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Seja bem-vindo (a) ao caminho que iremos percorrer juntos graças ao seu interesse
por esta disciplina do curso de teologia. Nela, você conhecerá os conceitos fundamentais
da teologia cristã a respeito de Jesus Cristo, sua construção histórica e o conjunto de
crenças que compõem a fé cristã.
Nós estaremos juntos nessa jornada por meio das vídeo aulas e do apoio da presente
apostila preparada especialmente para você. Nela você encontrará outras indicações que
poderão lhe conduzir a um maior aprofundamento dos temas estudados.
Na primeira unidade, estudaremos o conceito de cristologia, as características
fundamentais para que a cristologia seja reconhecida como teológica e as diferentes
metodologias de estudo. Para exemplificar a importância de uma metodologia adequada
no estudo da cristologia, estudaremos um acontecimento significativo que ficou conhecido
como “antiga questão do Jesus histórico”.
Na segunda unidade do curso de cristologia, cujo tema é Jesus, o Messias prometi-
do, procuraremos entender e conhecer às expectativas messiânicas de Israel. Estudaremos
também as origens da noção de reinado de Deus e como se pensava este modelo no antigo
testamento. Na sequência, refletiremos um pouco mais a respeito do título que Jesus deu
a si mesmo, a saber, Filho do Homem, e procuraremos identificar os motivos pelos quais
Jesus adotou esta figura apocalíptica.
Na terceira unidade do nosso curso iremos visitar os evangelhos observando Jesus
de Nazaré e nos perguntando se de fato é ele o Messias. Estudaremos as relações que ele
estabeleceu com a lei com o templo com Deus e com as pessoas, de modo a nos aproximarmos
dos valores por ele vividos e ensinados. Sendo o Reino de Deus, a temática catalisadora do
seu projeto salvífico, estudaremos que sentido teve pra Jesus falar em Reino de Deus. Por
fim, faremos juntos uma leitura teológica da morte e da ressurreição de Jesus.
Finalmente na quarta unidade faremos uma investigação tipicamente dogmática
para conhecer as cláusulas vinculantes da fé cristã a respeito de Jesus Cristo. Por esta
razão, de modo sintético, estudaremos as principais decisões conciliares.
Agora você tem em mãos o percurso a ser feito. Que a sua trajetória de conhecimentos
teológicos na área da cristologia acrescente ao seu horizonte de vida elementos que venham
lhe tornar uma pessoa melhor para si e para o mundo.
UNIDADE I....................................................................................................... 4
A Fé Cristã a Partir da Visão Cristã
UNIDADE II.................................................................................................... 31
O Messias Prometido e Esperado
UNIDADE III................................................................................................... 54
Jesus de Nazaré: Vida e missão
UNIDADE IV................................................................................................... 75
Verdadeiramente Homem e Verdadeiramente Deus
UNIDADE I
A Fé Cristã a Partir
da Visão Cristã
Professora Doutora Raquel C. Cabral
Plano de Estudo:
● A Cristologia e as cristologias;
● Métodos, fontes e notas identitárias da cristologia;
● A antiga questão do Jesus histórico;
● A nova questão do Jesus histórico.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar a cristologia e contextualizar a abordagem
cristã entre outras abordagens e perspectivas;
● Compreender os traços distintivos e identitários da criptologia;
● Estabelecer a importância da historicidade da pessoa de
Jesus Cristo e nela a revelação do Filho de Deus.
4
INTRODUÇÃO
Como você já deve ter notado, o teólogo joga o cristianismo contra o Jesus histórico,
sua experiência de vida e seus ensinamentos. Resulta para Harnak que, eliminando dos
evangelhos o que ele chama de “a casca do cristianismo”, o sobrenatural, obtém-se uma
narrativa confiável sobre Jesus Cristo e os seus ensinamentos. Harnak foi contestado
e também apoiado de modo a não chegar a uma solução para o problema em aberto.
Afinal, há ou não diferenças entre a experiência de Jesus na história e o que os apóstolos
e discípulos anunciaram a seu respeito? Se existem diferenças, até que ponto ela torna
inválida a fé da Igreja? (LOEWE, 2000).
Fazendo um balanço desta primeira fase da pesquisa do Jesus histórico ficou claro
que o programa faliu pelo preconceito dogmático que visava substituir a imagem ortodoxa
do Cristo pela de um Jesus conforme aos pressupostos históricos, cientificistas e até
mesmo nacionalistas da teologia liberal alemã. Restou o incômodo para os cristãos de não
encontrar resposta satisfatória em nenhuma das tentativas de conciliação.
Em 1906 entram no cenário três personagens que dão início a reavaliações sobre
o percurso feito nos debates sobre a questão do Jesus Histórico iniciada no final do século
XVIII. Os teólogos Albert Schweitzer (1875 - 1965), Rudolf Karl Bultmann (1884 - 1976)
e Karl Barth (1886 - 1968) reavaliam os resultados obtidos na primeira fase das buscas,
retomam a discussão e abrem um período considerado o tempo intermediário entre a antiga
e a nova questão do Jesus Histórico, como veremos no próximo tópico.
4.1 Introdução
Os resultados da antiga questão do Jesus Histórico, considerando as várias
posições dos pensadores que se pronunciaram, deixou no ar uma tremenda insatisfação.
Tudo começou com a pergunta sobre possível diferença entre a pessoa e a pregação de
Jesus em si e o que os apóstolos e discípulos anunciaram a seu respeito. Certamente
existiram diferenças, como é comum em todas as narrativas a respeito de fatos históricos e
dos seus significados. Quando alguém ou um grupo conta uma vivência acentua os traços
da experiência feita pela própria pessoa ou por aquele grupo específico. E se cada pessoa
envolvida no acontecimento for ouvida em suas narrativas, os enfoques serão específicos e
diferenciados. Porém, há de se manter o teor regente do acontecimento, a sua veracidade.
Você já deve ter observado como é imensa a quantidade de artigos e livros publicados a
respeito de Jesus Cristo. Deve também ter notado que o material produzido diverge um
do outro quanto as suas opiniões e pontos de vista a respeito de quem tenha sido Jesus
Cristo e o significado da sua existência na história. Então, eu quero fazer uma pergunta
provocante: é lícito falar sobre Jesus a partir dos contextos de quem o estuda? Pode-
se fazer uma leitura cristológica de cunho cultural atualizado nas diversas culturas?!!!
Sim, é possível! Mais ainda: há que se considerar as novas cristologias de ontem e de
hoje, como o faz o teólogo jesuíta, Manuel Hurtato, em um artigo muito interessante,
NOVAS CRISTOLOGIAS: ONTEM E HOJE ALGUMAS TAREFAS DA CRISTOLOGIA
CONTEMPORÂNEA, publicado na revista Perspectiva Teológica, disponível online.
Você já parou para pensar como o mundo seria diferente se o os cristãos vivessem
radicalmente a sua fé? Será que o número de cristãos no Brasil é insuficiente para
combater os sinais de injustiça social e a má divisão dos bens da natureza? O que será
que está faltando? Leia e compare essas duas matérias:
Fonte: CNBB- Igreja católica Apostólica Romana. Cristãos no mundo. Disponível em: https://www.cnbb.
org.br/cristaos-no-mundo-7-bilhoes-de-pessoa-dizem-professar-a-fe-crista-segundo-instituto-de-pesqui-
sa-pew-research/. Acesso em: 25 out. 2021.
O Dicionário Crítico de teologia dirigido Por Yves Lacoste, reúne os mais renomados
teólogos do ocidente escrevendo sobre temas clássicos da teologia. Os verbetes são
construídos em estilo abrangente, próprio para o aprofundamento de temas específicos.
No verbete Mistério, você vai encontrar abordagem bíblica, litúrgico sacramental e o
desenvolvimento do sentido do uso do termo na teologia do oriente e do ocidente.
LIVRO 1
Título: Introdução à Cristologia
Autor: Jacques Depuis.
Editora: Loyola.
Sinopse: Esta obra procura aprofundar tanto o mistério da pessoa
como o próprio sentido do acontecimento Jesus Cristo na história
da humanidade e do mundo. Pretende assinalar uma volta à histó-
ria humana de Jesus, muitas vezes esquecida pelo peso excessivo
da especulação criptológica.
LIVRO 2
Título: Jesus Cristo Libertador
Autor: Leonardo Boff.
Editora: Loyola.
Sinopse: Este livro quer ser um ensaio cristológico pensado e
escrito dentro do horizonte da experiência da fé como é encarada
na América Latina. A figura do Cristo aqui apresentada nasceu de
estudos acurados de exegese; história dos dogmas e de antropolo-
gia. Especialmente a humanidade de Cristo é posta numa luz nova.
Foi essa humanidade; e não apesar dela; que Deus se manifestou.
Por isso Deus não pode ser encontrado fora do homem-Jesus.
Nele Deus revelou a sua face humana; e o homem sua face divina.
É em Jesus que descobrimos quem é Deus e quem é o homem.
WEB
1- O documentário “Quem foi realmente Jesus” poderá contribuir
com a evolução das suas reflexões a respeito dos seus conheci-
mentos sobre Jesus Cristo.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=MPkJyoT_F1Q
2- Vídeo: Jesus histórico. Site: Jesus histórico
Neste vídeo você vai ouvir uma exposição ampla sobre a questão
do Jesus histórico, que nós estudamos, produzida pela faculdade
São Basílio Magno, FASBAM, proferida pelo filósofo e teólogo
Rogério Miranda de Almeida. A abordagem é clara e rica em infor-
mações multidisciplinares.
Plano de Estudo:
● As expectativas messiânicas de Israel;
● A tradição profética do Filho do homem;
● O Filho do homem segundo o Novo Testamento;
● O Reino de Deus anunciado por Jesus.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o messianismo de Jesus;
● Compreender os tipos de expectativas messiânicas de Israel;
● Estabelecer a importância da figura do Filho do Homem na tradição profética;
● Identificar os pontos de identificação e de ruptura entre o Reino que Jesus
anunciou e as expectativas de reinado de Deus contemporâneas a Ele.
31
INTRODUÇÃO
Prezados e prezadas estudantes do curso de cristologia, que bom que você concluiu
a primeira unidade do nosso curso e agora está disposto a fazer a segunda.
O objetivo dessa unidade do curso de cristologia é conhecer a forma toda própria
como Jesus instaura o reinado de Deus no mundo. Para conhecermos melhor o reinado de
Deus a partir de Jesus Cristo, nada melhor que darmos atenção ao que ele mesmo dizia a
seu respeito, como se apresentava e que nomes dava a si. Agora você, vai perceber melhor
que Jesus, como bom judeu, conservou um fio de continuidade com a tradição judaica e,
ao mesmo tempo trouxe novidades. Na verdade, Jesus estabeleceu com o judaísmo uma
relação de ruptura na continuidade. É aqui que se encontra o núcleo da fé cristã em Jesus
Cristo, razão de ser da cristologia.
Para observar melhor o que acabei de afirmar, é de suma importância visitarmos
juntos alguns pontos específicos da tradição religiosa judaica, cujos registros encontram-se
na primeira parte da Bíblia, no Antigo Testamento. De modo mais geral, nesta unidade nos
ocuparemos em encontrar as razões pelas quais Jesus foi o Messias esperado e prometido.
No primeiro tópico compreenderemos as esperanças messiânicas de Israel, veremos a
variedade das problemáticas e das ânsias que determinavam, para cada grupo, o desejo de uma
intervenção de Deus enviando alguém que respondesse as suas problemáticas específicas.
No segundo tópico, muito relacionado ao primeiro, estudaremos no que consistia o
reinado de Deus segundo a concepção judaica, principalmente a partir da monarquia como
regime governamental de Israel.
No terceiro tópico do nosso curso, aprenderemos o significado do termo tão caro
a Jesus quando falava de si mesmo: Filho do Homem. Daremos um mergulho na tradição
profética para conhecermos a figura apocalíptica na qual Jesus se inspirou para falar de si.
E já no quarto tópico analisaremos o perfil de Jesus comparado a figura do filho do
homem como aparece na tradição profética, ressaltando os traços identitário da pessoa de
Jesus Cristo, enquanto filho de Deus encarnado na história.
Desejo-lhe um aprendizado empolgante e rico em significados para a sua vida
pessoal e sua atuação como teólogo ou teóloga.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 32
1. AS EXPECTATIVAS MESSIÂNICAS DE ISRAEL
Introdução
O título desta unidade evoca uma realidade própria da pessoa de Jesus que tornou-se
uma propriedade de domínio popular, dispensando necessidade de maiores esclarecimentos.
O curso que você está fazendo proponho um salto de qualidade nos conhecimentos a
respeito do significado da pessoa de Jesus Cristo para fé cristã. Como o domínio popular
não é suficiente para descrever o perfil teológico de Jesus Cristo, procuraremos entender
em que sentido Jesus foi o cumprimento da promessa da vinda de um Messias.
A título de revisão, é importante recordarmos que estamos construindo uma
cristologia que visa abordar integralmente as dimensões fazendo com que resulte em um
estudo de fato teológico. Para tal, é necessário contemplar a dimensão teológica da cristologia
(considerar que Jesus é o filho de Deus que se encarnou); soteriológica (ter presente que
Jesus é o Salvador); pneumatológica (não perder de vista que Jesus é o portador por
excelência do Espírito Santo de Deus) e, por último, a dimensão histórico-antropológica (o
fato de que o filho de Deus, Jesus Cristo assumiu a realidade histórica é a natureza humana
tal como ela é). Além dessas dimensões que compõem uma cristologia integral haveremos
também de incluir alguns princípios. O primeiro deles é atenção dialética. Com essa palavra
aparentemente difícil estamos nos referindo a dupla natureza de Jesus Cristo que gera uma
certa atenção, ou seja, Jesus pertence ao mesmo tempo à natureza humana e à natureza
divina. Segundo princípio é o de totalidade quer dizer, precisamos considerar tudo o que diz
respeito a sua existência inclusive aos fatos que o precederam.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 33
Outro elemento importante é o da continuidade histórica. Jesus irrompe na história
um tempo novo que só foi possível ser reconhecido retomando o contexto histórico ao qual
ele deu continuidade. Os seus apóstolos e todas as gerações de discípulos precisaram
fazer leituras retrospectivas da Sagrada Escritura e da história de Israel, de modo especial
sobre o messianismo.
Tendo em vista todas as considerações que fizemos até aqui, devemos nos pergun-
tar: o que é mesmo Messias? Você já parou para pensar? De onde nasceu este termo? Se
Jesus Messias fora prometido e esperado, quem o prometeu e o que estava no imaginário
e no desejo dos que esperavam pela sua chegada? Eram várias as expectativas ou uma
única? As respostas a esses questionamentos são fundamentais para o nosso “início” de
conversa. É o que iremos construir juntos.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 34
Através da leitura retrospectiva das promessas fundamentais e abrangentes do
Antigo Testamento de que o próprio já vê viria até o seu povo, os autores do Novo Testamento
perceberam que aquelas promessas da vinda de Deus como o Justo Juiz por graça e favor
de Deus estavam sendo realizadas, estavam concretamente presentes em Jesus.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 35
1.2.2 Redenção como libertação histórica
A Redenção, que é tão esperada, acontece na história concreta e é observada nos
acontecimentos da vida. De acordo com esta compreensão, a Redenção corresponde a
libertação verificável no aspecto corporal, social e econômico. Como você pode observar
essa concepção de Redenção não considera a interioridade.
Uma vez que a história é o palco da Redenção porque é nela que a libertação
histórica se dá, está incluído nesta forma de compreensão a esperança de mediadores
humanos como Moisés, Débora, Miriam (Jz 5, 2-31; 3, 9s; 4, 3-10; I Sm 11).
A experiência da libertação da servidão do Egito, no século XIII a.C. é o exemplo
emblemático da ação redentora de Javé na história e deixou marcas indeléveis na memória
coletiva. A salvação, para quem trazia no coração esta experiência, era esperada como
uma intervenção histórica da parte de Deus, com efeitos definitivos de libertação de todo o
tipo de escravidão, particularmente sócio social política religiosa e econômica.
O formato da ação de Deus, libertando o seu povo da escravidão do Egito, teve
caráter normativo, ou seja, orientações bem precisas do agir. O decálogo em Ex 20,2 e Dt
5,6 instruiu a liberdade do povo na direção da escolha de uma vida em comum, com direitos
e deveres iguais de pessoas libertas que realmente se tornaram livres. Por esta razão,
qualquer forma de opressão torna-se abominável. “lembra-te que foste escravo no Egito e
que já vê, teu Deus, que libertou de lá” (Dt 24, 17s; 15, 12-15).
Para Israel, que foi escravo, estrangeiro, pobre e fraco no Egito, a opressão passa
a ser sua maior incoerência e ingratidão para com Deus. Sendo assim, às condições
históricas favoráveis a vida confortável são um sinal de livramento e salvação histórica
também por serem acontecimentos da história real, palpáveis e materiais. Israel leva muito
a sério a criação da terra Deus a criou e é nela que opera a salvação.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 36
FIGURA 1 – LINHA DO TEMPO DA HISTÓRIA ANTIGA DE ISRAEL
Depois que Israel conquistou A Terra Prometida, foi organizada em 12 tribos conduzidas
por profetas carismáticos e organizada por juízes instituídos. O país vivia em sistema de
teocracia direta, ou seja, o próprio Deus era o rei e a arca da aliança era o seu trono.
Aconteceu que o povo desejou ter a mesma organização das nações vizinhas
e ser governado por um líder político, um rei que não fosse o próprio Deus. Então, na
assembleia de Ramá, o povo pediu ao profeta Samuel, último dos juízes que constitui se
sobre ele um rei que exercesse à justiça e o direito, que o representasse politicamente
como as outras nas ações (I Sm 8,5s).
Deus ouviu o pedido do povo, saiu do reinado e constituiu um rei temporal conforme
o desejo do seu povo. Saul foi o primeiro rei. Ele foi rejeitado por ter desobedecido a Deus,
ter oferecido sacrifício a deusas fenícias e ter recorrido a feiticeiras. (I Sm 13, 12-13; I Sm
28, 18; I Cr 10,13).
Davi foi o segundo rei. Ele marcou muito a história de Israel. Ficou reconhecido
como o ungido de Israel. Embora tendo cometido pecados muito graves, Davi realizou
alguns prodígios administrativos como por exemplo: abriu rota de comércio nas fronteiras,
constituiu um exército formal em defesa do país, construiu sua casa ou seu palácio no alto
do monte Sião e levou para lá a arca que continha as tábuas da aliança. Intensificou-se
a consciência de que o rei que governa Israel a partir de Sião, o faz por incumbência de
Deus a quem ele representa: “senta-te ao lado meu” (Sl 110, 1). Coube a Davi anunciar a
construção do templo em Sião em função de um futuro messiânico da estirpe de Davi abre
aspas farei permanecer a tua linhagem depois de ti” (IISm 2, 12-14).
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 37
O reinado de Davi adquiriu traços messiânicos pelos seus feitos em favor do povo,
tornando credível a unção de Deus sobre ele.
O arquétipo ou referência dos juízes e reis terrenos é o próprio Deus. Reinar em
Seu nome significa promover a defesa e o direito dos pobres, a comiseração dos sem vida,
o fortalecimento dos fracos e a libertação dos oprimidos. Esta figura contrasta com a tirania
e a exploração dos pequenos por parte de reis terrenos que Samuel expõem para advertir
ao povo (I Sm 8).
O terceiro rei, Salomão, deixou o país em crise depois dos 40 anos do seu reinado.
Entregou se a idolatria se envolveu com idolatria, prestou culto às deusas fenícias da agricultura
e da fertilidade, casou-se com uma filha pagã do Faraó, gastou muito com mulheres e deixou
o tesouro público com sérios problemas. A crise levou ao cisma hebraico, que dividiu o reino
em Reino do norte (Israel) cuja capital era Samaria e Reino do sul (Judá) cuja capital era
Jerusalém. As relações entre os dois reinos não foram tranquilas até que Israel foi invadida,
ficou cativa da Assíria de 722 a 586... sua independência e seus reis faliram!
Esta situação fazia o povo reforçar a figura de Davi como referência. A Esperança
pela ordem pública, pelo perdão dos pecados e pela intervenção de Deus fazia com que se
imaginasse a Redenção como o reinado de Deus por meio de alguém parecido com Davi.
Os profetas começam a anunciar um novo começo que Deus quer fazer por
intermédio não mais de um rei, mas de um Messias: Emanuel, um rei Salvador, que julga
os pobres com justiça e age em nome de Deus, fiel à unção.
De fato, as profecias apontam para esta figura salvadora que virá. Porém, a encarnação
do Filho Deus do modo como se deu, jamais foi imaginada ou predita com clareza.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 38
2. A TRADIÇÃO PROFÉTICA DO FILHO DO HOMEM
2.1 Introdução
A expressão “filho do homem” está presente em alguns escritos do Antigo Testamento
e também do Novo Testamento. A expressão é utilizada no antigo testamento para referir-se
a uma figura messiânica, presente na tradição profética, cuja presença simbólica tem um
significado muito importante para se compreender a pessoa e a missão de Jesus Cristo.
Afinal de contas quando Jesus se apresenta, muitas vezes, utiliza esta expressão como
título que define a si mesmo.
Neste tópico do nosso curso de cristologia iremos estudar a origem da figura do
filho do homem nos livros dos profetas Ezequiel e Daniel. É importante que você tenha sua
bíblia em mãos e faça a leitura atenta dos textos em questão.
O objetivo deste conhecimento é chegarmos a responder, no tópico seguinte, à
pergunta: que tipo de Messias foi Jesus? Ele atendeu às expectativas messiânicas do seu
tempo? Por que Jesus Cristo se referiu a si mesmo como filho do homem? Em que sentido
ele se definia assim? Buscaremos as origens da expressão no Antigo Testamento que se
encontram nos livros dos profetas Ezequiel e Daniel.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 39
O autor do livro conta que ficou encantado com o céu aberto e com quatro seres
celestiais (Ez 1, 4-5) que carregavam algo muito precioso (Ez 1, 26). Ezequiel entende que
aquele objeto estava representando a glória de Deus que não abandona o seu povo e está
disposto a estar com ele e o salvar. Deus fala com o profeta chamando-o de “filho de Adão”
ou “filho do homem”, demonstrando que há diferenças entre Ele e o ser humano, apesar de
tanta proximidade. A expressão dá força à autoridade amorosa e salvadora de Deus sobre
a criação. Por isso Ele ordena, indica, conduz e confere a Ezequiel uma missão, visto que
o profeta é um descendente de Adão. Por isto, o profeta se sente obrigado a ir à “Casa
Rebelde” ou “Casa de Israel” com a finalidade de anunciar a salvação. Ezequiel revê a
esperança messiânica popular de cunho pagão e anuncia o verdadeiro conteúdo da Aliança
e imagem do Messias. Ele não é um simples homem/guerreiro, ele é o príncipe da paz, o
pastor sereno, cuja missão lhe foi dada por Yahweh (Ez 34, 23s). Ezequiel testemunha
Deus, anuncia que a Aliança com deus requer renovação interior, culto de adoração e o faz
como enviado, como filho do homem;
No capítulo sétimo do livro do profeta Daniel, também se encontra uma visão bem
significativa sobre o final do domínio dos reinos terrestres. A narrativa simbólica é aterradora,
antes de ser decifrada. Mas tudo ganha sentido ao final.
Antes de irmos ao texto é importante que você saiba que essa literatura tem
características que a definem como apocalíptica. Este tipo de escrito era muito usado em
tempos de perseguições quando não se podia dizer abertamente o que se pensava ou
tecer críticas a respeito das forças dominantes. Por isso, a utilização de símbolos substituía
nomes de opressores, pessoas ou instituições a quem se queria denunciar no anonimato,
evitando perseguição e morte.
A visão de Daniel acontece em três etapas ou três visões em uma só, confira (A
BÍBLIA, 1984):
1) Dn 7, 1-8- a visão dos quatro animais
Daniel vê quatro animais surgindo do mar, na concepção vigente o mar era o lugar
do desconhecido, monstros potentes por superarem o domínio que o ser humano
poderia ter sobre a realidade indomável. Acreditava-se que os demônios viviam no
mar, o que indicava que a origem do mal era desconhecida em sua origem.
O número quatro no texto tem diversos significados que lembram tudo o que é
potente no universo, por exemplo, quatro são as forças cósmicas: o ar, o fogo, a
água e a terra. Quatro são as potências mundiais que dominaram Israel.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 40
Sendo assim, o número quatro também colabora na composição da mensagem
simbólica que o texto quer comunicar. Também a aparência dos animais tem
algo a dizer a animais que aparentam ser outros, em geral eles possuem força
arrebatadora, membros, dentes ou chifres anormais, tudo usado para destruição.
O conjunto dos animais está falando de uma totalidade potente e, ao que parece,
insuperável. Eles representam os quatro impérios que dominaram o mundo até
então: o babilônico, a meda, o persa e o macedônico.
Os animais, ou potências mundiais, lutam pelo poder Império e pelo domínio do
mundo que está em um verdadeiro caos. O cenário se dá em um terrível alvoroço
caótico exatamente o oposto harmonia da criação. A triste realidade denunciada
nesta primeira parte da visão é que essas potências mundiais receberam poder e
tem espaço e autoridade na história.
3) Dn 7, 13
Na última parte da visão, Daniel viu descer das nuvens do céu uma figura que se
apresentou ao juiz com firmeza e determinação. Segundo a cosmologia da época,
acreditava-se que a abóbada celeste, ou seja, o céu, era a morada de Deus. Logo, este
ser vem de Deus. Ele é descrito como sendo “um como filho do homem”, indicando
que é um humano com algo especial que não permite ao profeta dizer simplesmente
que é um homem. Ele recebe “a honra, o reino e todos os povos, nações e línguas o
serviam”. Isso confirma autoridade que lhe é entregue e a dignidade que possuem.
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 41
Resgata dignidade de imagem do juiz e seu império “é eterno, jamais passará”;
A missão profética tem como objetivo a palavra e ela depende da ordem divina,
não da aceitação humana; carrega em si própria uma força tal que, ainda que
rejeitada, impõe-se aos exilados, até à força, haverão de reconhecer que
Deus envia um profeta (SCHOKEL e DIAZ, 1991, p. 709).
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 42
3. O FILHO DO HOMEM SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO
Entre as várias fórmulas ou títulos evangélicos usados para indicar a figura de Jesus
e interpretar sua obra, a expressão filho do homem tem prioridade. Além do fator quantitativo,
a fórmula é posta exclusivamente na boca de Jesus com apenas duas exceções: na boca
do anjo que estava no sepulcro de Jesus (Lc 24,7) e por parte da multidão (Jo 12, 34).
“Filho do homem é uma das mais ricas designações do Cristo, prova é que Jesus
o aplicou a si” (CULLMANN, 2004, p. 181-252). Foi a forma que Jesus escolheu para dizer
ser o Messias. O termo ou expressão, toma conotação de título e ocorre setenta vezes nos
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), doze vezes em João e apenas uma vez
nos Atos dos Apóstolos (At 7, 56 - Estevão alude a à visão de Daniel que está em Dn 7, 13)
e no Apocalipse de São João, duas vezes (Ap 1, 13 e 14, 14).
Analisando às ocorrências do termo Filho do Homem aplicadas a Jesus, Mckenzie
(1983) afirma que Jesus é identificado como Filho do Homem em cinco aspectos:
1) Jesus deixa clara a sua condição humana, por exemplo quando diz que não tem
onde reclinar a cabeça (Mt 8,20; Lc 9,58;), ou quando come e bebe normalmente
(Mt 11,19; Lc 7,34;).
2) Jesus age com poderes sobre-humanos e até divinos, como perdoar pecados
que era algo reservado somente a Deus (Mt 9,6;Mc 2,10; Lc 5,24); declara ser
Senhor do sábado (Mt 12,8; Mc 2,28; Lc 6,5). ,
UNIDADE III O
A Fé
Messias
Cristã Prometido
a Partir da eVisão
Esperado
Cristã 43
3) Alguns contextos descrevem a missão messiânica de Jesus, como por
exemplo: aquele por quem os discípulos devem sofrer (Lc 6,22; Mt 5,11), aquele
que procura e salva o que estava perdido (Lc 19,10), aquele a quem os homens
devem reconhecer (Mt 16,13).
4) O quarto aspecto aparece no grupo de textos nos quais se fala da paixão e morte
do Filho do Homem (Mt 12,40; 17,12.22; 20,18; Mc 9,31; 10,33; Lc 9,44). Ele veio
para servir e dar sua vida por muitos (Mt 20,28; 26,2.24.43; Mc 8,31; 9,12; 10,45;
Lc 9,22).
5) O quinto e último aspecto aparece no grupo de passagens que falam da vinda
apocalíptico-escatológico do Filho do Homem no fim dos tempos e da sua vinda
gloriosa, acompanhado pelos anjos. Estes textos são inspirados na visão de Daniel
(Dn 7,13). Alguns deles: Mt 10,23; 13,41; Lc 9,26; Mt 17,9; Mc 9,9.
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A Fé
Messias
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Ele é um ser celeste, um mediador entre o céu e a terra, sobre o qual os anjos
sobem e descem (Jo 1,51). A humanidade do Filho do Homem aparece eminentemente na
sua obra salvífica que garante a vida eterna pela força da marca que o Pai lhe concedeu, a
unção messiânica (Jo 6,27.53).
Jesus vai se intitular como Filho do Homem, e não como messias, pois a falsa
imagem de messias que o povo nutria não correspondia aos anseios de Jesus. Ele não
aspirava de modo algum ao poder terreno.
O título de Filho do Homem em Jesus remete ao filho do homem das visões de Daniel
e Ezequiel, em relação a características da natureza divina e humana presentes na mesma
figura. O modo como Jesus vivenciou e revelou ser ele o Messias foi pela pregação e imple-
mentação do que Ele chamou de Reino de Deus. É o que iremos estudar no próximo tópico.
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4. O REINO DE DEUS ANUNCIADO POR JESUS
O Reino de Deus é o tema com qual Jesus concentra a sua missão de enviado
por Deus como Messias e Salvador. O tema perpassa os seus ensinamentos e ações. A
coerência entre as palavras, os gestos e as posturas de Jesus dão a ele aquela autoridade
que se impõe moralmente e ameaça as autoridades constituídas do seu tempo.
Jesus não conceitua o Reino de Deus nem faz dele uma teoria. Na verdade, Ele
não precisava remontar às origens da realidade anunciada por isso usava o termo sem
explicações introdutórias.
Neste tópico do curso de cristologia, consideraremos a tradição dos evangelhos
sinóticos para destacar algumas notas identitárias que definem o Reino que Jesus viveu
e anunciou. Fica evidente que o Reino de Deus, segundo Jesus, está próximo, porém
ainda virá; possui destinatários prioritários que intrigam e escandalizam muita gente. Os
preferidos do Reino de Deus são os pobres, os pecadores e todo aquele que se encontra
distante da dinâmica própria do reinado de Deus, como veremos a seguir.
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O Reino de Deus, conforme a pregação e a vida de Jesus, irrompe na história pela
sua encarnação. É a chegada no mundo não apenas de um anúncio, mas da Sua pessoa
que ativa, torna presente e realiza o Reino de Deus. Qual o nascimento de Jesus o senhorio
de Deus se tornou carne, um sujeito ativo com efeitos notáveis ponto. Por ele, o Reino de
Deus tornou-se gestos salvíficos do dia a dia atuando em favor de cada homem e mulher,
tendo como prediletos os mais distantes dessa grande novidade.
Por meio de Jesus, o Reino de Deus acontece silenciosamente, mas com uma
força capaz de oferecer aos seus ouvintes as condições necessárias para crerem nele.
O Reino de Deus anunciado e inaugurado por Jesus, requer adesão a uma dinâmica
que exige conversão de vida para que tudo tome a forma e a direção da harmonia universal,
de um mundo reinado por Deus.
O Reino de Deus que já está presente e tão próximo, inaugura um tempo futuro que
ainda está por vir (DUPUIS, 2007). É o que veremos no tópico seguinte.
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Parece contraditório que no início de sua vida pública Jesus afirme que o Reino
de Deus já chegou e que está entre os seus e, no final da vida, afirme que o Reino de
Deus ainda virá. Essa aparente contradição é reconhecida pela tradição teológica com a
expressão escatológica “entre o já e o ainda não”. A tensão escatológica entre o já e o ainda
não se refere ao arco meta temporal da chegada e da realização plena do Reino de Deus.
Ao mesmo tempo em que o Reino é um dom gratuito, uma oferta salvífica incondicional
da parte de Deus, ele é colocado à disposição do acolhimento consciente daqueles que
aderem à sua dinâmica. Deste modo, a história é o palco da evolução do Reino até que
chegue a sua plenitude no fim dos tempos, em que tudo e todos encontrem sentido em
razão de ser na filiação divina que está no princípio de tudo o que existe. Quando a filiação
divina, mesmo que inconscientemente concebida, for o único princípio reconhecido como
ponto de partida de toda a existência, todos nos sentiremos membros uns dos outros e o
mundo, poderá ser um mundo de irmãos.
Compreende-se assim, que o Reino de Deus possui uma dimensão de realização
já no presente, com a encarnação do filho de Deus que é o próprio Reino. Mas, também é
uma realidade aberta a plenitude futura.
Tudo isso se fez evento na realidade concreta em que estamos inseridos e inseridas.
Em outras palavras, quero dizer que o Reino de Deus tem uma dimensão visível e palpável
social, política e econômica voltada para a fraternidade universal, o direito e a justiça. Assim
sendo, o Reino de Deus anunciado por Jesus situa-se no presente que encaminha se para
um futuro, ao mesmo tempo histórico e meta histórico.
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Muitos registros dos evangelhos sinóticos concordam em apoiar que o Reino
anunciado por Jesus é para os pobres. Entre as mais conhecidas estão as declarações de
Jesus reportadas por Mateus e Lucas, conhecidas como “bem-aventuranças”. Uma delas é
explícita em anunciar a quem pertence o Reino de Deus ou dos Céus. No sermão da montanha,
segundo Mateus (Mt 5,3) encontramos: “bem-aventurados os pobres em espírito porque deles
é o Reino dos céus”. Lucas descreve a categoria dos bem-aventurados em quatro: os pobres,
os famintos, os aflitos e os perseguidos (Lc 6, 17-36). O aspecto mais relevante do anúncio
de esperança é que as situações que lhe conferem aquelas identidades cessarão e eles
assumem nova identidade: a de bem-aventurados do Reino (FABRIS, 1988, p. 112).
O Reino de Deus é garantido aos pobres aflitos, pela consolação; aos pobres
perseguidos, pela possibilidade de exultação; e, aos pobres famintos, pela saciedade. Jesus
faz uma entrega: “porque vosso é o Reino dos Céus.” Lucas coloca o discurso dirigido
diretamente aos pobres, o que pode inspirar proximidade, presencialidade e mobilização do
Reino de Deus ali, diante deles (CABRAL, 2021).
Jesus, em algumas passagens, condena a riqueza até então conhecida e, em
outras, aponta para o Reino como a verdadeira riqueza ou tesouro que de fato se deve
almejar. A pessoa precisa ter uma tal consciência do alto valor do Reino de Deus que Jesus
propõe a ponto de deixar qualquer outra coisa, tida em grande valor, pelo Reino de Deus,
sua abundância e sua justiça (Mt 13,44-46).
É importante considerar que os pobres dos quais Jesus fala é uma categoria que
inclui todos os deserdados da verdadeira dignidade de filhos de Deus. Tudo o que faz do ser
humano um excluído de alguma dimensão criacional o torna pobre e, portanto, destinatário
privilegiado do Reino de Deus. São pobres os pecadores por serem privados da comunhão
com Deus ponto são pobres os ricos de bens materiais por não conseguirem espaço em
suas vidas para o que ultrapassa o valor da matéria. São pobres os excluídos do sistema
social e econômico em que poucos vivem na abundância e muitos passam fome.
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SAIBA MAIS
Você já parou para pensar o que significa a palavra salvação no sentido em que o
cristianismo a utiliza? Talvez você, como tantas outras pessoas, use frequentemente
o adjetivo Salvador para referir-se à pessoa de Jesus Cristo simplesmente repetindo o
que ouviu dizer, como um mero hábito de linguagem. No saiba mais desta unidade nós
vamos conhecer melhor a força do significado teológico desse termo.
Para estudar assuntos a respeito da salvação, a teologia cristã possui uma área
específica que se chama soteriologia.
No contexto bíblico do Antigo e do Novo Testamento, o conceito de salvação está
relacionado a ajuda, felicidade, bem-estar, libertação ou vitória doadas por Deus em favor
da humanidade. O pressuposto do ato salvífico de Deus é a condição de sofrimento,
escravidão ou qualquer caos histórico em que a comunidade se encontra. É aí que aparece
a intervenção de Deus denominada salvação. Os atos salvíficos de Deus, na bíblia,
resultam na construção de relações sociais que respeitem a dignidade do ser humano,
em melhorias das estruturas sociopolíticas que geram violência e opressão, bem como na
condição de reconciliação entre Deus e a inteira criação, ou seja, a humanidade e o cosmo.
A ação salvífica de Deus tende a retirar o ser humano de uma condição inferior a uma
superior. Pensando assim entenderemos que o ato criador pode também ser considerado
ato salvífico de Deus pois virgula ele retira tudo o que existe do nada ele dá a existência.
Ele faz o “ser” do “não ser” e tira a existência da inexistência.
Faz parte da essência de Deus ser Salvador. Errôneo do ponto de vista teológico dizer que
qualquer coisa estranha a Deus faz com que ele seja Salvador. O que motiva o ser Salvador
de Deus é que ele é amor. Portanto, Deus é Salvador porque nos ama e é capaz de qualquer
coisa para que atinjamos o projeto segundo o qual nós fomos criados e criadas por ele.
Jesus foi a imagem visível de Deus que é invisível. Ele realizou por meio de sua vida,
seus ensinamentos e seus gestos a salvação de todo gênero humano e de toda a
criação, fazendo novas todas as coisas diante de Deus. A Cruz, como estudaremos na
próxima unidade, é o ponto mais alto do amor de Deus que se fez carne e habitou entre
nós. Na Cruz Jesus arca com a consequência extrema do seu amor. Porém não é a cruz
que faz com que Jesus seja o Salvador e sim por Ele nos ter amado com o mesmo amor
com que nos amou o Pai e Criador, até entregar a vida.
Você poderá ler mais sobre este tema no verbete “salvação” do dicionário indicado a
seguir. Vale a pena!
Fonte: PIKAZA, O. (Dir.). Dicionário o Deus Cristão. São Paulo: Paulus, 1998.
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REFLITA
Será que somente a fé cristã tem a figura de um Messias ou outras religiões também
tem? “Messias” é uma palavra que deriva do termo hebraico mashiah, que significava
originalmente “ungido”. Ela se refere a alguém marcado com óleo sagrado para realizar
atos religiosos.
Posteriormente, o sentido da palavra passou a indicar uma figura semidivina com a
missão de resgatar seu povo de situações de escravidão, um salvador. Segundo a
tradição judaica, o messias salvador deveria ser um rei descendente do rei Davi, como
já estudamos.
O curioso é que o conceito de messias tal como o judaísmo e o cristianismo utilizam,
está presente também no hinduísmo e no budismo. Você poderá ter mais informações
sobre este tema acessando a matéria disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-
estranho/que-homens-ja-foram-considerados-messias-antes-e-depois-de-jesus/
Fonte: NAVARRO, R. Que homens já foram considerados Messias, antes e depois de Jesus. Revista
eletrônica Super Interessante. Edição 432 - Outubro de 2021.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Manual de Dogmática (vol. I)
Autor: Theodor Schneider (org.).
Editora: Vozes.
Sinopse: O Manual de Dogmática é uma edição em dois volu-
mes, ambos organizados em sessões. A saber, o primeiro volume
contém: Prolegômenos, doutrina sobre Deus, doutrina da criação,
cristologia e pneumatologia. Em cada uma delas os autores
colaboradores da obra apresentam uma fundamentação bíblica
seguida da apresentação dogmática. Sendo assim, a sessão de-
dicada à cristologia poderá lhe ajudar no aprofundamento sobre o
messianismo de Jesus.
FILME/VÍDEO
Título: O Messias, a profecia cumprida
Ano: 2017.
Sinopse: Um drama gospel que revela as raízes do cristianismo de
modo bastante criativo e atrativo. O filme traz uma apresentação
dramática do nascimento do cristianismo, mostrando como um rabino
(Nick Mancuso) se transforma num seguidor de Yeshua de Nazareth.
Link do filme: https://www.youtube.com/watch?v=j8F8v5SK2ms
WEB
1. Expectativas Messiânica - BTCAST Vida Nova 019 – Nesse bot
quest você vai escutar uma explicação muito pertinente produzida
de modo dialogal e bem acessível sobre o tema que estudamos.
É uma conversa entre Rodrigo Bibo, Victor Fontana e Tiago Silva
sobre Expectativa Messiânica que vale a pena escutar.
Link de acesso: https://bibotalk.com/podcast/expectativa-mes-
sianica-btcast-vida-nova-019/
2. O significado de Messias - Mashiah no Hebraico - é um vídeo
de curta duração esclarecedor sobre o termo Messias na língua
hebraica e seus correlativos.
Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=LR-
JW2EhP9G8
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UNIDADE III
Jesus de Nazaré:
Vida e missão
Professora Doutora Raquel C. Cabral
Plano de Estudo:
● O evento Jesus Cristo;
● O Reino está entre vós;
● Jesus e suas relações fundamentais;
● Leitura teológica da morte e ressurreição de Jesus.
Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar teologicamente a existência de Jesus de Nazaré;
● Compreender a realização do Reino de Deus na
pessoa de Jesus, o Filho de Deus;
● Identificar o sentido e a importância teológica da morte e ressurreição
de Jesus como um conjunto harmonioso e interligado.
54
INTRODUÇÃO
1.1 Introdução
Jesus realmente existiu? A pergunta pode parecer desafiadora para quem professa
a fé cristã. Porém, ela fornece a porta de entrada para que conheçamos a trajetória histórica
da vida de Jesus de Nazaré, o filho de Deus.
O testemunho dos evangelhos atesta sua existência: seu nascimento, missão,
anúncio e sua condenação e morte. Os relatos são contextualizados geograficamente com
indicações suficientes para que se identifique a periodicidade da sua existência terrena.
Como se não bastasse, podemos contar também com testemunhas extrabíblicos que,
embora não tenham sido construídos com o propósito de documentar a existência de Jesus,
fornecem informações que cumprem esse papel.
É por esta razão que podemos dizer que Jesus Cristo foi um evento ou seja um fato
que se deu na história, um acontecimento consumado temporal e geograficamente.
No primeiro tópico desta unidade, refletiremos sobre alguns aspectos que nos
permitem afirmar a veracidade do evento Jesus Cristo.
2.1 Introdução
Embora existam tantas discussões a respeito da possibilidade de se chegar aos
dados históricos da ação profética de Jesus, todos são concordes em afirmar que o Reino
de Deus é o centro para o qual convergem o ensinamento e a atividade de Jesus. O Reino
é tema central da pregação de Jesus (FABRIS, 1988).
Como já estudamos anteriormente, Israel esperava um rei ungido por Deus que
libertasse o povo do domínio estrangeiro e reconduzisse o povo para Deus pela ordem
social, a garantia do direito e a paz.
Em Jesus cumpriu-se essa promessa, embora de um modo jamais imaginado: o
próprio Filho de Deus desempenhou este papel, reinou pessoalmente.
Ao anunciar o Reino de Deus, Jesus faz uma chamada de atenção para que a
história se torne mais próxima de Deus (conversão), mais amorosa e perdoadora, e por
isso, uma história salvífica. Jesus demonstra ser ele mesmo o portador da libertação, da
justiça e da paz, comunicando que tudo isso é da vontade de Deus.
Jesus faz entender que ele está inaugurando um Reino futuro, um Reino presente,
e um Reino presente e futuro pela ralação de antecipação do futuro no presente.
3.1 Introdução
A sabedoria popular nos ensina que para conhecer uma pessoa basta observar
com quem ela se relaciona. É o que diz o ditado popular: “dize-me com quem andas e eu
te direi quem és”. Eu ousaria acrescentar que é válido também observar o tipo de relações
estabelecidas pela pessoa em questão. O mesmo acontece a respeito de Jesus a quem
queremos conhecer melhor.
No terceiro tópico desta unidade do nosso curso de cristologia quero convidar você
a observar comigo as relações fundamentais de Jesus, ou seja, aquelas que nos ajudam a
entender o que ele mesmo nos ensina sobre si. Certa vez, os discípulos de João levantaram
o problema: “será ele o Messias ou devemos esperar um outro?” (cf: Lc 7, 19-13). Jesus
respondeu com seus comportamentos frente a instituições, ambientes e categorias diversas
de pessoas do seu tempo.
Por motivos didáticos aplicados à teologia eu escolhi dar ênfase a alguns âmbitos
relacionais iluminadores. É o que estudaremos a seguir.
4.1 Introdução
Muitas são as possibilidades de métodos e de perspectivas para se estudar a
condenação e a morte de Jesus Cristo. Alguns estudos voltam-se para questões biológicas
procurando entender os níveis da agressão sofrida, a resistência cardiorrespiratória, a perda
de sangue e outros fatores relacionados ao físico de Jesus. Outros estudos procuram situar
a existência de Jesus, sua condenação e morte, nas chaves históricas dos acontecimentos.
No nosso curso, voltado para esclarecer o significado da pessoa de Jesus Cristo para a fé
dos cristãos, o mais importante é colher o significado teológico ou a teologia do evento da
morte de Jesus. Isto significa selecionar e destacar o que tudo aquilo nos revela sobre o
Deus dos cristãos e a fé por eles professada.
Fariseus
Frequentemente citados nos Evangelhos, os fariseus constituíam um dos grupos
mais expressivos do judaísmo. Diversas fontes indicam que o termo fariseu significa:
“separados”, o que faz muito sentido quando olhamos as suas características. Eram
leigos de diversas camadas judaicas (exceto dos pobres), que buscavam viver fielmente
os preceitos religiosos. Eles se apresentavam como mestres peritos na interpretação
da lei e como observadores zelosos da mesma, com grande influência sobre o povo,
especialmente em relação ao dízimo, à pureza ritual, e à observância do sábado.
Exerciam grande influência na sociedade judaica e eram tidos em grande respeito.
Saduceus
Formavam uma classe socialmente privilegiada da sociedade judaica - economicamente,
culturalmente, religiosamente e politicamente – uma verdadeira aristocracia que exercia
grande influência sobre o modo de vida da sociedade. Possuíam terras e exerciam
atividade comercial. Sendo assim, por estarem à frente dos meios de prover o sustento
material, também acabavam por ter grande incidência na área dos costumes. Certamente,
isso estava vinculado e justificado pela religião, pois eles mantinham laços estreitos
com a classe sacerdotal. Não eram um partido político, mas tinham forte protagonismo
social, em vista dos seus interesses
Zelotas
Trata-se de um grupo de pessoas marcadas por um forte sentimento nacionalista, que
não aceitavam a submissão judaica às outras nações. Pensam em restaurar um Estado
onde Deus é o único rei, representado por um descendente de Davi, pois um rei livraria
o povo hebreu do julgo da dominação estrangeira e Israel teria autonomia em todos
os sentidos da vida. Deste modo, sua vivência religiosa tinha uma forte interação com
a política através de uma postura de combate e hostilidade ao Império Romano com
táticas de ataques e guerrilha. Nos evangelhos, Jesus parece não entrar num embate
direto com este grupo, mas sua pregação e sua prática mostram com clareza, oposição
aos zelotas no modo de conceber a vida e a religião.
REFLITA
Fonte: ANSEDE, M. Fragmentos da cruz de Cristo. Revista eletrônica El Pais versão Brasil. 25 MAR
2016. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/23/ciencia/1458763912_305135.html. Aces-
so em: 02 dez. 2021.
Chegamos ao final de mais uma unidade do nosso curso de cristologia. Nela você pode
visitar os aspectos mais significativos da vida terrena de Jesus para a formulação da fé cristã.
A base fundamental desse conhecimento são as escrituras sagradas especialmente,
os relatos e os registros contidos nos evangelhos. E a leitura que procuramos fazer ao longo
dessa unidade é tipicamente teológica e, portanto, diferenciada de outras leituras como por
exemplo, a leitura da historiografia.
Você pode encontrar chaves de conexão entre as unidades anteriores de maneira
que foi possível compreender a vida de Jesus como resposta de Deus a sua própria
promessa de envio de um Messias Salvador.
Conhecendo as posturas principais tomadas por Jesus, os valores por ele vividos
e o anúncio do Reino de Deus você entrou em sintonia com o quê os evangelhos chamam
de Boa Nova, ou seja, a novidade do amor de Deus e se fez homem e viveu a vida humana
com todos os desafios da história.
Jesus, como Filho de Deus, é a imagem visível de Deus invisível. Por Ele e
Nele o mundo pôde ter acesso a Deus Pai como nunca. Em suas atitudes, escolhas e
ensinamentos fomos atingidos por um amor salvífico, perdoador e restaurador, de maneira
que nos tornamos novas criaturas e, Cristo.
Por sua vida terrena aprendemos o que é ser “humano” conforme a vontade
criacional do divino criador e acessamos o núcleo da sua proposta de reinado de Deus e de
seguimento a Ele, em comunidade.
Na próxima unidade iremos estudar as fases da organização dos ensinamentos de
jesus transformados em doutrina e ato de fé.
O artigo foi escrito pela equipe de docentes da Faculdade Batista do Paraná com
o objetivo de auxiliar os seguidores de Jesus a compreender melhor o Reino na pregação
de Jesus, uma vez que a pregação de Jesus era fundamentalmente o anúncio do Reino
de Deus. Suas exortações, parábolas, profecias e mesmo as bem-aventuranças, eram
centradas e direcionadas no Reino de Deus, buscando explicá-lo, anunciá-lo ou mesmo
realizá-lo no mundo.
LIVRO
Título: Jesus: aproximação histórica.
Autor: José Antônio Pagola.
Editora: Loyola.
Sinopse: O livro, Jesus: aproximação histórica, do teólogo José
Antônio Pagola veio enriquecer a teologia e, de forma especial, a
cristologia. Trata-se de uma obra que pretende apresentar Jesus
de forma que seja conhecido e amado. A obra é escrita por uma
pessoa de fé, situada no seio da Igreja católica, obra de um cristão,
presbítero, que tem o ardente desejo de comunicar a pessoa de
Jesus. O livro poderá lhe ajudar a aprofundar temas que tratamos e
abrir os estudos de outros aspectos da vida e da pregação de Jesus.
FILME/VÍDEO
Título: Dom Helder Câmara: o Santo Rebelde.
Ano: 2004.
Sinopse: O filme aborda sobre Dom Hélder Câmara, arcebispo
emérito de Olinda e Recife, morto em 1999. Desde sua participação
como figura central da ala progressista da Igreja Católica, na
década de 1950, criando a Conferência Nacional de Bispos do
Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam),
até suas ações proféticas durante a ditadura militar. O testemunho
de Helder Câmara é uma das expressões cristãs notáveis do
século XX.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=bvURWRz-
7jlE&t=185s
Plano de Estudo:
● A crise ariana;
● O Concílio de Niceia;
● Dificuldades cristológicas;
● Verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o processo da sistematização da fé cristológica;
● Estabelecer a importância de cada definição conciliar;
● Identificar o pensamento herético em meio ao
pensamento ortodoxo cristão.
75
INTRODUÇÃO
1.1 Introdução
Para melhor colhermos o que estamos por refletir é interessante nos situarmos no
primeiro século do cristianismo quando os apóstolos e aqueles fiéis que conviveram com
Jesus já estavam desaparecendo. A autoridade da experiência de quem viveu pessoalmente
com o Mestre começou a desaparecer. Eram necessárias explicações altura das dúvidas e
da incredulidade das pessoas que se convertiam ao cristianismo provenientes do paganismo
ou mesmo do judaísmo. Fazia-se necessário uma verdadeira curva conceitual convincente
para suscitar a fé e a decisão das gerações que iam surgindo.
Em diversos momentos encontramos registros nos evangelhos de Jesus prometendo
que tudo o que ele estava ensinando ficaria mais claro posteriormente, com o auxílio do Espírito
Santo que ele mesmo enviaria. Jesus sabia que seria necessário muito tempo para que a fé
dos discípulos se desenvolvesse forte e robusta, capaz de enfrentar os adversários por meio
da pregação que considerasse a razão. Este é o berço do que chamamos crise ariana.
2.1 Introdução
A palavra “ecumênico” provém do termo οἰκουμένη (oikouméne), que quer dizer
mundo habitado. Logo, a expressão Concílio Ecumênico indica a reunião das representações
oficiais da Igreja do mundo inteiro. A história da Igreja conta com a realização de 21 concílios
ecumênicos, cujo primeiro foi o concílio de Nicéia no ano de 325 e o último, o Concílio
Vaticano II em de 1962 a 1965. Os concílios ecumênicos constituem um acontecimento
eclesial em assembleia, formada pelo papa e pelos bispos, exercendo a autoridade de
deliberação e decisões no campo dogmático canônico litúrgico moral ou disciplinar, segundo
as necessidades do momento (PIKAZA, 1998).
A passagem da perseguição à tolerância do cristianismo por parte do Império
Romano marcou uma guinada no caminho da Igreja. Foi a partir do imperador Constantino
que a Igreja assumiu um formato mais burocrática e caráter oficial em suas posições e
declarações, repercutindo em todo o império. A realidade eclesial, porém, passou a ser
objeto da política imperial que via o cristianismo como peça fundamental para a sua
popularidade e projeto de governo.
Ao se instalar nas estruturas do Estado, as decisões da Igreja se tornavam de
interesse do governo e é nesse contexto que os concílios antigos aparecem com maior
nitidez, cada vez mais abrangentes. Convocar assembleias sinodais e conciliares passou a
ser uma atividade exercida pela Igreja numa busca de unidade da fé, mas também sob as
prerrogativas do estado para unidade do império.
3.1 Introdução
A paz tão esperada não chegou e a resolução do problema teológico que nasceu
das afirmações cristológicas de Ário não aconteceu. As definições de Nicéia provocaram
as mais divergentes interpretações de maneira que as partes em debate sentiam-se
contempladas ao mesmo tempo.
Na verdade, o Concílio de Nicéia impôs uma reviravolta eclesial e teológica muito
difícil. A cristandade ficou dividida entre arianos e nicenos. A tarefa pós conciliar de tornar
conhecida a fórmula que continha a palavra como substancial foi muito mais difícil do que se
esperava. As contendas continuavam. Em Antioquia, no ano de 341, surgiu uma tentativa de
conciliar arianos e nicenos por meio de uma fórmula que omitia a palavra com substancial.
Nesse momento da história o debate cristológico, baseado na sagrada escritura,
perguntava se como poderia ser que Jesus Cristo, o filho de Deus, tivesse se feito homem,
pertencendo a natureza divina. Como poderia ser que um homem fosse divino ou que Deus
fosse um homem?
Fazia-se necessário enfrentar os desafios do anúncio cristão perante o helenismo,
a comunidade judaica, aqueles que provinham do mundo pagão e os que não aceitaram as
decisões conciliares. A dificuldade era, especialmente, no tocante à relação entre o Verbo
de Deus e a carne assumida por Jesus Cristo.
2) Representantes ortodoxos:
● Clemente de Alexandria;
● Origenes;
● Atanásio;
● Cirilo de Alexandria.
3) Pensadores heterodoxos:
● Ário;
● Apolinário.
2) Representantes ortodoxos:
● Diodoro de Tarso;
● João Crisóstomo;
● Teodoreto de Ciro;
● Teodoro de Mopsuéstia.
3) Pensadores heterodoxos:
● Nestório;
● Eutique.
4.1 Introdução
Não obstante, o Concílio de Constantinopla tivesse retomado as discussões que
inquietavam o campo da fé cristã devido às dúvidas e incertezas a respeito da dupla
natureza do Filho de Deus, não conseguiu pôr um fim ao conflito teológico.
O quinto século foi marcado pela controvérsia teológica entre Nestório, representante
da Escola Antioquena, e Cirilo, da Escola de Alexandria.
Fica esclarecido que na pessoa de Jesus Cristo concentra-se uma dupla pertença
e dupla condição existencial, sem confusão, sem separação e sem distinção, na união
hipostática, que não elimina, mas salvaguarda a diferença de naturezas.
Para você que está entrando em contato com informações a respeito das escolas
teológicas da antiguidade do cristianismo pela primeira vez, as escolas antioquena
e alexandrina, ajudará a identificar as divergências entre elas e no que elas se
complementam algumas dicas.
Uma dica interessante para diferenciá-las está no conceito de comunicação de idiomas
ou comunicação de propriedades por ser um elemento importante que as diferencia nos
seus modos de fazer cristologia.
Comunicação de idiomas significa a comunicação de propriedades que pertencem
ao Verbo à carne, santificando-a e divinizando-a com a sua natureza divina. Significa
ainda afirmar que Jesus Cristo viveu, pensou e agiu, contemporaneamente como Deus
e como homem numa interação perfeita.
Enquanto os alexandrinos utilizavam o critério da “comunicação de idiomas” ou
“comunicação de propriedades”, a escola antioquena não a considerava.
REFLITA
Chegando ao final do curso de cristologia, eu gostaria de lhe propor uma reflexão a partir
da seguinte afirmação:
“Quando Deus quis nos mostrar rasgadamente o seu amor, nos beijou com lábios
humanos”.
Para lhe auxiliar na reflexão, sugiro que leia o artigo que está indicado abaixo.
Fonte: WOLFART, Gaziela. A humanidade de Jesus como divindade e amor. Revista do Instituto Humanitas
Unisinos. Edição 336, 06 Jul. 2010. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/3361-jose-
ignacio-gonzalez-faus-1. Acesso em: 02 dez. 2021.
Depois de ter estudado sobre os principais concílios ecumênicos antigos nos quais
discutiu-se sobre a natureza humana e divina de Cristo, é oportuno ler o artigo publicado
no site da Faculdade São Basílio Magno o qual oferece uma visão sintética não só dos
quatro primeiros concílios, que foram mais cristológicos, mas também dos sete primeiros
que definiram o dogma cristão.
Fonte: FASBAM – Faculdade São Basílio Magno. Fatos rápidos sobre os Primeiros
7 Concílios Ecumênicos. Disponível: https://fasbam.edu.br/2019/05/22/fatos-rapidos-sobre-
os-primeiros-7-concilios-ecumenicos/. Acesso em: 02 dez. 2021.
LIVRO
Título: História das Heresias.
Autor: Roque Frangiotti.
Editora: Paulus.
Sinopse: Este livro oferece ao público as posições teológicas que
causaram tantas inquietações à fé cristã por negarem o núcleo de
sua fé: as heresias. O livro apresenta a história das heresias desde
as origens do cristianismo até o início da Idade Média, ocupando
maior espaço aquelas que foram mais problemáticas, mostrando
os conflitos ideológicos dentro do cristianismo.
FILME/VÍDEO
Título: O céu é de verdade.
Ano: 2014.
Sinopse: O filme é um drama que reforça algo fundamental: a
importância da fé. A vida, em todas as suas facetas, incluindo a
dor e a morte, ganha novo sentido quando é a fé que nos move
ao melhor de nós mesmos na direção de algo que valha mais que
a própria vida. Você vai ver a história de Todd Burpo, um pastor e
bombeiro voluntário em uma pequena cidade do Nebraska. Ele e
sua esposa enfrentam uma situação complicada quando seu filho,
Colton, precisa ser operado às pressas. Felizes com a recuperação
milagrosa da criança, eles não estão preparados para o que vem
a seguir. Colton conta que foi ao céu e voltou e diz coisas que não
teria como saber. Convicto de que o filho visitou o paraíso, Todd
passa a questionar sua própria fé daquilo que pregava até então.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=bjmK8VB6qP4
ALBERIGO, Giuseppe (org.). Histórias dos Concílios Ecumênicos. São Paulo, Paulus,
1995.
BOFF, L. Jesus Cristo Libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo. Petró-
polis: Vozes, 2012.
BOFF, L. Jesus Cristo libertador: ensaio de cristologia crítica para o nosso tempo. Petró-
polis, Vozes. p.111s, 2012.
CABRAL, R. O Reino de Deus no pensamento e nas ações de Dom Helder Câmara: uma
análise teológica. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teologia da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de
Doutora em Teologia, no 26/08/2021, em processo de registro e fechamento de protocolo.
PUCPR, 2021.
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KONINGS, J. A questão do Jesus Histórico. HORIZONTE - Revista de Estudos de Teolo-
gia e Ciências da Religião, v. 1, n. 1, p. 55-58, 1 jan. 1997.
LACOSTE, Y. (Org). Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulus e Loyola, 2004.
LIBÂNIO, J. B.; BINGEMER, M. C. L. Escatologia cristã: o novo céu e a nova terra. Front
Cover. J. B. Vozes Eschatology, 1985.
SCHOKEL, L. A.; DIAZ, J. L. S. Profetas II. São Paulo: Paulinas. 1991, p. 708-709.
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CONCLUSÃO GERAL
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