe ao tutor amparar aos alunos para além das questões acadêmicas, pedagógicas, administrativas e
burocráticas, afinal, lidamos com seres humanos, e fazer com que os alunos se sintam parte de um grupo
em EaD é tarefa difícil, porém necessária. Especialmente para diminuir os índices de evasão.

Pensando na terceira definição, por analogia, nosso aluno que acaba de ingressar em um curso superior
ou em um curso de pós-graduação lato sensu (especialização), seria a raiz flexível, e cabe ao tutor, que
acompanha o aluno por mais tempo que o professor das disciplinas, ser a estaca que permitirá que o
aluno cresça em seu conhecimento.

Para além das definições, quando o tutor inicia suas atividades se depara com uma questão fundamental:
qual o meu lugar nesse processo? Tal dúvida surge, sobretudo, porque há na estrutura dos cursos EaD,
além da figura do tutor, a figura de um professor. É o professor quem produz o material didático, propõe
atividades, elabora as avaliações, grava as aulas e ministra as web-conferências, ou seja, é aquele quem
organiza a disciplina.

Compartilhando minha experiência pessoal, nesse contexto, o tutor, que majoritariamente é professor
nos diferentes níveis de ensino (exceto em cursos que não são licenciaturas, mas que não são a maioria,
como, por exemplo, os cursos de administração), vê-se frustrado por não poder conduzir o processo
de ensino-aprendizagem, e por ter que respeitar a visão teórica do professor a fim de não confundir o
aluno. Além disso, ainda com base em minha experiência de atuação na tutoria, a função que a princípio
é delegada ao tutor é o auxílio aos alunos em termos de conteúdo. Todavia, por recebermos turmas
heterogêneas quanto à idade e na familiaridade no uso da tecnologia, acabamos tendo que atuar também
no âmbito do auxílio à escrita, interpretação de textos e, especialmente no início, o auxílio no tocante ao
AVA, às ferramentas de ensino, entre outros suportes que se refiram ao uso das tecnologias de informação
comunicacionais (TICS).

22 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


Chegamos aqui no ponto central de nossa discussão. Para além de definições teóricas e conceitos, qual
é, na prática e em linha gerais, o papel do tutor? Qual a sua função?

De modo geral, o tutor:


[...] tem como papel central o apoio docente a um professor. Esse apoio geralmente se dá em
uma das disciplinas de um curso, na sua preparação de material didático e no acompanhamento
das atividades desenvolvidas. Espera-se também que este seja responsável pelas ferramentas
de avaliação, assim como, na análise dos trabalhos dos alunos. Além disso, tem por tarefa o
encaminhamento de dúvidas dos alunos aos professores, promovendo maior interatividade entre os
mesmos, e com o corpo docente. Atua, ainda, no esclarecimento de dúvidas dos alunos através de
e-mail, fórum, telefone ou pessoalmente, no recebimento e controle de entrega dos trabalhos. [...]
Um ponto fundamental é estar atento às necessidades do aluno, fazendo pontes entre as demandas
dos alunos e propostas do professor, podendo agir de maneira a solucionar as questões tanto
teóricas quanto de situações do dia-a-dia. Isso quer dizer que o tutor deverá estar atento no nível de
interatividade dos alunos, para então identificar quais alunos não estão interagindo e tentar resgatar
a relação interativa (JAEGER; ACORSSI, s.d, s.p.).

As discussões atuais sobre EaD consideram que o tutor é mais que um suporte ou guia, tal qual a acepção
da Idade Média. Parte-se do pressuposto que o tutor é um educador, e que seu papel deve:
[...] extrapolar os limites conceituais, impostos na sua nomenclatura, já que ele, em sua missão
precípua, é educador como os demais envolvidos no processo de gestão, acompanhamento e ava-
liação dos programas. O tutor é tênue fio de ligação entre os extremos do sistema instituição-aluno
(GONZALEZ, 2005, p. 80).

Percebemos uma ressignificação do papel do tutor, que passa a ser compreendido como parte importante
e fundamental na mediação do processo de ensino-aprendizagem (PEREIRA, 2009).

Podem-se destacar duas principais funções: atendimento aos alunos e assessoria aos professores
das disciplinas. Quanto à primeira função, “o tutor deverá prestar atendimento aos alunos distantes
e presenciais, via e-mail, telefone, fórum, chat e pessoalmente no que se refere tanto a questões de
conteúdos quanto questões técnicas” (Idem, ibdem).

Quanto ao seu papel junto ao professor, é importante a atuação dos tutores no papel de “auxiliar o
professor na contextualização de sua disciplina dentro do curso e do próprio EAD, juntamente com a
coordenação do curso. Isto se refere tanto a questões de conteúdo quanto a questões estruturais do
próprio EAD” (Idem, ibdem).

Dada a característica da não obrigatoriedade da frequência diária às aulas, é necessária, na estrutura


organizacional da EaD, a criação de polos de apoio presenciais. Os polos devem dar suporte para que
os alunos desenvolvam suas atividades, tanto no que diz respeito aos aspectos tecnológicos quanto nos
administrativos e pedagógicos (PEREIRA, 2009).

Podemos listar algumas das funções do tutor, que, de modo algum, é definitiva. O papel do tutor pode ser
assim resumido:
• comentar os trabalhos realizados pelos alunos;
• corrigir as avaliações dos estudantes;
• ajudá-los a compreender os materiais do curso através das discussões e explicações;

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 23


• responder às questões sobre a instituição;
• ajudar os alunos a planejarem seus trabalhos;
• organizar círculos de estudo;
• fornecer informações por telefone, fac-símile e e-mail;
• supervisionar trabalhos práticos e projetos;
• atualizar informações sobre o progresso dos estudantes;
• fornecer feedback aos coordenadores sobre os materiais dos cursos e as dificuldades dos
estudantes; e
• servir de intermediário entre a instituição e os alunos. (NISKIER, 1999, p.393)

O tutor se apresenta como o elo entre os conteúdos e os alunos, entre alunos e professores e ainda entre
os alunos e a instituição. O papel da mediação é central na modalidade a distância, e quem exerce essa
função mediadora é o tutor-educador.

CONTEÚDO

PROFESSOR TUTOR ALUNO

INSTITUIÇÃO

Agora que já fizemos uma reflexão sobre quem é o tutor no contexto da EaD atualmente, é necessário
diferenciarmos os tipos de tutoria. No tocante ao aspecto pedagógico, há dois tipos de atividade de tutoria
que visam ao acompanhamento dos alunos. Podemos definir, de modo geral, como a tutoria presencial e
a tutoria a distância. Vejamos cada atividade de tutoria específica, bem como, em linhas gerais, o papel
de cada um desses tutores.

Assim como há diferentes modelos de tutoria, há distintas nomenclaturas para designar os tutores que
estão no polo e aqueles que estão distantes dos alunos. Os tutores que acompanham os alunos no polo
são chamados de tutores presenciais. Já aqueles que fazem o acompanhamento nos ambientes virtuais
são chamados de tutores a distância, on-line ou ainda virtuais.

O tutor presencial é aquele que, como o nome sugere, está no polo de apoio presencial a fim de auxiliar
os alunos. Quanto à sua função:
É papel do tutor presencial auxiliar o estudante a resolver dúvidas referentes à utilização dos recursos
tecnológicos necessários ao desenvolvimento das atividades presentes no AVA. Para tanto, deve
eleger como fundamental em sua interação: dar feedback positivo ao estudante e em linguagem
apropriada; organizar e executar as atividades programadas para as atividades e avaliações
presenciais dos alunos; auxiliar a coordenação de pólo em atividades relativas à matrícula de alunos;
ajudar os estudantes a organizar sua agenda de estudos e orientá-los a encaminhar suas dúvidas
para o setor responsável por resolvê-las (ROSSETI; ALVES, 2008, pp. 6-7).

24 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


O tutor presencial é aquele com quem os alunos têm mais contato, pois é ele quem está disponível no polo
para atender às dúvidas dos alunos de forma presencial, além de auxiliá-los na utilização do computador,
do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), em questões administrativas entre outros. A partir de
minha experiência, esse tutor cria um vínculo afetivo maior com os alunos por estar presencialmente
acompanhando as atividades. Tomemos como exemplo as atividades desses tutores no Centro de
Educação Superior de Maringá (Cesumar). Segundo a coordenadora de tutores do Núcleo de Educação
a Distância do Cesumar, Vânia Felix, “é ele quem passa as dúvidas dos alunos para os professores, via
chat, aplica as provas e as encaminha ao Núcleo de Educação a Distância do Cesumar”1.

Já o tutor a distância, ou tutor/orientador on-line, está distante dos alunos e do polo e tem o papel
de aproximar os alunos da instituição, do mundo acadêmico e, em especial, de passar aos alunos
as orientações dos professores. Esses tutores são o elo entre alunos e instituição, já que entre suas
atribuições estão a de responder as dúvidas, propor debates, chats.

O contato entre esse tipo de tutor e os alunos se dá de modo virtual. Apesar de o Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) ser também acessado pelo tutor presencial, pode-se afirmar que ele é o espaço de
atuação preponderantemente do tutor on-line.

O tutor que atua distante dos alunos deve ser: comunicador, planejador, pedagogo e técnico em informática,
ou seja, um profissional polivalente. Além de mediar a aprendizagem, auxilia na produção de materiais
didáticos, é responsável pela difusão dos conteúdos e informações, e deve manter permanentemente a
avaliação de sua atuação com o intuito de aperfeiçoar o sistema de tutoria (NISKIER, 1999).

Fonte: PHOTOS.COM

Tutor virtual: elo entre alunos e instituição

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vamos relembrar alguns pontos importantes desta unidade? Percorremos a história da educação a fim de
compreender que em cada época e espaço a educação formou homens que atendessem às necessidades
da sociedade. Dessa forma, chegamos à conclusão de que não existe educação, mas sim educações,
uma vez que se trata de um fenômeno histórico, social e, portanto, não de algo natural.

Na sequência, vimos que historicamente, a atividade de tutoria está diretamente relacionada ao surgimento
1
Disponível em: <http://www.ead.cesumar.br/impriaensa/noticia.php?idNoticia=140>. Acesso em 20 jun. 2011.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 25


das universidades na Idade Média. Naquele contexto a palavra tutor estava relacionada à tutela, proteção.
O tutor era não somente um guia para além dos conteúdos, mas também um importante orientador no
que se refere à moral e à religião.

Todavia, essa concepção foi ressignificada a partir da contemporaneidade. Atualmente, um tutor não
é mais concebido somente como um guia, mas sim como um educador. Essa deve ser a premissa da
discussão sobre a função do tutor na modalidade a distância. Além disso, merece destaque a constatação
de que não há um modelo único de tutoria, e que a atividade está em construção. Cada instituição tem um
modelo distinto em função das necessidades dos alunos e especificidades regionais, por exemplo. O que
nos possibilita embasar as discussões acerca da temática são majoritariamente relatos de experiência de
outros tutores.

De modo geral, há dois tipos de tutores: o tutor presencial e o tutor a distância. A nomenclatura varia de
acordo com a instituição, mas encontramos na literatura a respeito do tema as seguintes: tutor on-line,
tutor virtual entre outros. O tutor presencial é aquele que fica no polo de apoio presencial, sendo, portanto,
aquele que se relaciona com os alunos de maneira direta. Entre suas atribuições estão aquelas relativas ao
conteúdo, aos encaminhamentos administrativos, à aplicação de provas, à organização das salas. Enfim,
é aquele tutor que organiza o cotidiano da turma, assim como se organiza uma sala de aula convencional,
com a diferença de não haver encontros diários obrigatórios com os alunos. Apesar de haver uma ligação
maior com os alunos devido ao maior contato presencial, não podemos esquecer o aspecto profissional.
Já o tutor virtual, como o nome sugere, atua nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, assessorando não
somente os alunos, mas também os professores das disciplinas. Pode-se definir esse tutor como a ligação
entre conteúdos, professores, instituições e alunos. Geralmente é o responsável pela abertura dos fóruns
de discussão de conteúdo, pelos chats, enfim, por utilizar todas as ferramentas de ensino disponíveis nas
plataformas virtuais. Além disso, é aquele que esclarece as dúvidas dos alunos, faz o contato entre eles
e o professor e faz as correções das avaliações e atividades propostas pelo professor.

Agora que você fez uma reflexão sobre essa importante atividade, tanto histórica quanto acerca da atual
modalidade EaD, espero que se sinta parte importante na construção de um modelo de tutoria e, mais que
isso, na busca de uma didática específica para a atuação desses profissionais da educação, que devem
ser reconhecidos como viga mestra do processo de ensino-aprendizagem na modalidade a distância para
que se concretize sua valorização.

“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende” (João Guimarães Rosa/Grande Sertão:
Veredas).

26 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


Fundamentos da Tutoria em Educação a Distância
Disponível em: <http://www.avercamp.com.br/livros/fundamead.htm>. Acesso em: 10 jun. 2011.

De Mathias Gonzalez

A forma de oferecer Educação a Distância (EAD) não é nova. Sabe-se que há mais de 160 anos os ingleses
iniciaram a prática de enviar cursos nas mais diferentes áreas, via correspondência postal. No Brasil, o ensino
por correspondência também já completou mais de cem anos. A Educação a Distância foi oficializada no país por
meio da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, lei 9394, de 20 de dezembro de 1996.
Dos tradicionais métodos à diversidade de cursos atualmente disponíveis que podem se utilizar dos avanços
da tecnologia da informação colocada à nossa disposição por ferramentas como tele e videoconferências inte-
rativas, CDROMs, internet dentre outras, a EAD experimentou um crescimento e uma eficácia pedagógica sem
precedentes e desponta com uma possibilidade de se tornar um meio de transferência de conhecimento, de (in)
formação e inclusão digital e social de alcance inimaginável.
Neste cenário de EAD existe um personagem de fundamental importância: o professor-tutor a quem cabe mediar
todo o desenvolvimento do curso. É ele quem responderá as dúvidas apresentadas pelos estudantes, no que
diz respeito ao conteúdo da disciplina oferecida. A ele caberá também mediar a participação dos estudantes nos
chats, estimulá-los a tomar parte, cumprir suas tarefas, atingir os objetivos propostos e avaliar a participação
de cada um. E é nesse ponto que o autor emprega boa parte de seu conhecimento e experiência nesta área: a
tutoria em Educação a Distância.
É um manual, escrito de forma clara e didática, que será extremamente proveitoso para aqueles que pretendem
iniciar suas atividades nesta fascinante jornada, bem como para aqueles que já deram seus primeiros passos.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 27


Tabela I – Paralelo entre as Funções do Professor e do Tutor

EDUCAÇÃO PRESENCIAL EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Conduzida pelo Professor. Acompanhada pelo tutor.
Predomínio de exposições o tempo inteiro. Atendimento ao aluno em consultas individualizadas ou em
grupo, em situações em que o tutor mais ouve do que fala.
Processo centrado no professor. Processo centrado no aluno.
Processo como fonte central de informação. Diversificadas fontes de informações (material impresso e
multimeios).
Convivência, em um mesmo ambiente físico, de Interatividade entre aluno e tutor sob outras formas, não
professores e alunos, o tempo inteiro descartada a ocasião para os “momentos presenciais”.
Ritmo de processo ditado pelo professor. Ritmo determinado pelo aluno dentro de seus próprios
parâmetros
Contato face a face entre professor e aluno. Múltiplas formas de contato, incluída a ocasional face a face.
Elaboração, controle e correção das avaliações Avaliação de acordo com parâmetros definidos, em comum
pelo professor. acordo, pelo tutor e pelo aluno.
Atendimento, pelo professor, nos rígidos Atendimento pelo tutor, com flexíveis horários, lugares distintos
horários de orientação e sala de aula. e meios diversos.

Fonte: SÁ, Iranita. Educação a Distância: processo contínuo de inclusão social. CEC: Fortaleza, 1998, p.47.

ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

01. A partir da reflexão feita no início desta unidade, comente a afirmação: não existe educação, mas
sim educações.
02. Escreva um pequeno texto que sintetize a relação ensino-aprendizagem na Antiguidade Clássica
(Grécia e Roma antigas).
03. Vimos que o surgimento da tutoria, como método didático, data do século XV. Comente a respeito
da figura do tutor no contexto das universidades medievais.
04. Escreva um pequeno texto que contemple uma discussão sobre a definição do conceito de tutor e
uma reflexão sobre o tutor no contexto da EaD.
05. Vimos que houve uma ressignificação da concepção da função do tutor no contexto da EaD. Escre-
va em linhas gerais qual é o papel do tutor nessa modalidade.
06. O sistema de tutoria na EaD apresenta dois tipos de tutores com distintas funções. Indique quais
são e suas diferentes atribuições no contexto de ensino-aprendizagem.

28 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


Trecho retirado de GEIB et.al. (2009)

[...]
A TUTORIA NOS DIFERENTES MODELOS DE UNIVERSIDADE

Modelo Francês
O modelo francês orientou-se pela concepção napoleônica de universidade a serviço do Estado. Com adminis-
tração centralizada e submissão total aos interesses estatais, a universidade francesa formava os profissionais
de que o Estado necessitava, com hierarquias sociais e intelectuais evidenciadas nos custos e duração dos
estudos. A valorização das profissões liberais em detrimento da má remuneração do magistério atingia também
os docentes do ensino superior, obrigando-os a buscarem rendimentos complementares e múltiplas funções
(docentes, administrativas).
A centralização e ausência de autonomia, de ritos de juramento dos professores de fidelidade absoluta aos inte-
resses do Estado, lógica liberal e de desigualdade, investimentos mínimos em bibliotecas, laboratórios e pessoal,
a preocupação parecia mais voltada a garantir a tirania estatal e o monopólio do diploma obtido em programas
uniformes do que em fornecer uma formação humanizada e qualificada por meio de programas tutoriais. A opres-
são e a submissão de docentes e discentes contrapunham-se às iniciativas libertadoras, estas só existentes nas
sociedades secretas, onde os estudantes se iniciavam nos combates ideológicos.

Modelo Inglês
O modelo inglês caracteriza-se por instituições de formação moral e preparação profissional. É educativo por
excelência. Essa educação universal se apóia nos princípios da liberdade, eqüidade, ponderação, moderação
e sabedoria. Coerente com esses princípios, mantém internatos e tutorias nas universidades com o propósito
de formar o gentleman, possuidor de inteligência cultivada, gosto refinado, espírito leal, justo e severo, conduta
nobre e cortês, acompanhadas por um vasto saber.
Científica e humanista, a universidade inglesa não prescinde da tutoria na formação da personalidade, base de
sustentação da educação universal adotada neste modelo.

Modelo Norte-Americano
De inspiração inglesa, a universidade norte-americana, na sua fase inicial, incorporou o sistema de internato, o
ensino geral literário e religioso e o tutorado, por meio do qual garantia a formação moral, considerada tão im-
portante quanto a intelectual. Aos poucos, no entanto, foi adquirindo características próprias de integração com
as empresas.
A democratização do ensino superior contribuiu para a sua rápida expansão, havendo uma multiplicidade e
diversidade de instituições, predominando as formações pragmáticas, responsáveis pelo alto grau de desenvol-
vimento tecnológico e de interação empresa-universidade. A preocupação com a liberdade e a educação moral
foi esmaecendo, assim como a função tutorial.

Modelo Alemão
O modelo alemão foi orientado por correntes filosóficas defensoras da busca da verdade como direito da huma-
nidade. O ensino seria decorrência da pesquisa e deveria “estimular a reflexão pessoal, pois professor e aluno
trabalham juntos, como iguais, livres e responsáveis”. A tutoria torna-se um processo mediador na formação
acadêmica, pois o estudante assume a responsabilidade por si próprio, enquanto o professor o faz participar pela
sua liberdade da criação intelectual.
Esse processo aproxima-se da nossa concepção de modelo tutorial por favorecer a emancipação pessoal e aca-
dêmica, na qual o aluno universitário obtém a sua formação humanística (dimensão cuidativa) e técnico-científica
(dimensão educativa) num clima de igualdade, liberdade e responsabilidade.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 29


A TUTORIA NA ATUALIDADE

A experiência tutorial atual em alguns cursos universitários brasileiros tem evidenciado, em seus contextos edu-
cacionais, modalidades educativas que buscam facilitar e qualificar efetivamente a aprendizagem dos alunos,
dentro das demandas de conhecimento do mundo globalizado, muito embora de forma diversificada.
Para o Centro de Desenvolvimento da Educação Médica da Universidade de São Paulo, tutorar significa cuidar,
proteger, amparar, defender e assistir, tendo a atividade tutorial, no âmbito da educação, o sentido de acompa-
nhamento próximo, orientação sistemática de grupos de alunos, realizada por pessoas experientes na área de
formação.
O tutor, segundo esse entendimento, é um importante exemplo, no qual o aluno busca se identificar relativamente
a conhecimentos, habilidades e atitudes. Deve ter senso de coesão grupal e apresentar atributos pessoais que
contemplem paciência e tolerância, senso ético, autenticidade, comunicação efetiva; que saiba conter suas emo-
ções bem como as do grupo e que goste e acredite nos benefícios das atividades grupais. O processo tutorial é
presencial, consistindo de um recurso psicopedagógico para a formação do profissional envolvido e comprome-
tido com competências técnicas e relacionais para o exercício da profissão.
O crescente ingresso de estudantes na universidade, os avanços tecnológicos, as dificuldades de adaptação
dos alunos aos horários, as relações interpessoais, a estrutura universitária, a distância física dos campi, entre
outros, têm despertado nos meios acadêmicos a necessidade de ampliar as formas convencionais de trabalhar
a educação.
A proposta de tutoria da Associação Brasileira de Ensino a Distância surge na modalidade de educação a dis-
tância, que objetiva ampliar a visão do aluno para o processo de construção de seu conhecimento. Esse espaço
acadêmico, com recursos virtuais de comunicação, possibilita interatividade através de orientações, discussões
e indicações de fontes bibliográficas entre o professor tutor e os alunos, sendo essencial ao tutor que esteja
plenamente consciente do seu papel, domine o conteúdo a ser trabalhado e, essencialmente, saiba “para quê”
e o “significado do proposto”.
O tutor, nessa modalidade educativa, significa professor e educador, ampliando o entendimento de proteção,
defesa, amparo, direção ou, mesmo, tutela de alguém, devendo desenvolver capacidades, valores, atitudes,
disposição e estratégias motivacionais de apoio à autonomia de seus alunos, possibilitando o encontro da subje-
tividade ética para a tomada de decisão.

Texto completo disponível em:


<http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n2/a16v60n2.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2011.

30 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


UNIDADE II

TUTORIA: COMPETÊNCIAS E DESAFIOS


Professora Me. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

Objetivos de Aprendizagem

• Analisar as competências e desafios na atividade de tutoria.


• Refletir sobre a formação e o perfil do tutor-educador.
• Elencar as competências do tutor.
• Relacionar a atividade de tutoria ao domínio das Tecnologias da Informação e Comunicacionais
(TICs).

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Formação e Perfil do tutor em EaD


• Competências de tutoria em EaD
• O tutor e as Tecnologias da Informação e Comunicacionais (TICs)
INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

Verificar nossos e-mails, curtir ou comentar uma publicação de amigos em redes sociais, ou ainda pagar
contas via internet banking (páginas virtuais dos bancos) se tornaram atividades corriqueiras para muitos
brasileiros. Mas apesar do uso cada vez maior das ferramentas virtuais, não podemos esquecer as
diferentes realidades em nosso país. Posso lhes dizer que alguns dos meus alunos nos cursos a distância
não possuíam computador ou internet disponíveis, principalmente alguns que moravam em pequenos
centros urbanos ou nas zonas rurais. Não podemos partir do princípio de que todos os nossos alunos
possuem o domínio da tecnologia. Por essa razão, o tutor deve estar preparado também para auxiliar os
alunos nesse aspecto.

Pressupõe-se que em qualquer atividade profissional é necessária uma sólida formação acadêmica. No
caso da atividade de tutoria não é diferente. Todavia, na modalidade a distância não basta que o tutor-
-educador tenha uma qualificação certificada no que diz respeito aos conteúdos da área do conhecimento
na qual irá atuar. Como ele possui uma função central e de mediação na EaD, o processo de formação e
a atuação desse tutor devem ser dialógicas. Mas o que isso que dizer?

O diálogo como centro do ensino e aprendizagem é importante em qualquer modalidade de ensino, mas
na modalidade a distância se torna fundamental. Aqui está o desafio na formação dos profissionais que
irão atuar na mediação do conhecimento nessa modalidade: como utilizar as ferramentas disponíveis da
melhor forma possível a fim de auxiliar os alunos em sua aprendizagem? Em outras palavras: como se
comunicar pelos diferentes canais existentes atualmente? O objetivo desta unidade é refletir sobre as
competências necessárias ao tutor para atuar na mediação do processo de ensino e aprendizagem na
EaD.

Na primeira parte desta unidade, intitulada Tutoria: competências e desafios, iniciaremos uma reflexão
sobre a formação e o perfil necessários para o exercício da função de tutor em EaD.

Na sequência, discutiremos as competências necessárias à atividade de tutoria, com base nos relatos
de experiência documentados e publicados em formato de artigos científicos. Eles nos auxiliam na
construção de um modelo de tutoria que ultrapassa o âmbito institucional e que, ao mesmo tempo, mantêm
as particularidades, assim como qualquer modalidade educacional deve manter.

Por fim, mas não menos importante, será abordada a relação entre tutor e tecnologia. Para realizarmos
nossa análise, serão discutidas questões como as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e a
didática comunicacional, ou seja, a capacidade do tutor em utilizar as tecnologias para se comunicar com
os alunos e envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Parece simples se comunicar enviando, por exemplo, uma mensagem por meio dos canais hoje muito
difundidos. Mas você já foi mal interpretado (ou conhece alguém que já foi) ao escrever um e-mail a

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 33


alguém? Fica difícil expressar empatia na palavra escrita. Quando estamos presencialmente, podemos
sanar qualquer mal-entendido explicando oralmente o que dissemos, ou recorrermos à linguagem
corporal. Mas como expressar simpatia, compreensão e apoio virtualmente e exclusivamente pela escrita?
Informalmente nos habituamos a utilizar os emoticons - aqueles símbolos que expressam os sentimentos
- em nossos diálogos virtuais. Todavia, no caso de um curso superior ou pós-graduação eles não devem
ser utilizados para manter a qualidade acadêmica.

A relação com as “novas” tecnologias é muito discutida atualmente, bem como seu uso pelos profissionais
da educação. Em que medida a qualidade do ensino depende dessas tecnologias? Essa é a questão que
nos motiva a discutir o tema desta unidade. Espero que ao final dela, possamos juntos refletir sobre o papel
da tecnologia na modalidade a distância, a fim de que não responsabilizemos máquinas pelos sucesso
ou fracassos da educação, de modo geral, e da educação a distância, em específico. Compreender a
diferença entre técnica e conhecimento, bem como o domínio de ambos por parte dos tutores amplia
nosso olhar para a compreensão da educação como formação humana, não como mero condicionamento
técnico.

FORMAÇÃO E PERFIL DO TUTOR EM EAD

Duas são as premissas para aqueles que pretendem atuar na EaD: interatividade e diálogo. Sem esses
dois eixos norteadores as atividades não podem ser desenvolvidas de modo a assegurar o processo de
aprendizagem. Mas estar na modalidade a distância é também um aprendizado para muitos educadores,
um desafio, e que deve ser levado em consideração. Especialmente um aprendizado em termos de
relações interpessoais e domínio das ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente. O objetivo desta
parte da segunda unidade é discutir a formação e o perfil dos tutores em EaD.
Fonte: PHOTOS.COM

Em primeiro lugar, o tutor deve ter uma preparação tanto acadêmica quanto em relações interpessoais:
Na formação acadêmica, pressupõem-se capacidade intelectual e domínio da matéria, destacando-

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-se as técnicas metodológicas e didáticas. Além disso, deve conhecer com profundidade os assun-
tos relacionados com a matéria e área profissional em foco. A habilidade para planejar, acompanhar
e avaliar atividades, bem como motivar o aluno para o estudo, também são relevantes. Na formação
pessoal, deve ser capaz de lidar com o heterogêneo quadro de alunos e ser possuidor de atri-
butos psicológicos e éticos: maturidade emocional, empatia com os alunos, habilidade de mediar
questões, liderança, cordialidade e, especialmente, a capacidade de ouvir (MACHADO; MACHADO,
2004, s/p).

No tocante à formação, as exigências geralmente são o ensino superior completo e, dependendo da


instituição e curso, cursos de pós-graduação, tanto lato sensu (especialização) quanto stricto sensu
(mestrado e doutorado).

Após a seleção, são oferecidos aos tutores cursos e treinamentos pelos núcleos de educação a distância
da própria instituição. Nesses cursos são debatidas questões sobre relações interpessoais e uso dos
Ambientes Virtuais de Akprendizagem. Esses cursos e treinamentos são organizados geralmente pelo
coordenador de tutoria, com o auxílio de toda a equipe técnica e pedagógica.

O tutor precisa ainda ser comunicativo, criativo e ter a escrita como uma prática, a fim de se fazer
compreender com uma linguagem mais formal. O desafio do tutor é mediar o ensino de modo virtual.
Assim, o domínio da informática também é algo que precede a atividade de tutoria.

Como não há um modelo único de tutoria, como vimos na primeira unidade, cabe ao tutor estimular cada
grupo de alunos de acordo com suas necessidades específicas.

O tutor deve ter ainda uma atuação abrangente, que vai além do domínio dos conteúdos. Aqui se
apresenta um desafio, que é inerente do processo educativo na atualidade: tornar o processo de ensino e
aprendizagem mais atrativo, tarefa cada vez mais difícil em tempos de ampliação do acesso à informação.
Aqui cabe uma importante ressalva: informação não é conhecimento. Dessa maneira, o tutor é aquele
que, assim como o professor no ensino presencial, deve mediar o processo no qual o aluno irá transformar
informação em conhecimento. Em outras palavras, o domínio de uma técnica, ou a informação, não
significa necessariamente que o indivíduo conheça efetivamente o objeto de estudo.

O tutor-educador não deve somente dominar uma técnica, o uso da tecnologia, mas sim, ser capaz de
conhecer a realidade de sua prática, pesquisar e construir novos modelos, técnicas e ferramentas. Deve,
portanto, ser também um pesquisador, aprofundar as discussões teóricas sobre sua atividade e sobre a
EaD. Assim, será capaz de trazer novas práticas para essa modalidade a partir de sua reflexão crítica e
sua prática pedagógica.

Para Jaeger e Acorssi (s/d, s/p) para ser tutor:


é necessário que a pessoa apresente algumas características importantes, tais como: dinamismo,
visão crítica e global, responsabilidade, capacidade para lidar com situações novas e inesperadas e
saber trabalhar em equipe.
Para ingressar na atividade de tutoria, é necessário ter uma formação a nível superior e também
um interesse em desenvolver trabalhos ligados à academia, tendo em vista que as atividades
estão inseridas num contexto acadêmico. Além disso, o interesse por Educação a distância é uma
condição fundamental do tutor.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 35


Outro quesito fundamental: saber trabalhar em equipe. Ainda que no ensino presencial haja uma equipe
pedagógica, o trabalho na EaD é entrelaçado em rede, e o sucesso depende de todos que integram a
equipe.

Por fim, mesmo que óbvio, vale ressaltar: o tutor-educador deve acreditar na EaD, ter interesse por essa
modalidade, o que significa ser parte da luta e da história da consolidação dessa modalidade no Brasil.

Além dessas características gerais, vejamos a seguir as principais competências específicas que fazem
parte do perfil do tutor na modalidade a distância.

COMPETÊNCIAS DE TUTORIA EM EAD

Dentre as competências necessárias a um tutor, podemos destacar aquelas relativas às relações


humanas e às questões pedagógicas. Segundo Pereira (2009), são três as competências essenciais, no
que concerne às relações interpessoais.

A primeira consiste no respeito à diversidade humana, o que permite que o grupo se mantenha coeso.
Além disso, deve criar condições para um ambiente cordial entre os alunos, bem como evitar que surjam
atitudes preconceituosas.

Uma segunda consiste em estimular e promover o contato entre alunos. Como o número de encontros do
grupo é menor que no ensino presencial, onde estão todos os dias juntos, cabe ao tutor proporcionar ao
grupo a noção de pertencimento a um curso, a uma instituição. Fazer grupos de estudo, trocar telefones,
e-mails, proporciona a interação entre os alunos, e a formação de um grupo que compartilhará suas
experiências de aprendizagem, tanto de modo presencial nos encontros no polo de apoio quanto na
plataforma educacional virtual.

Por fim, cabe ainda ao tutor motivar os alunos diante das dificuldades. Ouvir os alunos e dar atenção pode
evitar a evasão. É necessário ser profissional, mas o diálogo como centro do ensino é fundamental na
mediação na modalidade a distância, e a figura central dessa mediação é o tutor-educador.

Já entre as competências pedagógicas, Pereira (2009) destaca seis. Primeiro, espera-se que o tutor-
-educador conheça o Projeto Político Pedagógico do curso. Isso possibilitará o conhecimento da estrutura
do curso como um todo. Tal conhecimento é importante, pois, além de assessorar os alunos, os tutores
têm como função, como vimos, assessorar os professores para que conheçam o curso em sua totalidade.
No projeto há informações, tais como “[...] os objetivos do curso, a linha pedagógica seguida, as ementas
das disciplinas que o aluno cursará, o perfil desejado do egresso [...]” (PEREIRA, 2009, p. 45).

Outra competência pedagógica do tutor-educador, e talvez uma das mais importantes, é ajudar os alunos
a organizarem seus estudos. Um dos equívocos atuais é acreditar que, por não haver a presença diária
obrigatória e a possibilidade de fazer seus próprios horários de estudos, fazer um curso a distância seja
mais fácil que um curso presencial. Essa mentalidade vem junto com alguns alunos que, ao perceberem

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o volume de trabalhos e o ritmo acelerado das disciplinas, acaba não dando conta de todas as atividades
solicitadas, e muitos acabam desistindo do curso. Além de auxiliar os alunos a organizar seu tempo para
dar conta de suas atividades acadêmicas, é interessante que haja uma orientação ao grupo logo no início
das atividades.

A terceira competência pedagógica é o domínio do conteúdo. Dessa maneira, o tutor-educador deve


conhecer previamente todo o material, atividades e avaliações a serem realizadas a fim de desenvolver
seu trabalho de orientação acadêmica da melhor forma possível.

A quarta competência diz respeito à mediação pedagógica. Não basta sanar as dúvidas dos alunos. O
tutor-educador deve ser a figura que orienta, sugere leituras complementares, indica sites, links, promove
debates nos fóruns... Ou seja, deve conduzir os alunos ao debate e à reflexão do conteúdo trabalhado
pelo professor da disciplina.

Uma quinta competência pode ser o acesso periódico ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Assim,
como há um cotidiano que se estabelece no modo presencial, a frequência diária ao AVA proporciona a
interação e uma rotina de estudos aos alunos, e uma rotina de trabalho aos tutores.

Por fim, o tutor deve estar apto a avaliar o aluno. Para tanto, deve ter acompanhamento e treinamento
didático-pedagógico. Participar de treinamentos e cursos oferecidos pela própria instituição é um dos
meios para se capacitar nesse quesito.

Se você já tem formação pedagógica, ou seja, cursou uma licenciatura, talvez algumas dessas questões
já sejam conhecidas. Mas pense: alguns cursos ofertados a distância não são da área educacional, logo,
os tutores não possuem essa formação. Assim sendo, ao trabalhar com um grupo de tutores, trace o
perfil e as necessidades para que essas e outras competências sejam desenvolvidas ou potencializadas.
Vamos pensar em um tutor do curso de Administração de Empresas, por exemplo. Ele não teve em sua
formação a capacitação para a correção de avaliações. Dessa maneira, é necessário que um trabalho
específico seja desenvolvido com esse tutor, a fim de capacitá-lo nas questões didático-pedagógicas.

Aqueles que já são professores, quando assumem a atividade de tutoria, devem ter em mente que o
ensino a distância é distinto do presencial quanto às ferramentas de ensino. Necessita, portanto, do
domínio dos recursos disponíveis, que são, sobretudo, aqueles relativos ao uso da informática e das
tecnologias da informação e de comunicação. Será essa a temática que abordaremos na sequência.

O TUTOR E AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs)

Ser tutor atualmente exige o domínio das tecnologias disponíveis que servem como ferramenta do
processo de ensino e aprendizagem. Apesar de ser um processo educativo formal tal qual o presencial,
os meios utilizados são distintos. Assim, faz-se necessário pensar uma nova didática para a modalidade
a distância.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 37


A ferramenta chave para pensar a atuação do tutor em EaD é a didática comunicacional, uma vez que o
sistema de tutoria adotado nessa modalidade necessita de competências específicas relativas ao domínio
das tecnologias disponíveis.

Você deve estar se questionando: afinal, o que são as TICs? Especialmente nos anos 1990, com a
popularização do computador pessoal, a forma de armazenar informações bem como difundi-las passou
a ser realizada em redes de computadores interligados (PRUDÊNCIO et al., 2009). A rede mundial de
computadores é considerada atualmente como importante fonte de informações e comunicação para
pessoas do mundo todo. O conjunto dessas informações e a ampliação das formas de comunicação em
rede podem ser definidos como TICs. Não há mais um padrão comunicacional unilateral, em que um
informa a todos. Pensando em uma sala de aula tradicional, não há mais um professor que informa aos
alunos. Não há uma fonte única de informação e são múltiplas as linguagens.

Fonte: PHOTOS.COM

O uso dessas ferramentas auxilia na interatividade tão necessária na modalidade a distância. Todavia,
à medida que o computador em rede proporciona novas formas de interação no processo de ensino e
aprendizagem, também gera novos desafios aos educadores (Idem, Ibdem).

Dada a especificidade da modalidade a distância, seu crescimento e consolidação estão intimamente


relacionados à expansão na utilização das TICs, uma vez que a:
[...] popularização da Internet e a modernização dos meios de comunicação possibilitaram a troca de
informações em qualquer parte do planeta onde existam computadores conectados à rede mundial.
O aluno pode, hoje, participar de disciplinas totalmente a distância utilizando uma grande quantidade
de ferramentas interativas disponibilizadas pelo professor. Este, por sua vez, necessita ministrar e

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administrar as suas disciplinas em qualquer lugar e a qualquer hora pela rede Internet (GERLING,
PASSERINO, 2005, p. 119).

Mas para organizar a interação em rede, as instituições desenvolvem locais específicos na internet, uma
espécie de “sala de aula virtual”. Os técnicos dos núcleos de educação a distância são os responsáveis
por criar e gerenciar esses ambientes virtuais. Dessa maneira, existem distintos ambientes que atendem
às necessidades de cada instituição, cursos e/ou grupos.

De modo geral, no que se refere à relação entre tutor e TICs, pode-se afirmar que é necessário que o
tutor:
1 - Conheça muito bem o Ambiente Virtual de Aprendizagem e as ferramentas disponíveis: chats (salas
de bate-papo), fóruns de debate, correio eletrônico, pastas de materiais on-line, envio de atividades e
trabalhos on-line, dúvidas frequentes (lista de perguntas frequentes que podem ser acessadas pelos
alunos), mural de notícias e avisos, enquetes, diário (caderno eletrônico), calendário, grupos de traba-
lho, novidades, entre outros tópicos e recursos que variam de acordo com o gerenciamento dos AVAs.
2 - Tenha o domínio da informática, especialmente o acesso às informações na Internet, para além do
AVA. Por exemplo, deve ser capacitado para fazer levantamentos e downloads de arquivos disponí-
veis na rede mundial, especialmente livros e artigos, mas também programas de compactação de
arquivos, ou outros que auxiliem no envio das informações via AVA.

Cada instituição, bem como cada curso, terá suas ferramentas específicas. Assim, cabe ao tutor-educador
conhecer o AVA e as possibilidades de interação com os alunos. O domínio da informática facilita essa
interação entre tutor e plataformas de ensino e aprendizagem. Outras possibilidades de interação, que
dependem da política e organização de cada núcleo de educação a distância especificamente, são as
redes sociais, o uso do correio eletrônico, assim como o uso do telefone para contato com os alunos.

Assim, podemos concluir que atualmente conhecer e utilizar as TICs “é muito mais um produto do acesso
frequente às variadas ferramentas que se encontram à disposição de quem pretende delas se utilizar”
(PRUDÊNCIO et al. 2009, p. 65). Dessa maneira, a “aquisição de certas habilidades e conhecimentos,
isto é, certo aprendizado e desenvoltura, decorre da descoberta e do treinamento individual enquanto
atividade metódica, que inclui o erro, seu diagnóstico e sua correção” (Idem, Ibdem).

Não há receitas prontas para o uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação. A partir de
dúvidas dos alunos o tutor deve ser capaz de tomar conhecimento dos usos das ferramentas para auxiliar
os alunos e, dessa maneira, também aprenderá. Além disso, as TICs estão em constante remodelação,
transformação. Portanto, necessita ser um constante aprendizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos nesta unidade que o tutor deve utilizar da melhor forma possível as tecnologias disponíveis. Todavia,
elas por si só, não garantem a qualidade e a aprendizagem.

A formação do tutor e sua atuação devem ser abrangentes. Além da formação acadêmica, deve ter domínio

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 39


de técnicas de interação e também utilizar uma linguagem dialógica. Dessa forma, o tutor-educador deve
ter uma formação tanto acadêmica quanto habilidades de se relacionar e interagir com os alunos e outros
sujeitos da EaD. Ser dinâmico e saber trabalhar em equipe também são características que compõem o
perfil do tutor.

A interação com os alunos acontece a partir de ferramentas virtuais. Assim sendo, o tutor deve saber
lidar com as tecnologias disponíveis para se comunicar e obter/difundir informações. Faz-se basilar na
formação do tutor o domínio da informática a fim de fazer uso dos recursos disponíveis, e também para
auxiliar tanto alunos quanto os professores no acesso aos ambientes virtuais.

Não se pode esquecer, contudo, que mesmo em um espaço virtual, o tutor deve prezar pelo uso da
linguagem formal e orientar os alunos a fazer o mesmo. Apesar de parecer, não se pode esquecer
que o ambiente virtual não é uma rede social e, portanto, não possui a finalidade de lazer, mas sim
de aprendizagem. Assim, para manter a qualidade das interações, devem ser evitados abreviações e
símbolos, bastante utilizados atualmente na comunicação virtual.

A tecnologia é auxiliar no processo, e sem ela a EaD não seria possível, mas não se deve perder de vista
que sozinha não garante aprendizagem. O tutor é figura importante para mediar as discussões, ou seja, é
ele quem transforma tantas informações em conhecimento.

Por fim, vimos que a frequência ao AVA e uso constante das ferramentas tecnológicas possibilitará aos
tutores experimentar, testar, refletir, até chegar ao melhor uso delas para seu grupo, uma vez que cada
grupo dentro de um mesmo curso é distinto, bem como são distintos os indivíduos que integram cada
grupo.

Dessa maneira, pode-se concluir que da prática e esforço para pensar constantemente e autoavaliar
os usos dos recursos disponíveis decorrerá as relações estabelecidas nas salas de aula virtuais. Assim
como os alunos, os tutores aprendem à medida que ensinam, e aprendem muitas vezes para ensinar.

“Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém”. Paulo Freire


“Nossa civilização é rica de meios e carente de fins”. Albert Einstein

Links:
Revista Novas Tecnologias na Educação (RENOTE) - <http://seer.ufrgs.br/renote/index>

40 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


Breve histórico do uso de tecnologias na EaD no Brasil

1904 – Mídia impressa e correio – ensino por correspondência privado.


1923 – Rádio Educativo Comunitário.
1965-1970 – Criação das TVs Educativas pelo poder público.
1980 – Oferta de supletivos via telecursos (televisão e materiais impressos), por fundações sem fins lucrativos.
1985 – Uso do computador “stand alone” ou em rede local nas universidades.
1985-1998 – Uso de mídias de armazenamento (vídeo-aulas, disquetes, CD-ROM, etc.) como meios comple-
mentares.
1989 – Criação da Rede Nacional de Pesquisa (uso de BBS, Bitnet, e e-mail).
1990 – Uso intensivo de teleconferências (cursos via satélite) em programas de capacitação à distância.
1994 – Início da oferta de cursos superiores a distância por mídia impressa.
1995 – Disseminação da Internet nas Instituições de Ensino Superior, via RNP.
1996 – Redes de videoconferência – Início da oferta de mestrado a distância, por universidade pública em par-
ceria com empresa privada.
1997 – Criação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem – Início da oferta de especialização a distância, via
Internet, em universidades públicas e particulares.
1999 – 2001 - Criação de redes públicas, privadas e confessionais para cooperação em tecnologia e metodologia
para o uso das NTIC na EaD.
1999 – 2002 – Credenciamento oficial de instituições universitárias para atuar em educação a distância.

As tecnologias da informação aplicadas à EAD proporcionam maior flexibilidade e acessibilidade à oferta educa-
tiva, fazendo-as avançar na direção de redes de distribuição de conhecimentos e de métodos de aprendizagem
inovadores, revolucionando conceitos tradicionais e contribuindo para a criação dos sistemas educacionais do
futuro.
Nesse contexto, um grande esforço cooperativo se fará necessário para abolir todas as barreiras ao acesso às
oportunidades de educação e trabalho. É paradoxal, mas a EaD tenderá a abolir as distâncias educacionais, pois
a conjugação das conquistas das tecnologias de informação e telecomunicação com as da pedagogia permitirá
à humanidade construir a escola sem fronteiras.
Este sistema já vem sendo progressivamente configurado, à medida que as tecnologias apoiam a EaD, tornando
disponíveis novas e ampliadas oportunidades de acesso à educação, à cultura, ao desenvolvimento profissional
e pessoal.
Desde o início do século 20, o Brasil vem construindo sua história de EaD. A partir da década de 70, ampliou-se a
oferta de programas de teleducação e, no final do século, estamos assistindo ao consenso de que um país com a
dimensão e as características do nosso tem que romper as amarras do sistema convencional de ensino e buscar
formas alternativas para garantir que a educação inicial e continuada seja direito de todos.
Seguramente, a EaD é uma das alternativas. Novos programas serão concebidos. Novas tecnologias serão
utilizadas. Novos resultados serão alcançados, enriquecendo a história da EaD no Brasil.

Disponível em:
<http://ensinoadistancia.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=236&Itemid=1>. Acesso em: 04
jul. 2011.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 41


ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

01. Estudamos nesta unidade que a formação necessária ao desenvolvimento da atividade de tutoria
vai além da formação acadêmica. Assim, responda:
a) Quais são as premissas necessárias ao trabalho do tutor?
b) Por que a relação interpessoal é importante aspecto na formação e atuação do tutor?
02. Podemos dividir as competências do tutor em dois grupos. Preencha o quadro abaixo com os dois
grupos (primeira linha) e as competências correspondentes a cada um deles.

1- 1-

2- 2-

3- 3-

4- 4-

5- 5-

6- 6-

03. Com base em seu estudo, escreva um pequeno texto definindo o que são TICs e qual a sua impor-
tância para a EaD.
04. Quais aspectos devem nortear a relação entre tutores e TICs?
05. Comente sobre a relação entre uso das tecnologias e qualidade de ensino.
06. Há distinção entre informação e conhecimento? Comente a respeito desse tema.

42 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


[...]
• Competência tecnológica - domínio técnico suficiente para atuar com naturalidade, agilidade e aptidão
no ambiente que está utilizando. É preciso ser um usuário dos recursos de rede, conhecer sites de busca e
pesquisa, usar e-mails, conhecer a netiqueta, participar de listas e fóruns de discussão, ter sido mediador em
algum grupo (e-group). O tutor deve ter um bom equipamento e recursos tecnológicos atualizados, inclusive
com plug-ins de áudio e vídeo instalados, além de uma boa conexão com a Web. O tutor deve ter participado
de pelo menos um curso de capacitação para tutoria ou de um curso online; preferencialmente, utilizando o
mesmo ambiente em que estará desenvolvendo sua tutoria.
• Competências sociais e profissionais - deve ter capacidade de gerenciar equipes e administrar talentos,
habilidade de criar e manter o interesse do grupo pelo tema, ser motivador e empenhado. É provável que
o grupo seja bastante heterogêneo, formado por pessoas de regiões distintas, com vivências bastante dife-
renciadas, com culturas e interesses diversos, o que exigirá do tutor uma habilidade gerencial de pessoas
extremamente eficiente. Deve ter domínio sobre o conteúdo do texto e do assunto, a fim de ser capaz de
esclarecer possíveis dúvidas referentes ao tema abordado pelo autor, conhecer os sites internos e externos,
a bibliografia recomendada, as atividades e eventos relacionados ao assunto. A tutoria deve agregar valor ao
curso. [...]

Trecho retirado do texto: MACHADO, L. D.;MACHADO,E. de C. O Papel Da Tutoria em Ambientes de Ead.


Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/022-TC-A2.htm>. Acesso em: 21 jul. 2011.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 43


UNIDADE III

PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE TUTORIA


Professora Me. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

Objetivos de Aprendizagem

• Analisar os níveis de atuação do tutor.


• Refletir sobre a organização e planejamento do trabalho pedagógico em tutoria.
• Discutir a avaliação na modalidade a distância a fim de refletir sobre o lugar do tutor nesse processo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Níveis de atuação do tutor


• Organização e planejamento do trabalho pedagógico em tutoria
• Avaliação em EAD: o lugar do tutor no processo avaliativo
INTRODUÇÃO

Estimado Aluno,

O objetivo desta última unidade de nosso livro é compreender a didática que envolve a modalidade a
distância. Já discutimos e refletimos sobre a trajetória histórica da tutoria, a função do tutor, seu papel,
as competências necessárias para sua atuação em cursos na modalidade a distância, bem como sua
relação com a tecnologia.

Mas você pode estar, nesse ponto, se questionando: como organizar, na prática, o trabalho em ambientes
virtuais? Como avaliar à distância? Essas são algumas preocupações que devem permear o início da
atividade de tutoria, as quais buscaremos responder nesta última parte de nossa disciplina.

Primeiro, refletiremos sobre os níveis de atuação do tutor, especialmente no que se refere ao contato
com os alunos. Analisaremos as etapas da atuação do tutor, afinal, a iniciação nessa modalidade gera a
insegurança de não saber por onde começar seu trabalho. Além disso, serão elencados os objetivos que
se relacionam com as etapas da atuação do tutor em seu contato com os alunos.

Na sequência, a fim de complementar a primeira reflexão, discutiremos a importância do planejamento


de trabalho do tutor. Serão apresentadas algumas sugestões sobre como organizar a atuação do tutor,
baseada em algumas experiências registradas em produções acadêmicas.

Por fim, encerraremos nossa disciplina com uma discussão acerca da avaliação. Avaliar ou ser avaliado é
sempre um assunto que gera tensão nos meios educacionais. Logo que se fala em avaliação, vem à tona
frustrações, pressões e exigências decorrentes de uma cobrança por uma nota ao final de um processo.
Ainda mais em EaD, em que o processo avaliativo se dá de maneira virtual.

Logo que iniciamos o trabalho em EaD, vem a insegurança: será possível avaliar com qualidade à
distância? Se é possível, como realizá-la? Não há respostas definitivas, mas veremos as possibilidades e
desafios, além da especificidade do processo avaliativo na modalidade a distância.

NÍVEIS DE ATUAÇÃO DO TUTOR

O sistema tutorial em EaD prevê um subsistema que deve ser compreendido na perspectiva de oportunizar
um atendimento ao aluno ao mesmo tempo individualizado e cooperativo (MARTINS, 2002). A atividade
tutorial é centrada no diálogo e deve focar o aprender. Mas em uma modalidade flexível no tocante aos
horários, é preciso cuidado para otimizar as horas de estudo.

Nesse sentido, o principal nível de atuação do tutor é o de disponibilizar aos alunos recursos a fim de
que eles atinjam suas metas. Todavia, uma característica que não pode ser perdida de vista por aqueles
que atuam na EaD é a autonomia dos alunos. Trata-se de uma autonomia com a qual eles possam

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 47


contar, sempre que necessário, caso necessitem de orientação de alguém capacitado tanto nas questões
relativas aos conteúdos como àquelas referentes ao pedagógico e ao uso das TICs.

A princípio, o tutor que inicia sua atividade, espera o aluno entrar em contato para manifestar sua dúvida
ou comentário. Mas, assim como no presencial, não se manifestar não é indicativo de que tudo está sendo
compreendido, de que tudo está bem. Pode ser exatamente o oposto.

Precisamos considerar que, assim como alguns alunos têm medo de se expor perguntando em uma sala
de aula convencional, por insegurança, o aluno da EaD enfrenta um outro problema: a falta de hábito em
escrever.

A partir de minhas observações, o aluno em EaD fica desmotivado e desencorajado de compartilhar


suas reflexões, por três motivos principais: 1 – dificuldade em se expressar por meio da escrita (erros
ortográficos, de acentuação, concordância, falta de prática entre outros); 2 – vergonha de expor sua
interpretação aos colegas e tutores; 3 – medo do erro.

A partir da minha experiência como tutora, digo a você que muitas vezes se faz necessário o contato com
os alunos, estimulando a participação em fóruns, por exemplo, ainda que ninguém manifeste dúvidas. É
preciso também cuidado ao responder algumas questões para não desencorajá-los, uma vez que podem
ficar envergonhados por serem corrigidos de modo abrupto em uma postagem no fórum. Uma resposta
dada por impulso pelo tutor, sem uma reflexão e prévia análise da situação, pode criar uma barreira para
futuras contribuições do aluno no AVA.

Mas por onde começar minha atuação como tutor? Seguem algumas sugestões, a partir de relatos de
outros tutores, a respeito dos níveis de atuação do tutor. Eles podem ser resumidos nas seguintes etapas:
• Comunicar ao aluno a estrutura e o funcionamento do sistema, modelo de EAD adotado pela
Instituição, seus recursos didáticos, atividades desenvolvidas, sistema de avaliação, procurando
ambientar o estudante, baixando níveis de ansiedade que podem apresentar-se ao início do
curso.
• Clarificar as mudanças de postura, necessárias ao sistema de EAD, bem como sobre as
tecnologias empregadas para a realização do curso.
• Identificar as desigualdades nos conceitos apresentados pelos estudantes, buscando melhor
planejar sua práxis.
• Situar o aluno sobre as responsabilidades de cada agente participante do sistema: professores
do Núcleo de EAD da Instituição, dos Tutores e do próprio aluno (DOS SANTOS, 2009, s/p.).

Podemos ainda elencar a partir dessas experiências os objetivos que se relacionam aos diferentes níveis
de atuação dos tutores, sejam eles:
• Motivar os alunos.
• Eliminar ou minimizar dúvidas.
• Orientar a aprendizagem dos estudantes.
• Esclarecer dúvidas, individualmente ou em grupos.

48 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


• Expor temas, quando solicitados ou quando considerar necessários.
• Oportunizar momentos de convivência.
• Criar práticas pedagógicas inovadoras que atendam às especificidades de cada curso e grupo de
estudantes (DOS SANTOS, 2009, s/p.).

Assim como os alunos precisam aprender a ser discentes em uma modalidade que ainda não conhecem,
os tutores precisam ambientar-se à dinâmica da EaD. Para tanto, organizar e planejar suas atividades são
de suma importância.

Menciono a você, mais uma vez, que são apenas possibilidades e reflexões, baseadas na produção
acadêmica, ainda escassa sobre a EaD – mais escassas ainda em relação à tutoria - nos relatos de
experiência de outros tutores e na minha própria experiência, e que se apresentam a você como sugestão.
Vale ressaltar que para construção de um sistema de tutoria que se adéque à instituição e curso, é
necessária uma reflexão crítica, exercício que esteve sempre no horizonte da escrita deste livro e na
organização de nossa disciplina como um todo.

ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM TUTORIA

Fonte: PHOTOS.COM

Como organizar e planejar a atividade de tutoria?

Organizar e planejar o trabalho pedagógico são inerentes à prática docente. Assim, a organização e
planejamento do trabalho pedagógico do tutor devem seguir aquilo que já é prática em sua atuação
docente na modalidade presencial. Mas existem particularidades na modalidade EaD.

Dessa maneira, o objetivo desta parte da unidade é sugerir algumas formas de organização, sem adentrar
na discussão sobre didática, área da Pedagogia que estuda a organização e planejamento do trabalho
docente.

Ressalto a importância de conhecer historicamente todos os processos pedagógicos (tradicional,

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 49


tecnicista, escolanovista, construtivista, histórico-crítica) a fim de compreender as possibilidades distintas
de acordo com as diferentes épocas e objetivos da educação.

Lembre-se: a explicitação metodológica do processo pedagógico que norteará o trabalho do tutor estará
disponível no Projeto Político Pedagógico do curso ao qual estiver vinculado. Por essa razão, o tutor deve
ler o projeto antes mesmo de planejar e organizar seu trabalho, uma vez que para tanto, há a necessidade
de conhecer a totalidade do curso ao qual se está vinculado.

Você pode estar se questionando: o que é planejar? Para Gusso (2009, p. 58), “planejar pode ser resumido
como ato pedagógico de elaborar a execução, a avaliação e a realimentação”. Todos nós planejamos algo:
uma viagem, a construção de uma casa, o final de semana, um jantar... Significa projetar algo adiante,
mas com a compreensão de que podem acontecer percalços que mudem o trajeto ao longo do processo.
Para Libâneo (1994, p. 222), planejar “é um meio para programar as ações docentes, mas também um
momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação”.

Mas como relacionar o planejamento da prática docente, tão discutido pela área de Didática, com a
modalidade a distância? Algumas perguntas podem ser feitas:
• Para quem e para que planejar?
• Por que planejar?
• Qual o objetivo do planejamento?
• Quais metodologias são adequadas ao formato do curso?
• Como avaliar os resultados? (GUSSO, 2009, p. 58)

Conhecer os alunos é parte importante do processo. Assim, o tutor terá em seu horizonte as necessidades
específicas do grupo de alunos que atenderá. Além disso, compreender a finalidade do planejamento e
seu sentido também é parte relevante do ato de planejar. Faz parte desse processo adequar metodologias
à realidade do curso e dos cursistas, geralmente já descritas no projeto do curso e pensadas quando da
sua elaboração por uma equipe pedagógica.

O tutor, entendido aqui como um educador, é figura central na EaD, deve se preocupar com o momento
de planejamento, uma vez que se trata também de um momento de refletir e avaliar sua prática. É preciso
ampliar o horizonte ao pensar na avaliação, e considerar, avaliar o próprio trabalho é urgente em todos os
processos educativos, independente da modalidade de ensino.

Aqui reside nossa última e importante reflexão: como avaliar virtualmente? Quais as particularidades do
processo avaliativo em EaD? São essas as questões que nortearão a parte final desta unidade e do nosso
livro.

AVALIAÇÃO EM EAD: O LUGAR DO TUTOR NO PROCESSO AVALIATIVO

Faz parte da organização e planejamento do trabalho pedagógico o processo de avaliar. Mas aqui

50 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


devemos olhar de modo ampliado para o termo avaliação. Trata-se não somente de, ao final de um tópico,
unidade ou conteúdo, verificar se os alunos aprenderam e assim atribuir uma nota. Avaliar aqui será
tomado como um processo contínuo e formativo, e, por essa razão, em EaD, quem tem elementos para
fazer a avaliação é o tutor-educador, não o professor que organiza os conteúdos.
Tanto a avaliação como a aprendizagem faz parte dos elementos que constituem o planejamento da
ação didática. A avaliação se soma aos objetivos, conteúdos, metodologia, relação professor-aluno
e compõe o planejamento de ensino. No contexto do trabalho pedagógico, educativo, a avaliação
tem um significado importante no processo de elaboração e execução das atividades (GUSSO,
2009, p. 57).

Pensar a avaliação no conjunto das atividades de planejamento é importante para dar coesão às disciplinas
e ao curso.

Deixar para avaliar no momento da conclusão da disciplina é mais complexo na modalidade EaD. Ela
deve ser constante, portanto, formativa. A dinâmica das disciplinas é distinta da modalidade presencial,
por essa razão, apesar de se apoiar nas discussões sobre avaliação de modo geral, é preciso olhar para
as particularidades e considerá-las.

Apesar de associarmos sempre a avaliação a uma nota ou conceito, trataremos aqui a avaliação em seu
sentido mais amplo. Faz parte da atividade avaliativa, por exemplo, o retorno aos alunos, ou, como é mais
utilizado atualmente, o feedback. Significa responder o mais rápido possível aos questionamentos ou
comentários dos alunos por meio dos diferentes canais de comunicação a distância já nominados.

Saber se avaliar também é importante parte no processo de organização do trabalho pedagógico. Após
a projeção realizada no planejamento, é necessário um momento de reflexão sobre o que foi feito, o
que funcionou, o que não funcionou, o que pode ser mudado e o que deve ser mantido. Os erros irão
acontecer, e algumas práticas podem não funcionar como o previsto no planejamento. A avaliação é o
instrumento que permite mudar a rota, caso seja necessário.

Mas uma questão aqui pode surgir: o que é avaliar? Tão logo essa palavra é mencionada, pensamos
em cobrança, nota, punição, julgamento... Essas lembranças, advindas muitas vezes de nossa própria
experiência escolar, estão intimamente relacionadas a uma pedagogia centrada no professor.

É preciso repensar essa concepção de avaliação. Se não concebemos mais a ideia de uma educação
bancária, tão criticada por Paulo Freire, em que o conhecimento era depositado nas mentes dos alunos
sem nenhuma interação e de modo fragmentado, as formas de avaliação serão entendidas como um
processo contínuo e formativo, ou seja, uma constante no cotidiano escolar.

O que esperar da avaliação a distância? Como avaliar? Algumas estratégias podem ser pensadas no
momento do planejamento, sejam elas: direcionar as atividades visando atingir objetivos pré-estabelecidos;
manter as interações com os alunos de forma dinâmica e prazerosa; pensar em muitas possibilidades
para casos de imprevisto; pensar antecipadamente sobre os recursos e ferramentas mais adequados para
cada atividade; realizar avaliações coerentes com o que foi ensinado; dar procedência à avaliação em
consonância com o objetivo do conteúdo/temática trabalhado (GUSSO, 2009, p.57).

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 51


Cabe ao tutor proceder às correções de provas e atividades. Mas essa correção não é a principal
responsabilidade do tutor no processo avaliativo. Cabe a ele ainda:
• Organizar as tarefas de ensino e aprendizagem.
• Ter domínio dos conhecimentos trabalhados.
• Criar situações de aprendizagens.
• Construir diálogos significativos.
• Realizar atividades de avaliações que busquem a reflexão e a autonomia, mas também que
convide o aluno a continuar aprendendo (Idem, ibdem, p. 58).

Fonte: PHOTOS.COM

Para avaliar, é necessário ainda trabalhar com os alunos o seu significado, desmitificando a visão técnica
do processo avaliativo. O aluno deve se sentir confortável, em mais um momento de aprendizagem e
não de julgamento. A avaliação diagnóstica e formativa é alternativa a uma avaliação que acontece em
um único momento e, geralmente, ao final de uma unidade. Gusso (2009) atenta para o fato de que: “ A
ansiedade é um dos fatores que ‘às vezes’ bloqueia o estudante, é mais visível no período de avaliações
(provas), por isso, os responsáveis por esse momento deverão procurar estar seguros do que irá avaliar e
tranqüilizar os alunos sobre a questão da avaliação” (p, 62).

Para tanto, por meio da análise qualitativa dos resultados alcançados pelos alunos de sua relação com os
objetivos propostos antecipadamente no planejamento, a avaliação deve a ser compreendida como parte
dos objetivos de aprendizagem. Assim, a avaliação irá nortear as decisões a serem tomadas em relação
às próximas atividades a serem desenvolvidas (LIBÂNEO, 1994, p.196).

A mais usual forma de se avaliar é a produção e o registro escrito dos resultados de aprendizagem, a

52 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


temida “prova escrita”. Para uma avaliação formativa, é necessário ampliar as possibilidades de avaliar.
Mas como utilizar os diferentes recursos disponíveis em EaD para avaliar? Variar as atividades e formas
de avaliação enriquece e possibilita considerar as particularidades de cada indivíduo. Existe um mínimo a
ser exigido, critérios que devem estar sempre bem claros a todos os envolvidos no processo. Todavia, os
recursos para verificar essa aprendizagem podem ser os mais diversos.

Os principais recursos disponíveis e que podem ser utilizados para avaliar a distância são: fórum, chat
(bate-papo), ferramenta de postagem das atividades, prova, portfólio (conjunto de atividades realizadas
pelos alunos ao longo de um período), artigo, entrevista e pesquisa, além de outras possibilidades
dependendo do conteúdo (GUSSO, 2009, p. 63).

Tanto na modalidade presencial quanto na modalidade a distância, é importante planejar e organizar a


atuação tutorial tendo em vista a avaliação como processo contínuo, e que deve ser realizada ao longo
das discussões da disciplina.

Observar a participação, as contribuições e as reflexões geradas é mais importante que quantificar


números em forma de notas e conceitos ao final da unidade. Não descartamos aqui a necessidade de
uma avaliação escrita, mas sim destacamos a importância de haver múltiplas formas de avaliar para que a
avaliação seja vista, especialmente pelos alunos, como momento prazeroso de verificação do seu próprio
aprendizado, além de compreender que ela constitui parte importante e necessária dele.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta unidade foi direcionar nossos olhares para a prática do trabalho do tutor. Assim, o
primeiro passo foi discutir os níveis de atuação do tutor, focalizando, sobretudo, o contato com os alunos.
É fundamental atuar constantemente junto aos alunos, estimulando a participação nos fóruns, preparando
atividades que propiciem a interação e tornem o aprendizado mais prazeroso.

Depois foram apresentadas algumas sugestões para a organização e planejamento do trabalho do tutor.
Vimos que é de suma importância conhecer muito bem os processos pedagógicos, o Projeto Político
Pedagógico do curso e o AVA.

Por fim, discutimos um tema complexo e que constitui a metodologia do trabalho tutorial. Avaliar e ser
avaliado não são tarefas fáceis. Mas é parte constituinte do planejamento e organização do trabalho
pedagógico. Assim, pensar as possibilidades de avaliação faz parte do planejamento da aprendizagem
e está relacionado aos objetivos a serem alcançados com determinado conteúdo. O intuito foi ampliar a
visão de avaliação que perpassa a noção de uma avaliação diagnóstica e formativa, ou seja, avaliar deve
ser um ato contínuo no cotidiano da EaD.

TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância 53


“Avaliar não é apenas medir, mas, sobretudo, sustentar o desenvolvimento positivo dos alunos”. Pedro Demo
“A avaliação é a mediação entre o ensino do professor e as aprendizagens do professor e as aprendizagens do
aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É preciso considerar que os alunos
aprendem diferentemente porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua
relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então, é também buscar informações sobre
o aluno (sua vida, sua comunidade, sua família, seus sonhos...) é conhecer o sujeito e seu jeito de aprender”.
Paulo Freire
“Na avaliação inclusiva, democrática e amorosa não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há
submissão, mas sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade e busca. Não há chegada definitiva, mas
sim travessia permanente em busca do melhor. Sempre!” Luckesi

Veja abaixo opções alternativas à prova escrita para compor o processo avaliativo. Adaptado de: Gusso (2009,
pp. 63-67)

• FÓRUM - é um espaço para debate, troca de ideias entre os participantes. Pelo fórum avaliamos as capacida-
des de elaborar opiniões próprias, argumentar a partir das leituras e reflexões e de comentar as opiniões
dos colegas. Pode ser usado como instrumento de avaliação pautado em critérios claros e bem específicos
sobre o assunto estudado. Por exemplo, podemos avaliar a reflexão do aluno com base no assunto questio-
nado destacando a coerência, a citação correta, a interação com o grupo e a opinião pessoal.

• CHAT - em português significa "conversação", ou "bate-papo" usado no Brasil, é um neologismo para desig-
nar aplicações de conversação em tempo real. [...] Normalmente não é utilizado para avaliação, porém, de
acordo com a proposta do professor e do programa do curso, poderá servir como instrumento de avaliação
para uma das atividades do módulo ou curso. É um recurso educativo para auxiliar na avaliação da aprendi-
zagem on-line.

• ARTIGO – o artigo é bastante usado no final de cada módulo ou curso, deve estar bem definido para que a
avaliação seja segura, pois como se trata de texto produzido pelos alunos corre o risco de ser pouco cien-
tífico ou baseado no censo comum, podendo ainda apresentar plágio sem referências corretas. É um ótimo
instrumento de avaliação, pois permite a reflexão, a produção textual com coerência e relevância e revela o
grau de profundidade do assunto e do conhecimento do autor. Critérios para elaboração do artigo e a forma
de avaliação devem estar claros para os alunos.

• PORTFÓLIO – Coleção de produções/trabalhos realizados ao longo de um período de tempo que revelam


diferentes aspectos do desenvolvimento de cada aluno, tais como: múltiplas habilidades, trajetória, competên-
cias; o aluno direciona seus avanços, as produções servem de análise.

54 TUTORIA E O PROCESSO DE MEDIAÇÃO EM EAD | Educação a Distância


ATIVIDADE DE AUTOESTUDO

01. O texto apontou que um dos mais importantes níveis de atuação do tutor é a interatividade com os
alunos. Mas nem sempre é fácil estimular os alunos a participarem do fórum, por exemplo. Pensan-
do em suas atividades acadêmicas neste curso, enquanto aluno, você concorda com as dificuldades
apontadas em relação à interação dos alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem? Poderia acres-
centar outras? Escreva um pequeno texto argumentando sua opinião.
02. Com base em seus estudos, explique o que é planejar e comente qual a importância do planejamen-
to e organização do trabalho pedagógico do tutor no contexto da EaD.
03. A avaliação em EaD deve ser diversificada e explorar os distintos recursos disponíveis. Escolha um
dos recursos descritos e escreva sobre como utilizá-lo enquanto instrumento avaliativo.

PROPÓSITOS DA AVALIAÇÃO E FEEDBACK NO EAD

No EAD, a avaliação é o foco da comunicação entre tutores e alunos. Os trabalhos muitas vezes têm um maior
‘peso’ no EAD do que na aprendizagem presencial, tanto técnica como perceptualmente. No EAD, a avaliação
muitas vezes baseia-se muito nos trabalhos; em contraste, a avaliação na aprendizagem presencial muitas vezes
inclui a participação nas aulas. Os professores em situações presenciais podem usar as suas observações dos
alunos em acção como indicadores dos pontos fortes e fracos dos alunos. Para estes indicadores, os tutores
no EAD baseiam-se em trabalhos ou em mensagens subtis noutras comunicações com os alunos. No EAD, a
avaliação e o feedback servem como:
• um guia para os alunos sobre os elementos essenciais do curso;
• indicadores da progressão do aluno e das necessidades do aluno;
• ponto focal de diálogo entre o aluno e o tutor;
• meio de verificar e validar o que foi alcançado pelos alunos;
• indicadores dos pontos fortes e fracos dos materiais do curso;
• indicadores para a instituição de ensino de questões de qualidade.

Para fazer a leitura integral do texto do qual o excerto acima foi retirado, acesse: <http://www.abed.org.br/col/
tutoriaead.pdf>.

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CONCLUSÃO

Chegamos ao final de mais uma etapa. Hora de retomar o que discutimos e também pensar e avaliar
a temática. O principal a ser retomado é o fato de que atualmente, com a fragmentação do mundo do
trabalho, o tutor é a categoria docente central na modalidade a distância.

Vimos que enquanto parte de uma metodologia de ensino e aprendizagem, o sistema de tutoria data do
século XIII e tem como cenário as universidades medievais. O tutor era concebido como um guia, um
protetor. Na atualidade, apesar de utilizar o mesmo princípio de atividade, a tutoria foi ressignificada. O
tutor deixa de ser o guia para ser o mediador da aprendizagem na EaD. Percorrer a história nos ajuda a
compreender melhor o papel e função do tutor.

No contexto brasileiro, apesar de ter havido anteriormente cursos que se inserem na categoria de ensino
a distância, como cursos por correspondência, por exemplo, a educação a distância é legitimada na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 1996. A partir daí, aliada ao desenvolvimento das
condições tecnológicas que auxiliaram na mediação virtual, há uma expansão da EaD, e a palavra tutor
passou a fazer parte direta e indiretamente do vocabulário educacional.

Discutimos ao longo das três unidades os desafios e as possibilidades da atuação do tutor, sua função,
competências, sua relação com a tecnologia, a organização e planejamento da prática pedagógica e a
avaliação na modalidade a distância. Os tópicos aqui abordados visavam promover uma reflexão, e não
possuíam a pretensão de fornecer um modelo ideal de tutoria, tampouco de esgotar a temática.

Não podemos ignorar, ao menos aqui na conclusão, que muitas são as críticas e reivindicações, sobretudo
no tocante à melhoria da condição de trabalho do tutor. O reconhecimento dessa atividade como categoria
docente é uma das metas a serem atingidas pelos profissionais da educação que hoje atuam como
tutores na EaD.

Defendemos que o tutor progressivamente deve se envolver no processo de aprendizagem em todas as


suas etapas. Isso ainda não acontece em todas as instituições. Lutar por melhorias é necessário, mas
essa luta deve estar fundamentada em uma prática docente que ainda é nova e que aos poucos vem
sendo construída

O preconceito com a EaD existe, e muitas vezes parte do próprio tutor-educador. Acreditar naquilo que se
faz é premissa do sucesso de qualquer atividade. Mas é preciso acreditar de maneira reflexiva e crítica.
Por isso, parabenizo todos aqueles que estiveram envolvidos na disciplina, que aceitaram meu convite e
leram este material e que, em conjunto, pensaram em possibilidades de construir uma história de êxito
para a EaD, o que envolve comprometimento e qualidade.

Como já disse, vocês são parte importante na construção de um modelo de tutoria que seja adequado à
sua realidade. Tenho certeza de que brevemente poderão relatar suas experiências, como tive o privilégio
de fazer aqui, e, assim, contribuir na formação de profissionais da educação cada vez mais envolvidos

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e comprometidos não com uma modalidade de ensino somente, mas com a formação humana, objetivo
maior da educação.

Desejo sucesso nessa caminhada!

Professora Vanessa Campos Mariano Ruckstadter

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