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Resistência

dos Materiais
Professora Me. Carolina Coelho de M. Grossi
Professora Me. Fernanda Assunção Valim
2022 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2022 Os autores
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G878r Grossi, Carolina Coelho de M.


Resistência dos materiais / Carolina Coelho de M. Grossi,
Fernanda Assunção Valim. Paranavaí: EduFatecie, 2022.
189 p.

1. Resistência de materiais. 2. Engenharia de materiais. 3.


Engenharia de estruturas. I. Valim, Fernanda Assunção. II. Centro
Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância.
III. Título.

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Carlos Firmino de Oliveira
AUTORAS

Professora Me. Carolina Coelho de Magalhães Grossi


● Mestre em Engenharia Civil com ênfase em Estruturas pela UEM (Universidade
Estadual de Maringá).
● Bacharel em Engenharia Civil pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
● Professor Associado Temporário - UEM
● Docente do curso Engenharia Civil – FEITEP
● Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Estruturas - UFMG

Dois anos de atuação como professora de Resistência dos Materiais e Estática,


Mecânica das Estruturas I e II e Mecânica dos Solos. Possui um canal no Youtube onde fala
sobre temas associados as matérias lecionadas de forma mais direta e mais lúdica para os
alunos de graduação em Engenharia e Arquitetura.

Professora Me. Fernanda Assunção Valim


● Mestre em Engenharia Civil com ênfase em Estruturas pela Universidade Esta-
dual de Maringá (UEM).
● Bacharel em Engenharia Civil pela UEM.
● Ex Professor Assistente Temporário – UEM (2019 – 2021).
● Ex docente do curso Engenharia Civil – FEITEP (2018 – 2021).
● Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Estruturas da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).

Três anos de atuação como professora de Resistência dos Materiais, Estática,


Mecânica das Estruturas I e II e Sistemas Elétricos Prediais.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é
o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto
com você construir nosso conhecimento sobre os conceitos
fundamentais da Estática e da Resistência dos Materiais. Vamos entender
o funcionamento dessas duas disciplinas e como elas estão presentes no dia a dia de
qualquer Engenheiro.
Na unidade I começaremos falando sobre as propriedades geométricas das
seções transversais. Toda estrutura possui uma forma, a partir da qual ela poderá resistir
aos carregamentos externos nela atuem. Na maioria das vezes, essa forma se mantem a
mesma ao longo do comprimento das peças que compõe a estrutura e para entendermos
o que acontece dentro dela, precisamos entender alguns conceitos associados à sua seção
transversal. Você verá que todos esses conceitos serão aplicados nas unidades subsequentes.
Na unidade II vamos começar a lidar com as forças externas e com o equilíbrio estático
das nossas peças. Na engenharia, na maioria dos casos, precisamos que as estruturas são
possuam nenhum tipo de movimento. A partir dessa suposição e, considerando que as estruturas
são corpo rígidos não deformáveis, conseguiremos calcular a magnitude de descarregamento
nos seus vínculos e, posteriormente, como são desenvolvidos esforços internos.
Nas unidades III e IV vamos estudar as estruturas como elas realmente são:
deformáveis e sujeitas a distribuição de tensões. Vamos entender como os esforços internos
são distribuídos dentro da seção transversal em forma de tensões e como a estrutura se
deforma. Ainda, no final da unidade IV, vamos estudar sobre o fenômeno de instabilidade
que afeta as peças comprimidas, como pilares e colunas.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Propriedade Geométricas da Seção Transversal

UNIDADE II.................................................................................................... 38
Esforços Internos emEstruturas Isostáticas

UNIDADE III................................................................................................. 105


Tensão e Deformações Normais em Estruturas

UNIDADE IV................................................................................................. 149


Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas
UNIDADE I
Propriedade Geométricas
da Seção Transversal
Professora Me. Carolina Coelho de M. Grossi
Professora Me. Fernanda Assunção Valim

Plano de Estudo:
● Centro de gravidade e centroide;
● Momentos de 1ª e 2ª ordem;
● Produtos de inércia;
● Eixos principais de inércia.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender os conceitos de centro de gravidade e centroide e
como são determinados esses pontos na área da seção
transversal de um eixo ou estrutura;
● Aprender a calcular os momentos de inércia de 1ª e
2ª ordem e o produto de inércia para uma área;
● Entender os conceitos de eixo principal de inércia e momentos
principais de inércia e aprender a calculá-los em torno de
eixos que passam pelo centroide da área.

3
INTRODUÇÃO

Para o estudo do comportamento mecânico dos materiais, que constituem estruturas


submetidas a carregamentos interno, é necessário o conhecimento de algumas características
das seções transversais dos elementos que constituem a estrutura. O dimensionamento de
estruturas será baseado na resistência aos esforços internos desenvolvidos e na garantia
de que os deslocamentos estejam abaixo do permitido por normas. Tanto a resistência,
quando os deslocamentos, são influenciados pelas características das seções transversais,
a saber, sua área, momento de inércia, momento polar de inércia e localização do centroide.
Assim, saberemos qual seção transversal é mais interessante para ser usada em cada
situação, e qual é o tamanho ideal dessa seção.
Sendo assim, faz-se necessário o conhecimento das características geométricas
dessas seções, que constituem geometrias planas, para o entendimento do comportamento
mecânico dos corpos analisados.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 4


1. CENTRO DE GRAVIDADE E CENTROIDE

Nesta unidade, vamos estudar o que é e como localizar o centro de gravidade de


um corpo, e o seu centroide. Constataremos que, em um campo gravitacional constante e
fazendo algumas considerações em relação a constituição do material do corpo analisado,
que a localização desses dois pontos é coincidente.
O centro de gravidade C.G é o ponto em que uma única força equivalente W, chamada
peso do corpo, pode ser aplicada para representar o efeito da atração exercida pela Terra no
Corpo, podendo ser entendido como a posição média de interseção de uma distribuição de peso.
Ou seja, o centro de gravidade é um ponto no qual se localiza o peso resultante
(WR) de um sistema de pontos materiais. Os pesos dos pontos materiais (Wn) compreendem
um sistema de forças paralelas que podem ser substituídos por um único peso resultante
aplicado no ponto C.G (Figura 01), sem que o efeito translacional e rotação do mesmo seja
modificado. Isso requer que as seguintes equações (Equação 01 e 02) sejam satisfeitas:

FIGURA 01 – PARTÍCULA ARBITRÁRIA COM PESO DW

Fonte: Hibeller (2017).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 5


Equação 01

Equação 02

Se substituirmos o valor de WR da equação 01 na equação 02, e isolarmos o valor


de XCG, obtemos as equações 03 e 04.

Equação 03

Analogamente, o mesmo ocorre para a coordenada em relação do eixo y.


Equação 04

Sendo que,
XCG= Localização do centro de gravidade em relação a um eixo y referencial;
YCG= Localização do centro de gravidade em relação a um eixo x referencial;
xn= Localização da partícula em relação ao um eixo y referencial;
yn= Localização da partícula em relação ao um eixo x referencial.

Se o corpo for composto por um número infinito de partículas as equações passam


de somatório para integração (Equação 05 e 06), como mostrado a seguir.

Equação 05

Equação 06

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 6


Sabendo que , temos:
Equação 07

Equação 08

Para uma gravidade constante, como é o caso do planeta Terra (g = 9,81 m/s²),
e corpos homogêneos, ou seja, material composto pela mesma matéria em todo o seu
volume (ρ = cte), e lembrando que γ = p.g, temos que:

Equação 09

Equação 10

Como as características geométricas analisadas nessa unidade são apenas planas,


, sendo L = constante. Sendo assim, tem-se que a Equação 09 e 10 podem ser
escritas da seguinte forma (Equação 11 e 12):

Equação 11

Equação 12

Sendo,
L = Comprimento do corpo analisado;
dA = Área infinitesimal da partícula que constitui a área total;
x = Localização da partícula em relação ao um eixo y referencial;
y = Localização da partícula em relação ao um eixo x referencial.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 7


As equações 11 e 12 calculam a localização do centro de gravidade de um corpo
homogêneo, contido em uma gravidade constante.
O centroide C de uma área plana é o ponto que define seu centro geométrico
(Figura 02). Para a determinação da localização do mesmo é utilizada as mesmas equações
encontradas para o centro de gravidade de um objeto contido na atmosfera terrestre e
constituído de material homogêneo (Equação 11 e 12), uma vez que, são independentes do
peso, dependendo apenas de sua geometria. Sendo assim, para determinar matematicamente
a localização dos centroides usamos o método dos momentos (Equação 13 e 14).

Equação 13

Equação 14

Sendo,
Mx= Momento estático em relação ao eixo x;
My= Momento estático em relação ao eixo y;

FIGURA 02 – CENTROIDE DE ÁREA

Fonte: Hibeller (2017).

Através das equações explanadas, podemos concluir que, no contexto de uma


gravidade constante e corpos constituídos de materiais homogêneos, a localização do
centro de gravidade coincide com a do centroide.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 8


O momento de primeira ordem, ou momento estático, de uma superfície plana, em
relação a um eixo de seu plano, é o somatório dos produtos de seus elementos de área pelas
distâncias desses elementos ao eixo considerado (Figura 03). Como já foi mencionado, as
equações que diz respeito a essa grandeza, em um plano xy, são (Equação 15 e 16):

FIGURA 03 – MOMENTO ESTÁTICO DE ÁREA

Equação 15

Equação 16

A unidade do momento estático é comprimento elevado a quarta, e são utilizados na


determinação de tensões de cisalhamento em elementos estruturais dispostos na horizontal
sob ação de carregamento transversais.

1.1 Exemplo 01 – Determinar o momento de primeira ordem e centroide do


retângulo em relação aos eixos cartesianos x e y.

FIGURA 04 – RETÂNGULO DE BASE B E ALTURA H

Fonte: Autor (2022).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 9


Os momentos de 1ª ordem podem ser encontrados através das seguintes equações:

Sabemos que dA = b .dy, para o cálculo do momento estático em relação ao eixo x


e, dA = h .dx, em relação ao eixo y, portanto:

Vimos que a localização do centroide pode ser calculada através das seguintes equações:

Para o cálculo do valor de y’, temos que: dA = b .dy. Sendo assim:

Considerando que os valores de y variam de 0 até h, integramos na base y, com


limites de integração de 0 (limite inferior) a h (limite superior).

Dessa forma,

Analogamente, para o cálculo do valor de x’, temos que: dA = h .dx. Sendo assim:

Considerando que os valores de y variam de 0 até h, integramos em y, com limites


de integração de 0 (limite inferior) a h (limite superior).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 10


Dessa forma,

A localização do centro de gravidade de um retângulo é ( ). Se passarmos


eixos coincidentes com a localização desses pontos, os mesmos dividiram a figura em duas
áreas idênticas, ou seja, são os exatos pontos cujo passam os eixos de simetria da área.
Sendo assim, concluímos que, se existe um eixo de simetria na seção transversal, então o
C.G está contido neste eixo. É dessa constatação que entendemos que:
● O centroide de algumas áreas pode ser parcial ou completamente especificados
por meio de condições de simetria;
● O Se existe um eixo de simetria na seção transversal, então o C.G, está contido
neste eixo (Figura 05).

FIGURA 05 – CENTROIDES CONTIDOS NO EIXO DE SIMETRIA DAS FIGURAS PLANAS

Em muitos casos, nos deparamos com figuras ou área mais complexas, cujo a
localização do seu centro de gravidade é mais complicada e onerosa. Algumas dessas
áreas, podem ser dividas em figuras mais simples, facilitando os cálculos, quando isso
ocorre, podemos chamá-las de áreas compostas.
Um corpo composto consiste em um conjunto de corpos de formatos “mais simples”,
que podem ser retângulos, triângulos, circunferências, entre outros. Às áreas e os centroides
dessas formas comuns são tabeladas, contanto que a localização do centro de gravidade
de cada uma dessas partes seja conhecida, podemos eliminar a necessidade de integração
para obter o centro de gravidade do corpo como um todo.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 11


Trata-se, dessa forma, cada uma das partes do corpo, como uma partícula. Como
podemos considerar um número finito de partes, temos que (Equação 17 e 18):

Equação 17

Equação 18

Esse conceito de cálculo é muito utilizado no contexto da engenharia, uma vez que
a maioria dos elementos estruturais possuem seção transversal que pode ser dividida em
formatos conhecidos (Figura 05).

FIGURA 06 – FORMATOS COMERCIAIS DE SEÇÃO TRANSVERSAL


DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 12


1.2 Exemplo 2 – Encontrar o centroide e o momento de 1ª ordem
da figura a seguir.
FIGURA 07 – FIGURA COMPOSTA

Fonte: Autor (2022).

O primeiro passo para se resolver um exercício de centro de gravidade de figuras


compostas é dividi-la em áreas com formatos conhecidos (Dica: dividir na menor quantidade
possível). No caso, podemos subdividir a figura 07 em 3 retângulos, como segue:

FIGURA 08 – FIGURA COMPOSTA DÍVIDA EM ÁREA CONHECIDAS

Fonte: Autor (2022).

Para o cálculo da localização do centroide, utilizamos as seguintes equações:

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 13


Para tal, precisamos da informação da localização do centro de gravidade de cada
uma das figuras (xCGi ; yCGi), e suas respectivas áreas (Ai). Portanto, o próximo passo é
encontrar essas informações.
A localização do C.G de um retângulo fica exatamente na metade da sua altura e
metade da sua base. Sendo assim:

FIGURA 09 – ÁREA E CENTROIDE DE CADA SUBDIVISÃO DE ÁREAS

Fonte: O Autor (2022).

Agora, basta “jogar” os valores nas equações, e encontraremos a localização do


C.G da figura composta.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 14


FIGURA 10 – CENTROIDE DA ÁREA COMPOSTA

Fonte: Autor (2022).

A localização do centro de gravidade é (17mm, 27 mm). Podemos observar que, em


alguns casos, o centroide encontra-se em um ponto que não se localiza dentro da figura.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 15


2. MOMENTOS DE 1ª E 2ª ORDEM

O momento de inércia (mede a distribuição da área de um corpo em torno de um


eixo de rotação (Equação 19 e 20). Sendo assim, quanto maior for o momento de inercia de
um corpo, mais difícil será fazê-lo girar (Figura 11).

FIGURA 11 – MOMENTO DE INÉRCIA

Fonte: Autor (2022).

Equação 19

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 16


Equação 20

Esta definição matemática indica que a área A é dividida em pequenas partes


infinitesimais de área dA e cada parte da área é multiplicada pelo quadrado de seu braço
de momento (distâncias x e y) em relação ao eixo de referência.
Fisicamente, o momento de inercia está relacionado com as tensões e deformações
que aparecem por flexão em um elemento estrutural e, portanto, junto com as propriedades do
material determina a resistência de um elemento estrutural sob flexão. Sendo assim, momento
de inércia pode ser entendido como a resistência que um elemento de área oferece à rotação.

2.1 Exemplo 1 – Determinar o momento de inércia do retângulo


em relação ao eixo x

FIGURA 12 – RETÂNGULO DE BASE B E ALTURA H COM EIXO X E Y, FIXADOS NOS


LIMÍTROFES INFERIOR E ESQUERDO DO ELEMENTO

Fonte: Autor (2022).

Para o cálculo do momento de inércia em relação ao eixo x, utilizamos a equação 20.

Sabendo que dA = dx.dy e substituindo na equação, teremos a seguinte integral dupla:

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 17


Dessa forma, o momento de inércia do retângulo de dimensões b e h, em relação
ao eixo x, é igual a:

2.2 Exemplo 2 – Determinar o momento de inércia do retângulo


em relação ao eixo x1.

FIGURA 13 – RETÂNGULO DE BASE B E ALTURA H COM EIXO X E Y, FIXADOS NOS


LIMÍTROFES SUPERIOR E ESQUERDO DO ELEMENTO

Fonte: Autor (2022).

Para o cálculo do momento de inércia em relação ao eixo x1, utilizamos a equação 20.

Sabendo que dA = dx.dy e substituindo na equação, teremos a seguinte integral dupla:

Dessa forma, o momento de inércia do retângulo de dimensões b e h, em relação


ao eixo x1, é igual a:

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 18


O momento de inércia é medido tendo como referencial os eixos contidos no plano
analisado (eixos x e y). Porém, essa mesma característica pode ser medida em relação
ao eixo fora do plano (eixo z), e quando isso ocorre, damos o nome de Momento Polar de
Inércia (IP). Nesse caso, a distância chamada braço de alavanca (R), é a medida entre a
partícula dA, e a origem ou “polo” dos eixos cartesianos x e y (Figura 14).

FIGURA 14 – MOMENTO DE INÉRCIA POLAR

Fonte: Autor (2022).

Equação 21

Sendo que:

Substituindo o valor de R na equação 21:

Portanto,
Equação 22

Essa grandeza é sempre positiva e sua unidade do Momento Polar de Inércia é


comprimento elevado a quarta.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 19


Fisicamente, o Momento Polar de Inércia está relacionado com as tensões e
deformações que aparecem por torção em um elemento estrutural e, portanto, junto com
as propriedades do material determina a resistência de um elemento estrutural submetido
a torção. Dessa forma, o Momento Polar de Inércia pode ser entendido como a resistência
que um elemento de área oferece à torção.

2.2 Exemplo 3 – Calcular o momento polar de inércia do retângulo


em relação ao vértice 3.

FIGURA 15 – RETÂNGULO DE BASE B E ALTURA H COM EIXO X E Y, FIXADOS NOS


LIMÍTROFES SUPERIOR E DIREITO DO ELEMENTO

Fonte: Autor (2022).

O Momento Polar de Inércia pode ser calculado através da equação 22.

No Exemplo 4, calculamos os valores de Ix e Iy.

Ou seja,

Observação: Ip1 = Ip2 = Ip3 = Ip4

Podemos notar que, sempre que modificamos o referencial, o valor do momento


de inércia muda, ou seja, para cada situação temos que integrar as equações 19 e 20
novamente, um processo, de certa forma, oneroso. A fim de facilitar os cálculos do momento
de inércia, surge o Teorema dos Eixos Paralelos, que será explanado a seguir.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 20


Considere o momento de inércia I de uma superfície A em relação a um eixo AA’.
Representando por y a distância entre um elemento de superfície de área dA e um eixo
qualquer AA’ (Figura 14).

FIGURA 16 – MOMENTO DE INÉRCIA DA SUPERFÍCIE A EM RELAÇÃO AO EIXO AA’

Fonte: Autor (2022).

Sabemos que o momento de inércia da área A em relação ao eixo AA’ é:

Se adicionarmos um eixo centroidal BB’ (Figura 15), observamos que:

FIGURA 17 – MOMENTO DE INÉRCIA DA SUPERFÍCIE A EM RELAÇÃO AO EIXO AA’

Fonte: Autor (2022).

Em que,
y’ = Distância entre um elemento de superfície de área dA até o eixo baricentro BB’;
d = Distância entre o eixo BB’ e um eixo qualquer AA’.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 21


Substituindo o valor de y na Equação do momento de inércia, temos:

Equação 23

A primeira integral ∫A(y’)2.dA, da equação XX, diz respeito ao momento de inércia I


em relação ao eixo BB’. A segunda integral ∫Ay’.dA é o momento estático da superfície em
relação ao eixo BB’, e como esse eixo é centroidal, está integral tem valor nulo. E a terceira
integral ∫AdA é a integral de área A. Portanto,

Equação 24

Que pode ser escrito como:

Equação 25

Equação 26

Caso a área seja uma figura composta, as equações 25 e 26, podem ser escritas
da seguinte forma:

Equação 27

Equação 28

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 22


2.3 Exemplo 4 – Calcular o momento de inércia e raio de giração da figura
plana em relação ao eixo x
FIGURA 18 - FIGURA COMPOSTA

Fonte: Autor (2022).

Primeiramente temos que dividir a figura em áreas conhecidas. Cuja as equações


do centroide, momento de inércia e área, são tabeladas. Nesse exemplo, optou-se por
dividir em 3 retângulos, a fim de simplificar os cálculos.
A área da figura é:

O momento de inércia da área em relação ao eixo x, pode ser calculada através da


seguinte equação:

O momento de inércia em relação ao eixo x baricentro de um retângulo é


e a área A = b .h. Calculando o momento de inércia para cada uma das figuras, temos:

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 23


Dessa forma, o momento de inércia da figura é igual a 389952 mm4.

Caro aluno (a), até aqui você aprendeu a calcular os momentos de inércia Ix e Iy em
relação a eixos x e y pré-determinados e também aprendeu, utilizando o Teorema dos Eixos
Paralelos, a encontrar o momento de inércia em qualquer eixo paralelo a esses eixos iniciais.
Você percebeu que os valores de momento de inércia modificam de acordo com o eixo a ser
considerado. É intuitivo imaginar que existirá um eixo em que o momento de inércia da área
é o menor possível e outro eixo onde o momento de inércia é o maior possível. Vamos ver,
nas próximas unidades, que tal afirmação é verdadeira e como encontramos a orientação
desses eixos. Antes disso, precisamos definir quem é o produto de inércia de uma área.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 24


3. PRODUTO DE INÉRCIA

O produto de inércia de um elemento dA localizado no ponto de coordenadas (x,y)


apresentado na Figura 17 é dado pelo produto da área desse elemento por suas coordena-
das em relação aos eixos considerados, ou seja, dIxy = xydA.

FIGURA 19 – ELEMENTO DE ÁREA PARA O CÁLCULO DO PRODUTO DE INÉRCIA

Fonte: Autor (2022).

Para toda a área A, o produto de inércia é:

Equação 29

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 25


O de cálculo do produto de inércia via integração é apresentado no Exemplo 7.

Analisando a expressão para o cálculo do produto de inércia, observa-se que a


unidade de medida é a mesma do momento de inércia (unidade de comprimento elevada à
quarta potência, por exemplo, mm4). Mas, diferentemente do momento de inércia, o produto
de inércia pode ser uma quantidade negativa, positiva ou zero, desde que uma coordenada
seja positiva e a outra, negativa. Isso é influenciado diretamente pela posição dos eixos
coordenados em relação à área que se deseja efetuar o cálculo do produto de inércia.
Por exemplo, a Figura 18 apresenta uma área cujo o produto de inércia é igual a
zero. Podemos observar que isso ocorre sempre que o produto de inércia for calculado
em relação a eixos que são eixos de simetria, já que para todo elemento de área dA com
coordenadas (-x,y) existirá um elemento dA correspondente com coordenadas (x,y) e, ao
efetuarmos a soma desses elementos, suas parcelas de contribuição para o produto de
inércia se cancelarão.

FIGURA 20 – ELEMENTOS DE ÁREA UTILIZADOS PARA MOSTRAR QUE O PRODUTO


DE INÉRCIA É ZERO EM SEÇÕES COM PELO MENOS UM EIXO DE SIMETRIA

Fonte: Autor (2022).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 26


3.1 Teorema dos eixos paralelos
Podemos aplicar o teorema dos eixos paralelos para o cálculo do produto de inércia
da mesma forma que foi calculado para o momento de inércia. Se x e y formam um par de
eixos que passa pelo centroide da área, o produto de inércia em relação a um par de eixos
paralelos x’ e y’, mostrados na Figura 19 é dado por:

Equação 30

FIGURA 21 – APLICAÇÃO DO TEOREMA DOS EIXOS PARALELOS NO CÁLCULO DO


PRODUTO DE INÉRCIA

Fonte: Autor (2021).

É importante de os sinais algébricos de dx’ e dy’ sejam mantidos na aplicação da


Equação 30

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 27


3.1.1 Exemplo 1: Parte 01: Determine o produto de inércia Ixy do
retângulo mostrado na figura abaixo

Fonte: Autor (2021).

Solução:
Aplicando a definição de produto de inércia em um elemento infinitesimal de área
dA = dxdy (Figura X.4b), temos:

Integrando em relação a x, de x = 0 até x = b e em relação a y, de y = 0 até y = h,


obtemos:

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 28


4. EIXOS PRINCIPAIS DE INÉRCIA

Em algumas situações específicas nos projetos estruturais e mecânicos, é necessário


saber a posição dos eixos que geram o maior e o menor momento de inércia para a área da
seção transversal. Ainda, pode ser necessário calcular o momento de inércia e/ou o produto
de inércia para eixos inclinados, quando os valores de θ,Ix,Iy e Ixy são conhecidos (Figura 21).

FIGURA 22 – EIXO X1 Y1 INCLINADOS EM RELAÇÃO AO EIXO XY POR UM ÂNGULO θ

Fonte: Autor (2021).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 29


As equações de transformação são:
Equação 31.a

Equação 31.b

Equação 31.c

Você pode conferir como chegar nessas equações de transformação na página 476
do livro Estática: Mecânica para Engenharia (Hibbeler, 2017).
Uma constatação a partir das equações de transformação se dá quando somamos
as Equações 31.a e 31.b. Ao fazê-lo, percebemos que o momento polar de inércia é
independente da orientação dos eixos x1 e y1

Equação 32

4.1 Momentos principais de inércia


Observa-se nas Equações 31.a a 31.b que os valores dos momentos e produto de
inércia em relação aos eixos inclinados x1 e y1 dependem do ângulo de inclinação θ, em
funções seno e cosseno. Essas funções possuem valores de mínimo e máximo (quando a
tangente às curvas é igual a zero) e esses valores são justamente os valores dos momentos
de inércia máximo e mínimo. Os eixos que definem esses momentos são chamados de ei-
xos principais de inércia e os momentos são chamados de momentos principais de inércia.
Para nosso estudo, a origem desses eixos estará no centroide da seção transversal.
Como dito, o ângulo que dará a posição do eixo principal de inércia está relacio-
nado com a tangente às curvas iguais a zero, ou seja, a derivada das funções dadas pela
Equação 31, em relação ao ângulo θ deve ser igual a zero. Fazendo isso para a função
apresentada na Equação 31.a, temos:

Fazendo θ = θp (ângulo principal)

Equação 33

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 30


A solução dessa equação nos dá duas respostas para os ângulos principais (θp1
e θp2) que estão distantes entre si em 90° (Figura 13). Encontrando os valores do seno e
cosseno de θp1 e θp2 e substituindo na Equação 31.a ou 31.b temos:

Equação 34

Exemplo 8 (Autor 2022): Parte 01: Determine os momentos principais de inércia


da área transversal mostrada na figura em relação aos eixos que passam pelo centroide da
área. Dados: Ix = 11,782x109mm4 ; Iy = 9,699x109mm4 ; Ixy= 6,2x10^9 mm4. A espessura de
todos os componentes vale 100 mm.

Fonte: Autor (2021).

Solução:
Utilizando a Equação 33 conseguimos calcular os ângulos principais que definirão
os eixos principais:

Já os momentos principais de inércia encontramos aplicando a Equação x.6

Desafio: Você conseguiria definir em torno de qual eixo principal está relacionado
o momento de inércia máximo e o momento de inércia mínimo?

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 31


Tente substituir os valores de seno e cosseno de θp1 e θp2 na Equação 31.c. Você
verá que o produto de inércia em relação aos eixos principais de inércia é igual a zero.
Como o produto de inércia é zero em relação a qualquer eixo de simetria, podemos concluir
que se um eixo é de simetria, esse eixo é principal e o momento de inércia calculado em
relação a ele também é principal.

4.2 Círculo de Mohr para momentos de inércia


As equações 31 e 34 possuem uma solução gráfica. Elevando ao quadrado as
equações 31.a e 31.c e somando-as, obtemos como resultado a seguinte equação:

Equação 35

É importante lembrar sempre que em qualquer problema, os valores Ix,Iy e Ixy são
constantes e conhecidos e os valores Ix1 e Iy1 são variáveis. A representação gráfica da
equação 35 é um círculo de raio R, dado por:

Equação 36

Cujo centro está localizado no ponto de coordenadas (Ix+Iy ⁄ 2;0). Sabendo a


localização do centro e o valor do raio, podemos desenhar um círculo chamado Círculo de
Mohr. Sua principal finalidade é dispor de um modo gráfico e conveniente para encontrar os
valores dos momentos principais de inércia no problema estudado.
Para isso, você deverá seguir o passo a passo:
1) Determine os valores de Ix,Iy e Ixy em relação aos eixos x e y de interesse do
problema (geralmente eixos que tem a origem localizada no centroide da seção);
2) Construa o círculo com um sistema coordenado que possua a abscissa representando
os momentos de inércia e a ordenada representando o produto de inércia. Determine o
centro do círculo de coordenadas (Ix+Iy ⁄ 2;0) como o apresentado na Figura 22;

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 32


FIGURA 23 – SISTEMA COORDENADO E CENTRO LOCALIZADO

Fonte: Autor (2022).

3) Você deve encontrar o ponto A de referência, que estará à distância igual ao raio
do centro C. Esse ponto A possui coordenadas (Ix ;Ixy). Por definição, Ix é sempre
positivo, ao passo que Ixy pode ser positivo ou negativo. Ligue o ponto de referência
A ao centro do círculo e determine a distância CA por trigonometria. O resultado será
o apresentado na Figura 23.

FIGURA 24 – CÍRCULO DE MOHR PARA MOMENTO DE INÉRCIA

Fonte: Autor (2022).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 33


4) Os pontos em que o círculo intercepta a abscissa dão os valores dos momentos
principais de inércia Imín e Imáx. Observe que o produto de inércia é igual a zero nesses
pontos. Para encontrar a direção do eixo principal maior, calcule por trigonometria o
ângulo principal 2θp1. Esse ângulo representa duas vezes o ângulo entre o eixo x e o
eixo do momento de inércia máximo. O sentido é o mesmo determinado pelo giro no
círculo, como mostra a Figura 24. O momento de inércia mínimo está a 90° do máximo.

FIGURA 25 – MOMENTOS PRINCIPAIS DE INÉRCIA DETERMINADOS


PELO CÍRCULO DE MOHR

Fonte: Autor (2022).

Experimente recalcular o exemplo 08 utilizando o círculo de Mohr.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 34


SAIBA MAIS

A Figura apresenta uma viga tubular que pode ser utilizada para movimentar cargas em
um galpão. A seção transversal retangular está posicionada de modo que o carregamento
esteja atuando em torno do eixo horizontal. Para seções retangulares, sabemos que os
eixos vertical e horizontal que passam pelo centroide são os eixos principais de inércia
e o eixo horizontal define o momento de inércia máximo. É por esse motivo que a viga é
posicionada da maneira mostrada.

FIGURA - VIGA TUBULAR

Fonte: O autor (2022).

REFLITA

Sabendo que o momento de inércia pode modificar de acordo com a posição da barra, para
muitas aplicações, é interessante utilizar barras com dupla simetria, como as circulares.

Fonte: O Autor (2022).

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 35


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade vocês aprenderam a calcular várias propriedades de uma área, que,
no nosso campo de atuação, representa a seção transversal de uma barra. O momento
de inércia (ou momento de 2ª ordem) será bastante utilizado em fórmulas posteriores, no
cálculo da resistência e estabilidade das estruturas.
O produto de inércia auxilia no cálculo dos momentos principais de inércia, que
definem o maior e menor momento de inércia da área estudada e em torno de qual eixo eles
atuam. Com essa informação, vocês conseguem definir qual a posição ótima das barras de
elementos estruturais e mecânicos, de acordo com o tipo de carregamento aplicado.
Lembre-se, é importante que o carregamento seja aplicado perpendicularmente ao
maior momento de inércia. Em alguns casos, é válido utilizar seções duplamente simétricas,
garantindo que os momentos de inércia serão os mesmos para os dois eixos principais.

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 36


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Mecânica Vetorial para Engenheiros: Estática
Autor: Beer, F.; Johnston, E. R.; Mazurek, D.
Editora: AMGH; 11ª edição (11 abril 2019).
Sinopse: Esse entendimento é essencial para o sucesso na
área. Junto com o volume que trata de Dinâmica, esta obra é um
indiscutível clássico que não pode faltar ao aluno de engenharia
nos seus primeiros anos de estudo. A análise vetorial é apresentada
desde o início e utilizada na discussão dos princípios fundamentais
da mecânica. Os métodos vetoriais também são usados para resolver
problemas, em particular os tridimensionais, nos quais essas técnicas
levam a uma solução mais simples e concisa. A ênfase deste livro
está na compreensão correta dos princípios da mecânica, na sua
aplicação à solução de problemas de engenharia e na apresentação
da análise vetorial como uma ferramenta muito útil.

FILME/VÍDEO
Título: A ponte do Rio Kwai
Ano: 1957.
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, prisioneiros
britânicos recebem o encargo dos japoneses de construir em
plena selva uma ponte de transporte ferroviário sobre o rio Kwai,
na Tailândia. O coronel Nicholson, que está à frente dos prisioneiros,
é o oficial britânico que procura uma forma de elevar o moral de
seus homens. Vê a ponte como uma forma de consegui-lo, tendo-
os ocupados na construção e fazendo-os sentirem-se orgulhosos
da obra. Por sua vez, o major americano Shears, prisioneiro no
mesmo campo, só pensa em fugir. Ao final, ele o consegue e,
contra a sua vontade, volta algumas semanas depois, guiando um
comando inglês, cuja missão é destruir a ponte no instante em
que passasse o primeiro trem, para anular a rota de transporte de
armas dos japoneses, que pretendiam utilizá-la para invadir a Índia
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=9q08QHSp8Vw

UNIDADE I Propriedade Geométricas da Seção Transversal 37


UNIDADE II
Esforços Internos em
Estruturas Isostáticas
Professora Me. Carolina Coelho de M. Grossi
Professora Me. Fernanda Assunção Valim

Plano de Estudo:
● Equilíbrio de forças em nós e equilíbrio de corpo rígido;
● Treliça;
● Definição de esforços internos em barras, vigas e pórticos;
● Diagramas de esforços internos em barras e vigas;
● Diagrama de esforços internos em pórticos.

Objetivos da Aprendizagem:
● Aprender a calcular os esforços internos em uma seção de
estruturas classificadas como barras, vigas e pórticos;
● Calcular reações de apoio;
● Conhecer o que são forças e momentos e aplicar o conhecimento
no equilíbrio de nós e no equilíbrio de corpo rígido;
● Desenhar os diagramas de esforços solicitantes em estruturas
classificadas como barras, vigas e pórticos;
● Entender porque as estruturas precisam de vínculos, quais
são os tipos existentes e classificar as estruturas de
acordo com a quantidade desses vínculos.

38
INTRODUÇÃO

Caro aluno(a)

A resistência dos materiais estuda o comportamento mecânico de elementos


estruturais, quanto aos esforços e deformações gerados, quando solicitados por agentes
externos, como: vento, cargas, variações térmicas, movimentação da estrutura, etc.
Nesta unidade vamos entender um pouco mais sobre os conceitos fundamentais
da estática e sobre as estruturas isostáticas, estruturas cuja a quantidade de vínculos
externos e internos são estritamente o suficiente para manter o equilíbrio do corpo, quando
submetidas por cargas permanentes.
No primeiro tópico estudaremos o equilíbrio de forças em nós, no segundo, falaremos
sobre os tipos de vinculações e equilíbrio de corpos materiais, em seguida, no terceiro
tópico, a definição de esforços internos em barras, vigas e pórticos, no quarto, diagrama
de esforços internos em barras e vigas e por fim, diagrama de esforço interno em pórticos.
É muito importante conhecer os esforços internos para projetar um membro
estrutural ou mecânico e vamos estudá-los agora.

UNIDADE III Esforços


Propriedade
Internos
Geométricas
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da Seção
Isostáticas
Transversal 39
1. EQUILÍBRIO DE FORÇAS EM NÓS E EQUILÍBRIO DE CORPO RÍGIDO

A estática é a área da resistência dos materiais em que procuramos estudar as


condições sob as quais podem ocorrer situações de equilíbrio estático, mais especificamente
o repouso, em um sistema físico. Através dos conceitos da estática, temos condições de
analisar e dimensionar estruturais.
As estruturas são sistemas físicos compostos pela ligação de um ou mais elementos
entre si e com o meio exterior formando um conjunto estável, que seja capaz de receber
solicitações externas, absorve-las internamente e transmiti-las até os apoios, sendo os
elementos estruturais corpos sólidos deformáveis, e as solicitações externas encontrarão
seu sistema estático equilibrado (SUSSEKIND, 1981). São encontrados no reino animal na
forma de esqueletos, no reino vegetal na forma de galhos-troncos e raízes. São também
projetadas e arquitetadas pelo homem para atender suas necessidades, com as mais
variadas formas e finalidades, como edifícios, pontes, torres entre outros (Figura 01).

FIGURA 01 – FORMAS ESTRUTURAIS ENCONTRADAS NO NOSSO DIA A DIA

UNIDADE III Esforços


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Isostáticas
Transversal 40
Os elementos que compõem as estruturas são tridimensionais, possuindo três
dimensões. Em função dessas dimensões podemos classificá-las em: estruturas em barra
ou linear; estruturas em bloco, ou contínuas de volume; e estruturas em chapa, ou estrutura
contínua de superfície.
● Estruturas em barra: são componentes estruturais com uma dimensão
preponderante em relação às suas demais dimensões. Como exemplo de elementos
em barra temos: pilares, cabos e vigas (Figura 02).

FIGURA 02 – ESTRUTURAS LINEARES

● Estrutura em chapa: Componentes estruturais com duas dimensões


preponderantes em relação à uma terceira, chamada espessura. As lajes, abóbodas
e cascas são elementos estruturais consideradas contínuas de superfície (Figura 03).

FIGURA 03 – ESTRUTURAS EM CHAPA

● Estruturas em bloco: São elementos estruturais com as três dimensões


preponderantes, ou seja, possuem a mesma ordem de grandeza. As estruturas
contínuas de volume mais conhecidas no âmbito da engenharia civil são os blocos
de fundação, estruturas de contenção e barragens (figura 04).

UNIDADE III Esforços


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Isostáticas
Transversal 41
FIGURA 04 – ESTRUTURAS EM BLOCO

A maioria dos elementos estruturais são ditos lineares, e podem ser representados
pelo eixo que passa pelo centroide de cada seção transversal que constitui a peça (Figura
05), chamada representação unifilar (Figura 06). De acordo com Sussekind (1981), a barra
pode ser reta ou curva, conforme seu eixo seja reto ou curvo.

FIGURA 05 – REPRESENTAÇÃO DE ELEMENTOS EM BARRA

Fonte: Humberto (2012).

FIGURA 06 – REPRESENTAÇÃO UNIFILAR

Fonte: Humberto (2012).

A união dessas peças pode formar uma estrutura plana, caso os eixos que
compõem a estrutura estejam contidos no mesmo plano, ou espaciais (Figura 07), caso
o mesmo não ocorra.

UNIDADE III Esforços


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Isostáticas
Transversal 42
FIGURA 07 – TRELIÇA ESPACIAL

Para compreender o comportamento das peças estruturais quando solicitados por


cargas, primeiramente precisamos entender o que são esses esforços. Na mecânica clássica,
o conceito de força é introduzido como sendo a ação de um corpo sobre outro, causando
deformação ou movimento. Está ação se manifesta por contato ou a distância, como o caso
das forças gravitacionais. A força é uma grandeza vetorial (Figura 08), e necessita para sua
total definição de intensidade, direção, sentido e do seu ponto de aplicação. Sua unidade é
o Newton, representada pela letra N (Kg. m / s²).

FIGURA 08 – SIMBOLOGIA GRÁFICA DE FORÇA

Fonte: Autor (2021).

O local de aplicação da força no corpo determina o movimento que ela gera no


mesmo, sendo que esses movimentos possíveis são de translação e de rotação. Vamos
analisar uma caixa apoiada em uma superfície livre de atrito. Se aplicarmos uma força em
um ponto coincidente com a linha de ação do centro de gravidade dessa caixa, ela tenderá
a transladar na mesma direção da força aplicada, porém, se aplicarmos essa mesma carga
em qualquer outro ponto ela não só transladará na mesma direção da carga, como também
rotacionará em relação a esse centro de gravidade.

UNIDADE III Esforços


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Isostáticas
Transversal 43
Esse movimento de rotação, pode também ser chamado de momento de uma força,
que nada mais é do que, a tendência dessa força de provocar a rotação de um corpo em
torno de um ponto ou de um eixo (equação 01). Sua unidade é o Newton x metro (N.m).

Equação 01

Em que d é denominado o braço de alavanca do momento e é a distância


perpendicular do ponto, ou eixo, até a linha de ação da força.
Caso esse movimento de rotação seja em relação aos eixos transversais, eixos
contidos na seção transversal do corpo, dá-se o nome de momento fletor ou flexão, e se for
em relação ao eixo longitudinal, chamamos de momento torsor ou torque (Figura 09).

FIGURA 09 – TIPOS DE MOMENTO, EM FUNÇÃO DO EIXO ROTACIONADO

Fonte: Hibbeler (2006).

Os sentidos do momento podem ser horário ou anti-horário. A fim de estabelecer


uma convenção de sinais, nessa apostila, será adotado o sinal negativo para o sentido
horário ( ), e positivo para o anti-horário ( ).

1) Exemplo 1 (Hibbeler, 2010) – Determine os momentos da força de 800N


sobre a estrutura, na Figura abaixo, em relação aos pontos A, B, C e D.

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Transversal 44
A equação 01, define matematicamente o momento fletor. Lembrando que d é a
distância perpendicular do ponto no eixo de onde se deseja calcular o momento até a linha
de ação da força que gera o gera, também chamado de braço de momento, temos:

Um conceito muito importante para o manuseio de esforços é o de sistemas de


forças equivalentes. Quando várias forças e momentos agem em conjunto sobre um corpo,
é mais fácil compreender o efeito resultante se o sistema for representado por uma única
força, e um único momento aplicados em um determinado ponto, gerando o mesmo efeito
externo, efeito translacional e rotacional (Figura 10).

FIGURA 10 – SISTEMA DE FORÇAS EQUIVALENTES

Fonte: Hibbeler (2006).

Essa substituição pode ser utilizada para simplificar o cálculo do equilíbrio do corpo,
e é válida apenas se as seguintes equações forem satisfeitas (Equação 02 e 03):

Equação 02

Equação 03

No caso de um corpo contido em um plano, com forças também coplanares, as


equações 02 e 03 podem ser reescritas da seguinte forma.

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Transversal 45
Equação 04

Equação 05

Equação 06

Caso o elemento esteja contido no espaço, ou seja, elemento tridimensional, com


forças direcionada em x, y e z, temos que a condição imposta pelas equações 02 e 03,
podem ser escritas na consequente configuração:

Equação 07

Equação 08

Equação 09

Equação 10

Equação 11

Equação 12

Para a resolução de exercícios desse tipo, é necessário que se estabeleça um


sistema de eixo coordenados com a origem localizada no ponto O e orientação adequada.

2) Exemplo 2 (Hibbeler, 2010) – Substitua o sistema de forças que atua


sobre a viga por uma força e momento equivalentes no ponto B.

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Transversal 46
A viga analisada está contida em um plano e solicitada por esforços coplanares.
O sistema de forças será equivalente, no ponto B, se satisfizermos as equações 02 e 03.
Para tal, primeiramente passamos os esforços inclinados para as direções x e y, através da
decomposição de vetores, como segue:

Com as forças já decompostas, podemos utilizar o conceito de adição de vetores


e somá-las ou subtrai-las para encontrar o valor das forças resultantes nas direções x e y.

Com os valores das componentes dos esforços, temos condições de calcular a


força resultante do sistema, no ponto B, e sua respectiva direção, através do método da
regra do triângulo.

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Transversal 47
Para que os sistemas permaneçam equivalentes, é necessário que o efeito externo
dos dois sistemas de forças conserve-se constantes, ou seja, a translação e a rotação sejam
a mesma. Sendo assim, faz-se necessário, ainda, satisfazer a equação 03, diz respeito ao
momento fletor. Como no exercício temos uma viga contida em um plano, solicitada por esforços
coplanares, utilizaremos, como simplificação da equação 03, a equação 06, como segue.

O sistema de forças, portanto, que atua sobre a viga por uma força e momento
equivalentes no ponto B é:

As cargas, até então explanadas, podem ser classificadas em externas e internas,


sendo que, quando externas são divididas em ativas e reativas. As forças ativas atuam
diretamente sobre o corpo ou sistema de corpos, e as forças reativas surgem devido aos
vínculos ou ligações que impedem movimentos, aparecendo somente quando forças ativas
atuam no elemento analisado. Já as forças internas são originadas pela interação entre os
esforços externos ativos e reativos.
Alguns exemplos de cargas externas ativas poderiam ser os móveis, apoiados
na laje de piso, que compõe o layout da sala de uma residência (Figura 11), cabos de
transmissão de energia que são sustentados por torres de transmissão (Figura 12), ou até
mesmo carros que trafegam, e se apoiam no pavimento, sobre uma ponte (Figura 13).

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Transversal 48
FIGURA 11 – MÓVEIS, APOIADOS NA LAJE DE PISO, DE UMA RESIDÊNCIA

FIGURA 12 – CARROS TRAFEGANDO POR UMA PONTE

FIGURA 13 – TORRES SUSTENTANDO LINHAS DE TRANSMISSÃO

É de suma importância compreender que toda análise e dimensionamento estrutural


é realizada através dos valores das forças internas, resposta das solicitações externas no
corpo. Esse corpo pode ser considerado um corpo extenso ou um ponto material.

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Transversal 49
Caso o corpo seja solicitado por esforços concomitantemente concorrentes, ou
seja, o mesmo ponto de aplicação, podemos considerá-lo como ponto material, pois suas
dimensões se tornam irrelevantes para o problema de equilíbrio em questão. Caso essas
forças não atuem simultaneamente no mesmo local do corpo, o mesmo passa a ser solicitado
por momento, e suas dimensões se tornam relevantes para a problemática criada, tendo
que, o elemento ser considerado como um corpo extenso.
Sempre que se deseja trabalhar com uma peça componente de uma estrutura
ou máquina, devemos observar e garantir o seu equilíbrio externo e interno. Para que o
equilíbrio estático externo de um corpo seja garantido, ou seja, para que as estruturas
estejam em repouso, e permaneçam nessa condição ao longo da sua vida útil, é necessário
que as forças atuantes formem entre si um sistema equivalente a zero, ou seja, sua força
resultante e momento resultante em relação a qualquer ponto do corpo analisado sejam
nulos (Equação 13 e 14).

Equação 13

Equação 14

Equivalentemente, no âmbito tridimensional, o equilíbrio é garantido, caso a


somatória das forças nas direções x, y e z, sejam iguais a zero, ou seja:

Equação 15

Equação 16

No âmbito bidimensional, que explanaremos, o equilíbrio é comprovado satisfazendo


as equações de somatória de forças em relação as direções x e y, e momento em torno do
eixo z (Equação 17 e 18).

Equação 17

Equação 18

Essas equações são chamadas de equações fundamentais da estática e o equilíbrio


só é possível através da adição de vínculos, ou apoios nas estruturas.

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Transversal 50
Sabemos que as estruturas são sistemas físicos capazes de receber e transmitir
esforços, sendo formadas por vários elementos ligados entre si e exteriormente ao solo.
Estas ligações são chamadas vínculos. Os elementos mais os vínculos devem formar um
conjunto estável, sendo os vínculos responsáveis por restringir os graus de liberdade de
movimento da estrutura.
Todo corpo possui grau de liberdade, que são movimentos rígidos possíveis e
independentes que o mesmo pode vir a executar. Caso um corpo livre seja submetido
a forças em todas as direções do espaço (x. y e z), ele poderá sofrer 6 movimentos,
independentes entre si, sendo 3 translações e 3 rotações, dessa forma, ele terá 6 graus de
liberdade (Figura 14 - 1). No caso desse mesmo corpo ser solicitado por cargas contidas em
um plano x-y, o corpo apresentará 3 graus de liberdade, ou seja, 3 movimentos possíveis e
independentes, a saber, 2 translações e 1 rotação (Figura 14 - 2).

FIGURA 14 – GRAUS DE LIBERDADE DE UM CORPO SOLICITADO POR ESFORÇOS


BIDIMENSIONAIS E TRIDIMENSIONAIS, RESPECTIVAMENTE

Fonte: Hibbeler (2006).

Qualquer movimento de um corpo rígido no plano pode ser obtido pela superposição
de três movimentos independentes. São três, portanto, os graus de liberdade de movimento
no plano: uma rotação e duas translações. Esses deslocamentos ou parte deles podem
ser impedidos, por sua vez, por vínculos externos através de apoios. E nas direções dos
deslocamentos impedidos ocorrem esforços externos reativos às ações transmitidas pela
estrutura aos apoios, denominados esforços externos reativos ou reações de apoio.

UNIDADE III Esforços


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Transversal 51
Em suma, podemos classificar como vínculos, tudo aquilo que impede o
deslocamento, em alguma direção, de um segundo elemento, ou parte dele, apoiando-o
naquela determinada direção. Esses vínculos, apresentados para estruturas planas, são
classificados pelo número de graus de liberdade retirados da estrutura em:
● Vínculos ou apoio de 1º gênero: são dispositivos que impedem movimentos
de translação em uma direção (x ou y), ou seja, retiram um grau de liberdade
do corpo, também chamados articulado móvel ou apoio simples (Tabela 01).
Exemplo: apoio sobre roletes.

TABELA 01 – VÍNCULO DE 1º GRAU

Fonte: Hibbeler (2006).

● Vínculos ou apoio de 2º gênero: são dispositivos que impedem movimentos de


translação nas duas direções (x, y), ou seja, eliminam dois graus de liberdade, também
chamados articulados fixos ou rótulas (Tabela 02). Exemplo: dobradiça (Figura 15).

TABELA 02 – VÍNCULO DE 2º GRAU

Fonte: Hibbeler (2006).

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Transversal 52
FIGURA 15 – DOBRADIÇA DE PORTA

Para que a porta cumpra com a sua finalidade de abrir e fechar, permitindo a pas-
sagem de pessoas, ela precisa ser vinculada com a alvenaria de tal forma que, sejam im-
pedidos os seus movimentos translacionais, porém, é necessário que ela permita a rotação
na folha da porta, em torno de um dos eixos cartesianos.

● Vínculos ou apoio de 3º gênero: são dispositivos que impedem movimentos


de translação nas duas direções (x, y) e rotação (eixo z), ou seja, três graus de
liberdade (Tabela 03). Exemplo: soldas (Figura 16).

TABELA 03 – VÍNCULO DE 3º GRAU

Fonte: Hibbeler (2006).

UNIDADE III Esforços


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Transversal 53
FIGURA 16 – EXEMPLO DE BARRAS SOLDADAS EM LIGAÇÃO DO TIPO ENGASTE

A solda, quando vincula dois ou mais elementos entre si, podendo impedir qualquer tipo
de movimento relativo entre as peças vinculadas, tanto de translação quanto de rotação. Sendo
assim, pode ser considerado um apoio de terceiro gênero ou, também chamado, engaste.
Dependendo de como esses apoios são arranjados nas estruturas, elas podem
ser classificadas quanto à estaticidade em: hipoestáticas, isostáticas e hiperestáticas.
Estruturas hipoestáticas são estruturas que possuem a quantidade de vínculos internos e
externos em quantidade insuficiente para manter a mesma em equilíbrio estático (Figura 17).
Matematicamente essa situação ocorre quando:

Equação 19

Lembrando que, no âmbito bidimensional, caso não haja nenhuma vinculação


interna (apoios internos abrem um grau de liberdade na estrutura), as equações de equilíbrio
podem ser reduzidas em 3, sendo elas:

FIGURA 17 – ESTRUTURA EM BARRA HIPOSTÁTICA

Fonte: Autor (2021).

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Transversal 54
Estruturas isostáticas são estruturas que possuem a quantidade de vínculos
internos e externos em quantidade estritamente suficiente para mantê-la em equilíbrio
estático (Figura 18). Matematicamente essa situação acontece quando:

Equação 20

FIGURA 18 – ESTRUTURA LINEAR ISOSTÁTICA

Fonte: Autor (2021).

Estruturas hiperestáticas são estruturas que possuem a quantidade de vínculos


internos e externos em quantidade superior àquela que é necessária para que o corpo fique
em equilíbrio estático (Figura 19). Matematicamente essa circunstância ocorre quando:

Equação 21

FIGURA 19 – ESTRUTURA EM BARRA HIPERESTÁTICA

Fonte: Autor (2021).

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Isostáticas
Transversal 55
Os vínculos são estritamente necessários para manter o equilíbrio estática de uma
estrutura, no entanto, mesmo com número suficiente de vínculos, se estes não estiverem
arranjados, adequadamente, a estrutura não permanecerá em equilíbrio e diz que a
estruturas está impropriamente vinculada (Figura 20).

FIGURA 20 – ESTRUTURAS IMPROPRIAMENTE VINCULADA

Fonte: Autor (2021).

As cargas aplicadas em uma peça de estrutura se classificam quanto ao modo de


distribuição em: cargas concentradas, carga de momento e cargas distribuídas.
● Cargas concentradas: São aquelas que atuam em áreas muito reduzidas em
relação às dimensões das estruturas. Neste caso ela é considerada no centro de
gravidade da área de atuação (Figura 21).

FIGURA 21 – VIGA SOLICITADA POR ESFORÇOS CONCENTRADOS

Fonte: Hibbeler (2006).

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● Carga de momento: Momentos aplicados em determinados pontos de uma
estrutura (Figura 22).

FIGURA 22 – VIGA SOLICITADA POR UM MOMENTO CONCENTRADO

Fonte: Hibbeler (2006).

● Cargas distribuídas: São aquelas que atuam em uma área com dimensões na
mesma ordem de grandeza da estrutura (Figura 23).

FIGURA 23 – VIGA SOLICITADA POR ESFORÇO DISTRIBUÍDO

Fonte: Hibbeler (2006).

Para a verificação do equilíbrio externo do corpo, solicitado por esforços


distribuídos, podemos utilizar o conceito de sistemas de forças equivalentes para facilitar
matematicamente a análise, trocando essa carga distribuída por uma carga pontual aplicado
em um ponto específico da estrutura. Para tal a intensidade dessa força resultante FR deve
ser equivalente à soma de todas as forças no sistema (Figura 24), sendo assim, ela é
determinada a partir da área diferencial dA sob a curva de carregamento, que nada mais é
que FR = ∫dA = A.
A localização da força resultante deve satisfazer a conservação do momento fletor.
Sendo assim, a localização x da linha de ação da força resultante FR pode ser determinada pela
equação dos momentos da força resultante e da distribuição de forças em relação ao ponto O.

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FIGURA 24 – TROCA DE SISTEMAS DE FORÇAS EQUIVALENTES

Fonte: Hibbeler (2006).

Equação 22

Equação 23

Equação 24

Equação 25

A equação 25 representa a coordenada x para o centro geométrico ou centroide


de área sob diagrama de carregamento destruído w(x). Sendo assim, a força resultante é
equivalente à área sob o diagrama das cargas e tem uma linha de ação que passa pelo
centroide ou centro geométrico dessa área.
Como já foi falado, as estruturas e suas partes são analisadas e dimensionadas
para suportar as solicitações internas, a fim de garantir que o material possa suportar ou
resistir esse esforço. Os esforços internos são originados pela interação entre os pontos
ou partículas que constituem os elementos componentes da estrutura. Essas forças são
condicionadas à ação de cargas ativas.
As forças internas podem ser determinadas usando o método das seções que
consiste em seccionar o elemento estrutural (Figura 25), evidenciando os esforços internos
da seção (Figura 26), que no âmbito bidimensional são três: Esforço Normal (sigla N);
Esforço Cortante (sigla V); e Momento Fletor (sigla M). E aplicar as equações de equilíbrio
para uma das partes seccionadas.

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FIGURA 25 – CORTE A-A EM VIGA ENGASTADA

Fonte: Hibbeler (2006).

FIGURA 26 – VIGA ENGASTADA SECCIONADA COM OS ESFORÇOS EM EVIDÊNCIA

Fonte: Hibbeler (2006).

Antes que o membro seja seccionado, pode ser preciso primeiro determinas as
reações de apoio, através das equações de equilíbrio. Em seguida, confecciona-se o diagrama
de corpo livre, mantendo as cargas distribuídas, momentos e forças que atuam sobre o
membro em seus locais exatos. Passe um corte imaginário pelo membro, perpendicular,
deixando-as em evidência. Por fim, desenhe o diagrama de corpo livre do segmento que
tiver a menor quantidade de esforços de aplica-se as equações fundamentais da estática
à parte seccionada. Uma dica interessante é, quando aplicada a equação de equilíbrio de
momento, utilize o ponto da seção como referencial. Dessa forma as forças internas normal
e cortante são eliminadas, ou seja, não geram momento, e podemos obter uma solução
direta para o momento. Esse procedimento pode ser utilizado para qualquer elemento linear.

1.1 Equilíbrio de ponto material


Neste tópico falaremos sobre equilíbrio de ponto material. Como vimos, um corpo
pode ser tratado como um ponto material quando suas dimensões não influem na resolução
do problema em questão. Essa situação ocorre quando os esforços externos, que atuam
no elemento analisado, são simultaneamente concorrentes, nesse caso, não há geração de
momento no corpo, ou seja, essa condição, satisfaz, naturalmente a equação 18.
Um corpo está em equilíbrio estático quando as equações fundamentais da estática
são satisfeitas. Porém, como os pontos materiais não são solicitados por momento fletor,
para que essa condição seja cumprida, basta satisfazer as equações 16 e 17.

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Os problemas de equilíbrio de esforços coplanares para um ponto material são
determinados usando-se os procedimentos, estabelecidos por Hibbeler (2010), a seguir.
1) O primeiro passo é confeccionar um diagrama de corpo livre.
» Defina os eixos x, y com orientação adequada;
» Estabeleça uma convecção de sinais;
» Identifique todas as intensidades e sentidos conhecidos e desconhecidos das
forças no diagrama;
» O sentido da força que tenha intensidade desconhecida é suposto;

2) Em seguida, condiciona-se o elemento ao equilíbrio estático.


» Aplique as equações de equilíbrio para um corpo bidimensional:

» Os componentes serão positivos se forem orientados ao longo do sentido positivo


do eixo, e negativos se forem orientados ao longo do sentido negativo do eixo;
» Se a solução der resultado negativo, isso indica que o sentido da força é oposto
ao mostrado no diagrama de corpo livre (que foi suposto).

3) Exemplo 3 (Hibbeler, 2010) – Determine as forças nos cabos AB e AD


para o equilíbrio do motor de 250 Kg, a seguir.

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O primeiro passo para solucionar o problema, é confeccionar o diagrama de corpo
livre contemplando todas as forças que atuam no sistema, devidamente identificadas, e
suas respectivas direções.

Feito o diagrama e corpo livre, aplica-se as equações fundamentais da estática, a


fim de encontra os valores de TB e TD que satisfazem a condição de equilíbrio estático.

1.2 Equilíbrio de Corpo Rígido


Quando as forças não convergem concomitantemente em um ponto do corpo
analisado, como a viga do banco de concreto da Figura 27, temos que considerar as dimensões
do mesmo, e chamamo-lo de corpo rígido, assim. Dá-se o nome de rígido, pois considera-se
dentro das análises estáticas, num primeiro momento, que os corpos sejam indeformáveis, ou
seja, não há deslocamento relativo entre as partículas que constituem o elemento analisado.

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FIGURA 27 – BANCO DE CONCRETO SOLICITADO PELO PESO DE UM GATO

Fonte: Autor (2021).

Como vimos, os corpos estruturais rígidos são classificados em estruturas em barra


e estruturas contínua. Na estática das estruturas são estudadas apenas as estruturas em
barra. Em toda teoria de barra, define-se seção transversal ou seção reta como sendo a
interseção de uma barra com um plano perpendicular ao seu eixo geométrico. Esse eixo é o
lugar geométrico dos centroides das seções transversais da barra. As seções transversais
são representadas por seus centroides e a barra é representada por um eixo geométrico
cujo traçado é dito representação unifilar (Figura 28).

FIGURA 28 – REPRESENTAÇÃO UNIFILAR DE UM ELEMENTO EM BARRA

Fonte: Hibeller (2006).

O procedimento para solucionar problemas estáticos envolvendo corpos rígidos é


semelhante ao de pontos materiais, com a diferença de que, agora, precisamos identificar
e classificar os vínculos, suas respectivas reações, e satisfazer as três equações de equilí-
brio, pois nessa condição o elemento está solicitado por momento fletor.

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1) Sendo assim, os problemas de corpos rígidos podem ser resolvidos como segue.
» Primeiramente confecciona-se o diagrama de corpo livre:
» Estabeleça uma convecção de sinais;
» Estabeleça a origem dos eixos x e y, adequadamente;
» Faça um esboço do corpo analisado;
» Identifique todas as cargas e especifique suas direções em relação aos eixos
x e y. Mostre todos os componentes incógnitos e adote o sentido positivo ao
longo de x e y, caso seus sentidos verdadeiros não possam ser determinados
previamente.
2) Em seguida, aplique as equações de equilíbrio:
» Se os componentes x e y das forças e dos momentos puderem ser facilmente
determinados, aplique as três equações de equilíbrio, caso contrário, use as
equações vetoriais (decomposição de vetores);
» Se as soluções das equações de equilíbrio fornecerem escalares negativos
para as intensidades de forças e momentos, estarão indicando que os sentidos
adotados inicialmente no diagrama de corpo livre são opostos aos verdadeiros.

4) Exemplo 4 (Hibbeler, 2010) – Determine as reações nos apoios A e B para o


equilíbrio da viga.

Como as forças são aplicadas em pontos distintos do corpo, devemos considerar


o sistema de corpos como um corpo rígido. Dessa forma, as três equações de equilíbrio
devem ser utilizadas.

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Estabeleça uma convenção de sinais:

Como os esforços estão distorcidos em relação a horizontal e vertical, utilizamos as


equações de decomposição de forças para encontrar as componentes x e y de cada uma delas.

Em seguida, aplica-se as equações de equilíbrio para as direções x e y e rotação em z.

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Sendo assim, para que a viga esteja em equilíbrio estático, as reações nos apoios
devem ser as seguintes:

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2. TRELIÇA

Treliça é um sistema estrutural reticulado, estrutura composta por elementos de barra


unidas entre si em suas extremidades (Figura 29). Normalmente essas ligações se dão por rebites,
soldas ou parafusos. São muito utilizadas na engenharia, em coberturas, pontes, guindastes e
edifícios. Normalmente, são executadas em estrutura metálica ou madeira pela maior facilidade
de pré-fabricação, ligação entre os elementos e propriedades mecânicas dos materiais.

FIGURA 29 – TRELIÇA

Fonte: Adaptado de Beer et. al (2012).

Quanto à disposição das barras da treliça no espaço, ela pode ser classificada como
plana, caso os elementos e as forças externas estejam contidos em um mesmo plano, ou
como espacial, caso os elementos e forças externas agirem nas três dimensões do espaço.
As treliças surgiram como um sistema estrutural mais econômico que as vigas para
vencer vãos maiores ou suportar cargas mais pesadas.

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Em geral, os elementos de treliças são esbeltos e podem suportar pequenas cargas
laterais. Assim, os carregamentos devem ser aplicados nos nós da estrutura (Sussekind, 1981).
Sempre que possível, quando há a necessidade de aplicação de carga entre dois
nós, ou quando uma carga distribuída solicita a estrutura, conforme apresentado por Beer
et al (2012), é preciso prever um sistema que transfira o carregamento aos nós, como
pode-se observar em uma ponte, na qual os carregamentos são transferidos aos nós por
um sistema de longarinas e vigas transversais, ilustrado na Figura 30.

FIGURA 30 – FORÇAS TRANSFERIDAS PARA OS NÓS DA TRELIÇA DE TELHADO

Fonte: Hibeller (2010).

Sussekind (1981) define uma treliça ideal como sendo um sistema reticulado
cujas barras têm todas as extremidades rotuladas e cujas cargas estão aplicadas apenas
em seus nós.
Os elementos de barra das treliças são, normalmente, conectados por parafusos,
soldas ou rebites, por meio de uma placa de ligação, ou por um grande parafuso, também
chamado de pino, como ilustrado na Figura 31 (HIBELLER, 2010).

FIGURA 31 – LIGAÇÕES ENTRE BARRAS

Fonte: Hibeller (2010).

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Hibbeler (2010) conclui que devido às duas hipóteses que definem uma treliça ideal (nós
articulados e cargas aplicadas nos nós) cada elemento estará solicitado somente por uma força
axial, força que age na direção do eixo longitudinal da peça, aplicada nas suas extremidades.
De acordo com o sentido da força, a barra poderá estar solicitada a uma força de
tração, se ela tender a alongar o elemento, ou a uma força de compressão, se ela tender a
encurtar o mesmo. A Figura 32 ilustra as forças de tração e compressão.

FIGURA 32 – FORÇAS DE TRAÇÃO E COMPRESSÃO

Fonte: LEET et al (2010).

Na Figura 32, parte (a), uma barra tracionada é apresentada, isto é, as forças
(T) estão saindo das extremidades do elemento. Os nós em que a barra está conectada
exercem uma força no sentido contrário, pois os mesmos estão em equilíbrio, implicando
em uma força saindo do nó, na direção da barra e no sentido contrário à força de tração.
Análise semelhante pode ser feita para a barra sob uma força de compressão (C), ilustrada
na parte (b) da mesma figura.
As treliças são classificadas quanto a lei de formação e quando a sua estaticidade.
Quando a lei de formação, podem ser: simples, compostas e complexas. E quando a sua
estaticidade, são classificadas em: hipoestáticas, isostáticas e hiperestáticas.

2.1 Classificação de treliças quanto a sua lei de formação


2.1.1 Treliça Simples
São treliças obtidas a partir de configurações indeformáveis (triângulos),
adicionando-se sucessivamente dois elementos, barras, e um nó (Figura 33).

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Transversal 68
FIGURA 33 – CONFIGURAÇÕES FUNDAMENTAIS

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2012).

Esse processo poderá ser repedido tantas vezes quanto necessário para obter a
geometria desejável para a estrutura. A Figura 34 ilustra o processo para a formação de
uma treliça extensa simples. Nota-se que uma treliça simples não deve ser necessariamente
composta de triângulos (BEER et al, 2012).

FIGURA 34 – FORMAÇÃO DE UMA TRELIÇA SIMPLES

Fonte: BEER et al (2012).

A análise deste tipo de treliça poderá ser feita pelo Método dos Nós e pelo Método
das Seções, como será visto mais adiante.

2.1.2 Treliça Composta


Treliças formadas pela união de duas treliças simples, através da adição de três
barras não concomitantemente concorrentes ou paralelas, ou um nó e uma barra, não
concorrente com este nó (Figura 35).

FIGURA 35 – FORMAÇÃO DE UMA TRELIÇA SIMPLES

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2012).

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A forma de análise deste tipo de treliça poderá ser feita pelo método das Seções,
como será apresentado mais adiante.

2.1.3 Treliça Complexa


A treliça complexa não obedece a lei de formação dos triângulos (Figura XX). Sendo
assim, sua classificação é feita por exclusão. A verificação dos esforços internos desse tipo
de treliça é feita através do método de Henneberg, que não será estudado nessa unidade.

2.2 Classificação de treliças quanto a sua estatiscidade


Os conceitos de estaticidade, qualidade daquilo que é estático, e estabilidade estão
sempre associados. Uma estrutura só pode ser classificada como isostática ou hiperestática
se for estável (ALMEIDA, 2009).
A estaticidade está relacionada com a quantidade de vínculos associados aos
elementos estruturais, e pôr fim a estrutura como um todo. Se a quantidade de vínculos
não for suficiente para manter o elemento em equilíbrio estático, ou seja, parado, dizemos
que esse elemento, considerado bidimensional e contido no plano xy, é hipostático, e existe
a possibilidade de o mesmo transladar, na direção x ou y, ou rotacionar em torno do eixo z.
Caso a quantidade de vínculos associados a estrutura tiver quantidade estritamente
suficiente para mantê-la em equilíbrio estático, chamamo-la de isostática, e a mesma
permanece em repouso quando solicitada por esforços. E por fim, quando a quantidade
de vínculos excede a quantidade de vínculos, ou restrições, necessárias para manter o
elemento parado, ele é considerado hiperestático.
Matematicamente, essa classificação é feita comparando-se o número de
incógnitas com o número de equações de equilíbrio disponíveis. As incógnitas de uma
treliça correspondem aos esforços em cada barra e às reações de apoio da estrutura. Já o
número de equações é igual a duas vezes o número de nós, no caso de treliças planas, e
três vezes o número de nós, no caso de treliças espaciais.
Considerando r o número de reações de uma treliça plana, m o número de membros
e n o número de nós, de forma resumida, podemos ter:
● r + b < 2.n é condição necessária e suficiente para caracterizar uma estrutura
hipostática;
● r + b = 2.n é condição necessária, mas não suficiente, para caracterizar uma
estrutura isostática;
● r + b > 2.n é condição necessária, mas não suficiente, para caracterizar uma
estrutura hiperestática.

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Para definir uma treliça como isostática ou hiperestática, a estabilidade deve
ser satisfeita. A instabilidade, segundo Almeida (2009), pode ser oriunda de:
● formas geométricas críticas, isto é, barras da treliça arranjadas de forma inadequada;
● posicionamento incorreto dos apoios, isto é, forças reativas formando um sistema
de forças paralelas ou concorrentes;
● instabilidade parcial em decorrência de trechos hiperestáticos e hipostáticos na
estrutura.

1) Exemplo 5 - Dadas as treliças abaixo, classifique-as quanto sua estabilidade


e o seu grau de determinação estático.

r=3
r=3 r=3
b=9
b = 19 b=9
n=6
n = 11 n=6
r + b = 12 = 2.n
r + b = 22 = 2.n r + b = 12 = 2.n
Estaticamente determinada
Estaticamente determinada Estaticamente determinada
Segue a lei de formação de treliças
Segue a lei de formação de treliças Treliça composta (duas treliças de
simples
simples três barras)
Instável externamente
Estável externamente Estável externamente
Estável internamente
Estável internamente Estável internamente
HIPOSTÁTICA
ISOSTÁTICA ISOSTÁTICA

r=4
r=3
b=6
b=9
n=4
n=6
r + b = 10 > 2.n
r + b = 12 = 2.n
r=4 Estaticamente indeterminada
Estaticamente determinada
b=5 Não segue a lei de formação de
Não segue a lei de formação de
n=4 treliças simples
treliças simples
r + b = 9 > 2.n Estável externamente
Estável externamente
Estaticamente indeterminada Estável internamente
Instável internamente
Segue a lei de formação de treliças
simples HIPERESTÁTICA (grau 2 – 1
HIPOSTÁTICA
Estável externamente reação e 1 barra redundante)
Estável internamente

HIPERESTÁTICA (grau 1 – 1
reação redundante)

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2.3 Análise de treliça pelo método dos nós
O Método dos Nós baseia-se no fato de que se a treliça inteira está em equilíbrio,
então cada um de seus nós também estará em equilíbrio. Deste modo, pode-se demostrar o
equilíbrio do nó por meio do diagrama de corpo livre deste ponto, no qual são consideradas
todas as forças que agem sobre ele, satisfazendo as equações de equilíbrio para este nó
(HIBBELER, 2011).
O nó, tratado como ponto material, possui as seguintes equações de equilíbrio:

Equação 26

Equação 27

Equação 28

As Equações 2.1, 2.2 e 2.3 são utilizadas simultaneamente em uma treliça espacial.
No caso de treliças planas, com um sistema de forças coplanar (plano xy), utilizam-se para
a verificação do equilíbrio nodal as equações 2.1 e 2.2.
O diagrama de corpo livre da treliça pode ser desmembrado em diagramas
de corpo livre de cada elemento como ilustrado na Figura 2.11. Nesta figura, cada barra é
solicitada por duas forças, uma em cada extremidade, com mesmo módulo e direção, mas
de sentido oposto (Figura 36).

FIGURA 36 – DIAGRAMAS DE CORPO LIVRE

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2012).

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Ainda na Figura 2.11, os nós estão solicitados por forças de mesmo módulo, direção,
mas sentidos opostos às forças aplicadas nas extremidades de cada barra conectada em
cada nó. Estes são os diagramas de corpo livre nodal que serão utilizados na análise pelo
Método dos Nós.
Cada nó de uma treliça plana possuirá duas equações de equilíbrio para serem
utilizadas no cálculo das incógnitas da estrutura. Portanto, uma estrutura de n nós teremos 2.n
equações de equilíbrio, podendo ser calculadas 2.n incógnitas (esforços internos nas barras e
reações de apoio). Daí se justifica as condições necessárias para classificar uma treliça como
estaticamente determinada ou indeterminada, apresentadas na seção anterior deste material.
Partindo da ideia de que cada nó de uma treliça plana possui duas equações
de equilíbrio, o início da análise pelo Método dos Nós deve começar de um nó que só tenha
duas incógnitas, sendo estas, forças axiais nas barras ou reações de apoio desconhecidas.
O sentido das forças em cada barra da treliça deve ser estudado previamente para
a aplicação do método. Às vezes, por observação, é possível conhecer quais barras estarão
tracionadas ou comprimidas, devendo ser orientadas conforme explicações anteriores.
Entretanto, em treliças maiores e mais complexas, esta análise prévia pode ser mais
difícil. Assim, costuma-se considerar que todas as barras estarão tracionadas, desenhando-se
os diagramas de corpo livre nodal com as forças agindo deste modo. Ao aplicar as equações
de equilíbrio nodal, será calculado o valor de cada força que solicita o nó. Caso a resposta
esteja com sinal positivo, então a hipótese de a barra estar tracionada foi verificada. Caso
contrário, a força com sinal negativo indica que a barra estava inicialmente comprimida.

2) Exemplo 5 - Deseja-se definir a força axial em cada barra da treliça plana ao


lado e classifica-la como tração ou compressão.

Inicialmente deve-se calcular o equilíbrio de corpo rígido para a treliça, obtendo-se


assim, as reações de apoio em C e E. Para isto, arbitraram-se os sentidos das forças em
cada apoio. Fica a critério de quem faz a análise esta escolha.

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O valor Negativo da reação Cx indica que o sentido arbitrado inicialmente é incorreto.
Portanto, a força Cx é orientada para a direita com seu valor positivo.
A análise do Método dos Nós para esta treliça deverá ser iniciada pelo nó A, ou pelo
nó E, pois, são os únicos que conectam duas barras com esforços desconhecidos.
O diagrama do corpo livre do nó A está apresentado abaixo, assim como a
decomposição da força Fad nas suas componentes retangulares.

O sinal negativo indica que a barra O sinal positivo indica que a barra
AD está comprimida AB está tracionada

Agora, a análise de outro nó deverá ser feita, considerando que o esforço nas
barras AB e AD são conhecidos. Deste modo, poderá ser analisado o nó B, pois somente
as forças nas barras BC e BD são desconhecidas.

O sinal positivo indica que a barra O sinal positivo indica que a barra
BC está tracionada BC está tracionada

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Transversal 74
Agora, a análise de outro nó deverá ser feita, considerando que o esforço nas
barras AB, AD, BC e BD são conhecidos. Deste modo, poderão ser analisados o nó C, o nó
D ou o nó E, pois, todos têm somente duas forças desconhecidas.

O sinal negativo indica que a Força nula.


barra DE está comprimida

Nesta última análise, escolheu-se o nó E por ser mais simples de ser analisado.
Ainda falta definir o esforço na barra CD, assim, o nó C ou o nó D poderá ser avaliado.

Não é necessário, pois todas as


barras já foram calculadas.
Poderá ser feita para verificação.

O sinal positivo indica que a barra


CD está tracionada

Verificado (se utilizado todas as


casas decimais)

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Na Figura 37 está ilustrado o diagrama de esforço normal para as barras da treliça
analisada.

FIGURA 37 – EXEMPLO 2.2-B

Fonte: O autor (2021).

2.4 Análise de treliças pelo método das seções


O Método dos Nós é bastante útil quando se deseja calcular as forças internas em
todos os elementos da treliça. Já o Método das Seções torna-se interessante quando o
desejo é calcular os esforços em algumas barras.
O Método das Seções, também chamado de Método de Ritter, parte do princípio de
que se a estrutura toda está em equilíbrio devido às vinculações externas, então qualquer
parte dela também estará.
Para explicar este método de análise de esforços internos em barras de treliça,
será utilizado o exemplo apresentado por Hibberler (2011), ilustrado na Figura 38.

FIGURA 38 – MÉTODO DAS SEÇÕES

Fonte: adaptado de Hibbeler (2011).

Caso se deseje conhecer as forças nas barras BC, CG e GF da treliça apresentada


na Figura 38, então um corte nestas três barras deverá ser feito. Este corte, representado
pela seção aa, deve separar a treliça em duas partes completamente. Cada uma das partes
da treliça, obtidas depois que os elementos cortados tenham sido removidos, pode ser
usada como corpo livre. Os diagramas de corpo livre dos dois segmentos estão também
ilustrados na Figura 38.

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A linha de ação de cada força de membro é especificada através da geométrica da
treliça, já que a força em um membro está ao longo do seu eixo. Além disso, as forças de
membro que agem em uma parte da treliça são iguais, mas opostas àquelas que atuam na
outra parte, conforme a Terceira Lei de Newton (HIBBELER, 2011).
Segundo Sussekind (1981), após dada a seção, quando for arbitrar o sentido
dos esforços normais incógnitos, caso não se conheça a princípio se a barra está compri-
mida ou tracionada, aconselha-se que todos os esforços sejam colocados no sentido de
tração, pois assim, os sinais obtidos já serão os esforços dos esforços atuantes (o sinal
positivo confirmará o sentido arbitrado, já o negativo, indicará esforço de compressão).
Neste exemplo, por inspeção, arbitrou-se o sentido de compressão para o
esforço na barra GF.
As três forças incógnitas (Fbc, Fgc e Fgf) poderão ser obtidas através das três
equações de equilíbrio de corpo rígido aplicadas à parte (B) ou à parte (C) da Figura 38.
Ao aplicar as equações de equilíbrio, deve-se considerar cuidadosamente
maneiras de escrevê-las a fim de produzir uma solução direta, ao invés de resolver outras
equações simultaneamente. Por exemplo, ao analisar a parte esquerda ao corte, pode
ser feito o somatório o momento em torno do ponto C para se calcular diretamente a força
Fgf, já que as outras duas incógnitas possuem linhas de ação que interceptam este ponto,
implicando no braço de alavanca igual a zero. De forma semelhante, poderá ser feito o
somatório de momentos em torno do ponto G para o cálculo imediato de Fbc. A força Fgc
poderá ser obtida logo na sequência pelo somatório de forças verticais ou horizontais.
Deve-se escolher as seções que interceptam três barras não paralelas e nem
concorrentes no mesmo ponto, para que se possam obter os esforços axiais pelas equações de
equilíbrio. Este autor ainda menciona que as seções podem ter formas quaisquer (não precisa
ser reta) desde que sejam contínuas atravessando toda a treliça. Podem ocorrer situações
em que as seções interceptam mais de três barras. Quando isto ocorrer, somente algumas
das forças internas poderão ser calculadas pelas equações da estática (SUSSEKIND, 1981).

FIGURA 39 - DESEJA-SE CONHECER A FORÇA NOS MEMBROS GE, GC E BC


DA TRELIÇA ABAIXO

Fonte: Hibbeler (2011).

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Para o cálculo das reações de apoio, o sentido das reações em A e D foram
arbitrados conforme se pode observar na Figura 39.

Os valores positivos para as reações de apoio confirmam que o sentido arbitrado


inicialmente está correto.
Para o cálculo dos esforços nas barras GE, GC e BC, traçou-se a seção aa
atravessando a treliça, e foi desenhado o diagrama de corpo livre da parte esquerda da
treliça. Para isto, supôs-se que a barra GE estava comprimida e as demais, tracionadas.
Assim, pode-se arbitrar o sentido das forças em cada barra cortada.
Percebe-se que, para cada lado da seção aa, tem-se ao menos uma reação de
apoio. Por isto o cálculo da mesma se fez necessário no início do problema.
Aplicando as equações de equilíbrio, é possível definir os valores de cada incógnita
do problema.
Somando-se os momentos em relação ao ponto C, considerando o sentido anti-
horário positivo, eliminam-se as forças Fgc e Fbc:

De maneira semelhante, somando-se os momentos em relação ao ponto G,


considerando o sentido anti-horário positivo, eliminam-se as forças Fge e Fgc:

Por fim, para o cálculo da força Fgc poderá ser feito o somatório das forças verticais
ou horizontais, trabalhando-se com suas componentes retangulares. Aqui, optou-se pela
verificação das forças verticais, considerando o sentido para cima como positivo:

Os sinais positivos para as três forças calculadas indicam que elas foram arbitradas
corretamente, isto é, as barras GC e BC estão tracionadas (foram consideradas saindo da
barra), e a barra GE está comprimida (foi considerada entrando na barra).

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3. DEFINIÇÃO DE ESFORÇOS INTERNOS EM BARRAS, VIGAS E PÓRTICOS

Caro aluno(a), já vimos que um corpo em que atuam forças externas ativas precisa ser
equilibrado por forças externas reativas para que esteja em equilíbrio, ou seja, para que não
haja movimentação horizontal, vertical ou rotação. Essas forças externas reativas aparecem
nos apoios e representam a vinculação da estrutura em sua base de suporte (solo, base de
máquinas, etc). Mas, para que essa estrutura não rompa internamente, ou seja, ao longo de
alguma parte constituinte, também vão aparecer forças internas para garantir seu equilíbrio.
Essas forças são chamadas de esforços internos. É muito importante conhecer os esforços
internos para projetar um membro estrutural ou mecânico e vamos estudá-los agora.

3.1 O que são esforços internos?


Vamos considerar o corpo apresentado na Figura 40 que está submetido a um
carregamento externo qualquer e está em equilíbrio.

FIGURA 40 – FORÇAS EXTERNAS ATUANDO NUM CORPO

Fonte: Sussekind (1981).

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Ao passarmos um plano P nesse corpo, perpendicular ao seu eixo longitudinal, o
dividimos em duas partes, como indicado na Figura 41. Esse plano faz com que a seção
transversal do corpo seja exposta, e o chamamos de seção de corte.

FIGURA 41 – CORPO SEPARADO EM DUAS SEÇÕES QUE ESTÃO EM EQUILÍBRIO

Fonte: Sussekind (1981).

Como o corpo estava em equilíbrio anteriormente, ele precisa continuar em equilíbrio,


independentemente do local em que é seccionado. Para que a parte E esteja em equilíbrio,
devem aparecer duas resultantes, uma de força ( ) – que equilibra os deslocamentos
transversais e uma de momento ( ) – que equilibra as rotações. A mesma coisa acontece
na seção na parte D. Essa resultante de força e momento é obtida reduzindo as forças
atuantes em cada seção a uma resultante que passa pelo centroide da área da seção
transversal (você viu como reduzimos um sistema de forças a um sistema equivalente
nessa unidade). Como em ambas as partes temos a representação da mesma seção do
corpo, os valores de e possuem o mesmo módulo e sentidos contrários.
Podemos, agora, decompor essas forças na direção perpendicular e tangente
à área da seção transversal, como apresentado na Figura 42. Com esse procedimento
obtemos quatro forças que representam os nossos esforços solicitantes.

FIGURA 42 – DECOMPOSIÇÃO DA FORÇA RESULTANTE E DO MOMENTO


RESULTANTE

Fonte: Sussekind (1981).

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Transversal 80
● : esforço normal. Atua perpendicularmente à área da seção transversal. A
tendência da força normal é a de promover uma variação da distância dos pontos que
compõe o corpo, provocando no corpo alongamento ou contração. Por convenção de
sinal, quando sai da seção transversal é positivo, provocando alongamento no corpo,
e quando entra na seção transversal é negativo, provocando contração no corpo.
● : esforço cortante. Atua paralelamente à área da seção transversal. A tendência
da força cortante é de provocar deslizamento relativo entre as seções do corpo,
provocando assim uma tendência de corte. Definimos a convenção de sinal de acordo
com a tendência que o esforço cortante provoca de rotação (horária ou anti-horária),
se imaginarmos duas seções infinitamente próximas e expostas no corpo. Por
convenção de sinal, quando provoca rotação horária é positivo e quando provoca
rotação anti-horária é negativo.
● : momento torçor. Atua paralelamente à área da seção transversal e sua
convenção de sinal é análoga à do esforço normal. O momento torsor, como o próprio
nome diz, tem a tendência de torcer o corpo em torno do seu eixo longitudinal. Quando
sai da seção transversal é positivo e quando entra na seção transversal é negativo
● : momento fletor. Atua perpendicularmente à área da seção transversal e
provoca uma flexão no eixo longitudinal do corpo. O momento fletor gera deformações
de compressão e de tração na mesa seção transversal. Por convenção de sinal,
quando gera uma curva no eixo longitudinal tal que a parte de baixo fique
tracionada (ou seja, sofra um alongamento) e a parte de cima fique comprimida (ou
seja, sofre uma contração) é positivo e será negativo quando a parte de cima fica
tracionada (alongamento) e a de baixo comprimida (contração).

As equações que definem ou quantificam as deformações em relação ao esforço


solicitante aplicado serão vistas nas próximas duas unidades. A Figura 43 ilustra a convenção
de sinal dos esforços solicitantes adotada nessa apostila. Essa convenção é arbitrária,
mas, uma vez definida, deve ser mantida durante todo o estudo. Em resumo, podemos
definir esforço solicitante como a força interna na seção de corte que mantém a parte do
corpo em equilíbrio.

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FIGURA 43 – CONVENÇÃO DE SINAL POSITIVA PARA (A) ESFORÇO NORMAL (B)
ESFORÇO CORTANTE (C) MOMENTO FLETOR (D) MOMENTO TORSOR*

* O sentido do momento torsor é dado pela regra da mão direita, quando você coloca seu polegar na direção
da seta dupla. A seta dupla indica que a força considerada é um momento

Fonte: Autor (2021).

É bom ressaltar que a representação unifilar pode ser utilizada nos exercícios dessa
unidade, ou seja, os elementos podem ser estudados simplificadamente pelo seu eixo
longitudinal. Vamos considerar que existem somente carregamentos externos aplicados
no plano da estrutura. No sistema cartesiano xyz, as cargas são aplicadas no plano xy
e os momentos são aplicados em torno do eixo z (Figura 44). Sendo assim, os esforços
solicitantes também serão aqueles que agem no plano (esforço normal, esforço cortante e
momento fletor). Esses esforços estão apresentados na Figura 45.

FIGURA 44 – ESTRUTURA QUE ADMITE QUE TODAS AS CARGAS ATUAM EM UM PLANO

Fonte: Adaptado de Sussekind (1981).

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FIGURA 45 – ESFORÇOS A SEREM CONSIDERADOS ATUANDO NA REPRESENTAÇÃO
UNIFILAR: ESFORÇO NORMAL (N), ESFORÇO CORTANTE (Q) E MOMENTO FLETOR
(M). O ÍNDICE S INDICA QUE SÃO OS ESFORÇOS ATUANTES NESSA SEÇÃO DE
CORTE ESPECÍFICA

Fonte: Sussekind (1981).

Perceba que, para o aparecimento dos esforços solicitantes, foi necessário realizar
um corte na estrutura, denominado S. Assim, temos agora a estrutura E, à esquerda e a
estrutura D, à direita. Todos os esforços internos estão desenhados na convenção de sinal
positiva, de acordo com o que você viu na Figura 43.
Quando cortamos a estrutura e a separamos em duas, precisamos garantir que ela
ainda esteja em equilíbrio. Esse é o princípio básico do Método das Seções, utilizado para
calcular o valor dos esforços solicitantes no corte determinado. Para você entender como
o método funciona, considere a estrutura da Figura 46 com seu carregamento externo F1 e
F2, fixada em A por um apoio fixo (que gera duas reações força) e fixada em B por um apoio
móvel (que gera uma reação força).

FIGURA 46 – ESTRUTURA ESTATICAMENTE DETERMINADA COM CARREGAMENTO


EXTERNO NO PLANO

Fonte: Autor (2022).

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Essa estrutura estará em equilíbrio externo assim que forem definidas as reações
de apoio. Se quisermos passar um corte em C, veremos duas partes da viga com as os
seguintes esforços internos (Figura 47):

FIGURA 47 – ESFORÇOS SOLICITANTES PRESENTES NA SEÇÃO C, CONSIDERANDO


(A) O LADO DIREITO DA ESTRUTURA E (B) O LADO ESQUERDO DA ESTRUTURA

Fonte: Autor (2022)

Para garantir que ambas as estejam em equilíbrio, agora aplicamos o conceito de


equilíbrio estático de corpo rígido:

Lembrando que o somatório de momentos pode ser realizado em torno de qualquer


ponto (o índice z indica que os momentos são em torno do eixo z. Convenciona-se colocar
nesse índice o ponto que você escolheu para aplicar o somatório). Vejamos na Figura 48:

FIGURA 48 – EQUILÍBRIO DE CORPO RÍGIDO DA PORÇÃO AC DA ESTRUTURA


(LADO DIREITO)

Fonte: Autor (2022)

Da mesma forma, o lado esquerdo (BC) também deverá estar em equilíbrio, mas
agora quando aplicarmos as equações de equilíbrio da estática, vamos ter os esforços
solicitantes em função do carregamento F2 e da reação de apoio FBy (Figura 47b).

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Num mesmo plano de corte, independente da parte da estrutura que você escolha
(AB ou BC) a intensidade dos esforços solicitantes sempre será a mesma. Além disso, eles
provocarão os mesmos efeitos na estrutura (tração ou compressão para o esforço cortante,
giro horário ou anti-horário para o esforço cortante, e flexão positiva – tração embaixo ou
flexão negativa – tração em cima, para o momento fletor).
É importante ressaltar que, na maioria das vezes, os esforços vão modificar depen-
dendo da seção escolhida para aplicação do Método das Seções. Um modo de conhecer
como esses esforços variam na estrutura é determiná-los em uma posição arbitrária x ao
longo do eixo longitudinal. Para definir essa posição arbitrária precisamos definir as seções
de interesse na estrutura. Por exemplo, veja a estrutura mostrada na Figura 49:

FIGURA 49: ESTRUTURA COM CARREGAMENTO VARIÁVEL AO LONGO DO SEU EIXO


LONGITUDINAL

Fonte: Hibbeler (2017).

Temos três valores de x especificados para essa estrutura, ou seja, ela possui três
seções de interesse (x1 válido entre o apoio fixo e o final da carga distribuída w, x2 válido entre
o final da carga distribuída e a carga concentrada P e x3 válido entre a carga concentrada
P e o apoio móvel). Essas seções são definidas sempre entre duas descontinuidades de
carregamento. Sempre que tivermos uma carga distribuída, concentrada ou um momento
aplicado, temos uma descontinuidade de carregamento. Vamos aprender mais pra frente na
unidade como escrevemos as equações que definem a variação dos esforços solicitantes
nessas seções e consequentemente, na estrutura.
Como visto no início da unidade, temos três classificações em função das dimen-
sões das estruturas (linear, bloco e superfície). Vamos analisar os esforços solicitantes
que aparecem nas estruturas que podem ser simplificadas como estruturas lineares. Uma
estrutura linear é aquela que apresenta sua dimensão longitudinal consideravelmente maior
do que as dimensões da seção transversal.

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Já a seção transversal possui dimensões da mesma ordem de grandeza. Essa
característica pode ser observada na Figura 50, no qual se apresenta uma estrutura linear
com seção transversal I e com seção transversal retangular.

FIGURA 50 – EXEMPLOS DE ELEMENTOS LINEARES

Essas estruturas lineares agora serão novamente classificadas: estruturas lineares


de barras, vigas e pórticos. Essa classificação ocorre de acordo com os esforços solicitantes
presentes a partir do carregamento ao qual essas estruturas estão sujeitas e veremos isso
nos próximos tópicos.

3.1 Esforços internos presentes em barras


As barras são elementos lineares classificada dessa maneira pois em seu eixo
somente aparecem esforços normais. Isso acontece, pois, os carregamentos significativos
nas barras são aqueles aplicados axialmente, tanto concentrada quanto distribuída, ao
longo do seu eixo (Figura 51). A presenta de cargas axiais distribuídas é menos frequente.
Por isso, vamos estudar aqui barras que possuem carregamento axial concentrado. Elas
estão presentes, por exemplo, nas treliças de cobertura (Figura 52).

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FIGURA 51 – REPRESENTAÇÃO DE UMA BARRA SOLICITADA EM SEU EIXO POR
FORÇAS AUTO EQUILIBRADAS P E O ESFORÇO INTERNO PRESENTE NA SEÇÃO S

Fonte: Autor (2021)

FIGURA 52 – TRELIÇA DE COBERTURA FORMADA POR BARRAS DE MADEIRA

3.2 Esforços internos presentes em vigas


As vigas são os elementos lineares que normalmente recebem carregamento
transversal ao seu eixo longitudinal. Esse carregamento transversal irá produzir esforços
internos de cortante e momento fletor na sua seção transversal (Figura 53)

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FIGURA 53 - REPRESENTAÇÃO DE UMA VIGA SOLICITADA EM SEU EIXO POR FORÇAS
AUTO EQUILIBRADAS E OS ESFORÇOS INTERNOS PRESENTES NA SEÇÃO S

Fonte: Autor (2021)

3.3 Esforços internos presentes em pórticos


Quando temos vigas que mudam de direção no plano, formamos os pórticos. No
pórtico há o aparecimento de três esforços solicitantes: esforço normal, esforço cortante e
momento fletor (Figura 54)

FIGURA 54 – REPRESENTAÇÃO DE UM PÓRTICO SOLICITADO POR CARREGAMENTO


AUTO EQUILIBRADO E OS ESFORÇOS INTERNOS PRESENTES NA SEÇÃO S

Fonte: Autor (2021)

Agora que você já sabe quais são os esforços internos que são presentes em
barras, vigas e pórticos, nós precisaremos aprender a calcular esses esforços de uma
forma que saibamos suas magnitudes e sinais ao longo de todo o eixo longitudinal da
estrutura. Os valores dos esforços internos podem modificar de ponto a ponto, dependendo
do carregamento ao qual estão sendo submetidos.

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Para que possamos representar essa variação, caso ocorra, ou para que possamos
verificar que a magnitude dos esforços se mantém constante, devemos traçar um gráfico
representando o esforço interno em função da posição no eixo longitudinal da barra. Esse
gráfico se chama diagrama de esforços internos.

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4. DIAGRAMA DE ESFORÇOS INTERNOS EM BARRAS E VIGAS

Vamos falar primeiramente das barras. Na maioria dos casos de barras, o esforço
normal atuante não se modifica ao longo do eixo longitudinal x. Se observarmos a Figura 55,
veremos que, independentemente do ponto em que seccionarmos a barra, sempre teremos
o mesmo valor de esforço normal interno. Esse esforço normal precisa equilibrar a barra na
seção de corte. Sendo assim, o diagrama dessa barra é constante, e representa a magnitude
do esforço normal. A magnitude do esforço entra no eixo y e sua variação, no eixo x.

FIGURA 55 – BARRA SUBMETIDA A ESFORÇO NORMAL CONSTANTE

Fonte: Autor (2022)

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Agora, se tivermos outas forças aplicadas ao longo do eixo longitudinal, como seria
o diagrama? O exemplo 5 apresenta o diagrama de esforço normal dessa situação. Você
verá que precisamos fazer cortes específicos na barra, em seções que consigamos ver
a modificação de magnitude de esforço normal. Sempre faremos esses cortes nos quais
temos uma força aplicada, local que chamamos de descontinuidade.

EXEMPLO 6 (AUTOR 2022): TRACE O DIAGRAMA DE ESFORÇO NORMAL PARA A


BARRA APRESENTADA NA FIGURA 56.

FIGURA 56 – BARRA AUTO EQUILIBRADA SUBMETIDA A CARREGAMENTO AXIAL

Fonte: Autor (2022)

Solução:
Temos que garantir que essa barra esteja em equilíbrio independente do ponto
onde a cortamos. É sempre interessante fazer seções imediatamente antes e imediatamen-
te depois do ponto de aplicação do carregamento externo. Sendo assim, faremos as seções
S1 e S2 da seguinte maneira:

Agora, temos que expor as barras nos cortes e garantir o equilíbrio.

Sabendo que, dentro de cada seção o esforço normal é constante (ver Figura
55), podemos traçar o diagrama de esforço normal. Como as seções de corte são
IMEDIATAMENTE antes e depois do ponto de aplicação do carregamento, ao desenhar o
diagrama colocamos os dois valores encontrados no ponto de aplicação da carga.

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O diagrama fica, então:

IMPORTANTE 1: Sempre nos pontos de aplicação de carga teremos uma descontinuida-


de no diagrama, que vale exatamente o valor da carga aplicado.
IMPORTANTE 2: o diagrama de esforço normal em barras com carregamento concentra-
do sempre será uniforme em cada seção idealizada.

4.1 VIGAS
As vigas já são elementos solicitados transversalmente em relação ao seu eixo
longitudinal. Em geral, elas são longas, retas e prismáticas. Por prismática, entende-
se aquela estrutura no qual não há variação de seção transversal. As vigas podem ser
biapoiadas, em balanço (engastada em uma extremidade e livre na outra) ou apoiada com
balanço, como mostrado na Figura 57.

FIGURA 57 – CLASSIFICAÇÃO DAS VIGAS EM RELAÇÃO AO TIPO DE APOIO

Fonte: Beer, 2021.

O carregamento transversal vai gerar nas seções transversais da viga esforços


cortantes (V) e momentos fletores (M). Ainda, esses valores irão variar ao longo do eixo
longitudinal da viga, justamente em função do carregamento aplicado. A variação do esforço
cortante e do momento fletor pode ser obtida pelo método das seções anteriormente
aplicado para as barras.

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Porém, como o carregamento na viga é mais complexo do que o carregamento
em barras, nós vamos seccionar a viga a distâncias arbitrárias x e escrever a equação
que descreve a variação tanto do momento fletor, quanto do esforço cortante. Você pode
observar esse procedimento na Figura 58. Ainda, é imprescindível que desenhemos os
diagramas desses esforços, os quais irão nos mostrar as variações ao longo do eixo x.

FIGURA 58 – (A) DISTÂNCIAS X1, X2 E X3 PARA O CÁLCULO DOS ESFORÇOS


SOLICITANTES EM VIGA, (B) DIAGRAMA DE ESFORÇO CORTANTE E (C) DIAGRAMA
DE MOMENTO FLETOR

Fonte: Hibbeler (2017).

Em geral, as funções do esforço cortante e momento fletor serão descontínuas,


em pontos cujo há aplicação de carregamento distribuído, força concentrada e momento
concentrado. Por conta disso, essas funções precisam ser determinadas para cada
seção da viga localizada entre essas descontinuidades. Por exemplo, na Figura 58 você
observou a presença de um carregamento distribuído e uma força concentrada. Com isso,
o carregamento externo “dividiu” a viga em três seções, cada uma determinada por um x
específico e com validade:

Então, o procedimento de resolução de uma viga inclui o desenho dos diagramas


de esforços solicitantes (cortante e momento) começando pela determinação das reações
de apoio, especificação das seções necessárias para o cálculo das equações dos esforços
internos e construção do diagrama. Esse passo a passo será ilustrado no Exemplo 07.

Exemplo 07 (Autor 2021): Para a viga mostrada na Figura 58, pede-se:


Cálculo das reações de apoio;
Equações de esforço cortante e momento fletor nas seções 1, 2 e 3;
Desenho dos diagramas de esforço cortante e momento fletor.
Considere w = 10 kN/m, P = 15 kN, a = 2,0 m, b = 4,0 m e L = 8,0 m.

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Solução:
A imagem abaixo apresenta a viga do problema solicitado com os valores atribuídos.

Fonte: Autor (2022).

Para o cálculo das reações de apoio, precisamos garantir o equilíbrio de corpo


rígido da viga. Vamos aplicar as três equações de equilíbrio da estática no plano

Agora, determinadas as reações de apoio, precisamos escrever as equações do


esforço cortante e momento fletor para cada seção estabelecida. Para isso, devemos
aplicar o método das seções e seccionar a viga nas distâncias x1,x2 e x3. As figuras abaixo
ilustram esse procedimento e apresentam os cálculos necessários em cada seção:

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De posse das equações que definem a variação com x dos esforços internos,
vamos agora definir os valores desses esforços no início e no final de cada seção. Com
isso, poderemos colocar os valores obtidos nos diagramas.

● O valor negativo do momento Ms1 indica que seu sentido foi arbitrado errado. Sendo
assim, ao mudar o sentido do momento fletor, observa-se que ele traciona a parte de
baixo da viga, ou seja, é um momento positivo de acordo com a convenção de sinais.

● O valor negativo do momento Ms2 indica que seu sentido foi arbitrado errado. Sendo
assim, ao mudar o sentido do momento fletor, observa-se que ele traciona a parte de
baixo da viga, ou seja, é um momento positivo de acordo com a convenção de sinais.

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● O valor negativo do momento Ms3 indica que seu sentido foi arbitrado errado. Sendo
assim, ao mudar o sentido do momento fletor, observa-se que ele traciona a parte de
baixo da viga, ou seja, é um momento positivo de acordo com a convenção de sinais.

Observe que o diagrama nada mais é que a representação do eixo longitudinal da


viga. Acima do eixo colocamos os valores positivos dos esforços solicitantes e abaixo do
eixo, os valores negativos, sempre levando em conta a convenção de sinais já estabelecida.

Agora, precisamos ligar os pontos. Aqui, temos a seguinte regra:


● Quando o carregamento distribuído é nulo na viga, o diagrama de cortante
constante e o diagrama de momento é uma reta (função de primeiro grau).
● Quando o carregamento é distribuído uniformemente na viga, o diagrama de
cortante é uma reta (função de primeiro grau) e o diagrama de momento é uma
parábola (função de segundo grau).

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Transversal 96
Levando o acima escrito em consideração, os diagramas finais ficam:

É importante ressaltar que o diagrama de momentos fletores foi desenhado de


forma convencionada positiva para cima e negativa para baixo. Na prática da engenharia,
principalmente na engenharia civil, desenhamos os momentos positivos para baixo e os
negativos para cima.

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5. DIAGRAMA DE ESFORÇOS INTERNOS EM PÓRTICOS

Os pórticos são elementos formados por vigas e colunas conectadas por ligações
rígidas. O ângulo entre a viga e a coluna, na maioria dos casos, é de 90°, mas isso não é
uma regra. A principal diferença agora é que, nos pórticos, haverá o aparecimento dos três
esforços internos anteriormente estudados: esforço normal, esforço cortante e momento
fletor. Sendo assim, é preciso que façamos o mesmo procedimento adotado para as vigas
para desenhar os diagramas de esforços solicitantes no pórtico. Além dos carregamentos, a
mudança de direção da barra também nos obriga a definir uma nova seção para descrever
as equações dos esforços solicitantes. Vamos aprender a traçar os diagramas de esforço
normal, esforço cortante e momento fletor para o pórtico apresentado no Exemplo 08.

Exemplo 08 (Autor 2021): Para o pórtico abaixo com as reações de apoio já


apresentadas, pede-se:
a) Equações de esforço normal, esforço cortante e momento fletor nas seções 1 e 2
b) Desenho dos diagramas de esforço normal, esforço cortante e momento fletor.

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Transversal 98
Fonte: Autor (2021).

Para conseguirmos traçar os diagramas desse pórtico, de acordo com a condição


de carregamento e apoios, precisamos de duas seções. Uma para representar a variação
dos esforços na barra AB (seção S1) e outra para representar a variação dos esforços na
barra BC (seção S2). A imagem abaixo indica as seções e as equações necessárias para
determinar os esforços solicitantes.

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Transversal 99
● Observa-se que o momento traciona a parte de fora da viga, ou seja, é um
momento negativo de acordo com a convenção de sinais.

● Observa-se que o momento traciona a parte de fora da viga, ou seja, é um


momento negativo de acordo com a convenção de sinais.

De posse das equações e dos intervalos de validade das seções, agora podemos
calcular o valor dos esforços solicitantes. Depois, podemos traçar os diagramas de esforços
solicitantes. Aqui também valem as regras que relacionam carregamento distribuído, cortante
e momento fletor. No nosso caso, como não temos nenhum carregamento distribuído, as
cortantes terão valor constante e o momento fletor será uma reta. Além disso, nos pórticos,
precisamos definir um lado de referência para a convenção de sinal do nosso momento fletor.
Aqui, o lado de referência será o lado de dentro do pórtico. Então, momentos que tracionam
o lado de referência são positivos e momentos que comprimem o lado de referência são
negativos. Acompanhe o traçado dos diagramas abaixo:

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5.1 Diagramas:

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Você observou que no nó de pórtico o valor e a convenção do momento fletor não
se alterou, mesmo a barra mudando de direção. Isso sempre irá acontecer em nós de
pórtico, a não ser em uma situação: quando tivermos um momento aplicado naquele nó. A
diferença dos valores dos momentos será exatamente o valor do momento aplicado.

SAIBA MAIS

O momento torçor, aparece bastante em eixos de máquinas e grelhas. As grelhas são


estruturas planas que recebem carregamento fora do plano, e podem aparecer tanto em
problemas da mecânica, quanto da engenharia civil.

Fonte: O Autor (2022).

REFLITA

Os diagramas de momento fletor são desenhados normalmente do lado da peça onde


há tração. Em vigas, por exemplo, convencionou-se que o momento positivo é aquele
que traciona as fibras de baixo. Logo, para aplicações na engenharia, principalmente na
Engenharia Civil, é interessante desenhar o diagrama positivo para baixo. Da mesma
forma os momentos negativos, que tracionam as fibras de cima, são desenhados para
cima. Assim sendo, quando o engenheiro observa o diagrama de momentos fletores, ele
já sabe qual lado da viga está tracionado. Essa informação é muito útil, por exemplo,
em peças de concreto armado. Os locais em que temos o diagrama de momento fletor
indica qual é o lado onde devemos colocar de barras de aço para resistir à tração.

Fonte: O Autor (2022).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade vocês aprenderam o que são forças e momentos e como se dá o


equilíbrio tanto de pontos quanto de corpos rígidos. Também viram que, como as estruturas
aqui estudadas precisam estar em equilíbrio estático com aceleração igual a zero, ou seja,
paradas, é preciso vincular a estrutura por meio de apoios e calcular o valor das reações nesses
apoios que garantem o equilíbrio. Apoios podem ser de primeiro, segundo ou terceiro gênero.
Ainda, foram estudadas estruturas onde o número de vínculos é o estritamente
necessário para garantir tal equilíbrio, o que chamamos de estruturas isostáticas. Depois,
observaram que os carregamentos externos fazem com que apareçam carregamentos
internos nas estruturas, para garantir que não haja ruptura do material.
Esses carregamentos internos são chamados de esforços solicitantes e são
divididos em esforço normal (N), esforço cortante (V), momento torsor (T) e momento
fletor (M). É muito importante desenhar os diagramas dos esforços solicitantes, que dão
uma visão gráfica da variação desses esforços ao longo da estrutura e, o maior valor do
esforço será o de interesse para futura análise de tensões e deformações, que você verá
nas Unidades III e IV dessa apostila.

UNIDADE III Esforços


Propriedade
Internos
Geométricas
em Estruturas
da Seção
Isostáticas
Transversal 103
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Análise das estruturas
Autor: Hibbeler, R. C.
Editora: Pearson Universidades; 8ª edição (10 maio 2013).
Sinopse: O livro Análise das Estruturas proporciona aos estudantes
de engenharia e arquitetura um panorama completo da área, com
ênfase em treliças, vigas e pórticos. Com ele, os alunos aprenderão a
modelar e analisar estruturas por meio de casos reais que auxiliarão
em sua prática profissional. Totalmente de acordo com o Sistema
Internacional de Unidades, a obra traz diferentes tipos e níveis de
exercícios que exigem a aplicação do método clássico de solução
de problemas, consolidando os conceitos aprendidos no livro.

FILME/VÍDEO
Título: Esforços Internos: Teoria
Ano: 2019.
Sinopse: A atuação das forças externas produz esforços na es-
trutura. Esses esforços produzidos são chamados de ESFORÇOS
INTERNOS.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ZpSRIkawaeQ

UNIDADE III Esforços


Propriedade
Internos
Geométricas
em Estruturas
da Seção
Isostáticas
Transversal 104
UNIDADE III
Tensão e Deformações
Normais em Estruturas
Professora Me. Carolina Coelho de M. Grossi
Professora Me. Fernanda Assunção Valim

Plano de Estudo:
● Conceito de tensão, deslocamento e deformação;
● Forças axiais: tração e compressão;
● Flexão;
● Deformação em vigas: linha elástica.

Objetivos da Aprendizagem:
● Aprender o conceito de tensão e deformação normal em estruturas;
● Conhecer o conceito de deslocamento em estruturas
submetidas a esforço normal e momento fletor;
● Contextualizar o esforço solicitante N (força normal) em
relação às tensões que ele desenvolve dentro da
estrutura: tensões de tração e compressão.

105
INTRODUÇÃO

A disciplina Resistência dos Materiais estuda o comportamento dos corpos quando


estão sujeitos a diferentes tipos de esforços solicitantes, levando em conta sua resistência,
rigidez e estabilidade. Sendo:
1. Resistência: Capacidade do material de suportar até certa carga sem romper;
2. Rigidez: Capacidade do corpo de suportar um determinado esforço sem
apresentar deformações inaceitáveis que o impeçam de cumprir os fins a que
estava destinado;
3. Estabilidade: Capacidade do corpo de conservar uma determinada forma inicial
de equilíbrio.

Para tal, serão utilizados parâmetros como tensões e deformações, resultantes das
solicitações de esforços internos que ocorrem nesse sólido.
A estática tem um importante papel no desenvolvimento e na aplicação da resistência
dos materiais, sendo assim, é de suma importância que você, aluno, tenha compreendido
bem os fundamentos até então discutidos na unidade I e II.
Nas unidades anteriores, vimos que, as estruturas são sistemas físicos compostos
pela ligação de uma ou mais peças interligadas entre si e com o meio exterior formando
um conjunto com estabilidade, que é capaz de receber solicitações externas, absorve-las
internamente e transmiti-las até os apoios. Essas forças transmitidas internamente nos
elementos estruturais, são chamados de esforços internos, e podem ser encontradas
através do método das seções, sendo elas responsáveis pelo surgimento das tensões, e
deformações no corpo estudado.
A tensão está relacionada com a capacidade do material resistir à intensidade das
forças elementares distribuídas, que por sua vez, depende da intensidade da resultante das
forças internas, da área da seção transversal e das características do material que constitui
o corpo analisado. Por fim, tendo conhecimento dessas tensões e deformações, é possível
realizar e verificar o dimensionamento dos componentes estruturais.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 106


É de suma importância saber que, para a obtenção dos parâmetros mecânicos das
estruturas, os materiais utilizados para sua composição, dentro da matéria de resistência
dos materiais, são considerados como um meio contínuo, homogêneo e isotrópico,
independente da sua microestrutura.
Um material com meio homogêneo é composto pela mesma matéria em todos o seu
volume, ou seja, qualquer elemento retirado do corpo deve possuir a mesmas propriedades
físicas específicas, porém, deve-se saber que nenhum material estrutural é homogêneo
se analisado microscopicamente. Quando o material, além de homogêneo, possui a
distribuição da sua matéria uniforme, preenchendo completamente o volume a ele atribuído,
chamá-lo-emos de meio continuo. E caso o material possua essas duas características
citadas, simultaneamente, ele possui propriedades físicas idênticas em todas as direções,
característica que recebe o nome de isotropia.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 107


1. CONCEITO DE TENSÃO, DESLOCAMENTO E DEFORMAÇÃO

O método das seções permite determinar a resultante dos esforços internos (força
e momento) numa seção quando usamos as condições de equilíbrio da estática. Esses dois
tipos básicos de esforços representam os efeitos decorrentes da distribuição real de forças
em todos os pontos da seção cortada.
Quando um corpo que está submetida a uma carga externa é seccionado, há uma
distribuição de forças que age sobre a área seccionada e que mantém cada segmento do
corpo em equilíbrio. A intensidade dessa distribuição de forças internas em um ponto no
corpo é denominada tensão.
Em primeira instância, analisaremos apenas as tensões provocadas pela força
resultante que passa pelo centroide da seção transversal do elemento analisado (Figura
01). Essa força resultante pode ser decomposta em 3 forças direcionadas em x,y e z.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 108


FIGURA 01 – TENSÕES PROVOCADAS POR ESFORÇO NORMAL, APLICADO NO
CENTROIDE DA SEÇÃO TRANSVERSAL DO ELEMENTO ANALISADO

Fonte: Beer, et. al. (2011).

A força que atua perpendicularmente ao plano é dita força normal (FRx), e a força
que atua paralelamente ao plano é dita força cisalhante (FRy, FRz), como mostrado na Figura
02. A tensão que atua perpendicularmente ao plano da seção transversal é chamada de
tensão normal (σ), Equação 01, e a tensão que atua paralela ao plano da seção transversal
é chamada de tensão de cisalhamento (τ), Equação 02 e 03.

FIGURA 02 – FORÇAS RESULTANTES NAS DIREÇÕES X, Y E Z

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 109


A tensão é medida em unidade de força (Newton - N) dividida por área (métro² - m²),
chamada Pascal (Pa - N/m²). Como os valores de tensão muitas vezes são grandes, é
comum utilizar múltiplos para representar seus valores, sendo eles:

Nesta seção, estudaremos apenas as tensões normais, provocadas por esforços


normais à seção transversal do elemento, cuja a incidência coincide com o centro de
gravidade da mesma.
Se a força normal for de tração, dizemos que o corpo está submetido a uma tensão
de tração, e se for uma força normal de compressão, diz-se que o elemento está sob tensão
de compressão (Figura 03).

FIGURA 03 – ESFORÇOS NORMAIS DE TRAÇÃO E COMPRESSÃO

Fonte: Autor (2022).

A tensão normal média que ocorre no corpo é determinada pela força resultante
normal (FRx) dividida pela área total da seção transversal do elemento A (Equação 01).
Porém, se analisarmos a tensão normal em um determinado ponto Q, da seção transversal,
deve-se considerar a área ∆A, Equação 04.


Geralmente, o valor obtido para a tensão normal em um determinado ponto da
seção é diferente do valor da tensão normal média.
Para os nossos estudos, consideraremos que todas as barras analisadas são
prismáticas (Figura 04), ou seja, possuem seção transversal constante, alongamento
uniforme e forças internas distribuídas uniformemente na seção.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 110


FIGURA 04 – BARRAS PRISMÁTICA E NÃO PRISMÁTICA

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Quando uma barra prismática é feita de material homogêneo e isotrópico e é


submetida a uma força axial que age no centroide da área da seção transversal, então o
material no interior da barra é submetido somente à tensão normal. Admite-se que essa
tensão é uniforme ou média na área da seção transversal.

Exemplo 1 (Beer, et. al., 2011) – A luminária de 80 Kg é suportada por duas hastes AB e
BC. Determine a tensão normal média em cada haste, sendo que dAB = 10 mm e dBC = 8 mm.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 111


Porém, quando uma carga é aplicada axialmente em uma barra de comprimento L,
com seção transversal uniforme de área A ela não apenas absorve tal esforço, provocando
tensão, como se deforma no sentido de se alongar ou contrair. A fim de analisar esse
comportamento, e a relação entre a carga e a deformação do elemento, barras com
comprimento L e 2L e área de seção transversal com área A e 2A, todas confeccionadas
com o mesmo material, foram ensaiadas em laboratório. Os estudos constataram que, se
um deslocamento δ é produzido na barra BC por uma força P, é necessária uma força 2P
para provocar o mesmo deslocamento em uma barra B’C’ de mesmo comprimento L, mas
com área de seção transversal 2A. Ou que a mesma força P provoca um deslocamento 2δ
em uma barra confeccionada pelo mesmo material, com mesma área de seção transversal
e comprimento 2L (Figura 05).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 112


FIGURA 05 – ENSAIO DE CARGA X DEFORMAÇÃO EM BARRAS DE MESMO MATERIAL

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Em todos os três casos observa-se que a relação deslocamento/comprimento


da barra é a mesma, concluindo-se que a relação de elementos confeccionados com o
mesmo material independe da geometria desse elemento. A essa relação dá-se o nome de
deformação normal (ϵ).

Outra relação que permaneceu constante, foi a relação carga P e área A que vimos
anteriormente que se chama tensão ( ).
A deformação, por vezes, é muito pequena e para representá-la usamos os
submúltiplos mili (m) e micro (μ).

Através das relações encontradas, podemos confeccionar o diagrama que


representa a relação entre tensão e deformação em determinado material, caracterizando
as propriedades do material que não depende das dimensões da amostra.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 113


Sendo assim, relação Tensão x Deformação Específica depende:
a) Tipo do material;
b) Intensidade da tensão aplicada.

Os materiais são classificados em dois grandes grupos: materiais dúcteis e


materiais frágeis.
1. Materiais dúcteis Sofrem grandes deformações antes de atingir a ruptura, po-
dendo apresentar ou não patamar de escoamento (Figura 06).

Exemplos: Aço estrutural e alumínio (Figura 07).

FIGURA 06 – COMPORTAMENTO DE UM MATERIAL DÚCTIL COM PATAMAR DE


ESCOAMENTO

Fonte: Adaptado de Hibeller (2006).

FIGURA 07 – AÇO ESTRUTURAL

2. Materiais Frágeis São materiais que não sofrem deformação considerável


antes de entrar em colapso (Figura 08).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 114


Exemplos: Ferro fundido, vidro, cerâmica, concreto, entre outros.

FIGURA 08 – COMPORTAMENTO TENSÃO X DEFORMAÇÃO DE MATERIAIS FRÁGEIS

Fonte: Adaptado de Hibeller (2006).

A maioria das estruturas em engenharia são projetadas para sofrer deformações


relativamente pequenas, que envolvem apenas a região elástica do diagrama tensão-
deformação. Nessa região, existe uma proporcionalidade entre a tensão aplicada e deformação
sofrida pelo material em questão, ao valor que caracteriza numericamente esse comportamento
dá-se o nome de módulo de elasticidade (E), cuja unidade também é Pascal (Pa) (Figura 09).

FIGURA 09 – MÓDULO DE ELASTICIDADE DO MATERIAL

Fonte: Adaptado de Hibeller (2006).

A equação que relaciona a tensão com a deformação, em materiais dentro do limite


de elasticidade é chamada Lei de Hooke e é dada pela Equação 05.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 115


2. FORÇAS AXIAIS: TRAÇÃO E COMPRESSÃO

No tópico 1 você aprendeu o conceito de tensão e deformação, e observou que


existem dois tipos de tensão: tensão normal que se apresenta perpendicular à seção de
cálculo e tensão de cisalhamento, tangente à seção de cálculo. Mas, a discussão que se
seguiu foi feita somente em relação às tensões normais.
A partir de agora iremos discutir como a distribuição de tensão se dá para os dois
tipos de esforços solicitantes que desenvolvem tensão normal dentro do material: esforço
normal e momento fletor. Nossa primeira discussão será sobre o esforço normal. O esforço
normal, como o próprio nome já diz, é um esforço perpendicular à seção transversal. Vamos
entender como será a distribuição de tensão.
Em 1855, o cientista Barré de Saint-Venant fez uma observação por meio de um
experimento que nos possibilitou dizer como as tensões se distribuem dentro de um material
submetido à esforço normal. A partir do ensaio de um corpo de prova altamente deformável,
submetido a forças de tração, podemos observar o padrão da deformação nesse corpo.
Observe, na Figura 10 (a), que foi feita uma malha quadriculada no corpo de prova
a ser ensaiado. Em locais próximos à aplicação do carregamento, ou próximos ao apoio, a
malha deixava de ser quadriculada e as linhas sofriam grandes deformações. Como vimos
no tópico 1, se o material for considerado homogêneo e se comportar de maneira linear-
elástica, ele seguirá a lei de Hooke, onde as tensões são proporcionais às deformações.
Logo, em que existem as maiores deformações, existirão também as maiores tensões.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 116


Acontece que, à medida que nos afastamos dessas regiões próximas à aplicação
de carga ou apoios, a malha passa a deformar-se de maneira uniforme, permanecendo
quadriculada. Então, Saint-Venant foi capaz de afirmar que, nessa região, as tensões
também seriam uniformes, assim como mostra a distribuição de tensão da região onde
passamos o corte c-c. (Figura 10 (b))

FIGURA 10 – PRINCÍPIO DE SAINT-VENANT (A) ELEMENTO DE BORRACHA (B)


SEÇÕES TRANSVERSAIS

Fonte: Adaptado de Hibeller (2006).

O fato de que a tensão e a deformação se comportarem de maneira uniforme em


regiões distantes do ponto de aplicação do carregamento é denominado Princípio de Sain-
t-Venant. Tal princípio é fundamental para que afirmemos o seguinte:
A distribuição de tensão na seção, quando submetida ao esforço normal, é uniforme
e seu valor é dado pela Equação 06:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 117


Exemplo 02 (Adaptado de Beer, et. al., 2011): Determine a tesão normal dentro
das seções AB, BC e CD da barra de aço mostrada na Figura.

Para resolvermos o problema, primeiramente vamos calcular a reação de apoio


horizontal em A, Ra, e depois aplicar o Método das Seções para encontrarmos os valores
das normais em cada seção de interesse. Vejamos:

A partir dos valores das normais em cada trecho, calculamos a tensão normal de
acordo com a Equação 06:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 118


Em relação à deformação que acontece em um elemento submetido à carregamentos
axiais, utilizaremos a Lei de Hooke e as definições de deformação e tensão já apresentadas
(Equação 04 e Equação 06, respectivamente).
Se a tensão axial resultante não ultrapassa o limite de proporcionalidade do
material, podemos aplicar a lei de Hooke (Equação 05), temos que:

Igualando as equações, tem-se a Equação 07.

A Equação 07 é válida para barras homogêneas (E = constante), seção transversal


uniforme de área A com carregamentos iguais e opostos, aplicados em sua extremidade
(mantendo a barra em equilíbrio estático). Caso a barra esteja carregada em outros pontos,
ou se ela consistir em diversas partes com várias seções transversais possivelmente
de diferentes materiais, precisamos dividi-la em partes componentes que satisfaçam
individualmente às condições necessárias para a aplicação da fórmula. Nesses casos,
devemos aplicar a Equação 08, apresentada a seguir:

Exemplo 03 (Beer, et. al., 2011) – Determine a deformação da barra de aço do


exemplo 2, submetida as forças dadas.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 119


A deformação total do elemento é resultado da soma das deformações de cada
trecho que constitui a barra, sendo eles, o trecho AB, trecho BC e trecho CD.

Para resolver o problema em questão, comece sempre pelas extremidades livres,


dessa forma você não precisa calcular as reações de apoio vinculadas ao elemento. Sendo
assim, começaremos pelo trecho DC.
Trecho DC:
Primeiramente levantamos todas as informações que influem na deformação do trecho:

Faremos o mesmo procedimento para o trecho CB e BA.


Trecho CB:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 120


Trecho BA:

A deformação é a soma das deformações de cada trecho:

É importante também, dentro da discussão de tensões e deformações normais


causadas pelo esforço normal, falarmos sobre tensão térmica. Algumas estruturas são
submetidas a grandes variações de temperatura. Se a temperatura aumenta, o material,
em geral, expande-se e, se a temperatura diminui, contrai-se.
A relação entre expansão/contração do material e o aumento/redução da tempera-
tura é geralmente linear. Com isso, serão desenvolvidas deformações e tensões normais
dentro das estruturas.
Se a estrutura for composta de um material homogêneo, isotrópico e seu compor-
tamento estiver dentro da faixa linear elástica, o deslocamento causado pela mudança de
temperatura pode ser calculado pela Equação 09:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 121


Onde:

Exemplo 04 (Adaptado de Beer, et. al., 2011): Sabe-se que, quando uma
matéria sofre uma mudança de temperatura, ele irá se alongar ou contrair. Para a barra
de aço apresentada abaixo, determine os valores de tensão nas partes AC e CB se a sua
temperatura variar de - 45°C até 20°C. As reações de apoio geradas por essa mudança de
temperatura são orientadas saindo da barra nos valores de 81,12 kN. Considere E = 200
GPa e α = 12 x 10-6 /°C.

Solução: Podemos simplificar o problema desenhando seu diagrama de corpo livre


representativo das forças de reação de apoio e os dados necessários para a aplicação da
Equação 08 e Equação 09. É importante notar que no problema a barra AB terá valores de
deformação devido à carga aplicada e à variação de temperatura.

Calculando os valores das deformações em cada trecho da barra:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 122


Somando os valores de deslocamento em cada trecho, concluímos que:

Sabendo o comprimento inicial de cada trecho, conseguimos calcular as deformações:

E finalmente calculamos as tensões finais em cada trecho:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 123


3. FLEXÃO

Flexão é um conceito importante usado no projeto de muitos componentes es-


truturais, como vigas e traves. As vigas são elementos lineares, delgados, dispostos na
horizontal, que suportam preponderantemente esforços verticais. Em geral vigas são barras
retas e longas, com área da seção transversal constante, sendo classificadas conforme o
modo como são apoiadas em: viga engastada ou em balanço, viga biapoiada com balança
e viga biapoiada apenas (Figura 11).

FIGURA 11 – TIPOS DE VIGAS

Fonte: Autor (2022).

Por conta dos esforços externos verticais as vigas desenvolvem esforços internos
cisalhante e momento fletor, que, em geral, variam ao longo do eixo longitudinal da viga.
Para o projeto de uma viga, devemos, primeiramente, determinar os esforços má-
ximos que ocorrem na mesma, através do diagrama de esforços interna, já estudado nas
unidades anteriores (Figura 12).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 124


FIGURA 12 – DIAGRAMA DE ESFORÇO INTERNO DA VIGA ISOSTÁTICA

Fonte: Autor (2022).

Se analisarmos os esforços internos desenvolvidos na viga biapoiada, percebemos


que: os trechos A e C estão submetidos a momento fletor e cisalhamento e o trecho B
apenas a momento fletor.
Em suma, existem três tipos de flexão:
1) Flexão Pura: Elemento solicitado apenas por momento fletor;
2) Flexão Simples: Elemento solicitado por momento fletor e cisalhamento;
3) Flexão Composta: Elemento solicitado por momento fletor, cisalhamento e
esforço normal.

Nessa unidade, estudaremos apenas a flexão pura, e para analisar seus efeitos,
em relação a tensões e deformações gerados, vamos considerar uma barra prismática
AB com um plano de simetria, submetida a conjugados de mesma intensidade e sentidos
opostos M e M’ atuando no plano de simetria Figura 13.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 125


FIGURA 13 – BARRA SOLICITADA POR MOMENTO FLETOR EM SUAS EXTREMIDADES

Fonte: Autor (2022).

Se seccionarmos o elemento de viga em um ponto arbitrário C, verificamos que,


para que haja o equilíbrio estático da parte AC da barra, os esforços internos na seção
devem ser equivalentes ao conjugado M’ (Figura 14).

FIGURA 14 – ELEMENTO SECCIONADO EM UM PONTO ARBITRÁRIO C

Fonte: Autor (2022).

Assim, os esforços internos em qualquer seção transversal de uma barra de seção


simétrica em flexão pura, são equivalentes a M.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 126


A convenção de sinais adotada será (Figura 15):

FIGURA 15 – CONVENÇÃO DE SINAIS

Fonte: Autor (2022).

Se analisarmos a face x do elemento da Figura 16 e todas as tensões que ocorrem


nessa face teremos a tensão normal σx e as tensões cisalhantes τxy e τxz.

FIGURA 16 – SISTEMA DE FORÇAS INTERNAS EQUIVALENTE AO MOMENTO FLETOR M

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Um elemento fletor M consiste na realidade de duas forças iguais e opostas. Sendo


assim, as forças internas elementares devem ser equivalentes aos esforços externos, no
caso o momento M.
Dessa forma, temos que:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 127


A distribuição real das tensões em uma seção transversal não pode ser determinada
somente pela estática. Ela é estaticamente indeterminada e pode ser obtida somente
analisando-se as deformações produzidas na barra.
Para analisarmos as deformações de um elemento prismático que possui um
plano de simetria e está sujeito a um momento fletor M e M’ iguais e opostos em suas
extremidades, será considerado, hipoteticamente, que:
● O elemento analisado seja confeccionado por um material homogêneo, isotrópico
e elástico-linear;
● O carregamento aplicado esteja contido num plano vertical de simetria e as
seções planas, orientadas perpendicularmente ao eixo longitudinal, permanecem
planas mesmo depois da flexão (Hipótese de Bernoulli - Navier) (Figura 17);

FIGURA 17 – HIPÓTESE DE BERNOULLI

Fonte: Beer, et. al. (2011).

● As linhas JK e DE giram e permanecem perpendiculares as fibras transversais


(Figura 17);
● Sob a ação do momento M, as fibras da parte superior da viga estão sob
compressão (diminuem de comprimento) e as fibras da parte inferior estão sob
tração (aumentam de comprimento);
● Em algum ponto entre as partes superior e inferior da viga, as fibras longitudinais
estão sob tensão nula, não sofrendo variação de comprimento. Essa superfície é
denominada superfície neutra e a interseção com o plano da seção transversal forma
a linha neutra da seção, em que a tensão e a deformação são nulas (Figura 18).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 128


FIGURA 18 – LINHA NEUTRA DA SEÇÃO TRANSVERSAL DA BARRA

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Para a definição da equação que calcula a deformação, utilizaremos uma barra já


deformada pelo efeito de uma flexão pura. A barra inicialmente reta, após a deformação,
torna-se curva como podemos visualizar na Figura 19.

FIGURA 19 – BARRA AB FLETIDA

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Adotaremos como superfície neutra a superfície referente ao arco DE. Sendo:

Podemos observar que o comprimento DE é igual ao comprimento L da viga não


deformada, portanto:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 129


Considerando agora o arco JK localizado a uma distância y acima da superfície
neutra, notamos que seu comprimento L’ é:

Como o comprimento original do arco JK era igual a L, a deformação de JK é:

Substituindo os termos, temos:

A deformação longitudinal especifica εx é:

Devemos nos atentar de que: todas as equações são formuladas supondo que o
sentido do momento fletor aplicado seja positivo, portanto, a viga terá a concavidade para
cima; as seções transversais permanecem plenas, ou seja, ocorrerão deformações idênti-
cas em todos os planos paralelos ao plano de simetria; e a deformação normal longitudinal
especifica εx varia linearmente com a distância y da superfície neutra.
A deformação específica ε_x atinge seu valor máximo quando o valor de y é máximo:

Sendo,
c = maior distância da superfície neutra;
εm = Valor absoluto máximo da deformação.

Sabendo que:

Substituindo o valor de ρ, temos:

Através das equações encontradas, podemos concluir que a deformação varia


linearmente com a distância da superfície neutra.
Como já discutido no tópico I, em uma barra submetida a tensões normais abaixo
da tensão de escoamento e dentro do limite de proporcionalidade, vale a Lei de Hooke
para tensão uniaxial.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 130


Considerando que o material seja homogêneo e isotrópico, e com módulo de
elasticidade E, temos na direção longitudinal x:

Multiplicando ambos os membros da equação da deformação especificam por E,


temos que:

Sendo,
σm o valor máximo absoluto da tensão.

Podemos perceber, por meio da equação 13, que a tensão varia linearmente com a
distância da superfície neutra.
Para encontrar a posição da linha neutra, analisaremos a seção transversal da barra
e os esforços que nela atuam, quando a barra é submetida a um momento fletor (Figura 20).

FIGURA 20 – SEÇÃO TRANSVERSAL

Fonte: Hibeller (2006).

O elemento deve permanecer em repouso, sendo assim as equações de equilíbrio


devem ser satisfeitas, pra tal, temos:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 131


Para que o momento estático seja igual a zero, a Linha Neutra (L.N) deve coincidir
com o centroide da seção transversal da viga.

Sendo, temos que:

Sendo I o momento de inércia da seção transversal em relação ao eixo x, estudado


na unidade I.

A equação 14, diz respeito a tensão máxima que ocorre na barra, quando solicitada
apenas por uma flexão pura. Quando desejamos encontrar a tensão em algum ponto alea-
tória da seção transversal, utilizamos a equação 15, apresentada a seguir.

Podemos observar que, a parcela da equação depende apenas da geometria


da seção transversal, e é chamada de módulo de resistência à flexão (W).

Obs: No caso de vigas com área de seção transversal idênticas, aquelas que tiver
maior altura h terá o módulo de resistência maior, e, portanto, terá uma capacidade maior
para resistir à flexão (Figura 21).

FIGURA 21 – SEÇÃO TRANSVERSAL DE DUAS VIGAS DE MESMA ÁREA, PORÉM


COM DIMENSÕES DISTINTAS

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 132


Sabemos que e que , substituindo, temos que (equação XX):

A tensão normal em x é , portanto:

A equação 16, é a equação da curvatura da viga (ρ).

Exemplo 05 (Beer, et. al., 2011) – Uma barra de aço de seção transversal retangular
medindo 20,3 mm x 63,5 mm está submetida a dois momentos fletores iguais e opostos
atuando no plano vertical de simetria da barra. Determine o valor do momento fletor M que
provoca escoamento na barra. Considere σe = 248 MPa.

Solução: Temos que:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 133


Para o cálculo do momento máximo, precisamos considerar a tensão que gera
escoamento no material, e encontrar o valor do momento de inercia (I) e de c.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 134


4. DEFORMAÇÃO EM VIGAS: LINHA ELÁSTICA

Sempre que projetamos uma estrutura, precisamos satisfazer requisitos de


resistência e deflexão. Em termos de resistência, estamos garantindo a capacidade da
estrutura suportar determinado carregamento imposto a ela, sem o aparecimento de tensões
excessivas. Já em termos de deflexão, precisamos garantir que essa mesma estrutura
resista a tais carregamentos sem sofrer deformações inaceitáveis. Por deflexão, estaríamos
falando sobre o deslocamento vertical da estrutura (y), como mostrado na Figura 22. A
medida do deslocamento é feita em relação ao eixo neutro da estrutura, que se desloca
para baixo (ou para cima) dependendo do carregamento aplicado.

FIGURA 22 – DEFLEXÃO EM VIGA BIAPOIADA

Fonte: Adaptado de: Beer, et. al. (2011).

Nesse contexto, a deflexão máxima em uma viga (corriqueiramente chamada de


flecha) tem especial importância, já que existem especificações de projeto que incluem um
valor máximo admissível para essa deflexão.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 135


Em alguns casos especiais, o conhecimento de como encontrar esses deslocamentos
auxilia na resolução de vigas estaticamente indeterminadas.
Vimos no tópico anterior, especificamente na Equação 16, que uma viga prismática
submetida a flexão pura é flexionada em um arco de circunferência e que, dentro do regime
elástico, a curvatura do eixo neutro pode ser expressa por:

O que precisamos nos preocupar agora é que o momento M pode variar ao longo
do eixo longitudinal da viga. Chamando de x a distância da seção a partir da extremidade
esquerda da viga (Figura 23), reescrevemos a Equação 16 da seguinte maneira:

Ainda a respeito da Figura 23, além do eixo x, definimos o eixo y como positivo do
eixo neutro para cima.

FIGURA 23 – VIGA ENGASTADA FLETIDA: DETERMINAÇÃO DO EIXO Y E X

Fonte: Adaptado de: Beer, et. al. (2011).

É importante ressaltarmos que, como observado na Equação 17, a curvatura


da viga tem relação direta com o momento fletor desenvolvido na seção. Se fizermos uma
análise qualitativa de uma estrutura e seu respectivo diagrama de momento fletor, pode-
mos tirar algumas conclusões em relação à posição deformada final. Observe a Figura 24,
composta por uma viga biapoiada com um balanço em sua extremidade (a), seu respectivo
diagrama de momento fletor (b) e sua deformada final (c):

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 136


FIGURA 24 – VIGA BIAPOIADA COM BALANÇO

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Podemos notar que o diagrama de momento fletor começa em zero, e


consequentemente a deflexão na viga naquele ponto também será zero (assim como ocorre
no ponto E). Entre os pontos A e E o momento fletor é positivo e, consequentemente, a
concavidade da viga é voltada pra cima. Já ao contrário, entre os pontos E e D o momento
fletor é negativo, e a viga possui concavidade voltada para baixo. É importante ressaltar
ainda que o maior valor da curvatura ocorre no ponto C, em que o momento é máximo.
Como dito anteriormente, essa é uma análise qualitativa. Vamos agora desenvolver
matematicamente a deflexão da viga, processo que chamamos de Equação da Linha
Elástica. Neste processo, iremos encontrar uma equação y(x) que descreve a deflexão da
viga em qualquer ponto ao longo do eixo x. Estamos encontrando uma função da deflexão
y que depende da posição x onde eu quero encontrar essa deflexão.

4.1 Equação da Linha Elástica


A curvatura de uma curva plana pode ser encontrada matematicamente por meio
da Equação 18, de forma exata.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 137


Em que são as derivadas primeira e segunda, respectivamente,
da função y(x). A primeira derivada tem significativo valor, já que representa a inclinação da
curva no ponto (θ = dy/dx).
Nos nossos casos da engenharia, precisamos garantir que essas deflexões
sejam pequenas. Na teoria da resistência dos materiais, estamos sempre nos referindo a
pequenas deformações e pequenos deslocamentos. Sendo assim, podemos dizer que a
derivada segunda da função y(x) é desprezível perto do valor 1. Sendo assim, a Equação
18 é simplificada e passaremos a trabalhar com a Equação 19:

Igualando as equações 17 e 19, concluímos que:

A Equação 20 é uma equação diferencial de 2ª ordem que governa a Linha Elástica.


O produto EI é chamado de rigidez à flexão e, nos nossos problemas, ele sempre será
constante (já que trabalhamos com vigas prismáticas de mesmo material).
O nosso objetivo aqui é encontrar a Equação da Linha Elástica, aquela função
anteriormente citada, y(x). Para isso, podemos observar que serão necessárias duas integrações
da Equação 20 para chegarmos ao nosso objetivo. É importante lembrarmos aqui que, cada
integração nos dará uma constante de integração, que posteriormente será determinada a partir
das condições de contorno do problema. Por condições de contorno, nos referimos aos tipos
de apoio que existem na nossa estrutura. Esses tipos de apoio são apresentados na Figura 25.

FIGURA 25 – CONDIÇÕES DE CONTORNO DE ACORDO COM OS APOIOS EXISTENTES


NA ESTRUTURA

(a) Apoios do 1° gênero (móvel) ou do 2° gênero (fixo)


sempre implicarão em deslocamento vertical igual a zero
onde estiverem aplicados. Observe na figura ao lado que
yA = 0 para x = 0 e yB = 0 para x = L

(b) Apoio do 3° gênero (engaste) sempre implicará em


deslocamento vertical e inclinação iguais a zero no ponto
onde estiver aplicado. Observe que na figura ao lado yA = 0
e θA = 0 para x = 0.

Fonte: Adaptado de: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 138


Vamos agora aplicar as duas integrações sucessivas na Equação 20. O termo EI,
por ser constante, será colocado fora da integral

Primeira integração:

No qual C1 representa a nossa primeira constante de integração.

Segunda integração:

Em que C2 é a segunda constante de integração. A Equação 22 define a deflexão


da viga y(x) em qualquer ponto x e a Equação 21 define a inclinação dy(x)/dx ou θ(x) em
qualquer ponto x.
Vamos entender o procedimento acima descrito em dois exemplos resolvidos. O
primeiro exemplo vamos encontrar a equação da linha elástica e a deflexão máxima em
uma viga em balanço e no segundo exemplo, em uma viga bi-apoiada.

Exemplo 06 (Beer, et. al., 2011) – A viga em balanço AB tem seção transversal
uniforme e suporta uma força P na sua extremidade livre A. Determine a equação da linha
elástica [y(x)] e o deslocamento em A.

Solução: A primeira coisa que precisamos fazer é encontrar a função do momento


fletor para a viga com o carregamento mostrado. Fazendo um corte a uma distância x da
ponta A da viga em balanço (ponto C), podemos encontrar essa função.

Substituindo a equação do momento M(x) na Equação 20, teremos:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 139


Fazendo a primeira integração, vamos obter o seguinte resultado:

lembrando que dy ⁄ dx = θ(x), podemos escrever o resultado acima como:

Na nossa segunda integração, vamos obter:

que representa a equação da linha elástica. Precisamos agora aplicar as condições


de contorno para encontrarmos os valores das constantes C1 e C2.
De acordo com a Figura 25, o engaste apresenta duas condições de contorno: yB =
0 e θB= 0. Aplicando θB = 0 em x = L, teremos:

Após encontrada a nossa primeira constante de integração, partimos para a


segunda, já que yB = 0 em x = L

Encontramos, assim, nossa segunda constante de integração e podemos escrever


a equação da linha elástica:

O deslocamento em A é encontrado substituindo x = 0 na equação da linha elástica

É importante observarmos que, nos exemplos apresentados acima, só precisávamos


de uma equação para representar o momento fletor ao longo do eixo x das vigas. Isso não
é o que geralmente ocorre. Como você já viu em unidades anteriores, os diagramas de
momento fletor são, muitas das vezes, descontínuos.
Assim, precisaríamos de mais do que uma equação para conseguirmos descrever
o diagrama de momento fletor dessas vigas. Cada função diferente de M(x) nos conduz a
equações diferentes de y(x) e θ(x).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 140


Como cada equação obtida para deflexão introduz duas constantes de integração,
quanto mais equações de momento tivermos, mais constantes teremos que determinar.
Vamos entender esse raciocínio dentro do próximo exemplo resolvido. Mas a ideia central
é que a deflexão e a inclinação da viga não podem ser descontínuas, em nenhum ponto
ao longo do eixo x.

Exemplo 08 (Beer, et. al., 2011) – A viga prismática e o carregamento mostrados,


determine a inclinação e a deflexão no ponto D.

Solução:
Como a viga possui um carregamento concentrado, o seu diagrama de cortante
sofrerá uma descontinuidade e a equação do momento fletor na estrutura deverá ser
calculada para os dois tramos que foram divididos pela carga: AD e DB. As reações de
apoio podem ser calculadas da forma como você aprendeu nas unidades passadas (refaça
os cálculos para treinar). A reação em A é e a reação em B é

EQUAÇÃO DO MOMENTO FLETOR DE A ATÉ D (0 ≤ X1 ≤ L/4)

Definindo o x1 começando do ponto A até uma seção intermediária, mas antes do


ponto D, e calculando o momento em relação à seção de corte:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 141


Aplicando na Equação 20

em que y1 (x) é a função que define a linha elástica para a parte AD da viga. Fazendo
a primeira integração, vamos obter o seguinte resultado:

Na nossa segunda integração, vamos obter:

Equação do momento fletor de D até B (L/4 ≤ x2 ≤ L)

Definindo o x2 começando do ponto A até uma seção intermediária, mas depois do


ponto D, iremos escrever a equação do momento que define a segunda parte da viga:

Aplicando na Equação 20 e rearranjando os termos

em que y2(x) é a função que define a linha elástica para a parte DB da viga. Fazendo
a primeira integração, vamos obter o seguinte resultado:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 142


Observe que, aqui, precisamos estabelecer uma terceira constante de integração,
que chamamos de C3. Na nossa segunda integração, vamos obter:

Determinação das 4 constantes de integração


Como falado anteriormente, esse problema requer a elaboração de duas equações
de momento fletor, cada qual com sua validade dentro dos limites da viga. Para determinar
as quatro constantes que surgem, além das condições de contorno, precisaremos aplicar
as condições de continuidade. Essas condições estão mostradas na figura que segue.

Como temos dois apoios simples (um de 1° gênero e outro de 2° gênero), cada
um nos dará que a deflexão será zero nos pontos de aplicação dos apoios. Em relação à
continuidade, precisamos lembrar que as deflexões e as inclinações no ponto D precisam
ser idênticas, independente da seção que for considerada (AD ou DB).
Assim, conseguiremos montar um sistema de 4 incógnitas (as constantes de
integração) e quatro equações.

Fazendo x1 = 0 em y1 (x):

Fazendo x2 = L em y2 (x):

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 143


Fazendo x1 e x2 = L/4 teremos que θ1 = θ2

Fazendo x1 e x2 = L/4 teremos que y1 = y2

Resolvendo as equações (2), (3) e (4) simultaneamente, obtemos:

A equação (1) já havia nos dados que C2 = 0.

Agora, precisamos substituir o valor das nossas constantes de integração nas equações
da linha elástica que definem a deflexão da viga nos dois trechos e nas equações da rotação:

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 144


Para encontrar a inclinação no ponto D, basta substituir em θ1 (x) ou θ2 (x)

Para encontrar a deflexão no ponto D, basta substituir em y1 (x)ou y2 (x)

SAIBA MAIS

Observe que as equações literais que encontramos para descrever a linha elástica ou a
inclinação da linha elástica em qualquer ponto da viga sempre possuem termos com a
mesma unidade:

Em temos unidade de comprimento ao cubo

Em L2 x1 temos unidade de comprimento ao cubo

A mesma coisa acontece na inclinação:

Em temos unidade de comprimento ao quadrado

Em L2 temos unidade de comprimento ao quadrado

Isso sempre será verdadeiro e, assim, você pode ter uma ideia de que está no caminho
certo da resolução!!

Fonte: O Autor (2022).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 145


REFLITA

É muito importante o conhecimento das deflexões em vigas. Muitas das vezes o nosso
projeto pode estar atendendo a requisitos de segurança no Estado Limite Último em
relação às tensões normais máximas na estrutura, mas não estará atendendo às deflexões
máximas, infringindo um Estado Limite de Serviço. Esse excesso de deflexão pode causar
desde danos menos severos, como problemas em esquadrilhas e pequenas fissuras, até
deslocamentos que provocam sensação de mal-estar nos ocupantes daquela edificação.
Ainda, em todas as vezes nos referimos a problemas de Resistência dos Materiais como
problemas com pequenos deslocamentos e pequenas deformações, e com isso podemos
utilizar com maior segurança a proporcionalidade do material e a superposição dos efeitos.
Além disso, calculamos as reações de apoio e os esforços solicitantes em relação à estrutura
INDEFORMADA. Se a estrutura se desloca muito, essas pressuposições passam a não ter
mais validade, e tudo que aprendemos em Resistência dos Materiais não será mais válido
na realidade da estrutura com alto grau de deformação.

Fonte: O Autor (2022).

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 146


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade nós começamos a relacionar os conceitos encontrados pela Estática


(Unidades I e II) para entender como os esforços solicitantes influenciam na estrutura em
relação à resistência.
Esforço solicitante e tensão são conceitos conjugados. O primeiro indica o que está
acontecendo internamente à estrutura de forma concentrada, e deve ser obtido impondo a
estrutura como rígida. O segundo, indica o que está acontecendo internamente à estrutura
de forma distribuída pela área da seção transversal e implica em deformações, já que todas
as estruturas se deformam na realidade. Porém, a nossa intenção será sempre trabalhar
com estruturas que se deformam muito pouco, estando nossos cálculos no campo das
pequenas deformações.
Primeiramente abordamos a ideia de tensão, deformação e deslocamento. Aqui,
vimos somente tensões normais (aquelas que são perpendiculares à seção transversal).
Vimos que dois esforços solicitantes desenvolvem tensão normal (esforço normal – N e
momento fletor M).
O esforço normal desenvolve uma tensão normal uniforme em toda a seção e que pode
ser aproximada pela tensão média, simplesmente dividindo o valor do esforço pela sua área
de atuação. Essa tensão também provocará deformações normais de compressão ou tração.
Aqui, a seção sempre estará completamente comprimida ou completamente tracionada.
O momento fletor desenvolve uma tensão normal variável ao longo da altura da
seção transversal. Essa tensão é nula no centroide da seção e máxima nas extremidades,
com sua variação ocorrendo de forma linear com a posição na altura. Falamos que as seções
com presença de momento fletor estão fletidas, e possuirão parte da seção tracionada e
parte comprimida.
O momento fletor deforma a estrutura diferentemente do esforço normal, e
aprendemos a calcular o deslocamento do eixo neutro ao longo do eixo longitudinal da viga
no tópico 4, quando aprendemos a calcular a equação da linha elástica.
Aprendendo a calcular os deslocamentos é importante que encontremos o valor
da deflexão máxima e que esta esteja dentro dos limites estipulados por códigos de
projeto e normatizações.

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 147


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Mecânica dos Materiais
Autor: John T. DeWolf, David F. Mazurek, Ferdinand P. Beer, E.
Russell Johnston JR.
Editora: AMGH; 8ª edição (18 fevereiro 2021).
Sinopse: Grande clássico da engenharia, este livro-texto chega a
mais uma edição mantendo sua consagrada estrutura: uma apre-
sentação adequada dos temas, recheada de inúmeros exemplos
que facilitam o entendimento e fazem a relação entre teoria e prá-
tica. Os princípios fundamentais são apresentados em contextos
simples, sempre acompanhados de aplicações. Ampla utilização
de diagramas e discussão de conceitos de projetos, quando apro-
priado, complementam as características que fazem desta uma
obra líder em sua área.

VÍDEO
Título: Entenda agora o que é a equação da linha elástica em
vigas
Ano: 2021
Sinopse: Olá pessoal! Nesse vídeo eu vou te ensinar como
encontrar a equação que define a posição da linha elástica para
vigas. Vamos partir da equação diferencial da linha elástica e
simplificá-la para o nosso uso na engenharia. Mas Prof, isso não
é complicado demais? Vocês verão que não! Eu te garanto. Tendo
como base a teoria explicada nesse vídeo você vai conseguir
fazer exercícios de linha elástica a partir da equação do momento
fletor na viga. Sabendo a equação da linha elástica, nós podemos
calcular o deslocamento transversal de qualquer ponto localizado
no eixo longitudinal da vida, o famoso eixo neutro. Você lembra
porque esse eixo é chamado de neutro? Nele, não há nenhuma
deformação devido ao momento fletor, somente deslocamento
transversal (na direção y).
Link do vídeo: https://youtu.be/f6p8P1rwNfo

UNIDADE III Tensão e Deformações Normais em Estruturas 148


UNIDADE IV
Tensões e Deformações de
Cisalhamento em Estruturas
Professora Me. Carolina Coelho de M. Grossi
Professora Me. Fernanda Assunção Valim

Plano de Estudo:
● Torção;
● Força cortante;
● Esforços combinados;
● Flambagem de colunas.

Objetivos da Aprendizagem:
● Aprender o conceito de tensão e deformação de cisalhamento em estruturas;
● Contextualizar o esforço solicitante T (momento torsor)
em relação às tensões que ele desenvolve dentro
da estrutura: tensões de cisalhamento;
● Contextualizar o esforço solicitante V (esforço cortante)
em relação às tensões de cisalhamento;
● Aprender o comportamento de barras submetidas a
carregamento de compressão: flambagem.

149
INTRODUÇÃO

Na Unidade III nós conversamos um pouco sobre os esforços que causam tensões
normais dentro da estrutura. Nessa unidade, vamos conversar sobre os esforços que
causam tensões de cisalhamento – esforço cortante e momento torsor.
A tensão de cisalhamento é aquela que se desenvolve paralela à seção transversal
e que tende a cortar a estrutura. Por exemplo, observe a Figura 01. As forças P e P’, quando
aplicadas dessa maneira na estrutura, tendem a cortar a estrutura ao longo do plano C.

FIGURA 01 – FORÇA CORTANTE QUE DESENVOLVE TENSÕES DE CISALHAMENTO

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Para encontrar a tensão de cisalhamento média (assim como fizemos com a tensão
normal) precisamos unicamente dividir o valor do esforço cortante (P) pela área de atuação
na seção transversal (A), como mostra a Equação 01.

Mas, diferentemente do que aconteceu para o esforço normal na Unidade III, a


tensão de cisalhamento quase nunca pode ser aproximada pela tensão média calculada
pela Equação 01. Em alguns casos, como conexões de parafusos, onde a área da seção
transversal é bastante pequena, a aproximação da tensão de cisalhamento máxima pela
tensão média pode até ser utilizada em um primeiro momento.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 150


Mas, ao longo dessa unidade, veremos a verdadeira distribuição da tensão cisalhante
devido à atuação do esforço cortante e do momento torsor. Na Figura 02 podemos ver um
tipo de ligação que possui um parafuso submetido à esforço cortante.

FIGURA 02 – PARAFUSO SUBMETIDO À ESFORÇO CORTANTE

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 151


1. TORÇÃO

Quando uma barra é submetida, exclusivamente, há um momento em torno do seu


eixo longitudinal, diz-se que ela está sujeita a um momento torsor ou torque. Elementos sob
torças são encontrados em muitas aplicações de engenharia, como por exemplo em eixos
de transmissão de automóveis, que transmitem potência do motor para as rodas traseiras.
Para análise do comportamento mecânico de uma barra de seção circular, quando
solicitada por um torque, cuja seção transversal plana permanece plana e indeformada
mesmo depois de torcida, considera-se uma barra AB, submetida em A e B a torque iguais
e oposto T e T’. Cortando-se a barra em um plano perpendicular ao seu eixo longitudinal,
tem-se que para o equilíbrio estático, as forças dF, perpendiculares ao raio da barra, que a
parte AC aplica em BC quando a barra é torcida, deve ser igual a T (Figura 03).

FIGURA 03 – BARRA SUBMETIDA A TORÇÃO PELOS TORQUES T E T’

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 152


As condições de equilíbrio para BC requerem que a soma dos momentos das for-
ças elementares de cisalhamento seja equivalente a um torque interno T, igual e oposto
a T’ (Equação 02).

Uma vez que dF = τ . dA, sendo: τ tensão de cisalhamento no elemento de área dA,
temos que (Equação 03):

Conectando-se um suporte rígido em uma da extremidade da barra, de comprimento


L e raio C, e aplicando-se um torque T em sua outra extremidade, observa-se que a barra
sofrerá rotação, girando em um ângulo ϕ, chamado ângulo de torção. Considerando um
elemento quadrado na superfície da barra, formado por dois círculos adjacentes e duas
retas adjacentes, a deformação por cisalhamento γ (Equação 04) será a medida dos
ângulos formados pelos lados do elemento deformado. Como os círculos que definem dois
dos lados do elemento permanecem inalterados a deformação de cisalhamento deve ser
igual ao ângulo entre as linhas AB e A’B’ (Figura 04).
É importante notar que, embora a barra esteja torcida, toda a sua seção transversal
permanece plana e indeformada, ou seja, gira como disco rígido. Está propriedade é
característica das barras circulares, sejam elas cheias ou vazadas.
OBS: Uma barra de seção quadrada, quando torcida, empena e não permanece
com as seções transversais planas.

FIGURA 04 – BARRA ENGASTADA-LIVRE SUBMETIDA A TORQUE T

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 153


Observa-se, através da equação, que a deformação γ é máxima na superfície do
eixo, onde ρ = c, ou seja, . Relacionando as duas equações tem-se que
(Equação 05):

Quando as tensões na barra permanecem dentro do limite de proporcionalidade e


abaixo do limite elástico, não haverá deformações permanentes e é válida a lei de Hooke,
portanto existe uma proporcionalidade entre tensão de cisalhamento τ e deformação de
cisalhamento γ, chamada módulo de elasticidade transversal G (Equação 06).

Multiplicando ambos os termos na Equação 05 por G, teremos:

e, utilizando a Equação 06:

A partir das equações 07 podemos ver que a tensão de cisalhamento para uma barra
circular varia linearmente com a distância ρ do centroide da seção transversal. Dessa forma,
a tensão de cisalhamento é zero no eixo da barra e é máxima na superfície (Figura 05).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 154


FIGURA 05 – VARIAÇÃO DA TENSÃO DE CISALHAMENTO EM EIXOS CIRCULARES (A)
MACIÇOS E (B) VAZADOS

Fonte: Beer, et. al. (2011).

Caso a barra seja vazada, ou seja, possua um raio interno c1 e um raio externo c2,
a distribuição continuará sendo linear, mas possuirá um valor de mínimo e máximo (Figura
05 b) que pode ser expressa da seguinte maneira:

Vamos encontrar a fórmula da torção partindo da Equação 03, substituindo τ por

Sabendo que a integral apresentada acima é o momento polar de inércia da seção


transversal:

ou, resolvendo para τmáx:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 155


Exemplo 01 (Adaptado de Hibbeler, 2015): A barra maciça apresentada na figura
é feita com um material que suporta, para a tensão de cisalhamento, até 75 MPa. Determine
o torque máximo que pode ser aplicado à barra.

Solução:
Aplicando a fórmula da torção e fixando a tensão de cisalhamento máxima como 75
MPa, encontramos o maio valor do momento torsor que pode ser aplicado.

Da mesma forma que aprendemos na Unidade III para o esforço normal, se um


eixo estiver solicitado por diferentes momentos fletores ao longo do seu comprimento,
precisamos encontrar o maior valor de momento torsor atuante no eixo para determinar
qual a maior tensão de cisalhamento está sendo desenvolvida. Chamamos essa tensão de
tensão de torção máxima absoluta. A variação do torque interno pode ser obtida a partir do
diagrama de torque. Esse diagrama, assim como os outros diagramas que já vimos, é uma
representação gráfica do torque interno T em cada seção ao longo do eixo. Como convenção
de sinal, T será positivo se o dedão estiver dirigido para fora da seção transversal do eixo,
quando aplicamos a regra da mão direita. T será negativo se o dedão estiver dirigido pra
dentro da seção transversal.

Exemplo 02 (Adaptado de Hibbeler, 2015): O eixo mostrado na figura está apoiado


em dois mancais e sujeito a três torques. Determine a tensão de cisalhamento desenvolvida
nos pontos A e B localizados na seção a-a do eixo.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 156


Alguma dessas duas tensões é a tensão de torção máxima absoluta?

Solução:
Para encontrar as tensões no ponto A e B, primeiro precisamos encontrar o valor
do torque T a-a, que está aplicado na seção a-a. Pelo método das seções, podemos fazer
um corte na seção a-a e olhar para a direita. Assim, veremos unicamente o torque de 12,5
Nm atuando na estrutura. Aplicando a regra da mão direita e estabelecendo o equilíbrio da
seção, teremos:

Assim, podemos encontrar a tensão de torção pela fórmula da torção:

Como a maior tensão ocorre no ponto A, ela pode ser a tensão de torção máxima
absoluta. Para comprovarmos se é ou não, precisamos traçar o diagrama de torque, fazen-
do mais duas seções (uma seção localizada entre os torques de 12.5 N.m e 41,5 N.m e a
segunda seção depois do torque de 41,5 N.m).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 157


A partir dos resultados do momento de torção nas seções b-b e c-c, observa-se que
a tensão de torção máxima absoluta ocorrerá na seção b-b, e terá o valor de:

1.1 Ângulo de torção


Na Unidade III vimos que esforços normais alongavam ou contraiam as nossas
estruturas. Esse alongamento/contração era medido como deslocamento (δ) e representava
um deslocamento relativo entre os pontos da estrutura na direção da força normal. Nos
eixos submetidos a torção, também teremos um deslocamento relativo entre os pontos da
estrutura, mas agora em relação à movimentação de torção. Medimos ele deslocamento
por um ângulo de torção (ϕ), apresentado na Figura 06.

FIGURA 06 – ÂNGULO DE TORÇÃO (Φ) QUE MEDE O DESLOCAMENTO RELATIVO


ENTRE OS PONTOS NUMA ESTRUTURA ONDE ATUA UM TORQUE

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 158


Considerando que o eixo permanece elástico em qualquer seção, possui um
comprimento L e o torque aplicado desenvolve uma deformação por cisalhamento γ, recordamos
a Equação 04 que o ângulo de torção está relacionado com a deformação por cisalhamento.

A deformação por cisalhamento máxima se dará na superfície externa do eixo, ou


seja, onde ρ vale c.

No regime elástico, é válida a Lei de Hooke para o cisalhamento (γmáx = τmáx⁄G).


Assim, substituindo na Equação 11, teremos:

Resolvendo as Equações 11 e 12 para ϕ, expresso em radianos, teremos:

Podemos concluir que, dentro do regime elástico, o ângulo de torção ϕ é proporcional


ao momento torsor T aplicado no eixo. Mas, devemos ter cuidado ao utilizar a Equação 12
em eixos que possuem mais de um torque aplicado ou se a área da seção transversal se
modifica, como é o caso da Figura 07.

FIGURA 07 – EIXO SUBMETIDO A VÁRIOS TORQUES E COM ÁREAS DE SEÇÃO


TRANSVERSAL DIFERENTES

Fonte: Beer, et. al. (2011).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 159


O ângulo de torção total do eixo é o ângulo que mede o deslocamento da seção que
passa pelo ponto A em relação à seção que passa pelo ponto B. Para isso, em cada trecho
no qual há modificação no valor do momento torsor interno e/ou área da seção transversal,
precisamos aplicar a Equação 12 e, depois, somar todos os resultados. Aqui, a convenção
de sinais é de extrema importância: quando o momento torsor interno na seção tem sentido
para dentro da seção (pela regra da mão direita), o ângulo de torção é negativo. Caso
contrário, se o sentido do momento torsor interno for saindo da seção, o ângulo de torção é
positivo. Aplica-se, assim, a Equação 13.

Em que T é o momento torsor interno na seção, L é o comprimento da seção, J é


o momento polar de inércia da seção e G é o modulo de elasticidade ao cisalhamento do
material que a seção é composta.

Exemplo 03 (Hibbeler, 2015): O eixo de aço A-36 é composto pelos tubos AB e


CD e uma seção maciça BC e está apoiado em mancais lisos que permitem que ele gire
livremente. Se as engrenagens presas às extremidades do eixo forem submetidas a torques
de 85 N.m, determine o ângulo de torção da engrenagem A em relação à engrenagem D. os
tubos possuem diâmetro externo de 30 mm e diâmetro interno de 20 mm. A seção maciça
tem diâmetro de 40 mm. Considere G = 72 GPa.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 160


Solução:
Se desenharmos o diagrama de torques desse eixo, independente do ponto onde
passarmos a nossa seção, sempre iremos obter um momento torsor interno no valor de 85
N.m, direcionado para fora do eixo, sendo então POSITIVO (passe 3 seções, uma entre os
pontos AB, outra entre os pontos BC e outra entre os pontos CD e verifique essa informação.
Utilize o que você aprendeu na Unidade II).
Com isso, precisamos aplicar a Equação 13, observando que o comprimento da
seção maciça BC é LBC = 250 mm e o comprimento dos tubos é LAB = LCD = 400mm. O
momento polar de inércia também irá variar. Para a seção maciça teremos:

Para a seção tubular, teremos:

Aplicando a Equação 13 ao problema:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 161


2. FORÇA CORTANTE

Nesse tópico vamos determinar um método para encontrar o valor da tensão de


cisalhamento que ocorre na seção transversal de uma estrutura quando ela está submetida
a esforço cortante. Assim como desenvolvemos para os outros esforços solicitantes,
precisamos entender como a tensão de cisalhamento se distribui ao longo da área da seção
transversal. Adiantando o que veremos, essa distribuição se dará como uma parábola e,
caso aproximássemos a tensão de cisalhamento à tensão média, estaríamos errando o
valor da tensão máxima, considerando-a menor do que ela realmente é.
Elementos estruturais ou mecânicos que se comportam como vigas, pórticos
ou grelhas estarão sujeitos a esforços cortantes e, consequentemente, a tensões de
cisalhamento. Essa tensão, que atua na seção transversal, também atuará na seção
longitudinal da estrutura. Esse comportamento ocorre devido à propriedade complementar
do cisalhamento. Observe, na Figura 08a, o que aconteceria com uma estrutura de madeira,
submetida a uma força transversal ao seu eixo longitudinal, caso as tábuas estivessem
soltas uma em relação a outra. Caso a mesma viga fosse feita de uma só tora de madeira
(como na Figura 08b), esse deslizamento iria querer ocorrer, mas não acontecerá porque
uma tensão de cisalhamento impede o deslizamento. Um elemento submetido a tensões de
cisalhamento de apresentará de acordo com a Figura 09.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 162


FIGURA 08 – COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UMA ESTRUTURA COMPOSTA POR
(A) 3 TORAS DE MADEIRA E (B) UMA ÚNICA TORA DE MADEIRA; SUBMETIDO A TEN-
SÕES DE CISALHAMENTO DEVIDO AO ESFORÇO CORTANTE

Fonte: Hibbeler (2015).

FIGURA 09 – ELEMENTO SUBMETIDO À TENSÃO DE CISALHAMENTO – PROPRIEDA-


DE COMPLEMENTAR DO CISALHAMENTO

Fonte: O Autor (2022).

No desenvolvimento das equações que relacionam tensão e deformação, para todos


os esforços já vistos, nós partimos do entendimento da deformação que as estruturas eram
submetidas. Para o cisalhamento essa tarefa não é fácil. O esforço cortante deforma a peça
de uma forma muito complexa e seria inviável analisar essa deformação matematicamente
para depois encontrarmos as tensões. Sendo assim, a formula do cisalhamento será
derivada da fórmula da flexão, a saber:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 163


e da relação entre momento fletor e cisalhamento, vista na Unidade II:

2.1 Fórmula do cisalhamento


Vamos encontrar a fórmula do cisalhamento a partir do cisalhamento longitudinal
que ocorre na estrutura. A partir da Figura 10, vamos separar um pequeno segmento dx e
observar como está a distribuição de tensão normal ao longo da altura da seção.

FIGURA 10 – VIGA SUBMETIDA A UM CARREGAMENTO QUALQUER

Fonte: Hibbeler (2015).

Se observamos o elemento da Figura 11 (a), em relação às forças horizontais que


atuam nele, podemos afirmar que está em equilíbrio horizontal. Mas, caso nós quisermos
fazer essa mesma análise para o elemento da Figura 11 (b), esse elemento só estará em
equilíbrio caso apareça uma tensão τ paralela à seção, para equilibrar as tensões normais
advindas do momento fletor. Essa tensão, ao ser multiplicada pela área de atuação,
resultará em uma força que entrará no somatório de forças em x. Essa área está mostrada
no elemento da Figura 11 (c), e vale [t dx] e como ela é muito pequena, vamos considerar
que essa tensão será uniforme. Agora podemos aplicar o somatório de forças em x.

FIGURA 11 – SEÇÕES DE INTERESSE PARA O CÁLCULO DA EQUAÇÃO DO CISALHAMENTO

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 164


Fonte: Adaptado de Hibbeler (2015).

Aplicando a Equação 40

Resolvendo para τ, teremos:

Aplicando a Equação 15 e lembrando que a integral que aparece na Equação 18


representa o momento de área calculado no ponto de corte da seção transversal:

Chegamos finalmente na fórmula do cisalhamento, apresentada na Equação 20.

Nessa expressão, τ é a tensão de cisalhamento no elemento localizado a uma


distância y’ do eixo neutro (Figura 12); V é a força de cisalhamento atuante na seção; Q é
o momento de área ou momento estático da porção superior ou inferior da área da seção
transversal em relação ao ponto cujo se quer calcular o cisalhamento; I é o momento de
inércia da seção transversal e t é a espessura da seção no ponto em que se quer determinar
a tensão de cisalhamento.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 165


FIGURA 12 – SEÇÃO COM PELO MENOS UMA SIMETRIA INDICANDO OS VALORES A
SEREM CONSIDERADOS NA FÓRMULA DO CISALHAMENTO

Fonte: Hibbeler (2015).

Embora a dedução da fórmula do cisalhamento (Equação 20) tenha sido


obtida através de um cisalhamento longitudinal, podemos usá-la para determinação do
cisalhamento na seção transversal, graças a propriedade complementar o cisalhamento,
mostrada na Figura 09. Além disso, como a fórmula do cisalhamento deriva diretamente da
fórmula da flexão, precisamos garantir que o material tem comportamento linear elástico e
é isotrópico, para validade da Equação 20.
No próximo exercício, nós vamos encontrar a função da tensão de cisalhamento em
relação à altura de uma peça retangular. Veremos, ao final, que a tensão de cisalhamento
varia parabolicamente com a altura da seção, possuindo seu valor máximo no centroide.

Exemplo 03 (Hibbeler, 2015): Determine a distribuição da tensão de cisalhamento


ao longo da altura da seção transversal da estrutura mostrada na figura

Solução:
Podemos ver na imagem que a estrutura em questão tem seção transversal com
largura b a altura h.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 166


Vamos determinar a distribuição da tensão de cisalhamento em relação a altura h
pelo cálculo da tensão de cisalhamento em uma altura arbitrária y, mostrada na figura abaixo:

Lembrando da fórmula do cisalhamento (Equação 20), temos:

Vamos definir os nossos valores.


V = cisalhamento atuando na seção transversal de interesse;
I = inércia da seção transversal =
T = espessura da seção transversal no ponto de interesse = b
(seção com espessura constante)
Q = momento estático em relação ao ponto em que se quer determinar a tensão
de cisalhamento. Observe que, se eu passar uma linha dividindo a seção em duas
partes, no ponto cujo eu necessito saber o valor da tensão, eu posso realizar o cálculo
de Q com qualquer uma das duas áreas. Escolhendo a área de cima, teremos:

A área A’ (pare escura na seção transversal) é dada por:

A distância representa a distância do centroide da área A’ até o centroide da


seção transversal como um todo.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 167


Resolvendo para Q, teremos:

Agora, podemos substituir nossos resultados na fórmula do cisalhamento:

Chegamos à conclusão que a tensão de cisalhamento é função da distância y², ou


seja, varia de forma parabólica. Ainda, se substituirmos y por zero, encontraremos o maior
valor de tensão, dado no centroide e que vale:

Como já havíamos discutido, a tensão média não representa bem o valor da tensão
de cisalhamento máxima para peças cujo a altura da seção transversal é considerável.
Se substituirmos y por h/2, para encontrarmos o valor da tensão de cisalhamento nas
extremidades da área, encontraremos:

A distribuição da tensão de cisalhamento é mostrada na figura abaixo.

Observe que a distribuição do cisalhamento acompanha a direção da força cortante.

2.2 Tensões de cisalhamento em vigas de abas largas


Quando temos uma viga de abas largas, podemos perceber que a seção transversal
é formada por três retângulos: dois retângulos “deitados” que formam as abas do perfil e um
retângulo “em pé”, que forma a alma do perfil (Figura 13).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 168


FIGURA 13 – INDICAÇÃO DAS PARTES CONSTITUINTES DE UMA VIGA DE ABAS LARGAS

Fonte: O Autor (2022).

Por uma análise semelhante à realizada no Exercício 03, podemos considerar que
as tensões de cisalhamento variam de forma parabólica sendo zero nas extremidades e
máxima no centroide. O que irá acontecer aqui, e que não ocorre na seção retangular, é que
nos pontos A e B mostrados na Figura 13, ocorre um estrangulamento da seção, e, caso nós
calculemos o valor da tensão de cisalhamento para uma espessura menor (espessura da
alma), ele será bem maior do que se utilizarmos a espessura da base. Nesses pontos ocorrerá
um salto no valor da tensão de cisalhamento. Vamos ver como isso ocorre no Exemplo 04.

Exemplo 04 (Adaptado de Hibbeler, 2015): Desenhe o diagrama de tensões de


cisalhamento para a viga mostrada na figura. Para isso, você precisará calcular o valor da
tensão de cisalhamento no centroide da peça e nos encontros aba – alma, tanto na aba
quanto na alma.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 169


Solução:
Como a peça é simétrica, teremos que fazer três cálculos de tensão de cisalhamento:
no centroide da peça e no ponto A (mostrado na Figura 13) tanto na aba, quanto na alma.
Aplicando a fórmula do cisalhamento, teremos:

● Cisalhamento na aba (ponto A’’):


V = 80 kN = 80 x 10³ N
t = largura da aba = 300 mm
I = inércia da seção transversal como um todo = 155,6 x 106 mm4 (aplique seus
conhecimentos da unidade I para conferir esse valor. A inércia dessa peça deve ser
calculada utilizando o teorema dos eixos paralelos)
Q = momento estático = (indicado na figura abaixo)

A^’=300 mm x 20 mm=6.000 mm2


=100 mm+10 mm=110 mm
Q=6.000 mm2 x 110 mm=660 x 103 mm³

● Cisalhamento na aba (ponto A):

V = 80 kN = 80 x 10³ N
t = largura da alma = 15 mm
I = inércia da seção transversal como um todo = 155,6 x 106 mm4 (aplique seus
conhecimentos da unidade I para conferir esse valor. A inércia dessa peça deve ser calculada
utilizando o teorema dos eixos paralelos).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 170


Q = momento estático = (indicado na figura abaixo)

● Cisalhamento no centroide da seção transversal (ponto C):

V = 80 kN = 80 x 10³ N
t = largura da alma = 15 mm
I = inércia da seção transversal como um todo = 155,6 x 106 mm4 (aplique seus
conhecimentos da unidade I para conferir esse valor. A inércia dessa peça deve ser
calculada utilizando o teorema dos eixos paralelos)
Q = momento estático = (indicado na figura abaixo). Como a área agora é em
formato T, nós podemos dividi-la em duas partes (1 e 2)

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 171


A distribuição de tensão de cisalhamento será:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 172


3. ESFORÇOS COMBINADOS

Na maioria das vezes, a seção transversal de um elemento está sujeita a vários tipos de
cargas, esforços normais, cisalhamento, momento fletor e momento torsor, simultaneamente.
Para encontrar as tensões resultantes em um elemento submetido a várias
solicitações de esforços, utiliza-se o método da superposição. O princípio da superposição
afirma que a tensão ou deslocamento resultante no ponto pode ser determinado se, antes,
se determinar a tensão ou deslocamento causado por cada componente da carga agindo
separadamente sobre o elemento. Sendo assim, a tensão ou deslocamento resultante
é determinado pela soma algébrica das contribuições causadas por cada uma das
componentes de carga.
Para aplicar o princípio da superposição, as duas condições a seguir devem ser válidas:
1) A carga deve estar relacionada linearmente com a tensão ou deslocamento a ser
determinado.

Exemplo: Envolvem relação linear entre P,σ,δ.

2) A carga não deve provocar mudanças significativas na geometria ou configuração


original do elemento. Se ocorrerem mudanças significativas, a direção e a localização
das forças aplicadas e seus momentos mudarão e, por consequência, a aplicação
das equações de equilíbrio darão resultados diferentes.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 173


FIGURA 14 – PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO EM UMA VIGA ENGASTADA SOLICITADA
POR UM CARREGAMENTO VERTICAL

Fonte: Autor (2022)

O primeiro passo para aplicar a superposição é determinar a distribuição de


tensões devido a cada carga e, então, essas distribuições são superpostas para determina
a distribuição das tensões resultantes.
O procedimento de análise é feito da seguinte forma:

1) Selecionar o elemento perpendicularmente a seu eixo no ponto no qual a tensão


deve ser determinada e obtenha as componentes internas da força normal e da força
de cisalhamento resultantes, bem como as componentes dos momentos fletor e torsor.
Obs: As componentes da força devem agir passando pelo centroide da seção transversal,
e as componentes do momento devem ser calculadas em torno dos eixos do centroide,
os quais representam os eixos principais de inércia para a seção transversal.

2) Encontre as tensões provocadas por cada carregamento, lembrando:

Uma vez calculadas as tensões normais e cisalhantes para cada caso, utiliza-se o
método da sobreposição para encontrar as tensões normal e cisalhante resultantes.

Exemplo 05 (Adaptado de Beer et al., 2015): Duas forças P1 e P2 de intensidade


P1=15 kN e P2=18 kN são aplicadas, como mostra a figura, na extremidade A da barra AB,
soldada a um eixo cilíndrico BD de raio c = 20 mm, como mostra a figura.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 174


Sabendo que a distância de A até o centro do eixo BD é a = 50 mm e considerando
que todas as tensões permanecem abaixo do limite de proporcionalidade do material,
determine as tensões normal e de cisalhamento no ponto K da seção transversal do eixo
BD localizado a uma distância b = 60 mm da extremidade B.

Solução:
Precisamos encontrar os esforços solicitantes que estão acontecendo da seção de
interesse, ou seja, a seção que passa pelo ponto K. Para isso, precisaremos transferir as
forças P1 e P2 que estão atuando na extremidade A para o ponto B. Após essa transferência,
precisaremos ver quais esforços estão atuando na seção do ponto K, pelo método das seções.
Ao transferirmos as forças para o ponto B, precisamos lembrar de levar os momentos
que elas causam nesse ponto. Observe que as duas forças estão a uma distância de 50
mm, mas a força P1 provoca um momento fletor no eixo e a força P2 um momento torsor.
Teremos o seguinte resultado:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 175


Agora, vamos encontrar os esforços solicitantes na seção K.

Com os esforços internos calculados, agora vamos aplicar as equações de tensão.


A área da seção transversal é:

Como é uma seção circular, a inércia nas duas direções tem o mesmo valor:

O momento polar de inércia para a seção será:

Como o ponto K está na linha neutra da seção, precisaremos calcular o momento


estático Q da metade da área do círculo:

1) Esforço normal desenvolve tensão normal – N = 15 kN

2) Força cortante provoca tensão de cisalhamento – V = 18 kN

3) Momento fletor em torno do eixo z – Mz = 1.080 kNmm provoca tensão normal


Como o ponto K está localizado em cima do eixo neutro para o momento fletor em
torno do eixo z, ele não gera tensões no ponto.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 176


4) Momento torsor provoca tensão de cisalhamento no ponto K

5) Momento fletor em torno do eixo y – My = 750 kN.mm provoca tensão normal

Tensões normais: somamos todas as tensões normais atuantes no ponto K,


lembrando que tensões de tração são positivas e de compressão são negativas

Tensões de cisalhamento: somamos todas as tensões normais atuantes no ponto


K, adotando que que tensões para baixo são negativas e tensões para cima são positivas

O estado inicia de tensão no ponto K está mostrado na figura abaixo:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 177


4. FLAMBAGEM DE COLUNAS

Os elementos mecânicos e estruturas em geral quando estão submetidos a


carregamentos, podem falhar de várias formas, o que vai depender do material usado,
do tipo da estrutura, da sua geometria, das condições de apoio e outras considerações.
Quando se projeta um elemento, é necessário que ele satisfaça requisitos específicos de
tensão, deflexão e estabilidade.
No caso das colunas, elementos retos e esbeltos carregados axialmente por
compressão, pode ocorrer uma falha por flexão em vez de falha por compressão direta
do material. A esse fenômeno dá-se o nome de flambagem, que pode ser definido como o
deslocamento lateral, relativamente grande e súbito de uma coluna, em decorrência de um
pequeno aumento na carga compressiva nela existente.
A carga axial máxima que uma coluna pode suportar quando está na eminência de
sofrer flambagem é denominada carga crítica (Pcr), qualquer carga adicional a ela provoca
flambagem na coluna (Figura 15).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 178


FIGURA 15 – FLAMBAGEM DE UMA COLUNA DEVIDO A UM CARREGAMENTO AXIAL
DE COMPRESSÃO

Fonte: O Autor (2022).

Os conceitos fundamentais da flambagem e estabilidade de uma coluna, considera


que ela seja uma estrutura ideal. Uma estrutural ideal significa uma coluna perfeitamente
reta antes da carga, feita de material homogênea e no qual a carga é aplicada no centroide
da seção transversal. Considera-se ainda que, o material comporta-se de uma maneira
linear elástica e que a coluna sofre flambagem em um único plano. Visto que uma coluna
ideal é reta, teoricamente a carga axial P poderia ser aumentada até ocorrer falha por
ruptura ou escoamento, tensão máxima que o material suporta ainda no regime elástico de
deformação (lei de Hooke), do material. Contudo, quando a carga crítica (Pcr) é atingida, a
coluna está na eminência de tornar-se instável, de modo que uma pequena força lateral F,
fará com que ela permaneça na posição defletida quando F for removida. Qualquer ligeira
redução na carga axial P em relação a Pcr fará com que a coluna se endireite e qualquer
ligeiro aumento em P, que ultrapasse Pcr provocará aumentos adicionais na deflexão lateral.
O fato de uma coluna continuar estável ou tornar-se instável quando sujeita a
uma carga axial dependerá de sua capacidade de restauração, que é baseada em sua
resistência à flexão.
Para determinar os carregamentos críticos de colunas reais apoiadas por pinos,
ou seja, rotulas em suas extremidades, utiliza-se das equações diferenciais da curva de
deflexão de uma viga (Equação 21), pelo fato de a coluna fletir como se fosse uma.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 179


Sendo,
M = Momento fletor (N.m);
y’’ = Deflexão lateral (m);
E.I = Rigidez de flexão para flexão no plano xy.

A equação 01 considera que a inclinação da curva elástica seja pequena e que as


deflexões ocorrem somente por flexão.
Se considerarmos a situação ilustrada na Figura 16, em que a carga P foi aumentada
suficientemente de modo a causar um pequeno deslocamento lateral. Quando a coluna
está em posição defletida (Figura 16.a), o momento fletor interno pode ser determinado
pelo método das seções (Figura 16.b).

FIGURA 16 – COLUNA COM EXTREMIDADE APOIADA POR PINAS

Fonte: O Autor (2022).

Dessa forma, o momento interno para uma coluna com as extremidades rotuladas,
em uma posição x arbitrária é (Equação 22):

Substituindo o valor de M da equação 21 na equação 22 tem-se a equação diferencial


da curva de deflexão (Equação 23).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 180


A solução geral desta equação é (Equação 24):

As constantes C1 e C2 podem ser calculadas pelas condições de contorno nas


extremidades da coluna. Visto que y = 0 em x = 0 e y = 0 em x = L.
Aplicando a primeira condição (y (0) = 0), tem-se que:

Aplicando a segunda condição (y (0) = 0), tem-se que:

Essa condição é satisfeita se

A primeira hipótese corresponde a uma condição em que a flambagem não ocorre,


ainda que a carga faça com que a coluna se torne instável, o que corresponde a uma
solução trivial. A segunda possibilidade de satisfazer a equação é dada por (Equação 25):

Que é satisfeita se,

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 181


No qual se obtém:

O menor valor de P é obtido quando n=1, de modo que a carga crítica para a coluna
é expressa pela Equação 26, também chamada de fórmula de Euler.

Cujo,
Pcr = Carga Crítica;
E.I = Rigidez de flexão (E = módulo de elasticidade (N/m²) e I =momento de
inércia (m4);
I = Comprimento da coluna (m).

Sendo assim, tem-se que a equação do modo de flambagem elástica é definida


pela equação 27.

A partir da equação 06, pode-se observar que a carga crítica depende somente das
dimensões da coluna (I e L) e do módulo de elasticidade do material (E). Como a carga crítica
é diretamente proporcional ao momento de inércia, a capacidade de carga de uma coluna
aumentará à medida que o momento de inércia aumentar. Assim, para que a coluna seja
mais eficiente, deve ser projetada para que a coluna seja mais eficiente, deve ser projetada
de modo que o momento de inércia seja o maior possível, dentro dos parâmetros exigidos
pela obra, de forma que, a maior área da seção transversal da coluna esteja localizada
o mais longe possível dos eixos principais dos centroides da seção e seus momentos de
inércia nos eixos x e y devem ser parecidos (Ix ≈ Iy), pois a coluna sofrerá flambagem em
torno do eixo principal da seção transversal que tenha menos momento de inércia.
Sendo assim, as seções ocas, como tubos, são mais eficientes do que as maciças.
No que diz respeito a estabilidade, quando a carga aplicada na coluna for menor
que a carga crítica, a coluna está em equilíbrio estável. Se a carga aplicada for igual a carga
crítica a coluna encontra-se em equilíbrio neutro e quando a carga aplicada é maior que
a carga crítica a coluna está em equilíbrio neutro e quando aplicada é maior que a carga
crítica a coluna está em equilíbrio instável (Figura 17).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 182


FIGURA 17 – TRÊS ESTADOS DE EQUILÍBRIO REPRESENTADOS GRAFICAMENTE

Fonte: Hibeller (2006).

Encontrado o carregamento crítico de uma coluna birrotulada, pode-se calcular


a tensão crítico de uma coluna birrotulada, pode-se calcular a tensão crítica dividindo o
carregamento pela área da seção transversal. Sendo assim, a tensão crítica (σcr) da coluna
é (Equação 28).

Onde,
σcr = Tensão crítica (Pa);
E = Módulo de elasticidade (N/m²);
I = Menor momento de inércia (m4);
A = Área da seção transversal (m2);
L = Comprimento da coluna (m).

Sabendo que . Substituindo o valor na equação 08, a


equação para a tensão crítica se torna (equação 29).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 183


A razão é chamada de índice de esbeltez (λ).
A fórmula de Euler (Equação 06) se aplica somente para colunas com extremida-
des presas por pinos, ou seja, com extremidade rotuladas. Dessa forma, entende-se que L
representa, na equação, a distância, sem apoio, entre os pontos de momentos nulos. Se a
coluna for apoiada de outra forma, então a equação de Euler só poderá ser utilizada para o
cálculo da carga crítica se “L” representar a distância entre dois pontos de momentos nulos
da situação em questão. Essa distância é denominada comprimento eletivo da coluna (Le).
Na Figura 18 são apresentados os comprimentos efetivos de colunas com diversas
condições de extremidade (condições de apoio).

FIGURA 18 – COMPRIMENTOS EFETIVOS DE COLUNAS, DE ACORDO


COM SUA VINCULAÇÃO.
(a) rotula-rotula; (b) engastada-livre; (c) engaste-rotulada; (d) engastada-engastada;

Fonte: Hibeller (2006).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 184


Exemplo 06 – Um tubo de aço A-36 com 7,2 m de comprimento e a seção
transversal mostrada na Figura a seguir, deve ser usada como coluna presa por pinos na
extremidade. Determine a carga axial admissível máxima que a coluna pode suportar sem
sofrer flambagem. Dados: Eaço = 200 GPa.

Solução:

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 185


SAIBA MAIS

Depois que concluímos o estado de tensão inicial no Exemplo 05, o próximo passo
seria calcular as tensões principais nesse ponto. As tensões principais são as máximas
tensões normais que ocorrem em um determinado ponto no material e são para elas
que devemos dimensionar nossa estrutura. Também podemos calcular a tensão de
cisalhamento máxima no plano e a tensão de cisalhamento máxima absoluta na estrutura.
Mas essa teoria é mais avançada e importantíssima para aqueles que pretendem seguir
na Engenharia de Estruturas.

Fonte: O Autor (2022).

REFLITA

As nossas estruturas só estarão devidamente seguras caso as analisemos de forma


completa. Precisamos calcular todas as tensões em relação a todos os esforços
solicitantes que estão presentes, calcular os deslocamentos máximos e verificar sua
estabilidade. Após esse curso, você se sente mais seguro para realizar tais verificações?

Fonte: O autor (2022).

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 186


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa unidade conclui o início do estudo das estruturas em relação à Resistência


dos Materiais. Passamos primeiramente pelos conceitos de força e propriedades de área,
pelos conceitos da estática, cálculo de reação de apoio e determinação de diagrama de
esforços solicitantes para, por fim, nas Unidades III e IV relacionarmos esses esforços
solicitantes às tensões desenvolvidas nas peças.
Essas tensões podem ser divididas em dois grupos: tensões normais que tendem
a modificar o volume da estrutura e as tensões de cisalhamento que tendem a modificar
a forma da estrutura. Além disso, precisamos também fazer verificações em relação aos
deslocamentos máximos e algumas considerações sobre estabilidade.
Você viu que o momento torsor desenvolve tensão de cisalhamento em eixos
circulares e que essas tensões podem provocar rotações, que medidos a partir do ângulo
de torção. Depois você viu que o esforço de cisalhamento deforma a estrutura de maneira
bastante complexa e, para conseguirmos encontrar uma relação entre esse esforço e a
tensão de cisalhamento que ele desenvolve, precisamos da fórmula da flexão. Para o
cisalhamento, precisaríamos de teorias mais avançadas, como a Teoria da Elasticidade,
para entendermos a distribuição de deformações dentro da peça.
No tópico 3, você viu que peças estruturais ou mecânicas raramente estão solicitadas
a somente um tipo de esforço solicitante e, dentro da abrangência da Teoria da Resistência
dos Materiais, podemos aplicar o princípio da superposição dos efeitos para encontrar o
estado de tensão inicial em um ponto.
Por fim, no tópico 04, você viu como se comportam estruturas submetidas a
carregamentos de compressão e como funciona o efeito da flambagem. Caso você tenha
interesse em seguir na área de Estruturas, o estudo mais aprofundado da flambagem é de
suma importância, pois colapsos desse tipo são altamente perigosos.

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 187


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Resistência dos Materiais: para entender e gostar
Autor: Manoel Henrique Campos Botelho.
Editora: Blucher; 4ª edição (13 outubro 2017).
Sinopse: A Resistência dos Materiais é, segundo muitos
professores e especialistas, a matéria mais importante no ensino
da engenharia e estudo essencial nos cursos de Arquitetura.
Nesta obra, os leitores entenderão como os pilares e as colunas
das edificações resistem às cargas de compressão e como
os cabos de sustentação resistem a esforços de estiramento
(tração). Entre os estudos apresentados, há a ocorrência de
cortes (cisalhamento) em materiais resistentes, como madeira, e
em materiais menos resistentes, como tecidos. Incluem-se nesta
obra, ainda, os esforços resultantes da flexão (dobramento), que
exigem estruturas especiais, e as deformações causadas pelos
esforços, que demandam cuidadosos estudos e cálculos. Mais
uma vez, o engenheiro MHC Botelho, autor de diversos livros da
área, apresenta o conteúdo de forma simples e altamente prática,
sem perder seu rigor conceitual.

FILME/VÍDEO
Título: Treze dias longe do sol
Ano: 2017.
Sinopse: Saulo Garcez (Selton Mello) está empenhado em seu
novo projeto: um hospital de última geração. No entanto, ele
faz perigosas economias na construção a fim de se tornar sócio
majoritário da construtora na qual trabalha por anos. No entanto,
tudo tem um preço e esse engenheiro descobre isso da pior
forma possível: o prédio desaba, deixando-o, a médica Marion
Rupp (Carolina Dieckmann) e mais sete operários soterrados.
Agora, enquanto eles tentam sobreviver em meio aos escombros,
a diretora financeira da construtora, Gilda (Debora Bloch), e o
herdeiro da empresa, Vitor Baretti (Paulo Vilhena), fazem de tudo
para tirar das costas deles a responsabilidade pela construção.
Link do vídeo: https://youtu.be/d0f5YX7BjRs

UNIDADE IV Tensões e Deformações de Cisalhamento em Estruturas 188


REFERÊNCIAS

BEER, F. P et al. Mecânica dos Materiais [recurso eletrônico]. 8ª ed, Porto Alegre: AMM-
GH, 2011.

BEER, F. P. Mecânica dos Materiais [recurso eletrônico]. 8ª ed, Porto Alegre: AMMGH,
2021.

BEER, F. P. Mecânica dos Materiais. 8ª ed, Porto Alegre: AMMGH, 2011.

HIBBELER R. C. Estática: mecânica para engenharia. 10ª ed – São Paulo: Pearson


Education do Brasil, 2006.

HIBBELER R. C. Estática: mecânica para engenharia. 8ª ed – São Paulo: Pearson Educa-


tion do Brasil, 2010.

HIBBELER R. C. Estática: mecânica para engenharia. Tradução Daniel Vieira – 14ª ed –


São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017.

HIBBELER R. C. Estática: mecânica para engenharia. Tradução Daniel Vieira – 7ª ed –


São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2006.

HIBBELER R. C. Mechanics of materials. – 10ª ed – Hoboken, NJ: Pearson, 2015.

HIBBELER, R. C. Estática: Mecânica para Engenharia. São Paulo: Editora Pearson


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HUMBERTO, C. M. Notas de Aula. Estática. Universidade Estadual de Maringá. Maringá,


2012.

SUSSEKIND, J. C. Curso de análise estrutural. 5 ed, volume 1. Rio de Janeiro: Globo,


1981.

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CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito da


Estática e da Resistência dos Materiais. Para tanto abordamos as definições teóricas de
equilíbrio estático, tanto interno quanto externo, começando com os conceitos da Estática
para que pudéssemos entender a estrutura como um corpo rígido que não pode possuir
movimentações de translação e rotação em torno de nenhum ponto.
A partir do entendimento da estrutura como um corpo rígido, obtivemos os valores
dos esforços solicitantes internos e percebemos que eles possuem duas formas de
representação: concentrada, no centroide da seção transversal e distribuída, chamada
assim de tensão. Observamos que dos quatro esforços solicitantes existentes, chegamos
a somente duas classificações de tensões: normais e cisalhantes. As tensões normais
alteram o volume da estrutura, enquanto as tensões cisalhantes alteram a sua forma.
Para conseguirmos relacionar os esforços solicitantes e as tensões, era
imprescindível o conhecimento das características da seção transversal como área, inércia
e momento estático. A partir da definição das tensões podíamos dimensionar peças de
forma que as tensões atuantes no material sempre estejam abaixo das tensões admissíveis
àquele mesmo material.
Ainda, vimos o comportamento de peças comprimidas, que podem desenvolver
instabilidade chamada flambagem. Essa instabilidade deve ser sempre evitada. Também
conseguimos escrever equações que descrevem as deformações ao longo das peças.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente
desenvolvendo ainda mais suas habilidades para criar e desenvolver estruturas mais seguras.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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