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História

da Igreja
Professor Esp. Tiago Calazans Elias
2021 by Editora Edufatecie
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E42h Elias, Tiago Calazans


História da Igreja / Tiago Calazans Elias.
Paranavaí: EduFatecie, 2022.
84 p.: il. Color.

1. História eclesiástica. 2. Teologia - História. I. Centro


Universitário Unifatecie. II. Núcleo de Educação a Distância.
III. Título.

CDD : 23 ed. 270


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AUTOR

Professor Esp. Tiago Calazans Elias

Especialista em Docência no Ensino Superior (2017-2019) pela Unicesumar.


Cursando especialização em Teologia Bíblica do Antigo Testamento (2019-2021)
pela Unicesumar.
Cursando especialização em Novas Tecnologias Educacionais (2019-2021) pela
Unicesumar.
Cursando especialização em Ciência Política (2019-2021) pela Unicesumar.
Graduação Bacharel em Teologia (2013-2015) pela Unicesumar.
Graduação em curso livre em Teologia (2009-2012) pelo Seminário Teológico
Batista Renovada - Maringá-PR.

Professor do curso de Teologia da Unicesumar (2017-2021) nas disciplinas de


Estágios e TCC. Professor no curso livre de Teologia do Seminário Teológica Batista
Renovada, em Maringá-PR. Pastor auxiliar da Igreja Batista Renovada de Maringá-PR.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/2794618958018419


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é
o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto
com você construir nosso conhecimento sobre o estudo longo período da História da Igreja.
Nosso estudo será dividido em quatro períodos, divididos nas quatro unidades.
Na Unidade I, será apresentada a História da Patrística, desde o início da Igreja,
conforme o livro bíblico de Atos dos Apóstolos, até a conversão do imperador Romano
Constantino e cristianização do Império. A marca principal deste período foi a perseguição
imperial contra os cristãos e formulações da teologia em relação a trindade e cristologia.
Na Unidade II, o estudo será do período Medieval, após a queda de Roma até a
Pré-Reforma Protestante. Neste período, a igreja será institucionalizada, firmando suas
relações com o Estado e sendo, em certa medida, uma barreira contra a paganização
total da Europa pelos bárbaros. Neste período nasce o Islã, que mudará para sempre a
cartografia da religião oriental e ocidental.
Na Unidade III, abordaremos o período Moderno, e as conquistas do homem na
navegação, indústria e ciência. Novas saberes são a mola propulsora deste novo Mundo,
tendo as reformas religiosas, papel preponderante nestas transformações.
Na Unidade IV, trataremos do período contemporâneo, e os reflexos do mundo pós
moderno. Em especial, falaremos sobre o cristianismo na Europa e no Brasil. Aproveito
para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento
e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material.
Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal, vocacional e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
História da Igreja: Período Patrístico (34d.C a 451 d.C)

UNIDADE II.................................................................................................... 24
A Igreja no Período Medieval (451 a 1453)

UNIDADE III................................................................................................... 44
A Igreja no Período Moderno 1453-1800

UNIDADE IV................................................................................................... 64
A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX e XXI)
UNIDADE I
História da Igreja: Período
Patrístico (34d.C a 451 d.C)
Professor Esp. Tiago Calazans Elias

Plano de Estudo:
● A igreja apostólica (34 d.C. a 100 d.C.);
● A igreja patrística (101 d.C. a 313 d.C.);
● A igreja imperial (313 d.C. a 451 d.C.);
● Principais temas e debates da Patrística.
.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os temas teológicos da patrística;
● Compreender os avanços do cristianismo no império romano;
● Estabelecer a importância dos nomes
e teologias do período patrístico.

3
INTRODUÇÃO

Olá estudante, vamos dar início a nossa jornada de estudos sobre a história da
Igreja, espero que esteja bem animado (a).
Nesta primeira unidade, trataremos sobre o período mais criativo da história da
igreja, a Patrística. Neste período teremos o desenvolvimento de teologias e debates que
perduram até hoje. Fizemos a escolha por estudarmos neste período, a ênfase nos eventos
do ocidente, como o império romano como palco principal das apresentações.
No primeiro tópico será apresentando o contexto do Novo Testamento, com o
esboço do livro histórico, Atos dos Apóstolos. Este período é denominado período
apostólico, pois os atores principais são apóstolos que tiveram contato direto com a
Pessoa de Cristo, cuja a autoridade permitiu-lhes a escrita dos documentos considerados
inspirados pelas gerações posteriores.
Com a morte do último apóstolo, João, por volta do ano 100, temos um processo
de grandes debates teológicos sobre a pessoa e obra de Cristo. A tradução dos escritos
apostólicos fica por conta dos discípulos diretos dos apóstolos, chamadas de pais
apostólicos, cuja a referência dá o nome do período, Patrística. Neste segundo tópico,
apresentamos dois conteúdos presentes no período, a perseguição imperial por parte de
Roma e os debates teológicos.
No terceiro tópico, é introduzido a conversão do imperador romano Constantino
(313) algo que mudaria definitivamente os rumos da igreja. A igreja passa de perseguida
para privilegiada, neste período, o pensamento cristão ganha novos contornos, dada a
possibilidade de escrita e liberdade para que os intelectuais cristãos realizassem suas
formulações teológicas.
No último tópico, faremos um resumo sobre os temas e debates sobre este período,
agrupados em um único tópico, ficará mais claro o desenvolvimento dos temas e fontes
para a pesquisa dos concílios e personagens deste momento histórico.
Espero que a leitura desta unidade seja proveitosa para o seu desenvolvimento
intelectual e contribua para o seu pensamento crítico.

Bons estudos!

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 4


1. A IGREJA APOSTÓLICA (34 d.C. A 100 d.C.)

Existe um debate sempre vivo a respeito do nascimento da Igreja, alguns


consideram a sequência de fatos após a ressurreição de Cristo, como princípio fundante
da igreja, outros a regeneração dos discípulos por meio do sopro de Jesus, além dos que
consideram a descida da Espírito conforme Atos 2, como a oficialização da igreja. Neste
material, não faremos a definição categórica sobre o ato inicial, nem mesmo exploraremos
exaustivamente as considerações presentes nestes debates. O que é certo, conforme a
coerência histórica, é que a igreja nasce depois da ressurreição de Cristo, no cenário do
primeiro século, em que o mundo naquele período estava sobre as condições plenas para
a vinda do Messias e consequentemente o início da igreja cristã.
A primeira característica desta plenitude dos tempos, esteve relacionada a língua
falada, conforme destaca Gundry (1998),
O idioma grego tornou-se a língua franca, a língua comumente usada no
comércio e na diplomacia. Ao aproximar-se a época do Novo Testamento, o
grego era a língua comumente falada nas ruas até da própria Roma, onde o
proletariado indígena falava o latim, mas onde a grande massa de escravos
e de libertos falava o grego (GUNDRY, 1998, p. 10).

Em segundo lugar, temos a expansão romana sobre toda a Europa e Ásia. Em 64


a.C. a Palestina é tomada por Pompeu, chegando ao fim o império selêucida na região. O
sistema administrativo romano era distrital, e cada região possuía um governador vassalo
que prestava contas para Roma.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 5


Os governadores, nomeados pelo senado romano para governar as províncias
senatoriais, usualmente pelo termo de apenas um ano, prestavam contas ao senado, Gundry
(1998) esclarece: “Paralelamente aos governadores havia os delegados, nomeados pelo
imperador, os quais de modo geral se ocupavam de questões financeiras. Os procuradores
governavam as províncias imperiais” (GUNDRY, 1998, p. 15). Estes cargos nomeados pelo
imperador, possuíam poderes militares e civis em cada localidade. Este sistema de governo
deliberativo, em certa medida, proporcionava uma manutenção da cultura e da crença da
população nativa, de acordo com suas regionalidades.
Em relação aos aspectos sociais, existia uma classe definida na pirâmide social.
Os aristocráticos proprietários de terras, os contratadores do governo e outros indivíduos
viviam no luxo. Não existia uma classe média forte, os escravos é que realizavam a maior
parte do trabalho manual. Dentro do judaísmo, existia ainda mais camadas na estrutura
social, conforme destaca Gundry (1998),
Sendo os principais sacerdotes e os rabinos, formavam a classe mais alta. Fa-
zendeiros, artesãos e pequenos negociantes compreendiam a maior parte da
população, os cobradores de impostos (publicanos) tornaram-se objetos de
uma especial aversão, como classe. Os demais judeus desprezavam a esses
cobradores de impostos, ou, mais acuradamente ainda, cobradores de taxas,
e isso devido ao seu necessário contato com superiores gentios. Os romanos
leiloavam as vagas para coletores de taxas numa espécie de concorrência pú-
blica, a saber, para os que aceitassem as menores taxas de juros como comis-
são, em contratos de cinco anos. Os coletores de taxas recolhiam não somente
as taxas e suas respectivas comissões, mas também tudo quanto pudessem
embolsar ilegalmente. Por essa razão, como igualmente devido à sua cola-
boração com dominadores estrangeiros, os cobradores de taxas geralmente
eram odiados. O suborno pago aos cobradores de taxas pelos ricos aumentava
ainda mais a carga que recaía sobre os pobres (GUNDRY, 1998, p. 20).

Mais um aspecto presente no mundo do Novo Testamento, é a quantidade de


escravos, cujo o número destes superava a quantidade de homens livres. As epístolas de
Paulo refletem a presença de escravos nos domicílios cristãos. Muitos desses escravos
atuavam nas mais variadas profissões. Alguns escravos conseguiam sua redenção por
parte dos seus senhores ou por compra da liberdade.
Dando como ponto de partida, a descida do Espírito Santo em Atos 2, como selo do
nascimento da Igreja, é possível lançar os seguintes eventos dos primeiros anos da igreja
cristã, conforme esboça Gundry (1998, p. 196-188):

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 6


I. ATOS DO ESPÍRITO DE CRISTO EM JERUSALÉM E CERCANIA (1:1 12:25)
A. Em Jerusalém (1:1 - 8:3)
1. Ministério pós-ressurreição e ascensão de Jesus (1:1-11)
2. Substituição de Judas Iscariotes por Matias (1:12-26)
3. O dia de Pentecoste: o derramamento do Espírito Santo, o falar em línguas, o
sermão de Pedro, as conversões em massa e o companheirismo cristão (2:1-47)
4. A cura do aleijado e o sermão de Pedro (3:1-26)
5. Aprisionamento e soltura de Pedro e João (4:1-31)
6. Comunhão de bens na igreja de Jerusalém e a morte de Ananias e Safira (4:32 - 5:11)
7. Milagres, conversões e aprisionamento e soltura dos apóstolos (5:12-42)
8. A disputa por causa de rações e a escolha dos sete “diáconos” (6:1-7)
9. Sermão e martírio de Estêvão, e a perseguição geral que se seguiu (6:8 8:3)

B. Em redor de Jerusalém (principalmente) (8:4 - 12:25)


1. Evangelização de Samaria por Filipe, os samaritanos recebem o Espírito, e o
relato sobre Simão, o mágico (8:4-25)
2. Conversão do etíope eunuco, sob Filipe (8:26-40)
3. A conversão de Saulo-Paulo, sua pregação e fuga de Damasco, seu retorno a
Jerusalém e fuga para Tarso (9:1-31)
4. Pedro cura a Enéias e ressuscita a Tabita (9:32-43)
5. Salvação de Cornélio e sua família gentílica, incluindo a visão de Pedro sobre um
lençol e o seu sermão sobre o recebimento do Espírito pelos gentios (10:1 - I 1:18)
6. Propagação do evangelho até Antioquia da Síria (11:19-26)
7. Barnabé e Saulo-Paulo trazem víveres de Antioquia a Jerusalém, para aliviar a
fome (11:27-30)
8. Herodes Agripa I executa a Tiago, o apóstolo, e encarcera a Pedro; a miraculosa
libertação deste e a morte de Herodes (12:1-25)

II. ATOS DO ESPIRITO DE CRISTO, MEDIANTE PAULO, EM LUGARES


DISTANTES (13:1 - 28:31)
A. Primeira viagem missionária (13:1 - 14:28)
1. Partida de Antioquia da Síria (13:1-3)
2. Chipre: Elimas e sua cegueira temporária e a conversão de Sérgio Paulo (13:4-12)
3. Perge: João Marcos retorna (13:13)
4. Antioquia da Pisídia: sermão de Paulo na sinagoga (13:14-52)

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 7


5. Icônio, Listra e Derbe: cura de um aleijado, Barnabé e Paulo são adorados como
Zeus e Hermes, e apedrejamento de Paulo, em Listra (14:1-18)
6. Regresso a Antioquia da Síria, com pregação em Perge (14:19-28)

B. A controvérsia judaizante (15:1-35)


1. Debates em Antioquia da Síria (15:1,2)
2. O concílio de Jerusalém: a decisão em prol da liberdade gentílica da lei mosaica
(15:3-35)

C. Segunda viagem missionária (15:36 - 18:21)


1. Disputa com Barnabé por causa de João Marcos e a partida de Antioquia da Síria
em companhia de Silas (15:36-41)
2. Jornada pelo sul da Galácia: a escolha de Timóteo (16:1-5)
3. Trôade: a visão do homem da Macedônia (16:5-10)
4. Filipos: conversão de Lídia, libertação da jovem escrava pitonisa, o encarceramento
de Paulo e Silas, o terremoto e a conversão do carcereiro e sua família (16:11-40)
5. Tessalônica: os judeus atacam a casa de Jasom, hospedeiro de Paulo (17:19)
6. Beréia: averiguação da mensagem de Paulo, mediante o Antigo Testamento
(17:10-15)
7. Atenas: sermão de Paulo diante do Areópago; mais comumente, colina de Marte
(17:16-34)
8. Corinto: Paulo fabrica tendas com Áqüila e Priscila, decisão favorável do
governador romano, Gálio, e o sucesso geral do evangelho (18:1-17)
9. Regresso a Antioquia da Síria através de Cencréia (18:18-21)

D. Terceira viagem missionária (18:22 - 21:26)


1. Jornada pela Galácia e Frigia (18:22,23)
2. Ministério preparatório de Apolo, em Efeso (18:24-28)
3. Éfeso: discípulos de João Batista recebem o batismo cristão, evangelização bem
sucedida e levante encabeçado por Demétrio e os ourives (19:141)
4. Jornada através da Macedônia até à Grécia, e daí de volta à Macedônia (20:1-5)
5. Trôade: Êutico cai de uma janela, durante um sermão de Paulo (20:6-12)
6. Jornada a Mileto e discurso de despedida de Paulo, perante os anciãos do
Éfeso (20:13-38)
7. Viagem até Cesaréia e predições de infortúnios de Paulo em Jerusalém (21:1-14)
8. Viagem até Jerusalém (21:14-16)

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 8


E. Acontecimentos em Jerusalém (21:17 - 23:35)
1 Paulo faz votos judaicos (21:17-26)
2. Agitação na área do templo, detenção de Paulo, sua defesa perante a multidão e
diálogo com Cláudio Lisias (21:27 - 22:29)
3. Defesa de Paulo perante o Sinédrio (22:30 - 23:11)
4. Conspiração dos judeus contra Paulo e sua transferência para Cesaréia (23:12-35)

F. Acontecimentos em Cesaréia (24:1 - 28:31)


1. Julgamento de Paulo perante Félix (24:1-23)
2. Audição particular de Paulo perante Félix e Drusila (24:24-27)
3. Julgamento de Paulo perante Festo, e apelo a César (25:1-12)
4. Audição de Paulo perante Festo e Herodes Agripa II (25:13 - 26.32)

G. Viagem acidentada de Paulo a Roma, incluindo o naufrágio em


Malta (27:1 - 28:16)

H. Paulo prega a judeus e a gentios, em sua prisão domiciliar em Roma (28:17-31).

Conforme é apresentado acima, o Livro de Atos dos Apóstolos forma um itinerário


do avanço da Igreja de Cristo até o ano 70 d. C. Após este período, marcado pela guerra
dos judeus contra os romanos e a destruição do Templo em Jerusalém, as cartas pastorais
de João ajudam a compreender o contexto, sendo que apocalipse escrito por volta do
ano 100, demonstra a presença das igrejas em importantes polos da Ásia, uma estrutura
eclesiástica basicamente organizada e a perseguição imperial ativa.

FIGURA 1 – AS VIAGENS MISSIONÁRIAS DO APÓSTOLO PAULO

Fonte: (MANUAL BÍBLICO VIDA NOVA, 2001, p. 695).

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 9


Sem dúvidas, depois de Cristo, cujo não há comparação, é Paulo o nome mais
proeminente do início da Igreja. Suas viagens missionárias, suas cartas, e todo o escopo
teológico elaborada por ele, deram em grande medida, as características teológicas
e pastorais da Igreja. Uma síntese dos temas e assuntos principais deste período será
apresentado no último tópico desta unidade. Vejamos brevemente um panorama dos
imperadores romanos deste período:

TABELA 1 - PRINCIPAIS IMPERADORES ROMANOS DE 27 A. C. A 96 D. C.

Augusto (27 A.C. - 14 D.C.), sob quem ocorreram o nascimento de Jesus, o


recenseamento ligado ao Seu nascimento, e os primórdios do culto ao imperador;
Tibério (14-37 D.C.), sob quem Jesus efetuou o Seu ministério público e foi morto;
Calígula (37-41 D.C.), que exigiu que se lhe prestasse culto e ordenou que sua estátua
fosse colocada no templo de Jerusalém, mas veio a falecer antes que sua ordem fosse
cumprida;
Cláudio (41-54 D.C.), que expulsou de Roma os residentes judeus, entre os quais
estavam Áqüila e Priscila, por motivo de distúrbios civis;
Nero (54 68 D.C.), que perseguiu os cristãos, embora provavelmente somente nas
cercanias de Roma, e sob quem Pedro e Paulo foram martirizados;
Vespasiano (69-79 D.C.), o qual, quando ainda general romano começou a esmagar
uma revolta dos judeus, tornou-se imperador e deixou o restante da tarefa ao encargo
de seu filho, Tito, numa campanha que atingiu seu clímax com a destruição de
Jerusalém e seu templo, em 70 D.C.;
Domiciano (81-96 D.C.), cuja perseguição contra a Igreja provavelmente serviu de pano-de-
fundo para a escrita do Apocalipse, como encorajamento para os cristãos oprimidos.
Fonte: Gundry (1998, p. 15).

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 10


2. A IGREJA PATRÍSTICA (101 d.C. a 313 d.C.)

O segundo século da era cristã é marcado pela perseguição imperial contra


o cristianismo a partir de Roma e as controvérsias teológicas a respeito da doutrina da
trindade e doutrina de Cristo.
Conforme destaca McGrath (2007), desde que se estabeleceu em Roma na década
de 40, o Cristianismo se viu numa condição legal ambígua. Por um lado, não era legalmente
reconhecido e, portanto, não gozava nenhum direito especial; por outro, não era proibido. No
entanto, seu crescimento numérico levou a tentativas periódicas de reprimi-lo à força. Em
algumas ocasiões, essas perseguições foram locais, restringindo-se a regiões como o
norte da África; outras vezes, foram sancionadas pelo Império Romano como um todo. Um
período particularmente expressivo de perseguições corresponde à ascensão do imperador
Décio em 249. Seu primeiro ato mais relevante de hostilidade para com o Cristianismo foi
a execução de Fabiano, um bispo de Roma, em janeiro de 250. A perseguição deciana foi
decorrente do Édito de Décio, publicado em junho de 250, que ordenava aos governadores
e magistrados das províncias que garantissem o cumprimento universal da exigência de
oferecer sacrifícios aos deuses romanos e ao imperador. Um certificado (libellus pacis)
era emitido para aqueles que ofereciam esses sacrifícios. Ao que parece, o Édito foi
ignorado pela maioria das autoridades; mas, ainda assim, houve regiões que exigiram
seu cumprimento. Milhares de cristãos foram martirizados durante esse período difícil.
Alguns ofereceram sacrifícios aos deuses a fim de receber os certificados necessários;
outros conseguiram obter os certificados sem oferecer os sacrifícios.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 11


FIGURA 2 – O IMPÉRIO ROMANO NO SEGUNDO SÉCULO

Fonte: (MANUAL BÍBLICO VIDA NOVA, 2001, p. 693).

Segundo Cairns (1995) as perseguições contra a igreja neste período se davam por
conta dos seguintes motivos:
(A) Política - Quando a igreja, dada a sua moralidade, trazia aspectos de
desconforto para os líderes políticos.
(B) Religiosas – Conflitos com a religião pagã e popular.
(C) Sociais - Problemas sociais também contribuíram para o início da perseguição
à Igreja.
(D) Econômicas - A igreja sofria quando o império enfrentava crises econômicas.

O gnosticismo é um rótulo genérico aplicado a uma grande variedade de mestres


e escolas cristãs que existiam às margens da igreja primitiva e que chegaram a se tornar
um grande problema para os líderes cristãos no século lI. O nome provém da palavra grega
gnosis, que significa “conhecimento” ou “sabedoria” (OLSON, 2001).
Em reposta as controvérsias, alguns nomes da teologia cristã do período tiveram
destaque, tais como: Justino Mártir (c. 100 - c. 165) talvez seja o maior dos Apologistas
- os escritores cristãos do século II que se dedicaram a defender o Cristianismo diante das
críticas intensas de fontes pagãs. Em sua “Primeira Apologia”, Justino argumentou que
resquícios da verdade cristã podem ser encontrados nos grandes escritores pagãos; Irineu
de Lião (c. 130 - c. 200) Por volta de 178 tomou-se Bispo de Lião, um cargo que manteve
até sua morte duas décadas depois. Irineu é conhecido especialmente por sua defesa
enérgica da ortodoxia cristã diante da oposição do Gnosticismo; Orígenes (c. 185 - c. 254)

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 12


Um dos defensores de maior destaque do Cristianismo no século III, Orígenes
forneceu uma base importante para o desenvolvimento do pensamento cristão oriental.
Suas principais contribuições para o desenvolvimento da teologia cristã se deram em duas
áreas gerais, interpretação bíblica e cristologia; e Tertuliano (c. 160 - c. 225) Originalmente,
um pagão da cidade de Cartago no norte da África, Tertuliano se converteu ao Cristianismo
com trinta e poucos anos de idade. E considerado com frequência o pai da teologia latina
em função do grande impacto que teve sobre a igreja ocidental.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 13


3. A IGREJA IMPERIAL (313 d.C. a 451 d.C.)

Com toda a certeza, um dos eventos marcantes ou talvez o mais significativo para
o período patrístico, tenha sido a mudança da igreja cristã de perseguida ou na melhor das
hipóteses, clandestina, para a religião oficial ou igreja imperial, fato este diretamente ligado
a “conversão” do imperador Constantino.
Constantino nasceu numa família de pais pagãos em 285 (sua mãe se converteu
posteriormente ao Cristianismo, ao que parece, sob a influência do filho). Apesar de
não demonstrar nenhum interesse especial pelo Cristianismo no início de seu governo,
Constantino certamente parece ter considerado a tolerância uma virtude essencial. Depois
que Maxêncio tomou o poder na Itália e norte da África, Constantino partiu da Europa
ocidental com parte de seu exército na tentativa de recuperar a autoridade sobre a região
perdida. A batalha decisiva ocorreu em 28 de outubro de 312 na ponte Milvio, ao norte de
Roma. Constantino derrotou Maxêncio e foi proclamado imperador. Logo depois, declarou-
se cristão. Esse fato é relatado tanto por escritores cristãos quanto pagãos. O que não fica
claro é a data exata da conversão. Alguns escritores cristãos (como Lactâncio e Eusébio)
sugerem que a conversão ocorreu antes da batalha decisiva e que Constantino teve uma
visão celestial ordenando que ele colocasse o sinal da cruz no escudo dos seus soldados.
Quaisquer que tenham sido os motivos da sua conversão e quer esta tenha ocorrido antes ou
depois da batalha na ponte Mílvio, não há dúvidas quanto à sua realidade e consequências.
Aos poucos, Roma se tomou cristianizada.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 14


Sob instruções do próprio imperador, a estátua erigida no Fórum mostra
Constantino carregando uma cruz - “o sinal de sofrimento que trouxe salvação”, de acordo
com a inscrição redigida pelo imperador. Em 321, Constantino transformou os domingos
em feriados públicos. Símbolos cristãos começaram a aparecer em moedas romanas. O
Cristianismo não era mais apenas legítimo; também estava em via de se tomar a religião
oficial do império (MCGRATH, 2007).
A teologia passou a fazer parte do dia a dia das pessoas, sendo objeto de debate
em todos os locais públicos e os pensadores cristãos tiveram tempo e paz para elaborarem
aspectos doutrinários ainda não definidos. Contudo, à medida que a igreja em Roma se
tomou cada vez mais poderosa, começaram a se desenvolver pontos de tensão entre a
liderança cristã em Roma e em Constantinopla, prenunciando a cisma posterior entre as
igrejas do Ocidente e Oriente originárias desses respectivos centros de poder. Além de
Roma e Constantinopla, várias regiões figuraram como centros importantes de discussão
teológica, tais como: Milão, Jerusalém, Alexandria, Antioquia da Síria e Cartago. Os nomes
de destaque deste período ficam por conta de Atanásio (c. 296 - c. 373), e sua contribuição
para a cristologia e Agostinho de Hipona (354 - 430), que segundo alguns, é o maior teólogo
sistematizador da patrística.
Aos poucos, após a conversão de Constantino, a igreja e o estado foram se fundindo
ao ponto de se tornarem uma coisa só. Constantino, inaugurou um período de favorecimento
para a igreja, decretos que valorizavam os costumes e a conduta cristã. Em 330, fundou-se
a cidade de Constantinopla. Este ato ajudou a dividir Oriente e Ocidente e abriu o caminho
para o Cisma em 1054, mas providenciou um paraíso para a cultura greco-romana quando
o ocidente caiu sob as tribos germânicas do século quinto. Segundo Cairns (2005),
Ela tornou-se o centro do poder político no oriente e o bispo de Roma, após 476,
foi deixado com poder político além do espiritual. Teodósio I promulgou em 380
um edito tornando o cristianismo a religião exclusiva do Estado. Qualquer pessoa
que segue outra forma de culto receberia a punição do Estado.4 Em 392, o Edito
de Constantinopla estabeleceu a proibição do paganismo. E em 529, Justiniano
desferiu o golpe de misericórdia sobre o paganismo, quando determinou o
fechamento da escola de filosofia de Atenas (CAIRNS, 2005, p. 100).

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 15


Contudo, tal junção entre Igreja e estado não foi apenas benefícios como bem
resume Cairns, (2005, p. 101):
O governo, em troca dos privilégios, da proteção e da ajuda que oferecia,
achava-se no direito de interferir em assuntos espirituais e teológicos. Em
Aries (314) e em Niceia (325), Constantino arrogou-se o direito de arbitrar a
disputa na Igreja, embora fosse apenas o soberano temporário do império.
O longo conflito entre a Igreja e o Estado começa aí. Infelizmente a Igreja
ganhou em poder, mas se tornou uma arrogante perseguidora do paganismo
do mesmo modo que as autoridades religiosas pagas tinham agido em rela-
ção aos cristãos. Parece que no balanço final, a aproximação entre Igreja e
Estado trouxe mais malefícios do que bênçãos a Igreja Crista.

Conforme verificamos neste tópico, ocorreu uma transformação significativa na


teologia da igreja a partir da conversão do imperador Constantino. As consequências da
unidade entre igreja e estado terão reflexos por toda a idade média.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 16


4. PRINCIPAIS TEMAS E DEBATES DA PATRÍSTICA  

Neste tópico abordaremos alguns dos temas e debates teológicos que ocorreram
no período da Patrística. Como já percebemos, foram séculos de reviravoltas, controvérsias
e muita produção intelectual para o período.
O período apostólico foi desafiador. Os primeiros cristãos tendo que romper com a
tradição judaica e a compressão da nova proposta de vida baseada no Evangelho. Talvez
um dos pontos mais importantes para a teologia primitiva tenha sido o concílio de Jerusalém,
conforme destaca Gundry (1998, p. 176):
Com o apoio outorgado pelos líderes Pedro e Tiago, meio-irmão de Jesus,
o parecer da influente igreja mãe de Jerusalém favorecia a ideia da isenção
dos crentes gentios quanto aos preceitos da lei mosaica, apesar de exortá-
los a evitar as práticas que ofenderiam desnecessariamente aos judeus: a
ingestão de carne que fora dedicada a algum ídolo, antes de ser posta à
venda; o consumo de carne de animais mortos por sufocação; o comer carne
que ainda contivesse o sangue do animal morto; e, finalmente, a “fornicação”,
ou seja, a imoralidade de modo geral, embora talvez encontramos aqui
um termo técnico que indicava o incesto (casamento com parentes mais
próximos do que aqueles permitidos no décimo oitavo capítulo de Levítico).
A igreja de Jerusalém enviou a dois dentre seu próprio número, Judas
(Barsabás) e Silas, em companhia de Paulo e Barnabé, a fim de confirmarem,
na presença dos cristãos de Antioquia da Síria, que Paulo e Barnabé não
estavam apresentando um relatório falso, que favorecesse a sua posição.
Quanto à natureza crucial da controvérsia judaizante, vide ainda a discussão
a respeito, na epístola aos Gálatas.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 17


Ainda no período apostólico, começou a perseguição imperial contra os líderes
da igreja, sendo que segundo a tradição da Igreja, Paulo e Pedro foram mortos pelo
imperador Nero:
Assim pois, este, proclamado primeiro inimigo de Deus entre todos os que o
foram, levou sua exaltação ao ponto de fazer degolar os apóstolos. De fato,
diz-se que sob seu império Paulo foi decapitado na própria Roma, e que
Pedro foi crucificado. E disto da fé o título de Pedro e Paulo que predominou
para os cemitérios daquele lugar até o presente (CESAREIA, 2014, p. 56)

A igreja do segundo século precisou se adaptar à realidade de perseguição. A estru-


turação da hierarquia da igreja se deu por este motivo, a igreja precisou se adaptar repetida-
mente estruturando cargos e funções. Suas funções eram principalmente administrativas.
O segundo século também reserva uma série de controvérsias sobre a Pessoa de
Cristo. O ebionismo negava a divindade de Cristo; Cristo era somente humano. O docetismo
negava a humanidade de Cristo; Cristo era somente divino. O arianismo negava a integralidade
da natureza divina; Cristo era menor que Deus. O apolinarianismo negava a integralidade da
natureza humana; Cristo era humano apenas em parte. O nestorianismo negava a união das
duas naturezas em Cristo; elas estavam separadas nele. O eutiquianismo negava as duas
naturezas em Cristo; Cristo tinha uma terceira natureza, resultando das duas (SEVERA, 2016).
Outro debate do período girou em torno da extensão de livros do Novo Testamento,
em 367, Atanásio publicou sua 39ª Carta Pascal que considerava canônicos os 27 livros do
Novo Testamento, como o conhecemos. Outro ponto importante foi a definição do Credo
Apostólico e Credo Niceno. O Credo Apostólico é, provavelmente, a forma de credo mais
conhecida nas igrejas ocidentais. Pode ser dividido em três seções principais que tratam
de Deus, Jesus Cristo e do Espírito Santo. Também fala da igreja, do julgamento e da
ressurreição. O Credo Niceno é a versão mais longa do credo (conhecida mais estritamente
como “Credo Niceno-Constantinopolitano”) que inclui declarações acerca da pessoa de
Cristo e da obra do Espírito Santo. Em resposta às controvérsias relacionadas à divindade
de Cristo, esse credo traz afirmações enérgicas da sua unidade com Deus, incluindo a
expressão “Deus de Deus” e “consubstanciai ao Pai”.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 18


TABELA 2 – PRINCIPAIS EVENTOS TEOLÓGICOS DA PATRÍSTICA
Evangelhos e cartas do Novo Testamento (c. 50 d. C. a 100 d. C.), documentos
inspirados e canonizados pela igreja apostólica.
Concílio de Jerusalém (48 d.C.), definição dos apóstolos sobre a evangelização e
doutrina para os gentios.
O Credo Apostólico (séc. 2), provavelmente, é a forma de credo mais conhecida nas
igrejas ocidentais. Pode ser dividido em três seções principais que tratam de Deus, Je-
sus Cristo e do Espírito Santo. Também fala da igreja, do julgamento e da ressurreição.
O Credo Niceno (séc. 2) é a versão mais longa do credo (conhecida mais estritamente
como “Credo Niceno-Constantinopolitano”) que inclui declarações acerca da pessoa de
Cristo e da obra do Espírito Santo.
Concílio de Niceia (325), definições a respeito da cristologia.
Concílio de Constantinopla (381), definições a respeito da Trindade.
Concílio de Calcedônia (451), revisão final sobre a divindade e humanidade de Cristo.
Agostinho e a Graça (354-430) a teologia cristã ganha sua primeira sistematização.
Fonte: O autor, 2021.

O período patrístico pode ser sintetizado com três formas de se fazer teologia,
primeiro pelos pais (95-100); depois pelos apologistas (100-300); e por fim pelos teólogos
(300-600). E o desenvolvimento teológico deste período dificilmente será superado ao
longo da história da igreja.

SAIBA MAIS

Policarpo um discípulo ilustre de João Apóstolo


Policarpo fora instruído na fé por João e, portanto, era considerado um vínculo vivo com
os discípulos de Jesus e os apóstolos. Na ausência de um, a Bíblia cristã (além da Bíblia
hebraica), que os cristãos viriam a chamar Antigo Testamento, homens como Policarpo
eram considerados as melhores e mais confiáveis fontes de informação a respeito do
que os apóstolos ensinavam e de com o dirigiam as igrejas.
A aura de autoridade especial de Policarpo atingiu os próprios discípulos dele, homens
com o Ireneu, que por ele foram treinados na fé cristã. Ele transmitiu-lhes as tradições
dos apóstolos e, até o ser identificado e aceito pelos cristãos no século II, essa tradição
oral e a autoridade da sucessão apostólica revelaram-se de valor incalculável na luta
dos cristãos contra as heresias e cismas dentro da igreja. Inácio escreveu às igrejas
a maioria das suas cartas, mas uma foi dirigida ao seu colega mais jovem, Policarpo
de Esmirna. Aconselhou a Policarpo: “Se você amar bons discípulos, não é crédito
para você; pelo contrário, com mansidão, leve os mais problemáticos à submissão”.
Policarpo morreu de modo semelhante a Inácio, na cidade de Esmirna, por volta de 155.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 19


Ocasionalmente, o documento conhecido por Martírio de Policarpo — um a descrição
de sua morte escrita com detalhes aterradores por uma testemunha ocular — aparece
entre os pais apostólicos. Além da sua possível influência sobre o crescente “culto aos
mártires” pelos cristãos (isto é, a tendência de venerar os mártires com o “santos”), esse
documento não tem relevância teológica. O próprio Policarpo, no entanto, escreveu pelo
menos um a carta — aos cristãos em Filipos. E conhecida por Carta de Policarpo aos
filipenses e é usualmente incluída entre os pais apostólicos. No entanto, também lhe
falta sofisticação teológica ou relevância para a história da teologia.

Fonte: OLSON, Roger E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. Tradução Gordon
Chown. São Paulo: Editora Vida, 2001. (p. 47).

REFLITA

Tenho seguido a Cristo por oitenta e seis anos sem que ele tenha me feito mal algum,
por que eu haveria de negá-lo agora?

(Policarpo de Esmirna na ocasião do seu martírio)

Fonte: DE CESAREIA, Eusébio. História eclesiástica. CPAD-Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2014.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 20


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito bem estudante, chegamos ao final da nossa primeira unidade, o período


patrístico foi essencial para esclarecer várias questões. Uma das tarefas de relevância
inicial foi definir a relação entre o Cristianismo e o Judaísmo. As cartas de Paulo no Novo
Testamento dão testemunho da importância dessa questão no primeiro século da história
cristã, à medida que começou a vir a lume uma série de questões práticas e doutrinárias.
Os cristãos gentios (ou seja, os que não eram judeus) deviam ser circuncidados? Como
interpretar corretamente o Antigo Testamento?
Vimos como a perseguição imperial foi danosa para as vidas dos cristãos e como
a igreja permaneceu fiel diante dos algozes. Percebemos a importância de alguns nomes
para a história da igreja, homens que precisaram definir e defender a fé cristã diante das
mais variadas formas de doutrinas. Além da mudança da igreja perseguida para a igreja
privilegiada, a partir da conversão de Constantino.
Continuaremos nossos estudos na próxima unidade com o período medieval.

Até breve!

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 21


LEITURA COMPLEMENTAR

Igreja e Tradição: opções e obstruções ecumênicas – por Vítor Westhelle

Em sua famosa definição da distinção entre o protestantismo e o catolicismo,


Schleiermacher diz que o protestantismo “faz a relação do indivíduo com a igreja
dependente de sua relação com Cristo, enquanto que o [catolicismo], ao contrário, faz
a relação do indivíduo com Cristo dependente de sua relação com a igreja”1. Definições
como esta tem ajudado a criar o lugar-comum de que a diferença entre o catolicismo e o
protestantismo é que o primeiro possui duas fontes e normas, as Escrituras e a tradição
da igreja, enquanto que o segundo manteria como única fonte e norma as Escrituras. Esta
proposição sugere que no protestantismo a tradição não tem uma influência normativa. Isto
tem trazido a tradição protestante a uma aporia: se a tradição não é normativa, como então
explicar a formação do cânone bíblico que sucede dentro da tradição teológica e eclesial.
Logicamente, a posição protestante só poderia acabar em uma teoria de inspiração verbal
e literal das Escrituras ou em uma suspensão existencial de sua realidade histórica, cuja
mais elaborada articulação encontramos em Kierkegaard ao postular ser o cristão um
contemporâneo imediato de Jesus, o que faz de todos cristãos uma testemunha de primeira
mão. Aparte destas alternativas, que recusam toda mediação, o protestantismo deveria
reconhecer certa normatividade exercida pela tradição.

Fonte: WESTHELLE, Vitor. Igreja e tradição: opções e obstruções


ecumênicas. Estudos Teológicos, v. 45, n. 2, p. 81-89, 2005.

UNIDADE I História da Igreja: Período Patrístico (34 d.C a 451 d.C) 22


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História Eclesiástica.
Autor: Eusébio de Cesareia.
Editora: Casa publicadora das Assembleias de Deus - CPAD.
Sinopse: História Eclesiástica, obra indispensável a quem deseja
compreender a história dos primeiros séculos do cristianismo, é, sem
dúvida, a obra mais importante de Eusébio de Cesaréia, destacando-
se como a mais conhecida e mais citada. Compreende 10 livros,
escritos ao longo doa nos 312 e 317, nos quais o autor se propõe
tratar “daqueles que oralmente ou por escrito, foram mensageiros
da palavra de Deus em cada geração”, iniciando com uma história
sumária de Cristo, desde o seu nascimento, e encerrando com a
dupla vitória do imperador Constantino: sobre Maxêncio em 312 e
sobre Licínio em 324. Portanto, este volume abrange o período dos
primeiros séculos e retrata a sucessão dos bispos, as dificuldades
causadas à Igreja pelas perseguições, o diálogo e o enfrentamento
verbal com os pagãos e os judeus, o surgimento das heresias e dos
heréticos e o triunfo eclesiástico associado ao triunfo constantiniano.
Esse conteúdo é de riqueza inestimável, sobretudo por ter sido
elaborado junto a fontes seguras, trazendo à história posterior estas
mesmas fontes em forma de extratos enriquecidos com muitas
citações de escritos da época. Por meio dessas citações é possível
conhecer textos e documentações em geral que se perderam ao
longo do tempo e foram conservados nessa obra, que, por mais
essa razão, é de grande importância no universo da patrologia e da
história da Igreja.

FILME/VÍDEO
Título: Ben-Hur
Ano: 2016.
Sinopse: O nobre Judah Ben Hur (Jack Huston), contemporâneo de
Jesus Cristo (Rodrigo Santoro), é injustamente acusado de traição
e condenado à escravidão. Ele sobrevive ao tempo de servidão e
descobre que foi enganado por seu próprio irmão, Messala (Toby
Kebbell), partindo, então, em busca de vingança.

WEB
PRAZER DA PALAVRA é um espaço destinado a abrigar textos
produzidos por Israel Belo de Azevedo e colaboradores. O material
inclui sobretudo meditações, devocionais e estudos bíblicos, como
livros, sermões, textos breves (editoriais), recursos para a igreja,
líderes e pastores. Há ainda poemas, ensaios, recomendações
bibliográficas e repertório de citações.
Link de acesso: http://www.prazerdapalavra.com.br/academia

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UNIDADE II
A Igreja no Período
Medieval (451 a 1453)
Professor esp. Tiago Calazans Elias

Plano de Estudo:
● A supremacia da igreja Católica Apostólica Romana (451 a 800);
● A crise na igreja Católica Apostólica Romana (800 a 1054);
● A tentativa de sobrevivência da igreja Católica
em um mundo de transformações (1054 a 1453);
● Principais temas e debates do período medieval.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar os termos teológicos
sobre a cristologia e eclesiologia;
● Compreender os as continuidades e transformações
dos processos teológicos do período;
● Estabelecer a importância dos eventos
históricos para a eclesiologia.

24
INTRODUÇÃO

Olá Estudante, seja bem-vindo (a) a mais uma etapa importante do nosso estudo
sobre a história da Igreja.
E não diferente da primeira Unidade, em que traçamos um período de aproximadamente
450 anos de história, cujo podemos compreender inúmeras transformações na eclesiologia
da igreja, nesta Unidade faremos nossa análise em abrangência de um século, deste de o
concílio de Calcedênia (451) até a queda de Constantinopla pelos turcos em (1453). Este
período é compreendido pelos historiadores com a Idade Média, equivocadamente tida por
alguns como Idade das Trevas, ou do obscurantismo. Contudo, percebemos que foi um
período de avanços culturais e científicos, talvez não na velocidade esperada pelos dos
críticos modernistas, mas com contribuições significativas para a sociedade. Isso não quer
dizer que o período esteve isento de crises, longe disto, mas fazer destes 1000 anos um
vácuo de luz intelectual não é ser honesto com o passado.
Em nossa jornada, teremos quatro pontos de análise. Primeiro, falaremos
sobre a transformação religiosa em que a sede do império romano enfrentou ao aderir
o cristianismo como religião oficial e consequentemente as transformações culturais,
econômicas, políticas e sociais em todo a Europa. Veremos que o cristianismo foi agente
transformador mais também foi transformado pelo império, sofisticando sua doutrina em
detrimento da simplicidade.
No segundo tópico mostraremos como as inovações bárbaras modificaram o cenário
político na Europa. Em uma primeira análise, será certo pensar que o cristianismo estivera
ameaçado, com as incursões de povos pagãos, mais o que ocorreu, foi que o cristianismo
foi um ponto conciliador entre as tribos germânicas e os italianos, formando assim o Sacro
Império Romano Germânico.
No tópico três analisaremos as crises institucionais enfrentadas pela igreja e sua
proposta combativa contra a ameaça religiosa que surgiu no Oriente Médio. No último
tópico, selecionamos alguns dos principais temas e debates eclesiológicos deste período.

Bons estudos!

UNIDADE III A
História
Igreja da
no Igreja:
PeríodoPeríodo
Medieval
Patrístico
(451 a1453)
(34 d.C a 451 d.C) 25
1. A SUPREMACIA DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA (451 a 800)

Este período que abrange este tópico é por alguns historiadores considerado como
o início do período medieval. A queda de Roma em 476 após várias invasões germânicas
enfraqueceram o poder militar e político do antigo império, embora, na capital bizantina,
continuasse firma ante as ameaças militares. Um ponto interessante, é que Roma
continuaria por séculos, tendo o cristianismo como religião oficial enquanto Constantinopla
for a afetada pelo islamismo crescente neste período. Vamos agora conhecer o panorama
da igreja ocidental e suas transformações para o cenário Europeu.
Uma das marcas depois que o cristianismo se tornou a religião oficial do império,
foi a busca por parte de alguns por uma vida afastada da sociedade. Talvez, para alguns
convertidos ao cristianismo, havia certa discordância entre a mensagem do evangelho e o
estilo de vida das metrópoles, conforme destaca Cairns (1995):
No período da gradual decadência interna do Império Romano, o monasticismo
exerceu um forte apelo para muitos que prontamente renunciaram a sociedade
em favor do claustro. Este movimento tem suas origens no século IV, quando
leigos em número cada vez maior começaram a se ausentar do mundo. Ao final
do século VI, o monasticismo tinha fundas raízes na Igreja ocidental e oriental.
Um segundo período de grandeza do monasticismo ocorreu por ocasião das
reformas monásticas dos séculos X e XI. A era dos frades no século XIII consti-
tui um terceiro período. O surgimento dos jesuítas na Contra Reforma do sécu-
lo XVI constitui o período final em que o monasticismo atingiu profundamente
a Igreja. O movimento exerce até hoje um importante papel na vida da Igreja
Católica Romana (CAIRNS, 1995, p. 122).

UNIDADE III A
História
Igreja da
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A crescente deterioração moral, especialmente entre as classes altas da sociedade
romana, levou muitos a descrerem da reforma social. O monasticismo tornou-se um refúgio
para os que se revoltavam contra a galopante decadência dos tempos. Era uma espécie de
crítica viva da sociedade de então.
As consequências diretas do monasticismo foram bem resumidas por Cairns
(1995), o mosteiro local servia geralmente como o equivalente medieval de uma fazenda
experimental moderna na demonstração de métodos melhores de agricultura. Os monges
limpavam as florestas, drenavam os pântanos, abriam estradas e cultivavam sementes
e viveiros. Fazendeiros vizinhos adotavam as melhores técnicas que viam os monges
usar. Os mosteiros ajudaram a manter viva a erudição na Idade Média, entre 500 e 1000,
quando a vida urbana praticamente desapareceu com a tomada do Império Romano
pelos bárbaros. As escolas dos mosteiros davam educação de nível superior para os
vizinhos desejosos de aprender. Os monges também se ocupavam em copiar manuscritos
preciosos que preservaram para a posteridade. Em contrapartida, a vida monástica gerou
orgulho naqueles que se afastavam da sociedade, produzindo um sentimento hierárquico,
que seria levado as instancias da igreja.
Aos poucos, a ideia de que o bispo de Roma era o primeiro líder da igreja, foi
tomando forma. Este reconhecimento veio por meio do Imperador Valentiniano III, num
edito de 445 A.D., reconheceu a supremacia do bispo de Roma em negócios espirituais,
tornando-se “lei para todos” o que ele estabelecesse. Assim, tanto as autoridades
eclesiásticas como os temporais dos séculos IV e V reconheceram as pretensões do
bispo de Roma de primazia na Igreja (MCGRATH, 2010). Mesmo no período de invasões
dos bárbaros, os bispos foram fundamentais na diplomacia, impedindo que a cultura e
religião cristã fossem destruídos, chegando ao ponto, que na queda de Roma em 467, e
outras cidades italianas se tornaram a sede do poder temporal, o povo da Itália via o bispo
romano como a liderança política e espiritual.
Outro aspecto determinante foi a eficiente obra missionária de monges leais a Roma
também fortaleceu a autoridade do bispo romano. Clóvis, o líder dos francos, foi convertido
ao cristianismo em 496 e tornou-se um grande defensor da autoridade do bispo de Roma
(CAIRNS 1995). Entre 313 e 590, a Igreja Católica Antiga, em que cada bispo era um igual,
tornou-se a Igreja Católica Romana, em que o bispo de Roma tinha supremacia sobre
os outros bispos. O ritual da Igreja tornou-se também mais elaborado. A Igreja Católica
Romana reflete, em suas estruturas e leis canônicas, a Roma Imperial.

UNIDADE III A
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Igreja da
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PeríodoPeríodo
Medieval
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Enquanto no cenário europeu a igreja cristã se firmava cada vez mais, com sua
influência na política, cultura e sociedade, no oriente uma nova religião surge neste período.
O islamismo teve suas origens na península árabe, uma região relativamente isolada do
mundo por mar ou por um ínvio deserto, exceto pela margem noroeste. A área é inóspita e o
homem é obrigado, para se manter, a lutar num solo de rochas estéreis, arenoso e quente.
Diante da força da natureza, o homem é levado, em regiões como estas, a reconhecer um
ser maior do que ele (CAIRNS, 1995). No texto abaixo identificamos a começo da trajetória
do Mohamed, logo o início da nova tendência religiosa:
Maomé (570-632), membro da tribo koreichita, que ganhava a vida como
condutor de camelos. Numa viagem em companhia de seu tio à Síria e à
Palestina, entrou em contato com o cristianismo e com o-judaísmo. Casou-
se. então, com uma, rica viúva chamada Khadijah ‫ ״‬através da qual pôde
ficar livre para suas meditações religiosas. Em 610, ele se sentiu divinamente
chamado para proclamar o monoteísmo, conseguindo ao final de três anos
fazer 12 convertidos, a maioria de sua própria família. Por se opor à pregação
da idolatria, foi forçado a fugir de Meca para Medina em 622. Em 630. O
movimento crescera tanto que fora capaz de conquistar Meca. Dois anos
depois, ao ‫׳‬tempo de sua morte, seus seguidores-estavam prontos para
expandir além da península árabe (CAIRNS, 1995, p. 139).

Entre os anos entre 632 e 732, o islamismo ganhou força. A Síria e a Palestina
foram convertidas na quarta década do século VII e a Mesquita de Ornar foi logo erigida
em Jerusalém. O Egito foi conquistado na década seguinte e a Pérsia caiu sob controle
muçulmano em 652. O cristianismo foi ameaçado de forma perigosa, embora tenha
sido paralisada na região oriental do continente pela defesa segura do Império oriental
comandada por Leão, o Isáurico, em 717 e 718. A expansão muçulmana na parte ocidental
do continente só foi contida pela derrota dos muçulmanos pelos exércitos de Carlos Martelo
em Tours, em 732 (CAIRNS, 1995). O cristianismo europeu ainda tentaria recuperar o oriente
por meio de expedições dos cruzados, mais este será um assunto do próximo tópico.

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2. A CRISE NA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA (800 A 1054)

Com a queda de Roma em 476 a Europa passou por alguns séculos de reorganização
política e territorial, o quadro abaixo pretende resumir os reinos medievais.

QUADRO 1 – REINOS MEDIEVAIS

Fonte: (CAIRNS, 1995, p. 147).

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De 800 a 1806 o Império Romano Germânico esteve presente no cenário político
da Europa. O Império Romano deixará de existir como unidade nacional, mas continuava
existindo por meio da religião adotada por Carlos Magno e ungido pelo Papa Leão III
selando a aliança militar/religiosa.
Quando foi atacado por um grupo em Roma, e quase morto, o papa Leão III
deixou Roma e foi para a corte de Carlos Magno. Carlos Magno o conduziu de
volta a Roma e num concilio o papa foi absolvido das acusações contra ele.
Numa missa na catedral no Natal de 800, com Carlos Magno ajoelhado diante
do altar, o papa colocou a coroa sobre sua cabeça e o declarou imperador dos
romanos. Foi assim que o Império Romano voltou a existir no ocidente e uma
nova. Roma, governada por um teutão, substituiu o velho Império Romano. Um
império universal existiu aparte de uma Igreja universal. A herança clássica e a
cristã não se uniram num império cristão (CAIRNS, 1995, p. 150).

A Doação de Constantino tornou-se a base legal para a propriedade de terras pelo


papa. A maior doação de terras, em que este documento foi ‫׳‬usado como justificativa, foi
feita por Pepino em 756. Pensam alguns que por volta dos meados do século IX, o papa
Nicolau I, que foi papa de 858 a 867, foi o primeiro a usar uma coleção dos decretos de vários
pontífices de Roma. Esta coleção é conhecida de variadas formas, como Falsas Decretais
ou Decretais de Pseudo-lsidoro. O notável documento incluía a Doação de Constantino,
decretos ou decretais autênticos ou mesmo forjados dos papas de Roma desde o tempo
de Clemente de Roma, além de alguns cânones dos grandes concílios da Igreja.
Nos séculos seguintes, a igreja romana teve débeis ocupantes e os imperadores
romanos geralmente atravessavam os Alpes para restabelecer a ordem e estender seus
domínios na Itália. Otto III, por exemplo, entrou em 996 em Roma e, depois de eliminar uma
porção de nobres romanos, forçou a eleição de seu primo Bruno como Papa Gregório V.
Esta interferência constante dos governantes romanos nos negócios do papado na Itália
provocou uma luta entre o imperador e o papa até que Inocêncio III humilhasse e derrotasse
o imperador e pusesse fim à interferência germânica na Itália (CAIRNS, 1995).
Em 1054 todas as diferenças e todos estes antagonismos centralizaram-se
em torno daquilo que parecia ser um problema menor. Miguel Cerulário, patriarca de
Constantinopla de 1043 a 1058, condenou a Igreja do Ocidente pelo uso de pão não-
levedado na Eucaristia. Este uso era uma prática que se disseminara no Ocidente a partir
do século IX. O papa Leão IX enviou o cardeal Humberto e dois outros legados ao Oriente
para pôr fim à polêmica. Quando as discussões terminaram, as diferenças de opinião eram
ainda maiores. No dia 16 de julho de 1054, os legados romanos colocaram no altar superior
da catedral de Santa Sofia um decreto de excomunhão do patriarca e de seus seguidores.
O patriarca não tardou em responder e anatematizou o papa de Roma e seus seguidores.
Foi esta a primeiro grande cisma no Cristianismo a romper com a unidade da Igreja. A
partir de então, a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega têm seguido caminhos
diferentes. Essa mútua excomunhão só foi removida em 7 de dezembro de 1965, por Paulo
VI e Atenágoras.

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3. A TENTATIVA DE SOBREVIVÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA EM UM
MUNDO DE TRANSFORMAÇÕES (1054 a 1453)

Neste tópico abordaremos duas medidas adotadas pelo catolicismo na tentativa de frear
as ameaças a sua supremacia. A primeira está relacionada as forças militares do para reduzir a
ação dos muçulmanos no Oriente e o investimento educacional por meio da escolástica.
A primeira cruzada ocorreu em 1095 pelas ordens do Papa Urbano II, uma vez que os
religiosos islâmicos perseguiram de forma brutal os cristãos orientais. As cruzadas são um dos
capítulos polêmicos na história da igreja e sua relação com o poder e a violência. As cruzadas
são o produto de anos de militarização e repressão da igreja católico a partir das reformas de
Gregório, tendo como motivação, a libertação dos lugares sagrados pelos cristãos na terra
santa. A inovação do papa Urbano foi a transição de uma finalidade explicitamente política,
como a realizada pelos reinos de Castela e Aragão para uma finalidade religiosa.
Ao todo houveram sete cruzadas oficiais entre 1095 e 1291, sendo muitas
delas um verdadeiro fracasso militar, não impedindo que o território oriental fosse
predominantemente muçulmano. As cruzadas deixaram uma mancha na história da
Igreja, conforme relata Cairns (1995):
A Cruzada das Crianças de 1212 foi o episódio mais triste da história das
Cruzadas. Crianças da Franca e da Germânia, dirigidas por dois meninos,
Estevão e Nicolau, marcharam pelo sul da Europa até a Itália, na suposição
de que a pureza de suas vidas lhes daria o sucesso não conquistado pelos
seus pais pecadores. Muitos pereceram no caminho e os sobreviventes foram
vendidos como escravos no Egito. As cruzadas terminaram com a queda de
Acre, em 1291, para os muçulmanos (CAIRNS, 1995, p.181).

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Vejamos um panorama sobre a intensificação militar da igreja neste período:

QUADRO 2 – AS CRUZADAS
Cruzada Militar vs.
Albigenses ou Cátaros
Cruzadas contra os hereges 1209-29
Pregação Dominicana
No Leste da Prússia pelos
Cruzada contra os Eslavos Cavaleiros Teutônicos na
Polônia na Hungria
Cruzadas na Palestina
1095-1492 Espanha
Cruzada contra os 1* Reino Latino de Reconquista
muçulmanos. Jerusalém 1099-1189 4º vs. 1095-1299
Constantinopla Reino Latino
1204-61
Fonte: (OLSON, 2001).

As Cruzadas deixaram importantes consequências políticas e sociais na Europa


ocidental. No campo econômico, houve um enfraquecimento do feudalismo e a fortificação
de uma classe média. A religião católica saiu mais fortalecida no que se refere ao cenário
Europeu, conseguindo gerar uma barreira para a cultura e religião islâmica, contudo a
queda de Constantinopla em 1453 pelos turcos otomanos, decreta a derrota definitiva do
catolicismo no Oriente. E concordemos, ou não, com esse processo, e importante perceber
que os mecanismos de defesa foram fundamentais dentro da política religiosa tomada pela
cristandade, durante o medievo para a sua longevidade.
Este período foi marcado pela consolidação de uma ciência que tivesse seu
relacionamento com a fé, a filosofia do período foi produzida por dois grandes pensadores
e intelectuais cristãos, Anselmo da Cantuária (1033-1109) e Tomás de Aquino (1225-1274),
tal filosofia do período ficou conhecida com escolástica.
Como podemos definir o escolasticismo? Da mesma forma que ocorre com
muitos outros termos culturais importantes como “humanismo” e “iluminismo”,
é difícil oferecer uma definição exata que faça justiça a todas as distintas
posições das maiores escolas ao longo da Idade Média. Talvez, a seguinte
definição prática possa ser útil: o escolasticismo e mais conhecido como o
movimento medieval, surgido entre 1250 e 1500, que enfatizou a justificação
racional da crença religiosa bem como a apresentação dessas crenças
de forma sistemática. Logo, o termo “escolasticismo” não se refere a um
sistema específico de crenças, mas a um modo particular de se produzir e
sistematizar a teologia - um método altamente desenvolvido de apresentação
de conteúdos por meio de requintadas diferenciações, pretendendo alcançar
uma visão abrangente da teologia. Talvez seja compreensível porque, sob
a ótica de seus críticos humanistas, o escolasticismo pareceu degenerar-se
em nada mais do que uma lógica concentrada em detalhes pequenos e sem
importância (MCGRATH, 2010, p. 71).

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Anselmo, natural do norte da Itália, deveu-se as atividades intelectuais no campo
da teologia. A interpretação dada por Anselmo ao relacionamento entre razão e fé foi
sintetizada na seguinte declaração: Credo ut intelligam (Creio para que possa conhecer). A
fé deve ser primaria e deve se constituir num fundamento para o conhecimento.
Tomás de Aquino, conhecido como “Doutor Angélico”, vinha de berço nobre; sua
mãe era irmã de Frederico Barba-roxa. Educado em Monte Cassino e na Universidade de
Nápoles, fez-se monge dominicano contra a vontade de seus pais e dedicou-se a estudar.
Alto, desengonçado, taciturno e absorto, seus colegas em Colônia o apelidaram de “boi
quieto”, ao que o professor Alberto anotou que um dia o mugido desse boi encheria o
mundo. A prodigiosa sabedoria de Tomás o fez alcançar o ápice da teologia escolástica
e sua obra a Suma Teológica traça a sistematização da doutrina católica ao longo dos
séculos (CAIRNS, 1995). Com o resultado da filosofia escolástica, algumas correntes de
pensamento surgiram, tal como o nominalismo, que criou um interesse pelo homem, uma
vez que, segundo ele, o indivíduo era mais real do que a instituição. Este interesse fomen-
tou muito do materialismo da Renascença, quando as pessoas começaram a pensar no
homem como autônomo e a exaltar o método experimental como o principal caminho para
a verdade. Mais este será um assunto para a próxima unidade.

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4. PRINCIPAIS TEMAS E DEBATES DO PERÍODO MEDIEVAL

Chegamos no tópico no qual sintetizamos os temas e debates do período estudado.


Neste tópico apresentaremos alguns dos assuntos de maior relevância para o Medievo,
sabendo com certeza que não é possível tratar de todos os temas e com a profundidade
merecida. Mas ficará como dica, as menções desta unidade para desenvolver seus
estudos no futuro.
Este período começa com as mudanças religiosas que ocorreram no decorrer da
transição do cristianismo perseguido pelo império, para se tornar o cristianismo imperial, a
união entre Igreja e Estado com Constantino e seus sucessores provocou a secularização
da Igreja. O patriarca de Constantinopla ficou sob controle do Imperador, tornando a
Igreja oriental um departamento do Estado. A vinda dos pagãos para a Igreja através dos
movimentos de conversão em massa contribuiu para a paganização do culto quando a
Igreja procurou se adaptar-se à cultura dos povos recém chegados. Esta adaptação
custou a permissão para a criação e veneração de imagens, para atender aos bárbaros e
consequentemente tornam a igreja mais inclusiva (CAIRNS, 1995).

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A sistematização das doutrinas bíblicas é marca fundamental na teologia do período
medieval. Agostinho de Hipona com a teologia da graça foi o grande pensador do início da
Idade Média e Tomás de Aquino conclui a lista de grandes teólogos com sua teologia a
partir da razão aristotélica.
[...]o outro Padre da Igreja essencial e Santo Agostinho (354-430). Depois
de São Paulo, Santo Agostinho e o personagem mais importante para a ins-
talação e o desenvolvimento do cristianismo. E o grande professor da Idade
Média. Aqui citarei apenas duas obras suas que são fundamentais para a
história europeia [Confissões, Cidade de Deus] (LE GOFF, 2010, p. 31).

Algumas mudanças litúrgicas também alteraram a teologia da igreja. O domingo


tornou-se o dia principal do calendário eclesiástico depois que Constantino estabeleceu
que este seria um dia de culto cívico e religioso. A festa do Natal tornou-se uma prática re-
gular em meados do século IV, adotando-se a data de dezembro anteriormente usada pelos
adoradores de Mitra. A veneração a Maria, mãe de Jesus, desenvolveu-se rapidamente
por volta de 590, e levou à adoção das doutrinas de sua imaculada conceição, em 1854, e
de sua assunção miraculosa aos céus, em 1950. O uso de imagens e esculturas no culto
propagou-se rapidamente na proporção em que mais e mais os incultos bárbaros entravam
para a Igreja. Para estes adoradores, essas imagens materializavam a realidade invisível
da divindade. Tinham elas também uma função decorativa no embelezamento da igreja. Os
Pais da Igreja procuraram fazer a distinção entre a devoção a estas imagens, que era parte
da liturgia, o culto a Deus; duvida-se, porém, que está sutil distinção tenha evitado que o
fiel comum oferecesse a elas o culto que os Pais reservavam a Deus somente (CAIRNS,
1995).
A divisão da igreja romana e bizantina não seu deu apenas por questões políticas, mas
também teológicas, talvez a mais séria, seja a relação da Pessoa de Cristo como o Deus Pai.
Os teólogos bizantinos, por exemplo, tinham a tendência de entender a
salvação principalmente no sentido de divinização, em vez de recorrer as
categorias legais e relacionais do ocidente. Além disso, ficavam perplexos
com as doutrinas do purgatório, que ganhavam força nos círculos católicos
ocidentais. Portanto, ao longo da Idade Média, qualquer tentativa de chegar
a um consenso entre o oriente e o ocidente era dificultada por uma complexa
rede de fatores de ordem política, histórica e teológica. Até o período da
queda de Constantinopla, as diferenças entre oriente e ocidente permaneciam
maiores do que nunca (MCGRATH, 2010, p. 90).

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A consagração de Gregório I (540-604) como o bispo de Roma conforme explica
(CAIRNS, 1995, p. 132):
Constitui um marco que divide o período antigo da história da Igreja
do período medieval.   Geralmente chamado o Grande, nasceu nos turbulentos
tempos em que o Império oriental sob Justiniano buscava reconquistar a
metade ocidental do Império que fora perdida para as tribos teutãs. Pilhagens,
doenças e fomes estavam na ordem do dia. Nascido em uma das famílias
tradicionais, nobres e ricas de Roma, Gregório recebeu uma educação jurídica
que o prepararia para a vida pública. Estudou latim demoradamente, mas
não sabia hebraico nem grego. A maior obra de Gregório foi ampliar o poder
do bispo romano. Embora não reivindicasse o título de papa, exerceu todos
os poderes e prerrogativas dos papas posteriores- Fez isto para afirmar a
superioridade espiritual do bispo de Roma. Foi ele também o organizador
do canto gregoriano que teria na Igreja Católica Romana um lugar de maior
importância do que o desenvolvido por Ambrósio.

Este canto consistia no uso de um cantochão na parte cantada do culto. Todos


estes avanços culminaram para dois processos fundamentais para a Reforma Protestante,
o renascimento, em que a fonte os estudos voltaram seus olhos para o conhecimento
clássico e o humanismo, onde a autoridade papal será questionada.

SAIBA MAIS

A conversão de Clotilde de Borgonha, muda a história da Europa Cristã.

Clotilde foi uma princesa cristã da Borgonha. A influência de Clotilde, junto com aquilo
que Clovis cria ser uma ajuda divina numa luta, levou-o a conversão em 496 Quando se
fez cristão, seu povo também aceitou em massa o cristianismo.
Embora estas conversões pudessem não ser genuínas, o fato e que a aceitação do
cristianismo por Clovis teria efeitos duradouros! Na história futura da Igreja. Todos os
francos que dominavam a Galia, a região da Franca de hoje, estavam agora dentro
da Igreja Crista. A Galia se tornou uma base cujo os missionários saiam em direção
a Espanha árabe a fim de trazer os godos arianos, que lá se instalaram, de volta ao
cristianismo de doutrina ortodoxa. Saliente-se que a monarquia franca se tornou um
sustentáculo vigoroso do papado na baixa Idade Média. Os reis francos atravessaram
os Alpes muitas vezes para salvar o bispo romano das mãos de seus inimigos na Itália.

Fonte: (CAIRNS, 1995, p. 104).

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REFLITA

Quando, então, se pergunta de onde vem o mal, deve-se primeiro indagar o que é o mal
e este não é outra coisa senão a corrupção, seja da medida, da forma ou da ordem que
pertence à natureza. A natureza que, portanto, foi corrompida é tida como má, porquanto
certamente é boa quando não é corrompida; mas, mesmo corrompida, e boa enquanto
natureza e é má enquanto corrompida.

Fonte: (AGOSTINHO, 2017, p. 114).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante,

chegamos ao final de mais uma unidade. Podemos perceber que a Idade Média,
foi um período de profundas transformações no mundo. A igreja confirma sua supremacia
contra as inovações e consegue resistir as invasões dos árabes e muçulmanos. Mas o
mundo está muito diferente, e a igreja não dará conta de explicar todas estas mudanças.
As grandes navegações, o avança científico, as crises teológicas e morais da igreja romana
não conseguiram abordar o novo mundo que está surgindo.
Este será o assunto da nossa terceira unidade, o Novo a partir da(s) Reforma(s)
Protestante no cenário Europeu.

Te espero para a leitura da próxima Unidade, até breve!

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LEITURA COMPLEMENTAR

FILOSOFIA DA RELIGIÃO

A investigação filosófica da natureza e dos fundamentos das crenças religiosas é


uma das mais antigas e persistentes áreas do esforço filosófico. A crença e prática religiosas
suscitam uma variedade de questões filosóficas e postulam perguntas epistemológicas a
respeito da justificação da fé religiosa, perguntas metafísicas sobre a natureza de Deus
e da alma, e perguntas éticas acerca do relacionamento entre Deus e os valores morais.
Tantas são as preocupações filosóficas principais que se cruzam na arena da religião, e
tão imediato é o interesse, que a filosofia da religião é um dos campos mais relevantes do
esforço filosófico, tanto para os filósofos cristãos quanto para aqueles de outras convicções.
Os problemas clássicos na filosofia da religião centralizam-se nas bases para a crença em
Deus, na imortalidade da alma, na natureza do milagre e no problema do mal.
Bases para a Crença em Deus. Em geral, os crentes religiosos se viram obrigados
a defender sua crença numa realidade supersensível, tal como Deus, mediante um apelo
ao argumento filosófico. Os argumentos clássicos em prol da existência de Deus são os
cinco caminhos de Tomás de Aquino e o argumento ontológico de Anselmo da Cantuária.
Os argumentos de Aquino são variações de duas formas principais: os argumentos
cosmológico e teleológico. O argumento cosmológico baseia-se na alegação de que a
existência e a atividade do universo exigem uma explicação numa entidade além de si
mesma. Numa versão, proposta por Aquino e por filósofos contemporâneos, tais como
Richard Taylor e Frederic Copleston, o universo é visto como uma existência meramente
contingente ou possível. Como um ser contingente, sua existência requer a explicação
em algum ser fora de si mesmo, um ser que seja capaz de sustentar o universo na sua
existência. Segundo este argumento, o universo deve a sua existência a um ser que é
“necessário”, ou seja, incapaz da não-existência, que forneça uma explicação para sua
própria existência. Deste modo, a partir da existência contingente, meramente possível do
mundo, argumenta-se que se pode demonstrar que Deus existe.
O argumento teleológico ou do “desígnio”, proposto por Aquino e William Paley, entre
outros, nos conclama a inferir, a partir da condição bem ordeira da natureza, a existência de
um projetista supremo.
Paley compara nossa experiência da ordem complexa e a adaptação das partes
da natureza ao todo com o achado de um relógio; por certo o relógio, em virtude de sua
complexidade e aparente propósito, exige um relojoeiro para explicá-lo.

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Portanto, não menos do que isto, o universo, amplamente mais notável, requer um
criador do mundo. Na versão mais sofisticada de Aquino, a adaptação constante e dinâmica
de vários aspectos da natureza não-inteligente à realização de uma ordem estável no
mundo exige um organizador tomado por certo, para explicar esta ação.
Os argumentos cosmológico e teleológico foram submetidos à crítica sistemática,
notavelmente pelo filósofo escocês David Hume, empirista e cético renomado. Hume montou
um ataque com muitas pontas contra o argumento e sugeriu, entre outras coisas, que os
respectivos fenômenos são capazes de explicações alternativas, e que os argumentos em
geral não comprovam nenhum. Ser único e onipotente, mas, na melhor das hipóteses, um
ser com poder limitado, ou um grupo de entidades que estão longe de serem infinitamente
sábias ou poderosas, tendo simplesmente a capacidade de levar a efeito os resultados em
questão. Desde os dias de Hume, o debate continua nos círculos filosóficos com grande
engenhosidade e cuidado, sendo que nenhum dos dois lados conseguiu alegar uma vitória
permanente. Apesar disso, tais argumentos a favor de Deus continuam a exercer muita
atração sobre os níveis popular e acadêmico.
O argumento ontológico de Anselmo é a única prova teísta que avança a priori,
ou seja, pela reflexão sobre o conceito de Deus somente, sem referência às evidências
externas como a existência ou a natureza do mundo. Anselmo observou que se Deus for
definido como “o Ser que é maior do que qualquer coisa que se possa conceber”, logo,
negar a existência de semelhante ao Ser coloca a pessoa numa contradição. Neste caso, a
pessoa está subentendendo que é possível conceber “algo maior do que Deus”, ou seja, um
Deus existente. Este ser concebível teria, além das propriedades de Deus, uma qualidade
que Deus não tem - isto é, a existência — e assim seria melhor do que o Ser maior do que
qualquer coisa que se possa conceber. Em seus próprios dias, Anselmo foi criticado pelo
monge Gaunillo, que raciocinou que, seguindo semelhantes linhas de argumento, seríamos
forçados a aceitar a existência de entidades fantásticas tais como uma “ilha perfeitíssima”.
Recebeu também, mais tarde, críticas de Immanuel Kant. Em resumo, Kant argumentava
que não ter existência não é ser deficiente quanto a uma propriedade. Desta forma, o
conceito de um Deus existente não é “maior” do que um Deus não-existente, visto que o
Deus existente não tem propriedades não compartilhadas por um Deus não-existente.
Além do uso de argumentos em prol da existência de Deus, os filósofos da religião
tradicionalmente se interessaram por outro caminho ao possível conhecimento a respeito
de Deus — a experiência religiosa.

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Uma experiência mística ou outro suposto encontro com o Divino fornece bons
e justos motivos para as crenças, conforme têm afirmado, às vezes, os fiéis de todas as
tradições religiosas? Segundo era de se esperar, os céticos tendem a desconsiderar tais
experiências, vendo-as como evidências de uma natureza altamente sugestionável da parte
do que teve a experiência, conforme se vê no enérgico comentário de Bertrand Russel de
que “não podemos fazer distinção entre o homem que come pouco e vê o céu e o homem
que bebe muito e vê cobras”.
O “Status” da Alma: Outro problema clássico é o status da alma e seu destino após
a morte. Sócrates e outros sustentaram que a alma é relacionada com o âmbito estável
da verdade eterna e que, portanto, é eterna em si mesma, ao contrário do corpo, que
pertence ao mundo material de impermanência e decadência. Além disso, visto que a alma
é imaterial e não tem partes, ela, ao contrário do corpo, é incapaz de ser desintegrada.
Os filósofos posteriores, de modo menos ambicioso, geralmente se contentaram com a
tentativa de demonstrar que a alma é logicamente capaz de ser concebida como distinta
do corpo humano mortal. Muitas discussões filosóficas recentes têm se preocupado com a
questão de ser ou não inteligível a afirmação de que uma pessoa pode “testemunhar seu
próprio funeral”, ou seja, sobreviver à morte do corpo.
Os Milagres: Muito esforço filosófico tem sido empregado em sujeitar a críticas
as doutrinas básicas teístas e sobrenaturalistas, ou em refinar e defender o teísmo. O
conceito de milagre tem recebido atenção significativa na filosofia. O cristianismo assevera
a realidade do aspecto milagroso e ressalta a importância dos milagres bíblicos para a fé
e doutrina cristãs, especialmente a concepção de Jesus Cristo no ventre de uma virgem e
a Sua ressurreição dentre os mortos. Os atos milagrosos de Cristo devem ser entendidos
como um sinal da Sua divindade. A obra monumental de Hume sobre o miraculoso, An Essay
Concerning Human Understanding (“Um Ensaio Sobre o Entendimento Humano”), na
seção X, retratou os milagres como contradições da nossa experiência “firme e inalterável”
na regularidade das leis naturais, tornando-os extremamente improváveis. É muito mais
provável que o relato do milagre seja falso. A crítica feita por Hume tem tido aceitação
generalizada numa era dominada pelo naturalismo. Até mesmo muitos cristãos têm estado
indispostos a atribuir muita importância aos milagres, e alguns até mesmo se desfazem
deles, por meio de explicações, ou preferem entender que são simbólicos.
Apesar disso, muitos pensadores cristãos concordam com C. S. Lewis que, em
Milagres: Um Estudo Preliminar (Editora Mundo Cristão) argumentou que uma mente
aberta deve aceitar a possibilidade de “interferências” divinas no curso normal da natureza.

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O Problema do Mal: A crítica mais poderosa do teísmo, tanto filosófica como
pessoalmente, surge do chamado problema do mal. Levanta-se um problema intelectual
relevante para o teísmo, em virtude do fato de se afirmar a existência de um Deus com
poder, sabedoria e bondade diante da existência de um mundo que, reconhecidamente, está
cheio de sofrimentos e males morais. Numa versão fraca, o problema do mal levanta uma
dificuldade persistente em se harmonizar o conceito tradicional de Deus com a existência
de tais males. Numa versão mais forte, como a proposta por J. L. Mackie, é visto como
uma refutação da existência de Deus, que chega a ser aquilo que Alvin Plantinga chamou
de “a teologia natural”. Em resumo, o âmago do problema do mal é o seguinte: Deus é
considerado ilimitado em poder, bondade e conhecimento. O mal, no entanto, existe, na
forma de sofrimentos imerecidos, perpetrados pelo homem e pela natureza: o vitimar sem
resistência, dos fracos pelos fortes, a peste, a guerra, a fome e outros horrores. Diante de
tudo isto, ou Deus é limitado em poder, bondade e conhecimento, ou Ele não existe de
modo algum; ou seja, ou Ele é incapaz ou está indisposto a remover o mal, ou Ele não tem
consciência de sua existência, nem das soluções para ele. O problema do mal pressupõe
que Deus não teria motivo algum para permitir o mal que, em última análise, pudesse
exceder em importância os efeitos negativos do mal. As respostas teístas tradicionais, ou
as teodiceias, concentraram-se nesta suposição. A “defesa segundo 0 livre arbítrio”, feita
por Agostinho, argumenta que Deus precisava permitir a possibilidade do mal, para que
pudesse criar seres livres, e um mundo de seres livres é superior a um mundo de autômatos.
Recentemente, John Hick, desenvolvendo uma sugestão de Ireneu, sugeriu que Deus nos
colocou num ambiente difícil que seria apropriado para desenvolver a maturidade espiritual
e moral nas Suas criaturas, em vez de criar um mundo com o máximo de conforto. Enquanto
Gottfried Leibniz procurou argumentar que todo mal neste mundo é necessário, teodiceias
atuais mais modestas, tais como a de Hick, restringem-se simplesmente a remover as bases
para as alegadas contradições, demonstrando que a pessoa pode afirmar coerentemente a
existência de Deus bem comova realidade do mal.
Ênfases Contemporâneas: Boa parte da filosofia da religião na atualidade focaliza
questões que dizem respeito ao emprego de linguagem na referência a Deus. Seguindo
Hume, filósofos contemporâneos, tais como A. J. Ayer e A. G. N. Flew têm levantado ques-
tões críticas a respeito da linguagem religiosa.
Em especial, têm argumentado que a conversa a respeito de Deus está tão
destituída de significado cognitivo como se fosse algaravia, visto que não se pode
comprovar empiricamente sua verdade ou falsidade. Também é de interesse na linha
contemporânea, a coerência lógica de Deus, conforme Ele é tradicionalmente entendido
no pensamento judaico-cristão.

Fonte: (FLETCHER, 2009, p. 176-178).

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Confissões
Autor: Agostinho de Hipona.
Editora: Penguin Editora.
Sinopse: Redigido no século IV, entre Antiguidade e Idade
Média, as Confissões de Agostinho de Hipona são ainda hoje um
livro surpreendente. Por um lado, pela densidade poética e pela
originalidade da escrita, e por inaugurar o gênero da autobiografia
como história da formação de uma personalidade, elas representam
um marco único na história da literatura ocidental. Por outro, Agostinho
elabora nelas uma nova maneira de fazer filosofia, estranha à
tradição antiga, por ser baseada não apenas em conceitos abstratos
e deduções, mas sobretudo na observação fina dos movimentos
psicológicos, das motivações interiores e do significado de pequenos
fatos e gestos cotidianos. O resultado é uma leitura incontornável
para todos os que se interessam por filosofia, história ou religião.

FILME/VÍDEO
Título: Cruzada
Ano: 2005.
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que
guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita
de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um
conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter
a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também à esta
meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um título
de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento,
Balian decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado
como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Si-
bylla (Eva Green), a irmã do rei.

WEB
A importância dos pós-escolásticos para a Escola Austríaca
Há uma discussão que insere mais um momento histórico dentro do
pensamento escolástico, a saber, o da Escolástica Tardia. Segundo
a historiografia, a pré-história da escola austríaca de economia
pode ser encontrada nas obras dos escolásticos espanhóis, mais
especificamente em seus escritos, no período conhecido como o
“Século de Ouro espanhol”, que decorreu de meados do século XVI
até o século XVII. Não é objetivo do capítulo fazer uma distinção
detalhada sobre esses pontos. Para um estudo mais aprofundado
sobre esta questão, acesse A importância dos pós-escolásticos
para a Escola Austríaca em: http://www.mises.org.br/Article.
aspx?id=1694.
Fonte: IORIO, Ubiratan Jorge. A importância dos pós-escolásticos
para a Escola Austríaca. Mises Brasil, 2013. Disponível em: http://
www.mises.org.br/Article.aspx?id=1694. Acesso em: 03 dez. 2021.

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Patrístico
(451 a1453)
(34 d.C a 451 d.C) 43
UNIDADE III
A Igreja no Período
Moderno (1453-1800)
Professor esp. Tiago Calazans Elias

Plano de Estudo:
● A Reforma na Alemanha (1514-1532);
● Outras reformas Protestantes e a Contrarreforma Católica (1532-1648);
● O protestantismo nos Estados Unidos (1638-1783);
● Principais temas e debates do período moderno.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a Reforma Protestante;
● Compreender as diferentes motivações que deram
origem as Reformas nos países Europeus;
● Estabelecer a importância da Reforma Protestante
para o surgimento do Mundo Moderno.

44
INTRODUÇÃO

Olá estudante!

Que alegria te reencontrar para mais uma etapa de nossos estudos em História
da Igreja. Em nossa terceira Unidade apresentaremos o surgimento do período moderno.
Tema muito estudado nas linhas de estudos nas ciências humanas, e que no caso da
teologia, abordaremos a partir da Reforma Protestante.
Não é unanimidade as demarcações temporais no estudo da História, dizer este
período começa e termina com tal evento, mas é bem aceito que a Reforma na Alemanha
foi um evento determinante na mudança que seria assistida nos anos posteriores.
A Reforma Protestante, recebe este título como um substantivo próprio, em que
é abordado as Reformas nos países da Europa. Sendo a mais conhecida, a Reforma na
Alemanha com Martinho Lutero em 1517, sendo essa também a primeira Reforma com
sucesso. Outras Reformas foram muito importantes, como na Suíça, Inglaterra e Países
da Escandinávia. No conjunto total da obra, atribuímos o nome de Reforma Protestante a
todos estes movimentos.
Além da Reforma Protestante, tema abordado no tópico I, será apresentada no
Tópico II as outras Reformas, na Suíça e Inglaterra, bem como a Contrarreforma Católica.
No tópico III, falaremos como o protestantismo esteve presente na colonização
inglesa na América do Norte e como o Novo Mundo conseguiu, mesmo em um tempo de
perseguição religiosa, ser um ambiente de liberdade para o florescimento de igrejas no
continente americano.
E no tópico IV, finalizaremos apresentando os três principais temas que surgem a
partir da Reforma, no campo intelectual o Iluminismo, no campo econômico, o capitalismo
e no campo social a política.

Bom estudo!

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1. A REFORMA NA ALEMANHA (1514-1532)

Por volta do ano 1500, a Europa já respirava áreas de mudanças em sua sociedade,
e não é possível destacar uma área em especial, que funcionou como mola propulsora para
as realizações que viriam, pois em todas as camadas existiam a inquietação da mudança. A
Reforma Protestante se tornou um ícone desta mudança, contudo elementos da conjuntura
precisam ser devidamente explorados.
Podemos começar, pela Peste negra, que assolou a Europa nos anos de 1347-
1348. A propagação da peste bubônica pela Europa foi devida as possibilidades de trânsito
rápido, conforme destaca Lindberg (2017),
Pelas melhorias nas frotas mercantes italianas, que permitiam aos navios
transportar, com rapidez, uma carga mortal e clandestina de ratos, portadores
de pulgas transmissoras da peste. Originada no leste da Ásia, a peste chegou
à Sicília em outubro de 1347 pelos navios de Gênova, viajou rapidamente
pela Itália, infestou o sul da Alemanha na primavera de 1348 e, por volta de
junho do mesmo ano, a Inglaterra (LINDBERG, 2017, p. 50).

Estima-se que cerca de 30% da população na região da Itália tenha morrido pela
peste, em que os efeitos eram sentidos em larga escala, desde que problemas com a
dependência de centro urbanos até mortes causadas por longas viagens.
Por sua vez, Cairns (1995) lista mudanças que já estavam em curso no Europa
antes mesmo de Reforma, e que tiveram componentes direta ou indiretamente ligados dos
as mudanças religiosas que viriam.

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(1) Mudanças geográficas. Com a expansão das navegações o homem europeu
passou a conhecer novas culturas. (2) Mudanças Políticas, a concepção do estado-nação
enfraquecia o poder Papal. (3) Mudanças Econômicas. (4) Mudanças sociais. Em 1500,
os negócios e a nova forma de fazer comércio mudavam o panorama social. (5) Mudanças
Intelectuais. A maneira intelectual dos renascentistas de questionar as religiões, favoreceu
a Reforma Protestante. (6) Mudanças Religiosas. A sociedade estava buscando ser
tolerante à diversidade religiosa. Estas igrejas, especialmente a anglicana e a luterana,
estavam em geral sob o controle dos governos das nações-estados. Só depois de 1648 é
que as denominações e a liberdade religiosa surgiram.
Além destes, é importante mencionar o espírito nacionalista que estava cada vez
mais forte neste período. As nações e principados, não estavam mais contentes em dividir
suas terras e riquezas com a Igreja, muito embora a Reforma na Alemanha tenha sim
surgido diante de uma emergência teológica, não podemos descartar o elemento político
que deu proteção para as ideias de Lutera em sua insurreição contra o Papa.
A conversão de Lutero, se deu de forma muito pessoal, conforme destaca Cairns (1995):
Durante uma perigosa tempestade numa estrada perto de Erfurt, prometeu
a Santa Ana tornar-se monge caso fosse poupado. Três semanas depois,
Lutero entrou num mosteiro agostiniano em Erfurt. Ai, em 1507, foi ordenado
e celebrou sua primeira missa. Em 1508 ensinou teologia por um semestre
na nova universidade, fundada em Wittenberg em 1502 por Frederico. No
inverno de 1510 e 1511, sua ordem o enviou a Roma a negócios. Lá ele viu um
pouco da corrupção e da luxúria da Igreja Romana e começou a compreender
a necessidade de uma reforma. Passou muito tempo visitando igrejas e
vendo as numerosas relíquias que estavam em Roma. Ficou chocado com a
leviandade dos sacerdotes italianos, capazes de rezar várias missas enquanto
ele rezava uma. Em 1511, Lutero foi transferido para Wittenberg. Durante o
ano seguinte, tornou- se professor de Bíblia e recebeu seu título de doutor
em teologia. Até a sua morte, ele conservou o cargo de professor de teologia.
Por esta época, também, ele celebrava missas no castelo onde descobrira a
justificação pela fé. Foi nesta universidade que ele e um grupo leal de
professores e alunos amigos aceitaram a fé que se espalharia por toda a
Alemanha. A leitura do verso 17 do capítulo 1 de Romanos convenceu-o de
que somente pela fé em Cristo era possível alguém tornar-se justo diante
de Deus. A partir daí, a doutrina da justificação pela fé e a sola scriptura,
a ideia segundo a qual as Escrituras são a única autoridade para o pecador
pro- curar a salvação, passaram a ser os pontos principais de seu sistema
teológico. Staupitz, a visita a Roma, os escritos dos místicos e os escritos dos
Pais, especial- mente os de Agostinho, exerceram uma influência significativa
na sua vida, mas foi o estudo da Bíblia que o levou a crer somente em Cristo
para sua salvação (CAIRNS, 1995, p. 234).

Em 1517, John Tetzel, começou a venda de indulgências próximo a Wittenberg.


Lutero e aqueles que o seguiam revoltaram-se contra a exploração e decidiram fazer um
protesto público, principalmente contra o serviço realizado por Tetzel.

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Foi então, que em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 Teses na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg, data do que chamamos hoje de Reforma Protestante. Nelas,
condenava os abusos do sistema das indulgências e desafiava a todos para um debate
sobre o assunto. Uma leitura das 95 Teses revela que Lutero estava apenas criticando os
abusos do sistema das indulgências, na intenção de reformá-lo (CAIRNS, 1995).
Vejamos um resumo da trajetória de Lutero após sua declarada oposição a Igreja
Católica.

QUADRO 1 – REALIZAÇÕES DE LUTERO

Conhece o fiel companheiro Filipe Melanchton,


1518 que lhe ajuda no braço intelectual da Reforma.

Lutero enfrenta Jonh Eck em um debate, e


1519 aparentemente Lutero se rende as ideias de
Eck.

Lutero publica três panfletos onde demostra


1520 estar ativo na crítica ao Papa e a Igreja Romana.

Lutero é excomungado pelo Papa Leão X e


Lutero queima a Bula de excomunhão em
1520
público.

Lutero fica recluso no castelo de Wartburg onde


1521-1522 começa a tradução da Bíblia para o Alemão.

Paz de Nuremberg - segundo esse acordo, era


permitido aos protestantes continuar com sua
1532 fé, mas estaria proibido a eles estendê-la a
outros territórios.

Fonte: (GONZÁLEZ, 2011).

No próximo tópico veremos a florescer da Reforma em outras nações europeias e


como foi a proposta de contrarreforma elaborada pela Igreja Católica.

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2. OUTRAS REFORMAS PROTESTANTES E A CONTRARREFORMA
CATÓLICA (1532-1648)

Muitas vezes, utilizamos a expressão Reforma Protestante, para denominar


mudanças ocorridas na sociedade europeia, no século XVI, contudo, não podemos perder
de vista, que, além da Reforma Alemã, a Europa teve várias Reformas nas principais nações,
França, Inglaterra, Países Baixos, Suíça e Escandinávia. Está ampliação de movimentos
reformistas, não teve um desenvolvimento homogêneo, mas perceberemos ao ler sobre o
período, que cada nação deve seus próprios interesses nas Reformas, e consequências
locais bem distintas uma das outras. Devido ao espaço para desenvolvermos o nosso
assunto, focaremos em três movimentos reformistas: A Reforma Suíça, Inglesa Radical e
Contrarreforma Católica. Vejamos o contexto da Reforma Suíça:
A Reforma Suíça, tem início por meio do reformador Ulrico Zuílglio, que
estudou nas universidades de Viena e da Basiléia antes de se dedicar ao
trabalho paroquial no leste da Suíça. Ele desenvolveu interesse profundo pelo
programa do Humanismo cristão, especialmente pelos escritos de Erasmo e
passou a crer firmemente na necessidade de reforma na igreja de sua época.
Em 1519, aceitou um cargo de ministério pastoral na cidade de Zurique na igreja
mais importante da cidade, para divulgar um programa de reforma. A princípio
Zuínglio tinha a preocupação central desse programa era a reforma da moral
da igreja. No entanto, não demorou a se ampliar de modo a incluir críticas à
teologia corrente da igreja, especialmente sua teologia sacramental. O termo
“zwingliano” é usado especialmente para se referir à convicção, associada
a Zwinglio, de que Cristo não se encontra presente na eucaristia, sendo que
esta deve ser considerada, mais apropriadamente, uma lembrança da morte
de Cristo. Zwinglio foi extremamente importante para a propagação inicial
da Reforma, especialmente na região leste da Suíça. Todavia, nunca chegou
a causar o mesmo impacto que Lutero ou Calvino, faltando-lhe a criatividade
do primeiro e a abordagem sistemática do último (MCGRATH, 2007, p. 185).

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Outro grande nome dos processos de Reforma pós Lutero é o de João Calvino
(1509-1564), conforme é bem apresentado por McGrath (2007),
nasceu em Noyon, a nordeste de Paris, em 1509. Estudou na Universidade de
Paris, um meio acadêmico dominado pelo Escolasticismo, e se mudou depois
para a universidade humanista de Orléans, onde estudou direito civil. Apesar
de se mostrar inicialmente interessado em uma carreira acadêmica, com vinte
e poucos anos teve uma experiência de conversão que o levou a se associar
cada vez mais aos movimentos de reforma em Paris que, por fim, provocaram
o exílio de Calvino na Basiléia.  A segunda geração de reformadores tinha
uma consciência muito maior do que a primeira da necessidade de criar uma
teologia sistemática. Calvino, a figura central do segundo período da Reforma,
viu a necessidade de uma obra que apresentasse claramente as ideias da
teologia evangélica, justificando-as com base nas Escrituras e defendendo-
as diante da crítica católica. Em 1536, ele publicou uma obra curta chamada
Institutas da Religião Cristã com apenas seis capítulos. Durante os vinte e
cinco anos seguintes, Calvino trabalhou nesse texto, acrescentando capítulos
e reorganizando seu conteúdo (MCGRATH, 2007, p. 186).

O ministério de Calvino foi profícuo, começando de forma inusitada, e se


tornando uma das maiores referências intelectuais do protestantismo, conforma esclarece
pertinentemente McGrath (2007),
Depois de encerrar suas atividades em Noyon no início de 1536,
Calvino decidiu se acomodar numa vida de estudo particular na grande cidade
de Estrasburgo. No entanto, o caminho de Noyon para Estrasburgo estava
interditado em virtude da eclosão da guerra entre Francis I da França e o
imperador Carlos V. Assim, Calvino teve de fazer uma longa volta, passando
pela cidade de Genebra que havia acabado de obter a independência da
cidade vizinha de Savóia. Nessa época, Genebra se encontrava num
estado de confusão, tendo acabado de expulsar seu bispo local e iniciar um
programa controverso de reforma dirigido pelos franceses Guillaume Farei
e Pierre Viret. Ao ficarem sabendo que Calvino estava na cidade, exigiram
que ele ficasse lá e ajudasse na causa da Reforma, pois precisavam de
um mestre competente. Relutante, Calvino concordou em ficar. Suas
tentativas de fornecer à igreja de Genebra uma base sólida de doutrina e
disciplina foram recebidas com resistência intensa. Depois de uma série
de desentendimentos, os problemas culminaram com os acontecimentos
da Páscoa 1538. Calvino foi expulso da cidade e tentou se refugiar em
Estrasburgo. Chegando em Estrasburgo dois anos depois do planejado,
Calvino começou a compensar pelo tempo perdido. Produziu em sucessão
rápida uma série de obras teológicas relevantes e, talvez o que foi mais
importante, revisou e expandiu suas Institutas (1539) e produzia a primeira
tradução em francês dessa obra (1541). Como pastor de uma congregação
de língua francesa, Calvino adquiriu experiência sobre os problemas práticos
que os pastores reformados estavam enfrentando. Através de sua amizade
com Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, Calvino pôde desenvolver
suas ideias sobre a relação entre a cidade e a igreja. No tempo que Calvino
passou fora de Genebra, a situação religiosa e política se deteriorou. Em
setembro de 1541 a cidade pediu que ele voltasse e restaurasse sua ordem
e segurança. O Calvino que regressou a Genebra era um rapaz mais sábio e
experiente, muito mais preparado para as tarefas que o esperavam na cidade
do que quando havia trabalhado lá três anos antes. Sua experiência em
Estrasburgo conferiu um novo realismo à sua teorização acerca da natureza
da igreja, fato que se refletiu em seus escritos subsequentes nessa área.
Antes de seu falecimento em 1564, Calvino havia transformado Genebra no
centro de um movimento internacional que passou a levar o nome de
seu expoente. Ainda hoje, o calvinismo é um dos movimentos intelectuais
mais vigorosos e relevantes da História (MCGRATH, 2007, p. 184).  

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Diferentemente das Reformas que ocorreram na Alemanha e na Suíça, ambas
com um viés antissistema, a Reforma da Inglaterra aconteceu por parte da monarquia de
Henrique VIII, rei de 1509 a 1547, cuja as motivações se misturam entre interesses pessoais
e políticos. Henrique VIII era um soberano elegante, generoso, forte, culto, conhecedor de
teologia e bom músico; falava latim, francês e espanhol tão bem quanto o inglês (CAIRNS,
1995). Através de casamentos estratégicos, seu pai relacionou sua linhagem com as
famílias reais importantes da Europa. Sua filha Margaret se casou com James da Escócia.
(Seu neto, James VI da Escócia, seria James I da Inglaterra, em 1603). Seu filho Artur
se casou com uma princesa espanhola, Catarina de Aragão Morto Artur, o avarento rei.
Para não perder o dote de Catarina, persuadiu o papa a conceder uma dispensa para que
ela se casasse com Henrique, o irmão mais novo de Artur. Henrique e Catarina tiveram
uma filha, que mais tarde reinaria como Maria Tudor. Percebendo que não teria filho
homem neste casamento, Henrique se afligiu, por entender que a Inglaterra precisava
de um monarca homem para substituí-lo na direção do país em período de turbulência
internacional. A aprovação dos Seis Artigos pelo Parlamento, em 1539, foi a evidência de
que Henrique VIII apenas desatara o laço eclesiástico entre a Igreja da Inglaterra e Roma;
estes artigos reafirmavam a transubstanciação, a Comunhão sob uma espécie, o celibato e
a confissão auricular. Em teologia, a Igreja da Inglaterra continuava fiel a Roma. Henrique
fizera concessões à reforma, em 1536, ao promulgar os Dez Artigos e ao autorizar uma
tradução inglesa da Bíblia. A Grande Bíblia, publicada em 1539 como uma revisão do
trabalho de Tyndale e Coverdale, foi chamada também de “Bíblia Acorrentada”, porque era
acorrentada aos púlpitos de muitas igrejas. Quando o perigo de ataque estrangeiro cessou,
Henrique novamente impôs os Seis Artigos reacionários, em 1539.
Neste ínterim, Henrique já se fartara de Ana Bolena, especialmente porque o filho
esperado era uma menina, a quem dera o nome de Elizabeth. Em 1556, Ana foi julgada e
decapitada sob a acusação de adultério. Henrique casou-se em seguida com Jane Seymour
com quem teve um filho antes que ela morresse. Depois, ele se casou com Ana de Cleves,
de quem se divorciou, com Catarina Howard, a quem executou, e com Catarina de Parr,
que teve a sorte de sobreviver a ele. Henrique libertou a igreja do papado e colocou-a sob
o controle real como uma igreja estatal, nascendo a partir daí a igreja Anglicana. Por sua
expressa vontade, ficou estabelecido que, após sua morte, seu filho, Eduardo, reinaria,
Eduardo seria seguido por Maria, filha de Catarina de Aragão, e Maria por Elizabeth, filha de
Ana Bolena. Quando finalmente Henrique morreu, a igreja inglesa era uma igreja nacional
dirigida pelo rei, mas católica romana na doutrina.

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A Bíblia, porém, estava à disposição do povo em sua própria língua. O filho de
Henrique, Eduardo, executou a fase religiosa da Reforma que seu pai começara como um
movimento eclesiástico, entre 1527 e 1547 (MCGRATH, 2007).
Um fenômeno que surge após os movimentos reformistas na Inglaterra, Suíça e
Alemanha, foram tentativas de outras reformas dentro da própria Reforma. Estes dissidentes,
tinham como objetivo comum, a separação da igreja do estado, como no caso dos puritanos
na Inglaterra, a revisão sobre forma de batismo, pelos anabatistas na Suíça e na promoção
de uma vida mais simples e devota, como no caso dos pietistas na Alemanha. Todos estes
movimentos foram intensamente perseguidos tanto pela vertente reformista quanto pelo
catolicismo. Esta radicalização religiosa, levou muitos perseguidos para o Novo Mundo,
buscar uma vida de liberdade e oportunidades.
A Reforma Protestante, foi responsável por mudanças importantes no catolicismo,
o que é chamado de contrarreforma católica. Percebendo a importância de rever algumas
de suas práticas, a Igreja Católica, no Concílio de Trento, o catolicismo buscou esclarecer
seus ensinamentos acerca de várias questões confusas e introduziu mudanças há muito
necessárias na conduta do clero, disciplina eclesiástica, educação religiosa e atividade
missionária. Foi um movimento de reforma e também avivamento na Igreja. A Reforma
católica acabou com vários outros abusos que haviam levado tanto humanistas quanto
protestantes a exigirem mudanças (CAIRNS, 1995). Desta forma, enquanto o protestantismo
surgido a pouco tempo, tivesse a vantagem de ser algo novo, estava condicionado a se
dividir, pelo próprio movimento teológico que gerou, formando assim as multidenominações.
Já o catolicismo, permaneceu unido e muito forte, principalmente nos países ibéricos, como
Itália, Espanha e Portugal.
Depois de 30 anos de guerras nos estados internacionais (1618-1648) a Paz de
Westfália em 1648, na qual as principais igrejas da religião cristã estavam estabelecidas.
Temos uma fase inédita na Europa, onde secularismo, e a força dos estados independentes
foram os catalisadores do Mundo Moderno.

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3. O PROTESTANTISMO NOS ESTADOS UNIDOS (1638-1783)

O século XVI, além das ações reformistas, foi um período marcado pelas grandes
expedições colonizadores, nas Índias e América. Foram vários os motivos que estimularam
a colonização anglo-saxônica ao longo da costa atlântica da América do Norte. A fundação
de colônias também ajudaria a descartar para o novo Mundo a ameaça militar da Espanha.
A motivação religiosa foi extremamente importante no estabelecimento de colônias.
Cristianismo foi levado para a América do Norte principalmente pelos refugiados que
estavam tentando escapar das perseguições religiosas endêmicas na Europa da época.
Em 1620, os primeiros peregrinos navegaram para Plymouth. Entre 1627 e 1640, cerca de
quatro mil pessoas fizeram a travessia perigosa do oceano Atlântico e se estabeleceram na
baía de Massachusetts conforme destaca Cairns (1995),
A maioria das cartas de viagem menciona o desejo dos financiadores de
converter os nativos e estender o domínio cristão. Em outros casos, como o
dos puritanos de Plymouth e Salém, os colonizadores estavam interessados
em cultuar ao seu modo segundo julgavam melhor. Assim, a mudança de
ingleses, franceses, espanhóis, suecos e holandeses para os Estados
Unidos não pode ser dissociada do transplante da religião que praticavam
na sua terra natal. A maioria deles era calvinista. O instrumento usado nesta
mudança de pessoas eram as sociedades anônimas, precursoras das
grandes empresas contemporâneas. Foram elas que possibilitaram a
arrecadação de grandes somas de dinheiro, necessário para financiar
tais empreendimentos (CAIRNS, 1995, p. 309).

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Os primeiros colonos na América do Norte eram, em geral, indivíduos profundamente
comprometidos com suas convicções cristãs,
A maioria era de protestantes de língua inglesa, mas uma exceção importante é o
caso de Maryland, um encrave católico durante a década de 1630. A comunidade
católica dessa região só expandiu no século 19 com a chegada de um grande
número de imigrantes católicos da Irlanda e Itália (MCGRATH, 2009, p. 235).

QUADRO 2 - DENOMINAÇÕES NAS COLÔNIAS AMERICANAS


A Igreja Anglicana se tornou a Igreja oficial de
1702 Maryland.

Thomas Hooker se separa dos puritanos e forma


1633 uma congregação independente.

Os espanhóis introduziram o catolicismo em Maryland


1634

Os Quakers surgiram em Boston.


1656

Francis Makemi um irlandês que chegou as colônias e


1683 tornou-se o pai do presbiterianismo norte-americano.

Metodismo foi introduzido as treze colônias por Ro-


bert Strawbridge em Maryland e por Philip Embury e
1760
Capitão Webbem Nova Iorque.

Fonte: (CAIRNS, 1995).

Os avivamentos são uma característica do cristianismo norte-americano. A


necessidade de alcançar os não crentes e a necessidade de fortalecer os crentes parecem
ter motivado estes avivamentos espirituais. Estes movimentos parecem ter ocorrido em
várias épocas, conforme o quadro abaixo.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 54


QUADRO 3 - AVIVAMENTOS NAS COLÔNIAS AMERICANAS
O Grande Avivamento, mais calvinista começou com a
pregação de Theodore Frelinghuysen as congregações
1726
holandesas reformadas de New Jersey.

Jonathan Edwards, formado precocemente por Yale, em


1720. Aos 17 anos, tornou-se pastor em Northampton, no
1703-1758 Oeste de Massachusetts, em 1727. Embora lesse seus
sermões, sua simplicidade de vida e de oração exerceu
grande impacto sobre sua gente.

George Whitefield, começou por esta época em Boston,


onde sua pregação obteve sucesso, como obteria também
1714-1770 em Nova Inglaterra. Quando Edwards perdeu o púlpito em
1750, trabalhou oito anos como missionário entre os índios.

Samuel Davies, foi o líder do avivamento entre os presbi-


terianos de Virginia. Ele iniciou com a leitura de literatura
1723-1761
religiosa por Samuel Morris para seus vizinhos, em sua
“casa de leitura”.
David Brainerd, que com grande sacrifício pessoal,
empenhou-se na obra missionaria entre os índios.
1718-1747 Whitefield fundou um orfanato em Bethesda, Geórgia;
muitas outras entidades humanitárias devem sua origem
ao avivamento

Fonte: (CAIRNS, 1995).

O término da guerra de revolução Americana em 1783 trouxe importantes resultados


para a religião. A influência da igreja contribuiu para a inserção na Primeira Emenda à
Constituição de dispositivos que proibiam a oficialização de qualquer igreja e que garantia o
direito ao livre exercício da religião. Outra consequência foi a separação de igreja e estado
em que a igreja fosse oficial. O processo de separação acabou em 1786 pelos esforços de
Thomas Jefferson, que fez com que a Igreja Anglicana perdesse sua posição privilegiada na
Virginia. As igrejas congregacionais de New Hampshire em 1817, Connecticut em 1818 e
Massachusetts em 1833 separaram-se do estado (CAIRNS, 1995). Este panorama mostra o
motivo dos Estados Unidos ser por muitos anos, a país mais protestante e liberal do Mundo.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 55


4. PRINCIPAIS TEMAS E DEBATES DO PERÍODO MODERNO

O período Moderno marca uma mudança significativa: a saída do mundo feudal para
a sociedade industrializada, mudanças na política, surgimento de países independentes,
novas descobertas científicas, descobrimentos de continentes e florescimento do capitalismo.
Devido ao nosso espaço, identificaremos três grandes temas do período moderno, todos
eles relacionados com a Reforma Protestante. Primeiro o Iluminismo, segundo o capitalismo
e terceiro as transformações políticas e sociais.
O Iluminismo, conforme McGrath possui a seguinte definição:
“Iluminismo” é um termo vago e difícil de definir com precisão que engloba um
conjunto de ideias e atitudes características do período entre 1720-1780, como
o uso livre e construtivo da razão na tentativa de demolir mitos antigos que, para
muitos, eram cadeias que prendiam os indivíduos e sociedades à opressão do
passado. Se há um elemento subjacente comum em todo o movimento, talvez
se refira mais à maneira como os simpatizantes dessa cosmovisão pensavam,
do que ao conteúdo de seu pensamento (MCGRATH, 2007, p. 38).

O Iluminismo é considerado uma época em que o homem passa a ser esclarecido


ou iluminado, valoriza o pensamento crítico, principalmente a respeito das religiões e
seu aspecto repressor. O Iluminismo foi, em sua maior parte, um fenômeno europeu e
americano e, portanto, ocorreu em culturas nas quais a forma de religião numericamente
mais expressiva era o Cristianismo. Trata-se de uma observação histórica importante: a
crítica do Iluminismo à religião em geral foi, com frequência, particularizada como uma
crítica ao Cristianismo em geral. Foram as doutrinas cristãs que passaram por avaliações
críticas realizadas com um vigor sem precedentes (MCGRATH, 2007).

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O sistema de pensamento foi se distanciando das ideias religiosas produzindo
um Europa secularizada. A Revolução Francesa (1789-1799) é o produto deste sistema.
No campo da teologia, houve mudanças produzidas pela teologia liberal, um sistema que
questionava o método histórico gramatical, afirmando suas limitações de caráter científico
e a utilização de um novo método que atendesse as exigências epistemológicas daquele
tempo, método este chamado de histórico crítico.
Em relação ao capitalismo, Max Weber (1864-1920) realizou um trabalho único,
vinculando a premissa protestante de corte calvinista com a ascensão do capitalismo,
O domínio do Calvinismo, como o introduzido no século 16 em Genebra e
na Escócia, na passagem do século 16 para o século 17 em grande parte
dos Países Baixos, no século 17 na Nova Inglaterra, e, por algum tempo, na
própria Inglaterra, seria, por sua vez, a forma mais insuportável de controle
eclesiástico do indivíduo que até então já pôde existir (WEBER, 1987, p. 20).

Segundo Weber (1987), o método calvinista de produção de trabalho, gerou acúmulo


de riquezas e necessidade de bancos que administrassem os bens. O fortalecimento da
propriedade privada e investimento industrial e tecnológico, foi catalisador para a primeira
revolução industrial, que afastou definitivamente a Europa e Estados Unidos do antigo
sistema feudal.
A política e sociedade. Sem dúvida podemos afirmar que a Reforma mudou a face
política da Europa, parte por meio das mudanças sociais e políticas que gerou e parte por
causa de algumas novas ideias perigosas que desencadeou numa Europa confiante. Várias
crenças que até então haviam contribuído para a estabilidade política e social da Europa
ocidental foram questionadas. Uma dessas crenças se relaciona com a “irrefutabilidade”
das estruturas sociais existentes. Conforme afirma McGrath (2014, p. 294):
[...] argumentam que a Reforma - e mais especificamente o desenvolvimento
do calvinismo - foi instrumental para efetuar a transição da noção medieval de
ordem mundial, fundada sobre ‘uma ordem imaginada como natural e eterna’,
para uma ordem moderna fundada sobre mudanças.

Vivemos ainda hoje em um mundo de mudanças em que afirmamos ainda mais


a pergunta: onde a tradição reformada encontrará lugar nesta nova época? Pensar em
termos de cosmovisão desde a reforma implica em dizer que o calvinismo forneceu uma
ideologia de transição e mudança, em que a posição da pessoa no mundo e declarada
estar baseada, pelo menos em parte, nos seus esforços, um mundo de potenciais em
ação – decisão e destino. Estas duas palavras vão dar o tom do pensamento reformado,
somos chamados responsavelmente a tomar decisão, que sempre produzira um destino.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 57


Não é difícil perceber o quanto essa sugestão seria atraente para os camponeses
franceses - de fato, para toda a burguesia europeia. Para uma classe social frustrada pela
sua incapacidade de progredir significativamente numa sociedade dominada pela tradição
e laços familiares, a doutrina da mutabilidade fundamental das ordens sociais existentes
exerceu considerável atração.
A Reforma Protestante mudou a Europa e Estados Unidos. Seu impacto condensa
transformações políticas, sociais, religiosas, teológicas, econômicas. No campo intelectual,
o Moderno foi caracterizado pela crítica, questionamento e ênfase na razão. O avanço
científico, as conquistas sobre algumas doenças, desenvolvimento de máquina e armas
cresceram vertiginosamente. Mas um efeito colateral seria inevitável, conflitos pelo domínio
destas conquistas, mas para este estudo, destinamos os desdobramentos do moderno
para a próxima unidade.

SAIBA MAIS

Maria, a sanguinária

Maria sempre foi católica, e para ela o movimento reformador começou com a desonra da
qual foi objeto em sua juventude, quando foi declarada filha ilegítima. Logo, o propósito
de restaurar a velha fé sempre esteve em sua mente. Para isso, contava com o apoio de
vários dos bispos conservadores, que foram destituídos nos dois reinados anteriores, e
de seu primo Carlos V. Contudo, logo apercebeu-se que era necessário proceder com
cautela; assim, durante os primeiros meses de seu reinado, ela se contentou com uma
série de medidas relativamente leves, enquanto consolidava sua posição casando-se
com Filipe, da Espanha. Tão logo se sentiu segura sobre o trono, a rainha começou a
tomar medidas cada vez mais repressivas contra os protestantes. Em fins de 1554, a
Inglaterra regressou oficialmente à obediência ao papa. Todavia, deveria ser desfeito
aquilo que fora feito por seu pai e seu meio-irmão; assim se ditaram várias leis ab-rogando
as ações do Parlamento sob Henrique VIII e Eduardo VI, obrigando os sacerdotes
casados a separarem-se de suas esposas, ordenando que se guardassem todos os
dias santos e demais datas tradicionais etc. De tais medidas, passou-se à repressão
aberta. Diz-se que 288 pessoas foram queimadas durante o reinado de Maria por
manter suas posições protestantes, além de muitos outros que morreram nos cárceres
ou no exílio. Tudo isso lhe valeu o epíteto pela qual ela é conhecida: “Bloody Mary”, ou
seja, Maria, a Sanguinária. De todos os mártires do reinado de Maria, o mais ilustre foi
sem dúvida alguma o arcebispo Cranmer. Por ser arcebispo de Cantuária, seu caso foi
enviado a Roma, em que foi condenado a morrer queimado. O propósito da rainha era
obrigar o célebre chefe do partido reformador a retratar-se. Com cruel intenção, se lhe
permitiu presenciar desde a prisão até o martírio de dois dos seus mais importantes
companheiros na causa reformadora, os bispos Latimer e Ridley. A seguir, Cranmer
assinou uma série de retratações. Até o dia de hoje, os historiadores não concordam se
ele fez isso por temer a fogueira ou porque foi forçado pela rainha, pois ele sempre havia
dito que era necessário obedecer aos soberanos. O mais provável é que nem o próprio
Cranmer conhecesse seus reais motivos. O fato é que se retratou por escrito e, apesar
disso, foi condenado de qualquer maneira a ser queimado. “para que sirva de exemplo”,
e se fizeram apelos para que se retratasse publicamente antes do suplício. Na igreja
de Santa Maria, construíram uma plataforma de madeira defronte ao púlpito; depois do
sermão, deu-se oportunidade a Cranmer para retratar-se. Começou falando dos seus
pecados e fraquezas, e todos esperavam que terminaria dizendo que havia pecado ao
apartar-se da igreja romana.

Fonte: GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo: da era dos reformadores até a era
inconclusa. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011. (p. 76-18).

REFLITA

Pronunciamento do Arcebispo Thomas Cramner, na ocasião do seu sentenciamento


pela fogueira, onde ele não se retrata perante a rainha Maria Tudor:

“Há um escrito contrário à verdade que tem sido publicado, e que agora repudio porque
foi escrito por minha mão contra a verdade que meu coração conhecia. [...] E diante do
fato que foi minha mão que a ofendeu, ao escrever contra meu coração, minha mão será
castigada primeiramente. Quando eu estiver na pira será ela que primeiro arderá”.

Fonte: GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo: da era dos reformadores até a era
inconclusa. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011. (p. 76-18).

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 59


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parabéns por ter chegado ao final de mais uma unidade.

Demos um passo importante na compreensão dos processos de modernização


do mundo, sendo a Reforma Protestante como este catalisador, verificamos a origem das
grandes denominações históricas, alguns dos processos ainda permanecem polêmicos,
principalmente quando relacionado a intolerância religiosa.
Este período ajuda a comprovar que uma mudança, poderá escalonar uma sequência
de transformações, como se deu no cenário europeu e com consequências na América.
Portanto, conhecer este passado é conhecer a origem da nossa própria história
enquanto fruto do iluminismo, capitalismo e sociedade moderna.

Até a próxima.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 60


LEITURA COMPLEMENTAR

1525: Fim da Guerra dos Camponeses

Com a decapitação do teólogo Thomas Müntzer, no dia 27 de maio de 1525,


terminava a rebelião dos camponeses contra os senhores feudais, que causou a morte de
pelo menos cinco mil pessoas na Alemanha.
Em 1524, os camponeses alemães se revoltaram contra os senhores feudais,
para os quais eram obrigados a trabalhar. A crise do sistema feudal havia modificado a
situação da população rural. Liderada por Thomas Müntzer, um pastor da Saxônia, a revolta
camponesa alastrou-se pelos campos e cidades da Alemanha.
Os revoltosos baseavam-se na Bíblia para afirmar que os camponeses nasceram
livres e reivindicavam a livre escolha dos líderes espirituais, a abolição da servidão, a
diminuição dos impostos sobre a terra e a liberdade para caçar nas florestas pertencentes à
nobreza. Lutero condenou o movimento dos camponeses, apoiando os príncipes e nobres.
Nascido em 1489, Müntzer estudou pelo menos três idiomas na Universidade de Leipzig e,
mais tarde, Teologia em Frankfurt do Oder (no leste da Alemanha). A partir de 1514, passou
a ter contato com as ideias do reformador Martinho Lutero.

Conflito com Lutero

Como pregador na paróquia de Zwickau, no leste do país, Müntzer passou a


divulgar as teorias da Reforma. Ao contrário de Lutero, ele acreditava que as pessoas
simples entendiam muito melhor sua pregação que os nobres e ricos. Sua conclusão de
que a Igreja sempre estava ao lado dos ricos e poderosos levou ao conflito com Lutero e
seus seguidores, sendo afastado da paróquia em 1521.
Ao lado do estudante Markus Stübner, o pastor Müntzer começou a seguir os
passos do “pregador rebelde” Jan Hus, de Praga. Era a época do florescimento da Reforma
pregada por Lutero. Usando seu talento de orador, Müntzer tornou-se figura carismática
na pregação dessas ideias. Depois que se estabeleceu no pequeno povoado de Allstedt,
Müntzer começou a atrair inclusive pessoas de outras localidades.
Sua intenção de falar uma linguagem acessível aos servos representava uma
ameaça aos senhores feudais. Seis meses depois da chegada de Müntzer à pequena
Allstedt, o conde Ernst von Mansfeld proibiu seus trabalhadores de frequentarem os
ofícios religiosos do pastor.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 61


Mas o teólogo e suas ideias ganhavam força. Em 1524, seu movimento secreto
Aliança de Allstedt contava com 30 membros. Poucos meses depois, já eram 500. As ideias
eram divulgadas em publicações feitas na gráfica de Müntzer.

A batalha final

O movimento das camadas plebeias da população ganhava força também em


outras regiões. Os levantes e as inquietações, entretanto, ainda eram localizados, em geral
organizados por agricultores e servos dos centros urbanos.
Ainda em 1524, os camponeses do sul da Alemanha se aliaram ao levante. Müntzer
começou a migrar por todo o país, apoiando a rebelião. Em fevereiro de 1525, a revolta armada
havia se espalhado por todo o sul do país e começava a se alastrar para o norte e leste.
Os lavradores, porém, não tiveram chances contra os soldados, armados e
experientes. Na batalha de Frankenhausen, em maio de 1525, os camponeses foram
cercados e mortos aos milhares. O teólogo acabou preso e, sob tortura, foi obrigado a
negar suas teorias. Por fim, ele foi decapitado. Sua cabeça foi pendurada como troféu nos
portões de entrada de Frankenhausen.
Os vencidos permaneceram sob o jugo dos senhores feudais e mantidos na
condição de servos, reforçada pelo princípio luterano da passiva submissão à autoridade.
Os seguidores de Müntzer passaram a ser conhecidos como “anabatistas”, por rejeitarem
o batismo.

Fonte: WD MADE FOR MINDS. 1525: Fim da Guerra dos Camponeses. 27


de maio de 2016. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/1525-fim-da-guerra-dos-
camponeses/a-542971 Acesso em 04/12/2021. Acesso em: 14 dez. 2021.

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 62


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Livro: O Processo Civilizador
Autor: Norbert Elias
Editora: Zahar
Sinopse: Nesta obra-prima fascinante e muito acessível, Norbert
Elias analisa a história dos costumes, concentrando-se nas
mudanças das regras sociais e no modo como o indivíduo as
percebia, modificando comportamento e sentimentos. Elias buscou
informações em livros de etiquetas e boas maneiras, desde o século
XIII até o presente, para mostrar que nossos hábitos se colocam
em um determinado estágio de uma evolução milenar. O autor
prova que desde a Idade Média, em que o controle das pulsões
era bastante reduzido, até os nossos dias, as classes dirigentes
foram lentamente modeladas pela vida social, e a espontaneidade
deu lugar à regra e à repressão na vida privada.

FILME/VÍDEO
Título: Lutero
Ano: 2013
Sinopse: Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero
(Joseph Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se
junta ao monastério, mas logo fica atormentado com as práticas
adotadas pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma
igreja suas 95 teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado
para que se redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas
teses e desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas
e contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e
inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e
que eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=b2CawpNUXww

UNIDADE III A Igreja no Período Moderno (1453-1800) 63


UNIDADE IV
A Igreja no Período
Contemporâneo (Séculos XX e XXI)
Professor esp. Tiago Calazans Elias

Plano de Estudo:
● O cristianismo na Europa no século XX;
● O catolicismo no Brasil (séculos XX e XXI);
● O protestantismo no Brasil (séculos XX e XXI);
● Principais temas e debates do período contemporâneo.

Objetivos da Aprendizagem:
● Definir os conceitos de sistemas teológicos e
ideologias políticas dos séculos XX e XXI;
● Compreender as divisões da Igreja, o movimento racionalista
e as pautas sociais típicas dos séculos XX e XXI;
● Estabelecer a importância do estudo do cristianismo brasileiro
e suas versões características da nossa cultura.

64
INTRODUÇÃO

Olá Caro (a) estudante!

Chegamos enfim na última Unidade do nosso material didático. Espero que o


estudo desta Unidade lhe motive a descobrir inúmeras possibilidades de estudos no
período contemporâneo.
O período contemporâneo é visto como o pós-moderno. Depois da emancipação
do homem em relação aos sistemas eclesiásticos confessionais, o avanço da ciência andou
em cem anos, mais do que quase todo o período Medieval. Nesta Unidade escolhemos
alguns destes tópicos para apresentarmos.
No tópico I, faremos uma abordagem sobre o cristianismo no continente Europeu,
com o declínio e posterior reavivamento do catolicismo, as relações entre o pensamento
teológico e o racionalismo, também a participação da igreja nos eventos marcantes do
século XX, como as duas grandes guerras mundiais. No tópico II, será apresentado um
panorama do catolicismo no Brasil, com sua esmagadora força no período imperial, declínio
na Nova República e reavivamento após o Segundo Concílio Vaticano.
No tópico III será inserido o protestantismo no Brasil, a começar pelo enfraquecimento
das tentativas de povoamento protestante no período colonial, a inevitável chegada
dos missionários de missão protestantes ao longo do século XX, e as novas tendências
teológicas no contexto latino-americano e brasileiro.
E no tópico 4 será apresentado os temas e debates teológicos do século XX e XXI, tais
como, liberalismo teológico, radicalismo político, teologias identitárias e o pentecostalismo
assumindo um protagonismo na evangelização brasileira.

Bom estudo!

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 65


1. O CRISTIANISMO NA EUROPA NO SÉCULO XX

A Revolução Francesa (1789 e 1799) foi responsável por mais um duro golpe na
relação entre a Igreja Católica e o Estado, perdendo apoio político na Europa até 1914. O
Estado não reconheceria nenhuma religião em particular. Desse modo, a Igreja Romana
perdeu a privilégios. O papa denunciou a nova legislação, mas sua denúncia em nada
afetou a execução da lei (CAIRNS, 1995).
A partir de 1914, iria parecer caótico para um europeu do período entre a Revolução
Francesa e a Primeira Guerra Mundial. A chave para uma mudança drástica no Mundo estava
se deflagrando. Desordem nos negócios internacionais e da insegurança que o povo sentia em
relação às questões econômicas. As várias vozes religiosas confrontadas com o Cristianismo
seriam uma matéria de profunda preocupação religiosa, a Revolução Russa, o Comunismo
da China, Primeira e Segunda Guerra Mundial, marcariam a primeira metade do século XX. O
Estado territorial nacional, que fora apoiado pelos núcleos Reformados, na Europa, tornou-se
extremamente secularizado. Adotou, nos Estados Unidos, uma atitude neutra para com a
religião, como definida pela Suprema Corte, e, no caso de estados esquerdistas e totalitários,
uma atitude hostil e mesmo, em muitos casos, de severa perseguição (CAIRNS, 1995).
Entre 1900 e 1914 a Igreja Cristã na Europa, percebendo o cenário ameaçador,
buscou formas de estabelecer a paz. A teologia liberal e o Evangelho Social, ao
ressaltarem a paternidade de Deus e a fraternidade do homem, ajudaram a promover
esses esforços pela paz mundial. Grupos pacifistas também marcaram sua presença
entre os movimentos de paz.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 66


O otimismo em relação à paz terminou com a deflagração da Primeira Grande
Guerra em 1914, embora as igrejas norte-americanas tenham apoiado a declaração de
neutralidade. Elas culparam a Alemanha e seus aliados pela guerra, mas ao mesmo tempo
achavam também que a avareza, a imoralidade e a negligência pelas coisas espirituais
na Europa tinham contribuído para o surgimento da guerra. Enquanto a Cruz Vermelha
atendia aos necessitados, os Estados Unidos se mantinham longe da guerra e até da paz
(CAIRNS, 1995).
Mesmo antes da Segunda Guerra, as igrejas de países totalitários como
a Alemanha, forçadas a guardar silêncio acerca de temas políticos e a se dedicarem à
mensagem espiritual do cristianismo, e sincretizar o dogma totalitário com a fé cristã,
tiveram que optar por conviverem com o estado totalitário ou se oporem a ele, incorrendo
na consequente perseguição. Só em 1929 com o Acordo de Latrão, celebrado com o ditador
Mussolini é que o papado diminuiu sua hostilidade para com o estado italiano. Mussolini
permitiu a Pio XI organizar um novo Estado do Vaticano, receber e enviar embaixadores,
além de reconhecer a religião católica romana como “única religião” do país. Em troca, o
papado permitiu aos fiéis apoiarem o estado totalitário. O papado apoiou ainda as ditaduras
de Franco, na Espanha, e Salazar, em Portugal, e fez em 1933 um acordo com Hitler na
Alemanha. O papa criticou ambos estados em suas encíclicas, mas não protestou contra
as tentativas alemãs de eliminar os judeus (CAIRNS, 1995).
A Igreja Evangélica Alemã, dos “cristãos alemães”, foi fundada em 1933, tendo Ludwig
Muller como seu bispo presidente. A Igreja Confissional Alemã, liderada por homens como
Karl Barth, Martin Niemòller, e Dietrich Bonhoeffer, protestou, e, em maio de 1934, deu à lume
a Declaração de Barmem. Essa declaração foi, em sua maior parte, obra de Karl Barth. Ela
reafirmou a autoridade de Cristo na Igreja, e as Escrituras como autoridade para a fé e vida,
e recusou-se a aceitar as reivindicações, do estado, de supremacia sobre a vida religiosa
dos cidadãos. Hitler também perseguiu os judeus, e fez deles os grandes responsáveis dos
problemas da Alemanha, estabelecendo o grande genocídio que marcou o mundo.
Por sua vez, o comunismo totalitário de esquerda tem perseguido a igreja muito
mais severamente. Muitos cristãos têm sofrido martírio, aprisionamento cruel e horríveis
torturas por causa de sua fé. O Comunismo é ameaça tão grande ao Cristianismo organizado
quanto a guerra ou a ‫ ׳‬moderna praga de secularismo e materialismo que assola tão grande
parte da civilização ocidental. O Comunismo é perigoso porque é, essencialmente, uma fé
ou uma religião materialista, com um escopo internacional, e porque reivindica ter as únicas
soluções para os problemas da civilização moderna.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 67


Estes processos conduziram tanto o catolicismo quanto o Protestantismo na
Europa, ao distanciamento nas questões políticas e a secularização dominou o contexto
Europeu na segunda metade de século XX até os dias atuais. Contudo, permanece o poder
tácito da Igreja Católica nos Estados Unidos quanto a moralidade. Raramente qualquer
publicidade desfavorável à Igreja Romana aparece na imprensa norte-americana, pelo
contrário, muita publicidade favorável, além de sua força numérica da população, é conferida
a Igreja Romana por muitas seções da Imprensa. Mais de duzentas faculdades católicas, e
quase o mesmo número de seminários são localizados nos Estados Unidos.
Um avanço importante para a eclesiologia da Igreja Católica e que marca uma
virada na forma de pensar sua teologia é o Concílio Vaticano II, realizado entre os anos de
1962 e 1965 representa um marco para a história do cristianismo católico, pois representa
uma renovação no Espírito no interior da vida da Igreja e de toda humanidade. Alberigo
(2005), faz o destaque da relevância do concílio:
Quando, a 5 de janeiro de 1959, concluindo a semana de preces pela união
dos cristãos, João XXIII anunciou a sua decisão de convocar um novo Concí-
lio, a surpresa foi geral, tanto mais que o clima de guerra fria era ainda predo-
minantemente e se temia que durasse indefinidamente papa, eleito há menos
de três meses e escolhido presumivelmente para que garantisse à Igreja uma
tranquila transição, após o longo e dramático pontificado pacelliano, amadu-
recera sozinho a decisão, limitando-se a comunicá-la, alguns dias antes, ao
seu mais abalizado colaborador, o cardeal Tradini, pró-secretário de Estado.
diferentemente da acolhida por parte dos cardeais, o eco do anuncio tanto no
catolicismo quanto junto às outras igrejas cristãs e na própria opinião pública
foi enorme (ALBERIGO, 2005, p. 394).

A eclesiologia do Concílio Vaticano II busca superar uma teologia fundada no


direito, na hierarquia e no poder para promover o diálogo entre a igreja e o mundo. Assim,
o Concílio quer apresentar de uma Igreja voltada sobre si para uma Igreja aberta ao mundo
de hoje; de uma Igreja centrada na hierarquia para uma Igreja Povo de Deus; e de uma
compreensão universalista de Igreja para uma Igreja local ou particular. Assim, uma Igreja
aberta para o mundo, tendo como concepção que se explica de uma Igreja povo de Deus,
que assume sua missão no mundo, mesmo sem ser do mundo, que fazendo parte da
história busca em seu peregrinar colaborar na construção do Reino de Deus.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 68


2. O CATOLICISMO NO BRASIL (SÉCULOS XX E XXI)

Na América Latina, houve um renascimento missionário católico, o que pode ser


explicado pelo interesse dos países Europeus colonizadores na catequização dos
colonos e demarcação territorial. Alguns países, além de convidarem missões, ajudaram-
nas materialmente, mas o grande contingente missionário volta no final do século XIX e
início do século XX. A volta dos missionários começou no final do século XIX, porém, os
primeiros salesianos chegaram à Amazônia em 1895.
No Brasil, entraram várias ordens: os agostinianos chegaram em 1889; os barnabitas,
em 1903; os basilianos, em 1897; os camilianos, em 1922; os cistercienses, em 1953;
os crúzios, em 1934; os lassalistas, em 1907; os maristas, em 1897; os redentoristas, em
1893; os teatinos, em 1951, entre outras ordens (beneditinhos, carmelitas, cistercienses,
dominicanos, franciscanos, capuchinhos, lazaristas, mercedários e oratorianos) que
continuaram no trabalho que já vinham desenvolvendo (HOFFNER, 1977).
Na segunda metade do século XX, na esteira do Concílio Vaticano II, soprou
sobre a Igreja novos ventos de renovação começaram sendo este, um período de grandes
transformações no mundo, como as ideologias políticas, novas tendências religiosas
e comportamento libertário. A Igreja Católica se empenhou (quando não a hierarquia,
esta apoiou) em cooperar no trabalho de educação popular (especialmente em regiões
periféricas dos grandes centros urbanos); ao mesmo tempo, irromperam alguns movimentos
absolutamente novos como os Cursilhos da Cristandade, os Movimentos Familiares
Cristãos, a Renovação Carismática (BOFF, 1978).

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 69


Grupos mais tradicionais e conservadores como Opus Dei e marianos, foram
responsáveis por uma renovação mais ligada as paróquias e diocese. No entanto, grande
renovação significou mesmo o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base, grupos
leigos que atuavam diante das demandas sociais no momento em que o país enfrentava
grande crise social. Localizadas nas zonas rurais e nos bairros pobres das periferias das
cidades, seus membros são, em sua grande maioria, pessoas de baixo poder aquisitivo; as
reuniões são animadas por um sacerdote, mas sua presença é dispensável, pela estrutura
dessas Comunidades (BOFF, 1978).
A partir dos anos 60 e 70 pode-se agrupar os grupos católicos em quatro
facções principais: (1) tradicionalista, formada pelos que viam no Concílio de Trento
(Século XVI) o caminho de uma igreja que devia lutar por uma teocracia e por preservar seus
valores litúrgicos antigos (como missa em latim, por exemplo); (2) conservadora, formada
pela grande maioria do episcopado e que procurava pautar seu comportamento pelas
diretrizes baixadas pelo Vaticano, mas interpretando-as conservadoramente e que ainda
cria na possibilidade do desenvolvimento de um modelo de cristandade; (3) progressista,
formada por aqueles que pretendiam, para a Igreja, uma tomada de posição teórica e
prática ao lado do povo pobre, identificado como aquele para quem Jesus Cristo veio; (4)
revolucionário, formada por aqueles que, crendo como os progressistas, propuseram
métodos e programas radicais para uma revolução popular (BOFF, 1978).
A Teologia da Libertação é considerada a maior contribuição reflexiva e teológica
da América Latina, nascida nos anos 60 e desenvolvida na década seguinte, sendo
esta exportada para outros países caribenhos e africanos. Formulada em 1968, por
pensadores, tais como Richard Schaull (missionário presbiteriano no Brasil), Rubem A.
Alves (presbiteriano brasileiro) e Joseph Combin (missionário católico, belga, que serviu no
Brasil e em outros países), entre outros. Em 1968, ano da Conferência Episcopal de Medellín,
Gustavo Gutiérrez, padre peruano, publicou em Montevideo La pastoral de la Iglesia em
América Latina. O surgimento dessa teologia está ligado à conscientização da situação
crítica das mazelas enfrentados no contexto socioeconômico latino-americano. Seu
enfrentamento é tanto uma proposta espiritual quanto político. Este último aspecto da Teologia
da Libertação, é o mais criticado em seus opositores, principalmente pela associação ao
método considerado pelos críticos, como marxista.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 70


Segundo Gutierrez (1975), a Teologia da Libertação possui os pressupostos: (1)
afirmação de que todos os homens ocupam um lugar social (o que torna a neutralidade uma
impossibilidade real); (2) aceitação da análise da realidade feita pelos cientistas sociais; (3)
renúncia à tentativa de resolver sozinhos (pela teologia) os problemas da sociedade,
importando mais colaborar com os movimentos engajados na sua transformação; (4)
presunção de que a transformação da Igreja está ligada à transformação do mundo, pelo
que toda a ação da Igreja deve se incluir no processo de transformação deste mundo.
Na entrada do século XIX o catolicismo tem demostrado muito vitalidade, agora com
o Papa Francisco que busca ser uma Papa que propõe o diálogo ecumênico e demonstra
ser mais progressista que Bento XVI. No contexto brasileiro, o catolicismo ganhou um novo
componente, o crescimento vertiginoso das comunidades pentecostais e neopentecostais,
este movimento força a Igreja Católica a abrir novos canais de comunicação, repensar sua
liturgia e voltar a ter na base popular suas ações mais frutíferas.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 71


3. O PROTESTANTISMO NO BRASIL (SÉCULOS XX E XXI)

A trajetória efetiva do protestantismo no Brasil, teve início tardio, apenas no século 19,
embora tenha havido focos bem isolados nos períodos da conquista e da colonização. João
Calvino e a Igreja Reformada de Genebra enviaram catorze colonos, entre eles dois pastores.
Esses imigrantes-missionários tinham dois objetivos: implantar uma igreja reformada em
solo brasileiro. Os pioneiros/missionários acabaram sendo martirizados, mas esse evento se
tornou um marco de grande importância na história das missões (MATOS, 2005).
No período de colonização da América, pode ser destacado dois modelos missionários:
o protestantismo de imigração e protestantismo de missão. O primeiro modelo é desenvolvido
naturalmente, quando expatriados chegam em territórios distantes da sua origem e trazem
consigo sua cultura e religião. No Brasil, a entrada dos protestantes, como imigrantes ou
como missionários, trouxe poucas mudanças aos quadros políticos e religiosos. A perseguição
religiosa, as crises econômicas e possibilidade de novas oportunidades, são as maiores
motivações para que os nativos Europeus povoassem o continente americano. Contudo, a
imigração protestante não esteve relacionada ao crescimento Protestante no último século.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 72


Por sua vez, o protestantismo de missão teve ações efetivas em sua implementação,
principalmente por movimentos missionários oriundos dos avivamentos norte-americanos,
onde se destacam alguns motivos: o novo papel que os EUA como parceiro econômico,
passaram a desempenhar na América Latina favoreceu, também, a penetração religiosa no
continente; o vigor das igrejas protestantes norte-americanas se manifestou em termos de
força missionária, com o envio de agentes de suas juntas para o mundo inteiro; os relatos
das viagens dos membros das Sociedades Bíblicas ajudaram as igrejas norte-americanas
a “descobrirem” a América Latina como campo missionário.
No período do século XX, outra marca de destaque foram as reações por parte
dos católicos, às vezes, com violência, como aconteceu no Rio de Janeiro e no Nordeste.
É preciso não exagerar e mistificar essas perseguições, pois que foram, na realidade,
mais esporádicos do que fazem crer os relatos dos perseguidos. Muitos incidentes foram
provocados pelos próprios protestantes (MATOS, 2005). Vejamos através do quadro, o
panorama das denominações em solo brasileiro:

QUADRO 1 - ORIGEM DAS DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS NO BRASIL


Em 1871, Batistas emigrados dos Estados Unidos organizam
a “Primeira Igreja Batista no Brasil para Estrangeiros” em
Santa Bárbara d’Oeste. Em 1882, quando foi organizada
Igreja Batista Brasileira a Primeira Igreja Batista, voltada para a evangelização do
Brasil, já existiam duas outras Igrejas Batistas, organizadas
por imigrantes norte-americanos, residentes na região de
Santa Bárbara do D’Oeste e Americana, em São Paulo.

A Igreja Presbiteriana do Brasil é a mais antiga denominação


reformada do país, tendo sido fundada pelo missionário
Ashbel Green Simonton (1833-1867), que aqui chegou em
1859. Mais tarde, ao longo do século 20, surgiram outras
igrejas congêneres que também se consideram herdeiras da
tradição calvinista. São as seguintes, por ordem cronológica
Igreja Presbiteriana do Brasil de organização: Igreja Presbiteriana Independente do
Brasil (1903), com sede em São Paulo; Igreja Presbiteriana
Conservadora (1940), com sede em São Paulo; Igreja
Presbiteriana Fundamentalista (1956), com sede em Recife;
Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (1975), com sede
em Arapongas, Paraná, e Igreja Presbiteriana Unida do
Brasil (1978), com sede no Rio de Janeiro.

A IPIB - Igreja Presbiteriana Independente do Brasil é uma


igreja que tem suas raízes na Reforma Protestante do
século XVI com orientação calvinista. Foi fundada em 31
Igreja Presbiteriana Independente de julho de 1903 por um grupo de sete pastores liderados
pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira (1856-1923). Os outros
seis pastores que deixaram o sínodo da então.

Fontes: (PEREIRA, 2013); (ALPHAVILLE, 2021); (VILELA, 2013).

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 73


O pentecostalismo passou, no Brasil por três gerações (ou ondas). A primeira no
início do século com o surgimento da Congregação Cristã no Brasil (Santo Antônio da
Platina, PR) e da Assembleia de Deus (Belém, PA), em 1910 e 1911, respectivamente. O
segundo movimento começou em torno da prática da cura divina, com a Cruzada Nacional
de Evangelização (depois Igreja do Evangelho Quadrangular), em 1951, a qual se seguiram
a Igreja O Brasil Para Cristo (1956) e a Igreja Deus É Amor (1962), entre outras. A terceira
onda começou três décadas depois com o surgimento da Igreja de Nova Vida (1960), Igreja
Universal do Reino de Deus (1977), Igreja Internacional da Graça de Deus (1986), Igreja
Renascer em Cristo (1986), Igreja Sara Nossa Terra (1992), Igreja Mundial do Poder de
Deus (1998) e centenas de autodenominadas comunidades evangélicas (MATOS, 2005).
A característica marcante na produção teológica pentecostal é o seu conservadorismo,
pouco estudo teológico e supervalorização da fé pessoal, com uma mentalidade de radical
separação entre Igreja e mundo, entre fé e política, entre Cristo e cultura. Só nos anos 60,
alguns poucos teólogos se preocuparam em fazer uma teologia interessada em responder
aos problemas do homem do seu tempo. Nas quatro primeiras décadas, prevaleceu o
combate com o catolicismo; não se respirava uma frase que não fosse condenatória do
credo rival maior. Isto condicionou tremendamente a teologia. Para agravar o quadro, este
espírito se estendeu ao ataque até mesmo das outras denominações protestantes e, mais
tarde, à condenação do “modernismo” ou “liberalismo” teológico.
Algumas marcas distintivas do pentecostalismo: (1) Mentalidade baseada em uma
compreensão transcendental ou sobrenatural do mundo e seu apelo a esse sentimento da
presença do transcendental. (2) As Igrejas protestantes tem crescido mais rapidamente nas
periferias das grandes cidades, em que a pobreza e problemas sociais são maiores. (3) tem
ocorrido maior crescimento da igreja onde há uma insistência na conformidade de crença e
prática. (4) O conceito de missão da Igreja, quase totalmente em termos de evangelização,
tem sido responsável pelo sempre crescente alcance das Igrejas. O Protestantismo brasileiro
continua a crescer rapidamente. As várias denominações, cada uma de suas maneiras,
estão respondendo aos dois grupos de fatores dialéticos apresentados acima. O resultado
desse processo ainda não está claro no presente (CAIRNS, 1995).

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 74


4. PRINCIPAIS TEMAS E DEBATES DO PERÍODO CONTEMPORÂNEO

Neste último tópico da Unidade, relataremos de forma sintética os temas e debates


que estiveram em evidência nos séculos XX e XXI, será identificado o tema sem promover
a discussão dos desdobramentos teológicos em relação as problemáticas listadas, mas
serve bem, como panorama para eventuais estudos pormenorizados no futuro.
O primeiro tema relacionado ao período Moderno e Contemporâneo é o Iluminismo.
Combatente voraz ao Cristianismo tradicional, se baseou no princípio da razão humana.
Argumentou-se que as crenças do Cristianismo eram irracionais e, portanto, não poderiam
ser submetidas ao escrutínio crítico. A resposta para este movimento, argumentou que as
ideias básicas do Cristianismo, eram sim, submetidas ao raciocínio lógico, sendo racionais
e, portanto, podiam ser derivadas da própria razão. Não havia necessidade de lançar mão
da ideia de revelação divina.
Em resposta a crítica iluminista foi gestada a Teologia Liberal, que foi a produção de
sistemas de interpretação bíblico, baseados na historiografia, filologia, filosofia, sociologia
e psicologia, cujo possibilidade de milagres; O conceito de revelação; A doutrina do pecado
original; o problema do mal. O status e a interpretação das Escrituras; A identidade e o
significado de Jesus Cristo; passaram a ser ressignificados a partir da razão. Para alguns
estudiosos da igreja, como Olson (2001) e Gonzáles (2011), a Teologia Liberal foi um dos
responsáveis pelo esfriamento espiritual no cristianismo da Europa.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 75


A Neo-ortodoxia foi uma resposta ao liberalismo teológico e ao fundamentalismo
religioso. A Primeira Guerra Mundial testemunhou uma desilusão do positivismo liberal,
porém não uma rejeição definitiva da teologia liberal. Karl Barth (1886-1968) acreditavam
que poderiam escapar da teologia antropocêntrica do liberalismo. Talvez a característica
mais distintiva da abordagem de Barth seja sua “teologia da Palavra de Deus”. De acordo
com Barth, a teologia é a disciplina que procura manter a proclamação da igreja cristã fiel ao
seu alicerce em Jesus Cristo, conforme este nos foi revelado nas Escrituras. A teologia não
é uma resposta à situação humana ou às perguntas humanas; é uma resposta à Palavra
de Deus, que exige tal resposta em função de sua natureza intrínseca (MCGRATH, 2007).
Partimos agora para o marxismo, um movimento de ideias políticas em sua gênese,
mas que se transformou em método de análise para as ciências humanas e sociais. O
marxismo pode ser considerado um conjunto de ideias associado ao escritor alemão Karl
Marx (1818-1883) provavelmente uma das cosmovisões mais expressivas a se desenvolver
no período moderno, exerceu um grande impacto sobre a teologia cristã no século passado
e é provável que continue a ser um companheiro de diálogo importante nos anos por vir
(MCGRATH, 2007). Marx argumenta que a religião continuará a existir enquanto suprir uma
necessidade na vida das pessoas alienadas. O reflexo religioso do mundo real só poderá
desvanecer quando as relações práticas da vida diária oferecerem ao homem somente
relações perfeitamente inteligíveis e razoáveis com referência aos seus semelhantes e à
natureza (MCGRATH, 2007). Em outras palavras, é necessário que o mundo real passe
por uma transformação para que este se livre da religião. Marx argumenta, portanto, que
quando um ambiente econômico e social não-alienante for criado através do comunismo,
as necessidades que deram origem à religião desaparecerão. E com a eliminação das
necessidades materiais, a fome espiritual também deixará de existir.
Na América Latina, foi desenvolvida uma teologia que dialoga com o método
marxista, a Teologia da Libertação, no qual a forma de análise teológica, parte do pobre e
oprimido, ou seja, sobre a luta a consciência e luta de classes. Gonzáles (2011) resume as
ideias da Teologia da Libertação:
A teologia da libertação envolve uma reflexão crítica sobre a prática. Nas
ideias de Gutiérrez (1975), a teologia é uma reflexão crítica sobre a práxis,
portanto, os países que há dois séculos eram considerados os confins da
terra terão agora a oportunidade de devolver o testemunho do evangelho
proveniente do Norte gerações antes. Assim, a missão até aos confins da
terra passará a ser a missão a partir dos confins da terra, demonstrando,
uma vez mais, que a Palavra de Deus não voltará vazia, mas fará aquilo para
o que Deus a enviou, por estranho e incrível que isso pareça a nós, simples
mortais (GONZÁLES, 2011, p. 578).

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O Catolicismo romano foi renovado por meio do Segundo Concílio do Vaticano
(1962-1965). Embora muitos outros acontecimentos ocorreram na história da teologia
católica romana durante os séculos 18 e 19. As condições em que a igreja católica encontrou
a Europa durante esse período não se mostraram particularmente apropriadas para a
reflexão teológica. Na região predominantemente protestante do norte da Europa, a igreja
se viu, com frequência, colocada numa posição defensiva, de modo que a polêmica, e
não a teologia construtiva, se tomou essencial. Todavia, o Concílio do Vaticano Segundo,
promoveu o catolicismo as duas bases, e teve um retorno de avivamento na América
Latina, no final do século XX.
O feminismo se tomou um elemento importante da cultura ocidental moderna. O
feminismo é, essencialmente, um movimento global em prol da emancipação das mulheres.
A designação mais antiga para o movimento “emancipação feminina” expressava o fato
de que se trata, fundamentalmente, de um movimento de emancipação que concentra
seus esforços no sentido de obter igualdade para as mulheres na sociedade moderna,
especialmente através da remoção de obstáculos - inclusive crenças, valores e atitudes
- para o avanço desse processo. Algumas conquistas como o sufrágio Universal, são
consequências destas iniciativas. Ultimamente, o movimento tem se tomado cada vez
mais heterogêneo, em parte graças a uma disposição de reconhecer uma diversidade de
abordagens empregadas pelas mulheres dentro de diferentes culturas e grupos étnicos.
Assim, os escritos de mulheres negras na América do Norte, por exemplo, são chamados de
“teologia feminista negra” (MCGRATH, 2007). Na eclesiologia, denominações evangélicas
mais liberais na doutrina, tem aceitado inclusive a pastoral exercida por mulheres, algo
inédito na história da Igreja Cristã.
A Teologia Negra é o movimento, particularmente representativo nos Estados
Unidos durante as décadas de 1960 e 1970, que se concentrou em garantir que as realidades
da experiência negra fossem representadas num contexto teológico. A primeira evidência
clara de um movimento em direção à emancipação teológica dentro da comunidade negra
norte-americana pode ser vista em 1964 na publicação da obra Black Religion [Religião
negra] de Joseph Washington, uma declaração poderosa do caráter distinto da religião
negra dentro do contexto norte-americano (MCGRATH, 2007).

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 77


O século XX e XXI no Brasil, temos a chegada da Teologia Decolonial, uma reflexão
latino-americano e caribenha sobre os impactos da colonização europeia sobre os colonos,
e a herança de violência e mazelas sociais. Esta discussão surge no contexto das ciências
políticas e sociais, na teologia, esta reflexão combate principiante o fundamentalismo, que
é uma herança de dominação europeia. O fundamentalismo é inteiramente hostil a ideia
de qualquer tipo de criticismo bíblico e adota uma interpretação literal das Escrituras. Em
termos sociológicos, o fundamentalismo é um movimento reacionário contra cultural com
critérios rígidos, associado especialmente a indivíduos da classe trabalhadora.
O movimento pentecostal e o movimento carismático são umas reflexões
mais importantes do Cristianismo no século 20 foi o surgimento de grupos carismáticos e
pentecostais, segundo os quais o Cristianismo moderno pode redescobrir e usufruir do poder
do Espírito descrito no Novo Testamento, especialmente no Livro de Atos dos Apóstolos
(MCGRATH, 2007). O termo relacionado “pentecostal” se refere aos acontecimentos do Dia
de Pentecostes (A BÍBLIA, 2008, Atos 2.1-12) que, para os cristãos carismáticos, determinou
o padrão para a vida cristã normal. A redescoberta dos dons espirituais é ligada a um
movimento conhecido como pentecostalismo, considerado o primeiro movimento moderno.
Olson (2011) estabelece a diversidade do protestantismo pós-reforma:
O que falta no cenário da teologia cristã na virada do século é uma
narrativa abrangente que servisse para reunificá-la. Muitos, inevitavelmente,
considerarão apresente situação um a cacofonia de vozes e tamparão os
ouvidos, aborrecidos, ou acolherão o barulho com o uma libertação jubilosa da
uniformidade imposta. Algum verão a situação presente com certa esperança.
“Vozes diversas, ao se unirem em uníssono, podem fazer um coral com a
cacofonia e um coro com a confusão. Só ente o futuro revelará se a teologia
cristã permanecerá radicalmente pluralista ou redescobrirá um acorde comum
que unirá várias vozes sem obliterá-las” (OLSON, 2001, p. 627-628).

O período contemporâneo é tido como a era inconclusa, em que os processos


sociais, políticos e culturais ainda não foram finalizados. Nestes debates, é cada vez
maior, tentativas de reflexão que insiram a teologia, o cristianismo e a religião na análise
conjuntural, como elemento unificador e ideológico de uma nação.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 78


SAIBA MAIS

Ahnenerbe: a seita nazi que queria destruir o Cristianismo

Oficialmente a ‘Ahnenerbe’ era uma organização criada para valorizar as tradições


alemãs e procurar a origem da raça ariana. Na realidade, tratava-se de um grupo de
estudo das ciências ocultas com um simples objetivo: destruir o Cristianismo e instaurar
uma nova religião nazi na Alemanha.
No seu livro ‘O enigma Nazi’, o escritor José Lesta afirma que “a 1 de julho de 1935 foi
criada a ‘Ahnenerbe’, ou ‘Sociedade de estudos para a História Antiga do Espírito’”. Na
altura Hitler já tinha sido nomeado chanceler da Alemanha e o partido nazi dominava
todo a política do país, diz o site do jornal espanhol ‘ABC’.
Para enfrentar o mundo, Hitler sabia que seriam precisas várias coisas. Para vencer
era necessária toda a ajuda possível, inclusive a paranormal, e, acima de tudo, era
fulcral que a sociedade aceitasse o nazismo como uma crença inquestionável. Ambas
as tarefas foram atribuídas à nova seita que se dedicou ao estudo do ocultismo e a
implementar o ideal nazi junto da população.

Leia o texto na íntegra:


Fonte: RODRIGUES, Aldara. Ahnenerbe: a seita nazi que queria destruir o Cristianismo. 2012. Disponível
em: https://www.dn.pt/globo/europa/ahnenerbe-a-seita-nazi-que-queria-destruir-o-cristianismo-2933424.
html acesso em: 15 dez. 2021.

REFLITA

Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos atomizados e


isolados. Distinguem-se dos outros partidos e movimentos pela exigência de lealdade
total, irrestrita, incondicional e inalterável de cada membro individual. Essa exigência
é feita pelos líderes dos movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o poder e
decorre da alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização abrangerá, no
devido tempo, toda raça humana.

Fonte: (ARENDT, 2009, p. 373).

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 79


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parabéns por ter chegado até ao final, caro (a) estudante.

Quando iniciamos a Unidade III do nosso material didático, as formas de análise


da igreja eram bem mais simples, tendo apenas a Igreja Católica suprema no contexto
mundial. Mas, ao fecharmos o último tópico desta Unidade, verificamos uma situação muito
diferente depois de um pouco mais de 500 anos. O cristianismo se tornou multiforme, sendo
elemento fundamental na produção cultural e ao mesmo tempo sofrendo modificações pela
própria cultura e marcas do seu tempo.
Portanto, o passado precisa nos ensinar, que o verdadeiro cristão é tolerante
com as religiões as doutrinas diferentes da sua, para não cometermos os mesmos erros
de perseguição e violência. Quando estudamos o contexto brasileiro, percebemos que
são maiores os pontos que nos unem do que as ideias que nos dividem. Nossa própria
situação de vida, desafios econômicos, crises socioemocionais, problemas com moradia e
mobilidade, por si só, devem ser encarados como elementos combatíveis, e apenas nossa
união, em torno de Cristo, poderá agregar nestes embates.
Até breve.

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 80


LEITURA COMPLEMENTAR

Traços totalitários nas discussões políticas

Por Cauê Oliveira.

O romance “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, gira em torno de Raskólnikov, um


estudante de Direito em São Petersburgo cujas ideias sobre a humanidade (e sobre si
mesmo) são testadas ao cometer um assassinato. Em uma das cenas mais marcantes do
livro, enquanto ainda tentava resistir à realidade de sua miséria, relata o homicídio cometido:
“Foi só um piolho que matei, Sônia: um piolho inútil, repugnante, maligno”¹. Esse esbravejar
decorria da crença, à qual desesperadamente se agarrava, de que existiam indivíduos
inferiores, ordinários, e outros, como ele, os timoneiros da humanidade. Ao longo da narrativa,
sua autoimagem vai sendo esfacelada, enquanto ele agoniza em virtude de seus atos.
Em nosso contexto eleitoral, especialmente na disputa presidencial, não tem sido
incomum, no trato com desafetos políticos, haver textos, comentários e conversas similares
ao dito por Raskólnikov. Esse não é um fenômeno irrelevante, mas revelador das distorções
na visão de muitos acerca do ser humano e da natureza e lugar da política. Perigosamente,
a retórica pública intolerante – alardeada, em muitos casos, pelos arautos da tolerância
pós-moderna – é um sintoma do desabrochar de sementes totalitárias plantadas no solo da
ideologia política.

Fonte: OLIVEIRA, Cauê. Traços totalitários nas discussões políticas. Teologia Brasileira. 2019. Disponível
em: https://teologiabrasileira.com.br/tracos-totalitarios-nas-discussoes-politicas/ acesso em 15 dez. 2021.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O que resta de Auschwitz
Autor: Giorgio Agambem.
Editora: Boitempo.
Sinopse: Neste livro, Agamben coloca que o valor do testemunho
está essencialmente no que lhe falta, no que não pode ser dito por
homens que já não o são. Em suas palavras, ‘Auschwitz marca o
fim e a ruína de qualquer ética da dignidade e da adequação a uma
norma. A vida nua, a que o homem foi reduzido’. A obra, que faz
parte da coleção Estado de Sítio e traz apresentação de Jeanne
Marie Gagnebin, recupera conceitos presentes nos anteriores
Estado de Exceção e Homo Sacer. Trata-se de leitura fundamental,
onde Auschwitz é apresentado como o espaço de uma experiência
em que se fundem as fronteiras entre o humano e o inumano, a
vida e a morte, colocando à prova a reflexão de nosso tempo, que
mostra sua insuficiência por deixar aparecer, entre suas ruínas, o
perfil incerto de uma nova ética.

FILME/VÍDEO
Título: Operação Valquíria
Ano: 2008
Sinopse: Ambientado na 2ª Guerra Mundial, o filme mostra Claus
von Stauffenberg (Tom Cruise) um coronel que retorna à Alemanha
gravemente ferido, devido à guerra na África. Ao chegar ele se
envolve em uma conspiração para acabar com o governo local, que
tem por objetivo matar Adolph Hitler (David Bamber). O objetivo
do grupo é pôr em prática a Operação Valquíria, um plano já
existente que prevê a implementação de um governo que conduza
a Alemanha após a morte de seu líder. Aos poucos o coronel Claus
ganha destaque na organização, sendo encarregado para que
cometa o assassinato de Hitler.

WEB
Apresentação: a Revista Teologia Brasileira tem o objetivo de
proporcionar um espaço para discussão e produção de teologia que
seja bíblica, confessional, relevante, sensível e aberta ao diálogo
sobre temas que contemplem a realidade de nosso país. Para
isso, contamos com o apoio de uma equipe que, em contato com
pesquisadores, pastores, mestres e escritores, torna possível a
veiculação de conteúdo que estimule a reflexão bíblica e teológica.
Disponível em: https://teologiabrasileira.com.br/V

UNIDADE IV A Igreja no Período Contemporâneo (Séculos XX E XXI) 82


REFERÊNCIAS

A BÍBLIA. Tradução de João Ferreira Almeida. Rio de Janeiro: King Cross Publicações,
2008. 1110 p. Velho Testamento e Novo Testamento.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2017.

ALBERIGO, G. História dos Concílios Ecumênicos. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2005.

ALPHAVILLE, A de. Igreja Batista Memorial. Josimaber Siqueira Rezende. 2021.

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: Anti-semitismo - imperialismo – totalitarismo.


São Paulo: Companhia das letras, 2009.

BOFF, C. As Comunidades Eclesiais de Base. In: Comunidade eclesial,


comunidade política - ensaios de eclesiologia política. Petrópolis, Vozes, 1978.

CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja crista.
Tradução Israel Belo de Azevedo. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.

CESAREIA, Eusébio de. História eclesiástica. CPAD-Casa Publicadora das Assembleias


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inconclusa. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

GUNDRY, Robert Horton. Panorama do Novo Testamento. Sociedade Religiosa Edições


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GUTIERREZ, G. Teologia da libertação: perspectivas. Trad. Jorge Soares,


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HOFFNER, J. Colonização e evangelho - ética da colonização espanhola no século


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83
LE GOFF, J. As raízes medievais da Europa. Tradução de Jaime A. Clasen. 3. ed.
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LINDBERG, Carter. História da reforma. tradução Elissamai Bauleo. 1. ed. Rio de Janeiro:
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MANUAL BÍBLICO VIDA NOVA. Editor geral: David, S. Dockrey. Tradução: Lucy
Yamakami; Has Udo Fuchs; Robson Malkomes. São Paulo, Vida Nova, 2001.

MATOS, A. S. A Caminhada Cristã na História: a Bíblia, a Igreja e a Sociedade Ontem e


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WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 5. ed. São Paulo: Pioneira,


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WESTHELLE, Vitor. Igreja e tradição: opções e obstruções ecumênicas. Estudos


Teológicos, v. 45, n. 2, p. 81-89, 2005.

84
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Que jornada, não é? Quase 2000 anos de História do Cristianismo. Apresentamos


o a perseguição imperial foi danosa para as vidas dos cristãos e como a igreja permaneceu
fiel diante dos algozes. Percebemos a importância de alguns nomes para a história da
igreja, homens que precisaram definir e defender a fé cristã diante das mais variadas formas
de doutrinas. Além da mudança da igreja perseguida para a igreja privilegiada, a partir da
conversão de Constantino.
Podemos perceber que a Idade Média, foi um período de profundas transformações
no mundo. A igreja confirma sua supremacia contra as inovações e consegue resistir
as invasões dos árabes e muçulmanos. Mas o mundo está muito diferente, e a igreja
não dará conta de explicar todas estas mudanças. As grandes navegações, o avanço
científico, as crises teológicas e morais da igreja romana não conseguiram abordar o
novo mundo que está surgindo.
Compreendemos quão importante a compreensão dos processos de modernização
do mundo, sendo a Reforma Protestante como este catalisador, verificamos a origem das
grandes denominações históricas, alguns dos processos ainda permanecem polêmicos,
principalmente quando relacionado a intolerância religiosa. Este período ajuda a comprovar
que uma mudança, poderá escalonar uma sequência de transformações, como se deu no
cenário europeu e com consequências na América.
Ao final, percebemos que o cristianismo e a cultura ocidental se imbricaram, uma
fornecendo elementos de mudança para a outra, ao ponto de podermos afirmar que não
é possível estudar o homem na história, sem compreender os processos religiosos que
o envolvem.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

85
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