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Fundamentos

Epistemológicos do
Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins Silva
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S586f Silva, Bianca Martins da


Fundamentos epistemológicos do ensino religioso / Bianca
Martins da Silva. Paranavaí: EduFatecie, 2021.

69 p.: il. Color.

1. Epistemologia da religião. 2. Teologia – História.


3. Religião – Filosofia. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de
Educação a Distância. III Título.

CDD : 23 ed. 230


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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AUTORA

Professora Me. Bianca Martins da Silva

● Mestre em Filosofia Medieval pela Universidade Estadual de Maringá (UEM);


● Bacharel em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (UniCesumar);
● Especialista em Gestão Educacional pelo Centro de Ensino Superior
de Maringá (UniCesumar);
● Graduanda de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual
de Maringá (UEM);
● Professora Mediadora de Filosofia EAD - UniCesumar.
● Auxiliar de secretaria na Faculdade Maringá.

Experiência como professora formadora e conteudista na área de Filosofia e Teologia,


mais especificamente em assuntos relacionados com a religião, fé e pensamento.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1360760754584718


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), meu convite a você é que possamos aprender juntos sobre a arte
da fé e do ensino religioso. Destacamos que aqui buscaremos nos desenvolver enquanto
indivíduos que promovem um conhecimento e propagação saudável dos temas
concernentes à religião. Na unidade I começaremos a nossa jornada pelo professor de
Ensino Religioso, a importânica da religião na nossa sociedade e como ela rege os nossos
costumes desde séculos passados até então.
Esta noção é necessária para que possamos trabalhar a segunda unidade do livro,
que versará sobre A Importância da História da Religião para a Formação Humana.
Assim, trataremos os valores morais e religiosos como determinante para a formação da
sociedade; A Moralidade e o cristianismo; Religião, liberdade e estado laico e A constituição
brasileira, a fim de destacar definições teóricas acerca da religião, educação e ciências da
religião.
Já na unidade III, vamos ampliar nossos conhecimentos sobre Educação no Século XXI,
visando compreender como deve ser a relação entre a escola e a religião no que tange
ao Ensino Religioso, além da importância do ensino de religiões diversas e respeito a
todas elas.
Depois, na unidades IV vamos abordar sobre algumas linhas pedagógicas que guiam nosso
estudo e atuação enquanto professores.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
O Professor de Ensino Religioso

UNIDADE II.................................................................................................... 20
A Importância da História da Religião para a Formação Humana

UNIDADE III................................................................................................... 35
Educação no Século XXI

UNIDADE IV................................................................................................... 49
O Professor de Ensino Religioso
UNIDADE I
O Professor de Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● O homem em sociedade;
● A religião;
● Religião como ação social;
● A relevância da religião.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o homem em sociedade;
● Compreender a dinâmica religiosa na sociedade;
● Estabelecer a importância da religião e ação social.

3
INTRODUÇÃO

Conforme exposto e explicado em nossa apresentação acerca do tema que será


tratado e aprofundado neste material, vamos buscar compreender a sociedade e o
indivíduo e de que forma a religião se relaciona conosco. O que é importante entendermos
é que há uma relação direta e cíclica da religião com a sociedade e da sociedade com a
religião.
Apesar de não analisarmos as peculiaridades desse processo profundamente, é
imprescindível que não nos esqueçamos desta dinâmica que faz parte e alimenta essa
relação entre o indivíduo e sociedade. Compreender a origem da religião, ainda que por
um panorama geral, é algo que será observado e analisado nesta unidade, uma vez que
este aspecto é de extrema importância para nosso conhecimento.
Desenvolver um estudo sobre religião considerando a realidade brasileira e suas
crenças, converge nossa abordagem a um aspecto partidário, ou seja, em se tratando
deste tema será necessário focarmos na principal religião considerando os aspectos
culturais que nos influenciam até hoje, ou seja, a religião cristã. Desta forma, iremos
descrever um breve histórico da religião cristã e seus principais conceitos e explicar o
porquê ela nos afeta e como a mesma se manifesta na constituição individual e social
brasileira.

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1. O HOMEM EM SOCIEDADE

Quando nos dispomos a falar sobre o homem consequentemente passamos


a analisar o ser humano e o colocamos em uma posição de destaque considerando
toda a Natureza presente no mundo. Definido como um animal, o homem é dotado de um
corpo vivo com a capacidade de perceber o mundo, fazer escolhas e expressar suas
emoções, assim, ainda que o homem seja um animal, ele manifesta a vida de modo
diferente dos outros animais chamados de irracionais, pois eles não podem sentir o valor
objetivo de si mesmo e dos outros no conjunto dos seres, nem sobre seus próprios
comportamentos e sobre o mundo. Desta forma, o homem é um animal que difere dos
outros animais. (SAVIANI FILHO, 2016)
Esta concepção de colocar o homem enquanto um indivíduo participante da
natureza, ainda que superior a ela, pode levá-lo a achar que por ser superior aos demais
seres vivos os leva a acreditarem que realmente somos diferentes da Natureza e a
tratamos como algo que está a nosso serviço ou contra nós. Portanto, não é à toa que a
humanidade se questiona acerca de sua origem e propósito no mundo.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 5


REFLITA

“Com efeito, os humanos revelam a possibilidade de encontrar maneiras novas de


viver, baseados no seu sentimento do mundo e adaptando-se às situações de forma
refletida e calculada, por um aprendizado e uma construção de sua diferença (razão e
sentimento).”

Fonte: Savian Filho, 2016, p. 230.

Sobre essa capacidade do ser humano de sintetizar pensamentos e criar


significados para as coisas do mundo, chamamos de razão. A racionalidade faz parte do
indivíduo de modo inconsciente, por isso ao homem é comum o questionamento acerca
da vida e de seu próprio propósito.
Embora a razão seja observada como um aspecto positivo da capacidade do
indivíduo em se colocar no mundo, há um certo debate em torno da visão acerca da
Natureza. Isto porque, a reflexão filosófica leva o homem a adotar a Natureza como algo
separado de si mesmo, e não como algo que fazemos parte. De acordo com Saviani
Filho (2016), quando afirmamos que ela é nossa morada, precisamos considerar que
também “somos” Natureza, e não apenas “estamos” nela. O nosso modo de olhar para
o mundo e para as coisas, influencia o nosso entendimento sobre o funcionamento do
mundo e de nós mesmos enquanto indivíduos.
Com o advento da modernidade, fomos impulsionados a olhar para o mundo
considerando seu funcionamento de forma mecânica e independente. Nos
condicionamos a olhar para o todo como uma máquina que está à disposição dos seres
humanos. Foi com avanço da ciência, tecnologia e filosofia, que passamos a desenvolver
um pensamento mecanicista, isto é, a tendência foi adotar uma visão acerca do
funcionamento do mundo como se ele fosse um procedimento matemático, que permite-se
prever sua conclusão assim como seu desenvolvimento e quando necessário, alterá-lo.
De acordo com Saviani (2016), no século XVIII, com a Revolução Industrial, “o
modelo mecanicista se impôs definitivamente. O ser humano passava a ser entendido
como o operador da grande máquina da Natureza, deslocando-se dela e encarando-a
como uma grande reserva de materiais destinados às suas necessidades”. (SAVIANI,
2016, p. 235).
Já no século XX, a sociedade passou a sofrer algumas consequências dessa visão
mecanicista; o que inclusive foi discutido por alguns filósofos como por exemplo Martin
Heidegger. Pois o próprio ser humano passou a se ver e ver os outros como “máquinas”,
ou seja, agora não apenas a Natureza servia o homem, mas o homem passou a servir a si
mesmo, sendo visto como mais uma ferramenta da produção de objetos de consumo.

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SAIBA MAIS

Martin Heidegger (1889 - 1976) foi um filósofo, escritor e professor universitário


alemão, reconhecido como uma das figuras mais importantes do pensamento no
século XX. O enfoque de sua teoria traz uma reflexão acerca da ontologia do homem,
que consiste no estudo do ‘ser’. Ele nos convida a observarmos nossos pensamentos
porque, para ele, nossas racionalizações são conclusões de nossas práticas e
vivências cotidianas.

Fonte: A autora (2021).

Convém abordarmos aqui sobre o aspecto de “cultura”. Acredita-se que o primeiro


autor a utilizar o termo tenha sido o antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917),
que descreveu a cultura como um conjunto dos conhecimentos, crenças, Direito, arte,
moral, ou seja, os costumes e habilidades que o indivíduo adquiriu em sua vivência em
determinada sociedade. Assim, é importante que ao abordar o homem, consideremos não
apenas essa diferenciação que fazemos dele em relação aos outros seres da Natureza,
mas também, de que o homem precisa sempre ser diferenciado de outro homem.
Essa dinâmica que especifica a individualidade de cada ser humano, demonstra o
quanto apesar de vivermos em uma sociedade que nos molda em como observamos o
mundo, em como ‘ser’ no mundo; além dessa cultura, o indivíduo passa a escolher como
vai viver e o que irá fazer, a partir dos primeiros ensinamentos e cultura na qual ele está
inserido.

Quando estudamos a fundo a sociedade e o homem, observamos que desde os


primórdios da história da humanidade, a religião estava presente. As primeiras
sociedades gregas foram organizadas estruturalmente reconhecendo a existência de
divindades que influenciavam a vida e os acontecimentos de seus cidadãos. Desta forma,
vamos prosseguir nosso estudo buscando compreender o quanto a religião faz parte da
composição de cada ser humano, já que ela permeia nossa cultura.

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2. A RELIGIÃO

Quando nos propomos a dissertar sobre a religião, é interessante que


busquemos entender o porquê ela faz parte da nossa sociedade. Segundo Lactâncio,
no séc. III e IV d.C., a palavra religião vem do latim, religare, que apresenta a ideia de
religar, retornar, reconectar-se à uma divindade. Encontramos essa premissa também
em Santo Agostinho (séc. IV d.C.), em sua obra De vera religione. “Para Lactâncio (Inst.
Div., IV, 28) e S. Agostinho (Retract., I, 13) [...] essa palavra deriva de religare, e a
propósito Lactâncio cita a expressão de Lucrécio ‘soltar a alma dos laços da R.
[Religião]’” (ABBAGNANO, 2007, p. 847).
O homem, conforme abordado no tópico anterior, possui uma insatisfação e busca
por um sentido da vida. No decorrer da história é comum observarmos essa busca por
sentido, inclusive se olharmos para outras culturas e religiões.
Em uma análise histórica, desde os primórdios da sociedade
ocidental, principalmente na sociedade grega, vemos a religião como um pilar
importante na organização social (JAE-GER, 1995). Em A República de Platão
(1987), embora observamos a figuras de divindades, a sociedade também
procurava se organizar considerando a cultura e o pensamento racional da época. Em
Aristóteles, vemos que o desenvolvimento da teoria do conhecimento era paralela à
existência cultural que era embasada pelos discursos religiosos pagãos. Durante a
Idade Média é que a religião foi acolhida com um embasamento teórico sólido e que
passou a ter um impacto social e cultural mais efetivo e, nesta época, a religião em
ascendência era o cristianismo, que nos cerca ainda hoje. (JAEGER, 1995, p.19)
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Ainda na Idade Média, podemos observar e entender o por que de nossa
cultura englobar um viés religioso predominantemente cristão. A Igreja católica romana
exercia grande influência na sociedade e durante séculos estava unida ao Estado. Após o
cisma entre Igreja e Estado, a Igreja ainda exercia grande influência social, pois possuía o
monopólio das literaturas e da própria Universidade. O ensino universitário naquela época
estava atrelado ao fato de se dedicar à uma vida monástica e celibatária e, ainda que os
monges tivessem acesso a grandes obras, algumas ainda lhe eram proibidas, como
descreve o autor Umberto Eco em O nome da Rosa. Este cenário demonstra o quanto
estes aspectos influenciam e muito na maneira como desenvolvemos nossa cultura e
visão de mundo. Mesmo com o fato de existirem várias filosofias e religiões no
mundo, nosso acesso direto hoje em dia está embasado nas oriundas de uma cultura
ocidental, que majoritariamente é composta por uma influência cristã.
Após Santo Agostinho ter consolidado uma base filosófica para a religião através
de suas obras, São Tomás de Aquino segue instituindo um pensamento religioso que
dialoga argumentativamente com a razão. É ele quem desenvolve uma teologia e filosofia
que propulsiona uma “comprovação” para a existência de Deus, ao postular na Suma
de Teologia as suas cinco vias. Que são:

● Se existe uma substância que gera todas as outras, há uma causa material, e
essa causa é Deus.
● Existe um motor imóvel, ou seja, se tudo que existe é resultado das causas em
infinitas relações, essas causas devem ter uma origem, que é Deus.
● Há seres necessários e há aqueles que podem vir a ser; Deus é um ser
necessário e, sem ele, nada existe.
● Existem graus de perfeição nas criaturas, que são provenientes do nosso
Criador. Aqueles que mais se aproximam do sagrado são mais perfeitos, sendo
eles: anjos, sacerdotes, seres humanos, animais, etc. Até que se chegue na
perfeição, isto é, Deus.
● Se no mundo há uma ordem racional, uma lógica entre causa e efeito, essa
ordem é Deus.

REFLITA

“Tomás de Aquino (1225–1274), conhecido como o príncipe da filosofia


escolástica, buscou pensar essas causas formais unindo-as em relação à
comprovação da existência de Deus. Para tanto, desenvolve cinco vias que a
comprovariam, como você confere a seguir.”

Fonte: LOHR, 1993.

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Segundo Lohr (1993), essas postulações de São Tomás contribuíram com
a consolidação do cristianismo como religião oficial. O contexto político e religioso do
século XVI e XVII com as Cruzadas, garantiu historicamente os fundamentos do
cristianismo e da fé. Apesar do conflito dentro da própria religião católica que
culminou na Reforma Protestante no século XVI, liderada por João Calvino e Martinho
Lutero, o pensamento ainda era embasado no cristianismo. E o Renascimento acaba por
ser o período em que o ser humano estende sua fronteira no que tange aos aspectos
sociais, culturais e econômicos. Agora a formação humana considera a racionalidade
como fator crucial no desenvolvimento do ser humano e a natureza passou a ser
compreendida pela ciência, e não mais através do olhar a partir de uma divindade
criadora.
Essa cosmovisão da sociedade pelo viés cristão pode ser observado nos relatos
históricos que de acordo com o que Dionizio (2020) disserta, na Idade Média não há uma
dicotomia entre o pensar e a vida em si, conforme em sua obra.

Na Idade Média, a religião fundamentava toda a vida social, ao ponto que


o que conhecemos por ciências humanas só foi desenvolvido dentro dos
muros das igrejas e dos monastérios. A economia desse período era
não só organizada pela Igreja e pela Coroa, mas também as riquezas
produzidas eram destinadas a essas duas instituições. Em relação às
artes, sua produção também tinha finalidades religiosas, como
ornamentar, construir igrejas; retratar a nobreza e o clero. (DIONIZIO,
2020, p.16)

Então, podemos concluir que, a nossa cultura possui uma influência da religião
muito acentuada nos vários aspectos da nossa sociedade. Com isso, mesmo
que busquemos nos desvencilhar de vários aspectos religiosos, a moralidade
defende pressupostos que encontramos também no cristianismo. Portanto, para
entender como a religião se relaciona com o homem, precisa observar sua própria
cultura, e no nosso caso, o cristianismo faz parte de toda essa gama como nos foi
explicada acima.

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3. RELIGIÃO COMO AÇÃO SOCIAL

Compreendermos a ação social como uma prática religiosa, não é algo novo.
Especialmente no século XVI com a Reforma Protestante é que encontramos esse braço
da religião que é a ação social. Como vimos anteriormente, nossa cultura é permeada
pela religião cristã, e por conta disso, a Bíblia é considerada por muitos como um
manual de fé e prática. Sendo assim, a moralidade acaba estando pautada em
contextos bíblicos e religiosos, ainda que não seja declaradamente afirmado, pois como
estudamos acima, a nossa cultura foi formada por fundamentos cristãos.
Desta forma, a ação social não constitui uma prática que pode ser cumprida ou não
a depender da vontade do indivíduo. Na religião, a ação social é um fator
indispensável, pois ela chega a atestar o caráter moral e religioso do indivíduo. Com João
Calvino (2008), observamos a manifestação dessas ações no âmbito político. Sua
crítica ao sistema religioso questionava a dicotomia entre a teoria e prática, isto é, a
Igreja pregava e manifestava a importância de uma vida pia, das boas obras, da
caridade etc; porém na prática, a própria Igreja disseminava essa distinção entre
as pessoas preferindo e privilegiando a classe nobre em detrimento dos pobres. O
acúmulo de riquezas pela Igreja tomou uma proporção tão exagerada que culminou na
venda das indulgências.

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Foi João Calvino (2008) e outros reformadores que implementaram inicialmente
na Suíça o ensino estatal. Ou seja, ele defendia que a relevância da religião precisava
honrar os mandamentos de Cristo de maneira prática, cuidando dos menos favorecidos
e oferecendo uma vida digna. Estes pontos eram responsabilidade de todos, inclusive do
Estado, por isso, transformações sociais como um sistema de saúde e escolas financiadas
pelo governo foram criadas e implementadas neste período.

SAIBA MAIS

“Assim, as culturas desses novos territórios passam a ser vistas como primitivas ou
exóticas e, com isso, ocorre a comparação entre as culturas — o modo de conquista se
torna a imposição cultural e religiosa a esses povos. Do ponto de vista histórico e
filosófico, as práticas já iniciadas ao fim da Idade Média e pelo movimento protestante
se tornam um instrumento indispensável de trabalho: a tradução, a filologia, o
detalhamento de tudo que pudesse contribuir à história e à reflexão sobre a religião.”

Fonte: LOHR, 1993.

Neste ínterim, entra em cena Martinho Lutero, manifestando sua crítica no âmbito
teológico. Os apontamentos feitos por ele visam expor a incongruência que a Igreja
apresentava entre sua teoria e prática. Enquanto estava em seu mestrado, o monge
agostiniano estudava o Antigo Testamento quando ao ler o livro de Romanos se depara
com o verso em que afirma que “o justo viverá da fé”. Apesar de questionar sobre a venda
das indulgências, sua crítica exposta nas 95 teses publicada e anexada na porta da
igreja em Wittenberg, abordavam outros dogmas adotados pela Igreja na época que,
segundo o filósofo, eram contra o que estava escrito nas Sagradas Escrituras. (NICHOLS,
2018)
As críticas à religião levantadas neste período de reforma causaram uma revolução
social. Indiretamente, elas promoveram uma inclusão social já que a época privilegiava
a nobreza em detrimento das demais classes sociais, conforme aborda Nichols (2018),
ao relatar que a tradução da Bíblia feita por Lutero e denominada como a Vulgata, que
não apenas traduzia as Escrituras mas expunha seu conteúdo em uma linguagem vulgar,
isto é, que todos poderiam entender.

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Em aspectos gerais, a religião promove ações sociais, pois principalmente a
religião cristã, traz uma bagagem muito impactante no que abrange a equidade de
todos os indivíduos na sociedade. De acordo com Nichols, (2018) discurso na narrativa
bíblica levanta o pressuposto de que todos os indivíduos são iguais e dignos da
redenção na pessoa de Jesus Cristo. Nas entrelinhas, isso dá margem para toda e
qualquer ação que promova uma qualidade de vida melhor para todos os indivíduos da
sociedade.

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4. A RELEVÂNCIA DA RELIGIÃO

A relevância de uma religião sempre está relacionada com os princípios e valores


da própria religião em questão. Por exemplo, quando buscamos desempenhar um papel
social baseado no budismo, isso será feito de acordo com os princípios e valores do
budismo; se buscamos isso baseado na religião islâmica, novamente, isso irá ocorrer de
acordo com os valores e princípios islâmicos, e assim sucessivamente.
Sendo assim, temos a figura 1 que demonstra os aspectos da visão, do
pensamento e da fala representado pelos macaquinhos com a máscara. A religião, seja
ela qual for, engloba como a vemos, como vemos sua divindade (quando houver) e
também como vemos o mundo. Da maneira que vemos, produzimos reflexões em nossa
mente, e assim, reproduzimos todos os fatores com a nossa fala. A relevância implica
nesta relação.
Sabe-se que a religião cristã possui uma relevância histórica assim como
estudamos ao longo da nossa vida. É claro que podemos observar também alguns
pontos negativos. Entretanto, a religião propicia uma revolução política, tanto para o
“bem”, quanto para o “mal”. Conforme mencionado, ela proporcionou níveis
educacionais de equidade, promoção de uma política de saúde a todos, livre acesso às
Escrituras sem a intermediação de um pastor ou líder religioso; pelo menos, de acordo
com a teoria, sabemos como deveria ser a prática.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 14


Apesar disso, vemos o outro lado do poder político que a religião pode trazer. As
Cruzadas revelam grandes atrocidades feitas em nome de Deus, foi pela maneira que os
líderes religiosos da época queimaram os pagãos, é pela palavra de Deus que a mulher foi
desvalorizada, e também, pelo nome de Deus e por um discurso religioso que Hitler chegou
ao poder, de acordo com o que Rees (2018) relata em sua obra. O desfecho de muitos
desses fatos, já conhecemos através do relato histórico.

REFLITA

“... a Revolução Industrial consolida diversas mudanças no campo social, político e


econômico, visto que os meios de produção passam a ser tomados pelas máquinas, o
que acaba por intensificar o racionalismo pregado pelo Iluminismo e pela corrente
materialista — que a religião sucumbiria frente à evolução científica.”

Fonte: Russell, 2004.

Todavia, quando analisamos cada uma dessas situações nos fica claro o quanto
uma religião tem papel e relevância em uma sociedade. Quando abordamos
“sociedade”, isso nos permite pensar em um grupo de pessoas. Quando pensamos no
coletivo, precisamos observar aquilo que é importante para todos, ou seja, os pontos em
comuns que atingem um determinado grupo de pessoas. Em uma religião, cada pessoa
com seus gostos e jeitos singulares focam naquilo que elas têm em comum. Assim, cria-
-se uma massa capaz de lutar e produzir algum resultado em sua cultura. Isso quer
dizer que a religião exerce um papel político que muitas vezes nós não nos atentamos de
maneira consciente.
Considerando toda a bagagem histórica e religiosa que trazemos do cristianismo
por exemplo, vemos a revolução que esta religião causou na sociedade contemporânea.
Segundo Alves (1984), a partir do momento em que se tem uma religião em que a todos os
indivíduos é propiciada a oportunidade da redenção, nesse caso a “salvação”, é também
atribuído o fator de igualdade a todos os indivíduos, que são todos pecadores. Desta
forma, somos chamados a transmitir esses atributos da religião e aplicarmos eles à nossa
sociedade.
Ainda de acordo com o mesmo autor, o profissional de ensino religioso precisa
entender e expor aos seus estudantes o fator democrático da religião. A tarefa do
educador implica em se aperfeiçoar nas ferramentas de ensino e neste caso, das religiões
vigentes na sociedade em que está inserido.
UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando discutimos sobre as religiões vemos que este assunto compõem um


campo denso e subjetivo das humanidades. Compreender os fatores que culminaram
na religião tal como conhecemos hoje, implica em estudarmos a história, a sociologia, a
filosofia e a psicologia.
Optamos por nesta unidade delinear um panorama histórico geral da religião
e os principais pontos que a permitiram ocupar o status que hoje ela possui. Além
disso, investimos um tempo explicando sobre a constituição do pensamento racional do
homem acerca do mundo e dele mesmo.
Estes aspectos citados, fazem total diferença na formação do profissional de
ensino religioso pois contempla a totalidade do indivíduo e instiga o professor a se
capacitar nas mais diversas áreas do conhecimento para dialogar com os alunos de
maneira excelente.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 16


LEITURA COMPLEMENTAR

Com base na proposta e no conteúdo apresentado nesta primeira unidade,


observamos que o conhecimento geral sobre o homem, a educação e a religião são
indispensáveis para a formação do professor de ensino religioso. Os fundamentos
desta ciência estão interligados com a história do Brasil e com o funcionamento humano
e social.
Desta forma, buscamos neste primeiro momento recomendar ao estudante
algumas literaturas e artigos que podem muni-lo desses fundamentos a fim de que ele
possa ter um panorama do que implica ser um professor em pleno século XXI.
Esperamos que estes direcionamentos facilitem a interpretação e carreira profissional
dos aspirantes a “professores de ensino religoso”.
Fonte:
NIETZSCHE, F. W. Umano tropo umano: Volume Primo. Frammenti Postumi (1876-1878)

Versioni di Sossio Giametta e Mazzino Montinari. Milano, Adelphi Edizioni S.P.A, 1965.

NIETZSCHE, F. W. Epistolario 1875-1879 (Epistolario di Friedrich Nietzsche, vol. III).

A cura di G. Campioni e Federico Gerratana, Adelphi, Milano, 1995.

NIETZSCHE, F. W. Digitale Kritische Gesamtausgabe - Digital version of the German

critical edition of the complete works of Nietzsche edited by Giorgio Colli and Mazzino Montinari.

Disponível em: http://www.nietzschesource.org/. Acesso em: 20 set. 2021.

NIETZSCHE, F. W. Humano Demasiado Humano I: um livro para espíritos livres.

Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras: 2000.

NIETZSCHE, F. W. A Gaia Ciência. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

NIETZSCHE, F. W. Ecce Homo: como alguém se torna o que é? Trad. Paulo César de Souza.

São Paulo: Companhia das Letras: 2007.

NIETZSCHE, F. W. Al di là del bene e del male Nota introdutiva di Giorgio Colli e versione

di Ferruccio Masini. Prima edizione digitale. Milano, Adelphi Edizioni S.P.A, 2015.

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 17


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O nome da Rosa
Autor: Umberto Eco.
Editora: Record.
Sinopse: “Durante a última semana de novembro de 1327, em um
mosteiro franciscano italiano, paira a suspeita de que os monges
estejam cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é,
então, enviado para investigar o caso, mas tem sua missão
interrompida por excêntricos assassinatos. A morte, em
circunstâncias insólitas, de sete monges em sete dias, conduz
uma narrativa violenta, que atrai pelo humor, pela crueldade
e pela sedução erótica. Não apenas uma história de
investigação criminal, O nome da rosa, sucesso mundial desde
sua publicação original, em 1980, é também uma extraordinária
crônica sobre a Idade Média. Essa edição de luxo, revisada
pela consagrada tradutora Ivone Benedetti, contém uma
atualização da biografia de Umberto Eco, uma nota de revisão e
um glossário com a tradução dos termos em latim utilizados pelo
autor.”

FILME/VÍDEO
Título: O nome da Rosa
Ano: 1986.
Sinopse: Um monge franciscano investiga uma série de
assassinatos em um remoto mosteiro italiano. Isso provoca
uma guerra ideológica entre os franciscanos e os dominicanos,
enquanto o monge lentamente soluciona os misteriosos
assassinatos.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=V_ei9HJac9M

UNIDADE I O Professor de Ensino Religioso 18


WEB

Este canal disponibiliza aulas e discussões sobre a filosofia e a constituição


do ser humano. Como se trata de um curso de licenciatura, ele possibilita a integração
dos conteúdos epistemológicos com a educação e ensino. Desta forma,
acreditamos que possa auxiliar a formação do profissional de ensino religioso,
considerando a compreensão da cultura atual que o professor de religião precisa ter
para conversar com todas as peculiari-dades de seus alunos.

Link do site: https://www.youtube.com/c/FilosofiaUnicesumar/about

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UNIDADE II
A Importância da História da Religião
para a Formação Humana
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Os valores morais e religiosos como determinante para a formação da sociedade;
● A Moralidade e o cristianismo;
● Religião, liberdade e estado laico;
● A constituição brasileira.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a importância da religião na formação humana;
● Compreender os tipos de religiões presentes em nossa cultura;
● Estabelecer a importância da religião para a formação humana.

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INTRODUÇÃO

Nesta unidade, vamos buscar aprofundar nossos conhecimentos sobre a relação


entre a religião e a formação humana. Como já foi apresentado, a cultura ocidental possui
influências das religiões, principalmente da religião cristã.
Precisamos compreender que esses dois aspectos compõem a cultura social, e em
outros pontos, podemos afirmar que a nossa cultura é religiosa. Desta forma, a elucidação
e aplicação do ensino religioso é considerado importante para a construção do indivíduo.
Outro fator relevante que aponta para a religião cristã de modo indireto, é a
moralidade. Quando estudamos os fundamentos epistemológicos da religião
percebemos o quanto os ensinamentos encontrados na narrativa bíblica fazem parte do
conceito de moral nesta era contemporânea. Desta forma, vamos buscar compreender
como se dá essa dinâmica e o quanto ela influencia na formação do indivíduo.

UNIDADE III A
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História
Religioso
da Religião para a Formação Humana 21
1. OS VALORES MORAIS E RELIGIOSOS COMO DETERMINANTES PARA
A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE

Pensar no indivíduo e suas singularidades implica em uma compreensão sobre


as facetas da cultura em que cada um está inserido. Quando abordamos sobre cultura,
temos de considerar o aspecto geográfico e religioso. Conforme mencionamos, por
estarmos inseridos dentro da cultura ocidental, vemos que os valores bíblicos estão
impressos em nossa constituição enquanto sociedade e indivíduo.
Para além dos aspectos bíblicos, observamos o que a psicologia também tem
a dizer sobre nossa formação. Com Vygotsky (1934) aprendemos que a construção do
conhecimento nas pessoas se dá a partir de sua mais tenra infância e pela repetição dos
atos a partir de sua volta. Todavia, não é apenas pelas ações que aprendemos pelo
exemplo dos que estão à nossa volta, no caráter subjetivo, a cultura familiar possui uma
influência primordial na composição de cada ser humano. É dentro de casa que
aprendemos a enxergar quem somos e quem o outro é. A partir daí, isso irá conduzir a
forma de pensamento que cada pessoa terá em sua vida.
Claro que não podemos afirmar categoricamente que essa cultura familiar poderá
determinar a cultura e personalidade do indivíduo, entretanto, estes pontos são marcantes
para todos, pois é dito que “o homem é produto do meio em que vive”. (MARX e ENGELS,
1848). Sendo assim, a criação de cada pessoa influencia diretamente na forma de
pensamento e vivência que cada um adota para si na sociedade.

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O que queremos explicar aqui, é que a família irá contribuir com a maneira que a
sociedade se manifesta e estipula os limites, isto é, os valores, o estabelecimento no
senso comum do que é certo e do que é errado, do que é bom e do que é ruim, etc. Isso
nos leva a outro ponto histórico que precisa ser pontuado porque é sabido que a religião
cristã faz parte da construção da nossa sociedade brasileira.
Nos primórdios da colonização brasileira, há a proposta de catequização dos
povos aqui existentes, além disso, vale ressaltar que a proeminência dos países que nos
colonizaram, os espanhóis e portugueses, eram instituições católicas. Estes pontos
embasam a concepção da sociedade brasileira desde os séculos passado até aqui no
século XXI (DAURIGNAC, 2020). Embora existam outras religiões no Brasil, a própria
legislação brasileira possui influência da religião cristã.

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2. A MORALIDADE E O CRISTIANISMO

Existe uma ideia social que afirma que moralidade é uma coisa e o cristianismo é
outra. Porém, ao estudarmos a origem da moralidade observamos que a grande maioria
dos teóricos dessa linha de pensamento possuíam uma coisa em comum: a mesma
religião. Ainda que a gente afirme que a sociedade na qual fazemos parte compõe um
Estado laico, fora da constituição vemos que muitos dos aspectos morais são também
religiosos.
Por exemplo, muitas pessoas na sociedade afirmam que é necessário preservar
os valores da família. Mas o que seriam estes “valores da família”? Os valores familiares
tendem a preencher alguns pré-requisitos como a formação de uma família
heteronormativa, em que a mãe é a responsável pelas funções do lar, enquanto o pai é o
responsável por prover financeiramente esse esquema. Não vamos aqui postular que
toda familia por ser heteronormativa iria se enquadrar em todos estes pontos. Porém, essa
composição familiar é um traço claramente herdado da religião.
Ao estudarmos a moralidade e sua origem encontramos o trabalho do filósofo
Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) intitulado a Genealogia da moral. Ele realiza um ensaio
sobre como e o porquê intitulamos práticas aceitáveis e outras inaceitáveis. Vale
ressaltar que para ele o homem é por natureza cruel e deseja constantemente externalizar
sua crueldade.

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Ao analisar o início da trajetória humana, os indivíduos eram capazes de
exercerem suas vontades sem se preocuparem com olhares de julgamentos e
repreensões, pois praticavam aquilo que lhes davam vontade.
O pensamento deste filósofo a partir dessa obra citada acima, o coloca como o
filósofo da moralidade, criticando aspectos morais que vão desde Sócrates e de
ideologias judaico-cristãs. É possível observar inicialmente no prefácio do livro os
questionamentos do filósofo sobre qual seria nossa ideia acerca do “bem” e do “mal”, e
porque consideramos que o “bem” possui um valor superior ao do “mal”? Vale ressaltar
que a crítica de Nietzsche (1887) sobre estes aspectos não partem de uma premissa
transcendente, e nem de um ‘Deus que veio revelar ao homem’, princípios de como agir.
Sua crítica à moralidade tange a oposição à ética cosmológica dos gregos como a ética
dos medievais e ética racionalista dos modernos. O questionamento do filósofo visa
investigar como surgiram estes conceitos na sociedade (NIETZSCHE, 1998).
É na segunda dissertação que o filósofo expõe como a transvaloração do bem fez
com que os pobres fossem vistos como os bons, ou seja, por conta da “rebeldia” acerca
da opressão sofrida pelos senhores. Essa transvaloração dos valores levou a sociedade a
formular uma psicologia da consciência da moral, pois há a manifestação da má
consciência e da culpa. A antiga e remota história da humanidade demonstra o quanto a
crueldade faz parte da natureza humana. No tempo em que a humanidade não se
envergonha da sua real natureza, eles eram mais felizes e pleno. Após essa constituição
de uma concepção de moral, acaba sendo gerado um mundo interior. Isto é, a partir do
momento em que a humanidade passa a ser regido pelos valores morais, conceito do que
é certo e errado para medir suas ações, os indivíduos passam a internalizar sentimentos
de culpa por conta de não permitirem que seus reais sentimentos sejam manifestados em
suas ações que a partir da ótica da moral seriam cruéis.
Essa interiorização causa a má consciência. Consciência para ele é esse instinto
que foi impedido de se exteriorizar. Essas barreiras estabelecidas pelas organizações
sociais fazem com que toda essa repressão se volte contra os homens, gerando assim a
pior das doenças, que é o homem que se guerreia contra seus próprios instintos.
Sabemos que homem, naturalmente falando, é um animal feroz, quer para o interior ou
para o exterior.
Desta forma, as ideias de dívida, culpa, responsabilidade, e a capacidade de fazer
promessas foram geradas a partir destes pressupostos históricos que levaram a
sociedade a se organizarem considerando uma moral que estabelecesse antônimos a
ideia de “bem”. Portanto, tudo aquilo que vai contra à moral, causam as ideias de dívidas,
de culpa e necessidade de reparação aos demais indivíduos, ou seja, aqueles que foram
feridos por nós. Por isso, a humanidade desenvolveu essa culpa e má consciência acerca
de si mesmos.
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Pela influência cristã que formulou nossa sociedade, pode ser observado o
quanto anteriormente a própria constituição ainda adotava alguns aspectos sociais de
cunho estritamente religioso, como por exemplo a condenação ao adultério, as relações
homoafetivas, e várias outras que ao estudarmos a história podemos compreender. O
cristianismo acaba sendo a religião oficial da sociedade brasileira, ainda que seja
afirmado que o Estado é laico. Acerca deste ponto, vamos discutir agora neste próximo
tópico.

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3. RELIGIÃO, LIBERDADE E ESTADO LAICO

O profissional de ensino religioso deve estar ciente que exercer esta profissão no
Brasil implica em compreender como ela se relaciona com a diversidade de pensamento
religioso e político social. Assim, a construção do professor abrange o conhecimento da di-
dática educacional e das religiões como um todo. Entretanto, todos estes pontos
culminam na manifestação atual da religião, da liberdade e do Estado laico.
Neste contexto, vale ressaltar o que a constituição diz acerca disso tudo. Desde
período da colonização no Brasil, quem era responsável pelo ensino neste período era a
Companhia de Jesus, que se tratava basicamente de um grupo religioso composto por
padres que redigiram e organizaram o ensino. Mesmo após a expulsão desta ordem
religiosa, não houve uma integralização do ensino com uma estrutura laica (CHIZZOTTI,
1996; CUNHA, 2007; SAVIANI, 2007).
A Constituição Brasileira de 1824, reafirma os mesmo atributos que a corte
portuguesa adotava, isto é, ressaltaram a união entre Estado e Igreja, e seguia os mesmo
regimes educacionais propostos pelo padroado. (BRASIL, 1824)

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REFLITA

Tal heteronomia marcou também o campo educacional que sofreu forte influência do
campo religioso. A presença católica na escola brasileira ultrapassa a questão da
disciplina escolar, era um problema curricular, pois praticamente todos os conteúdos
de todas as disciplinas, assim como a formação da maioria dos professores, de uma
forma ou de outra, relacionava-se com a religião católica, seja pelos padrões morais,
seja pela presença física de sacerdotes na estrutura escolar.

Fonte: Sepulveda, 2017.

Foi em 1891 que a Constituição retirou toda a influência do padroado no Brasil,


pelo menos formalmente, fazendo com que a religião deixasse de ser uma disciplina
escolar. Entretanto, a Igreja Católica Brasileira lutou para conquistar a hegemonia no
ensino brasileiro pleiteando aliados no âmbito político que defendiam o ensino
religioso como disciplina curricular. Esta tática acabou funcionando e, apesar de
oficialmente a disciplina ser inserida novamente na grade curricular em 1934, em alguns
lugares ela estava vigente desde 1928. (BRASIL, 1891)
O principal adversário da Igreja Católica que buscava estabelecer o ensino
religioso como disciplina obrigatória nas escolas públicas, foi o grupo chamado
escolanovista. Assim como afirma Cunha (2007), este grupo defendia a laicidade da
escola pública e do governo, sendo neste momento, o principal opositor da Igreja, que
teve de agir com muita cautela para que a disciplina fosse institucionalizada.

SAIBA MAIS

“A Bíblia é uma “legislação” cunhada na Idade Média pelas populações a quem foi dado
o direito de legislar, lembrando que tal legislação era referente ao mundo cristão e não
ao islamizado. Com a modernidade e com a ascensão da burguesia, cujo fundamento
básico é a liberdade comercial sem a interferência do Estado e da igreja, cresceu a ne-
cessidade de diminuir o grau de influência da religião na vida cotidiana. A retórica liberal,
aliada ao pensamento iluminista do século XVIII, construiu elementos teóricos fortes
na defesa da laicidade. Tornava-se fundamental, então, atacar a força hegemônica da
religião dentro do Estado.”

Fonte: Sepulveda, 2017.

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Podemos observar através da história que sempre houve o interesse de manter a
Escola e a Política como parceiros que trabalham juntos. Dessa forma, vemos o quanto o
Estado influenciou a disseminação da religião cristã, e vice-versa. A partir do momento em
que fica instituído a obrigatoriedade do ensino religioso como disciplina obrigatória, isso faz
com que os preceitos morais e sociais caminhem junto com os princípios religiosos.

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4. A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

O Ensino Religioso como disciplina enfrentou alguns desafios no meio do

percurso até ser integrada legalmente. Um desses desafios foi por conta do que Cunha

(2007) denominou de sintonia oscilante. Esta sintonia oscilante faz referência a disciplina

de Educação Moral e Cívica, que tendo sido criada em 1937, visava a substituição da

disciplina de Ensino Religioso. Embora a Educação Moral e Cívica também atendesse

conteúdos de cunhos religiosos, no decorrer da história essas duas disciplinas acabam

se debatendo demonstrando este caráter oscilante apontado pelo autor.

Devido aos acontecimentos históricos presentes na época, Brasil (1946) afirma

que na Constituição de 1946 , o carater nacionalista do governo que apesar de proibir

práticas comunistas, adotou alguns aspectos que lhes convinham. Sendo assim, a

igreja católica se aliou com os liberais privatistas, e por terem essa influência, o Ensino

Religioso enfim foi incluído na grade curricular. Tal questão está presente no Art. 168,

referentes aos princípios da legislação:


Art. 168. V - o ensino religioso constitui disciplina dos horários das
escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com
a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo
seu representante legal ou responsável (BRASIL, 1946, online).

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Neste período, foi possível o exercício da disciplina, entretanto, nos deparamos
com outro desafio. Uma vez que foi concedido o direito de ministrar aulas sobre religião,
ainda que de maneira facultativa; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/96, promulgava um revés quanto a ministração dessas aulas nas escolas públicas,
uma vez que não garantiria a remuneração aos professores. O que buscavam promover
é que as aulas fossem conduzidas por representantes religiosos.
Art. 97. O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas
oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os
poderes públicos (grifo nosso), de acordo (sic) com a confissão religiosa do
aluno, manifestada por êle (sic), se fôr (sic) capaz, ou pelo seu
representante legal ou responsável (BRASIL, 1996, online).

Isto quer dizer que esta vitória para o Ensino Religioso e para a igreja católica na
época, seguiram os interesses privados, beneficiando as escolas privadas que continham
uma ordenação religiosa em sua organização. Ou seja, na prática não houve a
concretização de uma política pública que atendesse a sociedade como um todo, a
política da constituição neste momento, visava formar nos conhecimentos morais a elite
brasileira.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos abordar nesta unidade aspectos relevantes no âmbito educacional da


disciplina de Ensino Religioso. Como falamos sobre uma proposta educacional, precisamos
expor e citar as Constituições e Leis de Diretrizes de Bases do ensino brasieiro.
Desta forma, visamos contribuir com o conhecimento acerca desta área do saber
de uma forma neutra e que atenta a democracia do povo brasileiro, todavia, é nítido como
em alguns momentos da história, a religião cristã acaba por reger essa busca pela
institucionalização do Ensino Religioso.
Conforme exposto, houve um conflito entre Estado e Igreja para a
institucionalização desta disciplina. Esperamos que da maneira que conduzimos este
conteúdo, tenhamos contemplado os estudantes e interessados dessa área do saber e
que todas as informações e questionamentos aqui levantados, conduzam o estudante e
leitor a se capacitar cada dia mais na epistemologia desse saber.

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LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca


servir como base para o professor do ensino religioso não apenas quanto ao conteúdo que
possa vir a ser ensinado em sala de aula, mas também, informar sobre as questões
sociológicas que permeiam o pensamento religioso.
Importante enfatizar aqui que o professor de ensino religioso, jamais deixará de
ser primeiramente um professor. Isto quer dizer que existe uma legislação que
coordena ensino no Brasil, e o professor de ensino religioso precisa andar em
concordância com estes aspectos. Todavia, toda lei está pautada na construção social
e organização de uma sociedade. Pensar e discutir religião, engloba vários aspectos,
como neste caso, o sociológico. Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

Fonte:

WEBER, M. Conceitos básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 1987.

WEBER, M. Sobre a teoria das ciências sociais. São Paulo: Centauro, 1991.

WEBER, M. Economia e sociedade. 3. ed. Brasília: UnB, 1994. v. 1.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1996.

WEBER, M. Ciência e Política: Duas Vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.

WEBER, M. Essencial sociologia. Londres: Reuni Unido. Editora Penguin, 2013.

WEBER, M. Escritos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva. 4. Ed. Brasília: UNB, 2015.

WEBER, M. Ética econômica das religiões mundiais: Ensaios comparados de sociologia


da religião. São Paulo: Editora Vozes, 2016.

WEBER, M. Metodologia das Ciências Sociais. 5. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2016.

WEBER, M. A política como vocação. São Paulo: Book Builders, 2017.

WEBER, M. Sociologia das Religiões. São Paulo: Editora Ícone, 2017.

WEBER, M. O Direito na Economia e na Sociedade. São Paulo: Editora Ícone, 2017.

WEBER, M. A política como vocação e ofício. São Paulo: Editora Vozes, 2021.

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Religioso
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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História, legislação e fundamentos do ensino religioso
Autor: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira.
Editora: Intersaberes.
Sinopse: Em História, Legislação e Fundamentos do Ensino
Religioso, Sérgio Junqueira resgata as origens históricas da
disciplina no Brasil, demonstrando sua evolução desde os
tempos de nossa colonização “catequética”. Na obra, o leitor
perceberá que o desenvolvimento do Ensino Religioso nas
escolas é reflexo do amadurecimento da sociedade brasileira.
Para tanto, o autor demonstra que manter a disciplina em nossas
salas de aula é uma forma de difundir o diálogo e de compreender
as diversas culturas presentes no país.

FILME/VÍDEO
Título: Deus é brasileiro
Ano: 2003.
Sinopse: Cansado de tantos erros cometidos pela humanidade,
Deus resolve tirar férias dela, decidindo ir descansar em alguma
estrela distante. Para isso, precisa encontrar um substituto para
ficar em seu lugar enquanto estiver fora. Ele resolve então
procurá-lo no Brasil, já que é um país tão religioso. Seu guia
nessa busca é Taoca, um esperto pescador que vê em seu
encontro com Deus sua grande chance de se livrar dos
problemas pessoais. Juntos eles rodam o Brasil em busca de um
substituto ideal.

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UNIDADE III
Educação no Século XXI
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Desafios da educação no e para o século XXI - papel da religião e a escola;
● A educação no Brasil;
● O ensino religioso e seus desafios;
● A importância das religiões para o século XXI.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os aspectos educacionais;
● Compreender os tipos de didáticas do ensino;
● Estabelecer a importância da liberdade religiosa.

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INTRODUÇÃO

Nesta unidade, nosso foco é a educação religiosa no século XXI. Conforme exposto
anteriormente, a educação no Brasil é regida por uma constituição e todos os professores
precisam estar de acordo com suas diretrizes. Desta forma, uma vez que dissertamos
sobre estes aspectos, cabe também apresentarmos a organização do ensino brasileiro
com século vigente.
O Brasil mesmo em pleno século XXI, ainda possui reflexos do ensino da era
colonial. Sobretudo, há quem afirma que estes resquícios podem oferecer certos
benefícios no que tange a prática do ensino religioso nas escolas como disciplina
curricular, tendo em vista o exercício do ensino por parte dos padres católicos. Entretanto,
buscaremos discutir nesta unidade sobre essas implicações do ensino no século XXI.

UNIDADE III Educação no Século XXI 36


1. DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO E PARA O SÉCULO XXI – PAPEL DA
RELIGIÃO E A ESCOLA

O profissional de ensino religioso deve estar ciente que exercer esta profissão no
Brasil implica em estar de acordo com aquilo que a legislação do país permite. Ou seja,
apesar de observamos que há a integralização da disciplina a partir do Estado, ainda
faz se necessário que a diversidade religiosa e cultural presentes no cenário brasileiro
seja respeitada.
O termo ‘educação’ conforme diz Olinto (2001, p.181), consiste no ato de
educar, que seria “ensinar, doutrinar, cultivar o espírito”, além de compor uma gama de
“normas pedagógicas para o desenvolvimento geral do corpo e do espírito”. Quando
depara-se com esta definição, o raciocínio que deve-se fazer é se, de fato, as escolas
brasileiras estão oferecendo uma educação de acordo com seu conceito. Receber uma
educação é algo que vai além de oportunizar uma série de informações e dispor aos
alunos. E não é porque o ensino básico inicia-se quando criança, e os indivíduos são
determinados como menores de idade por lei, que eles podem receber qualquer coisa.
Todos têm o direito a receberem uma educação de qualidade.
O doutor Agostinho dos Reis Monteiro (2003) em seu texto o pão do direito à
educação afirma que:
Depois do pão, a educação é a primeira necessidade do povo”, disse Danton
no tempo da Revolução Francesa, em 1793, na sessão da Convenção de 13
de Agosto. O direito à educação é uma qualidade de pão vital para uma vida
humana. (...) O direito à educação é um direito prioritário, mas não é direito a
uma educação qualquer: é direito a uma educação com qualidade de “direito
do homem. (MONTEIRO, 2003, p. 764)

UNIDADE III Educação no Século XXI 37


Enquanto educadores precisamos ter em mente que a educação é um direito
de todos e isto não abrange uma educação que seja medíocre. Como formadores e
influenciadores da sociedade, não podemos oferecer qualquer conteúdo aos alunos,
todos os indivíduos merecem o melhor da escola e de nós. Quando oferecemos algo
mediano aos estudantes, estaremos contribuindo com a formação de uma sociedade
mediana, por isso, nosso enfoque e busca enquanto professores deve sempre almejar o
melhor para toda a sociedade.
Ainda abordando sobre a educação e o direito de todos a terem acesso a ela,
pode-se citar o conteúdo da própria constituição vigente no Brasil. A Constituição de 1988
em seu Art 205/ seção I, Capítulo II relata que a “educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa...” (BRASIL, 1988) (I); isto permite inferir
que, primeiramente, a educação é um direito dos cidadãos e dever do Estado.
Porém, quando analisamos as políticas educacionais em pleno século XXI, é
possível perceber uma divergência na aplicação desses princípios, tendo em vista que o
ensino nas escolas brasileiras tem sido sucateado pelo Estado. Os professores não
recebem um salário adequado com a demanda de suas atividades e funções e, ainda,
constantemente tem-se ouvido notícias, que após apurações, a verba destinada a escolas
são desviadas.
A escola é um meio social em que permite-se a infusão de ideologias
culturais, religiosas e políticas. Com a expansão do capitalismo a escola se moldou ao
sistema em que a preocupação de ensino visa uma capacitação para o ingresso em
cursos técnicos ou universidades com a finalidade de que os indivíduos tenham uma
profissão no futuro. Não é ruim capacitar as pessoas para empregá-las no futuro. O
problema é que isto se tornou o único objetivo da função escolar.
Isto levou com que as políticas educacionais na atualidade olhem apenas para o
lado capitalista do sistema, ao invés de buscar suprir todas as nuances dos indivíduos.
Assim, o enfoque da educação visa o investimento a medida em que se reconhece um
retorno que esta pode trazer para a sociedade, isto é, nas áreas industriais e de
produções que gerem renda ao país. A educação passou a ser vista, segundo Zamboni
(2016), pela “lógica da relação custo-benefício”. O Banco Mundial, o maior investidor na
educação afirma que:

UNIDADE III Educação no Século XXI 38


[...] a educação é a pedra angular do crescimento econômico e do
desenvolvimento social e uma dos principais meios para melhorar o bem-
-estar dos indivíduos. Ela aumenta a capacidade produtiva das sociedades
e suas instituições políticas, econômicas e científicas e contribui para
reduzir a pobreza, acrescentando o valor e a eficiência ao trabalho dos
pobres... (ZAMBONI, 2016, p. 73)

A escola e a religião abrangem um olhar para o indivíduo que foca nas


diversas nuances que integram os seres. Desta forma, o desafio educacional em todas as
áreas conflita com essa concepção de ensino materialista que busca apenas capacitar
trabalhadores na sociedade. Nosso dever é buscar romper com essa cultura que objetifica
o educando, e venhamos a contribuir com uma sociedade pensante e massiva em busca
dos direitos de todos, inclusive da educação e liberdade religiosa.

UNIDADE III Educação no Século XXI 39


2. A EDUCAÇÃO NO BRASIL

A educação no Brasil conforme discutimos acima encontra diversas


necessidades de melhorias e investimentos. A implementação de políticas públicas que
atendam a comunidade de docentes e discentes é urgente, porque para podermos
desenvolver um bom trabalho enquanto professores, é importante que a área de ensino
seja apropriadamente remunerada. Quando isto não acontece, o professor precisa
multiplicar sua jornada de trabalho e acaba por ter tantas demandas que a qualidade de
suas funções diminui.
Além disso, abordamos como “políticas públicas” o segmento responsável
por garantir medidas dignas para a sociedade, como afirma Zamboni (2016). Ou seja,
para que um aluno frequente uma escola e consiga apreender o conteúdo que ali está
sendo ministrado, é imprescindível que o mesmo tenha em sua casa uma estabilidade
mínima que supra as necessidades de cada indivíduo. É sabido que em regiões
denominadas de comunidades carentes, uma das motivações das crianças em
frequentarem a escola, é por conta da merenda. Se uma criança não se encontra bem
alimentada, bem descansada, isto irá influenciar no desempenho escolar da mesma.
Falamos de políticas públicas não por ser algo de responsabilidade do professor,
entretanto, por se tratar de aspectos que irão influenciar na rotina do professor, vale
ressaltar que devemos observar se o Estado tem cumprido com suas obrigações.
Destarte, a efetividade do trabalho de professor depende de como a sociedade está
sendo conduzida pelo governo.

UNIDADE III Educação no Século XXI 40


REFLITA

Ao propor uma reflexão sobre a educação brasileira, vale lembrar que só em meados do
século XX o processo de expansão da escolarização básica no país começou, e que o
seu crescimento, em termos de rede pública de ensino, se deu no fim dos anos 1970 e
início dos anos 1980.

Fonte: BRUINI. E. da C. Educação no Brasil. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/

educacao/educacao-no-brasil.htm. Acesso em: 01 set. 2021.

Esses aspectos até aqui abordados são pressupostos inerentes ao trabalho do


professor, inclusive o professor da disciplina de Ensino Religioso. Conforme
mencionado em outros momentos de nosso estudo, o estudante de uma escola privada
acaba por facilmente ter acesso aos conteúdos dessa disciplina, porém, nas escolas
públicas ainda nos deparamos com estes obstáculos que acabam dificultando nosso
trabalho.

UNIDADE III Educação no Século XXI 41


3. O ENSINO RELIGIOSO E SEUS DESAFIOS

Podemos afirmar que o principal desafio para a nossa disciplina de Ensino


Religioso faz juz a dificuldade de um consenso entre religião e o estado. Não viemos aqui
defender que ambas as áreas devem andar lado a lado, até porque a história nos conta
as implicações desta aliança. Mas se observarmos a constituição, ainda fica uma briga
em que sempre buscam transferir a responsabilidade, para não dizer culpa, um no outro.
Segundo SEPULVEDA, D. e SEPULVEDA, J. A. (2017), a religião vai
defender que o Estado deve proporcionar o ensino de uma disciplina que trate das
religiões nas escolas como uma disciplina que faz parte da grade curricular. Todavia, o
Estado alega que por ser laico e existirem as comunidades religiosas, a
responsabilidade deste ensino deve se concentrar nas comunidades eclesiásticas.

SAIBA MAIS

O Estado se tornou laico, vale dizer tornou-se equidistante dos cultos religiosos em
assumir um deles como religião oficial. A modernidade vai se distanciando cada
vez mais do cujus regio, ejus religio. A laicidade, ao condizer com a liberdade
de expressão, de consciência e de culto, não pode conviver com um Estado portador
de uma confissão. Por outro lado, o Estado laico não adota a religião da irreligião ou
da antirreligiosidade. Ao respeitar todos os cultos e não adotar nenhum, o
Estado libera as igrejas de um controle no que toca a especificidade do religioso e
se libera do controle religioso. Isso quer dizer, ao mesmo tempo, o deslocamento do
religioso do estatal para o privado e a assunção da laicidade como um conceito
referido ao poder de Estado.

Fonte: CURY, 2004, p. 183.

UNIDADE III Educação no Século XXI 42


Precisamos enfatizar também que propor uma disciplina que promova o Ensino
Religioso, necessita abordar as religiões como um todo. É justamente pela laicidade
do Estado que existe liberdade religiosa e, portanto, deveríamos estar mais abertos para
discutir sobre estes assuntos. Conforme Ames (2006), o senso comum afirma que o
conceito de que certos temas, como religião e política, não deveriam ser discutidos,
justamente pelo fato da escola ser o ambiente que aborda o Conhecimento, as
especificidades das religiões deveriam ser estudadas.
O maior desafio do Ensino Religioso está em sua própria proposta. De
acordo com Valente (2018), considerar apenas o ensino do cristianismo, que seria a
religião majoritária em nosso país, contradiz os argumentos que são usados para
defender a institucionalização do mesmo. Primeiramente, a laicidade do Estado precisa
ser elogiada ao invés de criticada, pois é justamente por ela que podemos nos
expressar livremente. Em segundo lugar, é necessário uma organização e gestão
desta disciplina que observe, respeite e defenda a totalidade da diversidade
religiosa existente em nosso país.

UNIDADE III Educação no Século XXI 43


4. A IMPORTÂNCIA DAS RELIGIÕES PARA O SÉCULO XXI

Pensar sobre a religião implica em buscar responder sobre certos questionamentos


que estão arraigados na constituição do ser humano desde as primeiras eras que
conhecemos através da história da humanidade. Normalmente, é a religião que irá
formular respostas acerca da razão e propósito da vida. Esta área assegura um campo
de discussão completamente abstrato, por isso, não é um ramo que proporciona
exatidão em suas explicações. (VALENTE, 2018)
Não há como aplicarmos o empirismo na fundamentação e teorias das
vastas religiões, pois a característica principal das religiões governam no que
denominamos de âmbito espiritual, que é algo que faz parte da vida das pessoas (para
aqueles que não são ateus, materialistas etc); porém, não é a vida que vivemos nesta
terra. A religião, na verdade, propõe uma discussão do que seria o nosso pós vida, por
isso, dependendo da crença, existem várias teorias. (ALEXANDER, 2010)
A sociedade tem dificuldade de abordar características abstratas que fazem parte
da nossa realidade, como por exemplo nossas emoções. Da mesma forma que não
podemos utilizar objetos e materiais físicos para descrever a tristeza, a religião possui a
mesma raiz. Contamos com a sensibilidade dos seres humanos para compreender e se
disporem a estudar a ciência das religiões.

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Ao nos depararmos com a angústia em nosso cotidiano, é comum que
busquemos nas doutrinas religiosas meios para aliviar nossos sentimentos. Pelo fato das
ciências não trazerem respostas acerca destes questionamentos, é que se faz necessário
as religiões para a humanidade. Quando o homem se coloca como acima da Natureza,
ele acaba por buscar fora da Natureza, respostas a tudo aquilo que a Natureza não lhe
concedeu. Essa complexidade da religião vem de encontro com a complexidade do
próprio ser humano. (ALEXANDER, 2010)
Por estes e outros aspectos é que a religião é importante ainda no século
XXI. Não apenas sua discussão, assim como sua vivência. Cada religião se apropria de
uma linguagem e de símbolos peculiares a elas, e isso só é possível por conta da
busca por sentido que a humanidade percorre ao longo de sua existência. Se até aqui
ainda discutimos pressupostos religiosos, isto demonstra que, de alguma forma, elas
trazem sentido ao mundo, pois ao longo das eras não foram esquecidas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir acerca da educação no século XXI é um assunto vasto e que depende de


vários outros segmentos para contemplar seu objetivo. A educação é um direito de
todos os indivíduos e encontramos esse direcionamento em nossa política e constituição.
Todavia, observamos que na prática, o sistema é falho em vários aspectos. Como
professores precisamos estar atentos ao funcionamento das políticas educacionais e
lutarmos a favor de melhorias sempre.
Uma vez que a sociedade constantemente sofre mudanças, a demanda de um
educador é alta pois precisa dar conta daquilo que ainda precisa ser regularizado e das
transformações que o ensino vem sofrendo. Neste ínterim, podemos observar a
importância que a religião possui para os indivíduos que visam discutir pontos abstratos
de nossa existência.
A educação atrelada à religião levanta uma série de desafios que ainda
precisamos descobrir como enfrentar para que possamos atravessar os obstáculos que
nos prendem socialmente. Discutir sobre o Ensino Religioso é um tema latente e
carente de estudo e formulações científicas e devidamente embasadas. Assim, contamos
com a dedicação de vocês para nos auxiliar nessa caminhada.

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LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca


servir como base para o professor do ensino religioso não apenas quanto ao conteúdo
que possa vir a ser ensinado em sala de aula, mas também, informar sobre as
metodologias de aprendizagem e quais abordagens as mesmas se referem. Para tanto,
trouxemos textos baseados no educador que neste ano completaria seu centenário, já que
o mesmo constitui grande referência mundial no âmbito da educação.
O professor de ensino religioso é antes de mais nada um indivíduo que está sempre
aprendendo novas informações e conteúdo. Isto quer dizer que todos nós estamos sempre
dispostos diante de novas informações e precisamos sempre renovar nosso conhecimento
para nós e para os outros.
É muito importante que cada um de nós estejamos dispostos a prosseguir nessa
jornada pelo conhecimento estando sempre abertos para o novo, para as novas
metodologias ativas, mas também para aquilo que se constitui como base educacional
em nosso país, como toda a literatura de Paulo Freire.
Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

FONTE:

FALS BORDA, Orlando. Ciencia Propia y Colonialismo Intelectual Ciudad de México:


Editorial Nuestro Tiempo, 1970.

FALS BORDA, Orlando. Por la praxis: el problema de cómo investigar la realidad para transformarla.
In: FALS BORDA, Orlando, et al. Crítica y Política en Ciencias Sociales: el debate sobre teoría y
práctica. Bogotá: Punta de Lanza, 1978.

FALS BORDA, Orlando. Conocimiento y poder popular: Lecciones con campesinos de Nicaragua,
México, Colombia. Bogotá: Punta de Lanza; Siglo Veintiuno Editores, 1985.

FALS BORDA, Orlando. Ante la crisis del país: ideas-acción para el cambio. Bogotá: El Áncora
Editores; Panamericana Editorial, 2003.

FALS BORDA, Orlando. Una sociología sentipensante para América Latina. Compilado por Victor
Manuel Moncayo. Bogotá: Siglo del Hombre y Clacso, 2009.

FALS BORDA, Orlando. La investigación-Acción en convergencias disciplinarias. In: Antología


Orlando Fals Borda Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, 2010, p. 359-368.

FALS BORDA, Orlando. Pesquisa-Ação, ciência e educação popular nos anos 90. In: STRECK,
Danilo (Org.). Fontes da Pedagogia Latino-Americana: uma antologia. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010 [1995].

FALS BORDA, Orlando; ZAMOSC, León. Balance y perspectivas de la IAP. In: GARCÍA, Carlos
(Org.). Investigación Acción Participativa en Colombia Bogotá: Punta de Lanza; Foro Nacional
por Colombia, 1985.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Contra a escola
Autor: Fausto Zamboni.
Editora: Vide editorial.
Sinopse: Por que a escola não educa e condena tantas vidas ao
desperdício e à esterilidade? A educação (ex-ducere,
conduzir para fora) deixou de ser uma abertura à razão e ao
espírito, convertendo-se em engenharia social, em manipulação
dos instintos baixos para a realização da vontade de poder. O
homem, não mais educado naquilo que tem de essencialmente
humano, passou a ser instrumentalizado em vista de algum
interesse econômico ou social. Em consequência, desumanizou-
-se, transformando-se no imbecil que, com base em concepções
erradas acerca da natureza humana, cria políticas desumanas.
Nessa situação de doença linguística e espiritual, perdeu a
experiência de amplas faixas da realidade ligadas à razão e ao
espírito, assim como a capacidade de compreendê-las e
expressá-las. De nada nos serve essa louca pretensão de alterar
a natureza humana e remodelar o mundo. Cabe a nós, então,
fazer o inventário dos nossos descaminhos, e retomar a estrada
mestra abandonada.

FILME/VÍDEO
Título: A onda
Ano: 2008
Sinopse: O filme do alemão Dennis Gansel apresenta a
experiência conduzida por um professor diante de uma turma
desmotivada, que precisava aprender o conceito de autocracia. O
diretor reforça a importância da escola na formação dos jovens
para que erros históricos, como o fascismo, não venham a ser
repetidos.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?
v=QBKEi8qamKM

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UNIDADE IV
O Professor de Ensino Religioso
Professora Me. Bianca Martins da Silva

Plano de Estudo:
● Conceitos e definições da Pedagogia da Autonomia;
● O perfil do professor de Ensino Religioso;
● A ciência das religiões;
● A finalidade do Ensino Religioso.

Objetivos da Aprendizagem:
● Estabelecer a importância do conhecimento pedagógico para o Ensino Religioso;
● Compreender a importância do respeito à diversidade religiosa;
● Contextualizar as definições teóricas acerca da religião,
educação e ciências da religião.

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INTRODUÇÃO

Nesta etapa de nosso estudo, vamos analisar certos aspectos do professor de


Ensino Religioso. Para tal, é importante abordarmos sobre algumas linhas pedagógicas
que guiam nosso estudo e atuação enquanto professores.
A pedagogia e a psicologia, desenvolveram certos estudos através da
observação do funcionamento do ser humano. Além disso, a filosofia e a sociologia
contribuem com este traço analítico da organização da sociedade.
O professor em geral tem um perfil e um modo de atuação que está atrelado com
a sua formação, sobretudo, vamos entender a peculiaridade do professor de Ensino
Religioso, uma vez que, se trata de uma área que consolida a vida social e a crença
religiosa. Esperamos que ao fim desta unidade, estas pressupostas venham a esclarecer
a posição deste profissional e contribua com a formação do mesmo.

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1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

A pedagogia é uma importante área do ensino que trabalha com a capacitação


de profissionais que irão atuar nas escolas a partir das idades mais inferiores dos
indivíduos. É uma ciência que contou com a participação de diversas áreas do ensino
para a sua consolidação. Além disso, a pedagogia sofreu através do tempo, várias
reformulações e aprimoramento de sua arte, o que ocasionou na constituição de linhas
pedagógicas que delimitam o perfil do educador e a maneira que pode escolher como
aplicar o ensino.
Desta forma, temos na pedagogia o que é chamado de tradições pedagógicas
liberais. Segundo Libâneo (2018), essas pedagogias são dividas entre algumas áreas,
e dentre elas, podemos conhecer as seguintes:

● A pedagogia tradicional: Trata-se de uma perspectiva metodológica que teve


seu início no século XVIII e ainda é utilizada em algumas escolas brasileiras.
Ela coloca o professor como uma figura de autoridade, pois defende que para
que a criança desenvolva um pensamento crítico, ela deve conhecer uma
estrutura sólida de informações na mais tenra idade. Com isso, as aulas
constituem um caráter expositivo e com exercícios de repetições.

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● A pedagogia democrática: Esta linha, por estar dentro de uma corrente
libertária do ensino e aprendizagem, defende a participação de todos no
processo de desenvolvimento. Assim, o aluno, os pais, os professores e
funcionários, têm o direito à participação na instituição de ensino. Ela coloca o
aluno como figura central do processo de aprendizagem, diferentemente das
correntes tradicionais que adotavam o professor como essa figura. Aqui, o
professor é apenas um facilitador do conhecimento.
● A pedagogia montessoriana: Esta linha de aprendizagem foi criada pela
italiana Maria Montessori sendo uma metodologia que se concentra na
experiência e na abstração. Ela propõe que o aluno tenha em sala de aula
materiais que estimulem a aprendizagem e é ele mesmo quem escolhe o que
deseja aprender naquele dia. A proposta é que cada um aprenda no seu
ritmo.Todavia, nesta proposta de aprendizagem existem alguns módulos que
precisam ser cumpridos, para delimitar a avaliação e avanço de uma turma
para outra. Em sala de aula, ela permite apenas vinte alunos no máximo, e a
avaliação é feita pelo professor.
● A pedagogia construtivista: Na pedagogia construtivista, é utilizado uma
metodologia de problemas hipotéticos e resoluções de problemas. O professor
não é responsável por passar o conteúdo aos alunos, mas ele também deve
tra-balhar a capacidade cognitiva dos estudantes, fazendo com que eles
formulem as soluções para os problemas, os colocando como seres
autônomos dentro da sala de aula.
● A pedagogia de Waldorf: Esta pedagogia foi criada pelo filósofo austríaco
Rudolf Steiner e é organizada em sete ciclos. O intuito é trabalhar o alunos de
maneira holística, ou seja, considerá-lo como um todo (corpo, alma e espírito).
Os ciclos são divididos em etapas biológicas, que vão de 0 a 7 anos, depois
dos 7 aos 14, e o último dos 14 aos 21; todas elas sendo gerenciadas pelo
mesmo tutor, que será quem irá fazer a avaliação de cada aluno.
Dentre as tradições pedagógicas progressistas, vamos analisar as três linhas
mais importantes do movimento, baseado nos estudos de Paulo Freire (1996):

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 52


● A escola progressista libertária: Esta linha pedagógica coloca o professor
como mediador, em que ele apenas irá propor orientações aos alunos neste
processo de desenvolvimento e aprendizado. As tradições progressistas
defendem o caráter político e senso crítico que precisa ser desenvolvido nos
estudantes, assim, trabalha junto com a autonomia dos indivíduos.
● A escola progressista libertadora: A progressista libertadora seria um
sistema de ensino chamado de horizontal, em que o aluno e professor
trabalham juntos neste desenvolvimento do ensino e aprendizagem. O
conteúdo trabalhado em sala de aula é proveniente da vivência que eles tiram
de seu dia a dia, assim, os alunos são divididos em grupos para proporem e
discutirem suas ideias.
● A escola progressista crítico-social: A escola progressista crítico-social
possui um viés democrático e político acentuado, de forma que defende que a
classe trabalhadora e menos favorecida tem o direito ao conhecimento. Ela
aponta o ensino como uma arma transformadora da sociedade, e os
educadores são responsáveis por ensinarem através das experiências sociais
e a visão de cada um acerca dos acontecimentos.
Normalmente, cada escola e professor tendem a seguir uma linha pedagógica
específica, e vale ressaltar que cada uma dessas linhas possuem desdobramentos
internos que afunilam ainda mais alguns métodos pedagógicos em que o professor pode
escolher trabalhar. E foi através da análise dessas linhas pedagógicas que o educador e
filósofo Paulo Freire desenvolveu a chamada pedagogia da autonomia.
Antagônico do sistema de ensino tradicional, Paulo Freire (1996), defende um
ensino voltado para a construção da autonomia de cada indivíduo. Além disso, em sua
última obra publicada em vida, “A pedagogia da autonomia” levanta a importância de
valorizar e respeitar a cultura de cada aluno e suas experiências individuais. Ele
questiona veementemente as propostas de rigidez ética que se volta ao sistema
capitalista, o que segundo ele, é uma doutrinação dos seres humanos desde a
menoridade e ainda exclui os menos favorecidos do processo de socialização.
A pedagogia da autonomia está dentro da tendência pedagógica progressista, e vê
esse enfoque no aluno como um desenvolvimento e libertação de um sistema social
que oprime e reprime os pensamentos e posturas que os indivíduos podem ter na
sociedade. Em relação às posturas religiosas presentes na sociedade, esta linha
pedagógica é muito promissora quando aplicada juntamente a apresentação do conteúdo
das disciplinas de Ensino Religioso, pois mune o professor de ferramentas de ensino que
serão éticas e eficientes no processo de aprendizagem.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 53


2. O PERFIL DO PROFESSOR DE ENSINO RELIGIOSO

Neste tópico de nosso material queremos convidar em especial os professores de


Ensino Religioso a adotarem a pedagogia da autonomia para desempenharem seu papel
enquanto educadores nas escolas brasileiras. Conforme foi exposto em nosso estudo, a
sociedade brasileira defende a constituição de um Estado laico, em que todas as pessoas
são livres para exercerem seus direitos de ir e vir.
Considerando a diversidade social e cultural de um país com extensão geográfica
continental, que é o caso do Brasil, buscamos formar profissionais que entendam e
respei-em essa diversidade. Uma vez que o professor entenda a positividade dessa
prática dentro da sala de aula, os alunos tendem a aprender com seu próprio exemplo.
Além disso, por possuir um caráter político, esta tendência se casa muito bem com o
Ensino Religioso, pois como foi demonstrado anteriormente, se manifestar a favor de uma
religião, implica em se manifestar politicamente.

REFLITA

“Laico é o Estado imparcial diante das disputas do campo religioso, que se priva
de interferir nele, seja pelo apoio, seja pelo bloqueio a alguma confissão religiosa. Em
contrapartida, o poder estatal não é empregado pelas instituições religiosas para o
exercício de suas atividades.”

Fonte: CUNHA, 2013, p. 07.

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O filósofo Hegel (1770-1831) afirma que a Reforma Protestante foi mais
importante do que a Revolução Francesa, porque o caráter da Reforma Protestante
expressa uma liberdade das amarras religiosas que regiam a sociedade naquela
época. Vale lembrar que naquele período, a cultura social era governada pela estrutura
Estado e Igreja e, uma vez que ambas estivessem separadas, o homem poderia ter
uma autonomia de escolha maior, além disso, mesmo ele permanecendo na mesma
religião que outrora, foi após a Reforma que a Bíblia fora traduzida para a linguagem
vulgar, assim, foi concedida também a autonomia de verificar e questionar se aquilo que a
Igreja decretava, estava de acordo com as Escrituras Sagradas.
Mediante estas informações, vemos que o perfil do professor de Ensino Religioso
está em dialogar com os alunos para que eles se sintam livres a exporem suas crenças
e opiniões e conduzir uma discussão saudável sobre todos estes pontos. É importante
que o educador esteja apto a criar um meio neutro e livre de julgamentos, além disso, o
professor de Ensino Religioso deve se despir de sua religião ou irreligião durante o
período em que está conduzindo uma sala de aula. O intuito é permitir que os educandos
cheguem às suas próprias conclusões.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 55


3. A CIÊNCIA DAS RELIGIÕES

A ciência das religiões é a área de estudo que permite estudar e analisar todos os
tipos de movimentos e manifestações religiosas. Quanto ao Brasil, a religião
predominante como já foi abordado, seria o catolicismo. Além disso, a religião cristã acaba
por ser uma boa ferramenta de estudo pois ela contém um “manual” que rege o
funcionamento da prática religiosa. Desta forma, para definir uma prática ou
comportamento cristão, basta verificar se está de acordo com as Escrituras Sagradas.
(OLIVEIRA, 2007)
Entretanto, não é porque a religião predominante no nosso hemisfério seja a cristã,
que é apenas ela que devemos e podemos estudar. No Brasil, encontramos uma
comunidade de fé Islâmica consolidada, portanto, como profissionais estudantes das
religiões, precisamos conhecer os atributos e pressupostos desta religião. Assim como
ocristianismo, neste caso, temos uma religião que possui também uma Escritura
Sagrada a qual pauta como deve ser a postura e prática de fé dos seus fiéis.
Porém, ainda encontramos diversas religiões consolidadas em nossa sociedade
e as principais são as descritas abaixo. (OLIVEIRA, 2007; NOGUEIRA, 2020)

● Cristianismo: Se ramifica entre catolicismo e protestantismo.


● Islamismo: Se ramifica entre os muçulmanos xiitas e os sunitas.
● Budismo: Se trata de uma religião em que não há uma deidade
estabelecida.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 56


● Agnosticismo: É difícil afirmar que a rigor seria uma religião, mas é uma
vertente de pensamento que concebe uma maneira de ver o mundo que abrange
os questionamentos que levam a uma religião.
● Espiritismo: É uma doutrina religiosa que está pautada na moral cristã, mas que
se concentra nos ensinamentos dos espíritos.
● Umbanda: Esta religião é brasileira e se trata de um sincretismo entre as
religiões católica, espírita e as religiões afro-brasileiras.
● Candomblé: O candomblé é uma religião africana que foi trazida ao Brasil pelos
africanos escravizados.
● Judaísmo: O judaísmo é a mais antiga religião monoteísta da história, embora
atualmente seja a com menos adeptos em relação às outras religiões
monoteístas.
● Ateísmo: O ateísmo seria a atribuição às pessoas que não se identificam com
as religiões existentes e também não identificam uma deidade existente.
Se propor a conhecer as religiões é um campo de estudo no qual não se estuda
apenas aquela que se adeque com sua crença, mas sim se dispor a entender como se dão
as relações religiosas presente na nossa sociedade.

SAIBA MAIS

“O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do


cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
funda-mental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
quaisquer formas de proselitismo.”

Fonte: Sepulveda, 2017, p. 08.

É importante que o professor de Ensino Religioso se alinhe às informações que


esta área de conhecimento pode proporcionar para que seu trabalho seja mais
efetivo. Considerando o fato de que em sala de aula o aluno pode se inserir dentro de
qualquer uma dessas religiões apresentadas, o educador precisa estar preparado e apto
para exercer seu trabalho conhecendo as peculiaridades e diferenças entre todas elas, e
também saber como abordar conteúdo a ser estudado.

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4. A FINALIDADE DO ENSINO RELIGIOSO

A finalidade da proposta do Ensino Religioso tem vistas a conscientização que a


educação religiosa busca propor. É preciso que toda a sociedade compreenda, inclusive
a comunidade religiosa, que dialogar e estudar as diversas religiões não significa
blasfemar contra sua própria crença. As religiões como um todo possuem muitos tabus e
preconceitos com as demais crenças religiosas e por isso, uma sistematização do ensino
das religiões pode contribuir com esse estigma social.
Estudar as religiões ainda traz uma conscientização sobre a diversidade cultural e
religiosa dentro do nosso país. O preconceito às religiões minoritárias e, principalmente,
as de matrizes africanas, é um fato trágico, porém, real na nossa sociedade.
De acordo com Nogueira (2020), a intolerância religiosa também pode ser
denominada de racismo religioso, por conta da maneira que esse preconceito é
manifestado. Ele afirma que é comum ataques e depredações a terreiros de Umbanda e
Candomblé. Em seu livro intitulado “Intolerância Religiosa”, ele propõe um estudo tendo
em vista a epistemologia do terreiro, e afirma que estes pontos de intolerância e racismo
precisam ser tratados e enfrentados pela sociedade atual.
A intolerância acaba por ser algo não debatido nos dias sociais, pois há um
eufemismo entre o modo de pensar a liberdade e diversidade em que acaba sendo
tolerável o não tolerar. Dessa forma, há um estigma no senso comum de permitir e
normalizar a intolerância.

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SAIBA MAIS

Neste ano, o racismo religioso se agravou muito. De acordo com os dados do Disque
100, em 2016, tivemos 759 denúncias de “discriminação religiosa”; em 2017/18,
a média foi de 500 denúncias anuais e, em 2019, somente no primeiro semestre,
354 denúncias, ou seja, certamente em 2019 a situação se agravou novamente.
Vale destacar que não é algo valorizado pelo governo que assume a presidência em
2019 e isso certamente, fortalece as subnotificações. A polarização também
religiosa é usada para o que chamo de proselitismo político, têm agravado as
perseguições e os movimentos de satanização das religiões de origem negra e
isso pode ser visto refletido no discurso espalhado no cotidiano das pessoas
principalmente nas redes sociais.

Fonte: PORTAL GELEDÉS. ‘O racismo religioso se agravou muito no Brasil nos últimos

anos’. Disponível em : https://www.geledes.org.br/o-racismo-religioso-se-agravou-muito-no-brasil-

nos-ulti-mos-anos/?

noamp=available&gclid=Cj0KCQjw5uWGBhCTARIsAL70sLJJRX3zsgJqovbVBuPcUco5Zkw-

NofrTj6tDXgfPfGbrsM1CucySU7YaAp4aEALw_wcB. Acesso em: 01 set. 2021.


Pensamos que a conscientização acerca das religiões serviria de suporte para
combater as práticas inaceitáveis de intolerância e racismo religioso. Além do mais,
o conhecimento sobre as doutrinas e pensamento, tendem a capacitar os indivíduos a
desenvolverem autonomia e senso crítico. Se identificar como praticante de uma religião
específica, implica em conhecer os atributos de cada crença e saber como e porquê nos
manifestamos de determinada maneira.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos nesta unidade reflexões acerca das linhas pedagógicas de ensino


e aprendizagem e como o professor de Ensino Religioso pode e deve buscar se
portarem em sala de aula.
Ressaltamos também que se manifestar religiosamente significa se manifestar
política e democraticamente. Entretanto, é importante que esse exercício seja feito de
modo consciente, pois uma vez que se compreende a importância e o efeito que o
posicionamento tem na sociedade, devemos fazer isso com a motivação correta.
Conforme mencionado, o conhecimento das religiões nos capacita a
compreendermos e respeitarmos a diversidade em todas as áreas de nossa cultura, e
desejamos que este material contribua na jornada de todos que aspiram prosseguir na área
de ensino das religiões.

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LEITURA COMPLEMENTAR

O intuito das literaturas complementares referente a esta unidade, busca servir


como base para o professor do ensino religioso com textos que abordam exatamente sobre
a prática do ensino religioso como disciplina curricular nas escolas. Conforme buscamos
abordar nas unidades deste material, o ensino religioso constitui muitas facetas, portanto,
nós enquanto professores precisamos compreender toda essa construção social, religiosa
e suas bases históricas.
A seguir temos algumas indicações de leituras que podem contribuir para todo
profissional de ensino religioso uma vez que traz uma autoridade sobre este assunto. O
processo de escolarização no Brasil como um todo sempre discutiu o ensino da religião e
da ética a fim de agregar no processo de aprendizagem de todos os alunos.
Sendo assim, desejamos a vocês uma boa leitura!

Fonte:

JUNQUEIRA, S. R. A. O processo de escolarização do Ensino Religioso no Brasil.

Petrópolis: Vozes, 2002.

JUNQUEIRA, S. R. A.; NASCIMENTO, S. L. Concepções do Ensino Religioso.

Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora/MG, v. 16,


n. 1, p. 783-810, jan./jun. 2013. Disponível em:Disponível em:https://numen.ufjf.

emnuvens.com.br/numen/article/view/2141 . Acesso em: 19 ago. 2020.

JUNQUEIRA, S. R. A. Ensino Religioso: espaço dos catecismos. Horizonte, Belo

Horizonte, n. 36, p. 1283-1314, out./dez.2014.

JUNQUEIRA, S. R. A. (org.). Ensino Religioso no Brasil. São Leopoldo: Insular, 2015.

JUNQUEIRA, S. R. A.; KLEIN, R; BRANDENBURG, L. E.; Compêndio do Ensino

Religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2017.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Todos os jeitos de crer
Autores: Alessandro Bigheto e Dora Incontri.
Editora: Ática.
Sinopse: Ensinar sobre religião significa também falar das
realidades humanas, em suas múltiplas, complexas e atuais
manifestações. Todos os Jeitos de Crer contribui, assim, com
grande variedade de temas transversais, que possibilitam aos
alunos uma reflexão inter-religiosa, ética, filosófica e histórica e o
respeito mútuo, dentro e fora da sala de aula, reforçando a visão
ecumênica e interdisciplinar da coleção. As fotografias e as obras
de arte de diversos períodos e movimentos presentes na coleção
auxiliam na compreensão e na expansão dos conteúdos,
tornando o aprendizado mais agradável e significativo. O
conteúdo é apresentado em capítulos independentes, permitindo
a escolha dos temas que serão trabalhados ao longo do ano, na
ordem em que preferir.

FILME/VÍDEO
Título: Escritores da Liberdade
Ano: 2007
Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de
um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e
violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de
aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim,
para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de
suas complicadas vidas, a professora Gruwell aposta em métodos
diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a
confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento e
reconhecendo valores. Disponível no Amazon Prime.

UNIDADE IV O Professor de Ensino Religioso 62


REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Religião (verbete). In: ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed.


São Paulo: Martins Fontes, 2007 p. 846-852.

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar, 1995.

AGOSTINHO. Confissões. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997. ARISTÓTELES. Metafísica. São
Paulo: Loyola, 2001.

ALVES, R. O que é Religião. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção Primeiros Passos).

BÍBLIA. Almeida Edição Contemporânea. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2005.

BOAS, A. V. Introdução à epistemologia do fenômeno religioso: interface entre ciências da


religião e teologia. Curitiba: InterSaberes, 2020. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.
com.br. Acesso em: 01 set. 2021.

BOEHNER, P. e GILSON, E. História da Filosofia Cristã: Desde as Origens até Nicolau de


Cusa. 8. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

BRASIL. Constituição (1824). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui-


cao/Constitui%C3%A7ao91.htm. Acesso em: 10 abr. 2016.

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CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Buscamos tratar neste breve ensaio sobre o Ensino Religioso um panorama geral
da história da religião e suas contribuições históricas e filosóficas. Para tanto, abordamos
as definições teóricas acerca da religião, educação e ciências da religião. Optamos por
detalhar aspectos sociais e filosóficos que permeiam a sociedade brasileira no que tange a
religião em geral. Desejamos que tudo que foi colocado até aqui tenha sido proveitoso para
sua jornada enquanto estudante dessa arte que denominamos religião.
Destacamos também a importância do respeito à diversidade religiosa, uma
vez que estudar e apresentar este tema, visa a democratização do pensamento e das
escolhas de cada indivíduo. Vale ressaltar que nosso país é extenso geograficamente e
em cultura, por conta disso, buscamos explorar todos os contextos religiosos que
influenciam nosso pensamento e constituição social.
A educação, parte muito importante desse nosso estudo, esclarece o quanto
o profissional de Ensino Religioso precisa estar atento aos estudos pedagógicos e de
aprendizagem para que o mesmo esteja apto a prever qual conteúdo deve ser abordado
e qual a melhor metodologia a ser utilizada de acordo com seu público. Desta forma,
esperamos que todo conteúdo abordado até aqui tenha sido proveitoso e instigante para
que cada um de vocês possa prosseguir em seus estudos, se profissionalizando nas
áreas de interesse que concerne a cada indivíduo.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

69
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CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
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