Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Célio dos Santos Ribeiro
R484h
ISBN 978-65-5663-226-1
ISBN Digital 978-65-5663-223-0
1. Teologia. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 230
Impresso por:
Apresentação
História na concepção hegeliana não é nada linear, mas sempre carre-
gada de movimentos dialéticos que geram algo novo e melhor. Por Teologia,
seria ingenuidade acolhê-la como mero estudo de Deus e não seria suficiente
defini-la enquanto estudo da revelação de Deus. Deus, o Theos é o infinito, é o
Mistério a ser experimentado na existência, por isso pode ser buscado e encon-
trado na história, na cultura, nas religiões e nas relações sociais.
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para
diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institu-
cionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar
seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de De-
sempenho de Estudantes – ENADE.
Bons estudos!
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO,
CRISTIANISMO E ISLAMISMO:
CONCEITOS, HISTÓRIA E A
IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS
COMUNS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
3
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
geográfico com a ideia de Deus. Povos que viviam em florestas criaram até mesmo
um culto à mãe natureza. Ainda, povos que viviam em guerras, envolveram Deus
em seus conflitos. Vencer a guerra é ação de Deus e perder a batalha é castigo
de Deus. Logo, é a experiência de transcendência a partir da imanência ou na
existência o ser humano define a essência.
Assim, fica nítido que a teologia e/ou a busca por Deus não está limitada
ao Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, o planeta já era bem mais extenso em
relação à visão de mundo dos primeiros teólogos judeus, cristãos e islâmicos.
China, Índia e a própria África já haviam iniciado a experiência de buscar por
Deus, resultando diferentes teologias, que culminaram com as profissões de fé
afro, hindu, xintoísta, taoísta, budista e outras.
UNI
4
TÓPICO 1 — TEOLOGIA, O QUE É ISSO?
Na filosofia não há pensador moderno que não tenha tratado sobre a im-
portância do método. Isto é fato em Descartes, Spinoza, Leibniz, Bacon e Kant,
porém, a teologia ignorou a questão do método por muito tempo.
Um dos autores que trabalhou o tema com profundidade foi Bernard Loner-
gan (1975). Ele desenvolveu o método teológico transcendental, visando estabelecer as
condições gerais que são pressupostas para o estudo aprofundado da teologia, isto é, a
formulação e interpretação da busca por Deus e/ou processo de produção da teologia.
Na busca e/ou estudo de Deus, Lonergan divide seu ensaio em duas par-
tes: a primeira trata da elaboração do método transcendental e a segunda expõe a
aplicação do mesmo à Teologia.
5
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Por não estar limitada à pura facticidade, a teologia indaga o fático pelo seu
ser verdadeiro. Em outras palavras, o pensamento teológico não se contenta como
as coisas estão ou são definidas, sempre está no processo de busca, expressado
pela linguagem humana e com categorias humanas.
7
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• O pesquisador tem como tarefa recolher dados sobre a relação humana com
o divino e interpretar o significado do objeto em questão.
8
AUTOATIVIDADE
9
10
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
11
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Os onze primeiros capítulos do Gênesis, por exemplo, não foram escritos como
um curso sobre as origens da humanidade, com lições de astronomia, história na-
tural e conhecimento biológico. São relatos numa linguagem simples e figurada,
adaptada às inteligências de um povo em desenvolvimento, são verdades funda-
mentais necessárias ao conhecimento possível sobre Deus, bem como a descrição
popular das origens do gênero humano.
Este longo processo de redação tem sido estudado por diferentes linhas teo-
lógicas, com resultados satisfatórios, reconhecendo quase unanimemente, por exem-
plo, no texto da Torah e/ou Pentatêuco, a presença de quatro fontes ou documentos
principais: a fonte Javista (J), a Eloista (E), a Deuteronomista (D) e a Sacerdotal (P).
12
TÓPICO 2 — TEOLOGIA JUDAICA: A BUSCA POR DEUS NO JUDAÍSMO
13
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
3 NEOJUDAISMO
Atualmente não há dúvidas, devido à sucessão de catástrofes históricas do
povo hebreu, que foi gestado um novo judaísmo e/ou recuperação parcial da experi-
ência religiosa durante e após exílio na Babilônia, incluso uma nova teologia judaica.
14
TÓPICO 2 — TEOLOGIA JUDAICA: A BUSCA POR DEUS NO JUDAÍSMO
ATENCAO
15
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Pouco antes do fim do exílio (538 a.C.), a teologia de Ezequiel expressa a voz
inflamada de um personagem teológico intitulado de Deutero‑Isaías (Livro de Isaías,
40‑55 disponível na bíblia hebraica e bíblia cristã), que percebeu nas vitórias de Ciro,
rei da Pérsia, os sinais da próxima libertação e/ou redenção do povo hebreu.
16
TÓPICO 2 — TEOLOGIA JUDAICA: A BUSCA POR DEUS NO JUDAÍSMO
UNI
17
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
18
TÓPICO 2 — TEOLOGIA JUDAICA: A BUSCA POR DEUS NO JUDAÍSMO
Assim, se a teologia judaica levou cerca de mil anos para ser escrita e
fixada (Do século X a.C. até a promulgação do Cânon de Jâmnia, entre 90 e 105
d.C.), quase outro tanto foi o tempo da formação e crescimento das tradições
orais que ligam Abraão ao aparecimento dos primeiros escritos‑fontes da Torah
e outros escritos, para posteriormente serem definidos os dogmas do Judaísmo.
19
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
20
TÓPICO 2 — TEOLOGIA JUDAICA: A BUSCA POR DEUS NO JUDAÍSMO
E
IMPORTANT
21
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
NOTA
O termo Torah pode ser usado para se referir à Bíblia Hebraica ou, simplesmente
“Escrituras”, que é composta por três partes: a Torah (O Pentatêuco: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio), os Nebiim (Os Profetas: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jere-
mias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias e Malaquias) e os Ketubim (Os escritos: Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos,
Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas).
22
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Mesmo com a insegurança das fontes, o que fica fora de dúvidas é que a
Teologia Judaica foi marcada pela forte relação entre poder e religião, ficando
difícil definir o que é religioso e o que é profano. Inicialmente, Deus foi
definido a partir do discurso do patriarcado de Abraão e Moisés, a seguir
pelos denominados Juízes e depois pelos Monarcas e Rabinos.
23
AUTOATIVIDADE
24
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
25
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
26
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
E
IMPORTANT
27
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Segundo esta teologia, Deus atuou como Pai ao criar o mundo, o mesmo
atuou como Jesus que morreu na cruz e atua na história como Espírito. O
principal oponente de Sabélio foi Tertuliano, que chamou a doutrina de Sabélio
de patripassionismo, isto é, Deus Pai, na afirmação de Sabélio, havia sofrido na
cruz. Assim, este foi acusado de herege.
28
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
ATENCAO
29
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Exímio teólogo do século II, possivelmente caiba a ele a honra de ter sido o
primeiro a formular sistematicamente a fé cristã. Irineu considera o Filho gerado
e não criado, deixando de explicar o mistério, porque o Mistério não pode ser
contemplado e jamais explicado.
Assim, o Filho procede do Pai como o raio se irradia do Sol. Foi ele quem
abriu caminho para a expressão dogmática cristológica da união hipostática das
duas naturezas de Jesus Cristo, humana e divina. Os milagres de Jesus revelam
sua divindade, os sentimentos e a paixão sua humanidade.
30
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
Assim, Deus não seria Trindade em si, seria um e único. Segundo Fragiotti
(1995), Sabélio foi condenado por heresia. A teologia latina sobre a Trindade teve
grandes representante. A exemplo de Agostinho de Hipona, Tomas de Aquino e
João Dunus Scoto.
31
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
32
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
DICAS
UNI
34
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
UNI
Qumrã, local habitado por judeus essênios, nas proximidades do Mar Morto, atu-
almente entre Jordânia e Israel, provavelmente surgiu após a queda de Jerusalém no ano 70
d.C. Foi uma comunidade, muito preocupada em preservar o judaísmo sem a profissão de fé
nos Messias Jesus de Nazaré e Bar Kochba, mas preservavam a fé na vinda de aCuriosamente,
“foi um pastor de nome Muhammed que em 1947 encontrou talhas de barros contendo ma-
nuscritos do Antigo e Novo Testamento” (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 40).
35
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
[...] muitos de vós conheceis, por ter lido a Sagrada Escritura, como
queremos viver e como vivemos graças à misericórdia de Deus.
Contudo, para que recordeis, ser-vos-á lido o texto mesmo do livro dos
Atos dos Apóstolos, a fim de que possais ver onde está descrita a forma
de vida que queremos cumprir. Quero ver-vos atentos enquanto dura
a leitura, para falar-vos depois dela e com a ajuda do Senhor, sobre o
que eu vos tinha prometido (AGOSTINHO apud BOFF, 1988, p. 185).
Essa maneira de viver não era obrigatória para todos os clérigos, porém,
aos que voluntariamente a aceitavam, Agostinho impunha a observância dos pre-
ceitos de Cristo como obediência ao bispo, ou seja, a castidade e a atitude evan-
36
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
Quem quiser ter alguma coisa privada e viver dela, agindo contra
nossas normas, é pouco dizer que não continuará comigo; não
continuará nem como clérigo. É verdade: havia dito, e estou consciente
disso, que se não quisessem assumir comigo a vida comunitária, não
lhes tiraria o clericato, o qual poderiam manter, vivendo sozinhos e
servindo a Deus como quisessem. Contudo, coloquei-lhes diante
dos olhos o grande mal que significa decair do propósito. Preferi Ter
coxos a chorar mortos. Com efeito, quem é hipócrita, está morto. A
quem encontrar vivendo na hipocrisia, a quem achar possuindo algo
privado, não lhes permitirei fazer testamento, mas o riscarei da lista
dos clérigos (AGOSTINHO apud BOFF, 1988, p. 194).
Tal gênero de vida assumido por Agostinho e por seus discípulos subsis-
te, ainda hoje, embora que no decorrer dos tempos tenha ficado influenciado por
superestruturas nos moldes de micros, médias e grandes empresas multinacionais
(Atualmente, no Brasil, as principais empresas que exploram o mercado — editorial,
clínico e educacional — estão concentradas nas mãos e no poder de Congregações
ou Ordens Religiosas que se consagraram com a força da filantropia e muito capital).
37
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
5.1 O QUERIGMA
38
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
NTE
INTERESSA
5.2 OS EVANGELHOS
39
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Na mesma carta fica nítido o amor de Jesus pelos cristãos; que com
sua morte, Jesus exclui da história todos os rituais relacionados aos sacrifícios
judaicos. Define a cruz enquanto cumprimento das profecias da Bíblia judaica.
ATENCAO
Sobre o Código de Muratori, Bruce (2011) afirma que recebeu este título
devido ao bibliotecário, um sacerdote italiano chamado Ludovico Antonio
Muratori, que o encontrou na Biblioteca Ambrosiana de Milão, no século XVIII.
Muratori publicou seu achado em 1740.
6 O CÂNON BÍBLICO
Em teologia, você já sabe que canôn é a lista dos livros pertencentes à Bíblia.
A partir do século IV d.C. os escritores cristãos começam a empregar as palavras
“kanonizómena” ou “kanoniká” para aqueles livros que “regulamentavam” a fé e
os costumes cristãos, sendo por esse motivo arrolados no catálogo das Escrituras
Sagradas. Assim, o cânon é o elenco, estabelecido pelas lideranças cristãs, dos
livros que devem normatizar a fé e a vida dos cristãos.
41
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
42
TÓPICO 3 — TEOLOGIA CRISTÃ: A BUSCA POR DEUS NO CRISTIANISMO
43
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Primeiro são elites religiosas que o seduzem a usar seu poder de messias
para livrar-se da cruz. Em seguida, os soldados aludem ao seu poder político,
instrumento capaz de libertá-lo da morte. Por último, um dos ladrões se aproxima
para que o também crucificado lhe garanta a mera sobrevivência. Mas, completam-
se o “Ser Filho” em Jesus e o “Ser Pai” em Deus, quando, numa situação dramática
de abandono, Jesus morre... com as palavras: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
Espírito”, ou seja, entrega aquele que foi recebido no batismo.
44
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
45
AUTOATIVIDADE
47
48
TÓPICO 4 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, além da origem e contexto em que o Islã foi gestado, também
serão enfatizados os pontos comuns existentes no islamismo, cristianismo e
judaísmo e as expressões teológicas coincidentes entre elas, por exemplo, o
monoteísmo, o mesmo procedimento de busca, a importância do texto sagrado
escrito e a forte ligação entre comunidade política e comunidade religiosa.
Devido às viagens com seu tio, entrou em contato com outras culturas,
incluso o judaísmo e o cristianismo. Seu avô era muito influente, comerciante de
49
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
E
IMPORTANT
50
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
ATENCAO
A primeira possibilidade para suceder a Maomé era Ali ibn Abi Talib,
primo e genro do profeta, mas o escolhido foi Abu Bakr (632-634), um dos sogros
do profeta e um dos primeiros a se converter ao Islã.
Para a sucessão, Abu Barkr indicou Umar ibn al-Kattab, como segundo
califa, que governou entre 634 e 644. Este foi responsável pela expansão árabe-
muçulmana, conquistando a Síria, a Palestina, o Egito e parte da Pérsia. Com sua
morte, foi sucedido por Uthman ibn Affan (644-656) e foi neste califado que o
texto oficial do Alcorão foi confeccionado e as conquistas árabes ampliadas pelo
norte da África e pela Ásia Menor, além da conquista total da Pérsia.
51
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Segundo o Alcorão sagrado, "Abraão jamais foi judeu ou cristão; foi, ou-
trossim, monoteísta, submisso, e nunca se contou entre os idólatras" (ALCORÃO
SAGRADO, SURATA 3ª, 67). E diz a respeito de Abraão e de Ismael:
E quando Abraão implorou: Senhor meu, faze com que esta cidade
seja de paz, e agracia com seus frutos os seus habitantes que creem
em Deus e no Dia do Juízo Final e Deus respondeu: Também aos
incrédulos agraciarei um pouco; mas depois serão condenados ao
tormento infernal. Que funesto Destino! E quando Abraão e Ismael
levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a
de nós pois Tu és Exorável, Sapientíssimo. Ó Senhor nosso, permite
que nos submetamos a Ti e que surja de nossa descendência uma
nação submissa à Tua vontade (ALCORÃO, 2ª SURATA, 126-128).
52
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
UNI
53
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
4.1 A FALSAFA
54
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
Para Giordani (1992), a tratar da Falsafa, ressalta: o deserto foi marcante para
o povo árabe. O deserto é instável, da noite para o dia podem desaparecer estradas.
Por isso, o árabe não pode confiar como os gregos, na uniformidade da natureza. A
instabilidade do deserto obriga a profissão de fé no destino misterioso que constitui a
essência das coisas. Por isso, na concepção islâmica, o mundo e o humano nasceram
com um destino irrevogável diante do qual só cabe dizer “Deus quer”.
Logo, a razão passa a ser um meio para o ser humano conquistar a verda-
de independentemente da revelação. Mas não demorou para a Falsafa ser inter-
pretada como perigo às leis previstas no islamismo, ultrapassando os limites da
tolerância religiosa, chegando ao fim após a morte do filósofo Averróis em 1198.
4.2 A KALAM
4.3 A MUTAZILA
A expressão pode ser traduzida por “isolados”. Foi uma escola teológica
que surgiu em Basra, século VIII, no interior do mundo muçulmano. É a escola
oficial dos islâmicos de cunho sunita.
55
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
NOTA
56
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
4.4 O SUFISMO
Para Roger Garaudy (1988), o sufismo é a dimensão mística do Islã, que pro-
cura concretizar os ensinamentos do Alcorão Sagrado, a Suna e os clássicos pilares
do islamismo. Segundo o mesmo autor, é verdadeiro afirmar que a espiritualidade
dos monges do deserto do cristianismo, os mestres espirituais do judaísmo, a ascese
budista e o gnosticismo de Alexandria também influenciaram o sufismo.
57
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
UNI
6.2 A SUNA
59
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Todo seguidor ou submisso entrega uma parte de sua renda para obras
assistenciais. É um símbolo da solidariedade coletiva dos fiéis que constituem a
Ummah, a comunidade islâmica.
É a peregrinação que deve ocorrer até Meca ao menos uma vez na vida
pelo muçulmano saudável e que disponha de condições para o feito. É a Casa dos
seguidores e submissos de Allah. Atualmente, Meca tem estrutura para acolher
até dois milhões de seguidores.
60
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
UNI
62
TÓPICO 4 — TEOLOGIA ISLÂMICA: A BUSCA POR DEUS NO ISLAMISMO
LEITURA COMPLEMENTAR
Martine Cohen
63
UNIDADE 1 - A TEOLOGIA NO JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
FONTE: Revista de Estudos da Religião setembro, 2010, p. 48-69. Disponível em: https://bit.
ly/3jhH5hl. Acesso em: 3 fev. 2020.
64
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• No final, há a busca dos pontos comuns existentes nas três grandes tradições
religiosas aqui analisadas.
CHAMADA
65
AUTOATIVIDADE
A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO,
BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO:
CONCEITOS, HISTÓRIA E A
IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS
COMUNS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
67
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
68
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Ainda, a partir das interpretações teológicas pode ser feita uma releitura de
Textos Sagrados para justificar guerras, fogueiras, inquisições, xenofobias, homofobias
e outros males que nada tem em Deus. Mas as interpretações podem resultar também
em amorosidade, altruísmo, sustentabilidade, comunhão, irmandade, fraternidade,
direitos humanos, coexistência e justiça social.
69
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
NOTA
2 AS VERDADES ETERNAS
Por muito tempo estas “Verdades Eternas” foram preservadas pela tradição oral
e ensinadas pelos sábios, pessoas que falavam mais pelo exemplo do que por palavras.
70
TÓPICO 1 — TEOLOGIA NO HINDUÍSMO: BUSCA POR DEUS NO HINDUÍSMO
Como gesto de gratidão pelo trabalho realizado por Krishna, ele passou a
ser chamado de Veda Vyasa. Anualmente, os hindus celebram o aniversário deste
sábio, é o dia do guru ou Professor Vyasa.
NOTA
2.1 A KAMA
71
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
2.2 A ARTHA
2.3 A DHARMA
A palavra Dharma pode ser definida por “missão do eu” e/ou “a identidade
de cada humano no Cosmo”. O Dharma é o nascimento dentro do espaço e tempo.
Ainda, pelo Dharma explica-se e justifica-se a classe social na qual o humano está.
72
TÓPICO 1 — TEOLOGIA NO HINDUÍSMO: BUSCA POR DEUS NO HINDUÍSMO
2.4 A MOKSHA
3.1 O KARMA
73
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
3.2 SAMSARA
• Brahmanes: os iluminados, que era uma minoria, classe social formada por
intelectuais, sábios e sacerdotes.
• Kshatriya: os braços de Brahma, que eram os políticos e militares, que
deveriam seguir as orientações dos brahmanes.
• Vaishyas: as coxas de Brahma, cuja função era cultivar a agricultura e
desenvolver o comércio.
• Sudras: a classe predominante, constituída de artesãos, pequenos camponeses
e operários.
74
TÓPICO 1 — TEOLOGIA NO HINDUÍSMO: BUSCA POR DEUS NO HINDUÍSMO
75
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Até o final do período védico, 500 a.C., era permitido sacrificar animais
e comer a carne, mas com o Budismo e Jainismo foi introduzido no Hinduísmo
o princípio da não violência, evitando efeitos para o kharma. Logo, a ideia de
coisa ou experiência sagrada no Hinduísmo difere de tudo o que encontramos
na Unidade 1, incluso o conceito de Livro Sagrado. São sagrados porque estão
relacionados com o humano e própria natureza.
5.1 OS VEDAS
76
uma teologia védica que está dividida em Rig-Veda, Sama-Veda (A Sabedoria
dos Cânticos), Yajur-Veda (Sabedoria dos Sacrifícios) e Atharva-Veda (Sabedoria
dos Sacerdotes).
O mantra deve ser repetido por várias vezes até a conexão com a energia
divina. É a ligação direta com Deus. Há mantra para a limpeza da mente,
prosperidade, amor, compaixão etc. Por exemplo:
77
Quanto à medicina, destacam-se a plantas medicinais e o uso da água
enquanto remédio principal ao humano. “A água elimina doenças de qualquer
ser vivo... que a água seja seu remédio para o acontecer da sua felicidade” (RIG-
VEDA, 1957, p. 118).
Não é possível definir a data correta e nem os autores deste texto sagrado.
Provavelmente, o Upassades ou Upaxades foram escritos durante o século XVI a
VII a.C., bem antes que a Bíblia Judaica e Cristã. É o livro de invocações. É uma
teologia ad intra, isto é, em vez de buscar Deus fora do humano, faz o caminho
inverso, procura Deus na interioridade, levando ao autoconhecimento. É a busca
pela dimensão sagrada que habita em cada humano.
Uma frase muito comum no Livro é “No princípio era Água...” o Germe
nascido na Água é fonte para Brahma, que sai do “Ovo de Ouro” para ser o Criador
do Céu, Terra, Humano... o Germe é um Ovo de Ouro, é brilho, é Luz, irradia vida.
78
Seja qual for o texto sagrado, pode ser feita uma leitura para a paz, cuja
finalidade é o crescimento espiritual, podendo fazer um ser humano melhor, mais
voltado para o bem-estar humano, porém, podem ocorrer leituras e interpretações
tendo por objetivo a preservação ou busca do poder, legitimando barbáries, o
que foi demasiadamente utilizado no processo de conquistas de territórios onde
estavam culturas milenares.
NOTA
Ainda, segundo Garcia-Gallo (1972), o texto sagrado e/ou Smrits tem uma
estrutura lógica, composta por doze livros, que via pesquisa, merecem melhor
aprofundamento, sempre via paralelo com o Livro do Gênesis, texto estruturado
durante o exílio da Babilônia no ano 587 a.C., isto é, posterior ao período védico.
79
Se os hebreus, com a mitologia, procuraram fundamentar a origem do
Planeta Terra e da vida, os hindus fundamentam a origem do Universo, os dois
lados da existência. Fazem uso da expressão “Cosmo”, muito além da ideia de
origem de Mundo ou Terra, expressão clássicas do Gênesis.
Brahma, que não tinha forma (espírito e/ou mistério) fez surgir as águas
cósmicas e nela depositou uma semente... com o tempo a semente
gerou o “Ovo Dourado” e Brahma (que não tinha forma, foi gerado
e não criado) se revela com pele vermelha, quatro braços, quatro
cabeças e oito olhos voltados para os quatro cantos do universo... ficou
um ano cósmico no “Ovo Dourado...” quando o Ovo se quebrou a
casca se tornou a esfera celeste e o interior a terrestre. Brahma deu
forma à esfera celeste... Brahma integrou a Trimurti, uma espécie de
união hipostática, pericorética e/ou comunhão entre Brahma, Shiva e
Vhisnu... Brahma criou uma filha do próprio corpo, dando origem a
Manu, o primeiro homem.
80
5.3.5 Livro V dos Smrits
81
5.3.10 Livro X dos Smrits
É uma continuação do Livro IX, sinal que outras normas foram sendo
instituídas no decorrer do tempo e outras sendo contextualizadas, demonstrando
o dinamismo do Direito Hindu. Ainda, tanto no Livro IX quanto no Livro X, a
lei penal não é a mesma para as diferentes “castas”. Há uma interpretação da lei
para cada casta e seus descentes.
Neste livro fica visível uma escatologia, a narrativa sobre a vida após a
morte, muito ligada à teologia da retribuição, podendo ser revertida em punição
ou processo de purificação da alma para o tão esperado retorno ao Absoluto, ao
coração de Brahma e/ou comunhão eterna com a força cósmica do Universo.
6 BHAGAVAD GITA
É datado do século IV a.C. Relata a sabedoria de Krishna. É um texto muito
usado para fins de meditação ou práticas yóguicas. Transmite o conhecimento do
ser e orientações para o agir humano.
82
7 QUEM É DEUS NO HINDUÍSMO?
83
ções de Deus Brahma, Vishnu e Shiva, que recebem outras denominações. Entre
elas destacam-se Ganesha (O transformador), Krishna (O iluminado), Murugan
(A bondade), Dhanvantari (A saúde ou cura), Darshan (A visão), Sarasvati (A
sabedoria) e Lakshmi (A beleza). Dessa forma, o Hinduísmo revela que Deus está
em todos, é infinito, onipresente e onisciente.
8 O HINDUÍSMO CONTEMPORÂNEO
84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
85
AUTOATIVIDADE
86
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
87
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
88
TÓPICO 2 — TEOLOGIA NO BUDISMO: A BUSCA POR DEUS NO BUDISMO
NOTA
89
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
como o jejum, prender a respiração até perder o fôlego), mas nada novo aconte-
ceu, mas aprendeu que toda atitude extrema é prejudicial ao humano.
Antes de sua morte, aos 80 anos, realizou inúmeras viagens pela Índia
transmitindo sua sabedoria para diversos discípulos. Mas o budismo não foi acei-
to na Índia, bem provável devido ao sistema de castas que vigorava. Assim, da
mesma forma como no Cristianismo, o Budismo fez a experiência da diáspora ou
êxodo, espalhando-se por diversas regiões da Terra, mas principalmente na Ásia.
90
TÓPICO 2 — TEOLOGIA NO BUDISMO: A BUSCA POR DEUS NO BUDISMO
91
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Entre 1956 e 1957, com auxílio dos Estados Unidos, grupos armados tibetanos
resistiram contra o exército chinês. Em 1959, na “Revolta de Lhasa”, o governo chinês
ameaçou prender o Dalai Lama. Devido ao fato, sob proteção dos Estados Unidos, o
Dalai Lama foi obrigado a buscar refúgio na Índia, fundando um “governo do Tibete”
em pleno exílio na cidade de Dharamsala, tendo mais de 100 mil tibetanos refugiados.
No Tibete, entre 1956 e 1957, mais de 87 mil tibetanos foram mortos, mon-
ges foram encarcerados e mais de 6000 monastérios budistas foram destruídos.
Por isso, em 1967, o Dalai Lama saiu pelo mundo anunciando sua fé e clamando
92
TÓPICO 2 — TEOLOGIA NO BUDISMO: A BUSCA POR DEUS NO BUDISMO
No Brasil, o Dalai Lama esteve em 1992, 1999, 2006 e 2019. Na segunda pas-
sagem, palestrou em diversos lugares, mas em São Paulo deixou esta mensagem:
93
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
4 BUDISMO ZEN
94
5 O QUE É TEXTO SAGRADO NO BUDISMO?
Buda nada escreveu. Tudo o que sabemos é fruto da tradição oral. Após a
morte de Buda, seus seguidores preservaram a sabedoria do mestre. De maneira
geral, o Budismo tem o Tripitaka (pode ser transcrito como Tipitaka) e/ou Três
Cestos enquanto texto sagrado.
95
O primeiro passo para a experiência com o silêncio é o próprio “eu”, é
uma atitude humana que visa atingir o próprio humano. É a busca “ad intra” que
proporciona o esvaziamento do “eu” e o despojamento do apego a si e coisas exis-
tentes. Nessa experiência, com o “silêncio” algo acolhe, envolve o humano. Isso
é comunhão, isso é amor, compaixão, mansidão, é transcendência. É algo muito
acima do que a razão pode atingir. Isso é Deus.
7 BUDISMO CONTEMPORÂNEO
Para o budismo, cada ser humano tem seu karma, mas não como estímulo
para o conformismo e sim como ponto de partida para que cada ser assuma sua real
identidade para uma autoconstrução e/ou busca de um ser cada vez mais humano.
[...] nada adianta você fazer um retiro tradicional de três anos, três meses
e três dias. Pode ser até que a sua mente, ao longo desse tempo, em
vez de melhorar, piore... a única coisa certa que se pode dizer é que
depois desse tempo todo seu cabelo vai crescer... “Mas há um pequeno
problema. No mundo de hoje, há vários “businessmen” que, visando
obter dinheiro, dão ensinamentos religiosos. Isso acontece cada vez
mais frequentemente; ocorre muito na China, que importa “mestres”
tibetanos, mas também no resto do mundo. Esses não são mestres
genuínos. Apresentam-se como grandes mestres, mas não são. Seu
propósito é unicamente o de obter dinheiro (MONJA COHEN, s.d., s.p.).
96
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
97
AUTOATIVIDADE
98
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2
TEOLOGIA NO XINTOÍSMO: A
BUSCA POR DEUS NO XINTOÍSMO
1 INTRODUÇÃO
Até o século VI, quando o Budismo foi colocado como religião do Estado
nipônico, não havia qualquer menção ao Xintoísmo, porém havia uma prática
religiosa no arquipélago onde está o atual Japão.
99
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
ATENCAO
Com o fim do período Yayoi, veio o período Assuka (604-1192). Foi neste pe-
ríodo que ocorreu o processo de unificação do arquipélago, formando o atual Japão.
De 593 a 622, Shotoku Taishi governou o que conhecemos por Japão, sen-
do até cultuado como “protetor do Japão”. Neste período, o Japão intensificou
as relações comerciais com a China, passando a ser influenciado pelo Budismo.
E com o auxílio de monges coreanos, o próprio imperador começou a difundir o
Budismo. Monastérios e templos budistas foram edificados. Do tempo deste im-
perador ainda há o templo de Horyuti, localizado na cidade de Nara.
100
TÓPICO 3 — TEOLOGIA NO XINTOÍSMO: A BUSCA POR DEUS NO XINTOÍSMO
3 O TSUMI
É comum afirmações sobre a não existência de uma moral no Xintoísmo. Pela ex-
pressão “Tsumi” é possível afirmar que há uma moral estabelecida, logo, um sistema de
regras não positivadas. Tsumi equivale à impureza, sendo possível quando há o contato
com cadáveres, sangue e morte, ou seja, um ato violento é um contato com sangue, um
ato criminoso é um contato com a morte ou um ato com um cadáver pode haver conta-
minação. Assim, há o permitido e o proibido, logo, há um ordenamento moral.
Kami Izanagi banhou-se no rio após a saída do “Mundo dos Mortos”. Banhar-se
no Xintonismo é recomeçar a vida, dar sequência ao sentido da vida, sem as impurezas.
101
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Triste e revoltado, Izanagi vai buscar seu amor no “Mundo dos Mortos”,
mas sem sucesso. No retorno ao “Mundo dos Vivos” lava seu rosto em um rio
para tirar as impurezas que trouxera do Mundo dos Mortos... da impureza do
olho esquerdo nasceu Amaterasu Omikami, a “Kami Sol”. Das impurezas do
102
TÓPICO 3 — TEOLOGIA NO XINTOÍSMO: A BUSCA POR DEUS NO XINTOÍSMO
olho direito nasceu Tsikiyomi, a “Kami Lua”. E das impurezas do nariz nasceu
Suzanoo, “Kami das Tempestades”. Ainda, de Amaterasu nasceu Jummo Tenno,
O primeiro imperador do Japão.
5.1 KAMI
Muito oportuna a palavra Kami separada de Kaze, isto é, Kami não tem
forma, é algo que sai de uma realidade ainda maior. É fonte divina que gera vida,
podendo ser perfeita, pura, forte, positiva ou impura e negativa. Ainda, pode ge-
rar criaturas ou aberrações, seres perfeitos e outros imperfeitos. Numa linguagem
cristã, é um “Espírito que sopra onde quer” ou energia que revigora o ser humano.
103
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Antes é bom frisar que não há qualquer afirmação dos autores citados nas
referências bibliográficas que reportam para a possibilidade de uma teologia tri-
nitária no Xintoísmo. Ainda, ao elaborar uma história da teologia faz-se necessá-
rio os métodos propostos na introdução e a Hermenêutica. Assim, deve-se aplicar
o auditus fidei para depois realizar o intelectus fidei. Daí chegamos à conclusão de
que há a possibilidade de afirmar uma Trindade Xintoísta.
104
TÓPICO 3 — TEOLOGIA NO XINTOÍSMO: A BUSCA POR DEUS NO XINTOÍSMO
Nas teologias orientais podemos dizer algo semelhante que vigora nas te-
ologias judias-cristã-islã, a relação entre a geração do humano e a criação divina e/
ou fonte de um mistério. Sobre isso, deve buscar-se na categoria da “causalidade
instrumental”, isto é, trata-se de uma ação pela qual uma causa produz um efeito
que supera a sua capacidade, enquanto a sua ação é movida, elevada e guiada por
uma causa superior, seja qual for o nome atribuído ao absoluto ou causa superior.
A causa superior não se limita a dar o toque inicial a um outro ser a fim de que
ele produza o seu efeito, mas opera junto com a causa inferior, de maneira que o resul-
tado da ação seja inteiramente efeito da causa principal e inteiramente efeito da causa
instrumental, agindo assim cada uma na sua ordem própria e formando uma unidade.
8 XINTOÍSMO CONTEMPORÂNEO
106
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• No texto há a tese que afirmar a Trindade Xintoísta, a qual não tem a preten-
são de esgotar o Mistério existente na realidade transcendental.
107
AUTOATIVIDADE
2 Segundo o Kojiki, livro sagrado para o Xintoísmo, a vida na terra foi possível
pela ação de dois Kami. Considerando os estudos realizados, assinale a
alternativa que aponta para a narrativa sobre origem da vida na terra.
a) ( ) Kami Sakuya Hime, Kami do Monte Fuji, que expressa poder e eternidade
b) ( ) Kami Jizo, o Kami Criador.
c) ( ) Kami Hime e Jizo, autores da realidade terrena.
d) ( ) Izanami e Izanagi gestaram a vida na Terra.
108
TÓPICO 4 —
UNIDADE 2
TEOLOGIA NO TAOÍSMO: A
BUSCA POR DEUS NO TAOÍSMO
1 INTRODUÇÃO
É bom frisar, que qualquer relato de “visão” de Anjo, Santo, Nossa Senho-
ra, Kami ou Demônio, nada mais é do que enfermidade ou tentativa de alienar
ou fomentar um doentio proselitismo, ou ainda, meio de edificar impérios. Logo,
em teologia, o racionalismo e o empirismo podem mais atrapalhar do que servir.
Ainda, a expressão “visão” não pode ser confundida com “experiência mística”,
por exemplo: “Moisés no Monte Tabor”, o “Profeta Elias perante a brisa suave”,
“Os grandes sábios desconhecidos do Hinduísmo perante a Trindade Hindu”, o
“Profeta Maomé perante o Anjo Gabriel, “Buda debaixo da árvore bodhi”, “Maria
perante o Anjo Gabriel”, Lao Tse perante o Tao” etc.
109
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Logo, falaremos da busca por Deus, dos diversos conceitos do Tao, suas
práticas e fontes, que devido à historicidade, importância e paradigma para o
Taoísmo, apresentaremos o Texto Sagrado o Tao Te Ching. E partir deste faremos
a narrativa em torno da ideia de Deus Trindade e a importância das demais cria-
turas divinas cultuadas nesta tradição.
Segundo a tradição taoísta, Lao (Velho) Tsé (Sábio) teria vivido no século
VI a.C. e teria sido bibliotecário na coorte imperial chinesa. Insatisfeito com o
regime imperial buscou refúgio na floresta, passando a viver como místico e
totalmente despojado. No final da vida, antes de migrar para o Tibete, deixou na
China um livro com o título Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude.
Pode ser que Lao Tse seja apenas um personagem mítico do Taoísmo, mas
a tradição aponta que ele foi discípulo de Kung Fu Tse (O Filósofo Confúcio), que
viveu entre 551 e 479 a.C., um dos principais sábios da China.
I. Sublime mistério, formado pelo texto Tao Te Ching de Lao Tse e todos os tra-
tados abaixo dele. É usado para complementar a Caverna da Verdade.
II. Sublime paz, formado pelo Tratado da sublime paz: usado para complemen-
tar a Caverna do Mistério.
III. Sublime transparência, formado por todos os tratados do elixir de ouro, usa-
do para complementar a Caverna Sagrada.
IV. Ortodoxa unitária é uma coletânea de textos que contextualizam as três ca-
vernas e os três primeiros complementos.
Segundo Robinet (1997), atualmente são mais de 1500 textos que compõem
a literatura do Taoísmo, sendo que muitos não fazem parte do Cânon desta tradição.
3.3.2 Tapijing
É o livro que pode ser definido por Livro da Grande Paz. É um clássico da
espiritualidade taoísta.
112
TÓPICO 4 — TEOLOGIA NO TAOÍSMO: A BUSCA POR DEUS NO TAOÍSMO
3.3.3 Baopuzi
3.3.4 Huainanzi
3.3.5 Zhuangzi
É um livro que tem por título o nome de seu autor. Robinet (1997) diz que
ele teria vivido durante o século IV a.C. Podemos defini-lo como o “Francisco de
Assis” do Taoísmo. No livro, ele expressa que o caminho da iluminação é o desapego
material. Zhuangzi sempre evitou riquezas, fama e cargo político junto ao governo,
mesmo sendo convidado para ocupar o cargo de primeiro ministro no império.
No Capítulo 25 do Tao Te Ching, o autor do livro, Tao Tse, nomeia o Tao: “Uma
coisa existe formando o caos [...] antes de nascerem o céu e a terra... eu não sei o seu
nome, dou-lhe a grafia DAO (Tao)... forçado a nomeá-lo digo: Supremo Um”.
113
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
Ainda, no Taoísmo há uma criatura divina para cada dia do ano, para
cada espaço celestial e terrestre e para cada criatura há protetores e guerreiros.
Ainda, todas as criaturas divinas são lideradas pelo Imperador Jade. É Deus com
Deus e em Deus porque está interligado com a Trindade Taoísta.
O que é fato no Panteão Taoísta ou Reino dos Céus é a comunhão entre o céu
e a Terra ou o Transcendente com o Imanente ou, segundo Robinet (1997), é o micro-
cosmo no macrocosmo ou a unidade da interioridade com a exterioridade humana.
Ainda, segundo o Tao Te Ching, dos Três Puros e/ou Trindade saiu o “so-
pro primordial”, que se repartiu em Yang e Yin. O primeiro por ser puro e leve
moveu-se para o alto, gerando o céu. O segundo, por ser denso e pesado, moveu-
-se para baixo, gerando a Terra, mas preservam a conexão original. Assim, em
cada ser Yang e Yin estão presentes.
5 YANG E YIN
Seja na vida social ou religiosa, o Yang e o Yin estão presentes. São duas
forças antagônicas, mas juntas constituem a unidade. O Yang é o transcendente, o
sagrado, o masculino, a luz, a racionalidade, o bem, o externo etc. O Yin é a ima-
nência, o profano, o feminino, a escuridão, a interioridade, o afeto, a intuição, o mal,
a passividade etc. Isso nada tem de maniqueísmo. Cada ser, homem ou mulher
comporta o Yang e o Yin. Um complementa o outro para o acontecer da existência.
114
TÓPICO 4 — TEOLOGIA NO TAOÍSMO: A BUSCA POR DEUS NO TAOÍSMO
Destarte, é neste movimento cíclico do Yang e Yin que deve ocorrer o equi-
líbrio dinâmico que propicia o positivo, isto é, a bondade, compaixão, ética, prá-
ticas sustentáveis, fraternidade e paz; porém, com o desequilíbrio, as catástrofes
pessoais, sociais e globais, são inevitáveis. Disso resulta um Taoísmo sempre atu-
al, podendo ser uma grande contribuição para a vida e o resgate dela na história.
115
UNIDADE 2 - A TEOLOGIA NO HINDUÍSMO, BUDISMO, XINTOÍSMO E TAOÍSMO: CONCEITOS, HISTÓRIA
E A IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS COMUNS
116
Um adepto de qualquer tradição religiosa, individualmente, é incapaz de
fazer valer tais promessas. Por isso e para isso temos a coletividade humana e as
instituições religiosas, que podem possibilitar uma eficiente consciência crítica. A
religião não surge a par ou acima da realidade, mas dentro dela enquanto insti-
tuição da liberdade crítico-social-política-ecológica da fé.
117
LEITURA COMPLEMENTAR
Entrevista com o Teólogo Dr. Faustino Teixeira sobre “Deus nas Religiões
Orientais”, sendo indagado pela Monja Budista Coen Roshi.
Monja Coen Roshi: Quais são as narrativas de Deus nas religiões não
monoteístas?
Faustino Teixeira: Alguns autores tendem a indicar essas tradições não mono-
teístas como religiões místicas, distinguindo-as das religiões monoteístas, identificadas
como proféticas. Esta distinção, porém, não nos autoriza a concluir em favor de uma
separação rígida, que excluiria qualquer significado profético nas religiões orientais ou
dimensão mística nas religiões proféticas. O caminho para se atingir a “Realidade” nas
religiões orientais é encontrado na interioridade. Trata-se de uma busca do Mistério
desconhecido na “gruta do coração”. A ênfase recai no caminho do “êntase” e não do
“êxtase”, ou seja, o caminho da descoberta do Mistério maior acontece no “íntimo do Si
substancial”. A tradição oriental enfatiza mais o apofatismo teológico, excluindo assim
a possibilidade de se alcançar o Mistério mediante conceitos. A mediação para esse en-
contro se dá pela experiência. Uma conhecida sentença zen afirma: “melhor ver a face
do que ouvir o nome”. Encontramos uma expressão desse apofatismo na experiência
budista do sunyata (vazio). Esse conceito vem empregado como expressão da inefabi-
lidade e indizibilidade da realidade do Mistério. Não indica niilismo ou relatividade,
mas a radical diversidade que separa esse Mistério de todo e qualquer atributo possível
de ser concretizado ou simbolizado. Na mística advaita hindu, a dinâmica religiosa
vem concebida como uma experiência kenótica, de radical esvaziamento do sujeito hu-
mano e seu potenciamento para perceber a transparência do Mistério transcendente/
imanente no mundo dos fenômenos. O sujeito esvaziado de sua densidade ontológica
reencontra sua identidade com o Brahman, que pode ser reconhecido como “a unidade
última da realidade. É o centro profundo da nossa existência, isto é, a consciência (cit),
e também a alegria e a bem-aventurança (ananda)”.
118
que se dá o nível mais profundo do diálogo inter-religioso. É nesse âmbito de pro-
fundidade que podem acontecer, substantivamente, o “enriquecimento recíproco e
cooperação fecunda” entre as distintas tradições religiosas, no sentido da afirmação
e preservação dos valores e dos ideais espirituais mais sublimes do ser humano.
Monja Coen Roshi: Em que aspectos existe uma afinidade entre a Escola
de Kyoto, o pensamento existencialista e a mística cristã do Mestre Eckhart?
Faustino Teixeira: Os pensadores da Escola de Kyoto dedicaram-se inten-
samente ao estudo da filosofia ocidental. Nishitani chegou a seguir, em 1938, os
seminários de Heidegger sobre Nietzsche em Friburg. Também Ueda Shizuteru
teve uma formação alemã, passando três anos na Universidade de Marburg, sob a
orientação de Friederich Heiler e Ernst Benz. Ali concluiu sua tese doutoral sobre
a antropologia mística de Meister Eckhart em confronto com o zen budismo (tese
publicada em 1965). Fixo-me aqui em dois aspectos de sintonia entre a Escola de
Kyoto e a mística de Meister Eckhart. Com base no pensamento de Nishitani, há
que sublinhar a centralidade da ideia de Abgeschiedenheit (desprendimento), to-
mada do pensamento de Eckhart. Esse conceito é empregado por Nishitani para
falar da subjetividade elemental, ou seja, da subjetividade que emerge da morte
119
absoluta do ego, e que faculta a experiência da unidade com Deus. Assim como na
tradição zen budista, também no pensamento de Eckhart a noção de vazio ganha
centralidade. Pode-se afirmar que a presença do Mistério se firma mais claramente
no ser humano à medida que se amplia o seu vazio: nada querer, nada saber e nada
ter. Trata-se de um desprendimento que é bem distinto da ataraxia. Na verdade, o
ser desprendido é alguém que se abre de forma distinta para a realidade, pois para
ele “toda realidade reencontra sua densidade verdadeira”. O outro traço de sinto-
nia pode ser encontrado na noção transpessoal de Deus. Nishitani sublinha como
um dos aspectos de originalidade do pensamento de Eckhart, a noção de Deidade:
situar a essência de Deus numa região para além do Deus pessoal, ou o Deus das
criaturas. Também nessa linha da transpersonalidade de Deus vai a reflexão da Es-
cola de Kyoto. Enfatiza-se a ideia de um Deus transcendente e imanente: de Deus
como realidade onipresente em todas as coisas do mundo e, simultaneamente, um
mistério que escapa a qualquer tentativa de determinação.
120
místico (1999). Para ele, “o silêncio de Deus que o Buda tão consequentemente
pratica é a forma mais radical de preservar a condição misteriosa do último, o
supremo, a que toda religião aponta”. Ao se calar sobre Deus, essa tradição está
questionando as tentativas ilusórias e problemáticas que acompanham as tradi-
cionais perguntas sobre Deus: muitas vezes são perguntas incorretas, indevidas e
lesivas da “transcendência da realidade à qual se referem”.
121
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
122
AUTOATIVIDADE
124
UNIDADE 3 —
125
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
126
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
É sabido que a África é o “berço” do ser humano. Ali está sem qualquer dúvi-
da o “sopro da vida”. Se Deus fez o humano de barro, os elementos água e terra eram
de solo africano. Se Deus fez o humano a partir da água, terra, fogo e/ou ar, foram na
Mãe África as primeiras experiências, relações sociais, políticas e religiosas.
127
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
Sutton (2010) defende a tese que afirma ter existido na África (8000-5000
a.C.) uma “Civilização das Águas”, de economia sedentária. Tal civilização teria
se estendido de oeste a leste ao longo de rios e lagos até o norte pelo Rio Nilo e
até o sul pelos Grandes Lagos africanos. Segundo o mesmo autor, esta civilização
sobreviveu através da pesca e caça de hipopótamos e crocodilos.
Outro ponto que os autores são de pleno acordo é referente à rota comer-
cial no Mediterrâneo, ligando a África com o mundo árabe, que consolidou o
desenvolvimento de sociedades complexas na África há mais de 5000 a.C.
Entre os séculos VII e XV, como consequência das intensas rotas comer-
ciais e entre estas o Islamismo, a África sofreu forte influência dos seguidores
de Allá. Segundo Hrbek (2010), a conversão de soberanos da África Sudanesa
teria sido estimulada pelo engodo do Islamismo ser uma religião universal, isto
é, o Islã chegou à África como uma espécie de solução ideológica, cuja finalidade
era preservar o poder dos soberanos. Isso comprova que os muçulmanos foram
eloquentes junto aos líderes de clãs e reinos da África. Converteram governan-
tes para depois converterem os governados, fazendo da África uma extensão da
Ummah (comunidade dos fiéis do Islã), porém, não ocorreu o mesmo entre os
séculos XVI e XIX. Com a presença europeia, principalmente da Inglaterra, pio-
neira no processo de conquista do território africano, enquanto os governantes
africanos ofereciam ouro, esmeralda, diamante e mão de obra escrava, os euro-
peus ofereciam quinquilharias e bugigangas.
128
TÓPICO 1 - TEOLOGIA AFRICANA: BUSCA POR DEUS NAS TRADIÇÕES AFRICANAS
DICAS
129
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
130
TÓPICO 1 - TEOLOGIA AFRICANA: BUSCA POR DEUS NAS TRADIÇÕES AFRICANAS
4.1 EXU
4.2 OGUM
4.3 OBÁ
Com sua doçura e beleza é a senhora que controla as águas doces, evitan-
do tormentas e enchentes. Tem em si a força natural do feminino. É a protetora
das mulheres e sua beleza vai além do físico. É ainda a Orixá que faz justiça. Na
quarta-feira sua energia é mais radiante. Suas cores são o vermelho e branco com
detalhes amarelos. Com OBÁ, as mulheres são mais fortes do que já são.
4.4 OXÓSSÍ
4.5 OXALÁ
4.6 YEMANJÁ
4.7 YORI
132
TÓPICO 1 - TEOLOGIA AFRICANA: BUSCA POR DEUS NAS TRADIÇÕES AFRICANAS
Sua Majestade poderá dar por alguns anos a algumas pessoas assina-
ladas e fazer mercê a um de cinquenta mil maravedis; a outro de cem;
a outros de mais; a outros de menos, para serem ajudados a povoar a
terra até se arraigarem nela... e também mandar emprestar ou fiar a
eles alguns escravos negros a serem pagos dentro de três ou quatro
anos, ou como for sua real vontade e mercê (SUESS, 1992, p. 753).
O generoso Las Casas, embora impetuoso defensor dos oprimidos indí-
genas da América não suspeitava jamais ter cooperado involuntária ou volun-
133
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
tariamente para uma opressão ainda mais dura e desumana. A escravidão dos
índios foi de fato substituída pela escravidão e comércio dos africanos, porém,
com o tempo, a iniciativa se desenvolveu até assumir proporções gigantescas,
sobretudo, quando, em meados do século XVII, já estavam se exaurindo as minas
de ouro e de prata na América, exploradas vorazmente pelas primeiras gerações
de conquistadores.
134
pandia. Após a primeira tentativa fracassada de escravizar a população indígena,
que resistiu, a solução encontrada foi buscar no continente africano uma popula-
ção que já experimentava o trabalho agrícola, a exemplo de bantos e nagôs.
Ainda, a prática do aborto, para não dar à luz um filho escravo, a do suicídio,
a greve de fome e o banzo não devem ser lidas como desespero, mas como último
recurso de resistência que prejudicava os senhores do regime escravagista brasileiro.
135
NTE
INTERESSA
Em 1931, nasceu a Frente Negra Brasileira, que foi cassada pelo Estado Novo do
governo Getúlio Vargas e o Movimento Negro Unificado – MNU em São Paulo, em 18 de
junho de 1978. No início de 1930, houve a formação da “Frente Negra”, uma organização que
teve grande influência e foi o centro convergente de uma série de entidades e grupos afros.
136
O espaço do candomblé é a natureza. É uma religião ligada à terra. É
necessário que haja plantas, água corrente e animais para as obrigações e os sa-
crifícios aos orixás. Por isso é necessária a luta por terra e liberdade onde o povo
negro possa celebrar os orixás.
O terreiro deve estar sempre aberto a todos. Se alguém deseja fazer a iniciação,
faz-se necessária a ligação do candidato ao seu Orixá e incorporá-lo. Cada pessoa nasce
com seu orixá. Todo orixá tem sua planta específica, que geralmente é medicinal.
137
mília; significava recuperar e reconstruir uma dignidade pessoal e comunitária.
No terreiro, bantos e nagôs encontraram apoio numa organização com normas,
hierarquia reconhecida, costumes, conhecimento transmitido, relações afetivas,
celebrações, festas etc. – tudo o que era integrante da identidade de um povo.
Foi no espaço religioso do terreiro que o povo negro começou a recuperar a sua
identidade como povo que tem uma história a ser contada e resgatada.
Ainda, não há como manipular o Espírito que sopra e paira onde quer.
Deus é espírito e verdade. Os próprios cristãos estão cansados de ler isso na pró-
pria Bíblia, mas parece que não entenderam ainda o básico de uma catequese
pneumatológica. No contexto histórico e/ou no processo de conquista da Amé-
rica, principalmente, o catolicismo da cabeça dos bispos tentaram “engaiolar” o
Espírito, que também pairou em cada terreiro revelando que Deus é mais Mãe do
que o Pai da Trindade.
138
DICAS
Por outro lado, também é fato que a maioria dos negros se fizeram católi-
cos após o forçado batismo. Entretanto, coloca-se o problema teológico-pastoral.
Seriam católicos ou do candomblé ou da umbanda? Ou então, as duas coisas
juntas, ainda que alternadas? É exatamente esse entrelaçamento complexo e con-
traditório da religião e cultura católica e afro-latina que caracteriza um fenômeno
chamado de sincretismo cultural.
139
E
IMPORTANT
140
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Se Deus fez o humano de barro, foi com terra e água da África que Ele gestou a vida.
• A experiência religiosa afro tem uma teologia a partir do Panteão Afro, com
seus orixás.
• A presença afro na América, além da opressão sofrida pelos bantos e nagôs, deu
origem a movimentos de resistência e propagação do candomblé e seus orixás.
141
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Iemanjá.
b) ( ) Oxalá.
c) ( ) Exu.
d) ( ) Oduduwa.
a) ( ) Cuchitas e Aiye.
b) ( ) Bantos e Nagôs.
c) ( ) Garamantes e Orubás.
d) ( ) Etíopes e sudaneses.
142
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3
TEOLOGIA LATINO-AMERICANA:
BUSCA POR DEUS NA AMÉRICA
LATINA
1 INTRODUÇÃO
Hoje, esse processo continua pelos dois terços que passam fome, pela fa-
velização das cidades, agressão ecológica e subemprego, robotização industrial,
agronegócio, êxodo rural e a política de um Estado mínimo, cuja finalidade é
preservar o subdesenvolvimento. Nesse processo, os empobrecidos são os mais
ameaçados de extermínio.
143
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
144
TÓPICO 2 - TEOLOGIA LATINO-AMERICANA: BUSCA POR DEUS NA AMÉRICA LATINA
ATENCAO
145
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
O termo fome aqui não se refere apenas à questão alimentar dos povos
latino-americanos. A fome é símbolo de um conjunto de fatores econômicos que
foram alterados com a conquista, por exemplo, alterações no ritmo de trabalho,
deslocamentos de populações e modo de vida. No que diz respeito aos desloca-
mentos, devemos notar que tiveram um caráter brutal, uma vez que transporta-
vam tribos inteiras de povos litorâneos para regiões de altiplano ou, então, tribos
moradoras de lugares quentes para regiões subtropicais.
Afirmar um falso deus é idolatria. Esta é uma problemática que está mui-
to presente na história da conquista do terreiro latino-americano. Nas bíblias, a
idolatria é percebida enquanto perigo ao ser humano. Não afirmar a Aliança com
o Deus da vida é romper com o seu projeto e assumir o projeto da morte. Quem
não proporciona vida é partidário da morte, mesmo na mediocridade.
146
TÓPICO 2 - TEOLOGIA LATINO-AMERICANA: BUSCA POR DEUS NA AMÉRICA LATINA
Segundo Gutierrez (1989), a opressão do pobre tem que ser chamada por
seu verdadeiro nome, é um assassinato. Através das vítimas do fetiche, aprecia-
mos com maior nitidez o sentido da idolatria e a razão de sua rejeição radical
por parte da Teologia latino-americana. A idolatria acarreta a morte do pobre, o
dinheiro vitima os despossuídos.
147
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
Lugar especial nesse processo de resgate ocupa a religião. Ela foi negada
pelos missionários ou folclorizada pela cultura dominante. Agora se faz necessá-
rio reconhecer sua validade e legitimidade. Não apenas como um dado axial da
cultura, mas em sua significação estritamente teológica. Deus não chegou aqui
com missionários católicos ou protestantes. Na verdade, Deus já estava presente
nas culturas: a revelação não se restringiu à experiência judia-cristã-islã, recolhi-
da canonicamente nos textos sagrados.
Segundo Boff (1992), esta teologia insiste no fato de que os indígenas não
são apenas pobres e por isso devam ser apoiados em suas lutas. Eles não gostam
de ser vistos como pequenos, porque culturalmente não o são. Eles são outros,
diferentes em sua cultura e em sua religião, ricos em grandes valores pessoais e
comunitários. Essa diferença precisa ser acolhida e valorizada como uma grande-
za que revela Deus em formas distintas da realização do mistério humano. Foram
de fato empobrecidos num processo de ganância e violência.
Cada uma dessas teses tem sua parte de verdade, mas o sistema não é
148
TÓPICO 2 - TEOLOGIA LATINO-AMERICANA: BUSCA POR DEUS NA AMÉRICA LATINA
Com que direito e com que justiça tendes em tão cruel e horrível
servidão estes índios? Com que autoridades tendes feito tão detestáveis
guerras a estas gentes que estavam em suas terras mansas e pacíficas,
onde tão infinitas delas, com mortes e estragos nunca ouvidos, tendes
consumido? Como os tendes tão oprimidos e fatigados, sem lhes dar
de comer nem curá-los em suas enfermidades em que incorrem pelos
excessivos trabalhos que lhes dais e morrem, dizendo melhor, os
matais, para tirar e adquirir ouro a cada dia? (SUESS, 1992, p. 407).
149
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
3 A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Somos obrigados, por consciência a ouvi-los. É nosso dever ético, que cor-
responde ao seu direito de falar, de proclamar sua versão dos fatos e de querer
ajudar na construção de um continente mais sensato, solidário e feliz.
150
3.1 SINCRETISMO TEOLÓGICO
Assim, a missão fundada na justiça refaz todas as relações pela base, suprimin-
do completamente toda a injustiça. Este ato de refazer define o novo do céu e o novo
da terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram. E o ambiente propício para
refazer é aqui na história, que deve ser construída por meio da resistência e denúncia.
151
A opção preferencial pelos empobrecidos da América Latina força a redi-
mensionar o sentido da salvação. Uma visão dualista da salvação não pode servir
dentro de um compromisso de luta pela reconquista da terra alienada.
152
surgiram entre 1950 e 1960, após a efervescência representada pelas várias pas-
torais sociais em diferentes igrejas cristãs. Com a iniciativa do alto clero católico,
surgiram as denominadas CEBs, um modelo eclesial de comunhão-participação.
Eram populares em suas expressões e profundamente evangélicas em seu espí-
rito. Era um novo jeito de ser igreja, que nascia da base e na Bíblia bem aberta
encontraram a luz certa para denunciar e resistir contra a opressão, dominação
estrangeira e o poder dominante nacional.
A partir dos anos 1960, por todos os cantos da América Latina irrompe-
ram movimentos organizados pelos pobres e oprimidos. Eles já não aceitavam
pacificamente os níveis de miséria a que estavam condenados. Começavam a se
dar conta do caráter perverso do capitalismo, construído à custa da miséria de
153
muitos. As CEBs buscavam um caminho de libertação, uma sociedade diferente,
onde os oprimidos conscientizados e organizados fossem os principais sujeitos
da transformação necessária.
154
A situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real,
feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições
sofredoras de Cristo, o Senhor: feições dos povos indígenas e,
com frequência também dos povos afro-americanos, que vivendo
segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como
os mais pobres dentre os pobres; feições de camponeses que, como
grupo social, vivem relegados em quase todo o nosso continente,
vivendo sem-terra e sem teto, vivendo em situação de extrema
dependência interna e externa, submetidos ao sistema de comércio que
os enganam e os exploram; feições de operários, que têm dificuldades
de se organizar e defender os próprios direitos e as feições de menores
e idosos, cada dia mais numerosos, frequentemente postos à margem
da sociedade... (PUEBLA, 1979, 31).
Que futuro têm esses pobres e esse cristianismo popular? É o futuro carre-
gado de sonhos e vontades de sobrevivência. O cristianismo dos pobres reassume
a grande tradição latino-americana dos indígenas, dos negros, dos pobres em
geral e confere a ela uma expressão eclesial. Pela metodologia das CEBs, de con-
fronto entre fé e vida, partindo sempre das demandas da realidade, se torna mais
fácil a inculturação do evangelho pelos próprios empobrecidos.
A opção preferencial pelos pobres, contra sua pobreza e em prol de sua li-
bertação dá à Igreja da América Latina, no decurso dos anos, um novo jeito de ser.
A Teologia da Libertação, as CEBs, o engajamento político e as pastorais populares,
e por último, a necessidade sentida de uma “evangelização inculturada” marcaram
uma identidade nova, na qual a inspiração antropocêntrica da teologia se conjuga
com a progressiva aproximação dos empobrecidos. Esta trajetória é um indício de
sua conversão, da sua criatividade como também do seu amadurecimento.
4.1.1 Conscientização
Em suas diversas atividades pastorais quer ser voz daqueles que não têm
voz. Passa a agir dentro de um otimismo moderno. Partindo do princípio de que
Deus ouve o clamor de seu povo e liberta porque é libertador, os cristãos procu-
ram sua presença perscrutando os “sinais dos tempos”.
156
opressoras, mas foi suficiente para passar por cima da fé e da esperança dos em-
pobrecidos, não lhes respeitando a sua identidade.
Cresceu a percepção por parte dos teólogos da libertação que o povo estava em-
penhado no processo de libertação, mas com táticas diferentes daquelas exigidas pela eli-
te pastoral. Enquanto as práticas clássicas dos “agentes” eram dirigidas por políticos ou
revolucionários profissionais, as práticas populares negligenciavam as elites libertadoras.
A meta da luta popular não era tanto a tomada de poder, mas uma vida
melhor com tudo o que isto podia significar. O povo não lutava tanto a partir de
uma consciência de classe adquirida reclamando como tal os seus direitos, mas a
partir da experiência concreta de miséria e opressão. A utopia desta gente não era
o “paraíso já”, mas condições dignas de vida.
157
4.1.3 Revisão da mística
Nota-se que a prática dos novos agentes populares tem um polo místico:
a luta dos empobrecidos é sustentada pela fé. Querem sobreviver na esperança,
apesar de todas as forças de morte que penetram em seu cotidiano. E é nesse
cotidiano dos oprimidos que se busca a sobrevivência constantemente negada.
158
é condição para ser acreditável na evangelização: quem tem suas esperanças ga-
rantidas por posição e domínio na sociedade não é acreditável quando quer ensi-
nar o empobrecido a colocar suas esperanças em Deus. As virtudes misericórdia,
compaixão, solidariedade, delicadeza e humildade, formam o lado interior da
reevangelização. Os evangelizadores devem ser pessoas compadecidas, dispostas
a carregar junto com os marginalizados a realidade ferida dos mesmos.
159
brancos, morenos, presos, operários, menores e tantos outros, privados de vida,
liberdade e ternura.
160
homem novo nascido de Deus, vive totalmente a partir da gratuidade do Pai e,
assim, torna-se capaz de chegar aos outros para restituir-lhes a vida.
Na ética cristã, todo agir contra a moral tem sua gênese no ato idolátrico,
e todo agir ético tem uma fonte teologal. O pecado não é constituído somente
pela infração de uma lei, mas implica uma ruptura mais profunda, que expressa
o modo de se colocar perante Deus e a comunidade.
Na Teologia da Libertação, na cruz, Jesus passa pela última vez pelas ten-
tações dos “filhos de Adão”: pela tentação do poder econômico, político e messi-
ânico. A entrega de Jesus de Nazaré à morte parecia ter sido a vitória do negativo,
mas a sua morte se distingue de outras mortes pela sua fidelidade ao projeto li-
bertador. Esta entrega deixa transparecer que a fidelidade de Jesus ao projeto não
foi fácil, pois, lhe custou dores e angústias: trouxe o abandono do próprio Deus,
o Pai entrega o próprio Filho, que grita por vida. Este grito parece contradizer
violentamente todo o movimento anterior da história da paixão, que de entrega
em entrega chega à autoentrega incondicional do crucificado. Esta palavra do
abandono por parte de Deus soa como algo escandaloso e blasfemo, o que mostra
ao mesmo tempo a autenticidade e a dificuldade de interpretação.
Esta confiança num Deus que ressuscita pode romper o pensamento le-
galista de tantos cristãos, pensamento este que no fundo se baseia no medo e na
insegurança perante um Deus que, para muitos, veste características de vingador
161
e que para acalmar a sua ira, exige boas obras. Em vista do agir de Deus que res-
suscitou Jesus, o partidário do cristianismo deve adotar outra postura de vida.
Deve assumir uma atitude em que amor é predominante. As práticas não visam,
de maneira mercantilista, garantir a salvação individual.
162
mais choques, davam-me socos, pontapés e pauladas nas costas. Gri-
tavam difamações contra a Igreja. Encerrando a sessão daquele dia,
carregado, voltei à cela, onde fiquei (BETTO, 1982, p. 227).
Frei Tito foi libertado e banido do Brasil em troca de um embaixador su-
íço, que havia sido sequestrado no Rio de Janeiro pela Vanguarda Revolucio-
nária. Frei Tito peregrinou pelo exílio no Chile, Itália e França, encontrando-se
definitivamente com a ressurreição. Muitos outros padres e não padres, como
Schael Schreiber, Vladimir Hersog e Virgílio Gomes da Silva, morreram em salas
de torturas. Outros ficaram surdos, estéreis ou com defeitos físicos e mentais.
A esperança desses presos se colocava nas Igrejas, instituições que parcialmente
estavam fora do controle estatal-militar.
163
rica Latina com mais destaque na década de 1990, sem qualquer originalidade. E
um modelo eclesial copiado do pentecostalismo norte-americano.
165
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
166
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Gustavo Gutierrez.
b) ( ) Caetano Tellese.
c) ( ) Leonardo Boff.
d) ( ) Jacques Maritan.
167
168
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
169
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
Frederico II, invadiu o palácio real, lançou pelas janelas todos os ministros do
imperador/kaiser e os protestantes assumiram o poder na Bohemia.
Com estas teses, o conflito a ser enfrentado não era mais entre católicos e
protestantes, mas entre teístas e ateístas. Assim, na média em que o Concílio de
Trento foi ficando no passado, com o fim do “casamento” entre Igreja e Estado, com
a afirmação do ser humano na política, na arte, na ciência e na filosofia, as igrejas
católicas e protestantes, através de seus institutos e universidades, fomentaram a
produção teológica, quando os manuais perderam espaços para novas teses.
2 TEÓLOGOS LIBERAIS
170
TÓPICO 3 - TEOLOGIAS CATÓLICAS, LIBERAIS E PROTESTANTES:
DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
giosas”. E mais, o teólogo pode “buscar por Deus, partindo da existência, expe-
rimentando o que Deus é e o que Deus não é, sem vínculo com qualquer dogma,
poder ou determinismo.
Foi este último caminho que pensadores como Kant, Hegel, Feuerbach, Freud,
Marx e Nietzsche decidiram seguir, instaurando o conceito de Teologia Liberal.
Para Kant (1986) Deus não pode ser conhecido pela razão pura porque
está fora de alcance da experiência possível, mas não é impossível falar de Deus.
Se pela razão pura há impossibilidade, resta o caminho da razão prática. Pela
razão pura conhecemos o que é, pela razão prática conhecemos o que “deve ser”.
Logo, moralmente é possível aceitar que Deus existe, podendo ser o fundamento
do “dever ser” humano, portador da consciência moral e/ou razão prática.
Sem ser livre, a vontade não poderá ser autônoma, nem boa ou má, por-
tanto, a consciência moral é fato indiscutível e disto podemos afirmar a liberdade
como ato de valoração. Assim, o humano não é apenas sujeito cognoscente, mas
consciência moral valoradora.
Em 1793, Kant publicou A Religião dentro dos Limites da Mera Razão, na qual
defendeu uma eclesiologia ou estudo sobre a Igreja. Na mesma obra Kant propõe
uma “Igreja Invisível” sem cultos, pastores ou sacerdotes. A fé numa Igreja de
cultos concretiza a relação senhor-escravo porque o culto é imposto, sobressaindo
o medo de ser punido, o que está muito presente nas Igrejas e religiões reveladas.
171
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
172
TÓPICO 3 - TEOLOGIAS CATÓLICAS, LIBERAIS E PROTESTANTES:
DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
Para David (2003) na perspectiva de Freud a criança teme o Pai, mas sabe
que poderá contar com Ele nos momentos de perigo. Transportando para a na-
tureza, o humano a repciona a ideia de um Pai perfeito, o qual o chama de Deus.
Assim, religião e a teologia perpetuam o humano enquanto criança. Na solidão
e na existência o humano faz a busca por um Pai forte e bondoso. Na infância,
muitos conflitos de ordem psíquica não são resolvidos, propiciando a neurose na
vida adulta, que nada mais é do que a fuga do adulto ao mundo infantil. Freud
acolhe a religião enquanto fuga do adulto ao mundo ideal e feliz da criança.
Ainda, para Freud a história do ser humano tem três estágios. O começo
é a fase da magia com seus mitos, o segundo é o estágio religioso instituído e a
plenitude da história é o tempo da ciência, o terceiro estágio. Assim, quanto mais
conhecimentos científicos o ser humano portar, mais preparado ele estará acei-
tando seus limites, junto com o que ele é de fato, a ponto de abandonar a religião.
3 TEÓLOGOS CATÓLICOS
173
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
174
TÓPICO 3 - TEOLOGIAS CATÓLICAS, LIBERAIS E PROTESTANTES:
DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
E mais, para ele o humano e o mundo são realidades com uma finalidade
sobrenatural. Logo, os três mistérios (Trindade, Graça e Encarnação) são compre-
ensíveis a partir do próprio humano, sem perder seu caráter de mistério.
175
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
176
TÓPICO 3 - TEOLOGIAS CATÓLICAS, LIBERAIS E PROTESTANTES:
DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
4 TEÓLOGOS PROTESTANTES
177
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
Aqui vamos apresentar uma síntese dos três principais teólogos protestantes.
Em sua obra, Barth (2005), fazendo uso do método dialético, procura su-
perar o racionalismo, humanismo e liberalismo teológico que estavam impregna-
dos na Teologia protestante. Resgata o paradoxo da “fé bíblica” e sob inspiração
do existencialismo de Soren Kierkegaard reivindica a infinita diferença qualitati-
va entre filosofia e teologia.
178
TÓPICO 3 - TEOLOGIAS CATÓLICAS, LIBERAIS E PROTESTANTES:
DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE
Após a guerra foi para Bremen, onde prosseguiu com seus estudos teológicos
e filosóficos. Ensinou teologia em Wuppertal, Bonn, Tübingen e nos Estados Unidos.
179
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
180
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
181
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Razão prática.
b) ( ) Razão institucional.
c) ( ) Razão bíblica.
d) ( ) Razão pura.
a) ( ) V – F – V – F.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – F – V.
a) ( ) Martin Heidegger.
b) ( ) Karl Rahner.
c) ( ) Karl Barh.
d) ( ) Rudolf Bultmann.
182
TÓPICO 4 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
183
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
Quanto à Igreja Católica Romana, ainda não faz parte do CMI, mas há
uma modesta aproximação, a ponto do Concílio “Ecumênico” Vaticano II (1962-
1965) publicar um decreto sobre o ecumenismo, com o título “Unitatis Redintegra-
tio” (DENZINGER, 2001, p. 1571) e/ou orientações práticas para o ecumenismo
na perspectiva católica.
184
TÓPICO 4 - TEOLOGIA ECUMÊNICA, INTER-RELIGIOSA E COEXISTENCIAL
para um mundo mais justo e fraterno. Assim, o CMI comprova que o cristianismo
é mais ortopraxia do que ortodoxia.
185
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
186
TÓPICO 4 - TEOLOGIA ECUMÊNICA, INTER-RELIGIOSA E COEXISTENCIAL
pelo Conselho Mundial das Igrejas, além do “triálogo intercredal” entre judeus,
cristãos e muçulmanos, além das “práticas de oposição à intolerância religiosa”, há
ainda o caminho da coexistencialidade e/ou saber viver e conviver com o diferente
na cultura e na fé, porém, jamais na alma que nos faz membros da mesma espécie.
187
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Leonardo Boff
188
TÓPICO 4 - TEOLOGIA ECUMÊNICA, INTER-RELIGIOSA E COEXISTENCIAL
Mas olhando para trás, nos bilhões de anos, constatamos que de fato as-
sim ocorreu: há 3,8 bilhões de anos surgiu a vida e há uns quatro milhões de anos,
a inteligência. Nisso não vai uma defesa do “desenho inteligente” ou da mão da
Providência divina. Apenas que o universo não é absurdo. Ele vem carregado de
189
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
propósito. Há uma seta do tempo apontando para frente. Como afirmou o astro-
físico e cosmólogo Feeman Dyson: ”parece que o universo, de alguma maneira,
sabia que um dia nós iríamos chegar” e preparou tudo para que pudéssemos ser
acolhidos e fazer o nosso caminho de ascensão no processo evolucionário. Curio-
samente, quando no processo da evolução apareceram as flores (antes era tudo
verde), nesse momento surgiu nosso ancestral. Parece que o universo e Deus lhe
prepararam um berço de flores para enfatizar a alta qualidade deste ser que esta-
va iniciando sua jornada pelos séculos até chegar a nós.
Cabe ainda considerar que o cosmos está em gênese, não está pronto, está
ainda se autoconstruindo e em expansão contínua. Cada ser mostra uma propen-
são inata a irromper, crescer e irradiar. O ser humano também. Apareceu no cená-
rio quando 99,96% de tudo já estava pronto. Ele é expressão do impulso cósmico
para formas mais complexas e altas de existência.
Alguns aventam a ideia: mas não seria tudo puro acaso? O acaso não pode
ser excluído, como mostrou Jacques Monod no seu livro O acaso e a necessida-
de, o que lhe valeu o prêmio Nobel em biologia. Mas ele não explica tudo. Bioquí-
micos comprovaram que para os aminoácidos e as duas mil enzimas subjacentes
à vida pudessem se aproximar, constituir uma cadeia ordenada e formar uma cé-
lula viva seriam necessários trilhões e trilhões de anos. Portanto, mais tempo do
que o universo e a Terra possuem de fato, que é de 13,7 bilhões de anos. O recurso
ao acaso é dar honra à ignorância. Melhor é dizer que não sabemos.
190
TÓPICO 4 - TEOLOGIA ECUMÊNICA, INTER-RELIGIOSA E COEXISTENCIAL
191
UNIDADE 3 - TEOLOGIAS: AFRICANA, LATINO-AMERICANA, CATÓLICAS, PROTESTANTES E LIBERAIS:
CONCEITOS, HISTÓRIA E AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO E COEXISTÊNCIA
sistir; revela uma sabedoria que torna estultície todo o nosso saber. Assim, Deus
se mostrou aos líderes políticos, aos profetas, aos sábios, ao povo, especialmente,
em momentos de crise nacional (Jz 6,33; 11, 29; 1 Sam 11,6).
Assim como é dado ao rei para que governe com sabedoria e prudência,
no caso o rei Davi (1 Sam 16,13), (oxalá o dê ao presidente antiespírito que nos
(des)governa) será dado também ao servo sofredor, destituído de toda pompa e
grandiloquência (Is 42,1). Em Is 61,1 diz-se explicitamente: “o espírito de Javé está
sobre mim porque Javé me ungiu… para anunciar a libertação dos cativos e a bo-
a-nova para os pobres”, texto que Jesus aplicará a si na sua primeira aparição na
sinagoga de Nazaré (Lc 4, 17-21). Por fim, o espírito de Deus não sinaliza apenas
sua ação inovadora no mundo, mas aponta para o próprio ser de Deus. O espírito
é Deus. E Deus é Espírito. Como Deus é santo, o Espírito será o Espírito Santo.
O Espírito Santo penetra tudo, abarca tudo, está para além de qualquer limi-
tação. “Para onde irei para estar longe de teu Espírito? Para onde fugirei a fim de es-
tar longe de tua face? Se eu escalar os céus, aí estás, se me colocar no abismo, também
aí estás” (Sl 139,7) até o mal não está fora de seu alcance. Tudo o que tem a ver com
mutação, ruptura, vida e novidade tem a ver com o espírito. O Espírito Santo está tão
unido à história que ela de profana se transforma em história santa e sagrada.
192
TÓPICO 4 - TEOLOGIA ECUMÊNICA, INTER-RELIGIOSA E COEXISTENCIAL
193
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Teologia Ecumênica convoca cada igreja cristã a rever sua própria história,
não sob o prisma de sua profissão de fé, mas do cristianismo conforme o
evangelho.
CHAMADA
194
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Claude Geffré.
b) ( ) Raimon Pannikkar.
c) ( ) Karl Barth.
d) ( ) Karl Rahner.
195
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, S. A trindade. Tradução de Augustinho Belmonte; revisão e notas
complementares Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1994.
BARTH, K. Carta aos romanos. Tradução de Koller Anders. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. 3. ed., São Paulo: Aste Simpósio, 1998.
BETTO, Frei. Batismo de sangue. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1982, p. 227-240.
BOFF, L. América Latina: da conquista à nova evangelização. São Paulo: Ática, 1992.
BOFF, L. Grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1996.
BOWKER, J. (Org.). O livro de ouro das religiões. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
196
BULTMANN, R. Demitologização: coletânea de ensaios. Tradução de Walter
Altmann e Luis Marcos Sander. São Leopoldo: Sinodal, 1999.
CONGAR, Y. Eclesiologia desde San Agostin hasta nuestros dias. Madrid: BAC, 1976.
DALAI LAMA. Dalai Lama: sobre o budismo e a paz de espírito. Rio de Janeiro:
Nova Era, 2002.
DALAI LAMA. Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
197
ELGOOD, H. Arte Hindu. In: FARTUHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro:
Sextante, 2011.
FEILER, B. Abraão, uma jornada ao coração das três religiões. São Paulo:
Sextante, 2003.
198
GOMEZ, J. A. História de la vida religiosa: desde los origines hasta la reforma
cluniacense. Madrid: Claretianas, 1998. v. 1.
GRUBER, E. KERSTEN, Holger. O Buda Jesus. São Paulo: Best Seller, 1995.
HEALTHER, E. Arte Hindu. In: FARTHING, Stenfhen. Tudo sobre Arte. Rio de
Janeiro: Sextante, 2011.
HEBERT, J. Shinto the fountainhead of Japan. New York: Stein aind Day, 1967.
199
IWASCHITA, P. Maria e lemanjá: análise de um sincretismo. São Paulo: Paulinas, 1991.
IZUTSU, T. Hacia uma filosofia del Budismo Zen. Madrid: Trotta, 2009.
JOHNSON, Samuel. The History of the Yorubas: From the Earliest Times to the
Beginning of the British Protectorate. Lagos, Nigéria: Bookshops, 1921.
KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1976. (Coleção Os Pensadores).
KÜNG, H. História das religiões: busca de pontos comuns. Rio de Janeiro: Verus, 2001.
KÜNG, H. Religiões do mundo. Em busca dos pontos comuns. São Paulo: Verus, 2004.
LIBÂNIO, J. B. Introdução à teologia: perfil, enfoques, tarefas. São Paulo: Loyola, 2008.
200
LOPEZ MARTINEZ, M. Politica sin violencia. La noviolencia como
humanización de la Politica. Bogotá: Uniminuto, 2006.
PANNIKKAR, R. The unknown crist of hinduism. New York: Orbis Book, 1981.
201
SALAMA, P. O Saara durante a Antiguidade Clássica. In: MOKHTAR, G. A
África antiga. 2. ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010a.
SAMUEL, A. As religiões hoje. [Tradução Benôni Lemos]. São Paulo: Paulus, 1997.
TEIXEIRA, F. Teologia das religiões: uma visão panorâmica. São Paulo, 1995.
202