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História da Palestina

nos Tempos de Jesus


Material Teórico
O Jesus que Antecede o Cristianismo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Edgar Silva Gomes
Prof. Ms. André Valva

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
O Jesus que Antecede o Cristianismo

• Introdução
• Jesus e sua Atuação junto aos Pobres de seu Tempo
• Jesus Confronta os Poderosos e a Cultura da “Não Vida”
• Jesus e a Pregação da “Boa Nova”

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Aprender um pouco mais sobre o Jesus que antecede o cristianismo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Contextualização
Saiba que esta Disciplina tem como propósito apresentar um panorama histórico
do contexto da atuação de Jesus com as discussões mais recentes dessa área; além
de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre
os temas que serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e
trajetória profissional.

Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal será o Jesus
que antecede o cristianismo, ou seja, que dê conta de lhe fazer conhecer, definir,
classificar e conceituar Jesus e seu tempo como campo de pesquisa, estudo e for-
mação acadêmica e profissional, é o que você encontrará nas próximas unidades.

Ademais, perceba que a Disciplina em Educação a Distância pode ser realizada


em qualquer lugar que você tenha acesso à internet e em qualquer horário.
Dessa forma, normalmente com a correria do dia a dia não nos organizamos e
deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará no não
aprofundamento do material trabalhado, ou ainda na perda dos prazos para o
lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário
todos ou alguns dias e determinar como o “momento do estudo”.

No material de cada Unidade há videoaulas e leituras indicadas, assim como


sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em


fóruns de discussão, assim como realize as atividades de sistematização, estas que
lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que
lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no material da respectiva Unidade
para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas avaliações. Tratando-se de
atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, volte a consultar
as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas.

Importante! Importante!

Você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo esta
vivência digital!

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Introdução
A partir deste momento contextualizaremos a Palestina no tempo de Jesus, em
seus aspectos político, econômico, religioso e social, em suas disputas e conflitos,
em uma sociedade onde Jesus de Nazaré se fez homem, viveu e conviveu, sujeito
às leis e à cultura de seu tempo, ou seja, entenderemos a prática de Jesus em seu
tempo segundo sua pregação.

Jesus e sua Atuação junto


aos Pobres de seu Tempo
A História de Jesus e muito depois do cristianismo, está profundamente enraizada
à história de Israel que, segundo J. Bright (1978, p. 15), “[...] de acordo com a
Bíblia, a história de Israel começou com a migração dos patriarcas hebreus da
Mesopotâmia para a sua nova pátria na Palestina”. A história do povo de Israel está
encravada em algum lugar do passado há aproximadamente dois mil anos antes do
nascimento de Jesus, que se deu em torno de 5 a.C., segundo o calendário cristão.

Os israelitas em sua longa história, viveram entre longos cativeiros e alguns poucos
tempos de bonança. Esse povo foi cativo de grandes impérios e imperadores ao
longo da história da humanidade; os hebreus ficaram sob o domínio dos impérios
egípcio, babilônio, grego e romano. Segundo seus crentes, isso se deveu em muitos
casos aos abusos cometidos pelos hebreus contra a aliança com Deus. A quebra
da aliança de parte do povo hebreu contra Deus foi, ainda segundo esta mesma
crença, a causa do envio, por parte de Deus, de seu filho, Jesus, para a derradeira
aliança com seu povo; contudo, muitos não acreditaram nessa possibilidade – para
os que creram e creem, Jesus é o salvador da humanidade!

A história desse Jesus, homem-salvador, sempre foi e será alvo de controvérsias,


religiosas ou não, pois a maioria dos escritos que se relacionam à existência his-
tórica de Jesus corresponde a não biográficos, muitos dos quais teológicos, e que
fazem parte dos textos bíblicos seguidos por seus fiéis como, por exemplo, os evan-
gelhos sinóticos. Segundo Pierini (1995), “[...] Jesus, o fundador do cristianismo, é
personagem com uma consistência histórica especial [...]”, e isto se deve, segundo
o autor de A Idade Antiga, por causa das perguntas que não são de fácil resposta:
“[...] em que ano e em que dia nasceu, quanto durou sua existência terrena, quan-
do morreu, quando ressuscitou, ninguém está em condições de dar uma resposta
precisa [...]”, e isto diz respeito justamente a não termos dados historiográficos
precisos sobre tais fatos, uma vez que Jesus, segundo esse autor, é “[...] a persona-
gem histórica por excelência, o centro mesmo da história, o homem profetizado há
séculos, a plenitude dos tempos (Gl 4,4; Ef 1,10)” (PIERINI, 1995, p. 39).

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Porém, de qual contexto histórico emergiu esse Jesus? Como estava a situação
dos hebreus pobres? Qual era a circunstância dos hebreus poderosos em relação à
população pobre que, mais uma vez, encontrava-se sob o domínio de um grande
império, o romano? Segundo Silva ([20--], p. 1), a história se repetiu quando os
judeus caíram sob o domínio do império romano, perdendo sua breve liberdade no
ano de 63 a.C., quando Pompeu dividiu o reino hasmoneu.

Portanto, sabemos que Jesus viveu em um contexto histórico onde, mais uma
vez, seu povo era dominado por um grande império, então sob a batuta de um
dos maiores impérios que a humanidade conheceu, o romano que, em sua política
externa, governava os acordos com as elites locais para manter seu domínio por vastas
extensões. Como nos informa Silva ([20--]), a estrutura de patronagem e clientelismo
foi implantada com sucesso entre os judeus por conta do apoio da elite local que seria
beneficiada com os acertos realizados com os dominadores estrangeiros.

A elite local, de acordo com pesquisas mais recentes, vem confirmado que pou-
co ou nada mudou em seu estilo de vida. Segundo Silva ([20--]): “A riqueza dos
abastados de Jerusalém só se tornou plenamente evidente nos últimos anos, quan-
do arqueólogos desenterraram, em Jerusalém, grandes casas particulares com mo-
biliários luxuosos com aproximadamente 600 metros”. Silva ([20--]) cita Faulkner
(2004) em uma descrição desse tipo de propriedade: “Como podemos notar, a vida
dos sumos sacerdotes e de outros membros da aristocracia judaica era repleta de
luxo e suntuosidade, excedendo em todo o tipo de artefato e construção dos mais
bem-conceituados da moda greco-romana da época”.
A situação vivida pela elite judaica em relação ao poder dos romanos era pra-
ticamente inversa à circunstância vivida pela população pobre. Para Silva ([20--])
havia grande disparidade entre os estilos de vida dos ricos e dos pobres em regiões
como, por exemplo, Cafarnaum, Galileia e Qumran.
Observe a descrição de Faulkner (apud SILVA, [20--]) para os estilos das residên-
cias nas localidades acima citadas:
Cada (casa) era construída de blocos de basalto cru com seixos de
argamassa e lama misturados e cobertos com estuque. Os telhados eram
feitos de ramos de árvores e juncos misturados com argamassa. As casas
eram muito pequenas, compreendiam cerca de 7 x 6,5 metros, com
um único cômodo quadrado. Contudo, apenas a metade ou um terço
das casas tinham esse tamanho, as outras eram bem menores [...]. Os
artefatos domésticos encontrados eram numerosos e principalmente
feitos em casa: as famílias camponesas podiam ter carência de dinheiro
e, consequentemente, dificuldade em adquirir os artefatos, mas não a
habilidade de fazê-los.

Por mais anacrônico que possa parecer, vejamos a citação do profeta Jeremias,
Capítulo 23, partes 1 e 2, que em seus “oráculos messiânicos” diz o seguinte: “[...]
ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho [...] contra
os pastores que apascentam meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, as
expulsastes e não cuidastes delas”.

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Jeremias advertia os poderosos do povo de Deus por estarem desprezando a Sua
palavra, sendo relapsos com seu próprio povo e prestes a caírem sob o domínio de
Nabucodonosor, poderoso rei babilônico. No contexto em que Jesus atuava, a elite
judaica estava em aliança com os romanos e, mais uma vez na história, seus pobres
sendo negligenciados. Portanto, havia os ricos e os pobres explorados. Os ricos
controlavam a mão de obra nas vilas e no campo, ou seja, a elite detinha a riqueza
local e os produtores da riqueza, naquele contexto, explorando os camponeses.

Os pobres, em geral, produziam o suficiente para a própria subsistência, além


dos camponeses, estes que vendiam sua mão de obra no campo ou como oleiros,
carpinteiros, curtidores e outras atividades locais nas vilas,
[...] tais grupos sempre existiram, mas a proporção variava, e o que era
decisivo para isto era a alta taxa de exploração imposta nas vilas pela classe
dominante [... porém,] as evidências que nós apontamos seguem em direção
a uma intensificação da exploração e empobrecimento do campesinato
judeu no período greco-romano (FAULKNER apud SILVA, [20--]).

De acordo com Goodman (apud SILVA, [20--]), há “[...] uma possível explicação:
os ricos adquiririam sua riqueza à custa de camponeses, os quais, às vezes, sofriam
de uma colheita ruim após seca”.

É contra a exploração de seu povo, de todo povo, em especial dos esquecidos


pelas elites que Jesus se dirige, prioritariamente, em sua atuação político-religiosa,
de modo que uma não se separa da outra em nenhum momento da atuação de
Jesus em defesa de seu povo, o povo judeu. Contudo, Jesus nasceu em um mundo
em conflito de interesses e poder, onde os “judeus” que governavam seu povo em
nome do império romano viviam de articulações e traições para se manterem no
topo da sociedade de sua época, e Herodes era o “poder” no contexto que antecedeu
o nascimento de Jesus, mas o rei teve que enfrentar, inclusive, a ambição de seus
herdeiros mais próximos. Herodes nunca foi um rei amado pelo seu próprio povo,
pois, segundo Saulnier e Rolland (1983, p. 18), o rei era “[...] príncipe de tipo
helenístico, mas de origem árabe, sem parentesco com a família dos Asmoneus,
Herodes jamais conseguiu conquistar a simpatia dos judeus piedosos. Era filho dum
idumeu, Antípater, e duma nabatéia”.

Os filhos de Herodes, Alexandre e Aristóbulo, que teve com sua primeira mulher,
Mariana, foram julgados e mortos pelos romanos, com total consentimento do pai,
por tramarem sua queda antes de sua morte, “de olho” na sucessão dinástica. Essas
disputas colocaram em risco a confiança que Herodes disfrutava junto à Cesar Au-
gusto e para mantê-la não hesitou em destruir nem mesmo seus primogênitos. De
acordo com Saulnier e Rolland (1983): “Pouco antes da morte, Herodes determinara
como seria sua sucessão [...]”, deixando a herança do poder para “[...] Arquelau, filho
de Maltace, uma samaritana, herdaria o título de rei; Herodes Antipas se tornaria
tetrarca da Galiléia e da Peréia; Herodes Filipe, filho de Cleópatra, seria o tetrarca
da Gaulanítide, da Traconítide, da Batanéia e de Pânias [...]”, que foi contestada pela
elite farisaica, mas foi mantida por Roma conforme a vontade de Herodes.

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Porém, os escândalos causados por Arquelau com seus casamentos “[...] ao


desposar uma princesa da Capadócia, casada anteriormente com Alexandre (filho
de Mariana I) e com Juba da Mauritânia. Além disso, considerado cruel e brutal,
foi acusado perante Augusto por uma delegação de judeus e de samaritanos”
(SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 18).

O contexto que antecedeu ao nascimento de Jesus refletiu o que a sociedade


judaica vivia e porque a aliança do povo de Israel com seu Deus estava quebrada.
Tal situação persistiu durante a vida do Jesus histórico, apesar de sua exortação em
favor de seu povo e contra os poderosos de seu tempo, não apenas os romanos,
mas da elite de seu próprio povo.

Com a queda de Arquelau, o representante de Roma foi um procurador nomeado


pelo imperador romano. A situação do povo israelita ficava cada vez mais difícil.
Os impostos sobrecarregavam os mais pobres, aqueles que viviam da terra e que
tinham pouco para sobreviver. Jesus vivia nesse contexto e estava ao lado do pobre
que sofria com todo tipo de exploração em uma terra que contava com muitas
riquezas, afinal, havia cobrança excessiva de impostos e o pobre subsistia sob
pesada tributação. “Ao longo da estrada inteira [...] não cessam de pagar, aqui pela
água, ali pela forragem ou pela hospedagem durante as paradas e pelas diversas
taxas. Assim é que as despesas se elevam a 688 denários por camelo, até que se
atinja a costa mediterrânea” (PLÍNIO apud SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 21).

Até aproximadamente o ano de 66 d.C., o governo da Palestina estava sob a


responsabilidade de príncipes herodianos e os publicanos eram os responsáveis
pela cobrança dos impostos e pelo controle dos trabalhos de arrecadação das taxas
pagas pelo povo, os publicanos eram “[...] financistas, geralmente oriundos da
ordem eqüestre, têm coletorias que contratam empregados no local. Lucas nos
conta assim a vocação de Levi-Mateus: Jesus saiu, viu um publicano chamado Levi,
sentado na coletoria de impostos (Lc 5,27)” (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.
21). Era muita exploração para esse povo que cria na dádiva gratuita da terra dada
por Deus para seus descendentes.

Segundo creem os judeus, a Palestina, dada de herança aos hebreus por seu
Deus, era uma terra rica e cheia de dádivas, e isso causava interesse de outros
povos. A agricultura era uma verdadeira benção de Deus para seu povo. O trigo era
abundante em toda a terra, abastecia a Judeia e Israel. A cevada era outra dádiva
dada por Deus e abundante na região. Havia ainda outras culturas importantes na
dieta da Palestina, onde encontravam-se figueiras, oliveiras, vinhas – que estavam
por toda a parte na Judeia e eram essenciais para o consumo no Templo. E não era
apenas isso, havia muito mais abundância na terra abençoada por Deus, havia “[...]
frutas ou legumes, [...] lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião; há tal abundância
de frutas e de legumes de toda espécie, que se costuma dizer que o peregrino tem
certeza de encontrar tudo que precisa em Jerusalém” (SAULNIER; ROLLAND,
1983, p. 23).

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Um setor carente da economia da Palestina era o da pecuária: “Josefo fala sem
dúvida do leite muito abundante da Judéia-Samaria, o que supõe animais [...]. Na
criação dos rebanhos, numerosos na Judéia, o interesse está somente nas ovelhas
[...] e nos cordeiros (necessários para o culto)” (SAULNIER; ROLLAND, 1983,
p. 24). A carne consumida em toda a região era obtida por meio da importação
de regiões como Transjordânia, Moab e Saron. Porém, o consumo da carne era
reservado em sua maioria para a elite e para o Templo, enquanto a população em
geral só consumia carne em dias de festa, ou seja: “[...] a Palestina do séc. I é um
país bastante rico no setor agrícola, satisfazendo amplamente às suas necessidades,
não obstante possuir uma população relativamente densa para a época: 600 mil
habitantes em 20 mil km2” (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 25).

A economia contava ainda com uma relevante indústria pesqueira, a construção


empregava um contingente razoável de operários, segundo Saulnier e Rolland
(1983), esses trabalhadores poderiam chegar a mais ou menos dezoito mil e estavam
empregados na Cidade de Jerusalém para a construção e reforma do Templo,
além de se ocuparem das obras de pavimentação da cidade. Outra ocupação, em
especial no emprego da mão de obra feminina, era a da fiação e tecelagem de lã,
dado que os homens que se ocupavam desse ofício não eram bem vistos.

Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons

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A indústria do couro e da cerâmica também estava presente na sociedade


palestina. Havia ainda o comércio, principalmente em torno das necessidades do
Templo, movimentando bastante o capital da região; mas não era somente isso,
havia ainda outras atividades econômicas importantes na Palestina, tais como o
betume, “[...] substância viscosa e colante que, em certa época do ano bóia sobre
as águas de um lago da Judéia chamado Asfáltico” (PLÍNIO apud SAULNIER;
ROLLAND, 1983), que era um produto importante, inclusive, para a exportação
a outras regiões como, por exemplo, o Egito, onde “[...] é utilizado não só para
a calafetagem dos navios, mas também como remédio: entra na composição de
muitos produtos farmacêuticos” (JOSEFO, [19--?], p. 481).

Segundo Saulnier e Rolland (1983): “Em Jerusalém concentra-se todo um


artesanato de luxo, quer para o Templo (perfumes), quer para os peregrinos que já
naquele tempo apreciavam os bibelôs-lembranças da Cidade Santa! Como centro
de peregrinação [...]”, e não era só: “Jerusalém conhece ainda outros ofícios que
são mais raros em outros lugares: padeiros, carregadores de água, barbeiros e até
mesmo um serviço de limpeza urbana, para manter a pureza nas vizinhanças do
Templo” (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 26).

Apesar da abundância descrita acima, as condições do homem do campo, nos


tempos de Jesus, eram bastante sofridas, as perdas ocorridas por causa de secas e
outros problemas com as colheitas: ao invés de ter a compreensão dos poderosos,
muitas vezes acarretavam na perda da propriedade do pobre para os ricos e
poderosos, ocasionando grande violência econômica, além da violência simbólica
para o camponês habituado à sua terra – não apenas a terra como propriedade,
mas como pertencimento a um espaço físico que representava a sua vida e fé.

Nesse sentido, Jesus não pregava uma revolução política, mas uma resistência
contra o espólio dos valores culturais. Era, na realidade, uma revolução social bem
demarcada, para que todos tivessem vida, e tivessem vida plenamente; era
uma pregação que tinha a pretensão de conscientizar o povo pobre de Israel para
defender sua libertação plena. Era uma revolução que visava resgatar o espaço físico
desse povo, mas também o que havia de simbólico naquela cultura, a solidariedade
entre irmãos, que ia muito além da caridade restrita à benevolência dos ricos para
com os pobres, condição ligada apenas ao seu significado material estrito. Mas
não era isso que pregava Jesus: sua revolução contemplava o indivíduo inserido na
coletividade, ou seja, o sujeito-cidadão que estava em relação à comunidade e que
se sentia sujeito de transformação social.

Jesus age na transformação do indivíduo para atingir a coletividade, é o sujeito


que sai de si e vai de encontro ao outro, voltando transformado desse encontro!
Agindo no indivíduo, Jesus age na sociedade. E mais, Jesus veio para todos, defende
o pobre dos opressores, mas também chama os opressores à salvação. “Depois
disso, saiu, viu um publicano, chamado Levi, sentado na coletoria de impostos e
disse-lhe: ‘Segue-me!’ E levantando-se, ele deixou tudo e o seguia” (Lc 5, 27).

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Explor
A Dinastia dos Hasmoneus começa com a famosa história de Hanukkah. Na sequência da
conquista da Terra de Israel por Alexandre, o Grande, que anexou a maior parte do Mundo
Antigo, a Terra Santa ficou sob o controle dos governantes Gregos Selêucidas. Os Selêucidas
proibiram o estudo da Torá e profanaram o Templo Sagrado, na tentativa de erradicar a
religião e a cultura judaicas [...] o povo judeu revoltou-se, em 166 A.E.C., sob a liderança
do heroico Judas Macabeu, da família dos Hasmoneus [...]. Os Hasmoneus governaram a
Terra de Israel por quase um século. Acreditavam que a sua Dinastia era a continuação da
Era dos Shoftim (Juízes) e dos Reis, dos primórdios de Israel, e consolidaram o poder judicial,
religioso, político e militar. Também expandiram as fronteiras físicas da Terra, restaurando
quase todas as fronteiras da Era de Salomão.

Fonte: https://goo.gl/KX0Nxm, grifos do autor.

Jesus Confronta os Poderosos


e a Cultura da “Não Vida”
Segundo a Bíblia de Jerusalém (1995), pelo ano 7 a.C., Herodes mandou
estrangular seus dois filhos, Alexandre e Aristóbulo; mais de seis mil fariseus
negaram juramento a Augusto na ocasião de um recenseamento na região, na
ocasião do nascimento de Jesus, entre 7 e 6 a.C.; por volta do ano 4 a.C., houve
a execução de Antípater, filho mais velho de Herodes, que fez seu testamento em
favor dos filhos de Maltace, a samaritana, Arquelau e Herodes Antipas e de Felipe,
filho de Cleópatra, Herodes morreu em Jericó e seu filho, Arquelau, transportou
seu corpo para o Herodion.

Após a morte de Herodes, Arquelau sufocou uma sublevação em Jerusalém e


partiu para receber das mãos de Augusto, em Roma, a investidura de governante.
No ano 4, Sabino foi para Jerusalém fazer o inventário dos recursos do reinado
de Herodes e constatou que o País vivia uma séria instabilidade político-social.
Segundo a Bíblia de Jerusalém (1995), foi nesse contexto que se deu a revolta de
Judas Galileu (At. 5, 37) e do fariseu Sadoc, ambos contrários à obediência à Roma
e à cobrança de impostos, sendo nesse período que surgiram os zelotas (Mt 22,
17). Houve grande repressão contra os revoltosos – há notícias de mais de dois mil
crucificados devido à intervenção de Varo.

Os registros do historiador judeu-romano Flávio Josefo repetem os aconteci-


mentos do ano 4, segundo o qual a agitação deveu-se ao recenseamento de Qui-
rino; porém, no ano 6, segundo Josefo, a revolta de Judas e Sadoc teria ocorrido
em ocasião do inventário dos bens de Arquelau, portanto, há uma duplicata desse
relato histórico, ou seja, houve a revolta de Judas e Sadoc contra o império roma-
no, ação que foi violentamente sufocada. As revoltas se tornaram constantes na
época de Jesus e em larga escala estavam relacionadas diretamente à exploração
dos pobres.

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Tudo parecia ser motivo para se criar um novo imposto, havia, inclusive, o
imposto vinculado ao templo, e Jesus não hesitou em recriminar os excessos em
relação à religião de seu tempo, expulsando os vendedores e cambistas do Templo.
Jesus estava defendendo a inclusão de todos, inclusive dos que não podiam mais
frequentar a Casa de Deus em consequência da “gentrificação” ocorrida na religião
judaica, e lembrava o motivo de sua revolta contra os abusos que ocorriam: “Não
está escrito: minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Vós,
porém, fizestes dela um covil de ladrões!” (Mc 11, 17). Havia na Lei judaica impostos
devidos ao Templo, mas Jesus chamava a atenção para a discriminação ocorrida
contra os excluídos de seu povo. Segundo Silva ([20--]), aos impostos devidos ao
Estado se acumulavam impostos devidos ao Templo:
Outros são os impostos diretos que o Estado romano exige: o tributum
soli ou agri, sobre o capital e a produtividade rural, que atinge os
produtores rurais, principalmente os proprietários de terra. Além desse,
tem o tributum capitis, que segue dois critérios: taxa fixa de um denário,
cobrada das mulheres a partir de 12 anos e dos homens a partir de 14
anos, para ambos até aos 65 anos. E o imposto territorial de 1% sobre o
valor imobiliário. Os romanos também exigem o pagamento do annona,
uma contribuição anual, geralmente em espécie, destinada a suprir as
necessidades das tropas de ocupação. Além desses impostos exigidos
pelos romanos, há todos os tributos estabelecidos na Lei judaica e que
estão intimamente vinculados ao Templo, a exemplo dos dízimos e da
didracma para o Templo. O que significa, em comparação com outros
povos, uma dupla tributação.

Jesus pregava a caridade, mas não era uma caridade paternalista, em um


contexto em que o rico estava cada vez mais agarrado às suas posses: “[...] vai,
vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu [...]. Ele, porém,
contristado com essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens”
(Mc 10, 21-22). O rico não se desprendia de suas posses e o pobre estava cada
vez mais miserável, sendo explorado de todas as formas; havia ainda a exploração
do Estado que, espoliando ainda mais o pobre, independentemente das condições
pelas quais este passava, ao pobre era dificultado o acesso aos bens mais básicos
para a sua sobrevivência, e os impostos cobrados dificultavam ainda mais a vida já
bastante sofrida naquele contexto, e pior, “[...] a consequência dos altos impostos
é um encarecimento dos produtos e um empobrecimento gradativo da população,
porque os tributos têm que ser pagos independentemente das colheitas; em anos
bons ou ruins, era fixo” (SILVA, [20--]). Ademais, quando o pequeno agricultor não
conseguia arcar com tantos impostos, acabava perdendo a sua propriedade, em
geral, seu único meio de sobrevivência e de sua família, que era uma família em
sentido mais amplo do que a família que surgiu com a burguesia na Idade Moderna
– a que conhecemos atualmente.

Todavia, mencionar impostos e outros aspectos materiais não resume toda a


discriminação político-social existente nos tempos de Jesus, e este aspecto é um
dos mais fundamentais na sua pregação, o preconceito religioso-cultural:

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A terra pertence a Deus que a dá a seu povo; todos são iguais diante dele
[...]. Fora preciso inventar instituições como o ano sabático ou jubilar,
para relembrar esta igualdade social [...], pois necessariamente a cultura, a
riqueza, a profissão, criavam diferenças. Por outro lado, para os judeus, a
Lei Civil não é outra senão a Torá, a Lei Religiosa: os que são seus guardi-
ães ou seus intérpretes, os sacerdotes e também os escribas têm, pois, por
força das circunstâncias, um lugar mais importante. “Entre outros povos
— escreve Josefo — outras considerações permitem determinar a nobre-
za; entre nós, porém, é a posse do sacerdócio que é prova duma ilustre
origem” – Autobiografia I, 1 – (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 39).

Desde 538 a.C., o sumo sacerdote passou a ser a referência máxima da Lei e
da moral para o povo de Israel, porém, não é bem assim:
Por causa das suas funções, o sumo sacerdote goza de grande dignidade,
o que lhe vale uma situação financeira confortável: cada tarde, é o
primeiro a escolher a sua parte entre as oferendas feitas ao Templo e
destinadas aos sacerdotes. O Templo é também uma fonte de renda
para ele; era, com efeito, um centro de comércio muito importante: por
causa das regras de pureza em vigor quanto aos animais que se devem
oferecer em sacrifício, os peregrinos são praticamente obrigados a
comprar essas vítimas no próprio Templo; além disso, compra-se muita
madeira de valor, perfumes e outros objetos de luxo, únicos dignos do
Senhor. Ora, todo esse comércio pertence à família do sumo sacerdote
ou então é confiado a grandes comerciantes que oferecem propinas para
participarem do negócio. Como esses meios nem sempre satisfazem os
apetites do sumo sacerdote e os de sua família, às vezes ele se serve
de outros: apropria-se pela força das peles dos animais degolados, que
deveriam pertencer aos outros sacerdotes, vai aos sítios roubar o dízimo
que lhes é igualmente destinado [...]. Ou usa a intriga, a chantagem, e até
o assassinato. (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 39).

Tal situação estava cada vez mais insustentável, dado que para grande parte dos
sumos sacerdotes a “Lei” e a “moral” de Israel estavam corrompidas pelo poder
e pelas regalias dadas pelo império romano. O sinédrio era um verdadeiro covil
de feras que defendiam apenas seus interesses e os do império romano. Era uma
situação de “morte moral” na pele daqueles que deveriam ser fonte de instrução
e sabedoria para o povo de Deus. Em uma sociedade estática, com imensas
dificuldades de ascensão social, determinada pelo nascimento e pela religião –
sacerdote ou não, judeu puro ou bastardo, rico ou pobre –, os miseráveis e as
mulheres receberam atenção especial de Jesus, e tal atitude causava escândalo aos
ouvidos da elite, esta que se voltava cada vez mais contra a sua pregação.
Contudo, Jesus não se intimidava e seguia exortando seus seguidores a mudarem
de vida. A trave no olho e o cego que recupera a visão são exemplos de parábolas
que instigavam os seus contemporâneos a perceberem as injustiças existentes naquela
sociedade. O Homem de Nazaré combateu os poderosos de seu tempo, os portadores
da cultura da “não vida” e convidou outros a seguirem os seus passos, a combaterem
aquele poder que causava a destruição do projeto de Deus para seu povo.

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Explor
Sinédrio: do grego synédrion (sentar-se juntos) – é a corte suprema de Israel. Suas origens
remontam, sem dúvida, à época persa e suas primeiras menções ao reinado de Antíoco III
(223-187). Foi instituído no tempo de João Hircano (134-104). Como nas cidades helenís-
ticas, é um conselho que assiste o sumo sacerdote, chefe supremo da Nação que é seu
presidente. Compreende 71 membros: anciãos, os sumos sacerdotes depostos, sacerdotes
saduceus e depois, cada vez mais, escribas fariseus. Herodes Magno limitou seus poderes,
mas sob a ocupação romana, estes foram restabelecidos e até mesmo ampliados. Corte de
justiça, julga delitos contra a Lei, fixa a doutrina e, finalmente, controla toda a vida religi-
osa. Tem-se discutido muito, sem chegar a uma certeza, para saber se tinha, à época de
Jesus, o poder de executar um condenado. Em todo caso, para pronunciar uma condenação
à morte, eram necessárias duas sessões com 24 horas de intervalo. Tinha uma guarda à sua
disposição (Jo 18, 3.12). Após a catástrofe de 70 d.C., reconstituiu-se em Jâmnia, mas foi,
então, uma instituição completamente diferente na sua competência e no seu espírito. Em
toda a Palestina havia pequenos sinédrios de três membros, entre os quais o juiz (Mt 5, 25).

Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons

Jesus e a Pregação da “Boa Nova”


Segundo Alberto Nolan (1987, p. 200): “Jesus não reivindicou títulos divinos
ou autoridade divina, mas ele reivindicou, sim, o conhecimento da Verdade, e um
conhecimento que não precisava se apoiar em nenhuma autoridade a não ser a
própria verdade”. Jesus é a palavra e a ação traduzidas em “Boa Nova”, dado que
sua luta não foi qualquer batalha, pois lutou contra um império poderoso e contra
o status quo da elite judaica para anunciar a nova aliança de Deus com seu povo, a
aliança que mais uma vez fora rompida pela ganância de uma parcela da população
judaica. Jesus empreendeu uma dura caminhada para mostrar e demonstrar o
caminho a ser seguido – que era/é a Verdade e a Justiça! O Seu Reino era um

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escândalo para os poderosos dos tempos de Jesus e – por que não dizer? – para os
poderosos hodiernos, o Reino de Deus, como “Boa Nova”, é para todos!

Para realizar o “Seu” Projeto, Jesus, no ano 27, depois de um longo hiato,
voltava aos relatos cronológicos da história de Jerusalém; por essa época, segundo
a Bíblia, no outono desse ano, houve uma pregação de João Batista e o começo
do Ministério de Jesus (Lc 3, 2), “[...] sendo sumo sacerdote Anás, e Caifás, a
palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto”. João Batista
anunciou o batismo e o arrependimento e em seus pronunciamentos está implícito
que o Messias estava a caminho. João anunciava a chegada de Jesus, quem
iniciaria Sua vida pública. Segundo a Bíblia, Jesus, ao iniciar Seu Ministério, tinha
aproximadamente trinta anos de idade, espalhando o “Reino de Deus e sua Boa
Nova” e, segundo os relatos do Evangelho de Mateus:
Esse Reino de Deus (dos Céus), que deve estabelecer entre os homens a
autoridade soberana de Deus como Rei, finalmente reconhecido, servido
e amado, tinha sido preparado e anunciado pela Antiga Aliança. Por isso
Mateus, que escreve entre os judeus e para os judeus, procura mostrar na
pessoa e na obra de Jesus principalmente o cumprimento das escrituras.
Em cada encruzilhada de sua obra, ele se refere ao AT para provar como
se “cumprem” a Lei dos Profetas, isto é, não só se realizam conforme era
esperado, mas também chegam a uma perfeição que os coroa e supera
(BÍBLIA DE JERUSALÉM, 1995, p. 1.833).

A pregação de Jesus se iniciou na Galileia, onde sua fama se espalhou. Pregava


nas sinagogas e fazia milagres, segundo os evangelhos. A pregação de Jesus é
questionadora e inquietante para a elite e o império romano. Jesus, por meio de
suas parábolas, denunciava as injustiças político-sociais contra os pobres de seu
tempo. O objetivo da pregação de Jesus era despertar o povo oprimido pelas
elites, tanto a judaica quanto a elite estrangeira que ocupava seu país. Porém, a
pregação de Jesus era mais uma entre tantas outras, afinal, “[...] o estabelecimento
do Reino de Javé na Terra parecia algo passível de ser obtido, tanto que durante o
império romano assistiu-se a uma longa sequência de levantes em favor das idéias
de restauração nacional de Israel” (SCARDELAI, 1998, p. 41).

Jesus prega em defesa dos oprimidos e contra os opressores, de modo que seu
discurso está bem contextualizado, abordando um contexto político-econômico es-
pecífico, e é culturalmente bem situado, dizendo fundo à sociedade judaica e aos pre-
ceitos que a elite de seu povo deveria ter em relação aos pobres e excluídos, assim,

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

[...] o Reino de Deus não é apenas o tema que abarca a declaração profética
de Jesus sobre o julgamento contra os governantes romanos e os seus
dependentes em Jerusalém, mas esse aspecto de julgamento do Reino
tinha uma contraparte construtiva de libertação, novas forças e renovação
para o povo. No discurso político moderno, no aspecto de julgamento do
Reino de Deus, Jesus proclamava que Deus estava no processo de efetuar
a “Revolução Política” que transtornaria a ordem imperial romana na
Palestina. Então, no aspecto construtivo, na confiança de que Deus estava
cuidando da ordem política dominante, Jesus e o seu movimento estavam
realizando a “Revolução Social” que Deus estava tornando possível e forte
nas comunidades rurais da Galiléia (HORSLEY, 2004b, p. 109).

Concluindo, os evangelhos estão plenos de história da vida de Jesus e de Sua


luta pela libertação de Seu povo; da libertação do jugo imposto por um grande
império, o romano, e da libertação do povo pobre que estava sob o jugo desse
império e das elites judaicas que também subjugavam seu próprio povo. A história
da Salvação é realizada por um homem chamado Jesus, que se encarnou e viveu
um contexto real dentro de uma cultura em particular, a judaica. Tal história é lida e
interpretada há mais de dois mil anos; trata-se, portanto, de um estudo complexo,
mas possível de ser realizado, pois:
O estudo histórico de Jesus deve incluir uma interpretação histórica de
suas próprias reivindicações religiosas. É preciso incluí-los e, uma vez que
fazem afirmações universais sobre a vida humana, o intérprete dificilmente
pode fazer justiça histórica, sem admitir uma reação semeada com eles.
O problema é que a teologia geralmente ignora a História, ou faz-se a
teologia e a chama de História. A solução não é ignorar a teologia, ou de
fazer teologia e chamar-lhe de História. A solução é fazer os dois juntos e
reconhecer que, na sua dialética, é possível distingui-los, mas não separá-
los. Eles são os dois lados da mesma moeda de Jesus – ou você vê apenas
um lado da moeda? (CROSSAN, 1994).

Figura 3 ­­– A Boa Nova de Jesus é para todos!


Fonte: iStock/Getty Images

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Explor
Resumo cronológico do império romano no contexto do nascimento de Jesus:
Antes de Cristo:
• 49 – César entra na Itália com seu exército; começo das guerras civis; ditadura de César;
• 48 – Pompeu é vencido na Batalha de Farsala;
• 44 – Assassinato de César;
• 43 – Triunvirato: Marco Antônio, Otávio e Lépido;
• 42 – Os “republicanos” são derrotados em Filipos;
• 31 – Batalha de Actium: derrota de Marco Antônio e Cleópatra;
• 27 – Otávio recebe o título de Augusto. O Senado lhe confirma seu poder tribunício e lhe
reconhece o domínio proconsular sobre as províncias imperiais;
• 12 – Augusto toma o título de pontífice máximo;
• 2 – Augusto é proclamado “pai da Pátria”.
Depois de Cristo:
• 14 – Morte de Augusto;
• 14-37 – Tibério;
• 37-41 – Calígula, dinastia;
• 41-54 – Cláudio Júlio-Cláudios;
• 54-68 – Nero;
• 68-69 – Reinados efêmeros de Galba, Otão e Vitélio;
• 69-79 – Vespasiano;
• 79-81 – Tito, dinastia;
• 81-96 – Domiciano Flávios;
• 96-98 – Nerva;
• 98-117 – Trajano;
• 117-138 – Adriano;
• 138-161 – Antonino, o pio, dinastia;
• 161-180 – Marco Aurélio Antoninos;
• 180-192 – Cômodo (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 9).

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A Figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré, de Joseph Ratzinger
BRITO, J. G. de. A figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré, de Joseph
Ratzinger. 2014. Dissertação (Mestrado em Teologia) - Universidade Católica Portu-
guesa, 2014.
Jesus Antes do Cristianismo
NOLAN, A. Jesus antes do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1988.
O Evangelho de Mateus e o Judaísmo Formativo
OVERMAN, J. A. O Evangelho de Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo:
Loyola, 1997.
Movimentos Messiânicos no Tempo de Jesus
SCARDELAI, D. Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros
messias. São Paulo: Paulus, 1998.
Um Judeu chamado Jesus
VIDAL, M. Um judeu chamado Jesus: uma leitura do Evangelho à luz da Torá.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

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Referências
BÍBLIA de Jerusalém. [S.l.: s.n.], 1995.

BRIGHT, J. História de Israel, São Paulo: Paulus, 1978.

BRITO, J. G. de. A figura de Jesus Cristo no livro Jesus de Nazaré, de Joseph


Ratzinger. 2014. Dissertação (Mestrado em Teologia) - Universidade Católica
Portuguesa, 2014.

CROSSAN, J. D. O nascimento do cristianismo: o que aconteceu nos anos que


se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004.

______. O Jesus histórico: a vida de um camponês judeu do Mediterrâneo. Rio de


Janeiro: Imago, 1994.

FAULKNER, N. Apocalypse: the great jewish revolt against Rome AD 66-73.


[S.l.]: Tempus, 2004.

GAGLIARDO, V. O. Entrevista com John Dominic Crossan – “Teologia e


História precisam caminhar juntas”. [20--?]. Disponível em: <http://www.revistaje-
sushistorico.ifcs.ufrj.br/arquivos5/crossan.pdf>. Acesso em: 22 maio 2017.

GOODMAN, M. A classe dirigente da Judéia: as origens da revolta judaica contra


Roma, 66-70 d.C. Rio de Janeiro: Imago,1994.

HANSON, J. S.; HORSLEY, R. A. Bandidos, profetas e messias: movimentos


populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.

HORSLEY, R. A. Paulo e o império: religião e poder na sociedade imperial


romana. São Paulo: Paulus, 2004a.

______. Jesus e o império: o Reino de Deus e a nova desordem mundial. São


Paulo: Paulus, 2004b.

______. Arqueologia, história e sociedade na Galiléia: o contexto social de


Jesus e dos rabis. São Paulo: Paulus, 2000.

______.; SILBERMAN, N. A. A mensagem e o Reino: como Jesus e Paulo de-


ram início a uma Revolução e transformaram o Mundo Antigo. v. 1. São Paulo:
Loyola, 2000.

JOSEFO. Guerra judaica. v. 4. [S.l.: s.n., 19--?].

LOHSE, E. O contexto e ambiente do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas,


2000.

MEIER, J. P. Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico. Rio de Janeiro:


Imago, 1992.

NOLAN, A. Jesus antes do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1988.

______. Jesus antes do cristianismo. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987.

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UNIDADE O Jesus que Antecede o Cristianismo

OVERMAN, J. A. O Evangelho de Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo:


Loyola, 1997.

PIERINI, Franco. A Idade Antiga. São Paulo: Paulus, 1998.

SAULNIER, C.; ROLLAND, B. A Palestina no tempo de Jesus. São Paulo:


Paulus, 1983.

SCARDELAI, D. Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros


messias. São Paulo: Paulus, 1998.

SILVA, R. M. dos S. A Judeia romana: política, poder e desagregação econômica.


[20--]. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/
praticas-discursivas/artigos/judeia.pdf>. Acesso em: 22 maio. 2017.

VIDAL, M. Um judeu chamado Jesus: uma leitura do Evangelho à luz da Torá.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

VOLKMANN, M. Jesus e o Templo. São Paulo: Sinodal; Paulinas, 1992.

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