Você está na página 1de 10

1

2
3

INTRODUÇÃO

O estudo de Deus ou sobre Deus realizados com humildade e reverência é o


caminho mais seguro que precisamos trilhar como estudiosos ou teólogos. O estudo
sobre Deus através da Teologia certamente nos conduzirá a Ele. Nessa tarefa de
conhecer a Teologia, sua gênese, seus conceitos, seus principais teóricos e
formações ao longo da história, certamente estaremos sendo transformados e
aperfeiçoados para o serviço cristão.
Neste primeiro módulo, iniciamos nossos estudos e investigações gerais da
Teologia, começamos uma caminhada de conhecimento teológico. O módulo contém
duas unidades com duas aulas cada uma, e através deles compreenderemos os
termos, conceitos e as questões de conhecimento iniciais da Teologia. Veja as
unidades:
UNIDADE I – TEOLOGIA DEFINIDA
UNIDADE II – AS DIVISÕES DA TEOLOGIA E SUA NATUREZA
ABRANGENTE.

UNIDADE I – TEOLOGIA DEFINIDA

Nesta unidade, definiremos a Teologia, veremos sua natureza, gêneses e as


questões básicas que desafiam o estudo da nossa disciplina, tais como a busca de
sua origem e a compreensão do que é Teologia.
Também, verificará a importância da busca semântica dos principais termos
que formam a compreensão da teologia. Dessa forma, apresentaremos os vocábulos
e sufixos que compõe o estudo da Teologia.
Desta Unidade fazem parte:
AULA 1 – O QUE É TEOLOGIA
AULA 2 – A NATUREZA DA TEOLOGIA.
4

AULA 1 – O QUE É TEOLOGIA

META

• Compreender e definir os termos.

OBJETIVOS

• Compreender as definições da palavra Teologia;


• Discutir sobre a formação do conhecimento (epistemologia) teológico.

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Historicamente tem surgido muitas discussões sobre a Teologia, desde as


perguntas sobre o que é, e o que faz a Teologia, a questões sobre sua eficiência como
ciência e sua prática pastoral. Apesar de tantas discussões, entendemos que é
necessário ao cristão a busca por conhecimento teológico, pois esse conhecimento
nos auxiliará na compreensão de Deus, de suas obras, de seus atributos, e suas
grandes realizações em prol da humanidade. Então, lhe convidamos para conhecer a
Teologia e os benefícios que ela produz na nossa mente e no relacionamento com
Deus.
Em termos gerais, no mundo acadêmico, o estudo da religião tem sido
tradicionalmente proposto pela sociologia, antropologia, psicologia e pela história
comparada das religiões. Mas, parece que isso é um tanto contraditório, pois a religião
tem a ver com as práticas e necessidades de adoração dos seres humanos. O que
pretendemos dizer com isso, é que o ser humano no despertar de sua religiosidade,
ele busca por espiritualidade e transcendência quando busca estudar a natureza e o
caráter de Deus.
Então, é provável que estas áreas do saber humano que foram mencionadas,
não sejam o melhor caminho do ser humano, quando busca conhecer e compreender
a Deus. Evidentemente, tudo que aprendemos com a filosofia, a sociologia, a
antropologia, a biologia e as outras ciências relevantes, tem que ser entendido à luz
da realidade abrangente do caráter de Deus. “Essa é a razão porque, na Idade Média,
a teologia foi chamada “a rainha das ciências”, e a filosofia, “sua criada”. Hoje, a rainha
5

foi deposta de seu trono, e, em muitos casos, manda ao exílio, e um suplantador reina.
Suplantamos a teologia pela religião” (SPROUL, 2017, p.16).
É importante relembrar a Teologia como “a rainha das ciências” na Idade Média
e também por ocasião da Reforma Protestante, pois os principais centros
universitários dispunham de formação stricto sensu na perspectiva de doutorado.
Nessa época, os três principais doutorados eram em Medicina, Engenharia e em
Teologia. Martinho Lutero, o principal dos reformadores, era doutor em Teologia.
Depois que falamos sobre a relevância da Teologia com parte integrante do
saber humano, e que além disso, sua importância excede outras áreas do saber, pois
como campo de conhecimento a Teologia não apenas informa, mas transforma. Agora
é conveniente perguntar: de onde vem a Teologia?

UMA DEFINIÇÃO PRÁTICA DE TEOLOGIA

A palavra teologia vem do sufixo logia que vem da sua origem grega logos que
encontramos em João 1.1. O vocábulo grego logos significa “ideia” ou “palavra”, é
também que dessa palavra obtemos a nossa palavra lógica.
A primeira parte da palavra teologia vem do vocábulo grego theos, que significa
“deus”. Então é correto afirmar que a teologia é a palavra ou a lógica sobre Deus
mesmo.
Uma importante definição de teologia vem do teólogo da Universidade de
Oxford, Alister Mcgrath. Segundo Mcgrath (2010, p.167) “a palavra ‘teologia’ pode
facilmente ser decomposta em duas palavras gregas: theos (Deus) e logos (palavra).
Portanto, a ‘teologia’ é discursar sobre Deus, mais ou menos da mesma forma que a
‘biologia’ é discursar sobre a vida (do grego: bios). Se existe um único Deus e se esse
vem a ser o ‘Deus dos cristãos’ (para empregar uma frase de Tertuliano, um escritor
do século II), logo, daí decorre o fato de que a natureza e o escopo da teologia se
encontram relativamente bem definidos: a teologia representa a reflexão a respeito do
Deus a quem os cristãos louvam e adoram”.
O Cristianismo surgiu e cresceu em um mundo politeista onde a crença em
muitas divindades era algo normal. Em Romanos 4 e 5, o apóstolo Paulo fala sobre o
único Deus dos cristãos, e destaca o patriarca como como pai daqueles que acreditam
6

em único Deus. Então, em algum momento foi necessário relacionar a fé cristã com a
fé dos antigos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó).
Mcgrath (2010, p.167) defende que “a doutrina da Trindade parece ter sido, ao
menos em parte, uma resposta a essa pressão, no sentido de identificar o deus sobre
o qual os teólogos cristãos estavam falando. Com o passar do tempo, o politeismo
veio a ser considerado como algo ultrapassado e um tanto primitivo. A suposição
acerca da existência de um único deus, em que este era considerado idêntico ao Deus
dos cristãos, tornou-se tão difundida que, até o início da Idade Média na Europa,
parecia algo patente, que dispensava provas ou explicações”. Isto é confirmado na
época áurea da Idade Média quando Tomás de Aquino desenvolve suas teses em
favor da existência de Deus. Na sua argumentação ele prova a existência de Deus, e
que esse Deus era exatamente aquele a quem os cristãos professavam. Pois não
existia um outro.
Ainda nessa época, a teologia era considerada apenas uma análise sistemática
da natureza e desígnios de Deus. Essencialmente era até considerada obsoleta
devido tentar falar de um ser divino que era totalmente diferente dos seres humanos.
Nessa mesma direção, o entendimento de Mcgrath era que “embora
inicialmente o termo ‘teologia’ significasse a ‘doutrina de Deus’, o termo adquiriu
sutilmente um novo sentido, nos séculos XII e XIII, à medida que a Universidade de
Paris começou a se desenvolver. Era necessário encontrar uma designação para o
estudo sistemático, de nível universitário, voltado à fé cristã. A expressão latina
theologia, sob a influência de escritores parisienses como Pedro Abelardo e Gilberto
de la Porree, passou a significar ‘a disciplina da ciência sagrada’ que abrangia a
totalidade da doutrina cristã, e não somente a doutrina de Deus” (MCGRATH, 2010,
p. 168).
Porém, com a chegada do Iluminismo, houve uma séria mudança no conceito
e compreensão da teologia. Isso se deu pelo surgimento de ciências como a
Sociologia e Antropologia que deram ênfase aos estudos da religião e das religiões, e
com isso, surge a chamada Ciências da Religião. Pois o foco da investigação humana
agora não é apenas a divindade. A partir de então, o cerne dos estudos será o
fenômeno religioso que busca compreender a manifestação do sagrado. Com essa
modificação, a teologia foi quase suplantada pela fenomenologia. O Cristianismo teve
que ver o florescimento do Budismo Teravada e do Hinduísmo Advaitin. Ou seja, o
politeísmo voltou com força no período moderno.
7

Sem nenhum exagero, é correto afirmar que a Teologia antes considerada


como a ciência da fé, agora estava se tornando apenas uma mera análise de crenças
religiosas. Tornou-se então, apenas uma questão discursiva sobre qualquer
divindade, mesmo que essa divindade fosse falsa.
É importante observar que a palavra grega theos é masculina, de modo que a
palavra “teologia” pode indicar uma referência a uma divindade masculina. Mcgrath
(2010, 168) afirma que isso “afrontou muitas escritoras feministas, algumas das quais
defendiam que o termo ‘tealogia’ (da palavra grega thea, ‘deusa’) deveria ser utilizado
em seu lugar. Com certeza, existem termos alternativos. Um exemplo pode ser aqui
destacado: a expressão mais antiga, ‘divindade’, que designa tanto ‘Deus’ quanto ‘um
sistema de pensamento que faz uma tentativa racional de compreender a Deus’.
Contudo, o termo ‘teologia’ parece ser de uso geral, apesar dos problemas que possa
causar”.
Portanto, o termo teologia ou teologia cristã foi utilizado nesta aula como uma
acepção neutra quanto ao aspecto da identidade sexual, para designar o estudo
sistemático das ideias fundamentais da fé cristã. A teologia é a explicação e
explanação consciente da revelação divina que é compreendida pela fé.

EM BUSCA DE MATERIAL ALTERNATIVO

É importante que estudantes iniciantes no estudo teológico conheçam a


relevância desse vasto campo de estudo. Também é necessário que saibam da
influência positiva que a Teologia exercerá em suas vidas, além disto, devem
conhecer a natureza e finalidade da Teologia. Uma boa dica será assistir a síntese
sobre: TEOLOGIA ESFRIA O CRENTE articulada por Yago Martins no canal Dois
Dedos de Teologia - publicado em 3 de junho de 2015. Segue o link:
<https://youtu.be/I_GTTGzocH8>.
8

EPISTEMOLOGIA CRISTÃ

A Epistemologia é geralmente conhecida como a ciência da teoria do


conhecimento, ou seja, é o estudo dos postulados, conclusões e métodos dos
diferentes ramos do saber científico. Aqui, a compreendemos como a racionalidade
da crença religiosa.
Na Teologia, o estudo da Epistemologia nos coloca diante da seguinte questão:
o lugar da razão na compreensão da Teologia.
Ao longo da história da Igreja Cristã, alguns teólogos apresentaram posições
extremadas e até distorcidas sobre o lugar e o papel da razão e sua influência na
Teologia. Um dos teólogos que mais repudiou a razão foi Martinho Lutero; para ele, a
razão era serva dos demônios, e além disso, ela não fazia nada exceto blasfemar e
desonrar as palavras e ações de Deus. No entanto, é bom esclarecer que esta postura
contrária a razão se devia ao fato que ele abominava a razão quando esta cheirava à
antiga teologia de Roma.
Heber Carlos de Campos tem razão quando declara que “Lutero não era um
teólogo de conhecida consistência sistemática, pois citou muitas coisas e, depois,
mudou de pensamento. E que não podemos ver uma linha de raciocínio linear e
consistente de Lutero quanto a este pensamento sobre a razão” (CAMPOS, 2017, p.
34).
Karl Barth, o teólogo mais brilhante do século XX, é conhecido por sua
genialidade e capacidade de criar muitos conceitos teológicos. Mesmo que tenha sido
um extraordinário pensador com seu raciocínio inteligente, às vezes, compreendia que
a lógica não deveria ser usada em Teologia.
A respeito do entendimento de Barth em relação ao uso da lógica no sistema
teológico, Campos afirma que “Barth negou por completo o equilíbrio entre a fé e
razão. Ele dizia que em fé, e somente na fé, a ação humana está relacionada com a
essência da igreja, com a ação reveladora e reconciliadora de Deus” (CAMPOS, 2017,
p. 37).
Apesar de alguns teólogos enxergarem com desconfiança o uso da lógica na
Teologia, na Idade Média teólogos renomados como Tomás de Aquino e Guilherme
de Ockham eram declaradamente a favor da complementaridade entre razão e fé.
Ambos buscaram demonstrar que havia convergência entre as duas perspectivas.
9

Um exemplo promissor e ao mesmo tempo rígido do uso da lógica e da filosofia


como pressuposto da Teologia foram os teólogos da escola de Princeton. Enquanto
François Turretini (1623-1687), conhecido pastor e teólogo calvinista, foi a matriz
teológica de Princeton, Thomas Reid (1709-1796), teólogo e filósofo presbiteriano,
lançou as bases filosóficas do presbiterianismo norte-americano e do também
brasileiro.
Em 1870, com a publicação da obra Teologia Sistemática de Charles Hodge
(1797-1878), os pressupostos filosóficos de Princeton terminantemente adotaram o
Realismo do Senso Comum de Thomas Reid. A lógica e os pressupostos de Reid
também foram adotados por Archibald Alexander Hodge (1823-1886) e Benjamin B.
Warfield (1851-1921), que foram considerados mestres formuladores da Teologia de
Princeton.
Em suma, Princeton escolheu o método indutivo para a sua formulação e
sistematização teológica com ênfase na Filosofia Escocesa do Senso Comum. Desta
forma, os princetonianos defenderam a possibilidade de se chegar à verdade através
da observação empírica e do raciocínio indutivo. Para eles, a teologia é uma ciência
que coleciona os fatos.

EM BUSCA DE MATERIAL ALTERNATIVO

Para compreensão sobre a Epistemologia, indico a palestra Reflexões sobre a


complexidade na epistemologia realizada com o Reverendo Davi Gomes, na I
Conferência Nacional Cristãos Ciência em novembro de 2016 em São Paulo. Nesta
palestra, o reverendo Davi Charles disserta sobre “A forma como as coisas na nossa
vida se relacionam com o processo de conhecimento, o processo de saber é muitas
vezes ignorada dentro da visão tradicional ou da visão dominante da filosofia da
ciência. Temos uma visão objetivista e ela cria dificuldades. E a gente morre de medo
de se abrir para outros aspectos pessoais envolvidos na raiz dos processos
epistemológicos.” Segue link para o vídeo: <https://youtu.be/QDt3T8xNKsw>.
10

SÍNTESE DA AULA

Nessa aula você aprendeu os principais conceitos e termos comuns no estudo


teológico. E também, sobre a epistemologia como a teoria do conhecimento.
Agora você estará conectado aos principais conceitos da teologia.
O estudo dos termos teológicos mais abrangentes lhe auxiliará no estudo
sistemático das doutrinas fundamentais da fé cristã.
A compreensão da Epistemologia Cristã ampliará sua capacidade de
entendimento nos estudos teológicos.
Não esqueça de ver as dicas nos ícones sobre buscar o material alternativo. Lá
você encontrará alguns vídeos com palestras relevantes para o aprendizado da aula

Você também pode gostar